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O DESTINO DE SOPHIE On My Lady's Honor Kate Silver França, 1669 Promessa de paixão Depois de perder toda a família numa epidemia que assolou o país, Sophie assume a identidade de seu irmão gêmeo e ocupa o lugar dele na uarda !eal" O disf ar ce lhe possi#ili tar$ o#ser%ar de perto o conde !icard Lamotte, oficial dos mosqueteiros e o amigo que seu irmão confiara que a protegeria, mas que nunca apareceu para cumprir a promessa" !icard fica feli& ao %er seu companheiro %oltar ileso da região de%astada pela prag a, por m o comportamento estr an ho do amigo o dei(a intrigado""" )t ele desco#rir que so# o uniforme de mosqueteiro esconde*se a graciosa irmã de erard Delamanse" Ser$ difícil e(plicar a Sophie por que ele não foi resgat$*la, e mais ainda con%encê*la de que est$ disposto a honrar sua pala%ra" Mas !icard lutar$ com todas as armas para alcan+ar um sonho quase impossí%el conquistar o cora+ão de Sophie e fa&ê*la acreditar na sinceridade do seu amor- Disponibilização do livro: Rosangela  Digitalização: Joye  Revisão: !na Ribeiro

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O DESTINO DE SOPHIEOn My Lady's Honor

Kate Silver

França, 1669

Promessa de paixão

Depois de perder

toda a família numaepidemia que assolou opaís, Sophie assume aidentidade de seuirmão gêmeo e ocupa olugar dele na uarda!eal" O disfarce lhepossi#ilitar$ o#ser%arde perto o conde

!icard Lamotte, oficialdos mosqueteiros e o amigo que seu irmão confiara que a protegeria, mas que nuncaapareceu para cumprir a promessa"

!icard fica feli& ao %er seu companheiro %oltar ileso da região de%astada pelapraga, porm o comportamento estranho do amigo o dei(a intrigado""" )t eledesco#rir que so# o uniforme de mosqueteiro esconde*se a graciosa irmã de erardDelamanse" Ser$ difícil e(plicar a Sophie por que ele não foi resgat$*la, e mais aindacon%encê*la de que est$ disposto a honrar sua pala%ra" Mas !icard lutar$ com todas asarmas para alcan+ar um sonho quase impossí%el conquistar o cora+ão de Sophie efa&ê*la acreditar na sinceridade do seu amor-

Disponibilização do livro: Rosangela

  Digitalização: Joye

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Pr"logo

#amarg$e, no s$l da França, %$tono de 1669 erard, %ou sentir sua falta- . Sophie Delamanse esta%a no p$tio, tremendo na

manhã gelada e escura, segurando a mão do irmão como se quisesse arrancar*lhe alu%a" /ra difícil conter as l$grimas que inunda%am seus olhos"

0o%ens damas de #oa cria+ão não e(i#em suas emo+1es de maneira %ulgar, elarepetia mentalmente para conter o pranto" /ssa sempre ha%ia sido a li+ão mais difícilde aprender" 2a noite anterior, a mãe a ha%ia censurado por estar chorandono%amente"

. 3ai que#rar meus dedos, sua tonta . erard disse #rincando antes de a#ra+$*la" /m %o& #ai(a, ele acrescentou . )gora que sou um soldado, acho que não de%iafa&er tais confiss1es, mas tam#m %ou sentir saudade"

/la se agarra%a ao irmão gêmeo com %erdadeiro desespero" 2unca ha%iam seseparado mais de um dia desde que nasceram" 4ensar em sua ausência era suficientepara fa&ê*la sentir*se pri%ada de uma parte essencial de seu ser" 5omo so#re%i%eriaenquanto ele ia %i%er tão longe, a uma semana de %iagem, e entre desconhecidos6

. 5uide*se, erard"O ca%alo esta%a impaciente, #atendo as patas no chão de terra" Seu h$lito morno

desenha%a nu%ens #rancas em torno de sua ca#e+a". / cuide de Seafoam, tam#m" )limente*o com muito milho e não so#recarregueo animal" Se7a cora7oso- . /la piscou para conter as l$grimas"

. Serei o mais #ra%o mosqueteiro da guarda real" 3ocê se orgulhar$ de mim") triste&a por perder a companhia do irmão de%ia ser temperada pelo pra&er

acarretado pelo progresso dele a ser%i+o do rei, ela disse a si mesma" 2ão arruinariaesses 8ltimos momentos com o irmão entregando*se ao sofrimento"

5om algum esfor+o, ela o encarou e sorriu". 0$ estou orgulhosa de %ocê" 3endo*o nesse uniforme tão elegante, com suas

#otas polidas e esse ar alti%o, como não estaria6 3ocê me fa& lem#rar um pa%ãogar#oso desfilando pelo 7ardim da !ainha-

erard perdeu a alti%e& no momento em que mostrou a língua para a irmã"

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9ate Sil%er o pseud:nimo da escritora australiana 5uthy Sneyd, professora delíngua e literatura inglesa" ;m de seus maiores pra&eres na %ida escre%er, se7a ognero rom<ntico, se7a o g:tico" Mãe de quatro filhos, quando não est$ tra#alhandoela gosta de %ele7ar e praticar mergulho"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. =uando eu for o melhor espadachim da guarda real, %ocê não ousar$ tratar*mecom tamanho desrespeito, ou serei o#rigado a cortar meia d8&ia de seus cachos com al<mina de minha espada"

Sophie sorriu, mas algumas l$grimas teima%am em molhar seu rosto, por mais quetentasse contê*las"

. 0amais cometer$ tal atrocidade, meu irmão" Lem#re*se de que eu sou a mais%elha"

. S: por alguns minutos"

. )lm do mais, quando %oltar para casa no pr:(imo %erão, encontrar$ sua irmã igualmente ha#ilidosa com a espada" >al%e& at o supere"

/le a encarou com um certo respeito". )credito que pode se esmerar em todas as artes, minha querida, desde que

decida se aplicar" ? uma mulher de grande coragem e personalidade ina#al$%el"Sophie sorriu, feli& com o elogio" O irmão não costuma%a distri#uí*los li%remente"

4ala%ras gentis por ele pronunciadas eram preciosas, e de%iam ser sa#oreadas". ;m duelo, então6 2o pr:(imo %erão6 O perdedor pagar$ um castigo que o

%encedor poder$ escolher6. Sophie, %ocê maluca" / eu te amo"/le limpou o canto de um olho com a manga da casaca" 2ão esti%esse diante de um

homem, Sophie poderia 7urar ter %isto uma l$grima". Logo o sol estar$ se erguendo no cu, e preciso come+ar a %iagem quanto

antes" 3enha, quero me despedir de nossos pais"Sophie segurou a mão do irmão e #ei7ou*a". 3$ %ocê, meu querido" /u me despe+o aqui"/le não insistiu, uma deferência @ dor que %ia em seus olhos". )t #re%e, Sophie" / Deus a a#en+oe"Sophie retornou aos seus aposentos e postou*se diante da 7anela, olhando para o

p$tio l$ em#ai(o" O cu come+a%a a rece#er os primeiros toques rosados de um no%odia, quando seu irmão dei(ou a casa" /le montou Seafoam e partiuA a cauda da casacatremula%a atr$s dele como uma #andeira" 2o portão, ele dete%e o ca%alo e o %irou porum instante" Seus olhos encontraram o #rilho da %ela que ela pusera so#re o parapeitoda 7anela" O 7o%em ergueu o chicote de montaria num 8ltimo aceno e partiu, dessa %e&galopando, rumo a 4aris e a uma no%a %ida, uma no%a etapa que ele for7aria comosoldado e cortesão"

4artia para uma no%a %ida""" sem ela"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

#ap&t$lo '

Doze meses depois

Sophie olha%a para o tra#alho de costura entre suas mãos, mas a mente esta%atomada por pensamentos re#eldes" erard não notaria se o rece#esse usando um%estido no%o que ela mesma cosera" /le esti%era ausente por quase do&e meses,%i%endo em 4aris, e a ansiedade com a pro(imidade do reencontro quase a domina%apor completo" 2ão entendia por que precisa%a de um %estido no%o para a ocasião, 0$possuía mais de uma d8&ia deles, alguns usados apenas uma %e&"

) insistência de sua mãe para que costurasse desnecessariamente era cansati%a"/la deu mais três pontos, todos tão pequenos e finos que mal podiam ser %istos"

erard tinha sorte por ter nascido homem" Seu futuro seria feito de a%enturas ee(cita+ão na guarda do 7o%em rei contra seus inimigos e na manuten+ão da pa& nastur#ulentas ruas de 4aris" 5omo o in%e7a%a por poder le%ar essa %ida, enquanto elamais %elha por de& longos minutos, esta%a fadada pelo acidente de seu nascimento auma %ida de intermin$%eis costuras"

/la mudou de posi+ão no desconfort$%el #anco de madeira" 4ela 7anela a#erta,podia %er as copas das $r%ores dan+ando ao sa#or da #risa sua%e" 5omo ansia%a porpoder galopar furiosamente pelos campos nesses 8ltimos dias de sol radiante, antesque as nu%ens enco#rissem o cu tra&endo com elas os rigores do in%erno" 2ão ha%eriamais ca%algadas fe#ris enquanto o solo esti%esse co#erto pela ne%e"

;m passo em falso no terreno congelado poderia acarretar fraturas nas patas deum ca%alo, arruinando o po#re animal em definiti%o"

Oh""" ;m momento de desaten+ão, e ela furou o dedo com a fina agulha" ;ma gotade sangue muito %ermelho amea+a%a manchar a preciosa seda a&ul que co#ria suaspernas" 5om uma maldi+ão sufocada, ela 7ogou o %estido inaca#ado para o lado e le%ou odedo ferido @ #oca"

. /n%ol%a o dedo com uma tira de tecido . aconselhou a mãe sempre %igilante,incans$%el em sua intermin$%el dedica+ão @ costura" . )ssim, não correr$ o risco deestragar o %estido"

Sophie não tinha paciência para mais um ponto que fosse". 2ão posso ir e(ercitar minha gua6 /la não saiu do est$#ulo o dia todo" De%e

estar ficando inquieta"Sua mãe sorriu, e(i#indo mais resigna+ão do que impaciência". 5omo sua dona, tal%e&6. Ou praticar minha ha#ilidade com o arco enquanto ainda h$ lu& para %er os

al%os6

. Bons pontos tam#m e(igem luminosidade adequada" )lm do mais, temo que op<ntano não se7a um local saud$%el nessa poca do ano" . O rosto normalmente pl$cidode sua mãe era dominado por uma e(pressão incomum de apreensão" . H$ notícias

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

so#re uma terrí%el fe#re no %ilare7o, do outro lado do po%oado" O p$roco acredita quea n%oa do p<ntano pode ser a causa, e nos fe& compreender que seria melhor paratodos n:s ficarmos #em longe de l$" 2ão quero correr o risco de a#rir nossas portaspara uma fe#re" erard est$ a caminho"

Sophie emitiu um grunhido irritado" )lm de tudo, agora tinham tam#m uma

fe#re6 Sua mãe 7amais a dei(aria em pa&6. Minhas pernas e meus #ra+os come+am a doer por passar tanto tempo sentada

na mesma posi+ão") mãe dela pCs a costura de lado e a encarou, dei(ando escapar um suspiro

cansado". 0amais farei de %ocê uma costureira competente" 2ão tem a diligência e a

paciência necess$rias ao aprendi&ado"Sophie #ai(ou a ca#e+a ao rece#er a reprimenda" Sa#ia que a merecia" 2unca se

dedicara @ costura como a mãe tanto queria que fi&esse" 4or que ningum reconhecia

seu empenho na pr$tica do arco6 4or que não perce#iam que era capa& de algumadiligência, desde que se interessasse pela ati%idade6 >am#m ha%ia melhorado muitono arremesso de facas" 4odia acertar o al%o em oito de cada de& tentati%as, desde queti%esse o #ra+o em #oa forma"

. Suponho que possa interromper a costura por algum tempo para descansarseus mem#ros""" . a mãe disse, por fim"

/la se le%antou de um salto". O#rigada, mãe" 4rometo que não %ou me apro(imar do p<ntano, em#ora ha7a

#oa ca+a por l$" Seria :timo ter um ou dois patos para o 7antar, mas""". 2ão quero que pratique com o arco"Sophie se sentou no%amente, desanimada ao ser proi#ida de dedicar*se @

ati%idade que mais aprecia%a" )inda assim, poderia caminhar ou ca%algar, 7$ que nãoo#ti%era permissão para ca+ar" =ualquer coisa ao ar li%re 7$ seria"""

. Se não quer costurar, %$ a7udar a co&inheira com as conser%as de fram#oesa"0$ hora de aprender coisas que fa&em parte dos de%eres de uma mulher" Seu paiest$ preocupado" /le acha que negligenciamos sua educa+ão nos 8ltimos tempos"

. 4or quê6 Domino o inglês com perfei+ão, sei ler em italiano, escre%ocorretamente e fa+o contas sem cometer erros" . / tudo que queria era passar umatarde ao ar li%re, desfrutando do calor do sol-

. Mas sa#e muito pouco so#re como comandar uma casa e super%isionar criados,o que seria muito mais 8til para uma 7o%em no#re como %ocê" De que ser%em os li%rosem italiano6 Seu marido não %ai se importar com a qualidade do seu inglês, mas podeficar muito a#orrecido se não ti%er aposentos limpos, aquecidos e arrumados, ou sesuas refei+1es não forem ser%idas a tempo, se não hou%er comida quente e fresca ouroupas limpas e perfumadas"

. 2ão tenho um marido e(igindo esses cuidados"

. )inda não" Mas ho7e @ noite seu pai falar$ com %ocê so#re o assunto";m marido6 /(cita+ão e receio se mistura%am em seu cora+ão" Seu pai nuncaha%ia mencionado a possi#ilidade de cas$*la"

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)pesar da e%idente curiosidade de Sophie e da insistência com que suplicou pormais informa+1es, a mãe dela nada mais disse"

O pai promo%eria uma união con%eniente" sso era tudo que sa#ia" 4ensando nisso,Sophie foi para a co&inha a7udar a co&inheira"

/la fe& uma prece silenciosa enquanto me(ia o conte8do fumegante de uma

enorme panela cheia de a+8car e fram#oesas maduras" /spera%a que 0ean*Luc fosse oescolhido, /le era 7o%em e #elo, com ca#elos castanho*claros longos e lisos e umsorriso permanente no rosto" 5a%alga%a como folhas le%adas pelo %ento e era perfeitocom o arco" !aramente erra%a mais de três tiros em cinco" O pai dele era dono daprincipal propriedade no %ilare7o %i&inho e desfruta%a do respeito dos ha#itantes daregião, e 0ean*Luc era o Eilho mais %elho e herdeiro"

) família do rapa& não era tão rica quanto a dela, mas espera%a que, mesmoassim, 0ean*Luc fosse considerado adequado para despos$*la"

2enhum dos outros possí%eis candidatos naquela %i&inhan+a era tão interessante

em sua maioria, eram %elhos demais e a#orrecidos, ou cheios de %ícios e adeptos deuma %ida desregrada, li#ertina" Se tinha mesmo de se casar, preferia 0ean*Luc atodos os outros"

2aquela noite, seu pai e(i#ia um raro #om humor quando Sophie foi procur$*lo emseus aposentos, sentindo a mente tomada por %is1es de 0ean*Luc"

/le a con%idou a entrar com um sorriso radiante". 3enha, Sophie, e sente*se aqui perto da lareira" =uero con%ersar com %ocê

so#re um assunto de suma import<ncia" 3amos falar de neg:cios"2eg:cios6 Seu pai nunca a incluía nessas quest1es" De repente, Sophie se

arrependia de ter comido tanta conser%a naquela tarde enquanto a7uda%a a co&inheira";m olhar para o rosto entusiasmado do pai, e a mistura de fruta e a+8car setransforma%a em um #olo $cido em seu estCmago" / se o escolhido não fosse 0ean*Luc,mas o %elho marquês de a !enta6 /le era pelo menos quin&e anos mais %elho que ela enão sa#ia falar so#re outra coisa que não fosse poesia"

. Sua mãe me contou que ho7e este%e se dedicando a sua educa+ão"/la engoliu em seco, tentando manter a conser%a no interior do estCmago". /sti%e a7udando a co&inheira a preparar conser%as, senhor" )gora temos o

suficiente para o in%erno e at para a prima%era". Bom, muito #om . ele respondeu distraído, como se nem a hou%esse escutado"

5om os dedos entrela+ados so#re o estCmago dilatado, ele a encarou srio" . Seuirmão erard estar$ %oltando para casa em menos de uma semana" 2ão tenho d8%idade que %ai ficar muito feli& por re%ê*lo"

. Sim, senhor" Sinto falta dele"

. >odos n:s sentimos" . /le estendeu as mãos para o fogo" . ;m #om amigo deseu irmão, o 7o%em conde Lamotte, %ir$ 7untar*se a n:s, pouco depois da chegada deerard"

/le parecia esperar uma resposta para o coment$rio". Sim, senhor"erard escre%era contando so#re esse amigo, !icard, conde Lamotte" /le era

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mosqueteiro na guarda real h$ três anos e tornara*se rapidamente um #om amigo deseu irmão" Sa#er que o conde plane7a%a ir %isit$*los não causa%a nenhuma alegriaespecial em Sophie" >eria preferido desfrutar da companhia do irmão seminterrup+1es e sem ter de di%idi*la, especialmente ap:s tanto tempo de separa+ão"

. Lamotte um 7o%em rico e de #oa família . continuou seu pai" . /le um dos

fa%orecidos pelo rei" !elata*se que suas propriedades são #em administradas, eerard afirma que o rapa& não 7oga nem tem h$#itos conden$%eis, e um homem dehonra cu7a pala%ra merece credi#ilidade" /le est$ na idade de ter uma esposa"

De repente a con%ersa se torna%a amea+adora" Sophie estremeceu". ;ma""" esposa6. O tio de Lamotte e eu chegamos a um arran7o satisfat:rio so#re seu dote e a

pensão que de%er$ ser esta#elecida em caso de morte do 7o%em conde" . /le riu" . O%elho uma raposa- Mas conseguimos chegar a um acordo #astante pro%eitoso, nofinal" 3ocê %ai le%ar uma #oa quantia em ouro e outros #ens de %alor para o

matrimCnio, e no caso de o 7o%em conde morrer antes de %ocê, ser$ tratada comomerece"

Sophie sentia a ca#e+a girar" 2ão se casaria com 0ean*Luc, nem com outro%i&inho qualquer, mas com um homem que não conhecia- )lgum 7amais %isto por ela-

. Meu pai e esse senhor""" o tio do tal conde""" decidiram que de%o me casar6 Semo consentimento do rapa& ou o meu consentimento6

. Lamotte 7$ concordou com o enlace, e eu aceitei o pedido de casamento em seunome" Eicarão noi%os quando ele chegar aqui, e se casarão assim que os proclamasti%erem corrido de acordo com a lei" =uando ele %oltar a 4aris, %ocê ir$ para Burgundysuper%isionar sua propriedade e os criados" 4aris, especialmente a corte do rei LuísF3, não lugar para uma 7o%em dama criada no campo"

/la #alan+ou a ca#e+a tentando clarear as ideias". 4ensei que me casaria com 0ean*Luc""". 5onfesso que considerei uma con%ersa com o pai dele, mas o conde nos fe& uma

proposta muito mais interessante" Seu futuro como condessa ser$ muito maisconfort$%el e pr:spero do que teria sido ao lado de um simples homem do campo"

O p<nico a in%adiu, e ela engoliu em seco, duas %e&es, antes de conseguirpronunciar uma 8nica pala%ra"

. =uer me casar com um conde e me mandar para longe daqui6 4ara longe deminha mãe e de meu pai, de erard e do %ilare7o, de tudo que conhe+o6 . Sua %o&soa%a alta, resultado da luta contra as l$grimas"

. Sua mãe não gostou da ideia de mand$*la para Burgundy, tão longe daqui, mastoda mulher um dia de%e dei(ar a casa paterna para ir presidir a casa do marido"

Burgundy""" ) pala%ra ecoa%a em sua ca#e+a com um som estranho" 2unca esti%erafora do %ilare7o onde nascera, e agora teria de atra%essar toda a Eran+a para ircome+ar uma no%a %ida como mulher casada""" com um homem que nem conhecia-

=uando pensa%a em casamento, o que raramente acontecia, imagina%a*se %i%endoao lado de 0ean*Luc" /spera%a que um dia ele pedisse sua mãe e a le%asse para uma%ida confort$%el e pacata na propriedade pr:(ima @ de sua família"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Mas casar*se com um estranho- 2ão poderia suportar" 2ão suportaria-erard" /la se agarrou @ ideia de que o irmão a sal%aria de tão terrí%el destino"5ertamente, ele poderia compreender como tal casamento repugna%a sua alma" O

pai ou%iria os protestos do filho, em#ora ignorasse as o#7e+1es da filha" >eria deconquistar o apoio de erard antes que fosse tarde demais"

. erard 7$ foi informado so#re meu compromisso com esse""" conde6

. Sim, e ele foi o primeiro a sugerir a união")s pala%ras a atingiram com a for+a de um martelo #atendo so#re uma #igorna"

erard, seu adorado irmão gêmeo, a comprometera com um homem que nunca %iraantes6 /le sa#ia como ansia%a por a%enturas, como in%e7a%a sua %ida em 4aris" / sa#iacomo ela nutria sentimentos ternos por 0ean*Luc" 2ão podia ser ele o respons$%el poressa no%a %ida em um local tão distante e desconhecido, onde teria de cuidar da casade um desconhecido ausente" /le 7amais mencionara a possi#ilidade de um casamento"Sophie #alan+ou a ca#e+a numa nega+ão instinti%a"

. 2ão posso acreditar nisso""") compota de fram#oesa se re%oltou mais uma %e& em seu estCmago, e ela te%e

de pedir licen+a para não se humilhar diante do pai". 4reciso me retirar, senhor . disse, le%antando*se com o rosto muito p$lido e

correndo para a porta"Sophie quase não te%e tempo para chegar ao reser%ado antes de sucum#ir so# um

%iolento espasmo" Bem, pelo menos agora tinha o estCmago %a&io"2aquela noite ela não dormiu, dominada por pensamentos som#rios e por um

amargo sentimento de re7ei+ão" Ha%ia sido traída" ) manhã 7$ pinta%a o cu de rosacom seus longos dedos, quando ela finalmente desistiu de tentar adormecer"

O ca%alari+o ronca%a encolhido so#re um monte de feno em um canto do est$#uloquando ela entrou sorrateira" So&inha, Sophie encilhou Eiredancer sem fa&er #arulho,tentando não pertur#ar o descanso do garoto"

O ar fresco do início de outono a fe& estremecer, e ela se en%ol%eu melhor com omanto pesado que a co#ria" Sentia*se estranhamente tonta, uma possí%el rea+ão docorpo @ falta de sono" >am#m não fi&era o des7e7um antes de sair, mas a lem#ran+adas fram#oesas ainda era recente demais para sentir fome"

4oderia partir, supunha, se ti%esse um lugar para onde ir" 2ão podia ir pedir aa7uda de 0ean*Luc" 5asamentos eram feitos por pais, nunca pelas partes en%ol%idas naunião" 0ean*Luc tinha tanto poder quanto ela nessa questão" Ou se7a, nenhum"

4or um momento, ela #rincou com a ideia de ca%algar at 4aris e suplicar pelamiseric:rdia do rei, implorar para que proi#isse o casamento, mas os aspectos pr$ticosdessa alternati%a logo se impuseram" 2ão tinha alimento ou dinheiro para compr$*lo"2ão sa#ia nem que estrada de%eria seguir para chegar em 4aris" / mesmo que, poralgum milagre, conseguisse chegar @ cidade sem se perder ou cair de fome, sem seratacada por #andoleiros e assassinada, o rei poderia não estar l$" Ou estaria, mas

poderia se recusar a rece#ê*la, ou ainda, mais pro%$%el que tudo, ele a aconselharia acessar sua deso#ediência e honrar a %ontade paterna"Eugir era impossí%el"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

!ecusar*se a casar com o conde desonraria seu pai, mas casar*se com ele erainimagin$%el"

/sta%a no limite do p<ntano" /sse era seu lugar fa%orito, uma região que ama%a eque era dela e s: dela" Busca%a a $rea sempre que precisa%a pensar, ficar so&inha ousonhar acordada" 2unca antes precisara tanto do consolo encontrado nesse local"

)o apro(imar*se da $gua, ela perce#eu que os sapos interrompiam sua cantoria"4ertur#ados pela presen+a estranha, mergulha%am pro%ocando uma seqGência deplops";m grupo de flamingos com sua plumagem rosada se dirigia @ $gua longe dali, as pernaslongas e finas penetrando no lodo"

Eiredancer foi amarrado a uma $r%ore, onde ficou pastando a rel%a a#undanteque o cerca%a" Sua satisfa+ão era e%idente depois do e(ercício matinal"

Sophie sentou*se so#re uma rocha em solo seco pr:(imo do p<ntano, mantendo oarco ao alcance da mão" 2ão podia fugir, mas ainda podia ca+ar"

;m #ando de gansos passou so#re%oando a $gua, mas esta%am longe demais para

suas flechas" 0ean*Luc teria tentado mesmo assim, e desperdi+ado a flecha,pro%a%elmente"

/la se pegou imaginando se o conde Lamotte ca+a%a, ou se acredita%a que asmulheres de%iam dedicar a %ida a tediosas tarefas domsticas" Deus a li%rasse de ummarido assim" 4referia %i%er com o marquês de a !enta e sua intermin$%el poesia" 4elomenos ele apro%a%a a ca+a e considera%a a ati%idade saud$%el e produti%a, comosempre repetia em suas con%ersas"

5igarras entoa%am seu canto mon:tono, lem#rando que o %erão chega%a ao fim eque logo as manhãs frescas de outono cederiam lugar aos dias som#rios do in%erno" Ocastelo erguia*se som#rio perto dali onde ha%ia uma sentinela silenciosa e im:%el"

Logo sua paciência foi recompensada pela apro(ima+ão de dois patos saindo doninho, #em perto da margem do p<ntano" 5om a facilidade e a gra+a conferidas pelapr$tica, ela posicionou uma flecha no arco e a disparou com seguran+a" O pato esta%amorto antes mesmo de registrar a presen+a de um predador" ) segunda a%e correugrasnando pela manhã 8mida, mas foi derru#ada segundos depois por outro tirocerteiro"

Dois patos" 2ormalmente, 7$ estaria satisfeita com o resultado do passeiomatinal, mas ho7e não queria %oltar" O lar não era ref8gio contra os perigos que aaguarda%am"

/la recolheu a ca+a, torcendo o nari& contra o aroma pungente do sangue %ertido"Sa#er que erard não esta%a ali para rir de sua atitude aumenta%a a dor" Depois deremo%er os mi8dos das a%es e limp$*las, ela arremessou a massa sangrenta ao p<ntanoe la%ou as mãos e a faca, limpando a l<mina na grama $spera"

4recisa%a encarar a realidade de seu futuro, ela se censurou, deitando*se no chãopara sentir o sol e a#sor%er seu calor"

Sofria por não poder se casar com 0ean*Luc" )ma%a*o muito e por muito tempo"

Seu cora+ão esta%a partido por ter de a#rir mão do sonho de reali&a+ão desse amor"4or outro lado, seu futuro marido era um mosqueteiro, um parisiense, como seuirmão, agora" Se erard gosta%a do conde, ele não podia ser tão ruim" Sa#ia, por

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e(emplo, que não desposaria um homem %iolento ou um #ê#ado"erard 7amais con%i%eria com gente dessa espcie" /spera%a poder ao menos

simpati&ar com o conde e conquistar uma modesta medida de sua simpatia" 2ãosuportaria %i%er com um homem de quem não gostasse, ou algum que a despre&asse"

erard iria %isit$*la em seu no%o lar" /staria casada com um de seus

companheiros de armas" Se sou#esse agir com cautela e sa#edoria, um deles, irmão oumarido, poderia le%$*la a 4aris no futuro" Sempre quisera ir a 4aris"

Burgundy de%ia ter seu charme, tam#m, apesar de ficar tão longe de 4aris" Dequalquer maneira, o casamento a le%aria a um mundo no%o, um lugar que, sa#ia, poderiaorgani&ar de maneira a contentar*se em alguma medida"

O pai esta%a oferecendo a ela uma a%entura em #ande7a de prata, Sophie pensouaturdida, e esti%era chocada demais para reconhecer as oportunidades num primeiromomento" )ssim que superasse a surpresa da proposta, compreenderia que o destinoque a aguarda%a não era tão ruim" >entaria não lamentar a perda de seus sonhos com

0ean*Luc, pois não poderia mesmo %i%ê*los" 5umpriria seu de%er de #oa filha como foraensinada a fa&er desde cedo, aceitando com gra+a e eleg<ncia esse casamento com oconde, preparando*se para a a%entura"

)final, não tinha mesmo escolha"Decisão tomada, e com o sol aquecendo seu corpo cansado e estendido so#re a

rel%a, ela mergulhou num sono profundo, mas agitado"O sol ia alto no cu quando Sophie acordou" nsetos %oa%am em torno dela,

atacando toda por+ão de pele e(posta que podiam encontrar" /la os afugentou com umgesto pregui+oso, mas eram muitos"

O sono não a descansara, mas a dei(ara com a ca#e+a doendo e o corpo cansado eenri7ecido" Sentia*se pior do que antes de dormir" Mais ainda, sentia sede e não tinha$gua pot$%el disponí%el, pois não le%ara um cantil"

5ensurando*se pela imprudência, ela espantou as moscas que so#re%oa%am ospatos ca+ados horas antes, segurou*os pelos ps e os prendeu @ sela do ca%alo"Eiredancer agitou*se com o cheiro de sangue seco, mas a aceitou e tomou o caminho docastelo sem refugar"

) gua parecia cansada" )pesar da sede, que se torna%a quase insuport$%el so# osol inclemente, Sophie tam#m não tinha for+a para impor o galope" ;sa%a toda aenergia que lhe resta%a para manter*se so#re a sela"

2u%ens amea+a%am in%adir sua %isão, 7$ ofuscada pelo sol claro de fim de %erão";ma intensa dor de ca#e+a a atormenta%a" Os #ra+os quase não tinham mais for+apara segurar a rdea, e as pernas pendiam soltas ao lado do animal, fracas demais parasustent$*la ereta so#re a sela" 5ada passo do trote pregui+oso a sacudiaperigosamente na montaria"

)pari+1es assustadoras como pesadelos paira%am a sua %olta, atormentando*acom a promessa %adia da $gua que ela tanto dese7a%a, enchendo o ar com gargalhadas

histricas antes de se dissol%erem no nada" Sophie não sa#ia mais se esta%a acordadaou se dormia"=uando penetrou no p$tio, ela se mantinha consciente apenas por for+a da

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determina+ão, pois 7$ não tinha mais nenhuma energia"O espa+o esta%a repleto de pessoas que se mo%iam de um lado para o outro

transportando coisas, pu(ando o#7etos, girando mani%elas""" fa&endo um #arulho queamea+a%a fa&er e(plodir sua ca#e+a"

Seu irmão""" 4elo menos pensa%a ser ele, e teria certe&a disso, se ele não

esti%esse ainda em 4aris""" /nfim, erard surgia do meio da multidão e caminha%a emsua dire+ão com os #ra+os a#ertos"

Sophie olhou sem compreender para a imagem que se apro(ima%a, esperando %ê*la dissol%er*se diante de seus olhos como todas as outras que a precederam"

. gua . gemeu, sentindo doer os l$#ios rachados e ressequidos" ) formadiante dela permanecia estranhamente s:lida" . Dê*me $gua"""

Bra+os fortes ergueram*se para remo%ê*la da montaria, mas ela não se sentiacapa& de fa&er nenhum mo%imento em sua dire+ão"

. gua""" . ela repetiu" >udo ficou escuro, e Sophie se sentiu cair"

2ão sa#ia se era o corpo ou a mente que caía" >udo que sa#ia era que mergulha%anum po+o escuro e frio, e o fundo esta%a muito, muito longe"

)s semanas seguintes foram ne#ulosas" De %e& em quando ela acorda%a com sede,muita sede, pedia $gua, e uma figura a#en+oada se apro(ima%a para pingar algumasgotas do líquido em sua #oca e la%ar sua testa com toalhas frias e perfumadas comla%anda" Is %e&es essa figura era sua mãe, @s %e&es era seu irmão, e @s %e&es era sua#a#$, morta h$ mais de três anos"

Is %e&es sentia o corpo tão quente que pensa%a ter morrido e ido para o inferno,onde demCnios a assa%am so#re #rasas ardentes"

/ então o frio a pega%a de em#oscada, congelando*lhe os mem#ros desde os psat seu %entre, paralisando*a com seus dedos gelados"

) dor esta%a sempre presente, espreitando fora do alcance no recesso da mente,ou en%ol%ida num ataque frontal e %iolento contra todas as partes de seu corpo"2esses momentos, ela tremia, chora%a e suplica%a para ser li#ertada desse tormento,at a dor ceder e transformar*se mais uma %e& naquela minimorte de um sono que eramais um transe"

/ntão, numa determinada manhã, ela acordou e a dor ha%ia desaparecido" )scortinas em torno de sua cama ha%iam sido a#ertas para dei(ar entrar o ar fresco damanhã, o sol #rilha%a alm da 7anela do quarto, e ela sou#e que não esta%a mais presanaquele pesadelo fe#ril" Os #ra+os eram estranhamente pesados quando tenta%amo%ê*los e a lu& ainda feria seus olhos, mas a mente esta%a clara"

5om algum esfor+o ela %irou a ca#e+a no tra%esseiro" Seu irmão esta%a parado aolado da 7anela, sua silhueta recortada contra a lu&" /la piscou %$rias %e&es paracertificar*se de que não esta%a %endo quimeras" ) figura não desapareceu"

. erard6 . ) %o& soou rouca, $spera" /le se apro(imou da cama"

. Sophie6 /st$ acordada6

/la estendeu os #ra+os, mas ainda não tinha for+a para tir$*los de #ai(o doco#ertor e a#ra+$*lo" 5om erard em casa, sentia*se inteira no%amente". ? uma alegria %ê*lo- /le segurou suas mãos"

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. >am#m estou muito feli& por estar aqui" >i%e medo de chegar tarde demais,de sua enfermidade le%$*la antes de eu poder re%ê*la" 2ão imagina como estou feli&por %ê*la recuperada"

/la sorriu fitando os olhos a&uis idênticos aos dela" erard seria sempre oprimeiro em seu cora+ão"

. /stou melhor agora que o tenho aqui comigo"

. De%e estar com fome" 3e7a se consegue se sentar e tomar um pouco de sopa"/u a a7udarei"

/sta%a faminta" >omar um pouco de sopa seria mara%ilhoso" erard saiu e %oltouinstantes depois com duas %asilhas de caldo quente e arom$tico"

Sophie ergueu um pouco o corpo, e ele posicionou um tra%esseiro so# sua ca#e+apara a7ud$*la a engolir o alimento sem engasgar"

erard colocou uma colher de sopa em sua #oca" O caldo era ralo e fraco, mas elao sor%eu com a%ide&" Depois de algumas colheradas, seu estCmago retraído se deu por

satisfeito" Sentia*se en%ergonhada com a pr:pria fraque&a". 2ão quero mais" O#rigada"/m seu estado fe#ril ela ha%ia perdido a no+ão do tempo" =uando esti%era no

p<ntano e adormecera ao sol6 2o dia anterior6 H$ muito mais tempo6. /sti%e enferma por muito tempo6 erard tomou um pouco do pr:prio caldo". 2o dia em que cheguei em casa %ocê esta%a doente, ardendo em fe#re, e caiu

do ca%alo em meus #ra+os sem sequer sa#er que eu esta%a ali" sso aconteceu h$ trêssemanas" 0$ esgotei meu período de licen+a"

2ão" 2ão podia ter ficado doente por todo o tempo em que erard os esti%era%isitando" Ha%ia tanto que queria con%ersar com o irmão""" Sua ha#ilidade com o arco,por e(emplo, ou o ca%alo sel%agem capturado na região e domesticado por ela- O animal 7$ comia ma+ãs de suas mãos-

. 3ai ter de ir em#ora logo6

. Eicarei at estar recuperada"De repente sentia %ergonha do pr:prio egoísmo" /la era apenas sua irmã, e não

de%ia se colocar no caminho de seu progresso". Seu capitão não %ai se incomodar por ter se ausentado por mais tempo do que

o permitido6;ma risada amarga precedeu a resposta de erard". Du%ido que meu capitão fique grato por eu le%ar a doen+a de %olta a 4aris em

minha #agagem" Se me apro(imasse das muralhas da cidade, ele me mataria com umtiro certeiro e despacharia meu corpo para ser queimado em campo a#erto"

. )""" doen+a6 . /le falara com uma certe&a tão ina#al$%el, com uma resigna+ãotão som#ria, que Sophie não conseguiu ignorar o medo" . =ue doen+a6

erard fe& o sinal da cru& para proteger*se contra o mal". 2ingum pode entrar ou sair de 5amargue" /stamos sitiados por soldados de

Saint*Marie*de*la*Mer, e os ha#itantes da região nos matariam, se tent$ssemosescapar" >eriam preferido matar desconhecidos inocentes a correrem o risco deserem infectados por eles" / nenhum de n:s inocente" Ou Deus não nos teria

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mandado a praga"

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#ap&t$lo ''

) praga" ) pala%ra so&inha era suficiente para plantar o pa%or em seu cora+ão"

5omo os gafanhotos nos %elhos tempos, a praga era uma maldi+ão do cu en%iada porum Deus irado para punir os erros de suas criaturas" 4oucos escapa%am das mãos%ingati%as de um Deus furioso"

. ) 4este 2egra6 . ela sussurrou"

. /(atamente"O horror crescia dentro dela". /u ti%e a praga6. 3ocê foi uma das afortunadas, minha querida irmã" Eoi acometida pela

enfermidade, mas continua %i%a" H$ pouco mais de uma hora, eu nem ousa%a esperar

que sua %ida fosse poupada"2ão era de estranhar que ela esti%esse tão p$lida e a#atida". H$ praga nesta casa6 /le assentiu". Muitos criados 7$ caíram doentes" Os poucos que ainda não adoeceram fugiram

para as colinas tentando sal%ar a pele""" se ainda for possí%el"Sophie mal respira%a por conta da opressão causada pelo medo". / o %ilare7o6. >am#m foi atingido" )s notícias que chegam de l$ não são nada #oas". 2ossos pais6 . /ra impossí%el pronunciar as pala%ras com o tom calmo que

teria gostado de empregar" >emia a resposta". 2osso pai est$ #em, pelo menos at agora, mas ontem foi le%ado para a cama

com uma fe#re le%e" /le forte" >em chance de so#re%i%er, como %ocê so#re%i%eu". / mamãe6erard ficou em silêncio por um momento". /la""" não est$ #em"2ão- Sua mãe não- 2ão podia perdê*la dessa maneira-. =ual a gra%idade6 /la est$ muito doente6. 2ão sou mdico". O que di& o #otic$rio do %ilare7o6. O #otic$rio foi um dos primeiros a morrer". 2ingum mandou chamar um mdico na cidade6 . ;m mdico seria capa& de

curar sua mãe, certamente" . 2ão mandou #uscar o doutor, erard6/le encolheu os om#ros". ? in8til" 2ão h$ nenhum mdico disponí%el" Metade co%arde demais para

%isitar os pacientes por medo de contrair a praga". / a outra metade6

. ) outra metade morreu ou est$ morrendo". O padre6 )o menos ele este%e aqui para confort$*la6

. ) pergunta era s: um sussurro" )garra%a*se a fios tênues de esperan+a,

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temendo ou%ir notícias ainda piores" O sacerdote sempre ha%ia sido de%oto em sua fe não a#andonaria uma o%elha mori#unda de seu re#anho" /le enterrou a ca#e+a entreas mãos"

. /u o enterrei ontem" . Sua %o& tremia" erard ama%a o padre 5apinprofundamente"

Sophie fechou os olhos e dei(ou escapar um gemido" >al%e& fosse melhor ter sidole%ada pela praga, tam#m" )ssim não teria despertado para esse dia infernal, quandoo mundo que conhecia se desintegra%a @ sua %olta"

. >e%e um amargo despertar, minha irmã . erard lamentou, esquecendo*se dapr:pria dor para tocar sua testa com dedos frios" . Sinto muito" 2ão pretendia dartodas as m$s notícias ao mesmo tempo, nem agora, quando ainda est$ tão a#atida"Durma um pouco" )inda estarei aqui quando %ocê acordar"

2unca mais dormiria" /la sentia a ca#e+a girar in%adida por imagens de dor emorte, imagens de seus pesadelos mais fe#risA carro+as cheias de corpos

descarregando sua carga m:r#ida em %alas coleti%as, piras funer$rias gigantescasespalhando fuma+a mal*cheirosa, lan+ando no ar o cheiro da corrup+ão humana e decarne queimada, e cada corpo apodrecido e de%orado pelos %ermes tinha o rosto de umente querido"

O corpo esta%a fraco depois da longa enfermidade, e apesar dos horrores quein%adiam sua mente, ela logo mergulhou num sono inquieto, superficial"

=uando acordou, no%amente esta%a so&inha, e tinha o estCmago roncando defome" ) 7ulgar pelo cu escuro que %ia alm da 7anela, a noite 7$ chegara"

) casa era quieta como um t8mulo" 2ão ou%ia passos, %o&es, nem mesmo os latidosde um cão para indicar que ainda ha%ia alguma alma %i%a ali, alguma criatura %i%a almdela"

Sophie chamou com %o& fraca, mas ningum respondeu" O silêncio reina%asupremo" erard ha%ia prometido que estaria a seu lado quando despertasse, econfiara a ele a pr:pria %ida" /la esperou por alguns minutos para %er se o irmão%oltaria, como ha%ia prometido, mas ele não %oltou"

O silêncio tinha uma qualidade m:r#ida, um nota de tensão e pa%or" Einalmente,ela não conseguiu mais esperar" 5om grande esfor+o, foi se le%antando lentamente atestar sentada na cama" ;ma nu%em negra surgiu diante de seus olhos quando Sophieergueu a ca#e+a, mas ela se esfor+ou para não desmaiar" Sentindo*se um pouco maisforte, pCs as pernas para fora da cama e apoiou os ps no chão" O frio da madeirapenetrou em seu corpo, mas o pequeno desconforto s: alimentou a determina+ão desuperar todos os o#st$culos"

)s pernas tremiam pelo esfor+o de sustent$*la em p, mas, lentamente, elacam#aleou at a porta, agarrando*se aos m:%eis e apoiando*se nas paredes, fa&endotudo que podia para continuar em p"

5om passos trCpegos, ela se dirigiu aos aposentos da mãe" )#riu a porta, deu dois

passos para o interior do quarto""" e dese7ou não ter ido at ali")s cortinas em torno da cama de sua mãe esta%am cerradas, e ha%ia no ar umcheiro de morte" /la se arrastou com dificuldade at a cama e a#riu as cortinas" Sua

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mãe 7a&ia entre os len+:is amarrotados, os olhos a#ertos como se de#ochassem domundo, o rosto p$lido e(i#indo as manchas acin&entadas da morte e pontos negroscaracterísticos da doen+a" ) 4este 2egra a le%ara"

5om dedos trêmulos, Sophie fechou os olhos da mãe" 2ada mais podia fa&er porseu corpo, mas re&aria para que sua alma descansasse em pa&"

Os aposentos do pai esta%am tão silenciosos quanto os de sua mãe" Sa#ia o queencontraria quando a#risse a porta, mas for+ou*se a ir at l$ assim mesmo"

O pai de Sophie ha%ia morrido em sua cadeira, o rosto contorcido relatando a dorque o torturara em seus momentos e as mesmas manchas que podiam ser %istas em suamãe"

5om uma prece r$pida para que Deus, em sua infinita miseric:rdia, acolhesse suaalma, ela saiu e fechou a porta"

2os aposentos do irmão, Sophie encontrou a porta encostada" )inda seapro(ima%a da entrada, quando ou%iu a %o& chamando por ela" Seus passos ganharam

toda %elocidade possí%el naquelas circunst<ncias" Se o irmão ainda esta%a %i%o, seainda podia pedir a7uda, tal%e& pudessem se unir e fa&er um esfor+o desesperado parasuperarem essa horrí%el tragdia que di&imara a família"

. erard6 . ela chamou #atendo na porta"/le resmungou alguma coisa incompreensí%el"Sophie empurrou a porta e entrou" erard esta%a deitado na cama, inteiramente

%estido, o rosto #anhado pelo suor da fe#re descontrolada"Desesperada, ela correu para perto do irmão, sem sa#er o que mais poderia fa&er

alm de acalm$*lo com sua presen+a e ficar ali, a seu lado"erard a#riu os olhos". Logo me le%antarei para fa&er mais sopa, Sophie . ele murmurou fraco" . S:

preciso descansar um pouco antes" 2ão me sinto #em" Minha ca#e+a d:i") testa ardia" Sophie olhou em %olta tentando encontrar um pano, mas não ha%ia

nada que pudesse usar" 5om uma for+a nascida do desespero, ela arrancou uma tira dapr:pria camisola, molhou*a na $gua do 7arro ao lado da cama do irmão e usou o tecidoensopado como espon7a para la%ar*lhe a testa"

erard rela(ou um pouco so# seus cuidados". sso #om . disse com %o& fraca" . /stou tão quente""". 3ocê adoeceu cuidando de mim" Deite*se e logo estar$ recuperado". Mamãe e papai"""Sophie sa#ia o que ele queria perguntar, e decidiu poup$*lo da dor da notícia

definiti%a" . /u sei . disse apenas" /le fechou os olhos com grande angustia". /u me esforcei, mas não foi o #astante" 2ão fui capa& de sal%$*los". 2enhum homem na terra poderia tê*los sal%ado" Deus decidiu o destino de

nossos pais". Ei& o que pude, mas o final foi muito r$pido" 2ão ha%ia mais nada a ser feito"

Sophie tocou a testa fe#ril, compartilhando a ang8stia". Eique quieto, erard" >ente descansar" /le se retorcia na cama numa agita+ãofe#ril"

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. =uando eu morrer, %ocê ficar$ so&inha"

. 2ão se7a tolo" . /le era seu irmão adorado" Seu gêmeo" 2ão poderia %i%er semerard" /le não podia adoecer como os outros" . /st$ e(austo e desgastado, s: isso"2ão h$ mais nada"

Seu rosto se contorceu num sorriso fraco" erard estendeu um #ra+o e pu(ou a

manga da camisa at o coto%elo". 2ão pode me enganar, e tam#m não poder$ continuar enganando a si mesma"

4repare*se para o ine%it$%el"/la olhou para as manchas negras no #ra+o do irmão e sentiu um horror que

#eira%a a loucura" erard não" 2ão seu irmão" Deus 7$ ha%ia le%ado sua mãe e seu pai"2ão podia poupar seu irmão6

. /u tenho a praga" 3i muitos outros morrerem por ela nessas 8ltimas semanas, enão sou arrogante a ponto de acreditar que so#re%i%erei ao que tantos outrossucum#iram" /starei morto antes do final da manhã"

2ão o dei(aria partir assim, sem lutar" /nfrentaria a morte pela %ida de seuirmão" Sophie o agarrou com dedos frenticos"

. 3ocê não %ai morrer" 2ão pode- 2ão permitirei- /le se soltou dos dedos que omachuca%am e segurou as mãos dela"

. Ei& as pa&es com o mundo e estou contente por dei($*lo" ? hora de ir me 7untar ao !eino de Deus" Meu 8nico pesar que não estarei aqui para cuidar de %ocê">er$ de cuidar de si mesma" 4rometa*me que sa#er$ se cuidar #em"

. 4rometo"

. /spera%a %ê*la casada no %erão" / teria dan+ado feli& em suas n8pcias"/la #alan+ou a ca#e+a com impaciência". 2ão me incomodo com isso" 5asamento nunca fe& parte dos meus planos". O conde Lamotte um #om homem" Ser$ um e(celente marido para %ocê,

Sophie, ou eu nunca teria proposto o enlace" /u o tenho como a um irmão, e sempresou#e que %ocê tam#m gostaria dele"

/la mordeu a língua" 2ão discutiria com o irmão enfermo como esta%a". 3ai precisar de algum para cuidar de %ocê quando eu não esti%er mais aqui" Se

o rei tomar conhecimento de uma 7o%em herdeira rica e solit$ria, certamente decidir$cas$*la pela maior oferta, ou com um no%o fa%orito dono de grande charme e nenhumarique&a" 4rometa que %ai considerar a oferta de Lamotte"

5omo poderia pensar em casamento com os pais mortos e o irmão morrendo6. >rate apenas de melhorar" /sque+a essas tolices de casamento" 4osso cuidar

de min mesma" )lm do mais, %ocê não %ai morrer". 4rometa . ele insistiu com urgência"4or mais a#surdo que considerasse o pedido, não podia negar*se a atendê*lo"

/sta%a diante de um homem doente, seu irmão, e ama%a*o mais do que a si mesma". /u prometo"

4rometia apenas considerar a proposta de Lamotte, Sophie pensou angustiada,tentando aplacar a consciência inundada de culpa" Se não podia ter 0ean*Luc, não secasaria com nenhum outro homem" Mesmo assim, rece#eria a proposta de Lamotte com

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

a considera+ão 7usta, se ela um dia ocorresse de fato") promessa acalmou seu irmão" /le dei(ou escapar um suspiro ali%iado e fechou

os olhos, com a testa fran&ida em resposta ao espasmo de dor". 4Cs fim @ minha 8ltima inquieta+ão"O medo apoderou*se do cora+ão de Sophie quando ela olhou para o rosto p$lido

do irmão" /sta%a diante de um homem a um passo da morte". 5arrego a m$ sorte comigo" >al%e& ele nem queira mais me desposar agora"erard riu, com um som rouco e sinistro". /le 7urou pela alma da pr:pria mãe que cuidaria de %ocê, caso algum mal me

acometesse" )ssim que cheguei, mandei um mensageiro inform$*lo de que tínhamos apraga em nossa casa" 5onhe+o esse homem, Sophie" /le cumpre suas promessas" 4ossomorrer em pa& na certe&a de que ele %ir$ em seu socorro assim que puder chegar aqui"

Sophie o silenciou pousando*lhe um dedo so#re os l$#ios" O esfor+o de falar oenfraquecia diante de seus olhos"

. Eique quieto e repouse"erard fechou os olhos no%amente e, e(austo pelo esfor+o da con%ersa, logo

adormeceu"Sophie sentou*se em uma cadeira ao lado da cama para %elar seu sono, cochilando

em alguns momentos, quando não era capa& de manter os pr:prios olhos a#ertos" 2ãodei(a%a a ca#eceira do irmão, esquecendo a pr:pria fome, a pr:pria sede e suarecupera+ão, tomada pela dor de %ê*lo morrer aos poucos sem poder fa&er nada"

=uando seu rosto era co#erto pelo suor, ela la%a*lhe a testa com o pano 8mido,#uscando redu&ir o calor em seu corpo enquanto ora%a para a 3irgem Maria cur$*lo emsua infinita gra+a" =uando ele gritou dormindo, retorcendo*se nas garras de umhorrí%el pesadelo, Sophie afagou sua mão e murmurou pala%ras doces de pa& e amorem seu ou%ido, acalmando*o"

4erto do amanhecer, quando ela ou%iu a morte ranger seus dentes fero&es e %iu arespira+ão do irmão ir desaparecendo aos poucos at se tornar ine(istente, Sophiefechou seus olhos e ficou ali, segurando a mão dele at senti*la fria e dura emdecorrência do fim"

2ão podia chorar por ele" /sta%a muito alm dessa simples manifesta+ão de dor"Eora alm do luto, para um lugar onde a desola+ão era s: um no%o fato da realidadecomum"

) manhã surgia no hori&onte" /la esta%a em p ao lado da 7anela, indecisa" ;mpasso""" ;m passo, e seu corpo se espatifaria nas pedras do p$tio, li#ertando sua almapara acompanhar a do irmão rumo ao paraíso"

) mão #uscou o parapeito, preparando o salto" O ar fresco que penetra%a pelaa#ertura dispersa%a o miasma putrefato da morte"

/la hesitou" Morrer seria pCr um fim @ dor, mas era cora7osa o #astante para#uscar a morte, despreparada como esta%a para enfrentar o 5riador6

Sentia sede e fome" )ntes de tomar a decisão de reunir*se @ família na morte,aplacaria suas necessidades físicas mais imediatas") co&inha esta%a %a&ia e o fogo h$ muito se e(tinguira no fogão" 2ão ha%ia

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criados ou qualquer outro sinal de %ida" Sophie não espera%a encontr$*los, mas sentiu ocora+ão mais pesado mesmo assim" 2ão ha%ia nenhum calor para rece#ê*la, apenascin&as frias e mortas" ) co&inha, como o restante da casa, tinha o cheiro da morte"

;ma r$pida #usca na despensa resultou em um pouco de cer%e7a, um peda+o dequei7o, algumas ma+ãs %erdes e frescas, e muitos potes cheios de conser%a de

fram#oesa" /la retornou ao quarto le%ando a refei+ão impro%isada" 2ão dese7a%acontinuar e(plorando a casa" /sgotara a reser%a de coragem e resistência, e temiaencontrar mais surpresas desagrad$%eis"

;m peda+o de quei7o e dois goles de cer%e7a fi&eram o estCmago protestar, e eladesistiu de comer" 3ira a morte de perto" Muitas %e&es" 2ão conseguia cuidar dequest1es tão corriqueiras"

Mesmo assim, se for+ou a comer mais um pouco" Seria in8til morrer de inani+ãodepois de ter so#re%i%ido @ peste" )limentada e com a sede saciada, Sophieadormeceu um sono profundo, ainda segurando meia ma+ã entre os dedos"

Mais tarde, 7$ ao anoitecer, ela de%orou o restante das pro%is1es e #e#eu o queainda ha%ia da cer%e7a, at a e(austão reclam$*la mais uma %e&"

O no%o dia 7$ ha%ia surgido quando ela acordou" Sentia o corpo mais forte, amente mais clara"

Desola+ão e triste&a toma%am o lugar do desespero anterior" 0$ não queria maispCr fim @ pr:pria %ida" Sua %ontade natural de so#re%i%er era mais forte que o dese7ode morrer" )gora cuidaria do de%er de enterrar seus mortos com todo o respeito quemereciam, encomendaria missas por suas almas para que fossem rapidamenteli#ertados do 4urgat:rio, e honraria sua mem:ria com pala%ras e a+1es"

5omo ha%ia temido e antecipado ao ou%ir o silêncio opresso, a casa esta%a desertae(ceto pelos cad$%eres" Seu irmão ha%ia sido o 8ltimo a morrer"

/la gritou ao trope+ar no corpo manchado de 4iers, o ser%i+al da copa" /le 7$ nãorou#aria mais ra+1es e(tras, apro%eitando o descuido da co&inheira, nem se safariadas reprimendas distri#uindo aquele sorriso radiante e inocente" Ha%ia morrido como%i%era, escondido em um canto escuro da casa, fugindo de suas atri#ui+1es, agarrado aum peda+o de pão rou#ado"

=uando ela encontrou o 7ardineiro*chefe caído contra o muro do pomar, cercadopor moscas que entra%am em sua #oca a#erta, Sophie 7$ esta%a imune contra oshorrores e o desgosto causados pela morte"

Logo ela se apro(imou do t8mulo que sa#ia ter sido preparado atr$s da horta" /rauma co%a larga e profunda, testemunho silencioso da gra%idade da praga que sea#atera so#re a propriedade"

2ão queria remo%er a co#ertura rasa que 7$ escondia outros corpos, pessoas queconhecera e amara" 4odia apenas acrescentar outros cad$%eres @ pilha"

>ransportar corpos e sepult$*los era tra#alho pesado, e ainda não esta%a forte o#astante depois de ter passado semanas enferma" Mesmo assim, ela perse%era%a,

arrastando um a um os cad$%eres espalhados pela casa, 7ogando*os na co%a coleti%a,determinada a remo%er da casa todos os restos da morte" 2ão choraria por cada rostofamiliar que 7oga%a naquele maldito #uraco" 2ão podia desperdi+ar sua pouca energia

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com l$grimas in8teis") família foi dei(ada por 8ltimo" 2ão poderia dar aos pais e ao irmão o indigno

fim de uma co%a comum" ) p$ era pesada e grande, mas o solo era macio" Depois detra#alhar a tarde inteira, ela conseguiu a#rir três co%as suficientemente profundaspara proteger seus corpos de a%es de rapina e outros animais"

. )deus . sussurrou ao %ento, depositando*os lado a lado no solo que osacolheria em seu repouso eterno" . /spero %oltar a %ê*los no 4araíso"

5om as poucas for+as que ainda tinha, ela os co#riu com terra"O sol 7$ se punha quando Sophie %oltou para casa" /sta%a imunda, co#erta de

terra e lodo da ca#e+a aos ps, suada e malcheirosa") $gua do po+o era doce, sem nada que a corrompesse" /la se despiu no p$tio e

foi e(traindo #alde ap:s #alde de $gua fresca do po+o, la%ando*se completamentepara remo%er do corpo as marcas do dia de horror"

S: quando se sentiu limpa no%amente, desde os ca#elos molhados at os ps

descal+os so#re as pedras, quando o cheiro da morte deu lugar ao doce perfume dela%anda e alecrim, ela entrou no%amente em casa"

Deitou*se na cama e(austa, incapa& de dormir, pensando no 8ltimo dia denormalidade antes de seu mundo transformar*se em um inferno em %ida"

