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Storming the Winter palace on 25th October 1917. Kochergin, Nikolai Mikhaylovich (1897-1974)
O marxismo e o problema do proletariado como vanguarda revolucionária
O artigo foi publicado parcialmente com o título O marxismo e o papel dos camponeses na revolução socialista na Revista Mais Valia. V. 04, pp. 81-89. São
Paulo: Editora Tykhé, 2008. Esta versão agora foi completada com as partes quatro e cinco ausentes naquela publicação.
Jadir Antunes
Introdução
Este artigo pretende demonstrar o papel da obra O Dezoito
Brumário de Luis Bonaparte de Marx na Revolução Russa de 1917 e,
especialmente, sobre as concepções políticas de Lênin e Trotsky.
Demonstro como o Dezoito Brumário influenciou decisivamente as
posições de Trotsky, especialmente, e como mais tarde, já na
segunda metade do século XX, estas mesmas lições foram rejeitadas
por Nahuel Moreno, líder de uma das maiores e mais influentes
organizações trotskistas daquele século.
O artigo se dividirá em quatro partes. Na primeira, mostro a
concepção de Marx sobre o caráter oscilante do campesinato na
política. Procuro mostrar aqui que o camponês, na concepção de
Marx, é uma classe que delega a outras classes ou partidos, o papel
de lhe representar na luta política. Delegar tem aqui o sentido de
transferir para outros partidos ou classes, o direito e o papel de
representação na luta política. Para Marx, neste sentido, o camponês
é uma classe que sempre delega a outras classes, ou partidos, o
direito de lhe representar.
Na segunda parte, mostro como a fórmula ditadura
revolucionária democrática do proletariado e do campesinato
elaborada por Lênin em 1905 na Rússia revolucionária, se enreda
em contradições e imprecisões exatamente por não compreender
com toda profundidade esta caracterização do campesinato como
classe que delega, realizada por Marx em 1851.
Na terceira parte, mostro como Trotsky, se apoiando
radicalmente nesta caracterização de Marx sobre os camponeses,
corrige e soluciona, a partir da noção de revolução permanente, as
imprecisões da fórmula de Lênin. Corrigir e solucionar Lênin, na
verdade tem um sentido mais metafórico que real. Segundo o próprio
Trotsky, Lênin nunca leu sua tese sobre a estratégia revolucionária
para a Rússia, elaborada ainda em 1905. Segundo ele, é Lênin quem
corrige a si mesmo no intervalo entre 1905 e 1917. Neste intervalo de
tempo Lênin percebe, a partir de sua própria experiência e do curso
dos acontecimentos, a necessidade do proletariado se pôr
efetivamente à frente do campesinato como seu senhor e dirigente
natural. O auge desta compreensão se realiza em abril de 1917 com
as famosas Teses de Abril, onde Lênin defende a palavra de ordem
revolucionária de Todo poder aos soviets.
Na quarta parte, mostro o caráter liquidacionista, antimarxista
e antitrotskista da revisão de Nahuel Moreno, trotskista argentino, à
Teoria da Revolução Permanente de Trotsky e à caracterização
marxista sobre a natureza oscilante dos camponeses. A revisão de
Moreno ocorre sob a influência dos acontecimentos do pós-guerra e
às campanhas vitoriosas dos movimentos guerrilheiristas de base
camponesa em Cuba e China, principalmente. Para Moreno, as
revoluções vitoriosas nestes dois países exigiriam uma ousada
revisão das concepções de Marx e Trotsky sobre a incapacidade
natural do camponês para dirigir qualquer processo revolucionário
socialista vitorioso.
1) Marx e o camponês como classe subordinada
De fevereiro de 1848 a dezembro de 1851, as principais
classes da sociedade francesa haviam se posto em luta aberta pelo
controle do Estado. Ao final do processo, tanto a burguesia quanto o
proletariado urbano estavam derrotados e em seu lugar governava o
estrato mais baixo da grande e ilustrada sociedade francesa: o
lumpem-proletariado organizado na Sociedade de Dez de Dezembro
de Luis Bonaparte.
Marx explicava em O Dezoito Brumário de Luis Bonaparte que
a Sociedade de Dez de Dezembro era uma sociedade supostamente
beneficente, surgida em 1849, dirigida por Luis Bonaparte e formada
pela escória mais baixa da sociedade francesa. Participavam dela,
segundo Marx, arruinados e aventureiros, rebentos da burguesia,
vagabundos, soldados desligados do exército, presidiários libertos,
forçados foragidos das galés, chantagistas, saltimbancos,
trapaceiros, jogadores, donos de bordéis, trapeiros, mendigos e etc.
Enfim, a sociedade beneficente de Bonaparte era composta pela ralé
da sociedade francesa. “Sociedade beneficente, diz ironicamente
Marx, no sentido de que todos os seus membros, como Bonaparte,
sentiam necessidade de se beneficiar às expensas da nação
laboriosa” (Marx, 1988: 44).
Marx descrevia o golpe de Estado desferido por Bonaparte em
dezembro de 1851, como o resultado necessário da incapacidade
demonstrada tanto pela burguesia quanto pelo proletariado para
controlar o poder de Estado e governar a França a partir de seus
próprios interesses de classe. Em meio ao vazio e a instabilidade de
poder que se criaram durante o período de crise política, crise que
surge em 1848 e se desenvolve até 1851, surgiram, então, as
baionetas de Luis Bonaparte.
Marx se perguntava, então, em nome de quem Luis Bonaparte
aplicou sobre o país o golpe de Estado que pôs fim à Segunda
República? Em nome de que interesses a França ilustrada cedera o
poder de Estado para uma soldadesca ignorante que se deixava
corromper com festas animadas por vinho e salsichões? Segundo
Marx, foi assim que Bonaparte conquistou a simpatia dos soldados
da Guarda Nacional. Que classe da sociedade francesa Luis
Bonaparte pretenderia, dali em diante, representar no Estado?
De acordo com tese clássica de Marx e Engels exposta em O
Manifesto Comunista, de 1848, todos os fenômenos políticos
expressam sempre, mesmo que mediados por muitas formas e
interferências externas, determinadas correlações de forças entre as
diferentes classes da sociedade em luta pela defesa de seus
interesses econômicos. De acordo com esta tese, todos os partidos e
agrupamentos políticos com certa representatividade e programa
definido representam sempre, em última instância, certos interesses
de classes. Os partidos e agrupamentos políticos, assim como os
governos que estes dirigem, de acordo com esta tese, não pairam no
ar, acima das classes. O governo de Bonaparte, contudo, por ser um
governo composto por quadros militares oriundos do próprio aparelho
de Estado, por ser avesso à democracia representativa e às diversas
formações partidárias, por não possuir uma relação direta com as
diferentes classes da sociedade francesa, parecia negar esta tese.
Marx respondia esta questão, aparentemente contraditória,
demonstrando que o golpe de Luis Bonaparte e seu governo
ditatorial, apesar de aparentar flutuar acima de todos os interesses
de classe da sociedade francesa, na verdade possuía raízes na
estrutura econômica do país. Segundo Marx, Bonaparte não flutuava
no ar. Ele representava a classe dos camponeses ricos, surgida com
as leis de terras de Napoleão Bonaparte, mas que agora se
encontrava em rápido processo de empobrecimento e que, ainda na
metade do século XIX, compunha a maioria da nação francesa.
Bonaparte e a Sociedade de Dez de Dezembro representavam, diz
Marx, “a dinastia dos camponeses, ou seja, da massa do povo
francês” (Marx, 1988: 74).
Que relação, contudo, poderia ter Bonaparte e a Sociedade de
Dez de Dezembro com a classe dos camponeses? Como poderia
uma classe inteira de produtores, a maioria da nação francesa, que
possuía na época em torno de 25 milhões de habitantes, se deixar
dirigir politicamente pela camada mais baixa e deteriorada da
população representada por Bonaparte, o príncipe do lumpem-
proletariado, como lhe chamava Marx?
Marx respondia dizendo que esta contradição deveria ser
encontrada analisando-se a natureza do campesinato. O camponês,
por sua própria natureza, dizia Marx, é incapaz de se auto-
representar politicamente. Como classe atrasada, o campesinato
necessita sempre ser representado por forças políticas exteriores a
ele próprio. Sua dispersão pelo interior do território francês, seu
isolamento econômico e sua vida puramente individual o
incapacitavam para transformar-se numa força histórica capaz de
representar-se a si mesmo na luta política com um partido e
programa próprios e independentes das outras classes. Os
camponeses, devido ao caráter de seu modo de produção, trabalham
num sistema familiar e individual, onde cada lote de terra é cultivado
de modo isolado e separado do cultivo de outros lotes por outros
produtores independentes. “Os pequenos camponeses, dizia Marx,
constituem uma imensa massa, cujos membros vivem em condições
semelhantes mas sem estabelecerem relações multiformes entre si.
Seu modo de produção os isola uns dos outros, em vez de criar entre
eles um intercâmbio mútuo” (Marx, 1988: 74/75). O caráter isolado e
autônomo do trabalho camponês e o vínculo direto entre trabalho e
Natureza, mais do que ligarem as diversas famílias camponesas
entre si num único e grande sistema cooperativo de produção as
isolam e as separam politicamente umas das outras. “Seu campo de
produção, dizia Marx, a pequena propriedade, não permite qualquer
divisão do trabalho para o cultivo, nenhuma aplicação de métodos
científicos e, portanto, nenhuma diversidade de desenvolvimento,
nenhuma variedade de talento, nenhuma riqueza de relações sociais”
(Marx, 1988: 75).
