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Fundamentos Teoricos Da Comunicacao Humana

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Fundamentos Teóricos da Comunicação HumanaS. Littlejohn

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Supervisor da Edicão Brasileira

ALUIZIO RAMOS TRINTAProfessor Titular de

Teoria e Fundamentos da Commicacäo

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Titulo do original:Theories of Human Communication

Traductio autorizada da primeira edicaio norte-americana,

 publicada em 1978 por Charles E. Merrill Publishing Company,

Columbus, Ohio, EUA

Original English language edition published by

Charles E. Merrill Publishing Division of Bell & Howell Company

Copyright1978 by Bell & Howell Company

All rights reserved

Direitos exclusivos para a lingua portuguesaCopyright 1988 byEDITORA GUANABARA S.A.Travessa do Ouvidor, 11Rio de Janeiro, RJ — CEP 20040

Reservados todos os direitos. E proibida a duplicagdoou reproducao dente volume, no todo ou em parte,sob quaisquer formas ou por quaisquer meios(eletrOnico, mecanico, gravagdo, fotocdpia, ou outros),sem permissao expressa da Editora.

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 Indice

Apresentacao 7

Prefacio 9

Agradecimentos 11

Parte I I ntroducao 15

1 A Natureza da Teoria da Comunicacao 17

Por que estudar Teoria da CornUnicagao? 18; A Natureza da Teoria, 19; A Na-

tureza da Comunicagao Humana, 34.

Parte II Orientaceies Gerais 39

2 Teoria dos Sistemas Gerais e Cibernetica 41

0 Que Eurn Sistema? 41; A Teoria dos Sistemas Gerais como Abordagem do

Conhecimento, 46;Cibernetica,48; A Comunicagao como Sistema Aber-

to, 52;Comunicagao: a Matriz Social da Psiquiatria, 54;Thayer sobre Sistemasde Comunicagao, 58;GeneralizagOes, 63.

3 I nteracionismo Simbolico 65

Fundamentos: George Herbert Mead, 67; Herbert Blumer e a Escola de Chica-

go, 

71; Man ford Kuhn ea Escola de Iowa,76;0 Dramatismo de Kenneth Burke, 78; Hugh Duncan e Ordem Social, 83;Generalizagães, 85.

Parte III Processos Basicos 87

4Teorias dosSignos:Codificacao Verbal e Nao-Verbal 89 Introdugao aos signor, 90; Teorias de Codificagao Verbal, 95; Teorias de Signos Nao-Verbais, 107;Codificagao e Comunicagao, 115;GeneralizagOes, 115.

5 Teorias de Significado e Pensamento 118

Urn Panorama Gera': a Imagem de Boulding, 118;Teorias de Significado; 119,Teorias de Pensamento, 141;Generalizagdes, 151.

6 Teoria da Informacao 152

Concertos Basicos, 153; A Teoria Thcnicada Informacao, 156;Sobre InformagaoSemantica,158;Uma Abordagem de Eficacia da Informagao, 159;Generali- zagg

es, 161.

7 Teorias de Persuasao e Mudanca 162

Fundamentos Humanisticos: a Teoria RetOrica; 162;Uma Teoria Comportamen-tal da Persuasao, 166; Teorias Psicolágicas da Atitude e Mudanga de Atitu-de,169;Generalizagaes, 200.

Parte IV Contextos de Comunicacao 203

8 Teorias de Comunicacao Interpessoal 205

 Relacionamento, 206; Necessidades Interpessoais, 214; Auto-Apresentagao,218;Reve/agão e Compreensao,221;Percepgao Interpessoal, 230; Atragao In-

terpessoal,237;Conflito Social, 244;Generalizagdes, 251.

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9 Teorias de Gomunicacao em Pequeno Grupo 253

A Natureza dos Grupos, 253; Fundamentos: a Teoria do Campo, de Lewin, 256;Uma Teoria Empirica Geral, 262; Teorias de Manutengãoe Motivagab de Gru- po,264; AnWise do Processo de Interagäo; 270; Eases e Desenvolvimento doGrupo, 274;Uma Teoria dos Papeis do Grupo, 278;Teorias de Efeitos Inter-

 pessoais em Grupos, 280; Generalizagdes, 284.

10 TeoriasdeOrganizacao Humana 287

Fundamentos: A Teoria Classica lnicial, 289; Estruturalismo: A Burocracia de Max Weber, 290; Escola de RelagOes Humanas, 293; Escola de Sistemas So-ciais, 

299; Funcionalismo Estrutural, 313; Generalizacoes, 317.

11 Teoriasde Comunicacao de Massa 319

0 Processo de Comunicagäo de Massa: Modelos Gerais, 321; Teorias de Audien-cia, Influéncia e Difusao, 327;Teorias dos Efeitos da Comunicaggo, 335;Teorias de Comunicagdo Politica, Opiniao Pithlica e Propaganda, 345; UmaTeoria de Desenvolvimento Nacional, 357; GeneralizagOes,361.

Parte V Integracão 363

1 2 Uma Integracdo Multiteorica 365

0 que e uma Abordagem MuItiteOrica?365; Comunicag5o: uma Integragdo MultiteOrica, 367.

Bibliografia 375Indice Analitico 401Indice Onornástico 405

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 Apresentacäo

Comunicar significa partilhar, isto cornpartir corn algue'm urn certo con-

teudo de informagdes, tais como pensamentos, ideias,. intencOes, desejos econhecimentos. Por via de urn ato de comunicagdo, experimentamos o sen-

tido de uma comunhão corn aquele a quern nos dirigimos, porque corn ele

 passamos a ter algo em comum.

Da comunicacdo interpessoal a comunicagdo de massa, o ato comunicativo

responde a uma necessidade vital de todo homem, qual seja a do cometio de

suas experiencias e saberes. Dessa forma, ao desenvolver os primeiros meios

mecAnicos de registro e divulgagdo de informagão — a escrita alfabetica e,

corn Gutenberg, a invengdo do tipo mOvel — a sociedade humana deu nota"-

vel salto, imprimindo um rumo tecnoldgico a transmissão de informagOes. Tal 

é a origem de urn dos mais complexos fen Omenos de nosso tempo: a chamada

comunicacdo de massa. E o taco de tal comunicagão ser produzida em escala

industrial, para um consumo rapid° e imediato, não the retira qualquer 

 parcela de significagab e i mportancia. Muito ao contrario, estudos e ensaiosde longa extensão e variavel acuidade crftica tern sido dedicados a esta formaespecial de comunicacão, versando suas implicacties ideolOgicas e pollticas,

suas incidencias sociolOgicas e mesmo seus efeitos no ambito da vida cotidia-

na dos cidadaos.

 A comunicagdo portanto, na ordem do dia. Voltado para o conheci-

mento de si prOprio e a andlise sisterNtica de suas manifestacdes expres-

sivas, tern o homem procurado abeirar-se cientificamente da atividade cornu-

nicativa, buscando explicá-lae sobre ela refletir, seja no domfnio das teorias,

seja no piano da existencia pratica e diaria. Aohomo ludens de I. Huizingaeao homo oeconomicus de I.S. Mill parece ter sucedido, ern nosso seculo, ohomo symbolicus deE. Cassirer, quecorn taldenominagab ressaltou urn

aspecto capitalde toda experiéncia humana, que é a capacidade de ohomemrepresentar fatos do real por meio de abstracaes denominadas simbolos.

 A representacão simbOlica do conhecimento humano e seu conseqUenteaproveitamento pratico constituem hoje urn objeto de estudo, tal como 0 testemunham, ern sua variedade, os curriculos das faculdades de comuni-cagdo. Para tal efeito, costuma-se caracterizar o processo de comunicagãocomo um ato social no qual intervém urn emissor ou fonte que, corn o recurso

a urn codigo, elabora (e codifica) uma mensagem, enviando-a por urn canal e,

num dado contexto, a urn receptor oudestinatâno (o que decodifica eassimila). Sendo a linguagem uma faculdade humana e abstrata de represen-

tacao de conteudos, os diferentes cOdigos de comunicagdo traduzem suasinsfancias concretas, cuja hierarquia institucional e constitutiva da culturahumana. Signos, sinais, simbolos etc. são instrumentos mais ou menos con-

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8  Auresentacão

vencionais — enquanto'unidades componentes dos cOdigos — que servem a

uma fungão de significagdo. Significar quer dizer ficar signo de alguma coisa, para alguem, de acordo corncertas circunstancias e num dado momento.

Por tudo o que ate aqui foi dito procuramos mostrar a complexidade peculiar a comunicagdo humana e, ern conseq0éncia, encarecer a valia deuma • abordagem metodica de seus fundamentos. Sao, portanto, bem diversas

as teorias da cornunicacao e, no tocante ao seu recorte e objetivo cientificos,devemos admitir que tal pluralidade em principio, saudavel. E este, alias, omêrito central do livro de Stephen W. Littlejohn, que recebe agora urn&competente versa° em lingua portuguesa: trata ele da variedade de teorias eteses acerca da cornunicacäb. Da cibernetica a psicologia e a filosofia; dalingelistica a semiötica; das teorias da cognicdo a teoriada informagäb; dasteorias da organiza0o social a comunicagão de massa — neste vasto campode pesquisas se move o autor, examinando-o sempre a luz da obra de seuste6ricos mais represdntativos, nas vigas mestras de seus trabalhos e deles

extraindo o que mais interessa ao estudo da comunicagão. Some-se a isto a

modernidade da concepgdo do livro e a oportunidade de sua edigab, queapontam para umadas dire Foes do pensamento cientifico moderno, que é a

da inter- e pluridisciplinaridade.Como nab poderia deixar de ocorrer em empresa de tal envergadura, a cada

capitulo seguem-se, em forma didatica, uma bibliografia, sucintos comenta-dos criticos e sinteses. Por seu feitio universitärio, por sua destinagab profes-sional e pela forma judiciosa de tratar o lexico basico da comunicagdo hu-mana, o livro de Stephen W. Littlejohn merecera certamente figurar em toda

bibliografia acerca dos fundamentos cientificos da comunicacão. E esta a for-tuna que Hie auguramos.

ALUIZIO RAMOS TRINTA

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Pretacio

Este livro consiste num levantamento geral das teorias de comunicacao

humana e representa uma abordagem multiteOrica e multidisciplinar. A minhapremissa a que podemos compreender melhor os processos de comunicacäose examinarmos as numerosas teorias que focalizam varios aspectos da inte-racdo. 0 meu propOsito a apresentar aqui essa visào ecletica.

Um critico sugeriu acertadamente que este livro a mais sobre teoriasrelacionadas corn acomunicacão do que sobre teorias decomunicacan. Amedida que o leitor for avancando na leitura, verificara que comunicagdourn conceito amplo, abrangendo uma diversidade de processos e fentimenos.Este livro ajudara a concatenar o conceito de comunicacao, examinando erngrande detalhe as suas partes constituintes.

0 capitulo 1 cia uma orientacdo sobre a natureza da teoria e o estudo dacomunicacao. Estabeleci urn quadro de referencia no capitulo 1 para aconceitundo do campo, a medida que se progride no texto.

Procurei respeitar a riqueza multidisciplinar do estudo da comunicapo,incluindo uma serie de teorias oriundas de numerosas disciplines. Veremosque os processos de comunicacao sào abordados de muitos e diferentespontos de vista. Ao tratar as teorias separadamente, demonstram-se o enfoque

e a contribuicão de cada uma. Tentei mostrar as inter-relacties, os pontoscomuns e os pontos de divisao entre as abordagens. As generalizacoes, aofinal de cada capitulo, ajudarao a demonstrar os pontos importantes tratadospelas teorias.

0 capitulo final apresenta urn quadro integrado da comunicacao. Essecapitulo sera proveitoso como recapitulacao do material dos capitulos ante-riores, mas tambem mostrara como poderia ser construida uma abordagemmultidisciplinar.

Urn dos aspectos mais dificeis da redagdo deste livro foi a escolha das

teorias que deveriam ser incluidas. Embora se trate de urn exame geral muitoamplo, este livro nao é — na verdade, nunca poderia ser — totalmenteabrangente, visto existirem muito mais teorias relacionadas corn os processos

de comunicacao dp que poderiam ser incluidas num so volume. Ern minhaconsulta de numerosos livros relacionados corn a comunicagao, concentrei-

me ern especial nas antologias e assinalei as areas mais comumente nelasincluidas. Desenvolvi entao uma bibliogralia inicial. Apurei os pontos diviso-rios mais naturais entre as diversas subareas. Enquanto trabalhava corn essas

subareas, comecei a perceber nelas a tendencia para definir os parametros de

uma abordagem multiteOrica. Essas areas teOricas, corn reagrupamento e

modificano, converteram-se nos capitulos deste livro.Uma vez estabelecidas as minhas categorias iniciais, procurei os levanta-

mentos mais abrangentes da literatura existente ern cada area. Usei as criticas

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10  Prefácio

de especialistas como guia na escolha das teorias para cada UMdos meuscapitulos. Sempre que possivel, procurei a confirmagäo da importAncia dessas

teorias em outros autores. As antologias tarnbem foram ateis nessa fase. Eclaro, isso nao foi urn processo objetivo de decisao. Em Ultima tivede fazer escolhas pessoais sobre o que incluir.

Tentei incluir as teorias mais destacadas ern cada area. A maioria dasobras aqui resumidas data de depois de 1950. Isso e natural, porquanto seregistrou urn grande impulso nas publicagOes sobre comunicagäo a partir das

dêcadas de 1940 e 1950. Embora eu ndo desejasse ver-me atado as "maisrecentes" teorias, senti-me na obrigacao de incluir trabalhos atualizados. Isso

e especialmente importante, dado que as teorias se desenvolvern, mudam e,

presumivelmente, aperfeigoam-se. Ern alguns casos, isso significou "descobrir"

teorias recentes que ajudam a rematar urn quadro completo de uma area. Assim, o leitor encontrara neste livro teorias desde os comegos do seculo XX

ate fins da decada de 1970. Alimento a esperanga de que o livro represente umquadro equilibrado da obra existente sobre teoria da comunicagão.

Gostaria de agradecer aos meus comentadores, Frank Dance, GordonWhiting e Charles R. Petrie, por sua inestimAvel ajuda. Este livro é certamen-te melhor por causa de suas criticas penetrantes e cheias de discernimento.

Queria tambem agradecer a Charles E. Merrill Company, especialmente a Tom

Hutchinson, Bill Lochner e Sharon Thomason, por seu trabalho editorial deapoio. Aos meus colegas da Universidade Humboldt, estou grato por seucontinuo interesse, apoio e ajuda. E, A minha familia, obrigado por suainabalavel paciëncia e amor.

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 Agradecimentos

De American Psychologist, "On understanding and creating sentences", por Charles Osgood.

Copyright ©1963. Reproduzido corn permissao de The American Psychological Association e doautor.

De American Psychologist, "The processes of causal attribution", por Harold Kelley. Copyright©1973 por The American Psychological Association. Reproduzido corn permissao de The AmericanPsychological Association e do autor.

De American Scientist, "The second cybernetics", por Margoroh Maruyama. Copyright © 1963.Reproduzido corn permissao de American Scientist.

De A social psychology  , of group processes for decision-making, por Barry Collins e Harold

Guetzkow. Copyright 01964 por John Wiley & Sons. Reproduzido corn permissao de John Wiley& Sons.

De Attitude change:acritical analysis of theoreticalapproaches, por Kiesler, Collins e Miller.Copyright © 1969 por John Wiley & Sons. Reproduzido coin permissao de John Wiley & Sons.

De AV Communication Review, "Toward a general model of communication", por GeorgeGerbner. Copyright ©1956. Reproduzido corn permissao da Association for Educational Commu-nications and Technology e do autor.

De Beliefs, attitudes and values, por Milton Rokeach. Copyright ©1972 por Jossey-Bass, Inc.Reproduzido corn permissao de Jossey-Bass, Inc. e do autor.

Reproduzido de Communication, "The social matrix of psychiatry", por Jurgen Ruesch e GregoryBateson. Corn permissao de W.W. Norton & Company, Inc. Copyright ©1968, 1951, por W.W.Norton & Company, Inc.

De Communicating and organizing, por Farace, Monge e Russell. Copyright © 1977, por  Addison-Wesley. Reproduzido corn permissao de Addison-Wesley.

De Communication and behavior, "The relationship ,between verbal and non-verbal communi-cation", por Nolan. Copyright © 1975, por Addison'-Wesley. Reproduzido corn permissao de

 Addison-Wesley.

Reproduzido corn permissao de Macmillan Publishing Co., Inc., de Communication of innova-

tions, por Everett M. Rogers e F. Floyd Shoemaker. Copyright 1971, por The Free Press, A

Division of The Macmillan Company.

Reproduzido corn permissao de Thayer, Communication and communication systems (Home-

wood, Illinois, Richard D. Irwin, Inc., 1968c.), pp. 27, 43, 164, 223, 32, 71, 87 e 272.De Communication research, "A dependency model of mass-media effects", por Ball-Rokeach eDeFleur. Copyright ©1976. Reproduzido coni permissao de Sage Publications.

Reproduzido corn permissao de Macmillan Publishing Co., Inc., de Design for decision, por Irwin

Bross. Copyright ©1953, por Macmillan Publishing Co., Inc.

De Firo: a three-dimensional theory of interpersonal behavior,por William Schutz. Copyright ©

1958, por Holt, Rinehart & Winston. Reproduzido corn permissao de Holt, Rinehart & Winston.

De Handbook of communication, "Mass media and interpersonal communication", por Everett

M. Rogers. Copyright ® 1973, por Rand McNally College Publishing Company. Reproduzido cornpermissao de Rand McNally College Publishing Company.

De Human relations, "Frontiers in group dynamics", por Kurt Lewin. Copyright 1947. Repro-

duzido corn permissao de Plenum Publishing Company.

Reproduzido corn permissao de Argyris, Interpersonal competenceand organizational effecti-

veness (Homewood, Illinois, Richard D. Irwin, Inc., 1962c).

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12  Agradecimentos

De Journalism Quarterly, "A conceptual model for communications research", por Westley eMacLean. Copyright 0 1957. Reproduzido corn permissao de Journalism Quarterly.

De Journal of Communication, "The 'concept' of communication", por Frank Dance. Copyright©

1970. Reproduzido corn permissao da International Communication Association e do autor.

De Journal of Personality, "The effect of context on judgments of speaker attitude", por AlbertMehrabian. Copyright @1968, por Duke University Press. Reproduzido corn permissao da Duke

University Press.De Journal of Social Issues, "Functional roles of group members", por Kenneth Benne e PaulSheats. Copyright@ 1948. Reproduzido corn permissao do Journal of Social Issues e do autor.

De Linguistics, por Peter H. Salus. Copyright 1969, por The Bobbs-Merrill Company, Inc.Reproduzido corn permissao dos editores.

Reproduzido de Of human interaction, por Joseph Luft, com.permissao de Mayfield Publishing

Company (ex-National Press Books). Copyright 01969, por The National Press.

De Organizations, por James March e Herbert Simon. Copyright ©1958, por John Wiley & Sons.Reproduzido corn permissao de John Wiley & Sons.

De People in quandaries, por Wendell Johnson. Copyright ©1946, por Harper & Row, Repro-duzido corn permissao de Harper & Row.

De Personality and interpersonal behavior, por Robert Bales. Copyright © 1970, por Holt,

Rinehart & Winston. Reproduzido corn permissao de Holt, Rinehart & Winston.

DePersonality and persuasibility, por Irving Janis et al.Copyright ©1959, pela Yale University

Press. Reproduzido corn permissao da Yale University Press.De Perspectives on persuasion, por Wallace Fotheringham. Copyright ©1966, por Allyn Bacon.Reproduzido corn permissao de Allyn Bacon.

De Perspectives on communication in conflict, "A transactional paradigm of verbalized socialconflict", por C. David Mortensen. Copyright © 1974, por Prentice-Hall. Reproduzido cornpermissao de Prentice-Hall.

De Philosophy of science, "Behavior, purpose and teleology", por Rosenbleuth, Wiener eBigelow. Copyright 0 1943, por Williams & Wilkins. Reproduzido corn permissao de Williams &Wilkins Co., Baltimore.

De Plans and the structure of behavior, por Miller, Galanter e Pribram. Copyright ©1960, por Holt, Rinehart & Winston. Reproduzido corn permissao de Holt, Rinehart & Winston.

De Psychological foundations of attitudes, "An extension of Hullian learning theory", por RobertWeiss. Copyright 0 1968, por Academic Press. Reproduzido corn autorizacao da Academic Presse do autor.

De Psychological Review, "An approach to the study of communicative acts", por TheodoreNewcomb. Copyright © 1953, pela American Psychological Association. Reproduzido cornpermissao da American Psychological Association e do autor.

De Psychological Review, "The principle of congruity in the prediction of attitude change", por C.E. Osgood e P.H. Tannenbaum. Copyright ©1955, pela American Psychological Association.Reproduzido corn permissao da American Psychological e do autor.

De Public opinion and propaganda, por Leonard Doob. Copyright @1948, por Holt, Rinehart &Winston. Reproduzido corn permissao de Holt, Rinehart & Winston.

De Public Opinion Quarterly, "Functional analysis and mass communication", por CharlesR. Wright. Copyright 1960. Reproduzido corn permissao de Public Opinion Quarterly e doautor.

De Resolving social conflicts, por Kurt Lewin, organizado por Gertrud Weiss Lewin. Copyright @1948, por Harper & Row Publishers, Inc. Corn permissao dos editores.

De Self and others, por R.D. Laing. Copyright 01969. Reproduzido corn permissao de TavistockPublications.

De Signification and significance, por Charles Morris. Copyright ©1964, por MIT Press. Repro-duzido corn permissao da MIT Press.

De Silent messages, por Albert Mehrabian. Copyright © 1971, .por Wadsworth PublishingCompany. Reproduzido corn permissao de Wadsworth Publishing Company.

De Small group decision making, por B. Aubrey Fisher. Copyright 1974, por McGraw Hill BookCompany. Reproduzido corn permissao de McGraw Hill.

De Speech Monographs, "An analysis model of conflict", por Charles Watkins. Copyright,©1974.Reproduzido corn permissao da Speech Communication Association.

De Studies in rhetoric and public speaking in honor of lames Albert Winans, "The literarycriticism of orator y", por Herbert Wichelns. Copyright © 1925, por Appleton-Century-Crofts.Reproduzido corn permissao de Prentice-Hall, Inc.

Herbert Blumer — Symbolic interactionism: perspective and method, Copyright ©1969. Repro-duzido corn permissao de Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, Nova jersei.

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 Agradecimentos 13

De The acquaintence process, por Theodore Newcomb. Copyright ©1961, por Holt, Rinehart &

Winston. Reproduzido corn permissao de Holt, Rinehart & Winston.

De The attraction paradigm, por Donn Byrne. Copyright ©1971, por Academic Press. Reproduzido

corn permissao da Academic Press e do autor.

De The communication of ideas, "The structure and function of communication", por HaroldLasswell. Copyright ©1948. Reproduzido com permissao de Harper & Row Publishers, Inc.

De The conduct of inquiry, por Abraham Kaplan. Copyright ©1964. Reproduzido corn permissaode Chandler Publishing Company.

Reproduzido com permissao de Macmillan Publishing Co., Inc., de The effects of masscommunication, por Joseph T. Klapper. Copyright ©The Free Press Corporation, 1960.

Reproduzido corn permissao de Macmillan Publishing Co., Inc., de The ghost in the machine,

por Arthur Koestler. Copyright 01968, por Arthur Koestler. Reproduzido corn permissao de A.D.Peters & Co. Ltd.

De The human organization, por Rensis Likert. Copyright 1967, por McGraw-Hill, Inc. Usadocom permissao da McGraw-Hill Book Company.

De The human use of human beings, por Norbert Wiener. Copyright ©1954. Reproduzido cornpermissao de Houghton Mifflin Company.

De The i mage: a guide to pseudo-events in America, por Daniel J. Boorstin. Copyright ©1961,por Daniel J. Boorstin. Reproduzido com permissao de Atheneum Publishers.

A figura da Rede Administrativa, de The managerial grid,Q , por Robert R. Blake e Jane Srygley

Mouton. Houston: Gulf Publishing Company, Copyright 0 1964, p. 10. Reproduzido compermissao.

De The Mathematical theory of communication, por Shannon e Weaver. Copyright ©1949, peloBoard of Trustees of the University of Illinois. Reproduzido coin permissao da University of Illinois Press.

De The meaning of meaning, por Ogden e Richards. Copyright © 1923. Reproduzido cornpermissao de Harcourt Brace Jovanovich, Inc. e Routledge & Kegan Paul, Ltd.

De Themeasurement of meaning, por Osgood, Tannenbaum e Suci. Copyright ©1957, peloBoard of Trustees of the University of Illinois. Reproduzido com permissao da University of Illinois Press.

De The medium is the massage, por Marshall McLuhan e Quentin Fiore. Organizado por JeromeAgel. Copyright ©1967, por Bantam Books, Inc. Reproduzido corn permissao de Bantam Books,Inc.

Reproduzido corn a permissao de Macmillan Publishing Co., Inc., de The nature of human

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Reproduzido coal permissao de Macmillan Publishing Co., Inc. De The passing of traditional society, por Daniel Lerner. Copyright ©The Free Press Corporation, 1958.

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De The speech communication process, por Theodore Clevenger, Jr. e Jack Matthews. Copyright©1971, por Scott, Foresman & Company. Reproduzido corn permissao dos editores.

De The symbolic uses of politics, por Murray Edelman. Copyright © 1966, pela University of Illinois Press. Reproduzido com permissao da University of Illinois Press.

De Understanding media, por Marshall McLuhan. Copyright ©1964, por McGraw-Hill. Usadocom permissao de McGraw-Hill Book Company.

De Victims of groupthink, por Irving L. Janis. Copyright ©1972, por Houghton Mifflin Company.Reproduzido corn permissao dos editores.

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A Natureza daTeoria da Comunicacao

Desde que o ser humano comegou a indagar a respeito do mundo em quevive, nunca mais deixou de sentir curiosidade em face dos mistêrios descon-certantes de sua prOpria natureza. 0 comportamento humano e as relageiesinterpessoais tem sido investigados e explicados ao longo da historia desdemuitas perspectivas. As atividades mais corriqueiras de nossas vidas — aquelesdominios da natureza humana que consideramos axiomaticos — convertem-seem quebra-cabegas da major magnitude quando comegamos a conceitua-las.Em todos os niveis, o estudo de como as pessoas se relacionam mutuamente

ocupou uma parcela importante da energia cerebral do mundo.

Em certo sentido, este livro descreve parte de nossas investigagOes paraalcangar uma compreensao do que somos, como seres humanos. Especifica-

mente, a uma sintese de muitos dos modelos contemporaneos de comuni-cacao que podem ser encontrados nas estantes de nossas bibliotecas. 0 livronao da uma resposta as perguntas que formulamos acerca de comunicagao,

mas apresenta sucintamente varias respostas que tern sido propostas. Emresumo, os capitulos que se seguem nao completarao o quebra-cabega da

comunicagao, embora ilustrem como um certo nUmero de pegas se formou eaj ustou.

No estudo da comunicagao humana, como em todos os ramos do conheci-

mento, a apropriado e talvez ate obrigatorio indagarmos como chegamos ao

reconhecimento daquilo que sabemos, ou do que julgamos saber. 1 A questaoda verdade, descoberta e investigagao e um lugar particularmente importante

para comegar este livro, porque cada um dos capitulos que se seguem a uma

especie de verdade. Pelo menos, cada um dos teOricos apresentados aqui

pretendeu, a sua pr6pria maneira, atingir a verdade. A chave e a forca condutora da investigagao — incluindo a das ciencias

sociais que investigam a comunicagao — é a resolugao de problemas. ComoPolanyi sublinhou tao claramente, "os problemas sao o incentivo e guia de

todo o esforco ihtelectual, os quais nos assediam e induzem a busca de umacompreensao cada vez mais profunda das coisas". 2 Ou, como afirmou Grene:"(...) sem a ansia de resolver problemas, de seguir palpites, de tentar ideias

novas e imprecisas, a ciencia deixaria de existir."3 Os problemas que cul-

1Para uma excelente introducao geral a epistemologia e ao metodo cientifico, na medida emque se relacionam com a teoria nas artes comunicativas, ver Ernest C. Bormann —Theory and research in the communicative arts, parte I. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1965.2

Michael Polanyl —Knowing and being. Chicago, University of Chicago Press, 1969, P. 117.3Marjorie Crene —"Introduction", em Polanyi, p. ix.

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18

rninam em investigacao podem ser praticos ou conceptuais. Podem decorrer de

dificuldades no mundo real que exigem solugao, ou podem adotar a forma de

interrogacães nao-respondidas acerca do que e conhecido.Existem quatro metodos de descoberta nesse processo de inquerito. Esses

modos nao se excluem mutuamente mas definem os processos primArios

atraves dos quais aprendemos.4 0 primeiro processo de conhecimento e a

experiencia, que talvez constitua o caminho mais frecjilentemente usado parao conhecimento. Em nossas vidas cotidianas, todos chegamos a "saber" certas

coisas acerca do nosso mundo, dos nossos pares e de nos mesmos. Ao ler, ao

fazer e ao experimentar, toda pessoa entra em contato com a realidade.Muitas de nossas explicacOes de comunicacao promanam da experienciapratica. Essa experiencia pode ser o relacionamento cotidiano com a familia e

os amigos, ou pode consistir na experiencia profissional que se adquire numtrabalho, num emprego. Freantemente, em nossa pressa para descrever ocomportamento "cientificamente", esquecemos a importancia da experiencia

comum na formulacao de nossas hipoteses sobre aquilo que "vemos". Mas ate

as mais requintadas teorias de comunicacao ganharam forma, em parte,gracas a experiencia pessoal dos teOricos.

0 segundo processo de descoberta e a arte. A arte e urn caminho muitopessoal para a verdade. Dando largas ao talento criativo, o artista chega a"saber" alga sobre o seu mundo e sabre si mesmo. 0 pintor, o mOsico, o ator,o escritor dirigem o foco de sua percepcao para dentro, para o eu, e parafora, para o mundo.

Um outro modo de descoberta e o estudo. Atraves da investigacao deartefatos oriundos do passado, o estudioso, o erudito, aprende historia,cultura, literatura e filosofia. Muitos acreditam, par exemplo, que o cursoatual da vida humana em politica, economia e questães sociais poderia ser guiado com major precisao e eficiencia pelos conhecimentos adquiridos noestudo do passado.

Finalmente, o metodo da ciencia e uma forma significativa de descobertada verdade. Suas metas sao a descricao, a explicacao e a predicao. ApOia-se

substancialmente nas observacoes em primeira mao. Ei mportante compre-ender, neste ponto, que cads um dos processos de descoberta e valiosoper se. Certas especies de conhecimento sao melhor obtidas através de um ououtro desses metodos, e uma abordagem completa da verdade deve incluir uma combinagao de todos quatro.

Por que Estudar Teoria da Comunicacão?

 Alem de satisfazer a curiosidade basica do estudioso acerca da comunicacao

— ou seja, satisfazer a necessidade de saber — o estudo da teoria da

comunicacao pode ser importante par outran razOes fundamentais. A comuni-

cacao e um dos mais penetrantes, complexos e importantes aglomeradospresentes em nosso comportamento. Ea nossa aptidao para comunicar em um

nivel superior que separa os seres humanos dos outros animais. As nossasvidas cotidianas sao afetadas da maneira mais seria pelas nossas pr6prias

comunicaceies com outros, assim come pelas comunicacOes de pessoas dis-tantes e desconhecidas. Eum fato da yida que estamos vinculados par nossas

mensagens e pelas mensagens de outros. Se existe a necessidade de conheci-mento acerca do nosso mundo, essa necessidade estende-se a todos os aspec-tos do comportamento humano, especialmente a comunicacao.

Especificamente, urn entendimento de muitas das teorias sistematicas decomunicacao constitui importante passo para nos tornarmos individuos maiscompetentes e adaptativos. Corn muita freqUencia, os professores abordam o

 Introduflo

4Os metodos da ciencia, erudicao e arte foram descritos em Bormann —Theory and research.

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 A Natureza da Teoria da Comunicacão 19

estudo da comunicacao desde uma perspectiva de "regras". Quando o estu-dante pergunta como tornar-se urn melhor comunicador, o professor fornece

uma lista de receitas. Essa abordagem a um comeco, mas o processo decomunicacao a por demais complexo para ser inteiramente abordado ao nivelde diretrizes simplistas. Embora as regras possam ajudar, o que realmentenecessario no envio e recepcao de mensagens e no relacionamento corn ou-

tros a uma compreensao do que acontece durante a comunicacao e uma ca-pacidade de adaptacao a esses acontecimentos. 0 estudo da teoria de comu-nicacao é urn modo de se obter essa compreensao.

Urn colega meu costumava dizer que o estudo da teoria da comunicacao

fara corn que o estudante veja coisas que nunca viu antes. Esse professor estava sumamente excitado corn a perspectiva de despertar os estudantes paraas mOltiplas facetas dessa preciosa gema que e a comunicacao. Como es-creveu Hanson: "0 observador paradigmatico nao e o homem que ye edescreve o que todos os observadores normals veem edescrevem, mas ohomem que ye ern objetos familiares o que ninguem viu antes." 5E estaampliacao da percepcao, a remocao de antolhos, que nos ajuda a trans-cender velhos habitos e a nos tornar cada vez mais adaptaveis e flexiveis. Parausarmos algumas analogias de Kuhn: "Olhando para urn mapa de contornos,o estudante ye linhas no papel, o cartografo o retrato de um terreno. Olhandopara a fotografia de uma camara de bolhas, o estudante ve linhas confusas equebradas, o fisico o registro de conhecidos eventos subnucleares." 6  A melhor 

 justificacao para estudar teorias da comunicacao a que etas proporcionaraourn conjunto de Oteis instrumentos conceptuais.

 A Natureza da Teoria

0 que e uma teoria? A palavra teoria a quase tao indefinivel quanta o termocomunicacdo. Os usos do termo vac) desde a teoria do fazendeiro Joao sabre

quando suas galinhas novas comecarao a botar ovos ate a Teoria da Relati-vidade de Einstein. Corn muita freqiiencia, as pessoas usam o termo teoria

para significar qualquer conjetura nao-fundamentada sobre alguma coisa. Mes-mo entre cienti'stas, escritores e filosofos, o termo teoria a empregado de mo-

dos diferentes.

Teoria distingue-se freqUentemente de modelo. Numa acepgao ampla, o

termo modelo pode aplicar-se a qualquer representacao simbOlica de uma

coisa, process°ou ideia. Assim, encontramos "modelos" da figura humana,trens e aviaes. Em nivel conceptual, existem modelos que representam idéias eprocessos. Tais modelos podem ser graficos, verbais ou maternaticos. Ern

qualquer caso, um modelo a usualmente considerado,uma analogia de algumfenameno do mundo real. Assim, os modelos sac) interpretados metaforica-mente, de modo que o construtor do modelo tenta estabelecer paralelos

si mbdlicos entre estruturas e relacties no modelo e aquelas que estao Pre-

sentes no evento ou processo modelado.7

Mas, para alert' do criteria de "representacao simbelica", existe rioucaconcordancia sabre o significado preciso de modelo. Esse problema compli-

ca-se ainda mais quando tentamos distinguir entre os conceitos de modelo e

teoria. Leonard Hawes, ern Pragmatics of analoguing, reexaminou critica-

mente muitas distincoes comuns entre esses conceitos. 8 Acreditava ele que a

5N.R. Hanson —Patterns of discovery. Cambridge, Inglaterra, Cambridge University Press,1961, p. 30.6T.S. Kuhn —The structure of scientific revolutions. Chicago, University of Chicago Press,1970, p. 111.7Max Black — Models and metaphors. Ithaca, N. Y., Cornell University Press, 1962, cap. 13.

Leonard Hawes —Pragmatics of analoguing: theory and model construction in communica-

tion. Reading, Massachusetts, Addison-Wesley. 1975, pp. 122-23.

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20  Introducao

maioria dessas distingOes sao, na realidade, concepOes errOneas. Hawesdefiniu uma teoria como uma explicacdo e urn modelo como uma repre-sentagab. Para ele, os modelos representam meros aspectos do fenOmeno,

sem explicarem as inter-relacoes entre as partes do processo modelado. A abordagem de Hawes da teoria e dos modelos nao a universal, de forma

alguma. Urn filosofo muito conhecido das ciências do comportamento, Abraham Kaplan, adotou urn ponto de vista ligeiramente diferente. 9 As teoriassao de dois tipos gerais. Ha as que tratam especificamente de determinadoassunto per se, e ha as teorias formais que sao de carater geral e podem ser 

aplicadas a varias areas de conteado especifico. Este Ultimo tipo de teoriaurn conjunto de simbolos e relacoes lOgicas entre os simbolos, podendo ser 

aplicado por analogia a algum evento ou processo de interesse no momento.Kaplan considerou que este Ultimo tipo de teoria constitui urn modelo. Assim,

para Kaplan, todos os modelos sao teorias (urn tipo de teoria), mas nem todas

as teorias sao modelos.Se o leitor esta interessado ern explorar ainda mais as distincoes entre

teorias e modelos de comunicagao, tern numerosas fontes a sua disposiga0.10

 Afinalidade deste livro a representar uma ample gama de explicagOes do

processo de comunicacdo. Assim, usaremos o termo teoria em seu mais latosentido, como qualquer representacão ou explicacao conceptual do processode comunicagdo. 0 intuito Mao a distinguir entre aquelas representagOeschamadas "modelos" e aquelas chamadas "teorias", embora possam existir diferengas no piano tacnico.

Como se vera nas paginas seguintes, dispomos de numerosos tipos derepresentagees conceptuais. Em sua forma mais gen6rica, entretanto, todoseles sac) tentativas de vários autores para representar o que e concebido comoi mportante no processo de comunicageo. Ern qualquer caso, duas generali-zagOes podem ser feitas acerca de teorias.   •

Ern primeiro lugar, todas as teorias sao abstracoes. 0 velho adagio da

semantica geral é especialmente importante para a teoria: o simbolo nao 6 acoisa que esta sendo simbolizada. As teorias de comunicagao nao sac) o

processo que esta sendo conceituado. Por conseguinte, toda teoria a parcial.Toda teoria deixa algo de fora. Toda teoria se concentra ern certos aspectos doprocesso, a custa de outros aspectos. Esse truismo acerca da teoria é impor-tante porque nos fala sobre a inadequagao basica da teoria. Nenhuma teoria,por si so, revelara jamais a Verdade. 0 criador de uma teoria esta sempretentando sublinhar e explicar o que ele acredita ser importante, nada mais doque isso.11 Essa generalizagao leva-nos ao segundo aspecto importante.

Todas as teorias devem ser vistas como construgdes. As teorias sae criadaspor pessoas, nao ditadas por Deus. As teorias representam varios modos comoosobservadores veem o meio a sua volta, mas as teorias nao sac., em simesmas, a realidade. Muitos leitores e tebricos esquecem esse principio. Cornfrecifiencia, os estudantes sao ludibriados pela concepgao de que a realidadepode ser vista nesta ou naquela teoria. Como escreveu Kaplan:

9Abraham Kaplan —The conduct of inquiry.San Francisco, Chandler, 1964, caps., 7, 8 e 9.10Para definigOes dos termos teoria e modelo, ver Dean C. Barnlund —  Interpersonal communi-cation: survey and studies. Nova York, Houghton Mifflin, 1968, p. 18; Bormann —Theory and research, 96; Karl W. Deutsch —"On communication models in the social sciences", in PublicOpinion Quarterly, 16, 1952, p. 357; Calvin S. Hall e Gardner Lindzey — Theories of personality.Nova York, John Wiley, 1970, pp. 9-10;Cerald R. Miller — Speech communication: a behavioralapproach. Nova York, Bobbs-Merrill, 1966, pp. 52-53; C. David Mortensen —Communication:the study of human interaction. Nova York, MacGraw-Hill, 1972, p. 29; Frank E.X. Dance e CarlE . Larson — The functions of human communication. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1976,p. 3; Hawes —Pragmatics of analoguing, pp. 28 - 29.11Para analises da natureza parcial das teorias, ver Miller — Speech communication, p. 52;Thayer — "On theory-building in communication: some conceptual problems", in Journal of Communication, 13, 1963, pp. 217-35.

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 A Natureza da Teoria da Comunicagao   21

A formacào de uma teoria nao a apenas a descoberta de urn fato escondido; ateoria a urn modo de encarar os fatos, de os organizar e representar. (...) Umateoria deve ajustar-se, de algum modo, ao mundo de Deus, mas, num impor-tante sentido, ela cria urn mundo de sua prOpria lavra.12

Vejamos uma analogia extraida da biologia. Doffs observadores debrucadossobre o microscOpio podem ver coisas diferentes numa ameba, dependendode seus respectivos pontos de vista teOricos. Urn observador ye urn animalunicelular; o outro ve urn organismo sem celulas. 0 primeiro assinala aspropriedades de uma ameba que se assemelham as propriedades de todas asoutras celulas: a membrana, o nOcleo, o citoplasma. 0 outro observadorconcentra-se na analogia entre a ameba e outros animais como urn todo. Estesegundo observador ve a ingestao de aliment°, excrecao, reproducao, mobili-dade. Nenhum dos observadores esta errado. Simplesmente, seus respectivosquadros de referencia sublinham aspectos diferentes do objeto observado,13Pelo fato de teorias e modelos serem construcOes, a mais prudente questionarautilidade de uma teoria do que questionar a sua veracidade. 14

 Esta afir-macão nao pretende sugerir que as teorias nao representam a realidade, mas

qualquer "verdade" dada pode ser representada de varias maneiras, depen-dendo da orientacao do te6rico.

Cornponentes Te6ricos

0 que pode o leitor esperar encontrar numa teoria? Existem quatro tipos decomponentes em teorias. Esses componentes nao se excluem mutuamente,mas, pelo contrario, sobrepOem-se e interligam-se. Uma teoria da comu-nicacao pode nao possuir todos esses componentes e certos componentespodem ser mais enfatizados do que outros numa dada abordagem teOrica. Os

quatro componentes da teoria sao: conceitos, relacties, explicacoes e enun- ,j/.0ciados de valor.

Conceitos. 0 primeiro e o mais basic° aspecto de uma teoria é o seu conjuntode conceitos.Por sua natureza, uma pessoa a urn ser que processa conceitos.A totalidade do mundo simbOlico de uma pessoa —tudo o que ela Babe oudiz é funcao da formacao de conceitos. Como escreveu Kuhn: "(...)

cientistas ou leigos, nem uns nem outros aprendem a ver o mundo parcela-damente ou item por item (...) tanto oscientistas como os leigos separamareas inteiras do fluxo da experiancia comum." 150 processo de conceptualizare complexo, mas consiste, basicamente, noagrupamento decoisas e eventosem categorias, de acordo corn as caracteristicas comuns observadas. 0 te6ricoda comunicacao observa muitas variaveis ern comunicacao e as classifica erotula de acordo corn os padroes percebidos. A razao primordial por que asteorias de comunicacao diferem a que cada te6rico conceptualizara (estabe-lecera categorias) de modos diferentes.16 0 objetivo dateoria e aumentar a

utilidade de seus conceitos. Kaplan descreveu oprocesso:

12Kaplan —Conduct of inquiry, p. 309. Para um estudo mais detalhado da natureza deconstrucão da teoria, ver David K. Berlo —The process of communication. Nova York, Holt,Rinehart & Winston, 1960, p. 25. Hall e Lindzey —Theories of personality, p. 10; AlbertMehrabian — An analysis of personality theories. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1968, cap. 1;David H. Smith —"Communication research and the idea of process", in Speech Monographs,39, 1972, pp. 175-82; Hawes — Pragmatics of analoguing, caps. 1 e 3; Dance e Larson, cap. 1.13Hanson — Patterns of discovery, pp. 4-5.14Hall e Lindzey — Theories of personality, pp. 10-11.15

Kuhn — Scientific revolutions, p. 28.16Para excelentes analises de conceituatdes, ver Bormann —Theory and research, p. 107;Kaplan — Conduct of inquiry, pp. 50-52, e Hawes —Pragmatics of analoguing, caps. 1-3.

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22 Introducão

A medida que aumenta o conhecimento de determinada matéria, muda a nossaconcepcao dessa materia; quando os nossos conceitos se tornam mais ade-quados, podemos aprender cada vez mais. Como todos os dilemas existenciaisem cfencia, dos quais este é urn exemplo, o paradoxo resolve-se por urnprocesso de aproximano: quanto melhores forem os nossos conceitos, melhor

sera a teoria que podemos formular corn eles e, por sua vez, melhores serão osconceitos para a teoria aperfeicoada que se seguira. (...) E somente atraves detais sucessOes que o cientista pode esperar, em Ultima instAncia, obter exito.17

Todas as teorias e todos osmodelos conté'm conceitos, mas os tipos con-ceptuais variam significativamente. 18

0 primeiro tipo de conceito consiste simplesmente em categorias nas quaiso fenomeno é subdividido em partes, de acordo corn certos elementoscomuns. A essas categorias sao dados nomes ou rotulos. Tal modelo a fre-qUentemente designado como uma taxonomia. Alguns dos simples modelosvisuals de comunicagao sao exemplos desse tipo de conceituagao. Urn se-gundo tipo de conceito é a ordenacdo, que possui algumas vantagens impor-

tantes sobre as categorias simples. Em primeiro lugar, os eventos dentro de

uma categoria sao diferengados entre si. Ereconhecido que o eventosevento2 , eventon, sao diferentes, ainda que tenham sido colocados na mesmacategoria geral. Em segundo lugar, os eventos — dentro desse tipo de sistema

— sao ordenados ou posicionados em funcao de alguma espécie de grandeza.Em terceiro lugar, a ordenagao aumenta a capacidade do tearico para des-crever o que esta sendo observado, levando assim a major flexibilidade.Finalmente, a ordenagao a urn primeiro passo em direcao a analise materna.-

tica. No terceiro tipo amplo de conceito, a ordenacao meirica ou medigao, eatribuido urn valor numerico especifico a cada evento, dentro de uma cate-goria, a que leva a muito major precisao na observacao e descrigao.

0 processo de rotulagao està envolvido em toda a conceituacao teOrica.

Toda teoria utiliza urn conjunto de termos conceptuais — palavras ou sim-

bolos usados para comunicar o conceito. Em virtude de a quantidade de

termos potencials que poderao ser usados para descrever um conceito ou umgrupo de conceitos ser infinitamente grande, os estudantes queixam-se fre-qUentemente, tomados de frustragao, de que a diferenca fundamental entrecertas teorias émeramente semantica. A rotulagao causa dificuldades aoestudante, que deve enfrentar o grande nOrnero de termos, e ao tearico, que

deve usar os termos corn extrema precisao para expressar a sua mensagem.

Urn primeiro passo no entendimento da terminologia tearica e_distinguir entre vArios tipos de termos conceptuais. A analise de tras pontos de Kaplan émuito Otil a esse respeito. 19 Kaplan descreveu os termos observacionais comoas relacionados a observacaies simples e diretas. Os termos observacionais saopor vezes denominados concretos, einpiricos ou feneitipos. Por exemplo, oli ngilista pode descrever corn muita precisao elocucoes foneticas corn o usede simbolos cuidadosamente elaborados de padroes discerniveis de fala. Domesmo modo, o cineticista elabora uma terminologia para descrever padroes

observaveis de movimento corporal. Urn outro tipo de termo teal-lc° é oobservavel indireto — ou seja, uma inferencia feita a partir de observacoesdiretas. Os observaveis indiretos podem ser, presumivelmente, conexaes entre

os observaveis. 0 psicolingaista pode usar, por exemplo, o termo "transfor-magao" para descrever urn ato inferido que nao a diretamente observavel.Finalmente, ha o tipo de termo conhecido como construto. Urn construto éurn conceito nao-observavel mas que o teôrico acredita estar presente sob

17Kaplan, Conduct of inquiry, p. 53.18C.G. Hempel —Fundamentals of concept formation in empirical science. Chicago, Univer-sity of Chicago Press, 1952, pp. 50-58.19Kaplan — Conduct of inquiry, pp. 54-57.

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 A Natureza da Teoria da Comunicagão 23

forma encoberta. 0 lingilista pode referir-se a uma estrutura subjacente, aqual a reconhecidamente abstrata e inobservavel. Obviamente, as dfferencasentre esses tipos de termos estao no respectivo grau de encobrimento. Talvezos termos devam ser vistos mais numa sediencia continua do que como trestipos distintos de terminologia.

Considerando o vasto repertOrio de termos, dentro de uma teoria, quais saoas estratêgias a disposicao de urn teOrico, ao comunicar seus significados aoleitor? Essa comunicacao a uma tarefa extremamente importante, dado que,como sublinhou Kaplan:

0 processo de especificar urn significado faz parte do pr6prio processo deinvestigano. Ern todo e qualquer contexto de investigacdo, comecamos corntermos que sao indefinidos. (...) A medida que avancamos, dados empiricos saoincluidos em nossa estrutura conceptual por meio de novas especificacOessignificativas, e as indicacties e referéncias anteriores convertem-se, por seuturno, em questOes factuais empiricas.20

Kaplan descreveu quatro modos em que os significados podem ser especifi-cados, no ambito de uma teoria. 21 0 primeiro e mais simples desses modos e a

ostensdo, que consiste ern indicar ou apresentar o objeto sob consideracao.Para alem da ostensao estA a descried°. Os significados podem ser mais elu-cidados fornecendo descricoes dos eventos particulares sob consideracao. 0terceiro modo para especificar o significado é a definigdo. Esta é da mesmafamilia da descried° mas tende a ser mais precisa. A definicao deve especifi-car as qualidades necessArias e suficientes do evento ou objeto definido. Nessesentido, a definicao a realizada, corn freqUencia, operacionalmente. Adefi-nicao operacional 6 urn recurso particularmente Gtil para o teOrico. Exige queele especifique corn precisao as operacries necessárias a observacao doconceito que esta sendo definido —seja ele qual for. 0 metodo final deespecificacao do significado —e o mais abrangente —6 a indicacdo. Aoinves das formas reducionistas previamente mencionadas, a especificacao poV-

indicacao fornece o relacionamento do termo corn todo o quadro conceptual

de referenda. Por exemplo, ao conceber urn processo de comunicacao, umdeterminado teOrico pode dividir o fenOmeno ern certo miner° de areasconceptuais. Pode referir-se-Ihes como a dimensao horizontal da teoria. Alerndisso, dentro de cada area conceptual existe certo n6rnero de atributos doconceito: a dimensao vertical da teoria. Isso pode ser observado visualmenteno seguinte diagrama:

Figura 1 dimensao horizontal 

Cl C2 C3 C4 C5... Cn

dimensao vertical

i

ll i12

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20 Ibid., p. 77

21 Ibid., pp. 72-74.

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24  Introducäo

Nessa representacao, C i a Cnrepresentam o conjunto de conceitos da teoria ea i n representam o conjunto de atributos ou indicadores para cada conceito.

0 leitor apreende o sentido de cada termo a partir das inter-relacoes, dentrodo quadro total de referenda conceptual. Esse processo de especificacao por indicacao e o nucleo do crescimento e desenvolvimento da teoria. Embora a

diversidade da terminologia seja frustradora, ela nao a necessariamente ruimou inibidora para o desenvolvimento da teoria. Em muitos casos, a diversi-dade da terminologia e a concomitante especificacao de significados con-ceptuais sao urn importante aspecto do desenvolvimento da teoria.

Em resumo, o primeiro tipo de componente de uma teoria e o seu conjuntode conceitos. Os conceitos variam imenso em seu tipo, terminologia, signifi-cados e usos, mas situam-se no nikleo de qualquer tentativa de teorizacao.Sabemos que muitas teorias param em nivel conceptual. Outras teorias,contudo, vac, mais além e incluem outros tipos de componentes.

Relacties. 0 segundo componente basico das teorias e modelos sac) as rela-coes especificadas entre conceitos. Tradicionalmente, as relacOes teOricas

podem ser vistas ern quatro formas. A primeira e tipicamente chamada uma

suposigão. Uma suposicao a uma relacao presumida ou conjetural, a partir daqual se seguem logicamente as outras relacOes previstas. Embora as supo-

sicties de uma teoria nao sejam diretamente testadas, elas sao, em Ultimaanalise, afirmadas ou refutadas no teste das outras relacoes na teoria. AssuposicOes podem ser explicitamente enunciadas por urn teOrico mas, na

grande maioria dos casos, elas sao implicitas. E frequentemente imprescin-divel uma leitura cuidadosa de uma teoria e uma apurada analise de sua logica

para acompanhar o raciocinio em retrospecto, ate se chegar as premissas reaissubentendidas nas previsOes teOricas. 0 segundo tipo de enunciado de rela-cOes e a hipeitese. Uma hipotese e uma conjetura de relacOes a ser testada dealgum modo. As teorias tambem podem conter enunciados de fato. Uma vezverificada objetivamente uma hipOtese (usualmente em numerosos testes), arelacao especifica a considerada urn fato. Finalmente, as teorias incluem o

que se chama leis. Enquanto uma especifica relacao verificada e urn fato, umagrupamento geral de fatos constitui uma lei. Urn fato e especifico; uma lei egeral.

Existe algo no termo lei que sugere permanencia. Somos erroneamentepropensos a pensar que as leis sac) a Verdade Descoberta para Toda aEternidade. Nas ciencias socials, e muito mais significativo pensar em termosde quase-leis e de leis de tendencia do que de leis absolutas. As quase-leis saogeneralizacees que se sabe terem excecOes. Kaplan acreditava que o nossoconhecimento do comportamento humano a inteiramente na forma de quase-

leis. A lei de tendencia, que est& intimamente ligada aquelas, parece-se mais'corn uma "candidata a lei", uma declaracao de que determinada relacao tendea ocorrer. 22

ExplicagOes e Previsdes. A terceira categoria, explicacOes e previsOes, coinci-de em grande parte corn as duas primeiras. Muitos dos nossos modelos nao

chegam a esse nivel e, no entanto, a explicacao e a previsão sao realmentei mportantes para a nossa compreenao final do processo de comunicacao.Existe uma distincao fundamental entre descricao e explicacao. Adescricaodiz 0 que acontece; a explicano nao so descreve as relacoes mas tenta dizer 

 por que se pensa que tais relacoes existem. As explicacoes sao de dois tiposgerais. 0 modelo tipico ou exemplar assinala as correlacoes entre elementos;

mostra especificamente como os elementos co-variam, funcionam juntos,formam padroes e relacoes. Mas a explicacao final obedece ao modelo

22 Ibid., pp.88-97.

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 A Naturezada Teoria da Comunicagäo 25

dedutivo, no qual se especificam as relagOes causais. E a abordagem "se...entail'. Através do modelo dedutivo, o te6rico tenth inferir causas. Esta Ul-ti ma forma de explicacao é crucial para o objetivo final da teoria: a previsao.Se uma pessoa sabe o que acontece quando existem . certas relacOes, entaoessa pessoa esta mais apta a compreender o que podera ocorrer num dado

contexto quando as relagOes conhecidas estao presentes.23

 Ora, a questa() dainferencia causal é muito dificil e complexa. Existe urn velho aforismo queassim reza:

Por falta de urn cravo perdeu-se uma ferradura; por falta de uma ferraduraperdeu-se um cavalo; por falta de urn cavalo perdeu-se urn cavaleiro; por faltade um cavaleiro perdeu-se urn batalhao; por falta de urn batalhao, perdeu-seuma batalha; por falta de uma vitOria, perdeu-se urn reino. Tudo por falta deurncravo.

Mas que visao simplista da causalidade! Na vida cotidiana, somos propensos a

pensar em funcao dessa nogao simplista em cadeia. Mas, na realidade, essetipo de raciocinio nao funciona. Hanson mostrou-nos por que:

Para saber por que o reino foi perdido nao a suficiente saber que foi travadauma batalha, que urn batalhao e urn cavaleiro foram malsucedidos, que faltavaa ferradura de urn cavalo. Também era necessario estar familiarizado corn aspropriedades de friccao de cravos incrustados ern substancias cartilaginosas,saber por que os cavalos säo mais felizes quando ferrados, por que os estafetasprecisam de cavalos, ate que ponto urn batalhao isolado pode ser impotente, ernque medida a sorte de um exercito depende de urn batalhao, e de que forma aseguranca dos reinos pode depender dokit° militar.24

E aqui que a teoria assume tanta importancia. Tendo em mente que umateoria a uma construgao do teOrico, podemos imaginar que a explicacaocausal para qualquer ocorrancia depende do enfoque do teOrico. Se uma

pessoa é morta por ter sido atropelada por um carro, a causa mortis pode ser formulada de muitas maneiras. Urn medico talvez afirmasse que a morte foicausada por hemorragia interna. Urn advogado atribuiria a morte a negligencia

do motorista. 0 fabricante do automOvel preocupar-se-ia corn o defeito nosistema de freio, e o departamento de transito poderia atribuir o acidentemortal a urndefeito na pista de rodagem. E claro, todos esses fatores po-deriam ter sido causas, psis a causalidade nao a uma questa° simples. Nodominio da comunicagao, por exemplo, se uma grande loja de departamentos

observa que as vendas aumentaram apOs o inicio de uma dispendiosa cam-'panha publicitaria, como explicariam eles o recrudescimento dos negOcios? Atentagao, evidentemente, sera atribui-lo a publicidade, e esta pode muito bem

ter sido uma causa contribuinte. Mas isso estaria longe de um quadro comple-to da dinamica da situagao como um todo.

 Enunciados e Prescrigdes de Valor. 0 componente final de muitas aborda-gens teOricas e formado pelos enunciados de valor. Muitas das teorias nestelivro comportam principios, orientaciies, prescrigOes e enunciados implicitose, por vezes, explicitos do que e bom ou mau no processo de comunicagao. 23

Embora alguns puristas possam vangloriar-se de sua objetividade, a muitodificil nao projetar os valores pessoais de cada urn numa teoria.

23 Ibid., pp. 327-47.24Hanson — Patterns of discovery, pp. 53-54.25 Bormann —Theory and research, pp. 105-06.

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H   MediocreAvaliacao.Aval iapão:

Na o -Bo a

I Modelo 1 Modelo 21 Modelo 3

MODELOSIMBOLICO

1V v/ Dadosj   Da d o s   Da d o s   Dados

No vo s   No vo s   Novos

M UND OREAL

 Avaliap ao :C orreta

26  Introducão

Pesquisa e Desenvolvimento da Teoria

Boa parte da nossa descricao da teoria gravitou, ate agora, em torno daseparaceo entre teoria e realidade. Mas, obviamente, as duas estao rela-cionadas entre si. Embora seja importante compreender que o modelo a uma

abstracao da realidade, torna-se necesserio entender as relacees f uncionaisexistentes entre as duas. A teoria nä.° deve ser uma entidade puramenteabstrata corn escassa relacao corn a experiencia real. 0 axioma popularmentecitado de Kurt Lewin e aplicevel, por certo: "Nada existe de mais pretico doque uma boa teoria."28 De fato, teoria e experiencia interatuam continua-mente para o aperfeicoamento final de ambas. 0 excelente modelo de IrwinBross desse relacionamento teoria-experiencia a apresentado na Figura 2.27

Figura 2. (Reproduzidolo

SimbOlico_rndM od   Manipulapao

simbOlicaPreviaoM U N DO

SIMBOLICO-- corn autorizaclo de

 Macmillan Publishing

4   -L Ava l ia pa o   I Co., Inc., de Design forM U N DO Da d o s   Determ inacao   Dados I decision, por Irwin Bross.

R E A L   Originals de Pargmetros do Teste Copyright0The FreePress Corporation, 1953.)

A partir de experiencias originais (incluindo pesquisa), formulamos os nossosmodelos Somos capazes de considerar, inferir e manipular varie-veis em nossas cabecas, enquanto, ao mesmo tempo, nos concentramos emparametros especificados no mundo real. Da interacao desses dois processos,resultam previsees que seo testadas e verificadas. Corn o decorrer do tempo,os modelos mudam, desenvolvem-se e aperfeicoam-se, conforme a ilustradono diagrama mais extenso de Bross (Figura 3). Assim, o desenvolvimento deuma boa teoria a urn processo constante de verificacäo, formulacdo e reveri-ficacao.

Figura 3. (Reproduzidocomautorizacaode

 Macmillan PublishingCo., Inc., de Design fordecision, por Irwin Bross.

Copyright © The Free

Press Corporation, 1953.)

Esse ponto de vista sublinha a necessidade de pesquisa. A pesquisa é vital parao desenvolvimento da teoria de tres maneiras interligadas. A pesquisa permite:(1) a investigacáo especifica de fatos que sac) destacados como especialmentei mportantes, (2) o teste da utilidade preditiva da teoria em face de eventosreais, e (3) o desenvolvimento e a articutacao subsequentes da teoria.28

Uma outra implicacâo da interacâo teoria-experiencia este na area da aber-tura. Muitos autores tern discutido os conceitos de abertura e fechamento.

26De fato, Lewin ded icou a vide in teira a fusao de teoria e realidade. Para uma interessante

exposicâo dos continuos esforcos de Lewin para aplicar a teoria a exisrancia pratica, ver Alfred J.Marrow — The practical theorist: the life and work of Kurt Lewin. Nova York, Basic Books,196 9 .27 I rwin Bross — Design for decision. Nova Y ork, Macmil lan, 1953, pp. 161-77.28Kuh n — Scientific revolutions, pp. 25-27.

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 A Natureza da Teoria da Comunicagao 27

Basicamente, a abertura a considerada a qualidade de incerteza em uma teoria.Sempre que urn modelo expressa as qualidades implicitas em "talvez", "por-ventura", "possivelmente", "provaveimente", diz-se que ela possui abertura. As teoriaspodem ser abertas em numerosos aspectos. Podem ser parciais oucondicionais. Podem ser aproximaceies ou indeterminantes. As teorias podemser inconclusivas, incertas, intermedias ou limitadas. Somente uma coisacerta na maioria das teorias de comunicacao humana: elas nao sao absolutas ecompletas.29 A metaideal da teoria e o fechamento. De certomodo, o teOrico tern na

cabeca que, algum dia, "conhecera tudo (...) telt tudo esciarecido". Mas, éclaro, isso é extremamente improvavel, sobretudo nas ciéncias sociais. Por conseguinte, urn problema potencial que o teOrico tenta evitar e o fecha-mento prematuro, que podera significar absolutamente nenhum fechamento.0 fechamento subentende que o te6rico concluiu o seu trabalho, que oprocesso ern curso descrito no modelo de Bross esta terminado. Como erntantos aspectos da vida humana, a construcao de teoria requer uma certa dosede tolerancia da ambigUidade.3° As teoriaspodem mudar em tit importantes aspectos. 0 primeiro é o

desenvolvimento por extensao. Neste caso, o conhecimento a ampliado pecapor peca, avancando da compreensao de urn fragmento da realidade para ofragmento seguinte. Este e o processo de adicao de novos conceitos aosantigos. Por outro lado, o desenvolvimento por intensao é o processopelo qualse desenvolve uma compreensao cada vez mais precisa de fragmentos doconhecimento ou conceitos individualmente considerados.31 Kuhn, em suamonografia The structure of scientific revolutions, descreveu o terceiro pro-cesso de mudanca, a revoluao.

32 Corno decorrer do tempo, os pesquisa-

dores ern uma area de estudo aumentam seus conhecimentos através daextensao e intensao. Ern determinado ponto, e descoberto urn caso extraordi-nail° que contradiz os pressupostos correntes da teoria em uso. Nesse ponto,desenvolve-se uma crise na area em questa°, culminando no desenvolvimento,de uma nova abordagem te6rica. A nova teoria representa um mododiferen-

te de encarar o mundo e entra em competicdo corn a teoriaoriginal. Gradual-mente, a teoria revolucionaria é aceita por um raimero cada vez maior demembros do campo, ate se tornar a abordagem te6rica primaria. Corn fre-qtiencia, durante os anos em que a nova abordagem te6rica esta sendoformulada, desenvolve-se entre os teOricos que sustentam a antiga abordagemuma atitudefortemente defensiva, dado que muitos anos e ate vidas inteirasde trabalho podem estar em risco.

 A revolucao cientifica descrita por Kuhn requer freantemente a redefi-nicao de todo o campo. Algumas areas previas de estudo podem morrer; ou-tras podem nascer; e e possivel que ocorram alguns novos casamentos: "0que eram patos, no mundo do cientista anterior a revolucao, passam a ser coelhos-depois da revolucao. 0 homem que viu o exterior da caixa desde cimave mais tarde o seu interior desde baixo." 330 desenvolvimento por revolucaonao e uma ocorrencia de todos os dias. Poderemos especular, por exemplo,que tendencias mais novas na gramatica transformativa exemplificam a revo-lucao no campo da

Em quaiquer campo, incluindo a teoria da comunicacao, a teoria é crucialpara a investigacao formal de fenomenos. Kaplan expressou isso em belas

29Para uma excelente discussao de abertura, ver Kaplan — Conduct of inquiry,

351-55.30Ibid., pp. 327-4731Ibid., p. 305.32Kuhn — Scientific revolutions, ver nota 6.33 Ibid., p. 111.

pp 63-70,

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28 introducao

palavras: "(...) o que estA enraizado na particularidade do fato floresce nageneralizagdo da teoria — ou entdo nunca chegath a germinar."34

 As Fungdes da Teoria

Sete fungOes importantes e parcialmente coincidentes da teoria podem seridentificadas: (1) a fungdo organizadora e sintetizadora; (2) a funcao focali-zadora; (3) a funcao esclarecedora; (4) a funcao observacional; (5) a funcaopreditiva; (6) a funcao heuristica, e (7) a funcao comunicativa. 35

 A primeira funcao da teoria consiste em organizar e sumariar o conhe-cimento. Nao vemos o mundo em fragmentos de dados. Os seres humanosprecisam organizar e sintetizar o mundo fenomenal de alguma forma signifi-

cativa. E imprescindivel buscar padroes e descobrir interconexoes. Teorias e

modelos sap urn modo de consumar essa organizagdo do conhecimento. Urn

beneficio adicional dessa funcao ê a contribuigdo do modelo para a acumu-lagdo no saber. 0 estudante, investigador ou cientista não tern de comegar da

estaca zero a cada nova investigagdo ou a cada geragdo. 0 conhecimento e

organizado num corpo de teorias, e o investigador inicia o seu estudo apoiadono saber organizado de geragOes de estudiosos que o antecederam. Esta ecertamente uma das mais importantes funglies da teoria.

 Asegunda fungdo e a fungdo focalizadora. Alem da organizagão de dados,

as teorias tambem focalizam a atengdo em importantes variAveis e relacoes,como urn mapa. Do terreno inteiro, o mapa assinala os locais de recreagdo, os

pogos de Agua, as areas para piquenique, os centros comerciais. A interro-ga4a-0 persistente de urn observador da comunicacdohumana é: "A que pres-

tarei atengdo?" A teoria assinala as areas significativas para investigagdo.

Em terceiro lugar, as teorias fornecem o beneficio adicional de esclarecer o

que e observado. 0 esclarecimento ndo so ajuda o observador a entender relacoes causais e correlagOes em comunicagdo mas tambem a interpretar eventos especificos em suas prOprias interacãescotidianas. As teorias for-

necem as diretrizes para interpretagdo, explicagdo e compreensao dos comple-xos fenomenos das relacoes humanas.

Em quarto lugar, as teorias oferecem uma ajuda observacional. Estreita-mente ligada a funcao focalizadora, a observacional sublinha ndo so o queobservamos mas como observamos. Especialmente no caso daqueles modelos

que fornecem definigäes operacionais, o te6rico da uma indicagão suma-mente precisa acerca do que se pretende sighificar corn um determinado con-

ceito. Ao seguir diretrizes, o leitor pode ser encaminhado para observar as par-ticularidades elaboradas pela teoria.

 A quinta funcao das teorias é a preditiva. Trata-se de uma das funcoes mais

amplamente discutidas da teoria cientifica. Muitas teorias permitem ao inves-tigador fazer previsoes sobre os resultados e efeitos dos dados. Isso e especial-mente importante nas areas da comunicacdo aplicada, como a persuasdo e

mudanga de atitudes, psicoterapia, dindmica de pequeno grupo e comuni-cagdo organizacional. Os professores preocupam-se especialmente corn o de-

senvolvimento de aptidoes e habilidades para o aperfeicoamento da compe-

tencia ern comunicagdo, e vArias teorias da comunicagdo habilitam o estudan-te a substituir bons palpites por bem fundadas previsees.

34Kaplan — Conduct of inquiry, p. 119.35

Essa enumeracão é uma sintese de lung:3es indicadas em %/Arias fontes. Ver Barnlundp. 18; Bross — Design, pp. 169-71; Deutsch — "Social sciences",

PP. 358-61; Hall e Lindzey — Theories of personality, cap. 1; Kaplan —Conduct of inquiry, pp.133, 269; John W. Kinch — "A formalized theory of the self concept", in The A merican Journal of Sociology, 68, 1963, pp. 481-86; Miller —Speech communication, pp. 53-54; Mortensen

pp. 30-32.

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 A Natureza da Teoria da Comunicacao   2 9

A sexta funcao teOrica, o valor heuristico da teoria, tambem a freqilente-mente debatida na literature}. Urn conhecido axioma diz que uma boa teoriagera pesquisa. 0 modelo de Bross de teste de teorias sublinha a importanciada pesquisa na validacao da teoria. A especulacao promovida e incentivadaem numerosas teorias da comunicacao fornece Areas fecundas para a geracaode dados através da pesquisa. A funcao heuristica da teoria a vital para odesenvolvimento do conhecimento e, em certo sentido, e um fruto de cadauma das outras funcoes aqui descritas.

Finalmente, as teorias servem a uma vital funcao comunicativa. A grandemaioria dos investigadores quer e necessita publicar suas observacOes e es-peculacoes, cam vistas a outros estudiosos interessados. A teoria fornece umquadro de referencia para essa comunicacao e urn forum aberto para discussdo,debate e critica. Atraves da comunicacao de numerosas explicacties dos fend-menos que estudamos, torna-se possivel a comparacao-e o aperfeicoamentofinal da teoria.

 Diferengas entre Teorias

Quando consideramos varias teorias da comunicacao, notamos diferencasnitidas em ambito, estilo, funcao e abordagem.

 Diferengas no ambito tedrico. Uma das maneiras mais obvias em que asteorias diferem e em seu ambito. Muitas teorias sao amplas e abrangentes,tentando captar o processo de comunicacao como urn todo. Essas teorias ge-rais tern a vantagem da integracao e da visao geral, com a correspondentedesvantagem de perda de detalhes. A tendencia de outras teorias a para seremmais estreitas, concentrando-se em aspectos especificos do processo. Essasteorias especificas aumentam a nossa compreensao de aspectos finitos, en-quanto deixam de lado as inter-relacOes mais amplas e os conjuntos. Tern-setusado urn certo nOmero de termos para descrever essa distincao basica. Emalgumas obras, empregam-se os termos gerale dorninio indiviso. As teorias daGestalt enfatizam as concepcOes holisticas, afirmando que o todo a mais doque a soma das partes. Por vezes, o termo teoria do campo e colocado emoposicao a teoria monadica. A primeira sublinha as relacOes dinamicas entre apessoa e o meio externo; a segunda enfatiza apenas a pessoa. As teoriastambem podem ser classificadas comomacroscOpicas oumicroscOpicas. Asteorias macroscOpicas tendem a ser mais amplas ern sua, perspectiva, abran-gendo conjuntos mais vastos; as teorias microscOpicas concentram-se ernpartes menores do processo. Finalmente, os termos nivel superiorenivelinferiorsao usados, por vezes. Ern cada caso, a importante.entender que adiferenca 6 ern grau, nao ern espécie e genero, e que a falacioso estabeleceruma dicotomia entre teorias gerais ou de dominio indiviso. Como demonstrouPolanyi, "(...) uma alteracao de analise e integracao conduz progressivamentea um entendimento cada vez mais profundo de uma entidade abrangente".36

 Diferengas emestilo de composted°. Uma outra e importante diferenca veri-ficada entre teorias da comunicacao e o estilo. Kaplan ofereceu uma excelenteclassificacao de seis estilos.37 Ele descreveu oestilo literario como umaabordagem centrada nos estudos de casos individuals, conclusoes clinicas etc.Esse tipo de teoria desenvolve usualmente uma trama ou seqiiência e, assimfazendo, fornece uma interpretacao. A teoria de Erving Coffman de auto-apresentacao pressupOe esse tipo de estilo, rico ern exemplos e roteiros. 0

36 Polanyi —Knowing, p. 125.37Kaplan — Conduct of inquiry, pp. 259-62.

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30

Segundo estilo e academico. 0 estilo acadamico a mais geral do que o lite-Carlo. Primordialmente, a mais verbal do que operacional, e tende para re-

correr ao jargão. A teoria geral da semantica pode exemplificar esse estilo. 0estilo eristico atribui forte enfase a prova e as proposicOes formals, e fazgrande uso do experimento e da estatistica. Urn exemplo dessas teorias da

comunicacao e a non° de dissonancia cognitiva formulada por Festinger. 0estilo simbrilico faz uso de formulacOes maternAticas. Os termos matemAticos

sao utilizados para conceituacao e comunicacao de idéias. Urn exemplopossivel seriam a teoria da congruencia de crencas, de Rokeach, e a teoria dacongruencia de Osgood e Tannenbaum. 0 estilo  postulacional realca asrelacties logicas que obedecem a regras estritas de validade. Esse modeloenfatiza as relacaes lOgicas aplicaveis a uma variedade de areas, sendo exem-

plos possiveis na area da comunicacao a teoria da informacao e a teoriados jogos. Finalmente, temos o estilo mais abstrato de todos — o formal. 0estilo formal a completamente isento de contend°, no sentido de que naoexiste contend° empiric°. 0 foco incide inteiramente na derivacao formal elOgica. A diferenca entre o estilo formal e o postulacional a apenas de grau. 0

estilo formal dota o usuário corn urn modelo lOgico que pode ser aplicado a

uma vasta gama de areas especificas. Exemplo de uma teoria formal que estArelacionada a comunicacao e a Teoria dos Sistemas Gerais, de Bertalanffy.

Diferencas em funcao. As teorias tambem diferem em seu pretendido uso. Asdiferencas funcionais mais comumente vistas entre teorias é a distincao entreteorias basicas e aplicadas. As teorias basicas tendem a fazer enunciados des-critivos, numa tentativa para entender melhor os fenOmenos; e as teorias apli-cadas tendem a formular enunciados prescritivos, numa tentativa de controledos fenomenos.38

Diferencas na abordagem filosOfica. A importante distincao final a ser des-crita aqui n entre as abordagens fisicista e humanista.39

 Muitas teorias relacio-nadas com a comunicacao baseiam-se nas ciencias fisicas. Ou extraem suasanalogias da fisica ou recorrem a metodos fisicistas de pesquisa. Outrasabordagens, entretanto, realcam os valores humanos e as estratégias partici-pativas de pesquisa. As teorias fisicistas tendem a ser deterministas ern seu

enfoque; as teorias humanistas destacam o conhecimento teleolOgico. Ateleologia a uma filosofia que atribui os fenomenos a prop6sitos, intencOes,metas ou razóes para a existancia. A teleologia atribui comportamento amotivacao da pessoa para lograr algum estado futuro. 0determinismo é afilosofia que propOe que tudo o que ocorre na vida pode ser explicado emtermos de causalidade passada. A teleologia explica o comportamento emfuncao da realizacao de metas; o determinismo va o comportamento comosendo causado por eventos passados.48

Embora exista uma diferenca perceptive] na abordagem filosOfica entre

teorias da comunicacao, nao ha uma linha divisoria absoluta separando ofisico do humanista. Adiferenca pode ser ern enfase e essas duas abordagensnao sao necessariamente incompativeis. Como sublinhou Feigl:

38Para uma discussao da distincao entre teorias basicas e aplicadas, ver Theodore Clevenger e

Jack Matthews — The speech communication process. Glenville, Illinois, Scott, Foresman, 1971;Herbert Feigl —"The scientific outlook: naturalism and humanism", in Readings in the

 philosophy of science, H. Feigl e M. Broadbeck (orgs.) Nova York, Appleton-Century-Crofts,1953, pp. 8-18.

39 Para urn exame de distincao entre fisicismo e humanismo, ver Kenneth R. Williams —'Reflections on a human science of communication", in Journal of Communication, 23, 1973,pp. 239-50; Dennis R. Smith e Lawrence Kearney —"Organismic concepts in the unification of rhetoric and communication", in Quarterly Journal of Speech, 59, 1973, pp. 30-39.40John Bowers — Designing the communication experiment. Nova York, Random House, 1970.

Jntroducao

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 A Natureza da Teoria da Comunicacäo 31

Minha opiniao e que os alicerces filosOficos da ciencia e das humanidades saogeralmente mal compreendidos; e que a tese frequentemente sustentada de suasincompatibilidades basicas a fruto de preconceitos filosOficos que, em virtudede uma defasagem cultural, ainda nao foram, infelizmente, relegados ao corn-pleto esquecimento. A ciencia ainda a identificada corn um absurdo reducio-nismo mecanistico, mas isso 6 a caricatura da ciencia tracada pelos represen-tantes das humanidades, os quais ignoram em grande parte a natureza da

ciencia moderna e tambern da mais recente perspectiva cientifica em filosofia41

Independentemente do modo como se veja que as teorias diferem uma dasoutras, as diferencas sao quase sempre uma questao de grau. Talvez nao seja

sensato colocar as teorias neste ou naquele campo, como se elas fossemexercitos polarizados em batalha.

 Avaliagdo de Teorias

Nos capitulos seguintes, encontraremos urn grande nUrnero de teorias que

tratam da interacao humana ern seus varies niveis e formas. Apresentamos

agora certo nUmerode perguntas que podem ser feitas a respeito de qualquer 

teoria. A teoria ideal é aquela que satisfaz cada urn desses testes: 42

1.  A teoria é clara e coerente? Para que uma teoria seja (MI ao leitor, deveser, em primeiro lugar, clara. Deve ser internamente coerente e lOgica. Eclaro, sabemos que o processo de comunicacao e complexo, e os prOprioscomponentes de determinada teoria poderao ser complexos. Talvez a melhor 

maneira de formular a pergunta seja esta: "A teoria e descrita tao claramentequanto possivel, dada a complexidade dos fenomenos por ela cobertos?" Esse

primeiro teste pode ser chamado o da simplicidade descritiva.

2. E a explicacao mais parcimoniosa possivel? Se o primeiro teste da teoriaé rotulado de simplicidade descritiva, o teste de parcimOnia pode ser chamadode simplicidade lOgica. Se duas teorias sao igualmente validas, a teoria corn a

mais simples explicacao legica e considerada a melhor. Embora a parcim6nia

e a clareza estejam relacionadas, elas enfatizam aspectos diferentes. A clarezae a coerencia relacionam-se corn a compreensibilidade e a consistencia dateoria; a simplicidade logica (parcimeinia) refere-sea concisaocorn que asrelacoes e os conceitos sao explicados. Ceteris paribus, as teorias mais parci-

moniosas sao mais claras.Neste ponto, e necessario fazer uma importante distincao. Uma teoria deve

ser parcimoniosa mas nao deve ser exageradamente simples. Essa distincaoentre simplificacao e supersimplificagao tern side enfatizada freqUentementena literatura sobre teoria43 Se varihmeis cruciais forem ignoradas, diz-se queuma teoria e exageradamente simples; mas se todas as variaveis importantes

sao tratadas de maneira sumamente econOmica, entao a teoria possui avirtude da parcimOnia. E claro, o pr6prio ate de resumir e condensar constitui

si mplificacao. Todas as teorias simplificam, pois o objetivo da teoria naoreproduzir a realidade mas condensa - la. 0 problema da supersimplificacão

resulta de se resumir na direcao errada, deixando de fora vadat/6s i mpor-

tantes.

41 Feigl — Readings, p. 8.42Essa lista de testes é urn resumo dos critêrios examinados em numerosas fontes, incluindoBross — Design, p. 172; Deutsch — "Social sciences", pp. 362-63; Hall e Lindzey —Theories of 

 personality, cap. 1; Kaplan — Conduct of inquiry, pp. 312-22, Kuhn — Scientif ic revolutions, pp.100-101, 152-56; Miller — Speech communication, p. 53; Mortensen — Human interaction, pp.30-34; Polanyi — Knowing, pp. 53-54, 138.43Ver, por exempla, Kaplan — Conduct of inquiry,pp. 280-81; Mortensen — Human interaction,pp. 32-34.

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32  /ntroducão

Uma outra restricao da parcimOnia e que a explicacao mais simples possivel

nao necessariamente aquela que qualquer leitor compreendera corn major facilidade. Pode exigir uma grande soma de conhecimentos previos o entendi-mento ate da explicacao mais parcimoniosa de alguns fenomenos complexes.

Tal como a clareza, a parcim6nia a relativa.

3. Esta hem integrada corn outro conhecimento tedrico afim? Urn dosmodos como podemos testar a validade de uma teoria a ver como ela "seajusta" a outras informagOes sabre o processo de comunicacao. As pessoas emgeral, e o estudante em particular, testarao os seus "novas" conhecimentosdeterminando se eles sao compativeis corn o que ja sabem. Uma teoria quecontradiz os entendimentos tradicionais nao pode it muito longe na comuni-dade cientifica. Por outro lado, o teste de integraedo pode, por si s6, levar 

estagnacao. Se todas as teorias tivessem de ser completamente integradas noconhecimento tearico anterior, entao nada de novo existiria sob o soil Kaplan

descreveu o dilema: " [ Aintegracad 6 um principio conservador que su-prime implacavelmente como rebeliao qualquer movimento de pensamento

que possa propiciar uma revalued° cientifica (...). Nat:, obstante, subsiste oponto de que as teorias nao podem ser validadas como se fossem inteiramente

autOnomas."44

  Anecessidade de uma combinagao de integracao e origina-lidade leva ao quarto teste da teoria.

4. Ateoria é nova e original? Suponha-se que urn estudante comeca apensar corn os seus bathes, enquanto 1'6 uma "nova" teoria: "Eu certamente jd

ouvi isso antes. Nada tern de novo. Por que necessitamos de outro conjuntode termos para descrever a mesma coisa antiga?" Esse estudante pode estar notando uma falha da teoria que a impede de passar no quarto teste.

Conquanto uma teoria deva estar integrada cam os conhecimentos previos,ela tambem deve fornecer alga de novo — uma nova concepcao, uma

conceituacao original ou uma sintese mais parcimoniosa. 0 campo da teoriada atitude e urn excelente exempla da mistura de integracao e originalidade.Partindo de urn conceito basico de homeostase nas relacOes humanas, suces-

sivos teOricos contribuiram para esse quadro de referencia, cada um deles

adicionando urn novo subsidio. Ern consecyliencia desse desenvolvimento por intensao, existem numerosas "teorias de consistencia" da mudanca de atitude,

cada uma delas contribuindo corn formas melhores e mais novas de cancel-tuacao do processo. Ai mportancia dos criterios de integraeao e originalidadefoi admiravelmente demonstrada por Polanyi:

Os criterios de plausibilidade e de valo r` cientifico tendem a impor o confor-mism°, ao passe que o valor atribuido a originalidade encoraja a dissidencia.Essa tensao interna a essencial para guiar e motivar o trabalho cientifico. Ospadroes profissionais da ciencia devem impor uma estrutura basica de disciplinae, ao mesmo tempo, encorajar a rebeliao contra ela. Eles devem exigir que, paraserem levadas a sèrio, as investigacOes se ajustem, em grande parte, as crencaspredominantes correntes acerca da natureza das coisas, embora permitindo que,para serem originais, contrariem, em certa medida, essas cren4as45

5. abrangente, dentro de seu campo? 0 quinto teste refere-se abran-encia da teoria sob consideracao. Se uma teoria e criticada por supersim-plificagao, uma passivel razao pode ser a sua falta de abrangencia. Afrase"dentro de seu campo" 6 de suma importancia para o nosso quinto teste.  Ao

estudar-se o complexo processo de comunicacao, a necessdrio contar corninvestigacities especiais de dominio indiviso sabre os aspectos especificosdesse processo. Essas teorias da comunicacao concernentes a um dominio

44Kaplan — Conduct of inquiry, pp. 314-15.

Polanyi — Knowing, pp. 53 -54.

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 A Natureza da Teoria daComunicagão 33

indiviso nao devem ser desnecessariamente criticadas por falta de abrangen-cia. Dentro de seus campos especificos (por exemplo, nos dominios damudanya de atitude, comportamento de pequeno grupo etc.), elas podem ser deveras abrangentes.

6. E largamente aplicavel a uma gama de situagdes? Esse teste exige que asteorias sejam 6teis em numerosas situayaes da vida real. Por exemplo, ao

avaliar uma teoria oriunda da linguistica, o analista deve atentar para aaplicabilidade da teoria em diversas linguas, culturas e construyaes gramati-

cais. Uma teoria de interayao grupal deve ser capaz de explicar ocorrancias

numa vasta gama de situayOes de pequeno grupo. Urn modelo de comuni-

cacao de midia devera cobrir toda uma gama de possiveis canais de comu-nicayao.

7. E testavel na realidade? Pode a teoria ser verificada atravês da obser-vayao? Uma das deficiencias de muitas teorias ê serem incapazes de verifi-cacao ou rejeiyao pela pesquisa. A teoria freudiana da personalidade tern lidofreantemente criticada por sua falta de testabilidade. A teoria da disso-nancia cognitiva também foi criticada por essa suposta deficiencia. Ao consi-derarmos esse critério, convém recordar que uma teoria pode ser testada demuitas formas humanistas e cientificas.

8. Quando testada, a confirmada? Uma extensao logica da sétima perguntae que, quando a teoria testavel a submetida a verificagao, ela pode passar noteste. Os conceitos e as relay:6es definidos pela teoria sac) realmente confir-mados na pesquisa. E claro, esse teste podera parecer muito mais simples do

que realmente é. Pesquisar uma teoria nao a uma simples questao de sair paraa rua e "ver" se aquilo que o te6rico descreveu existe realmente. Extensosdebates se sucedem sobre se determinada teoria ou parte de uma teoria foiverificada. Usualmente, o processo de verificar uma teoria a complexo econsumidor de tempo. Nao se trata de algo que possa ser realizado em breve

espayo de tempo. De fato, a verificayao de uma teoria leva frequentementedécadas de trabalho drduo. Outro problema corn o teste de confirmacao é que

ele subentende urn simples modelo em duas etapas: formular uma teoria,depois testa-la. Ja discutimos o fato de que teoria e pesquisa envolvem urn

 processo de interayao, e as teorias mudam gradualmente, passo a passo, aolongo ,do tempo, sempre que surgem novas provas resultantes de pesquisas.

9. E preditiva? 0 teste de preditividade esta intimamente relacionado como oitavo teste. Nem todas as teorias (tal como usamos o termo) sao cons-truidas para serem preditivas. Mas, ern Ultima instancia, a utilidade de umateoria a aumentada por sua capacidade de prediyao. JA descrevemos, emlinhas gerais, algumas vantagens da prediyao. Basicamente, a meta do agente

de mudanya consiste em entender os fenomenos de tal maneira que oresultado final de contingancias no meio externo possa ser previsto.

10. E esteticamente agradavel? Quando sao satisfeitos os testes essenciaisda teoria, urn critério adicional e o que pode ser designado como a beleza dateoria. 0 aspecto estêtico de uma teoria é "o prazer intrinseco ern sua

contemplayao"4

6

 Parece existir uma qualidade verdadeiramente artisticanuma teoria elegante e refinada. 0 leitor pode experimentar urn sentimentoreal de prazer e satisfayao, ao ser levado a compreender urn fenomenocomplexo. Embora o critério estético seja claramente secunddrio em relayao a

outros testes, ele pode ser mais importante do que parece a primeira vista,pois a aceitabilidade real de uma teoria numa comunidade academica rela-

ciona-se diretamente, com frequencia, corn o teor de persuasdo da teoria.

Kuhn assinalou que, numa revoluyao cientifica, a nova teoria pode acabar 

46 Kaplan —Conduct of inquiry, p. 318.

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34  Introducao

substituindo a antiga em virtude, principalmente, de seus atrativos intrinsecos,e "a importdricia das consideracoes estéticas pode, por vezes, ser decisiva"47

11. E flexivel e aberta as mudancas e modificagOes, a luz de novos dados?

Urn teste final da teoria e a sua abertura dindmica. ja discutimos a impor-tancia da abertura e os riscos relativos do fechamento prematuro. Uma teoria

deve ser suficientemente conjetural e probatoria para deixar margem a mu-

dancas e desenvolvimento. Qualquer teoria de ciencia social que seja formu-lada na linguagem da certeza (que implica fechamento) fracassara no testefinal.

Obviamente, nenhuma teoria relacionada corn a comunicagdo e, prova-velmente, nenhuma teoria nas ciencias sociais em geral pode satisfazer todosos 11 testes acima indicados. Nao existe uma teoria perfeita no dominio da

comunicagdo. A teoria que satisfaz cada um desses testes é urn ideal, ndo umarealidade. Entretanto, é vital para os te6ricos e criticos disporem de padroes e

continuarem avancando na direcao da perfeigdo. De certo modo, a como alonga jornada de Sidarta para a Verdade, sabendo que nunca a atingiria mastornando-se uma pessoa cada vez melhor por causa da busca.

A Natureza da Comunicacâo Humana

 A Abordagem da Comunicacao

 Arazao pela qual existe uma tal diversidade de teorias relacionadas corn acomunicagdo é que a comunicagdo consiste num processo ubiquo e com-plex°. Corn frecieencia, o principiante concebera uma area de estudo comouma solida e unificada massa de conhecimentos. Essa concepgdo é parti-cularmente infundada no campo multidisciplinar dos estudos de comuni-cacdo. Alguns estudiosos que se apercebem da ampla diversidade da teoria emcomunicagdo estdo procurando descobrir a teoria final. Na realidade, ndo

muito util procurar a melhor teoria da comunicagdo, pois a comunicagdo ndoe um ato singular e unificado mas urn processo constituido por numerososaglomerados de comportamentos. Cada teoria encara o processo de um Angulodiferente, e cada teoria fornece insights que lhe sdo prOprios. E claro, as teo-rias rid() sdo todas igualmente %/Midas ou e qualquer investigador poderaconcluir que uma teoria ou teorias especificas sdo mais significativas para eledo que outras. Ndo obstante, ndo deveremos evitar mas, pelo contrario, aco-

!her favoravelmente uma abordagem multiteOrica do complexo processo emque estamos interessados48

0 que a particularmente lamentavel a esse respeito 6 a atitude metodo1O-gica defensiva que se estabelece corn frequencia entre teOricos ern comuni-cacao. E urn sinal saudavel quando pesquisadores e teOricos num campopossuem um grau de respeito prOprio e de confianca em suas abordagens.Mas, quando essa confianga se converte ern restrigdo do Ambito da investi-gagdo, entdo o estado da arte torna-se muito pouco saudavel. De um modo ge-ral, os pesquisadores estudam aquelas areas em que estdo mais interessados eusam aqueles instrumentos para cujo emprego se consideram especialmenteequipados. Mas como Kaplan reformulou o problema: "0 dano esta feitoquando concebemos erroneamente as causas de nossas agees como rathespara elas e, assim, procuramos impor as mesmas awes a outrost49 Ou, como

47Kuhn — Scientific revolutions, p. 156.48Para uma excelente defesa das mUltiplas abordagens da investigagdo, ver Kaplan — Conductof Inquiry.49 Ibid., p. 277.

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 A Natureza da Teoria da Comunicaeão 35

sugeriu King, e melhor "substituir o compromisso corn umateoria pelocompromisso corn a descoberta".5°

Outro sintoma afim da compartimentagao rigida e a tendencia para ver oprocesso de comunicacad desde os estreitos limites das disciplinas academicasespecificas. Essa divisao de trabalho a algo arbitraria e ran necessariamentelOgica, dado que o que se desenvolveu historicamente em universidades pode

nao corresponder as subdivisoes mais Especialmente na investigacao deareas tab ubiquas de comportamento como a comunicacao, a essencial umaabordagem multidisciplinar. Isso nao significa que uma pessoa deva evitar aidentificacao corn uma das disciplinas tradicionais, mas apenas que umaperspectiva saudavel deve ser mantida para a cooperacao interdisciplinar. Oscursos universitarios relacionados corn a comunicacao existem ern muitosdepartamentos, e as teorias descritas neste livro representam uma vasta gamade disciplinas. Embora esse fato seja frustrador, por vezes, para a pessoa queesta tentando aprender comunicacao, ele representa, no entanto, uma atmos-fera saudavel. Como indicou Barnlund: "Embora muitas disciplinas se benefi-ciassem, sem dóvida, com a adocao de urn modelo de comunicacao, êtambam verdadeiro que alas, por seu turno, aumentaram imensamente a nossacompreensao da interacao humana."51Quando urn individuo nos diz que a urn"especialista em comunicacao", est& nos dizendo muito pouca coisa. 0 seuinteresse primordial pode estar nas ciancias ou artes, matemAtica ou litera-tura, biologia ou politica. 52

Franklin Knower forneceu uma excelente analise das disciplinas que seunem num interesse comum pela comunica4ao.53 Se bem que quase todos osassuntos envolvam de algum modo a comunicacao, a natureza dos respectivosinteresses varia. Knower assinalou tres tipos de disciplinas interessadas nacomunicacao. As.disciplinas de processo sac) aqueles campos que enfatizam oprocesso de comunicacao desde urn ponto de vista acadamico: antropologia,sociologia, filosofia, linguistica, psicologia. As disciplinas do comportamentode comunicagãosac) as que estudam certas condutas especificas de comuni- 2

 educacao, jornalismo, linguagem, literatura, arte, fala. Finalmente, as -

aplicagdes oudisciplinas de conteudo aplicam os principios de comunicacaodescobertos em outros campos a situacties praticas: agricultura, adminis-tracao, trabalho, politica, saade publica. Thayer forneceu outro perfil trans-versal das disciplinas de comunicagao: pesquisa neurologica e cerebral; bi6-nica, patologias da comunicacao, fatores humanos; têcnicas de midia; apren-dizagem verbal e condicionamento verbal; lingua, lingilistica e semantica;cognicao, pengamento, resolucao de problemas; personalidade, estudos psico-logicos e psiquiAtricos; comportamento interpessoal; estudos de pequenogrupo e redes de comunicacao; organizacties, teoria da organizaflo, compor-tamento organizacional, teoria da administracao; sistemas de comunicacào einformacao, ciancias e tecnologia da comunicacao; comunicacão de massa,estudos socio-culturais e sOcio-politicos; comunicacão animal; simulacao;analise quantitativa e metodologia.54 Essa lista nao pretende ser urn levanta-

30Stephen King —"Theory testing: an analysis and extension", in Western Speech, 37, 1973,pp. 13-22.51 Barnlund — Interpersonal communication, p. v.

52 A natureza multidisciplinar do estudo da comunicacão é enfatizada em numerosas fontes,incluindo George Gordon —The languages of communication. Nova York, Hastings House,1969, p. ix; Franklin Knower —"The development of a sound communicology" (manuscritoinedito); Mortensen — Human interaction, P. 22; Kenneth Sereno e C. David Mortensen —"Aframework for communication theory", in Foundations in communication theory. Nova York,Harper & Row, 1970.

53 Knower — Sound communicology, pp. 1-5.34Lee Thayer —Communication and communication systems. Homewood, Illinois, RichardIrwin, 1968, cap. 19.

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36 Introducão

mento exaustivo dos campos de investigacao e de interesses, mas ilustra ateque ponto a teoria da comun'cacao a ampla.

 Definicao de Comunicagäo

Em virtude da natureza complexa e multidisciplinar do processo, a comuni-

cacao é muito dificil de definir. A palavra comunicagão e abstrata e, comotodas as palavras, possui mtiltiplos significados.55

Tem sido feitas numerosas tentativas para definir comunicacão, mas pro-curar uma Unica definicao operacional talvez esteja longe de ser tao provei-toso e fecundo quanto explorar em profundidade os vArios conceitos suben-tendidos no termo. 0 termo comunicagäo pode ser legitimamente usado demuitas maneiras. Frank Dance, em seu artigo "The 'concept' of communica-tion", forneceu um dos mais admirAveis exemplos de pesquisa nessa Area.56

0 trabalho de Dance representou urn grande passo em frente para elucidacao

do esquivo conceito de comunicacao. Ele descobriu 15 componentes concep-

tuais distintos nas vArias definicOes. 0 Quadro 1 resume os componentesconceptuais e fornece um exemplo para cada um deles. Alen, disso, Danceapurou entre as definicOes fres pontos de "diferenciacao conceptual critica".

Eis as dimensOes mais basicas em que as %/Arias definicees diferem. A primeirae o nivel de observacao. As definicees variam amplamente em seus,niveis deconcisao. Algumas sao muito amplas e abrangentes; outras, bastante repre-sentativas. A segunda dimensao e a inclusao ou exclusao da intencionalidade. Algumasdefinicoes incluem tao-somente a emissao e recepcao da mensagem

intentional; outras excluem a necessidade de intencao. Finalmente, hA o fator de julgamento normativo. Algumas definicoes incluem urn enunciado de bome mau, ou de bem-sucedido e malsucedido. Outras definicOes nao contem tais

 julgamentos implicitos de qualidade.

 A conclusao de Dance, baseada nesse estudo, a importante. Em suasprOprias palavras, "Estamos tentando fazer com que o conceito de 'comuni-cacao' realize para nos trabalho demais". 57 Dance prop& uma familia deconceitos. As teorias incluidas nos capitulos que se seguem, vistas coletiva-

mente, representam um passo na direcao da especificagao dos membros dessafamilia.

Portanto, nao e propOsito deste livro fornecer uma definicao (mica decomunicacao ou uma perspectiva te6rica unificada. Pelo contrArio, o livroresume muitas das numerosas definicoes e dos diversos quadros conceptuaisde referencia que tern sido usados.

Generalizagdes e Conceitos Básicos

Embora a finalidade deste livro näo sejadesenvolver uma superteoria dacomunicacao, e necessArio fornecer urn quadro de referencia dentro do qual

muitas teorias possam ser organizadas. Um levantamento das macroteorias e

microteorias de comunicacao revelou a existencia de 11 amplos conceitos egeneralizacOes que estao intimamente vinculados a comunicacao. Essas 11 Areas correspondem aproximadamente aos capitulos deste livro. Essas genera-lizacOes sao de tres tipos. Os primeiros dois sao orientaccies gerais para acomunicacao; definem a essencia e a natureza geral do processo. 0 segundo

55Para discussaes sobre os meltiplos significados do termo comunicacão, ver por exemplo

George Gordon — Languages; Mortensen — Human interaction; Thomas R. Nilsen — "Ondefining communication", in Speech Teacher, 6, 1957, pp. 10-17. Em Dance e Larson — Humancommunication, apendice A, podem ser encontradas 126 definicaes diferentes de comunicacão.56Frank Dance —"The 'concept' of communication", in Journalof Communication,20, 1970,pp. 201-10; tambem Dance e Larson — Human communication.57Dance —"Concept of communication", p. 210.

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 A Natureza da Teoria da Comunicacao 37

Quadra 1. Componentes Conceptuais em "Comunicacao" 

1. Simbolos/Verbais/Fala:

2. Compreensao:

3. I nteracao/Relacionamento/ Processo Social:

"Comunicacao e o intercambio verbal de pensamento ou idéia." (JohnB. Hoben, 1954)

(J 

"Comunicacao e o processo pelo qual compreendemos os outros e, emcontrapartida, esforcamo-nos por compreende-los. E urn processo dinamico,mudando e variando constantemente em resposta a situacao total." (MartinP. Anderson, 1959)

"A interacao, mesmo em nivel biologico, a uma esp6cie de comunicacao;caso contrario, atos comuns nao poderiam ocorrer." (G.H. Mead, reedicao,1963).

4. Reducao da Incerteza: "A comunicacao decorre da necessidade de reduzir a incerteza, de atuareficientemente, de defender ou fortalecer o ego." (Dean C. Barnlund, 1964).

5. Processo:

6. Transferancia/Transmissao/ Intercambio:

7. Ligacao/Vinculacao:

8. Participacao Comum:

9. Canal/Transmissor/Meio/Via:

10. Reproducao de Lembrancas:

11. Intencional:

"Comunicagao: a transmissao de informacao, emocao, habilidades

etc., pelo use de simbolos —palavras, imagens, nOrneros, graficos etc. E oato ou processo de transmissao que usualmente se designa como comuni-cacao." (Berelson e Steiner, 1964)

"C..) o fio condutor parece ser a idbia de algo que esth sendo transferido deuma coisa ou pessoa para outra. Usamos a palavra 'comunicacao' ora emreferancia ao que a assim transferido, ora aos meios pelos quais é transfe-rido, ora ao processo como um todo. Em muitos casos, o que a assimtransferido continua sendo compartilhado; se eu transmito informacao aoutra pessoa, ela nao deixa de estar em minha posse pelo fato de passar aestar tambem na posse dela. Assim sendo, a palavra 'comunicacao' adquiretamb6m o sentido de participacao. E nessa acepoo, por exemplo, que osdevotos religiosos comungam." (Ai, Ayer, 1955)

"A comunicacao e o processo que liga entre si partes descontinuas domundo vivo." (Ruesch, 1957)

"(Comunicacao) 6 um processo que torna comum para dois ou muitos o queera monopolio de urn ou poucos." (Alex Code, 1959)

"Os meios de emissao de mensagens militares, ordens etc., por telefone,telegrafo, radio, mensageiros ou estafetas." (American college dictionary)

"Comunicacao e o processo de conduzir a atencao de outra pessoa, com afinalidade de reproduzir lembrancas." (Cartier e Harwood, 1953)

"Comunicacao 6 a resposta discriminatoria de urn organismo a um estimu-lo." (5.5. Stevens, 1950)

"Todo e qualquer ato de comunicacao a visto como uma transmissao deinformacao, consistindo em estimulos discriminativos de uma fonte para umreceptor." (Theodore Newcomb, reedicao, 1966)

"Em sua essencia, a comunicacao tern como seu interesse central aquelassituacties comportamentais em que uma fonte transmite uma mensagem aurn receptor (ou receptores), corn o propOsito consciente de afetar ocomportamento deste Ultimo (ou destes Caltimos)." (Gerald Miller, 1966)

12. Resposta Discriminativa/ Modificacao do Comportamento/ Resposta:

13. Estimulos:

14. Tempo/situacao: "0 processo de comunicacao a o de transicao de uma situacao estruturadarnmo urn todo para outra, num padrao preferido." (Bess Sondel, 1956)

15. Poder: "C..) comunicacao e o mecanismo pelo qual o poder a exercido." (S.

Schacter, 1951)

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38  Introduno

grupo de generalizacties diz respeito a certos processos basicos que saocomuns a toda a comunicacao humana. Finalmente, existe o grupo degeneralizacOes que aponta os contextos em que a comunicacäo se realiza. 0Quadro 2 descreve, em linhas gerais, as 11 generalizacOes e conceitos. AFigura 4 e urn resumo dos conceitos fundamentais ern cada area.

Figura 4. Conceitos Fun-ORIENTAOES

GERAISPROCESSOS

BASICOSCONTEXTOS damentals da Comunica-

gdo

ProcessoCodificay5o Interpessoal

Interayao Significado Pequeno GrupoSimbOlica

Pensamento Organizacional

I nformay o Massa

Persuasao

Quadro 2.GeneralizacOes e Conceitos Basicos

Area Generalizayáo Conceito-Chave

1. A comunicayao e um processo complexo. Processo

2. 0 processo de comunicayaoa primordialmente urn Interayao SimbOlicaprocesso de interayao simbOlica.

3. A interayao simbOlica é urn processo de emissao e Codificayaorecepyao de mensagens codificadas.

4. Um sinal é urn estimulo que tern significado para Significadopessoas.

5. As mensagens sac) sinais e grupos de sinais forma- Processos de pensamentodos atraves dos processos de pensamento humano

6. As mensagens fornecem informayao. I nformayao

7. A comunicayao resulta em mudanya. Persuasao e mudanca

8. A comunicayao interpessoal ocorre no contexto da I nterpessoalunterayao face-a-face.

9. A comunicayao realiza-se no contexto de pequeno Pequeno Grupogrupo.

10. A comunicayho realiza-se no contexto da organi- Organizacionalzayao.

11. A comunicayao realiza-se no contexto de massa. Massa

Orientayaes Gerais

Processos Basicos

Contextos deComunicayao

Existe um vasto repertOrio de teoria relacionada corn cada • um dessesconceitos e generalizacOes. Dentro de cada grupo de teorias, ha numerosospontos de semelhanca e diferenca. Ao avancarmos atraves dessas 11 areas nosseguintes capitulos, veremos como a teoria se desenvolveu e que aspectos doprocesso cada teoria destaca. No capitulo final, sintetizaremos os pontos sa-lientes de uma sêrie de teorias, para completar o quadro emoldurado por essasgeneralizacties iniciais.

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Teoria dos Sistemas Gerais

e Cibernêtica

Vimos no capitulo anterior que existem dois tipos gerais de teoria da comu-

nicacAo. Certas teorias explicam detalhes especificos ou partes do processo decomunicagao. Outras, que poderiamos designar por teorias gerais ou macro-teorias, descrevem a natureza e essencia do processo como urn todo. Eapropriado iniciarmos o nosso exame das teorias da comunicacao corn duasdas mais significativas abordagens teOricas gerais. Neste capitulo trataremosda abordagem sistemica e no capitulo 3 cobriremos o vasto campo conhecidocomo lnteracionismo SimbOlico. Essas macroabordagens do estudo da comu-nicagao humana fornecem uma excelente orientacao geral, antes de passar-mos as teorias mais restritas que irk) ocupar o restante do livro.

 A primeira generalizacao sobre comunicacão que apresentamos no final do

capitulo 1 diz-nos que a comunicagdo é urn processo comp/exo. A natureza deprocesso das coisas e melhor apreendida em uma Weltanschauung conhecida

como Teoria dos Sistemas Gerais. Um campo afim e o da cibernetica. A TSG esua prima, a cibernetica, sac, modelos generalizados que postulam a natureza

inter-relacionada das coisas, orientada para o processo. Ambas podem ser 

aplicadas a muitas areas de conteudo especifico e ambas tem lido usadasextensamente para caracterizar a comunicano. Esta e uma das muitas areas

do conhecimento que podem ser encaradas desde uma perspective sistemica.

Os defensores da Teoria dos Sistemas Gerais observaram padroes numavasta gama de fenomenos biologicos, fisicos e sociais. Esses autores pro-curaram formular generalizaceies acerca do modo como as partes e os todos seinter-relacionam, independentemente dadisciplina particular ern que as partes

e os todos sat) observados. Esse movimento foi largamente motivado pelatendencia academica para a especializacao e a segregagao. A Teoria dos Sis-temas Gerais é um movimento de retorno a perspectiva generica; representa

uma importante tentativa de integracao dos conhecimentos adquiridos atravésde numerosas disciplinas.

Neste capitulo, procederemos a urn breve exame do conceito de sistema,focalizando em particular a Teoria dos Sistemas Gerais e a cibernetica. A parte

final do capitulo descreverA, a titulo ilustrativo, duas teorias sistemicas decomunicagao, as de Ruesch e Bateson e de Thayer. Muitas outras teorias orien-tadas para o sistema serdo apresentadas ern capitulos subseqiientes.

0 que é um Sistema?

Urn sistema pode ser definido como urn conjunto de objetos ou entidades quese inter-relacionam mutuamente para formar urn todo Cmico. Uma das distin-

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42 Orientaccies Gerais

toes mais comuns 6 a que se estabelece entre sistemas fechados e abertos?Um sistema fechado e aquele ern que riao existe intercambio corn o seu meioexterno ou ambiente. Este. orientado para o progressivo caos interno (en-tropia), desintegracao e morte. 0 modelo de sistema fechado aplica-se corn amajor frecitiëncia aos sistemas fisicos, os quais nao possuem qualidades de

sustentagao vital. Urn sistema aberto a aquele que recebe mathria e energia doseu meio externo ou ambiente e, por seu turno, passa a matbria e energia para

o seu meio ambiente. 0 sistema aberto e orientado para a vida e o crescimen-to. Os sistemas biologicos, psicologicos e sociais obedecem a um modelo aber-to, e a Teoria Geral dos Sistemas trata de sistemas desde essa perspectivaaberta. Quando falamos de sistemas, neste capitulo, referimo-nos unicamente

ao modelo aberto.

Desde a mais simples perspectiva, pode-se dizer que um sistema consiste

em quatro coisas? Aprimeira sao os seus objetos. Os objetos sao as partes,

elementos ou membros do conjunto. Esses objetos podem ser fisicos ouabstratos ou ambas as coisas, dependendo da natureza do sistema. Emsegundo lugar, um sistema consiste ern atributos. Estes sao as qualidades oupropriedades do sistema e seus objetos. Em terceiro lugar, urn sistema deve

possuir relagdes internas entre os seus objetos. Essa 6 a qualidade definidoracrucial dos sistemas, e a natureza das relageies sistêmicas tornar-se-a urn terraprimordial neste capitulo. Uma relacao entre objetos implica urn efeito mUtuo(interdependencia) e coibigeo.3

 Essa ideia sera desenvolvida mais adiante.Finalmente, podemos dizer que os sistemas tambem possuem um meioambiente. Eles nap existem no vacuo, mas sao afetados pelo meio circundante.

Na realidade, urn observador define urn determinado sistema de acordo corn

os seus prop6sitos pessoais, de modo que um objeto pode ser incluido tantono sistema como no meio ambiente, dependendo do modo como a torta for cortada. Discutiremos esst conceito ern major profundidade, ern termos dehierarquia sistemica.

Os defensores da Teoria dos Sistemas Gerais sustentam que os sistemas

biolagicos, psicologicos e sociais possuem certas qualidades comuns a todosdes. De urn modo fundamental, esses marcos indicadores definem o conceito

de sistema. Essas qualidades nalo se excluem mutuamente. E obvio que coinci-dem em parte e as ajudam, em elevado grau, a definir-se reciprocamente.

Totalidade. Por definicao, urn sistema constitui urn todo Onico g  Aatitude depensamento holistico 6 parte integrante do conceito de sistema. Para seentender essa idda convém examinar a concepcão oposta: a somatividade

fisica. No modelo somativo, o todo e merarnente uma coletividade semqualidades prOprias, como uma caixa de pedras. Mas, num sistema, urn todo

consiste numa integracao de partes.

 Interdependencia. A razaopela qual devemos considerar um sistema como

umaGestalt 6 que suas partes se inter-relacionam e se afetam mutuamente

1A.D. Hall e R.E. Fagen —"Definition of system", in Modern systems research for thebehavioral scientist, organizado por Walter Buckley. Chicago, Alpine, 1968, pp. 81-92; AnatolRapoport —"Foreword",in ibid., pp. xiii-xxv. Para uma excelente e sucinta descricao desistemas abertos versus fechados, ver Ludwig Bertalanffy — General System Theory: foundations,development, applications. Nova York, George Braziller, 1968.2Hall e Fagen — "Definition".3Walter Buckley —"Society as a complex adaptive system", inBuckley — Modern systems-esearch, pp. 490-513.4Rapoport — "Foreword"; Hall e Fagen — "Definition".5Arthur Koestler —The ghost in the machine. Nova York, Macmillan, 1967. (Ed. bras.: 0 fantasma da mdquina. Rio, Zahar, 1969.); W. Ross Ashby —"Principles of the self-organizingsystem", in Principles of self-organization, organizado por Heinz von Foerster e George Zopf.Nova York, Pergamon Press. 1962, pp. 255-78.

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernetica 43

Os elementos A e B podem ser inicos, quando vistos separadamente dosistema; entretanto, em combinagdo, existe uma interagao m6tua entre eles,cujo resultado e diferente da soma de todos eles, quando individualmenteconsiderados. As partes de um sistema estao correlacionadas, e essa corre-

fano pode ser interpretada como uma coibigão. Urn objeto, pessoa, conceito

ou outra abstragdo num sistema e sempre coibido pela sua interdependenciacorn outros objetos, pessoas, conceitos ou abstragOes. No modelo somativo,

esse tipo de relacionamento ndo existe. Deve-se considerar a dependencia-

independencia um continuo, e diversas partes num sistema terao diferentesgraus de Iiberdade. Em conseqUência da qualidade de interdependencia,pode-se afirmar que uma mudanga numa parte do sistema produzira mu-dangas ern todo o sistema.

 A ideia de interdependencia e facilmente ilustrada numa situagdo de

familia. Se uma familia é um sistema de individuos interatuantes, cada

membro da familia é coibido pelas agOes dos outros membros. Embora cadaum deles possua alguma liberdade, todos sdo mais ou menos dependentes uns

dos outros. Por exemplo, a familia come a hora de jantar, e a hora de jantar determinada pela hora em que o marido e a mulher voltam do trabalho. Se o

pal esta de mau humor durante o jantar, talvez seja dificil para os filhosdiscutirem nesse momento os acontecimentos alegres do dia. Os comporta-mentos numa familia ndo sdo independentes, livres ou aleatorios; sdo padro-nizados e inter-relacionam-se mutuamente.

 Hierarquia. Uma das mais importantes qualidades de urn sistema 6 a hierar-

quia6 

Esse principio e o tema de 0 fantasma da maquina, de Arthur Koestler?

Era uma vez dois relojoeiros suicos chamados Bios e Mekhos, que fabricavam

relOgios excelentes e caros. Seas nomes talvez parecam um pouco insólitos, masseus pais tinham ligeiros conhecimentos de grego e eram vidrados em enigmas.Embora a procura para os relOgios de um e de outro fosse igual, Bios prosperou,enquanto Mekhos is apenas ganhando sua vida sem conseguir levantar cabeca;

no fim, ele teve de fechar sua oficina e empregar-se como meCanico de Bios. Oshabitantes da cidade discutiram por largo tempo as razbes desse fato e cada

pessoa tinha uma teoria diferente a propor, ate que a verdadeira explicayao foirevelada — uma explicacao que provou ser simples e surpreendente.

Os relógios que eles fabricavam contavam cerca de mil pecas cada urn, mas

os dois rivals tinharn usado metodos diferentes para month-las. Mekhos tinhamontado seus relegios peya por peca, como se estivesse fazendo urn piso demosaico corn pequenas pedras coloridas. Assim, todas as vezes que era per-turoado em seu trabalho e tinha de deixar de lado UMrelegio parcialmentemontado, este desmanchava-se e Mekhos tinha de recomecar da estaca zero.

Bios, por outro lado, imaginara urn metodo de fazer relOgios construindo,desde o comeco, subconjuntos de aproximadamente dez componentes, cada urn

dos quaffs era montado como uma unidade independente. Dez desses subcon- juntos podiam entao ser ajustados num subsistema de ordem superior; e dezdesses subsistemas constituiam o relOgio inteiro. (...)

Ora, e fadl demonstrar matematicamente que, se urn relOgio se compile deurn milhar de peyas, e se alguma perturbayäo ocorre, em media, uma vez em

cada 100 operayães de montagem, entao Mekhos levara 4 mil vezes mais tempo

do que Bios para montar urn relegio. Em lugar de urn anico dia, ele precisara de

11 anos. E, se substituirmos pecas mecanicas por aminokidos, moleculas de

proteina, organelas etc., a proporcao entre as escalas de tempo torna-se astro-nOrnica; alguns chlculos indicam que todo o tempo de vida da Terra seriainsuficiente para produzir ate uma ameba — a menos que se adote o método de

6Para Urncatalog° de obras nesta area, ver Donna Wilson —"Forms of hierarchy: a selectedbibliography", in General Systems, 14, 1969, pp. 3-15.7Koestler —0 tantasma da maquina.

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44 Orientacties Gerais

Bios e se avance hierarquicamente, dos subconjuntos mais simples e rudimen-tares para os mais complexos.8

Todos os sistemas complexos consistem em certo nOmero de subsistemas. Por-tanto, o sistema é uma setie de niveis de crescente complexidade. A ideia dehierarquia sistamica pode ser ilustrada pelo modelo de 'Arvore" na Figura 5.

Figura 5. Hierarquia Sis-

tbmica Sistema 

Subsistema  Subsistema 

Subsistema

 A 

Subsistema

Subsistema1

Subsistema

2

Koestler descreveu a hierarquia sistamica como o  Heft° de fano:

Os membrosde uma hierarquia, tal como o deus romano Jano, tern todosduas faces que olham em direcães opostas: a face voltada para os niveissubordinados e a de um todo completo e independente; a face voltada paracima, em direcao ao spice, e a de uma parte dependente. Uma 6 a face do amo,a outra a face do servo.9

0 termo criado por Koestler paradesignar um sistema (hierarquia) é &Von.

0 individuo em sociedade a umhOlon social, que consiste hierarquicamenteem calulas, &nos, sistemas de &nos e corpo, e constitui parte de um maisvasto grupo, cultura e sociedade.

 Auto-regulacao econtrole. A teoria dos sistemas e uma perspectiva teleolO-gica. Conforme foi descrito no capitulo 1, a teleologia e a filosofia que atribuios acontecimentos a futuras metas ou finalidades. Os sistemas sao maisfrequentemente vistos como organismos orientados para determinadas metas.Eles sao governados por seus propOsitos. 0 que acontece num sistemacontrolado por suas finalidades, e o sistema regula seu comportamento pararealizar as finalidades. As partes de um sistema devem comportar-se de acordocom suas regras ou canones e tam de adaptar-se ao meio ambiente na base defeedback. Esse aspecto do funcionamento dos sistemas é conhecido comocibernetica e sera abordado em detaihe nas segues seguintes.10

 Interambio cornomeio ambiente. Por definicao, um sistema aberto intera-tua com o seu meio ambiente. Absorve e desprende materia e energia. Porisso se diz que os sistemas possuem inputs[alimentacao] e outputs [ des-carga, produto]. Esse conceito decorre logicamente da ideia de hierarquia.

8 Ibid., pp. 64-65.9 Ibid., pp. 66-67.

10Rapoport —"Foreword"; Koestler — Fantasma;Buckley — "Adaptive system".

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernetica 45

Urn determinado elemento pode ser incluido no sistema ou no meio ambiente,dependendo do enfoque do observador. Urn elemento no meio ambienteafetara os elementos do sistema, do mesmo modo que urn supra-sistemaafetaria seus subsistemas e vice-versa. 0 sistema afeta o meio ambiente; o

meio ambiente afeta o sistema 11

Equilibrio. Outra qualidade dos sistemas e o equilibrio ou homeostasel 2  Essaqualidade esta relacionada corn a auto-regulacao e a organizacao sistemica.

Para evitar o destino fatal de urn sistema fechado crescente entropia — o

sistema aberto deve manter-se, permanecer ern equilibrio, nao se desfazer. E

deve funcionar para realizar isso. Uma das tarefas primarias de muitos

subsistemas interatuantes e a manutencao do equilibrio no sistema. 0 sistema

deve ser capaz de captar desvios da norma "fixada" e de corrigir essastendencias. A secao sobre cibernetica ocupa-se ern detalhes dessa dinamica

dos sistemas.

Mudanga e Adaptabilidade. Porque existe urn meio ambiente ern constantemudanca, o sistema deve ser adaptave1. 13 Essa adaptabilidade a freqaente-

mente realizada pela qualidade homeostalica acima descrita mas, ern sistemascomplexos, como sao os sistemas sOcio-culturais, envolve mais do que isso.Os sistemas avancados devem ser capazes de efetuar mudancas e de sereordenarem na base de presseies ambientais. A homeostase designa a caracte-

ristica de manutencao do equilibrio dos sistemas; a morfogenese designa oaspecto de mudanca de estrutura. 14 Hall e Fagen descreveram tres especies de

mudanca estruturada que podem ocorrer corn o tempo no processo demorfogenese. is  Aprimeira 6 a segregagdo progressiva, que consiste numprocesso de movimento da totalidade para a somatividade, movimento aolongo do continuo dependencia-independencia, no sentido da maior divisaoentre subsistemas. Esse tipo de mudanca podera envolver uma diferenciacaomaior da funcao subsistemica. A sistematizagdo progressiva é o oposto — omovimento no sentido da maior interdependencia entre as partes. E possivel

que esses dois tipos de mudanca ocorram no mesmo sistema simultaneamenteou em seqaencia. Acentralizagao (ou descentralizagao) progressiva tambempode ocorrer ern sistemas, e ocorrera simultaneamente com a segregacao ou a

sistematizacao. Na centralizacao progressiva, urn determinado subsistematende a tornar-se cada vez mais importante na orientacao do sistema; outros

subsistemas passariam a ter maior dependencia do subsistema principal. Essaqualidade de adaptabilidade e mudanca assinala a natureza realmente dine-

mica do sistema complexo e aberto.

 Equifinalidade. Finalidade ie a realizacao da meta ou execucao da taref aatribuida a urn sistema. Ecitlifinalidade significa que urn certo estado finalpode ser realizado de muitas maneiras e desde vários pontos de partidadiferentes. 0 sistema adaptavel, que tem por meta urn estado final, pode

alcancar esse estado final ern varias condicoes ambientais diferentes. Osinputsnunca igualam osoutputs.0 sistema e capaz de processar os dadosrecebidos (input) de diferentes modos, a fim de produzir o seu output 16 Na

instrucao ern sala de aula, por exemplo, urn professor pode relatar a mesma

11Gordon Allport —"The open system in personality theory", inBuckley — Modern systemsresearch, pp. 343-50; Hall e Fagen — "Definition".12

 Ashby — "Principles".13

Hall e Fagen — "Definition"; Buckley — "Adaptive system"; Koestler — 0 fantasma.14 Buckley "Adaptive system", p. 493.15

Hall e Fagen — "Definition", pp. 85-86.16

Bertalanffy — General System Theory, cap. 3.

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46 Orientageies Gerais

informacao basica (inputs) de muitas formas diferentes, para obter os mesmos

resultados finals (outputs).Em resposta a nossa pergunta initial, "0 que e um sistema?", podemos

agora dizer: Urn sistema abertoé urn con junto deobjetos corn atributos que se

inter-relacionam num meio ambiente para formar urn todo 0sistema

 possui qualidades de totalidade, interdependencia, hierarquia, auto-regu-

lagdo, interca-mbio ambiental, equilibria, adaptabilidade e  finalidade.

A Teoria dos Sistemas Gerais Como Abordagem do Conhecimento

A Teoria dos Sistemas Gerais constitui uma ampla abordagem multidisciplinardo conhecimento, baseada no conceito de sistema. A TSG foi primeiramentedesenvolvida por Ludwig von Bertalanffy, urn conhecido bi5logo12 Basica-mente, a TSG postula conceitos que regem os sistemas em geral e aplica essasgeneralizacoes a numerosos fentimenos em diferentes disciplinas. 18 Eis comoBertalanffy descreveu essa area:

Parece legitimo pedir uma teoria, nä°de sistemas de uma espécie mais oumenos peculiar, mas de principios universals que se aplicam aos sistemas emgeral.

Assim, postulamos uma nova disciplina chamada Teoria dos Sistemas Ge-

rais. (...)

Portanto, a Teoria dos Sistemas Gerais e uma ciencia geral da "totalidade"que, ate agora, se considerava urn vago, impreciso e semimetafisico conceito.Em forma elaborada, seria uma disciplina legico-maternatica, puramente formalem si mesma, mas aplicavel as %/arias ciencias empiricas.19

Bertalanffy concebeu pela primeira vez a TSG nos comecos da clAcada de192020 Nessa época, ele comecou considerando a biologia em termos "orga-nismicos", mas provou-se que tal abordagem era impopular. Somente depoisda Segunda Guerra Mundial e que ele se sentiu a vontade para publicar suas

idéias sistamicas. Depois da guerra, promoveu seu ponto de vista através,principalmente, de conferencias e simpOsios. Bertalanffy descreveu as criticascorn que teve de se defrontar:

A proposta de uma teoria dos sistemas foi recebida incredulamente comofantastica ou presuncosa. Ou era trivial —argumentava-se —porque oschamados isomorfismos eram meramente exemplos do truismo de que a mate-matica pode aplicar-se a todas as especies de coisas (...) ou era falsa eenganadora,por causa das analogias superficiais (...) camuflarem diferencasreais (...) Ou ainda era filosOfica e metodologicamente intundada porque aalegada "irredutibilidade" de niveis superiores a niveis inferiores tende a impedira pesquisa analitica.21

Mas Bertalanffy persistiu e, em 1954, nasceu a Society for General SystemsResearch.22 Como a maioria de outros movimentos, a TSG nao a uma teoria

17Para urn esboco biografico e bibliografico de Bertalanffy, ver "Ludwig von Bertalanffy", inGeneral Systems, 17, 1972, pp. 219-28.18

Para um exemplo da TSG formalizada, ver Masanao Toda e Emir H. Sherford — "Logic of systems: introduction to a formal theory of structure", in General Systems, 10, 1965, pp. 3-27.19Bertalanffy — General System Theory, pp. 32-34.20Para uma breve panoramica da histOria da TSG, ver Bertalanffy — General System Theory,cap. 1.21 Ibid., P.14; para uma recapitulacão bastante completa das criticas e refutacCies da TSG, verLudwig Bertalanffy —"General System Theory —a critical review", in General Systems, 12,1962, pp. 1-20 (reeditado em Buckley — Modern systems research, pp. 11-30.220 Anuario da Sociedade, General Systems, tern sido publicado anualmente desde 1956. E

uma excelente compilacäo das obras te6ricas e aplicadas ern TSG.

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernatica 47 

singular desenvolvida por uma pessoa. Conquanto a prOpria TSG fosse pro-movida por Bertalanffy, outros estavam fazendo coisas semelhantes em outroscampos. Asduas mais importantes areas afins, desenvolvidas quase simulta-neamente corn a obra de Bertalanffy, foram a cibernetica, de Norbert Wiener,e a teoria da informagdo, de Shannon e Weaver. De fato, essas tras abor-dagens sustentam-se mutuamente de uma forma tao completa que deveriam

ser consideradas tributarias do mesmo rio. Como a teoria da informacaoconstitui uma abordagem mais limitada (micro), sera considerada separa-damente na Parte Ill, mas cumpre ter em mente que, na realidade, faz parteda mais ampla perspectiva TSG. Aciber tica, por outro lado, e claramenteuma abordagem macro e esta tao intimamente ligada a teoria dos sistemas quedeve ser examinada em detalhe neste capitulo.

Uma outra area estreitamente aparentada e a ciencia dos sistemas. Oscampos da ciencia dos sistemas aplicam-se primordialmente nas areas tecno-

logicas, incluindo engenharia de sistemas (desenvolvimento de sistemas ho-

mem-maquina), pesquisa de operaceies (controle de pessoal, maquinas, ma-teriais e dinheiro) e engenharia humana (desenvolvimento da eficiencia notrabalho). Bertalanffy recorreu a esses campos como evidencia da viabilidadeda sua perspectiva mais geral: "Conceitos como totalidade, organizacao,

teleologia e diretividade eram apresentados na ciencia mecanistica comonao-cientificos ou metafisicos. Hoje, sat) levados a s6rio e suscetiveis de aria-lise cientifica."23

Uma das finalidades primarias da TSG e integrar grande parte dos nossos

conhecimentos acumulados num quadro de referencia claro e realista. OsteOricos do sistema geral tentam fazer isso atraves do principio do isomor-fismo. Um isomorfismo a uma semelhanca estrutural entre dois modelos ouentre urn modelo abstrato e um fenomeno observado. Diz-se que dois sistemas

muito diferentes sao isomOrficos se os seus comportamentos forem gover-nados pelos mesmos principios. Um modelo generalizado como a TSG tentaelucidar esses principios. Bertalanffy forneceu urn exemplo:

Uma lei exponencial de crescimento aplica-se a certas Celulas, a populactles debacterias, de animais ou seres humanos, e ao progresso da pesquisa cientificamedida pelo rinier° de publicacães sobre genkica ou a ciencia em geral. Asentidades em questa°(...) sao completamente diferentes (...). Entretanto, a leimatemãtica 6 a mesma.-24

 Aidaia de isomorfismo e predominante em teoria da comunicacao. As

analogias sao abundantes. Locutores e audiencias sao comparados a termos-

tatos e aquecedores. 0 fluxo de informagao organizacional é equiparadointeracao cerebro-mOsculo. Asolucao humana de problemas é vista comosemelhante aos laws de feedback do computador. Se a comunicacaovalidamente urn sistema, entao a teoria dos sistemas gerais deve ser umaexcelente ferramenta para o estudo da comunicacao. Isso a especialmenteverdadeiro pela natureza multidisciplinar da comunicacao. Ja discutimos no

capitulo 1 as dificuldades que resultam da natureza disseminada da pesquisade comunicacao.

 Anecessidade de maior integragao dos conhecimentos em muitas areas,como a da comunicacao, é critica. Kenneth Boulding forneceu urn argumentoconvincente para o use da TSG como integradora do conhecimento:

A necessidade da teoria dossistemas gerais a acentuada pela atual situanosociolOgica na ciencia. (...) Hoje, a crise da ciencia e fruto da crescente dificul-dade de um diAlogo proveitoso entre cientistas como um todo. A especializacão

23Bertalanffy — "A critical review", p. 14.

24 Ibid., pp. 1-20.

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48 orientacdes Gerais

ultrapassou o Ramo. A comunicacão entre disciplinas torna-se cada vez maisdificil, e a Republica do Saber está se desintegrando em subculturas isoladas,com apenas f6nues linhas de comunicayäo entre elas. (...) Por vezes, e casopara nos pereuntarmos se a ciéncia acabará por se imobilizar em pane irrever-sivel, entregue a uma porcáo de eremitas enclausurados, cada urn resmungandopalavras numa linguagem particular que so ele e capaz de entender. (...) A

expansao da surdez especializada significa que alguém que deveria saber algoque outra pessoa sabe e incapaz de descobrir por falta de ouvidos generali-zados.

Urn dos principals objetivos da Teoria dos Sistemas Gerais edesenvolver essesouvidos generalizados. (...)25

Em suma, a TSG oferece certo nOmero de vantagens nas ciencias socials,incluindo a teoria da comunicacao:28

1. Um vocabulArio comum.2. Urn modo de estudar organizacOes grandes e complexas.3.  Análise holistica.

4. Enfase sobre informacao e comunicano em sociedade.5. Um ponto de vista mais funcional (relacional) do que estrutural.

6. Uma perspectiva teleolOgica, ern funcao da realizacäo de metas.

Cibernetica

 Acibernetica e o estudo da regulacào e controle em sistemas, corn enfasesobre a natureza do feedback 2 7 

 Uma das mais importantes caracteristicas dossistemas abertos e que sac regulados, procuram atingir metas e, portanto, Cao

intencionais — isto 6, tem uma finalidade em vista. Essa area especial dofuncionamento de sistemas e que ê reivindicada como territOrio da cibernetica

e, por conseguinte, a cibernetica torna-se urn importante foco no estudo maisamplo dos sistemas.

 A cibernetica trata dos metodos pelos quais os sistemas (e seus subsis-

temas) usam seu prOprio output para aferir o efeito e realizar os ajustamentosnecessarios. 0 mais simples dispositivo cibernetico consiste num sensor, umcomparador e um ativador. 0sensor fornece feedback ao comparador, o qual,

por seu turno, fornece orientacao ao ativador. Este, por sua vez, produz umoutput para afetar o meio ambiente de algum modo. Esse processo funda-mental de output-feedback-ajustamento e o terra central da cibernetica.0campo da cibernetica foi desenvolvido por Norbert Wiener e seus

colaboradores. 28 A disciplina principal de Wiener era a matemAtica, mas eleconsiderou a cibernetica uma area interdisciplinar: "Asareas mais fecundaspara o desenvolvimento das crencias eram aquelas que tinham sido negligen-ciadas como terra de ninguenn entre os vários campos estabelecidos." 29 Ostrabalhos iniciais de Wiener sobre computadores e neurologia levaram-no a

ver padroes de comportamento de controle, que ele acreditava serem signi-

ficativos. Wiener discutiu os comecos da cibernetica no inicio da decada de1940, nos termos seguintes:

25 Kenneth Boulding —"General Systems Theory —the skeleton of science", inBuckleyp. 4.

26Walter Buckley — Sociology and modern systems theory. Englewood Cliffs, Prentice-Hall,

1967, p. 39.

27 Rollo Handy e Paul Kurtz — "A current appraisal of the behavioral sciences: communicationtheory", in American Behavioral Scientist, 7, n° 6, 1964. Suplemento: Gordon Pask — Anapproach to cybernetics. Nova York, Harper, 1961; G. T. Guilbaud — What is cybernetics? NovaYork, Grove Press, 1959.

28 Para urn retrospecto historico, ver Norbert Wiener —Cybernetics or controland communi-cation in the animal and the machine. Nova York, MIT Press, 1961, pp. 1-29.29 Ibid., p. 2.

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 Ativo

Compor-

tamento

Figura 6. Model() de

Cornplexidade Ciberne. ti-ca. (Arturo Rosenbleuth,

 Norbert Wiener e Julian

 Bigelow — "Behavior,

purposeandteleology",inPhilosophy of Scien-ce, 10, 1943, pp. 18-24.

Copyright 01943by the

Williams & Wilkins Co., Baltimore, Md.)

Passivo

30Ibid., p. 11.31 Arturo Rosenbleuth, Norbert Wiener e Julian Bigelow — "Behavior, purpose and teleology",in Philosophy of Science, 10, 1943, pp. 18-24 (reimpresso em Buckley — Modern Systems, pp.221-25):

Proposital

Preditivo

N go-

preditivo

{

Primeira,

segunda,

etc. ordens

de predicgo

Simples

Nat-

proposital

Irandenico)

Teorias dos Sistemas Gerais e CibernOtica 49

[ Nos] ja nos tinhamos apercebido da unidade essencial do conjunto de pro-blemas que gravitam em torno da comunicacao, controle e mecanica estatis-tica, quer na máquina, quer no tecido vivo. Por outro lado, éramos seriamenteestorvados pela falta de unidade da literatura respeitante a esses problemas, epela auséncia de qualquer terminologia comum, ou ate de urn Cinico nome parao campo. (...) Decidimos designar todo o campo da teoria de controle e

comunicacao, na m'aquina ou no animal, pelo nome de Cibernetica.30

0 primeiro encontro de cientistas interessados em cibernética teve lugar em

Princeton, em 1943. Incluiu engenheiros, fisiologistas e matemAticos. A ex-pansdo de futuros encontros, para incluir psicologos, sociologos e antropOlo-

gos, levou a fecunda aplicacdo da cibernêtica a problemas estritamente hu-manos.

Obviamente, os mecanismos de feedback, especificamente, e o compor-tamento, em geral, variam no grau de complexidade de controle. Em um dos

seus primeiros artigos, Rosenbleuth, Wiener e Bigelow forneceram um modelodessa crescente complexidade. 31 No modelo (Figura 6), a distincao mais basica

ê entre comportamento ativo e passivo. Um organismo que exibe comporta-mento ativo é a fonte primdria da energia envolvida no comportamento. 0

prOprio organismo ativo esta fornecendo o estimulo. No comportamento pas-sivo, o organismo é urn receptor de inputs ou estimulos. 0 comportamentopassivo e, primordialmente, uma resposta a energia exterior. Na categoria do

comportamento ativo, pode ser estabelecida uma divisao adicional entrecomportamento randomico, sem propOsito determinado, e comportamento

 proposital. 0 comportamento proposital e dirigido para urn objetivo oufinalidade; o comportamento rand6mico nä . ° e. Como ja indicamos, a ciber-nêtica esta interessada nos niveis propositais de comportamento em sistemas.

Todo o comportamento intencional requer alguma especie de feedback, mas anatureza deste pode ser mais ou menos complexa, conforme indicado nomodelo.

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50 Otientacties Gerais

0 comportamento proposital pode ser ainda subdividido em mecanismoscomplexos e simples de feedback.

32  Na condicão simples, o organismo usa o

feedback num sentido restrito, mas nãomodifica ou ajusta o comportamento

no curso da acdo. Os sistemas complexos, entretanto, usam feedbacks posi-tivos e negativos para se ajustarem e adaptarem durante a prOpria ace°. Essenivel dinamico sere explicado em maior detalhe quando examinarmos os lacos

e cadeias de feedback. Alem disso, os sistemas complexos podem ser predi-

tivos ou nao-preditivos. 0 comportamento preditivo baseia-se mais na posiceo

ou resposta prevista do que na posiceo ou resposta real. Como qualquer borncacador sabe, nä° se aponta para o animal em corrida mas deve-se prever 

onde ele ester-A quando a bale o atingir. Finalmente, a predicdo e mais oumenos acurada, como indicado pela distincao final no modelo: as ordens de

 predicao.

Urn modelo simples de feedback este representado na Figura 7. Conforme seindicou previamente, uma parte do outputdo sistema é devolvida como

 feedback, e realizam-se certos controles ou ajustamentos internos. Na Figura7, B euma fonte de energia dirigindo os outputs para C. A e o mecanismo decontrole que responde ao feedback proveniente de C. Dependendo da corn-

plexidade do sistema e da natureza da diretividade do output, o prOpriomecanismo de controle este mais ou menos restringido na especie de controleque pode exercer. A Figura 8 ilustra algumas possibilidades.33

0 primeiro modelo na Figura 8 il ustra a situacdo em que o prOprio sinal émodificado (por exemplo, amplificado) por A. 0 guincho num sistema dealto-falante é urn exemplo. 0 modelo seguinte ilustra um comutador simples,como urn termostato ou urn disjuntor. 0 outro representa urn controle seletivo

em que A escolhe urn canal ou posiceo, na base de algum tipo de critêrios.Num missil teleguiado, por exemplo, o sistema de orientacdo pode determiner o desvio nesta ou naquela direcao, baseado no feedback proveniente do alvo.

0 processo de regulaceo do sistema através de feedback envolve numerosasfacetas. 0 sistema regulado deve possuir certos criterios de controle. 0 centro

de controle deve "conhecer" que condicoes ambientais requerem uma res-

posta e como. Deve possuir sensibilidade para aqueles aspectos do meioambiente que seo criticos para os critérios de busca do objetivo.34

Basicamente, o feedback pode ser classificado como positivo ou negativo,dependendo do modo como o sistema Ihe responde. 0 feedback negativovisto como uma mensagem de erro, significando urn desvio em relacao a urnnivel de criterio; e o sistema ajusta-se reduzindo ou neutralizando o desvio.Esta é a mais importante forma de feedback para a homeostase, porquanto oprincipio de desvio-neutralizaceo do desvio constitui o foco da ciberneticatradicional. Mas o sistema tambèrn pode responder ampliando ou mantendo odesvio. Quando isso acontece, diz-se que o feedback é positivo. Esse tipo deinteraceo e importante na morfogênese, ou desenvolvimento do sistema (porexemplo, na aprendizagem). 0 ciclo inflacionario em economia e urn dos

numerosos exemplos de efeitos do feedback positivo. Outro exemplo é ocrescimento de uma cidade. Em comunicaceo, quando urn locutor este re-cebendo o"feedback negativo" de urn ouvinte, o locutor sabe que neo esteatingindo a sua finalidade. 0 feedback negativo de urn colega comunicadorrequer usualmente uma mudanca na estratêgia a fim de eliminar a defasagementre o modo como o locutor quer que o seu ouvinte responda e a respostareal. Seja em sistemas mecenicos ou humanos, a resposta ao feedback 

32 Alterei aqui a nomenclatura original para evitar confusao e incoerincia corn o use anteriordas palavras neste capitulo. 0 intuito do autor ndo foi alterado.

33 Adaptado de Guilbaud —Cybernetics.34Buckley — Sociology, pp. 52-53.

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernôtica 5 1

negativo é "Repetir, Diminuir o Ritmo, Descontinuar". A resposta ao feed-

backpositivo e "Manter, Aumentar o Ritmo, Prosseguir".

Figura 7: Urn modelosimples de feedback

B 1 -4 C

 

Figura 8: Modelos ilus-trativos de cot/Vote

A -of- —-----1 A - ..- — — — — - 1I

II I l f 

I

i

• 'PrC B ID- C

amplificauão efeito "tudo-ou-nada"

Ac l iS  - - - - - - - - - -

B c

seletor

Ate aqui, ao discutirmos o feedback,a impressab e que urn dada sistemaresponde como uma unidade ao feedback proveniente do exterior. Contudo,isso é uma impressao realista somente para os sistemas mais simples, como no

conjunto aquecedor-termostato. Os sistemas avancados são mais complexos.Envolvem uma série de subsistemas hierarquicamente ordenados e, a qualquermomenta, um subsistema pode ser parte do sistema major ou ser parte do meinambiente.35 Alern disso, sabemos que os subsistemas respondem uns aos outrosnuma interdependencia metua. Por conseqiiencia, e necesserio ampliar oconceito de feedback para sistemas complexos. Num sistema complexo, existeuma serie de laws de feedback dentro e entre subsistemas, os quais formamcadeias. Em alguns pontos, os tacos de feedback sào positivos; em outrospontos, negativos. Mas sempre, coerente corn o principio basico de feedback,ooutput do sistema retorna como input de feedback. Por mais complicadaque seja a cadeia, regressa-se sempre aonde eta comecou. Uma ilustracãosi mples de uma cadeia sistemica e o exemplo de urbanizacâo na Figura 9.36

Nessa figura, os sinais de mais representam relagOes positivas e os de menos as

relacties negativas. Numa relagao positiva, as varidveis aumentam ou dimi-nuem juntas. Numa relacâo negativa, quando uma aumenta a outra diminui.Por exempla, quando o (-imer° de habitantes na cidade (P) aumenta, a mo-dernizacao também aumenta. Com o aumento da modernizacao ocorre um au-mento da migracdo, o qual, par sua vez, aumenta a populagao. lsso e urn exem-plo de um taco de feedbackpositivo. Uma relagdo negativa e ilustrada peloefeito do nOmero de doencas (D) sabre a populacâo (P).

35 Magoroh Maruyama - "The second cybernetics, deviation-amplifying mutual causal pro-cesses", in American Scientist, 51, 1963, pp. 164-79 (reeditado em Buckley - Modern systemsresearch,pp. 304-13).36

 Ibid.

B

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NOmero de habitantesna cidade Modernize*

( M)(P)

(C )

Migreeãopara a cidade

Volume del i xo IL )por area

Bactenas   (Bpor area

(D)..41

NOrnero de doencas(5)

InstalaeOes sanithrias

52 Orientacties Gerais

Neste ponto, deve ter ficado evidenciado que a cibernetica a uma areaconceptual central para a teoria dos sistemas. Feedbacke controle relacio-nam-se inextricavelmente corn a pr6pria essancia da teoria de sistema aberto.Os conceitos ciberneticos de controle, regulacao e feedback fornecem umaexplicacdo concreta para tais qualidades do sistema como totalidade (umaporcão do sistema nar o pode ser entendida se separada de seus lacos cornsubsistemas); interdependencia (ou subsistemas sac> coibidos por feedbacksmiltuos); auto-regulacao(urn sistema mantem equilibrio e muda respondendoapropriadamente a feedbacks kositivos e negativos); intercãmbio corn omeioambiente (inputs eoutputspodem ser explicados, em sua major parte, emtermos de lacos de feedback).

Embora esses conceitos ciberneticos se originassem nos campos da fisiolo-gia, engenharia e maternatica, eles revestem-se de tremendas im plicacoes paraas ciencias sociais e do comportamento. 37 Como disse Wiener: "Esse principio[feedback] de controle aplica-se nao apenas as eclusas do Panama, mastambern a Estados, exercitos e seres humanos individuais. (...) Esta questa° do

 feedback social é de enorme interesse sociologico e antropologico." 38 E, por

seu turno, o processo de comunicacao e o sine qua non da cibernetica emsociedade. 39 De fato, a aplicabilidade da teoria dos sistemas e da ciberneticatao ampla que a ela aludiremos em quase todos os capitulos deste livro.

Figtira 9.Uma cadeia

simplificada de feed-back ( Magoroh Maruya-

ma — "The second cy-

bernetics:deviation-

amplifying mutual caus-

al processes", in Amer-ican Scientist, 51, 1963,

 pp.164-79.)

Comunicacäo como Sistema Aberto

Existem muitas razeies para que a teoria dos sistemas gerais e abordagens afinsse adaptem tao bem ao estudo da comunicacao. As generalizacOes seguintesindicam os varios modos em que a comunicacao exibe propriedades desistema aberto.

 A comunicacao é um processo complexo. Cohn Cherry, em seu bem conhecidoli vro Onhuman communication, refletiu o ponto de vista comum: "Quando'membros' ou 'elementos' estao em comunicacao entre si, estao-se associando,

37Ver Kalr Deutsch — "Toward a cybernetic model of man and society", in Buckley —Modern

systems research, pp. 387 - 400.38

Norbert Wiener — The human use of human beings: cybernetics and society. Boston,Houghton Mifflin, 1954, pp. 49 - 50.39)bid., p. 16.

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Teorias dos Sistemas Gerais e CibernOtica 53

cooperando, formando uma 'organizacao', ou, por vezes, urn 'organismo'. Acomunicacao é uma funcao social. 0 velho chavao, 'o todo e mais que a somadas partes', exprime uma verdade."40

Leonard Hawes postulou algumas ideias-chaves acerca da natureza corn-plexa, orientada para o processo, da comunicacao. 0 primeiro postulado e odaconcateneidade. Esta e definida como a qualidade de concatenagao, de

encadeamento ou interconexao entre elementos do processo: "Cada atocomunicativo afeta e e afetado por toda a corrente de atos de comuni-cacao." 41Por conseguinte, a comunicacao nao pode ser dissecada ern frag-mentos finitos. A pesquisa deve concentrar-se nos processos contextuais e emcurso. 0 segundo postulado e o da simultaneidade. Os comunicadores intera-tuam entre si simultaneamente, ndo ern seqtiencia.

 A comunicagdo é urn processo interdependente. A comunicacao é interde-pendente de duas maneiras. Ern primeiro lugar, os comunicadores afetam-sematua e simultaneamente. Em segundo lugar, as variaveis ,no processo decomunicacao sâo interdependentes (correlacionadas, coibidas), conforme se

descreveu na primeira secao deste capitulo. Essa qualidade sistemica tornar-se-a obvia quando examinarmos algumas teorias especificas de comunicagao

mais adiante, neste capitulo.

 A comunicagdo é urn processo adaptativo, envolvendo feedback. A comu-nicacao avancada e, sem clUvida, a nossa mais importante faculdade adapta-

tiva. Através da comunicacao, adaptamo-nos e ajustamo-nos continuamente

ao mundo das pessoas e coisas a nossa volta. Alêm disso, o individuo ajusta e

regula constanterinente o comportamento atraves do feedback durante acomunicacao.42A interacao e verdadeiramente urn processo cibernetico.

 A comunicacdo e urn processo padronizado de comportamento governado por regras. Comunicamos através do uso de sinais; para que ocorra o entendi-mento, os simbolos devem ser validados, e o uso governado por regras obser-

vado. Alem dos postulados de concateneidade e simultaneidade, Hawes tarn-bém incluiu urn postulado de tuncionalidade.43  A comunicacdo deve funcio-

nar continuamente para sustentar os padroes de relacionamento e as regras

apoiadas no uso de simbolos. A comunicacao valida as nossas expectativas e,

por sua vez, os padroes e regras esperados tornam possivel a comunicacao. Esseponto de vista, e claro, fornece uma clara superficie de contato corn o intera-cionismo simbOlico (capitulo 3).

 A comunicagdo e urn processo hierarquicamente ordenado que inclui subsis-temas. Urn dos aspectos de muitos modelos sistemicos de comunicacao e queeles veem o processo ern niveis ou hierarquias. As teorias de Thayer e deRuesch e Bateson (descritas mais adiante neste capitulo) sao bons exemplos

desse enfoque. Uma ideia mais recente sobre subsistemas de comunicacao e o

40Colin Cherry — On human communication. Nova York, Science Editions, 1961, p. 6 [ p. 27 datraducào brasileira; ver Bibliografia]. Ver tambem David Berlo —The process of communica-

tion. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1960.41Leonard Hawes —"Elements in a model for communication processes", in Quarterly Journal

of Speech, 59, 1973, p. 13.42Para urn estudo de feedback e adapta45o, ver Allen E. Ivey e James C. Hurst —"Communi-cation as adaptation", in Journal of Communication, 21. 1971, pp. 199-207. Ver tambem JamesC. Gardiner —"A synthesis of experimental studies of speech communication feedback", in

 Journal of Communication, 21, 1971, pp. 17-35.43Hawes —"Elements", p. 15. Hawes e Foley mostraram como os modelos secRienciais decomportamento podem ser analisados em termos de probabilidades num contexto de entrevista;ver Leonard Hawes e Joseph M. Foley —"A Markov analysis of interview communication", inSpeech Monographs, 40, 1973, pp. 208-19.

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54 Orientagnes Gerais

modelo proposto por Fisher e Hawes para estudar a interacão em pequeno

grupo. 44 Esses autores descreveram dois amplos subsistemas da comunicacão

em pequeno grupo. 0 Modelo de Sistema Humano inclui as variameis da

pessoa como uma pessoa, incluindo construtos cognitivos e afetivos, e va-

riAveis de relacionamento, como a coesão. 0 Modelo de Sistema de Interatotrata dos comportamentos observaveis de comunicacdo.

0 MS/ pode ser visto como uma hierarquia de tres niveis. 0 nivel urn

inclui os padroes de comportamento que, segundo se observa, ocorrem numgrupo durante a execucão de uma tarefa. 0 nivel dois consiste em fases ouestagios de padroes que se desenvolvem durante a tarefa. Finalmente, o nivel

trèjs consiste ern fases ciclicamente recorrentes de tarefa para tarefa.

 Acomunicagdo é urn processo orientado para a cadeia. Ern um nivel, a

comunicacäo pode ser considerada um processo de duas pessoas; mas, numa

perspectiva ampliada, a comunicacão envolve muitos individuos em grupos,

organizacOes e sociedades. Uma das mais importantes aplicacäes da teoriados sistemas säo as cadeias de informacão e a comunicacao de massa (ver o

capitulo 11). 45 A teoria dos sistemas e particularmente (Ail no estudo dacomunicacao organizacional (ver o capitulo 10).

Todas essas seis dimensties da comunicacào sao claramente ilustradas por 

um modelo sistemico (Figura 10) desenvolvido por Clevenger e Matthews46

Esse modelo demonstra a comunicacao como um sistema aberto. Vemos nele

dois organismos interatuando num meio ambiente. Cada organismo e UM

sistema, tal como a interacäo entre eles. Dentro do organismo existem varios

subsistemas envolvidos na recepcao, processamento de informacão e resposta. As respostas ocorrem em dois niveis: fisiolOgico e manifesto (efetor). Vemosaqui uma excelente ilustracdo do dispositivo cibernêtico basic° em comuni-

cacao, incluindo a deteccdo de feedback, o processamento via comparador e

a acdo. Os sistemas recebem inputs do meio ambiente e output na forma de

comportamento. A natureza complexa e hierarquica da comunicacdo tambemé ilustrada no modelo de Clevenger e Matthews. A primeira porcäo deste capitulo foi dedicada a uma explicacâo dos

sistemas, uma discussao da Teoria dos Sistemas Gerais e cibernetica, e umaindicacäo geral das qualidades sistèrnicas ern comunicacdo. A parte final deste

capitulo apresentard duas destacadas teorias sistemicas de comunicacao. Exis-

tem numerosos modelos sistémicos, mas esses dois foram escolhidos por causade sua proeminéncia e impacto no campo. 0 primeiro é a obra de Ruesch eBateson sobre comunicacâo como a "matriz social da psiquiatria". 0 segundo

modelo diz respeito as idêias de Thayer sobre sistemas de comunicacdo. Essasteorias sublinham aspectos algo diferentes da comunicacdo, mas ambas usam

uma abordagem de sistemas.

ComunicacSo: a Matriz Social da Psiquiatria

Sem davida, urn dos tratamentos classicos da comunicacao e o de JurgenRuesch e Gregory Bateson.47 Ecompreensivel que a comunicacdo se tenhatornado uma preocupacao central da psiquiatria, dado que os problemas

44B. Aubrey Fisher e Leonard C. Hawes — "An interact system model: generating a groundedtheory of small groups", in Quarterly journal of Speech, 57, 1971, pp. 444-53.45Ver Klaus Krippendorff — "Scope of the information systems division [ of the InternationalCommunication Association]", in Systemletter, 1, 1972, pp. 2-4.46Theodore Clevenger e jack Matthews — The speech communication process. Glenview, ScottForesman, 1971, p. 195.47Jurgen Ruesch e Gregory Bateson — Communication: the social matrix of psychiatry.

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernetica 55

psiquiatricos do individuo promanam freqUentemente de problemas de comu-nica45o. 0 terapeuta tambern trabalha corn o paciente através da comuni-cacao. Ruesch e Bateson sublinham que um individuo ajusta-se a sociedadena medida em que pode enviar e receber informagdo a respeitodo eu, domundo e dos outros. Assim, a mais significativa forca aglutinante em socie-dade 6 a comunicacao interpessoal, que consiste em tres coisas. Primeiro,

deve haver um ato expressivo por, pelo menos, uma pessoa. Esse ato deve serpercebido consciente ou inconscientemente por outros. Finalmente, o ori-ginador deve receber reconhecimento de que a comunicacäo foi recebida.Atraves desse processo, urn individuo ajusta-se aos outros a sua volta. Porconseguinte, o terapeuta deve considerar a comunicagdo do paciente emfunCao do contexto social em que ela ocorre. Esse contexto social é o terra daobra de Ruesch e Bateson.

Figura 10. Dois organ's-mos interatuando num

meio ambiente. (Extrai-

do deThe speech com-

munication process, deTheodore Clevenger Jr. elack Matthews.Copy-

right© 1971 by Scott,

Foresman & Company.

 Reproduzido corn per-

missao.)

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56 Orientacties Gerais

Todo ato de comunicacao comporta duas importantes mensagens. A pri-meira é a funcao de "relato". Quando Don diz a seus filhos: "0 desjejum esta

na mesa!", ele esta relatando urn fato, tal como o ve. A mensagem-relato dizao receptor algo sobre o estado de espirito do locutor, seu significado,predisposicao ou sentimento. Mas ha tamb6m um aspecto de "comando" ern

todo ato de comunicacao. Eevidente que Don esta chamando os filhos para amesa. Entender a natureza real das funcoes de relato e comando de umintercambio requer mais informagao acerca de dois importantes sistemas noindividuo. 0 sistema de codificacao e o modo como a pessoa percebe ouconceptualiza o mundo. 0 sistema de valor consiste nas avaliacOes feitas por uma pessoa — o que e e o que nao e considerado importante e born. Eclaro,esses dois sistemas, que modelam as comunicacäes de uma pessoa, estao

intimamente interligados. Uma pessoa codifica (percebe) em consonancia corn

o seu sistema de valor. Ruesch e Bateson referiram-se a esse processo comocodificacão-avaliacio. Essa iclaia do relacionamento de valores e percepcOescorn a comunicacao impregna toda a literatura do campo. Eurn conceito-chave em muitas teorias e voltaremos a encontra-lo repetidas vezes sobdiferentes rotulos em varios capitulos.

