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MARTINS, Vanessa Gandra Dutra; SANTOS, Valério Xavier dos Scielo Platform scientific articles on dyscalculia in the psychopedagogical look. LIPH Science Journal, v.4, n.1, p. 27-47, Jan./Apr., 2017. www.liphscience.com
SciELO Platform scientific articles on dyscalculia in the psychopedagogical look
Artigos científicos da Plataforma SciELO sobre discalculia
no olhar psicopedagógico
Vanessa Gandra Dutra Martins Valério Xavier dos Santos
Abstract: This article discusses aspects related to the development of dyscalculia, a disorder associated with difficulty in learning mathematics, aiming to identify the way the theme is characterized and the possible contribution that existing research in the SciELO platform can support the work of psychopedagogues, as well as the conceptions about the theme treated by the scientific community. Thus, a very small number of researches were carried out in the area and it was found that the dyscalculia, its definition and its diagnosis are largely medicalized, being addressed in great majority by medicine, more specifically by neurology and psychiatry, and where emphasizes biogenetic and neurological factors, to the detriment of social, cultural, psychological and educational factors. However, these works contribute a lot in the biological aspect, but do not advance in the sense of bringing to the diagnosis a multidisciplinary view, besides not pointing to a possible intervention. Thus, it brings to the discussion in this article a psychopedagogical look based on convergent epistemology, where the affectivity, the desire, the stages of the process of knowledge construction and the sociocultural aspects are respected and part of psychopedagogy intervention tools before the subject with dyscalculia. Keywords: Dyscalculia. Psychopedagogy. Convergent epistemology. Education
Resumo: Este artigo aborda aspectos relacionados ao desenvolvimento da discalculia, transtorno associado à dificuldade na aprendizagem de matemática, visando identificar a maneira como o tema se caracteriza e a possível contribuição que as pesquisas existentes na plataforma SciELO podem subsidiar o trabalho do psicopedagogo, bem como as concepções sobre a temática tratada pela comunidade científica. Desse modo, encontrou-se um número muito pequeno de pesquisas realizadas na área e constatou-se que a discalculia, sua definição e seu diagnóstico são amplamente medicalizados, sendo abordados na grande maioria pela medicina, mais especificamente pela neurologia e psiquiatria, e onde se enfatiza fatores biogenéticos e neurológicos em detrimento de fatores sociais, culturais, psicológicos e educacionais. Porém esses trabalhos contribuem muito no aspecto biológico, mas não avançam no sentido de trazer para o diagnóstico uma visão multidisciplinar, além de não apontarem para uma possível intervenção. Assim, traz-se também para a discussão neste artigo um olhar psicopedagógico pautado na epistemologia convergente, em que a afetividade, o desejo, as etapas do processo de construção do conhecimento e os aspectos socioculturais são respeitados e parte das ferramentas de intervenção da psicopedagogia diante do sujeito com discalculia.
Palavras-chave: Discalculia. Psicopedagogia. Epistemologia convergente. Educação
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Introdução
A discalculia é considerada, segundo Leal e Nogueira1 (2012), uma dificuldade de
aprendizagem, problema de aprendizagem, distúrbio, fracasso escolar ou
transtorno da aprendizagem. Porém, as autoras colocam que estudiosos como
Garcia Sánchez2 afirmam que a definição mais apropriada para as dificuldades de
aprendizagem em geral tem sido “a de um conjunto heterogêneo de transtornos
que se expressa no campo da linguagem, da leitura, da escrita e das habilidades
matemáticas, que podem aparecer ao longo do ciclo vital”.
A discalculia, transtorno específico da habilidade em aritmética (CID10, 1993) ou
transtorno da matemática (DSM-IV-TR) manifesta-se através da dificuldade para
realizar operações elementares de adição, subtração, multiplicação e divisão, sem
que seja resultado de um ensino inadequado ou retardo mental global (CID-10,
1993).
Existiria um número considerável de pesquisas que contribuíssem no
esclarecimento da discalculia no Brasil? Como se caracterizariam essas
pesquisas? De que maneira elas podem contribuir para o profissional da
psicopedagogia, no cotidiano de seu consultório, diante de um sujeito com
discalculia? Quais são as concepções e abordagens acerca da discalculia
adotadas pela comunidade científica brasileira? De que maneira a epistemologia
convergente pode contribuir para a intervenção psicopedagógica embasada em
pesquisas atuais no cotidiano da clínica?
O objetivo deste estudo é desenvolver uma recensão sobre discalculia frente às
pesquisas científicas, a psicopedagogia e a epistemologia convergente.
Método
1 LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 53. 2 Ibidem
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Estima-se que 5% a 6% da população mundial sofra do transtorno que afeta o
rendimento escolar e as atividades cotidianas. Optou-se pela recensão científica,
onde se questiona sobre a existência de pesquisas sobre discalculia publicadas na
Plataforma SciELO, a Scientific Eletronic Library Online (www.SciELO.br.),
biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos
científicos brasileiros de diversas áreas e pode ser acessada por busca temática.
Primeiramente procura-se expandir um pouco mais o conceito de discalculia e a
importância do diagnóstico multidisciplinar, em um segundo momento aborda-se a
análise das pesquisas encontradas na SciELO e para finalizar aponta-se a
epistemologia convergente como um método possível na intervenção
psicopedagógica com sujeitos portadores de discalculia.
