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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA LARISSA RODRIGUES NETO ANGELOCO Associação entre carga ácida da dieta e bicarbonato sérico em portadores de doença renal crônica RIBEIRÃO PRETO 2017

LARISSA RODRIGUES NETO ANGELOCO - USP€¦ · (CKD). Acid-inducing diets are believed to impact on acid-base balance. However, well-designed studies are still needed to prove the

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO

DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA

LARISSA RODRIGUES NETO ANGELOCO

Associação entre carga ácida da dieta e bicarbonato sérico em

portadores de doença renal crônica

RIBEIRÃO PRETO

2017

LARISSA RODRIGUES NETO ANGELOCO

Associação entre carga ácida da dieta e bicarbonato sérico em

portadores de doença renal crônica

Tese apresentada ao programa de

pós-graduação da Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Doutor em

Ciências Médicas.

Área de concentração: Clínica Médica.

Orientadora: Profa Dra Paula Garcia

Chiarello.

Co-orientadora: Profa Dra Elen Almeida

Romão.

RIBEIRÃO PRETO

2017

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por

qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e

pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA

Angeloco, Larissa Rodrigues Neto.

Associação entre carga ácida da dieta e bicarbonato sérico em portadores de doença renal crônica. / Larissa Rodrigues Neto Angeloco; Orientadora: Paula Garcia Chiarello; Co-orientadora: Elen Almeida Romão – Ribeirão Preto, 2017.

124 p: Il

Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / Universidade de São Paulo, 2017. Área de concentração: Clínica Médica.

1. Potencial de carga ácida renal 2. Carga ácida da dieta 2. Bicarbonato sérico 3. Pré-diálise 4. Estresse oxidativo 5. Gasto energético de repouso

Nome: ANGELOCO, Larissa Rodrigues Neto

Título: Associação entre carga ácida da dieta e bicarbonato sérico em

portadores de doença renal crônica.

Tese apresentada ao programa de

pós-graduação da Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto da

Universidade de São Paulo para

obtenção do título de Doutor em

Ciências Médicas.

Área de concentração: Clínica Médica.

Aprovado em: ____/____/____

Banca Examinadora

Prof. Dr. _____________________ Instituição:__________________

Julgamento: __________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. _____________________ Instituição:__________________

Julgamento: __________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. _____________________ Instituição:__________________

Julgamento: __________________ Assinatura: _________________

Prof. Dr. _____________________ Instituição:__________________

Julgamento: __________________ Assinatura: _________________

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Norberto e Ruth, por sempre primarem pela minha educação, pelo

apoio na vida acadêmica, pelos ensinamentos e valores ensinados, pelo amor

compartilhado, pelo porto seguro que são para mim e pela convivência harmoniosa.

Vocês são meus exemplos de vida!

Aos meus irmãos, Rebecca e Renan, pela troca de experiências de uma vida

inteira, pelos momentos de descontração, por sempre me incentivarem e torcerem

pela minha vitória.

Ao meu noivo, Felipe Lourenço, pela presença constante em minha vida, por todo o

apoio necessário para o meu crescimento pessoal e profissional, por me incentivar

a querer novos desafios, pelos planos futuros e por me proporcionar diariamente

imensas alegrias, amor e carinho.

À minha orientadora, Paula Chiarello, por toda a confiança depositada em mim e no

meu trabalho, pelos ensinamentos, pelas oportunidades de publicações de livros e

artigos científicos, pela motivação na busca por novos conhecimentos, pelo

incentivo e apoio ao estágio no exterior, pela amizade, pelas risadas frequentes e

por todas as conquistas realizadas durante todo esse período de muito

aprendizado.

À minha co-orientadora, Elen Romão, por toda a dedicação dada ao

desenvolvimento desse estudo, pela disposição e disponibilidade para discussões

relacionadas ao projeto, por seus questionamentos e pelas contribuições realizadas

na etapa de qualificação.

Ao Professor Alceu, por ter me dado a oportunidade de ter o primeiro contato com a

área de pesquisa durante a graduação, por ter sido essencial nesse processo de

aprendizagem, pela disponibilização do seu laboratório para dosagens bioquímicas

presentes neste trabalho e pela companhia divertidíssima dentro e fora do

expediente.

Aos meus queridos pacientes, pela confiança durante a realização da pesquisa,

pelos vínculos formados, pela convivência prazerosa, pela disponibilidade e pela

oportunidade de desenvolver este estudo.

Aos voluntários saudáveis, pela participação, por serem sempre solícitos, pela

paciência e pela compreensão da importância deste estudo.

Ao nosso grupo de estudo e de ambulatório, pelos momentos de estudo, de escrita

de artigo científico e de tensão durante as qualificações e defesas, por dividirem

comigo o amor à nutrição e aos rins, pelas trocas de experiências, apoio, vivência

harmoniosa e momentos de descontração.

À Paula Payão, pela contribuição e ensinamentos nas análises laboratoriais, pelo

apoio, compreensão e por tornar o ambiente de laboratório mais descontraído.

À equipe de médicos do HCFMRP-USP, pela compreensão e auxílio durante toda a

etapa de recrutamento dos pacientes.

Às técnicas de enfermagem da UPC, disponibilidade e proatividade em ajudar o

próximo, por seder um espaço para a realização da pesquisa e por todo o carinho e

atenção durante a fase de coleta do dados.

À Ana e ao Baltazar do laboratório de nefrologia do HCFMRP-USP, por permitirem

o uso do laboratório, pelas dosagens bioquímicas, por me ajudarem nos momentos

de greve do hospital e por toda a dedicação.

À estatística Tatiana Icuma, por ter realizado parte da estatística desse projeto e

pela disponibilidade e paciência em explicar a análise dos dados.

Ao Dr. Ikizler da “Vanderbilt University, por me ter recebido em sua equipe e

permitir que eu acompanhasse os cuidados nutricionais dos seus serviços.

À FAPESP, pelo apoio financeiro, por acreditar no meu trabalho e por permitir a

realização dessa tese, como também o estágio no exterior.

RESUMO

ANGELOCO, L. R. N. A. Associação entre carga ácida da dieta e bicarbonato

sérico em portadores de doença renal crônica. 2017. 124 p. Tese (Doutorado) –

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão

Preto, 2017.

A acidose metabólica é um achado comum em pacientes portadores de

Doença Renal Crônica (DRC). Acredita-se que a dieta pode afetar o equilíbrio ácido-

base do corpo por meio do fornecimento de precursores ácidos ou de base. No

entanto, os resultados inconclusivos apontados na literatura indicam que ainda são

necessários estudos bem delineados para comprovar a existência dessa associação.

O principal objetivo desse estudo foi determinar o potencial de carga ácida renal

(PRAL) proveniente da dieta e avaliar a sua associação com o bicarbonato sérico

(HCO3) em pacientes com DRC enquanto em suas dietas habituais. Associações do

HCO3 com o gasto energético de repouso (GER) e com oxidações proteicas e lipícas

também foram estudadas. Trata-se de um estudo transversal realizado com 100

pacientes distribuídos igualmente nos estágios 3 e 4 da DRC entre 20 e 69 anos.

Avaliação do estado nutricional foi feita por meio da antropometria, registro alimentar

e exames bioquímicos, o qual incluiu os produtos proteicos de oxidação avançada e

os isoprostanos. O HCO3 foi determinado por meio da gasometria venosa. GER foi

medido pela calorimetria indireta. O PRAL foi determinado por meio do registro

alimentar usando um algoritmo que inclui dados dietéticos da ingestão de proteína,

fósforo, magnésio, cálcio e potássio descritos por Remer e Manz (1995). Também foi

feita a diferenciação no consumo de proteína animal e vegetal. A análise dos

resultados foi feita em quartis de HCO3 para as variáveis GER e parâmetros de

oxidação, o restante das análises foram feitas por quartis de PRAL. Para

comparação das variações médias dos quartis foi utilizado o teste one-way ANOVA.

A associação entre a estimativa do PRAL e o HCO3 foi avaliada por modelos de

regressão linear ajustados. A maior parte dos nossos pacientes portadores de DRC

encontravam-se com excesso de peso associado a um aumento da circunferência

abdominal e da porcentagem de gordura corporal. A mediana do PRAL foi de 6,8

mEq/dia com uma variação entre -24 a 52 mEq/dia. O PRAL mais elevado foi

associado com o HCO3 mais baixo de uma forma graduada (p < 0.02). Encontramos

uma diferença de 2,07 mmol/L no HCO3 entre o primeiro e o último quartil, sendo o

valor do último quartil de PRAL menor em relação ao primeiro. A proteína animal

apresentou uma correlação inversa com o bicarbonato sérico. O GER e os

marcadores de oxidação lipíca e proteica não apresentaram associações com os

níveis de HCO3. Esses resultados reforçam a possibilidade de que dietas com alto

teor de carga ácida podem desempenhar um papel relevante no equilíbrio ácido-

base em pacientes portadores de DRC, além de consolidar o uso da carga ácida da

dieta como uma abordagem diferencial e complementar às outras estratégias no

tratamento dietético da DRC.

Palavras-chave: Potencial de carga ácida renal. Carga ácida da dieta. Bicarbonato

sérico. Pré-diálise. Estresse oxidativo. Gasto energético de repouso .

ABSTRACT

ANGELOCO, L. R. N. A. Association between dietary acid load and serum

bicarbonate in patients with chronic kidney disease. 2017. 124 p. Thesis (PhD)

– Ribeirao Preto Medical School, University of Sao Paulo. Ribeirao Preto, 2017.

Metabolic acidosis is a common complication in patients with chronic kidney disease

(CKD). Acid-inducing diets are believed to impact on acid-base balance. However,

well-designed studies are still needed to prove the association between dietary acid

load and serum bicarbonate. The main aim of this study was to calculate the

potential renal acid load (PRAL) of selected, frequently consumed foods and to

evaluate its association with serum bicarbonate (HCO3) in patients with CKD.

Associations of HCO3 with resting energy expenditure (REE) and with protein and

lipid oxidation were also studied. It is a cross-sectional study with 100 patients

equally distributed in stages 3 and 4 of CKD between 20 and 69 years. Nutritional

status was assessed by anthropometric measurements, 3-day food recall,

biochemical analysis including advanced oxidation protein products and

isoprostanes. Venous blood gases was used to measure HCO3. GER was

measured by indirect calorimetry. PRAL was determined by food record using an

algorithm that includes protein, phosphorus, magnesium, calcium and potassium

intake described by Remer and Manz (1995). Dietary intake of animal and vegetable

protein were also evaluate. For analysis, we used quartiles of HCO3 for GER and

oxidation parameters and for the others variables we used quartilhes of PRAL.

ANOVA one-way test was used to compare the mean of the quartiles. The

association between PRAL and HCO3 was assessed by linear regression models.

Most of the patients were overweight with increased waist circumference and body

fat. The median PRAL was 6.8 mEq/day with a variation between -24 to 52

mEq/day. Higher PRAL was associated with lower serum bicarbonate in a graded

fashion (P trend 0.02). Serum bicarbonate was 2.07 mEq/L lower among those in

the highest compared with the lowest quartile of PRAL. Animal protein was inversely

correlated with serum bicarbonate. REE and lipid and protein oxidation markers

showed no association with HCO3 levels. These results reinforce the possibility that

diets with high dietary acid load may play a relevant role in the acid-base balance in

CKD patients. In addition to consolidating the use of PRAL as a differential and

complementary approach to other strategies in the nutritional treatment of CKD.

Key-words: Potential renal acid load. Dietary acid load. Serum Bicarbonate. Pre-

dialysis. Oxidative stress. Resting energy expenditure.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fórmula de estrutura dos aminoácidos sulfurados metionina e

cisteína……………………………………………………………………...23

Representação esquemática da neutralização de ácidos pelo

metabolismo da glutamina...................................................................26

Representação esquemática dos mecanismos celulares de transporte

de prótons e bicarbonato no túbulo proximal.......................................27

Estimativa do Potencial de Carga Ácida Renal (PRAL) de alimentos

selecionados........................................................................................32

Classificação do estado nutricional segundo o índice de massa

corporal e da circunferência abdominal dentre os participantes com

doença renal crônica...........................................................................56

Representação do gasto energético de repouso do grupo controle e do

grupo de pacientes portadores de DRC..............................................71

Figura 1 -

Figura 2 -

Figura 3 -

Figura 4 -

Figura 5 -

Figura 6 -

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Definições das terminologias utilizadas no decorrer da tese……...…..30

Tabela 2 - Equações para estimar a produção endógena de ácidos (NEAP).......34

Tabela 3 - Equação de predição do GER avaliada no presente estudo................53

Tabela 4 - Características demográficas e clínicas da população de pacientes com

DRC estudada estratificadas por quartis de potencial de carga ácida

renal (mEq/dia.....................................................................................58

Tabela 5 - Comparação das características demográficas e clínicas do grupo

controle com a amostra total de pacientes portadores de DRC..........59

Tabela 6 - Características das variáveis bioquímicas da população de pacientes

com DRC estudada estratificados por quartis de potencial de carga

ácida renal (mEq/dia)...........................................................................61

Tabela 7 - Parâmetros de acidez no sangue e na urina da população de pacientes

com DRC estudada estratificados por quartis de potencial de carga

ácida renal (mEq/dia)...........................................................................62

Tabela 8 - Diferenças no bicarbonato sérico segundo os quartis de potencial de

carga ácida renal (mEq/dia) comparados ao menor quartil em modelos

não ajustados e ajustados...................................................................63

Tabela 9 - Comparação dos parâmetros de acidez no sangue e na urina do grupo

controle com a amostra total de pacientes portadores de DRC..........64

Tabela 10 - Avaliação do consumo alimentar dos pacientes com DRC estratificadas

por quartis de potencial de carga ácida renal (mEq/dia) segundo o

último dia do registro alimentar de 3 dias............................................66

Tabela 11 - Comparação do consumo alimentar do grupo controle com a amostra

total de pacientes portadores de DRC.................................................67

Tabela 12 - Comparação da produção endógena de ácido (NEAP) do grupo controle

com a amostra total de pacientes portadores de DRC........................68

Tabela 13 - Comparação dos marcadores de estresse oxidativo proteico e lipídico

dos pacientes portadores de DRC segundo os quartis de bicarbonato

sérico...................................................................................................69

Tabela 14 - Comparação dos marcadores de estresse oxidativo proteico e lipídico

do grupo controle com a amostra total de pacientes portadores de

DRC.....................................................................................................69

Tabela 15 - Comparação do gasto energético de repouso, da oxidação de substratos

e do fator injúria dos pacientes portadores de DRC segundo os quartis

de bicarbonato sérico..........................................................................70

Tabela 16 - Comparação do gasto energético de repouso do grupo controle com o

grupo de pacientes portadores de DRC..............................................70

Tabela 17 - Modelo de regressão linear simples dos pacientes portadores de DRC

considerando o bicarbonato sérico como a variável dependente.......73

Tabela 18 - Modelo de regressão linear múltiplo para o conjunto de características

dietéticas dos pacientes portadores de DRC considerando o

bicarbonato sérico como a variável dependente.................................73

Tabela 19 - Seleção automática dos modelos de regressão linear múltipla segundo

a variável dependente bicarbonato sérico...........................................74

LISTA DE ABREVIATURAS

AC: Anidrase carbônica

AGE: Produtos finais de glicosilação

AMBc: Área muscular do braço corrigida

AO: Ácidos Orgânicos

AOPP: Produto proteico de oxidação avançada

ASG: Avaliação subjetiva global

AT: Ácido titulável

AU: Ácido úrico

CA: Circunferência abdominal

CB: Circunferência do braço

CI: Calorimetria indireta

CMB: Circunferência muscular do braço

CR: Creatinina

CT: Colesterol total

DC: Densidade Corporal

DM2: Diabetes mellitus tipo 2

DLP: Dislipidemia

DP: Desvio padrão

DRC: Doença Renal Crônica

EAR: Excreção Renal de Ácidos

eTFG: Estimativa da taxa de filtração glomerular

F2-IsoPs: F2-Isoprostanos

F&H: Frutas e hortaliças

GER: Gasto energético de repouso

GET: Gasto energético total

GLN: Glutamina

HAS: Hipertensão arterial

HB: Hemoglobina

HCO3: Bicarbonato sérico

HDL-c: Lipoproteína de alta densidade

HT: Hematócrito

IMC: Índice de massa corporal

LDL-c: Lipoproteína de baixa densidade

MDRD: Modification of Diet in Renal Disease

NEAP: Produção endógena de ácidos

nPNA: Equivalente proteico de aparecimento de nitrogênio normalizados pelo peso

PA: Pressão arterial

PB: Prega cutânea bicipital

PCT: Prega cutânea tricipital

PCR: Proteína C reativa

PNA: Equivalente proteico de aparecimento de nitrogênio

PSE: Prega cutânea subescapular

PSI: Prega cutânea suprailíaca

PRAL: Potencial de Carga Ácida Renal

QR: Quociente respiratório

TFG: Taxa de filtração glomerular

TG: Triglicérides

USP: Universidade de São Paulo

WHO: World Health Organization

LISTA DE SÍMBOLOS

Ca: Cálcio

CL: Cloreto

CO2 : Dióxido de carbono

Fe: Ferro

H+: íon hidrogênio

HCO3-: Íon Bicarbonato

H2CO3: Ácido carbônico

H2O: Água

K: Potássio

Mg: Magnésio

Na: Sódio

NH3: Amônia

NH4+: Amônio

P: Fósforo

PO4: Fosfato

SO4: Sulfato

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 21

1.1 Fundamentos do equilíbrio ácido-base ............................................................... 22

1.2 Papel do rim no equilíbrio ácido-base ................................................................. 24

1.2.1 Excreção renal de ácidos ................................................................................ 24

1.2.2 Neutralização de ácidos .................................................................................. 25

1.2.3 Reabsorção de bicarbonato no túbulo renal .................................................... 26

1.3 distúrbio do metabolismo ácido-base na doença renal crônica: acidose

metabólica ................................................................................................................. 28

1.4 Manejo nutricional na acidose metabólica ........................................................... 29

1.4.1 Estimativa do potencial de carga ácida renal (PRAL) ..................................... 31

1.4.2 Estimativa da produção endógena de ácido (NEAP) ...................................... 33

1.4.3 Estimativa da excreção renal de ácidos (EAR) ............................................... 35

1.5 Impacto da acidose metabólica no estresse oxidativo ....................................... 36

1.6 Gasto energético de repouso na doença renal crônica ....................................... 38

2 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 41

3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 43

3.1 Objetivo Geral .................................................................................................... 43

3.2 Objetivos Específicos ......................................................................................... 43

4 MÉTODOS .......................................................................................................... 45

4.1 Indivíduos ............................................................................................................ 45

4.2 Dados clínicos ..................................................................................................... 46

4.3 Avaliação Nutricional ........................................................................................... 46

4.3.1 Antropometria e composição corporal ............................................................. 46

4.3.2 Dados bioquímicos .......................................................................................... 48

4.3.3 Dados dietéticos ............................................................................................... 50

4.4 Determinação do gasto energético de repouso por calorimetria indireta ............ 52

4.5 Equação de predição do gasto energético .......................................................... 53

4.6 Análise estatística ............................................................................................... 54

5 RESULTADOS .................................................................................................... 56

6 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 76

7 CONCLUSÃO...................................................................................................... 88

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 90

ANEXOS ................................................................................................................. 106

APÊNDICES ........................................................................................................... 111

INTRODUÇÃO

21

1 INTRODUÇÃO

Em um contexto global, os crescentes números de casos de obesidade,

diabetes mellitus e hipertensão arterial trazem diversas consequências negativas à

saúde dos indivíduos e, dentre elas, podemos citar o aumento do desenvolvimento

de problemas renais (KOVESDY et al., 2017; VEJAKAMA et al., 2017). Estima-se

que a prevalência mundial de Doença Renal Crônica (DRC) seja em torno de 13% e,

de acordo com as estatísticas, atualmente cerca de 200 milhões de pessoas sofrem

dessa doença em todo o mundo (HILL et al., 2016; OJO, 2014).