5omo pareciam tri%iais agora as preocupa+1es que ti%era semanas atr$s" 2ãohesitaria em desposar o conde mil %e&es se assim pudesse tra&er de %olta a %ida comoera antes, mas nenhum casamento ressuscitaria os mortos" 5omo pareciam tolos seuspensamentos de re#eldia naquela manhã no p<ntano"""

O p<ntano"De repente ela sentiu o sangue gelar nas %eias" Medo e culpa a tomaram de

assalto"Sua mãe a pre%enira so#re ir ao p<ntano" Mencionara claramente a fe#re que

atingira e de%astara o %ilare7o pr:(imo" Deso#edecera a essa ordem materna, e Deus apunira en%iando a peste @quela casa"

/smagada so# o peso do desespero, ela tentou lem#rar""" /sti%era #em quandofora ao p<ntano" / retornara enferma" >odos em sua casa desfruta%am de #oa sa8deat ela %oltar" / quando reco#rara a consciência, todos esta%am mortos ou ha%iamfugido"

/ra impossí%el ignorar o medo que a in%adia" 5om sua deso#ediência, assassinaratodos aqueles que ama%a"

Se o conde Lamotte não a quisesse tomar por esposa, a tragdia nunca teriaacontecido" Se não lhe hou%essem imposto aquele casamento, não teria deso#edecido @mãe, nem teria contraído a praga dormindo @ margem do p<ntano, e sua família agoraestaria %i%a"

/spera%a sinceramente que Lamotte não escapasse @ destrui+ão que causara emseu lar" Seria apenas o 7usto e merecido" Sophie teria trocado a pr:pria %ida por um

8nico dia de con%i%ência a mais com o irmão" 4or que Deus não le%ara o conde no lugarde erard62ão tinha inten+ão de despos$*lo agora" De fato, 7amais se casaria, a menos que

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um dia encontrasse um homem digno de sua estima em todos os sentidos" 2ãoprecisa%a de um homem para cuidar dela" )lm do mais, não queria contar com ningumalm dela mesma"

Sua família perecera" /ra a 8nica so#re%i%ente" 4elo resto da %ida, ela sededicaria a estudar como poderia e(piar o fatal ato de deso#ediência, #uscando

apenas honrar a mem:ria da família que ha%ia destruído"

D$as semanas mais tarde:

Lamotte pCs so# a camisa as preciosas garrafas en%oltas em espessos peda+os detecido" )li elas estariam seguras" 4agara caro por elas" ;ma po+ão para manter a pragaafastada %alia mais do que o pr:prio peso em ouro em momentos como esse, quando

relatos so#re a doen+a nas regi1es %i&inhas chega%am aos ou%idos at dos maisalienados parisienses" O pr:prio mdico do rei ha%ia preparado o medicamento que eleagora carrega%a com grande cuidado"

;ma hora mais tarde, Lamotte dei(a%a a cidade le%ando apenas uma pequenaquantidade de alimento e uma camisa limpa na #agagem" O ca%alo o transportaria maisdepressa e para mais longe se não esti%esse so#recarregado" erard precisa%a dele edos #ens preciosos por ele le%ados"

2os primeiros dias, as hospedarias do caminho eram acolhedoras com suaslareiras #rilhantes e com o alimento quente e farto para saci$*lo" Lamotte %ia7a%a paralonge e com grande %elocidade, detendo*se apenas quando perce#ia que a montaria#eira%a a e(austão e a estrada se torna%a perigosa na escuridão da noite"

2a medida em que penetra%a nas pro%íncias, as pessoas passa%am a olhar parasuas roupas su7as e para o ca%alo esgotado com crescente desconfian+a" )t o ouroque le%a%a parecia perder o %alor" Mais de uma %e&, ele foi recusado em umahospedaria tarde da noite, tendo de dormir so# as estrelas, com as roupas 8midas deor%alho e a #arriga roncando de fome"

Os relatos so#re a doen+a eram muitos" ;m dia, ao passar por uma fa&enda, eledecidiu trocar algumas moedas por pães e leite, mas, ao #ater na porta, nem foiatendido"

) porta não ha%ia sido trancada e se a#riu so# o peso de sua mão" O cheiro deputrefa+ão e morte no interior da casa era tão intenso, que ele fugiu assustado" /ratarde demais para tentar a7udar as pessoas daquele lugar, e não queria #anquetear osolhos com o espet$culo m:r#ido que certamente o aguarda%a alm daquela porta" 4odiaimagin$*lo muito #em"

/spera%a que a família de erard hou%esse sido poupada" ) carta do amigore%ela%a pouco, apenas que sua irmã, Sophie, esta%a enferma" Sophie, irmã gêmea de

seu melhor amigo, a mulher com quem ele contratara um casamento"/le tocou a miniatura que le%a%a no #olso 7unto ao peito" entile&a e feminilidadeilumina%am aqueles olhos a&uis e claros tão semelhantes aos do irmão em cor, mas,

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O conde não gosta%a do rumo que a situa+ão toma%a, nem dos olhares furiososlan+ados em sua dire+ão" /le cra%ou os calcanhares nos flancos do ca%alo, disposto aa#rir caminho @ for+a por entre a multidão"

O animal esta%a cansado demais depois de tantos dias na estrada, e sua respostanão foi suficientemente r$pida" )ntes que pudessem atra%essar o mar de gente, os

camponeses reagiram"Lamotte %iu o forcado ser arremessado em sua dire+ão, mas não conseguiu se

esqui%ar" ;ma sensa+ão de fogo e(plodiu na lateral de seu corpo" ) ferramentarasga%a sua carne" O ca%alo gritou de dor, usando os cascos poderosos contra osatacantes"

Mãos estendidas o arrancaram da sela" /le atingiu o chão com um #aque surdo" Ocorpo caiu so#re o lado recentemente ferido" O mundo em torno dele perdeu a cor,passando do cin&a ao negro" / depois foi o nada" ) escuridão" O %a&io" O silêncio"

(eis meses mais tarde

Sophie Delamanse ca%alga%a sem pressa pelas ruas mo%imentadas, registrandotudo com o olhar curioso de algum que chega%a a uma cidade desconhecida" Os%endedores am#ulantes grita%am anunciando seus produtos, 7o%ens corpulentosdesfila%am sua for+a física, tra#alhadores se dedica%am ao ofício, e todo o am#ientefer%ia com a agita+ão característica da mais importante cidade da Eran+a" /sta%afascinada com a cacofonia de sons, imagens e cheiros que compunha 4aris"

) multidão a inquieta%a e entusiasma%a" 3i%era so&inha na imensa mansão em5amargue por todo o in%erno, e aca#ara se ha#ituando ao silêncio e @ solidão" /m 4aris,nunca mais teria de estar so&inha"

;ma mulher da rua gritou para ela de um #eco su7o e som#rio" /la corou e olhouna dire+ão oposta, mas pensou melhor e decidiu que a timide& 7$ não fa&ia mais sentidonesse no%o mundo" Sophie encarou a desconhecida e reconheceu seu cumprimento comuma discreta inclina+ão de ca#e+a" )gora era um homem, a reencarna+ão do irmãoerard, cu7o corpo ha%ia enterrado no solo querido de 5amargue" De%ia se lem#rardisso sempre e honrar o nome do irmão e de sua família" Lem#raria sempre o amorpelo irmão e o :dio por todos aqueles que os ha%iam enganado, e esses sentimentos afortaleceriam"

Durante os longos e frios meses do in%erno ela ha%ia chorado constantemente amorte de erard" 5ulpa e desespero quase a destruíram, at ela transformar essasemo+1es negati%as em for+a e canali&$*las para o :dio contra o inimigo, o homem quepodia odiar sem se destruir o conde Lamotte" 4assara as primeiras semanas ap:s arecupera+ão esperando por ele" O conde ha%ia prometido a erard que cuidaria dela"

Onde, então, ha%ia estado esse homem nos momentos de maior necessidade6Eora resgat$*la do horror de passar todo o in%erno so&inha, perdida em uma casade%astada pela morte6 2esse caso, certamente o teria rece#ido de #ra+os a#ertos"

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c:pia e(ata do gêmeo" Desafiaria a pr:pria mãe a diferenci$*la de erard a umadist<ncia maior do que dois ou três metros"

>am#m não seria desco#erta pela falta de ha#ilidade nas artes marciais"4assara os 8ltimos meses praticando com a espada do irmão e ca%algando at ae(austão, e agora era como se ela e Seafoam fossem um s: corpo e uma s: %ontade"

/ra capa& de ca%algar tão #em quanto o gêmeo sempre ha%ia montado" ) ha#ilidadecom a espada ainda era rudimentar, mas se empenharia nisso, tam#m"

Mesmo que os futuros companheiros notassem as mudan+as em seu rosto ou emsua postura, 7amais suspeitariam da %erdade" /ra a#surdo demais para ser imaginado"De acordo com o que o mundo sa#ia, Sophie Delamanse esta%a morta, %ítima da praga,e erard, ap:s escapar da enfermidade que ha%ia %itimado toda sua família, %olta%apara reintegrar o regimento"

Seu irmão ha%ia se hospedado em um esta#elecimento respeit$%el ao longo docaminho, perto do alo7amento" Sophie encontrara um menino de rua que, mediante uma

oferta de algumas moedas, a le%ara at l$" Os dois percorrem alamedas escuras e ruasimundas, at pararem na frente de uma placa des#otada anunciando quartos paraaluguel"

) %i8%a, propriet$ria da hospedaria, olhou desconfiada para Sophie, preocupadacom suas roupas su7as e gastas pelos dias de %iagem"

. /ntão %oltou . ela disse com as gengi%as @ mostra num arremedo de sorriso" .Sou#e que esta%a morto, mas constato que a notícia era falsa" ? um homem de sorte">enho um quarto %ago, se quiser alug$*lo" O ca%alheiro que l$ ha#ita%a enforcou*se h$uma semana" 4orm, suponho que não se incomode com isso, 7$ que %em da região ondea praga fa& tantas %ítimas"

O quarto fica%a no 8ltimo andar do prdio, depois de quatro lances de escadas" Ocalor ali era sufocante, e mal ha%ia espa+o para a pequena cama e uma cCmoda, 8nicamo#ília do aposento min8sculo"

Mesmo cansada como esta%a, Sophie não conte%e o desgosto causado pelaterrí%el acomoda+ão"

. =uanto6) %i8%a anunciou uma quantia e(or#itante, quase o %alor integral do soldo que

Sophie rece#eria pelo cumprimento de seus de%eres como mosqueteira"/la #alan+ou a ca#e+a, incrdula". 4or um quarto tão pequeno6 5om uma a#ertura min8scula que nem se pode

chamar de 7anela6. /stou co#rando um %alor e(tra por ter %indo de 5amargue" Os outros

esta#elecimentos da região nem aceitam %ia7antes oriundos daquela $rea" / ruim paraos neg:cios"

Sophie era for+ada a reconhecer que a mulher tinha ra&ão" Seria difícilencontrar outro lugar onde se hospedar" Mesmo assim, ela hesita%a" 4agar tanto assim

pelo a#rigo significaria drenar fundos mais do que necess$rios na propriedade dafamília" !eluta%a em lan+ar mão desse dinheiro, mas ela e Seafoam #eira%am o colapsopor e(austão" 4recisa%am descansar"

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Diante da pausa prolongada, a %i8%a recuou um pouco em sua gan<ncia, temendoperder um cliente"

. Bem, 7$ que um %elho amigo, pode alugar o quarto por um pouco menos" . /laanunciou uma soma mais aceit$%el" . Mas o pagamento de%e ser adiantado"

Sophie despe7ou algumas moedas na mão estendida"

. >raga*me $gua quente e comida" . /la acrescentou mais duas moedas" . /mande algum le%ar meu ca%alo ao est$#ulo"

) propriet$ria guardou as moedas no #olso do a%ental com um olhar fero&" Sophiesa#ia que o encarregado de cuidar de Seafoam não rece#eria nenhuma daquelasmoedas" So&inha, ela se sentou na cama, sentindo a palha fina farfalhar so# seu corpomagro" /sta%a em 4aris" /ncontrara acomoda+1es, mesmo modestas" Seria ummosqueteiro- 2ingum a questionara at esse momento" >odos a trata%am como sefosse mesmo um homem" >al%e& hou%esse uma chance de sucesso em seu planotresloucado"

=uando a %i8%a retornou com a $gua quente e um mingau ralo e de aparênciaaguada, sua confian+a ha%ia e%aporado" Sentia*se preocupada, tensa"

Sophie fechou a porta, empurrou a cCmoda contra ela para certificar*se de quenão teria sua pri%acidade in%adida, e la%ou*se como pCde na $gua morna" 5omo poderiale%ar adiante a farsa sendo tão o#%iamente uma mulher6 2ão seria e%idente peloandar, pela maneira de falar, at por como usa%a as roupas masculinas6 Seria e(posta,desmascarada diante de todos os companheiros de erard, e o co#riria de %ergonhapara sempre"

O mingau era horrí%el, mas saciou sua fome" Os rigores do in%erno ha%iamdestruído toda a reser%a de gordura em seu corpo" /spera%a que no alo7amentohou%esse mais comida do que ali, na horrí%el hospedaria, ou perderia ainda mais peso"4recisa%a fortalecer*se e encorpar, ou seria rapidamente desco#erta"

) noite era quente, e o ar da cidade que penetra%a pela pequena 7anela do quartoera pesado e ftido" /la se %irou na cama durante toda a noite, pertur#ada pelo calore pelos sons e cheiros desconhecidos, por sonhos de desco#erta e %ergonha"

2as primeiras horas da manhã, ela foi despertada por gritos de %endedoresam#ulantes anunciando seus #ens" 5ansada, se le%antou, en%ol%eu os seios com %$riascamadas de tiras de tecido e os co#riu com a camisa, que prendeu dentro da cal+a decouro" )s %estes eram desconfort$%eis e opressoras no calor da cidade, mas eraindispens$%el que escondesse os seios para não ser desco#erta" 2ão permitiria que suafeminilidade fosse desco#erta por um erro tão elementar"

O alo7amento fica%a pr:(imo da hospedaria, #em no centro do calor e daimundície da cidade" =uando l$ chegou, caminhando so# o sol forte, Sophie sentia osuor escorrendo pelo pesco+o e ensopando suas roupas"

Homens %estindo uniformes da guarda real anda%am de um lado para o outro,todos enga7ados em tarefas de suprema import<ncia, aparentemente" ) como+ão a

dei(a%a confusa, e ela se sentia perdida e deslocada, sem sa#er para onde ir"L$grimas queima%am seus olhos" erard sa#eria o que fa&er e para onde ir"Mas não esta%a mais ali para a7ud$*la" /sta%a so&inha" 5om toda resolu+ão de que

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era capa&, ela ergueu os om#ros e come+ou a andar em uma dire+ão qualquer,esperando parecer mais confiante do que se sentia"

/la foi detida pelo grito de um mosqueteiro". erard6 erard, %ocê6Sophie parou e %irou o rosto na dire+ão contr$ria @ da %o&, uma rea+ão instinti%a

de medo" ;ma parte crucial de seu plano era e%itar todos os %elhos amigos do irmãopara redu&ir as chances de ser desco#erta"

. O que quer6 . /la fala%a em %o& #ai(a e gra%e, soando impaciente"O mosqueteiro hesitou". erard6 . ) resposta era confusa e magoada" . 4ara onde %ai com tanta

pressa6 2ão tem tempo para cumprimentar um %elho amigo6Sophie e(aminou a aparência do rapa& pelo canto do olhos" /le era mais alto que a

mdia, mais alto que ela, certamente, e tinha om#ros largos como poucos ali" )pesar doporte a%anta7ado, ele usa%a a 7aqueta do uniforme com uma gra+a natural in%e7$%el,

apesar de mancar um pouco" O ca#elo era claro como o trigo nos campos, e as #otas decouro preto que co#riam suas pernas at a metade das co(as #rilha%am pelo polimentocuidadoso" ostaria de sa#er qual dos amigos de erard era esse, mas não tinha meiosde desco#rir sem se e(por ao risco de ser desmascarada por perguntas desca#idas"

=uem quer que fosse, ele certamente seria digno de seu olhar, se algum diati%esse li#erdade para olhar o que quisesse" Sophie cru&ou os #ra+os so#re o peito e#ateu a ponta de um dos ps contra o chão"

. /stou procurando pelo capitão" 4or acaso %ocê o %iu6 O mosqueteiro apontoupara um grupo de edifícios do outro lado do p$tio"

. 2a 8ltima %e& em que o %i, ele esta%a chamando a aten+ão do capitão dainfantaria"

Sem di&er mais nada, Sophie partiu na dire+ão indicada, mas o mosqueteiro aseguiu"

. Lamento so#re a perda que sofreu" Senti muito por não poder a7ud$*lo"Sophie grunhiu uma resposta incompreensí%el" Mesmo depois de tantos meses de

solidão, de ter aprendido a lutar e recuperado a for+a, a perda ainda a atingia comouma faca no peito" 2ão sa#ia se poderia falar sem trair sua emo+ão"

. Sempre sou#e o quanto %ocê e sua irmã eram pr:(imos, como %ocê a ama%a"Seu cora+ão se encheu de orgulho por sa#er que erard fala%a so#re ela,

confidenciando seu amor a um amigo querido" Eoi necess$rio pigarrear %$rias %e&espara limpar a garganta de toda emo+ão antes de poder responder"

. ?ramos gêmeos" !aramente nos separamos um do outro" ?ramos dois, e agorasou um" ? como se parte de mim hou%esse desaparecido"

. >am#m chorei a morte de sua irmã" 0$ esta%a meio apai(onado por ela depoisde ou%ir seus relatos" /spera%a ser seu cunhado a essa altura"""

Lamotte" ? claro, um homem tão #onito s: podia ser Lamotte, o culpado de sua

ruína" /la parou e encarou o inimigo pela primeira %e&". 2ão importa . interrompeu, detendo*o com um gesto imperati%o" . Sophieest$ morta e enterrada, e nada pode tra&ê*la de %olta"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Lamotte a olha%a com espanto genuíno". 2ão mais o homem que eu conheci" . Sua %o& continha grande melancolia" .

) enfermidade o transformou no corpo e na mente". Sou o homem que sempre fui" . Sophie %oltou a andar, tentando não pensar

nos horrores do in%erno passado em uma casa solit$ria e cheirando a morte" Lamotte

prometera a seu irmão que cuidaria dela, mas não cumprira a promessa" 5omo o odia%apor isso" . 2ão tinha tempo para co%ardia e canalhice h$ um ano, e ainda não tenho"Bom dia"

)s pala%ras mal ha%iam dei(ado sua #oca, quando ela sentiu uma repentina eaguda pressão na região do %entre"

O conde, mo%endo*se com %elocidade espantosa, apesar da dificuldade que ofa&ia mancar, pressiona%a a ponta da espada contra o couro de seu colete"

. 2enhum homem me acusa de co%ardia, erard" 2em mesmo %ocê" Onde est$sua espada6

/ntão era isso" Sophie recuou um passo e empunhou a espada" Se esti%esse maiscalma e controlada, não o teria pro%ocado tão prontamente" 2o calor do momento,dei(ara*se dominar pelo :dio contra tudo que ele representa%a, a morte do irmão e aperda da confian+a na humanidade" /squecida de que agora era um homem cu7aspala%ras seriam tomadas por um insulto, cedera @ tenta+ão de desafi$*lo"

)gora lutariam" 2ão tinha ilus1es quanto a sua ha#ilidade com a espada"/mpenhara*se no aprendi&ado solit$rio, mas precisa%a urgentemente de um professore(periente" ) menos que ti%esse sorte, a menos que ele fosse um espadachimdesa7eitado, pro%a%elmente encontraria a morte nos pr:(imos instantes"

2ão tinha medo de morrer pela mão de LamotteA apenas de morrer sem honra"/la se concentrou na espada" Lutaria #em e %ingaria a família, se pudesse" Se não,

pelo menos morreria em pa&, certa de que fi&era o melhor possí%el"Lutaria por erard, ela pensou determinada ao in%estir pela primeira %e& contra

o ad%ers$rio, que se esqui%ou com rapide& impressionante"Lamotte fe& um mo%imento com o corpo e a atacou" Sophie conhecia esse golpe"

Seu irmão ha%ia ensinado a ela o mo%imento quando ainda eram crian+as" /la torceu ocorpo para o lado, e o golpe encontrou apenas o %a&io"

Os dois se mo%imenta%am para frente e para tr$s, atacando e defendendo, oruído do choque entre as espadas atraindo um grande n8mero de curiosos" Sophiearfa%a e sentia o #ra+o que sustenta%a a espada come+ar a doer" Lamotte manca%amais do que nunca, o rosto crispado pela dor, mas ainda nem come+ara a suar"

/la atacou no%amente" Lamotte esqui%ou*se, inclinou*se de#ochado para osespectadores e ergueu o corpo, apontando a espada para Sophie, que nem te%e tempode reagir"

) platia ria" /le ridiculari&a%a sua falta de ha#ilidade diante de todos". / então6 4ronto para engolir a ofensa, rapa&6

)s pala%ras de esc$rnio a le%aram a redo#rar o esfor+o" /le a desafia%a, #rinca%acom ela como um gato #rinca com um rato". 2unca"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Sophie o atacou com f8ria reno%ada, concentrando toda a aten+ão nosmo%imentos do corpo, #uscando identificar pistas do pr:(imo golpe, pequenos sinaisque dariam a ela a %antagem no contra*ataque"

;m dos curiosos gritou uma pala%ra de incenti%o" Lamotte se %irou paraagradecer tocando a a#a do chapu"

Sophie o atacou com precisão e rapide&, e a ponta de sua espada rasgou a partesuperior do #ra+o do conde"

/le prague7ou ao %er o sangue manchando sua 7aqueta, e logo toda a le%e&adesapareceu de seu rosto" ) determina+ão que surgiu em seu lugar despertou nela aprimeira onda de medo" >odos os presentes se calaram, sentindo que a #rincadeirachega%a ao fim"

Lamotte in%estia furioso contra ela, golpe ap:s golpe, empurrando*a contra amuralha do p$tio at não ha%er mais para onde fugir"

/ ele atacou no%amente"

5om a espada erguida para se proteger do golpe, Sophie caiu de costas no chãode terra" ) for+a do impacto arrancou a arma de sua mão, 7ogando*a longe, fora deseu alcance"

/le esta%a em p a seu lado, segurando a espada contra seu pesco+o, com o corpo,#loqueando a lu& do sol" Sophie o encara%a com o cora+ão cheio de :dio, desafiando*o adegol$*la e pCr fim @ disputa"

Os olhos do conde eram cin&entos, frios como o gelo que co#re o solo no in%erno"Erios como a morte que a ronda%a"

. !etire o que disse"/la cuspiu" Sa#ia que esse seria seu 8ltimo gesto em %ida"De%agar, a ponta da espada se afastou de seu pesco+o" Lamotte a de%ol%eu @

#ainha"/spera%a estar com erard no 4araíso em poucos minutos, mas o conde a

desapontara mais uma %e&, pri%ando*a da alegria desse reencontro"/le mantinha a mão estendida em sua dire+ão, mas Sophie preferiu se le%antar

so&inha". 4or que não me mata6/le a encara%a confuso, como se a %isse sem realmente %ê*la". 3ocê não digno do a+o de minha espada" /squeceu tudo que o capitão e eu

ensinamos so#re a arte da luta" 3olte a me insultar quando sou#er enfrentar umaespada com maestria"

Sophie o %iu caminhar mancando para longe dela, #alan+ando a ca#e+a com ummisto de triste&a e incompreensão" O rosto do conde esta%a gra%ado em sua mem:riaAo rosto do falso amigo de seu irmão" Seu pior inimigo" !ecusando*se a mat$*la, ele ainsultara mortalmente" 2ão descansaria enquanto não o matasse"

/la recolheu a espada, limpando*a na cal+a de couro antes de de%ol%ê*la @ #ainha"

O conde conseguira escapar de sua %ingan+a, mas não tinha import<ncia" 2a pr:(ima%e&, não estaria tão despreparada";m homem grandalhão com om#ros largos como uma porta destacou*se do grupo

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

de tal rancor era um mistrio para ele, um ine(plic$%el des%io do destino" S: podiapensar que a doen+a de erard afetara seu raciocínio, alm de a#alar sua for+a físicae a ha#ilidade no manuseio da espada"

/le encolheu os om#ros, retraindo*se ao sentir o local onde a l<mina de erardencontrara sua pele" Mais uma cicatri& para integrar sua crescente cole+ão" )inda não

conseguia acreditar que erard o ha%ia ferido deli#eradamente"4ior ainda, ele o teria matado, se pudesse" 2ão sa#ia por que, mas pretendia

des%endar esse mistrio o quanto antes"/nquanto isso, teria de tomar cuidado" 2ão ha%ia nada mais trai+oeiro, nada mais

digno de medo, do que um amigo que se torna inimigo"

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#ap&t$lo '''

Os dias passa%am numa confusão de cansa+o e dor para Sophie em seu no%o papelde mosqueteiro da guarda real" Diariamente, cumpria seu de%er com pontualidade eafinco, e depois se su#metia ao duro treinamento at quase cair de e(austão" 2o inícioda noite, quando a ca#e+a encontra%a o tra%esseiro e o corpo dolorido rela(a%a so#reo colchão de palha seca, ela adormecia imediatamente"

)gora podia entender #em por que as cartas de erard eram poucas e #re%esdurante o período que ele passara em 4aris, enquanto ela espera%a ansiosamente naspro%íncias por algum sinal de que ele ainda esta%a %i%o e #em" Seu irmão não dispunhade tempo nem energia para escre%er"

/la mesma se surpreendia cada manhã, quando se le%anta%a e conseguia mo%er osm8sculos doloridos e esgotados de seu corpo" Surpreendia*se ainda mais por ter%ontade e determina+ão suficientes para dei(ar a cama e %estir o uniforme"Surpreendia*se por ainda estar %i%a, apesar de toda a puni+ão que infringia a cada diaao po#re corpo mal*tratado"

0$ nem nota%a mais o tamanho do quarto a#afado no s:tão da hospedaria" >odo otempo que passa%a nele, Sophie esta%a dormindo" O mingau ralo ser%ido pelapropriet$ria @ guisa de 7antar quase sempre era dei(ado intocado" 5omia #em @ mesados oficiais, no alo7amento, na hora do almo+o, e @ noite preferia dormir a comer"

radualmente, ela foi sendo transformada pelas dure&as dessa no%a %ida" Osm8sculos de seus #ra+os eram maiores e mais fortes, e 7$ não doíam tanto depois deum longo dia de pr$tica com a espada ou a lan+a" Suas pernas se ha#ituaram @s agrurasde passar o dia todo montada so#re um ca%alo, sustentando o peso das #otas de couroque compunham seu uniforme"

ra+as ao amor pela ca+a e pelos ca%alos, 7$ podia ca%algar melhor do que muitosde seus companheiros, mas sua ha#ilidade com a espada ainda dei(a%a a dese7ar" Seus#ra+os simplesmente não eram fortes o #astante para segurar a espada e lutar pormuito tempo" Depois de um período quase sempre #re%e, seu #ra+o*direito come+a%a a

doer e o oponente aca#a%a por %encê*la, não por ser e(traordinariamente ha#ilidoso,mas pela for+a #ruta superior"/la assistia aos duelos entre os colegas com grande aten+ão" 2enhum era tão

inepto quanto ela, em#ora alguns fossem apenas pouco melhor" )p:s algumas semanasacompanhando cada mo%imento desses em#ates, era for+ada a admitir que, de todoseles, Lamotte era o mais proficiente com a espada" !ecuperado do ferimento queantes o punha em des%antagem, ele dei(ara de mancar e era o mais r$pido, o mais $gile astuto do grupo"

Sophie aprecia%a assistir a essas lutas do conde" /le era tão forte quanto o

ferreiro do %ilare7o onde ha%ia %i%ido com a família, em 5amargue, e tão graciosoquanto um dan+arino" /ra capa& de cortar um poste de madeira ao meio com um golpede sua espada e, no momento seguinte, saltar tão alto quanto um acro#ata da feira que

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

ela tanto apreciara na inf<ncia"Is %e&es, ele parecia ser le%e como uma #or#oleta em pleno %Co, enquanto, em

outros momentos, suas pernas o ancora%am no chão com a solide& de um car%alhocenten$rio"

=uando ele despia a 7aqueta e arrega+a%a as mangas, os m8sculos dos #ra+os

#ron&eados podiam ser %istos ao sol a cada mo%imento de ataque e defesa, e acom#ina+ão de gra+a, for+a e eleg<ncia fa&ia seu cora+ão #ater mais depressa dentrodo peito" Semidesnudo como esta%a, ele parecia um guerreiro antigo, um %ingadorprimiti%o e cruel a cu7a ira ningum poderia so#re%i%er"

Mais uma %e&, ela refletiu so#re a tolice de tê*lo pro%ocado no dia de suachegada" 2ão fosse pelo ferimento anterior, Lamotte a teria su#metido a uma derrotaainda mais humilhante, pior do que 7amais sonhara ser possí%el" 2enhum dos outrosconseguia sequer se apro(imar de sua maestria" 2enhum se iguala%a a ele em%elocidade, e o conde era capa& de desarmar um oponente duas %e&es maior e com o

do#ro de seu peso, tudo com um mo%imento $gil da espada")prenderia com ele, Sophie decidiu um dia, quando se mantinha do lado de fora

da $rea cercada e reser%ada para o treinamento, %endo*o demolir um regimentointeiro de homens, um depois do outro" 4recisa%a aprender tudo que ele tinha paraensinar" 0amais poderia superar seus inimigos em for+a, por isso teria de %encê*losdemonstrando maior agilidade e muita ast8cia"

4ediria ao conde Lamotte para a7ud$*la" 4Cr*se em seu caminho dessa maneiraseria arriscado, mas tinha pouco a perder e muito a ganhar com a con%i%ência" 4arasuperar inimigos e companheiros, teria de aprender com o melhor, e esse homem era,indiscuti%elmente, Lamotte"

)lm do mais, precisa%a aprender todos os seus truques para poder us$*loscontra ele mesmo na pr:(ima luta" osta%a da ideia de aprender tudo que ele tinhapara ensinar, at se sentir capa& de derrot$*lo com suas pr:prias armas" Ha%ia naimagem um certo senso de 7usti+a potica"

5om o passar dos dias, ela se sentia mais e mais confiante em seu papel deerard, menos temerosa quanto @ possi#ilidade de ser desmascarada" )t mesmoLamotte, que ha%ia sido o companheiro mais pr:(imo de seu irmão, não desco#rira queela era uma impostora" >odo o regimento a aceitara" 4ara eles, não ha%ia d8%ida quantoa sua identidade era erard" 0$ nem pensa%a mais no pr:prio se(o como antes, e(cetoquando aperta%a os seios so# aquela horrenda fai(a de tecido, todas as manhãs, equando os li#erta%a, todas as noites"

2ão corria nenhum perigo con%i%endo com Lamotte" )prenderia tudo que pudesseaprender com o inimigo e, se Deus quisesse, um dia usaria esse conhecimentoconquistado com esfor+o e empenho para derrotar o professor" /ntão, seu irmãoestaria %ingado e sua alma poderia descansar em pa&"

Lamotte notou imediatamente a presen+a de erard nos treinos" /le o o#ser%a%acom aten+ão" 4or mais cedo que chegasse ao local da pr$tica, erard esta%a sempre l$,esperando, atento, $%ido como antes, quando chegara em 4aris ainda menino, dois anos

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atr$s"Dessa %e&, porm, Lamotte não se apressou em oferecer seus ser%i+os de tutor

ao %elho amigo" Desde o dia em que erard tentara mat$*lo, os dois passaram a seignorar de uma forma mais ou menos estudada"

anha%a tempo, apenas" Sa#ia que, se o dei(asse so&inho, erard aca#aria indo

procur$*lo" Mais cedo ou mais tarde, desco#riria por que o rapa& p$ssara a odi$*lotanto" /nquanto isso, trataria de proteger sua retaguarda sempre que o e(*amigoesti%esse por perto"

Sua ha#ilidade com a espada ha%ia sido sempre o imã que atraíra erard")parentemente, o magnetismo ainda e(istia com toda sua potência" ) atra+ão aindaesta%a ali, apesar do :dio que infesta%a o cora+ão do rapa& e #rilha%a em seus olhossempre que ele esta%a por perto" Lamotte não ficou surpreso quando erard oprocurou um dia, depois da pr$tica"

/le o encarou com aqueles olhos a&uis e profundos" /ram os olhos de erard,

mas""" 2ão eram". /nsine*me a lutar" . 2ão era um pedido" /ra uma e(igência" >ípico do menino

imaturo que ele ainda era" ;m menino de faces coradas e maneiras estranhas" Seriacapa& de apostar que erard ainda não precisa%a de uma na%alha para manter o quei(oliso e limpo"

/le agarrou a toalha que dei(ara pendurada na cerca e en(ugou o suor do rosto"O clima continua%a quente, e treinar nesse calor era tra#alho duro" ra+as a Deusseus ferimentos esta%am curados e 7$ não o pre7udica%am em sua principal ha#ilidade"Sentia a pele retesada na região atingida, mas não e(perimenta%a mais as doresagudas de antes" S: quando cho%ia" O conde descre%eu mo%imentos circulares com osom#ros, sentindo os m8sculos se distenderem e rela(arem" 5om o tempo recuperariamais da fle(i#ilidade perdida" De%ia ser paciente"

. 4or que eu faria isso6erard encolheu os om#ros e mo%eu os ps, e%itando encar$*lo". 4orque preciso aprender, e %ocê o melhor do alo7amento"Lamotte #e#eu de seu cantil e en(ugou a #oca com o dorso da mão" erard ha%ia

usado e(atamente essas mesmas pala%ras na primeira %e& em que o procurara pedindopara ser ensinado, e tam#m empregara o mesmo tom" 2ão ha%ia lison7a em suaatitude" /le simplesmente afirma%a sua capacidade, constatando*a como um dado derealidade" O conde #alan+ou a ca#e+a" 2ão conseguia entender por que se sentia tãoincomodado na presen+a de erard, mas o companheiro de armas o pertur#a%a"

. 2ão quer me ensinar6 . erard parecia estar mais determinado do quepertur#ado"

>al%e& algumas li+1es dessem a ele o tempo necess$rio para solucionar o mistriopor tr$s da s8#ita mudan+a de atitude do antigo amigo"

. 3amos l$" 4egue a espada" erard a#riu a #oca"

. )gora6. 2enhum momento melhor do que o presente"

. ?""" Suponho que não . ele reconheceu com um le%e tremor" Depois empunhou a

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

espada diante do corpo como se fosse um amuleto contra o mal")p:s alguns minutos de mo%imentos de ataque e defesa, Lamotte 7ogou a espada

para cima e a pegou no ar"2ão conseguia acreditar em como a ha#ilidade de erard com a espada

desaparecera em apenas seis meses"

. /squeceu tudo que aprendeu comigo6 . ele perguntou estupefato quandoerard não conseguiu se defender do mais simples dos golpes"

/le trope+ou nos pr:prios ps e prague7ou em %o& #ai(a". /sti%e doente" Sou um so#re%i%ente da praga" ) desculpa não fa&ia sentido". ) praga não afeta o cre#ro" 2em o #ra+o utili&ado para segurar a espada"erard sua%a muito e parecia cansado". ) enfermidade me enfraqueceu muito" 2ão sou mais forte como antes"Lamotte riu". 3ocê nunca teria sido o homem mais forte na disputa da feira"

erard não parecia ofendido com a piada". 4reciso aprender a compensar essa falta de for+a" ? isso que quero que me

ensine". ) espada não depende de for+a" Depende mais de %elocidade e agilidade, e da

capacidade de ler a mente do oponente para antecipar o pr:(imo golpe e esqui%ar*se"erard esta%a intrigado, como se nunca hou%esse escutado nada parecido antes,

em#ora hou%esse repetido a mesma coisa centenas de %e&es no período em que oti%era como aprendi&"

. 5omo posso conseguir isso6

. Mantenha os olhos no oponente" 2unca des%ie o olhar nem por um segundo, ou""". /le olhou para a cicatri& %ermelha em seu #ra+o esquerdo" . 3ai ter de su#meter*se ao doloroso procedimento de costurar carne e pele"

erard corou como uma garota e parecia en%ergonhado"Lamotte sentiu uma certa satisfa+ão ao testemunhar o constrangimento do

mosqueteiro" ) ferida ha%ia doído muito, especialmente no momento em que ocirurgião a suturara com seus dedos desa7eitados"

. O#ser%e os olhos do ad%ers$rio" /les são como espelhos da alma refletindocada pensamento"

>eriam de %oltar ao #$sico, Lamotte decidiu, porque erard trope+ou no%amentee dei(ou cair a espada" 5ome+aria do primeiro passo e ensinaria o rapa& a lutar comoum %erdadeiro mosqueteiro""" outra %e&"

Durante uma hora, o treinamento prosseguiu sem descanso" )tacar, defender,atacar, defender""" erard foi for+ado a praticar o primeiro mo%imento centenas de%e&es, at e(ecut$*lo com perfei+ão" Depois, Lamotte o fe& repeti*lo at adquirirrapide&" S: quando o rapa& demonstrou precisão cir8rgica e %elocidade lampe7ante, eleo dei(ou largar a espada para descansar"

erard não emitira uma 8nica quei(a nem pedira para parar ou repousar, mas erapossí%el perce#er que ele esta%a @ #eira da e(austão" ) praga podia tê*lo modificadode muitas maneiras, mas não alterara sua for+a de %ontade nem sua <nsia de sucesso"

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. Se continuar praticando com esse empenho, logo aprender$ a lutar no%amente"erard esta%a tão ofegante que mal conseguia falar". Bom""". /spero que não esque+a tudo outra %e&". 2unca mais esquecerei uma 8nica li+ão"

Lamotte o fitou curioso" erard era apenas alguns poucos anos mais 7o%em queele, mas, recentemente, essa diferen+a se tornara quase um a#ismo a separ$*los"

. 4or que quer tanto lutar6Hou%e um tempo em que acreditara sa#er, mas agora não tinha mais certe&a de

nada"erard pegou o cantil que le%a%a preso @ cintura e sor%eu %$rios goles de $gua". =ue homem não quer6. 4ara poder me insultar no%amente com seguran+a6. ? claro"

/ra impossí%el determinar se erard fala%a srio ou fa&ia uma piada". 2aquele dia teria me matado". Sim"2ão ha%ia arrependimento em sua %o&" /le não se desculpa%a" )penas admitia um

fato". 4or que me odeia tanto6 . ) questão o incomoda%a h$ algum tempo" . 4or que

tentou me matar6erard a#ai(ou*se e passou a mão su7a pela testa suada, dei(ando nela rastros

de terra". 4orque %ocê est$ %i%o"2ão fa&ia sentido". 4orque estou %i%o6 O que quer di&er6. 3ocê est$ %i%o, e meu ir""" >odas as pessoas que amei estão mortas"/le não entendia" ) morte da irmã ha%ia enlouquecido erard6 Sua dor ha%ia sido

intensa a ponto de arruinar*lhe o 7uí&o6. >odos que ama%a6 3ocê en%iou notícias so#re a doen+a de sua irmã, mas

relatou que todos os outros moradores da casa esta%am #em". Sophie foi a primeira a adoecer" /la le%ou a praga @ nossa casa" . Os olhos

dele #rilha%am pelas l$grimas, e a %o& soa%a em#argada" . ;m a um, todos foramadoecendo depois dela" ;m a um, todos morreram" Minha mãe" Meu pai" >odos" Minhairmã foi a 8ltima a morrer"

)s pala%ras penetraram fundo no cora+ão de Lamotte" 5ompreendia agora porque erard ha%ia perdido a le%e&a de espírito e a atitude amistosa"

. /u não sa#ia" Sinto muito por isso")gora ele olha%a para o chão" / fala%a depressa, como se as pala%ras queimassem

sua garganta"

. /u os enterrei so&inho" >odos" / os criados foram para uma %ala comum"5orpos e mais corpos empilhados at não ha%er mais nenhum espa+o naquele maldito#uraco" Depois os co#ri com terra" . L$grimas la%a%am seu rosto" . >odos morreram"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

)t a pessoa com quem pensa%a me casar"O que Lamotte poderia di&er6 2enhuma pala%ra seria adequada para e(pressar a

compai(ão pelo amigo ou sua solidariedade diante do relato de horrores por eletestemunhados"

. /u tentei ir a7ud$*lo"

erard le%antou a ca#e+a, secou o rosto com as mãos su7as e fe& um esfor+o%isí%el para recuperar o controle so#re suas emo+1es"

. Homens melhores que %ocê temem a praga"

. 2ão foi a praga que me dete%e" . Lamotte a#ai(ou*se ao lado do %elho amigo ea#riu a camisa, re%elando a cicatri& que marca%a sua pele desde o peito at a cintura"O local ainda esta%a %ermelho, inflamado, e a sutura repu(a%a a pele de maneirafuriosa, afliti%a" . Eoi isto aqui"

Sophie sentiu o estCmago protestar diante da %isão da horrí%el cicatri&"5omparado @quilo, o corte que causara com sua espada era apenas um arranhão sem

nenhuma import<ncia" /ra como se ele hou%esse sido atacado e rasgado por umamatilha de lo#os famintos" )quela horrí%el marca não podia ter sido causada por umasimples espada" /la estendeu a mão e tocou a região %ermelha com a ponta dos dedos"

. O que foi isso6

. ;m golpe de forcado"Sophie limpou o rosto com a manga da camisa" Sa#ia que homens e soldados não

chora%am, mas não pudera conter as l$grimas" Manti%era a dor engarrafada dentrodela por tanto tempo que não conseguira impedi*la de trans#ordar numa torrentedepois de a#erta a primeira pequena #recha"

. 5omo"",6

. )s estradas para o 5amargue esta%am #loqueadas, e os ha#itantes nãodei(a%am ningum passar, nem para entrar, nem para sair de l$" >emiam que a praga sedisseminasse" Sei como ama%a sua irmã, e le%a%a comigo um medicamento, uma po+ãoque o mdico do rei garantiu ser eficiente contra a praga"

L$grimas encheram os olhos de Sophie no%amente" 4ensa%a na horrí%el morte doirmão e em como ela poderia ter sido facilmente e%itada, se as coisas hou%essemacontecido de outra maneira"

. >entou""" le%ar o remdio at n:s6

. Sim, mas fui detido por um grupo de camponeses quando me apro(ima%a de4ro%ence" /les não deram ou%idos @s minhas s8plicas" 2ão me dei(aram passar e seguir%iagem" =ueriam sa#er por que eu %ia7a%a em momento tão impr:prio" Do que eu fugia"/(igiam que eu re%elasse com que doen+a Deus me ha%ia amaldi+oado" 2ão acreditaramquando e(pliquei que ha%ia saído de um lugar li%re de enfermidades" Du%ida%am de queum medicamento feito pelo homem pudesse ser mais forte do que a praga" /sta%amenlouquecidos pelo medo" >entei correr, romper aquela #arreira humana, mas eleseram muitos" )garraram*me e me derru#aram do ca%alo" >i%e sorte por so#re%i%er" .

/le dei(ou escapar uma gargalhada amarga" . 2aquele momento, ti%e certe&a de quemorreria". !ecuperou*se #em" . /ra impossí%el #anir da %o& o ressentimento" Lamotte

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esta%a %i%o, apesar de tudo, enquanto todas as pessoas que ela ama%a""". ;m sacerdote encontrou*me e cuidou de mim" )pesar de seu empenho, a ferida

infeccionou, e passei #oa parte do in%erno doente, com fe#re alta e constante" Mesmoem meus momentos de lucide&, não conseguia me le%antar da cama" >entei encontrarum mensageiro que pudesse le%ar o medicamento at sua casa, para sua irmã, mas

todos me 7ulga%am louco, acha%am que eu delira%a em conseqGência da fe#re" Dequalquer maneira, nenhum deles se arriscaria a %ia7ar no meio do in%erno a uma casainfestada pela praga" =uando me recuperei o suficiente para %ia7ar, fui informado deque Sophie ha%ia morrido e %ocê %ia7a%a de %olta para reintegrar*se ao regimento"

Sophie encolheu*se no chão de terra, com o cora+ão doendo por tudo que ha%iaenfrentado, afogando*se na culpa pro%ocada pelo que aca#ara de ou%ir" /rrara ao 7ulgar Lamotte, e ainda plane7ara assassin$*lo enquanto, durante todo o tempo, elearriscara a pr:pria %ida para sal%$*la" / teria sal%ado erard, tam#m, se pudesse"2ão os a#andonara no momento de necessidade, como ela ha%ia acreditado por tantos

meses"/la se le%antou cam#aleante para tentar reparar os erros da melhor maneira

possí%el". 4e+o desculpas pela maneira como agi ao re%ê*lo" /sta%a muito pertur#ado"

0ulga%a que hou%esse ignorado meu pedido de a7uda por medo""" . /la pigarreou paralimpar a garganta" )s pala%ras pareciam parar numa #arreira in%isí%el e retornar aopeito, amea+ando sufoc$*la" /ra preciso grande esfor+o para %er#ali&$*las" . !etirotudo o que disse" 5ompreendo que não tinha ra&ão para acus$*lo de co%ardia" Lamotteinclinou a ca#e+a"

. /st$ desculpado"/la guardou a espada com mão trêmula". )grade+o pela aula" . /sta%a tão acostumada a %ê*lo como o inimigo, que não

sa#ia como lidar com essa s8#ita mudan+a" ) sede de %ingan+a ha%ia sido fonte defor+a quando nem mesmo o dese7o de preser%a+ão da honra a teria mantido em p"4erder essa for+a propulsora tão repentinamente a dei(a%a com uma incCmodasensa+ão de estar perdida, so&inha"

4recisa%a acreditar nele" O corpo de Lamotte não podia mentir" 3ira a ferida eat chegara a toc$*la" / o conde fora ferido por ela" =uase morrera tentando sal%$*la"

>inha muito em que pensar agora, mais do que 7amais imaginara ser possí%el"=ueria ficar so&inha e dedicar*se inteiramente a esses pensamentos"

4odia sentir os olhos dele enquanto se afasta%a com passos trCpegos, cansados". 3olte amanhã . Lamotte sugeriu"/la acenou concordando" /staria pronta para outra li+ão ao amanhecer, em#ora 7$

não mais dese7asse usar esse conhecimento contra o professor" 5ontinuariaaprendendo e se aperfei+oando para co#rir de honra o nome de erard"

Seu irmão esti%era certo" Lamotte não era um co%arde"

/ra um homem honrado e merecia todo seu respeito" =uase morrera na tentati%ade le%ar at ela o medicamento tão necess$rio" 2ão tentaria mat$*lo" 2ão mais"Mesmo assim, não podia permitir que ele se apro(imasse" Somente guardando

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uma dist<ncia prudente dos companheiros poderia proteger seu segredo" )prenderiacom Lamotte, mas, mesmo assim, teria de e%itar sua ami&ade, como e%itaria tam#m aami&ade de todos os outros mosqueteiros"

0amais seria uma #oa companheira como erard fora para ele") ideia a a#orrecia muito, mesmo sa#endo de sua necessidade" /le era um homem

honrado, o melhor espadachim que 7amais conhecera" >eria apreciado apro(imar*se doconde, compartilhar com ele medos e esperan+as, tornar*se parte de sua %ida"

)gora entendia por que erard o escolhera para ser seu marido" 2uma precer$pida e silenciosa, ela pediu desculpas @ alma do irmão por ter du%idado de suasa#edoria" erard a conhecia melhor do que ela mesma" Eora capa& de escolher paraela um homem que poderia amar e respeitar" Lamotte era melhor do que 0ean*Luc 7amais teria sido" /ra um falcão, um predador furioso, enquanto 0ean*Luc ti%era anature&a doce e #ondosa de um pardal" ) esposa de Lamotte, quem quer que fosse,seria a#en+oada por um marido cora7oso e leal"

) %ida como homem da%a a ela a li#erdade para fa&er tudo que quisesse, elapensou deitada na cama estreita e dura, mas a afasta%a do resto do mundo" 2ão podiaconfiar em ningum, homem ou mulher, pois ningum 7amais poderia conhecer seusegredo" 2unca antes se sentira tão so&inha" )t a am#i+ão de honrar a famíliatorna%a*se um conforto frio e insuficiente no silêncio da noite, quando todas as outraspessoas dormiam nos #ra+os daqueles que ama%am" S: ela esta%a acordada e so&inha"

Henrietta acordou assustada ao ou%ir as #atidas fracas na porta do quarto"!ecolhera*se h$ algum tempo e 7$ come+a%a a pegar no sono" /la se %irou e pu(ou oco#ertor at o quei(o" >al%e&, se ignorasse o chamado, pudesse se li%rar do intruso"Mas, quem quer que esti%esse do outro lado da porta, não ia em#ora" 4elo contr$rio, as#atidas soaram mais fortes*"

/la se sentou e afastou um pouco as cortinas que cerca%am a cama, resignadacom a irritante ine%ita#ilidade de ser acordada"

. O que quer6) criada a#riu a porta e espiou pela fresta". >em um %isitante, minha senhora"Henrietta olhou sria para a criada" ) 7o%em nunca fora #rilhante, mas tam#m

não era tão o#tusa assim". 2o meio da noite6 /u esta%a dormindo- 2ão estou em condi+1es de rece#er

ningum" Diga que não estou". Mas, senhora""". 2ada de mais" Se7a quem for, mande em#ora" ) criada esta%a ficando

apa%orada". 4or fa%or, senhora- O %isitante a que me refiro o rei-

Henrietta prague7ou em %o& #ai(a" /m inglês" 2os aposentos min8sculos eapertados do pal$cio em Saint*ermain*en*Laye, ha%ia sempre algum ou%indo o queera dito"

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) criada a encara%a apa%orada, e seu rosto p$lido suplica%a para não ser o#rigadaa mentir para o rei" /le poderia chicote$*la at a morte por muito menos"

Henrietta suspirou" osta%a muito da 7o%em" 2ão daria ao rei ra&1es para puni*la". Mande*o entrar") 7o%em sorriu ali%iada e se apressou em cumprir a ordem"

Henrietta a7eitou os ca#elos e pu(ou o co#ertor contra o corpo" 2ão era aprimeira %e& que dese7a%a que o irmão de seu marido não fosse o rei da Eran+a" 2ãoseria político ofender o rei, por mais que se sentisse tentada"

) porta do quarto se a#riu e o rei Luís F3 entrou %estindo um ro#e %ermelhoamarrado na cintura por uma fai(a frou(a, uma concessão ao di<metro a%anta7adodessa mesma cintura, e com uma touca de pele co#rindo a ca#e+a sem peruca"

/le fe& um gesto para a 7o%em pa7em, que a#riu as cortinas em torno da cama"Henrietta inclinou a ca#e+a em sinal de respeito, estremecendo ao sentir o ar

frio em contato com os om#ros"

. Ma7estade"""

. 4ode me chamar de Luís . ele concedeu com um sorriso #ene%olente, como seconferisse a ela a maior honra possí%el na terra" De fato, ele de%ia achar que era,Henrietta concluiu com desgosto" Luís F3 aprecia%a tanto a pompa e a circunst<ncia,que sugerir um tratamento tão informal, sem o uso o#rigat:rio do título real, eraquase um sinal de grande amor"

/ o grande amor do rei era algo que ela preferia não ter". ? uma grande honra, senhor"O rei le%ou a mão dela @ #oca para um #ei7o molhado". Se o mundo todo %iesse prestar*lhe homenagens, doce Henrietta, ainda não

teria a honra que merece"/la remo%eu a mão e a escondeu so# a co#erta". 5onfio que meu marido este7a #em, senhor" . >al%e& ele precisasse de uma

lem#ran+a" )final, eram cunhados- /la se casara com o irmão mais no%o do rei"Luís F3 sentou*se na #eirada da cama com um certo ar de complacência digna". Seu senhor esta%a perfeitamente #em na 8ltima %e& em que o %i" 5ercado por

um #ando de garotos fascinados" Sa#e como ele aprecia tudo isso" . /le a fita%a comolhos cheios de dese7o" . Sei que meu irmão não um marido apropriado para %ocê,Henrietta"

/la se conte%e antes de comentar que o pr:prio rei ha%ia arran7ado o matrimCnio,mesmo tendo conhecimento da preferência do irmão por aqueles de seu se(o"

. osto muito de meu marido"

. /ntão, suponho que não este7a sendo infiel com um de seus amigos" Ou estaria6O marquês de >or#ay, por e(emplo6 Ou o conde de uiche6

Henrietta sentiu o sangue escapar*lhe das faces" /la e o conde eram tãocuidadosos- )credita%am guardar a secreta liga+ão em segredo, protegida da maldade

de todos que os cerca%am na corte" )lgum de%ia tê*los %isto 7untos e correra acontar tudo ao rei". Meu senhor o incum#iu de questionar*me6 . O pa%or pela seguran+a do

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amante a torna%a ainda mais firme e alti%a" . 2ão seria mais con%eniente que elemesmo %iesse me procurar e manifestar sua preocupa+ão nesse sentido6 )final, s:meu marido pode questionar minha fidelidade de esposa" O rei riu"

. 4refiro não pensar que concede li%remente ao conde o que insiste em negar aseu rei" . )s pala%ras soaram como um a%iso"

=uantas %e&es teria de repetir a mesma coisa6 Luís F3 nunca aceitaria suarecusa6

. 2ada nego a meu rei que me perten+a legalmente"

. !ecusa*me seu amor, que eu, seu rei, tantas %e&es implorei para ter, mesmosa#endo que humilhante para um so#erano de meu porte suplicar por alguma coisa"

/la 7amais poderia dar a ele seu amor, mesmo que fosse li%re para tal" O conde deuiche conquistara seu cora+ão, e nenhum gesto ou pala%ra do rei a demo%eria desseprofundo sentimento"

. Meu amor 7$ pertence a outro, senhor" Meu marido"

. )h- 2ão de%e nada a esse marido que tem- !ecusa*me seus #ei7os e a %isão deseu corpo nu, nega*me o pra&er de deitar*me em sua cama" >ais coisas nada custariama %ocê, se não um mínimo de complacência, e me fariam o mais feli& dos homens"

Henrietta estremeceu ao pensar no corpo do rei so#re o dela, era seus l$#iosgrossos e pega7osos #ei7ando seu rosto, seu pesco+o e seus seios" Seria preferí%elmorrer a su#meter*se a seus a#ra+os"

. 2ão posso lhe dar tais coisas" Sou sua cunhada, e deitar*me com meu rei seriapecado mortal" 2ão tem o direito de me pedir tanto"

/le se le%antou furioso". >enho o direito di%ino de um rei- 4osso pedir qualquer coisa, tudo que dese7ar"

/ se %ocê se recusa a atender*me, nega*se a acatar os ditames de um mensageiro deDeus na terra- !ecusar meu pedido cometer não apenas trai+ão contra seugo%ernante, mas #lasfêmia contra o pr:prio Deus-

Se ele não fosse o rei da Eran+a e o go%ernante da maior parte do territ:riocristão, ela o chamaria de %elho tolo"

. Sou temente a Deus e leal a meu marido, como a gre7a me ensina a fa&er"/le riu no%amente, uma gargalhada feia, o#scena". 2ão de%e lealdade a seu marido" /le nem a procura- /st$ ocupado demais com

seus rapa&inhos para se lem#rar de %ocê"/ram pala%ras %erdadeiras" Se dependesse do marido para deflor$*la, ainda seria

%irgem" Mesmo assim, casara*se com um homem que era #om e generoso, que aprotegia daqueles na corte que dese7a%am seu mal e o de seu irmão, o rei 5harles da nglaterra" )ma%a o marido como amigo, mesmo sa#endo que ele 7amais seria seumarido de fato, realmente"

. Meu marido o que " 2ão o 7ulgo por isso" O rei apro(imou*se dela"

. /u lhe daria honra e rique&a que meu irmão 4hilippe 7amais poder$ oferecer"

3estiria*se com seda p8rpura real e %i%eria co#erta de ru#is e safiras"/la não usa%a nem a metade dos %estidos e das 7:ias que 7$ possuía" O marido eracapa& de grande generosidade, especialmente quando não tinha nenhum rapa& especial

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so#re quem derramar suas aten+1es e seus presentes". ) maior honra que uma mulher pode possuir uma #oa reputa+ão". /u a tomaria por minha principal amante" 2ingum 7amais ousaria di&er uma s:

pala%ra contra sua reputa+ão"Seu h$lito era ftido, e os dentes amarelados atesta%am e(cessos de nature&a

%ariada" Henrietta tentou afastar*se". Minha consciência não estaria satisfeita" 2ão poderia ter pa& sa#endo que

cometi um pecado tão terrí%el". !ecusa*me mais uma %e&6 /la ficou em silêncio". )ceita ser minha amante6. 2ão, senhor" 2ão posso" /le a encarou furioso". O conde de uiche estar$ na Bastilha antes do amanhecer"Henrietta decidiu ser ousada" Se o rei tinha pro%as de sua liga+ão com o conde,

 7$ de%ia tê*lo 7ogado na Bastilha ou programado sua decapita+ão"

. 4ouco me importa, senhor" /sse homem nada representa para mim"Luís F3 tinha o rosto %ermelho pelo esfor+o de conter a f8ria". Sou um homem paciente" 3ocê tem um mês para reconsiderar essa tolice" Se,

ainda assim, insistir em re7eitar seu rei, 7uro que %i%er$ o suficiente para lamentar suao#stina+ão" 2em mesmo seu marido poder$ sal%$*la de minha ira"

 

>rês semanas de aulas" >rês semanas nas quais Sophie se le%antara antes doamanhecer para praticar cada mo%imento at poder correr três passos em alta%elocidade, saltar no ar e atingir uma pequena lagarta na parede com precisão e sementortar a ponta da espada"