Este estudo segue uma revisão bibliográfica, sistemática e utiliza como fonte de
dados a literatura sobre determinado tema. A base de dados escolhida para a
pesquisa de artigos com informações sobre discalculia tem como alicerce a
Plataforma do Scientific Electronic Library Online (SciELO), uma biblioteca
eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos
brasileiros. A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da Fundação de
Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP), em parceria com o Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme). A partir de
2002, conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq).
O SciELO visa o desenvolvimento de uma metodologia comum para a preparação,
armazenamento, disseminação e avaliação da produção científica em formato
eletrônico. Participam atualmente na rede SciELO os seguintes países: África do
Sul, Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Espanha, México, Peru,
Portugal, Venezuela; preparam a participação: Bolívia, Paraguai e Uruguai.3
3WIKIPÉDIA. Disponível em:
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Esta pesquisa iniciou-se com a digitação da palavra discalculia em língua
portuguesa nos motores de busca da plataforma. Diante da escassez de material,
não foi necessário outra metodologia a não ser o acesso aos resumos e em
seguida aos artigos científicos. Depois de lidos foram catalogados por área,
analisados e abordados em forma de recensão científica.
Discalculia e as pesquisas científicas
Para efetuar o diagnóstico de discalculia, o psicopedagogo deve contar com uma
equipe interdisciplinar, baseado em instrumentos adequados e no estudo de
neuroimagem.
Leal e Nogueira (2012, p. 82) citam que “no Brasil ainda não existe um protocolo
validado para a avaliação da discalculia,” mas é possível encontrar instrumentos
de avaliação das habilidades infantis como: a Escala Wechsler de Inteligência para
crianças (WISC-III; Weschsler, 1991/2002), em que o subteste de aritmética é um
dos itens que compõem o quociente de inteligência4; o Teste de Desempenho
Escolar,5 no qual as crianças são avaliadas segundo o conhecimento aritmético da
primeira até a sexta série.
Conforme as autoras, outra forma de mensuração são as baterias específicas de
avaliação de habilidades matemáticas, que classificam o conhecimento de cálculo,
de contagem, de comparação e de transcodificação.6 Assim, a Bateria Neurológica
de Testes de Processamento Numérico e Cálculo para Criança, conhecida como
Zareki-R, é reconhecida internacionalmente e objetiva detectar os pontos fortes e
https://pt.wikipedia.org/wiki/Scientific_Electronic_Library_Online Disponível em: Acesso em: 11 abril 2017. 4LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 53. 5 Figueiredo, Quevedo e Gomes, 2007 apud LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 82.Psicopedagógica), p. 82. 6STEIN, 1994 apud LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 82.
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fracos no domínio do cálculo e processamento numérico. No Brasil, ainda conforme
as autoras, este método foi adaptado e validado pelo Laboratório de
Neuropsicologia da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Unesp - Campus de
Assis.7
Segundo Lira (2012)8 apud Relvas (2011), discalculia é a dificuldade parcial de
operar matematicamente e é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) como dificuldade matemática. E acalculia é a perda total da capacidade de
operar matematicamente. A discalculia estaria relacionada à baixa habilidade em
operar números e conceitos matemáticos e não é originada por lesões ou outra
causa orgânica. Do ponto de vista neurológico, pode ser detectada nos primeiros
anos de vida, utilizando-se de instrumentos de avaliação do desenvolvimento
neurológico, como o exame evolutivo dos três aos sete anos de idade e o exame
da funções cerebrais superiores a partir dos oito anos de idade. Esses dois exames
permitem detectar distúrbios de atenção, da memória, das gnosias, das praxias, da
linguagem oral e escrita.9
Segundo Lira (2012) apud Pennington (1991), a síndrome hemisférica direita
provoca sintomas de discalculia e disgrafia (região posterior do hemisfério direito
do cérebro), assim como alterações de conduta, cuja expressão mais grave entra
no espectro do autismo (sistema límbico, região orbifrontal). Pesquisas feitas por
estudiosos de matemática mostraram aumento da atividade do
eletroencefalograma (EEG) no hemisfério direito durante o processo de cálculo
algorítmico. Há também alguma evidência de déficits de hemisfério direito na
discalculia.10
A autora apud Sartor (2010) afirma que a discalculia foi associada às lesões da
supramarginal e os giros angulares na junção entre os lóbulos temporal e parietal
7SILVA e (2009), SANTOS, p. 64. Apud Leal, D. & Nogueira, M.O.G. 8LIRA, Â. de S. Discalculia. VI Encontro de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade Senac, p. 3.2012, Disponível em: www.faculdadesenac.edu.br/encontro-de-ensino.../2012/...004_2012_ap_oral.pdf. Acesso em: mar. 2017. 9Ibidem 10Ibidem
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do córtex cerebral. Os transtornos das áreas específicas do Sistema Nervoso
Central (SNC) que se relacionam ao esquema corporal, de espaço e de tempo são
bases anatomopatológicas das alterações percepto-motoras ou dispractognósicas
que levam aos quadros de discalculia, dislexia e disgrafia.11
No processo neuropsicológico do ato de aprender (o aprendizado é a capacidade
de receber estímulos, conexões com cada uma das suas características, guardar a
informação na forma de memória e reutilizá-la na hora de interpretar ou decodificar
uma nova informação recebida) são fundamentais a atenção, a memória e as
funções executivas, bem como os distúrbios atencionais e das funções corticais de
percepção, planejamento, organização e inibição comportamental. A memória é
essencial em todos os processos de aprendizagem e seus distúrbios dificultam
reter as informações.12
Segundo Johnson e Myklebus (1983) apud Lira (2012)13 a discalculia foi
classificada em seis subtipos: Discalculia Verbal, dificuldade para nomear as
quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações;
Discalculia Practognóstica, dificuldade para enumerar, comparar e manipular
objetos reais ou em imagens matemáticas; Discalculia Léxica, dificuldades na
leitura de símbolos matemáticos; Discalculia Gráfica, dificuldade na escrita de
símbolos matemáticos; Discalculia Ideognóstica, dificuldade em fazer operações
mentais e na compreensão de conceitos matemáticos; e Discalculia Operacional,
dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos.