Ruesch e Bateson apresentaram o que se tornou agora um modelo classicodos niveis de comunicacao. Esse modelo e reproduzido na Figura 11. 48 Urnobservador, digamos, um psiquiatra, pode olhar o ato de comunicacao atravesdos varios niveis do cone, tal cortio um fisico poderia olhar uma laminaatraves dos varios niveis de enfoque de urn microsc6pio. A Figura 11 e uma

importante aplicacao do conceito sistêmico de hierarquia, ilustrando o efeitode Jano em contexto de comunicacao. 0 modelo e explicado mais detalhada-mente no Quadro 3.49

Existem tit funcoes no nivel interpessoal. A primeira 6 a recepgdo, in-cluindo as percepcOes dos sentimentos e estados internos do individuo (pro-priocepcao) e os estimulos externos (exterocepcao). A transmisseo, a segundafuncao, tambern inclui uma forma interna e uma externa. Dentro do corpo, osimpulsos nervosos sac) transmitidos (propriotransmissào) e o organismo tarn-bem atua externamente sobre o mundo (exterotransmissao). A comunicagao

intrapessoal inclui tamb6m a coordenacao, interpretacao e armazenagem deintormacdo.

Mas, para Ruesch e Bateson, todas as funcoes intrapessoais estavam subor-

dinadas ao mais importante nivel interpessoal. Nesse nivel, o individuo re-laciona-se corn o mundo dos outros no contexto social. A interacao é umsistema adaptativo em que o individuo alterna papeis complementares departicipacao (transmissao) e observacão (recepcao). 0 individuo passa a ver-seatraves de dois modos, a propriocepgao e o reflexo espelhado por outros nacomunicacao interpessoal.

 Ao nivel de grupo, os papais de transmitir e receber estdo divididos maisirregularmente do que no nivel inferior. A medida que aumenta a comple-

xidade da cadeia, a integralidade da informagao recebida por qualquer indi-viduo decresce, uma condicao qualificada por Ruesch e Bateson como "per-cepcao empobrecida". 5° Tipicamente, as cadeias grupais podem ser distin-guidas entre "urn para muitos" e "muitos para urn", dependendo da naturezado fluxo de informacao.

 As cadeias ou redes culturais sdo muito mais dificeis de identificar. 0 nivel

cultural é uma especie de comunicagao de "muitos para muitos", em que éi mpossivel identificar a origem e o destino das mensagens. A recepcdo deinformagao em nivel cultural 6, corn frecOncia, inconsciente. A informacao

48ibid., p. 275.49 Ibid., p. 277.50 Ibid., p. 281.

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernetica 57

Quadro 3. A Especificagdo de Cadeias nos Quatro Niveis de Cornunicagdo

NIVEIS ORIGEM DA EMISSOR OU CANAIS R E C E P T O R DESTINO DAMENSAGEM FONTE MENSAGEM

I. Intrapessoal

"dentro da

pessoa"

Orgao sensorial terminalou

centro de comunicacao

Percursos neu-rais, humorais e

contiguos (outrospercursos)

Centro de comunicacaoou

os Orgaos efetores

Interpessoal

"urn para urn"

Centro de comu-nicacao da pes-soa que envia amensagem

Organ efetor dapessoa emissora

Sewn, luz, calor,odor, vibracfies,atravessando aespaco, por urnlado, contatoquimico ou me-anie° corn ma-terial ou pessoa,por outro lado

Orgaos sensoriaisterminais da pes-soa receptora

Corn unicacaocentrada na pes-soa que recebe amensagem

III. A. Grupo

"Urn paramuitos"( mensagenscentrifugas)

Centro de comu-nicacao do gru-po: chefe ou co-mite

Pessoa que se es-pecializa em ser o porta-voz ouexecutivo docentro de comu-

nicacao

Multiplicacao damensagem atra-yes de imprensa,sistema de alto-falantes, filmes,

circulares etc.

Pessoas dedica-das a receber einterpretar men-sagens para ogrupo: leitores,

ouvintes, espec-tadores teatrais,criticos

Muitas pessoasque sao mem-bros de urn gru-po. A identidadedas pessoas nao

e epecificadapor nomes; elassao conhecidaspelo papel. 0grupo é especifi-cado

B. Grupo

"Muitos paraum"( mensagenscentripetas)

Muitas pessoasque sao mem-bros de urn gru-po. A identidadenao a especifica-da pelo nome;elas sao conheci-das pelo papel.0 grupo e espe-cificado

Porta-voz queexpressa a opi-niao das pessoas,a familia ou ou-tros pequenosgrupos na perife-ria

Correio, de vivavoz ou outrasacries instrumen-tais de pessoas

Especialistas pro-fissionais que sededicam a rece-ber mensagens:analistas de noti-cias, servicos deinformagao, Or-nos governa-mentais. Con-densacao e sinte-se de mensagensrecebidas.

Centro de comu:nicacao do gar-

, po: executivo,comita ou chefe

IV. A. Cultural

Mensagens"vinculadorasespaciais" de"muitos paramuitos"

Muitos gruposnao - especifica-dos pelo nome,conhecidos pelopapel, os quaisexpressam pon-tos de vista mo-rais, esteticos oureligiosos — por exempla, o cle-ro, as criancas

Grupos especiali-zados na formu-lacao de padroesde vida; legisla-dores

Escrituras, regu-lamentacães es-critas e nao-es-critas e leis. Cos-tumes transmi-tidos por con-tato pessoal, fre-qtientemente im-plicitos na acao.

 As pessoas tor-nam-se canais

Grupos dedica-dos a recepcao einterpretacao demensagens cul-turais, como jui-zes, advogados,cientistas, minis-tros

Muitos gruposcompostos depessoas vivas,nao - especifica-das pelo nome,conhecidas pelopapel

B. Cultural

Mensagens

"vinculadorastemporais" de"muitos paramuitos"

Muitos gruposnao - especifica-

dos cujos mem-bros sao mais ve-lhos do que osreceptores ou jAmorreram

 A voz do passa-do, f reqiiente-

mente uma figu-ra mitolOgica ouhistorica

Escrituras, cultu-ra material, co-

ma objetos, es-truturas arquite-6:micas etc., econtato pessoalde geracao parageracao, f re-qiientemente im-plicito na acao

Grupo especiali-zado na recep-

cao e interpreta-cao de mensa-gens do passado:arqueologos, his-toriadores, clero

Muitos gruposnao - especifica-

dos, cujos mem-bros sao mais jo-vens do que osoriginadores damensagem

FONTE: Reproduzido da obra do Dr. Jurgen Ruesch e Gregory Bateson —Communication: thesocial matrix of psychiatry. (Corn permissao de W.W. Norton & Company, Inc. Copyright 01968,1951, by W.W. Norton &Company, Inc.)

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58 Orientagdes Gerais

Nivel IV(Cultural)

Nivel III(Grupo)

Nivel IInterpessoa I)

Nivel I(I ntrapessoal)

a: avaliacaoe: emissaoc: canalr: recepoão

V uma pessoa

Figura 11. Nlveis de Co-municacão. (Reproduil-

dodaobra do Dr. I.

 Ruesch e G. Bateson

the so-cial matrix of psychia-try.)Cornautorizacao

de W.W. Norton & Com-pany, Inc. Copyright@

1968, 1951,byW.W.

 Norton & Company, Inc.

Observador 

cultural inclui, por exemplo, mensagens sobre a lingua, Ada e teorias darelaao do ser humano corn o universo. Em suma, a comunicaao culturalconsiste ern mensagens sobre os pressupostos de realidade sustentados num

grupo cultural.

Seja intrapessoal, interpessoal, grupal ou cultural, a comunicaao possuisempre caracteristicas técnicas. Os aspectos técnicos da comunicaflo in-cluem a codificacao (por exemplo, linguagem, sistemas de simbolos, cOdigos)

corn que as mensagens s -do formadas; maquinaria de comunicacào; e pro-

priedades da informac5o. A natureza da codificaao varia corn cada nivel deandlise. No Nivel I, a codificaao e uma questão quimica/neural. No Nivel II,e uma questäo de linguagem e simbolizaao nao-verbal. Ao nivel de grupo,adicionamos padroes de organizaao como parte da codificaao. A comuni-cacao em organizaaes e largamente afetada pela estrutura institucional.Finalmente, no Nivel IV, a codificacão A tao ampla que inclui os metodos

culturais de atuacao ou comportamento na vida cotidiana.Urn dos conceitos sistAmicos centrais no esquema de Ruesch e Bateson 6 a

autocorrecào. Observam-se constantemente os seus efeitos sobre outros eusa-se essa informaao para adaptaao a situaao. Esse processo adaptativoenvolve sempre a prediao da resposta futura. 0 ensino 6 urn excelente

exemplo. 0 professor deve predizer o seu efeito sobre o aluno. 0 professor formula mensagens, recebe feedback, prediz e volta a ajustar-se. Esse pro-cesso cibernetico a uma parte central de toda a comunicaao humana.

Thayer sobre Sistemas de Comunicagao

 Aobra de Lee Thayer sobre teoria da comunicaao recebeu a sua mais

completa elaboracào no livro Communication and communication systems:510 seu ponto de vista 6 n5o so nitidamente multidisciplinar e orientado para os

sistemas mas constitui tambArn urn dos mais completos macrotratamentosdesenvolvidos por uma so pessoa. A obra de Thayer é uma excelente pedraangular para as aplicacoes dos sistemas gerais no estudo da comunicaao.

51Lee Thayer — Communication and communication systems. Homewood, Illinois, Irwin, 1968.

Para uma versão mais sucinta de seus conceitos basicos, ver "Communication and organizationaltheory", in Human communication theory, organizado por Frank Dance. Nova York, Holt,

Rinehart & Winston, 1967, pp. 70-115 [ pp. 94-148 da edicao brasileira; ver Bibliografia].

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Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernatica 59

Thayer iniciou a sua exposicao corn uma critica dos modelos linearesnao-sistemicos tradicionais. 0 modelo traditional sugere que a pessoa Acomunica uma mensagem a B corn urn efeito:

A B = X

Esse modelo e enganadoramente simples, ignorando por completo a natu-reza de interacao da comunicacao.

Para Ruesch e Bateson, o nivel mais importante da comunicagao era ointerpessoal mas, para Thayer, o verdadeiro locusdo ato de comunicacao eraintrapessoal. Ern nivel da pessoa, o fentimeno basic() de toda a comunicacaoo processo de levar em conta. Thayer descreveu assim esse processo:

0 fenomeno basico e subjacente em toda situacao em que ocorre a comuni-cacao humana a simplesmente este: que um organismo (um individuo) levou-algo-em-conta, quer esse algo seja alguma coisa que alguem fez ou disse ou naofez ou disse, quer seja algum evento observavel, alguma condicâo interna, osignificado de algo que esta sendo lido ou observado, algum• sentimentoentremisturado com alguma lembranga passada —literalmente, qualquer coisa

que possa ser levada em conta por Beres humanos em geral e esse individuo emparticular.52

Quando os individuos intercomunicam, eles se) se afetarao mutuamente na

medida ern que levam em conta o que o outro disse ou, nas palavras deThayer: "(...) a comunicacao nao a algo que alguem faz a outrem, mas é umprocesso que esta continuamente em curso dentro de cada urn de nOs."53

Dois conceitos, dados e informacao, ajudam a entender o processo delevar-ern-conta. Os dados sari) o input' sensorial nao-trabalhado potencial-

mente acessivel ao individuo. Uma vez levados em conta, os dados conver-tern-se ern informacao. 0 que um observador faz ao levar os dados em contaatribuir-Ihes significado. Assim, a informacao, nao os dados, constitui asubstancia de todo o pensamento, tomada de decisoes e resolucao de pro-

blemas. Em sua mais basica forma, portanto, a comunicacao é o processo deconverter dados em informacao, o processo de levar-em-conta. 0 que um

individuo leva em conta e determinado pelo fato de ele levar-em-conta-

habilidades e suscetibilidades. Levar-ern-conta-habilidades sao as coisas que

um individuo esta especialmente treinado ou capacitado para perceber. Por exemplo, um botanico levara muito mais em conta num prado do que o faraurn individuo comum. Suscetibilidades sao as tendéncias individuals paralevar-em-conta. Um carro da policia pode significar algo muito diferente para

urn morador do bairro negro de Watts do que para uma pessoa de BeverlyHills, por causa das suscetibilidades imensamente diferentes para levar-ern-conta dos grupos a que essas pessoas pertencem.

Em forma ampliada, esse processo pode ocorrer numa grande variedade de

niveis. A Figura 12 ilustra o modelo de Thayer dos niveis de comunica4ao.54Uma das vantagens desse modelo e que ilustra a natureza parcialmentecoincidente de niveis. Consentaneo com a concepcao sisternica de hierarquia,um elemento pode ser um membro do subsistema ou do meio ambiente,dependendo de como o individuo deseja conceptualizar nesse momento.Nesse modelo, todo o levar-em-conta individual é representado no nivelintrapessoal. A comunicacao interpessoal (alternativamente designada comointercomunicagão)representa todos os sistemas de comunicacao de duas-

52Thayer —Communication systems, p. 27.53 Ibid.

54 p. 30.

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60 Orientageies Gerais

pessoas ou n-pessoas. Os elementos organizacionais sac) as cadeias que ligamgrupos de individuos em organizaceies, e o nivel tecnolOgico, que abarcatodos os outros, consiste nos programas mecAnicos, eletrOnicos ou de software

para auxiliar no processo de manipulacao da informacao. 

Figura 12. Niveis de Co-municagdo. (Reproduzi-

do corn permissfio de

Thayer — Communica-tion and communication

Systems.  Homewood,

 Illinois, Richard D. Ir-

win, Inc., 1968©, p. 32.) 

D i•

tecnolOgico 

•c—organizational 

interpessoal

 intrapessoal 

Conceituado de um diferente Angulo, o processo de comunicacdo pode ser 

dividido em dois amplos sistemas. 0 primeiro, o sistema conceptual-avaliatd-rio, consiste em certo nUmero de elementos que habilitam o individuo aorganizar, compreender e avaliar o meio ambiente. Thayer tambem o de-signou por componente compreensivo-avaliatOrio. 0 segundo sistema e osistema de controle do comportamento (ou componente de agdo), o qualhabilita a pessoa a agir sobre o meio ambiente e a influenciAdo. Em conjunto,esses dois amplos sistemas constituem urn modelo cibernetico humano total,

como veremos. Comecaremos por descrever as ideias de Thayer sobre osistema conceptual-avaliatorio.

Thayer descreveu esse primeiro componente como uma "hierarquia multi-dimensional extrema e intricadamente organizada de conceitos, valores, cren-

gas, etc. (...) Visto no agregado, cada sistema conceptual/avaliatorio doindividuo ê o seu 'modelo' do mundo". 55 Essa is:36a relaciona-se corn o sistemade codificacdo-avaliacão de Ruesch e Bateson. 0 mundo percebido consisteem duas realidades — uma realidade sensorial, que a pessoa examina emprimeira mao, e a realidade normativa ou consensual, que e aprendida dosoutros. Neste Ultimo caso, desenvolvemos os nossos mundos consensuais

atraves da interacão que se desenrola dentro de nossos grupos de referencia e,numa acepgdo mais ampla, a partir da prOpria cultura. 0 que levamos emconta na comunicacão é moldado pelo sistema conceptual-avaliatorio. AsPessoas A e B podem levar em conta aspectos muito diferentes na mesmamensagem, por causa de suas diferentes realidades percebidas.

0 segundo sistema, o componente de acão, habilita o individuo a ajustar-seao meio ambiente. E urn distinto sistema cibernetico baseado no controle e

feedback. 0 modelo da Figura 13 ilustra esquematicamente o sistema.56

Esse modelo de decisao ilustra o processo ciclico, cibernetico, de teste-acãoatraves de feedback e feedforward (antecipacão) e de tomada de decisdo. Essemodelo tambem ilustra a natureza subjetiva dos problemas. As "pessoasdefinem seus prOprios problemas; os problemas rid° existem indeoendente-mente das pessoas.

Ja vimos que Thayer acreditava que o locus da comunicacdo reside no nivel

pessoal. Na intercomunicacdo, o novo fator a ser levado em conta é umarelacdo. A comunicacdoainda se realiza atraves do levar-em-conta individual,

55 Ibid., p.4356 Ibid., p. 71.

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AO° no MeioAmbiente

Feedback ouT Feedforward 

A

Al es*.  B t 

L

Sistema de Interacäo

A2et,. 82

57 Ibid., p. 87.

Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernética   61

Figura 13. Modelo Deci-

(Reproduzido corn

 permissao de Thayer

— C o m m u n i c a t i o n a n d

communication systems. Homewood, Illinois, Ri-

chard D. Irwin, Inc1968©, p. 71.)

Unidade Deciseria

(a)A pessoa percebe uma discrepancia entre o estado aparente no meio ambiente e oestado pretendido.

Ibl A pessoa define essa discrepancia como um problema conjeturat.Ic) A unidade decithria na pessoa define ou rejeita esse problema.

(d) Se o problema é percebido como real e definido, soluobes alternatives &do ponderadas eselecionadas pela unidade decis6ria.

(e) As solucaes selecionadas s'ao dirigidas atrav6s daap5o do meio ambiente.

If) Os resultados sac, testados atraves de feedback e feedforward lantecipaq5o1

mas a intercomunicacao requer que pelo menos urn dos participantes tenhauma concepcao da relacao existente. A intercom unicacao e ilustrada pelomodelo na Figura 14.57

A e B abordam sua intercomunicacao corn seus processos separados delevar-ern-conta. A Pessoa A, por exemplo, tem um conceito de si prOpria (A1),urn conceito da outra pessoa (E31) e urn conceito da interacao entre as duaspessoas (Ala--a Bi). Assim, a intercomunicacao e urn processo de interacaoentre dois subsistemas (Al eA24)—go.B2) Essa ideia e importante; elail ustra que a comunicacao interpessoal nao é um simples intercambio entre Ae B, mas que a natureza da comunicacao é modelada pelas percepcOesindividuais do eu, do outro e da relacao entre ambos.

Figura 14. Intercomuni-

cacão.(Reproduzido

corn permissão de Tha-

 yer —Communicationand communication sys-tems.

 Homewood, Illi-nois, Richard D. Irwin,

 Inc.,19680, p. 87.)

Pessoa A Pessoa B

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62 OrientagOes Gerais

Uma consideravel parte de Communication and communication systems

trata das cinco qualidades ou criterios de comunicacdo. 0 primeiro 6 a

eficacia, ou o grau em que a coMunicacdo realiza o seu propOsito pretendido.

 A eficacia e determinada por uma serie de fatores situacionais, os quais sesomam as prOprias habilidades e suscetibilidades de levar-em-conta do comu-

nicador. A economia da comunicagão, o segundo crithrio, consiste no dispen-

dio necessario numa dada situacao. A tese de Thayer, nesse ponto, a que toda

a comunicagao requer urn investimento de tempo, dinheiro, energia, envolvi-

mento ou emocdo. Por conseguinte, a comunicacao nao pode ser julgada

unicamente pela eficacia. A eficiencia da comunicagdo 6 a proporcao entre

eficacia e custo. Algumas comunicaceies merecem urn elevado investimento;

outras lido; e o envolvimento total pode ser visto em funcdo dessa proporcdo.

 Alemdisso, a comunicacdo pode ser avaliada pela compreensibilidade de

sua mensagem. A else respeito, Thayer enfatizou "que a clareza ndo a uma

caracteristica so das mensagens, mas de determinadas mensagens em face de

determinados receptores". 58E claro, a compreensibilidade subentende mais doque clareza da informacdo. Pode envolver tambem a compreensdo de senti-

mentos, intengdes, significados ou conseqirências. Tal Como a compreensibi-li dade, a validade da mensagem e tambem uma funcdo do processo delevar-em-conta dos originadores e dos receptores. A validade e a credibilidadede uma mensagem baseada no grau em que a mensagem é consonante cornoutras coisas que o receptor esta levando em conta, no grau em que amensagem e congruente com o sistema conceptual-avaliatOrio do receptor, ou

a credibilidade da fonte. Finalmente, o criterio de relevancia expressa-se na

qualidade de utilidade da mensagem. Quanto mais utilidade uma mensagem

possui, mais consumivel ou titil ela e para determinado comunicador.

 A comunicacao pode servir a quatro fungees parcialmente coincidentes,

segundo Thayer. A primeiradelas é a funcdo de informacdo. Direta ouindiretamente, toda a comunicagdo envolve o envio ou busca de informacdoacerca do meio ambiente ou de pessoas. Thayer acreditava que as pessoas

medram e se enriquecem a custa da informacdo, e comparou o processo ao deingestdo de alimentos. Tudo o que um individuo pode levar-ern-conta é

potencialmente informativo. As fungdes de comando e instrucão da comuni-

cacdo evidenciam-se em ordens, diretrizes, solicitacties, procedimentos eavaliacaes. A comunicacdo tambem pode funcionar para influenciar e per-

suadir. Na opiniao de Thayer, a influencia a indireta ou encoberta, ao passoque a persuasdo e direta e manifesta. E isso a sempre urn processo bilateral:

Ser influenciavel ou persuadivel, quando nos melhores interesses da prOpriapessoa, a uma aptidäo ran vital e impoytante em comunicacdo quanto a ha-bilidade dessa pessoa para influenciar e persuadir outros. (...)Por uma questaode conveniència, o nosso enfoque parece restringir-sea perspectiva comum deoriginador —> influenciando --> receptor; mas tudo o que sera dito é impor-tante para a perspectiva de receptor —> procurando —> ser —> influen-ciado pelo originador.59

Finalmente, Thayer agrupa um certo nOmero de outras funcees na categoriade integragdo. De urn modo geral, elas mantern, reforcam ou confirmam asrelaceies sistémicas, e incluem os processos de descricdo e orientacdo, areafirmacdo da estrutura social, cerimOnia, ritual, etiqueta, protocolo, evo-cacao e jogos. Comogrupo, integram os mOltiplos aspectos do processo decom unicacdo.

58Ibid., p. 1 6459Ibid., p. 223.

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S

 ET)

Geraoho

Disseminacäo

Aquisicäo

Processamento

Teorias dos Sistemas Gerais e Cibernôtica 63

A Ultima das anAlises de Thayer que relataremos aqui refere-se aos metodose tecnicas de comunicacao. 0 desempenho da comunicacao nunca e umasi mples questa() de receita, segundo Thayer, porquanto envolve tres amplas ecomplexas dimensoes. Essas dimensoes estao ilustradas na Figura 15.60

Esse modelo tridimensional descreve processos (geracao, disseminagao,aquisicao e processamento), niveis e competencias. As competencias de

comunicacao este. ° estratificadas em dois niveis: tdticoeestratègico. Ascompetencias taticas envolvem habilidades especificas, como falar e escrever;as competencias estrategicas sdo aptidOes conceptuais —aquelas que habili-tam a compreender o estado de relagOes no sistema. Em conjunto, essas tresdimensoes em contingencia ilustram as muitas relacees complexas possiveisem comunicagao.

Ateoria da comunicagdo de Lee Thayer fornece uma excelente macro-abordagem para qualquer investigac5o. Como parte das porcees iniciais desteli vro, propicia nao so um reflexo dos conceitos sistemicos mas, alem disso,uma orientacao conceptual para a teoria da comunicacao como um todo.

Figura 15. Bloco de co-municac5o. (Reproduzi-

docom permissão de

Thayer —Communic-ation and communic-

ation systems. Home-

wood, Illinois, Richard 

 D. Irwin, Inc., 1968©, p.272.)

Generalizacoes

Com a nossa discussao da TSG e cibernetica servindo de pano de fundo,estamos aptos a resumir agora as qualidades do processo, tal como sac)fornecidas pelas teorias neste capitulo. As teorias aqui apresentadas rela-cionam-se corn a primeira generalizacao orientadora formulada neste livro —a de que a comunicacao e um processo complexo.

1°) Acomunicacao inclui urn con junto organizado de variaveis que devemser vistas holisticamente. Isso e verdadeiro por causa da natureza interdepen-dente das varieveis no processo de comunicacao. Hawes deu a essa proprie-dade a denominacao deconcateneidade. A interdependencia entre comuni-cadores subentende ainda que existe interacdoe relacionamento. Como frisa-ram Ruesch e Bateson, os comunicadores trabalham para sustentar suas rela-cOes enviando e recebendo mensagens. Thayer enfatizou que a recepcao damensagem e um processo de levar-em-conta. Varios subsistemas, descritos nes-te capitulo, facilitam essa funcao receptiva.

60 Ibid.,p. 272

0co

a )▪ 

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64 Orientacties Gerais

29) A comunicagáo envolve feedback. Individuos e grupos em comuni-

cacao recebem feedback de outros a fim de se adaptarem ao meio ambiente e

manterem a ordem como urn sistema aberto. 0 modelo de Clevenger eMatthews ilustra a importáncia dos laws de feedback dentro e entre orga-

nismos, e o modelo de Thayer de tomada de decisao mostra como o feedback 

e usado na resolucan de problemas. Quando muitas pessoas se juntam numsistema, podem-se desenvolver cadeias de feedback.

39) A comunicacão pode ser analisada hierarquicamente. 0 modelo de

Clevenger e Matthews mostra os subsistemas dentro do organismo, o pr6prioorganismo como sistema, assim como o supra-sistema de interacdo entreorganismos. Tanto as teorias de Ruesch e Bateson como as de Thayer usam

uma perspectiva de niveis, enfatizando a hierarquia.

Em suma, aafirmaceo de que a comunicano e urn processo complexorefere-se primordialmente aos aspectos de interdepend6ncia, feedback e hie-

rarquia.

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InteracionismoSimbolico

No capitulo anterior, procedemos a uma recapitulacao da ampla abordagemteOrica da teoria dos sistemas. Vimos que a nokao de sistema constitui uma

excelente orientacdo geral para a natureza do processo de comunicacao. Asegunda generalizacao que fornece uma introducao a teoria da comunicacao

diz-nos que a comunicacao a primordialmente urn processo de interacaosimbolica. Neste capitulo, examinaremos urn corpo de teoria que explica mais

detalhadamente essa generalizacdo. Quase todas as teorias da comunicacao serelacionam corn algum aspecto da natureza simbolica da comunicacao; mas,porque o Interacionismo Simbolico fornece o melhor quadro unificado geral

dessa essencia simbolica, ele a incluido nesta secào sobre orientacdes gerais.0 Interacionismo Simbolico, formulacao oriunda principalmente do campo

da sociologia, e a mais ampla perspectiva sobre o papel da comunicacao em

sociedade. Fornece urn excelente ponto de partida para deienas de outrasteorias de interacao. De fato, os proponentes do Interacionismo Simbolico

sustentam que muitas das mais especificas teorias de comunicacao, linguageme socializacao estdo realmente incluidas nesse quadro de referencia maisamplo. Ficarà evidenciado neste capitulo que o Interacionismo Simbolico naoé, em realidade, uma teoria. Trata-se, antes, de uma perspectiva ou orien-

tacão teOrica que pode englobar numerosas teorias especificas. Issoconstituiurn importante ponto de transicäo dos capitulos anteriores, porquanto ilustra

o fato de as teorias nao poderem ser vistas como uma serie de explicacäesindependentes de algum fendmeno . As teorias inter-relacionam-se, sabre-poem-se e inserem-se em padroes. E frecifientemente dificil saber onde ter-mina uma teoria e comeca outra.

0 Interacionismo Simbolico contem um rnicleo de premissas comuns sobrecomunicacao e sociedade. Manis e Meltzer publicaram uma excelente compi-lacão de artigos nessa area. Na conclusao de seu trabalho, os autores isolaramseis proposicdes teOricas basicas do Interacionismo Simbolico.   1 A primeira dizque a mente, o eu e a sociedade nao salo estruturas distintas mas processos deinteracdo pessoal e interpessoal. Em segundo lugar, a interacao simbolica é umponto de vista que enfatiza a linguagem como o mecanismo primario queculmina na mente e no eu do individuo. Na terceira proposicaio, a mente éconcebida como a internalizacão de processos sociais no individuo. Em quartolugar, os interacionistas simbOlicos concordam em que os comportamentossao construidos pela pessoa no decurso de sua acdo.0 comportamento nao

1Jerome C. Manis e Bernard N. Meltzer (orgs.) —"Conclusion", in Symbolic interaction.

Boston, Allyn & Bacon, 1972, pp. 575-77.

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66 Orientacdes Gerais

puramente reativo, de urn modo mecanicista. Em quinto lugar, o veiculo pri-mario para a conduta humana e a definicao da situacdo pelo ator. Finalmente,o eu a constituido, na opinião da maioria dos interacionistas, por definicaes

tanto sociais como pessoais (de natureza Unica). Nesse sentido, a pessoa con-

tern a sociedade em si mesma, mas nao é apenas urn espelho dos outros signi-ficativos. Essas seis proposicties deverao tornar-se mais claras depois de exami-

narmos as ideias mais especificas dos principais interacionistas simbolicos.Para fins de exame, o movimento da interacao simbolica pode ser dividido

em algumas tendencias. Primeiro, observaremos os fundamentos da interacao

s i mbolica na tradicao oral. Depois, examinaremos as duas escolas concor-

rentes que resultaram desses fundamentos primordiais. Finalmente, enumera-

remos algumas das subareas especificas do interacionismo simbdico e, na

parte final do capitulo, entraremos em detalhes acerca de uma delas: omovimento dramatUrgico.

Manford Kuhn dividiu cronologicamente o Interacionismo Simbolico emduas porcties principais. A primeira, a que deu o nome de a tradicao oral, foio periodo inicial ern que se desenvolveram as fundagees primarias da inte-rano simbolica. Depois da publicacao pOstuma de Mind, self and society, deMead, floresceu o segundo periodo, que pode ser designado como a idade daindagagdo.2 

 Evidentemente, as ideias de interacao simbolica nao brotaram da

noite para o dia na mente de algum pensador solitario. Elas podem ter suaorigem remota na psicologia de William James. Os principais interacionistasna tradicao primitiva foram Charles Cooley, John Dewey, I.A. Thomas eGeorge Herbert Mead. Antes da publicacao final das ideias de Mead sobrecomunicacao, a perspectiva interacionista foi principalmente animada e sus-tentada atrava's da transmissao oral, especialmente nas aulas de Mead. EmboraMead nao publicasse suas ideias em vida, ele a considerado o grande

instigador do Interacionismo Simbolico.Foi durante esse primeiro periodo meadino que se desenvolveram as mais

i mportantes ideias da teoria. Mead e outros interacionistas separaram-se das

perspectivas sociologicas primitivas que distinguiam conceptualmente entre a

pessoa e a sociedade. Mead via os seres humanos e a sociedade comoinseparaveis e interdependentes. 0 interacionismo desse primeiro periodoenfatizava a importancia do desenvolvimento social, assim como os fatoresbiologicos inatos. Alem disso, os primeiros interacionistas simbolicos estavam -

menos interessados ern como as pessoas se comunicavam do que no impacto

dessa comunicagao sobre a sociedade e os individuos. Sobretudo, os primeirosinteracionistas enfatizaram o papel do simholo e do significado compartilhadocomo fator aglutinante na sociedade. Finalmente, des preocupavam-se sobre-

modo corn a necessidade de estudar a relacao dos seres humanos com asituacao social. Sustentavam que o comportamento da pessoa nao podia ser estudado independentemente do contexto em que o comportamento ocorria eda percepcao que ela tinha do seu mein ambiente. Um resultado dessapreocupacao foi esses primeiros interacionistas favorecerem vigorosamente as

historias de casos como rnêtodo de pesquisa.3Nos anos que se seguiram a publicacao de Mind, self and society,durante a

idade da indagagdo, duas escolas divergentes comecaram a desenvolver-se noambito do Interacionismo Simbolico. As formulacaes originals de Mead naoeram inteiramente coerentes e deram margem, definitivamente, a interpre-tack, e extensao divergentes. Assim foi que surgiram as escolas de Chicago e

2Manford H. Kuhn —"Major trends in symbolic interaction theory in the past twenty-five

years", in The Sociological Quarterly, 5, 1964, pp. 61-84.3Bernard N. Meltzer e John W. Petras —"The Chicago and Iowa Schools of SymbolicInteractionism", in Human nature and collectivebehavior. organizado por Tamotsu Shibutani.Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1970.

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 Interacionismo Simbolico 67

de Iowa. A Escola de Chicago, liderada por Herbert Blumer, deu continuida-de a tradigao humanista iniciada por Mead. Blumer acredita, sobretudo, queo estudo dos seres humanos nao pode ser conduzido da mesma forma que oestudo das coisas. As metal do pesquisador devem ser estas: empatizar corno sujeito, penetrar ern seu dominio de experiencia e tentar entender o valor impar da pessoa. Blumer e seus seguidores abominam as abordagens quantita-

tiva e cientifica no estudo do comportamento humano. Enfatizam as biogra-fias, autobiografias, estudos de casos individuals, diarios, cartas e entrevistas

nao-dirigidas. Blumer realgou particularmente a importancia da observagao

participante no estudo da comunicagao. Alem disso, na tradigao de Chicago,o homem e visto como urn ser criativo, inovador e livre para definir cadasituagao de urn modo Calico e imprevisivel. 0 eu e a sociedade sac) consi-derados urn processo, nao uma estrutura; imobilizar o processo seria perder aessencia das relagOes homem-sociedade.

 A Escola de Iowa adotou uma abordagem mais cientifica do estudo dainteracao. Manford Kuhn, o principal progenitor da tradigao de Iowa, acredi-tava que os conceitos interacionistas podem ser operacionalizados. Emboraadmitisse a natureza de processo do comportamento, Kuhn defendeu que a

abordagem estrutural objetiva e mais fecunda para a investigacao do que osmetodos "soft"empregados por Blumer. Como veremos mais adiante, nestecapitulo, Kuhn foi responsavel por uma das principals tecnicas de mensuragdo

usadas na pesquisa da interacao simbOlica.4Largamente ern resultado dessa divisao basica na tentativa de resolver 

algumas das ambigthdades deixadas por Mead, numerosos tributarios sedesenvolveram nos 0Itimos 30 anos. Kuhn enumerou seis subareas principais:

teoria do papel, teoria do grupo de referencia, percepcao social e percepgaopessoal, teoria do eu, teoria interpessoal, e linguagem e cultura. 5 Resta ver setodos esses te6ricos prestam obediencia ao Interacionismo Simbolico, masprovavel que todas essas areas tenham sido imensamente influenciadas pelos

escritos dos principals interacionistas simbOlicos. Neste capitulo discutiremosespecificamente Mead, Blumer, Kuhn, Burke e Duncan.

Os Fundamentos: George Herbert Mead

Embora seja urn equivoco atribuir todas as ideias basicas subentendidas no

Interacionismo Simbolico a uma Unica pessoa, George Herbert Mead foi,indubitavelmente, o gerador primordial do movimento. Nesse sentido, Mead

pode ser muito bem chamado o "pal" do Interacionismo SimbOlico. 6 Comoquase todos os teOricos, Mead foi urn produto do seu tempo. No periodopas-darwiniano, nos comegos deste seculo, Mead acompanhou outros no tipo

de pensamento necessario nesse ponto da historia das ideias. Mead erasimultaneamente pragmatic°, psicologo social e behaviorista. Entretanto, ern

aspectos fundamentais, afastou-se de seus predecessores e contribuiu paramuitas ideias deles.

Depois da teoria da evolugao biologica, de Darwin, filOsofos em diversasdisciplinas afins voltaram seu pensamento para a perspectiva evolucionista.Passau a ser tarefa do pragmatic° conjugar ideias da biologia, psicologia esociologia, a fim de estudar a pessoa como um ser evolucionario. Mead eradesde longa data urn colaborador de John Dewey, urn dos principals pragma-

4 Ibid.

5Kuhn — "Major trends in symbolic interaction".6A obra principal de Mead sobre Interacionismo Simbolico é Mind, self and society. Chicago,University of Chicago Press, 1934. Para excelentes fontes secundarias sobre Mead, ver Bernard N.Meltzer — "Mead's social psychology", in Symbolic Interaction, organizado por Jerome Manis eBernard Meltzer. Boston, Allyn & Bacon, 1972, pp. 4-22, e Charles Morris — "George H. Mead associal psychologist and social philosopher", in Mind, self and society, "Introduction".

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68 Orientacdes Gerais

ticos norte-americanos. Depois de se conhecerem na Universidade de Mi-chigan, Dewey e Mead tornaram-se, social e profissionalmente, grandes

amigos. Lecionaram juntos na Universidade de Michigan e depois na deChicago. Como todos os pragmaticos, Mead nao se deixava iludir pelaconduta humana. Tentou explicar o individuo e a sociedade em termossignificativos e, em Ultima instancia, observaveis.

Profissionalmente, Mead considerava-se urn psicOlogo social. Nao era pri-mordialmente um pesquisador, pois nao considerava tarefa sua coletar novas

dados. Preferiu trabalhar corn as provas facilmente acessiveis a sua volta para

formular explicacOes da conduta em questOes humanas. As suas obras estao

repletas de ilustracOes comuns, nao para provar mas para demonstrar. As

concepcOes de Mead eram compativeis corn as de outros interacionistas do

seu tempo, mas criticou-os por nao desenvolverem os conceitos de mente e eu

como produto da interacao social. Como psicologo social, Mead nao evitou os

fatores biologicos em sua teoria; de fato, ele considerou o potencial biologico

herdado de uma pessoa urn antecedente para o processo inteiro de sociali-zacao que culmina no eu e na mente.

Mead tambem era urn behaviorista. Mas, ao usarmos este termo, devemos

ser cuidadosos na especificacao do sentido em que Mead aceitava o behavio-rismo social. Tal como os behavioristas psicologicos de seu tempo, notada-mente Watson, Mead respeitava a importancia de se investigar a real conduta

humana. Entretanto, Mead estava disposto a ultrapassar os niveis infra-humanos que preocupavam os behavioristas watsonianos. Para Mead, oorganismo entre estimulo e resposta, a pequena caixa preta, nao era inatin-givel. Por conseguinte, a psicologia de Mead era distintamente humana, e ele

usou o ato social como unidade basica de analise. Esse ato social, comoveremos, inclui uma area manifesta ou pOblica, e urn dominio encoberto ouprivado. Mead rompeu corn o behaviorismo mais rigido e limitado ao pro-clamar que o comportamento humano e qualitativamente diferente do corn-portamento subumano. Ao contrail° do que acontece corn o rato num

labirinto, a conduta humana deve ser basicamente explicada em termos

sociais. Outra manifestacao do behaviorismo de 'Mead foi a sua conviccao deque o mundo fisico estudado pela ciencia a sempre mediado pela experiericiahumana. Os objetos so se tornam objetos por causa da percepcao e experian-

cia deles por uma pessoa. As obras de Mead foram compiladas e editadas ap6s a sua morte em 1931.

Em conseqUencia, os livros de Mead parecem episodicos, em certos trechos, e

nem sempre bem organizados. De fato, o seu mais conhecido livro, Mind, self 

and society, foi compilado a partir de apontamentos feitos por seas alunos.The philosophy of the present, publicado em 1932, é um conjunto de licOes

sobre filosofia da historia. Mind, self and society, a "biblia" do Interacionismo

Simbolico, foi editado em 1934. Movements of thought in the 19th century,

conferencias sobre a histOria das ideias, veio a lume em 1936. E em 1938publicou-se Philosophy of the act.

Os tres conceitos cardeais na teoria de Mead, expressos no titulo de suaobra mais celebre, sao sociedade, eu e mente. Entretanto, evidenciar-se-a que

essas categorias nao sao distintas. Pelo contrario, sao enfases diferentes sobreo mesmo processo geral: o ato social. Basica no pensamento de Mead é a

nocao de que o homem é um ator, nao um reator. 0 ato social é um conceito

abrangente sob o qual podem abrigar-se quase todos os outros processos

psicolOgicos e sociais. 0 ato é uma unidade completa de conduta, umaGestalt, a qual nao pode ser analisada em subpartes especificas. Urn atohumano pode ser breve, como amarrar urn sapato, ou pode ser a realizacao deum piano de vida. Os atos inter-relacionam-se e estruturam-se uns sobreoutros, em forma hierarquica, ao longo da vida da pessoa. Os atos comecamcorn urn impulso; envolvem percepcao a atribuicao de significado, repeticao

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 Interacionismo SimbOlico 69

mental e ponderacao de alternativas na cabeca da pessoa, e consumacao

final. Em sua mais basica forma, um ato social é uma relacao triadica queconsiste num gesto inicial de um individuo, uma resposta a esse gesto por outro individuo (encoberta ou abertamente), e uma resultante do ato, a qual

percebida ou imaginada por ambas as partes na interacao. Num assalto a mao

armada, por exemplo, o assaltante indica a vitima o que pretende fazer. A

vitima responde entregando dinheiro e, no gesto inicial e na resposta, ocorreua resultante definida (um assalto).

Com essa nocao basica em mente, examinemos mais de perto a primeirafaceta da analise meadiana: a sociedade. Basicamente, a sociedade ou vida emgrupo a urn aglomerado de comportamentos cooperativos por parte dosmembros da sociedade. Os animals inferiores tambern tem sociedades, masestas diferem da sociedade humana em certos aspectos fundamentals. Socie-

dades animais como as da abelha baseiam-se na necessidade biologica. Elassao fisiologicamente determinadas. Logo, uma sociedade animal comporta-se

o tempo todo de maneira previsivel, estavel e inalterada. 0 que e quedistingue, pois, o comportamento cooperativo humano?

Existem duas importantes funcoes na cooperacao humana. Em primeiro

lugar, uma pessoa deve chegar a entender as intencties do outro comunicador.Ela deve perceber as awes do outro, mas, num sentido mais importante, devei maginar o que o outro pretende fazer no futuro. Uma vez que "refletir mentalmente" ou pensar é um processo de imaginar que acOes serao empre-

endidas pela pessoa no futuro proximo ou distante, parte do processo de"sondar" o outro consiste em tentar avaliar como o outro planeja responder a seguir. Assim, a cooperacao consiste em "ler" as awes e intencOes da outrapessoa, e ern responder de um modo apropriado. Isso é a essencia dacomunicacao interpessoal, e essa nocao de resposta mUtua com o uso dalinguagem faz do Interacionismo SimbOlico uma teoria vital da comunicacao.

Ora, os animais podem comunicar-se mediante processor elementares; mase esse comportamento (ink° de uso de simbolos que distingue a comunicacdo

do homem em sociedade. Diz-se que as especies subumanas realizam umaconversacão de gestos. Mas esses gestos sdo apenas sinais, pois evocamrespostas instintivas programadas e previsiveis. Por exemplo, uma galinha podecacarejar e sews pintos correrao para ela. Ou urn cdo rosnara e arreganhara o

focinho quando deparar com outro cao hostil. Mas nä.° existe um significado

interno nesses atos para os animais em questa°. Os animais nao atribuem urn

significado consciente aos gestos; eles nao "refletem" sobre suas respostas.Esse tipo de comunicacdo de sinais nas especies infra-humanas realiza-se

rapidamente, sem interrupcao. Por outro lado, os seres humanos fazem uso de

simbolos em sua comunicacao. As pessoas levam a efeito conscientemente umprocesso de manipulacão mental, demorando a resposta e atribuindo signifi-

cado aos gestos de outras. 0 simbolo é interpretado pelo receptor. Vejamos

um exemplo. Suponhamos, por um momento, que dois homens este.° sentados

lado a lado em bancos de um bar. 0 primeiro homem, acidentalmente,apanha o drinque errado. 0 outro homem enfurece-se; fecha o punho, leva obravo ligeiramente atras e diz: — Eh, voce... — 0 primeiro homem percebeo gesto. Em sua imaginacao, calcula a intencao do outro (dar-lhe um soco no

nariz). Interpreta os simbolos, atribui-lhes um significado e planeja a suaprOpria resposta. Num momento, responde: — Oh, nao me agrida. Foi um

acidente. — A sua explicacdo ao outro, nesse momento, evita uma expe-riencia sumamente embaracosa (e, acrescentaria eu, dolorosa). E claro, isso

urn exemplo muito simples de um ato social, mas ilustra a natureza coopera-tiva, adaptativa e receptiva do comportamento consciente que recorre ao usode simbolos. Se os nossos dois personagens fossem cdes e urn tivesse violado oterritOrio do outro, o desfecho teria sido muito mais previsivel.

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70 OrientageSes Gerais

Ha outro aspecto importante nessa ideia da sociedade como uma serie deinteracties cooperativas, fundadas no use de simbolos. Os simbolos usados

devem possuir urn significado compartilhado pelos individuos na sociedade.

Na terminologia meadiana, urn gesto corn significado compartilhado é urn

simbolo signiticante. Ern suma, a sociedade nasce nos simbolos significantes

do grupo. Ern virtude de nossa capacidade para vocalizar simbolos signifi-cantes, podemos literalmente ouvir-nos e, assim, responder a nos pr6prioscomo os outros nos respondem. Podemos imaginar o que é ser o receptor de

nossas prOprias mensagens, empatizando assim corn o ouvinte e assumindo opapel de ouvinte, completand6 a resposta do outro em nossas prOpriascabecas. Essa interacao entre responder a outros e responder ao eu a umaconcepcdo extremamente importante na teoria de Mead, e fornece uma exce-

lente transicao para o segundo membro da triade: o eu.

 Afirmar que uma pessoa tern urn eu sugere que o individuo pode atuar em

relacao a si mesmo, tal como pode atuar ern relacao a outros. Uma pessoapode reagir favoravelmente a si mesma, pode sentir-se orgulhosa, feliz,encorajada; ou ficar furiosa consigo mesma, punitiva ou revoltada. 0 modo

Primario como urn homem passa a ver-se tal como os outros o véem (isto e,

possui urn conceito de eu) é a adocao de urn papel. Evidentemente, isso seriaimpossivel sem linguagem (simbolos significantes), visto que, atraves dalinguagem, a crianca aprende as respostas, intencties e definicães de outros,

incluindo as definicees que eles Ihe atribuem.Mead descreveu duas fases explicitas de desenvolvimento do eu e uma fase

inicial implicita. 0 primeiro estagio e o  preparatOrio. 7  Nele, a crianca pequena

i mita as pessoas a sua volts, reproduzindo os gestos delas de urn mododesprovido de significado. 0 bebe pode apanhar urn jornal, ou calcar ossapatos do papal, ou espetar urn pedaco de came corn urn pequeno garfo. Issoé uma fase puramente preliminar, ern que a crianca nao possui significados

para os atos que imita. Mais tarde, porém, no estagio teatral, a crianca

representa literalmente o papel de outros significativos em seu meio ambiente.

 Ao representar marnae e papal, ou o doutor, ou o bombeiro, uma crlanca no

estagio teatral fingira ser outra pessoa e atuare ern relacao a urn receptor que,na realidade, é ela prOpria. 0 estagio teatral desenrola-se ern secitiencia, namedida em que cada papel a adotado separadamente, a semelhanca de urn

ator representando papeis prescritos. E marcado pela desorganizacao e pelo

movimento esporadico de urn papel para outro. Nao se mantem urn ponto de

vista unitario e, assim, a crianca nao desenvolve uma concepcdo singular de si

mesma. No estagio de jogo, o individuo passa a responder simultaneamente,

de urn modo generalizado, a muitos outros. Mead forneceu a analogia do jogo

de beisebol, em que cada jogador deve possuir uma visto simultanea de todos

os nove papeis e adaptar-se (responder) ern conformidade corn eles. 0 que

ocorre nesse estagio é que a pessoa deve generalizar urn papel compOsito das

definicees dela por todos os outros.Uma das principals contribuicaes de Mead e o conceito do outro genera-

lizado. 0 outro generalizado e o papel unificado em decorrencia do qual oindividuo passa a ver-se a si mesmo. E a percepcao do individuo do modoglobal como outros o veem. 0 conceito de eu sera finalmente organizado eunificado atraves da internalizacao desse outro generalizado. Vejamos urn

exemplo simples. Suponha o leitor que seye a si mesmo como uma pessoa

industriosa e criativa. Esse outro generalizado é o seu conceito unificado decomo os outros, em geral, percebem o leitor. Tal conceito foi aprendido ao

longo dos anos de interacao simbOlica corn outras pessoas ern sua vida.0 eu possui duas facetas, cada uma delas servindo uma funcao vital na vida

do ser humano. Mead designou-as por eu-mesmo e mim.0eu-mesmo é a

7Esse rOtulo nä° a de Mead. Foi fornecido por Meltzer em "The Chicago and Iowa Schools".

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 Interacionismo Simbolico 71

parte (mica, impulsiva, espontanea, desorganizada, nao-dirigida e imprevisivelda pessoa. 0 mime o outro generalizado, composto de padroes organizados econsistentes compartilhados corn outros. Todo ato principia corn urn impulso

proveniente do eu-mesmo e que passa rapidamente a ser controlado pelomim.0eu-mesmo é a forca impulsora em acao, enquanto o mim fornecedirecao e orientacao. Mead usou o conceito de mim para explicar o compor-

tamento socialmente aceitavel e adaptativo, e o eu-mesmo para explicar osimpulsos criativos e imprevisfveis dentro da pessoa.

O eu, ou a capacidade de atuar em relacao ao eu, cria uma situacao quenao a encontrada pelos animais inferiores. A capacidade de usar simbolossignificativos para respondermos a nos mesmos leva a possibilidade de expe-

riencias interiores e_cle pensamentos que podem ou nao ser consumados na

conduta manifesta. E esta Ultima enfase que constitui a terceira parte da teoriade Mead: a mente. A mente pode ser definida como o processo de interacao

da pessoa com o seu prOprio eu. Essa capacidade, que se desenvolve simul-taneamente corn o eu, é crucial para a vida humana, poise parte importante

de todo e qualquer ato. Refletir envolve hesitacao (protelar a acao aberta)enquanto a pessoa interpreta conscientemente, atribui significado aos es-timulos. A reflexao ocorre em torno de situacaes problematicas em que oindividuo deve ponderar o futuro. A pessoa imagina varios resultados em sua

cabeca, seleciona e examina possiveis aceies alternativas.0 motivo pelo qual a reflexao mental a tao importante para Mead é que ela

fornece o fundamento logico para ver a pessoa como urn ator e nao como urn

reator passivo. Os seres humanos constroem literalmente o ato antes de oconsumarem. 0 rato num labirinto passa por um longo e demorado processode ensaio-e-erro, mas, nos seres humanos, esse ensaio-e-erro pode ocorrer deforma encoberta, na mente da pessoa, antes de ela comecar sequer a movimen-tar-se. Isso constitui, necessariamente, urn processo de imaginacao, reflexao

e pensamento.Normalmente, no mundo animal, o organismo a bombardeado por es-

timulos provenientes do meio ambiente, mas, na vida humana, o organismo

faz objetos a partir dos estimulos. Como as pessoas possuem simbolossignificantes que Ihes permitem dar nomes aos seus conceitos, elas podem

transformar meros estimulos em objetos reais. Os objetos nao existem inde-pendentemente das pessoas. 0 objeto é sempre definido  pelo individuo em

termos das especies de atos que uma pessoa pode executar em relacao aoobjeto. Um lapis e urn lapis se posso escrever corn ele. Uma paisagem marinha

é uma paisagem marinha quando dou valor ao ato de contemplada. Umagarrafa de uisque e uma bebida quando formulo a ideia de a beber (ou nä°beber, conforme o caso). Os objetos tornam-se os objetos que sao'atraves do

processo de reflexao simbOlica do individuo e, quando o individuo imaginaaceies novas ou diferentes ern relacao a urn objeto, este a transformado para

ele.Em suma, Mead viu a pessoa como um organismo biologicamente avan-

cado, corn urn cerebro capaz de pensamento racional. Atraves do use degestos significativos e da adocao de papeis, a pessoa torna-se urn objeto para

si mesma, isto é, ela ve-se como os outros a veem. A pessoa internaliza essa

visa° geral do eu e comporta-se coerentemente corn tal visao. Atravês doprocesso de reflexao mental, a pessoa planeja e repete mentalmente o corn-portamento simbOlico, preparando-se para a subseqUente interacdo corn

outros.

Herbert Blumer e a Escola de Chicago

Herbert Blumer foi, sem dUvida, o mais destacado apOstolo de Mead. De fato,o prOprio Mead nunca usou a expressao Interacionismo SimbOlico. Foi Blumer

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72 Orientagdes Gerais

quern criou o termo em 1937. Blumer referiu-se a esse rOtulo "coma umneologismo algo barbaro que cunhei de urn moc? improvisado. (...) Sejacoma for, o termo agradou e tornou-se popular". 8 Embora Blumer tivessepublicado artigos dispersos ao long° de sua carreira, somente apes a suapublicacão em 1969 de Symbolic Interactionism: perspective and method que se tornou acessivel uma vise° unificada de seu pensamento. 9 No primeiro

capitulo desse livro, Blumer afirmou claramente sua divida para corn Mead esua dedicacao a ampliacao e aperfeicoamento da perspectiva interacionista. As

formulacees de Blumer foram inteiramente coerentes corn as de seu mentor,mas ele nao se limitou a repetir meramente Mead: "Fui compelido a devolver a

minha pr6pria verse°, tratando explicitamente de muitas questOes cruciais que

estavam somente implicitas no pensamento de Mead e outros, e cobrindotOpicos criticos par que eles não estavam interessados."10

Blumer iniciou seu pensamento sabre interano simbolica cam tres impor-tantes premissas: (1) "Os seres humanos agem em relacão as coisas na base

dos significados que as coisas tem para eles"; (2) "C..) o significado de taiscoisas deriva, ou decorre, da interacão social que urn individuo tem cam osseus semelhantes"; (3) "C..) esses significados selo manipulados e modificadosatraves de um processo interpretative usado pela pessoa no trato cam as

coisas cam que se defronta"illComo veremos, Blumer criticava em numerosos aspectos a principal corren-

te da ciencia social; um desses aspectos era o tratamento do significado.Blumer mostrou comp a maioria das teorias da ciencia do comportamentodepreciava a imporfancia do conceito de significado. Muitas teorias ignoramcompletamente o significado e outras colocam-no na categoria subordinadageral de fatores antecedentes. Mas, no lnteracionismo Simbolico, o signifi-cado assume um papel central no prOprio processo social. Segundo Blumer, osignificado pode ser encarado de tres pontos de vista. 0 primeiro e ver o sig-nificado coma inerente ao objeto. Esta perspectiva provêm do realismo, urnenfoque mais sabre a natureza do que sabre a sociedade. Asegunda teoria designificado o atribui ao "acrescentamento psiquico". Sob este paradigma, o sig-

nificado surge coma resultado de certas orientacties psicolOgicas internas dapessoa. Mas a terceira perspectiva, nitidamente interacionista, identifica osignificado coma produto da vida social. Seja qual for o significado que uma

pessoa tem para uma coisa a sempre o resultado dos modos coma outras pes-soas agiram em relacao a e la, a respeito da coisa que esta sendo definida. Umapessoa rfeo pode ter significado para alguma coisa independentemente da in-

teracao cam outros seres humanos. Examinaremos mais detalhadamente as va-rias abordagens do significado no capitulo 5.

0 que di'stingue a concepcão interacionista de significado é a sua enfasesabre a interpretacdo consciente. Urn objeto passa a ter significado para apessoa no memento em que o individuo considera conscientemente, reflete epensa sobre o objeto, ou o interpreta. Esse process° de tratamento de signi-ficados converte-se numa conversacão interna, dentro da pessoa: "0 ator

seleciona, contere, suspende, reagrupa e transforma os significados a luz dasituaceo em que este colocado e da direcdo que imprimiu a sua agar:J." 12 Esseprocesso interno, recorde-se, é id-610c° ao conceito de Mead de reflexaomental (mind).

8 Herbert Blumer —Symbolic Interactionism: perspective and method. Englewood Cliffs,Prentice-Hall, 1969, p. 1.9Ibid.10Ibid.11Ibid., p. 2.12

 Ibid.,p. 5.

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Interacionismo SimbOlico 73

Blumer sublinhou a importancia dessa nocao de significado para toda aperspectiva de interacdo simbOlica. Essas tres premissas sobre significado sac)o esqueleto para o pensamento de Blumer, e a came e fornecida pelo que elechamou as suas "imagens radicals" (root images). Essas imagens cobrem ostOpicos de vida em grupo, interacdo social, natureza dos objetos, pessoascomo atores, natureza da acäo humana e interligacOes das agOes individuals

na sociedade. Examinemos, urn por urn, cada um desses t6picos.Blumer reiterou o ponto de vista de Mead de que a sociedade nasce das

interagOes individuais. Nenhuma agdo humana existe separada da interacdo.Quase tudo o que uma pessoa é e faz e formado no processo de interatuar si mbolicamente corn outras pessoas. A interano consiste num matuo levar-ern-conta e responder, e a sociedade resulta de cada pessoa coordenar a suaprOpria conduta como a dos outros. Mas a vida ern grupo e a conduta indi-

vidual modelam-se atraves do processo ern curso de interacão simbOlica.

0 mundo da pessoa consiste em objetos. Blumer tratou os objetos de urnmodo essencialmente identico ao de Mead. Para Blumer, os objetos eram de

tres tipos: fisicos (coisas), sociais (pessoas) e abstratos (ideias). Os objetosadquirem significado atraves da interacäo simbOlica. Os objetos podem ter 

significados diferentes para pessoas diferentes, dependendo da natureza das

acties dos outros ern relacão a pessoa, no que tange ao objeto definido. Umagente policial em Watts *

 pode significar algo muito diferente para oscidadaos dessa area do que urn agente policial significa para os cidadaos deBeverly Hills, por causa das diferentes espécies de interacCies entre os resi-

dentes dessas duas areas geograficas imensamente diferentes.

O tratamento da agao por Blumer foi essencialmente o mesmo de Mead.Blumer viu o homem como ator, nao rector. 0 homem e capaz de atuar,porque possui urn eu, e, reiterando a concepgao meadiana, o homem terncapacidade para atuar ern relagdo a si mesmo como um objeto. Ao assumir i maginativamente os papeis de outros a sua volta, uma pessoa ve-se como os

outros a veem. Essa capacidade para atuar implica que o individuo pode lidar corn situacOes problematicas: "Em vez de ser meramente urn organismo que

responde ao jogo de fatores sobre ou através dele, o ser humano é visto comourn organismo que tern de lidar corn aquilo que observa." 1 3

Ora, essa relacdo entre agdo e eu é a caracteristica distintiva da vidahumana. A pessoa defronta-se corn uma situacäo apes outra, fornecendo de

cada vez indicagOes a si mesma acerca das contingencias ern sua percepc8o

consciente. Ela deve avaliar e interpretar a situagao, e planejar uma respostaapropriada. Como disse Blumer: "A pessoa podera realizar urn trabalhodeploravel na construgäo de sua acao, mas tern de construida." 14

 0 quevisto como acão social ou de grupo a meramente o processo ampliado demuitos individuos de ajustamento de suas agOes mtituas.

Uma das areas primarias em que Blumer ampliou o pensamento de Mead foi

a acao de grupo ou social. Blumer reconheceu a import8ncia da "acao grupal"

e adotou medidas concretas para defini-la. Uma acdo conjunta de urn grupo

pessoas consiste na interligagdo de suas respectivas acties separadas. Masa aga-

o grupal e distinta. Não é a mera somacao das aceies individuals que a

constitui. Instituicaes tais como o casamento, o comercio, a guerra e o cul-to religioso Sao acties conjuntas. Entretanto, Blumer deu importante des-taque ao perigo potential no estudo da atividade grupal. Embora a ac8o degrupo seja uma Gestalt em si mesma, ela baseia-se, entretanto, ern atosindividuals, e e erraneo considerar a conduta grupal independentemente das

0 bairro negro de Los Angeles. (N. do T.)13 Ibid., p. 14.14 Ibid., p . 15.

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74 Orientacdes Gerais

awes individuais dos participantes: "Os participantes ainda tern de guiar seusrespectivos atos, mediante a formacao e use de significados." 15

Blumer formulou 'fres observacOes basicas acerca das interligace-es. Em

primeiro lugar, assinalou que a major porno da acâo de grupo numa so-ciedade avancada consiste em padroes altamente estaveis e recorrentes. EssasinstituicOes numa sociedade possuem significados comuns e preestabelecidos.

Em virtude da alta frecjilencia de tais padroes, a tendencia dos estudiosospara trata-los como estruturas ou entidades. Contudo, Blumer advertiu-nosque nao esquecessemos que as novas situace-es decorrem sempre de pro-blemas presentes que requerem ajustamento e redefinicao. Mesmo no caso depadroes grupais altamente repetitivos, nada é permanente. Cada caso deve

comecar de novo com a acao individual. Por mais solida que uma agar) grupalpareca ser, ela permanece ainda enraizada no eu de cada ser humano: "E oprocesso social na vida grupal que cria e sustenta as regras; Mao AID as regras

que criam e sustentam a vida grupal." 16

 A segunda observacao feita por Blumer acerca de grupos é a naturezaprofunda e ampla de algumas das interligacOes. As acties individuals podemser ligadas atraves de complicadas cadeias. Atores distantes podem, em Ultima

instancia, ser interligados de diversas maneiras, mas, ao invês do pensamentosociolOgico popular, "uma cadeia ou uma instituicao nao funciona automati-camente por causa de alguma dinamica interna ou requisitos sistemicos; ela

funciona porque as pessoas, em diferentes pontos, fazem algo e o que fazemum resultado de como etas definem a situacao em que sac) chamadas aatuar."17

 A terceira observacao vincula as primeiras duas. Com a compreensäo de queos macrogrupos numa sociedade se baseiam na interacao simbolica individual,

podemos perceber agora que os antecedentes e a formacao basica dosindividuos sao de suma importancia para definir a espêcie de interacao que ira

adquirir existencia. 0 ponto principal, repetidamente descrito por Blumer, éque os grupos e instituicOes na sociedade nao sao organismos ou estruturas

per se. Em primeiro lugar e acima de tudo sao interligacOes de interact:5es

si mbolicas humanas basicas. A segunda ampla area em que Blumer foi mais alem de Mead é a metodo-logia. Como a metodologia constitui a diferenca primordial e notavel entre asescolas de Chicago e Iowa, a especialmente importante analisar as idêias de

Blumer sobre metodo. E i mpossivel ler qualquer trecho mais extenso do livro

de Blumer sem nos apercebermos de como esse t6pico era vital para ele.Embora Mead nao enfatizasse o metodo; Blumer sustentou que a prOprianatureza do Interacionismo Simbolico este. contida em seu metodo. Blumer tinha algumas opini6es vigorosas sabre esse tOpico, mas, depois de lermosalguns dos trabalhos de Kuhn, percebemos que o ponto de vista metodold,gico, no ambito do interacionismo simbolico, nao a tao singular quanto

Blumer nos induzia a crer.

0 fundamento mais basico para a ciencia do comportamento, segundo

Blumer, deve ser o mundo empirico: "Esse mundo empirico deve ser sempre oponto central de interesse. E o ponto de partida e o ponto de regresso no caso

da ciencia empirica." 18 Entretanto, nao podemos subestimar o papel doobservador na verificacao empirica. Coerente com a perspectiva interacionista

s i mbolica, realidade so existe atravês da experiencia humana. Nas palavrasde Blumer, impossivel citar um (wilco caso de caracterizacao do 'mundo darealidade' que nao seja vazado na forma de imagens mentais humanas"1.9

18 Ibid., p. 17.16 Ibid., p. 19.17 Ibid., p. 19.

18 p. 22.19 Ibid.

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 Interacionismo Simbdlico 75

Nesse contexto, existem dois perigos potenciais para a pesquisa. 0 primeiro

é a concepcdo de que a realidade no mundo empirico a imutavel e existe para

ser "descoberta" pela ciencia. Outro perigo afim é a conviccào de que arealidade a melhor consubstanciada em termos da fisica. Ambas essas con-cepcOes id espalharam a devastacao no campo da pesquisa da ciencia social:

"Forcar todo o mundo empirico a ajustar-se a um esquema que foi criado para

determinado segmento desse mundo é dogmatismo filosOfico e nao representaa abordagem da genuina ciencia empirica."2°

 A investigacäo, em sua forma ideal, deve envolver seis aspectos principais.Em primeiro lugar, o pesquisador deve possuir e fazer use de algum quadro de

referencia ou modelo do mundo empirico. A pesquisa não pode ser abordadaem niveis abstratos que näo incluem urn quadro prêvio do mundo tal comorealmente é. Em segundo lugar, o pesquisador precisa formular interrogacdes

sobre o mundo, as quais devem, em Ultima instancia, ser equacionadas como

problemas. Em terceiro lugar, deve existir uma determinacao da especie de

dados a procurar, e uma avaliacao dos metodos pelos quais os dados podem

ser obtidos. Em quarto lugar, o pesquisador precisa determinar padrdes derelacOes entre os dados coletados. Em quinto lugar, a necessAria a interpre-

tacdo dos resultados obtidos e, finalmente, o investigador deve conceituar oque foi descoberto.

Foi nesse ponto que Blumer desfechou suas criticas mordazes a correnteprincipal do metodo da ciencia social:

A esMagadora maioria do que hoje passa por ser metodologia e composta depreocupaceJes tais como as seguintes: criar e usar sofisticadas tecnicas depesquisa, usualmente de urn caster estatistico avancado; construir modeloslegicos e matematicos, guiados com excessiva frecjilencia pelo critêrio deelegancia; elaborar esquemas formais sobre como construir conceitos e teorias;aplicar corn valentia esquemas importados, como a analise de input-output, aanalise de sistemas e a analise estocestica; conformismo estudioso aos cano-nes do piano de pesquisa; e promocao de urn procedimento particular, comea pesquisa sistematica, como o metodo do estudo cientifico. Espanta-me a

suprema confianca corn que essas preocupacties sao proclamadas a substanciada metodologia. Muitas dessas preocupacdos C...) sao grosseiramente inade-quadas, na simples base de que lidam somente corn urn aspecto limitado do atopleno de investigacao cientifica, ignorando questeies tais como premissas,problemas, conceitos etc. Mais serio e o seu fracasso quase universal emenfrentar a tarefa de descrever os principios de como esquemas, problemas,dados, conexOes, conceitos e interpretacdes deverao ser construidos, a luz danatureza do mundo empirico sob estudo.21

 Atraves de todos esses metodos tradicionais, quatro procedimentos generali-zados sao seguidos, de acordo corn B lumer. Essas abordagens fracassam comometodos realistas para validacao empirica. Sao eles: "(a) a adesao a urnprotocolo cientifico, (b) a reproducao de estudos de pesquisa, (c) a confianca

na verificacao de hipoteses, e (d) o emprego dos chamados procedimentosoperacionais."22

Se os meios usuais de pesquisa sac) inadequados, o que foi que Blamer prop& como alternativa? Sustentou ele que os pesquisadores devem desen-volver o conhecimento participativo em primeira mac) dos fenomenos inves-tigados. 0 cientista poderA. chamar "soft" a observacki participativa, mas, narealidade, é urn processo rigoroso de descoberta da verdadeira natureza domundo. Esse tipo de metodo consiste em dois estdgios:

20 Ibid., p. 23.

21 Ibid., pp. 26-27.22 Ibid.

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76 Orientacães Gerais

0primeiro estagio é o que Blumer chamou exploracdo. A exploracao é umatecnica de sondagem minuciosa e altamente flexivel em que o investigadorusa qualquer metodo etico de obtencao de informacOes. No estagio deexploracao, o investigador deve avancar de tecnica para tecnica, de maneiraflexivel e confortavel, a fim de obter um quadro amplo e realista da area sobinvestigacao. As têcnicas podem it desde a observacao direta a entrevista,desde "escutar" conversacães ate a analise de biografias, desde a leitura decartas e diarios ate a consulta de registros pirblicos. Nat existem diretrizesformais a serem obedecidas, e quaisquer procedimentos usados tern de seadaptar a situacao. 0 segundo estagio e mais focalizado. Depois de sedeterminar a natureza geral do fenOmeno, o pesquisador inicia a inspecao. A

diferenca primordial entre exploracao e inspecao a profundidade e foco.Segundo Blumer, a inspecao "é urn exame concentrado e intensivo". Esse exa-me deve ser feito no contexto da area que este sendo investigada.

Manford Kuhn e a Escola de Iowa

Kuhn e seus discipulos, embora sustentando principios interacionistas basicos,

deram dois novos passos nen anteriormente vistos na teoria interacionistatradicional. 0 primeiro passo foi a concretizacdodo conceito interacionista de

eu, e o segundo, que realmente possibilitou o primeiro, foi o use da pesquisaquantitativa. Nesta Ultima area, as dual escolas divergiram. Blumer criticouveementemente a tend8ncia operacionalista das ciencias do comportamento;

por seu lado, Kuhn insistiu em fazer justamente isso! Por conseguinte, a obra

de Kuhn avancou muito mais do que a abordagem tradicional de Chicago na

direcao da artalise microscOpica.Como tantos outros interacionistas, Kuhn nunca publicou urn trabalho

realmente unificado. 0 mais proximo disso talvez seja Individuals, groups and 

economic behavior, de Hickman . e Kuhn, publicado em 1956.23 (Para uma

excelente e breve sintese, ver a critica de Charles Tucker74).

 As premissas teOricas de Kuhnsão inteiramente compativeis com o pensa-

mento meadiano. Ele concebeu a base de toda a acao como interacao simb6-

lica. A crianca e socializada atraves da interacao com outros na sociedade em

que ela nasceu. A pessoa passa a ter significados para os objetos no meio am-

biente e, por conseguinte, a lidar com eles atravês da interacao social. ParaKuhn, a denominacao de urn objeto era importante, pois atribuir urn nomeum modo de transmitir o significado do objeto em termos comunicaveis. Kuhn

concordou corn os seus colegas em   . que o individuo nä° é um reator passivo masurn planejador ativo. E reforcou a concepcão anterior de que os individuos

empreendem autoconversacties como parte do processo de atuar. Kuhn tam-bern reiterou a importancia da linguagem no pensamento e na comunicacao.

A semelhanca de Mead e Blumer, Kuhn tambêm debateu a importancia dosobjetos no mundo do ator. 0 objeto pode ser qualquer aspecto da realidade

da pessoa: uma coisa, uma qualidade, urn evento ou urn estado de coisas. 0imico requisito para que algo se converta em objeto para uma pessoa e que apessoa Ihe de um nome, que o represente simbolicamente. A realidade e, paraqualquer pessoa, a totalidade dos seus objetos sociais. Kuhn concordou cornos outros interacionistas em que o significado e socialmenth—derivado. 0 signi-ficado e atribuido a urn objeto corn base nas normas de grupo que regem omodo como as pessoas lidera° corn o objeto em questa°.

23C.A. Hickman e , Manford Kuhn — Individuals, groups and economic behavior. Nova York,Holt, Rinehart & Winston, 1956.24Charles Tucker — "Some methodological problems of Kuhn's self theory", in The SociologicalQuarterly, 7, 1966, pp. 345-58.

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 Interacionismo Simi>arca 77 

Urn segundo conceito importante para Kuhn era o piano de eg g °. Urn piano

de acao é o padrao de comportamento total de uma pessoa em relacáo a urn

dado objeto, incluindo-se o procura-lo ou evita-lo, o modo como se pensa queo objeto se comporta (porquanto isso ira determinar como a pessoa se

comportarà ern face do objeto) e os sentimentos acerca do objeto, tal comofoi definido. As atitudes constituem urn subconjunto do piano de acão. As

atitudes sac enunciados verbais que atuam como "blueprints" para o compor-tamento do individuo. As atitudes indicam a finalidade para a qual a acat seradirigida, assim como uma avaliacão do objeto. Como as atitudes sac) enun-

ciados verbais, elas podem ser observadas e medidas.

Urn terceiro conceito importante para Kuhn é o de outro orientador. Osoutros orientadores são aqueles que foram especialmente influentes na vida deuma pessoa. Eles possuem quatro quaiidades. Primeiro, sdo as pessoas cornquern o individuo esta emocional e psicologicamente envolvido. Segundo, saoaqueles que dotam a pessoa corn seu vocabulario geral, conceitos centrals ecategorias. Terceiro, dotam o individuo com sua distincão bäsica entre o eu e

os outros, incluindo a percepcäo da diferenciacäo de impels. Finalmente, as

comunicaceies dos outros orientadores sustentam o conceito de eu do indi-viduo. Os outros orientadores podem ser presentes ou passados. Podem estar 

presentes ou ausentes. A importante subentendida nesse conceito a queo individuo passa a ver o mundo atravês da interacão corn aquelas outraspessoas que afetaram sua vida em certos aspectos importantes.

Finalmente, chegamos ao mais importante conceito . de Kuhn: o eu (self). Ateoria e o metodo de Kuhn gravitam ern torno do eu e foi nessa area que Kuhn

ampliou de maneira sumamente nothvel o pensamento interacionista simb6-lico. Em primeiro lugar, uma palavra sobre o mótodo. Kuhn foi o principalresponsavel por uma tecnica conhecida como o Teste dos "20 Enunciados" de

 Auto-Atitudes. 0 seu fundamento lOgico para o desenvolvimento desse proce-dimento a sucintamente descrito da seguinte forma:

Se, como supomos, o comportamento humano é organizado edirigido,e sere,

como tambêm supomos, a organizacao e direcao sao fornecidas pelas atitudes

do individuo em relano a si mesmo, entao deve ser de significacao crucial paraa psicologia social estar apta a identificar e medir as auto-atitudes. 25

Urn individuo que sesubmete ao Teste dos "20Enunciados" depara corn20espacos ern branco precedidos pelas simples instruceies seguintes:

Existem 20 espacos em branco e numerados na pAgina abaixo. E favor escrever20 respostas a simples pergunta "Quem sou eu?" nos espacos em branco. De 20respostas diferentes a essa pergunta. Responda como se estivesse dando asrespostas a si mesmo, nao a outra pessoa. Escreva as respostas pela ordem emque the ocorram. Nao se preocupe com a lOgica ou "imporancia". Avance comrazoävel rapidez, pois o tempo é limitado.

Existem, potencialmente, numerosas maneiras de analisar a resposta a esse

teste, e cada meta& revelaria urn aspecto diferente do eu. Eis as formulacoesteOricas primordiais de Kuhn, baseadas nesse procedimento:

Primeiro, a concepcäo do eu é vista como os pianos de acao do individuo

ern relacâo a si mesmo como urn objeto. Esse conceito do eu consiste nasidentidades (papeis e status), interesses e averseies, objetivos, ideologias e

avaliacOes do individuo a seu pr6prio respeito. Tais concepcOes do eu sec)"atitudes de fixacao", pois atuam como o quadro de referencia mais comumda pessoa para juigar outros objetos. Todos os subseq0entes pianos de acâopromanam primordialmente do conceito de eu.

25 Manford Kuhn e Thomas McPartland —"An empirical investigation of self-attitudes", in American Sociological Review , 19, 1954, pp. 68-76.

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78 Orientaceies Gerais

Dois aspectos principais do eu podem ser designadoscomoa variavel deordeme avariavel de locus. Avariavel de ordem é a saliencia de identifi-caceesqueo individuo possui. E observavel na ordem dos enunciados que osujeito enumera na tarefa dos "20 Enunciados". Se, por exemplo, uma pessoacoloca"Batista"muitomais acima na lista do que "Pal", o pesquisador podeconcluir que a pessoa se identifica mais facilmente, corn major saliencia, corn

a sua filiacao religiosa do que corn a sua filiacao familiar. A variavel de locus é ograu ern que o sujeito tende, de urn modo geral, a identificaf-se mais cornagrupamentos consensuais do que corn qualidades subjetivas, idiossincrasicas.Outro termo para essa dimensao é a variavel consensual-suhconsensual.Aocalcular o escore do teste de auto-atitude, o analista pode colocar os enuncia-dos do sujeito em uma de suas categorias. Urnenunciado pode ser consideradoconsensual se consistir num grupo distinto ou identificacao de classe, como

estudante, mop, marido, hatista, oriundo de Chicago, paramddico, filha, primoanito, estudar engenharia. Outros enunciados nao sao descricees decategorias sobre as quais exista comumente acordo. Exemplos de respostassubconsensuais sac teliz, entediado, bonito, hornestudante, excessivamente

 pesado, boa esposa, interessante. 0 nOmero de enunciados no grupo consen-sual a considerado o escore do locus do individuo.

Essaideia dolocus era importante para Kuhn. Oucamo-lo:

As pessoas variam, numa faixa bastante ampla, no que tange ao volume relativo

de componentes consensuais e subconsensuais em suas concepcOes do eu. Foi

nessa area que a nossa investigacão empirica fez o maior avanco sobre asformulacties puramente dedutivas e mais ou menos literarias de George HerbertMead.26

A tarefaprimaria dos discipulos de Kuhn tern sido tentar descobrir as corre-lacOes entre esses aspectos do eu e outras varieveis na sociedade.

0 Dramatismo de Kenneth Burke

A chamada "escola dramatQrgica" de lnteracionismo SimbOlico distingue-sepelo use da metafora teatral. Os dramaturgistas \teem o hornem como urn atornum palco metaf6rico, desempenhando papas em interacao corn outros.Muitos teOricos poderiam ser chamados dramatUrgicos nesse sentido, mas ateoria dramatOrgica, na realidade, carece da unidade requerida para que se Ihepossa dar o nome de "escola". Tres dramaturgistas parecem liderar o movi-mento.0primeiro, Erving Goffman, escreveu extensamente sobre o modocomo os individuos se apresentam a outros num comportamento que seassemelha ao desempenho de urn papel. A sua teoria é distintamente micros-cOpica e adota uma posicao muito diferente dos demais interacionistas.(Embora Coffman seja conhecido como um interacionista simbolico, parecemais apropriado tratar a sua teoria em detalhe na parte IV). Os outros dois

principais interacionistas drarnatUrgicos, que adotaram uma abordagem muitodiferente de Goffman, sao Kenneth Burke, e seu mais importante defensor nocampo da sociologia, Hugh Duncan.

Embora os conceitos de Burke sejarn inteiramente coerentes corn o movi-mento do interacionismo simbOlico, e duvidoso que ele se alinhasse exclusiva-mente corn o movimento. De fato, ao inves da maioria dos interacionistassi mbOlicos, Burke nunca se identificou realmente corn qualquer disciplinaacadernica. Escreveu profusamente em muitas areas do pensamento, desde aliteratura de criacao ate a critica literaria e retOrica, a psicologia social e aanalise Tambern ao contrario da maioria dos outros interacionistas

26 Ibid.

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 Interacionismo SimbOlico 79

si mbOlicos, os conceitos de Burke nao derivam da obra de Mead e outrossociologos precedentes. De fato, algumas de suas mais importantes obras

apareceram concorrentemente corn a publicacao das ideias de Mead. Por outro lade, seria incorreto excluir Burke da corrente principal do pensamentointeracionista simbOlico, pois, embora ele tenha mantido a sua independencia,

a sua teoria é altamente consentanea corn as outras apresentadas neste

capitulo.Kenneth Burke é, sem thivida, urn gigante entre os teOricos do simbolo.

Escreveu profusamente durante urn periodo de 50 anos, e a sua teoria é a maiscompleta e abrangente de todos os interacionistas. Escreveu Hugh Duncan:"Pode-se afirmar sem exagero que quern quer que hoje escreva sobre comuni-

cacao, por mais 'original' que possa ser, esta ecoando algo que foi dito por 

Burke."27Burke publicou oito importantes livros, cobrindo urn periodo entre

1931 e 1966.28 Infelizmente, Burke nao se notabiliza pela clareza de estilo. A

sua teoria a dispersa e nä.° raro parece ambigua. Entretanto, quando urnestudioso dispoe do tempo necessario para conhecer as obras de Burke, acoerència e unidade da teoria torna-se evidente. Felizmente, houve nume-roses pensadores burkianos que forneceram valiosas interpretaceies escritas de

suas idéias. 29 Ao examinarmos a teoria da comunicacão de Burke, comeca-

remos corn urn resumo do seu conceito de dramatismo; passaremos depois aosseus conceitos centrais de homem, linguagem e comunicacdo; e, finalmente,

completaremos o nosso esboco descrevendo o metodo de Burke.

Burke considerou o ato o conceito mais basica do dramatismo. A sua idêiade acdo humana e compativel corn a de Mead, Blumer e Kuhn. Especifica-mente, Burke distinguiu entre acäo e movimento. Todos os objetos e animals

no universe possuem movimento, mas pode-se afirmar que s6 os sereshumanos tem acao. A acão consiste ern comportamentos deliberados, volun-taries e livres dos individuos. Esse aspecto de uma pessoa como organismo

atuante e dramatismo. 0 estudo do movimento a mecanismo. Burke acredi-

tava que uma concepcdo dramatistica (teleologica) dos seres humanosnecessaria em todas as disciplinas "humanas", porque o comportamento

humano nao pode ser adequadamente entendido sem ela. Corn essa perspec-tiva, atentemos agora para as fecundas ideias de Burke.

Burke considerou os seres humanos biologicos e neurologicos, dotados detodas as caracteristicas animalisticas dos nossos coabitantes supra-humanosMas, em concordancia corn Mead, Burke distinguiu os seres humanos pelocomportamento de uso de simbolos e a capacidade para atuar.Os sereshumanos, tal como Burke os definiu, são animals que criam simbolos, usamsi mbolos e fazem mau uso de simbolos. 0 homem cria simbolos para darnome a coisas e situacties; usa simbolos para a comunicacào; e, cornfrequencia, abusa dos simbolos —usa-os mal para sua desvantagem. Aconcepcaio de Burke de simbolos a ampla, incluindo urn vasto reperterie deelementos linguisticos, assim como de elementos nao-verbais. Especialmentedesconcertante para Burke é a none de que uma pessoa pode simbolizar sim-

27Hugh Duncan — "Communication in society", in Arts in Society, 3, 1964, p. 105.28As principais obras de Burke incluem: Counter-statement.Nova York, Harcourt, Brace &Company, 1931; Permanence and change. Nova York, New Republic, 1935; Attitudes toward history. Nova York, New Republic, 1937; The philosophy of literary form. Baton Rouge, LouisianaState University, 1941; A grammar of motives. Nova York, Prentice-Hail, 1945; A rhetoric of mo-

tives. Nova York, Prentice-Hall, 1950; A rhetoric of religion. Boston, Beacon Press, 1961; Langua-

ge as symbolicaction. Berkeley, University of California Press, 1966.

29 Gostaria de expressar meu particular dpreco ao amigo e colega Peter Coyne pelo discerni-mento de sues continuas observacdes sobre Kenneth Burke. Ver Peter Coyne —"Kenneth Burkeand the rhetorical criticism of public address" (dissertacdo inedita de doutoramento. Uni-versidade de Utah, 1973). Para uma exposicao abrangente sobre Kenneth Burke, ver WilliamRueckert (org.) —Critical responses toKenneth Burke. Minneapolis, University of MinnesotaPress, 1969.

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80 OrientagOes Gerais

bolos — pode falar sobre a fala, pode escrever sobre palavras. Essa atividade

de "segundo nivel" e uma das caracteristicas distintivas do use de simbolos.

 Alen' disso, Burke considera a pessoa urn criador de instrumentos. Aspessoas criam uma grande variedade de ferramentas mecAnicas e sociais que,ao contrArio dos animais inferiores, as separam de sua condicdo natural. As

pessoas filtram sempre a realidade através da tela simbolica, o filtro dos

instrumentos simbOlicos. Para urn animal, a realidade simplesmente é, mas,para os seres humanos, a realidade a sempre mediada por simbolos. Burkeconcorda corn Mead em que a linguagem funciona como o veiculo para aaceo. Ern virtude da necessidade de as pessoas em sociedade cooperarem emsuas awes, a linguagem surge e modela o comportamento. Na perspectiva de

Burke, a linguagem possui sempre uma carga emocional. Nenhuma palavra

pode ser afetivamente neutra. Por conseguinte, as atitudes, juizos e senti-mentos de uma pessoa estdo sempre na linguagem dessa pessoa. A linguagemé, por natureza, seletiva e abstrata, concentrando sempre a atenceo emaspectos particulares da realidade, a custa de outros aspectos. Embora alinguagem seja econ6mica, ela tambem é naturalmente ambigua. Alem disso,é formal na medida ern que tende a obedecer a certos padroes. Burkeidentificou cinco tipos de forma. 0 primeiro é a forma convencional, ospadroes verbais e nao-verbais que se espera ocorrerem em determinadocontexto social. Por exemplo, quando se encontra uma pessoa pela primeiravez, espera-se que apertem as maos. Quando se le uma carta, é convencional

encontrar uma saudacao e uma assinatura. 0 segundo tipo de forma é areafirmacao ou repeticão. Burke acredita que a fala a um processo conti-nuo de dizer uma certa 'dela de muitas maneiras. A progressão siloquis-tica, o terceiro tipo de forma lingtilstica, a uma progressão lOgica de enun-

ciados que obedecem a regras desde as premissas as conclusoes. A quartaforma, a progressão qualitative, é uma organizacdo de expressOes verbais queconduz o receptor de uma qualidade a outra num padrao. Num poema, por exemplo, o poeta pode conduzir o leitor da tristeza a felicidade, ao remorso.Finalmente, Burke classifica todas as outras formas menores, como a metAfora

e o paradoxo, na quinta categoria. E obvio que esses tipos de formas sesobrepoem em consider : AA/el medida, uma qualidade discernivel entre muitosdos conceitos de Burke.

Uma consideracao dominante para toda a obra de Burke é o seu conceito deculpa. 0 termo "culpa" é a palavra-chave de Burke para qualquer sentimento

de tensäo dentro de uma pessoa: ansiedade, embaraco, desprezo por simesma, repulsa etc. Para Burke, a culpa é uma condicao causada somente emseres humanos pela nossa natureza de criadores e usuArios de simbolos. Tres

fontes interligadas de culpa derivam da linguagem. A primeira é a negative.

 Atraves da linguagem, as pessoas elaboram reflexOes morais (os animals nAo).Etas constroem uma miriade de regras e proibicOes. Ora, essas regras nunca

sào inteiramente coerentes. Quando se obedece a uma, transgride-se necessa-riamente outra, criando culpa. Veremos que o conceito burkiano de culpa e,

nesse sentido, muito semelhante a ideia de dissonancia cognitiva (ver ocapitulo 7). A segunda razão para a culpa e o  principio de perfeicao ou "culpacategOrica". As pessoas parecem ser particularmente sensiveis aoS seus de-

feitos e deficiencias. Sao capazes de imaginar (através da linguagem) urnestado de perfeicao e, por sua prOpria natureza, os seres humanos consomemsuas vidas esforcando-se por atingir aquela perfeicao, seja ela qual for, quecolocam a sua frente como objetivo a alcancar. A culpa resulta dessa

discrepencia entre o real e o ideal. Finalmente, temos o principio de hie-rarquia. Ao buscar a ordem, as pessoas estruturam a sociedade ern termos depiramides sociais ou estruturas hierArquicas (classificacoes sociais, escalas

sociais, ordenamentos sociais). isso, evidentemente, e um fenomeno simbe-lico. Competiceies e divisoes resaltam entre grupos e classes na hierarquia,

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 Interacionismo Simbalico 81

redundando em culpa. Para Burke, a culpa e o motivo primario subentendido

em toda acao e comunicacao. Basicamente, nos nos comunicamos paraeliminar a culpa.

Ora, ao discutir a comunicacao, Burke utiliza muitos termos inseparaveis:

persuasao, identificacao, consubstancialidade, comunicacao e retOrica. Ve- jamos como esses conceitos se integram na sua teoria. 0 mais basico conceito

subentendido nas ideias de Burke sobre comunicacao e o de substancia ou, naterminologia burkiana, a doutrina da substancia. A substancia é a naturezageral, os principios fundamentals ou o padrao de Gestalt de qualquer coisa. Asubstancia deve ser vista em termos holisticos; nao é a mera somacao daspartes ou aspectos da coisa em consideracao. A substancia de uma pessoa ou

coisa é a sua essencia geral. Ora, cada pessoa é distinta e Unica. Cada pessoapossui substancia separada, mas é crucial para a teoria de Burke compreender 

que as substancias de quaisquer duas pessoas sempre coincidirao em parte. Por outro lado, as substancias das pessoas jamais coincidirao perfeitamente,uma condicao que impede a comunicacao ideal. Qualquer comunicacaoque ocorra entre individuos é uma funcao direta de sua consubstancia-lidade ou de propriedades e caracteristicas comuns. A consubstancialidade(participacao na substancia comum) favorece a comunicacao porque cria uma

condicao de significado compartilhado para os simbolos em uso. QuandoPedro e Joao estao repousando a beira da piscina, numa quente manila deverso, eles podem "comunicar-se" mutuamente de maneira relativamente livree compreensiva pelo fato de que compartilham significados para a linguagemem uso — eles sac), por assim dizer, consubstanciais. Por outro lado, quando

Maria e Roberto tentam obter alguma informacao de um atarefado ajudante de

garcom num restaurante suico, eles podem sentir verdadeira frustracao por causa da ausencia de significado compartilhado com esse individuo. Combi-

nando Mead e Burke, um simbolo significativo é aquele que permite o

significado compartilhado atraves da comunicacao.

Em virtude da perspectiva muito ampla de Burke sobre comunicacap'(retOrica), quase todos os aspectos da vida humana estao incluidos nela.

 Algumas das areas que Burke poderia estudar como retOrica incluem apromocao de vendas, propaganda, namoro, etiqueta social, educacao, reli-giao, canciaes populares, instrucao, semantica, psicanalise, amor, histeria, bru-

xaria, tendencias editoriais, dispositivos parlamentares e diplomaticos, magic

verbal, mito, estOrias em quadrinhos, mentira, poesia, literatura, trato-delicadocom os doentes, frases de efeito e muitas outras areas.30

Outro fecundo conceito de Burke é a ideia de identificacao. Tal comogeralmente concebida, a identificacao pode considerar-se sinOnimo de con-substancialidade, ou a partilha de substancia. 0 oposto de identificacao édivisão. A divisao e a culpa que ela gera são o motivo primário da comu-nicacao. Atraves da comunicacao, aumenta a identificacao. A maneira deespiral, quando a identificagao aumenta, o significado compartilhado tam-bem recrudesce, melhorando assim a compreensao. Logo, a identificacao

pode ser um mein (para a persuasao ou comunicacao melhorada) ou um fim. Aidentificacao pode ser consciente ou inconsciente; pode ser planejada ouacidental. Existem tres fontes que se sobrepoem parcialmente de identificacao

entre pessoas. A identificacao material resulta de bens, posses e coisas. AsidentificacOes idealistas resultam de ideias, atitudes, sentimentos e valores.Finalmente, a identificacao formal resulta da forma ou organizacao do ato. Se

duas pessoas que sac) apresentadas trocam um aperto de mao, a formaconvencional de apertar a mao faz com que ocorra alguma identificacao. Um

locutor pode identificar-se melhor com os seus ouvintes se fornecer uma

30Coyne — "Kenneth Burke".

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82 Orientacc3es Gerais

forma que seja significativa para essa audiéncia. Antes de prosseguir,necessario introduzir urn par de advertencias. Em primeiro lugar, a identifi-cacao nao a uma questa° de alternativa mas de grau. Havers sempre algumaconsubstancialidade meramente em virtude da humanidade compartilhada deduas pessoas quaisquer. A identificagao pode ser grande ou pequena, e podeser aumentada ou diminuida pelas awes dos comunicadores Em segundo

lugar, embora identificagao e divisao existam sempre lado a lado entre duaspessoas quaisquer, a comunicagao é mais bem-sucedida quando a identifi-cacao é major do que a divisao.

Um fenomeno interessante que podera parecer que contradiz as proposi-

dies de Burke referentes a identificagao a que, corn freqUencia, as pessoas de

camadas inferiores numa hierarquia se identificam com certas pessoas reves-

tidas de uma aura de "divindade" no topo da hierarquia, apesar da tremenda e

evidente divisao. Esse tipo de identificagdo pode ser observado, por exempla,na massa de adeptos de um lider carismatico. Isso pode explicar-se por doffsfatores que se sobrepOem em parte. Primeiro, o individuo percebe no outro umaconsubstanciagao da perfeicao que ele pr6prio se esforga por atingir. Ao mesmotempo, o mistêrio que envolve a pessoa "carismatica" tende a esconder a ver-

dadeira divisao que existe. Esse fenomeno pode ser chamado de identificagdoatraves da mistificacão.

Na luta pela felicidade, cada pessoa adota certas estrategias de identifi-cacao. As estrategias sao analogas ao conceito de "pianos de agao" de Kuhn.

Sao as taticas para a existéncia, os pianos para comunicar com outrern. Burke

não tentou descrever todas as estrategias disponiveis para o relacionamentocorn outros, pois a lista seria infinitamente extensa. Uma das sugestäes feitaspor Burke para se analisar um ato ret6rico (comunicativo) consiste em avaliar 

as estrategias que estao sendo usadas pelos comunicadores a fim de aumen-tarem a sua identificagao. Burke forneceu uma metodologia completa para o

estudo de atos ret6ricos. De fato, o metodo de Burke provou ser extremamente

util em Areas tais como a critica retOrica e literaria: a analise de discursos,

poemas, livros e outros recursos retOricos.

0 paradigma metodolOgico mais importante de Burke é a  pentade drama-tistica. A pentade e urn quadro de referencia analitica para o mais eficiente

estudo de qualquer ato. Consiste em cinco partes. A primeira é o ato — aqui-lo que a feito pelo ator. E uma visao do que o ator desempenhou, o que fez, o

que foi realizado. A segunda parte é a cena — a situagao ou contexto em que

o ato foi realizado inclui uma visa() tanto do contexto fisico como do meiocultural e social em que o ato foi levado a cabo. 0 terceiro componente dapentade e o agente — o pr6prio ator, incluindo tudo o que e conhecido

acerca de sua substancia. A substancia do agente alcanca todos os aspectos doseu ser, sua historia, sua personalidade, sua maneira de ser e quaisquer outrosfatores contribuintes. A agenda, o quarto componente, é o meio, instrumentoau veiculo usado pelo agente na execugdo do ato. Pode incluir certos canals

de comunicagao, dispositivos, instituigties, estrategias, mensagens ou qual-quer outro veiculo. Finalmente, o propOsitoé a razao pare o ato — a

finalidade retOrica, o efeito esperado ou resultado do ato. Por exempla, noestudo do depoimento de John Dean perante a Comissao Watergate doSenado, a pentade propiciaria urn tratamento completo e bem organizado. 0

ato seria o comparecimento de Dean e suas revelagdes sobre os detalhes da

conspiragão. A cena seria a sala da comissao de inquerito do Senado, emWashington, no meio social e cultural dos EUA em 1973. 0 agente seria opr6prio Dean, incluindo sua historia, personalidade, conduta, valores, ati-tudes, convicgOes etc. A agenda seria o seu testemunho, e o seu propOsito

seriam as razdes para dizer o que fez, o que ele esperava que fosse conseguidointrapessoalmente e interpessoalmente. Cada um dos cinco elementos penta-

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 Interacionismo SimbOlico 83

dicos seria usado por urn critico para uma verdadeira andlise ern profundidadedo depoimento de Dean e suas ramificacoes.

Hugh Duncan e Ordem Social

E especialmente adequado concluir o capitulo sobre interacionismo simbOlico

corn urn resumo da obra de Hugh Duncan. Ern Symbols in society, Duncanapresentou 71 proposicães referentes a seres humanos e sociedade. 31 Emboraas qualidades que distinguem Duncan sejam evidentes na teoria, as propo-sicOes representam, entretanto, uma vasta e ambiciosa integracao do Intera-cionismo SimbOlico, corn particular enfase sobre Mead e Burke. Especifica-mente, o terra de Duncan relaciona-se corn a ordem social atraves da

comunicacao. Duncan definiu comunicacao como "uma tentativa de per-suadir outros (e, por conseguinte, nos prOprios) a adotarem certos cursos de

acao que acreditamos necessArios para criar uma dada ordem social, questio-

na-la ou, finalmente, destrui-la"2

 Ao discutir os conceitos de ordem social, Duncan nao escondeu suas in-clinaceles: "Como indiquei em meus escritos anteriores, nao pretendo, demaneira alguma, fingir que escrevo sem tendenciosismo":33 E, mais adiante:

"Desejaria, como amante da democracia, poder terminar esta introducao cornuma vibrante nota de confianca no futuro do homem democrAtico. Mas nao

posso faze-lo. A democracia era e ainda é a mais bela esperanca da humani-dade. SobreviverA? Nao o creio, a menos que ocorram vastas e profundasmudancas no homem e na sociedade, e certamente no modo como estudamosa sociedade"34

Como todos os interacionistas simbOlicos, Duncan enfatiza o simboloacima de tudo. A sociedade e mantida e ordenada atraves da comunicacao —

o use de simbolos significativos. Os simbolos nao sao eminentemente privadosnem urn reflexo indireto da realidade. Os simbolos sao pOblicos; ski comparti-

lhados; sao a realidade. Assim, os artefatos da comunicacao tornam-se os

dados primarios para o estudo da acao social: "0 homem e urn comerciante,urn politico, umpai, um filho ou urn adorador de forcas sobrenaturais, mas em

todos esses papeis ele é urn comunicador. (...) Ern suma, se aceitarmos asnecessidades, carencias, desejos — religiosos, econOmicos, politicos, se-xuais, segundo for o caso — como motivos para a conduta, deveremos entdoestudar o modo como comunicamos esses motivos".35

Na tradicao meadiana, Duncan considera que a sociedade origina-se nainteracao simbOlica. 0 homem tem necessidade de contato social e essanecessidade so pode ser satisfeita atraves da comunicacao, ou interacdo, cornoutros. Assim, a sociedade nasce mediante o processo de interacao. Duncanacrescenta uma dimensao particularmente importante ao Interacionismo Sim-bOlico ern sua concepcào de hierarquia. A ordem social 6 vista por Duncancomo uma funcao da hierarquia, incluindo superiores, iguais e inferiores. A

ordem social significa manutencao da hierarquia, embora a ordem especifica

na hierarquia possa ser questionada, destruida e mudada quando os membrosda sociedade deixam de aderir ao principio de ordem.Para Duncan, a hierarquia e sustentada atraves da solicitacao social, que

uma forma de persuasao entre os vArios membros da sociedade. Duncan

31Hugh Duncan —Symbols in Society. Nova York, Oxford University Press, 1968.32 Ibid., p. 16.33

 Ibid., p. 25.34 Ibid., p. 39.35

p. 7.

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84 Orientacães Gerais

acredita que as pessoas recebem seu status de outras investidas de autoridade,

e a ordem social requer constantemente o reforco da estrutura predominante

de papeis. Uma das importantes contribuicoes de Duncan é a sua estratifi-cacao da audiencia na solicitacao social, Sao cinco as audiencias significativas

solicitadas na manutencao da ordem social. A primeira e rotulada de Eles — o

grande paha), a comunidade inteira. Em politica, por exemplo, o candidatodeve apelar para a audiencia de massa, a fim de adquirir e manter autoridade.

0 orador eficiente deve ter faro   . para as necessidades e exigéncias da massa, etern de persuadir literaimente o pablico de que é merecedor do apoio detodos. A segunda audiencia e o Nos —os guardities da comunidade, aconsciencia da comunidade (por exemplo, Kids, conselhos, juntas de arbitra-gem e Orgaos governamentais). Essa audiencia consiste em certas elites que,

embora possam falar como individuos, devem ecoar UM principio comum de

ordem social em seu papel de guardioes. A terceira audiencia é o Tu —osoutros significativos corn quern a pessoa inter-atua em nivel intimo. QuandoMead escreveu sobre o eu (self) como um reflexo da interacao simbOlica corn

outros significativos, referia-se a esse nivel de comunicacao. A quarta audien-

cia é o Eu — os vários eus a quem nos dirigimos. 0 soliloquio (ou o Eu falando

para Mim) é o processo interno consubstanciado na ideia meadiana de mente.Duncan mostra que o soliloquio é urn importante reflexo do conflito de papel

na sociedade, por causa dos verios dialogos internos que temos. E essaconversacão interna que da forma ao ego. Os individuos fortalecem o egopessoal, desenvolvendo meios para integrarem os varios Eusdentro deles.

Finalmente, ha a audiencia que Duncan rotulou de It —a audiencia ideal e

fundamental, a fonte final da ordem social.Sem dilivida, o conceito central de maior importancia na teoria de Duncan é

o de ordem social. Ele acredita que as pessoas se esforcam constantementepor manter alguma forma de ordem atraves da comunicacao. Cada hierarquiabaseia-se em principios fundamentais e "impecaveis" de hierarquia, os guarsdevem ser aceitos pelos membros da sociedade. 0 principio de ordem social e

transcendente e representa a justificacao final e sumamente significativa paradeterminada ordem numa sociedade. Tais principios de ordem social saos i mbolizados em imagens de natureza, homem, sociedade, linguagem ouDeus. Sao truismos subjacentes na ordem social predominante. "As leis danatureza", "o reino da beleza pura", "a intrepidez na guerra", "a honra da

dama ou do cavalheiro", "a elegancia da moda", "o poder da sabedoria" sac,exemplos desses truismos.

Entretanto, Duncan certamente nä° quis dizer com isso que todos as

membros de uma comunidade obedecem rigorosamente a hierarquia e aosprincipios predominantes de ordem social. De fato, ele sublinhou explicita-mente que e licito esperar o certo grau de desobediencia, indiferenca edeslealdade. A questäo importante, nesse contexto, e que as autoridadesnuma sociedade devem garantir os metodos adequados para lidar corn essa

desintegracao da ordem. As criancas da sociedade sao ensinadas a se sentiremculpadas por transgressties da ordem social. Quando esses "pecados hierar-quicos" sao observados, individuos e comunidades devem realizar algumaespecie de expiacao da culpa. 0 modo primordial como as sociedades expiam

sua culpa e atravês da imolacao de vitimas: "Corn efeito, e muito freqiientegastar mais tempo descrevendo como punir aqueles que violam a lei do que

descrevendo as bencaos daqueles que !he obedecem".36'Mencionamos antes que Duncan é membro da escola dramatUrgica do

Interacionismo SimbOlico. De fato, a metafora dramatica e uma qualidadeflagrante em sua teoria. Duncan descreveu a acao social como uma peca

36ibid., p. 75

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 Interacionismo SimbOlico 85

teatral em que as pessoas assumem panels como atores: "A ordem social écriada e sustentada em dramas sociais atraves de intensas e fre antes apresen-tacees pirblicas de papeis tragicos e cern icos, cuja representacão se consideranecessaria a sobrevivencia da comunidade." 37 Ele descreveu numerosas formasde drama social. Os jogos sào o meio atraves do qual as criancas aprendem a

importencia das regras sociais. As criancas tem suas primeiras experiencias de

maneiras sociais e internalizacao de papeis nos jogos e brincadeiras. As festase reuniOes sociais são dramas em que as pessoas aprendem a relacionar:secorn outras atraves das maneiras sociais, que Duncan acredita serem cruciais

na ordem social. Os festivais aumentam a camaradagem e o jubilo em so-

ciedade. As cerimanias säo realizadas para reforcar simbolicamente a digni-

dade e majestade de papeis sociais. Os ritos säo dramas sociais de comunicano

com poderes sobrenaturais. Finalmente, o drama serve para simbolizar a acOosocial no palco ou na pAgina, de tal modo que os principios da ordem socialsejam franqueados para exame. A acão social pode ser analisada em cincofacetas que se assemelham a pentacle dramatistica de Burke: palco, ato,papeis, meios de expressao e principio de ordem social. Um quadro realista da

acào social so pode ser adquirido atraves de uma combinacdo de todos esseselementos. Duncan tambem sublinhou que os cinco elementos de acão social

podem relacionar-se ou ligar-se de dez maneiras: palco-ato, palco-papel,palco-meios, palco-principio, ato-papel, ato-meios, ato-principio, papel-meios,papel-principio e meios-principio. Em cada uma dessas ligacoes, um doselementos é definido ou justificado em termos do outro. Por exemplo, pode-se

dizer que um ato é uma adaptacao a uma cena particular, ou um papelparticular pode ser justificado na base dos meios de expressdo utilizados pelo

ator. Uma ilustracao da ligacdo é vista no Processo de I mpeachment daCamara dos Representantes em 1974, em que as audiencias (ato) estavamintimamente vinculadas a suspeita de falta de honestidade no governo (prin-

cipio de ordem social).

Quando um estudioso da sociedade tenta estudar o processo social, uma

das unidades de acão mais diretamente observAvel é a instituicão social. Onze

instituicees sac) importantes, na perspectiva de Duncan da sociedade: (1)a familia, (2) governo, (3) instituicees econamicas, (4) defesa, (5) educacão,

(6) maneiras e etiqueta, (7) diversão, (8) saOde e bem-estar, (9) religido, (10)arte, (11) ciencia e tecnologia. Cada uma dessas instituicOes existe para manter a ordem social a sua pr6pria maneira.

 A teoria de interacão simbólica de Duncan resume e amplia os pensamentos

de cada um dos outros teOricos discutidos neste capitulo. Ele destacouaspectos do eu, interacão interpessoal e sociedade. E, coerente com osdemais, Duncan ye a sociedade como manitestacdo da.participacao dos seres

humanos no uso comum de simbolos.

Generalizacoes sobre Interano SimbOlica

 A primeira tese deste capitulo é que a comunicacdo constitui um processo deinteracdo simbOlica. 0 que se pretende dizer corn essa generalizacao? Vol-temos as seis proposicees teOricas basicas do interacionismo simbolico, tal

como foram descritas no inicio do capitulo.

(1) Mente, eu e sociedade sdo processos de interacdo pessoal e interpessoal.

Os tres conceitos essenciais de Mead sac) processos decorrentes do uso de

si mbolos. Vimos como esses tres processos foram elucidados pelos principais

interacionistas simbolicos.

(2) A linguagem e o mecanismo primário que leva a rnente e ao eu do

individuo. Atraves da linguagem, nos somos humanos. Interatuamos simboli-

37 Ibid., p. 60.

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86 Orientageies Gerais

camente por meio da linguagem e acabamos por conceber o eu atraves da

i magem refletida por outros. Mead desenvolveu a nocao de simbolo signifi-

cante, urn conceito lingiiistico

a

.. Kuhn mostrou como se pode descobrir oconceito de eu de urn individuo, nalisando a linguagem usada para descrever o eu. Burke escreveu sobre o papel da linguagem como manifestacão da

mente e do eu, enquanto Duncan mostrou a importancia dos processesli ngifisticos na manutencäo da ordem social.

(3) A mente e a internalizagão de processes sociais no individuo. Meadsublinhou que a pessoa interatua consign mesma, usando os simbolos signifi-

cantes que aprendeu na interacdo com outros, e a essa auto-interacdo deu o

nome de reflexdo mental (minding). Mead e Blumer mostraram como areflexao mental e importante no desenvolvimento do eu e como a usada para

preparar a interacäo com outros.

(4) Os comportamentos são construtdos pela pessoa. Os interacionistas

s i mbOlicos acreditam que as pessoas usam a linguagem para refletir, repetir 

mentalmente e adaptar-se aos problemas do memento. As pessoas decidemcomo se devem comportar dentro das coibicães impostas pela sociedade. A

metafora dramatOrgica de Burke e Duncan captou muito bem essa premissa.O ate de Burke é, por definicdo, urn fluxo de comportamento planejado peloator para realizar determinados propasitos. Tais propOsitos podem ser indivi-duals, como na reducâo de culpa, ou, segundo Duncan, podem visar arealizacâo de urn principio de ordem social.

(5) 0comportamento de uma pessoa é influenciado par sua detinigão da

situacdo. Mead e Blumer foram influentes na demonstracão de que o indi-viduo interpreta ativamente o que é visto e ouvido. Blumer assinalou que apessoa realiza uma pausa para atribuir significado a objetos e eventos, o queclaramente um processo simbOlico. Burke mostrou como os simbolos influen-clam a definicdo da situacäo.

(6) Finalmente, o eu consiste em definicees tanto sociais como anicas.

0 outro generalizado de Mead e o eu comunicado por outros. Mas, dentro de

cada pessoa e um aspecto ativo, criativo, propiciando a mudanca.Corn este capitulo, concluimos o nosso resumo de algumas teorias• gerais

relacionadas com a comunicacao. Passaremos agora a examinar varias teoriasque tentam explicar diversos processes liásicos envolvidos em toda a comuni-

cacao: linguagem, significado, pensamento, informacdo e persuasalo. Manter 

presentes as duas generalizaceies basicas, sobre comunicacdo   . (1) Comuni-

cacao é um processo complexo, e (2) esse processo é, primordialmente, deinteracdo simbolica.

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Teorias dos Signos:

Codificacäo Verbal

e Nao-verbal

Uma das preocupacOes fundamentals no estudo da comunicacao e a codifi-cacao. Essencialmente, toda abordagem teOrica da comunicacao reconhececorno um fato basic° que a comunicagao se efetua atraves do use de signos. Ageneralizacao orientadora deste capitulo a que a interacdo simbOlica constitui

umprocessode emissão e recepcão de mensagens codificadas. Em comuni-cacao, a "realidade" de uma pessoa é representada para o eu e os outros cornsignos. Essa relagao signo-significado é a codificacao. A natureza complexa eo processo de codificacao sac o terra central de uma vasta literatura sobrenumerosos tOpicos af ins. Neste capitulo e no seguinte, trataremos das teoriasmais destacadas nessa area. Este capitulo resume as principais teorias dotsigno, incluindo a lingua e o comportamento nao-verbal. Mas o tOpico dacodificacao nap pode ser considerado independentemente das areas afins do

significado e do pensamento, que examinaremos no capitulo 5. A literaturaem ambas as areas est& inter-relacionada, e seria urn equivoco considerar umasem levar a outra em conta.

0 presente capitulo esta dividido em quatro secCies amplas, Na primeiraexa'minaremos duas abordagens que fornecem uma orientacao geral acerca danatureza e complexidade dps signos e da codificacao. Depois, abordaremos os

dois mais importantes tipos de signos usados pelos seres humanos: os verbais eos nao-verbais. Analisaremos as mais importantes teorias da lingua (signosverbais), para o que nos apoiaremos substancialmente na linguistica e napsicolingiiistica. A secao seguinte ocupa-se de algumas teorias de comporta-

mento nao-verbal, A Ultima parte deste capitulo conclui corn urn interessante

modelo integrativo de codificacao.0 que e urn signo? Nao existe uma resposta universal a esta pergunta, nem

tampouco todos os teOricos preferem usar a palavra Coo? Nao obstante, ostermos signo, comportamento signico (sign behavior) e codificacao consti-

tuem provavelmente os melhores rotulos gerais para o terra das teorias a

serem examinadas neste capitulo.1 Grosso modo, um signo e urn estimulo que

se considera representar algo diferente dele mesmo, Codificacao é o processode relacionar signos corn os seus referentes. A natureza exata dos signos a umaquestao de controversia te6rica, Urn certo nUmero de disciplinas vem contri-

buindo para esse debate, entre elas a filosofi a, a antropologia, a sociologia etc.

0 conceito de signo e codificacao e ainda mais desenvolvido pelas abordagens

de Morris e Fotheringbam, que resumiremos na sena seguinte.

1Pode-se encontrar um excelente resumo geral e avaliagdo dessas areas em Rollo Handy e Paul

Kurtz —"A current appraisal of the behavioral sciences. Communication: linguistics, signbehavior", in American Behavioral Scientist, 7, n9 6, 1964, Suplemento.

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90

introducao aos Signos

 Antes de entrarmos no estudo de teorias especificas da lingua e do comporta-

mento nao-verbal, é importante explorarmos, de uma forma geral, o que se

entende por signo e de que modo a codificagao serve como parte central do

processo de comunicacão. A primeira abordagem dessa investigacdo e a deCharles Morris, que forneceu uma introducdo geral aos signos.

0Ponto de Vista de Charles Morris

Charles Morris é urn conhecido filOsofo e sociOlogo que durante muitos anos

escreveu sobre signos e valores. A sua teoria semilitica a proeminente nestaliteratura e foi uma das primeiras teorias a concentrar-se nos signos.2 A teoriade Morris passou por uma interessante evolucao. Corn o passar dos anos, ele

ampliou sua abordagem inicial, relativamente limitada, a fim de integrar asno45es de signo, valores e interacao.

Corn o objetivo de obter precisdo na descric5o e explicacão do comporta-mento relacionado aos signos, Morris desenvolveu uma minuciosa e compli-

cada lista de conceitos e names, mas a essencia de sua analise est& em suaconcepcdo basica do processo de use de signos e do modo como esseprocesso se relaciona corn valores humanos. Veremos que essa teoria semi6-

tica envolve tanto uma perspectiva sistémica quanto de interacdo simbOlica.

definimos urn signo, em termos gerais, como alga que a aceito pararepresentar alguma outra coisa que nao ele pr6prio. Morris definiu-o emtermos de comportamento: "Se alguma coisa, A, controla o comportamentoem relacao a uma meta de urn modo semelhante (mas nao necessariamenteidentico) ao modo como alguma outra coisa, B, controlaria o comportamento arespeito dessa meta, numa situacdo em que ele foi observado, então A é urn —signo." 3Essa definigdo nao pretende ser totalmente abrangente; ela apenascapta certos sentidos comportamentais da palavra. Morris preferiu deixar a

definicao de signoem aberto para outras possibilidades.

Um signo funciona produzindo no organismo aptidão para responder.Morris criou alguns rOtulos para varios aspectos desse processo:

interprete: "Qualquer organismo para o qual algo é um signo."interpretante:"A disposicao num interprete para responder, por causa do

signo."denotatum: "Qualquer coisa que permita a conclusäo das seqiiéncias de

resposta a que o interprete esta disposto por causa de urn signo (...) Diz-seque urn signo caracteriza e marca urn denotatum." 

significatum: "Aquelas condicOes que sac) de tal natureza que seja o que for que 8 preencha comodenotatum sera denominado o significatum de urnsigno. Diz-se que um signo significa urn significatum; a frase 'ter significacdot

pode ser considerada sinOnima de

i

significar'." 4

Vejamos alguns exemplos' simples. No condicionamento clAssico, urn ca .° é

ensinado a responder a uma sineta como sinal de al imento. Quando soa asineta condicionada, oca

.() prepara-se para corner. Morris afirma que a sineta

se converteu numsinal. Nesse exempla, o câo é o interpretee sua prontidao

2 A obra classica de Morris sobre os signos é Signs, language and behavior. Nova York, GeorgeBraziller, 1946. Uma versao mais resumida pode ser encontrada em "Foundations of the theory of signs", in International Encyclopedia of Unified Science, v. 1, parte 1. Chicago, University of Chicago Press, 1955, p. 84. Morris combinou os dois trabalhos que o absorveram durante toda avida, valores e signos, em Signification and significance. Cambridge, MIT Press, 19643Morris — Signs,p. 7.4

 Ibid., p. 17.

Processos Bãsicos

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Codificacäo Verbal e Nab-Verbal 91

para o alimento, o interpretante. Como a presenga de alimento permitiria ao

cão corner, o aliment() e o denotatum (assinalado pela sineta). Aqualidade

comestivel do alimento é osignificatum (significado pela sineta). Suponhamos,

em nosso segundo exemplo, que uma mae diz a seu bet* que este ensaiando

os primeiros passos: "Vamos apanhar alguns brinquedos." A palavra brin-

quedos é o sinal. A crianga e o interprete e a sua disposicao de it ate a caixa

dos brinquedos e o interpretante. Apresenga de brinquedos na caixa e odenotatum; e o fato de se poder brincar corn eles e o significatum.

Todo o comportamento signico envolve tres fatores importantes: o designa-

tivo, o avaliatOrio e o prescritivo. 50 aspecto designativo dos signos dirige ointerprete para objetos especificos ou tipos particulares de denotata. 0 fator 

avaliatorio orienta o interprete para qualidades particulares de relevancia dos

objetos denotados e o fator prescritivo restringe as respostas acessiveis aointerprete. No exemplo acima, de sineta-alimento, o fator designativo dirige ocieo para alimento especificamente localizado no espago e no tempo. Depen-

dendo da natureza do condicionamento, o cäo pode ate chegar a esperar certaespecie de alimento. 0 fator avaliatorio, nessa situagao, e observado naorientacao positiva do ceo em face do alimento; o cdo avalia o alimento como

importante para as sues necessidades internas. 0 fator prescritivo este pre-sente na medida em que o cao "conhece" o alimento ou e compelido a

come-lo.

Um determinado signo ou conjunto de signos podere enfatizar urn dessesfatores em relagâo aos outros. 0 fator predominante e o modo de signifi-cacao. Assim, a significacao primer-la de urn signo podera ser designativa,avaliatoria ou prescritiva. Morris expressou isso muito simplesmente quandodisse: "Uma vez que respondem as perguntas 'onde se encontram?', 'quecaracteristicas?', 'por que relevantes?', 'como responder?', eles são signos de,respectivamente, onde, o que, por que e como." 6

Na lingua, os signos combinam-se em complexos chamados atribuidores

(ascriptors), que se° aproximadamente equivalentes a formulagties verbais:

"Urn atribuidor identifica alguma coisa (ou um mimero de coisas) e significaalgo mais sobre o que e identificado." 7 A frase "0 rapaz a feliz" a urn

atribuidor que designa rapaz e significa felicidade. Algumas frases contem

mais de urn atribuidor, como no caso de "Joao, meu namorado, e feliz". (lodee o meu namorado. Joao a feliz.) Podemos agora ampliar os principais fatores

ou modos ao nivel atribuidor. Um atribuidor designativo identifica, define ou

localiza algum denotatum. Urn exemplo e "Ha um veado". Urn atribuidor 

avaliatório (ou avaliacao) dispoe o interprete para responder favoravel oudesfavoravelmente ao objeto: "E urn belo veado". Urn atribuidor prescritivo(prescrigao) dirige o interprete para responder de uma certa maneira: "Abate o

veado."

Neste ponto, comegamos a farejar o cheiro behaviorista da abordagem que

Morris faz dos signos. De fato, esses conceitos iniciais baseiam-se na teoria daaprendizagem. Descobriremos mais adiante, neste capitulo, que a nogeo es-

ti m ulo-resposta aplicada aos signos e bastante limitada. Entretanto, neste pontodo nosso exame, a relageo basica signo-comportamento proposta por Morris é

til na definigeo dos signos. Para que o leitor rid° Pique corn a impressao deque o comportamento signico se aplica somente a animais e "idiotas cha-

5Tambern e incluido UMquarto fator chamado formativo. Entretanto, essa categoria estavagamente definida, e o prOprio Morris se equivocou mais tarde a respeito dela (ver Signifi-cation and significance, cap. 1).6Morris — Signs, p. 72.7

 Ibid., p. 74.

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9 2 Processos Basicos

pados", cumpre ter em mente que Morris ampliou as suas concepcOes muito

alem desse nivel basic°. 8

Agora que examinamos a concepcdo morrisiana do processo signico, passa-remos a sua assimilacao mais ampla de signos e valores. A obra de Morrisconcentrou-se em duas importantes areas: signos (o estudo da semiOtica) evalores (o estudo da axiologia). Reuniu as duas em Signification and signifi-

cance, que deve perdurar como importante evento no desenvolvimento dateoria da comunicacão.9Nessa obra, Morris forneceu uma integracão dateoria do signo do interacionismo simbolico e da teoria dos sistemas.

A sintese ocorre no contexto do conceito de o ato,de George HerbertMead. 0 ato consiste em tres estagios: percepcdo, manipulacao e consu-macao. Na percepcdo, a pessoa torna-se consciente de algum impulso (umsinal, talvez). No estAgio de manipulacao,a pessoa interpreta o impulso edecide como se comportar em face dele. Depois, o ato é consumado; resulta ocomportamento manifesto. Os varios modos de significacäo correspondem aesses trés estAgios. Os signos designativos predominam no estAgio perceptual;os signos prescritivos predominam na manipulacao; e os signos avaliatoriosmarcam a consumacão. Voltaremos com um exemplo num instante.

Neste ponto, entram na andlise tres dimensOes de valor. Sao elas: depen-dencia, dominancia e desligamento. Certos valores enfatizam a dependencia;outros sublinham a dominancia; e ainda outros, o desligamento. E interessanteassinalar que essas très dimensoes derivam da teoria dos sistemas. Quando ossistemas são receptivos a inputs provenientes de outros sistemas ou do meioambiente, existe uma relacao de dependencia.Quando o sistema estd produ-zindo umoutputque influencia outros sistemas, existe uma relacão de do-

minancia.0 desligamento e enfatizado na automanutencdo do sistema.Assim, todos os sistemas possuem qualidades que afetam outros, sac, afetadospor outros e mantem-se a si mesmos. 0 desligamento corresponde a percep-cdo e ao modo designativo de significano. A dominancia correspondemanipulacdo e aos signos prescritivos; a dependencia, a consumacao e aossignos avaliatorios. 0 Quadro 4 resume essas relacees.10

Quadro  Estagios de agäo emrelacäoas dimensdes de significado evalor 

Estagios de Acao Dimensoes de Sign ificacao Dimensoes de Valor

Perceptual Designativa DesligamentoMan ipulathrio Prescritiva DominanciaConsumathrio  Avaliathria Dependencia

FONTE: Extraido de Charles Morris — Signification and significance. Cambridge, MIT Press, 1964.

Consideremos agora um exemplo desse modelo. Suponha o leitor que estavendo televisão, certa noite, e assiste a urn novo comercial para algum pro-

duto que em geral WA° usa. Ver o comercial representa o estAgio perceptualdo ato. Ap6s ver o comercial, o leitor talvez fique algum tempo pensando arespeito dele. Podera pensar sobre o que se pretendeu dizer com algumas dasafirmacties usadas na publicidade. Talvez decida que o produto se reveste deimportáncia para voce. Este é o estagio da manipulacao. 0 terceiro estAgioocorreria corn a compra do novo produto (consumac5o). No primeiro estAgio,o leitor esta desligado; mantêm, simplesmente, o seu sistenia atual. No

8Zeno Vendler — Res cognitans: an essay in rational psychology. Ithaca, Cornell UniversityPress, 1972, pp. 126-27.9Morris — Signification.10Morris — Signification, p. 22.

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Coditicacão Verbal e Aldo- Verbal 93

Segundo estagio (manipulacao), o leitor esta dominado pelo processamentoda informacao que recebeu. Nesse ponto, esta fazendo corn que a sua decisaoatue sobre o meio ambiente de algum modo (no caso, comprar ou nao

comprar). Se decide comprar, ocorrera o estagio final de consumacao; o leitor 

recebera o produto, permitindo que este o afete (dependencia). Sao usadossignos ern cada momento desse processo. No primeiro estagio, o produto é

identificado e varios aspectos sao designados. No estagio manipulatOrio, oleitor esta decidindo como se comportar ern relacao ao produto (comprar ou

nao), usando assim, primordialmente, signos prescritivos. Finalmente, naconsumacao, o leitor descobre e traduz para si mesmo seu agrado oudesagrado pelo produto. Nesse ponto, os signos predominantes ern use seriam

avaliatorios.

Morris sublinhou que os atos podem ser individuais (realizados por pessoas

isoladas) ou sociais (realizados por urn grupo de pessoas). No caso dos atos

sociais, o grupo passara por todos os estagios acima descritos. Corn a espe-

cializacao de papeis, algunnas pessoas podem ser primordialmente responsa-

veis por aspectos perceptuais do ato social; outras, pela manipulacao; e aindaoutras, pela consumacao. Alen, disso, determinado individuo podera mostrar 

preferencia por certos aspectos dos atos individuais e sociais. Essa preferencia,expressa em termos de desligamento, dominancia ou dependencia, represen-

tara os valores da pessoa.Em estudos sobre valores humanos, Morris apurou cinco fatores axiologicos

basicos, os quais correspondem ao modelo triangular desenvolvido no Qua-

dro 4.11

Fator A: Coibicao Social e Autocontrole(desligamento social)

Fator B: Satisfacao e Pratica na Aga°

(dominancia social e individual)Fator C: Afastamento e Auto-Suficiencia

(desligamento individual)

Fator D: Receptividade e Interesse Compreensivo(dependencia social)Fator E: Comodismo

(dependencia individual)

Os fatores de valor social tratam das relacoes do individuo corn os atos so-ciais; os fatores de valor individual ocupam-se de atos individuais. A Figura

16 mostra a relacao desses cinco fatores corn o modelo triangular do atodesenvolvido anteriormente. 12

Na parte final de Signs, language and behavior, Morris forneceu um quadro

de referencia em cujo ambito as varias teorias do signo podem ser exami-nadas13 Os signos podem ser abordados em termos semänticos, ou o estudo de

como os signos (sinais e simbolos) se relacionam com as coisas; pragmaticos,

ou como os signos afetam o comportamento humano; e sintalicos, a relacao designos corn outros signos. As teorias da lingua e dos signos nao-verbais, neste

capitulo, sao predominantemente sintaticas. As mais importantes teorias se-

manticas e pragmaticas sera() apresentadas no capitulo seguinte.Na obra de Charles Morris vemos uma interessante evolucao teOrica. Corn-

binando a psicologia do comportamento, o interacionismo simbolico e ateoria dos sistemas, ele desenvolveu uma taxonomia de signos, uma teoria de

valores e uma teoria conjunta de signos e valor. A perspectiva de Morris ê uma

11 ibid.,p.25.12 Ibid., p. 26.13Morris —Signs,p. 28

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94 Processos Basicos

das muitas teorias relacionadas corn signos, linguagem, significado e pensa-mento. A semiOtica sensibiliza-nos para a importancia dos signos e sua natu-reza complexa. Esta pode ser a mais importante contribuicao de Morris. A suaabordagem comportamental deixa muita coisa sem resposta, como ele prOprioadmitiu.14

Dominencia

B   1 e B2: Dominancia, fase manipu-latOria do ato; dimensaoprescritiva da significaek.

A e C: Desligamento; fase percep-tual do ato; dimensk desig-native da significaCk.

E e D: Dependència; fase consu-matdria do ato; dimensk 

avaliatOria da significkao.

Figura 16. Modelo da re-

lagão de valores, signos

e o ato.Charles Morris

 — Signification and sig-nificance.Cambridge,

 MIT Press, 1964.

Dependencia Desligamento

Embora a teoria de Morris forneca urn born pano de fundo para a natureza

geral dos signos, ela e limitada. A riqueza da codificacao sera reveladaquando tratarmos em detalhe das teorias da lingua e do comportamentonao-verbal, nas prOximas secOes. Nesse ponto, seria ail passar a urn examedos tipos de signos, a fim de ampliar a nossa compreensao geral desteconceito e de que modo ele se relaciona corn a comunicacao.

0 Ponto de Vista de Wallace Fotheringham

Wallace Fotheringham usou cinco conceitos basicos: estimulos, signos, sinais,

si mbolos e mensagens.15 Esses conceitos distinguem-se de acordo corn a suafungão. Aqueles estimulos querepresentam alguma outra coisaque nao eles mesmos sao signos.

Uma mensagem consiste no use

intentional de signos por urn in-dividuo, singularmente ou ern

combinacao, a fim de criar efei-tos importantes numa outra pes-soa ou pessoas. A Figura 17 ilus-

tra essa hierarquia. 16 Existem dois

tipos de signos. Fotheringhamusou signo como o termo 'gene-rico acima descrito. Mas os sig-nos podem funcionar de duas

maneiras primarias. Urn sinal éurn signo que indica a presenca

ou existencia de algum objeto, evento ou condicao que nab ele prOprio. Urnsimbolo suscita na pessoa uma concepcdo do objeto, evento ou condicao.  A

14 Ibid., p. 219.15

Wallace Fotheringham — Perspectives on persuasion. Boston, Allyn & Bacon, 1966.16 I bid ., p .55.

Figura 17. Estimulos, sig-

nos emensagens. Walla-

ce Fotheringham

— P e r s p e c t i v e s o n p e r s u a s -

ion. Boston, Allyn &

 Bacon, 1966, p. 55.

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Codificagao Verbal e t ■ao-Verbal  95

I igura 18. 0 uso huma-

no de signos. Wallace

Fotheringham —Pers-pectives on persuasion.

 Boston, Allyn & Bacon,

1966, p. 118.

resposta simbOlica é mais do que o reconhecimento da existAncia ou presenca;a resposta envolve uma caracterizacao daquilo que simbolizado. Assim, doisdiferentes tipos de significado estdo associados a sinais e simbolos. Os sinaisgeram significacâo ou reconhecimento vinculado ao tempo e situacdo. Ossi mbolos produzem uma concepcdo que pode estar ou nä() vinculada adeterminado contexto. Se, por exemplo, alguern gritasse "Fogo" num edificio

pOblico, teriamos provavelmente uma significacão. Mas, se, na atmosferatranqiiila de urn jardim, duos pessoas estivessem discutindo a natureza dofogo como combustao, estaria ocorrendo uma simbolizacdo.

Qualquer signo pode ser usado como sinal ou simbolo, dependendo daespAcie de resposta suscitada nos usuarios. Obviamente, os simbolos sào maisricos, em termos de sua funcão, do que os signos. Como vai indicado na Figura18, os simbolos podem ser usados em numerosas areas intrapessoais e inter-pessoais. 17 A conceituacao de Fotheringham Otil na medida em que nos lem-

bra que os signos nao podem serentendidos independentementede sua funcdo. A codificacdo

Simbolizar consiste em simbolizacao e signi-

Usos ficagdo, e a comunicacào soExpresserpossivel atraves desses processorbasicos de codificacdo, Muitas

Ar§umentar teorias da lingua e da codificacOonao-verbal concentram-se nos

 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - signos, numa acepcdo sintAtica.Usos Comunicar Elas ignoram freantemente o

 - - - - - - - -1 - - - - - - - - -modo como a codificacao afetaI Persuader I1.  - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - as mensagens e os significados.

 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Tenhamos em mente, ao recapi-Outros Usos Interindividuais tularmos essas teorias, que esta-

mos lidando, no fim de contas,com o processo de comunicacAo.

De fato, essas nocaes de Fotheringham fazem parte de sua teoria geral dapersuasäo, que descreveremos integralmente no capitulo 7.

Teorias de Codificacao Verbal

A linguistica, ou estudo da lingua, a uma das mais importantes areas te6ricasrelacionadas corn a comunicacdo humana. A lingua e seu uso são taoimportantes para o comportamento hurnano que tern atraido a atencão decientistas sociais e eruditos ao longo de varios seculos. No seculo XX, ainvestigacOo prossegue ern antropologia, sociologia, filosofia, psi-

cologia, estudos de lingua inglesa e outras disciplinas. 0 nOmero de aborda-gens da linguistica é consideravel e a amplitude de seu campo e, por isso,conducenteaconfusao. 18 Basicamente, existem em Zing istica dois ramosprincipals e que se sobrepoem ern parte. A linguistica histdrica e o estudo do

17 Ibid., p. 118.18

Existem muitos comp8ndios excelentes sobre o estudo da lingua. Urn classico é o de John B.Carroll —The study of language. Cambridge, Cambridge University Press, 1953. Obras maisrecentes incluem Lois Bloom — Language development: form and function in emerging gram-mars. Cambridge, MIT Press, 1970; B.G. Blount — Language, culture and society:abook of readings.Cambridge, Winthrop Publishing, 1974; Chao, Yuen Ren — Language and symbolicsystems. Nova York. Cambridge University Press, 1968; Philip S. Dale —  Language development:structure and function.Hinsdale, Illinois, Dryden Press, 1972; Joseph A. DeVito (org.)

concepts andprocesses. Englewood Cliffs, Nova Jêrsei, Prentice-Hall, 1973; PaulGarvin — Method and theory in linguistics. Nova York, Humanities Press, 1970; Archibald Hill(org.) — Linguistics today. Nova York, Basic Books, 1969.

Assinalar

intra-individuais

interindividuais

BVILL7rCA

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96 Processos Basicos

modo como a lingua varia corn o tempo e do modo como ela se converteu emgrupos lingilisticos no mundo. A lingiffstica descritiva é o estudo de determi-nadas linguas, como se estruturam e como sac. usadas. Dentro dessas cate-gorias gerais, incluem-se varios sub-ramos. Neste livro, ocupar-nos-emosprincipalmente das modernas teorias da linguistica descritiva. As teorias apre-

sentadas nesta secdo consagram-se a très significativos grupos de interroga-

Vies:1. Como a estruturada a lingua? 0 que sao as unidades e relactles sintaticasnuma frase?

2. Como é usada a lingua? Que processos mentais ou comportamentaisestdo envolvidos na producao e recepcdo da fala?

3. Como e adquirida a linguagem?Este exame cobrirà as abordagens teOricas basicas do seculo atual. Comeca-

remos corn uma abordagem estrutural, que subdivide a frase ern unidades.Trataremos depois das explicacäes comportamentais mais recentes da gramati-ca, do use e da aprendizagem da lingua. A Oltima area de interesse sera o

ambito sumamente curioso da teoria gerativa ou gramatica transformacional.

E uma viagem fascinante, pois o que comecou varias decadas afros como umatentativa de descrever a estrutura de uma frase converteu-se agora num

verdadeiro exame dos processos do pensamento humano.

 Linginstica Estrutural Classica

0 que se tornou o modelo-padrao da construed° de frases desenvolveu-se,entre 1930 e 1950, no periodo estrutural clessico.19 Numerosos lingaistas con-

tribuiram para esse modelo, mas os mais importantes foram Leonard Bloom-field, Charles Fries e Zellig Harris. 20 Basicamente, esse modelo decompaeuma frase ern suas partes componentes, de um modo hierarquizado. Sons e gru-pos de sons da fala combinam-se para formar raizes e unidades de forma, asquais, por seu turno, se combinam para formar vocabulos e frases. As frases

sao reunidas para formar oracees ou sentencas. Assim, a lingua pode ser anali-

sada em varios niveis, correspondendo aproximadamente a sons, vocabulos efrases.

0 primeiro nivel de sons é o estudo da fonetica. Um som da fala isolevele urn tone. Fones de determinado tipo sao agrupados numa modalidade a quese deu o nome de fonema, que é a estrutura basica de qualquer lingua,Existem numerosos fonemas em qualquer falar de uma lingua. Esses fonemascombinam-se de acordo com regras para Produzir mortemas, que sao as me-nores unidades lingilisticas significativas. Alguns morfemas sao livres — podem

figurar sozinhos como palavras numa frase. Outros sac) presos — tern de com-binar corn outros morfemas para formar palavras. Em nivel sintatico, as pa-lavras combinam-se de acordo corn regras para formar frases gramaticais, que

se ligam entre si ern clausulas e oracties.Essa abordagem estrutural a uma taxonomia. Os segmentos reais observados

sao colocados em classes de determinado tipo (fonema, morfema etc.); essessegmentos sac., assim, dispostos em seqeencias, de acordo com as freqiienciasobservadas num processo de construed° de frases. Ern cada nivel de analiseexiste um conjunto finito de classes (por.exemplo, fonemas ou morfemas) que

podem ser observadas na lingua materna. As frases sao sempre construidas

19 Urn excelente resumo e critica desse periodo pode ser encontrado em J.A. Fodor, T.G. Bever 

e M.F. Garrett — The psychology of language: an introduction to psycholinguistics and genera-tive grammar. Nova York, McGraw-Hill, 1974.20Leonard Bloomfield — Language. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1933; Charles Fries— The structure of english. Nova.York, Harcourt, Brace & World, 1952; Zellig Harris — Structurallinguistics. Chicago, University of Chicago Press, 1951.

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Codificagäo Verbal e Ndo-Verbal   9 7

hierarquicamente at- oaixo para cima, de modo que os subseqiientes niveisdependam da forma / 0o dos niveis inferiores.

Embora essa abordagem forneca uma átil descricao da estrutura da lingua,

ela nao logra explicar como a que as pessoas usam tal lingua. Esta Ultimaquesta° a muito mais pertinente para a comunicacdo e por isso vem reclaman-

do a atencao dos psicolingilistas desde 1950, aproximadamente. Sabemos que

as pe,.,oas devem possuir urn conhecimento intuitivo de sua lingua paraproduzirem uma fala gramatical e significativa. Qual é a natureza desseconhecimento? De que modo e adquirido? Como é realizado? Eis as questdes

mais importantes abordadas , pelos psicolingiiistas nas Ultimas tres decadas. A

literatura que resultou dessa atividade a extensa, controvertida e altamente

técnica. Examinaremos agora as duas mais vastas escolas de pensamento sobrea psicologia da linguagem: a abordagem comportarrientalista e a gramaticatransformational

Teorias Cornportamentais da Linguagem

 A maioria dos behavioristas usa o estruturalismo como uma base. Eles tentam

explicar ern termos do paradigma estimulo-mediacao-resposta como sac, produ-zidas frases de natureza hierarquica. Corn excecdo de behavioristas radicaiscomo Skinner, cuja obra resumiremos daqui a pouco, a maior parte dosbehavioristas adota uma abordagem hulliana.21 Todas as variacCies sobre esseterra hulliano afirmam que as partes de uma frase estão relacionadas por associacao, de modo tat que as unidades subseqUentes tem uma probabilidade

de estatistica de se seguirem as unidades antecedentes, e que essas probabili-

dades de associacäo sao aprendidas. Essas teorias procuram ainda explicar osi mportantesmediadores internos na producao e recepcdo de frases?2

 A Teoria de B.F. Skinner. Uma das mais simples teorias da linguagem é a de

B.F. Skinner, urn behaviorista radical. 23(Porque ele se coloca do lado dospsicologos que atentam exclusivamente para o comportamento real observd-

vet, Skinner nao seria incluido entre os hullianos descritos no paragrafo ante-rior.) Skinner ve o comportamento verbal da mesma forma que ve todo o com-

portamento; ele a apresentado pelo organismo de acordo corn a freqUéncia

corn que foi reforcado. Quando urn comportamento (operante) for positiva-mente reforcado ou recompensado, aumentarà de freqiiência. Quando negati-

vamente reforcado, decrescera. Tal é a natureza da linguagem, segundo Skin-

ner. Por conseguinte, o comportamento lingiiistico real de qualquer pessoa é

urn produto da historia de reforco de operantes verbais dessa pessoa.Skinner identificou seis tipos basicos de operantes. Urn mando é urn

operante controlado por algum impulso interno, o qual funciona para reduzir 

ou satisfazer a necessidade. Quando uma crianca diz "Agua", tem-se urnexemplo de urn mando, se resultar no recebimento do liquido e aliviar a sede

da crianca. Urn tato [ uma abreviacao de contato uma expressão verbal querotula alguma coisa. Ern vez de ser controlado por urn estado ou necessidadeinterna, urn tato a apresentado diante de algum objeto ou situacão. 0

estimulo externo para urn tato pode ser o prOprio objeto rotulado ou algumoutro estimulo associado. Urn ea/lc° resulta do comportamento verbal de outra

pessoa; ecoa ou repete o que e ouvido. Tal comportamento é comumente

210 modelo mediacional de Clark Hull a explicado no capitulo 7.22Para uma visão geral e critica da abordagem hul liana da linguagem, ver T.G. Bever, J.A. Fodor eW. Weksel — linguistics empirical?", in Psychological Review, 72, 1965, pp. 493-500. Paraurn resumo de teorias comportamentais especificas, ver Joseph DeVito —The psychology of speech and language. Nova York, Random House, 1970.23B.F. Skinner — Verbal behavior. Nova York, Appleton-Century-Crofts, 1957.

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98 Processos Basicos

observado em criancas pequenas, que imitam a fala de -outras pessoas. Urn

operante textual é apresentado a partir de urn estimulo escrito. A leitura e urn

born exemplo. Urn operante intraverbal é urn enunciado emitido ern associa-

cao (aprendida) corn outro padrao verbal. Chavoes, testes de associacao verbale rituais de saudacao servem como exemplos. Finalmente, existem oiseoperan-

tes relacionados corn a audiencia. Esses comportamentos sao controlados pela

presenca de determinados palicos ou audiencias. Em certo sentido, o falanteadapta-se ao ouvinte.

Ha duas importantes generalizacoes baseadas nesse model°. Ern primeirolugar, urn determinado comportamento verbal deve ser_sempre identificado ern

termos de sua fungdo para a pessoa. Se urn bebe diz "Agua", devemos indagar 

o que else rOtulo realiza. Se é uma simples imitacao de outrem, é ecOico. Se é

UMpedido de agua por causa da sede, é urn mando. Se é uma resposta a vistade agua, é urn tato. Ern segundo lugar, os comportamentos lingaisticos de

uma pessoa resultam dos padroes de reforco desses leis operantes funcionais.

Se bem que a teoria de Skinner explique algumas coisas acerca da lingua-

gem articulada, ela também apresenta deficiencias. As teorias mediacionaismais complexas tentam fornecer uma explicacao mais completa das complexi-

dades da linguagem. Numerosas teorias estao incluidas na escola hulliana. Elasempenham-se ern explicar como a linguagem a produzida ou recebida erntermos das variaveis intervenientes na cabeca do falante. Urn dos maisdestacados psicolinguistas comportamentais no grupo hulliano 6 Charles Os-

good.

 A Teoria Mediacional de Charles Osgood. Osgood 6 famoso por seus trabalhos

sobre o diferencial semantic°, e., uma medida de significado. Também

realizou consideraveis trabalhos sobre o tema afim do comportamento lingills-

tico. A teoria mediacional da linguagem, de Osgood, é urn dos mais avanca-

dos entre todos os modelos comportamentais. 24Osgood acredita que a

li nguagem nao deve ser estudada independentemente do comportamento real

em curso, que a linguagem a usada ern contexto, e que as teorias psicoling(iis-

ticas devem explicar a interacdo entre a linguagem articulada e as outrasatividades humanas. A lingua oral pode ser nao-gramatical e ambigua, numa

acepcao pura; mas o falante e o ouvinte podem nao perceber ambigaidade

alguma, por causa do contexto ern que a fala e produzida.Osgood prop6s urn model° de comportamento em ties estagios, ilustrado na

Figura 19. 25Esse modelo pode ser usado para analisar qualquer comporta-mento, incluindo a geracao ou recepcao de frases. Existem tras processos

basicos: codificacao (recepcao de estimulos), associacao (pareamento de

estimulos e respostas), e decodificacao (producao de respostas). Esses pro-

cessos podem ocorrer atrav6s de fres niveis, dependendo da complexidade do

comportamento envolvido. 0 nivel de projecao e o sistema simples depercursos neurais entre Orgaos sensores e efetores. Nesse nivel, o comporta-

mento é reflexo, como no piscar de olhos e no reflexo patelar; o estimulo e a

resposta estao ligados automatica e diretamente. No nivel de integragdo, o eloestimulo-resposta nao' uma conexdo necessaria ou natural. Estimulo eresposta devem ser integrados pelo cerebro, atraves da associacao percebida.

Se dois estimulos corn respostas projetadas separadas ocorrem juntos, a pessoapode integra-los de modo que urn ou outro estimulo suscite a resposta. Urn

exemplo do nivel integrativo de comportamento e o rotineiro ritual de sauda-

cao: "Voce, como vai? Vou bem."

24Charles Osgood — "On understanding and creating sentences", in American Psychologist, 18 ,

1963, pp. 735-51.25Ibid., p. 740. Essa figura esta ligeiramente modificada para melhor esclarecimento e foi

reproduzida de DeVito — Speech and language, p. 70.

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DECODIFICACÁO ASSOCIACAO CODIFICACAO

r m

(7)

—lb- s m

(9)

A

(8)

(4)

S S i

(5)

—0s i+

(6)

V

(1)

sss

(2)

►rrr 

(3)

Integracional

Prolecbc,

Figura 19. Modelo me-diacional de comporta-

mento em trés estagios.

Niveis

Representacional

Codificagao Verbal e Nao-Verbal 99

0nivel representacional éaquele em que se da o significado. 0 estimuloproveniente do meio ambiente é projetado no cerebro e, nesse ponto, umaresposta interna leva a um estimulo interno (significado) que, por seu turno,conduz a resposta do individuo. A resposta interna, ou significado, e umaassociacao aprendida entre certas respostas concretas ao objeto e urn signo doobjeto. Assim, o signo (talvez uma palavra) produzirA um certo significado ou

conjunto de significados, o qual promana da associacäo do signo e do objeto.Para usar urn exemplo sugestivo, suponha o leitor que esta sentado numacadeira pequena e fragil, e que esta se desintegra. No futuro imediato, umai magem da cadeira, a vista de outra cadeira semelhante ou as palavras"cadeira pequena e frAgil" produzirao uma imagem ( rm) em sua cabeca queinfluenciarA o modo como kb. responder. Essa resposta interna (medo, dor etc.)é parte do seu significado para o signo. Na vida real, os significados CA° muitomais complexos do que esse exemplo, mas formam-se, acredita Osgood,

Processos

S

atraves do mesmo processo basica de associacAo. Em suma, Osgood considerouo primeirosnivel sensorial, o segundo perceptual e o terceiro significativo.

Apliquemos agora esse modelo a producdo e recepcdo de frases. Osgoodusou primordialmente uma abordagem da gram:Mica assente na estrutura dafrase. A estrutura da frase decompeie uma dada oracao em frases. Em cada

nivel, a frase e decomposta em suas partes componentes por regras de reescri-tura. Por exemplo, uma frase pode ser decomposta de acordo com a seguinteregra de. reescritura:

frase sintagma nominal + sintagma verbal

O sintagma verbal pode ser ainda decomposto de acordo coma seguinte regrade reescritura:

sintagma verbal verbo + sintagma nominal

Esse processo continua ate que tenham sido consideradas todas as unidadessignificativas na frase. Essa abordagem de estrutura da frase é urn metodo

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100 Processos Basicos

muito comum. Esta aqui em contraste corn duas outras abordagens da analisegramatical: a gramatica dos estados finitos e a gramatica transformacional.24Como a gramatica transformational assumiu lideranca da teoria lingOistica,ela sera explicada separadamente na prOxima secao. A gramatica dos estados

finitos e hoje obsoleta. Foi o modelo dos primeiros behavioristas, que acredi-tavam ser cada unidade de uma frase uma resposta condicionada resultante do

elemento imediatamente anterior. Corn o modelo de estado finito, acredita-va-se que uma frase era gerada serialmente, palavra por palavra.

Os hullianos, incluindo Osgood, adotaram a abordagem da estrutura de

frase, o que os habilitou a explicar parcialmente como os Ultimos elementosde uma frase podem influenciar a forma gramatical dos elementos anteriores. A

Figura 20 reproduz a notavel contribuicao de Osgood para esse tipo de analise,

aplicada a determinada frase.27Esse modelo e lido de cima para baixo no caso de producao (codificacao) da

frase e de baixo para cima para a recepcao ou decodificacao. Nesta explicacaocomecaremos por cima. A frase,S 1  , é vista em contexto. Como se pressupOe

que a frase se relacione com (rases a ela anteriores e secitientes, mostram-se Soe S 2. Usando as regras de reescritura, S 1 e decomposta hierarquicamente em

suas partes componentes. Os grupos de très setas indicam que os elementos

subsequentes de uma frase dependem, em parte, de elementos antecedentes. Assim, o sintagma verbal "chuta a bola colorida" tern uma probabilidade de seseguir ao sintagma nominal. Podemos ver nesse caso que Osgood nao abando-

nou o tema hulliano basico, enunciado anteriormente, segundo o qual qual-quer elemento da frase tera uma probabilidade estatistica de se seguir aelementos a ele anteriores. Uma frase é produzida serialmente. Se a primeira

palavra é o artigo o, entao é altamente provavel que a palavra seguinte sejaurn substantivo. Em urn nivel superior, a sumamente provavel que urn sin-

tagma verbal se siga a um sintagma nominal. Por outro lado, nenhumaseqiiancia e absolutamente certa; existem opcOes. Osgood usou mialtiplas setaspara ilustrar isso.

Nesse exemplo, portanto, o falante produz urn sintagma nominal seguido de

urn sintagma verbal. 0 sintagma nominal inclui o artigo o mais urn substan-

tivo; o sintagma verbal é subdividido do modo que se mostra na figura.  A

vantagem desse modelo a explicar como fatores seanciais e simultaneos

operam na geracao da frase. As decisoes em niveis superiores (por exemplo,SN + SV) influenciam a probabilidade de certas ordens em niveis inferiores

(por exemplo, T + N). A posicao do substantivo homem (N) em nossoexemplo e influenciada pelo artigo o (T, urn elemento prèvio) e o sintagmaverbal (SV) que se segue. Uma vez apresentada a forma gramatical basica, as

palavras recebem os significados pretendidos, corn base nas regras lexicais.

 A decodificacao de sentencas pode ser melhor entendida em termos daexisténcia de tres componentes basicos no processo de codificacao-decodifi-

cacao. 0 primeiro deles e o Pool de Forams Verbais. Esse pool constitui uma

armazenagem de formas verbais destituidas de significado, ao nivel de inte-

gracao. Ai esta refletida cada palavra basica (menos o seu significado) novocabulario da pessoa. 0 segundo componente é a Selecao da Chave Sem5n-

tica. Esse componente (na realidade, urn processo) tern lugar em nivelrepresentational. 0 ouvinte seleciona a palavra percebida do pool e combi-

na-a corn os seus varios significados. Se a escolha for bem-sucedida, umUnico significado (ainda que complexo) emergira e a compreensäo ocorrera. 0

26Para uma explicacao e critica dessas Wes abordagens, ver Noam Chomsky — "Three models

for the description of language", in Transactions on information theory, v. IT = 2, 1956, pp.

113-24; e Jerry Fodor, James Jenkins e Sol Saporta — "Psycholinguistics and communicationtheory", in Human communication theory, organizado por Frank Dance. Nova York, Holt,Rinehart & Winston, 1967, pp. 160-201 [ pp. 203-54 da ed. brasileira; ver Bibliografia].

27 Osgood —"Creating sentences", p. 743.

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CodificanoVerbal e Nab-Verbal 101

terceiro componente, o Misturador Cognitivo, intervêm quando forem esta-belecidos os significados verbais. Esses varios significados tem de ser combi-nados num significado unificado e congruente para a frase ou clausula. Algunssignificados podem mudar para serem congruentes corn outros, dentro daassercäo. 0 processo de mistura cognitiva obedece a forma descrita na Teoriade Congruëncia de Osgood (descrita no capitulo 7).

Si

.7rSN

V

T N

Figura 20. integragão de

hierarquias seqbencia is

e simultâneas. Charles

Osgood — "On under-

standing and creating

sentences", in Ameri-

can Psychologist, 18.

1963, p. 743. Copyright ©

1963by the American

Psychological Associa-

tion. Reproduzido com permissâo.

S to- SN + SV S0

SN T + N

SV •-■v + SN

SN + N + A

Regras lexicais

SV

SN

TN   A

A

V V

0 V- homem. chuta .v a v• bola vcolonda

Essa breve analise da elaborada teoria de Osgood foi simplificada, masuma nocão exata de como os psicologos behavioristas abordam o terra docomportamento Prosseguiremos corn a teoria do significado deOsgood no proximo capitulo. Como o comportamento lingaistico parece serinerentemente complexo, o estado de conhecimento sobre ele ainda e primi-tivo e muito controvertido, como veremos na secão seguinte sobre gramAticagerativa.

 Aquisigão da linguagem. Entretanto, antes de deixarmos os behavioristas,cumpre-nos tratar da importante area afim da aquisicdo da linguagem. Noatnago da controv&sia entre campos lingifisticos opostos esta a questdo decomo obtemos uma- linguagem articulada. Existem duas abordagens opostas:uma abordagem de aprendizagem e uma abordagem nativista. Como o enfoquede aprendizagem estd associado ao behaviorism°, resumi-lo-emos aqui. Aabordagem nativista, mais freqUentemente associada a teoria gerativa, seratratada na prOxima secdo.

Aseguinte transcricao de DeVito descreve a dificuldade dessa area deteorizacão:

A tarefa com que uma teoria de aquisicdo da linguagem se defronta e deveras

formic:lave!. Deve explicar o conhecimento por parte de uma crianca da mais

i mportante poryao de sua lingua por volta dos quatro anos de idade —uma tare-

fa que um adulto inteligente levaria anos para realizar e mesmo assim so corn

numerosas imperfeiciies nos sons, estrutura e significado. A crianca, nessa tenraidade, ja dominou a lingua, ao ponto de poder entender e gerar sentences que

nunca ouviu antes, teoricamente em nOmero infinite. (...)

Outroproblema a que a teoria deve explicar o conhecimento de gramatica

por parte da crianca, apesar do fate de que muito do que ela ouve :lac) e

gramatical; seja como for, ela aprende os sistemas fonologico, sintatico e

sem'antico de sua lingua, mesmo que o que ouve seja frequentemente contrario

aos principios e regras desses sistemas.

De que modo urn ser tao jovem e de inteligéncia ainda pouco desenvolvida,

incapaz de cuidar de suas prOprias necessidades mais básicas, domina uma

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102 I )rocessos Basicos

l i ngua que os lingaistas . foram incapazes de descrever em completo detalhe ndocertamente uma questa() fácil de responder.28

0 padrao comportamental ou enfoque de aprendizagem da aquisicdolinguistica considera a linguagem urn produto de associacees (condiciona-mento classico) e reforco (condicionamento instrumental) no meio ambiente.

0 paradigma classico, incluido na teoria de Osgood, enfatiza que as palavraspassam a ter significados por associacao com objetos ou outras palavras ou •signos previamente condicionados. Assim, a crianca aprende palavras por urn

processo de associacao. A abordagem instrumental assinala que o reforco é a

chave. Uma crianca é reforcada para usar verbalizacees "corretas" em deter-

minados contextos e, assim, repete o que foi reforcado. Recorde-se que ateoria de Skinner se baseia num modelo instrumental. A maioria dos teOricos

da aprendizagem concordaria em que ambos os tipos de aprendizagem atuamno desenvolvimentoda linguagem infanti1. 29 Alguns exemplos poderao ser eteisnesse aspecto,

Uma das palavras mais simples que uma crianca encontra ern seu estagiopre-linguistico e "Não!". Suponha-se que a crianca faz mencao de agarrar um

vidro de comprimidos. A mae da uma palmadinha na mao da crianca e diz"Nao!". Nesse ponto, a crianca experimenta uma associacao de uma palavra e

de um estimulo nao-condicionado. A resposta da crianca a palmada a retirar a

mao (enquanto grita angustiada). ApOs certo lapso de tempo, durante o qual a

palavra e a palmada foram repetidamente pareadas, a crianca aprende osignificado da palavra e responde, retraindo-se toda vez que a palavra é pro-ferida. Esse é urn exemplo do modelo de condicionamento classico em acao naaprendizagem lingiiistica. Ern outro exemplo, a crianca profere um som seme-

lhante a "mama", A mae sorri imediatamente, apanha o bebe nos bravos e for-nece outros estimulos que a crianca passa a considerar recompensadores. Umavez que o comportamento recompensado se repete, o bebe acaba "aprenden-

do uma palavra" e passa a usa-la apropriadamente. cl„

Uma das mais aceitas teorias de aprendizagem desse tipo e a de Mowrer.30

De acordo com essa teoria, um bebe passa a deleitar-se na articulacao de sonse vocaliza como uma especie de brincadeira agradavel. Esses sons brincalhOese imitativos sao, no comeco, destituidos de significado. Passam a ter signifi-cadopara a crianca da maneira ,acirra descrita. Os pals emparelham objetos esons, e, mais tarde, reforcam a producao de palavras no contexto correto. Essateoria pode explicar a aprendizagem de certas caracteristicas linguisticas, mas

sua fragilidade este. em nao conseguir explicar a aquisicao de formas gramati-cais complexas.

