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COMO TERIA NASCIDO A ATIVIDADE DE TRADUÇÃO
(INTERPRETAÇÃO)?
The prehistory of translation is of course interpreting.
History is by definition the period for which we have
written records. When we go before there was any
writing—or when we talk to people who don't know how
to write—we are totally relying on interpreting. And on
interpreters for that matter.
GROSS, Alexander. Hermes — God of Translators and Interpreters. Disponível em:
http://language.home.sprynet.com/trandex/hermes.htm#totop
A origem da interpretação se remonta quase à
origem da própria palavra. Não temos como dizer
quem foi o primeiro intérprete, mas já no Antigo
Testamento mencionava-se o papel dos intérpretes.
A interpretação foi necessária para os diferentes
povos e para todo tipo de troca que surgiu entre
eles: cultural, comercial, etc.
A ESCRITA: A PRIMEIRA GRANDE
REVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
A pedra Rosetta é a
evidência mais antiga
da existência da
tradução. Esta pedra,
encontrada no delta do
Nilo, contém um texto
em egípcio hieróglifo,
em egípcio demótico e
em grego.
ESTUDOS DA LINGUAGEM
NA GRÉCIA CLÁSSICA
Platão (428–347 a.C.) é considerado o primeiro
pensador europeu a refletir sobre problemas
fundamentais da linguagem.
CONTEXTO
Época clássica (s. VI-V a.C.): tirania derrubada por aristocratas que instauraram a democracia como sistema de governo.
Todas as decisões eram tomadas na Assembleia, um comício ao ar livre aberto a qualquer cidadão – do sexo masculino, com idade superior a 18 anos, livre e não estrangeiro –, que tinha direito a fazer uso da palavra.
A religião vai tendo seu papel reduzido: O pensamento mítico, que não se fundamenta nem se questiona porque constitui uma visão de mundo, com apelo ao sobrenatural e ao mistério, vai deixando de satisfazer às necessidades da nova organização social, mas focada na realidade política e comercial da cidade-Estado, e surge o pensamento filosófico-científico.
CONTEXTO
A principal contribuição dos primeiros pensadores
foi a busca por explicações naturais (não
sobrenaturais) da realidade que os cerca.
Essas razões não são fruto de uma revelação, mas
do pensamento humano aplicado ao entendimento
da natureza. Portanto, o logos, o discurso, é
racional e argumentativo.
NATURALISTAS VS. CONVENCIONALISTAS
A história registrada da linguística ocidental
começa com um confronto entre duas visões da
linguagem fundamentalmente opostas: a
linguagem como fonte de conhecimento e a
linguagem como simples meio de comunicação.
Se a língua reflete a realidade, o estudo da língua é
um caminho para o conhecimento da realidade.
Mas se é arbitrária, nada poderia se obter do seu
estudo.
CRÁTILO
Crátilo: diálogo escrito por Platão que tem como
personagens os filósofos Sócrates, Hermógenes e
Crátilo.
Debate-se se o conhecimento verdadeiro pode ser
alcançado mediante a linguagem
Hermógenes = convencionalista
"a justeza dos nomes [não] se baseia em outra coisa que não
seja convenção e acordo. [...] Nenhum nome é dado por
natureza a qualquer coisa, mas pela lei e o costume dos que
se habituaram a chamá-la dessa maneira".
Sua consequência mais imediata seria a total
impossibilidade de conhecimento através da
linguagem, devido ao seu caráter completamente
arbitrário.
CRÁTILO
Crátilo = naturalista
Teses da teoria naturalista:
1 ) "a correta aplicação dos nomes consiste em
mostrar como é constituída a coisa" = as palavras
têm sentido certo e sempre o mesmo
"[...] convirá nomear as coisas pelo modo natural de
nomeá-las e serem nomeadas, e pelo meio adequado,
não como imaginamos que devemos fazê-lo"
"cada coisa tem por natureza um nome apropriado, e
que não se trata da denominação que alguns homens
convencionaram dar-lhes"
CRÁTILO
2) "a enunciação dos nomes tem por finalidade a
instrução sendo seu único método verdadeiro“
A posição de Platão nessa controvérsia contrapõe-
se a uma oscilação entre dois extremos que as
teorias gregas da linguagem manifestam: ou uma
extrema confiança em que o nome diz a
verdade, ou uma extrema desconfiança em que
os nomes são nada mais do que nomes
(sofistas), identificando linguagem, opinião e
verdade.
IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA:
OPINIÃO VS. VERDADE
Sofistas: mestres destas artes que oferecem seus ensinamentos aos políticos, preparando-os para participarem da assembleia.
Protágoras de Abdera (490–421 a.C.): “O homem é a medida de todas as coisas, das que são como são e das que não são como não são”. Deste fragmento pode se desprender que as coisas são o que nos parece que são, como nós as percebemos. Portanto, nosso conhecimento dependerá sempre das circunstâncias em que nos encontramos. Segundo ele, não há uma verdade única.
Sofistas como Protágoras não eram meros manipuladores ao serviço de quem pagasse mais, mas acreditavam que, ao não haver uma verdade única, a opinião era o que valia nas decisões da vida prática, que tinham que ser tomadas com base na persuasão.
IMPORTÂNCIA DA ORATÓRIA:
OPINIÃO VS. VERDADE
Sofistas: mestres destas artes que oferecem seus
ensinamentos aos políticos, preparando-os para
participarem da assembleia.
Górgias de Leontinos (487–380 a.C.): não
podemos ter acesso à natureza das coisas, ao
conhecimento, o único que temos é o logos, o
discurso, e mediante a linguagem não transmitimos
as coisas em si, mas somente palavras. Com esta
teoria, Górgias coloca em evidência a diferença
entre signo e referente e destaca a impossibilidade
de transmitir a realidade mediante a palavra.
IMPÉRIO ALEXANDRINO
Entre os séculos VI e V a.C., houve uma série de guerras que acabaram esgotando as cidades-Estado gregas: atenienses e espartanos contra o Império Persa (500–480 a.C.), posteriormente a guerra do Peloponeso, entre atenienses e espartanos (431–404 a.C.).