O sintomas seriam falhas em entender os conceitos subjacentes a certas
operações aritméticas, dificuldade em realizar manipulações aritméticas
padronizadas, dificuldade em entender quais números são relevantes ao problema
11Ibidem 12LIRA, Â. de S. Discalculia. VI Encontro de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade Senac, p. 3.2012, Disponível em Disponível em: www.faculdadesenac.edu.br/encontro-de-ensino.../2012/...004_2012_ap_oral.pdf. Acesso em: mar. 2017 13Ibidem
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aritmético em consideração, dificuldade em alinhar números apropriadamente ou
inserir pontos decimais ou símbolos durante os cálculos; organização espacial
precária para cálculos aritméticos e incapacidade de aprender satisfatoriamente a
tabuada, Dificuldade de reconhecer números; dificuldade de reconhecer sinais de
pontuação ou similares, dificuldade de diferenciar entre esquerda e direita,
dificuldade de identificar entre maior e menor, dificuldade de contar em sequência,
dificuldade de direção (como norte, sul, leste e oeste), dificuldade com o tempo
conceitual ou dificuldade em realizar cálculos.
Os pesquisadores ainda classificam a discalculia em diferentes graus: Leve, em
que o discalcúlico reage favoravelmente à intervenção terapêutica; Média,
configura o quadro da maioria dos que apresentam dificuldades específicas em
matemática; e Limite, que ocorre quando há lesão neurológica, gerada por diversos
traumatismos, provocando um déficit intelectual.
Apesar de ser considerada um transtorno ainda sem cura, apresenta melhora
quando diagnosticada e tratada ainda na infância. Quando pais e professores
percebem a dificuldade precocemente contribuem muito para a melhora do quadro
clínico.
As autoras Claudia Rosana Kranz e Lulu Healy14 (2013), ao fazerem um
levantamento bibliográfico das pesquisas sobre discalculia, desenvolvidas no
Brasil, em bancos de teses, dissertações e periódicos, nos anos de 2011 a 2013,
mostram que o termo discalculia ao ser digitado como critério de busca no google
(www.google.com.br) gerou 53000 resultados no anos de 2011, e 252000
resultados em julho de 2013. Teve, portanto, um aumento considerável.
Inicialmente buscou-se esclarecimento sobre a atualização dos números das
pesquisas produzidas sobre discalculia, em geral, disponíveis no google, conforme
14KRANZ, C.R. e HEALY, l. Pesquisa sobre discalculia no Brasil: uma reflexão a partir da perspectiva histórico-cultural. 2013, disponível em: www.matematicainclusiva.net.br/.../PESQUISAS%20SOBRE%20DISCALCULIA%20
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a pesquisa de Kranz & Healy. Se em 2013 as autoras encontraram 252000
resultados, no dia 13 de Março de 2017, encontrou-se 648000 resultados sobre o
tema. O que denota o crescente interesse por pesquisas e artigos de
esclarecimento ao público leigo sobre o tema. Em seguida partiu-se para a busca
das pesquisas existentes na biblioteca eletrônica SciELO. Digitando a palavra
Discalculia encontrou-se apenas quinze pesquisas. Das quinze pesquisas, nove
foram produzidas no Brasil, três na Colômbia, uma na Costa Rica, uma na Espanha
e uma no Uruguai. Quanto ao idioma, cinco estão em inglês, seis em espanhol e
quatro em português. De acordo com ano de publicação, duas são do ano de 2009,
duas de 2011, duas de 2012, duas de 2013, duas de 2014, duas de 2016, uma de
2002, uma de 2008 e uma de 2010.
Quanto às áreas temáticas, dez são de Ciências da Saúde, abrangendo as
subáreas de Neurociências, Psiquiatria, Psicologia, Medicina geral e interna, quatro
de Ciências Humanas e uma de Ciências Sociais Aplicadas. Cabe destacar que
nas subáreas, foram encontradas pesquisas relacionadas à Audiologia e
Fonoaudiologia, Educação e Pesquisa Educacional, Educação e Disciplinas
Científicas, Educação Especial, Pediatria, Psicologia, Psicanálise, Psicologia
Social, Reabilitação e Ciências Sociais.