A Doença Renal Crônica é definida como uma anormalidade da estrutura ou

da função renal, presentes por um tempo maior que 3 meses, com implicações para

a saúde. A apresentação clínica é variável, a respeito da causa, gravidade e a taxa

de progressão da doença (KDIGO, 2013).

Com o objetivo de uniformizar a linguagem entre os profissionais que

trabalham com a insuficiência renal e facilitar as comparações no meio científico,

uma classificação em estágios funcionais da DRC baseada na taxa de filtração

glomerular (TFG) foi proposta em consenso pela diretriz Kidney Disease: Improving

Global Outcomes (KDIGO, 2013).

O estágio 1 (TFG ≥90 ml/min/1.73 m2) corresponde às fases iniciais de lesão

renal, todavia, a TFG está preservada. No estágio 2 (TFG 60 – 89 ml/min/1.73 m2),

ocorre o início da perda de função dos rins, porém os níveis séricos de ureia e

creatinina plasmáticos ainda são normais. O estágio 3 é subdividido em 3a (TFG 45

– 59 ml/min/1.73 m2) e 3b (TFG 30 – 44 ml/min/1.73 m2), em que os níveis de ureia e

creatinina séricos já estão elevados e há uma redução moderada da TFG. A função

renal fica gravemente reduzida no estágio 4 (TFG 15 – 29 ml/min/1.73 m2) e no

estágio 5 (TFG <15) ocorre a falência renal e, nesse caso, as opções terapêuticas

são o transplante renal ou o tratamento dialítico (KDIGO, 2013).

Por estar comumente associada a outras comorbidades crônicas, como citado

anteriormente, o manejo da DRC requer uma extensa lista de adaptações

medicamentosas e dietéticas para garantir a adesão ao tratamento e manter a

estabilidade da doença, contudo, é importante ficar atento às taxas de adesão aos

tratamentos, as quais podem variar entre 20 e 70% (JENSEN et al., 2013; BETO;

SCHURY; BANSAL, 2016).

22

Dessa forma, ao mesmo tempo em que a DRC exige dispêndio de

significativos recursos econômicos para o seu tratamento, ela também provoca

grandes alterações na qualidade de vida e sobrevida dos indivíduos afetados sendo

as adaptações do estilo de vida fundamentais para a sua prevenção e manejo

(SESSO et al., 2011).

De modo geral, a perda progressiva da função renal leva a uma incapacidade

dos rins eliminarem resíduos nitrogenados, regular o balanço de líquidos, produzir o

hormônio eritropoietina e manter o equilíbrio de eletrólitos e ácido-base

(RANGANATHAN et al., 2010). Assim, dentre essas alterações, discutiremos adiante

sobre o desequilíbrio nos mecanismos de regulação do balanço ácido-base devido

ao importante impacto no quadro de acidose metabólica, complicação comum em

indivíduos renais crônicos nos estágios 3 a 5 (DE BRITO-ASHURST et al., 2009).

1.1 Fundamentos do Equilíbrio Ácido-Base

A compreensão dos fundamentos e conceitos do metabolismo de ácidos e de

bases é extremamente importante para entendermos os mecanismos que podem

provocar as alterações no equilíbrio ácido-base.

Primeiramente, é relevante relembrar que, de acordo com a definição de

Brönstein-Lowry, denomina-se ácido todo composto capaz de doar prótons quando

em solução, enquanto que, bases são definidas como compostos capazes de

incorporar prótons. Dessa forma, os organismos precisam controlar a concentração

de prótons [H+] dentro de limites estritos para manter-se em adequado

funcionamento. Tal condição pode ser exemplificada pelo controle estrito do pH

sanguíneo, já que uma queda de apenas 0.2 unidades de pH, por exemplo de 7.4

para 7.2, representaria um aumento superior a 50% na concentração de íons

hidrogênio (ZATZ; REBOUÇAS; MALNIC, 2011).

Para que a estabilidade do meio interno seja mantida é importante que exista

um equilíbrio entre a produção e a remoção de íons hidrogênio no organismo (LEAL;

LEITE JUNIOR; MAFRA, 2008). Tendo em vista a produção endógena de íons

hidrogênio, os processos metabólicos no nosso organismo são capazes de gerar

dois tipos principais de ácidos: os voláteis representados pelo dióxido de carbono

(CO2) e os fixos também conhecidos como não voláteis. No primeiro caso, o CO2

23

reage com água na presença da enzima anidrase carbônica e dá origem ao ácido

carbônico (H2CO3) o qual é facilmente eliminado pelos pulmões por meio da

respiração. Já os ácidos fixos são representados por compostos que, como o próprio

nome diz, permanecem indefinidamente em solução como é o caso dos ácidos

sulfúrico, fosfórico e orgânico. Estes só conseguem ser excretados pelo rim na forma

de amônio (NH4+) e ácido titulável (SCIALLA; ANDERSON, 2013).

Diariamente o nosso organismo produz aproximadamente 1 mEq de ácidos

não voláteis por quilograma de peso ideal, derivados dos próprios processos

metabólicos. A principal forma de produção dos ácidos não voláteis decorre do

metabolismo das proteínas formadas por aminoácidos contendo enxofre - metionina

e cisteína – o qual leva a formação do ácido sulfúrico (Figura 1) (KHAIRALLAH;

SCIALLA, 2017). Nesse sentido, o intestino tem um papel importante no equilíbrio

ácido-base, pois está diretamente envolvido na absorção desses aminoácidos

derivados dos alimentos ricos em proteínas, sendo também responsável por

conduzí-los para serem oxidados no fígado (LEAL; LEITE JUNIOR; MAFRA, 2008).

Ademais, não podemos nos esquecer que o metabolismo de carboidratos e gorduras

também participa na geração de ácidos orgânicos como o ácido láctico e o beta-

hidroxibutírico, respectivamente. Portanto, são necessários mecanismos renais para

controlar essas sobrecargas de ácidos não voláteis proveniente do metabolismo e

consequentemente impedir um acúmulo de prótons e a queda do pH sanguíneo

(ZATZ; REBOUÇAS; MALNIC, 2011).

Figura 1. Fórmula estrutural dos aminoácidos sulfurados metionina e cisteína.

Cisteína Metionina

24

1.2 Papel do Rim no Equilíbrio Ácido-Base

O papel dos rins na manutenção do equilíbrio ácido-base é facilitar a excreção

de radicais ácidos e conservar as bases, no caso o bicarbonato (HCO3-). Sendo

assim, o rim ajuda a manter o equilíbrio ácido-base por 3 mecanismos principais: (1)

excreção de ácido, (2) neutralização de ácido e (3) reabsorção do bicarbonato

(PASSEY, 2017).

1.2.1 Excreção renal de ácidos

Um dos meios da urina tornar-se ácida é pela adição de ácido ao fluido

tubular, contudo, grande parte do ácido excretado chega até a urina não por filtração

glomerular, e sim por secreção tubular. Existem dois mecanismos principais

responsáveis por secretar o hidrogênio para a luz tubular, são eles: a entrada

passiva de sódio filtrado para a célula (troca Na+/H+) e por processo ativo da bomba

iônica H-ATPase. A quantidade de secreção do H+ irá variar conforme o segmento

tubular, sendo que a maior capacidade secretora ocorre no túbulo proximal (80-

90%). Além disso, outros fatores podem interferir com essa secreção como, por

exemplo, a pressão parcial de CO2, os níveis de potássio e os hormônios adrenais

(RIELLA et al., 2010).

A atividade das bombas e transportadores de íons H+ presentes nas células

dos túbulos renais permitem que o pH mais baixo da urina atinja valores de

aproximadamente 4,5. Ainda que fosse possível atingir pHs urinários mais baixos, o

epitélio que recobre internamente os túbulos renais não seriam capazes de suportar

tamanha acidez. Assim sendo, a urina é capaz de carregar uma quantidade muito

maior de íon H+ do que aquela que seria possível transportar apenas como H+ livre

graças à presença de tampões fixos na urina, os quais funcionam como receptor de

H+ (ZATZ; REBOUÇAS; MALNIC, 2011).

O principal tampão na urina é o fosfato, o qual está presente no filtrado

glomerular e funciona como aceptor de íons hidrogênio (HPO42- + H+ H2PO4

1-).

Cerca de 20% do fosfato já está na forma diprótica (H2PO41-), ou seja, é incapaz de

remover o íon H+, mas os 80% restantes está na sua forma monohidrata (HPO42-)

sendo o responsável pela remoção dos ácidos. Outros compostos como a creatinina

25

e o ácido úrico filtrados no glomérulo também podem atuar como tampões urinários

caso o pH da urina caia significativamente (pH < 5). Tais ácidos, excretados com

fosfato e com outros tampões urinários são conhecidos como ácidos tituláveis

(PASSEY, 2017).

Apesar de incomum na prática clínica, sabe-se que é possível mensurar a

quantidade de ácido titulável (AT) na urina com o intuito de avaliar a capacidade do

rim em excretar ácidos. Tal medida é realizada por meio da adição de uma base

forte à urina até que o seu pH retorne ao valor do plasma, ou seja, titulando a urina

de volta ao pH 7,40. Portanto, a quantidade de base utilizada é igual à quantidade

de ácido adicionada à urina pelos túbulos renais (ZATZ; REBOUÇAS; MALNIC,

2011).

1.2.2 Neutralização de ácidos

Se a formação de acidez titulável fosse o único mecanismo para excretar os

íons H+, a quantidade de hidrogênio eliminado na urina seria muito limitada pela

quantidade de fosfato e outros tampões que são filtrados (RIELLA et al., 2010).

Logo, nosso organismo apresenta um mecanismo adicional para complementar a

eliminação de ácidos na urina representado pela neutralização de ácido por meio do

metabolismo da glutamina (WEINER; VERLANDER, 2011).

No túbulo proximal do rim, a glutamina é retirada da corrente sanguínea e

dentro da célula sofre a desaminação, o que resulta na formação de duas moléculas

NH4+ e uma de alfa-cetoglutarato (Figura 2). Este é então oxidado pelo metabolismo

da glicose levando ao consumo de dois íons H+ e consequente redução da carga

ácida como também à geração de dois novos íons HCO3-, os quais irão atravessar a

membrana basolateral da célula para a corrente sanguínea e atuarão como um

bicarbonato novo, uma vez que não se trata de recuperação de bicarbonato filtrado

(HAMM; NAKHOUL; HERING-SMITH, 2015).

Enquanto isso, os íons NH4+ são secretados no lúmen dos néfrons pelo

contratransportador Na+/H+. Como esse íon é pouco difusível através da parede do

néfron, ele permanecendo na luz tubular para ser excretado. Quando a dieta é muito

ácida, ocorrem pequenos aumentos de AT devido a limitação na sua excreção,

porém aumentos de até 10 vezes na excreção de amônio podem acontecer

(PASSEY, 2017).

26

Figura 2. Representação esquemática da neutralização de ácidos pelo metabolismo da glutamina. A célula do túbulo proximal mostra que a glutamina (Gln) é metabolizada em amônio (NH4

+) pela glutaminase dependente de fosfato (PDG). Através de uma série de etapas, o esqueleto de carbono da glutamina pode ser metabolizado em bicarbonato (HCO3

-). AA0: aminoácidos neutros; B0AT1: transportador de aminoácidos neutro tipo B; GDH: glutamato desidrogenase; αKG: alfa ceto-glutarato; LAT2: transportador-2 de aminoácidos tipo L; NH3: Amônia; OAA: oxalo-acetato; PEP: fosfoenolpiruvato; PEPCK: fosfoenolpiruvato carboxi-quinase; TCA: ciclo dos Ácidos Tricarboxílicos. (Adapatdo de HAMM; NAKHOUL; HERING-SMITH, 2015).

1.2.3 Reabsorção de bicarbonato no túbulo renal

Em adultos, cerca de 4.000 mEq de bicarbonato são filtrados por dia e destes,

aproximadamente 85% é reabsorvido no túbulo proximal e uma menor parte, em

torno de 10%, na porção espessa da alça de Henle. Na verdade, o íon HCO3- não é

reabsorvido como tal, mas sim em consequência da secreção de H+ (ZATZ;

REBOUÇAS; MALNIC, 2011).

Ao longo de todo néfron, existe a secreção de H+ em direção ao lúmen

tubular. Uma vez na luz tubular, esse ácido secretado se combina com o bicarbonato

filtrado formando o ácido carbônico (H2CO3). Como a borda em escova do túbulo

27

proximal e da alça de Henle são ricas em anidrase carbônica (AC), o H2CO3 ali

gerado é rapidamente convertido em CO2 e água. O CO2 assim formado dentro do

lúmen se difunde imediatamente para dentro da célula, a qual também é rica em

anidrase carbônica, sendo reidratado e novamente dissociado em H+ e HCO3-.

Então, o bicarbonato deixa a célula através da membrana basolateral por meio de

um processo de cotransporte com o sódio (Na) na porção do túbulo proximal ou em

troca de íons de cloreto (Cl) na porção espessa da alça de Henle e assim retorna à

circulação (Figura 3).

Figura 3.Representação esquemática dos mecanismos celulares de transporte de prótons e bicarbonato no túbulo proximal. Os prótons são bombeados para o lúmen em troca por sódio e o bicarbonato gerado no interior da célula cruza a membrana basolateral por meio de um processo de co-transporte também com o sódio. Anidrase carbônica está representada pelas letras AC (Adapatdo de ZATZ; REBOUÇAS; MALNIC, 2011).

O resultado desse ciclo é o lançamento na circulação de um íon HCO3- para

cada íon HCO3- decomposto no lúmen tubular pela reação com o íon H+ (ZATZ;

REBOUÇAS; MALNIC, 2011; LEAL; LEITE JUNIOR; MAFRA, 2008). Portanto,

podemos dizer que a excreção renal de ácidos total corresponde à soma da acidez

titulável e amônio urinário, menos o bicarbonato restante na urina (AT + NH4+ -

HCO3- urinário).

28

1.3 Distúrbio do Metabolismo Ácido-Base na Doença Renal Crônica: Acidose

Metabólica

Considerando a Doença Renal Crônica, sabe-se que temos o acometimento

dos rins e consequentemente de todas as suas funcionalidades incluindo prejuízos

na manutenção do equilíbrio ácido-base por meio da excreção de ácidos não-

voláteis e da regeneração e reabsorção de bicarbonato nos túbulos renais. Nesse

sentido, um dos principais problemas na prática clínica advindos com a DRC é a

acidose metabólica (RASTEGAR e NAGAMI, 2017).

Sob condições fisiológicas, os túbulos renais reabsorvem diariamente em

torno de 4.500 mmol de bicarbonato filtrado, além de gerar aproximadamente 80

mEq de HCO3- para neutralizar a geração diária de ácido em um adulto (DHONDUP;

QIAN, 2017). Contudo, à medida que o indivíduo perde a função renal, um quadro

de acidose metabólica pode se estabelecer devido à incapacidade dos néfrons em

regenerar e reabsorver esse bicarbonato, ou ainda, por conta de uma diminuição na

excreção de ácidos (MISRA, 2016; ORTEGA; AURORA, 2012).

Em condições normais, o valor de referência para o pH é 7,40 ± 0,02, para a

pressão parcial de gás carbônico (pCO2), 38 ± 2 mm Hg e para o HCO3, 24 ± 2 mmol

por litro (BEREND; DE VRIES; GANS, 2014). No caso da acidose metabólica, ocorre

uma diminuição do pH sanguíneo pelo aumento da concentração de íons hidrogênio

associado a redução da concentração de HCO3 em níveis abaixo de 22 mEq/L em

indivíduos com diminuição da função renal (KRAUT; MADIAS, 2016; KDIGO, 2013).

Sendo assim, quando analisamos os resultados do exame de gasometria e

encontramos valores de pH e bicarbonato sérico abaixo das recomendações,

podemos dizer que o componente da acidose metabólica está presente. Caso a

pCO2 seja também inferior ao valor previsto, pode-se inferir que está ocorrendo uma

compensação respiratória dos distúrbios metabólicos na tentativa de equilibrar a

concentração de íons H+ (SEIFTER; CHANG., 2017).

A acidose metabólica na DRC geralmente não é observada até que a taxa de

filtração glomerular atinja valores inferiores a 20 mL/min (KRAUT; KURTZ, 2005).

Porém, a gravidade da acidose pode variar mesmo em pacientes com graus

semelhantes de falência renal dependendo da doença de base e da ingestão

alimentar (LEAL; LEITE JUNIOR; MAFRA, 2008).

29

Estima-se que a acidose metabólica esteja presente em 2,3% a 13% dos

indivíduos no estágio 3 da DRC e em 19% a 37% dos indivíduos em estágio 4

(RAPHAEL et al., 2014; EUSTACE et al., 2004). Contudo, a literatura atual tem

sugerido que os pacientes renais crônicos podem desenvolver uma retenção de

ácidos no interstício tecidual mesmo antes da manifestação de uma queda no

bicarbonato sérico conhecida como acidose metabólica subclínica e isso poderia já

trazer prejuízos ao organismo quanto à massa óssea e muscular (KUO et al., 2015;

VALLET et al., 2015; KRUPP; SHI; REMER, 2014; WESSON; SIMONI, 2010).

Os baixos níveis de bicarbonato trazem diversas consequências negativas

para os pacientes, dentre elas, aumento do risco de progressão da doença renal,

aumento da degradação óssea pela ativação dos osteoclastos e inibição dos

osteoblastos, aumento da mortalidade, inflamação e má-nutrição (KRAUT; MADIAS,

2016; SCIALLA, 2015; RAPHAEL et al., 2011; NAVANEETHAN et al., 2011;

WESSON; SIMONI, 2010; SHAH et al., 2009; KOPPLE; KALANTAR-

ZADEH; MEHROTRA, 2005; KALANTAR-ZADEH et al., 2004).

O quadro de acidose metabólica nos pacientes com DRC também possui uma

associação direta com a degradação muscular, já que à medida que as

concentrações séricas de bicarbonato caem, a proteína muscular se degrada para

neutralizar a acidez (PASSEY, 2017). A acidose é o estímulo inicial para a

degradação de proteínas por meio da ativação do sistema ubiquitina proteassoma

(WANG; MITCH, 2014) e da ativação da caspase-3, realizando uma clivagem inicial

de proteínas musculares (WORKENEH et al., 2006). Um estudo realizado por

Ballmer e colaboradores (1995) mostrou que, em humanos, a acidose metabólica

apresenta consequências negativas em apenas 48 horas, tempo suficiente para os

indivíduos do estudo apresentarem diminuição da síntese de albumina e balanço

nitrogenado negativo. Dessa forma, tratamentos para aumentar o pH do sangue a

partir dos níveis acidóticos para níveis normais têm sido aplicados e resultado na

diminuição da degradação de proteínas (MOVILLI et al., 2009; PICKERING et al.,

2002; VEROVE et al., 2002).

