189
Maria Cecília Periotto Distúrbios da linguagem falada no transtorno do déficit de atenção/hiperatividade Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências Área de concentração: Neurologia Orientadora: Profa. Dra. Umbertina Conti Reed São Paulo 2009

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  • Maria Ceclia Periotto

    Distrbios da linguagem falada no transtorno do dficit de ateno/hiperatividade

    Dissertao apresentada Faculdade de

    Medicina da Universidade de So Paulo

    para obteno do ttulo de Mestre em

    Cincias

    rea de concentrao: Neurologia

    Orientadora: Profa. Dra. Umbertina Conti

    Reed

    So Paulo 2009

  • 2

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo

    reproduo autorizada pelo autor

    Periotto, Maria Ceclia Distrbios da linguagem falada no transtorno do dficit de ateno/hiperatividade / Maria Ceclia Periotto. -- So Paulo, 2009. Dissertao(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo. Departamento de Neurologia. rea de concentrao: Neurologia. Orientador: Humbertina Conti Reed.

    Descritores: 1.Transtorno da falta de ateno com hiperatividade 2. Transtornos do desenvolvimento da linguagem 3.Fonoaudiologia 4.Distrbios da fala 5.Ateno 6.Discurso narrativo

    USP/FM/SBD-065/09

  • 3

    DEDICATRIA

    Para Olvia Mendes Periotto (in memorian).

  • 4

    AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Aos meus pais, Orlando e Dulcina pelo apoio e incentivo em

    todos os momentos.

    Aos meus filhos, Guilherme, Gabriela e Victria pela

    compreenso e afeto.

    Ao meu querido Joo, pelo seu amor e dedicao.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Dra Umbertina Conti Reed que me orientou, acolheu e me deu

    a oportunidade de realizar um grande desafio me aprimorar em

    neurocincia.

    Ao Dr. Erasmo Barbante Casella que chefiou o Ambulatrio

    de TDA/H do HC da FMUSP onde esse trabalho foi realizado, pelo

    seu apoio e dedicao como mdico e colaborador neste trabalho.

    Sulamy M. C. Castelo Branco, professora, amiga e colega

    de ambulatrio, que no mediu esforos para me ensinar, apoiar e

    encorajar em todos os momentos;

    Sandra Pasquale Pacheco, que realizou pacientemente

    exames neuropsicolgicos em todos os pacientes deste estudo

    durante um ano todo.

    Dra Carmem S. M. G Miziara pelo incentivo e ajuda.

    Aos pacientes por tornarem possvel este trabalho.

  • 6

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS LISTA DE ABREVIATURAS RESUMO SUMMARY 1 INTRODUO 1.1 Linguagem e TDA/H

    1.2 Conceitos bsicos de linguagem, lngua e fala

    1.3 Linguagem falada (Fonologia)

    1.4 Conscincia fonolgica

    1.5 Discurso narrativo

    1.6 Recontagem de estria

    1.7 Fluncia

    1.8 Pragmtica

    2 OBJETIVOS

    3 MTODO 3.1 Casustica

    3.2 Mtodos

    3.3 Procedimentos

    4 RESULTADOS 4.1 Aspectos gerais

  • 7

    4.2 Aspectos especficos: primeiro objetivo comparao entre o

    grupo TDA/H e o grupo controle

    4.2.1 Anlise da avaliao clnica-fonoaudiolgica do sistema estomatogntico e da funo respiratria

    4.2.2 Anlise da discriminao auditiva 4.2.3 Anlise das praxias orais 4.2.4 Anlise dos resultados do teste de Imitao do protocolo ABFW

    4.2.5 Anlise do teste de vocabulrio Boston Naming Test 4.2.6 Anlise do discurso narrativo

    4.2.7 Anlise da avaliao do discurso narrativo em uma tarefa de recontagem de estria

    4.2.7.1 Nmero de frases

    4.2.7.2 Freqncia e tipo de erros

    4.2.7.3 Gramtica da estria

    4.2.7.4 Fluncia

    4.2.8 Anlise do questionrio de SNAP-IV 4.3 Aspectos especficos: segundo objetivo comparao entre os momentos inicial e medicado 4.3.1 Anlise da discriminao auditiva

    4.3.2 Anlise dos resultados do teste de imitao do protocolo

    ABFW

    4.3 3 Anlise do teste de vocabulrio Boston Naming Test

    4.3.4 Anlise da avaliao do discurso narrativo em uma tarefa de

    recontagem de estria

    4.3.4.1 Nmero de frases

    4.3.4.2 Freqncia e tipo de erros

  • 8

    4.3.4.3.Gramtica da estria

    4.3.4.4 Fluncia

    4.4 Aspectos especficos: segundo objetivo - comparao entre os

    momentos inicial e medicado, considerando a amostra dos

    pacientes que receberam a medicao em um perodo que variou

    de 30 a 60 dias grupo parcial

    4.4.1 Anlise da discriminao auditiva

    4.4.2 Anlise dos resultados do teste de imitao do protocolo

    ABFW

    4.4.3 Anlise do teste de vocabulrio Boston Naming Test

    4.4.4 Anlise da avaliao do discurso narrativo em uma tarefa de

    recontagem de estria

    4.4.4.1 Nmero de frases

    4.4.4.2 Freqncia e tipo de erros

    4.4.4.3.Gramtica da estria

    4.4.4.4 Fluncia

    5 DISCUSSO 5.1 Caractersticas gerais

    5.2 Aspectos especficos: primeiro objetivo comparao entre o

    grupo TDA/H e o grupo controle

    5.3 Aspectos especficos: segundo objetivo comparao entre os

    momentos inicial e medicado

    5.4 Aspectos especficos: segundo objetivo - comparao entre os

    momentos inicial e medicado considerando a amostra dos pacientes

    que receberam a medicao em um perodo que variou de 30 a 60

    dias grupo parcial

  • 9

    6 CONCLUSO

    7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ANEXOS 1 Protocolo de anamnese fonoaudiologia

    2 Protocolo de avaliao clnica fonoaudiolgica e da funo

    respiratria 3 Prova para a avaliao da Discriminao auditiva Yopp (1988)

    4 Protocolo para a avaliao das praxias orais

    5 Teste de imitao protocolo de registro (ABFW)

    6 Teste de vocabulrio protocolo de registro do Boston Naming

    Test

    7 Estria estmulo 1

    8 Estria estmulo 2

    9 Anlise da gramtica da estria estria estmulo 1

    10 Anlise da gramtica da estria estria estmulo 2

    11 Protocolo de anlise - nmero de oraes estria estmulo 1

    12 Protocolo de anlise nmero de oraes estria estmulo 2

    13 Protocolo de anlise do tipo e da freqncia de erros

    14 Teste de fluncia protocolo de registro (ABFW)

    15 Questionrio SNAP-IV

  • 10

    LISTA DE TABELAS Tabela 1: Medidas resumo da idade das crianas (em meses) do grupo TDA/H e do grupo controle

    Tabela 2: Distribuio de acordo com o tipo de escola das crianas do grupo TDA/H e do grupo controle

    Tabela 3: Distribuio de acordo com o sexo das crianas do grupo TDA/H e do grupo

    Tabela 4: Distribuio das alteraes na Discriminao auditiva entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    Tabela 5: Distribuio das alteraes nas Praxias orais entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    Tabela 6: Distribuio das alteraes no teste de imitao entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    Tabela 7:Distribuio do nmero de respostas corretas espontneas no teste de vocabulrio entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    Tabela 8: Distribuio do nmero de respostas corretas aps pista fonolgica no teste de vocabulrio entre o grupo TDA/H e o grupo

    controle

    Tabela 9: Distribuio do nmero total de respostas corretas no teste de vocabulrio entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    Tabela 10: Distribuio do nmero de respostas corretas aps pista semntica no teste de vocabulrio entre o grupo TDA/H e o grupo

    controle

    Tabela 11: Distribuio do nmero de frases relatadas na tarefa de recontagem de estria entre grupo TDA/H e o grupo controle

  • 11

    Tabela 12: Distribuio do nmero total de erros entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estria

    Tabela 13: Distribuio da freqncia de erros do tipo interpretao incorreta entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de

    recontagem de estria

    Tabela 14: Distribuio da freqncia de erros de seqncia entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estria

    Tabela 15: Distribuio da freqncia de erros do tipo substituio entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de

    estria

    Tabela 16: Distribuio da freqncia de erros do tipo referncia ambgua entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de

    recontagem de estria

    Tabela 17: Distribuio da freqncia de erros do tipo acrscimo fictcio entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de

    recontagem de estria

    Tabela 18: Distribuio da freqncia de erros do tipo repetio entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de

    estria

    Tabela 19: Distribuio do elemento resposta interna 1 entre grupo o TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 20: Distribuio do elemento evento iniciador 1 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria Tabela 21: Distribuio do elemento evento iniciador 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 22: Distribuio do elemento cenrio entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

  • 12

    Tabela 23: Distribuio do elemento tentativa 1 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 24: Distribuio do elemento conseqncia 1 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 25: Distribuio do elemento resposta interna 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 26: Distribuio do elemento tentativa 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 27: Distribuio do elemento conseqncia 2 entre o grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    Tabela 28: Distribuio das disfluncias comuns entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    Tabela 29: Distribuio das disfluncia gagas entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    Tabela 30: Distribuio do fluxo de palavras por minuto entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    Tabela 31: Distribuio do fluxo de slabas por minuto entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    Tabela 32: Distribuio da porcentagem de disfluncias comuns entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem

    ABFW

    Tabela 33: Distribuio da porcentagem de disfluncias gagas entre o grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    Tabela 34: Resultados da comparao no teste de discriminao auditiva (DA) entre os momentos inicial e aps medicao

    Tabela 35: Distribuio das alteraes no teste de imitao entre os momentos inicial e aps medicao

  • 13

    Tabela 36: Resultados da comparao no Boston Naming Test entre os momentos inicial e aps medicao

    Tabela 37: Resultados da comparao do tipo e freqncia de erros entre os momentos inicial e aps medicao

    Tabela 38: Resultados da comparao na distribuio da presena e ausncia dos elementos da gramtica da estria entre os

    momentos inicial e aps medicao

    Tabela 39: Resultados da comparao na distribuio das disfluncias entre os momentos inicial e aps medicao

    Tabela 40: Resultados do teste de discriminao auditiva (DA) no grupo parcial de crianas com TDA/H entre os momentos inicial e

    aps medicao

    Tabela 41: Distribuio das alteraes no teste de imitao no grupo parcial de crianas com TDA/H entre os momentos inicial e

    aps medicao

    Tabela 42: Resultados do Boston naming test no grupo parcial de crianas com TDA/H entre os momentos inicial e aps medicao

    Tabela 43: Resultados da comparao do tipo e freqncia de erros entre os momentos inicial e aps medicao no grupo parcial de

    crianas com TDA/H

    Tabela 44: Resultados da comparao na distribuio da presena e ausncia dos elementos da gramtica da estria entre os

    momentos inicial e aps medicao no grupo parcial de crianas

    com TDA/H

    Tabela 45: Distribuio e comparao das disfluncias no grupo parcial de crianas com TDA/H entre os momentos inicial e

    medicado.

