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CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DA FLUÊNCIA NÃO-DRENADA Gilberto Ferreira Alexandre TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL. Aprovada por: ________________________________________________ Prof. Ian Schumann Marques Martins, D. Sc. ________________________________________________ Prof. Paulo Eduardo Lima de Santa Maria, Ph. D. ________________________________________________ Prof. Carlos de Sousa Pinto, D. Sc. ________________________________________________ Prof. Luiz Antônio Bressani, Ph. D. ________________________________________________ Prof. Sandro Salvador Sandroni, Ph. D. ________________________________________________ Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph. D. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JUNHO DE 2006

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CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DA FLUÊNCIA NÃO-DRENADA

Gilberto Ferreira Alexandre

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM CIÊNCIAS

EM ENGENHARIA CIVIL.

Aprovada por:

________________________________________________

Prof. Ian Schumann Marques Martins, D. Sc.

________________________________________________

Prof. Paulo Eduardo Lima de Santa Maria, Ph. D.

________________________________________________

Prof. Carlos de Sousa Pinto, D. Sc.

________________________________________________

Prof. Luiz Antônio Bressani, Ph. D.

________________________________________________

Prof. Sandro Salvador Sandroni, Ph. D.

________________________________________________

Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph. D.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JUNHO DE 2006

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ALEXANDRE, GILBERTO FERREIRA

Contribuição ao entendimento da fluência

não-drenada [Rio de Janeiro] 2006

XII, 167 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ,

D.Sc., Engenharia Civil, 2006)

Tese - Universidade Federal do Rio de

Janeiro, COPPE

1- Fluência 2- Viscosidade

I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

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iii

AGRADECIMENTOS Aos professores Ian Martins e Paulo Santa Maria por acreditarem neste trabalho,

pela amizade, confiança e pela orientação cuidadosa e segura.

A Petrobras, pelo contínuo incentivo ao desenvolvimento deste trabalho, quer

seja pela bolsa oferecida no início do doutorado pelo engenheiro Álvaro Maia da Costa,

quer seja pelo tempo a mim concedido enquanto funcionário do setor de Infra-Estrutura

Industrial e Suporte Corporativo (IESC) pelos gerentes Emmanuel Danilo Resende

Lemos e Ubirajara Ribeirinho Telles.

À minha esposa, Luciana, pelo incentivo pessoal, pela elaboração de parte das

figuras desta tese e por sua compreensão.

À minha irmã Rosana por sua ajuda na elaboração da grande maioria das figuras

desta tese

À Cláudia Pitombo, pela atenção e gentileza a mim dispensada nos inúmeros

finais de semana em que passei discutindo o assunto com o professor Ian, privando-a do

convívio de seu marido.

Ao professor Vaid pelo artigo gentilmente cedido, pelo interesse na pesquisa e

pela discussão acerca de minha tese, quando de minha estada em Vancouver em outubro

de 2004.

Aos funcionários e professores da COPPE/UFRJ que de uma forma ou de outra

contribuíram para minha formação.

A Deus por tudo.

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Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

CONTRIBUIÇÃO AO ENTENDIMENTO DA FLUÊNCIA NÃO-DRENADA

Gilberto Ferreira Alexandre

Junho/2006

Orientadores: Paulo Eduardo Lima de Santa Maria

Ian Schumann Marques Martins

Programa: Engenharia Civil

O principal objetivo desta tese é contribuir para o desenvolvimento do modelo

de comportamento de solos argilosos saturados proposto por Martins (1992).

A contribuição ao modelo seria explicar qualitativa e quantitativamente a

aceleração observada em ensaios de fluência não drenada para a argila sensível Haney,

estudada por Vaid e Campanella (1977). Para tanto foram desenvolvidos tratamentos

matemáticos analíticos e numéricos que possibilitaram a elaboração de previsões para

os ensaios de fluência não-drenada e carga constante constantes realizados por Vaid e

Campanella (1977).

A partir dos resultados apresentados conclui-se que a aceleração na fluência

pode, para este solo, ser considerada como decorrente da queda de resistência friccional

e conseqüente aumento da parcela viscosa.

Tem-se também como contribuições ao modelo de Martins (1992) a extensão

deste modelo aos solos sensíveis e a proposta de modificação onde o círculo de Mohr

das tensões efetivas é visto como a soma de dois outros círculos, cada um representando

o estado de tensões das duas parcelas de resistência, a friccional e a viscosa.

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Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfilment of the requirements

for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

CONTRIBUTION TO THE COMPREHENSION OF THE UNDRAINED CREEP

Gilberto Ferreira Alexandre

June/2006

Advisors: Paulo Eduardo Lima de Santa Maria

Ian Schumann Marques Martins

Department: Civil Engineering

The main objective of this thesis is to contribute to the development of the

model of behavior of saturated clayey soils as proposed by Martins (1992).

The contribution to the model would be to explain both qualitatively and

quantitatively the acceleration observed in undrained creep tests made in the sensitive

Haney clay, studied by Vaid and Campanella (1977). In order to achieve this goal,

analytical and numerical treatments were developed allowing to predict the undrained

creep and constant load tests performed by Vaid and Campanella (1977).

Taking into account the results of the predictions performed is concluded that

the acceleration during creep, for this soil, can be considered as due to the decrease in

friccional resistance and consequently the raise in viscous resistance.

Must also be pointed-out as contributions to the model proposed by Martins

(1992) the extension of this model to this sensitive clay and the modification in which

the Mohr circle of effective stress can be viewed as the sum of two other circles, each

one stating the state of stresses of each of the two parcels of the resistance, the friccional

and the viscous one.

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vi

ÍNDICE

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO Pág

1.1 - Considerações preliminares. 01

1.2 - Objetivo da tese. 02

1.3 - Ordenação dos capítulos. 02

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1- Discussão do Princípio das Tensões Efetivas. 03

2.2 - Visões de Terzaghi (1941), Taylor (1942), Taylor (1948) e Bjerrum

(1973)

05

2.3 - Abordagem filosófica corrente e a da COPPE. 08

2.4 - O modelo de Martins (1992). 08

2.4.1 - Equações de Equilíbrio. 08

2.4.2 - As elipses de viscosidade e de atrito. 09

2.4.3 - Um ensaio CIU à luz do modelo. 11

2.4.4 - O Princípio das Tensões Efetivas Expandido. 13

2.4.5 - Família de ensaios CIU 13

2.4.5.1- ε& constante. 13

2.4.5.2 - ep′ constante. 17

2.4.5.3 - Curvas básicas. 18

2.4.5.4 - Observações experimentais acerca da poropressão. 19

2.4.5.4.1 - Lacerda (1976) e Thomasi (2000). 19

2.4.5.4.2 - Discussão acerca dos desvios. 21

2.4.6- A fluência não-drenada. 24

2.4.6.1 - Lei de Taylor. 24

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2.4.6.2 - Interpretação da fluência à luz do modelo. 24

2.4.6.3 - Critério de Ruptura. 28

2.4.6.4 - Observações experimentais. 28

2.4.6.5 - Discussão à cerca dos desvios e hipóteses levantadas. 29

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Justificativa da abordagem adotada. 33

3.2 – Solo estudado. 33

3.3 – Descrição dos ensaios. 34

3.4 – Resultados dos ensaios. 35

3.5 – Desenvolvimentos analíticos e numéricos. 42

3.5.1 - Generalidades 42

3.5.2 – Tratamento Analítico da Fluência Não-Drenada 46

3.5.3 – Tratamento Numérico da Fluência Não-Drenada 53

3.5.4 – Tratamento Numérico Alternativo da Fluência Não-

Drenada

55

3.5.5 – Tratamento Analítico dos Ensaios Não-Drenados de Carga

Constante

57

3.5.6 – Tratamento Numérico dos Ensaios Não-Drenados de Carga

Constante

59

3.5.7 – Tratamento Numérico Alternativo dos Ensaios Não-

Drenados de Carga Constante

59

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS OBTIDOS

4.1 – Previsões. 60

4.1.1 – Determinação dos parâmetros do modelo. 60

4.1.1.1 – Verificação dos parâmetros. 64

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4.1.1.1.1 – Por análise dimensional. 64

4.1.1.1.2 – Numérica. 67

4.1.2 – Ensaios de fluência. 70

4.1.3 – Ensaios de carga constante. 84

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 – Resistências Friccionais 93

5.2 – Resistências Viscosas 93

5.3 – Ensaios de Fluência Não-Drenada 94

5.4 – Ensaios de Carga Constante 102

5.5 – Discussões Adicionais 104

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS

FUTURAS

6.1 – Conclusões 129

6.2 – Sugestões para pesquisas futuras 130

BIBLIOGRAFIA 131

APÊNDICE I

AI.1 – Observações sobre a abordagem de Martins (1992) 133

AI.2 – Abordagem Alternativa Desta Tese 135

AI.3 – Discussão de um ensaio CIU convencional numa argila ideal

normalmente adensada

145

AI.4 – Resumo dos Pontos Principais da Nova Abordagem 153

AI.5 – O Ensaio de Fluência dentro da Abordagem Alternativa 159

AI.6 – A Relaxação de Tensões dentro da Abordagem Alternativa 164

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AI.7 – Sobre a Sensibilidade e o Modelo de Martins (1992) 165

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x

LÍSTA DE SÍMBOLOS

A área

A0 área inicial do corpo de prova

an área de contato do grão

ah sigla para ensaios de adensamento hidrostático

C, C1, C2, ai constantes de ajustes

C0 função de viscosidade normalizada

CIU sigla para ensaio triaxial adensado hidrostaticamente e cisalhando com

drenagem impedida

d espessura da camada de água adsorvida viscosa

e índice de vazios

Ei módulo de deformação

fb(e) curva básica de compressão (“basic compression curve”)

h0 altura inicial do corpo de prova

K, n constantes da função de potência

N força normal

p resistência plástica (“plastic resistance”)

p pressão intergranular (“intergranular pressure”)

Pn força normal no grão

pi pressão intrínseca

cp′ , ep′ , cσ ′ , c3σ ′

tensão de adensamento hidrostático

csp′ tensão de adensamento hidrostático sólido-sólido

′+′

=′2

31 σσp

abscissa do caminho de tensões efetivas

upp −′= ordenada co caminho de tensões totais

′+′=′

231 sfsf

sfpσσ

abscissa do caminho de tensões efetivas sólido-sólido na ruptura

′−′==′

231 σσqq

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xi

ordenada co caminho de tensões totais

′−′==′

231 sfsf

sfsf qqσσ

ordenada co caminho de tensões totais sólido-sólido na ruptura

qfmax resistência friccional máxima

R2 quadrado do coeficiente de correlação

s resistência ao cisalhamento

su resistência não-drenada

t tempo

T força tangencial

Tn força tangencial no grão

u poro-pressão

u0 poro-pressão de estabilização decorrente do impedimento do

adensamento hidrostático

uv poro-pressão decorrente do impedimento do adensamento hidrostático

v = (1+e) volume específico

V, vq′ “salto de viscosidade”

V volume

V0 volume inicial do corpo de prova

α1, α2, α3 variáveis do sistema de equações dimensionais

α ângulo

( )[ ]mobmob sen φα 1tan −=

γ peso específico, distorção

δa incremento de área

δh decréscimo de altura

∆σ acréscimo de tensão total

ε1, ε3 deformações específicas principais maior e menor

εt deformação cisalhante

εf deformação cisalhante de ruptura

vε& velocidade de deformação volumétrica

θ inclinação do plano de ruptura com a horizontal

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xii

µ coeficiente de viscosidade médio da água adsorvida

η(e), η coeficiente de viscosidade do solo

Π, Π1, Π2 monômios adimensionais

σ′ tensão normal efetiva

1σ′ , 2σ ′ , 3σ′ tensões normais efetivas maior, intermediaria e menor

1σ , 2σ , 3σ tensões normais totais maior, intermediaria e menor

sσ′ parcela sólido-sólido da tensão normal efetiva

s1σ′ , s3σ′ tensões normais efetivas sólido-sólido maior e menor

vσ′ , pσ ′ parcela viscosa da tensão normal efetiva

v1σ′ , v3σ′ tensões normais efetivas viscosas maior e menor

σ’ff tensão efetiva normal no plano de ruptura no momento da ruptura

sf1σ ′ , sf3σ ′ tensões normais efetivas sólido-sólido maior e menor na ruptura

sfσ ′ tensão normal efetiva sólido-sólido no plano de ruptura na ruptura

σd tensão desviadora

dfdf σσ =′ tensão desviadora friccional (sólido-sólido)

dvdv σσ =′ tensão desviadora viscosa

σdfmax tensão desviadora friccional máxima (sólido-sólido)

τ tensão cisalhante

sfτ tensão cisalhante friccional (sólido-sólido) de ruptura no plano de ruptura

sτ , τf parcela de atrito (sólido-sólido) da tensão cisalhante

vτ parcela viscosa da tensão cisalhante

φ ângulo de atrito efetivo

φmob ângulo de atrito mobilizado

φaparente ângulo de atrito efetivo aparente

φb ângulo de atrito efetivo básico

ξ variável de integração

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 – Considerações preliminares

Desde que Terzaghi (1936) enunciou o Princípio das Tensões Efetivas a

Mecânica dos Solos experimentou seu grande desenvolvimento contemporâneo com

implicações sobre todos seus ramos de aplicações, porém nem todas as questões

importantes podem por ele ser respondidas. Como exemplos podem-se citar:

• Por que há casos de aterros sobre solos moles que rompem algum tempo

após sua construção?

• Por que os valores de cv de laboratório não são iguais aos obtidos em

retro-análises de casos de campo?

• Por que os valores de capacidades de carga última obtidos em provas de

carga estáticas rápidas em estacas são, em geral, superiores aos de

provas de carga lentas?

Do ponto de vista da engenharia são louváveis todos os esforços feitos para

tentar resolver questões como essas, ainda que pontualmente, porém, do ponto de vista

da ciência é questionável se estabelecerem compartimentos estanques onde os princípios

estabelecidos são ignorados. Ainda sob este ponto de vista, as questões não respondidas

constituem contra-exemplos e são indicativos das limitações de um princípio.

Conscientes dessas limitações atuam os pesquisadores na tentativa de construir teorias

mais abrangentes. Assim sendo, é bom que se diga que o princípio estabelecido por

Terzaghi não constitui exceção e deste modo há que se pensar em como este princípio

pode ser modificado.

O modelo proposto por Martins (1992) se apóia justamente sobre este

pensamento, ou seja, modificando o Princípio das Tensões Efetivas. Porém, este

modelo, apesar de aplicado com sucesso a um solo argiloso saturado normalmente

adensado submetido a carregamentos não-drenados e explicar mais do que antes se

sabia com o princípio de Terzaghi, também deixa certas perguntas sem respostas, sendo

uma delas o foco central desta tese:

Por que solos argilosos saturados quando submetidos a carregamentos não-

drenados apresentam, sob determinados estados de tensão, aumento da velocidade de

deformação?

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1.2 – Objetivo da tese

O objetivo maior desta tese é o de contribuir para a construção do modelo de

comportamento de solos argilosos proposto por Martins (1992).

A contribuição para o modelo seria explicar o aumento da velocidade de

deformação que se observa em ensaios de fluência de solos argilosos saturados

sensíveis.

1.3 – Ordenação dos capítulos

O capítulo 2 trata da revisão bibliográfica do assunto abordado nesta tese.

Inicialmente discute-se o Principio das Tensões Efetivas, suas limitações e contra-

exemplos. Baseado nesta discussão apresenta-se a abordagem da COPPE sobre os

efeitos do tempo e apresenta-se de maneira objetiva o modelo de Martins (1992). Por

fim apresentam-se as hipóteses formuladas em que se baseia este trabalho.

No capítulo 3 apresenta-se o solo, a campanha de ensaios utilizados e os

métodos numéricos e analíticos desenvolvidos.

Já o capítulo 4 apresenta os resultados obtidos à luz do modelo de Martins

(1992) e das hipóteses levantadas, deixando-se para o capítulo 5 a análise e discussão

dos resultados.

No capítulo 6 estão apresentadas as conclusões deste trabalho e as propostas para

pesquisas futuras.

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3

CAPÍTULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 - Discussão do Princípio das Tensões Efetivas.

Transcreve-se abaixo o Princípio das Tensões Efetivas tal como enunciado por Terzaghi

(1936) e discutido por Atkinson e Bransby (1978).

1a Parte:

“As tensões em qualquer ponto de uma seção numa massa de solo podem ser

computadas a partir das tensões principais totais σ1, σ2 e σ3 que agem nesse ponto. Se os

vazios do solo estiverem preenchidos com água sob uma pressão u, as tensões principais

totais consistem de duas parcelas. Uma parcela u que atua na água e nos grãos sólidos

em todas as direções e com igual intensidade. Essa parcela é chamada de pressão

neutra (ou poropressão). As diferenças σ’1 = σ1 - u, σ’2 = σ2 - u e σ’3 = σ3 - u, são

suportadas exclusivamente pela fase sólida do solo. Essas parcelas das tensões

principais totais são chamadas de tensões principais efetivas.”

2a Parte:

“Todos os efeitos mensuráveis oriundos da variação do estado de tensões tais como

compressão, distorção e variação da resistência ao cisalhamento são devidos

exclusivamente à variação do estado de tensões efetivas.”.

Tal como escrita, a 1a parte do princípio define o que vem a ser tensão efetiva e a

2a parte define o seu emprego. Porém, da maneira como foi estabelecido, o princípio só

pode ser utilizado para um propósito, que é o da observação, ou seja, toda vez que se

observar compressão, distorção ou variação da resistência ao cisalhamento, se saberá

que houve variação no estado de tensões efetivas.

Na prática da engenharia faz-se uso do princípio no sentido inverso, ou seja, a

partir de tensões impostas ao maciço saturado estimam-se as tensões efetivas e, a partir

delas, as distorções e variações de volume, o que caracteriza um abuso, pois ao pé da

letra não há garantias explícitas para que isso ocorra.

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Fazendo uso do princípio, porém em seu sentido contrário, Atkinson & Bransby

(1978), enunciam os seguintes corolários:

Corolário 1: O comportamento de dois solos com a mesma estrutura e mineralogia será

o mesmo, desde que estejam submetidos ao mesmo estado de tensões efetivas.

Corolário 2: Se um solo for submetido a um carregamento ou descarregamento sem

qualquer mudança de volume e distorção, não haverá variação das tensões efetivas.

Corolário 3: Um solo se expandirá ou se comprimirá se a poropressão isoladamente for

aumentada ou diminuída, respectivamente.

Como mostrou Martins (1992) é possível citar exemplos contrários a tais

corolários, como os seguintes:

Contra-exemplo do corolário 1: Ensaios CIU realizados em corpos de prova

“idênticos” de um mesmo solo, e mesmo estado inicial de tensão efetiva, porém

cisalhados a velocidades de deformação diferentes, apresentam resistências diferentes e

mesma poropressão.

Contra-exemplo do corolário 2: Ensaios CIU onde, em determinado momento a

prensa é desligada (sem que haja variação de volume ou distorção) mostram queda da

tensão desviadora ao longo do tempo.

Contra-exemplo do corolário 3: Ensaios de adensamento hidrostático com medida de

poro-pressão onde, ao final do chamado adensamento primário, a drenagem é impedida

(assim sendo, sem que haja variação de volume) mostram aumento na poro-pressão com

o tempo.

A esse ponto, resumindo, pode-se dizer que o que se faz na prática da engenharia

é utilizar indevidamente a recíproca do princípio e que o princípio, apesar de perfeito do

ponto de vista da lógica, tem utilidade prática limitada.

Por fim cabe ressaltar que os grifos feitos nos contra-exemplos apresentados têm

como objetivo chamar atenção para um ponto em comum: a manifestação do tempo

sobre a deformação e a resistência de um solo.

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2.2 – Visões de Terzaghi (1941), Taylor (1942), Taylor (1948) e Bjerrum

(1973).

Segundo Terzaghi (1941), na superfície das partículas de argila há uma camada

de água adsorvida. Na proximidade dos grãos sólidos a água adsorvida se encontra no

estado sólido e fortemente aderida a essa superfície e, à medida que se afasta, a

viscosidade da água adsorvida vai diminuindo. Essa diminuição se dá até uma certa

distância “d” onde, a partir daí, a água é a água livre que pode ser expulsa em um ensaio

de adensamento. Essa distância “d” depende das propriedades químicas dos grãos

sólidos e de outras substâncias que possam existir na região de adsorção (Figura II.1).

Ainda segundo esta visão os contatos grão a grão se fazem através da água

adsorvida sendo que esses contatos podem ser do tipo sólido, realizados pela água

sólida, ou contatos do tipo viscoso, realizados pelo filme viscoso existente entre a água

livre e a água sólida (Figura II.1). Tal como explicado no artigo, esses dois tipos de

contatos poderiam transmitir tensões efetivas.

d

água adsorvida líquida

grão

grão

grão

grão

água adsorvida líquidad

contato tipo “film bond”contato tipo “solid bond”

água livre

Figura II.1 – Tipos de contatos nos solos segundo Terzaghi (1941), Apud Thomasi

(2000).

Se todas as tensões efetivas na massa de solo forem transmitidas através de

contatos do tipo sólido, a argila estará, segundo Terzaghi, no estado “solidificado”.

Porém, para que seja atingido tal estado, é necessário primeiro que o solo esteja

no estado lubrificado, estado esse onde parte das tensões efetivas é suportada pelos

contatos viscosos com movimento relativo intergranular vagaroso.

Se este solo (no estado solidificado) for solicitado além de um certo limite,

quebram-se os contatos sólidos e as partículas passam a ter contatos viscosos. Neste

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6

ponto a carga inicialmente suportada apenas pelos contatos sólidos passa a ser suportada

parte por esses mesmos tipos de contatos (com geração de excesso de poropressão) e

parte pela resistência surgida dos contatos do tipo viscoso.

A partir daí, em havendo excesso de poro-pressão e possibilidade de drenagem,

segue-se um período de adensamento, período conhecido como adensamento primário.

Após a dissipação da praticamente todo o excesso de poro-pressão, a argila ainda se

encontra no estado lubrificado sendo que o movimento relativo entre as partículas

continua até que todos os contatos sólidos sejam restabelecidos. A essa variação de

volume sofrida pelo solo durante o período de restabelecimento dos contatos sólidos é

atribuído o termo adensamento secundário (Terzaghi, 1941).

Outro estudioso que levou em conta efeitos do tempo e foi além, estabelecendo

as relações matemáticas entre as grandezas intervenientes do problema, foi Taylor

(1942). Em sua Teoria B, ele considera o efeito da velocidade de deformação no

adensamento das argilas com conseqüente surgimento da resistência estrutural plástica.

Segundo Taylor (1942), a tensão vertical efetiva a qualquer tempo e em qualquer ponto,

durante o adensamento, poderia ser determinada através da seguinte expressão:

p = fb(e) + pp (II.1),

onde:

p é a pressão intergranular (“intergranular pressure”);

fb(e) é a curva básica de compressão (“basic compression curve”), função do índice

de vazios;

p é a resistência plástica (“plastic resistance”), dependente principalmente da

velocidade de deformação.

Taylor, porém, vai além do adensamento e em seu livro de 1948 sugere que a

resistência ao cisalhamento de solos argilosos pode ser escrita por:

( )

∂ε∂

+φ+σ′=t

ftanps siff

(II.2),

Onde:

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7

s = resistência ao cisalhamento;

σ’ff = tensão efetiva normal no plano de ruptura no momento da ruptura;

φ = ângulo de atrito efetivo;

f

∂ε∂ts = termo função da velocidade de deformação cisalhante, representa a parcela de

resistência viscosa ao cisalhamento.

pi = pressão intrínseca.

