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A Historische Zeitschrift e a historiografia alemã do século XIX The Historische Zeitschrift and the 19 th century German historiography Julio Bentivoglio Professor Adjunto Universidade Federal do Espírito Santo [email protected] Av. Fernando Ferrari, 514 29069-900 - Vitória - ES Brasil Resumo Este artigo contempla a historiografia alemã, durante a segunda metade do século XIX, através da análise dos artigos publicados na revista criada por Heinrich von Sybel em 1859. Tomando o periódico como um objeto de investigação, busca-se entendê-lo como parte do processo de institucionalização da história em um campo que reune diferentes escolas históricas, delineando um perfil da ciência histórica germânica até 1900. É realizada uma caracterização, em linhas gerais, dos recortes geográficos, dos países abordados, das áreas privilegiadas, dos domínios da história mais visitados, das temáticas preferidas e são indicados os principais historiadores que colaboraram na Historische Zeitschrift. Palavras-chave Historiografia alemã; Pesquisa em história da historiografia; Século XIX. Abstract This text looks the German historiography during the second half of the 19th century from the analysis of articles published in the review created by Heinrich von Sybel in 1859. Taking the journal as an object of research, seeking to understand it as part of the process of history´s institutionalization in a field that brings together different historical schools, outlining a profile of the German historical science until 1900. He performs a characterization, in general, of the geographic clippings, countries covered, privileged areas, the most visited areas of history, prefered themes and sinalize the most important historians who collaborated in the Historische Zeitschrift. Keyword German historiography; Research in history of historiography; 19 th century. Enviado em: 01/03/2011 Aprovado em: 25/03/2011 81 história da historiografia • ouro preto • número 6 • março • 2011 • 81-101

Historiografia alemã do Oitocentos

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Esse artigo descreve de forma objetiva a historiografia do século XIX, principalmente da Alemanha.

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  • A Historische Zeitschrift e a historiografia alem do sculoXIX

    The Historische Zeitschrift and the 19th century German historiographyJulio BentivoglioProfessor AdjuntoUniversidade Federal do Esprito [email protected]. Fernando Ferrari, 51429069-900 - Vitria - ESBrasil

    ResumoEste artigo contempla a historiografia alem, durante a segunda metade do sculo XIX, atravsda anlise dos artigos publicados na revista criada por Heinrich von Sybel em 1859. Tomando operidico como um objeto de investigao, busca-se entend-lo como parte do processo deinstitucionalizao da histria em um campo que reune diferentes escolas histricas, delineandoum perfil da cincia histrica germnica at 1900. realizada uma caracterizao, em linhasgerais, dos recortes geogrficos, dos pases abordados, das reas privilegiadas, dos domniosda histria mais visitados, das temticas preferidas e so indicados os principais historiadoresque colaboraram na Historische Zeitschrift.

    Palavras-chaveHistoriografia alem; Pesquisa em histria da historiografia; Sculo XIX.

    AbstractThis text looks the German historiography during the second half of the 19th century from theanalysis of articles published in the review created by Heinrich von Sybel in 1859. Taking thejournal as an object of research, seeking to understand it as part of the process of historysinstitutionalization in a field that brings together different historical schools, outlining a profile ofthe German historical science until 1900. He performs a characterization, in general, of thegeographic clippings, countries covered, privileged areas, the most visited areas of history,prefered themes and sinalize the most important historians who collaborated in the HistorischeZeitschrift.

    KeywordGerman historiography; Research in history of historiography; 19th century.

    Enviado em: 01/03/2011Aprovado em: 25/03/2011

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    A Historische Zeitschrift (Revista Histrica) ou apenas HZ, como ,comumente, grafada pelos alemes, um peridico semestral criado em 1859por um dos pupilos de Ranke, Heinrich von Sybel. Na revista, exclusivamente,dedicada divulgao da cincia histrica alem (SCHIEDER 1959, pp. 1-2),eram publicados: a) artigos redigidos segundo princpios cientficos e histricos,resultantes de pesquisa original, que primassem pelo rigor metodolgico e, emespecial, pela anlise de fontes primrias, b) balanos bibliogrficos sistemticossobre diversos temas relatrios de literatura que situavam o estado dahistoriografia no apenas germnica, mas, tambm, mundial, c) relatrios dascomisses histricas das Academias de Cincias, em especial, a da Prssia e ada Baviera e d) relatrios da Monumenta Germaniae Historica. Alm dessestextos, as memrias, as biografias e as correspondncias tambm tiveram umespao considervel na revista. Sua criao foi motivada pelo desejo do reiMaximiliano da Baviera de constituir uma escola histrica, em Leipzig, tarefaque havia sugerido a Ranke e este a repassou a seu pupilo. A impresso da HZ,feita, inicialmente, pela J. G. Cottaschen Buchhandlung, de Munique, foiininterrupta desde ento, exceto no perodo entre 1943 e 1946, devido aosproblemas criados com o final da Segunda Guerra Mundial. Ao longo de suaexistncia, figuraram como seus editores: Heinrich von Sybel (1859-1895),Heinrich von Treitschke (1895-1896), Friedrich Meinecke (1896-1935), KarlAlexander Mller (1935-1943), Ludwig Dehio (1949-1956) e Theodor Schieder(1957-1985). De 1985 at o presente, o seu editor-chefe Lothar Gall, que foiintegrado ao conselho editorial em 1980.

    A Historische Zeitschrift uma das primeiras revistas cientficas de histriae um modelo para muitas que surgiram depois.1 Sua importncia para osurgimento da histria cientfica, na Alemanha, pode ser avaliada por meio doconjunto de artigos publicados durante a segunda metade do sculo XIX, cujaanlise permite conferir uma fisionomia mais geral da historiografia alem noperodo. Alm disso, tal olhar panormico, em si, suficiente para discutir algunslugares-comum que no fazem justia ao contedo da revista ou aos seuscolaboradores. Foram reunidos e analisados 783 artigos, publicados entre 1859e 1900, que foram enviados por 273 colaboradores. Dentre eles, alm denomes consagrados como Leopold von Ranke, Johann G. Droysen e TheodorMommsen, h centenas de outros historiadores menos conhecidos e tambmde fillogos, de bibligrafos, de filsofos e at de arquivistas, que aparecem emnmero considervel.

    1 Antes dela, haviam sido criadas duas outras revistas, que tiveram uma curta existncia. A Politisch-Historische Zeitschrift, criada por Leopold von Ranke, a pedido do ministro do exterior prussiano, oconde de Bernstorff, que circulou entre 1832 e 1836, e o Zeitschrift fr Geschichtswissenschaft, que foieditado entre 1844 e 1848, por Wilhelm A. Schmidt na editora Veit, em Berlim. Este no deve serconfundido com a revista homnima, criada na Repblica Democrtica Alem, em 1953. Ranke haviasido aluno de Schmidt e definiu o Zeitschrift fr Geschichtswissenschaft como um veculo que reuniuesforos diversos e esparsos de intelectuais alemes no campo da histria, mas, cujo teor era maisjornalstico do que cientfico. Giesebrecht e Sybel colaboraram e mambas, na Politisch e na Zeitschrift.(IGGERS 1988, p. 70).

