Hall (1997)

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    1/8

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    2/8

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    3/8

    1

    Excerto de HALL, Stuart. (Org.) Representation: cultural representations and signifying

    practices. Londres: Sage Publications, 1997.

    Introdução

    Todos os capítulos neste volume lidam, de formas diferentes, com a questão da

    representação. Essa é uma das práticas centrais que produzem cultura e um “momento chave”

    no que tem sido chamado de “circuito da cultura”. Mas o que representação tem a ver com“cultura”? Qual a conexão entre elas? Colocando de forma simples, cultura diz respeito a

    “significados compartilhados”. Assim, a língua é o meio privilegiado pelo qual fazemos com que

    as coisas “façam sentido”, meio no qual o sentido é produzido e negociado. Os significados só

    podem ser compartilhados por meio do nosso acesso comum à língua. Portanto, a língua é

    central para o significado e para a cultura e tem sempre sido considerada um repositório-chave

    de valores e significados culturais.

    Mas como a língua constrói significados? Como ela sustenta o diálogo entre participantes,

    o que os permite construir uma cultura de compreensões compartilhadas e, assim, interpretar

    o mundo mais ou menos da mesma forma? A língua é capaz de fazer isso porque ela opera como

    um sistema representacional. Na língua, usamos signos e símbolos – sejam eles sons, palavras

    escritas, imagens produzidas eletronicamente, notas musicais ou mesmo objetos – para

    substituir ou mesmo representar, para outras pessoas, nossos conceitos, ideias e sentimentos.

    A língua é uma das “mídias” pelas quais pensamentos, ideias e sentimentos são representados

    em uma cultura. A representação pela língua é, portanto, central no processo de produção de

    sentido. Essa é a ideia básica que permeia todos os seis capítulos neste livro. Cada capítulo

    examina “a produção e circulação do significado por meio da língua”, de variadas formas, emrelação a exemplos diferentes e distintas áreas da prática social. Juntos, esses capítulos fazem

    avançar e desenvolvem nossa compreensão sobre como a representação efetivamente

     funciona. 

    “Cultura” é um dos conceitos mais difíceis nas ciências humanas e nas ciências sociais, e

    há muitas formas de defini-la. Nas definições mais tradicionais do termo, considera-se cultura o

    conjunto do que de “melhor é pensado e dito” em uma sociedade. É a soma das grandes ideias,

    tal como representadas nos grandes trabalhos de literatura, pintura, música e filosofia – a alta

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    4/8

    2

    cultura de uma época. Nessa mesma linha de referência, mas mais “moderna” em suas

    associações, está o uso de “cultura” para se referir às formas populares amplamente

    disseminadas de música, publicações, arte, design e literatura, ou as atividades de tempo livre e

    entretenimento, que compõem a vida cotidiana da “população comum” – o que é chamado de

    cultura de massa ou “cultura popular” de uma época. Alta cultura versus cultura popular foi, por

    muitos anos, o jeito clássico de enquadrar o debate sobre cultura – cujos termos carregam uma

    poderosa carga avaliativa (grosso modo, alto = bom; popular = depreciada). Nos últimos anos, enum contexto mais próximo das ciências sociais, a palavra “cultura” é usada para se referir a

    tudo que for distintivo a respeito de um “modo de vida” de um povo, comunidade, nação ou

    grupo social. Isso ficou conhecido como a definição antropológica do termo. De forma

    alternativa, a palavra pode ser usada para descrever os “valores compartilhados” de um grupo

    ou de uma sociedade – o que é parecido com a definição antropológica, mas com uma ênfase

    mais sociológica. Você encontrará traços de todos esses sentidos em algum lugar deste livro.

    Contudo, como o título sugere, “cultura” é geralmente empregada nesses capítulos de uma

    forma um pouco diferente, mais especializada.