  • 14

    LISTA DE ABREVIATURAS

    ABFW - Teste de Linguagem Infantil nas reas de Fonologia, Vocabulrio, Fluncia e Pragmtica

    ACID - Aritmtica, cdigo, informao e dgitos DSM-IV-TR - Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais

    FMUSP - Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo HC - Hospital das Clnicas IC - Instituto Central OFA - rgos fonoarticulatrios Q I - Quociente de Inteligncia RAVLT - Rey Auditory Verbal Learning Test SNAP-IV - Escala de avaliao para pais e professores STROOP - Teste de ateno inibitria TDA/H - Transtorno de Dficit de Ateno/ Hiperatividade TMT - Teste de ateno focada e alternada WISC-III - Escala de Inteligncia Wechsler para Crianas

  • 15

    RESUMO

    O TRANSTORNO DO DFICIT DE ATENO

    /HIPERATIVIDADE (TDA/H) afeta memria operacional,

    planejamento, auto-regulao de motivao e limiar para a ao

    dirigida, alterando funes executivas, inclusive linguagem. Crianas

    com TDA/H apresentam distrbios da linguagem, mostrando baixo

    rendimento nos testes de vocabulrio, sintaxe, fluncia, memria

    operacional e discurso. OBJETIVOS: avaliar tipo e freqncia das alteraes da linguagem

    oral em crianas com TDA/H; verificar a evoluo desses distrbios

    aps dois meses de tratamento com metilfenidato; correlacionar

    produo do discurso do tipo recontagem com memria operacional.

    MTODOS: trinta e seis pacientes de sete a 14 anos de idade com

    diagnstico de TDA/H pelos critrios do DSM-IV, QI 85, sem co-

    morbidades definidas, sem dficits sensoriais e com avaliao

    neuropsicolgica prvia foram submetidos seguinte avaliao

    fonoaudiolgica: anamnese; avaliao clnica do sistema

    estomatogntico; funo respiratria; discriminao auditiva; praxias

    orais; teste de imitao do protocolo ABFW; teste de vocabulrio

    Boston Naming test; discurso narrativo e anlise da recontagem de

    estria (gramtica da histria, nmero de frases, freqncia e tipo

    de erros). A avaliao fonoaudiolgica foi aplicada antes do incio do

    tratamento com metilfenidato sendo que seus resultados foram

    comparados com o grupo controle. Aps dois meses de tratamento

    medicamentoso as crianas foram reavaliadas e os resultados

  • 16

    foram comparados com a avaliao inicial. Verificou-se evoluo da

    linguagem falada aps dois meses de tratamento com medicamento

    estimulante.

    RESULTADOS: Os pacientes mostraram comprometimento no

    sistema estomatogntico, na respirao, na discriminao auditiva,

    no acesso lexical, na fluncia, na compreenso e na organizao do

    discurso narrativo em tarefa de recontagem de estria. Na

    reavaliao os resultados mostraram melhora significante nos

    seguintes aspectos da linguagem falada.

    CONCLUSO: nos pacientes com TDA/H, os distrbios da

    linguagem falada so freqentes, podendo estar diretamente

    associados s dificuldades de aprendizado, j que o

    desenvolvimento da linguagem falada pr-requisito importante

    para a aquisio da linguagem escrita.

  • 17

    SUMMARY

    OBJECTIVE: ATTENTION-DEFICIT HYPERACTIVITY

    DISORDER (ADHD) exists alone in approximately 30-40% of the

    children diagnosed with it , and frequently are documented high

    rates of one or more comorbidities, pointing out the language

    disabilities. The patients present poor performance in tests of

    vocabulary, syntax, fluency, working memory and speech. The

    present study evaluate the type and incidence of oral language

    disabilities in children with ADHD.,

    MATERIAL AND METHOD: Thirty and six children (aged 7-14) with

    ADHD, IQ 85, without psychiatric comorbid conditions or sensorial

    deficits are matched for age and level of education to thirty and four

    control subjects. The two groups were assessed by a speech

    pathology evaluation including: history, clinical examination of

    stomatognathic system; respiratory function; hearing discrimination;

    oral praxis; imitation for the protocol of the Test of Childlike

    Language ABFW; vocabulary for the Boston Naming Test; narrative

    speech in a task of recounting of story - analysis of the grammar of

    the history, of the number of sentences, of the frequency and of the

    types of mistake and, of the fluency for the ABFW.

    RESULTS: The children with ADHD showed compromising in the

    stomatognathic system, in the breathing, in the hearing

    discrimination, in the lexical access, in the fluency, in the

    understanding and in the organization of the narrative speech in task

  • 18

    of recounting of story. Compared with the control group, the patients

    with ADHD perform significantly slower and were less efficient .

    CONCLUSION: The presence of faults in several areas of the

    language spoken in patients with TDAH is a frequent find and this

    fact can be straightly associate with learning disabilities, which are

    frequent in these patients, since the development of the well-known

    language is essential for fully acquiring written language.

  • 19

    1 INTRODUO E PRINCIPAIS ASPECTOS DA LITERATURA

    Segundo o DSM-IV-TR (Manual Diagnstico e Estatstico de

    Transtornos Mentais), o Transtorno do Dficit de

    Ateno/Hiperatividade (TDA/H) o distrbio do comportamento

    mais freqente em crianas, acometendo quatro a 10% delas em

    idade escolar (Skounti et al, 2007). Na populao ocorre,

    aproximadamente trs vezes mais em meninos do que em meninas

    e em amostras clnicas de cinco a nove vezes mais (Barkley, 2008).

    De acordo com Barkley (1998), 40% das crianas encaminhadas

    para servios de sade mental tm TDA/H. Recentemente, este

    mesmo autor apresentou a seguinte definio do distrbio:

    Transtorno de dficit de ateno/ hiperatividade (TDAH) o atual

    diagnstico usado para denominar os significativos problemas

    apresentados por crianas quanto ateno, impulsividade e

    atividade excessiva. As crianas com TDA/H representam uma

    populao bastante heterognea e existe uma variao considervel

    no grau em que outros transtornos ocorrem em associao com o

    TDA/H. (Barkley, 2008)

    Segundo o DSM-IV-TR, o TDA/H pode ser subdividido em:

  • 20

    TDA/H tipo combinado

    TDA/H tipo predominantemente desatento

    TDA/H tipo predominantemente hiperativo-impulsivo.

    O quadro clnico do TDA/H caracteriza-se pela combinao

    em propores variveis de dficit de ateno, hiperatividade e

    impulsividade, embora outros sintomas tambm sejam observados e

    descritos. O diagnstico ocorre com base clnica e implica em

    reconhecer um padro persistente de desateno, hiperatividade e

    impulsividade maior e mais freqente do que o observado

    ocasionalmente em crianas normais. Geralmente, se associa com

    dficit perceptivo, motor, lingstico, de aprendizagem e

    comportamental (Barkley, 2008; Damico et al, 2004; Schubiner et al,

    2008; Wolraich, 2006).

    A etiopatogenia do TDA/H complexa, amplamente

    pesquisada, periodicamente revista (Arnsten, 2006; Barkley, 1997;

    Bugalho et al, Dickstein et al, 2006; Doyle, 2006; Faraone et al,

    2005; Faraone, 2006; Kieling et al, 2008; Pliszka, 2004; Prince,

    2008; Schubiner et al, 2008; Spencer et al, 2007; Willcutt et al, 2005;

    Wolraich, 2006), podendo ser assim resumida: a hereditariedade

    indiscutvel, sendo que estudos em pacientes gmeos, irmos

  • 21

    biolgicos e irmos adotivos comprovam a influncia gentica; os

    estudos genticos em crianas com TDA/H e seus familiares

    mostram alteraes em diferentes genes, principalmente naqueles

    relacionados com o transporte e recepo de catecolaminas,

    ocorrendo concordncia de que existe um mecanismo multignico

    pelo qual cada gene alterado acrescentaria um tanto de

    suscetibilidade ou de risco para desenvolver TDA/H; tambm existe

    um consenso de que na gnese do distrbio cognitivo-

    comportamental do TDA/H, que mostra ampla variabilidade clnica,

    predisposio gentica podem se associar fatores pr e perinatais

    adversos, bem como influncias ambientais/sociais, todos

    modulando a intensidade do distrbio; o locus neuroanatmico

    definido para o TDA/H, cuja disfuno mediada pela alterao dos

    neurotransmissores, sobretudo noradrenalina e dopamina, a rede

    neuronal responsvel pela funo executiva do lobo frontal, ou seja,

    o crtex pr-frontal e suas conexes com o neostriado, giro cngulo,

    nsula, amgdala, hipocampo e vrmis cerebelar; estes circuitos

    frontais e subcorticais guiam as respostas comportamentais,

    inibindo impulsos inapropriados e distraes e permitindo

  • 22

    planejamento e organizao efetiva da ao, tmporo-

    espacialmente e seqncialmente.

    Inmeros estudos de neuroimagem (RNM, PET, SPECT,

    RNM) foram efetuados e corroboram a alterao do circuito

    neuronal ligado funo executiva, mostrando de uma forma geral

    (Bush, 2008; Bush et al, 2005; Ellison-Wright et al, 2008; Hutchinson

    et al, 2008; Kelly et al, 2007; Rauch, 2005. Slaats-Willemse, 2003;

    Valera et al, 2007): em meninos, reduo do volume cerebral total;

    em ambos os sexos, reduo bilateral do volume do crtex pr-

    frontal posterior e do ncleo caudado, bem como do globo plido

    esquerdo e do vermis cerebelar pstero-inferior; de modo geral,

    reduo volumtrica anterior (frontal e corpo caloso anterior).

    Estudos neuropsicolgicos tambm demonstram alteraes no

    funcionamento executivo, reforando a hiptese de que as

    estruturas responsveis por essas funes apresentam alteraes,

    essencialmente as vias fronto-estriatais-cerebelares (Barkley, 1997;

    Bradley e Golden, 2001; Frazier et al, 2004; Tannock, 1998). Com

    base nos circuitos anatmicos acima mencionados, os estudos

    neuropsicolgicos apontam que, do ponto de vista

  • 23

    neurocomportamental, ocorre falta da inibio comportamental como

    ponto central para o surgimento do transtorno e indicam que os

    dficits no funcionamento executivo e na auto-regulao podem

    explicar parte ou todos os sintomas de desateno (Barkley, 2008;

    Poissant et al, 2008). Esta falncia do controle inibitrio, levando

    essencialmente um distrbio da execuo, descrita de forma

    simplificada por Denckla (2008), a qual considera que no TDA/H

    ocorreria um distrbio da prontido para agir em resposta

    percepo, ou seja, quando e como agir, sendo impossvel inibir a

    resposta a um estmulo ou adi-la para um momento mais

    adequado, o que caracteriza a impulsividade. Entretanto, Alderson

    et al (2007) reviram em meta-anlise as diferentes teorias sobre o

    papel do controle inibitrio no TDA/H e concluiram que o assunto

    ainda controvertido e, possivelmente, embora este papel seja

    evidente, o TDA/H decorre de um defeito mais generalizado no

    processamento cognitivo e da ateno.