Uma teoria de aprendizagem muito conhecida que se dedica a essa questa° ea teoria da generalizacao contextual, de Martin Braine.31 0 fenomeno dageneralizacao esta hem substanciado na pesquisa sobre aprendizagem. Uma

resposta aprendida pode ser generalizada a outras situacees semelhantes. Por 

exemplo, um pombo que aprendeu a dar bicadas num determinado ponto afim de obter alimento continuara adotando esse comportamento numa seriede situacties que se desviam da situacao real ern que a aprendizagem ocorreu.

Braine aplicou simplesmente esse principio a aprendizagem da gramatica.Existem tres proposicees basicas na sua teoria: (1) a crianca aprende a

28DeVito —Speech and language, pp. 137-39. DeVito fornece urn excelente resumo dasprincipais teorias da aquisicao.29 Para uma teoria da aprendizagem integrada da linguagem, ver Arthur Staats — Learning,

language and cognition. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1968.30 H. Hobart Mowrer —'The psychologist looksat language", in American Psychologist, 9,1954, pp. 660-92; Learning theory and the symbolic processes. Nova York, John Wiley, 1960.31

Martin D. Braine —"Os learning the grammatical order of words", in Psychological Review,70, 1963, pp. 323-48.

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Codificacao Verbal e Nao-V erbal 103

localizacao de uma expressao num contexto; (2) o que e aprendido é alocalizacao de urn elemento na maior unidade hierarquica seguinte (por exemplo, palavras em sintagmas, sintagmas em frases, oracOes etc.); (3) isso éaprendizagem perceptual; a crianca esta ficando habituada a ouvir certaexpressao verbal emedeterminado lugar do contexto. A generalizacao ocorre

quando o element() associado a determinada localizacao num contextocolocado no mesmo lugar em algum contexto novo.

Por exemplo, o principio de que o artigo precede o substantivo num

sintagma nominal seria aprendido por generalizacao. A crianca aprendeperceptivamente que as formas "o" e "a" vern antes de "homem", "cao","gato", "casa" e "mesa". Embora nunca tivesse ouvido antes, a criancaproduzird as frases "o gato" ou "a casa" na ordem apropriada.

Muitos lingaistas contemporaneos acreditam que nenhuma teoria de apren-dizagem podera explicar adequadamente a riqueza da aquisicao de lingua-

gem. 32 Passemos agora das teorias behavioristas da linguagem para uma alter-nativa: a gramatica gerativa.

Teoria Gerativa

 A terceira escola mais importante de linguagem 6 a gramatica gerativa. Emboraexistam muitas teorias que se enquadram nessa abordagem, o principal te6rico

generativista e Noam Chomsky. 33 Chomsky e outros teOricos generativistaspropuseram um enfoque radicalmente diferente, a que deram o nome degramatica transformacional. Ela esta em oposicao basica as escolas estrutura)

e behaviorista. Os te6ricos transformacionalistas acreditam ser impossivel ex-

plicar adequadamente o comportamento linguistico mediante os metodos tra-dicionais. Na medida em que as anteriores abordagens teOricas limitaram sua

analise aos constituintes imediatos da frase (as estruturas superficiais, talcomo sao observadas), elas ou cometem uma grosseira supersimplificacao ou

promovem a proliferacao de regras em nivel nada parcimonioso, mesmoquando explicam as construcOes mais simples. 34 Sem dOvida, os seres humanos

podem aprender frases; a questa() esta em saber como eles chegam a entender e produzir novas frases.

 A gramatica transformacional e complexa e frequentemente abstrata. Esta

breve exposicao geral constitui apenas uma tentative para descrever as nap:5esbasicas da abordagem gerativa.

Em primeiro Lugar, os gramaticos tranformacionalistas estabelecem umadistincao basica entre dois niveis da producao de linguagem: urn nivel super-ficial e urn nivel profundo. A estrutura superficial é o nivel fonetico, a frasereal proferida. A frase superficial manifesta a gerada a partir de uma estruturapro funda ou subjacente.A estrutura profunda a uma eritidade abstrata (ou mo-delo de frase) na mente do falante. Nao e diretamente traduzivel numa frasesuperficial mas é a unidade significativa basica a partir da qua) é criada a frase

falada. Todas as estruturas superficiais envolvem transformacoes a partir dasestruturas profundas correspondentes. Todas as construcOes de frases com o

32Para urn debate sobre as questeies basicas, ver ibid.; T.C. Bever, J.A. Fodor e W. Weksel — "Acritique of contextual generalization", in Psychological Review, 72, 1965, pp. 467-82; MartinBraine — "On the basis of phrase structure: a Reply to Bever, Fodor and Weksel", inPsychological Review, 72, 1965, pp. 483-92; T.C. Bever, J.A. Fodor e W. Weksel — "Is linguisticsempirical?", in Psychological Review, 72, 1965, pp. 493-500.33As principais obras de Chomsky incluem Aspects of the theory of syntax. Cambridge, MITPress, 1965; Language and mind, Nova York, Harcourt, Brace, Jovanovich, 1972; The acquisi-tion of syntax in children from 5 to10.Cambridge, MIT Press. 1969, Syntactic structures. Haia,Mouton, 1957.34Uma excelente critica das abordagens taxoneimica e de aprendizagem e uma visäo geral dagramatica transformacional encontram-se ern Fodor et al. — Psychology.

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104 Processos Basicos

mesmo significado, independentemente da forma, promanam da mesma estru-

tura profunda.

De que modo, pois, sac) produzidas frases a partir de estruturas profundas?

Por transformacdes. 0 falante obedece a regras de transformacao para produ-

zir uma secgAncia gramatical de enunciados que expressam a interpretacao

semantica determinada no nivel profundo. Por exemplo, consideremos umaestrutura profunda corn a interpretacao semantica mais ou menos assim:"Uma pessoa chamada Joao realiza a acao de chutar um objeto chamadobola."  --

Como pode isso ser transformado numa frase superficial? Existem varias trans-formaceies permissiveis:

Transformacao ativa (presente):"Joao chuta a bola."

Transformacao passiva (presente):"A bola e chutada por Joao."

Transformacao negativa:"Joao tido chuta a bola."

Muitas outras transformacäes poderiam ser feitas. Cumpre manter presente ai mportante nocao semantica de que cada forma superficial relaciona-se cornuma Unica estrutura profunda, dotada de determinada interpretacao seman-tica (significado).

Os teOricos transformacionalistas analisam as frases profundas e superficiaiscorn o uso de arvores. As frases sao geradas em duas etapas. Em primeirolugar, a arvore profunda a gerada mediante o uso das regras de reescritura daestrutura frasal. As palavras sao combinadas em frases, as quais sao reunidas

de acordo corn a gramatica da estrutura frasal. Esse processo avanca ate ao

ponto ern que se estabelece a interpretacao semantica basica. A estruturaprofunda resultante é ainda modificada por transformacees, e uma arvoresuperficial é gerada. A Figura 21 ilustra esse processo em duas etapas„35'

Regras de estrutura frasal 

Figura 21. Geragaode frase. Extraido de: Fodor et al. —The psychologyof language. Copyright©1974 by McGraw-Hill,

 Inc. Usado corn permis-sgo de McGraw-Hill

 Book Co. 

Estruturas profundas 

Regras de transformeo 

Estruturas de superficie

Duas regras de transformacao serao usadas no exemplo. A transformacaopassiva inverte o sintagma (ou frase) nominal e o sintagma verbal, coloca overbo na forma passiva e acrescenta a preposicao por:

Joao ama Alice.(passiva) Alice é amada por Joao.

35 Adaptado de ibid., p. 111. Simplifiquei esse modelo por uma questão de major clareza nestaintroducao basica a gramatica transformacional. 0 processo real a mais complexo.

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SV

SN

N Adj. Aux. Prep.

S Prep.

N

Codificagao Verbal e I  N  /Jo-Verbal 105

Figura 22. Urn exemplode estrutura profunda.

 A transformacao adjetiva ocorre pela eliminacao da forma verbal sere pela

colocacao do adjetivo antes do substantivo:

Joao ama Alice.Alice é linda.

(adjetiva) Joao ama a linda Alice.

Essas regras Fla) sao incluidas como uma HO° sobre transformacaes permis-siveis mas apenas para dar suficiente informacao, que permita entender onosso proximo exemplo do processo de geracao de frases em duas etapas. 36

Suponha-se agora que desejemos gerar a sentenca: "Cogumelos maduros saoapreciados pelos Hobbits."37Isso ocorreria em dois estagios. Primeiro, seriagerada uma arvore profunda com regras de estrutura frasal, conforme semostra na Figura 22. Essa arvore profunda fornece a interpretacao semanticabasica da frase. Estao presentes todas as relacoes gramaticais logicas basicas eo significado da frase esta fixado. Nao deve preocupar o fato de essa estru-tura profunda nao se assemelhar a pretendida estrutura superficial. A es-trutura profunda é uma entidade abstrata, a partir da qual a frase real seragerada no estagio 2.

Geraremos a arvore superficial aplicando as duas transformacOes acimadescritas: a passiva e a adjetiva. A Figura 23 ilustra a arvore superficial.

S

cogumelos est5o maduros

Figura 23. Urn exempla

de estrutura superficial.

Cogumelos maduros   & do apreciados por  Hobbits

36Numerosas transformactes inglesas sao explicadas em forma sucinta por Peter SalusIndianapolis, Bobbs-Merrill, 1969.

37 Ekemplo extraido de ibid.,p. 32. [ "Hobbit" é o nome inventado por J.R. Tolkien para um seri maginario de forma humana muito pequena e algumas caracteristicas de coelho que figura emseus romances. Tolkien atribuiu-Ihe uma natureza pacifica e sociavel. (N. do T.)]

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106 Processos Basicos

Corn urn minnero relativamente pequeno de regras de reescritura e regras detransformacao, qualquer frase gramatical nova pode ser gerada por urn fa-

lante. Uma vez mais, a estrutura sernantica basica e gerada ern nivel profun-do ou abstrato corn estrutura frasal, e as frases sac) geradas submetendo atransformagOes a estrutura subjacente. Isto e, ern essência, o que urn falanteintuitivamente "sabe" a respeito da lingua. 0 modelo de geracao de frases ern

duas etapas e uma explicacao relativamente parcimoniosa e descritivamenteadequada de como o falante usa esse conhecimento.

0 que esta ainda por responder é a questa° de como essa informacaolinguistica e adquirida. Ern oposicao a tese de que a informacao linguisticaaprendida, Chomsky e muitos de seus colegas adotaram uma postura nativis-

ta, sustentando que a mais importante informacao linguistica é inata. Fodor,

Bever e Garrett enunciaram a tese nos seguintes termos:

0 que os modelos tradicionais de aprendizagem da linguagem tern em comuma sua incapacidade para explorar a possibilidade de que uma crianca contribuapara a situacào de aprendizagem corn urn rico sistema de hipotese sobre asespecies de regularidades estruturais que podem estar subjacentes as frases quelocutores adultos produzem. Parece ser cada vez mais claro que nenhuma

descricao de aprendizagem da lingua materna que nao admita algumas supo-sicOes desse tipo podera ter grandes probabilidades de 'kit°. Ainterrogacaointeressante a menos se a crianca contribui corn tal informacao para a tarefa daaprendizagem linguistica do que qualo carater da informacao que ela trazconsigo.38

Existem varias teorias nativistas de aquisicao de linguagem. Trataremos aqui

da mais destacada de todas, a de Chomsky. A maioria das outras sat) extensäesou modificacties dessa teoria basica. Segundo Chomsky, a crianca nasce corn

varias especies de informacao Essa informacao é universal e nabse relaciona corn qualquer lingua ern particular. Assim, a informacao inata é amesma, independentemente da cultura ern que a crianca nasceu. Chomskyacredita que a crianca traz para a aprendizagem linguistica urn conhecimento

basic° de todas as possiveis seqUencias foneticas univeisais (ern oposicao asseqtrencias impossiveis), todas as possiveis arvores de estrutura profunda(ern oposicao as arvores impossiveis) e todas as possiveis transformacOes

(ern oposicao as impossiveis). A crianca conhece a diferenca entre o que é pos-sivel ern qualquer lingua (uma linguagem universal) e o que nao 6. Isso equivalea uma enumeracao de todas as gramaticas possiveis. Alem disso, a criancanasce corn uma rotina-padrao para testar as expressOes verbais que ouve. Essedispositivo de reconhecimento permite a crianca comparar o que ouviu com

todas as seqUencias possiveis, ate ser "descoberta" a gramatica de sua lingua

materna. Trata-se de urn processo de selecao envolvendo a formulacao dehipoteses pela crianca acerca da gramatica pr6pria da lingua materna, e averificacao dessas hipoteses.

Fodor, Bever e Garrett estabeleceram uma analogia entre esse processo na

crianca e o trabalho de campo de uma linguista:

Na opiniao de Chomsky, portanto, a crianca depara corn uma tarefa anâ-loga a de urn linguista de campo, quando este se defronta com uma linguaestrangeira. Ambos tern de construir uma caracterizacáo das regularidadessubjacentes num determinado conjunto de seciHncias foneticas C..) em que aforma relevante de caracterizacao a uma gramatica gerativa. A semelhanca doli nguista de campo, a crianca nao enceta a sua tarefa de mäos vazias; ideal-

manta,ambos possuem uma "teoria linguistica" que limita o candidato a analise

38Fodor et al. — Psychology, p. 468.39Chomsky —Aspects, p. 30. Uma interpretacão e urn resumo sac) fornecidos por Fodor et al. — pp. 470-72.

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Codificacäo Verbal e N50-Verbal 107

do corpus [ a lingua que estä sendo analisada I aquelas que poderaoser verda-

deiras e pertinentes a alguma lingua natural. (...) Em 'qualquer dos casos, o

problema consiste em descobrir, entre as infinitamente numerosas gramáticas

que satisfacam as restricties universals no tocante a forma e contend°, qual é a

melhor para a lingua da qual ocorpus6 extraido.40

 Atualmente, o nosso entendimento da aquisicao linguistica e muito primi-tivo. Os nativistas acreditam que aquilo que uma crianca adquire em seusprimeiros anos de vida é rico demais para ser exclusivamente explicado em

termos de aprendizagem. De momento, a alternativa e algo abstrata e vaga,mas podemos esperar progressos em nossa compreensao dense interessante

fenOmeno. 0 que for descoberto num proximo futuro acerca da aquisicao delinguagem, em particular, e do comportamento emgeral, podera

culminar num conhecimento aperfeicoado dos processos basicos do pensa-mento humano.

Teorias de Signos Nao-Verbais

 Abordamos as teorias de comunicacao nao-verbal em dois lugares neste livro.

Neste ponto, cobrimos varias teorias muito conhecidas de signos nao-verbais.(As teorias que relacionam processos nao-verbais com a comunicacao inter-

pessoal em geral estao incluidas no capitulo 8.) Aliteratura sobre comuni-cacao nao-verbal avolumou-se em anos recentes. Numerosas teorias e dezenasdeestudos de pesquisa fern sido publicados. 41 Neste capitulo, examinaremosdois grupos de teoria — as que se relacionam primordialmente com a estrutura

de signos nao-verbais e as relacionadas com a sua funcao.

Claro esta que estas categorias nao sao mutuamente exclusivas. Cada uma

das teorias citadas, em uma e outra secäes, declara alguma coisa no que tocaa estrutura e a funcao.

Definir o termo nao-verbal nao e facil tarefa, como frisou Harrison:

0 termo "comunicacâo nao-verbal" tem sido aplicado a uma vasta gama de

fenomenos, desde a expressâo facial e os gestos ate a moda e aos simbolos

destatus,desde a danca e o teatro ate a mnsica e a mimica, desde o fluxo de

sentimentos e emoceies ate ao fluxo de trafego, desde a territorialidade de ani-

mals ate ao protocolo dos diplomatas, desde a percepc50 extra-sensorial ate

aos computadores analOgicos, e desde a retOrica da violéncia ate a reterica das

dancarinastopless.42

Basicamente, entendemos por signo nao-verbal qualquer outro signo que naoa lingua falada ouescrita, usado para representar alguma outra coisa que nao

ele prOprio. Tais signos seriam significativos para a pessoa ou pessoas que os

usam. (Existe uma grande controversia sobre a definicao de comunicacdo

nao-verbal. Foge ao ambito deste livro entrar nesse debate.)43

Com base nos comentarios de Harrison, podemos depreender que a gama de

signos nao-verbais a muito ampla. Ha muitas maneiras de dividir por cate-gorias os varios tipos de signos nao-verbais. 44 Urn dos métodos mais comuns e

40 Ibid.,p. 472:

41 Existem numerosos e excelentes resumos. Ver, por exemplo, Paul Holtzman (org.) —The journal of communication: a special issue on nonverbal communication, 22, 1972; Mark Knapp— Nonverbal communication in human interaction Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1972;Martha Davis —Understanding body movement: an annotated bibliography. Nova York, ArnoPress, 1972. Estas duas Ültimas obras contem extensas bibliografias42Randall Harrison —"Nonverbal communication", in Handbook of communication, organi-zado por Ithiel de sola Pool et al. Chicago, Rand McNally, 1973.43Ver, por exemplo, Randall Harrison e Mark Knapp — "Toward an understanding of nonverbalcommunication systems", in Journal of Communication. 22. 1972, pp. 339-52.44Para um breve estudo desses tipos, ver ibid.

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108 Processos Basicos

eteis é refletido pela analise de ties pontos, de Eisenberg e Smith: cinesica,prox8mica e paralinguagem. 45 Cinesica é o estudo de movimentos corporais;

 proxémica, o estudo da posiceo corporal e das relaceies espaciais; e paralin-guagem, o estudo do uso da voz e da vocalizacao. Essa analise é muitopara os nossos atuais propOsitos, porque as varies teorias de signos nao-verbaisenquadram-se de urn modo bastante claro nessas categorias.

Teorias Estruturais

Entre as varies teorias de signos nao-verbais, destacam-se claramente certas

abordagens estruturais. Duas abordagens antropologicas que se tornaram gi-gantescas nesse campo sdo a teoria cinesica de Birdwhistell e a teoria prox iemi-

ca de Hall. Uma outra é a menos conhecida mas ainda Gtil obra de Trager so-

bre paralinguagem. Essas três teorias fornecem uma excelente representacido

do pensamento sobre a estrutura de indices nao-verbais, dentro das categorias

acima apontadas. A teoria cinesica de Birdwhistell. Ray Birdwhistell e, sem &wide, urn dos maisimportantes teOricos e pesquisadores na area do movimento do corpo46 Eleli dera o campo da cinesica he mais de 20 anoS. Como inventor do neologismo,

e considerado o pan da cinesica. Antropologo interessado na linguagem,Birdwhistell usou a lingOistica como modelo para a sua obra cinesica. De fato,

os divulgadores referiram-se frequentemente a cinesica como linguagem docorpo, embora os criticos duvidem da validade da analogia Ve- jamos as ideias fundamentais da teoria de Birdwhistell.

 A comunicacão, como processo complexo, é urn fendmeno de multicanais.Faz uso de todos os canais sensoriais, e uma analise complete deve abordar todos os canais em uso. Birdwhistell descreveu o processo continuo corn estas

palavras: "Conquanto nenhum canal individual esteja em usoconstante, urn

ou mais canais esteo sempre em operacdo. Comunicaceo é o termo que euaplico a else processo continuo." 47Embora seja importante desenvolver me-

todologias para estudar cada canal, o teOrico deve estar sempre atento ao todo.

 Assim, conquantoBirdwhistell tenha concentrado sua obra no canal visual,ele tambem tentou relacionar suas descobertas com urn contexto mais amplo.Uma das mais importantes conexCies apuradas por Birdwhistell e entre a

atividade corporal e a linguagem. E a analogia linguistico-cinesica.

Este estudo original dos gestos forneceu a primeira indicacao de que a estrutura

cinesica é paralela a estrutura da lingua. Pelo estudo de gestos em contexto,

tornou-se claro que o sistema cinesico tem formas que se assemelham surpre-

endentemente a palavras na lingua. Essa descoberta, por sua vez, levou

investigacao dos componentes dessas formas e a descoberta dos complexos mais

vastos de que eles eram componentes (...). Tornou-se claro que existem compor-tamentos corporais que funcionam como sons significativos, que se combinam

em unidades simples ou relativamente complexas, como palavras, as quais se

combinam em trechos muito mais extensos de comportamento estruturado,

como frases ou ate paragrafos.48

Essaanalogia é uma extenseio do estruturalismo linguistico clessico ao do-minio da cinesica. Ern Kinesics and context, Birdwhistell enumera sete pressu-postos em que se baseou a sua teoria.

45 Abne M. Eisenberg e Ralph R. Smith —Nonverbal communication. Indianapolis, Bobbs-

Merrill, 1971.

46 As principais obras de Birdwhistell incluem Introduction tokinesics. Louisville, University of Louisville Press, 1952; Kinesics and context. Filadelfia, University of Pennsylvania Press, 1970.47Birdwhistell — Kinesics, p. 70.48 Ibid., p. 80.

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Coditicacao Verbal e Na-o-Verbal 109

1. Tal como outros eventos na natureza, nenhum movimento ou expressao cor-poral é destituido de significado no contexto em que se apresenta.

2. Tal como outros aspectos do comportamento humano, a postura corporal, omovimento e a expressao facial sao padronizados e, por conseguinte, estao

sujeitos a analise sistematica.

3. Embora sejam reconhecidas as possiveis limitacties impostas por substratos

biolOgicos particulares, ate que seja demonstrado o contrario, o movimentocorporal sistematico dos membros de uma comunidade e considerado uma

funcao do sistema social a que o grupo pertence.4.  A atividade corporal visivel, tal como a atividade acilstica audivel, influencia

sistematicamente o comportamento de outros membros de qualquer grupo.5. Ate que se demonstre o contrario, tal comportamento sera considerado uma

funcao comunicativa investigavel.6. Os significados dai derivados sao funceies tanto do comportamento como

das operaceies pelas quais ele é investigado.7. 0 sistema biolOgico particular e a expel-Venda especial de vida de qualquer 

individuo contribuirao corn elementos idiossincrasicos para o seu sistemacinesico, mas a qualidade individual ou sintomatica desses elementos s6

pode ser avaliada apOs a analise do sistema mais vasto de que des saoparte integrante. 49

Aoanalisar o comportamento humano, ocinesicistadefronta-se corn o

problema do que observar para entender a totalidade da atividade corporal erncomunicac5o. E flagrante a semelhanca da estrutura hierarquica ern cinesicacorn a da lingilistica. 0 problema do cinesicista e semelhante ao problema dolingilista: "A cinesica interessa-se ern abstrair das continual variacäes mus-culares que sao caracteristicas dos sistemas fisiologicos vivos aqueles agru-pamentos de movimentos que se revestem de significado para o processo decomunicacão e, portanto, para os sistemas interacionais de determinados gru-pos sociais." 50Entre os milhares de movimentos corporais perceptiveis, pro-duzidos num curto periodo de tempo, alguns deles destacam-se como fun-cionais em comunicac5o. Tais movimentos chamam-se cines. "Umcine é 

uma abstracào daquela gama de comportamentos produzidos por urn membrode urn dado grupo social, os quais, para outro membro desse mesmo grupo, sesituam ern contraste perceptual corn uma diferente gama de tais comporta-mentos.

” 51Ern outras palavras, é uma gama de movimentos ou posignes vistascomo se fossem urn (ink°movimento ou posicdo. Urn movimento perceptive)da palpebra ou urn gesto de m5o sao exemplos de cines. 0 que e definidocomo urn cine num grupo cultural pode nao o ser em outro. Os cines sao ain-da agrupados ern cinemas, os quais exibem funceies comunicativas diferen-ciais. Tal como o fonema na lingthstica, o cinemaé umgrupo decines relati-vamente intercambi,aveis. Por exemplo, pode haver ate 23 diferentes posicOesdiscriminaveis das palpebras (cines),mas elas podem ser agrupadas ern cercade quatrocinemas significativos. E, tal como os fonemas, os cinemas ocorremern contexto. Uma combinacão complexa de cinemas ern todo o corpo pode

ser designada comocinemorte.Acinesica pode ser usada ern trés niveis. A precinEsica e o estudo fisiole-gico da atividade corporal, independentemente de seu significado social. Issofoi urn importante precursor da analise do comportamento de comunicac5o.A microcin6sica e o estudo de unidades comportamentais de analise: Acine-sica social e o estudo do comportamento ern contexto e o estabelecimento deseu significado de comunicacdo.

49 Ibid., pp. 183-84.50 Ibid., p. 192.51 Ibid., p. 193.

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110 Processes Basicos

 A teoria proxemica de Hall. Se Birdwhistell é o pai da cinesica, Edwatd Hall é

certamente o pai da proxemica. 52 Hall compartilhava a opiniao de seu colega

antropologo, Birdwhistell, de que a comunicagao e urn processo em mUltiploscanals. Hall ensinou que, assim como a linguagem varia de cultura paracultura, o mesmo ocorre corn os outros veiculos de interagao. Especifica-mente a proxemica refere-se ao uso do espago na comunicagao: "Proxemica

o termo que criei para designar as observacoes e teorias inter-relacionadas douso humano de espago como uma elaboracao especializada da cultura".53Uma definigao mais especifica diz que a proxemica e "o estudo de como o ho-

mem estrutura inconscientemente o microespago — a distancia entre homens

na condugao de transacees cotidianas, a organizagao do espago em suas casase edificios e, em Ultima instancia, o layout de suas cidades".54 Essa definigaode proxemica e muito ampla, mas a maioria dos trabalhos realizados nessa

area limitou-se ao uso do espago interpessoal.

Essas definigees deixam claro que o modo como o espago e usado nainteragao constitui uma questa° preponderantemente cultural. Em diferentesculturas, diferentes modalidades sensoriais adquirem mais importancia do que

outras. Assim, em algumas culturas, como a norte-americana, a visao e aaudicao predominam; em outras culturas, como a arabe, o olfato A tambem

importante. Algumas culturas confiam mais do que outras no tato. Em qual-quer dos casos, existe uma relagao necessaria entre o uso dos sentidos na inte-ragao e as distancias interpessoais. Outra razao pela qual as relagees proxemi-cas variam entre culturas envolve a definigao do eu. As pessoas na maioria dasculturas ocidentais aprendem a identificar o eu atraves da pele e do vestuArio.

Os arabes, entretanto, situam o eu mais fundo, no meio do corpo.

Por essas razOes, portanto, as pessoas de determinada cultura estruturamseu espago de vários modos. Existem, segundo Hall, tres tipos basicos deespago. 0 espago de caracteristicas fixas consiste em disposicoes estruturais

inalteräveis em torno de nos. Paredes e salas sac) exemplos. 0 espago de

caracteristicas semifixas consiste no modo como sao dispostos os obstaculos

mOveis, como as pegas de mobiliArio. 0 espago informal é o territOrio pessoal

em torno do corpo e que se desloca corn a pessoa. 0 espago informal deter-mina a distancia interpessoal entre individuos. Na cultura norte-americanaexistem quatro distancias discerniveis: intima (0-50cm), pessoal (50cm-1,20m),

social (1,20m-3,50m) e p(iblica (acima de 3,50m), Cada uma dessas catego-rias tem uma subcategoria prOxima e distante.

Quando pessoas travam uma conversa, existem oito fatores possiveis envol-

vidos na distancia entre elas. Sao as categorias primárias na anAlise proxemicade Hall:

1. Fatores de postura-sexo: Incluem o sexo do participante e a posigao ba-sica (de pe, sentado, deitado).

2.  Eixo Socidifugo-Socidpeto: A palavra sociOtugo i mplica desencorajamen-to da interagao; sociOpeto denota o inverso. Essa dimensao refere-se

ao angulo dos ombros em relagao a outra pessoa. Os interlocutorespodem estar face-a-face, de costal um para o outro, em qualquer outroangulo radial,

52As principals obras de Edward Hall incluem The silent language. Greenwich, Connecticut,Fawcett, 1959; "A system for the notation of proxemic behavior", in American Anthropologist,65, 1963, pp. 1.003-26;The hidden dimension. Nova York, Random House, 1966. Excelentesresumos podem ser encontrados em Eisenberg e Smith — Nonverbal communication, pp. 85-88;Knapp — Nonverbal communication in human interaction, pp. 186-90; e0. Michael Watson —"Conflicts and directions in proxemic research", in Journal of Communication, 22, 1972, PP-443-59.

53 Hall — Dimension, p. 1.54Hall —"Notation", p. 1003.

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Codificacao Verbal e Não-Verbal   11 1

3. Fatores cinestaicos:- E a proximidade dos individuos em termos de toca-bilidade. Os individuos podem estar em contato fisico ou a curta dis-tancia um do outro, podem estar fora de qualquer distancia de contatocorporal, ou estar posicionados em qualquer ponto entre asses extremos.Esse fator inclui tambem o posicionamento de partes do corpo, assimcomo as partes que se tocam.

4. Comportamento decontato: As pessoas podem estar envolvidas em qual-quer das seguintes relaceies tateis: acariciar e agarrar, apalpar, segurardemoradamente, apertar contra, tocar localizado, rocar acident-al ounenhum contato.

5. COdigo visual: Essa categoria inclui o modo de contato ocular, desde odireto (olho-no-olho) a ausencia de contato.

6. Codigo tErmico: Envolve o calor percebido do outro comunicador.7. aidigo olfativo: Esse fator inclui a especie e o grau de odor percebido na

conversacao.8. Volume de voz: 0 volume e a intensidade da fala relacionam-se dire-

tamente com o espaco interpessoal.

 A analise proxemica de Hall, conforme acima descrita em linhas gerais,ajuda a sensibilizar o estudioso de comunicacao para os varios tipos de sinaisusados na interacao humana.

Paralinguagem. A terceira categoria de comportamento nao-verbal é a paralin-guagem, ou o use de signos vocals em comunicacao. E a fronteira entre osaspectos verbais e nao-verbais da interacao. Os sons que emitimos no pro-cesso de producao da fala relacionam-se com a lingua mils nä° estao direta-

mente incluidos na lingua. A obra de Trager nao é tao conhecida quanto asoutras teorias mencionadas neste capitulo, mas a uma importante contri-buicao para o nosso entendimento dessa area. 55 Trager dividiu os indicesparalinguisticos em quatro tipos: qualidades da voz, caracterizadores vocals,

qualificadores vocais e segregados vocals. As qualidades da voz incluem

indices como a altura do tom de voz, a qualidade da articulacao (vigorosa oudescontraida) e o ritmo. Os caracterizadores vocals incluem ruidos tais comoriso, choro, gritos, bocejos, arrotos etc. Os qualificadores vocals incluem amaneira coma palavras e frases silo proferidas. Por exemplo, uma palavrapode ser proferida suavemente ou em tom esganicado. Uma (rase pode ser arrastada ou rapida e cortante. Finalmente, os segregados vocals incluem osfatores ritmicos que contribuem para o fluxo da fala: "hum", "hem", pausas eoutras interrupcOes de ritmo.

Teorias Funcionais

Ekman e Friesen. Durahte quase 20 anon, Paul Ekman e Wallace Friesencolaboraram na pesquisa nao-verbal que culminou num excelente modelo

geral dos signos nao-verbais.56 Eles concentraram suas investigacOes no com-portamento cin6sico (por exemplo, rosto e malos) e mostraram as variadasfunceies da atividade corporal em comunicacao. Sua meta foi ambiciosa:

55G.L. Trager — "Paralanguage: a first approximation", in Studies in Linguistics, 13, 1958,

pp. 1-12.56

Ekman e Friesen tem entre suas principais obras as seguintes: "Nonverbal behavior inpsychotherapy research", in Research in Psychotherapy, organizado por J. Shlien. Washington,D.C., American Psychological Association, v. Ill; "The repertoire of nonverbal behavior: catego-ries, origins, usage and coding", in Semiotica, 1, 1969, pp. 49-98; Emotion in the human face:guidelines for research and an integration of findings. Nova York, Pergamon Press, 1972;Unmasking the face. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1975.

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112 Processos Básicos

A nossa finalidade foi aumentar a compreensao do individuo, seus sentimentos,estados de animo, personalidade e atitudes, e aumentar a compreensao de

qualquer interacao interpessoal, a natureza das relacôes, ostatusou qualidade

da comunicacdo, que impressoes se formam, e o que a revelado acerca do estiloou eficiencia interpessoal.57

Esses autores abordaram a atividade nao-verbal de tr8s perspectivas: origem,codificacao e uso. A origeme a fonte de um ato. Urn comportamento nao,verbal pode ser inato (integrado no sistema nervoso), constante na especie

(comportamento universal requerido para a sobrevivencia) ou varier entrecultures, grupos e individuos. Acodificacdo é a relacao entre o ato e o seu significado. Urn ato pode ser 

arbitrario, em cujo caso nao se assemelha ao significado; nao ha indicacao de

significado inerente ao pr6prio signo. Menear a cabeca é urn born exemplo.Por convencão em nossa culture, concordamos em que menear a cabeca

uma indicacao de "sim", mas trata-se de uma codificacao puramente arbi-traria. Outros signos nao-verbais sale icanicos. Estes assemelham-se, de algummodo, ao que este sendo significado. E frequente desenharmos figures no ar 

ou colocarmos as maos de modo que ilustrem aquilo sobre que estamos

falando. Aterceira categoria de codificacao e intrinseca. Esse tipo de codifi-cacao e omais dificil de entender. Os indices intrinsecamente codificadoscontém realmente seu significado dentro de si mesmos; tais pistas sac) parteintegrante do que este sendo significado. 0 choro e urn born exemplo decodificacao intrinseca. Chorar a urn sinal de emocao mas tambem e parte daprOpria emocao. Assim, podemos dizer que chorar e uma eXibicao de emocao.

O terceiro modo de analisar um comportamento é pelo uso. Essa categoriainclui variaveis relacionadas corn as circunstancias. Envolve fatores tais como

as condicties externas ern torno do comportamento, a consciencia ou incons-ciancia do ato, as reaceies dos outros e o tipo de informacao transmitida. UmaUtil subanalise do uso consiste no grau ern que um comportamento nao-verbal pretende transmitir informacao. Urn ato comunicativo é aquele quedeliberadamente usado para veicular urn significado. Atos interativos sac) os

que influenciam o comportamento dos participantes. Urn ato sera comuni-cativo e interativo se for intencional e influente. Por exemplo, se acenamosdeliberadamente para urn amigo, como sinal de saudacao cordial, e o amigo

retribui o aceno, o nosso indice foi comunicativo e interativo. Uma terceiracategoria de comportamentos é a daqueles que nao pretendem comunicar mas, nao obstante, fornecem informacao ao individuo que os percebe. Diz-seque tais atos sac) informativos. Num dia ern que o nosso humor nao é dosmelhores, podemos entrar pela primeria porta a fim de evitar o contato corn

urn conhecido que caminha ern nossa direcao. Se a outra pessoa ve que aevitamos, o nosso comportamento foi informativo, embora nä° houvesse de

nossa parte qualquer intencao de comunicar.

Todo comportamento nao-verbal e de urn dos seguintes cinco tipos, de-pendendo da origem, condicao e uso. 0 primeiro tipo e oemblema. O s

emblemas tern uma traducao verbal de um significado bastante preciso paradeterminado grupo social. Saonormalmente usados de maneira deliberada

para comunicar certa mensagem. 0 "V" de vitOria e o punho cerrado do Poder Negro sao exemplos. A origem dosemblemas e a aprendizagem cultural e suacodificacao pode ser arbitraria ou

Os ilustradores sao o Segundo tipo de indices nao-verbais. Tem granderelacao corn a fala, porquanto sac usados para ilustrar o que este. sendoverbalmente dito. saointencionais, embora nem sempre tenhamos uma

57Paul Ekman e Wallace Friesen — "Hand movements", in Journal ofCommunication, 22, 1972,p. 353.

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Codificacg

o Verbal e Não-Verbal 113

percepcao consciente e direta deles. Sao de oito tipos: bastoes ( movimentos

que acentuam ou enfatizam), ideOgratos ("esbocar" a direcao de urn pensa-

mento), movimentos deiticos (apontar), movimentos espaciais (descrever ou

delinear o espaco), movimentos ritmicos ( marcar os movimentos), cinetO-

grafos (representar awes fisicas), pictOgratos (desenhar uma imagem no ar) e

movimentos emblematicos (ilustrar uma declaracao verbal). Esses tipos flao se

excluem mutuamente; alguns movimentos sae combinacties de tipos. Osilustradores Casa de use informativo ou comunicativo, e podem ocasional-mente ser interativos. Os ilustradores sao aprendidos.

O terceiro tipo de comportamento nao-verbal e o adaptador, que serve para

facilitar a descarga da tensao corporal. AcOes tais como torcer as macs, cocar 

a cabeca ou bater os pes sac) exemplos de adaptadores. Os auto-adaptadores,

que ocorrem usualmente em privado, sao dirigidos ao pr6prio corpo dapessoa. Podem incluir cocar, golpear, pentear, apertar, espremer. Os alter-

adaptadores sac) dirigidos ao corpo de outrem. Os adaptadores objetais s a c )

dirigidos as coisas. Em qualquer dos casos, os adaptadores podem ser icOnicosou intrinsecos. Raramente sao intencionais e, em geral, a pessoa nao seapercebe de seus prOprios comportamentos adaptativos. Podem ocorrer quan-

do o individuo esta comunicando corn outro, mas acontecem corn muito maior freqiiéncia quando a pessoa esta sozinha. Embora raras vezes sejam comu-nicativos, sao por vezes interativos e frequentemente informativos.

Os reguladores, quarto tipo de comportamento, sao usados expressamente

para regular, controlar ou coordenar a interacão. Por exempt°, usamos ocontato visual para assinalar os papêis de locutor e de ouvinte numa con-versacao. Os reguladores sao primordialmente interativos. Sao codificados

intrinseca e iconicamente, e sua origem e a aprendizagem cultural.

 A categoria final de comportamento é a exibicao de afeto. Esses compor-tamentos, que podem ser inatos em parte, envolvem as demonstracties desentimentos e emocties. 0 rosto e especialmente rico para a exibicao de afeto,embora tamb6m possam estar envolvidas outras partes do corpo. As exibicOesde afeto sao intrinsecamente codificadas. Raramente sao comunicativas, fre-

qtientemente interativas e sempre informativas.

 A teoria da comunicagão emocional de Dittmann.  Allen Dittmann forneceu

uma importante teoria funcional da comunicacao emocional. 58 Essa teoria

divide-se em tres partes: (1) informacao emotional, (2) sinais de emocao, e (3)

canais para comunicar a emocao. '9

De acordo corn' a definicao classica de emocao, Dittmann explicou a

emocao em termos de desvio comportamentan lsto é, quer seja percebida

pelo eu ou por outros, uma expressao emocional constitui urn desvio de algum

comportamento basic°. Julgamos a emocao de uma pessoa na base de como o

Sell comportamento e diferente do que é usualmente visto nesse individuo e

cultura. Essa explicacao pressuptie, a claro, que as pessoas tern algum conhe-

cimento intuitivo do comportamento basic() em relacao a varias situacOes ern

que as emocCies ocorrem. Tal conhecimento provern da experiencia cornpadroes comportamentais universais, modos culturais de expressao e estrutura

social, assim como os padroes comportamentais idiossincrasicos da pessoa

observada. Uma vez percebida a expressao emotional, ela é colocada nacategoria (medo, colera, tristeza etc.) que o observador aprendeu a associar 

ao desvio comportamental que esta sendo observado.

58Allen T. Dittmann — Interpersonal messages of emotion. Nova York, Springer Publishing Co.,1972.59A abordagem de Dittmann haseia-se na teoria da informacão, que nao aprofundaremos aqui.Ver ibid., capitulos 2 e 3. A teoria da informacão e tratada separadamente no capitulo 6 destelivro.

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114 Processos Basicos

Qua! 6 a natureza dos sinais emocionais? Dittmann fez uma Otil e inte-ressante analise da exibicao nao-verbal de sentimentos e emocOes. Sao tres os

principais fatores nessa analise: especificidade comunicativa, nivel de per-cepcao consciente e controle intencional. Essas variaveis constituem urnbrilhante desenvolvimento do conceito de use de signos de Ekman e Friesen.

 A primeira variavel, especificidade comunicativa, é urn continuo entre osextremos de comunicacao e expressao. As mensagens no extremo de comu-

nicacao desse espectro possuem urn significado "codificado" ou sobre o qualexiste acordo. Os indices comunicativos sao relativamente especificos, erntermos do que transmitem ao individuo que as percebe. As mensagens naoutra extremidade tern menos significado social e tendem a expressar osentimento da pessoa em termos idiossincrasicos. Em nossa cultura, encolher os ombros é urn sinal de incerteza, possuindo urn elevado grau de especifici-dade comunicativa.

 A segunda dimensao no modelo de Dittmann é o nivel de percepgãoconsciente. Na realidade, trata-se de duas variaveis. Numa extremidade doespectro esta a consciencia plena; na outra, a inconsciencia subliminar ou a

repressao. Assim, uma pessoa pode estar mais ou menos cánscia de determi-

nado comportamento. Se o comportamento esta fora da percepcao cons-ciente, existe uma de duas condicties: ou o comportamento esta psicologi-camente reprimido, ou o estimulo nao a suficientemente forte para ser 

percebido. Assim, essa dimensao de consciencia pode aplicar-se ao emissor,ao receptor, ou a ambos. Suponhamos que urn locutor esta expressandoantipatia por outra pessoa numa conversa, franzindo levemente o cenho. Se o

ouvinte possui uma forte necessidade de aceitacao nesse momento, poderareprimir a percepgao consciente do franzir do cenho e ignorar a antipatia doseu interlocutor. Ou talvez o franzir tenha sido tao leve e o ouvinte esperasse

uma carranca tao acentuada que nao se apercebeu do comportamento, ja que

foi subliminar. No outro extremo da escala, entretanto, o receptor poderaestar, nesse exemplo, moderada ou fortemente cOnscio do franzir do cenho.

Em suma, essa variavel consiste realmente ern dois continuos, corn a plenaconsciencia num extremo e a inconsciencia reprimida ou a inconscienciasubliminar no outro.

 A terceira dimensao da mensagem emocional e o controle intencional. Emalgumas circunstancias, uma pessoa tende a expressar sentimentos plena eespontaneamente. Outras vezes, as emoceies sac) controladas (como no caso

dos outros fatores, o controle intencional é sempre uma questa) de grau).Uma boa ilustracao de urn caso extremo de controle é quando uma pessoa

sente uma vontade irreprimivel de rir num ambiente impr6prio e finge urnacesso de tosse para disfarcar o riso.

A divisao final da teoria de Dittmann trata dos canais de comunicacaoemocional. Em qualquer interacao face-a-face, esta sendo usado urn certo

nOrnero de diferentes modalidades. Sabemos que uma grande quantidade decomportamentos se apresenta na forma de atividade corporal, espaco, voz eoutros. Numa conversacao, esses comportamentos combinam-se numa esp6-cie de imagem gestaltica. Certos comportamentos sera° mais salientes do queoutros para o receptor, dependendo de fatores situacionais e culturais. Assim,o canal primario de comunicacao emocional numa dada conversacao dependedaquilo que o receptor percebe do estimulo complexo. Dittmann descreveutres amplas classificacdes de canais: audiveis, visuais e psicofisiologicos. Oscanals audiveis incluem a lingua e a paralinguagem; os canais visuals incluema expressao facial, o movimento corporal e outros; os canais psicofisiolO-gicos sac) aqueles indices que emanam de fungties corporais (por exemplo:respiracao, pestanejar etc.).

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Codificacao Verbal e Mo-Verbal 115

Codificacao e Comunicacao

Nesta secao final do capitulo, examinaremos uma recente formulacao deMichael Nolan. Esse modelo e apresentado aqui porque fornece uma exce-lente integracao dos conceitos de signos e codificacao. Tambern nosmostracomo esses conceitos estao interligados no processo de comunicacao. Nolan

apresentou urn modelo tridimensional. 60 A primeira dimensao é ocanal — aagenda fisica através da qual a informacao e transmitida. Os canals saoagrupados em categorias chamadas midia.A Figura 24 enumera os midia (ouveiculos transmissores) e os canals 61 Assim, em comunicacao, varios sinaissao transmitidos por canals, como voz, face, corpo e objetos.

A codificaceo e o processo de relacionar referentes e signos. No modelo deNolan, a codificacao e conceituada como urn continuo entre concreto eabstrato. Os signos geram significados que vao do arbitrario e abstrato aoconcreto. A Figura 25 adiciona a dimensao de codificacao, corn alguns exem-plos62 (A codificacao voltara a ser discutida no contexto da comunicacao in-terpessoal, no capitulo 8.)

Aterceira dimensao no modelo é a proposicionalidade. Essa variaveltamb6m se dispoe entre dois extremos. Num extremo estaoas mensagens

verbais e nao-verbais, as quais subentendem urn elevado grau de percepcaoconsciente, intencao, e processamento mental consciente. Nooutro extremoestao aqueles comportamentos que fornecem informacao mas tendem asituar-se fora do campo da percepcao consciente e sac, portanto, incons-cientes. A Figura 26ilustra todas as tries dimensoes num cubo.63

Generalizacties

No inicio deste capitulo, foi dito que a interacão simbellica é urn processo de

enviar e receber mensagens codificadas. Para desenvolver essa generalizacao,foram apresentados tries conjuntos de teoria que se relacionam corn a naturezados signos, em geral, a lingua e os signos nao-verbais. As generalizacOes quedesenvolvem ainda mais a tese deste capitulo enquadram-se logicamente nosmesmos grupos.

Figura 24. Dimensão do

canal. Michael I. Nolan

 — "The relationship be-

tween verbal and nonver-bal communication" in

Communication and be-havior,volumeorgani-

 zadopor Hanneman- McEwen. Reading, Mas-

sachusetts, Addison-

Wesley, 1975.

Veiculos Transmissores Canals

Voz FalaCaracterizadores VocalsQualidades de VozSegregados Vocais

Corpo Face: olhosFace: bocaMksCabecaMembrosTroncoTipo de corpo

Objetos Sernaforos (dispositivos de sinais)VestuarioCosméticos

Meio Ambiente TempoEspacoCaracteristicas fisicas

60Michael J. Nolan —"The relationship between verbal and nonverbal communication", inCommunication and behavior, organizado por Gerhard Hanneman e William Mavven. Reading,Massachusetts, Addison Wesley, 1975, pp. 98-119.61 Ibid., p. 107.62 Ibid., p. 111.63 Ibid., p. 117.

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Coddicacao

Consciente(elevada percepcao

conscientel

116 Processos BAsicos

CODIFICACAO

Canal

FalaCaracterizadores vocalsSegregados vocaisQualidades de vozFace: olhosFace: bocaM5osCabecaMembrosTroncoTipos de CorpoSernéforosVestuârioCosméticosTempoEspaco

Caracteristicas fisicas

Concreto Abstrato

Intrinseco IcOnico Arbititio

(3 )

(5)

(6)

(10)

(4 )

(9 )

(15)

(1 )

(7 )

(13)

(16)

(8)

(14)

(11)(12)

(2)

Exemplos de sinais:

Figura 25. Coditicaggoe

dimensoes de canal. Mi-

chael ). Nolan — "The

relationship between ver-

baland nonverbal com-

munication", in Com-

munication and beha-

vior, organizado por 

 Hanneman-McEwen.

Reading, Massachusetts,

 Addison-Wesley, 1975.

(1) "murmtirio"(2) fala verbal(3) arroto(4) "hum"

(5) dilatacão da pupila (9) cruzar os bracos (13) perucas(6) manifestacOes emocionais (10) pander os braeos (14) morosidade(7) "o dedo" (11) insignias de clubes (15) defesa territorial(8) menear em concord5ncia (12) uniformes (16) decorac5o

Canal

Figura 26. Modelo tridi-

mensional de cornunica-cab. Michael Nolan — 

"The relationship betwe-

en verbal and nonverbalcommunication", in

Communication and be-

havior,organizado por 

Ha nneman -McEwen.

 Reading, Massachu-

setts, Addison-Wesley,

1975.

Incense ente(balm percepoho

consciente)

Proposictonandade

Generalizaccies sobre a Natureza dos Signos

Em primeiro lugar, os signos representam objetos, eventosecondicoes que

naoelesmesmos.De fato, vimos que os signos sào usados para representaresses objetos, eventos e condicaes na comunicacdo corn o eu e os outros.

Ern segundo lugar, os signos são usados para gerar e formular o comporta-

mento.Como urn signo representa alguma outra coisa que nä.° ele mesmo,suscita no organism° respostas ern relacdo a objetos, eventos ou condicliessignificadas. Assim, as pessoas usam signos para manipular seu pr6prio corn-portamento e o comportamento de outros. Por vezes, os signos evocam iden-tificacáo e conscientizacao, ajudando assim a percepcdo. Os signos tarn-ben) funcionam para suscitar respostas judicat6rias sobre os objetos signi-

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Codificacão Verbal e Não-Verbal 117 

ficados; o individuo usa signos para julgar a importancia pessoal do objeto,evento ou condicao. Finalmente, os signos podem suscitar o comportamentomanifesto ou ser usados para planejar a acdo em face do significado. Assimsendo, os signos relacionam-se com todas as fases do comportamento, in-cluindo percepcao, manipulacao e consumacao.

 A terceira generalizacao sobre a natureza do signo é que os signos tern

relaccies corn outros signos. Primeiro, sabemos pelas teorias dos signos e dali nguagem que a comunicacao e urn processo multicanalizado. 0 comuni-cador usa simultaneamente varias modalidades verbais e nap-verbais. Os

significados de uma mensagem derivam da imagem global do complex° designos. Alem disso, os signos de uma mensagem estao geralmente organizadosde algum modo, embora os signos verbais e nao-verbais possam estar organi-zados de modo diferente.

Em resumo, vemos que os signos tern, por natureza, tres especies derelacOes. Relacionam-se corn objetos. Relacionam-se corn o comportamento erelacionam-se corn outros signos. Morris qualificou essas relacCies, respecti-vamente, de semanticas, pragmaticas e sintaticas.

GeneralizacOes sobre Signos Verbais (Lingua)

 A lingua é uma seq06ncia estruturada de sons da fala. Os sons de uma linguaestao organizados em frases, de acordo corn as regras da sintaxe ou gramaica.Considera-se que a frase e organizada hierarquicamente por palavras e sin-tagmas.

Em segundo lugar, os falantes de uma lingua devem adquirir um conheci-mento intuitivo de grama. tica. Francamente, nal() sabemos como esse conhe-cimento e adquirido. Existem duas amplas explicacOes alternativas. A primeiraeque a lingua é inteiramente aprendida. Os te6ricos da aprendizagem acre-ditam que a sintaxe e aprendida por condicionamento e reforco, e que acrianca generaliza a novas situacties os padroes aprendidos. A explicacaoalternativa e nativista — ou seja, que a mais importante informacao lingtiistica

é inata.Em terceiro lugar, as pessoas devem estar aptas a usar seus conhecimentos

de gramitica para criar e compreender novas frases. Uma vez mais, existe umasignificativa controversia te6rica sobre o modo como as frases sac) geradas eentendidas. Os behavioristas afirmam que as frases sac) forrnadas (ou decom-

postas) em termos de associacaes aprendidas de palavras e sintagmas. Acriacao de parte de uma frase estimularia a criacao de uma parte associada aessa frase. Os te6ricos generativistas, por outro lado, acreditam que as frases

sac) transformac qes a partir de estruturas frasais profundas e significativas.

Generalizacães sobre Signos Não-Verbais

Os signos nao-verbais envolvem cornportamentos corporals, espaciais e vo-cals. Vimos que as varias teorias de comunicacao nao-verbal se relacionam

primardialmente corn essas tres categorias.Em segundo lugar, os muitos comportamentos nao-verbais numa mensagem

estao inter-relacionados. Como frisam os teOricos, os comportamentos vocals,

cinesicos e proxemicos de uma pessoa em comunicacao criam uma Gestalt total. Alguns comportamentos repetem ou complementam outros.  As distan-cias espaciais podem depender de como a voz e o corpo sdo usados, e.vice-versa. Raramente urn (Mk() movimento do corpo, por si mesmo, comu-

nica urn significado. 0 que esta em controversia e se os indices nao-verbais

estao ou nao estruturados sintaticamente como a lingua.

Finalmente, os signos nao-verbais servem a uma variedade de fun goes deinteracflo. Não so transmitem os significados pretendidos mas tambêm exibememocao, descarregam tensao e regulam a interacao.

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Teorias de Significadoe Pensamento

No capitulo 4 foram apresentadas %/arias teorias relacionadas corn os signose a linguagem. 0 presente capitulo e uma extensdo natural desse tema. Ideal-

mente, estes capitulos deveriam ser lidos juntos, pois cf tema de signos elinguagem nao pode ser logicamente separado das funceies de processamentode signos envolvidas no significado e no pensamento.

No capitulo anterior, definimos a interacão simbOlica como urn processo deemissdo e recepcdo de mensagens corn o use de signos. Neste capitulo,trataremos de duas generalizacOes afins. Primeiro, urn signo é urn estimuloque tem significado para as pessoas. E, depois, as mensagens são signos egrupos de signos criados atraves de processos de pensamento humano. Comono caso da maioria dos tOpicos neste livro, existem teorias de pensamento e

significado ern muito major nOmero do que poderemos cobrir em urn capitulo.

Neste capitulo, examinaremos algumas das mais importantes. Em termosgerais, o tema comum deste capitulo e o significado dos signos para a pessoa,

no processo de representar e agir no mundo dos eventos. Veremos que pensa-mento e significado CA° conceitos multidimensionais. Nenhuma teoria pode,

por si s6, captar todas as dimensoes desses conceitos. Esperamos que, exami-nando certo ntimero de teorias, seja possivel chegar a entender esses concei-

tos mais completamente.

Urn Panorama Gera!: a l magem de Boulding

A teoria da imagem de Kenneth Boulding ou a "teoria organica do conheci-mento" constitui urn belo pano de fundo conceptual para o estudo das teoriasmais especificas e discriminativas que se seguirao1 Boulding e urn teOrico desistemas. Portanto, ele ye os processos de pensamento humano numa perspec-tiva holistica, sublinhando a natureza de interacdo entre a mente humana e o

mundo exterior. A pessoa encontra-se num mundo de espaco, tempo, relacâespessoais, natureza e emocales. Algumas das percepcOes importantes queafetam o pensamento Vern de dentro; outras vem de fora. 0 efeito liquido daexperiencia de urn individuo é a sua imagem:"Estou falando sobre conheci-mento. Talvez ,conhecimento rid() seja uma boa palavra. Talvez fosse pre-ferivel dizer a minha  I magemdo mundo. (...) Refiro-me ao que acredito serverdadeiro: o meu conhecimento subjetivo. Essa lmagem a que governspreponderantemente o meu comportamento" 2

1Kenneth Boulding — The image. Ann Arbor, University of Michigan Press, 1956.2 Ibid.,p. 5.

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reorias de Signifcado e Pensamento 119

Em seu livro, The image, Boulding aplicou esse conceito de imagem a uma

s6rie de experiencias humanas. Resumirei a natureza basica da imagem, talcomo descrita par Boulding.

Em primeiro lugar, "o comportamento depende da imagem". Em outraspalavras, a imagem da pessoa em determinado momento, num lugar deter-

minado, governara as suas aloes nessa situacão. Nos reagimos na base do que

"sabemos". Mas a imagem nao e uma entidade estatica. Esta em constantefluxo e interatua com o que a pessoa perceoe no mein ambiente interno eexterno. As experiencias que afetam a imagem da pessoa da-se o nome demensagens. As experiencias proporcionam informacão, a qual exercera urnimpacto sobre a imagem. Para Boulding, "o significado de uma mensagem e a

mudanca que ela produz na imagem". Esta segunda proposicao e umai mportante introducao para as %/arias teorias do significado de que nosocuparemos daqui a pouco. Ao avancar na leitura dessas teorias, talvez o leitor pergunte a si mesmo de que modo elan concebem os significados em termosda imagem que uma pessoa tern de si prOpria. E percebera, sem civida, que

essas teorias relacionam significado e imagem de varias maneiras.

Boulding descreveu quatro resultados possiveis de uma mensagem sobre ai magem de uma pessoa. E possivel, em primeiro lugar, que a imagem per-

maneca intacta. Muitas mensagens passam despercebidas. Mas, se uma ex-periencia e levada em conta, a imagem sera afetada. 0 segundo resultado,

portanto, é a adicao. As novas mensagens somam-sea compreensaio subjetivado individuo. Em terceiro lugar, a imagem pode ser alterada e, por vezes, essa

alteracao e radical. Todo o corpo de teoria sobre persuasào e mudanca deatitude (ver o capitulo 7) trata em profundidade desse Emquartolugar, as mensagens podem afetar a imagem de uma pessoa pelo esclareci-mento (ou, inversamente, aumentando a confusào). Em suma, as mensagens

podem enriquecer, mudar ou esclarecer a imagem.

 A imagem consiste em dois componentes gerais inter-relacionados: o co-nhecimento de fatos e o conhecimento de valores. Este Ultimo desempenhaum papel crucial na atividade humana. As mensagens de impacto sao filtradas

atraves das escalas de valor de "melhor ou pior" de uma pessoa: "Isso significaque, para qualquer organismo individual ou organizacao, nao existem coisascomo os chamados 'fatos'. Apenas existem mensagens filtradas atraves de urnsistema variavel de valores." 5

E importante perceber que nao so recebemos mensagens da natureza mas

tamb6m enviamos e recebemos mensagens entre nos mesmos. Assim, existe

uma importante dinamica interpessoal para os nossos significados (imagens), aqual e tratada por muitas das teorias de significado e pensamento. Nos termos

de Boulding, "0 organismo humana é capaz Mao se) de ter uma imagem domundo mas de discorrer sobre ela. Esse e o extraordinario dour da lin-guagem".6

Quase todas as teorias da mentalidade humana gravitam em torn° do uso dalingua e outras signos. Como usamos esse "extraordinario dam"? Como 6 que

a linguagem adquire significado?

Teorias de Significado

Veremos rapidamente que a prOpria palavra significado tern muitos signifi-cados. Nesta secao, examinaremos numerosas abordagens do conceito. 0enfoque mais abrangente e o do Interacionismo Simbi5lico (apresentado

 Ibid., p. 6.4 Ibid ,p7 5 Ihid , p. 146(hid., p. 15

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120 Processos Bisicos

capitulo 3), Recapitularemos aqui as principals ideias do InteracionismoSimbOlico e apresentaremos em algum detalhe os escritos de John Dewey

sobre o terra de linguagem e significado. Varias outran teorias se relacionamcom os trés sentidos de significado descritos por Dewey: o aspecto referencial

de significado, a abordagem experiential e a abordagem do use ling istico.

A Abordagem lnteracionistade John Dewey

John Dewey é, sem düvida, o mais renomado filOsofo norte-americano do

seculo XX.7 Em seus 93 anos, produziu milhares de paginas sobre uma vasta

gama de temas filosoficos e prAticos. Como parte da Escola de Chicago,escreveu extensamente acerca da natureza da acäb e interacdo humanasP

 Abordaremos esses escritos duas vezes neste capitulo. Por agora, examina-remos o que Dewey escreveu sobre significado e, na prOxima secdo, veremos oque escreveu sobre pensamento.

Dewey foi claramente um interacionista simbOlico. Discorreu sobre osprincipios interacionistas durante os primeiros anos, mesmo antes de ter sido

criada essa expressäo. No capitulo 3, salientamos o fato de Dewey e Meadserem colegas e amigos; e existe urn paralelo obvio em suas respectivasabordagens do significado. Antes de resumirmos as nocOes de significado deDewey, recapitulemos os seis principios interacionistas simbolicos bäsicos.

1. Mente, eu e sociedade sao processos de interacdo pessoal e interpessoal.2. A linguagem e o mecanismo primário no desenvolvimento da mente e

do eu.3.  A mente é a internalizacao de processos sociais na pessoa.4. 0 comportamento tanto e proativo como reativo.5. A definicao da situacdo pela pessoa determina o seu comportamento na

situacdo.6. 0 eu consiste erndefinicdes tanto sociais como singulares.

Os conceitos de Dewey, no que se refere a significado, relacionam-se cornesse modelo. Em primeiro lugar, Dewey defendeu acima de tudo a unidade da

pessoa. Ele viu o ser humano como uma pessoa total que esta em interacãoconstante corn o mundo exterior. Assim, Dewey estava procurando descobrir 

os modos como os processos humanos se inter-relacionam. A percepcdo deobjetos no meio ambiente deve ser examinada como urn processo integrado

na vida corrente da pessoa. 0 que uma pessoa percebe e determinado, emgrande parte, pela nocáo da pessoa sobre como deve responder. Esse pontode vista relaciona-se com os principios interacionistas gerais da mente e de-finicao da situacäo (embora este Ultimo termo nao fosse usado pelo pr6prioDewey).

0 significado para urn estimulo surge na interacdo entre a pessoa e o meioambiente. 0 significado ndo e intrinseco ao objeto ou pessoa. Atraves dalinguagem, que tem uma origem social, a pessoa atribui um nome e, portanto,

um significado ao objeto percebido. Logo, as coisas passam a ter urn signi-ficado para as pessoas por causa da linguagem. Dewey resumiu o papel dalinguagem na percepcdo e no significado da seguinte maneira:

7Sao numerosas as fontes secundiárias sobre Dewey. Para urn tratamento relativamente extenso e

pormenorizado, ver Joseph Ratner (org.) —"Introduction to John Dewey's philosophy", in Intelligence in the modern world: John Dewey's philosophy. Nova York, Random House, 1939,pp. 3-245.8

Apoiei-me na coletanea de excertos organizada por Ratner — "Dewey's philosophy", caps. 15-16.Esses excertos foram tirados das segumtes obras, que constituem a contribuicao de Dewey para ostemas de significado e pensamento: Experience and nature. Chicago, Open Court Publishing Co.,1925: Art as experience. Nova York, Minton, Balch & Co., 1934: Essays in experimental logic.Chicago, University of Chicago Press, 1916; How we think. Boston, D.C. Health Co., 1910; Thequest for certainty. Nova York, Minton Balch & Co., 1929.

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Teorias de Significado e Pensamento 121

Sem linguagem, as qualidades da acao organica que sao sentimentos so potenciale prolepticamente sao dores, prazeres, odores, ruidos, cores, sons. Corn alinguagem, eles sao discriminados e identificados. Sao, pois, "objetivados"; saoos tracos imediatos de coisas. (...) As qualidades nunca estiveram "em" oorganismo; elas sempre foram qualidades de interageies em que participam coisase organismos. Quando denominados, os sentimentos permitem que ocorram a

identificagao e discriminagao de coisas como um meio na futura trajetOria dainteragao abrangente.9

 Assim, para Dewey, existem i mportantes conexOes entre percepcao, signi-ficado e linguagem. A linguagem e o veiculo para dar significado a mensagense objetos. Os significados sao comunicaveis por causa da linguagem e, atravesdesta, as pessoas podem pensar (raciocinar, inferir) a respeito dos objetospercebidos. Voltando a postura filosOfica da inter-relacao das coisas, Deweyobservou: "Ahistoria da linguagem e a historia do uso dado a essas °con-en-cias; um uso que é tanto eventual quanto momentoso.' 1° 0 mais importanteuso da linguagem, em nivel pi-Mew, a aquele que permite a cooperagao. Alinguagem é urn instrumento interpessoal.

Evidentemente, a atribuicao de significado a um objeto percebido não

constitui um evento isolado. Faz parte de um processo continuo de auto-definicao. Neste ponto surge o conceito de mente. A mente e o processo delidar corn (refletir sobre) as situaceies corn que a pessoa depara. Sempre queuma pessoa faz algo novo, da-se uma adicao ou uma mudanca na totalidadeacumulada de significados para ela. A mente e o pano de fundo ativo,

acumulado, contra o qual se projeta cada nova experiencia. Como disseDewey: "Esse substrato ativo e avid° permanece de sobreaviso e captura tudo

o que se apresentar em seu caminho, absorvendo-o em seu pr6prio ser."11

Sabemos agora o que Dewey quis dizer corn a proposicao de que o signifi-cado é urn produto da interacao entre a pessoa e a coisa. Percebemos eidentificamos urn objeto atraves da mente acumulada; e esse processo de

mentalizacao sera modificado subsequentemente por novas experiencias. A linguagem e o veiculo dessa interagao pessoa-objeto. A linguagem é um

processo social que resulta da interagao de pessoas. Os significados conferidospela linguagem sao, em parte, compartilhados pelo grupo social ou comunsaos membros desse grupo. Esses significados sociais da linguagem promanamde conseqiiencias vivenciadas. Assim, os significados relacionam-se corn apercepcao compartilhada pelo grupo da  potencialidade do objeto. A ver-

dadeira questao de significado tido e "0 que e isso?" mas "Qual é o seupotencial na minha vida?" Qualquer objeto possui urn grande nOmero de'potencialidades ou significados. 0 que e papel? Papel e algo onde se escreve.E algo que serve para iniciar uma fogueira. Pode ser usado como confete.Pode ser vendido para ganhar dinheiro. E uma propriedade legal. E assim por 

diante. Portanto, o significado de papel édeterminado por seu potencialpercebido na situacao.12

Entretanto, do infinito niimero de significados que urn objeto possui numasituacao emerge uma ess6ncia. Aessencia e a imagem geral e socialmente

aceitevel da coisa — o conjunto de operacOes ou regras para usar ou

responder ao objeto-dentro-da-situagao. Eis urn exemplo tirado de Dewey:

Urn policial do transito ergue a mao ou sopra urn apito. 0 seu ato opera como urnsinal para dirigir movimentos. Mas e mais do que urn estimulo episodico.Consubstancia uma regra de agar:, social. 0 seu significado proximo sac, as suasconsecrakcias imediatas na coordenagao de movimentos de pessoas e veiculos;

9Ratner — "Dewey's philosophy", p. 804.10 Ibid., p. 809.11 Ibid., p. 813.12 /bid., p. 861.

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122 Processes Basicos

o seu significado ulterior e permanente — a esséncia — 6 a sua consec j ilencia •em termos de seguranca dos movimentos sociais:13

Essa teoria interacionista de significado e linguagem prepara o terreno para

uma das mais importantes contribuicoes de Dewey: a sua nocao de pensa-

mento reflexivo, a qual sera incluida na segunda parte deste capitulo. Alèrndisso, o enfoque interacionsita de Dewey consubstancia os principios funda-

mentais de todas as teorias que serao tratadas nesta secao. Nessa teoria,discernimos as raizes de tres acepcOes de significado. Em primeiro lugar,vemos que o significado decorre da representagab do referente gerada pelapessoa. Dewey mostrou-nos que, gracas a interacao social, os simbolospassam a ter significados ou ess8ncias. Eles produzem no observador umarepresentacao de algum estado, evento ou objeto. Em Segundo lugar, oInteracionismo Simbolico propOe-nos que o simbolo e que da forma a expe-riênciada pessoa. A nossa realidade, aquilo que percebemos e conhecemos, éinfluenciada em grande parte pelos simbolos em uso na nossa sociedade.

 Assim, uma acepcao de significado é a experrência estruturada pelos simbolos.Em terceiro lugar, as pessoas usam simbolos para realizar seus propOsitos. E

certo que as pessoas sao afetadas pela linguagem e outras formas simbolicas.Entretanto, o interacionista tambem v8 a pessoa em acao. Ela usa simbolospara afetar e influenciar o seu meio ambiente.

Numerosas teorias de simbolos, linguagem e significado surgiram nos

mos cem anos. Essas teorias podem ser agrupadas de acordo corn a sua kfase. Algumas relacionam-se primordialmente com a natureza representacional do

significado. Outras enfatizam o aspecto experiencial. Outras, ainda, concen-tram-se no significado como funcao do uso da linguagem. Cumpre ter emmente, porêm, que essas categorias nao se excluem umas as outras. As teorias,em cada grupo, cruzam fronteiras e interligam-se. 0 que veremos, depois derecapitular todas elas, e que existem muitas e importantes acepcOes para oconceito de significado.

Teorias Representacionais de Significado

0 primeiro sentido de significado é representacional. Nessa acepcao, osignificado e visto como a "representacao" do objeto, evento ou condicaopelo signo. Cada uma das teorias apresentadas nesta secao explica como ossignos sac, usados para representar coisas na mente das pessoas. A primeirateoria de que nos ocuparemos nesta sec -a( ) a de I.A. Richards. Mostrou-nosRichards como trés elementos — o simbolo, o referente e a pessoa — seinterligam no estabelecimento do significado. Uma abordagem estreitamente

afim, que destaca a concepcao do referente na pessoa, e a de Suzanne Langer.Em seguida examinaremos urn movimento que tem contribuido substancial-

mente para a nossa compreensao de linguagem e significado: a sernanticageral. Esse movimento, liderado por Alfred Korzybski, enfatiza a natureza

abstrata da linguagem e do significado. Finalmente, concluiremos esta secaocom uma analise da teoria' semantica de Charles Osgood, a qual procuradefinir a natureza do significado dentro da pessoa.

 A abordagem de Ogden e Richards. Uma das' mais conhecidas e renomadasabordagens do significado é a de Ogden e Richards em The meaning of meaning, mais tarde desenvolvida por Richards em outras obras14 I.A.Richards, urn erudito na area da lingua e da literatura inglesa, notabilizou-se

13Ibid., p. 864.14C.K. Ogden e I .A. Richards — The meaning of meaning. Londres, Kegan, Paul, Trench, Trubner& Co., 1923.1Para a ed. bras., ver Bibliografia. ] I.A. Richards — The philosophy of rhetoric. NovaYork, Oxford University Press, 1936; Principles of literary criticism. Nova York, Harcourt, Brace &Co., 1952. Para excelentes resumos da obra de Richards, ver Marie Nichols — "I.A. Richards and

the new rhetoric", in Quarterly Journal of Speech, 44, 1958, pp. 1-16; Marie Nichols — Rhetoric

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Figura 27.0 Triängulo

de Significado, de Ogdene Richards — The mea-

ning of meaning, organi-

zado por C.K. Ogden e

I. A. Richards, Londres,

Kegan, Paul, Trench,

Trubner & Co., 1923. Re-

produzido corn permis-

sac> de Harcourt Brace

Jovanovich e Toutledge

& Kegan Paul Ltd. Publi-

shers. Para a ed. bras.,

ver Bibliografia.

Teorias de Significado e Pensamento   " 1 23

por sua obra de critica literaria eteoria da ret6rica. Esteve envolvido, duranteboa parte de sua vida, na tarefa de aperfeicoamento da comunicacao, o que olevou a examinar a natureza das palavras, significados e compreensào em

todas as especies de discurso. Na introducao a The philosophy of rhetoric,

escreveu: "Debatemo-nos, em nosso dia-a-dia, corn equivocos e erros de com-

preensao, e nenhuma justificacdo e necessaria para qualquer estudo que possai mpedi-los ou remove-los." 15

Para Richards, a linguagem é um sistema de signos que, em virtude de suacentralidade para a vida humana, reveste-se de importancia suprema comourn campo de estudo. Um signo é qualquer coisa que represente alguma outracoisa. Suscita na pessoa uma imagem de urn contexto mais amplo em que osigno foi originalmente percebido. Alem disso, como instrumentos de pensa-mento e comunicacao, os signos lingifisticos sao especialmente designadoscomo simbo/os.

Para facilitar a compreensao da natureza do significado de simbolo, Ogdene Richards desenvolveram o seu famoso triangulo de significado, ilustrado naFigura 27.1€ Esse modelo enfatiza tries sentidos de significado: significado nosimbolo (0 que e que a palavra significa?), significado no referente (Qual é o

significado desta coisa?) e significado na pessoa (0 que e que isto significapara voce?). Embora exista uma relacao direta entre o simbolo e o pensamentoou o referente e o pensamento, a relacao entre o simbolo e o referente éindireta.Euma relacao arbitraria que so se mantem por causa do denomi-nador comum de pensamento na pessoa. Usemos a palavra gato, comoexemplo. Os tres elementos incluem o prOprio animal (referente), o simbologatoe opensamento ou imagem do animal que surge na mente da pessoaquando a palavra e ouvida. A conexao entre o signo e o referente so podeocorrer atraves da imagem do animal na pessoa. A relacao entre gatoe a coisareal 6, portanto, indireta, embora ambos produzam o pensamento na pessoa.

Tomando por base essa tripla distincão fundamental, Richards passou entáo

a examinaros modos como a linguagem pode ser usada. Quando a linguagemprimordialmente usada para comunicar adescricao do referente, diz-se que

o enunciado acientifico.Quando usada sobretudo para comunicar ossentimentos de uma pessoa acer-ca de alguma coisa, a emotiva. Eexiste uma gama de enunciadosmistos entre esses dois pOlos. Emtodo o caso, a comunicacaouma tentativa de suscitar signifi-cados em outra pessoa. A meta

da comunicacao é criar uma ex-

periencia mental semelhante nooutro, meta que 56 pode ser al-cancacla quando os comunicado-

rescompartilham certo grau deexperiencia passada. Esse objeti-

vo geral existe tanto para a co-municacao emotiva quanto para

a cientifica. Corn o discurso emo-

tive, o comunicador espera susci-

tar sentimentos e atitudes seme-

Ihantes;corn a descricao cientifica espera gerar uma imagem acurada e

PENSAMENTO OU REFERENCIA

SIMBOLO REFE ENTE

representa(uma refacao imputed&

and criticism. Baton Rouge, Louisiana State University Press,)ohannesen (org.) — Contemporary theories of rhetoric. Nova York,15Richards — Philosophy of rhetoric, p. 3.16Ogden e Richards —

The meaning of meaning, p. 11 I p. 32 da

1963, cap. 7. Richards L.Harper & Row, 1971, parte 3.

ed. bras.] .

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124 Processos Básicos

concreta. Segundo Richards, a critica retOrica deve envolver o estudo deta-Ihado de palavras e dos processos pelos quais essas especies de compre-ensäes ocorrem. Ern suma, deve converter-se numa ciencia de significados emcomunicacào.

 A mais importante contrihuicao de Richards para o estudo da comunecacao é a sua nocäo de que o significado importante estA na pessoa. A relacéoentre• o simbolo e o referente é arbitreria, e mediada pelo pensamento dapessoa. Assim, a comunicacäo deve ser considerada urn processo de criacdo

de significados, näo de fornecimento de significados. Essa tese teve urn grandeimpact° no estudo da comunicacäo humana. E urn ponto de vista que tern

sido promovido por cada uma das teorias, nesta secdo. Uma outra analisedessa nocâo foi ernpreendida por Suzanne Langer.

 A teoriados simbolos, de Langer. Um dos mais importantes temas da filosofia

no seculo passado foram a linguagem e o significado. E claro que qualquer investigacdo do conhecimento, ou epistemologia, deve incluir urn examedessas questdes centrais. Uma das mais táteis filosofias da linguagem é a deSuzanne Langer, cujo Philosophy in a new key recebeu cQnsiderävel atencãopor parte dos estudiosos do simbolismo.17

Langer considerou o simbolismo questao-chave da filosofia, questa() essaque estA subentendida em todo o conhecimento e entendimento humanos:"Assim, o nosso interesse pela mente transferiu-se cada vez mais da aquisicão

de experiencia, o dominio do sentido, para os usos dos dados sensoriais, odominio da concepc iao e expressão." 18 Toda vida animal e dominada pelassensactles e percepcdes, mas no ser humano elas são especiais. As sensacties epercepcOes humanas incluem a concepcao remota, facilitada por simbolos elinguagem.

Langer distinguiu entre signos e simbolos. Urn signo é urn estimulo queindica a presenca de alguma outra coisa. Tern uma elevada correspondenciacorn o evento ou objeto significado. Urn simbolo e mais complexo: "Ossimbolos nä. ° são representantes de seus objetos, mas veiculos para a con-

cepcão de objetos." 

19

0S simbolos permitem a uma pessoa pensar sobre algo,ou conceber algo, independentemente da presenca imediata do evento ouobjeto. Portanto, Langer considerou o simbolo "urn instrumento do pensa-mento".2° Podemos ver como essa ideia corrobora a ideia de Ogden e Richardsde significado I la pessoa. (0 leitor poderd ter notado que Langer usou o termosigno mais limitadamente do que nos no capitulo anterior.) Voltaremos daquia pouco a tratar da funcao de signos e simbolos. Mas, primeiro, retornemos aquesta. ° mais ampla da mental idade humana.

Nao so as pessoas tem uma capacidade maior para o uso de simbolos, sena)tamb6m uma necessidade basica de simbolizar, independentemente das ne-cessidades prAticas da existencia. Alert' disso, o processo de producao desimbolos e uma funcäo continua que equivale, no ser humano, a corner e dor-mir. Portanto, devemos explicar boa parte do comportamento humano ern ter-

mos de satisfacao da necessidade simbOlica. Os atos simbOlicos envolvem afala (o uso de linguagem) e a simbolizacão nao-verbal, a que Langer chamouritual. No trecho que a seguir se transcreve, Langer indicou a importancia doestudo do significado do simbolismo:.

17Suzanne Langer — Philosophy in a new key. Cambridge, Harvard University Press, 1942. [Paraa ed bras,. ver Bibliografia. I Ver tambem Mind: an essay on human feeling. Baltimore, JohnsHopkins Press, v. 1, 1967; v. 2, 1972; v. 3, 1978.1 8 p. 26.19 Ibid., p. 61. Em outras partes dente livro, tratamos os simbolos como uma espEcie de signo.Langer usaio termo signonuma acepcäo mais restrita.20

!bidp. 63.

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Teorias deSigniticado e Pensamento 125

Para relacionar essas duas concepcOes distintas de simbolismo linguagem e

ritual 1 e expor os panels respectivos que desempenham nessa resposta humana

geral a que chamamos vida, e necessat io examinar mais rigorosamente aquilo que

converte emsimbolos quase tudo — desde as marcas feitas em papel e os

pequenos guinchos e grunhidos que interpretamos como "palavras" ate a

genuflexao: a qualidade designificado, em seus muitos aspectos e formas.21

Tal como Richards, Langer concebeu o significado como a relacao complexa

entre o simbolo, o objeto e a pessoa. Como ela disse, "(...) se nao houver pelo

menos uma coisa significada e uma mente para a qual essa coisa significa,entdo nao existirá urn significado completo"22 Assim, temos urn sentido

logico e urn psicologico do significado de simbolo, sendo o logico a relacaoentre o simbolo e o referente, e opsicologico, a relacao entre o simbolo e apessoa.

Entretanto, a significacao real da linguagem nao estd ern palavras mas nodiscurso. As palavras dao nome as coisas, mas, "antes de os termos seremintegrados em proposiceies, eles nada afirmam, nada evitam ou negam (...)nada dizem"23 Ao conjugar palavras, a estrutura gramatical desempenha urni mportante papel simbolico. Uma proposicao é um simbolo complexo que

apresenta uma figuracao de algo. A palavra cab suscita uma concepcão, mas asua combinacão corn outraspalavras numa proposicao a que nos fornece umquadro unificado: "0 cdozinho marrom esta aninhado a meus Os."

Nesse sentido, a linguagem faz-nos verdadeiramente humanos. E atravês dalinguagem que nos comunicamos, pensamos, sentimos. A significacao dosi mbolismo discursivo na vida humana e captada no seguinte trecho:

A linguagem atrai muitas outras funcOes mentais para a sua orbita —processos

muito profundos e filogeneticamente antigos de careter emotivo e instintivo —eergue-os de seu estado animal para urn novo nivel, peculiarmente humano.

Tambem envolve toda a espécie de mecanismos superiores, predominantemente

corticais, produzindo formas distintas de memOria, seci tiencias de recordacOes,contradicees lOgicas, encadeamentos lOgicos, a estrutura proposicional de idéias,

que e inerente a concepcen de fato, e a disposiceo correlativa, extensamente

emotional, da mente total, a crenca. A profundidade em que a influencia da

linguagem participa na organizacão da nossa percepceo e apercepceo torna-se

tanto mais impressionante quanto mais nos esforcamos por sonda-la.24

Comoe, pois, que a linguagem funciona? Qualquer proposicao comunica

urn conceito comum. 0 conceito e a ideia, padrao ou forma geral consubs-tanciada por uma proposicao. Ern suma, é o significado comum entre comuni-

cadores. Mas cads comunicador terd tambern uma imagem ou significadoparticular, que preenche os detalhes da figuracdo comum. Essa imagemparticular é a concepgdo da pessoa 0 significado consiste na concepcâo doindividuo e, num elevado nivel, no conceito comum: "Urn conceito é tudo oque urn simbolo realmente transmite. Mas tao depressa quanto urn conceito és i

mbolizado para nos, a nossa prOpria imaginacào logo o reveste de umaconcepcao particular, pessoal, que so podemos distinguir do conceito palicopor urn processo de abstracbio."25 Retornaremos num moment() a idéia deabstracao de Langer. Antes disso, apresentaremos tres termos que ajudarao aexplicar as relaCOes descritas.

Significacão e osignificado de urn signo e, tal como foi definido por Langer,urn signo é urnestimulo simples que anuncia a presenca de algum objeto.

21Ibid., p .52.

22 Ibid., p .56.

23 p. 67.24Langer — Mind, p. 324.25 Ibid., pp. 71-72.

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126 Processos Basicos

Portanto, a significacfio é uma relacao univoca entre signo e objeto. Mais

i mportantes para a simbolizacfio humana são a denotacao e a conotagdo. Aprimeira é a relacao complexa do simbolo corn o seu objeto por intermedio da

concepcfio na pessoa. A conotacão de urn simbolo é a relacao direta entre o

simbolo e a prOpria concepcfio. Por exemplo, a denotacao do simbolo cao é a

sua relacao con o cachorrinho felpudo a meus Mas essa relacao so pode

ocorrer ern minha mente atraves da concepcdo. Mesmo quando o cachorrinhonao estA presente, posso pensar nele por causa da relacao entre o simbolo e aconcepcdo — a conotacâo da palavra. Assim, denotacao e conotacão sãoconceitos intimamente relacionados.

Langer assinalou que os seres humanos possuem uma tendencia intrinseca

para abstrair. A abstrac5o, que culmina na capacidade para lidar corn con-ceitos (isto e, comunicacao), a uma funcao humana decisiva. E a essência da

racionalidade. Coerente corn a sua nocfio de significado, Langer definiu aabstracâo como "urn processo de reconhecimento do conceito em qualquer 

configuracfio dada a experiéncia, e de formacäo, por conseguinte, de umaconcep4ao".26 A ideia de abstracfio a particularmente bem explicada por Korzybski na semfintica geral, que e o terra da teoria seguinte.

Mencionamos anteriormente que existem dois tipos importantes de sim-

bolos envolvendo linguagem e ritual. Langer chamou a esses simbolos discur-sivos e apresentacionais. Os sirnbolos discursivos envolvem a combinacao deunidades menores (por exemplo, palavras e (rases) ern outras maiores. Ossignificados verbais individuals combinam-se em conceitos maiores. No sim-bolismo apresentacional, as unidades individuals podem nao ter urn signifi-cado distinto. Tais formas nao podem ser traduziveis ou definiveis ern outrostermos. Os significados de formas apresentacionais somente são entendidos

atraves da totalidade. Os rituals e as formas nao-verbais constituem "umaapresentacão integral simultfinea"27

Se bem que outros filosofos tenham excluido as formas apresentacionais da

racionalidade, Langer acredita que toda a experiencia, incluindo o pensa-mento (simbolismo discursivo) e o sentimento (simbolismo apresentacional), é

racional. Algumas das experiencias humanhs mais importantes são emocionaise melhor comunicadas atraves de formas apresentacionais, como a arte e amfisica. Langer resumiu a sua investigacao na seguinte passagem:

A continua busca de significados — mais amplos, mais claros, mais negociáveis emais articulados — e filosofia. E uma busca que impregna toda a vida mental, orana forma consciente de pensamento metafisico, ora na manipulacäo livre econfiante de ideias estabelecidas, a fim de derivar implicacges mais precisas edetalhadas, ora ainda —nos periodos de maior criatividade —na forma deapaixonada expressao mitica, ritual e religiosa. 28

 Asemäntica geral. Uma das areas mais interessantes relacionadas corn ateoria da comunicacäo é a da semdmica geral. Desde o seu advento na decadade1930, ela estimulou consideravel interesse em numerosas disciplinas.Sucede ainda que a semdntica geral é inteiramente compativel corn os

conceitos de significado propostos por Richards e Langer. Mas a semfinticageral vai alem deles ao desCrever a natureza da abstracào e o seu efeito sobreo comportamento humano.

0 fundador desse movimento foi Alfred Korzybski, cujo Science and sanity continua sendo urn livro bastante conhecido, embora talvez nao lido o bas-tante. 29

26 Ibid., p. 72.27 Ibid., p. 97.28ibid., pp. 293-94.29Alfred Korzybski — Science and sanity: an introduction to non-Aristotelian systems and general semantics. Lancaster, Pensilvania, International Non-Aristotelian Library Publishing Co.,1933. Ver tambem a versa°resumida, Selections from scienceand sanity, 1948.

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Teorias de Significacto e Pensamento 127

Escreveu Wendell Johnson: "Eis urn estranho livro, organizado de urn modo

algo incomum, dificil de ler, provavelmente mais extenso do que deve, mas,para mim, urn dos livros mais significativos ate hoje escritos." 30 Korzybskidesenvolveu a sua teoria em torno das areas de linguagem, percepcao esignificado. Trata-se de uma teoria normativa, planejada para mudar ascondutas linguistics e pensante das pessoas. Korzybski reagiu contra o pen-

samento aristotelico ou categórico. Proclamou a natureza processual da reali-dade e a necessidade de uma abordagem relativista e cientifica do pensa-mento.

Corn o decorrer dos anos, surgiu urn grupo de apOstolos para interpretar eaplicar os principios de Korzybski. 31 A semantica geral tornou-se assim umaescola de pensamento a respeito da linguagem, significado e pensamento.

Uma das mais claras descricoes da teoria de Korzybski e da autoria de Wen-dell Johnson, ern People in quandaries. 32  Usei a descricao de Johnson paraorganizar esta breve sinopse.

A finalidade primordial da sernantica geral e aplicar o metodo cientificovida cotidiana. A orientacao cientifica do pensamento critico esta ern con-traste corn os metodos rigidos e categóricos do pensamento aristotelico. 0Quadro 5 coloca ern contraste as principais qualidades desses dois modos depensar, de acordo corn c semanticista geral.33

Ele acredita que a essencia dessa abordagem cientifica e o reconhecimento

do processo de abstracao. Como resultado dessa crenca, Korzybski e os outrosdedicaram grande energia a definicao e explicacao do processo de abstracao.

E vemos ai a conexão existente entre a semäntica geral e o terra do signi-ficado, pois o significado surge na pessoa através dos comportamentos deabstracao.

 Abstracão e o processo que consiste ern par de lado ou nao levar ern contadetalhes na percepcao, reflexao e classificano de objetos e eventos. E urnprocesso natural que se desloca do objeto real para enunciados acerca doobjeto. Cada etapa de abstracao torna-se mais geral do que a antecedente,deixando de fora uma parcela major da realidade do objeto ou evento. E ur n

processo ordenado, ern que as ordens inferiores incluem mais detalhes do queas ordens superiores. Existem pelo menos cinco niveis de abstracao: o prOprioevento total (micronivel), o evento visivel (macronivel), o evento tal Comorealmente percebido, o evento descrito ern palavras e as inferencias de umapessoa acerca do evento3 4 Esse aspecto (inferior-para-superior) da eliminacao

de detalhes constitui o aspecto vertical da abstracao. TambOm existe urnaspect() horizontal. Duas pessoas quaisquer abstrairao de modo diferente em

face do mesmo evento. Levarao em conta diferentes detalhes e deixarao de

fora diferentes detalhes. 0 evento e percebido, entendido ou avaliado dife-rentemente por pessoas diferentes (ou a mesma pessoa em periodos distintos). A Figura 28 ilustra a ideia.35

Suponhamos que dois rep6rteres de jornais diferentes sao enviados ao-localde urn inandio para a cobertura do evento. 0 fogo e um fen6meno fisico e

30Wendell Johnson e Dorothy Moeller — Living with change, the semantics of coping. NovaYork, Harper & Row, 1972, p. 28.31Ver, por exemplo, 1. Samuel Bois —The art of awareness. Dubuque, W.C. Brown. 1966.William Haney —Communication and organizational behavior. Homewood, Illinois, RichardD. Irwin, 1971 Hayakawa — Language.in thought and action. Nova York, Harcourt, Brace &World. 1964. Wendell Johnson — People in quandaries. Nova York, Harper & Bros., 1946; IrvingJ. Lee — Language habits in human affairs. Nova York, Harper & Bros., 1941.32Johnson — Quandaries, especialmente as partes II e III. Para uma descricdo sucinta e excelentedos conceitos basicos da sernantica geral, ver pp. 236-37.33Ibid., pp. 83-86 (excertos).34

Korzybski discutiu minuciosamente a abstracao em Science and sanity. A sea) mais clarasobre abstracao e o cap. 13 de Selections, intitulado "On the structural differential".

Adaptado de Korzybski — Selections, P. 189.

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128 Processos Basicos

quimico marcado por movimentos e mudancas submicroscOpicas e microsce-picas. Esse é o nivel urn no processo de abstracao. Somados, esses microacon-tecimentos formam uma imagem gestaltica que a potencialmente perceptive!pelos rep6rteres (nivel dois). Uma vez percebido, o evento e representado namente dos repOrteres (nivel tres). Esses primeiros trés niveis de abstracao sac,indescritiveis. Quer dizer, nao podem ser totalmente descritos pelos repOr-

teres. 0 quarto nivel de abstracao e atingido quando palavras Saoagregadasi magem mental. As partes das reportagens que descrevem o evento tal como

Quadro Caracteristicas Basicas de Dois Modos de Pensamento

Orientacao Pre-Cientifica Orientacao Cientifica

1. Nocao fundamental do carater estatico darealidade.

2. Rigidez ou conservadorismo; a tenclOnciapara manter crencas e habitos estabelecidos.

3. Envolve principalmente a pratica de sub-missao aos conselhos e opiniOes provenientes

de alguma autoridade influente.4.  A linguagem de uma orientacao pre-cienti-fica destina-se a controlar o comportamento,em virtude da autoridade consagrada que elarepresenta.

5.  A linguagem pre-cientifica tende a ensejar questOes que sac) frequentemente vagas e,muitas vezes, fatualmente destituidas signi-f icado.

b. So vagamente 0 percebido, ou nao se per-cebe de maneira alguma, que todo o enun-ciado veicula informacao acerca do falante,assim como informacao acerca do tema.

7. Ha uma tendencia acentuada para falar como se fosse pela voz de outrem.

8.  A previsao acurada nao 0 um objetivo par-ticularmente bem reconhecido.

1. Nocao fundamental do cat-Ater processualda realidade.2.  Adaptabilidade; disposicao para mudar sempre que tal for requerido por condicaesvariaveis.3. 0 metodo basico de resoluta() de proble-mas, a que chamamos cientifico, consiste emquatro etapas principals: (a) a formulacao dequestOes que dirigem (b) as observatOes dapessoa de modo a (c) responder claramente as

questdes de forma que as crencas e suposicOesda pessoa possam ser testadas, e (d) revistas

 _ou corrigidas, se for o caso.

4.  A linguagem de uma orientacäo cientificadestina-se a ser fatualmente significativa, clarae val ida.

5.  A linguagem cientifica esta orientada emtorno de questOes fatualmente claras e respon-diveis.

6. Percebe-se que todo e qualquer enunciadoveicula informacao tanto a respeito do falantecomo do tema.7. Ha pouca ou nenhuma tendOncia para falar como se fosse pela voz de outrem.

8.  A previsao acurada 0 urn objetivo clara-mente reconhecido.

foi percebido pelos rep6rteres representam esse nivel descritivo de abstracao.Mas os repOtteres incluirao, provavelmente, algumas suposicees ou inferen-cias sobre aspectos do evento que nao sdo diretamente observados (nivelcinco). Aqui este. urn exemplo das dimensoes verticais da abstracao. Cadaetapa subsecitiente deixa de fora mais detalhes e menos do que o nivel

anterior. A dimensào horizontal a facilmente vista comparando-se as duashistorias dos repOrteres. Elas nao podem ser iguais, dado que as pessoassempre abstraem diferentemente acerca do mesmo•acontecimento. Korzybskidestacou que o pensamento aristotelico e categOrico e nao reconhece a

abstracao. 0 principal atributo positivo do pensamento nao-aristotelico, Se-gundo Korzybski, e recorihecer a ocorrencia de abstracao e levar em conta asdiferencas entre pessoas.

Na sernantica geral sac) importantes muitas qualidades de abstracao. Comoprocesso pessoal, a abstracao e projetiva. A projecdo envolve a colocacao noobjeto, tal como e percebido, das avaliacoes feitas por uma pessoa. Em outraspalavras, a pessoa tende a ver seus prOprios valores como realidade. 0reporter no exemplo acima podera escrever que o incendio foi economica-mente desastroso. Na realidade, essa é a opiniâo do reporter, a qua) coloriu asua percepcäo do evento. Essa nocdo de projecdo e corroborada por nume-rosas teorias da percepcdo: o irrteracionista simbolico descreve um objetocomo produto de interacdo social; os psicologos sociais tem observado a

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Teorias de Signiticado e Pensamento 129

fen6meno de percepcao seletiva (a qual reforca a ideia de Korzybski, aquiexposta). A projecdo estabelece ainda a conclusao, enunciada por diversasteorias do significado mencionadas neste capitulo, de que nao se pode separara pessoa do significado de urn simbolo.

Figura 28. Model() de

 Abstracao. 

EVENTO REAL 

Eventoobserved°

Eventodesalt°

Pessoa 1 Pessoa 2 Pessoa 3

Dirnensãovertical

Dimensao horizontal

 Ao abstrair verbalmente, o comunicador usa palavras. A palavra representa

a coisa, mas deixa de fora muitos detalhes. Adicionalmente, uma palavra pode

ser usada em qualquer nivel de abstracao, dependendo do contexto. Corn isso

em mente, o semanticista geral concebe a abstracao como multjordinal — istoe, uma palavra pode significar certo nillmero de coisas para pessoas diferentes,dependendo do nivel de abstracao. Essa nocao foi corroborada por Dewey eLanger, quando assinalaram que as pessoas atribuem verios significados aspalavras, dependendo das suas concepcOes no momento. Contudo, esses

teOricos tambem preconizam um significado (conceito, essencia) geral parauma palavra, o que nao a feito pelos semanticistas gerais. Enquanto os outros

teOricos, neste capitulo, enfatizam ossignificados comuns de palavras entre aspessoas numa sociedade, Korzybski sublinhou as diferencas de significado ou

a multiordinalidade.Uma importante qualidade final da abstracao a que habilita as pessoas a

assumirem um vinculo temporal. A abstracao de ordem superior, atraves desimbolos, permite que as pessoas comuniquem sua experiencia abstrata aoutras atraves do tempo. Os animais, que tem uma capacidade muito limitada

de abstracao, nao podem fazer isso.

Wendell Johnson condensou os principios da semäntica geral, baseada naabstracao, em Wes nocOes fundamentais: nao - identidade, nao - totalidade eauto-rellexividade. 36   A nao - identidade e enunciada paradoxalmente: A nao

36Johnson — Quandaries,cap. 8

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130 Processos Basicos

 A. Esse conhecido principio expressa-se freqaentemente em termos metaf6-

ricos. "0 mapa nao e o territ6rio que ele representa" ou "Uma palavra nao é oobjeto que ela representa". 37 Como disse Johnson: "Ninguem, salvo algunspossiveis e raros casos psiquiatricos, tentou dormir alguma vez na palavra

cama." 34 Esse principio parece absurdamente obvio; entretanto, Korzybskiacreditava que a identificacao da palavra corn o evento e uma perigosatendencia aristotelica. Quando acreditamos que as palavras sac, a realidade,nao temos necessidade de testar as nossas abstracoes observando os eventosmais detalhados de ordem inferior. 0 segundo principio de semantica geral,

estreitamente afim ao primeiro, é a nao-totalidade. Continuando corn a nossa

metafora, o mapa nunca representa a totalidade do territOrio. Nao podemosver todos os detalhes de um evento. Nenhum enunciado diz tudo o que ha a

dizer acerca de urn evento. Ha sempre mais alguma coisa que poderia ser dita.Esse principio tambem decorre logicamente da nocao de abstracao. A atitude

cientifica requer a constante modificacao da nossa nocdo de realidade. Ela

estimula uma intermindvel busca da verdade, o que so pode acontecer noespirito da nao-totalidade.

0 terceiro principio basica é a auto-reflexividade. Cada nivel subsequente

de abstracao reflete o nivel mais baixo seguinte. Abstraimos a partir deabstracoes. lsso constitui, potencialmente, um processo infinito. E possivel ter uma abstracao de uma abstracao de uma abstracao, e assim por diante. 0reporter pode, mais tarde, escrever uma reportagem sobre a reportagem do

incendio. Podemos conversar a respeito da conversacao; podemos escrever a

respeito do ato de escrever.Grande parte do trabalho de semantica geral visa ensinar as pessoas a se

tornarem mais cientificas (extensionais) e menos aristotelicas (intensionais). A

esse respeito, a semantica geral é claramente uma teoria prescritiva. Entre-tanto, fornece urn modo particular de estudo de signos, significado e pensa-

mento. Korzybski identificou o locus do significado na pessoa e nao noevento, e descreveu como surge o significado no processo de abstracao.

Pelas teorias apresentadas ate agora, sabemos que o significado aparece na

pessoa ern resultado de uma representacao de um referente por urn signo.Varios termos e conceitos foram empregados para rotular diversos aspectos dosignificado nesse sentido: pensamento, conceito, concepcao e abstracao.Chegamos agora a uma teoria que deu urn gigantesco passo a frente no que se

refere a especificacao dos importantes atributos do significado, tal comoreproduzido, nas pessoas, por signos. Trata-se da teoria do espaco semântico,

desenvolvida principalmente pelo psicalOgo Charles Osgood.39

 A teoria de espaco semântico, de Osgood. Ern sua busca de urn metodo para

medir o significado, Osgood percebeu a necessidade de conceituar a signi-

ficado a partir de urn panto de vista comportamental. Procurou definir — e,por conseguinte, medir — os comportamentos na pessoa, suscitados por estimulos signicos. No capitulo 4, examinamos a teoria de mediacao dalinguagem de Osgood. Foi ali afirmado que a linguagem complexa é umafuncao dos comportamentos representacionais internos na mente do ouvinte-falante. Assim concebido, o significado consiste ern respostas internas apren-

didas aos estimulos (signos), as quais estão associadas a outros estimulos (refe-rentes). 0 comportamento manifesto do organismo é mediado par essasrespostas internas (significados). Essa hipOtese e formalmente enunciada nosseguintes termos:

37 Korzybski — Selections,p. 34.38Johnson — Quandaries, p. 172.

39 Essa abordagem foi muito bem descrita em Charles Osgood, George J. Suci e Percy H.Tannenbaum —The measurement of meaning. Urbana, University of Illinois Press, 1957; e JamesSnider e Charles Osgood (orgs.) — Semanticdifferential technique. Chicago, Aldine, 1969.

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Figura 30. Desenvolvi-

mento de urn assigno. -Drsm1

is

s m2

► smn

Teorias de Significado e Pensamento 131

Expressando formalmente a proposicao: urn padrao de estimulacao; que nao e oobjeto, e urn signo do objeto se evocar num organismo uma reacao de mediacao,sendo esta (a) alguma parte fracionaria do comportamento total suscitado peloobjeto e (b) produzindo uma distinta auto-estimulacao, que e a mediadora dasrespostas que nao ocorreriam sem a previa associacão de padroes de estimulacaode nao-objeto e objeto 40

Esse processo é ilustrado na Figura 29.41

Figura 29. Desenvolvi- Rimento de um signo.

► sm Jo-Rx

A figura mostra o desenvolvimento de urn signo © como resultado de suaassociacaoa urn estimulo natural S. Uma porcAo da resposta complexa deuma pessoa ao estimulo natural

RT passa a ser representada na forma de umarespostainterna rm, a qual, por seu turno, converte-se em estimulo internopara uma nova —mas aparentada —resposta manifesta Rx. 0 significadoe o processo interno de mediaCao representado na Figura 29 como rm sm.Diz-se então que esse significado, uma vez que esta dentro da pessoa e é Orli-co para essa pessoa, por resultar da sua pr6pria experiencia corn o estimulonatural, ê conotativo. Osgood apresentou urn born exemplo desse processo.Para determinada pessoa, uma aranha (S) produz uma resposta complexaR T. Quando a palavra aranha eassociada ao objeto, como pode ocorrer nocaso de uma crianca pequena, uma porcao da resposta rm (medo) passa aestar associada ao rotulo.Esse significado interno a mediador da resposta dapessoa ao mundo, mesmo quando o objeto real nao este presente.

Osgood reconheceu que a maioria dos significados nao sào aprendidos em

resultado da exposicao direta ao estimulo natural. Portanto, ele formulou ahip6tese de que signos podem desenvolver-se em conseqiiencia da associacaocorn outros signos. A Figura 30 ilustra essa hipotese.42 Podemos ver atravesdesse paradigma que novos signos e significadossac)aprendidos a partir daassociacão corn outros previamente condicionados. DA-se a tais signos onome deassignos(signos de atribuicao) e diz-se que Ihes sào atribuidos

significados.Osgood procurou descobrir a natureza da mediacao pelo desenvolvimento

de urn instrumento conhecidocomo odiferencial semantic°. 0 pressuposto

 /1/xx r m

40 Osgood —"Thenatureand measurement of meaning", in Snider e Osgood — Technique, pp.9-10.41 Ibid., p. 11.42 Ibid.

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132 Processos Bkicos

basic° dessa tecnica de mediacao é que os nossos significados (associacoesinternas) podem expressar-se pelo use de palavras. Portanto, o diferencialsemantic° consiste num conjunto de escalas que expressam varios graus entre

adjetivos bipolares opostos. Ao entrevistado é dado urn tOpico, conceito ou

outro estimulo que se sabe ter urn valor de signo para a pessoa. Ele "expresso"entao o seu significado para o signo, marcando o apropriado valor na escala

entre os adjetivos opostos. A titulo de amostra, uma escala tern o seguinteaspecto:

born .   . . . . . mau. .

 

Uma resposta no meio indica UM julgamento neutro. Procedendo a analisefatorial das respostas de urn grande nOrnero de entrevistados, numa grande

quantidade de escalas, Osgood e seus colaboradores puderam discernir asdimensOes de significado presentes. Suas conclusoes, nessa pesquisa, culmi-

naram na formulacao da teoria de espaco semantico.43

Oft-se que o significado atribuido por uma pessoa a qualquer signo estalocalizado num espaco metaf6rico de tit dimens6es principais. Essas dimen-s6es sac): avaliacão, poténcia e atividade. Urn dado signo, talvez uma palavra

ou urn conceito, provoca uma reacao na pessoa que consiste num sentido deavaliacao (born ou mau), atividade (ativo ou inativo) e potencia ou forca. 0significado conotativo da pessoa situar-se-a ern alguma parte desse espacohipotetico, dependendo das respostas da pessoa corn relacao aos fres fatores.

 A Figura 31 ilustra o espaco semantic°.Vejamos o conceito mae, por exemplo. Para uma dada pessoa, esse signo

produzirà uma resposta interna, que consubstancia certa combinacao dos trés

fatores. Uma pessoa podera julgar o conceito como born, passivo e fraco; umaoutra, como born, ativo e forte. Ern todo o caso, o significado conotativo deuma pessoa para mae dependera das associacOes aprendidas na vida do indi-

viduo. (Nao esquecer que as Wes dimensOes de significado nao sac) variaveisdicoternicas, sena° continuas.)

Osgood e outros real izaram pesquisas de diferencial semantic° numa grande

variedade de tipos de signos, incluindo conceitos verbais, mOsica, arte e atesons de sonar. 44 Alem disso, eles efetuaram pesquisas entre numerosos grupos

Figura 31. Espaco se-mantico tridimensional. 

Born 

InativO Ativo

Mau

43Mais recentemente, Osgood formulou a hipotese de que a bipolaridade 6 urn fator bAsico em

toda linguagem e pensamento humano. Ver Charles Osgood e Meredith Richards — "From Yangand Yin To and Or but", in Language, 49, 1973, pp. 380-412.44Uma amostra de estudos, ilustrando as aplicacees, pode ser encontrada em Snider e Osgood—Semantic diferential. Esse estudo inclui tambem urn atlas de 550 conceitos e seus perf issemEnticos.

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Teorias de Significado e Pensamerno 133

de pessoas representando uma vasta gama de culturas. Osgood passou a

acreditar que os tres fatores de significado — avaliacao, potencia e atividade— se aplicam a todas as pessoas e a todos os conceitos. 45 Se isso a verdade,entao Osgood ampliou, de fato, a nossa compreensao do significado de urnmodo expressivo.

Quer os fatores do significado sejam ou nao universais (trata-se de uma

hipotese muito controvertida), a nocão de espaco semantico ou a multidi-mensionalidade do significado conotativo a uma excelente contribuicao teri-rica. Fornece uma descricao concreta da natureza do significado conotativo.

 As teorias que examinamos nestas Ultimas paginas tem todas uma idêia em

comum — a de que o significado a uma funcao da natureza representacionaldos signor. Mas cada uma delas fornece uma perspectiva diferente sobre essa

ideia basica. 0 modelo de Ogden e Richards, o mais geral dos modelos,incluiu os tres elementos necessarios para uma visa() completa do significado:

o simbolo, o referente e o pensamento na pessoa. 0 pensamento é umarepresentacao do referente, a qual pode ser suscitada pelo signo ou peloprOprio objeto, mas a relacao entre o signo e o objeto e puramente arbitraria.

Langer ampliou ainda mais essa nocao. Ela mostrou corno um simbolorepresenta urn conceito geral que e comum entre comunicadores; mas, alêm

disso, indicou que cada pessoa tem uma concepcao particular (conotacao)associada ao referente. A escola da semantica geral, liderada por Korzybski,

continuou a tradicao representacional. Os semanticistas gerais enfatizam oprocesso de abstracao, demonstrando que o significado que atribuimos a uma

palavra ou objeto e sempre incompleto. Varios principios semanticos rela-cionam-se tom essa idéia basica de abstracao. Finalmente, cobrimos a teoria

psicologica de significado desenvolvida por Osgood, que apresentou umateoria mediacional de espaco sernantico. Nela, o signo a visto como gerador de uma resposta mediadora multidimensional na pessoa.

Teorias Experienciais de Significado

 As teorias experienciais de significado defendem que o mais importanteaspecto do significado encontra-se na relacao entre a linguagem e a experien-cia. Todas essas teorias compartilham a tese de que a linguagem influencia

fortemente a vida em curso e a experiencia da pessoa. Assim, o significado

concebido como o conhecimento da realidade pela pessoa, conhecimentoesse a que a linguagem da forma e expressao. Examinaremos as teorias deErnst Cassirer, Heidegger e Gadamer, bem como de Benjamin Lee Whorf. Ao

inves das abordagens representacionais, esses teOricos nao separam o signo, oreferente e a pessoa. Acreditam eles que os tres estao de tal modo interligadosque devemos considers-los em conjunto.

A filosofia das formas simbOlicas, de Ernst Cassirer. Ernst Cassirer e o maiscêlebre filosofo da linguagem da nossa era. Filosofo alemao que escreveu naprimeira metade deste seculo, Cassirer acreditava, como epistemologo, que amente humana so pode ser entendida atraves de uma investigacao dosprocessos simbOlicos, e dedicou sua vida a exploracao desse terra. 0 seutrabalho de maior folego, e aquele que mais se preocupou corn a linguagem eo significado, ePhilosophie der symbolischen Formen (A filosofia das formas

45Esse ponto de'vista a expresso em Osgood — "Semantic differential technique in the compara-

tive study of cultures", pp. 303- 32; e Cross cultural universals of affective meaning. Urbana,University of Illinois Press, 1975.

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134 Processos Ba'sicos

simbolicas), publicado em tres volumes entre 1923 e 1929. 46An essay on man,talvez o seu kat mais conhecido, também se ocupa em parte do simbo-lismo .47

Para Cassirer, a linguagem esta intimamente ligada a mente humana. 0i mportante aspecto humano da linguagem, distinto das qualidades fisicas doseventos naturais, e o significado. Cassirer acreditava que a linguagem nao

pode ser estudada a distancia, como urn objeto natural poderia ser estudado.Ela deve ser abordada fenomenologicamente — através da mente e dossignificados da pessoa.

Os seres humanos sentem o mundo atraves de simbolos. 0 processamento

si mbolico e parte integrante da percepcao. As nossas linguagens e outrasformas simbOlicas estruturam a reaiidade para nos. Mas nao nos encontramos

i mobilizados numa posicao inflexivel por causa de alguma camisa-de-forcalingiistica pre-ordenada. As pessoas tem de se defrontar corn formas naturaise, assim, a linguagem delas deve adaptar-se "realidade". 0 que Cassirer parece estar afirmando nesse ponto, e que existe uma interacao entre lin-guagem e natureza. A nossa linguagem e outras formas simbOlicas parecem

influenciar o modo como percebemos; ao mesmo tempo, o que é percebidopode influenciar as nossas formas simbOlicas48

 As formas simbeilicas predominantes de uma cultura modelam a expressao ea percepcao dessa cultura. Cassirer, em  A filosofia das formas simbOlicas,examinou quatro formas principais: a linguagem comum, omito, a arte e aciencia.49 0 mito e a arte, como linguagem primitiva, sao formas eminente-mente pessoais e centradas em sentimentos. 0 mito e uma especie de forma

primitiva, nao-lOgica, centrada ern valores. Os valores expressos ern formamitica incluem vida, poder, violencia, maldade e morte. Esses valores pos-

suem uma carga emotional. Portanto, o mito nao conduz ao entendimento deconceitos mas a um sentimento profundo de identificacao entre as pessoas de

uma cultura. Segundo a descricao de Suzanne Langer, "(...) os simbolosmiticos nem mesmo parecem ser simbolos; apresentam-se como objetos,lugares ou seres sagrados, e sua importancia e significacao a sentida como urn

poder inerente".50

 Mas, recordando o tema basico de Cassirer, a natureza darealidade mediada por simbolos, Langer prosseguiu: "(...) nao 'faz-de-conta'

nem uma distorcao deliberada ou travessa de urn 'dado fato' radicalmentediferente, mas e o modo como os fenOmenos são dados a apreensao inge-nua."51 Nesse nivel, a pessoa ve o significado do simbolo como intrinseco na

prOpria forma: "Ern sociedades selvagens, os nomes sac) tratados como sefossem procuradores fisicos de seus portadores." 52

Cassirer escreveu muito pouco sobre arte, mas considerou-a bastante pare-

cida ao mito — eminentemente pessoal e centrada em sentimentos. As formas

46Ernst Cassirer — Philosophie der symbolischen Formen. Berlim, Bruno Cassirer. 1923, 1925 e

1929. [ Os tres volumes desta obra intitulam-se: Die Sprache (A linguagem). Das mythischeDenken (0 pensamento mitico) e Phanomenologie der Erkenntnis (Fenomenologia do conheci-

mento) — N. do T. Existem numerosas fontes secundkias, como: Carl H. Hamburg — Symboland reality. Haia, Martinus Niioff, 1970, Seymour W. Itzkoff — Ernst Cassirer: scientific knowledgeand the concept of man. Notre Dame, University of Notre Dame Press, 1971; Paul Schilpp (org.)—The philosophy of Ernst Cassirer. Nova York, Tudor Publishing Co., 1949. Para uma visa() geralrelativamente clara e sucinta, ver Wilbur Urban — "Cassirer's philosophy of language", em ibid.,pp. 403-41.47Ernst Cassirer — An essay on man. New Haven, Yale University Press, 1944.48 Essa interpretacao foi subseqiientemente desenvolvida em Itzkoff — Ernst Cassirer, pp. 115-18,138.49

Explicacdes dessas formas podem ser encontradas em Langer — "On Cassirer's theory of language and myth", em Schilpp — Phylosophy, pp. 387-90: Itzkoff — "Ernst Cassirer", pp. 105-8;Urban — "Philosophy of language", pp. 420-30.

50 Langer — "On Cassirer's theory", p. 388.51Ibid., p. 389.   •

52 Ibid., p. 390

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Teorias de Sjgniticado e Pensamento 135

miticas e artisticas nao sao muito abstratas. Ao inves das formas cientificas, osseus significados estao mais ou menos fixados no sentimento momentaneo. Aciéncia é a mais elevada forma simbOlica Desenvolve-se mais tarde na

evolucao de uma cultura e, ao inves da forma mitica primitiva, facilita opensamento abstrato. As formas cientificas sao mediadoras da realidade, tal

como as formas primitivas, mas o cientista reconhece esse fato. A mate-

miatica, a forma cientifica suprema, estA tao distante da experiencia sensorialque simboliza mais as relacees puras do que coisas.

 A quarta forma, linguagem, tern uma relacäo intima corn as outras tres.Cassirer mostrou como a linguagem evolui de urn estado primitivo semelhante

ao mito para urn estado avancado semelhante a ciência. A linguagem passa

por fres estAgios. No estagio mim6tico, a linguagem estA vinculada as per-cepcees individuals do momento. Tal como as formas miticas, o significadonesse estagio a relativamente invariante e carece da abstracao necessiaria

formacao de conceitos e ao pensamento lOgico. 0 Segundo estagio é oanalogico. Nesse estagio, a linguagem comeca a distanciar-se das estritasrelacdes univocas corn as coisas. As pessoas comecam a usar sons mais em

termos de analogia corn o mundo real do que de identificacao dos objetos por meio de sons. 0 estagio mais avancado no desenvolvimento da linguagem e osimbálico.

E no estagio simbOlico que se desenvolve a gramAtica. Os significados depalavras sao suficientemente amplos para possibilitar uma gama de con-cepciaes. Assim, a pr6pria percepcao é ampliada: A pessoa torna-se maiscriativa e adaptativa. A ciencia so pode desenvolver-se nesse estagio avan-

cado. Ern suma, a historia da linguagem é a de uma crescente abstracao. A

medida que a linguagem se desenvolve,• o significado é ampliado de umaestrita identificacao sensorial, aqui e agora, para formas que permitem m61-

tiplos significados e inter-relay:5es.

 As nocties de Cassirer sobre as relacees entre linguagem e pensamentoforam largamente influenciadas por suas observacdes de individuos afasicos

num instituto neurologico. A nossa capacidade de processamento de simbolos

permite-nos ver relaciies e pensar atravês de acOes. As pessoas que perderamessa capacidade de processamento de simbolos nao podem funcionar em nivelabstrato. Ern baixos niveis de abstracao, a pessoa está vinculada a experienciasensorial imediata. Eis urn exemplo:

0 contraste entre o homem normal, que vive num mundo de signos mediados ede significados, e o apraxico, que deve visar um objetivo direto para as suasaceies, e exemplificado pelo fato de que muitos apraxicos que, sob condicOesordinarias, nao seriam capazes de encher urn copo de agua quando solicitados,fazem-no espontaneamente quando tem cede. A multidao de etapas simbOlicasindividuals e mediadas, entre o pedido de encher o copo de agua e o ato real, epor demais esmagadora para que esses individuos as integrem e respondamnormalmente.53

 Assim, o significado parece envolver dois importantes atributos, possibili-tados ambos pelos processos simbOlicos: a percepcao gesthltica (ver totalidadee inter-relacdes) e o pensamento ou acdo mental, independentemente dapresenca imediata do objeto que afeta os sentidos.

Ern resumo, Cassirer viu o significado como o mundo perceptual e mental

do individuo mediado pelas formas simbOlicas lingeisticas e nao-lingeisticaspredominantes da cultura. Cassirer Mao rompeu completamente corn a teoria

representational, mas adotou uma perspectiva mais ampla ao mostrar como as

formas simbOlicas criam mundos significativos nas pessoas, ao modelarem suapercepcao e seu pensamento.

53Itzkoff — Ernst Cassirer, p. 132.

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136 Processos Basicos

 A fenomenologia do significado. Em oposicão a muitas das abordagens tradi-

cionais do estudo de linguagem e significado estA a abordagem fenomeno-

lOgica.54 A fenomenologia, como urn ramo da filosofia, A uma mundivisão que

enfatiza a importAncia da experiencia espontanea e concreta sobre as genera-

lizacOes abstratas acerca do comportamento. Ao contrArio do empirismo, queproduz teoria baseada na observacao, a fenomenologia examina em profundi-

dade a realidade corrente, tal como e sentida pela pessoa. Os principals fil6-solos da linguagem que adotaram uma perspectiva fenomenolOgica

go Martin

Heidegger e Hans-Georg Gadamer 55Stanley Deetz resumiu os principios bAsicos da fenomenologia nos seguintes

termos: ern primeiro lugar, todo conhecimento a consciente. A pessoa pro-gride na vida interpretando a experiencia sensorial. Essa interpretacão, que é

conhecimento, é inteiramente consciente. 0 conhecimento do individuodireto e espontaneo na experiencia. Nao e inferido ou derivado da expe-riencia. A atividade consciente é automaticamente significativa.

Em Segundo lugar, a experiencia bruta chega-nos com um carAter pre-reflexivo. Nao sobrepomos algum modelo ou uma interpretando previamente

estabelecida a uma experiencia não-estruturada. A finalidade da fenomeno-logia A descobrir o conhecimento, tal como se revela a pessoa em suaexperiencia. 0 significado de qualquer coisa encontra-se ern sua importAnciapessoal para a experiencia do individuo. Deetz explicou esse principio recor-

rendo ainda a urn exemplo.

Em outras palavras, urn prisioneiro, que deseja evadir-se,ye uma janela, uma

chave, uma cadeira, urn guarda —tudo a sua volta — em mink) ao seu piano defuga. Ao passo que, se ele se contenta em permanecer na prisao, Lima janela

apenas urn lugar para receber ar fresco e näo urn lugar por onde podera fugir.

Urn guarda ha° a urn inimigo mas alguem corn quem sera aconselhavel estar ernboas relayaes. A natureza das coisas, portanto, não e estatica ou permanente,

composta de matória e forma, que se mostra mediante a observano direta, mas

algo que emerge do desconhecido, do oculto, quando sua "prestabilidade" (isto

6, as possibilidades de uso-em-ano) ganha o primeiro piano do funcionamento

corrente do Mundo.56

Emterceiro lugar, e o mais importante do ponto de vista linguistico, todasas experiencias ocorrem inerentemente atravAs da linguagem. Pensamentos epercepcaes nä° Ca°rotulados e comunicados corn a linguagem como instru-mento; pelo contrArio, a experiencia torna-se consciente ern forma linguis-tica. Experiencia é linguagem.

E este Ultimo ponto é exatamente o que foi demonstrado por Heidegger. ArazAo por que existe uma relacäo taoestreita entre linguagem e experienciaque a nossa linguagem confere significado aos objetos da experiencia. Vis-lumbramos aqui uma area de contato Corr o interacionismosi mbOlico. Sa-bemos como nos comportar ern face de urn objeto ou situacdo por causa dalinguagem, através da qual o objeto ou a situacão é concebido. Para citarmos

Deetz: "As coisas sem palavras sao entidades estaticas; a linguagem converteas coisas em possibilidades de experiencia (...) nos nä° falamos ou pensamos

.54 Apoiei-me exclusivamente no excelente resumo de Stanley Deetz — "Words without things:toward a social phenomenology of language", in Quarterly journal of Speech, 59, 1973,pp. 40-54.55As obras de Heidegger incluem On the way tolanguage. Nova York, Harper & Row, 1971;  A nintroduction to metaphysics. Garden City, Doubleday, 1961. A principal obra de GadamerTruth and method. Nova York, Herder & Herder, 1975. As (antes secundarias incluem: Joseph J.Kockelmans (org.) — On Heidegger and language. Evanston, Northwestern University Press, 1972;George Seidel — Martin Heidegger and the pre-socratics. Lincoln, University of Nebraska Press,1964; sobre Gadamer, ver Richard D. Palmer — Hermeneutics. Evanston, Northwestern UniversityPress, 1969.56Deetz "Words", pp. 43-44

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Teorias de Significado e Pensamento 137

em linguagem; mas falamos e pensamos desde dentro dela. A linguagemprecede a existencia (...) nab estamos separados daquilo que dizemos."97

Gadamer ampliou a teoria de Heidegger ao mostrar que a linguagem e uma

tradicao em cujoseio a pessoa nasceu. Em vez de usar a linguagem para

realizar seus prOprios fins, o individuo deve participar na linguagem, quando

esta Ihe chega. Assim, esse ponto de vista refuta as teorias tradicionais de

li nguagem e significado:

Para Gadamer, assim como para Heidegger, a natureza primaria da linguagem naoe, portanto, a de um objeto usado por urn individuo para assinalar outras coisasou impressionar outras pessoas. A linguagem, tal como o entendimento, abrangecoisas e experrencias, e permite que a "natureza" das coisas seja revelada a urnind ivi duo. 58

0 significado, portanto, nao se encontra na pessoa nem no referente. 0 sig-nificado esta na linguagem e e revelado : pessoa atraves da experiência. A

pessoa nasce numa tradicao lingaistica rica de significados. Essa tradicaotorna-se parte do eu do individuo e toda a experikcia e filtrada atraves dela.

Temos aqui uma concepcão bastante diferente de significado. Como osfenomenologos negam que a linguagem seja usada para representar referentes,eles colocam o significado no prOprio simbolo. De acordo com esses teOricos,sentimos a linguagem como ela é. Tudo o que vemos e sabemos nos é dadoatraves da tradicao ling istica em que vivemos.

Relatividade

 

Outra teoria que defende essa concepcào de que a

linguagem modela o nosso pr6prio ser é a hipotese Sapir-Whort, tambemconhecida como a teoria da relatividade lingilistica. Embora o metodo e aorigem da hipotese da relatividade estejam muito distantes da fenomenologia,

os seus pressupostos acerca de linguagem e significado sac) muito seme-Ihantes. Essa teoria baseia-se na obra de Edward Sapir e seu discipulo dileto,

Benjamin Lee Whorf.59 Whorf tornou-se mais conhecido por seu trabalho decampo na area da e sua analise do hopi ficou celebre. Em sue.pesquisa, Whorf descobriu que existem diferencas sintaticas fundamentais

entre grupos lingilisticos. A hipotese whorfiana da relatividade lingOisticaafirma simplesmente que a estrutura da linguagem de uma cultura determi-na o comportamento e os habitos de pensamento nessa cultura. Nas palavrasde Edward Sapir:

Os seres humanos nap vivem apenas no mundo objetivo, nem apenas no mundoda atividade social, tal como a vulgarmente entendida, mas estao tambernmeta da linguagem particular que se tornou o meio de expressão para asociedade deles. E uma grande ilusao imaginar que uma pessoa se ajustarealidade essencialmente sem o use de linguagem, e que a linguagemmeramente urn meio incidental de resolver problemas especificos de comu-nicacao ou reflexao.0fato a que o "mundo real" 6, em grande medida,construido inconscientemente sobre os habitos lingaisticos do grupo. (...) Vemos

e ouvimos e, de qualquer modo, temos as experièncias que temos porque, emgrau muito consideravel, as habitos Iinguisticos da nossa comunidade predispoemcertas escolhas de interpretac2o.

57 Ibid., p. 46.58

 Ibid.,p. 47.59Edward Sapir —  Language: an introduction to the study of speech. Nova York, Harcourt, Braceand World, 1921; Benjamin Whorf — Language, thought and reality. Nova York, John Wiley &Sons, 1956. No volume previo, os seguintes artigos são extremamente Cteis: John B. Carroll —"Introduction", pp. 1-34; "The relation of habitual thought and behavior to language", pp.134-359; "Language, mind and reality", pp. 246-69.60Citado em Whorf — Language, p. 134.

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138 Processos Basicos

Essa hip6tese sugere que os nossos prOprios processos de pensamento e o

modo como vemos o mundo sac, modelados pela estrutura gramatical dalinguagem. Como reagiu urn critico, "(...) fomos ludibriados a vida toda (...)pela estrutura da linguagem, que nos induziu a perceber a realidade de certa

maneira".61

Whorf passou boa parte de sua vida investigando as relacOes entre lin-guagem e comportamento. 0 seu trabalho corn os hopi e particularmenteil ustrativo da hip6tese da relatividade. Como todos os grupos culturais, os

hopi possuem urn pensamento do mundo como microcosmo, o qual repre-senta a sua concepcao do mundo como urn todo, ou macrocosmo. Uma areada extensa aria:Ilse de Whorf acerca do pensamento hopi é a analise dasrelacaes de tempo. Enquanto muitas culturas se referem a pontos no tempo

(por exemplo, as estacOes) como nomes, os hopi concebem o tempo como

uma passagem ou processo. Assim, a linguagem hopi nunca objetiva o tempo.

Um hopi nunca se referiria ao verao como "no verao". Em vez disso, os hopireferiam-sea passagem ou ao advento de uma fase que nunca e aqui e agoramas sempre movel, transitOria e acumulativa. Em nossa cultura, tres tempos

verbais indicam localizacOes ou lugares numa analogia espacial: passado,

presente e futuro. Os verbos hopi Mao possuem tempo no mesmo sentido. Emvez disso, as suas forma verbais relacionam-se com duracao e ordem. Naslingual do Padrao Medic) Europeu (Standard Average European ou SAE),incluindo o ingles, o tempo é visualizado como uma linha. A concepcao hopié mais complexa, como se ilustra no seguinte exemplo 62

Consideremos a situacao em que urn locutor relata a urn ouvinte que umaterceira pessoa esta correndo. "Ele esta correndo." 0 hopi usaria a palavrawad, que e uma declaracao de correr como urn fato. A mesma palavra seria

usada para relatar uma corrida passada, "Ele correu". Para o hopi, e a

declaracao de fato (validade) que tern importäncia, nao se o fato esta

ocorrendo atualmente ou e urn evento passado. Entretanto, se o locutor hopidesejasse enfatizar que esta relatando de mem6ria urn evento passado,

referente a uma corrida (quando a ouvinte naoy

e ele pr6prio o evento), usariauma forma diferente, era wad. A frase "Ele correra" seria traduzida comowarikni, que comunica correr como uma expressao verbal de expectativa.Repetimos, nao é a localizacao no passado, presente ou futuro que ternimportancia para o hopi, mas a natureza de validade (fato observado, fatorecordado ou fato esperado). Uma outra forma SAE, "Ele corre na equipe deatletismo ", seria traduzida como warikngwe. Esta Ultima forma hopi refe-re-se uma vez mais a correr, mas agora no sentido de lei ou condicao.

Em resultado dessas diferencas lingaisticas, as culturas hopi e SAE pen-sarao sobre o tempo, percebe-lo-ao e comportar-se-ao ern relacao ao tempode modos diferentes. Por exemplo, o hopi tende a empenhar-se em demoradas

atividades preparatOrias. As expertencias (ficar preparado) tendem a acumu-

lar-se a medida que "vai ficando tarde". A enfase e sobre a experienciaacumulada no transcurso do tempo, Mao no tempo como um ponto ou

localizacao. Nas culturas SAE, com seu tratamento espacial do tempo, asexperiéncias nao se acumulam nessa mesma acepcao. Preparativos elaboradose prolongados nao se encontram com freqiiencia. 0 que é habitual nasculturas SAE, porém, e o registro elaborado e meticuloso de eventos (analogia

espaco-tempo) de tal modo que o que aconteceu no passado é objetivado

no espaco (registrado). Whorf resumiu esse ponto de vista assim: "Os concei-tos de 'tempo' e 'matéria' Mao sac) dados substancialmente da mesma forma

61Carroll — "Introduction", p. 27.6

2 Adaptado de Whorf — Language, p. 213.

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Teorias de Significado e Pensamento 139

pela experigncia a todos os homens, mas dependem da natureza da linguagemou linguagens atravês de cujo uso esses conceitos se desenvolveram."6 3

Examinamos assim dois sentidos de significado. No primeiro, o significado évista como uma representacao de algum objeto, ocorrencia ou condicao. Asteorias que adotam esse ponto de vista descrevem tres elementos distintos: o

objeto, o signo e a pessoa. As teorias apresentadas nesta secao enfatizam a

ideia de oue os simbolos influenciam tao fortemente a experi gncia da pessoaque nao podem ser separados da experiéncia humana. Temos aqui urni mportante distanciamento da nocao tradicional de que o significado esta na

pessoa e é produzido por signor. Os fenomenologos argumentariam que osignificado esta no signo. A terceira teoria apresentada nesta secao e a darelatividade lingaistica, a qual prop& que o significado reside na estrutura da

linguagem, estrutura que afeta o modo como a pessoa pensa sobre o mundoem geral e como se comporta em relagao a ele.

0 Significado em Uso: a Filosofia da Linguagem de Uso Cotidiano

Uma abordagem filosOfica alternativa para o estudo de linguagem e signifi-

cadoé

a que foi denominada filosofia da linguagem de uso cotidiano.Numerosos filosofos adotaram essa tradicao. 0 pai do movimento foi LudwigWittgenstein.64 0 segundo major teOrico do grupo a J.L. Austin. 65 EssesfilOsofos acreditam que os usos praticos e factuais da linguagem fornecem achave para o significado. Rejeitam a andlise formal das estruturas ling ijsticas,

a qual tem sido usada para descobrir os significados de palavras e frases. Alinguagem é tao rica e variavel que desafia a generalizacao. Dai a necessidadede examinar o uso corrente e ern primeira mao da linguagem.

Neste resumo do movimento, acompanharemos duas excelentes sinteses dafilosofia da linguagem de uso cotidiano, de autoria de John Stewart e JohnSearle. 66 Stewart resumiu a posicao dessa abordagem da seguinte maneira:

Nap existeurnpadrao Onico a ser revelado, uma so descricão a ser oferecida,

nenhum pequeno conjunto de regras como pare o calculo matematico. Pelo

contrerio, as formas e usos da linguagem sáo inesgotavelmente flexiveis e

variados; falar.nao é comourn jogo, mas como toda uma familia de jogos, e as

regras para esses jogos, sues finalidades e metodos de jogar são quase infini-

tamentediversos. 67

A resposta a esse problema da diversidade de linguagem, de acordo corn oste6ricos da linguagem, consiste em examinar nao a linguagem mas o uso quedela se faz. 0 que a importante para a andlise sao os atos da fala e nao as

63 Ibid., p. 158.

64 As principais obras de Wittgenstein sobre linguagem incluem: Tractatus logico-philosophicus.

Londres, Routledge & Kegan Paul, 1922; The blue and brown books. Oxford, Basil Blackwell,1958; Philosophical Investigations. Oxford, Basil Blackwell, 1953. Existem Varies edicOes e

traducdes. Urn certo nómero de fontes secundarias tern grande utilidade: John Passmore —"Wittgenstein and ordinary language philosophy", in A hundred years of philosophy. Londres,Gerald Duckworth & Co., Ltd., 1957; C.H. Brown — Wittgensteinian linguistics. Paris, Mouton,1974; K.T. Fann — Wittgenstein's conception of philosophy. Berkeley, University of CaliforniaPress, 1969; Anthony Kenny — Wittgenstein, Cambridge, Harvard University Press, 1973; S.Morris Engel — Wittgenstein's doctrine of the tyranny of language. Haia, Martinus Nijhoff, 1971;Timothy Binkley — Wittgenstein's language. Haia, Martinus Nijhoff, 1973.65 J.L. Austin — How to do things with words, Cambridge: Harvard University Press, 1962, W.P.

 Alston —Phylosophy of language. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1964. Para a edicao brasileira,ver Bibliografia.66 John Stewart — "Concepts of language and meaning: a comparative study", in Quarterly Jour-nal of Speech, 58, 1972, pp. 122-33; John Searle — "Human communication theory and the philo-sophy of language: some remarks", in Human communication theory, organized° por Frank Dance. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1967, pp. 116-29. Ver tambem, de Searle, Speechacts: an essay in the philosophy of language. Cambridge, Cambridge University Press, 1969.67Stewart — "Concepts", p. 131.

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140 Processos Básicos

formas lingilisticas. Para desenvolver essa tese, Searle descreveu cinco princi-pios da linguagem.68

(1) "Falar uma linguagem e adotar uma forma de comportamento gover-nada por regras." Se examinarmos o comportamento ilocucionario real en-volvido na producao da linguagem comum, perceberemos due determinadasregras estäo sendo obedecidas. Tais regras relacionam-se con) a maneira como

os sons podem ser combinados sintaticamente.(2) "A unidade minima de comunicacäo e o ato "ilocucionario," 0 ato

uma unidade de comportamento dotado de prop6sito ou intencao; assim, a

palavra não a necessariamente uma unidade lingiiistica significativa. 0 quesignificativo na comunicacao a uma palavra ou grupo de palavras usadas deacordo corn regras para executar urn ato. 0ato ilocucionario pode ser umenunciado, uma ordem, uma afirmac5o, interrogacao, promessa, observacao,explicacao, comentario, pedido ou outras frases como essas. Uma frase de

uma palavra e urn ato ilocucionario, mas uma palavra ou grupo de palavrasque não constitua uma frase nä° o e. 0 objetivo primordial de urn atoil ocucionario e produzir o entendimento. Uma vez que tenha ocorrido oentendimento, as tentativas suplementares de exercer influencia (por exemplo,

persuadir, convencer, irritar, divertir ou entediar o ouvinte) sao consideradas

atos perlocucionarios.* Essa distincao entre atos ilocucionarios e perlocucio-narios ilustra a necessidade de estudar o uso real da linguagem, no sentidocotidiano.

(3) "Dizer alguma coisa e significa-la envolve dize-la mais: (a)pretender produzir certos efeitos ilocucionArios num ouvinte (efeitos esses que são umafuncao das regras que governam a frase proferida); (b) pretender produzir esses efeitos levando o ouvinte a reconhecer a intencdo (a); e (c) pretender leva-lo a reconhecer a intencão (a) por meio do seu conhecimento das regras

que governam a frase proferida."

Nesse ponto, Searle estava tentando explicar o que se entende por com-preensao. Quando uma pessoa faz uma declaracao (ato ilocucionario) a uma

outra em comunicacdo, ela tenta suscitar compreens5o. Isso significa que o

ouvinte deve reconhecer a intencão do locutor como um ato ilocucionario.Essa intencâo e reconhecida atraves de um conhecimento das regras do jogo.

(4) "Tudo o que pode ser significado pode ser dito." Como a natureza dosignificado tem de ser descoberta em atos ordindrios de fala, e uma falâcia

dizer que não podemos expressar o que queremos dizer. Se não podemosdiz8-lo e porque não temos a intencao de significa-lo. Isso devolve-nos apremissa basica da filosofia da linguagem de uso cotidiano, isto e, que oestudo de significados se desenrola atrav6s do exame dos usos reais que se daoa linguagem. 0 significado, Segundo essa abordagem, esta no prOprio am deelocucdo ou fala.

(5) "Os sistemas de regras semánticas sac) constitutivos e nao reguladores."Temos de distinguir aqui entre dois tipos de regras: as reguladoras e asconstitutivas. As primeiras, como as leis do trânsito, regulam comportamentos

 jaexistentes. As regras constitutivas, por outro lado, criam realmente ativi-dades que de outro mods não seriam possiveis. Os jogos sdo literalmentedefinidos por suas regras. Qualquer jogo e uma atividade so possibilitada por causa de regras. Do mesmo modo, o discurso somente é possivel em virtudede regras ling isticas.

Em suma, o te6rico da linguagem de uso cotidiano tenta obter uma

compreensäo clara da natureza do comportamento e significado ling isticos

68 Searle —"Human Communication Theory".

* Foi .L. Austin, em How to do things with words (ver Nota 65), quern batizou a unidade minimade comunicacão como urn ato ilocucionario (illocutionary act) e os atos que envolvem efeitosadicionais como atos perlocucionarios (perlocutionary acts). (N. do T.)

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Teorias de Signiticado e Pensamento 141

examinando os usos comuns que sao dados a linguagem nos atos de fala.Searle mostrou corno significado e linguagem sao verdadeiramente parte doprocesso de comunicacao cotidiana. Na comunicacdo, a pessoa executa urn

ato ilocucionario, ou seja, profere uma sentenca corn a intencao de suscitar acompreensao através do use de regras comuns. 0 significado torna-se possivel

gracas as regras constitutivas inerentes ao ato de fala.

Teorias de Pensamento

 Ate aqui, nos capitulos 4 e 5, tratamos da natureza da linguagem e dos signos,

e da relacäo dos signos corn as coisas e pessoas, a que chamamos significado. Antes de deixarmos essa area ternatica geral, e importante examinarmosteorias relacionadas corn o processamento humano de simbolos ou pensa-mento. Esse é o dominio da comunicacao intrapessoal e figura, de urn modoimportante, na interacao entre pessoas. A generalizacao que melhor relaciona

a comunicacão intrapessoal e interpessoal é a seguinte:  As mensagens sao

signos e grupos de signos modelados atraves dos processos de pensamentohumano.

Como o leitor ja percebeu, estamos adotando neste livro a posicao de quesignos, significado e pensamento estão intimamente interligados e, portan-

to, devem ser considerados em conjunto. Todas as abordagens do pensa-mento aqui incluidas relacionam o pensamento corn o processamento desimbolos. Analogamente, as teorias de significado apresentadas na Ultimasecao e muitas das teorias da linguagem e do comportamento signico, nocapitulo anterior, relacionam seus respectivos temas corn os processos depensamento humano. As teorias de pensamento apresentadas aqui enfatizam

os aspectos de manipulacao de simbolos e seus significados no que osinteracionistas simbOlicos designam por mente.

 A Teoria Cognitiva do Comportamento Conceptual 

Os psicologos experimentais interessam-se ha muitos anos pelo comporta-mento conceptual humano. A interrogacao central dessa pesquisa tem sido:como é que os seres humanos processam a informacao proveniente do seu

meio ambiente para formarem conceitos sobre esse meio ambiente? Daspesquisas realizadas sobre esse terra, destacaram-se duas amplas abordagensteOricas. A abordagem behaviorista ou associacionista considera a formacaodo conceito uma tarefa de aprendizagem basica, ern que a pessoa recebe

passivamente estimulos associados, oriundos do meio ambiente. A segundatradicao 6 a Escola Cognitiva, que ye a pessoa como urn organismo ativo que

formula hipoteses sobre o meio ambiente e se dedica a testa-las. Na realidade,

cada tradicao e constituida por certo nUmero de teorias. Neste capitulo,daremos enfase a segunda abordagem, que é a de verificacao de hipoteses. 0

que se apresenta aqui é realmente uma combinacao dos resultados de varias

pesquisas relacionadas corn o enfoque cognitivo. 69

 A perspectiva geral da abordagem de verificacao de hipoteses é a de urn

individuo que aprende ativamente e age seletivamente sobre o meio ambientepara formular interferências a respeito dele. A pessoa que se defronta corn urn

campo complexo de estimulos deseja conceituar o campo, imprimir-lhe urnsentido ou nexo. Desenvolve uma estrategia ou piano de ataque que consiste

69 A study of thinking. Nova York, Wiley, 1956,de J.S. Bruner, Jacquelin J. Goodnow eG.A.

Austin, a comumente considerado a fonte primaria para essa teoria. 0 melhor resumo dessatradicao é o de Lyle. E. Bourne — Human conceptual behavior. Boston, Allyn & Bacon, 1966. Paraurn resumo recente, ver John Radford e Andrew Burton — Thinking: its nature and development.Londres. John Wiley & Sons, 1974, cap. 1.

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1 4 2 Processos Basicos

em hipoteses sobre o modo como certos estimulos se harmonizam e nummodo de observacao para testar as hipoteses. Antes de passarmos a analise daverificacao de hipoteses, apresentaremos alguns termos afins.

Em primeiro lugar, o que é urn conceito? Bourne definiu-o assim: "(...)conceito existe sempre que dois ou mais objetos ou eventos distinguiveisforem agrupados ou classificados juntos e separados de outros objetos na base

de algum aspecto comum ou de uma propriedade caracteristica de cadaum." 70 Nao vemos o mundo em fragmentos e pedacos. Pelo contrario,mediante o uso de simbolos, organizamos o que vemos em hierarquias queconsistem em conceitos. Agrupamos certos objetos baseados nas propriedadesou caracteristicas comuns observadas e chamamos-lhes macds; as macäs sãodepois agrupadas corn outros objetos similares, e chamamos-Ihes frutos.  Aquestho pertinente é: como acontece esse comportamento conceptual?

0 ccmportamento conceptual consiste em duas atividades gerais: a apren-dizagem de conceitos (formacao conceptual) e o seu uso na vida (utilizaggode conceitos). Na tarefa de formacao, a pessoa depara com estimulos quevariam ao longo de numerosas dimensoes. Algumas dessas dimensoes, que setornam importantes ou Citeis na colocacâo de estimulos ern classes, são

relevances; outras nth) sac,. Cada dimensão tern pelo menos dois valores ouatributos. Por exemplo, a dimensäo de cor teria atributos this como vermelho,

amarelo ou azul. Obviamente, portanto, urn conceito consiste num agrupa-mento de estimulos na base de atributos comuns (por exemplo, objetosvermelhos, objetos azuis etc.). Alguns conceitos sào complexos e envolvem a

combinacdo de atributos em varias e complicadas formas mistas. Num expe-rimento de conceito, apresenta-se aos sujeitos uma serie de estimulos, comopadroes geometricos, e pede-se-Ihes que os agrupem de acordo com ins-trucOes. As respostas dos sujeitos são observadas e varios tipos de compor-tamentos conceptuais registrados. Por vezes, a experimento e desenvolvido de

forma inversa; da-se ao sujeito urn exemplo positivo do conceito e pede-se-Ihe

depois que defina o conceito. Os tipos de hipoteses desenvolvidas e suamaneira de verificacão ou teste sao particularmente interessantes nesse gänero

de pesquisa.Na formacao de urn conceito deve ser usado algum tipo de regra para

combinacdo de objetos. Existem numerosas regras que poderdo ser usadaspara formar conceitos. A afirmacdo s i mples e a inclusdo de todos os objetos

corn urn Unica atributo (por exemplo, vermelho). A negacäo e o oposto: ainclusdo de todos os objetos que rtho possuem certo atributo (por exemplo,

näo-vermelho). Algo mais complexas são as regras de conjungdo e disjuncao. A regra de conjuncdo requer a combinacdo de objetos corn dois ou maisatributos (por exemplo, mach vermeIha). A disjuncdo é a regra que especifica

a inclutho de urn atributo ou do outro: a palavra inglesa barn refere-se a umaconstrucão usada para alojar animais (o que corresponde as palavras portu-

guesas "estabulo" ou "cocheira") ou para armazenar feno (o que correspondea "celeiro" ou "palheiro"). 71 Isso é apenas uma amostra das especies de regras

usadas na formacao de conceitos.Duas especies de aprendizagem são necessarias na formacao de conceitos.

 Aaprendizagem perceptual envolve aprender a discriminar urn objeto deoutro na base de atributos. Tal aprendizagem parece ser mais uma questa° de

experiäncia e pratica do que quaIquer coisa inerente no aparelho sensorial. Asegunda especie de aprendizagem necessaria a formacao de conceitos é aaprendizagem de regras. Ao longo da vida, mediante a formulacao de hipo-

teses e a realizacao de testes, Sao aprendidas varias regras conceptuais. t

70Bourne — Conceptual behavior, p. 1.71Ibid., p. 11.

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Teorias de Signiticado e Pensamento 143

claro, uma vez aprendida, a percepcao de atributos e regras deve ser utilizadana identificacao de conceitos, selecao de objetos e resolucao de problemas.

Coerentes corn o tema deste capitulo, os teOricos do comportamentoconceptual reconhecem a importancia da linguagem. Sem &Arida, a aplicacao

de rOtulos a conceitos e capital para a formacao e utilizacao de conceitos por uma pessoa. Como disse Bourne: "Através de palavras e linguagem, a gama de

comportamento conceptual dos seres humanos torna-se imensamente am-pliada. Tanto assim que (...) torna-se quase impossivel, ern muitas circuns-tancias, distinguir o conceito do seu rotulo verbal." '2

Sabemos que os sujeitos experimentais seguem estrategias ern suas tenta-tivas de descoberta de conceitos. Uma estrategia comum é a focalizacaoconservadora. Tal estrategia envolve a variacao sistematica de um atributo de

cada vez na verificacao de hipOteses. Por exemplo, suponha-se que a urnestudante e dada a tarefa de laboratOrio de identificar uma classe de insetosagrupando varios membros da classe de acordo corn atributos e regras. Parafacilitar o inicio da tarefa, o instrutor assinala urn membro dessa classe — urn

grande besouro vermelho. Se o estudante é urn focalizador conservador,adotara primeiro a hipotese de que essa classe de insetos e toda ela cons-tituida por esses atributos: insetos grandes, vermelhos e corn asas. Testara a

hipotese escolhendo urn inseto que varia somente na primeira dimensao (cod;assim, escolheu um besouro grande, alado e azul. Quando informado de que asua escolha esta certa, percebera que a cor é irrelevante e mudara a hipotese

para uma categoria mais ampla (besouros grandes e alados de todas as cores).Continuara eliminando uma dimensao de cada vez, sistematicamente, ate ser 

encontrada a solucao apropriada. Nem todas as pessoas usam essa eficienteestrategia.

Outra estrategia que pode resultar numa solucao mais rapida é o jogo defoco (focus gambling). 0 jogador de foco assume o risco de variar mais deuma dimensao de cada vez quando testa uma hipotese. Partindo da hipotesede que a classe de insetos e toda de besouros vermelhos, grandes e corn asas,escolhera urn besouro azul, pequeno e corn asas. Se acertou na escolha, entao

sabe que a cor e o tamanho sao irrelevantes. Corn urn pouco de sorte, chegaraa solucao correta &wit° rapidamente. Por outro lado, se o palpite for errado,nä° poderb saber corn certeza que dimensao é relevante, se o tamanho ou acor. Alguns pensadores usam estrategias de expioracio simultanea para testar mais de uma hipotese de cada vez, eliminando as hipoteses, uma por uma,

medida que forem sendo rejeitadas. Tais estrategias exigem grande esforco dememOria mas sao rapidas, se forem bem empregadas. Algumas outras estra-

tegias sao apresentadas em estudos de formacao de concertos e, na verdade,

alguns sujeitos parecem nao usar qualquer estrategia identificavel.

Embora essa pesquisa de formacao de conceitos tenha ocorrido sob con-di4:5es laboratoriais altamente controladas, usando estimulos artificiais, elaampliou a nossa compreensäo do comportamento conceptual. Podemos dis-

cernir imediatamente analogias no mundo real. Num jogo de cartas, tentamos

adivinhar as que o nosso adversario tem na mao, baseados nas cartas queestao ern nossa mao, no que esta sendo descartado e no desempenho dos

outros jogadores. Urn medico tenta identificar uma doenca baseado numa

combinacao desintomas e resultados de analises. Urn agente policial procurasolucionar urn crime pela observacao de varias pistas. Ern todos esses casos, apessoa formula ativamente hipOteses sobre as definicoes de conceitos, verifi-

ca-as, rejeita-as e reformula essas hipOteses ou produz novas.Esta abordagem do pensamento sublinha o comportamento conceptual, que

impregna todas as formas de pensamento. Na pr6xima secao, examinaremos

uma teoria que se debruca sobre o mesmo conjunto de problemas de urn

72 Ibid.,p. 23.

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144 Processos Basicos

angulo ligeiramente diferente. Em seu trabalho sobre o desenvolvimento,Piaget concentrou-se no pensamento logico e seu crescimento na crianca.

 A A bordagem do Desenvolvimento por Piaget 

Provavelmente o nome mais freqBentemente associado a pesquisa sots odesenvolvimento infantil é o de Jean Piaget. Renomado psicOlogo suico que,

como lider da Escola de Genebra, teve urn consideravel impacto sobre a teoriado desenvolvimento cognitivo, nos EUA e na Europa, Piaget seguiu as tra-dicees gestaltista e sistemica. 73 Ele ye a pessoa como urn organismo in-'teratuando corn o seu meio ambiente. Como qualquer organismo vivo — econvem lembrar que Piaget tinha uma solida formacao em biologia — apessoa e uma estrutura organizada cujas partes funcionam para adaptor oorganismo as pressOes do meio ambiente. A adaptacao ocorre por intermedio

da assimilacao e da acomodagdo. A assimilacao consiste no processamento

dos inputs ambientais para manter a vida e o crescimento. A acomodacaoconsiste em ajustamentos ou mudancas no organismo a firn de satisfazer asexigencias ambientais. A importante funcao organizada e adaptativa estudada

por Piaget é a da inteligencia.Para Piaget, a inteligancia e definida, em linhas gerais, como o conjunto

organizado de atividades conduzidas pela pessoa para se adaptar as pertur-bacOes no meio ambiente. Tais atividades consistem nas operagdes ou exe-cucties de awes interiorizadas e vinculadas ao pensamento. Portanto, a in-teligencia é a organizacao de operacães.

 A essencia do pensamento humano, segundo Piaget, é a reversibilidade, quefoi descrita por Radford e Burton como flexibilidade de pensamento:

Num sentido muito generic°, poderemos conceber a reversibilidade como sendosimplesmente algo semelhante a flexibilidade de pensamento, isto 6, o individuocapaz de pensamento reversivel esta apto a manipular o seu meio interno. Elepode imaginar modos possiveisde atingir determinadas metas ou chegar a certosestados de coisas, urn pouco a maneira de urn enxadrista que elabora asimplicacôes de determinados lances, antes de optar por urn deles.74

Entretanto, no esquema de Piaget, a reversibilidade é muito complexa. Elapode aplicar-se a classes ou relacdes. No pensamento sobre classes, a pessoadeve estar apta a negar ou a neutralizar uma operacao anterior. Isso poderaenvolver a inversao, eliminacao ou cancelamento de uma operacdo previa.

Por exemplo, suponha-se que pegamos uma bola de barro e a transformamos

numa "salsicha" na presenca de uma crianca. Perguntamos depois a crianca sea "salsicha" tem mais ou menos barro do que a bola. Se a crianca possuir acapacidade de inverter por negacao (inversao) respondera: "Sao a mesma

coisa, porque voce pode transformar de novo a salsicha numa bola."

A reversibilidade de relacdes envolve o percebimento de simetria ou equiva-lencia ou do modo como elementos podem, de uma forma ou de outra,corresponder-se. A reversibilidade de relacoes ebasica para a logica e Piagetacredita que o pensamento e basicamente lOgico. Se, por exemplo, a criancano exemplo acima reconheceu a relacao legica entre comprimento e largurapara urn determinado volume, ela estara manifestando a reversibilidade derelacoes (por compensacao). Nesse caso, a crianca poderia responder: "Sao amesma coisa porque a salsicha e mais comprida, mas a bola e mais gorda."75

73A lista de obras de Piaget a muito extensa; ver a Bibliografia. As duas mais importantes fontes

secundarias incluem: H.C. Furth —Piaget and knowledge: theoretical foundations. EnglewoodCliffs, Prentice-Hall, 1969 e 1.H. Flavell — The developmental psychology of lean Piaget. NovaYork, Van Nostrand, 1963. Uma versão excelente e sucinta é a de John Radford e Andrew Burton— Thinking: its nature and development. Londres, John Wiley & Sons, 1974, cap. 5.74 Ibid., p. 206.75Exemplo extraido de ibid., p. 207.

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Teorias de Signiticado e Pensamento 145

Fiel ao seu modelo biologico, Piaget viu o desenvolvimento da reversibili-

dade de operaceies como uma questa° de amadurecimento gradual. A capaci-dade da crianca para inverter e a complexidade das operacOes infantisaumentam corn a idade, a medida que a crianca passa por sucessivos estagios.

 A maior parte da obra de Piaget gravitou em torno desses estagios do desen-volvimento. Recapitulando-os aqui, nao so aprendemos mais sobre o de-

senvolvimento infantil mas tambem descobrimos uma perspectiva importantesobre a natureza dos processor simbOlicos. Piaget definiu quatro estagios no

desenvolvimento do pensamento: o sensorimotor (do nascimento ate aos doisanos de idade), o pre-operatOrio (dos dois anos aos sete ou oito), o opera-

tOrio concreto (dos oito aos 11 ou 12 anos) e o operatOrio formal (dos 12 ate aidade adulta).

Embora nao existam nitidas linhas divisOrias entre esses periodos, a deli-nicao de quatro estagios e importante porque eles sao qualitativamentediferentes. Nao se deve conceber o desenvolvimento em termos estritamentelineares. Em cada estagio, a crianca desenvolve novas e importantes ope-racties. Os estagios obedecem sempre a mesma ordem, embora seja variavel aidade em que a crianca passa de um para o seguinte. Piaget incluiu as idades

'como diretriz geral, nao para definir normas inflexiveis. AI6m disso, Piaget

acredita que os estagios sac) hierarquicos. Cada estagio depende do desenvol-vimento do estagio anterior. Dentro desses estagios, entretanto, os variosdesenvolvimentos inter-relacionam-se e formam urn todo, cada um delescontribuindo para o resto.

No estagio sensorimotor, a crianca adapta-se a mudancas no meio am-biente, primordialmente por meios fisicos. Em meses subseqtientes, ocorre o

processamento simbolico rudimentar. As primitivas acties reflexas de agarrar e

chupar facilitam a assimilacao, e a crianca logo aprende a manipular objetosem acomodacao. Nesse estagio, a crianca funciona primordialmente cornobjetos no mundo real e, quando o pensamento se desenvolve, esta intima-mente vinculado a objetos no mundo real. Nat) obstante, os simbolos desen-volvem-se quando a crianca sensorimotora comeca a manipular nao s° oobjeto mas tambem simbolos do objeto. Nessa idade, aparecem as primeiraspalavras e sao feitas varias tentativas de solucao de problemas. Contudo, noestagio sensorimotor, a crianca opera primordialmente corn objetos singulares,

enquanto o desenvolvimento do pensamento relacional e holistico aguardaurn estagio subseqiiente. Em suma, esses primeiros meses resultam nos "pri-

mordios da inteligência: construcao da realidade; e imagens simbOlicas" 71'Noestagio pre-operatOrio, a crianca separa-se pela primeira vez do seu

meio circundante. No periodo sensorimotor, a crianca nao podia conceber-se

como um ser separado mas, no periodo pre-operatOrio, ela nao so reconhece

sua separacao do meio circundante como tambem desenvolve uma habilidademais agucada para manipular simbolicamente o mundo externo. Assim, elapassa a conhecer a diferenca entre o significante (por exemplo, urn simbolo) e

urn significado (ou coisa). 0 fato de a simbolizacao (especialmente a lingua-

gem) ter de desenvolver-se antes de as operacties avancadas poderem ocorrer il ustra, uma vez mais, a conexao entre linguagem e pensamento.Contudo, a crianca pre-operatOria nao possui reversibilidade. A crianca

nessa idade nao . pode generalizar e a sua capacidade de abstracao e, muitoli mitada. A ausencia de reversibilidade e particularmente obvia nos famosos

experimentos de Piaget sobre a conservacao de liquidos. Nesses experimentos,apresentam-sea crianca dois jarros corn liquido, que pode ser laranjada. Os

 jarros sac) do mesmo tamanho e formato, e contém a mesma quantidade deliquido. Em seguida, o experimentador despeja o conteQdo de um jarro emoutro, mais largo que o original. Quando compara os dois jarros, a crianca

76 p. 186.