    O que veio a ser chamado de “virada cultural” nas ciências humanas e sociais,

    especialmente nos estudos culturais e na sociologia cultural, tende a enfatizar a importância do

    significado para a definição de cultura. Cultura, argumenta-se, não é apenas um conjunto de

    coisas – romances e pinturas ou programas de TV e gibis – mas um processo, um conjunto de

     práticas. Primeiramente, a cultura está relacionada com a produção e troca de significados – o

    dar e criar sentidos – entre os membros de uma sociedade ou grupo. Dizer que duas pessoas

    fazem parte da mesma cultura é dizer que elas interpretam o mundo mais ou menos da mesma

    forma e podem se expressar e expressar seus pensamentos e sentimentos a respeito do mundo

    e serem entendidos um pelo outro. Assim, a cultura depende da interpretação significativa do

    que está acontecendo ao redor dos participantes e do “fazer sentido” do mundo de maneira

    similar.

    Esse foco em “sentidos compartilhados” pode às vezes fazer com que a cultura soe muito

    unitária ou cognitiva. Em qualquer cultura, há sempre uma grande diversidade de significadossobre qualquer tópico e mais de uma forma de interpretá-lo ou representá-lo. Além disso,

    cultura diz respeito a sentimentos, pertencimento e emoções, bem como a conceitos e ideias. A

    expressão no meu rosto “diz algo” sobre quem eu sou (identidade) e o que estou sentindo

    (emoções) e com qual grupo me identifico (pertencimento), o que pode ser “lido” e entendido

    por outras pessoas, mesmo que eu não pretenda deliberadamente comunicar algo tão formal

    como “uma mensagem” e mesma que a outra pessoa não consiga descrever logicamente como

    ela entende o que eu estava “dizendo”. Acima de tudo, os sentidos culturais não estão apenas

    na “nossa cabeça”. Eles organizam e regulam as práticas sociais, influenciam nossa conduta e,

    consequentemente, têm efeitos reais e práticos.

    A ênfase em práticas sociais é importante. São os participantes de uma cultura que dão

    sentido a pessoas, objetos e eventos. As coisas em si mesmas raramente têm um sentido fixo,único e inalterável (se é que têm algum). Até mesmo algo óbvio como uma pedra pode ser uma

    pedra, um marcador de fronteiras, ou uma escultura, dependendo do que ela significa – isto é,

    dentro de um certo contexto de uso, dentro do que os filósofos chamam de “jogos de

    linguagem” (ou seja, a linguagem das demarcações territoriais, a linguagem das esculturas e

    assim por diante). É pelo nosso uso das coisas e pelo que dizemos, pensamos e sentimos sobre

    elas – como as representamos – que damos a elas significado. Em parte, damos significado a

    objetos, pessoas e eventos pelas estruturas de interpretação que atribuímos a eles. Em parte,

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    5/8

    3

    damos sentido às coisas pela forma como as utilizamos ou as integramos em nossas práticas

    cotidianas. É nosso uso de uma pilha de tijolos e cimento que faz deles uma “casa”; e o que

    sentimos, pensamos ou dizemos sobre ela que faz de uma “casa” um “lar”. Em parte, damos

    sentido às coisas pelas formas como as representamos – as palavras que usamos a respeito

    delas, as histórias que contamos sobre elas, as imagens que produzimos sobre elas, as formas

    como as classificamos e conceitualizamos, os valores que atribuímos a elas. A cultura,

    poderíamos dizer, está envolvida em todas aquelas práticas que não estão geneticamenteprogramadas em nós – como a contração de um joelho quando se bate nele – mas que carregam

    sentido e valores para nós, que precisam ser interpretadas por outros, ou que dependem de

    significado para operarem efetivamente. A cultura, nesse sentido, permeia toda a sociedade. É

    o que distingue o elemento “humano” na vida social daquilo que é simplesmente

    biologicamente motivado. Ao seu estudo, subjaz o papel crucial do domínio simbólico no cerne

    mesmo da vida social.

    Onde o sentido é produzido? Nosso “circuito da cultura” sugere que, na verdade, os

    sentidos são produzidos em vários lugares diferentes e circulam em vários processos e práticas

    diferentes (o circuito cultural). O significado é o que nos dá o sentido de nossa própria

    identidade, de quem somos e a que “pertencemos” – estando ligado à questão de como nossa

    cultura é usada para marcar e manter identidade e diferença entre grupos. O sentido é

    constantemente produzido e trocado em toda interação pessoal e social de que participamos.

