HILSDORF Hist Educ Bras Cap 2 as Reformas Pombalinas

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    ColegiodosNobres.segundogravurapublicadanoJamal deBellasAries ou Mnem6sineLusitana.nOXXVI, noanode 1817.

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  • As REFORMAS POMBALINAS

    1. NossoPontodeVista

    A identidadedepropositose interessesentrea Coroaportuguesae a CompanhiadeJesus,quetinhasustentadoaa9aodosjesuitasdesdeosmeadosdoseculoXVI,desmancha-seemmeadosdoseculoXVIII, quandoosjesuitaspassamaserrecu-sadospelaparcelailustradadasociedadeportuguesa,tantocomogruporeligiosoquantocomocolonizadoreseeducadores.QuandoaIlustra9aotorna-seamentalidadedominantecomasubidadePombaleseugrupode"estrangeirados"aopoder,em1750,ocorreaexpulsaodosjesuitase,noambitodaeduca9aoescolar,areformula9aodosistemadeensinodametropoleedascolonias.

    IssosignificaquevamosolharaescolabrasileiracolonialdasegundametadedoseculoXVIII naocomournprodutoreativo- "0 preenchimentodeurnvazioprovocadopelaexpulsaodosjesuitas",comodizgeralmenteabibliografia-, mascomomanifesta9aodacrisedoAntigoRegimeportuguesedoencaminhamentointencionalqueaeladeuPombalnoambitodoAbsolutismoIlustrado,comatrans-ferenciadocontroledaeduca9aoescolardaCompanhiadeJesuspara0 Estadoportugues.Essaperspectivaja esc1arece,poroutrolado,queestamosdiantedeurnmovimentoreformista,comobemevidenciouLaerteRamosdeCarvalhonoseutrabalhopioneiroAsReformasPombalinasdalnstrur;iioPublica:0AbsolutismoIlustrado,ouDespotismoEsclarecido,ternurnalcancemaisrestritoque0liberalismopolitico,estesimaconseqiienciamaisradical,maisrevolucionaria,aheran9amaisgenuinadaIlustra9ao.Alias,podeserapontadaumacorrela9aointeressanteentremaiorenfasenaspraticasilustradasemenoresconquistaspoliticasevice-versa.IssonosajudaaentenderaRevolu9aoFrancesadeurnladoe,deoutro,asmonarquias

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  • rHistorio do Educo
  • Capitulo2: As ReformasPombalinas

    nocampocultural.ElasseraodesenvolvidasporPombalparacompletarasubstitui9aodo"Estadodaespadaedacruz"doseculoXVI, cujaestruturasocialestamentaleradominadapelanobrezaconquistadoraepeloclero,emantersobcontrole0"Estadodaindustriaedocomercio",dominadopelaburguesiamercantildesdeosmeadosdoseculoXVIII. Osjesuitasestaraonocentrodosdebatesdesseprojetodereconfigu-ra9aoporquetinham,comodizFalcon,posi9aosobranceiranaesferaeclesiasticaequasemonop6lionaesferaculturaleeducacional:redefinindo0campodea9aodoEstadonosentidodeassumiraadministra9ao,ajusti9a,aassistenciaeaeduca9ao,ogovernoilustradodePombalvaipraticarurnantijesuitismoviolento,identificadocomo"alutaemproldaafirma9aodeumaautoridadereal,civil, laica,sobreumaautoridadeeclesiasticaquevieraateentaomantendoeampliandosuainfluenciaeseucontrole(on)sobreasociedadee0Estado"}