Aproveitando-se da decadência e desunião dos helênicos, o rei da Macedônia, Filipe II (382–336 a.C.) conquistou o território. A política expansionista teve continuidade em seu filho e sucessor, Alexandre, o Grande (356–323 a.C.), que consolidou a dominação da antiga Grécia e conquistou os territórios persas. O Império Macedônio foi o maior até então formado e só seria superado pelo Império Romano séculos depois.
IMPÉRIO ALEXANDRINO
Alexandre se intitulou "libertador" dos territórios
conquistados, procurando evitar rebeliões que
desgastaram seu processo de expansão.
A fusão dos valores gregos com as tradições das
várias regiões conquistadas deu origem a uma
nova manifestação cultural: o helenismo.
A administração e o pensamento grego se
difundiram pela área oriental do Mediterrâneo e
pela Ásia Menor; uma variedade do dialeto ático
conhecido como koinē, ou dialeto comum,
converteu-se em língua oficial do governo, do
comércio e do ensino em toda a região.
IMPÉRIO ALEXANDRINO
Até então, os estudos da linguagem tinham se
desenvolvido dentro de um contexto de indagações
filosóficas. A partir dessa época, houve uma
preocupação com a gramática e a pronúncia
corretas, as do grego clássico, e que variavam do
dialeto koinē.
Também foram criados dicionários ou glossários
com palavras áticas, de outros dialetos gregos e de
outras línguas, como o egípcio ou o persa.
IMPORTÂNCIA DOS ESTUDOS GRAMATICAIS
Os gregos também desenvolveram a gramática.
Em Platão já aparece uma divisão fundamental da frase em ónoma (nome, sujeito) e rhêma (verbo, predicado). Aristóteles a manteve, e ainda acrescentou os sýndesmoi, que compreendia o que mais tarde se chamou de conjunção, artigo e pronome.
Os estoicos mantiveram o sistema aristotélico e o ampliaram: aumentaram o número de classes de palavras e introduziram definições mais precisas.
A doutrina gramatical grega se incorporou à tradição ocidental somente através dos gramáticos romanos.
IMPÉRIO ROMANO
O contato entre gregos e romanos provém do
século VIII a.C., com as primeiras colônias gregas
no sul da península Itálica. Mas foi durante os
séculos III-II a.C. que o contato se intensificou,
quando a Grécia caiu sob o controle da República
romana expansionista. Roma continuou
crescendo, chegando ao auge da sua expansão no
século I d.C., com o domínio da Britânia, a Gália,
todo o sul da Europa – desde a Hispânia até a
Macedônia –, Ásia Menor, Síria, Judéia, o Egito e
todo o norte da África.
IMPÉRIO ROMANO
A influência da cultura grega em Roma atingiu
várias áreas: na religião, os romanos importaram
todo o Panteão grego; no meio artístico –
arquitetura, escultura – também houve adoção de
modelos da estética grega. No campo da
linguística, os romanos aplicaram o pensamento
grego ao latim, suas controvérsias e categorias.
ROMA: GRANDE ATIVIDADE DE TRADUÇÃO
POR MOTIVOS CULTURAIS
A primeira época na história da tradução literária
ocidental consiste em traduções do grego ao latim.
Suas traduções revelam seu interesse pelas criações
literárias, pelos conhecimentos científicos de outros
povos, e o desejo de erigir sua própria literatura.
Tradução artística, uma invenção latina: a tradução
entre os romanos estava vinculada à teoria e prática da
imitação de modelos literários.
A literatura romana nasce da tradução: houve uma
atividade tradutora e literária que, misturadas,
produziram o que hoje se conhece como a literatura
romana.
CÍCERO (106-43 A.C.)
Filósofo e tradutor romano.
Oferece a primeira reflexão sobre a arte e a tarefa
do traduzir em De optimo genere oratorum,
levantando o grande problema teórico que
dominará a tradução por dois mil anos: deve-se ser
fiel às palavras do texto ou ao pensamento contido
nele?
CÍCERO
Cícero assinala duas maneiras de traduzir: a do
‘orador’ e a do ‘intérprete’:
Não traduzi como intérprete, mas como orador, com os
mesmos pensamentos e suas formas bem como com
suas figuras, com palavras adequadas ao nosso
costume. Para tanto não tive necessidade de traduzir
palavra por palavra, mas mantive o gênero das palavras
e sua força. Não considerei, pois, ser mister enumerá-
las ao leitor, mas como que pesá-las. […] Se, como
espero, eu tiver assim reproduzido os discursos dos
dois servindo-me de todos seus valores, isto é, com os
pensamentos e suas figuras e na ordem das coisas,
buscando as palavras até o ponto em que elas não se
distanciem de nosso uso.
CÍCERO
O intérprete traduzia palavra por palavra (uerbum pro uerbo), reproduzindo-as inclusive no mesmo número (adnumerare) em que se encontravam no original. A tradução do intérprete ou ad uerbum é estritamente técnica, e objetiva explicar ou esclarecer; a do orador ou imitatio é a literária.
A reflexão de Cícero não foi elaborada num tratado específico de tradução mas num tratado de eloquência, sobre um gênero, a imitação, no qual o próprio autor assinala não ter praticado um trabalho de tradutor mas um tipo de imitação.
Cícero defende é a tradução definida como imitatio ou aemulatio, a que, no fim das contas, apresenta dignidade literária. Tradução é reelaboração. Para isso é necessário o uso da oratória e da eloquência, transplantando e naturalizando o modelo original.
DIVISÃO DO IMPÉRIO ROMANO
Com a morte de Júlio César (44 a.C.) e o estabelecimento do segundo Triunvirato, já houve uma primeira divisão dos territórios entre os triúnviros: Marco Antônio (83–30 a.C.) ficou no comando do Oriente e Otávio (63 a.C.–14 d.C.), do Ocidente.
No início do século IV, o imperador Constantino reunificou o Império. Mas como o risco de invasão era maior na parte ocidental, ele transferiu a capital para Bizâncio, mais protegida e, na época, mais rica.
O imperador Teodósio estabeleceu, em 395, a divisão definitiva: Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente, também chamado de Império Bizantino, com capital em Constantinopla.
DIVISÃO DO IMPÉRIO ROMANO
“Na metade ocidental do Império, onde não havia
nenhum contato com qualquer civilização
conhecida, o latim se tornou a língua de
administração, dos negócios, do direito, da
erudição e da promoção social". Não obstante, na
metade oriental, "em que a administração grega já
predominava desde o período helenístico, o grego
manteve a posição que então havia alcançado; os
funcionários romanos frequentemente aprendiam
grego [...], e havia grande respeito pela literatura e
filosofia da Grécia" (ROBINS, 1979, P. 35-36).