    Jonsdottir et al, em 2005, revisando a bibliografia relativa a

    esses estudos, sugerem que crianas com TDA/H podem

    compreender detalhes superficiais adequadamente, mas mostram

    dficits nas tarefas que requerem alto grau de ateno, esforo e

  • 24

    controle do processo de linguagem. Segundo essa reviso, os mais

    abrangentes estudos do TDA/H propem que um dficit no

    desenvolvimento neurolgico da funo executiva limita o

    desenvolvimento das habilidades de auto-regulao que guiam as

    funes comportamentais e cognitivas, constituindo a base dos

    sintomas tpicos associados ao TDA/H.

    Segundo Barkley (1997), as alteraes da funo executiva do

    planejamento, entre as quais a expresso da linguagem atravs da

    fala, afetariam a memria operacional e a auto-regulao de

    motivao bem como de limiar para a ao dirigida a um objeto

    definido. A memria operacional nas crianas com TDA/H tambm

    foi amplamente estudada e uma meta-anlise (Martinussen et al,

    2005) de todos estes estudos concluiu que se encontra alterada nos

    pacientes e que so necessrias mais pesquisas que avaliem os

    detalhes desta alterao e sua implicao no quadro geral

    (Martinussen et al, 2005; Martinussen & Tannock, 2006).

    O diagnstico reside numa base puramente clnica, atravs de

    avaliao neurolgica e, quando necessrio, neuropsicolgica,

    questionrios e entrevista com pais e professores (Culpepper, 2006;

    Perrin et al, 2001; Wolraich, 2006).

  • 25

    O emprego de psicoestimulantes associados terapia

    comportamental demonstrou ser mais efetivo em comparao

    terapia isoladamente (Benner-Davis & Heaton, 2007; Brown et al,

    2005; Culpepper, 2006; Damico et al, 2004; Faraone et al, 2006;

    Kaiser et al, 2008; Majewicz-Hefley & Carlson, 2007; Swanson et al,

    2008; Van der Oord et al, 2008)

    O prognstico do TDA/H ser melhor definido medida que

    se sucederem trabalhos prospectivos e a partir do novo campo de

    pesquisa representado pelo TDA/H em adultos. De um modo

    geral, utilizando o tratamento medicamentoso, e o suporte

    psicolgico e pedaggico adequado, calcula-se que cerca de 60%

    das crianas com TDA-H se transformem em adultos funcionais,

    porm mantendo de forma modificada, a sintomatologia iniciada

    na infncia. Entretanto, na faixa dos 40% que apresentam

    prognstico pior h alta taxa de instabilidade profissional e afetiva,

    bem como maior ndice de violaes sociais, alcoolismo e

    toxicomanias. De um modo geral, o subgrupo com predomnio do

    dficit de ateno tem pior prognstico do que o grupo

    hiperativo/impulsivo (Denckla, 2005; Culpepper, 2006; Perrin et al,

  • 26

    2001; Schonwald & Lechner, 2006; Weiss et al, 2006; Wolraich,

    2006).

    1.1 Linguagem e TDA/H

    O uso competente da linguagem possibilita o desempenho

    social do indivduo. Segundo Manola, 2006: Desde o nascimento, a

    criana est submetida a um sistema de linguagem verbal e no

    verbal que lhe possibilitar, gradativamente, organizar seu

    pensamento e construir, no percurso de seu desenvolvimento,

    diversas formas de linguagens. Isso nos leva a crer que a linguagem

    destaca-se dentre os inmeros elementos que compem o processo

    de aprendizagem do ser humano

    A literatura aponta correlao importante entre o diagnstico

    de TDA/H e a ocorrncia de baixo rendimento escolar, distrbios de

    aprendizagem e distrbios de linguagem. (Cormier, 2008; Foy &

    Earls, 2005; Goldstein & Goldstein, 1990; Klassen et al, 2004; Spira

    & Fischel, 2005). Estudo epidemiolgico, usando testes

    padronizados de linguagem, sugere que os problemas de linguagem

  • 27

    co-ocorrem em 35-50% das crianas que apresentam TDA/H

    (Redmond, 2004).

    Os distrbios de linguagem associados ao TDA/H so objeto

    de numerosas pesquisas clnicas e neurobiolgicas, que evidenciam

    tanto co-morbidades, como distrbios secundrios aos sintomas

    primrios (desateno, impulsividade, e hiperatividade) do TDA-H

    (Barkley et al, 1990; Barwick et al, 2000; Bierderman & Knee, 1987;

    Cohen et al, 2002; Hartsough & Lambert, 1985; Kim & Kaiser, 2000;

    Mathers, 2006; Munir et al, 1989; Redmond, 2004; Spira & Fischel,

    2005; Sundheim & Voeller, 2004; Tetnowski, 2004; Webster &

    Shevell, 2004; Westby & Watson, 2004).

    A memria operacional, no caso a fonolgica, um ponto

    central na anlise dos distrbios da linguagem associados ao TDA/H

    (Webster & Shevell, 2004; Westby &Watson, 2004)

    A qualidade dos distrbios da linguagem, leitura, escrita e

    aprendizagem nas crianas com TDA/H muito heterognea e

    significativa proporo mostra baixo rendimento nos testes de

    vocabulrio, sintaxe, fluncia, memria operacional, discurso

    narrativo (com falhas na coeso e manuteno) e dificuldades

  • 28

    associadas pragmtica (Kim & Kaiser, 2000; Mathers, 2006,

    Redmond, 2004).

    freqentemente salientado o dficit na competncia

    comunicativa dessas crianas que: tendem a falar muito e de modo

    acelerado, no permanecem no tpico tratado ou respondem

    impulsivamente antes que a pergunta tenha sido completamente

    formulada, e ressaltam tambm as dificuldades para planejar e

    estruturar relatos orais e recontagens de estrias. As crianas com

    TDA/H apresentam mais problemas especficos no desenvolvimento

    da linguagem e desempenho abaixo da mdia nos testes de fluncia

    verbal (Clark et al, 2000; Geurts et al, 2004; Giddan, 1991; Purvis &

    Tannock, 1997; Reader et al, 1994).

    Miranda-Casas et al, 2002, descreveram as seguintes

    caractersticas na linguagem das crianas com TDA/H:

    a) Conduta lingstica irregular com certa ineficcia para se

    ajustar ao contexto comunicativo e para compreender a

    inteno comunicativa do seu interlocutor;

    b) Atraso na aquisio de aspectos lingsticos, tais como o

    cdigo fonolgico e o nvel semntico-sinttico, especialmente

    na compreenso e expresso de tempos verbais;

  • 29

    c) Dificuldades na execuo de tarefas lingsticas que

    demandam controle inibitrio como nas tarefas que requerem

    rapidez no acesso lexical;

    d) Rendimento muito prejudicado nas tarefas que requerem a

    capacidade de processamento simultneo da informao, tais

    como tarefas de processamento semntico e, principalmente,

    as que requerem pensamento lingstico. Essa mesma

    dificuldade se observa na execuo de tarefas de tipo

    metalingstico, especialmente nas de conscincia fonolgica;

    e) Execuo deficitria em tarefas que no exigem

    propriamente uma resposta verbal (aquelas em que a

    linguagem atua como mediadora de uma execuo).

    Em nosso meio, Rohde & Mattos (2003) relataram diversas

    alteraes da linguagem em associao ao TDA/H: alteraes da

    fala, atraso na aquisio da linguagem, alteraes de linguagem

    receptiva e expressiva, bem como distrbios da competncia

    comunicativa. As deficincias na pragmtica (competncia

    comunicativa) provavelmente representam a maior parte, seguidas

    pelos problemas de linguagem receptiva-expressiva. Atraso na

    aquisio da linguagem comum no TDA/H, entre seis a 35%,

  • 30

    sendo que em crianas sem TDA/H, a ocorrncia de dois a seis

    por cento. Os casos de distrbios de fala so menos freqentes. Em

    geral, aparecem em conjunto a dificuldades lingsticas,

    observando-se alteraes de modulao do volume da voz e

    alteraes na fluncia.

    Segundo Albuquerque & Lima in Rohde & Mattos, (2003) a

    produo e a compreenso de linguagem so processos mentais

    que operam com representaes de diferentes tipos, como, por

    exemplo, representaes fonolgicas, sintticas, semnticas,

    ortogrficas e lexicais, dentre outras, que constituem o conjunto de

    competncias do falante e que se encontram armazenadas pelo

    sistema de memria. O sistema de memria fundamental para o

    processamento da linguagem, pois principalmente a memria

    operacional que viabiliza as operaes lingsticas, j que essas

    tm o carter de linearidade, ou seja, transcorrem no tempo, mas

    so processadas sucessiva e paralelamente no modo

    computacional, precisando, portanto, ser mantidas pelo tempo

    necessrio para sua anlise (compreenso) ou formulao

    (produo). Dessa forma, hipoteticamente, explica-se a alta

  • 31

    freqncia de distrbios de linguagem encontrada em crianas com

    TDA/H.

    Tannock et al (2000) salientaram que apesar dos inmeros

    estudos a respeito dos efeitos de medicamentos estimulantes sobre

    os sintomas do TDA/H, h poucos dados na literatura quanto ao seu

    efeito sobre os distrbios da linguagem, e consideram que so

    necessrios estudos que analisem a relao entre esses distrbios

    e o tratamento de longo prazo com metilfenidato. Em 2001, Francis

    et al, do mesmo grupo de pesquisadores, verificaram o efeito

    benfico do metilfenidato sobre o desempenho na reproduo de

    estrias, porm apenas em relao ao uso agudo da droga por

    ocasio dos testes. Em 2003, Mc Innes et al, ainda do mesmo grupo

    de pesquisadores, verificaram que em 19 crianas com TDA/H (sem

    co-morbidades), embora a memria operacional verbal e espacial

    estivesse prejudicada, a compreenso era pouco afetada, ao passo

    que em crianas com TDA/H associado a distrbios de linguagem,

    ocorria dficit de compreenso. Os autores salientaram a

    necessidade de distinguir esses aspectos para melhorar o enfoque

    teraputico.

  • 32

    O presente trabalho sobre a linguagem oral em crianas com

    TDA/H foi motivado pela recente considerao de Barkley (2008) de

    que o TDA/H est associado a deficincias em linguagem, nas

    reas de: pragmtica, recordao de histrias, fluncia verbal e

    resoluo de problemas verbais. Adicionalmente, nos propusemos a

    este estudo devido ao fato de que ainda no h estudos nacionais

    abordando especificamente a freqncia e o tipo de distrbios da

    linguagem nas crianas com TDA/H em nosso meio social, bem

    como sua resposta medicao estimulante.

    Devido ao fato deste trabalho ter como objetivo analisar a

    relao entre TDA/H e a linguagem oral, sero relatados, de forma

    resumida, os principais aspectos do desenvolvimento da linguagem,

    bem como os fundamentos dos principais aspectos da linguagem

    falada que analisamos nos pacientes com TDA/H e no grupo

    controle.

