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1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul Departamento de Patologia Clínica Veterinária Setor de Patologia Veterinária Patologia Veterinária Geral Mestrando Djeison Lutier Raymundo Doutoranda Caroline Argenta Pescador Técnicas de Necropsia 1.0 Introdução: A técnica de necropsia inicia-se com a identificação do cadáver e com a leitura da história clínica fornecida pelo médico veterinário responsável pelo caso clínico. Adicionalmente, informações como espécie, raça, sexo, idade, peso, cor da pelagem, nome ou número do animal, data da morte, procedência, proprietário, endereço e telefone devem ser devidamente observadas e preenchidas na ficha de necropsia. Após, deve-se realizar o exame externo da carcaça, onde deve ser observado os itens a seguir: 1. Posição do animal na hora da morte. 2. Aparência geral da carcaça, rigor mortis, decomposição post-mortem e desidratação. 3. Estado nutricional do animal. 4. Condição da cobertura corporal (Figura 1) e presença de parasitas externos (Figura 2). 5. Coloração e aparência das mucosas (Figura 3 e 4). 6. Presença ou ausência de descargas nos orifícios corporais (Figura 5 e 6) e glândula mamária (coloração, quantidade, etc.) 7. Presença de aumentos de volume, feridas, incisões cirúrgicas, hérnias ou fraturas. Figura 1. Cobertura corporal. E aparência geral do animal. Figura 3. Coloração da mucosa ocular. Figura 4. Coloração da mucosa oral. Figura 2. Presença de parasitas externos.

Manual de Necrópsia Com Fotos

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    Universidade Federal do Rio Grande do Sul Departamento de Patologia Clnica Veterinria

    Setor de Patologia Veterinria

    Patologia Veterinria Geral Mestrando Djeison Lutier Raymundo

    Doutoranda Caroline Argenta Pescador

    Tcnicas de Necropsia

    1.0 Introduo: A tcnica de necropsia inicia-se com a identificao do cadver e com a leitura da

    histria clnica fornecida pelo mdico veterinrio responsvel pelo caso clnico. Adicionalmente, informaes como espcie, raa, sexo, idade, peso, cor da pelagem, nome ou nmero do animal, data da morte, procedncia, proprietrio, endereo e telefone devem ser devidamente observadas e preenchidas na ficha de necropsia.

    Aps, deve-se realizar o exame externo da carcaa, onde deve ser observado os itens a seguir:

    1. Posio do animal na hora da morte. 2. Aparncia geral da carcaa, rigor mortis, decomposio post-mortem e

    desidratao. 3. Estado nutricional do animal. 4. Condio da cobertura corporal (Figura 1) e presena de parasitas externos

    (Figura 2). 5. Colorao e aparncia das mucosas (Figura 3 e 4). 6. Presena ou ausncia de descargas nos orifcios corporais (Figura 5 e 6) e

    glndula mamria (colorao, quantidade, etc.) 7. Presena de aumentos de volume, feridas, incises cirrgicas, hrnias ou fraturas.

    Figura 1. Cobertura corporal. E aparncia geral do animal.

    Figura 3. Colorao da mucosa ocular.

    Figura 4. Colorao da mucosa oral.

    Figura 2. Presena de parasitas externos.

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    2.0. Tcnica de Necropsia para Ces e Gatos 2.1. Estudar o histrico clnico. Considerar os possveis diagnsticos antes de comear a necropsia. Muitas vezes a historia clinica pode fornecer preciosos indcios quanto natureza da doena em questo. Os dados recolhidos durante a anamnese tambm so importantes. Observar se existe alguma requisio especial por parte do clinico que encaminhou a requisio de necropsia. 2.2. Realizar o exame externo do animal. 2.3. Colocar o animal em decbito dorsal com a cabea para o lado esquerdo da pessoa que vai realizar a necropsia. 2.4. Iniciar a abertura do cadver com uma inciso longitudinal (abertura primria ou inciso primria), iniciando no mento e seguindo pela linha mdia at o pbis (Figura 7). Em machos so feitos cortes laterais ao pnis, que rebatido caudalmente.