IDADE MÉDIA
Queda do Império Romano – Reinos Germânicos +
Império Bizantino
O período conhecido como Idade Média designa a
fase da história europeia compreendida entre a
derrocada do Império Romano do Ocidente (476
d.C.) – com a deposição do último imperador
romano do Ocidente, Rômulo Augústulo, por um
mercenário germânico – e a derrocada do Império
Romano do Oriente, em 1453, com a conquista
pelos turcos da cidade de Constantinopla.
IDADE MÉDIA
Alta Idade Média ou de "Idade das Trevas" (s. V–
XI), até o enfraquecimento do feudalismo e
estabilização da situação política e econômica.
Avanço do cristianismo:
com a desordem reinante e colapso da autoridade e
costumes pagãos, a Igreja adquiriu maior prestígio
como ligar em que se protegiam e se estimulavam o
saber e a educação, existindo no papado e nos
bispados centros de poder temporal. [...] A preservação
ininterrupta do saber e da educação deve-se em grande
parte aos mosteiros, abadias e igrejas (mais tarde, às
universidades) que se fundaram durante a Alta Idade
Média. (ROBINS, 1979, p. 53).
IDADE MÉDIA
As tribos germânicas que invadiram o Império Romano se instalaram em várias regiões europeias, adotaram o cristianismo e desejaram se integrar.
A difusão do cristianismo gera a necessidade de tradução dos livros sagrados. Há uma exigência de ‘reprodução fiel’ dos originais. Desenvolve-se um grande literalismo nas traduções (principalmente as relativas a questões religiosas) e desaparece a conotação negativa da tradução ad uerbum presente em Cícero.
A prática tradutória do Medioevo se caracteriza também por servir-se de versões intermediárias, seja como ajuda no trabalho de tradução, seja como fontes de tradução em lugar dos originais.
IDADE MÉDIA – SÃO JERÔNIMO
Traduziu a Vulgata (382 e 420 d.C.) por encomenda do Papa Dâmaso I. Foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única, versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta.
Ad Pammachium de optimo genere interpretandi (ca. 395) é o primeiro documento no mundo ocidental sobre como deve proceder um tradutor. É uma carta-tratado fruto das críticas que São Jerônimo vinha recebendo de uma carta que traduziu do grego para o latim. Em sua ‘justificação’, Jerônimo advoga em favor da tradução do sentido, das ideias, exceto quando se trata dos textos sagrados, embora não deixando de reconhecer a importância do sentido também para a interpretação destes:
IDADE MÉDIA – SÃO JERÔNIMO
Eu não somente confesso, mas proclamo em voz alta que, à parte as Sagradas Escrituras, em que mesmo a ordem das palavras encerra mistério, na tradução dos gregos não busco expressar uma palavra a partir de outra palavra, mas o sentido a partir do sentido.
… nas Escrituras não são as palavras que devem ser consideradas, mas o sentido.
… desde minha juventude traduzi sempre as ideias e não as palavras. Nisto tenho por mestre a Cícero.
São Jerônimo põe a atenção no texto de partida, no original, insistindo no respeito à veritas. Veritas, ou fidelidade ao texto, não significa exclusivamente literalismo, ou tradução ad uerbum.
Jerônimo altera o significado do ciceroniano fidusinterpres, que indicaria o tradutor literal e sem arte, pelo do tradutor que busca preservar o sentido textual, a ueritas, e que usa da retórica somente para a manutenção do sentido no texto de chegada.
IDADE MÉDIA
Durante toda a Idade Média continuam as
discussões sobre a forma de traduzir dentro do
posicionamento binário de tradução literal ou de
sentido. A preocupação principal dos tradutores
medievais pela transmissão de conhecimentos
desembocará grosso modo em dois tipos de
tradução:
o intento de transmitir os conteúdos, despreocupando-
se da forma, faz com que as traduções sejam
verdadeiras reelaborações dos originais,
o cuidado com respeito à fidelidade ao texto original,
sobretudo em obras de tipo religioso e filosófico,
provoca um literalismo que obscurece a tradução.
IDADE MÉDIA
Baixa Idade Média (s. XI–XV): houve a desagregação do sistema feudal, os mundos romano e germânico se integraram com a formação de novos reinos europeus, e a cultura medieval atingiu seu apogeu, com a criação de universidades e o desenvolvimento da escolástica.
(Escolástica: pensadores cristãos perceberam a necessidade de aprofundar uma fé que estava amadurecendo, em uma tentativa de harmonizá-la com as exigências do pensamento filosófico. A questão-chave que vai atravessar todo o pensamento escolástico é a harmonização de duas esferas: a fé e a razão.)
IDADE MÉDIA – ESCOLA DE TOLEDO
Ponte entre o Império Bizantino e Europa
Toledo era famosa por sua tolerância religiosa e
possuía grandes comunidades de judeus e
muçulmanos. No século XIII Toledo era um
importante centro cultural sob o domínio de Afonso
X, cuja alcunha era "O Sábio" por seu amor ao
conhecimento. A escola de tradutores de Toledo
tornou disponíveis grandes trabalhos acadêmicos e
filosóficos originalmente produzidos em árabe e
hebraico ao traduzi-los para o latim,
disponibilizando pela primeira vez uma grande
quantidade de conhecimentos para a Europa.
IDADE MÉDIA – LÍNGUAS VERNÁCULAS
O desenvolvimento progressivo das línguas vernáculas e o incremento da evangelizaçãodurante a Idade Média propiciam um movimento de tradução para as línguas vulgares.
Até o século XIV, a maioria das traduções eram realizadas ao latim. Contudo, desde o século XIII as traduções ao vernáculo já competiam fortemente com a língua romana.
Tradução vertical: do latim a uma língua vernácula - Um dos lugares comuns nos comentários dos vulgarizadores era a deficiência das línguas vernáculas frente à latina, a pobreza léxica daquelas diante da abundância desta.
Tradução horizontal: entre línguas vernáculas.