Lamotte a treina%a com determina+ão e sem piedade, e ela enfrenta%a o desafiocomo podia" Ea&ia o melhor por ele" a alm dos limites" Durante horas todos os dias,ela o#ser%a%a cada mo%imento do corpo esguio e forte, repetindo*os da melhormaneira possí%el" 5onhecia o corpo de Lamotte quase melhor do que o delaA podia %ercada marca ou cicatri& em seus #ra+os e no pesco+o, mesmo com os olhos fechados"

>odos os dias ela treina%a com o conde at a e(austão, e todas as noites sonha%aestar treinando com ele no%amente" Dia ou noite, dormindo ou acordada, ele aacompanha%a" 3i%ia apenas para sua apro%a+ão e pelo casual mo%imento de ca#e+a quere%ela%a, mais do que todas as pala%ras, que ela progredia a contento"

) aten+ão o#sessi%a @s aulas rendia #ons frutos" 0$ podia enfrentar com sucessoa maioria dos companheiros" Seria sempre melhor com o arco ou com uma faca, porquecom essas armas a tcnica %alia mais do que a for+a, mas não era mais uma imprest$%elcom a espada" )t D')rtagnan notara a diferen+a e elogiara seu progresso,comentando que esta%a feli& por %er que erard não luta%a mais como uma garota do

campo""erard ficaria orgulhoso se a %isse agora, Sophie pensou ao arrancar a espada damão do oponente, rindo de sua e(pressão de choque e surpresa" Seu irmão sempre

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di&ia que ela poderia fa&er tudo e qualquer coisa, se assim decidisse" /sta%a pro%andoque ele não errara"

Seu oponente, um toscano rui%o muito simp$tico chamado 4ierre, le%antou as duasmãos num gesto de rendi+ão"

. Maldi+ão, erard, de%e estar praticando como um lun$tico- 2ingum mais

consegue %encê*lo-/la olhou de soslaio para Lamotte, que a o#ser%a%a de um canto som#rio do p$tio"

Sem d8%ida, ele faria uma d8&ia de críticas a seu estilo nas aulas da manhã seguinte,mas não se preocuparia com isso agora" 3encera 4ierre em uma luta limpa, e a sensa+ãoera mara%ilhosa"

Sophie inspecionou a l<mina da espada #uscando identificar ranhuras" 2ão ha%ianenhuma, e ela a limpou cuidadosamente com um pano macio em#e#ido em :leo, comoLamotte ha%ia ensinado que de%eria fa&er antes de guardar a espada"

. >enho praticado com Lamotte"

4raticar era uma pala%ra amena demais para descre%er o que fa&iam todos osdias" /le a le%a%a ao esgotamento, mas com um sucesso tão a#soluto que, pela primeira%e&, Sophie ha%ia desarmado um companheiro" )legre com a %it:ria, esqueciatemporariamente todas as pala%ras ríspidas com que ele a pro%oca%a nos treinos"

4ierre limpou a l<mina da espada na camisa, de%ol%endo*a a #ainha com ummo%imento gracioso"

. )h, então esse seu segredo" O homem o pr:prio demCnio com a espada->al%e& de%a procur$*lo para treinar um pouco antes de enfrent$*lo no%amente"

O #om humor de 4ierre era contagiante" Sophie #ai(ou a guarda e sorriu, o queera incomum"

. ) sorte fa%oreceu*me ho7e, s: isso" 4ierre 7ogou a 7aqueta so#re um om#ro"

. ) sorte e muita pr$tica" 3ou %er se encontro uma #e#ida mais forte do queessa cer%e7a aguada que temos por aqui" )lgum me acompanha6

Sophie hesitou, di%idida entre o dese7o de ter companhia e a sempre presentenecessidade de manter dist<ncia e cautela" /la olhou no%amente para Lamotte,esperando que ele a chamasse, agora que o em#ate chegara ao fim, mas o conde se%irara de costas" /la suspirou desapontada"

. 3amos, Delamanse" >ra#alhar demais sem nenhum la&er s: ser%e para le%ar*nos ao tdio e @ infelicidade" / %ocê tem tra#alhado muito" De%e estar precisando deum drinque"

4odia %oltar ao seu min8sculo quarto e comer aquele mingau aguado no 7antar, mascom seguran+a e prote+ão, ou podia aceitar o con%ite de 4ierre e desfrutar decompanhia di%ertida e simples" 4ierre era no%o no grupo e não representa%a perigopara sua farsa" /le não chegara a conhecer erard"

Sophie olhou para um lado" Lamotte ha%ia desaparecido nas som#ras alm doslimites do p$tio" /ra in8til ficar ali na esperan+a de prolongar a aula do dia" 2ão queria

a#usar de sua #oa %ontade" ;ltimamente, ele dedica%a todo seu tempo li%re a trein$*la"Sentia que 7amais se cansaria de sua companhia, mas não queria que ele sefartasse dela" ) ami&ade de Lamotte, oferecida de maneira tão casual e rece#ida com

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tanta gratidão, ameni&ara sua solidão" /le a fa&ia sentir como se pertencesse a umaparte de seu mundo, como se nunca mais ti%esse de ficar so&inha"

O dese7o por companhia decidiu por ela". 3amos l$"2ão podia contar com a presen+a constante de Lamotte" 4recisa%a encontrar um

lugar para si mesma no mundo que ha%ia escolhido" ;m drinque na ta%erna com o alegre4ierre seria um #om come+o" /spera%a apenas não se arrepender dessa decisão"

) ta%erna esta%a lotada de soldados de todos os tipos" Sophie reconheceu algunsdeles do regimento, mas a maioria era estranha para ela"

4ierre foi a#rindo caminho at o #alcão, respondendo com um sorriso agrad$%el atodos que reclama%am de seus coto%elos poderosos" )o ta%erneiro, ele pediu caldo e%inho do 4orto para os dois"

Sentaram*se em #ancos de madeira colocados em torno de uma %elha mesa em umcanto, longe da multidão"

Lamotte, ela notou, apareceu pouco depois de terem se acomodado" /la e%itouencar$*lo, mas o conde não se 7untou aos dois, para seu alí%io e um certodesapontamento, preferindo reunir*se a um grupo mais quieto do outro lado da sala"

/le a pertur#a%a e a punha em guarda mais do que todos os outros no regimento,em#ora apreciasse sua companhia mais do que a de qualquer outro, tam#m" Mas nãoqueria que ele pensasse ser seu 8nico amigo" )lm do mais, esta noite esta%a cansada,e a camaradagem de 4ierre era mais simples de aceitar"

Sophie tomou com pra&er o sa#oroso e denso caldo de carne, mas sor%eu apenasum pequeno gole da #e#ida" 2unca tocara nada mais forte que cer%e7a caseira antes"/m sua situa+ão, e com Lamotte e os outros que ha%iam conhecido seu irmão e agora acerca%am, #e#er era perigoso demais" 4recisa%a preser%ar a capacidade de raciocínio"

4ierre esta%a rela(ado" )ntes mesmo de es%a&iar o prato, ele 7$ ha%ia #e#idotoda a cer%e7a amarga e forte e pedia outra caneca" ) #e#ida o fa&ia ainda maisalegre, e em pouco tempo Sophie se desco#riu gargalhando como não fa&ia h$ muitotempo" 2ão go&a%a de companhia para fa&er uma refei+ão h$ mais tempo do queousa%a determinar"

4odia sentir o olhar de Lamotte, e não resistia a retri#uí*lo esporadicamente,em#ora sempre de soslaio" /le não parecia estar se di%ertindo" 5omia de%agar e tinhauma e(pressão som#ria no rosto" ) cer%e7a s: aprofunda%a a ruga em sua testa"

O que poderia incomod$*lo a ponto de torn$*lo tão carrancudo em uma noiteagrad$%el como aquela6

/la 7$ limpa%a o prato com um peda+o de pão, quando uma criada com aparênciacansada e ar entediado apro(imou*se da mesa com a caneca de cer%e7a solicitada por4ierre" /le a es%a&iou imediatamente"

. ) sua sa8de, meu #em . disse, le%antando a caneca na dire+ão da 7o%em"Os companheiros na mesa %i&inha eram menos polidos" ;m deles, um su7eito

encorpado e %alentão com mãos do tamanho de p$s, passou um #ra+o em torno dacintura da criada da ta%erna, pu(ando*a so#re os 7oelhos"Sophie le%antou a ca#e+a ao ou%ir o grito ultra7ado da 7o%em" Segurando 7arras e

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pratos acima da ca#e+a, ela tenta%a se le%antar sem derru#ar nada" 4orm, com asmãos ocupadas, ela não tinha for+a nem equilí#rio para isso"

O dono da ta%erna passou pela mesa carregando uma #ande7a cheia de tra%essase pratos fumegantes" /le nem tentou li#ertar a criada"

. 2ão derru#e nada, menina, ou %ou descontar o pre+o do que for perdido do seu

pagamento"O %alentão fardado ria dos gritos da 7o%em, que pedia socorro, e agarrou um de

seus seios com dedos atre%idos, insolentes" Sophie esta%a perto o #astante para %eras l$grimas de pa%or e humilha+ão nos olhos da 7o%em, que luta%a pela li#erdade"

Sem pensar no que fa&ia, ela se le%antou e sacou a espada" )lguns passos r$pidos,e esta%a ao lado do grandalhão, encostando a ponta da l<mina em seu pesco+o" ) %o&era #ai(a e amea+adora quando ela rosnou #em perto de seu ou%ido

. Solte a mo+a"/le olhou em %olta numa rea+ão surpresa típica de um homem em#riagado"

. /st$ falando comigo6Sophie pressionou a l<mina contra seu pesco+o com um pouco mais de for+a, e

uma gota de sangue manchou de %ermelho o colarinho da camisa do molestador" /la nãotinha paciência para co%ardes que assedia%am pessoas mais fracas e indefesas"

. Solte a mo+a"/le rosnou furioso ao sentir a dor" /m#riagado e humilhado, soltou a 7o%em que

correu para longe do confronto em #usca de seguran+a". 3ou rasgar %ocê ao meio por ter me amea+ado, seu filho de uma meretri&-

So#re%i%ente da praga- /mpestado-/le era mais alto que uma montanha e aparentemente tão s:lido quanto uma"

Desanimada com a constata+ão, Sophie trocou a espada afiadíssima por sua adagaigualmente mortal" /sta%a em guarda, com a arma pronta, desafiando*o a e(ecutar aamea+a"

4or maior que fosse esse homem, ela era mais $gil do que ele 7amais poderia ser,e o %inho que ele consumira misturado @ cer%e7a o torna%a ainda mais lento"

5om um rugido de f8ria que ecoou por todo o salão, o %alentão empunhou a espadae desferiu um golpe %iolento em sua dire+ão, feli&mente para Sophie, e(i#indo maisentusiasmo do que precisão" =uase nem foi necess$rio girar o corpo para escapar dal<mina, que acertou um #anco e o destruiu"

O esca#roso propriet$rio da ta%erna surgiu do nada, aparentando ner%osismodiante do dano causado a sua preciosa propriedade"

. Meu #anco- . ele gritou angustiado" . 5a%alheiros, #ai(em as armas-Sophie ignorou o pedido, como o homem tam#m ha%ia ignorado o pedido de

socorro da 7o%em criada" /le merecia ter todo o esta#elecimento que#rado comocastigo pela crueldade mercen$ria com que tratara aquela po#re mo+a"

>oda a aten+ão de Sophie se %olta%a para o caos que ela mesma criara" 2ão

dese7a%a matar ou ferir o %alentão, apenas ensin$*lo a não se meter com mulheresindefesas que não se interessa%am por seu assdio" 5om um r$pido giro de pulso, elacortou os la+os que sustenta%am a cal+a do homem" )tr$s dela, 4ierre gargalhou ao %er

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o grandalhão com a cal+a caída"O ar frio em suas partes #ai(as ser%iu para de%ol%er*lhe a so#riedade" 5om um

som desarticulado de f8ria, ele segurou a cal+a com uma das mãos e in%estiu contra elamais uma %e&, os olhos re%elando uma determina+ão quase assassina"

4elo canto do olho, Sophie constatou que Lamotte a o#ser%a%a no%amente" /ra

hora de demonstrar como esti%era atenta nas li+1es" irando so#re os calcanhares, elasaltou so#re a mesa atr$s do grandalhão, posicionou a ponta da espada nas costas da 7aqueta e rasgou*a ao meio"

)s duas metades da 7aqueta caíram de seus om#ros, desli&ando pelos #ra+os,pre7udicando os mo%imentos" )inda assim, ele persistiu no ataque, lan+ando*se contraa multidão com a cal+a em uma das mãos e a espada na outra, a mente focada na%ingan+a, atacando tudo e todos que encontra%a pelo caminho"

Os companheiros #rios do grandalhão riam muito, mas foram recuperando aseriedade e perdendo o #om humor ao notarem que todo o empenho do homem era

in8til diante da ha#ilidade espantosa e da %elocidade inigual$%el do ad%ers$rio"2enhum deles gosta%a de %er um semelhante ser al%o de de#oche de um mosqueteirodo ser%i+o real"

;m a um, todos se le%antaram empunhando suas espadas, a%an+ando contraSophie, trope+ando em tudo"

/m alguns momentos, toda a ta%erna mergulhou no caos" Bancos %oa%am e mesaseram tom#adas" Homens luta%am indiscriminadamente, por nenhum outro moti%o almdo pra&er da pr:pria contenda" Sophie se empenha%a e espera%a que Lamotte ainda aesti%esse o#ser%ando, que pudesse perce#er que ela lan+a%a mão de todas as li+1espor ele ensinadas"

>eria sido melhor %oltar a aten+ão para a #riga, em %e& de tentar espiar a rea+ãode Lamotte diante de sua agilidade" ;m mo%imento errado, e ela se %iu encurralada,tendo as costas contra a parede, e o grandalhão e seus companheiros #loqueando todaas possi#ilidades de fuga"

Sophie não perdeu tempo lamentando a pr:pria tolice" Ha%eria oportunidades deso#ra para isso quando esti%esse em seguran+a, li%re de pro#lemas" ) mente in%oca%atodos os truques que ha%ia aprendido, e ela luta%a com toda for+a e coragem quepossuía" ) agilidade de pouco %aleria no canto em que se encontra%a, encurralada comoesta%a"

)pesar de todo seu esfor+o, eles se apro(ima%am" /sta%am muito perto, e logoela não mais poderia se defender" Desesperada, Sophie tenta%a identificar um rostoamigo na multidão" 4ierre troca%a socos com um desconhecido em um canto, ocupadodemais para socorrê*la" Lamotte assistia a tudo do outro lado do salão, le%antando aespada apenas quando era necess$rio proteger*se de um ou outro golpe desferido emsua dire+ão"

/la o olhou suplicando silenciosamente por socorro" Lamotte respondeu erguendo

uma so#rancelha, cru&ou os #ra+os não fe& nenhum mo%imento para ir a7ud$*la"Maldito se7a mil %e&es-Sophie esqui%ou*se de outro golpe" ) for+a do impacto produ&iu ondas que

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%ia7aram por todo o #ra+o at o peito, e ela quase derru#ou a espada" >eria o pulsodolorido pla pr:(ima semana, tal%e& mais"

/le sa#e que estou numa situa+ão difícil- 4or que não %em em meu socorro 6Outro golpe" Sophie escapou no%amente" 2ão plane7ara come+ar uma guerra"

=uisera apenas dar uma li+ão a um %ilão que não conhecia #oas maneiras"

=uando os agressores se apro(ima%am para o 8ltimo golpe, surgiu do nada ummosqueteiro alto e louro com sua espada erguida, a %o& denotando ferocidadeassustadora enquanto ele ataca%a o grupo indiscriminadamente"

. 4ara a co&inha . ele sussurrou no ou%ido de Sophie" . 4odemos sair pela portado fundo e escapar pela alameda"

Sophie sorriu ali%iada para seu sal%ador" 2ão conseguia entender por queLamotte a a#andonara @ pr:pria sorte de maneira tão cruel" >eria sido surrada at amorte, sem nenhuma d8%ida" >i%era a impressão de que ele come+a%a a apreciar suacompanhia durante os treinamentos, mas compreendia agora que se enganara" ra+as a

Deus e a todos os an7os, alguns mosqueteiros conheciam o significado da pala%raca%alheirismo e ainda socorriam um companheiro em apuros"

Mantendo costas com costas, ela e o mosqueteiro iam se locomo%endo com grandedificuldade na dire+ão da porta da co&inha, #randindo as espadas enquanto se mo%iam"O mosqueteiro louro #riga%a com %alentia e sem medo" /le nem tenta%a retri#uir osgolpes que eram lan+ados contra a dupla" )penas usa%a a espada para e%it$*los,empurrando os agressores com sua for+a" 5om uma fluide& de mo%imentos e umaferocidade que mantinha afastados os atacantes, eles conseguiram escapar pela portamais pr:(ima e a fecharam ap:s passarem por ela"

. Droga- 4orta errada- . e(clamou o mosqueteiro louro, compreendendo queesta%am em uma espcie de dep:sito sem 7anelas ou outras portas"

Sophie prague7ou %igorosamente e limpou o suor da testa". /stamos presos aqui"Barris de cer%e7a forma%am pilhas que chega%am ao teto, e presuntos e rstias

de ce#ola e outros legumes co#riam as paredes" ;m soldado de ca#elos escuros euniforme de mosqueteiro, como o deles, esta%a a#ai(ado em um canto enfiandoce#olas nos canos das #otas" /le ergueu a ca#e+a ao ou%ir a mo%imenta+ão, o rostogorducho e oleoso refletindo des<nimo e choque"

O mosqueteiro louro agarrou o ladrão pelos ca#elos e o pCs em p" ;ma garrafade %inho rou#ado caiu de so# sua camisa e se que#rou no chão de pedras largas" ;man:doa %ermelha desconforta%elmente parecida com sangue come+ou a se espalharpenetrando nos %ãos entre as pedras"

O mosqueteiro louro chutou os cacos de %idro para um canto". )#andone o produto do saque, ladrão, e a7ude*nos a lutar e sair daqui" 2:s

três teremos mais chance do que apenas dois"O ladrão gemeu desanimado, mas come+ou a tirar as ce#olas das #otas"

. >enho mesmo de ir6 4refiro ficar aqui e""". 5o%arde- . Sophie e(clamou por entre os dentes, usando uma for+a que nemsa#ia ter para segurar a porta contra possí%eis in%asores" . 3ocê en%ergonha o

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uniforme que %este-O ladrão tirou de dentro da camisa outra garrafa de %inho e olhou para ela com

ar sonhador". 4osso lutar tão #em quanto %ocê quando quero, mas h$ pouco es%a&iei duas

garrafas de um %inho e(celente, e meu cora+ão padece com a ideia de dei(ar para tr$s

outras garrafas"O mosqueteiro louro riu e amea+ou o outro com a ponta de sua espada". )#andone o saque, rato miser$%el" 2ão pode le%ar as garrafas" /las %ão

pre7udicar sua agilidade"O ladrão dei(ou a garrafa em um canto e sacou sua espada". 4or li#erdade, 7usti+a e três refei+1es di$rias . resmungou" . 3amos sair

daqui"Om#ro a om#ro, os três a#riram caminho para fora do dep:sito e at a porta

mais pr:(ima, para o #arulho e o calor da co&inha"

. Saiam daqui, ruidosos filhos de meretri&es- . gritou o dono da ta%erna ao %ê*los com suas espadas em punho, enfrentando todos os ad%ers$rios com ferocidade ecoragem" . Saiam da minha ta%erna e %ão #rigar em outro lugar-

Sophie conseguiu se esqui%ar da ce#ola arremessada em sua dire+ão" /la atingiuum de seus atacantes com um #aque surdo, espalhando sua polpa podre so#re seurosto"

O su7eito atingido #randiu um punho cerrado contra o propriet$rio e gritou umainfinidade de improprios"

O irado propriet$rio emitiu um 8ltimo grito de protesto e correu por uma portalateral, posicionando ferrolhos e trancas por onde ia passando"

) criada não era tão co%arde" )lm do mais, queria se %ingar de um insulto, e aco&inha era seu territ:rio" )rmada com uma panela fumegante que pegou do fogão, elaa girou so#re a ca#e+a e arremessou contra os atacantes de Sophie"

. >ome isso- . gritou, acertando as costas largas do grandalhão que ha%iacome+ado toda a confusão" . / isso- / isso- . ela grita%a repetindo os golpes"

O grandalhão grita%a como um porco sendo esfaqueado e, depois do segundo outerceiro golpe, largou a espada" /le pula%a de um lado para o outro, tentando tocar ascostas queimadas enquanto urra%a de dor e desespero"

/ncora7ada pelo sucesso, a criada atacou outro ad%ers$rio com um %iolento golpena nuca" Hou%e um #aque surdo quando o metal encontrou o osso de seu cr<nio duro, edepois um estrondo de cer<mica se partindo quando ele caiu desacordado no chão friode pedras"

)o" %erem os companheiros %encidos de maneira tão inesperada e inusitada, osoutros %oltaram correndo para o salão da ta%erna, onde o tumulto prosseguia"

) 7o%em criada largou a panela e le%antou*se, com os #ra+os erguidos e o rostoiluminado pelo triunfo enquanto os inimigos fugiam"

. Desapare+am daqui, filhos de um cão sarnento- . ela grita%a e(ultante" . /não %oltem mais, ou %ão le%ar mais paneladas-Sophie inclinou*se para a criada"

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. >em uma for+a in%e7$%el, senhorita, e uma arma muito poderosa" Somos gratospor nos ter socorrido"

. /u que agrade+o, senhor . ela respondeu sorrindo" . 2ão gostei de serassediada daquela maneira rude, mas não podia atac$*lo com as canecas, ou teria depagar por elas e passaria uma semana sem comer" )gora ele %ai pensar duas %e&es

antes de se meter comigo no%amente"O mosqueteiro louro riu". 3ocê deu uma #ela li+ão naquele #astardo no7ento" Eicaria #em em um

uniforme" ? o tipo de companhia que eu gostaria de ter em uma #atalha") 7o%em de%ol%eu a panela ao fogão". ? melhor irem em#ora, senhores" O patrão 7$ de%e ter mandado algum ir

#uscar guardas, e %ocês terão pro#lemas se forem encontrados aqui, no meio dessaconfusão" 4ara come+ar, terão de pagar pelas cadeiras que#radas"

Sem esperar nem mais um segundo, Sophie correu para a porta, seguida de perto

pelo mosqueteiro louro e pelo ladrão" >odos tinham #ons moti%os para não dese7aremser pegos pela guarda"

) alameda nos fundos da ta%erna era tomada quase que inteiramente por li(oftido" Sophie come+ou a caminhar escolhendo cuidadosamente onde punha os ps,odiando su7ar as #otas naquela imundície"

>inha apenas um par"Mas o tropel de ca%alos no final da rua a fe& decidir que #otas su7as seriam o

menor de seus pro#lemas" /sta%a paralisada pelo choque, sem sa#er para onde correra fim de e%itar a captura e a puni+ão que sempre era imposta aos #riguentos eencrenqueiros"

O ladrão tratou de cuidar da pr:pria pele" !esmungando um pala%rão qualquer, elecorreu"

. 3enham . disse aos outros dois" . 4or aqui- 5om agilidade surpreendente, ohomem escalou o muro do outro lado da alameda"

. Su#am- . chamou*os antes de saltar para o outro lado"Sophie e o mosqueteiro louro o seguiram, não com a mesma agilidade, mas com

idêntico empenho, e tam#m chegaram ao outro lado do muro"Bem a tempo" )ssim que saltaram, dois guardas armados entraram no #eco su7o e

escuro" ;m deles gritou ao %ê*los desaparecer do outro lado da muralha". )tr$s deles-Sophie e o mosqueteiro louro olharam para o ladrão" /le suspirou com e(agero

dram$tico". 3enham comigo se quiserem escapar" Mas %ão ter de me acompanhar" Se

ficarem para tr$s, não porei minha pele em risco para esper$*los-5o%arde, Sophie pensou no%amente". !ato de esgoto . resmungou o louro com ar crítico"

Mesmo assim, ele era a melhor chance que tinham naquele momento, por isso osdois o seguiram" 2a meia hora seguinte, passaram por cima de telhados e muros,atra%essaram p$tios e arcadas, e cru&aram in8meros #ecos su7os como o primeiro"

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Sophie sentia dor em um dos lados do corpo, resultado do esfor+o da corrida, e os pseram castigados pela fric+ão constante com o couro $spero das #oas" O mosqueteirolouro, a seu lado, esta%a muito ofegante"

Einalmente, o ladrão parou e todos se do#raram ao meio, com as mãos nos 7oelhose os pulm1es tra#alhando duro na tentati%a de recuperar o fClego"

. )cho que os despistamos"O som de %o&es não muito distantes os fe& perce#er que a ca+ada ainda não ha%ia

terminado"Sophie pensou nas #olhas em seus ps e foi tomada pelo p<nico" 2ão sa#ia se

poderia continuar correndo". 4arece que ainda não"O ladrão encolheu os om#ros". De%emos #uscar a#rigo em algum lugar, se pudermos" Se sairmos das ruas, eles

não nos encontrarão"

O lugar onde esta%am era completamente desconhecido para Sophie" >udo queconhecia de 4aris era a hospedaria onde %i%ia e a rua que a le%a%a ao regimento" /sta%aperdida"

. Onde estamos6O ladrão disse o nome da rua, mas a informa+ão foi in8til para ela" 4orm, o

mosqueteiro louro animou*se ao ou%ir o endere+o". Moro a menos de um quilCmetro daqui" H$ espa+o suficiente para n:s três nos

protegermos at tudo isso aca#ar"4or mais que detestasse a sugestão, Sophie não tinha alternati%a senão aceit$*la"

2ão queria ser le%ada ao tri#unal para rece#er o castigo imposto a quem #riga%a nasruas e em locais p8#licos" 5omo instigadora daquela confusão, certamente seria a querece#eria pior castigo" Se o capitão esti%esse de mau humor, poderia at ser e(pulsado regimento e mandada de %olta para casa em desgra+a"

;nira*se aos mosqueteiros para co#rir de honra o nome de erard, não paraarrast$*lo @ sar7eta" Seus calcanhares feridos reclama%am a cada passo que da%a, masela seguiu os outros dois pelas ruas escuras, mantendo*se nas som#ras sempre que erapossí%el e permanecendo atenta para e%entuais perseguidores, um ou outro guarda queainda pudesse persistir na inten+ão de captur$*los"

O mosqueteiro louro %i%ia em uma #ela casa distante três ruas da hospedariaonde ela se instalara" Sophie come+ou a rela(ar um pouco, agora que se %ia emterrit:rio familiar" Ha%ia sido terrí%el desco#rir*se perdida nas alamedas e nos #ecosdaquela parte desconhecida de 4aris"

5omo um trio de malfeitores, eles entraram pela porta da frente sem fa&er#arulho e su#iram aos aposentos do mosqueteiro, no segundo andar da casa"

O 7o%em de ca#elos claros sentou*se com um suspiro ali%iado e con%idou os outrosdois a fa&erem o mesmo, apontando poltronas confort$%eis"

. 4or Deus, meus ps estão me matando . disse, tirando as #otas e 7ogando*asem um canto" /le mo%ia os dedos com e%idente alí%io" Sophie notou que seus ps erampequeninos e delicados demais para um homem daquela estatura"

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/la resistiu @ tenta+ão de imit$*lo". erard Delamanse, ao seu dispor, senhores . apresentou*se, dei(ando o corpo

cansado cair so#re uma das poltronas" . / espero não ser o#rigada a correrno%amente por um #om tempo-

O mosqueteiro louro riu"

. Killiam !uthgard . apresentou*se"O ladrão retirou das roupas uma garrafa de %inho, e(i#indo*a com grande

orgulho" !ela(ado e satisfeito, ele foi #uscar dois copos que %iu so#re um m:%el eser%iu generosas doses em cada um deles, antes de #e#er do pr:prio gargalo e limpara #oca com o dorso da mão"

. 0$ que estamos nos apresentando formalmente, sou 0ean 4aul Metin" ) suasa8de, ca%alheiros-

Sophie sor%eu um gole $%ido do %inho encorpado e morno" /le desceu por suagarganta como um nctar dos deuses"

. 5onseguiu carregar a garrafa o tempo todo sem que#r$*la6 . perguntou"

. 5onfesso que ti%e de ser um pouco mais lento por isso, mas %aleu a pena" ;m!henish como este não aparece no meu caminho todos os dias"

Killiam sa#oreou a #e#ida antes de opinar. 2ão o melhor, mas de uma safra muito #oa, realmente" 5omo conseguiu

pegar a garrafa sem que eu perce#esse6. )nos de pr$tica e um olhar treinado"/sta%a #e#endo %inho rou#ado, Sophie pensou com um profundo sentimento de

desconforto" O propriet$rio da ta%erna ha%ia sido de%idamente punido por suamesquinharia"

Seu esta#elecimento ha%ia sido praticamente destruído pela #riga" Be#er seu%inho sem pagar por ele era ir alm dos limites da penitência" /ra a#uso" Mesmo assim,esta%a com sede, e o %inho era #om demais para ser desperdi+ado" 4agaria no diaseguinte, ela decidiu, sor%endo mais um ou dois goles"

Mais alguns minutos, e Sophie 7$ se sentia mais le%e e e(tremamente cansada" /lafechou os olhos por um momento, s: para descansar, e despertou so#ressaltada" 2ãopodia dormir na companhia de outros indi%íduos- De%ia concentrar*se em permaneceralerta" Os olhos focaram o rosto do mosqueteiro louro" Ha%ia algo de estranho nocon7unto de tra+os" 2ão conseguia definir o que era, e(atamente"

O 7o%em foi ficando incomodado so# seu olhar persistente". O que est$ olhando6 . ) %o& soou ríspida e hostil" Sophie finalmente ha%ia

compreendido o que ha%ia de estranho naquelas fei+1es". Seu #igode est$ se soltando . disse sem pensar" . 4recisa refor+ar a cola"O rapa& ficou %ermelho" Muito %ermelho" /rguendo o corpo, ele le%ou a mão @

espada". O que est$ insinuando, afinal6 O ladrão riu"

. /la tem ra&ão" 4recisa de uma cola melhor que não se solte quando %ocê suarmuito" 4essoalmente, acho que #igodes falsos não %alem a pena" Dão muito tra#alho,pro%ocam coceira, e sempre muito difícil fa&ê*los parecer naturais" ? mais f$cil

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fingir que se #ar#eia religiosamente todas as manhãs e todas as noites"O mosqueteiro louro esta%a petrificado, a meio caminho de pCr*se em p, mas

sem for+as para concluir o mo%imento, completamente aturdido"Sophie saltou da poltrona horrori&ada ao compreender o significado das

primeiras pala%ras do ladrão"

. /la6 3ocê me chamou de ela6O homem le%antou as duas mãos num gesto conciliat:rio". Eoi s: um palpite" Baseado na o#ser%a+ão de que seus seios escaparam da fai(a

que os continha" ? difícil %er pelas ruas algum outro homem com um peito como o seu-Sophie olhou para #ai(o" /ra %erdade, a fai(a se deslocara durante a louca

corrida pelos telhados e #ecos da capital francesa, mas não a ponto de amea+ar odecoro" O sua%e #alan+ar de seus seios mal podia ter sido notado, especialmente noescuro e naquelas circunst<ncias" 5omo um desconhecido adi%inhara seu segredo comtamanha facilidade6

/ por que o mosqueteiro louro usa%a um #igode falso6Sophie e o mosqueteiro louro trocaram um olhar repleto de compreensão" 0untos,

eles olharam para o ladrão"Sophie foi a primeira a falar". 3ocê uma mulher . disse" . 4or isso est$ usando um #igode falso" . /la se

%oltou para o ladrão" . / %ocê tam#m mulher-

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#ap&t$lo ')

O ladrão es%a&iou a garrafa de %inho e a dei(ou no chão a seu lado com arpesaroso"

. /u confesso . disse, reconhecendo que era mulher" . H$ outra garrafa de%inho por aqui, ou %ou ter de me contentar com cer%e7a pelo resto da noite6

O mosqueteiro louro parecia perple(o" Ou, melhor, a mosqueteira" /la olha%a paraSophie como se não conseguisse aceitar o que esta%a diante dela"

. 4or isso atacou aquele grandalhão na ta%erna, não 6 4or que tam#m mulher6

Sophie ainda tenta%a superar o choque de desco#rir que ha%ia mais dois mem#rosdo regimento com o mesmo segredo que ela" >inha companheiras agora- Duas- )lgumcom quem con%ersar, di%idir a %ida, algum que a entenderia e nunca trairia seussegredos" 2ão esta%a mais so&inha" Sentia %ontade de gritar de alegria"

. 2ão gosto de %alent1es que atacam pessoas que não podem se defender" /leprecisa%a de uma li+ão . ela respondeu"

5onfesso que não entendi #em o que deu em %ocê para atacar o homem daquelamaneira" 2enhum homem teria se dado ao tra#alho de sair em defesa daquela garota". ) %o& da 7o%em loura era amarga, sentida" . 4odem murmurar pala%ras ador$%eissem seu ou%ido, mas são todos iguais no egoísmo, na estupide& e na teimosia" >odos

acreditam que as mulheres de%em ser usadas, nunca protegidas". =uero agradecer por ter me a7udado" Hou%e um momento em que acreditei quemeu fim esta%a pr:(imo"

. 2ão podia dei(ar %ocê #rigar so&inha" 2ão naquele confronto" /ssa uma#atalha que todas as mulheres de%em participar" ) luta contra homens que a#usamdelas, que as oprimem por 7ulgarem*nas mais fracas"

;ma risada a#afada soou do outro lado do quarto, onde a ladra desistira do %inhoe %asculha%a o arm$rio em #usca de outra #e#ida qualquer"

. )h- >odas as mulheres- Erancamente- 2ão me fa+a engolir mais dessa

narrati%a melosa, ou %ou aca#ar %omitando-. ;m rato de esgoto não pode mesmo conhecer o significado da moralidade ou dorespeito pela decência humana" De%ia continuar sendo homem" 3ocê se comporta comotodos eles"

. !atos de rua não podem pagar o pre+o da moral" 4egue sua moralidade e enfie*a no""" Onde quiser" 2ão me importo"

Sophie interferiu para ameni&ar a tensão" =ueriam que se unissem, que seprotegessem-

. 5omo adi%inhou que ramos todas mulheres6

. ) %ida na rua ensina a olhar alm das aparências" =uem não aprende essa li+ãorapidamente, não so#re%i%e"

. / quando perce#eu que ramos como %ocê6

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. )ssim que entraram no dep:sito" 5onfesso que fiquei assom#rada pordesco#rir que tam#m pretendiam o mesmo que eu" Sempre achei que fosse a 8nicamaluca disposta a passar*se por um homem para ser mosqueteira" / s: aceitei a7ud$*las por isso" Se fossem homens, eu os teria dei(ado cair nas mãos da guarda paraserem postos a ferros" 5omo me dei conta de que tínhamos algo em comum, decidi que

podiam estar precisando da minha a7uda" )h, sucesso- . /la se %irou e(i#indo umagarrafa como se fosse um trofu" . )gora sim, ca%alheiros, %amos refa&er asapresenta+1es- )gora me apresento não mais como 0ean 4aul Metin, mas como MiriameDardagny, nascida e criada nos #ecos de 4aris, treinada para ser #atedora decarteira, recentemente transformada em mosqueteira na esperan+a de fa&er fortunasem ter de arriscar meu pesco+o"

) loura sentou*se no%amente e estendeu as pernas". 5ourtney !uthgard ao seu dispor" >enho um primo chamado Killiam" /le mais

ou menos da minha idade" Simpl:rio, doce""" /le planta tulipas na Holanda e não tem a

menor inclina+ão para as artes marciais" 5reio que um dos poucos homens no mundoque digno da comida que come" >omei emprestado o nome dele para tornar*memosqueteira e %ingar os malfeitos praticados por um deles contra mim e minha família"Logo ele estar$ dormindo com os %ermes, e eu estarei dormindo tranqGila em minhacama no%amente"

. Sophie Delamanse" Meu irmão gêmeo, erard, era mosqueteiro antes demorrer %ítima da praga, praga que eu le%ei para dentro de nossa casa" /u o ama%amuito e teria dado minha %ida por ele, mas causei sua morte" Decidi tomar seu lugar edar ao nome de erard toda a honra que de%eria ter sido dele em %ida"

)s três se sentaram em silêncio por um tempo, #e#endo %inho e se olhando comum misto de espanto e admira+ão" Sophie não sa#ia o que di&er @s outras duas">reinara por tanto tempo para agir e pensar como um homem, que não sa#ia como sermulher no%amente"

Einalmente, ela ousou fa&er o que dese7a%a ter feito muito antes" Le%ando asmãos so# a camisa, remo%eu a fai(a que comprimia seus seios, suspirando de pra&er aoli#ert$*los"

. =ue mara%ilha- 2unca imaginei que roupas masculinas pudessem ser tãodesconfort$%eis-

5ourtney arrancou o que resta%a do #igode falso, 7ogou o chapu para o lado edesli&ou as mãos pelos ca#elos louros e lisos que alcan+a%am o meio de suas costas"

. Detesto usar chapu, mas sou feminina demais sem ele" . O rostonormalmente s:#rio rela(ou iluminado por um sorriso" . 5reio que %ou a#rir mão do#igode no futuro, porm" Odiaria %ê*lo cair no meu prato durante o 7antar" Seriarepugnante"

Miriame acomodou*se so#re o #ra+o de uma poltrona". 5al+as são muito mais confort$%eis do que %estidos para quem %i%e nas ruas"

)cho que nunca usei um %estido em toda minha %ida" 2ão que eu lem#re"""Sophie respirou fundo" 5umpriremos 7untas nossos de%eres"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 5uidaremos dos interesses umas das outras"

. Seremos irmãos em armas- Miriame le%antou o copo quase %a&io"

. 5ompanheiras mosqueteiras, irmãs em armas, temos um pacto-5ourtney %oltou a encher os três copos". 3amos comemorar- . decretou Miriame"

Sophie #e#eu o %inho e suspirou satisfeita" >inha duas no%as companheiras, e a%ida era #oa" >udo o que precisa%am agora era uma #oa a%entura que ser%isse paratestar a união e o espírito de luta do grupo, algo que compro%asse seu %alor para omundo"

O conde de uiche ergueu*se so#re um coto%elo ao ou%ir o ranger da porta". Henrietta . sussurrou com urgência para a mulher que dormia a seu lado" .

)corde-

/la acordou e se apro(imou para um #ei7o, a mão #uscando a região entre suaspernas para acarici$*lo"

. Meu #em, %ocê insaci$%el, e eu a amo por isso"O conde podia %er a luminosidade de uma %ela alm da cortina que cerca%a a

cama" Dispensara todos os criados na noite anterior para poder estar com sua amadacom total pri%acidade, e quem quer que hou%esse in%adido seus aposentos o fi&era coma inten+ão de espion$*los e desco#rir sua intimidade" / não podia ser algum #em*intencionado"

/le a tomou nos #ra+os e #ai(ou ainda mais a %o&". Henrietta . sussurrou aflito, compreendendo que esta%am perdidos" . Eomos

traídos-/la despertou completamente" )pa%orada, sentou*se na cama e segurou o #ra+o

do amante com dedos crispados". 5omo6. Lem#re*se de que a amarei para sempre" /nquanto as ondas que#rarem na

praia e o sol se erguer todas as manhãs, eu a amarei com toda a for+a de minha alma") %o& do rei soou forte alm da cortina". =ue encantador, monsieur uiche" 3e7o que tem a alma de um poeta"Henrietta enterrou o rosto entre as mãos". Sinto muito, meu amor . ela sussurrou" . )ca#ei com sua %ida-O rei afastou as cortinas que cerca%am a cama". Minha cara cunhada, %e7o que não foi inteiramente honesta comigo, ou tem

#rincado de maneira cruel com o cora+ão do conde" O po#re homem 7ura amor eterno,mas lem#ro*me de tê*la ou%ido declarar h$ poucas semanas que era fiel a seu marido,que o conde nada significa%a"

Henrietta o encarou com um misto de despre&o, triste&a e culpa, mas nada

respondeu". Monsieur uiche, estou muito a#orrecido com o senhor . continuou o rei" .Ou%i um horrí%el rumor so#re estar traindo meu irmão deitando*se com a esposa dele,

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

mas não acreditei que pudesse ser %erdadeiro" =ue no#re mem#ro da corte desceriatanto6

. )mo madame Henrietta como o marido dela 7amais poder$ amar"

. )s acusa+1es lan+adas contra sua pessoa eram tão srias, que achei melhorin%estig$*las pessoalmente" 4or uma infelicidade, aca#o de compro%$*las" O que farei

agora, meu no#re conde6 Decreto o pagamento de uma pesada multa por corromperminha cunhada6 Mando*o para a Bastilha com uma pena perptua6 Ou sentencio*o @morte por trai+ão6

Henrietta apertou a mão do conde so# a co#erta" Se não hou%esse se apai(onadopor ele, não o teria colocado @ mercê da crueldade do so#erano francês"

Luís F3 sorria satisfeito". Di%irtam*se pelo resto da noite . ele disse ao soltar a cortina" . Ser$ a

8ltima que passarão 7untos")ssim que ele saiu e fechou a porta, Henrietta saltou da cama"

. De%e partir imediatamente . disse para o conde" . /le não %ai precisar demais do que alguns minutos para despertar a guarda e ordenar sua deten+ão" =uandoisso ocorrer, 7$ de%e estar ca%algando para longe de 4aris" Desapare+a, #usque ref8gionas pro%íncias, e ele o esquecer$"

. 3enha comigo . o conde sugeriu enquanto se %estia" . 2ão a dei(arei aqui"

. 2ão posso fugir" O rei Luís tomar$ a atitude com um insulto da família realinglesa contra a família real francesa" /le pode declarar guerra contra meu irmão, orei 5harles da nglaterra" 2ão posso ser o moti%o de uma guerra entre Eran+a englaterra-

. Se não %ier comigo, o rei a punir$ sem clemência-

. /le não pode me pre7udicar" Meu marido %ai me proteger contra a ira do irmão"

. Seu marido fraco" 2ão gosto da ideia de dei($*la aqui, @ mercê do rei"

. /st$ perdendo tempo, meu querido" ) guarda 7$ pode estar rece#endo ordenspara prendê*lo" Se me ama de fato, parta imediatamente" /u morreria se fossecondenado por minha causa"

/le segurou as mãos de Henrietta". Dei(o meu cora+ão 7unto ao seu". 2ão- Le%e o meu com %ocê- )gora %$" 0amais me perdoaria se meu amor o

le%asse @ ruína". Mande me chamar se precisar de a7uda, e eu %irei imediatamente, mesmo que

mil reis me ameacem"/la o a#ra+ou pela 8ltima %e& antes de empurr$*lo para a porta". )deus, meu amor- / perdoe*me-

2a manhã seguinte, quando se dirigiu ao regimento com suas duas no%ascompanheiras, Sophie tinha a impressão de que a ca#e+a e(plodiria a qualquer

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

momento" 5ourtney parecia tão a#atida quanto ela" 4$lida, ela tinha círculos escurosem torno dos olhos e um ar muito cansado"

Miriame esta%a :tima, apesar de ter #e#ido três %e&es mais do que as outrasduas" / não tinha nenhuma piedade das companheiras"

. Se não conseguem nem #e#er como mulheres, como espera%am passar por

homens6 / soldados- . ela e(clamou irritada ao %er Sophie parar pela segunda %e& e%omitar na #eira da estrada"

Sophie en(aguou a #oca com $gua do cantil e gemeu" O estCmago esta%a empiores condi+1es do que a ca#e+a" /ra como estar a #ordo de uma min8scula canoa nomeio de um oceano re%olto" =ueria morrer para escapar da dor e da n$usea"

Lamotte tam#m não se apiedou de seu estado ao %ê*la apresentar*se para otreino"

. ;m #om soldado nunca #e#e mais do que pode suportar" 2unca a ponto de nãopoder lutar na manhã seguinte . ele comentou com tom seco"

Sophie nem tentou 7ustificar*se" 2ão tinha energia para isso" 4elo menos elepensa%a estar lidando com um homem" ) em#riague& no se(o masculino era toler$%el,desde que não se tornasse um h$#ito nem causasse pro#lemas, mas em uma mulher"""/ra imperdo$%el" Lamotte ficaria desgostoso se sou#esse" Mais uma ra&ão para elenunca sa#er que ela não era erard"

2aquela manhã era especialmente difícil manter a farsa" 2ão conseguiaconcentrar*se na li+ão, e não tinha for+a para saltar ou in%estir contra Lamotte" Om$(imo que podia fa&er era permanecer em p, defendendo*se dos golpes da melhormaneira possí%el" Mesmo assim, o #ra+o parecia ser feito de #orracha e a ca#e+alate7a%a a cada impacto da espada contra a sua" O ruído era insuport$%el"

Depois de alguns minutos, Lamotte 7ogou a espada no chão num gesto irritado". Saia daqui . disse" . /st$ perdendo seu tempo e me fa&endo perder o meu"Sophie a#ai(ou*se no chão de terra, tentando conter a <nsia de %omitar ali

mesmo, na $rea de treinamento". 4erce#o que não #e#eu ontem @ noite . disse" Lamotte sorriu com sarcasmo". 3ocê estragou minha noite" Depois da confusão que pro%ocou na ta%erna,

ningum mais conseguiu #e#er". Sorte sua" Be#er horrí%el". Sim, #e#er em e(cesso mesmo terrí%el" 2ormalmente, a pessoa fica lenta e

indisposta no dia seguinte"/ntão, se não ha%ia #e#ido, por que Lamotte não fora a7ud$*la na noite anterior6

4or que se limitara a assistir @ luta sem erguer um dedo em sua defesa6. Sei que perce#eu que eu precisa%a de a7uda ontem @ noite" 4or que não me

socorreu6. Mosqueteiros não desperdi+am sua energia #rigando em ta%ernas" 2enhum

mosqueteiro de%e cometer a tolice de come+ar um confronto se não esti%er preparado

para se defender" So&inho" 2em sempre estarei por perto para tir$*lo das confus1esidiotas em que se mete" / mesmo que este7a, tal%e& não queira a7ud$*lo" ? #om queaprenda essa li+ão desde 7$, quando sua tolice não poder$ render mais do que uma

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surra sem conseqGências" /m outras circunst<ncias, sua inconseqGência poderia le%$*lo@ morte"

. =uer di&er que nunca %ai defender uma mulher que est$ sofrendo a#uso6

. ) mulher a quem se refere não uma 7o%en&inha inocente" ? uma criada nata%erna, uma mulher %ulgar e sem moral" 4or que ha%eria de defendê*la6

Sophie respirou fundo para conter a n$usea" 5om que facilidade ele a decretaraindigna de sua prote+ão- Os mosqueteiros não de%iam proteger os fracos e impedir ain7usti+a, sem le%ar em conta se a %ítima era uma rainha ou uma meretri& na ta%erna6

. /ra uma mulher, e s: por isso 7$ merecia sua prote+ão-

. ;ma mulher que tra#alha em uma ta%erna" O que mais ela pode esperar se nãoesse tipo de tratamento6

)gora ela come+a%a a ficar furiosa". Mulheres precisam comer, como os homens" Ou acha que ela de%ia morrer de

fome nas ruas6 3ocê a a7udaria então, ou a consideraria igualmente indigna de sua

prote+ão6 Sua honra tão minguada e mesquinha que s: se digna a proteger %irgensricas6

/le encolheu os om#ros". H$ outras maneiras de ganhar o pão sem se deitar com todos os soldados do

regimento" )lm do mais, ela não teria sofrido nenhum grande dano nas mãos daquelehomem" Henri um #astardo #rutal, mas a teria pago muito #em" ) mulher não teriado que reclamar"

. )credita que um punhado de moedas seria recompensa suficiente para aqueletipo de a#uso humilhante6 ? mesmo um tolo sem sentimentos- 2ão capa& de secolocar no lugar daquela po#re mulher e imaginar o que ela sentiu6

Lamotte recolheu a espada do chão". 2ão gosto de ser chamado de tolo". Se não tolo, de%e ser um #astardo %il que tira pro%eito de prostitutas

famintas e desprotegidas" O que prefere6O conde se mo%eu, e de repente a ponta da l<mina pressiona%a um seio de Sophie". 2ão foi uma coisa muita sensata para se di&er" Sophie não tinha energia para

defender*se" 2ão tentou sequer pegar a espada". >al%e& não, mas foi honesto". /st$ querendo me desafiar6. )h, saia daqui-4or que os homens sempre se ofendiam ao menor insulto e queriam sempre reagir

pela for+a6 2ão podia discordar de um homem sem pCr seu pesco+o em risco6 /sta%aperdendo a paciência com as tolices do se(o oposto"

. Lutaremos amanhã, se quiser" Ho7e não tenho for+as"""

. ;m mosqueteiro não pode se dar ao lu(o de escolher quando %ai lutar"/la o encarou com despre&o"

. )taque*me agora, se quiser, mas um homem 7usto e cora7oso esperaria at eupoder me defender"

. )gora me acusa de co%ardia6 Outra %e&6

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. Se a carapu+a ser%e"""

. 2ão sou um co%arde- Maldito se7a, amanhã ser$ a+oitado at pedir clemência-/, para que não se esque+a de que me de%e uma retrata+ão, ter$ agora uma dose deseu pr:prio remdio" . 5om um r$pido mo%imento da espada, ele rasgou ao meio acamisa de Sophie"

Horrori&ada, ela sentiu o tecido que continha seus seios come+ar a se esgar+ar"Se continuassem cedendo, teria o peito, e seu segredo, e(postos aos olhos do mundo->udo que ha%ia conquistado se perderia em um segundo" /staria arruinada"

5om uma for+a gerada pelo desespero, ela se le%antou de um salto, agarrando asduas metades da camisa com uma das mãos e a espada com a outra"

. Maldito, maldito, maldito- . gritou, atacando*o com uma f8ria s8#ita que opegou despre%enido"

O esfor+o dos mo%imentos repentinos foi demais para o corpo com#alido" OestCmago protestou com %eemência, os olhos ficaram tur%os e a ca#e+a come+ou a

girar" Depois de dar meia d8&ia de passos, ela caiu e %omitou %iolentamente" Lamotte asocorreu aflito" ) re%olta da%a lugar @ apreensão"

. erard6/la se mantinha im:%el no chão, e(austa" 2ão conseguia se mo%er" Seu 8nico

pensamento era dei(ar o local e ir se esconder em seu quartinho a#afado at se sentirmelhor" 2unca mais #e#eria uma 8nica gota de %inho"

. 3$ em#ora . sussurrou"

. erard, %ocê me d$ mais tra#alho do que %ale a pena" Ofende*me e se nega alutar, depois, quando amea+ado, ataca*me como se um demCnio o hou%esse possuído"Merece mesmo que eu o a#andone aqui @ a%ide& dos cor%os"

sso era tudo que ela queria". Dei(e*me em pa&" 2ão preciso de sua a7uda" 3ou esperar por 0ean 4aul" /le %ai

me socorrer"gnorando suas quei(as, Lamotte le%antou*se e a ergueu nos #ra+os como se

carregasse um #e#". Onde %i%e6/la tentou se li#ertar, mas o esfor+o s: aumentou a dor na ca#e+a e a tontura"

2ão conseguia nem raciocinar". 4onha*me no chão . pediu com %o& rouca"O conde torceu o nari&, eno7ado com o cheiro que emana%a de suas roupas, mas

não a soltou". Onde %ocê mora6/ra in8til" 2ão poderia se li%rar dele". 2a hospedaria da %i8%a 4oussin, no final da rua Eosset" 5om gentile&a

inesperada, ele apoiou sua ca#e+a contra o peito e a carregou at o local indicado"Sophie decidiu que não corria nenhum risco" ria para a cama, dormiria at se li%rar da

n$usea e da dor de ca#e+a, e depois retomaria a %ida de mosqueteiro com seu segredointacto" >udo ia dar certo"Lamotte ergueu o amigo do chão, resistindo ao impulso de 7og$*lo so#re um

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om#ro como se fosse um saco de #atatas" ) 8nica coisa que o detinha era o medo defa&ê*lo %omitar no%amente, dessa %e& nas costas de sua 7aqueta, em sua cal+a decouro e no par de #otas que mais aprecia%a"

O companheiro de armas era mais fr$gil do que parecia" De%ia ter sido de%astadopela praga, ou enfrentara a fome em seu %ilare7o natal, porque pesa%a pouco para um

homem de sua idade" )s pernas eram delicadas, os #ra+os eram delgados, mas oquadril era mais largo do que se costuma%a %er no se(o masculino"

/, apesar da le%e&a, ele tinha um peito e(traordinariamente farto, musculoso"Lamotte olhou com cuidado para o mosqueteiro em seus #ra+os, e te%e a sensa+ão

de que o mundo gira%a ao contr$rio" Seria capa& de 7urar so#re a Bí#lia que a criaturaque carrega%a era uma mulher-

2enhum homem teria aquelas cur%as";ma mulher %estida como mosqueteiro, passando*se por seu amigo erard-erard tinha uma irmã gêmea" Sophie" Supostamente, ela perecera %ítima da

praga que %arrera o sul da Eran+a, destruindo metade da popula+ão local" De toda afamília, erard ha%ia sido o 8nico so#re%i%ente"

/le olhou para o 7o%em em seus #ra+os" Os tra+os eram idênticos aos de erard"2ão ha%ia mais d8%ida" Sophie não morrera" ) mulher em seus #ra+os de%ia ser ela, a 7o%em com quem prometera se casar"

2ão ha%ia nela a mesma do+ura que %ira no retrato, mas, ainda assim, prometeradespos$*la, e não dei(aria de cumprir a promessa" /ssa mulher atre%ida que ousaraacus$*lo de co%ardia seria sua esposa"

)gora entendia por que ela correra a socorrer a 7o%em na ta%erna" dentificara*se com as circunst<ncias da criada e decidira protegê*la" / ele, tolo, não a a7udara na#atalha contra a multidão de #ê#ados e de%assos que tentara fa&er 7orrar seu sangue"Dei(ara que ela lutasse so&inha contra meia d8&ia de homens duas %e&es maiores doque ela- ;ma mulher- Sophie podia ter sido morta"

Desde o momento em que %oltara de 5amargue, essa criatura ha%ia sido erard,mas diferente do erard que ele conhecera antes"

Os olhos a&uis eram os mesmos, mas não o reconheceram com a ami&ade dopassado" O rosto era o do amigo querido, mas a alma pertencia a um estranho"

4assara dias tentando entender como algum podia ter mudado tanto" )e(plica+ão era tão :#%ia, que nem chegara a perce#ê*la diante de seus olhos" erardnão ha%ia retornado" / nunca mais %oltaria"

/m %e& disso, Deus mandara at ele sua irmã, a irmã gêmea de erard" / secasaria com ela, conforme prometera, e cuidaria dela como pudesse" De%ia isso aoamigo" >ola, impulsi%a e linda, Sophie ia precisar de muita prote+ão"

2unca mais a dei(aria se e(por ao perigo" )gora que sa#ia quem era ela, tratariade protegê*la at a morte, at %erter a 8ltima gota de sangue de seu corpo"

2ão podia le%$*la @ hospedaria, como plane7ara inicialmente" 5onhecia a %i8%a

4oussin" Sa#ia que ela era uma %elha ra#ugenta e mesquinha que s: se preocupa%a emaumentar a cole+ão de moedas que mantinha so# o colchão da pr:pria cama"Mora%a perto dali" 4odia le%ar Sophie para l$ e o#ser%$*la at que ela melhorasse"

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)ssim, que ela se recuperasse, desco#riria a ra&ão de sua farsa e o destino de seuamigo"

/ra um soldado, mas sentia os olhos se encherem de l$grimas quando pensa%a noamigo" >inha pouca esperan+a de re%er erard" Se ele esti%esse %i%o, a irmã nãoestaria so&inha em 4aris, %i%endo como soldado e se e(pondo a riscos incomensur$%eis"

=ue desespero a teria le%ado a tal e(tremo6/la a#riu os olhos quando esta%am passando pela porta". Onde estamos6. /m minha casa". Mas""" %ocê ia me le%ar para a rua Eosset"""/le su#iu a escada e a#riu a porta de seus aposentos no segundo andar da casa". )cha que %ou ficar andando pela cidade com %ocê nos #ra+os, monte de #anha6

. ele pro%ocou enquanto a deposita%a com delicade&a so#re um di%ã" . 3iemos ataqui, e isso mais do que suficiente" )lm do mais, %ocê %omitou %inho- >em ideia do

estado de suas roupas6 O cheiro""". 4ode me emprestar uma camisa6 4reciso %oltar para casa" 4rometo de%ol%ê*la

amanhã". De 7eito nenhum- 2ão %estir$ minhas camisas sem antes tomar um #anho-Sua e(pressão de terror era quase cCmica" Se não sou#esse que ela era uma

mulher, teria desco#erto agora, diante do horror que Sophie demonstra%a da ideia detomar #anho em sua companhia"

. 2ada""" nada de #anho . ela decidiu" . 4osso me resfriar"/le não resistiu @ tenta+ão de atorment$*la" )inda não se li%rara da %ergonha que

acompanhara aquele ferimento no #ra+o" /ra humilhante ter sido ferido por umagarota"

. 2ão se preocupe, %ou aquecer a $gua"

. 2ão preciso de #anho" 2ão quero que sua senhoria se incomode com $guaquente" 2ão necess$rio" S: preciso de uma camisa limpa, e %oltarei a e(alar operfume das margaridas"