Bjerrum (1973) admitindo o mecanismo proposto por Terzaghi para o

adensamento secundário e critério de ruptura proposto por Hvorslev discorre sobre o a

fluência em solos argilosos.

Neste modelo, a “coesão efetiva” de Hvorslev seria de natureza viscosa e seria

tanto maior quanto a velocidade de deformação e o “ângulo de atrito efetivo” seria

relacionado à deformação.

Segundo Bjerrum (1973), em um ensaio triaxial a coesão efetiva seria

mobilizada integralmente para pequenas deformações enquanto que o atrito seria

plenamente mobilizado para deformações maiores, porém desde o início já haveria a

mobilização de parte do atrito. Neste contexo, a fluência seria então um jogo entre a

coesão efetiva e a resistência por atrito.

Caso a resistência por atrito fosse maior que a tensão cisalhante imposta em um

ensaio de fluência, a coesão efeitva seria desmobilizada ao longo do tempo (com queda

da velocidade de deformação) enquanto que a resistência friccional seria mobilizada até

que a resistência friccional mobilizada equiparasse a tensão imposta, quando isso

ocorresse, a fluência chegaria ao fim (e a velocidade de deformação chegaria a zero).

No caso contrário, quando a resistência por atrito fosse menor que a tensão cisalhante

imposta em um ensaio de fluência, a resistência friccional mesmo quando toda

mobilizada não seria capaz de equiparar o carregamento imposto e a coesão efetiva

continuaria a existir. A partir desse ponto a velocidade de deformação seria mínima e se

manteria constante daí em diante.

Como será visto mais adiante o mecanismo proposto por Bjerrum (1973) e o

modelo de Martins (1992) são parecidos, porém há um ponto discordante quanto à

mobilização da viscosidade. Enquanto para Bjerrum (1973) antes de ser mobilizada a

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8

viscosidade há a mobilização de parte do atrito, no modelo de Martins (1992) a

viscosidade é instantaneamente mobilizada sendo o atrito mobilizado apenas após a

mobilização da viscosidade.

2.3 – Abordagem filosófica corrente e a da COPPE.

Na Mecânica dos Solos clássica há vários casos que não podem ser explicados a

partir do Princípio das Tensões Efetivas tal como exemplificado no Capítulo 1. Nesses

casos são criadas então diversas “Mecânicas dos Solos” particulares, cada uma com

suas hipóteses ou parâmetros de ajuste. Porém, nenhuma dessas hipóteses é geral,

podendo ser aplicadas aos outros casos.

É assim no adensamento secundário, onde há o coeficiente de adensamento

secundário, na fluência, com a “Rate Process Theory”, nas provas de carga dinâmicas,

onde há um parâmetro de ajuste função da velocidade de cravação, etc.

É preciso reconhecer que esses casos estão além do que é estabelecido no

princípio de Terzaghi. E, assim sendo, há que se estabelecer outro princípio, modificá-lo

ou complementá-lo para que se possa contemplar o que atualmente não é possível. Essa

é a filosofia do grupo de reologia da COPPE.

Especificamente no caso da filosofia adotada na COPPE, entende-se que o

princípio de Terzaghi não é completo, ou seja, falta algo ao enunciado sobre os efeitos

do tempo, sendo esse “algo” a viscosidade citada por Terzaghi (1941) e Taylor (1942) e

(1948).

2.4 – O modelo de Martins (1992).

2.4.1 – Equações de Equilíbrio.

Na mecânica dos solos clássica a equação de equilíbrio de forças é feita apenas

para a componente normal das tensões, considerando a tensão normal total e a

poropressão, uma vez que na direção tangencial não há mais do que o atrito

desenvolvido entre os grãos sólidos. Porém, se for considerado que o solo resiste às

solicitações impostas também por viscosidade, como sugerem Terzaghi e Taylor, pode-

se chegar a uma expressão de equilíbrio para a componente tangencial. Foi o que fez

Martins (1992).

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9

grão

água livre

água adsorvidamuito viscosa

a

P

Tn

n

N

T

1

P

T1

1

an

Figura II.2 – Elemento de solo.

Considerando um elemento de solo como o acima ilustrado, Martins (1992)

chegou às seguintes expressões:

u+σ′=σ (II.3)

e

4342143421

EVISCOSIDAD

S

ATRITO

mob dtd

(e)tan

τ

εη+

τ

φσ′=τ (II.4)

onde:

σ = tensão normal total;

σ’= tensão normal efetiva;

u = poropressão;

τ = tensão cisalhante;

φmob = ângulo de atrito mobilizado;

η(e) = termo função do coeficiente de viscosidade médio da água adsorvida (µ ) e do

índice de vazios e;

ε

dtd s = velocidade de deformação cisalhante.

2.4.2 – As elipses de viscosidade e de atrito.

Considerando-se que a tensão cisalhante total τ é composta de uma parcela de

atrito τf e outra viscosa τv, escreve-se:

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10

τ = τf + τv (II.5)

Assim, o círculo de Mohr das tensões efetivas será composto por duas figuras

geométricas, cujas equações são as seguintes:

ασ′−σ′

+σ′+σ′

=σ′ cos222

3131

( )α

ε−εη=τ sen2

dtd

(e)21 31

v

(II.6)

(II.7)

e

ασ′−σ′

+σ′+σ′

=σ′ cos222

3131

α

σ′−σ′=τ−τ=τ sen2V

231

vf

(II.8)

(II.9)

Sendo V a parcela viscosa da tensão cisalhante num plano que faz 45o com as

tensões principais.

Como mostradas em Martins (1992), as equações acima apresentadas são as

equações de duas elipses, que somadas compõem o círculo de Mohr das tensões

efetivas. A figura seguinte ilustra o exposto.

Figura II.3 – Apud Thomasi (2000).

σ´ σ´3 σ´1

τ, τv

τ

τf

V

σ′−σ′V

231

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11

A elipse representada pelas equações II.6 e II.7 foi batizada por Martins de

elipse de Taylor, pelas contribuições feitas por este autor aos efeitos do tempo. Já para a

elipse descrita pelas equações II.8 e II.9 Martins a nomeou de elipse de Coulomb.

2.4.3 – Um ensaio CIU à luz do modelo.

Um ensaio CIU realizado num solo saturado caracteriza-se por uma fase de

adensamento hidrostático seguida de uma fase de cisalhamento não-drenado sob

velocidade constante cujo gráfico é o seguinte:

Figura II.4 – Ensaio CIU

Sendo εt a deformação cisalhante em um plano inclinado de 45o em relação a

tensão principal σ1.

Fato importante a ser destacado é que no ponto t = 0, apesar de não haver

deformação, já há uma velocidade de deformação cisalhante. Em havendo desde o início

uma velocidade haverá uma resistência de origem viscosa (τv), que se manterá constante

até o final do ensaio já que é função da velocidade de deformação cisalhante e do índice

de vazios e ambos permanecem constantes durante todo o cisalhamento. Se esta parcela

de resistência é mobilizada desde o início e se mantém constante até o final, toda a

resistência que é mobilizada a partir daí é forçosamente de origem friccional. Duas são

as conseqüências deste raciocínio:

A mobilização do atrito (que dá origem a resistência friccional) está ligada às

deformações cisalhantes.

εt

t

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12

A resistência viscosa sendo constante ao longo de todo o ensaio faz com que a

ruptura se dê quando a resistência friccional for esgotada.

Há ainda um fato digno de nota que advém de evidência experimental, qual seja, a

poro-pressão é função da deformação sendo, portanto independente da velocidade de

deformação.

De certa forma a resistência viscosa pode ser vista como um efeito “parasita” que

faz com que a resistência total medida seja tanto maior quanto maior for a velocidade do

ensaio. Porém como a resistência friccional está ligada à deformação cisalhante e não à

sua velocidade, esta será única e a ruptura do solo se dará por esgotamento desta

capacidade, ou seja, o critério de ruptura é comandado pela elipse de atrito, sendo a

envoltória tangente a esta figura, como mostrado a seguir.

2a

A

F

t,tf

f b

f aparente

`s

Figura II.5 – Critério de ruptura.

Sendo φb o ângulo de atrito básico do solo que, por ser independente da

velocidade do ensaio, vem a ser uma propriedade do solo.

Isto posto pode-se enunciar o Princípio das Tensões Efetivas Expandido, tal

como fez Martins (1992).

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13

2.4.4 - O Princípio das Tensões Efetivas Expandido.

1a Parte:

“Em qualquer plano de um elemento de solo saturado no qual estejam atuando a

tensão normal σ e a tensão cisalhante τ estarão atuando internamente: como reação a σ

a soma (σ´+ u) sendo σ´ a tensão normal efetiva e u a poro-pressão; e como reação a τ a

soma das resistências por atrito e por viscosidade.”

2a Parte:

“Toda vez que houver variação da parcela de atrito mobilizado haverá

deformações cisalhantes e reciprocamente toda vez que houver deformações cisalhantes

haverá variação da parcela de atrito mobilizado (casos não-drenados).”

Da maneira como colocado, Martins (1992) soma ao atrito a viscosidade e impõe

uma relação única entre deformação cisalhante e mobilização de resistência friccional.

2.4.5 - Família de ensaios CIU

2.4.5.1 - ε& constante.

Como no início do ensaio ocorre a mobilização instantânea da resistência

viscosa antes mesmo do desenvolvimento das deformações cisalhantes, o que se teria

em termos de tensão desviadora versus deformação seria o seguinte (para uma

deterrminada tensão de adensamento hidrostático p’e):

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14

Figura II.6 – Tensão desviadora x deformação cisalhante (εt) e poro-pressão x

deformação cisalhante.

Sendo V a resistência viscosa mobilizada no início do ensaio no plano inclinado

de 45o com o plano onde atua σ’1. A partir deste instante até a deformação de ruptura

haveria a mobilização do atrito com o desenvolvimento das deformações cisalhantes,

sendo a mobilização máxima do atrito para ε = εf. Da deformação de ruptura em diante

a resistência friccional não mais cresceria, se mantendo constante.

Já a poropressão se desenvolveria de zero, para ε = 0, até o máximo na ruptura,

sendo que a partir dessa deformação em diante permaneceria constante, como na figura

apresentada acima.

Da deformação de ruptura em diante, com a mobilização máxima do atrito e da

poropressão, ter-se-ia alcançado o estado crítico para uma determinada velocidade de

deformação cisalhante.

No plano p’ x q’, sendo

′+′

=′2

31 σσp e

′−′==′

231 σσqq , a mobilização

instantânea da resistência viscosa sem geração de poropressão seria vista como um

segmento de reta inclinado de 45o, partindo do ponto no eixo das abscissas

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15

correspondente ao adensamento hidrostático p’e. Ou seja, o caminho das tensões

efetivas coincidiria com o caminho de tensões totais para este segmento.

A partir desse ponto em diante, com o desenvolvimento de deformações

cisalhantes, haveria mobilização de resistência friccional com conseqüente geração de

excesso de poropressão. Assim sendo, o caminho de tensões efetivas se desenvolveria à

esquerda do caminho de tensões totais. A figura II.7 ilustra este ponto.

u

(a)

q’

v

C

C

C

1

2

3

3

2 2

11

A

A

A

J

J

J 3

p’

(b)

p’p’ = 3e ap’ =e a

A

1

1

1

2

1

2

3

2

2

3

3

3

e ap’ =2

y

Figura II.7 – Caminho de tensões totais e efetivas no espaço q’ x p’ x v.

Sendo v = 1 + e, o volume específico. Como mostrado na figura II.7, um corpo-

de-prova adensado a uma tensão hidrostática p’e = 2a, cisalhado à mesma velocidade do

ensaio anterior (adensado à tensão hidrostática p’e) seria homotético em relação a este,

de forma que ambos poderiam ser normalizados em relação à tensão de adensamento

hidrostático correspondente (ver figura II.8):

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16

p’p’e/

q’p’e/

45ºV p’

e/ = Co

+ Co

Ay

Figura II.8 – Normalização dos caminhos de tensão efetiva.

Sendo V/p’e = C0 segundo Martins (1992), que vem a ser a função de

viscosidade normalizada em relação à tensão de adensamento hidrostático.

Já o comportamento tensão desviadora x deformação e poropressão x

deformação correspondente aos ensaios mostrados seria o seguinte:

Figura II.9 – Tensão desviadora x deformação cisalhante e poro-pressão x deformação

cisalhante.

Normalizando a tensão desviadora e a poropressão quanto à tensão confinante

tem-se o seguinte:

p'e = a

p'e = 2a

p'e = 3a

εf

u

ε εf

q

ε

p'e = 3a

p'e = 2a

p'e = a

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17

Figura II.10 – Tensão desviadora normalizada x deformação cisalhante normalizado e

poro-pressão normalizada x deformação cisalhante.

2.4.5.2 – ep′ constante.

Se ao invés de variar a tensão de adensamento hidrostático, p’e, se fizer variar a

velocidade de ensaio, ter-se-á o seguinte:

Figura II.11 – Caminhos de tensão efetiva para várias velocidades de

deformação e mesmo p’e.

Destaca-se que quanto maior a velocidade do ensaio maior o “salto” de

viscosidade e conseqüentemente a tensão desviadora na ruptura. Além disso, como não

há mobilização de atrito em qualquer dos ensaios no momento do “salto” de viscosidade

e, como a poropressão é independente da velocidade de ensaio, pode-se mostrar que

1tε& 1t2t ε>ε &&ψA1

45o

u

u

ψA2

2tε&

p'

q'

εf

u/p’e

ε εf

q/p’e

ε

C0

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18

linhas inclinadas de 45o devem ter mesma deformação cisalhante (εt) e atrito

mobilizado (φmob).

2.4.5.3 - Curvas básicas

Segundo Martins (1992) qualquer ensaio CIU apresentará um comportamento

como mostrado anteriormente, pois o efeito da velocidade de deformação, por menor

que seja, se fará presente. Porém se fosse possível realizar um ensaio com velocidade

“zero”, aí sim se teria um comportamento independente da viscosidade, restando apenas

o atrito, que é a parcela da resistência que sempre estará atuando.

Por ser esta realmente uma propriedade do solo, Martins (1992) denominou as

curvas de tensão desviadora x deformação, poropressão x deformação e o caminho de

tensões efetivas de curvas básicas, que são apresentadas a seguir:

Figura II.12 – Curvas básicas de tensão desviadora normalizada x deformação

cisalhante e poro-pressão normalizada x deformação cisalhante.

Notar que por não haver mobilização instantânea da viscosidade a curva parte da

origem dos eixos coordenados e que a curva da poropressão é a mesma, uma vez que

segundo o modelo não há influência da velocidade de deformação sobre a geração do

excesso de poropressão (o que é uma evidência experimental ilustrada por Lacerda,

1976).

εf

u/p’e

ε εf

q'/p’e

ε

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19

Figura II.13 – Caminho das tensões efetivas básico.

Finalizando, o caminho das tensões efetivas básico parte da tensão de

adensamento hidrostático normalizada (p/p’e = 1) e fica à esquerda do caminho das

tensões totais desde o inicio.

2.4.5.4 - Observações experimentais acerca da poropressão.

2.4.5.4.1 - Lacerda (1976) e Thomasi (2000).

Lacerda (1976) realizou uma campanha de ensaios triaxiais CIU com diversas

velocidades de deformação, de fluência e relaxação de tensões na San Francisco Bay

Mud, obtendo os seguintes resultados (fig. II.14).

Como se pode observar, apesar da variação de velocidade no ensaio, a geração

de excesso de poropressão é única, sendo esta função da deformação cisalhante, o que

foi uma hipótese admitida por Martins (1992) baseada em evidências experimentais

mostradas por Lacerda (1976) e por Lo (1969b). Em Lo (1969a) se encontra todo o

desenvolvimento teórico que suporta essas evidências.

1 p/p’e

ε = εf

q/p’e

Caminho de tensões efetivas básico

0=ε&

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20

0 1 2 3 4 50

100

200

0

100

200

(Kpa)

u

2q

(KPa)

1250 min

1750 min

1280 min

120 min

e = 1.36 x 10% /min

e = 3.4% /min

1.64 x 10-2

e %

Figura II.14 – Tensão desviadora x deformação cisalhante e poropressão x

deformação cisalhante, Lacerda (1976).

Apesar da existência de evidências que corroboram o modelo concebido por

Martins (1992), há ensaios que mostram que a poropressão gerada na fase de

cisalhamento está ligada também a velocidade de deformação volumétrica quando do

fechamento da drenagem na fase do adensamento hidrostático. É o que mostra Thomasi

(2000). Quanto maior a velocidade de deformação volumétrica quando do fechamento

da drenagem, maior é a poropressão gerada, sendo que esta se desenvolve ao longo do

tempo. A figura a seguir mostra os resultados obtidos.

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21

Figura II.15 – Ensaios Hidrostáticos com medida de poropressão após

fechamento da drenagem ao fim do adensamento primário realizados por Thomasi

(2000).

Assim, no caso de um ensaio CIU a poropressão medida na fase de cisalhamento

teria duas componentes: Uma função da deformação cisalhante e outra função da

velocidade de deformação volumétrica no momento do fechamento da drenagem (ao

fim da fase de adensamento) e do tempo decorrido após esse fechamento.

2.4.5.4.2 - Discussão acerca dos desvios.

Os ensaios realizados por Thomasi (2000) mostram que, mesmo sem

deformação cisalhante, há geração de excesso de poropressão, o que contraria o modelo

de Martins (1992), e que a mesma está ligada à velocidade de deformação volumétrica

quando do fechamento da drenagem ao final da fase de adensamento hidrostático de um

ensaio CIU.

Como mostra Thomasi (2000), a poropressão gerada pode ser atribuída à parcela

de resistência viscosa que Martins (1992) não considerou no equilíbrio de forcas na

direção normal. Assim sendo, a resistência viscosa no caso geral afeta também as

tensões efetivas normais, ou seja, como propôs Taylor (1942):

Tempo (dias)

u (kPa)

0

5

10

15

20

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

ensaio ah-4

ensaio ah-5

ensaio ah-6

; 18v s100,7 −−×=ε& ; σ´= 86

kPa ; 18

v s105,1 −−×=ε& ; σ´= 90 kPa

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22

σ´ = σ´s + σ´p

(II.1) bis,

onde:

σ´s= parcela da tensão normal efetiva função exclusiva do índice de vazios,

σ´p= parcela da tensão normal efetiva dependente principalmente da velocidade de

deformação volumétrica (resistência plástica, ou como definido por Taylor (1942),

“plastic resistance”).

O mecanismo proposto pode ser melhor entendido a partir da figura II.16

abaixo.

Figura II.16 – Mecanismo proposto (adensamento hidrostático).

Sendo vε& a velocidade de deformação volumétrica. Em um ensaio de

adensamento hidrostático do ponto A ao C, o corpo de prova cruzaria curvas de

velocidade de deformação volumétrica vε& = cte. Durante este processo, no ponto B,

onde o excesso de poropressão é praticamente nulo (final do adensamento “primário”),

ainda haverá uma velocidade de deformação, que será a velocidade de deformação 2vε& .

3vε& e

σ' (escala log)

0v =ε&

4vε& 2vε& 1vε&

σ∆

B

A

C sσ′

pσ′

1vε& > 2vε& > 4vε&3vε& >

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23

Se neste momento for fechada a drenagem, a parcela da tensão normal efetiva de origem

viscosa será pσ′ , enquanto que a tensão normal efetiva nos contatos sólidos será sσ′ .

Em se fechando a drenagem, a velocidade de deformação volumétrica cairá a

zero, de sorte que não mais haverá a parcela viscosa da tensão normal efetiva. Porém,

como a parcela sólido-sólido da tensão normal efetiva é função apenas do índice de

vazios, seu valor permanecerá inalterado e igual a sσ′ deste momento em diante.

Como a tensão total σ é constante durante todo o processo, conclui-se que só

poderá haver um ajuste entre a parcela viscosa da tensão normal efetiva e a poropressão,

e como a parcela viscosa cairá a zero, a poropressão deverá se elevar.

Ao final do processo quando a poropressão estabilizar, sua magnitude revelará a

parcela viscosa da tensão normal efetiva que agia no momento do fechamento da

drenagem. É o que acontece, como mostram os resultados de Thomasi (2000),

apresentados anteriormente.

Desta maneira, no caso geral, dada uma tensão de adensamento, a poropressão

em um ensaio CIU será função da deformação cisalhante, da velocidade de deformação

volumétrica quando do fechamento da drenagem, e do tempo de duração da fase de

cisalhamento, não mais havendo uma relação única entre poropressão e deformação

cisalhante.

Imagina-se que, admitindo como corretos os resultados de Thomasi (2000), só

deve ter havido concordância para os valores de poropressão dos ensaios de Lacerda

pelo fato do crescimento da poropressão se dar muito lentamente, levando dias para se

manifestar com apreciável monta.

Cabe ressaltar que, pelo raciocínio aqui estabelecido, se em um ensaio CIU onde

após o adensamento hidrostático fosse esperada a estabilização da poropressão

dependente da velocidade de deformação volumétrica, na fase de cisalhamento ter-se-ia

tudo como estabelecido no modelo de Martins (1992), sendo a poropressão gerada

função apenas da deformação cisalhante.

Frente a esses resultados o modelo concebido por Martins (1992) deve ser

modificado de forma a contemplar o caso geral onde parte da tensão normal efetiva é de

origem viscosa.

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24

2.4.6 - A fluência não-drenada.

Apesar de no item anterior ter-se mostrado haver desvios experimentais em

relação ao que o modelo de Martins (1992) prevê, o que implicaria em uma revisão do

modelo, se apresentará nesta seção a visão da fluência não-drenada, tal como

estabelecido por Martins (1992). Ao final será feita uma discussão dos desvios

verificados, incluindo também a questão da poropressão.

2.4.6.1 - Lei de Taylor.

Segundo Martins (1992), a Lei de Taylor Generalizada é a seguinte:

“Um solo, submetido a um estado de tensões onde as tensões cisalhantes sejam

resistidas por viscosidade e por atrito, procurará ao longo do tempo resistir internamente

ao esforço cisalhante apenas por atrito”.

Tal como colocado, a viscosidade (que depende da velocidade de deformação

para continuar a existir) pode ser vista como um efeito transitório enquanto que o atrito

pode ser encarado como perene, bastando que haja deformação cisalhante para que este

seja mobilizado e assim permaneça resistindo às tensões cisalhantes impostas. A partir

da lei de Taylor pode-se interpretar o ensaio de fluência, o que será exposto em detalhes

a seguir.

2.4.6.2 - Interpretação da fluência à luz do modelo.

Em um ensaio de fluência não-drenada tem-se o desenvolvimento de

deformações e de suas velocidades, de sorte que as resistências friccional e viscosa, que

dessas grandezas dependem, são mobilizadas para resistir ao carregamento imposto.

Porém em um ensaio de fluência, para que haja deformação cisalhante deve

haver antes uma velocidade de deformação, de modo que antes de mobilizar o atrito a

resistência viscosa terá se instalado. Uma curva de fluência típica em sua fase inicial é a

que se segue:

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25

Figura II.17 – Curva típica de um ensaio de fluência não-drenada em seu estágio

inicial.

No ponto t = 0, apesar de não haver deformação já há uma velocidade de

deformação, sendo sua magnitude dada pela tangente à curva no ponto. Assim sendo, no

ponto t = 0, a resistência é toda viscosa com o solo atingindo sua velocidade de

deformação máxima e igual ητ . Com o passar do tempo haverá desenvolvimento de

deformações cisalhantes, o que levará à mobilização do atrito. Como a tensão

desviadora imposta é constante, parte da resistência viscosa deverá ser transferida para o

atrito, e com essa desmobilização deverá haver uma queda da velocidade de

deformação.