O levantamento indica pouca produção no que se refere à discalculia, estando
centrada na área das Ciências da Saúde, com forte predominância dos aspectos
neurológicos, psiquiátricos e psicológicos, mas em relação ao trabalho de Kranz e
Healy15, ao buscarem rapidamente na biblioteca online SciELO em 2013 o número
aumentou e passou de 4 trabalhos para 15 atualmente.
No artigo de Neuro-Psiquiatria, intitulado de The prevalence of developmental
dyscalculia in Brazilian public school system,16 de Bastos & Cecato (2016), foram
15Ibidem 16BASTOS, J. A. & CECATO, A, M. T. The prevalence of developmental dyscalculia in Brazilian public school system. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, Março, v.74, n.3, p.201-206, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0004-
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avaliadas 2893 crianças de escolas públicas, sendo que 226 foram diagnosticadas
com discalculia. Para os autores, os fatores que mais influenciaram na prevalência
da discalculia foram os níveis socioeconômicos do bairro onde está situada a
escola, nível de escolaridade dos pais e sexo masculino, demonstrados pelas Odds
Ratio e Análise de regressão logística múltipla.
Em Developmental dyscalculia in children and adolescents with idiopathic
epilepsies in a Brazilian sample17, de Paixão e Thomé (2014), é demonstrada a
relação entre epilepsia em adolescentes e baixa habilidade em matemática e
outros transtornos da aprendizagem, por meio de avaliação clínica e
neuropsicológica.
Seguindo o mesmo viés da Neuro-Psiquiatria, que procura checar a relação de
algumas doenças com a baixa habilidade em matemática, De Luccia e Ortiz (2014)
em Ability of aphasic individuals to perform numerical processing and calculation
tasks,18 comparam o desempenho de cálculo entre sujeitos afásicos e normais
através da bactéria EC301 e concluem que pacientes afásicos apresentam
dificuldades que envolvem processamento numérico e de cálculo, não observadas
na população saudável.
Publicado na Revista Colombiana de Psiquiatria, Martinez et al. (2009), a pesquisa
Comorbidad del transtorno por deficit de atención e hiperactividad com los
transtornos especificos del aprendizaje19 objetiva revisar a literatura sobre a
282=2016000030000&Ing=pt&ting=en. Acesso em: 14 de março de 2017. 17THOMÉ, U. e PAIXÃO, S. R. Developmental dyscalculia in children and adolescents with idiopathic epilepsies in a Brazilian sample. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. Abril 2014. V. 72, n. 4, p. 283-288. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0004-282=2016000030000&Ing=pt&ting=en 18DE LUCCIA, G. e ORTIZ, K. Developmental dyscalculia in children and adolescents with idiopathic epilepsies in a Brazilian sample. Arquivos de Neuro-Psiquiatria, v. 72, n. 3, , p. 197-202, 2012. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci–arttex&pid=S0004-282X2014000300197&lang=pt. Acesso em mar. 2017. 19MARTINEZ, M. Z, et al. Comorbidad del transtorno por deficit de atención e hiperactividad com los transtornos especificos del aprendizaje. Revista Colombiana de
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comorbidade do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com o
Transtorno do Espectro Autista (TEA), a fim de verificar uma abordagem adequada
de ambas doenças e sugerir um tratamento aplicável no meio psiquiátrico. E
concluiu que um grupo multidisciplinar coordenado deve fazer parte do tratamento,
com o objetivo de melhorar os déficits do TEA e por meio de intervenções
reeducativas, como o tratamento com as habilidades fonológicas para a dislexia e o
tratamento da compreensão do sentido de número para as crianças com
discalculia.
Na área de Psicologia, Silva e Santos testaram a bateria ZAREKI-R em Discalculia
do desenvolvimento: avaliação da representação numérica pela ZAREKI-R,20
concluíram que crianças com dificuldade em aritmética apresentaram déficits
específicos em memória, operacional visuoespacial e comprometimento em
processamento numérico e cálculo, compatível com discalculia.
Pérez e Bermejo (2009) em El efecto Mateo en niños con Dificultades Especificas
de Aprendizaje de las Matemática21, testaram o Quociente de Inteligência (QI) de
crianças com dificuldades de aprendizagem em matemática e leitura. Entre outros
resultados, foi observado que o QI de crianças de maior idade com dificuldade em
matemática foi menor que o dos meninos mais jovens. A presença de um QI alto ou
baixo não supõe um rendimento matemático igualmente alto ou baixo nos
escolares.Ainda na mesma área, Gaitán e Rey-Anacona (2013), em Diferencias en
funciones ejecutivas en escolares normales, con transtorno por deficit de atención e
Psiquiatria, Colômbia, v. 38, p.178-194, 2009. Disponível em: http;//www. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0034-745000900500011&Ing=pt&ting=en. Acesso em: 14 mar. 2017. 20SILVA, P. A. e SANTOS, F. H. Discalculia do desenvolvimento: avaliação da representação numérica pela ZAREKI-R. Teoria e Pesquisa, v. 27, n. 2, p.169-177, 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttex&pid=S0102-37722011000200003lang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017. 21PÉREZ, M.B. e BERMEJO, V. El efecto Mateo en niños con Dificultades Especificas de Aprendizaje de las Matemáticas. Escritos de psicologia, v.3, n.1, p.30-36, 2009. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=198938092009000300004&lang=pt
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hiperactividad, transtorno del cálculo y condición comórbida22, comparam a atuação
em função executivas de escolares entre oito e treze anos com TDAH, Transtorno
de Cálculo (TC) e crianças normais. Os resultados indicaram, de maneira similar
que investigações anteriores, que os escolares com TDAH e TC apresentam
déficits elevados em funções executivas do que as crianças normais.
