Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    1/98

    www.autoresespiritasclassicos.com

    Lon Denis

    Socialismo e Espiritismo

    Traduzida do Francs

    Socialisme et Spiritisme

    1924

    Courbet

    Os Quebradores de Pedras

    http://opt/scribd/conversion/tmp/scratch2333/www.autoresespiritasclassicos.comhttp://opt/scribd/conversion/tmp/scratch2333/www.autoresespiritasclassicos.com
  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    2/98

    Contedo resumido

    Nessa obra, Lon Denis mostra seu pensamento sobre asimportantes causas sociais.Em suas prprias palavras, Denis afirma que Socialismo e

    Espiritismo esto unidos por laos estreitos, visto que o primeirooferece ao segundo o que lhe falta a mais, isto , o elemento desabedoria, de justia, de ponderao, as altas verdades e o nobreideal sem o qual este ltimo corre o risco de permanecer impotenteou de mergulhar na escurido da anarquia.

    Sumrio

    Prefcio ...........................................................................................3

    Captulo I ..................................................................................... 16

    Captulo II ....................................................................................26

    Captulo III .................................................................................. 35

    Captulo IV ...................................................................................44

    Captulo V .................................................................................... 54

    Captulo VI ...................................................................................63

    Captulo VII .................................................................................73

    Captulo VIII ............................................................................... 82

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    3/98

    Prefcio

    No conheo o texto original de Lon Denis que serviu de base presente traduo de Wallace Leal Rodrigues e igualmente noencontrava motivo para esta anlise que me foi solicitada por essededicado companheiro de doutrina. Alis, suas observaes e notas

    j haviam aumentado sobremaneira o volume em relao ao textooriginal e includo dados histricos e biogrficos importantes sobrea matria.

    Vale observar, ainda, de incio, que o trabalho de Lon Denissobre Socialismo e Espiritismo foi redigido quando ainda no seconheciam os principais experimentos polticos originados com asteorias de Engels, Marx e Lenine, nem as distores de conceitos emesmo de contedo. Mas o primeiro destaque deve ser dado sdiversificaes do Socialismo, pois, deformado em sua anlise eaplicao, tem servido de cobertura para estruturas de Estado queno correspondem sua realidade doutrinria.

    O Cristianismo tem sua base nos princpios socialistas,relativamente forma de organizao da sociedade. Allan Kardec,no tpico As Aristocracias de seu livro Obras Pstumas, analisao processo de socializao do poder, em perfeita consonncia como que consta do 1 captulo de A Gnese, com esta confisso to

    prxima de Marx: Infelizmente, as religies tm sido instrumentode dominao.

    O extraordinrio criador de Sherlok Holmes, Arthur ConanDoyle, pgina 51 de seu livro La Nouvelle Revlation (EdiesPayot, Paris, 1919), afirmava: O homem livre na medida em quecoloca seus atos em harmonia com as leis universais. Para reinar aordem social, o Espiritismo, o Socialismo e o Cristianismo devemdar-se as mos; do Espiritismo pode nascer o Socialismo idealista.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    4/98

    Filho de operrio, j aos 12 anos de idade trabalhava LonDenis descolando folhas de cobre na Casa da Moeda de Bordeaux.Conta-se que muitas vezes seus dedos sangravam no contato spero

    com o metal. Essa origem operria ajudou a marcar o sentido socialde sua vida, mesmo porque at a viso deficiente foi conseqnciado esforo noturno do estudo, j que trabalhava durante o dia.

    Com razes operrias e ele prprio trabalhando de dia paragarantir os estudos de noite, pde mais tarde dedicar-se aomovimento cooperativista e ao servio beneficente do ensino. Porisso mesmo no lhe foi difcil compreender, conforme expe nestetrabalho, que Socialismo e Espiritismo esto unidos por laos

    estreitos, visto que o primeiro oferece ao segundo o que lhe falta amais, isto , o elemento de sabedoria, de justia, de ponderao, asaltas verdades e o nobre ideal sem o qual este ltimo corre o riscode permanecer impotente ou de mergulhar na escurido daanarquia. E reforou essa afirmativa acentuando que oSocialismo poder tornar-se uma das alavancas que levar ahumanidade para destinos melhores.

    A procura de uma nova ordem social em que o homem no seja

    o lobo do homem, mas o seu irmo, o sonho de toda ahumanidade. Nenhum cidado de sentimentos firmados nosprincpios do Cristianismo pode aceitar, sem uma justa reao, asdisparidades sociais e econmicas que colocam fabulosas riquezas

    em geral mal ganhas e mal utilizadas - ao lado de agrupamentosde prias que no tm o mnimo para sobreviver.

    Kardec, em Obras Pstumas, no captulo Liberdade, Igualdadee Fraternidade, como em O Livro dos Espritos, destaca:

    Risquem-se das leis e das instituies, das religies e da educao,os ltimos restos da barbrie e os privilgios; destruam-se porcompleto todas as causas que do vida e desenvolvimento a esteseternos obstculos do verdadeiro progresso e que, por assim dizer,aspiramos por todos os povos na atmosfera social, e ento oshomens compreendero os deveres e benefcios da fraternidade, e a

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    5/98

    liberdade e igualdade se estabelecero por si mesmas de qualquerforma.

    Estava Kardec seguro de que chegaremos a essa fase de justia

    social com liberdade e igualdade e, ainda em Obras Pstumas,pode orientar para que a alcancemos, afirmando: a aspirao dohomem para uma ordem de coisas melhor que a atual um indciocerto da possibilidade de que chegar a ela. Cabe, pois, aos homensamantes do progresso ativar esse movimento pelo estudo e a prticados meios julgados mais eficazes.

    Essa compreenso das mudanas de estrutura e da prpriaordem social est profundamente comprometida com o contedo da

    doutrina esprita, que se baseia na justia da reencarnao, mas queatribui ao ser humano a tarefa fraterna de auxiliar o irmo,procurando eliminar as diferenas atravs de uma prtica social quepermita ao homem auxiliar o semelhante necessitado com os bensque possua.

    Os dogmas que envelheceram reclamam uma outra vivncia e,por isso, a revoluo que representou o Cristianismo, abalando osalicerces do poderio romano na palavra meiga do Nazareno, tem o

    mesmo sentido da revoluo que o Espiritismo prega, visando adestruio do egosmo e levando os homens convico de quenada possuem de seu, pois que so meros depositrios dos bensmateriais e simples usufruturios da riqueza. Desse depsito edesse usufruto havero de dar conta na sucesso das reencarnaes.

    No havia violncia na pregao de Jesus, embora Ele fosseclaro e preciso com referncia riqueza, toda vez que lhe era

    propiciada uma oportunidade de manifestar-se. E os apstolos

    seguiram-lhe os passos.A prpria Igreja Catlica procura atualizar-se socialmente,como se fizesse uma autocrtica na procura do Cristianismo

    primitivo. Tem, no entanto, dificuldades intransponveis, porque aestrutura conservadora de muitos sculos uma sria barreira aoencontro da via socialista para diminuir as desigualdades flagrantese as injustias sedimentadas pela ordem social vigente. A

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    6/98

    introduo da Encclica Mater et Magistra seguiu a linha daRerumNovarum e da Popularium Progresso. J o Papa Pio XI denunciavacomo principal vcio do capitalismo liberal o divrcio entre a

    ordem econmico-social e a moral, embora no pudesse a igrejapassar da palavra ao.O problema, porm, no estava apenas em diagnosticar as

    razes da misria e em condenar a voracidade do capitalismo, masem procurar os caminhos para essa justia social que foi banida do

    planeta. A, as dificuldades se acumularam e a Igreja no passavado diagnstico...

    A converso crist teria que vir com a reviso de Zaqueu, no

    encontro com Jesus, anulando as injustias praticadas com arestituio dos bens e a dispensa dos privilgios que mantinha.Enquanto a converso de Zaqueu no se amplia com a repetio

    do gesto, a ordem estabelecida fica intocvel e o comprometimentocom as iniqidades sociais e com as estruturas sedimentadas reafirmado a cada momento.

    No foi uma advertncia v a de Jesus ao moo rico quepretendia segui-lo e ao qual recomendou que deixasse seus bens,

    nem a observao quanto ao bolo da viva que dera to pouco eno entanto fora a ddiva maior, porque enquanto outros ofertaramdo que lhes sobrava, ela doara do que lhe fazia falta. No foi,tambm, sem razo que as lies se repetiram, demonstrando que ariqueza deveria estar a servio da comunidade de tal maneira que omau uso da propriedade poderia significar maiores empecilhos paraalcanar o Reino dos Cus. mais fcil passar um camelo pelofundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos cus

    (Mateus 19:24)No Deuteronmio (15,4) est o clamor para que no haja lugarpara a pobreza, com a condenao dos lucros e juros, no Levtico(25, 35, 38) ou a condenao de explorao do homem (Levtico,19:13).

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    7/98

    As lies do Cristianismo primitivo esto vivas, renascendo nos princpios da doutrina esprita que eclodiu praticamente com arevoluo industrial na Europa.

    A substituio de um sistema social por outro no foi a soluo, porque o que se faz necessrio uma ordem social baseada nafraternidade e no amor ao semelhante.

    As prprias naes ricas luxam custa da misria dodenominado terceiro mundo, fornecedor de matrias-primas,mergulhado num alarmante ndice de mortalidade infantil,fornecendo uma mo-de-obra aviltada numa atmosfera de doenas,de misria e de fome, onde o homem no se diferencia do animal

    no tratamento que recebe. Por isso mesmo, Kardec pde compararas naes aos homens quando advertiu que se elas seguissem opreceito de no fazer s demais o que no desejassem que lhesfizessem, o mundo viveria sob o signo da paz e do progresso.

    Vencido o egosmo, ser mais fcil extirpar as outras paixesque corroem o corao humano, lembra Lon Denis.

    De fato, o nosso edifcio social a ser construdo pelo Socialismopode no excluir todas as iniqidades, porque a condio humana

    no de perfeio, mas, sem dvida, significar muito naedificao de uma sociedade menos injusta.

    A constatao dessas iniqidades no feita apenas pelosespritas que pregam uma ordem social mais crist. Os documentosmais recentes da Igreja Catlica ("Subsdios para Puebla,Documento n 13 Conferncia Nacional dos Bispos Brasileiros Edies Paulinas, 1978, pg. 8), so utilssimos na constataodessa realidade:

    Observa-se no continente latino-americano umaexacerbao do conflito opressores e oprimidos, devido a umasituao de gritante iniqidade social.

    A inqua repartio das rendas vem propiciando um perigosoafrontamento das classes sociais.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    8/98

    A posse dos meios de produo concentra-se nas mos degrupos poderosos ou do Estado, ao mesmo tempo em que seacelera a desnacionalizao das economias nacionais, pelo

    domnio crescente das multinacionais.A revoluo que significa o Espiritismo mais profunda, porque

    penetra as bases do comportamento humano e implica uma revisode princpios morais, sem o que a reviso jurdica, econmica esocial no seria alcanada com eficcia.