    1.2 Conceitos bsicos de linguagem, lngua e fala

    A linguagem uma inesgotvel riqueza de mltiplos valores.

    A linguagem inseparvel do homem e segue-o em todos os seus

  • 33

    actos. A linguagem o instrumento graas ao qual o homem modela

    o seu pensamento, seus sentimentos, as suas emoes, os seus

    esforos, sua vontade e seus actos, o instrumento graas ao qual

    ele influencia e influenciado, a base ltima e mais profunda da

    sociedade humana (Hjelmslev, 1970).

    A linguagem tem carter individual, no uniforme, que

    possibilita selecionar livremente os diversos elementos em estoque

    no cdigo fonmico, sinttico ou semntico. Apesar de a linguagem

    incluir a liberdade de expresso, essa instrumentalizada por um

    cdigo rgido, que a lngua, cuja construo pressupe uma

    organizao interna, bastante complexa, que interliga aspectos

    sintticos, fonolgicos e lexicais (Issler, 1996; Silva, 2002).

    A linguagem expressa atravs de signos, que so

    entidades psquicas ou abstraes e que contm a unidade

    indissolvel significante/ significado. O signo lingstico formado

    por um significado conceitual e simblico, e um significante, que

    pode ser psicoacstico ou grfico. Pessoas de uma mesma

    comunidade lingstica obedecem a um consenso quanto relao

    significante/ significado. A cadeia de significantes compe o plano

    de expresso e a cadeia de significados compe o plano do

  • 34

    contedo. Essas complexas relaes significante/ significado

    decorrem de experincias scio-culturais de uma comunidade, que

    extrapolam a simples recepo passiva das ondas acsticas

    sonoras daquele que fala (Issler, 1996; Silva, 2002).

    O desenvolvimento da linguagem um processo que exige

    bases orgnicas e psiquismo ntegros, ambiente social estimulador

    e fatores cognitivo-lingsticos especficos (Vygotsky et al, 1988).

    Trata-se de uma funo complexa que requer a integrao de um

    conjunto de operaes com diferentes representaes mentais

    (Schirmer et al, 2003). Envolve processos cognitivos de ordem

    geral, tais como a capacidade de anlise e a de sntese para

    planejar e para interferir, bem como processos especficos de

    linguagem, como decodificao fonolgica e busca lexical. O

    processamento dessas informaes (extraindo, recrutando e

    integrando informaes de outros sistemas cerebrais perceptivos,

    lingsticos, mnemnicos e emocionais), regula a funo executiva

    que capacita o indivduo para ao voluntria, autnoma, auto-

    organizada e orientada para fins especficos, nas tarefas de rotina

    ou na resoluo de situaes novas (Issler, 1996; Castao, 2003;

    Barkley, 2008).

  • 35

    Durante o desenvolvimento, a fonologia apresenta um

    percurso paralelo e diverso dos demais componentes lingsticos

    (pragmtica, sintaxe, semntica e morfologia) (Rice, 1997, Mota in

    Ferreira, 2005).

    1.3 Linguagem falada (Fonologia)

    Os sons da fala referem-se aos lingisticamente relevantes,

    utilizados na formao de slabas, palavras e frases, dentro dos

    padres que ocorrem em uma determinada lngua e dos arranjos

    possveis desses, relativamente aos processos para acrescentar,

    omitir ou mud-los (Slaats-Willmse, 2003; Mota in Ferreira, 2005;

    Adams et al, 2006).

    Cada lngua possui seu sistema exclusivo de padres de som.

    O objetivo da Fonologia estudar as propriedades dos sistemas de

    som que os falantes devem aprender ou internalizar, a fim de utilizar

    a sua lngua para a comunicao. O componente fonolgico da

    linguagem, conforme descrito por Edwards & Shouberg, 1992,

    possui dois nveis: o subjacente e o superficial. O subjacente se

    refere ao conhecimento que o usurio da lngua tem da fonologia,

  • 36

    incluindo inventrios e regras fonticas, enquanto que o superficial

    se refere articulao e envolve o planejamento, a execuo e a

    modulao via feedback dos movimentos que ocorrem durante a

    produo da fala.

    Alm dessa complexa srie de interaes, a produo da fala

    inclui tambm os estmulos provenientes de outros domnios que

    influenciam a linguagem, tais como cognitivos e ambientais. Essas

    aferncias influenciam o conhecimento fonolgico do falante que,

    por vez, influenciar a produo lingstica (Lima e Albuquerque,

    2003).

    Assim, a Fonologia pode ser considerada como o estudo do

    conhecimento inconsciente que torna o ser humano apto para

    pronunciar a prpria lngua (Adams et al, 2006).

    O incio do desenvolvimento fonolgico normal

    freqentemente associado ao balbucio; a aquisio do sistema

    fonolgico e de suas regras acontece, gradativamente, at por volta

    dos sete anos de idade (Lowe,1996; Yavas, 1998; Wetzner in

    Limongi, 2003).

    As habilidades perceptivas da criana se encontram bastante

    desenvolvidas antes dos primeiros enunciados significativos e so

  • 37

    importantes para identificar e compreender as palavras ouvidas

    (Ingram, 1976; Fey,1992; Wetzner in Ferreira, 2005).

    Pesquisas evidenciam a precocidade de funcionamento do

    sistema perceptual da fala (Jusezyk, 1997). Os bebs demonstram

    uma notvel capacidade para perceber padres de fala, ao

    identificar a voz da me, discriminar contrastes fonmicos e

    descobrir as regularidades fonolgicas, sintticas e pragmticas da

    lngua materna.

    Em torno do primeiro ano tem incio um novo perodo do

    desenvolvimento fonolgico da criana a fase lingstica. O

    crescimento perceptivo, motor e cognitivo dessa, bem como a

    influncia do meio, tm papis indispensveis nesse estgio de

    aquisio da linguagem. A capacidade para compreender e produzir

    vocbulos, ou desenvolvimento lexical est diretamente relacionada

    qualidade da interao comunicativa e dos modelos ofertados.

    com a me ou com o adulto substituto que a criana aprende a

    interagir e internaliza padres prosdicos, atribuindo significados

    para os sons e para o silncio, dando contedo comunicativo s

    suas expresses verbais e no verbais e modulando a

  • 38

    comunicao. A falta desse jogo de comunicao compromete o

    desenvolvimento da linguagem (Yopp, 1996, Branco in Hitos, 2008 ).

    O ltimo estgio do desenvolvimento fonolgico acontece no

    momento em que as crianas entram na escola. A criana nesse

    estgio desenvolve a conscincia metalingstica ou conscincia

    fonolgica de forma lenta; nesta ocorre a segmentao dos

    fonemas, que o passo inicial da aprendizagem da leitura e da

    escrita (McWhinney & Fletcher, 1997; Wetzner in Ferreira, 2006

    Adams et al, 2006).

    1.4 Conscincia fonolgica

    Desde a dcada de 1970, pesquisas tm demonstrado

    claramente a importncia das habilidades da conscincia fonolgica

    para a aquisio da leitura (Stanovich, 1984; Santos e Navas, 2002).

    Conscincia fonolgica se refere s operaes de

    processamento de informaes baseadas na fala, ou seja, na

    estrutura fonolgica da linguagem oral, e envolve as memrias de

    trabalho e de longo prazo (Bradley & Bryant, 1983).

  • 39

    A conscincia fonolgica a capacidade de focalizar a

    ateno sobre os segmentos sonoros da fala, identific-los ou

    manipul-los; trata-se de uma capacidade metalingstica - um

    conhecimento metafnico (vila, in Ferreira, 2005).

    Os processos auditivos e fonolgicos permitem a percepo, a

    discriminao e a categorizao dos sons da lngua materna; para

    que isso ocorra de modo adequado necessrio que a criana dirija

    sua ateno, seletivamente, aos estmulos e aos modelos de

    locuo. Os padres de sons emitidos e repetidos pelos

    interlocutores propiciam as pistas para a aquisio dos padres

    fonmicos da lngua e para a segmentao do fluxo da fala em

    unidades de significado, possibilitando a compreenso dos

    enunciados (Nadeau, 2000).

    Segundo Capovilla & Capovilla (1998), o conceito de

    conscincia fonolgica alude ao conhecimento sobre a

    segmentao da fala e a habilidade em manipular tais segmentos.

    Essa conscincia fonolgica adquirida gradualmente durante o

    desenvolvimento, quando a criana vai reconhecendo que frases,

    palavras, slabas e fonemas so unidades separadas e

    identificveis.

  • 40

    A linguagem escrita um complexo sistema de representao

    e comunicao que apresenta propriedades especficas em relao

    linguagem oral, no se reduzindo, portanto, mera transcrio da

    fala. Para se alfabetizar, necessrio que se compreenda que a

    linguagem escrita representa a pauta sonora das palavras, atravs

    da correspondncia entre grafemas e fonemas, assim como se

    compreender as funes e especificidades da linguagem escrita.

    Dessa forma, preciso ser capaz de desprezar momentaneamente

    o significado (componente semntico) da palavra, dirigindo-se a

    ateno no significante ou aspecto fonolgico da mesma, uma vez

    que esse ltimo que deve ser representado a partir das letras

    (Godoy, 2003)

    Para Tomasello, Kruger & Ratner (1993) a capacidade

    metalingstica se relaciona compreenso de estratgias

    subconscientes para explicar a linguagem atravs da prpria

    linguagem.

    O aprendizado de leitura-escrita faz parte do continuum de

    conhecimentos lingsticos adquiridos pelo indivduo ao longo da

    vida. A leitura e a escrita marcariam os estgios superiores do

  • 41

    desenvolvimento lingstico, um processo que pressupe etapas

    interdependentes e hierarquizadas (Branco in Hitos, 2008).

    A dificuldade de desenvolver a conscincia fonolgica pode

    estar relacionada a um dficit fonolgico expressivo de carter geral,

    que impediria a evocao da codificao fonolgica existente na

    memria operacional. Segundo Hitch, 1984, o termo memria

    operacional passou a ser utilizado por Baddeley & Hitch, a partir de

    1974, para descrever o sistema de memria que se caracteriza por

    um sistema de capacidade limitada encarregado de armazenar

    brevemente as informaes em um cdigo fontico Para estes

    autores, a memria operacional tem importante papel enquanto

    subsdio para diversas atividades cognitivas dirias, por exemplo, o

    raciocnio, a compreenso de linguagem, o aprendizado em longo

    prazo e a aritmtica mental.

    A conscincia fonolgica funcionaria como uma pr-condio

    para o aprendizado das escritas alfabticas e est relacionada

    competncia da criana em linguagem falada (Branco in Hitos,

    2008). Assim, os transtornos manifestados na aprendizagem da

    leitura, por dificuldade especfica no processamento fonolgico,

    podem ter origem na aquisio da linguagem oral.

  • 42

    1.5 Discurso narrativo

    O discurso narrativo marca a fase final do desenvolvimento da

    linguagem e a passagem obrigatria do dilogo para o monlogo

    (Manola, 2006).

    Narrar fazer um relato de determinada seqncia de

    acontecimentos, reais ou inventados com representao de

    temporalidade (Cabral, 1989).