    2.1 A lIustrac;aoemPortugal

    EmPortugal,0aparecimentodasmarcasilustradaspodeserpercebidojanaprimeirametadedoseculoXVIII, acompanhando0queaconteceuemoutroslugares,poisa"ondailuminista"europeiasedeuentre1740e 1770.Entre1700-50,alias,Portugalvivenciaurnperiodosingular,emquecoexistemduasdiacronias:0AntigoRegimee,aomesmotempo,asuacontesta9aopelosprimordiosdopensamentoilustrado.Ouseja,Portugalexperiencia,simultaneamente,0esplendorbarrocodacortedeD.JoaoV (quereinouentre1706e 1750)e0rompimentocom0barrocorealizadopelosneoclassicosilustrados,quevaosetornardominantesnoreinadodeD.JoseI (quereinouentre1750e1777).Sustentadopeloafluxoauriferoprovenientedacolania(1699-1760),0reinadodeD.JoaoV foimarcadopeloterrorismoinquisitorial,pelosexcessos,pelavidadefantasiasimbolizadanahiperbolebarroca.Ao mesmotempo,osadeptosdasnovascorrentesdeideiassecularesemodernas,conhecidoscomo"estrangeirados"peloscontatoseadesaoquetinhamcoma culturailustradadeoutrospaiseseuropeus,exibiamurnestagiomentaldenecessidadedemudan9asedeapegoaoreal,visceralmentehostilaoprovincianismoculturalepoliticoeaodominiodopensamentojesuitico-tomista,eadeptodopadraoesteticoclaroeracionaldoneoclassicismo.

    EssavertenteilustradaapareceemPortugal,segundoFalcon,natrilhaabertapelaa9aodediversosgrupos,inclusivedaaristocracia,0querefor9aacoloca9aohistoriograficam~isatualdequeaIlustra9aonaofoiurnmovimentoapenasburgues,

    A Epoca Pombalina, pp. 424-5. Nessa obra Falcon nao fala especificamente sobre 0 conflito mercantil entre a Coroa

    e os jesuftas missionarios no Brasil, mas ao tratar a epoca pombalina como uma conjuntura hist6rica que articula

    tr6s elementos, a problematica iberica, 0 movimento ilustrado e 0 mercantilismo, deixa claro 0 caniter mercantil e os

    interesses economicos do governo pombalino no conflito com os jesuitas.

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  • Historiada Educa
  • Capitulo2: As ReformasPombalinas

    controladopelaCoroaemescolassuperioresqueformassemaseliteseconomicasesociais.Apoiandoaa9aoreformadoradePombal,vaiinfluenchi-Ionoqueconcerneaoensinodamedicinaedascienciasnaturais.

    3. As ReformasPombalinasda Instru~aoPublica

    3.1 Os estudosmenores

    DeconformidadecomosprincipiosdoAbsolutismoIlustrado,Pombalvaieditar,desdemeadosdadecadade1750,urnconjuntodemedidas2paraafastarosjesuitasdeseuscargosnascupulasadministrativaeec1esiasticadoreinoeinstituirnovas

    Cronologiadas reformaspombalinas:

    21/09/1757 - Jesuitas dispensados do cargo de confessores da familia real.08/02/1758-Idem encargosdasaulasde Lisboa.

    07/06/1758-Idem confessoresdacupulaeclesiasticade Lisboa.

    17/08/1758-Idem dadirecaodasescolasdosaldeamentosdo Para e Maranhao.

    19/01/1759- Reclusaoe sequestrodosbensdosjesuitasdeLisboa.05/02/1759- Fechamentodeseteescolaselementaresde Lisboa.

    19/05/1759- CriacaodaAuladeComercio.

    28/06/1759- Fechamentodoscohf!giosdosjesuitasecriacaodasaulasavulsasdegramaticalatina/grega/hebraica.ret6ricaefilosofia.

    06/07/1759-Indicacao do Diretor-GeraldosEstudose determinacaodosconcursosparaprofessores.

    29/07/1759- Editaldo primeiroconcurso.03/09/1759- Expulsaogeraldosjesuitas.

    08/11/1759-lnstrur;:6esparaos professoresdeaulassecundarias.

    20/12/1759- Proibicaodo usodos livrosdosjesultas.

    11/01/1760- Regulamentacaodosconcursos.

    25/02/1761- Desapropriacaodosbensdosjesuitas.

    07/03/1761- TransformacaodoCohf!giodasArtesemColegiodosNobres.

    02/04/1762- CriacaodeAuladeArtilhariaemS. Juliao da Barra.

    05/04/1768- Criacaoda RealMesaCensoria.

    30/09/1770- Determinacaodoestudodegramaticaportuguesanasaulasdegramaticalatina.

    23/12/1770- CriacaodaJunta da Provid~nciaLiteraria.

    04/06/1771- Atribuicaodosestudosmenoresa RealMesaCensoria.

    22/05/1772- Diretrizespara0 estudodogrego.

    08/08/1772- AprovacaodosnovosEstatutosda Universidade.