    2.5. Rebater a pele lateralmente. Separar os membros anteriores do corpo com a seco da musculatura peitoral (Figura 8). Nos membros posteriores desarticulada a articulao coxo-femoral (Figura 9). Assim o animal permanece numa posio estvel de decbito dorsal.

    Figura 5. Exame da vulva. Figura 6. Exame do nus.

    Figura 7. Inciso longitudinal na linha mdia com cortes laterais ao pnis.

    Figura 8. Pele rebatida lateralmente e seco da musculatura peitoral.

    Figura 9. Articulao coxo-femoral desarticulada.

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    2.6. Observar o tecido subcutneo, msculos e linfonodos superficiais. 2.7. A abertura da cavidade abdominal feita por uma inciso na linha mdia que se estende do apndice xifide ate o pbis (Figura 10). Verificar a presena de lquido coletando-o se necessrio. E lateralmente fazer uma abertura de cada lado da musculatura abdominal, acompanhando a curvatura da ltima costela (Figura 11).

    2.8. Verificar a presena de presso negativa intra-torcica (Figura 12). A abertura da cavidade torcica feita com o auxilio do costtomo, cortar as costelas na altura das junes costo-condrais (Figura 13), e com uma faca remover o plastro esternal*.

    2.9. Examinar as vsceras torcicas e abdominais in situ (Figura 14). Verificando se h ou no alterao de posio. Verificar a necessidade de colheita de material para cultivo bacteriano ou isolamento viral. 2.10. Prosseguir ento com a remoo do omento e do bao, cortando as inseres na curvatura maior do estmago e do mesentrio (Figura 15).

    * Plastro: o tremo significa grava larga e tambm peitilho de camisa. Por anomalia, no jargo da tcnica de necropsia, este termo usado para denominar a parte compreendida pelo osso esterno e parte das costelas ligadas a ele.

    Figura 10. Inciso abdominal na linha mdia.

    Figura 11. Abertura lateral da musculatura abdominal.

    Figura 12. Verificao da presso negativa intra-torcica.

    Figura 13. Corte das costelas.

    Figura 14. Posio normal das vsceras torcicas e abdominais.

    Figura 15. Retirada do omento e bao.

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    2.11. Fazer ento uma ligadura dupla no reto (Figura 16) e outra no duodeno na poro final do pncreas (Figura 17). Seccionar ento o reto e o duodeno e suas inseres mesentricas cavidade abdominal, retirando o intestino delgado, intestino grosso e ceco.

    2.12. Seccionar ento o esfago na altura do crdia e a veia porta juntamente com o diafragma e ligamentos gstricos, retirar assim o fgado, estmago, pncreas e poro inicial do duodeno. 2.13. Retirar a poro muscular que recobre o pbis e encontrar o Forame Obturatrio de ambos os lados. Ento com o auxlio do costtomo cortar o osso a partir do Forame Obturatrio em sentido cranial e em sentido caudal de ambos os lados (Figura 18). Retirar ento a poro do osso cortada (Figura 19).

    2.14. Cortar as adrenais (Figura 20)e remov-las juntamente com a gordura perirrenal, rins e ureteres (Figura 21). No deve ser esquecido de fazer uma marcao n um dos rins para posterior identificao. Dissecar ento a cavidade plvica a fim de retirar a poro do reto e do trato genital e urinrio juntamente com os rins. Cortar a pele ao redor do nus.

    Figura 16. Ligadura dupla no reto e seco.

    Figura 17. Ligadura dupla no duodeno e seco.

    Figura 18. Cortar o osso no sentido cranial e caudal do forame Obturatrio.

    Figura 19. Poro do osso cortada e retirada.

    Figura 20. Corte das adrenais. Figura 21. Remoo das adrenais, rins e ureteres.

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    2.15. Fazer duas incises na face lateral interna da mandbula para que se consiga remover a lngua (Figuras 22 e 23). Seccionar o palato mole e desarticular os Hiides (Figura 24 e 25), dissecar e remover a lngua, laringe, traquia, esfago, corao e grandes vasos e pulmes.