Em Audiologia, Dias et al. (2013) publicaram Avaliação do conhecimento sobre a
discalculia entre educadores,23 com o objetivo de obter dados, na região
metropolitana do Rio de Janeiro-RJ, Brasil, sobre o conhecimento ou a percepção
dos profissionais da educação sobre os sinais indicativos de discalculia. E como
resultado confirmaram que apenas 12% consideraram-se capazes de identificar um
caso de suspeita de discalculia.
Na área da Medicina, Siqueira e Gurgel (2011) defendem em Mau desempenho
escolar: uma visão atual,24 a ideia de que o mau desempenho escolar seria um
sintoma de diversas patologias e de transtornos da aprendizagem. Soares et al.
(2012) mostram a relação entre meningoencefalite em idade precoce e alguns
transtornos de apredizagem, com destaque para a discalculia, em Aphasia and
herpes virus encephalitis: a case study.25
Na mesma linha de pesquisa, Araújo (2002) em a Avaliação e manejo de crianças
22GAITÁN, C.A. e REY-ANACONA,C. A. Diferencias en funciones ejecutivas en escolares normales, con transtorno por deficit de atención e hiperactividad, transtorno del cálculo y condición comórbida. Avances en psicologia latinoamericana, v. 31, n.1, p. 71-85, 2013. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/799/79928610006.pdf Acesso em: 14 mar. 2017. 23DIAS, M. A. H.; PEREIRA, M. M B.; VAN BORSEL, J. Avaliação do conhecimento sobre a discalculia entre educadores. v. 18, n.2, p. 93-100, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S2317-62311201300020000747&Iang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017 24SIQUEIRA, C. M. e GURGEL, J. G. Mau desempenho escolar: uma visão atual. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 57, n.1, p.78-87, 2011. Disponível em: http://www. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S10104423020110001000021&Iang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017. 25SOARES, E. C. S. et al. Aphasia and herpes virus encephalitis: a case study. São Paulo Medical Journal, v. 130, n. 5, p. 336-341, 2012. Disponível em: http://www. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S1516-318020120005000&Iang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017.
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com dificuldade escolar e distúrbio de atenção,26 executa uma revisão da literatura
médica para encontrar uma relação entre baixo desenvolvimento escolar e causas
patológicas. Conclui que o tratamento medicamentoso com estimulantes
antidepressivos, associado ao acompanhamento multidisciplinar, concorre para o
melhor desempenho das crianças com TDAH na escola.
Para finalizar, apenas dois estudos da área educacional foram encontrados. O
primeiro refere-se ao artigo publicado na Revista Electrónica Educare, onde
Margalef-Ciurana e Garcia-Tamarif (2016), no estudo intitulado La aplicación de un
recurso educativo digital en la dificuldad de aprendizaje de la resta: un studio de
caso27, concluiu que a utilização de um recurso educativo digital pode ajudar a
melhorar o rendimento matemático dos alunos com discalculia, em concreto, a
aplicação sistemática de um recurso digital melhora a resolução da subtração
comparado à resolução da subtração sem o recurso digital. As autoras
recomendam a utilização de tal recurso na aprendizagem e que se realizem mais
pesquisas nesta área.
O segundo, de Balbi e Dansilio (2010), intitulado Dificultades de aprendizaje del
cálculo: contribuciones al diagnostic psicopedagógico de aprendizagem28, tem
como objetivo proporcionar evidência clínica que contribua para o diagnóstico
preciso, como a relação já bastante estudada, entre discalculia e perturbações
visuoespaciais. Concluíram que nos casos pesquisados a relação foi confirmada.
É inegável a contribuição das pesquisas científicas da área da saúde para os 26ARAÚJO, A. P. Q. C. Avaliação e manejo de crianças com dificuldade escolar e distúrbio de atenção. Jornal de Pediatria, v.78, p.S104-S110, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S0021-755720020000700013&Iang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017. 27MARGALEF-CIURANA, I. e GARCIA-TAMARIF, C. La aplicación de un recurso educativo digital en la dificuldad de aprendizaje de la resta: un studio de caso. Revista Electrónica Educare, v. 20, n. 1, p. 282-303, 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S1409-4258201600010028&Iang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017. 28BALBI, A. e DANSILIO, S. Dificultades de aprendizaje del cálculo: contribuciones al diagnostico psicopedagógico de aprendizagem. Ciências Psicológicas, v. 4, n. 1, p. 7-15, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttex&pid=S1688-42212010000100002&Iang=pt. Acesso em: 14 mar. 2017.
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transtornos de aprendizagem, mas na maior parte dos casos, apenas as ciências
da saúde não são suficientes para um “tratamento” dos diversos transtornos
existentes, como a disgrafia, disortografia, dislexia, TDAH e mesmo a discalculia.
Por mais que em alguns casos haja a necessidade de uma medicação que trate de
aspectos patológicos, é necessário um trabalho de equipe que envolva diversos
profissionais, como psicólogo, fonoaudiólogo, médico psiquiatra, neurologista,
oftalmologista, otorrinolaringologista e o psicopedagogo.
