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lizabeth A. Johnson
Nossaverdadeira
irmTc o lo i f i a de Ma r ia n a c o m u n h o d o s s a n t o s
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TITULO ORIGINAL:
Tmly Our Sister: A Theology
of Mary in lhe Communion of Saints
2003 by Elizabeth A. Johnson
Tbo Continuum International Publishing Group. Ene
370 Lcxington Avcnuc. New York. NY 10017 ISBN: 0-
8264-1473-7
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I
PKI I',\KA(. AO: Maurcio B. Leal DIAGRAMAAO: Ronaldo
llidco Inoue Ri.vis\: Renato da Rocha
A*; citaes bblicas foram iirada> da Hiblia Traduo
Ecumnica - TEB. 5. cd.. So Paulo. Loyoia. agosto dc
1997.
Edies Loyoia
Rua 1822 n 347 -
Ipiranga 04216-000So Paulo. SP
Caixa Postal 42.335 - 04218-970 So Paulo. SP ( I I ) 6914-
1922
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Toda% PS direitos iBfnWw. Nenhuma parle desta abra
pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma
e/ou quaisquer meios (eletrnico ou mecnico, inchando
fotocpia e gruwcuotOU arquiwida em qualquer sistema
ou banco de dados sem permisso escrita da Editora.
ISBN: 85-I5-034I4-X
Novo: 978-85-15-
03414-7
EDIES LOYOLA. Silo Paulo. Brasil, 2006
H821 Nossa Vefd3deif.il rrna p65
SUM
http://vefd3deif.il/http://vefd3deif.il/7/30/2019 Maria na comunho dos santos
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I
AGRADECIMENTOS Li
INTRODUO13
AS VOZES DAS MULHERES EM NOVO TOM / 9
/ FftAfiMFNTOS NO FNTUI HO_____________U
V
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Crtu-AK_____2_Z
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cria
Re
teol
-2 O TRABALHO TEOLGICO DAS MULHERES 39
O gelo se quebra 39
Crticas 44
Interpn-taes criativas 6 1
j u i r f ^/
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CAMINHOS
NO
ESCOLHIDOS
7/ 3 BECO SEM
SADA: O
ROSTO IDEAL
DA MULHER 73
Uma nica raa humana 73
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NossaVerdad
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Fuga para o campo 95
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1Escavao de um rico veio101Sondagens histricas /03
Retorno: comea a migrao / / ^
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M.iri.i c o feminino patriarcal82 M.iri.i c o feminino patriarcal
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Julgamento pastoral 12 3
parte ^
UM CAMINHO PARA A FRENTE 12 7
5 UMA PROPOSTA MODESTA 1 2 9
De smbolo transcendente a pessoa histrica 1 2 ' )
Teologia pneumatolgica de Maria 13 6
Problemas de interpretao 1 3 9
PRFCFDFNTFStU
Dois milnios, dois modelos / )/
Vaticano II: embate de tits /d l
W - mt-dianermul.-lo_______________/ d d
"Nossa verdairm.V
_______________LL
parte
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RETRATODEUMMUNDO / 75
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riarcal 8 2 M.iri.i c o feminino patriarcal 8 2
7 GAULIA: O MUNDO POLTICO E ECONMICO
Retrato de um mundo /
77
A configurao da terra 180
Estruturas econmicas
1 85
Governantes polticos / 9 2
S JUDASMO DO SEGUNDO TEMPLO: O MUNDO RELIGIOSO 207
O que ser judeu 20 7
Na Galila___________212
Subida a lerusalm217Cristos judeus/judeuscristos 224
177
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I
SUMAftO
9 MULHERES: O MUNDO
SOCIOCULTURAI 233
Contraste
pernicioso 233
Casamento c
famlia 23 9
Vida cotidiana
25 0
MARIA NA COMUNHO DOS SANTOS 259
1 0 A PERIGOSA MEMRIA DE MARIA: UM MOSAICO 2 6 1
Memria teolgica 2 6 1
Do lado de iora Marco* 3.20-21 e 31-35) 2 6 9
a companhia das antepassadas no-eonvencionais ^Mau-m
1.1-17) 2 74
Escndalo e o esprito ;MJICS 1.18-25) 279
Sabedoria do Oriente Nhtms 2.1-12 29 4
Relugiados do massacre (Macau 2.13-23) 297
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II
Anunciao: chamado do proleta Lu..i> l.2-s >0J
Visitao: alegria na revoluo de Deus (Lucas 1.39-56) 31 4
"Ela deu luz" (Luc-2.1-20) 332
Cumprimento daTor Lu..- 2.2I-4H 1 3 7
Perda e encontro
(I.UM* 2.41-52) 341
Vinho nas npcias
(Joo2.I-Il) 3 45Perto da cruz (Jo3o 19.25-27) 352
Iodos hcaram repletos do Esprito Santo" Au>s 1.14-15:2.1-21
^ *> 7
/ / MARIA, AMIGA DE DEUS E PROFETA 36 5
O Esprito que cria laos de famlia 36 5
A graa dos vivos 368
Nuvem de testemunhas 3 7 1
Figuras paradigmticas 37 3
O modelo de
companheirismo 375
Companheiros na memria e tia esperana ^NO
Orao para um tempo
de luta 3 83
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AGRADECIMENTOS
um prazer agradecer s muitas pessoas e instituies que contriburam para esta obra. Meus
princ ipais agradec imentos so para a Fordham Univers ity. que . com suas generosas e
esclarecidas diretrizes sabticas, propiciou o tempo para pesquisar e redigir. A equipe da
biblioteca da universidade, dirigida por [ames McCabe. deu uma ajuda esplndida e contnua.
Minhas pesquisadoras de ps-graduao, Antoineite Gutzler, Kathryn Lilla Cox, Patricia Houiihan
e Gloria Schaab, ajudaram-me com generosidade e alegria, por isso merecem meus sinceros
agradecimentos. Gloria Schaab, em especial, digna de apreo por lanar um penetrante olhareditorial no texto final e nas notas.
1 l mais de vinte anos dou cursos de ps-graduao nesta disciplina em universidades e
escolas de teologia. A John Ford. chefe do Departamento de Teologia da Catholic University ol
America, cabe o mrito de meu comeo, ao insistir que eu planejasse e lecionasse tal curso,
apesar de minha relutncia inicial. As perguntas e observaes de catlicos mais jovens e de
estudantes de tradies protestantes e anglicanas, c de modo especial das mulheres, tm
enriquecido e questionado meu modo de pensar, como qualquer professor sabe. Estou sincera e
alegremente em dvida com minhas alunas. Como membro do dilogo entre luteranos e catlicos
nos Estados Unidos, part ic ipei de um cic lo de oi to anos a a-speito de Mar ia e dos santos,
pesquisei intensamente fontes catlicas oficiais e da Reforma e empenhei-me em estudar os
aspectos ecumnicos. Foi um trabalho estimulante e enriquecedor, e aprendi muito com meus
colegas de dilogo.
Calorosos agradecimentos s colegas Marv Cathcrine I I i lkeri , Nancv Dall .i-valle, Ellen
Umanskv e Mary Y Maher, e a John Pcrry, que leram e criticaram cap tulos deste texto quando em
andamento. De modo especia l, Anthony L. Rubsys, estudioso bbl ico, mestre e amigo,
acompanhou-me com crticas c incentivos pelas
E
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II
O1 passagens bblicas que formam o centro deste livro. Nossas conversas, pouco antes J da
concluso da obra e, o que no sabamos, pouco antes de sua morte, levaram 1 a uma recomposio
geral d.i lluncia do argumento do livro. Reverencio esta I dvida impagvel. Outros amigos supriram-
me com material importante sobre o assunto: Constance Fttzgerald, rhomas Shellcv, Aristotle
Papanikolaou, Connie Loos e Jade Hcalv. Por e-mails c outros comunicados, Terrence Tilley, Catherine
Palten, Margaret Galiardi, Robert Sadowski, John Cabrido, Miguel Lambino, Ginnv Gerace e Kathryn Ltlla
Cox enviaram-me valiosas perguntas, sugestes e sua p rpria sabedoria.
Nas primeiras etapas, este trabalho pde ser ouvido como linha diretriz em uma palestra
do 26 Instituto deTeologia da Villanova Universitv. A meio caminho, algumas de suas idias
loram apresentadas no Congresso de Educao Religiosa de Los Angeles. Quando estava em uma
etapa mais adiantada, a aula expositva John Courmey Murrav, patrocinada pelo peridico
America, propiciou outra demonstrao, com um pblico perspicaz. Agradeo aos organizadoresdesses eventos a oportunidade de interessar a um pblico mais amplo, com resultados benficos
para meu modo de pensar, Frank Oveis, meu editor, apoiou este trabalho com elegncia,
sagacidade e refinamento. Seu incentivo pessoal, cheio de humor, animou longos dias de
redao; seu interesse profissional assegurou a publicao de uma lorma mais que conveniente.
Ele um aliado maravilhoso, e minha gratido no tem limites. Minha comunidade religiosa, as
Irms de So Jos, em Brentwood, nunca deixou de apoiar meu trabalho, inclusive este livro; sou
profunda e continuamente grata. Por fim, agradeo a todas as mulheres de diversas partes do
mundo que me relataram suas histrias, lutas e descobertas quanto f, que duraram anos,
verbalmente e por escrito. Nosso dilogo constante despertou este livro para a ao. E a elas
que dedico esta obra.