Lamotte olhou para sua cal+a manchada e para a 7aqueta imunda". >em certe&a6/la e(aminou as pr:prias roupas e suspirou". >i%e uma noite difícil" 4refiro tomar #anho nos meus aposentos, se não se

importa"O conde tam#m suspirou" =ue tipo de criatura era essa sua noi%a6. Brigou no%amente6/la ergueu as mãos" /sta%am cortadas, arranhadas e co#ertas por #olhas de

aparência fero&". 2ão" 2ão costumo #rigar sem que ha7a um #om moti%o" /sta%a apenas fugindo

dos efeitos daquela primeira #riga" 2unca imaginei que pudesse pular muros com tanta

rapide&-/le segurou suas mãos e as e(aminou, tentando definir a real e(tensão dosferimentos"

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Sophie encolheu*se ao sentir o contato doloroso". sso precisa de um curati%o". 2ão nada srio" Meus ps estão #em piores" )pesar dos protestos, Lamotte

desamarrou suas #otas e as remo%eu" )s meias, nos ps dela, esta%am co#ertas desangue seco"

. /ste%e andando com essas meias desde ontem6 /la assentiu"2ão pensou em cuidar dos ferimentos ontem @ noite6 . 2ão %oltei para casa"

4assei #oa parte da noite #e#endo com""" com dois companheiros, e aca#ei dormindono chão sem remo%er as #otas" 2ão ti%e tempo para trocar as meias"

Sophie, a 7o%em com quem ele ia se casar, ha%ia passado a noite com dois de seuscompanheiros6

. 5om quem este%e dormindo6 . ele rosnou furioso" /la ergueu o quei(o"

. 2ão da sua conta- Mas ela esta%a enganada"4rometera a erard que cuidaria de sua irmã, caso ele não pudesse protegê*la"

)creditara que a morte de Sophie o li#ertara dessa promessa, mas, agora que sa#ia detoda a %erdade, nada o impediria de passar o resto de seus dias ao lado dela,protegendo*a"

. ;ma pergunta simples merece uma resposta simples"

. =ual o pro#lema6 H$ alguma lei proi#indo um mosqueteiro de dormir no chãodo quarto de um companheiro6

. 2ão diga #o#agens-

. /ntão, qual o pro#lema6

. 2ão de%ia dormir no quarto de um homem estranho-

. 2ão eram estranhos" /ram mosqueteiros, como %ocê e eu-Lamotte #alan+ou a ca#e+a" )inda esta%a surpreso por ela ter conseguido se

disfar+ar tão #em a ponto de enganar todo o regimento" 5omo dei(ara de notar ossinais que eram tão :#%ios, agora que conhecia a %erdade6 O olhar alti%o, o quei(odelicado, a pele macia""" / como dei(ara de questionar sua incompetência com a espada,sa#endo que erard ha%ia feito progressos elogi$%eis no ano anterior6

De repente, onde antes ha%ia confusão e contradi+ão, tudo se torna%a claro"/la era uma mulher" 4or isso, era in8til continuar discutindo com ela" Sophie era

como todas as outras mulheres que conhecia, teimosa e incapa& de um mínimo desensate&" /le se apro(imou da porta e, a#rindo*a, chamou pela senhoria" ) mulher seapro(imou correndo, tra&endo com ela o delicioso aroma da carne assada que ser%iatodas as noites no 7antar"

. 4reciso de uma tina e de $gua quente" Depressa" ;m de meus companheiroseste%e lutando e precisa de cuidados"

/la sorriu". 5ertamente, monsieur" 4recisa de mais alguma coisa6. )lgumas #andagens, se for possí%el"

. mediatamente, monsieur" . /la se afastou apressada" Sophie o encara%a comum olhar capa& de congelar o oceano, os #ra+os cru&ados so#re o peito"

. 2ão %ou tomar #anho"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Lamotte decidiu que não discutiria" Ordenaria". Sim, %ocê %ai" Olhe s: para essa imundície- ) adaga na mão dela era

amea+adora". 2ão %ou" 2ão pode me o#rigar"/la espera%a assust$*lo com aquela faquinha de descascar ma+ãs6 Lamotte

sentou*se diante de Sophie e fitou*a nos olhos" 5omo poderia re%elar que conhecia seusegredo6

. /scute, sei por que não quer tomar #anho"

. Du%ido- Se pegar um resfriado"""

. / mais forte do que parece"

. ) praga me enfraqueceu"

. 5ompreendo" S: não acredito que a praga o tenha transformado tanto assim"

. O que quer di&er6

. De homem em mulher"""

Sophie ficou mortalmente p$lida" /la tremia" >remia tanto, que at a %o& erasacudida pelo choque e pelo medo quando ela sussurrou

. O que foi que disse6

. ) %erdade" /la #randiu a faca"

. 0uro que %ou mat$*lo por esse insulto-Lamotte não se mo%eu" Sa#ia que Sophie não tinha for+as para matar ningum"

2ão nessa manhã" 4odia apostar que ela ainda %ia tudo em do#ro". 5hega, Sophie" ) farsa aca#ou" Sei quem %ocê " /la fechou os olhos" De

repente, parecia ter perdido todas as for+as" O corpo trêmulo caiu so#re o di%ã e amão soltou a faca"

. De que nome me chamou6

. Sophie" ? isso, não 6 ) irmã gêmea de erard"

. /st$ enganado" /u sou erard" /le a encarou em silêncio"ncapa& de sustentar o olhar penetrante, ela des%iou o rosto". 3ocê não erard". 2ão sou". Sophie6. Sim". O que aconteceu com erard6Seus olhos foram inundados pelas l$grimas". ) praga o le%ou"Lamotte #ai(ou a ca#e+a, incapa& de esconder o pesar, agora que confirma%a sua

suspeita". /u 7$ imagina%a"""O conde segurou as mãos dela por alguns minutos e, 7untos, os dois choraram a

morte do irmão e do amigo que tanto ama%am" /ra reconfortante poder sentir a mão

dela nesse momento de dor" erard seguira sua %iagem para um mundo melhor, masdei(ara na terra uma parte dele" 5uidaria de Sophie e a protegeria da melhor maneirapossí%el"

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)p:s alguns momentos, ela secou os olhos na manga da 7aqueta e respirou fundo,esfor+ando*se para recuperar o controle so#re as emo+1es"

. 5omo desco#riu6) pergunta crucial era como ha%ia demorado tanto para desco#rir". 3ocê me incomoda h$ semanas" /(i#ia o rosto de erard, mas eu sentia que não

era ele" /ntão, passei a o#ser%$*la e registrar mentalmente tudo que fa&ia, mas nãoconseguia determinar o que ha%ia mudado, o que a torna%a tão diferente dele" /ntão,h$ pouco, quando a peguei nos #ra+os, tudo ficou claro" 2aquele momento ti%e certe&ade que %ocê não era um homem" Sou#e que era uma mulher"

. O que pretende fa&er6

. 3ou me casar com %ocê, como prometi a erard que faria, e a mandarei paraBurgundy a fim de %i%er em seguran+a, conforme ele e eu ha%íamos com#inado" Minhamãe espera%a ansiosa para conhecer minha esposa" /la sa#er$ cuidar de %ocê" )goraque est$ ficando mais %elha, minha mãe %ai apreciar alguma a7uda na administra+ão da

casa". /scute aqui, decidi ser mosqueteira para não ter de me casar com um estranho

e ir %i%er como uma e(ilada em Burgundy" 2ão %ou me casar com %ocê"Lamotte encolheu os om#ros" ) mulher não tinha mesmo nenhuma sensate&" =ue

outro tipo de casamento podia estar esperando6 Sem pai para fa&er os arran7os, edepois do tempo que passara disfar+ada de mosqueteiro, que outro matrimCnio poderiaarrumar6 /ra sorte ter sido prometida em casamento pelo irmão anteriormente" /sorte ainda maior ter um noi%o cu7o senso de honra o impelia a cumprir a promessafeita a um amigo morto"

. O que mais poderia fa&er6

. 4osso ser mosqueteira" 5omo sou agora"

. 2ão e(istem mosqueteiras" )penas mosqueteiros" ? uma mulher, Sophie" 2ão%ai resistir aos rigores do regimento"

. 4or que não6 /u 7$ sa#ia ca%algar antes de %ir para 4aris" 2as 8ltimas semanas,aprendi a lutar" >ra#alhei duro todos os dias, superei meus limites, e ontem @ noiteconsegui me defender de um #ando de #ê#ados fero&es e %iolentos" / escapei daguarda en%iada para deter os encrenqueiros da ta%erna" / não se esque+a de que o feriem uma luta limpa e enfrentei a morte com meus olhos a#ertos" ) que rigores serefere, e(atamente6 O que pode ser pior6

2ão entendia por que ela preferia enfrentar todos esses pro#lemas, quando tinhanas mãos uma solu+ão muito mais simples e confort$%el"

. 3ocê uma mulher- De%ia passar o tempo criando filhos e cuidando da casa,como fa&em as outras" 2ão de%ia estar aqui aprendendo a lutar-

. 3ocê me ensinou a lutar"

. Mesmo assim, ainda uma mulher, não um soldado"

. /scute aqui, não hesitarei em mat$*lo para proteger meu segredo-

Lamotte não du%ida%a disso" )final, ela 7$ ha%ia atentado contra sua %idaanteriormente" Mas não lutaria contra uma mulher". Meus companheiros acreditam que sou erard" /les rirão de sua alega+ão"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

2egarei que sou uma mulher e o desafiarei a uma luta de morte pelo insulto"/la parecia esquecer que seria relati%amente f$cil pro%ar tal acusa+ão" 2a noite

anterior, Sophie ha%ia mostrado o caminho para desmascar$*la pu#licamente" S:precisa%a de uma espada afiada para cortar o cordão de sua cal+a, como ela fi&eracom o %alentão na ta%erna" /staria aca#ado"

. =uer mesmo ser um mosqueteiro6

. Sim" Le%ei a praga para minha casa" erard e minha família morreram por isso"De%o a ele a honra que o teria co#erto, caso seguisse %i%endo como mosqueteiro" /uama%a meu irmão mais do que 7amais amei algum, mais do que 7amais serei capa& deamar outra pessoa" 2ão %ou permitir que me impe+a de co#rir seu nome de honra"

. erard tam#m a ama%a muito"L$grimas surpreendentes inundaram os olhos dela". /u sei""" . Sophie sussurrou"Batidas na porta anunciaram a chegada da tina e da $gua quente"

. Hora do #anho . Lamotte anunciou"/la o olhou com ar carrancudo, mas ficou em silêncio at a senhoria sair do

quarto seguida pelos carregadores". Sa#e muito #em que não posso me #anhar aqui" 2ão seria pr:prio". 2ão6 4ensei que fCssemos companheiros de armas- Soldados de um mesmo

regimento-. /ngra+adinho"""Bem, pelo menos ela ainda tinha alguma modstia". 3ou pro%idenciar roupas limpas e dei($*la so&inha enquanto se #anha")ssim que se %iu so&inha com a tina cheia de $gua quente, Sophie tratou de

despir*se rapidamente" H$ quanto tempo não imergia o corpo na $gua para realmentela%$*lo6 2em conseguia lem#rar"

4assara todo o in%erno la%ando*se com $gua fria, temendo desperdi+ar a lenhaque reunira com tanto esfor+o para aquecer $gua" >oda a energia disponí%el ha%ia sidonecess$ria para manter*se aquecida e alimentada"

O quartinho a#afado em 4aris não oferecia o lu(o de #anhos, nem mesmoocasionais" /ra preciso la%ar*se com uma #acia de $gua morna cedida todas as noitespela mesquinha e carrancuda senhoria" 2unca sequer pensara em pedir uma tina cheiade $gua quente" Sa#ia que não a teria" ) mulher teria desmaiado de choque e espantoao ou%ir pedido tão desca#ido"

Mergulhada na $gua quente, ela se la%ou com o sa#ão perfumado pro%idenciadopela senhoria de Lamotte e, ignorando a dor nos ps e nas mãos, esfregou a pele p$rali%r$*la de toda su7eira e gordura, usando o pano $spero dei(ado na #orda da tina paraesfregar tam#m as costas"

Sophie la%ou tam#m os ca#elos, que cortara antes de dei(ar 5amargue" )goraeles mal toca%am seus om#ros"

Einalmente, satisfeita com a limpe&a completa e com o sua%e perfume de la%andaem sua pele, ela saiu da tina, secou*se e enrolou*se na toalha amarela que a espera%apendurada em um gancho"

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) pilha de roupas su7as causa%a*lhe desgosto" )gora que esta%a limpa, sentia%ontade de queim$*las" Lamotte tinha ra&ão o cheiro era insuport$%el"

) ca#e+a ainda doía, mas não como antes, e o estCmago se aquietara" O #anhocontri#uíra para melhorar sua disposi+ão"

Lamotte pro%idenciara roupas limpas que dei(ara ao lado da porta, e ela %estiu a

cal+a de algodão #ranco e a camisa da mesma cor" Depois cal+ou as meias" Ha%iatam#m uma cal+a de couro da melhor qualidade, em#ora grande demais para seutamanho, e nada com que pudesse en%ol%er os seios" >eria de dei($*los li%res"

Sentia*se desconfort$%el e %ulner$%el %estida como esta%a, em roupasemprestadas e grandes demais, mas pelo menos esta%a limpa" )gora poderia enfrentarLamotte, mesmo estando em seu territ:rio"

/la #oce7ou" De algum 7eito, precisa%a con%encê*lo a não re%elar seu segredo" 2ãotinha futuro como mulher" Se fosse o#rigada a dei(ar o regimento, seu irmão seriain7ustamente esquecido"

)lm do mais, agora era uma mosqueteira" 2ão queria retomar a %ida confinantede mulher, as costuras e a co&inha, as conser%as e a limpe&a" Maior era a gl:ria deproteger o rei de seus inimigos- ) %ida de homem poderia ser muito mais digna do quesua e(istência in8til de mulher"

2ão" Mesmo que Lamotte a amea+asse, a decisão esta%a tomada" )gora eraerard, e não desistiria de sua no%a identidade enquanto %i%esse"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

#ap&t$lo )

Lamotte retornou e a encontrou sentada no di%ã, desem#ara+ando os ca#elos comum pente de osso entalhado" 3estida com suas roupas grandes demais, ela pareciafr$gil e %ulner$%el"

. Sente*se melhor6

. Sim, o#rigada" / tam#m estou cheirando melhor" /le dei(ou so#re a mesa decanto a 7arra que carrega%a ao entrar" O #otic$rio da rua paralela tinha uma receitainfalí%el para curar #olhas e cortes" /nquanto ela toma%a #anho, Lamotte apro%eitarapara ir suprir seu estoque" /le se sentou no di%ã ao lado de Sophie, que cheira%a ala%anda, uma fragr<ncia muito melhor do que a anterior, uma mistura de suor, poeira e%inho a&edo" /le respirou fundo para desfrutar do delicioso perfume"

. Dê*me suas mãos"Sophie atendeu ao pedido" O conde espalhou uma gota do unguento so#re a palma

ferida e cale7ada, e ela mordeu o l$#io para suportar o ardor sem gritar" Lamotteadmira%a sua coragem" Sa#ia por e(periência pr:pria que a aplica+ão do unguentocausa%a dor intensa"

. /ntão, este%e pulando muros6 . ele perguntou, tentando distraí*la enquantoespalha%a o remdio com mo%imentos circulares" . 2ão o que eu espera%a de um 7o%em mosqueteiro am#icioso"

. 2ão queríamos ser pegos pelos guarda" >enho de pensar na honra do nome deminha família"

. 2ão por muito tempo" Logo %ai ter de se preocupar em honrar o nome da minhafamília"

. 0$ discutimos esse assunto" /u disse que não %ou me casar com %ocê" Sereimosqueteira"

. 4rometi a seu irmão que cuidaria de %ocê, caso ele não esti%esse aqui para isso"2ão %ai me fa&er que#rar esse 7uramento" 3amos nos casar, nem que eu tenha deamarr$*la e arrast$*la at o altar aos #erros"

. /squece que agora sou um soldado6 2ão teria muito tempo de %ida como meumarido, se me o#rigasse a isso"

. Du%ido que perca seu %alioso tempo atentando contra minha %ida" 5aso nãosai#a, mulheres que matam seus maridos são torturadas e mortas na prisão"

. 2ão se preocupe, eu nunca seria pega" Sou cuidadosa demais para isso" Muitosmaridos %iolentos morrem acidentalmente depois de ingerirem cogumelosen%enenados, e suas esposas 7amais são punidas"

Lamotte não gosta%a da ideia de passar o restante de seus dias resguardando apr:pria retaguarda, mas não %ia alternati%a" 4recisa%a se casar com ela"

Ei&era um 7uramento solene a erard, o homem a quem amara como um irmão")gora, Sophie era sua responsa#ilidade perante Deus" S: quando fossem marido emulher, ele poderia realmente protegê*la"

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. Mesmo assim, aceito me casar com %ocê"/le le%antou a ca#e+a para encar$*la, interrompendo os cuidados com os

ferimentos" Desconfia%a daquele ar sereno" H$ pouco ela o ha%ia amea+ado en%enen$*lo, caso se casassem"

. )ceita6

. 5om uma condi+ão"

. =ual6

. /u continuo %i%endo e me %estindo como homem, morando em meus aposentos,le%ando minha %ida independente" Seguirei sendo mosqueteiro" 2ão re%elar$ a ningum,por pala%ra ou a+ão, que sou uma mulher" 2ão %ai interferir na minha %ida, e eu nãointerferirei na sua" Seremos estranhos um para o outro" Se concordar com isso, aceitome casar com %ocê e cola#oro para que cumpra sua promessa"

Sua aud$cia chega%a a ser di%ertida" Mas ela não podia estar falando srio, nempodia estar pensando que ele concordaria com e(igências tão ultra7antes" 4retendia se

casar para protegê*la" / não poderia protegê*la se %i%essem tão distantes um dooutro" De qualquer maneira, ela esta%a a#erta a negociar" /ra um #om sinal"

. 3ocê disse uma condi+ão, e colocou pelo menos três" Sophie não sorriu"

. )ceita6) teimosia a cega%a para o #om senso". 2ão posso me casar com um mosqueteiro". 2esse caso, não ha%er$ nenhum casamento" . /la se le%antou, gemendo ao

apoiar o peso do corpo so#re os ps feridos" . O#rigada pelo #anho" /stou indoem#ora"

Ou ela fala%a srio, ou era a melhor negociadora que 7$ encontrara" Sophierealmente partiria, caso se negasse a acatar suas e(igências a#surdas"

. /spere . Lamotte pediu, pu(ando*a de %olta ao di%ã" 4recisa%a ganhar tempo afim de con%encê*la de que não aceitaria um não como resposta" . )inda não trateide seus ps" 4odem infeccionar, se não cuidar das feridas"

. Meus ps estão :timos"

. / e%idente que estão doendo" Mal consegue andar- . O conde se a7oelhoudiante dela e remo%eu uma de suas meias" Sophie tinha #elas pernas" 5asar*se com elanão seria tão terrí%el, afinal, desde que pudesse acorrent$*la @ cama e mantê*la ali"/specialmente se o restante do corpo fosse tão tentador quanto a perna que %ia nessemomento"

Os ps esta%am em condi+1es ainda piores do que ele imaginara". 2ão pode ter se machucado tanto em uma 8nica noite- . /le ia espalhando a

pomada so#re uma #olha do tamanho de seu polegar". 2ão foi em uma s: noite"/le cuida%a dos dedos, um a um" 4referia estar acariciando outras partes daquele

corpo sedutor, mas não podia pensar nisso agora" >eria muito tempo para saciar o

dese7o quando Sophie fosse sua esposa". =uando, então6. Sempre" )s #otas de erard estão grandes demais para mim" ) fric+ão

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constante do couro causa #olhas dolorosas"=uando fossem casados, cuidaria para que ela nunca mais ti%esse de usar #otas

emprestadas". 4recisa comprar #otas no%as de couro mais macio e meias mais grossas" Seus

ps estão imprest$%eis-

. ;m par de #otas era suficiente para erard" >erei de me contentar com omesmo"

De%ia ser uma e(periência dolorosa" 2ão sa#ia como ela conseguira se manter emp ao longo da 8ltima semana, muito menos como pudera saltar e correr como fa&ia nostreinos" Mais uma %e&, surpreendia*se com a determina+ão que a go%erna%a nessa no%a%ida de mosqueteira" O tra#alho que teria para con%encê*la a aceit$*lo como maridopoderia ser maior do que ha%ia antecipado"

. 5ase*se comigo, e eu lhe darei outro par de #otas" /la riu"

. /ssa de%e ser a melhor oferta que 7$ rece#i"

. Melhor ainda, %ou comprar para %ocê macios cal+ados de %eludo #ordado eseda, e %ocê nunca mais ter$ uma 8nica #olha em seus ps" . 2enhuma mulher usaria#otas em lugar de cal+ados macios e confort$%eis" 4or que sua noi%a seria diferente6

. 4refiro as #otas" 2unca %i um mosqueteiro lutando com os ps em sapatos de%eludo"

2ão a for+aria a aceit$*lo" Sa#ia que esse tipo de atitude s: causariaressentimento" 4recisa%a con%encê*la de que nenhum outro curso de a+ão era %i$%el"

. >enho um de%er de honra com a mem:ria de erard" 4rometi que me casariacom %ocê e a protegeria"

. Seu de%er de honra não da minha conta" 5oncluído o tra#alho com o primeirop, ele o cal+ou com a meia e passou a cuidar do outro" ) persistência de seu dese7opor Sophie o pertur#a%a" )inda esta%a tentando se ha#ituar a %ê*la como mulher, nãocomo soldado"

. /st$ mesmo decidida a seguir como mosqueteiro6

. /stou"

. 2ão quer %i%er uma %ida de facilidade, uma %ida de lu(o e conforto, %estidosde seda e finos %inhos, em meu castelo em Burgundy6 5omo minha esposa, nunca maisteria de sofrer com #olhas nos ps"

. 2ão quero %i%er no :cio egoísta e na inutilidade" 2ão quero ter uma %idadespro%ida de significado ou prop:sito" Seria preferí%el morrer"

Lamotte conhecia o sentimento" /(perimenta%a ele mesmo algo muito parecido,mas nunca ha%ia imaginado que uma mulher pudesse sentir o mesmo"

. 4refere ter uma %ida de esfor+o e pri%a+ão como soldado, tra#alhando dia enoite, se for necess$rio, passando frio e fome onde não h$ comida ou lenha para ofogo, sacrificando at a %ida em casos e(tremos6

. 4referiria ser uma humilde a#elha ser%indo minha comunidade da melhor

maneira possí%el a ser uma linda #or#oleta cercada por #ele&a e(:tica, mas semnenhuma utilidade". O que faria se eu a delatasse a D')rtagnan6 . 2ão que pretendesse

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realmente traí*la" >anta coragem merecia um tratamento mais digno" Mas queria sa#erqual seria a rea+ão de Sophie"

. /u o mataria, ou morreria tentando"Lamotte dei(ou escapar um suspiro de e(austão e de%ol%eu a meia ao p de

Sophie" 4odia ler a determina+ão em seus olhos, mas esta%a igualmente determinado"

Optaria por uma retirada estratgica agora, para mais tarde poder sair %itorioso da#atalha final que ocorreria entre eles pelo domínio"

2ão tinha alternati%a, a menos que a for+asse a aceit$*lo por marido, o que seriadetest$%el" 2ão podia promo%er um come+o tão desastroso para essa união" >eriatempo de so#ra para fa&ê*la entender seu ponto de %ista depois do casamento" / teriade con%encê*la de sua ra&ão, se quisesse ter uma casa tranqGila" 2enhum lar poderiaa#rigar dois soldados sem transformar*se e%entualmente em campo de #atalha"

. 2esse caso, parece que não tenho escolha" 3ou me casar com minhamosqueteira" Mas tam#m tenho algumas condi+1es"

/la o encarou desconfiada". =uais6Lamotte tentou propor um compromisso com o qual pudesse con%i%er e que

permitisse a ela aceitar graciosamente o casamento sem ter de a#rir mão do orgulho"/ra como domesticar uma gata sel%agem at fa&ê*la comer em sua mão" 4ressa oupressão e(cessi%a s: a afugentariam, e depois seria mais difícil reapro(imar*se"

Lamotte pigarreou". /m p8#lico %ocê ser$ um mosqueteiro, e não le%antarei nenhuma suspeita por

pala%ra ou a+ão so#re sua %erdadeira identidade" 2ingum 7amais sa#er$ que umamulher e minha esposa" /m particular, %ocê ser$ minha esposa, não s: legalmente, masna pr$tica, tam#m" 3i%er$ comigo em minhas acomoda+1es, e me ser$ fiel e%erdadeira em todos os sentidos"

/la #alan+ou a ca#e+a" ;m sorriso p$lido iluminou seu rosto". 2ão posso ser sua esposa na pr$tica" O que D')rtagnan faria comigo se

desco#risse que, alm de ser mulher, espero um filho6/la o interpreta%a com precisão surpreendente" Se algum dia engra%idasse,

Sophie certamente perderia o interesse pela %ida de soldado e se tornaria uma #oaesposa e uma mãe dedicada" ) maternidade a domesticaria muito mais rapidamente doque qualquer coisa que ele pudesse fa&er"

. /(igirei fidelidade, Sophie, e nem pense em anular nosso contratoposteriormente por ine(istência de consuma+ão" 2osso casamento de%er$ ser real"

. Sou uma mosqueteira e uma mulher de pala%ra" 2ão trairei sua confian+a emmim, mas não posso ser sua esposa em todos os sentidos" / se insistir nessa condi+ão,não ha%er$ casamento"

4recisa%a tê*la por perto para conquist$*la". )ceita ao menos ir %i%er em meus aposentos6

. Sim, aceito, se for mesmo necess$rio, mas como colega de regimento, não comosua esposa">eria de sedu&i*la" Se fosse decidido e cauteloso, ela não poderia resistir por

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muito tempo" )final, era s: uma mulher"2ão dispunha da determina+ão e da for+a de %ontade de um homem" Mais cedo ou

mais tarde, ela fraque7aria, e estaria por perto para tirar pro%eito desse momento". /ntão, não insistirei para compartilharmos o leito, em#ora reclame o direito de

tentar fa&ê*la mudar de ideia"

. 2ão %ou mudar de ideia"/le sorriu" Seria di%ertido tentar sedu&i*la e domestic$*la" Seria um desafio

interessante, mas sairia dele %encedor". /stou disposto a me empenhar por isso". /ntão""" eu concordo" ". Ntimo- Os proclamas serão lidos na igre7a pela primeira %e& no pr:(imo

domingo, e então estaremos praticamente casados"/la fe& um mo%imento para se le%antar no%amente". /ntão, %oltaremos a nos %er no domingo"

2ão podia dei($*la escapar tão facilmente" Sophie ainda poderia fugir" 4referiase cercar de garantias e não correr riscos, ou perderia o pouco que conseguiraconquistar"

. 3ou mandar um garoto ir #uscar suas coisas" ) partir de ho7e, %ocê %ai passara morar comigo"

Sophie o encarou horrori&ada". Morar com %ocê6 Mas""" ainda nem somos casados-. 2ão sei ao certo se 7$ posso confiar em %ocê, minha adorada futura esposa"

2ada garante que não %ai fugir para Lyon ou !eims sem dei(ar pistas, #uscar outroregimento para construir sua %ida de soldado" )gora que a tenho aqui, pretendomantê*la so# %igil<ncia constante" )lm do mais, se esti%er aqui dormindo comigo, não%ai poder ir dormir no chão do quarto de outro companheiro qualquer"

. 2ão posso dormir com %ocê antes de nos casarmos" Sou mulher, %ocê homem"? inimagin$%el"

. Dormiu em#riagada no chão do quarto de outro mosqueteiro . ele lem#rou"2ão gosta%a de pensar nisso" Sa#ia que ha%ia sido apenas uma #e#edeira inocente, ou otal companheiro 7$ teria di%ulgado seu segredo" Mesmo assim, não gosta%a disso" Sealgum desco#risse o segredo de Sophie, dedu&iriam tratar*se de uma mulher perdidae a tratariam de acordo com essa suposi+ão" / ela era uma mulher de origem no#re"Sua futura esposa" >eria de impression$*la e(pondo os riscos que ela correra ecertificando*se de que não %oltaria a corrê*los" 2ão gostaria de ter de desafiar umad8&ia de colegas mosqueteiros por terem desrespeitado sua esposa" . 2ão acha queisso igualmente inimagin$%el6

. ? diferente" Eoi s: uma noite, uma situa+ão completamente inofensi%a"nofensi%a6 De 7eito nenhum" Mesmo que ela não quisesse admitir, Sophie ha%ia

corrido um grande risco" >inha sorte por não ter sido desmascarada"

. Eomos prometidos um ao outro h$ meses" Meu tio e seu pai assinaram umcontrato" )os olhos de Deus, como se 7$ fCssemos casados"

. 4ode ha%er centenas de contratos assinados, eu não assumi compromissos"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

2unca prometi nada"O que era f$cil de solucionar" Lamotte le%antou*se e parou diante dela com ar

solene". Sophie Delamanse, declaro agora que estamos unidos por um compromisso" De

ho7e em diante, ser$ para mim como esposa" Serei fiel a %ocê e não me relacionarei

com outras mulheres" Serei seu marido, e de nenhuma outra, e fa+o esse 7uramentoperante Deus e Seus an7os"

Sophie gemeu" 2ão era assim que ha%ia imaginado o dia de seu noi%ado" 3estidacom roupas masculinas e grandes, com uma dor de ca#e+a de enlouquecer""" =ueescolha poderia ter6 O conde esta%a determinado a cumprir sua promessa, e ela 7$ha%ia decidido que permaneceria mosqueteira pelo #em da honra do irmão" )ssim, pelomenos, am#os poderiam cumprir seus prop:sitos"

/la se le%antou" 2ão seria correto fa&er o 7uramento amontoada no sof$". 5onde !icard Lamotte . come+ou, tentando não chorar ao pCr os ps feridos

no chão ., aceito o compromisso entre n:s" De ho7e em diante, ser$ como um maridopara mim" Serei fiel a %ocê e não me relacionarei com outros homens" Serei suaesposa, e de nenhum outro, e fa+o esse 7uramento diante de Deus e Seus an7os"

O conde tinha um ar triunfante" Sophie esta%a cansada demais para seincomodar" /le %encera a #atalha s: porque esta%a e(austa e indisposta, incapa& deseguir lutando"

. >enho dores horrí%eis nos ps e na ca#e+a" 4reciso #e#er $gua e dormir" .2ão tinha import<ncia se soa%a como uma menina mimada" >udo o que queria era oconforto do sono profundo que tra&ia esquecimento e pa&"

/le a#riu uma porta de comunica+ão com outro aposento, onde ha%ia uma enormecama cercada por cortinas" 4egando*a nos #ra+os como quem carrega uma crian+a,le%ou*a at l$ e depositou*a gentilmente so#re as co#ertas"

. >rarei a $gua em um momento" Depois, %ocê poder$ dormir por quanto tempoquiser"

Os len+:is eram limpos e perfumados" >inham o cheiro da la%anda do sa#ão queela usara no #anho" Sophie 7ogou a enorme cal+a no chão e se enfiou so# a co#erta,grata por poder fechar os olhos e #loquear a lu& que tanto sofrimento causa%a"Banhos, len+:is limpos, perfume de la%anda""" >al%e& o casamento fosse toler$%el,afinal"

Lamotte parou ao lado da cama com o copo de $gua em uma das mãos" Dormindo,ela parecia mais feminina do que nunca, porque não podia mostrar garras e dentes oufa&er amea+as"

2ão a despertaria" /m %e& disso, ele depositou o copo com $gua so#re o criado*mudo" =uando acordasse, ela poderia saciar a sede" / espera%a que a dor de ca#e+aser%isse de li+ão e a impedisse de #e#er em e(cesso no futuro" ) #e#ida 7$ ha%iaarruinado muitos soldados de grande competência, mais do que gostaria de ter

conhecido" 2ão permitiria que o mesmo %ício destruísse sua esposa"/nquanto Sophie dormia, Lamotte mandou um garoto ir #uscar as coisas dela narua Eosset"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Sophie não possuía muita coisa" ;ma pequena %alise com algumas pe+as de roupalimpa e uma adaga de ca#o entalhado" Lamotte a reconheceu" ) arma pertencera aerard"

/la ainda dormia quando o conde dei(ou a %alise no chão, ao p da cama"Satisfeito, ele se sentou @ escri%aninha para polir seu arsenal" )s tarefas simples de

soldado o a7udariam a manter a mente li%re de pensamentos en%ol%endo o corpo deuma certa mulher que dormia no aposento contíguo, em sua cama"

/le termina%a de polir a adaga que fora de erard, e que agora pertencia aSophie, quando ou%iu um grito sufocado no dormit:rio" )ssustado, correu at l$ e aencontrou sentada na cama, com os olhos muito a#ertos fi(os em algo que s: elamesma podia %er"

. gua""" gua""" . Sophie pedia como se não o %isse ali"/le pegou o copo so#re o criado*mudo e o apro(imou de seus l$#ios" Sophie #e#eu

$%ida, sem se importar com o fio que escorria por seu quei(o e molha%a a camisa"

Saciada, ela se deitou e adormeceu no%amente"Lamotte ainda permaneceu ao lado dela por um tempo, afagando*lhe a testa e

certificando*se de que o pesadelo que a atormentara não retornaria" /la era tãocora7osa e forte, que fica%a f$cil esquecer quanto 7$ ha%ia sofrido e quanta dor aindade%ia ha%er em seu cora+ão amargurado" Os horrores que enfrentara ao testemunhara morte de toda a família teriam sido suficientes para que#rantar o espírito de muitoshomens que conhecia" / ela era s: uma mulher" Eorte, determinada e confiante, masuma mulher"

) noite 7$ se apro(ima%a quando Sophie acordou no%amente recordando umpesadelo" 2o sonho, ela padecia com a praga sem ningum para a7ud$*la" ritara por$gua, e um an7o de miseric:rdia a socorrera %ertendo o líquido precioso entre seusl$#ios e afugentando seus demCnios" 2ão compreendia por quê, mas o an7o tinha orosto de Lamotte"

) dor de ca#e+a era agora um le%e late7ar, mas esta%a faminta, e um deliciosoaroma de carne assada alimenta%a*lhe o apetite" 4assara o dia todo sem comer, e ocorpo reclama%a o sustento necess$rio" 3estida com as roupas de Lamotte, ela saiu doquarto, disposta a encontrar comida para saciar sua fome %ora&"

Lamotte esta%a sentado com um li%ro entre as mãos, mas ergueu a ca#e+a aoou%ir seus passos"

. 4ensei que fosse dormir at amanhã"/spera%a que ele não se dedicasse a ler poesia" Detesta%a poesia-. /stou com muita fome" O que h$ para comer6 /le apontou para a mesa". /sta%a me preparando para 7antar" 2ão quer me acompanhar6Sophie não tinha tempo para desperdi+ar com pala%ras" 5arne assada, galinha

frita, uma %ariada sele+ão de %egetais e, gl:ria suprema, alguns pêssegos frescos, um#anquete como não %ia h$ meses, desde que a praga assolara a propriedade de sua

família" ncapa& de resistir ao aroma dos pêssegos, ela se ser%iu de um e mordeu afruta com apetite in%e7$%el, lam#endo os l$#ios ao sentir que o suco escorria por eles". /stou no paraíso-

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. Se for morar em Burgundy, poder$ comer pêssegos todos os dias" . Lamotteser%iu*se de carne e de uma sele+ão de molhos de aparência apetitosa" . >emos umpomar cheio deles" =uando era menino, eu costuma%a me entupir de pêssegos at ficaren7oado"

O 8ltimo peda+o do fruto sa#oroso transformou*se em cin&as quando ela ou%iu a

declara+ão do conde" /m silêncio, Sophie depositou o caro+o em um prato %a&io" /le semostrou culpado"

. 2ão queria arruinar seu pra&er tão simples"

. 2ão tem import<ncia"Sophie ser%iu*se e comeu sem apreciar o sa#or dos alimentos" 2ão se dei(aria

sedu&ir pela rique&a dos pratos" 2ão se dei(aria tentar pelas delícias de um casteloem Burgundy, onde %i%eria aprisionada" Lutaria com todas as for+as pela independênciaque ha%ia conquistado"

O conde ofereceu uma ta+a de %inho, mas ela a recusou com um arrepio de

repulsa". gua, por fa%or" . 2ão se incomodaria se nunca mais pro%asse uma ta+a de

%inho") refei+ão mal ha%ia terminado, quando Sophie come+ou a #oce7ar no%amente"

Saciada a fome, s: queria %oltar a dormir". 0$ que e(ige que eu %i%a aqui com %ocê, onde espera que eu durma6. S: h$ uma cama")inda tinha dores no corpo depois de ter passado a noite anterior no chão do

quarto de 5ourtney". ? minha" . 2ão dormiria no chão no%amente". 5omo quiser" 2ão espero que di%ida a cama comigo antes de nos casarmos"/la se le%antou" 2ão se dei(aria sedu&ir pelo charme do conde" 2ão daria aten+ão

aos m8sculos de seus #ra+os, ao sorriso luminoso, aos l$#ios que poderiam tocar osdela e"""

2ão" 2ada queria desse homem" 2ada"3i%eria a %ida que dese7a%a %i%er, apesar de Lamotte" / se ele pretendia impor

alguma autoridade em seu no%o papel de marido, não sa#ia o que o espera%a". 2em mesmo depois do casamento, monsieur, se sa#e o que #om para %ocê"!icard Lamotte a %iu desaparecer alm da porta do seu quarto, e suspirou

pesaroso" 2ada o faria mais feli& do que passar a noite nos #ra+os de SophieDelamanse, mas tinha de ser paciente" Ha%ia prometido se casar com ela" Depois docasamento, nada o impediria de tentar sedu&i*la"

O conde pensou em cogumelos en%enenados e foi sacudido por um tremor" 2ão aconsidera%a inteiramente incapa& de atac$*lo com sua adaga, caso tentasse seesgueirar para a cama no meio da noite" 2ão" /speraria at ser con%idado"

>ra#alharia duro por esse con%ite" /m sua opinião, os %otos de casamento eram

srios e sagrados, e nada os impediria de cumpri*los" 2ão dese7a%a %i%er no celi#atodepois de casado, especialmente porque di%idiria o teto com a mulher mais atraente etentadora que 7$ encontrara em seu caminho"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

2a manhã seguinte, Sophie dirigiu*se ao regimento sentindo*se %i%a outra %e&" OestCmago se aquietara, a ca#e+a 7$ não doía, e o unguento que Lamotte aplicara emseus ps opera%am milagres" 4odia quase andar sem mancar"

4ierre a rece#eu com um tapa tão forte nas costas, que quase a derru#ou". Bastardo encrenqueiro- . ele e(clamou com um tom cheio de admira+ão" .

>em muita coragem e nenhum 7uí&o para enfrentar aquele grandalhão furioso" 2unca%ou esquecer a cara dele quando perdeu a cal+a"

Sophie o encarou surpresa" Lamotte ficara tão &angado com seu comportamento,que não ha%ia imaginado que os outros companheiros poderiam ser de opiniãodiferente" /ra e%idente que alguns ali adora%am uma #oa #riga"

Erancamente, não conseguia entender esse gosto du%idoso" Lutar por uma #oacausa era 7usto e glorioso, mas não compreendia por que os homens aprecia%am a lutapela luta"

. >reinou muito #em ho7e . outro mosqueteiro comentou ao %ê*la comendo com

grande apetite na hora do almo+o, depois de uma manhã de tra#alho duro"Sophie quase engasgou" O rosto era familiar, mas o companheiro nunca ha%ia

dirigido uma 8nica pala%ra a ela em todas as semanas que passara no regimento"/sfor+ara*se para permanecer e(ilada, e nenhum dos outros a incomodara nesse e(ílioauto*imposto"

. Longa %ida aos mosqueteiros do rei- . ;m deles #rindou erguendo a caneca decer%e7a forte"

. / morte aos inimigos do rei . acrescentou outro" Sentada a seu lado, 5ourtneya cutucou com o coto%elo e le%antou a caneca em resposta ao #rinde"

. Bem*%indo ao clu#e dos #astardos sem cre#ro, amigo erard . ela murmurousorrindo"

Sophie esta%a tão entusiasmada com essa no%a camaradagem dos companheiros,que quase nem se incomodou quando o capitão do regimento a escolheu para limpar osgalp1es com esfregão e #alde"

. sso %ai esfriar sua ca#e+a . ele disse" . 4assar um dia fa&endo o tra#alho deuma mulher o ensinar$ a não sair por aí arrumando confusão em ta%ernas"

/la sorriu, e seu #om humor era praticamente ina#al$%el". Sim, senhor". 4or que tenho de super%isionar um regimento inteiro de 7o%ens tolos6 .

D')rtagnan resmungou ao dei(ar o galpão onde ela de%eria come+ar o tra#alho defa(ina" . 0o%ens tolos que pensam ser in%encí%eis" 2o meu tempo, todos nosrespeita%am e temiam- Os mosqueteiros de ho7e não teriam a menor chance contraaqueles inimigos fero&es do passado" )h, não h$ mais re%oltas como antigamente"""

Sophie olhou pela 7anela do quarto de 5ourtney para o dia cin&ento e chu%oso"4assara a tarde esfregando o chão, sem chance de apro(imar*se das duas no%asamigas, e tinha grandes no%idades para compartilhar com elas"

)gora que a oportunidade se apresenta%a, a coragem a a#andona%a" 2ão ha%ia um 7eito f$cil de contar @s companheiras o que tinha para di&er" Seria franca e esperariaque a perdoassem"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 3ou me casar com o conde de Lamotte" )manhã" 5ourtney derru#ou o copo eficou olhando estupefata para os estilha+os no chão" Seu rosto esta%a p$lido e tenso,como se aca#asse de %er uma assom#ra+ão" . 3ocê %ai o quê6

Miriame es%a&iou seu copo e o dei(ou so#re a mesa com mão trêmula". Se contou meu segredo ao conde, não %i%er$ o suficiente para se casar com

ele". Seu segredo est$ seguro comigo" Eui prometida a ele antes de me tornar

mosqueteira, e o conde se nega a a#rir mão do acordo" /ntão, concordei com ocasamento, mas impus uma condi+ão ele ter$ de guardar meu segredo" Lamotteconcordou com meus termos e est$ satisfeito, mesmo sa#endo que ser$ apenas umcasamento de aparência"

5ourtney passou do medo ao entusiasmo num piscar de olhos". Oh, adoro casamentos- =ue %estido usar$6 / o #uquê6 3ai se %estir de a&ul

para real+ar seus olhos6 . De repente, ela ficou sria no%amente" . ) 8nica coisa

errada em um casamento que de%e ha%er um noi%o . disse com a amargura ha#itual"Sophie esta%a confusa com a rea+ão de 5ourtney" /la não perce#ia como a notícia

as afeta%a a todas6 3estido era a 8ltima coisa a ocupar seus pensamentos". 2ão pensei no que %ou %estir" 2ão tenho %estidos aqui em 4aris" Dei(ei todos

eles na casa de meu pai, no 5amargue" >erei de me casar de uniforme, ou""" sem nada"Miriame riu ao pensar nessa possi#ilidade". /scandali&aria o po#re sacerdote a ponto de mat$*lo-. 4or quê6 ;sa%a cal+a de montaria em casa, e padre 5apin não se incomoda%a"

Is %e&es me su#metia a serm1es so#re o lugar de uma mulher, mas nunca dei(a%a decomer os patos que eu ca+a%a"

Miriame não para%a de rir". 3ocê não conhece os sacerdotes de 4aris- São diferentes daqueles que pregam

na $rea rural" Du%ido que possa compr$*los com um pato assado" >eria de ca+ar um%eado, no mínimo-

. 4agarei o que for preciso para con%encê*los de que estou adequadamente%estida para me casar"

Miriame ser%iu*se de mais uma ta+a de %inho". 3ou ter de ir assistir a esse casamento" Ser$ melhor do que qualquer pe+a de

teatro" Os sacerdotes %ão e(comungar %ocê por ser antinatural, uma mulher*homem"/les se recusarão a cas$*la"

Sophie sa#ia que a companheira esta%a certa" 2ão ha%ia pensado em roupas paraa ocasião" 2ão podia se casar %estida de mosqueteiro, mas como o#teria um %estidosem re%elar seu segredo6 >eria de cancelar o casamento" Lamotte seria for+ado aentender que as circunst<ncias o impossi#ilita%am"

. >enho %estidos de so#ra aqui" 4ode usar um deles . 5ourtney re%elou,dirigindo*se a um canto do quarto, onde um guarda*roupas era mantido escondido

atr$s de uma pesada cortina de %eludo" /la o a#riu e e(i#iu orgulhosa a coloridacole+ão de sedas e tafet$s" . osto tanto deles, que não consegui do$*los quando %impara 4aris disposta a ser um soldado" Sorte sua- )gora não precisa afrontar Deus e a

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

gre7a casando*se com roupas masculinas" magine o que seus pais diriam sesou#essem disso-

Sophie fe& uma r$pida e silenciosa prece de gratidão pelas amigas" /ra a segunda%e& que a sal%a%am" >inha com elas uma dí%ida que 7amais poderia esquecer"

O %estido oferecido por 5ourtney era um pouco comprido demais, resultado da

diferen+a de estatura entre as duas, mas 5ourtney se comprometeu a encurt$*lo"Mosqueteira ou não, ela não ha%ia esquecido como costurar e fa&er reparosnecess$rios"

Miriame olha%a #oquia#erta para o tra7e de seda, tocando*o com re%erência eadmira+ão fascinada"

. 2unca usei nada tão lindo em toda minha %ida""" 5ourtney tirou do arm$riooutro %estido e o estendeu na dire+ão da companheira"

. /(perimente este aqui" 3ai com#inar com seu ca#elo escuro"Miriame %estiu*se com alguma dificuldade"

. Sinto*me toda em#rulhada . ela reclamou diante do espelho"Sophie esta%a admirada" O %estido %ermelho transforma%a sua companheira de

um 7o%em de #ele&a moderada em uma mulher de #ele&a estonteante". 3ocê ficou linda-5ourtney escolheu um %estido amarelo". /ra o meu fa%orito . contou" . /u o %esti no dia mais feli& de minha %ida"

)ntes de perce#er que os homens são todos uns #astardos sem cora+ão"Sophie sentia*se como um pato entre gansos, mas a magnífica seda de seu

%estido e a presen+a das amigas da%am a ela algum conforto". =uero que este7am comigo na igre7a amanhã- Se7am minhas damas*de*honra, e

assim não me sentirei tão so&inha". /stou farta de fingir que sou homem . confessou 5ourtney" . Despre&o*os

com suas roupas imundas e seus h$#itos nada higiênicos" Soldados, então, sãoo#rigados a usar as roupas mais sem gra+a que 7$ %i" Se eu pudesse usar meu %estidofa%orito no campo de #atalha, certamente lutaria com mais empenho e determina+ão"O homem que su7asse este %estido morreria mil %e&es-

. Se essa a sensa+ão de ser mulher, prefiro ser soldado, o#rigada" ? maispr$tico . opinou Miriame"

. /sque+a que um soldado" S: por um dia" =uero que %$ ao meu casamento" 3ouprecisar de rostos amigos @ minha %olta" Lamotte não gostaria de me %er cercada porum corte7o de mosqueteiros, mas não poderia protestar contra um corte7o de damas")lm do mais, ningum %ai reconhecê*las em %estidos de seda"

5ourtney #alan+ou a ca#e+a". 5onheci muitas pessoas em 4aris" 2ão gostaria de ser reconhecida por

ningum" )lm do mais, %ou ter de me ausentar de 4aris amanhã para cuidar deneg:cios"

. Suponho que posso ser mulher por um dia . Miriame decidiu" . 4ode ser minha8nica chance de usar um %estido como esse"

. Seremos três mulheres, não três soldados" 2enhum dos nossos companheiros

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

nos reconhecer$". )h, #em""" Maldi+ão- . 5ourtney #ateu a mão na porta do arm$rio com a

finalidade de quem toma uma decisão" . /starei l$ por %ocê" >oda mulher merece umdia de casamento inesquecí%el"

Lamotte esta%a na porta da igre7a, esperando pela noi%a" >udo que sentia era uma

certa impaciência, um dese7o de aca#ar logo com tudo aquilo" ) honra e(igia que ele secasasse com a megera"

/ sa#ia que poderia at gostar um pouco dela, desde que Sophie dosasse aqueleespírito marcial" Dese7a%a seu corpo como um homem de%ia dese7ar sua mulher" >inhacerte&a de que, quando ela o aceitasse como seu senhor, poderiam encontrar umacerta medida de satisfa+ão se(ual" 4oderia at am$*la e encontrar a felicidade emseus #ra+os, mas teria de contentar*se com o que tinha e desistir de sonhar com o quenunca poderia reali&ar"

;m coche parou diante da igre7a e três mulheres saltaram dele, caminhando com

cautela pela rua enlameada de 4aris" /le as estudou rapidamente antes de olhar paraos dois lados da rua"

Onde dia#os esta%a Sophie6 >eria a inten+ão de mantê*lo esperando o dia todo6. Monsieur6/le se %irou so#ressaltado"Boquia#erto, ele reconheceu Sophie" /la esta%a linda com os ca#elos castanhos e

cacheados emoldurando o rosto delicado" O %estido %erde era da mais pura e delicadaseda, e ela estendia a mão em sua dire+ão"

. 2ão e(atamente um ca%alheiro galante, monsieur, ou não nos ignoraria tãofrancamente"

. 2ão sa#ia que era %ocê" /st$ tão""" diferente-

. Sou a mesma Sophie Delamanse que sempre fui, mas agora uso um %estido"

. 2ão imagina como ele com#ina com %ocê" /la apresentou as duas damas decompanhia"

. Minhas amigas, mademoiselle !uthgard e mademoiselle Dardagny" /las %ierampara o casamento"

;ma delas se inclinou numa mesura, enquanto a outra mo%eu a ca#e+a numcumprimento desa7eitado e nada formal"

/le se inclinou para as duas, mas mantinha os olhos fi(os em Sophie" Sua futuraesposa era linda" 2unca imaginara que um %estido pudesse fa&er tanta diferen+a">inha ali, diante de seus olhos, a mulher com que sonhara se casar" ) Sophie quesempre imaginara"

/le ofereceu o #ra+o num gesto galante". 2ão consigo imaginar nada que eu queira fa&er mais do que me casar com %ocê"/le assentiu para o sacerdote, que espera%a na entrada da igre7a". )qui esta%a a noi%a"

O sacerdote pigarreou e come+ou a ler" Lamotte esta%a em p diante da esposa,segurando suas mãos frias" /le esperou impaciente que o sacerdote chegasse @ partecrucial da cerimCnia" 2ão tinha certe&a de que Sophie não fugiria antes de ou%ir as

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pala%ras que os uniriam para sempre como marido e mulher"Einalmente o sacerdote fe& a pergunta que ele espera%a ou%ir". Sim" . /le falou a pala%ra em %o& alta e clara, surpreso ao desco#rir que era

franco" =ueria proclamar seu casamento ao mundo todo" Sophie era agora sua esposae esta%a feli& por isso"

. Sim" . ) %o& dela era sua%e e clara, mas seus olhos esta%am pertur#ados"O conde a#ai(ou a ca#e+a para o #ei7o sim#:lico que selaria a união"ostaria de estar em algum outro lugar onde pudesse #ei7$*la realmente, não

apenas ro+ar os l$#ios nos dela de maneira tão casta")parentemente, ela não reagiu ao #ei7o, mas ha%ia em seu rosto um ru#or

trai+oeiro quando ele le%antou a ca#e+a" >al%e& sua esposa não fosse tão imune a elequanto queria parecer"

/la era sua esposa, e ha%ia prometido sedu&i*la" /spera%a ansioso por essa noite,sua noite de n8pcias" >entaria seu paladar com doces guloseimas e seu corpo com

doces carícias at ela derreter em seus #ra+os" Se pala%ras doces e #ei7os delicadospudessem conquist$*la, na manhã seguinte ela seria sua esposa de fato"

Sophie esta%a em p diante dos aposentos do rei, e tinha as pernas afastadas eos #ra+os cru&ados so#re o peito" O %estido %erde usado no casamento fora guardadono guarda*roupa de 5ourtney com os outros, como se nunca hou%esse participado detão importante ocasião" ;sa%a no%amente cal+a e #otas como se nunca os hou%essetirado"

2ão ha%ia sido assim que imaginara sua noite de n8pcias quando era uma menina,quando sonha%a com o %i&inho 0ean*Luc, com seus cachos castanhos e suas mãosfirmes no arco" 2aquele tempo sonhara com os #ei7os e as carícias do marido e ansiarapelo dia em que seria feita mulher"

Lamotte não ha%ia ficado satisfeito quando ela recusara o 7antar que elepro%idenciara em seus aposentos" /la mesma ha%ia sentido por ter que a#andonar asfrutas adocicadas e as gelias sa#orosas que ele comprara, mas atendera ao chamadodo de%er" /ra uma mosqueteira, e o rei de%ia ser protegido at mesmo em sua noite den8pcias"

) %igil<ncia era uma #oa ra&ão para escapar dos aposentos que di%idia comLamotte" /le era grande, imponente, e a pertur#a%a" 2ão teria suportado passar anoite de n8pcias num silêncio desconfort$%el, sa#oreando um esplêndido #anquetecomemorati%o, mas com o espírito pesado e pisando em o%os na presen+a de um homempoderoso e forte que agora era seu marido aos olhos da lei, mas nunca o seria aosolhos de Deus"

4referia mil %e&es guardar o rei a su#meter*se @ tenta+ão que ha%ia 7uradoe%itar"

Miriame esta%a sentada no chão segurando um cantil". 2ão sei por que temos de guardar o rei . ela resmungou, %irando o cantil e%endo a 8ltima gota cair no chão empoeirado" . / de que de%emos protegê*lo, afinal6

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)mantes despre&adas com olhos cheios de %eneno6 ? certo que ele as tem aos montes"H$ rumores de que ele dormiu com todas as criadas do pal$cio, sem mencionar #oaparte das damas de companhia da rainha tam#m"

Sophie encolheu os om#ros". Seus inimigos, quem quer que se7am"

. 4or que ele teria inimigos6 >odos o amam" O sol nasce e se p1e em sua gloriosama7estade" . Miriame cuspiu no chão" . / isso que penso dos reis"

) porta diante dela se a#riu e Sophie olhou sria para a amiga". Eique quieta, idiota, ou %ai ter a ca#e+a separada do corpo" )lgum se

apro(ima";m pa7em do rei surgiu na fresta da porta". O rei dese7a %er um de %ocês" Miriame ficou onde esta%a". Diga ao rei que ele pode ir""" Sophie chutou o p dela". Diga ao rei que estou indo imediatamente . ela respondeu apressada,

tentando enco#rir da melhor maneira possí%el a insolência da companheira" . 4ensandomelhor, %ou com %ocê e direi eu mesmo"

/la suspirou ali%iada ao fechar a porta" Miriame tinha um profundo desrespeitopor autoridades em geral e nenhum sentimento de autopreser%a+ão" Is %e&es eraperigoso ser sua amiga"

O rei esta%a sentado em uma cadeira de espaldar alto diante de uma escri%aninhade costas para ela, escre%endo furiosamente so#re o papel diante dele"

Sophie inclinou*se para as costas do so#erano, apoiando*se so#re o 7oelho". erard Delamanse aos seus ser%i+os, ma7estade" /le o ignorou"/la esperou de 7oelhos por alguns minutos enquanto o rei escre%ia, esperando não

perder o equilí#rio e cair com um estrondo, mas e%itando le%antar*se sem suapermissão" Einalmente ele depCs a pena so#re a mesa, usou areia para secar a tinta esacudiu a folha"

5om dedos ligeiramente trêmulos, ele do#rou o papel ao meio, usou uma gota deparafina da %ela %ermelha so#re a mesa para selar a mensagem, e pressionou so#re acera o selo de seu anel real"

O rei se %irou e entregou a carta para Sophie sem di&er nada"/la a pegou ainda a7oelhada, e esperou por outras instru+1es"O rei passou a mão pelo ca#elo" /le parecia mais %elho do que Sophie imaginara"

2ão era mais um 7o%em" 4$lido, ele tinha a testa marcada por uma ruga profunda". Os de%eres de um rei nem sempre são agrad$%eis . ele disse, dirigindo*se a

Sophie com ar distraído" . Mas são de%eres de qualquer maneira" 2ão se pode e%itaro que de%e ser feito simplesmente porque o de%er causa re%olta @ alma"

O so#erano ficou em silêncio no%amente" Sophie sentiu que de%ia dar umaresposta"

. 2ão, ma7estade"

O rei #alan+ou a ca#e+a". 2ão gosto do que tenho de fa&er, mas farei assim mesmo" Mosqueteiro, %ocêde%e prender um traidor e le%ar o criminoso para a Bastilha" ) lettre*de*cachet que

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

lhe dei para o go%ernador da Bastilha" /ntregue a ele carta e o prisioneiro" /ntreguea ele e a mais ningum" Le%e seu companheiro de guarda para garantir sua seguran+anas ruas" O que quer que fa+a, de%e guardar #em o prisioneiroA mate o traidor se forpreciso, mas não lhe permita uma fuga" 5uide para que mais ningum sai#a disso"

Eora encarregada de uma importante e secreta missão para o rei" >inha o

cora+ão trans#ordando de entusiasmo" /ra a chance perfeita para honrar o nome deseu irmão"

Destruiria seus inimigos" 2ão desapontaria o rei nem trairia a confian+a neladepositada"

. Sim, ma7estade"O rei se %irou para o pa7em". )companhe o mosqueteiro e mostre a ele onde %i%e o traidor" . /le a olhou

com frie&a" . 2ão fa+a #arulho" O conde de uiche 7$ fugiu" 2ão %ou permitir queoutro p$ssaro escape da armadilha que preparei" Se o prisioneiro escapar, %ocê pagar$

com a %ida"/ra uma alegria ser%ir ao rei com a pr:pria %ida". Sim, ma7estade"Sem di&er mais nada, ele a dispensou com um gesto"Sophie despertou a relutante Miriame com a ponta da #ota e as duas seguiram o

pa7em pelo la#irinto de corredores" O cora+ão de Sophie #atia acelerado" /sta%aprestes a prender um perigoso traidor da coroa e de%eria guard$*lo com a pr:pria%ida" >al%e& ele resistisse, e então teria de su#7ug$*lo pela for+a" 2ão sentia medo"5om Deus e o rei da Eran+a a seu lado, certamente o dominaria"

O pa7em parou diante de uma porta entalhada". /la dorme aí dentro" Sophie parou assustada". /la6/sta%a preparada para dar a %ida a ser%i+o do rei, lutando contra seus inimigos

em uma desesperada #atalha de morte" Mas não se preparara para ser uma mulher"O menino assentiu". =uem ela6O pa7em olhou para os lados a fim de certificar*se de que ningum os ou%ia". Madame Henrietta, irmã do rei da nglaterra"De repente Sophie 7ulgou entender a ra&ão de sua missão" 2ão suportaria ser o

instrumento para punir uma mulher por sua lealdade @queles que realmente ama%a" Oque uma mulher não faria pelo irmão amado6 5om o cora+ão pesado, Sophie #ateu naporta"

>udo- )t trai+ão"O pa7em segurou a mão dela". Silêncio- >enho aqui uma cha%e"/le a#riu a porta, empurrou*a e desapareceu nas som#ras" Sophie guardou a

carta no interior da 7aqueta e as duas entraram, sem sa#er ao certo o que fa&er emseguida". /spero que o rei nos pague um #om adicional por fa&ermos seu tra#alho su7o .