A partir desse ponto três são os casos possíveis:

(a) A resistência friccional máxima é maior que a tensão cisalhante imposta

(q<qfmáx).

(b) A resistência friccional máxima é igual à tensão cisalhante imposta(q=qfmáx).

(c) A resistência friccional máxima é menor que a tensão cisalhante

imposta(q>qfmáx).

Esses três casos podem ser representados pelos seguintes gráficos:

ε

tempo

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26

Figura II.18 – Caminhos de tensão possíveis na fluência não-drenada segundo

o modelo de Martins (1992).

Figura II.19 – Curvas deformação tempo possíveis na fluência não-drenada segundo o

modelo de Martins (1992).

No caso (A), como a resistência friccional máxima do solo é maior que a

solicitação imposta, a transferência que ocorre entre a viscosidade e o atrito se dará até

que toda resistência oferecida pelo solo seja de origem friccional, quando isso ocorrer a

velocidade de deformação será zero e a deformação estabilizará em um valor menor que

a deformação de ruptura, εf.

ε

tempo

εf

C

B

A

C

B

A

p, p’

0=ε&

linhas onde ε , u e φmob são constantes

qfmáx

ε = εf

ε < εf ε = 0

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27

No caso (C), onde a solicitação imposta é maior que resistência friccional

máxima, a transferência se dará até a deformação de ruptura, εf, com a resistência

friccional atingindo seu máximo. A partir desse ponto, como não há mais atrito a ser

mobilizado, a velocidade de deformação deverá permanecer constante e corresponder à

diferença entre a tensão imposta e a friccional máxima. Neste caso, a partir deste

momento, as deformações continuarão a se desenvolver de maneira ilimitada sob

velocidade constante.

Já no segundo caso (caso B), a transferência se dará até a deformação de ruptura

do solo, com a mobilização máxima do atrito e com a velocidade atingindo o valor zero.

Este vem a ser um caso limite entre o primeiro e o terceiro, pois o corpo de prova

estabilizará na deformação de ruptura, εf.

A partir do exposto acima, pode-se, através do modelo de Martins (1992), prever

para um dado estado de tensão se haverá ou não ruptura e caso não haja, a deformação

com a qual a fluência cessará. Também a partir do modelo pode-se dizer com que

velocidade de deformação (constante) estará um corpo de prova a partir da deformação

de ruptura εf, caso ele tenha sido submetido a uma tensão desviadora de fluência maior

que a resistência friccional máxima.

Pelo modelo de Martins (1992), lançando-se mão de ensaios tipo CIU, mostra-se

que se pode a todo instante saber a deformação e a velocidade de deformação em um

ensaio de fluência, o que será explicado a seguir a partir da figura II.20.

Figura II.20 – Deformações e velocidade de deformação em um ensaio de

fluência não-drenada a partir de ensaios CIU.

ε = 0

p, p’

0=ε& qfmáx

ε = εf ε2

ε1

1ε&

2ε& 3ε&

a b c d

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28

Um ensaio de fluência como o mostrado na figura II.20 acima, desde seu inicio

no ponto a até o ponto d, cruza vários ensaios CIU. No ponto de cruzamento entre o

ensaio de fluência não-drenada e o ensaio CIU tem-se por construção a mesma

poropressão e a mesma tensão desviadora.

Associada à poropressão está a deformação cisalhante, uma vez que há uma

relação única entre essas grandezas, e associada à deformação cisalhante está a

resistência friccional. Assim sendo, em havendo a mesma poropressão ter-se-á a mesma

deformação cisalhante e mesmo atrito mobilizado.

Havendo em um ponto de cruzamento, a mesma poropressão, deformação

cisalhante e atrito mobilizado, e também a mesma tensão desviadora é imediato que se

terá a mesma resistência viscosa, e conseqüentemente a mesma velocidade de

deformação.

A partir do que foi exposto pode-se apresentar uma definição de ruptura, tal

como estabelecido por Martins (1992).

2.4.6.3 - Critério de Ruptura.

Transcreve-se de Martins (1992) abaixo a definição de ruptura.

“Definição: Diz-se que um corpo de prova de solo se encontra no estado de

ruptura quando:

(a) Num ensaio com deformação controlada ( cte=ε& ), .0d

'dq≤

ε

(b) Num ensaio com tensão controlada (q’=cte) 0dtd

2

2

≥ε e .0>ε& ”.

2.4.6.4 - Observações experimentais.

Em Martins (1992) encontra-se a verificação experimental das previsões acerca

do comportamento na fluência, a partir dos ensaios realizados por Lacerda (1976).

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29

Martins (1992), pelo procedimento descrito acima, comparou ensaios de fluência

e ensaios CIU, obtendo para as deformações e suas velocidades valores muito próximos,

considerando a margem de erro comumente aceita em engenharia.

Martins (1992), também pelo que foi acima descrito pôde explicar porque corpos

de prova submetidos a determinados estados de tensão atingiam a ruptura e porque

outros não. Nos casos onde era prevista a ruptura, Martins (1992) foi capaz de prever a

velocidade de deformação mínima para a deformação de ruptura, e onde era prevista

estabilização, previu a magnitude de sua deformação.

Porém para os casos onde a tensão cisalhante imposta era maior que a resistência

friccional que o solo dispunha, ao atingir a deformação de ruptura, a velocidade de

deformação não ficava constante, voltando a crescer com o tempo, o que contrariava o

previsto pelo modelo.

Este fato é comum em ensaios de fluência, sendo observado para diversos solos

(inclusive normalmente adensados) em condições drenadas e não-drenadas.

Por fim, cabe ressaltar outro desvio importante do modelo, que vem a ser a

função de viscosidade. Como concebido, o modelo admite que a resistência viscosa é

ditada por uma função linear da velocidade de deformação, porém, como pode ser visto

em Martins (1992), Alexandre (2000) e Santa Maria (2002), a função é não linear. Em

Martins (1992), o autor mostra que a função que melhor representa a resistência viscosa

é uma potência da velocidade de deformação, função esta também encontrada por

Alexandre (2000) para um solo fabricado em laboratório. Já Santa Maria (2002)

encontra uma hipérbole como melhor função.

2.4.6.5 - Discussão acerca dos desvios e hipóteses levantadas.

Basicamente são três os desvios do modelo de Martins (1992):

1- Crescimento da velocidade de deformação após a deformação de ruptura.

2- Desenvolvimento da poropressão com o tempo.

3- Função de viscosidade não-linear.

Será discutido inicialmente o segundo desvio, deixando o primeiro (que vem a

ser o ponto de partida desta tese) para depois. Sendo o terceiro desvio um fato, não há o

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30

que discutir, restando apenas a pesquisa da função que melhor represente os resultados

experimentais (ver, por exemplo, os resultados de Alexandre, 2000).

No caso da poropressão crescer com o tempo, como já foi explicado, deixa de

valer a relação única entre a geração do excesso de poropressão e a deformação

cisalhante, ou seja, a poropressão passa a ser função do tempo e da deformação

cisalhante.

Desta forma, também não haverá mais uma relação única entre deformação

cisalhante e resistência friccional mobilizada, uma vez que a poropressão crescente com

o tempo fará cair a tensão efetiva.

Assim sendo, em se tendo a mesma poropressão gerada em um ensaio CIU e

outro de fluência (no cruzamento dos caminhos de tensão desses ensaios), não se terá a

mesma deformação, e no caso de se ter a mesma deformação cisalhante não se terá a

mesma poropressão gerada (os caminhos de tensão dos ensaios não se cruzam neste

ponto). Esta diferença será tanto maior quanto maior for o tempo antes do cruzamento

dos caminhos de tensão.

Cabe ressaltar que, se no caso dos ensaios acima descritos, depois do

adensamento e antes da fase de cisalhamento, fosse deixada a poropressão se estabilizar

ter-se-ia tudo como estabelecido no modelo de Martins (1992), sendo a poropressão

gerada função apenas da deformação cisalhante.

No caso do aumento da velocidade de deformação verificado nos ensaios de

fluência, cogita-se que este esteja ligado à queda da resistência friccional, ou seja, que

haja um pico de resistência friccional.

Martins (1992) estudou um caso onde a curva σd x ε não apresentava pico,

porém no caso onde a curva σd x ε apresenta um pico, ao se admitir uma resistência

viscosa constante, a curva friccional x ε também apresentará um pico. Porém, em

havendo queda de resistência friccional haverá aceleração na fluência, uma vez que a

resistência viscosa se soma à friccional para igualar a tensão (constante) imposta na

fluência, ou seja, quando a friccional cai, a viscosa sobe por meio do aumento da

velocidade de deformação (figura II.26).

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31

Figura II.26 – Mecanismo de aceleração na fluência.

Basicamente a queda de resistência friccional poder-se-ia dar pelos seguintes

motivos, a saber:

A) Aumento da poropressão com o tempo;

B) Queda do atrito mobilizado;

C) Queda do coeficiente de viscosidade;

D) Uma combinação de dois ou mais dos motivos anteriores.

No primeiro caso (caso A), o mecanismo seria o seguinte:

Um corpo de prova carregado com uma tensão desviadora maior que a

resistência friccional máxima iria se deformar desde t = 0 (momento onde a velocidade

de deformação é máxima) até ε = εf (com a velocidade de deformação atingindo seu

mínimo). Neste ponto ter-se-ia a máxima mobilização de atrito e a maior poropressão

(parcela dependente da deformação cisalhante), e deste ponto em diante deveria se

observar o corpo de prova se deformando à velocidade constante. Porém como a outra

parcela da poropressão continuará a crescer (devido à parcela dependente da velocidade

de deformação volumétrica quando do fechamento da drenagem na fase de adensamento

hidrostático) a tensão normal efetiva irá cair, e com esta a resistência friccional.

ε

σd

Ensaio de fluência

Curva básica

Resistência viscosa

0=ε&

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32

O caso B também é fácil de ser compreendido, bastando para tal examinar a

equação II.4, reapresentada abaixo:

4342143421

EVISCOSIDAD

S

ATRITO

mob dtd

(e)tan

τ

εη+

τ

φσ′=τ II.4 (bis)

É imediato que se o ângulo de atrito mobilizado básico, φmob, sofrer uma

redução, esta se refletirá na parcela de resistência friccional τatrito, com conseqüente

aumento da solicitação da resistência viscosa. Este aumento resultaria em um aumento

da velocidade de deformação dtd sε . Tal queda pode se dar por uma alteração na

configuração geométrica do arranjo das partículas, que ao serem cisalhadas, tenderiam a

se alinhar, oferecendo menor resistência ao cisalhamento.

O caso C seria parecido com o B, porém ao invés de se ter uma queda no ângulo

de atrito mobilizado por alteração na configuração geométrica do arranjo das partículas

se teria uma queda do coeficiente de viscosidade η(e). Sendo esta queda devida

exclusivamente à diminuição coeficiente de viscosidade µ da água adsorvida das

partículas, pois sendo o ensaio não-drenado, o índice de vazios e permanece constante

ao longo do mesmo.

É opinião do autor deste trabalho ser mais provável a queda do atrito mobilizado

do que a queda do coeficiente de viscosidade com a alteração do arranjo entre

partículas. A alteração do arranjo, do qual o “interlocking” é função, é muito bem

conhecida e aceita na mecânica dos solos através do conceito de φ residual em solos

argilosos; já quanto ao coeficiente de viscosidade o estado atual das pesquisas não

permite que se faça um prognóstico a respeito de seu comportamento.

Por fim, não se pode descartar a ação combinada das hipóteses A, B e C

descritas anteriormente que agrupadas fariam com que houvesse também uma queda na

resistência friccional.

De resto, vale dizer que em qualquer caso de ocorrência das hipóteses A, B e C

estarem presentes individualmente ou combinadas, seu efeito será sempre o do aumento

da velocidade de deformação.

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33

CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Justificativa da abordagem adotada.

Geralmente, ao se tentar validar um modelo ou verificar hipóteses tem-se duas

alternativas: ou se procede à execução de uma campanha de ensaios, ou então se utiliza

uma campanha previamente executada por outros pesquisadores.

Na primeira alternativa, tem-se como vantagem principal o planejamento

cuidadoso e detalhado dos ensaios que se pretende executar. Ou seja, fazem-se os

ensaios da maneira que se quer, com as técnicas, procedimento e equipamentos que se

julgam mais adequados e com o solo mais apropriado ao estudo. Já no segundo caso,

não há essa vantagem, porém é certamente vantagem a economia de recursos e tempo, o

que vem a ser algo seriamente considerado em se tratando do estudo do comportamento

ao longo do tempo.

No caso deste trabalho, optou-se pela segunda alternativa em vista da limitação

de tempo do autor na execução da campanha de ensaios.

No item 3.3 será descrita a campanha de ensaios com suas vantagens e

limitações, tendo-se como vantagens uma campanha de mais de 30 ensaios realizados

com temperatura controlada e aquisição automática de dados em um solo de

pronunciada dependência dos efeitos do tempo e que apresenta pico de resistência.

Porém o determinante na opção feita pela campanha apresentada por Vaid e Campanella

(1977) foi a fase não-drenada posterior ao adensamento hidrostático e anterior à fase de

cisalhamento, quando a drenagem foi fechada e esperou-se a estabilização da poro-

pressão (que foi medida apesar de não ser mostrada no artigo, Vaid (2004). Esta fase

eliminou a influência da poropressão dependente do tempo na poropressão gerada no

cisalhamento. Desta maneira, foi possível desconsiderar a parcela viscosa na tensão

normal efetiva, fenômeno estudado por Thomasi (2000) e abordado anteriormente, e

aplicar aos resultados o modelo de Martins (1992) tal como ele foi concebido.

3.2 – Solo estudado.

O solo estudado nesta tese é a argila Haney (“Haney Clay”) descrita no artigo de

Vaid e Campanella (1977). Segundo esses autores acredita-se que esta argila tenha

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34

sedimentado em ambiente marinho e posteriormente parcialmente lixiviada por

infiltração superficial.

A argila Haney é uma argila siltosa cinza normalmente adensada com limite de

liquidez = 44%, limite de plasticidade = 26%, tensão de sobreadensamento = 340 kPa e

sensibilidade variando de 6 a 10.

Todos os blocos indeformados foram retirados na mesma profundidade de uma

cava aberta, de forma a minimizar a não homogeneidade dos corpos de prova do

conjunto ensaiado.

3.3 – Descrição dos ensaios.

Vaid e Campanella (1977) executaram uma campanha de ensaios bastante

variada, incluindo ensaios tipo CIU com diversas velocidades de deformação (5 ensaios)

, ensaios de fluência (11 ensaios) , de carga constante (9 ensaios), de velocidade de

carregamento constante (6 ensaios) e combinações dos mesmos.

Todos os ensaios foram executados com temperatura controlada (com variação

máxima ambiente de ± 0.25 o C) e com aquisição automática de dados de alta

velocidade (10 canais por segundo). O equipamento utilizado foi o “Vidar Digital Data

Acquisition System” e os dados foram armazenados em uma fita magnética digital.

Todos os corpos de prova foram hidrostaticamente adensados por 36 horas à

tensões de 515 e 615 kPa, e deixados sob drenagem impedida sob a tensão de

adensamento por 12 horas. Nesta fase, segundo os autores, permitiu-se que a maior

parte da poropressão medida, gerada pelo impedimento do adensamento secundário, se

desenvolvesse. Tal medida teve como objetivo não “contaminar” a poropressão gerada

no cisalhamento com a poropressão devida ao impedimento do adensamento

secundário.

Apesar dos cuidados citados acima, os autores não usaram célula de carga

interna, nem adotaram técnicas do tipo “free-ends” para minimização do atrito topo-

base ou de medidas para controle da difusão, Vaid (2004). Além disso, os autores

verificaram a interferência da tixotropia em ensaios cuja duração foi maior do que

20.000 minutos. Como os ensaios estudados nesta tese foram aqueles cuja duração foi

inferior a 20.000 minutos, o efeito da tixotropia, se estiver presente não foi a princípio

digna de nota.

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Outra ausência notada nos resultados dos ensaios são os dados de poropressão.

Provavelmente as poropressões não foram apresentadas porque muitos ensaios foram

realizados com alta velocidade. Como os ensaios foram realizados sem “free-ends”e

com medida de poropressão na base, certamente não foi atingido um grau de

equalização tal que permitisse uma medida acurada das poropressões.

3.4 – Resultados dos ensaios.

Os ensaios de velocidade de deformação constante foram no total 5, com

velocidade de ensaio variando de 1,1 %/min a 9,4 x 10-4 %/min. O que se observa é uma

tendência de aumento de resistência com o aumento da velocidade de ensaio, sendo que

para uma variação de 3 ordens de grandeza na velocidade, o aumento de resistência foi

aproximadamente 30%.

Já os ensaios de fluência foram 11 com q/σ’c (q = σd) variando de 0.374 a 0.638,

sendo σ’c a tensão efetiva de adensamento hidrostática obtida ao final da fase

hidrostática que se seguia ao adensamento primário e precedia a fase de cisalhamento

não-drenado.

Fato importante a relatar é o de que nem todas as curvas e pontos dos gráficos de

deformação x tempo foram representados nas curvas de velocidade de deformação x

tempo. A curva do ensaio de carga constante q0/σ’c = 0.540 não foi representada, muito

provavelmente porque grande parte desta curva deve se confundir com a curva do

ensaio de carga constante q0/σ’c = 0.542 apresentada.

Os pontos dos gráficos reproduzidos neste trabalho foram obtidos com o auxílio

de um software de cad, após terem sido “escaneados”. Neste trabalho apresentam-se os

dados interpolados por computador, pois esta maneira foi a que possibilitou a obtenção

de mais pontos das curvas de maneira acurada.

Este procedimento foi o possível de ser adotado, pois, em contato feito com o

professor Vaid (2002), o mesmo informou que os dados originais já não existiam mais

(inclusive as poro-pressões), apenas uma reimpressão especial da Universidade da

Colúmbia Britânica do artigo de 1977 com gráficos de página inteira. Esta publicação

foi gentilmente enviada ao autor desta tese e dela obtidos os pontos.

Para os gráficos dos ensaios CIU convencionais (de velocidade de deformação

constante) foram obtidos pontos a cada 0.05 % de deformação, totalizando 20 pontos

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36

para cada 1 % de deformação. Desta forma, cada curva tem ao total 240 pontos

interpolados, já que os ensaios foram levados à ε = 12%.

As curvas apresentadas nesta tese, cujas abscissas representam o tempo foram

construídas a partir dos gráficos originais. Tomaram-se os pontos cujas abscissas eram

números inteiros multiplicados por uma potência de 10. Assim foram representados os

tempos em minutos de 1 x 10-1, 2 x 10-1, 3 x 10-1, ....., 9 x 10-1, 1 x 100, 2 x 100, 3 x 100

e assim por diante. Foram também representados os pontos onde a velocidade é mínima

e/ou a última leitura feita.

As curvas que se apresentam a seguir são cópias do original da publicação

enviada, “escaneadas”, traduzidas e realçadas em softwares próprios para tratamento de

imagens. As curvas com os dados interpolados são apresentadas no capítulo IV, onde

são apresentadas as previsões do modelo de Martins (1992) com as modificações

apresentadas nesta tese.

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37

Figura III.1 – Ensaios CIU com velocidade de deformação constante, Vaid e

Campanella (1977).

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Figura III.2 – Ensaios de fluência, Vaid e Campanella (1977).

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Figura III.3 - – Ensaios de fluência, Vaid e Campanella (1977).

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Figura III.4 – Ensaios de carga constante, Vaid e Campanella (1977).

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Figura III.5 – Ensaios de carga constante, Vaid e Campanella (1977)

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42

3.5 – Desenvolvimentos analíticos e numéricos

3.5.1 – Generalidades

Neste tópico apresenta-se o tratamento matemático dado ao modelo de Martins

(1992) considerando as hipóteses levantadas neste trabalho, quais sejam a de que a

parcela viscosa da tensão desviadora σdv vale:

n

dv dtdK

ε

⋅=σ III.1

Sendo ε a deformação específica axial, t o tempo, e K e n as constantes da

função de potência, função esta escolhida para representar a resistência viscosa.

Não considerar-se-ão as poropressões durante o cisalhamento eventualmente

oriundas do efeito estudado por Thomasi (2000), efeito esse apresentado no item

2.4.5.4.1 e discutido no item 2.4.5.4.2.

A exemplo do que considerou Martins (1992) a parcela friccional da tensão

desviadora é, para cada tensão de adensamento hidrostático, função exclusiva de ε.

Considerando que o modelo de Martins (1992) estabelece que a tensão

cisalhante (τ) em qualquer plano é a soma das parcelas friccional (τf) e viscosa (τv),

pode-se escrever

vf τ+τ=τ III.2

Em particular, no plano cuja normal faz um ângulo de 45o com a tensão principal

maior

( )dt

d22 31

45f45 00

ε−εη+τ⋅=τ⋅ III.3

Onde 045fτ é a parcela friccional de 045

τ e ( )

dtd 31 ε−ε

⋅η a parcela viscosa, η é o

coeficiente de viscosidade do solo como definido por Martins (1992) sendo ( )eη=η .

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43

Nos ensaios não-drenados convencionais, como e = cte, cte=η . Como 0v =ε , então

131 23

ε⋅=ε−ε . Dito isto, a equação III.3 pode ser reescrita como

dtd

23 1

dfdε

⋅⋅η+σ=σ III.4

Sendo dσ a tensão desviadora, dfσ a parcela friccional da tensão desviadora,

1ε a deformação axial, daqui em diante chamada de ε .

Em termos de tensões desviadoras a equação III.4 pode ser reescrita como

dvdfd σ+σ=σ III.5

Sendo dvσ a parcela viscosa da tensão desviadora.

De acordo com a equação III.1, hipótese desta tese, a equação III.5 pode ser

reescrita como

n

dfd dtdK

ε

⋅+σ=σ III.6

E como dfσ é, dada uma tensão de adensamento cσ′ , função exclusiva da

deformação cisalhante, pode-se escrever

( )n

dfd dtdK

ε

⋅+εσ=σ III.7

A equação III.7 é a equação geral para qualquer ensaio não-drenado.

No caso de um ensaio CIU os gráficos dσ x ε , dfσ x ε e dvσ x ε são os

apresentados na Figura III.6.

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44

Figura III.6 – Gráficos dσ x ε , dfσ x ε e dvσ x ε num ensaio CIU convencional.

ε

Salto devido à mobilização da viscosidade

ε

dfσ

dvσ

ε

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45

Se se conhecesse a função ( )εσdf poder-se-ia escrever a equação diferencial III.7

de forma explícita. Como não se conhece tal função, pode-se lançar mão de um

expediente e considerar a curva dσ x ε como formada por uma seqüência de segmentos

de reta como mostrado na Figura III.7.

Figura III.7 – Função ( )εσdf representada como uma seqüência de segmentos de reta.

De acordo com a figura III.7, no trecho 1 ( 10 ε<ε≤ ):

ε⋅+=σ 11df Ea III.8

Sendo a1 e E1 constantes com a1 = 0.

No trecho 2 ( 21 ε<ε≤ε ):

ε⋅+=σ 22df Ea III.9

Num trecho n qualquer:

ε⋅+=σ nndf Ea III.10

dfσ

1

1

E2

ε1 ε2 ε

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46

Cabe ressaltar que os Ei ( ni1 <≤ )tem a mesma dimensão de um módulo de

elasticidade, porém eles não têm o mesmo sentido físico daquela grandeza já que a

curva da Figura III.7 traduz a mobilização do atrito.