    2.16. Fazer uma inciso longitudinal na poro superior do crnio e rebater a pele. Retirar os msculos temporais de ambos os lados (Figuras 26 e 27). Com a machadinha e o martelo fazer um corte na poro cranial da cabea, um pouco caudal aos processos supra-orbitais. Em ambas as laterais feito um corte que segue at o Forame Magno (Figura 28). Retirar ento a calota craniana expondo o encfalo (Figura 29).

    Figura 22. Cortar a face lateral interna da mandbula em ambos os lados.

    Figura 23. Remoo da lngua.

    Figura 24. Desarticular os Hiides. Figura 25. Hiides desarticulados.

    Figura 26. Inciso longitudinal na poro superior do crnio.

    Figura 27. Pele rebatida e retirada dos msculos temporais.

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    2.17. Cortar a meninge que recobre o crebro e cerebelo (Figura 30). No esquecendo das pores de meninge que se inserem entre os hemisfrios cerebrais e entre o crebro e o cerebelo. Soltar ento os pares cranianos que prendem o encfalo base e seccionar a medula (Figura 31).

    2.18. Observar ento todas as vsceras a fim de visualizar qualquer alterao existente. 2.19. Fazer cortes no bao para que se observe alm da superfcie capsular, a superfcie de corte (Figura 32).

    2.20. O intestino deve ser dissecado do mesentrio a fim de visualizar toda a sua extenso e continuidade (Figura 33 e 34). Com uma tesoura cortar o intestino na sua poro mesentrica a fim de visualizar o seu contedo e mucosa (Figura 35).

    Figura 28. Marcao dos locais onde so feitos os cortes no crnio para retirada do encfalo.

    Figura 29. Retirada da calota craniana e exposio do encfalo.

    Figura 31. Soltar o encfalo da base do crnio e seccionar a medula.

    Figura 32. Examinar a superfcie capsular e a superfcie de corte do bao.

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    2.21. Inicialmente o duodeno deve ser aberto at a entrada do piloro a fim de expor o esfncter de Oddi. Ento pressionando a vescula biliar deve ser observado o fluxo da bile (Figura 36). A vescula biliar deve ser aberta para visualizao do seu contedo e mucosa.

    2.22. O estmago deve ser aberto ao longo de sua curvatura maior indo desde a entrada do Piloro at o Crdia (Figura 37).

    2.23. Observar primeiramente a superfcie capsular do fgado, bem como sua colorao, tamanho e outras alteraes. Posteriormente prosseguir com cortes em seu parnquima a fim de observar sua superfcie de corte a fim de visualizar sua colorao, e consistncia (Figura 38).

    Figura 33. Intestino ainda ligado ao mesentrio.

    Figura 34. Intestino dissecado do mesentrio.

    Figura 35. Abertura do intestino pela poro da insero mesentrica.

    Figura 36. Abertura da poro inicial do duodeno pela poro anti mesentrica. E verificar o fluxo da bile.

    Figura 37. Abertura do estomago pela curvatura maior.

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    2.24. Cortar os rins longitudinalmente em duas metades iguais e retirar a cpsula (Figuras 39 e 40). Abrir os ureteres (Figura 41). Abrir a bexiga e a uretra indo at o final do pnis (no caso do macho) ou a vulva (no caso da fmea) (Figuras 42 e 43).

    2.25. Abrir o esfago da poro inicial at o crdia (Figura 44). Abrir a traquia at os grandes brnquios. Abrir os brnquios e bronquolos principais (Figura 45). Cortar o pulmo para anlise do parnquima. Observar e comparar as tireides.

    Figura 38. Analise do fgado na superfcie capsular e posterior corte para exame da superfcie de corte.

    Figura 39. Corte longitudinal dos rins.

    Figura 40. Retirada da cpsula.

    Figura 41. Abertura dos ureteres.

    Figura 42. Abertura da bexiga. Figura 43. Abertura da uretra e vulva.