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146 Processos Basicos

pre-operatOria afirmara que o segundo jarro contêm menos que o primeiro,porque o nivel do liquido esta mais baixo. Uma parte da laranjada desapa-receu milagrosamente. Acapacidade para reconhecer que ambos os jarros terna mesma quantidade é uma operacao concreta, envolvendo reversibilidade, e56 se desenvolve a partir do estagio das operaceies concretas.

No estagio operatOrio concreto, a crianca avanca mais urn passo, distan-

ciando-se do pensamento em termos da impressao sensorial imediata. E urnpasso extremamente importante na direcao do desenvolvimento do pensa-

mento adulto. Observa-se agora a reversibilidade pela primeira vez. 0 signi-ficado da reversibilidade e que ela requer o pensamento relacional. A crianca

deve nao so ter significados para simbolos mas tambarn deve estar apta a ver relacoes entre simbolos, manter essas relacdes mentalmente, fora da presenca

dos significados, e raciocinar em ambos os sentidos de uma relacao. Umacrianca operatória Babe que ambos os jarros contam a mesma quantidade delaranjada. Tera presenciado a transferencia de um jarro para o outro e

invertido simbolicamente essa transferencia. Tais operaceies envolvem o co-nhecimento intuitivo de regras lOgicas. Tais operaceies, entretanto, ainda se

ocupam de relacoes entre objetos reais, observados no meio ambiente dacrianca. 0 pensamento hipotetico so se desenvolvera no estagio formal.

 Asoperacees formais consistem na manipulacao de simbolos puramenteabstratos ou formais, divorciados da realidade. Nesse estagio do desenvolvi-

mento, a crianca passa a raciocinar ern termos de relacoes possiveis, quer realmente observadas ou nä°. E essa a base do pensamento hipotatico-dedutivo: se x e verdadeiro, entao segue-se y. E o estagio em que se

desenvolve a verificacao de hipOteses na formacao de conceitos, conforme a

descricao dos teOricos conceptuais. Por exemplo, um disco giratOrio do tiporoleta e preparado de modo que pare sempre no mesmo ponto. Em todo o

perimetro do disco estao colocadas varias caixas que contém ou cera (para

peso) ou magnetos (para atracao). Ao sujeitoé confiada a tarefa de imaginar por que o disco Ora sempre na mesma posicao. Ele pode retirar as caixas para

examinar o conteklo delas e fazer experiancias corn o posicionamento decada uma. Eis a hipOtese formulada por um rapaz de 15 anos a fim deencontrar uma resposta:

Talvez o disco afunde por estar mais pesado aqui (...) ou talvez haja urn magneto(ele coloca urn caderno de apontamentos sob o disco para o levantar). Provei

que existe urn magneto (ele avalia o peso das caixas). Algumas sao mais pesadasdo que outras. (...) Acho mais provavel que seja o contend°. (...) (Ele retira as

caixas que sao mais pesadas.) Depois, rnudei as posiceies. Se o disco continuar

parando no mesmo lugar, conclui-se que o peso nao desempenha nenhum

papel. (. ..) Veremos se ele Ora nas outras caixas que sac) mais pesadas (experi-

menta). Nao e o peso. (...) 0 peso so poderia ter algum efeito se fizesse o disco

inclinar-se. Colocarei duas caixas uma em cima da outra, e, se nao parar ai,

isso quer dizer que o peso nao importa. (...) Esta vendo. (...) Ou e a distancia ouo contend°. Para verificar se é o contend°, faro assim novo experimen-

to 1(...) Deve ser o contend°. Se nao for urn magneto, nao sei o que poderà

ser. 77

Dois importantes insights se destacam da obra de Piaget sobre psicologiainfantil. Em primeiro lugar, ele demonstrou que o pensamento e um processocomplexo que envolve a manipulacdo de simbolos. Tal reversibilidadeinerentemente lOgica. Em segundo lugar, o pensamento desenvolve-se atravesdo amadurecimento durante a infancia, quando se registra uma crescentefacilidade para ver relacoes entre simbolos.78

77 Ibid., p. 200.

78Vejo urn paralelo interessante entre a analise ontogenetica de Piaget dos processos de

pensamento na pessoa e a analise filogenetica de Cassirer do desenvolvimento de formas

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Teorias de Significado e Pensamento 147

Uma Abordagem Cibernêtica

Uma das mais intrigantes teorias do pensamento e a abordagem cibernêtica deMiller, Galanter e Pribram. 29 Reagindo a nocao E-R (estimulo-resposta) dos

behavioristas radicals, esses psicOlogos desenvolveram a teoria deles usando

urn modelo de computador. 0 leitor recordara, do capitulo 2, que a ciber-

netica é o estudo dos mecanismos de feedback (ou retroalimentacao); o dis-positivo cibernetico basico capta o feedback proveniente do meio ambientee ajusta-se de acordo corn isso, a fim de atingir uma meta do sistema oumanter urn nivel determined° de desempenho. 0 modelo de comportamento

humano de Miller, Galanter e Pribram descreve o pensamento como urnmecanismo cibernetico desse tipo.

Dois conceitos sao fundamentais para essa teoria. 0 primeiro e o conceitode i magem; o segundo o de piano. Em poucas palavras, a pessoa tern umaimagem do meio ambiente e formula um piano para lidar corn o meio

ambiente. Eis o que acontece:

Vejamos como urn dia comum e montado. A pessoa acorda e, enquanto estA nacama ou comeca, talvez, a perambular lentamente em sua concha protetora de

habitos matinais, pensa como ira ser o novo dia: sera quente, sera frio; tem muitacoisa para fazer, náo tem nada que Ihe preencha o tempo; prometeu it ver uma

pessoa amiga, talvez ela la esteja hoje de novo. Sea pessoa e compulsiva, talvez

se preocupe em acomodar tudo, fazendo uma lista de todas as coisas que tem defazer. Ou podera entrar de cabeca no seu dia, sem uma ideia clara de por onde

comecar, o que vai fazer ou quanto tempo demorara para cumprir tudo. Mas,

quer seja atarefado ou vazio, cheio de novidade ou rotineiro, uniforme e

monotono ou variado e imprevisto, o dia dessa pessoa possui uma estrutura

pr6pria; ele ajusta-se perfeitamente a contextura de sua vida. E, quando a pessoapensa no que o seu dia !he reservarA, estA construindo urn piano para enfren-

tad°. 0 que ela esperar que aconteca prenuncia o que ela espera fazer A0

Os autores definiram urn piano como "qualquer processo hierarquico noorganismo que pode controlar a ordem em que sera executada uma seqBencia

de operaceies"!ci

 Urn piano é como urn programa para urn . computador. Eledirige e estrutura o comportamento do individuo para satisfazer certos crite-rios. Em outras palavras, sao instructies para resolver urn problema. Podemosdizer que ospianos sao hierarquicos porque estdoestruturados de modo taique varios niveis de urn piano requerem pianos pr6prios. Voltaremos dentrode momentos a essa ideia. Tambern se diz que os pianos_ sao executados

quando ievados a born termo. E importante distinguir entre urn piano e suaexecucao, pois os pianos podem ser desenvolvidos muito antes de serem exe-cutados, fato que nunca foi explicado pesos behavioristas radicals. Essa no-

cao sustenta fortemente a ideia de mente dos interacionistas simbOlicos —um momento de hesitacao durante o qual a pessoa determina como condu-

zir-se em face de uma situacao. E urn modelo proativo, em que a pessoa évista como ativamente envolvida na estruturacao de sua prOpria vida.

Mencionamos antes que um segundo conceito importante nessa teoria e ai magem. Miller e seus colegas usaram a ideia de Boulding como base: "Ai magem e todo o conhecimento acumulado e organizado que o urganismopossui a seu pr6prio respeito e a respeito do mundo." 82 0 objetivo de Miller foi mostrar como a imagem e o piano estao reiacionados.

si mbolicas na cultura. Ambos postulam urn movimento das formas concretas iniciais, em que hauma forte identificacao sensorial aqui-e-agora entre simbolo e referente, para o desenvoivimentode formas abstratas, as quais facilitam o pensamento formal e cientifico.

" Miller —Plans and the structureofbehavior.Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1960.80 I bid ., p. 5 .81

Ibid., p. 16.82 Ibid .,p.17.

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148 Processos Basicos

A estrutura dessa relacao e encontrada na unidade TOTE, urn modelo que serefere ao processo de Testar-Operar-Testar-Saida (Test-Operate-Test-Exit). Esta

e a unidade cibernética basica de comportamento. E o taco de  feedback 

ilustrado na Figura 32. 83 Em primeiro lugar, o organismo testa o meio ambientepara avaliar se e ou nao incongruente em relacao ao criteria desejado(feedback negativo). Se for, operade algum modo sobre o meio ambiente para

reduzir a incongruencia. Depois, volta a testar. 0 processo a reiterativo,porquanto prossegue ate que a incongruencia tenha desaparecido e de entao

safdaao comportamento. Urn simples exemplo de martelar urn prego serasuficiente. Em primeiro lugar, a pessoa testa o prego (esta de cabeca paracima) e depois opera (bate-the com um martelo • A pessoa testa de novo evolta a martelar ate que o prego esteja enterrado.

(Congru'Uncial

Figura 32. A unidade

TOTE. (Extraido de

George A. Miller, Euge-

ne Galanter e Karl H.

Pribram — Plans and thestructure of behavior.

Copyright ©1960 by Holt, Rinehart & Wins-

ton. Reproduzido corn

 permissäo de Holt, Rine-

hart & Winston.)

( I ncongruancia)

Como a maioria dos comportamentos sao mais complexos do que isso, asunidades TOTE devem combinar-se hierarquicamente. Ate mesmo o exempla

acima e mais complicado do que foi descrito, como se comprova e ilustra corno diagrama da Figura 33. 84 Seria impassive' e fUtil tentar diagramar urnconjunto complexo de comportamentos, pas pode-se ver hipoteticamentecomo qualquer ato consiste numa hierarquia de unidades TOTE.

 A verdadeira natureza de urn piano esta se tornando evidente. E uma se-rve de hierarquias TOTE destinadas a realizar algum objetivo. Envolve umaserie de testes e operaceies em varios niveis, desde o estrategico ao tätico.Uma aplicacao, que e particularmente ail aqui, consiste na producao dafala. 85

 Miller e seus colaboradores aplicaram a unidade TOTE a ideia de gera-cao de frases de Chomsky. Tal como qualquer outro comportamento, a produ-

can de uma frase processa-se de acordo corn urn piano. Esse piano consistenuma hierarquia de unidades TOTE. 0 piano constaria de decisoes semanticas

e sintaticas, todas destinadas a comunicacdo final de um conjunto de signifi-

cados. Essa aplicacao particular do modelo ilustra dois aspectos nao mencio-nados anteriormente dos pianos. Eles podem ser executados internamente e,corn freMiencia, sap

 formulados instantaneamente. E claro que outros pianospoder tn levar muito tempo para serem formulados e executados.

83 Ibid., p. 26.

84Ibid., p. 36.

85 Ibid., 'cap. 11.

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testa saliente)

Martelar

(Baixar)

(Leyantar) Testar

martelo 

A

(Baixar)

Erguer

(Levantar)

Desferir golpe

I martelar)

Teorias de Significado e Pensamento 149

Essa abordagem cibernetica ilustra a viabilidade dos enfoques interacio-nistas simbolico e sisternico para o estudo de aspectos da comunicacão, eexplica tambem os processos de pensamento em termos de manipulacâosimbolica. Ajuda-nos a compreender como as mensagens se relacionam cornos processos simbOlicos de pensamento. A producao de uma mensagemcomplexa, como a producao de uma frase (descrita acima), desenvolver-se-ia

de acordo corn urn Plano.Figura 33.Uma hierar-

quia TOTE. (Extraido deGeorge A. Miller, Euge-ne Galanter e Karl H. Pri-

bram —• Plans and the

structure of behavior.Copyright©1960by

 Holt, Rinehart & Wins-

ton. Reproduzido corn

 permissao de Holt, Ri-

nehart & Winston.)

Testar pregolenterrado)

 A Abordagem do Pensamento Reflexive, de John Dewey

No inicip deste capitulo, examinamos a concepcdo interacionista simbOlicade significado, tat como foi exemplificada pela obra de John Dewey. Uma dasvantagens da teoria de Dewey é que abrange verdadeiramente muitos dosaspectos do dominio do signo-significado-pensamento, contribuindo coin seusinsights para todas essas Areas. Abordaremos agora as extensäes de suas idêiasa area do pensamento.86

Como filosofo da educacao, Dewey formulou uma teoria algo prescritiva dopensamento. Ele defendeu o ensino do pensamento reflexivo e especificouqual deveria ser a constituicao do born pensamento.

A pessoa que compreende quais säo as melhores maneiras de pensar e por que sac)as melhores pode, se quiser, mudar seus prOprios metodos pessoais ate se tornar

mais eficiente. (...) A melhor maneira de pensar que sera considerada neste livro

chama-se pensamento reflexivo: a espécie de pensamento que consiste emresolver um assunto na mente e dedicar-Ihe séria e consecutiva consideracao.87

0 pensamento reflexivo possui numerosas qualidades. Em primeiro lugar, euma seqUencia ordenada de etapas que culminam numa conclus5o. Portanto,e organizado e controlado. Cada etapa do pensamento reflexivo decorre daetapa anterior e conduz a seguinte. Em segundo Lugar, o pensamento reflexivoéintencional, tern um propOsito deliberado e consciente. Nä° acontece poracontecer, mas e invocado pela pessoa a fim de atingir determinacio objetivo.

86A mais celebre obra de Dewey sobre o pensamento e How we think. Boston, D.C. Heath,1933.87 Ibid., p. 3.

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150 Processos Basicos

Em terceiro lugar, e orientado para a observacao do mundo real. A esserespeito, o pensador reflexivo questiona ativa e criticamente crencas e supo-sicOes. Em suma, e empirico e rational. Dewey definiu o pensamento reflexivo

como "aquela operacâo em que fatos presentes sugerem outros fatos (ouverdades) de tal modo que induzem crencas no que e sugerido, em razao darelacao real nas prOprias coisas" 88

Existem dois aspectos gerais no pensamento reflexivo: o problema e asolucao. A pessoa inicia o pensamento reflexivo corn alguma perplexidade,dUvida ou dificuldade que exige solucao. Atraves da observacao, o problemasere resolvido, a dificuldade reduzida. Assim, a essencia do pensamentoreflexivo é a centralizacao no problema. Como disse Dewey, "A exigencia desolucao de uma perplexidade é o fator constante e orientador de todo o

processo de reflexao"; e, mais adiante, "A natureza do problema fixa a finali-

dade do pensamento, e a finalidade controla o processo de pensamento"89

 Ao analisar esse processo de resolucao de problemas, Dewey descreveu

cinco fases que se tornaram muito conhecidas. A primeira fase, que decorreimediatamente do problema percebido, e a sugestilo. Quase de imediato, oindividuo tern uma ideia para resolver o problema. De fato, existe uma forte

interacao entre problema e sugestão.Mas essa sugestao initial deve ser frustrada, de certo modo, a fim de que o pensamento reflexivo possa pro-

gredir; quando uma solucao imediata nao pode ser executada, a pessoacomeca entao a refletir sobre o problema. A segunda fase, a intelectualizacao, envolve uma definicao e investigacao

mais cuidadosa do pr6prio problema. No comeco, o problema e uma situacaomeio vaga e indefinida. Depois que e definido, a pessoa fica mais segurasobre o que a situacao realmente envolve. Essa fase requer a observacao dascondicoes que levam a analise. A intelectualizacao importa em busca de fatose dados, assim como em analise.

Em terceiro lugar, a pessoa formula uma hipOtese. Agora, a solucao quesurge é mais calculada do que espontanea. E uma resposta conjetural, baseadana cuidadosa intelectualizacao da analise.

 A quarta fase e o raciocinio. Essa fase amplia a solucao e relaciona-a corn oproblema e a sua comprovacao iminente. Agora, a pessoa examina mental-

mente a ideia, pondera-a e refina-a. Na quinta fase, a hipOtese e realmentetestada. Nesse ponto, ela ye se as conseqiiencias da ideia, tal como foraminferidas pelo raciocinio, se confirmam.

Essas cinco fases sao tendencias gerais do pensamento reflexivo. Na pratica,elas podem nab obedecer a uma ordem fixa; e uma pessoapode recuar eavancar de umas para outras por diversas vezes. Elas estao interligadas,apoiando-se mutuamente. 0 pensamento reflexivo a pensamento cientifico,baseado em observacao e raciocinio, e tern por objetivo atacar problemas. Eurn pensamento para a resolucao de problemas.

Resumimos nesta secao quatro teorias do pensamento. Vimos que um as-

pecto importante do pensamento e o comportamento conceptual, o agrupa-mento de estimulos de acordo corn determinados padroes. 0 pensamentotambem envolve a lOgica ou raciocinio, que se desenvolve ern funcao do ama-

durecimento. 0 pensamento tambem guia o comportamento. Fazemos pianospara testar e operar sobre o meio ambiente. Finalmente, o pensamento envol-

ve a resolucao de problemas e a reflexao. Essas quatro teorias dizem-nos que opensamento é uma atividade adaptativa e de processamento de simbolos, naqual tentamos dar um nexo ao meio circundante e agir sobre ele

88 Ibid., p. 12.89 Ibid., pp. 14-15.

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Teorias de Significado e Pensamento 151

Generalizac 'ties

Generalizacöes acerca do Significado

 A generalizacao primordial para a primeria soca° deste capitulo é que urn sig no é UM estimulo que tern significado para as pessoas. Como existe uma estrei-ta relacdo entre os conceitos de signos, significado e pensamento, segue-se

uma segunda generalizacao: o new de significado e pensamento é a imagem.iniciamos este capitulo corn uma breve consideracao da imagem de Boulding,

a qual fornece urn pano de fundo contra o qual podem ser projetadas as

teorias de significado e pensamento. Quase todas as teorias de significado epensamento neste capitulo tratam dos modos como os signos se relacionamcorn a imagem que as pessoas tern de seu meio circundante, assim como de

seus pr6prios estados internos. Tais imagens afetam e sao afetadas por mensa-gens e relacionam-se corn todas as formas de pensamento.

Evidentemente, o significado nao é urn conceito singular. Apuramos que ele

possui tres sentidos. Essas perspectivas nao se excluem mutuamente. Em vez

de tentar decidir qual é a perspectiva correta, e preferivel ver o significado de

um modo multidimensional, reconhecendo-se a validade de cada abordagem.Esses tres sentidos gerais de significado estao condensados nas seguintes

generalizacees: (1) Os signiticados resultam da representacao de um referentesuscitada na pessoa porurn signo. Examinamos certo nemero de teoriasrepresentacionais de significado. Embora cada uma delas tivesse um focoligeiramente diferente, todas definiram significado em termos de represen-tacao. (2) Os significados manifestam-se na experiéncia da pessoa ern resul-tado de signos. As teorias experienciais sublinham o fato de que a nossa lin-guagem e outras formas simbolicas modelam realmente a nossa experiencia.

0 que "sabemos" é urn resultado da linguagem que falamos. (3) Os signifi-cados sao fruto do use de signos por pessoas. Os filosofos da linguagem deuse cotidiano preferem nao analisar a linguagem nem averiguar os'significados

intrinsecos. Em vez disso, descobrem significado nas intencees dos falantes,quando estes usam a linguagem.

Generalizacdes acerca do Pensamento

 A principal generalizacao da segunda secão é que as mensagens sao signos e

grupos de signos modelados atrav' es dos processos do pensamento humano.  A s

teorias apresentadas nesta secao tratam do que foi denominado a comu-

nicagdo intrapessoal; entretanto, o que acontece na mente do individuo ternuma importante relacao corn o que se passa entre individuos. 0 terra dessas

teorias é o processamento de simbolos. As seguintes generalizacães sao as queemergem delas. Primeiro, o pensamento envolve o comportamento concep-

tual. As pessoas nao veem o mundo fragmento por fragmento. Como usuarios

de signos, rotulamos os estimulos percebidos e os estimulos grupais de talmodo que e organizado o que "sabemos". A esse tipo de processamento de

si mbolos deu-se o nome de comportamento conceptual. Segundo, o  pensa-

memo envolve uma logica de relaceies, a' qual amadurece durante a infancia.Piaget demonstrou como a reversibilidade no pensamento é um mecanismoadaptativo que se desenvolve lentamente no decorrer da infancia, ern suces-

sivos estagios. Terceiro, o pensamento envolve planejamento. Miller, Galanter 

e Pribram mostraram como o comportamento e planejado pela pessoa.

Finalmente, o pensamento envolve a soluceo de problemas. Dewey descreveucomo as pessoas resolvem problemas através do pensamento reflexivo.

Nos capitulos 4 e 5, tratamos das teorias de signos, significado epensa-mento. Esses tOpicos sac, centrais para toda a comunicacao. Sem a capacidadede usar signos nao comunicariamos. Na verdade, nao seriamos humanos. No

proximo capitulo, examinaremos outra area que e essential a comunicacao- a

informacao.

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Teoria da Informacão

Acabamos agora de examinar algumas teorias importantes de signos, signifi-cado e pensamento. Urn quarto processo basica de comunicacao envolve ainformacao. No decorrer dos 6Itimos 30 arms, destacou-se urn dominio teOricoque se concentrou nessa area de interesse. Como prima da teoria de sistemas eda cibernetica, a teoria da informacao assumiu um importante papel em nossacompreensào da comunicacdo. Ajuda a elucidar a generalizacao que orientaeste capitulo: as mensagens fornecem informacao. 0 que essa afirmachopretende dizer ficara mais claro a medida que formos abordando os principiosda teoria da informacao. Ateoria da informacao, que e fundamentalmente uma formulacao mate-

matica, foi uma conseqiiencia direta do boom do pOs-guerra na ind6stria detelecomunicacães. E uma perspectiva que se concentra na medicao da infor-macao. Trata do estudo quantitativo da informacao em mensagens e dofluxo de informacao entre emissores e receptores. Tem aplicacOes muito

préticas nas crencias eletranicas da comunicacho, nas quail a necesshriocomputar quantidades de informacao e projetar canais, transmissores, recep-tores e c6digos que facilitem a manipulaCao eficiente da informacao. A teoria

da informacao tambem contribuiu para a nossa compreensâo da comunicacâo

social, ao proporcionar uma atil conceituacho da natureza da informacao. Antes de passarmos aos conceitos essenciais da teoria da informacao, histo-riaremos o desenvolvimento do movimental

A teoria da informacao desenvolveu-se a partir de investigaceies nos camposda fisica, engenharia e matemética, que se interessavam pela organizachoentre ocorrencias. 0 elemento comum entre essas investigacäes bastanteindependentes foi a percepcho de que a organizacao e uma questão deprobabilidade. (Um dos progressos dessa época foi a cibernetica. Como oleitor recordara do capitulo 2, a obra de Wiener nessa area apoiou-se subs-

tancialmente na engenharia da comunicacâo.) 2A obra primordial que crista-lizou a teoria da informacao foi a de Claude Shannon, urn engenheiro detelecomunicacóes dos Bell Telephone Laboratories. 0 seu livro classico emcolaboracho corn Warren Weaver, The mathematical theory of communica-tion, é a fonte primaria basica para a area.3

1Existem muitas hist6rias breves do movimento. Ver, por exemplo, Wendell R Garner

psychological concepts. Nova York, John Wiley & Sons, 1962, p. 8.2Norbert Wiener —Cybernetics or control and communication in the animal and machine.Cambridge, MIT Press, 1948.3

Claude Shannon e Warren Weaver — The mathematical theory of communication. Urbana,University of Illinois Press, 1949. Para numerosas fontes secundarias, ver a Bibliografia. Duasforam particularmente (gels na preparacao deste capitulo: Alan R. Broadbent e Donald K.

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Teoria da InformacJo 153

Desde seu comeco, a teoria da informacao expandiu-se em varias dire-cees. Num dos primeiros artigos sobre a teoria materna-00a da comunicacdo,

Warren Weaver sugeriu tres fecundas areas ou niveis de interesse. 4 A primeiradessas areas, ou nivel tëcnico, preocupa-se corn a exatidao de transmissao dainformacao. 0 nivel semantic° trata dos significados da informacao para afonte e o receptor. Finalmente, o nivel de eficiencia trata da influência da

informacao sobre o receptor. (Esses niveis sac) paralelos a andlise de Morris desintaxe, semantica e pragmatics, descrita no capitulo 4.) Ate aqui, a teoria da

informacao relacionou-se sobretudo corn o primeiro nivel mas tern sidotentadas algumas extensees para os segundo e terceiro niveis.

Conceitos Beisicos

Ateoria da informacao fornece uma definicao bastante precisa de informagao.Talvez seja mais facil entender a informacao comecando pelo conceito afimde entropia, tornado da termodinamica. Entropia e randomicidade, ou ausen-cia de organizacao numa situacao. Uma situacao totalmente entrOpica éimprevisivel. Em virtude da entropia numa situacao, a impossivel saber o queacontecera a seguir. E melhor pensar sobre entropia ern termos de graus. Amaioria das situacees corn que nos defrontamos sao parcialmente previsiveis.Se nuvens negras se acumulam no ceu, podemos prever chuva. E provavel-mente estaremos certos. Como o tempo é urn sistema organizado, existemcertas relacees prov.aveis (por exemplo, nuvens e chuva). Por outro lado, naose pode prever a chuva de um modo concludente. A entropia existente nasituacao causa alguma incerteza. Em suma, quanto mais entropia, menosorganizacao. Quanto major a entropia, menor a previsibilidade.

Ora, o que e que tudo isso tern a ver corn informacao? A informacao é umamedida de incerteza ou entropia numa situacdo. Quanto maior for a incer-teza, maior sera a informacao. Quando uma situacao a completamenteprevisivel, nenhuma informacao esta presente. A maioria das pessoas associa

informacao a certeza ou conhecimento e, por consecaencia, essa definicao da

teoria da informacao é muito confusa. Tal como e usado pelo teOrico dainformacao, o conceito nä° se refere a uma mensagem, a fatos ou a urnsignificado. E urn conceito vinculado somente a quantificacao de estimulos ousinais numa situacao.

Entretanto, urn exame mais minucioso revela-nos que essa ideia de infor-macao nao esta tar) distante do senso comum quanto parece a primeira vista.

Dissemos que informageo e a quantidade de incerteza na situacao. Outraforma de pensar nela é considerr a informacao uma funcao do nUmero demensagens necessárias para reduzir completamente a incerteza da situacao.

Por exemplo: um amigo nosso esta prestes a jogar uma moeda ao ar. Ela cairade cara ou coroa? Nao temos certeza; nao podemos predizer. Essa incertezaurn resultado da entropia da situacao.A nossa incertezasera eliminada vendoo resultado do lance. Suponhamos agora termos recebido a "dica" de que a

moeda do nosso amigo tern duas caras. 0 lance foi "arranjado". Agora nap haincerteza e, portanto, nao ha informacao. Ern outras palavras, nao poderemosreceber qualquer mensagem que nos faca predizer urn resultado diferente do

Darnell —"An introduction to cybernetics and information theory", in Quarterly journal of Speech, 51, 1965, pp. 442-53. Klaus Krippendorf — "Information theory", in Communication and 

behavior, organizado por Gerhard Hanneman e William McEwen. Reading, Massachusetts,Addison-Wesley, 1975, pp. 351-89.4Warren Weaver — "The mathematics of communication", in Scientific American, 181, 1949, pp.11-15. Uma subdivisao semelhante e a de Kolmogoroff —"Three approaches to the quantitativedefinition of information", in Problemy Peredachi Informatsii, 1, 1965, pp. 3-11, Esse trabalho foiresumido por Krippendorf — "Information theory".

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154 Processos Basicos

que ja sabemos. Em suma, uma situacao corn que estamos completamentefamiliarizados mac, contêm informacao alguma para nos.

Relacionamos a informacao corn a incerteza e corn certo nómero demensagens necessarias para reduzir a incerteza. Existe ainda uma terceira

forma de conceber a informacao. A informacao pode ser considerada umafuncao do Flamer° de escolhas ou alternativas a disposicao de uma pessoa

para predizer o desfecho ou resultado de uma situacao. Numa situacaocomplexa de muitos resultados possiveis, existe mais informacao do que numa

situacao simples, corn poucos resultados. Em outras palavras, uma pessoanecessita de mais mensagens para predizer o resultado de uma situacao corn-

plexa do que as necessarias a predicao do resultado de uma situacao simples.

Por exemplo, ha mais informacao no lancamento de dois dados do que node urn Calico dado, e mais informacao no lancamento de urn Unico dado do

que no de uma moeda. Como a informacao ê uma funcao do nOrnero dealternativas, pode-se afirmar que ela reflete o grau de liberdade na formulacao

de opcees, dentro de uma situacao. Quanto mais informacao houver numasituacao, mais livres estamos para escolher alternativas nessa situacao.

 A ideia de informacao ficara mais clara depois de se compreender a unidade

de informacao, o bit. Bit é a abreviacao da expressao inglesa binary digit =digito binario. Urn bit é uma unidade usada para contar alternativas. Tecni-camente, o nOmero de bits numa situacao de resultados igualmente possiveis

e igual ao namero de vezes em que os resultados sao reduzidos a metade, afim de reduzir a incerteza a zero.

Consideremos a seguinte arvore genealogica. Urn dos membros masculinos

dessa familia cometeu urn homicidio para urn sindicato do crime. Ate onde sepode averiguar, todos os membros da familia constituem possibilidades iguais.Que montante de informacao existe nessa situacao?

Pai (A)

Filho (B) Filho (C)

Neto (D) Neto (E) Neto (F) Neto (G) Neto (H)

Em primeiro lugar, apuramos que o Filho (B1 e sua familia (D e E) estavam de

ferias do outro lado do mundo quando o crime ocorreu. Levaram o Pai (A)corn des. Essa mensagem fornece um bit de informacao, porquanto eliminametade das alternativas (A, B, D e E). Alern disso, descobrimos que o Filho (C)

e o Neto (F) estavam ern casa brigando na hora do homicidio. Esse alibifornece urn segundo bit de informacao, reduzindo de novo as possibilidades ametade. Apuramos depois que G morreu ha urn ano, o que nos fornece urn

terceiro bit de informacao. Eis a formula de Shannon para o namero de bitsnuma situacao de resultados igualmente provdveis:

U = log2n

ern que U se refere a incerteza e nao ntimero de alternativas possiveis.

Neste exemplo, existem oito alternativas possiveis para identificar o crimi-noso, log28 = 3. Em outras palavras, 23 =8.

 Ate aqui, estivemos discutindo a abordagem combinatdria para a contagemde bits. Essa abordagem, ao pressupor que cada alternativa a igualmente

provavel, a excelente para se chegar ao significado da concepcao de infor-macao para o teOrico da informacao. Mas nao é muito realista. Usualmente,

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Teoria da Informano 155

uma pessoa nao considera igualmente provaveis todas e cada uma dasalternativas. Corn freqUencia, algumas alternativas tem major probabilidade

de ocorrer do que outras. Quando a esse o caso, faz-se necessaria a abor-dagem estatistica para calcular os bits.

s

 A abordagem estatistica reconheceque, quando aumenta a probabilidade de certas alternativas, decresce a entro-pia ou incerteza. Assim, quanto menos igual for a probabilidade de ocorren-

cia, menor sera a informacao. A formula para bits no paradigma estatistico é aseguinte:

H pi log2 1P i

em que H é a incerteza e pi a probabilidade de ocorrencia de uma dadaalternativa. 6

No exemplo do homicida, suponhamos que H era urn criminoso mail provavel

do que qualquer dos outros, corn base em seus antecedentes. Hipotetica-mente, poderiamos distribuir as probabilidades assim: A = 0,05, B = 0,05,C = 0,05, D = 0,05, E = 0,05, F = 0,05, G = 0,05, H = 0,65. 0 montantede informacao seria calculado assim:

H = 7 (0,21) + 41 = 1,88

Corn essas probabilidades haveria, portanto, 1,88 bits de informacao ouincerteza na situacao de homicidio.

Os primeiros dois conceitos basicos da teoria da informacao sao a entropiae a informacao. A entropia é o grau de randomicidade ou falta de previsibili-dade numa situagao, resultando ern incerteza. A informacao a uma medida de

incerteza. Quanto maior a incerteza, maior a informacao inerente a situagao.Outro conceito importante é a redundancia. A redundancia é uma funcao

de seu conceito-irmao — a entropia relativa. A entropia relativa é a proporgaode entropia presente, em relacao a maxima quantidade possivel. A entropiamaxima quando todas as alternativas sao igualmente provaveis. Assim, aentropia relativa é a fragao de bits presentes para o nOmero maxim° de bits, ou

1Pi log2 pi

log2n

em que RU é a incerteza relativa.

Essa quantificacao é importante, pois fornece um nUmero fracionario quepode ser usado para comparar a incerteza de uma situacao corn outra.

A redundancia e o inverso da entropia relativa. E expressa matematicamentecorn0

1 — RU

Vejamos de novo o nosso exemplo. 0 marnero de bits de incerteza é 1,88. Amaxima incerteza possivel e 3. Portanto, a entropia relativa nessa situacao é

1

'88

— 0,62 ou 62%3

A redundancia

1 — 0,62 = 0,38 ou 38%

5Para uma boa distincdO entre essas abordagens, ver Krippendorf — "Information theory".

6Uma formula alternativa H = pi log2 pi, uma vez que log2 =

1 — log2Pi

PI

RU =

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156 Processos Basicos

Em termos qualitativos, a redundancia é a proporgao de uma situagao que éprevisivel; e uma medida da certeza. Numa relagao, se uma alternativa resultade outra, ela é previsivel e, por conseguinte, redundante. Em suma, a

redundancia e o grau de previsibilidade numa situagao ou mensagem.

A Teoria Tecnica da I nformacao

Agora que jA resumimos os conceitos basicos da teoria da informacao,veremos como ela se desenvolveu na primeira area de interesse: o niveltécnico. Neste ponto, estamos principalmente interessados na transmissaoprecisa e eficiente de informacao. A teoria técnica da informacao (IA° trata dosignificado das mensagens, tao-somente, de sua transmissao e recepgao.Isso constitui uma aplicagao particularmente importante na comunicagaoeletrOnica.

0 modelo basic° de comunicagao desenvolvido por Shannon e Weaver 6reproduzido na Figura 34'7 Nesse modelo, a comunicagao principia na fonte.

A fonte formula ou seleciona uma mensagem que consiste nos signos a seremtransmitidos. 0 transmissor converte a mensagem num conjunto de sinais que

sao enviados por urncanal para urn receptor. 0 receptor converte os sinaisnuma mensagem. Esse modelo pode ser aplicado a %/Arias situagOes. Na areaeletronica, uma mensagem de televisao e um born exemplo. Os produtores,diretores e anunciantes constituem a fonte. A mensagem é transmitida porondas aéreas (canal) para o receptor domestic°, o qual converte de novo asondas eletromagneticas numa impressao visual para o espectador. Na areainterpessoal, o cêrebro do locutor é a fonte, o sistema vocal o transmissor e oveiculo aéreo o canal. 0 ouvido do ouvinte e o receptor e seu cérebro odesti no.

Sinai   Sinai recebido

Transrm ssor   1 1 / ' Canal Receptor --II&   Destino

Fonte deruido

O elemento final no modelo Shannon/Weaver é o ruido. Ruido é qualquerperturbacao do canal que Idistorga ou de qualquer outro modo massacre osinal. Pode ser, literalmente, ruido na comunicagao auditiva, mas é incluidaqualquer espécie de interferencia. Voltaremos daqui a pouco a esse conceito.Mas, primeiro, é necessdrio integrar a informacao no modelo, neste ponto.

Na sent) anterior, a informacao foi definida como uma medida de incertezanuma situagao. Trata-se de uma definicao geral. Na transmissao de infor-

macao, estamos interessados no caso especial em que a prOpria mensagem é a"situagab" importante. Tal 'como qualquer campo de estimulo, uma men-sagem, que consiste ern simbolos ou signos organizados de acordo corn regras,possui certo grau de incerteza ou entropia. Essa incerteza (informacao) é urnresultado do codigo ou linguagem em que a mensagem estA codificada.Normalmente, uma mensagem a uma seancia de estimulos ou signos queatingernio receptor serialmente. A linguagem escrita comum é urn exemplo. Aideia de informacao pode ser aplicada a previsibilidade de urn arranjo secitien-dal, como é o caso de uma (rase ou sentenga. Se as letras na sentenga fossemdispostas de urn modo randOmico, a entropia seria de 100%. A decodificagdo

7Shannon e Weaver — Mathematical theory, p. 5

Fonte de

inform acao

Figura 34. Modelo decomunicagao de Shan-

non e Weaver —The

mathematical theory of communication.Copy-right © 1949, by The

 Board of Trustees of theUniversity of Illinois, Re-

 produzido corn permis-

sdo da University of Illi-nois Press.

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Teoria da Informagáo 157

seria muito dificil por causa da grande quantidade de informacao na men-sagem. Mas as letras (ou os sons na fala) nao estao organizadas aleatoria-mente. SA-0encontrados varios padroes previsiveis, o que torna a decodifi-cacao mais facil, ja que existe menos informacao, mais baixa entropia relativae mais elevada redundancia. Por exemplo, urn adjetivo tem uma alta proba-bilidade de se seguir a urn substantivo. Urn q esempre seguido de urn u na slinguas neolatinas e germänicas. Assim, a organizacao global de uma sentenca

padronizada e parcialmente previsivel. Por outro lado, uma sentenca con-tern alguma informacao. Redundancia e previsibilidade nunca sac) 100%. Se

fossem, nao haveria liberdade de escolha. Uma vez escrita a primeira letra,todas as outras letras se seguiriam automaticamente. A linguagem e favorecidapor sua baixa redundancia, permitindo a facilidade da decodificacao mas ali berdade de codificacao.

 A informacao lingOistica é urn exemplo de urn processo de Markov, ern quealternativas subseqiientes apresentam uma relacao de probabilidade corn as

ocorrencias antecedentes numa cadeia. Na realidade, numa situacao deprobabilidade de Markov, as probabilidades de ocorrencias alternativas variam

de momento para momento. Existe uma probabilidade de 100% de que urn u

se siga a urn q, mas a probabilidade de que um i se siga a urn q e conside-ravelmente menor. Assim, ern mensagens secKienciais, a necessario falar em

termos de entropia relativa media e de redundancia media. A entropia rela-tiva-redundancia media do ingles e de cerca de 50%,

Quer a mensagem seja codificada ern linguagem regular, sinais eletrOnicosou algum outro codigo verbal ou nao-verbal, o problema de transmissao é omesmo: reconstruir a mensagem corn exatidao no destino. Qualquer espec-

tador de televisao corn "recepcao mediocre" tern uma dolorosa consciencia doproblema. A transmissaoacurada nao seria problema se nao fossem certosfatores como o ruido.

Comecamos agora a ver o papel da redundancia numa mensagem. A redun-dancia compensa o ruido. Quando o ruido distorce, mascara ou substitui

sinais, a redundancia permite ao receptor corrigir ou preencher os estimulosdistorcidos ou ern falta. Por exemplo, suponha-se que recebemos de urn amigouma carta que foi manchada pela chuva. A primeira sentenca poderia apresen-tar-se assim: "Como  - - vo--? Eu.es - - - i mo."Ou, talvez por causa da estatica,uma sentenca no noticiario radioffinico chega-nos como "0 Pres  - - - -dosUnidos  - - - clarou. (...)" Podemos atribuir urn sentido a essas sentencas dis-

torcidas por causa da previsibilidade ou redundancia da linguagem.

Outro fator que limita a transmissao acurada é a capacidade de canal. Acapacidade de canal é usualmente definida em termos do montante maximo

de informacao que pode ser transmitida por urn canal por segundo. Se ossimbolos (por exemplo, letras) tern uma probabilidade igual de serem esco-

Ihidos, a capacidade de canal C e definida como

C = mn

em que m é o montante de incerteza no conjunto de simbolos e nonUmero de simbolos transmitidos por segundo.

Se, como em geral acontece, as letras nao tern uma probabilidade igual deserem escolhidas, entao a formula 6:

C = rmn

ern que r e o montante de redundancia.

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158 Processos Bâsicos

Por exemplo, se urn datilOgrafo pode bater cinco letras por segundo, a suacapacidade de canal é de cerca de 11,75 bits por segundo, porquanto a teoriade informacao nos mostra que nao se pode exceder a capacidade de canal.

C = (0,5) (4,7) (5) = 11,75a

0 que a necessario, entao, para uma transmissão acurada? A transmissdoacurada envolve a codificacao a uma taxa maxima que nao exceda a capaci-dade do canal. Tambem significa usar urn codigo corn redundancia suficiente

para compensar o montante de ruido presente no canal. Se houver redun-dancia ern excesso, a transmissao sera ineficaz. Se for insuficiente, a trans-

missdo sera inexata.

Sobre Informacao Semântica

Indicamos anteriormente, neste capitulo, que a nocao tecnica de informacao

está mais prOxima do conceito comum do que parece a primeira vista.Quando ampliamos a teoria da informacao ao segundo nivel da semantica,essa relacao torna-se ainda mais clara. 9 Nesta analise, cumpre mudar ligei-

ramente a linha de pensamento. Sabemos que a informacao é uma medida deincerteza numa situacao ou mensagem. Tambern sabemos, pela teoria tècnica

de informacao, que tal informacao pode ser transmitida. Agora, ern nivelsemantic°, concentramo-nos na comunicagdo de informacao, a qual reduz aincerteza numa situacao. Ainformacao transmitida por uma mensagem quereduz a informacao da-se o nome de informacao semantica. 0 que se acres-centa aqui a teoria e o elemento humano de interpretacao e compreensao.

 A informacao semantica relaciona-se sempre corn algum aspecto especificoda situacao. E a respeito de algo. Alern disso, reduz sempre o nOmero dealternativas existentes para interpretar a situacao. No exemplo do crime demorte, havia oito possiveis criminosos. Como eles sac, igualmente provaveis,existem na situacao tres bits de informacao. Quando recebemos a mensagem

de que metade dos suspeitos andava correndo mundo ern ferias, no dia dohomicidio, isso significa termos recebido urn bit de informacao semantica,reduzindo assim o montante total de informacao na situacao para dois bits.Quando uma pessoa diz que recebeu informacao a respeito de alguma coisa,

ela quer dizer que foi eliminado urn certo montante de incerteza numa

situacao. A formula para a informacao semantica é:

= U1 — U2

ern que I é o montante de informacao semantica na mensagem, U1 é a incer-teza na situacao antes da mensagem e U2 e o montante apOs a mensagem.

claro, a informacao semantica é sempre relativa ao estado de conheci-mento do ser humano. Nesse sentido, a informacao deve ser definida erntermos das alternativas percebidas pela pessoa que recebeu a mensagem.

Agora que definimos a informacao semantica, veremos o que acontecequando uma pessoa recebe uma serie de mensagens sobre uma situacao.Existem duas possibilidades. 0 individuo podera receber mensagens logica-mente independentes ou mensagens redundantes. Logicamente, as mensagensindependentes sobre a mesma situacao veiculam informacao completamente

8Exemplo extraido de Broadbent e Darnell — "Introduction to cybernetics".9Para uma excelente analise da abordagem semantica, ver Krippendorf — "Information theory".

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Teoria da Intormacão 159

diferente. Tars mensagens sao aditivas. Por exemplo, a mensagem de quemetade dos suspeitos estava de ferias fornece urn bitde informacao, ao passoque a mensagem de que dois outros estavam juntos em casa fornece urnsegundo bit, equivalente a uma reducao total de dois bits.

lab =

la + lb

Mas, na maioria das vezes, as mensagens sobrepdem-se ou coincidemparcialmente em seu significado. Isso é a redundancia semidntica. Por exem-plo, podemos ficar sabendo que as ferias ocorreram mas, depois, descobrir numa segunda mensagem que a pai (A) estava de ferias enquanto seu filho e

neto estavam juntos em casa, brigando. A informacao de que o pai estavaviajando de ferias é redundante; ela ocorre em ambas as mensagens. Aformula para a informacao total veiculada é

IT =

la +

l b — IR

ern que IR e a informacao redundante.

 Aredundancia desempenha o mesmo papel tanto em nivel semantic°quantoern nivel têcnico. A informacao redundante (ou "desnecessaria") neutraliza o

ruido. Também facilita a aprendizagem por parte do receptor.

Resumindo, informacao sernantica é o montante de informacao numamensagem, o qual, por ser transmitido a pessoa, a removido da situacao. 0efeito liquido da informacao semantica (receber mensagens) e reduzir aquantidade total de incerteza na situacao. Aqui se encontra a verdadeiracontribuicao da teoria da informacao para o nosso entendimento comum doque seja informacao.

Uma Abordagem de Eficacia da Informano

0 terceiro dos We's niveis de Weaver da teoria de informacao, o nivel de

eficacia, trata do impacto ou efeito da informacao sobre o sistema. E aqui quevemos uma relacao particularmente impressionante entre teoria da infor-macao, sistemas e cibernetica. Talvez a abordagem mais explicita nesse nivelseja a de Russell Ackoff.10

Ackoff iniciou a sua teoria com a noCaode estado intencional (purposefulstate). Urn sistema, como uma pessoa, encontra-se em estado intencional sedesejada uma determinada meta e existem varios modos alternativos desiguaispara atingir essa. meta. Diz-se que a comunicacão atraves de mensagens atetaosistema quando altera o estado intencional do organismo.

Existem seis conceitos relacionados corn a nocdode estado intencional. 0primeiro e o individuo. Este pode ser qualquer sistema num estado intencionalmas, por uma questao de simplicidade, referir-nos-emos a ele como umapessoa daqui em diante. Em segundo lugar, existe urn curso de acao que nos

leva ao terceiro elemento: o resultado. Assim, a intencionalidade consiste, ernparte, em urn individuo escolher a realizacao de um resultado, adotando para

isso determinado curso de acao. 0 quarto elemento no modelo é a  proba-bilidade de que o individuo adote esse curso de acao. E, quinto, a eficienciaa possibilidade de que o resultado especificado ocorra em conseqtiencia docurso de acao. 0 conceito final — e crucial para a ideia da intencionalidade—e ovalor, que consiste na importancia do resultado para o individuo.Estamos agora preparados para definir urn estado intencional.

10 Russell Ackoff —"Toward a behavioral theory of communciation", in Management Science,4; 1957-58, pp. 218-34. Para urn tratamento mais extenso e mais recente. ver Russell Ackoff e FredEmery — On purposeful systems. Chicago, Aldine, 1972.

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160 Processos Basicos

Um estado intencional requer as seguintes condicOes: primeiro, devemexistir pelo menos dois cursos de ace() ao alcance do individuo. Ambos devem

ser opcdes viaveis para a pessoa atingir o resultado desejado. Alern disso, oscursos de acao devem possuir certo grau de eficiencia; deverá haver a proba-

bilidade de que o resultado seja obtido por urn ou por outro dos cursos de'acao. E as probabilidades ou eficiencias nao podem ser iguais. Finalmente, a

pessoa deve querer o resultado; em outras palavras, a meta tern de possuir valor para a pessoa.Essa definicao de estado intencional pode ser esclarecida corn urn simples

exemplo. Suponhamos que uma jovem esta interessada em ver mundo. Visitar 

paises estrangeiros tern valor para ela. Existem dois cursos de acao que ela

podera adotar para chegar ao resultado desejado: alistar-se no exercito oualistar-se no Peace Corps ["Voluntarios da Paz"]. Se cada um desses cursos deacao Ihe for realmente acessivel, e se urn deles tiver uma probabilidade mais

elevada de levar ao objetivo desejado, entao a jovem encontra-se num estadointencional. Ela pode fazer uma escolha que tern possibilidades de leva-la apaises estrangeiros. Mas suponhamos que ela e reprovada no exame fisico deadmissao ao exercito. Deixa de existir uma das opcOes. Tal como e concebido

por essa teoria, a jovem deixa agora de estar num estado intencional,

porquanto ja nao dispoe de uma alternativa de escolha. Outra condicao quepoderia ocorrer e que as eficiencias dos cursos de acao sejam iguais. Nesse

caso, nao existe uma base para escolha e, uma vez mais, a jovem deixa deestar ern estado intencional. Em suma, ela deve dispor de varias maneiras dever o mundo, e uma dessas maneiras deve constituir urn curso mais provavel.

Recorde-se a tese de Ackoff, que e uma resposta a este problema de terceironivel: A comunicacao atraves de mensagens afeta o sistema se mudar o esta-

do intencional do organismo. As mensagens podem afetar de fres maneiras o estado intencional do

individuo. Em primeiro lugar, uma mensagem pode informar, e nesse caso asprobabilidades de escolha sao alteradas. Ern segundo lugar, a mensagem podeinstruir, alterando as eficiencias dos cursos de acao. Em terceiro lugar, amensagem pode motivar, mudando o valor do resultado.

Observamos aqui uma nitida ampliacao do ambito da teoria. Na areatecnica, a teoria e muito limitada a informacao per se. Na abordagem deeficiencia, lidamos nao so corn a informacao mas tambêm corn outros aspec-tos afins das mensagens.

Podemos relacionar muito bem a primeira especie de efeito corn a infor-

macao semantica. Recorde-se, na secao anterior, que a informacao semantica

e igual a reducao de incerteza numa situacao. Se existem varios cursos de

acao num estado intencionai, tendo cada urn deles uma probabiiidade delevar ao resultado desejado (eficiencia), receber informacao ou ser informadosobre as eficiencias reduz a incerteza envolvida, mudando assim a probabi-li dade de que uma alternativa seja escolhida. Por exemplo, suponhamos que a

nossa jovem viajante est.a mais propensa a alistar-se no Exarcito quandorecebe a informacao de que a maioria das WACS [Corpo Auxiliar Feminino do

Exército norte-americano estao servindo em bases nos EUA. Essa mensagem

sobre a eficiencia do Exarcito como sua escolha aumenta agora a probabi-li dade de que ela adira ao Peace Corps. Ao reduzir a incerteza entre aseficiencias percebidas das alternativas, a informacao afeta o estado intencio-nal, alterando a probabilidade de que seja escolhido determinado curso deacao.

 A segunda especie de efeito é a instrucdo. Enquanto a informacao forneceuma base mais clara para a escolha, tornando conhecida a eficiencia, ainstrucdo, por outro lado, altera diretamente as eficiencias reais. Isso érealizado quando se dota a pessoa de conhecimentos e competencias que a

habilitarao a obter o resultado desejado atraves de um curso especifico de

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Teoria da Informagäo 161

acão. Em nosso exemplo, pode-se mostrar a mulher como manipular oprocesso de admissão nas WACS a fim de conseguir uma colocacao noestrangeiro. Corn essa instrucdo, aumenta a eficiencia do Exercito para que elaatinja o seu objetivo.

0 terceiro efeito das mensagens sobre urn sistema A a motivacão. AmotivacAo e o resultado de uma mudanca no valor. A jovem do nosso

exemplo teria, é claro, diversas metas (resultados) de valor para ela. Digamosque uma diferente meta A ser dona de urn restaurante. Se o resultado de ver o

mundo tern urn valor mais alto do que possuir urn restaurante, ela mantera ocurso de acao previamente descrito. Podera, no entanto, receber uma men-

sagem que reforce o carater desejavel de ter um restaurante, mudando assim odesfecho de seu estado intencional.

Essa teoria de Ackoff serve de remate final ao nosso breve exame da teoriada informano. A teoria classica da informacao, que a primordialmente tbc-

nica, trata da medical° da informacao para fins de transmissào acurada eeficiente. A teoria da informacao semantica mostra como o recebimento deinformacao em mensagens reduz a incerteza. Finalmente, a teoria da ell-

. ciencia de Ackoff amplia o ambito da cobertura para incluir o efeito demensagens sobre sistemas intencionais.

 A teoria da informacao possui uma extensa literatura, a qual so fizemos aquiuma ligeira alusao. Esperamos que este resumo de alguns pontos fundamentaisil ustre como a teoria da informacao adicionou algumas dimensoes diferentes anossa compreensão da comunicacAo.

Generalizacees

 A generalizacdo primaria deste capitulo e que as mensagens fornecem intor-magdo. Quatro generalizaceies secundarias adicionais que se destacam dateoria da informacao ajudam-nos a entender o papel da informacao nacomunicacAo. A primeira generalizacAo ajuda a elucidar o conceito: a infor-

maga° surge no processo de realizacao de escolhas. A informacao é umamedida da liberdade de escolha. Quando aumenta o nümero de alternativas

numa situacão, a informacao tambem aumenta. A informacao ou liberdade de

escolha aumenta igualmente corn a falta de previsibilidade dos resultados. Ainformacao como incerteza rid() existe somente no mundo dos eventos; ela

tambem existe no mundo das mensagens sobre esses eventos. Temos assim asegunda generalizacAo: a informacao e transmitida. A incerteza de umamensagem, que consiste ern simbolos padronizados, é transmitida atraves de

urn canal para urn receptor. Como qualquer situacão, uma mensagem contern

urn grau de incerteza ou informacao. Entretanto, as mensagens contemalguma redundAncia, tanto quanto previsibilidade. Alêm de sua prOpria incer-

teza interna, as mensagens tambem podem ser analisadas ern termos daquantidade de incerteza que elas removem da situacao a cujo respeito estàosend() comunicadas. Por conseguinte, a terceira generalizacäo e que a infor-

macdo reduz a incerteza. A informacao semántica numa mensagem e funcaodireta da reducão da incerteza na situacdo. Finalmente, a informacao altera oestado do organismo. As mensagens tem impacto sobre o receptor. Estageneralizacäo final sera explorada em profundidade no proximo capitulo,quando investigaremos os processos de mudanca e persuasào.

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7

Teorias de Persuasão• e Mudanca

Uma das areas mais cuidadosamente examinadas, relacionadas corn a comu-

nicacao, e o estudo da persuasao. Campos tais como a psicologia social e a

comunicacao da fala concentraram grande parte de suas pesquisas e ensinonessa area. A maior parte dessas teorias tende a ser de ambito pequeno, em-

bora as teorias retOricas mais humanistas adotem usualmente uma perspectivamais ampla.

0 capitulo 7 esti. dividido em quatro areas, Primeiro, examinaremos osfundamentos humanistas da persuasao, principalmente a teoria retOrica de AristOteles. Esse exame sera seguido de urn resumo da teoria comportamental

da persuasao, proposta por Fotheringham. Depois, procederemos a umaanalise bastante extensa das numerosas teorias psicolOgicas de atitude emudanca de atitude. 0 terra comum deste capitulo sac os efeitos da comu-nicacao, ou como as mensagens alteram as atitudes, awes e valores dosreceptores. A generalizacao orientadora é que a comunicacao resulta emmudanca.

Fundamentos Humanisticos: a Teoria RetOrica

0 estudo da comunicacao e persuasao nao e um novo interesse humano. Essesfenomenos yam sendo estudados ha seculos. As raizes de nossa compreensao

dos processos de comunicacao, ern geral, e da persuasao, em particular,mergulham fundo no solo historico. Tipicamente, a persuasao tern sidoexaminada de dois modos gerais. 0 estudioso da histOria contribuiu para anossa compreensao da persuasao mediante o exame de artefatos historicos,

incluindo tratados, dissertacoes, mem6rias e discursos. Corn o advento da

psicologia moderna e das ciancias do comportamento no seculo XX, é naturalque a persuasao tambern seja estudada pelos cientistas do comportamento.

Usando metodologias empiricas, os psicologos e outros especialistas pro-curaram testar muitas das hipoteses que resultaram das teorias do passado.

Tentaremos captar o sabor tanto das teorias humanistas que comecaram na

Grecia antiga como das teorias contemporaneas do comportamento.

Quando pensamos na teoria tal como foi descrita no capitulo 1, focal izamos

normalmente o tipo cientifico do seculo atual. Entretanto, é evidente quemuitas das qualidades da teoria descritas no comeco deste livro tambem estaopresentes nas antigas explicacoes da comunicacao. A mais importante teoria

historica de comunicagdo e persuasao é a teoria retOrica de Aristoteles.

 A Teoria RetOrica de Aristäteles

Durante muitos anos, a teoria aristotelica foi o principal quadro conceptual de

referencia usado no campo da Fala, e muitas investigacaes psicol6gicas en-

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Teorias de Persuasao e Mudanga 163

contraram suas hipoteses originais nas obras de Aristoteles e seus numerosos

interpretes. Aristoteles foi urn grande cientista, filasofo e intêrprete social do seu

tempo. Durante o seculo IV a.C., ele produziu muitas obras classicas, rela-cionadas coma natureza das coisas e a natureza das pessoas. A obra que maisinteressa a comunicacdo e persuasdo e a Arte ret6rica. IEssa obra "é geral-

mente considerada a mais importante de todas as obras na literatura da arte defalar". 2

 A Arte retOrica a uma descried.° dos processos de elocucao, assim como umcompendio sobre como fazer discursos e ser eloqiiente. E importante entender 

que o modo primordial de persuasdo e comunicacdo de massa nos temposantigos era o discurso palico, a oratOria. Por conseguinte, toda a teorizacdo

dessa epoca tratava da fala como um canal de comunicacdo. 0 enfoqueprincipal sobre a orat6ria, a fala ern pOblico, gera problemas quando tentamos

aplicar a teoria ret6rica em nosso pr6prio tempo, como veremos quandoabordarmos o comentario contempordneo de Brockriede sobre a teoria aris-totelica.

Para Aristoteles, a retOrica tinha essencialmente o mesmo conceito que apersuasdo tern hoje para nos. De fato, muitos estudiosos, sobretudo no campo

da Comunicacdo da Fala, ainda preferem o termo retOrica a outros rotulosmais recentes. Aristoteles definiu a ret6rica "como a faculdade de ver teorica-

mente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a persuasdo".   3 Na ArteretOrica, Aristoteles assinalou as duas especies de provas ou recursos queafetam a persuasido: as provas que dependem da arte e as que tido dependem.Provas ndo-artisticas sdo aquelas que englobam todos os aspectos da situacdoe as qualidades do orador que nth) sdo diretamente controladas por ele.Embora as provas não-artisticas participem de um modo importante noprocesso de persuasdo, Aristoteles e a maior parte dos outros teOricos daret6rica estavam principalmente interessados nas provas artisticas que skidiretamente controladas pelo orador. As provas artisticas incluem °Yes tipos:ethos, pathos e logos. 0ethos, ou recursos, atitudes e principios eticos ou

pessoais, inclui todos os meios pelos quais a pessoa projeta suas qualida-des pessoais, de forma a suscitar crenca ou conviccdo naqueles que a ouvem.E interessante assinalar que grande parte das pesquisas realizadas nestes 6Iti-

mos 30 anos sobre credibilidade da fonte testou as hipoteses originais de Aristoteles acerca do ethos. 0 pathos consiste nos apelos emocionais que sdoempregados no ato retOrico. A final idade das provas emocionais e envolver os

sentimentos do pOblico e mobilizar as suas simpatias. Aristoteles dedicou umaparte consideravel da Arte retOrica ao exame das emocties e de como elas serelacionam corn a vida das pessoas. A terceira prova, o recurso a logica, foii mportante para Aristoteles e outros teOricos classicos.

 A logica consiste no use de exemp/os e entimemas. Os entimemas saosilogismos parciais, especialmente importantes para induzir a participacdo docalico no processo de raciocinio. 0 silogismo e tipicamente definido como

urn recurso logico de deducdo em que conclusoes de natureza especifica sãoinferidas na base de suposicOes ou premissas. E usado para demonstrar a

verdade ou validade de certas conclusäes que um cientista ou outro obser-

vador poderd formular. 0 entimema, por outro lado, é um recurso praticoparticularmente Gtil na persuasdo, por causa de seu apelo aos ouvintes no

processo de comunicacdo. 0 orador pode ndo formular claramente todas as

1 Aristoteles — Arte ret6rica. J O autor cita a tradugao inglesa de J.E.C. Welidon — Rhetoric.

Londres, 1886. Nos utilizamos a edigao de 1959 da Difusdo EuropOia do Livro, em tradugão de Antonio Pinto de Carvalho. — N. do T. J2Lester Thonssen e A. Craig Baird —Speech criticism: the development of standards for rhetorical appraisal. Nova York, Ronald Press, 1948, p. 57.3Aristoteles — Arte ret6rica, cap. 2, p. 23 da tradugäo portuguesa citada.

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164 Processor Basicos

premissas e conclusees; ele podera, pelo contrario, confiar em que os mem-bros do pUblico preencham mentalmente os hiatos na seqeencia lOgica dodiscurso, o que estimulara o envolvimento. Os estudiosos contemporaneos da,retOrica analisaram o entimema em grande profundidade e demonstraram que

um recurso usado de forma preponderante na persuasao pratica.Alem das tres espécies de prova, Aristoteles tambem examinou tres outros

aspectos da persuasao pablica, incluindo a pronCincia, o estilo (o use dalinguagem) e a organizacao (como dispor as diferentes partes do discurso). Osprincipios de Aristoteles foram anal isados e ampliados de muitas maneiras aolongo dos tempos. Alguns teOricos concentraram-se no estilo, outros na

ainda outros na responsabilidade do orador em diferentes situaceespersuasivas. Aristoteles tem lido periodicamente redescoberto; uma dessasredescobertas ocorreu no inicio do seculo atual. No seculo XIX, os discursoseram tratados primordialmente como literatura (os discursos podem ser legiti-mamente considerados uma especie de escrita), mas, corn o desenvolvimentoda nocao contemporanea de comunicacdo, tornou-se claro para os estudiososda retOrica que os discursos deveriam ser examinados de um ponto de vistafuncional. A mudanca estimulou um retorno ao modelo aristotelico, o qual foi

articulado corn suprema clareza por Herbert Wichelns em seu classico artigode 1925 intitulado "The literary criticism of oratory". 4 No artigo, ele repudiouo estudo literario da produce° discursiva e clamou por um retorno a perspec-tiva reterica do discurso. A transcricao seguinte, algo extensa, que constitui oamago de sua analise, descreve os parametros basicos da teoria retOricaneo-aristotelica, tal como é usada hole:

A critica retOrica e necessariamente analitica. 0 esquema de urn estudo ret6rico

inclui o elemento da personalidade do orador como fator condicionante; inclui

tambem o caster püblico do homem —flat) o que ele era mas o que se pensava

que ele era. Requer uma descricäo do pablico do orador e das idéias principais

corn que ele subjugou seus ouvintes —seus temas, as ideias a que recorreu, a

natureza das provas que ofereceu. Tudo isso revelarA o seu prOprio julgamentoda natureza humana em seus ouvintes, E tambem o seu julgamento sobre as

questoes que debateu em Deve-se igualmente prestar atencao Arelacãoentre os textos sobreviventes e aquilo que foi realmente proferido; no caso de a

natureza das mudancas ser conhecida, talvez haja ocasido para considerar a

adaptacao a dois ptiblicos — aquele que ouviu e aquele que leu. A critica

retOrica tampouco pode omitir o modo de organizano e o modo de expressão

do orador, nem o seu habito de preparacAo e a sua maneira de falar da tribuna,

embora estes dois tiltimos aspectos sejam talvez menos significativos. 0 "estilo"—no sentido que corresponde A diccao e ao movimento das sentencas —deve

receber atencao, mas apenas como um entre vArios meios de garantir ao orador

o facil acesso A mente de seus ouvintes. Finalmente, o efeito do discurso sobre

os seus ouvintes imediatos ndo pode ser ignorado, tanto no depoimento das

testemunhas como no registro dos acontecimentos. E, através desse estudo

completo, devemos conceber o homem paolico como aquele que influencia os

homens de seu tempo, pelo poder de seu discurso.5

Mas a teoria aristotelica, como todasas teorias, tem suas limitacees, a maisnotOria das quais é que envolve o contexto do discurso pUblico. Entretanto, apersuasao na sociedade contemporanea . 6 muito mais complexa e variada.Wayne Brockriede, em dois artigos recentes, redefiniu o conceito de teoriaretOrica, e seu trabalho proporciona uma excelente ponte entre a concepcaoclassica e a cena mais contemporanea. 6

4Herbert A. Wichelns —"The literary criticism of oratory", in Studies in rhetoric and publicspeaking in honor of lames Albert Winans. Nova York, The Century Company, 1925.5 Ibid., pp. 212-213.6Wayne Brockriede — "Dimensions of the concept of rhetoric", in Quarterly Journal of Speech,54, 1968, pp. 1-12; "Toward acontemporary Aristotelian theory of rhetoric", in Quarterly Journalof Speech, 52, 1966, pp. 33-40.

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Teorias de Persuasao e Mudanga 165

 Reconceituacäo da Retbrica

 A obra de Brockriede é importante para o pensamento retOrico porque requer 

uma ampliacao do conceito de ret6rica para captar de urn modo mais realistaa complexidade da comunicacao moderna. Asua redefinicao de dimensoes

fornece os primOrdios de uma teoria contemporanea da ret6rica e, para nos,

as ideias de Brockriede propiciam uma excelente visa° geral da persuasao,como introducao a outras microabordagens psicologicas. E importante assi-

nalar que, embora fronteiras conceptuais tenham sido tracadas entre as teoriashumanistas da ret6rica e as teorias behavioristas da persuasao, verifica-se umasobreposicao partial de umas e outras, pelo que devem ser estudadas ern

conjunto. Reiterando urn ponto sublinhado no capitulo 1 a respeito da teoria

da comunicacao, é somente atraves de uma abordagem multiteOrica quetemos a possibilidade de ficar mais perto de uma compreensao completa doprocesso de comunicacao. Brockriede realizou urn admiravel trabalho deaproximacao dessas duas abordagens.

0 objetivo de Brockriede e ambicioso, na medida ern que pede uma amplateoria monistica de interacäo simbOlica intentional:

Existe uma arte da retOrica, urn corpo sisternetico de principios de interacdo

humana simbOlica e intentional, e seus estudiosos devem conceber e formular

uma teoria suficientemente abrangente para acomodar todos os objetivos moralsconhecidos, todos os ambientes culturais e todos os pontos de partida filosO-

ficosi

Ele apresentou quatro argumentos a favor de uma teoria contemporanea mais

ampla da ret6rica. Ern primeiro lugar, o estudo aristotelico da ret6rica e umateoria descritiva de eventos retOricos, assim como um conjunto de principios.Em segundo lugar, uma aplicacao contemporanea dessa teoria tera de en-volver situacties do seculo XX. Ern terceiro lugar, uma nova teoria devera ser dinamica e abrangente. E, por Ultimo, uma tal teoria seria vantajosa para

pesquisadores, criticos e professores. A analise de Brockriede inicia-se corn alguns pressupostos importantes. Umatal retOrica, acredita ele, deve abranger toda a sorte de atos de comunicacao,

pUblicos e interpessoais. Deve emergir indutivamente da observacao de even-

tos contemporaneos e passados, e proporcionar uma visa° interativa dosvarios e complexos processor envolvidos. A teoria contemporanea da ret6rica

devera descrever as dimensoes basicas dos atos retOricos, os quais se inter-relacionam mutuamente. Brockriede

assinalouquatro dimensoes no artigo de

1968: interpessoais, posturais, situacionais e pontos de vista.8

Dimensiies interpessoais. A retOrica pode funcionar no "estabelecimento,mudanca ou reforco de (...) relacoes interpessoais"1 9 As dimensoes inter-pessoais da retOrica incluem  prefer6ncias, poder e distancia interpessoal.

Dimensties posturais. Alem de servir ao relacionamento entre pessoas, aretOrica tambern funciona para influenciar as escolhas que as pessoas fazem e

as posturas ou atitudes que adotam acerca de ideias e ideologias. Esseconjunto de dimensoes harmoniza-se muito mais corn a area tradicional dapersuasao do que acontece corn o primeiro conjunto de dimensoes. Brock-

riede prefere aqui usar a perspectiva de julgamento social de Sherif sobreatitudes, a qual resumiremos mais adiante, neste capitulo.

7Brockriede — "Contemporary theory", p. 34.8Brockriede — "Dimensions".9 Ibid.,p. 2.

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166 Processos Basicos

Dimensc5es situacionais. A situacão retOrica pode ser definida em termos dedimensoes tais como o formato, que atua no sentido de estruturar o rela-cionamento locutor-ouvinte; os canais, que podem ser verbais, nao-verbais,escritos, orais, diretos ou indiretos; as  pessoas; as fungees retOricas; o me-todo, incluindo os materiais, a forma e o estilo das mensagens; e o contexto(tempo e lugar). Uma vez que a dimensao de funcao recebeu tanta atencdo

por parte dos estudiosos da retOrica, seria uma boa ideia examinarmos mais deperto a descricdo de Brockriede dos atos retOricos. A primeira dessas funcOes edesignativa, servindo para "apresentar a informacâo, descrever, definir, am-pliar, esclarecer, tornar ambiguas, ofuscar, rever ou sintetizar ideias". 10  Asegunda funcao é avaliatOria: "elogiar, comentar, condicionar, criticar oucensurar alguma pessoa, objeto, situacdo, opinido ou politica".11 A terceirafuncao geral da retOrica e advocatOria. A ret6rica advocatOria a usada "parasolucionar um problema, criar indecisao, reforcar uma escolha presente,fomentar uma demora, escolher uma alternativa de mudanca, resolver umconflito, propor um compromisso ou estimular uma acdo".12

Pontos de vista. Esse grupo final de dimensdes da retOrica refere-se ao fato dequalquer evento ou situacao retOrica poder ser encarado de muitos ängulos

diferentes, cada urn com uma diferente perspectiva.Essas quatro categorias ou dimensOes apontam o caminho para uma teoria

mais abrangente e contemporanea da retOrica. Vimos como a teoria daret6rica resultou da tradicao châssica, como foi aplicada aos tempos atuais e

como este. assumindo novas e mais amplas direcOes. Passaremos agora dessatradicao humanista para uma concepcdo mais behaviorista.

Uma Teoria Comportamental da Persuasao

Transferimos agora a nossa Onfase para aquelas teorias que resultaram dosextensos trabalhos de pesquisa em psicologia, de urn modo geral, e empsicologia social, mais particularmente. Iniciaremos este exame recapitulando

a conceituacdo comportamental de persuasao proposta por Wallace Fothe-

ringham.11Fotheringham ofereceu-nos um exceptional quadro geral do processo de

persuasao. Seu livro Perspectives on persuasion não é um compendio naacepcdo usual de fornecer os principios da persuasao. Trata-se, antes, de uma

conceituacdo cuidadosamente pensada da persuasao como género de comu-nicacao. Para dar nexo ao conceito de persuasao, argumentou Fotheringham,

e necessario defini-lo cuidadosamente. Assim, ele definiu persuasao como

"(...) aquele conjunto de efeitos nos receptores, relevantes e ateis para asmetas desejadas pela fonte, ocasionados por urn processo em que as men-sagens foram um importante determinante daqueles efeitos". 14 Essa definicaoespecifica vdrias e importantes caracteristicas, incluindo (1) a relevancia dosefeitos, (2) a instrumentalidade da persuasao, (3) a importancia das mensa-gens, (4) o envolvimento da escolha e (5) a natureza pessoal e interpessoal dapersuasao. E claro, esses parametros do conceito de persuasao rid° esgotam adiscussao sobre o assunto, mas a amplitude e o cuidado com que essa teoria

foi desenvolvida Ca° impressionantes.

0 primeiro criteria ou dimensao, no conceito de persuasao é a relevSnciados efeitos. Em poucas palavras, os efeitos que ocorrem nos receptores devem

10 Ibid., p. 9.11 Ibid.12 Ibid.13Wallace C. Fotheringham —Perspectives on persuasion. Boston, Allyn & Bacon, 1966.14 Ibid .,p.

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Teorias de Persuasao e Mudanca 167

ser relevantes para os objetivos da fonte. A relevancia nao implica necessa-riamente sucesso. Os efeitos podem ser relevantes mas Mao propositados. Domesmo modo, efeitos relevantes podem ocorrer em receptores que Mao haviaa intencao de alcancar. Como persuasor, posso estar tentando influenciar oleitor de algum modo, mas, nesse processo, muitos outros receptores nao-pretendidos ou terceiras pessoas interessadas tambem podem ser afetados.

Alern do criterio de relevancia, os efeitos persuasivos tambem devem serinstrumentals, isto e, contribuirem para determinado fim. Um efeito instru-mental a aquele que constitui urn meio para uma meta. Por vezes, os sereshumanos comportam-se instigados somente pelo desejo de consumir o mo-mento, sem tentar a realizacao de urn objetivo futuro. Outras vezes, compor-tamo-nos de urn modo que atingira certa meta. Essa distincao, que foidenominada a varLavel consumatOria-instrumental, pode ser corretamenteaplicada aos comportamentos de comunicacao. Comunicamos, as vezes, pelapura alegria do ato e, outras vezes, para afetar outras pessoas. As mensagenspodem, teoricamente, ser colocadas ao longo deste continuo:15 

1

Mais consu- Igualmente

matOrias do consumatOriasque instru- e instrumentalsmentais 

Sobretudo

consumatOrias

Mais instru-

mentals doque consuma-tOrias

Sobretudo

instrumentals

A persuasao situa-se mais perto do polo instrumental deste espectro. t claroque nä° se pode identificar precisamente se uma rnensagem é persuasiva ounao; a uma questa° de grau. Mas a enfase importante em persuasao e que asmensagens saoinstrumentals para a realizacao do objetivo da fonte.

Para explicar melhor esse conceito de instrumentalidade, Fotheringhamvoltou-se para outro conceito — o de meta. A meta fundamental da persuasaoé a acão; existem quatro especies de "ac5o" que os persuasores tentamsuscitar ern seus pUblicos. Sao etas: adocao, permanência, dissuasao e descon-tinuidade. Asmensagens persuasivas pretendem obter efeitos que sera() instru-mentais na realizacao de urn ou mais desses objetivos. Consideremos osseguintes exemplos.16

Fonte: Candidato a governador Receptores: Eleitores Efeito Instrumental: Levar os receptores a acreditarem que o Estado se

encontra ern decadencia econ6micaMeta: Ser eleito governador (adocao e permanencia)

Fonte:Patrocinador do programa —fabricante de produto de consumo Receptores: Audiencia de TV, formada por consumidores adultosEfeito Instrumental: Levar os ouvintes a recordarem o produto pelo nome

ou marca

Meta: Aumentar as vendas do produto da companhia (adocao)

Urn terceiro criterio de persuasao é a importaacia das mensagens. Adefinicao de Fotheringham especifica que os efeitos que ocorrem sao cau-sados primordialmente por mensagens. 0 que e, entao, uma mensagem? Umamensagem a "urn signo ou grupo de signos (...) usado intencionalmente por

15 Ibid., p. 25.16 Ibid., p. 28.

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168 Processos Basicos

uma fonte para gerar uma significacdo ou simbolizacão":17 A Figura 35 aju-da a explicar a relacao entre mensagens, signos e estimulosia Certos esti-

, mulos no meio ambiente de uma pessoa atuam como signos. Urn signo é urnestimulo usado para representar alguma outra coisa que não ele prOprio.

Assim, os signos estimulam a sig-nificacdo ou a atribuicao de signi-ficado. Quando os signos sac) reu-nidos intencionalmente por urncomunicador para suscitar signifi-cados nos receptores, temos umamensagem. A ideia importante,nesse caso, é a de intencao. Ossignos, em si e por si mesmos,sao desprovidos de valor. 0 pro-cesso de atribuicao de significadoocorre dentro da pessoa. Fothe-

ringham reiterou um ponto im-portante oriundo da semäntica —o de que o significado de urn

signo ou mensagem é altamente

variavel de pessoa para pessoa, e de situagdo para pessoa. Na perstiasdo, dis-poe-se de uma variedade de signos. As mensagens persuasivas podem serverbais, nao-verbais ou mistas. 0 criterio importante a que a mensagem e oque determina preponderantemente os efeitos da persuasao.

 Aquarta dimensao no conceito de persuasão e a que envolve a "escolha"

humana. A palavra escolha foi colocada entre aspas na Oltima sentencaporque Fotheringham, ao alinhar-se corn a tradicao comportamental, mostrou

ser urn determinista que acredita não existir o livre-arbitrio. 0 que é impor-tante para a persuasdo é a Husk) de escolha: "Uma resolucao do dilemali berdade-determinismo estabelece que o sentimento de escolha que pos-suimos acerca de nossas awes a uma Hasa°, mas uma ilusao necessaria a bemda saOde psicolOgica. Enganamo-nos; devemos enganar-nos." 19 Assim, a per-suasdo somente existe quando o receptor individual acredita haver umaescolha entre as %/Arias alternativas. Se aiguem aponta uma pistola para a

minha cabeca e me diz que corra, eu correrei! Mas Fotheringham nä°

chamava a isso persuasào. Se sou levado a fazer algo por urn processoencoberto de sugestäo ou não tenho, de alglima outra forma, consciència damensagem, eu não sou persuadido na acepcdo aqui definida.

 A caracteristica final da persuasão como genero de comunicactio é a suanatureza interpessoal. Ha este. limitada aos Beres hurnanos e é urn processo

que envolve mais de uma pessoa. Na persuasão, uma fonte desenvolve urna

mensagem para atingir uma meta envolvendo receptores. Isso a uma nocdocontrovertida. Muitos te6ricos incluiriam igualmente as possibilidades i.n-trapessoais. A nocdo de repeticdo mental, ou reflexäo oriunda do interacio-

nismo simbOlico, poderia ser considerada uma especie de "autopersuasão",mas Fotheringham negaria isso.

 Agora que ja discutimos as mais importantes dimensäes de persuaaopropostas por Fotheringham, examinthmos varias idêias subordinadas. Ficou

evidenciado nas consideracoes acima que Fotheringham se interessou muito

pelo conceito de significado. A pr6pria essOncia da comunicacdo e persuasão

reside nesse conceito. Fotheringham considera urn processo ern cinco etapas,

17Ibid., p. 54.

18 p. 55.

1 9 p. 78.

Figura 35. Relacäo de es-

timulos, signos e mensa-

gens. (Wallace Fotherin-gham —Perspectives onpersuasion. Boston, Al-

lyn & Bacon, 1966,P.55.)

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Teorias de Persuasão e Mudanga 169

nas quais persuasão e significado se inter-relacionam. Sao elan: (1) Umamensagem e enviada a urn receptor; (2) essa mensagem e percebida eidentificada pelo receptor; (3) o interprete (receptor) atribui urn significado a

mensagem; (4) o significado, dentro do receptor, atua como um estimulo para

quaisquer efeitos que possam ocorrer; e, finalmente, (5) os efeitos no receptor 

geram uma acao que pode relacionar-se corn a meta desejada pelo persuasor.

O   i mportante conceito central neste modelo e que o estimulo para a mudancae o significado suscitado no receptor. Os efeitos que esse significado podeacarretar sac) de tres tipos: afetivos (nivel de sentimento), cognitivos (conhe-

cimento, opiniOes, crencas) e efeitos comportamentais manifestos (por vezeschamados conativos). E evidente que a persuasdo envolve freqUentementeefeitos que nao eram pretendidos pelo persuasor. Uma das contribuicaes de

Fotheringham para a nossa compreensao da persuaseo consiste precisamente

ern sua descricão de varios efeitos nao-desejados. De imediato, essa listafornece certos parametros teOricos para as nossas consideracees, assim comoalguns perigos a serem previstos pelo persuasor. Os efeitos indesejados estão

agrupados ern duas categorias. A primeira, a dos efeitos preliminares, inibe oprocesso de persuasao. Tais efeitos incluem a exposicao seletiva, a rejeicao da

mensagem, a distorcao ou reestruturacáo cognitiva da mensagem, efeitos decongruencia (distorcao da mensagem ou fonte, baseada na incongruenciaentre as duas), esquecimento ou recordacao seletiva, descontinuidade decrenca ou sentimento, dissociacao da fonte do conteirdo da mensagem eresistencia a persuasdo. A maioria desses efeitos nao-pretendidos pelo persua-sor esta ben substanciada na literatura sobre pesquisas nessa area, a qual sereflete nas teorias que apresentaremos na pr6xima secao.

 A segunda categoria de efeitos indesejados refere-se as respostas de acao

por parte do receptor que contrarian a meta do persuasor. Inclui a demora deadocao, a nao-adocao, a superadocao, os substitutos de acdo, a não-dissua-

sao, a descontinuidade indesejada, a continuidade indesejada e a distorcao do

feedback.

Essa sintese dos conceitos, baseada no livro de Fotheringham, Perspectives

on persuasion, fornece urn born modelo geral corn um ponto de vistacomportamental. Ele foi ecletico na preparacao de sua teoria, apoiando-se ern

muitas e diferentes linhas de pesquisa e teoria. Abordaremos agora urnprolifico repert6rio te6rico que contribuiu corn urn substancial contingente de

conhecimentos sobre atitude e mudanca de atitude.

Teorias PsicolOgicas de Atitude e Mudanca de Atitude

O conceito de atitude tem provavelmente recebido tanta ou mars atencao do

que qualquer outro construto psicolOgico. Tern sido, certamente, uma daspreocupacees centrals da pesquisa de comunicacdo. Urn numeroso contin-gente de teOricos orientados para a comunicacao sentiu que uma corn-preensao mars profunda das atitudes nos ajudaria a entender melhor por que

as pessoas lidam corn as mensagens do modo que lidam e como as mensagensmudam as pessoas. Assim, as teorias de atitude e mudanca de atitude tentam

definir o conceito, explicar como as atitudes se interligam e operam dentro do

mundo psicolOgico da pessoa, e prever o modo como as mensagens mudarao

as atitudes.

O que 6 uma Atitude?

Asemelhanca de muitos outros conceitos nas ciencias do comportamento, aatitude é ambigua. Nurnerosas definicees tern sido propostas ao longo dosanos, dependendo do enfoque dos varios teraricos. Urn dos mais notaveisresumos foi escrito por McGuire como parte de sua extensa critica a teoria da

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170 Processos Basicos

atitude 20 Usando a classica definicao de Allport, de 1935, como base,McGuire sumariou os cinco aspectos de atitude que tem feito parte das %/ariasdefinicees: "(1) 6 urn estado mental e neural (2) de presteza para responder,(3) organizado(4)atraves da experiencia e (5) exercendo uma influenciadiretiva e (ou) dinamica sobre o comportamento."21 A maioria dos teOricosdefine atitude como urn estado mental, criando na pessoa uma presteza para

comportar-se positiva ou negativamente em relacao a certas pessoas, si-tuacOes e coisas. Algumas definicäes enfatizam a natureza "organizada" deUMsistema individual: Essa qualidade torna-se especialmente importante nasteorias de coerencia, que examinaremos mais adiante nesta secao. A tesedefendida por esses teOricos e que as atitudes nao san predisposicoes fortuitasmas inter-relacionam-se mutuamente de urn modo sistematico e coerente.Embora a maioria dos teOricos concorde ern que as atitudes se correlacionamcorn os comportamentos manifestos, nap existe concordancia total sobre amedida em que as atifudes, de fato, dirigem ou influenciam o comportamentode urn individuo.

McGuire tambem sublinhou o modo como o conceito de atitude se dis-tinguiu de outros conceitos afins, como os de conhecimento, valores- e

°pinkies. Por vezes, essas discriminacOes parecem um tanto sutis, e McGuireacredita que distincees tap delicadas como entre atitude e opiniao so deve-riam ser feitas quando isso a operacionalmente importante para uma pesquisa.

Outro modo de encarar as facetas do conceito de atitude é a distincao

cognitiva-afetiva-conativa que muitos teOricos fazem. Diz-se que uma atitudetern urn componente de pensamento ou informativo, rotulado de componentecognitivo; que tern urn componente afetivo ou emocional. A dimensao

conativa de uma atitude e o seu dominio comportamental, onde podera ser observada a correlacao previamente mencionada entre a predisposicao e ocomportamento.

Outra amalise (Ail a compreensao do conceito de atitude é a funcional. Anotavel teoria funcional de Katz fornece-nos os necessarios insights.22 

 E ledescreveu ern detalhe quatro funcaes basicas das atitudes. A primeira delas é

a utilitãria ou adaptativa. As atitudes de urn individuo ajudam-no a ajustar-seao seu meio social. Uma pessoa relaciona-se corn o grupo de referenciaatraves de atitudes compartilhadas, e a comunicacao é facilitada pela estru-tura que a atitude propicia. A segunda funcao que ressalta da literatura nessaarea é a de economia de conhecimento. As atitudes ajudam as pessoas aconceituar ambientes complexos. A funcao simplificadora da opiniao pOblica,que examinaremos ern detalhe no capitulo ilustra essa ideia. Em terceirolugar, as atitudes fornecem urn meio de expressar o eu. A identidade dapessoa e definida, ern parte, e comunicada aos outros atraves da organizacaode atitudes. A quarta funcao e o papel de defesa do ego das atitudes. Aorganizacao das atitudes de uma pessoa proporciona consistencia e orientacaopsicolOgicas. Permite-Ihe defender o ego contra as forcas caprichosas quepressionam no sentido de mudancas. Apessoa em sociedade deve-se ver a si

mesma como uma pessoa "coesa" e as atitudes ajudam a suprir essa neces-sidade.

Urn quadro conceptual de referencia, especialmente atil como introducao,provern da teoria de Milton Rokeach. 23 Examinaremos alguns dos curiosos

20 William J. McGuire —"The nature of attitudes and attitude change", in The handbook of social psychology, v. 3, organizado por Gardner Lindzey e Elliot Aronson. Reading, Massa-chusetts, Addison-Wesley, 1969, pp. 136-314.21 Ibid., p. 142; Gordon Allport —"Attitudes", in Handbook of social psychology, organizadopor C. Murchison. Worcester, Massachusetts, Clark University Press, 1935, pp. 798-884.22

Daniel Katz —"The functional approach to the study of attitudes", in Public OpinionQuarterly,24, 1960, pp. 163-204.23 Milton Rokeach — Beliefs, attitudes and values: a theory of organization and change. SaoFrancisco, Jossey-Bass, 1969; The nature of human values. Nova York, Free Press, 1973.

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Teorias de Persuasdo e Mudanca 171

detalhes dessa teoria mais adiante, neste capitulo, mas o que nos interessa por agora ski as distingeies conceptuais de Rokeach. A essencia do seu sistema é oconceito de crenga. Crengas sao as centenas de milhares de inferencias que

fazemos acerca do mundo. As crengas estào organizadas em funcao de suaimportância para a pessoa. Essa qualidade organizada é uma ideia importante,como veremos mais adiante. Rokeach formulou tres pressupostos a respeito

das crengas. Em primeiro lugar, elas nao sao todas igualmente importantespara a pessoa, variando assim em termos de centralidade e perifericidade. Em

segundo lugar, as crengas centrals sao mais resistentes a mudanca do que as

crengas perifericas. Em terceiro lugar, as crengas centrals exercem maisimpacto sobre o sistema total do que as perifericas. Os valores sao tiposespeciais de crengas que estdo "centralmente" localizadas no sistema total de

crengas da pessoa, e a guiam em funcao de "como uma pessoa deve ou naocomportar-se, ou sobre algum estado final de existencia que vale ou nao apena atingir".24

 As atitudes sao subconjuntos do sistema de crengas. Uma atitude e feixe de

crencas organizado em torno de um objeto, pessoa ou situagOo. Assim defini-

das, as atitudes agem como predisposigeies para o individuo comportar-se pre-

ferencialmente em relacao aos objetos da atitude. Ao passo que um individuopossui centenas de milhares de crengas, ele tem menos atitudes (milhares,

talvez) e apenas algumas clUzias de valores.

Outra abordagem que recebeu consideravel atengão no tocante a definicao

de atitudes é a de Martin Fishbein. 25 A contribuicao de Fishbein a importante

porque salienta a natureza complexa e interativa das atitudes. As suas con-

cepgeies nao sao distintamente diferentes das de Rokeach, mas, como ve-remos, o modelo fornece seu prOprio enfoque e enfase. Segundo Fishbein,existem duas especies de crenga, as quais sao ambas expresseies de probabili-dade. A primeira é o que chamamos crenga em uma coisa. Quando acredi-tamos em alguma coisa, prediz-se para essa coisa uma elevada probabilidade

de existencia. A segunda especie, denominada crenga sobre, é a probabilidade

prevista de existencia de uma relagdo particular entre o objeto de crenga e al-guma outra coisa ou qualidade. Trata-se tambem de uma situagdo de probabi-

lidade, e a crenga da pessoa e a probabilidade prevista de existencia de deter-minada relageo. Por exemplo, podemos crer em Deus — em que Deus existe.

Tambem podemos crer que Deus e onipotente — uma expressäo probabilisticade uma relagao entre Deus e onipotencia.

 As atitudes diferem das crengas na medida em que sao avaliatOrias.  Ascrengas sac) expressCies probabilisticas de existencia; as atitudes sao expressäesde avaliacao ou julgamento. As atitudes estao correlacionadas com as crengas

e predispoem uma pessoa para comportar-se de certo modo em face do objeto

da atitude. As atitudes sao aprendidas como parte da formagdo de conceitos

de uma pessoa. Podem mudar a medida que novas aprendizagens ocorrem ao

longo da vida. Alern disso, Fishbeiny

e as atitudes como hierarquicamenteorganizadas. Em outras palavras, elas ordenam-se em termos de generalidade;as atitudes mais gerais sao previstas a partir das mais especificas, de um modosomativo. A atitude em relagão a algum objeto é a soma dos fatores especi-

24Rokeach — Beliefs, p. 124.25Fishbein publicou numerosos artigos sobre esse tema. Entre eles citem-se "A behavior theoryapproach to the relations between beliefs about an object and the attitudes toward the object";"A consideration of beliefs andtheir role in attitude measurement"; e "The AB scales: anoperational definition of belief and attitude". Esses tres artigos foram reimpressos em Readings inattitude theory and measurement, organizado por Martin Fishbein. Nova York, John Wiley, 1967.Para uma excelente fonte secundaria, ver David T. Burhans —"The attitude-behavior discre-pancy problem: revisited", in Quarterly Journal of Speech, 57, 1971, pp. 418-28.

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172 Processos Basicos

ficos, incluindo crencas e avaliacöes na hierarquia da familia. Essa formula 6algebricamente representada da seguinte maneira.261

Ao =N Z 13; a i

em que Ao = a atitude em relacao ao objeto 0Bi =a forca da crenca i acerca de o, isto 6, a "probabilidade" ou

"improbabilidade" de que o esteja associado a algum outro con-ceito xi.

a i = o aspecto avaliatOrio de 13i, isto e, a avaliacao de xi.N o nOmero de crencas sobre o, isto 6, o nOrnero de respostas na

hierarquia da familia de habitos do individuo.

A caracteristica que distingue a formula de Fishbein a que enfatiza a naturezainterativa das atitudes. Asatitudes säo uma funcao de um fator complexo,envolvendo crencas (predicties de probabilidade) e avaliacties. 0 exem.plo noQuadro 6 ajudara a esclarecer a complexidade do modelo.

Quadro 6. Exemplo simplificado de uma hierarquia de atitudes, segundo omodelo de Fishbein

Atitude em relacao ao objeto (o) JoggingN = 6

Conceitos associados(xi)

Probabilidade deAssociacao (Bi)

Avaliacao(ai)

sake cardiovascular

x2Doenca

x3Obesidadex4Sa6de mental

x5Am izades

x6Fisico

B 10 jogging promove ovigor cardiovascular.

B20 jogging reduz a pro-babilidade de doenca.

B30 jogging reduz o peso.B 40 jogging promove a

paz de espirito.B50 jogging facilita

pessoa conhecer novosamigos.B6 0 jogging cultiva

melhores corpos.

al0 vigor cardiovascularborn

a2A doenca e ruim.

a3 Peso excessivo a ruim.a4E born descarregar as

tenscies mentais.a5A amizade e importante.

a6Urn belo corpo é atraente.

Teorias de aprendizagem

Agora que consideramos algumas das definicoes mais importantes de atitude,passaremos as varias teorias de atitude a mudanca de atitude. Essas teoriaspodem ser convenientemente agrupadas em varias categorias gerais.27 Tra-taremos primeiro das teorias de aprendizagem, depois das teorias de consis-tencia, das teorias de julgamento social, da teoria da personalidade e persuasi-bilidade e, por fim, das teorias que induzem a resistencia a persuasdo.

Teoria basica da aprendizagem. Um dos grandes movimentos da psicologiamoderna foi o estudo da aprendizagem humana e animal.As teoriasdaaprendizagem, que exemplificam o ponto de vista determinista da episte-mologia, dominaram grande parte da obra das ciencias do comportamento,em geral, e da psicologia, em particular. Com tanta atencâo dada a aprendi-zagem, é natural que a persuasão viesse a ser estudada do ponto de vista da

26Fishbein —"A behavior theory approach to the relations between beliefs about an object and

the attitude toward the object", in Readings in attitude theory and measurement, organizadopor Martin Fishbein. Nova York, John Wiley, 1967, p. 394.27Apoiei-me substancialmente na organizacao sugerida em Charles A. Kiesler, Barry E. Collins eNorman Miller — Attitude change: a critical analysis of theoretical approaches. Nova York, JohnWiley & Sons, 1969.

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Teorias de Persuasao e Mudanca 173

aprendizagem. A tradicao da teoria da aprendizagem em psicologia foi

magnificamente resumida em Woodward and Schlossberg's experimental 

 psychology. 28Nessa obra, a aprendizagem é definida como uma "mudanca

relativamente permanente no comportamento, resultante de condicoes depratica".29 0te6rico da aprendizagem estuda os modos como o organisniomuda suas respostas aos estimulos no meio ambiente. A tradicao de aprendi-

zagem e, portanto, eminentemente behaviorista, no sentido de que os corn-portamentos emitidos do organismo sao considerados importantes para acompreensao de suas relacOes com o meio ambiente.

Sao numerosas as linhas de pesquisa e os metodos de investigacao darelacao estimulo-resposta, assim como das mudancas que nela ocorrem. Mas,

de um' modo geral, os sintetizadores concordaram em que duas tradicOesprincipals se destacam. A primeira delas, o condicionamento classico, exa-mina o modo como estimulos pareados no meio ambiente produzem novasrespostas no organismo. 0exemplo comum de condicionamento classico saoos primeiros experimentos realizados por Pavlov, nos quais uma sineta era

pareada corn alimento para urn cao, e este passou a responder salivando aosi mples som da sineta. Outro rOtulo comum para esse tipo de aprendizagem é

behaviorismo watsoniano. Inicialmente, os behavioristas watsonianos atri-buiram quase todo o comportamento ao simples modelo classico, mas, nadecada de 1930, pesquisadores tao eminentes quanto Skinner passaram a

dar-se conta de que o condicionamento nao se aplica a toda a aprendizagem.Corn efeito, alguma aprendizagem obedece ao paradigma do condiciona-mento mas a major parte da aprendizagem humana a mais complexa.

 A teoria instrumental ou operante nao se concentra na associacão pareadade estimulos previos no meio ambiente, mas no reforcamento posterior fornecido pelos estimulos ambientais. Enquanto o condicionamento classicove o comportamento como dependente da estimulacao previa, a escola de

condicionamento operante assinala que o comportamento do organismoinstrumental nas consecffencias observadas no meio ambiente. Isso a tambemum ponto de vista determinista, porquanto se considera que o comportamento

e modelado por reforcadores ambientais. A principal diferenca entre os doismodelos e a cronologia dos estimulos. 0condicionamento classico atentapara os estimulos previos, ao passo que o operante se concentra nos refor-cadores posteriores. Um exemplo de aprendizagem instrumental é o pombo

que passa a dar bicadas em determinado ponto, ap6s uma serie de ensaios em

que as bicadas corretas foram recompensadas com alimento. As respostasiniciais, na forma de bicadas, sao randomicas, mas a frequencia de bicadas

corretas aumenta corn o tempo, em virtude do reforcador sob a forma dealimento.

Existe uma terceira especie de aprendizagem que e importante mencio-narmos aqui, pois relaciona-se corn uma teoria de mudanca de atitude de que

nos ocuparemos mais adiante, nesta secao; referimo-nos a teoria da aprendi-zagem por exposig5o. Poi apurado em alguns experimentos que a mera

exposicao de urn estimulo a urn organismo fara corn que esse organismodiscrimine a favor desse estimulo.

Teoria da aprendizagem e persuas5o. Uma das mais vigorosas defesas do useda teoria da aprendizagem como modelo de persuasao e a de Robert Weiss.30

281. W. Kling —"Learning: introductory survey", inWoodworth and Schlosberg's experimental

 psychology, organizado por 1.W. Kling e Lorrin Riggs. Nova York, Holt, Rinehart & Winston,1971, pp. 551-613.29Ibid., p. 551.30

Robert Weiss —"An extension of Ruffian learning theory to persuasive communication", inPsychological foundations of attitudes, organizado por Anthony Greenwald, Timothy Brock eThomas Ostrom. Nova York, Academic Press, 1968, pp. 10945; "Persuasion and the acquistion

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174 Processos Basicos

Acredita Weiss que o fenomeno relativamente bem compreendido da apren-dizagem proporciona urn excelente modelo mediante o qual podem ser estu-dados os processos menos compreendidos da persuasao. Weiss aplica aaprendizagem classica e instrumental a persuasao.Entretanto, para fins ilus-trativos, concentrar-nos-emos no tipo instrumental. Em sua mais basica forma,a aprendizagem instrumental envolve quatro fases, incluindo estimulo,. res-posta, demora e reforcamento. A Figura 36 mostra a analogia de Weiss entreesse paradigma de aprendizagem e a persuasao .31

Sinais para comunicacao—Dar opiniao—Material Neutro—Argumento

(Estimulo) (Resposta) (Demora) (Reforoo)

Paracomplicar as coisas urn pouco, podemos decompor a aprendizagem e apersuasao em variaveis mais refinadamente discriminadas. Weiss sustentouque a analogia ainda conforme ilustrado no Quadro 7.32

Quadro 7.Correspondencia de variaveis da aprendizagem instrumental e da

 persuasao

Figura 36. Correspon-

dencia entre uma prova

de condicionamento ins-

trumental e urn ensaio

de persuasao. Reprodu-

 zido corn permissão da Academic Press e de Ro-bert Weiss.

Persuasao Aprendizagem

1. Ntimero de ensaios de persuasao2. Intervalo entre ensaios de persuasao3. NUrnero de exposicOes ao argumento4. Demora do argumento5. Extensao da declaragao de opiniao

6. Forga do argumento7. Credibilidade da fonte8. Vigor da participagao no argumento9. Vigor da participagao na declaragao de

opiniao10. Mudanga do estimulo11. Rapidez da concordancia12. Escolha percentual entre dues °pinkies

dadas

Nämero de ensaios reforgadosIntervalo entre ensaiosMaier° de reforgamentosDemora do reforgamentoExtensa° da cadeia de resposta (demora nointerior da cadeia)Amplitude do reforgamentoAmplitude do reforgamentoVigor das respostas-metasCeneralizagao da resposta

Mudanga do estimulo, generalizagao do estimuloRapidez (lat8ncia)Escolha percentual entre dois reforgadoresdados

Fonte: Weiss, "Hullian learning". Reproduzido corn permissao da Academic Press e deRobert Weiss.

Aoaplicar a teoria da aprendizagem a persuasao, Weiss usou a teoriadesenvolvida por Hull e Spence, na qual sdo apontados cinco fatores princi-pais. Esses fatores incluem as seguintes variaveis causais:

1. Forga do habito (H): uma funcao do milmero de ensaios praticos na si-tuacao de aprendizagem;

2. I mpulso (D): um nivel de excitacao generalizada ou energia que pode ser observado, por exempla', na sede ou fome;

3. Motivagão de incentivo (K): uma colecdo de variaveis de reforco, tailcoma a amplitude e o ntirmero de reforcadores;

4. Potencial inibitörio: todas as pressees contraditorias da aprendizagem,como fadiga e passagem do tempo.

Esses quatro fatores entram numa formula que prediz o grau de aprendi-zagem que ocorrerà num experimento. Esse resultado, ou varravel depen-

of attitudes: models from conditioning and selective le4rning", inPsychological Repor ts,11, 1962,

pp. 709-32.31Weiss — "Hullian learning", p. 113.

32

 Ibid., p. 115.

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Teorias de Persuasao e Mudanga 175

dente, chama-se "potencial excitatOrio efetivo" (E) no esquema hulliano.Weiss usou essa formula para ilustrar ainda melhor a aplicacao da aprendi-zagem a persuasao. A Figura 37 mostra urn reagrupamento das variaveis depersuasao em termos das categorias da formula Hull-Spence 33 Nesse modelo,fatores D na audiencia como ansiedade e facilitacao social combinam-se comvários fatores K, como a credibilidade da fonte e a forca do argumento, a fim

de produzirem uma presteza, na audiencia, para responder positivamente aoponto de vista expresso na mensagem. Quando multiplicamos essa prestezavezes fatores H, como o nOmero de exposicOes a mensagem, estamos no borncaminho para predizer o grau de persuasao que ocorrera. E claro, em confor-midade corn a formula hulliana, devem ser considerados varios fatores inibi-tOrios, principalmente a extensao do periodo de tempo entre as mensagens.Outro aspecto original da teoria de Weiss é que a persuasao e definida,preponderantemente, em funcao da rapidez corn que um individuo tempossibilidade de concordar. A maioria dos seus experimentos mediu a con-cordancia em funcdo da latencia da resposta.

Figura 37. Reproduzido

corn permissao da Aca-

demic Press ede Robert 

Weiss.

1. NC:mar° de en- (Ansiedade 4. Demora do ar- 2. Interval°

saios de persua-sao manifests) gumento entre ensaios(extrovers5o)

(Estresse 6. Force do argu-9. Vigor da partici-

cipacao naclaragão de opi-

de tempo)

(Facilitacgo

mento

7. Credibilidade daniao social) fonts

10. Mudanoa do (Ansiedade 3 NOmero de ex-estimulo induzida) posicOes do ar-

gumento

8. Vigor de partici-pack no argu-mento

5. Extensbo da opi-nflo

H X ( D + K)]

11. Rapidez da concord5ncia

12. Escolha percentual entreopiniOes alternas

 Mudanca de atitude através de meraexposicao. A teoria de Weiss predizque a mudanca de atitude e o resultado de interaceies complexas entrevariaveis causais, mas Robert Zajonc prop& uma explicacao muito maissi mples.34 0 seu ponto de vista a sumamente interessante e relaciona-sede modo peculiar corn a aprendizagem por exposicao. A principal hipOtese deZajonc diz que, na medida em que uma pessoa esta crescentemente exposta aalgo, a pessoa passara a gostar cada vez mais dessa coisa. Zajonc descreveua hipthese geral da seguinte maneira: "A mera exposicao repetida do indivi-duo a urn estimulo é condicao suficiente para a acentuacao de sua atitude em

33 p. 127.3 4 Robert Zajonc —"Attitudinal effects of mere exposure", in journal of Personality and SocialPsychology, 9, 1968, pp. 1-27.

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176 Processos Basicos

relacao a esse estimulo. Entendo por 'mera exposicao' uma condicäo que tornas i mplesmente urn dado estimulo acessivel a percepcäo do individuo." 35Tra-ta-se de uma hip6tese muito interessante, ao sustentar que a exposicao por siso, independentemente de qualquer variavel de fonte ou mensagem, aumen-

tail a preferencia do individuo em relacao a uma coisa ou pessoa, mesmo queideias tao corriqueiras quanto "a familiaridade gera o desprezo" prevejam o

contrario. E claro, o senso comum a volUvel e, em outra acepcao, a tese deZajonc corrobora pontos de vista tdo populares quanta a integracäo racial ea publicidade. A compilaceo por Zajonc de muitas e diferentes espêcies depesquisa produziu as seguintes conclusees: (1) gostamos mais daquelas pa-

lavras que sec mais frequentes ern nosso vocabulario do que das poucofrequentes; (2) os sujeitos expostos muito freantemente a palavras sem nexorespondem mais favoravelmente a essas palavras, quando etas Ihes seo apre-sentadas mais tarde; (3) as tetras mais frequentes do alfabeto sdo maisagradaveis, A maioria das pessoas, do que as tetras menos frequentes; (4) os

sujeitos respondem mais favoravelmente aos caracteres da escrita chinesa quetiverem visto corn maior freq0encia; (5) as fotografias sdo classificadas maispositivamente depois de serem vistas muitas vezes. A melhor conjetura de

Zajonc para explicar por que a mera exposicao aumenta o agrado ou a

preferencia é que os estimulos insOlitos, desconhecidos ou inesperados, sendoestranhos, suscitam cautela ou medo. A medida que aumenta a familiaridade,essa orientano negativa desaparece, resultando em urn efeito liquido deorientacdo mais positiva.

Teorias da Coerencia

E indubitavel que a maior parcela de investigacees psicologicas relacionadascorn atitude, mudanca de atitude e persuasdo situa-se na Area da teoria dacoerencia. Todas as teorias resumidas nesta secäo comegam corn a mesma

premissa: As pessoas tern necessidade de ser coerentes ou, pelo menos, de severem como coerentes. 0 vocabulario e os conceitos mudarao de teoria para

teoria, e as hipoteses formuladas sobre as relacees entre as variaveis sere°diferentes, mas o pressuposto basico de coerencia permanece inalterado.Numa entrevista para Psychology Today, urn dos principais teOricos da coe-rencia, Theodore Newcomb, analisou esse pressuposto da seguinte maneira:

Aconteceu-me estudar a tendencia para o equilibrio, mas isso näo significa queexista qualquer coisa inerentemente boa ou desejavel a respeito dele. A edu-cacäo, como a prOpria vida, prospera e enriquece-se nos desequilibrios. Semeles, viveriamos como uma ostra, profundamente passivos. A maioria dasespêcies de divertimento e de excitacao comeca corn a incoerência, talvez corna Unica excecao possivel do amor nao-correspondido. 0 melhor cientista, porexemplo, busca as incoerèncias. (...)

A minha tese nao a que não buscamos incoerèncias mas que temos dificul-dade em viver corn elas por muito tempo. A direcao da mudanca é, muito

provavelmente, no sentido do equilibrio.36

Na linguagem de sistemas, as pessoas buscam a homeostase. De fato, o temada coerencia pode relacionar-se perfeitamente corn a nocalo sisternica de que

o objetivo de urn sistema aberto é a automanutencdo e o equilibrio.

As teorias de coerencia de atitude e mudanca de atitude iniciaram-se emmeados da decada de 1940 corn a obra de Fritz Heider. Na decada seguinte,fizeram-se numerosos aditamentos e modificacOes na idêia basica de equili-

35 Ibid.,p. 1.36

Carol Tavris —"What does college do for a person? Frankly, very little", inPsychologyToday, setembro de 1974, 78.

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P

Teorias de Persuasao e Mudanga 177

brio. Nesta recapitulacdo, comecaremos corn os trabalhos simples de Heider e

mostraremos como o seu terra basico foi extrapolado por vdrios teOricos.

 A teoria do equilibrio de Fielder. Originalmente, Heider concebeu o equilibriocomo uma meta psicolOgica, dentro do sistema perceptual de urn individuo.37Os tres elementos basicos, que subsistem na maioria das outras teorias da

coerkcia, sdo o individuo que percebe (p), uma segunda pessoa (o) e urnobjeto (x). Entre esses tres elementos existem duas especies de relacoes:preferencia (L) e unidade ou pertenca (U). Essas duas espécies basicas derelacaes podem ser positivas (por exemplo, gosto) ou negativas (por exemplo,nao-gosto). Heider definiu equilibrio como "o conceito de estado equilibradodesigna uma situacdo em que as unidades percebidas e os sentimentosvivenciados coexistem sem tensäo".38 Isso significa usualmente (pelo menosnuma situacao trindica) que ou todos os signos sac) positivos ou dois säonegativos e um positivo. Quando o sistema nao esta em equilibrio„existetensao, estresse ou desconforto, influindo no sentido da mudanca. A Figura 38i I ustra as varias possi bi I idades equ I i bradas e desequ i I bradas .39

Figura 38. Representa-

gão esquermatica de es-tados equilibrados e de-

sequilibrados. Uma rela-gão positiva e indicada

 por uma linha continua;uma relagdo negative,

 por uma linha desconti-

(  ) c m. A diregão da rela-gdo a indicada pela seta.

Os estados a, b, e esdo equilibrados; os es-

tadosc, d, ge h repre-

sentam estados de dese-

quilibrio.

0 I NX 0

P

I. X

(a) (b) (c) (d)

P

X 0

P

Ak  - - - NX 0

P

X0 - - - - - -

 / 

 /  / 

P

ax

(e)

 Alguns exemplos:"George gosta do jipe que

comprou." (pLx) + (pUx) equilibrado

(f)   (g )

"George ficou atolado cornurn velho jipe, corn uma

porcäo de problemas." (p nä° L x) + (pUx) desequilibrado

"George gosta de ir pescar corn Jim em seu novo

 jipe" (pLx) + (oUx) + (pLo) equilibrado

"George aproveita o belo

 ji pe novo de Jim para ir  

37Fritz Heider — "Attitudespp. 107-112: The psychology38Ibid., p. 176.39Kiesler, Collins e Miller —

and cognitive organization", in Journal of Psychology, 21, 1946,

of interpersonal relations. Nova York, John Wiley & Sons, 1958.

 Attitude change, p. 159.

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178 Processos Basicos

pescar corn ele, masGeorge, na realidade,

detesta Jimpessoalmente." (pLx) + (oux) + (p nao-Lo) desequilibrado

"Uma das coisas que

agrada a George arespeito de Jim e que

este nao pertence aoPartido Democrata." (pLo) + (p nao-Lx) + (0 nao-Ux) equilibrado

"A George poucoimporta a filiacao de

J i m no Partido

Democrata."  j(pLo) + (p nao-Lx) + (oUx) equilibrado

A principal contribuicao de Heider para a teoria da coerencia é a sua

introducao do conceito de equilibrio e o inicio das pesquisas nessa area. 0

seu modelo e muito simples e, basicamente, nao vai alem de uma introducaoda ideia de equilibrio.

 Estorco no sentido da simetria. As ideias de Heider foram apresentadas origi-nalmente em seu artigo de 1946. Desde entao, muitos outros investigadoresampliaram esse modelo basic() e preencheram as lacunas de diversas ma-neiras. Uma das principals ampliacOes e aplicacOes importantes da teoria doequilibrio foi a de Theodore Newcomb. 40 Newcomb interessou-se principal-

mente pela atracao interpessoal, e voltaremos a tratar de suas idêias nocapitulo 8 sobre comunicacao interpessoal. A contribuicao de Newcomb e asua aplicacao da hip6tese de Heider a comunicacao. 0 modelo explica o atocomunicativo mais simples possivel, envolvendo duas pessoas, A e B, e seuterra ou objeto de conversacao X. 0 ato comunicativo e concebido, portanto,

como A para B re: X. A e B tem uma relacao matua que envolve diversos grausde atracao entre eles, e tambern tern vArios graus de co-orientacao a respeitode X (re: X). 0 modelo e usualmente ilustrado ern forma triangular, como semostra na Figura 39.41 A para B re: X e urn sistema

fenomenal, significando que évisto como a situacão autoperce-

bida de B em relacao a A, e aatitude percebida de B em rela,cao a X. 0 esforco no sentido da

bida de uma pessoa. 0 sistemafenomenal de

B,

A envolveve

perce

asuapercepcao de a -

s i metria, dentro desse sistema,  A aaumenta corn a necessidade per-

cebida para A e B de manterem o

curso da relacao de atracdo. As varia lveis importantes incluem a intensidadeda atracao entre A e B, a forca da atitude a respeito de X e a freqUencia decomunicacao entre A e B re: X. Embora existam relaceies sem simetria, uma

40Theodore M. Newcomb —The acquaintance process. Nova York, Holt, Rinehart & Winston,1961; "An approach to the study of communicative acts", in Psychological Review, 60, 1953,pp. 393-404.41 Ibid., p. 394.

 A para B re: X

Figura 39

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Teorias de Persuasao e Mudarica 179

necessidade mais forte de co-orientacao (como no caso de uma atracäoelevada) criarA o esforgo no sentido da simetria.

As pessoas tentam enfrentar a assimetria de diversas maneiras, incluindo asseguintes enumeradas por Newcomb:

1. realizar, ou tentar realizar, a simetria a respeito de Xa. influenciando B no sentido da pr6pria orientayao,b. mudando a pr6pria orientacgo no sentido da de B,c. distorcendo cognitivamente a orientacao de B;

2. introduzir mudancas em outras partes do sistemaa. modificar sua atracdo em relacão a B,b. modificar seu julgamento da pr6pria atracao por B,c. modificar a avaliacâo de (atrac go em relacao a) si mesmo (A),d. modificar o seu julgamento da avaliacào de B•sobre si mesmo (B);

3. tolerar a assimetria, sem mudanca. 42

Suponhamos, por exemplo, que dois jovens se apaixonam apOs alguns en-contros. 0 que eles nao sabem a que o rapaz a um fumante ocasional e amoca se opbe veementemente ao fumo. 0 que podera acontecer quando a

 jovem descobrir que seu namorado fuma? Ela podera tentar realizar a simetriaesforcando-se por convencer o rapaz a deixar de fumar, ou passando a aceitarela pr6pria o fumo, ou fingindo acreditar que o namorado renunciou ao fumo.Ou talvez acabe gostando menos do jovem (deixar de sentir amor?); ouanuncie que nä.o mais o ama, ainda que nä° seja verdade; ou passe a gostarmenos de si mesma; ou passe a acreditar que o jovem gosta menos dela.Finalmente, os dois poderao simplesmente viver corn a assimetria.

Aprincipal contribuicao de Newcomb na area do equilibrio a que salientaas inter-relactles entre atitudes para corn as coisas e atitudes para cornpessoas. Esse tema tem sido repetido de diferentes maneiras em todas asteorias da atitude.

0 principio de congruencia. 0 modelo de congruencia foi proposto em 1955por Osgood e Tannenbaum como uma das aplicacees de suas pesquisas sobrea medicao do significado:43 Examinamos ern muito maior detalhe a teoria dosignificado no capitulo 5, mas o principio de congruencia, o qual se aplicaespecificamente a teoria da coeréncia, precisa ser agora resumido. Estdinteiramente de acordo corn a obra de Heider e Newcomb, que a antecedeu,mas amplia esses modelos ao utilizar uma tecnica de medicao e tentar umaprevisào mais exata do resultado. Esse modelo envolve tres elementos basicos:urn individuo que percebe e dois objetos de julgamento. Quando os objetosde julgamento (conceitos, pessoas etc.) se associam mutuamente por umaassercao, entdo resultara congruencia ou incongruencia. Se o julgamento doindividuo que percebe, ou a sua avaliaflo dos dois elementos, for coerente,nesse caso existe congruencia. Mas, se for incoerente, havera pressäo no

sentido de mudanca. 0 tipo de objetos de julgamento pelos quais Osgoodmais se interessou —e aqueles que mais interessam a comunicacdo —éconstituido pelas fontes de comunicacdo (pessoas) e ideias ou conceitos.Assim, o paradigma basico envolve uma fonte associada a urn conceitoatraves de uma assercao. 0 julgamento do individuo que percebe a respeitodo conceito (C) e o seu julgamento a respeito da fonte (5) serdo congruentesou incongruentes. Se forem incongrudntes, a atitude do individuo ern relacdoa S ou a C mudarA, a fim de colocar o sistema ern equilibrio.

42 Ibid., p. 400.43Charles E. Osgood e Percy Tannembaum —"The principle of congruity in the prediction of attitude change", in Psychological Review, 62, 1955, pp. 42-55.

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Figura 40. Situacdes con-gruentes e incongruentes

hipotéticas. Charles Os-

good e Percy Tannen-

baum — "The principle

of congruity in the pre-

diction of attitude chan-ge",

 

in PsychologicalReview, 62, 1955, p. 45.

Copyright ©1955by the

 American Psychological

 Association. Reproduzi-

do corn permissào.

CI

(3)

+3

- f r 2 C) +cO (1 )

+1

0

(2 ) ( S)

180 Processos Basicos

 Antes de prosseguirmos, convém rever rapidamente o sistema de escalasusado por Osgood para medir os julgamentos do individuo que percebe. A

técnica do diferencial semantico, criada para medir o significado, consistenuma serie de escalas de sete pontos, entre os extremos positivo e negativo. Anatureza especifica dessas escalas foi explicada no capitulo 5 deste livro. Por 

agora, so a importante compreender que os julgamentos podem ser escalados

entre os extremos designados por + 3 e — 3. Consideramos essa escala umadimensao avaliatoria do significado, de modo que uma avaliacao favoravel de

uma pessoa ou coisa seria classificada na parte positiva, uma avaliacaonegativa na parte negativa e uma avaliacao neutra seria colocada em zero, no

centro da escala.Na teoria da congruencia, o individuo que percebe (isto é, o sujeito nos

experimentos de Osgood) avalia S e C nessas escalas. Os pesquisadorespredizem entao o grau de mudanca ou desvio nessa avaliacao, baseados na

discrepancia entre as duas avaliacoes. 0 montante de mudanca a uma funcaoda polarizacao ou discrepancia entre os julgamentos, conforme ilustrado nostres casos que se apresentam na Figura 40. 44

No primeiro caso (1) vemos urn exemplo de uma situacao congruente.Fonte (S) e conceito (C) sao julgados muito favoravelmente (+ 2 — nenhumadiferenca). No caso 2, ha uma ligeira discrepancia. A fonte e julgada negati-vamente (- 1) e o conceito ainda mais (- 3). Essa incongruencia cria umatensao no sentido do equilibrio que podera ser resolvida por uma reavaliacaoda fonte numa direcao negativa ou uma reavaliacao do conceito numa direcaopositiva, ou ambas. Se atentarmos para o exemplo 3, poderemos ver que uma

grande discrepancia ou polarizacao cria uma forte tensao para reavaliar afonte e o conceito; e, de fato, ambos podem mudar. Nesse caso, a avaliacao

da fonte mudaria no sentido descendente e a do conceito no ascendente. Na

realidade, quando a discrepancia é deste tamanho, deve ser considerado umfator de incredulidade, como veremos daqui a pouco.

 A Figura 40 podera ser mais facilmente entendida se usarmos urn exemplo

concreto. Suponhamos que urn professor dedica parte de seu tempo na aula,certo dia, a defender o sexo pre-conjugal. Temos aqui tres elementos necessa-

rios: o individuo que percebe (o aluno), o primeiro objeto de julgamento (oprofessor) e o segundo objeto de julgamento (o sexo pre-conjugal). 0 caso 1ilustra um exemplo em que o aluno avalia o professor e o sexo oft-conjugalem termos muito elevados. E uma situacap congruente; a pessoa de quern o

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Teorias de Persuasao e Mudanca 181

aluno gosta esta defendendo urn ponto de vista de que o aluno tambern gosta;

nesse caso, nenhuma mudanca seria prevista. No segundo caso, existe uma

situacao diferente. Nesse caso, o aluno nao tern o professor em grande conta,embora a sua avaliacao nao seja altamente negativa, mas a definitivamente

contrail° ao sexo pre-conjugal (- 3). Nao se trata de uma grande incongruen-cia, mas havera certa pressao para a mudanca. Mudara a atitude do aluno em

relacao ao professor, ou ao terra, ou a ambos. No terceiro caso, temos umexemplo de extrema incongruencia. Urn professor altamente estimado estafazendo uma declaracao favoravel sobre urn terra que o aluno julga demaneira sumamente negativa. Se pusermos momentaneamente de lado o fator 

de incredulidade, é licito prever nos julgamentos do aluno uma mudancasubstancial.

Um dos valores da teoria da congruencia a que ela procura fazer predictiesbastante especificas acerca da direcao e grau da mudanca que ocorrera.Numerosos principios estaio envolvidos nessa predicao. 0 primeiro principio é

o seguinte, transcrito de seus autores:

Sempre que urn objeto de julgamento a associado a outro por uma asser0o, asua posicao congruente na dimensao avaliataria a sempre igual em grau de

polarizano ao outro objeto de julgamento e ou na mesma (...) direcao avaliatO-ria (,..) ou na oposta. 45

Esse principio afirma simpiesmente o que ja dissemos, isto e, que existecongruencia quando ambos os objetos de julgamento sâo avaliados da mesmaforma, como no primeiro exemplo da Figura 40. 0 segundo principio é assim

enunciado:

 A pressäo disponivel total no sentido da congruencia para urn dado objeto de julgamento associado a outro (...) a igual a diferenca (...) entre a sua loca-lizacao existente e a sua localizacao de maxima congruencia. (...)46

Esse enunciado afirma que o montante de pressäo no sentido da congruencia

e igual a diferenca escalar entre as duas avaliacties. Assim, a pressäo para acongruencia é zero no primeiro exemplo, dois no segundo e cinco no terceiro.

0 terceiro principio diz o seguinte:

Em termos de producao de mudanca de atitude, a pressão total no sentido dacongruencia distribui-se entre os objetos de julgamento em proporcão inversaaos seus graus separados de polarizano. 47

Esse principio prediz que as atitudes menos polarizadas ou menos extremasmudardo mais do que as posicties extremas. Reportando-nos ao exemplo dois

da Figura 40, o terceiro principio prey& que a atitude para S mudara maisnuma direcao negativa do que a atitude para C numa direcao positiva. Esse

principio deriva da ideia de que as posicees extremas sdo mais resistentes

mudanca do que as posicties moderadas. 0 principio quatro assim diz:

0 montante de incredulidade produzido quando urn objeto de julgamento estaassoc iado   . a outro (...) uma funcao positivamente acelerada do montante deincongrukcia que existe e atua para diminuir a mudanca de atitude, e liminandocompletamente a mudanca quando maxima. 48

45 p. 45.46 Ibid., p. 46.47 Ibid.48 p. 47.

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182 Processos Basicos

Esse principio introduz a nova variavel de incredulidade no modelo. Napratica, as mensagens incongruentes podem nao ser criveis. No caso de urnprofessor benquisto que defende o sexo pre-conjugal (e que o aluno desa-prova), o aluno podera simplesmente rejeitar a afirmagao de que o professordefendeu tal ideia (o aluno nao acredita na associagao). 0 quarto principioenuncia simplesmente que quanto major for a polarizagao, mais a formuladeve ser corrigida por causa da incredulidade. 0 Quadro 8 ilustra as diferencasentre presseies absolutas previstas no sentido da congruencia e a mudangaprevista de atitude levando em conta a incredulidade. 49

Note-se que, quando a discrepancia entre o julgamento de urn objeto e o deoutro aumenta, a corregao para a incredulidade tambern aumenta. No casoextremo de uma polarizacao +3 / -3, nenhuma mudanga de atitude

prevista.

Congruencia de crenga. Um aperfeigoamento da ideia de congruencia foifornecido por Milton Rokeach como parte de sua mars ampla teoria decrengas, atitudes e valores, sobre a qual falaremos em major profundidademais adiante.5° 0 modelo de congruencia de crenga considera os mesmoselementos basicos que o principio de congruencia, mas relaciona-os de um

modo teoricamente diferente. Uma vez mais, deparamos corn dois objetos de julgamento e um individuo que percebe. Os objetos de julgamento sao osujeito (S) e a caracterizagao (C). Urn sujeito e caracterizado de urn modoespecial numa assergao.

Quadro 8. Corregao para a incredulidade: pressão total no sentido da con-gruencia (numeros superiores) e mudancas previstas de atitude (ndmeros infe-riores) corrigidos para a incredulidade.

Localizacão Localizacão Initial de 0JiInicial de0J 2 +3 +2 +1 0 - 1 -2 -3

+3 0 +1 +2 +3 +4 +5 +60,0 + 0,6 + 1,5 + 3,0 + 2,6 + 1,5 0,0

+2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5-0,4 0,0 +0,7 + 2,0 + 1,8 + 1,3 +0,5

+1 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4-0,5 -0,3 0,0 + 1,0 + 0,9 + 0,7 + 0,4

0 -3 -2 -1 0 +1 +2 +30,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

-1 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2-0,4 -0,7 -0,9 -1,0 0,0 + 0,3 + 0,5 

-2 -5 -4 -3 -2 -1 0 +1-0,5 -1,3 -1,8 -2,0 -0,7 0,0 + 0,4

-3 -6 -5 -4 -3 -2 -1   00,0 -1,5 -2,6 -3,0 - 1,5 - 0,6 0,0

Fonte: Charles E. Osgood e Percy Tannenbaum - "The principle of congruity in theprediction of attitude change", in Psychological Review, 62, 1955, p. 49. Copyright 1955by the American Psychological Association. Reproduzido corn permissao.

Essa caracterizacäo podera ser congruente ou incongruente e, se incongruente,deve ser resolvida por mudanga. Um exemplo usado por Rokeach e o "paiirresponsavel". Temos julgamentos acerca de pars e julgamentos acerca deresponsabilidade. Quando esses dois objetos de julgamento estao justapos-tos, pode resultar incongruencia. Os objetos relacionados numa assergao

49 Ibid., p. 49.

50 Rokeach - Beliefs, cap. 4.

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Teorias de Persuasào e Mudanca 183

tambem podem adotar a forma de pessoas que defendem ou se associam a

coisas ou pontos de vista. Uma vez mais, o professor que defende o sexopre-conjugal proporciona urn born exemplo. No principio de congruencia, a

incoerancia foi julgada em termos da discrepaincia entre as classificacäes de Ce S, os dois objetos de julgamento. No esquema de Rokeach, porem, aincoerancia importante e entre cada objeto de julgamento e o sistema total de

crencas do individuo. Em termos operacionais, o pesquisador mede a dis-crepancia entre a classificacao de cada objeto separadamente e a classificacaoatribuida a CS em combinac5o. Voltando aos nossos dois exempios, umindividuo formular y julgamentos sobre irresponsabilidade e pai, mas a mesmapessoa podera fazer urn julgamento inteiramente diferente sobre  pai irrespon-savel (como conceito gestaltico). A importancia dos dois conceitos conjugados

é uma variavel muito importante no modelo de Rokeach. No segundo exemplo

do professor que defende o sexo pre-conjugal, nao procuramos a diferencaabsoluta entre a classificacao atribuida a professor e a de sexo pre-conjugal.

Estamos interessados, isso sim, na diferenca entre os julgamentos dos objetosseparados e no julgamento global de  professor defendendo osexo pre-con jugal . A Figura 41 ilustra as comparagaes que seriam feitas usando omodelo de congruencia de crenca. Note-se que o julgamento representado em

escala dos dois objetos em combinagäo (CS) ado e uma simples fungäo aditivados julgamentos escalares separados.

Rokeach apurou em testes comparativos que a teoria de congruencia da

crenca e mais exata na previsao de mudanca do que o principio de congruen-cia. A contribuicao do modelo de congruencia a que ressalta a importancia do

sistema total de crencas, criticando a simplicidade do principio de congruen-cia e mostrando as falacias envolvidas na comparacao direta de julgamentossingulares.

 A teoria da dissonancia cognitiva. A teoria da dissonancia cognitiva, de LeonFestinger, constitui indubitavelmente a teoria de coerancia mais significativa e

a de maior impacto. Corn efeito, a uma das mais importantes teorias nahistOria da psicologia social. Gerou uma quantidade prodigiosa de pesquisas

ao longo dos anos, assim como volumes de criticas, interpretaclies e extra-polac iOes. 5i Festinger ampliou o ambito da teoria da coeréncia para incluir uma gama do que chamou de "elementos cognitivos", incluindo atitudes,percepcäes, conhecimento e comportamentos. Dois elementos cognitivos

Figura 41.A incongrue n-

cia, tal como 6 conside-

rada na teoria dacon-gruencia de crenga.

-3

Nota: Neste exemplo, o julgamento do individuo que percebe sobre SC (por exemplo, "pai irres-ponsavel") a significativamente mais importante para o sistema total de crencas do individuo quepercebe do que o julgamento de C (por exemplo, "irresponsabilidade").  essa discrepancia emi mportancia que requer a comparacao de S e C com a Gestalt SC.

51Leon Festinger — A theory of cognitive dissonance. Stanford, California, Stanford UniversityPress, 1957. Para a edicao brasileira, ver a Bibliografia. ) Existem muitos estudos e criticas sobre

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184 Processos Bdsicos

(uma atitude e urn comportamento, talvez) terao uma de tres especies derelacoes. A primeira delas a nula ou irrelevante, a segunda corrente ouconsonante, e a terceira incoerente ou dissonante. A dissonancia e uma rela-cao em que nao se espera que urn element° seja decorrencia do outro. Mas

i mportante sublinhar que a dissonancia nao é uma questa° de relacao logicamas de coerencia psicolOgica, pelo que dissonancia e consonancia devem ser 

sempre avaliadas em termos do sistema psicolOgico de urn individuo. De-vemos sempre indagar o que, para uma pessoa, a consonante ou dissonante

corn o seu sistema psicolOgico. Mais formalmente, Festinger definiu a disso-nancia cognitiva como uma situacao em que o oposto de urn elementodecorrera do outro.

Ha duas premissas dominantes na teoria da dissonancia. A primeira é que a

existencia de dissonancia produz uma especie de tensao ou estresse quepressiona o individuo para mudar, de modo que a dissonancia seja reduzida.Em segundo lugar, quando a dissonancia este. presente, o individuo nao s6

tentara reduzi-la mas evitara situacdes em que possa ser produzida uma disso-nancia adicional. Essas tendencias para reduzir a dissonancia e para evitar a

informacao geradora de dissonancia sac) uma funcao direta da amplitude da

dissonancia presente no sistema: quanto major for a dissonancia, major anecessidade de mudanca. A dissonancia é urn resultado de duas variaveisantecedentes, incluindo a importancia dos elementos cognitivos e o nOmero

de elementos envolvidos na relagao dissonante. Esta Ultima variavel é umaquestao de equilibrio: Quanto mais igual for o nOmero de elementos de cadalado da relacao, major sera a dissonancia. Consideraremos dois exemplos de

uma predicao de baixa dissonancia. Num certo dia, poderemos ver-nos dianteda necessidade de decidir tomar ou nao o café da Suponhamos que

foi combinado urn encontro corn urn amigo para it fazer compras, mas odespertador nap tocou e estamos atrasados para esse encontro. Podemosdeixar o desjejum de ado e chegar na hora combinada ou tomar o café etorradas e chegar com atraso. Decidiremos rapidamente fazer uma coisa ououtra mas, em qualquer caso, resultara uma pequena dose de dissonancia.

Essa dissonancia sera provavelmente pouca porque nao tomar o cafe da.manila nem chegar ao encontro rigorosamente na hora sao muito importantes.

Mas se a situagao envolver chegar atrasado ao trabalho, uma diferente va-Havel estara operando. 0 mais provavel a optarmos por ficar sem o cafe damanha para chegar pontualmente ao emprego. A predicao é a mesma (umapequena dissonancia) mas a rano é diferente. Agora as cartas estao marcadasde antemao; um nOmero de importantes elementos cognitivos acumula-se do

ado "chegar pontualmente ao trabalho" da relacao. Nao so temos urn

sentimento de obrigacao em relacao ao emprego, mas tambern sentimosnecessidade de causar boa impressao em nosso chefe, de despachar umapilha de servico amontoado em nossa mesa desde a vespera e de evitar uma re-ducao no salario.

Com esses conceitos basicos em mente, podemos agora examinar os pro-

cessos que usamos para lidar corn a dissonancia cognitiva. Entendido que adissonancia produz uma tensao para a reducao, podemos imaginar urn certonOmero de "metodos" para reduzi-la. Em primeiro lugar, poderemos mudar umou mais elementos cognitivos. Em segundo lugar, novos elementos poderao

a teoria da dissonancia, incluindo Kiesler, Collins e Miller — Attitude change; Robert Zajonc —"The concepts of balance, congruity and dissonance", in Public Opinion Quarterly, 24, 1960, pp.280-96; Roger Brown —"Models of attitude change", inNewdirections in psychology. NovaYork, Holt, Rinehart & Winston, 1962, pp. 1-85; Roger Brown — Social psychology. Nova York,Free Press, 1965, cap. 11. Para uma exposicäo acessivel que mostra as aplicacoes pthticas dateoria da dissonancia cognitiva, ver Elliot Aronson — The social animal. Nova York, Viking Press,1972, cap. 4. Para urn exame pormenorizado da teoria e pesquisas associadas, ver J.W. Brehm eA.R. Cohen — Explorations in cognitive dissonance. Nova York, Wiley, 1962.

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Teoriasde Persuasão e Mudanca 185

ser adicionados a urn lado ou outro da tensao. Terceiramente, poderemos

acabar vendo que os elementos sao menos importantes do que costumavamser. Em quarto lugar, poderemos procurar informagOes consonantes. Por fim,

poderemos reduzir a dissonancia distorcendo ou interpretando erroneamente a

informacao envolvida. Urn dos exemplos mais comuns de dissonancia cogni-tiva diz respeito ao fumo. Fumar e urn belo exemplo por causa da extensao do

habit() de fumar, conjugado corn a grande quantidade de informagao existentesobre os riscos do fumo para a saale. Isso produzirà inevitavelmente disso-

nancia e, dependendo da importancia do habito e dos valores que a pessoa

atribui a saOde e a vida, essa dissonancia pode ser muito grande. Eis o que urnfumante podera fazer a esse respeito. He podera mudar os elementos cogni-

tivos deixando de fumar ou rejeitando a crenca ern que o cigarro é ruim para a

saóde. Ou podera adicionar novos elementos cognitivos, como filtros. Ai mportancia dos elementos envolvidos na dissonancia podera ser reduzida. Por 

exemplo, o fumante talvez diga que quer desfrutar uma vida de alta qua-li dade, nao uma longa vida. Ou pode procurar informacOes consonantes queapOiem a opiniao de que, no fim de contas, o cigarro nao é tao ruim quantodizem. Finalmente, o fumante podera decidir distorter a informagao recebida,dizendo algo assim: "Pelas provas que o fumo so e nocivo para pessoas

que, afinal de contas, ja sao doentes."Grande parte da teoria e pesquisa sobre dissonancia cognitiva gravita em

torno de vérias situagees ern que é provavel resultar dissonancia. Essassituagees incluem a tomada de decisoes, a obediancia forcada, a iniciacao, o

apoio social e o esforgo. Examinemos cada uma dessas situacees geradoras dedissonancia. A primeira, a tomada de decisoes, recebeu consideravel atencao

dos pesquisadores. Os vendedores apelidaram essa especie de dissonancia de"remorso de comprador". Ou, como diz a sentenga popular, "Agalinha daminha vizinha a sempre mais gorda que a minha". 0 montante de dissonancia

que uma pessoa sofre ern resultado de uma decisao depende de quatrovariaveis, a primeira das quais 6 a importancia da decisao. Certas decisoes,

como a de ficar sem o café da podem ser de pouca importancia eproduzir escassa dissonancia. Mas comprar uma casa, procurar urn novoemprego ou mudar para uma nova comunidade podera envolver urn elevadograu de dissonancia. Asegunda variavel na dissonancia pOs-decisOria e aatracao da alternativa escolhida. Ceteris paribus, quanto menos atraente for aalternativa escolhida, major sera a dissonancia. Quanto mais elevado for ograu de atracao da alternativa nao-escolhida, maior sera tambem a suacontribuicao para a dissonancia sentida pela pessoa. Finalmente, quantomaior for o grau de semelhanga ou justaposigao entre duas alternativas,menor sera a dissonancia. Se tivermos de decidir entre dois carros same-lhantes, o potential de dissonancia sera muito escasso.

 A segunda situagao em que a dissonancia e capaz de resultar e a obediencia

forcada, ou ser induzido a fazer ou dizer algo contrail° aos pr6prios valores econvicgOes. Isso ocorre usualmente por causa de uma recompensa para a

complacancia ou de uma punigao por nao comprazer. A teoria da dissonanciaprediz que quanto menos pressao houver no sentido da complacencia ou doconformismo, maior a dissonancia. Se nos pedirem que fagamos algo de que

nao gostamos, mas nos pagarem generosamente para faze-lo, nao sentiremos

tanta dissonancia quanto se nos pagarem muito pouco. Menos justificagaoexterna (como recompensa ou punicao), mais concentracao na incoeranciainterna, dentro de nos mesmos. Epor isso que, de acordo corn os teOricos da

dissonancia, as pressOes socials "brandas" corn que deparamos podem ser 

muito poderosas para induzir a racionalizagao ou a mudanga.

Outras previsees situacionais sao ainda feitas pela teoria da dissonancia.  A

teoria preve que quanto maior for a iniciagao de uma pessoa num grupo,maior sera o seu envolvimento corn esse grupo; quanto mais apoio social uma

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186 Processos 13Asicos

pessoa receber dos amigos a respeito de uma ideia ou agao sua, major sera a

pressao para acreditar nessa ideia ou agao. Finalmente, quanto major for o

montante de esforcos que empregamos numa tarefa, mais racionalizaremos o

valor dessa tarefa.Em suma, a teoria da dissonancia cognitiva teve um enorme impacto nesse

campo. Conquistou tambem um lugar importante na teoria da comunicagaopor causa do que diz a respeito de mensagens, informagao e persuasao.

Crencas, AtitudeseValores

Uma das mais refinadas teorias recentes no dominio da atitude e mudanca e a

de Milton Rokeach. Ele desenvolveu uma explicacao bastante extensa docomportamento humano, baseada em crengas, atitudes e valores 52 A sua

teoria alicerga-se em teorias passadas e forneceu-lhes algumas ampliageSes

incomparaveis. aludimos a teoria de Rokeach em dois pontos destecapitulo.) Em primeiro lugar, em nossa tentativa de definir atitude, usamos asua distincao entre crenga, atitude e valor. Quando reexaminamos o principio

de congruencia da crenga, assinalamos a importancia do sistema total decrengas. Embora a teoria de Rokeach seja, definitivamente, uma teoria decoerencia, ela propicia uma amplitude de explicacao e predicao muito su-perior a de outras teorias na area, com a possivel excegao da dissonanciacognitiva.

Rokeach concebeu um sistema crenca-atitude-valor altamente organizado,

o qual guia o comportamento do individuo e sustenta o respeito da pessoa por si mesma. Em poucas palavras, ele descreveu o sistema da seguinte maneira:

Todos esses componentes conceptualmente distintos — as inconthveis crencas,sua organizaflo em milhares de atitudes, as muitas dazias de valores terminaishierarquicamente dispostos — estão organizados para formar urn (wi lco sistemade crericas funcionalmente interligadas.53

Crengas sap as centenas de milhares de declarageies(usualmente inferen-cias) que fazemos a respeito do eu e do mundo. As crengas sao gerais ouespecificas, e organizam-se dentro do sistema em fungao de sua centralidadeou importancia para o ego. No centro do sistema de crengas estao aquelas

crengas bem estabelecjdas e relativamente imutaveis que formam de fato avisão nuclear do eu e do mundo. Na periferia do sistema situam-se muitascrengas pouco importantes e passiveis de mudancas. Existem tres hipotesesacerca do sistema de crengas. Em primeiro lugar, os varios tipos de crengas

sao distintos em termos de centralidade-perifericidade. Em segundo lugar,quanto mais central e uma crenga, mais resistente ela é a mudanca. E, em

terceiro lugar, uma mudanca numa crenga central produzira mais mudancas

globais no sistema do que uma mudanca numa crenga periferica.

Existem cinco especies de crengas em posigao de centralidade. As maiscentrais de todas sao as crengas primitivas, com 100% de consenso. E s s egrupo e formado por crengas axiomaticas. As crengas primitivas sao apren-didas por contato direto com o objeto de crenga e sao reforcadas por acordorealmente unanime entre a pessoa e seus pares. Do grupo fazem parte truis-

mos tais como "0 sol brilha", "Com dinheiro posso comprar coisas", "As maes

tem filhos". A segunda classe de crengas, um pouco menos central que aprimeira, é a das crengas primitivas corn consenso zero. Tambem Aso apren-didas por contato direto mas sao particulares e nao-confirmaveis por outras

52 Rokeach — Beliefs; Rokeach — Human values.53

Rokeach — Human values, P.215.

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A yids familiar judaica e afetuosae terna.

Teorias de Persuasão e Mudanga 187

pessoas. Envolvem percepcOes pessoais situadas num dominio totalmentesubjetivo: "Creio em Deus", "Sou UMsujeito estCipido", "Meu filho é urn bomrapaz". 0 terceiro tipo de crencas no sistema e o das crencas por autoridade.As criancas percebem desde cedo que devem confiar nas opiniOes de outrosno estabelecimento de seus prOpriossistemas de crencas. Com as crencasprimitivas, o maximo que podemos conseguir e o aperfeicoamento de nossa

concepcao do mundo. As crencas de autoridade, por outro lado, fornecem-nos respostas as perguntas. "Corn quern devo identifiCar-me?" e "Em querndevo acreditar?". Sao menos centrais do que as crencas primitives e mudam detempos ern tempos. 0 quarto tipo de crencas, decorrentes de autoridade, saoas crencas derivadas. Sao as que recebemos das Pontes em que confiamos.Finalmente, na periferia do sistema de crencas, estdo ascrencas inconsean-

tes,que sac)algo arbitrarias e variaveis. Quando as crencas inconseantesmudam, o impacto total sobre osistema é escasso. QQuadro 9, extraido dolivro de Rokeach, enumera vArios exemplos de crencas. 54

Grupos de crencas organizadas em torno de urn objeto focal e predispondoa pessoa a comportar-se de urn modo particular em relacao a esse objeto sac)atitudes. Se existem centenas de milhares de crencas no sistema, ha talvezmilhares de atitudes, consistindo cada uma delas em certo nUmero de crencasacerca do objeto da atitude. A Figura 42 ilustra a organizacao de uma atitudenuma forma extremamente simples.

Quadro 9. Exemplos de crencas

Tipo A: Crencas Primitivas, Consenso Unanime1. Eu nasci em (lugar de nascimento).2. Eu tenho...anos.3. Meu nome 6...

Tipo B: Crencas Primitivas, Consenso Zero4. Creio que minha mae me ama.5. Sinto, por vezes, urn forte impulso para me matar.6. Gosto de mim mesmo.

Tipo C: Crengas de Autoridade

7.  A filosofia de Adolf Hitler é basicamente correta e sou-lhe inteiramente favordvel.8.  A filosofia do Papa e basicamente correta.9.  A filosofia de Jesus Cristo e basicamente correta.

Tipo D: Crencas Derivadas10.  As pessoas podem ser divididas em dois grupos distintos: as fracas e as fortes.11. 0 controle da natalidade a moralmente condenavel.12. Os dez mandamentos säo de origem divina.

Tipo E: Crencas InconseqUentes13. Penso que o verao é um periodo do ano muito mats agradavel do que o inverno14. Eu nunca passaria por uma porta giratdria se tivesse que escolher.15. 0 lado da cama por onde eu saio de manha influencia realmente o meu estado

de espirito.

Figura 42. Urnexemplosimples (la estrutura de

crencas de uma atitude. 

Gosto de judeus e deceit)conviver corn eles. 

54Rokeach — Beliefs, pp. 26-29.

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188 Processos Bâsicos

Rokeach acredita existirem duas especies importantes de atitude que de-vem ser sempre consideradas em conjunto. Sao elan a atitude para corn oobjeto e a atitude para corn a situagao. 0 comportamento de uma pessoa, emdeterminada situagao, a sempre uma fungao dessas duas atitudes em combi-

nagao. Se uma pessoa nao se conduz em determinada situagao de urn modo

congruente corn a sua atitude para com o objeto, a provavelmente porque a

atitude para corn a situagao nao facilita certo comportamento nesse mo-mento. Urn exemplo comum disco poderia ser o racismo. A atitude do racistapara corn os negros pode dizer: evite-os. Mas a atitude para corn falar cornnegros podera dizer: Nab é socialmente respeitavel ignord-los. Assim, o racistainteratua corn negros, apesar de sua atitude particular negativa para corn eles.

Essa ideia e perfeitamente compativel corn a concepgao de Fishbein, queresumimos antes. 0 ponto principal de ambos esses modelos é que o compor-

tamento consiste numa fungao complexa de conjuntos de atitudes.Essa nogao de duas atitudes amplia a ideia de congruencia de crengas

anteriormente descrita. A mesma formula, concentrando-se na discrepancia

entre a atitude para corn dois objetos de julgamento reunidos e as atitudespara corn esses mesmos objetos separadamente, pode ser adaptada a essahipatese de duas atitudes. Uma vez mais, a variavel significativa na formula

a importancia, porque a Gestalt Unica do objeto-na-situagao é uma fungao daimportancia da associagao. Na teoria de Rokeach, portanto, o sistema consisteern muitas crengas de varios graus de centralidade, as guars combinam para

formar atitudes, predispondo a pessoa a comportar-se de certas maneiras. As

atitudes sao avaliagOes complexas de objetos e situagOes.0 terceiro membro importante do sistema de Rokeach e o conceito de

valor. Os valores ganharam uma importancia crescente nessa teoria. Rokeachacredita ser o mais importante dos tres conceitos na explicagao do compor-

tamento humano. Os valores sao tipos especificos de crenga; sao centrais nosistema e atuam como guias da vida. Existem duas especies de valores:instrumentals e terminals. Os valores instrumentals sac, as diretrizes para aexistència, pelas quais pautamos o nosso comportamento cotidiano. Os va-

lores terminals sao os objetivos fundamentais da vida pelos quais lutamos.Rokeach realizou extensas pesquisas sobre valores. Ele isolou o que considersserem os valores mais comuns em nossa sociedade e desenvolveu urn instru-

mento de classificagao para avaliar os sistemas de valores dos individuos. A

tarefa de classificagao baseia-se na estrutura hierarquica do sistema de va-lores, no qual os valores se classificam por ordem de importancia para apessoa. 0 Quadro 10 enumera os 18 valores terminals e instrumentals isoladosna teoria:55 Os nOmeros nas colunas indicam as classificageles compostas parahomens e mulheres norte-americanos. Um mundo em paz é o mais importan-

te valor terminal para homens e mulheres, e a honestidade o mais importantevalor instrumental. Rokeach empreendeu numerosos estudos corn seu instru-mento e forneceu uma decomposigao das classificagOes hierarquicas de atitu-des em varias categorias de idade, raga e educagao. 56

Outro componente no sistema de crenga-atitude-valor que assume grandeimportancia global é o conceito de eu, o qual consiste nas crengas que umapessoa alimenta a respeito de si mesma. E a resposta do individuo a pergunta

"Quern sou eu?". E muito importante para o sistema porque "a finalidadeessencial do sistema total de crengas de urn individuo, o qual inclui os seus•

prOprios valores, a manter e enriquecer o sentimento de amor-prOprio".57 Assim, enquanto crengas, atitudes e valores constituem os componentes do

sistema, o conceito de eu é a sua meta ou finalidade orientadora. Assim, corn

55 Rokeach — Human values, pp. 57-58.56 Ibid., cap. 3.57 Ibid., p. 216.

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TeoriasdePersuasaoe Mudanga 189

Quadro 10.Classificagóes (cornpostas)de valores para homens e mulheres

norte-americanos.

Valores Homens Mu(hetes

Valores Terminais:Uma vida confortavel 4 13

Lima vida excitante 18 1 8Urn sentimento de realizagalo 7 1 0Urn mundo em paz   1   1Urn mundo de beleza 15 15

Igualdade 9 8

Seguranga da familia 2 2

Liberdade   3 3Felicidade   5 5

Harmonia interior 13 1 2Amor maduro 1 4 14Seguranga national 1 0   1 1Prazer 17 16Salvacao 12 4Respeito prOprio 6 6Reconhecimento social 1 6 17Amizade sincera   1 1 9Experikcia 8   7

Valores Instrumentals:Ambicioso   2 4Espirito aberto 4   5Capaz   A 12

Jovial 1 2 1 0Asseado 9 8Corajoso 5 6Clemente 6 2Solicito 7 7Honesto   1 1I maginativo 18 18Independente 11 1 4Intelectual 15 16LOgico 1 6 17Carinhoso 1 4 9Obediente 1 7 15Cortes 13 13

Responsavel   3 3Autocontrolado 1 0   11

esses quatro conceitos, Rokeach uniu a teoria num todo coeso. No nixie()estão as concepcOes do individuo sobre si mesmo, as quail sdo eminente-mente centrals, e os outros componentes preenchem todo o espaco em volta.

Rokeach é basicamente um te6rico da coerencia. Ele inclui certo ntimero dehipOteses significativas sobre atitudes, crencas e valores mas, em Ultimaandlise, acredita que as pessoas säo guiadas pela necessidade de coerencia, eque a incoerkcia cria uma pressao no sentimento de mudanca. Mesmoquando examina o problema da coerencia, Rokeach amplia a sua base muitopara alem das outras teorias de coerencia. Tomando o sistema total emconsideracao, a questao da coerencia torna-se extremamente complexa. Urnindividuo pode ser incoerente em muitos campos distintos. No todo, existemdez areas no sistema psicolOgico que se inter-relacionam e cont .& o potentialpara a incoerencia. 0 Quadro 11, reproduzido do livro de Rokeach, e umamatriz de todas as relacOes possiveis entre elementos no sistema de crenca-atitude-valor58 Nos blocos da matriz estdo indicacaes das areas de estudo quese concentraram em vArias dessas relacaes. Uma das impressOes significativasque obtemos dessa matriz é o nOmero de blocos vazios que nao foramexaminados de qualquer modo expressivo, segundo Rokeach. He criticou ateoria da coerencia nos seguintes termos:

58 Ibid., pp. 220-21.

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190 Processos Basicos

Nenhuma das teorias examinadas pode ser considerada uma teoria abrangenteda mudanya. Uma teoria abrangente deveria ser idealmente capaz de focalizaras condiyties que levarao tanto a linguagem quanto a mudanya de poucoalcance, a mudanya de comportamento tanto quanto a mudanya cognitiva,mudanya de personalidade tanto quanto asmudanyas cognitivas e comporta-mentais, e a valorizayao ou desvalorizano dos conceitos que a pessoa tern de si

mesma, tanto quanto a sua manutenyao. Urn objetivo primordial deste livroconstruir uma estrutura teOrica que, esperamos, se concentre nessas questoes eque tente, pelo menos, eliminar o hiato existente entre as varias teorias dapersonalidade, psicossociais e do comportamento, as quais, em sua major parte,se ignoram umas as outras.59

 Alem disso, Rokeach acredita que as incoerencias mais importantes no sis-tema psicologico de uma pessoa sao as da linha A, envolvendo cognicties arespeito do eu. Somente quando as incoeréncias envolvem a concepcao do eu

e que havers mudancas significativas e duradouras. A razao disso a que tais

contradiyOes aumentam a insatisfacao pessoal. Dada que a manutencao doamor-prOprio é a finalidade suprema do sistema psicolOgico, é natural que issoassim seja. A teoria de Rokeach do sistema atitude-crenca-valor a complexa e

extensa. So pudemos dar aqui dela urn esboco. Abandonaremos agora a areada coerencia e passaremos a outra area no dominio da atitude e persuasao.

Teoriado julgamento Social

Embora o grande impulso das teorias de coerencia de atitude e mudanya de

atitude tenha ocorrido na decada de 1950, a teoria do julgamento socialrecebeu a maioria de suas obras na decada seguinte. 0 estudo de campo da

atitude e persuasao necessitava francamente de uma concepcao renovadora, ea teoria do julgamento social preencheu essa necessidade. Ela é principal-mente a abrade urn psicOlogo social, Muzafer Sherif, embora muitos outros e

destacados investigadores tenham contribuido para o seu desenvolvimento.60Essa teoria encontra suas raizes nas anteriores pesquisas psicofisicas, nas quaisas pessoas eram testadas em sua capacidade para julgar estimulos fisicos.

Usando esse paradigma como uma analogia, Sherif interessou-se em investigar o modo como objetos nao-fisicos ou estimulos sociais sao julgados peloindividuo, e apurou que muitos dos mesmos principios da psicofisica tambem

eram valiclos para o julgamento social.

Sherif e seus colegas descobriram que os julgamentos individuals de coisas e

pessoas sae altamente situacionais e dependem muito da orientacao inicial

da pessoa em relacao ao mundo. Na literatura psicofisica mostra-se que as

pessoas formulam julgamentos sabre coisas baseadas em pontos de referencia.Suponha-se que estamos envolvidos numa situacao experimental em que nos

pedem para julgar o peso relativo de cinco objetos. Em que baseariamos onosso julgamento? Se o experimentador nos entregar urn peso e nos disser que

tern dez guiles, faremos primeiro o reconhecimento tatil do peso de referenciae depois formularemos julgamentos acerca dos outros objetos, baseados naexperiencia cinestêsica recebida do peso conhecido. Nesse caso, o pesoconhecido funcionara como um ponto de referencia e influenciara decisiva-mente o nosso julgamento de outros pesos. De fato, cam um diferente peso

inicial, julgariamas os mesmos objetos diferentemente. Para demonstrar essa

59 Ibid., p. 224.

60A primeira obra de grande envergadura nesta area foi Muzafer Sherif e Carl Hovland — Social judgment. New Haven, Yale University Press, 1961. Mais recentemente, Muzafer Sherif, CarolynSherif e Roger Nebergall — Attitude and attitude change:thesocial judgment-involvement approach. Filadelfia, Saunders, 1965. Para uma breve descricao da teoria, ver Sherif —Socialinteraction-process and products. Chicago, Aldine, 1967, caps. 16, 17 e 18. Também existemmuitas fontes secundarias; ver, por exempla, Kiesler, Collins e Miller — Attitude chang.., cap. 6.

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Teorias de Persuasclo e Mudanca 191

Quadro 11,Matriz de relagäes contraditdrias possiveis, dentro do sistema total de crengas.

Organizagdo de:  A 8 

A. CognicOes

sobre o eu Psicanalise

Terapia Terapia Grupos deracional nao-diretiva encontro

Terapia da Grupos derealidade diagnOstico

Desempenho Psicodramado papel

emocional

B. Sistema de valores terminais Coerenciacogn itivo-afetiva

C. Sistema de valores instrumentaisMotivacdo

para arealizacao

D. Sistema de atitudes Teoria da Teoria docongruancia equilibrio

Congruancia decrencas

E. Atitude Analise Teoria da Comunicacao esilogistica de dissonAncia persuasao

atitudes Teoria da Teoria daatribuicao inoculacao

Teoria daassimilacao e

contraste

F. CognicOes sobre o prOprio comportamentoModelagem eaprendizagemobservacional

G. Cognicôes sobre as atitudes de outros significativos

H. CognicOes sobre valores ou necessidades de outros significativos

I. Cogniciies sobre o comportamento de outros significativos

J. CognicOes sobre o comportamento de objetos nao-sociais

Fonte: Milton Rokeach — Beliefs, attitudes and values: a theory of organization and change. Sao Francisco, Jossey-Bass, 1969. Emparte

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192 Processos Básicos

ideia de pontos de referencia, o leitor podera tentar agora mesmo urn

experimento muito simples. Coloque a sua frente tres bacias. Encha a primeira

corn agua quente, a segunda corn agua fria e a terceira corn agua tepida.Coloque uma das macs na agua quente, a outra na agua fria e, algunsmomenfos depois, coloque as duas maos na bacia do centro, corn agua

morna. As suas percepcOes da agua nessa bacia do meio sera° diferentes paracada mao, porque cada mao teve uma referencia diferente.