3.5.2 – Tratamento Analítico da Fluência Não-Drenada

No caso dos ensaios de fluência não-drenada, como a tensão desviadora dσ é

mantida constante, a equação III.7 se escreve

( ) ctedtdK

n

dfd =

ε

⋅+εσ=σ III.11

Escrevendo a equação III.7 em trecho como foi mostrado no item 3.5.1 tem-se,

para o trecho de ordem i

ctedtdKEacte

n

iid =

ε

⋅+ε⋅+==σ III.12

Derivando-se a equação III.12 em relação ao tempo tem-se

⋅⋅+⋅=

2

21

0dtd

dtdnK

dtdE

n

iεεε III.13

Para o trecho 1 ( 10 ε<ε≤ ) em particular

( )( )( )

221-n

1 dtddtd

dtdnK

E- ε=

ε

ε⋅

III.14

Ou seja,

+

ε

−=

ε⋅

ε

=⋅

−−−

Cdtd

dtd

1n1

dtd

dtd

nKE 1n

2

22n1 III.15

Sendo C uma constante arbitrária.

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47

Chamando ξ=

ε −1n

dtd , tem-se:

dtd

1n1

nKE1 ξ

−=

⋅− III.16

Que integrada no tempo fornece:

( ) 1n

11

dtdC

KtE

n1n −

ε

=ξ=+⋅

⋅−

− III.17

Explicitando dtdε chega-se a:

( ) 1n1

11 CK

tEn

1ndtd −

+⋅

⋅−

−=ε III.18

Para t = 0 a velocidade é igual a ( )n1

d Kσ pois não há atrito mobilizado. Assim,

:

n1

d1n

1

1 KC

dtd

σ==

ε− III.19

De maneira que ( ) n1n

d1 KC−

σ= . Substituindo C1 na equação III.18 tem-se:

( )1n

1

1n

1n

d

KtE

n1n

Kdtd

−−

⋅⋅

−−

σ=

ε III.20

Que integrada no tempo vem a ser:

( ) ( )2

1nn

1n

1n

d

1

CK

tEn

1nKE

Kt +

⋅⋅

−−

σ⋅−=ε

−−

III.21

Como para t = 0 tem-se ε = 0 chega-se a 1

d2 EC σ= e a solução se escreve:

( )

σ−

σ=ε

1nn

1n

1n

d

11

d

KtE

n1n

KEK

Et III.22

ou explicitando t em função de ε:

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48

( ) ( )

ε−

σ+

σ−

−⋅

n1n

1dn1n

d

1 KE

KKn1EnKt III.23

Como ilustração da curva deformação-tempo tem-se o seguinte:

Figura III.8 – Curva ε x t de um ensaio de fluência não-drenada para 10 ε<ε≤ .

Aplicando logaritmo em ambos os lados da equação III.20 chega-se a:

σ

−=

ε

KtE

n1n

Klog

1n1

dtdlog

n1n

d III.24

Onde se pode observar o gráfico aproximadamente retilíneo entre a velocidade

de deformação e o tempo, ambos em escala log para o trecho 1 ( 10 ε<ε≤ ), ilustrado a

seguir:

ε

tempo

1t

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49

Figura III.9 – Comportamento aproximadamente retilíneo entre a velocidade de

deformação e o tempo (em escala logarítmica).

Obviamente, este caso (com E=cte) só se aplica por trechos, porém a solução

pode ser generalizada, como esquematizado a seguir:

Figura III.10 – Definição de *ε .

1dtd

ε

(escala log)

tempo (escala log)

E1

1

1

E2

1* ε−ε=ε

dfσ

ε1 ε2 ε

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50

Figura III.11 – Definição de *t .

Definidos *ε e *t tem-se que

( ) 1n1

11

*

CK

tEn

1ndt

ddtd −

+⋅

⋅−

−=ε

=ε III.25

Quando 0t * = , 1tt = e a tensão desviadora de atrito vale 111df E ε⋅=σ e

portanto a parcela de viscosidade vale

11d1dv E ε⋅−σ=σ III.26

Assim, à direita de t1 ( +1t ) tem-se, para 0t * =

1n1

1

*

Cdt

ddtd −=

ε=

ε III.27

E como n

11d1dv dtdKE

ε

⋅=ε⋅−σ=σ (III.28) tem-se que

1* ttt −=

1* ε−ε=ε

t1

t

ε

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51

n1

11d1n1

1 KE

Cdtd

ε⋅−σ==

ε − III.29

De forma que

n1n

11d1 K

EC

ε⋅−σ= III.30

E o valor de dtdε para 21 ttt <≤ será

( ) ( ) 1n1

2n

1n

11d*

KttE

n1n

KE

dtd

dtd

−−

−⋅⋅

−−

ε⋅−σ=

ε=

ε III.31

O valor de *ε será

( ) ( )2

1nn

*2

n1n

11d

2

** CK

tEn

1nKE

EKt +

⋅⋅

−−

ε⋅−σ⋅−=ε

−−

III.32

Para 0t * = , 0* =ε 2

11d11d

22 E

EKE

EKC

ε⋅−σ=

ε⋅−σ⋅=∴ III.33

e

( )

ε⋅−σ+

⋅⋅

ε⋅−σ−=ε

−−

2

11d

1nn

*2n

1n

11d

2

**

EE

tKE

n1n

KE

EKt III.34

Como 1* ε−ε=ε e 1

* ttt −=

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52

( ) ( )

ε⋅−σ+

−⋅⋅

ε⋅−σ−ε=ε

−−

2

11d

1nn

12

n1n

11d

21 E

Ett

KE

n1n

KE

EKt III.35

Para 2tt =

( ) ( )

ε⋅−σ+

−⋅⋅

ε⋅−σ−ε=ε

−−

2

11d

1nn

122

n1n

11d

212 E

Ett

KE

n1n

KE

EKt III.36

( ) ( ) ( ) 1n1

122n

1n

11d2 K

ttEn

1nKE

tdtd

−−

−⋅⋅

−−

ε⋅−σ=

ε III.37

Para o trecho i1i ttt <≤− e i1i ε<ε≤ε −

( ) ( )

ε⋅−σ+

−⋅⋅

ε⋅−σ−ε=ε −−

−−−

i

1i1id

1nn

1ii

n1n

1i1id

i1i E

Ett

KE

n1n

KE

EKt

III.38

( ) ( ) 1n1

1iin

1n

1i1id

KttE

n1n

KE

dtd

−−

−⋅⋅

−−

ε⋅−σ=

ε III.39

e

( ) ( )( )

ε−ε−

σ+

σ−

−⋅

−−

n1n

1i1idn1n

d

1i KE

KKn1EnKt III.40

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53

3.5.3 – Tratamento Numérico dos Ensaios de Fluência Não-Drenada

Nos ensaios de fluência não-drenada, dada uma tensão hidrostática cσ′ sob a

qual o corpo de prova foi adensado, pretende-se obter a priori as seguintes informações:

1) A curva ε x t.

2) A curva dtdε x t ( ε& x t).

3) O corpo de prova submetido àquela tensão dσ rompe ou não?

3a) Se rompe, com que velocidade se dá a ruptura?

3b) Se estabiliza ( ε& = 0), qual o valor de ε para a estabilização?

Para prever as curvas ε x t e ε& x t deve-se reportar às equações III.38 e III.39.

Nestas equações são constantes K e n para todo o ensaio. São também constantes mas

apenas por trechos o parâmetro Ei. Para determinar os valores dos Eis, K e n neste

trabalho partiu-se de ensaios CIU convencionais e aplicou-se o seguinte procedimento:

1) A partir do gráfico dσ x ε ( ou do caminho de tensões efetivas, o que no presente

trabalho não é possível pois não se tem os dados de poro-pressão) determina-se o salto

inicial da viscosidade (Figura III.12)

Figura III.12 – Determinação do salto de viscosidade.

ε

Salto devido à mobilização da viscosidade = dvσ

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54

2) Como no ensaio CIU a velocidade de deformação é constante, a parcela viscosa da

tensão desviadora ( dvσ ) também será. Assim subtraindo-se da curva dσ x ε o valor de

dvσ , obteve-se a curva dfσ x ε .

3) Para o ponto de máximo da curva dfσ x ε determina-se o valor máximo da

resistência friccional e sua respectiva deformação específica.

4) Para um outro ensaio CIU convencional disponível realizado com a mesmo tensão

cσ′ e velocidade diferente, subtrai-se o valor de máxdfσ determinado no item (3) do valor

de dσ (do ensaio em questão) associado à mesma deformação específica determinada

do item (3). Determina-se assim a resistência viscosa dvσ associada a esta nova

velocidade.

5) De posse de dois valores de dvσ correspondentes a 2 velocidades diferentes

determinam-se, via equação III.1 os valores de K e n.

6) No caso de estarem disponíveis mais de 2 ensaios repete-se o procedimento e ajusta-

se ao conjunto de pares de pontos ( dvσ , ε& ) a melhor curva do tipo da equação III.1

determinando-se assim os valores de K e n.

7) De posse dos valores de K e n descontam-se das curvas dσ x ε os valores das

respectivas resistências viscosas dvσ obtendo-se para cada ensaio uma curva dfσ x ε .

8) As curvas dfσ x ε quando normalizadas em relação a cσ′ devem fornecer uma curva

única. Este é um item de fundamental importância pois por hipótese c

df

σ′σ

x ε é uma

curva única, propriedade do material e se este requisito básico não for atendido o

modelo não pode ser aplicado.

9) Se a verificação do item (8) for satisfeita, segue-se adiante discretizando-se a curva

c

df

σ′σ

x ε para o obtenção dos trechos descritos no item 3.5.2.

10) Neste trabalho foram tomados intervalos de %05.0=ε . Como os ensaios CIU

foram levados até %12=ε , foram obtidos 240 intervalos. Com os intervalos assim

obtidos calculam-se os c

iEσ′

por

( ) c1ii

1dfidfi

c

iEσ′⋅ε−ε

σ−σ=

σ′ −

− III.41

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55

11) De posse dos c

iEσ′

, K e n, dado um ensaio de fluência não-drenada a ser executado

com determinados cσ′ e dσ , determinam-se os respectivos iE .

12) Cada trecho de cteE i = foi posteriormente dividido em 50 subintervalos de

0.001%. Assim, com %001.0=ε , determina-se via equação III.40 o valor do tempo

para %001.0=ε e através da equação III.39 o valor da velocidade para %001.0=ε .

Este processo é repetido dentro do intervalo 1, 50 vezes obtendo-se 50 pares ( ε , t) e 50

pares ( ε& , t).

13) Daí em diante repete-se o passo (12) tantas vezes quanto necessárias até cobrir todos

os intervalos.

Embora este procedimento de cálculo trabalhe diretamente sobre as expressões

III.38, III.39 e III.40, o esforço computacional é elevado. O procedimento aqui descrito

foi usado para a análise de 2 ensaios de fluência não-drenada e as razões para isso serão

apresentadas posteriormente.

Deve-se ressaltar que as expressões III.38, III.39 e III.40 não são afetadas se os

valores de iE e K forem substituídos por seus valores normalizados em relação a cσ′ . A

rigor, neste trabalho foram usados estes valores normalizados.

Voltando-se ao assunto do esforço computacional, há um procedimento

alternativo para a determinação dos pares ( ε , t) e ( ε& , t) menos trabalhoso, que se passa

a descrever a seguir.

3.5.4 – Tratamento Numérico Alternativo dos Ensaios de Fluência Não-

Drenada

Partindo-se da equação III.11 admitindo-se a aproximação para a curva dfσ x ε

como mostrado na Figura III.7, pode-se calcular a velocidade ε& por

( ) n1

dfd

Kdtd

εσ−σ=

ε III.42

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56

Para um conjunto de ensaios CIU com determinado cσ′ e ε& diferentes, pode-se

determinar ( )εσdf , K e n como foi mostrado nos itens (1) a (9) do tópico 3.5.3.

Assim, dado um ensaio de fluência não-drenada com dσ determinado, para cada

ε existirá um e apenas um valor de ε& dado pela expressão III.42 e, portanto, para cada

ε haverá também um e apenas um ε

=

ε −

ddt

dtd 1

. Assim, o tempo associado a uma

determinada deformação ε , pode ser obtido por

( ) ε

ε

ε=ε

−ε ε

∫ ∫ ddtdd

ddtt

1

0 0

III.43

conforme mostra a Figura III.12.

Figura III.12 Obtenção do tempo t associado a ε .

Então têm-se determinados para cada ε uma determinada velocidade e um

determinado tempo. Resta saber o método para calcular a integral III.43 para o que será

usado o método dos trapézios.

Assim, o tempo kt associado à deformação kε pode ser calculado por

ε

1i−ε iε

1−ε&

11i

−−ε&

1i−ε&

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57

( )1ii

k

1i

11i

1i

k 2t −

=

−−

ε−ε⋅ε+ε

= ∑&&

III.44

que por sua vez vale

ε−ε⋅

ε⋅εε+ε

= −

= −

−∑ 2t 1ii

k

1i 1ii

1iik &&

&& III.45

Então, nesse tratamento alternativo, repetem-se os passos de (1) a (9) do item

3.5.3 terminando com o cálculo de t e ε& como descrito acima.

3.5.5 – Tratamento Analítico dos Ensaios Não-drenados de Carga

Constante

No caso dos ensaios não-drenados de carga constante a tensão desviadora

dσ varia com a deformação, uma vez que apesar da carga aplicada ser constante, a área

da seção transversal aumenta pelo efeito de Poisson.

Sendo respectivamente V0 o volume inicial, A0 a área inicial da seção transversal

e h0 a altura inicial do corpo de prova no início da fase de cisalhamento, e considerando

δA o incremento de área e δh o decréscimo na altura do corpo durante o cisalhamento,

tem-se que:

( ) ( )h0A0000 hAhAV δ−⋅δ+=⋅= III.46

Assim sendo tem-se que:

ε−=δ−

=δ+

1h

hA

A

0

h0

A0

0 III.47

Sendo 0

0d AF

=σ e A0

d AF

δ+=σ tem-se então que:

( )ε−⋅σ=σ 10dd III.48

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58

Assim sendo, a equação III.7 se escreve

( ) ( ) ctedtdK1

n

df0dd =

ε

⋅+εσ=ε−⋅σ=σ III.49

Onde 0dσ é a tensão desviadora inicial do ensaio não-drenado de carga

constante.

Escrevendo a equação III.7 em trecho como foi mostrado no item 3.5.1 tem-se,

para o trecho de ordem i

( ) ctedtdKEa1

n

ii0dd =

ε

⋅+ε⋅+=ε−⋅σ=σ III.50

Derivando-se a equação III.50 em relação ao tempo tem-se

( ) ctedtd

dtdnK

dtdE0 2

21n

0di =

ε⋅

ε

⋅⋅+ε

⋅σ+=−

III.51

A equação III.51 é parecida com a equação III.13 porém com o termo

( )0diE σ+ multiplicando ε& ao invés de somente iE . Desta forma as soluções para ( )tε ,

( )tε& e ( )εt serão semelhantes àquelas dadas pelas equações III.38, III.39 e III.40, porém

com o termo ( )0diE σ+ no lugar de iE . Fazendo-se isso obtém-se

( ) ( )( ) ( ) ( )

1nn

1i0din

1n

1i0d1id

0di1i tt

KE

n1n

KE

EKt

−−−

−⋅σ+

ε⋅σ+−σσ+

−ε=ε

( )( )

σ+

ε⋅σ+−σ+ −−

0di

1i0d1id

EE

III.52

( ) ( ) ( ) ( ) 1n1

1i0di

1i0d1id

Ktt

En

1nK

Edtd −

−−−

⋅σ+⋅−

ε⋅σ+−σ=

ε III.53

e

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59

( ) ( )( )( )( )

ε−εσ+−

σ+

σ−

−σ+⋅

−−

n1n

1i0d1idn1n

d

0d1i KE

KKn1EnKt III.54

3.5.6 – Tratamento Numérico dos Ensaios Não-drenados de Carga Constante

O tratamento numérico a ser dado aos ensaios não-drenados de carga constante é

idêntico ao dado aos ensaios de fluência não-drenada a não ser pelas equações a serem

utilizadas no passo (12) onde passam a ser válidas as equações III.52, III.53 e III.54.

Como neste tratamento o esforço computacional é também considerável, optou-

se por outro procedimento alternativo a exemplo do item 3.5.4. Esse procedimento

alternativo é descrito no item a seguir.

3.5.7 – Tratamento Numérico Alternativo dos Ensaios Não-drenados de Carga

Constante

Também à exemplo do que foi feito para os ensaios de fluência não-drenada

calcula-se para cada valor de ε uma velocidade de deformação, sendo porém sendo

cômputo diferente uma vez que a tensão desviadora cai ao longo do ensaio. Como a

tensão desviadora cai com a evolução das deformações a velocidade de deformação

passa a ser

( ) ( ) n1

df0d

K1

dtd

εσ−ε−⋅σ=

ε III.55

Uma vez calculada a velocidade os demais passos do tratamento são idênticos

àqueles descrito no item 3.5.4.

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60

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS OBTIDOS

4.1 – Previsões.

Para que se possam fazer previsões quanto ao comportamento da argila Haney é

necessário primeiramente que se determinem os parâmetros do modelo, ou seja, as

curvas de atrito e de viscosidade, o que está feito no tópico seguinte.

4.1.1 – Determinação dos parâmetros do modelo.

Como mostrado no capítulo 2, em um ensaio CIU convencional a resistência

viscosa é instantaneamente mobilizada (“salto de viscosidade”) e permanece constante

ao longo do ensaio. Assim sendo, basta que em um gráfico de tensão desviadora x

deformação se determine e se subtraia o “salto de viscosidade” para que se obtenha a

curva parcela de atrito da tensão desviadora x deformação específica.

De posse da curva parcela de atrito da tensão desviadora x deformação axial

específica ( )εσdf x ε , podem-se determinar as demais parcelas viscosas dos outros

ensaios realizados com diferentes velocidades. Para isto, basta que sejam subtraídos da

curva dσ x ε , abscissa a abscissa, os valores de dfσ . Procedendo desta forma, obter-se-

ão os pares ordenados das velocidades de deformação e das parcelas viscosas das

tensões desviadoras dvσ aos quais se ajusta a função n

dv dtdK

ε

⋅=σ . É necessário

ressaltar que para descontar os valores de dfσ dos valores de dσ de um outro ensaio, é

preciso que este outro ensaio tenha sido realizado com a mesma tensão cσ′ . Entretanto,

para evitar essa limitação, pode-se, como explicado no capítulo 3, generalizar o

processo trabalhando-se com os valores de dσ , dfσ e dvσ normalizados em relação a

cσ′ . O que foi sucintamente descrito acima será mostrado passo a passo a seguir.

1o Passo: Determinação do “salto” de viscosidade.

Para a determinação do “salto” de viscosidade, optou-se pela curva de

velocidade dε/dt = 1.1 %/min. Essa curva foi escolhida por ser a de maior velocidade de

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61

deformação e conseqüentemente mostrar o maior “salto”, o que permite determinar a

resistência viscosa com menor erro.

Observando a Figura III.1, pode-se ver que o “salto” de viscosidade normalizado

pode ser estimado em torno de 0.2.

2o Passo: Determinação da curva de atrito (c

df

σ′σ

x ε ).

Estimado o salto de viscosidade normalizado em 0.2, basta que da curva da

tensão desviadora x deformação específica se subtraia a cada ponto o valor do “salto”.

Feito isso obtém-se a curva a seguir.

0.00

0.05

0.10

0.15

0.20

0.25

0.30

0.35

0.40

0.45

0.50

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12ε (%)

σ' df

/ σ' c

Figura IV.1 – Curva de atrito obtida do ensaio com dε/dt = 1.1 %/min.

3o Passo: Determinação da função de viscosidade.

Estimada a curva de atrito, pode-se determinar as resistências viscosas

associadas às velocidades de deformação dos demais ensaios, bastando subtrair em

algum ponto de cada curva a resistência friccional da resistência total. Fazendo isso para

a deformação de 2.5 %, valor para o qual ocorre o máximo na curva da Figura IV.1,

obtém-se a tabela abaixo.

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62

dtdε

(%/min) c

dv

σ′σ′

1,1 0,20 0,15 0,15

0,014 0,09 0,0028 0,07 0,00094 0,06

Tabela IV.1 – Estimativa dos pares ordenados de resistência viscosa x velocidade de

deformação.

Fazendo um gráfico e ajustando os pontos por uma função de potência se obtém

o que se segue.

σ'dv/σ'c = 0,200(dε/dt)0,174

R2 = 0,9988

0.01

0.10

1.000.0001 0.001 0.01 0.1 1 10

dε/dt (%/min)

σ' dv

/ σ' c

Figura IV.2 – Curva de resistência viscosa x velocidade de deformação.

4o Passo: Verificação da curva de atrito.

Estimados os “saltos” de viscosidade normalizados, tais valores podem ser

subtraídos das respectivas curvas c

d

σ′σ

x ε obtendo-se para cada ensaio a curva de atrito

c

df

σ′σ

x ε . Tais curvas c

df

σ′σ

x ε devem ser, por hipótese, na verdade uma só,

independentes da velocidade, como admite o modelo de Martins (1992). Isto feito,

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63

torna-se imperativo esclarecer que se as curvas c

df

σ′σ

x ε não formarem na verdade uma

só, a hipótese básica de Martins (1992) não é mais válida e o modelo não pode ser

aplicado ao solo em questão. Dito isto, apresentam-se a seguir as curvas c

df

σ′σ

x ε

obtidas para cada ensaio.

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

ε (%)

σ'df

/ σ' c

Vel. def. axial = 1,1 %/min

Vel. def. axial = 0,15 %/min

Vel. def. axial = 0,014 %/min

Vel. def. axial = 0,0028 %/minVel. def. axial = 0,00094 %/min

Curva média

Figura IV.3 – Curvas de atrito por ensaio.

4.1.1.1 – Verificação dos parâmetros.

Antes de se apresentarem as previsões feitas para os ensaios de fluência e de

carga constante, serão feitas duas verificações da consistência dos parâmetros obtidos,

sendo a primeira por análise dimensional, Carneiro (1996), e a segunda usando as

expressões apresentadas no capítulo III para esses ensaios.

4.1.1.1.1 – Por análise dimensional.

Para levar esta tarefa a bom termo, é preciso primeiro listar as variáveis

intervenientes no problema em questão. Como este é um problema de resistência

mecânica do material que compõe um corpo, é necessário que figure a resistência

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64

característica do material, neste caso representado como a máxima parcela friccional

maxdfσ . As outras variáveis serão a tensão desviadora aplicada ao corpo, designada por

dσ , as constantes de viscosidade K e n (de um fluido não-Newtoniano, representado por

uma função de potência), e o tempo t. Neste caso em especial, não figurará o peso

específico do material, γ, pois as tensões devidas ao peso próprio do corpo de prova são

muito pequenas em comparação à dσ . Colocando de uma outra forma, o problema seria

o seguinte: Em quanto tempo se dará a ruptura de um corpo de prova cuja resistência

característica é maxdfσ , submetido à uma tensão desviadora dσ , cujo comportamento

viscoso é ditado por uma lei de potência cujas constantes são K e n ?

Neste problema a variável dependente será o tempo t e as demais serão variáveis

independentes. A seguir estão indicadas as fórmulas dimensionais dessas variáveis.

Tempo [t] = T

Constante K [K] = n2 FTL−

Tensão Desviadora [ dσ ] = FL 2−

Resistência característica [ maxdfσ ] = FL 2−

Constante n [n] = L0M0T0

A constante n, por ser adimensional, não precisará figurar na matriz dimensional.