    Mas devemos compreender que o Socialismo no pode ser umafrmula artificial que deva ser imposta de forma ditatorial neste ounaquele pas, neste ou naquele continente.

    Partindo do fundamental, compreendendo o Socialismo comouma reao da coletividade contra o predomnio dos interessesindividuais ou grupais, teremos que admiti-lo com caractersticas

    prprias de cada comunidade, sob pena de copiarmos exemplosdesajustados de cada uma das realidades nacionais.

    Uma incurso pela histria nos faz passar pelo Socialismo dePlato, Thomas Morus, Campanella, Engels, Marx, Lenine, etc.,mas as contradies que podem nos levar exatamente ao contrrio

    do que se procura esto nas limitaes puramente econmicas dasfrmulas e da anlise.

    O Espiritismo acrescenta um outro elemento ao Socialismo,distinguindo-o das outras frmulas, embora reconhea que Platono s aplicou o mtodo psicolgico para explicar o surgimento doEstado em razo das necessidades do homem, como advertiu dosriscos com a multiplicao dessas necessidades. A exatamente que, nascendo o comrcio e surgindo o dinheiro, o homem

    acostumou-se ao excesso e ao luxo e, com estes, adveio a ganncia,complicando a estrutura primitiva do Estado. Em conseqncia, apobreza e a riqueza teriam que conviver, guerreando-se atravs dostempos. Lembra Plato que nessa altura a paz interior desaparece eat o menor Estado se divide em duas partes distintas: o Estadodos pobres e o dos ricos, que se digladiam.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    9/98

    O Espiritismo, embora compreenda e explique certos fenmenossociais e econmicos atravs da lei da reencarnao, tem que sereminentemente revolucionrio no sentido de reivindicar as

    mudanas da estrutura da sociedade, combatendo a concentrao dariqueza e a ausncia de fraternidade que significam a manutenodos privilgios e dos excessos no uso dos bens.

    Jesus, filho de artesos, ensinando pelo prprio nascimento agrande lio evanglica dos simples e o amor pelos pobres, foi umrevolucionrio por excelncia, mas no se transformou numcaudilho a servio de grupos ou partidos, porque sua missotranscendia as misrias do imprio romano e no podia, por isso

    mesmo, perder-se no labirinto das paixes polticas e dasartimanhas da burocracia da administrao.A vida de Jesus e dos apstolos ao lado da populao crist de

    Jerusalm era a demonstrao prtica e real dos ensinamentos quepregavam a fraternidade e a vida comunitria.

    evidente que os tempos so outros e que com o progressotcnico e cientfico, com a revoluo industrial e as mudanassensveis na forma de vida e de convvio social, no se poderia

    reproduzir a mesma atmosfera e exigir da comunidade atual quevivesse como os apstolos.No entanto, os princpios que fundamentavam aquela vida, ou

    seja, o sentido de cooperao e de auxlio, o amor pelos humildes enecessitados, a repartio dos bens com o semelhante, a

    predominncia do sentimento sobre a ganncia, do amor sobre odio, so imutveis no correr dos sculos e marcam o verdadeirosentido cristo da vida.

    O Espiritismo no prega novidade quando realiza o chamamento vida simples e fraterna.Figuras inesquecveis como So Vicente de Paulo e So

    Francisco de Assis, h sculos, so legendas desse amor cristo.O fundador da Ordem dos Franciscanos era filho de um rico

    comerciante e, no entanto, ao invs de herdar-lhe os bens e a

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    10/98

    fartura, atendeu ao chamamento de uma voz interior, voltando-separa os pobres.

    E So Vicente de Paulo teve sua biografia resumida numa frase

    que costumamos reproduzir pela beleza da comparao: Nele,como em certas plantas nas quais as flores nascem antes dafolhagem, a caridade nasceu antes da razo.

    Como, no entanto, eliminar as pragas da propriedade privadade que falava Thomas Morus na Utopia?

    Como continuidade histrica do Cristianismo, o Espiritismo noseu sentido evolucionista caminhou para o encontro com os ideaissocialistas e no teve dvida em afirmar atravs de Kardec queuma nova ordem de coisas tende a estabelecer-se e os mesmos quea isso se opem com mais empenho so exatamente os que mais oajudam, sem sab-lo.

    Mas onde estariam essas pragas da propriedade privada?Einstein, citado por Humberto Mariotti (O Homem e a

    Sociedade numa Nova Civilizao Edicel, So Paulo, 1967), emafirmativa constante de artigo na revista Gauche Europenne, deParis, janeiro de 1957, apontava essas causas:

    A anarquia econmica da sociedade capitalista, tal comoexiste hoje, constitui, a meu ver, a fonte real de todo o mal.E prossegue Einstein:

    Por uma questo de clareza, chamar doravante portrabalhadores a todos aqueles que no compartilhem da

    propriedade dos meios de produo, ainda que isto nocorresponda ao uso normal do termo.

    Para o Espiritismo, os bens so concedidos em custdia e o seuusufruto apresenta valores espirituais que so creditados aos quecompreenderam que esses bens no lhes pertencem, sendo ohomem mero instrumento no uso da propriedade a servio doconjunto social.

    Deve ter sido esse o fundamento de Cosme Marino, para afirmarque o Socialismo um captulo do Espiritismo no seu livro El

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    11/98

    Concepto Espiritista del Socialismo, editado em Buenos Aires em1960 pela Editora Victor Hugo.

    Outro no , tambm, o objetivo de Humberto Mariotti no seu j

    citado volume O Homem e a Sociedade numa nova Civilizao.O Socialismo deve promover as reformas ousadas, acelerando

    a evoluo para a transformao, na expresso de Lon Blum,conceito que no se afasta daquele que entende que o cristosincero e fiel s origens do Cristianismo tem que ser acessvel renovao social e s transformaes que nos levem a umasociedade justa, como preconizou o Divino Mestre. Para isso necessrio coragem, renncia e sinceridade de propsitos.

    Jean Jaurs, nos seus Discours la Jeunesse, de 1903, assim oreconhecia : coragem ir ao ideal e compreender o real...

    procurar a verdade e diz-la; no seguir a lei da mentiratriunfante, e no fazer da nossa alma, da nossa boca e das nossasmos eco dos aplausos imbecis e dos gritos fanticos.

    Reconhecemos que o capitalismo envelheceu e que muitasforam as modificaes por que passou a sociedade.

    Assistimos ao surgimento do contrato trabalhista, eliminando otrabalho escravo embora ainda vigente mesmo depois da abolioda escravatura , a reduo das horas de trabalho, as frias, aslicenas, o descanso semanal remunerado, etc. Mas a sociedadecapitalista, por sua vez, reagiu a essas conquistas e, assim, confiou inteligncia jurdica da poca as medidas legais que lhefacultassem sobreviver e a se instalaram os trustes, asmultinacionais, as sociedades annimas, os ttulos de crdito, agarantia fiduciria, as fortunas mveis, que encontram tranqilo

    sono no segredo dos depsitos de bancos suos, as falncias quedeixam os falidos mais ricos do que antes...Essas adaptaes de sobrevivncia justificaram afirmaes

    como estas de Walter Lippmann e Nicholas Murray Butler,respectivamente (Walter Lippmann, A Cidade Nova, 1938, pginas32 e 329):

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    12/98

    O capitalismo moderno no teria podido se desenvolver se asociedade por aes no existisse.

    A sociedade por aes foi a maior descoberta dos tempos

    modernos, mais preciosa que a do vapor e da eletricidade.Um ponto, no entanto, sempre colocado em debate quando se

    examina o tema que foi objeto do trabalho de Lon Denis Socialismo e Espiritismo , o relativo ao materialismo histrico e interpretao do conceito econmico como fundamental e o da lutade classes como essncia do Marxismo.

    Alemo de nascimento, Marx, aps os estudos no Colgio desua cidade natal, cursou as Universidades de Bonn e Berlim, indoem 1843 para Paris, a fim de dedicar-se ao estudo do Socialismocom Arnold Ruge, em colaborao com o qual editou os Deutch- Franzsische Jahrbchen, onde publicou os primeiros estudosconhecidos depois como marxistas, particularmente A Crtica daFilosofia do Direito de Hegel.

    O conceito materialista da histria no se conjuga com adoutrina esprita e, nesse aspecto, as posies so inconciliveis.

    Convicto de que a economia poltica constitui a base dasociedade capitalista e que a atividade intelectual no senoreflexo da evoluo econmica, Marx dedicou-se inteiramente aoestudo dessa matria.

    O conceito materialista da histria, assim exclusivamentecompreendido, iria constituir-se numa irreconcilivel divergnciacom o Socialismo que fosse capaz de conviver com o Espiritismo.

    Estava Marx preocupado com o elemento revolucionrio da

    histria e no com a origem das coisas. Negava valor afirmaodos filsofos idealistas de que as transformaes provinham, antesde tudo, do esprito ou da razo absoluta, porque entendia que elastinham origem nas condies materiais da existncia. Parecia mais

    preocupado em localizar a realidade ou a verdade social, mas afalha de sua interpretao do homem est exatamente na exclusodo elemento moral e espiritual.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    13/98

    Mas essa divergncia fundamental no poder invalidar todo umacervo de estudos de interpretao econmica da histria que ele

    processou com dedicao e boa f. Basta aos espritas e demais

    espiritualistas suprir essa falha de interpretao, incluindo a visocrist dos fenmenos.O combate ao marxismo, alis, tem sido feito de maneira

    sectria, em geral tendo em vista apenas a preocupao de defesados dogmas de certos grupos religiosos ou de interesses de gruposeconmicos ameaados.

    O Marxismo trabalha os fatos, mas o certo que expressourealidades sociais e econmicas, embora lhe faltando o importante

    suporte do fenmeno espiritual que Allan Kardec pesquisou edefiniu em sua importante obra de codificao da doutrina dosespritos.

    Considerava Marx o espiritualismo uma irrealidade e oresponsabilizava pelo apoio aos regimes reacionrios econservadores. Ignorou a essncia revolucionria do Cristianismo edeixou de considerar que os erros estavam na sua distoro e nona sua essncia original.

    Jules Moch, em Socialisme Vivant (Editora Robert Lafont,Paris, 1960), em um dos seus captulos analisa a questo relativa aomaterialismo histrico. Aponta o materialismo clssico de certosfilsofos como irreconcilivel com as doutrinas religiosas quedistinguem a alma eterna do corpo perecvel, visto que, segundoessa escola, a vida est indissoluvelmente ligada matria e, nessecaso, a alma s existe no corpo e pelo corpo. Assim, sublinha que omaterialismo histrico de Marx a tese segundo a qual os

    fenmenos econmicos constituem o substrato da vida dos gruposhumanos e so eles que a condicionam e que exercem umainfluncia dominante na evoluo social, poltica ou moral doshomens, no tendo qualquer relao com o materialismo clssico. Eafirma, ainda: No devemos, de resto, levar a teoria domaterialismo histrico s suas ltimas conseqncias; seria absurdoreduzir toda a evoluo das sociedades a consideraes

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    14/98

    econmicas, assim como negar a influncia de outros fatoresmorais ou humanos.