A incapacidade natural do campesinato francês para superar
politicamente suas divisões internas e seus interesses particulares e
a necessidade de ser representado por um partido formado fora dele
era expressão, por isso, do isolamento vivido nas relações
econômicas. Deste modo, segundo Marx, os camponeses franceses
formavam uma classe apenas no sentido econômico do termo e não
no sentido político. “Na medida em que milhões de famílias
camponesas vivem em condições econômicas que as separam umas
das outras [como famílias quase auto-suficientes], e opõem o seu
modo de vida, os seus interesses e sua cultura aos das outras
classes da sociedade, estes milhões constituem uma classe” (Marx,
1988: 75). Contudo, dizia ainda Marx, “na medida em que existe
entre os pequenos camponeses apenas uma ligação local e em que
a similitude de seus interesses não cria entre eles comunidade
alguma, ligação nacional alguma, nem organização política, nessa
exata medida não constituem uma classe” (Marx, 1988: 75).
Uma classe social, segundo esta definição de Marx, para
existir verdadeiramente como classe deve existir segundo duas
determinações: uma econômica e outra política. O campesinato
francês não formava uma verdadeira classe social porque destas
duas determinações fundamentais ele só participava de uma, da
econômica. Por seu próprio modo de trabalho individual e por viver
isolado e distante de outras famílias, o camponês francês era
incapaz de se organizar como classe não apenas em si, mas, ainda,
como classe para si, como classe organizada politicamente num
partido camponês e com um programa independente e autônomo
frente ao programa das outras classes. Os camponeses em geral,
por este motivo, “são incapazes de fazer valer seu interesse de
classe em seu próprio nome” (Marx, 1988: 75). Os camponeses em
geral, deste modo, “não podem representar-se, têm
[necessariamente] que ser representados” (Marx, 1988: 75). É por
isso que, na concepção de Marx, o campesinato foi representado na
França de Luis Bonaparte por um estrato social que em nada se
assemelhava ao seu modo de vida e de trabalho. O que havia de
irônico na história política dos camponeses franceses da metade do
século XIX era o fato de terem sido representados pelos amigos de
Luis Bonaparte: o lumpem-proletariado e os soldados beberrões e
comedores de salsicha da Guarda Nacional.
Por estar incapacitado ontologicamente de se converter de
classe em si em classe para si mesmo, o campesinato será,
necessariamente, uma classe representada que, por isso, delega a
outras classes o papel de dirigi-la. Os representantes políticos do
camponês serão, por isso, segundo Marx, representantes surgidos
de fora da classe e com um vínculo puramente exterior com ele.
Seus representantes devem, por isso, “aparecer como seu senhor,
como autoridade sobre eles, como um poder governamental ilimitado
que os protege das demais classes e que do alto lhes manda o sol
ou a chuva” (Marx, 1988: 75). Luis Bonaparte pôde aparecer como
senhor dos camponeses porque, na consciência atrasada destes, ele
aparecia como a continuidade das grandes e heróicas façanhas do
velho Napoleão, que lhes dera terras durante seu reinado. Na
consciência ilusória do camponês francês, o sobrinho Luis
continuaria lhe protegendo do mesmo modo como o tio Napoleão lhe
teria protegido na época do Império.
O camponês representado por Luis Bonaparte no governo do
Estado francês, contudo, não era mais o camponês revolucionário da
época da revolução, mas sim, o camponês conservador que, já dono
de um pequeno lote de terra recebido do Imperador Napoleão, mais
do que mudar o estado de coisas exigido pelas novas condições
históricas do capitalismo pretendia apenas conservá-lo a seu favor.
A França das luzes, da filosofia e da grande revolução de
1789 foi, assim, através do golpe de Bonaparte, lançada
ironicamente nas mãos da classe economicamente mais atrasada do
país, nas mãos do camponês em processo de empobrecimento que
pretendia somente deter o desenvolvimento capitalista a seu favor.
“Bonaparte, por isso, dizia Marx, representa não o esclarecimento,
mas a superstição do camponês; não o seu bom senso, mas o seu
preconceito; não o seu futuro, mas o seu passado” (Marx, 1988: 76).
Segundo Marx, o campesinato, como classe intermediária da
nação francesa, se dividia entre campesinato rico e campesinato
pobre. A camada rica, por sua situação mais confortável no interior
da sociedade, tendia a encontrar nos partidos burgueses, ou em
camadas da burocracia do Estado, como a militar, seu representante
e dirigente natural na luta contra o processo de empobrecimento
capitalista. A camada empobrecida tenderia, por sua vez, a delegar
ao partido do proletariado a direção de suas lutas e interesses
econômicos. Por isso, segundo Marx, o camponês francês rico, mas
em processo de empobrecimento, pensara ter encontrado em
Bonaparte seu senhor e dirigente enviado dos céus para lhe salvar.
Os camponeses pobres e dispostos a mudar o estado de coisas em
favor da maioria da nação, por sua vez, dizia Marx, “encontram seu
aliado e dirigente natural no proletariado urbano, cuja tarefa é
derrubar o regime burguês” (Marx, 1988: 78).
Teria, contudo, Luis Bonaparte, por representar o camponês
decadente, realmente governado em nome dos interesses do
campo? Teria ele instituído uma república democrática camponesa
na França e resolvido o problema da histórica decadência da
pequena propriedade? Não! Apesar de representar os camponeses
ricos em processo de empobrecimento, Bonaparte não governou
para eles. Segundo Marx, não havia na França, nem haveria em
qualquer outra parte do mundo, a possibilidade de se construir
regimes de governos híbridos ou intermediários entre os governos da
burguesia e da classe operária. Os camponeses, como classe
intermediária, e os partidos e organizações que lhes representam só
podem subordinar-se ao capitalista ou ao proletariado. Bonaparte,
por isso, apesar de apoiar-se nos camponeses e ser seu senhor e
representante acabava governando para a grande burguesia.
Segundo Marx, a burguesia francesa - a alta aristocracia financeira,
os industriais e os comerciantes -, cansara-se da monótona disputa
entre seus partidos e Bonaparte. Desejosa de ordem para poder
voltar a enriquecer, a burguesia rapidamente rompeu com seus
principais partidos instalados no Parlamento e aliou-se a Bonaparte
em sua luta contra o proletariado. A burguesia francesa, segundo
Marx, ao apoiar Bonaparte e o fim da República trocara seus
interesses políticos e gerais de classe pelos mais sórdidos e
mesquinhos interesses particulares. Bonaparte, apesar da retórica
anti-capitalista e de combater os partidos burgueses no Parlamento,
apesar de prometer salvar os camponeses da falência e governar
para toda a França, foi, no fundo, e segundo Marx, um governo
burguês.
2) Lênin e a fórmula algébrica da revolução
No final do século XIX a violência da história ocidental abalou
a Rússia czarista. As novas forças produtivas surgidas com o
desenvolvimento capitalista iniciado no século XVIII ameaçavam
destruir as relações de servidão e pôr em seu lugar a forma
assalariada do capitalismo europeu. No interior do marxismo o
problema da natureza da futura revolução russa e o papel a ser
desempenhado pelo camponês, a maioria absoluta da população,
tomou conta das discussões.
Em maio de 1905, os bolcheviques, liderados por Lênin,
realizaram em Londres o III Congresso do POSDR (Partido Operário
Social Democrata Russo). Na mesma época, os mencheviques, já
rompidos com Lênin, realizaram em Genebra sua Conferência, onde
defendiam as teses de Plekhanov. Em Duas Táticas da Social
Democracia na Revolução Democrática, Lênin critica radicalmente a
Conferência e expõe, ao mesmo tempo, as teses do Congresso para
a iminente revolução russa.
Para os partidários de Plekhanov e da Conferência
menchevique, a futura revolução teria necessariamente um caráter
burguês. Isto é, ela necessariamente seria capitalista em seus
fundamentos e estaria, assim, fora de qualquer cogitação, como
defendiam os populistas, a possibilidade de transformá-la numa
revolução socialista. Para os conferencistas, a revolução não apenas
seria burguesa em seu conteúdo como, ainda, seria dirigida
diretamente pela burguesia. Ao proletariado, e mesmo aos
camponeses, caberia um papel subordinado, o de atuar como aliado
da burguesia na luta contra as forças reacionárias ligadas à nobreza
e ao latifúndio. Para Lênin, esta tática dos conferencistas conduzia
diretamente à “traição da causa do proletariado no interesse da
burguesia” (Lênin, 1982: 440) e convertia o proletariado num
“miserável apêndice das classes burguesas” (Lênin, 1982: 440).
A futura revolução russa poderia seguir um rumo diferente do
rumo pretendido pelos conferencistas e pela burguesia russa porque,
segundo Lênin, o proletariado, mesmo incipiente numericamente,
poderia dirigi-la apoiado na enorme massa camponesa espalhada
pelos campos do interior da Rússia.
Lênin concordava com certos aspectos das teses defendidas
pelos conferencistas. Para ele, não havia dúvida de que a futura
revolução russa seria burguesa em sua essência. Contudo,
discordava radicalmente da capacidade da burguesia para ser sua
direção. Segundo Lênin, a burguesia russa estava mais interessada
em pactuar com o czarismo do que em romper profundamente com
ele. Sendo assim, a futura revolução burguesa na Rússia deveria se
apoiar em outras forças políticas.
Lênin acreditava na possibilidade do camponês mais
empobrecido dirigir politicamente a futura revolução ao lado do
proletariado das grandes cidades. O resultado desta aliança
revolucionária entre o proletariado e o camponês empobrecido seria
uma ditadura revolucionária democrática. Na discussão sobre a
natureza da futura revolução russa, dizia Lênin, não cabia a questão
da tomada do poder pelo proletariado. Para ele, “a questão posta na
ordem do dia por todo o povo [em 1905] é... a substituição da
autocracia czarista pela república democrática” (Lênin, 1982:
388/89).