INTRODUO
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I
ste l ivro sugere que um modo prof cuo de abordar a teologia de Mar ia , a me de Jesus, a
Tbeotokos ou Me de Deus, imagin-la como mulher real de nossa histria que caminhou com o
Esprito.Tendo conservado a l enquanto viveu, ela agora est entre os que a Escritura chama de
grande "nuvem de testemunhas" que cerca de estmulo a Igreja na terra. Esta proposta tem como
conseqncia imaginar seu mundo histrico e refletir nos vislumbres teolgicos de sua vida na
Escr itura, para lembr-la hoje como nossa i rm. e la mesma amiga de Deus e profeta na
comunho dos santos. Em livro anterior, FrienJs oj Gotl atui Prophets: A Feinin isl Tbtologi ReaJtttg oj
lhe Communion oj Sainls [Amigos de 1 )eus e dos prole-las: uma leitura teolgica feminista da
comunho dos santos] (New York, Con-t inuum. 1998). j examinei a histria e a teologia do
grande smbolo doutrinai da comunho dos santos, a comunidade de geraes dos vivos e dos
mortos que se estende pelo tempo e pelo espao e formada de todos os que o Esprito de Deus
faz santos. Aqui examino o entendimento intelectual, prtico e espiritual que resulta quando
colocamos Mirim de Nazar na companhia dos bem-aventurados. Como FnenJs oj Go aiui Ptoplxts
forma o contexto teolgico deste livro, os dois se complementam. Ao mesmo tempo, como as
idias principais esto repelidas aqui, esta obra pode ser lida independentemente da anterior.
Embota recorra histria da doutrina e da devoo marianas e nela busque o precedente
para minha proposta, esta uma obra de teologia construtiva. Convencida de que a histria o
lugar de encontro com Deus, no comeo, como faz muita mariologia contempornea, pensando
em Maria como smbolo religioso. Em vez disso, procuro entender seu significado como pessoa
especial que tem de constituir sua prpria vida. fi la tem sido simbolizada de um modo extra-vagante to separado de sua histria smbolo do rosto materno de Deus, do
o
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IhROOUCO
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I
| eterno leminino, da Igreja idealizada que irat-la como
um ser humano real | surpreende-nos com a descoberta de
que tambm ela lutou, de que a viagem de sua vida, na (rase
potica do Vaticano II, foi uma peregrinao de l que incluiu
uma passagem pela noi te escura da l. Ao lembr- la na
grande nuvem de testemunhas que cerca a comunidade de
discpulos, tiramos fora das "lies de encorajamento" que
fluem de sua vida.
Ao procurar interpretar desse modo o significado
de Maria dentro do logos de f para o nosso tempo,
esta obra apresenta-se como parte da onda mais am-
pla de mulheres que lazem teologia, um fenmeno
novo.
Em todo o mundo, as mulheres , em grande
nmero, esquivam-se dos laos do controle masculino
e buscam, em vez d isso, uma parcer ia que honre a
igua l d ignidade que lhes convm como pessoas
humanas. Esse movimento l ibertador, que mais que
nunca sinal de nosso tempo, repercute na teologia,
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1"2E
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como em outras discipl inas, quando traz novas vozes
para a mesa de debates. Quando o assunto Maria, o
julgamento das mulheres decididamente ambguo.
Por um lado, a tradio manan.i atua negativamente
para p romover uma no. lo idealizada da mulher
obediente, uma interpretao que justif ica a posio
subalterna da mulher na Igre ja . Por out ro lado, a
lembrana viva dessa mulher atua positivamente parainspi rar a luta pela justia de Deus. compassiva e
libertadora. Ao separar essa beno e essa desgraa, a
mariologia feita por mulheres nas lt imas dcadas
oferece uma crt ica revolucionria e tambm novas
interpretaes criativas. Descobertas particularmente
r icas emanam de mulheres em s ituaes de grave
sof rimento causado pela in just ia . Em s ituaes
culturais diversas de pobreza, de preconceito racial e
tnico e de violncia, elas eonsisteniemente encon-
tram l igaes com a narrativa bbl ica de Mr iam de
Nazar, tambm ela mulher pobre, "algum como ns".
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Formam uma aliana com ela, a companheira rui luta,
para ler voz e plenitude de vida. Por ter uma dvida
imensa com esses estudos e estar comprometido com
eles. este l ivro junta-se ao esforo para dar voz a uma
teologia de Maria que promova a prosperidade das
mulheres e, assim, todas as relaes e comunidades
das quais elas fazem parte.
O contexto em que escrevo, uma cultura ps-industr ia l quase sempre caracter izada como ps-
moderna, propicia uma introduo interessante para a
acolhida desta abordagem a uma teologia de Maria.
Por vrias razes, essa cultura no tem tempo para
s mbolos de f configurados para suscetibi lidades
medievais ou pr-modernas. Um sinal visvel disso c a
diminuio da devoo tradic ional a Maria nos anos
que se seguiram ao Concil io Vaticano II na Igreja cat -
lica dos l istados Unidos. Nem Maria, nem, na verdade,
o resto da comunho dos santos encontram um lugar
adequado no modelo de f contemporneo, o que
lm*COur>0
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wrdadc principalmente para as geraes
nascidas e criadas depois do concil io. De fato, o
tema de Marta chega a ser considerado
irrelevante para as excitantes questes
religiosas da poca, a principal delas a busca de
Deus em um mundo de Sofrimento e
secular idade. Minha posio soc ia l, que est
precisamente nesse contexto, impede-me de.para interpretar Maria, recorrer tradio de
venerao de antepassados, como se (az na
teologia alr icana, ou a tradies vibrantes da
religio popular inerentes .1 l da Vmric.i I .
11111.1 e de comunidades luspni cas dos
listados Unidos, ou a costumes locais de grupos
tnicos imigrantes. Essas fontes de rellexo ma
ria na no s merecem respeito, mas tambm
tm muito a ensinar, como demonstram os
estudiosos que delas fazem parte. Porm, essas
no so as experincias de muitos que vivem
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suas v idas e expressam sua f na tendncia
atual ps-industnal. Este livro procura encontrar
o sentido de Maria, para examinar as exigncias
do discipulado precisamente nesse ambiente e
atrair as pessoas a uma amizade mais profunda
com o corao do mistrio divino e volt-las para
a prxis de justia e compaixo pelo mundo,
tanto pelos seres humanos como pela terra. Eminha teor ia que o t raba lho das mulheres a
respeito de Maria como amiga de Deus e profeta
faz exatamente isso e , ass im, uma parte da
tradio crist contempornea que se perde na
cul tura ps-moderna encontra um meio de
perdurar para o futuro.
Nossa verdadeira i rm: essa proposta
elaborada em c i n c o passos. Meu ponto de
partida o coro global de vozes das mulheres
hoje, que ouvido em toda a plenitude oferece
interpretaes teolgicas crticas e criativas da
tradio mariana Parte 1). Contraposta a esta, a
par le seguinte analisa dois t ipos de teologia
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mariana androcniriea que formam a principal
alternativa ao enfoque libertador das mulheres c
julga-os caminhos a ser evitados (Parte 2). Assim
forta lecida e a lertada, a Parte 3 examina de
modo prel iminar a proposta deste l iv ro e os
precedentes para e la na teolog ia antiga e
recente e no ens inamento da Ig re ja . Agora
comea o centro do l ivro, que lembra Maria demaneira teolgica e prat icamente fecunda. A
Parte 4 descreve o mundo que ela habitava,
inclusive as condies polt icas, econmicas,
rel igiosas e culturais que repercutiam em sua
vida. Isso forma o contexto para a Parte 5, que
se empenha em rigorosa interpretao de treze
passagens bblicas nas quais Maria se apresenta.
Essas narrativas codificam a memria teolgica
da Igre ja primi tiva , que inscreveu Mar ia no
acontecimento de f da salvao vinda de Deus
em Jesus pelo poder do Espr i to. Cada relato
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como um fragmento de pedra colorida. Reunidos,
formam um mosaico dessa mulher repleta do
Espri to, que, em companhia de outras impor-
tantes pessoas do Evangelho, associou-se obra
redentora de Deus. Retrocedendo e
contemplando o mosaico como um todo, o
ltimo captulo situa Maria na
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IhROOUCO
nuvem ioda de testemunhas que acompanham a Igreja
no seguimenio de Jesus J e termina com sua prece
revolucionria, o Magnificat.
A teologia hoje no ser nada se no lor multicultural c
plura lista. Ressal to | logo no incio que esta proposta
apenas um de diversos enfoques fecundos na atual teologia
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amigos de Deus e profetas, este l ivro e labora uma
teologia mariana enraizada na Escri tura l ida pelos
olhos das mulheres com mtodos hermenuticos femi-
nistas. Procura um vislumbre da real idade histrica
pura, na maior parte desconhecida, da judia Mirim de
Nazar, em uma soc iedade rstica do sculo I , re-
lat ivamente pobre e pol it icamente oprimida. Tenta
entender a presena, o chamado, o desafio e acriatividade do Esprito de Deus em sua vida e tambm
na vida de todos os que crem e amam por todos os
sculos. Liga sua vocao singular, que inclua, mas
no se l imitava, a ser me do Messias, s narrativas
das discpulas e dos discpulos de Jesus naquele tempo
e agora e encontra desafio e incentivo para os
discpulos de hoje. Em suma, esta proposta convida
Maria a descer do pedestal onde tem sido
homenageada durante sculos e a se reunira ns na
comunidade de graa e luta na h istria. Longe de
insult-la, esta l igao respeita-a e a toda a comunho
dos santos de uma forma l ibertadora apropriada a
nosso tempo e nosso lugar.