  • Uma anlise do perfil da revista revela o predomnio de artigos sobre ahistria moderna e a histria recente (do sculo XIX), o que sinaliza umatendncia no interior da historiografia alem, naquele contexto, e do prprioveculo at hoje. Alis, convm logo destacar que a HZ foi um dos primeirosperidicos a enfatizar algo que hoje se denomina histria do tempo presente.Em uma carta endereada a Georg Waitz, em 1857, Sybel definiu qual seria oesprito da revista que ele e seu grupo desejavam criar: ns queremos umrgo para representar uma tendncia e um mtodo cientfico definidos. Acada ano a histria ocupa mais e mais o lugar da filosofia (Apud GOOCH1959, p. 134). Isso confirma algo bastante claro para os historiadores alemesnaquele momento: a autonomia da histria perante a filosofia e a poltica.

    Duas imagens cristalizaram-se sobre a Historische Zeitschrift, ao longodo tempo. Durante o sculo XIX, foi tachada de ser, excessivamente, nacionalistae protestante e, na segunda metade do sculo XX, de ter sido contaminadapelo nacional-socialismo. Ou seja, nenhuma referncia acerca de sua devoo histria moderna ou contempornea ou ao seu carter cientfico e histrico.No obstante, para Jaeger (1992, p. 57), o que distinguia a HZ era, de umlado, a sua vinculao ao historicismo, trao marcante na orientao de seuscolaboradores, e, de outro, a escrita de uma histria europeia integradora dasdiferentes histrias nacionais no tempo e no espao, com suas especificidadese com suas relaes de fora, sendo destacada, no seu bojo, a histria daprpria Alemanha.

    Ao longo de sua existncia, talvez, a direo de Karl A. Mller tenha sido,de longe, a mais polmica. Embora ele tentasse acolher a oposio e a situaono interior da revista, muitos de seus prefcios festejaram, desde 1936, ossucessos do nazismo (cf. SCHULZE 1999, MLLER-WIGGERSHAUS 1998 eSCHULIN 1989). De qualquer modo, a sua gesto ignorou a recomendaoexpressa de Friedrich Meinecke, que advogava, em seus prefcios, a dissoluogradativa dos vnculos entre a vida nacional e a cincia histrica, como se podedepreender de muitos editorias, particularmente, entre 1914 e 1918 e,sobremaneira, entre 1930 e 1935. Contudo, o fim da guerra foi um perododelicado, no qual o envolvimento com o regime nacional-socialista havia setornado inevitvel e provocou uma forte tenso entre os colaboradores e aperseguio aos judeus. Estes so aspectos que remetem a problemas agudospresentes naquela sociedade como um todo (SCHULZE 1989) Olhando emretrospectiva, Lothar Gall afirmou:

    Constata-se que a grande maioria dos historiadores alemes que tinhamcargos e principalmente os que almejavam conseguir cargos estavam maisou menos ou muito prximos do nacional socialismo e sua viso de mundo.Isto se reflete nas inmeras contribuies da HZ direcionados s idias emetas do regime, refletidas pelos autores (GALL 2009, p. 13).

    Voltando s origens da Historische Zeitschrift e da histria alem no sculoXIX, necessrio dizer que, durante muito tempo, essas estiveram ligadas

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    figura de Leopold von Ranke. Era como se toda a produo historiogrficagermnica adotasse a escrita rankeana da histria. Essa imagem duradouraque surge, ainda hoje, em certas interpretaes (FUNARI; SILVA 2008, CARDOSO1981), oblitera a existncia de diferentes escolas forma sob a qual hojepoderiam ser compreendidas as diferentes orientaes historiogrficas existentesem solo alemo durante o oitocentos , das quais se destacaram, de maneiramais efusiva, duas. De um lado, havia a escola de Ranke e de seus seguidorese, de outro, a Escola Histrica Prussiana, tal como consideram alguns estudiosos(cf. IGGERS 1988, GOOCH 1959, BENTIVOGLIO 2010a). O que se pretendedemonstrar que, ao lado dessas, existiram outras anteriores oucontemporneas, que podem ser menos conhecidas, mas no menosimportantes.

    Nesta anlise, optou-se por excluir as revises bibliogrficas, que saam acada nmero, e os relatrios das assembleias das academais reais de cinciase da Monumenta. As primeiras indicam, de maneira irrefutvel, o interesse alemode conhecer as principais publicaes de histria, bem como o estado dahistoriografia europeia e mundial. Alm disso, mapeava os principais avanos,no novo campo da histria, indicando o estado em que se encontravam osestudos em relao a temas, a pases e a perodos. Em geral, havia a publicaode, pelo menos, trs revises de literatura a cada nmero. Quanto aosrelatrios das academias cientficas, sua incluso, no peridico, deixa evidenteo esforo de institucionalizao da revista e da comunidade de historiadoresque ela irmanava, um esforo referendado em espaos privilegiados deinterlocuo junto ao Estado e sociedade (cf. NIESSEN 2009, p.53). A Academiade Cincias da Baviera, por exemplo, tinha sua comisso histrica presidida porRanke (ele tambm chefiava a mesma comisso na academia prussiana) eSybel era seu secretrio. Nela, figuraram como membros Schelling, Humboldt,Mommsen e, posteriormente, Max Weber. Em outras palavras, a criao darevista, em 1859, expressava o processo de autonomizao da histria cientficae acadmica e o cuidado com os avanos vividos pelo campo em formao.Deve-se tambm indicar que a revista estava articulada s mais prestigiadasacademias reais de cincia germnicas e ao projeto da Monumenta GermaniaeHistorica.2 Junto com a refundao da Universidade de Berlim e a criao decursos de histria, nas principais universidades alems, aquele esforo referendalugares da e para a histria, tanto no sentido, estritamente, acadmico quantono poltico (CERTEAU 1998). Tais aes integram um processo de afirmao dacincia histrica como um novo domnio que no deveria permanecer atrelado

    2 A Monumenta, por exemplo, surgiu de uma iniciativa de Karl von Savigny e de Jacob Grimm e foicriada pelo baro von Stein, militar de carreira, que convidou os maiores historiadores germnicos doseu tempo para integrar a tal projeto. Foi fundada, em Frankfurt, em 1819, quando Stein convenceumuitos amigos whestphalianos a financiar o projeto, sob os auspcios da recm-criada Sociedade parao estudo das origens da histria alem, um jornal do qual participaram Eichhorn, Schlosser, Wilken,Dalhmann, Raumer, Heeren, Niebuhr, Humboldt, Jacob Grimm, Goethe e Georg Pertz, arquivista deHanover. /A este sucedeu, como editor principal, Bhmer. Depois, entraram Ranke, Waitz e Kpke(GOOCH 1959).