    18/08/1772- CriacaodoColegioRealde Mafra.28/08/1772- PublicaCiiodosnovosestatutosda UniversidadedeCoimbra.

    06/11/1772- lei e Mapadosestudosmenorese Instrur;:6esaos professores.

    10/11/1772- Criacaodo SubsidioLiterario.

    04/09/1773-lnstruc6es sobre0 Subsidio.

    17/10/1773-Idem para0 Brasil.

    11/11/1773- Criacaodenovasaulasavulsase regulamentacaodoensinoparticular.

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  • Historio do Educo
  • Capitulo2: As ReformasPombalinas

    PereiradeFigueiredo,de1752).Aparecemtambemasobrasselecionadasdeautoreslatinosegregos(porexemplo,aSeletaLatina,dePierreChompre,emseisvolumes,de1752-61,eaSeletaGrega,deCustodiodeOliveira,de1773-76),queofereciamexcertosselecionadosegraduadosemsubstituic;aoaspniticasdeselerdiretamente..osautoreschissicos,comosefazianoscolegiosjesuitas.Nasaulasdefilosofiausam-setextosdeVerney,Genovesieoutrosdivulgadoresdometodocientifico-indutivo,fazendoda"filosofianatural",istoe,dafisica,adisciplinacentraldocurso,nolugardamoralpniticaou"lic;aodecasosdeconsciencia",queeraadisciplinacentraldocurriculofilosoficodosjesuitas.

    Nocasodasaulaselementaresparameninos,criadasem1772,alemdaortografia,dagramaticadalinguanacionaledadoutrinacrista,seusprofessoresdeveriamensinarahistoriapcitria(enaoapenasahistoriasagrada,comoerapraxe),aaritmeticaaplicadaaoestudodemoedas,pesos,medidasefrac;oese,ainda,asnormasdecivilidade,vi-sandoaformac;aodohomempolido,istoe,civilizado,"ordenado"segundooscostumessociais,comoeradeusoemcolegioseescolasdetodaaEuropa.Paraaslic;oesdedou-trinacristafoiimpresso0CatecismodadiocesedeMontpellier,traduzidopeloBispodeEvora(1765),texto,alias,condenadoporRomasobaacusac;aodejansenismo,masque,tendoumaorientac;aoregalista,eraamplamenteaceitonoperiodopombalino.

    Aindaemrelac;aoasistematizac;aodoensinodenivelelementaresecundario"6tilaosfinsdoEstado",reivindicadopelos"estrangeirados"ilustrados,Pombalcria,em19/5/1759,umaAuladeComercioparaformar0"perfeitonegociante",queensinava,entreoutrasdisciplinas,caligrafia,contabilidade,escritura~aocomercialelinguasmo-dernas.Em7/3/1761reforma0ColegiodasArtesdeCoimbra,quedavaacessoaoscur-sosdaUniversidadeeeracontroladopelosjesuitas,transformando-oemColegiodosNobres,comurncurriculoenciclopedicodedisciplinasclassicasecientificas,regidasporprofessoresitalianos.4Em18/8/1772institui0ColegiodeMafraparaosplebeus.

    o montanteinicialdasaulasregiasavulsaselementaresesecundarias- istoe,deestudosmenores- foidetalhado,paratodo0imperioportugues,naLei enoMapade6/11/1772:0Brasilcomec;avacom44aulasregias,sendo17deprimeirasletras,15degramaticalatina,seisderetorica,tresdegramaticagregaetresdefilosofia.5

    Pombal evitava as amea

  • Historiodo Educoc;aoBrasileira

    A expansaodaredeseriafinanciadapeloSubsidioLitenirio,impostocriadoporLeide10/11/1772.No Brasilcobrava-se1realemcadaarrateldecarneverdecortada

    nosaouguese 10reisemcadacanadadepingadestiladanosengenhos.Paraqueo dinheirofosseaplicadosegundo0previsto,Pombalcriouurnfundoespecificopara0SubsidioLitenirio,evitandoqueosrecursos"desaparecessem"nascontasdoEnirioRegio.