Sherif raciocinou que fenOmenos semelhantes agiriam no julgamento de

mensagens de comunicacao. Na percepcao social, os pontos de referencia saointernos; baseiam-se na experiencia passada. 0 ponto de referencia interno

esta sempre presente e influencia o modo como uma pessoa responde emcomunicacao corn outras. Quanta mais importante a questa° é para o ego da

pessoa, maior sera a influencia exercida pelo ponto de referencia sobre o que

ela compreende.Examinaremos agora os conceitos centrais da teoria de julgamento social.

Esses conceitos incluem a latitude de aceitagdo, a rejeicao e o não-envolvi-

mento. Num experimento de julgamento social, e dado ao sujeito um grande

nómero de declaracOes sobre determinada questa°. Pede-se-Ihe depois quereparta essas mensagens ern grupos, de acordo corn a semelhanca de posicao.0 sujeito podera usar quantos grupos quiser. Ele ordenara entao esses gruposern termos de posicao numa escala negativa-positiva, e indicara quais desses

grupos sao aceitaveis para ele, pessoalmente, quais sao inaceitaveis e quaisIhe sac) neutros. A primeira indicacao mede a latitude de aceitacdo, a segundaa latitude de rejeicao e a terceira a latitude de nao-envolvimento. Podemosver que urn individuo abordara da mesma forma as mensagens da vida real.

Embora uma pessoa tenha uma atitude particular sobre a questa°, havera umaserie de declaracOes, pro ou contra, que a pessoa pode tolerar; haveratambem uma gama de declaracOes que ela nao pode aceitar.

Outro importante conceito relacionado corn o julgamento social é o envol-

vimento do ego. Pensava-se antes que uma atitude a medida primordialmente

em termos de valencia (direcao, pro ou contra) e o grau de concordancia oudiscordancia. Mas Sherif demonstrou que o envolvimento do ego é particular-mente significativo, sem levar em consideracao qualquer dessas outras duasdimensOes da atitude. 0 envolvimento do ego é o grau ern que a atitude de

uma pessoa em relacao a alguma coisa afeta o seu conceito de eu. E uma

medida da importancia que a questa° tem para o individuo. Por exemplo,podemos achar veementemente que o use de maconha deveria ser retirado da

lista de crimes, fundamentados no copioso material lido em abono desseponto de vista. Assim, teriamos uma forte atitude positiva ern relacao adescriminalizacao da maconha, mas o nosso envolvimento do ego pode ser 

muito baixo, se a nossa vida rid° é afetada pela questa°. Mas se fassemos urn

fumante habitual da droga e tivessemos lido detidos pela posse de maconha,o nosso envolvimento do ego seria muito elevado, sem dOvida alguma. A

qualidade de envolvimento do ego apresenta grandes diferencas no modocomo respondemos a mensagens relativas a questa°. Existe uma correlacaorelativamente elevada entre envolvimento e extremidade, mas Fla° é uma cor-

relacao perfeita. De fato, é ate possivel uma pessoa ser neutra sobre uma

questa° e, no entanto, ter o seu ego altamente envolvido.

Vejamos agora o que a teoria do julgamento social tern a dizer sobre oprocesso de comunicacao. A teoria do julgamento social é, realmente, umabela contribuicao para o nosso entendimento da comunicacao, porque explica

dois importantes comportamentos das audiencias ao receberem mensagens.Em primeiro lugar, sabemos pela obra de Sherif que os individuos julgarao a

favorabilidade de uma mensagem baseados ern seus prOprios pontos dereferencia internos no tocante a posicao e ao desenvolvimento do ego. Numa

dada questa°, como a descriminalizacao da maconha, uma pessoa distorcera

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-Pr 

Sr 

LR a LA LNC LRaO

LA LNCL A LNC L R

Teorias de Persuasao e Mudanca 193

a mensagem por contraste ouassimilacao. 0 efeito de contraste ocorrequando urn individuo julga uma mensagem mais distante de seu prOprio pontode vista do que realmente esta. 0 efeito de assimilacao ocorre quando apessoa julga a mensagem mais prOxima do seu ponto de vista do querealmente esta. A Figura 43 ilustra as condicoes em que . ocorrerao a assi-

milacao e o contraste.Basicamente, apurou-se que, quando uma mensagem esta relativamenteprOxima da nossa prOpria posicao, ela sera assimilada. No caso de mensagensrelativamente distantes, ha probabilidade de que ocorra o contraste. Essesefeitos de assimilacao e contraste sao acentuados pelo envolvimento do ego,conforme ilustrado na Figura 43. Em suma, portanto, a comunicacâo é afetadapor assimilacao ou contraste no julgamento de ouvintes e leitores.

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Figura 43. Distorcdes

teoricamente previstas

em julgamentos da posi-

cgo e mudancas nas lati-

tudes de nao-envolvi-mento erejeicao, sobtrës niveis de envolvi-mento do comunicador.

(Extraido de Kiesler, Col-lins e Miller — Attitudechange. John Wiley &

Sons, 1969. Corn per-

missao.)

LA = Latitude de aceitacão —Julgamento "correto" desapaixonadoLNC = Latitude de nao-compromissoLR = Latitude de rejeicao Julgamento teoricamente previsto

A segunda area em que a teoria do julgamento social auxilia o nosso en-

tendimento da comunicacao e a da mudanca de atitude. As predicães feitaspela teoria do julgamento social sao as seguintes: (1) As mensagens que seenquadram na latitude de aceitacao facilitam a mudanca de atitude. (2) Se apessoa julga que uma mensagem se situa dentro da atitude de rejeicao, amudanca de atitude sera reduzida ou inexistente. De fato, urn efeito debumerangue podera ocorrer, ern que a mensagem discrepante reforca real-mente a sua prOpria posicao sobre a questa°. Entretanto, uma vez que amensagem tenha atingido a latitude de rejeic-ao, nao sera esperada qualquermudanca. (4) Quanto maior for o envolvimento do prOprio ego na questa°,maior a latitude de rejeicao, menor a latitude de nao-envolvimento e, assim,menor a mudanca de atitude esperada. Em resumo, a teoria de julgamentosocial prey& uma relacao curvilinear entre discrepancia e mudanca de atitude,conforme indicado na Figura 44.

A respeito do nosso exemplo de descriminalizacao da maconha, imagi-nemos que duas pessoas recebem a mesma mensagem contraria a essamedida. Suponhamos que a oposicao a essa mensagem e apenas moderada. Apessoa mimeo> um acredita que a posse de maconha nao devia ser crime;a pessoa niimero dois a francamente favoravel a descriminalizacao e seu egoesta altamente envolvido. Essas duas pessoas, embora ambas se encontrem dolado positivo da descriminalizacao, reagiriam de modos muito diferentes amensagem contraria a tal medida. 0 primeiro individuo teria uma amplalatitude de aceitacao, uma latitude relativamente ampla de nao-envolvimentoe uma latitude muito escassa de rejeicao. Em outras palavras, ele esta aberto acomunicacOes que väo do positivo ao negativo sobre a questa°. Poderemosprever que a primeira pessoa seria influenciada para mudar sua posicao na

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Figura 44. Reiagäo te6ri-

ca entrediscrepancia e

rnudanca.

194 Processo:s13,isicos

direcao da mensagem -A segunda pessoa, por outro lado, teria provavelmente

uma ampla latitude de rejeiedo. 0 seu envolvimento do ego facia corn que elarejeitasse quase todas as mensagens'discrepantes da sua. Como a latitude de

rejeicao é ampla na segunda pessoa, a maioria das mensagens nao seria

aceita e nao se poderia prever nesse caso uma mudanca de atitude.

Mudanna deatitude

0 Problema da Persuasibilidade

Urn dos mais prolificos programas na area da persuasdo foi o Programa deComunicacdo e Mudancas de Atitude de Yale, levado a efeito principalmente

na decada de 1950. Uma das mais interessantes areas de investigaedo queresultou dessa serie de estudos foi a trabalho sabre persuasibilidade. 61 A metado programa de Yale era descobrir de que modo operam numerosas variaveis

de comunicacdo na situacdo de mudanca de atitude. Os investigadoresformularam a hipotese de que, alem das variaveis especificas, vinculadas

comunicacdo e afetando a persuasdo, tambem existem certas dimensäesgenêricas de persuasibilidade. Essa hipotese nasceu da 'dela relativamente

aceita pelo senso comum de que certas pessoas sao mais faceis de persuadir 

do que outras, seja qual for o tapico ou a situaedo.

0 modelo ilustrado na Figura 45 descreve, em linhas gerais, os principaistipos de variaveis de persuasdo que tern sido investigados de tempos emtempos

62,

Esse modelo e uma excelente descried° das variaveis antecedentes,intermedias e conseq0entes no paradigma de persuasdo. 0 modelo comeca

do lado esquerdo corn os estimulos de comunicacao observaveis e termina do

lado direito corn varios generos de efeitos de persuasdo. Os dois blocosintermedios sao particularmente interessantes, pois concentram-se nos fatores

de mediacao e predisposicao entre antecedente e conseq0encia. Como ve-remos daqui a pouco, essas variaveis sao extremamente importantes para secompreender a persuasdo, pois ocorrem no interior da pessoa e facilitam ou

inibem a persuasdo. De especial interesse na Figura 45 é o pequeno bloco no

topo da segunda coluna, denominado "livre de comunicacao" (communica-tion-free). Admite-se a hipotese de que as pessoas variam em termos de sua

persuasibilidade geral, independentemente de qualquer dos outros fatoresespecificos, relacionados cam a comunicaedo.

 A pesquisa original nessa area tentou descobrir varios correlatos de persuasi-bilidade da personalidade. Os pesquisadores queriam saber que espècie de

61Irving Janis, et a/. —Personality and persuasibility. New Haven, Yale University Press, 1959.62

 Ibid., p. 4.

L.A. L.R.

Discrepancia

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Teorias dePersuasao e Mudanca 195

 pessoatende a ser persuadivel ou nao-persuadivel. Mas, corn raras exceceies,como o sexo, essa linha de pesquisa entrou num beco sem Saida. Tornou-sepenosamente Obvio que a persuasibilidade a uma questa. ° mais de processorinternos do que de trews. Apersuasibilidade e, segundo parece. ulna questa°complexa que envolve interacäes particulares entre as diversas variaveismediadoras. Na tentative de fornecerem uma direcao mais clara para a

pesquisa, Irving Janis e Carl Hovland desenvolveram uma teoria da persuasi-bilidade, procurando explicar a complexibilidade do problema entre mans 63

Estimulos de Fatores de Processos Efettos decomunicagao prechsposicao mediadores comunicacaoobservaveis • internos observaveis

r   - _7Situacao de Lh/re de comunicacao

comunicagao   ( Pecs ua si bi I id ade gerall l Mudanpade atitude

Caracterfsticasdo conteado:

T6pico — conteadodas conclusOes

 Apelos

r Vinculado acomunicacao Mudanca de

percepcao

 Argumentos

Caracteristicasestilfsticas

Vinculado ao contend°

Vinculado ao topic°Vinculado ao ape/o AtencaoVinculado ao argumentoVinculado ao ectdo

Caracteristicasdo comunicador:

Mudanca depercepcão

PapelFiltaceesI n ter -1 0es

Vinculadoao comunicador  Compreensac,

i

Mudancade a fetolemocaol

Caracteristicasdo vefculo:

Interacao diretaversus indireta

Modalidade sensorial   I   I

I   I

Vinculadoao velculo

mfdia)

Aceitacao

 Ambientesituacional:

Mudancade acäo

Coniexto socialEstimulos externos

nocivosEstimulos externos

aqradaveis

Vinculadoa situapão

L  - - - - - - - - -   _ J

L _JL

As categories e subcategories Mao säo necessariamente exaustivas, mar pretendem destacaros principals tipos de variaveis de estimulo que desempenham urn papel na producao demudancas em atitudes verbalizaveis.

Esses autores formularam a hipótese de que os individuos variam em suasaptidOese niveis demotivagfio para processar mensagens. 0 receptor da

comunicacao possui graus variaveis de aptidao em quatro areas de recepti-vidade: atencao, compreensào, antecipacao e avaliacao. A atengdo envolve aconcentracao nos estimulos de comunicacao. A compreensão refere-se aoentendimento da mensagem. Antecipacäo envolve a capacidade de imaginarou ensaiar mentalmente a aceitacao de mensagens. A avaliacaorefere-seAapreciacao meticulosa dos argumentos e a identificacao das tentativas demanipulacao. Essas quatro aptidoes estao agrupadas de duas maneiras. Os au-tores colocaram primeiro a atencao e compreensaoha categoria de fatores deaprendizagem, e a antecipacdo e avaliacao coma fatores de aceitagdo, Assim,

63 Ibid., cap. 12.

Figura 45.Principais fa-totes na mudanca de ati-

tude produzidapor meioda comunicacäo social.

(Irving Janiset al. —

Personality and persuasi-bility. New Haven, YaleUniversity Press, 1959.

 Reproduzidocoin per-

missäo da editora.)

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196 Processos Basicos

as primeiras duas aptidoes relacionam-se corn o grau de entendimento ouaprendizagem que ocorre apOs a recepcdo de uma mensagem. As segundasduas aptidoes relacionam-se corn o grau em que o receptor aceitara ourejeitard o ponto de vista expresso na mensagem. A segunda classificacaoagrupa as primeiras tres aptidoes (atencdo, compreensao e antecipaceio) Como

aptidoes facilitadoras. A avaliacao e considerada inibitOriapara a persuasão.Ern termos simples, as aptidoes fortes para prestar atencdo, compreender eantecipar facilitardo a mudanca, ao passo que uma forte aptiddo para avaliaratuare contra a mudanca.

E claro, as aptidoes por si sos nä° determinarao o grau em que a atenceo,compreensdo, antecipacdo e avaliacao ocorrereo. Como a pessoa deve nao soestar apta a fazer essas coisas mas ser motivada . para faze-las, as aptidoes e osmotivos sac) sempre considerados em conjunto na previsào da persuasibili-dade. Se os motivos para prestar atencdo, compreender, antecipar e avaliar(ou nao) se. ° crônicos, eles sâo importantes, de fato, na pesquisa da persuasi-bilidade geral. A Figura 46 e uma tabela de contingencia que descreve as variascombinacOes possiveis de aptidoes e motivos em persuasdo. Essa é a minhatentativa de ilustrar a descricao de Janis e Hovland das inter-relacOes entre osfatores mais basicos no modelo. Os pressupostos dos teOricos, relacionadoscorn a Figura 46, sdo os seguintes: (1) Uma deficiencia nas tres aptidoesfacilitadoras fare declinar a persuasibilidade. (2) Uma deficiencia na aptidaode avaliaceo aumentare a persuasibilidade. (3) A baixa motivaceo para usaraptidoes facilitadoras resulta em persuasibilidade mais baixa. (4) A alta mo-tivacão para usar asaptidoes facilitadoras resulta em persuasibilidade mais ele-vada. (5) A alta motivaceo para avaliar redunda ern persuasibilidade maisbaixa. (6) Quando todas as quatro aptidoes se . ° adequadas e o nivel crenico demotivaceo e moderado, o individuo sere seletivo, discriminat6rio e flexivel,em termos de resposta as mensagens persuasivas.

Essa teoria concebe a persuasibilidade Como uma condiceo, Mao urn traco.Ela pode ser causada por qualquer nOmero de interacifies entre fatores de

predisposicao e de mediacao. Se a persuasibilidade nao é urn tipo singular,entâo devem existir verias espécies possiveis de persuasibilidade, dependendoda combinacâo Unica de fatores presentes na pessoa persuadivel ou nao-persuadivel. 0 Quadro 12 descreve dez desses tipos.64

Aoanalisarmos a teoria de Hovland e Janis, devemos compreender que setratou da primeira tentativa para sistematizar uma abordagem cuja finalidadeé a estruturageo da pesquisa. Num tratamerito mais recente, William McGuireampliou ainda mais a complexidade da questdo da influenciabilidade. 65 Assi-

Aptidoesfacilitadoras

Apt's'besinibicioras

Altas Mathas Baixas Altas Macitas Baixas

cn

o?0

Elevados Persuadivel -Naopersuadivel

N50-persuadivel Persuadivel

Moderados Adaptativo Adaptativo

Ba xosNho-persuadivel

Não-persuadivel

N50-persuadivel Persuadivel Persuadivel Persuadivel

64 p. 267.65

McGuire —"The nature of attitudes". Ver tambern William McGuire —"Personality andsusceptibility to social influence", in Handbook of personality theory and research, organizadopor E.F. Borgatta e W.W. Lambert. Chicago, Rand McNally, 1967; "Personality and attitudechange: an information-processing theory", in Psychological foundations of attitudes, organi-zado por Anthony G. Greenwald, Timothy C. Brock e Thomas M. Ostrom. Nova York, Aca-

demic Press, 1968, pp. 171-95.

Figura 46. Combinaceies

deaptidoes e motivos,

na medidaem que se re-

lacionam corn a persua-

sibilidade.

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Teorias de Persuasao e Mudanca 197

nalou McGuire que a persuasibilidade é realmente parte de uma consideracaomais ampla da influenciabilidade geral, seja na forma de persuasao, confor-mism°ou sugestionabilidade. Alem disso, a questa° e importante porquetambern sugere a existencia de diferengas individuals significativas, em termosde ser influenciado de situaceo para situacAo.

la vimos que a influenciabilidade é a conseqUencia de um relacionamentocomplexo entre diversas variaveis na pessoa. McGuire contribuiu subseqUen-temente para esse ponto de vista ao definir os principais principios envolvidosnessas relacoes mediacionais. Ele descreveu cinco desses principios, os quaisse° importantes para o nosso exame, porquanto ilustram, uma vez mais, que apersuasáo — na verdade, a comunicaceo — dificilmente pode ser consideradauma simples relacao de causa e efeito.

0 primeiro principio de influenciabilidade e o principio de mediagão. Esseprincipio relativamente simples reafirma o que dissemos repetidamente acima,isto é, que a persuasibilidade e mediada por certo nemero de variaveisintervenientes. Nao se pode entender a relacão entre personalidade e per-suasibilidade sem considerar as formas como varios fatores de personalidadeafetam mediadores tais como a inteligencia, a idade, o amor-preprio e a

ansiedade.

Quadro 12. Apresentagão esquemática de perfis primarios de persuasibilidade.

Fatores de Aprendizagem

 Atencão Compreensao

 Aptidoes* Motivos  Aptidoes Motivos

Fatores de Aceitacâo

Antecipacâo Avaliacao

 Aptidoes Motivos  Aptidoes MotivosInfluencia fortemente

1. Credulidade motivada  A M  A M   A M  A InibitOrios2, Credulidade insensata  A M  A M   A M Baixas M3

Aquiescencia motivada  A M  A M   A Fortes  A MRelativamente livres deinfluência

4. Negativismo critico  A M  A M   A M  A Fortes5. Rigidez motivada  A M  A M   A InibitOrios  A M6 Deficikcia

aperceptiva A M  A M Baixas M  A M

7. Obtusidade motivada  A M  A InibitOrios   A M  A M8. Deficiencia verbal  A M Baixas M   A M  A M9. Desaten45o motivada  A InibitOrios  A M   A M  A M

10. Deficiència de atencão Baixas M  A M   A M  A M

O segundo principio é o dacompensagão. Esse principio afirma que vatiosfatores mediadores terao efeitos opostos, tendendo assim a compensar-se ouneutralizar-se mutuamente. Urn importante corolario do principio de corn-pensacäo e que os niveis intermedios das variaveis elevam ao maxim° ainfluenciabilidade. A razäo disso esta ern que, quando determinada pessoaapresenta urn nivel elevado numa variavel, urn nivel compensatoriamentebaixo em outra .variavel podera neutralizar o efeito da primeira. Mas todas asvariaveis mediadoras relevantes se combinam em nivel Otimo na faixa inter-media. A Figura 47 ilustra urn exemplo hipotetico do que podera acontecer apersuasibilidade corn a variacao ern duas variaveis mediadoras compensate-

* A letra "A" e usada nas colunas que representam aptidoes para indicar um nivel adequado (acima donivel minimo requerido para responder a grande maioria de comunicacdes no meio social). A letra "M"usada quando os motivos se situam em nivel medio (nem tao forte para facilitar a hiper-receptividade indis-

criminada nem tao fraca que facilite a hiporreceptividade a comunicacão persuasiva).

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198 Processos Basicos

rias. Nesse exemplo extremamente simplificado, partiremos do principio deque existe uma relacao inversa entre idade e ansiedade. Entretanto, como aidade esta hipoteticamente associada a urn nivel inferior de persuasibilidade,a idade compensara os efeitos da elevada ansiedade. Somente quando existeurn nivel intermedio em ambas as variaveis é que a persuasibilidade sera maxi- •

ma. Assim, a relacao de ansiedade e idade (consideradas em conjunto) cornpersuasibilidade seria curvilinea; as pessoas mais persuadiveis seriam modera-damente idosas e moderadamente ansiosas.

Idade Ansiedade

Idade e ansiedade juntas

Figura 47. Relaccies hi-

 potéticas entre duas va-riaveise persuasibilida-de.

Persuasibilidade

maxima persuasibilidade

Baixo Alto

Niveis de Variaveis

0 terceiro principio e o chamado principio de ponderagdo situacional, oqual afirma que os tipos de situacties de influencia (sugestionabilidade, con-

formismo e persuasibilidade) produzem diferentes graus de receptividade damensagem. Por exemplo, a sugestao envolve mensagens simples que nä° sac)muito dificeis de entender ou examinar. Portanto, as pessoas rid() diferem mui-

to no grau ern que sac) receptivas as mensagens de sugestao. Contudo, as

mensagens de persuasào, incluindo argumentos potencialmente complica-

dos, requerem graus variaveis de aptidao. Assim, as pessoas diferem consi-deravelmente ern sua receptividade a tais mensagens.

Ern quarto lugar, o principio de conglomeracäo afirma que as variaveis dediferenca individual se conglomeram em sindromes. Outra maneira de dizer isso a que as variaveis mediadoras, dentro de uma pessoa, se correlacionam

entre si de modos diferentes. Por exemplo, alguns pesquisadores apuraram que

o amor-prOprio se correlaciona negativamente corn a persuasibilidade. Mas,

como o amor-prOprio se correlaciona de modo diferente corn outras variaveis

tais como a depressao e o retraimento, o investigador nao pode realmenteentender o efeito liquido do amor-prOprio sobre a persuasibilidade sem saber 

primeiro como ele se inter-relaciona corn as outras duas variaveis. Supo-nhamos, por exemplo, uma pessoa que.tern escasso amor-prOprio e e depri-

mida e retraida. Uma tal pessoa nao se exporia a muitas mensagens comuni-

cativas e, por conseguinte, seria urn sofrivel receptor de mensagens, redu-zindo a persuasibilidade.

Finalmente, temos o principio de interacdo, o qual preve que as variaveismediadoras na pessoa, as quais criam diferencas individuais de persuasibili-dade, interatuam corn outras variaveis de comunicacao externas, coma a fonte

e a mensagem, a fim de determinar a verdadeira mudanca final. Este Ultimo

principio, a claro, ref uta a existencia de urn fator de persuasibilidade estri-

tamente geral. 0 que tudo isso significa para a nossa compreensao da

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Teorias de Persuasao e Mudanga 199

persuasao e persuasibilidade e que o grau em que uma pessoa a influenciada

por uma mensagem persuasiva depende do nUmero de inter-relacOes especi-

ficas entre os fatores, dentro dessa pessoa. Talvez nunca consigamos descobrir fortes correlatos singulares de persuasibilidade por causa do grande niimero depossiveis combinacäes Unicas de variaveis de diferenca individual na pessoa.

 Assim, a abordagem mais fecunda parece ser a definicao dos principios gerais

envolvidos no processo, como fez McGuire, e a formulacao hipoteticatipos especificos de persuasibilidade, como fizeram Janis e Hovland.

ATeoria da Inoculacdo

Examinamos neste capitulo uma vasta gama de teorias relacionadas corn apersuasao e a mudanca de atitude. Essas teorias ocupam-se dos värios modoscomo as mensagens persuasivas afetam os individuos que recebem a comuni-

cacao. Uma area relacionada corn a persuasao e que ainda nao abordamos é ada inducao de resistencia a persuasao. Trata-se de urn interesse bastantepragmatic°, pois, seeverdade que as pessoas sac) afetadas diariamente por mensagens persuasivas, entao vale a pena tentar descobrir o modo como as

pessoas podem tornar-se mais resistentes a persuasao. McGuire reexaminou osvários metodos indutores de resistencia que foram estudados ao longo dosanos 66Talvez a teoria mais popular nessa area (e, diga-se de passagem, a

mais desconcertante das abordagens) seja a teoria da inoculacao, do pr6prioMcG uire.67

 A teoria da inoculacao usa a analogia da imunizacao biologica. McGuiredescreveu essa analogia nos seguintes termos:

Na situacao biologica, a pessoa torna-se tipicamente resistente aos ataques dealgum virus mediante sua exposicào prèvia a uma dose enfraquecida do virus.Essa dose moderada estimula as suas defesas, de modo que a pessoa ficara maiscapacitada a superar qualquer ataque virOtico macico a que esteja ulteriormenteexposta, mas nao sera uma dose tao forte que essa mesma exposicao prèviavenha a causar a doenca. 68

Para usar a analogia de maneira mais apropriada, McGuire so considerouaqueles temas de crenca que sao relativamente "isentos de micrObios". Taiscrencas sap os truismos culturais, os quais sao aceitos tao amplamente numa

sociedade que as pessoas raras vezes ou nunca se véem expostas a argumentoscontra eles. Urn exemplo de truismo cultural é: "E uma boa coisa escovar os

dentes depois das refeicees." McGuire afirmou ser duvidoso que a inoculacao

possa ser eficaz contra crencas discutiveis que sao controvertidas e aberta-mente debatidas.

 A razao basica por que as mensagens que se opOem a truismos culturais

podem ser eficazes e que o individuo, nunca tendo ouvido qualquer contro-versia sobre o assunto, sera incapaz de mobilizar as defesas requeridas para

resistir a persuasao. Considerando uma crenca irrefutavel, a pessoa nunca esta

motivada para desenvolver tais defesas. 0 que a inoculacao pode fazer peloindividuo a fornecer-Ihe essa motivacao necessaria. SO quando acredita queurn truismo pode ser atacado é que a pessoa se entrega a tarefa de o defender.

Passemos agora as principais hipOteses da teoria de McGuire 6 9 Em primeirolugar, McGuire concebeu duas espêcies de inoculacao: a refutatOriae a

66McGuire —"The nature of attitudes".67Ibid. Ver tambem William J. McGuire — "Inducing resistance to persuasion: some contem-

porary approaches", in Advances in experimental social psychology, organizado por L. Berko-witz, Nova York, Academic Press, 1964, pp. 191-229. Para uma boa fonte secundaria, ver Kiesler,

Collins e Miller — Attitude change, cap. 3.68McGuire —"Inducing resistance', p. 200.69 Apoiei-me na organizacäo fornecida por Kiesler, Collins e Miller —  Attitude change.

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200 Processos Basicos

sustentadora. A inoculagäo sustentadora envolve urn tratamento previo emque sdo fornecidos ao individuo argumentos que sustentam o truismo. Nocaso de escovar os dentes, seriam dados argumentos favoraveis a   , essa praticahigienica. A inoculagäo refutatoria envolve, primeiro, um ataque ao truismo,seguido de uma ref utacão ao ataque. Uma defesa refutatOria, na area da satidedentaria, alinharia primeiro uma sêrie de argumentos contra a pratica regular de escovar os dentes e, depois, tal argumentagdo seria demolida. A primeirahipOtese prediz que as defesas refutatOrias säo geralmente mais eficazes do

que as sustentadoras.Em segundo lugar, McGuire apurou que a razdo primordial para a eficacia

das defesas refutatorias ndo esta em propiciarem ao individuo argumentos que

ele podera usar mais tarde. Pelo contrail°, tais defesas motivam a pessoa para

desenvolver sua prOpria argumentagao. Ern terceiro lugar, McGuire concluiu

que, embora a defesa ref utatOria seja superior a defesa sustentadora, acombinagäo de ambas a ainda melhor. Ern quarto lugar, a imunizagào é mais

eficaz quando o truismo é genuinamente ameagado desde fora. Em outraspalavras, se o individuo e persuadido de que existem argumentos viaveis

contra a crenga, ele sera mais motivado para desenvolver defesas. Em quintolugar, a reteng5o da resistencia é uma funcao direta do periodo de tempodurante o qual o individuo recorda o material do tratamento prévio. Quer dizer, a licito prever que a resisténcia A persuago decaira corn o tempo.

 A sexta hip6tese a algo complicada. Citando Kiesler, Collins e Miller:

Dentro de uma dupla defesa que combina procedimentos passivos e ativos, aseci ancia passiva-ativa sera a mais eficaz se o ataque constar dos mesmosargumentos usados na defesa; mas a seqtIencia ativa-passiva sera tanto maiseficaz se o ataque contiver novos argumentos.70

Um tratamento de inoculagão pode ser passivo, quando a pessoa simples-mente le ou ouve o material de tratamento prêvio, ou ativo, quando a pessoaconstrOi realmente argumentos no processo de receber a inoculagdo. Estasexta hipOtese prev6 que, quando os procedimentos ativo e passivo se corn-binam, varias ordens serâo superiores, dependendo da natureza do materialdefensivo.

Finalmente, a setima hipOtese diz que, quando ameaga e informacao se

combinam numa condig5o de tratamento prêvio, a seqiiência ameaga-infor-magáo a mais eficaz do que a oposta.

 A analogia da imunizagdo biologica a sumamente curiosa quando aplicada A persuas5o. Essa teoria estimula-nos a pensar sobre os mètodos pelos quais oscomunicadores podem preparar audiencias para argumentagào contraria nofuturo.

No inicio deste capitulo, afirmei que persuasdo, atitude e mudanga deatitude est5o entre as Areas mais densamente teorizadas a respeito da comu-

nicagäo. Vimos que as teorias abordam essa area de muitas diregóes e sobnumerosos Sngulos, e que o.nosso conhecimento a enriquecido por causa deum tao variado estudo.

Generalizacoes sobre Persuasao e Mudanca

A tese deste capitulo é que a comunicagäo resulta em mudanca. Muitasgeneralizagiies subsidiarias sac sugeridas pelas teorias nessa Area. Em primeirolugar, uma definigao de persuas5o: Persuasão e o processo de induzir mu-dangas atraves da comunicagdo. A abordagem ret6rica classica relacionou apersuasao com o processo de manipulacao de mensagens orais corn o objetivo

70

 Ibid., p . 13 9 .

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Teorias de Persuas.lo e Mudanga 201

de afetar audiencias. Fotheringham definiu esse processo sob o prisma corn-

portamental, em termos de efeitos da mensagem nos receptores. Em Segundo

lugar, a mudanga resulta de condicoes na pessoa e na mensagem. Realmente,todas as teorias neste capitulo reconhecem que o impacto da comunicacdonao so resulta de variaveis da mensagem, mas que as variaveis internas —

dentro da pessoa — tambem afetam a mudanca. A

terceira generalizagaoconcentra-se nas areas de mudanca: As mudangas ocorrem em atitudes,valores e comportamentos. E, quarto, as mudancas em atitudes, valores e

cornportamentos estão inter-relacionadas. A grande maioria das teorias con-

tidas neste capitulo trata das varias especies de mudanca que ocorrem, emuitas delas, especialmente as teorias de coeréncia, mostram como as mu-dancas estdo inter-relacionadas. A quinta generalizacâo a que as mudangas deatitude, valor ecomportamento säo facilitadas pela aprendizagem e pelainconstäncia. Os te6ricos da aprendizagem mostram como o reforcamento e a

exposicdo criam mudancas no sistema psicolOgico da pessoa, e numerosasteorias de coerencia explicam o processo de mudanca como funcâo da buscade equilibrio. Sexto: a direcao e extensäo de mudanga e uma fungdo demediadores internos na pessoa. As %/arias teorias de mudanca de atitude

enfatizam diferentes condicOes na pessoa que determinam a direcao e exten-sào da mudanca. Dois importantes mediadores internos parecem ser o envol-vimento do ego e a influenciabilidade. Ageneralizacdo final sugerida pelasteorias da resistência a que a mudanga pode ser sistematicamente repelida. A teoria da inoculacao mostra que, expondo a pessoa a um clima de argumen-

tacao em tomb de uma questdo, estimula-se nessa pessoa uma resisténcia apersuasdo subsequente.

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8 Teorias• de Com unicacdo

I nterpessoal

Na parte II deste livro recapitulamos algumas orientacries gerais para a co-municacao. Vimos ai que a comunicacao e urn processo complexo de inte-racao simbOlica. Na parte Ill, investigamos teorias que tratam de certos pro-

cessos bAsicos envolvidos em toda e qualquer comunicacao, incluindo sig-nos, significados, pensamento, informacao e persuasao. Existe ainda uma ter-

ceira maneira em que as teorias de comunicacao podem ser analisadas — por niveis ou contextos. Nesta parte IV, trataremos de varias teorias importantes

que focalizam um de quatro contextos: interpessoal, pequeno grupo, organi-zacional e massa.

Neste capitulo, muitas teorias de comunicacao interpessoal sera° anali-

sadas. A comunicagäo interpessoal ocorre no contexto da interagão face-a-face. Consiste em eventos de comunicacao oral e direta. Como veremos nosprOximos capitulos, a comunicacao interpessoal tern pontos de contato corn

cada um dos outros contextos. A interacao interpessoal esta envolvida nacomunicacao ern pequeno grupo, organizacional e de massa. E incorretoconsiderar os quatro contextos como entidades separadas. E preferivel ve-los

como uma hierarquia de contextos ajustados uns aos outros, ern que o nivelsuperior inclui o inferior mas acrescenta algumas coibicOes e qualidadesadicionais. A Figura 48 ilustra a natureza inter-relacionada dos quatro con-

textos incluidos nesta parte do livro. As teorias em cada urn dos capitulosseguintes concentram-se nas qualidades particulares de comunicacao que sao

salientes no nivel que esta sendo tratado. As teorias do presente capituloocupamse do evento interpessoal basic°. Pelas teorias expostas nos capitulos

subsequentes veremos como esse processo basic° a ulteriormente cerceado eampliado nos varios contextos.

Figura 48. Ahierarquia Comuracageode contextos de cornuni- de Massacacao. Comunicacão

Organizacional

Comurucacaode Pecpieno Grupo

ComunicaceoInterpessoaI 

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206 Contextos de Comunicacão

0 que e comunicacao interpessoal? Dean Barnlund ofereceu a seguintedefinicao: "0 estudo da comunicacao interpessoal ocupa-se, pois, da investi-

gacao de situacOes sociais relativamente informais em que pessoas em en-contras face-a-face sustentam uma interacao concentrada atraves da permuta

reciproca de pistas verbais e nao-verbais." 1 Essa definicao inclui cinco cri-

térios, a saber: (1) Devem existir duas ou mais pessoas em proximidade fisica e

que percebam a presenca umas das dutraS. (2) A comunicacao interpessoalenvolve "interdependencia comunicativa". Em outras palavras, o comporta-

mento comunicativo de uma pessoa é umiconseqUencia direta do de outra.Barnlund chamou essa qualidade de interagdo focalizada, a qual implicaatencao mütua concentrada. (3) A comunicacao interpessoal envolve a trocade mensagens. (4) As mensagens sac) codificadas de varias maneiras verbais enao-verbais. (5) 0 criterio final enumerado por Barnlund diz que a comuni-cacao interpessoal é relativamente carente de estrutura; ela e marcada pelainformalidade e pela flexibilidade.

 A tendencia das teorias de comunicacao interpessoal é para se concen-trarem nos varios aspectos do processo. Consideraremos, um de cada vez,

certo nOmero desses enfoques. Uma importante area de interesse é a naturezadas relagdes humanas. As pessoas empenhadas numa interacao face-a-faceestabelecem e mantèm uma relacao definida por percepcOes mOtuas. Urnsegundo enfoque a sobre as necessidades interpessoais. Acredita-se que omodo como uma pessoa se comporta interpessoalmente a determinado, deforma preponderante, pelas suas necessidades de relacionamento com outras. A terceira énfase e a auto-apresentagdo, ou o processo pelo qual uma pessoase apresenta a outras a fim de manobrar impressOes. Varias teorias oriundas daescola humanista concentram-se na quarta area, a de revelacao e compre-ens5o. Quando uma pessoa se comunica corn outra, revela aspectos do seueu, urn processo atraves do qual [Jade ocorrer a compreensao mOtua. Outro

enfoque relacionado corn a comunicacao interpessoal e:a percepgdo social. As

teorias perceptuais tratam do processo de atribuicao em comunicacao. Aindaoutro enfoque é a atragäo. interpessoal. As teorias nessa area ocupam-se dos

fatores envolvidos na simpatia ou aversao por outras pessoas. 0 terra final aser incluido neste capitulo e o do conflito. Serao cobertas algumas teoriasfundamentais que tentam descrever e explicar a natureza do conflito inter-pessoal. Logo se evidenciara que esses sete enfoques nao se excluem mutua-

mente. As várias teorias de comunicacao interpessoal concentram-se em urnou outro deles mas, num sentido mais amplo, todas se inter-relacionam e seap6iam mutuamente.

Relacionamento

Urn importante aspecto da comunicacao interpessoal e o estabelecimento derelacOes. Urn relacionamento é urn padrao de interacao entre duas pessoas,

baseado em suas percepcOes reciprocas. Quase todas as teorias de comuni-

cacao interpessoal tratam, de urn modo ou de outro, dessa dinamica. Duasteorias sao particularmente importantes nessa area. A primeira é a abordagem

de Watzlawick, Beavin e Jackson, e a segunda é a teoria de R.D. Laing.

Pragmatica da Comunicagao

Em Pragmatics of communication, Watzlawick, Beavin e Jackson apresen-taram uma analise muito conhecida da comunicacao, baseada em principios

1Dean Barnlund — Interpersonal communication: survey and studies. Boston, Houghton

Mifflin, 1968, p. 10.

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Teorias de Comunicagão Interpessoal 207

sistemicos. 2 No capitulo 2, urn sistema foi definido como urn conjunto deobjetos que se inter-relacionam mutuamente para formar um todo anico.Parte integrante de urn sistema é a nocao de relagdo e, ao definirem interacao,os autores enfatizaram essa ideia: "Portanto, os sistemas interacionais sera°

dois ou mais comunicantes no processo de (ou no nivel de) definicao da

natureza de suas relacties."3

 As relacOes decorrem da interacao entre pessoas. Estas fixam para si mesmascerto nnmero de regras de interacao, que passam a reger seus comporta-mentos comunicativos. Obedecendo as regras, comportando-se adequada-

mente, o relacionamento definido e sancionado pelos participantes. Numcasamento, por exemplo, uma relacao de dominacao-submissao podera surgir 

e ser reforcada por certo nnmero de regras implicitas. 0 marido pode enviar mensagens de comando, as quais se segue a obediencia por parte da mulher,

ou vice-versa. Uma relacao de status numa organizacao pode ser observada nocomportamento nao-verbal de urn subordinado. 0 subordinado, por exempla,pode fazer uma pausa ao chegar a porta do gerente, aguardando urn convitepara entrar. Essas regras implicitas sdo numerosas ern qualquer relacionamentocorrente, seja amizade, hostilidade, relacOes de negOcio, casos amorosos,

familia ou seja a que for.Em'Pragmatics of communication, os autores apresentaram cinco axiomas

basicos.4 Em primeiro lugar, "uma pessoa nao pode deixar de comunicar-se".5Esse axioma tern sido repetidamente citado nos compendios de comunicacao.

E urn ponto importante, pois enfatiza que a pr6pria tentativa de evitar a inte-

racao 6, em si mesma, uma especie de interacao. Tambem enfatiza que qual-quer comportamento perceptivel é potencialmente comunicativo. Em segundo

lugar, os autores postularam que "toda comunicagao tem um aspecto de con-tend() e urn aspecto de relacao tais que o segundo classifica o primeiro e e,

portanto, uma metacomunicacao". 6 Quando duas pessoas estäo falando, cada

uma esta relatando informacao a outra mas, simultaneamente, cada pessoa estAtambem "comentando" a informacao ern nivel superior. Essa relack-fala si-

multanea (que a freqiientemente nao-verbal) e o que se entende por metacomu-

nicacio. Por exemplo, um professor podera dizer a seus alunos, ern nivel de

contend°, que haves uma prova amanha. Ha muitas metamensagens possi-veis que podem acompanhar o nivel de contend°. 0 professor podera estar fa-

zendo qualquer das impressOes seguintes: "Eu sou a autoridade nesta sala de

aula"; "Eu ensino; vocès aprendem"; "A materia da minha aula e importante";

"Necessito de feedback sabre o vosso progresso"; "Preciso julgA-los"; "Quero

que pensem estar cumprindo o meu papel de professor", e assim por diante.

Esse axioma corrobora ainda a ideia dos teOricos de que a interacao é urn pro-

cesso constante de definicao de relacOes. A idela de metacomunicacao é otema da teoria de Laing e sera explorada em maior profundidade mais adiante.

0 terceiro axioma de comunicacao trata da pontuacao das seqUancias de

comunicacao. As seqiikciasde interacao, tal como as seqUencias verbais,

nao podem ser entendidas como uma sucessao de elementos isolados. Elasdevem ser pontuadas ou agrupadas sintaticamente para fazer sentido. Emtermos gerais, uma interacao consiste num movimento por urn individuo

2Paul Watzlawick, Janet Beavin e Don Jackson — Pragmatics of communication: a study of 

interactional patterns, pathologies and paradoxes. Nova York, Norton, 1967. [ Para a edicao

brasileira, ver Bibliografia.]3 Ibid., pp. 120-21;[ ed. bras., p. 110 —N. do T.].4Esses axiomas acham-se resumidos em Joseph Devito —The interpersonal communication

book. Nova York, Harper & Row, 1976.5Watzlawick et al. —Pragmatics, p. 51 [ ed. bras p. 47 —N. do T.].6 Ibid.,p. 54; [ ed. bras., p. 50 —N. do T.].

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208 Contextos de Comunicacao

seguido por movimentos de outros. 0 observador objetivo veria uma sêrie de

comportamentos. Mas, tal como a serie de sons numa sentenca, esses com-portamentos nao sac, simplesmente uma cadeia. Certos comportamentos sac)

respostas a outros. Os comportamentos sdo, pois, agrupados ou pontuados em

unidades maiores, as quais, no todo, ajudam a definir a relacao. E claro,qualquer sucesseo dada de comportamentos podera ser pontuada de várias

maneiras e uma fonte de dificuldade entre comunicadores ocorre quando despontuam diferentemente. Por exemplo, consideremos urn casamento queenvolva muita impertinencia por parte do marido e muito retraimento por parte da mulher. Essa seqUencia pode ser pontuada de duas maneiras. Por urnlado, o retraimento da mulher pode ser uma resposta a impertinéncia domarido: impertinencia-retraimento, impertinencia-retraimento. Por outro lado,pode estar ocorrendo o contrário: retraimento-impertinencia, retraimento-im-pertinencia. No primeiro caso, a pontuacao de impertinencia-retraimento

implica uma relacao de ataque-retirada. Mas a pontuaceo do marido deretraimento-impertinencia implica ignorar-implorar.

Em quarto lugar, "os seres humanos comunicam digital e analogicamente" .7Os autores descrevem os dois tipos de codificacao usados na comunicacdo

interpessoal. Cada um deles possui duas caracteristicas distintas. A codi-

ficacdo digital é relativamente arbitraria. Em outras palavras, urn signo digitale usado para representar urn referente que nao tern relacao intrinseca corn osigno. A relacao entre o signo e o referente a estritamente imputada. Acresce

que os signos digitais sea separados e descontinuos — estdo "ligados" ou"desligados" ou, ern outros termos, sdo proferidos ou nao sao. 0 codigodigital mais comum na comunicacdo humana é a linguagem. Sons, palavras e

"frases, organizados sintaticamente, comunicam significados.

0 codigo analogico a muito diferente dos signos digitais. Tambêm possuiduas caracteristicas distintas. A primeira é que um signo analogico nao earbitrario. Ou se assemelha ao significado (por exemplo, foto) ou é intrinsecopara a coisa que esta sendo significada. A segunda a que urn andogo, corn

freqUencia, a mais continuo do que descontinua. Tern graus de intensidade ou

longevidade. A maioria dos signos nao-verbais säo analogicos. Por exempla,uma expressäo facial de surpresa nä° a apenas urn signo para urn sentimentoou estado mas faz realmente parte da prOpria surpresa. 0 seu significado

intrinseco. Alem disso, a expressdo facial nao é urn signo "ou... ou". E umavariavel continua entre nenhuma expressão e uma distorcâo facial extrema.

Embora os c6digos digital e analogico sejam muito diferentes urn do outro,sdo usados em conjunto e nao podem ser   . separados na comunicacdo real ern

curso. Por exemplo, uma palavra (digito) pode ser proferida de varias maneirasparalingliisticas (em voz alta, ern voz baixa; gritada, sussurrada; etc.). 0 modo

de articulacao é analogico. Da mesma forma, uma mensagem escrita queconsiste ern letras e palavras (digitos) a apresentada no papel usando várioslayouts, estilos de caligrafia ou de impressdo, e outros cOdigos analogicos.

Dentro do fluxo de comportamentos ern interacao, as codificacães digital e

analogica conjugam-se. Watzlawick e seus colegas acreditam que esses doisservem a funcoes diferentes. Os signos digitais, tendo significados relativa-

mente precisos, comunicam primordialmente a dimensdo de conteOdo, aopasso que o codigo analogico, que é rico em sentimento e significados,constitui o veiculo primário para o nivel de relacao (metacomunicacdo).Relacionando esse axioma corn o segundo, podemos dizer que, enquanto aspessoas estäo comunicando digitalmente em nivel de conteOdo, elas estáo

comentando analogicamente sobre seu relacionamento, em nivel meta. Por exemplo, suponha-se que urn pai ye sua filhinha cair e esfolar urn joelho no

 playground. Ele diz imediatamente: "Nao chore. Papai está chegando." 0

7 Ibid., p. 67 [ ed. bras., p. 61].

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Teorias de Comunicagao Interpessoal 209

significado do contend° é claro. Acrianca recebe uma mensagem declarandoque seu pai vai socorre-la. Imaginemos o grande nOmero de mensagens de

relacao que poderiam ser enviadas analogicamente corn o corpo e a voz. 0pai poderia comunicar seu prOprio medo, preocupacdo, susto, irritacdo, tedio

ou dominacdo. Simultaneamente, pode comunicar urn nOrnero de possiveis

percepcäes de sua filhinha, incluindo "pessoa descuidada", "gosta de atrair as

atenceies", "crianca machucada", "provocadora" etc. Na verdade, esse axiomacapta a complexidade de todas as trocas interpessoais, ainda as mais simplesP

0 axioma final da comunicacdo expressa uma diferenca entre interacdosimetrica e complementar. Quando dois comunicadores numa relacao secomportam de urn modo muito semelhante, diz-se que a relacao a simêtrica;as diferencas sal () minimizadas. Mas, quando as diferencas entre comunica-dores sal° maxim izadas, diz-se que existe uma relacao complementar. Quando

dois canjuges sal° muito felizes e interatuam para reforcar a felicidade urn do

outro, eles estdo envolvidos num relacionamento simetrico. Analogamente,

dois colegas de trabalho estdo comunicando simetricamente quando intera-tuam no trabalho corn o propOsito de sustentar seus sentimentos mUtuos de

superioridade em relacdo aos demais colegas. Urn relacionamento conjugal

complementar existe quando a esposa se comporta de modo a reforcar suasubmissdo e o marido responde dominantemente. No contexto de trabalho,

existira urn relacionamento complementar quando os sentimentos de supe-rioridade de urn individuo modelaram o modo como ele respondeu ao baixo

nivel de amor-pr6prio expresso por urn colega. Idealmente, urn relaciona-mento corrente deve incluir uma combinacdo Otima de interacOes comple-mentares e simetricas.

 A Teoria da Percepcäo Interpessoal de Laing 

Na verdade, os axiomas de Watzlawick, Beavin e Jackson fornecem umaexcelente descried. ° geral da dimensao da relacao da comunicaedo inter-pessoal. Outra teoria que permite aprofundar ainda mais esta analise é a de

R.D. Laing. Laing, psiquiatra britdnico, escreveu numerosos livros relaciona-dos corn o processo de percepcdo e experiencia em comunicacad2 A tese de

Laing é que o comportamento comunicativo de urn individuo é largamentemodelado por sua percepcdo (experiencia) da relacao com o outro comuni-cador.

Laing adota urn enfoque fenomenolOgico do estudo dos seres humanos. 0dado basic° para analise é a experiencia da pessoa, ou a realidade tal comovivenciada por urn dado individuo. Laing estabelece uma distincdo funda-mental entre experiencia (vivencia) e comportamento. Comportamento s lat) asawes observaveis de outrem; o comportamento e pOblico. Mas a experienciaé intensamente particular. E o sentimento que acompanha o comportamento

ou a percepcdo do comportamento de outrem. • Consiste primordialmente em

imaginacdo, percepcdo e memOria. Podemos imaginar o futuro; podemos

perceber o presente; podemos recordar o passado. Tais experiencias sal°vivenciadas internamente ern cada ser humano.

Ora, o comportamento pode ser observado, mas a experiencia de outremndo. Inferir a experiencia do comportamento é a essencia da comunicacdo

8A codificacdo e urn conceito complexo. Duas fontes adicionais que refletem a complexida'de

das distincdes de c6digo säo Michael Nolan —"The relationships between verbal and nonverbalcommunication", in Communication and behavior, organizado por Gerhard Hanneman e WilliamMcEwen. Reading, Massachusetts, Addison-Wesley, 1975, pp. 98-118; e Randall Harrison —"Code systems", in Beyond words. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1974, cap. 4.9As obras de Laing mais relacionadas corn a cornunicacdo incluem The politics of experience.Nova York, Pantheon Books, 1967; Self and others, Londres, Tavistock Publications, 1969 [ para aed. bras., ver Bibliografia]; e R.D. Laing, H. Phillipson e A.R. Lee — Interpersonal perception.Nova York, Springer, 1966.

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210 Contextos de Comunicacao

mas a uma tarefa muito dificil, como assinalou Laing: "Eu vejo voce e voceme ye. Eu vivencio voce e voce me vivencia. Eu vejo o seu comportamento evoce ye o meu comportamento. Mas eu nunca vejo, nunca vi e nunca verei asua vivencia de mim." 10Como este implicito nessa citacao, a experiencia euma questa° eminentemente interpessoal. Queremos dizer corn isso que aexperiencia (vivencia) de uma pessoa a afetada, predominantemente, por suas

relacoes corn outros, relaceies que dependem de como ela percebe ou vivenciaoutrem. 0 modo como nos comportamos em relagao a uma outra pessoa é

funcao de duas experiencias afins: a experiencia da outra pessoa e a expe-riencia da relacao. Do mesmo modo, a nossa experiencia sere ainda afetadapelo comportamento. A comunicacao interpessoal é freqUentemente marcadapor uma espiral comportamento-experiencia.

No paragrafo acima foi dito que o comportamento este relacionado corn aexperiencia que a pessoa tem de outrem e com a experiencia que a pessoa ternda relagao. A mensagem de Laing ficara mais clara quando analisarmos a sua

nocao de percepgao interpessoal.” Uma pessoa que interatua corn outra temdois niveis de experiencia ou perspectivas. A pessoa vivencia a outra numa

 perspectiva direta. Tambern vivencia a vivencia da outra. Nesse segundaperspectiva, a que Laing chamou metaperspectiva,

o comunicador imagina,ou infere, o que a outra pessoa este sentindo, percebendo ou pensando. Laing

descreveu o processo nestas palavras:

Nao posso deixar de tentar compreender a sua experiencia porque, embora eunao vivencie a sua experiencia, que me é invisivel (insaboriavel, intocavel,inolfatavel e inaudivel), no entanto eu vivencio voce como vivenciando.

Nao vivencio a sua experiencia. Mas vivencio vote comovivenciando. Viven-cio-me tal como souvivenciado por voce. E vivencio voce como voce sevivencia quando vivenciado por mim. E assim por diante.12

Para usarmos os personagens favoritos de Laing, Jack , percebe certos compor-tamentos de Jill (perspective direta). Ele tambem infere ou imagina as percep-

gbes de Jill (metaperspectiva).Portanto, uma relacao a definida pelas perspectivas diretas e metaperspec-

tivas dos comunicadores. Teoricamente, a metapercepcao pode desenvol-ver-se indefinidamente atravês de niveis superiores. Jack ama Jill. Jack pensaque Jill o ama. Jack pensa que Jill pensa que ele a ama etc. Alem disso, como

a experiencia afeta o comportamento, time pessoa comporta-se freq(lente-mente de acordo corn as suas metaperspectivas. Se Jack pensa que Jill pensa

que ele nao a ama, ele pode tentar mudar a percepcao imaginada de Jill. Ametaidentidade de uma pessoa é como a pessoa pensa que outros a véem.Recordamos a importancia das percepgties de outrem no estabelecimento doeu segundo o interacionismo

E claro, as metaperspectivas podem ser ou nao acuradas, e a satide de uma

relacao é determinada, em grande parte, pela exatidao perceptual. Tresconceitos intervem neste 'pont°. Compreender é o acordo ou a conjuncaoentre a metaperspectiva die Jack e a perspectiva direta de Jill. Se Jack inferecorretamente que Jill o ama, resulta a compreensào. Ser compreendido e oinverso. E a conjuncao da meta-metaperspectiva de Jack e da metaperspectiva

de Jill. Se Jack infere corretamente que Jill acredita que Jack a ama, ele écompreendido. Mas ser compreendido nab e o mesmo que sentir-se compre-

10R.D. Laing — Politics of experience,p. 4.

11 R.D. Laing of at — Interpersonal perception. Urn excelente resumo pode ser encontrado emLawrence Rosenfeld — "Conceptual orientations", in Human interaction in the small group.Columbus; Charles E. Merrill, 1973, pp. 31-36.12Laing — Politics of experience,p. 5.

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Teorias de Comunicagdo Interpessoal 211

endido.Isso a definido como a conjuncao entre a perspectiva direta de Jack ea sua pr6pria metaperspectiva. Se Jack infere que Jill acredita que ele a ama,entao ele sente-se compreendido.

Como os comunicadores tentam comportar-se de modo que afete outros deacordo corn suas metaperspectivas, podem-se desenvolver espiraisem quecada pessoa atua em relacao a outra de urn modo tal que determinadas

metaperspectivas (por exemplo, desconfianca) tornam-se acentuadas. Essaidêia de espiral foi importante para Laing como psiquiatra, porque ela explicavarias relaceies patolOgicas. Por exemplo, Jack, como paranOide, desconfia deJill. Ele nao acredita que ela o ame. Ent ido, acusa-a de ter casos corn outroshomens. Jill, em sua metapercepcdo de desconfianca de Jack, esforca-se porthe provar o seu amor. Jack ye essa tentativa de Jill como uma forma deencobrir a falta de amor dela. Agora, ele percebe Jill como mentirosa. Essaespiral continuara ate que a relacao seja destruida. Isso e um exemplo deespiral unilateral. A desconfianca de Jack a respeito de Jill torna-se cada vezmais acentuada. Uma espiral bilateral ocorre quando ambas as partes seencaminham, de forma crescente, para metapercepcOes extremas. Por exem-plo, Jack acredita que Jill exige muito dele. Julga-a voraz. Ao mesmo tempo,Jill ye Jack como egoista. Ambos sentem que o outro esta retendo aquilo deque ere ou ela necessita. Como ambas as partes se sentem incompreendidas,partem para a retaliac ido, fazendo assim corn que as suas metapercepcOes devoracidade e egoismo aumentem. A finalidade da terapia a quebrar essasespirais antes que o sistema (diade ou pessoa) seja destruido.

 A idêia de percepcal o interpessoal pode ser descrita simbolicamente. Eis ossimbolos usados por Laing:

p — a pr6pria pessoao — a outra pessoa

> — melhor do que: — comparado a

E — equivalente a

— nao-equivalente a

Assim, p p é o modo como a pessoa seye a si mesma. p oecomo a pessoa v le a outra. Estas sal° as percepcOes diretas basicas. Um grandenOrnero de metaperspectivas pode ser descrito usando esses simbolos. Porexemplo, p--►-(o--0-o) é a percepao da pessoa da experiencia do eu da

outra pessoa. p) é a percepcao da pessoa da percepcdo que o

tem dela. Em um nivel meta-meta, p p) refere-se apercepcdo de p da percepcdo de o do conceit° de eu de p.

Veja-se como a seguinte espiral se desenvolve entre marido e mulher noextenso exemplo de Laing:13

ELA: Eu o amo, querido, voce sabe que eu o amo.

ELE: ...e eu a amo tambem, querida. '

z --o-ELA: Eu o amo, mas voce me acha uma tola.

p—o-op—i--(o—)-p)

ELE: Isso a projecào.

p mas: (o—o-p):

ou z p s(0---)p)

ELA: Bobagem. Voce acha mesmo que eu sou uma tola.

(o--4-p) o---p

13Laing -Self and others, pp. 159-60 (pp 169-70 da ed. bras. Ver Bibliografia).

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212 Contextos de Comunicagdo

ELE: Eu nunca disse isso.

ELA: Acabou de dizer que eu era.

ELE: Disse que voce estava projetando.

ELA: E o que eu disse. Voce nao me respeita.

ELE: Nao e verdade, minha querida; vocé sabe que eu a respeito.

ELA: Nao me diga que eu sei que voce me respeita. Voce sabe que nao é

verdade. Acha sempre que conhece as minhas °pinkies melhor do que eumesma.

ELE: Mas voce nao sabe o que pensa. E por isso que esta consultando UM

medico, e por isso que està doente. Estou procurando ajudh-la, nao

FLA: Nao està me ajudando nem urn pouco. Esta tentando destruir-me. Nunca

tolerou que eu pensasse corn independëncia.

ELE:E exatamente isso o que quern que voce faca. Nao sou desses maridos que

acham que as mulheres nao devem ser inteligentes. Acho que voce a uma

pessoa muito inteligente.ELA: Então por que nao me trata como se eu fosse? Era o que pretendia fazer

ontem a noite, quando me xingou de vagabunda?

ELE: Sinto muito, vocé me fez perder a pacikcia. As vezes, comporta-se de

forma abominavel. Era exatamente disco que vocé queria que eu Ihe

chamasse. Esqueci que estava doente.

ELA: Nao retiro nada do que disse.

 Ao terminar, a discussao apresenta a seguinte estrutura:

p (a mulher) diz:

p) > o (o p)p)

p—s- > o (p —s- o)

o (o marido) diz:

(1 3-1 1-1)) >   (1 ) —s- p)

o—s- (o—s-p) > p—s- (o   p )o —s- (p—A--o) > p (pro)

 Agora que ja apontamos as ideias basicas deLaing sobre experiência,

percepcao e metapercepcdo, podemos passar a outra parte de sua teoria, aqual tambern aumenta a nossa compreensdo da comunicacäo interpessoal. Nasegunda parte deSelf and others,ele apresentou uma analisemuito titil dasformas de acao interpessoal t4 Algumas dessas formas sdo prolificas e posi-tivas; outras sac) disfuncionais e, portanto, perniciosas.

A primeira formade acdo é acomplementaridade. Esse é o aspecto de umarelacao que permite a pessoa preencher a sua identidade. A identidade dapessoa nao pode estar completa sem relaciies complementares corn outras. A

maternidade e impossivel sem uma crianca. Nao se pode ser opressor sem acomplementaridade de submissao. Laing definiu esse aspecto das relactiesinterpessoais da seguinte maneira: "Fala-se de urn gesto, uma acào, urnsentimento, uma necessidade, urn papel, uma identidade, como comple-ment° de um gesto, acdo, sentimento, necessidade, papel ou identidade dooutro." 15 Nao achar a complementaridade apropriada numa relacao é extrema-mente frustrador e pode redundar ern várias patologias.

Uma segunda forma importante de relacionamento envolve a confirmacio,

ouaafirmacdo da identidade pessoal. Numa interacão, os comunicadorescomportar-se-ão de urn modo e enviarao mensagens que confirmam a auto-percepcdo do outro. Urn simples sorriso pode conseguir isso, tal como todauma serie de reforcadores verbais e nao-verbais. Se Jack ama Jill e Jillreconhece e aceita o seu amor, ocorre a confirmacao. E claro, muitas

14Ibid., parte II.15 p. 67 (p. 79 da ed. bras.).

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Teorias deComunicagao Interpessoal 213

interaceies envolvem desconfirmacäo, como no seguinte exemplo: "Um meni-nozinho de cinco anos corre para a mae, segurando urn verme grande e gordo,e dizendo: — Marnae, olha que bonita minhoca eu achei. — A mae responde:

— Voce estd todo sujo! VA lavar imediatamente essas maos!" 16 Dado que a

comunicacao ocorre ern multiples niveis, uma pessoa pode confirmar uma

outra em urn nivel e desconfirma-la em outro nivel. Urn pai pode consolar verbalmente uma crianca machucada, enquanto tatil e cinesicamente comu-nica irritacao e contrariedade.

Outra forma de relacao é o conluio.0 conluio e o "auto-engano" oqual envolve necessariamente mais de uma pessoa. Laing descreveu-o como

urn jogo nao-declarado em que duas ou mais pessoas se iludem a si mesmas.

Outro modo de definir conluio e como falsa confirmacao. Eis como acontece:

Duas pessoas relacionadas entre si podem confirmar-se uma a outra ou comple-mentarem-se genuinamente. Contudo, é dificil uma pessoa revelar-se a outra

quando nao existe confianca em si mesma nem se confia na outra. 0 desejo de

confirmayao por parte da outra est& presente em ambas, mas cada uma oscila

entre a confianca e a desconfianca, a seguranca e o desespero; assim, ambas

acabam decidindo-se por falsos atos de confirmacao baseados no fingimento.Para isso, ambasdevem fazer o jogo do conluio.17

 Assim, Jack e Jill continuam tendo seus encontros amorosos, muito tempo

depois de ter cessado o amor entre eles. Nenhum dos dois deseja ferir o outro.Mas simulam arhor, simulando assim a confirmacao do "amor" do outro.

Outra forma de relacionamento envolve posicOes talsas e insustentãveis.

Esta condicao ocorre quando uma pessoa se comporta de forma incongruente

corn suas necessidades e sentimentos. Acontece quando uma pessoa se sentecomo se nao fosse ela prOpria, comose estivesse "fora de si". Ela podecolocar-se numa posicao insustentAvel, mas tambem pode ser ai colocada por 

outra pessoa numa relacao. Laing usou expressOes cotidianas para captar a

ess'Ancia desse tipo de relacao:

Ser posto em xeque; dar a alguem espaco para agir; nao ter campo livre de acao;

ser colocado numa situacao embaracosa; fazer corn que alguem se sinta

diminuido; exercer pressao sobre outros; nao saber que terreno pisa; sentir o

chao fugir-lhe . sob os nes; estar numa entaladela, ser acuado, encostado a

parede, enredado, sufocado.18

Aclasse final de aceies interpessoais examinada por Laing é a das atribuicOes

e injungOes. Atribuiceies sac) enunciados que dizem a uma pessoa como ser; asinjuncOes dizemapessoa como se comportar. AtribuicOes e injuncöes saoperniciosas quando contradizem as auto-atribuicOes e auto-injuncdes do pro-prio individuo. Essa classe de comportamento esta muito relacionada corn aconfirmacao e desconfirmacao, e tambern cam as talsas posiceies. 0 exemploanterior do casal falando acerca do seu "amor" a uma excelente ilustracao doefeito de atribuicao.

As teorias de comunicacão interpessoal nesta secao apresentam uma visa()relativamente coerente da natureza da relacao. Vimos que uma relacao e urnproduto de interacao, incluindo a percepcao matua, em vArios niveis. Passa-mos agora ao segundo foco da teoria de comunicacao interpessoal,as necessi-dades interpessoais.

16 Ibid., p. 85 (p. 98 da ed. bras.).17 p. 91 (p. 104 da ed. bras.).

18 Ibid., p. 116 (p. 128 da ed. bras.)

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214 ContextosdeComunicano

Necessidades Interpessoais

Na secäo anterior, examinamos duas teorias que descrevem a natureza darelacão interpessoal. Ambas as teorias sugerem a importancia das relaceies navida humana. Outra teoria que explica mais claramente a necessidade decomunicacdo é a de William Schutz; referimo-nos a teoria FIRO (Funda-mental Interpersonal Relations Orientation)) 9 Em sintese, Schutz escreveu queo ser humano tern necessidade de relacöes sociais corn outras pessoas. Talcomo as necessidades biolOgicas, as necessidades sociais devem ser satisfeitaspara evitar a doenca e a morte. A teoria de Schutz desenvolve-se ern quatro

postulados. Examinaremos um de cada vez.0 primeiro postulado, que especifica as necessidades interpessoais, e o

âmago da teoria:

a. Todo individuo tern trés importantes necessidades interpessoais: inclusao,controle e afeicao. -

b. Inclusão, controle e afeicao constituem urn conjunto suficiente de areas de

comportamento interpessoal para a previsào e explicacao de fenOmenos inter-pessoais.20

Esse postulado afirma que toda pessoa tem necessidade de inclusao, controle

e afeicao; que esse conjunto e necessario e suficiente para se entender asrelacOes interpessoais. Em outras palavras, o modo como uma pessoa secomporta em face dos outros é determinado por essas tres necessidades.

Cada necessidade e concebida como uma vat-ravel entre extremos, necessi-

tando algumas pessoas um elevado grau de qualidade, outras menos. Se anecessidade de uma pessoa est.a. sendo satisfeita, ela sentir-se-A psicolo-gica-mente confortavel. Basicamente, a inclusao refere-se ao grau de associacdoque a pessoa necessita. Controle é a necessidade da pessoa de influir e exercer poder sobre outros. Ateigäo e o grau de amor necessitado pela pessoa.Repetindo, como uma pessoa se relaciona com outras dependera da maneira

como o individuo satisfaz essas necessidades. A analise de Schutz de necessidades interpessoais reflete-se em sua lista devariaveis no Quadro 13.21 A inclusao, ou a necessidade de ter rela4:5es satisfatorias com outros,

representada num continuo entre os dois extremos de elevada interacdo enenhuma interacao. Os atos de inclusao situam-se entre originar ou suscitar 

sempre a interacdo e nunca o fazer. Os sentimentos de inclusao abrangemestar interessado em outros e suscitar o interesse de outros. Um conceitosatisfatorio de eu, resultante de inclusao Otima, e o sentimento de que sepossui merit° pessoal. Schutz descreveu a inclusao assim:

Diz respeito a interacäo corn pessoas, a atencáo, reconhecimento, ser conhe-

cido, eminente, prestigioso, ter status efama; a identidade, individualidade,

compreensao, interesse,' envolvimento e participacao. Distingue-se da afeicao

na medida ern que nao envolve fortes vinculos emocionais corn pessoas indivi-

duais. E e diferente do controle na medida em que a preocupacao 6 corn a

proemirlencia, ado a domina4ào.22

19Ver William Schutz — Firo: a three-dimensional theory of interpersonal behavior. Nova

York, Rinehart & Co., 1958; ou The interpersonal underworld. Palo Alto, Science and Behavior Books, 1966. Here Comes Ever yboody. Nova York, Harper & Row, 1973; Elements of encounter.Nova York, Bantam, 1975; Leaders of schools. La Jolla, California, University Associates, 1977.Para urn breve resuito da teroria, ver Rosenfeld — "Conceptual orientations", pp. 16-18, 47-48.20Schutz — Firo, p. 13.21Schutz — Leaders, p. 29.22 Schutz — p. 22

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Teoriasde Comunicagao Interpessoal 215

 A necessidade de controle a uma variavel entre forte controle e nenhumcontrole. Os atos de controle vao desde controlar todo o comportamento deoutros (ou ser controlado por outros) ate nao controlar comportamento

nenhum (ou nao ser controlado por outros). Na dimensdo de sentimento, umarelacao saudevel envolve o respeito matuo pela competencia e responsabi-

li dade de cada urn. 0 conceito de eu resultante do preenchimento Otimodessa necessidade e o respeito pr6prio. Como disse Schutz:

Quadro 13. Variaveis da teoria FIRO

Comportamento Sentimentos

InclusaoExpressa

I ncluseoDesejada

ControleExpresso

ControleDesejado

 AfeiceoExpressa

 AfeicaoDesejada

Esforco-me por incluir pessoas em mi-nhas atividades e por lev

y-las a in-

cluir-me nas delas. Tento pertencer,aderir a grupos sociais e estar compessoas sempre que possivel.

Quero que outras pessoas me incluamem suas atividades e me convidem apertencer a seus grupos, mesmo queeu nao me esforce por ser incluido.

Tento exercer controle e influenciasobre as coisas. Encarrego-me de coi-sas. Digo as outras pessoas o que f a-zerem.

Quero que outros me controlem e in-fluenciem. Quero que outras pessoasme digam o que fazer.

Esforco-me por me tornar intimo daspessoas. Expresso sentimentos amisto-sos e afetuosos. Procuro ser pessoa) eintimo.

Quero que os outros expressem senti-mentos amistosos e afetuosos por mim e procurem major intimidade co-migo.

 As outras pessoas sao importantes pa-ra mim. Tenho em alta estima as pes-soas como pessoas, e estou muitissi-me interessado nelas.

Quero que os outros tenham por mimmuito respeito como pessoa. Queroque eles me considerem importante einteressante.

Quero que as outras pessoas sintamque sou uma pessoa competente e in-fluente, e que respeitem as minhascapacidades.

Vejo as outras pessoas como fortes ecompetentes. Confio em suas capaci-cidades.

Sinto que as pessoas säo simpâticasou estimeveis.

Quero que as pessoas sintam que souuma pessoa simpetica e estimavel,que é muito cordial e afetuosa.

Fonte: William Schutz — Leaders of schools, p. 29. Reproduzido com permisseo.

Assim, o sabor de controle a transmitido por comportamento envolvendoinfluencia, lideranca, poder, coerce°, autoridade, capacidade de realizacdo,superioridade intelectual, elevada ambino e indepencencia, assim como de-pendencia (para a tomada de decisoes), rebeliao, resistbncia e submissao. Diferedo comportamento de inclusao na medida em que nao requer proeminbncia.(...) 0 comportamento de controle difere do comportamento de afeigdo namedida em que envolve relacties de poder, em vez de afinidades emocionais.23

A necessidade deafeicaointerpessoal a expressa por urn espectro entreintimidade e distancia. Os atos de afeicao variam entre originar e suscitarmuito amor e nä° originar nem suscitar amor nenhum. Os sentimentossatisfatOrios de afeicao incluem niveis adequados de intimidade corn outros.0 conceito resultante de eu diz: "Sou uma pessoa estimavel." "Assim, o saborda afeicao este consubstanciado ern situaceies de amor, intimidade emotional,confidencias pessoais. A afeicao negativa e caracterizada por Odio, hostili-dade e rejeicao emocional. m24 A tarefa da pessoa, na satisfacao dessas tresnecessidades, consiste em encontrar urn equilibrio psicologico 6timo. Issoenvolve comportar-se de urn modo tal que a pessoa se sinta conforte.vel erntermos de inclusao, controle e afeicao.

23Ibid., p. 23.

24 Ibid., p. 24.

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216 Contextos de Comunicano

Examinamos agora as tres necessidades em termos de observabilidade (atos

e .sentimentos) e direcionalidade (originar ou receber). Os comportamentos e

sentimentos de inclusao, controle e afeicao existem em urn de quatro estados.

Esses estados sac): desejado, ideal, ansioso e patologico. Os estados desejadossao aqueles que satisfazem otimamente as necessidades do individuo. Os

estados ideais sao mais do que satisfatórios; sao as relacoes mais saudaveis

possiveis. Os estados ansiosos envolvem inclusao, controle ou afeicao de maisou de menos. Finalmente, os estados patolOgicos envolvem relacoes inter-pesSoais verdadeiramente disfuncionais e conduzem a varies condicoes psio5-

ticas, psicopaticas ou neurOticas. As categorias ideal, ansiosa e patologicageram vArios tipos para cada necessidade. Na categoria ansiosa, por exemplo,

existem dois subtipos — hiperativo e hipoativo.

Os quatro tipos de inclusao sao o subsocial, o supersocial, o social e opsicOtico. 0subsocial tende a ser introvertido. Nä° esta interessado nosoutros nem os outros estão interessados nele. Em resulted° da incapacidade

do individuo subsocial para satisfazer a necessidade de inclusao, ele pode ter sentimentos profundos de ansiedade por se achar insignificante e imprestavel.

O supersocial, por outro lado, e extrovertido. Ao desviar-se na direcao oposta,

é um individuo propenso a chamar sobre si as atenceies. 0 tipo ideal deinclusao e o social. Esse individuo sente-se confortavelmente e a vontade notrato com outros, mas tampouco o afeta estar sozinho. Ele conseguiu realizar 

com kit° urn equilibrio em sua associacdo corn outros. Na forma patologica,a incapacidade de satisfazer a necessidade de inclusao redundarà em psicose,especialmente a esquizofrenia.

Os quatro tipos de controle sao o abdicrata, o autocrata, o democrata e opsicopata. 0 abdicrata e submisso. Evita a responsabilidade e gostaria que os

outros Ihe dissessem o que fazer; tais individuos nä° fern confianca em suasprOprias capacidades. No outro extremo esta o autocrata, que tende a dominar em situacOes sociais. Subjacente nessa forma de comportamento esta umadesconfianca basica em relacdo aos outros. 0 democrata e o tipo ideal.Sente-se igualmente bem controlando ou sendo controlado, conforme for mais

apropriado. 0 tipo patologico e o psicopata ou obsessivo-compulsivo.Existem igualmente quatro tipos de afeicao: o subpessoal, o superpessoal, o

pessoal e o neurOtico. 0 subpessoal so se relaciona superficialmente corn osoutros, evitando o envolvimento emocional. Receia nao ser merecedor deestima ou amor. 0 superpessoal e o tipo que tende a ser manipulativo, aesforcar-se por conquistar a afeicao dos outros. 0  pessoal relaciona-se confor-tavelmente de varies maneiras. Pode desenvolver relacoes intimas e dar afeicao genuina. Por outro lado, mantera uma distancia satisfatoria comosendo a mais apropriada. A forma patologica de afeicao e a neurose. 0Quadro 14 ilustra os varios tipos de ansiedade interpessoal.

Quadro 14. Tipos de Ansiedades Interpessoais

O Eu para corn Outros Outros para corn o Eu

Nivel de Nivel de Nivel de Nivel deComportamento Sentimento Comportamento Sentimento

Inclusao

De mais Controle

 Afeicdo

I nclusão

De menos Controle

 Afeicao

Fonte: William Schutz —Leaders of schools, pp. 51-52, Reproduzido corn permissào.

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Teoriasde Comunicagäo Interpessoal 217

Damos abaixo uma descricao de cada bloco do Ouadro 14.

 Ansiedades sobre o cornportamento do eu-para-corn-outros

De mais:Inclusao:Controle:Afeicão:

De menos:Inclusao:Controle:Afei cäo :

Convivo exageradamente corn as pessoas.Sou excessivamente dominanteTorno-me demasiado intimo.

Näo convivo suficientemente corn as pessoas.Nä° sou suficientemente decidido.Sou muito frio e distante corn as pessoas.

 Ansiedades sobre o comportamento de outros-para-corn-o-eu

De mais:Inclusao: As pessoas não me deixam sozinho como eu gostaria.Controle: Todo o mundo gosta de mandar em mim.

Afeicao: As pessoas ficam intimas demais comigo.De menos:Inclusao: As pessoas ndo me prestam suficiente atencao.Controle: As pessoas nä° me ajudam o bastante.Afeicdo: As pessoas nao se conduzem comigo de urn modo suficiente-

mente pessoaI.

 Ansiedades sobre os sentimentos do eu-para-corn-outros

De mais:Inclusao:Controle:Afeigäo:

De menos:Inclusao:Controle:Afeicdo:

Respeito excessivamente a individualidade de cada urn.Respeito excessivamente a compete-Ida de todos,Nä° gosto suficientemente das pessoas.

Nä° respeito suficientemente as pessoas como individuos.Nä° confio suficientemente nas capacidades das pessoas.Nao gosto suficientemente das pessoas.

 Ansiedades sobre os sentimentos dos outros-para corn-o-eu

De mais:Inclusao:Controle:Af ei cdo :

De menos:Inclusao:Controle:

Afeicäo:

As pessoas acham que sou demasiado importante.As pessoas respeitam demais as minhas capacidades.As pessoas gostam excessivamente de mim.

As pessoas Tido acham que eu seja suficientemente significativo.As pessoas ndo respeitam suficientemente as minhas capaci-dades.

As pessoas não gostam suficientemente de mim.

Agora que explicamos as tres necessidades no primeiro postulado de Schutz,resumiremos brevemente os outros tres postulados. 0 segundo é o Postuladoda Continuidade de Relacoes, enunciado nestes termos: "0 comportamen-to interpessoal expresso de urn individuo sera semelhante ao comportamentoque efe experimentou em suas anteriores relaciies interpessoais, usualmentecorn seus pais125 Esse postulado explica que a origem do comportamento

25Schutz —Firo, p. 81.

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218 Contextos de Comunicacao

interpessoal de urn individuo sac, as relacees pais-filho. A pessoa tende a

padronizar o seu comportamento numa situacäo de acordo corn o comporta-mento recordado de uma situacao semelhante na infancia. A pessoa podecopiar o seu prOprio comportamento infantil ou o comportamento de seuspars.

0 terceiro postulado e o postulado da compatibilidade.26 

 Estabelece que acompatibilidade e importante no funcionamento eficiente de urn grupo. A com-

patibilidade e definida em termos de inclusao, controle e afeicao expressosno comportamento dos membros do grupo. A compatibilidade aumenta o de-sejo de comunicar e a coesdo, aumentando assim a produtividade.

0 postulado final de Schutz relaciona-se corn a formagdo do grupo. Quando

o grupo se desenvolve, passa por uma seq(lencia de comportamentos deinclusao, controle e afeicao. Se o grupo prevë que a associacao terminara,inverters entao o padrao antes de se dissolver, voltando a passar por uma fase

de controle e terminando corn a inclusao. Assim, a historia de comporta-mento dominante de urn grupo obedece ao padrdo de inclusao-controle-afeicao-controle-inclusao.

0 foco da teoria de Schutz incide sobre as necessidades interpessoais. Essa

teoria considera o comportamento interpessoal uma tentativa de satisfacao de,varias necessidades no relacionamento corn outros. Ajuda a explicar por que

as pessoas se relacionam corn outras de urn modo particular. Outra explicacaopara o comportamento interpessoal e oferecida por Erving Goffman, ern suateoria de auto-apresentacdo.

 Auto-Apresentacão

Urn dos mais prolificcis sociologos de nossos dias e Erving Goffman. 22 Comointeracionista simbOlico da tradicao dramatargica, ele analisa o comporta-mento humano como uma   • metafora teatral. 0 contexto habitual de intera-cao é urn palco. As pessoas sac, atores, estruturando seus desempenhos paraimpressionar a "plateia". Segundo Goffman, a comunicacào interpessoal ê

uma representacao atraves da qual sat) projetados varios aspectos do eu. Asanalises de Coffman em seus varios livros são microanalises ern seu 'ambito eextremamente detalhadas. Seria impossivel apresentar aqui todos os seus

conceitos. Optamos por examinar suas principais ideias e premissas.

 As observacäes de Goffman de quase 20 anos estao disseminadas ern seus

numerosos livros, tornando a sintese muito dificil. Felizmente, o pr6prioCoffman forneceu urn quadro de referència teOrico que descreve, em linhasgerais, a sua abordagem global do estudo do comportamento humano.28Depois de recapitularmos esse conjunto initial de premissas, retornaremos aalgum material que esta especificamente relacionado corn a comunicacdointerpessoal.

Goffman iniciou a sua argumentacdo corn o pressuposto de que a pessoa,

ao defrontar-se corn determinada situacao, deve atribuir, de algum modo, umnexo ou organizar os eventos percebidos. 0 que emerge como um aconteci-mento organizado para o individuo converte-se na realidade do momento para

essa pessoa. Isso a uma premissa fenomenolOgica, a qual afirm .a que o quereal para uma pessoa resulta da definicao da situacäo nessa pessoa. (Issoconstitui urn desenvolvimento de urn dos conceitos fundamentais do intera-cionismo simbOlico.)

26 Ibid., p. 105.

27 Para uma lista das obras de Coffman, ver a bibliografia.28Erving Goffman — Frame analysis: an essay on the organization of experience. Cambridge,Harvard University Press, 1974.

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Teorias de Comunicacao interpessoal 219

Uma reacao tipica de uma pessoa a uma nova situacalo e a interrogacao: "0

que esta acontecendo aqui?" A definicao da situacão pela pessoa fornece uma

resposta. Corn freqUencia, a primeira definicao nao e adequada e poderafazer-se necessaria uma segunda ieitura, como no caso de urn trote, urnequivoco ou uma interpretacao errada. Esta Ultima nocao e importante para

Goffman porque ele observou sermos frequentemente ludibriados e enganar-mo-nos uns aos outros em nossas reface-es.

Varios termos elucidam essa abordagem geral. Uma faixa (strip) é qualquer secjilencia arbitraria de atividade. Urn estrutura (frame) é urn elemento basico

de organizacao usado na definicao de uma situacao. A analise de estrutura

(frame analysis) consiste, pois, no exame dos processos pelos quais a expe-riencia e organizada para o individuo. 0 que a estrutura (ou quadro de refe-rencia) faz é permitir a pessoa identificar e entender o que, de outro modo,sac) eventos desprovidos de sentido; confere significado as atividades corren-

tes da vida. Uma estrutura natural a urn evento nao-guiado da natureza, corno qual o individuo deve enfrentar-se. Uma estrutura social, por outro lado,vista como guiada e controlavel por alguma inteligencia. Assim, os sereshumanos possuem algum sentido de controle quando ingressam na estrutura

social. E claro, esses dois tipos de estruturas primarias inter-relacionam-se,uma vez que os seres sociais agem sobre a ordem natural e sao, por sua vez,

influenciados por ela. A importancia das estruturas primarias para a cultura

demonstrada no seguinte excerto:

Consideradas em seu conjunto, as estruturas primarias de determinado grupo

social constituem urn elemento central de sua cultura, especialmente na medidaem que emergem entendimentos a respeito das classes principais de esquemas,

as relacOes mUtuas dessas classes e a soma total de forcas e agentes que esses

propOsitos interpretativos reconhecem estar a solta no mundo.29

Este ponto de vista de que uma cultura é definida, em parte, por suas

definicOes de situacOes é compativel nao so corn as ideias centrais do intera-

cionismo simbelico mas tambem corn muitas teorias de significado apresen-tados no capitulo 5.

0quadro de referencia prirmario é a unidade basica da vida social. Coffmanassinalou minuciosamente os varios modos como as estruturas primariaspodem ser transformadas ou alteradas para que diferentes fins sejam satisfeitospor principios organizacionais semelhantes. Um jogo, por exemplo, tern por modelo um combate, mas sua finalidade e muito diferente. Assim, umagrande parte de nossos quadros de referencia nao sac) absolutarnente pri-marios, embora tenham por modelo eventos primarios. Os exemplos incluem

os jogos, o teatro, os ardis (bons e maus), os experimentos e outran inven-cionices. Corn efeito, o que acontece na comunicacao interpessoal comum

envolve corn frequencia essa especie de atividade secuncaria, incluindorepresentacOes teatrais, invencOes e embustes.

E agora, tendo como base essa abordagem te6rica geral, chegamos as ideiascentrais de Coffman sobre comunicacao. As atividades de comunicacao,como todas as atividades, devem ser consideradas no contexto da analise deestrutura. Comecaremos corn o conceito de interacio face-a-face (face enga-

gement).3°Uma interacao face-a-face ou encontro ocorre quando as pessoas

se entregam a uma interacao focalizada. As pessoas numa interacao face-a-

29Ibid., p. 27.

30Sobre a natureza da interacao face-a-face, ver Erving Goffman — Encounters: two studies inthe sociology of interaction. Indianapolis, Bobbs-Merrill, 1961; Behavior in public places. NovaYork, Free Press, 1963; Interaction ritual: essays on face-to-facebehavior. Garden City, Dou-bleday, 1967; e Relations in public. Nova York, Basic Books, 1971.

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220 Contextos de Comunicagäo

face tem urn Unica foco de atenno e uma so atividade mUtua percebida. Nainteracao nao-focalizada, as pessoas em locais pUblicos reconhecem a pre-

senca umas das outras sem prestar atencdo Nessa situanonao-

focalizada, o individua é normalmente acessivel ao encontro com outros.Uma vez iniciada a interano, existe urn contrato miituopara continuar ainterano ate alguma especie de têrmino. Durante esse tempo, desenvolve-se

e e mutuamente sustentada uma relacao. As interacties face-a-face sat verbaise nao-verbais, e as pistas resultantes de urn encontro säo importantes tanto

para significar a natureza da relacao como para a definicao mUtua da

situano. As pessoas em interacao face-a-face falam cada uma por seu turno, repre-

sentando pequenas cenas teatrais uma a outra. Contar histOrias, que usual-mente e a narracao de eventos passados, consiste principalmente numaquesta() de impressionar o ouvinte mediante uma representacao dramatica.

isso a muito importante para a teoria geral de Goffman.

Estou sugerindo que, corn frequencia, o que os faladores se empenham em fazer

nao adar informacao a urn ouvinte mas representar pequenas pecas de teatro

para uma platéia. Na verdade, parece que consumimos a major parte do nosso

tempo empenhados nao em dar informacees mas em oferecer shows.E obser-ve-se que essa teatralidade nao se baseia em meras exibicaes de sentimentos ou

falsas demonstracties de espontaneidade ouqualquer outra coisa a que pudês-

semoschamar depreciativamente uma encenacao teatral. 0 paralelo entre o

palco e a conversacao a muito mais profundo do que isso. A questa° é que,

ordinariamente, quando urn individuo diz alguma coisa, nao a diz como uma

declaracao franca e desassombrada de urn fato baseado em sua prOpria con-

viccao e em seu nome pessoal. Ele esta simplesmente recitando. Percorre toda

uma faixa de eventos ja determinados, para encantar ou cativar os seus

ouvintes.31

Aocativar outras pessoas, o locutor representa determinado personagemdiante do pUblico. Apessoa divide-se em certo namero de papeis e, tal como

o ator no palco, representa este ou aquele personagem em determinado papelde interacao. Assim, na conversa45o comum, existe o ator e o personagem, ouo animador e a animano, e o ouvinte estaperfeitamente disposto a envolver-sena caracterizacao que the esta sendo apresentada.

Existem, é ciaro, outras situacaes de contato a parte a conversacao, em que

o individuo tambern tern a oportunidade de apresentar o eu. Mesmo nainteracao' nao-focalizada, pequenas cenas sao apresentadas aos outros.32

Coffman acredita que o eu é literalmente determinado por essas dramati-zacties. Eis como Goffman explicou o eu:

Uma cena corretamente encenada e representada leva o pUblico a atribuir um eua um personagem interpretado, mas essa atribuicao —esse eu —é urn pro-

dutode uma cena que se representa e nao uma causa dela. 0 eu, portanto,

como personagem representado, nao é uma coisa organica que possui umaIocalizacao especifica, cujo destino fundamental sera nascer, amadurecer e

morrer; é, outrossim, um efeito dramatic° que decorre difusamente de uma

cena que e representada, e a questa° caracteristica, o problema crucial, é se ela

sera apreciada ou depreciada.33

 Aotentar definir asituano, a pessoa passa por um processo em duas partes.

Primeiro, a pessoa necessita de informant sobre as outras pessoas na situa-

31Goffman — Frame analysis, p 50832As melhores fontes sobre auto-apresentacao são Erving Goffman — The presentation of self ineveryday life. Garden City, Doubleday, 1959; e Relations in public.33Goffman — Presentation, pp. 252-53.

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Teorias de Comunicacdo Interpessoal 221

cao. Segundo, ela precisa dar informacOes sobre si mesma. Esse processo detroca de informacao habilita as pessoas a saberem o que se espera delas.

Usualmente, essa troca ocorre indiretamente, mediante a observacao docomportamento de outros e a estruturacao do comportamento prOprio demodo a suscitar certas impressOes nos outros. A auto-apresentacao é, em boaparte, uma questao de administracão de impressdes. A pessoa chega ainfluenciar a definicao da situacao projetando determinada impressao: "Elapode desejar que os outros pensem muito bem dela, ou que pensem que ela

pensa muito bem deles, ou que percebam o que, de fato, ela sente a respeito

deles, ou que nao obtenham qualquer impressao clara; a pessoa pode desejar assegurar suficiente harmonia, a fim de que a interacao possa ser mantida, ou

defraudar, livrar-se, confundir, ludibriar ou insultar os outros."34

Como todos os participantes numa situacao projetam imagens, emerge uma

definicao global da situacao. Normalmente, essa definicao geral a bastanteunificada. Uma vez fixada a definicao, ocorre uma grande pressao moral nosentido de mante-la, suprimindo contradicoes e dOvidas. Uma pessoa podeampliar suas projecOes mas nunca contradizer a imagem inicialmente estabe-lecida. Apr6pria organizacao da sociedade baseia-se nesse principio.

Por conseqUencia,quando urn individuo projeta uma definicao da situacâo e

dessa maneira formula uma pretensao implicita ou explicita a ser uma pessoa deurn tipo particular, ele exerce automaticamente uma i mposicdo aos outros,

obrigando-os a aprecià-lo e a tratá-lo da maneira que as pessoas desse tipo terno direito de esperar que as tratem. Também renuncia implicitamente a todas aspretensães a ser coisas que ele nao parece ser e, por conseguinte, abre mão dotratamento que seria apropriado para tais individuos. Os outros descobrem, pois,que o individuo os informou sobre o que e e sobre o que eles devem ver o "é".35

Se a representacao vacila ou e contraditada por outras cenas ulteriores, aconsecitiencia para o individuo e para a estrutura social pode ser grave.

Goffman usou essa postura basica ern suas muitas e detalhadas analises davida Ele mostrou como essa nocao de auto-apresentacao ocorre nocomportamento verbal e nao-verbal de todos os contextos pUblicos. Para nos,Coffman demonstra a importancia da auto-apresentacao para a comunicacaointerpessoal.

Revelacäo e Compreensao

Vimos que Goffman se concentra no aspecto maquinado e manobrado das

relacoes interpessoais. Outra abordagem enfatizou o aspecto oposto: a per-

cepcao consciente e a compreensao. Essa abordagem teOrica, que faz parteintegrante da escola humanista da psicologia, fornece-nos uma concepcao

normativa da comunicacao. Reconhecendo a natureza teatral da interacdo,tao bem descrita por Goffman, os humanistas tentaram desenvolver pres-

cricOes para melhorar a comunicacão, aperfeicoando a revelacdo e a corn-preensdo entre pessoas. Urn grande filmier° de pensadores humanistas vem

contribuindo para essa abordagem. Resumiremos aqui o trabalho de quatrodeles: Joseph Luft, Carl Rogers, Sidney Jourard e Eric Berne.

 A Janela de johari

COmecamOs corn omodelo de interacao humana de Joseph Luft porquefornece uma introducao muito basica as ideias de revelacao e compreensao.36

34ibid., p. 3.35 Ibid., p. 13.36Joseph Luft — Of human interaction. Palo Alto, National Press Books, 1969.

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222 Contextos de Comunicagao

Esse modelo, conhecido como a Janela de Johari, foi largamente divulgado em

compendios sobre comunicagdo interpessoal.37 0 modelo, ilustrado na Figura

49, contern quatro quadrantes, representando a pessoa em relacào a outran. E

urn modelo de percepc5o consciente-compreensao-revelacao. 0 Quadrante 1,

o quadrante aberto, contêm todos os aspectos (por exemplo, sentimentos e

condutas) conhecidos do eu e dos outros. 0 Quadrante 2, o quadrante cego,

conhecido dos outros mas nao do eu. 0 quadrante oculto e conhecido do eumas nao dos outros. Presume-se a existencia de urn quarto quadrante desco-

nhecido.Esse modelo baseia-se em oito pressupostos sobre o comportamento hu-

mano. Vale a pena repeti-los aqui, porque esses pressupostos parecem estarsubentendidos na maior parte do pensamento humanista, incluindo todas asteorias citadas nesta segdo. Em primeiro lugar, o comportamento deve serabordado de urn modo holistico. 0 que e importante na analise do compor-

Figura 49. Reproduzidode Joseph Luft — Ofhu-

maninteraction, corn permissao de Mayfield 

Publishing Company (ex- National Press Books).

Copyright ©1969 by the National Press.

Conhecido do eu Desconhecido do eu

1 2

ABERTO CEGO

3 4

OCULTO DESCONHECIDO

Conhecidodos outros

Desconhecidodos outros

tamento é a pessoa toda em contexto. Em segundo lugar, o que esta aconte-cendo a uma pessoa ou grupo a melhor entendido subjetivamente, em termosdas percepgOes e dos sentimentos do indi qiduo. Por cause dessa premissa, os

humanistas sac) por vezes incluidos na escola fenomenologica. Em terceiro

lugar, o comportamento a primordialmente emocional, nao rational. Essepressuposto explica a enfase bastante acentuada que a abordagem human's-

tica atribui aos sentimentos. Em quarto Jugar, a tendencia da pessoa e dogrupo é para funcionarem sem consciencia clara das fontes de seu compor-

tamento. Assim, os humanistas ressaltam frequentemente a necessidade deuma consciencia mais clara de como uma pessoa afeta e e afetada por outros.

Em quinto lugar, fatores qualitativos como aceitacdo, conflito e confianga säo

altamente importantes, embora sua quantificacao seja dificil. Em sextologar,

os mais importantes aspectos do comportamento encontram-se mais no pro-

cesso e mudanca do que na estrutura. Em resultado desse pressuposto, oshumanistas destacam a mudanca e o desenvolvimento em sues varies pre-gag es. Em skim° lugar, os principios.que regem o comportamento devem ser descobertos indutivamente, mais pelo exame da experiancia pessoal do que

pela aplicacao dedutiva,de abstragdes. Uma vez mais, enxergamos aqui umaorientagao fenomenologica, quihdo se da maior enfase a experiéncia pessoal

do que a abstracao. Finalmente, o comportamento deve ser entendido em sua

complexidade, nao em sua rigida simplicidade. Esse pressuposto final faz-nos

voltar a natureza holistica da pessoa, tal como se expressa no primeiropressuposto.

37

"Johari" refere-se aos nomes de batismo dos criadores do modelo, Joseph Luft e HarryIngham.

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Teorias de Comunicacao lnterpessoal 223

 AJanela de Johari chama atencão para aqueles aspectos da pessoa que sac)conhecidos e para os que entao fora da percepcao consciente. Mas o mais

importante, de urn ponto de vista de comunicagão, e que enfatiza as mu-dancas na percepcdo consciente que ocorrem corn o passar do tempo.Idealmente, o Quadrante 1 deve aumentar de tamanho corn a comunicacdo.

Se a comunicacão a boa, ocorre a revelacao, deslocando os sentimentos e o

comportamento do Quadrante 3 para o Quadrante 1. A boa comunicacàotambem envolve feedback, o que faz os sentimentos e os comportamentos

passarem do Quadrante 2 para o Quadrante 1. A area desconhecida doQuadrante 4 edificil de descobrir, mas pode tornar-se conhecida em retros-pecto atraves da reflexao, de certas drogas, das tecnicas projetivas e daatividade onirica.

Luft resumiu a importancia da compreensdo nas seguintes palavras. Estesparagrafos tambern justificam perfeitamente a obra de toda a escola huma-nista:

Os esforcos, ao longo do tempo, para aumentar a compreensäo humana do

mundo e da vide não reduziram de modo expressivo, segundo parece, as suas

clavicles acerca do significado do universo. Talvez seja verdade que, se o homem

näo deriver da interaydo humana a qualidade especial de sentir-se compreen-

dido, ele sofrera o desespero da ausencia de significado, seja o que for que

realize e por melhor que seja o seu entendimento de tudo o mais. 0 sentir-se

entendido parecer ser, pois, uma condicâo necessäria, embora tido suficiente,

talvez, para ohomem se compatibilizar com o mundo e consigo mesmo.

Hipoteticamente, todo homem pode oferecer o dom de realmente sentir-se

entendido por alguem, desde que possa relacionar-se corn ele de urn modo que

possibilite a co-experiencia do que se passa no intim°.

Ser compreensivo, quando se pode fazer isso, e gratificante, por suas prOprias

qualidades, embora nä() seja o mesmo que sentir-se compreendido. Mas,

quando a algo reciproco, quando voce e eu compreendemos e, simultanea-

mente, nos sentimos compreendidos, entao, nesse momento, o mundo deixa de

ter segredos e a harmonia a completa.38

 A Teoria da Congruencia, de Rogers

 A Janela de Johari propicia uma excelente introducão as teorias que seconcentram na revelacao e na compreensdo. Corn essa introducdo, passamos

a teoria bastante desenvolvida das relacOes interpessoais proposta por CarlRogers39 Rogers ficou conhecido como o pai da , terapia centrada no cliente edo grupo de encontro. E um gigante no campo da psicologia e urn dos lideres

da "terceira forca" do humanismo (sendo as outras duas a psicanAlise ebehaviorismo). A "teoria do eu", de Carl Rogers, e a mais abrangente formu-lacäo te6rica relacionada corn a abordagem humanistica da comunicacaointerpessoal.

Rogers iniciou a sua teoria desde uma posicao fenomenolOgica. 0 orga-

nismo eo locus

de toda a experiencia. 0 campo fenomenal éa totalidade daexperiencia da pessoa e reside na pr6pria pessoa (organismo). E totalmente

privado e so pode ser inferido por outros. Rogers acredita (como Laing) quenunca podemos vivenciar a experiencia de outrem. Assim, o comportamento

da pessoa resulta mais diretamente da experiencia interna — a realidade tal

38Luft — Human interaction, p. 145.

39 A teoria tern seu melhor resumo em Carl Rogers —Client-centered therapy. Boston,Houghton-Mifflin, 1951, cap. 11 [ para a ediceo em lingua portuguesa, ver Bibliografia]; e "Atheory of therapy, personality and interpersonal relationships, as developed in the client-centered therapy, in Psychology; a study of science, organizado por S. Koch, v. 3. Nova York,McGraw-Hill, 1959, pp. 184-256. Uma excelente fonte secunderia é Gardner Lindzey e Calcin S.Hall — Theories of personality. Nova York, John Willey, 1970, cap. 13 (pare a edicão brasileira,ver Bibliografia I.

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224 Contextos de Comunicagdo

como e percebida e sentida pelo individuo. Em qualquer momento, o campo

fenomenal da pessoa consiste naqueles aspectos que sdo conscientes emvirtude da simbolizacäo, e naqueles que säo inconscientes. Entretanto, Rogers

sublinhou clue uma experikcia particular ndo tem por que ser necessaria-mente consciente no momento para assim mesmo afetar o comportamento.Coerente com a abordagem sistarnica, Rogers descreveu o organismo como

um sistema ern que uma mudanca em uma parte afeta o todo. Amedida que a crianca amadurece, uma porcáo do campo fenomenal passa

a estar identificada com o eu. Esse conceito a central para a teoria de Rogers.

0 eu é "a Gestalt organizada, coerente e conceptual composta de percepcäes

caracteristicas de 'mim' e de percepcOes das relaceies entre 'mim', os outros e

os vários aspectos da vida, em conjunto com os valores ligados a essaspercepcOes". 40

Existem o eu real (actual self) e o eu ideal (ideal self).0 conceito fundamental de Rogers é a congru6ncia, uma correspondencia

ou consistencia entre o eu consciente e o campo fenomenal em geral. E, pois,

uma espècie de coerencia interna do organismo num dado momento. Aincongruencia ocorre quando a pessoa näo se conduz (ou sente) inteiramente

coerente com a totalidade de sua experiencia. A incongruencia assemelha-semuito a nocao de Laing de posicdo falsa e insustentavel. A incongruencia levaao desajustamento; a congruencia reflete maturidade e ajustamento.

Existe em todos nos uma tendencia para a auto-realizacao. Ern outraspalavras, parece que buscamos aquelas experiencias suscetiveis de realcar o

eu, levando a autonomia e ao desenvolvimento. Mas esse processo decrescimento é frustrado pela confusdo oriunda da incongruencia. Quando as

nossas escolhas nào sào adequadamente simbolizadas (confusas) nao pode-

mos distinguir o comportamento propicio ao crescimento do comportamento

regressivo. A causa e a cura dessa conseqUencia reside no dominio da comu-nicacao interpessoal.

Comunicando-nos com outros, projetamos avaliacifies positivas e negativas

no eu do outro. A tendencia das atribuicOes e injuncOes negativas é paracriarem uma incongruencia entre o eu da pessoa e o campo fenomenal. Por 

exemplo, se a uma crianca se diz que é errado comer demais ou se é castigadapor comer demais, a crianca podera desenvolver um falso sentimento de eu."E errado comer demais" a incongruente corn a experi8ncia de querer corner mais. Duas vozes cutucam a crianca. Uma diz: "Voce adora comer." A outra

diz: "Nláo coma." Resulta dai confusao, o que frustra a tendencia para aauto-real izacdo.

0 que e preciso nas relacoes interpessoais, portanto, é aquilo a que Rogerschamou o respeito positivo incondicional. Tal atitude interpessoal elimina aameaca ao comportamento congruente, promovendo assim a tendencia para a

auto-realizacao. Dois contextos formais em que uma mudanca dessa especiepode ocorrer s'ido a terapia centrada no cliente e o grupo de encontro, embora

Rogers gostasse de ver todas as relacOes interpessoais traduzirem-se por ummaior apoio pela mesma raz5o.

Examinemos agora mais de perto esse processo de crescimento através dacomunicacdo. Primeiro, Rogers postulou que o meio ambiente livre de

ameacas, promovido pelo respeito positivo, permite a pessoa examinar asinconsistencias internas e reestruturar o conceito de eu sem temor de julga-

mento. Ao mesmo tempo, a pessoa aumenta sua pr6pria capacidade paraaceitar os outros. Aqui esta a conexdo existente entre o respeito prOprio e o

respeito pelos outros. As pessoas que tendem a ser altamente defensivas(incongruentes) carecem de respeito prOprio assim como de respeito pelos

outros. Quando a pessoa passa a aceitar-se (congruente), esta disposta a

40Rogers — "A theory of therapy", p. 200.

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Teorias de Comunicapo Interpessoal • 225

aceitar mais facilmente as condutas de outros. Finalmente, o ambiente livrede ameacas e marcado pela aceitacáo permite a pessoa examinar-se conti-nuamente e mudar ao longo da vida.

A congruencia é contagiosa atraves da comunicacdo. Se uma pessoa numarelacao se comporta aberta e congruentemente corn respeito positivo eaceitacdo do outro, a outra pessoa Lard o mesmo. Assim, o postulado principal

na teoria de Rogers diz:

Pressupondo (a) uma disposicao minima por parte de duas pessoas para estaremem contato; (b) uma capacidade e disposicao minima da parte de cada um para

receber comunicacao da outra; e (c) supondo que o contato continuara durante

certo periodo de tempo; entao a relacao seguinte sera presumivelmente ge-

nuina.

Quanto maior for a congruencia da experiencia, percepcao e comunicaciao

por parte de um individuo, mais a relacao subsecitiente envolvera uma tendencia

para a comunicacao reciproca com uma qualidade de crescente congruencia;

uma tendencia para uma compreensao mutuamente mais acurada da comuni-

cacao; melhor ajustamento e funcionamento psicoleigico em ambas as partes;

satisfacao mtitua na relacao.41

Quando uma pessoa ingressa numa relacao corn o intuito de facilitar ocrescimento da outra, diz-se que resulta uma re/acdo de ajuda.Em seu artigoclassic°, "The characteristics of a helping relationship", Rogers descreveu dezqualidades de uma boa relacao de ajuda.42 Elas também sao as qualidadesideais de comunicacdo interpessoal, de urn modo geral.

1. Os comunicadores sdo mutuamente percebidos como dignos de con-fianca ou consistentemente confiaveis.

2. Elesexpressam sem ambigiiidades seus distintos eus.3. Eles possuem atitudes positivas de afeto e solicitude um pelo outro.4. Urnparceiro numa relacao de ajuda mantem sua prOpria identidade

separada.5. Urn parceiro permite que o outro faca o mesmo.6.  A relacao de ajuda e marcada por empatia. (0 comunicador tenta

compreender os sentimentos do outro.)7. 0 parceiro que presta ajuda aceita as varias facetas da experiéncia do

outro, tal como sdo comunicadas pelo outro.8. Os parceiros numa relacdo respondem corn suficiente sensibilidade para

al iviar a ameaca.9. Eles sao capazes de libertar-se da ameaca de avaliacdo pelo outro.

10. Cada comunicador reconhece que o outro esta mudando e e suficien-temente flexivel para permitir que o outro mude.

 A Teoria de Auto-Revelaceo de Jourard 

Esse quadro da relacao ideal éode livre revelacao e compreensão numambiente livre de ameaca. Urn te6rico que investigou esse processo de auto-

revelacâo ern certa profundidade é Sidney Jourard.43 Jourard e simultanea-mente filOsofo social, psicOlogo clinico e pesquisador empirico. Ele filosofouextensamente sobre a condicdo humana. Como clinico, relacionou o estadosaudavel da pessoa com a disposicao para explorar o mundo abertamente; e,

41Carl Rogers — On becoming a person. Boston, Houghton-Mifflin, 1961, p. 344. [ Para a edicSobrasileira, ver Bibliograf Ia.].42 Ibid.43Sidney Jourard — Disclosing man tohimself. Nova York, Van Nostrand, 1968; Self-disclosure:an experimental analysis of the transparent self. Nova York, John Wiley & Sons, 1971; Thetransparent self. Nova York, Van Nostrand, 1971.

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226 Contextos de Comunicacäo

como pesquisador, conduziu numerosas investigacties sobre o comportamentorevelador. A prescricao de Jourard para o ser humano e a crescente aberturaou transparencia.

Atransparencia e uma moeda de duas caras. Envolve a disposicab doindividuo para deixar o mundo de coisas e as outras pessoas revelarem-se.Jourard ye o mundo em sues mUltiplas formal como revelando-se constan-

temente. Mas a pessoa, como receptor, este mais ou menos aberta paraperceber essa vis5omUltipla do mundo. Ser transparente significa, em parte,permitir que o mundo se revele livremente. 0 outro lado da moeda é adisposicáo da pessoa para se revelar aos outros. Assim, a relacao interpessoalideal é aquela em que as pessoas permitem a outras vivenci.e-las plenamentee, por outro lado, estao abertas para vivenciar plenamente as outras.

Jourard chegou a essa posicao filosOfica depois de observer que a tendenciade seus pacientes era para se mostrarem muito fechados ao mundo. Apurouque eles se tornavam saudeveis em resultado de sua disposicdo para seabrirem como terapeuta. Assim, Jourard igualou doenca com fechamento esatkle com transparencia.

Alern disso, Jourard ye o crescimento na pessoa como um movimento no

sentido de novos modos de comportamento, urn resultado direto da aberturapara o mundo. A pessoa doente nao este disposta a experimentar o mundo devaries maneiras e, por conseguinte, sua conduta a fixa ou estagnada. Mas apessoa em desenvolvimento, sendo transparente do modo acima descrito,chegare a novas posicees vitais. Tal mudanca é a esséncia do seu crescimentocomo pessoa.

A percepcao consciente de que as coisas são diferentes nao é crescimento,

embora seja uma condicao necessaria do crescimento. Urn ciclo de crescimento

requer (a) urn reconhecimento de que o mundo mudou, (b) a desintegrano da

presente "estrutura do mundo" vivenciada, e (c) uma reestruturacdo, retotali-

zaydo, da estrutura do mundo que englobe a nova revelano da realidade

transformada."

Assimsendo, o crescimento relaciona-se muito com a comunicaceo inter-pessoal, pois a abertura para o mundo a predominantemente social. Ideal-mente, os comunicadores em crescimento auto-revelam uns aos outros suasmuitas faces em mudanca. A aceitaceo pela pessoa de suas prOprias mudancasrequer verificacki atraves da aceitacdo por parte dos outros. E muito dificilcrescer se os outros a nossa volta nao estdoabertos as nossas revelacees demudancas.

Mas se voce suspender quaisquer ideias preconcebidas que possa ter sobre mim

e o meu ser, e me convidar simplesmente a ser e a revelar esse ser a voce, estarecriando urn Ambiente,uma area de "baixa pressão" onde posso deixar meu ser

acontecer e revelar-se, a voce e a mim simultaneamente —a mim desde dentro,e a voce que recebe a camada exterior de meu ser. 45

Essa nocào e,evidentemente, muito rogeriana. Trata-se meramente de umaampliacao da ideia humanistica basica. Tambem podemos detectar a influen-cia de Laing na obra de Jourard. (De fato, Jourard estudou com Laing durantecerto periodo.)

Jourard resumiu a transferencia no seguinte trecho:

A transparencia e, pois, urn modo multifacetado de ser: exige coragem e

disposicão para deixar o mundo ser o que e, deixar o outro ser o que 6, e deixar

44Jourard — Disclosing men to himself,p. 154.45 Ibid., p. 162.

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Teorias de Comunicacao Interpessoal 227

o eu ser quern é. Exige tambem urn compromisso corn a verdade, tal como elavariavelmente se apresenta. Edge disposicao para suspender conceitos e crencassobre o eu, os outros e o mundo, e para perceber o que e. Exige disposicao parasuspender a i maginacdo, o desejo e a fantasia, para informar e rever conceitos,ante novos dados da percepcao. Enfim, e Obvio que exige coragem pararevelarmos o nosso prOprio eu ao mundo.46

Essa posicao filosOfica levou Jourard a empreender pesquisas sobre a auto-

revelacao. Apoiando-se principalmente no questionario de revelacão do euque mede o grau em que urn sujeito se revela aos outros, Jourard efetuounumerosos estudos sobre as correlatos da revelac5o4 7 Dai resultou um certonamero de conclusoes experirnentais. Em primeiro lugar, as pessoas diferem

largamente ern sua disposicao para a auto-revelacào. Pessoas de diferentes

grupos mostram diferentes niveis de revelacäo: as mulheres mais do que oshomens; os brancos mais do que os negros; os norte-americanos mais do que osbritanicos, porto-riquenhos, alemdes e Arabes; os judeus mais do que protes-

tantes e catolicos. Uma importante descoberta é a do efeito diatico: a au-to-revelacao engendra a auto-revelacáo. Parece haver uma elevada corre-

lacdo entre a auto-revelacao de um individuo e a revelacdo recebida de

outros. Entre os outros dados obtidos citem-se os seguintes. Parece haver escassa relacao entre o tato e a revelacdo. A disposicao do individuo pararevelar-se esta correlacionada corn a atracáo interpessoal. Os dados sobre o euvariam no grau de acessibilidade: as pessoas revelam certas informaceies maisfacilmente do que outras informacães. Finalmente, como se esperava, existem

numerosos efeitos de interacao entre sujeitos, alvos, assuntos e personalidade.

 A Analise Transacional de Berne

 A teoria final a ser apresentada nesta secäo sobre a tradicao humanistica é a.analise transaciona/ de Eric Berne. 48 Berne era um psiquiatra muito conhecidoque tinha desenvolvido a A.T. coma uma especie de terapia  pop. A tradicaofoi levada avante por um contingente de apOstolos. 49 Embora fosse mais exatoaludir a A.T. como uma "escola" ou "tradicao", nao ha clOvida que ela éamparada por uma teoria subjacente de comunicacdo. Existem \Arias versees

dessa teoria. Resumiremos aqui as ideias basicas de Berne sobre a estrutura dapessoa, transacães entre pessoas, e jogos.

0 primeiro conceito fundamental da teoria e oestado do ego: "Urn estadodo ego pode ser descrito fenomenologicamente como um sistema coerente desentimentos relacionados corn determinado assunto e, operacionalmegte,como um conjunto de padroes coerentes de comportamento; ou, pragmatica-mente, como um sistema de sentimentos que motiva urn conjunto afim depadthes de comportamento."50 Em suma, urn estado do ego é o padrao

predominante de sentimento e ccmportamento de uma pessoa, ern determi-

46Jourard — Self-disclosure, p. 182.47Esses estudos sdo relatados em Jourard —Self-disclosure; urn resumo encontra-se nas pp.101-3.48Eric Berne — Games people play. Nova York, Grove Press, 1964; The structure and dynamicsof organizations and groups. Filadelfia, J.B. Lippencott, 1963; Transactional analysis in psycho-therapy. Nova York, Grove Press, 1961.48Existem numerosas fontes secundärias. Ver, por exemplo, Thomas Harris —  I'm OK — you'reOK. Nova York, Harper & Row, 1969 [para a edicdo brasileira, ver Bibliografia]; Claude Steiner—Scripts people live. Nova York, Grove Press, 1974; Muriel James e Dorothy Jonegeward

Reading, Addison-Wesley, 1973; Gerald Goldhaber e Marylun Coldhaber (orgs.)Boston, Allyn & Bacon, 1976. Paraurn

excelente resumo, ver Gerald Goldhaber —"Dyads in organizations: a transactional analysisperspective", in aganizational communication, Dubuque, Iowa, Brown, 1974, cap. 6.80Berne — Transactional analysis, p. 17. Nesta secào sobre análise transacional, adotamos aterminologia usada na traducdo brasileira de Edith Arthens, adaptacao do Dr. Julio de Morals, dolivro de Berne — Games people play;ver Bibliografia — N. do T.].

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228 Contex tos de Comunicagão

nado momento. Existem 'Eras estados do ego em todas as pessoas, urn dosquais predominara em dado momento. 0estado do ego tipo Pai e o estadoprescritivo ou orientador, o eu devo-e:nao devo. E modelado pelo compor-tamento do pal (ou mae) da pessoa. E judicatOrio e diz a pessoa como secomportar em dada situacao. 0 estado do ego tipo Adulto e o eu racional.Preocupa-se em obter informacees e tomar decisEies. 0estado do ego tipo

Crianca, herdado da infancia, a constituido pelos comportamentos e senti-mentos relativamente desinibidos, ora rebeldes, ora complacentes, que vemosna maioria das criancas. Embora todo adulto tenha todos os tres estados,comum encontrar uma excessiva enfase num deles. Alguns individuos saocentrados no Pai (ou Mae), dando constantemente conselhos e °pinkies.  A

pessoa centrada no Adulto tende a ser chats e objetiva.0individuo queenfatiza a Crianca tende para o egoismo autocomplacente, o impulso espon-

taneo e o prazer. Idealmente, o individuo deve ter urn equilibrio entre os tresestados e agir dentro deles em conformidade com a situacao.

Voltaremos aos tit estados do ego daqui a pouco, no contexto da tran-sacao. Temos de cobrir primeiro a premissa basica de Berne da necessidade decontato e apoio. A vida e a saticle exigem que o individuo receba estimu-

lacao, sobretudo de outras pessoas. Na infancia, a atencao é primordialmentetatil, na forma de afagos e pancadas. Embora o contato tatil decline na

crianca mais velha e no adulto, a necessidade de contatos psicologicosprossegue. Basicamente, existe em todas as pessoas uma necessidade dereceber golpes ou reconhecimento. Quanto mais golpes melhor. De fato, urndos objetivos da A.T. e ensinar as pessoas como darem e receberem golpes

incondicionalmente. Os golpes podem ser positives ou negativos. 0insultoverbal e a critica (depreciacoes), a semelhanca da analogia tail de agredir, saoformas de reconhecimento, embora muito menos desejaveis do que as formas

de reconhecimento positivo.

 Assim, a pessoa em busca de golpes ingressa numa transacao corn outra e,uma vez envolvida, comporta-se dentro do quadro de referencia dos tresestados do ego. Uma transacao 6 urn estimulo por uma pessoa seguido de uma

resposta por uma outra. Na A.T., uma transacao é a unidade analitica basicada comunicacao interpessoal. 0estimulo e a resposta proven de urn estadodo ego. Do mesmo modo, ambos' sao dirigidos a determinado estado do egodo outro. As transacöes saudaveis sao consideradas complementares. A res-posta é natural e apropriada ao estimulo. A Figura 50 ilustra corn exemplosalgumas possiveis transaceies complementares. As transacOes complementares sac) inecluivocas e honestas. Constituem a

marca de urn born relacionamento. Muitas transacties, porem, carecem daclareza e honestidade das transacees complementares. Tais transacees podemser cruzadas ou ulteriores. Numa transacao cruzada, a resposta e o estimulotido sac) apropriados urn ao outro. A Figura 51 ilustra algumas possibilidades.Numa transacao ulterior, os estados reais do ego estao escondidos. 0que estaacontecendo em nivel social (aberto) nao e o que esta realmente ocorrendo no

nivel psicolOgico. A Figura 52 mostra algumas possiveis transacöes ulteriores.As transacöes ulteriores levam a realizacao de jogos. Urn jogo consiste ern

varias transacOes ulteriores que resultam numa vantagem. A vantagem é averdadeira rano para a comunicacao. Por consecifiencia, e inibido o entendi-mento da revelacao. Urn jogo e basicamente desonesto. Existe uma grandevariedade de rathes para se jogar UM jogo. Duas importantes razaes sac)manipular a outra pessoa para que produza estimulos e reforce a posicao vitalda primeira pessoa. A segunda razao requer uma explicacao mais ampla.Baseado na hist6ria de receber estimulos, um individuo desenvolve umaatitude subjacente em relacao ao eu e aos outros. A esperanca e que se

desenvolva uma sauclavel atitude "Eu estou OK —voce esta OK". Lamenta-velmente, desenvolvem-se por vezes tres outras atitudes vitals: "Eu estou OK

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Teorias de Comunicacao Interpessoal 229

Figura 50.Transageies

Cornplementares.

Mulher: Nãovolte nunca ma'saenvergonhar-meassim empUblico! Mando. Desculpe, quenda

1st° nunca ma's acontecere 

Mulher: Quantonos resta naconta bancena?

Marido: Uns cemdelares 

Mulher. Vamosdancer. Mando Esta

bem

— voce nao esta OK", "Eu nao estou OK —voce esta OK" e "Eu nao estou OK— voce nao esta OK".

Em seu famoso livro Games people play, Berne catalogou urn grandenOmero de jogos. 51

 Excede o ambito desta sinopse apresentddos todos, masnao podemos deixar de registrar uma amostra. Examinaremos aqui o jogocomum "Agora to peguei, seu f.d.p.". Sao dois jogadores nesse jogo, urn

Figura 51.TransagOesCruzadas.

Mulher: Passe amanteiga, porfavor.

Marido: Se voce lizessedireito suas compras,

poderiamos ter manteigaem casa.

 

Mulher: Bem, dequalquermaneira, vocenao devia cornertanto.

Marido: E quern podecorner? Nunca temos erncasa comida bastante. 

Mulher: Ha umaboa theta de milcalorias no meul i vro de cozinha.

Marido: Mas eu adorocorner!

51Berne — Games People  play.

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230 Contextos de Comunicagão

agressor e uma vitima. Os lances sao provocacao, acusacaa, defesa, acusa-

cao, defesa, punicao. 0 agressor provoca a vitima, acusa-a de proceder mal, e

castiga-a. 0 desfecho para o agressor é a autojustificacao, reforcando assimuma posicao vital basica "Eu estou OK — vote nao esta OK". Assim, o jogo de

"Agora te peguei, seu f.d.p.", a feito pelo agressor para depreciar outros. 0 jogo oposto ou complementar 6 "Me Bata", que é jogado por pessoas despre-zadas e que a si mesmas se aviltam numa posicao "Eu nab estou OK — voce

esta OK". Em "Agora te peguei, seu f.d.p." e "Me Bata" os jogadores reforcamas posicaes vitals reciprocas num relacionamento corrente. Esses jogos sao

 jogados psicologicamente em nivel de pai-para-filho, embora em nivel socialpossa parecer que se verifica uma relacao de adulto-para-adulto.

A maioria dos jogos é nociva as relacoes humanas, segundo Berne. Elesenvolvem comunicacao ambigua e desonesta, e sao, portanto, a antitese daespacie de revelacao ou transparencia defendida por Jourard. Tal como todasas teorias humanistas apresentadas nesta secao, Eric Berne prescreveu aabertura e a compreensao interpessoal para melhorar a comunicacao.

(1) Social:

0 jantar terminou.

(21 PsicolOgico:Voce este atrasado denovo!

Figura 52. Transayies

Ulteriores.

(1) Social:Voce ficou fora tres noitesesta semana!

(21 PsicolOgico:Estou me.sentindo tbopresa aqui. Deixe-me sair

tambern.

Ill Social:Acho queyou para a camaagora.

(21 PsicolOgico:Vamos transar.

Percepcäo I nterpessoal

Em nossas interacties cotidianas com outros, constantemente avaliamos ou

formamos uma opiniao sobre outras pessoas. Os comunicadores desenvolvem

impressaes urn do outro, como foi sublinhado por teOricos como Laing eGoffman. Como as pessoas se veem mutuamente em contextos de comuni-

cacao e o tema da percepcao interpessoal. Renato Tagiuri apresentou-nos essecampo nos seguintes termos:

A percepcdo da pessoa refere-se ao processo pelo qual o homem passa aconhecer e a pensar sobre outras pessoas, suas caracteristicas, qualidades eestados interiores. A expressao percepgão dapessoa nä° a muito satisfatoria,sendo o termo percepgjo usado aqui de urn modo vago que, corn freq(Ancia,

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Teorias de Comunicagäo Interpessoa/    2 31

significa apercepcão e cognicao. Essa area especifica tern sido designada devarias maneiras: percepcao social, percepcao da pessoa e percepcao interpes-soal, para mencionar apenas alguns dos rOtulos usados.52

De urn modo geral, duas areas de pesquisa se desenvolveram na percepcao

interpessoal. A primeira concentrou-se na natureza e exatiddo dos julgamentos

formulados acerca de outras pessoas. A segunda tendencia ocupou-se do processo de percepcao interpessoal. Esta Ultima area é a que nos interessa, no

contexto da teoria da comunicacdo.Grande parte do trabalho de pesquisa em percepcao interpessoal e de

natureza não-teOrica. Houve uma soma impressionante de pesquisas sobreproblemas perceptuais mas nä() muita teorizacao.53 Entretanto, a mais impor-tante excecdo a essa observacao de ordem geral e um campo afim, quecomecou a amadurecer na decada de 1970, conhecido como teoria daatribuicao. Em virtude de sua exceptional contribuicao para o nosso entendi-

mento da percepcao interpessoal, concentrar-nos-emos aqui na teoria daatribuicao.

 A teoria da atribuicao trata, especificamente, dos processos pelos quais as

pessoas inferem as causas do comportamento. E tambem conhecida, alternati-vamente, como psicologia leiga (naive psychology). Explica os processos pelosquais a maioria das pessoas passa a entender o seu prOprio comportamento e odos outros. Enquanto a "psicologia cientifica" tenta determinar as causas reaisdo comportamento, a psicologia leiga concentra-se exclusivamene nas causas

percebidas do comportamento na interacao real e corrente.Sao tres os pressupostos basicos da teoria da atribuicdo. 54 0 primeiro diz

que as pessoas tentam determinar as causas do comportamento. Quando em

clUvida, procuram obter uma informacao que as ajude a responder a pergunta:"Por que é que ele esta fazendo isso?" Kelley expressa a questdo da seguinte

maneira:

No decorrer da minha interacão corn outras pessoas, pergunto a mim mesmocorn freqUencia por que sera que etas agem do modo que agem. Posso tambémperguntar aos meus botoes como devo interpretar o elogio que urn estudante faza uma conferencia que fiz recentemente, por que o meu amigo a tao severocritico a respeito de certa pessoa nossa conhecida comum, ou por que o meucolega nao executou a sua parcela de trabalho ern nosso projeto conjunto. Tudoisso säo perguntas sobre a atribuicao do comportamento da outra pessoa: o queo causa, o que a responsavel por esta ou aquela conduta, a que deve seratribuido este ou aquele comportamento?55

Ern segundo lugar, a pessoa dedica-se sistematicamente a atribuir causas.

Kelley comparou isso ao metodo cientifico: "(...) o atribuidor leigo (...) atuageralmente como urn born cientista, examinando a covariacão entre urn dado

efeito e N./Arias causas possiveis.".56 0 terceiro pressuposto da teoria da atri-buicao e que a causa atribuida tern influencia sobre os preprios sentimentos e

comportamentos do percebedor. As atribuicaes do comunicador determinam,em grande parte, o seu significado para a situacao.

 Assim, a teoria da atribuiceo, embora se relacione mais diretamente com a

comunicacdo interpessoal, corrobora varios temas examinados anteriormente

52Renato Tagiuri —"Person perception", in The handbook ofsocial psychology, v. 3, or-ganizado por Gardner Lindzey e Elliot Aronson. Reading, Massachusetts, Addison-Wesley,1969, p. 395.53Essa conclusao a corroborada por Tagiuri, ibid.54Eles sào descritos em Jones et al. — Attribution: perceiving the causes of behavior.Morristown, Nova J6rsei, General Learning Press, 1972, p. xi.55Harold H. Kelley —"Attribution in social interaction", in Attribution: perceiving the causesof behavior. Morristown, Nova 16rsei, General Learning Press, 1972, p. 1.56 Ibid., p. 2.

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Nivelgenotipico

Figura 53. 0modelo

causal de Heider. (Fritz

 Heider — The psycholo-gy of interpersonal rela-

tions.Copyright ©1958

 por John Wiley & Sons,

 Inc. Reproduzido por  permissäo de John Wiley& Sons, Inc.)

Nivelfenotipico

► fri

m2 — — — mediacao

sinOnima

232 Contextos de Comunicagáo

neste livro, incluindo a interacao simbolica, significado e pensamento. Tarn-

bern complementa algumas das teorias previas deste capitulo, notadamente asde Laing e Goffman.

 A Teoria da Percepgao interpessoal de Heider 

Fritz Heider poderia facilmente ser chamado o pai da teoria da atribuicao. Foiele quern criou a expressao "psicologia leiga". 0 trabalho pioneiro de Heiderfoi ampliado por numerosos tearicos subseqUentes (dos quais Harold Kelleytalvez seja o mais conhecido).

No capitulo 7, vimos que a teoria do equilibrio de Heider e urn classico dapsicologia social. A nocao de equilibria foi posteriormente elucidada e situadano contexto mais amplo da psicologia leiga em The psychology of interper-

sonal relations. 57  Heider resumiu os principais pontos de sua teoria da seguintemaneira:

De acordo corn a psicologia leiga, as pessoas tern consciència de seu meio

circundante e dos eventos que nele ocorrem (oespago vital), atingem essa

consciancia atravês da percepgão e outros processes, saoafetadas

por seu meioambiente pessoal e impessoal, causammudancas no meio ambiente, sao ca-

pazes (podem) e tentam causar essas mudancas, tern desejos (caréncias)esentimentos,mantèm-se unidas a outras entidades (pertenca) e sac) responsa-bilizadas de acordo corn certos padroes(devem prestar contas). Todas essas

caracteristicas determinam que papel a outra pessoa desempenha em nosso

pr6prio espaco vital e come reagimos a ela.58

Assim, nosprincipais conceitos de sua teoria, Heider apresentou os atributosimportantes percebidos na comunicacao interpessoal. Estas sao as causascomumente percebidas do comportamento: ser afetado por, causar, poder,tentar, querer, pertencer, dever e sentir.

Tal come fez Laing, Heider tambem distinguiu entre a percepcao direta eindireta. A percepcao indireta ocorre quando se inferem do comportamentomanifesto as causas desse comportamento. Tal percepcao causal e sempremediada por variaveis psicologicas no individuo que percebe. Heider con-cebeu urn processo em duas etapas, tal come se descreve na Figura 53,59Nesse modelo vemos dois niveis, urn genotipico e um fenotipico. Percebemosas causas inferindo o primeiro nivel do Segundo. Nao se trata, porem, de uma

mediacOoambigua

Cc

57Fritz Heider —The. psychology of interpersonal relations. Nova York, John Wiley, 1958.58 Ibid., p. 17.59 Ibid., p. 36.

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Teorias de Comunicagao Interpessoal 233

relacao urn-a-um entre o comportamento observado e a causa. Essa condicao

leva aos fenOmenos de mediacao sinOnima e mediacao ambigua. Uma dastarefas do percebedor e resolver as ambiguidades inerentes a situacdo. Por 

exemplo, urn supervisor numa companhia podera notar que urn de seusempregados e particularmente laborioso. 0 supervisor deve decidir se oimpulso do empregado pode ser atribuido a dedicacao pessoal ou a urn desejo

de obter favores pessoais.

Eclaro, todo o comportamento esta i mplantado numa situacdo, e o

psicOlogo "leigo" tira o maxim° proveito do contexto para resolver ambigiii-dades. Em primeiro lugar, temos usualmente o beneficio da exposicdo ao longodo tempo, como Heider sublinhou:

provavelmente correto dizer que os campos de estimulo basico para a

percepcdo de pessoa säo usualmente mais extensos no tempo do que os perti-

nentes a percepcao de coisa (...). Na maioria dos casos, conhecemos os tracos

de uma pessoa e, especialmente, os seus desejos, sentimentos ou intencOes,

através do que ela faz e diz, e conhecemos consideravelmente menos quando

estamos limitados ao que podemos ver dela como objeto estätico.

0 fator mais importante na resolucäo da ambiguidade e o significado. Ossignificados do atribuidor para os varios estimulos sao cruciais na percepcdointerpessoal. Isso a especialmente verdadeiro por causa do use da linguagem eda fala, emboraHeider deixasse bem claro que tambem possuimos signifi-cados para atos nao-linguisticos. Basicamente, os significados sac, integradoresna percepcdo, organizando os objetos da percepcdo em padrdes que nosajudam a dar nexo ao mundo. Heider concordaria corn Goffman em que apessoa ve situacOes em termos de quadros de referencia bem integrados. Emsua necessidade de consistëncia, o percebedor alinha os significados de talmodo que a atribuicao causal reveste-se de sentido logico. Em suma, oprocesso de atribuicao total tornar-se-a integrado e coerente.

 A falta de correspondencia um-a-um entre comportamento e motivo possi-bilita multiplas interpretacOes de um dado evento. Assim, é razaavel esperar 

padroes idiossincrasicos de percepcdo, a que Heider chamou estilos percep-tivos. Essa nocäo introduz outra variavel na pereepcdo, a saber, as maneirasindividuais de percepcán. (Como nä° estamos lidando aqui com uma analisecientifica ou objetiva, nao e apropriado falarmos, neste ponto, de percepcaocorreta ouerrOnea.) Heider reconheceu que qualquer estado de coisas pode

dar azo a numerosas interpretacOes, cada uma das quais parece verdadeira

para o percebedor.

Embora nao usasse a mesma linguagem de Laing, Heider tambem reco-

nheceu o significado da metapercepcdo em comunicacdo. Na percepcdointerpessoal, um individuo percebe as percepceies de outro. Bob reconhece que

Mary é urn percebedor ativo e que as percepcOes dela a afetam. Esse reco-nhecimento, por parte de Bob, tambem o afeta. Bob pode tentar influenciar apercepcdo de Mary a fim de produzir resultados que säo favoraveis a ele. As suasexpectativas sobre Mary tambem são afetadas por sua avaliacao de como esta

percebe a situacao. Finalmente, as suas prOprias atribuicoes de Mary sera)afetadas.

Uma das mais importantes atribuiceies envolve a nä° intencional. Quando

uma pessoa percebe que uma acäo e intencional, dois atributos subjacentesserdo reconhecidos. Sao a capacidade (pode) e a tentativa (tenta). Essesagentes causais säo condicOes necessarias e suficientes. Pode e ainda decom-

posto nas forcas de poder pessoal e nos fatores ambientais. Tenta significai n ter -1 0o e esforco. Suponha-se, por exemplo, que um amigo nosso nao

60 Ibid., p. 39.

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234 Contextos de Comunicano

compareceu a uma reuniäo marcada. De acordo corn essa teoria, ficaremos

imaginando por que. Eis as possibilidades sugeridas por uma anAlise leiga(naive) da agao. Ou a pessoa nä° teve condigees que a habilitassem acomparecer (nao Ode) ou nao se esforgou por faze-lo (nao tentou). Se naoteve condigees, algo de errado teria acontecido (por exemplo, uma doenga)

ou algum fator ambiental (por exemplo, uma tempestade de neve) impediu

seu corriparecimento. Se ela nao tentou, ou nao queria aparecer (intengao) ou

estava corn muita preguiga (esforgo). Podemos agora ver o que acontece napercepgao interpessoal. Nessa situacao, inferiremos as causas do comporta-

mento do nosso amigo de acordo corn a nossa experiencia global, os nossossignificados, fatores situacionais, e ainda com o nosso prOprio estilo per-ceptivo.

Esse exemplo de analise leiga da agdo foi incluido para ilustrar a con-cepgao de Heider do processo perceptual. No caso ern foco, o dominio daatribuigao foi pode e tenta. 0 mesmo processo basic° é usado em atribuigees

que lidam com desejo e prazer, sentimentos, dever e valor, beneficio e dano,entre outras. Duas dessas areas atributivas sera. ° ainda ampliadas.

 A area dos sentimentos e importante porque se relaciona corn os primeiros

trabalhos de Heider sobre equilibrio (ver o capitulo 7). Basicamente, a questa.°e que os sentimentos que atribuimos a outra pessoa sera° normalmenteconsentaneos com os nossos sentimentos para com essa pessoa e em relagâo acertos objetos que temos ern comum corn a outra. Nas relagOes interpessoais,existe uma necessidade de equilibrio entre os nossos varies sentimentosinter-relacionados. De fate, Heider achou que havia uma tendencia geral para

equilibrar todo o quadro perceptual, uma nogao a que voltaremos nummemento. Primeiro a necess.ário, contudo, considerarmos as atriburgdes dedeve e valor.

 A atribuicão deve e particularmente interessante porque se afasta do padraonormal de atribuigao. 0 deve e visto pela pessoa como uma imposigâoproveniente de alguma fonte suprapessoal. Pelo percebedor, é visto comouma exigencia impessoal, objetiva, urn truism°. Pam disso, o deve tern

validade interpessoal na medida ern que a maioria das pessoas concordaria emque a exigencia esta presente. Como disse Heider: "Poderiamos dizer que odeve resulta de uma tendencia para igualar os espagos vitals de diferentespessoas, assim como os diferentes mementos do mesmo espago vital."61

 Assim uma pessoa diz: "Voce deve ir ao dentista" ou "Eu devo dar parte doroubo."

Mas os deves nao correspondem necessariamente a valores. Eu talvez receieir ao dentista, embora pense que devo ir. Entretanto, as pessoas buscam acongruencia entre atribuigäes e ha especialmente uma necessidade sentida deequilibrio entre deve e valor:

Existe uma tendencia para estar em harmonia com os requisites da ordemobjetiva. Assim, a situacao a equilibrada se gostamos de fazer o que devemos

fazer, se gostamos e apreciamos as entidades que acreditamos serem valiosas, sefelicidade e bondade andam juntas, se p admira a pessoa de quem gosta e gostada pessoa com quem compartilha valores, se o que deve ser se harmoniza com oque realmente 6 etc. 62

 A Teoria da Atribuicao de Kelley

Talvez a mais proeminente teoria atual do processo de atribuigao seja a deHarold Kelley.63

 Kelley desenvolveu dois postulados sobre atribuigao causal,os quais se aplicam tanto a percepgao do eu coma a dos outros.

61 Ibid., p. 222.62 Ibid., p. 233.63Para uma lista de obras de Kelley, ver a Bibliografia.

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Teorias de Comunicagão Interpessoal   2 35

0 primeiro postulado e o principio de covariacdo: "Urn afeto [ sentimento,emocao j e atribuido a uma de suas possiveis causas corn a qual, no decorrer do tempo, covaria." 64Esse principio aplica-se a situacOes em que o perceptor 

tem informacdo proveniente de mais de uma observacao. A pessoa ye queefeitos estao associados (covariam) corn que causas. 0 segundo principio, que

se aplica no caso de observacOes singulares, e o efeito de depreciacao."0papel de determinada causa na producdo de urn dado efeito e depreciado se

tambem estiverem presentes outras causas plausiveis." 65Em suma, o perceptor tende a ponderar as causas possiveis ern suas relay:5es mauas. Esses dois

postulados descrevem a atribuicao como urn processo racional em que oindividuo examina cuidadosamente as varies possibilidades causais e genera-lize corn base nos melhores dados disponiveis.

0 principio de covariacdo aplica-se quando a pessoa dispOe de milltiplas

observagOes, a partir das quais generalizara. 0 perceptor realize uma versa()rudimentar de analise de variancia. A analise de variancia e urn procedimentoestatistico freantemente usado na pesquisa experimental. Permite ao pes-quisador ponderar as varies fontes de variacdo de modo a determinar as causasque estäo operando. Analogicamente, a pessoa usa o mesmo padrão basica

 As causas possiveis sdo tratadas como variaveis independentes e os efeitoscomo variaveis dependentes. A Figura 54 ilustra urn modelo tridimensional decontinencia usado na influencia causal:66 As tres dimensees nesse modeloincluem as varies pessoas observadas, os varios periodos de tempo em que seefetuou a observacdo, e alguns outros objetos (entidades) que intervem nasituacdo.

Suponha-se que descobrimos que urn amigo nosso gosta de determinadodisco. Por que? Existe certo nOrnero de raz6es possiveis. Talvez o nosso amigogoste de mósica gravada em geral e aprecie muitos discos. Isso é uma atri-buicao a pessoa, ilustrada na Figura 55-a. Se esse disco é especialmente born eapreciado pela maioria das pessoas, temos uma atribuicao a entidade (Fi-gura 55-b). Uma terceira possibilidade a que haja algo acerca do tempo quefaz corn que o nosso amigo goste da mOsica. Talvez seja a semana do exame

final e ja tivessemos observado que a maioria dos nossos amigos gostam demOsica nessa altura do semestre, pois a mOsica tende a apaziguar ansiedades.Essa atribuicdo ao tempo é ilustrada na Figura 55-c. Tudo isso sae efeitos

 principais. Em outras palavras, infere-se que uma das tres dimensOes primariessera a causa.

Por vezes, a coisa nä° e assim tao simples. No jargao da analise devariancia, podemos inferir efeitos de interag5o. Poderemos inferir que osagentes causais primarios combinam-se de certas maneiras para lograr certos

efeitos. Assim, por exemplo, poderemos ter observado que o nosso amigogosta somente de um disco, mas que ninguém mais gosta desse disco. Isso

uma interacäo atribuida entre entidade (disco) e pessoa (o nosso amigo).Raciocinamos neste ponto que aspectos peculiares do disco interatuam corn

qualidades particulares do nosso amigo para produzir o agrado. Uma interacdotridimensional mais complexa, ilustrada na Figura 55-e, é o que poderiamoschamar atribuicaoascircunstâncias. Nessa atribuicao, acreditamos que onosso amigo esta gostando desse disconeste momento. hd° gostou dele emqualquer outro momento e ninguêm mais gosta dele neste ou em qualqueroutro momento. 67

64Harold Kelley —"The processes of causal attribution", in American Psychologist, 28, 1973,

p. 108.65 Ibid., p. 113.66 I bid .,p. 110.67Figura 55, reproduzida de ibidpp. 110-11.

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E l

F2

EntidadesE3

E L I

23 6

E4

(c)

 Atnbuic6o ao Tempo

(d)

 Atribuicão a Pessoa e a Entidade

Contextos de Comunicagao

Figura 54. Angise de

modelo de variancia de

atribuino. ("The Pro.

cess of Causal Atribu-

tion", por Harold Kelley,

emAmerican Psycholo-

gist 28 (1973): 108. Co-pyright © 1973 by The

 American Psychological

 Association. Reproduzi-

do corn permissao.)

Figura 55. %/arias possi-bilidades de atribuicao.

(Harold Kelley — "The

 process of causal attri-

bution", in AmericanPsychologist, 28, 1 9 7 3 ,pp. 110-11. Copyright 

1973 by The American

Psychological Associa-

tion. Reproduzido corn permissão.)

F3

(a )

Atnbuinão a Pessoa 

(b ) 

Atribuinäo a Entidade 

E 4are

T 2

lit$0011.1111000NW,

(e )

Atribuipão as Circunstancias

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Teorias de Comunicacdo Interpessoal 237

Em todos esses casos, o perceptor observa a covariacao (associacaio) dedeterminadas causas e efeitos em diferentes situacães ao longo do tempo.

Conjugando essas %/arias observacOes, surgem padraes e ocorrem as inferen-cias causais acima descritas. Mas na maioria das vezes nä° fazemos obser-vacOes maltiplas. Nao dispomos da vantagem de urn completo bloco de dados

comoo que se mostra na Figura 54. Dal o principio de depreciacalo.

0 efeito de depreciacao aplica-se quando o perceptor tem de confiar 

somente numa Unica observacao. As varias causas possiveis de urn efeitoobservado sac) confrontadas e surge uma estrutura causal inferida. 0 prOprio

processo nao a diferente da analise do paradigma de variancia acima. 0 que

diferente e o modo de preencher o bloco de dados. No modelo de depre-cia45o, a maioria dos dados (isto 6, padroes causais) säo pressupostos, nao

observados. Fazem-se suposiceles sobre as relacoes causa-efeito na base de

experiencias passadas e da aprendizagem. Como disse Kelley: "0 individuo

maduro (...) tem urn repert6rio de ideias abstratas acerca da operacão einteracao de fatores causais. Essas concepcOes habilitam o individuo a fazed

uma analise atributiva econamica e yapida, fornecendo urn quadro de refe-rencia dentro do qual fragmentos de informacdo pertinente podem ser 

acomodados a fim de se aduzirem inferencias causais razoavelmente boas."68Baseado na experiência e aprendizagem, o atribuidor jogara corn varios

pressupostos causais. 0 resultado é urn esquema causal em que supostascausas são colocadas numa relacao contingente. Urn exemplo particularmente

bom disco ocorre quando existe uma causa interna presumida (na pessoa) euma causa externa concorrente (na situacao). Por exemplo, o nosso amigo

acabou de receber uma nota 10 num exame final. Presumimos que esseresultado ocorreu por causa da capacidade intelectual do nosso amigo ouporque a prova era muito facil. Urn par de esquemas causais a possivel nesse

caso. Se operamos nessa situacao pelo esquema de mültiplas causas necess g 

raciocinaremos que o nosso amigo obteve 10 porque estava preparado e atarefa era facil. Esse esquema e ilustado na Figura 56-a. Ou talvez usemos oesquema das multiples causas suficientes, caso em que raciocinamos que ou o

nosso amigo 6 urn sujeito preparado, ou a prova era facil, ou ambas as coisas. A Figura 56-b ilustra essa possibilidade.69 Outros esquemas de maior comple-xidade foram estudados por Kelley, mas esses, mais simples, fornecem ilus-

tracao suficiente do processo para os nossos atuais propOsitos. Kelley resumiu

a importancia do processo de atribuicäo nos seguintes termos:

Existem muitas provas C..) de que as atribuiceies sdo importantes. A preocupa-

cdo do homem corn as razeies para eventos nao o deixa "perdido em pensa-

mentos" acerca dessas razeies. Pelo contrario, suas explicacees causais desem-

penham urn importante papel ao dote-lo de urn impulso para a KA° e em suas

decisoes entre cursos alternativos de ac-ao. Quando as atribuicaes säo apropria-

das, a pessoa sai -se indubitavelmente melhor em suas decisoes e acties do que

na aus'encia da analise causal. 70

Atracao Interpessoal

A secdo anterior tratou de como nos vemos mutuamente; esta secao examinaa natureza de nossas atitudes interpessoais. Comecaremos corn a teoriatridimensional de Albert Mehrabian, que coloca a atracao no contexto maisamplo da comunicacao em geral. Depois abordaremos duas importantes

68Harold Kelley — Causal schemata and the attribution process. Nova York, General LearningPress, 1972, p. 2.69A Figura 56 é extraida de Kelley — "The processes of causal atrribution", pp. 114-15.70 Ibid., p. 127.

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EE

E

2 38 Contextos de Comunicacão

Presente

CAUSA B

Ausente

MOIfiplas causas necessOrias

Ausente Presente

CAUSA A

(a)

E = Efeito

Figura 56. Esquemascausais. (Harold Kelley

 — "The process of cau-

sal attribution", in Ame-rican Psychologist, 28,1973, pp. 114-15. Copy-

right C)1973 The Ameri-can Psychological Asso-ciation. Reproduzido

com permissão.)

E

Presente

CAUSA B

Ausente

Ausente Presente

CAUSA A

(5)

MUltiplas causes suficientes

teorias da atracdo per se. Essas teorias representam os dois enfoques pri-mordiais do assunto: o enfoque cognitivo e o enfoque de reforco. Repre'sen-tando o primeiro temos a teoria do sistema cognitivo de Theodore Newcomb;e representando o segundo, a teoria da aprendizagem de Donn Byrne.

0 Conceito de Imediacäode Mehrabian

Albert Mehrabian prop6s uma andlise breve mas penetrante do comporta-mento de comunicacdo, colocando a atrageo num contexto interacional maisamplo. 71 Segundo Mehrabian, os comportamentos de comunicaceo podem serclassificados num quadro de referencia tridimensional. Os fatores incluemagrado (imediacao), dominencia (poder) e receptividade. Os comportamentosverbal e nao-verbal reais, em qualquer ato de comunicacao interpessoal,podem ser entendidos em termos dessas dimensOes. A atracâo interpessoal éexplicada em termos dametafora de imediaceo.

Na maioria das relagOes existe uma dimensão de dominfincia ou status, aqual explica certos comportamentos por parte dos participantes. Tais compor-

tamentos constituem a metafora de poder. Por exemplo, o poder é suscetivelde correlagdo com a posicão ereta, o use de gestos largos ou estar descon-traido. A falta de poder oustatuspode ser observada nos ombros descaidos,gestos embaracados, tensdo corporal etc. Tal como as outras, essa metafora étipica de cultura para cultura. Ao passo que os comportamentos culturaisespecificos variam, as tres metaforas existem em todas as culturas.

0 segundo fator de comunicaCao é a metafora de receptividade. Basica-mente, a um fator de dinamismo/atividade geral. Este correlacionado com aativacdo e estimulacao emocional. Como frisou Mehrabian, a receptividade eprimordialmente uma questdo de rapidez e sonoridade:

71Albert Mehrabian — Silent messages.Belmont, California, Wadsworth, 1971.

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Teorias de Comunicagao Interpessoal 239

Quando reagimos a outra pessoa, alteramos a direCao do nosso olhar, a nossa

expressão facial muda, e conversamos, o que, por seu turno, envolve a maior ou

menor rapidez corn que falamos, a nossa expressividade vocal (...) e o volume

de nossa fala. Assim, a receptividade a outra pessoa e simplesmente indicada

pelo grau de mudanca nas expresseies facial e vocal, a rapidez corn que falamos(...) e o volume da voz.72

 A dimensdo mais relacionada corn a atracdo interpessoal é a meta"fora dei mediag5o. Eis o principio de imediacao de Mehrabian: "Urn elemento basic()

e transcultural da vida humana a que as pessoas abordam e ficam maisenvolvidas corn as coisas de que gostam, as coisas que as atraem; e elasevitam coisas que rid() as atraem ou que induzem dor e medo." 73Na comuni-

cacào interpessoal, a imediacao é refletida por muitos comportamentos ver-

bais e näo-verbais. 0 agrado e visto ern numerosos comportamentos queaumentam a proximidade e o contato imediato dos participantes. A evitacdo,

por outro lado, pode ser observada nos comportamentos que diminuem afranqueza e a imediacdo do contato entre os comunicadores.

Existem muitos comportamentos obvios de imediacao. 0 mais comumrelaciona-se corn a distancia interpessoal. Somos propensos a ficar mais perto

das pessoas de quem gostamos. Inclinar-se para diante, ern contraste cornrecuar, a urn sinal de atrack. 0 comportamento de tocar e definitivamenteparte da dimensän de imediacao. Alern disco, a atracelo gera maior estimu-lacäo sensorial entre pessoas. 1st° explica por que maior incidéricia de contato

visual e de posturas face-a-face acompanha os sentimentos de agrado es i mpatia, e por que varios comportamentos de evitac5o, como eixos angulares

da posicdo corporal, acompanham o desagrado e a antipatia. 0 veiculoescolhido para a comunicacâo tambeni pode relacionar-se corn a imediacao.Por exemplo, urn telefonema é menos imediato do que a comunicack face-a-

face, mas uma carta é menos imediata do que urn telefonema.

Menos obvios, talvez, säo os aspectos verbais da imediacao. As declaracoes

mais imediatas tendem a refletir menor distancia no tempo e no espaco. Por 

exemplo, "Aqui este Kathy" é mais imediato do que "Ai vem Kathy". A

ambigilidade este relacionada corn a imediacao inferior, na medida 'ern quedeclaracOes ambiguas tendem a ser excessivamente abrangentes. Assim, "Foi

uma noite agradavel" a menos imediato do que "Apreciei realmente a suacompanhia". Outro sinal de imediacao éa disposicao evidente da pessoa quefala para assumir a responsabilidade pelo que e dito. Uma fala desse tipo teria

menos ressalvas, limitacOes e enunciados condicionais. Por exemplo, "Eu

quero ficar" e mais imediato do que "Suponho que nä° haveria inconvenientese eu ficasse urn pouco mais". 0 Quadro 15descreve diversas categorias de

imediacao corn exemplos.74 As ideias de Mehrabian sao Citeis ern dois aspectos. Primeiro, descrevem os

comportamentos de atrac5o; e, segundo, a sua teoria coloca o agrado nocontexto mais amplo da comunicacäo tridimensional. 0 que Mehrabian ndo

fez foi explicar o fenOmeno da atracdo. Para isso, teremos de recorrer a outrasteorias. Existem duas abordagens gerais para a explicacdo da atracäo inter-pessoal. 0 enfoque cognitivo usa urn paradigma sistémico para explicar asinter-relaceies entre os elementos do sistema cognitivo da pessoa, urn dosquaisgo as orientacees para corn outras pessoas. 0 enfoque do reforgoexplica a atracäo como urn comportamento aprendido, baseado ern relacOes

estimulo-resposta. Essas abordagens ndo são necessariamente incompativeis

entre si. Ambas contribuem para a nossa compreensdo do processo comoassinalou Byrne.

72 Ibid., p. 118.73 p. 113.74 Ibid., pp. 104-5. .

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CategoriaFala

imediata/ nao-imediata

Contextoimediato/ 

nao-imediato

240 Contextosde Comunicacão

Quadro 15. DefinigOes decategorias de imediagdo,

imediagdo de contexto ede Pala.

cornexemplos de

Distancia: distancia espacialentre comunicador e objetode comunicacào.

Tempo: distancia temporalentre comunicador e objeto.

Ordem de ocorrencia: ordemde interacáo corn o objetonuma seciiiencia de intera-cdo.

Duragao: duracão da intera-cão ou duracäo (por exem-

plo, extensAo) da comunica-cäo e interacdo.

 Atividade-passividade: es-pontaneidade versus qualida-de obrigatoria da interacdocomunicador-objeto.

Mutualidade-unilateralidade:grau de reciprocidade da in-teracao comunicador-objeto.

Probabilidade: grau de certe-za da interacdo comunica-dor-objeto.

Participacäo do corn unica-dor: a totalidade versus souma parte, aspecto ou co-nhecido do comunicador in-teratua corn o objeto.

Participacäo do corn unica-dor 2 : o comunicador intera-atua individualmente corn oobjeto versus fazer parte deurn grupo que interatua corno objeto.

Participagäo do objeto: a to-talidade versus so uma parte,aspecto ou conhecido doobjeto interatua corn o co-

municador.

Participacno do objeto 2 : oobjeto interatua individual-mente corn o comunicador versus fazer parte de urn gru-po de pessoas que intera-tuam corn o comunicaodr.

Participagdo comunicador-

objeto: a presenca versus a

ausencia de participacAo do

comunicador (ou objeto) na

interacAo.

Um homem de pea beira dapiscina diz para urn amigo aseu lado. / Urn homem de peno terraco, a certa distanciade uma piscina, diz...

Pergunta feita ao comunica-dor: "Pensa em X?" / "Estevepensando a respeito de X?"

Pergunta feita ao comunica-dor: "Voce visitou X e Y?" /"Voce visitou Y e X?"

 A é solicitado a escrever umalonga carta sobre B. / A é

solicitado a escrever umabreve carta sobre B.

X parou para ajudar alguém atrocar urn pneu furado. / Xteve de parar para ajudar al-guern a trocar...

Pergunta feita ao comunica-dor: "Voce e X encontraram-se?" / "Voce encontrou X?"

Pergunta feita ao comunica-dor: "EstA fazendo um cursode educacdo fisica?" / "Po-deria fazer urn curso de edu-cacâo fisica?"

Pergunta feita ao comunica-dor: "Voce vai a loja?" / "0seu amigo estA indo a loja?"

Pergunta feita ao comunica-dor: "Voce foi a praia o ve-rso passado?" / "Votes fo-ram a praia o verso passa-do?"

X e solicitado a escrever umacarta e descrever a personali-dade de Y. / X (...) descrever alguns dos habitos de Y.

 A e B estao falando sobre C,e A pergunta: Voce ye C..perto da piscina?" / "Voce vegente perto da piscina?"

Pergunta feita ao comunica-dor: "Como e que voce e Bestao indo nos estudos?" /"Como esta voce indo nos es-tudos?"

"Vamos, pule nesta piscina"/ "Vamos, pule naquela pis-cina".

"Penso em X" / "Eu costuma-va pensar ern X".

"Eu visitei X e Y" / "Eu visiteiY e X".

 A escreve uma longa cartasobre B. / A escreve uma

breve carta sobre B.

Diz X: "Parei para ajudar al-guêm a trocar urn pneu fura-do" / "rive de parar para aju-dar..."

"X e eu encontramo-nos on-tern" / "Eu encontrei X on-tern".

"Estou fazendo um curso deeducacão fisica" / "tu pode-ria fazer urn curso de educa-cão fisica".

"you a loja" / "0 meu amigo

vai a loja".

"Fui a praia o verso passado"/ "lamas a praia o verso pas-sado".

Ern sua carta, X descreve apersonalidade de Y. / Em suacarta, X descreve alguns doshabitos de Y.

B diz: "Vejo C perto da pis-cina" / "Vejo gente perto dapiscina".

"B e eu estamos indo bemnos estudos" / "Eu estou in-do bem PDS estudos".

Fonte: Albert Mehrabian —"The effect of context on judgements of speaker attitudes", in Journal of Personality, 36, 1968. Copyright 1968 by Duke University Press.