Seguindo as pegadas do antigo mestre Plekhanov, Lênin não
acreditava na possibilidade do proletariado tomar e sustentar o poder
antes do desenvolvimento material e espiritual do capitalismo. “O
grau de desenvolvimento econômico da Rússia... e o grau de
consciência e de organização das grandes massas do proletariado...
tornam impossível a imediata e absoluta libertação da classe
operária” (Lênin, 1982: 391), dizia Lênin contra as teses populistas e
anarquistas que defendiam a revolução socialista para a Rússia de
1905. “E como resposta às objeções anarquistas de que adiamos a
revolução socialista, diremos: não a adiamos, e sim damos o primeiro
passo para ela através do único procedimento possível, do único
caminho justo, que é o da república democrática” (Lênin, 1982: 391).
Na concepção de Lênin, o único caminho possível e justo para a
revolução russa em 1905 seria o caminho da ditadura revolucionária
democrática do proletariado e do campesinato.
A ditadura, na fórmula pensada por Lênin, expressava o fato
de que a futura revolução deveria apoiar-se na insurreição e na força
armada das massas. A democracia representava o aspecto
republicano, constitucional, pequeno burguês (camponês) e não-
socialista da revolução. A fórmula da revolução combinava, deste
modo, tanto aspectos burgueses quanto não-burgueses, mas não
ainda socialistas. A revolução deveria realizar tanto tarefas que
caberiam a uma revolução clássica burguesa, como o
desenvolvimento das forças produtivas apoiadas no capital e a
formação de uma república constitucional, quanto tarefas
democráticas, como a reforma agrária e a expropriação do latifúndio.
Por ser democrática, a futura revolução não poderia atacar as bases
privadas da sociedade capitalista. A única propriedade que deveria
ser atacada seria a da nobreza fundiária. A propriedade capitalista
deveria ser, inclusive, estimulada e desenvolvida. “Esta ditadura será
democrática, dizia Lênin, e não socialista, e portanto não poderá
atacar (sem passar por uma série de graus intermediários de
desenvolvimento revolucionário) as bases do capitalismo” (Lênin,
1982: 411).
Segundo a fórmula de Lênin, a futura ditadura democrática e
revolucionária do proletariado e do campesinato na Rússia, não faria
mais do que: 1) instituir uma nova e radical distribuição da
propriedade da terra em benefício dos camponeses, 2) instituir uma
democracia republicana, 3) eliminar pela raiz a servidão do trabalho,
4) iniciar um melhoramento sério nas condições de vida da classe
trabalhadora e 5) alastrar o incêndio revolucionário para toda a
Europa desenvolvida. A revolução poria em ação, deste modo, dois
programas diferentes. Por um lado, poria o Programa Mínimo como o
único programa capaz de ser desenvolvido em benefício dos
trabalhadores e o Programa Democrático como o programa dos
camponeses. Do ponto de vista de Lênin, o Programa Máximo da
Revolução, a conversão da propriedade capitalista em propriedade
socialista e a instauração da ditadura do proletariado, só seria posto
após a realização desta primeira etapa, a etapa democrática.
Na fórmula de Lênin, caberia ao governo revolucionário
operário-camponês realizar tanto tarefas burguesas quanto
democráticas. Segundo esta fórmula, o dirigente natural da
revolução, apesar de burguesa, seria o camponês. Ao partido do
proletariado caberia o papel secundário de atuar como aliado do
partido camponês no governo. Lênin confiava na força democrático-
revolucionária do camponês russo. Para ele, “o camponês russo se
converterá inevitavelmente, nestas condições, no baluarte da
revolução e da república pois somente a ditadura revolucionária do
proletariado e do campesinato poderá dar-lhe através da reforma
agrária tudo o que deseja e o que sonha, tudo o que lhe é
verdadeiramente necessário” (Lênin, 1982: 442). Na concepção de
Lênin, “a classe operária não pode deixar de cooperar nisto [na luta
pela reforma agrária] com o campesinato” (Lênin, 1982: 419).
A ditadura revolucionária democrática do proletariado e do
campesinato seria, então, simplesmente uma revolução burguesa
realizada pelo campesinato em aliança com o proletariado. “Os
marxistas [diz Lênin concordando com os mencheviques da
Conferência], estão inteiramente convencidos do caráter burguês da
revolução russa” (Lênin, 1982: 405). Desta tese inquestionável e
absolutamente verdadeira, se “deduz que constitui uma idéia
reacionária procurar a salvação da classe operária em algo que não
seja um maior desenvolvimento do capitalismo” (Lênin, 1982: 406).
Desenvolvimento que seria garantido pelo campesinato e pelo
proletariado no governo.
Dado, então, 1) que o proletariado era fraco numericamente e
tinha tanto interesse quanto a burguesia em desenvolver o
capitalismo pois, desenvolver as forças produtivas capitalistas, a
república e a democracia burguesa, seria desenvolver
simultaneamente as futuras condições sobre as quais ele poderia
levantar seu programa verdadeiro, o Programa Máximo da
Revolução Socialista; dado 2) que os camponeses formavam a
maioria absoluta da população russa e estavam interessados na
revolução burguesa e no fim da servidão tanto quanto o proletariado;
dado 3) que a burguesia estava impedida historicamente de levar sua
própria revolução até o final, já que pactuava com o czarismo contra
o movimento operário-camponês, a fórmula de Lênin determinava
necessariamente que, 4) a futura revolução só poderia ter um
conteúdo democrático-burguês e uma direção operário-camponesa.
O proletariado, assim, segundo Lênin, atuaria a favor da
burguesia na presente revolução unicamente com a intenção de lhe
expropriar futuramente. “Quanto mais completa e decisiva, quanto
mais conseqüente for a revolução burguesa, tanto mais garantida
estará a luta do proletariado contra a burguesia, pelo socialismo”
(Lênin, 1982: 406). Na fórmula de Lênin, não havia ainda em 1905
uma contradição absoluta entre burguesia e proletariado. Havia sim,
uma contradição que deveria ser extirpada pela raiz que era a
contradição existente entre proletariado, burguesia e campesinato de
um lado versus nobreza fundiária e czarista, de outro.
Dada esta correlação histórica de forças, toda alternativa
oposta à revolução democrático-burguesa seria ilusória e reacionária.
“A transformação do regime econômico e político da Rússia no
sentido democrático burguês, dizia Lênin, é inevitável e inelutável.
Não há força na terra capaz de impedir esta transformação” (Lênin,
1982: 410). Dizia ainda Lênin que “em certo sentido [o do
desenvolvimento das forças produtivas materiais e da democracia
republicana] a revolução burguesa é mais vantajosa para o
proletariado do que para a burguesia” (Lênin, 1982: 406).
Estas teses de Lênin serão criticadas em seus fundamentos
por Trotsky. Segundo este, Lênin errava em sua avaliação sobre o
caráter da futura revolução russa por acreditar demasiadamente na
capacidade do campesinato para se constituir como força política
independente. Lênin erra, segundo Trotsky, por colocar muitas vezes
o camponês, inadvertidamente, ora ao lado do proletariado e ora até
mesmo à frente dele. Para Trotsky, os camponeses seriam, em
qualquer parte e em qualquer situação, incapazes de se constituírem
como força política autônoma. Os camponeses nunca poderiam estar
ao lado, e muito menos à frente do proletariado. Os camponeses só
poderiam, dado seu caráter atrasado de classe, estar atrás e dirigido
pelo proletariado.
Segundo Trotsky, Lênin corrigira as imprecisões de sua
fórmula ao longo do período que vai de 1905 a 1917. Esta correção
aparecerá claramente em abril de 1917, onde, nas famosas Teses de
Abril, após retornar do exílio, defendera a palavra de ordem
revolucionária de Todo poder aos sovietes, isto é, defendera a
ditadura revolucionária do proletariado com o apoio do campesinato
para toda a Rússia.
3) Trotsky e o caráter permanente da revolução socialista
Trotsky se opõe às ilusões de Lênin acerca da possibilidade
do campesinato se constituir em partido revolucionário com programa
próprio e independente dos outros partidos e da possibilidade de
uma ditadura revolucionária democrática do proletariado e do
campesinato. Para ele, a futura revolução não poderia ser definida
com a mesma rigidez definida pelo chamado marxismo oficial. Para
Trotsky, a futura revolução russa não seria exatamente burguesa,
democrática ou mesmo proletária, mas seria sim, permanente. Por
revolução permanente Trotsky entendia o processo ininterrupto de
transformações revolucionárias que começava com a luta anticzarista
e se encerrava apenas com a tomada final do poder pelo
proletariado. Para que a futura revolução russa tivesse este caráter
“permanente”, o proletariado não poderia, de modo algum, dividir o
poder com os camponeses, como compreendia a fórmula de Lênin,
nem muito menos deixar se dirigir por eles. Para que a futura
revolução tivesse este caráter permanente o proletariado deveria,
desde o começo da luta anticzarista, ser o único e verdadeiro
dirigente do processo. Os camponeses, na concepção de Trotsky,
participariam da revolução como aliados do proletariado. “A teoria da
revolução permanente significa que a solução verdadeira e completa
de suas tarefas democráticas e nacionais libertadoras só é
concebível por meio da ditadura do proletariado, que assume a
direção da nação oprimida e, antes de tudo, de suas massas
camponesas” (Trotsky, 1979: 137).
Para Trotsky, os camponeses nunca poderiam dirigir a
revolução democrática, nem mesmo dividir esta direção com o
proletariado porque, seguindo a concepção de Marx, o campesinato
é incapaz, por sua própria natureza, de se constituir em partido
revolucionário independente dos partidos burgueses ou operários.