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Miriame resmungou" . 2ão gosto da ideia de prender uma mulher adormecida". 2unca pensa em nada alm do pr:prio lucro- . respondeu Sophie num sussurro

irritado" . ) mulher uma traidora e de%emos cuidar dela"5om o cora+ão repleto de determina+ão e ner%osismo, ela ergueu os om#ros e

seguiu em frente"

O primeiro cCmodo esta%a %a&io" Sophie olhou em %olta, notando a rique&a damo#ília, e dirigiu*se a uma porta de cone(ão do outro lado"

;ma 7o%em em tra7es de dormir esta%a sentada so#re a cama" Ha%ia um (aleso#re seus om#ros e ela olha%a indiferente para a espada na mão de Sophie"

. 3eio para me matar6Sophie #alan+ou a ca#e+a" )dmira%a a coragem da traidora perante a morte". >enho ordens do rei para condu&i*la @ Bastilha" ) outra mulher suspirou". ? a mesma coisa" 4or fa%or, permite que eu me %ista antes de ser le%ada6Sophie e(aminou o quarto com um olhar cuidadoso" 2ão ha%ia possi#ilidade de

saída alm da porta pela qual ela aca#ara de entrar". 3ou esperar na ante*sala" 4ode se %estir" Se7a r$pida". 2ão %ou a#usar de sua paciência" 2ão o farei esperar mais do que o necess$rio"Miriame %aga%a pela ante*sala, e(aminando os o#7etos que enfeita%am todas as

superfícies, estudando*os atentamente antes de de%ol%ê*los aos seus lugares". 4oderia ganhar uma fortuna entregando toda essa quinquilharias ao %elho

Mal%oisin . ela comentou em %o& #ai(a" . >udo isso aqui, esperando para ser furtado-? o suficiente para testar a honestidade de um santo"

. Lem#re*se de que agora um mosqueteiro, não um ladrão"

. ;ma %e& ladrão, sempre ladrão" /sse meu lema" Eeli&mente para o seu sensode honra, %alori&o muito minha pele para rou#ar alguma coisa da família real, mesmoque se7a s: #ugiganga"

Sophie ainda nem ti%era tempo para ficar impaciente quando a mulher apareceuna ante*sala, ricamente %estida em tra7es de %eludo e co#erta por 7:ias caríssimas"

. 3ai para a Bastilha, não para um torneio real . ela e(clamou" . 2ão tem nadamais adequado para %estir6 3ai arruinar suas #elas roupas-

) 7o%em tocou o colar de prolas em seu pesco+o". Sou uma princesa da nglaterra e uma duquesa da Eran+a" Meu irmão o rei da

nglaterra e meu marido o 8nico irmão do rei da Eran+a" =ue import<ncia teria searruinasse um %estido de %eludo6 5aminharei para a morte de ca#e+a erguida"

;ma carruagem co#erta as espera%a na rua" Sophie não podia dei(ar de admirar apostura ereta e a calma da condessa, que era condu&ida para as frias e temidasmasmorras da Bastilha" ) prisioneira era uma mulher cora7osa que não temia a morte"

=ualquer que tenha sido a trai+ão por ela cometida, a condessa colhia seusfrutos com honra e %alentia"

O go%ernador da Bastilha não gostou de ser tirado da cama @quela hora" /le

apareceu segurando uma %ela e ostentando uma touca de dormir que caía so#re umolho, sinal de que ainda esta%a aturdido pelo sono". O que quer aqui6 . o homem resmungou do outro lado da grade de ferro"

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Sophie adiantou*se". >enho ordens do rei para entregar*lhe um prisioneiro" O go%ernador

resmungou contrariado". 2ão precisa%a mandar a sentinela me acordar para isso, tolo- /ntregue*o aos

guardas e pronto-

. 5reio que não me entendeu" >enho ordens rece#idas diretamente do rei paraentregar o prisioneiro ao go%ernador e a ningum mais" )qui est$ a carta com ase(plica+1es"

/la le%ou a mão ao #olso, mas não encontrou o documento" >eria dei(ado cair afolha em algum lugar6 O rei ficaria furioso-

Miriame deu um passo @ frente, inclinou*se e entregou a carta ao go%ernador porentre as grades"

. /scrita pelo pr:prio rei"Sophie olhou para a companheira com e%idente despra&er" Miriame quase a

matara de susto- 5om seus dedos le%es, ela ha%ia e(traído a carta do interior de sua 7aqueta"

. /sta%a praticando . Miriame murmurou no ou%ido da companheira carrancuda". 2ão quero perder o 7eito"

4elo menos a carta não se perdera, Sophie pensou conformada"O go%ernador a a#riu e leu @ lu& p$lida da %ela". Onde est$ o prisioneiro6 . perguntou em seguida" Sophie empurrou a condessa

na dire+ão do portão da Bastilha"Henrietta se mantinha firme diante das muralhas, mas parecia 7$ poder sentir no

rosto o ar frio e 8mido da masmorra". )qui estou . ela disse com tom seguro, orgulhosa demais para demonstrar

temor"O go%ernador empalideceu ao %ê*la" ;sando um molho de cha%es que le%a%a preso

@ cintura, ele a#riu o portão e se inclinou ner%oso ao permitir sua entrada" /m seguida,o homem olhou apa%orado para os dois mosqueteiros"

. 4renderam a senhora duquesa D'Orleans por ordem do rei6 /stão certos deque não h$ nenhum engano nisso6

Sophie %iu a prisioneira ser tragada pelas som#ras da fortale&a"Os port1es de ferro se fecharam com um estrondo sinistro"/ra difícil sufocar o sentimento de apreensão causado pela cena" /sta%a ali para

ser%ir ao rei, não para questionar suas ordens, e as ordens do so#erano ha%iam sidoclaras" ) mulher era uma traidora que merecia tal destino"

. Sim, estamos certos" O rei não comete enganos"Henrietta sentou*se no #anco frio da cela da prisão" O espesso %eludo do %estido

a protegia do ar frio da noite, mas, ainda assim, ela tremia" O rei Luís não a perdoariapor ter a7udado o conde de uiche a escapar" Lera a f8ria nos olhos dele quando os

guardas retornaram de mãos %a&ias, e naquele momento adi%inhara qual seria seudestino" Sou#era que a puni+ão não tardaria em chegar"Mas não ha%ia antecipado um mo%imento tão r$pido ou cruel" 4oucos retorna%am

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

da Bastilha, e aqueles que conseguiam %oltar tinham corpo e espírito alque#rados" )prisão na Bastilha era uma senten+a de morte" O rei a condenara a uma lenta, longa edolorosa morte"

/la en(ugou uma l$grima teimosa" 4ela primeira %e& desde que o enfrentara,perce#ia claramente quanto ha%ia su#estimado o oponente" 4ri%ado de sua presa, agora

que o conde fugira e esta%a a sal%o longe de seus longos #ra+os %ingati%os, o reidespe7a%a so#re ela toda sua f8ria"

Mas não sentiria pena de si mesma" Sempre sou#era que a7udar o amante seriaarriscar a pr:pria %ida, e assumira o risco com alegria" )ma%a*o mais do que ama%a apr:pria %ida, mais do que ama%a a esperan+a remota de uma sal%a+ão" 2ão dese7ariacontinuar %i%endo se uiche hou%esse se pre7udicado por sua causa"

/ra tarde demais para pedir a7uda ao irmão" /le tinha muitos pro#lemas em seureino, e não podia pedir a ele que sacrificasse sua pa& e declarasse guerra contra aEran+a para sal%$*la"

)lm do mais, não tinha certe&a de que ele atenderia ao pedido" Seu amorfraternal não era maior do que o amor pelo país que go%erna%a, nem ia alm de seugosto pela fri%olidade e pelo :cio" )ma%a o irmão profundamente, mais at do que elemerecia" 4or isso, preferia morrer em pa& a pCr @ pro%a o amor de 5harles e desco#ri*lo insuficiente"

/la tocou um dos colares que le%a%a no pesco+o" >al%e& ainda pudesse escapar, seo carcereiro fosse ganancioso" Le%ara as 7:ias não para sal%ar seu orgulho, porque umaprisioneira do rei não pode se ater a lu(os dessa nature&a, mas para comprar a a7udanecess$ria para escapar da prisão"

=ualquer anel daqueles que le%a%a nos dedos, ou um 8nico colar dentre tantos quemantinha ocultos so# o %estido poderiam comprar sua li#erdade" 2ão conta%a comhomem algum para %ir tir$*la do #uraco que ca%ara com as pr:prias mãos" 2ão erae(atamente carente de recursos pr:priosA dispunha de meios para tentar sal%ar apr:pria pele" /(ploraria todos e cada um deles antes de desistir e entregar a alma aodesespero"

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#ap&t$lo )'

Sophie 7ogou a espada no chão e olhou furiosa para o oponente". O que pensa que est$ fa&endo6Lamotte tam#m #ai(ou a espada, mostrando*se ali%iado com o cessar das

hostilidades". /nsinando %ocê a lutar, como prometi". / agora me transformei em fr$gil porcelana6 >em medo de que#rar*me com o

repentino deslocamento do ar" Ser sua esposa me fa& menos soldado6 2ão est$ nemtentando passar por minha defesa-

/le passou a mão pela testa". Sa#e que não posso lutar contra %ocê" =ue #o#agem era essa agora6. / como %ou aprender, se não me ensinar6. 2ão posso lutar contra uma mulher, especialmente contra aquela a quem 7urei

fidelidade" Lutar contra minha esposa contraria tudo aquilo em que sempre acreditei". Suponho que considere as mulheres criaturas fr$geis e 8teis apenas para

adornar a casa" De%em ser co#ertas de 7:ias, %eludos e sedas, e serem mantidas emtorres ele%adas #em longe do mundo" 2ão isso6

. 2ão posso lutar contra uma mulher"Sophie pegou a espada" )rrancaria Lamotte desse pensamento tolo e o o#rigaria

a prosseguir com seu treinamento" /le não perce#ia que sua %ida poderia dependerdisso6 Determinada, ela apoiou a ponta da l<mina na 7aqueta do marido, na altura dopeito"

. / se uma mulher insistir em lutar contra %ocê6 O que far$6

. 2ão creio que se7a pro%$%el" Mulheres não de%em lutar"

. Depende da mulher" . /la apro(imou a ponta da espada no um#igo de Lamotte". 3ai se defender, ou %ai ficar aí parado esperando que eu o transforme em fatias deconde6

. Du%ido que se atre%a a ir tão longe, minha querida" /la olhou em %olta"

Eeli&mente, não ha%ia ningum por perto para ou%i*lo cham$*la de querida". >al%e& não . disse, mo%endo a espada para apro(im$*la de sua face" . Masposso pre7udicar sua #ele&a"

/le continuou onde esta%a, de punhos cerrados e os olhos e(pressando uma irasurda" ;m filete de sangue escorria da face arranhada"

. 2ão creio que este7a agindo com sensate&, querida"

. 4or que não6 2ão %ai lutar comigo" O que tenho a temer6 . /la arranhou suaoutra face" . )gora ter$ cicatri&es idênticas, uma de cada lado do rosto" 5ada %e&que olhar para o espelho, elas o farão lem#rar o que uma mulher capa& de fa&er, e

por que de%e com#atê*la sem reser%as". Sophie, meu #em, est$ #rincando com fogo". Eogo6 . ela riu" . Bah- 2ão h$ nenhum fogo em %ocê" ? tão cheio de

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so#riedade melanc:lica e fleuma quanto o mais triste monge da a#adia" . /la desceu aponta da espada at tocar a região logo a#ai(o de seu um#igo" Se isso não o fi&essereagir, nada mais faria" . Eico me perguntando se tem a masculinidade de um monge 7urado ao celi#ato"

5om um rugido de f8ria pro%ocado pelo 8ltimo insulto, Lamotte agarrou a espada

e a utili&ou para afastar a l<mina de Sophie de suas partes #ai(as". /stou a%isando, não %ou tolerar muito mais disso"Sophie riu satisfeita ao sentir a for+a do golpe que afasta%a sua espada"

Sucesso- /nfurecera*o a ponto de con%encê*lo a lutar". Detenha*me, se puder-/la in%estiu na dire+ão de sua cal+a, mas Lamotte esqui%ou*se com agilidade e

rapide&" /les percorreram todo o p$tio naquela dan+a #eligerante e graciosa, de umlado ao outro, para frente e para tr$s, #randindo as l<minas que #rilha%am ao sol e sechoca%am com um #arulho assustador"

Lamotte ainda se continha" 2ão se dedica%a inteiramente @ luta" 2ão fa&iamo%imentos positi%os contra ela" )penas se defendia" / isso a incomoda%a"

nsatisfeita, Sophie o atacou dei(ando a guarda a#erta, mas ele não tiroupro%eito dessa %antagem"

Maldi+ão- >inha de fa&ê*lo esquecer que esta%a enfrentando uma mulher- /le nãocompreendia que o senso de honra e lealdade o coloca%a em perigo6

!edo#rando os esfor+os, ela o atacou disposta a pro%ar que podia causar grandedano, caso não fosse contida"

/le não a atacaria" ;saria tudo que sa#ia so#re suas fraque&as para pro%ar quenão esta%a #rincando" 5om uma seqGência de mo%imentos que a dei(a%a %ulner$%el aocontra*ataque, Sophie in%estiu contra o marido com %igor reno%ado" 0amais ousaria umgolpe tão perigoso contra outro oponente, mas o tolo senso de honra do conde era aseguran+a de que não corria nenhum risco"

/le não a atacaria, nem mesmo para defender*se" 5om um 8ltimo e frenticogolpe, ela ultrapassou a defesa de Lamotte e o acertou na #arriga"

/le a encarou com um misto de surpresa e decep+ão". 3ocê me cortou . disse com tom incrdulo"2ão ti%era a inten+ão de feri*lo gra%emente, apenas de pro%ar que era capa&

disso" ) culpa a colocou na defensi%a". O que espera%a6 /sta%a lutando sem se defender-/le co#riu o estCmago com as mãos, e quando as remo%eu, ha%ia sangue em seus

dedos" Lamotte olhou para a su#st<ncia %ermelha com perple(idade". 2unca pensei que uma mulher pudesse fa&er isso comigo"Sophie olhou para o sangue horrori&ada" 4retendera apenas pro%oc$*lo e fa&ê*lo

esquecer que era uma mulher, persuadi*lo a lutar de soldado para soldado" =uiseraferir apenas seu orgulho" Mas o ferira seriamente" )pa%orada, ela 7ogou a espada no

chão e caiu de 7oelhos diante do marido, tentando e(aminar a gra%idade do corte"O sangue mancha%a sua t8nica" /la sentiu uma forte onda de n$usea". Deite*se . ordenou com %o& trêmula" . /st$ ferido" 4recisa de cuidados"

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5om o#ediência incomum, ele se deitou no chão de terra" Seu rosto era umam$scara de palide& e ang8stia"

. 2ão sei se confio em %ocê a ponto de dei($*la cuidar da ferida que causouintencionalmente" ? uma mulher cruel e fria" )inda ser$ minha ruína"

5om dedos trêmulos, Sophie a#riu sua 7aqueta de couro e desa#otoou a camisa

#ranca que o marido %estia so# ela" Depois cortou o cordão da cal+a de couro com aponta de sua adaga e e(pCs o ferimento que ha%ia causado" ) camisa esta%a mesmomanchada de sangue, por isso ela a rasgou para usar o tecido como #andagem"

/ra um corte longo, mas superficial, e o sangramento 7$ ha%ia quase cessado" /rareconfortante constatar que não causara nenhum dano irre%ersí%el ao marido"

. 4odia ter sido pior . ela comentou enquanto co#ria o corte com os peda+os depano" . Mas não %ai morrer por causa disso"

/le parecia ofendido com a falta de compai(ão". Mas poderia ter morrido"

. 2enhum homem digno da cal+a que %este morreria por conta de um patticoarranhão" Du%ido at que fique alguma marca"

. Sacre #leu- ? essa a compai(ão que rece#o6 Se me hou%esse atingido dois outrês centímetros mais para #ai(o, eu nem seria mais homem-

/la gargalhou, apressando*se em sufocar o riso na manga da 7aqueta" )goraentendia a repentina e intensa palide&" 2enhum homem capa& de encarar sem medo orisco de perder a %irilidade" /la se a#ai(ou e deu dois tapinhas de#ochados em seumem#ro"

. 2ão se preocupe, monsieur" 4elo que posso constatar, sua masculinidadecontinua intacta"

. Homens não atingem outros homens a#ai(o do um#igo" O golpe pode serretri#uído em alguma luta futura, e ningum quer correr esse risco"

. 5aso ainda não tenha notado, não sou um homem" /le olhou com %eemência parao peito a poucos centímetros de seu nari&"

. 5omo eu poderia esquecer6Sophie afastou*se, colocando entre eles uma dist<ncia segura". )lm do mais . prosseguiu, não queria realmente feri*lo" Minha inten+ão era

s: coloc$*lo em mo%imento". 2esse caso, #ei7e*me para fa&er parar a dor, e tudo estar$ #em"=ue tipo de pedido pattico era esse6. Soldados não #ei7am os ferimentos que causaram em outros soldados-. Mas esposas #ei7am seus maridos para melhorar a disposi+ão do po#re homem

ferido em #atalha"/la olhou em %olta" 2ão ha%ia ningum no p$tio" )pro%eitando o raro instante de

pri%acidade, Sophie inclinou*se e, fingindo e(aminar as #andagens, #ei7ou rapidamenteo %entre do conde" Depois, antes de sucum#ir @ tenta+ão de #ei7$*lo mais uma %e&,

amarrou sua cal+a da melhor maneira possí%el e deu a presta+ão de socorro porencerrada". 4ronto" Satisfeito6

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/le cru&ou as mãos so# a ca#e+a e a fitou com um certo ar de triunfo". Eicou preocupada quando perce#eu que ha%ia me ferido de %erdade" / #ei7ou*

me para me fa&er sentir melhor" Sa#ia que ainda ha%ia uma mulher de %erdade so#essas roupas de homem"

Sua ideia so#re a %erdadeira feminilidade era tão limitada e o#scura, que Sophie

sentiu %ontade de sacudi*lo" 2ão podia ser mulher e soldado ao mesmo tempo6. >emi ter incapacitado meu mentor, s: isso" =uem mais poderia me treinar com

a espada6 )gora chega" Le%ante*se daí, pregui+oso imprest$%el" 0$ terminei ocurati%o" Eoi s: um arranhão, e temos tra#alho esperando por n:s"

/le não se mo%eu". )ntes me #ei7e mais uma %e&"/le a esta%a pro%ocando, de#ochando dela, e Sophie não sa#ia como reagir". 4or que eu o #ei7aria6. 4orque me machucou"

. 0$ dei um #ei7o" )gora chega"

. 4orque minha esposa, então6

. )penas aos olhos da lei" 2ão se esque+a disso"

. /ntão, por que tem os mais #elos olhos que 7$ %i, e adoro olhar para eles atme sentir tragado por esses po+os límpidos e profundos6

. 4otico""" 4ara sua infelicidade, detesto poesia" De%ia guardar suas pala%rasdoces para as mulheres da ta%erna" /las sa#erão tirar melhor pro%eito de seuspoemas"

)pesar da resposta de aparente indiferen+a, as pala%ras a pertur#a%am" 0ean*Luc nunca mencionara seus olhos" /logia%a a precisão de sua %isão e a for+a com quesegura%a o arco, mas era #em pro%$%el que nem sou#esse de que cor eram seus olhos"/ ela tam#m esti%era preocupada demais em o#ser%$*lo so#re a montaria para lheperce#er a cor dos olhos"

Lamotte segurou a mão dela". 3ocê tem #elos olhos" São como os de seu irmão, mas de um tom mais

profundo"Sophie o encara%a desconfiada, mas ha%ia sinceridade na %o& dele" Os olhos dele

tam#m eram lindos" 3erdes como uma floresta e(u#erante" 3erdes como os p<ntanosque #rilha%am ao sol de 5amargue"

. 3ocê tem olhos %erdes como os de um gato"

. /ntão formamos um #elo par" /u tenho olhos de gato, e %ocê tem garras defelina"

. ;ma felina enfurecida pode ser uma assassina cruel . ela lem#rouAle%antando*se e estendendo a mão para a7ud$*lo" . Lem#re*se disso no futuro, antesde pedir um #ei7o"

/le aceitou a mão estendida e se le%antou de um salto, sem demonstrar o menor

sinal de desconforto por conta do corte". 0$ me deu pro%a de sua ferocidade duas %e&es" 2ão ousarei esquecerno%amente, ou serei um homem morto"

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Sophie le%antou a espada". /ntão, %ai esquecer que sou uma mulher e %ai lutar comigo adequadamente6. 0amais poderei esquecer que %ocê mulher, mas lutarei como se fosse homem"

Erancamente, prefiro não correr mais riscos"/la o atacou antes de Lamotte terminar de falar" Dessa %e& o conde defendeu*se

%igorosamente, testando as defesas de Sophie sempre que ela assim o permitia"/m poucos minutos ele a desarmou com um mo%imento r$pido de #ra+o que a

sacudiu da ca#e+a aos ps" )pesar do desconforto, ela sorriu triunfante quando sea#ai(ou para recuperar a espada" 3encera essa #atalha" )gora Lamotte a %eria comoum perigo, uma amea+a, e a trataria como todos os outros soldados"

)p:s meia hora de treino, ela #ai(ou a espada e do#rou*se ao meio pararecuperar o fClego"

. )ssim melhor . disse em seguida, quando %oltou a falar" . 2ão gosto de sertratada como crian+a"

;m mo%imento chamou sua aten+ão em um canto do p$tio e ela se %irou paraolhar" ;ma figura co#erta por um manto longo e negro e com a ca#e+a oculta por umchapu acena%a para ela com certo desespero" Sua atitude era furti%a" Sophiesuspirou" /sta%a apreciando muito a li+ão, mas como mosqueteira, ha%ia 7urado a7udartodos aqueles que necessitassem de sua a7uda"

. Desculpe*me por um momento" 4arece que algo reclama minha aten+ão"Lamotte seguiu a dire+ão de seu olhar e %iu a figura nas som#ras". )lgo""" ou algum6 /le6. 4arece que sim". =ue assuntos pode ter para tratar com outros homens, esposa6/la ignorou a 8ltima pala%ra sussurrada". 3olto logo" . Sophie partiu na dire+ão do misterioso %isitante"Lamotte a seguiu srio". =uer falar comigo6O homem empalideceu ao ser a#ordado tão diretamente" /le pu(ou o chapu

so#re o rosto e fechou o manto em torno do corpo". =uero falar apenas com %ocê, não com seu companheiro"/la olhou para Lamotte, mas o conde #alan+ou a ca#e+a". Onde %ocê for, eu tam#m irei" )t as mais furiosas felinas precisam de

algum que prote7a sua retaguarda"Sophie olhou no%amente para o desconhecido". )testo que esse homem confi$%el e muito discreto" Se tem algo para me

di&er, se7a o que for, pode di&er a ele tam#m" Eale"O homem olhou de soslaio para o conde, como se tentasse tomar uma decisão"

)p:s um momento de refle(ão, ele encolheu os om#ros". Se insiste, suponho que não tenho escolha" Lamotte parecia ainda mais infeli&

que o estranho com a situa+ão". /u insisto"O homem passou a ignor$*lo, dirigindo*se e(clusi%amente a Sophie"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. /sta%a na guarda ontem @ noite6 . sua %o& era #ai(a, mais uma indica+ão deque ele não queria ser ou%ido"

Sophie não podia %er seu rosto" 2ão gosta%a de con%ersar com um estranhoen%olto em manto escuro em plena lu& do dia, como se ti%esse algo a esconder"

. /sta%a"

/le apontou para a rua". /ntão, %enha comigo, por fa%or" Sophie não saiu do lugar". 4ara onde6 / por quê6. 3amos, eu tenho pressa" 2ão me importo com nosso destino, desde que

encontremos algum lugar onde possamos falar com pri%acidade"2ão ha%ia quase ningum ali, e os poucos presentes esta%am muito afastados

deles, compenetrados em seus assuntos". 4or que não aqui6/le olhou em %olta com desespero"

. H$ muitas pessoas aqui, gente que pode nos %er 7untos" 4or fa%or, %enhacomigo" =ualquer lugar pri%ado ser%e" 0uro que não dese7o fa&er*lhe mal algum" 4odeme re%istar, se quiser" /stou desarmado" )lm do mais, tem seu cão de guardaparticular para protegê*lo"

/le não parecia capa& de fa&er mal a uma mosca, mas, ainda assim, Sophie oseguiu com grande relut<ncia" /ra #om sa#er que Lamotte guarda%a suas costas" 2ãotinha o h$#ito de #uscar o sigilo das som#ras para cuidar de seus assuntos, mas odesconhecido se mostra%a tão desesperado, tão aflito por sua a7uda, que não tinhacoragem de se negar a atendê*lo"

;ma %e& na rua, fora da $rea do regimento, o homem olhou para um lado e para ooutro como se não sou#esse para onde ir"

. 5onhece algum lugar pr:(imo daqui onde possamos con%ersar6 /stouacomodado em um local distante daqui, e não quero ser %isto andando pelas ruas com%ocê"

Sophie considerou todas as possi#ilidades" )s acomoda+1es que di%idia comLamotte eram sua 8nica op+ão, em#ora não gostasse da ideia de le%ar at l$ algumque nem conhecia" /ntre aquelas paredes, ela %i%ia como mulher, não como soldado"2ão queria que um estranho misterioso desco#risse seu segredo"

2ão ha%ia outro lugar" /la come+ou a andar com passos r$pidos, decididos"Lamotte a seguia de perto, e o homem misterioso praticamente corria para conseguiracompanh$*los"

)ssim que entraram no modesto apartamento, o homem se dei(ou cair numacadeira e massageou os torno&elos como se sentisse dor"

. 3ocês andam mais depressa do que um ca%alo pode ca%algar . quei(ou*se" .Meus ps estão co#ertos por #olhas"

/la se a#ste%e de di&er que seus ps estariam em melhor estado, se seus sapatos

não ti%essem salto tão alto". Muito #em, pode falar agora . ela suspirou cansada, 7ogando*se no sof$"Lamotte acomodou*se ao lado da esposa" O desconhecido respirou fundo"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 4rendeu uma mulher ontem @ noite6O rei a aconselhara a guardar segredo, mas tam#m não podia mentir". 2ão posso lhe dar informa+1es so#re esse assunto". /ntão a prendeu" Oh, po#re Henrietta-. =uem essa Henrietta a quem ele se refere6

O homem remo%eu o chapu e dei(ou cair o manto". /la minha esposa"Sophie não conte%e uma e(clama+ão de espanto ao %er seu rosto, tão parecido

com o do rei Luís F3 da Eran+a". Monsieur Le Duc, 4hilippe de Orleans65omo pudera estar na presen+a da reale&a sem se dar conta disso6. Sim, eu sou o duque"/la se inclinou e, apoiando*se so#re um 7oelho, #ai(ou a ca#e+a" Ofender a

reale&a dei(ando de honr$*la de%idamente era a maneira mais r$pida de ter a ca#e+a

separada do corpo". 4erdoe*me se fui rude, monsieur Le duc" 2ão sa#ia quem era""") seu lado, Lamotte remo%eu o chapu sem nenhum sinal do antagonismo anterior". )o seu dispor, monsieur Le Duc"4hilippe de Orleans fe& um sinal para que eles se le%antassem". 2ão queria ser reconhecido" >erei mais sorte do que mere+o se ningum mais

me reconhecer" )gora, %ai me contar o que aconteceu com minha esposa6O duque não parecia feli& com as notícias da deten+ão da esposa, apesar de

rumores darem conta de que os dois não suporta%am olhar um para o outro". /u a deti%e e le%ei pessoalmente ao go%ernador da Bastilha ontem @ noite"4hilippe de Orleans a encarou com ar alti%o". 5om que autoridade6 . indagou com tom frio"O no#re parecia nesse momento quase tão formid$%el quanto seu irmão, o rei"

Sophie estremeceu" =uando a reale&a %i%ia um confronto familiar, o maior sofrimentorecaía sempre so#re os om#ros dos indi%íduos comuns"

. !ece#i ordens diretas do rei" /le escre%eu de pr:prio punho a carta queentreguei ao go%ernador"

. =ual foi a acusa+ão6

. >rai+ão"

. Meu irmão, o rei da Eran+a, um #astardo mulherengo e hip:crita" =ue Deusfa+a sua alma apodrecer no inferno-

O choque de Sophie de%ia estar estampado em seu rosto" ;m homem di&er taiscoisas so#re o pr:prio irmão era algo imperdo$%el" 2o caso do duque, tais pala%rasseriam consideradas trai+ão"

O duque encolheu os om#ros". /squeci que %ocê um simples soldado" Seria necess$rio %i%er na corte para

entender as intrigas que se desenrolam em todos os corredores e cantos do pal$cioreal" Basta di&er que meu irmão, o rei, apesar de toda a santimCnia piedosa quedemonstra em p8#lico, tem uma forte o#sessão por minha esposa" /le o#cecado pela

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duquesa h$ anos, mas, para sua infelicidade, s: consegue pro%ocar repulsa em minhaesposa"

Sophie e Lamotte ou%iam em silêncio" O duque prosseguiu. 2ão gosto muito de mulheres de maneira geral, mas tenho grande afeto por

Henrietta" /la minha melhor amiga e tem um #om*gosto in%e7$%el" Seus %estidos são

sempre os mais lindos" /u os tomo emprestados sempre que me canso dos meus" S:lamento não poder usar tam#m seus sapatos, porque os ps dela são delicados demaisem compara+ão aos meus"

Sophie olha%a para o homem diante dela sem sa#er o que di&er" /le realmente%estia roupas femininas, como ela se escondia atr$s das roupas de um homem6 2uncaha%ia imaginado nada parecido" 4or que um homem dese7aria ser uma mulher, quando omenor dos homens podia desfrutar de mais li#erdade do que 7amais teria a mais no#ree importante das mulheres6

Lamotte se me(ia com e%idente ner%osismo a seu lado" O que o estaria

incomodando6. 2ão parece estar chocada" 2ão como a maioria das pessoas que me ou%e

declarar essa""" preferência" . 4hilippe de Orleans #ateu so#re seu 7oelho num gestode afeto e intimidade" . ? um #om come+o"

/la encolheu os om#ros" O duque a confundia, mas não chega%a nem perto dechoc$*la" Mal sa#ia ele que ela tam#m guarda%a seu segredo do mundo"

. 5ada um sa#e de si, e que o dia#o carregue os fofoqueiros"4hilippe le%antou uma so#rancelha". Simpati&o com esse seu lema, mas Henrietta minha esposa e de%o protegê*la"

O rei nega ter conhecimento de seu paradeiro" /le sugere que a duquesa de%e terfugido com o amante, o conde de uiche, mas não consigo acreditar nisso" 2ão seriatípico de seu padrão de conduta" . /le torceu o nari&" . 5onfesso que fiquei #astantea#orrecido quando ela sedu&iu o conde, porque eu tinha um interesse especial nele,mas o tolo preferiu minha esposa a mim"

Sophie sorriu" 4hilippe de Orleans tinha todo o charme contagiante de um meninoque nunca ha%ia crescido, e 7amais cresceria"

. Lament$%el para monsieur Le duc"/le #ateu no%amente em seu 7oelho, dei(ando a mão repousar em sua perna por

mais tempo do que o necess$rio". Sa#ia que entenderia, meu ador$%el rapa&" Logo perce#i que possuía uma alma

generosa"Lamotte assumiu um ar carrancudo e olhou com %eemência para a mão do duque"

4hilippe encarou o conde". )h, %e7o que seu cão de guarda est$ a#orrecido comigo . ele comentou ao

remo%er a mão" . ? melhor me comportar" 5omo esta%a di&endo, nutro grande afetopor Henrietta e detesto meu irmão com a mesma intensidade" De%o sal%ar minha

querida esposa, mas nada posso fa&er so&inho" 4reciso de sua a7uda"Sophie hesitou" /le teria ideia do que esta%a pedindo6. 0urei lealdade a seu irmão, o rei"

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4hilippe de Orleans não parecia impressionado com sua hesita+ão". 4refere dei(ar uma mulher inocente sofrer sem fa&er nada para sal%$*la6 =ue

%oto humano merece o sacrifício de sua honra6/ o que poderia fa&er um 8nico mosqueteiro, afinal6. /la foi le%ada para a prisão" O que quer que eu fa+a6 /spera que eu in%ada a

Bastilha de mãos %a&ias e a tire dela6. 2ão, nada tão dram$tico, meu querido rapa&" Lamotte esta%a mais carrancudo

que nunca". ) Bastilha uma fortale&a" 2ingum 7amais escapou de l$" O rei não li#ertaria

sua esposa a seu pedido6. Meu querido irmão pouco se importa com meu despra&er" Ou melhor, ele

prefere me %er insatisfeito a me %er feli&" 4ortanto, apesar de ser um duque, souimpotente" Eeli&mente, Henrietta tem amigos mais poderosos do que eu" 4reciso de%ocê agora" =uero que %$ @ nglaterra e fale com essas pessoas so#re o que Henrietta

est$ enfrentando aqui"Lamotte riu com ironia e amargura". 2ão prefere que tentemos in%adir a Bastilha6 Sophie esperou pela resposta do

duque". 3$ ter com o irmão dela, o rei 5harles, e suplique por sua a7uda para li#ert$*la"

/le não sa#e de sua situa+ão atual" 2a %erdade, s: algumas poucas pessoas podemsuspeitar da %erdade" >odas as outras acreditarão prontamente nas mentiras do reiso#re Henrietta ter fugido com o amante" Se o rei 5harles tem alguma no+ão de honrae decência, ele sal%ar$ a irmã"

Sophie esta%a di%idida entre a compai(ão pelo duque e sua esposa e a lealdadede%ida ao rei" 2ão sa#ia o que fa&er"

Se o duque esta%a di&endo a %erdade, o rei ha%ia mentido para ela" ) duquesa nãotinha nenhuma culpa alm de ter recusado ao rei o pra&er físico que ele nem de%ia tersolicitado, e ela era c8mplice na puni+ão in7usta de uma mulher inocente"

2ão podia compreender um rei que mentia" O rei da Eran+a era a fonte de onde 7orra%a toda honra" Se ele fosse corrupto, sua %ida, que ha%ia sido dedicada @ #uscada honra, perdia todo o significado"

/ por que o duque mentiria para ela6 =ue moti%o poderia ter, alm de proteger a%ida da esposa6

/la se le%antou e come+ou a andar pela saleta, atormentada pela indecisão". 2ão posso lhe dar uma resposta agora" 4reciso pensar em tudo que disse"4hilippe de Orleans tam#m se le%antou". 2ão demore muito a tomar uma decisão . pediu a caminho da porta" . )

Bastilha não um lugar generoso ou aconchegante para os que estão encarceradosentre suas paredes" )quelas pedras de%oram um homem at não restar nada alm deuma casca %a&ia, sem alma"

)ssim que o duque saiu, Sophie re%elou toda sua inquieta+ão ao marido" /le eramais e(periente" >al%e& pudesse aconselh$*la nesse terrí%el dilema". )cha que o duque di& a %erdade6 O rei pode ter mentido para mim6

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. 2ão segredo na corte que o rei acalenta uma afei+ão antinatural pelacunhada, e que ela não rece#e com simpatia esse afeto"

De todas as coisas ditas por 4hilippe de Orleans, essa era a que Sophie 7ulga%amais difícil de aceitar" ;m rei tentando per%erter os la+os de uma família de maneiratão %il, era algo que ia alm de sua capacidade de compreensão e aceita+ão"

. >em certe&a disso6

. )#soluta" Le%ei muitas cartas do rei para a duquesa, e sempre fui rece#idocom hostilidade e re%olta"

. /ntão""" monsieur disse a %erdade"

. 4or outro lado, não confio inteiramente no duque" 2ão" /ra impossí%el que osdois ca%alheiros esti%essem mentindo" Ou a %erdade estaria em uma terceira dire+ão6

. 4or que não6

. /le confessou a#ertamente que usa roupas de mulher- =ue tipo de homeme(i#e sua per%ersão com tanta""" franque&a6

Se o duque era um per%ertido por %estir*se como mulher, isso fa&ia dela umaper%ertida, tam#m"

. ;m homem que não se en%ergonha de ser como Deus o fe&6

. O dia#o, mais pro%a%elmente"

. 2ão importa quem plantou na alma do duque o gosto por roupas femininas" /sse o 8nico moti%o que tem para não confiar nele6

. 2ão gosto desse homem" 2ão %iu como ele a tocou6 O duque pensa que umrapa& im#er#e, um garoto ine(periente- /le tem um gosto per%ertido por rapa&es"

Sophie co+ou a ca#e+a" Os homens eram sempre assim, il:gicos e poucora&o$%eis6

. /ntão, não tem moti%os para desconfiar dele, e(ceto pelas roupas de mulher epor suas preferências""" íntimas6

. 2ão o suficiente6

. 2ão" ;m homem de%e ser 7ulgado por suas pala%ras e a+1es, não pelas roupasque %este" 3ocê declara que o duque di& a %erdade so#re o interesse do rei por suaesposa, e %erdade que o rei a mandou prender e a mantm na Bastilha" /ntão, por quenão de%o confiar no duque6 4or que não de%o ir @ nglaterra6

. 4orque a %iagem longa e difícil, o país não acolhedor e os in%ernos por l$ sãolongos e rigorosos" )s mulheres são feias, a comida horrí%el e o %inho simplesmente imprest$%el"

. Sou um soldado" 2ão espero desfrutar de pra&eres mundanos enquanto cumpromeu de%er" )lm do mais, não me importa se as mulheres são feias, desde que oshomens se7am cora7osos e agrad$%eis ao olhar"

. ) tra%essia ser$ dura nessa poca do ano"

. 2ão tenho medo de $gua" Deus me guardar$ e manter$ em seguran+a, se foressa Sua %ontade"

. 3ocê 7urou lealdade ao rei da Eran+a, como eu" 2ão pode esquecer esse 7uramento"/ era esse o pro#lema" Ha%ia 7urado ser leal ao rei" De%ia ser%i*lo com o#ediência

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e fidelidade, como prometera, ou que#ra%a esse 7uramento em nome da %erdade e dacompai(ão6 Onde esta%a a honra6 =ual era seu real de%er moral6

. Se eu for, %ocê não ir$ comigo6

. Somos mosqueteiros a ser%i+o do rei" 2ão estamos a ser%i+o do irmão dele, oduque de Orleans" >am#m não cuidamos de li#ertar da prisão aqueles que o rei

condenou por serem traidores da Eran+a" Sugiro que permane+a em 4aris"Mas Sophie não concorda%a inteiramente com os argumentos de Lamotte". / se eu contrariar sua sugestão6. ? minha esposa" rei atr$s de %ocê e a trarei de %olta @ 4aris pelas orelhas, se

for preciso"

. O rei ordenou que a prisioneira fosse mantida em isolamento e na escuridão .

Miriame contou desinteressada, recostada nas almofadas de cetim dos aposentos de5ourtney" . 2ão h$ %elas, lamparinas""" 2enhum tipo de lu&" 2em cartas" 2emencomendas e pacotes" 2ão h$ mensagens ou %isitantes, e(ceto pelo pr:prio rei" )alimenta+ão consiste de pão preto puro e $gua, e ela s: alimentada a cada dois dias"2em mesmo os guardas podem falar com ela, ou se e(p1em ao risco de sofrerem amesma condena+ão" 5ourtney limpa%a as unhas com uma espon7a macia"

. /st$ in%entando tudo isso" 5omo pode sa#er dessas hist:rias6

. Li a carta que o rei en%iou ao go%ernador da Bastilha"

. =uando6

. 2a carruagem" Ha%ia luar suficiente para que eu identificasse as letras, apesarde o rei ter uma caligrafia terrí%el"

Sentada ao lado da 7anela, com os 7oelhos a#ra+ados contra o peito, Sophie olhoupara a companheira com legítimo espanto"

. ) carta esta%a selada- O rei lacrou a mensagem com seu anel real- 5omoconseguiu"""6

Miriame tirou do #olso uma pequenina faca que girou no ar antes de guardarno%amente no mesmo local"

. ;ma l<mina afiada capa& de romper qualquer lacre sem dei(ar marcas"Sophie pensou no perigo a que ha%ia se e(posto sem sa#er" 2ão ha%ia limites para

a tolice de Miriame6. / se o go%ernador ti%esse perce#ido6. /le foi arrancado da cama no meio da noite" /u sa#ia que ele ainda estaria

#ê#ado, depois de uma noite de farra com as mulheres da ta%erna, confuso demais porter sido acordado, ou sonolento demais para notar qualquer coisa"

. / se ele hou%esse notado6 O que teria feito6

. 4ara que se preocupar com isso6 /le não perce#eu nada"

5ourtney decidiu interferir". 2ão esse o ponto" >emos de decidir o que fa&er quanto ao pedido do duque"!esgatamos a #oa e doce Henrietta, ou ficamos em casa e a dei(amos apodrecer na

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Bastilha6. /le %ai nos compensar pelo tra#alho6Sophie ignorou a pergunta de Miriame" /sta%am discutindo honra, f e

o#ediência, não um punhado de moedas de ouro". Dinheiro não importante"

. 4ara %ocê, tal%e&" 4ara mim . protestou Miriame" ;ma %e& rato de esgoto,sempre rato de esgoto, Sophie pensou" Miriame pensa%a como um mascate de rua" Seuprincipal impulso de %ida era sempre a am#i+ão"

. Sim, seremos compensadas" Mil moedas de ouro para co#rir os custos da%iagem, e a mesma quantia quando retornarmos"

. /ntão, de%emos ir @ nglaterra" / iremos em grande estilo-Mas Sophie ainda não ha%ia decidido" =ueria fa&er o que era honrado, mas onde

esta%a a honra6 Lamotte a aconselhara a ficar, alegando não confiar no duque e temerpor sua seguran+a" Miriame sugeria que atendessem ao pedido do irmão do rei e

ganhassem um #om dinheiro com isso"2enhum dos dois entendia sua confusão" 2ão sa#ia o que fa&er". O rei a acusa de trai+ão" 5ertamente, não a teria aprisionado sem um #om

moti%o para isso, certo6Miriame riu". 2ão se7a ingênua- 2em todos que são acusados de alguma coisa são realmente

culpados" 5onheci pelo menos meia d8&ia de indi%íduos que foram enforcados porcrimes que não cometeram" Sim, eles eram culpados de muitas outras coisas, mas nãodaquelas pelas quais foram enforcados"

5ourtney respirou fundo antes de anunciar sua decisão". /u acredito no duque" 5reio que a duquesa se7a inocente da acusa+ão de

trai+ão e que o rei a aprisionou somente por ter sido re7eitado em seus a%an+os" 2ão%e7o nada nessa situa+ão se não a malícia dos homens que estão sempre assediandocriaturas mais fracas" 3oto pelo resgate da prisioneira"

Sophie ainda hesita%a". / nossos %otos de lealdade ao rei6 O que faremos com eles6Miriame gargalhou". De minha parte, eu negaria um 7uramento feito ao pr:prio Deus por mil moedas

de ouro" Dei(ar de cumprir um 7uramento feito ao rei da Eran+a não nada difícil". 4ara mim, 7usti+a mais importante que o#ediência . 5ourtney e(plicou com

tom comedido" . =ue#raria um %oto feito a qualquer homem, inclusi%e o rei, para nãocontrariar minha consciência e cometer uma in7usti+a contra uma mulher a quem possoa7udar"

Sophie sa#ia que era hora de fa&er sua escolha cumprir o de%er, ou seguir suaconsciência6

5ourtney esta%a certa" 2ão ha%ia alternati%a"

/m #re%e teria as pernas doloridas por passar horas so#re um ca%alo, mas, porenquanto, tudo que e(perimenta%a era um grande alí%io por ter chegado a umaconclusão"

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. 4ara a nglaterra, então- /sta noite6 Miriame ergueu um punho cerrado"

. 4or mil moedas de ouro6 5onte comigo- 5ourtney olhou com triste&a para asunhas que aca#ara de polir" 4oucas coisas eram piores para uma #oa manicure do queuma dura ca%algada so# os rigores do tempo"

. 4ara a nglaterra"

Miriame olhou para Sophie com uma certa desconfian+a". / seu marido6 2ão %ai se incomodar com esse seu repentino interesse pelo ar

inglês6. O conde amea+ou arrastar*me de %olta @ 4aris pelas orelhas, se fosse

necess$rio" /sta noite ele estar$ na sentinela" >emos de partir antes de ele %oltarpara casa" Earei tudo que puder para apagar nossas pistas, mas, se formos alcan+adas,tal%e& tenhamos de lutar contra ele"

5ourtney riu". Mal posso esperar por isso-

Lamotte anda%a de um lado para o outro diante dos aposentos do rei" >inha umpressentimento incCmodo que não conseguia sufocar" Sophie nada mais dissera so#reir para a nglaterra desde que amea+ara tra&ê*la de %olta pelas orelhas, mas nãoconfia%a em seu silêncio"

Se erard se deparasse com uma alma precisando de a7uda, não hesita%a emsocorrê*la sem questionar se a a7uda era ou não merecida" Sophie era muito parecidacom o irmão" 4or isso esta%a apreensi%o"

Mal podia esperar pelo no%o dia que o li#ertaria da o#riga+ão de montar guarda-O desconforto crescia com o passar do tempo" Sophie precisa%a dele" >inha certe&adisso"

/le cochila%a em p, como fa&em todos os soldados, quando um mensageiro aflitoe suado chegou ao corredor dos aposentos reais"

) manhã 7$ se anuncia%a no cu a%ermelhado" Lamotte suspirou ali%iado" 5hega%aao fim de seu turno"

. >rago uma mensagem urgente para o rei, mosqueteiro- . anunciou omensageiro ofegante, como se hou%esse corrido por muito tempo"

Lamotte #ateu na porta do quarto" O pa7em do rei olhou assustado para omensageiro e o con%idou a entrar com um gesto preocupado" Lamotte amea+ou segui*los, como de%ia la&er um %igia em sua posi+ão, mas o menino colocou*se em seucaminho, impedindo*o de prosseguir"

. O rei o espera . e(plicou" . /sse homem confi$%el" Lamotte não gosta%a daideia de dei(ar o rei tão e(posto, mas não tinha escolha" !esignado, ele continuou nocorredor enquanto o pa7em fecha%a a porta do quarto"

/la %oltou a ser a#erta momentos mais tarde, e então o menino o chamou aointerior"

O rei ordenou que o pa7em ser%isse %inho de uma garrafa so#re a mesa" /le

sor%eu todo o conte8do da ta+a antes de come+ar a falar com o rosto tenso,apreensi%o". Sa#e alguma coisa de um certo erard Delamanse6 ;m mosqueteiro de seu

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regimento6Lamotte sentiu o cora+ão disparar" >emia pela esposa" O que ela podia ter feito

para chamar a aten+ão do rei dessa maneira6. Sim, ma7estade, eu o conhe+o". 4arece que esse erard foi con%encido por meu irmão, o duque de Orleans, a

aceitar uma missão" ;ma missão que o le%ar$ @ nglaterra"/le sentiu o sangue gelar nas %eias" 5omo os espi1es do rei podiam ter

desco#erto tão rapidamente so#re o pedido do duque6 O pr:prio 4hilippe de Orleans atraíra6 Se fosse esse o caso, mesmo sendo irmão do rei, o homem não escaparia de sua%ingan+a"

. 4ara a nglaterra6O rei o encarou furioso". Du%ida de minha pala%ra6Lamotte #ai(ou a ca#e+a num imediato pedido de desculpas" 2ão poderia a7udar

Sophie indispondo*se com o rei". 2ão, ma7estade". 4arece que meu irmão, o duque real, tem em mente criar pro#lemas entre o rei

da Eran+a e o da nglaterra, seu cunhado" /le su#ornou a lealdade de um de meusmosqueteiros com essa finalidade" /stou muito constrangido com toda essa situa+ão"

. Sim, ma7estade"

. >emia que meu irmão fi&esse algo dessa nature&a" Sou grato por ainda terser%idores leais, gente que me pre%ine de e%entuais trai+1es contra minha ma7estade"/sse erard Delamanse""" Ou um traidor, ou tolo o #astante para se dei(aren%ol%er por meu irmão" =uero que ele se7a encontrado e detido antes de chegar @nglaterra" 3ocê partir$ imediatamente com essa missão"

Lamotte assentiu" 5om toda sinceridade, faria tudo que pudesse para impedir aesposa de destruir*se nessa missão est8pida"

. Sim, ma7estade" O que de%o fa&er com o mosqueteiro quando o encontrar6

. Mate*o, se quiser" 2ão me interessa" S: não permita que ele chegue @nglaterra para cumprir a missão delegada por meu irmão, ou %ocês todos sofrerão odestino que o rei da Eran+a reser%a para traidores e tolos"

=uando chegou em seus aposentos, poucos depois do nascer do sol, Lamotte foifor+ado a admitir que os espi1es do rei eram muito eficientes, de fato, pois ha%iamtomado conhecimento da partida de sua esposa antes mesmo de ele ter se inteiradodela" Sophie realmente dei(ara o local"

Ha%ia so#re a cama uma mensagem #re%eMinha consciência não me permitiu ficar"/la assinou o nome de erard"2ão ha%ia d8%ida de que seguia para a nglaterra" Mesmo que o rei de nada

sou#esse, ele teria sido informado pela nota em sua cama"

Depois de uma noite inteira em p diante da porta do rei, esta%a e(austo ede#ilitado" 4or isso ele se deitou ainda %estido para dormir por algumas horas antes departir atr$s de sua errante esposa"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

=uando pararam para descansar, Sophie esta%a tranqGila e esperan+osa" Dei(arauma mensagem d8#ia para o marido"

Sua consciência não a dei(ara ficar" 5om alguma sorte, ele imaginaria que elaha%ia partido por não poder mais %i%er ali como sua esposa, mesmo não tendo assentidocom a consuma+ão do casamento" maginaria que fora #uscar acomoda+1es em algumoutro lugar de 4aris"

=uando compreendesse que ha%ia sido enganado, ela 7$ estaria a meio caminho danglaterra"

2ão temia outros perseguidores" 2ingum mais sa#ia de sua 7ornada, e(ceto4hilippe de Orleans, e ele guardaria segredo para não pCr em risco a integridade daesposa" >inha pressa por Henrietta, a po#re mulher in7usti+ada que perecia na

Bastilha sem nenhuma esperan+a de resgate ou perdão" Mas, mesmo apressada, ela eas companheiras precisa%am descansar"

O trio parou diante de uma hospedaria de aparência aconchegante"Depois da refei+ão quente e das canecas de cer%e7a sua%e que ha%iam #e#ido

a%idamente, as três desa#aram na 8nica cama do 8nico quarto %ago na hospedaria". Ser$ apenas um cochilo #re%e . Sophie informou @s outras" . 3amos partir

no%amente antes do amanhecer"5ourtney e Miriame adormeceram em segundos, mas Sophie não conseguia

dormir" 2ão era capa& de ignorar a sensa+ão de que algum as seguia" >emia pegar nosono e ser surpreendida"

Einalmente, %encida pelo cansa+o, ela fechou os olhos"""

Lamotte tentou ca%algar mais depressa ao ou%ir o som de cascos que seapro(ima%am, mas era in8til" 5ansada, a montaria não respondia ao estímulo, e logo elefoi alcan+ado pelos dois ca%aleiros" 2ão temia enfrent$*los numa luta fero&, pois sa#iaque poderia %encê*los sem grande esfor+o, mas o em#ate o retardaria, e não podiaperder tempo, ou aca#aria perdendo a pista de Sophie"

Os dois ca%aleiros posicionaram*se a seu lado, um @ direita, outro @ esquerda" /leesperou pelo ataque que daria início ao confronto, mas os dois apenas o acompanha%am,/ram homens comuns, em %estes comuns, sem nenhuma identifica+ão que pudesse trairseu prop:sito ou sua origem"

4or fim, a curiosidade foi mais forte que a cautela". O que querem de mim, ca%alheiros6O desconhecido @ esquerda tocou o chapu". ? o conde Lamotte6

2ão gosta%a da ideia de ser identificado por desconhecidos de aparênciadu%idosa, mas respondeu. Sim"

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. 4rocura por erard Delamanse, um traidor a caminho da nglaterra6osta%a ainda menos de constatar que eles tinham conhecimento de seus

assuntos". / se eu disser que sim6 O homem @ direita riu". 2ão h$ moti%o para temer*nos" 2ão queremos nada de %ocê" /stamos aqui para

a7ud$*lo" Eomos en%iados para cuidarmos do rapa& assim que ele for encontrado")ssassinos de aluguel- Bandidos contratados para pCr fim @ %ida de sua esposa-2ão di%idiria a 7ornada e a missão com gente dessa espcie". 2esse caso, podem %oltar para o local de onde saíram" 2ão preciso de a7uda". O rei tem outra opinião . respondeu o homem de %o& fria @ direita do conde"

. /le se arrependeu por ter en%iado um mosqueteiro atr$s de um companheiro edecidiu que %ocê não teria coragem para concluir essa missão a contento" 4or isso nosen%iou, para certificar*se de que suas ordens seriam cumpridas"

. O rei decretou que o rapa& fosse interceptado e impedido de chegar @

nglaterra" /le não ordenou sua morte". 2ão %ai precisar su7ar suas #elas mãos, meu no#re ca%alheiro . pro%ocou o

outro, o de %o& $spera" . /ncontre*o, e dei(e o resto conosco"4odia matar os dois imediatamente, mas não seria uma atitude sensata" Se, por

uma infelicidade, eles o atacassem com algum golpe #ai(o, Sophie ficariadesprotegida, sem sa#er do perigo que a amea+a%a"

2ão" Melhor seria desmascar$*los diante de Sophie, inform$*la dos fatos darealidade" Dois assassinos sem honra não seriam p$reo para uma dupla demosqueteiros em um confronto final" Se um deles escapasse, Sophie poderia ao menosfugir com maior seguran+a, protegida pelo trunfo de conhecer o rosto do inimigo"

/le prosseguia em silêncio, poupando o ca%alo tanto quanto era possí%el" /ra #empossí%el que precisasse de sua %elocidade antes do final daquele dia"

5ada passo le%a%a os indese7ados companheiros de %iagem para mais perto deSophie" Seu 8nico consolo para sa#er que a punha em situa+ão de grande risco era adetermina+ão de protegê*la a todo custo"

Os assassinos de aluguel seriam for+ados a pro%ar do pr:prio remdio antes queum deles pudesse tocar em um fio de ca#elo de sua esposa"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

#ap&t$lo )''

Sophie esta%a no meio de um sonho inquietante quando o som de cascos no p$tioda hospedaria a despertou" So#ressaltada, ela sentou na cama" Miriame resmungoualguma coisa, e 5ourtney se %irou sem acordar"

O sol 7$ esta%a alto" /ra hora de partirem" ) consciência afirma%a que esta%aseguindo o caminho da honra, mas queria afastar*se de 4aris e do rei que traíra o maisdepressa possí%el"

;ma %o& gutural acompanhou as estrondosas #atidas na porta da hospedaria". )#ra em nome do rei-Sophie dedu&iu que o rei desco#rira so#re seu prop:sito e não esta%a nada

satisfeito com a notícia" Se procura%am por ela ou não, não fa&ia diferen+a" 2ãoficaria no quarto esperando para ser pega como um rato em uma ratoeira"

/la acordou as duas companheiras". )cordem- >emos %isitantes")s #atidas se repetiram, e as duas se sentaram na cama em estado de alerta,

completamente despertas"Sophie correu at a 7anela pulando so#re um p, cal+ando a #ota no outro"