  • aos cursos de filosofia, direito e literatura, tal qual em muitas universidadeseuropeias.

    Trs questes nortearam a formulao e a execuo deste breve estudo.A primeira seria avaliar se a Historische Zeitschrift foi um lugar privilegiado depublicao para uma escola histrica especfica, se ela teria sido sua porta-voz. A segunda, relacionada primeira, consistiu em verificar se a HZ seriacapaz de oferecer uma cartografia da produo historiogrfica alem do sculoXIX e se esta, realmente, se limitou ao modelo rankeano. A terceira e ltimaquesto seria a de analisar se ela era, em ltima instncia como avaliammuitos de seus intrpretes e crticos , meramente, uma publicao nacionalistae luterana. Como se v, investigar a Historische Zeitschrift, entre 1859 e1900, pode ser um exerccio fecundo para se pensar a escrita da histria, naAlemanha oitocentista, permitindo identificar orientaes historiogrficas,princpios metodolgicos adotados, temas prediletos de investigao, domniose campos mais visitados, autores mais assduos, realizando, assim, umaradiografia da historiografia alem naquele contexto especfico, um momentompar, no qual, de forma particular, a cincia histrica nascente, os historiadorese os acontecimentos vividos convergiram.3

    O exame dos artigos do perodo escolhido revelou informaes preciosassobre a cultura historiogrfica germnica que, ainda hoje, so pouco conhecidas.Em primeiro lugar, desmistificou a ideia de ela que era, exclusivamente,nacionalista ou protestante. Alis, convm logo lembrar que as revistas dehistria do sculo XIX eram todas nacionalistas. Ou seja, a preocupao maiordelas era sempre a de estudar a histria dos seus prprios pases: quase todoo seu contedo tratava de fatos ou de personagens do seu prprio passadohistrico. Todas as revistas de histria eram assim: da Historische Zeitschriftaos Annales de at meados de 1945. Quanto sua orientao luterana, emboraos protestantes fossem maioria, podem ser encontradas colaboraes dehistoriadores judeus como Alfred Stern ou catlicos, como, por exemplo,Reinhold Pauli. O material investigado evidenciou ainda a presena de diferentesescolas histricas alems na Historische Zeitschrift. Alguns autores acreditavamque a HZ fosse um peridico criado apenas para divulgar a produo da EscolaHistrica Prussiana, de Droysen, de Gervinus, de Sybel e de Husser. Comefeito, muitos textos desse grupo podem ser encontrados, no entanto, tambmestava presente um conjunto representativo de artigos redigidos por integrantesou discpulos de outras escolas histricas. Alis, os prprios historiadoresprussianos, embora aparecessem em nmero considervel, conviviam comhistoriadores de Baden, da Westphalia, da Bavria, de Hanover, da Rennia, daSaxnia, de Wurttenburg, de Schleswig-Holstein ou de Hesse. Mais escassasforam as colaboraes de historiadores austracos e poloneses.

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    3 Refere-se ao processo de autonomizao e de reconhecimento da cincia histrica, da constituiodos historiadores como intelectuais de destaque junto sociedade e ao processo de unificao alem(cf. BENTIVOGLIO 2010a).

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    Pode-se verificar a existncia de, pelo menos, trs geraes de historiadoresque publicaram na HZ entre 1859 e 1900. A primeira a de Ranke, Gervinus eDroysen, a segunda dos historiadores que estudaram com os membros daprimeira gerao tal como Georg Waitz, Heinrich von Sybel, TheodorMommsen, Maximilian Duncker, Ldwig Husser, dentre outros e, por fim, altima a gerao de Heinrisch von Treitschke, Friedrich Meinecke, WilhelmOncken, Kurt Wachsmuth e outros. Esta representa o arrefecimento dahegemonia historiogrfica exercida pelas duas primeiras geraes e foi marcadapela crise do historicismo e pela emergncia de reaes s formas predominantesda escrita da histria do sculo XIX, que eram, majoritariamente, devotadas aopoltico. Nesse sentido, cumpre destacar, sobretudo, o surgimento da Escola deLeipzig, capitaneada por Karl Lamprecht, e sua nfase sociocultural que sedissemina a partir da publicao de sua Histria da Alemanha a partir de 1891,a qual causou forte impacto sob a comunidade germnica de historiadores.4 Dequalquer modo, a longevidade de Ranke, sua influncia junto aos historiadoresalemes e a adoo de um modelo terico-metodolgico e de princpiosfundamentados tanto em sua obra, quanto em preceitos de Humboldt, de Niebuhre de Gervinus puderam constituir um esprito de coeso entre aquelas trsgeraes, conferindo, assim, uma imagem de identidade para aquelahistoriografia como um todo (BENTIVOGLIO 2010a), de maneira similar aoverificado em relao aos Annales e ao esplio de Marc Bloch e de LucianFebvre. Dessa forma, a crtica historiogrfica, sobretudo, a francesa(inflexivelmente, at sua reabilitao com Henri-Irene Marrou, com RaymondAron, com Paul Ricoeur e, mais recentemente, com Paul Veyne e com AntoineProst) e a marxista (vide as consideraes de Walter Benjamin e de GyorgyLukcs a respeito do historicismo) assimilaram uma imagem deformada daproduo alem e, assim, construram um verdadeiro lugar-comum sobre aquelahistoriografia, reduzindo-a a Ranke e associando-a, erroneamente, aopositivismo (BENTIVOGLIO 2010c).5

    Acredita-se que seria necessrio um levantamento mais minucioso dalocalizao das universidades, onde ocorreu a formao daqueles historiadores,e, onde eles trabalharam, para verificar possveis hierarquizaes e relaesentre os ncleos formadores e as escolas histricas constitudas. Para obtertais informaes, poder-se-ia tambm analisar quais foram os autores maiscitados, nos artigos, e verificar as opes terico-metodolgicas e asabordagens praticadas naquele perodo. Em linhas gerais, pode-se dizer queBerlim, Gttingen, Bonn e Heidelberg eram, sem dvida, os centros maisexpressivos de onde provinham os colaboradores da HZ e onde os historiadores

    4 Anos depois, ele criaria o Instituto da cultura e histria universal e seria professor visitante naUniversidade de Columbia.5 Esse , especialmente, o caso brasileiro, no qual vrios intrpretes marxistas relacionaram, demaneira equivocada, o historicismo e a historiografia alem a um positivismo, que no era, exatamente,o de Auguste Comte, mas sim uma interpretao enviesada e superficial do positivismo comteano,que opera mais como um clich do que, justamente, como um conceito e um sistema filosfico.