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Enquanto pesquisava para este l ivro, requisitei,
da bibl ioteca de minha universidade em um campus
irmo, Nos&t Senhora ,le Ciuhhilupe, de Jeannette
Rodriquez. Quando o l ivro chegou, o aluno de planto
avisou-me pelo telefone e mencionou, como
costume, o t tulo do l ivro. Eis o que ouvi em minha
secretria eletrnica: "Dia. Johnson. Nossa Senhora de
Guadalupe chegou e a aguarda na recepo". Uma deminhas colegas, a quem contei esse recado engraado,
hesitou um mo-
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l FRAGMENTOSNOENTULHO
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VALIOSA TAPEARIA
judia do sculo I chamada Mriam de Nazar,
me de Jesus , tambm pro-i \ c lamada na l
como Thectokos, Me de Deus, a figura religiosa
feminina mais celebrada na tradio crist. Que
interpretao de Maria seria teologieamen-tc
segura, ecumenicamente fecunda,
esp ir itua lmente lo rtaleeedora. eticamente
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polmica e socialmente libertadora para o sculo
XXI? Que importncia Mar ia tem luz da f
cr is ta no indulgente mis trio de Deus? Que
diferena faz na vida da Igreja e na sociedade
lembr- la juntamente com todos os amigos de
Deus e profetas? Em especial, como explicar sua
imagem para que ela seja fonte de bnos em
vez de in fluncia ma l fica para a v ida dasmulhe res em lermos religio sos e tambm
polticos?
Essas perguntas aludem a uma figura de
Maria extraordinariamente complexa. Seja ela
estudada do ponto de v is ta da teolog ia , da
espiritual idade ou da cultura, essa gal i lia tem
sido interpretada e expli cada, imaginada e
rejeitada, amada e reverenciada de maneiras to
diversas a ponto de ser impossvel sistematiz-
las1
. A diversidade comea na Escri tura, onde
cada um dos quatro evange-
1 O melhor compndio dessa tradio continua a8821 Nossa Verdadeira Irmp5 21
1 10.11.06.1539
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II
ser Hilda GRAfcK Maty; A History of Dotnne mi
Pmm. London. Shccd & Ward, Wcstminsrcr. Md,
Christian Classics, 1999; orig. 2 v.. 1963. 1965.
Hxcelcntes roteiros temticos dessa tradio
incluem: de teologia, George H. TAVARH,
ThThusaih Faies oj thVirgm Afiiry. Miehacl Glazicr
Book. Collcgevillc. Minn.. Liturgieal Press.
1996; de espiritualidade. Sally CuNfcEN, In
Seard of Man,1: Th Mmmi and th S\mhl, New York.
Ballantine Books, 1996j de cultura. Jaroslav
PELIKAN, Marytiwtgt th Csntuws; Her Plact in th
llstory tf Cuture, New I lavcn/London, Yalc
Universitv Press. 1996. Marina WARNER, cm
hm of At lier Sfx; Th Mxth an th Cult of lh Virgin
Mary\ New York, Knopf, 1976, proporciona uma
riqueza de detalhes histricos unida a crtica a
partir de uma perspectiva feminista. Ver uma
anlise histrica mais concisa
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II
Ihos a descreve de um modo diferente, conforme a
perspectiva teolgica dos J evangel istas. Essa diferena
bbl ica to real que em crculos ecumnicos serve para
explicar a variedade de modos de ver em seitas rel igiosas
di ferentes. Tradic ionalmente, os protestantes seguem a
avaliao um tanto negat iva que Marcos faz da me de
Jesus; os catlicos adotam a viso personalista e positiva deLucas , que a v che ia da graa e da proteo de Deus ,
mulher que cooperou com a faanha div ina de t razer ao
mundo o Redentor em forma humana; e os or todoxos
aproximam-se de Maria na maneira s imbl ica, icnica, de
Joo2
.
Do sculo V em diante, artistas criativos
passaram a usar a imaginao para descrever Maria
em pintu ras, esculturas e cones, compos ies
musicais de motetos clssicos a simples hinos ,
poesia, dana, arte dramtica e filmes con -
temporneos que refletem cul turas to d iferentes
quanto a b izantina, o barroco europeu e a lat ino-
americana. Catedrais sublimes, igrejas paroquiais e
capelas s ingelas em metrpoles e no inter ior so
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I
ded icadas a 1 )eus em nome dela . D ias de festas
l itrgicas anuais, juntamente com uma profuso de
sermes, prticas religiosas e oraes pessoais que
incluem o Rosrio, trazem sua memria para o meio da
comunidade da Igreja cm diferentes tempos e lugares.
Meditaes e l i lanias em seu louvor, crena em suas
aparies e seus milagres, peregr inaes, lendas,
costumes folc lr icos e fest ivais de rua tornam st ia
figura acessvel gente comum, at a quem tem uma
ligao no muito forte com a Igreja institucional.
Quando essa devoo transforma-se em teologia
erudita e doutrina da Igreja, continua a ser verdade
que, como diz Eis Maeckelberghe, "Maria"
substantivo coletivo
1
. De Efrm a Agostinho, de IIi ldegarda a Juliana de Norwich, de Toms de Aquino a
Lutero, de Rahner a Ruether, geraes de pensadores
nas Igtvjas do Oriente e do Ocidente e nos continentes
setentr ionais e meridionais apresentaram diversas
explicaes do sentido da v ida de Mar ia para a
comunidade de f. Usaram categorias coerentes com
as di ferentes teologias de sua poca, fossem elas o
escolasticismo, a sola graini da Reforma, o tomismo
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transcendenta l ou as id ias escla recedoras da
libertao e do feminismo. Nos sculos XIX e XX, exer-
ccios do poder papal acrescentaram outra dimenso
quando definiram como doutrina que Deus
generosamente concedeu ddivas a Maria quando ela
veio ao
c sistcmnca rm "Man", in Handboolt of CattoLTheology,
Wolfgjng Bl-lNERT & Francis STHSSI.ER FJORENZA,
orgs.. Nrw York. Crossroad. 1995. 444-472.
a xese dc Gcorg KRETSCHMAR & Rcnc LAURENTIN,
"The Cult of thc Saints", in Conjttstng One Faith; A fott
Cmnienlary ou the Mgmig Confesstov b\ LutherM au
Catkche Thologians, Gcorge FoRELL James McCuE,
ocgs.. Minne.ipolis. Augsluirg. 1982. 279-280.
lils MAECKEI-RERCiHE* Dfsperatrk Seeltmg \tary; A
Femmist Approprialion of a 7W' . Religious Symbol,
Kampon.Tho Ncrhcrbnds. Kok Pharos, 1991. 42.
RtAChCHTOS tO &IIUHO
mundo a Imaculada ( ionceio e quando dele
partiu (a Assuno' :, enquanto praticamente
todos os papas da poca moderna tambm
exortaram de vrias maneiras os fiis a cultivar
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a devoo apropriada a Maria.
Nas ltimas dcadas, o dilogo ecumnico
entre protestantes, catlicos e cristos ortodoxos
tem procurado uma raiz comum na Bbl ia e nos
credos para entender a importncia de Maria,
todos defendendo a coerncia com a Escritura de
seus modelos de pensamento e orao
tradicionalmente distintos
1
. O d i logo entre oscristos e os membros de outras re ligies do
mundo amplia ainda mais a ex tenso da
diversidade em assuntos marianos. O Qur\m do
islamismo d a Maria, chamada Marivam, uma
posio relativamente importante como me do
profeta Jesus que ela concebeu do Esprito. Ela
mesma um dos escolhidos de Deus na linha dos
grandes profetas. No incomum que os
muulmanos venerem a me de Jesus , (a tor
realado no chamado sem precedentes do
Vat icano I I ao entendimento mtuo: " I lonram
Mar ia , Sua me v irg inal , e at a invocam s
vezes com devoo"* '. Ao falar das grandes
religies da sia, os estudiosos chamam a aten-
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II
o para paralelos pietricos e devocionistas que
surgiram quando pessoas com uma longa
tradio de venerar Kaniton ou Kwan ) in, a
imagem leminma budista da compaixo no Japo,
ou Guanyin, a divindade chinesa popular que se
entrega para a salvao dos outros, ou sakti, 0
princpio feminino divino de poder no hindusmo,
interpretam o signif icado de Maria no contextodelas mesmas
6.
O quadro hca ainda mais complexo luz
dos estudos recentes que esclarecem como essa
imagem mariana adaptvel atua para promover
determinados programas soc iopo lt icos . Em
Constantinopla, a Virgem Thtotokos; protegia o
cetro dos
A cuidadosa obra bblica dc uma equipe dc
biblistas ecumnicos dirigidos por Raymond R.
Brown, k.ul Paul Donfricd. Joscph A. Fitzmvcr cJohn Rcumann continua fundamental; ver Man m
lhe Srw Testamcnt, )ohn REUMANN et a l n . orgs.,
New York. Paulist; Philadclpnia, Fortress. 1978.
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I
Dois dos mais importantes estudos em dilogo
so: Th One MfJiaior, th Satntt, and Man; Luthrans and
Cathlus ut Dialogue VI11, Gcorgc ANOERSON. Francis
STAPFORP & joscph BURGUESS, org*.. Min-
neapolis. Aufisburg. Fortress 1992; c GROI .'PS
DS DoMRHS, Marie Jaus le dessem de Dieu et li
iomimunon aes satnts. Paris. Bayard
ditions/Centurion, 1999. * VATICANO M.
Declarao Nostn aetate sobre as Relaes da
Igreja com as religies no-cristas. 3. Todas as
citaes do Concilio Vaticano II foram tiradas do
Compndio do Vatuano 11. 18. ed- Frei Boavcnmra
Kl.OffENfUlRCi, O.F.M., org., Petropolis, Vozes.
1986. Ver a concepo islmica dc Maria cm
TAVARO, Thotisand Fa.es of ih I \rgin Mary, 32-45
("Manyam of Arbia"); R. |. MCCARTHY. "Mary m
Islam". inMan 's Plaee m Cknstian Dialogue.