5onhecia um dos ca%alos que %ia no p$tio" 4ertencia a seu marido" /le a traíra6 5ontaraao rei so#re sua missão e fora en%iado para le%$*la de %olta6 2ão queria acreditar queLamotte fosse capa& de tão #ai(a trai+ão"

. São três . sussurrou" . ;m deles de%e ser Lamotte" Os outros dois eu nãoconhe+o"

5ourtney prague7ou enquanto %estia a 7aqueta". 2:s três contra três oponentes seria uma conta 7usta, se um deles não fosse o

conde, o melhor espadachim do reino" O que %amos fa&er6Miriame olhou pela 7anela e recuou assustada, o rosto repentinamente p$lido"

. Seu marido anda em m$ companhia" Sophie estranhou o tom da companheira". 5omo assim6

. 5onhe+o um daqueles homens" 2o passado, ele era um ladrão e um encrenqueiro%iolento, mas transformou*se em informante e assassino" /le mata em nome deca%alheiros co%ardes dispostos a pagar por seus ser%i+os" 2ão sei quem o mandou, mas e%idente que quem o contratou não dese7a nos %er no%amente"

. /u me ofere+o para en%ol%er os três numa #oa luta . 5ourtney sugeriu" ./nquanto isso, %ocês escapam e seguem %iagem para a nglaterra"

Sophie não gosta%a da ideia de dei(ar uma amiga correndo perigo, mas a missão

não de%ia ser posta em risco" / se ficasse trancada no quarto at os três %isitantesdesistirem de #ater, 5ourtney não correria nenhum risco". Mas como sairemos daqui sem sermos %istas6

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. O homem que reconheci não do tipo que luta com 7usti+a ou honestidade" /leest$ aqui para nos matar" )lm do mais, tenho uma %elha conta para acertar com o#astardo" /u cuido dele" !ato de esgoto contra rato de esgoto" / que %en+a o maisesperto"

. Mas"""

. /ssa luta minha, 5ourtney" 2ão %ou permitir que interfira em meus assuntos"3ocê e Sophie, saiam pela 7anela" /u os manterei ocupados enquanto for possí%el">emos ca%alos descansados, enquanto os deles estão e(austos" 2ão poderão alcan+$*las"

Sophie olhou pela 7anela e foi tomada pelo p<nico" ) altura era grande" 4oderiaque#rar um torno&elo no salto, o que poria em risco a missão" Ha%ia uma calhacontornando todo o perímetro do telhado" Se caminhasse por ela at o outro lado dahospedaria, poderia saltar de l$ para o telhado do est$#ulo, e assim suas chances deescapar aumentariam muito"

. Siga*me . ela disse para 5ourtney" . Se eu for ferida ou capturada, monte noca%alo mais pr:(imo e siga para a nglaterra" Lamotte cuidar$ para que nada de maisgra%e aconte+a comigo" . ostaria de ter mais certe&a do que demonstra%a com seudiscurso otimista"

5ourtney assentiu". 5uide*se, Miriame" Mantenha a porta trancada e não a#ra para ningum, so#

nenhum prete(to" )ssim, eles não poderão atac$*la" / se ti%er de lutar, não fira oconde" /u 7$ o feri mais %e&es do que de%eria ter feito"

. 5erto" 3ou tentar retard$*los, mas, se for necess$rio lutar, tentarei não ferirseu marido" )lm do mais, %ou estar mais interessada em ferir um %elho conhecido dasruas"

. /ntão""" at #re%e, Miriame" /m 4aris"5ourtney correu para a 7anela enquanto punha o chapu". )u re%oir, madame ladra" )t 4aris" Miriame riu". 2ão se preocupem comigo" /nquanto esti%er pensando em todas aquelas

moedas de ouro esperando por mim, não permitirei que nenhum m$ sorte me atin7a"Sophie respirou fundo, reunindo a coragem para o salto" Batidas na porta do

quarto, atr$s dela, forneceram o ímpeto que lhe falta%a, e ela saltou para fora e paraa calha pela qual faria a $rdua 7ornada at o est$#ulo" O metal rangia e estala%a so#seu peso, mas não cedia" L$ dentro, mais #atidas na porta e alguns improprios, masela não olha%a para a 7anela, temendo perder o equilí#rio e cair"

) calha parecia intermin$%el, mas, finalmente, com um 8ltimo salto cora7oso, elaaterrissou so#re o telhado inclinado do est$#ulo" >entou se segurar em uma al+a quefi(a%a uma canaleta de escoamento, mas a mão agarrou o ar e, girando os #ra+osfreneticamente, Sophie despencou do telhado, aterrissando como um saco de #atatasno lodo" 4elo menos era lodo macio" /la se le%antou, ali%iada por não estar ferida,

limpou as roupas com alguns tapinhas r$pidos, e constatou que 5ourtney tinha melhorsorte" /la saltou para o chão com le%e&a in%e7$%el, correu e a#riu a porta do est$#uloantes que Sophie pudesse recuperar*se da queda"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

2ão ha%ia tempo para selar montarias" Sophie agarrou o arreio e a sela e os 7ogouso#re o pesco+o de Seafoam antes de montar em pêlo, le%ando os alfor7es na frentedo corpo" 4$lida e ofegante, 5ourtney fe& o mesmo"

5om um estrondo de cascos so#re as pedras do p$tio, as duas partiram pelaestrada para 5alais""" e para a nglaterra"

Lamotte dete%e o ca%alo diante da hospedaria de #eira de estrada" /ra aprimeira que %ia em muitos quilCmetros" 4odia apostar que Sophie ha%ia parado ali paradescansar" /la não era diferente de outras mulheres nesse aspecto preferia umacama macia a um peda+o de chão ao relento"

/le acenou para um ca%alari+o que limpa%a a porta do est$#ulo com mo%imentospregui+osos"

. Menino, %iu algum estranho por aqui6

. Bem, temos três #ons ca%alos no est$#ulo" ;m dos soldados me deu uma moedapara que eu os esco%asse e alimentasse #em"

. São três soldados, então6

. Sim, e estão %estidos como %ocê";m dos #andidos reagiu contrariado ao ou%ir a informa+ão". 2ingum me disse que seriam três" 4ensei que ti%ssemos apenas de matar o

soldadinho traidor" /spera%a estar em casa no%amente para o 7antar, sa#e6. /st$ com medo6 . pro%ocou o outro, com %o& fria". 2ão tenho medo de nada" S: não gosto de ser enganado" 2ão fui pago para

lidar com três homens". /ntão, cale a #oca e cuide do garoto, como foi pago para fa&er" Dei(e os

outros para quem mais competente no assunto" /u"Lamotte acompanha%a a discussão sem muita aten+ão" /ra e%idente que sua

esposa conseguira refor+os entre os companheiros mosqueteiros" Mais uma ra&ão paraimpedi*la de prosseguir com a missão tresloucada" /la não podia esperar manter seusegredo em um grupo tão pequeno, e numa 7ornada tão longa" Se desco#rissem que elaera mulher, não queria nem pensar em qual seria seu destino"

)lm do mais, agora Sophie era sua esposa, e de%ia a ele o#ediência e fidelidade"2ão permitiria que ela saísse percorrendo as estradas do país na companhia de outroshomens"

=uando a le%asse de %olta a 4aris, renegociaria os termos do acordo e insistiriapara que ela fosse realmente sua esposa" 2ão poderia %i%er com uma mulher arrediacomo ela mostra%a ser"

;m dos assassinos esmurra%a a porta e grita%a. )#ra em nome do rei-O propriet$rio os rece#eu com ar assustado"

. )gora não %amos mais pegar o idiota de surpresa- Lamotte entrou, empurrandoos dois sem grande cerimCnia"4rocuramos por um mosqueteiro chamado erard Delamanse" 3ocê o %iu6

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O homem assentiu, ali%iado por não ser ele o procurado" .   Sim, senhor" >rêsdeles pararam aqui ho7e de manhã para comer e repousar" >enho certe&a de que ou%ium deles chamando outro de erard" Ser%i uma #oa refei+ão aos três" ostariam decomer tam#m6

O matador de %o& fria adiantou*se"

. Onde est$ o mosqueteiro6

. L$ em cima" 2o quarto"

. Le%e*me at l$"O propriet$rio os condu&iu escada acima e apontou para uma porta". ? aquele quarto, senhor"O homem empurrou o dono da hospedaria e #ateu com o punho cerrado na porta". )#ra-. =uem %ocê6 . respondeu uma %o& do outro lado" . 4or que de%o a#rir a

porta6

2ão era a %o& de Sophie" /ra uma %o& masculina" Lamotte ficou furioso porpensar na esposa trancada em um quarto de hospedaria com outro homem"

. 2ão importa quem sou . ele rosnou" . )#ra, ou arrom#arei a porta-O homem do outro lado riu". )calme*se, senhor- /stou certo de que não %ão se incomodar por esperarem

at eu cal+ar minhas #otas"Lamotte esperou impaciente, at decidir que o su7eito 7$ ti%era tempo para

cal+ar as #otas cinco %e&es, pelo menos". )h, assim melhor . disse a %o& do outro lado" . )gora, s: preciso %estir a

 7aqueta""";m dos assassinos #ateu na porta com f8ria assustadora". )#ra em nome do rei, homem-. >enho a impressão de que gosta de di&er isso, senhor" )cha que falar em nome

do rei o torna grande e importante6 Suponho que um rato de esgoto como %ocê precisade artimanhas para tornar a pr:pria %ida mais significati%a, mas isso 7$ demais- Dequalquer maneira, receio que tenha de esperar mais um pouco, at eu me pentear epoder rece#ê*lo" ;m ca%alheiro nunca de%e ser %isto sem estar apresent$%el, mesmoque se7a s: por um rato de esgoto"

O homem sacou a faca, reagindo de forma impulsi%a ao se sentir ofendido". 3ou mat$*lo por isso, imprest$%el-. S: %ai precisar esperar por mais um momento, e então poder$ dar início @

matan+a" Dei(e*me s: a#otoar a cal+a, e estarei pronto para a#rir a porta"O 8ltimo coment$rio foi demais para Lamotte" /le se atirou contra a porta,

disposto a derru#$*la e enterrar o punho no rosto do homem que esta%a com suaesposa"

) cha%e girou na fechadura, e um 7o%em de rosto #onito e carac:is escuros

presos @ nuca por uma fita de couro surgiu na soleira" ;ma faca cintila%a em sua mão,e ha%ia em seus olhos uma e(pressão sel%agem, amea+adora" mpelido pela for+a desua ira, Lamotte caiu no interior do modesto aposento" O homem de %o& fria trope+ou

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

em Lamotte, e os dois ficaram caídos e atordoados";m #aque surdo marcou a chegada do terceiro mem#ro do grupo en%iado pelo rei"Lamotte le%antou*se a tempo de %er a porta sendo fechada" O som da cha%e na

fechadura marcou o final do #re%e encontro" 5onhecia a identidade do homem que ospegara como ratos em uma armadilha" 4oderia 7urar ter %isto aquele rosto em algum

lugar antes"De qualquer maneira, não tinha tempo para se ocupar da identidade do estranho"

2o instante em que a porta foi trancada pelo lado de fora, sua aten+ão foi atraídapara a morte %iolenta e sangrenta que o espera%a"

2o chão, no meio de uma po+a de sangue que se alastra%a rapidamente, o matadorde %o& fria 7a&ia com o olhar %a&io fi(o no teto, o pesco+o cortado de orelha a orelha"

Ha%iam sido pegos na mais :#%ia das armadilhas" Se não hou%esse perdido acalma, teria antecipado o mo%imento" Dei(ara*se en%ol%er pelo 7o%em mosqueteiro eesquecera a cautela, e agora um de seus companheiros esta%a morto" 2ão lamenta%a

pela morte, mas pela maneira como ela ha%ia acontecido" 2enhum homem mereciamorrer assim" /le esmurrou a porta com ira assustadora"

. Dei(e*me sair"

. 2ão pode tomar uma decisão6 . soou uma %o& de#ochada do outro lado" .=uando est$ do lado de fora, %ocê quer entrar" )gora que entrou, quer sair6 2ãotenho tempo para essas #rincadeiras tolas"

O outro matador tremia olhando para o corpo im:%el do companheiro". Dei(e*me sair ou cortarei seu pesco+o como %ocê cortou o de )ndr .

Lamotte amea+ou". 4refiro pensar que eu %ou cortar todas os pesco+os que ti%erem de ser

cortados por aqui" /spero que não tenha grande afeto por seu amigo, porque ele s:rece#eu o que merecia" O que fe& por merecer por muitos anos" )u re%oir, monsieur te5omte" )h, sim, e sai#a que sua esposa uma mulher e(cepcional" ;ma companheira dequarto muito agrad$%el" 4ena ter chegado tarde demais para nos %er 7untos na cama"Os três"

Lamotte rugiu no%amente e sacudiu a porta com a for+a de seus punhos". 3ou matar %ocê por isso". 3ai ter de me encontrar primeiro . o 7o%em riu enquanto se dirigia @ escada"

. Du%ido que se7a f$cil") porta de car%alho era mais forte do que parecia, e a tranca de ferro a

mantinha firme no lugar" Eoi necess$rio muito esfor+o e muito tempo para que, 7untos,eles conseguissem a#ri*la"

. )h . o propriet$rio os rece#eu com ar 7o%ial ao %ê*los no salão" . 3e7o queganhou a aposta"

O conde o encarou confuso". )posta6

. ) aposta que fe& com o 7o%em soldado so#re ser capa& de sair do quarto,mesmo com a porta trancada, em mais ou menos uma hora" ) ampulheta que prepareiainda não determinou o final do pra&o" 3ocê o encontrar$ no est$#ulo cuidando da

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

montaria, se quiser co#rar seu dinheiro"Lamotte cerrou os punhos" Seria in8til gritar com o homem por não ter ido a#rir

a porta" Ha%ia sido %encido pela ast8cia do 7o%em soldado" /le se encaminhou para oest$#ulo" 4rimeiro encontraria Sophie e a arrastaria de %olta para casa, e depoiscuidaria do rapa& que tanto a#usara de sua paciência"

O dono da hospedaria o interceptou a caminho da saída". 2ão %ai pagar pela porta6. 4agar6. Seu 7o%em amigo prometeu que o %encedor pagaria o do#ro do %alor de uma

porta no%a, uma %e& que a %it:ria resultaria na ruína daquela que ha%ia l$ em cima"5ompletamente irado, Lamotte tirou do #olso algumas moedas de ouro e as atirou

na dire+ão do propriet$rio do esta#elecimento". /st$ me dando mais do que o do#ro do %alor da porta". 2ão tem import<ncia" Eique com o dinheiro" ra+as @quele 7o%em patife e sua

faca afiada, h$ agora um cad$%er no quarto" 3ai ter de enterr$*lo" ;se o e(cedentepara su#ornar um mdico e con%encê*lo a atestar que o homem morreu dormindo"

) lentidão de 5ourtney e sua dificuldade para manter*se so#re o ca%alocome+a%am a irritar Sophie" /la olha%a para tr$s com freqGência, lamentando nãopoder aumentar a %antagem que tinha so#re seus perseguidores"

Mas, pela terceira %e& nos 8ltimos minutos, 5ourtney escorregou de cima doanimal e caiu na margem da estrada"

. 2ão consigo me manter em cima desse ca%alo sem sela-

. Segure*se com as pernas, não com as mãos"

. 3ou tentar"/las seguiram em frente por horas, at que a lu& come+ou a se tornar mais fraca"

Sophie olhou preocupada para o cu" 2ão ha%iam percorrido toda a dist<ncia queplane7ara co#rir"

. 2ão podemos parar" )inda não" 3amos prosseguir at podermos trocar nossosca%alos por outros descansados"

5omo espera%a que Lamotte não as esti%esse perseguindo-Mas, ao mesmo tempo, gostaria de tê*lo por perto"Miriame não podia tê*lo ferido" 2ão depois de ela ter pedido pela integridade do

marido" 5omo dese7aria ter ficado e se assegurado de que nada de mal aconteceriacom ele- Sua missão era importante, mas não tanto quanto as %idas do marido e de suaamiga" Eora capa& de desacatar suas ordens e fugir dele para cumprir essa missão,mas nem mesmo sua consciência a le%aria a causar qualquer tipo de mal ao conde"

O ar come+a%a a ficar mais frio" ) noite caía quando elas ou%iram o som decascos se apro(imando" /m poucos momentos, 7$ podiam %er aqueles que as perseguiamca%algando %igorosamente em sua dire+ão" )gora eram s: dois"

. 2ão %amos tentar escapar6 . 5ourtney perguntou preocupada"

Sophie tentou calcular a dist<ncia que as separa%a dos dois homens" )inda erauma dist<ncia segura, mas diminuía ine(ora%elmente". 2ão %amos conseguir fugir deles at a nglaterra" . )lm do mais, não podia

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

fugir sem sa#er se Lamotte era um dos dois" / se 5ourtney caísse no%amente,perderiam toda a %antagem que pudessem ter o#tido" . De que adianta correr, se nãotemos chance de escapar6

Sophie olhou para tr$s mais uma %e&" >inha certe&a de que o ca%aleiro da frenteera Lamotte" /le ca%alga%a rela(ado, sem nenhum sinal de estar ferido" ;m forte

alí%io in%adiu sua alma" Miriame cumprira a promessa e lutara apenas pelo prop:sitoque ha%ia declarado"

)pro(ima%am*se de uma parte mais estreita da estrada, onde o caminho seguiapor entre $r%ores frondosas" Os perseguidores agora esta%am tão pr:(imos, queSophie podia %er claramente o rosto de Lamotte" Sua e(pressão era tão determinadaque ela estremeceu" 2unca %ira o marido com aquela disposi+ão tão""" amea+adora"

5ourtney dete%e o ca%alo antes de a estrada mergulhar no #osque". Siga em frente, depressa- 3ou ficar aqui e retardar aqueles dois at %ocê

desaparecer"

. De 7eito nenhum" 2ão %ou dei(ar %ocê so&inha"

. 2ão se7a teimosa" 2ão %ou conseguir chegar em 5alais" Se ti%er de esperar pormim, certamente ser$ pega" Sem mim, ainda ter$ uma chance de chegar em algumlugar" O mínimo que posso fa&er por %ocê retê*los por tempo suficiente para %ocêescapar em seguran+a"

Lamotte %iu o ca%aleiro se %irar com a espada na mão" /nquanto isso, Sophiepartia num galope frentico, mergulhando na escuridão da floresta" >eria de lutarcontra mais um dos c8mplices da esposa antes de poder alcan+$*la"

/le cra%ou os calcanhares nos flancos do animal" 5om sorte, derrotaria odefensor anCnimo em pouco tempo e conseguiria pegar a esposa antes que ela semetesse em outras confus1es"

/mpunhando a espada, Lamotte emitiu um grito de guerra e empinou o ca%alo,sinali&ando a inten+ão de atacar" )ssustado, o ca%alo do oponente tam#m ergueu aspatas dianteiras, derru#ando*o" O mosqueteiro caiu com uma e(pressão de totalconsterna+ão"

O matador de aluguel desmontou, impelido pela inten+ão de dar ca#o rapidamentedo mosqueteiro caído" Lamotte não podia permitir um assassinato" Se o mosqueteiromerecesse morrer por ter desonrado sua esposa, perderia a %ida em uma luta 7usta,sa#endo por que ha%ia morrido"

Lamotte dete%e o assassino com um grito determinado" Depois desmontou e oseguiu, e ainda se apro(ima%a quando ou%iu a e(clama+ão espantada"

. 4or Deus, uma mulher- 2ão um soldado- . O #andido rasgou a camisa da%ítima com a ponta da espada e olhou para o peito desnudo com e%idente a%ide&" . /usa#ia- . ele e(clamou com pra&er e crueldade" . =ue sorte- 4odemos nos di%ertir comela antes de eu lhe cortar o pesco+o com minha faca-

5om a mão li%re, o assassino tenta%a desamarrar a cal+a, mas o n: era apertado, e

ele não conseguia desfa&ê*lo"Lamotte ficou cego de rai%a" Sua esposa tam#m era um soldado" 4odia ser elaquem esta%a ali, e(posta @ lu(8ria de um rato impiedoso disposto a estuprar e matar"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. /u não errei- 2ão errei- . ela repetia agarrada ao conde"O cad$%er ensangGentado chamou sua aten+ão, e s: então ela se deu conta de que

matara um homem") %isão de todo aquele sangue a dei(ou nauseada" /la se afastou do a#ra+o do

marido, tentando conter o mal*estar"

. /u o matei"

. 4oupou*me desse tra#alho . 5ourtney e Lamotte responderam ao mesmotempo, como se hou%essem ensaiado antes"

5ourtney continuou falando. /u não derramaria l$grimas por esse animal" /le era um %erme, como todos de

sua laia" Merecia morrer". >em ra&ão . concordou Sophie" Eeli&mente ha%ia desmontado e retornado

pela floresta para a7udar a amiga" . 3ocê est$ #em6. Sim, mas não pretendo montar em pêlo nunca mais" 2ão enquanto eu %i%er"

. Seu #ra+o"""6

. ? o pulso" 2ão sei onde sinto mais dor" 2o pulso, o#%iamente que#rado, ou notraseiro castigado por tantos tom#os" Mas %ocê""" 4or que %oltou6 /les nunca a teriamalcan+ado-

. 2ão ti%e coragem de dei($*la so&inha para enfrentar dois homens" Somosirmãs, lem#ra6

Lamotte passou um #ra+o em torno de sua cintura". 3ocê minha esposa" 2unca mais lutaremos, por mais que me pro%oque". Ser$ que pode parar um pouco com essa con%ersa so#re o casamento6

5ourtney precisa de um mdico" /la sofreu uma fratura"O trio retornou em silêncio pela estrada que ha%iam percorrido at ali" 5ourtney

ia acomodada na frente da sela de Lamotte, incapa& de segurar as rdeas so&inha como pulso que#rado" Lamotte controla%a a montaria com uma das mãos, enquanto asustenta%a com a outra"

Sophie não pCde negar o ci8me pro%ocado pela %isão" Sa#ia que o marido s: queriaa7udar 5ourtney, mas, mesmo assim, lamenta%a não ser ela em seus #ra+os"

)gora que desfruta%a de alguns momentos de tranqGilidade, ela %oltou a pensarna pr:pria situa+ão" O marido a alcan+ara e tentaria le%$*la de %olta @ 4aris, comoamea+ara" )ssim que 5ourtney esti%esse amparada e #em*cuidada, teria de encontrarum meio de escapar e continuar em sua missão para sal%ar Henrietta das garras friasda Bastilha"

/la olhou para o conde e sorriu" Lamotte a o#ser%a%a, e reagiu assustado diantedo gesto de inesperada ternura" Mas ele retri#uiu, e foi como se seu sorrisoiluminasse toda a paisagem"

) %o& de 5ourtney rompeu o silêncio e o encanto". 4or que esta%a ca%algando na companhia daquele patife6 >em ideia do tipo de

homem que ele era6Lamotte ficou srio, quase carrancudo". /u não esta%a ca%algando com ele" /le me seguia" /st$%amos am#os atr$s de

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

minha encantadora esposa, seguindo ordens do rei" Meu de%er era impedi*la de chegar@ nglaterra e cumprir sua missão, e o dele e de outro companheiro igualmente s:rdidoera mat$*la assim que eu a alcan+asse"

Sophie esta%a chocada". O rei quer minha morte6

De repente, a missão na nglaterra assumia uma no%a e desesperada gra%idade"2ão esta%a mais numa tola a%entura para co#rir de honra o nome do irmão" 2ãodisputa%a mais com o marido a supremacia na $rea de treino" )gora, chegar @nglaterra tornara*se uma questão de %ida ou morte" Sua %ida e a de Henriettaesta%am em perigo"

. ? o que parece, ou ele não teria en%iado dois #andidos da pior qualidade em seuencal+o" )parentemente, o rei temia que eu não ti%esse coragem para mat$*la"

O rei da Eran+a, a fonte de toda honra, en%iara uma dupla de assassinos dealuguel para mat$*la6 0amais teria imaginado tal coisa- 4hilippe de Orleans esta%a

certo seu irmão era um monstro que de%ia ser detido"O rei teria sido capa& de assassin$*la, e ela pretendera apenas sal%ar uma mulher

que ousara re7eit$*lo" O que poderia ele fa&er contra a pr:pria Henrietta6 >remia s:em pensar"

. ;ma dupla de #andidos6 / onde est$ o outro6 O que aconteceu com ele6

. /st$ morto . Lamotte re%elou" . Seu companheiro cortou*lhe o pesco+o deorelha a orelha"

Miriame" 5om toda essa confusão, esquecera*se dela-. / ele est$""" ferido6O rosto de Lamotte tornou*se som#rio, amea+ador". 4or que se incomoda tanto em sa#er6 /le um patife que merece a forca"Sophie não se cur%aria diante da ira caprichosa do conde" /le era seu marido, não

seu so#erano" 2ão sa#ia o que Miriame ha%ia feito para enfurecê*lo, nem queria sa#er"Suas desa%en+as não eram pro#lema dela"

. 4orque me preocupo com um companheiro" Muito"

. /u tam#m . 5ourtney a apoiou"

. /le não est$ ferido""" ainda" )t eu pCr as mãos nele"

. ) prop:sito, o que far$ conosco6 . 5ourtney perguntou com %o& fraca" .Du%ido que possa contar com sua honra para proteger*nos" Se %ai nos eliminar, como %ontade de seu rei, por que não o fa& aqui mesmo e poupa*me do esfor+o da ca%algadade %olta6 2ão %e7o sentido em cuidar de meu #ra+o se %ou morrer nas pr:(imas horas"

. O rei pode ordenar tudo que quiser, mas tenho honra suficiente para seguirminha consciência e não causar nenhum dano a %ocês" Sou um mosqueteiro" 2ão entroem guerra contra mulheres" Mesmo que mere+am"""

Sophie se sentiu pessoalmente pro%ocada e reagiu. 2ão fi& nada alm de seguir minha consciência" 3i%erei de maneira honrada, ou

desistirei da %ida"/le #alan+ou a ca#e+a e não respondeu, e os três seguiram %iagem em silêncio"Lamotte respirou ali%iado ao %er o %ilare7o" )li de%ia ha%er algumas mulheres com

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

conhecimentos so#re er%as, ou at um #otic$rio" /le pediu informa+1es so#re ondepoderia encontrar a7uda, e foi orientado a procurar a curandeiro do lugar" /la %i%ia naperiferia do po%oado, num #angalC isolado"

>eria preferido um #otic$rio ou um mdico, mas esta%a escurecendo, e seu ca%aloda%a sinais de cansa+o" ) mulher em seus #ra+os era um peso morto" >inha de tir$*la

dali antes que desmaiasse"O conde e Sophie esperaram enquanto a curandeira e(amina%a o #ra+o de

5ourtney, diagnostica%a uma fratura e o imo#ili&a%a usando uma tala de madeira"5ourtney nada di&ia" 2ão grita%a nem chora%a, mas mordia o l$#io a ponto de

fa&ê*lo sangrar". 3ai ter de ficar aqui e repousar um pouco, meu #em . disse a mulher ao

concluir seu tra#alho" . Seu #ra+o precisa de todo descanso que puder dar a ele" /malgumas semanas, quando remo%ermos as ataduras, ele estar$ fraco e com poucamo#ilidade, mas, com a a7uda de Deus, a fratura ser$ curada e %ocê poder$ recuperar

todos os mo%imentos" 5ourtney fe& uma careta". =uanto tempo de%o passar aqui6. ;m mês, pelo menos". ;m mês nesse %ilare7o, sem nada alm de cal+a para %estir6 4or Deus, de%ia

ter que#rado o pesco+o, não o pulso- Ou melhor, de%ia ter tra&ido alguns dos meus%estidos de 4aris"

) curandeira riu". Serão s: alguns dias, meu #em, e logo %ai estar #oa como antes" Mas ter$ de

passar mais de um mês sem ca%algar"Lamotte nem ou%ia as pala%ras da mulher" /sta%a pensando no que 5ourtney

aca#ara de di&er" 3estidos em 4aris" Sim, ha%ia sido l$ que a %ira anteriormente-;sando um %estido amarelo em seu casamento"

/ o rapa& de tra+os harmoniosos que %ira na ta%erna""" Sim, %ira aquele rosto emseu casamento, tam#m" So#re um %estido %ermelho- Outra mulher-

)gora entendia a nature&a dia#:lica e a rapide& de raciocínio, a maneira como elao enganara com suas artimanhas" ;m homem 7amais poderia superar uma mulher emtruques e artimanhas"

. 4or Deus, são três, então"""Sophie não di%idira um quarto na hospedaria com um homem" ) desconhecida s: o

pro%ocara para di%ertir*se, para des%iar sua aten+ão do que realmente importa%anaquele momento" Eicara cego de rai%a e se dei(ara enganar" De%ia ter confiado nahonra de Sophie sem question$*la" Sa#ia quanto essa confian+a era importante paraela"

. >rês o quê6 . Sua esposa parecia preocupada"

. Do que est$ falando6 . quis sa#er 5ourtney" /le riu"

. O companheiro de %ocês uma mulher- ;ma encrenqueira de maneiras

lament$%eis, mas estou feli& por não ter sido o#rigada a mat$*la, afinal") curandeira impro%isou uma cama no chão para acomodar sua paciente, mas nãoha%ia espa+o para Sophie e Lamotte em seu #angalC" >am#m não ha%ia nenhum a#rigo

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perto dali" >eriam de dormir so# as estrelas"Le%ando o colchão que transporta%a no alfor7e, ele se retirou seguido pela

esposa, e os dois #uscaram a#rigo so# um pinheiro cu7os galhos se estendiam em todasas dire+1es, oferecendo prote+ão contra o or%alho"

Sophie se deitou sem reclamar, mesmo tendo apenas as roupas do corpo como

co#erta"Lamotte estendeu o colchão so#re a rel%a e deitou*se a seu lado". 3enha aqui e di%ida comigo o co#ertor, ou %ai morrer congelada". 0$ passei por coisas piores"/le a pu(ou contra o peito, protegendo*a com os #ra+os" )ssim 7untos, so# o

mesmo co#ertor, estariam mais aquecidos" Sophie esta%a tensa, mas não protesta%a")os poucos ela foi rela(ando". )gora que a capturei, minha doce esposa fugiti%a, o que acha que de%o fa&er6. 4artirei para a nglaterra ao amanhecer"

. /squeceu minha promessa" =uer ser arrastada de %olta pela orelha6

. 2ão irei espontaneamente"

. 2ão espera%a mesmo que fosse . ele riu" . )lm do mais, du%ido que de%a%oltar a 4aris agora" O rei esta%a furioso com sua deso#ediência" 2ão so#re%i%eria pormuito tempo, se %oltasse"

. )queles homens iam mesmo me matar6

. /les pretendiam, mas eu os teria impedido" 3ocê minha esposa" /stareisempre pronto para protegê*la"

. / teria sal%ado a %ida de 5ourtney, tam#m, se eu não hou%esse sido maisr$pida6

. / claro que sim" 2ão permitiria que nenhuma mulher fosse #rutali&ada por um#andido na minha frente" 2ão se eu pudesse impedir"

. >i%e medo de errar""" De acertar em %ocê, em %e& de tirar a %ida do #astardoassassino"

/le a a#ra+ou com mais for+a, tentando transmitir calor e conforto". 2ão errou . disse" Sa#ia que esta%a %i%o" 4odia sentir a %ida pulsando

intensamente em certas partes de seu corpo" . >e%e medo de ficar %i8%a, minhaquerida esposa, mesmo tendo se casado apenas para poder continuar lutandoimpunemente6

. Bem, admito que a %iu%e& teria sido uma e(celente maneira de me li%rar de umhomem que s: se casou comigo para atender a seu senso de de%er, mas não esse ocaminho que eu teria escolhido"

. >enho at medo de perguntar qual teria sido sua escolha"/la não respondeu, e Lamotte s: pCde esperar que o silêncio fosse fa%or$%el a

sua longe%idade". O rei pode ter en%iado outros homens em seu encal+o, Sophie" 2ão posso le%$*

la para 4aris". 2ão" 2ão pode, porque irei para a nglaterra assim que o dia nascer". /staria segura em Burgundy" Du%ido que o rei ouse in%adir o territ:rio do

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duque de Burgundy" /le não ia querer correr o risco de di%ulgar seus prop:sitos tão %ise mesquinhos"

. 0$ disse que %ou para a nglaterra" 4edirei ao rei 5harles pela %ida de sua irmã Henrietta, como 4hilippe de Orleans me implorou para fa&er" 2ão %ou para Burgundy"

. 4osso amarr$*la so#re o ca%alo e le%$*la @ for+a"

. Mas não pode me manter amarrada para sempre" ;m dia estarei li%re, e %ocê%ai se arrepender"""

. Ha%ia apenas dois caminhos para o conde passar o resto de seus diasperseguindo a esposa pelos continentes, ou unir*se a ela definiti%amente"

. 2ão posso permitir que %$ so&inha"

. 2ão h$ nada que possamos fa&er quanto a isso" Miriame ficou para tr$s naquelaprimeira hospedaria, e 5ourtney não %ai poder %ia7ar por um #om tempo" Minhamensagem não pode esperar tanto assim"

) terceira mosqueteira se chama%a Miriame" ;m nome estranho, mas

apropriado para sua nature&a traquina". /ntão, não tenho escolha" /u %ou com %ocê". Mas o rei o en%iou para me deter-O rei não conhecia Sophie" >eria sido o mesmo se ele o en%iasse para deter o

%ento". 2ão, ele ordenou que %ocê fosse morta, e #em pode ter mandado outros

homens alm daqueles dois que foram eliminados" 2ão %ou pCr em risco sua %ida" 2ãoposso permitir que siga desprotegida nessa 7ornada"

. 4or que est$ tão preocupado6 5asou*se comigo apenas para cumprir a promessafeita a meu irmão" 4or que se importa com o que acontece comigo6

Desde o casamento, passara a respeit$*la e gostar dela por quem era, umacriatura leal e honrada ao e(tremo" / a dese7a%a, tam#m" Muito"

/le desli&ou uma das mãos para #ai(o de sua 7aqueta, tocando um seioarredondado e macio" ;m dia a teria inteiramente" /m #re%e"

. 3ocê minha esposa" De%o protegê*la sempre" /la suspirou e se acomodoumelhor em seus #ra+os"

. 4ode ser meu marido, mas não me de%e nada" =uando %ai aprender que não temde%eres comigo"6

/le a #ei7ou no rosto". Boa noite, Sophie" Durma #em"Os galhos do pinheiro foram sacudidos por uma #risa le%e, entoando uma can+ão

de ninar". Boa noite, monsieur lê 5omte"

) manhã chegou cedo demais, e com ela %ieram o %ento e a chu%a" Sophieprotegeu*se com o manto e montou, tentando não se incomodar com os pingos geladosque escorriam por sua nuca e molha%am*lhe as costas"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

)gora que 5ourtney não podia ca%algar, e com o #andido morto no limite dafloresta, ha%ia para ela e Lamotte quatro ca%alos e duas selas" 5om o do#ro demontarias, chegariam muito mais depressa ao destino" /sta%a e(austa, apesar de terse le%antado h$ pouco, porque mal conseguira dormir nos #ra+os do marido" Ha%ia sidouma tortura sentir o calor de seu corpo sem poder desfrutar dele plenamente"

5ertamente Lamotte ficaria horrori&ado se o #ei7asse, como ha%ia dese7ado, porques: se casara com ela para cumprir o que prometera ao amigo, seu irmão" /le não adese7a%a como um homem dese7a uma mulher"

Sim, ele amea+ara sedu&i*la depois do casamento" Oh, como ansiara pelocumprimento dessa promessa- 2esse caso, não estaria come+ando mais um dia comaquele terrí%el %a&io no peito, como um %$cuo que s: ele poderia preencher"

)gora, resta%am apenas a dor de ca#e+a, o mau humor e a total ausência decontrole so#re suas emo+1es, um con7unto de respostas @ falta de sono"

Lamotte tam#m parecia distraído" 5a%alga%a em silêncio, srio, como se

esti%esse arrependido da decisão de acompanh$*la na %iagem @ nglaterra, ou, piorainda, como se plane7asse le%$*la para sua propriedade em Burgundy tão cedo quantofosse possí%el"

2ão" De%ia en%ergonhar*se dos pr:prios pensamentos, confia%a no marido e emsua promessa de a7ud$*la" De%ia estar mais satisfeita com o progresso r$pidoalcan+ado nessa 7ornada, mas tudo que conseguia pensar era em como Lamotte semantinha distante, ignorando*a, tratando*a como um fardo indese7ado do qual nãopodia se lem#rar"

>ola- Ha%ia sido ela quem insistira em um casamento platCnico, uma condi+ão queo conde aceitara contrariado" Eiel @ pala%ra empenhada, ele não tentara sedu&i*la" Oh,como lamenta%a ter feito tal imposi+ão-

 4or %olta do meio*dia, eles se deti%eram #re%emente so# uma $r%ore para comerpão e quei7o que le%a%am nos alfor7es" O ar 8mido e frio fa&ia Sophie tremer" /laa#re%iou a pausa tanto quanto pCde, dese7ando apenas encontrar um lugar quente eseco onde pudesse se acomodar e dormir"

) tarde chega%a ao fim quando eles se apro(imaram do primeiro de uma srie de%ilare7os" Sophie olha%a com ar sonhador para as ta%ernas pelas quais passa%am, masnada di&ia, em#ora come+asse a sentir realmente o peso das roupas molhadas e docansa+o" )final, Henrietta esta%a em piores condi+1es e precisa%a de sua a7uda" 2ãose dei(aria deter por tolices como frio e chu%a, quando Henrietta apodrecia eenlouquecia lentamente nas masmorras 8midas da Bastilha, atormentadaconstantemente pelo medo e pela pri%a+ão"

=uando os 8ltimos raios de sol desapareciam atr$s do hori&onte, eles passarampor uma hospedaria" Dessa %e&, Sophie não se conte%e"

. 4odemos parar aqui6Sem di&er nada, Lamotte dete%e o ca%alo e desmontou, dirigindo*se @ porta

iluminada"/la sentia que de%ia se e(plicar". Logo %ai estar escuro demais para seguir %iagem, e não podemos dormir no

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

chão com essa chu%a". 2ão precisa me con%encer de nada" 5onfesso que esla%a desapontado por %ocê

não ter sugerido essa pausa antes, nos dois 8ltimos lugares por onde passamos". Se est$ tão cansado assim, por que não me a%isou6. 4ara quê6 4ara ser acusado de tentar sa#otar sua missão6 2ão, o#rigado"

Sophie tam#m desmontou, satisfeita por %ê*lo estender os #ra+os para a7ud$*la". )cha que sou fria e cruel a ponto de negar a chance de repouso a um homem

e(austo6/le a depositou no chão e recuou". )cho apenas que uma mulher muito determinada" ) propriet$ria da

hospedaria os rece#eu com alegria". 5omo posso a7ud$*los, po#res soldados6 =uerem comida6 gua quente6 . /la

os li%rou dos mantos ensopados, pendurando*os diante de uma enorme lareira parasecarem"

3inho6 ;ma cama macia e quente6 De minha parte, %ou aceitar a $gua quente dentro de uma tina . Sophie

respondeu, colocando uma moeda de ouro na mão da comerciante" . / uma camaquente, tam#m"

Sophie e Lamotte foram acomodados no mesmo quarto, e ele se estendeu so#re acama enquanto um criado da hospedaria enchia a tina com $gua quente"

Sophie não hesitou" /(austa, dolorida e gelada, tirou as #otas e as 7ogou em umcanto"

. Eeche os olhos . disse, despindo a camisa e 7ogando*a so#re as #otas" 2emmesmo a presen+a de um homem a impediria de mergulhar naquela $gua fumegante" .3ou tomar um #anho"

/le resmungou alguma coisa incompreensí%el"Sophie interpretou o som como uma resposta afirmati%a e continuou se despindo,

sempre de costas para a cama e para o conde")h, como era delicioso sentir na pele a $gua quente e rela(ante, dei(ar*se

en%ol%er por ela e fechar os olhos para""". 5hega mais para l$, minha querida")o ou%ir a %o& de Lamotte, ela a#riu os olhos e, assustada, fle(ionou os 7oelhos,

tentando co#rir*se"O que %ia a dei(ou ainda mais chocada e apa%orada" Seu marido esta%a em p

diante dela, sem nenhuma pe+a de roupa co#rindo o corpo m$sculo e glorioso"Sophie gague7ou, incoerente por conta do choque". 3ocê est$""" nu-

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

#ap&t$lo )'''

 2ão pode entrar aqui- 2ão est$ %estido- Lamotte 7$ esta%a entrando". Muita perspic$cia sua ter notado" S: não entendo a ra&ão da surpresa" =ueria

que eu tomasse #anho %estido6)gora ele in%adia sua pri%acidade, tam#m6. O #anho meu-. 2ão se7a egoísta" . O conde sentou*se, pegou o sa#ão e come+ou a esfregar o

peito" . Sua mãe nunca disse que preciso sa#er di%idir6Sophie le%antou*se" 2ão suporta%a ficar tão pr:(ima de um homem nu" 2a

%erdade, nunca %ira um homem nu antes". 2ão posso di%idir o #anho com %ocê" /le a pu(ou para a $gua no%amente". 2ão se7a #o#a" 4ode esperar at eu terminar, mas a $gua 7$ não estaria tão

quente, e por isso não teria a mesma eficiência para rela(ar seus m8sculos cansados". 3ou pedir mais $gua quente". 2ão pode esperar que a po#re mulher aque+a duas tinas de $gua- /la 7$ de%e

ter usado a lenha de um dia inteiro para isso"2ão ha%eria mais $gua quente6 Sophie sentou*se na tina" 2ão se dei(aria pri%ar

de um #om #anho por causa de um homem" 4or ningum-. 3ou fechar os olhos e fingir que %ocê não est$ aqui". >enho uma ideia melhor" . O conde a segurou pelos om#ros e a %irou de

costas" . / ainda posso a7ud$*la a esfregar as costas"5om as mãos ensa#oadas, Lamotte come+ou a manipular cada m8sculo tenso dos

om#ros delicados, passando deles @ nuca e depois @s costas" Sophie tinha a impressãode que os dedos m$gicos iam remo%endo todas as dores de seu corpo" 2ão queria queele parasse"

. Os #ra+os"""6Lamotte suspirou e su#meteu os #ra+os de Sophie ao mesmo tratamento". )h, as coisas que fa+o por %ocê, minha esposa""")o final da massagem, Sophie girou os om#ros com uma sensa+ão de alí%io" /sta%a

inteiramente reno%ada" )s costas e os om#ros ha%iam sido li#ertados da tensão, e eracomo se recuperasse a for+a e o %igor de antes"

)lguns m8sculos ainda doíam, como aqueles mais utili&ados em uma longaca%algada, mas não podia solicitar que ele massageasse essas regi1es"

. O#rigada"

. uarde a gratidão para mais tarde" )inda não terminei" 5om as mãos

ensa#oadas, ele come+ou a la%ar seu peito e a #arriga"O h$lito na nuca de Sophie era morno e 8mido" 4odia sentir a e%idência dae(cita+ão de Lamotte em suas costas, ganhando %ida e tocando*a com uma urgência

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

persistente" /le a queria" )gora era claro" Dese7a%a*a como um homem queria suamulher"

/ agora ele não esta%a massageando seu corpo para li%r$*lo da tensão" >oca%a*acomo um homem toca uma mulher, com gentile&a e dese7o" Sophie não conseguiaresistir ao impulso de inclinar as costas numa rendi+ão silenciosa" ;m calor intenso ia

dominando seu corpo"Sa#ia que se comporta%a de maneira desa%ergonhada, mas não era capa& de

conter*se" 5ada fi#ra de seu ser grita%a pelas mãos de Lamotte" Mãos que iamapagando de sua pele os 8ltimos %estígios de solidão e a#andono, sentimentos queesta%am a#rigados em seu cora+ão por muito tempo"

/le a acaricia%a, tocando lugares nos quais 7amais imaginara ser tocada" Sophiesuspira%a e gemia, suplicando pelo alí%io que s: o corpo do conde poderia proporcionar"

Os dedos dele a toca%am de maneira íntima, pro%ocando uma sensa+ão que iacrescendo em ondas sucessi%as at que, perple(a, ela e(plodiu em espasmos que eram,

ao mesmo tempo, deleite e tortura"Minutos depois, ainda e(austa, ela indagou com %o& l<nguida". )gora estamos efeti%amente casados6. )inda não""" . Lamotte mo%eu*se contra suas costas, pressionando o mem#ro

rígido contra a #ase de sua coluna"Sophie se le%antou e saiu da tina" 2ão sa#ia o que poderia la&er para agrad$*lo, e

 7$ e(perimenta%a os primeiros sinais de %ergonha pela maneira sem pudor como seentregara ao pra&er" De onde ha%ia tirado tanta ousadia6

2ua, 7$ que não tinha roupas limpas para %estir, ela se deitou so# as co#ertas, e 7$ esta%a pegando no sono quando o conde acomodou*se a seu lado e a a#ra+ou"

4rotegida e aquecida como esta%a, ela adormeceu em seguida"O dia nascia quando Sophie a#riu os olhos" Lamotte ainda dormia a seu lado,

inteiramente nu" /la mudou de posi+ão para interromper o contato entre os corpos" Oconde resmungou alguma coisa e a pu(ou de %olta, mas, prete(tando pressa, ela saiu dacama e come+ou a %estir as roupas imundas" /ra repugnante usar roupas íntimas8midas e su7as, mas não tinha alternati%a"

!esignado, Lamotte tam#m se le%antou e tirou pe+as limpas de um alfor7e quedei(ara no canto do quarto"

Sophie decidiu que não olharia para o corpo m$sculo e nu" 2ão podia se dei(ardistrair" Sendo assim, não olharia para ele e não falaria com ele, a menos que fossea#solutamente necess$rio, at o fim da 7ornada @ nglaterra" 4odia estar casada comLamotte, mas não era o#rigada a se relacionar com o homem, a menos que dese7asse"

/ naquela manhã, tudo que queria era esquecer que ele e(istia"Logo %olta%am @ estrada" Sophie recusou*se a sentar para comer, le%ando apenas

um peda+o de carne e pão que foi de%orando pelo caminho" Lamotte ainda parou paraolhar para as fumegantes %asilhas de guisado de coelho ser%ido no des7e7um, mas

limitou*se a seguir a esposa". 3ai me ignorar o dia todo6 . ele perguntou, depois de alguns minutos deca%algada" . /st$ a#orrecida com alguma coisa, ou s: mau humor6

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 2ão esta%a ignorando %ocê" )penas""" pensando"

. De%ia dei(ar essa ati%idade para os ministros do rei" /les podem ter ideias portoda a Eran+a"

. 2ão esta%a plane7ando esquemas t$ticos" . / não podia re%elar que ideiasocupa%am sua mente" . /sta%a apenas""" pensando"

. /m quê6 O que pode ser importante a ponto de mantê*la em silêncio por tantotempo6

4ensa%a em como poderia so#re%i%er durante o resto da %iagem, em comodi%idiriam quartos de hospedaria e passariam todo o tempo 7untos" 5omo poderiapermanecer fiel aos pr:prios princípios, se o corpo insistia em traí*la6

. 2ada em especial"Lamotte desistiu de interrog$*la e a dei(ou em pa& com os pr:prios pensamentos"2ão eram confort$%eis"Lamotte era a tenta+ão a que tinha de resistir" O dia#o o pusera em seu caminho

para fa&ê*la desistir do prop:sito, mas seria forte e fiel, e não se des%iaria da missão")gora que sa#ia como era seu corpo so# as roupas de soldado, seria mais difícil

ignor$*lo" Mas tinha de esquecer"4ara isso, ela pensou em Henrietta, a duquesa esquecida em uma masmorra fria e

alimentada apenas com pão em#olorado" Henrietta de%ia ser sal%a, e s: ela podiareali&ar a fa+anha" 4hilippe de Orleans depositara nela toda confian+a, e não poderiadesapont$*lo" Mesmo com todos os o#st$culos do caminho, esta%a determinada a nãoperder de %ista o prop:sito de sua missão"

2aquela noite, Lamotte e Sophie pararam em uma ta%erna muito modesta que s:possuía um quarto para h:spedes"

/la se la%ou rapidamente e foi para a cama ainda %estindo as meias e a camisaimundas" 2ão ousa%a despir*se inteiramente outra %e&" 2ão seria tola a ponto dedesafiar o perigo" 4elo contr$rio, faria tudo para e%it$*lo"

Sem di&er nada, Lamotte deitou*se a seu lado". Boa noite . disse"2ão se dei(aria enganar pelo falso sentimento de seguran+a s: para ser

surpreendida por um ataque pelas costas". Boa noite"Mas o conde adormeceu em seguida sem ao menos tentar toc$*la"O que esta%a acontecendo6 O marido dei(ara de dese7$*la6 4or que não fa&ia

nenhum esfor+o para sedu&i*la6 2ão se importa%a com sua determina+ão em mantê*lodistante6

Ha%ia se preparado para uma #atalha contra a tenta+ão, e o inimigo nem seapresentara" 5omo poderia se sentir %itoriosa6 2ão" Sentia*se frustrada, insatisfeita,quase insultada por sua falta de interesse"

/le roncara, e Sophie sentiu %ontade de gritar" 5omo o marido podia dormir tão

profundamente, enquanto ela não era capa& nem de fechar os olhos6De repente ela ou%iu passos do lado de fora do quarto" ;ma porta que se a#ria eera fechada cuidadosamente"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

O lampe7o de uma pequenina chama atraiu seu olhar, e o cheiro da fuma+a in%adiusuas narinas"

/la saltou da cama e sacou a faca que le%a%a escondida na meia, alertandoLamotte com um grito"

Os olhos dela, 7$ ha#ituados @ escuridão, identificaram duas figuras furti%as

entrando em seus aposentos" Maldi+ão- O rei tinha um inesgot$%el suprimento deassassinos para en%iar atr$s de seus inimigos6

Sophie saltou so#re o inimigo mais pr:(imo, desferindo*lhe um %iolento golpecontra o om#ro" /le gritou de dor e recuou, dando mostras de não estar esperandoaquela resistência"

Lamotte esta%a em guarda, empunhando a espada e e(i#indo o corpo nu eglorioso"

Erustrados na tentati%a de um ataque surpresa, os in%asores apagaram alamparina e fugiram, desaparecendo na escuridão"

Sophie parou na porta, olhando para fora em #usca de algum sinal dos atacantes"/sta%a ofegante pelos efeitos do choque e do medo"

. De%emos persegui*los6

. 2ão" 4ode ser uma em#oscada" /les podem estar esperando por n:s naescuridão"

. =uem acha que são6/le fechou a porta e a tra%ou com uma cadeira que encai(ou so# a ma+aneta". Du%ido que quisessem apenas rou#ar*nos" Ladr1es ordin$rios não seriam tão

atre%idos" 2em atacariam guardas reais". )cha que são homens do rei, então6. !eceio que sim". 2ão consegui %er seus rostos" 2ão os reconheceria se os encontrasse

no%amente". 2em eu" 3amos ter de nos manter mais atentos de agora em diante" . Lamotte

%estiu*se" . 3olte a dormir" 3ou ficar %igiando". )corde*me em quatro horas para re%e&armos . ela pediu"Depois do susto, Sophie não espera%a adormecer com tanta facilidade, mas

esta%a enganada" ) ca#e+a mal ha%ia tocado o tra%esseiro, e ela 7$ dormiaprofundamente"

=uando acordou no%amente, o dia ainda não ha%ia amanhecido" Lamottecontinua%a de guarda" 2ão a despertara, conforme ha%ia solicitado"

Sophie le%antou*se". Durma . disse com tom seco" . Ou não %ai conseguir me acompanhar na

 7ornada"/le não discutiu" 5aiu so#re a cama e adormeceu imediatamente"Sophie apro%eitou a solidão para pensar" Mais três dias de ca%algada, e estariam

em 5alais, de onde seguiriam de #arco para a nglaterra" ;m #arco de contra#andoseria a melhor op+ão, porque nele poderiam entrar no país sem fa&er alarde, semserem seguidos pelos olhos saga&es dos espi1es do rei"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

/ nas pr:(imas noites, ela e Lamotte não %oltariam a dormir 7untos e a#ra+ados";m deles teria de estar sempre %igilante, pronto para defendê*los de e%entuaisataques" ) separa+ão for+ada seria um alí%io em muitos aspectos"

) situa+ão em que se encontra%am era a maneira mais eficiente de resistir @tenta+ão representada pelo marido"

Seguia en%ergonhada com a pr:pria fraque&a, com a maneira est8pida como sedei(ara en%ol%er e sedu&ir, mas não podia pensar nisso agora" 2ão dispunha de tempoou energia para isso, não enquanto esta%a no meio de uma importante missão" Maistarde teria tempo e disposi+ão para lidar com os sentimentos" Mais tarde, quandochegassem @ nglaterra e entregassem a mensagem de %ida ou morte ao rei 5harles"

De uma coisa esta%a certa o marido não ha%ia ficado chocado com seucomportamento" 4elo contr$rio, dera sinais de apreciar a total entrega da esposa asuas carícias" >al%e& fosse esse o modo de agir de pessoas casadas" 2ão sa#ia"""

O sol se erguia no hori&onte" Logo a missão estaria concluída, eles retornariam @

Eran+a, e teria de tomar uma decisão so#re sua %ida com Lamotte"Ha%ia 7urado proteger o nome de sua família e co#rir de honra o nome do irmão"

/ uma coisa era clara não poderia cumprir esse 7uramento como esposa de Lamotte"Se não esti%esse tão apai(onada pelo marido, poderia decidir com mais clare&a

que caminho seguir"

5alais era uma e(plosão de ati%idade quando finalmente Sophie e Lamotteentraram na cidade" 2ão ha%iam sido importunados no%amente depois daquele ataquenoturno, mas, durante todo o restante do tra7eto, ela ti%era a sensa+ão de estarsendo seguida, o#ser%ada"

O fato de não terem sido importunados s: aumenta%a o desconforto" /ra :#%ioque aqueles que a seguiam tinham algum trunfo na manga"

0$ #em perto do cais, eles desmontaram e seguiram a p" De%iam dar umapssima impressão caminhando naquele estado pela cidade" Su7os, usando roupas quenão eram la%adas h$ dias e com os ca#elos co#ertos de lama a ponto de não serpossí%el reconhecê*los como soldados, eles pareciam uma dupla de #andoleiros"

O cais esta%a mais mo%imentado do que Sophie ha%ia imaginado, e o mar, quandofinalmente puderam %ê*lo, era muito mais %asto do que em seus sonhos" ai%otasso#re%oa%am a $rea em amplos círculos, chamando umas as outras com seus gritosagudos" O ar cheira%a a sal e pei(e"

Lamotte a dei(ou cuidando dos animais, e ela os segura%a pelas rdeas semdes%iar os olhos do oceano a&ul" /nquanto isso, ele ia tentar desco#rir qual seria opr:(imo na%io a partir para a nglaterra, e como poderiam arran7ar o em#arque"

Sophie ficou ali parada pensando na tra%essia" 2unca se dera ao tra#alho detentar pensar em como seria o mar" 5onhecia apenas os lagos e p<ntanos de 5amargue

e o rio que corta%a 4aris, su7o e escuro por transportar em suas $guas os de7etos demilhares de ha#itantes da cidade" Mas esses lugares eram $ridos comparados ao que%ia agora" 2unca suspeitara de que ha%ia tanta $gua em um s: lugar"

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4ela primeira %e& desde que dei(ara 4aris, sentia*se tentada a a#andonar amissão, desistir dela" ) ideia de atra%essar aquela imensidão de $gua a #ordo de umaconstru+ão de t$#uas de madeira era simplesmente aterrori&ante"

=ueria %oltar @ 4aris e fingir que nunca ou%ira falar em honra""" ou em Henrietta"Mas não podia" 4or mais que temesse o mar, não so#re%i%eria @ desonra de

desistir dessa missão"Lamotte %oltou depois dê muito tempo acompanhado por um homem por quem

Sophie sentiu uma antipatia instant<nea, um marinheiro grandalhão com uma longa esu7a #ar#a negra e um h$#ito no7ento de cuspir no chão a cada meia d8&ia de pala%rasque di&ia" O pa%or da $gua e a s8#ita antipatia plantaram em sua alma uma estranhaideia, a de que esse homem era um agente do demCnio en%iado para condu&i*la @destrui+ão"

Lamotte e o capitão continuaram negociando, sem se dar conta da hostilidade nosolhos dela"

. São s: dois6

. Sim, n:s dois" 4elo ca%alo"

. /le magro demais""" . O homem tocou as patas de Seafoam, aumentando o:dio de Sophie"

>inham dinheiro para pagar pela tra%essia" 4or que Lamotte oferecia suamontaria6 Seafoam ha%ia pertencido a erard e a ser%ia muito #em" 0amais sedesfaria dele"

. Meu ca%alo não est$ @ %enda" Lamotte #alan+ou a ca#e+a"

. 2ão esse" ? o outro, o garanhão castanho"

. )ceito le%$*los para a nglaterra por este aqui"

. 2ão" ? o garanhão, ou nada"O capitão apro(imou*se do outro animal". /le %elho"Lamotte cru&ou os #ra+os e não respondeu"O capitão prosseguiu em seu e(ame minucioso". /st$ cansado e precisa de ferraduras no%as" 2ão paga o pre+o das duas

passagens"O conde encolheu os om#ros". Se não est$ interessado""". Bem, suponho que posso aceitar a #arganha, considerando que tenho um

cora+ão generoso" Mas %ai ter de acrescentar a sela ao neg:cio"Lamotte estendeu a mão para o capitão". Eeito". 4artiremos ainda ho7e, na mudan+a da mar . o capitão informou com um

sorriso #anguela" . 2ão se atrasem" Meu #arco e eu não esperamos por ningum" Senão chegarem a tempo, não farão a tra%essia comigo" / não ter$ seu ca%alo de %oltaA