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    2.26. Com o corao ligado ao pulmo. Abrir o saco pericrdico (Figura 46). Observar a conformao cardaca. Abrir o trio direito na altura da entrada da cava cranial e caudal, indo at a ponta da aurcula. Depois seguir o fluxo do sangue pelo septo trio ventricular contornando os limites do ventrculo at a artria pulmonar (Figura 47 e 48). Observar as vlvulas e o contedo. Cortar longitudinalmente na poro mdia do lado esquerdo seccionando com um corte nico a parede do ventrculo esquerdo (Figura 49). Observar a vlvula atrioventricular esquerda e o contedo do ventrculo. Seccionando a vlvula atrioventricular esquerda e seguindo abaixo dela encontramos a Aorta (Figura 50). Observar as paredes da Aorta e suas vlvulas (Figura 51).

    Figura 44. Abertura do esfago. Figura 45. Abertura da traquia e dos brnquios.

    Figura 46. Abertura do saco pericrdico.

    Figura 47. Abertura do lado direito do corao.

    Figura 48. Lado direito do corao aps a abertura.

    Figura 49. Abertura do lado esquerdo do corao

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    2.27. O material para anlise histopatolgica deve ser coletado em formalina a 10%. Coletar os tecidos que apresentarem leses ou que possam apresentar alguma alterao com relao aos dados observados no histrico e durante a necropsia.

    2.28. Anotar todos os achados de necropsia por escrito.

    3.0. Tcnica de Necropsia para Sunos 3.1. A tcnica de necropsia dos sunos semelhante aquela descrita para os carnvoros com as seguintes modificaes. 3.2. Com o animal em decbito ventral, serrar o focinho fazendo um corte transversal. Este corte deve ser feito num ponto levemente posterior s comissuras da boca. Examinar os cornetos nasais. 3.3. Remover o trato intestinal aps seccionar o reto, esfago e mesentrio na insero sublombar. Separar o intestino delgado de seu mesentrio. Cortar ao longo da insero mesentrica do intestino delgado. Desenrolar o clon espiral usando disseco cega. Abra todo intestino cortando ao longo de sua insero mesentrica.

    4.0. Tcnica de Necropsia para Ruminantes 4.1. Estudar o histrico clnico. Considerar os possveis diagnsticos antes de comear a necropsia. Muitas vezes a histria clnica pode fornecer preciosos indcios quanto natureza da doena em questo. Os dados recolhidos durante a anamnese tambm so importantes. Observar se existe alguma requisio especial por parte do clnico que encaminhou a requisio de necropsia. 4.2. Realizar o exame externo do animal. 4.3. Colocar o animal em decbito lateral esquerdo, se possvel o dorso mais alto que o ventre. Essa posio permite a remoo dos rgos maiores de posies mais baixas. 4.4. Iniciar a abertura fazendo uma inciso na pele seguindo a linha media desde o mento at o nus. Cortar ao redor do prepcio ou da glndula mamria. Rebater dorsalmente a pele e os membros do lado direito. Desarticular o membro posterior direto ao nvel da articulao coxo-femoral. Depois de terminada esta operao, os membros do lado direito ficaro numa posio acima do dorso. Abrir o abdmen e examinar com ateno particular ao fgado, pr-ventrculos e diafragma antes de cortar as costelas. 4.5. Fazer uma inciso entre as costelas e verificar a presso negativa. Cortar as costelas na altura do diafragma indo at a primeira costela. 4.6. Cortar ento a poro das junes costo-condrais do lado interno, para que a carcaa fique com a poro do lado direito toda aberta. 4.7. Examinar as cavidades torcica e abdominal a procura de alteraes. Se necessrio deve ser feita colheita de material para exame bacteriolgico e virolgico. 4.8. Remover o omento contando rente s suas inseres. 4.9. Palpar entre o reticulo e o diafragma, a fim de verificar aderncias ou corpos estranhos na regio. 4.10. Remover a adrenal direita (localizada posterior ao fgado e anterior ao rim direito). Retirar o rim e gordura peri-renal rebatendo at a poro posterior do animal.

    Figura 50. Corte da vlvula trio ventricular esquerda para visualizao da Aorta.

    Figura 51. Lado esquerdo do corao aps a abertura, com visualizao da Aorta.