1.4 Manejo Nutricional na Acidose Metabólica

No tratamento nutricional da DRC, algumas variáveis da dieta precisam de um

controle ajustado e individualizado condicionado ao estágio da doença, como é o

30

caso do conteúdo energético, proteínas, sódio (Na), fósforo (P) e potássio (K)

(BETO; SCHURY; BANSAL, 2016). Um dos manejos nutricionais para pacientes

com DRC em fase pré-dialitica é a diminuição das fontes proteicas para 0,6 a 0,8

gramas de proteína por quilo de peso ideal, porém, quando se trata do manejo da

acidose metabólica na DRC, outras variáveis têm sido apontadas como alvo de

ajuste (KDIGO, 2013; K/DOQI, 2002).

Segundo a literatura, o tipo de dieta pode afetar o equilíbrio ácido-base do

corpo por meio do fornecimento de precursores ácidos, isto é, ácidos não

carbonílicos como o ácido sulfúrico ou por meio de precursores de base, sais

alcalinos de ácidos orgânicos, tais como citrato e bicarbonato (BANERJEE et al.,

2015). Dessa forma, Remer e Manz (1995) desenvolveram um método conhecido

como Potencial de Carga Ácida Renal (PRAL) o qual avalia a capacidade dos

alimentos em formarem componentes ácidos ou básicos no organismo e assim

proporcionarem modificações do pH sanguíneo.

Uma lista de termos e definições que serão usadas ao longo da tese podem

ser encontradas na Tabela 1.

Tabela 1. Definições das terminologias utilizadas no decorrer da tese.

Termos Definições

Carga ácida não volátil Carga total de ácidos que deve ser

excretada pelo rim para manter o

equilíbrio ácido-base. Diferença entre a

produção de ácido endógeno e álcalis

ingeridos em alimentos ou

suplementos.

Potencial de carga ácida renal (PRAL)

Estimativa da contribuição na carga de

ácidos não voláteis proveniente da

ingestão dietética.

Produção endógena de ácido (NEAP)

Carga total de ácido não volátil

adicionado ao corpo como resultado da

produção de ácido endógeno e

absorção do trato gastrointestinal.

Excreção renal de ácido (EAR) Estimativa da quantidade de ácido

excretado pelo rim diariamente.

31

1.4.1 Estimativa do Potencial de Carga Ácida Renal (PRAL)

O método de estimativa do PRAL já foi testado em experimentos controlados

e mostrou boa correlação da dieta com o equilíbrio ácido-base (AUSMAN et al.,

2008). Esta metodologia considera a ingestão de proteína, fósforo, potássio,

magnésio e cálcio, e baseia-se nas médias de absorção de cátions e ânions

presentes nos alimentos e na taxa de excreção urinária de ácidos orgânicos (AO),

contando com a variável de taxa de absorção intestinal dos nutrientes em questão,

traduzida pela fórmula:

PRAL (mEq/d) = 0,49x proteína (g/d)

+ 0,037x fósforo (mg/d)

- 0,021x potássio (mg/d)

- 0,026x magnésio (mg/d)

- 0,013x cálcio (mg/d).

Quando o valor do PRAL para o gênero alimentício é inferior a 0, considera-se

que tal alimento aumenta a alcalinidade dos fluidos do corpo e, quando é superior a

0, o alimento é responsável por aumentar a produção endógena de ácidos (LEAL;

LEITE JUNIOR; MAFRA, 2008). Os valores de PRAL encontrados por Remer e

Manz (1995) oscilam entre a máxima de 34,2 mEq/100g para queijo parmesão,

passando por 0 mEq/100g para óleos e gorduras e atingindo um mínimo de -

21mEq/100g para uva passa (Figura 4).

De modo geral, frutas e hortaliças têm valores de PRAL negativos, logo

possuem potencial alcalinizante. Ao contrário, carnes em geral, queijos, ovos e grãos

produzem 7 mEq ou mais por 100 g de porção aumentando a produção de ácido no

organismo. Já o leite e o iogurte são considerados neutros apresentando um PRAL

em cerca de 1 mEq (BANERJEE et al., 2014; REMER; MANZ, 1995). Gorduras e

açúcares também têm um efeito pequeno sobre o equilíbrio ácido-base (PASSEY,

2017).

32

Esses diferentes efeitos dos alimentos sobre o equilíbrio ácido-base

acontecem, pois a metabolização de alimentos que contêm proteínas leva a quebra

dos aminoácidos e por conseguinte liberação de íons H+ provocando as alterações

no pH sanguíneo. Nesse caso, a quantidade de ácido irá depender de quais

aminoácidos estão presentes, já que alguns aminoácidos são classificados como

neutros, outros ácidos e alguns alcalinos. Lisina, arginina e histidina são

considerados ácidos, e quando metabolizados geram ácido clorídrico, assim como

os aminoácidos cisteína e metionina, que contêm enxofre e são convertidos em

ácido sulfúrico (PASSEY, 2017).

Figura 4. Estimativa do Potencial de Carga Ácida Renal (PRAL) de alimentos selecionados (Adaptado de SCIALLA; ANDERSON, 2013).

É importante ressaltar que a qualidade da proteína também precisa ser

avaliada quanto aos efeitos na acidificação da dieta. Proteínas animais, com

exceção do leite - este tem a quantidade de fósforo compensada pela quantidade de

cálcio - possuem uma quantidade de fósforo elevada e, portanto, contribuem para

acidificação dos fluidos corporais, enquanto que proteínas vegetais possuem o

fósforo em forma de fitato, o qual é menos biodisponível e, assim, não tem o mesmo

efeito metabólico acidificante (MOE et al., 2011; SHARON et al., 2011; NOORI et al.,

2010). Além disso, as proteínas animais são ricas em metionina e cisteína, enquanto

33

que as vegetais são geralmente mais ricas em glutamato, um aminoácido aniônico

cujo metabolismo consome os íons de hidrogênio tornando-se neutro (ADEVA;

SOUTO, 2011). Assim sendo, uma das limitações de se usar a equação do PRAL é

que ela não leva em conta diferenças nos teores de enxofre presentes nas diversas

fontes de proteína (SCIALLA; ANDERSON, 2013).

Em relação às frutas e hortaliças (F&H), a metabolização dos sais de potássio

presentes nesses alimentos, incluindo o citrato e malato, leva ao consumo de íons

de hidrogênio e consequentemente a um efeito alcalinizante (ADEVA; SOUTO,

2011). Em vista disso, a quantidade de potássio presente, em geral, reflete a

capacidade alcalinizante do alimento. Assim, a batata e a abóbora têm uma

habilidade alcalinizante elevada, enquanto que as maçãs e as peras têm uma menor

capacidade. Contudo, algumas F&H apresentam oxalato em sua composição, um

ácido orgânico que juntamente com o potássio formam o oxalato de potássio, o qual

não pode ser metabolizado e, por conseguinte, não fornece qualquer álcali ou íons

de hidrogênio ao organismo. Desse modo, o consumo de F&H com alto teor de

oxalato como, por exemplo, a beterraba e o quiabo, deve ser desencorajado

(PASSEY, 2017).

Logo, por meio da carga ácida determinada para cada alimento é possível

estimar a acidez total das dietas. Para aplicabilidade clínica, o profissional pode, com

o auxílio de softwares de nutrição específicos para cálculo nutricional, determinar os

cinco nutrientes que compõe a fórmula do PRAL fazendo-se uso de registro

alimentar de 3 dias, recordatórios de 24hr ou questionários de frequência alimentar

(IKIZLER et al., 2016; MOGHADAM et al., 2016; LEAL et al., 2009).

1.4.2 Estimativa da Produção Endógena de Ácido (NEAP)

Como comentado anteriormente, os ácidos endógenos não voláteis são

produzidos principalmente pela oxidação dos aminoácidos metionina e cisteína que

levam a formação de ácido sulfúrico, e pela formação dos ácidos orgânicos. Assim,

baseado também em dados dietéticos, podemos estimar indiretamente a produção

endógena de ácidos que excede os níveis de álcalis produzidos para dadas

quantidades de alimentos ingeridos, utilizando-se diferentes equações propostas na

literatura (Tabela 2).

34

Tabela 2. Equações para estimar a produção endógena de ácidos (NEAP).

Remer

NEAPRemer = PRAL + Ácido OrgânicoRemer, onde:

Ácido Orgânico Remer = Superfície corporal (SC) x 41/ 1.73

Em que: SC (mm2) = [(Altura (cm) × Peso (kg) / 3600] * 0.5

Lemann

NEAPLemann = PRAL + Ácido Orgânico Lemann, onde:

Ácido Orgânico Lemann = 32.9 + 0.15 × (K + Ca × 2 + Mg × 2 − PO4 × 1.8)

K = Potássio; Cálcio = Ca; Mg = magnésio; PO4 = fosfato. Todos em mmol.

Frassetto

NEAPFrassetto = 54.5 x [Proteína (g) / Potássio (mEq)] − 10.2

PRAL = Potencial de carga ácida renal. NEAP = Produção endógena de ácidos.

Ambos os algoritmos desenvolvidos por Remer e Manz (1995) e Lemann

(1999) são baseados na equação NEAP = PRAL + Ácidos Orgânicos (AO). Estas

duas fórmulas somente diferem-se entre si no que se refere as estimativas para

determinar os AO.

Em contrapartida, a fórmula proposta por Frassetto et al. (1998) é

simplificada, utilizando apenas os valores de ingestão proteica e potássio, sem

incluir os dados dos ácidos orgânicos. O foco nesses dois componentes deve-se ao

fato da taxa de produção de ácido sulfúrico a partir do metabolismo das proteínas e

da taxa de geração de bicarbonato proveniente do metabolismo dos sais de potássio

serem os maiores determinantes da produção de ácido endógeno (FRASSETTO et

al., 1998).

Estudos anteriores realizados com pacientes renais crônicos têm

demonstrado que essas equações têm relação com padrão-ouro e, portanto, são

apropriadas para serem aplicadas em estudos epidemiológicos (IKIZLER et al.,

2016; BANERJEE et al., 2015; SCIALLA et al., 2012a).

35

De um modo geral, as dietas ricas em proteínas animais produzem altas

quantidades de ácido endógeno, enquanto que as dietas veganas e vegetarianas

resultam em baixa NEAP ou até mesmo negativo (CUPISTI et al., 2017). Em valores,

podemos dizer que uma dieta típica do século XXI rica em proteína animal libera em

torno de 50 mEq de íons H+ por dia comparado a um valor de PRAL de – 20 mEq em

uma dieta vegana, mais 35 – 60 mEq de H+ proveniente do metabolismo endógeno

(PASSEY, 2017).

No caso da acidose metabólica na DRC, devemos estar atentos aos valores

de NEAP, já que estudos mostram correlação inversa entre os níveis de bicarbonato

sérico e a produção endógena de ácido, como também a associação entre uma

maior produção de ácidos com um declínio mais rápido da DRC (BANERJEE et al.,

2015; HUSTON et al., 2015; AMODU; ABRAMOWITZ, 2013; SCIALLA et al., 2012a).

1.4.3 Estimativa da Excreção Renal de Ácidos (EAR)

A quantidade total de ácido excretada e neutralizada pelo rim, conhecida

como excreção renal de ácido, pode ser medida diretamente por meio da

determinação de amônio, da acidez titulável e do bicarbonato em amostras de urina

de 24 horas (DELLA GUARDIA; ROGGI; CENA, 2016):

EAR (mEq/dia) = NH4+ + AT – HCO3

A EAR também pode ser determinada indiretamente pela diferença entre a

soma dos ânions não-bicarbonato e a soma dos cátions minerais excretados na

urina, isto é, EAR = (Cl + PO4 +SO4 + AO) - (Na + K + Mg + Ca). Para este cálculo,

também são considerados os índices de absorção intestinal para proteínas e

minerais, valência iônica do cálcio e magnésio e o grau de dissociação do fósforo em

pH 7,4 (LEAL; LEITE JUNIOR; MAFRA, 2008).

O pH da urina também foi considerado como uma ferramenta simples e

econômica para monitorar a eliminação de ácido endógeno uma vez que variações

no pH urinário podem ser explicadas pelas variações na quantidade de ácidos

excretados, a qual é bastante influenciada pela dieta. No entanto, a relação entre a

36

excreção líquida de ácido e o pH da urina pode não ser confiável em populações

com DRC ou naqueles com acidose tubular renal já que a acidificação da urina pode

estar comprometida (SCIALLA; ANDERSON, 2013).

Em um paciente estável, podemos dizer que a produção endógena de ácido

(NEAP) é igual a excreção renal de ácido (EAR), pois todo excesso de íons H+ deve

ser excretado pelo rim para manter o equilíbrio ácido-base. Todavia, à medida que a

DRC progride, uma retenção lenta e progressiva de ácido ocorrerá devido a redução

na sua excreção. Desse modo, encontramos na literatura estudos cuidadosamente

realizados em pacientes acidóticos com DRC que mostraram uma retenção de ácido

de aproximadamente 10-20 mEq por dia (URIBARRI; DOUYON; OH, 1995; LITZOW;

LEMANN; LENNON, 1967; GOODMAN et al., 1965). Portanto, a medida direta da

excreção de ácido na urina em pacientes com DRC é considerada como a melhor

opção.

1.5 Impacto da Acidose Metabólica no Estresse Oxidativo

Além da acidose metabólica na DRC, outro achado comum em pacientes

renais crônicos é o aumento do estresse oxidativo (EO). Este é caracterizado por um

estado de desequilíbrio entre a excessiva produção de espécies reativas de oxigênio

(EROs) e insuficientes mecanismos de defesa do sistema antioxidante (SMALL et

al., 2017). Embora seja evidente já nos estágios iniciais da insuficiência renal, o EO

torna-se maior nos estágios avançados da DRC e com o início da terapia renal

substitutiva (SIGNORINI et al., 2017).

Esse desequilíbrio na Doença Renal Crônica tem origem multifatorial podendo

estar associado aos efeitos das toxinas urêmicas, inflamação crônica, anemia,

depleção de vitamina E, aumento na formação de produtos finais de glicosilação

(AGE) e proteínas de oxidação avançada, diminuição da expressão da glutationa

peroxidase e elevação do nível de homocisteína (PAVLOVIĆ et al., 2016; GÜNAL;

USTÜNDAĞ; GÜNAL, 2013; ROOZBEH et al., 2011; ATAMER et al., 2008).

Podemos citar também a acidose metabólica como um importante

componente causador do aumento do EO (FRASSETTO e SEBASTIAN, 2012). A

acidose pode aumentar tanto a formação de radicais livres como também levar a

uma diminuição dos níveis intracelulares de um dos antioxidantes mais importantes,

37

a glutationa, diminuição essa obtida por meio de vários mecanismos relacionados às

variações do pH sanguíneo. Estudos sustentam que a acidose metabólica e o

estresse oxidativo intensificam-se mutuamente (LEWERENZ; DARGUSCH; MAHER,

2010; BERKEMEYER, 2010; RUSTOM et al., 2003).

A presença de outros estados pró-oxidantes, como diabetes mellitus tipo 2

(DM2), dislipidemia (DLP), hipertensão (HAS) e envelhecimento, comumente

presentes na população com DRC, ou mesmo a administração intravenosa de ferro

para o tratamento da anemia podem agravar ainda mais o quadro de estresse

oxidativo (CACHOFEIRO et al., 2008).

A geração de oxidantes e o sistema antioxidante são altamente complexos e

a avaliação acurada da homeostase redox é importante para quantificar o nível de

EO nos sistemas biológicos. Contudo, a quantificação direta dos radicais livres in

vivo é dificultada devido à natureza altamente reativa desses compostos, a pequena

meia-vida das EROs e as suas baixíssimas concentrações nos fluidos biológicos.

Diante disso, a maioria dos estudos depende da detecção de produtos finais

estáveis de reações químicas de redox ativas para mensurar indiretamente o nível

de EO in vivo como, por exemplo, os produtos proteicos de oxidação avançada

(AOPP) e os isoprostanos (F2-IsoPs) (GOSMANOVA; LE, 2011).

Os AOPPs são uma família de compostos proteicos oxidados formados pela

reação de proteínas plasmáticas com oxidantes clorados. In vivo, a geração de

oxidantes clorados é uma característica das células fagocíticas que possuem

mieloperoxidase, a única enzima que é capaz de gerar um oxidante clorado (CAO;

HOU; NIE, 2014).

Pela primeira vez, em 1996, Witko-Sarsat e colaboradores demonstraram que

pacientes com insuficiência renal crônica avançada, ainda não em diálise, tinham

níveis de AOPPs quase três vezes maiores do que indivíduos saudáveis. Desde

então os AOPPs têm sido demonstrados como bons biomarcadores do EO proteico

em indivíduos com DRC mostrando que as concentrações de AOPP já são elevadas

em pacientes com DRC pré-diálise, sendo os seus níveis ainda maiores conforme a

progressão da falência renal (RASOOL et al., 2017; LIU et al., 2011; YANG et al.,

2005).

Outro marcador bastante relevante e amplamente utilizado para identificar a

presença de EO é o F2-Isoprostano (F2-IsoPs), o qual foi descoberto pelo grupo de

Morrow e colaboradores (1990). Trata-se do produto final da peroxidação não

38

enzimática do ácido araquidônico, um ácido graxo poliinsaturado presente nos

fosfolípides da membrana celular. Assim são utilizados para determinar a

peroxidação lipídica. Além da determinação do F2-IsoPs no plasma, ele também

pode ser medido na urina e a maioria dos estudos, em pacientes com doenças

crônicas, mostram equivalências entres as quantidades urinárias e plasmáticas

(WHITEHOUSE et al., 2017).

Por serem considerados estáveis, são uma das melhores medidas disponíveis

e, portanto, têm sido extensivamente estudados na relação entre estresse oxidativo

e DRC (SMALL et al., 2017). No estudo proposto por Beetham e colaboradores

(2015), em que foram avaliados 152 indivíduos com DRC estágio 3 e 4, foi

observado que 22% da amostra apresentava níveis de isoprostanos superiores a

250 pg/ml e os F2-IsoPs plasmáticos foram independentemente associados com

redução da força muscular nesses indivíduos. Assim dados da literatura apontam

para evidências de aumento na peroxidação lipídica e redução na defesa

antioxidante enzimática medida pelos níveis séricos de superóxido dismutase,

catalase e glutationa em pacientes pré-diálise. Além disso, observa-se uma oxidação

aumentada do colesterol-LDL antes de se iniciar o tratamento dialítico (GUPTA;

SAHNI, 2012).

1.6 Gasto Energético de Repouso na Doença Renal Crônica

Conforme os indivíduos portadores de DRC apresentam importantes

alterações nas funções metabólicas incluindo as alterações no equilíbrio ácido-base,

modificações no gasto energético podem acontecer nessa população durante a

evolução da doença, contudo essas associações entre a acidose metabólica e o

gasto energético dessa população ainda são pouco conhecidas.

Dessa forma, avaliar a necessidade energética total do indivíduo com DRC na

fase pré-dialítica passível de um quadro de acidose metabólica é vital para uma

orientação nutricional adequada desses pacientes, uma vez que mesmo pequenas

inadequações, a longo prazo, podem interferir negativamente no estado nutricional

(SRIDHARAN et al., 2015).

O gasto energético total (GET) é composto por medidas do gasto energético

de repouso, da termogênese induzida pelos alimentos e do nível de atividade física,

39

sendo o gasto energético de repouso (GER) o maior componente correspondendo

de 60 a 70% do GET (MCDONIEL, 2007).

Existem métodos diretos e indiretos para medir o GER. O primeiro tem sido

considerado o padrão-ouro e é um método no qual se mede a produção de calor

diretamente. No entanto, é muito difícil de realizar e não fornece informações sobre

os substratos utilizados para gerar o calor. Por outro lado, a calorimetria indireta (CI)

mede o GER ao avaliar o consumo de oxigênio e a produção de dióxido de carbono.