AlbcricStaepoolc, org.. Wilton. Conn., Morehouse-Barlow,
1982, 202-213: c Alah SCHLEIFER, "Manam in
Morisco Literaturc", UnrffQjmiuJ 36 (1992). 242-
261.
b Maria Rl.lS-l IAMTO. "Maria-Kannon; I lu* Moiher
of God in Buddhist Disguise", Manan Siudies 47
(1996), 50-64; Kmfc Put-LAN. Chuiese Home miChnstuvuly. Atlanta. Ga.. Scholars Press,
1992.29-64; c Judirh MARTIN. Thcologics of
Fcmininc hfaUUon". Joitmal of Dhanna 6(1981),
384-397.
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FflACjMHTOS to &IIUHO
um.) tlc.xibilid.idc que permite imaginao crista criar teologias e smbolos marianos bastante
variados em relao a necessidades espirituais e sociais.
Uma tradio viva suscita novas interpretaes em harmonia com os con textos histricos
em constante transiormao. Agora, artistas e telogos precisam lazer para o nosso tempo o que
pocas anteriores hzeram para o delas. Como esta gerao, que vive em uma Igreja multicultural
no incio de um novo milnio, inierpreta e reverencia Mirim de Nazar em um contexto de f e
com que resultados sociais e polticos? Obviamente, possvel mais de uma resposta. I loje a
diversidade histrica quanto a Maria reflete-se geograficamente ao redor do mundo, j que
Igrejas locais em continentes diversos expressam a importncia dela conlorme suas prprias
culturas. O mesmo lazem comunidades locais em naes pluralistas como os Estados Unidos,
onde, por exemplo, as prticas hispnicas de religio popular reverenciam Mana de maneira
calorosa, pitoresca e identificadora, enquanto entre a maioria dos anglo-americanos at as festas
marianas principais tm celebraes comedidas.
OUVEM-SE AS VOZES DAS MULHERES
Em meio a esse pluralismo, um fato genuinamente novo ocorre em todo o mun do: a elevao do
tom de voz das mulheres. E um sinal dos tempos que a mu lher, marginalizada durante milnios
em culturas dominadas pelos homens, conscientize-se cada vez mais de seu valor humano e no
tolere mais, nas palavras do papa Joo XXIII, "ser tratada como um objeto ou um instrumento;
reivindica direitos e deveres consentneos com sua dignidade de pessoa, tanto na vida lamiliar
como na vida social"3
. Como parte dessa conscientizao emergente, pela primeira vez na
histria as mulheres, em pblico e em conjunto, interpretam a ligura de Maria da perspectiva da
luta que travam para ser independentes, lortes, cheias de energia e santas, isto , a partir de
sua opo por uma dignidade humana plena. Elas lazem crticas maneira como as idealizaestradicionais dos privilgios e perfeies de Maria so usadas para ilustrar a busca de integridade
pelas mulheres. Elas tambm lazem movimentos criativos para reivindicar essa mulher como
aliada do progresso das mulheres. Agora a tapearia da tradio mariana fica ainda mais valiosa
medida que as mulheres do sculo XXI tecem suas intuies no grande pano.
1J JOO XXIII. Rum mTento, 41. m Doamnmk fado XXIE S2o Paulo. Mim, 1998 (Documentos dl IG^H- V- 2).
A5 VOZES DAS WULrfKS EM rOvO lv.
A herana que as mulheres receberam e da qual parlem no deixa de ser ambgua. Por um
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lado, Mana loi, durante sculos, a nica figura feminina permitida no aliar ou perto dele. Isso
manteve bem visvel a imagem de uma mulher, mulher importante c com freqncia poderosa,
que no s contrabalanava uma viso fortemente patriarcal de Deus. mas tambm conseguia
espao para promover o respeito pela dignidade das mulheres. Involuntariamente, o papel de
Maria serviu de maneira subversiva para indicar o poder e a potencial idade das mulheres. A
histria da espiritualidade revela que as mulheres encontraram na orao e na companhia de
Maria uma fome de inspirao, consolo e tora, precisamente como mulher e especialmente em
tempos de tribulao.
Por outro lado, as imagens oficiais de Maria lotam moldadas pelos homens em um contexto
patriarcal e atuaram intensamente para definir e controlar a vida das mulheres. As mulheres no
foram consultadas nem tiveram permisso para trazer o conhecimento que possuam da vida
delas mesmas diante de Deus para esse reirato oficial. De maneira quase inevitvel, o smbolo
mariano tornou-se o de uma mulher idealizada, criada como ato da definio masculina das
mulheres, que tiveram suas vozes oficialmente silenciadas. A forte nfase na obedincia, na
virgindade e na importncia primordial de Maria como me moldou um smbolo religioso que
satisfazia as necessidades de uma psique masculina monstca ou eclesistica de forma mais
adequada do que servia busca espiritual ou s capacidades sociais das mulheres. Pelos sculos
afora isso no esgotou a interpretao, pois os que no estavam dentro dos crculos dc poder
tinham descries prprias. Percebemos o poder oculto e reprimido da mulher tvvelando-sc na
devoo popular, como salientou Rosemarv Radford Ructher:
existe a Maria dos monges, que a veneram primordialmente como virgem e constrem as
doutrin.is referentes a cl .i em um molde anti-sexual. Mas existe .1 Maria do povo, que ainda
c a me-terra e venerada por seu poder sobre o segredo da fe-cundidade natural. E ela
que ajuda a mulher durante as dores di> parlo, que assegura ao lavrador novas safras,
novas chuvas, novas ovelhas, hla a imagem maierna do divino que entende a gente
comum em sua desdita14
.
Entretanto, o smbolo mariano oficial perdurou como fruto de uma hist ria da interpretao
socialmente poderosa que os homens Ia/iam da mulher ideal.
1 J Rosemarv Rdfbcd RUETHhR, "Mistross of I cavcn:The Meaning of Mariology", in JYAV Woman,
New Ear; Sexist laeologtts atui Ifamait Likratwu San l:rancisco, 1 larper & Kow, 1975, 50; que eu sai-
ba, essa c a mais antiga anlise feminista sistemtica do assunto.
FltAChCHTOS to &IIUHO
Em suma. esse ideal hincionou eficazmente para manter as mulheres no lugar subordinado autoridade
patriarcal cjue lhes loi pr-designado.8821 Nossa Verdadeira Irmp5 25 1 10.11.06.1539
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Os ventos do fortalecimento feminino que sopram em toda a terra tumultuam esse sistema tradicional.
Ao provocar uma mudana drstica na definio que as mulheres do a si mesmas, esses ventos trazem
bai la os novos entendimentos da natureza, das apt ides, do papel e da posio das mulheres, e do
relacionamento que elas tm com os homens e as estruturas criadas pelo homem. A medida que as mulheres
de hoje assumem o controle de suas vidas, sua busca do que preciso para se tornar um ser humano
completo e liberado em relao aos outros leva a uma rejeio crtica de amplas conseqncias e tambm a
uma imaginao criativa de vrios aspectos da tradio mariana. Algo novo est ocorrendo no encontro entre
as mulheres e a figura de Miriam de Nazar.
CRTICAS
No surpreende o tato de muitas expressarem avaliaes negativas, embora com relutncia.
Na frica do Sul. uma idosa, Margarel Cuthbcrt, contou um incidente que aconteceu em seu grupo
feminino de orao. Elas se encontravam toda semana para recitar o Rosrio e a Ladainha de Nossa Senhora,
tradicional resumo de louvores a Maria. Certo dia, depois de muita discusso e com um pouco de angstia,
decidiram omitir para sempre dois dos louvores da Ladainha: "Mae imaculada, Me intacta". Eis o raciocnio
delas: se Maria me imaculada porque concebeu sem ter relaes sexuais, ento somos maculadas, porque
tivemos relaes sexuais. Entretanto, a experincia que temos de nossos corpos, de fazer amor com nossos
maridos e de dar fi lhos luz, no nos macula, mas , apesar do sofrimento, fonte de alegria c favor divino.
Esses louvores de Maria nos insultam; no fazem sentido, ento ns os omitimos1
-. A incongruncia cognitiva
entre a experincia de Deus que as mulheres tm atualmente e o smbolo mariano tradicional estabelece um
conflito no qual inevitvel que o smbolo perca.li Margarct Cuthbcrt. Cape Town. frica do Sul.
Durante um encontro de orao da comunidade crist de Oaxaca, no sul do Mxico, Sabina Lopcz de I
lernandcz refletiu com o grupo sobre a forte reao que um sermo recente provocara nela. A leitura do
Evangelho descrevera
A5 VQZtS DAS WULKJK EM ftO^O IGu
Maria aos ps da cruz. O sacerdote disse que ela ficara de p ali conforme a von-J lade de Deus, livremente
oferecendo o filho pela salvao do mundo. Como me, I Sabina achou isso abominvel. Toda me, at a
mulher de t, quer que o filho | viva, no que seja morto. As outras no pensavam assim? Pensavam. Esse
pregador no entendia o corao das mes. A discusso piedosa voltou- se para a idia de que o Deus da vida
abomina ardentemente que as pessoas matem ou magoem umas s outras. A violncia da cruz no c* o que
salvfieo em si mesmo e por si mesmo. A idia existente h muito tempo de que Maria participou espontanea -
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mente de um plano divino para o so frimento de seu filho foi rejeitada1
'1
.