    A aquisio da narrativa um indcio importante de uma nova

    relao da criana com a linguagem. o momento em que ela no

    depende mais da interpretao do interlocutor, em que a progresso

    de seu discurso j repousa sobre sua prpria possibilidade de,

    interpretando o j dito, lanar o que est por dizer (Perroni, 1992).

    O desenvolvimento da narrativa na criana um processo

    histrico-cultural que ocorre por meio das interaes com o mundo

    fsico e psquico atravs de atos lingsticos sob a forma de

    enunciados da lngua (Takemoto, 2005).

    Nos estudos de Burman & Medeiros in Mac-Kay (1999), o

    processo de desenvolvimento do texto narrativo entendido como o

    produto da interao verbal e a formao do sujeito, pressupondo

    algumas marcas: a) a apresentao de acontecimentos; b) a

  • 43

    utilizao dos marcadores: da, a, e... ; c) o ordenamento temporal

    e seqencial dos fatos; d) a recorrncia aos tempos verbais; e) a

    repetio para a confirmao de sentidos; e o surgimento do

    aspecto ldico.

    Para Vygotsky (1998), por meio de interaes scio-culturais,

    a criana desenvolve a capacidade de assimilar gradativamente a

    representao simblica do mundo atravs da linguagem. O

    desenvolvimento ocorre em dois planos, o plano social

    interpsicolgico e o plano individual intrapsicolgico. Segundo este

    autor, o desenvolvimento e o funcionamento mental so

    determinados pela linguagem humana e intervm na formao e

    funcionamento de todas as funes psicolgicas. Nessa viso, a

    linguagem possibilita a representao mental, oferecendo a

    oportunidade de pensar, imaginar, e, portanto, narrar.

    Bakhtin (1992) ressalta que a importncia da linguagem no

    se encontra nas palavras, mas no sentido que elas assumem no

    contexto da interao verbal: A verdadeira substncia da lngua no

    constituda por um sistema abstrato de formas lingsticas nem

    pela enunciao monolgica isolada, nem pelo ato psicofisiolgico

    de sua produo, mas pelo fenmeno social da interao verbal,

  • 44

    realizada atravs da enunciao ou das enunciaes. A interao

    verbal constitui assim a realidade fundamental da lngua (Bakhtin,

    1992).

    1.6 Recontagem de estria

    A recontagem de estrias uma habilidade especfica do

    discurso narrativo que pressupe o uso de estratgias pragmticas

    (John, 2001).

    O ato de recontar estrias exige habilidades metacognitivas,

    como: ateno focada informao auditiva, organizao temporal

    dos fatos narrados, extrao do significado, memria, reconstruo

    dos fatos lingusticos usando a memria operacional, estratgias de

    julgamento das memrias de longo prazo, e coerncia (Purvis &

    Tannock, 1997).

    A tarefa de recontagem de estrias requer: organizao,

    planejamento e auto-monitoramento (regulao executiva),

    habilidades que se encontram deficientes nas crianas com TDA/H.

    (John, 2001).

  • 45

    A recontagem de estrias tem sido usada como estratgia de

    avaliao de linguagem em crianas com TDA/H. Estudos

    demonstram a existncia nessa populao de dficits significativos

    na compreenso, na recordao e na estruturao de estrias

    (Francis, Fine e Tannock, 2001).

    1.7 Fluncia

    Fluncia se refere ao fluxo contnuo e suave de produo da

    fala (Starkweather & Givens-Ackerman, 1997). A fluncia, ou

    melhor, a fala fluente se encontra diretamente relacionada ao

    desenvolvimento e ao equilbrio dos processamentos cerebrais:

    motores, auditivos, prosdicos e lingsticos (Andrade in Ferreira,

    2005). Fatores ambientais tambm apresentam forte relao com a

    fluncia.

    A fluncia um acontecimento complexo que ocorre a partir da

    interao de trs dimenses que envolvem o falante: orgnica,

    psquica e social. A dimenso orgnica se refere s condies

    biolgicas; a psquica, s condies subjetivas; e a social, cultura.

    Fluir na fala a ao de um sujeito que elabora enunciados e

  • 46

    discursos, que pretendem dizer algo de si para algum, em algum

    tempo e lugar (Friedman in Ferreira, 2005).

    No crtex pr-frontal se inicia o processamento da deciso de

    falar, a mensagem gerada transmitida ao crtex motor da fala que

    potencializa uma programao motora complexa. H uma interao

    com os gnglios da base (que funciona tambm como sistema

    inibitrio) e com o cerebelo que possibilita a coordenao e a

    suavidade dos movimentos. Em seguida, os neurnios motores

    superiores e inferiores ativam a musculatura especfica das

    estruturas perifricas da fala (lbios, lngua, mandbula, laringe,

    palato) resultando na articulao dos sons da fala (Andrade in

    Ferreira, 2005).

    Segundo Perkins et al (1991), o padro de fluncia se relaciona

    ao controle cerebral de dois sistemas neurais. Esses devem operar

    em um equilbrio temporal antes que a mensagem gerada chegue

    ao crtex motor. O primeiro o sistema simblico (composto pelos

    componentes cognitivos e lingsticos), e o segundo o sistema de

    sinais (composto pelos componentes prosdicos e paralingusticos

    da lngua).

  • 47

    Para Zebrowski (1995), durante a aquisio e desenvolvimento

    da linguagem ocorrem perodos variveis no grau de fluncia

    decorrente das incertezas morfo-sinttico-semnticas e do

    amadurecimento neuromotor para os atos da fala. A maioria das

    crianas supera com sucesso esses perodos (cerca de 80%);

    aquelas que no superam, tendem disfluncia crnica, podendo

    evoluir para a gagueira.

    A gagueira considerada uma patologia na qual a disfluncia

    no se recupera e o falante apresenta interrupes, quebras e

    outras marcas no fluxo de fala que comprometem a qualidade da

    emisso (Andrade, 2005).

    1.8 Pragmtica

    A pragmtica estuda os aspectos funcionais da linguagem

    uso da linguagem (Fernandes, 2002).

    A pragmtica se concentra nos aspectos do significado que

    no dependem somente do conhecimento lingstico, mas, levam

    em conta o conhecimento sobre o mundo fsico e social: a relao

  • 48

    da linguagem e seu usurio e as aplicaes que o usurio faz da

    linguagem (Prutting, 1982).

    O ato de falar acontece em um contexto sociocultural e com

    uma inteno psicolgica. Dentro dessa perspectiva, o ato de falar

    carrega em si o que a lingstica chama de fatores de textualidade,

    que so classificados em: fatores lingsticos coeso, coerncia e

    intertextualidade, e fatores extralingsticos intencionalidade,

    aceitabilidade, informalidade e situacionalidade (Bachman, 2003).

    . De modo sinttico, pode-se dizer que o campo de estudo da

    pragmtica se relaciona a aplicao e a eficincia das vrias formas

    de discurso nas vrias situaes de fala. A pragmtica se ocupa

    com os fatores fonolgicos, semnticos e sintticos da fala, seu

    contexto e, explica seus diferentes usos expressando a

    competncia do falante e do ouvinte em um ato comunicativo

    (Borges e Salomo, 2003).

  • 49

    2 OBJETIVOS

    Este trabalho teve como objetivos:

    a) Avaliar o tipo e a freqncia das alteraes da linguagem

    oral em crianas com TDA/H;

    b) Verificar a evoluo desses distrbios aps um perodo de

    dois meses de tratamento com metilfenidato;

  • 50

    3 MTODO

    3.1 Casustica

    Foram avaliadas sessenta (60) crianas, sendo que vinte e

    quatro (24) foram excludas e trinta e seis (36) crianas de ambos

    os sexos, de idade entre sete e 14 anos foram includas neste

    estudo. Todas apresentavam diagnostico de TDA/H, segundo os

    critrios do DSM-IV, e formaram o grupo TDA/H. Trinta e quatro (34)

    crianas formaram o grupo controle. Portanto, setenta (70) crianas

    fizeram parte do estudo.

    Os pacientes foram avaliados no Ambulatrio de TDA/H do

    Servio de Neurologia Infantil do Instituto Central (IC) do Hospital

    das Clnicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) e o

    grupo controle foi avaliado em uma escola.

    Foi realizada reavaliao fonoaudiolgica no grupo de crianas

    com TDA/H aps dois meses de tratamento medicamentoso (32

    crianas).

  • 51

    3.1.1 Critrios de incluso:

    a) Quociente de Inteligncia (QI), segundo o WISC-III, maior

    ou igual a 85;

    b) freqncia escola regular;

    c) portugus como lngua materna;

    d) colaborao com o processo de avaliao;

    e) aceitao da participao na pesquisa e assinatura de

    termo de compromisso.

    3.1.2 Critrios de excluso:

    a) recusa em participar da pesquisa ou falta de colaborao

    durante o processo de avaliao;

    b) apresentar co-morbidades psiquitricas definidas

    c) presena de dficits sensoriais

    d) no realizar todos os testes propostos no incio do estudo.

  • 52

    3.2 Mtodos

    Foram aplicados os seguintes mtodos de avaliao:

    a) Anamnese Fonoaudiolgica;

    b) Avaliao Clnica-Fonoaudiolgica do Sistema

    Estomatogntico e da Funo Respiratria (rgos fono-

    articulatrios-OFA);

    c) Avaliao da Discriminao Auditiva pelo protocolo de Yopp

    (1988);

    d) Avaliao das Praxias Orais;

    e) Teste de Imitao Teste de Linguagem Infantil nas reas

    de Fonologia, Vocabulrio, Fluncia e Pragmtica (ABFW);

    f) Teste de Vocabulrio Boston Naming test;

    g) Anlise do Discurso Narrativo;

    h) Avaliao do Discurso Narrativo em uma tarefa de

    recontagem de estria;

    i) Protocolo de registro do desempenho da criana em todas

    as provas;

  • 53

    j) Registro dos dados de desempenho nas tarefas de memria

    do exame neuropsicolgico, fornecidos pela neuropsicloga do

    ambulatrio de TDA/H;

    k) Questionrio de SNAP-IV.

    O protocolo de pesquisa foi aprovado pela Comisso de tica

    para Anlise de Pesquisa da Diretoria Clnica do HC-FMUSP.

    Todos responsveis pelas crianas assinaram do Termo de

    Consentimento Livre e Esclarecido, consentindo, desta forma, com

    a realizao e divulgao desta pesquisa e seus resultados.

    3.3 Procedimentos

    A avaliao foi aplicada por ocasio do estabelecimento do

    diagnstico mdico, antes da introduo de medicamentos

    estimulantes.

    A reavaliao foi realizada em perodo que variou de 16 a 60

    dias de uso de estimulante.

    A terapia medicamentosa foi prescrita e assistida, durante todo

    o perodo da pesquisa, pelo neurologista infantil responsvel pelo

  • 54

    Ambulatrio de TDA/H do HC-FMUSP. A medicao utilizada foi

    sempre o metilfenidato, na dose de 0.3-0.5 mg/kg/dose, em duas

    administraes, com intervalo de 4-6 horas

    A avaliao e a reavaliao foram realizadas individualmente

    em duas ou trs sesses de trinta minutos na sala de consulta

    ambulatorial.