Esta técnica foi validada por meio de comparação com a calorimetria direta e tem

sido aplicada em estudos clínicos e de pesquisa como um método de referência,

pois fornece informações com boa precisão (VOLP et al., 2011; LEE et al., 2008).

Todavia, ambas as técnicas apresentam custo elevado, requerem

profissionais treinados para o seu correto manuseio e dependem da cooperação do

indivíduo ao qual se aplicará. Sendo assim, na prática clínica, geralmente o gasto

energético de repouso é estimado por meio de equações preditivas. Nesse sentido,

a equação mais comumente utilizada é a de Harris-Benedict desenvolvida por meio

do uso da calorimetria indireta aplicada a 239 indivíduos saudáveis e utilizando

como variáveis sexo, idade, estatura e peso (HARRIS; BENEDICT, 1918). No

decorrer dos anos, outras equações foram desenvolvidas e também vem sendo

aplicadas em estudos clínicos como a equação de World Health Organization (WHO)

e de Schofield (JOINT et al., 1985; SCHOFIELD, 1985).

Apesar das desvantagens no uso da calorimetria, ela apresenta um

importante diferencial em comparação às equações preditivas já que permite a

determinação da oxidação dos substratos por meio do quociente respiratório (QR).

Este refere-se a relação entre o CO2 produzido e o O2 consumido. Como as

quantidades de CO2 produzidas e O2 consumidas variam ligeiramente dependendo

do substrato metabolizado é possível quantificar a utilização dos carboidratos,

proteínas e lipídios pelo organismo. Para carboidratos, o valor corresponde do QR é

igual a 1 e aproximadamente de 0,70 e 0,82 para os lipídios e proteínas,

respectivamente. Assim o QR encontrado costuma estar na faixa fisiológica entre

0,67 e 1,30 (ROSADO; MONTEIRO, 2001).

Em conjunto, os trabalhos mostram que, dependendo do estágio da DRC (não

dialítico ou dialítico) e da condição clínica do paciente (presença ou não de

comorbidades), o GEB pode se encontrar reduzido, igual ou superior ao de

indivíduos saudáveis (RODRIGUES et al., 2013).

40

Os rins representam aproximadamente 7% do gasto energético em repouso e

com a perda de função renal e consequente diminuição do fluxo sanguíneo nos rins,

ocorre um menor consumo de oxigênio renal, o qual levará a um estado

hipometabólico (WEN et al., 2013). Estudos mostram que pacientes renais crônicos

clinicamente estáveis nos estágios 2 a 5 sem diabetes apresentam uma redução no

gasto energético de repouso (AVESANI et al., 2004; O’SULLIVAN et al., 2002).

Avesani e colaboradores (2004) encontraram uma redução de 123 kcal/dia no GER

em pacientes com DRC quando comparado a um grupo de indivíduos saudáveis e

esta redução permaneceu mesmo após ajuste para massa corporal magra. Da

mesma forma, no estudo desenvolvido por Rodrigues e colaboradores (2016), o

GER dos pacientes com função renal reduzida foi significativamente menor quando

comparado aos pacientes sem DRC, apresentando uma redução de 179 kcal/dia.

Contudo, quando avaliamos o GER em condições catabólicas frequentemente

observadas em pacientes com DRC, tais como diabetes mellitus mal controlado e

hiperparatireoidismo grave, verifica-se um aumento do GER (AVESANI; KAMIMURA;

CUPPARI, 2011; AVESANI et al., 2001). Em 2001, Avesani e colaboradores

analisaram o GER de indivíduos com DRC com e sem DM2 em tratamento

conservador e encontraram um maior GER em pacientes com DRC e DM2,

reforçando a hipótese de um componente inflamatório-metabólico como

determinante de um GER maior nesses indivíduos.

Além disso, evidências sugerem uma relação direta de inflamação com o

gasto energético em indivíduos com disfunção renal. Neste contexto, Utaka e

colaboradores (2005) demonstraram, em uma subpopulação de pacientes com DRC

não dialíticos, que o gasto de energia era maior em pacientes com inflamação e que

o GEB foi reduzido após o tratamento da condição inflamatória.

Portanto, determinar com precisão o GER de pacientes com DRC e suas

relações com o bicarbonato sérico é de extrema relevância para os cuidados

nutricionais desses pacientes e assim minimizar os riscos de complicações e

mortalidade.

41

2 JUSTIFICATIVA

Tendo em vista todas as considerações expostas acima e achados clínicos

preliminares, há evidências que sugerem que a prescrição de uma dieta mais

alcalina, ou seja, com maior teor de frutas e hortaliças, associada a redução no teor

de proteínas principalmente de origem animal, pode auxiliar na redução da

quantidade de íons de hidrogênio gerados no organismo, melhorando os parâmetros

metabólicos da acidose metabólica e consequentemente reduzir danos renais e até

mesmo a progressão da DRC.

No entanto, os resultados inconclusivos apontados na literatura indicam que

ainda são necessários estudos bem delineados para comprovar a existência de

associação entre o consumo alimentar e os marcadores de acidose metabólica, e

assim fornecer subsídios para o manejo nutricional do equilíbrio ácido-base e

possibilitar, na prática, a inclusão de uma nova estratégia de orientação nutricional

que considere o manuseio da carga ácida proveniente da dieta no tratamento da

acidose metabólica na DRC como futura intervenção.

Além disso, estudar e elucidar as associações do estresse oxidativo e do

gasto energético de repouso com os níveis de bicarbonato sérico em pacientes

portadores de doença renal crônica é de extrema importância para os cuidados

nutricionais, uma vez que a acidose metabólica pode contribuir para alterações

destes componentes. Portanto, essa análise permitirá oferecer uma avaliação

nutricional diferenciada e auxiliar no suporte nutricional na prática clínica,

contribuindo para diminuir as taxas de complicações e melhorar a qualidade e

expectativa de vida destes pacientes.

42

OBJETIVOS

43

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Determinar o potencial de carga ácida renal (PRAL) proveniente da dieta e

avaliar a sua associação com o bicarbonato sérico em pacientes com doença renal

crônica nos estágios 3 e 4 enquanto em suas dietas habituais.

3.2 Objetivos Específicos

Em pacientes com doença renal crônica nos estágios 3 e 4:

Avaliar o estado nutricional e a composição corporal;

Identificar qualidade e quantidade da ingestão proteica e possíveis

associações destas com a carga ácida proveniente da dieta;

Caracterizar oxidação proteica e lipídica em pacientes com doença renal

crônica e verificar suas associações com o bicarbonato sérico;

Avaliar associações da oxidação de substratos e do fator injúria com o

bicarbonato sérico;

Avaliar, dentre as variáveis dietéticas, bioquímicas e antropométricas os

determinantes mais fortes da variável bicarbonato sérico.

44

MÉTODOS

45

4 MÉTODOS

4.1 Indivíduos

Trata-se de um estudo transversal conduzido com pacientes nos estágios 3 e

4 da DRC. Inicialmente calculou-se o tamanho amostral do estudo com o objetivo de

garantir um poder estatístico de 80% e um nível de significância de 0,05. Para esse

cálculo, utilizou-se os resultados da variável “níveis séricos de bicarbonato” para

pacientes com DRC em estágio 3 e 4. Assim, o tamanho amostral encontrado foi um

total de 100 pacientes, sendo 50 pacientes em cada estágio da doença. Para

alcançar o tamanho amostral proposto foi necessário selecionar e recrutar pacientes

em três ambulatórios do Serviço de Nefrologia do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP na cidade de Ribeirão Preto/SP:

Ambulatórios de Pronto Atendimento da Nefrologia, de Nefrologia Geral e de Uremia.

É importante ressaltar que os pacientes destes ambulatórios não recebem

regularmente atendimento nutricional individualizado.

Quatrocentos e vinte e um pacientes foram selecionados por meio da análise

direta de seus prontuários, de acordo com o preenchimento dos critérios de inclusão

pré-estabelecidos: idade entre 18 e 70 anos, ambos os gêneros e diagnóstico de

DRC nos estágios 3 e 4 por meio do clearance estimado pela fórmula MDRD –

Modification of Diet in Renal Disease (LEVEY et al., 1999). Destes, 29 se recusaram

a participar do estudo e 292 foram excluídos em decorrência do uso de corticoides

ou bicarbonato de sódio e/ou proteinúria acima de 300 mg/dia e/ou vigência de DRC

agudizada e/ou portadores de síndrome de má-absorção, doença pulmonar

obstrutiva cônica, asma grave, problemas neurológicos, doença maligna,

inflamatória, infecciosa.

Assim, o estudo foi concluído com 100 pacientes (50 pacientes no estágio 3

da DRC e 50 no estágio 4 da DRC) os quais aceitaram participar do estudo e

assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (APÊNDICE A). A coleta de

dados aconteceu no período entre Novembro de 2013 e Março de 2016, tendo sido

o projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HCFMRP-USP (ANEXO

A).

Contamos também com 29 indivíduos no grupo controle, número de

indivíduos suficientes para a análise estatística, com o objetivo de utilizá-los para

46

estabelecimento de valores de referência para variáveis de estresse oxidativo, gasto

energético, antropometria e pH da urina. O recrutamento do grupo controle para a

presente pesquisa ocorreu por meio do convite de familiares dos pacientes

atendidos nos ambulatórios de nefrologia, de cartazes distribuídos nas

dependências do HC-FMRP e pelo e-mail institucional de funcionários do HC-FMRP.

Dessa forma, o grupo controle foi recrutado dentre a população sadia obedecendo

ao pareamento com os grupos de pacientes quanto ao sexo, IMC e faixa etária.

4.2 Dados clínicos

Com o objetivo de descrever detalhadamente cada participante do estudo,

dados complementares relacionados às condições clínicas dos pacientes foram

coletados, como idade, gênero, etiologia da DRC, comorbidades associadas e

utilização de medicamentos como estatinas, anti-hipertensivos como inibidores da

enzima conversora de angiotensina e antidiabéticos como metformina e insulina.

4.3 Avaliação Nutricional

Neste trabalho, a avaliação do estado nutricional dos pacientes envolveu a

utilização de parâmetros antropométricos, de composição corporal, bioquímicos e de

consumo alimentar.

4.3.1 Antropometria e composição corporal

Essa avaliação foi sempre realizada pela pesquisadora responsável. O peso foi

aferido em balança de plataforma da marca Filizola® Eletrônica ID 1500 (São Paulo:

SP, Brasil) com precisão de 0,1 kg e capacidade máxima de 200 kg. Esta medida foi

realizada pela manhã, com o voluntário em jejum de 12 horas, descalço e com

vestimentas leves, permanecendo de pé sobre a plataforma, na região central, com

o peso corporal distribuído de forma igualitária em ambos os membros inferiores e

com os membros superiores posicionados ao lado do corpo. Já a altura foi medida

em estadiômetro com precisão de 0.1 cm (Alturaexata, Minas Gerais, Brasil).

47

O Índice de massa corporal (IMC) foi calculado por meio da divisão do peso

corporal (kg) pelo quadrado da altura (m2). Para a classificação do estado nutricional

dos participantes adultos (18 a 60 anos), os pontos de corte do IMC propostos pela

Organização Mundial da Saúde/WHO (1998) foram utilizados. Já para a

classificação do estado nutricional dos participantes idosos (>60 anos), foram

utilizados os pontos de corte propostos pela Organização Pan-Americana de Saúde

(2003): baixo peso (IMC < 23 kg/m2), peso adequado (IMC ≥ 23 e ≤ 28 kg/m2),

excesso de peso (IMC > 28 e ≤ 30 kg/m2) e obesidade (IMC > 30 kg/m2).

A circunferência abdominal (CA) foi medida na linha umbilical por meio de uma

fita inextensível com precisão de 0.1 cm, e classificada de acordo com os valores

preconizados segundo NCEP-ATP III (2002), o qual considera como aumento do

risco para doenças cardiovasculares valores de CA ≥ 80 cm para mulheres e ≥ 94

cm para homens. Circunferência do braço (CB) foi aferida no braço não dominante

no ponto médio entre o acrômio da escápula e o olecrano por meio de uma fita

inextensível com precisão de 0.1 cm.

Prega cutânea biciptal (PB) e triciptal (PCT) foram obtidas no braço não

dominante no mesmo ponto em que a CB foi aferida utilizando adipômetro (Lange,

Cambridge Instrument, Cambridge, MA), de acordo com a técnica padronizada.

Prega cutânea suprailíaca (PSI) foi medida três centímetros acima da crista-ilíaca no

sentido oblíquo ao eixo longitudinal do corpo e a prega cutânea subescapular (PSE)

foi determinada obliquamente ao eixo longitudinal do corpo, seguindo a orientação

dos arcos costais, dois centímetros abaixo do ângulo inferior da escápula. As

medidas descritas acima foram repetidas três vezes e o resultado final para cada

uma delas foi obtido a partir de média aritmética (FRISANCHO, 1981).

Com as variáveis CB e PCT, foram calculadas a circunferência muscular do

braço (CMB) e a área muscular do braço corrigida (AMBc). A determinação da CMB

foi realizado a partir da equação CMB (cm) = CB (cm) - (PCT em mm x 0,314)

(HARRISON et al., 1988). Já para o cálculo da AMB foi utilizada a equação citada

por Gurney e Jelliffe (1973).

Para a avaliação da composição corporal foi feita a técnica do somatório das

quatro pregas cutâneas: bicipital, tricipital, subescapular e suprailíaca. Com os

valores encontrados das pregas foi possível calcular a densidade corporal (DC),

segundo proposto por Durnin e Womersley (1974), aplicado posteriormente à

fórmula sugerida por Siri (1961), chegando-se assim à quantidade de gordura

48

corporal (% e kg). Porém, nos pacientes com IMC acima de 25 kg/m2, a gordura

corporal foi avaliada de acordo com a equação validada de Weltman, Seip e Tran

(1987), a qual utiliza circunferência abdominal, peso e altura. Para classificar a

porcentagem de gordura corporal, foram utilizados os pontos de corte preconizados

pela WHO (1995), pelos quais considera-se excesso de gordura corporal valores

iguais ou superiores a 25% para homens e a 30% para mulheres.

Também foi realizada a avaliação subjetiva global (ASG) de 7 pontos conforme

modelo adaptado e validado para pacientes renais crônicos. Segundo essa

avaliação, o paciente deve ser avaliado quanto à perda de peso, adequação ou

inadequação da ingestão dietética, presença de sintomas gastrointestinais, possíveis

alterações da capacidade funcional relacionada ao estado nutricional e evidências

de redução de massa muscular e tecido adiposo (STEIBER et al., 2004). Ao final da

avaliação, indivíduos com pontuação de 1 ou 2 são classificados com subnutrição

grave, os com pontuação de 3, 4 ou 5 na maioria das categorias são considerados

subnutridos leves e aqueles com pontuação de 6 ou 7 são os bem nutridos ou com

risco muito leve de subnutrição.

4.3.2 Dados bioquímicos

4.3.2.1 Dosagens séricas

Todas as coletas de sangue foram realizadas após jejum de 12 horas. O

sangue foi coletado em tubos Vacutainer (Becton-Dickinson, NJ, Estados Unidos)

que continham EDTA para a separação do soro. Os tubos coletados para as

dosagens de exames de rotina dos pacientes com DRC, como creatinina, ureia,

gasometria venosa, sódio, potássio, proteína C reativa, ferro, fósforo, ácido úrico,

glicemia, hemograma completo, proteínas totais, albumina e perfil lipídico foram

encaminhados para o laboratório central do HCFMRP-USP, onde foram realizadas

as dosagens.

Para a população em estudo, foi considerado a presença de acidose

metabólica quando o pH encontrado foi inferior a 7,35 e a concentração de

bicarbonato (HCO3) no plasma ≤ 22 mEq/L (KDIGO, 2013). Essas informações

foram obtidas por meio do exame de gasometria venosa (ROCCO, 2003).

49

Amostras de sangue, utilizadas para a determinação de estresse oxidativo

proteico e lipídico, foram levadas ao Laboratório de Nutrição da Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto e imediatamente centrifugadas a 3500,0 rpm por 10,0

minutos. O soro foi separado e dividido em pequenas alíquotas para serem

armazenadas a -80,0°C até o momento das análises laboratoriais. Esse

procedimento visou evitar o processo de congelamento/descongelamento/

recongelamento.

Determinação dos produtos proteicos de oxidação avançada (AOPP): foi

realizada por espectrofotometria (SpectraMax M5, Molecular Devices, CA, Estados

Unidos) de acordo com a técnica descrita por Anderstam et al. (2008), em que os

lipídeos séricos são precipitados por sulfato de dextrano e a reação é calibrada com

cloramina-T na presença de iodeto de potássio a 340,0 nm. As concentrações de

AOPP são expressas em μM de cloramina-T.

Determinação de isoprostanos séricos (F2-IsoPs): foi analisada utilizando

kits comerciais por enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) (Cayman

Chemicals, Michigan, Estados Unidos). As concentrações de isoprostanos são

expressas em ng/mL.

4.3.2.2 Dosagens na urina

Ao recrutar o paciente para participar da pesquisa, o mesmo foi orientado sobre

a necessidade de realizar uma coleta de urina de 24 horas, a qual deveria ser

iniciada no dia anterior ao comparecimento no Hospital das Clínicas. A orientação foi

para desprezar a primeira urina do dia e a iniciar a coleta a partir da segunda urina,

terminando no dia seguinte com a coleta apenas da primeira urina pela manhã.

Ressaltava-se, durante a explicação ao paciente, a importância de recolher

integralmente toda a urina durante o período de coleta. Todas as urinas de 24 horas

foram coletadas em frascos com tampa e capacidade de 1 litro.

No dia da avaliação do paciente, os participantes eram responsáveis por trazer

os frascos contendo a urina coletada no período de 24 horas iniciado no dia anterior.

50

Os frascos eram levados ao laboratório de nefrologia do Hospital das Clínicas para a

medição do volume urinário e para a dosagem da ureia urinária.

Equivalente proteico de aparecimento de nitrogênio (PNA): Os dados obtidos

com a dosagem de ureia urinária foram utilizados para o cálculo do PNA segundo a

equação proposta por Sargent & Gotch (1979). A intenção desse cálculo é estimar a

ingestão proteica dos participantes da pesquisa fornecendo assim uma informação

mais fidedigna do real consumo de proteínas por dia. Esse dado também foi utilizado

nas análises estatísticas para comparação com os resultados obtidos pelo cálculo

dietético. Após o cálculo do PNA, a ingestão proteica foi normalizada pelo peso

corporal ideal. Seguem abaixo as equações para obtenção do PNA.

1) Geração de nitrogênio ureico (G) = Ureia urinária (mg/L) x Vol. Urinário 24h

(L) /2.14/1440

2) PNA (g de proteína/dia) = 9.35 x G (mg/min) + 11.04

3) nPNA (g/kg/dia) = PNA (g/dia) / Peso corporal ideal (kg)

Além disso, era fornecido ao participante um frasco coletor de urina de 80 ml

no final da sua avaliação e solicitava-se a coleta de uma amostra de urina rotina.

Esta era levada imediatamente ao Laboratório de Nutrição da Faculdade de

Medicina, onde era feita a medida do pH da urina por meio do pHmetro. Considera-

se como pH da urina normal valores entre 5.5 a 6.0 (ZATZ; REBOUÇAS; MALNIC,

2011).