A escritora britnica Marina Warner fez um estudo conciso brilhantemente intitulado Alone oj
A l i Htr Sex, que analisa o malefcio causado s mulheres pela idealizao de Maria, a nica entre as
mulheres a ser reverenciada como imaculada e privilegiada. No fim da pesquisa, ela se viu na catedral
de Notre Dame, cm Paris, chorando, dividida entre seu corao, que ainda estava tocado pelo amor de
Maria , e sua nova descoberta de que "at mesmo na celebrao da mulher humana perfe ita a
humanidade e tambm as mulheres eram insidiosamente difamadas"1
' . Seu estudo do sublime mito
mariano, com seu culto, suas imagens, suas oraes e seus efeitos prticos, conclui:
A Virgem M.iri. i tem inspirado parte da arquitetura mais grandiosa, alguns dos poemas mais
comoventes, algumas das telas mais belas do mundo; ela enche homens e mulheres de profunda
alegria e ardente f; a imagem do ideal que fascina c incita homens e mulheres s mais nobres
emoes de amor, devoo e reverncia. Mas .1 realidade que seu mito descreve acabou; o cdigo
moral que ela afirma esgotou-se1*.
Marina Warner desconfia que a lenda continue a viver em seu lirismo, mas que pendeu o poder
de curar e prejudicar, pois agora as mulheres no se deixam en ganar pelo mito c o rejeitam.
Uma histria contada pela professora Man* 1 lines em uma escola de teolo gia de Washington
DC. revela que essa experincia no exclusiva de umas poucas
16 Sabina Loprz dc Hcrnandcz, Oaxaca, Mxico.
17 WARNER.Alone of Ali HerSex. xxi. O ttulo foi tirado dc um poema dc Cclio Sc Jlio (sculo V):
"Ela... no unha igual
Nem cm nossa primeira me nem cm nenhuma das mulheres Que
ainda viriam. Mas. nica de todo o seu sexo Bla agradou ao Senhor".
Ibidcm. 33a FdACMHTOS HO &IIUHO
mulheres i so ladas. No incio de um semcsirv, c ia descobr iu que todos os a lunos
matriculados no curso de teologia de Maria dado |n>r ela eram jovens do sexo mas culino; todos
OS a lunos de seu curso de teologia feminista eram mulheres. Quando lhes foi pedido que
explicassem a escolha, os homens disseram que era porque no sabiam praticamente nada a
respeito do ensinamento da Igreja sobre Maria, mas como ministros ordenados esperava-se que
soubessem. Por outro lado, as mulheres evitaram o curso por causa dos sentimentos negativos a
respeito do que j sabiam. "Algumas responderam com um sentimento de traio e desiluso,
outras com uma sensao de desassossego indefinido, [*] outras ainda disseram que era
simplesmente demais para elas concentrar o interesse no estudo de Maria."Ao refletir sobre a
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experincia das mulheres nas Filipinas. I It lda Buhay. O.S.B., comenta que, durante o perodo
colonial espanhol, a mulher flipina ideal era a Maria Clara, uma jovem com qualidades femininas
de pureza, docilidade e encanto comparveis s de Maria, Esse perodo j passou, "mas nossa
sociedade ainda incentiva as mulheres hlipinas submisso, obedincia cega e passividade-
Assim, quando imitada, Maria passa a ser um meio extremamente til para subjugar as mulheres
e outras pessoas oprimidas"1920
.
Uma jovem cr ist da ndia , Astr id Lobo, expressa a f rustrao de muitas de suas
companheiras que acham Maria sublime demais, santa demais e inocente demais para ajud-las
no desenvolvimento espiritual.
Coino ser humano em luta constante com escolhas difceis, no encontrei nenhum consolo
nessa dcil Maria que com tanta faci lidade dizia "Sim" a Deus. Como jovem mulher que
enfrentava o desafio de assumir meu legtimo papel na sociedade, eu simplesmente no
entendia essa Mana enli.ula dentro de quatro paredes. Ela era l "virgem castssima" com
quem eu nunca poderia partilhar a emoo de minha florescente sexualidade. O que essa
mulher sem pecado entenderia de minhas fraquezas e deficincias?"'
Ao refletir sobre a idia prevaleccntc dc Maria na Igreja ortodoxa. Elisabcth Behr-Sigcl
lamenta a excluso das mulheres da criao da teologia mariana. "Essa
! Man- HlNKS Whdtrver HappettfJ to Miy?, Notre Damc, Ind-, Ave Maria Press, 2001, 8.
1 lilda BUHAY, OS&* "'Who is Maryr", in Wmm anJ Rehgiou; A CoOmim of Essayt, Pcrsoual Histories, mi
OmrifimftlW hturgirs, Man John MANANZAN, org., Manila. St. Scholasticas College. 1992. 55.
;i Citado em Cluing I Ivun KVUNG, Struggjc to Be the Sun Agam; IntroJueingASIMI WomenI Tkeology, Mary-
knoll. N.Y.. Orbis. 1994, 124. nota 12.
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IAS VOZES DAS WULKK5 M rOvO lOM
1 tem sido em grande parte a prerrogativa dos homens, que, talvez inconscientemente, deixaram nela
a marca de seus sonhos. Da a viso da mulher ideal, estreitamente ligada maneira como as mulheres
rea is eram desprezadas ou desva lo -| r izadas nas soc iedades em que preva leciam as normas
patriarcais."2
" Se algum pensa que essa idealizao de Maria redunda em benefcio para as outras
mulhe-J res, basta observar as conseqncias prticas: "De fato, as mulheres idealizadas so mantidas
tora de funes na Igreja que subentendem autoridade e envolvem a tomada de decisesM2
*\
Ao tratar de problemas dc identidade e amor-prprio das mulheres hispnicas nos
Estados Unidos, as psiclogas Rosa Maria Gil e Carmen Inoa Vaz-quez ensinam as cl ientes a
reconhecer o conjunto de comportamentos socialmente aprendidos chamado manamsmo, o
reverso do machismo dos homens. Ao tomar como modelo de perfeio a prpria Virgem Maria, o
inariamsmo cultiva a noo de superioridade espiritual feminina e ensina as mulheres a levarem
uma vida de abnegao a fim de satisfazer os homens. Seus "Dez Mandamentos" incluem: no se
esquea do lugar da mulher; no fique solteira, no tenha independncia financeira nem seja
auto-suficiente; no se esquea dc que o sexo para lazer filhos, no para ter prazer; no fique
descontente com seu homem, nem o critique por maus-tratos verbais ou fsicos; no conteste as
coisas que a fazem infeliz. Na terra natal, a recompensa para essa entrega total de si mesma era
uma certa medida de proteo e poder na famlia. Mas na Amrica do Norte de hoje a idia trans -
forma-se em opresso que liga as latinas a um comportamento derrotista e infelicidade. Essas
psiclogas fazem um chamado estimulante: "Abra seu corao, sua mente, sua alma e seu
espr ito aos ventos da mudana, enquanto voc v ia ja a lm do mariamsmo, atravs da
aculturao, at o amor-prprio para, por fim, se tornar a mulher que voc quer ser'*21
.
Ao falar em nome de uma gerao de mulheres, a romancista americana Marv (iordon
observou admiravelmente que em sua escola secundria catlica "Maria era uma vara para bater
nas garotas espertas. Seu exemplo era exibido constantemente: exemplo de si lncio, de
subordinao, do prazer de ficar em se-
- Elisabcth BFMH-SIGKI . "Mary anJ Womrn", Solornost; Faslern Ckurrhs Review 23 (2001), 25. MJbidcm.
32.
:4 Rosa MARIA GiL & Carmen INOA VAZQUBZ, Th Mana ftlWwx, How Latmas Can Mergr Old World Tra-dmon
wm New World Setf-Esteem. New York, Puniam. 1996, 266; Os Jez mandamentos na pgina H. Ver
tambm Bvelyn STfcVKNS. "Marianismo; The Other Face of Machismo in Latin America", in Female
and Mate m Ijin Amema, Ann !>ESCATELLO, org.. Pitrsbutgh, University of Piusburgh Press,
1973.89-101.
FltAChCHTOS to &IIUHO
gtindo plano". Ao descrever a mudana ieita por inmeras outras, ela contnua: "Para
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mulheivs como eu, era necessrio rejeitar a imagem de Maria a fim de apegar-se Irgil
esperana de avano intelectual, independncia de identidade, realizao sexual"25
.
dilcil subestimar a profundidade da repugnncia, existencial e tambm intelectual,
sentida pelas mulheres que tornam conscincia das maneiras negativas pelas quais o
smbolo mariano as influencia. Interpretada em grande parte pela imaginao dos homens,Maria descrita como um tipo de mulher em vez de outro e apresentada por pregadores
e lderes da Igreja do sexo masculino como o ideal para as virtudes e os papis sociais das
mulheres. O smbolo de Maria funciona efetivamente para isso. Grande parte da teologia
tradicional laz dela um meio dc manter as mulheres em seu lugar subordinado, pois, como
afirma Rosemarv I Iaughton, "com toda a sua glria, ela sempre obediente, ela no
'ordenada', a auxiliar paciente e sofredora, atarelada mas submissa, que intercede mas
no decide"
26
.Engajadas em uma lula histrica pela igualdade nas estruturas polticas e familiares
e pela l ibertao do domnio masculino com suas mais que trequentes manifestaes
fisicamente violentas, as mulheres acham esse modelo mariano engendrado pela tradio
decididamente intil. Mulheres negras que resistem ao preconceito racial que assola suas
comunidades, mulheres economicamente po bres que lutam diariamente para criar os filhos
em ruas miserveis, mulheres de orientao sexual diferente que buscam respeito para a
vida que levam, mulheres heterossexuais que acham o prazer sexual fonte de satisfao e
graa: agora essas e muitas outras consideram esse smbolo def iciente. Note que a
acusao no de Maria ser irrelevante, crtica originria de fontes culturais. E antes que
a f igura de Maria prejudicia l c atua de modo que apoia a opresso patriarcal das
mulheres. A tradio mariana acusada de desvirtuar a real idade das mulheres, de
estimular um ideal restritivo da realizao humana, de diminuir os papis sociais das
mulheres, de bloquear o acesso delas s bnos divinas na plenitude de suas vidas. Essa
tradio preside o mal do sexismo em vez de contest-lo.