IDADE MÉDIA – LÍNGUAS VERNÁCULAS
Nas primeiras vulgarizações medievais (séc. XIII),
predominava fortemente a finalidade divulgativo-
didática, o interesse no conteúdo e na utilidade
frente à estilístico-literária. Na medida em que
avança o s. XIV, sobretudo com as vulgarizações
dos clássicos, aumenta o respeito ante o original e
o esforço pela manutenção de sua integridade
estilística, além da aspiração a uma elevação do
vernáculo.
RENASCIMENTO – HUMANISMO
Caracteriza o renascimento ou ressurgimento do saber, concretamente do saber greco-romano.
Com a derrocada do Império Bizantino, o fluxo de sábios bizantinos que viajavam para Ocidente levando consigo manuscritos de textos clássicos aumentou significativamente.
Há uma revalorização da Antiguidade, "já não mais vista sob a jaça do paganismo, mas como um período de exaltado humanismo, ao qual o pensador renascentista, por sua preocupação com o valor e dignidade do homem em si mesmo, se sentia moral e intelectualmente ligado" (ROBINS, 1979, p. 86).
RENASCIMENTO
Renascimento é o início de uma nova era:
época das navegações, das expedições, das
descobertas: Cristóvão Colombo (1451–1506)
descobriu o Novo Mundo em 1492; Fernão de
Magalhães (1480–1521) circum-navegou o globo; as
rotas de comércio atravessavam o mundo todo e
enriqueciam a burguesia, que fomentava as artes;
Johannes Gutenberg (1398–1468) inventou a imprensa,
que facilitou a difusão da cultura;
Copérnico (1473–1543) descobriu que a Terra girava
em torno do Sol, o que impulsionou a posterior
revolução científica (séculos XVI–XVIII);
Martinho Lutero (1483–1546) promoveu a Reforma
protestante.
RENASCIMENTO
A tradução se torna uma questão política e religiosa:
Tem um papel decisivo na formação das línguas
nacionais. A defesa das línguas nacionais e a
popularização da cultura antiga se manifestam em
uma rejeição da latinização.
Tradução da Bíblia para línguas vernáculas.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:
Inglês: William Tyndale (1525) traduziu a Bíblia para o
inglês, que estava proibido ainda. Tyndale foi
executado. Com a separação entre a Igreja Anglicana e
a Igreja de Roma, ordenada pelo rei Henrique VIII, a
situação começou a mudar. Surgiram então novas
traduções da Bíblia ao inglês. No início do século XVII,
Jaime I encarregou uma nova tradução da Bíblia a uma
comissão de 50 estudiosos. 80% do texto do Novo
Testamento foi reaproveitado da versão de Tyndale. A
Bíblia do rei Jaime adquiriu fama rapidamente e tornou-
se a obra mais publicada da língua inglesa.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:
Alemão: Martinho Lutero foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão (1522), algo que não era permitido até então sem especial autorização eclesiástica. Não foi o primeiro tradutor da Bíblia para alemão, já havia várias traduções mais antigas. A tradução de Lutero, no entanto, suplantou as anteriores porque foi uma forma unificada do Hochdeutsch (dialetos alemães da região central e sul) e foi amplamente divulgada. A tradução de Lutero para o alemão foi simultaneamente um ato de desobediência e um pilar da sistematização do que viria a ser a língua alemã, até aí vista como uma língua inferior, dos servos e ignorantes. Com a publicação de suas 95 teses, em 31 de outubro de 1517 na
porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, protestou contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica Romana, propondo uma reforma no catolicismo romano. O resultado da Reforma Protestante foi a divisão da chamada Igreja do Ocidente entre os católicos romanos e os reformados ou protestantes, originando o Protestantismo.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:
Castelhano: a Bíblia chamada como Reina-Valera
(1602) representa a primeira tradução castelhana
completa, direta e literal dos bíblicos textos em
grego, hebraico e aramaico. Deve seu nome à
suma de esforços de Casiodoro de Reina, seu
autor principal, e de Cipriano de Valera, seu
primeiro revisor. Anteriormente, em 1572, Fray Luis
de León foi preso por traduzir a Bíblia para a língua
vernácula sem permissão, concretamente, por sua
célebre versão do Cântico dos cânticos.
RENASCIMENTO
Tradução da Bíblia para as línguas vernáculas:
Português: A tradução feita por João Ferreira de
Almeida (1748) é considerada um marco na história
da Bíblia em português porque foi a primeira
tradução do Novo Testamento a partir das línguas
originais. O trabalho de João Ferreira de Almeida é
para a língua portuguesa o que a Bíblia de Lutero é
para alemã, a Bíblia do Rei Jaime para a inglesa e
Reina-Valera é para a espanhola.
RENASCIMENTO
Mantém-se a dicotomia entre tradução religiosa e
tradução profana, mas o humanismo consagra o
costume de introduzir um prólogo, um prefácio,
uma carta aos leitores onde o tradutor explica e
justifica suas opções tradutoras.
SÉCULO XVII
Gosto pelo francês: as belles infidèles.
As traduções, se forem belas são infiéis; se forem
fiéis são feias.
Representa uma maneira de traduzir os clássicos
fazendo adaptações linguísticas e extralinguísticas.
Reivindica-se o direito à modificação em prol do
bom gosto, da diferença linguística, da distância
cultural, do envelhecimento dos textos.
SÉCULO XVIII
Há um aumento do intercâmbio intelectual,
crescente interesse pelas línguas estrangeiras,
proliferação de dicionários gerais e técnicos e, um
auge do papel da tradução.
Racionalismo – preferência pela literalidade.
Das Bild eines geschickten Übersetzers (Venzky,
1732):
"Uma tradução adequada reproduz como réplica aquilo
que foi escrito no outro idioma, seguindo os rastros do
original, se não for palavra por palavra, sim frase por
frase."
SÉCULO XVIII
Breitinger (1740):
“Os diversos idiomas devem considerar-se como
diferentes inventários de palavras e idiomatismos
totalmente equivalentes que podem ser intercambiados
e, já que somente se diferenciam uns dos outros no que
se refere à natureza externa do tom e à figura, no
significado coincidem plenamente."
SÉCULO XVIII
Inicia-se uma época que se caracteriza por uma
reflexão teórica e hermenêutica sobre a
tradução, que dá passo ao desenvolvimento de
importantes teorias poético-filosóficas.