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    4.11. Seccionar o clon na altura da abertura plvica, cortar ento as inseres deste com o mesentrio. Seccionar o duodeno preservando alguns centmetros com o abomaso. Retirar todo o intestino como um conjunto. 4.12. Remover a adrenal esquerda, rim esquerdo e ureter. O ureter deve permanecer ligado ao rim. 4.13. Remover rmen, retculo, omaso, abomaso e bao como um nico bloco. Este processo pode ser facilitado por uma forte trao antero-ventral realizada por outra pessoa, enquanto algum deve cortar o esfago e inseres dorsais dos rgos. Separar o bao do rmen. 4.14. Dissecar as ligaes da lngua com a mandbula e rebater a lngua em sentido posterior. Desarticular a articulao dos hiides. Dissecar e retirar juntos a lngua, laringe, traquia e esfago. Cortar a poro do pericrdio que se preende cavidade torcica. E remover tudo mais os pulmes e corao como um monobloco. 4.15. Remover o diafragma junto com o fgado. 4.16. Cortar os ossos da pelve que esto na poro do lado direito. Retirar ento como um bloco nico, o reto, os rins, ureteres, bexiga e genitlia. Se o animal for macho retirar tambm o prepcio, pnis e testculos. 4.17. Desarticular a cabea na regio da articulao atlanto-occipital. Dissecar a pele da cabea e remover os msculos temporais e da regio occipital. 4.18. Com a machadinha fazer um corte na poro cranial da cabea, um pouco caudal aos processos supra-orbitais. Em ambas as laterais feito um corte que segue at o Forame Magno. Retirar ento a calota craniana expondo o encfalo. 4.19. Cortar a meninge que recobre o crebro e cerebelo. No esquecendo das pores de meninge que se inserem entre os hemisfrios cerebrais e entre o crebro e o cerebelo. Seccionar a medula e retirar o encfalo. 4.20. Em ruminantes deve ser retirada tambm poro do par craniano do Nervo Trigmio que se situa lateralmente hipfise. Seccionando lateralmente ao nervo de ambos os lados e cranial e caudalmente hipfise. O Nervo Trigmio de extrema importncia para o diagnstico das alteraes no Sistema Nervoso Central de ruminantes. 4.21 Cortar ambos os rins longitudinalmente e retirar a cpsula. Abrir os ureteres, bexiga e uretra. 4.22. Destacar o mesentrio do intestino delgado cortando rente a sua insero. Abrir ao longo de sua insero mesentrica. 4.23. Abrir o rmen e reticulo na linha dorsal mdia, examinar e remover o contedo. Examinar a mucosa. Abrir o abomaso ao longo de sua curvatura menor, examinar o contedo e mucosa. 4.24. Abrir o esfago longitudinalmente e examinar a mucosa. 4.25. Examinar as Tireides. 4.26. Examinar os linfonodos, tanto na superfcie capsular como na de corte. 4.27. Abrir laringe e traquia e pulmes. 4.28. Abrir o saco pericrdico examinar o corao e a aorta. Para a abertura do corao deve-se seguir as mesmas orientaes fornecidas na tcnica de pequenos animais.

    5.0. Tcnica de Necropsia para Equdeos 5.1. Estudar o histrico clnico. Considerar os possveis diagnsticos antes de comear a necropsia. Observar se existe alguma requisio especial por parte do clnico que encaminhou a requisio de necropsia. 5.2. Realizar o exame externo do animal. 5.3. Colocar o animal em decbito lateral direito, se possvel o dorso mais alto que o ventre. Essa posio permite a remoo dos rgos maiores de posies mais baixas. 5.4. Iniciar a abertura fazendo uma inciso na pele seguindo a linha mdia desde o mento at o nus, desviando do prepcio ou mamas. Rebater a pele e os membros esquerdos para cima desarticulando o fmur do acetbulo. 5.5. Abrir a cavidade abdominal atravs de um corte que se estende da protuberncia da cabea do fmur at a ltima costela. Verificar a presso negativa da cavidade torcica. Cortar as costelas na altura dos grandes msculos dorsais, cortar ento as junes costo-condrais pelo lado interno. 5.6. Remover o omento e o bao juntos. 5.7. Cortar e remover o clon menor. 5.8. Remover a adrenal e o rim esquerdo. 5.9. Abrir a aorta abdominal, e posteriormente artria mesentrica e todos os seus ramos.