A anlise, usada com freqncia, dc PaulTillieh sobre a maneira como um smbolo
atua lana uma luz proveitosa nessas vozes crticas das mulheres2
'. Todo smbolo origina-
se de uma dimenso do esprito humano que no est sob controle racional imediato.
Nasce e cresce das profundezas da psique e lana razes
:i Man GOKDON. "Corning to Tcrms wiih Mary". Cmmonwral (25 jau. 1982), 11. 2t Rosemarv I
IAUHTON. TW Re-creation of E\r, Springfeld. III-, Templegate. 1985, 119. O Paul TlLlIfH.Tktolog? of Culturr. NewSork. Oxford University Press. 1964. 53-67.
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| cm circunstncias histricas determinadas na medida em que alimenta a iome humana de
sentido transcendente. Assim como no criado por uma deciso convencional, o smbolo
1 Nossa Verdadeira Ittna P658821 Nossa Verdadeira Ittna P6530
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1 Ao falar nao como mulher branca nem como homem negro, mas como
J algum que comb ina gnero e raa oprimid os em uma n ica pessoa, a af ro -ame-"I ri cana Diana
Hayes insiste na semelhana entre a vida de Maria como judia sob a opresso romana e a existncia
pobre e marginalizada das negras em nossas so-z
ciedade e nossa Igreja racistas. Como a mulher
galilia, as mulheres negras con-J tinuam a perseverar apesar do preconceito c dos tempos difceis e
do luz o futuro com as prprias vidas. O que recomenda Maria no a passividade, do tipo
elassicamente ineulcado nas mulheres escravas, mas o modo como ela serve de modelo de um
comportamento resoluto e virtuoso em aliana com a justia libertadora de Deus para o pov o dela.
Hayes faz um grande elogio tirado da co munidade negra e a descreve como "feminina" .
As mulheres das comunidades hispnicas dos Estados Unidos analisam como as figuras
de Maria em vrias tradies Nossa Senhora de Guadalupe no Mxico. Nossa Senhora da
Caridade em Cuba contribuem para incentivar um orte sentimento de individualidade nas
mulheres que, sob outros aspectos, a sociedade deprecia. Jeanette Rodriguez descobriu que o
vnculo que as mulheres mexicano-americanas imaginam com Nossa Senhora de Guadalupe
influencia-lhes a vida para melhore lhes proporciona uma forma espir itual de resistncia
marginalizao na sociedade e na Igreja. Ao refletir no misericordioso rosto materno de Deus
para mulheres que tm sua humanidade sistematicamente denegrida, este cone lhes oferece a
experincia de ser aceitas, abraadas e amadas por algum do mais alto valor. Desse modo,
aumenta seu sentimento de que so pessoas dignas e valiosas: "ela , com certeza, fonte de
fortalecimento' . Essa corrente de reflexo continua, a despeito da ambigidade mencionada por
outros estudiosos, j que a devoo a Maria no l iberta as mulheres hispnicas da opresso
sexual ou econmica35
.
Duiu I IAYES. And Whcn Wc Spcak; T Be Black. Catholic and Wununit . in Taking Down Our Harps;
f/a/t Catioius m th t mlc Slalcs, Diana HAYKS & Cvpnan DAYIS, orgs.. Marvknolt, N.Y., Orbis, 1998.
113-114.
Jeaneue RODfUGUEZ* Our Lay of Cua, < fatth aiu Empowtrmtnt among Mrxitan-AmtritttHpmrn,
u&tn, University of Texas. 1994. xxi; ver tambm Adi Maria ISAM-DAZ f YolanJa TAKANO.
Hnp.wu Hjfcri; Prophtu Vota w th Chunh Towar a Hispanw Womtns hhration TMcgy, San hYancis-co.
Harpcr Row. 1988.
Mary DEGOCK. "Our Ladv oi Guadalupe. Symbol of Liberation", in Afarv aaordmg to Womm, Caro!
francis JfcGEN. org.. Kansas City, Mo. Lcawn Press. 1985. 113-141- A questo torna-se mais com-
plexa quando sao levadas em coma as diferenas cristas: Nora Loz VNODAZ, "Ignored Virgin or
Unwarc Women; A Mcxican-American Protestam KcHection on thc Virgin of Guadalupe", in AReadrr m LtffaM Femnust TU&ff, Maria PlLAR AOUINO. Daisy MA< HADO & Jeannetre RODRIGUEZ,
orgs., Austin. Tex.. Universirv of Texas Press. 2002. 204-226.
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ingl. Edward QuiNN. New York. Crossroad. 1983. 217.
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AS VOZES DAS WULKK5 EM rOvO lOM
1 direitos, recursos e mtluncia. As variaes do patriarcado so muitas, e ele tem se translormado e
se adaptado em toda a histria em resposta a presses e exigncias femininas . Ainda assim, sua
rede de regras jamais concede s mulheres d irei tos iguais ou oportun idades iguais de
participao e tomada de decises.
KyriarcaJo Senhorio , domn io do amo c senhor. Mais amplo que o pat riarcado, este
neologismo abrange toda a sr ie de exp loraes praticadas no mundo todo sempre que
determinadas pessoas poderosas assumem o direito de controlar indivduos ou grupos que podem
benefici-las. Relea^-se a camadas de opresso interestruturadas e multifaeetadas, baseadas em
gnero, raa, classe, afil iao tnica, situao colonial, orientao sexual, idade, deficincia e
outros indicadores usados para denegrir a dignidade humana das pessoas. Esse conceito
analtico deixa claro que. embora todas as mulheres sejam marginalizadas pela lei e pelos costu -
mes em sistemas Iryrianms, em alguns casos as prprias mulheres se beneficiam custa de
outras mulheres pense-se nas mulheres brancas no sul dos Estados Unidos durante a
escravido, ou nas consumidoras do primeiro mundo que compram roupas feitas por mulheres
que recebem baixos salr ios e t rabalham em ms condies ambientais nos pases em
desenvolvimento. Na verdade, "o pleno poder opressivo do kyriarcailo manifesta-se na vida e nas
lutas das mulheres c dos homens mais pobres e mais oprimidos que vivem no lundo da pirmide
k y r t a r c a f ' * .
Sexo refere-se s caratersticas biologicamente distintas do corpo masculino e feminino que
funcionam na reproduo, uma constante f is iolgica que em geral precisa de interveno
cirrgica para ser mudada.
Gnero no um dado no mesmo sentido. a expectativa socialmente formada de como
pessoas sexualmente corporificadas devem agir, que caractersticas cada uma deve desenvolver
e que papis sociais tm permisso de desempenhar. Como escreve Gerda Lerner, gnero "a
definio cultural do comportamento que apropriado para os sexos em determinada sociedade
em determinada poca'" .
7 Gcrda LfcRNfcR. The Cmmm of Patnareky, New York. Oxford University Press. 1986. 239.
8 ElfZabtth ScHSSLER FlORENZA, "TO Follow thc Vision; The Jesus Movemem as Raxileia
Movement", in Liberating Esehtolegy; Fssay m Honor of/v/rv M. Russet, Margarct FARLEY & Seercne
JONES, orgs., Louisville, Ky.. Westminstcr John knox, 1999. 127; Schsslrr Fiorcnza criou o
neologismo Ir/riar-ife Ver a mordaz anlise crtica de M. Shawn CoPELANO, "Towjrd a Criticai
Chnstian Fcminisr Thcology of Solidariry". in Women mi Theology; Mary Ann HlNSTWLE & Phyllis
KAMINSKI, orgs.. Maryknoll, N.Y., Orbis. 1995, 3-38; c Elizabeth SPELMAN. fnessentiai Wowan;
Prollemsof Exduston tn Fmimsi Though, Boston. Bcacon, 1988.
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" LKRNHR. Gmtim tf Putnary. 238. Ver tambm Joan \V. ScOTT. "ender; A Useful Catcgon of I lis-
roncai Analysis".Amenean Hist&neal Review 71 (1986), 1.053-1.075; e JoNES, FernmislTheor, atiJ Chru-
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1 7 TfcRTULlANO, Detultu fenunamnt (O traje das mulheres), in Corpns ChntUanorun, Series Ijilma,
Turnliolt, Typographia Brcpols. 1954. 343.
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AS VOZES DAS WUUW. EM rOvO ICw
O crescimento autnomo como seres humanos faz com que as mull icrcs J achem esse
modelo cada vez mais intolervel, kari Borresen fala por muitas quan-i do afirma ser um absurdo
fazer de Maria um modelo se no se rompe a ligao
3 essencial entre femini l idade e subordinao. Somente quando j no se imaginar o divino em
metforas predominantemente masculinas e somente quando a de-
4 pendncia humana dc Deus nao lor dehnida em termos dc subordinao femi-nina autoridade
mascul ina, a f igura de Maria deixar de ser "um construeto patr iarcal: virgem, esposa e me,
acessrio do homem"25
.