4.3.3 Dados dietéticos

4.3.3.1 Registro alimentar

A avaliação da ingestão alimentar foi realizada por meio de registro alimentar

de três dias, sendo um registro anotado durante um dia de semana, outro de final de

semana e um no dia em que o paciente estivesse coletando a urina de 24 horas. O

registro alimentar de 3 dias foi utilizado para a caracterização da população

estudada e comparação com o grupo controle. Já a anotação do último dia do

registro, referente ao período de 24 horas anterior à avaliação do paciente, foi

51

utilizada para a caracterização do PRAL e associações deste com o bicarbonato

sérico por se tratar de uma medida de ingestão alimentar mais recente e ter maior

correlação com as variações séricas do bicarbonato.

A pesquisadora principal treinou os pacientes ou responsáveis para preencher

corretamente os registros e no momento da entrega, após o preenchimento, conferiu

as anotações com os pacientes.

O cálculo dos registros alimentares foi realizado com o auxílio do software de

nutrição Dietwin. Foi avaliado o consumo de energia total, proteínas, porcentagem

de proteínas animal e vegetal, proteínas/kg peso atual e ideal, aminoácidos

sulfurados (cistina e metionina), além dos micronutrientes necessários para o cálculo

do potencial de carga ácida renal (fósforo, potássio, cálcio e magnésio).

A relação entre a ingestão energética na dieta e o gasto energético de repouso

foi utilizada para avaliar a precisão da ingestão de energia relatada. Logo, utilizamos

uma razão abaixo de 1,27 como indicativo de sub-relato energético segundo o

proposto por Goldberg e colaboradores (1991).

4.3.3.2 Determinação do potencial de carga ácida renal (PRAL)

Para a determinação das cargas ácidas das dietas, utilizou-se os dados obtidos

do último dia do registro alimentar por este ser mais representativo da ingestão

alimentar recente. O cálculo do PRAL foi determinado por meio do algoritmo

proposto por Remer e Manz (2003):

PRAL (mEq/d) = 0,4888 x proteína (g/dia) + 0,0366 x fósforo (mg/dia) – 0,0205 x

potássio (mg/dia) – 0,0125 x cálcio (mg/dia) – 0,0263 x magnésio (mg/dia).

Considera-se que valores de PRAL negativos ou próximos a zero tendem a

aumentar a alcalinidade dos fluidos do corpo, já valores positivos seriam

responsáveis por aumentar a produção de ácidos no organismo. Assim, com a

utilização do PRAL é possível estimar a acidez total das dietas (LEAL; LEITE

JUNIOR; MAFRA, 2008).

52

4.3.3.3 Estimativa da produção endógena de ácidos (NEAP)

Baseada também nas informações dietéticas, a produção endógena de ácidos

(NEAP) foi estimada usando três fórmulas diferentes propostas por Remer e Manz

(1994), Lemann et al. (1999) e Frassetto e colaboradores (1998). Para as duas

primeiras fórmulas primeiramente foi estimado a produção de ácidos orgânicos e,

por conseguinte, aplicado nas fórmulas referentes à produção de ácidos, conforme

segue abaixo:

Ácidos OrgânicosRemer = Superfície corporal (SC) x 41 / 1.73

Ácidos OrgânicosLemann = 32.9 + 0.15 × (K + Ca × 2 + Mg × 2 − PO4 × 1.8)

Em que: SC (mm2) = [(Altura (cm) × Peso (kg)) / 3600]0.5

1) NEAPRemer = PRAL + Ácidos OrgânicosRemer

2) NEAPLemann = PRAL + Ácidos OrgânicosLemann

3) NEAPFrassetto = 0.9 × Proteína (g) − 0.57 × (Potássio (mmol) × 0.8) +21

Estas metodologias de cálculo, permitem uma previsão adequada dos efeitos

da dieta sobre a acidez total no organismo. Assim, o NEAP fornece uma estimativa

da produção do ácido endógeno que excede os níveis de álcalis produzidos para

dadas quantidades de alimentos ingeridos.

4.4 Determinação do gasto energético de repouso por calorimetria indireta

Para medir o gasto energético de repouso foi utilizada a técnica de calorimetria

indireta com o aparelho portátil VO2000 (Inbrasport e software AEROGRAF, EUA).

Antes do início de cada exame, o aparelho foi aquecido por 30 minutos e se efetuou

a calibração barométrica e gasométrica, ambas automaticamente, sendo que a

calibração dos sensores dos gases oxigênio e gás carbônico se concretizou por

meio de um comando no próprio aparelho. Além da calibração automática dos

gases, também se realizou uma calibração manual por meio do software Aerograf,

conforme orientação do fabricante.

O exame foi realizado no período da manhã. Todos os indivíduos foram

previamente instruídos a abster-se de qualquer atividade física antes do teste, não

53

consumir alimentos e bebidas que contivessem álcool ou cafeína e nem realizar

atividade física vigorosa até 24 horas antes da avaliação do GER pela calorimetria

(COMPHER et al, 2006). Na realização do exame, os pacientes ficaram em repouso,

em ambiente calmo e com temperatura controlada de 23oC. Eles foram instruídos a

evitar conversas, tossir, remexer ou adormecer durante o teste. Cada exame teve

duração de 30 minutos, sendo que os 5 minutos iniciais foram descartados, pois

esse tempo é necessário para a estabilização do paciente.

O consumo de oxigênio e produção de dióxido de carbono foram medidos em

intervalos de 15 segundos, sendo a média dos últimos 25 minutos usada para

calcular o gasto energético de acordo com a equação de Weir (1949). Tal equação

consiste na soma das taxas do consumo de gás oxigênio (VO2) e da produção de

gás carbônico (VCO2) e então os resultados são extrapolados para 24 horas

segundo a equação abaixo. O quociente respiratório também foi calculado pela

razão do volume de CO2 expirado pelo volume de O2 consumido.

Taxa metabólica basal (kcal/min) = [3.941 x VO2 (l/min)] + [1.106 x VCO2 (l/min)].

GER (kcal/d) = Taxa metabólica basal X 1.440 min.

4.5 Equação de predição do gasto energético

No intuito de avaliar o fator injúria dos pacientes portadores de DRC foram

feitas estimativas do gasto energético dos pacientes por meio da equação mais

tradicionalmente utilizada, a equação de Harris & Benedict (1918) mostrada na

Tabela 3. Dessa forma, calculou-se o fator injúria de acordo com Long e

colaboradores (1979), dividindo o GER medido com a calorimetria pelo gasto

energético previsto na equação de Harris & Benedict (1918).

Tabela 3. Equação de predição do GER avaliada no presente estudo.

Equação Sexo Masculino Sexo Feminino

Harris e Benedict

GER = 66,473 + (13,7516 x

P) + (5,0033 x A) – (6,755 x I)

GER = 655,0955 + (9,5634 x P)

+ (1,8496 x A) – (4,6756 x I)

P: peso corporal total (kg); A: altura corporal total (cm); I: Idade (anos); GER: gasto energético de repouso (kcal).

54

4.6 Análise estatística

Primeiramente, realizou-se uma análise exploratória dos dados, com o

objetivo de se ter uma visão global dos resultados, organizando e descrevendo os

dados de duas maneiras: por meio de tabelas com medidas descritivas e de gráficos.

Os dados foram expressos em média e desvio-padrão ou em mediana (mínimo e

máximo). Para as comparações entre o grupo controle e o grupo com portadores de

DRC, foram utilizados o teste t de Student de comparação não paramétrica Mann

Whitney. Assumiu-se um p< 0,05 para significância estatística.

A caracterização da amostra dos participantes do estudo foi feita em quartis

do PRAL assim como a avaliação das características bioquímicas, incluindo os

parâmetros de acidez no sangue e na urina, e do consumo alimentar. Já as

avaliações dos resultados encontrados para o estresse oxidativo e para o gasto

energético de repouso foram feitas segundo os quartis de bicarbonato sérico. Para

comparação das variações médias dos quartis foram utilizados os testes estatísticos

de qui-quadrado para variáveis categóricas e one-way ANOVA para variáveis

contínuas. O teste pareado Wilcoxon também foi utilizando quando se queria

comparar um quartil específico com outro.

A associação entre a estimativa do PRAL e o bicarbonato sérico foi avaliada

nos participantes da pesquisa utilizando-se modelos de regressão linear. Estes

modelos foram realizados sem ajustes e então foram ajustados por dados

demográficos (sexo e idade) e depois por um modelo completo de ajuste incluindo

taxa de filtração glomerular, pressão arterial e sistólica, diabetes mellitus e índice de

massa corporal.

As correlações entre as variáveis quantitativas foram obtidas pelo coeficiente

de correlação de Pearson (r). Este coeficiente varia entre os valores -1 e 1. O valor

zero significa que não há relação linear, o valor 1 indica uma relação linear perfeita e

o valor -1 também indica uma relação linear perfeita, porém inversa. Quanto mais

próximo estiver de 1 ou -1, mais forte é a associação linear entre as duas variáveis.

Além disso, foram feitas análises de regressão linear múltipla.

Todas as avaliações foram realizadas por meio do programa GraphPad

Prisma 5, com exceção das regressões lineares em que foi utilizado o SAS

Statistical Software (version 9.3; SAS Institute, Inc. Cary, NC).

55

RESULTADOS

56

5 RESULTADOS

Ao final do estudo, 100 pacientes com doença renal crônica foram avaliados.

No que diz respeito às principais características epidemiológicas da amostra total,

observa-se que 47% correspondem a amostra masculina e a média de idade da

amostra total foi 57,5 ± 9, 3 anos. A etiologia da doença renal mais prevalente neste

grupo foi a nefropatia hipertensiva (47%) seguida pela diabética (29%). Dentre os

medicamentos consumidos, 35% faziam uso de estatina, 29% de inibidores da

enzima conversora de angiotensina, 45% de β-bloqueador (principalmente os

pacientes no estágio 4 da DRC), 12% de metformina e 22% de insulina

(predominantemente pacientes no estágio 4 da DRC). Quanto à escolaridade,

apenas 3% eram analfabetos e a maior parte dos indivíduos (59%) apresentavam

menos que 8 anos de estudo. Dos 38% restantes, 22% compreendiam entre 8 e 11

anos de estudos e 16% apresentavam ensino superior.

Em relação à classificação de acordo com o IMC, em média, a amostra total

foi classificada como acima do peso com predominância do quadro de obesidade

associado a um aumento do risco de problemas cardiovasculares em decorrência da

presença de circunferência abdominal acima dos valores das recomendações

(Figura 5). Observamos na amostra total, uma média de 28,7 ± 5,4 kg/m2 para o IMC

e de 100,6 ± 12,9 cm para a circunferência abdominal.

Figura 5. Classificação do estado nutricional segundo o índice de massa corporal e da circunferência abdominal dentre os participantes com doença renal crônica.

57

Como sabemos, o uso do IMC para avaliar o estado nutricional apresenta

limitações incluindo a incapacidade de diferenciar os compartimentos da composição

corporal (gordura, músculo e osso), sendo assim a porcentagem de gordura corporal

dos indivíduos do estudo também foi analisada. A porcentagem média de gordura

corporal encontrada foi de 33,1 ± 7,5% e 43,9 ± 5,4% para o sexo masculino e

feminino, respectivamente. Destes, 40 homens e 51 mulheres apresentavam-se

acima da recomendação para gordura corporal. Portanto, o excesso de peso

corporal avaliado pelo IMC foi confirmado por meio das altas porcentagens de

pacientes com gordura corporal elevada.

Com relação à porcentagem de adequação da circunferência muscular do

braço, 26% dos indivíduos estavam acima do peso, 59% eutróficos, 13%

apresentavam subnutrição leve e apenas 2% subnutrição moderada. Avaliando-se

mais detalhadamente a reserva muscular corrigida pela massa óssea, verificamos

que 82% dos pacientes apresentavam-se eutróficos, ou seja, com valores da AMBc

acima do percentil 15, e 18% com algum grau de subnutrição. Podemos então dizer

que os dados das medidas de reserva muscular foram condizentes com as

avaliações do estado nutricional pelo IMC e pela porcentagem de gordura corporal

na população estudada. Logo, essa amostra de pacientes mostrou predominância

de excesso de peso com aumento da reserva de gordura corporal e adequação das

reservas musculares.

De acordo com as pontuações da avaliação subjetiva global, nenhum

paciente foi classificado como gravemente subnutrido. Vinte e dois pacientes foram

considerados com subnutrição leve e a maioria (78%) foi enquadrado nos critérios

de bem nutrido. ASG engloba não só as reservas corporais, mas também a

presença de sintomas gastrointestinais que podem prejudicar a ingestão alimentar e

a perda de peso ponderal durante os últimos 6 meses, avaliando portanto o paciente

em um contexto global e considerando os riscos de evoluir para um quadro de

subnutrição.

A análise dos dados de caracterização dos participantes do estudo foi

estratificada conforme os quartis de carga ácida da dieta e encontram-se dispostos

na Tabela 4. A mediana do potencial de carga ácida renal, o qual foi calculado

utilizando-se a fórmula de Remer e Manz (1995), foi de 6,8 mEq/dia com uma

variação entre -24 a 52 mEq/dia, valores utilizados para a separação em quartis.

58

Tabela 4. Características demográficas e clínicas da população de pacientes

com DRC estudada estratificadas por quartis de potencial de carga ácida renal

(mEq/dia).

Quartil de Potencial de carga ácida renal, mEq

Quartil 1: -24 a -2.2

Quartil 2: -2.3 a 6.6

Quartil 3: 6.9 a 17

Quartil 4: 17.1 a 52

p valor trend

n 25 25 25 25

Idade, anos 59.9 (6.9)

58.8 (10.2)

57.5 (9.4)

53.6 (9.67)

p = 0.01

Sexo masculino, % (n)

40 (10)

40 (10)

48 (12)

60 (15)

p = 0.44

eTFG, ml/min/1.73 m2

29.6 (10.1)

34.1 (10.4)

29.9 (10.5)

34.1 (12.1)

p = 0.32

Creatinina, mg/dL

2.1 (0.5)

1.9 (0.5)

2.2 (0.6)

2.1 (0.7)

p = 0.61

Diabetes, % (n)

28 (7)

56 (14)

36 (9)

36 (9)

p = 0.21

Hipertensão, % (n)

84 (21)

76 (19)

80 (20)

80 (20)

p = 0.91

PA Sistólica, mmHg

140.9 (19.1)

146.4 (21.9)

138.5 (22.1)

143.6 (22.5)

p = 0.99

PA diastólica, mmHg

80.7 (10.7)

83.1 (10.1)

78.0 (11.1)

83.2 (10.4)

p = 0.79

IMC, kg/m2 27.4 (5.3)

29.6 (5.5)

28.2 (4.5)

29.7 (6.1)

p = 0.26

eTFG = Estimativa da taxa de filtração glomerular; PA = Pressão arterial; IMC =

Índice de massa corporal. Característica apresentada como média (DP) ou %

(quantidade numérica).

Podemos verificar que, pela análise da tabela 4, não houve diferença

significativa nas características sociodemográficas e clínicas dos participantes, com

59

exceção da média de idade, em que o grupo no primeiro quartil mostrou-se com uma

idade média maior em comparação ao último quartil. O grupo estudado englobou

tanto pacientes no estágio 3 da DRC quanto no estágio 4, sendo a mediana da taxa

de filtração glomerular no valor de 29,5 ml/min/1.73 m2 com variação entre 16 e 57

ml/min/1.73 m2.

Ainda com objetivo de caracterizar os grupos estudados e garantir o

pareamento do grupo controle e dos pacientes com DRC, algumas variáveis do

estudo foram comparadas e os resultados podem ser observados na Tabela 5.

Ressalta-se que dentre o grupo controle não haviam pacientes hipertensos e nem

diabéticos. Não houve diferença entre os grupos para as variáveis idade, sexo, IMC

e pressão arterial diastólica.

Tabela 5. Comparação das características demográficas e clínicas do grupo

controle com a amostra total de pacientes portadores de DRC.

Grupo Controle Grupo DRC p valor

n 29 100

Idade, anos 58.0 (41 - 66)

59.5 (28 - 69)

p = 0.27

Sexo masculino, % (n) 48.3 (14)

47.0 (47)

p = 0.72

eTFG, ml/min/1.73 m2 95.0

(90 – 109) 29.5

(16 – 57) p < 0.0001

PA sistólica, mmHg 121.5

(100 – 125) 138.0

(88 - 211) p = 0.002

PA diastólica, mmHg 80.0

(64 – 89) 80.5

(60 - 110) p = 0.92

IMC, kg/m2 26.9

(19.8 – 38.7) 28.7

(18.1 - 48.6) p = 0.07

Creatinina, mg/dL 0.9

(0.6 – 1.1) 2.0

(1.2 - 3.9) p < 0.001

eTFG = Estimativa da taxa de filtração glomerular; PA = Pressão arterial; IMC =

Índice de massa corporal, HCO3 = Bicarbonato sérico. Característica

apresentada como mediana (mínimo - máximo) ou % (quantidade numérica).

60

Adicionalmente, encontramos que os pacientes com DRC apresentaram

valores maiores de pressão arterial sistólica e de creatinina, assim como, redução da

TFG em comparação ao grupo controle.

Partindo de uma análise mais detalhada da população estudada, iremos

encontrar, dispostas na Tabela 6, as informações sobre os parâmetros bioquímicos.

Segundo os dados analisados, nenhuma variável bioquímica apresentou diferença

estatisticamente significante entre os quartis.

Segundo a diretriz KDOQI (2002), a albumina sérica é utilizada para medir a

reserva de proteína visceral podendo ser um importante indicador de subnutrição

energético-proteica, sendo os níveis aceitáveis acima de 4 g/dL para a população

com DRC. Diante disso, 81% dos pacientes encontravam-se dentro desse padrão de

adequação. A mediana encontrada para albumina foi de 4,1 com variação entre 3,3

a 5,0. Outra medida para avaliar a reserva proteica é a utilização das proteínas totais

e nesse caso a mediana observada foi de 6,9 g/dL com variação entre 5,8 e 8,5

g/dL. Assim todos os pacientes apresentavam adequação quanto a este parâmetro.

Já a avaliação da hemoglobina mostrou inadequação de 56% da amostra com

predominância de deficiências no sexo feminino. A mediana desse parâmetro foi

12,5 g/dL (7,4 a 17,6).

Na avaliação da glicemia, a mediana da glicose sérica foi de 97 mg/dL (70 a

368), em que mais da metade da amostra (55%) encontrava-se dentro dos valores

de referência. Já na avaliação do perfil lipídico, a porcentagem de adequação do

colesterol total (73%) foi superior à de adequação dos triglicérides (57%). O mesmo

ocorreu para o colesterol LDL e HDL, em que 77% dos pacientes apresentaram

valores adequados à recomendação de LDL e apenas 27% da amostra tinham

adequação à recomendação de HDL.

Para a proteína C reativa, um marcador inflamatório, a mediana encontrada

foi de 0,27 mg/dL variando de 0,02 a 2,9 mg/dL, sendo que 68% dos pacientes

encontravam-se dentro do limite aceitável, ou seja, com valores inferiores a 0,5

mg/dL. No caso das variáveis sódio, potássio, fósforo, ferro e ácido úrico,

observamos inadequações de 6% para o sódio, 22% para o potássio, 9% para o

fósforo, 10% para o ferro e 52% para o ácido úrico.

61

Tabela 6. Características das variáveis bioquímicas da população de pacientes com

DRC estudada estratificados por quartis de potencial de carga ácida renal (mEq/dia).