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    5.10. Remover o intestino delgado com o mesentrio e seccionar o mesentrio rente ao intestino. 5.11. Remover juntos o grande clon e ceco. 5.12. Remover o estmago seccionando o esfago na altura do crdia e ligaes mesentricas. 5.13. Remover a adrenal direita e rim direito. 5.14. Remover o fgado com o diafragma. 5.15. Seccionar os ossos plvicos. Remover todas as vsceras da cavidade plvica (reto, rins,

    ureteres, bexiga, uretra e aparelho genital). 5.16. Remover a lngua, faringe, laringe, traquia, esfago, corao e pulmes examinando-os 5.17. Dissecar a pele e msculos da cabea, cortar os ossos e remover o crebro.

    6.0. Tcnica de descrio de necropsia Um dos princpios mais importantes de uma necropsia descrever objetivamente o que

    se v, sem interpretar. Muito embora quem realize a necropsia, compulsoriamente interprete seus achados, a descrio deve ser apresentada objetivamente. Um exemplo disto dado a seguir. Se um infarto renal foi claramente diagnosticado, o patologista ou estudante, ao descrever a necropsia dever fazer uma descrio objetiva do que viu, isto , de como se apresentava esta leso. Em vez de dizer simplesmente o rim apresentava infarto, ele deve escrever algo como: o crtex renal apresentava uma rea vermelho escura, bem demarcada, levemente proeminente e irregular, com a forma de cunha e que se estende profundamente no parnquima. O pice desta cunha estava localizada na juno cortico-medular. A superfcie de corte apresentava uma zona vermelho escura perifrica e uma rea central de cor amarelada, consistncia frivel e seca. Somente ento, a interpretao da pessoa que realizou a necropsia deve ser mencionada e colocada entre parnteses. No caso infarto. As descries de necropsia devem ser revisadas e corrigidas antes de serem dadas como definitivas. A tcnica de bem descrever uma necropsia pode ser aperfeioada com a prtica.

    Ao desenvolver-se uma tcnica de descrio de necropsia, o estudante pode ser auxiliado por uma lista de itens a considerar na descrio de uma leso ou rgo. Os seguintes aspectos devem ser mencionados.

    1. Posio: relao com outros rgos e estruturas e com posies normais esperadas. Aderncias a estruturas adjacentes.

    2. Tamanho: (quando for considerado importante). Medir apuradamente as dimenses dos rgos e leses.

    3. Peso: (quando considerado importante). Peso corporal e de rgos. 4. Cor: O tom, nuances e distribuies das cores nas vrias estruturas das leses e rgos. 5. Consistncia e textura: Qualidades perceptveis pela palpao e observao. 6. Odor 7. Superfcie de corte: O aspecto das superfcies de corte especialmente de rgos como o fgado, bao

    e rim, imediatamente aps sua seco. 8. Forma: A forma ou mesmo a falta de uma forma definida de rgos e leses. 9. Contedos: A quantidade e natureza do contedo de estruturas tais como sacos pleurais, trato

    intestinal, vescula biliar, bexiga, cavidade abdominal e pericrdica.

    6.1. Terminologia usada na descrio de uma necropsia: Em anatomia patolgica h certos termos que aparecem seguidamente e frases contendo estes termos so caracteristicamente encontrados em laudos de necropsia. o que forma o chamado jargo tcnico. Estas palavras formam j na mente de pessoas iniciadas nesta cincia, o quadro da leso que se quer descrever. Um certo domnio destes termos facilitar a descrio da necropsia:

    1. Consistncia e textura: duro, firme, frivel, macio, gelatinoso, mucide, seco, caseoso, crepitante, trgido, arenoso, granular, elstico, deixa marca sob presso, fibroso, etc. Pode-se tambm comparar com coisas de consistncia conhecida.