    As respostas das crianas nos testes fonoaudiolgicos foram

    registradas e analisadas em protocolo desenvolvido para esse

    estudo (em anexo).

    3.3.1 Anamnese fonoaudiolgica

    Foi realizada anamnese com os pais da criana sobre:

    gestao, parto, desenvolvimento da linguagem, desenvolvimento

    neuropsicomotor, sade geral, escolaridade do cuidador, renda

    familiar, histrico familiar, rotina, histrico escolar, comportamento e

    queixas.

    3.3.2 Avaliao clnica-fonoaudiolgica do sistema estomatogntico

    e da funo respiratria

  • 55

    A examinadora observou:

    a) ocluso dentria

    b) palato duro

    c) mobilidade do palato mole

    d) articulao tmporo mandibular

    e) orofaringe e amgdalas

    f) tonicidade de lbios, lngua e bochechas

    g) mobilidade de lbios, lngua e bochechas

    h) frnulo lingual

    i) frnulos labiais

    j) fluxo nasal com auxlio de um espelho colocado logo abaixo

    das narinas durante 30 segundos

    k) postura dos lbios em repouso

    Ao final, a examinadora classificou cada item como adequado

    ou alterado. A postura dos lbios em repouso foi classificada em

    lbios abertos, entreabertos ou fechados. Foram considerados

    respiradores orais aqueles pacientes que apresentaram alteraes

  • 56

    do fluxo nasal e cuja postura dos lbios permaneceu entreaberta ou

    aberta durante todo o teste.

    3.3.3 Avaliao da discriminao auditiva, segundo Yopp, (1988).

    O teste contm 30 pares de palavras foneticamente

    semelhantes que foram lidas para a criana, um par de cada vez,

    sem fornecer pistas visuais. As crianas foram orientadas a

    responder se as palavras de cada par eram iguais ou diferentes.

    3.3.4 Avaliao das praxias orais

    Foi aplicada uma bateria de provas prxicas composta por

    movimentos que avaliaram os OFA, a qual continha: 19 provas de

    movimentos de lngua, 16 provas de movimentos de lbios, quatro

    provas de movimentos de bochechas, quatro de mandbula e uma

    de palato mole.

    A examinadora solicitava um movimento criana; quando a

    criana no compreendia ou apresentava dificuldade na realizao

    da tarefa, uma segunda e, se necessria, uma terceira oportunidade

  • 57

    era dada. Quando a criana no conseguia realizar a tarefa aps

    trs tentativas, considerava-se como erro.

    3.3.5 Teste de imitao do protocolo do Teste de Linguagem Infantil

    nas reas de fonologia, vocabulrio, fluncia e pragmtica - ABFW

    Essa prova avaliou o inventrio fontico de cada participante.

    A examinadora pediu criana para repetir palavras de uma lista de

    39 vocbulos foneticamente balanceados. O teste foi gravado, as

    respostas foram transcritas foneticamente e posteriormente

    analisadas seguindo os critrios do teste.

    Segundo o teste so consideradas alteraes: omisso

    (ausncia fonmica na palavra), substituio (troca de um fonema

    por outro) e distoro (desvios audveis na produo do fonema).

    3.3.6 Teste de vocabulrio Boston Naming test

    A examinadora seguiu o procedimento indicado pelos autores

    do teste (Kaplan et al., 1983). Foram apresentadas figuras em

    pranchas individuais e a criana recebeu a instruo para nomear

  • 58

    cada figura em at 20 segundos. Quando a resposta era correta, a

    examinadora passava para outra figura dando continuidade ao teste

    (total de 60 figuras). Quando a resposta apresentava aproximao

    ou falha na percepo da figura, a examinadora fornecia uma pista

    semntica como estmulo, indicada pelo autor do teste. Aps essa

    pista, se a criana no conseguia nomear a figura, outra pista era

    fornecida, dessa vez uma pista fonolgica (som inicial da palavra

    alvo). Foram computadas as respostas corretas diretas, o nmero

    de pistas semnticas e fonolgicas, bem como o nmero de acertos

    aps cada tipo de pista.

    3.3.7 Avaliao do discurso narrativo

    A criana contou uma estria do tipo Conto de Fadas, que foi

    gravada em arquivo MP3 e posteriormente analisada segundo os

    critrios do Desenvolvimento do Discurso Narrativo de Perroni,

    1992.

    Segundo Perroni (1992), o discurso narrativo apresenta um

    desenvolvimento que passa por quatro fases: protonarrativa, relato,

    caso e estria (discurso narrativo).

  • 59

    3.3.8 Avaliao do discurso narrativo em uma tarefa de recontagem

    de estria

    A examinadora solicita a ateno da criana numa tarefa de

    escutar uma estria que foi gravada por um ator oralmente (o texto

    dura um minuto e 30 segundos). Em seguida, a examinadora pede

    que a criana reconte essa histria com as suas palavras. A

    recontagem foi gravada e analisada segundo trs critrios: a

    gramtica da estria (Glenn, 1992), nmero de oraes, e tambm

    nmero e tipo de erros (Tannock, et al, 2003).

    A fluncia foi analisada pelos critrios de tipologia das

    disfluncias (comuns e gagas) e velocidade de fala (fluxo de

    palavras por minuto), do sub-teste de fluncia do Teste ABFW.

    A reavaliao da recontagem da estria foi realizada da

    mesma forma usando-se nova estria estmulo que tambm foi

    gravada por um ator oralmente (em anexo estria estmulo 2).

  • 60

    3.3.9. Avaliao neuropsicolgica

    Esta avaliao constou de:

    WISC-III, rea verbal: informao, semelhana, aritmtica,

    vocabulrio e dgitos;

    WISC-III, rea de execuo: arranjo de figuras, cubos, cdigo

    e procurar smbolos;

    Perfil ACID (testes de maior predomnio de ateno):

    aritmtica, cdigo, informao e dgitos;

    STROOP: teste de ateno inibitria;

    TMT: teste de ateno focada e alternada;

    fluncia verbal: ala fontica e ala conceitual;

    RAVLT (Rey Auditory Verbal Learning Test): span-memria

    imediata, curva de repetio, interferncia, evocao breve e

    evocao longa.

    A neuropsicloga avaliou as crianas individualmente durante

    duas ou trs sesses de uma hora. Posteriormente, realizou a

    anlise do material e disponibilizou os dados para o presente

    trabalho.

  • 61

    3.3.10 Questionrio de SNAP-IV

    O questionrio foi aplicado para um dos responsveis pelo

    paciente e para um de seus professores, de portugus ou de

    matemtica, do ano escolar vigente na poca da avaliao

    fonoaudiolgica, sendo analisado posteriormente segundo o escore

    determinado pelo SNAP.

    3.3.11 Anlise estatstica

    Para a anlise estatstica, inicialmente os grupos foram

    comparados em relao s caractersticas demogrficas (idade,

    sexo e tipo de escola que freqentavam). A idade foi comparada

    atravs do teste t para amostras independentes e o sexo. O tipo de

    escola foi comparado atravs do teste de qui-quadrado. Os demais

    resultados foram comparados de acordo com o tipo de parmetro

    analisado, as variveis categricas pelo teste de qui-quadrado e as

    numricas, com distribuio contnua, pelo teste t para amostras

    independentes.

  • 62

    Na impossibilidade da aplicao do teste de qui-quadrado

    devido s baixas freqncias em determinadas categorias, foi

    aplicado o teste exato de Fisher. A significncia estatstica foi

    considerada para valores de p

  • 63

    3.3.13 Perfil comparativo dos grupos

    Os critrios para a comparao entre os grupos foram: idade,

    tipo de administrao escolar, sexo, freqncia escola (em anos),

    instruo pr escolar e escolaridade.

    No houve diferena estatstica significante entre as crianas

    do grupo TDA/H e controle em relao idade (p = 0,203), ou ao

    tipo de escola (p = 0,484). Porm, foi identificada diferena

    significante entre os grupos com relao ao sexo (p = 0,032), sendo

    que no grupo TDA/H participaram mais meninos do que meninas e

    no grupo controle participaram mais meninas do que meninos.

    Tabela 1: Medidas resumo da idade das crianas (em meses) do

    grupo TDA/H e do grupo controle

    Grupo N Mdia d.p. Mnimo Mediana Mximo

    TDAH 36 118,2 22,8 84 114 167 Controle 34 125,1 22,3 90 121,5 166

    Comparao entre os grupos: p = 0,203 (teste t)

  • 64

    Tabela 2: Distribuio de acordo com o tipo de escola das crianas

    do grupo TDA/H e do grupo controle

    Escola TDAH N (%)

    Controle N (%)

    Total N (%)

    Privada 21 (58,3) 17 (50,0) 38 (54,3) Pblica 15 (41,7) 17 (50,0) 32 (45,7)

    Total 36 34 70

    Comparao entre os grupos: p = 0,484 (teste de Qui-quadrado)

    Tabela 3: Distribuio de acordo com o sexo das crianas do grupo

    TDA/H e do grupo controle

    Sexo TDAH N (%)

    controle N (%)

    Total N (%)

    Feminino 11 (30,6) 19 (55,9) 30 (42,9) Masculino 25 (69,4) 15 (44,1) 40 (57,1)

    Total 36 34 70

    Comparao entre os grupos: p = 0,032 (teste de Qui-quadrado)

    Quanto ao tempo de permanncia na escola, no houve

    diferena significante (p = 0,978), sendo que o grupo controle

    apresentou mdia de 3,71 anos e o grupo TDA/H mdia de 3,69

    anos.

  • 65

    Quanto instruo pr escolar, no houve diferena

    significante entre os grupos (p = 0,493), sendo que 100% das

    crianas do grupo controle e 94,44% daquelas do grupo TDA/H

    freqentou pr escola.

    Quanto escolaridade, no houve diferena significante entre

    os grupos (p = 0,826). As crianas do grupo controle e TDA/H foram

    pareadas pela srie escolar.

  • 66

    4 RESULTADOS

    4.1 Aspectos gerais

    Das 36 crianas com diagnstico de TDA/H avaliadas nesse

    estudo, 11 (30,6%) eram do sexo feminino e 25 (69,4%) do sexo

    masculino.

    A idade das crianas variou de 7 anos a 13 anos e 11 meses,

    e a mdia foi de 9 anos e 8 meses.

    Vinte e uma (58,3%) crianas estudavam em escolas de

    administrao privada e 15 (21,7%), em regime pblico.

    O nmero de anos de escolaridade foi de 3,69, em mdia.

    A maioria das crianas, 35 (94,44%), tiveram instruo pr

    escolar.

    A renda familiar variou de meio a dez salrios mnimos, sendo

    a mdia igual a cinco salrios mnimos (desvio padro 1,204).

    A escolaridade do cuidador (responsvel pela educao da

    criana) variou do ensino fundamental completo ps-graduao,

  • 67

    sendo que a mdia ficou no nvel mdio completo (desvio padro

    1,748).

    Das 36 crianas que participaram do estudo, 14 (38,89%)

    procuraram o ambulatrio de TDA/H HC-FMUSP por iniciativa da

    famlia e 22 (61,11%) por encaminhamento da escola devido a

    fracasso escolar.