A Psicopedagogia e a epistemologia convergente
Atualmente, Bossa (2000),29 citada por Nogueira e Leal (2012), mostram que a
atuação psicopedagógica está fundamentada na área da saúde e da educação.
Assim, na educação, a função do psicopedagogo é cooperar para diminuir o
fracasso escolar, seja este da instituição, seja do sujeito ou, o que é mais
frequente, de ambos, por meio do assessoramento aos pais, professores e
diretores.
Quanto à atuação psicopedagógica voltada à saúde, procura-se reconhecer as
alterações de aprendizagem sistemática ou assistemática, utilizando-se de
diagnósticos na identificação dos múltiplos geradores desse problema e,
fundamentalmente, busca-se descobrir como o sujeito aprende. Utilizando-se, do
diagnóstico, testes para melhor conhecer o paciente e a sua problemática, os quais
são selecionados em função de cada sujeito.
Para fundamentar teoricamente a psicopedagogia que se refere neste texto,
Nogueira e Leal30 (2012) buscaram a epistemologia convergente de Jorge Visca,
pois acreditam que ela alicerça o trabalho do psicopedagogo com os transtornos de
aprendizagem, de uma perspectiva vinculadora e abrangente.
29LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 33. 30LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 33-34.
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A epistemologia convergente de Jorge Visca reúne a Psicanálise de Freud, a
epistemologia genética de Jean Piaget e a psicologia social de Pichon Rivière em
um só método de trabalho clínico.
Segundo as autoras:
Com base em Freud e na psicanálise, surge um novo olhar sobre o desenvolvimento e a aprendizagem humanos. Antes a educação era modeladora, ou seja, seu objetivo era apenas treinar e transmitir valores, sem levar em conta o desejo do aluno. Com Freud, inverte-se essa idéia e surge uma nova prática educativa, não repressiva e respeitadora do desejo do aluno. Com base nessa prática, aparecem novas ideias e necessidades educativas e passa-se a considerar o aprender pela satisfação, e não o aprender pela coerção, como parâmetro para o processo de ensino – aprendizagem mais prazeroso e consequentemente mais significativo. Essa linha de pensamento aponta que caso haja dois sujeitos com igual nível cognitivo e diferentes investimentos afetivos em relação a um objeto, tais sujeitos aprenderão de forma diferente. Para a psicanálise, portanto, a dimensão afetiva tem uma influência decisiva na aprendizagem e no desenvolvimento humanos.31
A epistemologia genética de Jean Piaget, a segunda linha de pensamento que
embasa a epistemologia convergente:
Tem como foco principal o sujeito epistêmico, ou seja, o sujeito que constrói o conhecimento. Ao refletir sobre esse processo no decorrer do desenvolvimento humano, Piaget parte da relação entre o sujeito e o objeto (meio físico e social), postulando que estes estabelecem contínuas relações entre si, em que um constrói o outro mutuamente (…). Na epistemologia genética, Piaget aborda o processo de construção do conhecimento pelo sujeito, do nascimento até a idade adulta (…), seu enfoque principal é no desenvolvimento infantil. Em suas pesquisas, Piaget observou que crianças com faixas etárias semelhantes cometiam os mesmos erros. Tais observações somadas à formação acadêmica do epistemólogo, impulsionaram-no para o desenvolvimento da epistemologia genética, que tinha como foco principal o sujeito epistêmico, o indivíduo no seu processo de construção de conhecimento. Para Piaget, a adaptação do homem ao meio se dá mediante constantes processos de equilibração. Diante de uma situação-problema, instala-se uma situação de desequilíbrio que vai mobilizar uma necessidade, uma ação. Diante dessa situação, entram em ação dois mecanismos funcionais que contribuirão para que as estruturas se desenvolvam: a assimilação e a acomodação. A assimilação é definida por Piaget, como uma estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito. A assimilação é um dos aspectos da atividade cognitiva que envolvem a
31Ibidem, p. 56.