    O Socialismo moderno prossegue Jules Moch est longe de

    ser uma anlise apenas econmica. muito mais do que isso, poisvisa permitir ao homem a sua livre expanso em todos os campos esua libertao de todas as opresses econmicas, polticas eespirituais. essencialmente uma revolta contra a injustia, contraa desumanizao do homem numa sociedade que repousa sobre o

    proveito sem trabalho, o apetite do ganho e do lucro. Ser este protesto incompatvel com uma crena filosfica ou religiosa?Antes, pelo contrrio: o Socialismo e a religio no podem esbarrar

    um no outro, pelo simples fato de as suas zonas de ao no sesobreporem. As religies, mesmo quando visam moralizar a vida,tendem essencialmente a dar ao homem uma esperana depois damorte; o Socialismo quer libertar a vida e no se preocupa nem coma origem nem com o destino final do homem.

    O livro de Lon Denis tem a virtude de reativar o debate emtorno do Socialismo e do Espiritismo, permitindo a continuidade deuma anlise que julgamos oportuna, especialmente agora quando o

    Partido Socialista, na Frana, elegendo o seu Presidente, procura,sem a violncia das revolues pelas armas, as modificaesviveis para abrir caminho ao programa de socializao gradual,democraticamente, respeitada a estrutura pluripartidria.

    O imposto sobre a fortuna medida adotada pelo governosocialista da Frana j um passo importante na melhordistribuio da renda, fazendo utilizar o excesso da concentrao de

    bens e capital em favor das camadas necessitadas e desassistidas.

    Afinal, a natureza nos ensina com a essncia da vida, nada noscobrando pelo ar que respiramos, pela chuva que alimenta aslavouras e mantm os rios, pela luz que nos chega todos os dias,

    pelo calor que o sol distribui a todos, sem indagar de origem,condio social, econmica e geogrfica, exemplificando com agratuidade de seus servios e sem a procura de recompensa.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    15/98

    A lio da natureza dando o seu capital sem reivindicar lucrosou vantagens, proveitos ou benefcios, uma legenda inscrita naconscincia coletiva, reclamando do homem a exemplificao da

    fraternidade, que est na palavra do Divino Reformador quandoaconselhou fazer ao semelhante o que desejamos que ele nos faa.Abril de 1982.

    Freitas Nobre

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    16/98

    Captulo I

    Espiritismo e Socialismo esto unidos por laos estreitos, vistoque o primeiro oferece ao segundo o que lhe falta a mais, isto , oelemento de sabedoria, de justia, de ponderao, as altas verdadese o nobre ideal sem o qual este ltimo corre o risco de permanecerimpotente ou de mergulhar na escurido da anarquia.

    Todavia, antes de tudo, importa bem definir os termos que

    empregamos. Para ns, o Socialismo o estudo, a pesquisa e aaplicao de leis e meios susceptveis de melhorar a situaomaterial, intelectual e moral da Humanidade. Nessas condies sonumerosas as nuances, as variedades de opinies, de sistemas,desde o Socialismo Cristo at o Comunismo, e todo o homemcuidadoso com a sorte de seus semelhantes pode se dizer socialista,quaisquer que sejam, alis, suas predilees.

    Minha inteno bem menos tratar a questo social do ponto de

    vista poltico ou econmico do que pesquisar qual parte deinfluncia o Socialismo poderia ter sobre a evoluo do espritohumano e, particularmente, sobre a educao do povo. As questessociais, que haviam revestido h algum tempo um carter violento eameaavam atear fogo ao edifcio que nos abriga, perderam um

    pouco de sua acuidade. Este o momento de consider-lo sem paixo, sem amargor, com a calma que convm aos espritosrefletidos, interessados na justia, desejosos de facilitar a evoluode todos na paz e harmonia. Como veremos, a questo social ,acima de tudo, uma questo moral.

    Ns subscrevemos voluntariamente as reivindicaes legtimasda classe operria reclamando para o trabalhador a sua parte deinfluncia e de bem estar, seu direito aos benefcios industriais eseu lugar ao sol, porm reprovamos os meios violentos e

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    17/98

    revolucionrios que seriam um perigo para a sociedade ocidental,depois de ter arruinado a sociedade russa.

    O que caracteriza atualmente aos nossos olhos o estado de

    esprito do Socialismo, exceo de algumas raras unidades, oconhecimento insuficiente e muito rudimentar das leis universais;sem observao delas, toda obra humana est condenada porantecipao impotncia, esterilidade, quando no culmina emdesordem, em caos.

    A vida das sociedades, como a do Universo, equilibrada porforas opostas, foras contrrias, o equilbrio perfeito a ordem, a

    paz, a harmonia; mas, desde que uma dessas foras arroja-se sobre

    as outras, a perturbao, a confuso, o sofrimento. O estado deinferioridade de nosso mundo provm precisamente dainstabilidade das foras fsicas e sociais em ao sua superfcie,

    pois uma se repercute sobre a outra.Todo passado nos demonstra a predominncia das classes

    elevadas, ditas dirigentes, sobre o povo reduzido ao estado demisria. Hoje em dia, so as classes trabalhadoras que por vezesdesejam alar-se e dirigir por sua vez a sociedade. Mas o

    despotismo que vem debaixo no melhor do que aquele que vemdo alto; talvez pior, pois que mais brutal e mais cego.Depois da ltima guerra1 o nvel intelectual e moral baixou

    sensivelmente, as paixes se desencadearam, os apetites e a avidezse tornaram mais speros e mais ardentes; que sua melhor partede homens se foi; levados por seu devotamento, seu esprito desacrifcio, eles correram para a morte como para uma festa,enquanto os outros, mais prudentes, menos desinteressados,

    souberam preservar sua vida. Aqueles que se ofereceram emholocausto para a salvao de outrem planam em multido acimade ns2, assimilam foras e luzes novas. Eles retornaram bem cedoao seio desta Humanidade que tem necessidade de seu concurso

    para trabalhar para sua evoluo. Desde j, na gerao que surge,espritos de valor tomaram seu lugar e em uma vintena de anos v-los-emos se afirmarem por seus mritos e virtudes adquiridos.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    18/98

    Entretanto, at l, teremos que atravessar um perodo difcil duranteo qual todos os que tm conscincia de seu dever de solidariedade eque nos liga a todos, os espritas sobretudo, tero de pagar por suas

    pessoas e guiar seus semelhantes no caminho rduo do progresso.A grande lei da evoluo, que rege todos os seres, deve tambm

    servir de base a toda organizao social. Cada um tem o direito auma situao relativa s suas aptides e suas qualidades morais.Ora, a aquisio que trazemos de nossas vidas anteriores que aeducao esprita poderia esmerilhar.

    O essencial seria, pois, fazer conhecer ao homem, antes de tudo,de onde ele vem e para onde ele vai, isto , qual a finalidade real da

    vida e a sua destinao. Somente ento surgir em toda claridade eem todas as conseqncias sociais essa solidariedade que liga osseres em todos os graus de sua ascenso, constrangendo-os por seu

    prprio bem a retornar Terra e a todos os outros mundos nascondies mais diversas, a fim de a adquirir as qualidadesinerentes a esses meios e, muitas vezes tambm, resgatar um

    passado culposo.Depois das doutrinas do passado, que no nos trouxeram seno a

    obscuridade e a incerteza, o Espiritismo projeta uma viva claridadesobre o caminho a percorrer; no encadeamento de nossas vidassucessivas ele nos mostra a ordem, a justia e a harmonia quereinam no Universo. Que o socialista se torne razovel e adote estagrande doutrina, esta cincia vasta e profunda, que esclarece todosos problemas e nos fornece provas experimentais da sobrevivncia;que os seus participantes se impregnem e conformem com ela osseus atos e o Socialismo poder se tornar uma das alavancas que

    levar a Humanidade para destinos melhores. 0

    Posto que me seja detestvel, creio dever insistir sobre oestado de esprito no qual me proponho tratar deste vasto assunto.

    Nasci na classe operria e nela no conheci seno lutas e privaes. Meu pai era canteiro, depois se tornou pequeno

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    19/98

    empreiteiro, mas o trabalho faltava muitas vezes e era precisomudar de profisso. Eu mesmo, depois de ter recebido umainstruo muito sumria, me iniciei como pequeno empregado de

    comrcio e o labor manual no me estranho. J aos doze anos eudescolava fians3 de cobre na Casa da Moeda de Bordeaux e meusdedos de criana, sob o atrito do metal, muitas vezes se tingiam desangue. Aos dezesseis anos, em uma fbrica de faianas em Tours,eu carregava o cesto nos dias em que se fazia o desenfornamentodas peas. Aos vinte anos, em uma manufatura de couros, eucarregava peles nas horas de aperto ou manobrava la marguerite,grosso instrumento de madeira que serve para amaciar os couros.

    Obrigado, durante o dia, a ganhar o meu po e o dos meus velhospais, eu consagrava muitas noites aos estudos, a fim de completarminha ligeira bagagem de conhecimento, e da data oenfraquecimento prematuro de minha viso.

    Depois da Guerra de 1870, compreendi que era preciso trabalharcom ardor para a educao do povo. Com este fim e o auxlio dealguns cidados devotados, havamos fundado, em nossa regio, aLiga do Ensino, da qual me tornei secretrio geral; foram criadas

    bibliotecas populares e se iniciaram em pouco, por toda a parte,sries de conferncias; isto para demonstrar que sempre guardei ocontacto com as classes trabalhadoras, que partilhei de seuscuidados e suas aspiraes para o progresso. Tornei-me muitointeressado no movimento cooperativo e, por muito tempo recebi, attulo gracioso, os livros de um grupo de operrios cordoeirosreunidos em um empreendimento comum.

    Agora que a idade branqueou minha cabea e que a experinciachegou, aprecio mais altamente as vantagens que proporcionam atoda alma as reencarnaes entre os humildes e a livre aceitao dalei do trabalho. Com efeito, o trabalho um preservativo soberanocontra as armadilhas da paixo, uma espcie de banho moral, umsinnimo de alegria, de paz, de felicidade, quando realizado cominteligncia e obstinao.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    20/98

    Assim eu compreendo melhor porque a lei da evoluo levaimensa maioria de seres a renascer no seio de classe laboriosa paraa desenvolver sadias energias, fortalecer o carter, tornar o homem

    verdadeiramente digno deste nome. Na luta constante contra asnecessidades, no esforo cotidiano para se sair do aperto dasnecessidades, pouco a pouco a vontade se afirma, o julgamento seconsolida, as mais belas qualidades desabrocham. por isso que asmaiores almas que passaram pela Terra Cristo, Joana DArc etantos outros nobres espritos quiseram renascer nas condiesmais obscuras, para servir de exemplo Humanidade.