    4.2 Aspectos especficos: primeiro objetivo comparao

    entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    Avaliou-se o tipo e a freqncia das alteraes da linguagem

    oral em crianas com TDA/H e comparou-se com o grupo controle.

    Seguem os resultados de cada teste.

    4.2.1 Anlise da avaliao clnica-fonoaudiolgica do sistema

    estomatogntico e da funo respiratria

    Foram analisados os seguintes itens: ocluso dentria; palato

    duro; mobilidade do palato mole; articulao tmporo mandibular;

    orofaringe e amgdalas; tonicidade de lbios, lngua e bochechas;

  • 68

    mobilidade de lbios, lngua e bochechas; frnulo lingual e frnulos

    labiais, e padro de fluxo areo (nasal ou oral). Para fins de anlise,

    cada item foi considerado adequado ou alterado.

    Quanto ocluso dentria, a diferena entre os grupos no foi

    considerada significante (p = 0,054), sendo que alteraes

    ocorreram em 21 (58,33%) crianas do grupo TDA/H e 12 (35,29%)

    do grupo controle.

    Quanto ao palato duro, a diferena entre os grupos foi

    significante (p = 0,009), sendo que 14 (38,89%) crianas do grupo

    TDA/H e 4 (11,76%) do grupo controle apresentaram alteraes.

    Quanto mobilidade do palato mole, a diferena no foi

    significante (p = 0,055), sendo que sete (19,44%) crianas do grupo

    TDA/H e uma (2,94%) do grupo controle apresentaram alteraes.

    Quanto articulao tmporo mandibular, a diferena entre os

    grupos no foi significante (p = 0,107), sendo que seis (16,67%)

    crianas com TDA/H e uma (2,94%) criana do grupo controle

    apresentaram alteraes.

    Quanto orofaringe e amgdalas, a diferena entre os grupos

    foi significante (p

  • 69

    TDA/H apresentaram alteraes e no grupo controle apenas oito

    (23,53%).

    Quanto tonicidade dos OFA lbios, lngua e bochechas- a

    diferena entre os grupos foi significante (p = 0,002), sendo que 24

    (66,67%) crianas do grupo TDA/H e 10 (29,41%) do controle

    apresentaram alteraes.

    Quanto mobilidade dos OFA, a diferena entre os grupos foi

    significante (p = 0,001), sendo que 24 (66,67%) crianas com

    TDA/H e nove (26,47%) do grupo controle apresentaram alteraes.

    Quanto aos frnulos labiais e linguais, no foram encontradas

    alteraes tanto nas crianas do grupo TDA/H, como no grupo

    controle.

    O padro de fluxo areo apresentou diferena significante

    entre os grupos (p = 0,0051), sendo que 22 (61,11%) crianas do

    grupo TDA/H e 6 (17,65%) do grupo controle apresentaram

    alteraes.

    Em resumo, o grupo TDA/H apresentou alterao significante

    em relao ao grupo controle nos itens: palato duro, orofaringe/

    amgdalas, bem como tonicidade e mobilidade dos OFA. A

  • 70

    incidncia de alteraes na ocluso e no padro de fluxo areo foi

    limtrofe do ponto de vista da significncia.

    4.2.2 Anlise da discriminao auditiva

    A diferena entre os grupos foi significante (p

  • 71

    13 (36,11%) crianas do grupo TDA/H e em cinco (14,71%) do

    grupo controle.

    Tabela 5: Distribuio das alteraes nas Praxias orais entre o

    grupo TDA/H e o grupo controle

    GRUPO N Normal Alterada P TDA/H 36 23 (63,89%) 13 (36,11%)

    Controle 34 29 (85,29%) 5 (14,71%) 0,041

    4.2.4 Anlise dos resultados do teste de imitao do protocolo

    ABFW

    A articulao dos sons da fala foi avaliada atravs do teste de

    imitao do protocolo ABFW. Analisou-se a freqncia e o tipo de

    alterao nos grupos.

    Em relao freqncia de alteraes na articulao da fala, a

    diferena foi significante entre os grupos (p = 0,023). No grupo

    TDA/H, 14 (38,89%) crianas apresentaram alteraes e no grupo

    controle, apenas 5 (14,71%).

  • 72

    Quanto ao tipo de alteraes fonmicas da articulao, foram

    encontradas distores, omisses e trocas, isoladads ou em

    combinao.

    A distribuio das alteraes fonmicas da articulao nos

    dois grupos, TDA/H e controle, est ilustrada na Tabela 6.

    Tabela 6: Distribuio das alteraes no teste de imitao entre o

    grupo TDA/H e o grupo controle

    Alteraes TDAH Controle D 4 (11,11%) 1 (2,94%) O 1 (2,78%) 0 T 0 1 (2,94%)

    D/O 1 (2,78%) 0 D/T 6 (16,67%) 3 (8,82%)

    D/T/O 2 (5,56%) 0 D: distoro; O: omisso; T: troca

    No grupo controle: uma criana apresentou distoro (2,78%),

    uma (2,78%), troca e trs (8,82%) apresentaram a combinao de

    distoro e troca de fonemas.

    No grupo TDA/H: quatro crianas (11,11%) apresentaram

    distoro, uma criana (2,78%), omisso, uma criana (2,78%),

  • 73

    distoro e omisso, e duas crianas (2,56%) apresentaram

    distoro, troca e omisso de fonemas.

    4.2.5 Anlise do teste de vocabulrio Boston Naming Test

    O teste de Boston contabiliza as resposta corretas

    espontneas, as respostas corretas aps a apresentao de pistas

    semnticas e/ou fonolgicas e o total de acertos.

    As diferenas entre os grupos foi significante em relao s

    respostas corretas espontneas (p = 0,001), s respostas corretas

    aps pistas fonolgicas (p = 0,021) e ao nmero total de acertos (p

  • 74

    Em relao s respostas corretas espontneas, o grupo

    TDA/H apresentou mdia de 35,06 (58,43%) e o grupo controle, de

    41,35 (68,92%) - (p = 0,001).

    Tabela 8: Distribuio do nmero de respostas corretas aps pista

    fonolgica no teste de vocabulrio entre o grupo TDA/H e o grupo

    controle

    GRUPO N Mdia % DP P TDA/H 36 5,19 8,65 2,75

    Controle 34 6,74 11,23 2,70 0,021

    Em relao s respostas corretas aps pista fonolgica, o

    grupo TDA/H apresentou mdia de 5,19 (8,65%) e o grupo controle,

    de 6,74 (11,23%) - (p = 0,021).

    Tabela 9: Distribuio do nmero total de respostas corretas no

    teste de vocabulrio entre grupo TDA/H e o grupo controle

    GRUPO N Mdia % DP P TDA/H 36 41,78 69,63 7,82

    Controle 34 49,44 82,40 4,95

  • 75

    Em relao ao total de respostas corretas, o grupo TDA/H

    apresentou mdia de 41,78 (69,63%) e o grupo controle, de 49,44

    (82,40%) (p

  • 76

    4.2.7 Anlise da avaliao do discurso narrativo em uma tarefa

    de recontagem de estria

    4.2.7.1 Nmero de frases

    A diferena entre os grupos quanto ao nmero de frases

    relatadas na tarefa de recontagem, tendo como base a estria

    estmulo 1 (26 frases), foi significante (p = 0,001). O grupo TDA/H

    apresentou mdia de 8,83 (33,96%) frases e o grupo controle de

    12,62 (48,54 %) (Tabela 11).

    Tabela 11: Distribuio do nmero de frases relatadas na tarefa de

    recontagem de estria entre o grupo TDA/H e o grupo controle

    GRUPO N Mdia % DP P TDA/H 36 8,83 33,96 4,67

    Controle 34 12,62 48,54 4,43 0,001

    4.2.7.2 Freqncia e tipo de erros

  • 77

    Quanto freqncia de erros na tarefa de recontagem de

    estria, a diferena foi significante entre os grupos (p = 0,001). O

    grupo TDA/H apresentou mdia total de erros de 5,75 e o grupo

    controle de 3,32 (Tabela 12).

    Tabela 12: Distribuio do nmero total de erros entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estria

    GRUPO N Mdia % DP P TDA/H 36 5,75 22,12 3,76

    Controle 34 3,32 12,77 1,9 0,001

    Quanto ao tipo de erro, a diferena foi significante apenas para

    o erro de interpretao incorreta (p

  • 78

    A diferena no foi significante para os seguintes tipos de

    erros: seqncia (p = 0,825), substituio (p = 0,348), referncia

    ambgua (p = 0,222), acrscimo fictcio (p = 0,061) e repetio (p =

    0,058) (Tabelas 14 a 18).

    Tabela 14: Distribuio da freqncia de erros de seqncia entre

    grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de estria

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 0,28 0,57 Controle 34 0,32 1,06 0,825

    Tabela 15: Distribuio da freqncia de erros do tipo substituio

    entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de

    estria

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 0,83 0,91 Controle 34 0,65 0,73 0,348

  • 79

    Tabela 16: Distribuio da freqncia de erros do tipo referncia

    ambgua entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de

    recontagem de estria

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 1,28 1,78 Controle 34 0,82 1,27 0,222

    Tabela 17: Distribuio da freqncia de erros do tipo acrscimo

    fictcio entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de

    recontagem de estria

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 0,81 1,71 Controle 34 0,24 0,5 0,061

    Tabela 18: Distribuio da freqncia de erros do tipo repetio

    entre o grupo TDA/H e o grupo controle na tarefa de recontagem de

    estria

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 1,03 1,23 Controle 34 0,85 0,96 0,058

  • 80

    4.2.7.3 Gramtica da estria

    A gramtica da estria foi analisada atravs da presena ou

    ausncia dos seguintes elementos pertencentes a estria original:

    cenrio, resposta interna 1, evento iniciador 1, tentativa 1,

    conseqncia 1, evento iniciador 2, resposta interna 2, tentativa 2 e

    conseqncia 2.

    A diferena foi significante, entre os grupos, em relao

    presena de resposta interna 1 (p = 0,009), do evento iniciador 1 (p

    = 0,004) e do evento iniciador 2 (p = 0,028) (Tabelas 19 a 21).

    Tabela 19: Distribuio do elemento resposta interna 1 entre o

    grupo TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 25 (69,44%) 13 (38,24%) Presena 11 (30,56%) 21 (61,76%) 0,009

    Tabela 20: Distribuio do elemento evento iniciador 1 entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

  • 81

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 10 (27,78%) 1 (2,94%) Presena 26 (72,22%) 33 (97,06%) 0,004

    Tabela 21: Distribuio do elemento evento iniciador 2 entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 9 (25%) 2 (5,88%) Presena 27 (75%) 32 (94,12%) 0,028

    A diferena entre os grupos no foi significante, em relao

    presena de cenrio (p = 0,493), de tentativa 1 (p = 0,144), de

    conseqncia 1 (p = 0,167), de resposta interna 2 (p = 0,496), de

    tentativa 2 (p = 0,420) e de conseqncia 2 (p = 0,663) (Tabelas 22

    a 27).