Para Trotsky, o campesinato, por constituir uma classe intermediária
entre as duas principais classes do capitalismo, seguirá sempre, ora
a burguesia ora o proletariado. Dividir com o campesinato a direção
da futura revolução democrática, ou mesmo deixar a revolução
inteiramente sob sua direção, seria abrir um flanco ao
desenvolvimento de aspirações oportunistas, egoístas e pequeno-
burguesas. Aspirações que encontrariam facilmente apoio entre a
burguesia. A fórmula de Lênin, ditadura revolucionária democrática
do proletariado e do campesinato, segundo Trotsky, errava por
possuir um aspecto algébrico, isto é, indeterminado, por não definir
com segurança o caráter oscilante do campesinato e por não colocar,
desde o princípio, o proletariado como direção absoluta de todo o
processo, inclusive dos camponeses. “O camponês, segundo
Trotsky, segue o operário ou o burguês. Isso significa que a ‘ditadura
democrática do proletariado e dos camponeses’ só é concebível
como ditadura do proletariado arrastando atrás de si as massas
camponesas” (Trotsky, 1979: 138).
Um terceiro regime, o democrático, situado entre a ditadura
burguesa e a ditadura do proletariado, dirigido pelos camponeses e
com o auxílio do proletariado, como sugeria a fórmula indeterminada
de Lênin, só seria possível “se pudesse existir um partido
revolucionário independente que exprimisse os interesses da
democracia camponesa e pequeno burguesa em geral e, com o
auxílio do proletariado, fosse capaz de conquistar o poder e
determinar o seu programa revolucionário” (Trotsky, 1979: 138).
Possibilidade eliminada pelo caráter retardatário e oscilante do
campesinato.
Na fórmula de Plekhanov e dos Conferencistas, a revolução
russa seria não apenas burguesa como seria, ainda, dirigida e
aproveitada exclusivamente pela burguesia. Ao proletariado e aos
camponeses caberia o papel de atuarem como apêndices auxiliares
da revolução. Na fórmula algébrica de Lênin, a revolução, como para
os mencheviques, possuiria um conteúdo burguês, contudo, sua
direção poderia ser dividida, desde o começo, entre o partido
proletário e o partido camponês. A decisão sobre quais dos partidos
assumiria verdadeiramente a direção do processo ficaria a cargo da
correlação de forças. Decisão, portanto, que não poderia ser definida
a priori. Para Trotsky, a revolução possuiria, desde o início, um
conteúdo já operário e socialista que se desenvolveria
ininterruptamente ao longo de uma série progressiva de lutas, sem
se deter em nenhuma de suas etapas, seja burguesa ou
democrática, como sugere claramente a fórmula menchevique e
como parece sugerir certas vezes a fórmula indeterminada de Lênin.
Para que a revolução possuísse este caráter socialista desde o
começo, o proletariado deveria assumir-se como direção dela,
pondo-se à frente dos camponeses como o pai se põe à frente dos
filhos e indicando desde cedo o caminho seguro a ser tomado.
O misterioso da fórmula de Trotsky se encontrava no fato de
que, segundo as teses clássicas do marxismo, o desenvolvimento
histórico de uma nação se realiza sempre mediado por etapas
determinadas que não podem ser arbitrariamente ultrapassadas. A
tese da revolução operária de Trotsky na Rússia atrasada, semi-
feudal e semi-asiática, com um proletariado fraco numericamente e
uma imensa população camponesa, chocava-se com os cânones do
marxismo oficial na medida em que parecia propor, arbitrariamente,
saltar a etapa burguesa e democrática da revolução russa e
convertê-la diretamente em revolução operária.
Na verdade, a teoria da revolução permanente não eliminava
as etapas democrática e burguesa passando por cima das chamadas
leis inevitáveis da história universal. Ao contrário, segundo Trotsky,
ela seria a única capaz de realizar com toda profundidade estas
etapas da revolução porque o campesinato, como classe oscilante e
pequeno burguesa, teria tanto interesse quanto a burguesia em parar
a revolução numa etapa determinada do processo. A burguesia, por
sua própria natureza, teria interesse apenas em realizar a revolução
burguesa. De acordo com Lênin e Trotsky, a burguesia russa, dado
seu caráter retardatário, não teria nem mesmo interesse em levá-la
até o fim, parando em algum ponto do processo, aliando-se ao
czarismo e aos proprietários fundiários. O campesinato, por sua
natureza intermediária, uma vez posto no poder pela revolução, por
temer seu avanço e a socialização da propriedade, poderia retornar
para trás e se aliar à burguesia na defesa da pequena propriedade e
de seus interesses particulares. Por isso, na concepção de Trotsky,
pôr o campesinato no poder, ou mesmo ao lado do proletariado, seria
abrir o flanco da revolução às aspirações conservadoras da pequena
burguesia. A única fórmula para que a revolução burguesa se
convertesse em revolução operária, como desejava Lênin, seria pôr o
proletariado na direção do processo e à frente dos camponeses
desde o começo.
A revolução permanente não saltaria, assim, nenhuma etapa
do processo, ela seria, na verdade, a única a realizar com a maior
radicalidade todas as etapas da revolução socialista, isto é, a realizar
tanto a revolução burguesa anticzarista quanto a revolução
democrática aspirada pelo campesinato, desembocando numa
revolução operária e socialista. A revolução democrático-burguesa
transcresceria, assim, em revolução socialista. O termo
transcresceria, diz Trotsky em A Revolução Permanente, não é dele,
mas, sim, de Lênin. A revolução burguesa transcresceria em
revolução socialista porque no curso ininterrupto do processo “a
sociedade não faz senão mudar de pele, sem cessar” (24). A
ditadura do proletariado tornar-se-ia, por isso, “a arma com a qual
seriam alcançados os objetivos históricos da revolução burguesa
retardatária” (Trotsky, 1979: 21).
Cabe esclarecer que Trotsky e Lênin nunca debateram
diretamente estas teses. Segundo Trotsky, Lênin nunca demonstrou
ter lido diretamente seu trabalho Balanços e Perspectivas, de 1906,
onde analisara o debate entre Conferencistas e Congressistas,
exposto na obra Duas Táticas da Social Democracia na Revolução
Democrática, de Lênin, publicada em 1905. A Revolução
Permanente, obra de 1930 publicada no exílio francês, não é
exatamente uma obra em que Trotsky propôs somente demonstrar
com mais exatidão suas diferenças com Lênin durante a revolução
de 1905. Esta obra se propôs, muito mais, a demonstrar as
falsidades e acusações grosseiras do stalinismo contra suas
concepções. Nesta obra, Trotsky se empenhou, sobretudo, em
demonstrar o quanto ele e Lênin, mesmo que militando em partidos
diferentes, estavam muito próximos teoricamente sobre o sentido da
futura revolução russa.
Segundo Trotsky, a única diferença que havia entre ele e
Lênin nesta época na questão da estratégia da revolução, nunca
debatida abertamente entre ambos, era a diferença de concepção
acerca do papel do campesinato na futura revolução. Segundo
Trotsky, a deficiência de Lênin nesta época resumia-se unicamente
ao fato de ele não determinar com exatidão o papel central e
dirigente do proletariado na revolução iminente. A diferença entre
ambos resumia-se no seguinte, diz Trotsky: “Lênin, partindo sempre
do papel dirigente do proletariado, insistia sobre a necessidade da
colaboração revolucionária e democrática dos operários e dos
camponeses” (Trotsky, 1979: 69). Trotsky, segundo ele mesmo,
“partindo sempre dessa colaboração, insistia sobre a necessidade da
direção proletária, tanto no bloco das duas classes como no governo
chamado a pôr-se à frente desse bloco” (Trotsky, 1979: 69).
Stálin e seus “epígonos”, como os chamava Trotsky,
acusavam-no, contudo, de pretender saltar etapas, de desprezar o
papel dos camponeses e, sobretudo, por acreditar que a Revolução
Russa só se consolidaria verdadeiramente com o apoio do
proletariado internacional, especialmente o europeu, e da expansão
da revolução socialista para fora da Rússia, de não confiar na força
nacional-revolucionária do proletariado russo. A teoria de Trotsky não
pretendia saltar nenhuma das etapas da revolução, nem desprezar
nem enaltecer absolutamente qualquer força revolucionária parcial e
nacional, mas, sim, de subsumir todas estas forças e partidos a um
único e mesmo processo global, internacional e ininterrupto de
transformações revolucionárias, processo que partia da etapa
nacional-burguesa e se encerrava e se completava somente com a
vitória da ditadura do proletariado no campo da revolução
internacional.
Segundo Trotsky, as teorias sociais-democratas da época, e
mesmo a teoria defendida por Lênin, “consideravam a democracia e
o socialismo, em todos os povos e em todos os países, como duas
etapas não somente distintas, mas também muito distantes uma da
outra” (Trotsky, 1979: 23). Enquanto a opinião dos partidos
revisionistas considerava que o caminho para a ditadura do
proletariado passaria por um longo período de democracia, “a teoria
da revolução permanente proclamava que, para os países atrasados
[como a Rússia], o caminho para a democracia passa pela ditadura
do proletariado” (Trotsky, 1979: 24).
Sobre a acusação de que a teoria da revolução permanente
não confiava na força nacional-revolucionária do proletariado russo,
Trotsky respondia que o proletariado russo só poderia se pôr como
vanguarda da revolução ainda em 1905, porque a futura revolução
não seria uma revolução nacional, mas, sim, internacional. A força
revolucionária do proletariado não viria apenas da covardia da
burguesia e da fraqueza do campesinato russo, mas, viria,
sobretudo, da força das revoluções socialistas vitoriosas no resto da
Europa, especialmente na Alemanha. Só a revolução internacional
poderia completar e consolidar a revolução russa como uma
revolução operária.