    0

    Devo dizer aqui que, no curso de minha vida, desde minhainfncia, em meio s dificuldades que tive de vencer, sempre fuisustentado pelo lado de l. Nos momentos em que acabei de falar,eu me sentia levado em meu caminho por uma fora invisvel, umafora da qual ainda ignorava a natureza, pois meus guias espirituaiss se revelaram um pouco mais tarde. Entretanto eu possua j umafaculdade medinica, aquela da psicografia, e obtinhacomunicaes de forma bastante literria. Mas esta faculdadedesapareceu de sbito quando me tornei conferencista. Meus

    protetores do espao me explicaram que haviam adaptado seusrecursos fludicos s minhas facilidades oratrias, aos meios deimprovisao como sendo mais eficazes para a difuso doEspiritismo. Pude notar muitos casos anlogos de transformao defaculdades psquicas, sobretudo entre os mdiuns de incorporao.

    Nessa poca eu no tratava ainda publicamente de questesespritas, escolhia assuntos a elas relacionados, mais ou menosdiretamente, tais como A pluralidade dos mundos habitados, Ognio da Glia, Joana DArc e outros assuntos que permitiamabordar, incidentalmente, o problema do mundo invisvel.

    No foi seno por volta de 1880 que abordei franca epublicamente esta questo. As platias eram pouco favorveis e foipreciso, mais de uma vez, suportar os escrnios, as objees pueris

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    21/98

    e sobretudo o alarido. Hoje, os conferencistas espritas encontramum melhor acolhimento. Se seus auditores no so sempreconvictos, pelo menos escutam com cortesia. Essas diferenas de

    atitude do a medida exata dos progressos realizados por nossascrenas em um perodo de 40 anos.Foi sobretudo ao curso de minhas conferncias contraditrias na

    Blgica, com Volders4 e Oscar Beck, duas fortes cabeas do PartidoSocialista, que eu pude dar-me conta de que este estava

    profundamente imbudo de teorias materialistas e, porconseqncia, na impossibilidade de estabelecer conexo com seu

    plano de reforma s leis gerais do Universo, cuja essncia por

    inteiro espiritualista. verdade que existem brilhantes excees,entre as quais citarei Jaurs5 que foi sempre um espiritualistaconvicto, eloqente e mesmo poeta em suas horas. Mas parece-meque a esse respeito ele no fez escola.

    De minhas constantes relaes com os trabalhadores de todaordem, uma considerao se depreende: que os operrios, sejamdas cidades, sejam dos campos, tomados individualmente, isolados,so pouco acessveis s doutrinas subversivas: comunismo e

    anarquismo. Sem dvida, guardaram do passado, dos sculos deservido, uma espcie de atavismo intuitivo que os torna hostis atodas as formas de opresso; mas possuem no fundo de si mesmoso sentimento da realidade, amam a justia e o progresso.

    sobretudo nos grandes centros industriais que os excitadorestm mais acesso sobre as massas operrias e que a palavra dosoradores inflamados, com ruim arrivismo, alcana-as melhor,

    propelindo-as para os excessos. Porm estes tm, geralmente,

    pouca durao. A Frana um pas de bom-senso e de razo e quepermanecer refratria s teorias do bolchevismo e outras doutrinasestrangeiras. O que se chama de luta de classes no existe senono papel. Em realidade no h mais classes desde a Revoluo, noh mais entre elas limites precisos, pois h penetrao recproca econtnua. Todo trabalhador econmico pode se tornar patro. A

    burguesia tem suas razes no povo e nele se recruta

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    22/98

    incessantemente: de seu seio que se elevaram a maioria doshomens que ilustraram a Humanidade; foi da que se alaram tantos

    burgueses, graas ao seu trabalho ou ao seu talento. Por outro lado,

    quantos pequenos rendeiros, pequenos proprietrios ento, emrazo da guerra e de suas conseqncias econmicas, no caram noproletariado? Seu nmero difcil de ser fixado, pois, mudando desituao, mudam quase sempre de residncia e vo se perder noturbilho das grandes cidades.

    A desgraa que os campos se despovoam e que a pletora dascidades se acresce sem cessar. Desertam-se dos trabalhos sadios

    para irem se confinar em locais estreitos, privados de ar e de luz.

    Assim, a raa se esteriliza, mngua e resvala em um decliveperigoso.

    0

    Parece que assistimos a um comeo de desagregao dasociedade. O cimento que liga os elementos do edifcio, isto , oesprito de famlia, a disciplina social, o patriotismo, o sentimentoreligioso, etc., se enfraquecem e se decompem.

    A quem remonta a responsabilidade deste estado de coisas? Emgrande parte Igreja e Escola. Petrificada em seus dogmas, aIgreja se tornou impotente para comunicar ao corpo social essa fviva que a grande fora, a prpria alma das naes. Seucatecismo, incompreensvel e incompreendido, notoriamenteinsuficiente para esclarecer e guiar as crianas do povo noscaminhos difceis da existncia. Certamente, verdade, podemainda com isso se contentar; mas uma sociedade inteira no podeviver desse po ressecado e endurecido.

    Falemos da escola atual, ampla e obrigatria. Ela foi uma reaocontra a escola congregacionista imbuda de prejuzos dogmticos ede doutrinas seculares. Os promotores da escola laica tinham um

    programa e uma finalidade: fazer todos compartilharem, nummpeto de entusiasmo, sua confiana na solidariedade humana peladifuso da educao e o conhecimento dos princpios que afirmam

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    23/98

    o dever e a participao de todos na obra comum. Essa instruoera complementada por noes de moral impregnadas de idealespiritualista. Os manuais de Paul Bert e de Compayr ensinavam a

    existncia de Deus, a imortalidade do ser, e procuravam reacendero fogo sagrado nas almas francesas. Seus sucessores, entretanto, emsua poltica terra-a-terra, eliminaram pouco a pouco estas noes deidealismo e a escola caiu sob a influncia materialista.

    Desde ento, a instruo laica, desprovida de elevao,desenvolveu o sentimento pessoal. Do orgulho ao egosmo no vaimais que um passo e, trinta anos depois, este cresceu graas ao bemestar procurado por uma civilizao materialista. Quando a

    instruo desprovida de freio moral, de sano, e v-se imiscuir a paixo material, ela no faz seno superexcitar os apetites, osdesejos de gozos e se traduz por um egosmo desenfreado.

    preciso, pois, combater o egosmo por um ensino idealistaregenerador. Vencido o egosmo, ser mais fcil extinguir as outras

    paixes que corroem o corao humano.A escola neutra representa, hoje em dia, um conjunto de

    conhecimentos privados do bem moral necessrio para constituir

    uma educao, uma direo eficaz. Ela reencontrar o seu prestgio,o seu poder benfico, assimilando uma doutrina espiritualistaindependente, suscetvel de substituir todos os ensinamentosconfessionais. Ora, essa doutrina s o Espiritismo pode fornecer.Aguardando essa fuso necessria, qual o papel de ns espritas? o de criar, de multiplicar o exemplo de nossos irmos lioneses, asescolas dominicais onde a doutrina e a moral espritas soensinadas s crianas, assim como aos adultos.

    O que dissemos da escola primria aplica-se igualmente aoensino superior e mesmo cincia, a qual no ainda seno umconjunto de teorias passageiras, de hipteses provisrias que umsculo edifica e que o sculo seguinte destri e substitui, como odemonstra o Sr. Charles Richet, com um vigor e uma franquezamerecidos.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    24/98

    verdade que uma cincia se edifica pouco a pouco. Ela tempor base a experimentao psquica; mas ela se choca com tantosprejuzos, preconceitos e rotinas materialistas, que se passar muito

    tempo antes de realizar esta sntese necessria e esperada quereligar as cincias atuais, parciais, fragmentrias, em um todoharmonioso, isto , em uma concepo geral da vida e do Universo.Ela se tornar assim um mvel de ao, um foco de luz capaz deiluminar e de guiar o homem nas vias at aqui incertas de suadestinao.

    A cincia no feita, ela se faz; um dia, tornada integral ehomognea, abraar em seus estudos os mundos visvel e invisvel

    que penetrar neste oceano de vida oculta que nos envolve. Elaconhecer as leis e, acima de tudo, essa grande lei de ascenso queconvoca cada um de ns atravs dos tempos para um bem estarmelhor. Ento, chegado a este domnio elevado do conhecimento,

    poder servir de base ao destino e educao. Pois ela ser noapenas uma lei, mas tambm uma lei moral a oferecer Humanidade.

    Hoje, ela ainda um balbucio de criana ensaiando por

    pronunciar as primeiras letras do grande livro eterno e divino.Esmagada sob o peso da matria, cuja densidade maior entrens do que sobre os globos vizinhos, sufocada por uma atmosferaenvenenada, pelos fluidos das paixes terrestres, como o homem

    poder conhecer a vida invisvel que preenche o espao? Como poder fazer uma idia dessas hierarquias espirituais que sesuperpem at os cumes da Sede incriada? , entretanto, isto que ohomem tem mais necessidade de conhecer, pois o fim supremo de

    seus esforos, a sano de seus atos, a compensao reservada ssuas provas e seus males. verdade que pela descoberta das foras radiantes e dos

    estgios sutis da matria a cincia humana comeou a entrever a possibilidade de uma vida invisvel, mas, antes de ter analisadoesse estgio da vida por seus mtodos atuais, antes de terexaminado as leis, as conseqncias morais, podem se escoar

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    25/98

    muitos sculos! Esperando que nossa cincia terrestre tenhachegado altura das necessidades sociais, eis que o ensinamentodos Espritos vem abrir mais vastos horizontes, iniciando-nos nas

    leis da harmonia Universal. Pouco a pouco, sobre todos os pontosdo globo, uma comunho se estabelece entre os vivos e os mortos elogo da Terra inteira se elevar um hino de jbilo, o grito dereconhecimento e de amor para com Aquele que em Sua sabedoriae Sua previdncia permitiu que esta grande revelao se produzisseno momento mesmo em que a Humanidade parece se inclinar paraum abismo de trevas e de dores, para Aquele que disps todas ascoisas com uma Sabedoria, uma Previdncia, uma Arte infinitas.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    26/98

    Captulo II

    Nosso mundo, dissemos precedentemente, arrastado por umacorrente poderosa para uma era de transformao social. OSocialismo, qualquer que seja a opinio que dele se faa, que se oaprove ou que se o condene, tem perseguido seu caminho adespeito das resistncias e se tornou uma fora com a qual precisocontar. Ele tem para si o futuro; ele triunfar, talvez, sob formas

    bem diferentes daquelas sob as quais concebido hoje e sua obraser pacfica ou sangrenta, conforme o princpio, a idia mestra quea inspirar.