Alexander Fraser Tytler: Essay on the Principles of
Translation (1791) – Considera-se o início da
teorização sobre a tradução. Foge do debate
literal/livre e introduz a figura do destinatário,
propondo três princípios básicos que definem uma
boa tradução:
SÉCULO XVIII
"Dado que ambas as opiniões são contrárias, é provável que a perfeição encontre-se a meio caminho entre as duas. Por conseguinte, eu descreveria uma boa tradução como aquelaque transmite o mérito da obra original para outra língua, de forma que seus habitantes nativos o percebam com a mesmaclareza e o sintam com idêntica força que os que falam a língua da obra original.
A continuação, e supondo que essa descrição seja acertada, estudaremos quais são as leis da tradução que dela podemdeduzir-se, a saber:
A tradução deve reproduzir completamente as ideias da obra original.
O estilo e a forma de escrever devem ser da mesma naturezaque os do original.
A tradução deve ter a naturalidade própria das composiçõesoriginais."
SÉCULO XIX - ROMANTISMO
A estética romântica produz um paradoxo entre 1)
a volta ao literalismo e 2) a reivindicação da
individualidade do tradutor como criador.
Característica da época: colocar ênfase nos
aspectos formais do original, fonte da
intraduzibilidade na estética romântica, da qual
surgem duas tendências:
Respeito aos elementos formais do original, que
provoca artificialidade na língua de chegada.
Respeito à língua de chegada.
A preocupação da hermenêutica girava em torno da ideia do autor como criador e da obra de arte como uma expressão de seu “eu” criativo. Em consonância com os poetas e filósofos da época, os hermeneutas desenvolveram a concepção da unidade orgânica de uma obra, apoiados numa noção de estilo em que a forma é inerente à obra. Além disso, aderiram ao conceito de natureza simbólica da arte, o qual criou a possibilidade de infinitas interpretações. A antiga tarefa de interpretar e explicar os textos, subitamente apareceu sob uma nova luz. Ainda mais importante que as ideias em torno da nova estética foi a virada transcendental que os teóricos românticos operaram no pensamento hermenêutico – especialmente F. Schlegel, Schleiermacher e Wilhelm von Humboldt. (VOLMMER, 1988, p. 9)
SÉCULO XIX - ROMANTISMO
Humbold (Introdução de Agamemnon, 1816):
"Con esta intención va necesariamente unido el que la
traducción porte en sí misma un cierto colorido de
extrañeza, y los límites donde esto se convierte en una
falta innegable son muy fáciles de sentar. Mientras no
se sienta la extrañeza, sino lo extraño, la traducción
habrá alcanzado su máxima finalidad; pero allí donde la
extrañeza aparece en sí misma y quizá oscurece lo
extraño, allí el traductor está demostrando que no está
a la altura de su texto".
SÉCULO XIX - ROMANTISMO
Schleiermaher: Über die verschiedenen Methoden desUbersetzens (1813) – Assinala o duplo movimento que pode se produzir na hora de traduzir: em direção ao leitor ou em direção ao autor. Qualquer mistura produziria umresultado insatisfatório:
“Mas, agora, por que caminhos deve enveredar o verdadeiro tradutor que queira efetivamente aproximar estas duas pessoas tão separadas, seu escritor e seu leitor, e propiciar a este último, sem obrigá-lo a sair do círculo de sua língua materna, uma compreensão correta e completa e o gozo do primeiro? No meu juízo, há apenas dois. Ou bem o tradutor deixa o escritor o mais tranquilo possível e faz com que o leitor vá a seu encontro, ou bem deixa o mais tranquilo possível o leitor e faz com que o escritor vá a seu encontro. Ambos os caminhos são tão completamente diferentes que um deles tem que ser seguido com o maior rigor, pois, qualquer mistura produz necessariamente um resultado muito insatisfatório, e é de temer-se que o encontro do escritor e do leitor falhe inteiramente.”
SÉCULO XX – LINGUÍSTICA COMO CIÊNCIA
Ferdinand Saussure (1857-1913) – Estruturalismo
Linguística como ciência:
objeto de estudo da linguística devia ser a língua,
considerada em si mesma e por si mesma, e que "deve
ser sincronicamente considerada e descrita como um
sistema de elementos lexicais, gramaticais e
fonológicos inter-relacionados [...]. Cada elemento
linguístico define-se em função dos outros e não de
modo absoluto" (ROBINS, 1979, p. 163).
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Dicotomias de Saussure:
Língua vs. Fala:
Língua:
sistema de valores que se opõem uns aos outros.
produto social na mente de cada falante de uma comunidade
(estático)
homogêneo
Fala:
ato individual
sujeito a fatores externos, muitos desses não linguísticos e,
portanto, não passíveis de análise
heterogêneo
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Dicotomias de Saussure:
Sincronia vs. Diacronia: o estudo científico de uma
língua não pode ser somente histórico. Há duas
dimensões fundamentais e indispensáveis no
estudo da linguagem:
a dimensão diacrônica, focada nas mudanças por que
passa a língua ao longo do tempo
a dimensão sincrônica, que foca na análise da língua
como um sistema de unidades e relações coexistentes.
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Dicotomias de Saussure:
Sincronia vs. Diacronia:
As unidades linguísticas não atravessam sistemas,
fazem parte somente de um determinado sistema
em determinado momento: ou seja, não se pode
considerar que a palavra causa em latim seja a
mesma palavra que chose em francês.
Os diferentes idiomas dividem o mundo de formas
diferentes. Cada sistema linguístico é diferente,
porque é um sistema social e cada sociedade é
diferente.
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Signo linguístico:
Significado (imagemmental)
+
Significante (imagemacústica)
O vínculo entre significado e significante é arbitrário.
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Signo linguístico:
não há uma união de uma coisa e uma palavra,
mas de um conceito e uma imagem acústica
Saussure consegue desvincular a realidade da
descrição da língua, se colocando exclusivamente
no terreno da língua e usando-a como norma de
todas as suas manifestações
SÉCULO XX - ESTRUTURALISMO
Saussure:
é contra uma teoria referencial da linguagem (como
representação, nomenclatura);
linguagem é social, está no centro dos assuntos
humanos;
não há pensamento antes da linguagem; caráter não
substantivo do signo
MAS: estabilidade dos signos e sistemas gramaticais =
são os mesmos para todos os indivíduos de uma
mesma sociedade.