Trotsky refutava toda exaltação ufanista ao proletariado russo
porque se considerava inimigo de todo “messianismo nacional”, isto
é, inimigo de todo tipo de reconhecimento de vantagens e qualidades
peculiares a certos países capazes de lhes conferir um papel que os
demais países não poderiam desempenhar (Trotsky, 1979: 140).
Para Trotsky, o papel de vanguarda do proletariado russo em 1905
estava condicionado pela possibilidade da revolução operária se
disseminar para os principais países industrializados da Europa.
Acreditar que a Rússia, pelas suas peculiaridades excepcionais,
como extensão territorial e riquezas naturais abundantes, poderia
desenvolver por si mesma o socialismo, independente da
transformação socialista estendida a outros países, seria cair numa
utopia nacionalista arcaica incompatível com o caráter internacional
das forças produtivas desenvolvidas pelo capitalismo.
No caso da revolução proletária não conseguir se disseminar
para outros países, no caso de ela se manter limitada no interior de
uma única nação, mesmo que esta nação fosse a poderosa Rússia
de 1905, “as contradições internas e externas aumentam
inevitavelmente e ao mesmo passo que os êxitos. Se o Estado
proletário continuar isolado, ele, ao cabo, sucumbirá vítima dessas
contradições” (Trotsky, 1979: 24). O sucesso da revolução operária
em um determinado país dependeria, por isso, segundo as palavras
proféticas de Trotsky, do sucesso da revolução operária
internacional.
Com as revoluções chinesa e cubana e a crise do movimento
operário a partir da segunda metade do século XX, O Dezoito
Brumário de Luis Bonaparte deixou, porém, de desempenhar um
papel programático e revolucionário fundamental, como havia sido
para Lênin e Trotsky. A tese da supremacia política do proletariado
sobre os camponeses passou a ser esquecida e em seu lugar surgiu
a concepção de que os camponeses poderiam desempenhar um
papel de vanguarda na luta contra o capitalismo, como teriam
desempenhado na China em 1949 e em Cuba em 1959. Em lugar da
luta de classes nas cidades, com o campo sob sua direção, a
segunda metade do século XX foi dominada pela luta de guerrilhas
camponesas. Com essa virada O Dezoito Brumário de Luis
Bonaparte foi transformado em mera obra de sociologia marxista e
empregado para descrever a dinâmica geral da luta de classes e dos
frequentes golpes militares, especialmente os da América Latina.
4) Moreno e a natureza das revoluções do século XX
A partir dos anos 50 do século passado, a Teoria da
Revolução Permanente de Trotsky começou a sofrer uma importante
revisão surgida no interior da própria IV Internacional, fundada por
ele em 1938. Segundo a Teoria da Revolução Permanente, a
revolução realizada na Rússia em 1917 foi socialista apenas em seu
começo, quando ainda era realizada pelos próprios operários e sob a
direção de Lênin. Com a ascensão de Stálin ao poder a partir de
1924, ascendeu junto a ele uma série de camadas burocráticas e
conservadoras que em nada se interessava pelo caráter socialista da
revolução. Por este caráter burocrático e contrarrevolucionário do
regime stalinista, Trotsky propunha a necessidade de uma segunda
revolução para a Rússia, agora dirigida contra a burocracia e o
Partido Comunista.
Segundo Michel Pablo e Ernest Mandel, principais dirigentes
da IV Internacional nos anos 50, a caracterização de Trotsky sobre a
natureza contrarrevolucionária da burocracia soviética deveria ser
relativizada. Segundo suas previsões, nunca efetivadas, o mundo
estaria, nesta época, na iminência de viver uma terceira guerra
mundial de proporções catastróficas. Numa conjuntura de guerra
entre o bloco imperialista, liderado pelo Estado norte-americano, e o
bloco socialista, liderado por Moscou, a burocracia poderia adotar
posições revolucionárias e ser obrigada, pela força objetiva da
situação, a avançar a revolução socialista no interior da União
Soviética e realizá-la nos países imperialistas, rompendo, assim, o
pacto de convivência pacífica dos anos 40.
Segundo este falso prognóstico, Pablo e Mandel
relativizavam o papel conciliador dos partidos stalinistas e defendiam
o chamado entrismo sui generis de todas as seções da IV
Internacional nos partidos comunistas. De acordo com eles,
impulsionados pela lógica objetiva do movimento revolucionário, os
partidos stalinistas seriam obrigados a dirigir as novas revoluções
que eclodiriam com a guerra. Segundo estes dirigentes, a tarefa de
construir uma nova internacional revolucionária poderia ser
dispensada, pois as futuras revoluções socialistas seriam dirigidas
pelos partidos stalinistas. Aos trotskistas, caberia o papel de atuarem
como ala esquerda do stalinismo nestas revoluções.
Moreno não concordava com os prognósticos de Pablo e
Mandel e a política de subordinação ao stalinismo. Contudo, nem por
isso deixou de ser influenciado por estas concepções revisionistas,
liquidacionistas e objetivistas da revolução socialista. Moreno
defenderá abertamente a necessidade de se revisar a Teoria da
Revolução Permanente à luz, segundo ele, das novas revoluções
operárias surgidas após a morte de Trotsky em 1940.
A visão de moreno sobre as revoluções do século XX
Moreno divide a revolução russa de 1917 em três etapas
cronológicas distintas: 1905, fevereiro e outubro. A revolução de
1905 e a de fevereiro foram o prólogo da revolução de outubro. Esta,
como sabemos, foi a revolução que pôs o partido bolchevique e o
proletariado no poder. A revolução de fevereiro foi aquela que
antecipou a de outubro e foi dirigida por partidos burgueses e
pequeno burgueses.
A revolução de outubro se diferenciou da de fevereiro por
dois fatores: a existência dos soviets como órgãos da democracia
operária e a existência de um partido marxista revolucionário que
dirigiu as massas para a revolução. Ambas as revoluções foram,
contudo, segundo Moreno, revoluções socialistas. A de fevereiro foi o
prólogo obrigatório da de outubro. “Por sua dinâmica de classes e
pelo inimigo que enfrentam, ambas são revoluções socialistas”
(Moreno: Atualização do Programa de Transição – Tese XV). Para
Moreno, a diferença entre ambas é uma diferença apenas subjetiva.
A de fevereiro foi, objetivamente, uma revolução socialista pelo seu
caráter democrático e anticzarista e se diferenciou da revolução de
outubro pelo seu caráter “inconsciente”, pela ausência dos soviets e
do partido bolchevique como dirigente das massas. A revolução de
fevereiro pode ser considerada objetivamente socialista pelo sentido
dos acontecimentos e da obrigatoriedade das tarefas que cumpriu. “A
revolução de fevereiro é inconscientemente socialista, enquanto que
a de outubro é em forma consciente” (Moreno: Tese XV).
A diferença entre ambas as revoluções pode ser explicada
deste modo. Por um lado, ambas foram socialistas porque ambas
foram impulsionadas pelo movimento operário e camponês, a massa
da revolução. Contudo, a de fevereiro, por ter sido dirigida por
partidos não marxistas e revolucionários, por ter sido dirigida por
partidos burgueses e pequeno-burgueses, foi uma revolução
socialista incompleta e embrionária. Porém, ela serviu objetivamente
como prólogo e trampolim obrigatório para a segunda, a revolução
operária dirigida por um partido marxista revolucionário. A revolução
de fevereiro, mesmo tendo sido dirigida por partidos não marxistas,
não foi uma revolução burguesa: “Fevereiro é uma revolução
socialista, categoricamente socialista, que destrói o aparato estatal
capitalista mediante uma luta armada revolucionária dos
trabalhadores” (Moreno: Tese XV). A diferença entre fevereiro e
outubro estava no caráter mais ou menos avançado de ambas.
Apesar de fevereiro não ter sido dirigida por um partido socialista ela
foi socialista pelas tarefas que cumpriu, tarefas que nem mesmo sua
direção tinha consciência de estar realizando.
Segundo a lógica da Teoria da Revolução Permanente, para
que fevereiro pudesse se converter plenamente em revolução
socialista haveria a necessidade de ela ser dirigida, desde o começo,
pelo proletariado e seu partido. Contudo, segundo Moreno, o curso
objetivo dos acontecimentos em 1917 refutou este esquema lógico
de Trotsky e converteu a revolução de fevereiro em revolução de
outubro. A história da revolução russa, e mesmo a história de todas
as futuras revoluções, como veremos adiante, teria, segundo
Moreno, negado Trotsky, que acreditava que somente com o
proletariado na dianteira da revolução seria possível a realização da
democracia, e mesmo a realização da revolução burguesa. “Na
Rússia, diz Moreno, se deu uma combinação de revolução socialista
com democrático-burguesa em fevereiro” (Moreno: Tese XV).
Esta concepção de Moreno, porém, não encontra nenhum
apoio em Trotsky. Este é muito claro ao dizer que nunca houve uma
revolução democrático burguesa na Rússia como etapa
independente e, muito menos, antes da tomada do poder pelo
proletariado em outubro. Tomemos esta prova do próprio Trotsky,
quando responde a Radek, que como Moreno defendia a idéia de
que fevereiro foi uma revolução democrático burguesa independente,
o questionando enfaticamente: “Teria a burguesia russa ‘resolvido’ os
problemas da revolução democrática com a Revolução de Fevereiro?