A tensão desviadora também não precisará figurar na matriz uma vez que esta variável

está relacionada com a resistência característica por um fator de forma, formando o

primeiro número Π da solução (maxdf

d1 σ

σ=Π ). Apresenta-se a seguir, tendo maxdfσ e K

como grandezas determinantes e t como grandeza diretriz.

maxdfσ K t L -2 -2 0 F 1 1 0 T 0 n 1 α1 α2 α3

Tabela IV.2 – Matriz dimensional dos parâmetros do modelo.

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65

Outra grandeza que não precisará figurar na matriz dimensional é a deformação

específica, uma vez que também essa grandeza é adimensional.

Pelo exposto acima, o posto da matriz é 3, assim o número de números Π deste

problema é 1, uma vez que o número de variáveis é igual a 3. Para este problema o

sistema de equações que exprime a nulidade das dimensões quanto a base LFT é o

abaixo mostrado:

022 21 =α⋅−α⋅− IV.1

021 =α+α IV.2

0n 32 =α+α⋅ IV.3

2o número Π : ( 13 =α )

Para 13 =α obtém-se n1

2 −=α e n1

1 =α de forma que o número 2Π , que vem

a ser 123maxdf2 Kt ααα σ⋅⋅=Π é escrito da seguinte forma

n1

maxdf2 K

t

σ⋅=Π IV.4

Assim a solução do problema via análise dimensional seria ( )21 f Π=Π , ou seja

σ⋅=

σσ n

1

maxdf

maxdf

d

Ktf . Desta maneira, pode-se verificar a coerência das variáveis

envolvidas no fenômeno. Em havendo uma relação funcional única pode-se atestar a

validade das hipóteses levantadas e caso não haja relação as hipóteses não são

satisfatórias.

Determinando as grandezas para os ensaios de fluência, de velocidade constante

e de carga constante, obtém-se a seguinte tabela:

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66

Ensaio Tipo dtdε

(%/min) cd σ′σ

c0d σ′σ′ ( )%ε

Tempo (min)

maxdfd σσ

( ) n1maxdf Kt σ⋅

Vel. Constante 1,1 0,661 - 2,5 2,3 1,43 272

Vel. Constante 0,15 0,609 - 2,5 16,7 1,32 1995

Vel. Constante 0,14 0,556 - 2,5 178,6 1,21 21379

Vel. Constante 0,0028 0,534 - 2,5 892,9 1,16 106897

Vel. Constante 0,00094 0,519 - 2,5 2659,6 1,13 318418

Fluência - 0,638 - 2,5 4,3 1,38 517

Fluência - 0,616 - 2,5 10,1 1,34 1211

Fluência - 0,6 - 2,5 18,7 1,30 2235

Fluência - 0,586 - 2,5 29,5 1,27 3529

Fluência - 0,572 - 2,5 42,4 1,24 5075

Fluência - 0,552 - 2,5 154,4 1,20 18483

Fluência - 0,53 - 2,5 479,8 1,15 57441

Fluência - 0,518 - 2,5 703,9 1,12 84272

Fluência - 0,5 - 2,5 1616,2 1,08 193496

Carga Constante - - 0,63 2,5 3,3 1,33 398

Carga Constante - - 0,606 2,5 11,7 1,28 1401

Carga Constante - - 0,592 2,5 16,8 1,25 2007

Carga Constante - - 0,578 2,5 62,5 1,22 7485

Carga Constante - - 0,558 2,5 96,3 1,18 11527

Carga Constante - - 0,542 2,5 140,4 1,15 16806

Carga Constante - - 0,532 2,5 286,4 1,13 34289

Carga Constante - - 0,528 2,5 483,0 1,12 57823

Tabela IV.3 – Valores das grandezas determinadas nos ensaios.

Uma vez determinadas as grandezas para cada ensaio e calculados os números

1Π e 2Π , pode-se obter o gráfico seguinte.

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67

1,00

1,05

1,10

1,15

1,20

1,25

1,30

1,35

1,40

1,45

1,50

100 1000 10000 100000 1000000

t(σdfmax/K)1/n

σ d/ σ

dfm

ax

Ensaios de Carga Constante

Ensaios de Fluência

Ensaio de Vel. Def. Constante

Figura IV.4 – Gráfico 1Π x 2Π .

Pelo o que mostra a figura acima pode-se constatar que há uma relação funcional

entre as grandezas adotadas.

Observar que com a relação funcional revelada pelo gráfico da Figura IV.4

poderiam ser obtidas todas as previsões feitas nesta tese com relação aos ensaios de

fluência e carga constante sem a necessidade de nenhum procedimento analítico ou

numérico. Bastaria para isso apenas determinar via ensaios CIU as curvas ( )εσdf x ε e

n

dv dtdK

ε

⋅=σ . A seguir é feita uma segunda verificação dos parâmetros do modelo.

4.1.1.1.2 – Verificação numérica.

Como apresentado no capítulo III as equações para os casos dos ensaios de

fluência e de carga controlada são as seguintes:

Ensaio de Fluência: ( )n

dfd dtdK

ε

⋅+εσ=σ IV.5

Ensaio de Carga Constante: ( ) ( )n

df0d dtdK1

ε

⋅+εσ=ε−⋅σ IV.6

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68

Admitindo válidos os parâmetros determinados pode-se, escolhendo pontos

quaisquer dos ensaios de fluência e de carga constante verificar se as expressões acima

são coerentes. Dividindo a primeira expressão por dσ e a segunda por ( )ε−⋅σ 10d tem-

se respectivamente:

( )

d

n

df dtdK

ε

⋅+εσ= IV.7

( )

( )ε−⋅σ

ε

⋅+εσ=

1dtdK

10d

n

df

IV.8

Ou seja, para qualquer ponto de qualquer ensaio de fluência ou de carga

constante deve-se verificar que as expressões acima devem se igualar à unidade.

cd σ′σ Tempo (min) ( )%ε dtdε (%/min) cdf σ′σ Expressão IV.7 Erro (%) 0,638 1 1,58 3,70E-01 0,449 0,97 -3,19 0,638 5 2,72 2,78E-01 0,462 0,97 -2,54 0,616 1 1,26 2,78E-01 0,436 0,97 -3,23 0,616 20 3,87 2,41E-01 0,456 0,99 -0,62 0,6 5 1,65 8,43E-02 0,451 0,97 -3,22 0,6 60 5,72 2,86E-01 0,441 1,00 0,33

0,586 1 0,96 1,87E-01 0,415 0,96 -3,73 0,586 80 6,3 1,00E+00 0,436 1,09 8,57 0,572 5 1,28 5,99E-02 0,438 0,98 -1,93 0,572 50 2,73 2,86E-02 0,462 1,00 -0,47 0,552 1 0,74 1,22E-01 0,393 0,96 -3,62 0,552 500 7,62 1,00E+00 0,425 1,13 13,33 0,53 500 2,55 2,10E-03 0,461 1,00 -0,05 0,53 1000 3,5 2,30E-03 0,458 1,00 -0,41 0,518 2000 3,4 6,00E-04 0,459 0,99 -0,79 0,518 10000 6,38 4,00E-04 0,435 0,94 -6,11 0,5 400 1,8 1,10E-03 0,454 1,03 3,07 0,5 7000 3,44 1,00E-04 0,459 1,00 -0,23

0,446 1 0,44 5,05E-02 0,339 1,03 2,80 0,446 10000 1,41 2,00E-05 0,443 1,06 6,06 0,374 1 0,31 3,11E-02 0,300 1,09 9,39 0,374 4000 0,86 2,00E-05 0,404 1,16 16,23

Tabela IV.4 – Verificação da Expressão IV.7 para pontos dos ensaios de

fluência.

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69

Como se pode ver há uma boa concordância entre os valores teóricos e os

calculados pela expressão IV.7, que a não ser pelos pontos dos ensaios q/σ’c = 0.552

para t = 500 minutos e q/σ’c = 0.374 para t = 4000 minutos, os erros ficaram abaixo de

10 %.

Fazendo o mesmo para pontos dos ensaios de carga constante tem-se o que se

segue.

c0d σ′σ′ Tempo (min) ( )%ε dtdε (%/min) cdf σ′σ Expressão IV.8 Erro (%) 0,63 1 1,78 3,91E-01 0,454 1,01 0,89 0,63 10 4,22 2,75E-01 0,453 1,02 1,53 0,606 2 1,54 1,72E-01 0,448 1,00 -0,24 0,606 20 3,17 7,76E-02 0,460 1,00 0,31 0,592 3 1,57 1,13E-01 0,448 1,00 0,37 0,592 30 3,23 5,06E-02 0,460 1,01 1,05 0,578 10 1,45 3,55E-02 0,445 0,98 -2,31 0,578 100 3,05 1,43E-02 0,461 0,99 -0,73 0,558 50 2 1,24E-02 0,457 1,01 0,64 0,558 800 8,25 1,07E-02 0,420 1,00 -0,21 0,542 1000 5,72 3,80E-03 0,441 1,01 1,13 0,542 2000 10,74 8,90E-03 0,400 1,01 0,81 0,532 1000 3,6 1,00E-03 0,458 1,01 0,97 0,532 10000 8,03 2,00E-04 0,422 0,95 -4,53 0,528 100 2,75 4,20E-03 0,462 1,05 4,91 0,528 10000 6,98 2,00E-04 0,430 0,97 -3,16 0,63 3 2,4 2,62E-01 0,461 1,01 0,73 0,606 40 5,05 1,03E-01 0,446 1,01 0,98 0,592 60 4,83 5,93E-02 0,448 1,01 1,21 0,578 400 10,71 5,77E-02 0,392 1,00 -0,43

Obs: 0dσ é a tensão desviadora inicial dos ensaios não-drenados de carga constante.

Tabela IV.4 – Verificação da Expressão IV.8 para pontos dos ensaios de carga

constante.

Como se pode observar, os resultados para os pontos dos ensaios de carga

constante também se mostram coerentes com erros até menores que os dos ensaios de

fluência.

De uma maneira geral, pode-se afirmar que esses resultados são muito bons,

uma vez observadas as faixas de valores envolvidos, que, dependendo da grandeza,

chega a 4 ordens de grandeza, como é o caso da velocidade de deformação (dtdε ).

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70

Verificada a coerência dos parâmetros determinados passa-se às previsões dos

ensaios de fluência e de carga constante.

4.1.2 – Ensaios de fluência.

Estimadas as curvas de atrito e de viscosidade e utilizando o procedimento

numérico apresentado no capítulo III com o uso de uma planilha eletrônica, pode-se

fazer as previsões para os casos dos ensaios de fluência, que são apresentados na

seqüência. Cabe esclarecer que em cada previsão foram adotadas três curvas de atrito,

que nada mais são que as curvas c

df

σ′σ

x ε para os valores médios, máximos e mínimos

de c

df

σ′σ

para cada ε . Assim os resultados obtidos a partir da adoção dos valores

máximos e mínimos de c

df

σ′σ

fornecem um intervalo (barra) onde devem ser esperados os

resultados.

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71

0

2

4

6

8

10

12

0.1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)Dados ExperimentaisPrevisãoBarra de Erro InferiorBarra de Erro Superior

Figura IV.5 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.638

1.E-01

1.E+00

1.E+01

1.E+00 1.E+01 1.E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisPrevisãoBarra de Erro InferiorBarra de Erro Superior

Figura IV.6 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.638

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72

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.7 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.616

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.8 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.616

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73

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.9 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.600

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.10 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.600

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74

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.11 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.586

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.12 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.586

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75

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.13 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.572

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.14 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.572

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76

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.15 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.552

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.16 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.552

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77

0

2

4

6

8

10

12

0.1 1 10 100 1000 10000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.17 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.530

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.18 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.530

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78

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.19 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.518

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.20 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.518

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79

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.21 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.500

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.22 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.500

Page 92: Gilberto Ferreira Alexandre TESE SUBMETIDA AO …€¦ · the Mohr circle of effective stress can be viewed as the sum of two other circles, each ... Ei módulo de deformação fb(e)

80

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.23 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.446

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.24 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.446

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81

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

1.2

1.4

1.6

1.8

2.0

0.1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.25 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.374

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura IV.26 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.374

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82

Para esses dois últimos ensaios fez-se outras previsões utilizando para tal as

expressões analíticas da deformação e da velocidade de deformação com o tempo

obtidas com a solução da equação diferencial simplificada da fluência. O procedimento

numérico utilizado foi o apresentado no capítulo 3 para o caso do módulo de

deformação constante por partes.

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de erro inferior

Previsão

Barra de erro superior

Figura IV.27 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.446

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de erro inferior

Previsão

Barra de erro superior

Figura IV.28 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.446

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83

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Barra de erro inferior

Previsão

Barra de erro superior

Figura IV.29 – Gráfico ε x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.374

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de erro inferior

Previsão

Barra de erro superior

Figura IV.30 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio cd σ′σ = 0.374

Page 96: Gilberto Ferreira Alexandre TESE SUBMETIDA AO …€¦ · the Mohr circle of effective stress can be viewed as the sum of two other circles, each ... Ei módulo de deformação fb(e)

84

4.1.3 – Ensaios de carga constante.

Nesta seção apresentam-se as previsões feitas para os ensaios de carga constante

a partir dos parâmetros estimados e com o procedimento numérico apresentado no

capítulo 3.

Ressalta-se que não foi feita previsão do comportamento velocidade de

deformação x tempo do ensaio c0d σ′σ = 0.540 pois o mesmo não foi apresentado no

artigo.

0

2

4

6

8

10

12

1.E-01 1.E+00 1.E+01 1.E+02Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.27 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.630

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.28 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.630

Page 97: Gilberto Ferreira Alexandre TESE SUBMETIDA AO …€¦ · the Mohr circle of effective stress can be viewed as the sum of two other circles, each ... Ei módulo de deformação fb(e)

85

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

ε (%

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura IV.29 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.606

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura IV.30 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.606

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86

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.31 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.592

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura IV.32 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.592

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87

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.33 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.578

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura IV.34 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.578

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0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.35 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.558

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.36 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.558

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0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.37 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.542

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.38 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.542

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90

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

ε (%

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura IV.39 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.532

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura IV.40 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.532

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0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.41 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.528

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.42 – Gráfico dε/dt x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.528

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92

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura IV.43 – Gráfico ε x tempo – Ensaio c0d σ′σ = 0.540

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93

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 – Resistências Friccionais

Como estabelece o modelo de Martins (1992) através de uma de suas hipóteses

mais importantes, o atrito é função exclusiva da deformação cisalhante. Esta hipótese é

equivalente à de que a parcela friccional da tensão desviadora normalizada em relação a

tensão cσ′ é função exclusiva da deformação específica axial ε , ou seja, que a curva

c

df

σ′σ

x ε é única.

Com os resultados da Figura IV.3 pode-se concluir que esta hipótese se

aproxima bastante da realidade com um desvio de ± 6% em torno da curva friccional

média para a faixa de deformações de %12%3.0 ≤ε≤ . Para valores de %3.0<ε há

erros relativos maiores (de até 40% associados a um erro absoluto na medida de

%1.0≅ε ). Entretanto, é nesta faixa que estão embutidas as deformações do sistema

(pedra-porosas, papel filtro, top-cap). Da Figura IV.3 fica também evidente que após o

pico as curvas c

df

σ′σ

x ε apresentam maior afastamento. Como os ensaios não foram

realizados empregando-se a técnica de “free-ends”, os valores de ε plotados

correspondem a um valor médio ao longo da altura do corpo de prova. Sabe-se, pelo

menos, que não houve até 12% a formação de planos de concentração de deformação

cisalhantes (Vaid, 2004). Isto permite dizer que, caso todos os ensaios tenham

apresentado a mesma distribuição de deformação ao longo da altura do corpo de prova,

que a deformação média guarda uma relação direta com o valor de ε verdadeiro. A

hipótese da existência de uma curva

c

df

σ′σ

x verdadeiroε se manifestaria também na curva c

df

σ′σ

x médioε apresentada na Figura

IV.3.

5.2 – Resistências Viscosas

Quanto à resistência viscosa, observa-se que a função de potência se ajusta bem

aos dados experimentais como mostrado na Figura IV.2. Para valores da velocidade de

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94

deformação de 9.4x10-4 %/min a 1.1 %/min obteve-se, usando a função de potência, um

coeficiente de correlação R2 = 0.9988. Santa Maria (2002), trabalhando com ensaios

edométricos, apresentou valores da resistência viscosa que parecem indicar um limite

superior para tal grandeza, que, assim, não poderia ser representada por uma função de

potência. Entretanto, há três aspectos importantes que justificam o uso da função de

potência para quantificar a resistência viscosa:

1. Os dados experimentais são muito bem representados no domínio das

velocidades encontradas neste trabalho.

2. A função é simples permitindo um tratamento matemático igualmente simples.

3. A função em questão traduz duas características físicas fundamentais do

fenômeno, quais sejam, para a velocidade de deformação zero a resistência

viscosa é nula e a resistência viscosa é crescente com a velocidade de

deformação.

Outro fato importante é que se constata experimentalmente que a resistência

viscosa, como admitido nas deduções teóricas do modelo (Martins, 1992), é função do

índice de vazios e da velocidade de deformação ε& .

No que concerne à determinação do “salto de viscosidade”, sua determinação

pode ser feita com maior clareza a partir do caminho de tensões efetivas como relatado

em Martins et al. (2001). Neste trabalho, isto não foi possível por não estarem

disponíveis os valores das poropressões.

A adequação de se tratar o problema da resistência ao cisalhamento como a

soma de resistências por atrito e viscosidade está respaldada pela análise dimensional. A

Figura IV.4 mostra que as grandezas físicas escolhidas para representar o fenômeno são

adequadas à sua descrição.

5.3 – Ensaios de Fluência Não-Drenada

Quanto às previsões dos ensaios de fluência também se verificou uma boa

concordância entre as previsões e os dados experimentais para a maioria dos ensaios.

Porém, sendo este o tema central desta tese será feita a seguir uma análise mais apurada

dessas previsões.

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95

Como mostrado no Capítulo 2, o modelo de Martins (1992) permite responder às

principais questões relativas ao comportamento do solo ao longo do tempo, abaixo

sintetizadas.

1) Dado um elemento de solo saturado sob um determinado estado de tensões

(no caso sob condições não drenadas), haverá ou não a ruptura deste

elemento?

2) Caso haja a ruptura em quanto tempo esta se dará?

3) E caso não haja ruptura sob que estado de deformações haverá a

estabilização do processo e em quanto tempo esta se dará?

Em primeiro lugar não é do conhecimento do autor desta tese a existência de

nenhum modelo que conjugando conceitos físicos a equações matemáticas possa

responder às questões acima de forma simples. Por outro lado, deve-se ressaltar que as

previsões feitas neste trabalho são previsões na acepção do termo, já que nenhuma das

previsões usou dados obtidos nos ensaios de fluência para “prevê-los”. Para as previsões

dos resultados dos ensaios de fluência (assim como os de carga constante) foram

utilizados apenas e exclusivamente os conceitos e equações do modelo e os resultados

de ensaios CIU convencionais.

Respondendo à primeira questão pode-se dizer que todos os ensaios de fluência

submetidos a uma tensão desviadora cd σ′σ acima de 0.46 romperão e que todos os

demais não deverão romper, uma vez que é esse o valor máximo da resistência

friccional (ver figura IV.3). Pelos resultados dos ensaios essas previsões se confirmam

em todos os casos a menos de um. Os ensaios cujas tensões desviadoras, cd σ′σ , foram

de 0.638, 0.616, 0.600, 0.586, 0.572, 0.552, 0.530, e 0.518 romperam e os demais, com

cd σ′σ iguais a 0.446 e 0.374 estabilizaram. O ensaio com cd σ′σ = 0.500 será

analisado ao final desta seção.

Quanto a segunda pergunta, esta será respondida no contexto da definição de

ruptura estabelecido por Martins (1992), definição esta re-apresentada abaixo:

Num ensaio com tensão controlada ( cted =σ ) a ruptura se dá quando

0dtd

2

2

≥ε e .0>ε& ”.

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96

Ou seja, haverá ruptura caso o elemento de solo venha a se deformar sob

velocidade constante ou que venha a apresentar aumento de velocidade com o tempo.

No caso do solo em questão, como há um pico de resistência na curva dσ x ε dos

ensaios CIU e a resistência viscosa é admitida ser constante neste tipo de ensaio,

conclui-se que a curva friccional dfσ x ε apresente também um pico (ver Figura IV.3).

Assim como no ensaio de fluência cted =σ , é de se esperar que, atingida a deformação

correspondente à mobilização máxima da parcela friccional da tensão desviadora, o

ensaio apresente, para esta deformação, uma velocidade de deformação mínima

(associada a uma mobilização mínima da parcela viscosa de dσ ). Daí em diante, como a

resistência friccional ( dfσ ) diminui dvσ tem que aumentar para manter dσ constante.

Com isso a velocidade de deformação também aumenta.

Observando o gráfico de resistência friccional, pode-se dizer que o pico de

resistência ocorre para deformações específicas compreendidas entre 2.5 e 3 %. Assim

sendo, a velocidade mínima deverá se verificar para deformações compreendidas entre

esses limites, o que pode ser verificado na tabela IV.1 a seguir:

Dados Experimentais Previsões

cd σ′σ

dε/dt mínima

(%/min)

Tempo

(min)

ε (%) dε/dt mínima

(%/min)

Tempo

(min)

ε (%)

0.638 0.24 4 2.45 0.483 – 0.481 2.9 – 3.6 2.5 – 3.0

0.616 0.12 9 2.38 0.224 – 0.227 5.9 – 7.4 2.5 – 3.0

0.600 0.054 20 2.57 0.119 – 0.121 10.6 – 13.5 2.5 – 3.0

0.586 0.04 23 2.25 0.065 – 0.066 18.9 – 24.2 2.5 – 3.0

0.572 2.7x10-2 40 2.49 3.25 a 3.3 x

10-2

35.9 – 46.5 2.5 – 3.0

0.552 6.9x10-3 200 2.84 1.0 a 1.1 x 10-2 105 – 133.7 2.5 – 3.0

0.530 2.0x10-3 700 2.89 2.0 a 2.2 x 10-3 467 - 610 2.5 – 3.0

0.518 3.3x10-4 6000 4.92 6.9 a 7.1 x 10-4 1307 - 1744 2.5 – 3.0

Tabela IV.1 – Comparação entre o previsto e os dados experimentais para os

pontos de velocidade mínima dos ensaios de fluência.

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97

Quanto aos ensaios cd σ′σ = 0.446 e 0.374, é de se esperar que nunca venham a

romper, apresentando velocidades sempre decrescentes e tendendo a estabilizar segundo

a deformação correspondente às tensões, cd σ′σ = 0.446 e 0.374 da curva de atrito.

Entrando com esses valores na figura IV.3 e considerando as barras de erro para

( )εσ′σ

c

df , obtém-se respectivamente ε = 1.4 a 1.6 % e ε = 0.5 a 0.7 %. Já os valores

experimentais são respectivamente ε = 1.5 % e ε = 1 %. Seria de se esperar

intuitivamente que para essas deformações os corpos de prova apresentassem

velocidade de deformação zero, porém como mostra a solução da equação diferencial o

comportamento é assintótico com o tempo (a estabilização só se dá a tempo infinito),

não sendo assim possível esta comparação. Porém, podem-se comparar as velocidades

para os últimos pontos dessas curvas, respectivamente nos tempos t = 10000 minutos e t

= 7000 minutos. Fazendo isso, se obtém as velocidades de 1.55 x 10-5 %/min e 1 x 10-5

%/min, sendo as velocidades previstas para tais tempos de 1.14 a 1.55 x 10-5 %/min e

1.3 a 1.6 x 10-5 %/min respectivamente.