ESTRUTURALISMO –
CONSEQUÊNCIAS PARA A TRADUÇÃO
Os diferentes idiomas dividem o mundo de formas
diferentes. Cada sistema linguístico é diferente,
porque cada sociedade é diferente.
Nenhuma palavra poderia ser
completamente traduzível fora do sistema da sua
língua. A tradução entre línguas seria, portanto,
impossível.
ESTRUTURALISMO –
CONSEQUÊNCIAS PARA A TRADUÇÃO
Se as palavras estivessem encarregadas de
representar os conceitos dados de antemão
[NATURALISMO], cada uma delas teria, de uma língua
para outra, correspondentes exatos para o sentido; mas
não ocorre assim. O francês diz indiferentemente louer
(une maison) e o português, alugar, para significar dar
ou tomar em aluguel, enquanto o alemão emprega dois
termos, mieten e vermieten; não há, pois,
correspondência exata de valores. […] A flexão oferece
exemplos particularmente notáveis. A distinção dos
tempos, que nos é tão familiar, é estranha a certas
línguas; o hebraico não conhece sequer a distinção, tão
fundamental, entre o passado, o presente e o futuro
(SAUSSURE, 1975, p. 135).
ESTRUTURALISMO –
CONSEQUÊNCIAS PARA A TRADUÇÃO
Georges Mounin. Les problèmes théoriques de la traduction(1963):
Primeira tentativa de desenvolver um arcabouço teórico para a tradução com base na linguística + reivindicação do direito da linguística de circunscrever a tradução em seus domínios .
“A atividade de tradução suscita um problema teórico para a linguística contemporânea: se aceitarmos as teses correntes a respeito da estrutura dos léxicos, das morfologias e das sintaxes, seremos levados a afirmar que a tradução deveria ser impossível. Entretanto, os tradutores existem, eles produzem, recorremos com proveito às suas produções. Seria quase possível dizer que a existência da tradução constitui o escândalo da linguística contemporânea. [...] Talvez só se imaginasse uma alternativa: condenar a possibilidade teórica da atividade de tradução em nome da linguística (relegando assim essa atividade para a zona das operações aproximativas não científicas em questão de linguagem); ou então questionar a validade das teorias linguísticas em nome da atividade de tradução.”
SÉCULO XX –
IMPLICAÇÕES DA GUERRA FRIA
A partir de 1946: grande interesse pela tradução por causa da Guerra Fria, com o objetivo de obter informações científicas soviéticas à distância e da maneira mais rápida possível.
Grandes investimentos na automatização da tradução.
Anos 60: desânimo. “As aplicações práticas não correspondiam às previsões teóricas e a linguística formal não conseguia explicar os problemas ligados a estruturas, processos, funções, formas, etc., que se multiplicavam. A tradução automática foi desacreditada”
ALFARO, Carolina. Descobrindo, compreendendo e analisando a tradução automática. Disponível em: http://webserver2.tecgraf.puc-rio.br/~carolina/monografia/anos_40_60.html
SÉCULO XX – ANOS 50-60: SISTEMATIZAÇÃO
DA TRADUÇÃO
Surgem os primeiros estudos teóricos que reivindicamuma análise mais sistemática da tradução – PRIMEIRA GERAÇÃO DE TRADUTÓLOGOS Sendo a tradução vista como uma atividade humana, uma
operação lingüística, aqueles que se ocupam dela têmprocurado fornecer uma resposta à pregunta “como traduzir”. No pensamento tradicional sobre a tradução, esta respostaera simples: literalmente, fielmente. […] Desde os primórdiosdas reflexões sobre a tradução, no entanto, houve aquelesque advogavam um modo de traduzir que privilegiasse o conteúdo e se afastasse da literalidade pura e simples. Nãosendo literal, como deveria ser a tradução? É como respostaa esta pregunta […] que surgem, no estudo da tradução, descrições de procedimentos técnicos. (BARBOSA, 1990, p. 21)
Surgem as primeiras publicações periódicas sobre a tradução: Traduire (1954), Babel (1955), Meta (1956)
SÉCULO XX – ANOS 50-60: SISTEMATIZAÇÃO
DA TRADUÇÃO
Roman Jakobson. On Linguistic Aspects of Translation (1959):
Distinguimos três maneiras de interpretar um signo verbal: ele pode ser traduzido em outros signos da mesmalíngua, em outra língua ou em outro sistema de símbolos não verbais. Essas três espécies de traduçãodevem ser diferentemente classificadas:
1) A tradução intralingual ou reformulação consiste nainterpretação dos signos verbais por meio de outrossignos da mesma língua.
2) A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meiode outra língua.
3) A tradução intersemiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não verbais.
SÉCULO XX – ANOS 50-60: SISTEMATIZAÇÃO
DA TRADUÇÃO
Jean Paul Vinay e Jean Darbelnet. Stilistiquecomparée du français et de l’anglais: méthode de traduction (1958):
TRADUÇÃO DIRETA EMPRÉSTIMO
DECALQUE
TRADUÇÃO LITERAL
TRADUÇÃO OBLÍQUA TRANSPOSIÇÃO
MODULAÇÃO
EQUIVALÊNCIA
ADAPTAÇÃO
Empréstimo: Utilizar a própria palabra da LO no texto
da LT.
Decalque: Caso particular de empréstimo de sintagmas
(science-fiction / ciencia ficción).
Tradução literal: Tradução palavra por palavra.
Transposição: afastamento no plano sintático da forma
do TLO.
Modulação: mudança de ponto de vista ou de foco.
Equivalência: as duas línguas en confronto dáo conta
da mesma situação através de meios estilísticos e
estruturais totalmente diversos (fraseologia, provérbios,
etc.).
Adaptação: aplica-se onde a situação extralinguística a
que se refere o TLO não existe no universo cultural dos
falantes da LT.
SÉCULO XX – ANOS 50-60: SISTEMATIZAÇÃO
DA TRADUÇÃO
Eugene Nida. Toward a science of translating: with special reference to principle and procedures involved in Bible translating (1964):
“Translating consists of reproducing in the receptor language the closest natural equivalent of the source language message, first in terms of meaning, secondly in terms of style”.
Nida se baseia na teoria da comunicação, na qual o tradutor e o leitor da tradução podem ser considerados como elementos atuantes em um ato comunicativo.