    No momento, os socialistas esto divididos em escolas rivais.Eles trabalham de maneira diversa para reunir os elementosnecessrios a fundar um novo edifcio social. Falta-lhes, porm, oessencial, o cimento que deve reunir esses elementos, isto , a felevada e o esprito de sacrifcio que ela inspira. Falta-lhes o ideal

    poderoso que aquece, fecunda e vivifica.Para construir a cidade futura, para fixar a lei definitiva,

    preciso, antes de tudo, conhecer a lei Universal do progresso e dajustia e tom-la por guia, pois, se no conformarmos nossas obraspela lei eterna das coisas, no faremos seno uma obra efmeraconstruda sobre a areia e que vir abaixo.

    A cincia , por alguma razo, importante neste momentocrucial que atravessa o mundo e o penetra de mais em mais? No, apenas a vontade de fazer cessar ou pelo menos minorar osofrimento humano; o desejo intenso de pr fim s iniqidadessociais que inspira o Socialismo sob suas formas variadas.

    Esse movimento, que a cincia no criou, chegar at elaindicando-lhe, dirigindo-lhe, assinalando-lhe a finalidade elevadaque deve enobrecer, idealizar seus esforos? Deste ponto de vista acincia atual impotente.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    27/98

    Assim, como vimos, os socialistas que se inspiram em certasteorias cientficas, erigiram o materialismo e o atesmo, altura deum princpio. Fez-se tbua rasa de todas as esperanas no Alm, de

    toda a idia de imortalidade, de toda concepo de um ideal divino.E esse estado de esprito que a torna estril ou funesta. Assimcomo j dizia Mazzini, o grande democrata italiano de seu partido6,

    pode-se dizer de todos os partidos: Vejo em torno de mim o estadode dissoluo, o individualismo ao qual desgua, forosamente, aausncia de um pensamento religioso, de um pensamento elevado;vejo nessa ausncia a causa da perda temporria e a encontro aexplicao de todos os fenmenos que nos entristecem.7

    Perguntar-me-o se este sentimento elevado de justia e desolidariedade, se este ideal superior concilivel com o conflitodos interesses e a luta pela vida. Pode-se exigir do homem, emnome de princpios polticos ou de direitos econmicos, que elerenuncie ao seu egosmo, ao seu amor-prprio, ao seu speroagarramento aos bens materiais?

    Para colocar um freio s paixes violentas, s cobias furiosas, atodos os baixos instintos que entravam o progresso social, no

    preciso apelar para a inteligncia e a razo; preciso, sobretudo,falar ao corao do homem, ensin-lo a reconhecer a finalidade realda vida, seus resultados, suas conseqncias, suasresponsabilidades, suas sanes. Enquanto o homem ignorar oalcance de seus atos e sua repercusso sobre o seu destino, nohaver melhoria durvel na sorte da Humanidade. O problemasocial , sobretudo, um problema moral, dissemos. O homem serdesgraado enquanto for mau.

    E entretanto, o povo, apesar de sua ignorncia e suas falnciasoriginais, permanece ainda acessvel s verdades consoladoras. Elesofre, extravia-se e por vez se exaspera, mas vibra quando sabe quehaver apelo ao seu sentimento generoso. Sua educao est por serfeita, por inteiro, do ponto de vista psquico. Nele o materialismo

    bia na superfcie. H um grande trabalho a ser empreendidoatravs destas extenses quase incultas!

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    28/98

    Edgar Quinet8 via corretamente quando escrevia: Como no seaperceber de que o problema religioso envolve o problema polticoe econmico e toda a soluo deste ltimo no tem seno valor de

    uma hiptese h tanto tempo que ainda no se resolveu o primeiro.Com efeito, preciso lembrar que em sua f religiosa que as

    comunidades crists do oriente e do ocidente e, na Amrica, asSociedades dos Quakers, dos Chacres, etc., encontraram as regrasde disciplina, o princpio da associao e de devotamento queassegura o bem-estar, a prosperidade dessas instituies e de seusaderentes.

    Mas em nossa poca e em nossa Frana a f religiosa no tem

    mais intensidade para servir de base a uma transformao social oua uma organizao econmica. Os ensinamentos nebulosos dasIgrejas sobre as condies da vida futura, seu dogmatismo estreito,suas ameaas pueris, relativas aos castigos imaginrios, tudo issoterminou por semear, at mesmo entre seus fiis, o ceticismo ou aindiferena.

    Mas eis que a revelao dos espritos vem aclarar com uma luzimplacvel as condies da vida no Alm e o destino dos seres. Por

    ela, a lei da reparao se impe a todos; no mais sob a forma deum inferno ridculo, mas por existncias terrestres que podemosobservar, constatar em torno de ns, existncias de labor, desofrimentos e de provas em meio s quais os seres resgatam um

    passado culposo e conquistam um futuro melhor. Assim a sano setorna precisa. Cada um de nossos atos recai sobre ns e seuconjunto constitui a trama de nosso destino. A justia e asolidariedade a encontram sua plena e inteira aplicao. Sentimo-

    nos ligados aos nossos semelhantes na medida dos sacrifcios quepor eles fizemos destinados a nos reencontrar, a nos unir, a nosseguir atravs de etapas inumerveis nas condies sociais as maisvariadas, ao curso de nossa ascenso para uma finalidade grandiosae comum.

    Os ensinamentos do alm-tmulo exercem sobre aqueles que osrecebem uma impresso profunda, pois que emanam, as mais das

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    29/98

    vezes, de seres que conhecemos e amamos na Terra, de nossos prprios parentes e amigos, como prova de identidade, detalhes psicolgicos que no permitem duvidar da natureza nem da

    presena dos manifestantes. Em suas mensagens sugestivas, estesdescrevem suas sensaes na vida do espao, suas respectivassituaes boas ou ms, segundo seus mritos e seu grau deevoluo. Eles descrevem os sofrimentos morais causados por umalembrana das faltas cometidas e a necessidade do retorno carne

    para desenvolver as energias latentes no Eu, para reparar e paraevoluir. Esses ensinamentos proporcionam a todos os que deles

    participam uma compreenso mais ntida das grandes leis de justia

    e de harmonia que regem o Universo e, por isso, oferecem maiorcoragem na prova, maior resoluo no cumprimento do dever. medida que tais conhecimentos se propagam, uma corrente se

    estabelece entre o Cu e a Terra, entre os adeptos e seus protetoresinvisveis. Para l se alam as aspiraes humanas e de l descemas foras, os socorros, as inspiraes. De mais a mais v-se

    produzir entre os participantes essa radiao da alma, essaexpanso do corao, v-se criar uma atmosfera de fraternal

    confiana que tornar mais fcil a soluo de numerosos problemassociais que o egosmo, a ignorncia e o dio haviam at aquitornado insolveis. Foi isso que permitiu ao grande escritor ingls,Sir Arthur Conan Doyle9, escrever a respeito do Espiritismo:Recebemos h alguns anos uma nova revelao que se distancia demuitos dos maiores acontecimento religiosos sobrevindo aps amorte de Cristo, pois ela muda inteiramente o aspecto da morte e asorte dos humanos. Encontra-se ali uma revelao que nos faz fitara morte face a face sem temor e uma imensa consolao, quando

    aqueles que amamos passam para o outro lado do vu.10

    0

    Em realidade poder-se-ia dizer que o Espiritismo umsocialismo etreo baseado sobre as regras absolutas da justia esobre as leis da conscincia e da razo. Seus princpios soimutveis. Eles mostram Humanidade o caminho do dever pelo

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    30/98

    qual ela se proporcionar a verdadeira luz e a plenitude de suasliberdades e de seus direitos. Os espritas sabem que a obra divinarepresenta o trabalho da justia, a sabedoria e a beleza. Tudo age,

    progride e sobe, desde o tomo at Deus. As leis da evoluo sosoberanas, mas sobre nossa Terra essa evoluo no pode ser senolenta e gradual.

    Se pusssemos ver as coisas do alto, constataramos que essaevoluo de nosso planeta segue regras fixas. Atualmente jentramos em posse de foras radiantes, de correntes de ondas quenos permitem comunicar nossos pensamentos a toda distncia e queabrem nossos horizontes cincia.

    Logo, por processos anlogos, entraremos em relao com associedades do espao e delas receberemos exemplos e lies.A grande iniciao assim, vertida gota a gota, a fim de que os

    seres sejam dela melhor impregnados e se submetam regrasoberana e universal do bem e do belo. Pois nesse esforo, quefaz cada um deles para se elevar alta concepo da beleza fsica emoral do mundo, que se encontra a fonte de todos os prazeresintelectuais e o mvel de todo o progresso.

    Do ponto de vista social, como do ponto de vista individual, narealizao da lei do bem e do belo permanece a finalidadeessencial, a regra e a recompensa dos esforos comuns. Cada umdeve concorrer ao seu alcance para a ordem e harmonia doconjunto. As almas superiores, os gnios, os artistas, os poetas,trabalhando na obra da beleza, contribuem para elevar asinteligncias e tocar os coraes; outros realizam tarefas maishumildes que se lhes incumbem, tarefas no menos necessrias

    vida de todos, procurando elevar-se a si mesmos a um papel maisimportante e mais esttico no Universo. esta lei sublime que estabelece conexo com a noo do

    direito e do dever, a de todo indivduo participar na ordem social narazo do seu grau de evoluo. Uns trabalham na ordem imediata

    para assegurar os direitos de uma vida transitria, outros para uma

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    31/98

    finalidade mais vasta na ordem futura, para preparar a evoluocoletiva.

    Se todos os homens estivessem penetrados do esplendor destas

    leis compreenderiam a finalidade que perseguem atravs dostempos, associar-se-iam de todo o seu corao, de toda a sua alma obra universal da beleza e da harmonia, pois saberiam quetrabalhando para o todo trabalhariam para eles mesmos. No severiam tantos dios, resistncias, revoltas e outros males. Osofrimento seria banido da Humanidade, pois tudo est nacompreenso do fim a ser atendido e de se colocar em ao osmeios prprios desta realizao.

    o que nos ensina a doutrina dos Espritos e nisso que ela superior s revelaes precedentes e incompletas, que nos do,sobre o futuro da alma, apenas vagas indicaes e plidasdescries de parasos adequados aos estgios pouco evoludos do

    pensamento humano.

    0

    Muitos leitores perguntam-me o que penso da crise atual11.

    Minha opinio pessoal importa pouco e prefiro resumir aqui, guisa de resposta, as instrues dadas por nossos guias espirituaissobre esse assunto complexo e delicado:

    As lies da guerra dizem eles em substncia , notrouxeram os frutos que se poderiam esperar. O perigo passado,a matria caiu mais pesadamente sobre o Esprito; elasuperexcitou os apetites, a avidez. Como deter essetransbordamento de paixes que nos arrasta para o abismo?

    Suprimindo o meio que as desencadeia: o dinheiro! Da a crisefinanceira que sevicia a hora presente.Deveis sentir-vos todos atingidos do ponto de vista social ou

    financeiro. Cada um deve fazer um retorno para trs, interrogaro passado e medir suas prprias responsabilidades. Apenasento uma reviravolta poder se produzir. De acordo com umalei imanente e superior, todo capital adquirido sem escrpulo,

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    32/98

    sem trabalho, ser volatilizado; pode-se prever runas semnmero e a queda de muitos e grandes estabelecimentos.