  • mais importantes atuaram. Curiosamente, foi naquelas universidades em quese localizaram os marcos tericos decisivos para a autonomizao da histriacomo um novo domnio do saber. Ou seja, atuando naqueles centros, estiveramos mestres da cincia histrica nascente: Barthold Niebuhr, Wilhelm vonHumboldt, Ranke e Droysen. Os vnculos de amizade e de afinidades pessoaisdentro do conjunto de colaboradores analisado era bastante heterogneo.Embora, novamente, figurassem Ranke e Droysen, havia Sybel, Gervinus,Husser, Friedrich Dahlmann, dentre outros, que eram referncias, surgindo,em vrias biografias, na condio de mestres, de supervisores de estudos ouainda como amigos merecedores de gratido. Ou seja, esses elementosconstituem um forte indicativo das ligaes existentes entre eles.

    Um aspecto considervel o envolvimento direto de muitos colaboradoresda revista com a vida poltica do momento. Onze deles foram deputados noparlamento de Frankfurt em 1849, treze foram deputados em seus Estados edez foram deputados no parlamento nacional aps a unificao alem de 1871,o que indica uma intensa atividade poltica por parte dos historiadores alemesoitocentistas (BENTIVOGLIO 2010a, pp. 33-35). Essa atuao poltica reforada quando se avalia o envolvimento daqueles historiadores com aimprensa peridica: dezenas deles foram editores de jornais e um nmeromuito maior foi composto por colaboradores assduos nesses jornais. No poracaso, muitos foram tambm conselheiros de reis e de prncipes germnicos,6

    oito foram reitores de universidades7 e muitos foram scios ou integrantes deacademias e de sociedades cientficas. Essa intensa atuao deixa claro que ahistria da Alemanha e do liberalismo alemo no poderia ser escrita sem devotarconsidervel espao ao papel central desempenhado pelos historiadores (IGGERS1998, p.19).

    Nas figuras a seguir, encontram-se alguns dados, referentes aos 783artigos analisados, que permitem traar um panorama da historiografia alemoitocentista. Longe efetuar uma discusso meticulosa de aspectos da escritada histria durante o perodo, o que se pretendeu foi apenas conferir as linhasmais gerais daquela produo historiogrfica, uma vez que no se tem apretenso de esgotar o tema.

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    6 Ranke foi conselheiro de Frederico Guilherme e de Maximiliano I, Alfred von Reumont foi secretrioparticular de Frederico Guilherme IV, Friedrich Hermann foi assessor de Maximiliano I e de MaximilianoII, Max Duncker foi conselheiro de Frederico III, Mommsen era amigo pessoal do rei da Dinamarca, KarlMaurenbrecher foi amigo pessoal de Guilherme II e Johann Friedrich Ritter von Schulte foi assessor dorei Francisco Jos.7 Max Bdinger foi reitor da Universidade de Zurique, Wilhelm Oncken foi reitor da Universidade deGiessen, Theodor Mommsen foi reitor da Universidade de Berlim, Ernst Bernheim foi reitor daUniversidade de Greifswald; Franz Heirich Reusch, Arnold Schaefer e Johann Friedrich Ritter vonSchulte foram reitores da Universidade de Bonn e, por fim, Kurt Wachsmuth foi reitor da Universidadede Leipzig. Karl Rotteck foi pr-reitor da Universidade de Freiburg.

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    Em primeiro lugar, foi analisado o recorte espacial dos artigos. Na figura 1,percebe-se que a maioria dos textos foi consagrada histria da Europa (42%)e da Alemanha (40%), 318 no total, que dividem, praticamente, meio a meio,toda a produo da revista, pois correspondem a 82% do recorte geogrficoadotado, restando poucos artigos referentes a outros regies. No estoindicados os de rea de teoria da histria nem aqueles cujo espao no fraidentificado, que correspondem a 15%. Dez artigos versam sobre a histria dasia, nove sobre a Amrica e apenas um sobre a frica todos juntosrepresentam apenas 2%. Evidentemente, um nmero expressivo dos artigosvolta-se para a histria germnica, muitas vezes subsidiando o papel do reinoda Prssia, no contexto da unificao alem, vivida entre 1866 e 1871 (cf.SCHLEIER 2003). A histria dos outros Estados germnicos est bastantepresente, mas, como se encontra, invariavelmente, subsumidas ao entendimentode uma identidade cultural e poltica germnica, talvez, em observncia orientao de seu idealizador e fundador que, ao longo de sua vida, teve umadestacada participao, na vida poltica alem, foi, portanto, agrupada sob arubrica histria da Alemanha, algo consagrado aps a integrao de 1871.Depois da unificao, acentuou-se a predominncia de um vis poltico queprivilegiava aspectos da histria do imprio alemo em detrimento de outrostemas (cf. CONRAD 2002). Em relao a outros pases, h uma presenaconsidervel de estudos voltados para a histria da Itlia, da Frana e da Rssia,como se depreende da figura 2. A despeito da complexidade do nacionalismo,no s na Alemanha, mas tambm, em vrios Estados, durante o sculo XIX, eda importncia que a histria da ptria assumiu em diferentes lugares na Europae nas Amricas, nada era mais natural do que a predominncia de estudossobre o passado poltico das naes. De qualquer modo, a histria alem, na

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    8 Esta ilustrada nas pginas da revista do Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, criada em 1838.

    A presena macia de artigos sobre a histria da Alemanha (figura 2) com mais de 55% do total compreensvel tendo em vista, no somente, ointeresse pela busca da razes germnicas e pelo passado da nao, mas tambmpor conta do prprio acesso s fontes primrias, majoritariamente, localizadas,na terra natal, daqueles historiadores. Isso no impediu, contudo, que muitosconsultassem arquivos e empreendessem viagens Itlia, Frana ou Inglaterra para realizarem seus estudos. A referncia expressiva Italia, querepresenta 12% do conjunto no total, so 88 artigos que se reportam histria ou historiografia italiana , explica-se, no apenas, pelos estudossobre a histria antiga romana, mas tambm devido ao grande interesse emtorno do Renascimento e de sua historiografia, alm do apreo peloshistoriadores italianos. Ranke e Gervinus, por exemplo, estiveram, vrias vezes,na Itlia. Muito lembrados so tambm a Rssia, com quase duas dezenas deartigos, e a Polnia, com mais de dez. Outros pases que foram objeto demuitos estudos foram a Frana (8%) e a Inglaterra (5%) que, no poracaso,eram os dois imprios mais importantes naquele perodo. A poucareferncia ustria, com pouco mais de dez artigos (2%), explica-se pelarivalidade existente entre os historiadores dos dois territrios, e, em particular,devido s restries impostas aos historiadores alemes para a consulta de