Fonte
(autor TLO)
Mensagem1
(TLO)Receptor1
(tradutor)
Mensagem2
(TLT)
Receptor2
(leitor TLT)
Há três fatores básicos a serem avaliados antes de efetuar uma tradução:
a natureza da mensagem
o objetivo do autor e do tradutor
o tipo de público visado pelo original e pela tradução
Buscar a maior equivalência possível entre mensagem1 e mensagem2, considerando que há 2 tipos de equivalências:
Equivalência formal: centrada no conteúdo e na forma da mensagem1, o texto original. Preocupação emmanter a correspondência estilística.
Equivalência dinâmica: centrada em reproduzir comos recursos próprios da LT o efeito pragmático que o TLO produz no leitor. Adaptação do texto ao novo leitorpara que veja a tradução como um texto natural dentro de sua comunidade linguística. Para tal, o tradutordeverá superar distâncias linguísticas e culturais.
SÉCULO XX – ANOS 70: ESTUDOS DA TRADUÇÃO
COMO DISCIPLINA INDEPENDENTE
James Holmes. “The Name and Nature of
Translation Studies" (1972)
discussão sobre o nome da área de pesquisa:
Termos como "tradutologia" e "ciência" foram descartados, o
primeiro por ser demasiado abstrato e não incluir estudos
descritivos e o segundo pertencer à área de exatas. Holmes
sugere a expressão "estudos da tradução", que foi aceita
pela comunidade acadêmica e é usada desde então.
falta de consenso na estrutura e no escopo da
disciplina:
Os estudos da tradução estão dispersos em outras áreas,
como o ensino de línguas, a linguística e a literatura. Para
resolver essa questão, ele apresenta um diagrama onde
descreve o que a disciplina abrange.
SÉCULO XX – ANOS 70: ESTUDOS DA
TRADUÇÃO COMO DISCIPLINA INDEPENDENTE
O papel de Holmes foi principalmente incentivador
e encorajador: após colocar os fundamentos para
uma nova disciplina e juntar acadêmicos de várias
áreas, ideologias e locais, quis chamar a atenção
para as lacunas e as melhoras que tinham que ser
implementadas na área, deixando claro que havia
um longo caminho pela frente: “The state of the
art of translation studies is better than ever
before. It is not good. There is still too much to
be done”.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO DA
DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS
Anos 70: O teórico israelense Itamar Even-Zohar
formulou a teoria dos polissistemas, onde uma
cultura é vista como um sistema múltiplo composto
de várias redes simultâneas, interdependentes e
hierárquicas de relações. Dentro do polissistema da
cultura se encontra outro, o da literatura. Por sua vez,
dentro do polissistema literário se encontra a literatura
traduzida.
Se tratarmos as traduções de forma individual, sem
incorporá-las a um contexto histórico e social,
dificilmente será possível ter uma ideia de qual é a
função da literatura traduzida em relação ao conjunto
de uma literatura ou qual é sua posição dentro dela.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO DA
DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS
Para Even-Zohar, as obras traduzidas se
relacionam entre si de duas formas: (i) pela
maneira como os textos fonte são selecionados
pela literatura receptora e (ii) pela maneira em que
adoptam normas e critérios específicos dessa
cultura.
Os critérios de seleção das obras que são
traduzidas vêm determinados pelo polissistema
local. Os elementos desse polissistema que fazem
essa escolha são o que André Lefevere (1985)
chama de agentes da patronagem, que têm poder
para influir ideologicamente no sistema literário.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO DA
DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS
Anos 80: The Manipulation School:
“do ponto de vista do sistema receptor, toda tradução implica certo grau de manipulação do texto-fonte, com umdeterminado objetivo” (HERMANS, 1985 apud MARTINS, 2010)
Uma visão da literatura como um sistema dinâmico e complexo; a convicção de que deve haver uma interaçãopermanente entre modelos teóricos e estudos de caso; umaabordagem da tradução literária de caráter descritivo e voltadapara o texto-meta, além de funcional e sistêmica; e uminteresse nas normas e coerções que governam a produção e a recepção de traduções, na relação entre a tradução e outrostipos de reescritura e no lugar e função da literatura traduzidatanto num determinado sistema literário quanto na interaçãoentre literaturas (HERMANS, 1985 apud MARTINS, 2010).
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO DA
DISCIPLINA – ESTUDOS DESCRITIVOS
Rejeição da abordagem linguística na tradução:
A linguística sem dúvida aumentou nossa compreensão
da tradução no que diz respeito ao tratamento de textos
não marcados e não literários. Mas na medida em que
a disciplina mostrou-se restrita demais para ser útil aos
estudos literários em geral – haja vista as tentativas
frenéticas observadas nos últimos anos de se construir
uma linguística textual – e incapaz de lidar com as
inúmeras complexidades das obras literárias, ficou
evidente que ela também não poderia fornecer uma
base adequada para o estudo das traduções literárias.
(HERMANS, 1985 apud MARTINS, 2010).
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO DA
DISCIPLINA – VIRADA CULTURAL
Tradução concebida como atividade orientada por
normas culturais e históricas
Influência recíproca entre as traduções e as
culturas receptoras
André Lefevere – Tradução como reescrita
A tradução é uma das muitas formas sob as quais as
obras de literatura são reescritas (também resenhas,
críticas, antologias, adaptações)
As reescritas produzem novos textos a partir de outros
já existentes, garantindo a sobrevivência das obras.
SÉCULO XX – ANOS 80: CONSOLIDAÇÃO DA
DISCIPLINA – VIRADA CULTURAL
André Lefevere – Tradução como reescrita
Os sistemas literário e social influenciam-se reciprocamente e operam sob um mecanismo de controle constituído por dois fatores:
Fator interno: reescritores (tradutores, críticos, prof.) Reprimir certas obras contrárias as concepções literárias ou
ideológicas predominantes
Adaptar obras para fazê-las corresponder às concepçõesliterárias ou ideológicas predominantes
Fator externo: patronagem, poderes (pessoas, instituições) – diferenciada / não diferenciada Componente ideológico (censura)
Componente econômico (mecenato, agênciasgovernamentais)
Componente de prestígio
SÉCULO XX – ANOS 90: VIRADA DO PODER
Lawrence Venuti – Invisibilidade do tradutor
Transparência no texto traduzido, levando o leitor a encará-
lo como escrito originariamente na língua-meta
Critério que rege as traduções: boa quando a leitura é
fluente, quando parece um original.