Quartil de Potencial de carga ácida renal, mEq

Quartil 1: -24 a -2.2

Quartil 2: -2.3 a 6.6

Quartil 3: 6.9 a 17

Quartil 4: 17.1 a 52

p valor trend

n 25 25 25 25

Cr, mg/dL 2.1 (0.5) 1.9 (0.5) 2.2 (0.6) 2.1 (0.7) p = 0.61

Ureia, mg/dL

80.6 (47.8) 72.9 (28.4) 84.9 (38.2) 75.6 (34.6) p = 0.49

Albumina, g/dL

4.2 (0.2) 4.1 (0.2) 4.1 (0.2) 4.1 (0.3) p = 0.11

Proteínas totais, g/dL

7.0 (0.4) 6.9 (0.5) 6.9 (0.6) 6.8 (0.5) p = 0.14

Hb, g/dL 12.4 (1.7) 12.2 (1.3) 12.8 (1.6) 12.7 (1.9) p = 0.37

Ht, g/dL 37.8 (4.6) 36.4 (3.8) 39.1 (4.5) 38.7 (5.8) p = 0.23

Glicemia, mg/dL

106.6 (40.9) 116.9 (54.8) 131.8 (86.0) 106.4 (25.0) p = 0.34

CT, mg/dL 179.2 (43.7) 168.9 (57.2) 176.2 (40.7) 179.3 (56.2) p = 0.87

TG, mg/dL 136.9 (62.8) 154.2 (81.7) 145.9 (85.2) 151.5 (74.9) p = 0.60

HDL, mg/dL 45.4 (16.1) 38.1 (8.2) 44.0 (19.8) 38.6 (14.9) p = 0.29

LDL, mg/dL 106.3 (42.1) 99.9 (50.3) 102.7 (40.0) 107.3 (51.1) p = 0.89

PCR, mg/dL 0.6 (0.6) 0.6 (0.6) 0.4 (0.3) 0.5 (0.5) p = 0.55

Na, mmol/L 139.4 (2.2) 138.9 (2.4) 139.2 (3.1) 138.9 (2.4) p = 0.67

K, mmol/L 4.6 (0.6) 4.6 (0.6) 4.8 (0.5) 4.5 (0.6) p = 0.35

P, mg/dL 3.6 (0.8) 3.6 (0.7) 3.7 (0.5) 3.4 (0.5) p = 0.49

Fe, µg/dL 77.2 (33.1) 70.2 (23.1) 68.9 (18.7) 86.8 (29.5) p = 0.25

AU, mg/dL 7.2 (2.1) 6.9 (1.9) 7.6 (1.4) 7.4 (2.2) p = 0.38

Cr = Creatinina, HCO3 = Bicarbonato sérico, Hb = Hemoglobina, Ht = Hematócrito, PCR = proteína C reativa, CT = Colesterol total, TG = Triglicérides, Na = Sódio sérico, K = Potássio sérico, P = Fósforo sérico, AU = Ácido úrico. Valores apresentados como média (desvio padrão).

62

No que diz respeito aos parâmetros bioquímicos de acidez no sangue e

aqueles determinados na urina e suas associações com a carga ácida da dieta,

observa-se na tabela 7 que existe uma diferença do bicarbonato sérico entre os

níveis de carga ácida da dieta, sendo o primeiro quartil estatisticamente diferente do

último quartil (p=0,05), contudo, o mesmo não foi observado para o pH do sangue e

nem para o pH da urina. Se considerarmos os critérios para diagnóstico da acidose

metabólica, podemos constatar que ela estava presente em apenas 14% da amostra

de pacientes estudada.

Tabela 7 - Parâmetros de acidez no sangue e na urina da população de pacientes

com DRC estudada estratificados por quartis de potencial de carga ácida renal

(mEq/dia).

Quartil de Potencial de carga ácida renal, mEq

Quartil 1: -24 a -2.2

Quartil 2: -2.3 a 6.6

Quartil 3: 6.9 a 17

Quartil 4: 17.1 a 52

p valor trend

n 25 25 25 25

pH urinário 5.8

(0.7) 5.9

(0.6) 5.6

(0.5) 5.6

(0.4) p = 0.07

pH sanguíneo 7.33

(0.03) 7.34

(0.03) 7.33

(0.04) 7.35

(0.04) p = 0.86

Bicarbonato sérico, mmol/L

26.2 (3.6)

25.4 (2.7)

24.6 (2.5)

24.2 (3.3)

p < 0.02

Valores apresentados como média (desvio padrão).

Ainda encontramos uma diferença significativa de bicarbonato sérico entre o

primeiro e o último quartil de PRAL em modelos não ajustados e ajustados (Tabela

8). No modelo de análise não ajustada, encontramos uma diferença de 1,96 mmol/L

do bicarbonato sérico entre o primeiro e o último quartil, sendo o valor do último

quartil menor em relação ao primeiro, ou seja, o grupo de pacientes portadores de

DRC que apresentaram um maior consumo de carga ácida proveniente da dieta

foram associados a um menor nível sérico de bicarbonato.

Após o ajuste para as variáveis demográficas sexo e idade, essa diferença

não se manteve, entretanto, após o ajuste multivariável completo incluindo as

63

variáveis demográficas juntamente com clearance, pressão sistólica e diastólica,

IMC e diabetes mellitus, o maior quartil de PRAL apresentou novamente uma

diferença no bicarbonato em comparação com o menor quartil e, neste caso, a

diferença foi de 2,07 mmol/L.

Tabela 8 – Diferenças no bicarbonato sérico segundo os quartis de potencial de

carga ácida renal (mEq/dia) comparados ao menor quartil em modelos não ajustados

e ajustados.

Diferença (Q1 -Qi)

Valor p

Intervalo de confiança 95% da diferença

Inferior Superior

Sem Ajuste

Quartil 1 (24 a -2.2 mEq/d) Referência

Quartil 2 (-2.3 a 6.6 mEq/d) 0,70 0,4248 -1,04 2,45

Quartil 3 (6.9 a 17 mEq/d) 1,50 0,0918 -0,25 3,24

Quartil 4 (17.1 a 52 mEq/d) 1,96 0,0277 0,22 3,70

Ajuste com demográficosa

Quartil 1 (24 a -2.2 mEq/d) Referência

Quartil 2 (-2.3 a 6.6 mEq/d) 0,64 0,4622 -1,08 2,37

Quartil 3 (6.9 a 17 mEq/d) 1,41 0,1105 -0,33 3,14

Quartil 4 (17.1 a 52 mEq/d) 1,12 0,0605 -0,08 3,53

Ajuste completob

Quartil 1 (24 a -2.2 mEq/d) Referência

Quartil 2 (-2.3 a 6.6 mEq/d) 0,99 0,1632 -0,79 2,76

Quartil 3 (6.9 a 17 mEq/d) 1,34 0,1208 -0,41 3,09

Quartil 4 (17.1 a 52 mEq/d) 2,07 0,0235 0,21 3,92

Intervalos de confiança que não englobam o valor zero trazem evidências de

diferença entre o quartil observado com o primeiro quartil.

a. Ajustado por sexo e idade.

b. Ajustado por sexo, idade, diabetes mellitus, clearance, índice de massa corporal,

pressão arterial sistólica e diastólica.

Além disso, também foram feitas comparações entre os parâmetros de acidez

no sangue e na urina entre o grupo controle e os portadores de DRC e, como se

observa na tabela 9, os pacientes com DRC apresentaram níveis de bicarbonato

sérico e do pH sanguíneo e urinário significativamente menores quando comparados

ao grupo controle.

64

Tabela 9. Comparação dos parâmetros de acidez no sangue e na urina do grupo

controle com a amostra total de pacientes portadores de DRC.

Grupo Controle Grupo DRC p valor

n 29 100

pH urinário 6.4

(5.2 – 7.5) 5.5

(4.8 – 7.4) p = 0.0003

pH sanguíneo 7.36

(7.27 – 7.40) 7.34

(7.24 – 7.43) p = 0.001

HCO3, mmol/L 27.5

(24.2 – 30.0) 25.1

(15.1 – 29.7) p = 0.003

Valores apresentados como mediana (mínimo - máximo).

Quanto às análises do consumo alimentar, estas também foram feitas por

meio da separação dos pacientes com DRC por quartis e pela comparação deste

com o grupo controle. Os resultados dessas duas análises podem ser observados

nas tabelas 10 e 11, respectivamente.

Como descrito na Tabela 10, confirma-se que houve diferença na carga ácida

da dieta entre os quartis. Ao se comparar as médias do PRAL obtidas nos 3 dias de

registro alimentar, observou-se que o segundo registro referente ao final de semana

apresentou uma média de PRAL (11,7 17,5 mEq/dia) significativamente superior

ao registro do primeiro dia (7,3 16,3 mEq/dia), porém tal diferença não

permaneceu em relação ao último dia. Também não foi encontrada diferença entre o

PRAL do último dia de registro com a média do PRAL dos 3 registros (p = 0,41).

Ainda segundo os 3 dias de registro, a mediana da ingestão proteica para os

pacientes estudados foi de 59,9 (18,2 a 108,7) gramas por dia e de 0,8 (0,3 a 1,8)

g/kg/dia após o ajuste para o peso corporal ideal. Assim, 47% dos pacientes

apresentaram uma mediana do consumo proteico acima da recomendação máxima

de 0,8 g/kg/dia, sugerida pela diretriz do KDIGO, e 25% tiveram um consumo abaixo

de 0,6 g/kg/dia. Contudo, percebe-se que houve diferença significativa entre a

mediana da ingestão de proteína obtida pelos registros alimentares e aquela obtida

pelo PNA (0,9 g/kg/dia com variação entre 0,45 a 2,2 g/kg/dia). Dessa forma, se

avaliarmos a ingestão proteica pelo PNA iremos encontrar que 68% dos portadores

de DRC tinham um consumo acima de 0,8 g/kg/dia e apenas 10% consumiram

abaixo de 0,6 g/kg/dia.

65

Ao se comparar a quantidade de proteína ingerida nos 3 dias de registros,

encontramos também uma ingestão significativamente maior de proteínas no registro

de final de semana de 63,6 26,7 g comparado ao último registro de 58,6 22,7 g

(p=0.04). Entretanto, essa diferença não se manteve em relação ao primeiro dia de

registro e nem entre o primeiro e o último dia de registro. Quando analisamos

separadamente as proteínas de origem animal e vegetal, verifica-se que a mediana

de 41,3 g (28,4 a 59,5 g) do consumo de proteínas animais foi significativamente

superior ao de proteínas vegetais no valor de 13,9 g (10,1 a 19,4 g).

Assim, segundo os quartis de carga ácida, observou-se que o aumento da

carga ácida foi acompanhado do aumento da ingestão proteica nos pacientes com

DRC tanto pelos dados do registro alimentar como pela estimativa por meio

dosagem de ureia urinária, sendo os valores dos primeiros quartis significativamente

menores em comparação aos últimos quartis de ingestão proteica (p < 0.01).

Ademais, existe uma diferença significativa para os valores encontrados de proteína

animal tanto em gramas como em %, em que o menor quartil, ou seja, aquele com

menor consumo de carga ácida, apresentou um consumo reduzido de proteína

animal em comparação ao último quartil (p < 0.0001). Já para as proteínas vegetais,

tal diferença somente foi observada quando avaliamos os valores em porcentagem,

em que o quartil com um valor de PRAL reduzido apresentou um maior consumo de

proteínas provenientes de origem vegetal, ao contrário, no maior quartil de PRAL

houve redução no consumo.

Além disso, não foram encontradas diferenças entre os quartis de carga ácida

para o consumo energético, as fibras e os micronutrientes como potássio, magnésio

e cálcio. A exceção deu-se para o fósforo em que pacientes com maior consumo de

carga ácida proveniente da dieta apresentaram uma maior ingestão de fósforo.

De acordo com os dados coletados dos registros alimentares, a mediana do

consumo calórico foi 1498 kcal com variação entre 958 kcal e 3119 kcal. Quando

avaliado o consumo calórico por peso ideal/dia, observamos uma mediana de 23

kcal/kg.

66

Tabela 10. Avaliação do consumo alimentar dos pacientes com DRC estratificadas

por quartis de potencial de carga ácida renal (mEq/dia) segundo o último dia do

registro alimentar de 3 dias.

Quartil de Potencial de carga ácida renal, mEq

Quartil 1: -24 a -2.2

Quartil 2: -2.3 a 6.6

Quartil 3: 6.9 a 17

Quartil 4: 17.1 a 52

p value trend

n 25 25 25 25

PRAL, mEq/dia -10.0 (6.1) 3.0 (2.5) 13.0 (3.3) 27.0 (8.1)

p < 0.0001

PNA, g 56.7 (23.6) 64.5 (22.4) 68.7 (21.9) 72.2 (22.6) p < 0.02

Proteína

registro, g 40.9 (15.9) 49.5 (15.1) 60.5 (13.6) 83.4 (20.2)

p < 0.0001

Proteína Animal, g

25.7 (14.3) 33.4 (13.9) 46.8 (13.8) 64.7 (17.6) p <

0.0001

Proteína Animal, % 59.5 (18.6) 66.1 (13.9) 77.2 (13.2) 77.8 (10.9)

p < 0.0001

Proteína Vegetal, g

15.2 (6.1) 16.2 (6.5) 13.6 (8.1) 18.7 (11.1) p = 0.28

Proteína Vegetal, %

40.5 (18.6) 33.95 (13.9) 22.83 (13.2) 22.2 (10.9) p <

0.0001

Fibras, g 19.9 (9.9) 19.9 (9.9) 15.9 (9.1) 18.5 (7.2) p = 0.30

Potássio, mg

2124 (783.0) 1779 (617.9) 1738 (570.4) 1868 (710.9) p = 0.18

Magnésio, mg

185.0 (74.3) 169.7 (57.8) 162.7 (66.2) 176.9 (77.9) p = 0.61

Cálcio, mg

403.0 (249.8) 399.9 (212.2) 514.6 (298.5) 326.9 (187.1) p = 0.59

Fósforo, mg 628.2 (298.5) 674.9 (208.5) 808.7 (263.7) 915.8 (276.7)

p < 0.0001

Calorias, kcal

1495 (385.8) 1478 (438.4) 1476 (373.5) 1742 (472.5) p = 0.06

PRAL = Potencial de carga ácida renal; PNA = Equivalente proteico de

aparecimento do nitrogênio. Dados apresentados como média (desvio padrão).

67

Adiante também encontra-se a tabela 11, em que podemos comparar a

ingestão alimentar do grupo portador de DRC com o grupo de indivíduos saudáveis.

De modo geral o grupo controle apresentou uma ingestão de proteínas superior ao

grupo DRC tanto pelas medidas em gramas do registro alimentar como pelo PNA.

Todavia, não encontramos diferença estatisticamente significante para os valores de

PRAL.

Tabela 11. Comparação do consumo alimentar do grupo controle com a amostra total

de pacientes portadores de DRC.

Grupo Controle Grupo DRC p valor

n 29 100

PRAL, mEq/dia 9.9 (-15.5 – 47.5) 8.3 (1.6 – 15.6) p = 0.62

PNA, g 74.1 (36.6 – 138.4) 63.1 (27.0 – 143.2) p = 0.03

Proteína do registro, g 69.5 (26.1 – 176.2) 59.9 (18.2 – 108.7) p = 0.03

Proteína do registro,

g/kg peso ideal 1.0 (0.4 – 2.8) 0.8 (0.3 – 1.8) p = 0.01

Proteína Animal, g 53.3 (16.1 – 151.6) 44.8 (3.7 – 85.0) p = 0.06

Proteína Animal, % 72.7 (48.5 – 91.2) 72.8 (17.7 – 93.4) p = 0.98

Proteína Vegetal, g 16.6 (4.2 – 43.5) 14.5 (5.1 – 50.2) p = 0.16

Proteína Vegetal, % 27.2 (8.8 – 51.5) 27.3 (6.6 – 82.3) p = 0.73

Fibras, g 16.8 (1.8 – 45.7) 17.2 (6.9 – 44.1) p = 0.62

Potássio, mg 2310.1 (850.2 – 3762.1) 1873.8 (854.7 – 3832.9) p = 0.02

Magnésio, mg 203.3 (71.2 – 357.3) 162.6 (78.9 – 341.6) p = 0.09

Cálcio, mg 695.7 (199.3 – 1688.4) 390.3 (89.2 – 942.1) p <

0.0001

Fósforo, mg 889.5 (295.5 – 1873.8) 739.8 (316.4 – 1421.2) p = 0.14

Calorias, kcal 1972.4 (877.1 – 3929.1) 1510.7 (957.9 – 3118.5) p =

0.0001

Dados apresentados como mediana (mínimo - máximo).

68

Quanto à diferenciação entre proteína animal e vegetal, não foram

encontradas diferenças estatisticamente significante entre os dois grupos. Ambos os

grupos, consumiram uma maior quantidade de proteína de origem animal

comparada a vegetal. Outros nutrientes como fibras, magnésio e fósforo também

não apresentaram diferenças entre os grupos. Já em relação às calorias, o grupo

controle mostrou um maior consumo calórico comparado ao grupo DRC. Este

apresentou uma mediana de 23 kcal/kg em comparação à 30 kcal/kg pelos

indivíduos saudáveis. No entanto, encontramos um índice de subnotificação

energética de 51% dos pacientes portadores de DRC, enquanto que, o subrelato

para o grupo controle foi de apenas 11%.

Como o consumo calórico foi diferente entre os grupos, foi feita também uma

normalização dos nutrientes por 1000 kcal. Assim, as diferenças entre os grupos

desapareceram, com exceção da ingestão de cálcio que permaneceu

estatisticamente maior no grupo controle em comparação ao grupo de pacientes

portadores de DRC.

Na sequência, apresentamos a tabela 12 com as informações referentes à

produção endógena de ácidos do organismo comparando o grupo controle com os

pacientes portadores de DRC. Não foram encontradas diferenças na comparação

entre as produções endógenas de ácidos do grupo controle e daqueles com DRC.

Tabela 12. Comparação da produção endógena de ácido (NEAP) do grupo controle

com a amostra total de pacientes portadores de DRC.

Grupo Controle Grupo DRC p valor

n 29 100

NEAP Remer, mEq/dia 50.2 (30.3 – 87.2) 53.1 (14.9 – 91.8) p = 0.76

NEAP Lemann, mEq/dia 46.7 (26.5 – 95.1) 48.9 (24.8 - 77.7) p = 0.93

NEAP Frassetto, mEq/dia 57.4 (33.5 – 135.6) 52.4 (26.1 – 92.8) p = 0.07

NEAP = Produção endógena de ácido. Valores apresentados como mediana

(mínimo - máximo).

Lembrando que como as duas primeiras estimativas do NEAP utilizam a

produção de ácidos orgânicos para sua determinação e a última se utiliza da

ingestão de proteína e de potássio, diferenças significativas foram encontradas entre

essas estimativas. Pela equação de Frassetto e colaboradores, o NEAP foi superior

69

em comparação à equação de Lemann tanto para o grupo controle como para o

grupo DRC (p < 0.0001), porém essa diferença não foi observada em relação à

equação de Remer. Ainda, comparando-se a equação de Remer com a de Lemann,

a primeira também apresentou valores superiores a segunda equação, mas nesse

caso somente para o grupo com DRC (p < 0.0001).

À seguir serão mostradas as tabelas com as avaliações dos resultados

encontrados para o estresse oxidativo e para o gasto energético de repouso

segundo os quartis de bicarbonato sérico (Tabela 13), além da comparação com o

grupo controle (Tabela 14).

Tabela 13. Comparação dos marcadores de estresse oxidativo proteico e lipídico

dos pacientes portadores de DRC segundo os quartis de bicarbonato sérico.