    Do ponto de vista espiritual, preciso regenerar a massa

    atravs do trabalho e de uma orientao nova, pois pelotrabalho que se podem criar os objetos necessrios s mudanasque so as fontes vitais da existncia. Como deter essedesbordamento de paixes que arrastam para o abismo? De queserve a troca? o dinheiro! Pois o dinheiro, que depois daguerra havia perdido o seu valor, em seguida sua grandedefasagem, dever restabelecer-se gradualmente, em razo doesforo e do trabalho nacional. Vossos vizinhos intrigam contra

    vs, porm suas intrigas se voltam contra eles mesmos., em seguida, no de perda de vidas humanas, mas deperdas de fortunas, que vossa populao compreender melhor alei do trabalho e a ela se submeter de bom grado. H ainda omedo que o incio da sabedoria. A crise se encontrarresolvida pelo prprio jogo dos acontecimentos que o Alto

    julgou til deixar amadurecer. preciso ainda esperar pelasoluo desta crise e a de lutas econmicas e polticas.

    Para o momento, importa que cada um se volte para simesmo; para isto a Espiritualidade ajudar. Uma nao semideal, sem um fim elevado, logo reduzida a p. Alm disto oscrculos polticos, mais opostos, devem se inspirar em um idealsuperior, um ideal que se alie ao racionalismo o mais extenso.

    0

    Da mesma forma que, para contemplar um afresco, um quadro,

    preciso um certo recuo da parte do observador, para julgar nossacivilizao ocidental preciso consider-la do alto. Assim, sob suasfaces brilhantes v-se aparecer o longo cortejo de seus erros, deseus defeitos, de suas misrias morais. Sua maior falta a de terdado um espao muito grande s coisas da matria, passageira e

    perecvel, em detrimento do esprito, cuja vida imortal e infinita.Da uma contradio com a lei suprema da evoluo e desta

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    33/98

    contradio decorre um estado social, uma situao perturbada,falseada, por vezes dolorosa.

    Rendamos ao esprito sua supremacia e vejamos na matria o

    que ela realmente: um meio de ascenso e no uma finalidade.Aprendamos a conhecer e a nos comunicar com este universoinvisvel no qual se desenrolam nossos destinos sem limites.Aprendamos a pr nossas vibraes e nossos pensamentos emharmonia com o mundo dos Espritos, no qual seremos chamados aviver nossa verdadeira vida.

    Cada ser humano um pequeno plo vibratrio; entre todos oshomens existem transmisses fludicas, entre os mundos existem

    poderosas correntes da mesma natureza. De uma maneira geral, ha relao magntica entre todos os seres vivos e tudo se religa auma causa nica e superior, a um centro de foras que anima oUniverso inteiro.

    Pelo estudo do invisvel chegamos a melhor compreender estacomunho de seres e de mundos de que participamos, mesmoindependentemente de ns. Com efeito, o que a intuio, o gnio,a inspirao, seno mensagens impressionantes de crebros postos

    em vibrao; pois no estamos mais no tempo das mesas girantes!As relaes se dilataram entre os diferentes planos da vida

    espiritual e de mais alto um ensinamento se desprende, umarevelao nos chega que dissipa os enigmas sombrios da vida e dodestino. Sentimo-nos mergulhados em um oceano de fora e devida cujos recursos no conhecem limites.

    Para que a sociedade terrestre prossiga nessa evoluo, deverenunciar ao materialismo, que insuficiente, e se apoiar,

    doravante, nesta noo mais alta das existncias sucessivas do ser ede uma vida universal regida por leis de eqidade e de harmonia.Faamos desta lei um princpio de educao moral e de justia

    social, pois atravs dela tudo se explica e se esclarece. Com efeito, pela compreenso desta regra social junto noo de deveres e deresponsabilidades que ela comporta, de sanes que lhe so afetas,que se revelar aos nossos olhos a grandeza e a beleza da vida. A

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    34/98

    se encontrar o remdio que supre os nossos males e a soluo dosgraves problemas da hora presente e do futuro.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    35/98

    Captulo III

    Conhece-te a ti mesmo!, dizia a sabedoria antiga; o que ohomem conhece de menos ele mesmo, e dessa ignorncia decorrea maior parte de seus erros, de suas faltas, de seus males. O homemmoderno no se interessa seno por seu envoltrio material, isto ,o que h de menos essencial em ns. pela parte sutil,impondervel de nosso ser, aquela que escapa aos nossos sentidos,que pertencendo a este mundo invisvel de onde samos por ocasiode nosso nascimento ou aonde retornamos quando de nossa morte,e que o mundo das causas, das sanes, o nico permanente edurvel.

    Essa forma invisvel, impalpvel, que sustm ainda nosso corpodurante a viglia, que dele se destaca durante o sono e depois damorte, , em todos os tempos, a sede de nossa alma e de suasfaculdades: conscincia, razo, julgamento. Por ela somos ligados ordem superior e divina e como ela somos imperecveis.

    Ali est tambm a fora das intuies profundas, das inspiraesque iluminam todo o nosso ser, quando sabemos nos abstrair dasinfluncias materiais e dar livre curso s foras ocultas em ns.Mas o homem ouve raramente as vozes que falam nele, distradoque est, na maioria das vezes, pelas preocupaes exteriores.

    Se soubssemos ler o belo livro da conscincia, aencontraramos o reflexo de todas as leis superiores. Mas as vozesda conscincia, as fontes da inspirao sendo abafadas, afogadassob a onda montante dos interesses e das paixes materiais, oensinamento dos Espritos vem restabelecer a lei moral, chamar atodos s regras da vida aqui em baixo e no Alm. E, por esseensinamento, a justia surge-nos como uma norma do Universo,no mais a justia humana, sempre defeituosa, mas a justia divina,infalvel, temperada pela misericrdia.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    36/98

    Nada de penas eternas, mas a possibilidade, para todos osculpados, da reparao, da reabilitao pela expiao, pela dor;nada de parasos, de infernos, de purgatrios que se abrem ou se

    fecham por meio de preces pagas; tampouco o nada, onde seconfundem em desordem, sem distino e sem amanh, o bem e omal, o justo e o injusto, o assassino e a vtima! E a certeza de queno h separao definitiva para aqueles que se amaram; a

    perspectiva de tornar a ver, da sano comum para os destinos, paramundos mais felizes. E, tambm, a prova de que os seres afetuosos,embora invisveis, nos assistem, nos protegem, nos inspiram eguiam nossos passos nos sendeiros abruptos da vida, a prova de que

    nenhum de ns est sozinho, abandonado, mas que uma proteotutelar se estende sobre todos e nos rene a nossos amigos doespao em um sentimento de confiana e de amor.

    O Espiritismo bem compreendido, bem praticado, torna-seassim, para os coraes sofredores, para as almas desoladas, umafonte imensa de fora moral e de consolaes.

    Aqui uma questo se coloca: que a Moral? Em que consisteela? apenas uma concepo arbitrria do dever, um conjunto de

    preceitos estabelecidos pelos homens conforme os tempos e osmeios? No! A Moral uma das expresses da lei eterna, divina, deevoluo e do progresso, lei da qual ela inseparvel, visto quenela encontra seu apoio e sua sano.

    Eis porque a Moral dita positiva, separada da noo daimortalidade e da idia de Deus, sempre fria. Ela no impressionanenhum corao, nenhum esprito e permanece estril. a sementeatirada sobre a rocha; foi a moral da escola laica durante uma

    trintena de anos e dela podemos constatar os frutos speros namentalidade das geraes que dela saram. Para reagir contra esseestado de esprito, sonha-se em certos meios, em dar-se de novolugar escola congregacionista, mas isto seria cair de Carybde enScylla12.

    O ensino moral deve mostrar a todos a finalidade da vida, queno a procura da felicidade, como muitos supem, mas o

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    37/98

    aperfeioamento e a depurao do ser que deve sair da existnciamelhor do que nela entrou. Os meios de realizao so o trabalho, oestudo, o esforo constante para o bem.

    Pela observao da lei moral o homem se eleva; violando-a elese rebaixa e se torna menor; ele condena a si mesmo a subir mais

    penosamente a crista sobre a qual escorregou.No temos que atirar seno um olhar em torno de ns para ver

    os males, as enfermidades, os revezes, a conseqncia deexistncias anteriores malbaratadas e perdidas. Mas como asverdades mais evidentes e mais rudes, as lies da adversidade sodifceis de fazer o homem moderno compreender, j que seu

    esprito foi falseado por tantos sculos de erros dogmticos!Destas consideraes resulta que a reforma social, para ser mais

    segura e mais prtica, deveria comear pela reforma do homem emsi mesmo. Se cada um se impusesse uma disciplina intelectual, umaregra capaz de asfixiar, de destruir um fundo de egosmo e

    brutalidade que nos foram legados pelas idades, toda a bagagemmrbida que trazemos ao nascer e que a herana de nossas vidas

    passadas, e isso de modo a fazer renascer em ns um homem novo,

    a evoluo do meio social seria rpida. Poderamos a instaurar oregime que, com a ordem e a liberdade, trouxesse aos homens maisfelicidade, pois acabamos de ver a causa de todos os males em nsmesmos e seria suficiente vencer o que existe de inferior e de mauem nosso ser para tornarmo-nos mais felizes. A felicidade no estfora de ns, mas, antes, em nossa maneira de julgar as coisas, emnossa mente.

    A tarefa mais urgente, mais necessria para cada um de ns,

    seria a de trabalhar na cultura do Eu, na reforma do carter, demaneira a servir de exemplo queles que nos cercam e, de mais amais, sociedade inteira. Agindo nesse sentido, entraremos

    plenamente nos caminhos de nossa destinao, j que a educaoda alma a finalidade ltima, o fim supremo de nossa imensaevoluo. Recolheremos os frutos imediatos resultantes de nossosesforos, enquanto que disso negligenciando nos privamos das

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    38/98

    vantagens que dela decorre e das alegrias que a lei reserva a todosaqueles que muito trabalharam, muito amaram, muito sofreram.

    O estado social no sendo, em seu conjunto, seno o resultado

    dos valores individuais, importa antes de tudo obstinar-nos nessaluta contra nossos defeitos, nossas paixes, nossos interessesegostas. Enquanto no tivermos vencido o dio, a inveja, aignorncia, no se poder estabelecer a paz, a fraternidade, a justiaentre os homens; e a soluo dos problemas sociais permanecerincerta e precria.

    0

    O estudo do ser humano nos leva, pois, a reconhecer que asinstituies, as leis de um povo so a reproduo, a imagem fiel deseu estado de esprito e de conscincia, e demonstram o grau decivilizao ao qual ele chegou. Em todas as tentativas de reformassociais preciso falar ao corao do povo ao mesmo tempo em que sua inteligncia e sua razo.