    Historische Zeitschrift, no poderia ser reputada como mais nacionalista doque a francesa, a inglesa ou a brasileira no mesmo perodo.8

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    documentos nos arquivos austracos. O imperador austraco, desde 1815, haviaproibido o acesso aos seus arquivos queles no fossem simpticos suadinastia, religio catlica ou conduo poltica do seu imprio. Mesmo Ranke,em 1863, teve seu pedido para consultar os despachos do embaixador austraco,em Paris, em 1756, recusado (GOOCH 1959, p. 148). A Grcia e a Espanhatambm foram espaos de um relativo interesse, somando 3% cada. A Sua,a Hungria, a Turquia e os Estados Unidos receberam seis artigos; a Holanda e aIslndia, trs; a Blgica e a Dinamarca, dois; por fim, Portugal, Mxico, Colmbia,Marrocos e ndia foram contemplados com apenas um artigo cada.

    Ao longo do sculo XIX, a HZ reuniu os principais representantes dahistoriografia alem, contando com artigos produzidos por renomadoshistoriadores como Leopold von Ranke, Johann Gustav Droysen, Georg Waitz,Theodor Mommsen, Heinrich von Treitschke, Heinrich von Sybel, HermannBaumgarten, Friedrich Meinecke, Wilhelm Maurenbrecher e Georg Voigt. Na figura3, encontram-se relacionados alguns dos principais colaboradores, entre 1859e 1900, com a indicao do nmero de artigos que publicaram. Os vinte e cincotextos de Max Lehmann, descontando-se as suas revises de literatura,impressionam. Berlinense, nascido em 1845, Lehmann estudou filologia e histriaem Konigsberg, em Bonn e em Berlim, era amigo de Sybel este era prximodo chanceler Bismarck e lecionou histria nas universidades de Marburg, deLeipzig e de Gttingen. Sua rea de interesse era a histria da Alemanha, sobretudo,no perodo de 1806 a 1848, embora tenha publicado tambm artigos sobre asguerras da unificao. Em seguida, aparecem Sybel com vinte e trs artigos

  • ele era o editor da revista e Georg Waitz. Este, natural de Flensburg e nascidoem 1813, era um dos pupilos mais considerados por Ranke ao lado de Sybele de Giesebrecht e, junto com o mestre, foi um dos expoentes e um doslderes do projeto da Monumenta. Waitz estudou filosofia e direito em Kiel e emBerlim, tornando-se depois professor em Gttingen e em Kiel.

    Assim como a questo do nacionalismo, o peso que os luteranos tiveram,no conjunto dos artigos publicados, algo, absolutamente, compreensvel,tendo em vista o contexto histrico-cultural germnico de ento. Tratava-sede um territrio, majoritariamente, simptico aos reformados, que constituama maioria da populao. De qualquer modo, judeus, tais como Alfred Stern,Julius Beloch, H. Gelzer, P. Goldschmidt, E. Gothein, M. Brosch, R. Brendel,Adalbert Horowitz, Moritz Cantor, dentre outros, publicaram artigos na HZ.Quanto aos catlicos, mais difcil precisar, mas, Paul Hinschius, Josef Vogt eFranz Reusch, seguramente, eram-no. Sua presena, contudo, era bem menordo que a dos protestantes ou a dos judeus.

    Uma questo delicada foi encontrar escolas histricas no interior daHistorische Zeitschrift. Tal tarefa foi bastante difcil, mas era, absolutamente,necessria. Localiz-las, entre 1859 e 1900, identificando suas ideias de fora,seus pressupostos, suas disputas, seus representantes e, enfim, descobrirelementos que pudessem conferir identidade aos historiadores que ascompunham ou dirigiam algo sedutor. Afinal, assim como podemos vislumbraruma escola dos Annales, nas pginas da revista homnima, ou uma NovaEsquerda Inglesa, nos artigos da New Left Review, seria possvel identificaruma Escola Histrica Prussiana nas pginas da Historische Zeitschrift? Emprimeiro lugar, preciso sublinhar o que se entende por uma escola histrica,pois, trata-se de uma categoria, muitas vezes, usada na tentativa de reunir,arbitrariamente, um conjunto de historiadores de uma determinada poca ouvinculados a uma determinada instituio. Sem postular a defesa radical deidentidades epistemolgicas, poder-se-ia assinalar que as escolas histricasestabelecem e disseminam uma operao historiogrfica mais homognea aum conjunto de historiadores que possuem laos institucionais e ou afetivosdefinidos em sua formao e em sua atividade docente. Elas, geralmente,imprimem, nos historiadores, uma viso similar sobre seu ofcio, tanto naavaliao que fazem da tradio historiogrfica herdada do passado, quantona definio de seus projetos e de suas expectativas para o campo,materializado em projetos, publicaes, cursos e seguidores. Para alm disso,estabelecem um conjunto de preocupaes e de procedimentos analticos sobrea prtica e a escrita da histria que procuram propor a fim de responder s carnciasde sentido existentes em seu campo. Um expediente que permite um primeiropasso, nessa direo, analisar seus lderes, seus discpulos e suas instituiesde origem, bem como o teor geral de sua produo que, invariavelmente,reproduz determinados modelos de anlise. Outro recurso localizar suaspublicaes seja em livros, seja em peridicos. Via de regra, as escolas costumam

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    vincular-se a uma determinada revista, a uma certa orientao terico-metodolgica, a uma ou mais instituies e a um grande historiador ou a umcrculo de historiadores mais prximos e que se tornam os lderes emdeterminados projetos. Nesse sentido, embora a presena da Escola HistricaPrussiana fosse numerosa, no conjunto dos artigos publicados, as colaboraesde representantes de outras escolas historiogrficas alems, sobretudo, arankeana era superior. Pensando a operao historiogrfica como umprocedimento analtico (CERTEAU 1998), pode-se reconhecer algumasestratgias que indicam a aglutinao em determinados grupos: a integrao acentros universitrios, a instituies de pesquisa ou a arquivos e suas redes dehistoriadores e a adoo de procedimentos metodolgicos semelhantes e oexerccio de uma forma de escrita que, invariavelmente, materializa-se emcanais especficos, seja um peridico particular, seja uma editora ou seja algumacoleo. Tais estratgias integram, portanto, os sujeitos do saber, as abordagensprediletas e os circuitos de circulao do conhecimento histrico, produzindoum vnculo entre os cursos existentes nas universidades, a formao doshistoriadores, a presena em associaes cientficas, o acesso a determinadosarquivos e a publicao pelas editoras, garantindo, assim, a divulgao dasideias do grupo. Seguindo esse raciocnio, poder-se-iam vislumbrar trs grandesescolas que antecederam a formao das escolas histricas propriamente ditase que exerceram sobre elas uma considervel influncia:

    a) A escola de estudos renascentistas, que declina, a partir de 1790, eque havia reunido um grupo de estudiosos sobre a Itlia do sculo XV ao XVI(GOOCH 1959). Esse grupo tinha uma abordagem mais voltada para a filologia.