    Nesse sentido, esse é o lugar mais privilegiado, ainda que o mais negligenciado, de cultura e

    significado. Ele também é produzido em uma variedade de mídias, especialmente, hoje em dia,

    na moderna mídia de massa, o meio de comunicação global, por tecnologias complexas, que

    fazem circular sentidos entre diferentes culturas numa escala e numa velocidade até aqui

    desconhecida na história. O sentido também é produzido toda vez que nos expressamos por

    meio de “coisas” culturais, fazemos uso, consumimos ou nos apropriamos delas. Ou seja,

    quando as incorporamos de diferentes formas nos rituais do dia a dia e nas práticas da vida

    cotidiana, dando a elas, assim, valor ou significado. Ou quando tecemos narrativas, histórias – e

    fantasias – sobre elas. Os sentidos também regulam e organizam nossa conduta e nossas

    práticas – eles ajudam a estabelecer as regras, normas e convenções através das quais a vidasocial é ordenada e governada. São também, portanto, o que aqueles que desejam governar e

    regular a conduta e as ideias dos outros procuram estruturar ou formar. Em outras palavras, a

    questão do significado é levantada em todos  os momentos ou práticas no nosso “circuito

    cultural” – na construção de identidade e diferença, na produção e no consumo, bem como na

    regulação da conduta social. Contudo, em todas essas instâncias e em todos esses lugares

    institucionais, uma das “mídias” privilegiadas pela qual o significado é produzido e circula é a

    língua.

    Assim, neste livro, no qual analisamos em profundidade o primeiro elemento do nosso

    “circuito da cultura”, começamos com essa questão de significado, linguagem e representação.

    Membros de uma mesma cultura devem compartilhar conjuntos de conceitos, imagens e ideias,

    os quais permitirão pensar e sentir o mundo, assim interpretando-o, mais ou menos da mesma

    forma. Eles devem compartilhar, grosso modo, os mesmos “códigos culturais”. Nesse sentido,

    pensar e sentir são, por si só, “sistemas de representação”, nos quais nossos conceitos, imagens

    e emoções “substituem” ou representam, em nossa vida mental, coisas que existem ou que

    podem existir no mundo. De forma similar, para comunicar   esses significados para outras

    pessoas, os participantes de qualquer troca linguística significativa precisam também ser

    capazes de usar os mesmos códigos linguísticos – eles precisam, num sentido muito amplo,

    “falar a mesma língua”. Isso não significa que todos devem, literalmente, falar alemão, francês

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    6/8

    4

    ou chinês, nem que precisam entender perfeitamente o que alguém diz na mesma língua que

    falam. Referimo-nos à “língua” aqui num sentido muito mais amplo. Nossos parceiros devem

    falar o suficiente da mesma língua para serem capazes de “traduzir” o que “você” diz no que

    “eu” entendo e vice-versa. Eles também precisam ler imagens visuais mais ou menos da mesma

    forma. Precisam estar familiarizados, em termos gerais, com os mesmos modos de produzir sons

    para fazer o que ambos reconhecem como “música”. Precisam interpretar a linguagem corporal

    e as expressões faciais de forma semelhante. E precisam saber como traduzir seus sentimentose ideias nessas várias linguagens. O sentido é um diálogo – sempre apenas parcialmente

    entendido, sempre uma troca desigual.

    Por que nos referimos a todas essas diferentes formas de produzir sentido como

    “linguagens” ou como “funcionando como linguagens”? Como as línguas funcionam? A resposta

    simples é que as línguas funcionam através da representação. São “sistemas de representação”.