    A sociedade no seno um agrupamento de almas. Paramelhorar o todo preciso melhorar cada clula social, isto , cada

    indivduo. Expusemos alhures as desordens de nossa poca, asmisrias de nosso sculo atormentado, e demonstramos as suasprincipais causas. Falamos do egosmo de uns, da rapacidade deoutros; vimos o ceticismo fluir e reinar mais alto; o alcoolismo e odeboche desenvolverem-se debaixo e por cima de tudo; aignorncia da finalidade da vida, a incerteza do amanh, odesconhecimento dos deveres mais imperiosos, em uma palavra, oenfraquecimento do carter e a corrupo dos costumes. Se asmentalidades se encontram falseadas, se o livre arbtrio foidiminudo, se a fora radiante do homem diminuiu, que a f emum ideal superior, a causa suprema, adormeceu. As belas paixesse extinguiram, os atos generosos que alimentavam a chamavivificante se tornaram raros.

    Mas, de que serviriam as recriminaes, as crticas vs? Valemelhor procurar remdio, isto , os meios de criar uma sociedade

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    39/98

    mais feliz e melhor, uma sociedade onde a Justia, o Direito e aMoral no seriam mais vs aparncias, porm realidades vividas.Onde encontrar o raio consolador que esclarece e aquece as almas

    em penria, detendo os desesperados sobre a crista do suicdio,opondo um freio s paixes desordenadas que invadem o mundo?Para isso, o mais essencial seria dar ao povo uma nova

    educao, baseada sobre uma doutrina espiritualista vasta eracional. preciso, antes de tudo, que os pensadores queguardaram a luz projetem suas radiaes sobre seus irmos maisensombrecidos, a fim de dissipar os maus fluidos que os envolvem;cabe, sobretudo, escola inculcar na juventude os princpios

    regeneradores, pois no se forma uma sociedade sem todas as suaspeas e preciso comear na infncia a preparar a obra do sculo. preciso uma concepo simples, ntida e clara da vida e do

    destino. Para coroar a educao popular preciso uma alta moraldesprendida de preconceitos, de seitas e de castas, impregnada de

    piedade humana, de piedade para com tudo e com todos, os quesofrem aqui embaixo, homens e animais; estes ltimos so muitasvezes vtimas inocentes da brutalidade humana.

    A inveja e o cime engendraram o dio entre as classes pobres. preciso anular o dio do corao humano, pois com ele no hpaz, harmonia e felicidade possveis. O dio no pode ser vencidopelo dio, diz a sabedoria antiga; ele no pode ser vencido senopela bondade, a benevolncia, a tolerncia. preciso que no sedeixe de lembrar aos escritores, aos renovadores, seus deveres esuas responsabilidades, pois pela pena e pela palavra eles detmgrande poder, tanto a servio do bem como a servio do mal. Que

    eles se lembrem em seus artigos e seus discursos que podem serpara cada auditor uma causa de elevao ou de regresso. O piordos papis deste mundo consiste em trabalhar conscientemente paraenvenenar as almas.

    Tornam-se necessrias a tolerncia em nossos costumes e a precauo em lanar antema queles que pensam de mododiferente do nosso. Faz-nos bem reconhecer, por nossa parte, que

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    40/98

    entre os contraditores h pessoas de mrito, dignas de consideraoe de estima. A nova educao dever insistir sobre a noo dasvidas sucessivas, pois enquanto essa grande doutrina no vier

    esclarecer o caminho do homem na Terra a incerteza persistir paraele com os tateamentos, os erros e todos os males que decorrem daignorncia e da finalidade ltima.

    Do mesmo modo que devemos nos destacar, pelo pensamento,de nosso minsculo planeta e considerar o conjunto dos mundos

    para entrever a unidade do Universo e a majestade de suas leis, apenas abraando com o olhar o panorama de nossas existnciasque poderemos conhecer o lao que as religa entre si e as prende ao

    princpio de justia que rege todas as coisas. Entocompreenderemos que construmos, ns mesmos, nossos destinos eque nossos atos, bons ou maus, recaem sobre ns atravs dostempos com suas conseqncias. Nossa maneira de viver e de agir,desta forma, sem dvida, seria profundamente modificada.

    Mas isto impossvel por duas razes: uma moral e outrafisiolgica. De acordo com a situao da maioria de ns, sobre osdegraus inferiores da escala da evoluo, nossas vidas passadas no

    so, em geral, seno um tecido de erros, de fraquezas, cujoconhecimento, em nos hipnotizando, paralisam nossa iniciativa,enfraquecendo nossos esforos.

    Do ponto de vista fisiolgico, nosso crebro material incapazde reproduzir a lembrana de acontecimentos dos quais ele no

    participou. Mas nas profundezas de nossa memria, no que est emmoda chamar o subconsciente, todas as aquisies anterioressubsistem e da provm nossas atitudes, nossas faculdades, os

    traos de nosso carter, todos os elementos de nossa personalidade,isto , o que h de mais essencial para o cumprimento da tarefa decada nova vida.

    0

    Possumos agora, nas manifestaes dos Espritos, provasinumerveis da sobrevivncia, mas, a despeito destas provas

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    41/98

    preciso que permaneamos sempre atentos, sem idia preconcebida,para constatar que nossas necessidades intelectuais desbordam oslimites de nossa vida, que nossas aspiraes, nossas tendncias,

    ultrapassam o quadro estreito da existncia atual.Em todo o ser pouco evoludo observa-se como um reflexo, um

    resumo, uma sntese das foras universais: matria, fora e esprito;e por esses trs aspectos ns nos sentimos arrebatados a esseUniverso imenso e sua finalidade. As formas apenas passam e seesvaem, as foras se afinam, a alma permanece indestrutvel.

    preciso compreender que tudo no Universo justia, verdade,moral se combina e se funde em um princpio nico que a lei

    viva do Universo e se identifica em Deus. Apenas quando o homemgravou essa lei em sua conscincia e dela fez o mvel de suas aes que ele entra em comunho divina e goza as alegrias espirituaisque dela decorrem.

    Certamente, este fim, este resultado longnquo; ele difcil deser realizado plenamente na Terra. Entretanto, todas as grandesobras nele se inspiram, sem que sejam destinadas a perecer. Ossocialistas devem pois adotar essa lei natural acima de tudo e dela

    fazer a regra de seu trabalho, a base de suas organizaes.Com efeito, como poder-se-ia vencer o mal, o erro e a injustia

    no mundo se no se comear a venc-la em cada ser em particular?Esta luta, entre todas, meritria e fecunda. A cada passo

    frente, isto , a cada conquista sobre suas paixes, o homem sentese acrescerem suas foras radiantes e a influncia benvola que elaexerce em seus semelhantes.

    Ele aprende pouco a pouco a unir seus esforos queles domundo invisvel para a realizao da obra comum: oaperfeioamento social.

    Deste ponto de vista repetimos que o Socialismo teria umgrande papel a desempenhar. Este seria o de fazer penetrar na almado povo o culto da beleza intelectual e moral, sob formas simples,

    porm capazes de reagir contra esses prazeres malsos em que o

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    42/98

    esprito se corrompe, em que o gosto se perverte. Seria o de elevaro pensamento para o ideal onde converge toda a evoluouniversal, para as alturas onde irradiam a luz, a verdade e a

    bondade. Pois no basta assegurar o bem-estar material, precisotambm dar ao homem a fora moral que o sustentar nas provas,nos revezes, nas molstias, como diante da morte daquele que eleamou.

    Todas as vantagens materiais, os maiores salrios, no sosuficientes para preservar o homem do desencorajamento, dodesespero nas horas dolorosas, por exemplo, quando ele descer tumba o caixo morturio daqueles que lhe foram queridos; quando

    ele se sente atingido em seus sentimentos ntimos, em seus afetosmais profundos. No h doutrina que possa nos trazer tanta consolao e

    reconforto quanto o novo espiritualismo, pois ele nos demonstraque tudo sobrevive para evoluir. As almas que nos antecederam noAlm guardam-nos os tesouros de sua ternura, nos protegem, nosassistem em circunstncias difceis e ns as encontraremos um dia

    para percorrermos juntos novas etapas ascensionais. Podemos

    mesmo obter provas de sua sobrevivncia e do interesse quecontinuam a ter para conosco.Muitas vezes notei que para a maioria dos operrios o trabalho

    manual puramente maquinal e deixa toda liberdade ao pensamento. Se este fosse regularizado, disciplinado, orientadopara um fim elevado, ele poderia tornar-se um meio poderoso deaperfeioamento para o indivduo e, por reflexo, sobre todo o meioambiente, enquanto que o pensamento flutua quase sempre sobre

    assuntos pueris e vos, perdendo assim todo seu poder educativo esocial.Assim como o adgio da sabedoria oriental, Somos o que

    pensamos, aquele que fala e age segundo um pensamento puro, afelicidade segue-o como sua sombra. Mas os ocidentais no sabemadministrar o jogo de suas faculdades e esta a razo porque aexistncia muitas vezes to estril para o seu avano. Eles vieram

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    43/98

    Terra para aqui se engrandecer intelectual e moralmente, e daquisaem como chegaram sem cuidar de suas recadas possveis,renascimentos em meios grosseiros e inferiores, onde as tarefas

    sero mais penosas e mais rigorosas.A lei sobre a jornada de oito horas oferece ao operrio mais

    lazeres para o trabalho intelectual e a cultura do Eu. Que ele saibadisso tirar partido; preciso no perder de vista que nossasresponsabilidades se medem pela extenso de nossa liberdade e denossos meios de ao. E isto se aplica aos homens de todas asclasses e de todas as condies.

    preciso que todos aprendam a desprender, por vezes, seus

    espritos dos burburinhos terrestres, a lanar seus olhares para osvastos horizontes onde o destino chama, sem o que arriscariam a sereencontrar, para alm da tumba, no estado de tantos humanosdescuidados da lei moral, isto , em um estado prolongado de

    perturbao, de inquietude e de obscuridade.Desnecessrio dizer que toda a destinao do ser, as condies

    de sua vida futura, sua situao no Alm, tudo regido por uma leiimanente que traz em si mesma sua sano. O homem, por seus

    atos, faz nele prprio, em sua alma, a luz ou a treva.Esta lei imanente, que no seno a lei moral, no , pois, o

    resultado de uma conveno terrestre, porm qualquer coisa demais alto e maior, o reflexo do pensamento divino, a formasuprema da beleza eterna. Apenas atravs dela chegaremos atriunfar sobre os baixos instintos e foras inferiores, a orientarnossas foras a uma finalidade sempre mais elevada. Atravs delanos sentimos livres e responsveis, verdadeiramente filhos de Deus,

    Dele emanados e destinados a Ele retornar.

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    44/98

    Captulo IV

    A rivalidade entre os partidos desperta, por vezes, paixesbastante violentas para obscurecer as mais altas inteligncias efalsear os melhores julgamentos. Assim, convm no tocar asquestes sociais seno com grande seriedade. preciso aproximar-se do trmino de uma longa carreira, ter adquirido uma maduraexperincia dos homens e das coisas, ter se afastado porantecipao das contingncias terrestres, para disso falar com umaserena imparcialidade.