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Teorias de Cornunicacão Interpessoal 241

Quanto as diferencas teOricas, cumpre notar que as relacöes empiricas esta-

belecidas (...) sdo interpretaveis em termos cognitivos ou em termos de refor-

camento. De fato, os dois enfoques teOricos nao constituem sistemas expli-

cativos alternativos ou que mutuamente se excluam. Temos, pelo contrario, doisesquemas interpretativos muito diferentes que utilizam linguagens distintas e

que, evidentemente, conduzem a tipos algo diferentes de pesquisa empirica.75

 A A bordagem Cognitiva de Newcomb

Ja tomamos conhecimento da teoria de Theodore Newcomb no inicio docapitulo 7, onde discutimos a sua nocdo de tendencia para a simetria como

uma das teorias de coerencia da mudanca. Na realidade, a obra de Newcomb,

em sua mais elaborada forma, e uma teoria de atracdo interpessoal. Nestecontexto mais amplo, podemos ver a imoortante contribuicao de suas ideias7.6

Newcomb imaginou um sistema cognitivo em que se inter-relacionam vhriasorientacties pessoais. Uma orientagdo e uma relacao entre uma pessoa ealgum aspecto de seu meio ambiente. A orientacão envolve direcdo, seleti-

vidade e atenc5o. Se estou orientado para alguma coisa, sou propenso a estar dirigido para isso, a prestar-Ihe atencao de urn modo seletivo. Podemos ser 

orientados para numerosos objetos pessoais, concretos ou abstratos.  Assim,

umapessoa tem orientacOes para outras pessoas, coisas, conceitos ou ideias.Uma orientacdo tem certo nOmero de qualidades, incluindo a sinal (positivoou negativo) e a intensidade (forte ou fraca). As orientacäes tambem possuemo que Newcomb chamou conteudo cognitivo ou atribuicoes feitas acerca doobjeto de orientacao. Newcomb ofereceu o seguinte exemplo de conteCido

cognitivo: "(,..) a atracdo de um dos pais em relacao a um filho pode ter fortescomponentes cognitivos de orgulho e semelhanca com ele, ao passo que para

o outro o calor da resposta pessoal pode ser urn componente mais impor-tante.

” 77 

 AsorientacOes de uma pessoa inter-relacionam-se para formar sistemas

cognitivos. Especificamente, tres especies de orientacaes interatuam. Pri-meiro, temos orientacäes de atragdo. Sao orientaglies interpessoais. Newcombusou aqui o termo atragão de um modo geral para significar orientacOes po-sitivas e negativas em relacao a outras pessoas. Asatitudes sáo orientacc5es

para com objetos ouconceitos que ndo-pessoas. Finalmente, existem as orien-taclies percebidas de outros. Nesse ponto, Newcomb reconheceu o nivel demetapercepcdo ja encontrado tantas vezes nas teorias deste capitulo.

Basicamente, existem duas especies de sistemas dentro desse quadro dereferencia. 0 sistema individual e o sistema fenomenal de orientacees dapessoa em relacao a outra pessoa e a um objeto relevante. Tal sistema é visto

atraves dos olhos do percebedor. 0 segundo tipo de sistema e coletivo, evisto desde fora dos individuos envolvidos. Em ambos os casos este() presentestres elementos: a pessoa A, a pessoa B e o objeto X. No sistema individual,il ustrado na Figura 57-a, interatuam quatro orientaciies, que incluem a atracäodo percebedor (A) em relacao a B, a sua atitude para com X e a atitudepercebida de B em relacao a A. 0 sistema coletivo, ilustrado na Figura 57-b,inclui nao so as orientacOes de A mas tambem as orientagaes reais de B. 78 Asfaixas pretas na Figura 57-b indicam as inter-relacoes entre os pares deorientacOes, como se explica abaixo.

75 Donn Byrne —The attraction paradigm. Nova York, Academic Press, 1971, p. 266.76Theodore Newcomb —The acquaintance process. Nova York, Holt, Rinehart &Winston,1961.77 

 Ibid.,p. 6.78A Figura 57 foi extraida de ibid., p. 9.

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242 Contextos de Comunicacab

A ,41 g

X

la) Sistema Individual lb) Sistema Coletivo das Pessoas A e Bda Pessoa A

No sistema individual, devem ser satisfeitas certas condicees. Urn sistemaindividual requer que o percebedor considere que o objeto possui importänciatanto para ele como para a outra pessoa. 0 percebedor deve atribuir umaatitude a B. No sistema individual, nao importa se A e acurado em suaspercepceies. E apenas necessario para o próprio percebedor acreditar que a

coorientacao existe. Se ambas as partes ve'em a coorientacdo, entäo pode serusado o modelo coletivo. Usualmente, o modelo coletivo pressupae comuni-

cacão, verbal ou nao-verbal, entre pessoas a respeito de X.Por exemplo, suponhamos que um homem encontrou recentemente uma

mulher na biblioteca. Ele este atraido positivamente para ela e admira o seuvisivel interesse pela leitura. Alern disso, acredita que ela esth positivamenteatraida para ele. Eis urn exemplo de urn sistema individual. Esse homem temorientacifies em relacao a mulher e a leitura. Tambêm atribui orientacOes a suanova conhecida. Se a mulher compartilha a percepcdo de atracâo e coorien-tacdo para a leitura, pode-se dizer que existe urn sistema coletivo.

Recorde-se do capitulo 2 que uma das qualidades dos sistemas é a suatendencia para serem homeostaticos (equilibrados). As mudancas que criamdesequilibrio causam presseies para outras mudancas que repiiem o sistema em

equilibrio. Este é o metodo pelo qual urn sistema se mantêm. 0 mesmoacontece corn os sistemas cognitivos descritos por Newcomb. Ele explicouesse fenomeno assim:

Em forma propositiva, quanto mais forte e a atrayao de A em relayao a B, mais

vigorosa e a forya exercida sobre A para manter uma discrepancia minima entrea sua prOpria atitude e a atitude de B, - pa medida em que percebe a segunda, emface do mesmo X; e se a atrayao positiva permanece constante, quanto maior a

discrepancia percebida na atitude, maior a forya para reduzi-la. Referimo-nos a

essa forya como tensao(strain).79

Assim, a tensdo para a simetria é uma funcdo da atracdo de uma pessoa emrelacäo a outra. Dols outros fatores estdo relacionados. A importänciado

objeto para a pessoa estd positivamente relacionada corn o montante detensào, porquanto é a relevãnciapercebida do objeto para a relacão entre aspessoas. Continuando corn o nosso exemplo, se o homem é muito atraido paraa mulher, se ele aprecia a leitura e a considera importante para o seu

relacionamento corn a mulher, haverapara ele uma pressao real no sentido deatribuir a mulher interesse pela leitura. Se ele descobre que a mulher naogosta de leitura —ela estava apenas visitando uma amiga na biblioteca —algo mudara em seu sistema. 0 homem pode passar a dar menos 'valor aleitura, mudando sua atitude em relacao a X, Podera distorter a sua per-cepcao, para continuar acreditando que a mulher gosta de ler. Poderâ reduzir

Figura 57. Representa-

cão esquernatica de sis-

temas. As setas apontamda pessoa que se orienta

 para a pessoa ou objeto

de orientacäb. As linhas

tracejadas referem-se aorientacifies atribuidas

 por A a B (a), as linhas

cheias referem-se as prO-

 prias orientaceies da pes-

soa de quern a seta pro-

mana. As taixas pretas

referem-se a relay:5es en-

tre orientagdes ligadas

 por bandas. (Extraido deTheodore M. Newcomb

 — The acquaintance

process. Copyright ©

1961 by Holt, Rinehart &

Winston. Reproduzidocoin permissão de Holt,

 Rinehart & Winston.)

A   B

79ibid., p. 12.

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Teorias de Comunicacäo Interpessoal 243

a relevancia percebida da leitura para o relacionamento. Finalmente — e damaior importancia para o terra desta secao — ele pode sentir-se menos atraido

para a mulher. A atracao e assim explicada em termos da dinamica do

sistema, envolvendo as varias orientacdes inter-relacionadas dos participantes.

Esta analise sugere que a nova informacao tern grande impacto sobre o

sistema. A nova informacao, se incongruente corn as orientacOes relevantes eimportantes de uma pessoa, causara mudancas em todo o sistema. Newcomb

chamou a essas pressOes no sentido da mudanca tarps da realidade. Por outrolado, existem tarps de equilibrio no sistema que criarn a tensao no sentido de

minimizar discrepancias. Assim, o sistema encontra-se num estado de tensãodinamica, quando a nova informacao ou sera distorcida ou provocara mu-dancas.

 A contribuicao principal de Newcomb foi ter situado a atracao no contextodo sistema de orientacães inter-relacionadas. A atracao nao 6, portanto, uma

atitude isolada ern face de outra pessoa. E parte de urn complexo de

elementos que tem de ser vistos como um todo. Pam disso, Newcombmostrou como o sistema de orientacifies de urn individuo faz parte de sistemas

coletivos mais amplos, nos quais a comunicacao interpessoal desempenha urn

papel de destaque.

 A Abordagem do Reforco de Byrne

 A abordagem do reforco, notadamente a de Donn Byrne e seu colaborador G.L. Clore, chama a nossa atencao para os processos de desenvolvimento daatracao. 80 Byrne sustentou que a atracao é urn comportamento aprendido. Ja

relanceamos a teoria da aprendizagem no capitulo 4, quando examinamosas teorias de aprendizagem da linguagem, e no capitulo 7, quando analisamos

o modo como a persuasao pode ser explicada pela teoria da aprendizagem. 0leitor recordara, desses exames, que a existéncia de reforcadores no meio

ambiente muda a probabilidade de que certos comportamentos sejam susci-tados. Se urn comportamento e recompensado, sua freq8encia aumenta; se

punido, ele declina.Byrne aplicou essa lei basica da aprendizagem a atracao. Somas propensos

a ser atraidos para uma pessoa quando nossas experikcias corn essa pessoa

envolvem mais recompensas do que punicaes. 0 oposto e verdadeiro no caso

de antipatia. Eis o que acontece: urn reforcador no meio ambiente (estimulonão-condicionado) gera sentimentos agradaveis ou desagradaveis na pessoa(resposta afetiva impl fcita). Essa resposta interna ou sentimento e uma variavelinterveniente que leva a uma avaliacao do estimulo como born ou mau. Esta

Ultima resposta 6 a variavel dependente no paradigma. Ora, se uma outrapessoa for associada ou pareada corn o reforcador original, essa pessoa passa asuscitar respostas afetivas e respostas de avaliacao semelhantes. A Figura 58

il ustra a relacao desses quatro elementos. 81 Para ilustrar essa explicacao, Byrne

citou urn experimento em que fotografias de pessoas foram pareadas cornafirmacães que apoiavam ou contrariavam as atitudes dos sujeitos. As ava-liacoes negativas ou positivas produzidas pelas declaracifies foram "transfe-ridas" para as fotografias, de modo que estas passaram entao a suscitar avaliacoes analogas. (Diga-se de passagem que as declaracães pareadas cornfotos de homens tinham sido gravadas por uma voz feminina e vice-versa,para assegurar que os sujeitos nao atribuiriam as declaracoes as pessoas foto-

grafadas.)Na realidade, qualquer encontro corn outra pessoa ocorrera num contexto

de numerosos estimulos. Os varios estimulos associados ao encontro terdo

80 Byrne — Attraction Paradigm.81 Ibid., p. 269

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244 contextos de Comunicacgo

qualidades reforcadoras positivas e negativas. A atracao final de uma pessoapor outra sera determinada, mais ou menos, por uma simples cpmbinacao dosestimulos, cada urn deles ponderado em funcao de sua magnitude ou forca.82

Voltemos ao nosso exemplo do homem e da mulher na biblioteca. 0homem sera atraido para a mulher se a sua associacao corn ela ocorre na

presenca de certo ntimero de estimulos recompensadores. Por exemplo, o fatode se encontrarem na biblioteca, o que constitui urn estimulo recompensadorpara ele, contribuira para a atracao. Talvez ele a )eve a urn restaurante ern quea atmosfera e a comida sao muito recompensadoras. Amedida que se acumu-lam essas experièncias positivas, a sua atracaopela mulher tambem aumenta.Por outro lado, se o conhecimento estiver eivado de varias experiéncias nega-tivas,omais provavel a que ocorra a antipatia.

1

ENClestImulo   Ireforcadorl   I

E Ciquatquer estimulodiscriminbvel, incluindooutra pessoa)

Examinamos nesta secao tres abordagens da atracao. Cada uma delas con-tribui para a nossa compreensao do conceito. Mehrabian descreveu compor-tamentos de imediacao ou os modos como as pessoas realmente se comu-nicam sob varias condiceies de atracao. Newcomb mostrou como a atracao fazparte do sistema cognitivo mais amplo. Finalmente, atra yès da obra de Byrne,vimos uma fonte possivel de atracao interpessoal.

Conflito Social

A secao final deste capitulo trata das teorias de conflito social. Tal como amaioria dos enfoques enumerados neste capitulo, o conflito tem suas rakes nainteracao interpessoal, mas tambem é visto em outros contextos. Assim, élicito falar de conflito intergrupo e de conflito institutional. A maior parte domaterial aqui apresentado relaciona-se mais diretamente corn o nivel inter-pessoal, mas convêm nao esquecer que tambem pode ser aplicado, na maioriados casos, aos niveis superiores.

Ao longo dos anos, surgiram numerosas abordagens para o estudo doconflito e, como na maioria das areas teOricas, esses estudos nao sao siste-matica e totalmente consistentes.83

 Em conseqOëncia disso, e dificil formular

82.A formula de Byrne e Clore 6:

em que m é uma medida de afeto (sentimento, emoc iao) geral e M e a magnitude de cada

reforcador.83

Existem \Janos estudos recentes. Uma excelente analise dos diversos pressupostos das teoriasde conflito pode ser encontrada em Leonard Hawes e David Smith —"A critique of assumptionsunderlying the study of communication in conflit", in Quarterly Journal of Speech, 59, 1973, pp.423-35.Ver tambem Thomas Steinfatt —"Communication and conflict: a review of newmaterial", in Human Communication Research, 1, 1974, pp. 81-89; e David Johnson —"Com-munication and the inducement of cooperative behavior in conflicts: a critical review", inSpeech Monographs, 41, 1974, pp. 64-78.

Figura 58. Modelo decondicionamento. Res-

 pastas de ex/alien() co-mo fungdo de estimulos

reforcadores associados

a urn estimulo nao-con-dicionado. EC, estimulo

condicionado; ENC, es-

timulo nao-condiciona-

do; RNC, resposta Mao-

condicionada. Donn

 Byrne — The attraction

paradigm. NovaYork, Academic Press, 1971, p. 269.

me

1

L   - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -  j

Iresposta afetiva

RespostaAveha tens

A x —m[z (PRx X M) I(PIC X M) tE( Mix X M)

+K

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Teorias de Comunicano Interpessoal 245

uma definicao de conflito. Charles Watkins propOs uma analise das condi-cees essenciais de conflito, as quais formam uma definicao operational doconceito:

1 0 conflito requer, pelo menos, dues partes capazes de recorrer a sancaes

m Cduas.

2. Osconflitos surgem em virtude da existéncia de um objetivo mutuamentedesejavel mas impossivel de ser alcancado porambas as partes.

3. Cada parte num conflito tern quatro tipos possiveis de alternatives de acao:

a. obter o objeto mutuamente desejado,

b. terminar o conflito,   -

c. recorrer a sancOes contra o adversario,

d. comunicar algo ao adversario.

4. As partes em conflito podem ter diferentes sistemas de valores ou percep-

tuais.5. Cada parte dispoe de rec ursos que podem ser aumentados ou diminuidos pela

i mplementacäo de alternativas de acao.

6. 0 conflito so termina quando cada parte se considera satisfeita por ter

"vencido" ou "perdido", ou acredita que os custos provaveis de prosseguir

no conflito superam os custos provaveis de par fim ao conflito. 84

Uma das vantagens dessa definicao e incluir a possibilidade de comuni-cacao. Ironicamente, os tearicos de comunicacao so comecaram a inte-ressar-se pelo conflito em data relativamente recente, e muitas abordagens doconflito negligenciaram o aspecto de comunicacao. Em parte para tratar dessaanomalia, a Speech Communication Association promoveu uma conferenciasobre comunicacao e conflito. As abordagens tearicas incluidas nesta secaosao orientadas pelos trabalhos provenientes dessa conferencia 8 5 Tres abor-dagens principais de comunicacao e conflito foram escolhidas para serem aquianalisadas. Trataremos primeiro de uma concepcdoteOrica dos jogos. Pas-saremos depois a um modelo transacional e, finalmente, a uma teoria baseadana persuasao em conflito. Essas tit abordagens proporcionam uma adequadarepresentacao dos modos como a comunicacao em conflito pode ser concei-

tuada.A teoria dos jogos foi desenvolvida ha muitosanos por Von Neumann e

Morgenstern como instrumento para o estudo do comportamento econ&mico. 86 Desde o seu inicio, a teoria dos jogos forneceu uma base para

instrumentos de pesquisa que se tornaram populares em numerosas disci-plinas. Sempre que e Otil estudar os processos de decisaoou de escolha, assimcomode competicao ou cooperacao para se atingir determinada meta, ateoria dos jogos fornece um passive) paradigma. Por conseguinte, tem siloextensamente usada para estudar o conflito.

A teoria dos jogos inclui muitas especies diferentes de jogos. Os jogos deduas pessoas, que sao particularmente Oteis na pesquisa de conflito, con-sistem em situacaes estruturadas onde dois jogadores se revezam na reali-

zacão de escolhas que levem a certos desfechos ou resultados finais, Em todosos jogos é enfatizado o processo rational de tomada de decisao. A questa°fundamental é como os jogadores se comportam a fim de obter recompensasou atingir objetivos. Os tipos de jogos variam em numerosos aspectos,incluindo o montante de informacao fornecida aos jogadores, a montante de

84Charles Watkins —"An analysis model of conflict", in Speech Monographs, 41, 1974,PP. 1-5.86Gerald Miller e Herbert Simons (orgs.) —Perspectives on communication in conflict.Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1974.86

J. von Neumann e 0. Morgenstern -- The theory of games and economic behavior.Princeton, Princeton University Press, 1944. Numerosas fontes secundarias sao tambem acessi-veis. Ver, por exemplo, Morton Davis —Game theory: a non-technical introduction. Nova York,Basic Books, 1970.

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246 Contextos de Comunicagao

comunicacao permitida entre jogadores, e o grau de incentivo a cooperacao

versus competicao contido na matriz de recompensas. Steinfatt e Miller mostraram como a teoria dos jogos a Otil no estudo de conflitos:

Ateoria dos jogos trata de como ganhar urn jogo, corn estrategias de seqanciasde lances que maximizam a probabilidade do jogador de ganhar e minimizam a

sua probabilidade de perder. Comourn dos principais ingredientes em situaceesde conflito e o desejo de ganhar alguma coisa que rasa se possui e de conservaraquilo que se possui, certos jogos Cab analogos a certas situacties de conflito e ateoria dos jogos serve como modelo para predizer o comportamento de pessoasem tais situacOes de conflito e tentando alcancar esses fins.87

Uma vez que a teoria dos jogos enfatiza a tomada racional de decisbes,considera-se que isso envolve jogos de estrategia. Em tais jogos, urn jogador executa lances (escolhas) que acarretam recompensas ou puniceies, corn basenos lances do outro jogador. 0 objeto e maximizar os ganhos e minimizar as

perdas.Talvez o jogo mais comumente usado seja o Dilema do Prisioneiro8 8 Esse

 jogo simples e extremamente titil porque ilustra um certo nUrnero de carac-

teristicas salientes dos jogos em geral. Tambern é interessante como urn jogode motivos mistos, dado que os jogadores podem escolher entre cooperar oucompetir, e existem boas rathes para escolher uma ou outra alternativa. Eis a

situacao: duas pessoas sao presas por um crime. Depois de terem sidoseparadas, cada uma deve escolher entre confessar ou nao. Se uma confessa ea outra nao, a que confessou sera posta ern liberdade e seu depoimentoniandara a outra pessoa para a cadeia por 20 anos. Se ambas confessam,ficarao presas por cinco anos. Se nem uma nem outra confessa, ambaspara a prisao por urn ano, acusadas de urn delito menor. A Figura 59 ilustra as

escolhas.

Suspeito A Figura59.0 Dilema do

Prisioneiro.

Confessa Silencioso

Confessa

Suspeito 8

Silencioso

5 5

2

1 1

Sem comunicacao entre os jogadores, eles ignoram a escolha do outro. Cada

urn deles esta num dilema: ser confiante e cooperar, permanecendo silen-cioso, ou ser competitivo, confessando. Se ambos estao dispostos a cooperar 

mutuamente, nao confessando, o resultado a longo prazo é maximizado paraambos. Mas se urn deles nab se comportar de um modo cooperativo, o outro

nao pode cooperar. Foi apurado que, Naas numerosas provas, a grande maioriados jogadores se decidiná, em Oltima instancia, pela estratégia nao-coopera-tiva.

87Thomas Steinfatt e Gerald Miller —"Communication in game theoretic models of conflict",

inPerspectives on communication in conflict, organizado por Miller e Simons. Englewood Cliffs,Prentice-Hall, 1974, pp. 14-75.88Esse jogo a explicado com grande clareza em Davis — Game theory, pp. 93-107. Esse livrouma excelente fonte de analogias do mundo real para muitos tipos de jogos.

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Teorias de Comunicagao Interpessoal 247

Steinfatt e Miller recapitularam a literatura em que eram usados jogos parainvestigar o processo de comunicacao em conflitos. As suas generalizaceesCao um avanco no sentido de uma analise teOrica dos jogos. Usando os jogoscomo urn analogo, Steinfatt e Miller assinalaram tre's metodos pelos quais aspartes em conflito avaliam as estrategias miltuas. 0 primeiro metodo consisteem observar os lances do adversario em uma serie de provas. Em jogos como o

Dilema do Prisioneiro, os sujeitos repetem o jogo em sucessivas provas. Tipica-mente, um jogador observara o lance do adversario e julgara seus prOprioslances subseantes nessa base. 0 segundo metodo de avaliacao da estra-tegia e observar a situacao total de conflito. Assim fazendo, um jogador infereda situacdo a estrategia do adversario. Num jogo, o jogador estudara a matrize tentara imaginar qual sera a estrategia mais provavel do adversario.

Aterceira abordagem é a comunicaa direta. Sublinharam os autores:"Idealmente, a comunicaa torna possivel conduzir todo o conflito em nivelsi mbOlico, com cada jogador afirmando como responderia aos lances dooutro, lances mais relatados do que reais." E ainda: "Alêm de evitar ahostilidade, perturbacoes e subsequentes prejuizos resultantes de lances reais,as negociacCies permitem as partes distanciarem-se de uma posicäo de 'o

ganhador leva tudo', caminhando no sentido de uma solucao que proporcionacertas recompensas para todos." 89Se os jogadores no Dilema do Prisioneiropudessem comunicar e concordar em colaborar ambos receberiam sentencasmenores.

Steinfatt e Miller desenvolveram um modelo de comunicacao em conflitode We's pontos, tal como se reflete na seguinte definicao:

Empregamos a palavra "comunicacdo" para indicar o use de comportamento

simbOlico mutuamente compreendido, de modo tal que a probabilidade de se

adotar urn determinado comportamento (fazer urn determinado lance) 6 alte-

rada atravös da permuta de sectirkcias de lances simbelicos que nao comportam

conseqilenciasnecessarias para a situacão (a matriz formal do jogo). 90

0primeiro ponto nessa defini a a que a comunicacao e simbOlica no sentidode que a intencao declarada nao comporta a consecancia real de um lanceconcreto. Embora os lances reais possam "comunicar", numa acepcao maisampla, e necessario limitar a defini a para distinguirmos aqui entre um lancereal com conseqtiéncias vantajosas e um lance simbOlico. Em segundo lugar, acomunicacao altera a probabilidade dos lances. Se urn jogador recebe eentende realmente uma mensagem do outro, mudara a probabilidade deque ocorram lances competitivos "racionais". Se nao ocorrer uma mudanca naprobabilidade, diz-se que a mensagem constitui uma tentativa para comu-

nicar.0 terceiro aspecto do modelo e que a comunicacão pode resultar emconseancias nao-situacionais. Ja vimos que as trocas simbolicas nao afetama matriz de resultados per se.0 que e afetado pela comunicacão é o

comportamento da pessoa na situaa.

Assim, as pessoas em conflito estáo numa situa a que tem o potential de

fornecimento de vantagens que se excluem mutuamente. Atraves da comu-nicacdo, as partes podem reduzir suas prOprias tenacias para se compor-

tarem de um modo chauvinista. De fato, os estudos tern mostrado ser isso oque tende a acontecer. As discussäes pre-jogo parecem aumentar a coope-rack). 0 maior efeito ocorre quando existe comunicacdo desde o inicio do

89Steinfatt e Miller —"Communication in game models", pp. 32-33.90 p. 37. Essa definicão baseia-se no livro de T.C. Schelling —The strategyof conflict.Cambridge, Harvard University Press, 1960. Schelling foi um dos primeiros a estudar a comuni-cacäo na perspectiva tenrica do jogo.

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248 Contextos de Comunicano

conflito. Os estudos tambem mostram que, quanto mais complete é a comuni-cacao e mais abertos os canais, major é a cooperacão resultante.

 A vantagem do enfoque te6rico do jogo em comunicacão e conflito e quenos ajuda a conceituar, atraves de simples analogies, a natureza do conflito, a

relacao entre o conflito e a tomada de decisdes, e os efeitos da comunicacãosobre a producao do conflito ou as escolhas que acarretem melhoria para o

conflito. Adesvantagem desse enfoque e que nao explica o processo e oscomportamentos de comunicacao em conflito. Como afirmaram os autores em

sua conclusao: "Nos conflitos politicos, econOrnicos e sociais cotidianos cornque todos nos defrontamos, as soluceies mutuamente vantajosas raramentedefinidas corn tanta nitidez e, ao buscar-se uma solucao aceitavel, a comu-nicacäo serve a uma miriade de funciies cognitivas e afetivas." 91

 Agora que ja examinamos os conceitos de comunicacdo e conflito corn base

na teoria dos jogos, passamos a duas teorias que procuram explicar o processode comunicac5o em situacOes de conflito real. A primeira e o  paradigma

transacional de Mortensen. 92

0 transacionalismo 6 um movimento estreitamente alinhado corn a feno-menologia. Ao contrario da abordagem reducionista e behaviorista da teoria

dos jogos, o paradigma transacional procura explicar as situacees e os pro-cessos na medida em que se manifestam na experiência holistica da pessoa. Jaencontramos essa divisao filosofica em muitas areas da comunicacan anterior-mente estudadas neste livro. Concebemos a pessoa como respondendo pri-

mordialmente ao mundo, ou como alguem que define e age sobre o mundo?

Esta divisdo entre "reagir ao" e "agir sobre" tambem e agora evidente naliteratura referente a conflito.

 A teoria dos jogos apresenta situacOes que, induzindo os individuos aoconflito, observam suas respostas. Na vida real, segundo Mortensen, os con-flitos não sdo apresentados as pessoas mas resultam de situacrdes, tal como

elas são definidas pelos participantes. Quer dizer, os conflitos náo sdo

situacties objetivas.Existe urn certo nOrnero de pressupostos subentendidos nesta abordagem.

Em primeiro lugar, os participantes num conflito definem ativamente acomunicacão como conflito. Em segundo lugar, o conflito surge naturalmenteda comunicacdo entre os participantes. E, terceiro, os comunicadores estão

relativamente livres para definir suas prOprias regras.Quaisgo, pois, as dimensOes que dao origem a definicao de conflito?

Mortensen apontou cinco. A primeira e adisposig go individual. As pessoas

variam no grau em que esperam conflito: Num extremo estao aquelas quetipicamente preveem o conflito, sem levar em conta a situacao social. Essaforma de disposicao e independente da situagdo ou generalizada. No outro

extremo esfao os individuos que possuem uma disposicao completamentevinculada a situacao. Esses individuos so comecam a definir o conflito depois

que determinadas circunstâncias situacionais o exigem.

 A segunda dimensao é a orientagao. Aqui, Mortensen apoiou-se principal-

mente na obra de Newcomb, resumida na secäo anterior deste capitulo. Emsuma, a medida que a proporcaodas orientaceies de um individuo se tornam

cada vez mais sociais, tornam-se maiores as probabilidades de que a pessoa

experimente urn conflito. Quando uma pessoa adquire uma consciencia

91Steinfatt e Miller —"Communication in game models", p. 70. Para um excelente debatesobre o valor da teoria dos jogos na pesquisa de comunicacão, ver Robert Bostrom —"Gametheory in communication research", in Journal of Communication, 18, 1968, pp. 369-88; eThomas Beisecker —"Game theory in communication research: a rejoinder and a re-orienta-tion", in Journal of Communication, 20, 1970; pp. 107-20.92 C. David Mortensen —"A transactional paradigm of verbalizes social conflict", inPerspec-

tives on communication in conflict, organizado por Miller e Simons. Englewood Cliffs, Prentice--Hall, 1974, pp. 90-124.

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Teorias de Comunicacao Interpessoal 249

crescente de suas orientacees no sentido de objetos e outran pessoas, torna-semais provavel que urn conflito ocorra.

 As Ultimas tres dimensoes de conflito estao interligadas. Elas incluemtempo, frecieencia e saliencia ou intensidade. Basicamente, quanto major for 

a freqiiencia e a compressao no tempo com que uma pessoa vivencia ou pensa

acerca de sua coorientacdo com outra pessoa, major sera tambern a previsao

de conflito.De acordo com essa teoria, essas dimensoes dao azo a comunicagao de

conflito. De especial interesse na experiencia real da pessoa sao as mudancas

percebidas de estados generalizados para estados vinculados a uma situacao,

de orientaceies intrapessoais para orientaceies sociais, e da pouca para a muita

saliencia das pistas de conflito. A medida que as mudancas ocorrem, existeurn aumento de pressao na pessoa para perceber e verbalizar o conflito.

Por exemplo, suponhamos que duas pessoas se interessam por uma cadeiraantiga num Leila° de antiguidades. Quando cada uma delas se apercebe do

interesse da outra pela cadeira, ha urn movimento no sentido de crescente

orientacao social. Os compradores potenciais transferem-se de uma orien-tacao puramente pessoal para uma consciencia mais nitida da outra pessoa e

do desejo desta ern relacao a cadeira. Nesse ponto, ambas as partes podemtornar-se cada vez mais censcias do potential de conflito do leilao. Essescompradores tornam-se sensiveis ao fato de que o conflito pode surgir nessasituacao. Quanto mais pensam a respeito, mais saliente essa possibilidade se

torna, e mais provavel é a ocorrencia da comunicacao de conflito. Nesteexemplo, vemos os tres fatores de conflito em acao.

Mortensen acredita que os comportamentos de comunicacao de conflitopodem ser descritos em termos de tres dimensoes: intensidade, afeto (emo-

cao) e orientacao. A intensidade é a forca ou potencia do comportamento.

Corna escalada do conflito, os comportamentos aumentam de cadencia,sonoridade e outros sinais de intensidade. A segunda dimensao e o afeto. Em

poucas palavras, as pessoas ern conflito tornam-se emocionais. 0 terceiro

fator 6 a orientacäo. Os participantes em conflito tendem a verbalizar suas

orientacees e suas percepgees das orientacees do outro. Na expressdo deMortensen, "a maioria das reivindicacees sao comparativas, avaliatOrias,acusatOrias, disjuntivas e polarizadas"93

Mortensen resumiu as principais proposicees dessa abordagem da seguinte

maneira. Podemos ver como essas oito areas comportamentais se relacionam

com as tit dimensoes acima descritas.

1.  As pressOes para verbalizar conflitos internos aumentam coin as mudancas

de (a) pistas generalizadas para as altamente diferencadas e carregadas de

conflito, (b) de objetos intrapessoais para objetos sociais de orientacdo, e (c)

de pistas pouco salientes para muito salientes, carregadas de conflito.

2. Quanto mais elevado for o nivel de conflito verbal, major a frec i liéncia da

verbalizacdo, menor a dura45o, major a amplitude e o ritmo, e menor o nivel

de fluencia.3. Quanto mais elevado for o nivel de conflito verbal, mais variavel e menos

sincronizada se torna a distribuicao de atos verbais.

4. Quanto mais elevado for o nivel de conflito verbal, major o grau de dese-

quilibrio verbal (medido pela variabilidade dos atos de fala, a assimetria dos

tempos de reacão e a disfuncionalidade das mudancas manifestas entre codi-

ficacão e decodificacao).

5.  As mudancas na intensidade verbal levam a correspondentes mudancas nos

indicadores perceptuais e substantivos de conflito social, tal como se mani-

festam através dos niveis caracteristicos de intensidade da linguagem e da

estrutura dasreclamacOes expressas pelos agentes de conflito.

93 Ibid., p. 119.

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Teorias de CorPunicano Interpessoal  251

ele mesmo disse: "Argumentarei aqui que, em situacOes de conflito, apersuasao, definida law sensu, ndo é tanto uma alternativa para o poder decoercdo e induzimento quanta um instrumento desse poder, uma concomi-tante desse poder ou uma conseqUencia desse poder." 97 0 conflito ocorrequando os interesses das partes sac) de tal mode incompativeis que resulta umaluta. Em tais situacOes, "o poder serve a ret6rica e a retOrica ao poder". 98 E per 

que? Simons propOs dois argumentos basicos. Primeiro, os atos evidentes decoercdo ou induzimento devem ser apoiados pela persuasao. Pelo menos, odestinatario deve estar persuadido de que o remetente pode instituir e

instituirà sancOes. Segundo, os atos evidentes de persuasao sac) sustentadospelo poder subjacente para coagir ou induzir. A influencia em situacOes deconflito e uma moeda de duas caras. Apersuasao apOia o poder e o poder sustenta a persuasao. Na pratica, a moeda nao pode ser dividida em duas.

Simons examina diversos modes de interacdo entre poder e persuasao. Um

agente que usa a coercao ou o induzimento deve estabelecer a sua prOpria

credibilidade; deve persuadir o destinatdrio de que disp6e de suficiente poder para concretizar a promessa ou a ameaca anunciada, e de que estA disposto a

faze-lo. Por outro lade, coercdo e induzimento podem ser necessaries paraadquirir a autoridade ou o ethos necessario a uma persuasao eficaz. Alerndisso, os fins ou as conseqUencias do poder e da persuasao apOiam-semutuamente corn freqUencia. Cada um pode criar obrigacães, apaziguar adver-sArios ou provocar mudancas de atitude atraves da reducdo da dissonancia.Uma area final de sobreposicdo parcial ocorre quando persuasores potenciais

usam a influencia coerciva e a recompensa para "comprar" valiosos recursosde comunicacao. Por exempla, a persuasao eficaz requer frequentementedinheiro, acesso aos centres de decisdo, controle dos midia e outros fatores.

Cada uma das abordagens resumidas nesta secOo acrescenta urn ponto de

vista diferente a nossa compreensáo da comunicacdo em conflito. A abor-dagem da teoria dos jogos a estrutural, apontando os parâmetros de conflito e

a natureza das contingencias de tomada de decisäo entre os participantes noconflito. A abordagem transacional é tatica, enfatizando as dimensOes que dao

azo ao conflito e a natureza dos comportamentos de comunicacao de confli-to real. Finalmente, o model() de influencia é estrategico, na medida em quesublinha as inter-relacOes complexas entre as estrategias de influencia que ocor-rem no conflito. Como acontece tantas vezes no dominio da comunicacão,uma visa() multiteorica leva-nos a compreender melhor o fenOmeno.

GeneralizacOes

Iniciamos este capitulo cam o reconhecimento de que a cornunicacão inter- pessoal ocorre no context() da interagão face-a-face. Por si mesma, essageneralizacdo chama simplesmente a nossa atencao para o topic(). Generali-zacOes subsecitientes, decorrentes das teorias, ajudam-nos a ampliar o nosso

entendimento da comunicacao interpessoal.Primeiro, apuramos que a comunicagäo interpessoal e um process() de

estabelecimento e manutencdo de relacoes.Quando as pessoas interatuam, acomunicacdo efetua-se em dois niveis: urn nivel direto ou de conte6do e ummetanivel, no qual as relacOessãodeterminadas e mantidas. A comunicacdointerpessoal envolve tanto a percepcâo come a metapercepcdo do outro; e,quando referimos a comunicacdo a um nivel de conte6do, tambêm forne-cemos pistas que "comentam" sabre ostatus dessas percepcOes.

97Ibid., p. 177.98Ibid., p. 178.

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252 Contextos de Comunicagdo

Segundo, os padnies de comunicagäo interpessoal säo estabelecidos na basede necessidades interpessoais. Em suma, verificou-se que as necessidades de

inclusao, controle e afeicao de uma pessoa determinam como ela se comportaem interacdo corn outras.

Terceiro, a comunicagão interpessoal envolve a apresentagio do eu aoutros. Tentamos frequentemente controlar as impressdes de outras pessoasdefinindo e estruturando as situacOes em que comunicamos. Tal apresentacdoenvolve o use de pistas verbais e nao-verbais.

 A quarta generalizacao A que uma das metas prima's-las da comunicagäointerpessoal éa major compreensäo entre os cornunicadores. Esta generali-zacao, oriunda da obra dos humanistas, requer major abertura e transparAncia

entre comunicadores. E interessante contrastar esta generalizacao corn aterceira. Poder-se-ia afirmar que a comunicacdo interpessoal envolve umadialetica entre desejar compreender e controlar as impressdes de outros.

Quinto, compreender envolve o complexo processo de percepgdo social. A steorias que apOiam esta generalizacao pressupOem que as pessoas tentam

i maginar a natureza e as causas das coisas que \teem. Ao investigarmosminuciosamente o mundo de coisas e pessoas a nossa volta, chegamos a uma

compreensão primAria dos fenOmenos. Ampliando essa ideia a area da comu-nicacao, os teOricos mostraram como passamos a "conhecer" outras pessoas eas causas do comportamento delas.

Sexto, a comunicacdo interpessoal resulta em graus variaveis de atracão.Urn certo ntimero de teOricos concentrou-se no estudo do processo de atracàointerpessoal. Corn base no material deste capitulo, vimos como a atracao se

enquadra no esquema global da comunicacao interpessoal. A atracdo, quepode ser predominantemente aprendida atravês de reforcadores no meioambiente, faz parte de um mais vasto sistema de orientacOes cognitivas.

Finalmente, o conflito social pode resultar da comunicacao interpessoal oulevar a esta. Quando os interesses dos comunicadores estao em conflito, eles

podem chegar a comunicar suas posicóes e intencöes. Tal comunicacdo deconflito, embora seja por vezes funcional, A marcada por numerosas caracte-

risticas evidentes, e a influencia envolve urn conjunto complexo de estratA-gias.

No inicio deste capitulo, foi mostrado que a comunicacão interpessoalenvolve comportamentos que fazem parte de uma hierarquia de niveis. Muitodo que ocorre em nivel interpessoal pode ser tambem estendido a niveissuperiores. Passaremos agora as teorias que tratam mais especificamenteda comunicacdo ern pequeno grupo.

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9 Teorias de

Comunicacaao em

Pequeno Grupo

No capitulo anterior examinamos numerosas teorias relativas a interacaoface-a-face. Um importante contexto para a comunicacao interpessoal e opequeno grupo. E sabido que a comunicacao efetua-se no contexto do pe-queno grupo, mas essa generalizacao, ditada pelo senso comum, nä.° a taosi mples quanto podera parecer a primeira vista. Numerosos livros basicoscontemporaneos sobre a dinamica do pequeno grupo refletem a amplitude dotrabalho realizado nessa area) Assinalamos repetidamente nos capitulos deste

livro que os temas de comunicacao foram desenvolvidos a partir de muitos

pontos de vista. A area do pequeno grupo nao constitui excecao. A teoria e a

pesquisa referente a comunicacao em pequeno grupo estao disseminadas e

sac, variadas. De fato, os criticos destacaram a comunicacao em pequenogrupo como uma area particularmente confusa de estudo.2 Entretanto, muitas

e boas teorias sobre os processos de pequeno grupo tem surgido no decorrer dos anos. Neste capitulo, examinaremos algumas das mais interessantes e

penetrantes.

 A Natureza dos Grupos

Nao pode haver davida de que o estudo da comunicacao de grupo

sumamente importante. Em primeiro lugar, o pequeno grupo a uma parte

1Ver, por exemplo, Joseph E. McGrath e Irwin Altman — Small group research: a synthesis and critique of the field. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1966; Bernard L. Hinton e H. JosephReitz (orgs.) — Groups and organizations. Belmont, California, Wadsworth, 1971; A. Paul Hare,Edgar F. Borgatta e Robert Bales (orgs.) — Small groups: studies in social interaction. Nova York,

Knopf, 1966; Lawrence Rosenfeld — Human interaction in the small group setting. Columbus,Ohio, Charles E. Merrill, 1973; Marvin E. Shaw —Group dynamics: the psychology of smallgroup behavior. Nova York, McGraw-Hill, 1971; Clovis R. Shepherd —Small groups: somesociological perspectives. Sao Francisco, Chandler, 1964; Dorwin Cartwright e Alvin Zander(orgs.) —Group dynamics: research andtheory. Nova York, Harper & Row, 1968; Robert S.Cathcart e Larry A. Samovar — Small group communication: a reader. Dubuque, Iowa, Brown,1974.2Ver, por exemplo, McGrath e Altman —Small group research; Ernest G. Bormann —"Theparadox and promise of small group research" —Speech Monographs, 37, 1970, pp. 211-17;C. David Mortensen —"The status of small group research", in Quarterly Journal of Speech, 56,1970, pp. 304-9; Carl E. Larson — "Speech communication research on small groups", in SpeechTeacher, 20, 1971, pp. 89-107. Varios autores reagiram a essas criticas tentando fazer aspesquisas convergirem para um foco bem definido. Ver, por exemplo, B. Aubrey Fisher e LeonardHawes —"An interact system model: generating a grounded theory of small groups", inQuarterly Journal of Speech, 57, 1971, pp. 444-53; Denis Gouran —"Group communication:perspectives and priorities for future research", in Quarterly Journal of Speech, 59, 1973,pp. 22-29.

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254 Contextos de Comunicagao

crucial da sociedade. Como sublinhou Shepherd, o grupo é "um mecanismo

essential de socializacao e uma fonte primordial de ordem social". As pessoasderivam seus valores e atitudes, de urn modo preponderante, dos grupos corn

que se identificam e, por conseguinte, "o pequeno grupo serve uma impor-tante funcao mediadora entre o indivicluo e a sociedade ern geral". 3 Em

concordancia essential corn Shepherd, quatro pressupostos basicos da dina-mica de grupo foram descritos por Cartwright e Zander:

1. Os grupos sao ineviteveis e ubiquos (...)2. Os grupos mobilizam foryas poderosas que produzem efeitos de suma impor-

tancia para os individuos. (...)3. Os grupos podem produzir boas e mes conseqUencias. (...)4. Uma compreensao correta da dinamica de grupo (suscetivel de obtenyao

atraves da pesquisa) permite a possibilidade de que consecUrencias desejaveisde grupos sejam deliberadamente aumentadas. (...) 4

Em nosso exame da teoria, veremos as varias facetas da compreensao que sedesenvolveram a partir da pesquisa de pequeno grupo.

Uma vez mais, entretantO, a preciso recordar que os niveis de comunicacaonao sao mutuamente distintos. A comunicacao de pequeno grupo envolve a

interayao interpessoal, e o pequeno grupo éurn importante cenario para amontagem dos mais vastos sistemas organizacionais e de comunicacao de

massa. Neste capitulo, trataremos das teorias que enfatizam os aspectosespeciais da interacao em nivel de pequeno grupo. 0 que e, pois, que

distingue o grupo?

Embora as definicties variem, existe concordancia geral sobre o que cons-titui urn grupo. Depois de resumir muitas outras definicties que sublinhamdiferentes aspectos de grupos, Shaw forneceu a sua prOpria definicao intera-

cional: "(...)urn grupo a definido como duas ou mais pessoas que estãointeratuando mutuarnente de tal maneira que cada pessoa influencia einfluenciada por cada uma das outras pessoas. Urn pequeno grupo é urn grupo

que tern 20 ou menos membros, se bem que, na maioria dos casos, estaremosinteressados em grupos de cinco membros ou menos." 5Essa definicao 6 boapara os nossos prop6sitos porque inclui a comunicacao como uma caracte-ristica essential do grupo. Shaw sublinhou que os grupos mais interessantes

sac) aqueles que perduram por urn periodo de tempo relativamente longo,possuem um objetivo ou objetivos, e certo grau de estrutura interacional.

Em seu tratamento classico da dinamica de grupo, Cartwright e Zander tambern sublinharam a qualidade interacional dos grupos. Ern particular, essesautores enfatizaram certo nOrnero de caracteristicas dos pequenos grupos:

Parece provavel, portanto, que, quando urn conjunto de pessoas constitui umgrupo, urn ou mais dos seguintes enunciados as caracterizarao: (a) elas in-teratuam corn freqUencia; (b) definem-se como membros; (c) sao definidas poroutros como pertencentes ao grupo; (d) compartilham normas a respeito deassuntos de interesse corium; (e) participam de urn sistema de panels encadea-dos; (f) identificam-se entre elas em resultado de terem estabelecido o mesmqmodelo —objeto ou ideals no superego de cada uma; (g) acham o grupogratificante; (h) esforyam-se por promover metas interdependentes; (i) possuemuma percepyao coletiva de sua unidade; (j) tendem a atuar de maneira unitariaem relayao ao meio circundante.6

3Shepherd — Small groups, p. 1.4Cartwright e Zander — Group dynamics: research andtheory, p. 23.5Shaw — Group dynamics, p. 10.6 Cartwright e Zander —op. cit.,p. 48.

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Teorias de Comun cacäo em Pequeno Grupo 255

Para Catwright e Zander, a grupalidade e uma varidvel, e quantas mais das

caracteristicas acima existirem, mais perto estâ o conjunto de se tornar urn

grupo, tal como foi definido.Shepherd tambêm usou a interacão como a qualidade definidora do pe-

queno grupo. 7 Alem disso, prop& quatro restriceies. Primeiro, como entidadeorganizada, o grupo situa-se algures entre a informalidade das relacoes sociais

e a formalidade das organizacaes. Segundo, quando os grupos aumentam emtamanho, o seu carater tende a mudar. Os grupos de quatro ou mais podemparecer muito diferentes das diades e triades. Terceiro, parece existir urn limite

superior para o pequeno grupo. Depois de atingir certo tamanho, o grupotende a estabelecer regras formais, que caracterizam as organizacCies. Final-

mente, os pequenos grupos tern metas ou propOsitos, estrutura de papel,normas, valores compartilhados e padthes de comunicacdo.

Depois de realizar urn extenso exame das teorias de comunicacdo empequeno grupo, Rosenfeld desenvolveu um modelo geral que capta os as-pectos basicos do funcionamento grupal. Conforme se mostra na Figura 60,

existem numerosas partes componentes e interdependentes na interacdo depequeno grupo.8 Rosenfeld considera o grupo urn sistema funcionando como

urn todo. 0 processo de interacdo grupal ocorre ao longo do tempoe,medida que se desenrola, o grupo muda. Acomposted°do grupo consiste nosmembros individuais do grupo, incluindo suas personalidades, atitudes, cren-cas e percepcOes. Esta categoria tambêm inclui variAveis de interacdo entrepessoas, como o tamanho do grupo e a compatibilidade. As varidveis estru-

turais incluem as redes de comunicaciao e atracdo no grupo. As variaveis

operantes sac) os procedimentos, papeis, normas e outros padroes operantesusados dentro do grupo. 0 grupo, incluindo sua composicão, estrutura efuncionamento, existe num quadro de referencia constituido por quatrofatores influentes. 0 primeiro e a tareta,que consiste na tinalidade primordialdo grupo. Aquilo que o grupo real iza — os resultados — afeta o subsequenteprocesso grupal. Esta nocão corrobora a abordagem dos sistemas gerais, a qualenfatiza o modo como os outputs influenciam a tuned° sistemica. A atmostera

do grupo eo clima emocional ern que o grupo funciona. Finalmente, existe oambiente fisico e social afetando todas as dimensäes acima.

Figura 60.Urn modelo

grático de interacäo de

 pequeno grupo.

___1

Cornpostcäo Variaveis

do grupo .4----.0. estruturaisdo grupo

ii

Vartevels operantes

Tarefa

Resultados

Atmosfera do grupo

Meto ambiente

7Shepherd — Small groups.8Rosenfeld — Human interaction, p. 7.

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256 Contextos de Comunicacao

Fundamentos: A Teoria do Campo de Lewin

Kurt Lewin foi urn dos mais notAveis psicologos do nosso seculo. Lindzey eHall escreveram dele: "Lewin é considerado por muitos de seus pares uma das

mais brilhantes figuras da psicologia contemporAnea. Seus escritos te6ricos e

seu trabalho experimental deixaram marca indelevel no desenvolvimento dapsicologia." 9 Como psicologo social interessado na natureza do comporta-mento individual e de grupo, ele A responsavel por uma das mais influentes

abordagens do estudo do comportamento. A teoria do campo é uma abor-dagem orgänica que, em sua orientacAo holistica, é compativel com os pontos

de vista sisternicos. Lewin tambern era urn fenomenologo, na medida em que

via o comportamento desde a perspectiva da pessoa. A obra de Lewin etambêm importante por duas outras razOes. Acreditava ele que a pesquisa

social deve debrucar-se sobre as questäes prAticas da vida das pessoas. Por isso Lewin A responsAvel pela maior parte da  pesquisa de agdo, em que foramsondados os problemas prAticos de grupos e organizacOes. Alen) disso, acre-

ditava no valor dominante da teoria. A boa pesquisa tern de ser guiada pelateoria, e a teoria deve ser constantemente estruturada e desenvolvida pela

pesquisa.10Interessamo-nos aqui por Lewin em virtude de sua obra na area da dinamica

de grupo. Lewin foi o primeiro de uma extensa sArie de pesquisadores nessa

area. NA° pode haver dOvida de que ele exerceu enorme influencia naformacào de nosso pensamento acerca da natureza dos grupos. Nesta secao,

examinaremos primeiro a orientacdo de Lewin em relacao a pessoa e depois

descobriremos como as pessoas se relacionam em grupos.Lewin baseou o seu pensamento em cinco pressupostos acerca das pessoas,

a saber: (1) 0 que e importante estudar são as percepcöes da pessoa. Assim,Lewin interessou-se pelo campo psicoldgico ou espago vital do individuo.(2) A pessoa, em qualquer momento, ocupa uma posicAo no espaco vital quepode ser melhor conceituada ern sua distancia dos outros objetos no campo.(3)  A pessoa tern metas ern cuja direcdo se desloca no espaco vital. (4) 0

comportamento da pessoa pode ser explicado em termos de suas tentativaspara atingir essas metas. Finalmente, (5) o campo tambem contêm barreirasque o individuo devera transpor a fim de chegar as suas metal 11

Essa teoria leva-nos a ver a pessoa movimentando-se num espaco psicolo-gico, chamado espaco vital. NAr o se trata de urn mundo objetivo, mas domundo subjetivo da pessoa. Nesse campo , existem numerosos objetos que oindividuo deseja abordar ou evitar e, ern seu esforco para atingir as metas, apessoa defronta-se corn varias barreiras. 0 modo como a.pessoa se comportaou se movimenta dentro do seu espaco vital é governado por tense:5es decor-rentes das necessidades e desejos do individuo. Por exemplo, consideremos

uma crianca brincando. Enquanto se movimenta entre os seus brinquedos, ela

comporta-se de acordo corn as tensOes oriundas da sua necessidade de atingir certa meta ou metas. Suponha-se que a crianca deixa cair uma bola num bura-

co tao profundo que nao Ihe alcanca o fundo. 0 seu comportamento imediatosera visto como tentativas para resolver o problema. A crianca poderd arranjar 

uma vara ou talvez pedir a ajuda de um adulto. Recuperada a bola, a criancacontinuard brincando e procurando novas metas no espaco vital.

0 espaco vital ê urn campo fluido, complexo e interdependente, ern que apessoa se movimenta na base das tensOes do momento. Outro modo de o

9 Calvin S. Hall e Gardner Lindzey —"Lewin's field theory", in Theories of personality. NovaYork, John Willey, 1970, cap. 6.10

Para uma interessante biografia de Lewin, ver Alfred Marrow — The  practical theorist: the lifeand workof Kurt Lewin. Nova York, Basic Books, 1969.11 Esses pressupostos estao resumidos por Shepherd em Small groups.

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E sp is

I PO tfts

Teorias de Comunicacäo em PequenoGrupo 257

conceber é como um campo de energia. As forcas no campo dependem daspressOes do meio ambiente e das necessidades da pessoa. E essas pressöes enecessidades devem ser consideradas variaveis interatuantes. Essa abordagemrequer que o comportamento seja examinado ern termos holisticos. Tambemquer que o comportamento seja considerado no "aqui e agora".

Lewin tambem ficou conhecido por seu use da topologiaem psicologia. A

topologia e uma especie de geometria ern que as relacOes podem ser ilustradasespacialmente. Isso parece ser um excelente instrumento para Lewin, dadoque se apoiou de urn modo tao substantial na metafora espacial. A Figura 61il ustra o espaco vital de urn individuo. 12 Ai vemos as "regióes" entre as quais apessoa viaja. Outro modo de ilustrar o espaco vital e mostrado na Figura 62.

Esse diagrama ilustra especialmente a tensao no sentido da mudanca.13

Figura 61. 0 espaco vitalde urn homem. (Extraido

de Kurt Lewin — Resol-ving social conflicts, or-ganizado por Gertrud 

Weiss Lewin. Copyright 

1943 por Harper & Row,Publishers, Inc.Cornpermissäo dos editores.)

Pr, vida proffsstonalCm, clube masculine

 Ad, admintstra00 do far 

Fe, feriasH, tribesSo, vida social

Esc, vida no esentilno

go, jogar golf e

Figura 62. Tensao em si-

tuacäo de frustracäo e

espaco estreito de mo-

vimento P yre. (Extraido

de Kurt Lewin — Resol-ving social conflicts, or-ganizado por Gertrud 

Weiss Lewin. Copyright 

1948 por Harper &

Publishers, Inc. Com per-missao dos editores.)

b AWS

P, Pessoa

Esp, espaco de movimento byre

a, b, c, d, reptiles inacessiveis

ipo, force clue age sobre P na direcao de 0

0, objettvo

0

Regtrio

 rnacessivel

0 significado da abordagem de Lewin para o estudo do comportamento

humano e captado na seguinte citacao de Hall e Lindzey:

A teoria de Lewin foi uma das que ajudaram a reviver a concepyäo do homem

como urn complexo campo de energia, motivado por forcas psicologicas, e

comportando-se seletiva e criativamente. 0 homem oco foi reabastecido de

necessidades psicologicas, intenyeles, esperanyas e aspirayties. 0 robe ' foi trans-formado num ser humano estuante de vida. 0 materialismo crasso e melancó-

lico do behaviorismo foi substituido por urn quadro mais humanista do homem.

12 Kurt Lewin — Resolving social conflicts: selected papers on group dynamics. Nova York,Harper & Row, 1948, p. 94 [ p. 110 da ed. bras. Ver Bibliografia ].13Ibid., p. 88 [ p. 104 da ed. bras. Ver Bibliografia I.

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258 Contextos de Comunicagäo

Enquanto a psicologia "objetiva" acomodava muitas de suas proposicOes empi-ricas para serem testadas em cdes, gatos e ratos, a teoria de Lewin conduziupesquisa sobre o comportamento humano tal como se expressa em ambientesmais ou menos naturais. Criancas brincando, adolescentes em atividades degrupo, operarios em fdbricas, donas-de-casa preparando refeicOes, estas foram

algumas das situacties da vida natural em que hipoteses derivadas da teoria docampo de Lewin foram empiricamente testadas.14

 Aprofundemos agora urn pouco mais as nocOes de Lewin de dinamica degrupo. E importante lembrar que o espaco vital do individuo inclui grupos. 0

individuo nao pode ser separado dos grupos corn que se identifica. Emsegundo lugar, os prOprios grupos tern uma especie de espaco vital. Lewindesejou desenvolver uma teoria que pudesse ser aplicada a todas as especies

de grupos, desde as familias aos grupos de trabalho. A sua andlise tambêm

inclui os grandes grupos sociais, como comunidades ou instituicees. 0 termo"dinamica de grupo" subentende que os grupos sa g produtos de \ferias forcas etensees. Assim, Lewin estudou grupos desde uma perspectiva de suas forcas

positivas e negativas, especialmente o modo como essas forcas influenciam a

pessoa como membro de urn grupo.

Conquanto um grupo seja urn conjunto de pessoas, ele é mais do que asoma de seus membros. Quando pessoas se reOnem num grupo, desenvolve-seuma estrutura resultante corn suas prOprias metas e seu prOprio espaco vital. 0grupo é urn excelente exemplo de urn sistema, tal como foi descrito nocapitulo 2 deste livro. Conforme disse Lewin:

Pode-se caracterizar um grupo como um "todo dinãmico"; isso significa queuma mudanca no estado de qualquer subparte modifica o estado de todas asoutras subpartes. 0 grau de interdependencia das subpartes de membros dogrupo varia desde a "massa" amorfa a uma unidade compacta. Depende, entreoutros fatores, do tamanho, organizacao e intimidade do grupo.15

 A interdependencia e, pois, uma variavel. Alêm disso, os grupos estdo fre-qiientemente dispostos de urn modo hierarquico, conforme ilustrado na Figura

63. Tambern a importante recordar que os individuos sao membros de muitos

grupos ao mesmo tempo (Figura 64), e os grupos de uma pessoa devem ser 

considerados parte importante do seu espaco vital. 16 Por conseguinte, osgrupos criardo tensees no espaco vital e influenciarao o movimento da pessoa.

Como o espaco vital é altamente fluido; a potencia de um grupo, paradeterminada pessoa, variara de momento a momento. Por exemplo, quando

uma pessoa este ern sua casa, a familia exerce geralmente mais influencia do

que o grupo de trabalho. Pode nao ser esse o caso quando a pessoa estetrabalhando.

E, EsposaM, MaridoC, Casal

Fa, Familia consangiiineaCm, Comunidade

Figura 63. 0 casa) como

 parte de grupos mais ex-

tensos. (Kurt Lewin— R e s o l v i n g s o c i a l c o n -

flicts, organizado por 

Certrud Weiss Lewin.

Copyright 1948 por Har-

 per& Row Publishers,

Inc. Corn permissão dos

edi ores.)

14Hall e Lindzey — "Lewin's theory", pp. 254-55.15 Lewin — Social conflicts, p. 84 ] la. 100 da bras.].

16 Ibid. — p. 85 p. 102 da ed. bras. ].

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Figura 64. A pessoa Co-mo membro de va.rios

grupos superpostos.

(Kurt Lewin — Resolvingsocial conflicts, organi-

 zado por Gertrud Weiss

 Lewin. Copyright 1948 por Harper & Row Publi-shers, Inc. Corn permis-

s5o dos editores.)

Teorias de Comunicacäo em Pequeno Grupo 

259

P, pessoaFern, familiaPr, grupo profissionalCb, CubeP0, path& politico 

Neste ponto, comecamos a discernir urn dos mais importantes temas deLewin: o impacto de grupos sobre a vida individual. Esse impacto tern quatroqualidades. Primeiro, o grupo fornece estabilidade a vida da pessoa. Comodisse Lewin, "a rapidez e a determinacdo corn que a pessoa avanca, suadisposicão para lutar ou se submeter, e outras importantes caracteristicas do

seu comportamento, dependem da firmeza do solo que ela pisa e de suaseguranca geral. 0 grupo a que pertence a pessoa é urn dos elementos maisimportantes desse solo." 17

 Ern segundo lugar, o grupo dota a pessoa corn urnmeio para realizar aqueles objetivos a que ela de mais valor. E urn veiculo

para se aproximar de objetos no espaco vital, ou para os evitar. Terceiro, osvalores e as atitudes da pessoa sac) muito influenciados pelos valores e normasdos grupos a que ela pertence. Finalmente, Como parte do espaco vital, a

pessoa movimenta-se dentro do grupo. Ela almeja varias metas no prOpriogrupo.Embora as pressOes do grupo constranjam o individuo, a pessoa tambem

possui certo grau de liberdade. Os valores e normas do grupo nunca coin-cidem completamente corn as necessidades do individuo. Parece haver urn

nivel &Imo de liberdade nos grupos. Se o individuo deixa de ter liberdadesuficiente para alcancar metas fora do grupo, resultara a insatisfacao, e oindividuo pode deixar o grupo. Por outro lado, se a influencia do grupo éexcessivamente fraca, ele sera menos funcional para ajudar o individuo aalcancar metas no espaco vital. Assim, a pessoa ern interacao face-a-face corno sea grupo esta constantemente no processo de ajustar e adaptar necessi-dades individuais e exigencias do grupo. Emconseqiiencia dessa interacdo

entre pessoa e grupo, as necessidades e o comportamento pessoais e as

normas e exigencias do grupo mudar5o.0 mais importante atributo dos grupos é a coes5o. A coesdo e o grau de

interesse mtlituo entre membros. Num grupo altamente coeso existe forteidentificacao mcitua entre os membros. Essa_qualidade o que mantem unidourn grupo. Sem ela, o grupo se dissolvera. E uma funga l

° do grau ern que osmembros s5o mutuamente atraidos para certos objetivos ou mutuamenterepelidos por certas forcas negativas. A coesal o é, preponderantemente, umresultado do grau ern que todos os membros percebem que sews objetivos

podem ser alcancados e satisfeitos dentro do grupo. Isso n5o requer que os

17Ibid., p. 86 [ pp. 101-2 da ed. bras. Ver Bibliografia].

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260 Contextos de Comunicacão

membros tenham atitudes semelhantes, mas que sejam interdependentes, queconfiem uns nos outros para realizar certas metas mutuamente desejadas.Quanto mais coeso é o grupo, mais forca ele exerce sobre os membros. Apessoa a pressionada pelo grupo para conformar-se ao codigo do grupo. Essetema foi desenvolvido ao longo dos ands, através da pesquisa e teoria de

pequeno grupo.Quando os membros de urn grupo desejam deslocar-se em direcees opostas,

resulta urn conflito. Eclaro, o grau de conflito a uma funcao da importänciado grupo no espaco vital do individuo. A Figura 65 ilustra como as tenstiesindividuais geram tensOes grupais num casamento. 18 0 que resulta de taltensâo e mudanca.

Uma das contribuicoes mais importantes de Lewin é a sua nocdo dequase-equilibrio e mudanca em grupos. 0 grupo existe num estado cli-nämicode quase-equilibrio. 0 estado do grupo, em qualquer momento, é determina-do por varias forcas opostas. Essas forcas criam uma tensäo e o potencial paramovimento e mudanca. Essa nocdo leva-nos ao metodo de Lewin de andlise

do campo daforca,o qual reconhece que o estado de urn grupo, emdeterminado momento,é

urn resultado de forcas pro-mudanca e forcas contraa mudanca. Outro modo de encarar a situacao a considerar as forcas nadirecao da presente situacäo e aquelas que se opOem a presente situacao. AFigura 66 ilustra o quase-equilibrio de duas cidades corn base no grau dediscriminacäo socia1. 19 A primeira cidade tern grande discriminacao, ao passoque a segunda tern pouca. Corn o tempo, essas duas cidades mudam, pelo queseus respectivos niveis de discriminacao se aproximam um do outro. Talmudanca e urn resultado do recrudescimento op declinio de várias forcas nadirecao de maior discriminacao ou de menor discriminacao.

Os processos de equilibrio num grupo nâo sdo constantes mas flutuam emtorno de um nivel media. A Figura 67 ilustra essa nocão. Assinale-se nessail ustracao as forcas em direcäes opostas, em torno do nivel medic N.20

E   M

E, atividades da esposa

M, atividades do marido

Fy vida em familiaE x E, atividades da esposa, externas a vida em

comumE x M, atividades do marido, externas a vida em

comumVS, vida sexualFe, force correspondente aos desejos da esposa

Fm, force correspondente aos desejos do marido

Figura 65. Con flito quan-toa extensão da vida co-

mum.(Extraido de Kurt 

 Lewin —Resolving so-cial conflicts, organiza-do por Gertrud Weiss Le-

win.Copyright 1948 por  Harper & RowPubli-shers, Inc.; corn permis-

säodos editores.)

Grande  Figura 66. Equilibria e

mudanca em duas cida-

des. (Extraido de "Fron-

tiers in group dynamics",inHuman Relations, 1,

 /947.)Montante dediscriminacao

 

Pequeno 

Tempo 

18 Ibid.,p. 97 [ p. 113 da ed. bras. Ver Bibliografia].

19 Kurt Lewin —"Frontiers in group dynamics: concept, method and reality in social science;social equilibria and social change", in Human Relations, 1, 1947, p. 15.20 Ibid., p. 17.

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Teorias de Cornunicacäo em Pequeno Grupo 261

Outro fator integrante do campo de forca e o gradiente de forcas. Urngradiente e o grau em que as forcas aumentam ou diminuem na medida emque as condicoes se aproximam ou se afastam do nivel 6timo de grupo. Umgradiente muito acentuado a aquele em que existe relativamente mais pressaopara mudanca quando a grande a distancia do nivel desejado e relativamentemenos pressao para mudanca a menos distancia. Por exemplo, se aos tra-

balhadores se oferece uma taxa de incentivo por peca para aumentar aprodutividade, aqueles que inicialmente ganham menos podem ter maisincentivo para produzir do que aqueles que ganham mais dinheiro na base desalario/hora. Isso representaria urn gradiente muito acentuado. Entretanto,num gradiente corn escassa variacao existe relativamente mais pressao paramudanca em niveis mais pr6ximos dos niveis desejados. Lewin costumavail ustrar o gradiente pelo comprimento das Betas em seus graficos, como seexemplifica na Figura 67.21

0 campo de forca total num grupo é constituido por forcas sobre osmembros separados e sobre o prOprio padrao do grupo. Qualquer tentativapara mudar o padrao de um grupo atua sobre ambas essas especies de lot-gas.Tal mudanca envolve trés processos: descongelamento, movimento e recon-

gelamento.Se urn agente de mudanca tenta motivar as pessoas a mudarem

Figura 67. Forces opo-

nentes em torno de urn

nivel m6dio (L). (Extrai-

dode"Frontiers in

group dynamics", in Hu-

man relations, 1, 1947.)

e 3 3t

 

4   4 4 4t   t f  t

sem considerar os valores dos grupos a que etas pertencem, ele nao logrararealizar o recongelamento no novo nivel 2 2 Ja vimos como a pessoa é afetadapelos padroes do grupo. Amudanca deve envolver nao so a pessoa mastambern o padrao do grupo. Lewin apurou, em numerosos experimentos, quea discussao no grupo e um metodo melhor de produzir mudancas do que aprelecao. Isso parece ser verdade porque os padrOes do grupo podem mudarem resultado da interacao no seio do grupo, ao passo que qualquer mudancapessoal, com excecdo da consulta ao grupo, pode ser francamente instavel.

Iniciamos este capitulo com Lewin porque a sua teoria fornece umaexcelente abordagem molar para o estudo de grupos. A teoria do campo

respeita as necessidades do individuo mas demonstra como pessoas e gruposinteratuam. 0 grupo e influenciado pelas necessidades pessoais, e a pessoa eafetada pelos padrifies do grupo. Embora Lewin nao se alongasse a respeito dacomunicacao per se, ele proporcionou uma excelente orientacao geral sobre ocomportamento em grupo. Nao podemos comecar a entender a comunicacaoem grupos sem essa orientacao mais geral sobre a natureza dos grupos e asrelacOes grupo-pessoa.

21Adaptado de ibid.. p. 17.220 processo de mudanca volta a ser discutido no Capitulo 11. Ver Rogers e Shoemaker,

 Diffusion of innovations. Nova York, Free Press, 1962.

Grande

Pequeno

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262 Contextos de Comunicacao

Uma TeoriaEmpirica Geral

Depois dos trabalhos pioneiros de Kurt Lewin, muitas pesquisas empiricas tem

sido realizadas sobre a dindmica de pequeno grupo. Urn dos problemas corn

essas pesquisas é que estdo muito dispersas por toda a literatura e cobrem umagrande diversidade de problemas e variaveis. Entretanto, o resultado geral da

pesquisa nessa area foi uma compreensao crescente dos processos de pequenogrupo. Barry Collins e Harold Guetzkow reexaminaram toda a pesquisa sobre

grupos e desenvolveram uma teoria indutiva. 23 Esse trabalho é particularmente

porquanto sintetiza e generaliza a partir das pesquisas nessa area, e ajudaa tracar urn quadro geral dos pequenos grupos?4 A teoria, tratando de gruposde tarefa, cobre quatro tOpicos gerais: desempenho de tarefa, poder e influen-cia, comunicacáo e satisfacao. Resumiremos os quatro tOpicos, urn de cadavez.

Collins e Guetzkow basearam seu estudo do desempenho de tarefa no

modelo apresentado na Figura 68. 25 Ao longo de sua analise, os autoressustentaram a distincao entre o trabalho-tarefa e as• relacties interpessoais.Conforme indicado no modelo, ambos esses fatores sdo importantes na exe-

cucao da tarefa ou realizacdo da produtividade no grupo. Como veremos naprOxima secäo, essa distincäo tarefa-manutencào tornou-se uma preocupacäodominante na pesquisa e teoria sobre comunicacdo em grupo pequeno. 0 que

distingue o trabalho grupal do trabalho individual a esse fator interpessoal,

criando obstaculos e recompensas prOprios. Assim, qualquer analise da reso-lucao de problemas em grupo deve ocupar-se rid° so das exigencias da tarefa,

decorrentes do meio ambiente, mas tambem das exigencias interpessoais,oriundas do interior do prOprio grupo. Estas Ciltimas são especialmente impor-

ORIGEM DO PROBLEMA COMPORTAMENTOS DO GRUPO RESULTADOS

Figura 68.Urn simples

modelo operational de

grupos de tomada de de-cisao.(Extraido de Barry

Collins e Harold Guetz-

kow — A social psycho-

logy of group processes

for decision-making.

 John Wiley & Sons, Pu-

blishers.)

RECOMPENSAS

Obstaculos no Ambiente da

Taref a

 ComportamentosRelacionados corn oSistema Tarefa-Meio

--Soo Ambiente

Recompensas Ambientais da

Ta ref a

Produtividadea individual

Obstaculos no AmbienteInterpessoal

IComportamentoe expectativa

sobre ocomportamento

de outrosmembros do

grupol

ComportamentosRelacionados corn

os EstimulosInterpessoals

Bonificacties do-Efeito deMontagem

RecompensasInterpessoais

23Barry Collins e Harold Guetzkow —Asocial psychology of group processes for decision-making. Nova York, John Wiley & Sons, 1964. Embora essa teoria esteja hoje em parte superada,ela condensa grande parte das pesquisas realizadas em anos anteriores. Pesquisas mais recentes,que se concentram principalmente na analise da interacão, estho incluidas mais adiante, nestecapitulo.24Outra sintese util é a de McGrath e Altman em Small group research. Embora se trate de umestudo mais abrangente do que o de Collins e Guetzkow, nâo foi apresentado na formapropositiva, funcional, usada por estes illtimos.25Collins e Guetzkow — A social psychology, p, 81.

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Teorias de Comunicacão em Pequeno Grupo 263

tantes por causa da imediacdo de obstaculos e recompensas interpessoais. E

claro, os fatores interpessoais e de tarefa inter-relacionam-se, uma vez que aprodutividade do grupo resulta de uns e outros. Isso sugere uma interrogacao:

a produtividade de grupo e ou nao é superior a produtividade individual? As pesquisas indicaram que os grupos tern o potencial para realizar mais do

que cada urn dos seus membros individualmente. Isso acontece, emparte,por 

causa dosmaiores recursos A disposicdo dos grupos. A presenca de outraspessoas numa situacao de resolucao de problemas tambem cria motivacdessociais. Urn terceiro fator que pesa na superioridade dos grupos e que osmembros podem aprender uns dos outros e influenciar-se mutuamente. Con-

tudo, Collins e Guetzkow tiveram o cuidado de sublinhar que as relacOesinterpessoais tanto podem inibir como instigar a solucao de problemas. 0desempenho de um grupo depende primordialmente de sua capacidade para

integrar e organizar as habilidades e os recursos individuais dos membros.Quando isso e feito corn eficacia, ocorre um efeito de montagem (assembly effect) em que a solucão ou produto do grupo é superior ao trabalho

individual ate do mais eficiente e melhor de seus membros. Voltaremos a essafloc -

do ao examinarmos as idéias de Cattell sobre sintalidade e a hipOtese depensamento grupal de Janis mais adiante, neste capitulo.

Quais sac) alguns dos obstaculos as relacOes interpessoais eficazes? Quedificuldades impedem os efeitos de montagem? 0 obstaculo basic° é aheterogeneidade ou diferencas individuais. A heterogeneidade, por si mesma,

nao e urn problema. De fato, e a base da multiplicacdo dos recursos grupais.Mas sera inibitOria quando os membros sac) motivados por interesses

Quando isso acontece, ocorrera urn conflito entre os membros,impedindo-os de canalizar seus recursos para urn resultado produtivo.

Urn dos mais importantes fatores interpessoais em grupos é o poder einfluencia: "Quando os atos de urn agente podem (concreta ou potencial-mente) modificar o comportamento de uma pessoa, ou grupo de pessoas, oagente tem poder sobre essa pessoa ou grupo de pessoas." 26 0 poder promanade fontes diretas e indiretas. Provern diretamente da capacidade de uma

pessoa para controlar as recompensas e as punicaes a uma outra pessoa ou aogrupo. A pessoa poderosa pode controlar as recompensas no ambiente datarefa, as recompensas interpessoais ou várias punicees relacionadas corn atarefa ou interpessoais. Como a atracao interpessoal e recompensadora, a atra-cao constitui uma das fontes diretas de poder.

Outras fontes podem levar indiretamente ao poder. Uma dessas situacc5esocorre quando o grupo, como urn todo, e punido ou recompensado. Urn taldestino comum acarreta uma identificacdo crescente entre os membros.Quando isso acontece, a atracäo interpessoal aumenta entre os membros,elevando assim o grau de influencia interpessoal no grupo. 0 poder naosi mplesmente urn atributo de uma pessoa, ern detrimento de outras pessoas;sempre que pessoas se influenciam reciprocamente, diz-se que existe poder.

 Assim, as pessoas podem ter urn elevado grau de poder matuo, que umas

exercem sobre outras, como ocorre num grupo altamente coeso. Outras fontesindiretas de poder incluem o exit° previo de uma pessoa, a sua reputacâo decompetencia e a sua designacdo formal como lider.

Collins e Guetzkow reuniram urn apreciavel nUrnero de dados de pesquisassobre elevado poder e menor poder. Em primeiro lugar, as pessoas dotadasde elevado poder tern mais influencia, mas tendem a exercer sua influencia de

formas sutis. As pessoas poderosas iniciam mais comunicacdo do que osindividuos menos poderosos, e os individuos de grande poder sâo menosinfluenciados pelas comunicaciies de outros. Os membros dotados de elevado

poder tendem a formar "panelinhas". Adicionalmente, as pessoas corn menos

26 Ibid., p. 121

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264 Contextos de Comunicagdo

poder nao confiam nos agentes de elevado poder que arbitrariamente con-

ceder ou retem recursos desejados, e as pessoas corn menos poder sentem-se,alem disso, ameacadas se as suas relacOes corn agentes de alto poder sac

ambiguas.Se bem que todo o material em sua teoria se relaciona corn a comunicacdo,

Collins e Guetzkow dedicaram urn capitulo especial a interacâo per se. Urndos dados mais importantes obtidos através de pesquisas a que a interacdoesta irregularmente distribuida na discussao de grupo: as pessoas nao falam

todas corn a mesma freqiiencia. Esse truismo estimulou boa quantidade depesquisas sobre as varieveis pertinentes aos padraes interacionais em grupos,

UM terra que abordaremos mais adiante, quando tratarmos das teorias deinteracdo.

Foi sistematicamente apurado que as pessoas que iniciam mais interacãotendem a receber mais de outros. A estrutura de interacao no grupodeterminada em parte pela hierarquia de status-poder. Por exemplo, osmembros de um grupo dirigirdo geralmente mais comunicacäo aos individuosde elevado status. Os membros de status inferior tendem a dirigir comenteriosaqueles membros de elevado status que, aprenderam eles, os reforcardo.

 Adicionalmente, apurou-se ser mais provavel que as pessoas interatuem corn

outras que se sentam perto delas, corn pessoas no mesmo grupo de trabalhoou corn as que pertencem ao mesmo grupo sOcio-econdmico.

Uma das funcOes mais significativas da comunicacdo em grupos é a suatendencia para aumentar a uniformidade de opinieo. E interessante observar o

que acontece quando UMmembro do grupo expressa uma opinião discor-dante. Se o membro é aceito, havers um elevado rnimero de comunicaccies

dirigidas a ele, numa tentativa de voltar a harmonizar a sua opiniâo corn asnormas do grupo. Algum tempo depois, o membro podera ser rejeitado e

possivel que se former subgrupos. Quando isso acontece, o montante decomunicacdo de outros membros do grupo corn o divergente declinara rapi-

damente.

0 terra final a ser considerado nesta secdo é a satisfacdo grupal, que resultadas recompensas recebidas por membros do grupo. Existem, a claro, verias

recompenses de tarefa que produzem satisfaciao. Quando os membros per-cebem que os seus esforcos resultam ern solucäo positiva de urn problema ou

execucdo de uma tarefa, resultara certa dose de satisfacéo. Entretanto, como

o output do grupo este usualmente separado no tempo e no espaco da prOpriadiscussao, a satisfacdo este mais dependence das recompensas imediatas de

interacdo. Tais recompensas incluem o exito da solucao de problemas inter-pessoais, a concordância sobre os papeis de lideranca, as interacees cornoutras pessoas de quern se gosta, a posicdo de elevado poder e a posicdo decentralidade e autonomia.

Essa teoria indutiva de pequenos grupos forneceu-nos um panorama geral

das preocupacties e paremetros da dinernica de grupo. Corn essa base,

voltamo-nos agora para algumas teorias que tratam de areas especificas.

Teorias de Manutencao e MotiveCaodeGrupo

Na secdo anterior, passamos ern revista uma teoria geral que descreve muitas

das variaveis relacionadas corn a produtividade e a interacao grupais. Nestasecao, examinaremos alguns dos fatores relacionados corn as motivaceies e os

reforcos na interaceo grupal. Especificamente, cobriremos dual teorias proe-minentes. A primeira, a teoria de comportamento social de Homans, examina

a natureza das acOes humanas em grupos, as inter-relacOes entre aceies e asorigens do comportamento de grupo. A segunda teoria, a de Thibaut e Kelley,

ocupa-se de urn modo bastante direto dos custos e recompensas que motivama interacão ern grupos.

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Teorias de Comunicacäoem Pequeno Grupo 265

 A Teoria de Homans

 A teoria de George Homans foi originalmente publicada em 1950 e vem sendo

ampliada desde então. 27 E uma teoria sisternica corn hipoteses e conceitos

fundamentais que mostram as inter-relacees conceptuais. Alen) disso, a suaanalise econOmica da interacao ajuda a explicar como e por que a interacdo

constante (urn tOpico de interesse central Lamb& para Kelley e Thibaut).Homans preocupou-se corn os processos basicos da interacao, assentes na

vida cotidiana. Suas obras estao repletas de estudos de casos de grupos reais.

Os tres conceitos elementares nessa teoria incluem atividades, sentimentos

e interacao. Atividades sdo as varies acães a que as pessoas se dedicam em

sua vida cotidiana. As atividades see primordialmente intrapessoais. Os senti-mentos referem-se as disposicees afetivas, atitudes e crencas. A interacioenvolve o comportamento interpessoal em que as pessoas estdo fazendo coi-

sas em conjunto. Assim, as facetas basicas da vida humana sac) as coisas quefazemos, o modo como sentimos e como nos relacionamos corn outros. En-

quanto le este livro, o leitor esta dedicado a uma atividade. Os seus senti-mentos surgem a medida que desenvolve atitudes tais como o tedio ou o in-teresse, e, quando envolve urn amigo numa conversa acerca do livro outaivez estudando-o juntos, ocorre a interacdo.

Homans mostrou, numa serie de hipoteses, como esses tres conceitos se

inter-relacionam. Primeiro, "os motivos e as atividades associadas persistem e

säo continuamente recriados, mas, se urn lado da relacâo muda, o outro seraafetado".28 Suponha-se, por exemplo, que, ao ler este capitulo, o leitor passa a

interessar-se por pequenos grupos. Ou, inversamente, que decide ler estecapitulo porque tern interesse em grupos. Aqui estd uma relacäo entre uma

atividade e um sentimento. Mas se, por exemplo, acha a leitura muito

enfadonha, podera suspende-la. Uma mudanca no sentimento tera afetado asua atividade.

Segundo, Homans preconizou que, "se o esquema de atividades e alterado,

o esquema de interacao, em geral, tambern mudara, ou vice-versa". 29 Assim,

por exemplo, nao poderia lever avante os pianos de estudar corn urn amigo seeste nao leu a materia da prOxima aula, como prometera. E ainda possivel que

estudem juntos, mas nao de maneira originalmente programada.

 A terceira hipOtese é a seguinte: "(...) interacdo e sentimentos positivos(amizade) estão diretamente relacionados." 30 Isso complete a triade de inter-relacOes entre cada um dos elementos basicos: sentimentos e atividades,atividades e interacao, e sentimentos e interacao. Essa relacao final do sensocomum afirma que o modo como uma pessoa interatua corn outra depende

dos sentimentos para corn essa outra pessoa. 0 ponto principal, ao descrever essas relacees, e demonstrar a dinamica sistemica do comportamento social.

Essa ideia corrobora a tese de Lewin de que nao podemos separar a pessoa dogrupo ou dos efeitos sociais.

Ora ben): o que e que essa análise tern a ver corn grupos? Urn grupo é urn

sistema social, definido em termcs das inter-relacees de atividades, senti-mentos e interacees entre os membros. Se nos reunimos con)muitas pessoaspara former urn grupo de estudo, esse grupo desenvolvera urn carater baseado

27George C. Homans — The human group. Nova York, Harcourt, 1950; Social behavior: its

elementary forms. Nova York, Harcourt, 1961; Henry W. Riecken e George C. Homans —'Psychological aspects of social structure", in Handbook of social psychology, organizado por Gardner Lindzey. Cambridge, Addison-Wesley, 1954.

Para urn born e sucinto tratamento secundario, ver Shepherd Small groups.28Homans, 1950 — The human group, 99.

29 Ibid., p. 102.30 Ibid.

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266 Contextos de C omunicacdo

nessas  .  inter-relathes. Naturalmente, como as atividades, sentimentos e inte-

rathes mudam, o carater desse grupo de estudo tambem mudarA.O sistema social consiste em dois subsistemas — um sistema externo e urn

interno. 0 sistema externo inclui as relathes entre elementos impostas desde

fora. 0 fato de o professor ter marcado um exame para determinado dia

i mp& restriceles ao grupo de estudo que, em parte, vao afetar as atividades,

os sentimentos e as interathes. Esse conceito corresponde a nocao de Collins eGuetzkow de obstaculos ambientais a tarefa.

0sistema interno, correspondente aos fatores interpessoais de Collins e

Guetzkow, consiste nos padroes de atividade, sentimento e interacao resul-

tantes da comunicacao dentro do grupo. 0 modo como o grupo de estudoprocede a divisao de trabalho, como resolve interatuar, e as atitudes e in-cumbencias de cada urn, sac) alguns dos aspectos do seu sistema interno. Os

grupos variam na extensao em que dominam os sistemas externo e interno.

 Alguns grupos sao altamente restringidos pelo meio ambiente; outros saorelativamente livres. Muitos grupos de trabalho, por exemplo, sao fortemente

afetados pela natureza da tarefa, local de trabalho, metodos de organizacao

etc. Autonomia é o grau em que o grupo pode agir sem restriceies oriundas de

fora. 0 ponto e que, para um grupo funcionar, deve-se desenvolver urnsistema de atividades, sentimentos e interacOes. Quando as exigencies ou

i mposithes externas silo fracas, o sistema interno deve tornar-se muito mais

desenvolvido.Entretanto, mesmo quando o sistema externo a muito forte, pelo menos

havers o desenvolvimento de urn sistema interno minimo. Os grupos parecem

necessitar de alguma autonomia. 0 sistema interno produz certos padroesidiossincrasicos, no ambito das restrithes mais amplas impostas pelo sistemaexterno. Por exemplo, o nosso grupo de estudo pode ser altamente influen-ciado por fatores externos tais como a especie de preparacao necessaria, anatureza do material a ser estudado e os horArios para estudo. Mesmo assim,

é possivel estabelecermos o nosso prOprio metodo para lidar corn o material e

com as nossas atitudes a respeito dele. E, em sua maior parte, o grupo de

estudo estabelecerA os seus prOprios padroes de comunicacao. Os padroes ecomportamentos estabelecidos acima e alem dos padroes externos repre-

sentam o modo de elaboracäo. Existem dois outros modos do sistema interno:

diferenciacao e padronizacao.

 A diferenciacao refere-se ao processo de reconhecimento das diferencas

individuals, no tocante a sentimentos, atividades e interathes. 0 grupo nao so

reconhece os varios comportamentos que othrrem mas atribuirA a alguns delesmais valor do que a outros. Certos padroes tornam-se cada vez mais co-

muns nos grupos a medida que se desenvolvem rotinas. Esses padroes comunsrepresentam a padronizacao. Na realidade, esses tres modos podem ser 

considerados fases no desenvolvimento do grupo. Em primeiro lugar, osmembros elaboram a sua maneira os padroes impostos do sistema externo. A

diferenciacao ocorre quando o grupo reconhece e julga essas diferentes

formas de elaboracao. Finalmente, a padronizacao resulta quando predo-minam os/padroes mais valorizados de atividade, sentimento e interacao.

 A medida que o sistema social se desenvolve, Wes caracteristicas podem ser 

observadas. Grau hierarquico refere-se a posicao de uma pessoa ern relacao asdemais. Normas sac, as expectativas de comportamento dos membros dogrupo. Finalmente, os papeis sae os padroes caracteristicos de compor-tamento, incluindo atividades, sentimentos e interacao. Hierarquia, norma epapel sac) afetados por exigencies externas e internas. E, congruente com a

orientacao de sistemas gerais dessa teoria, esses tres conceitos inter-relacio-nam-se. Por exemplo, quanto mais alto for o grau hierarquico de uma pessoa,

mais estritamente ela obedece as normas do grupo. Entretanto, as pessoas emposiceies mais altas tem maior liberdade para se desviar das normas e, quando

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Teorias de Comunicacao em Pequeno Grupo 267

o fazem, o seu nao-conformismo nao sera visto pelos outros como umaameaca a manutencao do grupo.

 Ao voltar sua atencao para as motivacOes do comportamento de grupo,

Homans formulou certo namero de proposicOes. Usando basicamente umaabordagem de aprendizagem para a motivacao, Homans argumentou, em

primeiro lugar, que as pessoas tendem a repetir comportamentos que foram

recompensados no passado. Assim, quando a pessoa depara corn uma situa-cap de estimulo semelhante a uma situacao previa em que um comporta-mento foi recompensado, ela sera motivada para comportar-se de urn modoanalogo. Dada uma escolha entre alternativas, o individuo repetira provavel-mente a alternativa que achou ser a mais recompensadora no passado.

Mas as recompensas nao sac) a Unica base da motivacao. E preciso consi-derar tambem o custo de determinada acao. Assim, puma situacao de escolha,as pessoas tendem a optar pelas alternativas que foram menos custosas nopassado. As escolhas na vida real sao avaliadas pela pessoa em termos de seusvalores de recompensa e custos. Uma terceira variavel nesse modelo é asaciag5o. Uma pessoa esta mais disposta a pagar urn custo relativamenteelevado por uma acao alternativa, se esta for recompensadora, mas, se oindividuo este saciado, uma atividade nao sera provavelmente levada a efeito

mesmo que o seu custo seja pequeno. Em situacties de grupo, quando ontimero de pessoas envolvidas é cada vez major tambem aumenta o nómero

de alternativas, reduzindo a probabilidade de saciacao. As inter-relagOes entre

custos, recompensas e comportamento tornam-se excessivamente complexasquando os grupos aumentam de tamanho.

 A Teoria de Permuta de Thibaut e Kelley 

Homans prop& uma teoria do comportamento de grupo que inclui, entreoutros aspectos, as nocOes de custo e recompensa. John Thibaut e HaroldKelley ampliaram esse pensamento sobre custo e recompensa em sua teoria depermuta. 31

 Esses dois psicologos sociais argumentaram que as relacöes inter-

pessoais, como outras especies de comportamento, sao avaliadas pela pessoaem funcao do valor das conseqUancias. A condicao sine qua non das relacóesé a interacao, a qual envolve o comportamento diadico. Na interacao, oscomportamentos da pessoa afetam a outra pessoa.

Se pudermos imaginar todos os comportamentos que uma pessoa esta apta

a produzir, poderemos definir o repertOrio de comportamento do individuo.Quando as pessoas se juntam num relacionamento, escolhem varios desses

comportamentos como parte de sua interacao 0 grau em que urn compor-tamento e avaliado depende dos relativos custos e recompensas, ou doresultado final. As recompensas incluem o prazer e as satisfacOes associadasao comportamento; os custos incluem fatores inibitorios tais como o esforco

fisico ou mental, a ansiedade ou, talvez, o embaraco. Tais conseqiiénciasacompanham todas as aceies individuals mas a situagao torna-se mais corn-

plexa quando ocorre a interacao, que necessariamente envolve mais de umapessoa.

Na interacao diadica, os comportamentos dos participantes sao pareados.A acao de cada pessoa produz urn resultado de uma boa qualidade particular,baseada em recompensas e custos, e cada participante deve avaliar a ativi-dade mutua acima de determinado nivel, a fim de que a relacdo seja susten-tada. As conseqUencias das acOes envolvidas numa relacäo podem ser end&genas ou exOgenas. Consequenciasex6genassao as externas a relacao. Taisconsecliencias, que promanam das necessidades e valores individuals da

31 j W. Thibaut eH.H. Kelley —The social psychology of groups. Nova York, Wiley, 1959.

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268 Contextos de Comunicacdo

pessoa, sac) fruto da acao, quer outra pessoa esteja envolvida ou nao. Os

fatores endOgenos, entretanto, resultam do pareamento Cmico de awes deambos os individuos em interacao. Por exempto, ao estudar este livro, o leitor 

podera antever a recompensa de uma nota alta na sua prova de exame. Seisso fosse uma recompensa exOgena, resultaria quer o leitor estudasse sozinhoou corn outra pessoa. Entretanto, uma recompensa adicional de estudar corn

outros pode ser urn sentimento de satisfacao recebido se a outra pessoa the

proporcionou urn feedback positivo (como a afirmacao de que eta aprendeu

muito corn o leitor). Como tat recompensa depende das relacOes estabele-cidas, eta é endogena.

E claro, tambern poderao resultar custos end6genos. 0 comportamento de

uma pessoa pode inibir o desempenho da outra pessoa. No grupo de estudo,

por exempt°, o fato de urn membro nao ter lido antecipadamente o materialpodera facilmente afrouxar a atividade de todo o grupo. Esta analise leva a

tese contida na obra de Thibaut e Kelley: "Seja qual for a natureza dasprimeiras permutas entre A e B, eles so continuarao voluntariamente suaassociacao caso se verifique serem adequados os resultados experimentados

(ou inferidos mas ainda nao experimentados)." 32

Mas o que determina a adequacao? A esse respeito, os teOricos apresentamdois importantes conceitos. 0 nivel de comparack (NC) é o criterio ou

padrao de atividade usado Ora julgar o grupo. Entretanto, mesmo que a pes-soa nao goste do grupo (os custos sao considerados altos demais ern relacaoas recompensas), a associacao corn o grupo pode ser ainda mais desejavel do

que qualquer das alternativas. Assim, urn segundo conceito que deve ser considerado e o nivel de comparacäo de alternativas (NCajt), que é o maisbaixo nivel de resultados tolerado, considerando outras alternativas. Assim,NC é o nivel acima do qual a pessoa esta satisfeita corn a relacao. NCaité o

nivel de resultado acima do qual o individuo permanecera na relacao.E claro, os resultados variam corn o tempo, e o julgamento de uma pessoa

sobre uma relacao tambern varia, dependendo dos resultados salientes.  A

medida que CL sobe e desce, o individuo muda seus padrOes de julgamento:

"Em outras palavras, a pessoa adapta-se aos niveis atualmente experimen-tados: apOs uma mudanca ascendente para urn novo nivel, os resultados por 

que ha muito se 4nsiavaperdem gradualmente sua atratividade; depois deuma mudanca descendente para urn novo nivel inferior, o desapontamentodissipa-se gradualmente e os resultados outrora temidos acabam sendo acei-

tos."33Foi indicado acima que as recompensas e os custos endOgenos resultam das

relacOes contingentes entre os comportamentos dos participantes. Certo nri-

mero de fatores endOgenos afeta o resultado da interacao. Alguns dos queforam discutidos por Thibaut e Kelley incluem poder e dependencia, normas e

papeis, tarefas, frustracoes e privacao. Examinemos cada urn desses fatores ernpoucas linhas.

Os autores indicaram que o poder resulta da dependencia interpessoal. Uma

pessoa tern poder sobre outra na medida em que pode manipular o resultadodo comportamento da outra pessoa. Se o resuttado do nosso comportamentodepende do comportamento de outrem, diz-se que existe dependencia. Ern talrelacao, o controlador exerce controle do destino do controlado. Por exemplo,

ao organizar seu piano de estudo corn um colega, uma pessoa pode descobrir 

que, como parece ter uma melhor apreensao do material, exerce certo. poder 

sobre esse colega. 0 resultado para este Ultimo dependera das acties daquela.Normas e papêis tambêm afetam o resultado percebido de uma relacao.

Uma norma é uma regra de comportamento adotada pelos membros (ou a

32 Ibid., pp. 20-21.33 p. 98.

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Teorias de Corn unicacão em Pequeno Grupo 269

maioria dos membros) de urn grupo. As normas sao funcionais porque ajudam

a regular o comportamento de grupo sem os custos de "irrestrito use ad hocdo poder interpessoal". 34

 Obedecendo a normas, uma pessoa nab tern dereajustar e repensar outra vez cada comportamento, e o resultado e umareducao geral dos custos envolvidos na interacao. Urn  papel .6 urn conjunto denormas que se aplicam a determinada pessoa ou tarefa. A semelhanca das

normas, os papais ajudam a organizar o comportamento de uma pessoa,reduzindo assim os custos, a menos que a pessoa tenha mOltiplos papeis e

deva consumir consideravel soma de energia reconciliando as varias normas

envolvidas. A pessoa tambam encontra varios custos e recompensas ao lidar corn as

tarefas ern mao. Ela concentra-se, esperancosamente, numa maneira queconsidera Otima de conduzir a tarefa, para que as recompensas possam ser 

maximizadas e os custos minimizados. Mas, quando o individuo sofre repeti-damente urn resultado insatisfatOrio, ao executar uma tarefa, ele torna-separticularmente suscetivel a influencia social. Quando mais de uma pessoatrabalha nessa tarefa, custos suplementares sao adicionados a relacao. Refor-cando as teses apresentadas por Homans e por Collins e Guetzkow, os autores

assinalaram que as relacties sac) altamente influenciadas por imposictiesexternas sobre a tarefa.

De fato, as pessoas sao, por vezes, forcadas a permanecer numa relacaoindesejavel. Nesse caso, o resultado da interacao situa-se abaixo do NC(nivelde comparacao). Tal situacao pode levar a frustragdo e privagdo. Ern seme-lhantes circunstâncias, o NC podera ser abaixado para que a pessoa superemelhor o resultado. Se o individuo percebe que ha uma boa probabilidade de

exito, pode atacar os poderes do grupo que impediram a recompensa ouaumentaram os custos. Ern tais circunstancias, a possivel o desenvolvimento

de coligacöes e talvez, em Ultima instancia, mude a natureza do grupo.

 A medida que os grupos crescem ern tamanho, aumenta a complexidade das.relacOes. Basicamente, os mesmos principios pelos quais a julgada a relacaodiadica (NC e NCa r t) sao usados tambem para julgar as relacties de grupo.

Contudo, ern grupos de Wes ou mais, ha sempre a possibilidade de que sedesenvolvarn subgrupos. Ao efetuarem comparagOes, os membros de urn

grupo considerarao os resultados relativos das possibilidades dos subgrupos e,

sempre que é percebido que a dependencia mOtua sera mais satisfatoria nosubgrupo menor, a coesdo do grupo maior sofrera.

 Alan) disso, os grupos maiores propiciam maiores possibilidades de aumentodas recompensas. Por meio de cooperacao e interacao, pode ocorrer umareducao dos custos conjuntos. Os membros podem produzir recompensasmütuas e instigar a facilitacao social de satisfacees. Nos grupos podera existir 

certo nOrnero de situacOes contingentes, redundando cada uma delas numa

diferente relacao de poder. Em primeiro lugar, numa situacdo de perfeitacorrespondencia de resultados, os esforcos conjuntos de todos culminardo ern

recompensas conjuntas. 0 problema, para esse genero de situacdo grupal, e asincronizacao de esforcos. A sincronizacao dos comportamentos dos membros

pode ser dificil e, quanto maior for o grupo, mais dificil isso se torna. Numasituacdo de correspondencia parcial de resultados, os membros podem receber resultados semelhantes se estiverem dispostos a concatenar seus esforcos.

Caso contrario, poderao ocorrer resultados diferentes. Nesse caso, a coope-racdo énecessaria para maximizar o resultado para todos. A terceira situacâoenvolve a baixa correspondencia de resultados. No caso extremo, somenteuma pessoa podera conseguir urn resultado favoravel; ern casos menos extre-

mos, algumas pessoas poderao lograr urn resultado satisfatorio a custa de

34 Ibid.,p.147.

T > -

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2 70 Contextos de Comunicaoo

outras.."Formar fila" é tipico em tais grupos, nos quaffs as pessoas aguardam

sua vez de receber o resultado favoravel. Essas tr   .& situaciies sao ilustradas,

respectivamente, por uma equipe de remo, urn grupo de resolucao de pro-,blemas e urn debate.

Thibaut e Kelley deram prosseguimento a sua analise de custos e recom-pensas em numerosas areas grupais, incluindo status, conformismo, normas,

objetivos do grupo e papeis. A area dos papeis e de especial interesse por 

causa de sua popularidade na teoria do pequeno grupo. Esse exame dos papeisproporcionara uma transicdo para a teoria da interacao de Bales e a teoria do

papel de Benne e Sheats. Thibaut e Kelley usaram a distincao comum entrefuncoes de tarefa e funcees de manutencao ern seu estudo dos papeis. Asfungiies de tarefa (task functions), como diagnosticar o problema, preparara

acao do grupo e programar o treinamento, fornecem recompensas relacio-nadas corn a execucao da tarefa. Entretanto, como Collins e Guetzkowsublinharam, tais recompensas podem estar separadas no tempo e no espaco

da discussao em grupo. Por conseguinte, certas recompensas interpessoais,que sao mais imediatas, devem ser estabelecidas. Essas recompensas derivamdas fungOes de manutengäo (maintenance functions), tais como reducao de

ansiedades, aperfeicoamento das comunicacOes e consolidacao da coesao dogrupo. Quando os membros comecam a assumir varias dessas funcOes, surgemos papeis.

 As teorias de Homans e de Thibaut e Kelley reconhecem que os padrOes deinteracao dependem, em grande parte, das recompensas e custos percebidos.Os grupos sao mais oumenos funcionais para as pessoas no grau em que

propiciam resultados finals mais favoraveis do que essas pessoas esperariam deoutras relaceies alternativas.

Analise do Processo de Interacão

Uma das mais destacadas teorias de pequeno grupo é a Analise do Processo deInteracao, de Robert Bales. 35 As teorias anteriores forneceram-nos uma visa°

geral e uma orientacão basica para os grupos; a teoria de Bales concentra-se

na interacao ou comunicacao per se. Apoiado ern suas pesquisas de muitos

anos, Bales desenvolveu uma teoria unificada e bastante bem desenvolvida de

interacdo em pequeno grupo. A teoria gravita em torno da ideia de que aspessoas agem e reagem em grupos. Quando uma pessoa faz urn comentario,

outra pessoa responde ao comentario. A finalidade de Bales é, portanto,explicar o padrao de respostas no pequeno grupo de tarefa. Bales explicou o

valor do seu sistema da seguinte maneira:

A analise do processo de interacao a construida sobre uma base muito simplesde senso comum, e muito do que uma pessoa intuitivamente acredita acerca daconversano cotidiana pode ser confirmado por ela. 0 aspecto surpreendente,talvez, b que vai muito mais longe do que se poderia suspeitar na revelacão das

categorias basicas de pessoas, suas personalidades e suas posicOes num gru-po. (...) 36

A Figura 69 ilustra as categorias de intera4ao.37 Essas 12 categorias estaoagrupadas em quatro conjuntos mais amplos, conforme se assinala a esquerdada figura. Além disso, pode-se ver que os tipos de comportamento estao

35 Robert F. Bales — Interaction process analysis: a method for the study of small groups.Cambridge, Addison-Wesley, 1950; Personality and interpersonal behavior. Nova York, Holt,Rinehart & Winston, 1970.36

 Ibid., p. 95.37A Figura 69 e o resultado de uma combinacdo de %arias fontes. Ver, por exemplo, ibid.,pp. 92 e 96.

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a

Teorias de Comunicagão em Pequeno Grupo 271

pareados de acordo corn expectativas tipicas de acao-resposta. Cada urndesses pares subentende determinada area de problemas para os grupos,conforme a classificacao na parte inferior da figura. De acordo corn normasgerais, a figura tambern reflete a percentagem aproximada de comentarios erncada categoria.

1. Parece amistoso (3%)

2. Dramatiza (6%)

3. Concorde (11%)

4. De sugestão (5%)

5. Da (19%)opinião6. De informacao (25%)

7. Pede informageo (5%)8. Pede opiniao (3%)

9. Pede sugesteo (1%)

10. Discorda (4%)Mostra (5%)11. tense()

12. Parece inamistoso (3%)

Figura 69. Categorias pa-re a anâlise do processo

de interacão. AcCiespositivese mistas

Respostastentativas

Perguntas

AcCesnegativese mistas

a- Problemas de comunicac5ob- Problemas de avaliaceoc- Problemas de controled- Problemas de decisãoe- Problemas de reduce-0 de tense()f- Problemas de reintegraceo

Os quatro conjuntos de comportamento no modelo podem ser ainda sinteti-zados ern duas classes predominantes de comportamento de grupo. vimosessas classes nas teorias anteriormente estudadas neste capitulo. 0 primeiro eo quarto grupos, acties positivas e achesnegativas, constituem a area scicio-

emocional,a qual se refere as. relacCies interpessoais no grupo. Alern de exe-cutar uma tarefa, o grupo deve harmonizar-se psicologicamente, e esse obje-tivo pode ser auxiliado ou impedido pela comunicacao sacio-emotional.A segunda e a terceira classes podem ser consideradas a areadetarefa. As

interacOes nesta secAo relacionam-se substancialmente corn a problema outarefa do grupo. Ern sua investigacäo da lideranca, Bales apurou existiremtipicamente duas especies muito diferentes de lideres no mesmo grupo. 0lider da tarefa, que facilita e coordena os comentdrios relacionados corn a

tarefa, dirige suas energias para que a tarefa seja executada. 0 surgimento dopapel de lideranca da tarefa é sumamente importante no grupo de solucäode problemas. Igualmente importante, porêm, e o surgimento do papel deli deranca sacioremocional. Usualmente, esse gapel a assumido por urn Se-gundo lider. Esse individuo trabalha em prol da melhoria das relaciies nogrupo, concentrando-se nas interacOes nos setores positivo e negativo.

O modo como uma pessoa se comporta num grupo depende do papel queela assume e da sua personalidade. 0 papel é situational. Depende dasexigèncias da dinamica interpessoal do grupo, incluindo as expectativas dosoutros. 0 modo como uma pessoa se comporta levara a certas percepcOes porparte dos outros membros do grupo. Como disse Bales: "Poderiamos esperar omais completo caos com todo esse relativismo de definicao, mas ern muitos

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272 Contextos de Comunicacao

grupos operantes verifica-se uma surpreendente dose de consenso sobre omodo como a maioria dos membros individuals s5o percebidos e avaliados." 38

Bales mostrou como a percep45o da posicäo de urn individuo num grupo éfuncao de tres dimensoes. Estas incluem ern que medida o individuo é vistocomo alguem que se esforca por alcancar sucesso e poder (em oposicdodesvalorizacdo do eu); o grau de igualitarismo expresso (em contraste com o

isolacionismo individualista); e a medida em que o individuo apOia as crencas , conservadoras do grupo (em oposicao a rejeicao da autoridade). Esses fatoressac) visualizados num espaco tridimensional, conforme se mostra na Figura 70.Os eixos espaciais sào rotulados como positivo-negativo, ascendente-descen-dente, avanco-recuo; e Bales utilize esses rotulos espaciais para designar osvarios tipos de posicao em sua teoria.

A

A = ascendente: Para o Sucesso Material e o PoderD = descendente: Para a DesvalorizaCdo do EuP = positivo: Para o IgualitarismoN = negativo: Para o Isolacionismo IndividualistaAv avangado: No Sentido das Crengas Conservadoras do

Grupo

R = renttente: No Sentido da Rejeigão das Crencas Conser-vadoras do Grupo

Dentro de um grupo, qualquer membro pode ser colocado nesse espacotridimensional, dependendo do modo como o comportamento do individuo serelaciona corn os fatores. A direcao da posicao de urn individuo depende doquadrante em que else individuo aparece (por exemplo, APAv); e a suaposicdo no quadrante é determinada pelo grau de cada dimensao repre-sentada. Assim, por exemplo, urn APAv podere. aparecer em varios pontos noespaco, dependendo do grau de A, de Av e de P. 0 Quadro 16 enumera ostipos de comportamento e suas direcoes de valor. Quando todos os membrosde um grupo säo plotados no grafico espacial, podemos ver suas inter-relaceese redes. Quanto maior for o grupo, maior a tendencia para que se desen-

volvam subgrupos de coligacoes. Esses subgrupos consistem em individuoscorn dimensoes semelhantes de valores. Obviamente, existe afinidade entreindividuos que estdo prOximos uns dos outros na dimensao e direcao devalores, enquanto os individuos distantes entre si näo se relacionam. Balesdescreveu assim o padr5o tipico:

Nenhum grupo auto-analitico mostrou ate agora uma rede completamenteintegrada de todos os seus membros. Existem normalmente tres ou quatro redesnum grupo de cerca de 25 membros, em que a major delas no grupo oscila entresete e 16 membros, a segunda vai de cinco a 10 membros, a terceira de tits a

N   P

Figura 70. Urn modelo

espacial de comporta-

mento interpessoal.

38 Ibid., p. 4.

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Teorias de Comunicacao em Pequeno Grupo 273

seis membros, e a quarta rede Pica entre os trës e cinco membros por grupo. Emais provavel que os membros isolados aparecam no lado negativo e escassa-mente povoado do espaco, mas podem apresentar-se em qualquer regiAo.39

Quadro 16. Tipos de papeis e direcdes de valor no grupo

Tipo MED:Tipo A:Tipo AP:Tipo APAv:Tipo AAv:Tipo ANAv:Tipo AN:Tipo ANR:Tipo AR:Tipo APR:Tipo P:Tipo PAv:Tipo Av:Tipo NAv:Tipo N:Tipo NR:Tipo

Tipo PR:Tipo DR:Tipo DPAv:Tipo DAv:

Tipo DNAv:Tipo DN:Tipo DNR:Tipo DR:Tipo DRP:Tipo D:

Para uma Media Equilibrada em Todas as DiregOesPara o Sucesso e o Poder MaterialsPara o Sucesso SocialPara a Solidariedade e o Progresso SociaisPara a Lealdade e Cooperaflo no GrupoPara a Autoridade AutocrAticaPara a Assertividade DogmaticaPara o Individualismo Inflexivel e a GratificagaoPara o Relativismo de Valor e ExpressaoPara o Apoio Emocional e o Calor HumanoPara o IgualitarismoPara o Amor AltruistaPara as Crengas Conservadoras do GrupoPara a Coibigao Determinada por Val oresPara o Isolacionismo IndividualistaPara a Rejeigao do Conformismo SocialPara a Rejeigao das Crengas Conservadoras do GrupoPara o Liberalism° PermissivoPara a Confianga na Bondade dos OutrosPara a Salvagao atraves do AmorPara o Autoconhecimento e a SubjetividadePara o Auto-Sacrificio em nome de ValoresPara a Rejeigao do Sucesso SocialPara o Fracasso e o AfastamentoPara a Recusa de Cooperay,..oPara a Identificagao corn os SubprivilegiadosPara a Desvalorizacao do Eu

Não so podemos prever as coligaceies e redes de um grupo a partir de urnconhecimento da distribuicao de tipos, mas Bales mostrou ainda que o tipo decomportamento esta relacionado corn a natureza da interacao em grupos. A

interacao que uma pessoa inicia e recebe depende, em parte, do seu tipo decomportamento. Tenha-se em mente, nesse ponto, que o comportamento deuma pessoa num grupo edeterminado pela personalidade e pelo papel. 0Quadro 17 mostra-nos Como a interacao esta relacionada corn as direcees devalor.4°

Quadro 17. RelacOes entre interacOes e tipo

Categoria Baixa Alta Baixa AltaI niciaceo I niciag 8o Recepgão Recepgão

Parece amistoso   N   P   N   PDramatiza DAv AR Nav PR

Concorda NR PAv   R AvDA sugestäo DR AAv DN APDa opiniao R Av NR PAvDa informagao   A   D   N   PPede informagao DN AP AAv DRPede opiniao   N   P AP DNPede sugestào AR DAv   R FDiscorda   P   N DOR ANAvMostra tensao AAv DR DPAv ANRParece inamistoso   P   N DPR ANAv

39 Ibid., p. 47.40Ibid., pp. 86-97.

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274 Contextos de Comunicano

A teoria de Bales e particularmente importante no estudo da comunicacdo

de pequeno grupo porque enfatiza a interagão. 0 interesse preponderante deBales é o modo como as pessoas respondem verbalmente umas as outras.vimos como o carAter da interacao é manifesto em comentArios sociais e detarefa, assim como em assercOes de valor.

Passamos agora, na secao seguinte, ao desenvolvimento e fases do grupo.

Veremos que o modo como urn grupo se desenvolve e as fases por que passa

dependem imensamente dos padroes de interacao do grupo.

Eases e Desenvolvimento do Grupo

 Ao longo dos anos, tern sido publicadas numerosas teorias de desenvol-vimento do grupo.41 Embora essas teorias sejam diferentes, apresentam,naturalmente, certas semelhancas entre as fases descritas. B. Aubrey Fisher e

seus colegas desenvolverani uma perspectiva teOrica sobre fases do grupo eaparecimento da decisao que enfatiza a interacäo e usa uma orientacaosistemica. Como se trata verdadeiramente de uma teoria orientada para acomunicacao e que incorpora boa parte do material de teorias anteriores,

examinA-la-emos agora em pormenor. Preliminarmente, veremos em queconsiste a orientacao geral do modelo do sistema de interato. Em seguida,

focalizaremos as ideias de Fisher sobre aparecimento da decisao. A secaoconcluirA entao recapitulando a nocao de Fisher de modificacao de decisao. A

finalidade basica de todo esse material e o estudo do processo pelo qual osgrupos lidam com as tarefas de tomada de decisao.

Com freqUencia, a unidade de analise na pesquisa do grupo e o compor-tamento do individuo. Fisher e Hawes referiram-se a isso como o modelo de

sistema humano. 42   A abordagem de sistema humano produziu certo mimero

de analises de variaveis do comportamento humano. Uma abordagem maissensivel para o estudo da cornunicacao em grupos é o modelo de sistema de

interato, de Fisher e Hawes, em que a unidade basica de analise nao e um ato

individual mas urn interato.Urn interato a uma unidade que consiste num

ato verbal ou nao-verbal de uma pessoa, seguido de uma reacao de outra pes-

soa. Nesse caso, a unidade de analise é urn par contiguo de atos. Esses autoresexploraram a natureza de conjuntos comportamento-resposta, como Bales fez.

Eles observaram, em especial, que os interatos parecem organizar-se nodecorrer do tempo de um modo hierArquico. Sao definidos tres niveis.

0 primeiro nivel envolve categorias de interatos. Sao as classes ou tiposespecificos de interatos observados em grupos. Por exemplo, ulna inter-pretacao sustentada acerca de certa proposta podera ser seguida de umcomentario que busque o esciarecimento da proposta. Durante toda a dis-cussao, a freqiiencia de tais categorias de interatos sera estudada a fim de sedeterminar como elan tendem a agrupar-se em fases de interato, o segundonivel de analise. Um estudo de fases de interato revela o padrao de desen-

volvimento no grupo, a medida que ele se encaminha para a realizacao datarefa. 0 terceiro nivel de analise e o dosCiClaS.Quando o grupo vaiavancando de tarefa em tarefa, as fases repetem-se em forma ciclica.

41Para uma excelente analise critica desse material, ver Rosenfeld — Human interaction. Uma

teoria particularmente importante que trata do desenvolvimento sOcio-emocional de grupos denao-tarefa é a de Bennis e Shepard; ver Bennis e Shepard — "A theory of group development", in

 Human Relations, 9, 1956, pp. 415-537. Para uma integracao de desenvolvimento social e tarefa,ver B.W. Tuckman —"Developmental sequence in small groups", in Psychological Bulletin,63, 1965, pp. 384-99. Outra teoria influente é a abordagem da interacäo em espiral de T.MScheidel e L. Crowell — "Idea development in small groups", in Quarterly JournalofSpeech, 50,1964, pp. 140-45.42Fisher e Hawes — "An interact system".

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Teorias de Comunicacäo em Pequeno Grupo 275

Em sua teoria do aparecirnento da decisào, Fisher descreveu quatro fasesque os grupos de tarefa tendem a apresentar em seu desenvolvimento.43Sdoelas: orientacdo, conflito, emergencia e reforcamento. Quando observou adistribuicdo de interatos nessas sucessivas fases, Fisher assinalou o modocomo a interacdo muda a medida que se formula e se solidifica a decisao dogrupo. A fase de orientactoenvolve travar conhecimento, esclarecer e co-

mecar a exprimir pontos de vista. Existe consideravel concorddncia nessa fasee os comentdrios destinam-se muitas vezes a testar o grupo. Assim, asposicaes expressas stdo conjeturais e sumamente limitadas. Nessa fase, po-demos observar pessoas em busca de direcao e compreensào interpessoal. Noexcerto seguinte de uma deliberacao de Kiri num tribunal ficticio, podemosver muitas dessas qualidades de orientacdo. 0 julgamento envolveu umacidente entre um carro e urn pedestre.

 A: Em primeiro lugar, decidimos see urn caso de responsabilidade ou negligen-

cia.

B: Sim (...) negligencia.

A: E a mesma coisa. Em outras palavras, voces todos acham que so Roger

Adams foi negligente, sem a contributed°da negligencia de Derby —ou foi

culpa de Derby, tanto quanto de Adam... ou foi culpa de ambos... ou foi urnacidente puro e simples.

C: Culpado ou inocente.

A: Mas nao se trata apenas dessas duas alternativas. Temos tres escolhas.

D: Que mais pode haver, entao? Quero dizer...

 A: Nao se trata de uma acao criminosa, como se ele tivesse roubado uma loja. Esaber se ele foi negligente, se ambos foram negligentes, ou se...

D: Sim. Entendo. Mas so ha dois veredictos. Damos ao queixoso algum dinheiro

ou nao?

A. Primeiro que tudo, quantas pessoas acham aqui que so Roger Adams foi

negligente e que Alfred Derby, a pessoa atropelada, de maneira alguma con-

tribuiu para essa negligencia e, portanto, deve receber uma indenizacao? 44

Afase de conflitoinclui um consideravel gran de desacordo. As pessoas

na segunda fase comecam a solidificar suas atitudes e resulta dal bastantepolarizack.Os interatos nessa fase tendem a incluir mais discordancia eavaliacki desfavoravel. Observa-se que os membros do grupo discutem, ar-gumentam e tentam persuadir, nesse ponto do debate. Registra-se tambem,na fase de conflito, uma tendencia para se formarem coligacOes. Quando aspessoas se agrupam de acordo com suas posicaes comuns sobre as questOesern debate, a polarizacao aumenta. Observe-se a natureza da interacdo noseguinte excerto:

A: A coisa a decidir é se Roger Adams vinha correndo demais. E se agiu da

maneira que se deve esperar de uma pessoa adulta, madura e sensata.

C . Voce tern de considers-lo uma pessoa sensata e prudente. Foi uma outra

pessoa quem Ihe fez sinal corn a map de que is dobrar. Nao interessa se ele

vinha depressa ou nao.

 A: Eu diria que, se ele fosse sensato, nä° confiaria tanto na indicacao de outra

pessoa.

C: Ora, vamos! S6 havia urn carro na rua.

 A: Eu certamente nao o faria.

C: Voce considera-se sensato?

A: Nao, eu nao sou sensato. Tambem o admito. Mas o que é que isso tern a ver

corn o caso? Eu nao me apontaria como exemplo. Isso nao quer dizer que

ele nao fosse sensato.

43B. Aubrey Fisher —"Decision emergence: phases in group decision making", in Speech

 Monographs, 37, 1970, pp. 53-66; Small group decision making. Nova York, McGraw-Hill, 1974.44

 Ibid., p. 212.

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276 Contextos de Comunicacao

B: Assim nao chegamos a lugar nenhum. E preciso fixar algum criterio. Voce

nao pode simplesmente dizer que ele nao foi sensato e pronto. 45

Mas essas coligacoes tendem a desaparecer na terceira fase. E na fase deemergénciaque comecam a aparecer os primeiros indicios de cooperacdo. Aspessoas são menos tenazes na defesa de seus pontos de vista. Quando as pes-soas abrandam suas posiciies e passam por uma mudanca de atitude, torna-se evidente uma ambiguidade na interacdo. Os comentarios sao mais equi-vocos, na medida em que a ambiguidade funciona para mediar as mudan-cas de atitude nos membros do grupo. Fazem-se comentarios cada vez maisfavoraveis, ate que uma decisao do grupo comeca a emergir. Aambiguidadeque caracteriza essa fase pode ser vista no seguinte excerto:

 A: Deixem-me fazer mais uma pergunta. Acham que Derby (o queixoso) estava

atravessando na faixa de pedestres?

D: Creio que nao.

C: Nao, nao creio. Mas tambem nao acho que isso tenha muito que ver corn a

questa°.

D: Concordo.

C: Sei que existem certas posturas de transito a respeito das faixas, mas o fato eque ele... Bern, nao sei. E possivel que isso seja importante.

D: Que ele estava na pista de rodagem, essa . 6 realmente a questao.

C: Nao penso que a coisa tenha realmente acontecido do modo que o acusado

descreveu. Ele embelezou a coisa urn pouco para o seu lado. Mas nao deve

ter fugido muito a verdade.

F: Quanto a isso, Derby tambem pode ter a sua versao da historia. Quer dizer,

cada urn puxou a brasa para a sua sardinha. Isso é muito natural.

D: Isso acontece ern qualquer situacao.

F: E justamente isso. E vale para os dois. Nao podemos usar os depoimentos

das duas partes principais. E claro que tambem houve testemunhas e temos

de considers-las. Elas tambem sao importantes, mas („,), 46

Na fase final de reforcamento, a decisdo do grupo consolida-se e recebe o

reforco dos membros do grupo. Esse e tipicamente um periodo de unidadegrupal, que ultrapassa a solucao a que se chegou. Os comentarios säo quaseinteiramente positivos e favoraveis. Tambem existe mais interacao em ques-toes de interpretacdo. Eaambiguidade que marcou a terceira fase tende adesaparecer nesse estagio. 0 seguinte excerto ilustra a especie de interacaotipica da quarta fase:

E: Todos viram o carro avancando.

B: Alem disso, ele afirmou que'tinha as luzes acesas.

C: 0 pisca-pisca do carro estava aceso tambem. Era Obvio que ele is dobrar na

esquina. Tudo isso tornava ainda mais facil ver o carro chegando.

D: Praticamente todo o mundo viu o carro chegando corn os far6is acesos.

E: Aquele cara que estava na calcada. (...) Ele viu todo o transit° e tambem viu

o carro de Adams quando dobrava. Por isso é que ele nao atravessou a rua.

Por que a queDerby quis atravessar? Ele tambem tern culpas no cart6rio.C: Lamento muito por ete e gostaria de o ajudar, mas nao creio que possa.

D: Concordo.

B: Nao se pode basear a coisa em emocOes...

D: Claro que nao.

C: Nao creio que se deva levar em consideracao o que eles nos disseram no

principio... Aquela historia de que Adams estava embriagado e tudo isso.

B: Nao. Nem é born mencionar isso.

F: Nao, nao se preocupe.

C: Nao.47

45 Ibid., p. 214.46Ibid., p. 217.47

p. 220.

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Teorias de Comunicacaoem Pequeno Grupo 277

Fisher mostrou-nos na analise acima que os grupos passam por sucessivas

fases de desenvolvimento em sua interagao de tomada de decisdes. Essas fasescaracterizam a natureza da interagao, a medida que esta muda coin o tempo.Um importante tema afim e o da modificando de decisdo.48 Fisher apurou queos grupos, tipicamente, nao apresentam uma Unica solucao que seja expiorada

ate todos os membros concordarem com ela. Tampouco apresentam uma

proposta Unica que continuem modificando ate ser atingido urn consenso. 0formato parlamentar prescrito dificilmente pode ser considerado o padraocaracteristico da discussao em pequeno grupo. Fisher teorizou, com base emsuas observagaes de grupos, que a modificagao de decisao e ciclica; são feitasmuitas propostas, cada uma delas a brevemente discutida, e algumas sacreapresentadas mais tarde. A discussao de propostas parece, portanto, avancar mediante sucessivos jorros de energia. A proposta A sera apresentada ediscutida. Subitamente, o grupo abandona essa ideia e passa a outra proposta,

a B. Depois que esta a examinada e debatida, outras propostas podem ser introduzidas e discutidas. Entao, alguem traz de novo a baila a proposta A,talvez numa forma modificada. 0 grupo fixa-se, por firm num piano modifi-cado que foi apresentado muito antes, durante a discussao, numa formadiferen te .

Por que a que as discussäes se desenrolam usualrnente de urn rnodo tax)erratico? Provavelmente porque as exigancias interpessoais de discussao re-

querem pequenas "pausas" na tarefa. Corn efeito, a capacidade de atengao de

um grupo a pequena, por causa da natureza intensa do trabalho ern grupo. Tal

explicagao sugere que o cornportamento de "evasao" ajuda a controlar atensao e o conflito. A necessidade do grupo de trabalhar numa base dedinamica interpessoal e tambem corroborada por outras teorias, incluindo as

idéias de Collins e Cuetzkow sobre barreiras interpessoais, a distincao deThibaut e Kelley entre tarefa e manutengdo, e a nogao de Bales de interacaosacio-emotional (versus tarefa).

Fisher concluiu que, ao modificarem as propostas, os grupos tendem aobedecer a um de dois padreies. Se o conflito a escasso, o grupo reintroduzira

propostas numa linguagem menos abstrata, mais especifica. Por exemplo, nodebate de uma conferéncia sobre os servigos de enfermagem de sal:1depUblica, uma ideia original para se comegar "corn alguma coisa que nao seja

ameagadora" foi modificada para "comecar corn uma historia das contri-buicOes que a saticle pablica tern dado ao campo da enfermagem" 9 0 grupo,quando retorna sucessivamente a uma proposta, parece obedecer ao padraode enunciar o problema, discutir critérios para solugao, apresentar umasolucao abstrata e, finalmente, passar a uma solucao mais concreta. Cumpreter presente, entretanto, ser sumarnente provavel que o grupo nao passe por 

essas quatro etapas em continuidade. Pelo contrario, debaterA esporadica-mente esses temas, afastando-se e voltando a proposta initial numa especiede vaivern.

0 segundo padrao tipico de modificagao ocorre quando o conflito e em

nivel mais elevado. Nesse caso, o grupo nä° tenta fazer urna proposta rnaisespecifica. Como ha discordancia sobre a prOpria natureza da proposta, saoapresentadas propostas substitutivas do mesmo nivel de abstragdo. No padrao

de redugao da abstragdo, a tarefa parece ser de mOtua descoberta da melhor i mplementagao especifica de uma ideia geral. No padrao de conflito social, atarefa a mais de debate e persuasao entre varias propostas aiternativas.

Nesta saga° examinamos a separacdo em fases e o desenvolvimento de

tarefas em grupo pequeno. Passamos agora a outra area especifica que tem

48 Ibid.;tambem B. Aubrey Fisher —"The process of decision modification in small discussion

groups", in Journal of Communication, 20, 1970, pp. 51-64.49Fisher — Decision making, pp. 150-51.

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278 Contextos de Comunicacão

registrado, ao longo dos anos, uma consideravel soma de teorizacao: ospapeis do grupo.

Uma Teoria dos Papeis do Grupo

Vimos a importancia dos papeis em algumas das secties anteriores deste

capitulo. Uma das mais Oteis analises do comportamento de papel e a deKenneth Benne e Paul Sheats. 5°Esses autores afirmaram nao ser titil separar ospapeis de lideranca dos de liderados. Os papeis sac) funcees assumidas portodos os membros atravês da interacao. Urn membro pode assumir numerosospapeis no decorrer de uma discussao. Na area da tarefa, os membros compor-tam-se de vdrias maneiras que funcionam para promover ou inibir o desem-penho do grupo.

Os papeis estao agrupados em tres categorias gerais. Os papeis de tarefa do

grupofacilitam o movimento do grupo para a definicao e solucao do pro-blema de sua tarefa. Os papeisdeconstrued°emanutenedo do grupo

referem-sea area socio-emocional descrita por Bales. Esses papeis funcionampara manter o grupo coeso e trabalhando como uma unidade. Finalmente,existem os papeis individuais, que satisfazem as necessidades particulares da

pessoa. Esses papeis sao irrelevantes para o grupo como urn todo e podem,portanto, ser inibitorios. Os Quadros 18, 19 e 20 descrevem as categorias depapeis de Benne e Sheats.5'

Quadro 18. Papeisde Tarefa do Grupo

Papel Descricao

(a) iniciador- ...sugere ou propOe ao grupo novas ideias ou uma forma-contribuinte diferente de encarar o problema ou objetivo do grupo.

(b) solicitante de ...pede o esclarecimento de sugestoes feitas em termos deinformaceres sua adequacao aos fatos, e informacOes autorizadas e compe-

tentes que sejam pertinentes ao problema em discussao.(c) solicitante de ...nao pede, primordialmente, os fatos do caso mas urn escla-

opiniao recimento dos valores pertinentes ao que o grupo estAempre-endendo, ou dos valores envolvidos numa sugestao apresen-

tada ou em sugestoes alternativas.(d) fornecedor de ...oferece fatos ou generalizacoes que sao "idoneos", ouinformacães relata sua prOpria experiencia de forma adequada ao problema

do grupo.(e) fornecedor de ...declara sua crenca ou opiniao pertinentemente para uma

opiniao sugestao feita ou para sugestoes alternativas.(f ) elaborador ...formula sugestoes emtermos de exemplos ou significados

desenvolvidos, oferece urn fundamento lOgico para sugestoespreviamente apresentadas e procura deduzir como uma idéiaou sugestao funcionaria se adotada pelo grupo.

(g) coordenador ...mostra ou esclarece as relacOes entre vArias ideias e suges-toes; procura concatenar ideias ou sugestoes; e esforca-se porcoordenar as atividades de vArios membros de subgrupos.

(h) orientador ...define a posicao do grupo a respeito de suas metas, sin-tetizando o que ocorreu; aponta os desvios dos rumos ouobjetivos que foram tracados de comum acordo; ou faz per-guntas sobre a direcao que estä tomando a discussao nogrupo.

(i ) avaliador-critico ...submete a realizacao do grupo a algum padrao ou conjuntode padroes grupais, funcionando no contexto da tarefa dogrupo.

( j ) energizador ...instiga o grupo Aacao ou decisao; tenta estimular ou des-pertar o grupo para uma atividade "major" ou de "qualidadesuperior". •

(k) tAcnico em ...acelera o movimento do grupo fazendo coisas para o grupo:procedimentos executa tarefas rotineiras, como a distribuicao de materiais,

ou manipula objetos para o grupo, por exemplo, uma novadisposicao das cadeiras ou a operacao do aparelho gravador.

(I) relator ...anota as sugestoes, redige atas das decisoes dogrupooudescreve em relatOrio o resultado final das discussoes degrupo.

50 Kenneth Benne e Paul Sheats —"Functional roles of group members", in journal of Social

 Issues, 4, 1948, pp. 41-49.

Essas descricOes sao citadas diretamente deibid., pp. 42-46.

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Teorias de Comunicagão em Pequeno Grupo 279

Quadro 19. Papebis deConstrucao e Manutencäo do Grupo

Papel Descried°

(a) encorajador (b) harmonizador 

(c) con tempori zador 

(d) controlador/regulador

(e) fixador de padroes

(f ) observador do grupo

(g) seguidor 

...elogia, aceita e concorda corn a contribuiedo de outros.

...atua como medianeiro das divergencies entre outros mem-bros, procura reconciliar discordäncias, alivia a tensdo em

situaeldes de conflito, através de comenterios espirituosos ou jogando Ague na fervura....atua desde o interior de urn conflito em que suas idéias ouposigdo estejam envolvidas....tenta manter abertos os canals de comunicaedo encora-

 jando ou facilitando a participaedo de outros... ou propondoa regulano do fluxo de comunicagdo....expressa padroes para o grupo tentar realizar em seu fun-cionamento, ou aplica padroes na avaliaedo da qualidade dosprocessos do grupo.... mantern registros de verios aspectos do processo grupal esupre tais dados corn interpretaedes propostas para a avaliaedopelo grupo de seus preprios metodos....acompanha o movimento do grupo, aceitando mais oumenos passivamente as ideias de outros e servindo comoaudiencia na discussao e decisào de grupo.

Quadro 20. Papêis Individuals

Papel Descried°

...pode agir de muitas maneiras — depreciando o status deoutros, expressando a reprovacao dos valores, atos ou senti-mentos de outros, atacando o grupo ou o problema queeste sendo tratado, usando piadas agressivas, manifestan-do inveja pela contribuigeo de outrem e procurando ficar com os creditos por isso etc....tende a ser negativista e obstinadamente resistente, dis-cordando e opondo-se sem motivos ou irracionalmente, etenta manter ou reavivar uma questao, depois que ela foirejeitada pelo grupo.

...age de verias maneiras para chamar as ateneees sobre si,seja através de jactancias, descried° de proezas pessoais,atuaeão ou esforeando-se por impedir que seja co-locado numa posigdo "inferior" etc....usa a oportunidade de uma plateia que !he a proporcionadapelas reunities do grupo para expressar "sentimentos", "dis-cernimentos", "ideologia" etc. de natureza pessoal, nao-orien-tados para o grupo....exibe sua falta de envolvimento nos processos do grupo....tenta afirmar sua autoridade ou superioridade manipulandoo grupo ou certos meinbros do grupo.

.tenta atrair "simpatia" e gerar respostas de "compaixdo"dos outros membros do grupo ou de todo o grupo....fala em nome do "pequeno comerciante", da comunidade"de base", da "dona-de-casa", do "trabalhador" etc., tapandousualmente seus preprios preconceitos ou tendenciosismoatravés do estereOtipo que melhor se ajusta a sua necessidadeindividual.

(a) agressor

(b) bloqueador

(c) solicitante dereconhecimento

(d) autoconfessor

(e)  playboy(f ) dominador

(g) queixoso

(h) defensor de interessesespeciais

Diferentes grupos apresentardo Nthrios padroes de papel. 0 que é urn 6timoequilibrio de papeis num grupo pode ndo o ser em outro. Os pap6is projeta-dos num grupo dependerão muito do estägio de desenvolvimento em que ogrupo estd funcionando. Por exemplo, um grupo que esta apenas iniciando asua tarefa necessitard de mais ideias novas e de menos coordenacdo. Maistarde, numa discussao, o grupo poderà necessitar de um ambiente maisestavel e regular do que nas fases iniciais. Recorde-se que Fisher indicoualguns dos aspectos em que a interacdo varia, em diferentes fases do desen-volvimento do grupo.

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280 Contextos de Comunicagao

Tambem e interessante examinar esses papeis em termos de individuos.

 Alguns membros de um grupo colocam-se em determinado tipo de papel ecomportam-se sistematicamente dentro desse tipo. Contudo, isso ndo tern deocorrer necessariamente assim. Benne e Sheats sustentaram que parte do

treinamento do grupo deve ser dirigida para a aquisicao de flexibilidade de

papeis nos seus membros.Na sec50 final deste capitulo examinaremos duas teorias muito diferentes de

efeitos do grupo.

Teorias de Efeitos Interpessoais em Grupos

 As teorias examinadas ate aqui neste capitulo apresentam grande variedade

de fatores interatuando para criar uma dinamica interpessoal no trabalho de

grupo. Esses fatores incluem papeis, normas, padroes de interacão, fases e

outros. Consideraremos agora duas teorias que se concentram na natureza dosefeitos interpessoais em grupos e integram muito do que foi discutido nassecOes anteriores. A primeira e a teoria de sintalidade do grupo, desenvolvida

por Cattell; e a segunda é a hip6tese de pensamento de grupo, de Janis. Ambas as teorias tentam responder a pergunta: Qual e o resultado da

comunicacao interpessoal em trabalho de grupo? Cattell oferece uma respostamais generica, enquanto Janis sugere urn efeito negativo especifico.

 A Teoria de Sintalidade de Grupo, de Cattell 

 A teoria de sintalidade de grupo, de Raymond Cattell, exerceu grande influen-

cia na histOria da dinfirnica de grupo.52 Ele sugeriu tres aspectos definidores,

ou painéis, para a descricäo do grupo. Sao des as traGos de sintalidade, aestrutura interna e os tracos da populacao. Enquanto a personalidade descreveo padrao de comportamento previsivel de urn individuo, a sintalidade e opadrao previsivel de comportamento do grupo. Assim, urn grupo poder.à

parecer agressivo, eficiente, isolado, energico, idäneo. 0 segundo painel e aestrutura interna. Esta e definida ern termos das relacees interpessoais entremembros no grupo. Tais caracteristicas podem tratar da estrutura do status,

subgrupos internos, modos de governo e padr6es de comunicacão. A terceira Area de interesse é a dos tracos da populacao — os tracos individuais dosmembros de urn grupo. Para definir os fracas da populacao do grupo, exami-

nam-se as caracteristicas modais ou tipicas, incluindo inteligéncia, atitudes eoutras.

Esses fres paineis est -do inter-relacionados. A sintalidade a uma funcat dostracos da populacao e da estrutura interna do grupo. Essa nocdo reforca a tesedefendida por Lewin a respeito da inter-relacdo entre o grupo e o individuo. Ateoria, como urn todo, pode ser assim resumida: as pessoas, corn tracos epersonalidades individuais, reanem-se para realizar mais eficientemente seus

propOsitos, alcancar suas metas. Ao faze-lo, investem suas energias na reali-zacao das tarefas do grupo e na manutencdo do pr6prio grupo. 0 que esterealiza e uma funcao direta'do montante de energia investida por cada urn dosmembros. Na medida em que o individuo adere a grupos separados e queparcialmente se sobrepOem, a sua energia sera disseminada entre os grupos eatividades näo-grupais. A satisfacao ocorre naquelas esferas da vida da pessoaque sao gratificantes, e, quando as recompensas não aparecem, o individuopode reduzir ou retirar seus investimentos de energia. 0 efeito total do grupoe urn resultado do input e output de energia de urn grupo. Examinemos maisde perto essas relacOes.

52 Raymond Cattell —"Concepts and methods in the measurement of group sintality", inPsychological Review, 55, 1948, pp. 48-63.

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Teorias de Comunicacão em Pequeno Grupo 281

0 conceito-chave no efeito de grupo é a sinergia.A sinergia total de urngrupo e oinput total de energia dos membros. Entretanto, uma parte daenergia investida num grupo não ap6ia diretamente as metas do grupo Ernvirtude de exigencias interpessoais, muita energia tern de ser consumida namanutenck de relaGOes e na superack de barreiras interpessoais. Asiner-gia efetiva e a energia do grupo que resta depois de ser subtraida a sinergiaintrinseca ou demanutengdo do grupo. Embora essa sinergia intrinseca sejaprodutiva, no sentido de que atua ern prol da coes5o grupal, elanä° contribuidiretamente para a real izacdo da tarefa.53

Cattell prossegue depois analisando as origens da sinergia. A sinergia degrupo e o resultado das atitudes dos membros para corn o grupo. Na medidaern que os membros tern atitudes diferentes em relaG5o ao grupo e suesoperacOes, resultara urn conflito, aumentando a prOporG5o de energia neces-sada a manutenG5o do grupo. Assim, quanto mais individuos possuem ati-tudes semelhantes, menor é a necessidade de investimento intrinseco e majora sinergia efetiva.

Eclaro, seria uma falacia ver todos osgrupos como entidades indepen-dentes. Como as pessoas aderem a muitos grupos, estes sobreptiem-se e

apOiam-se ou chocam-se mutuamente. Alem disso, os grupos organizam-sehierarquicamente. Quando urn grupo é usado por outro grupo como instru-mento para se atingir urn objeto supra-ordenado, diz-se existir subsidiacdo.Assim como individuos sac) subsidiArios de grupos, alguns grupos sào subsi-dierios de outros grupos. 0 inter-relacionamento entre os grupos numa esferapode ser definido como urn entrelacamento dinämico. Cattell usou o seguinteexemplo:

A nacao financia universidades porque elas estdo em sua cadeia de subsidiacdo

cornvistas a uma democracia educada. Ela favorece a familia porque esta

mantém a estabilidade populational, ao passo que as grandes cidades con-

tribuem para o seu desejo de receitas e prestigio. A familia e a cidade, como

grupos, tern, por sua vez, necessidade da nacäo, a qual satisfaz suas necessi-

dades de protecão etc.54

0 queacontece num entrelaGamento de grupos e subgrupos e que a sinergiase reparte entre os grupos subsidiados. 0 resultado final dessa analise a que asatividades e metas do grupo devem ser vistas como arranjos inter-relacionadose hierarquicos. Em Ultima instância, porern, a existencia de grupos depende damedida em que dele resultarem satisfaGOes para o individuo. Quando este ternde investir excessiva energia (custo) em relaG5o as recompenses, devemocorrer mudancas.

Usemos urn exemplo simplificado para ver comoa teoria de Cattell explica

eventos reais. Suponhamos que, ao formar urn grupo de estudo, descobrimosque os membros tern atitudes dispares em relaGdo a materia de estudo ediferentes maneiras de estudar. Em nossas reunities, acabamos por argumentarmuito acerca de como organizar os nossos esforGos e como abordar omaterial. Assim, tempo e energia consideraveis sdo usados na resoluG5o dessesproblemas interpessoais. Isso constitui a nossa sinergia interna. Ora, sepressentirmos, depois de conhecidos os resultados de urn teste de ensaio, queo grupo de estudo fracassara na realizacäo do objetivo de beneficio mUtuo pa-

ra os seusmembros, e claro que retiraremos dele a nossa energia e nos junta-remos a outro grupo ou estudaremos sozinhos. Nesse caso, a sinergia efetivado grupo era taobaixa que nao realizou mais do que poderiamos ter realizadosozinhos. Suponha-se agora que nos juntamos a outro grupo. Este chega

53fssa discussâo ajuda-nos a compreender melhor a 'dela de Cuetzkow e Collins de efeitos dernontagem e a concepcao de custos e recompenses de Thibaut e Kelley.54Cattell "Concepts'.

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2 82 Contextos de Comunicano

imediatamente a acordo sobre como proceder e lanca-se logo ao trabalho.Como existem poucas barreiras interpessoais a vencer, o grupo a altamentecoeso. A sinergia efetiva e elevada e todos tem melhor desempenho no examedo que se tivessem estudado sozinhos.

• ATeoria do Pensamento de Grupo, de Irving Janis

A teoria de Cattell oferece-nos uma especie de resposta a questäo dos efeitosinterpessoais em grupos. A hip6tese de pensamento de grupo de Irving Janis eurn genero muito diferente de teoria. 55 Janis examinou ern certo detalhe aadequacao das decithes tomadas por grupos e mostrou como certas condicOespodem causar elevada satisfacào grupal mas apresentar resultados finaisineficazes. As ideias de Janis dao-nos uma explicacao mais concreta dosfatores sinergisticos e, ao mesmo tempo, demonstram como a prAtica podevariar das previsOes feitas pela teoria de sintalidade.

Ao , contrario das outras teorias apresentadas neste capitulo, a de Janis 6normativa e aplicada. E normativa porque fornece uma base para se diagnos-ticar problemas e remediar fraquezas no desempenho do grupo; a aplicada a

grupos politicos reais. Mas Janis apoiou-se substancialmente na pesquisasocio-psicologica sobre dinamica de grupo, integrando conceitos tais como ode coeso para explicar as pi-Micas de grupo observadas na realidade. Janisdescreveu o pensamento de grupo da seguinte maneira:

Usoo termo "pensamento de grupo" (groupthink) como uma forma rapida efacil de me referir a urn modo de pensar que as pessoas adotam quando estãoprofundamente envolvidas num grupo coeso (in-group), quando os esforcos dosmembros em prol da unanimidade superam a motivacão deles para avaliar demaneira realista cursos alternativos de acào. C..) A discriminacäo é intencional:o pensamento de grupo refere-se a uma deteriorano da eficiencia mental, daprova de realidade e do julgamento moral que resulta das pressees internas dogrupo.56

Essa abordagem a sumamente interessante. Janis usou dados historicos paracorroborar a sua teoria, analisando seis episodios de tomada de decisaopolitica em que os resultados finais foram bons ou maus, dependendo daextensdo do pensamento do grupo.57 Essas analises histOricas sdo elucidativase, uma vez mais, ilustram como a teoria da comunicacdo pode ser geradanuma grande variedade de areas. Uma das qualidades mais requintadas daabordagem de Janis é que a sua teoria envolve a comunicacdo de pequenogrupo na superficie de contato entre as areas da psicologia, ciencia politica ehistoria.

Existem seis resultados negativos do pensamento de grupo.

1. 0 grupo limita a sua discussao a apenas um punhado de alternativas. (Elesnä° consideram um repertOrio completo de possibilidades alternativas.)

2. Aposicao inicialmente favorecida pela maioria dos membros nunca é reexa-minada para Or a descoberto dificuldades ou obstáculos menos Obvios.

3. 0 grupo não reexamina aquelas alternativas originalmente desfavorecidaspela maioria.

4. Nao é procurada a opini5o de especialistas.5. 0 grupo e altamente seletivo na coleta e tratamento da informacão existente.6. 0 grupo confia tanto em sua alternativa escolhida que nao considera pianosde conting'encia.

55Irving Janis — Victims of groupthink: a psychological study of foreign decisions and fiascos.Boston, Houghton Mifflin, 1967.56 Ibid., p. 9.57Esses episodios incluem a Bala dos Porcos, a Guerra da Coréia, Pearl Harbor e a escalada daGuerra noVietnA (como exemplos negativos). Entre os exemplos positivos citam-se a Crise dosMisseis Cubanos e o Plano Marshall.

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Teorias de Comunicagdo em Pequeno Grupo 283

Janis sustentou que o pensamento de grupo e marcado por certo nOrnero de

notaveis sintomas. 0 primeiro sintoma do pensamento de grupo é uma ilusao

de invulnerabilidade, criando urn ar excessivo de otimismo. Em Segundo lugar,o grupo cria estorgos coletivos para racionalizar o curso de acdo que foi

decidido. Terceiro, o grupo mantem uma crenca inconteste na moralidade

inerente do prOprio grupo, resultando ern atenuacdo de quaisquer conse-qiiencias êticas ou morais. Os lideres dos outros grupos sdo estereotipadoscomo maldosos, fracos ou estiipidos. Alêm disso, existe  pressão direta sobre

os membros para que nao expressem opinities antagOnicas. A dissidenciarapidamente reprimida. isso leva ao sexto sintoma, a autocensura dos desvios. Assim, cria-se no grupo uma compartilhada ilusao de unanimidade. Final-mente, o pensamento de grupo envolve o aparecimento de vigilantes mentais

autonomeados, que se encarregam de proteger o grupo e seu lider de inde-sejaveis opiniOes e informacOes adversas. 0 vigilante mental suprime, tipi-camente, as informacoes negativas, aconselhando os participantes a "nao virar a canoa".

0 pensamento de grupo a urn resultado direto da coesâo ern grupos, e amajor parte das pesquisas e teorias sobre pequenos grupos indica que a coesào

e funcional no desempenho de grupo. Lewin escreveu que a coesdo e urnreflexo do grau ern que todos os membros de um grupo compartilham metas e

valores comuns. Segundo Cattell, o montante de sinergia efetiva em grupos

urn resultado da coesdo, dado que os grupos coesos precisam gastar poucasinergia intrinseca. Embora Janis nao negasse o valor da coesdo em grupos detomada de decisao, ele mostrou, entretanto, que os grupos coesos tern, apesar 

de tudo, de investir uma quantidade enorme de energia para manter a boavontade no grupo, ern detrimento da tomada de decisao.

 A chave para esse efeito negativo da coesdo e a necessidade da pessoa de

manter o seu amor-pr6prio. Recornpensas tais como amizade, prestigio ecompetencia mutuamente reconhecida sdo recebidas em grupos altamentecoesos. Corn essas recompensas ern jogo, nao admira que os membros do

grupo invistam urn consideravel grau de sinergia intrinseca para manter asolidariedade. Quando surgem clOvidas ou incertezas, isso poderà redundar ernabalo na confianca do grupo e, por conseguinte, ern enfraquecimento doamor-pr6prio de cada membro, Janis resumiu o problema assim:

Quanto maiores forem as ameacas do amor-prOprio dos membros de urn grupocoeso de tomada de decisoes, major sera a inclinacao deles para recorrerem abusca de concorrencia, corn sacrificio do pensamento critico. Se essa hipateseexplicativa esta certa, sintomas de pensamento de grupo solo encontrados,corn a major freqliOncia, quando uma decisao cria urn dilema moral, especial-mente se o curso mais vantajoso de acao requer que os responsaveis pelasdiretrizes politicas violem seus próprios padroes de comportamento humani-Sic), 58

 Assim, a coesän a uma condicao necessAria mas nao suficiente para opensamento de grupo. Em condicOes de baixa coesio, estäo presentes fatores

que impedem a ilusao de unanimidade. 0 conflito natural em grupos nao-coesos redunda em frequentes debates e exame de todos os angulos da ques-

tao. Infelizmente, tal conflito é em si mesmo disfuncional na tomada dedecisao, como foi assinalado por vArios teOricos. 0 montante de sinergiaabsorvida pelo conflito reduz significativamente a producao do grupo.

Qual é, pois, a resposta para esse dilema? Jams acredita que os grupos de

tomada de decisao precisam reconhecer os perigos do pensamento de grupo e

sugere medidas para impedi-lo.

58 Ibid., p. 206.

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284 Contextos de Comunicacgo

1. 0 lider de urn grupo de formacao de diretrizes politicas deve atribuir o papelde avaliador critico a cada membro, encorajando o grupo a dar alta priori-dade a ventilacao de objecOes e cavidas.

2. Os lideres na hierarquia de uma organizacao, quando atribuem uma missaode planejamento politico a urn grupo, devem ser imparciais em vez de este-belecerem desde o inicio preferencias e expectativas.

3.  A organizacao deve obedecer rotineiramente a prática administrativa de criar varios grupos independentes de avaliacao e planejamento politico, a fim deque todos eles trabalhem sobre a mesma questao politica e cada urn deles levea cabo suas deliberacOes, sob urn diferente lider.

4. Durante todo o periodo em que a viabilidade e a eficacia das alternativespoliticas eitao sendo examinadas, o grupo responsavel pela formulayao dediretrizes politicas deve, de tempos ern tempos, dividir-se em dois ou ma'ssubgrupos que se reUnam separadamente, sob diferentes presidentes, edepois voltem a juntar-se todos corn o prop6sito de debater e eliminar suesdiferencas.

5. Cada membro do grupo responsavel pelas diretrizes politicas deve examinar periodicamente as deliberacOes do grupo corn colaboradores idaneos emsua prOpria unidade da organizacao e relatar aos demais membros as reacOes

daqueles.6. Urn ou mais especialistas de fora, ou colegas qualificados da organizacdo

mas que ndo sao membros centrais do grupo que trace as diretrizes politicas,devem ser convidados para cada reuniao numa base escalonada e ser encora- jados a contestar os pontos de vista dos membros centrals.

7. Em cada reuniao dedicada a avaliacao de alternatives politicas, deveria ser atribuido o papel de advogado do diabo a pelo menos urn dos membros.

8. Sempre que a questao politica envolve relacOes corn uma nacdo ou organi-zacao rival, urn consideravel periodo de tempo (talvez uma sessao inteira)deve ser dedicado a urn levantamento meticuloso de todos os sinais deadvertel ncia oriundos dos rivais, e a elaboracao de roteiros alternativos dasintencOes dos rivais.

9. Depois de atingido urn consenso preliminar sobre o que parece ser a melhor alternative politica, o grupo encarregado de tracer as diretrizes politicas deve

convocar uma reuniao de "segunda oportunidade", na qual se espera quetodos os membros expressem tao claramente quanto forem capazes todas assuas dOvidas residuals, e repensem toda a questao antes de ser feita umaescolha definitive. 59

Depois de certo ',Omer() de teorias basicas de comunicacao em pequenogrupo, a teoria aplicada e prescritiva de Janis podera parecer deslocada. Masnão esta. A sua teoria do pensamento de grupo envolve alguns dos impor-tantes conceitos das pesquisas e teorias anteriores, num contexto pratico.Demonstra a viabilidade da dinamica de grupo. Alem disso, propicia, par seusmeritos prOprios, novos caminhos para a compreensdo do problema. Final-mente, a abordagem de Janis A valiosa porque, a semelhanca da teoria deLewin, fornece-nos uma perspectiva multidisciplinar.

Generaiizacties

Sabemos que a comunicacdo se efetua no contexto do pequeno grupo. Ao

recapitularmos certo nOrnero de teorias relacionadas corn a comunicacdo empequeno grupo, podemos agora corroborar essa tese corn um significadoadicional. Em primeiro lugar, osgrupos nascern da necessidade da pessoa de

ampliar os recursos corn vistas a realizacdo de objetivos pessoais. Lewin

mostrou como o grupo A uma parte importante do espaco vital do individuo,habilitando a pessoa a buscar determinadas metas e a evitar as areas indese-

59 Ibid., pp. 209-19.

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Teorias de Comunicagao em Pequeno Grupo 285

 javeis. Em seu exame da literatura, Guetzkow e Collins sublinharam osbeneficios de maiores recursos na resolucao de problemas no grupo.

 A segunda generalizacdo resultante deste capitulo é que o grupo constitui urn sistema social, envolvendo inter-relagnes dinárnicas.  Algumas das teoriasaqui apresentadas adotam uma abordagem sistérnica. Lewin discutiu o equili-

brio dinämico de grupos e as pressäes no sentido de mudanca e equilibrio.Homans assinalou como sentimentos, atividades e interacäo se interligam para

formar a vida grupal, e Cattell mostrou como a sintalidade de urn gruporesulta de fracas da populacao e da estrutura interna. Ele tambem enfatizou omodo como os outputs de urn grupo se relacionam corn os inputs e osprocessos pelos quais o grupo usa a sua energia para cuidar da manutencão eda tarefa.

Terceiro, o grupo tern grande impacto sobre a vida do individuo. Comoparte significativa do espaco vital, o grupo cria press6es pr6prias sobre apessoa. Lewin assinalou que o grupo, especialmente se for coeso, cria pressdese estabelece valores que influenciam o comportamento da pessoa. Outras

teorias examinam o modo como papeis e normas afetam os comportamentosdos individuos.

Quarto, quanto maior for a coesäo de urn grupo, mais ogrupo afeta oindividuo. Para Lewin, a coesdo e o fator essencial na vida do grupo. Outros

autores ampliaram essa analise. Por exemplo, Thibaut e Kelley escrevem que,

na medida em que os grupos aumentam de tamanho, tambem aumenta ocusto relativo de manutencäo de todo o grupo como entidade coesa. Assim,o individuo considera mais gratificante a identificacao corn subgrupos meno-res, e parece mais afetado pelas normas e valores de suas coligacOes.

Aquinta generalizacäo a afim da anterior: a coesao cria efeitos positivos enegativos em grupos. Lewin, Collins e Guetzkow, Cattell e outros demons-traram que quanto mais coeso é urn grupo, mais ele pode coordenar seusrecursos na realizacao da tarefa. Parafraseando Cattell, a sinergia efetivamajor quando o grupo nao tern de consumir uma grande quantidade de

sinergia de manutencdo do grupo. Entretanto, as recompensas da elevadacoesdo para o amor-prOprio parecem criar pressOes no sentido da manutencaodo espirito de unidade, mesmo a custa de urn reduzido pensamento critic°.Este ultimo ponto é fortemente sublinhado por Irving Janis.

Sexto, para sobreviverem, os grupos devem propiciar um nivel 6timo desatisfacão a seus membros. Alern disso, setimo, os individuos tentam maxi-mizar recompensas e minimizar custos no trabalho de grupo. Homans, Thi-baut e Kelley concentraram-se nesses aspectos. A interacdo acarreta re-compensas para os individuos, mas tambem reclama custos. A tendéncia daspessoas sera para procurar aquelas interacOes que provaram ser recompensa-doras no passado. Numa interacdo, recompensas e custos resultarao para cadaparticipante; e, numa situacdo de grupo, o resultado global para os individuosdeve ser Otimo.

Skim°, o produto final do grupo depende de dois fatores: o trabalho diretona tarefa e as relacOes interpessoais. Esse terra é reiterado de uma pontaoutra da teoria do pequeno grupo. 0 modelo basico apresentado por Guetz-kow e Collins inclui a area da tarefa e a area interpessoal, cada uma das quaisapresenta obstaculos e recompensas. Bales mostrou como a interacao dogrupo gravita em torno da tarefa e dos temas s6cio-emocionais. Benne eSheats organizaram seus tipos de papeis em redor das mesmas areas, e Cattelldividju a sinergia em duas partes: efetiva e intrinseca.

Oitavo, a interacäo ern grupos envolve a comunicacäo na tarefa e acomunicacik sOcio-emocional. Essa generalizacdo, que esta relacionada corna anterior, promana em grande parte da obra de Robert Bales. Ele classificou ainteraciao em numerosas categorias. Esses tipos de interacao relacionam-seclaramente corn as areas da tarefa e sOcio-emocional. Essa generalizacão,

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286 Contextos de Comunicagdo

sustentada pela obra de Bales, estabelece mais claramente o significado dageneralizacao anterior sobre area de tarefa e area interpessoal.