    3.2 Os estudosmaiores

    Atendendoaoqueerareivindicadopelos"estrangeirados"ilustrados,quefalavamdanecessidadedoEstadoportuguespodercontarcomumaelite(aristocraciaebur-guesia)bempreparadacomobasedamodernizaaopretendida,PombalreformulouinteiramenteaUniversidadedeCoimbra,tantonasuaestruturaquantonasuaorien-taao.Emfinsde1770,elecriouumacomissao- aJuntadaProvidenciaLiteniria-,incumbidaderedigirnovosestatutos.Estesaparecema28/8/1772,dandoumanovaorganizaaoaUniversidade,reestruturadaparapoderproduzireensinarascienciasmodernas.NaFaculdadedeTeologia,houveasubstituiaodoestudodareligiaoedamoralreveladaspelodareligiaonatural,propostapelospensadoresiluministas;naFaculdadedeDireito,asubstituiaododireitocanonico,daIgreja,pelo"direitonaturalepublicodasgentes",istoe,0jurisnaturalismo,0direitocivil- quelevaemcontaahistoria,acriticaeahermeneuticanotratamentodasquestoesjuridicas- equevinhasendoformuladopelosteoricosdesdemeadosdoseculoanterior;naMe-dicina,avalorizaaodometodoexperimentaledamatematica,ouseja,0tratamentoquantificadodosfenomepos,comasubstituiaodosestudosbaseadosemcompendiosporexerciciospraticos,demonstraoes,usodelabpratorios,gabinetescientificos,museus,jardinsbotanicosebioterios.

    ForamcriadasaindaumaFaculdadedeMatematicaeumaFaculdadedeFilo-

    sofia,para0estudodascienciasexatasenaturais,emqueeramutilizados,nolugardeAristoteles,osautoresmodernoscomoLineu,paraHistoriaNatural,Genovesi(divulgadordeBacon,LockeeVerney)paralogicaefilosofiadasciencias,Brockparafisicaexperimental,eoutros.

    3.3 A cienciapombalina

    EssasmedidastomadasporPombalindicamurnrompimentocom0 humanismoaristotelico-tomistavigente,emvirtudedatradiaojesuitica,e,aadoaodateoriaempiristadoconhecimentoedometodoindutivo-experimental.No entantoautorescomoAntonioPaimeAdolphoGrippaconsideramque0 empirismoestudadonaCoimbrareformada,porestarbaseadonaonospropriosfilosofos,masemdivulgado-

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  • Capitulo2: As ReformasPombalinas

    resecomentadorescomoGenovesi,HeinetiuseVerneyesersubmetidopreviamenteacensuraecontroledaRealMesaCensoria(criadaem1768),emaisurnempirismomitigado,quaseurnecletismoentreautoresantigos,medievaisemodernosdoquepropriamenteurnensinoprofundodafilosofiaedacienciamodernas.EssaetambemaposiyaodeFalcon,quenosalertaparanaoseesperardareformapombalinanadaderevoluciomirionalinhadosensinamentospoliticosesociaisdeautorescontempora-neos,comoRousseau,MablyeGodwin.

    ParaLaerteRamosdeCarvalhoeavertentecristaecatolica,nao-jesuitica,doiluminismoitaliano,modeladoporMuratorieGenovesi,quefoiapropriadaepostaemcirculayiiopelailustrayaopombalina:noseuestudosobreAsReformasPomba-linasdaInstrUl;iioPublica,eledestaca,citandoCabraldeMoncada,aorientayaoreformista,nacionalista,humanista,crista,catolica(masantijesuitica)epedagogicadoiluminismoportugues.

    Outracaracteristicaapontadapeloshistoriadoresequeamentalidadecientificaqueprevaleceemenosadainvestigayaoteoricaqueadosaberaplicado.EssavisaoinsereacienciapombalinapraticadanaUniversidadedeCoimbrareformadanalinhadacienciailustradapragmaticaeoperativa.ConcordamoscomFalconquandodiz(Iluminismo,p.65):

    No horizontedornovirnentoilustrado,asideiasemsirnesrnas,apenasen-

    quantoideias,istoe,abstra90esintelectuais,divorciadasdeurnapniticatransforrnadoraternrnuitopoucairnportiincia.As ideiasapenasternrazaodeser,paraosilurninistas,conforrneobjetivarna90esquernodifiquernarealidadeexistente.Talpragrnatisrno,freqiienternentecoloridodeutopisrno,aindahojeespantaurnpoucoosadeptosdopensarnentopuro.Mas,assirnerarnos"fiI6sofos".

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