    Este um pouco o meu caso e por isso me propus a abordaressas questes com inteira franqueza. Recebi sobre este assunto umcerto nmero de cartas que apresentam as nuances mais variadas deopinio, desde as aprovaes mais calorosas at as crticas maisamargas. No podendo responder a todas, envio aos seus autores,indistintamente amigos e adversrios, aprovadores ou crticos, umaradiao do corao, um pensamento igualmente simptico. Eu

    pediria, apenas, a meus contraditores que prestassem muita atenona finalidade dos artigos que escrevo antes de julgar-me e decondenar-me.

    Em todos os tempos, em todos os meios, a questo social foiobjeto de preocupaes de pensadores, filsofos e de homens

    polticos; deu nascimento a uma multido de teorias e sistemas;caos confuso onde o pesquisador encontra dificilmente o fio deAriadne que os impedir de se desgarrarem.

    Ainda hoje os socialistas dividem-se em escolas diversas. Osalemes, em nmero importante, prendem-se s teorias de KarlMarx, que se inspiram no materialismo brutal, preconizam as lutasde classes e sua concluso, logicamente, desemboca em umaditadura do proletariado, isto , no bolchevismo. Ora, sabe-se o que

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    45/98

    este regime proporcionou Rssia. Voltaremos mais tarde a tratardeste assunto.

    Depois do sucesso das foras armadas alems em Sadova e logo

    aps em Sedan, as teorias marxistas ganharam uma grandeextenso. A Sozial Demokratie tinha se tornado bastante poderosa

    para impedir a grande guerra, mas, apesar da promessa feita aJaurs, ela no apenas voltou os crditos militares, pedidos peloImperador em vista dessa guerra, como tomou nela uma parte

    prfida e cruel. Por este fato ela assumiu, diante da histria, umapesada e terrvel responsabilidade.

    Os socialistas franceses adotaram, de preferncia, as doutrinas

    de Fourier13 e de Proudhon14. Seu fim comum a supresso dosalariado em proveito de um novo regime de propriedade emsentido coletivo com a socializao dos meios de produo e detroca. Mas, desde o comeo, v-se passar nos modos de aplicao,tanto entre os unificados como em outros agrupamentos,divergncias de opinio que se revelam e contradies queaparecem.

    a, sobretudo, que lhe falta um ideal superior que religasse

    todos os esforos e vantagens e se fizessem sentir; pois no omaterialismo em voga nestes meios que susceptvel de inspir-lo.Pelo contrrio, os apetites se fazem luz e o Socialismo muitasvezes serve de trampolim a ambiciosos destitudos de brio que outilizam para chegar a seus fins polticos, sem cuidar dosengajamentos tomados, o que muitas vezes contribui para odesacreditar na opinio geral.

    Estamos, pois, em presena de duas grandes correntes opostas,

    uma germnica e russa, outra ocidental. A primeira, vimos, inspira-se num dogmatismo estreito e brutal, formado de teorias preconcebidas, sem relao com as necessidades sociais. Eleconduz retamente dominao exclusiva de uma classe, aosterrorismos e ao nivelamento.

    O Sr. Hesnard, em seu estudo muito documentado sobre Les partis politiques alemands, faz notar que no Reischetag os

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    46/98

    socialistas, pouco inclinados a reconhecer o Tratado de Versailles eo direito da Frana s reparaes de guerra, sustentaram todos osgovernos que aludiram s obrigaes, e no exagerado pretender

    que todos os partidos polticos (alemes) tinham apenas um desejo:o de fazer fracassar a paz.A corrente ocidental, francesa e inglesa, , todavia,

    organizadora, construtora. Ela se estende por todos os seus meios,sindicalismo, cooperativismo, participao, mutualidade, segurossociais, proporcionando aos operrios de toda a ordem uma partecrescente dos benefcios da produo e no regime da propriedade.Pretende essa organizao de prximo em prximo criar uma vasta

    organizao internacional que seria a sociedade das naes vivendoe agindo pacfica e mediadora.Seu erro acreditar que se pode atingir o resultado somente

    atravs de medidas polticas e econmicas. Esquece-se de que preciso, acima de tudo, uma f ardente, um ideal elevado capaz defecundar todos os esforos; esquece-se de que preciso o espritode devotamento e sacrifcio para fazer nascer o sentimento dealtrusmo que o cimento necessrio a toda edificao social.

    Qualquer que seja o ponto de vista em que nos colocarmos, pode se organizar a vida aqui em baixo sem saber qual suafinalidade e suas leis, para quais horizontes ela nos conduz. Umconhecimento mais extenso da vida universal e da solidariedadeque nos religa todos os seres mostrar aos socialistas que precisoelevar-se acima dos interesses de casta e de classe para realizarqualquer obra de maior vulto e mais durvel.

    0

    Todos os partidos socialistas tm a ambio legtima deconquistar o poder e substituir-se aos governos burgueses. Peloscartazes verborrgicos, prometem aos eleitores gerar empregos

    pblicos com um esprito de ordem, economia e progresso. Mas,em quase toda parte onde os administradores socialistas se

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    47/98

    instalaram pde-se constatar uma recrudescncia de processosarbitrrios e de desordens nas finanas.

    Neste mesmo momento, queixas se levantam em toda a

    Alemanha, queixas que um jornal popular, liberal, resume nestestermos: A experincia socialista deu resultados lastimveis. A

    poltica de Partido agita as paixes e provoca recriminaesgeneralizadas. Os grupos do meio reprovam o direito dos dirigentesde exercer uma autoridade interclasses e colocam os interesses deseu partido acima dos interesses do Estado; por exemplo, asnomeaes efetuadas, que testemunham um verdadeiro nepotismode favoritismo. O Ministro da Instruo Pblica outorga at mesmo

    diplomas de doutor e usurpa, assim, um direito que no pertenceseno s faculdades. Os protestos e os pedidos de controle, visandoos atos dos socialistas, dirigidos em Berlim, so sofismados pelochanceler.

    Poder-se-ia lembrar, na Frana, o fato das municipalidadesterem se tornado socialistas em muitas de nossas grandes cidades,onde as finanas decaram, e mesmo em certos departamentos pelagesto do Conselho Geral.

    Na Inglaterra, o caso Poplard est em todas as memrias. Aadministrao da Cmara Municipal de Leicester no foi muitoedificante. verdade que o Ministrio Trabalhista manifestaintenes muito louvveis e um ardente desejo de solucionar

    problemas difceis que pesam sobre a situao da Europa. preciso tambm notar que a inexperincia dos socialistas, que

    no tiveram seno raramente a ocasio de adquirir o conhecimentodos processos e o manejo dos interesses, a parte das velhas

    classes dirigentes.Est na tradio da raa anglo-saxnica cultivar a livre iniciativaindividual e desenvolver a fora e a vontade de cada um. Quantoaos socialistas franceses, estes esperam quase tudo do Estado. Qual a teoria que responde melhor grande lei da Evoluo? A

    primeira assegura no apenas a riqueza e prosperidade das naes,mas tambm a conformidade com o princpio universal que

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    48/98

    conclama todos os seres para o melhor, para o bem, fazendo crescersem cessar o haver pessoal e coletivo.

    O encampamento de todas as coisas pelo Estado paralisa os

    esforos laboriosos, extingue a livre concorrncia e o esprito deemulao. A nacionalizao das Minas e das Estradas de Ferro setraduz quase sempre por um dficit; ela resulta na elevao dastarifas e, por isso, acresce ainda mais as dificuldades da vida

    pblica.Na realidade, o Estatismo enfraquece o poder das Naes, sua

    livre expanso e sua afirmao diante do mundo. O Estado entre asmos de um partido e de uma classe que se apia sobre a fora,

    sobre a violncia, em proveito de uma nica frao do pas, comovimos acontecer na Rssia e na Hungria, leva aos piores excessos,destri a obra dos sculos e conduz um pas runa, regresso,

    barbrie.Se h uma nao que tenha sofrido paixes polticas exageradas

    bem a Rssia. As tempestades que ali ocorreram soincalculveis. Podemos lembrar as convulses que este pas teveque sofrer e como as massas ali foram excitadas por ambiciosos

    cnicos que, no fundo, bem sabiam que suas teorias eram falsas,mas que delas se serviram como de uma escada para atingir opoder.

    O governo dos soviticos havia proclamado solenemente asupresso do capital, da propriedade individual, o nivelamentosocial, em uma palavra, o comunismo mais integral, mais rigorosoe eis que, cinco anos passados de misria, de fome, de cruissofrimentos para o povo, foi constrangido a fazer apelo aos

    capitalistas estrangeiros, a recorrer aos tcnicos de todos os pases afim de reconstruir penosamente o que havia destrudo. No sepoderia sonhar uma falibilidade mais completa e h a uma grandelio para as democracias ocidentais.

    Longe de ns o pensamento de criticar os comunistas deconvico sincera que desejariam estabelecer na Terra o regimesocial que reina, provavelmente nos mundos superiores, l, onde

  • 8/14/2019 Leon Denis - Socialismo e Espiritismo

    49/98

    todos trabalham para cada um e cada um por todos, no esprito dedevotamento absoluto a uma causa comum. Esse regime exigequalidades morais e sentimento de altrusmo que no existe seno

    em condies excepcionais em nosso mundo egosta e atrasado.Poder-se-ia fazer das teorias comunistas, parte, aspiraes

    generosas, mas seria fcil demonstrar que elas so prematuras einaplicveis na sociedade atual. Fora preciso sculos de culturamoral e de educao popular para levar o esprito humano ao estadode perfeio necessria a uma tal ordem de coisas e, da, a posseindividual dos frutos do trabalho permanecer como estimulanteindispensvel, o meio de emulao que assegura pr em ao o

    equilbrio das foras sociais.Pelo momento, o comunismo, como dissemos precedentemente,no realizvel seno no seio de grupos restritos, cuidadosamenterecrutados, nos quais todos os membros so animados por uma fintensa e esprito de sacrifcio.

    No se poderia sonhar com a possibilidade de estender aaplicao a naes inteiras, a milhes de homens nos quais asvariedades de caracteres e de temperamentos fariam laboriosos e

    sbios os estpidos, os preguiosos, os imprevidentes e osdebochados. Em todos os casos, no ser atravs do crime e pelosangue que se poder fundar um regime de fraternidade, desolidariedade e de amor!

    As instituies no so realmente vivas e fecundas senoquando os homens, por uma vida interior verdadeira, sabem anim-la. Um comunismo sem ideal elevado no poderia ser construdosobre uma areia perpetuamente movedia. As tendncias soviticas

    parecem ser inseparveis da doutrina materialista, que s v ohorizonte limitado da vida presente, e ignoram toda perspectiva para o lado de l, para a evoluo superior.