    b) A escola romntica de Goethe, de Fichte, de Schiller e de Novalis, cujareferncia inicial foi a Universidade de Iena e que preconizava estudos literrios,mas tambm de mitos e de lendas relacionados ao passado alemo. Em seguida,tal escola tambm esteve presente em Gttingen e em Heidelberg, onde seriainfluente at meados de 1820, quando Berlim emergiu como o principal centroacadmico alemo (MARTINS 2010, IGGERS 1988).

    c) A escola histrico-filolgica de Wolf, de Bckh e de Mller. Surgida, naUniversidade de Gttingen, tal escola dedicou-se aos estudos clssicos,sobretudo, histria da Grcia, mas tambm se consagrou ao estudo daantiguidade germnica (BENTIVOGLIO 2010a, MARTINS 2010).

    Essas trs escolas no eram ainda, exatamente, histricas, pois emboraa histria fosse entendida como um conhecimento importante ela era vistacomo um saber auxiliar que se encontrava submetido ora aos estudos filosficos,ora aos estudos filolgico-literrios (BENTIVOGLIO 2009, BENTIVOGLIO 2010b).Elas correspondem a um momento em que a cincia histrica ainda no haviase constitudo, portanto, aqueles que escreviam sobre a histria no eram,exatamente, historiadores nem se apresentavam como tal. Eram, sobretudo,fillogos e filsofos. Coube a elas, contudo, o mrito de instituir as preocupaeshistricas como um elemento decisivo para qualquer investigao, um elemento

  • indispensvel para qualquer estudo. Inegavelmente, foram escolas em que areflexo filosfica ainda ocupava um lugar central. Os alunos e os discpulos dealgumas delas que viriam a constituir as escolas histricas propriamenteditas. Isto , a histria no seria mais vista como uma rea auxiliar, mas comoum domnio especfico no rol dos saberes. Assim, podem ser relacionadas,como as primeiras escolas histricas, no mundo germnico:

    a) A escola rankeana, a maior e a que teve maior nmero de adeptos, foiconstituda em torno do famoso seminrio (Seminar) de Leopold von Ranke,na Universidade de Berlim, a partir 1833. Desse seminrio, fizeram parte WilhelmGiesebrecht, Georg Waitz e Heinrich von Sybel, que eram os discpulos maisconsiderados por Rank e que se tornaram disseminadores das concepes domestre. Os estudos dessa escola estavam voltados para a histria moderna epara a histria universal. Importantes historiadores frequentaram o seminriode Ranke como, por exemplo, Jacob Burkhardt, Max Duncker, Reinhold Pauli eo prncipe Maximiliano da Baviera. Alm dos artigos publicados pelos grandesexpoentes desse grupo, na HZ, houve tambm as colaboraes de importanteshistoriadores rankeanos, como, por exemplo, Max Bdinger, WilhelmWattenbach, Wilhelm Maurenbrecher, Ferdinand Gregorovius, Meyer von Knau,Karl von Nooden, Karl Nitzsch e Sigurg Abel. Os rankeanos publicaram o conjuntomais numeroso de artigos, o que confirma essa escola como a mais importantedo perodo. Ela s perderia sua fora com a morte de seu grande mentor, em1886. Privilegiavam o estudo da histria poltica e a consulta das fontes originaisde arquivos.

    b) A escola histrico-jurdica, de Niebuhr, de Savigny e de Mommsen,tambm era sediada na Universidade de Berlim, mas tinha muitos representantesem Bonn. Tal escola era voltada para os estudos clssicos, sobretudo, para ahistria romana, com destaque particular para a histria do direito e das formasjurdicas no passado e no presente, inicialmente, romanas e, em seguida,teutnicas. Encontravam-se, vinculados a essa escola, discpulos de Mommsencomo Friedrich Bluhme e Heinrich Nissen. Sua contribuio foi bastante apreciadana Frana, sobretudo, desde a publicao do Manual, de Ernst Bernheim de1889 (BERNHEIM 1937). No ocuparam muito espao na HZ, at porqueNiebuhr, que tinha publicado em outras revistas, j havia morrido h algumtempo, e Savigny e seus discpulos possuam um prprio peridico.

    c) A escola histrica prussiana, cuja existncia vinculou-se mais Academiade Cincias da Baviera, Historische Zeitschrift e aos cursos oferecidos porseus membros, em diferentes centros, como Kiel, Gttingen, Heidelberg, Berlime Munique do que, especificamente, a uma universidade. Tal escola ocupa osegundo lugar em quantidade de produo, na HZ, vindo, logo aps, osrankeanos. Devotava-se mais histria contempornea, em especial, a eventosligados, direta e indiretamente, histria da Prssia. Ocupava-se ainda de estudara histria de outros Estados germnicos, tendo, como caracterstica diferencial,a intensa atividade poltica em prol da unificao por parte dos historiadores que

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    a compunham (cf. SOUTHARD 1995, BENTIVOGLIO 2010a). O mentor espiritualdessa escola foi Friedrich Dahlmann que j havia falecido quando a HZ foicriada e seus expoentes foram Johann Droysen, Ldwig Husser e Max Duncker.Contudo, ela era integrada ainda por Sybel, por Friedrich Hermann, por LudwigAegidi, por Rudolf Haym e por Heinrich von Treitschke. Nem todos eramprussianos, Treitschke, por exemplo, era da Saxnia. Bismarck manteve umarelao bastante estreita com o grupo, especialmente, com von Sybel, a quem,aps a unificao alem, expressou sua gratido por sua longa cooperao notrabalho comum para a ptria (GOOCH 1959, p. 135). Com a morte deTreischke, em 1895, a escola perdeu sua fora.