    Essencialmente, podemos dizer que todas essas práticas “funcionam como linguagens” não

    porque todas são faladas ou escritas (o que não são), mas porque elas usam algum elemento

    que substitui ou representa o que queremos dizer, expressar ou comunicar, seja um

    pensamento, um conceito, uma ideia ou um sentimento. Línguas faladas usam sons, línguas

    escritas usam palavras, a linguagem musical usa notas em uma escala, a “linguagem corporal”

    usa gestos físicos, a indústria da moda usa itens de vestuário, a linguagem da expressão facial

    usa formas de arranjo das características pessoais, a televisão usa pontos digital ou

    eletronicamente produzidos em uma tela, as luzes de trânsito usam vermelho, verde e amarelo

    para “dizer algo”. Esses elementos – sons, palavras, notas, gestos, expressões, roupas – são

    parte de nosso mundo natural e material. Mas sua importância para a linguagem não está no

    que são, mas no que  fazem, na sua função. Eles constroem significado e o transmitem. Eles

    significam. Não têm nenhum sentido em si mesmos. Antes, são veículos ou meios que carregam

    significado porque operam como símbolos, que podem substituir ou representar (isto é,

    simbolizar) os significados que queremos comunicar. Para usar outra metáfora, funcionam como

    signos. Signos substituem ou representam nossos conceitos, ideias e sentimentos de forma a

    permitir que os outros “leiam”, decodifiquem ou interpretem seu significado mais ou menos da

    mesma forma que nós.

    A linguagem, nesse sentido, é uma prática de significação. Qualquer sistema

    representacional que funcione dessa forma pode ser considerado como se funcionasse, de

    forma geral, de acordo com os princípios de representação através da l íngua. Assim, a fotografia

    é um sistema de representação que usa imagens em um papel sensível à luz para comunicar

    sentidos fotográficos sobre uma pessoa, evento ou cena. A exibição ou amostra em um museu

    ou galeria também pode ser considerada “como uma língua”, já que expõe objetos para produzir

    certos significados sobre o assunto em questão na exibição. A música também é uma “espécie

    de língua”, na medida em que faz uso de notas musicais para comunicar sentimentos e ideias,

    mesmo que abstratos, e não se referem ao “mundo real” de nenhuma forma óbvia (a música

    tem sido chamada de “o maior barulho que comporta a menor informação”). Mas aparecer em

     jogos de futebol com faixas e gritos de guerra, com rostos e corpos pintados com certas cores

    ou inscritos com certos símbolos também pode ser considerado “como uma língua”, na medida

    em que é uma prática simbólica que dá significado ou expressão a uma ideia de pertencimento

    à cultura nacional ou identificação a uma comunidade local. Faz parte da linguagem da

    identidade nacional, um discurso de pertencimento nacional. A representação, aqui, está

    intimamente ligada tanto com identidade como com o conhecimento. De fato, é difícil saber o

    que “ser inglês” significa, ou o que significa ser francês, alemão, sul-africano ou japonês à parte 

    de todos os modos como pelos quais nossas ideias e imagens de identidade nacional ou cultura

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    7/8

    5

    nacional têm sido representadas. Sem esses sistemas de “significação”, não poderíamos nos

    apropriar de tais identidades (ou mesmo rejeitá-las) e, consequentemente, não poderíamos

    construir ou sustentar o “modo de vida” que chamamos de cultura.

    Assim, é pela cultura e pela língua nesse sentido  que a produção e circulação de

    significados acontece. A visão convencional costumava ser que as “coisas” existem no mundo

    material e natural; que suas características materiais ou naturais são o que as definem ou asconstituem, e que elas têm um sentido perfeitamente claro fora da forma como são

    representadas. A representação, nesse ponto de vista, é um processo de importância

    secundária, que entra em campo apenas depois que todas as coisas já tenham sido formadas e

    seu significado constituído. Mas desde a “virada cultural” nas ciências sociais e nas ciências

    humanas, considera-se que o sentido é  produzido  – construído, e não simplesmente

    “encontrado”. Consequentemente, no que tem sido chamado de “abordagem social

    construtivista”, a representação é concebida como uma entrada na própria constituição das

    coisas. E, assim, a cultura é conceituada como um processo primário ou “constitutivo”, tão

    importante quanto a “base” econômica ou o material na formatação de sujeitos sociais e

    eventos históricos – não meramente um reflexo do mundo depois do evento.