. >emos muitas moedas de ouro para pagar pela %iagem . Sophie disse aomarido assim que ficaram so&inhos" . 4or que não pagou o pre+o estipulado esimplificou a transa+ão6

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. )cha que eu e(i#iria nosso ouro diante do nari& de um su7eito ganancioso esem escr8pulos6 /le nos atiraria ao mar na primeira hora de %iagem e ficaria com tudo-Melhor que pense que somos po#res e temos de %ender um ca%alo para %ia7ar" )ssim,nossa pro#a#ilidade de chegarmos @ nglaterra com %ida #em maior"

4osto dessa maneira, era difícil argumentar"

. )lm do mais, não gosto da ideia de manter o ca%alo de um homem que %ocêmatou com uma flecha no peito"

Sei que não muito pro%$%el, mas algum pode reconhecê*lo e e(igir nossoenforcamento por rou#o e assassinato"

/sse argumento era ainda mais indiscutí%el"=uando terminaram de resol%er tudo em terra firme, falta%a ainda uma hora

para &arparem" Sophie ficou andando pelo cais, tomada por uma incCmoda mistura dener%osismo e e(cita+ão" /sta%a prestes a dei(ar a Eran+a pela primeira %e& na %ida, eatra%essaria o mar a caminho de uma terra desconhecida onde fala%am outra língua"

Hou%e um tempo, não muito distante, em que uma %iagem @ 4aris ha%ia sido sua maioram#i+ão" ;ma %isita a Londres nem fi&era parte de seus sonhos"

)gora, gra+as @ %ida que le%a%a como erard, como mosqueteira, o impossí%el sereali&a%a"

=uando se apro(ima%am do #arco que os transportaria nessa %iagem, Lamotte adete%e tocando seu #ra+o" . O que acha daquilo ali6 /la olhou na dire+ão indicada"

Dois homens %estidos em roupas escuras conferencia%am com o capitão em umcanto escuro do píer" /les olha%am em %olta constantemente, dei(ando transparecerque não queriam ser %istos ou ou%idos" )lguns minutos depois, eles se afastaramenquanto o capitão guarda%a so# a camisa uma gorda #olsa de couro" Ha%ia em seurosto um ar de grande satisfa+ão"

. 2ão gosto nada disso . Sophie respondeu honestamente"

. >al%e& não se7a nada" /les podiam estar apenas con%ersando, perguntandoso#re o pre+o do pei(e"""

Sophie #alan+ou a ca#e+a" /ra sempre melhor desconfiar" ente confiantedemais morria cedo"

. /les deram dinheiro ao capitão" 4ara quê6 4ara encomendar algum tra#alhosu7o6 Se %ia7armos nesse na%io, seremos comida de pei(e antes do pr:(imoamanhecer"

/les se afastaram da prancha de em#arque, atentos para a presen+a dos doisespi1es" Lamotte esta%a apreensi%o"

. Maldi+ão- )gora não podemos %ia7ar com ele" 3endi o ca%alo por nada, e aindaquase promo%o nossa morte"

/ra um alí%io para ela não ter de %ia7ar no #arco de um homem de quem nãogostara desde o primeiro instante"

. 4ense no aspecto positi%o da situa+ão"

. =ual6. /le ainda pode ser enforcado por rou#ar ca%alos"Lamotte respirou fundo"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. >emos de entrar naquele #arco"

. O quê6

. Se os espi1es acreditarem que estamos liquidados, seguiremos %iagem at anglaterra na mais completa seguran+a, e %oltaremos para casa ilesos" 5aso contr$rio,eles nos perseguirão at alcan+arem o o#7eti%o"

/la não esta%a con%encida". / como %amos escapar depois de em#arcarmos6 Serão muitos marinheiros

contra n:s dois". Sa#e nadar6. ;m pouco". Ntimo- O mar est$ calmo" 3enha, não temos muito tempo")m#os ofega%am quando correram pela rampa de madeira, momentos depois da

mudan+a na mar" O capitão 7$ esta%a a #ordo, em p na proa da em#arca+ão, eparecia apreensi%o"

Mas ele rela(ou ao %ê*los". )h, #em a tempo- 0$ come+a%a a pensar que teríamos de partir sem %ocês"Sophie olhou para Lamotte" O fato de ele os ter esperado era mais uma pro%a de

seu interesse na presen+a dos dois em sua em#arca+ão" 5onfirma%a as suspeitas deque ganharia mais com essa tra%essia do que o %alor de um ca%alo"

. +ar <ncora-O #arco tinha um cheiro de pei(e tão forte, que Sophie 7$ come+a%a a sentir

n$useas" 2a ca#ine, ela preferiu manter a ca#e+a fora da escotilha e respirar o arsalgado"

. 2ão posso ficar aqui . disse" Morrerei antes de chegar @ nglaterra"Lamotte tam#m esta%a p$lido" Sem di&er nada, ele acenou para a esposa e os

dois %oltaram ao con%s"O capitão os olhou carrancudo". 4assageiros de%em ficar l$ em#ai(o, longe do con%s"O na%io #alan+a%a como se fosse uma rolha so#re as ondas" Sophie agarrou*se @

#alaustrada lateral e olhou para as ondas de crista #ranca que #atiam contra o casco"2unca esti%era em um #arco antes" O mo%imento era incomum, como se não pudessecomandar os ps, mas não era desagrad$%el" ) sensa+ão era parecida com a deca%algar um ca%alo sel%agem"

Lamotte de#ru+ou*se so#re a #alaustrada para %omitar") e(pressão do capitão tornou*se ainda mais carrancuda". 2ão quero que emporcalhe minha ca#ine" 4odem ficar aqui, mas não atrapalhem

minha tripula+ão, ou 7uro que os atirarei ao mar"Lamotte respondeu com um gemido r$pido antes de %omitar no%amente". Olhe para o hori&onte . sugeriu um dos maru7os" . )7uda"Sophie acatou a sugestão imediatamente e desco#riu que era 8til, afinal" Manter

os olhos no hori&onte redu&ia muito a sensa+ão de desequilí#rio e tontura"Lamotte at tentou imit$*la, mas não conseguia parar de %omitar")pesar da compai(ão que sentia por seu lament$%el estado, ela não pCde dei(ar

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

de rir do que %ia" ;m soldado tão #ra%o, um mosqueteiro do rei, e s: era precisocoloc$*lo em um #arco para aca#ar com sua coragem" Se ele não fosse um #om marido,fugiria no%amente para a nglaterra, ou para a )mrica, e ele não poderia segui*la"

) terra firme desaparecia rapidamente" 0$ esta%am atra%essando o canal" Se nãohou%essem cometido nenhum erro de a%alia+ão, logo seriam atacados pelos tripulantes

do #arco, tal%e& pelo pr:prio capitão"/ra possí%el %er algumas %elas a dist<ncia, mas esta%am muito longe para Sophie

poder determinar a que na%ios pertenciam" /sta%a ner%osa" / se todo o esfor+ohou%esse sido em %ão6 /stariam fadados a morrer ali, no meio do oceano, sem nenhumsocorro6

;ma das %elas mudou de posi+ão, le%ando a em#arca+ão para longe" /la semantinha atenta @ outra" /la parecia se mo%er na dire+ão deles, mas não seapro(ima%a" 4elo contr$rio, esta%a ficando para tr$s"

Maldi+ão- Sophie não gosta%a do que %ia" 4resumindo que o #arco se dispusesse a

resgat$*los do mar, morreria afogada antes de poder percorrer metade daqueladist<ncia nadando" ) melhor solu+ão seria ficar onde esta%am e torcer para terem seenganado quanto @ honestidade do capitão"

/la olhou para o homem de e(pressão assustadora" Eoi um gesto de sorte" >rêshomens se apro(ima%am empunhando facas" /la cutucou Lamotte com o coto%elo, e oconde se %irou para os atacantes"

/sta%am em des%antagem" )quele era o territ:rio dos maru7os, e Lamotte seencontra%a em condi+1es de#ilitadas" >rêmulo, ele nem parecia se incomodar muitocom a possi#ilidade de morrer nos pr:(imos minutos"

) questão se resumia em escolher que tipo de morte seria menos pior ficar econhecer o fio da l<mina dos inimigos, ou saltar e afogar*se na imensidão do oceano"2ão ficaria ali para se oferecer em sacrifício" 4referia lutar, mesmo conhecendo suasredu&idas chances de so#re%i%ência"

. 3amos pular""" . ela murmurou" ;m dos marinheiros riu"

. 4ulem, e %ão nos poupar do tra#alho" Os três deram mais um passo"

. / então, o que %ai ser6 . pro%ocou outro" . O mar, ou a faca6Sophie olhou para a %ela mais pr:(ima, registrando sua posi+ão da melhor

maneira possí%el" Depois, escalou a #alaustrada com mo%imentos desa7eitados e lentos"Lamotte a seguia" /la pensou em usar a %antagem da posi+ão ele%ada para saltar so#reos marinheiros" Morreria, sim, mas le%aria pelo menos dois deles como companheirosnessa 8ltima %iagem"

Os homens in%estiram contra eles empunhando suas facas" ) morte era certa" 2a$gua, ao menos teria uma chance de so#re%i%ência"

De olhos fechados, Sophie segurou a mão de Lamotte" /les saltaram de mãosdadas para as $guas frias e escuras do canal"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

#ap&t$lo '*

/la atingiu a $gua com um impacto %iolento que interrompeu o contato de seusdedos com os de Lamotte" )o mesmo tempo, todo o ar escapou de seu corpo" )s ondasse fecharam em torno de sua ca#e+a e ela afundou nas profunde&as escuras e frias"

5ometera um erro so#re a $gua" /ra pior do que fria" /ra maligna eaterrori&ante, impiedosa em sua incans$%el #usca por presas %i%as" /ra tragada peloslongos tent$culos da morte, arrastada para o fundo do oceano onde pei(es se#anqueteariam com seu corpo e sereias de longos ca#elos dourados fariam harpas comseus ossos"

)gita%a desesperadamente #ra+os e pernas, lutando pela %ida e tentando %oltar @superfície, onde poderia encher os pulm1es de ar" Mas dedos persistentes a pu(a%ampara #ai(o" ;m monstro marinho, ela pensou em p<nico, lutando com desespero ecoragem para respirar no%amente"

Mas era uma luta desigual" )s mãos em seus om#ros a le%a%am para #ai(o, parauma morte sufocante no fundo do mar"

Sua ca#e+a rompeu a #arreira da superfície" )r-/la encheu os pulm1es com tanta a%ide&, que aca#ou inalando $gua, tam#m"

>ossindo, e(pulsou o líquido dos pulm1es e %oltou a respirar com alguma normalidade"

) sensa+ão era indescrití%el"Lamotte nada%a com uma das mãos, mantendo a outra em seus om#ros" /ra oconde, não um monstro do mar" / ele a sal%a%a, em %e& de afog$*la"

O p<nico ia se desfa&endo aos poucos". >ire as #otas . ele a instruiu"Sophie o encarou perple(a" >enta%am so#re%ier no oceano re%olto, e ele se

preocupa%a com suas #otas6 O que imagina%a6 =ue teria #olhas nos ps por nadar nomar gelado6

. >ire as #otas- /las se enchem de $gua e a pu(am para #ai(o"

)h, agora o que ele dissera come+a%a a fa&er sentido" 5om os dedos gelados edoloridos, ela tentou alcan+ar as #otas para descal+$*las" mediatamente, a $gua atragou e ela %oltou apressada @ superfície, assustada com a possi#ilidade de morrerali"

Lamotte #ateu em seu rosto" Bateu com for+a". !espire fundo" !espire e tire as #otas" 5omo soldado, de%e o#edecer a ordens"

!espire fundo e tire as #otas"/le esta%a certo" /ra uma mosqueteira" De%ia seguir suas ordens" >odo soldado

preparado para morrer no cumprimento do de%er, se for preciso" /la desamarrou as

#otas com cuidado, respirando fundo para encher os pulm1es antes de su#mergir" /radifícil controlar o medo, mas Lamotte a segura%a com firme&a" 2ão permitiria queafundasse"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

;ma #ota 7$ ha%ia sido tirada" /la %oltou @ superfície para respirar". Bom tra#alho" )gora, respire fundo e tire a outra #ota"Seu oficial comandante esta%a satisfeito" O elogio a encheu de coragem" Sophie

respirou fundo e repetiu o procedimento" Dessa %e& foi mais f$cil controlar o medo"/la %oltou @ superfície antes de e(perimentar no%amente o desespero por não poder

respirar"Sem o peso das #otas, agora era mais f$cil permanecer @ tona" Mo%endo as

pernas, mantinha a ca#e+a fora da $gua e respira%a com menos afli+ão" )inda tinhamesperan+as, afinal" Eicariam ali #oiando, e se outro #arco se apro(imasse pararesgat$*los, tal%e& pudessem pisar em terra firme no%amente"

/la olhou em %olta" >udo que %ia eram as ondas e a ca#e+a de Lamotte" 2enhumsinal de um #arco, e(ceto aquele que ha%iam saltado e que 7$ se afasta%a" 4recisa%amde socorro, ou se afogariam"

. O #arco""" 4recisamos encontrar o #arco . ela disse com %o& aguda, sinal de

que esta%a @ #eira de um ataque histrico" . >emos de encontrar o #arco, oumorreremos afogados"

Lamotte #ateu em seu rosto" /ra a segunda %e& que a agredia nos 8ltimosminutos" Odia%a erguer a mão para uma mulher, mas não tinha escolha" Se dei(asse op<nico domin$*la, morreriam 7untos"

) marca %ermelha em sua face era a pro%a da %iolência do golpe" Sophie piscou,tentando conter as l$grimas, mas 7$ esta%a mais calma"

. Deite*se de costas . ele instruiu, adotando um tom firme que a o#rigaria acumprir suas ordens" . )ssim %ai poder flutuar"

Eraca, ela fe& como Lamotte di&ia" Eicaram ali flutuando por alguns minutos, semdi&er nada"

Lamotte não queria pertur#ar a calma que se instalara, mas tinha de fa&eralguma coisa para tir$*los da encrenca que ha%ia criado" /le #ateu as pernas paraerguer o corpo e olhar em %olta" )s ondas eram altas demais para que pudesseen(ergar e%entuais #arcos que por ali passassem" /ra in8til se esfor+ar"

/le se deitou no%amente e respirou fundo %$rias %e&es antes de falar. O #arco pesqueiro nos seguia, como ficou acertado6 /sta%a en7oado demais no

na%io para prestar aten+ão em alguma coisa". 3i duas %elas atr$s de n:s" ;ma delas parecia seguir no mesmo curso do nosso

na%io, em#ora esti%esse afastada demais para que eu pudesse ter certe&a" /studei suaposi+ão antes de saltar, de forma que pudssemos nadar para ela, em caso denecessidade, Mas, como disse, a dist<ncia era grande demais" 2ão %amos conseguir" .2ão ha%ia mais p<nico" 4elo contr$rio, agora ela demonstra%a uma preocupante apatia"/ra como se esti%esse conformada com a ideia de ficar ali flutuando at a e(austão,at fechar os olhos e se dei(ar engolir pelo oceano"

. Bata as pernas . Lamotte ordenou" . 3amos nos mo%er" 4recisamos desco#rir

em que dire+ão temos de nadar". 4ara quê6. Sophie, um soldado nunca desiste-

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 2ão sou um soldado" Sou uma mulher" Mulheres não podem ser soldados"

. Ser$ um soldado at o momento em que o rei a li#erar do ser%i+o" )gora, tratede fa&er o que estou di&endo" ? uma ordem"

5om um suspiro resignado, ela #ateu os ps, ergueu o corpo na $gua, olhou em%olta e deitou*se de no%o"

. 2ão consegui %er nada"Lamotte sa#ia o quanto Sophie se orgulha%a por ser uma lutadora" >eria de lan+ar

mão de seu senso de honra para plantar nela a %ontade de tentar so#re%i%er, o ímpetoque a impediria de entregar*se @ morte"

. /st$ se negando a cumprir ordens de um superior6 De%e e(aminar a $rea etentar determinar a locali&a+ão do na%io que %iu antes de saltarmos no mar" Ou me di&para onde de%emos nadar, ou eu mesmo a afogarei por insu#ordina+ão"

Sem muito entusiasmo, ela cumpriu a determina+ão do superior e marido, edepois de três ou quatro tentati%as para en(ergar alguma coisa alm das ondas,

apontou em uma determinada dire+ão". 4or ali . disse" . )linhei o #arco com uma colina que %i em terra firme antes

de saltar" Se era mesmo o #arco pesqueiro que de%eria nos seguir, ele est$ naqueladire+ão"

Sua certe&a era um #om sinal". 3amos nadar para l$" . 2ão ha%ia mais nada a fa&er" ) chance de resgate,

em#ora pequena, despertou em Sophie um no%o ímpeto" /la nada%a com coragem nadire+ão determinada, onde, am#os espera%am, encontrariam o #arco" 2ada%am com o%igor dos desesperados, com a persistência de que não tem nada a perder alm da%ida" O %ento sopra%a contra eles, e o progresso era lento"

De tempos em tempos, Sophie se erguia na $gua para confirmar a dire+ão em queesta%am nadando"

4areciam estar nadando h$ uma eternidade" Lamotte 7$ sentia no corpo o torporpro%ocado pelo frio" 0$ temia não poder suportar por muito mais tempo, quandoSophie ergueu*se na $gua pela quarta ou quinta %e&" 4ara sua surpresa, ela come+ou agritar e agitar os #ra+os"

. 4oupe sua energia . ele resmungou" . 2ão h$ ningum aqui para ou%ir seusgrito" . /ra o fim" S: se mantinha consciente porque se agarra%a ao 7uramento quefi&era a erard Delamanse" 4rometera ao amigo que cuidaria de Sophie" 2ão podiadei($*la morrer afogada se ainda ha%ia uma chance de resgate, mesmo que pequena"

. O #arco- . Sophie gritou animada" . 0$ posso %er o #arco-/le #alan+ou a ca#e+a para clarear as ideias" /ra difícil concentrar*se" ) mente

queria di%agar e perseguir ideias estranhas, lem#ran+as da inf<ncia, do pomar depêssegos em Burgundy, do aroma doce que paira%a no ar atraindo as a#elhas"""

. /les podem nos %er6;ma onda grande os atingiu, e na %a&ante ele conseguiu %er o #arco" 3inha

diretamente na dire+ão deles" Lamotte fechou os olhos" Sophie seria resgatada"5umprira a promessa feita a erard" 4odia morrer em pa&"/le sentiu alguma coisa atingir seu rosto, interrompendo o sonho com o pomar"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 3$ em#ora . disse sem a#rir os olhos" 4odia quase sentir na pele o calor do sole o gosto doce dos pêssegos em sua #oca"

O golpe se repetiu" ;ma %e&, duas""" /le a#riu os olhos" Sophie o esta%aagredindo" /le tentou empurr$*la"

. Dei(e*me em pa&"

. 4reciso de %ocê"

. 2ão se preocupe" Ser$ resgatada e le%ada de %olta @ nglaterra" Sal%ar$Henrietta e conquistar$ toda a honra que algum pode querer ter"

/la #ateu em seu rosto no%amente" /ra engra+ado como a face podia doer,em#ora ti%esse todo o corpo amortecido de frio"

. 4reciso de %ocê"

. 4ara quê6

. 3ocê meu marido, idiota- )lm do mais, preciso de %ocê para me a7udar asu#ir"

. Su#ir onde6

. 2o #arco"/la tinha ra&ão" O #arco de pesca esta%a #em em cima deles, e um dos

pescadores arremessa%a uma corda para que pudessem em#arcar"5om um suspiro resignado, o conde se despediu do sonho no pomar de Burgundy"

)inda não era hora de %oltar para casa" J pescador amarrou uma corda em torno deseu peito, so# seus #ra+os" /le tentou se soltar"

. Sal%e Sophie primeiro" Minha esposa"

. /la 7$ est$ a #ordo"Lamotte se dei(ou i+ar sem mais protestos"Seu corpo tremia con%ulsi%amente e tinha uma assustadora colora+ão a&ul" ;m

dos pescadores o en%ol%eu com um co#ertor seco". Des+a @ ca#ine com sua esposa e tire essas roupas molhadas, ou %ai congelar"O conde caminhou com passos trCpegos pela escada" Sophie 7$ se despia quando

ele entrou na ca#ine" Seus mo%imentos eram entrecortados, pre7udicados pelo tremorque a sacudia da ca#e+a aos ps"

Lamotte despiu*se, tentando aquecer o corpo" Sophie tremia enrolada noco#ertor" /le a tomou nos #ra+os e usou o segundo co#ertor para en%ol%ê*los"

. )ssim %amos nos aquecer mais depressa"O na%io escalou uma onda e desceu do outro lado, lem#rando*os de que ainda

tinham estCmago" Lamotte chegou a dese7ar estar na $gua no%amente" 2a $gua, teriaconseguido morrer em pa& e sal%ar parte de sua dignidade"

Sophie o empurrou para um catre no canto do espa+o, ao lado de um #alde". Deite*se" 3ai se sentir melhor"Eicaram deitados 7untos no catre, sentindo os mo%imentos do #arco que

atra%essa%a o canal" ) ca#ine era ainda mais ftida que a primeira" Ha%ia na atmosfera

uma mistura de pei(e podre, suor e misria"Lamotte não tinha mais o que %omitar, mas não conseguia interromper osdolorosos espasmos"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Seu corpo come+ou a co+ar e arder, como se esti%esse deitado so#re espinhos"4elo menos não esta%a mais entorpecido de frio" Sentia no%amente os ps e as pontasdos dedos"

Durante as longas horas da tra%essia, Sophie se mante%e grudada no marido,aquecendo*o com o corpo e mantendo os co#ertores no lugar" /le cochilou at a

nglaterra"=uando o na%io lan+ou <ncora na costa inglesa, suas roupas esta%am secas e duras

de sal". /stamos a poucas centenas de metros da costa sul . o dono do #arco disse

quando foi despert$*los" . 2ão me atre%o a seguir em frente" 2ão @ lu& do dia" )sautoridades portu$rias me conhecem #em demais para me a%enturar alm desse ponto"

Sophie sacudiu o sal da 7aqueta e a pCs so#re os om#ros". Sal%ou nossas %idas . disse" . Somos gratos por isso" /le riu". Eui muito #em pago por esse resgate" /stamos quites" )gora, %ão preferir

nadar nesse 8ltimo trecho, ou querem comprar meu #ote e remar at a praia6Lamotte nunca mais nadaria na %ida" /le tirou duas moedas de ouro da #olsa que

ha%ia costurado no interior da 7aqueta". ;ma moeda pelo #arco e outra por algum que possa remar at a praia por n:s". 4osso ficar com o #arco, então, quando o remador o trou(er de %olta6. 4ode fa&er o que quiser com ele" 2ão %amos mais precisar da em#arca+ão". >om . o capitão do pesqueiro gritou para um rapa& da tripula+ão" . Le%e

esses passageiros at a margem" / tome cuidado para não ser %isto, rapa&"Duas moedas de ouro eram pouco em troca da %ida de Sophie" Sem mencionar sua

%ida, tam#m" 4or isso, o conde pegou mais um punhado de moedas e as colocou na mãodo pescador"

. )qui""" )s moedas que lhe dei antes fa&iam parte do acordo por nossapassagem" /stas são uma recompensa" ) pro%a de nossa gratidão" S: estamos %i%osgra+as a %ocê"

. Eoi um pra&er negociar com tão correto ca%alheiro, monsieur . o homemrespondeu sorridente" Depois, deferente, ele tocou a a#a de seu %elho chapu para sedespedir dos passageiros que 7$ salta%am para o #ote que os le%aria @ praia"

Sophie sentiu %ontade de gritar de alegria ao %er o primeiro sinal naquela $readesolada da costa inglesa" O homem fleum$tico que tra#alha%a em sua terra olhou comar espantado para os desconhecidos maltrapilhos que o a#orda%am" 4orm, quandoSophie informou em seu inglês trCpego que precisa%am de comida e a#rigo e esta%amdispostos a pagar #em por isso, ele se animou considera%elmente" O homem oscondu&iu at uma casa e os dei(ou aos cuidados da esposa, uma mulher e(u#erantecu7a co&inha cheira%a a caldo de carne e ce#olas"

)o %er as moedas de ouro que os h:spedes ofereciam, ela desapareceu por ummomento, retornando em seguida com uma cole+ão de roupas limpas de tecido grosso

de lã e algumas pe+as de algodão, certamente os tra7es que eram usados por ali"Sophie sentiu um enorme alí%io ao %er o %estido simples e confort$%el" ) mulherdo fa&endeiro deu a ela um #alde com $gua fria, a que acrescentou um pouco da $gua

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que fer%ia so#re o fogo, e a le%ou ao fundo da casa para la%ar*se e remo%er todo o saldo corpo" )quecida pelas roupas limpas e simples, ela se sentiu renascer"

. )manhã cedo iremos procurar o rei . Sophie anunciou naquela noite, quando sedeitaram em uma cama impro%isada no chão diante do fogo" 2unca antes sou#eraapreciar o conforto de um #om fogo" Depois do mergulho for+ado no mar, a #ordo do

#arco pesqueiro, chegara a acreditar que nunca mais seria capa& de aquecer*se")gora, com o fogo crepitante de um lado e Lamotte do outro, chega%a at a sentir umcerto calor" . /ntão, nossa missão estar$ cumprida"

. 2ão podemos ir ao encontro do rei nesses tra7es" O mais #ai(o de seus lacaiosnos atiraria @ rua como pedintes insolentes" 3amos precisar de roupas no%as para nosapresentar na corte com algum estilo"

2ão gosta%a nada da ideia de atrasar ainda mais a conclusão de sua missão". sso mesmo necess$rio6 /stamos apresent$%eis" 4arecemos fa&endeiros

srios, gente tra#alhadora e respeit$%el"

>enho certe&a de que o rei nos rece#er$ e ou%ir$". O h$#ito fa& o monge" )s roupas fa&em o homem" Se chegarmos como

fa&endeiros, seremos tratados como tal" Se chegarmos como soldados, seremostratados como tal"

Sophie ficou em silêncio por um momento, pensando na %erdade daquelaspala%ras" =uando esta%a %estida como mosqueteira, Lamotte a trata%a como umsoldado do regimento" Mas, #asta%a usar um %estido, e ele a trata%a como mulher" /não era o 8nico a adotar essa pr$tica" Os reis e suas cortes eram notoriamentepropensos a 7ulgar pela aparência"

. / se eu parecer uma fina dama francesa6/ntão, rece#er$ o tratamento dedicado @s finas damas francesas"2ão podia discutir com esse argumento" 5onhecia #em a %erdade do que ele di&ia". 2o%as roupas, então, as melhores que pudermos comprar" remos @ corte do

rei inglês em grande estilo" 5omo em#ai(adores, não como pedintes". / depois de falarmos com o rei6 O que faremos6 Sophie não tinha uma

resposta para isso" )diara deli#eradamente a considera+ão do futuro, decidindo queseria melhor pensar nele quando esti%esse fora de perigo" 4or isso ela encolheu osom#ros e ficou em silêncio"

. O rei da Eran+a queria matar erard Delamanse" )gora ele est$ morto" Seucorpo se perdeu no mar em algum lugar do canal entre a Eran+a e a nglaterra" Seriasensato dei($*lo l$"

. 2ão posso mais ser erard, então6 2ão posso mais ser mosqueteira6

. 3ocê escolheu a#rir mão do ser%i+o ao rei em troca da %ida de uma mulher quenem conhece" Decidiu sal%ar algum a quem o rei acusou de trai+ão" ) partir domomento que fe& sua escolha, dei(ou de ser uma mosqueteira" /la não se arrependiadessa decisão"

. /u precisa%a seguir o caminho da honra". Se erard reaparecer, o rei não descansar$ enquanto não o matar" Mais cedoou mais tarde, %ai aca#ar sendo %ítima da ira de Luís F3"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Sophie tam#m não du%ida%a disso" O rei da Eran+a era implac$%el e rancoroso,perfeitamente capa& de matar por %ingan+a"

. >enho a impressão de que est$ diante de uma escolha morrer como erard, ou%i%er como Sophie"

Sa#ia que o marido di&ia a %erdade, mas não conseguia aceit$*la" 4or isso ficou

em silêncio diante do fogo, dei(ando*se in%adir pelo calor reconfortante"

>inha de ha%er outro caminho" >inha de ha%er" De uma forma ou de outra, ela oencontraria"

Lamotte le%ou a mão de Sophie aos l$#ios e #ei7ou*a". 4rometi que teria sapatos no%os quando se casasse comigo" )gora pode %er que

cumpro minhas promessas"

/la olhou para os pr:prios ps e torceu o nari&" . 3ocê me prometeu #otas no%as"Sapatos de salto alto não correspondem ao que prometeu"

. São da cor de seus olhos"

. Deus me prote7a de ter de lutar usando essas coisas- 4erderia o equilí#rio ecairia so&inha" Mataria meu inimigo""" de rir-

. Mesmo assim, ainda seria a mulher mais linda do lugar"/la interrompeu o contato físico, constrangida com seu comportamento tolo". 2ão precisa me fa&er a corte" uarde suas lison7as sem sentido para quando

esti%ermos diante do rei da nglaterra". Mesmo que o rei da Eran+a 7$ tenha en%iado mensageiros ao rei inglês, ele

certamente aceitar$ ou%i*la" 2enhum rei se nega a rece#er uma dama tão #ela"Sophie suspirou impaciente" 4referia que ele não a chamasse de #ela naquele tom

de#ochado" Sentia*se ainda menos feminina do que antes". 2ão me importa o que ele %ai pensar da minha aparência" O rei pode me

considerar um trapo %elho, não %ai fa&er diferen+a" /nquanto esti%er na nglaterra,ainda serei um soldado no cumprimento do de%er, não uma pe+a decorati%a"

. /u sei disso, minha querida esposa, mas o rei 5harles da nglaterra não sa#e"3estida como esta%a em seda e cetim, e le%ando uma mensagem para o rei inglês

de sua irmã na Eran+a, certamente o#teria aten+ão imediata de qualquer platia"O rei 5harles da nglaterra a rece#eu com um sorriso que ia muito alm da

simples cortesia". Di& que tra& uma mensagem de minha querida irmã Henrietta" 5ertamente,

uma mensageira tão #ela s: pode tra&er #oas notícias" 3amos, %amos, dei(e*me tomarconhecimento das no%as en%iadas por minha irmã" Sou todo ou%idos"

Sophie olhou em %olta com e%idente ner%osismo, notando o interesse doscortesãos que cerca%am o rei" 2ão podia anunciar o aprisionamento da irmã do

so#erano para toda a corte inglesa". Henrietta pediu*me que s: transmitisse a mensagem aos ou%idos do rei . elapre%aricou"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

 O sorriso de 5harles perdeu parte da luminosidade". /la pediu6 Bo#agem- >enho certe&a de que todos aqui ficarão tão feli&es

quanto eu com as notícias". Ma7estade, permita*me transmitir a mensagem em particular, conforme

solicitou sua irmã" 2ão me sinto @ %ontade talando diante de tantas pessoas"

/le riu". )h creio que nossa 7o%em amiga francesa tímida" 2ão precisa ficar

em#ara+ada, minha querida" Seu sotaque simplesmente encantador" Muito #em,!ochester e Sa%ille, %enham comigo aos meus aposentos, onde nossa 7o%em mensageirapoder$ finalmente anunciar o que minha irmã quer que eu sai#a" magino que asmulheres tenham direito a seus segredos" )lm do mais, algumas notícias de mulhernão de%em mesmo ser anunciadas aos quatro %entos" 2ão de início, pelo menos"

O rei e os dois assistentes por ele escolhidos seguiram por um estreito corredorque le%a%a do salão principal a uma sala menor #em perto dali" Sophie e Lamotte os

seguiram". Muito #em, creio que agora 7$ pode falar . o rei decretou com certa

impaciência na sala reser%ada" /le 7$ não sorria" . /spero que a interrup+ão se7a 7ustificada"

)gora que esta%am longe da multidão, Sophie não mediu as pala%ras" )ssim que aporta da sala foi fechada por um dos homens do rei, ela disse em %o& alta e clara

. Sua irmã Henrietta, a duquesa de Orleans, prisioneira na Bastilha" Seumarido, 4hilippe de Orleans, não tem poder para li#ert$*la" /le me mandou aqui com umpedido de a7uda"

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#ap&t$lo *

;m dos lordes adiantou*se" . sso algum tipo de piada de mau gosto6 Lamottetomou a dianteira, o rosto tomado pela ira"

. Minha esposa di& a %erdade"O rei tam#orila%a com os dedos nos #ra+os da cadeira". >em certe&a do que di&6. /u mesma a prendi so# as ordens do rei da Eran+a e a le%ei para a Bastilha". 3ocê6 ;ma mulher6;m dos lordes gargalhou, di%ertindo*se com tom incrdulo de seu so#erano". Sou uma mulher, %erdade, mas tam#m ser%i como mosqueteira na guarda

real". /st$ #rincando"""4reparada como esta%a para essa e%entualidade, Sophie tirou do #olso uma

pequena adaga, girou*a entre os dedos e a arremessou com impressionante precisão eeconomia de mo%imentos" ) adaga arrancou a peruca do lorde risonho e a pendurou naparede atr$s dele" Hou%e uma e(clama+ão coleti%a"

O lorde inglês ficou p$lido, como se esti%esse @ #eira de um desmaio". /u nunca #rinco" O rei inglês riu". 3e7o que não" Sa%ille, recupere sua peruca" 3er sua ca#e+a careca me causa

palpita+1es"Sa%ille arrancou a peruca da parede e a recolocou na ca#e+a" Depois de testar ofio da l<mina da adaga, arremessou*a de %olta para Sophie com mais for+a do que eranecess$rio" /la a agarrou pelo ca#o e a 7ogou para cima, fa&endo*a girar no ar antes dede%ol%ê*la ao esconderi7o entre as roupas"

. /la ainda melhor com o arco"O rei rece#eu o coment$rio de Lamotte com um le%e erguer de so#rancelhas". )inda ra&o$%el com a espada, mas est$ melhorando muito" ? uma aluna

admir$%el e muito aplicada" >em mais agilidade que a maioria, mas falta*lhe for+a"

2ada que um tra#alho srio não possa resol%er" ) concentra+ão tam#m e(igeaten+ão, porque ela perde de %ista o o#7eti%o final quando se en%ol%e no calor da#atalha"

O rei não respondeu" Srio, olhou no%amente para Sophie". O que mais tem a di&er so#re minha irmã6. Monsieur 4hilippe de Orleans perce#eu sua ausência e desco#riu que a esposa

ha%ia sido detida" Seu irmão, o rei Luís, afirma que ela tentou fugir com o amante, oconde de uiche"

O rei assentiu"

. Ou%i rumores so#re a pequena Hetty ter encontrado um homem para consol$*la" / quem pode culp$*la por procurar o que todos aqui apreciam6 / com um maridocomo o dela""" Erancamente, o tal 4hilippe de Orleans não homem de %erdade"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. Monsieur não acredita que ela poderia ter fugido sem antes inform$*lo" /lestêm grande ami&ade e respeito um pelo outro, em#ora não %i%am como um casalcomum, creio eu"

!ochester riu". )gora est$ na nglaterra" 2ão precisa ser tão""" dissimulada" 4ode usar as

pala%ras adequadas para descre%er a situa+ão" )qui todos sa#em que 4hilippe deOrleans um conhecido apreciador de 7o%ens rapa&es"

. Monsieur me pediu para %ir procur$*lo" /le sa#ia que a a7udaria, se pudesse"

. 4or que ele a procurou6 4or ser mulher e certamente se apiedar da mulherdele6

Sophie lem#rou da mão de monsieur em seu 7oelho e corou". De uma forma ou de outra, ele desco#riu que eu a ha%ia prendido, e por isso me

procurou" /le não sa#e que sou uma mulher"!ochester riu com %ontade, e at Sa%ille dei(ou escapar um sorriso"

. 4osso perce#er como monsieur teria dificuldades para resistir a %ocê nodisfarce de mosqueteiro" >eria sido um rapa& muito #onito" / como ele teria ficadomortificado, se desco#risse que tenta%a sedu&ir uma mulher" O rei ignorou ocoment$rio do conselheiro"

. /ntão, por que concordou em %ir64or ter senso de honra e compai(ão, ela pensou, e por não suportar a ideia de %er

uma mulher punida por ter protegido o homem amado". /le me pediu para sal%$*la e in%ocou minha honra de soldado" )ceitei a missão

por ser mulher"O rei olhou para Lamotte". ? o marido dessa deliciosa ama&ona6. Sim, tenho essa honra". / %eio para protegê*la em sua missão6. De 7eito nenhum" O rei Luís ficou furioso quando seus espi1es desco#riram

so#re a missão" /le me en%iou para detê*la de qualquer maneira" =ueria que eu aassassinasse" O rei s: não sa#ia que queria que eu matasse minha esposa"

. >em certe&a de que meu cunhado não sa#e que %ocê uma mulher6Sophie #alan+ou a ca#e+a". 4oucos conhecem a %erdade, ma7estade" Meu marido, aqui, e duas de minhas

companheiras de regimento". /ntão""" não a 8nica mulher mosqueteira no e(rcito francês6. /(istem três, que eu sai#a, e pode ha%er mais" O rei 5harles riu". O rei da Eran+a guardado por mulheres e não sa#e disso6 =ue piada-Sophie #ai(ou a ca#e+a". =ue resposta de%o le%ar a 4hillipe de Orleans6 De repente, o so#erano ficou

srio"

. Diga a ele que rece#i a mensagem" 4o#re, po#re Hetty" Lamento terconcordado com esse enlace" >erei de tir$*la de l$ de algum 7eito"Sa%ille co+ou o quei(o"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 2ão podemos declarar guerra ao nosso %i&inho" ) Eran+a muito poderosa, eos escoceses certamente atacariam nossas fronteiras ao norte enquanto esti%ssemoslutando no canal"

. ) )lemanha pode se unir a n:s . sugeriu !ochester" . /les não têm grandeafei+ão por nossos %i&inhos cat:licos"

Sa%ille #alan+ou a ca#e+a". Depois das 8ltimas hostilidades, não acredito nisso" /les têm interesses

comerciais diametralmente opostos aos nossos" Eicariam assistindo @ nossa #atalhacontra a Eran+a sem erguer um dedo a nosso fa%or" 4elo contr$rio, esperariam nossaderrota para assumir o comando das rotas comerciais" >al%e& a /spanha, por ra&1espr:prias" 2ão creio que essa se7a a decisão mais adequada para n:s" ;ma /spanhaainda mais fortalecida arruinaria o equilí#rio de poder no continente" ;ma e%entualguerra contra a /spanha s: poderia ser %encida com o esfor+o com#inado de todos os%i&inhos"""

O rei 5harles os silenciou com um gesto". 2ão %ai ha%er guerra" !ochester protestou". 2ão pode ignorar um insulto a uma filha da nglaterra" )t o fleum$tico Sa%ille

parecia pertur#ado". O rei da Eran+a insultou sua irmã, a irmã do rei da nglaterra" /le não pode

ficar impune"O rei co+ou a ponta do nari&". )inda não sei so#re a prisão de Henrietta" Meu parente francês nada me

informou so#re o fato, o que significa que não posso me manifestar ofendido" Mesmoque declarasse guerra, Henrietta 7$ estaria morta quando o e(rcito inglêsconseguisse in%adir 4aris" 2ão, essa não a resposta" 2ão precisamos de guerra"

Sophie esperou em silêncio" >eria feito todo esse sacrifício por nada6. =uer di&er que %ai dei(ar madame Henrietta apodrecer na Bastilha6. ? e%idente que não- /la minha irmã e ter$ minha prote+ão" 0$ que o rei Luís

 7ulgou oportuno aprision$*la em sigilo e %alendo*se de estratgias question$%eis,tratarei de li#ert$*la pelos mesmos meios"

. 3ai tra&ê*la de %olta para a nglaterra6

. /u não de%ia ter concordado com o enlace com 4hillipe de Orleans" /le não marido para mulher nenhuma, muito menos para uma mulher como minha irmã" )ssimque ela puser os ps em solo inglês, pedirei ao 4apa para anular o casamento deHenrietta com aquele francês tolo e efeminado" Mais tarde encontrarei para ela um#om marido inglês, e que o rei da Eran+a es#ra%e7e quanto quiser"

. /la se encontra na Bastilha" ) fortale&a ine(pugn$%el"

. 2enhuma fortale&a ine(pugn$%el para quem dela dese7a escapar e temamigos do lado de fora para a7udar na fuga" /la quer escapar, sem d8%ida" >udo quede%o fa&er en%iar os meios"

!ochester olhou para o rei". /st$ pensando o que acho que est$ pensando6. ) que se refere6

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. ) quem, ma7estade" Hugh de 5o%entry"

. =uem mais6 5uide para que minha irmã se7a tra&ida para c$ o mais depressapossí%el"

!ochester inclinou*se". /stou ao seu dispor, ma7estade, como sempre" O rei se %oltou para Sophie e

Lamotte". !ochester mandar$ #uscar Hugh imediatamente e cuidar$ dos preparati%os

para que ele fa+a a %iagem a 4aris" Eicaria grato se pudessem acompanh$*lo"=ue tipo de resposta se pode dar a um rei se não um sim6 Sophie inclinou*se

numa mesura respeitosa". 4or fa%or, cuidem para que ele não se machuque nem sofra nenhum dano" /sse

homem %ale mais que seu peso em ouro para mim, e ficaria muito &angado se ele não%oltasse para casa" Se não amasse tanto minha irmã e não temesse por seu destino nasmãos do rei da Eran+a, não o en%iaria nessa missão"

O rei da nglaterra fala%a como se esse Hugh de 5o%entry fosse o pr:prio #ra+ode Deus"

. =uem ele, esse Hugh6 O rei sorriu"/le minha arma secreta" Silencioso, ardiloso e mortal" 2unca fracassou em

nenhuma tarefa na qual eu o tenha en%iado" Sei que estarei seguro enquanto eleesti%er a meu lado" /le a melhor""" 2ão, a 8nica esperan+a de Henrietta"

Hugh de 5o%entry era um homem p$lido e magro com ca#elos castanhos ea#undantes"

Sophie mo%eu os dedos dentro das #otas no%as e o fitou atenta" O que ha%ia detão especial nesse homem que o rei da nglaterra o considerasse imprescindí%el6

/la fe& o ca%alo andar mais depressa" O rei pro%idenciara montarias para queseguissem at a costa, onde um #arco os aguarda%a" Lamotte ha%ia gemido ao ou%ir osplanos para uma no%a %iagem, mas ela mal podia esperar para pCr os ps em solofrancês outra %e&"

Lamotte esta%a certo" ) comida inglesa era intrag$%el" =uanto ao po%o"""/la se apro(imou de Hugh com a inten+ão de conhecê*lo melhor". Digamos que sou uma espcie de ladrão do rei" /le sempre me chama quando

precisa de algum de mão le%e e completa ausência de moral". !ou#a por ele6. O tempo todo" Segredos, #asicamente" São f$ceis de guardar e difíceis de

pro%ar, mesmo que o autor se7a pego". )cha que %ai poder resgatar madame Henrietta da Bastilha6/le sorriu, e(i#indo uma fileira de dentes #rancos e alinhados". n%adir pris1es f$cil" /las são construídas para manter as pessoas l$ dentro,

não para impedi*las de entrar" Basta encontrar uma entrada" Depois disso, %ocê s: temde refa&er o caminho de %olta e, %oil@, li#erdade"

. 0$ tirou muita gente da prisão6. O tempo todo" 4rincipalmente eu mesmo"Lamotte apro(imou*se deles" O caminho era estreito demais para os três

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

seguirem lado a lado, e Sophie redu&iu a %elocidade para dei($*los mais pr:(imos"/sta%a infeli& o #astante para dese7ar ficar so&inha com seus pensamentos"

De fato, tinha muito em que pensar" Sua missão terminara" Hugh de 5o%entryresgataria a Henrietta e a le%aria de %olta para a nglaterra sem chamar aten+ão" Orei não ficaria satisfeito quando sou#esse que Lamotte fracassara em sua missão de

detê*la, mas, sem d8%ida, sua falha seria perdoada" O rei não sa#eria por que eledei(ara de cumprir a missão, e não poderia puni*lo por mero fracasso"

)gora que o rei 5harles sa#ia so#re a deten+ão de sua irmã, ela se sentia ali%iadada carga que esti%era carregando desde que monsieur implorara por sua a7uda" 2ãoera mais a guardiã de um terrí%el segredo político" 5umprira seu de%er e satisfi&erasua consciência" ) for+a que a manti%era em p durante os 8ltimos dias de e(tenuante 7ornada se dissipa%a" /ra no%amente uma agente li%re"

/ o que faria agora62ão podia %oltar para 4aris como erard Delamanse, ou seria morta" Lamotte

esta%a certo so#re isso" ) e(periência ser%ira para fa&ê*la compreender que aquelesque deso#edeciam as ordens de seu rei eram condenados a uma morte r$pida"

2ão esta%a pronta para morrer" >inha moti%os demais para %i%er">am#m não dese7a%a mais ser%ir ao rei" >ornara*se mosqueteira para co#rir de

honra o nome de seu irmão" 2ão ha%ia mais honra em ser%ir um %erme que seapodera%a da dignidade de um !ei Sol, e depois usa%a esse poder de forma in7usta eegoísta, aprisionando a esposa do pr:prio irmão" 2ão se sentia mais orgulhosa porestar a ser%i+o do rei" 2ão seria mais sua ser%a"

) lealdade por si mesma não continha nenhuma %irtude" Lealdade s: era ummrito quando a o#ediência ser%ia a um prop:sito superior" 5orromper a irmã de outrorei não %irtude" 2ão de%ia mais nenhuma lealdade ao rei"

/sta%a decidida" 2ão seria mais mosqueteira" Mas, se não fosse soldado, o queseria6

4odia alistar*se em um e(rcito como mercen$ria, colocando sua for+a e suaha#ilidade a ser%i+o de quem pagasse mais" Seria li%re para ir aonde quisesse, poderialutar por todo o continente europeu, se dese7asse, onde soprassem os %entos daguerra e algum necessitasse de #ra+os fortes"

Mas essa não era a resposta para seu dilema" /staria apenas trocando um amodesonrado por outro" 2ão tinha %ontade de lutar pelo simples pra&er da luta" Sentianecessidade de lutar pelo que era certo, por um prop:sito, pela honra, pela gl:ria epela 7usti+a"

>eria de encerrar sua carreira militar e %oltar para casa derrotada, fracassadaem seus esfor+os" 5uidaria da terra, em#ora não ti%esse ningum por quem fa&er esseesfor+o, ningum a quem transmiti*la em heran+a"

4or que se dar ao tra#alho de ocupar*se da propriedade, se não ha%eria ningumpara herd$*la depois de sua morte6 Se ela seria %endida para estranhos6 Melhor ser

mercen$ria a le%ar uma %ida de empenho in8til") ideia de %oltar a 5amargue tam#m não era animadora" )inda tremia ao pensarno terrí%el in%erno que passara l$, so&inha e apa%orada" ) mansão onde crescera

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esta%a assom#rada pelos espíritos de sua família" 0amais poderia ter pa& no%amentenaquele lugar"

>al%e& ti%esse de desistir de ser um homem e retomar sua condi+ão de mulher"/la considerou a possi#ilidade" =uanto mais pensa%a nela, mais pr$tica a acha%a" 5omoSophie Delamanse, nunca seria uma fa%orecida do rei, mas tam#m não correria risco

de morte"2ão %oltaria a 4aris como Sophie Delamanse" )gora que decidira desistir de

atuar com os mosqueteiros, Lamotte teria pouco interesse nela" 2ão ha%eria maisnecessidade de con%i%er com ele, e 4aris não a atraía" 4referia morrer a %i%erinutilmente na cidade, sem produ&ir nada de 8til, %i%endo apenas pela rara chance de%er o marido pelas ruas que no passado percorrera a seu lado"

2ão sa#ia se ele proporia mais uma %e& que fosse %i%er em Burgundy com suamãe, uma %i8%a solit$ria" 2ão gosta%a nem de pensar nessa perspecti%a" >al destinoseria pior do que a morte" Seria preferí%el tra#alhar na pr:pria terra e con%i%er com

os fantasmas de sua família, a ser enterrada %i%a so&inha e sem amor e um localdesconhecido"

/la a7eitou a saia com um gesto irritado" Detesta%a ca%algar em roupas femininas,especialmente agora, quando 7$ se ha#ituara a %estes mais pr$ticas" 4ara piorar asitua+ão, não tinha ningum alm de si mesma para culpar pelo desconforto" Ha%ia sidodela a sugestão de %i%er como mulher por algum tempo, o que a7udaria a despistar osespi1es do rei Luís F3" / não poder culpar ningum s: torna%a o desconforto aindamaior"

O disfarce ser%iria ao seu prop:sito" 5om um pouco de sorte, os espi1es do reiacreditariam que ela ha%ia se afogado na tra%essia" 2ão chamaria aten+ão comomulher" Hugh de 5o%entry teria mais chances de resgatar Henrietta se pudessementrar em 4aris sem serem notados, se não ti%esse de lutar para a#rir caminho pelafor+a"

Lamotte desceu do #arco cam#aleando e caiu de 7oelhos, #ei7ando a terra firmecom alí%io e gratidão"

. )h, solo francês- 2unca mais dei(arei meu país enquanto %i%er-

. sso significa que terei de ir para a )mrica so&inha, então6/le a encarou horrori&ado". 2ão pode querer ir para a )mrica" 2ão permitirei" /la sorriu". Eoi s: uma #rincadeira, milorde". )h, gra+as a Deus- Eoi uma #rincadeira cruel e de mau gosto, senhora minha

esposa" )inda sinto minhas entranhas #alan+ando depois dessa 8ltima tra%essia". Bo#agem- Eoi tudo tão tranqGilo, conde- ) $gua era pl$cida como a superfície

de uma fina seda""". 2ão pense que %ai escapar de minha 7usta ira por estar %estida de mulher" ;ma

linda mulher, mas cruel e irritante"

. 4osso estar usando um %estido, mas ainda trago dentro dele uma faca afiada". 5uidado com a mira, então" 2ão estou usando peruca" /la riu e deu o #ra+o aoconde"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. Se 7$ terminou de cuspir suas entranhas no adorado solo francês, por fa%or,se7a um ca%alheiro e me acompanhe ao local onde passaremos a noite"

Lamotte e(i#iu seu ar mais alti%o ao tratar com o propriet$rio da ta%erna". )posentos para mim e minha esposa, e outro para meu amigo" 3ia7amos

inc:gnitos, sem nosso entourage, por isso os dois cCmodos serão suficientes"

Sophie o o#ser%a%a contendo o riso" 2unca o %ira desempenhar o papel do lorderico antes" /le encena%a com perfei+ão, com a mistura ideal de e(igência imperiosa econdescendência amig$%el" Logo o propriet$rio e seus criados os cerca%am decuidados"

Hugh de 5o%entry mantinha*se afastado, misturando*se ao cen$rio sem a#rir a#oca, a menos que fosse necess$rio" /le fala%a francês com um le%e sotaque, mas atesse detalhe podia ser perigoso em companhia errada"

/les se encontraram para uma espcie de conselho de guerra no quarto maioronde Sophie e Lamotte esta%am hospedados"

. )lugarei um coche para le%ar*nos a 4aris" Seguiremos menos %elo&mente doque a ca%alo, mas tam#m atrairemos menos suspeitas"

Sophie encolheu os om#ros" 4ara ela, ca%alo ou coche faria pouca diferen+a". / quando chegarmos em 4aris6 Hugh estalou os dedos". >enho pensado em qual seria a melhor maneira para resgatar madame

Henrietta" 4reciso de sua a7uda, condessa"Lamotte adiantou*se". O tra#alho de Sophie est$ concluído" /la le%ou a mensagem ao rei" Sua %ida

correr$ perigo em 4aris"Hugh ergueu uma so#rancelha". / a minha não6 Ou a sua, caso se7a conhecida sua participa+ão nesse plano de

resgate e fuga6. Minha seguran+a pro#lema meu" 3ocê não mulher" 2em minha esposa"

3amos resgatar a prisioneira sem o en%ol%imento de Sophie". 4recisamos dela para""". Dei(e*a fora disso" Sophie suspirou impaciente". ) missão era minha, lem#ra6 2ão descansarei enquanto não esti%er concluída"

. / não admitiria que ningum tomasse decis1es por ela" Daria um significado @pr:pria %ida enquanto ainda era possí%el, pois sa#ia que em #re%e seria e(ilada de4aris e do mundo da a%entura"

Hugh assentiu, apro%ando sua atitude". ? uma mulher cora7osa" Se o conde 7$ não a hou%esse desposado, 7uro que a

le%aria comigo de %olta para a nglaterra"Sophie sorriu" 4elo menos um homem no mundo era capa& de apreci$*la como era,

em %e& de tentar coloc$*la em uma redoma de porcelana para adornar um am#ienteli%re de todo perigo"

. O#rigada pela oferta" Se 7$ não fosse casada com o conde, tal%e& medispusesse a aceit$*la de #om grado"Lamotte passou um #ra+o so#re seus om#ros e olhou carrancudo para o suposto

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ri%al". Sophie minha esposa"O homem encolheu os om#ros e se %irou para sair". nfeli&mente para mim, o que di& %erdade" Se algum dia se cansar de seu

marido, senhora, procure*me em 5o%entry" Ser$ sempre um imenso pra&er %ê*la"

5ansar*se de Lamotte6 2unca-. O#rigada"Lamotte ficou olhando furioso para a porta fechada". /sse inglês um ladrão- 2ão digno de sua aten+ão" Sophie descal+ou as #otas

e 7ogou o manto de %iagem so#re a cama" Seu marido merecia ser castigado pelamaneira rude como tratara o companheiro de 7ornada"

. /le desfruta de ele%ado fa%orecimento 7unto a seu senhor"

. Bo#agem-

. 4ode me a7udar com esses #ot1es6 . Sophie %irou*se de costas para o marido"

. 2ão consigo alcan+$*los"/le os desa#otoou um a um com ha#ilidade espantosa" Ouando terminou de

despir*se, Sophie dei(ou o %estido so#re uma cadeira" ) cama era con%idati%a" Seriaperfeito se o marido se 7untasse a ela para desfrutar de todo aquele conforto"

Mas, qualquer que fosse sua decisão, ele não estaria a seu lado por muito maistempo" Lamotte ainda era um mosqueteiro, e um dos mais fa%orecidos pelo rei daEran+a" S: teria de manter em sigilo sua participa+ão nessa missão, e continuariaocupando sua pri%ilegiada posi+ão" 2ão precisa%a compartilhar de seu e(ílio"

Mas, at chegarem a 4aris, estariam 7untos" 4recisa%a sentir seus #ra+os maisuma %e&"

Sophie despiu os saiotes e os dei(ou so#re a cadeira, 7unto com o %estido". /le um homem atraente . comentou com ar distraído" . 4oderia fa&er

escolhas piores do que segui*lo para 5o%entry" )7ude*me com o corpete, por fa%or"Os dedos eram mornos em suas costas". 4arece ter esquecido um detalhe importante, minha querida esposa"/la 7ogou o corpete para o lado e se %irou para encar$*lo". Sim6Lamotte tomou seus seios nas mãos, como Sophie espera%a que fi&esse" 5omo

ha%ia dese7ado por tanto tempo" )s mãos pareciam queimar sua pele al%a, e arrepiosde pra&er percorriam todo seu corpo"

. 2ão pode ir para 5o%entry com Hugh" ? minha esposa" Deus, como o dese7a%a-5omo ha%ia sido tola em admitir esse dese7o para si mesma s: agora, quando esta%a aum passo de perdê*lo para sempre" Sophie tocou os om#ros do marido, sentindo so# osdedos a rigide& dos m8sculos co#ertos pela 7aqueta" )pro%eitaria ao m$(imo o tempoque ainda tinham" 4assaria cada minuto a seu lado"

. 4osso pedir a anula+ão do casamento quando %oltar para a nglaterra"

;m sorriso lento distendeu seus l$#ios". )cha mesmo que poderia6 /la assentiu com a #oca seca"Lamotte a tomou nos #ra+os, pu(ando o corpo nu de encontro ao dele"

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. /ntão, %ou ter de anular essa possi#ilidade" /sta noite farei de %ocê minhaesposa, não s: aos olhos da lei, mas aos olhos de Deus e dos homens"

Sophie o a7udou a despir*se" /m pouco tempo, ele tam#m se e(i#iagloriosamente nu diante de seus olhos" Sua masculinidade erguia*se orgulhosaanunciando o que esta%a por %ir"

. 3amos para a cama, minha linda esposa"Dessa %e&, Sophie nem tentou resistir" /ntregou*se por inteiro, sem reser%as e

sem hesita+ão, registrando na mem:ria todos os detalhes doces e ternos que amanteriam %i%a no futuro, quando esti%esse so&inha e infeli&" /ntão, nas noites maislongas, in%ocaria essas lem#ran+as para não sucum#ir ao desespero e não morrer detriste&a"

) %iagem at 4aris foi r$pida demais na opinião de Sophie" /m#ora hou%esse

dormido ao lado do marido todas as noites, encolhida contra seu peito como um gato,não se fartara de sua companhia" 2ão esta%a nem perto disso" 5ada %e& que ele atoca%a, sentia %ontade de chorar por pensar em como testa%am poucas noites defelicidade, poucas noites no paraíso de seus #ra+os"

O dese7o por ele era como uma fe#re que não podia ser aplacada" 5ada %e& que o%ia, sentia a alma cantar e a pele fer%er" 2unca se cansaria dele, nunca- )ma%a*o tantoque tinha o cora+ão a ponto de e(plodir por conta desse amor"

)gora esta%am em 4aris, pr:(imos do final da 7ornada" /m #re%e teria de munir*se da coragem necess$ria para di&er adeus"

4rimeiro resgataria Henrietta" 2ão se dei(aria distrair do no#re prop:sito" 2ãopensaria na separa+ão at concluir a missão"

) Bastilha se erguia amea+adora na escuridão" Suas paredes eram tão altas quepareciam tocar as nu%ens" Sophie estremeceu ao olhar para elas" 2ão conseguiaimaginar como seria possí%el resgatar algum daquele lugar de morte e horror" /ra, defato, uma fortale&a ine(pugn$%el"

Hugh não parecia assustado" 4arado, ele olhou para a prisão por alguns minutossem di&er nada, com o quei(o apoiado nas mãos e a mente perdida em pensamentos"

Einalmente, Sophie não conseguiu mais suportar". / então6 O que acha6 ? capa& de tir$*la de l$6 /le sorriu, os dentes #rancos

#rilhando na escuridão". >enha confian+a, senhora" 2unca falhei em uma missão". O que %ai fa&er6. 3ou para o meu quarto na hospedaria da encantadora %i8%a 4oussin, comerei

minha refei+ão, dormirei #em e pensarei" ? isso que %ou fa&er"

O rei Luís a7oelhou*se diante dela no chão imundo da masmorra e segurou*lhe asmãos"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. Henrietta, suplico*lhe, desista dessa tolice- ;ma pala%ra sua, e estar$ li%redesse lugar horrí%el" S: uma pala%ra, e ser$ no%amente uma mulher cercada de todolu(o, poder e rique&a que a Eran+a pode lhe oferecer"

/ntão, agora ele tenta%a culp$*la por sua condi+ão de prisioneira" 2aturalmente,como era o rei, suas a+1es de%iam ser impec$%eis, e toda a culpa de%ia recair so#re

outros indi%íduos menos perfeitos" 2esse caso, ela seria a deposit$ria dessa culpa"2ão tinha paciência para esse go%ernante pattico e seus argumentos insanos"4referia ficar so&inha na escuridão a continuar ou%indo sua %o& pastosa e detest$%el"

. 4ode li#ertar*me quando quiser" Se quiser"/le se le%antou da incCmoda posi+ão e come+ou a andar pela cela estreita". Diga que ser$ minha amante, ídolo do meu cora+ão, e eu a li#ertarei

imediatamente" Ser$ uma grande alegria"/la olhou com interesse para o guarda parado na porta" /le era no%o no posto,

mais 7o%em do que os outros que %ira anteriormente, com um ar de fer%or 7u%enil que

contrasta%a com o cinismo endurecido dos outros %igias" 4arecia fit$*la com um olharpiedoso" Odia%a pensar em como seria sua aparência depois de quin&e dias na Bastilha,com pouca comida e sem $gua para la%ar*se" Sentia*se magra e a#atida, e o %estido de%eludo, antes e(u#erante e #elo, agora caía frou(o e su7o so#re seu corpo magro"4odia sentir a imundície ida cela em cada poro" O que não daria para poder la%ar asmãos com $gua limpa e perfumada6

2ão tinha sequer uma esco%a para desem#ara+ar os ca#elos" Sempre seorgulhara deles" Diferente de outras mulheres, nunca ti%era de passar horas com oferro quente e papelotes para dar aos ca#elos um ar moderno e elegante" Ostenta%acachos naturais que emoldura%am seu rosto com perfei+ão"

2os primeiros dias de cati%eiro tentara desem#ara+$*los com os dedos, mas oesfor+o ha%ia surtido tão pouco efeito, que aca#ara desistindo dele" Os ca#elos, antesmoti%o de orgulho, agora eram s: um emaranhado su7o e sem #rilho caindo so#re seusom#ros" Mesmo que fosse li#ertada, nunca mais seriam como antes"

Mas podia tirar pro%eito de seu estado lament$%el" O 7o%em guarda era suamelhor chance de escapar daquela masmorra p8trida"

/la esperou que o rei se retirasse com mais impaciência que de costume")#sor%ido como esti%era no pr:prio desgosto, ele nem notara sua distra+ão" 4assara#oa parte do tempo andando pela cela, falando at despertar nela uma incontrol$%el%ontade de gritar"

. H$ semanas espero que %ocê desista dessa #o#agem" /stou perdendo apaciência, Henrietta"

. =ue me importa sua falta de paciência6 . ela e(plodiu, su#itamente farta desuportar o tormento de sua presen+a" . 2ada que di& respeito a %ocê me interessa,seu %elho pattico- 3ocê me eno7a- Mesmo que não amasse o conde de uiche com todaa for+a de meu cora+ão, nunca o aceitaria em minha cama-

O rei parou e a encarou como se a %isse pela primeira %e&". >ome cuidado com as pala%ras que di& a seu rei" Sou lento para &angar*me,mas, quando me enfure+o, minha ira impossí%el de aplacar"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Henrietta riu". O que mais pode fa&er contra mim6 )rrancou*me dos #ra+os de meu amante,

trancou*me em uma cela 8mida, longe da lu& do sol e do ar fresco, e est$ me matandolentamente de fome e sede" O que mais pode fa&er contra mim6 )t a morte seriapreferí%el @ %ida que estou le%ando" Ea+a o que quiser" Ou o que puder" 2ão me

importo". /ssa sua 8ltima pala%ra6 /la cuspiu a seus ps". Sim, minha 8ltima pala%ra" Morrerei antes de tornar*me sua amante"O rei #alan+ou a ca#e+a como se a declara+ão realmente o entristecesse". Sinto muito por isso, Henrietta" Sempre a amei profundamente, e teria

anunciado nosso amor ao mundo, se assim o dese7asse" Se não posso tê*la, então,ningum mais a ter$" . Dito isso, ele se retirou le%ando o guarda, que ia trancando asportas na medida em que passa%am por elas" Os passos soa%am estrondosos nocorredor de piso de pedras"

Henrietta mante%e*se perto da porta e suspirou" 2ão perderia tempo" 5ome+ariaimediatamente a tra#alhar com o 7o%em guarda" >emia estar muito perto do momentoem que ludo estaria perdido"

. )h, po#re de mim""" O que se pode esperar do mundo, quando uma 7o%emmulher aprisionada em uma masmorra escura e fria e alimentada apenas com pãoem#olorado, tudo por recusar*se a ceder aos dese7os impuros de seu rei6

;ma tosse fraca soou do outro lado, sinal de que o guarda ou%ira e entendera suaquei(a, em#ora não ousasse responder a ela"

Henrietta a#ra+ou*se e sorriu" 5om alguma sorte, o guarda teria o fer%orreligioso das classes menos fa%orecidas e ficaria a#orrecido com a corrup+ão do rei">inha esperan+as de que sua primeira tentati%a de recuperar a li#erdade fosse comouma semente lan+ada em solo frtil"

!icard Lamotte inclinou*se diante do rei". erard Delamanse est$ morto, ma7estade" . /ra #om não ter de mentir"

Omitia certos detalhes pertinentes aos fatos da realidade, mas não mentia". Onde o encontrou6 2a Eran+a ou na nglaterra6. /le não chegou @ nglaterra" Morreu em solo francês". >em certe&a disso6Lamotte pensou no sofrimento de Sophie, em como ela ha%ia chorado a morte do

irmão". >anto quanto tenho certe&a de minha pr:pria %ida, ma7estade"O rei assentiu". ? um #om soldado, Lamotte" ;m soldado leal") culpa se manifestou em seu peito pela primeira %e&" /ra de fato um #om

soldado, leal ao pr:prio senso de 7usti+a e corre+ão, mas essa defini+ão nem semprecoincidia com a %ontade de seu rei". Sim, ma7estade"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

O rei #rinca%a com um pesado anel de ouro em um de seus dedos". ostaria tam#m de ser um homem rico6. 0$ tem sido magn<nimo em sua generosidade com minha família, ma7estade .