As mulheres a fro -ameri eanas que herdam o l egado da esc ravido t razem novo
discernimento a essa crtica. Clarice Marin observa que a palavra grega Joittos/Joul, traduzida na
passagem da Anunciao como "serva", signif ica l i teralmente "escrava". 1:1a relaciona os
avil tamentos da escravido, inclusive a v io lncia, o que complica bastante seu uso para a
metfora da relao com Deus26
. Alm disso, a experincia da escravido era diferente para
mulheres e homens, na medida em que o corpo das mulheres tinha de estar disponvel para
servir s necessidades fsicas dos homens da casa, no s para aliment-los e fazer a l impeza,
mas tambm para servi-los sexualmente. A anlise que Delores Will iams faz dos papis coercivos
da "mucama" no sul dos Estados Unidos, que tinha de ser ama-de-leitc, eoncubina e reprodutor,
para o senhor, el imina toda possibi lidade de glorihcar a posio de serva27
. Shavvn Copeland
afirma que o ensinamento e a pregao crist nas fazendas procurava prender as escravas a sua
condio, "inculcando caricaturas das virtudes cardeais de pacincia, resignao, temperana,
amor": quanto mais submissa a mulher, melhor8
. Hoje essas virtudes esto sendo reavaliadas
luz das necessidades que as mulheres tm de integridade, um novo modo de pensar que envolve
a hermenutica da dvida para subverter o valor da submisso. A promoo rel ig iosa da
submisso e da humilde
K.ui BORRESEN, "Mary in Catholic Thcology", in Afary i th Churekts. I lans KuNG & Jrgen
Moi.TMANN. org*., Edinburgh. T & T Clark; New York. Srabury. 1985, 55.
26 Clarice MARTIN. "VVomanist Interpretarions of thc New Tcsramcnt"./tJwrruof Ffnunmc Stuia ui
Re-hgton 6 (1990),41-66; ver, da mesma autora. "The hlaustafAn (Household ("odes) in African
American Biblical Intcrprctation: "Frcc Slaves" and 'Subordinatc Women"'. in Ston\ th RoaJ II** TroJ;
Afrwan Amcrnan hibWal Itttrrprrtation, Cain I lope FELDER, org-, Minneapolis, Fortress. 1991. 206-
231.
17 Delores \\*M IIAMS, Sisten u\ t h Wihbnwss; Th Challenjk- of Womatust God-Tallc, Maryknoll. N.Y.. Orbis,
1993. Ver a lcida anlise filolgica devse termo aplicada a textos marianos por Manannc
SWVICKJ, Seemg th Lor; Rsurreaion aiui Earh Chnttiau Pratlues. Minneapolis. Fortress, 1994, cap. 5,
"Son of Gods Slavcwoman", 95-118.
-* Shawn COW*ELANI>, "Wading lhrough Many Sorrows: Toward a rheology of Suffering in Womanist
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Perspective", in A Troublmg m Av Souk Womatust Perspeitives on Evtl mm Sujfsrutg, limilic TOWNES,
org.. Marvknoll. N.Y.. Orbis, 1993.' 122.
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I
I conversa para partes mais amplas da mente. Uma das
interpreiaes mais signih-I cativas c a de Rosemarv Radford
Ruether. que prellgura uma mariologia da libertao baseada
no Evangelho de Lucas. O texto primordial o hino de Maria,
o Magnit cat (Lc 1.46-55}. Aqui , com a declarao de que
Deus expulsa os poderosos de seus t ronos e exalta os
humildes, Maria proclama o poder salv f ico que entra na
histria para reverter a ordem atual de poder c impotncia.
Como mulher oriunda das classes mais pobres de um povo
colonizado, ela prpria "representa a comunidade oprimida
que deve ser exal tada e coberta de bens na revo luo
messinica"5
*. Sua histria expressa a opo preferencial de
Deus pelos pobres e desafia as pessoas favorecidas
economicamente a se converterem a essa causa. Na medida
em que Maria representa a Igreja como humanidade
redimida, surge um novo paradigma. Km vez da tipologia de
Cristo como homem dominante e da Igreja como mulher
submissa, agora temos o poder divino do Cristo da quenose
que se esvazia a si mesmo e assume a condio humana de
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sof rimento e esperana, e a Igre ja que for ta lecida e
exaltada como a comunidade transformada dos pobres e dos
que so solidrios com eles. Juntos, Cristo e a
Igreja/Maria/ns mesmos comeamos a viver a inverso de
valores caracterstica do reinado de Deus que h de vir.
Embora haja quem crit ique essa interpretao porque ela
continua a usar o gnero como categoria bsica, sua fora
est em t ransformar a re lao de Mar ia com Cri sto emsmbolo libertador em vez de repressivo.
A fascinante sugesto de Man* Jo Weaver que
pratiquemos um ato de integrao s imblica que
combine todas as mu lheres chamadas Mar ia no
NovoTes-tamento em uma nica figura heterognea, o
que corrigi ria a separao de Maria das ou tras
mulheres e atuaria como cone poderoso para
feministas Outra sugesto, apresentada por
Elisabeth Moltmann-Wendel, restabelecer e reveren-
ciar a tradio da amizade das mulheres com Jesus,
em vez da maternidade de Maria. Essa teloga critica
a maneira como a tradio prevalecenie transformou
Maria de Nazar "de me ativa, sensvel, irada e mal-
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1 como vimos, depreciam sutilmence a sexualidade, a santidade e a independncia J das mulheres.
Na estrutura patriarcal da Igreja, elas permitem que uma nica "I mulher gloriticada atue, o que inibe
a plenitude da vida para as outras mulhe-| res. "Somente quando Maria j no for a exceo, mas sim
a regra para a posioz
socioeclcsial das mulheres, seu culto ser verossmil e sua imagem ganhar
po-^ der transformador para a solidariedade, a justia e a libertao"67
Finalmente, o mtodo ullual-
eapintual da religio popular apela no tanto razo e doutrina quanto emoo, ao desejo de
segurana e experincia ntima da presena divina. Por meio de dias de fes ta e altares particulares,
velas e flores, vises e peregrinaes. Maria celebrada como nossa me amorosa, Rainha do Cu, de
modo que seja a medianeira de uma experincia de bondade divina e poder redentor em forma
feminina. O problema aqui a teologia oficial insistir que esse suposto "tOStO feminino do divino"
precisa permanecer subordinado a uma idia de Deus anloga ao varo dominante. Mesmo quando o
recurso interressao da misericordiosa me Maria incentivado, seu smbolo permanece arraigado em
um cosmos patriarcal e at o refora, ao tornar possvel uma postura mais terna, mais suplicante para
com o Deus patriarcal. A estrutura toda permanece presa a u m contexto de masculinidade c
feminilidade baseadas no sexo, o que no apresenta um caminho que avance em direo libertao das
mulheres. Schssler Fiorenza conclui que s a transformao genuna das estruturas e da retrica
eclesisticas em direo a uma genuna comunidade do discipu lado de iguais proporcionar o contexto
no qual o discurso mariolgico ser verdadeiramente libertado para o benefcio das mulheres.
Uma terceira tentativa de organizar a profuso do trabalho das mulheres a tese de
doutorado da estudiosa belga Eis Maeekelberghe, publicada como )-perately Seeking Mary1*, que
relaciona onze abordagens diferentes cm trs continentes. Primeiro, ela examina o trabalho de
Ctharina I lalkes, que se serve de vrias disciplinas como religio comparada, histria da
religio, psicologia da religio e teologia para produzir lampejos de descobertas da Maria
histrica, a base para a Maria simblica que revela a Ma gn a Maler, a grande me divina. De uma
forma teolgica mais sis temtica, Rosemarv Radford Ruether desconstri e em seguida reconstri
a idia de Maria em relao s mulheres e humanidade redimida libertada do patriarcado.
Concentrando-se na tradio, Elisabeth Schssler Fiorenza analisa o mito de Maria para descobrir
suas funes psico lgicas e ecles io lgicas, perguntando se essa h istria a lguma vez
proporcionou s mulhe-
"7 Ibidem. 174.
w Eis MAECKELERGHE. Dnperauly Stjm Ma ry (ver cap. I, now 3),
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_____ OMI *OS I|O BCOLHDOS
1 fatos do progresso das mulheres nesse campo1
. Nessa concepo da raa hu-J mana, a diferena
sexual tem importncia vital, mas no o nico indicador "f essencial da identidade humana da
pessoa. Mais exatamente, o sexo combina com outras constantes antropolgicas com o raa, classe,
relaes familiares, es-" truturas sociais, poca histrica c posio geogrfica c cultural para definir
as j pessoas como indivduos singulares. Aqui Mana assume seu lugar como a pessoa caracterstica
que ela , solidria com outras mulheres e homens em toda a sua diversidade.
Antropologia dualista
Essa concepo da raa humana, que inf luencia sculos de teologia mariana. parte das
diferenas biolgicas bvias entre mulheres e homens. Ao pensarem termos binrios, ela eleva a
diferena sexual a um princpio ontolgieo que divide a raa humana em dois tipos de pessoas
radicalmente diferentes: homens que tm natureza masculina e mulheres que tm natureza
feminina. Cada t ipo vem equipado com um conjunto dist into de caracterst icas. A natureza
masculina marcada por razo, independncia e a capacidade de analisar, tomar iniciativas e
fazer julgamentos, enquanto a natureza feminina marcada por emoo, receptividade e a
capacidade de dar carinho, demonstrar compaixo e sofrer por amor. Portanto, o dualismo de
gnero extrapola as qualidades endmicas de cada natureza para atribuir a homens e mulheres
papis sociais diferentes desempenhados em campos de ao rigidamente predeterminados, o
que, alega-se, est de acordo com a lei de Deus estabelecida na natureza.
Esse padro de pensamento tem longa linhagem histrica. Apareceu pela primeira vez na
teologia quando autores cristos primitivos procuraram lalar de maneira inteligvel a respeito da
l e recorreram filosofia helensiica de sua cultura. A apropriao medieval do pensamento
grego clssico deu a esse dualismo mais primitivo novas esperanas. Em cada caso a teologia
utilizou uma filosofia que dividiu toda a realidade em duas esferas, esprito e matria. Tambm
classif icou essas esferas em ordem de importncia, com o espr ito, que expressa o domnio
superior da luz e da vida eterna, valorizado acima da matria, que denota o reino interior das
trevas, da mudana e da morte. Tudo que existe Ia/ parte diurna ou outra esfera. Quanto aos
seres humanos, os homens classificam-se com
In th EMlMof GoJ; Fcmimst Approaihs toTholegwalAntkwpotcgr, Ann G'l Iara GkAlK org.. M.mknoll,
N.Y.. Orbis, 1995: e Jane KOPAS. "Bcyond More Gendcr: TransformingTIu-ological Anthropol-ogy*\
m Hmc/i and Thology. 216-233 (ver cap* 2. nota 8).