    d) A escola histrico-poltica, de Freiburg e de Heidelberg, era compostapor Schlosser que, apesar de ter morrido em 1866, no publicou na HZ ,Rotteck, Welcker e Gervinus. Devotada aos estudos de filologia, de direito e dehistria, essa escola era marcada por uma inclinao moralista, eminentemente,poltica e criticava e se opunha a Ranke. Gervinus deixou o grupo em 1845 e sejuntou a Droysen, a Husser e a Sybel na Escola Histrica Prussiana. Rotteckera uma espcie de guru da histria no sul da Alemanha. Eles tiveram seusprprios peridicos, como, por exemplo, o Der Freisinnige e o Staatslexikon.Este era uma verdadeira enciclopdia poltica alimentada pelo esprito doliberalismo. Tinham predileo pela histria universal e, evidentemente, pelahistria da Alemanha. Maquiavel era uma referncia maior e os estudos polticoseram vistos como fundamentais para a compreenso dos fenmenos histricos.Para Rotteck e para Gervinus, a vida ativa era, na realidade, o foco de todashistrias. O grupo no teve muitos seguidores no perodo e perdeu sua foracom a ascenso da Escola Prussiana a partir de 1848. Foram, talvez, seusherdeiros, Jacob Venedey e Friedrich Schulz, que eram, absolutamente,minoritrios na HZ.

    e) A escola sociocultural, de Karl Lamprecht, na Universidade de Leipzig,surgiu, no final do sculo XIX, mas s influenciou a historiografia alem no inciodo sculo XX (SCHORN-SCHTTE 1994). Sua emergncia, de certo modo,coincidiu com o esmorecimento das outras escolas e a morte de seus principaisexpoentes e representou uma reao hegemonia dos estudos histricos, emBerlim, ainda marcados pelo mtodo de Ranke. Opunha-se histria polticatradicional e reivindicava estudos voltados para a sociedade e a cultura.Lamprecht escreveu dois artigos para a Historische Zeitschrift: Der Ursprungdes Brgerthums und des stdtischen Lebens in Deutschland (Origem da

    burguesia e da vida nas cidades da Alemanha), de 1891 (n. 67), e ZumUnterschiede der lteren und jngeren Richtungen der Geschichtswissenschaft

    (Diferenas entre as direes antigas e recentes da historiografia), de 1896(n. 77).

    f) A escola histrico-econmica, de Gustav Schmoller era sediada primeiro,em Tbingen e, depois, em Estrasburgo. Tal escola no publicava, exatamente,na HZ, pois tinha sua prpria revista de histria social e econmica, que foi

  • criada em 1893, a Vierteljahrschrift fur Sozial und Wirschaftsgeshichte. Seusseguidores insurgiram-se contra o que chamaram de imperialismo da histriapoltica (BURKE 1989, pp. 12-13) Roscher, Knies e Hildebrand, anteriores aSchmoller, podem ser vistos como precursores da chamada escola historicista deeconomia, mas foi a criao da revista que disseminou melhor as ideias do grupo.

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    Em relao documentao utilizada, parecem predominar as pesquisasque utilizam fontes manuscritas, seguidas pelo recurso s fontes impressas alis, so muito numerosos os artigos baseados na anlise de obras publicadas e, por fim, existem, curiosamente, trs estudos baseados em fontes orais,todos eles investigando conflitos e amparados na anlise do relato feito pelossoldados sobre a sua participao em batalhas. Na figura 4, est relacionadoum perfil geral dos artigos, com destaque para o espao conferido teoria e metodologia da histria (15%) e historiografia (20%). Os demais artigossomaram 62%. Isso revela, de maneira irrefutvel, o interesse pela teoria dahistria e pelos estudos historiogrficos, que representavam pouco mais de umtero de toda a produo no perodo. Dessa forma, esses dados sinalizam opeso que tais campos tiveram para a historiografia alem. Se fossemacrescentados os levantamentos bibliogrficos existentes em cada nmero, nocmputo geral, certamente, essas duas reas, ao lado da histria recente daEuropa e da Alemanha, dariam a tnica da publicao. Explcitos, nesse sentido,so artigos como os de Wilhelm Giesebrecht, Die Entwicklung der modernendeutschen Geschichtswissenschaft (O desenvolvimento da historiografia), de1859 (n. 1), de Eduard Reimann, Die Tbinger historische Schule (A escola histricade Tbingen), de 1860 (n. 4), ou ainda o Zur Wrdigung von Rankes historischerKritik (Do apreo crtica histrica de Ranke), de Georg Waitz, de 1861 (n. 6).

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    Houve dificuldades na diviso dos campos da histria nos quais seriaminseridos os artigos publicados. Tal diviso est apresentada na figura 5. Comose tratava de uma cincia em construo, no havia uma definio dos domniosda histria histria poltica, social, econmica e cultural , embora, deve-sedestacar, que, nem mesmo hoje, h um consenso absoluto sobre essa diviso.De qualquer modo, uma primeira avaliao revelaria a histria poltica, semdvida, como a tnica da revista, com, aproximadamente, 45% dos artigospublicados. As biografias ocupam o segundo lugar, com 19%. Nesse item,incluem-se tambm os necrolgios feitos na ocasio da morte de ilustresrepresentantes da historiografia alem. So lapidares, por exemplo, o de GeorgGottfried Gervinus, redigido por Leopold von Ranke, em 1872 (n. 27), o deTreitschke, redigido por Friedrich Meinecke, em 1896 (n. 77), e os de GeorgWaitz e Leopold von Ranke, de autoria de Heinrich von Sybel e publicados em1886 (n. 52). Depois, aparecem os trabalhos sobre teoria e metodologia dahistria, com 15%, que so seguidos pelas memrias (11%). Nesta rubrica,foram reunidas as publicaes das cartas e dos dirios, mas tambm os textosque tratavam das memrias de algum personagem, ou seja, que reproduziamfragmentos de suas lembranas, acompanhadas da anlise sobre o seu contedo,no configurando, portanto, estudos biogrficos. Em alguns casos, essasmemrias eram autobiogrficas como, por exemplo, as de Ranke, de Droysene de Georg Petz, presentes no primeiro nmero da revista. A histria da culturaocupa 5% do total de textos publicados e, por ltimo, encontram-se algunsestudos de histria social. Percebe-se, assim, que esses dois domnios erampouco apreciados, mas foram referidos na revista. Como exemplos dessasreas, h o artigo publicado, em 1900, por Julius Beloch, e intitulado Der Verfallder antiken Kultur (A decadncia da cultura antiga) (n. 84) e o de Wilhelm

  • Stieda, Aus der sozialen Geschichte Englands (Da histria social da Inglaterra),de 1885 (n. 53).

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    Na figura 6, os artigos foram divididos segundo sua vinculao s reasdo conhecimento, tomando, como referncia, os perodos histricos retratadose mantendo-se distintos daqueles pertencentes teoria e metodologia dahistria. A histria moderna ocupa o primeiro lugar com 30%, seguida pelahistria do sculo XIX, que surge com 29%, estando, portanto, praticamente,empatadas como duas predilees nos estudos histricos alemes. Juntas, asduas perfazem 59% da produo, ou seja, deram o tom para a HZ, o queconfirma a tendncia do peridico, tal como havia sido expressa no primeiroeditorial, de Sybel, em 1859, no qual ele revela:

    Este peridico busca, acima de tudo, ser cientfico [...]. Em sua base,planteia-se uma revista histrica, no de antiqurios ou de diplomtica[...]. Devemos, de maneira geral, devotar mais espao para a histriamoderna do que para perodos anteriores e mais para a Alemanha do quepara a histria estrangeira (HZ 1859, pp.1-2).