A estratégia de fluência busca apagar a intervenção
do tradutor no texto traduzido e anular a diferença
linguística e cultural do texto estrangeiro. O texto é
reescrito revestido de valores, crenças e
representações sociais da cultura receptora.
SÉCULO XX – ANOS 90: VIRADA DO PODER
Lawrence Venuti – Invisibilidade do tradutor
Proposta: estratégia de resistência, que impede o
efeito ilusionista de transparência no texto traduzido e
torna visível o trabalho do tradutor, que tem função
política e cultural, e ajuda a preservar a diferença
linguística e cultural do texto estrangeiro ao produzir
traduções estranhas, pouco familiares, que
demarcam os limites dos valores dominantes na
cultura da língua-meta e que evitam que esses
valores promovam uma domesticação imperialista
do outro.
SÉCULO XX – ANOS 90: VIRADA DO PODER
Estratégias tradutórias (Schleiermacher) + componente ideológico
Estrangeirização: método de distanciamento, que leva o leitor da tradução até o autor do original. Impõe pressãoetnodesviante sobre os valores da cultura receptora para registrar as diferenças linguísticas e culturais do texto estrangeiro.
Domesticação: aproxima o autor do original do leitor da tradução por meio da estratégia de fluência. Envolve umaredução etnocêntrica do texto estrangeiro aos valores da cultura receptora.
Venuti preconiza o método de distanciamento por motivos políticos.
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO
PRECURSORES
Nietzsche:
Um dos movimentos mais caros à reflexão de Nietzsche é
denunciar a ilusão primordial da autonomia do intelecto como
determinante, inclusive, da ilusão de verdade da coisa-em-si
e de todas as outras ilusões dela decorrentes. O intelecto,
domínio da racionalidade — que na tradição cartesiana é a
marca do humano enquanto ser superior que "existe" na
medida em que pensa — não passaria de um "meio de
preservação", de uma arma através da qual o homem, "mais
fraco e menos robusto", se defende "já que a [ele] está
vedado travar a luta pela sobrevivência com chifres ou presas
aguçadas“ (ARROJO, 2003).
VER RESENHA
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO
PRECURSORES
Wittgenstein (ver resenha).
Freud:
“Essa visão nietzschiana do sujeito dividido entre a consciência, a inconsciência e a moral antecipa Freud e a divisão psicanalítica do sujeito. A metáfora do cavaleiro e do cavalo proposta por Freud para explicar as vicissitudes desse sujeito dividido — entre o ego, o id e o superego — vale a pena ser lembrada:
Em sua relação com o id, o ego é como um cavaleiro que tem de manter controlada a força superior do cavalo, com a diferença de que o cavaleiro tenta fazê-lo com a sua própria força, enquanto que o ego utiliza forças tomadas de empréstimo. Com frequência, um cavaleiro, se não deseja ver-se separado do cavalo, é obrigado a conduzi-lo onde este quer ir; da mesma maneira, o ego tem o hábito de transformar em ação a vontade do id, como se fosse sua própria (Freud, vol. XIX, p. 39).
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO
PRECURSORES
“Além da libido do id, o ego tem que enfrentar também as pressões do superego. Além de tentar controlar um ‘cavalo’ indomável, esse ‘cavaleiro’ é forçado também a lutar contra uma ‘nuvem de abelhas bravas’ — o superego— enxameando sobre ele (Idem).
Apesar de dividido entre o senso moral imposto pela sociedade e a força do inconsciente, o homem ocidental, forjado no culto ao racionalismo, ilude-se com sua suposta autonomia ‘consciente’ — que não passa de uma instância derivada de processos inconscientes — e crê poder separar-se do ‘real’, ou seja, crê poder olhar o ‘real’ e o outro com olhos neutros; crê, em suma, poder ‘descobrir’ ‘verdades’ que não sejam construídas por ele mesmo, nem ‘contaminadas’ pelo seu desejo” (ARROJO, 2003).
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
Pós-estruturalismo = radicalização do estruturalismo, o leva até suas últimas consequências.
Contra:
Logocentrismo: tendências no pensamento "ocidental":
1. localizar o centro de qualquer texto no Logos = centro racional é o sentido da letra, a periferia (metáfora) é derivativa.
2. privilegiar o significado sobre o significante
3. maneira de compreender a linguagem de maneira binária:
ausência/presença, fala/escrita, significante/significado, autor/texto
Estas oposições:
- não são iguais, são hierárquicas; e essa hierarquia pode ser subvertida.
- são menos rígidas do que podem parecer.
Logocentrismo = desejo de um significado trascendental, trascende as circunstâncias variáveis.
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
Pós-estruturalismo = radicalização do
estruturalismo, o leva até suas últimas
consequências.
A favor:
do jogo livre dos significantes
a linguagem se cria e cria mundos (a linguagem
não é uma criação racional, não é artefato; a
linguagem se cria a si mesma e está sempre se
deslocando)
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
DESCONSTRUÇÃO NA TRADUÇÃO
Desconstrução (Derrida):
Se o signo é arbitrário, fruto de uma convenção, a origem
do significado também parte de um acordo tácito
comunitário. A leitura e a compreensão fazem parte da
construção de significados.
O leitor deixa de ser um simples “receptor”, se
conscientiza da sua interferência autoral nos textos que
lê.
Não é a morte do autor nem a liberação do leitor: a
leitura também depende das convenções que se
estabelecem subliminarmente no tecido sócio-cultural
em que vivemos. O significado não se encontra no
texto, nem no autor, nem no leitor; se encontra na
trama das convenções.
SÉCULO XX – PÓS-ESTRUTURALISMO:
DESCONSTRUÇÃO NA TRADUÇÃO
Implicações na tradução:
Fidelidade ao original?
Interferência autoral do leitor/tradutor? Tradutor-autor?
Visibilidade do tradutor?
O significado não está no texto nem no autor –
reinterpretação dos textos a cada certo tempo.
Traduções trazem consigo as marcas da sua realização
(tempo, história, circunstâncias, objetivos, perspectiva
do tradutor). Nenhuma tradução é neutra.