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incorporação de novos objetos e novas experiências a uma estrutura mental ou a um esquema sensório motor. Já a acomodação é a combinação de esquemas ou modificação de esquemas para resolver problemas que venham de experiências novas dentro do ambiente, ou seja, é um dos aspectos da atividade cognitiva que envolvem a modificação das estruturas mentais ou dos esquemas sensório-motores, para corresponder aos objetos da realidade. Assim, por meio da acomodação, o sujeito é capaz de solucionar o problema, retomando o equilíbrio perdido, reequilibrando-se. Esse novo equilíbrio é maior e superior ao anterior, decorrendo daí o que
Piaget denominou de equilíbrio majorante. A adaptação resulta do equilíbrio sempre precário entre a assimilação e a acomodação, dois mecanismos que não se separam, uma vez que um não ocorre sem o outro. Essa separação cumpre apenas fins didáticos. A atuação recíproca desses dois mecanismos promove a modificação e/ou criação de esquemas motores ou mentais (operações) que permitirão uma melhor condição para o sujeito interagir com o mundo. Para Piaget, o desenvolvimento da inteligência se estrutura em quarto períodos de pensamento (sensório-motor, pré-operatório, operacional concreto e operacional formal). Cada um deles é marcado por avanços intelectuais que acompanharão a criança por todo o seu longo processo de desenvolvimento por Piaget para idades mais ou menos aproximadas, ou seja, nem sempre irão corresponder à idade cronológica da criança avaliada. Dentro de cada um dos quatro períodos e entre todos os sujeitos, os ritmos de desenvolvimento variam consideravelmente. Evidentemente, todas as crianças passarão por esses períodos e irão deixá-los mais cedo ou mais tarde, dependendo das condições de desenvolvimento no meio sociocultural e familiar em que vivem. As experiências com outras crianças, com adultos, professores, irmãos etc. e a manipulação de objetos variados como brinquedos, jogos, blocos e principalmente o contato com o meio escolar e familiar, com sua variedade de interações e vivências no dia a dia, são fundamentais para o desenvolvimento intelectual, racional, moral e linguístico, apontando assim a interação social como condição necessária para a evolução mental da criança. Piaget identificou características específicas em cada estágio do desenvolvimento, que são utilizados durante todo o processo de avaliação psicopedagógica clínica adotado por Visca.32
A Terceira linha teórica que fundamenta a metodologia da epistemologia
convergente é a psicologia social de Enrique Pichon Rivière.
Segundo Leal e Nogueira (2012):
Em sua teoria, o autor defende o pressuposto de que ainda que ocorresse uma absoluta paridade do cognitivo e do afetivo em dois sujeitos de meios socioculturais diferentes, também suas aprendizagens em relação a um mesmo objetivo seriam distintas, dada as diversas influências de cada um dos meios socioculturais. Ou seja, cada um de nós é singular e aprende de maneiras diferentes de acordo com as experiências vividas em um
32LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 57-59
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determinado grupo social no qual estamos inseridos. Assim, cada um de nós tende a aprender de múltiplos e diferentes maneiras, construindo ativamente os conhecimentos nas interações com os outros ao longo de toda a vida.33
Conforme as autoras, para Visca34( 2012, apud Leal e Nogueira):
A epistemologia convergente é uma visão que vem a superar as visões inatistas e ambientalistas, caracterizando-se como uma perspectiva integradora do conhecimento que permite analisar as dificuldades de aprendizagem como decorrentes de múltiplas causas, cada uma delas estudada e aprofundada por uma determinada vertente. (…) Essa metodologia de trabalho de Visca apresenta diversos instrumentos e recursos para o desenvolvimento da avaliação psicopedagógica clínica. Entre os instrumentos concretos, encontram-se, entre outros, a entrevista operativa centrada na aprendizagem (Eoca), as técnicas projetivas psicopedagógicas, e provas piagetianas, a anamneses, a caixa de trabalho e os recursos diagnósticos e terapêuticos, individuais e grupais.
Durante o tratamento psicopedagógico, Visca ressalta quatro conceitos básicos
que permitem a flexibilidade operativa da avaliação clínica e que foram inspirados
no vocabulário militar utilizados por Pichon Rivière na psicologia social:
Logística: Postura de levar em conta os déficits e as capacidades do indivíduo ou grupo que está sendo avaliado em função das aptidões do psicopedagogo. Estratégia: Arte de dirigir as operações durante as sessões de avaliação – requer que se tenha à disposição categorias conceituais que possam ser utilizadas no momento indicado (tais como o tempo, o lugar, a frequência das sessões, a duração, a caixa de trabalho, etc.) Tática: Atitude de pôr em prática o plano traçado para cada caso em particular durante a avaliação (nível mais concreto) Técnica: Estilo particular com que cada um de nós opera, ou seja, como cada um de nós desenvolverá o trabalho de avaliação.35
Nogueira e Leal (2012) afirmam que:
Com base na integração entre essas diferentes concepções teóricas, a epistemologia convergente concentra seu interesse nas sucessivas etapas de aprendizagem, sendo um modelo evolutivo que integra e articula as relações entre os aspectos cognitivos, afetivos e sócio-históricos-culturais no desenvolvimento do indivíduo. Por isso, podemos classificar a epistemologia convergente como uma teoria sociointeracionista, pois há sempre uma interdependência entre o sujeito e seu meio sociocultural. A aprendizagem é um processo contínuo e dinâmico que ocorre durante toda a vida do ser humano e é por meio dela que o indivíduo se apropria de algo novo, apreende um novo conhecimento, de modo que esse conhecimento possa fazer parte dele.
33LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p. 66-67. 34Ibidem, p. 67 35Ibidem, p. 68.
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Esse processo é resultado da interação entre o indivíduo e o meio sociocultural em que ele vive, ou seja, para que o ser humano aprenda, é necessário que ele interaja com os outros seres humanos. A partir dessas intenções, ao longo do desenvolvimento da espécie humana, o homem foi se apropriando de conhecimentos, habilidades, estratégias, valores, crenças e aptidões.36
Segundo as autoras a epistemologia convergente compreende aprendizagem como
um processo complexo, amplo e dinâmico, portanto Visca (1987) a concebeu sob
quatro diferentes níveis denominados por ele de esquema evolutivo da
aprendizagem, partindo do nascimento do indivíduo até a sua morte:
Protoaprendizagem ou Primeiro Nível de Aprendizagem, é a aprendizagem das
primeiras relações vinculares, interação entre a criança e a mãe;
Deuteroaprendizagem ou Segundo Nível de Aprendizagem, apreensão da
cosmovisão do grupo familiar; Aprendizagem Assistemática ou Terceiro Nível de
Aprendizagem, aquisição instrumental das técnicas e dos recursos que permitem o
desempenho do sujeito em uma comunidade restrita; Aprendizagem Sistemática ou
Quarto Nível de Aprendizagem, dá-se na interação com reativos particulares
selecionados, ou seja, as instituições escolares, que a sociedade veicula por meio
de instituições de educação infantil, ensino fundamental, médio e superior.