Não, pois que todos esses problemas e, entre eles, como
predominante, o problema agrário, ficaram sem solução” (Trotsky,
1979: 111). Se a revolução democrática e a reforma agrária tivessem
sido realizadas como etapas independentes em fevereiro pelo
governo de Kerensky, então, dizia Trotsky a Radek, a revolução de
outubro teria sido dispensada na Rússia. Na Rússia, a ditadura
democrática e a reforma agrária não apenas não foram realizadas
antes da revolução de outubro e independentes dela, como tinham
outubro como condição de sua realização. “A ditadura do
proletariado, diz Trotsky, apareceu como condição preliminar da
revolução agrário-democrática, e não depois dessa revolução”
(Trotsky, 1979: 100). E aqui, diz Trotsky, “temos, em suma... todos os
elementos essenciais da teoria da revolução permanente” (Trotsky,
1979: 100).
Moreno não define o caráter de uma revolução pela classe
que a dirige ou, pelo menos, que a dirige conscientemente, mas, sim,
pelos inimigos que ela combate e pelas tarefas históricas que ela
deve realizar. Assim, não há nenhuma incoerência para ele
conceituar a revolução de fevereiro na Rússia como uma revolução
socialista. Segundo Moreno, não teria sido a burguesia e seu partido
quem realizaram a revolução de fevereiro na Rússia, mas, sim, o
proletariado. Segundo ele, o proletariado, por conta de sua fraqueza
como classe social e por conta de sua consciência atrasada “se viu
obrigado a levar a cabo uma revolução de fevereiro como prólogo à
necessária revolução de outubro” (Moreno: Tese XV). Esta última
etapa da revolução só foi possível porque fevereiro serviu de prólogo
a ela, porque “a traição dos mencheviques e socialistas
revolucionários [um produto objetivo da revolução e não da arte
bolchevique] obrigou as massas a levar a cabo a grande mobilização
contra Kornilov” (Moreno: Tese XV).
Segundo a visão de Moreno, como uma locomotiva que
desliza inconscientemente ladeira abaixo, a revolução russa foi,
desde 1905, se desenvolvendo objetiva e paulatinamente em direção
da revolução socialista. Ao mesmo tempo em que determinadas
barreiras iam se colocando no caminho da locomotiva socialista, elas
também iam sendo derrubadas pela força da lógica objetiva presente
em toda revolução. O fator fundamental que explica a revolução de
fevereiro, segundo a lógica de Moreno, é o atraso da consciência da
massa operário-camponesa, atraso que se manifestava na forma de
organização, não ainda na forma dos soviets, e no apoio dela aos
partidos da burguesia e pequeno-burguesia. Uma vez que estes
partidos traíram o apoio das massas e uma vez que a revolução
socialista, ainda inconsciente, fora bloqueada pela direção
contrarrevolucionária, a dinâmica objetiva da revolução levou
naturalmente as massas a se organizarem em soviets e a apoiarem o
partido de Lênin.
Segundo Moreno, todas as revoluções do pós-guerra
seguiram esta mesma lógica. A diferença entre elas resume-se no
fato de que a única a passar da primeira fase, a de fevereiro, foi a
russa. Todas as outras revoluções foram bloqueadas no meio do
caminho pelos mesmos partidos que a dirigiram. Somente na Rússia,
dada a existência desde o começo de um partido revolucionário com
influência de massas, foi possível chegar até outubro. O pós-guerra
por isso, “é a etapa da revolução socialista inconsciente ou de
fevereiro generalizada a nível de todo o planeta” (Moreno: Tese XV).
Assim, no esquema objetivista de Moreno, contrário ao
esquema de Trotsky, a revolução russa se realizou em duas etapas
bem distintas, mesmo que tenham sido etapas de um mesmo
processo. Uma revolução socialista e inconsciente em fevereiro que
possui o caráter de prólogo e outra em outubro, consciente, que
completa a primeira. A de fevereiro foi uma revolução democrático-
burguesa e a de outubro socialista. Esta mesma distinção permite a
Moreno classificar a etapa do pós-guerra como a etapa das
revoluções de fevereiro e, deste modo, apesar das traições do
stalinismo e da crise de direção proletária, classificar o pós-guerra
eufórica e entusiasticamente como a etapa mais revolucionária de
toda a história da humanidade.
A avaliação de Moreno sobre a revolução russa lhe permite,
então, relativizar a importância da construção de partidos trotskistas
desde o começo da revolução, já que a primeira etapa dela, não
apenas na Rússia mas mesmo em Cuba e China, foi dirigida e
realizada por partidos e organizações pequeno-burguesas,
oportunistas e mesmo contrarrevolucionárias. Esta relativização
permite a Moreno, deste modo, prestar certo apoio e solidariedade,
ainda que crítica, às revoluções cubana e chinesa e às suas direções
oportunistas. Permite, ainda, prestar apoio a certos movimentos de
guerrilha com caráter nacionalista e democrático-burguês, como o
apoio às diversas guerrilhas latino-americanas da segunda metade
do século passado, e, mais que tudo, esquecer na gaveta o
Programa de Transição, já que este supõe a classe operária à frente
da revolução desde o começo dela.
A experiência da revolução cubana dá a Moreno a certeza de
suas teorias e dos supostos erros de Trotsky. Michel Pablo e Mandel
caracterizavam a revolução cubana como revolução socialista pura e
simplesmente, negando a ela qualquer adjetivo que a
desqualificasse. A diferença entre ambos e Moreno é que para este a
ditadura cubana era burocrática e precisava ser derrubada por uma
nova revolução, como a de outubro na Rússia.
Segundo Moreno, a revolução cubana, apesar de ser dirigida
por um movimento guerrilheiro e pequeno-burguês, devia ser
caracterizada como uma revolução socialista inconsciente. Ela
representou para Cuba o mesmo que representou fevereiro para a
Rússia. Contudo, dada a ausência de uma direção trotskista com
força para dirigir a segunda etapa da revolução, o Estado cubano se
petrificou na forma de um estado operário burocratizado, como o
estado russo na era de Stálin. A ditadura implantada em Cuba, por
ter expropriado a burguesia e os proprietários de terras, foi uma
ditadura socialista. Contudo, por não desenvolver os órgãos da
democracia operária e por não expandir a revolução para outros
países, se ossificou na forma de uma ditadura burocrática dos
trabalhadores. “Este caráter tem feito que Cuba desde seu início seja
um estado operário burocratizado, igual aos estados operários
controlados pelos partidos stalinistas” (Moreno: Tese XX). A ditadura
em Cuba, assim como na China, “é uma ditadura proletária, ainda
que se expresse sob forma distorcida através da burocracia e apesar
de que a classe operária não goze de nenhum tipo de democracia”
(Moreno: Tese XXI).
A polêmica Trotsky - Preobrazensky
Moreno pretende explicar suas teses revisionistas a partir de
dois pontos importantes. O primeiro surge a partir de uma rápida
troca de cartas entre Trotsky e Preobrazensky no final dos anos 20.
O segundo surge a partir de uma crítica de Moreno a uma suposta
lógica da identidade presente no esquema de Trotsky. Comecemos,
então, expondo o primeiro ponto da revisão.
Segundo as teses clássicas da Teoria da Revolução
Permanente, a revolução será socialista se for dirigida, desde o
início, por um partido marxista revolucionário. Por isso, tal partido
deve ser construído antes mesmo da revolução democrática. Melhor:
a própria revolução democrática só será possível se existir este
partido. Preobrazensky, em carta endereçada a Trotsky, e citada por
Moreno, acusa Trotsky de ser subjetivista por desconsiderar a
possibilidade de surgirem revoluções democráticas dirigidas por
partidos pequeno burgueses, como na China especialmente.
Segundo Preobrazensky, o esquema de Trotsky pecava por sua
generalidade, por acreditar que os camponeses eram incapazes de
se organizar politicamente, com partido e programa próprios, em
todas as partes do planeta e não apenas na Rússia.
Trotsky respondia a Preobrazensky, resposta na qual Moreno
se agarra para criticar a Teoria da Revolução Permanente em sua
concepção clássica, dizendo que se uma revolução, mesmo que
democrática, pudesse ser dirigida por um partido não operário, então
esta revolução já seria socialista desde o início. Segundo esta
concepção de Trotsky, na época do imperialismo as revoluções
burguesas já não eram mais possíveis porque expropriar o
imperialismo seria o mesmo que expropriar o capitalismo, ou, seja,
seria o mesmo que implantar a ditadura do proletariado. Segundo as
concepções da carta, uma revolução como a chinesa deveria ser
considerada socialista não pelo critério da classe que a dirigiria, mas,
sim, pelo critério das classes que ela expropriaria. Como ela
expropriaria o imperialismo e os proprietários de terras e como estas
duas classes são classes do capitalismo, então a revolução nestes
países seria objetivamente socialista mesmo que fosse realizada e
dirigida por camadas pequeno burguesas. “Então, diz Trotsky na
carta resposta, não me interessa o sujeito. Seja qual for o sujeito,
tem que fazer a revolução socialista” (Moreno: Intervenções na
Escola de Quadros - Argentina 1984). Moreno se lamenta pelo fato
de Trotsky não ter levado a sério sua própria resposta a
Preobrazensky e continuar apegado a sua fórmula subjetivista da
revolução socialista.