Bicarbonato sérico, mmol/L

Quartil 1: 15.1 a 23.2

Quartil 2: 23.3 a 25.4

Quartil 3: 25.5 a 27.6

Quartil 4: 27.7 a 30.6

p valor trend

n 25 25 25 25

AOPP (μmol/L) 0.95 (0.51) 0.85 (0.26) 0.94 (0.27) 1.06 (0.48) p = 0.26

F2-IsoPs (ng/mL) 32.7 (15.9) 44.6 (47.9) 38.6 (25.2) 34.3 (24.1) p = 0.72

AOPP: Produtos de oxidação proteica. F2-IsoPs: isoprostano. Dados

apresentados como média (desvio padrão).

Apesar do grupo portador de DRC apresentar valores significativamente

superiores para o AOPP em comparação ao grupo controle, diferenças não foram

encontradas entre os quartis de bicarbonato sérico. Já para os isoprostanos, os

quais são representativos da oxidação lipídica, não foram observadas diferenças

nem com o grupo o controle e nem entre os quartis de bicarbonato sérico.

Tabela 14. Comparação dos marcadores de estresse oxidativo proteico e lipídico do

grupo controle com a amostra total de pacientes portadores de DRC.

Grupo Controle Grupo DRC p valor

n 29 100

AOPP (μmol/L) 0.6 (0.3 – 1.6) 0.9 (0.4 – 2.8) p < 0.001

F2-IsoPs (ng/mL) 27.3 (14.0 – 49.5) 27.2 (16.7 – 259.6) p = 0.25

AOPP: Produtos de oxidação proteica. F2-IsoPs: isoprostano. Dados apresentados

como mediana (mínimo – máximo)

70

Durante esse estudo, também avaliou-se o gasto energético de repouso dos

pacientes portadores de DRC e seus componentes conforme os quartis de

bicarbonato sérico (Tabela 15). De acordo com as análises estatísticas, não

encontramos nenhuma diferença para o GER, o quociente respiratório e o fator

injúria entre os quartis de bicarbonato sérico.

Tabela 15. Comparação do gasto energético de repouso, da oxidação de

substratos e do fator injúria dos pacientes portadores de DRC segundo os quartis

de bicarbonato sérico.

Bicarbonato sérico, mmol/L

Quartil 1: 15.1 a 23.2

Quartil 2: 23.3 a 25.4

Quartil 3: 25.5 a 27.6

Quartil 4: 27.7 a 30.6

p valor trend

n 25 25 25 25

GER (kcal/dia)

1231 (324.7)

1248 (395.8)

1218 (448.1)

1347 (482.2)

p = 0.40

Quociente Respiratório

0.91 (0.11)

0.90 (0.10)

0.92 (0.10)

0.97 (0.11)

p = 0.07

Fator Injúria

0.86 (0.19)

0.83 (0.17)

0.83 (0.25)

0.88 (0.40)

p = 0.79

GER = Gasto energético de repouso. Dados apresentados como média

(desvio padrão).

De modo geral, a mediana do GER no grupo com DRC foi de 1161,2 kcal/dia

com variação entre 832,3 a 3060,2 kcal/dia. Se considerarmos as necessidades

calóricas em kcal/kg de peso, encontraremos uma variação de 10,8 a 31 kcal/kg de

peso atual com mediana de 15,8 kcal/kg.

Ao separarmos a análise do GER pelos sexos, as medianas de GER

encontradas foram de 1318 kcal/dia (988,4 a 3060,2 kcal/dia) para o sexo masculino

e de 1053 kcal/dia (832,3 a 2858 kcal/dia) para o sexo feminino, ou seja, o GER dos

indivíduos portadores de DRC do sexo masculino foi significativamente maior

comparado ao sexo feminino (p < 0.0001).

Em relação ao quociente respiratório, o grupo com DRC apresentou um

mínimo de 0,74 e o máximo no valor de 1,3 com mediana de 0,90, ou seja, indicativa

71

de uma dieta mista. No caso do grupo controle, a mediana encontrada foi de 0,95

(0,78 a 1,1) e comparando-se ambos os grupos, verificou-se uma diferença

estatisticamente significativa entre eles (p = 0,03).

Contudo, comparando-se o GER medido pela calorimetria entre o grupo

controle e o grupo de pacientes portadores de DRC, não foram encontradas

diferenças significativas como pode ser observado na figura 6 e na Tabela 16.

Tabela 16. Comparação do gasto energético de repouso medido pela calorimetria

do grupo controle com o grupo de pacientes portadores de DRC.

Média Desvio padrão Valor p

Intervalo de confiança 95% da diferença

Inferior Superior

Portador DRC 1303,75 409,84 0,5216 -102,03 1255,34

Grupo controle 1255,34 338,50

DRC = Doença renal crônica

Figura 6. Representação do gasto energético de repouso do grupo controle e do grupo de pacientes portadores de DRC.

Grupo controle Grupo portador de DRC

72

Por fim, foram realizadas as correlações e a análise de regressão linear por

meio de modelos que relacionam uma determinada variável resposta a diversas

covariáveis. Esse último modelo foi estabelecido com o objetivo de avaliar a

influência dessas covariáveis sobre a variável resposta deste trabalho que, no caso,

é o bicarbonato sérico.

No que se refere às correlações de Pearson das variáveis independentes com

a variável dependente bicarbonato, podemos dizer que os resultados desse estudo

não mostraram correlações entre HCO3 e sexo, parâmetros antropométricos

(incluindo IMC, circunferências, pregas cutâneas e composição corporal), TFG,

creatinina, ureia urinária, marcadores de estresse oxidativo, ingestão de proteínas

totais, ingestão de proteínas animais e vegetais e GER. O fator injúria, proveniente

da razão entre o GER medido e o estimado, também não foi correlacionado com o

HCO3. Por outro lado, na tabela 17, podem ser observados as correlações que

tiveram significância estatística pela análise de regressão linear simples.

Assim, foram observadas correlações positivas do HCO3 com a idade, o pH

urinário e o sanguíneo, sendo essas duas últimas correlações as mais fortes. Ao

contrário, para as variáveis independentes PRAL e NEAP as correlações foram

negativas. Portanto, os resultados mostram que, quanto menor o bicarbonato,

maiores eram a proporção de ingestão de carga ácida e a produção endógena de

ácido.

No caso da carga ácida da dieta, os resultados do estudo sugerem que,

segundo a média dos 3 registros alimentares, o PRAL teve uma fraca correlação

negativa com a idade (r = -0.23) e positiva com a TFG (r = 0.21). Nesse sentido,

verificou-se também correlação negativa entre a idade e ingestão de proteínas (r = -

0.25) em que conforme a idade aumentava, ocorria uma redução no consumo

proteico. Também foi observada tal correlação entre a TFG e a ingestão de

proteínas, só que nesse caso ela foi positiva (r = 0.22). Já entre a idade e a TFG,

não foram encontradas correlações.

Quanto à diferenciação das proteínas, foi observada uma correlação

moderada somente entre o PRAL e a proteína animal (r = 0.64). Entretanto, quando

avaliamos pela razão proteína vegetal pela animal encontramos uma boa correlação

positiva entre essa medida e o PRAL (r = -0.51). Os resultados também mostraram

uma correlação forte da razão do consumo proteico em gramas pela ingestão

dietética de potássio com o PRAL (r = 0.86).

73

Em relação aos marcadores de estresse oxidativo, não foram observadas

correlações do GER ou do fator injúria com esses marcadores.

Tabela 17. Modelo de regressão linear simples dos pacientes portadores de DRC

considerando o bicarbonato sérico como a variável dependente.

Variável Coeficiente Erro

Padrão Valor p

Coeficiente de correlação

de Pearson

Idade, anos 0,08 0,03 0,0256 0,223149

pH urinário 2,44 0,49 0,0001 0,451167

pH sanguíneo 35,88 8,02 0,0001 0,413811

PRAL, mEq/dia -0,07 0,02 0,0018 -0,308683

NEAP Remer, mEq/dia -0,05 0,02 0,0135 -0,246413

NEAP Frassetto, mEq/dia -0,04 0,02 0,0318 -0,214888

PRAL = Potencial de Carga Ácida Renal; NEAP = Produção endógena de ácidos.

Analisando-se apenas as variáveis dietéticas por um modelo de regressão

linear múltiplo, verificamos que apenas a variável PRAL permaneceu com diferença

estatisticamente significante, em que para cada aumento de 1 unidade no PRAL

temos, com 95% de confiança, uma redução de 0,25 mmol/L no bicarbonato sérico

(Tabela 18).

Tabela 18. Modelo de regressão linear múltiplo para o conjunto de características

dietéticas dos pacientes portadores de DRC considerando o bicarbonato sérico

como a variável dependente.

Variável Coeficiente Erro Padrão Valor p

Proteína, g 6,09 18,32 0,7403

Proteína animal, g -6,03 18,31 0,7426

Proteína vegetal, g -6,11 18,31 0,7394

PRAL, mEq/dia -0,25 0,10 0,0195

NEAP Remer, mEq/dia 0,09 0,06 0,1073

NEAP Frassetto, mEq/dia -0,02 0,16 0,8995

PRAL = Potencial de Carga Ácida Renal; NEAP = Produção endógena de ácidos.

74

Finalmente, foi feita uma seleção automática de modelos utilizando o método

stepwise com o intuito de verificar a importância das variáveis e selecionar o melhor

subconjunto de variáveis independentes que influenciam na variável dependente, no

caso o bicarbonato sérico. O modelo final selecionado pode ser observado na tabela

19. Logo, verificamos que a ingestão proteica, principalmente a proveniente de

origem animal, a carga ácida da dieta e o pH urinário são variáveis que podem

interferir significativamente na variável bicarbonato.

Tabela 19. Seleção automática dos modelos de regressão linear múltipla segundo

a variável dependente bicarbonato sérico.

Variável Coeficiente Erro Padrão Valor p r

pH urinário 1,73 0,4315 0,0001300

0,49

Ureia urinária, mg/L -0,0001 0,0001 0,0449710

pH sanguíneo 37,58 6,9060 0,0000005

Proteína, g -0,06 0,0315 0,0716580

Proteína animal, g 0,08 0,0353 0,0236740

PRAL, mEq/dia -0,18 0,0538 0,0009370

NEAP Remer, mEq/dia 0,10 0,0476 0,0312040

PRAL = Potencial de Carga Ácida Renal, NEAP = Produção endógena de ácidos.

75

DISCUSSÃO

76

6 DISCUSSÃO

Neste estudo, nossos principais achados confirmam que existe uma

associação entre a estimativa da carga ácida gerada pela dieta e os níveis de

bicarbonato sérico em pacientes portadores de DRC enquanto em suas dietas

habituais. No que se refere à diferenciação da ingestão proteica, o consumo da

proteína animal parece apresentar uma influência maior sobre os níveis de

bicarbonato sérico. Além disso, associações do bicarbonato sérico com o gasto

energético de repouso e com os marcadores de estresse oxidativo proteico e lipídico

não foram observadas.

No decorrer deste estudo, foram apresentados dados para a caracterização

antropométrica da nossa amostra. Os resultados das análises desses dados

demonstraram que as prevalências de excesso de peso e de subnutrição podem

variar conforme a ferramenta utilizada para avaliação.

Apesar disso, podemos observar que a maior parte dos pacientes portadores

de DRC encontravam-se com excesso de peso associado a um aumento da

circunferência abdominal e da porcentagem de gordura corporal. Resultados

semelhantes foram observados em um estudo realizado com pacientes renais

crônicos nos estágios 2 a 4, em que foi encontrada uma alta prevalência de

obesidade determinada pelo IMC e tal prevalência chegou a atingir 90% da amostra

quando avaliada pela porcentagem de gordura corporal (AGARWAL; BILLS; LIGHT,

2010).

Navaneethan e colaboradores (2014) avaliaram os dados representativos de

2.153 pacientes com DRC pelo programa National Health and Nutrition Examination

Survey (NHANES) e encontraram uma média de 29 kg/m2 para o IMC e 36,7% para

a gordura corporal, evidenciando a alta prevalência de excesso de peso e acúmulo

de gordura visceral. Estudos recentes demonstram que as medidas antropométricas

que refletem o acúmulo de gordura na região abdominal são melhores preditores de

fatores de risco adversos na DRC comparado ao uso isolado do IMC (EVAS et al.,

2012; ZOCCALI et al., 2012).

Um outro estudo, também realizado no Brasil, avaliou 922 pacientes

portadores de DRC nos estágios 3 e 4 e foi de encontro ao nossos achados

77

encontrando apenas 11% dos indivíduos com subnutrição proteico-energética

(CUPPARI et al., 2014).

Dessa forma, podemos dizer que os nossos achados são condizentes com a

transição nutricional que vem acontecendo no Brasil. Ao mesmo tempo em que

declina a ocorrência da subnutrição nos adultos, há o aumento da prevalência de

sobrepeso e obesidade na população (BATISTA; RISSIN, 2003).

Concomitantemente, ocorre uma transição epidemiológica com o aumento relativo

da carga de doenças crônicas não-transmissíveis (como diabetes mellitus,

obesidade, hipertensão, doenças cardiovasculares e DRC) à medida que a

prevalência de doenças infecciosas diminui com a melhoria do saneamento e de

programas de imunização (OJO, 2014).

Além disso, o manejo dietético tradicional da doença renal crônica concentra-

se predominantemente na quantidade de energia, proteína e restrição de

micronutrientes, com pouca ou nenhuma menção da qualidade na dieta. Estudos

mostram uma qualidade subótima das dietas desses pacientes com aumento no

consumo de alimentos rápidos, práticos e ultraprocessados. Assim, essa falta de

qualidade na alimentação por um aumento no consumo de alimentos com alto teor

energético e baixo valor nutricional pode contribuir para os excessos de peso

(CAMPBELL; CARRERO, 2016; CHAN et al., 2014)

A dieta hoje usualmente consumida no mundo ocidental é bem diferente

daquela de nossos antepassados, quando as dietas eram em grande parte de

origem vegetal, com níveis muito mais baixos de carboidratos refinados e de sódio e

níveis muito mais elevados de fibra e de potássio do que as dietas contemporâneas

(Chen; Abramowitz, 2014). Sebastian e colaboradores (2002) estimaram que a carga

ácida de uma dieta ancestral era em média de -88 mEq por dia em comparação a

uma média de +48 mEq por dia na atual dieta americana. Assim sendo, essa

mudança de uma alimentação com carga ácida mais alcalina para uma com maior

produção de ácidos pode inteferir negativamente no metabolismo da população,

principalmente nos pacientes renais crônicos.

Acredita-se que uma dieta ácida pode provocar uma toxicidade tubular por

proporcionar aumento das concentrações de amônia nos néfrons (Banerjee et al.,

2015), e aqueles pacientes com mal funcionamento dos rins podem evoluir para um

quadro de acidose metabólica devido a capacidade renal comprometida para

excretar o ácido produzido diariamente no organismo (LEAL et al., 2009).

78

Segundo diretrizes de manejo da DRC (KDIGO, 2013; KDOQI, 2002), a

principal forma de tratamento da acidose metabólica é a suplementação oral de

bicarbonato de sódio quando os níveis de bicarbonato sérico são inferiores a 22

mMol/L. Os achados na literatura mostram efeitos benéficos dessa suplementação

alcalina na diminuição da progressão da doença renal (DE BRITO-ASHURST et al.,

2009; MAHAJAN et al., 2010; GORAYA et al., 2013). Contudo, tem-se discutido cada

vez mais o papel da nutrição na correção da acidose metabólica.

Sugere-se que os indivíduos com DRC podem se beneficiar de mudanças

dietéticas específicas projetadas para reduzir a produção diária de ácido e, nesse

caso, a carga ácida da dieta desempenharia um papel muito importante no manejo

nutricional da doença renal crônica contribuindo para a melhora dos níveis séricos

de bicarbonato. De modo geral, os alimentos que comumente aumentam a carga

ácida da dieta incluem queijos, carnes, ovos e grãos, enquanto que, as frutas e

hortaliças fornecem álcalis para o organismo (REMER e MANZ, 1995).

Baseado no exposto acima, a nossa pesquisa teve como objetivo estudar a

associação entre a carga ácida da dieta e o bicarbonato sérico. Nesse sentido, os

nossos resultados corroboram com estudos prévios demonstrando que a carga de

ácidos proveniente da dieta pode ser um fator de risco modificável para acidose

metabólica (IKIZLER et al., 2016; GORAYA et al., 2012; SCIALLA et al., 2011).

Na pesquisa desenvolvida por Ikizler e colaboradores (2016), a avaliação da

ingestão de ácidos pelo PRAL foi também associada com o HCO3 tanto em modelos

não ajustados como naqueles por ajustes completos com uma diferença de -0.9

(−1.5, −0.4) mmol/L no HCO3 para cada unidade de PRAL neste último ajuste. Em

contrapartida, Leal e colaboradores (2009) falharam em demonstrar diferenças nas

médias do PRAL entre pacientes acidóticos e não acidóticos. Segundo a autora, a

explicação mais provável para este achado é em decorrência de todos os pacientes

terem recebido a mesma dieta restrita em proteínas (LEAL et al., 2009).

Na literatura, também encontramos estudos intervencionais comparando os

efeitos da suplementação de 0.5 mEq/kg/dia de bicarbonato de sódio com o

aumento do consumo de frutas e hortaliças sobre a lesão renal em pacientes renais

crônicos sem acidose metabólica nos diferentes estágios da DRC (GORAYA et al.,

2012; GORAYA et al., 2013; GORAYA et al., 2014). Esses estudos concluem que

ambas as formas de tratamentos, medicamentoso ou dietético, foram igualmente

capazes de melhorar a acidose metabólica, reduzir parâmetros urinários de lesão

79

renal e preservar a taxa de filtração glomerular. Além disso, a maior ingestão de

frutas e hortaliças pelos participantes dos estudos proporcionou uma redução na

pressão arterial, mostrando uma possível vantagem das modificações dietéticas

como estratégia na redução da carga ácida para proteção dos rins quando

comparado ao tratamento medicamentoso, (GORAYA et al., 2012).

É relevante ressaltar que, nesses estudos, o consumo de frutas e hortaliças

não induziram a hipercalemia nos pacientes portadores de DRC, contudo, somente

pacientes com níveis de potássio igual ou abaixo 4,6 mEq/L foram incluídos

(GORAYA et al., 2013). Portanto, esses dados indicam que frutas e hortaliças

podem ser uma alternativa eficaz ao uso de álcali para melhorar a acidose

metabólica e reduzir a lesão renal na DRC. Além disso, Zha e Qian (2017) sugerem

que o aumento no consumo de alimentos alcalinizantes, no caso F&H, deve ser

iniciada já nos pacientes com DRC em estágio 3, mesmo que eles não apresentem

evidências de acidose metabólica no sentido de prevenir o seu aparecimento.

Di Iorio, Micco e Marzocco (2017) realizaram um estudo caso-controle em 146

pacientes com DRC que recebiam bicarbonato de sódio. Esses indivíduos foram

divididos para consumir uma dieta normal e outra com redução no teor proteico.

Após 1 ano de intervenção, aqueles que consumiram uma dieta restrita em proteína

tiveram uma redução significativa de 30-37 mEq/dia na quantidade de bicarbonato

consumido por via oral.

É amplamente difundido que dietas com alto teor de proteínas resultam na

hiperfiltração e aumento da pressão glomerular, podendo promover dano renal e

acelerar a progressão da doença renal (FILIPOWICZ; BEDDHU, 2013; METGES;

BARTH, 2000). Desta forma, as recomendações clínicas atuais em DRC se

concentram fortemente na restrição de proteínas (KDIGO, 2013).