Para Visca37 (1987), citado por Leal e Nogueira (2012): o vínculo inadequado do
indivíduo ao objeto em qualquer uma dessas etapas de sua vida afetará seu
desenvolvimento de forma parcial ou total, o que produzirá parada em uma etapa
ou o não desenvolvimento da aprendizagem da criança (déficit ou obstáculos à
aprendizagem).
Esse déficit pode ser organizado didaticamente em quatro tipos de obstáculos à
aprendizagem, segundo Visca (1987): Epistemológico, conceito de Bachelard,
retomado por Pichon Rivière, que consiste na resistência em aceitar todo o
conhecimento que se encontre em contradição com a concepção de mundo e da
vida; Epistemofílico, conceito de origem psicanalítica que consiste na dificuldade
36LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p.68. 37 Ibidem,p.70.
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em aceitar todo conhecimento novo por medo da indiscriminação, do ataque ou da
perda, ou seja, as causas emocionais que podem gerar dificuldades de
aprendizagem; Epistêmico, conceito derivado da teoria piagetiana, de acordo com
o qual cada sujeito espistêmico possui uma determinada estrutura cognitiva que
delimita o nível de conhecimento que pode adquirir em função das operações de
que dispõe; Funcional, os obstáculos funcionais são as formas como o pensamento
do sujeito se dá, que, segundo Visca (1987), sofrem uma evolução que permite ao
examinador das dificuldades de aprendizagem utilizá-las como hipótese auxiliar
sempre que precise se valer de recursos diagnósticos que não possuam na sua
organização os princípios construtivistas, estruturalistas e interacionistas, os quais
fundamentam essa visão.38
Leal e Nogueira (2012) referem que Visca ressalta que “tanto o obstáculo
epistêmico como o funcional produzido por diferenças funcionais só podem ser
estudados mediante a utilização das provas piagetianas”. Portanto, as provas
operatórias piagetianas têm uma importância muito grande para o diagnóstico e
para a intervenção psicopedagógica, já que elas fundamentam toda a avaliação
das crianças, dos adolescentes e dos grupos, estabelecendo regularidades entre
níveis cognitivos e aprendizagem e diferenças funcionais e aprendizagem, sendo,
dessa forma, de fundamental importância para o desenvolvimento do trabalho
psicopedagógico clínico.39
Considerações Finais
Esta recensão científica parte da revisão da bibliografia de artigos científicos da
plataforma SciELO sobre discalculia do ponto de vista da epistemologia
convergente de Visca, teoria que embasa o trabalho psicopedagógico em uma
perspectiva abrangente.
38LEAL, D. e NOGUEIRA, M.O.G. Dificuldades de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Curitiba: Intersaberes, 2012- (Série Psicopedagógica), p.71Ibidem,p.71. 39Ibidem, p. 71
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Apesar de atingir 5% da população escolar, a discalculia ainda é pouco estudada
do ponto de vista psicopedagógico, psicológico e educacional, predominando os
estudos na área da saúde, como a neurologia, psiquiatria e medicina. Ao mesmo
tempo em que esses estudos muito contribuem para que o psicopedagogo possa
relacionar algumas patologias com a discalculia, o que auxilia no aumento da
necessidade de expandir o diagnóstico e cada vez mais torná-lo multidisciplinar,
existe pouco material que colabore com o trabalho de intervenção do
psicopedagogo. Uma vez rotulado de discalcúlico e identificada a patologia que lhe
deu a causa, esses trabalhos não avançam no sentido de apresentar proposta de
intervenção.
Já a atuação psicopedagógica voltada à saúde, conforme Bossa (2000) tão bem
caracterizou, procura reconhecer as alterações de aprendizagem sistemática ou
assistemática, utilizando- se de diagnósticos na identificação dos múltiplos
geradores desses problemas e busca descobrir como o sujeito aprende. Utiliza
diagnósticos personalizados e testes para conhecer melhor o paciente e sua
problemática.
Para continuar, ou seria iniciar, um trabalho que não se esgota no diagnóstico, a
epistemologia convergente utiliza as suas ferramentas psicopedagógicas com
pacientes e alunos, respeitando o desejo e afetividade desse sujeito que, graças à
psicanálise, começa a ser visto como algo significativo para a aprendizagem. Ao
mesmo tempo em que considera as etapas do processo de construção do
conhecimento pelo sujeito e suas estruturas de pensamento, de acordo com a
epistemologia genética de Piaget, trabalha com a ideia de que, em meios
socioculturais diferentes, as aprendizagens das pessoas também serão diferentes,
pois seu autor, Pichon-Rivière, defende a ideia de que as interrelações com o meio
e a cultura transformam as experiências dos sujeitos.
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