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CAVWOS IIOE5COLH0O5
Usando o mesmo recurso, Catherine LaCugna eco. essa emoo cm l inguagem
contempornea: "A v ida de Jesus Cristo est em desacordo com a teo logia sex ista da
complementaridade, a teologia racista da superioridade branca, a teologia clerieal de privilgio
cultuai, a teologia poltica de explorao e injustia econmica e a teologia patriarcal do domnio
e controle masculino"'. A teloga britnica Janet Soskice transmite uma resposta mais intuitiva.
Para a esmerada elaborao do bispo de Londres de que o "masculino" est associado a dar e o
"feminino" a receber, ela retruca que essa "uma interpretao de gnero to intolervel para
os homens quanto desonesta a respeito das mulheres e, entre estas ltimas, est sujeita a
produzir alguma hilaridade nas que esto cnseias e so eloqentes a respeito de seu papel para
assegurar o bem-estar dos homens sem nenhuma f irme expectativa de que o contrr io
prevalea"*. O riso sinal de rejeio. As mulheres sabem que equiparar a feminil idade
dependncia privi legia inevitavelmente os homens em termos de poder social , pol tico e
espiritual, enquanto deixa para as mulheres o trabalho cotidiano que sus tenta a vida.
Passando teoria, a antropologia igualitria de parceria segue a indicao do primeiro
captulo do l ivro do Gnesis, onde Deus cria a humanidade sua imagem e segundo a sua
semelhana, "macho e fmea" ( 1 ,26-27)*' . Os estudiosos notam que aqui no h nenhuma
especificao de qualidades masculinas ou femininas, mas apenas a plenitude de serem pessoas
humanas imagem de Deus na sexualidade inconfundvel de cada um, macho ou fmea. Somos
uma nica raa humana e precisamos prestar ateno ao que temos historicamente em comum
como espcie. Da maneira mais bsica, todas as pessoas humanas compartilham o fato de serem
espritos encarnados no mundo, concebidos, pelo menos at o momento em que isto est sendo
escrito, quando o vulo e o esperma se unem para produzir um organismo em crescimento que,
por fim, partejado do corpo da mulher. Pelo corpo, iodos os sercs humanos ligam-se terra em
uma comunidade ecolgica que inclui todas as outras criaturas vivas na interdependncia mtua
dos sistemas do planeta que sustentam a vida. Para permanecer vivos, todos os seres humanos
tm necessidades comuns de ar respirvel, gua potvel, alimentao e sono. A teoria feminista
dedica ateno importncia vital
Carhcrine LACUGNA, "God in Communion with Us;ThcTriniry", in FmmgThology;TkrEamtih of
Theology m Fnnmist Persptrnw, Catherine LACUGNA, org.. San Francisco. HarpcrSanFrancisco,
1993.99.
Jancl SOSKICE, "Thc Virgin Mar)' and thc Ixminist Quest", inA/ter Evt; Wmen, IWtgy,
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a comunidade amigvel entre os sexos torna-se possvel
em escala ampla sem de-J t r imento das relaes intensas
que surgem quando um homem e uma mulher formam laos
COlljugais. Rosemarv Radlord Ruether descreveu lindamente
as jornadas de converso que preciso fazer para chegar a
esse tipo de relacionamento. Lim uma sociedade sexista, as
mulheres p recisam fazer o percurso da in fe rioridade
socializada e da falta dc amor-prprio em direo a uma
pessoalidade repleta de auto-estima. Os homens precisam
fa/er o percurso do orgulho mascu lino presun-oso em
direo a uma persona lidade esc larecida repleta de
humildade. Ento, eles podero se dar as mos na lula para
criar um meio de ficarem juntos em rnutua-lidade inteligente
para humanizar o mundo e salvar o planeta1
*.
MARIA E O FEMININO PATRIARCAL
Freqentemente, o padro fundamental do dualismo de
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I
gnero lo rma uma grade para in terpretar Mar ia .
Obviamente, a teologia coloca-a no lado feminino da
diviso humana, imaginando-a como a personificao
ideal da essncia feminina. Hnto. quer sua perfeio
sirva para depreciar as outras mulheres, quer para
inspir-las, sua imagem materna obediente e
compreensiva atua na comunidade como norma para
as mulheres em contraste com os homens. Quandocombinado a um entendimento de Deus e Cristo como
essencialmente masculinos, o resultado reproduz na
teologia, na espiritual idade e no sistema de governo
da Igre ja nada menos que a ordem pat riarcal do
mundo, agora com sano div ina. A amostra dc
autores a seguir demonstra a natureza problemtica
da mar io logia fei ta nessa est rutura de femin ino
patriarcal e esclarece por que as interpretaes de
Maria baseadas na antropologia dualista levam a um
beco sem sada em vez de a um caminho para a frente.
Leonardo Boff
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Ao fazer teologia no contexto lat ino-americano de
enorme devoo popu la r a Maria , Bo ff p rocura
interpretar essa mulher luz do que ele considera um
acontecimento contemporneo significativo que ocorre
apenas uma vez em alguns mil
RUETHER. Socism mm God-Talk, 159-192 (ver cap. 2.
nou 2). O alarme inicial foi de Valerie SAIVING, que,
em seu ensaio a respeito do pecado c da graa
experimentados de modo dilereme por mulheres e
homens, foi a pioneira dessa mudana de
paradigma: "The I luman Situation: A Feminine
View".Journal o f Rrlyon 40 (1960). 100-1 12.
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Dcmn) dessa estrutura, Balthasar relido sobre passagens dos evangelhos o in-1 terpreia Maria
com virtudes tipicamente femininas: ela silenciosa, modesta, obe-"I dece com amor etc. As npeias
em Can servem de exemplo. Maria nota a embaraosa falta de vinho e a relata .1 |esus, o que revela a
conscincia das necessidades dos pobres e a intuio de que seu filho podia, de alguma forma, ajudar.
A cami-J nho de sua hora. Jesus procura dissuadi-la. Mas a maneira como ela reage, dizendo aos que
serviam: "Fazei tudo o que ele vos disser" Qo 2,5), simboliza a Igreja na sua melhor forma. Kxprime
"seu completo desinteresse e a rendio vontade dele. mas tambm sua esperana segura; e
precisamente por no fazer estardalhao, por no ser voluntariosa, que ela vence e a hora da cruz
antecipada". Ao apelar a Jesus, apesar de a princpio ele ter ignorado seu pedido, explica Balthasar,
Maria d provas da simplicidade e da sensibilidade da me que sabe como partir do nvel de justia em
Deus para o nvel mais profundo da misericrdia; e ela est convencida de agir certo de uma forma
mais profunda que a ditada por toda a justia abstrata elaborada pelos homens para a condio deles".
Balthasar homenageia com um enemio que uma das declaraes mais primorosas que j encontrei:
"Sendo mulher, ela tinha o corao onde deveria estar e no no crebro"21
. A tradicional dicotomia
entre feminino e masculino, equiparados a corao e cabea respectivamente, e tambm equiparados a
misericrdia e justia, revela-se aqui plenamente. Desafia o bom senso interpretar o fato de Maria
tomara iniciativa nesta histria como falta dc voluntariosidade, sua influncia sobre o filho como rendi-
o vontade dele c sua sensvel observao da necessidade como amor separado da inteligncia.
Contudo. Balthasar mais lgico que Boff. e o esteretipo femi nino que governa essa interpretao no
permite outra coisa.
A complementar idade do homem e da mulher tambm governa o uso simblico que
Balthasar faz de Maria. Junto com um grupo de outras figuras histricas, que incluem Pedro, Joo
e Paulo, cia c compelida ao servio para representar o que ele chama de "dimenses" da Igreja*2
.
A dimenso mais importante a espir itual de resposta ao dom divino da graa, o que Maria
simbol iza dramaticamente. Seu sim a Deus na anunciao assinala o incio da Igre ja . O
compreensivo consentimento humano dessa serva, um dos attawim de Israel, simboliza o mis-
-M Hans Urs VON BALTHASAR, Afjr> forTodaw irad. ingl. Rohm NOWELL. San Francisco. Ignanus
Press. 1987. 62-63. 74.
- I l.ms Urs VON BALTHASAR. Th Cbry of th fo r j; A TheologicalAesthlKS. v. 1: Sceing th Form. tra J. ingl-
rasmo LHIVA-MBRIKAKIS, San I-raiuisco. Igntiui Press: New York. Crossroad, 1982. 338-365. Ver
uma anlise perspicaz em Walter BRHNNAN. "The Issue of Archetypes in Marian [Vvotion .
Mjna num ; Ephmenafs Manologia52 (1990). 17-41
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I ,im,ir"2
. Isso c assim no por causa dc personalidade ou condies econmicas, J ou qualquer outra
circunstncia social, mas por causa da natureza: "Isto se refere a todas as mulheres e a cada uma
delas, independentemente do contexto cultural em que cada uma se encontra e das caractersticas
espirituais, psquicas c corporais, como, por exemplo, a idade, a instruo, a sade, o trabalho, o fato
de ser casada ou solteira". Consistente com a tradio dessa dicotomia, o papa tambm adverte as
mulheres para que nao se afastem de sua riqueza essencial, mesmo quando hzerem "justa oposio" ao
domnio pecaminoso dos homens, o que "no pode, sob pretexto algum, conduzir 'masculinizao' das
mulheres", ele adverte. limbora nunca explique exatamente o que s