    A “língua”, portanto, propõe um modelo geral de como a cultura e a representaçãofuncionam, especialmente no que veio a ser conhecido como abordagem semiótica – sendo a  

    semiótica o estudo ou “ciência dos signos” e seu papel geral como veículos de significado numa

    cultura. (…)

    Logo descobrimos que o significado não é direto ou transparente e não sobrevive intacto

    à passagem pela representação. Ele é um cliente escorregadio, que muda com o contexto, uso

    e circunstâncias históricas. Nunca é, portanto, fixo. Está sempre adiando e se “esquivando” de

    seu encontro com a Verdade Absoluta. Está sempre sendo negociado e modulado para ressoar

    com novas situações. É frequentemente contestado e algumas vezes brigamos amargamente

    por ele. Há sempre diferentes circuitos de significado circulando em qualquer cultura ao mesmo

    tempo, sobrepondo-se em formações discursivas das quais nos valemos para criar significado

    ou expressar o que pensamos.

    Além disso, não temos uma relação direta, racional ou instrumental com o significado.

    Eles, os significados, mobilizam sentimentos e emoções poderosas, tanto positivas como

    negativas. Sentimos sua veia contraditória, sua ambivalência. Algumas vezes, eles colocam nossa

    própria identidade em questão. Nos debatemos com eles porque eles importam – e essas são

    lutas das quais grandes consequências podem surgir. Eles definem o que é “normal”, quem

    pertence – e, consequentemente, quem é excluído. Estão profundamente inscritos em relações

    de poder. Pense sobre como nossas vidas são profundamente formadas pelos sentidos que

    estão em jogo nos pares homem/mulher, preto/branco, rico/pobre, gay/hétero, jovem/velho,

    cidadão/estrangeiro. Os sentidos são comumente organizados em oposições binárias radicais

    ou opostos. Contudo, esses binários são constantemente minados à medida que asrepresentações interagem umas com as outras, são substituídas umas pelas outras, deslocando

    umas as outras em uma cadeia sem fim. (…) Quanto mais olhamos para esse processo de

    representação, mais complexo se torna descrevê-lo ou explicá-lo adequadamente. (…)

    A encarnação de conceitos, ideias e emoções em uma forma simbólica que pode ser

    transmitida e interpretada quanto a sua significação é o que entendemos como “práticas de

    representação”. O sentido precisa entrar no domínio dessas práticas se quiser circular

    efetivamente em uma cultura. E não se pode considerar que sua “passagem” ao longo do

  • 8/19/2019 Hall (1997)

    8/8

    6

    circuito cultural foi completada até que ele seja “decodificado” ou inteligivelmente recebido

    num outro ponto da corrente. A linguagem, assim, não é propriedade nem do emissor, nem do

    receptor dos significados: é o “espaço” cultural compartilhado em que a produção de sentidos

    através da linguagem – isto é, representação – acontece. O receptor das mensagens e

    significados não é uma tela passiva em que o sentido original é projetado acurada e

    transparentemente. A “tomada do significado” é uma prática de significação tanto quanto a

    “colocação em significado”. O falante e o ouvinte, ou o leitor e o escritor são participantes ativosnum processo que é sempre bilateral e interativo, já que frequentemente trocam de papeis. A

    representação funciona menos como um modelo de um transmissor de mão única e mais como

    um modelo de um diálogo – é, como se diz, dialógico. O que sustenta esse “diálogo” é a presença

    de código culturais compartilhados, que não podem garantir que os significados permaneçam

    sempre estáveis, mas tentar fixar um significado é exatamente a razão pela qual o  poder  

    intervém no discurso. Contudo, mesmo quando o poder está circulando através do significado e

    do conhecimento, os códigos só funcionam se forem até um certo ponto compartilhados, pelo

    menos até que tornem possível uma tradução efetiva entre falantes. Devemos talvez aprender

    a pensar sobre significado menos em termos de “acuidade” e “verdade” e mais em termos de

    trocas efetivas – um processo de tradução que facilita a comunicação cultural ao mesmo tempo

    que sempre reconhece a persistência da diferença e do poder entre diferentes falantes dentrodo mesmo circuito cultural.