Lamotte murmurou, tomado pela sensa+ão de estar caminhando por uma trilha de areiamo%edi+a que se prepara%a para trag$*lo inteiro ao primeiro passo em falso"

O rei fe& um gesto com a mão direita, como se desqualificasse sua resposta". >olice- ;ma propriedade em Burgundy não nada" =uem %i%e l$, se não

tra#alhadores da terra e comerciantes miser$%eis6 ente que apodrece como porcosno lodo fedorento do campo- 2ão seria preferí%el ter um posto na corte6 ;m postoimportante que o conser%asse sempre a meu lado, em 4aris6

4referia enforcar*se com a corda da cortina a tornar*se um daqueles idiotas dacorte, um daqueles su7eitos de aparência asquerosa sempre se a#anando a cadapala%ra do rei, des%iando*se do caminho dos passos reais e disputando a lapas opri%ilgio de es%a&iar o pinico do rei de sua imundície real"

. 0$ estou a ser%i+o de meu senhor como mem#ro da guarda real, sempre prontopara o#edecer todas e cada uma de suas ordens" Ordene*me o que quiser" . / euo#edecerei se sua ordem não contrariar minha consciência"

O rei tam#orila%a com os dedos no #ra+o da cadeira, pigarreando %$rias %e&es"Lamotte espera%a, tomado por um pressentimento que come+a%a a crescer e

pressionar seu estCmago" =ualquer que fosse a tarefa que o rei plane7a%a para ele, eraimportante o #astante para merecer em troca uma co#i+ada posi+ão na corte" )sugestão de recompensa fala%a com eloqGência so#re a seriedade da missão"

) hesita+ão do so#erano em e(pressar com pala%ras a ideia que o atormenta%adesperta%a nele a suspeita de que o su#orno era mais que 7ustificado" Seria umatarefa onerosa e desagrad$%el ao e(tremo"

. >omei conhecimento de notícias inquietantes" . ) %o& dele era carregada esria" . H$ um inglês em territ:rio francês"""

/spera%a fer%orosamente que o rei não esti%esse se referindo a Hugh de5o%entry" Homens ingleses chega%am na Eran+a todos os dias, e aos punhados"

. Sim, ma7estade6

. >rata*se de um inglês especial, um espião pago por meu primo, o rei 5harles ")s coisas não seriam f$ceis para Hugh" 4odia sentir o estCmago contraído pelo

medo por sua #ela e cora7osa esposa" Dei(ara Sophie aos cuidados de Hugh enquantoia atender ao chamado do rei" )gora, tudo o que queria era correr dali e le%$*la paraum lugar seguro onde o rei e seus seguidores não pudessem toc$*la"

Lamotte disfar+ou o desconforto da melhor maneira possí%el, esperando nãodemonstr$*lo no olhar" 2ão podia estragar tudo agora" Ha%ia muito em 7ogo" Muito aperder"

. Suspeito de que ele possa ter sido en%iado com o prop:sito de resgatar umprisioneiro da Bastilha, algum que foi en%iado para l$ por trai+ão contra a Eran+a" .

/le olhou diretamente nos olhos de Lamotte" . 2ão quero que esse prisioneiro escape"Definiti%amente, o rei se referia a Hugh e Henrietta" >inha de pre%enir o espiãoinglês imediatamente"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Hugh precisa%a sa#er que sua presen+a em 4aris ha%ia sido notada, e que oprop:sito dessa %isita 7$ ha%ia sido adi%inhado" Mais especificamente, precisa%acertificar*se de que Sophie seria mantida #em longe de Hugh e não se e(poria aoperigo decorrente dessa associa+ão" Hugh fora en%iado pelo rei da nglaterra pararesgatar sua irmã" /le e Sophie 7$ ha%iam feito sua parte na missão e de%iam agora se

retirar, antes que se comprometessem ainda mais". =uer que eu encontre e mate esse inglês6. 2ão" sso de pouco %aleria para n:s" Meu primo inglês simplesmente mandaria

outro espião, e depois outro, e outro""" 2o final, um deles poderia ter sucesso naempreitada" 2ão posso permitir que isso aconte+a"

Lamotte podia respirar melhor, agora que sa#ia que Hugh, e Sophie, porconseqGência, não corriam perigo imediato" )s pernas ainda tremiam com a for+a doimpulso de correr para perto da esposa e protegê*la dos #ra+os longos e %ingati%os dorei" 4or Deus, assim que a ti%esse nos #ra+os, nunca mais a dei(aria escapar"

. 3ai dei(ar o inglês escapar ileso6

. =ue import<ncia tem para mim um espião inglês6 )ssim que o traidor esti%ermorto, não ha%er$ mais necessidade de en%iar espi1es"

;ma ideia surgiu em sua mente" >al%e& esse fosse o caminho que procura%am paradentro da Bastilha" =uanto antes Hugh e(ecutasse o resgate, mas f$cil seria mand$*loem#ora do país, anular o perigo representado para ele e Sophie pela presen+a doestrangeiro"

. Se for essa sua %ontade, ma7estade, ordene a morte desse traidor, e eu ale%arei ao go%ernador da Bastilha imediatamente para que a senten+a se7a e(ecutada"/ntão, não ter$ mais de preocupar*se com espi1es ingleses" . /ra um plano e(celente";ma %e& no interior da Bastilha, em %e& de ordenar a e(ecu+ão, possi#ilitaria oresgate"

O rei suspirou". Se fosse tão simples"""Lamotte esperou em silêncio" 2ão podia questionar a#ertamente os planos do rei"

4orm, enquanto espera%a, o conde seguia e(aminando todas as possi#ilidades". 2ão posso assinar uma ordem de e(ecu+ão para esse traidor" H$ ra&1es de

estado que a proí#em"5onhecendo a identidade do traidor, Lamotte podia imaginar que ra&1es de

estado eram essas" O que, então, o so#erano pretendia fa&er6 Li#ert$*la6 Mand$*lapara o e(ílio6 Dei($*la na masmorra da Bastilha para morrer de infec+ão ou fome, oupara ser resgatada por um simpati&ante6

. 4erfeitamente, ma7estade"

. O traidor a que me refiro ningum menos que a princesa inglesa, Henrietta"2ão posso dei($*la %i%a para dar prosseguimento a suas trai+1es, mas não posso 7ulg$*la e e(ecut$*la como penso que merece" Seu irmão, 5harles da nglaterra, ficaria

furioso e se uniria aos alemães e aos espanh:is contra mim" ) Eran+a seria arrastadapara a guerra por conta do destino de uma traidora" 2ão posso correr esse risco" ?necess$rio que ela morra rapidamente e sem alarde, sem ordem legal de e(ecu+ão e

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

sem pu#licidade"0amais ha%ia imaginado que o rei da Eran+a seria capa& de tal coisa" / não

acreditaria nisso, se não esti%esse ou%indo a declara+ão do pr:prio so#erano" Luís F3en%iara assassinos de aluguel atr$s de Sophie para mat$*la" )gora, queria queHenrietta fosse assassinada em segredo, morta rapidamente e sem alarde, sem

 7ulgamento e sem chance de defender*se das acusa+1es feitas contra ela"2ada era sagrado para esse homem6 2ão ha%ia fim para suas iniqGidades6. 3ocê um soldado" De%e conhecer mil maneiras de matar algum sem dei(ar

pistas"Lamotte fechou os olhos, tentando esconder o desgosto que sentia queimar sua

alma" /ra um soldado, não um assassino" 2ão se tornaria assassino por nenhum homemno reino de Deus""" ou alheio a ele"

. Mate a traidora de maneira que ningum sai#a que ela foi assassinada, e fareide %ocê um so#erano" >em minha pala%ra solene quanto a isso"

=ue %alor tinha a pala%ra de um rei que #usca%a desonrar e depois matar aesposa do pr:prio irmão6 )ca#aria preso tam#m, en%iado para algum lugar onde todoo conhecimento so#re os crimes do rei pereceria na o#scuridade que destruiria suaalma"

0$ não podia mais ser%ir ao rei com honra" 5om um estalido que parecia imitar osom de seu cora+ão se partindo, ele desem#ainhou a espada e se a7oelhou diante dorei"

. Ma7estade . disse, depositando*a aos ps do so#erano ., aqui me desligo dosmosqueteiros" 2esse momento, dei(o de integrar a guarda real da Eran+a"

O rei arregalou os olhos numa rea+ão de f8ria e decep+ão". O que est$ querendo di&er com isso6/le se le%antou e e(ecutou uma sauda+ão militar formal, sentindo*se li%re

no%amente". 2ão posso e(ecutar a tarefa de que me encarrega" Se o fi&esse, não seria

capa& de %i%er com minha consciência" De%o, portanto, desligar*me de seu ser%i+o"O rei amea+ou se le%antar, os dedos agarrando os #ra+os da cadeira a ponto de

perderem a cor". 3ocê tam#m, conde Lamotte6 4refere trair seu rei6Seria punido por isso, pro%a%elmente, mas não conseguia mais conter a língua". 2ão, ma7estade" Sou tão leal quanto sempre fui, enquanto meu rei era digno de

ser ser%ido" Eoi sua ma7estade quem se tornou o traidor do pr:prio nome"Batendo os calcanhares, Lamotte %irou*se e saiu sem esperar pela resposta do

rei, que ficou es#ra%e7ando amea+as furiosas" =ueimara suas pontes com a reale&a"5onhecia o temperamento do rei, o suficiente para sa#er que 7amais seria perdoadoenquanto Luís F3 %i%esse" 2unca mais seria admitido na corte" 2unca mais teria umposto de mosqueteiro, ou qualquer outra posi+ão de relati%a import<ncia"

Mas, com todas as conseqGências, quaisquer que fossem elas, não se arrependiade uma 8nica pala%ra que dissera" O rei da Eran+a co#rira*se de %ergonha nesse dia, eha%ia sido ele a testemunha ocular dessa humilhante ocorrência"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

Lamotte encontrou Hugh e Sophie 7untos, sentados diante de mapas e diagramascomple(os" 3ê*los unidos por toda aquela camaradagem e por um o#7eti%o comum oincomoda%a mais do que queria admitir" 2ão ha%ia esquecido . ou perdoado . aproposta de Hugh a sua esposa" O maldito inglês de%ia aprender a manter*se longe damulher alheia, e ele mesmo seria o professor, caso Hugh ousasse fa&er mais algum

mo%imento de apro(ima+ão"Seu humor não melhorou quando ele %iu a terceira pessoa na sala, a mulher

%estida de rapa&ote, aquela que tanto o atormentara e pro%ocara na hospedaria" /la orece#eu com uma mesura de#ochada"

. Seu criado, monsieur" 2ão espera%a re%ê*lo tão cedo" /le apoiou as mãos naparede, encurralando*a com o corpo"

. Se não hou%esse desco#erto seu segredo, madame )ssassina, não estaria %i%apara reencontrar*me . murmurou em seu ou%ido"

) 7o%em respondeu com um sorriso fero&"

. >em o do#ro do meu tamanho e duas %e&es a minha for+a, cheio de #ra%ura ede pala%ras amea+adoras, monsieur mosqueteiro, mas nunca ser$ capa& de %encer*menuma #atalha" 2unca- ) honestidade não tem defesa contra o ardil, em que souespecialista" >e%e sorte por Sophie implorar por sua %ida" /sta%a muito perto decortar seu pesco+o, tam#m, simplesmente pela companhia com que se e(i#ia"

. 2ão escolhi meus companheiros de %iagem" / eles teriam morrido por minhasmãos, se %ocê e minha querida esposa não hou%essem dado ca#o deles antes de mim"

. !econhece que foi superado por uma mulher6 4or duas mulheres6 =ue%ergonha, monsieur mosqueteiro-

/la era r$pida e arisca demais para o conde, isso era certo" Lamotte %irou*se eengoliu a rai%a, mas não sem uma #oa dose de dificuldade" 2ão se re#ai(aria trocandoinsultos com uma mulher qualquer, uma mulher que tinha o %eneno e a destre&a de umaserpente %enenosa" Sophie, sua #ela ama&ona, era um paraíso de sua%idade e do+uracomparada a suas companheiras de armas"

. Se quer resgatar a irmã de seu rei . Lamotte disse sem rodeios para Hugh ., melhor se apressar, antes que se7a tarde demais"

Hugh ignorou a interrup+ão". )ssim que esti%er l$ dentro"""O conde %oltou a interrompê*lo, notando que o su7eito fala%a com sua esposa". )ssim que %ocê esti%er l$ dentro- Minha esposa não %ai a lugar nenhum,

especialmente em sua companhia" /, como esta%a di&endo, melhor correr, ou, quandoconseguir entrar na Bastilha, %ai encontrar apenas o cad$%er da duquesa"

Sophie o encarou com os olhos cheios de entusiasmo e determina+ão". >ra& notícias do rei6. Sim, que no%idades tra& de seu senhor e amo, monsieur mosqueteiro6 .

pro%ocou a co#ra %enenosa"

/le tirou o chapu e o 7ogou no chão". 2ão sou mais um mosqueteiro a ser%i+o do rei" /le me pediu para matar aprincesa inglesa enforcada, en%enenada, de qualquer 7eito, desde que não dei(asse

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

pistas que pudessem identificar um assassinato" /le a quer morta sem parecerrespons$%el por sua morte" 2esse e(ato momento, 7$ pode ter encontrado algumcapa& de fa&er o tra#alho su7o por ele" /nquanto estão aqui con%ersando, possí%elque Henrietta este7a morta"

. 2ão podemos mais esperar" >emos de agir imediatamente"

. )inda não fi& os arran7os para transportar a princesa para fora da cidade">ir$*la da Bastilha a parte mais f$cil" >ir$*la da Eran+a %ai e(igir mais tempo"

. 2ão temos mais tempo . lem#rou a co#ra"

. 5omo se esti%esse preocupada com ela . Lamotte respondeu carrancudo"

. >em ra&ão" mporto*me mais com o ouro da Eran+a, do que com o %alor que mefoi prometido em troca desse resgate" 4or que mais arriscaria a pele nessa missãoidiota6

Sophie a silenciou com um gesto e %oltou*se para Hugh". Miriame e eu iremos so&inhas @ Bastilha le%ando o plano que tra+ou" 2ão

precisamos da sua presen+a" /nquanto esti%ermos l$ dentro, %ocê %ai pro%idenciartudo para tirar Henrietta de 4aris e da Eran+a"

2ão- Sua esposa não podia estar pensando em in%adir a Bastilha para li#ertar umaprisioneira acusada de trai+ão ao rei, e tudo com a a7uda de uma 8nica pessoa-

. 2ão %ou permitir que %$ so&inha"

. Sophie %ai estar muito segura no interior da Bastilha"

. /la não sua esposa, Hugh- Ou eu %ou com ela, ou ela não %ai-

. Sophie não precisa de um acompanhante para a7ud$*la a entrar, mas as duas%ão precisar de au(ílio para escapar dos guardas quando esti%erem no%amente do ladode fora" /u %ou me encarregar de Henrietta" 3ocê cuida da seguran+a de sua esposa eda companheira dela"

. 4arece que não temos um segundo a perder" Senhoras, seus tra7es de gala, porfa%or"

Sophie e a amiga agarraram uma cole+ão de pe+as arruinadas e come+aram atransforma+ão" /scandali&ado, Lamotte as %iu passar de 7o%ens comuns a maltrapilhas,mulheres da rua"

. O que pretendem6Hugh as inspeciona%a com ar de conhecedor". )#ai(e um pouco mais o decote . ele sugeriu, a7udando Sophie com a

transforma+ão" . >ente não parecer ner%osa" )gora %ocê uma meretri&, uma dessasmulheres #aratas que andam pelas ruas em #usca de clientes" 0$ %iu tudo, 7$ fe& todasas coisas" /st$ interessada em dinheiro, e esse um detalhe importante" ;ma moedade ouro que pagar$ o aluguel e por$ comida em sua #arriga por mais um dia"

/m seguida, ele olhou sorridente para a co#ra". 4erfeito" 3ocê conseguiu a aparência e(ata" an<ncia e desconfian+a em

partes iguais" >ente não dar a impressão de que %ai atacar o homem, caso ele se

apro(ime demais" 5aso contr$rio, %ai afastar seus possí%eis clientes". O que pretendem fa&er %estidas dessa maneira6 Sophie o encarou com aquelesolhos a&uis e lindos, e o cora+ão de Lamotte disparou" =uando passara a gostar tanto

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dela6 5omo ela conseguira in%adir seu cora+ão6. 3amos resgatar Henrietta""" da melhor maneira possí%el para n:s" ) 8nica ao

nosso alcance". sso tarefa para um soldado" /stão %estidas como mulheres". ? melhor para dei($*los indefesos" 2enhum soldado %ai esperar um truque

%indo de uma mulher" Mulheres não lutam, lem#ra6Hugh escondeu uma faca so# sua 7aqueta". 2ão perca tempo discutindo" 2ão temos a menor possi#ilidade de pensar em

outro plano" 2ão sem perder horas preciosas"Sophie sorriu para o marido, e ele se sentiu sem ar" 5omo resistir a tanta #ele&a

e coragem6.Meu tra#alho ainda não est$ concluído" / ha%er$ pouco risco nessa etapa da

missão" sto , para Miriame e para mim, os riscos serão pequenos" 2ão pode irconosco, ou %ai arruinar nossa farsa"

2ão gosta%a de dei(ar Sophie in%adir uma prisão sem sua a7uda, mas ela ha%iasido soldado e mosqueteira" Eora treinada da melhor maneira possí%el" ostando ounão da ideia, não tinha o direito de impedi*la de cumprir seu de%er como considera%aadequado"

Miriame sorriu com ar &om#eteiro". Se est$ com medo, monsieur mosqueteiro, dei(e esse tra#alho para outros

mais destemidos"2ingum o acusaria de co%ardia" 2ão dei(aria Sophie correr perigo so&inha, mas

a protegeria, mesmo que fosse @ som#ra da Bastilha". 5omo posso a7udar6 Hugh sorriu satisfeito. 4ode cuidar dos ca%alos do lado de fora e ficar preparado para quando

precisarmos escapar" 3enha comigo, e no caminho e(plicarei todos os detalhes doplano"

Sophie esta%a ner%osa" O coche alugado seguia pela estrada ao anoitecer, pu(adopor um po#re ca%alo cansado de pernas magras e nada firmes" /sta%a prestes aenfrentar uma #atalha de nature&a distinta, uma luta na qual a sa#edoria, e não aha#ilidade com a espada, seria sua melhor aliada"

Miriame parecia calma, como sempre". 2ão precisa ficar ner%osa . ela dissera pouco antes" . Os homens são

go%ernados por aquele pequeno mem#ro entre suas pernas" 4u(e o decote um poucomais para #ai(o, mostre uma por+ão de perna e um mínimo de ousadia, e não restar$uma gota de sangue no cre#ro dos idiotas" /les param de pensar"

4assaram por Lamotte e seu carrinho de am#ulante, e ela quase não reconheceu omarido nas roupas su7as e %elhas" Botas pesadas e um chapu muito usadocompleta%am o disfarce" /ra reconfortante sa#er que ele estaria esperando do ladode fora, pronto para le%$*las dali, para longe do perigo que criariam resgatando

Henrietta"4usera a pr:pria %ida nas mãos dele antes, e ele a sal%ara" Sentia*se segura eprotegida sempre que Lamotte esta%a por perto" /spera%a apenas que ele não ti%esse

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pro#lemas enquanto fica%a por ali @ espreita, esperando por elas"Sophie agarrou a mão de Miriame quando pararam na frente da Bastilha". 2ão precisa continuar" Sa#e disso, não6 . perguntou, olhando apa%orada para

as muralhas cin&entas" )t a pessoa mais firme e cora7osa tremeria diante delas" .2ão %ou 7ulg$*la se decidir desistir agora"

. / a#rir mão da recompensa que Hugh prometeu me dar em caso de sucesso6Dinheiro suficiente para manter minha #arriga cheia por um ano ou mais- . Miriame#alan+ou a ca#e+a" . )cho que não" Se me conhecesse melhor, não perderia seu tempofa&endo essa sugestão"

Os guardas as olharam com interesse por entre as grades". Eomos chamadas aqui . Miriame disse com uma %o& desconhecida para Sophie"

. O go%ernador nos quer";m dos guardas le%antou sua lanterna para poder e(amin$*las melhor". O que o go%ernador pode querer com um par de criaturas su7as e #aratas como

%ocês6Sophie pu(ou o decote para #ai(o" Miriame tinha ra&ão so#re o poder da

e(posi+ão de certas partes do corpo" )gora ela tinha total aten+ão dos dois guardas". >emos talentos especiais, se entende o que quero di&er" Miriame assumiu o

comando". Meninos maus precisam ser punidos, e o go%ernador tem sido muito mau

ultimamente"Os guardas riram e a#riram o portão para dei($*las entrar" Sophie sentiu o

cora+ão disparar quando as grades se fecharam atr$s delas" /sta%am presas na maistemida fortale&a da Eran+a, e por %ontade pr:pria" 2ão ha%ia como recuar agora"!esgatariam Henrietta ou morreriam tentando"

Depois de uma discussão #re%e, um dos guardas dei(ou o portão para le%$*las aosaposentos do go%ernador" O outro ficou na %igília, em#ora de m$ %ontade, prague7andoe resmungando contra o colega que se afasta%a"

O soldado que as condu&ia ia percorrendo corredores escuros e tortuosos". O go%ernador tem pressa6 . ele perguntou depois de alguns minutos"Sophie en(ugou o suor das mãos no tecido da saia, tomando o cuidado de fa&er o

mo%imento de maneira discreta" Se o pior acontecesse, am#as le%a%am adagas aoalcance das mãos, e seriam duas contra um" ) ideia de relacionar*se com um guardali#idinoso ha%ia parecido simples quando a discutiram em torno de uma mesa data%erna" ) realidade era muito mais difícil, especialmente quando ha%ia as terrí%eismuralhas da prisão compondo o cen$rio de misria e um odor de corrup+ãoimpregnando o ar que respira%am"

. =uer uma rapidinha antes de irmos atender o go%ernador, soldado6 . Miriamecolocou*se diante dele e tocou o %olume eloqGente so# sua cal+a". 2unca esti%e aquiantes" Mostre*me o lugar onde ficam os prisioneiros, e 4olly e eu faremos tudo com

%ocê" De gra+a" 2ão mesmo, 4olly6/le lam#eu os l$#ios num gesto de antecipa+ão". / o go%ernador6 2ão est$ esperando por %ocês6 Sophie segurou o #ra+o do

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soldado". /le pode esperar um pouco" 2ão %ai fa&er mal algum"5om uma mulher de cada lado, o soldado as le%ou pelos corredores, por passagens

estreitas e portas #ai(as, e(i#indo orgulhoso todas as masmorras e os prisioneirosnelas mantidos" Sophie sentia o cora+ão mais pesado a cada instante" 3iu muita misria

humana, mas, at aquele momento, nenhum sinal da mulher que pretendiam resgatar". 2ão h$ ningum famoso aqui6 . Miriame indagou com tom sensual depois de

terem percorrido meia d8&ia de corredores sem %erem a duquesa" . =ueremos %er osprisioneiros famosos" 2ão mesmo, 4olly6

O guarda hesitou". Mostre*nos os prisioneiros famosos, e 4olly e eu iremos com %ocê 7untas, como

o go%ernador gosta" 2ão mesmo, 4olly6 Ser$ uma troca de fa%ores especiais"/le co+ou a ca#e+a com ar pensati%o". >emos aqui algum de grande fama que eu poderia mostrar" Mas não poderão

di&er nada a ningum so#re isso" 2ada mesmo- Se algum sou#er que as le%ei para %eressa""" pessoa, serei enforcado"

Sophie conte%e a respira+ão" >al%e& o plano pudesse dar certo, afinal". 2ão %amos di&er nada" 4rometemos" /le ainda hesita%a". /stou arriscando meu pesco+o por %ocês" >êm certe&a de que %ão fa&er esse

risco %aler a pena6Miriame sorriu e esfregou*se nele como um gato". Se morrer enforcado, certamente morrer$ feli&""" e muito satisfeito-Ha%ia outro guarda do lado de fora da porta da cela, um 7o%em p$lido e de

aparência culpada" /le não parecia feli& com a presen+a do grupo que se apro(ima%a". O que fa&em aqui6O guarda deu um sorriso constrangido". 3isitas para a princesa") princesa" Sophie sentia %ontade de gritar de alegria" /sta%am na cela certa"

)gora, s: precisa%am tir$*la dali, e tudo estaria aca#ado" Ou quase""" )inda teriam detir$*la da Bastilha, de 4aris e da Eran+a" Mas esta%am progredindo rapidamente"

O guarda na porta da cela de Henrietta não parecia con%encido". Meretri&es querendo &om#ar de uma mulher no#re, superior" Saiam daqui"

>enho ordens para não permitir que ningum se apro(ime da prisioneira"Miriame apro(imou*se do rapa& e pousou a mão em seu peito". S: queremos dar uma olhada"Se não esti%esse a#solutamente atenta a tudo que a cerca%a, Sophie não teria

escutado o clique sua%e que assinala%a o sucesso" Miriame retirou as cha%es da cela docinto do guarda, e sem que ele suspeitasse de nada"

/le a empurrou com ar de desgosto, quase repulsa". Saiam daqui, criaturas imundas, ou %ou surr$*las at entortar o ca#o da minha

espada"3o&es" Sophie ou%iu %o&es do outro lado da porta" Hou%e um grito, como se umamulher sentisse dor, e depois silêncio" 4recisa%am agir imediatamente""" se7a não fosse

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

tarde demais" 2ão ha%ia tempo a perder"5om um mo%imento r$pido, ela retirou a faca de #ai(o da saia e atacou o 7oelho

direito do guarda" 2ão queria mais mortes em sua consciência" 4retendia apenasimo#ili&$*lo, não mat$*lo"

O rapa& dei(ou escapar um grito de f8ria antes de cair"

. =uieto- . Sophie ordenou com tom ríspido, a#andonando o papel de sedutora". O pr:(imo corte ser$ no seu pesco+o"

O homem engoliu o restante do grito como que por magia"Miriame tam#m ha%ia derru#ado o guarda que ficara aos seus cuidados" O

homem tinha um ferimento em um dos lados do corpo e sangra%a muito". =uem est$ l$ dentro com madame Henrietta6 . ela pergunta%a, mantendo a

faca nas costas do soldado". Sacerdotes- Lamento por ela" Os religiosos afirmam lerem sido chamados para

confort$*la em seu tormento"

. diota- . Sophie e(clamou, pegando no ar as cha%es que Miriame 7oga%a emsua dire+ão" >emia que fosse tarde demais" . Dei(ou assassinos entrarem na cela daduquesa-

O guarda gemeu de medo e dor". 2ão me mate, eu suplico- /sta%a apenas tentando sal%ar uma alma necessitada"/la destrancou a porta com dedos trêmulos, temendo o que encontraria do outro

lado"Duas figuras %estidas com mantos negros correram para a porta ao %ê*la se

a#rir" Sophie não tinha nenhum pro#lema quanto a matar assassinos de aluguel" 4orisso ela enterrou a adaga no %entre de um deles" 2o instante seguinte, o desconhecidocaiu sufocando no pr:prio sangue" Miriame cortou o pesco+o do outro antes que elepudesse ter ideia do que o ataca%a"

O corpo de uma mulher num %estido %erde em frangalhos 7a&ia no chão ao lado deum catre" Sophie correu para perto dela"

. Madame . disse com urgência, segurando*a pelos om#ros para sacudi*la" .3iemos tir$*la desse lugar"

Henrietta a#riu os olhos" S: um pouco" Seu rosto esta%a p$lido e contorcido pelador"

. )queles falsos sacerdotes 7$ me li#ertaram" /stou a caminho do paraíso"Miriame limpou o sangue da l<mina de sua adaga e a guardou no decote". O que a incomoda6 2ão est$ ferida" 4osso %er que não"Henrietta fechou os olhos no%amente, como se mantê*los a#ertos fosse doloroso

demais". 2ão estou ferida" /stou""" en%enenada". Seu irmão nos mandou para li#ert$*la e le%$*la de %olta @ nglaterra" 2ão de%e

desapont$*lo"

;m sorriso iluminou o rosto p$lido e cansado". 5harles não me esqueceu, então6 Mandou algum para me a7udar6. /(atamente"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. Diga a ele que o amo e que lamento dei($*lo assim" / diga ao conde""" . Sua %o&fraque7ou"

. Di&er o que ao conde6 . Sophie inclinou*se para ou%ir as pala%ras damori#unda"

Sua %o& era s: um sussurro fraco"

. Diga ao conde de uiche que o amo at meu 8ltimo suspiro" / alm dele"

. /u direi"

. 4romete6

. /u 7uro" ? minha pala%ra de honra"

. 2ão me arrependo por tê*lo amado" . Sua mão se ergueu por um momento noar, depois ficou im:%el" . Lamento apenas que nosso amor tenha aca#ado"

) princesa emitiu um grito sufocado, foi sacudida por um espasmo de dor, depoisficou quieta" =uieta demais"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

#ap&t$lo *'

Sophie #ai(ou a ca#e+a por um momento" 2ada mais podiam fa&er por ela". Morta6) pergunta de Miriame rece#eu como resposta um #re%e mo%imento afirmati%o

de ca#e+a" /la prague7ou". 3amos sair daqui-2ão precisa%am mais do disfarce, e saias %olumosas s: as retardariam" 5om

gestos firmes, elas rasgaram o tecido e 7ogaram as saias em um canto da masmorra"5o#ertas mais uma %e& pela cal+a do disfarce que lhes era tão familiar, elas saltaramso#re os corpos dos falsos sacerdotes e dos guardas e correram" 5orreram muito"

5orreram para o p$tio, como se ti%essem asas nos calcanhares" ;ma como+ãoe(plodiu atr$s delas" Dispunham de poucos momentos"

O p$tio esta%a deserto, e ha%ia apenas algumas poucas tochas iluminando aescuridão que as cerca%a" )t ali ha%iam podido contar com a sorte" /speran+osas,elas corriam para a muralha onde de%eria estar a corda pela qual su#iriam"

Onde esta%a a corda62ão ha%ia nenhuma")tr$s delas, uma d8&ia de guardas empunhando espadas in%adia o p$tio"Miriame prague7ou no%amente"

. De%ia ter cortado o pesco+o de Lamotte, tam#m, quando ti%e chance" /le nosa#andonou"Sophie empunhou a faca" 2ão tinham chance contra um punhado de soldados

armados, mas não se entregaria sem ao menos tentar". 3amos ter de a#rir caminho @ for+a at a saída" 5om um pouco de sorte, tal%e&

possamos tirar pro%eito da escuridão";m ruído si#ilante a fe& olhar para cima" ;ma flecha presa @ ponta de uma corda

aterrissou a poucos centímetros de onde ela esta%a" Sophie segurou a faca entre osdentes e agarrou*se @ corda" Lamotte não as a#andonara, afinal"

. 5ontenha os guardas- . ela gritou para a companheira, preparando a corda queseria sua %ia de escape, o retorno @ li#erdade"3$rias %oltas de corda iam se amontoando a seus ps" /nquanto isso, Miriame se

mo%ia sem parar, #randindo a espada e mantendo a parceira de a%entura li%re doperigo"

Einalmente, Sophie terminou os preparati%os e gritou. 4ule-Miriame o#edeceu, agarrando*se a um dos três ganchos que #alan+a%am ao %ento"

) corda come+ou a se mo%er" )s #ordas afiadas do gancho pressiona%am a sola desuas #otas enquanto Sophie se equili#ra%a, segurando*se @ corda com a for+a e atenacidade de quem se agarra @ %ida"

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Os guardas olha%am #oquia#ertos para a corda que era i+ada mais e mais alto noar, para longe deles e para a escuridão" Depois de alguns momentos, as duas mulherespuderam pisar so#re a s:lida muralha e(terna da Bastilha"

L$ em#ai(o, os guardas corriam para o portão com a inten+ão de captur$*las dooutro lado"

Sophie prendeu um gancho do outro lado da muralha e o pu(ou para testar suafirme&a" /le se mante%e no lugar"

Sophie soltou o arreio da cintura e engoliu em seco". 4reparada6 Miriame riu". sso parece ser di%ertido") corda se estendia #em esticada desde o alto da muralha at a rua, onde

Lamotte as espera%a com os ca%alos que tão #ra%amente as pu(aram at o alto damuralha"

Sophie 7ogou o cinturão com o arreio por cima da corda, prendeu suas

e(tremidades aos punhos, disse uma prece r$pida, mas sincera, e mergulhou no ar"/ra quase como %oar, ela pensou, apro(imando*se do chão em %elocidade

assustadora";ma carro+a de feno surgiu da escuridão diante dela" ) aterrissagem seria mais

macia do que espera%a" /la se soltou do cinto e caiu so#re o feno, mas com for+asuficiente para es%a&iar os pulm1es de todo ar"

;m momento depois, Miriame caiu ao lado dela". Eoi muito di%ertido- . ela e(clamou rindo" . 3amos %oltar e repetir o salto"Sophie ergueu os #ra+os e cortou a corda" ) ponta solta estalou como um chicote

e ficou pendurada na muralha, #alan+ando no %a&io". 3amos sair daqui"Lamotte, que espera%a com os ca%alos, acompanha%a tudo com aten+ão" /le

desmontou e tomou a esposa nos #ra+os, tirando*a da carro+a de feno"/ra como %oltar para casa". /st$ machucada6) resposta foi um mo%imento de nega+ão com a ca#e+a" /sta%a ofegante, sim,

sem ar, e com uma dor nos #ra+os que a incomodaria por alguns dias, mas era s: isso"/le remo%eu o feno de seus ca#elos com tanta ternura, que foi impossí%el conter

as l$grimas". Henrietta6. Morta" Eoi assassinada um instante antes de entrarmos na cela"/le a a#ra+ou". Lamento, mas fico feli& por %ocê estar aqui, inteira e em seguran+a"2esse momento, uma %iolenta como+ão e(plodiu atr$s deles" Sophie %irou a

ca#e+a para desco#rir o que a causa%a";ma carro+a de mercador ti%era um ei(o partido e tom#ara #em na frente do

portão da Bastilha" O propriet$rio da carro+a grita%a e gesticula%a como um louco"Ma+ãs rola%am em todas as dire+1es, para deleite dos que %aga%am pela regiãotentando arrancar a pr:pria so#re%i%ência dos restos que se acumula%am em torno das

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muralhas da Bastilha") agita+ão e a mo%imenta+ão das arom$ticas frutas %ermelhas afetou os ca%alos"

;m a um, eles come+aram a relinchar em p<nico, erguendo as patas dianteiras ederru#ando seus ca%aleiros" Os que conseguiam se manter so#re as selas esta%amocupados demais tentando acalmar suas montarias, incapa&es de partir em

persegui+ão"Lamotte a colocou so#re o ca%alo". Hugh . comentou sorrindo" . 4arece que ele sa#e ser 8til, afinal"Os três fugiram num galope frentico, des%iando da multidão que 7$ se forma%a

para assistir ao di%ertido espet$culo" )lguns guardas 7$ conseguiam escapar daconfusão e saíam atr$s dos fugiti%os"

Miriame tirou o chapu e o girou no ar acima da ca#e+a, ca%algando em %elocidadesuicida pelas ruas estreitas"

. h$- . ela grita%a com euforia contagiante" . sso quase tão di%ertido

quanto %oar presa a uma corda-Sophie olhou para tr$s, para os perseguidores" )gora ha%ia meia d8&ia de homens

ca%algando tão %elo&mente quanto podiam ousar, sem se importar com os inocentes quepoderiam ser atropelados pelos cascos furiosos de seus animais"

. 2ão acham melhor nos di%idirmos para dificultar a captura6 . ela gritou paraos companheiros"

Lamotte #alan+ou a ca#e+a sem redu&ir a %elocidade do galope". 2ão %ou permitir que saia de perto de mim, minha querida" >enho a impressão

de que se mete em encrencas cada %e& que a dei(o so&inha"Miriame acenou num gesto de adeus" . 3ou dei(ar os pom#inhos a s:s, então .

ela anunciou rindo" . )t mais tarde" Se forem pegos, não se preocupem" reiresgat$*los s: para poder repetir aquela e(periência de %oar presa @ corda"

2o instante seguinte ela ha%ia desaparecido por uma rua lateral" Dois guardas aseguiram" Os outros quatro continua%am atr$s de Lamotte e Sophie"

) persegui+ão se estendia por ruas e #ecos numa tentati%a determinada dedespistar os guardas, pois s: assim poderiam chegar ilesos ao ponto de encontrocom#inado" Sophie come+ou a ficar preocupada com a persistência dos soldados daBastilha" O cu 7$ se tingia de rosa anunciando um no%o dia, e os guardas não da%am omenor sinal de desistência" ;m deles dei(ou escapar um grito e caiu, derru#ado poralgum o#7eto arremessado contra sua ca#e+a" ;ma ma+ã6 Hugh ainda esta%a no caso"

/les seguiam em frente, apro(imando*se da pra+a do mercado" O local esta%atomado por consumidores que, @quela hora, tenta%am adquirir os produtos maisfrescos" /les prosseguiam"

Hou%e um estrondo, e outro soldado caiu, derru#ado por uma carro+aacidentalmente tom#ada pela passagem do colega que o precedia" !esta%am apenasdois"

O dia esta%a nascendo e o cu torna%a*se perigosamente claro" 2ão podiampermitir que os guardas %issem seus rostos @ lu& do dia, ou estariam condenados"Sophie olhou para Lamotte"

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. / agora6/le enfiou uma das mãos no alfor7e preso @ sela do ca%alo e e(traiu dele duas

grandes a#:#oras" Sophie o imitou, munindo*se de outras duas" /ram pesadas"5ontrolando o ca%alo com as pernas, ela segurou a a#:#ora com as duas mãos e aarremessou para tr$s, na dire+ão dos homens que a perseguiam" /m poucos instantes,

uma su#st<ncia pastosa e escorregadia co#ria o chão atr$s deles";ma carro+a derru#ada pelo dono impediu a passagem dos guardas" 4erce#endo

que perderiam a presa, eles optaram por uma tentati%a desesperada e saltaram porso#re o o#st$culo" Os ca%alos não conseguiram recuperar o equilí#rio no soloescorregadio" O primeiro caiu com um #arulho assustador" O segundo, confuso com oscomandos incertos do ca%aleiro, tam#m caiu"

Sophie e Lamotte contornaram a pra+a e entraram em um #eco estreito, ou%indoos gritos desesperados dos animais feridos e a agita+ão dos soldados"

O cu era limpo e a&ul quando eles chegaram @ casa da %i8%a 4oussin, onde

com#inaram o encontro" Sophie não nutria grande afeto por sua antiga e a%arentasenhoria, mas o %elho quarto no s:tão ser%ia de esconderi7o seguro para o quarteto"Hugh o alugara sem despertar suspeitas"

Limpando as mãos no a%ental engordurado, a pr:pria %i8%a 4oussin os rece#eu nafrente da casa, cumprimentando*os com um sorriso"

. Os outros o esperam no s:tão, se quiserem su#ir"Sophie não gosta%a do #rilho nos olhos dela, nem da maneira como torcia as mãos

a prete(to de limp$*las no a%ental" ;m arrepio percorreu suas costas quando a %i8%ase inclinou para eles e segurou a porta a#erta" 2ormalmente, a %elha %i8%a não era tãosimp$tica"

/la dete%e o marido tocando em seu #ra+o" Ha%ia algo de errado ali" 4odia sentiro medo e a gan<ncia na atitude inusitada daquela mulher"

. 4or fa%or, su#a e chame*os aqui . ela sugeriu @ %i8%a, 7ogando uma pequenamoeda de prata em sua dire+ão" . Minhas pernas estão doloridas demais da ca%algada"2ão suportaria su#ir a escada"

Lamotte a encarou com ar curioso e a#riu a #oca, re%elando a inten+ão de di&eralguma coisa" /la o silenciou tocando os l$#ios com a ponta do indicador"

. H$ algo de estranho aqui . murmurou" . suspeito de uma armadilha"5omo ha%ia imaginado, o rosto da %i8%a tornou*se som#rio". Su#am e chamem*nos %ocês mesmos . ela respondeu, guardando a moeda no

decote do %estido" . 2ão %ou ser%ir traidores"/ntão era isso"Sophie empunhou a faca" ) cru&ada chega%a ao fim" Eracassaram em sua missão,

e agora desco#ria que ha%iam sido traídos" /sta%a cansada, frustrada e furiosa, masainda ha%ia algo a ser feito" >eriam de lutar para sair dali, e espera%a que pudessem%encer mais essa #atalha"

Lamotte caiu so#re a %i8%a antes que ela pudesse dar mais de três passos". Onde estão meus amigos6 . ele perguntou com tom amea+ador, encostando afaca em seu pesco+o"

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) mulher ficou p$lida e trêmula" /ra e%idente que esta%a apa%orada". 2ão me mate monsieur" Direi tudo que sei". /stou ou%indo". /les estão no quarto, como informei" Os dois". / quem est$ com eles6 . Sophie indagou irritada"

. 2ão os conhe+o" /u 7uro- 2unca os %i antes em toda minha %ida-

. >ente lem#rar" Sei que pode fa&er melhor . Lamotte murmurou com tomamea+ador, mo%endo a faca lentamente contra o pesco+o da %i8%a"

Sophie %irou*se de costas" ) cena a desgosta%a profundamente, em#ora a mulherhou%esse tentado en%i$*los para a morte" S: não interrompia o interrogat:rio porsa#er que Hugh e Miriame corriam perigo" )lguns momentos de terror poderiam sal%aras %idas dos dois amigos"

) mulher solu+ou". São guardas . ela re%elou" . Eoram en%iados pelo rei"

. =uantos6

. 5inco"

. =uem eles procuram6

. =uerem o espião inglês""" e todos que esti%erem com ele"

. / como sou#eram onde procurar6/la engoliu em seco e calou*se" Lamotte aumentou a pressão da l<mina". Eui eu . a mulher gemeu" . /u os chamei aqui". /u sa#ia""". Ha%ia rumores nas ruas de que o rei pagaria caro por informa+1es so#re o

espião inglês" Sou uma mulher %elha e po#re, monsieur, sem ningum para cuidar demim" >enho de garantir meu sustento" 4recisa%a do dinheiro, e o su7eito era s: uminglês- !ece#i duas moedas de ouro pela informa+ão"

. Duas moedas pela %ida de um homem6 3ocê uma %elha est8pida, gananciosa emiser$%el- O rei teria pago duas mil moedas por essa notícia"

. Duas mil6 . ) %i8%a come+ou a chorar" 2em parecia notar que a faca ha%iasido remo%ida de seu pesco+o" . /le teria me dado duas mil moedas6 4or fa%or, digaque mentira- /st$ #rincando, não 6 om#a de uma po#re %elha @ #eira do t8mulo-Duas mil moedas6

. Ou mais"Lamotte e Sophie a dei(aram na porta da casa com seu desespero". Duas mil- . ela repetiu chorando" . Duas mil- 5omo pude 7ogar fora essa

fortuna6Os dois su#iram a escada sem fa&er #arulho" ) porta do quarto esta%a fechada,

mas era possí%el identificar os passos ansiosos e a respira+ão aflita dos soldados l$dentro"

Sophie empunhou a espada" Lamotte a encarou srio, e ela assentiu"

/les in%adiram o quarto"Hugh esta%a amarrado a uma cadeira em um canto, as mãos presas @s costas"5inco guardas o cerca%am" >odos esta%am armados"

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O ataque s8#ito os pegou de surpresa" Dois deles foram desarmados e feridos naprimeira in%estida, antes de perce#erem o que esta%a acontecendo, e ficaramgemendo no chão, mas os outros três ti%eram tempo suficiente para se recuperarantes de Lamotte e Sophie os atacarem"

. Onde est$ Miriame6 . ela perguntou a Hugh, lutando contra um dos soldados

com golpes desesperados da espada"Hugh encolheu os om#ros". 2ão a %i"Hou%e um estrondo acima deles, e Miriame surgiu do alto como um an7o %ingador

com o rosto iluminado pela <nsia da #atalha". )lgum perguntou por mim6Os cinco com#atentes pararam por um instante para olhar para a apari+ão" ;m

segundo foi todo o tempo de que ela precisou para cortar as amarras de Hugh com suaadaga afiada" /le se le%antou, e uma faca surgiu como uma %arinha de condão em sua

mão")gora tudo se modifica%a" Os conspiradores tinham a %antagem" /ram quatro

contra três guardas, e luta%am pela so#re%i%ência"5om um grito de pa%or, o guarda mais pr:(imo da porta fugiu" Os outros dois

 7ogaram suas espadas no chão". 2:s nos rendemos . disse um deles"Miriame parecia desapontada com o fim das hostilidades". 4osso mat$*los6Os soldados esta%am p$lidos" O mais 7o%em come+ou a tremer e a#riu a #oca para

implorar por miseric:rdia" O mais %elho o acertou no estCmago com o coto%elo,mantendo*o calado"

Sophie #alan+ou a ca#e+a". 5hega de mortes . decidiu". )marre*os . Lamotte ordenou a Hugh" . 2ão %amos mat$*los, mas eles

ficarão aqui at estarmos #em longe";sando a corda da qual ha%ia sido li#ertado pouco antes, Hugh amarrou pulsos e

torno&elos dos soldados". )í est$, #astardos franceses- . ele riu" . Mesmo que algum %enha li#ert$*

los, não poderão mo%er os #ra+os por três dias ou mais" 3ão sentir a dor a quetentaram me su#meter"

Os dois soldados esta%am no chão, e um deles tinha um corte profundo na co(a"O sangue que 7orra%a do ferimento mancha%a o piso" )pesar de tudo, Sophie nãogosta%a da ideia de dei(ar um ferido sem socorro" /la se a#ai(ou ao lado do homem e,rapidamente, impro%isou uma atadura para conter o sangramento" O 7o%em murmuroualgumas pala%ras de gratidão"

. Mandaremos um mdico assim que esti%ermos #em longe daqui . ela disse" .

3ocê %ai so#re%i%er"Meia hora mais tarde, os fugiti%os deti%eram seus ca%alos na fronteira de 4aris") região rural se estendiam diante deles como um tapete de in8meras oportunidades"

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CHE 278 – O destino de Sophie – Kate Silver

. 4ara onde iremos agora6 . Sophie perguntou"4ara onde6 4aris não era mais segura para ela" 2ão tinha nenhuma possi#ilidade

de a#rigo se não em 5amargue, onde %i%eria cercada pelos fantasmas de seusfamiliares" !elutante, ela olhou para o sul, admitindo a derrota e a desola+ão" Ealharaem sua missão" O nome do irmão sofreria uma morte in7usta, pereceria pelo

esquecimento, e ela %oltaria a ser uma mulher"Hugh fechou os olhos e inspirou" . Se eu fechar os olhos, posso imaginar que

sinto o cheiro do mar" 3oltarei @ nglaterra pelo caminho mais curto para informar orei so#re o triste fim de sua irmã" 4odem %ir comigo, se quiserem" ) Eran+a não um#om lugar para quem traiu o rei e enfrentou seus soldados, mas o rei 5harles osrece#er$ de #ra+os a#ertos por seus esfor+os pela sal%a+ão da princesa"

3i%er na nglaterra e ser%ir ao rei inglês, em %e& do francês6 Sophie olhou paraLamotte, que tinha a testa fran&ida" 2ão se 7ulga%a capa& de dei(ar a #ela Eran+a peloclima glido do remoto reino inglês" )lm do mais, não poderia a#andonar o marido sem

a esperan+a de %ê*lo no%amente" )ma%a*o demais para desistir de tudo"Miriame %irou o ca%alo na dire+ão de onde %iera". Sou francesa at o fundo de minha alma" ) nglaterra não lugar para mim"

3oltarei para 4aris". 2ão tem medo do rei6 . Sophie quis sa#er, admirada com a coragem e com a

ingenuidade da amiga" . 2ão teme que ele a sentencie @ morte6. Sou sentenciada h$ mais tempo do que posso lem#rar" Basicamente por rou#o"

2ão %ou permitir que uma #o#agem dessa me impe+a de ser mosqueteira" )lm domais, o rei não sa#e meu nome, e seus guardas mal puderam %er meu rosto no meio detoda aquela confusão" /starei perfeitamente segura" / %ocê, Sophie6 O que %ai fa&er6

/la olhou para o marido com ar infeli&" 5omo suportaria a dor de dei($*lo, agoraque %i%iam o momento da separa+ão6

. 2ão sei"

. 2ada mais me prende a 4aris . o conde anunciou srio" . Desliguei*me daguarda real e enfureci o rei alm de qualquer possi#ilidade de perdão ou esquecimento"

. 4ara a nglaterra, então6 . insistiu Hugh" /le #alan+ou a ca#e+a"

. H$ muito tempo espero para mostrar minha propriedade em Burgundy @ mulhercom quem me casei" Sinto que esse um #om momento para irmos para l$" Os pêssegosde%em estar maduros no pomar" =uer %ir comigo, Sophie, e ser%ir ao duque6 =uer meacompanhar6 =uer ser a mulher eleita por meu cora+ão6

/le oferecia uma terceira %ia, uma alternati%a inesperada" Oferecia*lhe a %ida, ea %ida que ela queria %i%er"

. /st$ di&endo que se manteria casado com um soldado6

. 4ermaneceria casado com %ocê, Sophie" /m qualquer situa+ão" 4orque te amo"Sophie fitou*o nos olhos e %iu o que 7amais ha%ia esperado %erA o amor que

Lamotte sentia por ela" ;m amor que era refle(o do seu"

  >am#m amo %ocê, !icard Lamotte, meu marido" Sim, irei com %ocê paraBurgundy, serei sua esposa, porque estar a seu lado o maior dese7o de meu cora+ão"

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Fim