Para Moreno, a fórmula objetivista da revolução permanente,
a de que sujeitos políticos que não têm querido realizar a revolução
socialista se viram obrigados a fazê-la pela própria situação objetiva,
como nos casos da revolução chinesa e cubana, fórmula desprezada
pelo próprio Trotsky, tem sido uma das partes que ainda se
conservaria viva e atual da Teoria da Revolução Permanente. A
formulação clássica da Teoria da Revolução Permanente de Trotsky,
“tem, segundo Moreno, o grave defeito de que gira ao redor dos
sujeitos” (Moreno: Intervenções na Escola de Quadros) e não das
tarefas a serem objetivamente executadas. Para Moreno, este
subjetivismo da fórmula clássica não teria resistido aos
acontecimentos do pós-guerra, pois este “tem demonstrado que,
contra a opinião de Trotsky, a pequeno burguesia pode ir a esquerda
[mesmo na ausência de um partido marxista revolucionário]. E as
vezes, como em Cuba, ir mais a esquerda, inclinar-se para posições
mais revolucionárias que a classe operária” (Moreno: Intervenções
na Escola de Quadros). Em Cuba e China, como já dissemos
anteriormente, a revolução não foi até o fim porque as direções eram
oportunistas. Mas, segundo Moreno, mesmo sendo oportunistas
estas direções fizeram tanto a revolução democrática quanto a
socialista, esta no sentido de revolução inconsciente, isto é, no
sentido de que cumpriu a tarefa de expropriar econômica e
politicamente a burguesia. Faltaria a Cuba e China apenas
desenvolver os órgãos da democracia operária, órgãos que não se
desenvolveram pelo caráter oportunista destas direções e pela
fraqueza do proletariado cubano e chinês.
Segundo Moreno, a revisão da teoria clássica de Trotsky, a
revisão da teoria fundamentada nos sujeitos, deveria ser concebida
como uma das maiores necessidades do movimento trotskista atual.
“Temos que formular que não é obrigatório que seja a classe
operária e que seja um partido marxista revolucionário com influência
de massas que dirija o processo da revolução democrática para a
revolução socialista” (Moreno: Intervenções na Escola de Quadros).
A necessidade de um partido revolucionário que dirija todo o
processo desde o começo tem ficado claramente relativizada na
compreensão objetivista de Moreno. Um partido assim, seria
necessário apenas para impulsionar, de fora ou de dentro dos
partidos pequeno burgueses, a segunda etapa da revolução, a que
vai da revolução socialista inconsciente à etapa final consciente.
Concluindo, diz Moreno, há que mudar a teoria da revolução
permanente em sua redação, para insistir nisto: sem partido
revolucionário e sem intervenção primordial, hegemônica, da
classe operária, tem havido revoluções democráticas
triunfantes, e algumas destas revoluções democráticas
triunfantes, dirigidas por correntes pequeno burguesas que
se apoiavam na pequena burguesia têm avançado até fazer
a revolução socialista, até expropriar a burguesia. Isto é, por
falta de maturidade da classe operária e porque era uma
necessidade, uma classe não operária, setores da pequena
burguesia, se têm visto obrigados a fazer a revolução,
democrática primeiro e socialista depois (Moreno:
Intervenções na Escola de Quadros).
Mesmo que estas revoluções tenham sido dirigidas por
setores pequeno burgueses, mesmo que elas tenham se
burocratizadas no meio do caminho, mesmo que elas sejam
revoluções incompletas, mesmo que elas não coloquem a classe
operária diretamente no poder, mesmo que o poder seja ocupado
pela burocracia pequeno burguesa, estas revoluções são socialistas
e, por isso, progressivas diz Moreno, porque elas “abrem [e não
fecham, como poderíamos pensar] o caminho para a revolução de
outubro” (Moreno: Intervenções na Escola de Quadros).
A lógica das revoluções do século XX segundo Moreno
O segundo ponto no qual Moreno pretende se apoiar para
revisar a Teoria (clássica) da Revolução Permanente e criticar os
pretensos erros de Trotsky é a lógica. Segundo Moreno, o erro
subjetivista de Trotsky se explica pelo mau uso que ele faz da lógica.
Segundo ele, Trotsky se apoiava erroneamente na lógica da
identidade e, assim, caia no mesmo erro dos mencheviques e dos
marxistas que não sabem pensar dialeticamente.
No esquema menchevique, a revolução seria
necessariamente burguesa e, por isso, de acordo com a lógica da
identidade utilizada por eles, deveria ser dirigida e usufruída
exclusivamente pela burguesia revolucionária e seus partidos. Para
os mencheviques revolução burguesa = direção burguesa. No
esquema de Trotsky a revolução operária só seria viável se fosse
dirigida desde o começo pelos operários e seu partido revolucionário.
Para ele, revolução operária = direção operária = partido marxista
revolucionário. Moreno explica que este esquema de Trotsky foi
construído assim devido ao fato de ele não compreender
profundamente as leis do desenvolvimento desigual e combinado das
revoluções. Segundo esta lei, que teria se manifestado abertamente
em todas as revoluções do século XX de acordo com Moreno, não há
uma relação de identidade entre sujeitos sociais e sujeitos políticos
em uma revolução. Isto é, segundo Moreno, não há uma relação de
identidade direta entre as classes que fazem uma revolução e os
partidos que a dirigem. Ou seja, segundo Moreno, a história e as
revoluções não seguem nenhuma lei necessária. Segundo ele, a
lógica reinante nestas revoluções é, na verdade, a ausência que
qualquer lógica.
Na Rússia, de acordo com Moreno, enquanto a revolução
socialista da primeira etapa fora impulsionada por operários e
camponeses, sua direção fora pequeno burguesa. Em Cuba e China
a revolução tivera como sujeito social e base de apoio os
camponeses e sua direção era pequeno burguesa e guerrilheira.
Mesmo assim, em todas elas, a revolução fora socialista em seu
conteúdo. O erro de Trotsky, segundo Moreno, se explica pela
circunstância de que sua fórmula coloca um sinal de igualdade entre
conteúdo e forma da revolução. Para Moreno, a relação destes dois
pólos não pode ser determinada pondo-se um sinal de igualdade
entre eles, como fizera Trotsky, mas, deve sim, ser determinada pelo
caráter desigual e combinado da revolução.
Segundo Moreno, a lógica do desenvolvimento desigual e
combinado da revolução pode ser comparada a duas locomotivas
postas sob um par de trilhos. Quando uma locomotiva se movimenta
dirigida por um maquinista que conscientemente aciona seu motor e
lhe conduz para um rumo que ele, como sujeito, antecipa antes da
partida, a locomotiva se movimenta segundo um princípio subjetivo,
já que é conduzida por uma vontade consciente, a do maquinista.
Quando a mesma locomotiva se põe em movimento impulsionada
por forças naturais, como no caso de uma locomotiva posta em uma
descida, o curso deste movimento é um curso objetivo, já que não
depende da vontade e da consciência de um sujeito para seguir o
curso dos trilhos. A locomotiva segue este curso naturalmente,
independente de quem seja o maquinista.
Moreno transporta esta imagem da locomotiva para a análise
das forças que dirigem uma revolução. Segundo ele, há dois sujeitos
envolvidos num processo revolucionário. Um primeiro, que ele chama
de sujeito social, e um segundo, que ele chama de sujeito político. O
sujeito social da revolução é a classe social e o sujeito político é o
partido. Assim, por exemplo, na lógica do desenvolvimento desigual
e combinado de Moreno, apesar do proletariado ter atuado como o
verdadeiro sujeito social, ainda que inconsciente, de todas as
revoluções do século XX, ele foi dirigido por diferentes sujeitos
políticos. Na revolução de fevereiro na Rússia, por exemplo, ele foi
dirigido pelos mencheviques e socialistas revolucionários e na
revolução de outubro pelo partido bolchevique. Em Cuba ele foi
dirigido pelo movimento guerrilheiro e pequeno burguês de Fidel
Castro e na China pela guerrilha de Mao Tsé Tung.
Segundo Moreno, Cuba, China, Camboja etc. seriam nações
socialistas, mesmo que burocratizadas, porque nelas a burguesia
teria sido expropriada pela revolução. Assim, para ele revolução
socialista = expropriação da burguesia e tanto Fidel Castro quanto o
sanguinário Pol Pot e o Kmer Vermelho, como todos os modernos
oportunistas do movimento socialista que tenham expropriado a
burguesia também seriam socialistas e revolucionários
(inconscientes, é claro).
Esta lógica objetiva, desigual e combinada teria sido,
segundo Moreno, a lógica que predominou em todas as revoluções
do século XX (Moreno: Intervenções na Escola de Quadros).
5) O caráter antimarxista e antitrotskista das concepções de
Moreno
Em nossa concepção, Moreno, apesar de seus esforços em
desenvolver teoricamente a Teoria da Revolução Permanente para a
realidade do pós-guerra, não fez mais do que repetir de maneira
diferente os mesmos argumentos liquidacionistas do pablismo e,
inclusive, dos adversários diretos de Trotsky, como Radek e
Preobrazensky.
Sua concepção da revolução, apesar de não dispensar a
construção da IV Internacional, como dispensara abertamente o
pablismo, relativiza a importância e a necessidade dela para o triunfo
da revolução socialista. Do mesmo modo que Plekhanov e os
mencheviques, e mais tarde o stalinismo, sua teoria da revolução
socialista é uma teoria claramente etapista, estanque e mecanicista e
não uma teoria dialética da revolução, não uma teoria do
transcrescimento da revolução democrática em revolução socialista
dirigida diretamente pelo proletariado e seu partido revolucionário em
um único processo, como conceberam Lênin e Trotsky.
Ao dispensar a necessidade de se construir partidos
trotskistas que dirijam a revolução democrática, ao dispensar o papel
da classe operária nesta fase da revolução, Moreno dispensa junto a
necessidade de se agitar o Programa de Transição no meio do
movimento operário. Com isso, o programa do morenismo desce ao
nível do programa das organizações centristas e reformistas do
movimento operário. Moreno, assim, recua a uma época anterior a
Trotsky e a Lênin, à época da Segunda Internacional e sua divisão
mecânica entre Programa Mínimo de caráter economicista para ser
agitado no meio sindical e Programa Máximo a ser agitado em dias
de festas no Parlamento. Na nova lógica das revoluções descoberta
por Moreno, nenhum papel caberia ao Programa de Transição. Na
primeira etapa, inconsciente, da revolução se agitaria o Programa
Mínimo, isto é, o programa das direções pequeno burguesas, e na
segunda etapa, consciente, se agitaria o Programa Máximo, o
programa do esquerdismo radicalizado.