    2. Forma: Ovide, esfrica, cnica, elptica, triangular, achatada, nodular, lobulada, tortuosa discide, bulbosa, em forma de cunha fusiforme, filiforme, em forma de rede, espiralada, embricada, fungide, vegetante, em forma de cogumelo, em forma de couve-flor, etc.

    3. Cor: use palavras precisas ao designar a cor, indique grau da cor e sua distribuio e qualifique-a como escuro, brilhante, claro, plido, esmaecido, listrado, pontuado, manchado, etc.

    4. Superfcie: coberta de pelos, ulcerada, coberta com exsudato (especifique o tipo), lisa, irregular, erodida, ulcerada, rugosa, elevada, deprimida, brilhante, opaca, ondulante, com escaras, membranosa, com alopecia, etc.

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    5. Estruturas tubulares: permevel, dilatada, obstruda, obliterada, estreitada, com divertculos, ramificada, comunicante, tortuosa.

    6. Tamanho: sempre use o sistema mtrico, mesmo se apenas uma estimativa possa ser feita. Pesos em gramas e miligramas e volumes em mililitros ou litros. Evite comparaes como do tamanho de uma laranja, ou imprecises como grande quantidade de lquido etc.

    6.2. Sumrio dos Dados Clnicos Data da admisso: Histrico gentico: (toda a informao disponvel sobre a doena na famlia do animal, tendncias

    hereditrias, etc. Na maioria das vezes estes dados so impossveis de se obter). Histria pregressa do animal: todas as doenas, cirurgias, feridas, fraturas, imunizaes e procedimentos

    experimentais referentes ao animal. Doena atual: sumrio cronolgico dos eventos, incluindo data do inicio, natureza dos sintomas,

    teraputica aplicada ou procedimentos experimentais. Exame fsico: peso do animal, curvas de temperatura, pulso e respirao, etc. Relacionar todos os

    achados positivos por sistemas. Exames laboratoriais e de Raio - X:

    6.3. Parte Geral Peso aproximado ou exato (se for preciso, pesar) condio de desenvolvimento e nutrio,

    grau de rigidez cadavrica, grau de autlise post-mortem. Descrio da carcaa inclundo cicatrizes, marcas, feridas, vasos superficiais e linfonodos, descarga nasal, oral, anal ou de genitlia externa. Observe a presena de tumores cutneos, exostoses sseas ou mal formaes, presena de hrnias, parasitas cutneos, etc.

    Inciso primria: gordura subcutnea, msculos, peritnio, omento, gordura intra - abdominal, posio e relao das vsceras abdominais, aderncias, quantidade de lquido peritonial, linfonodos abdominais e mesentricos, quantidade de lquido pleural, presena ou ausncia de aderncias no mediastino.

    Pulmes: peso, tamanho relativo, consistncia, pleura, superfcie de corte de cada lobo, brnquios, presena ou ausncia de parasitas, hilo, linfonodos regionais.

    Corao: peso, tamanho relativo, epicrdio, artrias coronrias, presena ou ausncia de insuficincia valvular, avaliao da espessura das paredes dos ventrculos.

    Aorta e outros vasos: Bao: peso, tamanho, consistncia, cpsula, superfcie de corte, cor, grau de umidade, marcas.

    possvel raspar-se a polpa. Fgado: tamanho, superfcie natural e de corte, consistncia ao cortar-se, cor, marcas, vescula

    biliar e ductos biliares. Glndulas endcrinas: peso, consistncia, superfcie natural e superfcie de corte das adrenais,

    tireide, paratireide, pituitria, pineal. Trato gastrintestinal: boca, lngua, esfago, estmago, intestino delgado, ceco, clon, reto e

    nus, natureza dos contedos, aspecto da mucosa, espessura da parede, presena de parasitas, corpos estranhos, sangue, tumores, etc.

    Sistema urinrio: Rim: peso, tamanho e consistncia, superfcie da cpsula, superfcie subcapsular, superfcie de

    corte, marcas na cortical, cicatrizes, resistncia ao corte, espessura do corte e superfcie de corte, pelve, gordura plvica, ureteres e grandes vasos.