    Destacam-se os inmeros artigos sobre batalhas e guerras como a dosSeis Anos ou a dos Trinta Anos, mas tambm sobre o que seria uma histria dotempo presente. Lapidares a esse respeito so, por exemplo, os textos de J. C.Bluntschli, Histria recente da Itlia at 1848, de 1859 (n. 2); de FriedrichMeinecke, Ideias e lembranas de Bismarck, de 1899 (n. 82) e de Max Lehmann,A guerra de 1870 at a incluso de Metz segundo fontes francesas, de 1873

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    (n. 29). Outra rea, j apontada como uma das prediletas, a teoria da histria,recebeu 15% do total de artigos. Sobressaem-se, nesse grupo, a publicaoda conferncia de Humboldt ber die Aufgabe des Geschichtschreibers (A tarefado historiador) feita por Louis Erhardt em 1886 na HZ n.55, o texto de MaxLenz, Lamprechts Deutsche Geschichte (A histria alem de Lamprecht), de1896 (n. 77), o artigo de Elimar Klebs Eine franzsische Geschichtstheorie(Uma teoria histrica francesa), de 1897 (n. 78) e ainda Die neue historischeMethode (O novo mtodo histrico), de Georg von Below, de 1898 (n. 81). Porfim, vm empatados os estudos de histria antiga e de histria medieval, com10% cada.

    Na figura 7, possvel detectar as temticas preferidas pelos historiadoresque publicaram na Historische Zeitschrift durante o oitocentos. Tal comosugerem alguns intrpretes e reconhecem muitos daqueles historiadores, boaparte dos trabalhos (34%) so sobre o que se convencionou chamar dehistrias nacionais versando sobre fatos, personagens e eventos dediferentes pases, em especial, germnicos , que ocupam um tero da revistano perodo analisado. Mas, no era, somente, a histria da Alemanha. Tratavamtambm da histria da Inglaterra, da Frana, da Islndia, da Espanha, etc. Emseguida, vm os textos sobre o pensamento de alguns autores, reunidos sob ottulo de histria das ideias (13%), com artigos variados sobre o pensamentode Schleirmacher, de Sneca, de Macaulay, de Gizot, de Leibniz, de Frederico II,de von Stein, de Maquiavel, de Lessing, dentre outros. H, por exemplo, oartigo de Franz Wegele sobre Tocqueville, de 1868 (n. 20), ou o que trata dasideias de Burckhardt, redigido por Carl Neumann, de 1900 (n. 85). Depois,surgem os estudos de historiografia (11%) como o de Karl Lamprecht,

  • Zum Unterschiede der lteren und jngeren Richtungen der

    Geschichtswissenschaft (Diferenas entre as direes antigas e recentes dahistoriografia), de 1896 (n. 77) e de histria da cultura (10%). Nessa rubrica,por exemplo, h artigo de Karl Stark Das Heidelberger Schlo in seiner kunst-und culturgeschichtlichen Bedeutung (O castelo de Heidelberg e sua importncia

    para histria da arte e da cultura), de 1861 (n. 6). Logo depois, aparecem osestudos de histria das religies (7%), com muitos artigos relacionados Igrejamedieval, Reforma e Contrarreforma. A histria diplomtica recebeu oequivalente a 6% dos artigos, tal como o de Adolf Wohlwill, Zur Geschichte derdiplomatischen Beziehungen zwischen Preuen und Frankreich (Da histria das

    relaes diplomticas entre a Prssia e a Frana), de 1889 (n. 62). Mais atrs,h artigos sobre metodologia, sobre epistolografia e sobre histria militar, queperfazem, respectivamente, 4% cada. Por fim, a histria do direito ocupa umafatia pequena, com apenas 2%, o que indica a sua pouca expresso junto revista. Dentre esses artigos, h o de Carl von Hegel, filho do filsofo GeorgWilhelm Hegel, intitulado Ein italienisches Stadtrecht des Mittelalters (Um direitode Estado italiano na Idade Mdia), de 1897 (n. 79).

    No resta dvida que a Historische Zeitschrift tenha privilegiado a histriapoltica alem, em um sentido mais restrito, bem como publicado muitos artigosdevotados histria recente, deixando entrever seu envolvimento com osproblemas de sua poca. No entanto, a poltica estava na ordem do dia, demodo que aqueles historiadores no tinham como se furtar ao tema (GUILLAND2006). Os constantes conflitos em torno da questo dos ducados, a guerraFranco-prussiana ou ainda as reformas de Bismarck mantiveram as questespolticas como um ncleo de preocupaes mais centrais naquele contexto.Isso sem contar o calor das tenses verificadas em outros pases europeus.Afinal, o sculo XIX pode ser identificado, sem nenhum engano, como umperodo de tenso permanente, uma era de revolues (HOBSBAWM 1996).

    preciso ressaltar que se reconhece a necessidade de maiores estudosem torno da revista e de seu contedo, que foram, aqui, rapidamente,analisados, bem como a necessidade de se investigar as referncias feitas,dentro dos prprios artigos, para se mapear, com maior propriedade, asorientaes historiogrficas presentes. Estas, em geral, so simpticas aohistoricismo e ao campo da histria poltica sendo, por conseguinte, refratriasa outras tendncias ou a outros recortes, algo perceptvel desde sua origemat o veto, imposto por Friedrich Meinecke, s ideias de Karl Lamprecht e dasua Escola de Leipzig (cf. SCHORN-SCHTTE 1994). Pode-se dizer que oprestgio da Historische Zeitschrift foi proporcional s polmicas historiogrficasque suscitou e que acolheu. No raro, veem-se rplicas e trplicas em suaspginas. Esse esprito se manteve, durante todo o sculo XIX, e se ampliou, nosculo XX, pois no menos conturbada foi sua trajetria, durante o nazismo eaps a Segunda Guerra Mundial. Nesse perodo, embora os editores Dehio e,depois, Schieder no tenham sido, explicitamente, defensores da administraode Hitler, foram demasiado tolerantes com o regime. Como se v, as revistas

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    histricas podem ser instrumentos valiosos, no somente, para se reconhecerconfiguraes historiogrficas presentes em diferentes contextos no passado,como tambm expressam, inequivocamente, as inquietaes dos historiadoresno seu presente. Seja como fontes ou como objetos de investigao, elaspermitem aos estudiosos identificar instncias decisivas da operaohistoriogrfica em frutferos encontros com a escrita da histria.

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