Segundo a atual recomendação de ingestão proteica proposta pelo KDIGO

(2013), a ingestão estimada de proteína na nossa amostra de pacientes portadores

de DRC excedeu as recomendações atuais da prática clínica em uma grande fração

dos participantes. Segundo o presente estudo, o aumento da carga ácida foi

acompanhado desse aumento na ingestão proteica, como também, do aumento da

ingestão de fósforo. Essa informação é condizente com dados da literatura, pois os

alimentos ricos em proteínas contribuem com o aumento da carga ácida e são

considerados ótimas fontes de fósforo (SCIALLA; ANDERSON, 2013; GONZÁLEZ-

PARRA et al., 2012).

80

Nossos resultados também são consistentes com os achados de Scialla e

colaboradores (2011), na qual o bicarbonato sérico foi mais fortemente associado à

carga ácida da dieta do que com a ingestão protéica por si só. Adicionalmente, um

estudo realizado em uma grande amostra representativa dos Estados Unidos sugere

que uma maior carga ácida da dieta está associada a um maior risco de albuminúria

em adultos, quando comparado com o consumo de proteínas isoladamente

(Banerjee et al., 2014).

Apesar desses resultados não contradizer a recomendação de se restringir a

ingestão proteica na dieta dos pacientes portadores de DRC, eles sugerem a

necessidade de considerar mais cuidadosamente o equilíbrio no consumo de

proteínas e álcalis, do que da ingestão proteica propriamente dita, ao fazer

recomendações dietéticas à esses pacientes, principalmente no que se refere à

acidose metabólica.

Quando consideramos à diferenciação entre proteína animal e vegetal,

observamos que a proporção no consumo de proteína animal, não

surpreendentemente, foi superior a de vegetal. De acordo com recentes estudos

conduzidos na população brasileira, a ingestão de carne vermelha aumentou

significativamente na última década atingindo valores próximos a 182 g por dia,

quase o dobro da recomendação do Ministério da Saúde do Brasil (2008) (AVILA et

al., 2016; CARVALHO et al., 2014).

Pela seleção automática de modelos, confirmamos também que o consumo

de proteínas animais aparentemente apresenta uma maior influência sobre os níveis

séricos de bicarbonato. Sabe-se que indivíduos consumindo uma dieta com base em

proteínas animais têm uma maior excreção de ácido renal e menor pH urinário do

que os indivíduos com uma dieta à base de vegetais. A excreção urinária de sulfato,

fosfato e ácido úrico também é maior em pessoas consumindo dietas ricas em

proteína animal em comparação com a dieta vegetariana (ADEVA; SOUTO, 2011).

Em particular, as proteínas derivadas de fontes vegetais, em comparação

com as de fontes animais, podem ter um menor impacto adverso nos fatores de risco

metabólicos na DRC (MOE et al., 2011). Na pesquisa realizada por Scialla e

colaboradores (2012b), o consumo de uma maior porcentagem de proteína a partir

de fontes vegetais foi capaz de aumentar o HCO3 nos pacientes com DRC.

Passey (2017) verificou que a restrição de proteínas de alto valor biológico

para aproximadamente 50% da ingestão total de proteína, mantendo-se o consumo

81

de 0.6 a 0.8 g de proteína/ kg de peso ideal/ dia, associado ao incentivo do consumo

de frutas e hortaliças, proporcionou melhora do apetite e da progressão da DRC em

pacientes com taxa de filtração glomerular abaixo de 20 mL/minuto. Logo, a restrição

da proteína animal da dieta pode promover benefícios com a redução da carga de

ácido proveniente do seu metabolismo (CHAVEAU et al, 2013; SCIALLA et al.,

2012b).

Nesse sentido, o uso de dietas vegetarianas para pacientes com DRC tem

sido amplamente discutido (CUPISTI et al., 2017; GLUBA-BRZÓZKA; FRANCZYK;

RYSZ, 2017). No trabalho desenvolvido por Cupisti e colaboradores (2017), foi feita

uma avaliação de dietas voltadas à pacientes renais crônicos e observou-se que os

valores de PRAL foram significativamente menores nas dietas vegetarianas e

veganas do que em uma dieta usual com 0,8 g proteína/kg/dia. A média do valor do

PRAL para a dieta vegetariana foi de - 26,9 mEq/dia em relação a um valor médio de

+ 3 mEq/dia da dieta usual. De modo semelhante, Strohle, Hahn e Sebastian (2010)

confirmaram que a carga ácida da dieta torna-se progressivamente mais positiva à

medida que a razão da ingestão de proteína de origem vegetal pela animal diminui.

Assim, a dieta vegetariana induz um efeito alcalinizante notável devido à

presença exclusiva de alimentos vegetais. O teor de fosfato na dieta vegetariana é

maior do que na dieta usual, mas é predominantemente na forma de fitato, portanto,

dificilmente absorvível (CUPISTI et al., 2017). Também deve ser dada atenção aos

níveis séricos de potássio em pacientes com dietas vegetarianas. Embora a alta

ingestão dietética não seja o principal fator patogênico da hipercalemia, estratégias

de cozimento devem ser implementadas juntamente com um monitoramento

rigoroso dos níveis séricos de potássio (PALMER; CLEGG, 2016).

Evidências continuam a sugerir que o equilíbrio ácido-base e a carga de

ácidos dietéticos são fatores importantes na saúde de pacientes com DRC, já que o

bicarbonato sérico mais baixo também está associado à progressão da doença renal

e ao aumento da mortalidade em pacientes com DRC (RAPHAEL et al., 2013;

RAPHAEL et al., 2011; SHAH et al., 2009).

No que se refere à produção endógena de ácidos, encontramos 3 equações

validadas para estimar o NEAP, porém, as equações de Frassetto e Remer são as

mais utilizadas na literatura (SCIALLA et al., 2017; IKIZLER et al., 2016; BANERJEE

et al., 2015; BANERJEE et al., 2014; SCIALLA et al., 2011).

82

No presente estudo, o maior consumo de proteínas associado ao baixo

consumo de potássio nos pacientes portadores de DRC resultou em uma dieta

consideravelmente ácida com uma produção mediana de aproximadamente 52

mEq/dia de ácido não volátil. Esses valores são consistentes ao intervalo de 34 a 76

mEq/dia encontrados na literatura para uma dieta ocidental (WILLIAMS; KOZAN;

SAMOCHA-BONET, 2016), como também, com as faixas de 47 a 71 mEq/dia

encontradas na literatura em pacientes renais crônicos (BANERJEE et al., 2015;

SCIALLA et al., 2011).

Alguns estudos têm demonstrado que uma produção endógena de ácidos

elevada está associada a uma diminuição rápida na taxa de filtração glomerular e

consequentemente a um alto risco de progressão da doença renal (KANDA et al.,

2014; BANERJEE et al., 2014; SCIALLA et al., 2012a).

Além disso, no estudo proposto por Scialla e colaboradores (2011), o NEAP

elevado, também decorrente de uma maior ingestão de proteínas e menor consumo

de alimentos ricos em potássio, foi associado de forma independente com um baixo

nível de bicarbonato de soro. No nosso estudo, também observamos uma correlação

inversa entre a produção de ácidos e os níveis séricos de bicarbonato.

Os resultados encontrados por Banerjee e colaboradores em 2015 também

mostram que elevado NEAP em pacientes renais crônicos está independentemente

associada com risco aumentado de progressão da DRC e consequente evolução

para o estágio final da doença renal.

Portanto, esses achados sugerem que o NEAP está associado à diminuição

da TFG, que pode ser independente da diminuição do nível de bicarbonato sérico.

Como tal, o ajuste da carga de ácido dietético pode ser benéfico para retardar a

progressão da DRC (VAN DEN BERG et al., 2012; SCIALLA; ANDERSON., 2013).

Durante o desenvolvimento desse estudo, também contamos com um grupo

controle para comparações com o grupo de pacientes portadores de DRC. No que

se refere à presença de acidose metabólica no grupo em estudo, podemos verificar

que apesar da maioria dos participantes do grupo com DRC apresentarem níveis de

HCO3 dentro da faixa de normalidade, os valores encontrados de HCO3 e do pH

sanguíneo foram menores em comparação ao grupo controle. Este achado sugere

que sutis diferenças nas concentrações séricas de bicarbonato podem indicar algum

grau de acidose subclínica nos pacientes com DRC como relatado na literatura

(SCIALLA; ANDERSON., 2013).

83

Em relação à acidose metabólica e o estresse oxidativo, é estabelecido na

literatura que a acidose pode levar ao estresse oxidativo pelo aumento da produção

de radicais livres, diminuição dos níveis intracelulares de antioxidantes ou redução

da atividade enzimática antioxidante (FRASSETTO; SEBASTIAN, 2012; RUSTOM et

al., 2003). Entretanto, nenhuma associação foi encontrada neste estudo entre o

bicarbonato sérico e os produtos de oxidação lipídica e proteica. Possivelmente, a

distribuição do bicarbonato sérico predominantemente dentro da faixa de

normalidade pode ter contribuído para a ausência de diferenças entre esses

componentes.

Os AOPPs são considerados marcadores de danos causados por proteínas

oxidadas e mediadores pró-inflamatórios. Esses marcadores se acumulam na DRC e

atuam como fator de risco independente para doença cardíaca nesta população.

Além disso, os AOPPs intermeiam a ativação de monócitos associados à uremia e

contribuem para a desregulação imune associada à uremia (MODARESI; NAFAR;

SAHRAE, 2015).

Comparando-se o marcador de estresse oxidativo proteico no grupo portador

de DRC com o grupo controle, observamos a existência de uma oxidação proteica

maior nos pacientes com DRC. Rasool e colaboradores (2017) também encontraram

valores superiores nos níveis de AOPP medidos nos pacientes com DRC em

comparação aos controles assim como no estudo elaborado por Kutcha e

colaboradores (2011). Os achados na literatura sugerem que os pacientes com

problemas renais estão em um estado de estresse oxidativo proteico em

comparação com controles saudáveis.

Em contrapartida, apesar do F2-IsoPs serem considerados um dos índices

mais confiáveis de estresse oxidativo in vivo quando comparado com outros

biomarcadores bem conhecidos (MILNE et al., 2007), não foram observadas

diferenças na oxidação lipídica entre os grupos deste estudo. Da mesma forma,

Gamboa e colaboradores não encontraram diferenças nas concentrações de

isoprostanos medidas no grupo de pacientes portadores de DRC na fase pré-dialítica

com o grupo controle. Já no estudo proposto por Small e colaboradores (2017),

foram encontrados níveis elevados de F2-IsoPs (> 250 pg/mL).

Considera-se que o F2-IsoP é quimicamente estável e confiável, porém a

variação biológica do isoprostano permanece sem caracterização e parece ser

grande, como sugerem nossos resultados. A literatura mostra até que os níveis de

84

F2-IsoP podem variar de acordo com a hora do dia em amostras retiradas dos

mesmos indivíduos em diferentes momentos (HELMERSSON; BASU, 2001). Tal

informação é extremamente relevante considerando que o estresse oxidativo é um

processo altamente dinâmico que pode mudar significativamente como resultado de

tais influências.

Outro ponto relevante deste estudo foi a avaliação gasto energético de

repouso dos participantes. Segundo a literatura, a DRC pode afetar o gasto

energético total em um ou mais componentes, podendo causar o aumento ou

diminuição da produção de energia (CUPPARI; IKIZLER, 2010).

Apesar da acidose metabólica aumentar o catabolismo de proteína e a

degradação de aminoácidos, e consequentemente ser uma etapa metabólica

responsável por consumir mais energia (AVESANI et al., 2004), associações entre o

gasto energético de repouso e os níveis séricos de HCO3 não foram observadas

neste estudo e nem entre fator injúria e o HCO3. Novamente, a distribuição do

bicarbonato sérico predominantemente dentro da faixa de normalidade pode ter

contribuído para esta ausência de diferenças.

Quando comparamos os resultados obtidos com o GER medido no paciente

portador de DRC com aqueles do grupo controle, também não encontramos

diferença significativas. Similarmente, Monteon e colaboradores (1986) não

observaram diferenças entre o GER medido por calorimetria nos pacientes com DRC

e nos controles saudáveis. No caso do nosso estudo, podemos perceber pela

avaliação do estado nutricional que os nossos pacientes estavam clinicamente

estáveis o que pode justificar essa estabilidade do GER em comparação ao grupo

controle.

Em contraste, Neyra e colaboradores (2003) observaram que o GER dos

pacientes portadores de DRC medido por calorimetria indireta foi de 10% a 20%

maior do que os valores previstos por estimativas, porém, quando comparados aos

pacientes em hemodiálise ou diálise peritoneal, os valores do GER encontrados

eram menores. Ainda, em oposição aos nossos achados, estudos na literatura vem

mostrando uma redução do GER nos pacientes com DRC sem sinal de inflamação

(RODRIGUES et al. 2016, AVESANI et al., 2004; PASSEY et al., 2003; O’SULLIVAN

et al., 2002).

Ademais, em estudos prévios, apenas a ocorrência de inflamação aguda e

diabetes mellitus levou a uma elevação no GER (UTAKA et al., 2005; AVESANI et

85

al., 2001). Com isso, os resultados sugerem que o GER de pacientes clinicamente

estáveis com DRC é ligeiramente menor ou similar ao de indivíduos saudáveis. No

entanto, em condições catabólicas como DM2 e inflamação, o GER pode estar

aumentado.

A ingestão energética constitui um importante fator para assegurar um

balanço nitrogenado neutro e, assim, permitir a manutenção de um estado

nutricional adequado. Como não existe nenhum biomarcador simples para

determinar a ingestão energética de um indivíduo, os métodos de auto-relato do

consumo alimentar são amplamente utilizados. No entanto, é amplamente

reconhecido que a ingestão de energia relatada muitas vezes subestima a ingestão

de energia usual (CUPPARI; IKIZLER, 2010).

Avaliando-se a ingestão energética do nosso grupo com DRC, percebemos

que o consumo calórico foi reduzido nesse grupo em comparação aos indivíduos

saudáveis. Esse resultado é condizente com estudos prévios em que os pacientes

com DRC têm mostrado uma ingestão calórica substancialmente inferior ao

considerado adequado para manter a composição corporal e para alcançar o

balanço nitrogenado neutro (BURROWES et al., 2005; AVESANI et al., 2005;

KOPPLE et al., 2000; KOPPLE; MONTEON; SHAIB, 1986). Contudo, diferenças no

consumo dos nutrientes pelos pacientes portadores de DRC em comparação aos

indivíduos saudáveis não foram observadas segundo a normalização pelo conteúdo

energético, com exceção da ingestão de cálcio.

Com base no princípio do equilíbrio energético, a ingestão de energia deve

ser igual ao gasto energético medido em adultos com peso estável, de modo que a

diferença entre a ingestão relatada e a medida em indivíduos estáveis é uma

representação da subnotificação da ingestão de energia (INSTITUTE OF MEDICINE,

2002). Assim, no presente estudo, o índice de subnotificação encontrado foi

semelhante aos estudos prévios os quais encontraram índices de subrelato na faixa

entre 20% e 85% (CUPPARI; IKIZLER, 2010; AVESANI et al, 2005).

A recomendação de energia para pacientes portadores de DRC varia de 30 a

35 kcal/kg de peso ideal/dia (KDOQI, 2000). Um estudo realizado com pacientes

renais crônicos nos estágios 3 e 4, encontrou uma ingestão média de 18 ± 7

kcal/kg/dia, resultado muito semelhante ao encontrado no nosso estudo. Durante 18

meses, esses pacientes receberam aconselhamento nutricional ambulatorial para

aumentar a ingestão energética e, ao final do estudo, a ingestão média calórica se

86

manteve. Os autores concluíram que apesar do acompanhamento nutricional

regular, os pacientes têm dificuldade em alcançar a recomendação de energia, fato

que pode submetê-los a um maior risco nutricional (BARBOSA et al., 2010). Uma

possível explicação seria o fato da anorexia ou a perda de apetite serem

características presentes na uremia, um achado comum em pacientes com DRC

(CUPPARI; IKIZLER, 2010).

Ademais, é de salientar que, mesmo em pacientes com DRC apresentando

bom apetite, sem sinais de subnutrição ou excesso de adiposidade, a ingestão de

energia relatada na literatura é em média cerca de 10 kcal/kg/dia abaixo dos valores

recomendados (AVESANI et al., 2005). Tais dados são condizentes com os

resultados mostrado neste estudo.

Esse é o primeiro estudo que faz a diferenciação no consumo de proteínas de

fonte animal da vegetal para avaliar possíveis associações destas com os níveis de

bicarbonato sérico, contudo, algumas limitações devem ser consideradas na

interpretação dos resultados deste estudo. A primeira, nós estimamos o PRAL a

partir de dados de registros alimentares usando equações previamente validadas,

mas que podem estar sujeitas à ocorrência de vieses. Segundo, o desenho

transversal do estudo também limita nossa capacidade de fazer inferências causais

sobre o padrão alimentar e as variações no bicarbonato sérico. Terceiro, nós não

avaliamos medidas diretas de excreção de ácidos na urina dos participantes, por

limitações técnicas. Finalmente, na amostra avaliada não foi possível a comparação

entre pacientes acidóticos e não acidóticos devido à pequena amostragem de

pacientes com níveis séricos de bicarbonato abaixo das recomendações.

87

CONCLUSÃO

88

7 CONCLUSÃO

Em conclusão, nossos resultados mostram que a carga ácida da dieta foi

fortemente associada com os níveis séricos de bicarbonato. Esses resultados

reforçam a possibilidade de que dietas com alto teor de carga ácida desempenham

um papel relevante no equilíbrio ácido-base em pacientes portadores de doença

renal crônica.

Encontramos também associações do bicarbonato sérico com a ingestão

proteica, porém, estas foram mais fracas quando comparada com a carga ácida da

dieta. Assim, sugere-se a necessidade de considerar mais cuidadosamente o

equilíbrio no consumo de proteínas e álcalis, do que somente a ingestão proteica

propriamente dita.

No que se refere à diferenciação das fontes proteicas, a proteína animal

apresentou uma correlação inversa com o bicarbonato sérico e, segundo o modelo

de regressão múltipla, foi selecionada como uma importante variável para determinar

os níveis de bicarbonato no plasma.

O gasto energético de repouso e os marcadores de oxidação lipidíca e

proteica não apresentaram associações com os níveis séricos de bicarbonato.

Nossos achados também mostraram que o gasto de energia em pacientes

portadores de DRC clinicamente estáveis não diferiu dos indivíduos saudáveis.

Diante das evidências, temos que a prescrição de uma dieta com teor de

proteínas reduzido segundo as diretrizes de nefrologia, associado à um aumento na

proporção de proteínas de origem vegetal e ao aumento da ingestão de frutas e

hortaliças, tem a capacidade de reduzir a quantidade de íons de hidrogênio no

organismo, melhorando os parâmetros de acidez no sangue.

Nosso estudo traz informações que auxiliam na consolidação do uso da carga

ácida da dieta como uma abordagem diferencial e complementar às outras

estratégias no tratamento dietético da DRC, principalmente no que se refere à

acidose metabólica. Estudos longitudinais em grandes populações representativas

devem ser conduzidos para examinar uma relação causal potencial entre o PRAL e

o aparecimento de acidose metabólica na Doença Renal Crônica.

89

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106

ANEXOS

107

ANEXO A – Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do HCFMRP/USP

108

109

110

ANEXO B – Avaliação Subjetiva Global de 7 pontos

111

APÊNDICES

112

APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido do grupo de pacientes

portadores de doença renal crônica.

113

114

APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido do grupo controle.

115

116

APÊNDICE C – Instrução entregue ao paciente para coleta de urina 24 horas.

117

APÊNDICE D – Instruções entregue ao paciente para anotação do registro

alimentar.

118

119

120

121

APÊNDICE E – Protocolo de atendimento

122

123

124