    Bexiga: distendida, caracterstica do contedo, vesical, mucosa, parede, ureteres, uretra. Sistema genital: vesculas seminais (se presentes), prstata, glndulas bulbo uretrais (se

    presentes), testculos, epiddimo e cordo espermtico ou tero, crvix, vagina, vulva, ovidutos, ovrios e outros anexos.

    Cabea: orelhas, glndulas salivares, ossos cranianos, dura-mter, leptomeninges, lquidos e exsudatos, vasos cerebrais.

    Crebro: circunvolues e sulcos cerebrais, simetria consistncia, ventrculos laterais (remova o crebro e fixe-o inteiro em formalina a 10 ou 20% numa proporo de 10 volumes de fixador para 1 volume de material a ser fixado).

    Medula espinhal: dura-mter, exsudatos, leptomeninges. Medula ssea: costelas, esterno, vrtebras, metfise do fmur, colorao, quantidade de gordura

    presente, quantidade de medula ssea ativa presente. Musculatura: cor, volume, presena de gases ou sangue, corpos estranhos, nodulaes.

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    Exames Bacteriolgicos ou Virolgicos: Exames Qumicos: (inclui toxicolgico, dosagem de enzimas, bioqumica de sangue, etc.).

    Comentrios:

    COLHEITA E FIXAO DO MATERIAL PARA EXAME MICROSCPICO

    Embora muitas vezes o diagnstico possa ser feito macroscopicamente, a necropsia no estar completa sem o exame histolgico dos tecidos colhidos durante o exame macroscpico. Abaixo relacionamos alguns pontos importantes como orientao para colher-se espcimes para exame histopatolgico.

    1. Facas e tesouras devem estar limpas e afiadas. 2. Os cortes devem ser rpidos e acurados. 3. Os blocos de tecidos coletados no devem ser mais grossos que 1 cm e suficientemente

    grandes para permitir a orientao e identificao do tecido ou leso. As superfcies de corte devem ser paralelas. Em alguns casos, tecidos recm coletados quando cortados muito finos ficam distorcidos quando fixados. Para evitar-se isto, pode-se coletar pedaos um pouco maiores e ao fim da necropsia ou aps algumas horas, quando estiverem parcialmente fixados, cort-los em blocos bem menores.

    4. Os cortes devem incluir partes do tecido com a leso e partes adjacentes de tecido normal. 5. Os cortes no devem ser esmagados, pressionados ou torcidos (ver item 3). Coloque todos os tecidos colhidos numa soluo de formalina a 10%. A proporo

    formalina/tecido deve ser idealmente 10:1 ou pelo menos 5:1. Para preparar-se a formalina a 10% usam-se 9 partes de gua da torneira e 1 parte de formaldedo comercial (usualmente a 40%). Tecidos que tendem a flutuar como pulmo e medula ssea devem ser cobertos por uma gaze. Para coletar-se material deve-se usar vidros com a boca da mesma largura que o resto do vidro. Ao contrrio ser difcil de retirar o material depois de fixado. Depois de 24-48 horas de fixao a formalina deve ser posta fora, os tecidos lavados em gua corrente e nova formalina a 10% deve ser adicionada ao vidro. Em caso de profissionais que realizem a necropsia longe de um centro de patologia, este o momento em que o material deve ser mandado pelo correio, acompanhado de uma descrio de necropsia conforme modelo apresentado anteriormente.

    Deve-se salientar que existem outros fixadores (Zenke, Bouin, etc.) cujos usos, vantagens e desvantagens sobre a formalina a 10% fariam o material muito extenso para ser aqui discutido. Toda via o formol o fixador de escolha e, embora em determinados casos ele no oferea to bons resultados como outros fixadores, de fcil preparo e pode ser usado em todos os casos.

    7.0- Bibliografia: THOMSON, R.G. Patologia Geral Veterinria. Guanabara Koogam S.A, 1983, 412p. VASCONCELLOS, A.C. Necropsia e Conservao de Espcimes para Laboratrio. In:

    Cadernos Tcnicos da Escola de Veterinria da UFMG., n.16, p.1-86, 1996.