Na fórmula da revolução pensada pelos mencheviques e por
Plekhanov, não havia a necessidade de se agitar um programa
revolucionário e de se criar um partido revolucionário de combate.
Como a revolução seria dirigida pelos partidos burgueses, ao
proletariado caberia o papel de criar organizações de propaganda e
de servir de ala esquerda da revolução burguesa. Na fórmula
pensada por Lênin, como o proletariado deveria dirigir o processo,
mesmo que ao lado dos camponeses, havia a necessidade de se
criar um partido de combate e de agitação revolucionária, um partido
centralizado e de quadros que organizasse a classe operária para a
tomada do poder. Na fórmula da revolução permanente de Trotsky,
também havia a necessidade, assim como em Lênin, de se organizar
os operários num partido de combate e de agitação revolucionária.
Na fórmula de Trotsky a revolução só poderia adotar um caráter
permanente com a condição de que o proletariado fosse sua direção
desde o começo.
Na fórmula liquidacionista de Moreno, contudo, todas as
lições de Trotsky foram ignoradas ou relativizadas. Como agora a
revolução democrática pode ser dirigida por partidos e organizações
pequeno burguesas, como estes partidos podem substituir o partido
marxista e até mesmo cumprir parcialmente suas tarefas, que
necessidade haveria de se construir partidos de combate como era o
partido de Lênin? Na fórmula relativista de Moreno esta necessidade
ficaria adiada para a segunda etapa da revolução, a etapa
consciente. Antes da etapa democrática, a etapa da revolução
inconsciente, o trotskismo poderia ficar namorando as diversas
organizações centristas e oportunistas do movimento operário, e
mesmo certas organizações nacionalistas guerrilheiras e
democráticas, poderia atuar como a ala esquerda destas
organizações e conclamá-las a fazer sua tarefa: a de realizar a
revolução democrática como etapa separada e independente da
ditadura do proletariado.
Como, em nossa concepção, deveríamos classificar as
revoluções cubanas e chinesas, e mesmo todas as revoluções que
se deram no pós-guerra? Para nós estas revoluções não passaram
de meros golpes bonapartistas sobre o movimento revolucionário dos
trabalhadores. O fato de não haver burguesia em Cuba ou China e o
fato de ela ter sido expropriada nestes países por movimentos
guerrilheiros não transforma estes países em países socialistas,
mesmo que burocratizados. Para nós, estas revoluções devem ser
entendidas dentro do quadro mundial da dominação imperialista.
O imperialismo é uma realidade mundial, é uma totalidade
que domina todos os diferentes países sob as mais diversas formas.
Seja a forma republicana dos Estados Unidos ou social democrata da
Europa rica, seja a forma fascista da Europa da segunda guerra ou a
das ditaduras latino-americanas dos anos 70, seja a forma semi-
bonapartista de Lula no Brasil e de Kirchner na Argentina ou a
claramente bonapartista de Chávez na Venezuela, sejam as formas
que forem, sem a classe operária no poder não há revolução
socialista e sim, domínio do imperialismo. Não existem regimes
híbridos de governo, como imagina Moreno. No mundo moderno só
são possíveis duas formas fundamentais de governo: o imperialista
ou o socialista, consciente, para usar os termos de Moreno. As
tentativas de classificar os diferentes governos nacionais a partir de
critérios extraídos da situação particular de cada país, da existência
ou não de burguesia no seu interior, são antimarxistas e revisionistas
e servem apenas para criar mais confusões e divisões no seio do
movimento trotskista.
Como governos bonapartistas, Fidel Castro e Mao Tsé Tung
nunca passaram de governos burgueses e contrarrevolucionários
desde o princípio. Em Cuba e China nunca houve um processo de
degeneração burocrática da revolução, como houve na Rússia. Estas
revoluções sempre foram, desde o início, burocráticas e
antissocialistas pelo caráter global da dominação imperialista.
A burguesia mundial adoraria ter em todos os países
governos estáveis, republicanos e constitucionais, pois apenas nesta
forma de governo a pluralidade e o conflito permanente entre os
diferentes capitais poderiam ser equacionados segundo regras
democráticas e impessoais e não segundo o capricho e a
arbitrariedade do Bonaparte de plantão. Porém, a realidade nem
sempre consegue corresponder a este sonho idílico da burguesia
mundial e ela se vê, então, obrigada e a contragosto, a aceitar que
em certas áreas do planeta governos bonapartistas como os de Fidel
Castro e do Partido Comunista Chinês governem em seu nome.
A burguesia mundial não é formada por uma classe de
homens ingênuos que acreditam nos discursos inflamados dos
Bonapartes latinoamericanos. Ela tem consciência de que estes
discursos não passam de demagogia para acalmar o ânimo socialista
das massas. Como Trotsky, a burguesia mundial sabe que estes
discursos são discursos oficiais e televisivos proferidos apenas em
dias de festas. Os discursos inflamados dos príncipes do
lumpemproletariado latinoamericano fazem parte do show mundial da
dominação imperialista e nada mais que isso.
O morenismo foi, durante muitas décadas, a maior e mais
influente organização trotskista da América Latina. Nos anos 80 o
MAS, Movimento Ao Socialismo, da Argentina, construído e dirigido
diretamente por Moreno, chegou a possuir cerca de 10 mil militantes
em seus quadros. Após o fim da ditadura militar na Argentina e o
retorno da democracia parlamentar, o MAS se transformou
rapidamente em um forte partido de massas, chegando a dirigir o
sindicato de cerca de 150 fábricas do país. Nas eleições
presidenciais de 1989 conseguiu obter mais de 400.000 votos,
convertendo-se na quarta força eleitoral, atrás apenas das forças do
peronismo. Nestas eleições Luis Zamora chegou a ser eleito
deputado federal pelo MAS.
Após a morte de Moreno em 1987, contudo, o MAS se
esfacelou em dezenas de minúsculas organizações. Até hoje o
morenismo continua a se fragmentar e lutar entre si pelo espólio
liquidacionista de Moreno. Os morenistas se encontram hoje
principalmente no PSTU, do Brasil, e no MST, da Argentina.
Individualmente, seus militantes podem ainda ser encontrados em
partidos abertamente centristas como o PSol brasileiro, onde atuam
como dirigentes importantes. Na base desta fragmentação se
encontram, sem dúvida nenhuma, o abandono das teses clássicas
do trotskismo sobre o papel da classe operária na revolução
socialista e o caráter pablista, revisionista e liquidacionista do próprio
morenismo.
O movimento trotskista do século XX, liderado por Pablo-
Mandel e Moreno, se caracterizou por ter buscado atalhos que
facilitassem a atividade revolucionária. Estes atalhos implicaram
sempre em ceder ao oportunismo pequeno burguês e ao ecletismo
sociológico as posições mais clássicas e revolucionárias do
marxismo. Estes atalhos têm conduzido sempre o trotskismo ao
pântano do centrismo e da traição revolucionária. A construção, hoje,
de uma verdadeira organização trotskista profundamente enraizada
na classe operária, com radical influência de massas e
verdadeiramente internacionalista passa, sem dúvida nenhuma, pela
recuperação das concepções clássicas do trotskismo revolucionário:
a de que só a classe operária é uma classe verdadeiramente
revolucionária, de que só ela e mais ninguém poderá conduzir a
humanidade a um mundo novo e verdadeiramente humano, a de que
só o Programa de Transição em sua concepção clássica é um
programa revolucionário, a de que a Teoria clássica da Revolução
Permanente é mais atual hoje do que em todas as épocas passadas.
A Teoria (clássica) da Revolução Permanente e o Programa
de Transição são hoje mais atuais do que nunca. Mais atuais
inclusive do que na época de Trotsky, quando ainda havia no planeta
países atrasados com uma imensa população camponesa e um
baixo número de operários industriais. Hoje o proletariado constitui a
maioria absoluta da população em todos os principais países do
mundo e toda revolução anticapitalista pode e deve, por isso, ser
conduzida diretamente por ele. Todas as classes e camadas de
classes intermediárias têm desaparecido de nossa história recente
pelo desenvolvimento implacável da acumulação capitalista. Hoje,
mais do que em todas as épocas, se faz necessário a construção de
partidos trotskistas de massas e a organização do proletariado como
o único e verdadeiro sujeito da única e verdadeira revolução possível
de ser realizada com sucesso: a revolução socialista permanente e
internacional.
6) Bibliografia citada
Karl Marx: O 18 Brumário de Luis Bonaparte. In: Karl Marx – Os
Pensadores. S.P: Nova Cultural, 1988.
Leon Trotsky: A Revolução Permanente. S.P: Livraria Editora
Ciências Humanas Ltda., 1979.
Nahuel Moreno: Critica a las Tesis de la Revolución Permanente de
Trotsky. In: Intervenciones en la Escuela de Cuadros –
Argentina 1984. Marxists Internet Archive: janeiro de 2001.
Texto on-line disponível no seguinte endereço:
http://www.marxists.org/espanol/moreno.
_____. Actualización del Programa de Transición. Marxists Internet
Archive: novembro de 2001. Texto on-line disponível no
seguinte endereço eletrônico:
http://www.marxists.org/espanol/moreno.
V. I. Lenine: Duas Táticas da Social Democracia na Revolução
Democrática. In: Obras Escolhidas. S.P: Editora Alfa-Omega,
1982.