Outra generalizacao que se desenvolve em torno da distincâo tarefa-social é

a seguinte: no trabalho de grupo, os individuos assumem papeis de tarefa e de

manutencäo. As conclusees de Bales a respeito da lideranca de tarefa e

sOcio-emocional corroboram essa generalizacao. A obra de Benne e Sheatssobre papeis é outra fonte para essa nocdo. Ageneralizacao final é que a natureza da interacdo muda corn otempo

quando o grupo progride atraves de Lases. A teoria de Aubrey Fisher de fasesde desenvolvimento do grupo, uma teoria verdadeiramente orientada para a

comunicacdo, descreve as fases de interacat a medida que o grupo se desloca

da discussao inicial Para a consolidacao final da decisao do grupo.

Vimos como a comunicacäo interpessoal ocorre em nivel de pequenogrupo. Passaremos em seguida aquelas teorias que explicam as organizactieshumanas.

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T e o r ia s d e O r g a n iz a c ä o1 0 •H u m a n a

0 sociOlogo Amatai Etzioni escreveu:

A nossa sociedade a uma sociedade organizacional. Nascemos em organizacOes,somos educados em organizacaes e a maioria das pessoas consome grande partede sua vida trabalhando em organizagOes. Despendemos uma boa parte do

nosso tempo de lazer jogando e rezando em organizacOes. A maioria morrera

numa organizacao e, quando chega o momento do sepultamento, a maior

organizacao de todas —o Estado —tem de dar permissao oficia1.1

Sabemos que uma consideravel parcela da comunicacão ocorre no contexto

da organizacao, e existe urn vasto acervo de literatura e teoria sobre a

comunicacao humana em organizacees. Em nossa busca de entendimento doprocesso decomunicacdo, a importante mordiscarmos aqui e ali na area dateoria organizacional.

Em certo sentido,o conceito de organizacao e semelhanteao de comuni-cacao. Sabemos intuitivamente sobre o que estamos falando quando usamos otermo, mas é dificil acudir-nos uma definicdo mais formal. Comecaremos estecapitulo examinando duas definicees. A primeira provem de Berelson eSteiner.2 Esses autores descrevem quatro caracteristicas de uma organizacaoque a distinguem de outros agrupamentos sociais. Aprimeira delas e a

 formalidade. Aorganizacao tipica tem um conjunto de metas, politicas,maneiras de proceder, regras e regulamentos, que !he ciao forma. A segundaqualidade das organizacôes é a hierarquia, tipicamente expressa em termos deuma estrutura piramidal. Em terceiro lugar, as organizacOes tendem a consistir

em grande niimero de pessoas, "o bastante para que sejam impossiveisrelacties pessoais estreitas". Quarto, as organizacOes duram usualmente maisdo que a vida humana.Anossa segunda definicao de organizacao é a deStrother:

1. Organizacties sac) grupos de duas ou mais pessoas.2. Em algum tipo de relacionamento cooperativo matuo.3. Essa cooperacao subentende algum tipo de meta(s) ou output(s) coletivo(s).

IAmatai Etzioni — Modern organizations. Englewood Cliffs, Prentice-Hall, 1964, p. 1.2Bernard Berelson e Gary Steiner — Human behavior: an inventory of scientific findings. NovaYork, Harcourt, Brace, 1964, p. 364 [ is. 59 da tradugão brasileira da edigâo condensada; verBibliografia I.

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288 Contextos de Comunicagao

4. Os grupos exibem alguma espacie de diferenciacao de funcao entre osmembros, e

5. Mantam alguma espacie de estrutura hierarquica mais ou menos estavel eexplicita.

6. Embora nao seja enfatizado nas teorias classicas, parece essencial reconhecer

que as organizaceies existem num campo total; as referancias a clientela,meio, inputs,equilibrio e legitimacao indicam o reconhecimento desse fato.3

Strother reconheceu que existem especies diferentes de organizacOes dentro

desse quadro de definicao. Especificamente, ele apontou cinco tipos. 4 0primeiro e constituido pelas organizacOes econômicas, onde sao fornecidosbens e servicos em troca de dinheiro. As organizacties de servigo sdo as quefornecem beneficios sem pagamento. As organizacaes protetoras fornecemos servicos necessdrios, quando requeridos, embora nä° dependam da ne-cessidade ininterrupta de clientes. As organizacties associativas existem corn

a finalidade de satisfazer certas necessidades sociais, proporcionando matua

identificacao e interacdo dos membros. Finalmente, as organizacties religiosas

intercedem entre os membros e forcas sobrenaturais. As organizacties podem ser encaradas de muitas perspectivas, das quais so

uma é a perspectiva de comunicacdo. Muitas das teorias e uma parcelasubstantial da literatura ignoram esse aspecto. Por outro lado, a maioria dos

escritos que se referem a organizacOes nao so reconhecem a importencia dacomunicacdo mas, alem disso, tratam-na em pormenor. Os departamentos

universitarios de administracdo de empresas e de comunicacão refletem esseinteresse ern seus curriculos. Uma recente pesquisa indica que consideravel

parcela dos programas de graduacao em comunicacdo verbal oferece cursos

de comunicacdo organizational, sublinhando a teoria, a pesquisa e a apli-cacdo. 5 Alèm disso, numerosos livros e artigos fornecem substancia aosconceitos essenciais da comunicagdo organizacional.6

Neste capitulo, examinaremos as principals teorias de organizacão humana,

corn particular enfase sobre as suas contribuicoes para o nosso entendimentoda comunicacao. A maioria dos especialistas parece dividirem a teoria em trestendencias gerais. 7 A primeira escola, a teoria clâssica, assenta no pressupostode que os membros organizacionais sdo instrumentos para serem influenciados

e usados pela administragdo. Ela procura responder a perguntas como asseguintes, formuladas por Goldhaber: "Como est& dividido o trabalho? Comoestd dividida a forca de trabalho? Quantos niveis existem de autoridade econtrole? Quantas pessoas existem em cada nivel? Quais sä.o as funcãesespecificas do posto de cada pessoa?" A segunda escola, que 0 usualmentechamada de relacties humanas, assenta em proposicOes que afirmam serem deimportencia suprema as atitudes, valores e necessidades pessoais dos indivi-

3

George B. Strother —"Problems in the development of a social science of organization", inThe social science oforganizations: four perspectives, organizado por H.J. Leavitt. EnglewoodCliffs, Prentice-Hall, 1963, p. 23. ,4

Ibid., p. 24.5Gerald Goldhaber — Organizational communication. Dubuque, William C. Brown, 1974, p. 8.6Ver a bibliografia de Lee Thayer em "Communication and organization theory", in Humancommunication theory, organizado por Frank Dance. Nova York, Holt, Rinehart & Winston,1967, pp. 70-115 [ pp. 94-148 da ed. bras.; ver Bibliografiaj. Outros livros importantes incluem:Charles Redding e George Sanborn (orgs.) — Business and industrial communication — asourcebook. Nova York, Harper & Row, 1964; Richard Huseman, Cal Logue e Dwight Freshley

Boston, Holdbrook Press, 1969;Ernest Bormann et al. — Interpersonal communication in the modern organization. EnglewoodCliffs, Prentice-Hall, 1969; Goldhaber —Organizational communication. Um dos melhorestratamentos de pesquisa e teoria nesse campo e o de Charles Redding —Communication withinthe organization: an interpretive review of theory and research. Nova York, Industrial Communi-cation Council, 1972.7 Goldhaber —Organizational communication, p. 24. Ver tambem Janes March e Herbert

Simon — Organizations. Nova York, John Wiley & Sons, 1958, p. 6.

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Teorias de Organizaclo Humana 289

duos. Goldhaber apresentou nos seguintes termos as questóes fundamentaisdas relacoes humanas: "Que papeis as pessoas assumem na organizacao? QuerelacOes de statusexistem em resultado de varios papeis? Qual é o moral e aatitude das pessoas? Que necessidades sociais e psicologicas existem para aspessoas? Que grupos informais existem no interior da organizacao?" Uma

terceira escola de pensamento em teoria organizacional pode ser denominadaa escola dos sistemas sociais. Esse grupo de teOricos pressup6e que as organi-zacOes se baseiam na tomada de decisees e na solucao de problemas, e atendencia deles a para responderem as seguintes espêcies de perguntas:"Quais säo as partes essenciais da organizacao? Como se relacionam umascorn as outras, em termos de interdependencia? Que processor na organizacdofacilitam essas relacOes interdependentes? Quais sao as principals metas daorganizacao? Qual é a relacdo entre a organizacao e o seu meio ambiente? 8 

Examinaremos agora cada uma dessas areas, enfatizando suas respectivascontribuicaes para o nosso entendimento da comunicacdo.

Os Fundamentos: a Teoria Classica

Uma das mais antigas teorias que tratam de organizacOes foi a teoria daadministracdo cientifica de Frederick Taylor. Ainda que limitada, a teoria deTaylor foi, de fato, a primeira a tratar sistematicamente do papel do adminis-trador na inch:Istria. Era uma teoria que se preocupava primordialmente corn astarefas fisicas e a eficiencia de producao. Na verdade, a obra de Taylor levouoriginalmente ao que hoje e conhecido como "engenharia humana", quepromoveu os estudos de tempo e movimento e a especificacão cuidadosa depadreies de trabalho. A administracdo cientifica trata os operarios como umanexo ou complemento da maquina, uma ferramenta da organizacao, atravesda qual podem ser obtidos uma producao eficiente e lucros. Taylor considerousua responsabilidade primordial o estabelecimento de metodos operacionaisque pudessem ser usados no treinamento e producao. Alem disco, Taylor viu a

pessoa como urn ser econOmico, motivado principalmente pelo medo deprivacOes e pelo impulso por dinheiro. 0 tema desse modelo e que os esforcosde trabalho devem estar intimamente conjugados corn recompensas mate-rials.

A teoria de Taylor baseia-se em quatro principios: (1) o desenvolvimento demetodos superiores de trabalho, (2) a selecäo e o treinamento apropriados dostrabalhadores, (3) a conjugacdo de mêtodo superior e de trabalhadores ade-quadamente selecionados, (4) estreita cooperacdo dos trabalhadores comosgerentes. 10 Para o seu tempo, a administracâo cientifica foi, de fato, urnavanco muito importante. Representou uma das primeiras tentativas de apli-cacao da pesquisa ao funcionamento organizacional. Tambern enfatizou anecessidade de cooperacdo entre a administracáo e o operariado, e rebaixou atomada arbitraria de decis6es organizacionais. 0 seu impacto ainda hoje se

faz sentir. A indOstria norte-americana adaptou-se ao pensamento de Taylor, oqual continuarà presente nos F.UA pormuito tempo. Aadministracao cienti-fica e limitada em seu ämbito mas fornece alguns instrumentos Oteis paracertas areas do funcionamento organizacional 11

8Goldhaber — Organizational communication.9Strother — "Problems", p. 9; March e Simon — Organizations, pp. 12-20; Etzioni, op. cit.,p. 21.1 0  Alan Filley e Robert House —Managerial process and organizational behavior. Glenville,Illinois, Scott, Foresman, 1969, p. 12.11Charles Perrow — Complex organizations: a critical essay. Glenville, Illinois, Scott Foresman,1972, p. 67; Dwight Waldo —"Organization theory: an elephantine problem", in GeneralSystems, 7, 1962, p. 255.

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Teorias de Organizaflo Humana   2 9 1

Weber formam o nircleo do que é comumente conhecido como estrutura-lismo. Essas ideias, desenvolvidas nos primeiros quart6is do seculo, relacio-nam-se corn as primeiras teorias classicas de organizacdo. Como sublinhou

Strother, as ideias de Weber coincidem em parte corn as dos primeiros teOri-cos e expandem-se muito alêm delas.

Hierarquia, ordem, racionalidade, impessoalidade — eis os elementos essenciaisdo modelo de Weber; eles poderiam ser aplicados corn igual exatidao ao modelodos teOricos clAssicos de administraceo industrial.

A teoria da burocracia de Weber parece pouco ou nada dever a teoria classicade organiza0o. Entretanto, tern muito em comum corn ela. Assemelha-seteoria classica de organizacão na eficiencia tecnica e na estrutura hierArquica daorganizaceo. Ambas as teorias devem muito as suas observacOes de organi-zacOes industriais e dos problemas nelas criados pela especializacao de funcOes.Ambas propOem uma resposta estrutural. A teoria classica estA, tradicional-mente, mais preocupada corn o detalhe (...) a teoria burocratica ocupou-se maisna descricAo das grandes linhas gerais.

Elas também diferem na medida ern que o metodo de Weber e essencialmenteindutivo, ao passo que os teOricos clAssicos da organizaceo usaram principal-

mente uma abordagem dedutiva. Ainda mais fundamental e a diferenca de Ambito das duas especies de teoria. A teoria da burocracia de Weber faz partede uma teoria geral de organ izacdo social e econ6mica. Os teOricos clAssicos daorganizacão preocuparam-se sobretudo em estudar as modernas organizacOesindustriais. Alem disso, a teoria classica teve sistematicamente uma °denten°normative, enquanto a orientacao de Weber é positiva.17

Weber definiu organizacao nos seguintes termos: "Uma torganizacao' a umsistema de atividade continua e intentional de um tipo especificado. Uma'organizac5o dotada de personalidade juridica' a uma relacao social associa-tiva caracterizada por urn quadro administrativo que se dedica a essa ativi-dade continua e intencional." 18Uma parte central da teoria da burocracia deWeber e constituida pelos seus conceitos de poder, autoridade e legitimidade.

Para Weber, o poder é a capacidade de uma pessoa, em qualquer relacaosocial, para realizar os seus objetivos, para superar resistencias. 0 poder,nessa acepcdo, é fundamental para a maioria das relacaes sociais. Quando o

poder e legitimo, a obediencia a efetiva e completa. Urn poder legitimo,portanto, embora possa tido ser agradavel, facilita a congrAncia das normas

corn os valores dos subordinados. Etzioni resumiu esse conceito nas seguintespalavras:

O estudo de Weber sobre a legitimacão introduz toda uma nova dimensão noestudo da discipline organizational. Fie usou poder em referencia a capacidadepara induzir a aceitacao de ordens; legitimanopara se referir a aceitacâo doexercicio do poder porque est& em conformidade corn os valores sustentadospelos salitos; e autoridade ern referencia a combinacAo dos dois, isto é, ao

poder que e considerado legitimo.19

Essa ideia de poder legitimo a urn tema de interesse central para a comuni-cacdo. Se as comunicacOes serão aceitas numa organizacao dependera dograu em que o superior possui autoridade legitima. Essa especie de ethos é

Simon —Organizations; Etzioni — Modern organizations; Reinhart Bendix — Max Weber: anintelectual portrait. Garden City, Doubleday, 1962; Julien Freund —The sociology of MaxWeber. Nova York, Pantheon Books, 1968. Para uma bibliografia complete de fontes primaries esecunderias sobre Weber, ver S.N. Eisenstadt — Max Weber on charisma and institutionbuilding. Chicago, University of Chicago Press, 1968.17Strother — "Problems", pp. 11-12.18

Weber — Social and economic organizations, p. 151.

19 Etzioni — Modern organizations, p. 51.

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292 Contextos de Comunicagao

i mportante sob outros aspectos, como veremos quando tratarmos do conceitode autoridade de Barnard, na prOxima secdo. Tambem a tese de que alegitimidade consubstancia uma congruencia entre normas e valores ocupaurn lugar de destaque nas teorias de atitude e valor, apresentadas no capi-

tulo 7.

Weber descreveu tres tipos de autoridade 20 0 primeiro e a autoridade

tradicional . Ela ocorre quando as ordens do superiorgo entendidas como

 justificadas corn fundamento na tradicao. Os poderes de um individuo säoconsiderados legitimos "porque sempre foram legitimos". A segunda forma de

autoridade é burocratica ou racional-legal. Essa forma 6 sumamente impor-

tante nas burocracias. As autoridades, numa burocracia, derivam seu poder das regras burocraticas, as quais governam todos Os membros da organizacdo

e sac) por eles aceitas. Para Weber, a burocracia a claramente o padrao mais

eficiente para a administracdo de massa:

A experrencia tende a mostrar que o tipo puramente burocratico de organizanoadministrativa — isto 6, a variedade monocratica de burocracia — e capaz, deurn ponto de vista estritamente tecnico, de atingir o mais alto grau de eficienciae, nesse sentido, constitui formalmente o meio conhecido mais racional de levara efeito o controle imperativo sobre seres humanos. E superior a qualquer outraforma em precisao, em estabilidade, no rigor de sua disciplina e em sua confia-bi I idade. 21

 A burocracia de Weber assenta em certo nómero de principios bem defini-.

dos.22 Em primeiro lugar, a burocracia baseia-se em regras. Tais regras permi-

tern a solucâo de problemas, a padronizacdo e a igualdade na organizack.

Ern segundo lugar, as burocracias baseiam-se no conceito de estera de Compe-

tência. Assim, existe uma divisäo sisternatica de trabalho, tendo cada papel

direitos e poderes claramente definidos. Em terceiro lugar, a condicao sine

qua non da burocracia e a hierarquia. Em quarto lugar, os administradores sao

nomeados na base de seus conhecimentos e treinamento. Não sao geralmente

eleitos nem herdam suas posicaes. Em quinto lugar, os membros da burocra-cia nao devem participar da propriedade da organizacäo. Em sexto lugar, os

burocratas devem ter liberdade de distribuir recursos dentro de suas esferas de

influencia, sem receio de interferencia externa. Finalmente, uma burocraciarequer a cuidadosa manutencao de registros. Este. criterio final é importante

ern termos de comunicacão. Weber expressou-o assim:

Atos administrativos, decisoes e regras são formulados e registrados por escrito,mesmo nos casos em que a discussao oral a a norma ou ate imperativa. Issoaplica-se a discussoes e propostas preliminares, a decisoes finais e a toda a sortede ordens e preceitos. A combinacao de documentos escritos e uma organizacãocontinua de funcifies oficiais constitui o "escritairio", que e o foco central detodos os tipos de acao empresarial rnoderna.23

Outra caracteristica da burocracia e ser usualmente chef iada por urn näo-burocrata. Os chefes nao-burocraticos sdo frequentemente eleitos ou herdam

os seus cargos e posicaes. Incluem presidentes, conselhos de ministros, juntasdiretoras, conselhos de administracao e.reis. Os burocratas sdo dispensaveis;

podem ser facilmente substituidos por outros individuos identicamente trei-

nados, mas a sucessào do chefe nao-burocratico pode muito bem ser umacrise, precipitando inovacOes e mudancas.

20Weber — Social and economic organizations, pp. 330-32.21Ibid., p. 337.22 Ibid., pp. 330-34. Ver tambem Etzioni —Modern organizations, pp. 53-54.23

Weber — Social and economic organizations, p. 332.

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Teorias de Organizaflo Humana 293

Os primeiros dois tipos de autoridade incluem as formas traditional eburocratica. 0 terceiro e a autoridade carisma- tica. Sob esse tipo de autori-dade, o poder é justificado atraves da natureza carismatica da personalidade

do individuo superior. Ao contrario da autoridade burocratica, o carismadesafia a ordem e a rotina. 0 lider carismatico é revolucionario e estabeiece a

sua autoridade em oposicao as tradicOes de sua epoca. A lideranca doindividuo carismatico, como profeta ou demagogo, concretiza-se atraves da

demonstragao de poderes magicos e heroismo. (Weber nä° tern muita fa nessetipo de persuasào de massa.)

Dave estar claro, nesta altura, que as teorias classica e estruturalista deorganizacao nao estao primordialmente interessadas em interacao e comuni:cacao. Essas teorias tendem a concentrar-se na produtividade, eficiencia e

estrutura organizacional. Os trabalhadores nao sao realmente consideradospessoas atuantes. As pessoas sao tratadas mais como uma constante do que

como uma variavel dinamica. Alem disso, a comunicagao era atenuadaporque a verdadeira preocupacao na epoca era a eficiencia — e a eficiencia évista como urn processo mecanico ern que as pessoas nao passam de instru-

mentos manipulaveis. A maioria dos primeiros te6ricos tambem acreditava

que as necessidades humanas eram satisfeitas atraves de incentivos materiais,nao de interacao social.

Embora a tendencia dessas teorias seja para ignorar o processo de comu-

nicacao em organizacOes, estao implicitos certos pressupostos acerca dacomunicacao. Urn desses pressupostos é a supremacia da comunicacao es-

crita. ja assinalamos o modo como Weber valorizava a documentacao,considerando-a a pr6pria esskcia do funcionamento organizacional. Outropressuposto Obvio e ser a comunicacao, primordialmente, de sentido Calico e

dirigida de cima para baixo. A comunicacao é vista como a transmissao deinformacao e nao esta prevista, nesses primeiros modelos, qualquer respostaindividual. E provavel que existam numerosas razOes para justificar por que a

comunicacao era encarada ern termos tao simplistas. Acreditava-se, por exemplo, que os trabalhadores eram essencialmente incapazes de conduzir 

suas tarefas sem instrucOes vindas de cima. Acreditava-se que eles se con-

fundiam e se desorientavam facilmente, a menos que fossem estabelecidosli mites claros pelos escalOes mais elevados da hierarquia de autoridade, e bemdefinidos para a massa. /dem disso, as cinicas comunicagOes importantes eramformais ou oficiais. Outro pressuposto sobre comunicacao, implicit° na teoriaorganizacional classica, a que as pessoas respondem racionalmente a infor-macao. 24

0movimento das relacOes humanas propagou-se na decada de 1930,principalmente por causa dessa falta de interesse pela comunicacao e por outras variaveis socio-psicologicas. Se a teoria classica tende a ignorar acomunicacao, a escola de relacaes humanas, por seu lado, concentra-seprimordialmente nela. Ern virtude de seu profundo interesse pela comuni-

cacao, trataremos as relacoes humanas mais detalhadamente do que as teoriasclassicas.

A Escolade Relaciies Humanas

A escola de relacOes humanas da teoria da organizacao desenvolveu-se par-cialmente como uma reacao as estereis teorias classicas e, tambem emparte, como reacao a depressao da decada de 1930. A Segunda GuerraMundial aticou as labaredas desse movimento que, ern meados da decada de1940, ja conquistara grande popularidade. E geralmente reconhecido que a

24Massie — "Management theory".

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294 Contextos de Comunicagão

teoria das relacoes humanas se originou corn os Estudos Hawthorn, os quais

receberam consideravel atencao nas decadas de 1920 e 1930. 25 Esses minu-ciosos estudos foram dirigidos inicialmente por F. J. Roethlisberger; urn psicel-

logo industrial de Harvard, e por R. Dickson, urn gerente da Usina Hawthorn

da empresa Western Electric. Elton Mayo, da Harvard Business School, foi

depois convidado a participar nos estudos como consultor. Sob a direcao dessaequine, cerca de 300 entrevistadores falaram corn os empregados da Western

Electric acerca de seus problemas e percepceies. Essas entrevistas originalslevaram a realizacao de pesquisas adicionais sobre o funcionamento de grupo.

Finalmente, publicou-se Management and the worker, como sumario de todoo trabalho realizado ern Hawthorn. 26 Em virtude do seu impacto sobre osprimeiros tempos da escola de relacees humanas, Elton Mayo é considerado o

principal progenitor do movimento. (Kurt Lewin tambem foi urn dos primeiroscontribuintes importantes. Ver o capitulo 9.)

Perrow descreveu dois ramos gerais no movimento de relacoes humanas.27

O primeiro ocupa-se primordialmente da lideranca em organizacaes. A tese da

escola de lideranca é que a lideranca facilita o moral, o qual favorece. por seu

lado, urn aumento da produtividade. Uma das mais importantes manifestaceies

desse ramo a constituida pelo treinamento de lideranca e os T-groups (gruposde treinamento, tambem chamados grupos de diagnostico). 0 segundo ramo

e de carater mais geral, tratando do clima organizational como urn todo. Aprodutividade e o bem-estar do trabalhador sac) igualmente enfatizados.Etzioni sublinhou que, "sobretudo, a Escola de Relacäes Humanas (...) enfa-tizou o papel da comunicacao, participacao e lideranca"28

Os principios basicos das relacOes humanas incluem os seguintes: (1) A

produtividade a determinada por normas socials, nao por fatores fisiologicos.(2) As recompensas nao-econelmicasgo de suma importancia para motivacaodos trabalhadores. (3) Os trabalhadores reagem usualmente como membros deurn grupo e nao como individuos. (4) A lideranca a extremamente importante

e envolve aspectos formais e informais. (5) Finalmente, os teoricos dasrelacoes humanas enfatizam a comunicacao como o facilitador mais impor-tante da tomada coletiva de decisOes.29

 A reacao dessa escola contra a teoria classica teve talvez a sua melhor il ustracao na teoria de Chris Argyris. Argyris apresentou uma visào relativa-

mente unificada do relacionamento individuo-organizacao.?° Reconhecendoque as organizaceies sac) complexas, Argyris optou por concentrar-se numa

fonte particular de energia nas organizaceies: a energia psicoltgica humana.Especificamente, ele interessou-se na competancia interpessoal e nas relacoesinterpessoais.

Para Argyris, existe uma unidade reconhecida em todos os individuos, aqual define o eu. Esse eu ou personalidade desenvolve-se interpessoalmente, apartir da interacao corn outros. Apessoa ye o mundo atraves desse filtro doeu, aceitando estimulos que sac) congruentes corn o eu e distorcendo, ne-

25 Para uma breve e excelente descricao dos estudos Hawthorn, ver Perrow —Complex orga-nization, p. 97.26 Roethlisberger e Dickson —' Management and the worker. Cambridge, Harvard UniversityPress, 1939.27Perrow — Complex organizations, p. 97.28

Etzioni — Modern organizations, p. 32.29

Etzioni — Modern organizations, p. 38.30

0 nixie() da teoria de Argyris encontra-se em Chris Argyris — Personality and organization:the c onflict between system and the individual. Nova York, Harper & Bros., 1957. Foi atualizadona parte I de Integrating the individual and the organization. Nova York, John Wiley, 1964.Versties mais sucintas podem ser estudadas na parte I de Interpersonal competence and organizational effectiveness. Homewood, Illinois, Richard D. Irwin, 1962 e "Understandinghuman behavior in organizations", in Modern organization theory, organizado por Mason Haire.Nova York, John Wiley, 1959.

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Teorias de Organizacdo Humana 295

gando ou rejeitando aqueles que nao podem ser facilmente integrados no eu.

 Assim, os estimulos ameacadores suscitam uma conduta defensiva, que blo-queia a capacidade da pessoa para perceber e acolher novas possibilidades.

Existe uma necessidade basica de aumentar a auto-aceitagao e a aceitagao

de outros, e tal necessidade dificilmente pode ser satisfeita na presenga de

ameaga e defensividade. Argyris mostrou que isso a urn problema interpessoal:

Chegamos a conclusao de que impossivel para urn ser humano intensificar asua consciencia e aceitacao de (aspectos de) seu eu, sem criar simultaneamenteas condicOes para que outros facam o mesmo. Em outras palavras, o desen-vOlvimento e a aprendizagem do individuo (em nivel interpessoal) estao inexo-ravelmente ligados aos seus semelhantes.31

Urn relacionamento autOntico a aquele ern que ambas as partes podemaumentar o seu sentido de valor pessoal e de autoconsciancia. E marcado por urn elevado grau de feedback descritivo (nao-avaliatOrio), confianca e experi-mentagao. E por urn grau muito baixo de defensividade e ameaga.

Essa concepgao da comunicagao interpessoal tern seus alicerces mergu-

lhados na psicologia humanista (ver o capitulo 8). A contribuigao pessoal de Argyris foi a aplicagao desses postulados a vida organizational. A relagaoentre a pessoa e a organizagao envolve o que Argyris chamou "o dilemabasic() entre as necessidades do individuo que aspira ao exito psicologico e

confianca em si mesmo, e as exigencias da estrutura piramidal"32 As estra-tegias tipicamente consideradas como necessarias a realizagao dos objetivos

organizacionais conflitam, precisamente, corn as necessidades do individuo.Vemos aqui uma manifestagao direta da reagao da escola de relagees hu-manas contra a teoria classica. Argyris acredita que os pressupostos organiza-

cionais tradicionais requerem que a pessoa se separe de importantes di-mensäes do eu. Isso acontece de seis maneiras. Primeiro, requer-se que apessoa se comporte "racionalmente", assim se divorciando de seus senti-mentos. Segundo, o principio de especializagäo proibe o trabalhador de

esforgar-se por satisfazer suas necessidades utilizando toda a gama de suasaptidoes. Terceiro, os mecanismos usados pelos individuos para compensar (ou fugir), incluindo o devaneio, o absentismo, a rotagao, os sindicatos e o

nao-envolvimento, impulsionam ainda mais a pessoa, a partir de sua necessi-dade de se desenvolver e produzir. Quarto, o principio de poder coloca oindividuo ern estados subordinados, passivos e dependentes. Esta condigaopiora corn os niveis inferiores na cadeia de comando. Quinto, o mesmoprincipio retira ao trabalhador o sentido de responsabilidade pessoal. Final-

mente, o principio de controle (separagao) coloca a avaliacäo do trabalho deurn individuo nas maos de outro.

Em resumo, as estrategias tradicionais usadas ern organizagOes "para asse-gurar que o servigo sera executado" frustram o desenvolvimento humano do

individuo. Para tornar as coisas piores, o padrao e ciclico. Quando o euindividual é suprimido, as pessoas sac) forcadas a adotar valores organizacio-

nais, que agravam o problema. Nas palavras de Argyris, quando a competan-

cia tecnica a elevada, ocorre uma redugao na "competéncia interpessoal". 0circulo vicioso é ilustrado na Figura 71.33

Obviamente, a obra de Argyris fornece-nos uma refutagao das teoriasclassica e estruturalista de organizagao. Ele preconiza uma especie muitodiferente de organizagao em que os valores humanos sac) tao importantesquanto os valores de produgao. Argyris nao abandonaria a piramide, mas

31Argyris — Interpersonal competence, pp. 20-21.32Argyris — Integrating, p. 58.33Argyris — Interpersonal competence, p. 43.

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296 Contextos de Comunicano

encorajou outras formas concorrentes em que os individuos participam naformulacao e avaliacao das decisoes organizacionais 34

Outro modelo popular de relacoes humanas e a grade gerencial (The

managerial grids) de Blake e Mouton 35 Esses autores descreveram trOs impor-tantes dimensOes das organizacees: (1) finalidade ("producao"), (2) pessoas e

(3) hierarquia. Agrade gerencial, ilustrada na Figura 72, procura descrever asvésias contingencias nas atitudes de urn superior para corn a producao e aspessoas. Cada dimensao a situada numa escala de inferior para superior, sendodescritos os resultados possiveis.36 Nos capitulos do livro deles, Blake eMouton relacionaram a comunicacao diretamente corn cada urn dos,estilos degerencia escritos na Figura 72. De acordo corn o padrao geral de relacoeshumanas, Blake e Mouton descreveram a comunicacao como sendo crescen-temente aberta, bilateral e adaptativa, a medida que o estilo se desloca aolongo da diagonal de 1,1 para 9,9. No ponto 9,1 a comunicacao é altamenteformal, orientada para a tarefa e unilateral. Em 1,9, é muito informal, social eorientada para a aprovacao. Em 9,9, "o objetivo e aberto, a comunicacaoautentica e franca; a exposicao e completa".37

Outro models de relacoes humanas a ser considerado aqui e o de DouglasMcGregor 38 0 modelo de McGregor, que recebeu ampla divulgacao, postuladuas "teorias" de administracao. Aconcepcao traditional aplicou o rotulo de"Teoria X". Essa filosofia, baseada na teoria classics, assenta em trés pressu-postos gerais, segundo McGregor: (1) "0 ser humano comum tern uma aversaoinata ao trabalho e, se puder, evita-o." (2) "Por causa dessa caracteristica hu-mana de aversao ao trabalho, a maioria das pessoas tern de ser coagida, con-tratada, dirigida e ameacada de punicao para aplicar urn esforco adequadoem prol da execucao dos objetivos organizacionais." (3) "0 ser humano me-dio prefere ser dirigido, deseja evitar responsabilidades, tern relativamentepouca ambicao, quer seguranca acima de tudo. 39Esse conjunto de pressu-postos baseia-se numa concepcao ingOnua de motivacao, redundando numaabordagem administrativa do tipo pais-filhos. Em seu lugar, McGregor prop6s

a "Teoria Y". Essa teoria, uma perspectiva de relacoes humanas, baseia-se nosseguintes pressupostos: (1) "0 dispOndio de esforco fisico e mental notrabalho é tao natural quanto o lazer ou o repouso." (2) "0 homem exerceraautodirecao e autocontrole ao servico dos objetivos corn que esta comprome-tido." (3) "0 compromisso corn objetivos e uma funcao das recompensasassociadas a realizacao dos mesmos." (4) "0 ser humano comum aprende, emcondicOes apropriadas, nao so a aceitar mas a procurar responsabilidades."(5) "A capacidade para exercer urn grau relathiamente elevado de imaginacao,engenhosidade e criatividade na solugdo de problemas organizacionais estAamplamente, nao escassamente, distribuida na populagao.." (6) "Nos con-dicOes da moderna vida industrial, as potencialidades intelectuais do serhumano medio sao apenas parcialmente utilizadas." 400 principio subjacenteda Teoria Y e o principio da integracäo: "A criacao de condicOes tais que os

membros da organizacao podem realizar melhor seus prOprios objetivosdirigindo seus esforcos para o exits da empresa." 41

MPara uma exposicào detalhada de suas idêlas sobre'mudancas organizacionais, ver as partes II

e III de Integrating.

35 Robert Blake e lane S. Mouton — The managerial grid. Houston, Gulf Publishing Co., 1964.Esse livro faz uma descricao minuciosa da natureza de numerosos estilos gerenciais.36Ibid., p. 10.37

Ibid., pp. 160-61.38

Douglas McGregor — The human side of enterprise. Nova York, McGraw-Hill, 1960.39 Ibid., pp. 33-34.40Ibid., pp. 47-48.41 Ibid., p. 49.

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V

1. As relasbes humanas relevan-tes sao as que se referem a resit-?sok, do objetivo organizational.

2. A efichois das relacdes huma-nas aumenta quando o compor-tamento 6 rational, bigico e cla-Temente comunicado. As atitu-des. os sentimentos e valorespessoais tendem a diminuir a efi-°boa.

3. As relacees humanas são in-fluenoadas corn suprema eficbciaatraves de need°, coercaet econtrole, assim como de recom-pensas e °unions que servempara enfatizar o comportamentoradiansl e fazer corn que a tarot aseia executada.

Deciiniona tornadoefetiva dedecisees

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Aceneão I Centralism°da de pea rritga irndeezn t a I

dependênciaextern   I qrganizaeional

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tDeelina Aumenta

Receber feedback des- Receber feedback ava-critivo no-avaliatOric batOrio sobre o eu e ossobre o eu e os outros. outros.

Fornecer feedback nä°. Fornecer feedback ava-avahateno sobre o eu e batOrio sobre o eu e osos OUtIOS. outros.

Projetar ou negar asSer senhor das pro- °inns atitudes, vale-pries atitudes, valores res e ssntimentos so.e sentimentos. bre outros.

Ajudar os outros a eh- Pedir ou exigir que osmen tarem Ivivencia- outros concordem cornrem) atitudes, 'valorese sentimentos pi-boric°

as nossas atitudes, va-ores e sentimentos.

Receptividade para no- Impermeadlidade a no-vas atitudes, valores e vas atitudes, valores esentimentos. E permitir sentimentos, e exigirquo outros sintam o que os outros beam 0mesmo. mesmo.

%/denier novas sin-des, valores e senti-memos. E permitir que

No viveneiar novasnines, valores e sen-timentos, e requerer o

outros tenharn uma  ,a-Vaned iddntica.

mesmo dos outros.

Acidness Inautenticas

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Alta9

8

6

5

4

3

2

Baixa 1

9.1 GerenciaA eficiancia nas operacOesresulta de se propiciaremcondicOes de trabaiho detal modo que os elementoshumanos interfiram numgrau minim°.

1.9 GerenciaAtencho solicita its necessida-des das pessoas para relactiessatisfatOrias leva a uma confer-tavel e amistosa atmosfera or-

- ganizacional e born ritmo detrabaiho.

9.9 GerenciaA realizacão do trabaiho 6 fru-to de pessoas dedicadas; a in- —terdepenciancia através de um"interesse comum" nos objeti-vos da organize* leva a rela- —goes de confianga e respeito.

5.5 GerenciaAdequado desempenho organize-clonal 6 possivel atraves do equili-brio entre a necessidade de garan-tir a execu* do trabaiho e amanutencão do moral das pessoas

em niveksatisfatario.

1.1 GerenciaAprcac lao de esforpo mini-mo para que seja feito otrabaiho requerido 6 apro-

- priada a manutenck da fidelidade a organizacao.

I I I

298 Contextos de Comunicacao

Talvez a mais detalhada teoria de relacöes humanas (e certamente a maisexplicativa de todas) seja a de Rensis Likert.42 Essa teoria bastante desenvol-

vida pode ser encontrada em New patterns of management e, mais recente-

mente, emThe human organization.43

2   3 4   5 6   7  8   9Baixa Alta

Figura 72. 0desenho da

grade gerencial, extrai-

do de Robert R. Blake e

lane Srygley Mouton

— T h e m a n a g e r i a l g r i d .

 Houston;Gulf Publi-

shing Company. Copy-

right ©1964, p. 10. Re-

 produzidocom permis-

são.

Preocupaceo com a Producão

Likert descreveu tit grupos gerais de variaveis organizacionais. Variaveiscausais sào aquelas que podem ser m3 dadas ou alteradas. Nesse sentido, po-dem ser consideradas como as variaveis independentes no modelo. Variaveis

intervenientes sdo aquelas que levam aos resultados das manipulacties causais.Elas refletem o estado interno geral e a saale da organizacao. Existem, porfi m, as variaveis doresultado final, as variaveis dependentes ou outputs,

que refletem a realizacdo final da organizacao. Ora, Lima organizacdo podefuncionar em qualquer ponto de um continuo de quatro sistemas. 0 Sistema I,no extremo desse continuo, e o sistema explorador-autoritario.Sob essesistema, o executivo administra corn mao de ferro. As decisoes sdo tomadasern cima e nao se faz use de qualquer especie de feedback.0 Sistema II, oude lideranca autoritaria-benevolente, é muito semelhante ao Sistema I, excetoque o gerente, pelo menos, a sensivel as necessidades do trabalhador.

Deslocando-nos ainda mais ao longo do continuo, chegamos ao Sistema III,que a de naturezaconsultiva. As figuras de autoridade ainda mantérn ocontrole, mas a consulta dos niveis inferiores a desejada. Finalmente, no outroextremo do espectro, temos o Sistema IV de administracao participante, quepermite ao trabalhador participar plenamente nas tomadas de decisOes daorganizano. 0 Sistema IV leva a urn elevado desempenho e a um crescentesentido de responsabilidade e motivacao. Essas inter-relacees sao ilustradasnas Figuras 73 e 74.44

42Perrow — Complex organizations.

43 Rensis Likert — New patterns of management. Nova York, McGraw-Hill, 1961; Likert — Thehuman organization. Nova York, McGraw-Hill, 1967,44 Ibid., pp. 76-137.

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Teorias de Organizacão Humana 299

Figura 73. SeciOëncia de

desenvolvimentos numa

empresa bem organiza-

da, Segundoéafetada polo use do Sistema 2ou do Sistema 4. (Rensis

 Likert — "New patterns

in sales management",

in Changing perspectivesin marketing manage-

ment,organizado por 

 Martin Warshaw. Michi-gan Business Papers, rIP37. Ann Arbor, Bureau

of Business Research,

The University of Michi-gan, 1972, fig. 7, p. 24.

Copyright by The Uni-

versity; usado corn per-

missdo.)

Vanaveiscausais

SISTEMAS 1 ou 2p. ex., usa

pressao hterargu i ca direta por resultados, incluindo os usuaisconcursos e outras prancesdos sistemas tradicionais

e se o gerente administra via:

Plano bem organizado de ape-ace°Metas de elevado desempenhoElevada competencia tecnica

(gerente ou assistentes dostall)

Se um gerente tem:

SISTEMA 4p. ex., usa

principio de relacionamentode apoio, metodos grupais desupervisho e outros principiosdo Sistema 4

a sua organizap-ão exibira:

Variaveisintervenientes

Menos lealdade ao grupoObjetivos in enores de desem-penhoMajor conflito e menos coupe-racaoMenos assistancia tacnica acolegas do mesmo nivelMajor sensacão de pressao

exorbitanteMenos ataudes favoraveis em

relagao ao gerenteMenor motivapão para produzir 

Maior lealdade ao grupoObjetivos de desempenho su-

periorMajor cooperacaoMa's assistancia tacnice a co-

legas do mesmo nivelMenor sensaceo de pressao

exorbitanteAtitudes ma ' s favoráveis em

relack ao gerenteMajor motivacäo para produzir 

e sua organizapao akar:Iowa

Varieveis doresultado final

Menor volume de vendasCustos de vendas ma's eleva-

dosOualidade inferior do artigo

vendidoGanhos infenores pelos ven-

dedores

Volume de vendas mais eleva-do

Menores custos de vendasQualidade superior do mug°

venclidoGanhos supenores poles ven.

dedores 

Obviamente, a comunicacdo esta refletida em todos os niveis do modelo deLikert. Mais diretamente, porem, Likert considera a comunicacao uma variavelinterveniente, relacionada especialmente corn o "sistema de interacao-influen-cia" e uma subparte da categoria de vanaveis de atitude, motivacdo epercepcdo. A relacdo entre as varidveis de comunicacdo e os sistemas deadministracdo a ilustrada no Quadro 21.45

Escola de Sistemas Sociais

Nas tres escolas de teoria organizational vemos um exemplo bastante clamde tese-antitese-sintese. A abordagem dassica enfatiza sobretudo a estrutura.

45 Ibid., pp. 16-19.

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Variaveis .4causais

Variaveis doresultado final

Variaveisintervenientes

Principio derelacionamento de apoio

Tomada de deciseo grupal

numa estrutura de grupomUltipla e sobreposta

 A presenya destas variaveis gera estas variaveis que, por seu turno, levam.a estas variaveis

I I

Atitudes favoraveis em relagão ao —superior

Elevada confianya e lealdadeElevada influencia reciprocaExcelente comunicayeo: para ci-

ma, para baixo e lateralGrande lealdade no grupo de tole-- do mesmo nivel

Metas de elevado desempenho en-tre colegas do mesmo nivel, ref.:

produtividade, qualidade, des-perdicio

Ati udes desfavoraveis, por exem- —plo, pouca confianya e lealda-de

Comunicacão sofrivelBaixos niveis de influenciaBaixos niveis de motivacao coope-

radoraBaixas metas de desempenho en-

tre colegas de mesmo nivelRestricao de produto final (output) — 

in

N0

0,

in

1 1 ,Submissão baseada

no medo

—Metas de alto desempe-1—nho

 Alta pressào, atraves de:pads:5es rigidos de traba-Iho, limitayao de pessoal,orcamentos apertados —impostor 

0\

p Baixa ausencia e renovaoäo depessoal

 Alta produtividadeBaixo desperdicioBaixos custosElevados qanhos

 Alta produtividadea curto prazoBaixa produtividadee poucos ganhosa longo prazo

0 -  40Elevadarenovagão

ausencia

dee pessoal

0

0

0

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Teorias de Organizacao Humana 301

 As relacoes humanas destacam principalmente as necessidades humanas. Os

te6ricos do sistema, reconhecendo a natureza holistica e de processo dasorganizacOes, conjugaram essas duas abordagens. Essas teorias sistamicastendem a ser extensas elaboracOes sobre as numerosas inter-relaceies que

possivel descobrir entre elementos organizacionais humanos e estruturais.Examinaremos algumas ideias fundamentais de quatro dessas teorias. Primeiro,

trataremos da abordagem sistemica pioneira de Chester Barnard. Depois,discutiremos alguns importantes insights de March e Simon. Descreveremosem seguida as principals contribuicoes de Katz e Kahn. Finalmente, cobri-

remos a abordagem mais orientada para a comunicacao — a de Farace,Monge e Russell.

 APrimeira Abordagem de Sistemas de Chester Barnard 

 Aobra de Chester Barnard foi verdadeiramente um fenOmeno. Como presi-

dente da New Jersey Bell Telephone Company, ele nap era urn executivo emexercicio mas produziu um dos mais influentes tratados na area da adminis-tracao e organizacao. Barnard forneceu nao so uma teoria da organ izacdo mastambem uma teoria da comunicacao. Escreveu em 1938 The functions of the

executive e, nessa epoca, preencheu verdadeiramente um vazio teOrico.46Charles Perrow escreveu o seguinte a respeito de Barnard:

Seu livro notavel e imensamente influente contem as sementes de très tenden-cies distintas da teoria organizational que iriam dominar o campo durante astrés decades seguintes. Uma era a escola institutional (abordagem de sistemas)

uma outra era a escola de tomada de decisao, representada por HerbertSimon (...) a terceira era a escola de relacaes humanas. (...) Os principaisteóricos dessas escolas reconheceram espontaneamente sua divida para cornBarnard.47

Chamando-lhe o Ultimo dos "teOricos praticos", escreveu Strother:

Ele apOia-se no trabalho dos te6ricos classicos, psicOlogos, sociOlogos e eco-nomistas institucionais, assim como em sua prOpria e rica experiéncia, paradesenvolver urn tratamento rigorosamente racional, quase euclidiano, da organi-zacido indus trial. 48

 Atese de Barnard é que as organizagOes so podem existir atraves dacooperacao humana, que a cooperacao e o veiculo atraves do qual as

capacidades individuals podem combinar-se para realizar tarefas superorde-nadas. The functions of the executive comeca com alguns pressupostosfundamentals sobre os seres humanos. Em primeiro lugar, as pessoas sao vistascomo seres ativos, dotados de motivos e propOsitos. Contudo, as pessoas

estao severamente limitadas em sua capacidade de realizacao. Existem limi-tacOes biolOgicas, situacionais e sociais para o que uma pessoa pode fazer 

sozinha. Somente atraves da interagao pode ocorrer a necessaria cooperagao. A cooperacao so persistira se for efetiva e suficiente. Os participantes num

sistema cooperativo devem estar satisfeitos corn os seus resultados para que acooperagdo prossiga.

Com esses pressupostos em mente, Barnard definiu uma organizacdo nosseguintes termos: "Urn sistema de atividades ou forcas conscientementecoordenadas de duas ou mais pessoas. Ern qualquer situagdo concreta em que

46Chester Barnard —The functions of the executive, Cambridge, Harvard University Press,1938.47Perrow — Complex organizations, p. 75.48Srother — "Problems", p. 16.

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302 Contextos de Comunicagão

Quadro 21.Caracteristicas organizacionais ede desempenho de diferentes sistemas administrativos,

baseados puma andlise comparativa

Sistema de Organizano

Caracteristicasoperacionais

Autoritario Participante 

Explorador-autoritario Autoritario benevolente Consultivo Grupo participante

Carter do processo decomunicacaoa. Montante de intera-

cão e comunicacãoalmejado para reali-zar os objetivos daorganizayao

b. Direcäo do fluxo deinformacao

c. Comunicacäo des-cendente(1) onde iniciada

(2) grau em que ascomunicacCies sãoaceitas pelos subordi-nados

d. Comunicacâo ascen-dente(1) Adequacäo da co-municacao ascenden-te, mediante organi-zacâo linear (2) Sentido de res-ponsabilidade dos su-bordinados para ini-ciarem a comunica-yao  pre-cisa

(3) Forcas conducen-tes a int ormanoacurada ou distorci-da

(4) Exaticlao da co-municacáo ascenden-te, via linha

(5) Necessidade desistema de comuni-cacAo ascendente su-plementar 

e. Comunicacão lateral,sua adequano e exa-ticlao

f. Proximidade psicol&gica de superiorescom subordinados(isto é, ate que pontoo superior conhece eentende problemasenfrentados por su-bordinados?)

(1) Exatidao das per-cepcäes por superio-

res e subordinados

Muito pouco

Descendente

No topo da organizanoou para implementar di-retrizes do topo

Encaradas corn muitadesconfianca

Muito pouca

Nenhuma

Forcas poderosas paradistorcer a int ormacäo eludibriar os superiores

Tende a ser inexata

Necessidade de suple-mentar a comunicanoascendente por sistemade espionagem, siste-ma de sugestão ou al-gum dispositivo seme-Ihante

Usualmente sofrivel,por causa da competi-cao entre pares e cor-respondente hostilidade

Muito afastados

Freqiientemente erradas

Pouco

Sobretudo descendente

Principalmente no topoou padronizada de acor-do com a comunicacaodo topo

Podem ser ou nao enca-radas corn desconfianga

Lim itada

Relativamente pouca,comunica usualmenteinformayao "filtrada",mas so quando solicita-da. Pode ser o "eco" doque diz o chefe

Forcas ocasionais paradistorcer; tambèm for-gas para comunicacãohonesta

Flui a informacâo que ochefe quer ouvir; outrasinformacOes sào restri-tas e filtradas

Comunicacão ascen-dente frequentementesuplementada por siste-ma de sugestäo ou re-cursos semelhantes

Muito precaria por cau-sa da competicão entrepares (colegas do mes-mo nivel)

Podem estar moderada-mente prOximos, se ospapêis apropriados f o-rem mantidos e respei-tados

Freqfientemente erradasem alguns pontos

Bastante

Descendente e ascen-dente

Padronizada de acordocom a comunicacäo dotopo, mas com algumainiciativa nos niveis in-

ferioresFr e antemente aceitasmas vistas as vezes comdesconfianca. Podemser francamente discuti-das

 Alguma

Pouco a moderado graude responsabilidade pa-ra iniciar comunicacäoascendente precisa

 Algumas foryas para dis-torcer, a par de muitasforcas para comunicar corretamene

Flui a informano que ochefe quer ouvir; outrasinformacOes podem ser limitadas e cautelosa-mente dadas

Pouca necessidade desistema suplementar;pode ser usado o siste-ma de sugestao

De razoavel para boa

Bastante prOximos

Moderadamente exatas

Muito, corn individuose grupos

Descendente, ascenden-te e lateral (com cole-gas)

Iniciada em tados os ni-veis

Geralmente aceitas mas,não o sendo, aberta efrancamente discutidas

Substancial

Sentido de grande res-ponsabilidade e muitainiciativa. 0 grupo co-munica coda a informa-cão pertinente

Virtualmente nenhumaforca para distorcer epoderosas forcas paracomunicar corretamente

 Acurada

Nenhuma necessidadede qualquer sistema su-plementar 

De boa para excelente

Usualmente muito prO-ximos

Usualmente muito exa-tas

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Teorias de Organizaao Humana 303

ha cooperacao, muitos sistemas diferentes sera° componentes (...) mas oelemento comum a todos, aquele que aglutina todos esses outros sistemas

numa situagao cooperativa concreta, é o da organizacao, tal como foidefinida."49 Esse conceito de cooperacao reconhece que uma organizacao éurn sistema composto de individuos que estao atuando juntos. Por outro lado,

Barnard deixou claro que o prOprio sistema é impessoal, na medida ern que

transcende o motivo de qualquer pessoa, individualmente considerada. As seguintes qualidades estao consubstanciadas no conceito de organi-

zacao: (1) esforcos humanos coordenados, (2) propesito, ou principio unifi-

cador, (3) comunicacao, (4) disposicao pessoal e (5)eficiencia. No tocante a

comunicacao em geral, Barnard afirmou: "Numa teoria exaustiva de orga-nizacao, a comunicagao ocuparia urn lugar central, porque a estrutura,extensao e ambito da organizacao sao quase inteiramente determinados por têcnicas de comunicacao." 5°

Barnard incluiu a idela de hierarquia em seu sistema. Uma organizacao mais

vasta a uma serie de unidades de cooperacao hierarquicamente organizadas,

contando cada unidade entre duas e 20 pessoas. E interessante assinalar queBarnard atribuiu o tamanho das unidades de uma organizacao ao problema de

intercomunicacao. Uma determinada unidade da organizacao deve perma-necer unida sob lideranca efetiva para que a comunicacao possa ocorrer.

Barnard reconheceu a importancia da organizacao informal como suple-mento da estrutura formal. Sublinhou os seguintes pantos: (1) As associacdes

informais precedem normalmente as formais. (2) E através da associacao in-formal que se produz o propOsito de cooperacao. (3) A disposicao de coope-rar corn outros origina-se e e sustentada através dessa comunicacao preli-minar. (4) Alain disso, as organizacties informais servem a varias funcoesnas estruturas formais em cujo interior existem. (5) Elas facilitam a interagao

entre os membros de uma organizacao. (6) Proporcionam a coesao e protegemos valores do individuo.

 A prOpria natureza da cooperagao requer especializacao. Cada unidadecooperativa numa organizacao especializa-se em determinada especie de

cooperacao que podera basear-se no lugar, tempo, colaboradores, materials,metodo ou processo. Embora a organizacao como um todo tenha um prop6-sito central, nao a necessario que todos os membros da organizacao oentendam ou aceitem. Barnard adicionou a clausula restritiva de que amaioria dos membros esta cOnscia e aceita o propOsito geral da organizacao.Uma vez estabelecida, a sustentacao da cooperagao organizational requer a

participacao ativa dos membros da organizacao. Contribuicoes individualspodem ser solicitadas em uma de duas formas. A primeira chamou Barnard ometodo de incentivos. Por esse metodo, os membros sao induzidos a parti-cipar através de recompensas materials, prestigio, poder, condicOes desejaveisde trabalho e outros beneficios psicologicos e sociais. 0 metodo de persuasao

torna-se necessario quando a organizacao nao pode continuar fornecendoincentivos suficientes. Os tipos de persuasao incluem a coercao, a raciona-

lizacao de oportunidade (recrutamento e campanhas que apelam para osentimento de servico ou lealdade do individuo), a inculcagdo de motivos(educacao e propaganda). De fato, a maioria das organizacOes requer variascombinacOesde incentivos e persuasao.

Uma das mais importantes contribuicOes de Barnard é o seu conceito deautoridade. Aautoridade envolve a disposicao dos individuos para coopera-rem. Pode ser vista subjetivamente como a aceitacao de uma comunicano por 

determinado individuo, ou objetivamente como o carater da comunicacao

49Barnard — Executive, p. 74.50 Ibid., p. 91.

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30 4 Contextos de C omunicacão

que leva a sua aceitacao. Barnard afastou-se do use tradicional de autoridade,afirmando que o locus da autoridade nao reside nas pessoas que &do ordensmas naquelas que recebem as ordens. Uma comunicacao somente sera aceitacomo revestida de autoridade quando existem quatro condicôes: (1) a comu-nicacao é entendida; (2) a comunicacao a percebida como coerente corn opropOsito da organizacao; (3) a comunicacao é percebida como compativel

corn o interesse pessoal do individuo; (4) o receptor é capaz de aquiescer.Barnard afirmou que, na pratica real, a maioria das ordens sao aceitas, umavez que as quatro condicaes acima indicadas ocorrem usualmente. Tambemexiste uma zona de indiferencadentro do grupo de membros, ern que asordens sac) geralmente consideradas aceitaveis sem muita reflexao. A zona deindiferenca é usualmente bastante ampla e estavel. De fato, a por causa daampla e estavel zona de indiferenca que surge a  ficcao de autoridade superior:"Elsa ficcao meramente estabelece entre os individuos uma pressuposicaofavoravel a aceitabilidade de ordens provenientes de superiores, habilitan-do-os a evitar discutir tais ordens sem aumentar a sensacao de subservienciapessoal ou de perda de status ou prestigio pessoal junto de seus, colegas."51

Uma das funcOes primordiais do sistema de comunicacdo numa organizacao

consiste em manter essa ficcao de autoridade superior e em concretizar a zonade indiferenca. Como disse Barnard, "(...) a autoridade depende de umaatitude pessoal de cooperacao dos individuos, por urn lado, e do sistema decomunicacao, por outro. Sem este Ultimo, a primeira nao pode ser mantida".52Por conseqUencia, a manutencao de um sistema de comunicacao a umapreocupacao fundamental. Numa organizacao, tudo o mais depende disso.Para Barnard, o sistema de comunicacao manifesta-se principalmente atravesda linha de autoridade da organizacao. Barnard postulou sete fatores contro-1 adores no sistema de comunicacao.

1. Os canals de comunicano devem ser definitivamente conhecidos.2, A autoridade objetiva requer urn canal definido de comunicacao formal para

cada membro de uma organizacao.3. A linha de comunicacäo deve ser tao direta ou tao curta quanto possivel.

4. A linha completa de comunicacâo deve ser usualmente usada.5. A competència das pessoas que servem como centros de comunicacao, isto

6, funcionários superiores, supervisores etc., deve ser adequada.6. A linha de comunicacäo nao deve ser interrompida durante o periodo em que

a organizacäo tem de funcionar.7. Toda e qualquer comunicacão deve ser autenticada.

53

A tomada de decisees em organizacties ocorre ern dois niveis. Decisoespessoais sao aquelas que devem ser tomadas por urn individuo e que naopodem ser delegadas. DecisOes organizacionais sao as que afetam a organi-zacao como urn todo; elas podem ser e frequentemente sao delegadas. Umaqualidade das decisoes organizacionais a que etas requerem amiude varias de-cisOes subsidiarias que podem envolver numerosas pessoas. Em consecitiência

disso, a comunicacao torna-Se muito importante no processo de tomada orga-nizacional de decisOes. Tais decisäes podem decorrer de comunicaCiies autori-tarias vindas de cima, de casos individuals que chegam a atencao de umapessoa vindos de baixo, ou da iniciativa independente de um individuo. 0lado pratico de Barnard destaca-se quando ele escreve o seguinte a respeito datomada de decisao executiva: "A arte da tomada de decisao executivaconsiste em nao decidir questOes que nao sac) pertinentes no momento, ern

5 1 p. 170.52

 Ibid., p. 175.53 Ibid., pp. 175-180.

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Teorias de Organizaflo Humana 305

nao decidir prematuramente, em nao tomar decisoes que Mao possarq ser efetivadas e em nab tomar decisoes que outros devem tomar." 34 Além disso, a

tomada de decisao é um processo de aproximacties sucessivas que exige o

constante refinamento atravês de uma sêrie de decisoes.Os executivos organizacionais tern numerosas responsabilidades ou functies,

segundo Barnard. A primeira e "a manutencOo da comunicacao organiza-

cional". Essa responsabilidade inclui a manutencdo de linhas formais e dasinformais que se facam necessarias. A segunda f uncao do executivo a garantir a cooperacao das pessoas. Uma terceira funcao consiste em formular afinalidade ou propOsito da organizacOo.

 A teoria de Barnard de gerencia executiva e a primeria numa linha deabordagens sistemicas. Uma outra e mais recente teoria sistémica de organi-zacdo e a de James March e Herbert Simon.

 March e Simon: uma Teoria Neo-Weberiana

Hdo ha din/Ida de que uma das teorias de organizacOo que causou major impacto foi a apresentada por James March e Herbert Simon em Organiza-tions. 55 

 Esse tratado tecnico exemplifica a teoria em sua mais pura forma. Ao

longo do livro, March e Simon apresentam centenas de proposiceies relacio-nadas com a tomada de decisao e o funcionamento organizacional. Charles

Perrow reconheceu essa obra como uma importante extensao das relactieshumanas e das teorias weberianas. Os prOprios autores deixaram claro, no

principio de seu livro, que a obra era realizada com a finalidade de fornecer uma conceituacao mais completa do que a encontrada nos modelos "meca-

nicos" do passado. Escreveu Perrow: "Herbert Simon e James March forne-

ceram (...) o masculo e a carne para o esqueleto weberiano, dando maissubstancia, complexidade e credibilidade sem reduzir a teoria organizacional

a proposicties sobre o comportamento individual [ como foi feito pelo movi-mento das relacoes humanas ]." 56Em virtude dessa concepcão mais completa, aconceituacãode March e Simon proporciona urn quadro muitissimo mais com-

plexo da pessoa do que a escola de relaceies humanas e um quadro maiscomplex° da organizacao do que a escola classica. Por causa da naturezaelaborada dessa teoria, nao podemos descreve-la aqui em detalhe. Preferimosanalisar cinco dos mais fecundos conceitos apresentados por March e Simon,

os quais consistem em participacdo, conflito, tomada racional de decisoes,absorcao de incerteza e redes (networks).

A ma jor parteda teoria assenta em conceitos detomada de decisao. De

fato, o modelo de March e Simon poderia ser qualificado como uma teoria detomada de decisao. Duas importantes classes de decisoes afetam individuos eorganizaceies. A primeira e a decisao de participar (ou nao participar) naorganizacdo. Esta e uma decisao fundamental e crucial para os membros dasorganizacties, e que tem sido ignorada pela maior parte das outras teorias (ourelegada para a simples categoria chamada renovacão de pessoa/). A segunda

classe de decisoes poderia ser denominada decisoes intra-organizacionais.Uma vez decidido a participar, urn individuo deve estabelecer uma sêrie deoutras decisoes pessoais ao longo de todo o seu exercicio de um cargo naorganizacão. A busca de alternativas e afetada pelo grau de satisfacao dapessoa. Quando descontente, ela procura outras alternativas, a primeira dasquais e deixar a organizacao. A segunda e conformar-se corn as normas

54 Ibid., p. 194.55March e Simon —Organizations.Uma fonte secundaria particularmente Util é a obrainterpretativa de Perrow —Complex organizations.56Perrow — Complex organizations, p. 146.

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30 6 Contextos de Comunicacão

prescritas de producao e a terceira a buscar outras alternativas organizacionaisnao-produtivas (por exemplo, "fazer urn jogo politico"). Entretanto, é evidente

que nao existe uma relacao um-a-urn entre satisfacao e produtividade.

March e Simon postularam tres fontes de motivacao. A motivacao paraparticipar pode originar-se da natureza das alternativas, das conseqUenciaspercebidas da exploracdo de alternativas e das metas dos individuos. 0

individuo indaga se existem alternativas la fora, se essas alternativas satis-fazem melhor as metas pessoais e quais poderiam ser as conseqiiencias de

deixar a organizacao. Assim, como uma pessoa se comporta numa organi-zacao depende das especies de deciseies de participacao que ela tomar. Tais

deciseies sao afetadas por incentivos, pelo comportamento de colegas, pelacomplexidade da tarefa, assim como pelas pthprias aptidoes da pessoa.

 A decisao de participar numa organizacao pode ser explicada pela teoria do

equilibrio organizacional. Essa teoria, que promana da obra anterior deBarnard e de Simon, afirma que a organizacao deve estabelecer urn equilibrio

entre induzimentos e contribuicoes participantes a fim de permanecer viavel-

"Apresentamos o postulado geral de que aumentos no equilibrio das vantagens

de induzimento sobre as vantagens de contribuicão diminuem a propensão do

 participante individual para deixar a organizagão [e vice-versa] ."57Em s ma,

a estabilidade organizacional requer que os membros desejem participar (contribuir) e se os incentivos nä° sato suficientemente fortes em relacao aos

requisitos da tarefa, os empregados ou deixam a organizacao ou deixam deproduzir. Essa nocao a uma reminiscencia das ideias de Homans e de Thibaut

e Kelley sobre a manutencao do grupo. Aqui, March e Simon aplicaram omesmo principio a participacao em organizacdes.

Outra contribuicao de March e Simon é a teoria de con flito organizacional 

Essa teoria é particularmente importante para os riossos propOsi os, em virtudedo seu envolvimento corn a comunicacao. Para March e Simon existem tre'y

classes principais de conflito: o individual (intrapessoal), o organizacional 

(interpessoal e intergrupal), e o interorganizacional. Nesta secao, os autores

procuram responder a trés questeies:

(1) Em que condicOes ocorre conflito? Desejamos estar aptos a prever quando eonde ocorrerao conflitos organizacionais ou individuais. (2) Quais ski as reactiesde individuos e organizacties ao conflito? De urn modo geral, esperamos que aresposta ao conflito seja uma tentativa de resolve-lo, e desejamos estar aptos aespecificar que forma essa tentativa adotara. (3) Qual é o desfecho do conflito?Sobretudo numa situacäo de negociacda ou de barganha, estamos interessadosem saber quern ganha o quê.58

Os fatores que influenciam o conflito individual estao assinalados na Fi-gura 755 9 Tais conflitos surgem quando um individuo percebe que as alter-nativas preferidas serao inaceitaveis, ou quando o individuo nao pode iden-tificar qual a alternativa mais preferida (incomparabilidade). Um terceiro

caso de conflito individual e a incerte a, na qual a pessoa nä° pode deter-minar que desfecho resultara de suas opcOes de comportamento. Se ocorrer 

um conflito, o individuo e motivado para reduzi-lo. Tal motivacao promanado desequilibrio no sistema intrapessoal, redundando na busca de esclareci-

meritos ou de novas alternativas.

Quando esse gkero de conflito individual é generalizado, em virtude dedeterminado clima organizacional, podemos dizer que ocorreu um conflitoorganizacional individual. Um segundo tipo de conflito organizacional ocorre

57March e Simon —Organizations,p. 93.

58 Ibid., p. 113.

59 Ibid., p. 117.

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Figura 75. Fatores que

afetam o con flito

• aas reacties in-

dividuals ao conflito.

(Extra fdo de lames March

e  Herbert Simon — Or-

ganizations. John Wiley& Sons, Inc., Publishers,1958.)

Teorias de Organizagab Humana 307

quando o problema é a existencia de diferencas entre as escolhas feitas porvarias pessoas na organizacao. 0 conflito organizacional do segundo tipoexiste quando "ha uma necessidade comumente sentida de tomada conjuntade decisào", uma "diferenca nas metas individuais" e "uma diferenca naspercepcOes da realidade". Esses dois tipos de conflito organizacional podemocorrer juntos.

Existem varios mêtodos pelos quaffs uma organizacao poderà responder aoconflito, incluindo a resolucao do problema,a persuasao, anegociacaoe o

 jogo politico. A resolucao do problema é usada quando todas as partes temobjetivos comuns e precisam encontrar uma solucdo satisfatoria. Envolveprimordialmente a coleta de informacaes, a busca de alternativas e a ino-vacao.

Incertezasubjetiva

 

ncomparabilidadesubjetiva

 

Inaceitabilidadesubjetiva

 

Conflitopercebido

Disponibilidadede alternativas

moderadas

G rau depress5o

temporal

VMotivacàopara eduziro conflito

Busca deesclarecimento 

Busca de novasalternativas

A persuasao a usada quando as metas individuals diferem. Contudo, paraque a persuasao seja urn metodo viavel, nao se deve supor que as metas doindividuo precisam estar de acordo, desde que se possam encontrar certosobjetivos comuns. As discordancias sobre submetas sac resolvidas na base demetas comuns.

A negociacao (ou barganha) é o terceiro metodo para lidar corn o conflitoorganizacional. Usa-se quando nao existe concordancia em torno dos obje-

tivos. De fato, a pr6pria natureza da negociacao pressupee urn conflito deinteresses. E facilmente reconhecivel pelo seu espirito de jogo. Finalmente, oconflito pode ser tratado atraves da "politica". Esse recurso nao é muitodiferente da barganha. March e Simon descrevem assim o processo: "Umaestrategia basica das pequenas potencias (...) em suas relacCies corn as grandespotencias a nao permitir que essas relacoes sejam definidas como bilateraismas ampliar as partes relevantes de modo a incluir aliados potenciais."60Resolucao do problema e persuasao constituem as estrategias usadas quando oconflito a individual; a negociacao a mais frequentemente usada quandoo conflito é entre grupos.

60 Ibid., p. 130.

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308 Contextos de Comunicano

 A area seguinte a ser considerada e o conceito de racionalidade de March e

Simon. Trata-se de uma importante contribuicao para o nosso entendimentode organizacOes e seres humanos, e teve urn acolhimento relativamente entu-

siastico nesse campo. Tradicionalmente, a pessoa organizacional tern sidovista como urn ser racional que, quando se defronta corn um problema,considera todas as alternativas possiveis, pondera os meritos de cada uma e

opta pela alternativa mais racional ao seu dispor. Entretanto, March e Simonacreditam ser esse urn conceito irrealista de tomada de decisao. Criticaram o

ponto de vista tradicional na seguinte base:

Ele 1 o ponto de vista tradicional 1 faz trés imposicOes extraordinariamenteimportantes ao mecanismo de escolha. Pres dsupee (1) que todas as alternativasde escolha sac, "dadas"; (2) que todas as consecgiencias vinculadas a cadaalternativa sac, conhecidas (...) (3) que o homem racional possui uma listacompleta de vantagens (...) a respeito de todos os possiveis conjuntos deconseqiiénc ias.61

Embora esse modelo tradicional de resolucao de problemas pareca constituir 

um objetivo desejavel, March e Simon acreditam que ele dificilmente des-

creve o que realmente acontece na pratica. Em seu lugar, eles defendem umateoria que envolve o conceito interacionista simbOlico de definicäo da si-tuacao. 0 responsavel por decisOes nao considera, na realidade, uma situacaototalmente , desenvolvida e amadurecida ern que sao dadas todas as alter-nativas possiveis. Pelo contrario, define certos elementos que sao consi-derados imediatamente importantes. No processo de resolucao do problema, a

pessoa nao busca realmente uma solucáo Otima mas uma que sejasatistatäria.Uma alternativa a considerada satisfatoria se satisfizer certos requisitos mi-

nimos. Nas palavras dos autores, "a maioria das tomadas de decisoes hu-

manas, sejam elas individuais ou organizacionais, empenha-se na descoberta eselecao de alternativas satisfatorias; somente em casos excepcionais se peeo-cupa em descobrir e selecionar alternativas Otimas"? 2 Assim, o processo maistipico nao é a busca do Otimo mas do satisfatdrio. "Urn exemplo é a diferenca

entre buscar a agulha mais afiada num palheiro e buscar no mesmo palheirouma agulha suficientemente afiada para se poder coser corn ela." 63

 Assim, March e Simon veem o processo de resolucao de problemas como

urn processo abreviado. De fato, as pessoas aprendem geralmente a lidar cornos problemas de urn modo programatico. A organizacao elabora  programas dedesempenho, de modo que certas situaceespodem ser enfrentadas mediante o

use de um piano-padrao de ataque. Tais programas de atividades sao usual-mente conduzidos sem muita pesquisa ou resolucao real de problemas. 0 que

realmente acontece e que a realidade e substituida por urn modelo simplifi-cado, permitindo que os individuos lidem mais facilmente corn os problemas

cotidianos. 0 processo de resposta programatica é parte fundamental dadefinicao da situacao.

 A comunicacao a uma parte importante da programa*, do desempenho. Acomunicacao a essencial para toda a atividade nao-programada, e o processo

de estabelecer programas e efetuar ajustamentos de dia para dia tambem deveenvoiver a comunicacao. Alem disso, a comunicacao permite a organizacaofornecer a informacao necessaria para .se criarem novos programas, assimcomo para se escolherem programas ja estabelecidos. A comunicacao tambemfornece feedback sobre os resultados das atividades e programas organiza-cionais. Quando a comunicacao e eficiente, ha maior tolerancia da interde-

61 Ibid., p. 138.

62 Ibid., p. 141.

63 Ibid.

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Teorias de Organizacao Humana 309

pendencia entre as unidades da organizacão. Assim, a boa comunicacaofacilita a coordenaceo.

Outro interessante conceito dessa teoria e o de absorcao da incerteza. Aabsorcao da incerteza é o processo necessario de abstracão em cornunicaceo.Ocorre quando urn individuo faz uma inferencia na base de dados e comunica

a inferencia em vez dos dados. A medida que a informacao passa de umapessoa para outra, ocorrem sucessivas deturpaceSes, de modo que os recebe-dores estao a merce daqueles que fizeram as inferencias originals a partir dos

dados. 0 recebedor deve testar a fonte de informacao antes de aceitar toda equalquer comunicacao. E claro, a pessoa que tern o papel de originador é umi mportante membro da organizaceo. Nas palavras de March e Simon, "tanto o

montante como o locus de absorcao de incerteza atetam a estrutura deinfluência da organizacjo". 64 A absorcao da incerteza e influenciada por certonUmero de variaveis: a complexidade dos dados, a adequacao do vocabularioda organizacao para lidar corn esses dados, a proximidade da fonte de infor-

macao, a necessidade do recebedor de dados brutos, em contraste corn a

informacao resumida, a distribuicao da competéncia da comunicacao e omlimero de pessoas que comunicam inferencias corn base numa fonte comum.

0 paradigma do sistema de March e Simon tambern inclui um estudo dasredes de comunicacao. Cada prograrna numa organizacao esta associado auma serie de redes que permitem aos estimulos e informacao do programafluirem para centros apropriados onde sao executados os programas. Esses

canals podem ser formais ou informais. A informacao e os estimulos deslo-cam-se em canals desde os centros de decisoes ate aos centros de acao, e ofeedback dos resultados retorna aos centros de decisào. As fungi-es de comu-nicacao na rede tornam-se muito especializadas. As seguintes unidades decomunicacao podem ser encontradas nas maiores organizacdes: unidades

transmissoras (por exemplo, telefone e teletipo), unidades de registro eprestacao de contas (por exemplo, contabilidade), unidades de aquisicao (por 

exemplo, servico de informacdo e pesquisa), unidades de interpretacao eunidades de retencao (por exemplo, arquivos). March e Simon sublinharam

que "o use de canals tende a ser auto-reforcador". Os canals que saofreantemente usados para determinado fim acabam sendo usados paraoutros fins porque as pessoas se juntam em interaceo face-a-face em canalsintensamente usados. A comunicacao social informal ocorrera simultanea-mente com a comunicacao de tarefa nesses canais.

A psicologia social de organizagaes, de Katz e Kahn

 A obra de Daniel Katz e Robert Kahn sobre sistemas organizacionais constituioutro minucioso tratamento.65 E uma clara e vigorosa argumentacao a favor do modelo de sistema aberto. Ao examinarmos a teoria de Katz e Kahn,primeiro descreveremos brevemente o seu conceito de organizacäo e depois

trataremos da teoria da comunicacao, dentro desse quadro de referencia

organizational. Ao contrario de urn sistema fisico, a organizacao e social, criada por 

pessoas e aglutinada por forcas psicologicas. As organizacees como sistemas

sociais sao impares em sua necessidade de inputs de manutencao ou demecanismos de controle para restringir a variabilidade humana. Tal comoBarnard, tambem Katz e Kahn ensinam que o sistema envolve metas supra-individuais que requerem necessariamente a subordinacao de necessidades

individuais. Tale a natureza da imposicao da lei, realizada atraves do

64 Ibid., p. 169.65Daniel Katz e Robert Khan — The social psychology of organizations. Nova York, John Wiley,1966.

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Expedidores de papeis

Expectativas Papal expedido

Percepcho docomportamentoda pessoafocal:avaliacao

Informabao;tentativas deexercicio deinfluencia

Pessoa focal

C mportamentoPapal Irecebido de papal

desempenhado

Percepcao dopapel aperceocao daexpedicao dopapel

Submiss5o:resistOncia;"efeitoscolaterais"

1

2   IV

31 0 Contextos de Comunica4.5o

comportamento do papel, das normal e dos valores. Esses componentesinter-relacionados proporcionam a necessaria integracäo no interior do sis-tema. 0 conceito de comportamento do papel sera analisado em certo detalhe

mais adiante.

Nas organizacOes existem cinco subsistemas principais: (1) producflo (omontante de material organizacional processado em determinado periodo),

(2) apoio (obtencao, use e relacdes institucionais), (3) manutencdo ( manu-

tencäo do panel), (4) adaptagdo ( mudanca organizacional) e (5) gerencial 

(direcao e adjudicacdo). As mesmas categorias fornecem uma topologia dasorganizacties: (1) produtivas (organizacaes econOrnicas), (2) organizacães de

manutencão (por exemplo, escolas e igrejas), (3) organizacties adaptativas(por exemplo, laboratorios de pesquisa), (4) organizacöes politico-adminis-

trativas (por exemplo, o governo).0 conceito de adocao de papel é importante no modelo de Katz e Kahn.

Urn papel é uma "somacdo de requisitos" que o sistema exige de urn

individuo. Tais requisitos refletem as expectativas que os outros alimentam a

respeito de uma pessoa. Assim, os panels sdo as acaes padronizadas de uma

pessoa numa organizacão. 0 sistema social 6 uma teia de panels inter-rela-cionados. Uma pessoa recebe seus panels pela comunicacdo corn outras. Os

membros da organizacao comunicam suas expectativas atraves das tentativas

de influencia. 0 papel recebido pode, a claro, variar em relacao ao papelenviado, e a pessoa focal pode responder ao papel recebido corn grausvariaveis de aceitacao, Esse processo de episOclio do papel esta ilustrado no

modelo da Figura 76.66

Figura 76. Urn modelo

doepis6dio dopapel.(Extraido de Daniel Katze Robert Kahn —Thesocial psychology of or-ganizations. Copyright0

1966 by John Wiley &

Sons. Reproduzido corn

 permissão de John Wiley

& Sons, Inc.)

Nä° existe, e claro, uma relacao um-a-urn entre pessoa e papel. MOItiplasatividades podem ser definidas num Linico papel; maltiplos pap6is podem serdefinidos num Unice, cargo; e multiplos cargos podem ser definidos numa(mica pessoa. 0 conflito de panels ocorre quando o desempenho de urn papelse choca corn o desempenho de outro. Isso pode acontecer quando os panelsoriundos de uma Unica pessoa sdo inconsistentes, quando varios expedidores

comunicam diferentes expectativas ou quando as exigencias do papel con-flitam corn as necessidades, valores ou capacidades de urn individuo. Outraideia interessante 6 a de sobrecarga de pap6is (roleoverload), ern que urnindividuo é portador de uma quantidade excessiva de panels.

A estrutura de autoridade numa organizacäo esta planejada para influenciaras forcas do sistema de modo que as tarefas sejam executadas e mudancassejam introduzidas, quando necessario. 0 formato hierarquico tipico daestrutura de autoridade tern origem na tentativa da organizacäo para reduziros custos da autoridade agrupando tarefas afins dentro de categorias super-visoras. Tal como Barnard, Katz e Kahn assinalaram que a autoridade se baseiana aceitacao dos subordinados; e, tal como Weber, os autores viram a basepara essa aceitacao no poder legitimado.

66 Ibid., p. 182.

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Teorias de Organizacäo Humana

  31 1

Urn aspecto necessario de qualquer organizacao e a tomada de decisao. As

decisäes podem ser descritas em termos tridimensionais: (1) nivel de generali-dade, (2) amplitude do impacto e (3) duracdo. Ao nivel de formulacäo de um

 programa ou piano de aflo, as decisoes podem relacionar-se corn o estabele-cimento de metas e objetivos, e corn o desenvolvimento de estratêgias paraatingir essas metas. As decisOes relacionadas corn as metas podem ser toma.das para definir melhor ou esclarecer as metas, para as ampliar ou eliminar,estabelecer outras prioridades ou mudar a missao da organizacao. As decisOesde estratégia, por outro lado, implicam o desenvolvimento de critérios de ava-liacao e de mecanismos de feedback. Katz e Kahn adotaram o modelo de pen-samento reflexivo de tomada de decisao de Dewey: (1) dificuldade sentida, (2)analise do problema, (3) busca de solucties e (4) avaliacao das conseqUênciasda solucao.

Katz e Kahn definiram lideranca como "qualquer ato de influencia sobreurn assunto de importancia organizacional". 67 As bases de lideranca, paraalem da supervisào rotineira, incluem o poder reterente (afinidade inter-pessoal) e o poderexperto (conhecimento e capacidade percebidos). Ali deranca organizacional ocorre ern tres niveis, do mais lato ao mais limitado:

formacdo de diretrizes e programas, aplicacao de diretrizes e programas eadministracao rotineira.Agora que ja esbocamos o modelo sistemico de organizacao de Katz e

Kahn, passaremos a urn exame mais detalhado da teoria da comunicacao poreles enunciada. 68Esses autores Ve'em a comunicacdo como uma preocupacaocentral no funcionamento organizacional. As organitacees humanas requeremprocessos enêrgicos e de informacao; estes ultimos sao cruciais.

Quanto mais pr6ximos estamos do centro organizacional de controle e tomada

de decisao, mais pronunciada e a enfase sobre a troca de informacCies.

Nesse sentido, a comunicacão —a troca de informacOes e a transmissão de

significados —e a prOpria esséncia de urn sistema social oude uma organi-

zacdo. 0inputde energia fisica depende da informacao sobre ele, e oinputdeenergia humana a possibilitado através de atos comunicativos.69

Katz e Kahn iniciaram sua analise contestando urn dos pressupostos maiscomuns sobre comunicacao —o de que os problemas interpessoais humanospodem ser resolvidos aumentando-se simplesmente a comunicacao. Eles des-creveram isso como uma "supersimplificacão grosseira": "A comunicacaotanto pode revelar como eliminar problemas. (...) A comunicacão tambEinpode ter o efeito, deliberado ou Mao, de obscurecer e confundir problemasexistentes." 70Alêm disso, é uma falacia considerar a comunicacao indepen-dentemente do sistema social. Vistos em contexto, e evidente que os subsis-temas organizacionais nao necessitam —de fato, nä° podem tolerar infor-macao ilimitada. A comunicacao deve ser adaptada as necessidades dossubsistemas. "Sem estrutura, sem espagamento, sem especificacaes, existe

uma Babel de linguas mas nao ha significado algum." 71Urn dos metodos pelos quais e fornecida uma estrutura desejavel é o

 processo de codificacio. Os autores reiteraram a tese de March e Simon deque o sistema deve traduzir toda e qualquer informacao que receba para ascategorias do sistema. Portanto, a informacao e omitida, selecionada, refi-nada, distorcida e transformada de muitas e variadas maneiras. A percepcao

67 Ibid., p. 334.68 Ibid., cap. 9.

69 Ibid., p. 223.70Ibid., p. 224.71

 Ibid., p. 226.

f l

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312 Contextos de Comunicacão

de mensagens por uma.pessoa sera moldada, em parte, pelos papéis organi-

zacionais do individuo: "(...) a pessoa, dentro do sistema, nao pode perceber 

coisas e comunicar a respeito delas do mesmo modo que o faria uma pessoade fora. (...) E extremamente dificil ocupar diferentes posicOes no espacosocial sem que resulte uma percepcao diferencial." 72Mesmo no interior deuma organizacao, podem existir problemas de traducao entre subsistemas.

Um dos problemas de comunicacao com que as organizacães se defrontamé a sobrecarga de intormagno, possibilitada pelo fato de os canais teremcapacidade finitas. As ideias de informacao e de capacidades de canais sao ostOpicos da teoria da informacao (ver o capitulo 6). A informacao é restringida

por fatores temporais, dado que os horarios impossibilitam considerar-se umaquantidade ilimitada de informacao. Uma vez estabelecido urn sistema parafuncionar de acordo corn um horario, os novos inputs, ou os que foramalterados, sobrecarregarao os canais de informacao. 0 modo como urnsistema reage a sobrecarga pode ser adaptativo ou inadaptativo. As reacdesadaptativas solucionam problemas; as inadaptativas meramente isolam apessoa do problema. Por exemplo, omissao e erro sac) inadaptativos. Formar fila e filtrar tanto pode ser adaptativo como inadaptativo, dependendo decomo esses metodos sac. usados. 0 use de mUltiplos canais pode ser muito

eficaz como estratêgia para manipular a sobrecarga, como é a descentrali-zacao. Algumas organizacOes desenvolvem metodos para restringir a infor-macao como resposta a sobrecarga potencial.

 As redes de comunicacao em organizacao possuem varias caracteristicas.

 As redes podem diferir de numerosas maneiras. Uma dessas maneiras é adimensäo do laco ou sua extensibilidade. Uma outra é o grau em que permitea modificagäo de mensagens do canal, em contraste corn a mera repeticao.Uma terceira categoria de caracteristicas é o grau de fechamento nofeedback da rede. Em algumas redes, so se permite aos receptores responderem indi-

cando a recepcao. Outras consentem varios graus de avaliacao e a inclusao deinformaclies adicionais no feedback. Em quarto lugar, as redes diferem naeficiencia, tal como é medida pelo nOmero de ligacCies ern relacao aotamanho do grupo. Finalmente, as redes podem ser caracterizadas pelo

graude ajustamento entre rede e sistema. Poder-se-a indagar, por exemplo, se arede inclui membros que realmente nao necessitam de informacao. As redes

tambem podem ser analisadas em termos de direcao. Mensagens tais comoinstrucaes de servico, lOgica do servico, procedimentos, feedback do desem-penho ou doutrinacao fluem, geralmente, de cima para baixo. A comuni-cacao horizontal é importante para a coordenacao de tarefas e o apoioemocional/social. Nesse sentido, o grau de comunicacao lateral é urn sinal desande. Ern sistemas eminentemente autoritarios, a comunicacao lateral érestringida por causa do seu potencial para "a comparacao de notas". Existemmuitos tipos de mensagens que podem fluir de baixo para cima, sobretudo asmensagens de urn subordinado a seu prOprio respeito (desempenho e pro-blemas), a respeito de outros, da organizacao e das necessidades do servico.

Entretanto, Katz e Kahn admitiram que "(...) o fluxo ascendente de comu-nicacao em organizacties ciao se faz notar pela expressao completa e espon-tanea. (...) 0 laco tipico de comunicacao ascendente a pequeno e terminacorn o supervisor imediato." 73

A fim de otimizar a informacao organizacional e adaptar a informacao asnecessidades do sistema, sao estabelecidas varias estruturas de busca, as ouaisincluem o feedback operacional, a pesquisa operacional e a pesquisa sisté-mica. 0 feedack operacional é urn procedimento de relato direto, consistindo

72Ibid., p. 228.73Ibid., p. 247.

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Teorias de Organizacdo Humana 313

na monitoracdo rotineira de outputs. A pesquisa operational vai urn poucomais longe, avaliando determinados métodos e outputs corn vistas ao aperfei-

coamento. Portanto, a mais focalizada e feita em profundidade. A terceiraespecie de informacdo organizational 6 a pesquisa sistemica. Ela e ampla e

averigua metodos pelos quais o sistema como urn todo se adapte melhor as

variaciies no meio ambiente. Voltando a March e Simon, a pesquisa ope-

rational funciona para satisfazer, ao passo que a pesquisa sistémica tentaotimizar. Por causa de sua natureza abrangente, requer recursos adequados,assim como uma orientacäo gerencial para os sistemas.

Funcionalismo Estrutural

 A Ultima teoria a ser incluida nesta secao e a de Richard Farace, Peter Monge

e Hamish Russell. 74 A teoria estrutural-funcional (a mais recente de todas asteorias citadas neste capitulo), por eles proposta, constitui uma abordagemsisf6mica verdadeiramente ecletica, apoiando-se nos melhores insights dasobras anteriores. Tamb6m e uma das poucas teorias da comunicagdo estrita-

mente organizacionais. Todas as outras teorias descritas neste capitulo tratam

indiretamente da comunicacao ou incluem a comunicacao como parte deuma teoria mais ampla, mas essa abordagem estrutural-funcional e dirigidainteiramente para uma explicacao dos processos de comunicacao em organi-zacOes. Assim, essa teoria fornece urn excelente remate para o capitulo.

Embora os autores prefiram nao chamar a sua obra uma teoria stricto sensu,ela certamente proporciona uma perspectiva e uma explicacao excelentes ecoerentes da comunicacao em organizacOes. Essa perspectiva e consentanea

corn a teoria dos sistemas, de urn modo geral, e com outras abordagens sis-

têmicas das organizacOes. Os autores definiram uma organizack como urnsistema de, pelo menos, duas pessoas (usualmente muitas mais), dotado deinterdependencia, input, processamento e output. Esse grupo de pessoascomunica e coopera para produzir algum produto final, usando energia,informacäo e materiais provenientes do meio ambiente.

Urn dos recursos mais importantes ern organizacOes 6 a informag g o. Usandoa teoria da informacdo como base, os autores definiram informagdo emtermos de reducao da incerteza. Quando uma pessoa fica apta a predizer que

padroes ocorrerdo nos fluxos de materia e energia, dizemos que a incerteza foireduzida e que foi adquirida informacão. (Esse conceito a perfeitamenteparalelo ao de informacao sernantica, definido no capitulo 6.) Comunicacio6, ern parte, a reducáo de incerteza atraves da informacdo. Entretanto, acomunicacao também envolve o use de formas simbölicas comuns que sereportam a referentes mutuamente entendidos.

Neste ponto, deparamos com uma das distincees mais Caeis nessa teoria. Osautores delinearam dois tipos de comunicacao, os quais correspondem a doistipos de informacdo. A informagäo absolutaconsiste em todas as pecas de

conhecimento presentes no sistema. Assim, a totalidade de informacdo comu-nicada numa organizacao e comunicacao absoluta.Por outro lado, infor-macäo distribuida aaquela que foi difundida atraves, da organizacäo. 0 fatode existir informacão numa organizacäo &do garante que ela seja adequada-mente comunicada no sistema. QuestOes de informacão absoluta tratamdaquilo que e conhecido; questOes de distribuicao de quern o conhece. Aimplicacao pratica dessa distincao te6rica 6 que "as falhas na politica dedistribuicáo devem-se ao fato de os gerentes nä.° serem capazes de identificarque grupos de pessoal precisam conhecer certas coisas, ou de estabelecer

74Richard V. Farace,. Peter R. Monge e Hamish Russell —Communicating and organizing.Reading, Massachusetts, Addison zWesley, 1977.

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314 Contextos de Comunicacão

onde a que, em principio, esses grupos podem obter a informacao de queprecisam". 75

O quadro de referencia estrutural-funcional para a comunicacao organiza-

cional assenta em tres dimensees analiticas. A primeira delas é o nivel do

sistema, o qual se compeie de quatro subniveis: individual, diadico, grupal eorganizacional. Este. manifesto aqui o principio de hierarquia sistemica (con-

forme foi discutido no capitulo 2). Os individuos comunicam com outros emdiades. Observa-se que as diades se conglomeram em grupos, através dacomunicacao. A organizaceo como um todo é um sistema de grupos interli-

gados que formam uma macrorrede. Essa nocao de rede a extremamente

importante.Em cada um desses niveis de analise, podemos examinar as tuncOes da

comunicaceo, que constituem a segunda dimensdo. Embora exista uma grandevariedade de funcees de comunicaceo, esses autores destacam tres: producao,inovaceo e manutenceo. As funceies deproduce° relacionam-se com a direcdo,coordenacao e controle das atividades de producao. As funcäes de inovacifo

operam para gerar mudancas e novas ideias no sistema. Finalmente, as

funcees de manutencão servem para manter os valores individuals e as re-

lacOes interpessoais necessarias a conservacao da integridade do sistema. Assim, muitas mensagens "humanas" servem a funcao de manutencao.

 A terceira dimensão do quadro de referencia e a estrutura. Enquanto a

funcao trata primordialmente do conteQdo das mensagens, a estrutura trataprincipalmente dos padrees ou regularidades emergentes na transmissdo de

mensagens. Portanto, para cada nivel na toganizacao — individual, diadico,

grupal e organizacional — podemos investigar os processos por meio dosquais a comunicacao funciona e o modo coma ela esta estruturada.

Em seu livro, os autores ocuparam-se em detalhe de cada um desses quatroniveis de organizaceo. Descreveremos brevemente o individual, diadico,grupal e organizacional, com destaque para algumas generalidades. Como oestudo da macrorrede por Farace e seus colegas é uma contribuicao sobrema-neira importante dessa teoria, dedicaremos relativamente mais espaco a esse

nivel organizacional.O conceito fundamental no tocante a comunicacao individual é a carga. A

carga de comunicaceo a uma funcao da taxa e complexidade de input 

informativo para uma pessoa. A taxa refere-se a quantidade de input, como

mensagens ou solicitacoes, ao passo que a complexidade se relaciona com o

namero de fatores que devem ser tratados no processamento da informacao.

Duas areas de problemas este° associadas gcarga. A subcarga ocorre quando

o fluxo de mensagens para uma pessoa se situa abaixo de sua capacidade paraprocessa-las. A sobrecarga acontece quando a carga excede a capacidade do

sistema. Embora as nocees de carga, subcarga e sobrecarga se refiram otima-

mente a comunicacao recebida por individuos singulares, esses conceitostambem se aplicam a todos os outros niveis, incluindo o diadico, grupal eorganizacional. Assim, por exemplo, uma organizacdo inteira podera ser 

subcarregada ou sobrecarregada.O conceito-chave aplicavel ao nivel diadico de comunicacao é o conceito

de regras. Os membros de diades relacionam-se de acordo com expectativaspadronizadas. Nas organizacees, em particular, existem regras explicitas e

i mplicitas para a comunicacao com outros. Tais regras constituem a politicade comunicacao explicita ou implicita da organizacao. Elas dizem-nos como

comunicar, quando comunicar, com quem comunicar e o que cornunicar. Alguns t6picos comuns dessas regras incluem: quem inicia as interacäes;como sac) tratados os atrasos; que temas sao discutidos e quem os seleciona;

como sao manipuladas as mudancas de temas; coma sao tratadas as interrup-

75 Ibid., p. 28.

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Teoriasde organizacdo Humana 315

toes de fora; como terminam as nteragäes; e ate que ponto sao freantes os

contatos de comunicagao. Atraves do contato cotidiano entre pessoas numa organizagão, os indivi-

duos em grupos tendem a trabalhar, interatuar e comunicar juntos. Na

realidade, a estrutura de toda a organizagdo depende desses agrupamentos.

Como as pessoas trabalham juntas em diferentes grupos para exercer dife-

rentes fungOes, existem diferentes especies de grupos numa organizagdo; urndeterminado individuo pode ser simultaneamente membro de numerososgrupos. Se levarmos esta analise urn pouco mais adiante, veremos que aorganizagao consiste em rrailtiplas estruturas. Por exemplo, as estruturaspodem ser construidas sobre relageies de tarefa, relagOes de poder, relagdes deafinidade ou simpatia, entre outras. Voltaremos dentro de um momento a essaideia de estrutura organizational. Examinemos primeiro alguns aspectos dos

grupos, individualmente considerados.

Em primeiro lugar, cumpre assinalar que os pr6prios grupos tendem apossuir estruturas internas. Os autores descrevem tres tipos de estrutura, a sa-ber: (1) a estrutura de comunicacäo ou macrorrede, e o padrao de interagäono grupo. A indagagao, neste caso, e quern comunica corn quern dentro dogrupo; (2) a estrutura de poder envolve a indagagdo: quem tern que especie de

poder sobre quern? (3) 0 Ultimo tipo de estrutura enfatizado nessa teoria é alideranca. A estrutura de lideranga trata da distribuigao de papêis no grupo.

Especificamente, é a distribuicao de papeis relacionada corn a influenciainterpessoal de membros do grupo.

Descrevemos resumidamente alguns conceitos fundamentais referentes aosniveis individual, diadico e grupal de comunicagao. Podemos passar agora aurn dos mais importantes niveis de analise dessa teoria. Talvez a maissignificativa contribuicao desses autores tenha sido a sua nogdo de macrorrede( macronetwork).

Uma macrorrede é urn padrao repetitivo de transmissao de informagao entreos grupos numa organizagào. Podem existir varios tipos de redes sobrepostas

numa organizag5o, cada uma delas fornecendo uma especie distinta defungdo a organizagdo. Talvez a rede mais comumente entendida seja o

diagrama formal, que é a rede de tarefas prescritas. Alarm disco, podem existir tambem numerosas redes nao-formais, Qualquer rede consiste em duas partesfundamentais: os membros e suas ligagfies.

 As ligagOes podem ser caracterizadas por cinco propriedades. A primeira é a

simetria, que consiste no grau em que os membros unidos entre si por umaligagäo interatuam em base de igualdade. Numa relagdo simêtrica, os mem-bros däo e recebem informagao de urn modo relativamente igual. Uma ligagdo

assimetrica e, primordialmente, unilateral, com urn emissor e urn receptor distintos de informagAo. A segunda propriedade das ligagäes é a Lorca, que é

uma simples fungao da freqUencia de intera45o. Os membros que comunicam

mais possuem freqUentemente uma forte ligagdo, enquanto aqueles quecomunicam menos tem, uma ligagao relativamente mais fraca.

 A reciprocidade, a terceira propriedade da liga45o, trata do grau em que os

membros estdo de acordo a respeito de suas ligagdes. Se uma pessoa acreditar que comunicou frequentemente corn outra, mas esta o negar, a ligagdocarente de reciprocidade. A quarta propriedade das ligagees e o conteudopredominante da interagdo. A comunicagao ocupa-se primordialmente detrabalho, questOes sociais ou alguma outra area de conteUclo? Se aprofun-

darmos o conteUdo das ligagOes numa rede, poderemos discernir a fungäoglobal de uma rede. A propriedade final de uma ligagäo e o modo. Aindagagdo agora esta: como a realizada a comunicagdo e por que canal? Os

modos podem ser face-a-face, reuniOes de grupo, carta, telefone etc.

Assim, uma rede consiste em membros ligados de varias maneiras paracompartilhem informagdo. Mas, para entender adequadamente uma rede,

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316 Contextos de Comunicacgo

tambêm devemos examinar alguns fatores adicionais. Sabemos, por exemplo,

que os membros organizacionais assumem diferentes papeis. De fato, um

papel e o isolado. Assim, mesmo antes de abordarmos a prepria rede, podem

ser estabelecidos aqueles que nao estao integrados a rede. Os isolados nao

tern ligacOes corn os outros membros da rede. Daqueles que este. ° ligados a

outros, alguns juntam-se em grupos. Na terminologia de rede, um grupo

caracterizado por quatro criterios: (1) Mais de metade da comunicacdo dogrupo efetua-se dentro do grupo; (2) cada pessoa deve estar ligada a todas as

outras no grupo; (3) o grupo nao se desintegrare corn a saida de uma pessoa

ou a destruicao de uma liga45o; (4) o grupo deve ter, pelo menos, tresmembros. Corn esses criterios, podemos ver que os grupos sao estruturas

relativamente estaveis. Assim, concebemos uma rede como uma sêrie de grupos e membros que

est -do interligados. Dois outros papeis säo cruciais na estrutura da rede. Sao os

papeis de liga45o e ponte. As pontes sac) membros do grupo que também

estäo ligados a outros grupos. As ligagOes nao sào membros de qualquer grupo

mas articulam dois ou mais grupos. A Figura 77 ilustra essas verias partes da

estrutura da rede. 76

Figura 77. Ilustracao dos papeis da cede de comu-

nicacão. (Farace-Mon-ge-Russell — Communi-

cating and organizing,

1977, Addison-Wesley,

 Reading, Massachusetts.)

Grupos Articuladores de grupos:Grupo 1-4, 5, 6, 7, 8 Pontes — 5,:9 Isolados:Grupo 2 —9, 10. 11, 12 Lige* — 13 Isolado verdadeiro — 1Grupo 3-14, 15, 16, 17, 18 Outros — 19 Grade isolada —, 2, 3

Esse conceito de rede propicia urn metodo apreciavel para o estudo daestrutura e da funceo organizacionais em termos de comunicagão. Podemosainda descrever as redes usando certo nümero de descritores. Estes incluem

fatores tais como freqUencias e proporcees de tipos de papeis, mimero ealcance medio das ligaceiesi forca media das ligacöes e o grau de reciproci-dade na rede.

Outro proveitoso descritor e o tamanho da zona. Cada membro tem umaserie de zonas relacionadas corna suaesfera de influencia. Uma zona deprimeira ordem contern todos os outros membros corn quem a pessoa-alvoeste ligada. Uma zona de segunda ordem inclui as pessoas vinculadaspessoa-alvo atraves de urn membro de primeira ordem. 0 tamanho da zonapode estar relacionado a fatores tais como a influencia interpessoal e adistribuicao da mensagem.

76 Ibid., p. 192.

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Teorias de Organizacao Humana 317

Vimos que as organizacães sao sistemas complexos predominantementeestruturados em torno de eventos de comunicacao. Examinamos as teorias queenfatizam aspectos estruturais e eficiencia de producao, teorias de relagOes

humanas e teorias que combinam as preocupaceies estruturais e humanas. Quegeneralizacäes podemos agora apresentar?

Generalizaceies

Iniciamos este capitulo corn a generalizacao de que a comunicacdo se efetuano contexto da organizacao. Como comunicacao e organizacao constituem j6ias multifacetadas, existem muitos aspectos do relacionamento entre esses

do's conceitos. As varias teorias de organizacao e comunicacao neste capitulo

apontam para a complexidade desse campo. No entanto, podem ser for-muladas algumas generalizacCies importantes.

Em primeiro lugar, é claro que a comunicacão écentral para a estrutura e afuncäo organizacionais. A maioria das teorias apresentadas neste capituloreconhece como fato basico que a estrutura de uma organizacao a predomi-nantemente definida por padrOes de comunicacao. Foram descritas duasabordagens desse relacionamento. Os teOricos classicos mostram como estru-turar a comunicacao pelo piano organizacional. Pensadores sistemicos mais

recentes mostram como a estrutura de uma organizacao emerge dos padräes

de comunicagao inerentes a organizacao. Analogamente, é claro que todas as

funcoes organizacionais, incluindo funcoes tais como a tarefa e a manu-tencao, requerem comunicacao ou a reparticao de informagOes. Ate mesmo o

inabalavel estruturalista que foi Max Weber se referiu a necessidade deregistrar a informacao a fim de maximizar a eficiencia.

Em segundo lugar, a comunicacio em organizagdes serve de suporte asmetas de produtividade da organizacao e as metas pessoais dos membros. Aescola clAssica destaca o modo como as linhas de comunicacao deveriam ser planejadas para aumentar a eficiencia da producao. As teorias de relacOes

humanas mostram-nos a importancia da comunicacao interpessoal na satis-

facao de necessidades individuals. Finalmente, a abordagem sistemica con- juga essas duas escolas e explica a inter-relacao de metas individuais eprodutividade de grupo por meio de processos de comunicacao. Por exemplo,

Barnard mostrou que os individuos necessitam cooperar a fim de realizarem asmetas desejadas, e que o prOprio produto da organizacao a uma decorréncia

desse processo cooperativo. A cooperacdo, por seu turno, requer comuni-cacao, como ilustrou Barnard. March e Simon seguiram essa idaia, mostrando

como a organizacao e mantida pelas decisoes dos individuos de participar. A generalizacao seguinte é que a natureza da comunicacão em organi-

zaciies é altamente influenciada pela estrutura organizacional. Uma vez mais,todas as trés escolas nos proporcionam dados para uma compreensao claradessa generalizacao. Em sua abordagem prescritiva, os estruturalistas mos-traram como modelar a organizacao de modo a restringir o fluxo de comuni-

cacao. Reagindo a esse enfoque, os teOricos das relacties humanas demons-traram que as restricOes estruturais podem ser perniciosas tanto ao desenvolvi-mento humano como ao funcionamento organizacional. Os teOricos do sis-

tema adotam a abordagem mais descritiva desse problema, destacando omodo como os fluxos de comunicacao sao afetados pelas redes existentes.

Em seguida, a natureza da comunicagäo em organizagOes a altamente

afetada pelas necessidades e motivos humanos de seus membros. Essa propo-sicao foi trazida pela primeira vez a nossa atencâo pelos te6ricos das relacOeshumanas. Mas a plenitude da generalizacao a sumamente evidente na obrados teOricos sisfernicos. Verificamos que a organizacao e, em Ultima instancia,um supra-sistema que consiste em grupos e individuos. As escolhas, metas einformacao de membros individuais fazem da organizacao o que ela 6.

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318 Contextos de Comunicano

Ficamos sabendo pelos teOricos sistemicos que a organizacdo a definida, em

grande parte, pela interacäo entre seres humanos individuais.

 A quinta generalizacào diz que a autoridade organizacional éuma questa-sode credibilidade da comunicagao. Como os estruturalistas tao claramentesublinharam, a organi 4a4do elima estrutura hierarctyica de relaceies de autori-dade. Aautoridade pode ser encarada de dois Angulos, os quais contribuem

ambos para a nossa major compreens5° dela. Do ponto de vista classico, aautoridade é legitimada pela burocracia. Parte da autoridade de uma pessoa

concedida pelo sistema; ela acompanha o papel. Mas, como assinalou Bar-nard, a verdadeira autoridade é tambem estabelecida de baixo para cima.

 Assim, embora a maioria dos membros de uma organizacdo aceite a "ficcao"de autoridade superior, tal autoridade pode-se perder na interacäo real dodia-a-dia.

Sexto, a comunicacäo éuma parte essencial da tomada de decisao organi-zacional. As decisoes podem ser tomadas por individuos ou Por grupos mas,independentemente de onde sdo tomadas, as decisoes devem basear-se em

informack. E a informacdo a obtida, na grande maioria das vezes, pelacomunicacdo. Quando ocorre uma tomada conjunta de decisao, a comuni-cacao torna-se ate mais vital. Os pensadores da escola de relaceies humanas

contribuiram substancialmente para o nosso entendimento dessa generali-zacão. Como proponentes dos metodos de participacao, eles enfatizam acomunicack como importante instrumento na tomada de decisoes e reso-luck de problemas.

Sêtimo, as redes de comunicack emergem no processamento de infor-mag5o. Essencialmente, todos os enfoques sistemicos das organizacOes reco-nhecem o papel das redes. Ainformaca.o flui de cima para baixo, de baixo paracima e horizontalmente, através de canals formalmente criados. Mas tambem

flui por numerosos canais informais emergentes. As teorias classicas mostram

a importancia das linhas formais de comunicacdo, mas as varias teorias de

relacCies humanas e de sistemas enfatizaram que as linhas formais nunca sdosuficientes. A fim de suprirem as varias funceies necessarias numa orga-nizacao, as pessoas devem articular-se em microrredes e macrorredes nao

formalmente reconhecidas pela gere'ncia.E evidente que os processos organizacionais e de comunicacdo estao

entrelacados tao completamente que nao podemos considera-los em sepa-rado. As teorias resumidas neste capitulo ajudam-nos a entender melhor esse

processo complexo de comunicacdo organizacional.

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Teorias de1 1 • C o m u n ic a c a o d e M a s s a

Estamos vivendo no que Marshall McLuhan chamou a "aldeia global". Os mo-

dernos meios de comunicacao de massa possibilitaram a milhOes de pessoas

no mundo inteiro ser alcancados em praticamente qualquer ponto do globo.Os onipresentes midia lancam urn importante desafio aos estudantes de nume-rosas disciplinas, dado que o impacto potencial dos midia é espantoso e des-

concertante. Vivemos num ambiente constante de comunicacao de massa,que vivenciamos hora apOs hora, dia apps dia. Entretanto, na medida em quee aceita como a coisa mais natural deste mundo, a pessoa comum pode ter perdido o contato corn a realidade de sua influencia, sem se aperceber de que

a prOpria essancia da sociedade, na maioria dos paises do mundo, foi afetada

pela comunicacao de massa.Melvin DeFleur sintetizou a importancia do estudo da comunicacao nas

seguintes palavras: "Nenhum estudioso da natureza humana, seja qual for asua identificacao disciplinar ou orientacao teOrica, pode estudar o comporta-

mento humano sem reconhecer, desde o comeco, que os processos de comu-

nicacao do Homem sat tat:, vitals para ele, como ser humano, quanto os seusprocessos biologicos." 1 E George Gerbner acrescentou o seguinte:

Essa ampla sign ificacao dos meios de comunicacao de massa —a capacidade de

criar definir questOes, propiciar termos de referenda comuns e de lo-

calizar assim a atencäo e o poder —suscitou urn grande nOmero de contribui-

cOes teOricas. Outras teorias acerca dos meios de comunicacao de massa tern

origem no pensamentopolitico, na analise sOcio-econemica e na erudicão his-

tOrico-artistico-literaria. 2

A generalizacao fundamental para este capitulo é a seguinte: a comuni-

cacao ocorre no contexto de massa. 0 que é que caracteriza esse contexto demassa? Numerosos autores delinearam a comunicacao de massa como urngénero do processo mais amplo.3 A maioria concentra-se em quatro crithios

1Melvin DeFleur — Theories of mass communication. Nova York, David McKay, 1966.2George Gerbner — "Mass media and human communication theory", in Human communica-tion theory, organizado por Frank Dance. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1967, p. 45p. 63 da ed. bras.; ver Bibliografia J. Existem numerosos ensaios que descrevem o estado atual

da pesquisa e teoria de comunicacao de massa, como e o caso do estudo acima de Gerbner. Ver,por exemplo, David M. White — "Mass communication research: a view in perspective", inPeople, society and mass communication, organizado por L.A. Dexter e D.M. White. Nova York,Free Press, 1964, pp. 521-46; Walter Weiss — "Mass communication", in Annual Review of Psychology. Palo Alto, California, Annual Review Press, 1971; Sidney Kraus — "Mass commu-nication and political socialization: a reassessment of two decades of research", in Quarterly Journal of Speech, 59, 1973, pp. 390-400; Wilbur Schramm — Men, messages and media: a look at human communication. Nova York, Harper & Row, 1973.3Ver, por exemplo, Theodore Peterson, Jay W. Jensen e William L. Rivers —The mass mediaand modern society. Nova York, Holt, Rinehart & Winston, 1965.

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320 Contextos de Comunicacao

primordiais do contexto de massa. Primeiro, as audiOncias da comunicacao demassa tendem a ser vastas e heterogeneas, e as mensagens tendem a ser pUbli-cas e abertas. Asegunda qualidade da comunicacao de massa é ser, prepon-derantemente, unilateral. A audiencia é antinima e impessoal, e o  feedback é

li mitado. Terceiro, a moderna tecnologia eletronica torna extremamente rà.-pida.a transmiss,ão de informacdo a audiencias de massa. Finalmente, a

maioria das mensagens de comunicacao de massa origina-se em grandes orga-nizacties em lugar de individuos. Rogers forneceu urn excelente resumo dadistincao entre comunicacao interpessoal e comunicacao de massa, conformese reproduz no Quadro 224E claro, devemos ter o cuidado de nao separartoda a comunicacao "priblica" dos canals interpessoais. Embora existam al-gumas diferencas bastante nitidas e importantes, a conveniente levar emconta que a "massificacao" é uma questäo de grau. Por exemplo, a comuni-cacao de massa, no sentido extremo, é sintetizada de forma explicita no tele-

 jornal, que é bem diferente, digamos, da leitura de urn artigo especializadoern The Christian Science Monitor. Alem disso, como veremos mais adianteneste capitulo, os canals de massa e interpessoais inter-relacionam-se em im-portantes aspectos.

Quadro 22. Diferencas entre canais de massa e interpessoais

Caracteristicas CanalsI nterpessoais

Canais deComunicacao de Massa

1. Fluxo da mensagem2. Contexto da comunicacao3. Montante de feedback ra -

pidamente disponivel4. Capacidade para superar

os processos seletivos(principalmente a exposi-cao seletiva)

5. Velocidade para uma vas-ta audiencia

6. Efeito possivel

tende a ser bilateralface-a-face

elevado

elevada

relativamente lentaformacao e mudanca de ati-

tudes

tende a ser unilateralinterposto

baixo

baize

relativamente rapidamudanoa de conhecimentos

Fonte: "Mass media and interpersonal communication", inIthiel de sola Pool et al. — Handbook of communication, ©1973 by Rand McNally College Publishing Company, Chicago, Quadro 1,p. 291.

Melvin DeFleur formulou fres questaes basicas que the foram inspiradaspelas perguntas que estudantes de comunicacao de massa [he dirigiam. A

primeira quest:do trata do processo de comunicacao de massa. Especifica-mente, o que a que esta envotvido na comunicacao de massa e como a queela funciona? Em segundo lugar, os investigadores averiguaram oimpacto da

cornunicagäo de massa sobre a sociedade. Nesse aspecto, estamos interessa-dos em responder a seguinte questao: como a que os veiculos de comunicacao

de massa afetam pessoas, grupos e outras instituicees sociais? Finalmente,temos a questdo do impacto da sociedade sobre a comunicacao de massa.Nesse campo, os investigadores interessaram-se em apurar as influéncias poli-ticas, culturais e econeimicas das sociedades sobre os midia. 5 Não existe umaarea especifica de estudo que possa ser denominada teoria da comunicacao demassa. Deparamos, pelo contra-1o, corn uma ptetora de pensamento oriundode numerosas disciplinas.

4Everett M. Rogers —"Mass media and interpersonal communication", in Handbook of 

communication, organizado por Ithiel de sola Pool et al. Chicago, Rand McNally, 1973, p. 291.5De Fleur — Theories.

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Teorias de Comunicagão de Massa 321

Neste capitulo, abordaremos cinco areas principals: (1) modelos gerais;(2) audiencia, influencia e difusao; (3) efeitos; (4) comunicacao politica,propaganda e opiniao pQblica; e (5) desenvolvimento nacional.

0 Processo de Comunicacao de Massa: Modelos Gerais

Numerosos teOricos forneceram modelos gerais de comunicacao de massa.Esses modelos tentam conceituar o processo global em forma sucinta. Elesproporcionam uma excelente visa° geral como prefacio para as teorias mais

especificas e detalhadas, de que trataremos nas secees seguintes. Urn dos maisantigos e mais conhecidos modelos é o de Harold Lasswell. Urn dos grandes

cientistas politicos do nosso tempo, Lasswell escreveu urn artigo classico inti-tulado "The structure and function of communication in society". Esse estudode 1948 apresentou o seu simples e tao freqiientemente citado modelo: 6

QuemDiz o Que

Em Que CanalPara Quem

Corn Que EfeitoEsse quadro de referencia foi criado para captar os componentes estruturaismais basicos de qualquer ato de comunicacao. Embora o modelo se aplique a

qualquer forma de comunicacao, Lasswell, como cientista politico, estavaprincipalmente interessado nos midia. 7 Alern dessa analise estrutural, ele tarn-bern discutiu tit's funcoes basicas da comunicacao, incluindo "a vigilancia domeio ambiente", "a correlacao das partes da sociedade em resposta ao meio

ambiente" e "a transmissao da heranca social de uma geracao a seguinte".8

Charles Wright ampliou o modelo de Lasswell. Partindo das tres funcoesbasicas de Lasswell, ele desenvolveu urn modelo de 12 categorias e urn inven-

taxi° funcional para a comunicacao de massa, como se mostra na Figura 78 eno Quadro 23. 9 0 modelo e formulado como uma interrogacao, sondando as

varias funcoes e disfuncoes das mensagens comunicadas de massa. Tais fun-coes sao decompostas de acordo corn niveis sociais. 0 esqueleto fornecidopelo modelo funcional basic° 6 recheado e as questOes respondidas no inven-tatio. NaFigura 78, vemos um nUrnero de funcoes e disfuncOes das catego-rias de Lasswell, de acordo corn o nivel social.

Os modelos de Lasswell e Wright fornecem uma abordagem estrutural--funcional. Aprendemos por esses modelos quais sac) as partes mais importan-tes do processo, assim como algumas das funcoes da comunicacao de massa.Outro modelo muito conhecido que amplia ainda mais a estrutura é o deBruce Westley e Malcolm MacLean, apresentado na Figura 79. 10 Encontramosnesse modelo cinco elementos basicos. 0 primeiro, designado pelo Xs, repre-

6Harold D. Lasswell —"The structure and function of communication in society", in Thecommunicationof ideas, organizado por Lyman Bryson. Nova York, Institute for Religious andSocial Studies, 1948.7

Para informacão a respeito da contribuicao de Lasswell para a ci6ncia politica, ver Arnold A.Rogow (org.) — Politics, personality and social science in the twentieth century: essays in honor of Harold D. Lasswell. Chicago, University of Chicago Press, 1969, especialmente os seguintesartigos: Heinz Eulan — "The maddening methods of Harold D. Lasswell: some philosophicalunderpinnings", pp. 15-40; Bruce Smith — "The mystifying intellectual history of HaroldLasswell", pp. 41-105.8Lasswell — "Structure and function".9Charles R. Wright —"Functional analysis and mass communication", in Public Opinion

Quarterly, 24, 1960, pp. 605-20.10 Bruce Westley e Malcolm MacLean —"A conceptual model for communications research",in Journalism Quarterly, 34, 1957, pp. 31-38.

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X3 A 3----"°x4

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IB C)(

X   1nA

— fCAX

2PAC-

g

322 Contextos de Comunicano 

{

111 funcOes e(21 disfuncOes(3) manifestas [ deliberadas I e(4) latentes [ nao-liberadas I 

Quais sao as

Figura 78. 0modelo funcional de Wright. 

(5) vigilancia (noticias)(6) correlacao (atividade editorial)da (7) transmissao cultural(8) diversao

veiculada pela comunicacao de massa para

Ilr 

(9) a sociedade

(10) os subgrupos

(111 o indivlduo

(12) os sistemas culturais?

sentou eventos no campo sensorial. A, o segundo elemento no modelo, repre-senta a fonte de comunicacao. C, representa o papel do canal, e B, o receptorfinal da mensagem. f representa o feed-back. A importante contribuicão dessemodelo e a sua inclusao do C ou papel do canal. C é urn intermediario entre

A e B. 0 C individuo ou organizacdo a uma especie de "porteiro" ou codifi-

cador, que seleciona e transforma as mensagens da fonte para o receptor. Essemodelo e particularmente Otil numa analise de comunicacäo de massa, por-quanta uma das qualidades da comunicacao de massa é a sua forma mediada.

Eclaro, a natureza de A, B e C no modelo de Westley e MacLean variara desituacao para situacdo. Por vezes, o canal —individuo ou organizacäo —pode ser muito simples, como no exemplo do redator de urn pequeno jornalda provincia. Em outros casos, pode ser extremamente complexo. Por exem-pla, as varios servicos telegraficos que cobrem o mundo inteiro envolvemmUltiplas etapas de informac5o, reportagem, distribuicao e disseminacao,acarretando urn extenso e complexo papel de C. Talvez um exemplo facilmen-te reconhecivel do processo descrito nesse modelo ocorra nos noticiariostransmitidos diariamente pela televisdo. Nesse exemplo, os acontecimentossac) representados por X's; os repOrteres e correspondentes originais sac) repre-

sentados porA;os que redigem, editoriam e apresentam as noticias (porexemplo, John Chancellor; Walter Cronkite e Barbara Walters) sdo represen-tados por papeis de C. Einalmente, o p6blico norte-americano a representadopar B no modelo.

Urn importante conceito oriundo do jornalismo ilustrara ainda melhor anatureza mediada da comunicacao, tal como se reflete no modelo de Westleye MacLean; é a nocdo de "porteiro" (Gatekeeper). Essa ideia foi originalmentedescrita por Kurt Lewin

11

Ele formulou a hip6tese de que a informacdo nao sedifunde por todo urn sistema de maneira aleatOria mas é canalizada atraves de

11Kurt Lewin — "Channels of group life", in Human Relations, 1, 1947, p. 145.

Figura 79. 0 modelo de

Westley a MacLean. As

mensagens C transmiti-das a B (X") representam

as suas setegdes de am-

bas as mensagens para

eles provenientes de A

(X') e as selecc3es e resu-

mos de C provenientesdeX's em seuprOpriocampo sensorial (X3C,

 X 4), que podem ser ou

nao X's no campo de A.0 feedback nao so se

deslocade B para A

( f  BA) e de B paraC(f BC) mas tambern de C

 para A (to). Evidente-mente, numa situacaa

de comunicagão de mas-sa, um grande ()Omer°

de Cs recebe de um cal-mer°enorme de As e

transmite um namero

imensamente maior de

 Bs, que simultaneamen-

te recebem de outros Cs. Bruce Westley e Mal-

colm MacLean — Extraf-

do de "A conceptual

model for communica-

tion research", in Jour-nalism Quarterly, 34,

195 7.

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SISTEMACulturaI ndividuo

CONSIDERADO /ociedade S'ubgrupo especifico

(p. ex., elite politica)

Teorias de Comunicacäo de Massa 323

Quadro 23. Inventario funcional partial para comunicacdes de massa

1. ATIVIDADE VEICULADA PELA COMUNICACAO DE MASSA: VIGILANCIA (NOTICIAS)

Funcdes( manifestase latentes)

 Advertencia:  AdvertenciaPerigos naturals Instrumental Ataque; guerra

Instrumental:Noticias essenciaisa economia e outrasinstituiciies

Consideracdes morals

 Auxiliares do prestigio:Lideranca de opiniâo

Atribuicao de status

Instrumental:Informacäo titil aopoder 

Detecta:Conhecimento deconduta subversiva edesviante

Manipula a opinidopUblica

MonitoraControla

 Auxiliares do contatocultural Auxiliares dodesenvolvimentocultural

Disfuncdes( manifestase latentes)

Ameaca a estabilidade: AnsiedadeNoticias de "melhores" Privatizaciâosociedades  Apatia

Fomenta o panico Narcotizacdo

Ameaca o poder:Noticias da realidadePropaganda "inimiga"RevelacOes

comprometedoras

Permite a invasaocultural

2. ATIVIDADE VEICULADA PELA COMUNICACAO DE MASSA: CORRELACAO (EDITORACAO,

SELECAO, INTERPRETACAO E PRESCRICAO)

Auxilia a mobilizacao

I mpede ameagas 'aestabilidade social

I mpede o panic()

 Aumenta o conformismo

social:I mpede a mudancasocial se a criticasocial for evitada

Propicia eficiencia: Ajuda a preservar opoder

 Assimilacäo de noticias

I mpede:SuperestimacdoAnsiedade

 ApatiaPrivatizacâo

Enfraquece as f-culdades Aumenta a

criticas responsabilidade

 Aumenta a pass ividade

Funcdes( manifestase latentes)

Disfuncdes

( manifestase latentes)

I mpede a invasäocultural

Mantèm o consensocultural

I mpede o

desenvolvimentocultural

3. ATIVIDADE VEICULADA PELA COMUNICACAO DE MASSA: TRANSMISSAO CULTURAL

FuncOes( manifestase latentes)

 Aumenta a coesao social: Amplia as bases denormas, experienciasetc. comuns

Ajuda a integracão: Amplia o poder:Exposicao a normas Uma outra agendacomuns para a socializacâo

Padroniza

Mantèm o consensocultural

Reduz a economiaContinua a socializaflo:

 Alcanca os adultos,mesmo depois de desterem deixado

instituicdes tais comoa escola

Reduz a idiossincrasiaReduz a anomia

Disfuncdes( manifestase latentes)

Aumenta a sociedade de Despersonaliza os atos de"massa" socializacao

Reduz a variedade desubculturas

4. ATIVIDADE VEICULADA PELA COMUNICACAO DE MASSA: DIVERSAO

FuncOes( manifestase latentes)

Disfuncdes( manifestase latentes)

Descanso e lazer para

as massasDescanso, lazer   Amplia o poder:

Controle sobre outraarea da vida

 

Diverte o pdblico.Evita a acäo social

 Aumenta a passividade

Rebaixa os "gostos"Permite o escapismo 

Enfraquece a estatica:"Cultura popular"

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Figura 80. Aspectosdeuma secglência deco-

municacSo, ilustrados

nomodelo grafico. (Ex-

traido de George Gerb-

ner — "Toward a gene-

ral model of communi-

cation", in AV Commu-nication Review, 14,

1956, p . 179.)

324 Contextos de Comunicacao

certos pontos de decisao, ou "portäes". Essa ideia foi adotada pelos pesquisa-dores em jornalismo, que a aplicaram ao processo de coleta de noticias ereportagem. White, em seu artigo classic° sobre o assunto, indicou que asnoticias não fluem direta e completamente da fonte para o receptor mas saofiltradas primeiro atraves de uma serie de port6es: "Assim, uma historia etransmitida de 'porteiro' em 'porteiro' na cadeia de comunicacOes. Do rep6r-

ter ao copidesque, passando pelo chefe de redacao, o processo de escolha erejeicáo este ocorrendo continuamente." 12

0 modelo de Westley e MacLean descreve os principais componentes dacomunicacäo mediada. Outro modelo construido sobre esses componentes eque elucida ainda mais o processo de emissao e recepflo é o de George Gerb-ner. 13 Gerbner introduziu o seu modelo de comunicagao com a seguinte se-qiiencia verbal:

1.  Alguèm

2. percebe um evento

3. e reage

4. numa situacão

5. através de algum meio

6. para fazer materiais acessiveis

7. em alguma forma

8. e contexto

9. transmitirem conteCido

10. de algumas conseq0éncias

Esse modelo pode ser ilustrado graficamente de yams maneiras. Os elemen-tos basicos sac) melhor descritos na seqtiencia da Figura 80. Esse processo con-siste numa serie de eventos, percepcOes e mensagens. 0 modelo pode serexplicado da seguinte maneira: partindo da direita alta, um event° e perce-bido por um comunicaoor dedeterminada forma. Nesse exempla, o comuni-cador (M) percebe umidade no ar (E) como chuva (E'). Entdo, M forma umamensagem que consiste em forma (S) e contealo (E). A forma é a estrutura,linguagem ou organizacao da mensagem. 0 conte6do relaciona-se com o

evento original. 0 segundo comunicador .. ( M2), por conseguinte, percebe amensagem (SE'), "Este. chovendo". Em comunicacao de massa, a seqtrenciarepresentada acima a mediada atraves de numerosos estagios por elementos

12David White —"The 'gate keeper': a case study in the selection of news", in Journalism

Quarterly, 27, 1950, pp. 383-90.13 George Gerbner —"Toward a general model of communication", in A udio-Visual Comm uni-

cation Review, 14, 1956, pp. 171-99.

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,Veiculo deComunicacão de Massa

Regularnentaoão dePara Liberdade'ode Selecao

do pdblico

Meios nsta/aories

M Num Contextode Acessibilidade

Equitativa de Todosos Pontos de Vista Pertinentes

Teorias de Comunicacão de Massa 325

humanos e mecAnicos. Toda e qualquer transformacdo de uma mensagem en-volve uma nova percepcdo e uma nova mensagem, e sempre a nova mensa-gem consiste nos mesmos dois elementos: estrutura e conte6do. Numa analisede ordem superior, como a ilustrada na Figura 81, o conteudo das mensagenssubsequentes consiste na mensagem previamente percebida. Assinale-se queate longas seqilencias terminam numa conseqUencia final (Ec).

Figura 81. Uma seqCién-

cia de comunicagao.

(Extraido de George Ger-bner — "Toward a gene-ral model of communi-

cation", in AV Commu-nication Review, 14,

1956, p. 181.)

Conquanto o modelo de Gerbner seja mais complex° do que o de Westley eMacLean, certos paralelos sao evidentes. A fonte, representada por A nomodelo Westley/MacLean, é o primeiro comunicador (M) no modelo deGerbner. Todos os comunicadores intermediArios, pessoa ou maquina, sac) os

mesmos que os papeis do canal de Westley e MacLean. Uma ilustracao adicio-nal dessa ideia, e que a particularmente adequada a comunicacdo de massa, ereproduzida na Figura 82.

Os modelos mencionados ate agora enfatizam os componentes no processode comunicacAo de massa (estrutura), funcöes e eventos psicologicos/sociais.Apresentaremos urn modelo final. Esse modelo, de autoria de Melvin DeFleur,

Figura 82. Comunicanode massa. (Extraido de

George Gerbner — "To-ward a general model of 

communication", in A VCommunication Review,14, 1956, p.189.)

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AssociacOesVoluntariesque imp6em"cOdigos"

AnemiasReguladoras

MimeComisseo Federal

de Comunicacdes IFCCI.Admemstracão de

Alimentos e Drogas IFDAI.Cormssão Federal

de Con-IC=1E7C/.Departamento

de J ustica etc

-̂---votos

 protecao

Contend° da

Diversao

nCV)te da

00a

 Audiancia de ConsumidoresDiferenciados pelo Gosto

Contend°Publlciterio

Ii

Classe B

Classe C

Classe A

r Subsistema de Producão

Os sistemas de papel de todos os grupos que, de qualquer modo,criam ou produzem midia, conteudo, incluindo espeteculos detelevisào, artigos de revistas, histOrias jornalisticas, filmes etc.Dependendo do veiculo de comunicacão de massa, são incluidospanels tais como: escritores, atores, diretores, editores, repOrte-res, diretores artisticos, redatores, correspondentes estrangeiros,cinegrafistas, linotipistas, especialistas em iluminacao etc.

Subsistemas de Distribuip5o

Distribuidores Nac onais e Regionals

Os sistemas de papéis daqueles que distribuem contendo parsconsumidores locals. 'mini aqueles das cadeias de radiodifusao e

televisäo, sindicatos de jornais, cadeias de cinemas e distribuido-res de livros e revistas.

contend° + dinheiro t

Distribuidores LocalsOs sistemas de pap6is de grupos que realmente apresentamcontend° de midia ao pnblico. Inclui aqueles dos jornais locals,cinemas locals, estacOes de radio e televisao, e revendedores del i vros e revistas.

dinheiro— bens e servicos

r Pesquisade Mercado

e Servicos deClassificacão

2 2 C

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Teorias de Comunicacão de Massa 327

situa o processo de comunicacao de massa num contexto politico, econOmico

e social mais amplo. Esse modelo, ilustrado na Figura 83, a importante para a

nossa compreensao da comunicagao de massa como parte do sistema maisvasto.14 Descreve os varios fatores organizacionais e governamentais envolvi-

dos no sistema mais vasto de comunicagdo de massa na sociedade de urnmodo detalhado mas facil de entender. Fornece urn excelente panorama geral

da perspectiva social.Teoriasde Audiencia, Influencia e Difusao

 Agora que examinamos alguns modelos gerais do processo de comunicagdo demassa, poderemos ocupar-nos de alguinas teorias relacionadas corn os variosaspectos desse processo. Nesta segao enfatizaremos fits importantes areas

afins. A primeira e a natureza da audiencia de massa. Veremos tratar-se deuma area conceptual bastante polamica, envolvendo a questa° basica daautonomia individual e de grupo. Em seguida, examinaremos uma area teOrica

referente ao processo de influencia sobre ptiblicos de massa. A terceira areageral abordada nesta segao 6 a difusao de informagao. Na realidade, e dificilseparar os processos de difusao e de influencia, como veremos pelas teoriasapresentadas nesta segao.

No presente seculo, quando os estudiosos comegaram a concentrar suasatencOes na comunicagao de massa, vieram a tona alguns importantes concei-tos antagänicos de influencia dos midia. 150 primeiro deles, e ainda hoje urndos mais populares, é a teoria da sociedade de massa. Essa teoria pressupaeque o pOblico a uma imensa massa heterogenea e desconexa, e que as tenta-

tivas para influencia-la atraves dos midia facilitarao a mudanga direta. Esseponto de vista passou a ser conhecido, portanto, como o modelo da "agulha

hipodermica". Uma segunda abordagem, que tern certas afinidades corn aanterior, é a teoria das diferengas individuais. Rogers chamou-lhe o modelo deone-step flow, em que se considera que as mudancas ocorrem atraves de in-fluencias psicodinamicas dentro de cada pessoa separada. Uma terceira cate-

goria geral de pensamento sobre a influencia dos midia é a abordagem de ca-tegorias sociais, a qual analisa a massa em certas camadas sociais e aconselha

a adaptagao dos grupos sociais a alvos especificos. Finalmente, temos o mo-delo das relacoes sociais. Esse 6 o modelo dos populares two-step flow emultistep flow de comunicagao. Trata-se de urn modelo sOcio-cultural que en-fatiza os pequenos agrupamentos humanos e prediz que a influencia ocorre

primordialmente por causa das relacties interpessoais. Sintetizando aindamais, podemos agrupar as duas primeiras abordagens como uma especie de

pensamento de "massa" e as duas altimas como uma especie de pensamentode "grupo". 16

 A Teoria da Sociedade de Massa

A teoria da sociedade de massa é urn conceito que resultou da natureza exten-sa, complexa e burocratica do Estado moderno. 17 A teoria imagina uma massa

14DeFleur — Theories.15Everett M. Rogers —"Mass media and interpersonal communication", in Handbook of communication, organizado por Ithiel de sola Pool et al.Chicago, Rand McNally, 1973,pp. 290-310.16DeFleur — theories.17Os mais destacados criticos da sociedade de massa säo Ortega y Gasset, Karl Mannheim, KarlJaspers, Paul Tillich, Gabriel Marcel e Emil Lederer. As melhores sinteses desse ponto de vistapodem ser encontradas em duas critical da teoria: Daniel Bell — "The theory of mass society", inCommentary, julho de 1956, pp. 75-83; e R.A. Bauer e A.H. Bauer —"America, mass society emass media", in Journal of Social Issues, 16, 1960, pp. 3-66. Outras fontes usadas na preparacãodesta secao incluem Eliot Freidson —"Communications research and the concept of the mass",in The process and effects of mass communication, organizado por Wilbur Schramm e DonaldRoberts. Urbana, University of Illinois Press, 1971, pp. 197-208; e W. Kornhauser —"MassSociety", in International encyclopedia of the social sciences, v. 10. Nova York, Macmillan,1968, pp. 58-64.

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328 Contextos de Comunicagao

maleavel de pessoas em que pequenos agrupamentos, vida comunitAria eidentidade etnica sac) substituidos por relacOes despersonalizadas em escala

de sociedade. Como disse Kornhauser, "todos os membros da sociedade de

massa sac, igualmente avaliados como eleitores, compradores e espectadores.Portanto, a superioridade numêrica tende a ser o criterio decisivo do exito"18

 Alem disso, o grande poder e adjudicado aqueles que sac) eficazes na manipu-

lacao da massa.Essa concepcao de sociedade acarretou uma critica generalizada da vida

moderna. Os criticos da sociedade de massa formularam numerosas proposi-

ceies, resumidas por Bell nos seguintes termos: 19 primeiro, rapidos desenvolvi-

mentos em transporte e comunicacao aumentaram o contato humano, e con-sideracoes econOrnicas tornaram as pessoas cada vez mais interdependentes.

 Assim, coma urn sistema gigantesco, o desequilibrio numa parte afeta todos.

Mas o paradoxo e que, ao mesmo tempo que somos todos mais interdepen-dentes, tambem estamos cada vez mais distanciados uns dos outros. Os vin-

culos comunitarios e familiares estao desfeitos e os antigos valores sao ques-tionados. Alêm disso, ja nao se acredita que a sociedade seja liderada por eli-

tes, resultando num declinio de principios morais, gostos e valores. As rapidas

mudancas na sociedade atiram homens e mulheres para situacties de papêis

multiples, causando uma perda do sentimento de eu. As pessoas tornam-semais angustiadas e pode ser preciso, em Ultima instancia, o aparecimento de

um lider carismatico que arranque a sociedade do abismo.

Essa perspectiva sombria tem numerosas implicacoes para os veiculos de

comunicacao de massa. A teoria hipodermica ajusta-se perfeitamente a teoria

da massa. HA um temor profundo, por parte dos criticos da sociedade demassa, de que os espiritos sejam triturados e significativamente alterados pelasforcas propagandisticas e esditulas subjacentes nos midia. Lazarsfeld eMerton expressaram esse temor nas seguintes palavras: "(...) ha o perigo deque esses instrumentos tecnicamente avancados da comunicacao de massa

constituam urn importante caminho para a deterioracao dos gostos esteticos e

dos padroes culturais populares".20

E claro, a questa° da influencia dos midia e da sociedade de massa em gerale extremamente complexa, e a teoria da sociedade de massa foi atacada comos i mplista e ilOgica.

 A Audiencia Obstinada

O conceito mais recente de audiencia como mediador complexo entre midia eefeito contrapoe-sea teoria da sociedade de massa. Raymond Bauer, ao obser-

var o fracasso de muitas tentativas de persuasao, referiu-se a esse fenomenocoma a audiencia obstinada. 21 Ele negou a idêia de que existe um efeito direto,

do tipo hipodermico, entre comunicador e audiencia. Pelo contrario, nume-rosas variaveis envolvidas na audiencia interatuam para dar forma, de %/Arias

maneiras, aos efeitos. (Muitos desses processos dinamicos foram discutidos no

capitulo 7.22

) Duas das mais importantes areas de mediacao da audiencia saoos efeitos grupais e interpe'ssoais e a seletividade. Muitos estudos mostraram

que os membros de audiencias sao altamente seletivos em sua exposicao A in-

Kornhauser — "Mass society", p. 59.19 Bell — "The theory of mass society".20

Paul F. Lazarsfeld e Robert K. Merton — "Mass communication, popular taste and organizedsocial action", in The process and effects of mass communication, organizado por WilburSchramm e Donald Roberts. Urbana, University of Illinois Press, 1971, p. 557.21 Raymond Bauer —"The obstinate audience: the influence process from the point of view of social communication", in American Psychologist, 19, 1964, pp. 319-28.22 Raymond Bauer —"The audience", in Handbook of Communication, organizado por Ithielide sofa Pool et al. Chicago, Rand McNally, 1973, pp. 141-52.

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Teorias de Comunicagäo de Massa 329

formacao.23 Em sua mais simples forma, a hipotese de exposicao seletiva preveque as pessoas, na maioria das circunstancias, selecionarao a informacaocompativel corn suas atitudes e outros quadros de referencia. Assim, emoposicao a teoria da sociedade de massa, a abordagem sOcio-psicolOgica,embora concorde em que ocorrem certos efeitos, rechaca o efeito de massa

passiva e submissa comumente receado. Esse ponto de vista 6 desenvolvido

ainda mais pela hipotese do multistep flow (difusdo maltipla).

 Modelos de Multistep Flow ( Difusdo MUltipla)

Em1940, Lazarsfeld e seus colegas realizaram urn estudo classico do compor-

tamento de voto em Elmira, Estado de Nova York. 24 Os pesquisadores apura-ram uma inesperada ocorrencia que, embora longe de confirmada, sugeriu urn

passive' e vigoroso envolvimento da comunicacao interpessoal no processototal de comunicagao de massa. Esse efeito, que passou a ser conhecido comoa hipotese do fluxo binario (two-step flow), era surpreendente e exerceu urn

grande impacto sobre a concepcao da comunicacao de massa.

Depois do estudo original em Elmira, muitos dados adicionais foram obtidos

e a famosa hipotese recebeu substancial apoio. 25 Foi entao formulada a hipo-

tese de que a informacao flui dos veiculos de comunicacao de massa paracertos lideres de opiniao na comunidade, os quais facilitam os efeitos da co-

municacao atraves de discussoes corn seus pares. Por exemplo, Lazarsfeldapurou que os eleitores parecem ser mais influenciados ern seu voto pelos seusamigos, durante uma campanha, do que pelos veiculos de comunicacao demassa. Urn dos mais destacados adeptos da teoria do fluxo binario descreveu

como ela contradiz a anterior ideia de sociedade de massa:

A hipotese despertou considerável interesse. Os prOprios autores estavam intri-gados corn suas implicacoes para uma sociedade democratica. Era um sinal sau-davel, achavam eles, que as pessoasainda fossem persuadidas corn o maior exi-

to pelo didlogo corn outras pessoas e que a influencia dos veiculos de comuni-

cacao de massa fosse menos automâtica e menos potente do que se supunha.

Para a teoria social, e para os projetos de pesquisa de comunicacao, a hipotese

sugeriu que a imagem da moderna sociedade urbane necessitava de revisao. A

i magem da audiencia como uma massa de individuos desconexos, atrelados aos

midia mas sem ligacao alguma entre eles, lido podia harmonizar-se corn a ideia

de urn fluxo binario de comunicacao, o qual subentende, de fato, a existencia

de redes de individuos interligados, atraves dos quais säo canalizadas as comu-

nicacOes de massa.26

Este ponto de vista expOe a supremacia do pequeno grupo na sociedade e,

mais recentemente, mostrou que os pequenos grupos se interligam numa teiade redes que abrangem toda a "massa". A teoriado fluxo binario foi admiravelmente resumida na obra classica de

Katz e Lazarsfeld, Personal influence. 27  0 conceito central da teoria e o de

lider de opiniao — aqueles individuos na comunidade que recebem as infor-

23Os estudos sobre seletividade estào excelentemente resumidos em David 0. Sears e Jonathan

I, Freedman —,"Selective exposure to information: a critical review", in Public OpinionQuarterly, 31, 1967.24Paul Lazarsfeld, Bernard Berelson e H. Gaudet — The people's choice. Nova York, ColumbiaUniversity Press, 1948.250 melhor resumo desta hipotese e o de Elihu Katz em "The two-step flow of communica-tion", in Public Opinion Quarterly, 21, 1957, pp. 61-78. Urn tratamento mais recente 6 tambémde Katz, em "Diffusion Ill: interpersonal influence", in International encyclopedia of the socialsciences, v. 4, organizada por David Sills. Nova York, Macmillan, 1968.26Katz —"The two-step flow of communication", p. 61.27Elihu Katz e Paul Lazarsfeld — Personal influence: the part played by people in the flow of mass communication. Nova York, Free Press, 1955.

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Contextos de Comunicacao

macOes dos midia e as passam aos seus pares. Verifica-se que os lideres deopiniao estdo distribuidos em todos os grupos — ocupacionais, sociais, comu-nitarios e outros. Tipicamente, o lider de opiniao é dificil de distinguir dosoutros membros do grupo, porque a lideranca de opiniao nao constitui urntraco. E concebida, outrossim, como um papel assumido dentro do processode comunicacao interpessoal. Eimportante compreender que a lideranca de

opiniao muda de tempos em tempos e de questa.

° para questa°. Katz e La-zarsfeld apuraram que a lideranca de opiniao difere em areas tais como mar-keting, moda e questOes pOblicas. 0 interesse em determinada questa. ° é cer-tamente uma importante determinante da lideranca de opiniao, mas os lideresso podem ser influentes quando o interesse é compartilhado por todos osmembros do grupo.

Em qualquer dos casos, a implicacao e que os grupos fornecem a chave paraa influencia da comunicacao de massa. Isso e verdade por serem os gruposque fornecem uma direcao aos individuos em termos de opiniao, atitudes,valores e normas. Os grupos tambem proporcionam acesso fadl a comuni-cacao.

Em anos recentes, a maioria dos te6ricos passou a adotar o mais novomodelo de multistep flow (difusao mOltipla). 28 Esse modelo a semelhante

hipOtese de fluxo binario mas admite, simplesmente, possibilidades mais com-plexas. As pesquisas mostraram que o nUmero final de retransmissores entre osmidia e os receptores finais e altamente variavel. Na adocao de uma inovacao,por exemplo, certos individuos ouvirao diretamente a inovacdo das Pontes demidia, enquanto outros estao delas afastados varias etapas.

Entretanto, o conceito basico de lideranca de opiniao permanece inalte-rado. Rogers e Shoemaker forneceram uma lista de generalizacOes teOricassobre lideranca de opiniao, a qual nos deve ajudar a rematar esta descried° dateoria.

Os lideres de opiniao tem major exposicão a comunicacao de massa do que osseus seguidores. (...)

Os lideres de opiniao sao mais cosmopolitas do que os seus seguidores.Os lideres de opiniao tern major contato com o agente de mudanca do que os

seus seguidores. (...)Os lideres de opiniao tern major participacão social do que os seus seguido-

res. (...)Os lideres de opiniao tern mais elevado status social do que os seus seguido-

res. (...)Os lideres de opiniao sao mais inovadores do que os seus seguidores. (...)Quando as normas do sistema favorecem a mudanca, os lideres de opiniao

sao mais inovadores, mas quando as normas sac) tradicionais, os lideres de opi-niao näo sao especialmente inovadores. 29

Pode haver duas espêcies de lideres de opiniao: os que sao influentes numtOpico e os que sac) influentes em varios tOpicos. Esses tipos foram chamados

monomOrticos e polimOrticos. Formulou-se a hipOtese de que o monomorf is-mo torna-se mais predominante quando os sistemas se tornam mais modernos."A medida que a base tecnologica de urn sistema vai ficando mais complexa,resulta uma divisao de trabalho e a especiafizacao de papeis, o que, por suavez, leva a diferentes conjuntos de lideres de opiniao para diferentes ques-tOes." 30

28

Urn dos melhores resumos desta extensao pode ser encontrado em Everett M. Rogers eF. Floyd Shoemaker —Communication of innovations, a cross-cultural approach. Nova York,Free Press, 1971, cap. 6.29 Ibid., pp. 218-19.30 Ibid., p. 224.

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Elemento no

modeloF-M-C-R-E:

Elementoscorrespon-dentes na di-fusao de ino-vacges:

Teorias de Comunicacão de Massa 331

 A Difus5o de Inovacães

Uma das mais fecundas areas teOricas que contribuem para a nossa compre-ensäo da difusao promana das pesquisas de inovaCao em na95es emdesenvol-vimento e em regities rurais predominantemente agricolas. A difusao de umainovacao ocorre quando uma ideia se propaga de urn ponto de origem para as

areas geograficas circundantes ou de pessoa para pessoa numa Unica area.31Muitos investigadores eminentes, norte-americanos e estrangeiros, foram res-ponsaveis por essa linha de pesquisa nos altimos 20 anos. A teoria mais amplae mais orientada para a comunicacao nessa area é a de Everett Rogers e seuscolegas.32 Rogers e Shoemaker escreveram urn sucinto mas excelente painel daliteratura pertinente a difusao de inovacties, reproduzido no Quadro 24, e quenos proporciona uma boa introducäo a essa teoria. 33

Rogers comeca a sua teoria relacionando-a corn o processo de mudanca so-cial em geral. A mudanca social consiste em invencao, difusao (ou comuni-cacao) e conseq0éncias. Tal mudanca pode ocorrer internamente, de dentrode urn grupo, ou externamente, atravês do contato com agentes exteriores demudanca. Neste Ultimo caso, o contato pode ocorrer esponfanea ou aciden-talmente, ou pode ser o resultado de planejamento por parte de agendas exte-riores.

Rogers relacionou a comunicacao corn a difusao mediante o use do modeloFMCR de Berlo,34 ilustrado na Figura 84. 35 A difusao de inovacães é urn pro-cesso consumidor de tempo. Muitos anos podem ser exigidos para que umaideia se propague. Rogers admitiu francamente que uma das finalidades dapesquisa da difusao a descobrir o meio de encurtar essa defasagem. Uma vezestabelecida, uma inovacalo tera conseq0encias reais — funcionais ou disfun-cionais, diretas ou indiretas, manifestas ou latentes. Urn agente de mudancaespera normalmente que o seu impacto seja funcional, direto e manifesto,embora isso nem sempre ocorra, por certo.

Fonte Mensagem Canal Receptor Efeitos

Inven res, I novaggo Canais de co- Memoros de Conseculignciascientistas, latributos municacgo urn sistema no tempoagentes de percebidos,   I miclia ou in- socialmudancas ou coma: yenta- terpessoais)Il deres de gem relative,opinigo compatibili-

dade etc.) 1. Conhecimen-to

2. Mudanca deatitude (per-suasào)

3. Mudanca decomporta-

mento (ado-cgo ou rejei-cao)

Figura 84. Elementos na

difusao de inovacbes e omodelo de comunicacao

F-M-C-R-E sao semelhan-

tes. (Reproduzido coin

 permissao de Macmillan

PublishingCo., Inc. de

 Everett M. Rogers e F.

Floyd Shoemaker

— C o m m u n i c a t i o n o f i n n o -

vations. Copyright ©1971by the Free Press,

Uma Divisao de The

 Macmillan Company.)

31Para urn born resumo geral, ver Torsten Hagerstrand — "Diffusion II: the diffusion of innova-tions", in International encyclopedia of the social sciences, v. 4, organizado por David Sills. NovaYork, MacMillan, 1968.32Urn dos primeiros trabalhos foi o de Everett M. Rogers — Dif fusion of innovations. NovaYork, Free Press, 1962; sua mais recente obra ê Communication of innovations, em colaboracaocorn Shoemaker (ver nota 28).33Rogers e Shoemaker — Communication of innovations,pp. 50-51.M

David D. Berlo —The process of communication. Nova York, Holt, Rinehart & Winston,1960.35Rogers e Shoemaker — Communication of innovations,p. 20.

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Contextos de Comunicano

Ira 24.Comparageo das principals tradicaes de pesquisa da difusao

Trixdkae de

Pesquisa deif Lisa°

NUmero dePublicactiesEmpiricasExistentes

InovactiesTipicasEstudadas

Mêtodo deColeta e At-Wisede Dados

PrincipalUnidade de

 AnaIlse

Ideias tacnolOgicas( machado de aco, ocavalo, aquecedor de agua, por exem-plo)

 Administrador de ci-dade, governo, selosde correio, radio-amadores

Idbias agricolas(spray antipragas, se-mentes hibridas, fer-tilizantes, por exem-plo) e ideias sanita-rias (vacinacties, la-trinas, por exemplo)

Observacao partici-pante e nao-partici-pante e a abordagemde estudo de casosindividuals

Dados de fontes se-cundarias e analiseestatistica

Entrevistas de inspe-cao e analise esta-tistica

 Aldeias tribais oucamponesas

Com un idades ouindividuos

Lavradores indi-viduais em co-mun idades rurais

1. rintropologia 69

2. Sociologiaclassica 10

3. Sociologiarurala 480

4. Educacao 71lardins de infancia,instrucao de motoris-ta, maternatica mo-derna, instrucao pro-gramada

5. Sociologia Prod utos farmacauti-médica 76cos, vacinas, mato-

dos de planejamentofamiliar

6. Com un icacao 87 Eventos que sac no-ticia, inovacties agri-colas

8. Outrastradicaesb

Total

7. Marketing

Tipos Principalsde Concluseesde Pesquisa

ConsecRiancias deinovacaes; kit° re-lativo de agentes demudanca

Distribuicao-S deadotantes; caracte-risticas das catego-rias de adotantes

Distribuitdo-S deadotantes; caracte-risticas das catego-rias de adotantes;atributos percebidosde inovacfses e suataxa de adocao; ca-nais de comunica-cao por fases no pro.-cesso de inovacao-decisào; caracteristi-cas dos lideres deopiniao

Distribuicao-S deadotantes; caracte-risticas das catego-rias de adotantes

Questionario por Redes escolarescorreio, entrevistas au professoresde campo e analiseestatistica

64 Novos produtos(uma marca de cafe,o telefone Touch-To-ne, modas de

yes-tuario, por exemplo)

227

1.084

Entrevistas de cam- Individuos Lideranca de opiniaop° e analise estatis- em difusao; caracte-tica risticasdascatego-

rias de adotantes;canais de comunica-

cao por estagios noprocesso de inova-tao-decisao

Entrevistas de cam- Individuos Canais de comunica-p° e analise estatis- cao por estagios notica processodeinova-

cao-decisao; carac-teristicas dos conhe-cedores prematurose tardios, das tate-gorias de adotantese dos lideres de opi-niao

Entrevistas de Consumidores in- Caracte risticas dascampo e analise dividuais categorias de ado-estatistica. tantes; lideranca de

opiniao em difusao

aA tradicao da sociologia rural inclui realmente 70 publicacties que se situam, strict° sensu, na subtradicaoda extensao educational.

b Inclui sociologia geral, economia agricola, psicologia, economia geral, geografia, engenharia industrial emuitas outras disciplinas.Fonte: Diffusion Documents Center, Michigan State University, julho de 1968.

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Teorias de Comunicagao de Massa 333

Adifusào de inovacties depende de quatro elementos basicos: (1) a inova-cap, (2) a comunicacao, (3) os canais, (4) o tempo. Uma inovacão é qualquerideia nova num sistema social. E a novidadepercebida das ideias que conta,nä° a sua novidade objetiva. Qualquer ideia percebida como nova pelos cida-daos da comunidade usara esse processo. As ideias de Rogers sobre canais decomunicacâo e lideres de opinido id foram resumidamente descritas na secao

anterior, Recapitulando: Rogers considerou que o processo de difusdo ocorreatraves de canais de massa e interpessoais.

0 processo de inovacdo-decisao consiste nos quatro estagios descritos naFigura86. 36 Esse diagrama enumera tres importantes determinantes interatuan-tes da taxa de difusao. Primeiro, as pessoas num sistema tem certas caracte-risticas, incluindo personalidade, caracteristicas sociais e necessidades. Alemdisso, o prOprio sistema social relaciona-se significativamente corn o processode decisao. 0 terceiro conjunto de variáveis relativas ao processo de inova-cao-decisào e constituido pelas caracteristicas percebidas de inovacdes.

Figura 85. Paradigma do processo de tomada de

decisao de inovagäo co-

letiva. Esse processo 6 usualmente concebido

comocinco ou mais eta- pas ou subprocessos des-

de apercepgãooriginalde necessidade de uma

nova id6ia (estimulagao)ate aagão final ou con-

cretizagao da nova (Velano sistema social. Essa

concepcão foi desenVol-vida, principalmente, a

 partir de pesquisas sobretomada de decisao co-

munitaria (...), mas deveser geralmente aplicavel

a major parte dos outros

tipos de sistemas so-

ciais, como as burocra-

cias, comiss6es e

(Reproduzido com

 permissao de Macmillan

Publishing Co., Inc. de

 Everett M. Rogers e F.

Floyd Shoemaker

— C o m m u n i c a t i o n o f I n n o -

vations. Copyright ©1971by The Free Press,

Uma Divisao de The Macmillan Company.)

1. ESTIMULACAO de interesse nanecessidade da nova idéia

(por estimuladores)

2. INICIACAO da nova ideiano sistema social (por

iniciadores)

3. LEGITIMACAO da ideia

(pelos detentores do poder

ou legitimadores)

4. DECISAO para atuar(pelos membros dosistema social)

5. ACAO ou execuoao da

nova idéia

Existem tres espêcies diferentes de decisoes de inovacdo. A primeira é adecisaoopcional. Os lavradores, por exemplo, podem plantar qualquer espe-cie de milho que desejarem, independentemente da pratica de seus vizinhos.Os medicos, entre os quais foi realizada consider:Avel pesquisa de difusâo,

podem decidir usar este ou aquele novo produto farmaautico, sem levar emconta as decisoes de seus colegas. Sobre outras especies de questOes, como afluoretizacao da agua, são requeridasdecisoes coletivas. Urn terceiro tipo dedecisoes säo as decisoes autoritárias ou impostas pela forca. As taxas maisrapidas de adocao ocorrem usualmente nessa categoria, embora as decisoesopcionais tambêm possam ser rapidas. As decisoes coletivas ski provavelmenteas mais morosas. As Figuras 86 e 87 ilustram as diferencas entre processor deci-sOrios coletivos e autoritArios.r

36 Ibid., p. 102.37 Ibid., pp. 276, 305.

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TEMPO

3. Necessidadepercebidade inovacho

4. Etc. •Caracteristicas percebidas das inovac5es

4i

Rejeicão1. Vantagem Relativa2. Compatibilidade3. Complexidade4. Comprobabilidade5. Observabilidade

VariSveis do Sistema Social

1. Normas do sistema social2. Toleräncia de Desviacionismo3. Integrac5o da Comunicacao4. Etc.

Adocão Ulterior

Rejeicho continua

(ANTECEDENTES) (PROCESS()) (CONSEIDOENCIAS)

Varieveis do Receptor

1. Caracteristicasda personalidade(p. ex., atitude geralem relacão a mudancal

Fontes de Comunicac5o

T

1 (Canais)

V V

7 Adocào Continua

Descontinuacão

1. Substituicão2. Decepcao

2. Caracteristicassociais(p. ex., cosmopolitismo) CONHECIMENTO PERSUASAO

'

DECISAOII I

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Adocào

CONFIRMACAOIV

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Teorias de Comunicacão de Massa 335

Figura U.Paradigma

mostrando as fungdes no

 processo autoritario de

inovacao-decisao. (Re-

 produzido corn permis-

sdo de Macmillan Publi-shing Co., Inc. de Eve-

rett M. Rogers e F. Floyd Shoemaker — Commu-

nication of innovations.