Tendo em mente a solução analítica obtida e, que o gráfico dtdε x ε (escala bi-

log) é aproximadamente uma reta, pode-se entender qualitativamente a forma das curvas

referentes a cd σ′σ = 0.446 e cd σ′σ = 0.374. Reapresentando a expressão da velocidade

de deformação como função do tempo, tem-se o seguinte:

σ

−=

ε

KtE

n1n

Klog

1n1

dtdlog

n1n

d V.1

Como na verdade a curva de atrito não é linear, o módulo de deformação E varia

conforme a deformação, como pode ser visto esquematicamente na figura V.1

representada a seguir.

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98

Figura V.1 – Não-linearidade da curva de atrito.

Para cada intervalo de deformação, em um ensaio real, há um módulo de

deformação E, de sorte que existe uma curva expressa pela equação V.1 (igual a eq.

III.24) para cada módulo de deformação. Como representado na figura V.2 a seguir, a

curva correspondente a E2 fica à direita da curva cujo módulo é E1 e mais à direita fica

a curva correspondente a E3.

Figura V.2 – Curvas de igual módulo E.

σd

ε

1E

2E

3E 6E5E4E

ε2 ε3 ε6 ε5 ε4 ε1

( )ensaiodσ

2E1E 3Edt

d ε

Tempo (log)

(log) 321 EEE >>

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99

Assim, para um corpo de prova submetido a uma tensão desviadora de fluência

( )ensaiodσ , a deformação de estabilização deverá ser ε3, e, desta forma, a curva de

velocidade de deformação x tempo deste ensaio deverá ser assintótica a curva cujo

módulo é E3. Mas, antes desta deformação ser alcançada, o corpo de prova deverá

cruzar as demais curvas de igual módulo, apresentando assim uma leve concavidade

para baixo, como representado na Figura V.3.

Outro ponto importante a ser mencionado é que as curvas de módulo constante

correspondentes às deformações específicas = 0 e ε3 da curva de atrito deverão “conter”

ou limitar a curva do ensaio cuja tensão desviadora é ( )ensaiodσ como mostrado na

Figura V.3.

Figura V.3 – Curva de velocidade de deformação x tempo para o ensaios de

tensão desviadora ( )ensaiodσ .

O raciocínio aqui exposto foi aplicado às curvas cd σ′σ = 0.446 e 0.374,

resultando nos gráficos V.4 e V.5.

2E 1E 3Edtdε

Tempo (log)

(log)

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100

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)Dados ExperimentaisBarra de erro inferiorPrevisãoBarra de erro superiorLimite SuperiorLimite Inferior

Figura V.4 – Ensaio cd σ′σ = 0.446.

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de erro inferior

Previsão

Barra de erro

Figura V.5 – Ensaio cd σ′σ = 0.374.

Pode se ver pelos dados experimentais que as curvas de velocidade de

deformação x tempo destes ensaios realmente apresentam uma concavidade para baixo,

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101

tendo como limites as curvas correspondentes aos módulos inicial e final. (Ver também

as 3 curvas inferiores da figura III.3).

O caso do ensaio com cd σ′σ = 0.500 é peculiar pois apresenta ao mesmo tempo

características de ensaios que rompem e que não rompem. A primeira dessas

características é ter ultrapassado a deformação correspondente à mobilização máxima da

resistência friccional, que varia de 2.5 a 3%, No caso, a deformação aos 32000 minutos

era de 4.6% e, curiosamente, a velocidade de deformação diminui continuamente. O

tempo de 32000 minutos remete ao efeito da tixotropia que segundo Vaid e Campanella

(1977) se manifesta de forma notável após os 20000 minutos. Este resultado anômalo

obriga que se volte o olhar para os efeitos da tixotropia.

Em primeiro lugar observa-se que quanto maior a tensão desviadora melhores

são as previsões feitas. Os resultados começam a se afastar das previsões de forma

notável para cd σ′σ =0.518, cerca de 12% acima do valor de 0.46, abaixo do qual não se

espera ruptura. Nestes casos, as curvas ε x t experimentais cortam as curvas de previsão

fugindo do padrão de comportamento esperado. É digno de nota o fato de que as

melhores previsões são aquelas para os ensaios em que as velocidades estão acima de

10-3 %/min.

Isto posto, pode-se voltar às curvas da Figura IV.3 onde se nota claramente nos

resultados dos ensaios CIU uma tendência de, passado o pico, ganho de resistência com

a diminuição de velocidade de ensaio. Se se admitir que diminuindo a velocidade de

ensaio as resistências pós-pico (curvas da Figura IV.3) continuem a crescer (o que seria

uma manifestação da tixotropia) conclui-se que a curva média c

df

σ′σ

x ε (incluindo-se o

intervalo de erros) admitida só é válida para o domínio de velocidade de 1 %/min a 10-3

%/min.

Este efeito aparece também no gráfico da Figura IV.4 onde se nota, para valores

de Π2 maiores que 100000, um maior desvio em relação ao que seria uma curva média.

A comparação entre previsões e resultados experimentais sugere que os desvios

entre umas e outras podem ser creditados à tixotropia. Assim, para melhores previsões

levando-se em conta uma faixa maior de velocidades, seria necessário considerar o

efeito da tixotropia. Tal tarefa foge ao escopo desta tese.

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102

No que tange às previsões dos ensaios de fluência não-drenada, pode-se concluir

que, nos ensaios não afetados pela tixotropia, o modelo foi capaz de prever qualitativa e

quantitativamente os resultados.

5.4 – Ensaios de Carga Constante

A exemplo do que foi feito para os ensaios de fluência, pode-se dizer a priori

que ensaios iriam romper e quais iriam estabilizar. Para isso deve-se comparar a tensão

desviadora corrente ( )ε−⋅σ 10d com a resistência friccional ( )εσdf . Se para o intervalo

de ε considerado ( )ε−⋅σ 10d for sempre maior que ( )εσdf então não haverá

estabilização. Entretanto se no intervalo dado de ε , ( )ε−⋅σ 10d for igual a ( )εσdf então

haverá estabilização das deformações para o ε onde esta condição for satisfeita.

Fato que deve ser realçado é o da deformação específica correspondente a

velocidade mínima de cada ensaio, que para o caso dos ensaios de carga constante não é

mais obrigatoriamente na faixa de 2.5 a 3.0 %, e sim na faixa de 2.7 a 4.0 %. Tal se

deve à queda da tensão desviadora do ensaio por aumento da área da seção transversal

do corpo de prova. Acontecendo tal queda, a resistência viscosa mínima não mais se

dará obrigatoriamente no ponto de resistência friccional máxima (como acontecia nos

ensaios de fluência), mas em um ponto onde a diferença entre as curvas da tensão

desviadora do ensaio e da resistência friccional é a mínima. A Figura V.6 a seguir

ilustra este ponto.

σd

ε ε para dε/dt mínimo

Ensaio de carga cte. 0dd d <εσ

Ensaio de fluência. cted =σ

Resistência viscosa

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103

Figura V.6 – Pontos de dtdε mínimo e ε correspondentes.

Essa peculiaridade pode fazer com que um corpo de prova submetido a uma

determinada tensão desviadora possa apresentar estabilização da deformação mesmo

após o pico de resistência, bastando para tal que a curva da tensão desviadora do ensaio

intercepte a curva de resistência friccional do solo como explicado anteriormente.

Aplicando-se aos ensaios de carga constante o raciocínio exposto acima, pode-se

concluir que todos os ensaios de carga constante aqui mostrados não devem apresentar

estabilização para a faixa de deformações de %120 ≤ε≤ .

Isso efetivamente ocorre para 7 dos 9 ensaios realizados, sendo que, apesar de

não ter sido apresentado no artigo a curva de velocidade de deformação x tempo do

ensaio com c0d σ′σ = 0.540, Vaid e Campanela (1977) atestam que para ensaios cuja

tensão foi igual ou maior que 0.540 houve aumento da velocidade de deformação com o

tempo. Nas próprias palavras dos autores, “For initial stress levels c0d σ′σ = 0.540 and

larger, the samples progressively strained with time until rupture …. Under initial stress

levels c0d σ′σ = 0.532 and lower, a continuously decreasing deformation rate was

observed until elapsed time up to 2 weeks when the test were terminated.”

Mais uma vez pode-se observar que há concordância de valores entre os dados

experimentais e as previsões (ver tabela V.2) com exceção dos ensaios para os quais

c0d σ′σ = 0.532 e c0d σ′σ 0.528.

Dados Experimentais Previsões

σd0/σ’c dε/dt mínima

(%/min)

Tempo

(min)

ε

(%)

dε/dt mínima

(%/min)

Tempo (min) ε (%)

0.630 0.243 6 3.17 0.161 a 0.2 6.4 a 13.8 2.7 – 4.0

0.606 7.7 x 10-2 17.2 2.80 6.0 a 7.6 x 10-2 15.8 a 34.6 2.9 a 4.0

0.592 5.1 x 10-2 30 3.23 3.1 a 4.0 x 10-2 28.9 a 65.2 2.9 a 4.0

0.578 1.4 x 10-2 100 3.05 1.4 a 1.9 x 10-2 57 a 133.2 2.9 a 4.0

0.558 6.7 x 10-3 300 3.91 3.8 a 5.5 x 10-3 179.2 a 449.5 2.9 a 4.0

0.542 3.6 x 10-3 700 4.77 1.1 a 1.7 x 10-3 556 a 1510 2.9 a 4.0

Tabela V.2 – Comparação entre o previsto e os dados experimentais para os

pontos de velocidade mínima dos ensaios de carga constante.

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104

É fácil entender o comportamento dos ensaios com c0d σ′σ = 0.532 e

c0d σ′σ 0.528 a luz da discussão suscitada pelas evidências do surgimento dos efeitos

da tixotropia. A título de ilustração pode-se calcular para os pontos onde é mínimo o

valor previsto de ε& o valor de ( )ε−⋅σ′σ

=σ′σ

1c

0d

c

d .

Para os ensaios com c0d σ′σ = 0.528, a velocidade mínima prevista (extremo do

intervalo de erro) é cerca de 3x10-4 %/min correspondente a um tempo de 6000 minutos

e um ε = 4%. Por esta previsão os dados experimentais deveriam apresentar a partir de

então um aumento de ε& , o que não acontece. Isto pode ser explicado pelos valores

correntes de ( ) 508.0%4c

d ==εσ′σ

e ε& ≅ 10-3 %/min que caem na faixa de c

d

σ′σ

e ε& dos

ensaios de fluência que supostamente estariam afetados pela tixotropia.

Raciocínio análogo pode ser estendido ao ensaio com c0d σ′σ = 0.532. Para este

ensaio a velocidade mínima prevista (extremo do intervalo de erro) é de 4x10-4 %/min

correspondente a um tempo de 4000 minutos e a um ε = 4%. Neste caso

( ) 512.0%4c

d ==εσ′σ

e ε& ≅ 8x10-4 %/min, valores que também caem na faixa de c

d

σ′σ

e

ε& dos ensaios de fluência afetados pela tixotropia.

Quanto aos ensaios de carga constante é importante ressaltar que num caso de

corpo de prova ideal com “free-ends”perfeitos o campo de deformações seria uniforme

ao longo de todo o corpo de prova. Assim sendo, em se admitindo uma resistência

friccional residual dfresσ = cte, ao se realizar um ensaio com carga cte, esse ensaio iria

certamente estabilizar. Isto porque a tensão desviadora corrente, que diminui

continuamente com o tempo e com a deformação iria assumir em seu caminho um valor

para um dado ε igual a dfresσ .

5.5 – Discussões Adicionais

Outro aspecto a ser discutido diz respeito à alta sensibilidade dos resultados

(tanto dos previstos quanto dos experimentais) se comparados às pequenas variações da

tensão desviadora.

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105

O ponto central nesta discussão, na opinião do autor deste trabalho, vem a ser a

não-linearidade das resistências friccional e viscosa, ambas bastante acentuadas, que

combinadas podem ao longo do tempo levar a diferenças bastante significativas nos

resultados, partindo-se de valores muito próximos de tensões desviadoras.

Tome-se como exemplo os ensaios de carga constante com c0d σ′σ = 0.542 e

0.540, cuja diferença de tensão desviadora é de apenas 0.37 %. Os valores de tempo

para 12 % de deformação são respectivamente de 2150 minutos e 3200 minutos, ou seja,

uma variação de 49 %. Fazendo a mesma comparação para o tempo de 2100 minutos

nos dois ensaios chega-se a valores de deformação específica de 8.71 % para c0d σ′σ =

0.540 e 12 % para c0d σ′σ = 0.542, resultando em uma variação de 38 %.

Levanta-se então a questão se as diferenças encontradas entre previsão e ensaios

não seriam resultantes destas pequenas diferenças na tensão desviadora. Diferenças

essas que poderiam ser devidas à incerteza natural associada à inferência da área da

seção transversal dos corpos de prova tanto no fim do adensamento quanto durante a

fase de cisalhamento. Esses erros podem variar entre 2.7 % a 8.4 % para diâmetros de

corpos de prova de 3”(7.62 cm) a 1” (2.54 cm) considerando um erro de 1 mm no

diâmetro.

Com isso em mente, fez-se um exercício de ajuste entre as previsões e os dados

experimentais ao procurar as tensões desviadoras de fluência e de carga constante que

fariam com que as curvas experimentais ficassem dentro dos limites de erro associados

à curva de atrito. Feito isso, calculou-se a diferença de tensão desviadora do ajuste e do

ensaio para se saber se esse erro era da ordem de grandeza dos erros acima

mencionados.

A seguir são apresentadas essas curvas nas Figuras V.7 a V.45.

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106

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)

Dados ExperimentaisPrevisãoBarra de Erro InferiorBarra de Erro Superior

Figura V.7 – Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.638. cd σ′σ (ajuste) = 0.630.

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisPrevisãoBarra de Erro InferiorBarra de Erro Superior

Figura V.8 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.638. cd σ′σ (ajuste) = 0.630.

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107

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.9 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.616. cd σ′σ (ajuste) = 0.602.

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.10 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.616. cd σ′σ (ajuste) =

0.602.

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108

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.11 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.600.

cd σ′σ (ajuste) = 0.585.

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.12 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.600.

cd σ′σ (ajuste) = 0.585.

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109

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000

Tempo (min)

ε (%

)Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Seqüência1

Figura V.13 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.586.

cd σ′σ (ajuste) = 0.576.

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.14 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.586.

cd σ′σ (ajuste) = 0.576.

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110

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.15 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.572.

cd σ′σ (ajuste) = 0.568.

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.16 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.572.

cd σ′σ (ajuste) = 0.568.

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111

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.17 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.552.

cd σ′σ (ajuste) = 0.545.

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.18 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.552. cd σ′σ (ajuste) =

0.545.

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112

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000 10000

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.19 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.530.

cd σ′σ (ajuste) = 0.528.

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.20 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.530.

cd σ′σ (ajuste) = 0.528.

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113

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.21 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.518.

cd σ′σ (ajuste) = 0.520.

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.22 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.518. cd σ′σ (ajuste) =

0.520.

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114

0

2

4

6

8

10

12

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.23 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.500.

cd σ′σ (ajuste) = 0.512.

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.24 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.500.

cd σ′σ (ajuste) = 0.512.

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115

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.25 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.446.

cd σ′σ (ajuste) = 0.470.

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.26 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.446. cd σ′σ (ajuste) =

0.470.

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116

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

0,1 1 10 100 1000 10000 100000

Tempo (min)

ε (%

)Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.27 –Curva ε x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.374.

cd σ′σ (ajuste) = 0.440.

1,E-05

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Previsão

Barra de Erro Inferior

Barra de Erro Superior

Figura V.28 –Curva dε/dt x tempo para o ensaio cd σ′σ = 0.374.

cd σ′σ (ajuste) = 0.440.

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117

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.29 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.630. c0d σ′σ (ajuste) = 0.642.

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.30 – Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.630. c0d σ′σ (ajuste) =

0.642.

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118

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

ε (%

)Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura V.31 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.606. c0d σ′σ (ajuste) = 0.609.

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura V.32 – Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.606. c0d σ′σ (ajuste) =

0.609.

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119

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.33 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.592. c0d σ′σ (ajuste) = 0.598.

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.34– Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.592. c0d σ′σ (ajuste) =

0.598.

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120

0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.35 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.578. c0d σ′σ (ajuste) = 0.572.

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura V.36– Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.578. c0d σ′σ (ajuste) =

0.572.

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0

2

4

6

8

10

12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.36 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.558. c0d σ′σ (ajuste) = 0.560.

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.37– Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.558. c0d σ′σ (ajuste) =

0.560.

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0

2

4

6

8

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12

1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.38 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.542. c0d σ′σ (ajuste) = 0.554.

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.39– Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.542. c0d σ′σ (ajuste) =

0.554.

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0

2

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6

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1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

ε (%

)

Dados ExperimentaisBarra de Erro InferiorPrevisãoBarra de Erro Superior

Figura V.40 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.532. c0d σ′σ (ajuste) = 0.532.

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.41– Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.532. c0d σ′σ (ajuste) =

0.532.

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0

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1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.42 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.528. c0d σ′σ (ajuste) = 0.528.

1,E-04

1,E-03

1,E-02

1,E-01

1,E+00

1,E+01

1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05Tempo (min)

d ε/d

t (%

/min

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.43– Curva dε/dt x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.528. c0d σ′σ (ajuste) =

0.528.

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0

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1,E-01 1,E+00 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04

Tempo (min)

ε (%

)

Dados Experimentais

Barra de Erro Inferior

Previsão

Barra de Erro Superior

Figura V.44 – Curva ε x tempo para o ensaio c0d σ′σ = 0.540. c0d σ′σ (ajuste) = 0.551.

Como pode ser visto nas tabelas a seguir, os ajustes feitos foram bastante bons

sendo os erros associados tanto para os ensaios de fluência como os de carga constante

os apresentados nas tabelas V.3 a V.6.

Ensaio (σd/σ’c) Ajuste (σd/σ’c) Erro (%) 0.638 0.630 1.25 0.616 0.602 2.27 0.600 0.585 2.50 0.586 0.576 1.71 0.572 0.568 0.70 0.552 0.545 1.27 0.530 0.528 0.38 0.518 0.520 -0.39 0.500 0.512 -2.4 0.446 0.470 -5.38 0.374 0.440 -17.7

Tabela V.3– Erros dos Ajustes para os ensaios de fluência.

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Dados Experimentais Previsões σd/σ’c dε/dt mínima

(%/min)

Tempo

(min)

ε (%) dε/dt mínima

(%/min)

Tempo (min) ε (%)

0.638 0.24 4 2.45 0.368 a 0.372 3.7 a 4.6 2.5 – 3.00.616 0.12 9 2.38 0.130 a 0.131 9.8 a 10.5 2.5 – 3.00.600 0.054 20 2.57 6.2 a 6.3 x 10-2 19.7 a 25.3 2.5 – 3.00.586 0.04 23 2.25 4.0 a 4.1 x 10-2 29.7 a 38.3 2.5 – 3.00.572 2.7x10-2 40 2.49 2.6 a 2.7 x 10-2 43.8 a 56.9 2.5 – 3.00.552 6.9x10-3 200 2.84 6.5 a 6.6 x 10-3 162 a 215 2.5 – 3.00.530 2.0x10-3 700 2.89 1.7 a 1.8 x 10-3 547 a 745 2.5 – 3.00.518 3.3x10-4 6000 4.92 8.4 a 8.7 x 10-4 1086 a 1502 2.5 – 3.0

Tabela IV.4 – Pontos de mínimo dos ajustes dos ensaios de fluência.

Ensaio (σd0/σ’c) Ajuste (σd0/σ’c) Erro (%) 0.630 0.642 -1.91 0.606 0.609 -0.50 0.592 0.598 -1.01 0.578 0.572 1.04 0.558 0.560 -0.36 0.542 0.554 -2.21 0.540 0.551 -2.04 0.532 0.542 -1.88 0.528 0.536 -1.52

Tabela V.5 – Erros dos Ajustes para os ensaios de carga constante.

Dados Experimentais Previsões

σd0/σ’c dε/dt mínima

(%/min)

Tempo

(min)

ε

(%)

dε/dt mínima

(%/min)

Tempo (min) ε (%)

0.630 0.243 6 3.17 0.25 a 0.31 4.3 a 12.7 2.7 – 5.0

0.606 7.7 x 10-2 17.2 2.80 6.8 a 8.7 x 10-2 14 a 30.5 2.9 – 4.0

0.592 5.1 x 10-2 30 3.23 4.1 a 5.3 x 10-2 22.1 a 49.2 2.9 – 4.0

0.578 1.4 x 10-2 100 3.05 1.0 a 1.4 x 10-2 78 a 187 2.9 – 4.0

0.558 6.7 x 10-3 300 3.91 4.6 a 6.5 x 10-3 158 a 393 2.9 – 4.0

0.542 3.6 x 10-3 700 4.77 2.3 a 4.2 x 10-3 233 a 594 2.9 – 4.0

Tabela V.6 – Pontos de mínimo dos ajustes dos ensaios de carga constante.

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127

Analisando os gráficos ajustados das Figuras V.7 a V.45 e as tabelas V.3 a V.6,

como era de se esperar, houve um melhor ajuste das previsões aos dados experimentais

fazendo com que houvesse uma maior proximidade numérica entre previsão e

resultados.

Entretanto, esses ajustes não foram capazes de modificar os padrões de

comportamento das previsões feitas para todos os ensaios. Assim é praticamente forçoso

concluir que os resultados experimentais que fugiram ao padrão de comportamento

ditado pelo modelo foram àqueles supostamente afetados pela tixotropia.

Por fim há um outro aspecto importante a ser comentado envolvendo uma

pequena diferença entre a abordagem aqui apresentada e a de Martins (1992). Esta

diferença pode ser esclarecida com o auxílio da figura V.27 a seguir. (ver também

Martins (1992), página 131, figura V.19).

Considerando a fig. V.27, no que concerne a este trabalho, a resistência

friccional foi sempre tomada admitindo-se MA=PB, o que, de acordo com o

desenvolvido por Martins (1992) seria uma aproximação. Entretanto, Martins (1992)

não levou em conta a possibilidade de uma parcela viscosa na tensão normal efetiva,

possibilidade esta confirmada por Thomasi (2000). Dentro do panorama descortinado

por Thomasi (2000) a resistência friccional não pode ser oriunda de σ’ mas de σ’

descontada a parcela normal viscosa. Ao se considerar este fenômeno, invertem-se os

papéis e a abordagem aqui apresentada passa a ser exata ao contrário da abordagem de

Martins (1992) que teria caráter aproximado. Uma discussão mais detalhada deste

aspecto está apresentada no Apêndice I e é tão promissora que também deve ser listada

como sugestão para futuras pesquisas.

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128

M

A

P

B σ'

q' φb

Figura V.27 – A elipse e o círculo de Mohr de atrito.

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129

CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS.

6.1 – Conclusões

Considerando os pequenos erros envolvidos nas previsões para o solo sensível,

argila Haney, estudada neste trabalho, tem-se como conclusões o que se segue:

1. A divisão da resistência à deformação dos solos em friccional e viscosa mostrou-

se adequada para a abordagem do fenômeno da fluência não-drenada. Isto

mostra o acerto da decisão tomada pelo grupo de reologia da COPPE em tentar

estender o Princípio das Tensões Efetivas considerando os efeitos de velocidade

de deformação e do tempo. Isto permite que se tratem os problemas onde

estejam envolvidos tais tipos de fenômenos como decorrência natural do

Princípio das Tensões Efetivas Expandido, ao invés de trata-los como

fenômenos anômalos onde se procura tentar uma teoria a parte para tentar

explica-los.