    Tabela 22: Distribuio do elemento cenrio entre o grupo TDA/H e

    o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 2 (5,56%) 0 Presena 34 (94,44%) 34 (100%) 0,493

  • 82

    Tabela 23: Distribuio do elemento tentativa 1 entre o grupo TDA/H

    e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 28 (77,78%) 21 (61,76%) Presena 8 (22,22%) 13 (38,24%) 0,144

    Tabela 24: Distribuio do elemento conseqncia 1 entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 14 (38,89%) 8 (23,53%) Presena 22 (61,11%) 26 (76,47%) 0,167

    Tabela 25: Distribuio do elemento resposta interna 2 entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 27 (75%) 23 (67,65%) Presena 9 (25%) 11 (32,35%) 0,496

  • 83

    Tabela 26: Distribuio do elemento tentativa 2 entre o grupo TDA/H

    e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 15 (41,67%) 11 (32,35%) Presena 21 (58,33%) 23 (67,65%) 0,420

    Tabela 27: Distribuio do elemento conseqncia 2 entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle na anlise da gramtica da estria

    INCIDNCIA TDA/H (N = 36) Controle (N = 34) P Ausncia 23 (63,89%) 20 (58,82%) Presena 13 (36,11%) 14 (41,18%) 0,663

    4.2.7.4 Fluncia

    A recontagem da estria foi transcrita literalmente e foram

    seguidos os critrios para o registro dos eventos de disfluncia do

    sub-teste de fluncia do Teste de Linguagem ABFW.

    Analisou-se o tipo de disfluncias comuns e gagas-, a

    velocidade de fala e a freqncia de rupturas.

  • 84

    Quanto ao tipo de disfluncias, a diferena entre os grupos foi

    considerada significante tanto para as disfluncias comuns (p<

    0,001), quanto para as gagas (p

  • 85

    Tabela 30: Distribuio do fluxo de palavras por minuto entre o

    grupo TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 87,15 41,37 Controle 34 112,5 28,13 0,004

    Quanto ao fluxo de slabas por minuto, a diferena entre os

    grupos foi significante (p = 0,004), sendo que a mdia no grupo

    TDA/H foi 146, 8 e no grupo controle foi de 189,63 slabas por

    minuto (Tabela 31).

    Tabela 31: Distribuio do fluxo de slabas por minuto entre o grupo

    TDA/H e o grupo controle no Teste de Linguagem ABFW

    GRUPO N Mdia DP P TODA/H 36 146,8 72,3 Controle 34 189,6 46,08 0,004

  • 86

    Quanto porcentagem de disfluncias comuns, a diferena foi

    significante entre os grupos (p

  • 87

    Em resumo, em todos os critrios usados na anlise da

    fluncia a diferena foi significante entre os grupos: presena de

    disfluncias comuns e gagas, fluxo de palavras por minuto, fluxo de

    slabas por minuto, porcentagem de disfluncias comuns e

    porcentagem de disfluncias gagas.

    4.2.8 Anlise do questionrio SNAP-IV

    O questionrio foi dirigido ao cuidador e a um professor de

    portugus ou de matemtica do ano escolar vigente que a criana

    freqentava. Todos responderam. No houve resistncia do

    cuidador em realizar a tarefa. O questionrio direcionado ao

    professor foi acompanhado de carta justificando sua aplicao e

    solicitando colaborao; observou-se resistncia dos professores

    em responder o SNAP-IV em 6 casos (16,67%).

    No grupo de crianas com TDA/H, dos questionrios

    direcionados aos professores, 31 (86,11%) apresentaram resultados

    indicativos do quadro diagnstico de TDA/H e cinco (13,89%) no

    indicativos. queles direcionados aos pais, 36 (100%) obtiveram

    resultados indicativos de TDA/H.

  • 88

    4.3 Aspectos especficos: segundo objetivo comparao

    entre os momentos - inicial e aps medicao

    Aps um perodo tratamento com metilfenidato que variou de

    16 a 60 dias, os aspectos da linguagem oral foram reavaliados em

    32 dos 36 pacientes com TDA/H e comparados com os achados

    iniciais pr-tratamento. Quatro pacientes no aderiram ao

    tratamento. Alguns itens da bateria de avaliao fonoaudiolgica

    no foram reavaliados por se tratarem de testes referentes a

    aspectos pouco sensveis ao tratamento medicamentoso -

    avaliao clnica do sistema estomatogntico e da funo

    respiratria.

    O discurso narrativo atravs do relato de conto de fadas no

    foi reavaliado, visto que na avaliao todas as crianas

    apresentaram segundo Perroni (1992), discurso do tipo narrativo.

    As praxias orais tambm no foram reavaliadas devido ao

    tempo curto entre a avaliao e a reavaliao que poderiam levar a

    aprendizagem das habilidades do teste e influenciar nos resultados.

  • 89

    4.3.1 Anlise da discriminao auditiva

    Na reavaliao da discriminao auditiva as crianas tratadas

    aumentaram o nmero de acertos de modo significante (p = 0,001),

    passando de 83,43% de acertos para 96,04% (Tabela 34).

    Tabela 34: Resultados da comparao no teste de discriminao

    auditiva (DA) entre os momentos inicial e aps medicao

    Inicial Medicado Resultado N mdia dp N mdia dp comparao P DA 36 25,03 6,18 32 28,81 2,22 inicial

  • 90

    0,04). sendo que no momento inicial 14 crianas (38,89%)

    apresentaram alteraes e no momento aps medicao 6

    crianas (18,75%).

    A distribuio das alteraes fonmicas da articulao nos do

    momento inicial e aps medicao est ilustrada na Tabela 35.

    Tabela 35: Distribuio das alteraes no teste de imitao entre os

    momentos inicial e aps medicao

    Alteraes TDAH/inicial(N=36) TDAH/medicado(N=32)D 4 (11,11%) 2 (6,25%) O 1 (2,78%) 1(3,125%) T 0 0

    D/O 1 (2,78%) 0 D/T 6 (16,67%) 2 (6,25%)

    D/T/O 2 (5,56%) 1(3,125%) D: distoro; O: omisso; T: troca

    4.3.3 Anlise do teste de vocabulrio Boston Naming Test

    Na reavaliao houve aumento significante do nmero de

    acertos no teste de Boston nas respostas corretas espontneas (p =

  • 91

    0,001), nas respostas corretas aps a apresentao de pistas

    fonolgicas (p = 0,004) e no nmero total de acertos (p = 0,001)

    (Tabela 36)

    Tabela 36: Resultados da comparao no Boston Naming Test entre

    os momentos inicial e aps medicao

    Inicial Medicado Resultado R. Correta N mdia dp N mdia dp comparao P Espontnea 36 35,06 9,26 32 38,41 7,57 inicial

  • 92

    avaliao a mdia de frases recontadas foi de 8,83 (desvio padro =

    4,67) e na reavaliao foi de 13,44 (desvio padro = 4,79).

    4.3.4.2 Freqncia e tipo de erros

    No houve diferena significante no desempenho das crianas

    quanto ao tipo (segmentao, interpretao incorreta, substituio,

    referncia ambgua, acrscimo fictcio, repetio) e freqncia de

    erros entre a primeira avaliao e a reavaliao (Tabela 37).

    Tabela 37: Resultados da comparao do tipo e freqncia de erros

    entre os momentos inicial e aps medicao

    Inicial Medicado Resultado Erro N Mdia dp N mdia Dp Comparao P Sequncia 36 0,28 0,57 32 0,28 0,58 Inicial=medicado 0,831Interpretao Incorreta

    36 1,53 1,78 32 1,22 1,04 Inicial=medicado 0,292

    Substituio 36 0,83 0,91 32 0,75 0,98 Inicial=medicado 0,801Referncia Ambgua

    36 1,28 1,78 32 1,38 1,10 Inicial=medicado 0,705

    Acrscimo Fictcio

    36 0,81 1,70 32 0,25 0,67 Inicial=medicado 0,127

    Repetio 36 1,03 1,23 32 0,69 1,60 Inicial=medicado 0,374Total 36 5,75 3,76 32 4,56 2,82 Inicial=medicado 0,205

  • 93

    4.3.4.3.Gramtica da estria

    Na anlise da gramtica da estria quanto ao cenrio,

    resposta interna 1, evento iniciador 1, conseqncia 1, evento

    iniciador 2 e resposta interna 2, no houve diferena significante

    entre os momentos inicial e aps medicao. Na recontagem da

    estria, houve aumento significante quanto aos elementos tentativa

    1 (p

  • 94

    Total 36 1,00 32 1,00TT 1 ausente 28 0,78 8 0,25 inicial

  • 95

    porcentagem de disfluncias gagas (p = 0,010). No houve

    diferena quanto aos eventos de disfluncias gagas.

    Houve aumento significante entre os momentos inicial e aps

    medicao quanto ao fluxo de palavras por minuto (p = 0,011) e

    quanto ao fluxo de slabas por minuto (p = 0,008) (Tabela 39).

    Tabela 39: Resultados da comparao na distribuio das

    disfluncias entre os momentos inicial e aps medicao

    Inicial Medicado Resultado N Mdia Dp N mdia dp Comparao P DC 36 17,08 12,24 32 9,50 5,60 inicial>medicado 0,001 DG 36 3,06 1,93 32 2,50 2,78 inicial=medicado 0,250 FP/min 36 87,15 41,37 32 104,41 37,34 inicial

  • 96

    4.4 Aspectos especficos: segundo objetivo - comparao

    entre os momentos inicial e aps medicao na amostra

    parcial de pacientes que receberam a medicao por um

    perodo que variou de 30 a 60 dias

    Um segundo tipo de comparao dos aspectos da linguagem

    oral pr e ps-tratamento foi feito em um subgrupo parcial de 25

    pacientes que receberam o metilfenidato por um perodo que variou

    entre 30 e 60 dias.

    Finalmente, foram comparados os resultados obtidos com o

    tratamento no grupo total de crianas com TDA/H (N = 32), que

    recebeu a medicao entre 16 e 60 dias, com aqueles obtidos no

    subgrupo parcial de crianas com TDA/H (N = 25) que recebeu a

    medicao por um perodo que variou entre 30 e 60 dias.

    4.4.1 Anlise da discriminao auditiva

    Na reavaliao da discriminao auditiva, o aumento

    significante do nmero de acertos (p = 0,010) nas crianas do

    subgrupo parcial foi de 96,53% contra 96,04% naquelas do grupo

  • 97

    total, o que no representa uma diferena estatisticamente vlida

    entre os dois grupos.

    Tabela 40: Resultados do teste de discriminao auditiva (DA) no

    grupo parcial de crianas com TDA/H entre os momentos inicial e

    aps medicao

    Inicial Medicado Resultado N mdia dp N mdia dp Comparao P DA-GP 25 25,44 6,41 25 28,96 2,28 inicial

  • 98

    Tabela 41: Distribuio das alteraes no teste de imitao no grupo

    parcial de crianas com TDA/H entre os momentos inicial e aps

    medicao

    Alteraes TDAH/inicial(N=25) TDAH/medicado(N=25)D 3 (12%) 1 (4%) O 1 (4%) 1 (4%) T 0 0