Copyright ©797i by TheFree Press, Uma Divisdo

de The Macmillan Com- pany.)

1. CONHECIMENTO sobre a necessidade

de mudanga e a inovacao

2. PERSUASAO a avalia* da inovagão

pela unidade de decisao Fase de tomada de decisao

3. DECISAO a respeito da aceitaceoou rejoice° da inovacão pela

unidade de decisao

4. COMUNICACAO da decisao as unidadesde adog"ao na organize*,

Ease de implementacão da decisao

5. ACÃO ou implementacäo da decisaoadog5o ou rejeigeo da inovacáopela unidade de adobes,.

Essa teoria de Rogers e Shoemaker apresenta uma visao complexa da difusaode inovacdes num sistema social. E uma importante contribuicao para o nossoentendimento da difusao e influencia dos midia, em particular, e do processode comunicacao de massa em geral.

Teorias dos Efeitos da Comunicacao

Tratamos, na secäo anterior, dos modelos de relacoes midia-audiénciacomo as audiencias recebem informacao e influencia. Trataremos agora, maisespecifiCamente, dos efeitos da comunicacao de massa sobre a sociedade esobre'os membros da audiéncia. Esta secdo examinara duas abordagens dife-rentes dos efeitos da comunicacao de massa. Aprimeira abordagem —a deMcLuhan — diz respeito aos efeitos totais dos midia sobre a cultura. A segundaabordagem, esta empirica, refere-se aos efeitos mais especificos da persuasãodos \niclia sobre atitudes, crencas e valores. Em conjunto, essas teoriasil ustrain a diversidade de pensamento acerca dos efeitos da comunicacao demassa.

 A Abordagem Artistico-Histdrica de Marshall McLuhan

Marshall McLuhan e, sem dUvida, o autor mais conhecido na area da comuni-cacao de massa. De fato, ele talvez seja o mais popular "teorico" da comuni-cacao do nosso tempo. Recebeu consideravel consagracio popular, principal-mente por causa de seu estilo interessante e bizarro, e de suas idaias descon-certantes e cheias de impacto. Ao mesmo tempo, McLuhan tornou-se urn dosmais controvertidos autores na area da cultura pop. Quer concordemos ou nä°com ele, suas ideias receberam publicidade demais para que possam ser igno-radas.

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336 Contextos de Comunicacao

McLuhan vem publicando ha muitos anos. Os seus primeiros livros incluemThe Gutenberg galaxy e The mechanical bride. 38

 Entretanto, foi Understanding

media, publicado em 1964, que realmente atraiu para McLuhan as atencaesdo pu'blico. 39 Anos depois, o seu incomparavel livro The medium is the

massage forneceu uma exposicao sumamente interessante de suas "explora-cOes" a respeito do nosso meio ambiente de comunicaceo.40

Muitos estudiosos da comunicatio de massa —e o preprio McLuhan —concordariam provavelmente em que os livros dele dificilmente constituemuma "teoria". Entretanto, um exame minucioso de suas ideias revela que elepossui um perfil bastante sistematico de proposigOes acerca das relageies entreverios tipos de midia e a cultura como um todo. 0 efeito de McLuhan sobre optiblico resultou tanto do que as pessoas tern dito a seu respeito quanta deseus preprios escritos. As transcricOes seguintes ilustram a variedade de co-mentarios gerados acerca desse homem tao controvertido:

Portanto, a sua postura de homem de saber e algo oracular; a semelhanca dos

sacerdotes de Delfos, ele produz mensagens que podem ser interpretadas de di-

ferentes maneiras mas estimulam o pensamento e, em muitos casos, tern consi-

deravel impacto sobre as pessoas que consultam o oraculo. (Wilbur Schramm/41

Um homem como McLuhan tern argiicia, erudicao e habilidade parntravessar

nao so campos academicos, mas tambem campos na comunidade profissional e

académica. Ele possui urn fundo de histOria e urn sentido de tradicao que pou-

cos tern nos dias de'hoje. Represent& uma disposicao para enfrentar o presente

e, no entanto, nao rejeita o passado. Contudo, aborda freantemente essa area

corn a postura de urn camel& as tecnicas de urn propagandista e as estrategias

de urn trapaceiro. (Donald Theall)42

Alem disso, para variar o veiculo e misturar a metefora, os livros de McLuhan

sao o rojao que resultou desse fermento, e temos quase a sensacao de que, se

acendermos urn fosforo, eles subirao vertiginosamente no espaco e explodirao

em milhares de estrelas. (Kenneth Boulding)43

Seus escritos sao deliberadamente antilOgicos: circulares, repetitivos, aforisticos,

extravagantes, abomineveis. (...) (George Elliott)44

Existem pessoas cujo destino e serem lidas neste espirito: nao por causa do que

tern a dizer, o que escasso ou tolo, mas por causa da medida ainda mais

desoladora que nos dao da qualidade da mente e da consciencia da sociedade a

que etas pertencem. E e nesse espirito que Marshall McLuhan deve ser conside-rado: alguem que pouco de substancial tern a dizer mas que revela muito sobre

a permissividade cultural da America de meados deste seculo. (Theodore

Roszak) 45

Sou urn investigador. Faco sondagens. Nao tenho ponto de vista. Nao perma-

neco numa posicao.

38Marshall McLuhan —The Gutenberg galaxy: the making of typographic man. Toronto,University of Toronto Press, 1962; The mechanical bride. Nova York, Vanguard Press, 1951.39Marshall McLuhan — Understanding media. Nova York, McGraw-Hill, 1964.40Marshall McLuhan — The medium is the massage. Nova York, Bantam, 19671 ver Bibliografia] .41

Wilbur Schramm — Men, messages and media: &look at human communication. Nova York,Harper & Row, 1973, p. 125.42

Donald F. Theall — The medium is the rear view mirror: understanding McLuhan. Montreal,McGill-Queen's University Press, 1971, p. xvii.43

Kenneth Boulding — "The medium is the message", in McLuhan: hot and cool, organizado por Gerald Steam. Nova York, Dial, 1967, D. 57.44

George P. Elliott — "Marshall McLuhan: double agent," in McLuhan: hot and cool, orga-nizado por Gerald Steam. Nova York, 1967, p. 67.45

Theodore•Roszak —"The Summa Popologica of Marshall McLuhan", in McLuhan: pro and con. Nova York, Funk & Wagnalls, 1968, p. 257.

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Teorias de Comunicacgo de Massa 337

Qualquer urn em nossa cultura e bem recebido como convidado desde que se

mantenha numa posicão fixa e dai nao se mexa. Assim que tomecar a dar voltase a cruzar fronteiras, 6 urn delinante, a caca autorizada.

0 explorador a totalmente inconstante. Ele nunca sabe em que momenta fait'

uma descoberta surpreendente. E a consistencia 6 urn termo desprovido de sig-

nificado, quando se aplica a um explorador. Se ele quisesse ser consistente, te-

ria ficado em casa. (..•)

Eu n'ao explico...Eu exploro. (Marshall McLuhan) 46

 As ideias de McLuhan sobre os veiculos de comunicack promanam de al-guns pensamentos anteriores de seu mentor, Harold Adams Innis. 47 Innis eMcLuhan tratam os veiculos de comunicagäo como a pr6pria esséncia da civi-

lizacao, e ambos veem o curso da historia como uma manifestacio dos veicu-

los de comunicacäo predominantes na epoca. Innis era urn economista e his-toriador canadense. Emsuas obras mais importantes, The bias of communica-tion e Empire and communications, ele tentou descrever a influencia da co-municacào atravês dos tempos. 48 Em primeiro lugar, Innis viu os meios de co-municagao como extensOes da mente humana. Depois, ensinou-nos que o in-

teresse primordial de qualquer periodo histOrico a uma propensio resultante

dos meios predominantes de comunicacäo que usamos. Veiculos pesados,como o pergaminho, o barro ou a pedra, sao aglutinadores do tempo, propor-cionando uma inclinacäo para a tradicAo. Veiculos aglutinadores do espaco,

como o papel e o papiro, por outro lado, tendem a fomentar a construcâo dei mperios, grandes burocracias, e interesses militares. A fala, como veiculo,encoraja o pensamento temporal, que valoriza o conhecimento e a tradicão.

Sustenta o envolvimento da comunidade e as relagóes interpessoais. Os vei-culos escritos produzem diferentes espêcies de cultura. 0 efeito aglutinador de espaco da escrita produz interesses na autoridade politica e o crescimento

de imperios num sentido espacial. Antecipando-se as explicacOes de McLuhansobre esse ponto, Innis ensinou que a essancia da cultura ocidental hodierna

foi modelada por uma forte inclinaao impressa e espacial. A sua inclinaciopessoal foi expressa nos seguintes termos:

A mecanizacao enfatizou a complexidade e a confusao; foi responsavel por mo-

nopolies no terreno do conhecimento. (...) As condiceies de liberdade de pensa-mento estao ern perigo de serem destruidas pela crencia, a tecnologia e a meta-

nizacao do saber, e, coin elas, a prOpria civilizacdo ocidental.

A minha inclinagao e para a tradicao oral, tal como se refletiu particularmen-te na civilizacao grega, e para a necessidade de reavermos algo do seu espiri-

to.49

Podemos facilmente ver a ligagdo entre as ideias de McLuhan e as do seu

predecessor, mas tambem e evidente que McLuhan foi muito alem das ideiasde Innis ao analisar o impacto dos veiculos de comunicacdo sobre a socie-dade. Em essencia, a teoria de McLuhan pode ser decomposta em algumasproposicOes bAsicas. 5°

 A hipotese mais fundamental de McLuhan éque as pessoas se adaptam aoseu meio ambiente através de certo equilibrio ou proporcdo dos sentidos, e oveiculo principal de comunicagao da epoca gera uma determinada proporcdo

46Gerald E. Steam (org.) — McLuhan: hot andcool. Nova York, Dial, 1967, p. xiii.47

J. W. Carey — "Harold Adams Innis and Marshall McLuhan", in The Antioch Review, 27, 1967,pp. 5-39,48Harold A. Innis —The bias of communication. Toronto, University of Toronto Press, 1951. Empire and communications. Toronto, University of Toronto Press, 1950, 1972.49 Innis —The bias of communication, pp. 190-91.50

Bons resumes da teoria de McLuhan podem ser encontrados nos seguintes trabalhos: Boulding— "The medium"; Tom Wolfe — "The new life out there", in McLuhan: hot and cool, pp. 15-34;Carey — "Innis and McLuhan".

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338 Contextos de Comunicano

sensorial. McLuhan acredita ser isso verdade porque todo veiculo a uma ex-tensao de alguma faculdade humana e os meios de comunicacao exagerameste ou aquele sentido. Nas palavras de McLuhan, "a roda (...) a uma extensio

do pe. 0 livro e uma extensk do olho. (...) 0 vestuario, uma extensão dapele. (...) 0 circuito elatrico, uma extensào do sistema nervoso central."51Seja

qual for o veiculo que predomina, ele influenciara os seres humanos na medi-

da em que afeta o prOprio modo como eles percebem o mundo. Antes do advento da imprensa, os povos tribais eram primordialmente co-

municadores orientados pela audic5o. Estavam emocional e interpessoalmenteprOximos uns dos outros. Para a pessoa tribal, "ouvir era crer". Mas a invencaoda imprensa mudou isso tudo.

 A era de Gutenberg deu origem a uma nova proporcào sensorial, em que a

visa° passou a predominar. A premissa mais basica de McLuhan a respeito do

desenvolvimento da cultura ocidental e que a natureza da imprensa obrigou as

pessoas a adotarem um tipo de percepck linear, lOgica e categiarica. Para

McLuhan, o use do alfabeto "fomentou e encorajou o habit° de perceber todoo meio ambiente em termos visuais e espaciais — particularmente em funciode urn espaco e de um tempo que sat) uniformes.

c,o,n,t,i,n,u,o,s e

c -o-n-j-u-g-a-d-o-s." 52

Mas uma nova era se avizinha, segundo McLuhan. A tecnologia eletrOnicatrouxe de volta o predominio auricular. A tecnologia de Gutenberg criou uma

explosào na sociedade, separando e segmentando o individuo do individuo; aera eletremica criou uma implos5o, levando o mundo a juntar-se de novo,reunido agora numa "aldeia global". Por conseguinte, "esta nos forcando a re-considerar e reavaliar praticamente todo o pensamento, toda a ac5o e toda ainstituicao anteriormente considerados axiomaticos". 53Esse impacto a descritopor McLuhan nas seguintes palavras:

0 circuito eletrico envolve profundamente os homens uns corn os outros. Ain -formacao e despejada sobre nos, instantanea e continuamente. Assim que ainformacao e adquirida, ela a substituida muito rapidamente por informacao

ainda mais recente. 0 nosso mundo eletricamente configurado forcou-nos apassar do habit° de classificacao de dados para o modo de reconhecimento depadroes. Nan mais podemos construir em seq00ncia, bloco por bloco, etapa poretapa, porque a comunicacao instantanea garante que todos os fatores do meioambiente e da experiéncia coexistem num estado de interacao ativa.54

Chegamos assim a tese principal da obra de McLuhan: "0 veiculo e a men-

sagem." 55Essa frase, simultaneamente curiosa e provocante, refere-se a in-

fluencia geral que urn veiculo de comunicacao exerce, independentemente do

seu contend°. Torn Wolfe expressa-os nestes termos: "Näo importa se as redesde televisão nos mostram 20 horas por dia sadicos cowboys desdentando pes-soas a murro ou 20 horas de Pablo Casals zunzunando em seu cello, numa salabranca de pura cultura espanhola. 0 contend° nao importa."56 E é nesse

ponto, evidentemente, que McLuhan diverge da maioria dos pesquisadorescontemporaneos no campb da comunicacao de massa. McLuhan afirma que o

contend° da comunicacao a irrelevante. 0 que realmente faz diferenca navida das pessoas é o veiculo de comunicacao predominante, näo o contend°,do periodo: "Eles são tao preponderantes em suas conseqUéncias pessoais,

51Marshall McLuhan e Quentin Fiore —The medium is the massage.

52 Ibid.

53 Ibid.54

 Ibid.55MacLuhan — Understanding media, p. 7.56Wolfe — "New life", p. 19.

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Teorias de Comunicagao de Massa 339

politicas, econemicas, esteticas, psicológicas, morals, eticas e sociais, quenao deixam intata, imune e inalterada nenhuma parte de nosso ser." 57

Uma Ultima e central distincao a entre os meios de comunicacao quentes etrios. Esses conceitos sao os que mais geram confusao e provavelmente os

mais controvertidos de todos em seus escritos. McLuhan descreve os midiaem funcao do grau em que eles envolvem as pessoas perceptualmente. Os

midia quentes sao aqueles que cont .& dados sensoriais relativamente comple-tos, ou elevada redundancia, na acepcao da teoria da informack. Corn osmidia quentes ha menos necessidade de o percebedor se envolver no preen-chimento dos dados que faltam. McLuhan referiu-se aos midia quentes como

baixos em participacao. Como nos fornecem tudo, os midia quentes criam na

populagao urn "embotamento" ou "sonambulismo". Os midia frios, por outrolado, requerem a participagao do individuo, a quem cabera preencher percep-tualmente os dados que .faltam. Esse elevado grau de participacao gera urn

Eenvolvimento saudavel. importante compreender que o use por McLuhandos conceitos de participacao ou envolvimento nao se refere ao grau de inte-resse ou tempo consumido acompanhando ou prestando atencao a determi-

nado veiculo de comunicacao. Ele refere-se, outrossim, a qualidade completa(quente) ou incompleta (fria) do estimulo. Por exemplo, o filme a considerado

um veiculo quente porque a imagem projetada na tela a completa em todos osdetalhes. 0 espectador de urn filme nao a solicitado a preencher perceptual-

mente seja o que for. Num sentido de teoria da informacao, diriamos que ofilme possui alta redundancia e baixa informacao. A televisao, por outro lado,fornece ao espectador apenas urn esboco, atraves da iluminacao de minirs-culos pontos. Perceptualmente, o telespectador deve preencher os intervalosentre esses pontos visuals na tela. Em suma, ele devera envolver-se percep-

tualmente com o estimulo. Essa distincao é crucial, pois McLuhan conside-

rou-a um ponto fundamental de impacto sobre a sociedade. Conforme eledisse: "Assim, o aquecimento de urn sentido tende a efetuar a hipnose, e o

esfriamento de todos os sentidos tende a resultar em alucinacao." 58

E por isso que McLuhan acredita estar a televisao mudando a pr6pria tessi-

tura da sociedade. Mas o advento da televisao nä° esta isento de problemas.Ele deixou claro que a transferencia de uma especie de veiculo para outro cria

tremendas tenthes na sociedade. Se, por exemplo, urn veiculo quente como o

radio é introduzido em culturas tribais ou nao-alfabetizadas, que estavamacostumadas a veiculos frios, podeth ocorrer uma reacao violenta. E, analo-

gamente, a reorientacao requerida para sociedades quentes como a nossa

adaptarem-se a introducao de um novo veiculo frio como a televisao tem sidoextremamente perturbadora.

Em Understanding media, McLuhan comentou a respeito de varios veiculosde comunicacao. AscitacOes seguintes esclarecem suas ideias a respeito dealguns deles:

Fala:

A linguagem faz pela inteligencia o que a roda faz para o pé e o corpo. Habili-

ta-nos a nos deslocarmos de coisa para coisa corn major desenvoltura e rapidez,e corn urn envolvimento cada vez menor. A linguagem estende e amplia o ho-

mem, mas também divide as suas faculdades. A sua consciencia coletiva ou per-

cepcâo intuitiva e diminuida por essa extensao tecnica da consciencia que e a

fala. (...) A fala atua para separar o homem do homem, e a humanidade da

consciencia cOsmica.59

57McLuhan —The medium is the massage.58McLuhan —Understanding media,p. 32.59 Ibid., pp. 78-80.

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340 Contextos de Comunicagdo

 A Palavra Escrita:

0 alfabeto fonetico a uma tecnologia inigualavel. Houve numerosas espécies de

escrita, pictografica e silabica, mas ha apenas urn alfabeto fonetico em que te-

tras semanticamente desprovidas de significado sac usadas para corresponder a

sons semanticamente desprovidos de significado. Essa divisao e esse paralelismorigidos entre urn mundo visual e urn auditivo foi abrupta e implacavel, cultural-

mente falando. (...) é o resultado da sUbita ruptura entre a experiencia auditiva

e a experiencia visual do homem. Somente o alfabeto fonetico faz uma

distincao tao profunda na experiencia, dando ao seu usuario urn olho por urn

ouvido e libertando-o do transe tribal da ressoante magia verbal e da teia de pa-

rentesco.60

I mprensa:A repetibilidade e o aide() do principio mecanico que tern dominado o nosso

mundo, especialmente a partir da tecnologia de Gutenberg. (...) Corn a tipogra-

fia, o principio do tipo mOvel introduziu o meio de mecanizacao de qualquer

trabalho artesanal pelo processo de segmentacao e fragmentacao de uma acao

integral. 0 que tinha comecado corn o alfabeto como uma separacao de gestos,

vistas e sons mUltiplos no mundo falado atingiu urn novo nivel de intensidade,

primeiro corn a xilografia e depois corn a tipografia.61

Fame:

Portanto, a estreita relacao entre o mundo real do filme e a fantasia privada da

palavra impressa a indispensavel a nossa aceitacao ocidental da forma filmica.

0 filme, em sua forma real e em sua forma de roteiro ou script, esta inteiramen-

te envolvido corn a cultura do livro.62

Radio:0radio afeta a maioria das pessoas intimamente, pessoa-a-pessoa, oferecendo

urn mundo de comunicacao nao-falada entre o escritor-locutor e o ouvinte. Esse

o aspecto imediato do radio. Uma experiencia privada. As' profundidades sub-

li minares do radio estao carregadas de ecos ressoantes dos antigos cornos e

tambores tribais. 63

0 poder do radio para retribalizar a humanidade, sua inversao quase instant'anea

do individualismo ern coletivismo (...) 64'

Televisao:

A TV nao funcionara cornbackground. Ela prende-nos. Temos de estar corn ela.

(...) 0 veiculo frio da TV promove estruturas profundas tanto na arte como na di-

versa°, e cria tambem o envolvimento da audiencia em profundidade (...) difi-

cilmente existe uma so area de relacOes estabelecidas, do lar e da igreja a es-

cola e ao mercado, que nao tenha sido profundamente perturbada em seus pa-

droes e contextura.65

 Abordagens Empiricas

Aobra de McLuhan e Innis a primordialmente histOrica e artistica. Em contras-

te corn essa obra situa-se urn vasto acervo de literatura sobre a pesquisa em-pirica relacionada corn os êfeitos da comunicacao de massa. Essa literaturadifere do enfoque de McLuhan em aspectos fundamentais. Em primeiro lugar,apelia-se substancialmente na pesquisa da.crência social empirica. Em segundolugar, fornece-nos urn complexo ponto de vista mediacional. Aoinves da

60 Ibid., PP. 83-84.

61 Ibid., P. 160.

62 /bid., p. 286.63 Ibid., P. 299.64 Ibid., p. 304.65 /bid., p. 312.

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Teorias de Cornup /cacaode Massa 341

abordagem de McLuhan, o enfoque da ciencia social fornece uma base de sus-tentacao para \Arias especies de complicados efeitos de interacao no seio dasaudiencias. Finalmente, a abordagem da ciencia social é orientada para o con-teal°, propiciando informacao especifica sobre tOpicos tais como os efeitosde descricOes de violência nos veiculos de comunicacao de massa. Esse enfo-que relaciona-se corn a pesquisa orientada para o grupo discutida na secao

previa, onde enfatizamos o aspecto de difusao dessa area teOrica; trataremosaqui de algumas generalizacOes teOricas a respeito dos efeitos de audiéncia.A pesquisa sobre os efeitos dos veiculos de comunicacao de massa tem uma

histOria complicada. Os resultados da pesquisa tern sido frequentemente in-conclusivos e confusos. Os teOricos tem-se visto em apuros para formular ge-neralizacOes sobre os modos como as mensagens comunicadas por veiculos demassa afetam as pessoas. As tentativas originais nesse sentido resultaram naconclusao de que nao existem efeitos diretos, de que as mensagens servemprincipalmente para reforcar atitudes e comportamentos. Essa posicao foi ar-ticulada do modo mais completo por Joseph Klapper. Em anos mais recentes,outros teOricos tentaram it além da simples hipotese do reforcamento. Duasdessas abordagens recentes, a saber, a abordagem de usose gratificac5es e omodelo de dependência, sera() resumidas em seguida. (Nao trataremos dos

resultados de pesquisas sobre efeitos especificos, como os decorrentes dasapresentacOes de violencia66) Nesta secao, concentrar-nos-emos nos concei-tos e nocOes gerais de efeito, tal como se refletem nesses tres enfoques teOri-cos.

 A Abordagem de Reforcamento

As primeiras pesquisas empirical foram integradas corn extrema clareza porJoseph Klapper em The effects of mass communication. 67Klapper, ao recapi-tular a literatura de pesquisa sobre os efeitos da comunicacao de massa, de-senvolveu cinco amplas generalizacOes ou proposicOes teOricas sobre o t6-pico. Essas generalizacOes sao transcritas em seguida:

1. A comunicacao de massa nao serve ordinaviamente como causa necessaria

e suficiente dos efeitos sobre a audiència, mas funciona, outrossim, através de

urn nexo de fatores e influèncias mediadores.

2. Esses fatores mediadores sao de tal natureza que fazem tipicamente da co-

municacao de massa um agente contribuinte mas nao a causa exclusiva, num

processo de reforcamento das condicOes existentes. (...)

3. Em tais ocasiOes, quando a comunicacao de massa funciona ao servico da

mudanca, a muito provavel que exista uma de duas condicees. Ou:

a. se comprova que os fatores mediadores sao inoperantes e o efeito dos

midia sera direto; oub. os fatores mediadores, que normalmente favorecem o reforco, impelem

eles prOprios a mudanca.

4. Existem certas situacties residuais em que a comunicacao de massa parece

produzir efeitos diretos, ou diretamente e de per si servir a certas funcOes psico-fisicas.

5. A eficacia da comunicacao de massa, seja como agente contribuinte ou

como agente de efeito direto, a afetada por varios aspectos dos prOprios rnidia e

das pr6prias comunicaciaes, ou da situacao de comunicacao (.• •) 68

Esses resultados foram resumidos em numerosos estudos criticos, Ver, por exemplo, W. Phi-li ps Davidson, James Boylan e Frederick Yu — Mass media: systems and effects. Nova York,Praeger Publications, 1976. Ver tambem Walter Weiss —"Effects of the mass media of communication", in The handbook of social psychology, ed., organizado por Gardner Lindzeye Elliott Aronson, Reading, Massachusetts, Addison-Wesley, 1969, pp. 77-195.67Joseph Klapper — The effects of mass communication. Glencoe, Free Press, 1960.68

 Ibid., pp. 8-9.

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34 2 Contextos de Comunicagäo

 A primeira generalizacao é que as tentativas de persuasao dos veiculos decomunicacao de massa tendem a reforcar as atitudes existentes na audiencia.

Se realmente ocorre uma mudanca de atitude, ela sera provavelmente secun-daria, e a conversao é minima na persuasao de massa. Esse efeito de reforca-

mento deve-se provavelmente a certo nOmero de fatores interatuantes. 0 pri-

meiro destes e a predisposicao da audiencia, causando a exposicao seletiva, a

percepcao seletiva e a retencao seletiva. Segundo parece, as pessoas prestamatencao a informacao que corrobora pontos de vista e opini6es ja existentes e

recordam essa informacao. 0 material antagOnico pode ser evitado ou distor-cido. Outra variavel mediadora no processo de reforcamento sao as normas do

grupo. Os individuos sao altamente influenciados pelos grupos a que perten-cem, e a persuasao de massa sera mediada pela interacao do grupo. Essa ideiafoi bem desenvolvida nas teorias de difusao mUltipla ( multistep flow), coma 0.

vimos. Uma terceira variavel mediadora e o pr6prio processo de disseminacdo

e, seguindo o exempla de investigadores anteriores, coma Katz e Lazarsfeld,Klapper assinalou a natureza interpessoal de tal disseminacao. Ainda namesma linha, a lideranca de opiniao tambem influencia os efeitos da comuni-

cacao de massa. Finalmente, Klapper indicou a natureza dos midia numa so-

ciedade livre como fator interveniente. Como os midia sao empresas corner-ciais cam o objetivo de lucro, des sao sensiveis as necessidades do pUblico e

tentam utilizar atitudes e opiniOes preexistentes em seus apelos. Em suma, atendència dos midia mais para reforcar do que para converter pode resultar de

numerosas variaveis interatuantes.E possivel, evidentemente, que ocorram mudancas de atitude, sobretudo

quando as normas do grupo e outros fatores intrapOblico ja sao conflitantes. Aterceira generalizacao na sintese de Klapper a que certas condicOes antece-

dentes previsiveis precederao a mudanca de atitude. A primeira dessas condi-

cOes previas é que os fatores mediadores no pOblico sejam inoperantes, e asegunda a que os prOprios fatores mediadores criem pressao no sentido da mu-danca. Tais efeitos diretos serao particularmente notOrios entre os neutros,

aqueles que nao tem opiniOes previas sabre o tOpico da persuasao.

 A quarta generalizacao relaciona-se diretamente cam a antecedente. As si-tuacOes particulares em que efeitos persuasivos diretos podem ocorrer sac)enumeradas da seguinte maneira: urn declinio dos processes seletivos, normasconflitantes ou reduzidas do grupo, influencia pessoal reduzida e elevada per-

suasibilidade como trace de personalidade. A quinta generalizacao a que os efeitos de massa sao influenciados par cer-

to nOrnero de fatores dos midia, da mensagem e da situacao. As generaliza-cOes previas tratam primordialmente de fatores na audiencia; esta Ultima pro-

posicao alerta o leitor para a presenca de fatores mediadores na fonte, men-

sagem e situacao. Tais fatores incluem a credibilidade da fonte, a credibili-dade do veiculo, a organizacao da mensagem, as apresentacOes unilateraisversus bilaterais, a repeticao e outros.

 A Abordagem do Uso e Gratiricagão

Em anos recentes, registrou-se uma crescente insatisfacao cam a teoria do re-

forcamento acima descrita em suas linhas gerais. 0 problema esta em que essateoria traditional a primordialmente linear, postulando uma relacao causal damensagem para o efeito. Esse modelo adota a forma de mensagem-audiencia-

varieveis mediadoras-efeito. Talvez isso constitua urn paradigma retrograde. As

abordagens resumidas nesta secao e na seguinte abandonam o model° demensagem-para-efeito, em sua busca de outras explicacoes.

O enfoque de usos e gratificacoes concentra-se mais no consumidor, omembro da audiencia, do que na mensagem. Essa abordagem comeca com a

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Teorias de Comunicacao de Massa 343

pessoa como seletor ativo dos veiculos de comunicacao de massa, urnpontode vista diferente daquele que ye a pessoa como receptor passivo.69A posturabasica foi assim resumida:

Comparada corn os estudos clessicos sobre efeitos, a abordagem de usos e gra-

tificacCies adota como ponto de partida o consumidor de midia em vez da men-

sagem dos midia, e explora o comportamento de comunicacao do consumidor

em termos de experiència direta corn os midia. Ve os membros da audiencia uti-lizando ativamente o conteádo dos midia, em vez de serem passivamente mani-

pulados pelos midia. Assim, nä° pressua uma relacdo direta entre mensagens

e efeitos mas postula, pelo contrário, que os membros da audiencia usam as

mensagens e que esse use atua como variavel interveniente no processo de efei-to. 70

Assim,o paradigma para essa abordagem obedece a secieencia pessoa-mensa-gens escolhidas-uso-efeito. Lamentavelmente, essa teoria ainda a incompletae algo esquemetica. Os resultados de pesquisas nao foram totalmente integra-dos num quadro de referencia explicativo, mas as ideias basicas merecem ser

examinadas.Existem cinco elementos no modelo. Em primeiro lugar, os membros da

audiencia sao ativos; eles consomem as comunicacees de massa na base de es-colha, a fim de satisfazerem objetivos pessoais, como entender e resolver pro-blemas. Segundo, os membros da audiencia tomam a iniciativa de correlacio-nar a comunicacao de massa com as necessidades individuals. As pessoassubmetem ativamente as mensagens mediadas a satisfacao de suas prOpriasnecessidades. Esse ponto de vista nega que a audiencia seja afetada passiva eincondicionalmente pelas mensagens. "Em outras palavras, as opiniees indi-viduals e a opiniao ptiblica tern poder em face dos midia aparentemente oni-potentes."71Em terceiro lugar, as comunicacees de massa concorrem cornoutras fontes de satisfacäo de necessidades. Aspessoas tern urn espectro denecessidades, das quais somente algumas podem ser satisfeitas pelos veiculos

de comunicacao de massa.Os dois elementos finals sâo metodolOgicos. 0 quarto requer maior con-

fianca nos depoimentos pessoais dos membros do pCiblico a respeito do modocomo usam os midia. Finalmente, acredita-se que uma compreensdo maiscompleta dos usos dos midia pelo ptiblico deve preceder as investigacees so-bre as relacoes entre midia e cultura.

Em conclusao, quaisquer que sejam os efeitos que ocorram, eles se -0 subpro-dutos das pessoas que usam os veiculos de comunicacao de massa. As pesqui-sas que utilizam esse modelo investigam "(1) as origens sociais e psicologicasde (2)necessidades, as quais geram (3) expectativas dos (4) veiculos de comu-nicacao de massa ou outras fontes, as quais levam a (5)padrees diferenciaisde exposicao aos midia (ou ao comprometimento em outras atividades), resul-tando em (6) gratificaceo de necessidades e (7)

outras conseqiiencias, talveznao previstas, em sua maioria".72

690 material para esta secão prov6m de Elihu Katz, Jay Blumler e Michael Gurevitch — "Uses of mass communication by the individual", in Mass communication research: major issues and  future directions, organizado por W. Phillips Davidson e Frederick Yu. Nova York, PraegerPublishers, 1974, pp. 11-35. Ver tamb6m Jay Blumler e Elihu Katz lorgs.) — The uses of communications. Beverly Hills. Sage Publications, 1974.70

Katz, Blumler e Gurevitch —"Uses of mass communication", p. 12.71 Ibid., p. 16.72 p. 14.

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Sistema de Mfdia

(Varia o (-lamer°e a centralidadedas funcOes deinformac5o)

Sistemas de Sociedade

(Varia o graude estabilidadeestrutural)

Audiéncias(Varia o grau dedependencia dainformack, dosmidia)

344 Contextos de Comunicacão

0 Modelo de Dependancia

Outra formulacäo recente, relativa aos efeitos da comunicacdo de massa, e omodelo de dependencia de Ball-Rokeach e DeFleur. 73 Esse modelo da urnpasso no sentido de completar o esqueleto fornecido pela abordagem de ne-cessidades e gratificaceies. Tal como a sua predecessora, essa abordagem tarn-bern rejeita os pressupostos causais da mais antiga hipotese de reforcamento.

Para superar essa fraqueza, os autores adotam urn amplo enfoque sistémico.Ernseu modelo, propOem uma relacao integral entre audiencias, midia e o sis-tema social ern seu todo. Assim, qualquer tentativa para explicar os efeitosdos midia deve levar ern conta os fatores sociais mais amplos: "E atraves daconsideracâo desses conjuntos de variaveis, de urn modo individual, interativoe sisternAtico, que pode ser adquirida uma compreensao mais adequada dosefeitos de comunicacäo de massa." 74

No centro dessa teoria esth a nocao de que as audiencias dependem da in-formacâo dos midia para satisfazer necessidades e atingir metas. Vemos aquique essa abordagem e compativel corn as ideias basIcas do modelo de usosmas, ao inves deste, o modelo de dependencia pressupOe uma interaglo tri-pla entre midia, audiencias e sociedade. Essa interack'sistémica a ilustradana Figura 88.75 Esse diagrarna indica que varia o grau de dependencia da au-diencia da informacäo veiculada pela comunicacdo de massa. Sao assinaladasduas fontes de variac5o. A primeira e o namero e a centralidadedas funcdesde informacao que esta sendo servida, e a segunda e o grau de estabilidadeestruturalno sistema social.

Sabemos que os midia servem a uma vasta gama de funcães, tais como mo-nitorar as atividades governamentais e fornecer diversdo. Para qualquer grupodado, algumas dessas funcOes sac mais centrals ou mais importantes do queoutras. A dependencia de urn grupo da informack proveniente de um veiculode comunicack de massa aumenta na proporck ern que esse veiculo fornecemais informacäo de interesse fundamental para esse grupo.

A

Figura 88. Sociedade,

midia e audiencia: rela-geies reciprocas. (Extrai-

do de Si. Ball-Rokeache M.L. DeFleur — "A de-

 pendencymodel of mass-media effects", re-

 produzido de Communi-cation research, v. 3, n9

1, janeiro de 1976, p. 8,

corn permissão dos edi-

tores, Sage Publications, Inc.)

V

 

Efei osCognitivosAfetivos(Emocionais)Comportamentais

735.). Ball-Rokeach e M.L. DeFleur —"A dependency model of mass-media effects", inCommunication Research, 3, 1976, pp. 3-21. Excertos de "A dependency model of mass-mediaeffects", por Ball-Rokeach e M.L. DeFleur são reproduzidos de Communication research, v. 3,n9 1, janeiro de 1976, pp. 1-21, com permissão dos editores, Sage Publications, Inc.74 Ibid., p. 5.75 Ibid., p. 8.

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Teorias de Comunicacão de Massa 345

 A segunda fonte de variageo de dependencia e a estabilidade social. Quando amudanga e o conflito sociais atingem grau elevado, as instituigOes, crengas e

praticas estabelecidas sao desafiadas, forgando as pessoas a fazerem reavalia-gees e opgiies. Em tais momentos, aumenta a confianga nos meios de comuni-cagao de massa para a obtengao de informagao.

O modelo de dependencia inclui tres tipos de efeito: cognitivo, afetivo (ou

emocional) e comportamental. Os efeitos da comunicagao de massa, dentrodessas tres areas, sao uma fungao do grau em que as audiéncias dependem dainformagao fornecida pelos midia. Os autores descrevem cinco tipos de efei-tos cognitivos. 0 primeiro deles é a resolucäo da ambiguidade. Os aconteci-mentos no meio ambiente criam freqeentemente ambiguidades. Quando estase faz presente, aumenta a dependencia dos midia. Nesses momentos, o poder 

das mensagens mediadas para estruturar o entendimento ou definir situagaes

pode ser muito grande. Em outras alturas, quando a ambiguidade a escassa,esse efeito pode ser muito reduzido.

O segundo efeito cognitivo é a formageo de atitude. A seletividade e outros

processos mediacionais descritos por Klepper e pelos te6ricos da difusaoentram provavelmente em jogo nesse efeito. Em terce;iro lugar, a comunicagaode massa cria a fixacao de agenda (agenda setting). 76 Nesse ponto, as pessoasusam os midia para decidir quais sao as questaes importantes e corn o que de-vem preocupar-se. A fixagao de agenda 6 um processo interacional. Os tOpi-

cos sac) escolhidos pelos midia e disseminados atraves de canais de massa.Destes, as pessoas escolhem as informagOes de acordo corn seus interesses

individuals, suas caracteristicas psicolOgicas e sociais.0 quarto efeito cognitivo é a expansg o do sistema de crengas. A inforniagao

pode suscitar uma ampliagao do ntimero de crengas em categorias tais como areligiao ou a politica, e tambem pode aumentar o nOrnero de categorias decrengas de uma pessoa. Urn efeito cognitivo final é o esclarecimento de valo-res. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando os midia precipitam conflitos devalores ern areas como a dos direitos civis. Diante de tais conflitos, os mem-

bros da audiencia sao motivados para esclarecer os seus pr6prios valores.

Os efeitos afetivos referem-se a reagOes emocionais e sentimentos. Estadoscomo medo, ansiedade, disposigao de animo ou alienagao podem ser afetadospela informagao veiculada. E tambern podem ocorrer efeitos no dominio docomportamento. A ativacão, iniciando urn novo comportamento, e a desati-vacao, cessando antigos comportamentos, podem acontecer em resultado dainformagao recebida atraves dos midia.

O ponto importante dessa teoria a que as mensagens dos midia so afetarao

as pessoas no grau em que elas sec) dependentes da informagao por eles trans-mitida. Em suma, "quando as pessoas nä° tern realidades sociais que forne-gam quadros de referencia adequados para compreensao, agao e evasao, equando as audiências dependem, desse modo, da informagao recebida atraves

dos veiculos de comunicagao de massa, tais mensagens podem ter numerososefeitos de alteragao".77

Teorias de Comunicano Politica, Opiniao Ptiblica e Propaganda

Nas duas Oltimas segOes tratamos de teorias que se ocupam da questa° doimpact() da comunicagao de massa sobre a sociedade. Agora, nesta segao e naprOxima, continua sendo examinada essa questa° mas tambern se oferecem

76 A funcào de fixacäo de agenda dos veiculos de comunicacdo de massa tern recebido

considerAvel tratamento em anos recentes. Ver, por exemplo, J. McLeod, L. Becker ef. Byrnes —"Another look at the agenda-setting function of the press", in Communication Research, 1, 1974,pp. 131-66.77 Ball-Rokeach e DeFleur — "A dependency model", p. 19

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Contextos de Comunicacão

elementos para uma compreensào clara da terceira questäo equacionada noinicio deste capitulo: o impacto da sociedade sobre a comunicacdo de massa.

E abundante a literatura de ciencia politica e outras disciplinas que trata doamplo tema social da comunicacao politica, opiniäo pUblica e propaganda.

Como essas teorias se relacionam estreitamente com a comunicacdo de massa,é importante fazermas uma pausa, ainda que breve, neste ponto de nossa jor-

nada &raves da teoria da comunicacão. Comecamos corn urn trabalho muitoconhecido sobre os usos simbolicos da politica.

Os Usos Simbólicos da Politica

Murray Edelman desenvolveu uma postura interacionista simbelica em que avida politica é vista como uma especie de conversdo de muitos gestos corn-plexos. 78 (Talvez o leitor deseje reler alguns trechos do capitulo 3, antes de ler 

a respeito da teoria de Edelman.) Ele tambem se apoiou substancialmente em

varios conceitos sernanticos, nos quais o significado é visto como uma funcaoda percepcdo individual.

 A tese de Edelman diz que "as formas politicas passam a simbolizar, portan-

to, aquilo que grandes massas de homens necessitam acreditar a respeito do

Estado para se tranqUilizarem. Sao as necessidades, as esperancas e as anges-tias que determinam os significados". 78Edelman define um simbolo como aqui-lo que a usado para representar algo que näo a ele mesmo. Os simbolos ex-

pressam impressOes, sentimentos e associacOes no percebedor. 0 simbolo decondensa45o, politicamente potente, a uma combinacao de muitos sentimen-tos, condensados num ato, evento ou signo. Edelman reiterou o ponto de vista

da sernantica geral de que os significados estao nas pessoas, nao nos simbolos:"Os simbolos politicos expressam em forma concentrada aqueles significadosque os membros do grupo criam e mutuamente reforgam." 8°

 As duas formas simbolicas que se apresentam repetidamente na vida poli-tica sac) o rito e o mito. Ritos e Mitos transcendem o fluxo e refluxo das noti-

cias cotidianas; sao persistentes e duradouros. Estudando os rituais e os mitos

de uma sociedade, pode-se aprender o que a importante para as pessoas. Urnritual é urn ato fisico que envolve simbolicamente as pessoas como urn grupo.

Poe a descoberto seus sentimentos de afinidade e reforca o sentimento de queo grupo é solido e suas dissensOes minimas. Urn mito, ou crenca social, serve

as mesmas funcOes do rito e reforcam-se mutuamente. Os dois mecanismos

primarios que determinam o significado simbelico da politica seo a adocdo deum papel e a tensOo, como foi explicado por Edelman.

Uma vez especificadas as formas de interacäo simbalica em politica e examina-

das as suas functies politicas, torna-se claro que alguns mecanismos sócio-psico-

lOgicos comuns as vinculam. A adocão de papel e urn tema central, especial-

mente poderoso para influenciar o comportamento dos administradores pUblicose dos lideres politicos. Uma tensao continua entre ameaca e tranqiiilizacão h

outro tema central, explicando as reacties do ptiblico aos simbolos politicos. 81

No livro, Edelman examinou muitas especies diferentes de simbolos politicos,incluindo o cumprimento das decithes administrativas, a lideranca, o ceneriopolitico e a linguagem.

78 Murray Edelman — The symbolic uses of politics. Urbana, University of Illinois, 1964; Politicsas symbolic action. Nova York, Academic Press, 1971. Ver tambem "The language of parti-cipation and the language of resistance", in Human Communication Research, 3, 1977, pp.199-70.79 -Edelman — Simbolic uses,p. 2.80 Ibid., p. 11.81 Ibid., p. 188.

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Teorias de Comunicagão de Massa 347

 A primeira area de simbolismo politico é o cumprimento das decisOes admi-

nistrativas. As leis, normas e regulamentos que se estabelecem na sociedade

resultam de uma especie de adocao de papel em escala de sociedade. Os or-

gaos que impOem o cumprimento da lei e as reparticOes administrativas assu-

mem papeis executivos no sentido meadiano. Os simbolos significativos que

passam a ser as nossas leis e normas sac) criados atraves desse processo de

adocao de papel: "Os que impOem a lei e aqueles a quem a lei é 'imposta'assumem o papel do violador potencial e o papel de sua vitima. De suas rea-

ciies a essa mUtua adocao de papeis resultam as leis e regras, tal como sdorealmente praticadas: a especificacao de escapatOrias, as penalidades e as re-

compensas que refletem um ajustamento aceitavel a esses papeis incompati-veis."82Mais tarde, os papeis representam a realizacio dos prOprios desejos,

esperancas e objetivos pessoais. Esses pape is de imposicao de cumprimento dalei passam a simbolizar seguranca para o priblico e funcionam, pois, simboli-camente para induzir aquiescencia.

Os lideres politicos como individuos tambem assumem valor simbolico para

o pUblico. 0 lider torna-se uma representacão de partes do prOprio Estado. Elepode simbolizar os beneficios e danos governamentais percebidos. "0 fascinio

do funcionario oak() existe fundamentalmente por causa do que ele simbo-

liza para os seus seguidores." 83 Alem disso, o "duelo dramathrgico" de urnlider corn os problemas mundiais e nacionais tende a simplificar as complexi-dades do mundo para o individuo, enquanto, simultaneamente, promove osentimento de realizacào. Sem essa especie de lideranca simbOlica, as massasficariam confusas e desesperadas. Esse ponto de vista é repetidamente encon-

trado nos escritos sobre opinião ptiblica e propaganda. Veremos, por exemplo,

que Jacques Ellul adotou urn ponto de vista muito semelhante sobre a funcäoda propaganda.

Os cenarios ern que se desenrolam os eventos politicos assumem frequente-mente valor simbOlico. A seguinte citacao ilustra esse ponto.

A sala de tribunal, a delegacia de policia, a camara legislativa, o pavilhao deconvenciies partidarias, o gabinete presidencial ou ate de prefeito, o encoura-cado ou o salao onde a aceita a oferta formal de rendicao na guerra, tudo issopossui suas distintas caracteristicas de encenacao dram'atica, planejada pelos di-retores de cena e atores do evento, e esperada por seus respectivos pUblicos.84

Os cenarios politicos ski, por natureza, arquitetados de forma diferente doscenarios comuns em que pessoas comuns atuam em suas rotinas cotidianas.

 Assim, os cenarios politicos exercem frequentemente seu efeito atraves dequalidades tais como imponéncia, pompa e formalismo. Na esteira de intera-cionistas como Burke e Duncan, Edelman assinalou que o cenArio politico tern

muito de cenário dramatargico, envolvendo os aspectos fisicos e sociais doevento. Assim, o ambiente em que o evento ocorre tambem adquire valor sim-

bolico como parte do cenArio. 0 conceito de Boorstin de pseudo-evento, de

que trataremos algumas paginas adiante, relaciona-se corn a teoria de Edel-man nesse ponto.

E claro, os aspectos simbOlicos da politica incluem a linguagem como partei mportante. Edelman escreveu extensamente sobre o papel da linguagem na

vida politica. Como ele explicou: "Atraves da linguagem, urn grupo pode nän

so conseguir urn resultado imediato mas tambem ganhar a aquiescéncia da-queles cujo apoio duradouro a necessärio. Mais do que isso, e o discurso e a

resposta a ele que mede a potencia politica, ndo a quantidade de forca exer-

82 Ibid ., p . st83

 Ibid., p. 90.84 Ibid., p. 95.

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34 8 Contextos de Comunicacão

cida." 85 Edelman adotou uma vigorosa postura interacionista simbOlica ao de-monstrar que a linguagem e o significado sao fenomenos grupais que resultamda adocao de papéis e da interacao.

Mas o valor simbOlico da linguagem envolve mais do que o significado de

palavras. Estilos e formas particulares de linguagem tambem deixam sua marcana inflancia politica. Numerosos elementos estilisticos ou formais sao impor-

tantes na comunicacao politica. Entre eles se incluem as ordens, definicees,enunciados de premissas, inferéncias e descricOes. Esses elementos podemcombinar-se de %/arias maneiras para produzir quatro estilos politicos basicos.0 primeiro estilo e exortativo, isto e, persuasivo e planejado para granjear 

apoio. Mais do que qualquer outro estilo, ele tem em mira a massa do pall-co. Apäia-se substancialmente na linguagem abstrata e ambigua, recorrendo a

termos como "democracia", "justica" etc.; e e frequentemente usado parail udir ou confundir. 0 pressuposto implicito no use da exortacao é mais im-portante do que o conteUdo da fala ou discurso. 0 significado formal do esti-

lo exortativo e particularmente importante, porque reforca uma crenca na par-ticipacao. Independentemente da concordancia ou discordancia do individuo

em relacâo a politica pUblica, pelo menos faz-se o individuo acreditar queesta participando nela.

 A segunda forma de linguagem politica é a juridica. Ea linguagem dos do-cumentos, tratados, contratos etc. Apesar da suposicao comum em contrario,a linguagem juridica e ambigua, como todas as linguagens. A necessaria inter-

pretack e vital para afetar o pablico. A pr6pria forma juridica reforca a opi-niao do publico de que existe uma certa qualidade objetiva e precisa na lei. A terceira forma importante de Edelman é a administrativa . E o estilo dos re-

gulamentos, o chamado burocrates. Simboliza a autoridade e a "finalidade -err-bitraria". Aresposta pUblica ao estilo administrativo a frequentemente de hu-mor ou de cOlera.

 A especie final de linguagem politica é a da barganha. Ao invés do estiloexortativo, "o negociador oferece uma transacao, em lugar de fazer urn ape-lo". 86Quando a barganha esta em desenvolvimento, a reacao pUblicaevitada. Por conseguinte, o p6blico talvez nunca chegue a saber o que esta

sendo realmente dito durante a negociacao. Mas o valor simbOlico e transmi-tido, primordialmente, através da encenacao, e reforca a sensacao de que lide-

res judiciosos e argutos estao elaborando cuidadosamente a melhor politicapara o povo. ComfreqUencia, a negociacao é um show planejado mais paraapaziguar um grupo de pessoas do que para ajuda-las: "Quando [os recursos

de barganha] sao flagrantemente desiguais, como a quase sempre o caso, aparticipacao torna-se urn simbolo de influancia que encoraja mais a imobili-dade complacente do que a obtencao de ganhos substantivos para os que naodispOem de poder." 87

Podemos resumir adequadamente o pensamento de Edelman sobre simbolis-mo politico com o seguinte trecho:

A tese basica a que a massa reage aos simbolos politicos correntemente visi-

veis: nao a "fatos" nem a cOdigos morais implantados no cal-Ater da alma, mas agestos e falas que comptiem o teatralismo do Estado. (...) Portanto, sae as awes

politicas que modelam principalmente as necessidades e o "conhecimento"

politico dos homens e nao o inverso. A suposicao comum de que aquilo que o

governo democratic° faze sempre, de algum modo, uma resposta aos cOdigos

morais, desejos e conhecimentos enraizados no intimo das pessoas, a lac) inver-tida quanto tranqUilizadora. 88

85Ibid.,p1 1486Ibid., p 141.87

Edelman — "The language of participation", p 160.88Edelman, Symbolic uses, p. 172.

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Teorias de Comunicacão de Massa 349

Nao ha dOvida que essa teoria se reveste de grandes implicagOes para a

comunicacao de massa como urn campo de estudo. Tambern reflete quasemeio seculo de investigacao na area da opiniao pOblica e propaganda, a qualnos dedicaremos agora em nosso exame da comunicacao de massa.

Teorias de Opiniäo Ptiblica e Propaganda

0 tOpico da propaganda tern interessado a cientistas politicos e outros durante

a maior parte do seculo atual. Ela foi examinada como uma ameaca a humani-

dade, como um fen6meno objetivo do comportamento humano e como um

desafio a pesquisa. Numerosos autores abordaram o terra da propaganda emuitos pontos de vista diferentes ganharam destaque. Kecskemeti distinguiu

quatro temas principais da teoria da propaganda. 890 primeiro deles é a rela-cao entre propaganda e educacao. Alguns autores, como Doob, tentaram dis-tinguir entre propaganda e educagao. Outros autores sac) propensos, comoEllul, a incluir a educacao como parte da propaganda. Um segundo terra im-

portante na analise da propaganda no seculo XX é a relacao entre propagandae falsidade. Certos te6ricos definiram a propaganda como a perpetuagao da

falsidade, enquanto outros parecem estar menos certos acerca dessa relacao.Uma das caracteristicas de certos escritos sobre propaganda é que se concen-

tram nas novas estratagias de persuasao de massa. Esses autores assinalam va-rias taticas previamente desconhecidas e tortuosas perpetradas contra o

co de todos os quadrantes do mundo. Urn quarto terra importante na analiseda propaganda é o conceito sovietico-marxista, segundo o qual toda comuni-

cacao do Estado é vista como propaganda (não se trata de um termo pejora-tivo), e a Unica distingao é entre tipos revolucionarios e nao-revolucionarios.

Uma vez mais, ao atentarmos para a teoria da propaganda, deparamos corn asduas escolas principais de pensamento assinaladas no inicio do capitulo: o

ponto de vista mediacional do grupo e a teoria da sociedade de massa.

0 conceito de opiniao palica tambern tern sido de grande interesse naciencia politica. Sempre que a discutido o terra de relacoes de governo, tor-

na-se importante a ideia de opiniao pablica. Tal como o seu conceito-irmao, apropaganda, o de opiniao pOblica tambern tern sido encarado sob muitos as-pectos diferentes. 0 conceito passou a representar coisas tais como opiniOes

publicamente expressas, opiniaes a respeito de questdes póblicas e opiniäesdo grande pOblico como um grupo, ern lugar de grupos menores de indivi-duos. Esta Ultima definicao e a mais comum e aquela que sera enfatizada nasteorias deste capitulo. 90 Na realidade, e muito dificil separar as obras sobreopiniao pOblica das que dizem respeito a propaganda. Ern certo sentido, por-

tanto, devemos considerar opiniao ptiblica e propaganda conceitos-irmaos,como fez a maioria dos autores nesse campo. Nenhuma distincao nitida sera

apresentada nesta secao entre teorias de opiniao pOblica e teorias de propa-ganda.

E impossivel cobrir neste capitulo todas as linhas importantes de pensamen-to na area da comunicacao politica e uma vez mais nos defrontamos com oproblema de selecionar teorias representativas. Nas secOes seguintes, sera()analisados quatro enfoques sobejamente conhecidos.

89Para uma recente e excelente visdo geral da teoria, ver Paul Kecskemeti —"Propaganda", in

 Handbook of communication, organizado por Ithiel de sola Pool et al. Chicago, Rand McNally,1973, pp. 844-70; urn estudo correlato sobre persuasão politica 6 o de David 0. Sears e RichardE. Whitney — "Political persuasion", in Handbook of communication, pp. 253-89.90

Para uma boa panorämica da literatura sobre opiniao ver Ithiel de sola Pool, "Publicopinion", in Handbook of communication, pp. 779-835.

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350 Contextos de Comunicacao

Walter Lippmann sobre Opiniäo Publica

Walter Lippmann foi urn dos mais famosos jornalistas dos EUA. E conhecido por seus escritos jornalisticos, seus discursos e conferencias, e por seus comentà.-

dos sociais2 1 Urn dos livros mais populares de Lippmann, urn classico na area,

é Public opinion, editado ern 1921. 92 Basicamente, ele adotou o ponto de vista

de que o pOblico nä° reage aos eventos reais no seu meio ambiente mas a urn"pseudo-meio ambiente" ou, na expressao dele, "as imagens formadas emnossas cabecas". Assim, o modelo de Lippmann interp6e uma imagem entre o

pUblico e o meio ambiente:

Pois o meio ambiente real a simplesmente grande demais, complexo demais e

transit6rio demais para urn conhecimento direto. Nan estamos equipados para

lidar corn tanta sutileza, tanta variedade, tantas perrnutas e combinacOes. E,

embora tenhamos de atuar nesse meio ambiente, temosde reconstrui-lo de

acordo corn urn modelo mais simples, , antes de o podermos dominar. 93

Tres conceitos sao centrais no ponto de vista de Lippmann. QuestOes pabli-cas são aquelas caracteristicas do meio ambiente que nos preocupam ou nosinteressam. A opinião publica e constituida pelas imagens dessas quest6es namente das pessoas. As opiniees especificas sob cuja influencia os grupos agem

e que estes poem a descoberto, são designadas por Lippmann como OpiniaoPOblica (corn maiOsculas).

0 livro de Lippmann inclui grande soma de discussAo e muitos exemplos.

Sua teoria consiste essencialmente em quatro partes principals, a saber: (1) O sfatores primArios que limitam o acesso do pUblico aos fatos. Tais fatores in-cluem censura, contato social limitado, limitacOes de tempo, filtragem denoticias, limitacOes semânticas ou de vocabulArio, e o temor do pOblico deenfrentar urn mundo verdadeiramente ameacador. (2) 0 modo como as men-

sagens provenientes do mundo são afetadas por fatores tais como as imagens

do pOblico, os preconceitos e os tendenciosismos. (3) Logicamente, Lippmann

passou ern seguida ao problema dos estereOtipos e, por fim, (4) A formacAo da

Opinido PUblica ou, alternativamente, Vontade Nacional, Espirito de Grupoou Prop(Asko Social. Partindo dessas bases, Lippmann ocupou-se do tratamen-to da opinido pUblica nas democracias e frisou que tanto os proponentes como

os criticos da democracia ignoram urn ponto importante, a saber, que as pes-soas estao respondendo a imagens e nao a eventos.

Eu defendo a tese de que o governo representativo, ou no que ordinariamente sechama politica, ou na indUstria, nä.° pode ser forjado corn exit°, nao importa

qual seja a base de eleicao, a menos que exista uma organ izacao independente e

especializada ern tornar os fatos nao-vistos inteligiveis aqueles que tern de tomaras decisaes.

Finalmente, passando para o seu prOprio campo do jornalismo, ele demons-

trou que nao pode ser o papel da imprensa representar o mundo real em suainteireza, para que o pObli'co possa desenvolver uma opinido competente. 0ponto de vista tradicional de que a imprensa é a salvacao da democracia a (al-so, segundo Lippmann. Na verdade, os jornais nao formam a opini5o pablica,ref letem-na.

91Ver, por exemplo, M. Childs e 1. Reston (orgs.) — Walter Lippmann and his times. NovaYork, Harcourt, Brace, 1959, Phillip L. Bright — "The speaking of Walter Lippmann as a critic of the New Deal" (Tese de doutorado, inêdita, Universidade de Washington, 1968).92Walter Lippmann — Public opinion. Nova York, Macmillan, 1921.93Ibid., p. 16.94ibid., p. 31.

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Teorias de Comunicacao de Massa 351

Depois dos dias de Lippmann, é claro, a atividade jornalistica expandiu-seeletronicamente, permitindo a imprensa afetar cada vez maiores contingentesde pessoas. Uma das ocorrencias "mais novas" da comunicacao de massa em

nivel nao-verbal e que influencia as "imagens em nossas cabecas", e o feno-

meno do pseudo-evento, descrito uns 40 anos depois que Lippmann escreveu.

0 Pseudo-Even to

Urn dos mais interessantes conceitos surgidos em anos recentes e a idéia depseudo-evento, de Daniel Boorstin. 95 Embora o livro de Boorstin nao nos for-neca uma teoria de opiniao páblica e propaganda tao geral quanto alguns dos

outros autores citados nesta secao, ajuda-nos a aplicar muitos dos pensamen-tos de Lippmann e outros. Em virtude da major acessibilidade dos veiculos de

comunicacão de massa, deparamos com o que Boorstin chamou "uma inunda-

cao de pseudo-eventos". Sao os acontecimentos no meio ambiente que aju-dam a cristalizar as imagens ou °pinkies pUblicas. 0 seguinte exemplo e ilus-

trativo:

Os proprietarios de urn hotel (...) perguntam como aumentar o prestigio do

hotel deles e assim melhorar o negOcio. Em tempos menos sofisticados, a res-posta poderia ser contratar urn novo chef, reformat as canalizacties, pintar os

quartos ou instalar urn candelabro de cristal nohallde entrada. A técnica do

conselheiro de relacOes pUblicas a mais indireta. Ele prop6e que a administracaodo hotel encene uma celebracao do 309 anivershrio do estabelecimento. Forma-

se uma comissao, que inclui urn conhecido banqueiro, uma senhora muito pres-tigiosa nos circulos da alta sociedade, urn famoso advogado, um influente ora-

dor, e planeja-se o "evento". (...) A celebracao a realizada, tiram-se fotografias,

o acontecimento a largamente noticiado e o objetivo a plenamente alcancado.

Ora, tudo isso 6 urn pseudo-evento e ilustrara todas as caracteristicas essenciaisdos pseudo-eventos. 96

 Acontecimentos coma esse possuem numerosas caracteristicas que definem o

conceito. Em primeiro lugar, os pseudo-eventos sao planejados ou incitados;

nao sao espontaneos. Segundo, sac) organizados com a final idade explicita deobter cobertura dos veiculos de comunicacao de massa. Terceiro, e enfatizado

o significadn simbOlico do evento. Todas as ideias de Edelman sobre o valor s i mbolico de atos politicos sao apliaveis nesse caso. Finalmente, o pseudo-

evento pretende estimular a real izacao de uma profecia através do pr6prio es-

forgo para que ela ocorra. Pela demonstracao de determinado ponto de vista,espera-se que as pessoas acabem acreditando nesse ponto de vista.

0 impacto dos veiculos de comunicacao de massa, sobretudo a televisao eo filme, foi tremendo. A previsão de Lippmann de que as pessoas passam a

responder mais as suas imagens do que a realidade a sugestivamente demons-trada no efeito dos pseudo-eventos. Como disse Boorstin: "(...) a televisao le-

vou uma geracão mais recente de espectadores a considerar o vaqueiro doOeste uma replica mediocre de John Wayne." 97

Isso pode acontecer, é claro,por causa da grande credibilidade dos veiculos de comunicacao de massa. As

pessoas tendem a acreditar no que veem pictOrica e auditivamente demons-trado nas mensagens dos midia.

O pseudo-evento de Boorstin e particularmente importante para alguns dos

modelos de comunicacao de massa que examinamos antes. Ele demonstra, por exemplo, o papel do canal no modelo de Westley e MacLean, ao demonstrar 

95Daniel J. Boorstin The image: or what happened to the American dream. Nova York,Atheneum, 196296 Ibid., p. 10

lbidp. 14

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352 Con textos de Comunicacao

que osnoticiaristas criam freqUentemente as noticias que relatam. A distincao

de Gerbner entre o evento real (E) e o evento tal como e percebido (E') tam-

bAm e ilustrada pelos pseudo-eventos.

Outro aspecto dos pseudo-eventos e que fornecem urn canal para a pessoa

comum participar na feitura de noticias. Veiculos tais como as passeatas deprotesto e outras manifestacOes de rua, as multidOes que nos aeroportos re-

cepcionam gente famosa e os discursos politicos em publico permitem a pes-soas comuns sentirem comose fossem parte dos sinais importantes dos tem-pos. Tambern propiciam o reforcamento do eu. "Os pseudo-eventos geram ou-

tros pseudo-eventos em progressào geometrica." 980s pseudo-eventos rituali za-

dos passam a exigir outros pseudo-eventos de apoio, como no caso das cha-madas "informacäes de fonte fidedigna", que nada mais s'alo do que pseudo-

eventos de apoio as conferencias de imprensa.Boorstin deu grande anfase a confusdo evidente entre a realidade e a n50-

realidade dos pseudo-eventos. Eles sáo reais, no sentido de que acontecem.

No entanto, essa realidade e nublada por causa de sua natureza "inventada".

Por conseqUéncia, opublic)

rib° esta sendo "enganado"; ele este. sendo "in-

formado". Mas ambas as qualidades s -do ambiguas, o que torna a questão ain-

da mais complexa.

0 pseudo-evento e particularmente atrativo para o grande pOblico, por cau-sa da excitacäo e estimulacão que propicia. Os pseudo-eventos sdo gerados,primordialmente, porque o pUblico os pede. As seguintes caracteristicas sac)

enumeradas por Boorstin para demonstrar esse fato: (1) Eles sac) mais espeta-

culares do que os eventos reais; (2) sua disseminacao a mais fad; (3) said re-

ceptiveis, permitindo o reforcamento; (4) requerem um investimento econa-mico, criando certo grau de empenho por parte dos participantes; (5) sendoplanejados, sao mais claros e ajudam-nos a organizar o mundo melhor do queos eventos espontaneos, desorganizados, do mundo real; (6) CA. ° convenien-

tes; (7) as pessoas desejam ser expostas a pseudo-eventos porque estes forne-cem a materia-prima para se ser "instruido" e "ficar por dentro das coisas";

(Assim, os pseudo-eventos propiciam excelentes temas para a conversacao so-

cial.) (8) eles estimulam outros pseudo-eventos.

Boorstin concluiu corn as seguintes consideracoes:

Desde que tenhamos tornado gosto pelos encantos do pseudo-evento, somos

tentados a acreditar que eles são os Unicos acontecimentos importantes. 0

nosso progresso envenena as fontes de nossa experiéncia. E o veneno e tao doce

que estraga o nosso apetite pelos fatos simples. A nossa aparente capacidade

para satisfazer as nossas exageradas expectativas faz-nos esquecer que elan slaoexageradas. 99

Examinamos ate agora algumas importantes contribuiceies fundamentaispara o estudo da opinido publica e propaganda. Passaremos agora a dois tra-tamentos mais extensos do assunto. Q primeiro é a abordagem empirica de

Leonard Doob e o segundo A a mais recente abordagem filosofica de JacquesEllul.

 A Abordagem Cientifica

 Aoinves da obra de Lippmann e Boorstin, Doob adotou urn enfoque de cién-cias sociais para o problema da opiniao pUblica e propaganda.lwApoiando-se

98Ibid., p. 33.99Ibid., p. 33.

100Leonard Doob — Public opinion and propaganda. Nova York, Holt, Rinehart e Winston,1948.

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Teorias de Comunicacao de Massa 353

numa abordagem empirica em seu volumoso livro, ele cobriu numerosos tOpi-cos de interesse. Analisou em detalhe a opiniao pObrica e a propaganda, e de-brucou-se tambem sobre \Arias questOes relacionadas corn a medicao. Alemdisso, discutiu o papel de diversos veiculos de comunicacdo de massa.

A opiniao pOblica é definida como "as atitudes das pessoas sobre uma ques-tao, quando elas säo todas membros do mesmo grupo social". 101Doob desta-

cou o conceito de atitude e definiu-o como uma significativa resposta internaque os membros do publico tendem a projetar. 0 ponto de vista de Doob ecoerente corn a teoria de mediacâo do grupo apresentada no comeco destecapitulo. As atitudes devem ser explicadas em termos de agrupamentos huma-nos e nao em termos de massa. Assim, o te6rico deve formular certas questOesessenciais: os grlipos envolvidos numa questa°, a prOpria questa) e as razOesque levaram as pessoas a responder a questdo. A heranca cultural de determi-nado grupo e importante na determinacdo do modo como os membros dessegruporesponderao as questOes. Assim, a analise de opiniao pOblica deve ten-tar compreender a tradicdo do grupo. Outras determinantes da opiniao in-cluem a lideranca do grupo e os eventos no meio ambiente.

Os seguintes principios resumem a teoria de Doob da opiniao pablica:

1. A opiniao pUblica permanece latente ate que surja uma questao de interessepara o grupo; uma questa° surge quando existe conflito, ansiedade ou frus-tracao.

2. Portanto, a opiniao pablica real 6 uma tentativa para diminuir o conflito, aansiedade e a frustracaoJa. Quando essas circunstancias punitivas nao podem ser evitadas, ha racio-

nalizacao.b. Quando nao podem ser evitadas mas quando a atividade agressiva '6 re-

compensadora, ha deslocamento.c. Quando nao podem ser evitadas, quando a agressao e punida, mas quando

a atividade substituta a recompensadora, ha compensacao.3. A opiniao pOblica requer conformismo.

a. Quando esse conformismo pode ser conseguido fazendo algumas pessoasatribuirem suas prOprias atitudes e conhecimentos a outras, ha projecao.

b. Quando pode ser conseguido fazendo as pessoas suporem que possuem asatitudes e os conhecimentos de outras, ha identificacao.c. Quando pode ser conseguida fazendo as pessoas compartilharem conhe-

cimentos quase idênticos, ha simplificacao.4. A opiniao pUblica interna torna-se opiniao pUblica externa quando:

a.  A forca do impulso da atitude a grande.b. Existe o conhecimento de que a expressao de atitude em acao sera mais

compensadora do que a punicão.102

Ele concluiu a sua analise da opiniao palica com estas palavras: "As pessoaspodem ser estOpidas e podem ser sabias. (...) Durante um longo periodo detempo, as pessoas decidem seu pr6prio destino. Nab existe ninguem que possaou deva tomar essa decisao por elas completamente." 1°3

Doob distinguiu entre propaganda e educacao, que ele definiu como "atransmissao de conhecimentos ou habilidades considerados cientificos oupossuidores de valor de sobrevivencia numa sociedade, em determinadas epo-cas". 1 °4 Propaganda e"a tentativa de afetar a personalidade e controlar o corn-portamento de individuos, tendo em vista objetivos considerados nao-cienti-ficos ou de valor duvidoso numa sociedade, em determinada epoca".1°5 Essa

101 p.35.102 Ibid., pp. 87-88.103

 Ibid., p. 207.104 Ibid., p. 237.105 Ibid., p. 240.

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354 Contextos de Comunicano

distincäo entre educacao e propaganda é comum. Ela tambem reforca o pontode vista de que a propaganda é uma forca negativa dentro da sociedade, aopasso que a educacao a positiva. Esse ponto de vista, entretanto, e controver-tido, como veremos nos escritos de Ellul. E claro, Doob manteve o seu propO-sito de objetividade assinalando que o juizo de valor negativo aplicado a pro-paganda é sempre em termos dos padrOes de determinado grupo em determi-

nado momento; e admitiu que, dentro de certo contexto, nao é facil distinguirentre educacao e propaganda. De fato, ele sublinhou que as influenciassociais sao normalmente urn misto de educacao e propaganda. A propagandae "absolutamente inevitevel" e estara sempre presente nas sociedades em queexiste qualquer especie de conflito de valores.

Uma analise completa da propaganda envolve seis etapas: "(1) o propagan-dista, (2) o contealo da propaganda, (3) a percepcao da propaganda, (4) areacao inicial do receptor da propaganda, (5) as mudancas produzidas no inti-mo dos receptores da propaganda".106

Doob reconheceu a natureza seletiva da percepcao e assinalou que a pro-paganda deve competir corn a atencao do priblico numa feira de estimulos.Diversas qualidades da propaganda aumentarao a probabilidade de que elaseja percebida. Pode ser mais intensa (mais brilhante, mais abundante, mais

sonoraj; pode ser mais repetitiva; pode envolver urn "engodo" psicolOgico,suscitando respostas auxiliares que predispOem o individuo a reagir de certamaneira. Esta Ultima hipotese pode ocorrer, por exemplo, quando a propagan-da é emparelhada corn um desempenho radiof6nico saboreado por grande nO-mero de pessoas. Nesse caso, o conhecimento da audiencia é importante, poiso propagandista deve estar em contato corn a opiniao aka latente e mani-

festa para saber que estimulos excitarao o pOblico. Na mesma ordem deideias, as mensagens de propaganda devem ser relativamente simples, a fimde atrair a opiniao pOblica.

Doob considerou a mudanca resultante da propaganda um processo deaprendizagem em que estao presentes todos os mecanismos psicologicos deaprendizagem. Por exemplo, recursos tais como a repeticao e a variacao ser-vem para reforcar o estimulo. A contrapropaganda pode inibir ou retardar esse

processo de aprendizagem. Mas a propaganda visa mais do que modificar osespiritos; ela a orientada no sentido de suscitar uma acdo pOblica. Assim, con-têm freq(ientemente alegacOes de urgéncia, indicacOes de acao previa e"amostras livres".

Resumindo a sua extensa analise da propaganda, o seu modelo analitico étranscrito abaixo:

OPINIAO PI:JBLICA

1. Em que forma? 

externa versus interna; manifesta versus latente; momentanea versus duradoura2. De que grupo? 

familia, associayao, regiao, classe social, nayao etc.3. Sobre que questão?

politica, econ6mica, social, religiosa etc.PROPAGANDISTA

4. Quem é ele? 

name, organizayao, profissao etc.5. Quais säo os seus antecedentes?    •

classe social, personalidade, experiancia de propaganda etc.6. Quais säo os seus recursos? 

financeiros, de prestigio etc.7. Que objetivos ele persegue? 

intenyOes de liberadas versusconseqOancias possiveis e imprevistas

106Ibid., p. 258.

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Teorias de Corn unicacao de Massa 355

PROPAGANDA

8. Em que veiculos de comunicacao? 

antecedentes sociais, fonte de controle, conteudo da propaganda, tecnicas psi-

cologicas

9. De que maneiras? 

temas subjacentes: freqMencia de uso, proemin'encia etc.

10. Contra que competicao?

outros veiculos de comunicacao, propagandas conflitantes, costumes contrarios

RECEPTORES DA PROPAGANDA

11.  A propaganda 6 percebida ou nao 6 percebida? 

porcausa de: dimensoes da audiencia, intensidade do estimulo, repeticao, con-

texto do estimulo, respostas auxiliares, variacao, simplificacao

12. Qua! 6 a rend° initial a propaganda? 

 por causa de:composicao da audiancia, respostas afins, repeticao, variacao,

respostas afins auxiliares

13. 0que 6 aprendido ou nao aprendido? 

 por causa de:vigor da resposta, reconhecimento da propaganda, prestigio e

submissao, contrapropaganda, reforcamento, novidade, limitacao, capacidade

de aprendizagem14. Que reacao ocorre ou nao ocorre?

 por causa de: urgancia, acao indicada, amostragem, reducao do impulso, pri-mazia.107

AObra de Jacques Ellul

Uma das mais significativas e interessantes teorias de propaganda é a de Jac-ques Ellul .

1°8Aobra de Ellul nao a primordialmente cientifica, no mesmo sen-tido da de Doob. Ellul adotou uma abordagem mais sociolOgica e hist6rica doassunto. Como assinalou Conrad Kellen na introducao ao livro de Ellul,

A principal diferenca entre o edificio de seu pensamento e a major parte da ou-

tra literatura sobre propaganda 6 que Ellul considera a propaganda um fen8-

meno mais sociologico do que algo feitopor certas pessoas para certos fins. A

propaganda existe e prospera; e a irma siamesa da nossa sociedade tecnologi-

ca.109

Conforme esta implicito nessa citacão, Ellul viu a propaganda como urn fenO-meno universal em certas especies de sociedade. Alem disso, adotou o pantode vista de que a propaganda a necessdria, de fato, essential nas sociedadesmodernas.

Essa teoria da propaganda seria colocada, de urn modo sumamente apro-priado, entre as teorias que se ocupam da "sociedade de massa". Embora elecertamente reconhecesse a importância do individuo, Ellul enfatizou a natu-reza de massa do apelo propagandistico. De fato, ele sublinhou, de uma pon-ta a outra do livro, que a propaganda deve simultaneamente apelar para amassa humana e para a individualidade. Isso e possivel por causa dos veiculosde comunicacao de massa: "(...) o que esses veiculos fazem e exatamente oque a propaganda deve fazer para atingir os seus objetivos. Na realidade, apropaganda nao pode existir sem esses midia.”

110

E, ao usar os veiculos de co-municaCdode massa, o propagandista deve organizar e coordenar o envolvi-mento de difererites tipos de midia, tal como urn compositor usa urn tecladopara escrever uma sinfonia.

107 Ibid., pp. 546-47.108 Jacques Ellul — Propaganda — the formation of men's attitudes. Nova York, Knopf, 1965.109Ibid., p. v .

110ibid.,p.9.

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356 Contextos de Comunicacoo

Ellul viu a propaganda como necessariamente ubiqua e continua. Ela deve

impregnar a rotina cotidiana do individuo, e deve persistir por longos periodosde tempo. Como a propaganda deve basear-se nos sentimentos priblicos e opi-niOes do dia para efetuar a acao que se prop6e, o propagandista deve estar fa-

miliarizado corn o teor psicolOgico e sociologico de sua audiencia. Na mesmaordem de ideias, a propaganda deve ser oportuna, a fim de se combinar corn

os pensamentos e os sentimentos da pessoa comum.Existem muitas especies diferentes de propaganda, segundo Ellul. Ele expres-sou essas diferencas em termos de distincoes entre tipos opostos. A primeira

distincao e entre os tipos politico e sociolOgico. A propaganda politica é ern-pregada por urn governo ou partido politico para causar mudancas nas awes

do publico. A propaganda sociologica e mais dificil de definir, porquanto oseu objetivo a integrar os individuos na massa, unificar o comportamento degrupo; e nao se origina no topo da estrutura social mas desde o seu interior.

Uma segunda distincao pode ser feita entre agitacao e integracao. A agitacao

e altamente visivel e procura chamar a atencao sobre si mesma. E usualmentesubversiva e utilizada pelos adversarios da ordem estabelecida. A propaganda

por integracao, por outro lado, tenta estabilizar e unificar. Tambern se pode

distinguir entre propaganda horizontal e vertical. A propaganda horizontal ori-

gina-se no interior do grupo e expande-se de modo lateral. A propaganda ver-tical é o tipo classico, em que o lider do grupo no topo tenta influenciar asmassas embaixo. Finalmente, pode-se distinguir entre propaganda racional e

irracional, embora Ellul enfatize que a propaganda esta ficando cada vez mais

racional e quase sempre baseada em fatos.Varias condiciies sac) necessarias para a disseminacao da propaganda. Como

 ja mencionamos, ela tern exit° nas sociedades que possuem urn carater dual,

massa-individuo. 0 que se entende por isso a que, a medida que a sociedadecaminha para a massificacao, os vinculos do grupo comum que antes manti-nham as pessoas juntas comecam a se desfazer. Numa moderna cultura demassa, o individuo é passivel de se encontrar sozinho, face a face corn amassa inteira: "Precisamente porque o individuo proclama ser igual a todos os

outros individuos, ele converte-se numa abstragao e é, com efeito, reduzido auma cifra." 111 Assim, as pessoas so sat) suscetiveis a propaganda depois de te-rem sido desligadas de seus grupos de referencia. Uma vez que isso tenha

acontecido, uma vez que as pessoas tenham perdido as suas raizes, elas tor-nam-se mais manipulaveis.

Nesse tipo de sociedade de massa, a opiniao priblica passa a desempenhar 

urn papel importante. Quando os canais de informagao sao institucionaliza-dos, as pessoas obtem informagao comum e assumirao posicóes comuns. Con-sentaneo corn os pontos de vista de te6ricos como Edelman, Lippmann eBoorstin, Ellul tambem acredita que a opiniao priblica esta sempre distanciada

urn passo da realidade. Os veiculos de comunicacao de massa, por exemplo,

criam audiencias doceis, a feicao do propagandista, e que the permitem estru-

turar a "realidade" de forma que seja coerente com as finalidades da propa-

ganda.Existem outras condicOes que sao requeridas para o exit° da propaganda. Amais notOria delas é a alfabetizacao. A propaganda nao pode prosperar emsociedades que nao tern a base educational encontrada nas culturas ociden-tais. Como a propaganda se apOia primordialmente na manipulacao de simbo-los e no desenvolvimento de estere6tipos, a populacao deve ter urn grau relati-

vamente elevado de receptividade as mensagens verbais. E na medida em queurn grande ntimero de individuos recebe a mesma informagao, etes reagirao demaneiras identicas. A propaganda requer duas condiceies basicas: perda deidentificacao grupal e receptividade de massa a informagao comum.

111 Ibid., p. 90.

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Teorias de Comunicacdo de Massa 357

Uma das mais desconcertantes conclusoes de Ellul a que a propaganda e ne-cessaria — ou desejada — na sociedade moderna. Isso é verdade, Segundo oteerico, por varias razees. Em primeiro lugar, a uma necessidade do governo.

 A seguinte transcricao ilustra esse ponto de vista:

 Ergo:mesmo numa democracia, um governo que a honesto, sério, benevolente

e respeita o eleitornaopodeacompanhara opiniao Mas tampouco

 pode escapardela. As massas ai estao; elas interessam-se pela politica. 0 gover-no nao pode agir sem elas. Que pode entao fazer?

So e possivel uma solucao: como o governo nao pode seguir a opiniao, a opi-

niao deve seguir o governo. E preciso convencer essa massa presente, pondero-sa, apaixonada, de que as decisoes do governo sac) legitimas e boas, e de que a

sua politica externa a correta. 112

Mas ha mais. Na democracia, os cidadaos devem ser vinculados as decisoes do

governo. Estee o grande panel que a propaganda deve desempenhar. Deve dar

ao povo a sensacao —de que é avido e que o satisfaz —de que desejava aquiloque o governo esta fazendo. (...) 113

Mas, a parte a necessidade do Estado de propaganda, o individuo tambemprecisa dela. Eis algumas das funcóes que a propaganda oferece as pessoas:

fornece apoio psicologico para se enfrentar as complexidades da vida moder-na; simplificou essas complexidades de urn modo que torna o mundo maiscompreensivel a espécie humana; a propaganda combate a solid5o; promove

sentimentos de envolvimento e significado nas pessoas comuns; a propagandainstiga o amor-preprio das pessoas, fazendo corn que elas se sintam importan-tes e envolvidas.

Os efeitos reais da propaganda sago discutidos extensamente na obra deEllul. Entre os efeitos psicologicos estao os seguintes: cristalizacao ou solidifi-

cacao da opiniao pablica; alienacao do eu; dissociacao psiquica de pensa-

mento e acalo (comportamento complacente); perpetuacao da necessidade de

propaganda. Se o leitor surpreendeu uma inconsistencia entre as varias neces-sidades e efeitos ern redor da propaganda, percebeu corretamente o quadro

que Ellul pretendeu pintar. 0 problema a que a propaganda produz simulta-

neamente efeitos opostos. Tanto pode criar como aliviar tensäes. Pode criar aautojustificacao, mas tambem é capaz de produzir culpa. Pode promover acoesdo, embora a dissociacào possa tambem advir. A propaganda pode pro-mover a politizacao ou a privatizacao.

E claro, a propaganda tambem tern importantes efeitos socio-politicos. Hoje

ern dia, nao é a voz de uma ideologia, como foi no passado. Mais freqiiente-mente, o propagandista (urn não-crente, na realidade) usa a ideologia como

instrumento para manipular o pOblico. Assim, a propaganda afeta a opiniaopóblica ao cristaliza-la, ao simplifica-la, ao separar a opiniao privada da opi-niao pUblica, e ao mobilizar a opiniao pablica para a acao. Outro resultadosOcio-politico da propaganda éa reparticao da sociedade em subgrupos,criando varias confrontacoes nos-eles. Isso ocorre ern muitos niveis, incluindo

sindicatos, grupos religiosos, partidos politicos, fronteiras nacionais e blocos

internacionais.Vimos que a ciencia politica e disciplinas afins tiveram muito que dizer so-

bre o efeito das mensagens de massa sobre o priblico e vice-versa.

Uma Teoria de Desenvolvimento Nacional

Numa recapitulacao geral da literatura sobre comunicacao de massa, muitasareas diferentes de interesse podem ser encontradas, como vimos neste capi-

112 Ibid., p. 126.113ibid., p. 127.

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358 Contextos de Comunicano

tulo. Uma dessas areas de interesse que produziu algumas obras significativassobre comunicacao de massa e o desenvolvimento nacional. 0 problemamundial do desenvolvimento estimulou consideravel soma de pesquisa eteoria em campos como a economia, a ciencia politica, a antropologia e asociologia. Frey resumiu else trabalho em quatro areas primordiais: teoriasecorthmicas, teorias psicologicas, teorias political e teorias da comunica-

00.

114 Na realidade, todos esses quatro enfoques do estudo do desenvolvi-mento nacional dizem alguma coisa acerca da comunicacdo, mas é o Ultimoque concebe a comunicacdo de massa como algo de importancia central parao processo de desenvolvimento. Dentro da categoria geral de abordagens dacomunicacdo, destacam-se duas contribuicties principais. A primeira delas, ateoria da difusao, ja foi examinada em certo detalhe, sobretudo a obra deEverett Rogers e seus colaboradores. A teoria da difusao, como o leitor recor-dara, relaciona-se com os processos pelos quais a informacao e as inovactiesse disseminam dentro da sociedade. Essa linha de pesquisa foi conduzida emmuitas sociedades avancadas, mas tambem se tem realizado em paises subde-senvolvidos e em desenvolvimento. 0 processo de difusao em paises em de-senvolvimento foi usualmente estudado de um ponto de vista geografico e es-pacial. A meta consistia em descobrir os fatores envolvidos na propagacdo

geografica da informacao, porque o desenvolvimento econtimico esta vincula-do ao processo de difusao. Asegunda abordagem principal, orientada para acomunicagäb, foi sintetizada pela obra de Daniel Lerner.

 A Morte da Sociedade Tradicional 

0 livro de Lerner, The passing of traditional society, foi acolhido com geraisaplausos (e algumas criticas tambem). 115 Esse livro foi o produto de extensaspesquisas realizadas no Oriente Media. E uma teoria que gravita em tbrno dos

conceitos de empatia, alfabetizacao, urbanizacao e comunicacdo de massa. 0

que a particularmente significativo na teoria a ela mostrar que todo o pro-cesso de desenvolvimento esta intimamente relacionado com os sistemas decomunicacdo.

Lerner viu um paralelo entre o que esta acontecendo em paises em desen-volvimento e o que ja ocorreu na sociedade ocidental. Mas o processo de de-

senvolvimento em nacees avancadas foi um lento processo hist6rico. Aquilo a

que nos, ocidentais; estamos acostumados em nossas vidas cotidianas pode

ser um problema de ajustamento traumatic° para as populacOes dos paises em

desenvolvimento. 0 processo basic°, tal como foi descrito par Lerner, é oseguinte:

Como iremos mostrar, o modelo ocidental de modernizacao exibe certos corn-

ponentes e seqOancias cuja relevancia e global. Por exemplo, em toda a parte a

crescente urbanizacao foi propensa ao crescimento da alfabetizacao; a crescen-

te alfabetizacao foi propensa a aumentar a exposicao aos veiculos de comuni-

cacao de massa; a crescente exposicao aos midia faz-se acompanhar de mais

ampla participacao econ6mica (renda per capita) e participacao politica (voto).0 modelo desenvolveu-se no Ocidente como urn fato histOrico (...) o mesmo

modelo basic° reaparece em virtualmente todas as sociedades em processo de

modernizacao, em todos os continentes do mundo, independentemente de va-

riacOes de rata, cor, credo. (...) 116

114Frederick Frey — "Communication and development", in Handbook of communication,

pp. 337-461; uma outra excelente sintese b fornecida par Peter Goulding — "Media role innational development: critique of a theoretical orthodoxy", in Journal of Communication, 24 ,1974, pp. 39-53.115Daniel Lerner — The passing of traditional society. Glencoe, Free Press, 1958.116 I bi d .,p. 46.

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Teorias de Comunicacão de Massa 359

0 processo psicologico mais central no desenvolvimento nacional é a empa-

tia. Esse conceito poe em relevo a tese de que o que esta acontecendo nacio-nalmente em termos de desenvolvimento esta relacionado corn o que acon-tece psicologicamente na vida da pessoa. A orientacao sisternica, enfatizando

a interdependencia em todos os niveis, esta presente ern toda essa teoria. 1 17

0 que acontece no desenvolvimento, evidentemente, e uma questa.° de

mobilidade social. As culturas transicionais veem-se no processo de passar decondicoes estaticas para condicOes dinamicas, em que os cidaddos passam a

acreditar em seu prOprio poder para influenciar o prOprio destino pessoal. Ler-

ner sublinhou que isso constitui urn importante passo, o qual so pode aconte-cer quando as pessoas comecam a adquirir um sentimento do que e estar na

pele de outrem. Assim, a empatia torna-se um importante mecanismo adapta-

tivo para as pessoas em sociedades avancadas: "E uma das principais hipote-

ses deste estudo que uma elevada capacidade empatica so constitui o estilo

pessoal predominante na sociedade moderna, a qual e distintamente indus-trial, urbana, instruida e participante." 118

Uma das coisas que acontecem noprocesso de desenvolvimento (Lerner demonstrou-o de forma persuasiva emseus dados) é que as pessoas passam a ter °pinkies sobre questäes póblicas.Em concordancia com a posicão adotada por Ellul, Lerner tambem considerou

a opiniao pOblica um ponto de referencia da modernizacao. Mas o detalheimportante, no caso, a que a opinido pOblica so pode acontecer quando aspessoas possuem capacidade de empatia.

 A mobilidade social numa sociedade esta altamente relacionada corn o de-senvolvimento dos veieulos de comunicaccao de massa. Lerner teve o cuidado

de demonstrar e explicar esse ponto. Corn a ascensão dos midia, os individuosestdo cada vez mais expostos a situacóes e condicOes humanas diversas das

deles. Isso facilita a empatia pessoal. Como assinalou Lerner, seriados como"Ma Perkins, The Goldbergs, I love Lucy, trazem para nossas casas amigos quenunca encontramos mas cujas alegrias e magoas compartilhamos intensamen-te."

119

 0 veiculo de comunicacao de massa tambem nos ajuda a estruturar essas novas e complexas percepcties. Assim, o individuo recebe urn quadro dereferencia que propicia a simplificacdo. Alern disso, vemos uma persistente

hipotese presente em muitas dessas teorias de comunicacao de massa, a saber,que os midia facilitam a conceituacao e simplificacao priblicas da realidade.

Entretanto, o papel dos veiculos de comunicacao de massa lido 6 simples.Nas nacOes em desenvolvimento, o crescimento dos midia interatua com mui-

tos outros e importantes fatores; o desenvolvimento a um processo resultantedessa interacao. Essa é a tese central da obra de Lerner e suas pesquisas fo-

ram encaminhadas no sentido de demonstrar os processos pelos quais esses

fatores interatuam nas nacäes em desenvolvimento. Acompanharemos agoraLerner em sua demonstracào dessas qualidades sisternicas.

0 processo de desenvolvimento a primordialmente o de passagem de siste-

mas orals para sistemas orientados pelos midia. 0 modelo apresentado na Fi-gura 89 ilustra as diferencas basicaslzo

Figura 89.  Diterengas Sistemas de Midia Sistemas Orals

basicas entre sistemas Canal Radio e TV (mediado) Pessoal (face-a-face)orals e midia. Audiancia Heteroganea (massa) Primaria (grupos)

Conte0clo Descritivo (noticias) Prescritivo (regras)Fonte Profissional (talento) H 'era rquica (status)

117Uma versa) mais sucinta de sua teoria, enfatizando as qualidades sistamicas do desenvol-

vimento, é "Toward a communication theory of modernization: a set of considerations", inCommunication and political development, organizado por Lucian W. Pye. Princeton UniversityPress, 1963, pp. 327-50.

118 Lerner — Traditional society, p. 50.119 Ibid.,p. 53.

120 Ibid.,p. 55.

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360 Contextos de Comunicagão

E claro, a Figura 89 nao pretende ser um modelo dicotOmico; ela apenas ilus-tra os extremos do continuo. Lerner formulou duas importantes generalizacdesacerca desse modelo. Em primeiro lugar, a direcdo da mudanca em nacOes esempre dos sistemas orals para os midia. Lerner assegura rido ter encontradonenhuma excecao. Em segundo lugar, o montante de mudanca este relaciona-

docorncertos preditores importantes no sistema. Esses preditores sao ilustra-

dos no modelo que se apresenta na Figura 90.121Setor  Sistemas de Midia Sistemas Orais Figura 90. Setores dos

SOcio-cultural Urbano Rural sistemas de midia eCultural I nstruido Sem instrucão orals.Politico Eleitoral Designativo

Nessa pesquisa, Lerner apurou elevadas intercorrelacOes entre esses predito-res. Por exemplo, o montante de participaflo nos midia esta fortemente rela-cionado com a alfabetizacão e a instrucao, as quais, por sua vez, estâo forte-mente relacionadas com a urbanizacâo. No caso da correlacao instrucão-urba-nizacdo, entretanto, existe uma importante restricão: ela náo é linear. A con-clusdo interessante de Lerner e que urbanizacao e instrucdo so aumentam jun-tas ate urn ponto 6timo. Quando a urbanizacäo atinge 25%, a instrucao con-

tinua aumentando independentemente daquela.Tendo estabelecido as correlacäes entre o crescimento dos midia, a instru-

cdo e a urbanizacao, Lerner passa a descrever o padrao da seguinte maneira.Ern primeiro lugar, o pals inicia urn ciclo de urbanizacâo. Somente nas cida-des os padroes educacionais podem aumentar e a instrucâo alcancar niveiselevados. Dal a estreita relacao entre urbanizacào e instrucao. Assim que apopulacao comeca a adquirir receptividade as mensagens orais atraves da ins-trucAo, os veiculos de comunicacao de massa e sua tecnologia especifica cres-cem e desenvolvem-se. Tal desenvolvimento, por seu turno, acelera a instru-cao, seguindo-se-Ihe entäo o aumento da participacao politica.

Para testar ainda mais a qualidade sistemica da modernizacao, Lernercomputou mÜltiplos coeficientes de correlacäo entre urbanizacdo, instrucdo,crescimento dos midia e atividade politica. 0 pr6prio nivel elevado da relacao

indica que, de fato, esses fatores interatuam de urn modo sist6mico. Ele for-mulou a hip6tese de que a instrucao é a habilidade pessoal mais basica, subja-cente nessas relacties: "Assim, a instrucdo converte-se no pivO sociolOgico daativacdo da mobilidade psiquica, a habilidade publicamente compartilhadaque vincula as diversas atividades cotidianas do homem moderno e as aglutinanum estilo de vida coerente e participante."- 122

0 modelo tipolOgico ilustrado no Quadro 25 resume o processo de moder-nizacdo, tal como Lerner o viu. 123 Nesse modelo, os fatores basicos estudadosestdo relacionados, cada urn deles, corn as cinco fases da modernizacao. A

Quadro 25. A Tipologia Básica de Lerner

Tipo Instrucào Urbanismo Participagão Empatia Alcance dados Midia Opiniao

Moderno + + + 1

A   — + + + 2

Transitional B   — — + + 3

C   — —   — + 4

Traditional   —   — —   — 5

121 Ibid., p  . 57.

122 Ibid., p. 64.123 Ibid., p  . 71.

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Teorias de Comunicacão de Massa 361

coluna final no modelo é particularmente interessante, e esses nameros rela-

cionam-se corn as teorias de opinião pOblica e propaganda resumidas na Se-ca() anterior. A Oltima coluna expressa a hipotese de Lener de que a partici-

pacdo, na forma de opinião aumenta a medida que as sociedades

passam do status tradicional para o moderno.

Examinamos \Arias teorias de "sociedade de massa", assim como teorias de

comunicacao de massa centradas no grupo e teorias do impacto total dos midia,a par da analise de efeitos finitos. Este capitulo levou-nos a abordar numero-

sas disciplinas e a examinar varios pontos de vista. As teorias mencionadas e

estudadas aqui ilustram o importante ponto de que as teorias são parciais, que

se concentram naqueles aspectos do mundo complexo que são de particular 

interesse para o teOrico. Esperamos que uma observacao de muitas esp6cies

diferentes de mapas nos proporcione uma compreensao ainda melhor do terri-

tOrio.

Generalizaciies

Iniciamos este capitulo corn a generalizacao de que a comunicagão se efetuano contexto de massa.  Ao reexaminarmos numerosas teorias relacionadas corn

a comunicacao de massa, investigamos as implicacäes dessa generalizacao. 0que foi que aprendemos?

Primeiro: a comunicacao de massa envolve mensagens pCiblicas oriundas de

 fontes organizacionais, transmitidas através dos midia para grandes päblicos

ou audiencias. As definiceies e os modelos de processo geral apresentados noinicio do capitulo corroboram essa nocao de comunicacao de massa. Mas, éclaro, esse processo, tal como foi descrito, e muito rico, como iremos ver nasgeneral i zacties seguintes.

 A segunda generalizacao e que a audiencia de massa a constituida por mui-tos pCiblicos corn distintos padroes de resposta. 0 grau de autonomia do grupona audiancia de massa é uma questdo controvertida. Vimos que a tenanciados teOricos da sociedade de massa a para pressuporem a existéncia de uma

grande massa comportando-se como uma Onica mente. Contudo, a aborda-

gem mediacional de grupo trata a audi6ncia como um sistema de grupos vin-culados por comunicacao interpessoal. Sendo assim, os processos de difusao einfluencia tornam-se muito complexos.

Terceiro: as mensagens de massa são difundidas por uma combinagab demidia e fontes interpessoais. A preponderancia de teoria apresentada neste ca-pitulo corrobora essa generalizacao. Os teOricos da difusao, como Rogers,descrevem tipicamente urn modelo de fluxo mUltiplo ( multistep flow) de di-fusao e influencia. A importência da comunicacao interpessoal e reconhecida

nesse processo. Corn a excecão de McLuhan e alguns outros, a maioria dosteOricos dos efeitos da comunicacão compreende que a identificacao e oapoio do grupo sao importantes nos processos de influencia dos midia. Mesmoas abordagens de usos e dependencia assinalam que as pessoas buscam ativa-

mente uma variedade de fontes para satisfazerem suas necessidades e metas.,Quarto: as formas dos midia, a parte seu conteado, afetam a sociedade. E

claro, McLuhan e responsavel pelo aforismo: "0 meio é a mensagem." Em-bora suas vdrias idéias sejam altamente controvertidas, McLuhan sintonizou-

nos para a imporfancia da tecnologia da comunicacao de massa na sociedade

moderna. Essa generalizacao nao nega a importancia do conteirdo da mensa-

gem; quase nem uma so das teorias apresentadas aqui sustentaria simples-mente uma tal negativa. Entretanto, a maioria das abordagens da comunica-C a°de massa deixou claro que a tecnologia dos midia tem, por si mesma, umgrande impacto.

Quinto: a comunicacao de massa envolve urn complexo processo de intera-cab simbOlica, implicando o use de formas simbOlicas significativas. Sabemos

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362 Contextos de Comunicagao

pela obra de Edelman, Lippmann, Boorstin e outros que o que e apresentadoas audiencias de massa reveste-se de importante significano simbOlica.

 Aquilo em que as pessoas acreditam, como elas conceituam a realidade, e

modelado em parte por esses simbolos. Tais simbolos ajudam a simplificar arealidade para o pOblico e satisfazem outras funcOes politicas e sociais.Grande parte da teoria em comunicacao politica, opiniao palica e propagan-

da relaciona-se com essa generalizacido.Sexto: a comunicagão de massa tem uma alta relacao corn outras formas

sociais significativas. Quando se estudam os midia, Mao se pode separar a co-

municaciao de outros processos e instituicOes sociais. 0 modelo de dependen-

cia dos efeitos da comunicacdo sublinha isso com muita clareza. Outros teOri-

cos ap6iam essa noc ido. Por exemplo, Jacques Ellul mostrou como a propagan-

da e a comunicacäo de massa se relacionam corn a instrucdo. Daniel Lerner 

estudou a interconexdo entre fatores tais como urbanizacao, instrucdo, empa-tia e desenvolvimento da comunicacdo de massa.

Vimos nos Oltimos quatro capitulos o modo como o processo de comuni-cacäo ocorre em contexto. Examinamos teorias relacionadas corn a comuni-

cacao interpessoal, de grupo, organizacional e, agora, de massa. Tambernvimos como toda a comunicacdo envolve certos processos basicos. Deve estar 

claro, nesta altura dos acontecimentos, que compreender a comunicacdo hu-mana nâo e uma tarefa facil. Envolve um esforco multidisciplinar e multite6-

rico, como veremos no capitulo final.

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Parte V 

I ntegracão

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1 2 .Uma Integracäo MultiteOrica

Vimos neste livro como é vasto e diverso o estudo da comunicacao. Umavisao ampla tern numerosas vantagens, mas tambem cria problemas. 0 major problema de uma abordagem ecletica é integrar as partes num todo coerente.

E i mpossivel fornecer um quadro completamente integrado da teoria da comu-nicacao, mas existem padreies e generalizacOes que podem ser observados.Neste capitulo, desenvolveremos urn quadro de referencia para o estudo mul-tidisciplinar da comunicacao. Nao e nosso prop6sito proclamar aqui a verdadefinal sobre comunicacao ou fornecer respostas para as nossas questOes teOri-cas.

Isto não é uma superteoria da comunicacao. Delinearemos apenas os prin-cipais parametros da comunicacao, tal como se apresentam nas muitas teorias

estudadas. Esse quadro de referencia foi desenvolvido indutivamente. JA resu-

mimos em cada capitulo as generalizacOes mais importantes que decorrem dasdiversas teorias. Passa-las-emos agora em revista, desenvolvendo cada uma

dessas generalizacOes. Nao se trata de uma tentativa de substituicao de qual-

quer das teorias estudadas, nem de criar uma nova. Mas este capitulo devera

fornecer um quadro de referencia, no ambito do qual muftis teorias, oriundasde varias disciplinas, podem ser estudadas ern conjunto.

0 que a uma Abordagem MultiteOrica?

Dado urn vasto repertOrio de teorias numa area de estudo, uma pessoa interes-sada podera adotar tres abordagens. A primeira consiste ern apegar-se aquelateoria ou area teOrica que Ihe pareca intelectualmente saborosa e esforcar-se

por compreencle-la, defende-la e, se possivel, desenvolve-la ainda mais. Esse eo caminho usual dos estudantes em cursos de pos-graduacao, dos pesquisado-res e de muitos profissionais. Tais individuos, seguindo o exemplo de seusmentores, realizam um exame geral do campo, aprendem instrumentos de

pesquisa adequados a suas aptidoes e interesses pessoais, e conduzem urn es-tudo concentrado na area teOrica por eles escolhida.

Uma segunda abordagem é a da pessoa apartidaria que, depois de ter tra-

balhado por algum tempo em determinado campo, decide que as categoriastradicionais nä° sao satisfatOrias. Passa então a explorar e desenvolver umcampo virgem e a expandir a profundidade das abordagens de uma area de

problemas. Ambos os metodos acarretam beneficios. A concentracao numa

(mica area te6rica ajuda uma pessoa a desenvolver uma compreensao pene-

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366 Integrano

trante e especializada da teoria escolhida. Aexploracao de novos terrenos e

urn processo altamente criativo, raro mas pretioso na ampliacao de horizon-

tes.

Lamentavelmente, essas duas abordagens de campos complexes de estudotambern comportam uma desvantagem. Elas podem gerar a estreiteza de visa°

e a defensividade. No presente livro, optamos por uma terceira via para o en-tendimento da comunicacao humana: um enfoque multiteOrico ou ecletico.Este enfoque nä° nega a contribuicao do especialista e do apartidario, mas

exige algo mais. Aabordagem eclêtica habilita-nos a desenvolver quadros dereferencia ern cujo ambito o trabalho de muitas disciplinas pode ser integrado

em torno de uma Unica questa°, problema ou terra.

A comunicacao e urn desses temas e, como assunto que apresenta mültiplasfacetas, requer uma abordagem multiteOrica. Uma abordagem multiteOrica do

estudo da comunicacao respeita a integridade de varies pontos de vista teOri-cos e metodolOgicos. Com essa mentalidade eclética, estamos aptos a pro-curar as melhores contribuicOes daqueles que decidiram especializar-se num

aspecto particular da comunicacao. Estamos tambern aptos a di'scernir padroese generalizacees que nao se evidenciam nas perspectivas mais limitadas. E

estamos ainda aptos a definir melhor as verdadeiras controversias teOricas.Existem numerosos argumentos a favor deste tipo de abordagem multiteOrica

para o estudo da comunicacao.

Ern primeiro lugar, a comunicacao e urn processo ubiquo e complexo. Eabsurdo conceber a area como urn aglomerado sOlido e unificado de conheci-

mentos, Por conseguinte, o processo de comunicacao so sera entendido erntoda a sua riqueza se o estudarmos de acordo corn v.arias perspectivas.Qualquer tentativa para limitar a nossa visão a uma Unica perspectiva unifi-cada criara inevitavelmente restricOes a nossa compreensao.

Em segundo lugar, sendo a comunicacao urn processo, e impossivel desco-

brir a teoria final e verdadeira. Isso nao quer dizer que todas as teorias saeigualmente validas ou Oteis, e qualquer investigador podera achar que umateoria ou teorias especificas sao mais significativas para os seus propOsitos.Mas a comunicacao consiste em certo nOrnero de eventos e comportamentosde %/arias especies, e cada teoria fornece insights prOprios.

Ern terceiro lugar, conforme se acentuou no primeiro capitulo, as teorias saointerpretacOes da realidade. Elas definem o modo como o teOrico estrutura a

realidade, nao a pr6pria realidade. Existem inOrneras maneiras de conceber a

mesma experiancia sensorial. Uma teoria assinalard certos aspectos de urnevento, corn exclusao de outros. Somente atraves de uma abordagem multi-

teOrica poderemos adquirir conhecimento de toda a gama de significados paraurn dado evento de comunicacao.

Ern quarto lugar, as tentativas de desenvolvimento da melhor de todas asteorias certamente serão prejudicadas pela defensividade metedolOgica. E urnindicio sauclavel quando pesquisadores e teOricos possuem auto-respeito e

confianca ern seus prOprios métodes, mas quando essa confianca se convertena especie de estreiteza de vistas que nega as contribuicees positivas de outrasvarias metodologias, entao o estado de coisas nao é dos mais saudaveis. Defato, a especie de teoria procurada por urn investigador decorrerá naturalmen-

te do metodo por ele usado. Nenhum metodo constitui, por si so, Urn condutodireto para a verdade. Uma abordagem multiteOrica 6, necessariamente, uma

abordagem multimetodolOgica, fornecendo uma especie de validade conver-gente para o que sabemos a respeito de comunicacao.

Finalmente, uma abordagem multiteOrica facilita urn estudo verdadeiramen-

te multidisciplinar. E impossivel, para qualquer teoria isolada, acomodar todoo valioso trabalho produzido pelas muitas disciplinas que se ocuparam dosproblemas da comunicacao.

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Uma Integragao MultiteOrica 367

E claro, existem controversies teOricas genuinas que neo podem ser evitadaspor uma abordagem eclètica. Nos dialogamos acerca de tais controversias e

cada pessoa resolve-as, para sua satisfacao pessoal, corn os mêtodos que esti-verem ao seu alcance. Mas, corn freqUencia, se mantivermos os olhos bem

abertos ern nossa busca, veremos as muitas maneiras como as verias teorias seapOiam mutuamente, preenchem lacunas reciprocas e umas ampliam outras.

 A despeito de nossas guerras sernanticas, existe mais consisténcia do que po-deriamos esperar. Passamos agora a uma andlise do nosso quadro de referen-

cia multiteOrico.

Comunicacão: uma Integracäo MultiteMica

O que e comunicaceo? Se quisermos entender toda a riqueza da comunicacao,devemos evitar considers-la urn evento singular. Trataremos aqui a comuni-cacao como urn amplo conceito que engloba uma variedade de fentimenos. E

um processo complexo de eventos psicologicos e sociais, envolvendo a in-

teraceo simbOlica. Esses eventos ocorrem dentro e entre pessoas, ern contextosinterpessoais, grupais, organizacionais e de massa. Os eventos de comuni-cacao envolvem, em diversas combinacees, codificacao, significado, pensa-

mento, informacão e persuasão.Duas descricees tern sido usadas para captar todos os eventos de comuni-

cacao. Primeiro, dissernos que a comunicacao é um processo complex° e, Se-

gundo, que envolve a interacäo

 

Examinemos agora cada umadessas caracteristicas ern maior detalhe. Duas perspectives te6ricas muito am-

plas ajudam-nos nesse empreendimento: a teoria dos sistemas gerais e o in-

teracionismo simbOlico.

 A teoria dos sistemas gerais é urn excelente instrumento para se compreen-

der a natureza processual das coisas. E uma teoria formal de relacees que se

pode aplicar a uma grande variedade de fenemenos. Vimos como a TSG e a

area afim da cibernetica podem ser Oteis para captar a esSencia do processo

ern comunicacao. Na base, ester) Wes qualidades dos sistemas abertos quepodem ajudar-nos a compreender a comunicacao.

Primeiro, os sistemas compeem-se de urn conjunto organizado de varieveis

que se inter-relacionam para formar um todo organic°. Aplicado a comuni-cacao, esse principio significa que os eventos ou conceitos que participam denossa nocao de comunicacao nä° podem ser vistos isoladamente. Eles este°organizados num conjunto inter-relacionado. Este livro apresentou uma seriede capitulos que trataram dos processos e contextos besicos da comunicacao,

mas uma le itura cuidadosa revela a interconexao desses processos e contextos.Um teOrico pode concentrar-se ern urn ou outro deles mas, ern Ultima insten-

cia, devem ser relacionados corn o todo. Uma das vantagens da abordagem

multiteOrica a que nos habilita a ver essas inter-relacees. Analogamente, oprincipio holistico aplica-se a qualquer ocorrência dada de comunicacao. Os

verios comportamentos envolvidos num ato de comunicacao este° correlacio-

nados, cada um deles afetado pelo outro.0 segundo principio sisternico que aumenta a nossa compreenseo da natu-

reza do processo de comunicacao a que o sistema sobrevive pelo intercambio

corn o meio ambiente. Num sentido lato, isso significa que o sistema neo esteisolado mas depende dos inputs de outros sistemas. Cada sistema, por seuturno, afeta outros sistemas. Acibernetica relaciona esse processo ao feed-

back,o mecanismo atraves do qual os sistemas regem ou regulam suasfunceies. Quando aplicamos esse principio a comunicaceo, percebemos que asmensagens se° formuladas e adaptadas aos receptores, na base do feedback 

proveniente desses receptores. Isso nä° pretende sugerir um modelo linear.

Cada mensagem recebida ajuda o sistema de comunicacao a aferir o seu efeitoern face do meio ambiente.

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36 8  integiacão

0 terceiro principio geral diz que os sistemas estAo organizados hierarqui-camente. Cada sistema pode ser encarado como um supra-sistema ou urnsubsistema. 0 que acontece em um nivel e afetado pelo sistema mais amplo

( meio ambiente) e afeta o que se desenrola embaixo. Um born exemplo desse

principio na comunicacao é a abordagem dos contextos em termos de niveis.Vemos aqui uma hierarquia de contextos interpessoais, grupais, organizacio-

nais e de Massa.0 que entendemos, pois, pela afirmacao de que p comunicacao e urn pro-

cesso complexo? Entendemos que ela consiste num conjunto organizado devariaveis que devem ser vistas holisticamente, que e regulada atravês do feed-

back, e que pode ser analisada de forma hierarquica.

Mas a nocao de processo nao e suficiente para delinear a comunicacäocomo urn conceito. A segunda qualificacdo geral e que a comunicacAoenvolve interacao simbólica.

Enquanto a teoria dos sistemas gerais capta a natureza de processo da co-

municacao, a interacão simbOlica capta a sua natureza social. 0 interacio-nismo simbOlico constitui uma perspectiva teOrica muito ampla, que acomodavarias teorias mais limitadas acerca da vida social humana. Tambern éaltamente compativel corn a teoria sisfémica.

 A interacäo simbOlica e a troca de mensagens pelo uso de simbolos. Os sim-bolos passam a ter significado através da interacáo entre membros de um gru-

po social. Alern disso, o modo como pessoas definem situaccies e objetos

largamente determinado pela interacdo simbOlica relacionada corn essas situa-cOes e esses objetos. A linguggem e o nosso sistema simbólico primordial e,por conseguinte, constitui o mecanismo mais importante no desenvolvimentoda mente e do eu; por isso, e grande a sua influancia na formacäo do compor-

tamento. Tambern aprendemos, atraves do interacionismo simbOlico, que a

mente (processos de pensamento), o eu (pessoa) e a sociedade (processos e

instituicties sociais) sao processos interligados que resultam da interacAobófica. Assim, a comunicacdo desempenha urn panel central na vida social.

Neste ponto, descrevemos a comunicacAo como urn conceito muito amploque abrange eventos nos quais o processo de interacdo simbOlica esta envol-

vido. Essa perspectiva geral é suficientemente vasta para acomodar v.ariasabordagens teOricas. Tambern assinalamos que a comunicacao, como inte-rano simbOlica, envolve certo namero de processos basicos, entre os quais se

incluem: codificacao, significado, pensamento, informacAo e persuasão. Cum-

pre ter presente o fato de que esses processos constituem urn grupo limitadode rotulos que podem ser usados ou nao por este ou aquele teOrico. NAo sepode esquecer que o foco deve incidir sobre os conceitos subentendidosnesses rOtulos e nao nas prOprias palavras, e que esses processos estao estrei-tamente inter-relacionados.

Sabemos que a interacAo simbOlica e urn processo de enviar e receber men-sagens codificadas. Assim, a comunicacao depende da codificacao. A palavracodificacao e aqui usada para captar a essência da relack entre signos (ou

simbolos) e objetos, eventos e condicties. Quando dizemos que os sereshumanos participam na interacão simbolica, queremos significar corn isso que

eles podem pensar e falar sobre coisas em nivel conceptual. Isso é possibilita-do pela codificacao de imagens em signos. Os comunicadores manipulam sig-

nos e desse modo afetam-se a si mesmos e afetam outros. Alem disso, sabe-mos que os seres humanos possuem a capacidade de organizar signos sintati-

camente, relacionando signos corn outros signos. Atraves de urn conhecimen-

to da linguagem, as pessoas podem criar e entender sentencas novas, comuni-cando uma rica variedade de mensagens. As pessoas tambem se apOiam ern

signos nao-verbais, incorporando a atividade corporal, o espaco e a voz. Assim, a codificacao e um processo complexo de uso de sistemas de signos erninterack.

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Uma Iniegragão Multitebrica 369

claro, náo podemos separar as ideias de signos e codificacao da ideia de

significado. 0 significado é a condicao sine qua non do processo de codifica-

cao. Essa relacäo intima entre o signo, a mente e o significado est& bemexpressa no conceito. Dal a generalizaflo: urn signo é urn estimulo cornsignificado. Existem tres maneiras de considerar essa ideia de significado. Pri-

meiro, podemos dizer que os significados resultam da representacäo de urn re-

ferente por urn signo. Isso a verdade, pois os signos sAo usados para represen-tar objetos, eventos e condicoes. Parte do significado de urn signo reside nessarelano signo-referente. Segundo, os significados tambern prornanam, em par-

te, da experiencia da pessoa no uso de signos. Por exemplo, as palavras adqui-rem conotacees ern decorrência da experiencia pessoal. Alguns teOricos acredi-tarn que toda a experiencia de qualquer pessoa esta de tal modo envolta ern

s i mbolos, que a experiencia nao pode ser separada das formas simbOlicas. 0 Se-gundo •significado de significado é, portanto, a relacão pessoa-signo. Terceiro,o significado depende do uso que a dado aos signos. Essa ideia enfatiza o fato

de que as pessoas usam a linguagem e outros signos para realizar coisas, paraalcancar objetivos. Assim, os signos possuem funcães, e o significado estã par-cialmente relacionado corn a relacao signo-funcào.

Intimamente relacionado corn a codificacao e o significado estA o terceiro

processo bAsico: o pensamento. Devemos compreender que as mensagens sdogrupos de signos formados através dos processos de pensamento humano. 0que é pensamento? Ninguêm pode responder a essa pergunta num paragrafo.

Podemos, entretanto, esbocar alguns aspectos basicos do pensamento. 0 pen-

samento envolve o comportamento conceptual que, convèrn repetir uma vezmais, a parte integrante da vida simbolica. A formacao de conceitos implicaobservar as caracteristicas comuns entre coisas e agrupd-las de acordo cornessas caracteristicas. Rotulando ou simbolizando os nossos conceitos, estamosaptos a usa-los e a comunicAdos a outras pessoas. 0 comportamento con-ceptual estA intimamente vinculado a codificacao e ao significado. Portanto,

uma parte importante da interacao simbOlica. Pensar envolve ainda uma 16-gica de relacOes entre conceitos. A capacidade da pessoa para ver relacOes(ou, mais precisamente, para criar relacties) amadurece durante a infAncia.

Esse pensamento relacional habilita-nos a planejar e a resolver problemas.0 quarto elemento basic° da comunicacdo é a intormacio. A informacäo é

urn conceito relacionado corn a incerteza e a reducdo da incerteza. Ja vimos

que o ser humano atribui urn sentido ao mundo atraves de processos simbOli-

cos. 0 significado surge atraves da troca de mensagens codificadas. Namedida em que tais mensagens ajudam a pessoa a dar um sentido ao mundo,

o individuo torna-se mais apto a predizer ocorrencias. As mensagens tem opotential de reduzir a incerteza. Assim sendo, a comunicack envolve infor-

mack. As teorias da informacäo abordam esse tOpico de vArias maneiras. Algumas consideram a informacAo uma medida da incerteza num campo deopcaes. Outras concentram-se na incerteza-previsibilidade dos sistemas de c6-digo, enfatizando a transmissäo de informacAo. As teorias de informacão se-mantica mostram como as mensagens reduzem a incerteza. Finalmente, po-demos relacionar os processos de informacão a mudanca de sistema.

Este Ultimo aspecto da teoria da informacdo sugere que a comunicacäo

pode levar a mudanca. 0 quinto e Ultimo processo bbsico da comunicacdoenvolve essa ideia 'de mudanca. Usamos a palavra  persuasão para rotular esseaspecto da comunicacdo. A persuasao pode ser usada de várias maneiras. De-fin i mos aqui a persuasäo como o processo de inducao de mudancas atraves dacomunicacAo. As teorias de persuasAo e mudanca concentram-se nos fatores

psicologicos e sociais na comunicficao que levam a realizacao de mudancas.Tais fatores residem na pessoa e na mensagem. As mudancas podem ocorrer 

ern atitudes, valores e comportamentos, sendo freqiientemente observado que

elas estäo inter-relacionadas. %/Arias teorias apontam os modos como essas

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370 Integragäo

mudancas säo facilitadas pela aprendizagem e pela inconst5ncia. Outrasteorias discutem as formas como se pode resistir a mudanca.

Cinco processos basicos envolvidos na comunicacao s5o: codificacdo, signi-ficado, pensamento, informacdo e persuas5o. Esses processos relacionados

corn a comunicacão ajudam-nos a entender melhor a especie de eventos in-cluidos no conceito de comunicacdo. Observamos originalmente que os pro-

cessos de comunicacào ocorrem numa variedade de contextos, incluindo ointerpessoal, grupal, organizacional e de massa. Examinaremos agora essescontextos a fim de completar o nosso quadro de referencia multiteorico. Antes

de o fazermos, porém, é importante recordar que esses niveis näo se excluemmutuamente. Devem ser considerados em termos de hierarquia, tendo a co-municacào interpessoal como base de todos os outros contextos.

 A comunicacao interpessoal ocorre no contexto da interacao face-a-face.

Existern -numerosos aspectos nesse processo. Em primeiro lugar, podemos dizer que a comunicacào interpessoal envolve o estabelecimento e manutenc5o derelaciies. A comunicacäo em nivel interpessoal envolve uma relacäo pessoal

entre comunicadores, e as mensagens de conteOdo entre pessoas säo necessa-riamente sustentadas por mensagens de relacionamento. Alem disso, sabemosque o teor da relacão interpessoal de uma pessoa é regido, em parte, pelas ne-

cessidades sociais desse individuo. Por exemplo, as pessoas parecem ter ne-cessidades variaveis de controle, afeicdo e inclusao.

0 fenameno da comunicacao interpessoal compreende certo nOmero deatos sociais interligados. Em primeiro lugar, envolve a apresentacao do eu a

outros. Tambem pode envolver tentativas de compreensäo dos outros e desuscitacao da compreensäo por parte dos outros. A comunicacao interpessoal

implica percepc5o da pessoa e graus variaveis de atracio entre pessoas. Fi-

nalmente, sabemos que a interacao pode levar a conflito, e o conflito pode ser 

intensificado ou reduzido atravês da comunicacdo.

Um importante subconjunto dos processos de comunicacäo interpessoalocorre no contexto do pequeno grupo. Por causa da necessidade de caopera-

cdo humana para se realizarem os objetivos desejados, as pessoas tendem a

identificar-se com pequenos grupos, sendo a comunicacäo a base dos vinculosdo pequeno grupo. 0 grupo 6 urn sistema social extremamente importante navida do individuo, e sabemos que a pessoa é altamente afetada pelos grupos a

que pertence.Uma importante qualidade dos grupos é a coesao. Numerosas teorias indi-

cam uma relacalo positiva entre a coesdo e o grau em que os membros sao

afetados pelas normas do grupo. Os efeitos da coesào podem ser funcionais

ou disfuncionais. Um dos efeitos da interacao do grupo 6 a satisfacäo (ou insa-

tisfacao, segundo os casos). Para sobreviverem como sistema social, os gruposdevem ser otimamente satisfatOrios para os seus membros. Certas teorias mos-tram como a filiacáo a um grupo assenta no equilibrio Otimo entre recompen-

sa e custos, relativamente a outras alternativas.Sao muitas as recompensas e os custos da Macao a um grupo, e relacio-

nam-se com dois fatores'no trabalho de grupo: o output ou produto final datarefa e as relacOes interpessoais. Assim, a comunicacäu em grupos envolvemensagens de tarefa e mensagens sOcio-emocionais, e as pessoas tendem acomportar-se em conformidade corn varios Rapeis de tarefa e manutenc5o.Uma generalizacao final sobre comunicacdo de grupo e que os grupos passampor %/arias fases interacionais. A natureza da comunicac5o, em qualquer mo-

mento dado, relaciona-se corn esse processo de fases de interacäo do grupo.

Outro importante contexto da comunicacdo e a organizac5o. Assim comoos grupos são sistemas de diades de interac5o, as organizaceies sac) sistemas degrupos (redes) ligados atraves da comunicacao. Assim, a comunicacao é cen-

tral para a estrutura organizacional. Também constitui um importante instru-mento para as funcöes organizacionais. A esse respeito, a comunicacäo sus-

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Uma Integrano Multitecirica 371

tenta as metas de produtividade da organizacao e a meta pessoal de cada urn

dos membros da organizaceo. Uma das areas em que a comunicacao da su-

porte as metas organizacionais a na tomada de decisOes. A relacao entre co-

municacao e organizacäo a bilateral. Assim como a estrutura e a funcao orga-

nizacionais dependem da comunicacao, tambem a natureza da comunicacaoem organizacOes a rnuito influenciada pela din5mica organizacional. 0 modo

como umaorganizacao a estruturada afeta os padrees de relacionamento en-tre as pessoas e as regras pelas quais etas se comunicam. A comunicacao or-

ganizacional tambem a afetada pelas necessidades e motivacOes humanas

no contexto da organizac5o. Uma das importantes dimensoes da comunicacao

organizacional é a das relacoes de autoridade. A autoridade é, preponderan-

temente, uma questa° de credibilidade de comunica45o, resultando em parteda posi45o legitima e, em parte, da aceitacao por aqueles sobre quem e con-

cedido o use de autoridade.0 contexto final da comunicacao ocorre ern nivel de massa. A comunicacao

de massa envolve mensagens priblicas oriundas de fontes organizacionais eemitidas, atraves dos midia, para grandes audiencias. A natureza da audienciade massa é urn tema de controvérsia. E provavelmente correto dizer que ela

consiste ern numerosos priblicos, corn distintos interesses e padrOes de res-nosta. A difusäo da mensagem e os padroes de influéncia ocorrem atravésdos midia e de fontes interpessoais, e tanto os midia como as mensagens tern

impacto sobre a sociedade. Mesmo em nivel de massa, a comunicacao envol-

ve interacäo simbOlica e as formas isimbOlicas usadas na comunicacao de

massa servem funcees significativas para as audiencias de massa. Finalmente,a comunicacao de massa inter-relaciona-se corn outras importantes formas so-

ciais, como a urbanizack, a instrucäo e a industrializac5o.Isso completa:o nosso esboco dos importantes parametros da comunicacao

humana, baseado nas teorias incluidas neste livro. Esse modelo a muito geral,

enfatizando os criterios maisiimportantes para uma anatise multiteOrica. Nãose pretendeu fornecer detalhes para a explicacao dos processos de comuni-cacao. Tal explicacäo é suprida por cada uma das teorias relativas aos concei-

tos, processos e contextos aqui mencionados.

Quadro 26. Resumo de Conceitos e Generalizacties

 Area Conceito-Chave GeneralizacboBasica

Generalizacaes Subsidiarias

Orientacbes Processo  A comunicacao e urn processo (1) A comunicacao inclui urn conjunto orga-Gerais   1 complexo. nizado de varieveis que devem ser vistas

holisticamente.(2) A comunicacao envolve feedback.(3)  A comunicacao pode ser analisada hierar-

quicamente.

I nteracao  A comunicacao 6 urn processo de (1) A mente, o eu e a sociedade sâo proces-Simi:it:Arca interagao simbolica. sos de interano pessoal e interpessoal.

(2) A linguagem e o mecanismo primordial,

levando a mente e ao eu do individuo.(3)  A mente e a internalizacao de processos

sociais no individuo.(4) Os comportamentos sao construidos e in-

terpretados pela pessoa.(5) 0 comportamento de uma pessoa 6 in-

fluenciado pela definicäo da situagao pe-lo individuo.

(6) 0 eu consiste em definicees sociais e de-f inieeies (micas.

Processos Codificacbo  A interano sunbólica e urn pro- (1) Os signos representam objetos, eventos eBhsicos cesso de emissao e recepcao de condicaes que nao eles pr6prios.

mensagens codificadas. (2) Os signos se° usados para instigar e for-mular o comportamento.

(3) Os signos tern relacoes corn outros sig-nos.

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372 Integragao

 Area Conceito-ChaveGeneralizacao

BasicaGeneralizageies Subsidiarias

(4)  A linguagem a uma seciilencia estrutura-da de sons da fala.

(5) Os falantes de uma lingua devem adquirir urn conhecimento intuitivo de gramática.

(6)  As pessoas devem estar aptas a usarseuconhecimento da gramätica para criar eentender novas sentencas.

(7) Os signos nao-verbais envolvem compor-tamentos corporais, espaciais e vocals.

(8) Os numerosos comportamentos não-ver-bais numa mensagem estäo inter-relacio-nados.

(9) Os signos nao-verbais servem a vgriasfuncOes na interacdo.

Processos Significado Urn signo a urn estimulo que tern (1) 0 nexo de significado e pensamento é a

Bäsicos significado para as pessoas.   i magem.

(continuacao) (2) Ossignificadosresultamdarepresenta-gdo de urn referente suscitada na pessoapor urn signo.

(3) Os significados ocorrem na experiënciada pessoa ern resultado dos signos.

(4) Os significados resultam do use de signospor pessoas.

Pensamento  As me nsage ns são signos e grupos (1) 0 pensamento envolve comportamentode signos formados atraiiés dos conceptual.

processos de pensamento humano (2) 0 pensamento envolve uma logica derelacOes, a qual amadurece durante a in-fancia.

(3) 0 pensamento envolve planejamento.(4) 0 pensamento envolve resolucao de pro-

blemas.

I nformacao  As mensagens fornecem Inform- i(1) A informacäo surge no processo de reali-

cao. zacâo de e scolhas.(2)  A informacão a transmitida.(3)  A informacâo reduz a incerteza.(4)  A informacão altera o estado do organis-

mo.

Persuasao  A comunicacao resulta em mu- (1) Persuasao é o processo de induzir mu-

dancas atravas da comunicacao.danca. (2) A mudanga resulta de condicOes na pes-soa e na mensagem.

(3) As mudancas ocorrem ern atitudes, valo-res e comportamentos.

(4)  As mudancas de atitudes, valores e corn-portamentos estdo inter-relacionadas.

(5)  As mudancas de atitude, valor e corn-portamento sat facilitadas pela aprendi-zagem e pela inconstäncia.

(6)  A direcäo e extensao da mudanca a umafuncäo de mediadores internos na pes-soa.

(7) Pode-se resistir sistematicamente a mu-danca.

Contextos I nterpessoal  A comunicacao interpessoal ocor- (1) A comunicacao interpessoal é urn pro-re no contexto de interayäo face- cesso de estabelecimento e manutenciãoa-face. de relacdes.

(2) Os padroes de comunicacao interpessoalsao estabelecidos na base de necessida-des interpessoais.

(3)  A comunicacao interpessoal envolve umaapresentacdo do eu a outros.

(4) Uma das metas primordiais da comuni-cacao interpessoal é aumentar o entendi-mento entre os comunicadores.

(5)  A compreensdo envolve o complexo pro-cesso de percepcão social.

(6)  A comunicacao interpessoal resulta emgraus variSveis de atracão.

(7) 0 conflito social pode resultar da (ou le-var a) comunicacao interpessoal.

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Uma Integracão MultiteOrica 373

 Area Conceito-Chave GeneralizaggoBasica

Generalizacees Subsidiarias

Grupo  A comunicacgo efetua-se no con- (1) Os grupos surgem da necessidade da pes-texto de pequeno grupo. soa de aumentar os recursos, na busca de

objetivos pessoais.(2) 0 grupo é urn sistema social, envolvendo

inter-relay:les dingm icas.(3) 0 grupo tern grande impacto na vida do

individuo.(4) Quanto maior for a coesdo de um grupo,

mais o grupo afetara o individuo.(5) A coesgo cria efeitos positivos e negati-

vos nos grupos.(6) Para sobreviver, o grupo deve satisfazer 

otimamente os seus membros.(7) Os individuos tentam maximizar as re-

compensas e minimizar os custos no tra-balho de grupo.

(8) 0output do grupo depende de dois fa-tores: o trabalho direto na tarefa e as re-laccies interpessoais.

(9)  A interacgo em grupos envolve a comu-nicagdo na tarefa e a comunicacgo sOcio-

emocional.(10) No trabalho de grupo, os individuos as-sumem papeis de tarefa e de manuten-cgo.

(11)  A natureza da interacgo muda no decor-rer do tempo, a medida que o grupovai passando por sucessivas lases.

Organ izacgo  A comunicacgo efetua-se no con- (1) A comunicacgo 6 central para a estruturatexto da organizac g

o. e a funcgo organizacionais.(2)  A comunicacgo em organizagOes apOia

as metas de produtividade da organiza-cdo e as metas pessoais dos membros.

(3)  A natureza da comunicacgo em organi-zacOes a altamente influenciada pela es-trutura organizacional.

(4)  A natureza da comunicacdo em organi-zacOes é altamente afetada pelas neces-

sidades e. pelos motivos humanos dosmembros.(5)  A autoridade organizacional 6 uma ques-

tao de credibilidade da comunicacigo.(6)  A comunicacdo '6 parte essencial da to-

mada de decisao organizacional.(7)  As redes de comunicacgo surgem durante

o processamento de informacgo.

 A comunicacgo efetua-se no con- (1) A comunicacgo de massa envolve men-

texto de massa. sagens pOblicas provenientes de fontesorganizacionais, transmitidas para gran-des audiencias atravós dos midia.

(2) A audigncia de massa é composta demuitos priblicos corn distintos padrdes deresposta.

(3) As mensagens de massa sac) difundidaspor uma combinacgo de midia e fontes

interpessoais.(4) As formas dos midia, independentementede seu conteOdo, afetam a sociedade.

(5)  A comunicacgo de massa abrange urn

complexo processo de interacdo simbOli-ca, envolvendo o use de formas simbOli-cas sign if icativas .

(6) A comunicacgo de massa relaciona-se emalto grau corn outras formas socials sig-n ificativas.

Massa

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B ib l io g ra f ia

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I n d ic e A n a l it ic o

 A

 Abordagem combinatOria, 154 Abordagem do use e gratificagao, 342-43 Absorgao da incerteza, 309 Abstragao, 126-30 Acao, 79 Agao de grupo, 73-74 Aceitagao, latitude de, 192 Acomodagao, 144 Administragao cientifica, 289-90 Adogao, 167 Adulto, 228 Afeigao, 214-17 Alfabetizagao, 356, 358-61 Analise de estrutura, 219 Analise de variancia, 235-36 Analise do processo de interagao, 270-74 Analise transacional, 227-30 Aprendizagem hulliana, 174-75 Aprendizagem perceptual, 142-43 Aprendizagem por exposigao, 173 Aquisigao da linguagem, 101-03 Arte, 134 Assimilagao, 144, 192 Associagao, 98-99 Atitude, 77, 169-200

definigao, 169-72fungao, 170

 Atividades, 265 Ato, 79, 92 Ato ilocucionario, 140 Ato perlocucionario, 140 Atracao, 237-44 Atribuigao, 213, 231-37 Atribuidor, 91

 Audiancia, 84, 327-35 Audiência obstinada, 328-29 Auto-reflexividade, 129-30 Auto-revelagao, 225-27 Autoridade, 291-93

ficgao, 304 Avaliagao, 171-72

B

Behaviorismo;hulliano, 97, 174-75radical, 97watsoniano, 173

Bit, 154-55Burocracia, 290-93

C

Cadeia(s), 52, 57Campo fenomenal, 223-24Canal, 157

audivel, 114codificacao, 115psicofisioldgico, 114visual, 114

Carga de informacao, 314Carisma, 293Categorias simples, 21CerimOnias, 85Cibernetica, 44, 48-52, 147-49Ciancia dos sistemas, 47Ciancia como simbolo, 134-35Cine, 109Cinema, 109Cinemorfe, 109Cinêsica, 108-09Cinisica social, 109Codificagao, 89-117, 98-99, 208, 311-12Codificagao-avaliacao, 56COdigo olfativo, 111COdigo térmico, 11105digo visual, 111Coergdo, 250-51Coesao, 259Cognicao, 141-50Compatibilidade, 218Competencia da comunicagao, 62-64Competancia interpessoal, 294-95Comportamento conceptual, 141-43Compreensao interpessoal, 221-30Comunicagao:

abordagem multitearica, 307-73

criterios, 62definigao„ 36-37disciplinas, 35estudo da, 34-36general izagfes basicas, 36-38grupo, 253-86interpessoal, 59-60, 205-52, 294-96, 320de massa, 319-62   -modelos gerais, 321-27nao-verbal, 107-15niveis de, 56-58, 59-60organizational, 287-318como urn processo, 41, 63-64como urn sistema, 52-54

Comunicagao de tarefa, 271

 jComunicagao em grupo, 253-86iComunicagao politica, 345-57

Comunicagao sOcio-emocional, 271

Conceito, 142-43

rottilagao e definigara, 22-24teOrico, 21-25

Conceito de eu, 188-91Concepgao, 94-95Condicionarnento, 243-44

classic° e instrumental, 102, 173Confirmagao, 212-13Conflito, 244-51, 260-61, 306-07angruancia, 223-25Congruancia de crenga, 183Conluio, 213Conotagao, 126, 131Construto, 22Consubstancialidade, 81Contexto, 205Contextos de comunicagao, 205Contraste, 193Controle, 114, 214-17Controle do destino, 268Conversao de gestos, 69Cooperagao, 301, 303Coorientagao, 242Crenga, 171, 186-91

espacies, 186-87Crescimento, 226Crianga, 228Culpa, 80-81Custo e recompensa, 267-68

D

Dados, 59Defesa refutatoria, 199-200Definicao, 22-24

Denotacao, 126Denotatum , 90-91Dependencia, 92-93Desconfirmagao, 213Descontinuidade, 167Descrigao, 23Desenvolvimento, grupo, 274-78Desenvolvimento national, 357-61Desligamento, 92Determinismo, 30Diferentiagao, 266Diferencial semantic°, 131-32Difusao, comunicagao de massa, 327-35Dilema do prisioneiro, 246-47Dinamica de grupo, 254, 258-61Discurso, 125Dissonancia, 183-86

Dissonancia cognitiva, 183-86

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402 Fundamentos Tebeieos da Comunicacao Humana

Dissuasao, 167Divisao, 81Domirancia, 92Drama social, 85Dramatismo, 78-82

Ecoico, 97Efeito de depreciacão, 235Efeito de montagem, 263Efeito diadico, 227Efeitos, comunicacao, 335-45

tipos e natureza, 166-67Eles, 84Encontro, 219-20Entimema, 163Entropia, 153, 155Enunciados de valor, 24Envolvimento do ego, 192Eciiiifinalidade, 45-46Equilibrio, 260Escola dramatürgica, 78Escolha, 168

Espaco, 110-11Espaco de caracteristicas fixas, 110Espaco de caracteristicas semifixas, 110Espayo informal, 110Espaco semantic°, 130-33Espayo soci6fugo e sociOpeto, 110Espaco vital, 256Espirais, 211Estado do ego, 227-28Estagio analogico, 135Estagio de jogo, 70Estagio mimetic°, 135Estagio pre-operatOrio, 145Estagio preparatorio, 70Estagio sensorimotor, 145Estagio simbolico, 135Estilo acaddmico, 30Estilo eristico, 30Estilo formal, 30Estilo literdrio, 29Estilo postulacional, 30Estilo simbolico, 30Estilo teOrico, 29-30Estimulos, 94Estrategias de Burke, 82Estrutura de frase, 100Estrutura profunda, 103-06Estrutura superficial, 103-07Estudos Hawthorn, 294Ethos, 1 63Eu (self), 70, 77, 218-21, 223-25Eu (I), 84Eu-mesmo, 70-71Experiencia (vivOncia), 209-10Explicacão teOrica, 24-25

Exploracao, 76Exploracao simultdnea, 143Extensão, desenvolvimento por, 27

F

Ease de conflito, 275Fase de emergencia, 276Fase de orientacdo, 275Fase de reforcamento, 276Fases, grupo, 274-78Fato, 24Feedback, 48-52Fenomenologia, 136-39Festas e reuni6es sociais, 85Filosofia da linguagem de use cotidiano,

139-41FIRO, 214-18

Focalizacdo conservadora, 143Fone, 96Fonema, 96Fonte, 157Forma convencional, 80Formacdo conceptual, 142Formas menores, 80Funcão de "comando", 56fulled° de "relato", 56Funcionalidade, postulado de, 53Funcionalismo estrutural, 313-17FuncOes de manutencao, 270FuncOes (papêis) de tarefa, 270, 278

G

Generalizacdo contextual, 102Golpes, 228Grade gerencial ( managerial grid), 296-98Grupo de encontro, 224-25Crupos, natureza dos, 253-55

H

Hierarquia, 43-44principio de, 80

HipOtese, 24HipOtese do fluxo bindrio (two-step flow),329-30

Hip6tese Sapir-Whorf, 137-39Hipetese whorfiana, 137-39Homeostase, 45, 176

dentidade, 210dentificacao, 81-82magem, 118-19, 147mediacão, 238-40ncerteza, 153ncentivos, 303nclusdo, 214-17ncredulidade, 181-82ndicacão, 23nduzimento, 250-51nfluencia, comunicacdo de massa,327-35nfluenciabilidade, 196-97nformacão, 59, 313njuncdo, 213novacries, difusdo de, 331-35nput, 44nspec3o, 76nstituicOes, 85nstrumentalidade, 166-67ntegraydo, principio da, 296ntencâo, 114

ntensão, desenvolvimento por, 27.nteracdo, 205-52, 265si mbolica, 65-86, 346-48

nteracdo complementar, 208-09, 212-13nteracdo face-a-face, 219-20nteracdo &imetrica, 209nteracionismo simbolico, 65-86, 119-22,346-48

Escola de Chicago, 66-67, 71-76Escola de Iowa, 67, 76-78idade da indagacOo, 66tradigão oral, 66

nterdependOncia, 42-43nterligacdo, 73-74nterpretante, 90-91ntêrprete, 90-91somorfismo, 47t,84

Janela de Johari, 221-23Jogo, 85Jogo de foco (focus gambling), 143Julgamento social, 190

Legitimidade, principio de, 291-92Lei, 24Levar-em-conta-habilidades e suscetibili-dades, 59

Lider de opinido, 329-30Linguagem (lingua), 95-108, 117, 134-35

do corpo, 108paralinguagem, 11 1teoria mediacional da, 98-101

LingOistica, 95-107abordagem behaviorista, 97-103estrutural, 96-97gramatica transformacional, 103-07histOrica e descritiva, 95-96teoria gerativa, 103-0r 

M

Mando, 97-98Mecanismo, 79Meios de comunicacdo, 319-62

quentes e frios, 339Mensagem, 94, 119-51Mente, 71Metacomunicacdo, 207-08Metaidentidade, 210Metaperspectiva, 210-11Mêtodos de descoberta, 18Microcinesica, 109Mistificacdo, 82Misturador cognitivo, 101Mito, 134Modelo, 19-20

Modelo de dependencia, 344-45Modelo de sistema de interato, 54, 274Modelo de sistema humano, 54, 274Modificacão de decisao, 277Morfema, 96Morfoenese, 45Motivacdo, 306Movimento, 79Mudanca, 162-201Mudanca de atitude, 169-200Multiordinalidade, 129Multistep flow (difusao mOltipla), 329-30

N

Nao-envolvimento, latitude de, 192Nao-identidade, 129-30

Ndo-totalidade, 129-30Necessidades interpessoais, 214-18Negativa, 80Nivel de comparacOo, 268Nivel de integracão, 98Nivel de percepcdo consciente, 114Nivel de projegdo, 98Nivel representacional, 99Normas, 266-69Nos, 84

0

Objetos socials, 73, 76Observdvel indireto, 22Operacoes cognitivas, 144OperacOes concretas, 146Operacoes formals, 146

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Wi

Indice Analitico

Operante intraverbal, 98Operante textual, 98Operantes relacionados corn a audiancia,

98Opiniao publica, 349-57Ordem social, 84-85Ordenacao, 22

Organizacao, definicao, 287-88Orientacao, 241Orientacao cientifica, 127-28Ostensao, 23Output, 44Outro generalizado, 70Outro orientador, 77 

Padronizacao, 266Pai, 228Papel, 266, 268-69, 278-80, 310

.),„Papel de manutencao, 279' Paralinguagem, 111

Parcim6nia, 31Pensamento, 141-51

abordagem cibernetica, 147-49desenvolvimento do, 143-46reflexivo, 149

Pensamento de grupo, 281-84Pentade dramatistica, 82Pequeno grupo, comunicacao em, 253-86Percepcao, 92Percepcao interpessoal, 209-13, 230-37Perfeicao, principio de, 80Permanencia, 167Personalidade, interpessoal, 271-73Perspectivas diretas e metaperspectiva,210-11

Persuasao, 162-201, 250-51, 303conceito, 166

Persuasibilidade, 194-98Pesquisa de acao, 256

Pesquisa e teoria, 25-28Planejamento, 146-49Plano de acao, 77Ponto de referenda, 190, 192Pool de formas verbais, 100PosicOes falsas e insustenteveis, 213Postulado de concateneidade, 53Postura, 110Pragmatica, 93Precinesica, 109Previsao te6rica, 24-25, 33Principio de compensacao, 197Principio de conglomeracao, 198Principio de covariacao, 235Principio de interacao, 198Principio de mediacao, 197Principio de ponderacao situacional, 198Processamento de simbolos, 141Programas de desempenho, 308Progressao qualitativa, 80Progressao siloquistica, 80Projecao, 128-29Propaganda, 349-57Provas, 163Proxamica, 110-11Pseudo-evento, 351-52Psicologia humanista, 221-30, 295Psicologia leiga, 23-34

R

Raciocinio, 150Receptor, 157Recompensa e custo, 267-68Redes, 309, 312-17Redundancia, 155-57

Reforco, 173, 243-44, 341-42Rejeicao, latitude de, 192Relacionamento ou relacao, 206-18

de ajuda, 225te6rico, 24

ReinOes humanas, 293-301Relatividade lingilistica, 137-39Respeito positivo incondicional, 224Resolucao de problemas, 149-50Resultado, 267-70RetOrica, 162-66

dimensaes da, 165-66Revelacao 221-27Reversibilidade, 144-45Revolucao cientifica, 27Ritos, 85Ritual, 124Ruido, 157

$

SatisfatOrio, 308Segregacao progressiva, 45Selack, da chave semantica, 100Semantica, 93-94Semantica geral, 126-30SemiOtica, 90-94Sentimentos, 265Significacao, 91-92, 125-26Significado, 11941, 151

abordagem representacional, 122-33abordagem dos usos, 139-41fenomenologia, 136-39teorias experienciais, 133-39

Significaturn, 90-91

Signo, 89-117nao-verbal, 107-15simbolos e sinais, 94-95

Signos nao-verbais, 117Simbolo, 89-96, 124-26, 346-48

significante, 70Simbolismo, 133-36Simbolismo apresentacional, 126Simbolo de condensacao, 346Simbolos discursivos, 126Simetria, esforco no sentido da, 178Simplicidade, descritiva, 31Simplicidade, lOgica, 31Simultaneidade, postulado de, 53Sinergia, 281-82Sintalidade, 280-81Sintaxe, 93Sistema, 41-46Sistema conceptual-avaliatorio, 60Sistema de codificacao, 56Sistema de controle do comportament60

Sistema de valor, 56Sistemas intencionais, 159-61Sistemas socials, 299-318Sistematizacao progressiva, 45Situacao, defini0o da, 66, 218-19, 308Sobrecarga de informacao. 312

403

Sociedade, 69-70de massa, 327-28

Suposicao, 24

Tato, 110

Tato (discernimento), 97Taxonomia, 22Teleologia, 30Tensao para a simetria, 242-43Teoria, 19-34

avaliagao, 3 1-34componentes, 21-25diferencas, 29-31estudo da, 18-19funcOes, 28-29e pesquisa, 26-28

Teoria da comunicacao, 4-35natureza multidisciplinar da, 366

Teoria da congruencia, 179-83Teoria da informacao, 47, 151-61Teoria da organizacao:

classica, 289-93

estruturalismo, 290-93relacdes humanas, 293-300sistemas sociais, 299, 301-18

Teoria de permuta, 267-70Teoria do campo, 29, 256-63Teoria do equilibrio, 177, 241-42Teoria dos jogos, 245-48Teoria dos sistemas gerais, 41-52Teoria fisicista, 30Teoria gerativa, 103-07Teoria humanista, 30Teoria macroscOpica, 29Teoria microscOpica, 29Teoria monadica, 29Teoria retOrica, 162-66Teorias da coerancia, 176-83Teorias de aprendizagem, 172-76, 243-44Teorias sistemicas, 301-18

Terapia centrada no cliente, 224Termos observacionais, 22Taste dos 20 enunciados, 77Tomada de decisao, 242-43, 304, 305-09,

31 1participante, 298

Topologia, 257TOTE, 148Transacao, 248-49Transmissao, 156-58Transparencia, 226-27Triangulo de significado, 123Tu, 84

1 . 1

Utilizacao de conceitos, 142

V

Valor, 92-94, 171, 186-91, 272-73Vinculo temporal, 129

-V6z, 111volume e intensidade, 111

z

Zona de indiferenca, 304

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Indice Onomasticol

 A

 Ackoff, R. 159-61 Al[port, G. 45, 170 Altman, I. 253, 262 Argyris, C. 294-96 Aristnteles 162-64 Aronson, E. 184 Ashby, W.R. 42, 45 Austin, G.A. 141 Austin, J.L. 139-40

B

Baird,'A 163Bales, R.F. 253, 270-74Ball-Rokeach, 5.1. 344-45Barnard, C. 301-05Barnlund, D.C. 20, 28, 35, 206Bateson, G. 54, 55, 56, 57, 58, 59Bauer, R.A. 328-29Beavin, J. 206-09Becker, L. 345Bell, D. 328Bendix 291Benne, K. 278-80Bennis, W.G. 274Berelson, B. 287, 329Berlo, D. 331Berne, E. 227-30Bertalanffy, L. 42, 45-47Bever, T.G. 96, 103, 106Bigelow, G. 49Binkley, T. 139Birdwhistell, R. 108-09Black, M. 19

Blake, R. 296Bloom, L. 95Bloomfield, L. 96Blount, B.G. 95Blumer, H. 71-76Blumler, j. 343Bois, J.S. 127Boorstin, D. 351-52Borgatta, E.F. 253Bormann, E.G. 18, 20, 25, 253-58Boulding, K. 47, 48, 118-19, 336Bourne, L.E. 141Bowers, J. 30Boylan, I. 341Braine, M.D. 1 02Brehm, ).W. 184

1Os tebncos mais ImPortautes figunm em negrito.

Bright, P.L. 350

Broadbent, A.R. 152Brockriede, W. 164-66Bross, I. 26, 28, 31Brown, C.H. 139Brown, R. 184Bruner, J.S. 141Buckley, W. 42, 45, 48, 50Burhans, D.T. 171Burke, K. 7843Burton, A. 141-44Byrne, D. 241, 243-44Byrnes, J. 345

C

Carey, J.W   • 337Carroll, J.P. 95, 137Cartwright, D. 253-54

Casslrer, E. 133-36Cathcart, R.S. 253Cattel, R. 280-82Chao, Y.R. 95Cherry, C. 52Childs, M. 350Chomsky, N. 100, 103-07Clevenger, T. 30, 54-55Cohen, A.R. 184Collins, B.E. 184, 190, 262-64Coyne, P. 68Crowell, L. 274

D

a le, P.S. 95a nce, F.E.X. 20, 36-38

arnell, D.K. 152avidson, W.P. 341avis, M. 107, 245

eets, S. 136-37eFleur, M. 319-20, 325, 3 44-45eVito, J.A. 95, 101, 207eutsch, K.W. 20, 28, 31, 52ewey,

J.120-22, 149-50

i ckson, R. 294i ttmann, A.T. 113-14oob, L. 352-55uncan, H. 83-85

E

Edelman, M. 346-48Eisenberg, A.M. 108

Eisenstadt, S.N. 291

Ekman, P. 111-14

Elliott, G.P. 336Ellul, J. 355-57Engel, S.M. 139Etzioni, A. 287, 290, 291, 294Eulan, H. 321

F

Fagen, R.E. 41, 42, 45Fann, K.T. 139Farace, R.V. 313-17Fayol, H. 290Feigl, H. 30, 31Festinger, L. 183-86Filley, A. 289-90Fiore, Q. 338Fishbein, M. 171-72Fisher, B.A. 253, 274-77Flavell, J.H. 144Fodor, 14. 96, 97, 100, 103, 106Foley, 1.M. 53Fotheringham, W.C. 94, 95, 166-69Freidson, E. 327Freshley, D. 288Freund, J. 291Frey, F. 358Fries, C. 96Friesen, W. 111-14Furth, H.G. 144

C

Gadamer, H. 136-137

Galanter, E. 147-149Gardiner, J.C. 53Garner, W.R. 152Garrett, M.F. 96, 106Garvin, P. 95Cassel;, 0. 327Gaudet, H. 329Gerbner, G. 319, 325Coffman, E. 218-21Coldhaber, G. 227, 288-89Goodnow, H. 141Gordon, G. 35, 36

Goulding, P. 358Gouran, D. 253Grene, M. 17Guetzkow, H. 262-64Guibaud, 50

Gurevitch, M. 343

Page 396: Fundamentos Teoricos Da Comunicacao Humana

7/17/2019 Fundamentos Teoricos Da Comunicacao Humana

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406 Fundamentos Teoricos da Comunicacao Humana

H

Hagerstrand, T. 331Hall, A.D. 42, 45Hall, C.S. 20, 21, 28, 31, 256Hall, E. 110-11Hamburg, C.H. 134Handy, R. 48, 89Haney, W. 127Hanson, N.R. 19, 22, 25Hare, A.P. 253Harris, T. 227Harris, Z. 96Harrison, R. 107, 209Hawes, L. 19, 20, 21, 53, 244, 253, 274Hayakawa, S.I. 127Heidegger, M. 136-37Heider, F. 177-78, 232-34Hempel, C.C. 22Hickman, C.A. 76Hill, A. 95Hinton, B.L. 253Holtzman, P. 107Homans, G.C. 265-69

Hovland, C. 190House, R. 289-90Hull, C. 97, 174Hurst, J.C. 53Huseman, R. 288

Innis, H.A. 337ltzkoff, S.W. 134Ivey, A.E. 53

Jackson, D. 206-09Janis, I. 194-96, 282-84James, M. 227Jaspers, K. 327Jenkins, J. 100Jensen, J.W. 319Johannesen, R.L. 123Johnson, D. 244Johnson, W. 127-29 •Jonegeward, D. 227Jourard, S. 225-27

K

Kaplan, A. 20, 21, 22, 23, 27, 28, 29, 31,32, 33, 34

Kahn, R. 309-13Katz, D. 170, 309-13Katz, E. 329-30, 343Kearney, L. 30Kecskemeti, P. 349

Kelley, H.H. 234-37, 267-70Kenny, A. 139Kiesler, C.A. 172, 177, 184Kinch, J.W. 28King, S. 35Klepper, J. 341-42Kling, J.W. 173

Laing, R.D. 209-13Langer, S. 124-26, 134Larson, C.E. 20, 21, 36, 253Lasswell, H.D. 321Lazarsfeld, P.F. 329-30Lederer, E. 327Lee, A.R. 209Lee, I.J. 127Lerner, D. 358-61Lewin, K. 26, 256-62Liked, R. 298Lindzey, G. 20, 21, 28, 31, 256Lippmann, W. 350-51Logue, C. 288Luft, J. 221-23

M

Manis, J.G. 65-66Mannheim, K. 327Marcel, G. 327

March, J. 305-09Marrow, A.J. 26, 256Maruyama, M. 51Massie, J. 290, 293Matthews, J. 30, 54-55McGrath, J.E. 253, 262McGregor, D. 296McGuire, W.J. 169-70, 196-200MacLean, M. 321-25McLeod, J. 345McLuhan, M. 335-41McPartland, T. 77Mead, G.H. 66-71Mehrabian, A. 21, 238-41Meltzer, B.N. 65-66Merton, R.K. 328Miller, G.A. 147-49Miller, G.R. 20, 28, 31, 245-48

Miller, N. 172, 177, 184Moeller, D. 127Monge, P.R. 313-17Morgenstern, 0. 245Morris, C. 90-94Mortensen, C.D. 20, 28, 31, 35, 36,

248-50, 253Mouton, J.S. 296Mowrer, H.H. 102

N

Nebergall, R. 190Newcomb, T. 176, 178-79, 241-43Nichols, M. 122Nilsen, T.R. 36Nolan, M.J. 115-16, 209

0

Ogden, C.K. 122-24Osgood, C.E. 98-102, 130-33, 179-82

Piaget, J. 144-46Polanyi, M. 17, 29, 31, 32Pool, I. 349Pribam, K.H. 147-49

R

Radford, J. 141, 144Rapoport, A. 42, 44Ratner, J. 120Redding, C. 288Reitz, H.J. 253Reston, J. 350Richards, I.A. 122-24Riecken, H.W. 265Rivers, W.L. 319Roethlisberger, F.J. 294Rogers, C. 223-25Rogers, E.M. 319-20, 327, 330-35Rogow, A.A. 321Rokeach, M. 170-71, 182-83, 186-91Rosenbleuth, A. 49Rosenfeld, L. 253, 255, 274Roszak, T. 336

Rueckert, W. 79Ruesch, J. 54-58Russell. H. 313-17

S

Salus, P. 105Samovar, L.A. 253Sanborn, G. 288Sapir, E. 137-39Saporta, S. 100Scheidel, T.M. 274Schelling, T.C. 247Schilpp, P. 134Schramm, W. 319, 336Schutz, W. 214-18Searle, J. 139-41

Sears, D.O. 349Seidel, G. 136Sereno, K. 35Shannon, C. 151, 156-57Shaw, M.E. 253-54Sheats, P. 278-80Shepard, H.A. 274Shepherd, C. 253-55, 256, 265Sherford, E.H. 46Sherif, C. 190, 192Sherif, M. 190, 192-93Shoemaker, F.F. 330-31, 333Simon, H. 305-09Simons, H. 245-51Skinner, B.F. 97-98Smith, B. 321Smith, D, 21, 30, 244

Smith, R.R. 108Snider, J. 130Staats, A. 102Steam, G.E. 337Steiner, C. 227Steiner, G. 287Steinfatt, T. 244-48St t 1 139 40