2. A hipótese de que a resistência por atrito é uma função exclusiva e portanto

independente da velocidade de deformação, tal como estabelece o modelo de

Martins (1992), a menos dos efeitos de tixotropia pôde ser verificada para o solo

estudado.

3. A função de viscosidade é não linear e pode ser representada por uma função de

potência da velocidade de deformação com boa aproximação para a faixa de

velocidades observada neste estudo.

4. A aceleração na fluência, dita comumente fluência terciária, é conseqüência

natural da queda da resistência friccional e portanto do aumento da resistência

viscosa, via aumento da velocidade de deformação.

5. O comportamento não-drenado sob tensão controlada pode ser descrito como um

processo único e não segmentado resultado do jogo ao longo do tempo entre as

resistências friccional e viscosa.

6. O modelo de Martins (1992), tal como concebido para solos normalmente

adensados, pode ser aplicado ao solo sensível aqui estudado para prever

qualitativamente os padrões de comportamento não-drenado sob tensão

controlada, pode também ser aplicado quantitativamente ao solo estudado desde

que este não esteja afetado pelo efeito da tixotropia.

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7. Foi proposta uma modificação ao Modelo de Martins (1992), fazendo com que o

círculo de Mohr das tensões efetivas seja tido como a soma de dois outros

círculos, cada um representando o estado de tensões das resistências friccional e

viscosa. Nesta modificação as equações diferenciais da fluência não-drenada e

dos ensaios de carga constante passam a serem consideradas exatas.

6.2 – Sugestões para pesquisas futuras

Como sugestões para pesquisas futuras propõe-se estender o modelo de Martins

(1992) aos seguintes casos:

1. Carregamentos drenados.

2. Aos solos sobre-adensados.

3. Aos solos não-saturados.

Propõe-se também um estudo mais apurado da modificação proposta no Apêndice II

e dos efeitos da tixotropia.

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131

BIBLIOGRAFIA

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Modelos Físicos”, Ed. UFRJ, Brasil

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133

APÊNDICE I

AI.1 – Observações sobre a abordagem de Martins (1992)

Uma das primeiras observações que poderiam ser feitas à abordagem de Martins

(1992) tem origem na equação

( )dt

detan s

mobε

⋅η+φ⋅σ′=τ (AI.1)

Se o fenômeno do atrito se dá pela mobilização da resistência ao cisalhamento e

nos contatos sólidos e parte da tensão normal efetiva σ′ se deve a contatos viscosos, é

mais natural que na expressão (AI.1) se substitua σ′ por sσ′ , a tensão normal efetiva

que se transmite através dos contatos sólidos. Assim a expressão AI.1 seria escrita

( )dtdetan s

mobsε

⋅η+φ⋅σ′=τ (AI.2)

Outra observação da mesma natureza que a primeira estaria em escrever

bmax

s tan φ=

σ′τ

(AI.3)

quando, pela mesma razão acima, btan φ deveria ser escrito como

bmaxs

s tan φ=

σ′τ (AI.4)

Uma terceira observação, diz respeito ao fato da velocidade também afetar a

elipse de atrito. No caso da abordagem de Martins (1992), para o mesmo mobφ , a elipse

de atrito apresenta maiores excentricidades para maiores velocidades de deformação.

Este aspecto é curioso pois a resistência por atrito não deveria ser afetada pela

velocidade. Este aspecto advém também do fato de estarem embutidas nas abscissas da

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134

elipse de atrito os valores de vσ′ que, no modelo de Martins (1992), entram para o

compto da resistência por atrito. Martins (1992) usou no critério de ruptura a tensão

normal efetiva σ′ (expressão AI.3) quando na verdade, consoante o que foi discutido

até aqui, deveria ter usado a expressão (AI.4).

De acordo com essas observações, pode-se tentar uma abordagem diferente na

tentativa de separar causas e efeitos. Uma alternativa é subdividir o estado de tensões de

forma a isolar as parcelas viscosa e de atrito das tensões cisalhantes e das tensões

normais efetivas. Num estado de simetria axial, isto pode ser feito como mostrado na

fig. AI.1.

Figura AI.1

Os estados de tensões da figura AI.1 são tais que

( )α⋅⋅

σ′−σ′

+

σ′+σ′

=σ′ 2cos22

s3s1s3s1s (AI.5)

( )α⋅⋅

σ′−σ′

=τ 2sen2

s3s1s (AI.6)

( )α⋅⋅

σ′−σ′

+

σ′+σ′

=σ′ 2cos22

v3v1v3v1v (AI.7)

( )α⋅⋅

σ′−σ′

=τ 2sen2

v3v1v (AI.8)

Somando as equações (AI.5) e (AI.7) membro a membro vem

α⋅

σ′−σ′−σ′+σ′+

σ′+σ′+σ′+σ′=σ′+σ′=σ′ 2cos

22v3s3v1s1v3s3v1s1

vs (AI.9)

σ´1

σ´3 σ´3

σ´1

σ´1s

σ´3s σ´3s

σ´1s

σ´1v

σ´3v σ´3v

σ´1v

= +

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135

ou

α⋅σ′−σ′

+σ′+σ′

=σ′ 2cos22

3131 (AI.10)

Somando as equações (AI.6) e (AI.8) membro a membro vem

α⋅

σ′−σ′−σ′+σ′=τ+τ=τ 2sen

2v3s3v1s1

vs (AI.11)

ou

α⋅

σ′−σ′=τ 2sen

231 (AI.12)

O que se demonstrou acima foi a possibilidade de sempre poder subdividir um

estado de tensões em dois outros, um representando o estado de tensões dos contatos

sólidos e outro representando o efeito viscoso.

Talvez haja aqui intuitivamente a tentação de atribuir as deformações, tanto as

volumétricas como as distorcionais, à variação do estado de tensões efetivas que se

estabelece através dos contatos sólidos (como parece ser originalmente a idéia de

Terzaghi (1936)). Entretanto, este parece ser, agora, um passo um tanto o quanto

precoce e tal tarefa deve ser assim ficar como sugestão para futuras pesquisas.

O que se pode fazer aqui de objetivo é analisar os ensaios de Vaid e Campanella

(1977) à luz do que foi até aqui discutido mantendo-se algumas idéias originais de

Martins (1992) mas subdividindo o estado de tensões efetivas como mostrado na AI.1.

AI.2 – Abordagem Alternativa Desta Tese

Em primeiro lugar é preciso enumerar aqui as hipóteses de Martins (1992) que

também permanecem neste trabalho. Estas hipóteses podem ser divididas em 2 grupos:

evidências experimentais e hipóteses de natureza teórica.

(1) Hipóteses Originárias de Evidências Experimentais

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136

(a) Dado um determinado solo normalmente adensado hidrostaticamente sob

uma tensão efetiva c3σ′ e submetido a um ensaio CIU convencional com

cte1 =ε& (ou cte=γ& ) os caminhos de tensão efetiva no plano p′ x q′ ( p′

e q′ como definidos por Lambe e Whitman, 1969) são homotéticos com

centro de homotetia na origem.

(b) Os ternos ordenados ( )v,q,p ′′ , e1v += , na ruptura, dada uma

velocidade γ& , definem no espaço p′ x q′ x v uma linha de ruptura

associada à velocidade γ& .

(c) A projeção de uma linha de ruptura sobre o plano p′ x q′ é uma reta

passando pela origem.

(d) Dado um valor de γ& , os gráficos q′ x γ (ou q′ x 1ε ) e u x γ de ensaios

CIU convencionais são semelhantes para qualquer valor da tensão

hidrostática de adensamento c3σ′ .

Há aqui neste item algo a ser investigado e que pode ser esclarecido com o

auxílio da fig. AI.2.

Figura AI.2

Se a fase de adensamento hidrostático for interrompida em meio ao adensamento

secundário, por exemplo no ponto B, haverá, uma parcela viscosa v3σ′ correspondente à

BF. Ao se fechar a drenagem para a realização da fase de cisalhamento de um ensaio

fim do secundário

fim do primário

0v =ε&vBε&vAε&

σ´ (log)

σ´s (e) D

F

E A

B

C

VBVA εε && <

e

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137

CIU, espera-se que esse valor de v3σ′ seja transferido para a poro-pressão. Dito isto, é de

se esperar que os gráficos q′ x γ só sejam normalizáveis se os valores de q′ forem

divididos por s3c3 σ′=σ′ . Da mesma forma, os gráficos u x γ só devem normalizar

subtraindo-se de u medido o valor correspondente à transferência da parcela ( )tv3σ′ e só

depois dividindo-se por s3c3 σ′=σ′ . Com isso, diferentemente do que Martins (1992)

escreveu, a poro-pressão medida num ensaio CIU sobre um solo normalmente adensado

é dada por

( ) ( )tufu vs3 +σ′⋅γ= (AI.13)

Sendo uv a poro-pressão decorrente do impedimento do adensamento secundário

como discutido nos itens 2.4.5.4.1 e 2.4.5.4.2.

Nos ensaios aqui analisados, realizados por Vaid e Campanella (1977), a discussão do

item (d) não se aplica pois após o adensamento e antes da fase de cisalhamento a

drenagem foi fechada e se esperou que a poro-pressão estabilizasse. Assim, nos ensaios

de Vaid e Campanella (1977), o valor de c3σ′ no início do cisalhamento vale s3σ′ .

(2) Hipóteses Originárias do Modelo Mecânico (Teóricas)

(e) O estado de tensões efetivas pode ser subdividido em 2. Um

representando o estado de tensões efetivas que se estabelece através dos

contatos sólido (ao qual chamar-se-á estado de tensões efetivas sólido) e

outro chamado de estado de tensões efetivas viscoso. Os dois somados

fornecem o estado de tensões efetivas.

O estado de tensões efetivas sólido é representado por um círculo de Mohr cujas

equações paramétricas são as equações

( )α⋅⋅

σ′−σ′

+

σ′+σ′

=σ′ 2cos22

s3s1s3s1s (AI.14)

( )α⋅⋅

σ′−σ′

=τ 2sen2

s3s1s (AI.15)

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138

Define-se também

2p s3s1

sσ′+σ′

=′ (AI.16)

e

2q s3s1

sσ′−σ′

=′ (AI.17)

Entende-se por ângulo de atrito mobilizado ( mobφ ) a relação entre sτ e sσ′ que

fornece a máxima obliqüidade no círculo de Mohr do estado de tensões efetivas sólido

(fig. AI.3).

Figura AI.3

máxs

smobtan

σ′τ

=φ (AI.18)

ou

mobs3s1

s3s1mob tansen α=

σ′+σ′σ′−σ′

=φ (AI.19)

qs τs

σ´s

σ´1s σ´3s

p´s

τs

σ´s

φmob

αmob

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139

Admiti-se que o processo de ruptura é comandado pelo fenômeno do atrito e que

o critério de ruptura é traduzido pela condição em que o círculo de Mohr do estado

efetivo sólido tangencia a envoltória de resistência suja inclinação no plano sτ x sσ′ é

bmob φ=φ ou bmob α=α (fig. AI.4)

Figura AI.4

Observa-se que há uma correspondência biunívoca entre bφ e bα (ou mobφ e

mobα ). Assim, no plano de obliqüidade máxima

mobss tan φ⋅σ′=τ (AI.20)

e no plano cuja normal faz um ângulo de 45o com a direção da tensão s1σ′ tem-se

mobss tanpq α⋅′=′ (AI.21)

e como

mobmob sentan φ=α (AI.22)

tem-se

qsf τsf

σ´sf

σ´1sf σ´3sf

p´sf

τs

σ´s

φb

αb

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140

mobss senpq φ⋅′=′ (AI.23)

O estado de tensões efetivas viscoso é representado por um círculo de Mohr

cujas equações paramétricas são

( )α⋅⋅

σ′−σ′

+

σ′+σ′

=σ′ 2cos22

v3v1v3v1v (AI.24)

e

( )α⋅⋅

σ′−σ′

=τ 2sen2

v3v1v (AI.25)

No caso de ensaios não-drenados do tipo CIU, quando se fecha a drenagem em

qualquer instante após a dissipação da poro-pressão correspondente ao adensamento

hidrostático, a parcela viscosa s3σ′ que é função de vε& e do índice de vazios (e) deveria

cair imediatamente a zero e seu valor ser transferido também imediatamente para a

poro-pressão. Isso só ocorre ao longo do tempo porque, apesar do estado de tensões ser

hidrostático, em nível microscópico ocorrem tensões cisalhantes nos contatos grão a

grão que não podem ser expressas macroscopicamente por um estado hidrostático. Há

neste ponto um obstáculo de ordem prática para compatibilizar os fenômenos

microscópicos com as expressões macroscópicas das tensões. O obstáculo descrito

acima não existe nos ensaios realizados por Vaid e Campanella (1977) pois, após o

adensamento primário sob condições hidrostáticas e antes do cisalhamento não-drenado,

esperou-se que a poro-pressão se estabilizasse. Isto significa que nos ensaios de Vaid e

Campanella (1977), durante toda a fase de cisalhamento 0v3 =σ′ e que u3 −σ′ será

igual a s3σ′ . Com isso, durante a fase não-drenada de cisalhamento, o estado de tensões

efetivas viscoso é representado por

α⋅σ′

+σ′

=σ′ 2cos22

v1v1v (AI.26)

e

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141

α⋅σ′

=τ 2sen2

v1v (AI.27)

que são as equações paramétricas de um círculo de Mohr passando pela origem

(fig. AI.5).

Figura AI.5

O estado de tensões efetivas será dado então por

α⋅σ′−σ′+σ′

+σ′+σ′+σ′

=σ′ 2cos22

s3s3s1s3v1s1 (AI.28)

e

α⋅σ′−σ′+σ′

=τ 2sen2

s3v1s1 (AI.29)

que são as equações paramétricas de um círculo de Mohr soma dos círculos de

Mohr dos estados de tensão sólido e viscoso.

Desta forma, em qualquer instante de um ensaio CIU, a representação completa

do estado de tensões efetivas com suas parcelas sólida e viscosa está apresentada na fig.

AI.6.

σdvσ´v

τv

vq′

v1σ′

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142

Figura AI.6

A primeira vista pode parecer curioso o aparecimento de uma parcela viscosa em

1σ′ durante o cisalhamento não-drenado já que ao fim do adensamento toda a tensão

efetiva hidrostática vale s3σ′ . Ocorre que mesmo que todos os contatos sejam do tipo

sólido, como a deformação macroscópica resulta do deslocamento relativo dos grãos,

haverá sempre presente uma parcela viscosa na tensão cisalhante oriunda da distorção

do anel de água adsorvida que circunda os contatos sólidos. Em havendo tensões

cisalhantes viscosas haverá uma tensão desviadora viscosa dvσ′ . Mas se v3v1dv σ′−σ′=σ′

e 0v3 =σ′ , em ensaios não-drenados como os realizados por Vaid e Campanella (1977),

então v1dv σ′=σ′ .

A figura AI.7 ilustra o efeito da velocidade sobre a tensão 1σ′ .

τ

círculo de Mohr do estado de tensões efetivas viscoso

círculo de Mohr do estado de tensões efetivas

círculo de Mohr do estado de tensões efetivas sólido

σ´dv σ´3s σ´1s σ´1 σ´ σ´dv

σ´1v

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143

Figura AI.7

(f) Outra hipótese aqui utilizada é a de que a parcela viscosa da tensão

cisalhante vτ é escrita em cada plano como

( )dt

de s

⋅η=τ (AI.30)

De acordo com o que foi visto na hipótese (e), discutida anteriormente, é preciso

verificar se não há nenhuma incompatibilidade.

α⋅ε−ε

+ε+ε

=ε 2cos22

3131l (AI.31)

e

α⋅ε−ε

=ε 2sen2

31s (AI.32)

No ensaio não-drenado, 0v =ε . Como 02 31v =ε⋅+ε=ε então

21

3ε−

=ε (AI.33)

então, na fase de cisalhamento de um ensaio CIU

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144

α⋅ε⋅+ε

=ε 2cos43

4 11

l (AI.34)

e

α⋅ε⋅=ε 2sen43

1s (AI.35)

De acordo com o que foi discutido na apresentação da hipótese (e)

α⋅σ′

+σ′

=σ′ 2cos22

v1v1v (AI.36)

e

α⋅σ′

=τ 2sen2

v1v (AI.37)

Assim

( ) ( ) ( ) α⋅ε

⋅η⋅=α⋅

ε−ε⋅η=

ε⋅η=τ 2sen

dtd

e432sen

2dtde

dtd

e 131sv (AI.38)

Igualando-se as equações (AI.37) e (AI.38) vem

( )dt

de

43

21dv

⋅η⋅=σ′

=τ (AI.39)

Para 0=α (direção de 1σ′ )

( ) ( )dt

de

23452 10

vdvv1ε

η⋅=τ⋅=σ′=σ′ (AI.40)

Para 090=α

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145

0v3 =σ′ (AI.41)

(g) Outra hipótese que deve ser deixada explícita é aquela também admitida

por Martins (1992), qual seja, a de que a cada mobφ está associado um e

somente um valor de γ (ou 1ε ).

AI.3 – Discussão de um ensaio CIU convencional numa argila ideal

normalmente adensada

Tome-se um corpo de prova normalmente adensado submetido a um

adensamento hidrostático sob uma pressão p. Num instante qualquer após a dissipação

do excesso de poro-pressão tem-se

cpp ′= (AI.42)

Estando este corpo de prova sob adensamento secundário, a tensão hidrostática

efetiva apresenta respectivamente as parcelas ( )epcs′ e viscosa ( )vv ,ep ε′ & . Assim

vcsc pppp ′+′=′= (AI.43)

Num determinado instante durante o adensamento secundário a drenagem é

fechada. A poro-pressão começa a subir como resultado da queda de vp′ . Espera-se a

poro-pressão estabilizar o que ocorre com o valor 0u . Neste momento tem-se

0cs upp +′= (AI.44)

e a representação desse estado de tensões no plano p′ x q′ é o da figura AI.8.

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146

Figura AI.8

O corpo de prova está pronto agora a ser submetido à fase de cisalhamento não-

drenado sob a velocidade cte1 =ε& .

Ao ligar a prensa com cte1 =ε& , no instante += 0t o valor da deformação 01 =ε

(e 0=γ ) e portanto, por hipótese, 0mob =φ . Como mobmob tansen α=φ ,

mobss senpq φ⋅′=′ (AI.45)

e

css pp ′=′ (AI.46)

0q s =′ e o círculo de Mohr do estado de tensões efetivas sólido se reduz ao

ponto de coordenadas ( )0,pcs′ .

Num ensaio CIU convencional

( ) ( )tupfu vcs +′⋅γ= (AI.47)

p´cs p p´

u0

q

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147

Como ( ) 0v uctetu == e no instante += 0t , 023

1 =ε⋅=γ , não há variação

instantânea da poro-pressão.

Ao ligar a prensa com cte1 =ε& , mobiliza-se instantaneamente a resistência

viscosa com seu valor pleno. No plano cuja normal faz um ângulo de 45o com a direção

de 1σ′ a parcela viscosa da tensão cisalhante vale em += 0t

( ) ( )11

vv ,eVdt

de

43q ε=

ε⋅η⋅=′=τ & (AI.48)

Com isso o círculo de Mohr do estado de tensões efetivas viscoso tem o mesmo

diâmetro que o círculo de Mohr das tensões efetivas e o caminho de tensões efetivas dá

um salto instantâneo do ponto ( )0,pcs′ para o ponto de coordenadas

Vpp cs +′=′ (AI.49)

Vq =′ (AI.50)

como mostrado na fig. AI.9

Figura AI.9

Com a continuidade do ensaio, as deformações vão ocorrendo e com elas

mobilizam-se as resistências por atrito e são geradas as poro-pressões por cisalhamento.

J

Círculo de Mohr efetivo

V

p, p´

Círculo de Mohr do

estado de tensões

efetivas sólido

p'cs u0

σdv=2V

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148

Neste processo o circulo de Mohr do estado de tensões efetivas viscoso permanece o

mesmo ao passo que o círculo de Mohr do estado de tensões efetivas sólidos aumenta de

diâmetro e se desloca para a esquerda fazendo com que o círculo de Mohr efetivo

também se desloque para a esquerda e haja uma quebra no caminho de tensões efetivas.

Num instante qualquer entre += 0t e a ruptura, o estado de tensões efetivas pode ser

descrito de forma completa pelo círculo de Mohr efetivo e pelo círculo de Mohr do

estado de tensões efetivas viscoso definindo assim de forma única o círculo de Mohr do

estado de tensões efetivas sólido.

Com o círculo de Mohr do estado de tensões efetivas viscoso mantido constante

e com o aumento das deformações cisalhantes, o valor de mobφ vai aumentando até que

a resistência por atrito se esgote e ocorra a ruptura (fig AI.11).

τ

σ'

Círculo de Mohrefetivo Círculo de Mohr

do estado de tensões efetivas sólido

σ´3s σ´1s σ´1

V

p´s σdv

q´s

Figura AI.10

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149

Na ruptura o círculo de Mohr do estado de tensões efetivas sólido tangencia a

envoltória de resistência cuja inclinação é bφ e o círculo de Mohr efetivo tangencia a

envoltória cuja inclinação é φ′ , o ângulo de atrito da Mecânica dos Solos clássica.

Da figura (AI.11) pode-se calcular bφ por

f3dvf1

f3dvf1

sf

sf

sf3sf1

sf3sf1b p

qsen

σ′+σ′−σ′σ′−σ′−σ′

=′′

=σ′+σ′σ′−σ′

=φ (AI.51)

e como mobmob tansen α=φ , o critério de ruptura pode ser escrito também como

VpVq

pq

tanfsf

sfb −′

−′=

′′

=α (AI.52)

o valor de φ′ é dado por

f

f

sf

sf

sf3vf1sf1

sf3vf1sf1

f3f1

f3f1

pq

VpVq

sen′′

=+′+′

=σ′+σ′+σ′σ′−σ′+σ′

=σ′+σ′σ′−σ′

=φ′ (AI.53)

p´sf σdv

V

q´sf

σ´3sf=σ´ σ´1sf σ´ σ´1f

p´f

φ´

α´

α´b

φ´b

τ

Figura AI.11

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150

Como a resistência viscosa varia com a velocidade de ensaio, o valor de φ′ varia

com a velocidade e, portanto, φ′ não pode ser considerado uma propriedade do solo, o

que acontece com bφ cujo valor independe da velocidade de ensaio. Assim, quem

comanda a ruptura é o ângulo bφ e não φ′ .

A discussão acima explica o porque do fato de se obter um valor da resistência

não-drenada fu qs ′= tanto maior quanto maior for a velocidade de ensaio, fato do

conhecimento da Mecânica dos Solos de longa data.

A inclinação dos planos de ruptura com a horizontal será dada por

245 b0 φ+=θ (AI.54)

uma conseqüência que também merece comprovação experimental. Outro fato

digno de nota é aquele que diz respeito à poro-pressão devida ao cisalhamento ser

independente da velocidade de ensaio. Para ilustrar a questão à luz do modelo, tome-se

também o momento em que ambos os ensaios apresentem a mesma poro-pressão. A

situação está ilustrada na fig. AI.12.

Figura AI.12

círculo de Mohr efetivo para o ensaio realizado com velocidade Aε&

círculo de Mohr efetivo para o ensaio realizado com velocidade Bε&

B

A

J

VA

VB

círculo de Mohr efetivo para o

ensaio realizado com velocidade

ε& =0

σdvB

σ´3s= σ´3 σ´1B σ´1s σ´1A σ´

τ

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151

Chamando os ensaios de A e B, o ensaio A é realizado com velocidade Aε& e o

ensaio B com velocidade Bε& . Sendo Bε& > Aε& então a resistência viscosa AB VV > .

Como as evidências experimentais dão conta de que a poro-pressão em ensaios CIU

com a mesmo tensão confinante não dependem da velocidade mas apenas da

deformação, (Lacerda, 1976) conclui-se que os pontos A, B e J, tendo a mesma poro-

pressão, terão também a mesma deformação e também o mesmo atrito mobilizado mobφ .

Assim conclui-se que toda linha que partindo de 3σ′ tenha inclinação de 45o seja o lugar

geométrico dos pontos de mesma poro-pressão, mesma deformação específica e mesma

distorção. Em outras palavras, para a mesma deformação, o círculo de Mohr do estado

de tensões efetivas sólido é único.

Quando são unidos os pontos do topo dos diversos círculos de Mohr efetivos no

decorrer de um ensaio obtêm-se os caminhos de tensão efetivas e é fácil concluir que

para cada velocidade ε& utilizada no ensaio CIU haverá um caminho de tensões efetivas

(fig AI.13).

Figura AI.13

Da figura AI.13 e do que foi discutido anteriormente, pode-se concluir que o

caminho de tensões que representa os estados de tensão efetivas sólido é único. Como

os estados de tensões efetivas sólido estão livres do efeito de velocidade, conclui-se que

o caminho dos estados de tensões efetivas sólidos corresponderia (se fosse possível

realizar tal ensaio) a um ensaio com velocidade 0=ε& . A este caminho de tensões

efetivas dá-se o nome de caminho de tensões efetivas básico.

VAVB

ε& =0

Aε&Bε&

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152

Outra conclusão que se pode tirar é a de que todos os caminhos de tensões

efetivas são deslocados de 2V ⋅ do caminho de tensões efetivas básico segundo a

direção de 45o em relação ao eixo p′ .

Uma observação final deve ser feita neste item relativamente a um conjunto de

ensaios em solos normalmente adensados com diferentes tensões hidrostáticas csp′ mas

iguais velocidades de ensaios na fase de cisalhamento. Na figura (AI.14) apresentam-se

os caminhos de tensões de três ensaios CIU com tais características.

Figura AI.14

Como os caminhos de tensões efetivas da figura AI.14 são homotéticos

(geometricamente semelhantes) com centro de homotetia na origem, o salto de

viscosidade V para cada ensaio é proporcional à tensão hidrostática. Assim

( ) cs01

v pCdt

de

43qV ′⋅=

ε⋅η⋅=′= (AI.55)

Logo

α′

p´cs=a p´cs=2a p´cs=3a p´

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153

( ) ( )cs

1

10 pC

43e ′⋅

εε

⋅=η&

& (AI.56)

Este resultado está de acordo com a hipótese de que η é função da velocidade

de deformação e do índice de vazios ( )e pois csp′ é função exclusiva do índice de

vazios.

AI.4 – Resumo dos Pontos Principais da Nova Abordagem

(1) Em qualquer plano de um elemento de solo saturado no qual estejam atuando a

tensão normal σ e a tensão cisalhante τ , estarão atuando internamente: como

conseqüência da ação de σ , a soma u+σ′ , sendo σ′ a tensão normal efetiva e

u a poro-pressão. E como conseqüência da ação de τ a soma das tensões

cisalhantes de atrito ( sτ ) e de viscosidade ( vτ ). A tensão normal efetiva pode

ainda ser decomposta em duas parcelas: A parcela que se estabelece nos

contatos sólidos ( sσ′ ) e a parcela que se estabelece nos contatos viscosos ( vσ′ ).

Assim

uvs +σ′+σ′=σ

e

vs τ+τ=τ

(2) Num estado de tensões com simetria axial, o círculo de Mohr das tensões

efetivas pode ser subdividido em dois outros: O círculo de Mohr do estado

sólido das tensões efetivas e o círculo de Mohr do estado viscoso das tensões

efetivas. Assim

ασ′−σ′

+σ′+σ′

=σ′ 2cos22

3121

α⋅σ′−σ′

=τ 2sen2

31

Como vs σ′+σ′=σ′ e vs τ+τ=τ , vem

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154

( )α⋅⋅

σ′−σ′

+

σ′+σ′

=σ′ 2cos22

s3s1s3s1s

( )α⋅⋅

σ′−σ′

=τ 2sen2

s3s1s

( )α⋅⋅

σ′−σ′

+

σ′+σ′

=σ′ 2cos22

v3v1v3v1v

( )α⋅⋅

σ′−σ′

=τ 2sen2

v3v1v

onde

σ′ é a tensão normal efetiva num plano cuja normal faz um ângulo α com a

direção de 1σ′ .

1σ′ é a tensão efetiva maior.

3σ′ é a tensão efetiva menor.

τ a tensão cisalhante num plano cuja normal faz um ângulo α com a direção de

1σ′ .

sσ′ é a parcela da tensão normal efetiva oriunda dos contatos sólidos num plano cuja

normal faz um ângulo α com a direção de 1σ′ .

s1σ′ é a parcela da tensão efetiva principal maior oriunda dos contatos sólidos e que

atua na mesma direção de 1σ′ .

s3σ′ é a parcela da tensão efetiva principal menor oriunda dos contatos sólidos e que

atua na mesma direção de 3σ′ .

sτ é a parcela de atrito da tensão cisalhante oriunda dos contatos sólidos num plano

cuja normal faz um ângulo α com a direção de 1σ′ .

vσ′ é a parcela da tensão normal efetiva oriunda dos contatos viscosos num plano

cuja normal faz um ângulo α com a direção de 1σ′ .

v1σ′ é a parcela da tensão efetiva principal maior oriunda dos contatos viscosos e que

atua na mesma direção de 1σ′ e s1σ′ .

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155

v3σ′ é a parcela da tensão efetiva principal menor oriunda dos contatos viscosos e que

atua na mesma direção de 3σ′ e s3σ′ .

vτ é a parcela viscosa da tensão cisalhante oriunda dos contatos viscosos num plano

cuja normal faz um ângulo α com a direção de 1σ′ .

(3) A tensão cisalhante num plano cuja normal faz um ângulo α com a direção de

1σ′ é dada também por

( ) ( ) ( ) ( )dt

detan s

mobsvsαε

⋅η+φ⋅σ′=ατ+ατ=τα

onde ( )αφmobtan é a relação entre sτ e sσ′ no plano cuja normal faz um ângulo

α com a direção de 1σ′ . ( )eη é o coeficiente de viscosidade do solo associado ao

cisalhamento e ( )αεdt

d s a velocidade de deformação cisalhante no plano cuja normal faz

um ângulo α com a direção de 1σ′ .

Em particular no plano em que 045=α

( ) ( )dt

d2etan

231

mobs3s1 ε−ε

⋅η

+φ⋅σ′+σ′

ou

( ) ( )dt

d2esenpq 31

mobsε−ε

⋅η

+φ⋅′=′

Em particular nos ensaios não-drenados convencionais CIU realizados em solos

normalmente adensados onde ao fim da fase de adensamento fecha-se a drenagem e

espera-se a poro-pressão aumentar e estabilizar tem-se css3c3 p′=σ′=σ′ . Nesse caso tem-

se:

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156

(4) Os caminhos de tensão efetivas de ensaios realizados com cte=ε& mas com

diferentes csp′ são normalizáveis e têm o aspecto mostrado na fig. V.73.

(5) Como o ensaio é não-drenado, 31v 2 ε⋅+ε=ε e então 21

−=ε . Assim no

plano cuja normal faz um ângulo de 45o com a direção de 1σ′

( )dt

d43

dtd

21

dtd

21

dtd 131s ε

⋅=γ

⋅=ε−ε

⋅=ε

Então, num ensaio não-drenado CIU realizado com cte=ε& a parcela viscosa da

tensão cisalhante em qualquer plano é cte ao longo de todo o ensaio. Em particular,

no plano em que a normal faz 45o com a direção de 1σ′

( )dt

de

43q 1

vvε

⋅η⋅==τ

(6) Como os caminhos de tensão efetivas são normalizáveis (geometricamente

semelhantes) para uma mesma velocidade ε& dividindo-se por css3c3 p′=σ′=σ′

obtém-se um caminho de tensões efetivas normalizado único.

(7) Como a parcela viscosa da tensão cisalhante depende do índice de vazios e da

velocidade de deformação, nos ensaios CIU convencionais ela é mobilizada de

imediato com seu valor pleno assim que a prensa é ligada permanecendo

constante até o fim do ensaio. Com isso os caminhos de tensões efetivas

apresentam inicialmente um salto de viscosidade da direção de 45o com o eixo

de p′ , salto esse que vale

( ) cs01

v pCdt

de

43qV ′⋅=

ε⋅η⋅=′=

(8) O item (7) leva à conclusão de que, iniciado o ensaio, para += 0t ( 0=ε ) o

círculo de Mohr das tensões efetivas se confunde com o estado viscoso das

tensões efetivas e, portanto, inicialmente o círculo de Mohr do estado sólido das

tensões efetivas se reduz a um ponto.

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157

(9) A parcela viscosa da resistência ao cisalhamento é mobilizada com seu valor

pleno para 0=ε e daí em diante se mantém constante se ε& for mantida

constante. Como a resistência ao cisalhamento continua a crescer depois da

mobilização instantânea da parcela viscosa, conclui-se que o que está sendo

mobilizado é a parcela de atrito da tensão cisalhante. Ocorre que as deformação

(distorções) só passam a ocorrer após a mobilização da parcela viscosa, o que

concluir que as distorções estão intimamente ligadas à mobilização do estado

sólido (ou de atrito) das tensões efetivas. É este aspecto que permite enunciar:

“Num ensaio não-drenado, todas as vezes em que houver distorção haverá

variação do estado sólido (ou de atrito) das tensões efetivas e reciprocamente

toda vez em que houver variação do estado sólido das tensões efetivas haverá

distorção”.

(10) Se a parcela viscosa da tensão cisalhante é mobilizada de imediato e só então é

que a parcela de atrito passa a ser mobilizada, a ruptura só ocorrerá quando a

parcela de atrito da tensão cisalhante se esgotar. Assim, quem comanda a ruptura

é o atrito mobilizado.

(11) Como quem representa o atrito mobilizado é o círculo de Mohr do estado sólido

(ou de atrito) das tensões efetivas, usando o critério de Mohr-Coulomb, a ruptura

ocorrerá sempre que o círculo de Mohr do estado sólido das tensões efetivas

tangenciar a envoltória de resistência de atrito, uma reta passando pela origem

cuja inclinação é bφ . Com isso, conclui-se também que o ângulo de atrito efetivo

da Mecânica dos Solos clássica φ′ é afetado pela velocidade e portanto não é um

parâmetro do solo.

(12) A condição de ruptura se traduz por:

sf

sfbtan

σ′τ

ou

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158

sf3sf1

sf3sf1bsen

σ′+σ′σ′−σ′

ou

sf3sf1

sf3sf1btan

σ′+σ′σ′−σ′

onde os índices s e f significam respectivamente tensões nos contatos sólidos e

condição de ruptura.

(13) Com base nos resultados experimentais de Lacerda (1976), admite-se que as

poro-pressões desenvolvidas no cisalhamento não dependem da velocidade de

deformação. Num ensaio CIU convencional essas poro-pressões dependem

apenas da tensão hidrostática de adensamento cspcs3 ′=σ′ e da deformação 1ε (ou

da distorção γ ). Assim, os topos dos círculos de Mohr das tensões eetivas de

ensaios CIU realizados com diferentes ε& , apresentam-se alinhados sobre uma

linha inclinada de 45o com o eixo p′ . Essa linha inclinada de 45o é, em cada

instante, o lugar geométrico dos pontos de mesma poro-pressão, mesma

deformação e mesmo atrito mobilizados de ensaios CIU realizados com mesma

cs3σ′ e diferentes velocidades.

(14) Como decorrência do item (13), para uma dada deformação o círculo de Mohr

do estado sólido de tensões efetivas é único. Assim o caminho de tensões gerado

pelos círculos de Mohr do estado sólido (ou de atrito) das tensões efetivas

corresponderia a um ensaio com velocidade igual a zero, esse é o caminho de

tensões efetivas básico.

(15) As características apresentadas nos itens (13) e (14) são as responsáveis pelo

aumento de φ′ e da resistência não-drenada com o aumento da velocidade de

ensaio como relatado por Bishop e Henkel (1957, paginas 30-31).

(16) As características apresentadas nos itens (13) e (14) também levam à conclusão

de que os caminhos de tensão efetivas são deslocados de 2V ⋅ em relação ao

caminho de tensões efetivas básico segundo a direção de 45o em relação ao eixo

de p′ .

(17) Uma outra característica geral a ser observada pode ser ilustrada por dois

conjuntos de ensaio CIU realizados com a mesma série de tensões confinantes

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159

com velocidades de deformação 0A =ε& e 0B >ε& . Tais conjuntos estão ilustrados

pelos caminhos de tensões da figura AI.15.

Figura AI.15

AI.5 – O Ensaio de Fluência dentro da Abordagem Alternativa

Dentro desta nova alternativa, o ensaio de fluência não-drenada seria visto

praticamente da mesma forma que no modelo de Martins (1992), sendo a única

diferença a representação do caminho de tensões, que teria no lugar das elipses os

círculos de Mohr dos estados viscosos e friccionais. Após as fases de

adensamento hidrostático e a fase não-drenada anterior ao cisalhamento, ao carregar o

corpo de prova, no instante t = 0, toda resistência oferecida pelo solo seria do tipo

viscoso, e assim sendo, o círculo de Mohr efetivo se confundiria com o círculo de Mohr

do estado viscoso.

ensaio comε& = 0

ensaio com Bε& A1

B1

A2

B2

ensaio com Bε& ensaio comε& = 0

α′

p´cs(1) p´cs(2) p´

0

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160

Figura AI.16

Com o passar do tempo, se teria o desenvolvimento das deformações cisalhantes

e a geração do excesso de poro-pressão. Desta maneira, ao lado do círculo de Mohr do

estado viscoso surgiria o círculo de Mohr do estado friccional, sendo que esses dois

círculos somados teriam o mesmo diâmetro do círculo de Mohr viscoso do tempo t = 0.

Como no presente caso estamos lidando com um solo normalmente adensado, o excesso

de poro-pressão seria positivo e o caminho de tensões seria uma reta horizontal se

desenvolvendo para a esquerda em direção a envoltória de ruptura. Durante seu

caminho em direção a envoltória de ruptura, o círculo de Mohr de atrito aumentaria

continuamente de tamanho, caracterizando a mobilização do atrito, o círculo de Mohr

viscoso diminuiria de tamanho, caracterizando a desmobilização da viscosidade, de

acordo com a Lei de Taylor de Martins (1992).

Considerando a Figura AI.16 acima pode-se escrever:

dvdfd σ+σ=σ AI.57

τ

círculo de Mohr do estado de tensões efetivas viscoso

círculo de Mohr do estado de tensões efetivas

círculo de Mohr do estado de tensões efetivas sólido

σ´dv σ´3s σ´1s σ´1 σ´ σ´dv

σ´1v

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161

Que vem a ser a equação III.5 do Capítulo 3 onde todo o desenvolvimento analítico foi

feito. Desta maneira todas as equações e procedimentos podem ser considerados

“exatos” para o caso onde o círculo de Mohr é visto como a soma de dois outros

círculos. Já se visto segundo o Modelo de Martins (1992) tudo o que foi desenvolvido

nesta tese é aproximado.

Como exposto no trabalho de Martins (1992), a depender da tensão desviadora de

fluência e resistência friccional disponível para mobilização três seriam as situações

possíveis, a saber:

(I) A resistência friccional máxima é maior que a tensão cisalhante imposta (q<qfmáx).

(II) A resistência friccional máxima é igual à tensão cisalhante imposta(q=qfmáx).

(III) A resistência friccional máxima é menor que a tensão cisalhante imposta(q>qfmáx).

No caso (III), como a resistência friccional máxima do solo é maior que a

solicitação imposta, a transferência que ocorre entre a viscosidade e o atrito se dará até

que toda resistência oferecida pelo solo seja de origem friccional, quando isso ocorrer a

velocidade de deformação será zero e a deformação estabilizará em um valor menor que

a deformação de ruptura, εf. Neste caso o círculo de Mohr do atrito se desenvolve até

“tomar”o círculo de mohr efetivo do círculo de Mohr da viscosidade. Ao final do

processo o círculo de Mohr efetivo se confundiria com o círculo de Mohr de atrito e

círculo de Mohr da viscosidade desapareceria, o que segundo definição de Martins

(1992) viria a caracterizar a estabilização na fluência. Este mecanismo pode ser visto

considerando a seqüência (A), (B), (C) e (D), Figuras AI.17 a AI.20 a seguir.

No caso (I), onde a solicitação imposta é maior que resistência friccional

máxima, a transferência se dará até a deformação de ruptura, εf, com a resistência

friccional atingindo seu máximo. A partir desse ponto, como não há mais atrito a ser

mobilizado, a velocidade de deformação deverá permanecer constante e corresponder a

diferença entre a tensão imposta e a friccional máxima. Neste caso, a partir deste

momento, as deformações continuarão a se desenvolver de maneira ilimitada sob

velocidade constante. Neste caso o círculo de Mohr do atrito não se desenvolveria o

suficiente para “tomar” o círculo de Mohr efetivo do círculo de Mohr da viscosidade,

sendo que este último continuaria a existir. Ou seja, em existindo uma viscosidade, e

conseqüentemente uma velocidade de deformação, estaria caracterizada a ruptura por

fluência, como definido por Martins (1992). A seqüência correspondente seria (A), (B)

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162

e (C), sendo (C) a máxima mobilização do atrito. Caso o solo em questão apresente

queda de resistência por algum motivo qualquer a seqüência seria (A), (B), (C) e (B) de

novo.

Já no segundo caso (caso II), a transferência se dará até a deformação de ruptura

do solo, com a mobilização máxima do atrito e com a velocidade atingindo o valor zero.

Este vem a ser um caso limite entre o primeiro e o terceiro, pois o corpo de prova

estabilizará na deformação de ruptura, εf. Neste último caso, o círculo de Mohr do atrito

“tomaria” por completo o círculo de Mohr efetivo do círculo de Mohr da viscosidade,

como no caso (III) porém só a tempo infinito. A seqüência neste caso também seria

igual ao caso (III).Figura AI.17

Figura AI.17

Figura AI.18

σ’3s σ’

τ

σ’1

Círculo de Mohr Efetivo

Círculo de Mohr de

(A)

σ’1s σ’3s σ’

τ

σ’1

Círculo de Mohr Efetivo

Círculo de Mohr de

(B)

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163

Figura AI.19

Figura AI.20

σ’3s σ’

τ

(D)

Círculo de Mohr Efetivo

Círculo de Mohr de Atrito

σ’1 σ’3 (D)

σ’1s

τ

σ’1 (C)

σ’3s σ’

Círculo de Mohr Efetivo

Círculo de Mohr de Atrito

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164

AI.6 – A Relaxação de Tensões dentro da Abordagem Alternativa

Como no modelo original de Martins (1992), em um ensaio CIU convencional,

ao se atingir uma determinada deformação, se parada a prensa e mantida constante a

deformação atingida, a queda da tensão desviadora se daria pelo desaparecimento da

parcela viscosa da tensão efetiva, porém sem geração de excesso de poro-pressão.

Assim sendo o caminho de tensões na relaxação de tensões seria uma reta inclinada de

45o, partindo do topo do círculo de Mohr correspondente a deformação em que a prensa

foi parada (que vem a ser a soma dos círculos de Mohr da viscosidade e de atrito) em

direção ao topo do círculo de Mohr do atrito. O caminho de tensões acima descrito pode

ser visualizado na figura abaixo.

Figura AI.21

σ’1s σ’3s σ’

τ

σ’1

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165

AI.7 – Sobre a Sensibilidade e o Modelo de Martins (1992)

Como discutido por várias vezes o Modelo de Martins (1992) foi desenvolvido

para solos normalmente adensados, e assim sendo a poro-pressão máxima, mobilização

do atrito máxima e da resistência friccional máxima se dão para um mesmo valor finito

de deformação específica, e a partir deste ponto se mantém constantes, ou seja, é

alcançado o estado crítico. Porém a argila Haney é uma argila sensível, o que significa

dizer que ainda há geração de poro-pressão e mobilização do atrito após ter sido

atingido o pico de resistência do solo.

Porém este fato não invalida o Modelo de Martins (1992) uma vez que em sua

concepção original o solo utilizado era normalmente adensado e não sensível. Neste

modelo são aliadas as idéias de Taylor e Terzaghi com a concepção de estado crítico. O

fato da teoria dos estados críticos não se aplicar aos solos sensíveis não significa dizer

que as idéias de Taylor e Terzaghi são incorretas e desta forma as hipóteses principais

sobre as resistências viscosa e friccional devem ser manter.

Dito isto, deve permanecer válido a hipótese da resistência friccional única

(função exclusiva da deformação cisalhante), da mobilização única do atrito (idem), da

poro-pressão única (idem) e do caminho de tensão friccional único (idem).

Quanto à resistência friccional única o gráfico da Figura IV.3 (re-apresentado

abaixo como figura V.78) atesta sua validade. Já para os demais itens, com os dados

disponíveis do artigo Vaid e Campanella (1977), não se teria como fazer essas análises,

uma vez que os dados de poro-pressão não foram apresentados. Porém uma análise

qualitativa é possível lançando-se mão dos dados do artigo Campanella e Vaid (1974).

A análise que se segue é puramente qualitativa, uma vez que conforme comunicação

pessoal, Vaid (2005), as duas capmanhas não foram feitas com amostras retiradas do

mesmo local.

Neste artigo os autores investigam o comportamento de fluência da argila Haney

submetida na fase de adensamento a estados K0, hidrostático e plano. Cabe registrar que

todos os cuidados tomados no artigo de 1977 (fase não-drenada anterior ao

cisalhamento, aquisição automática de dados, temperatura controlada) foram adotados

nesta campanha também. Fato digno de nota deste artigo (1974) é a apresentação de

uma gráfico de poro-pressão vs. Deformação axial onde se comparam as poro-pressões

de um ensaio triaxial convencional com a poro-pressão de um ensaio de fluência.

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166

Como sustenta o Modelo de Martins (1992), a poro-pressão deve ser a mesma,

uma vez que esta não é influenciada pela velocidade de deformação, sendo dependente,

outrossim, de sua deformação cisalhante, e isso é exatamente o que se observa no

gráfico abaixo.

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0.45

0.5

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

ε (%)

σ'df

/ σ' c

Vel. def. axial = 1,1 %/min

Vel. def. axial = 0,15 %/min

Vel. def. axial = 0,014 %/min

Vel. def. axial = 0,0028 %/min

Vel. def. axial = 0,00094 %/min

Curva média

Figura AI.22

Figura AI.23

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167

De posse desses dados pode-se através das equações apresentadas neste trabalho

avaliar a mobilização do atrito e o caminho de tensões friccional básico. Abaixo

encontram-se os gráficos correspondentes.

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0.3

0.35

0.4

0 2 4 6 8 10 12 14

ε (%)

tg α

mob

Vel. Def. = 1.1 %/minVel. Def. = 0.15 %/minVel. Def. = 0.014 %/minVel. Def. =0.0028 %/minVel. Def. = 0.00094 %/min

Figura AI.24

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1p'/p'c

q/p'

c

Caminho basico para Vel. Def. = 1.1 %/minCaminho basico para Vel. Def. = 0.15 %/min"Caminho basico para Vel. Def. = 0.028 %/minCaminho basico para Vel. Def. = 0.0028 %/minCaminho basico para Vel. Def. = 0.00094 %/min

Figura AI.25

Como foi possível ver, as duas hipóteses se verificam para a argila Haney.