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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA INSTITUTO DE QUÍMICA CURSO DE QUÍMICA DO PETRÓLEO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO LORENA ARAUJO DE MELO SIQUEIRA AROMÁTICOS RENOVÁVEIS A PARTIR DA PIRÓLISE FLASH DA LIGNINA KRAFT Natal - RN Julho/2018

Federal University of Rio Grande do Norte - UNIVERSIDADE … · 2019. 9. 1. · que por acreditar em meu sonho, me chamava carinhosamente por ‘minha petroleira’. Aos meus pais,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

INSTITUTO DE QUÍMICA

CURSO DE QUÍMICA DO PETRÓLEO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

LORENA ARAUJO DE MELO SIQUEIRA

AROMÁTICOS RENOVÁVEIS A PARTIR DA PIRÓLISE FLASH DA LIGNINA

KRAFT

Natal - RN

Julho/2018

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AROMÁTICOS RENOVÁVEIS A PARTIR DA PIRÓLISE FLASH DA LIGNINA

KRAFT

Lorena Araujo de Melo Siqueira

Orientador (a): Prof. Dra. Renata Martins Braga

Natal - RN

Julho/2018

Monografia Apresentada à Coordenação

do Curso de Química do Petróleo da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como Requisito Parcial à Obtenção

do Título de Bacharel em Química do

Petróleo.

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LORENA ARAUJO DE MELO SIQUEIRA

AROMÁTICOS RENOVÁVEIS A PARTIR DA PIRÓLISE FLASH DA LIGNINA

KRAFT

COMISSÃO EXAMINADORA:

_________________________________________

Profa. Dra. Renata Martins Braga

UFRN

Orientador (a)

_________________________________________

Ms. Janduir Egito da Silva

IFAM

Examinador

_________________________________________

Dra. Juliana Elionara Bezerra da Costa

PPGCEM

Examinadora

Monografia Apresentada à Coordenação

do Curso de Química do Petróleo da

Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, como Requisito Parcial à Obtenção

do Título de Bacharel em Química do

Petróleo.

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“Talvez não tenha conseguido fazer o

melhor, mas lutei para que o melhor fosse feito.

Não sou o que deveria ser,

mas Graças a Deus, não sou o que era antes”.

(Marthin Luther King)

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente à Deus que me proporcionou saúde, força e sabedoria

para vencer mais essa etapa em minha vida. Junto a Ele, meu avô Cleantho,

que por acreditar em meu sonho, me chamava carinhosamente por ‘minha

petroleira’.

Aos meus pais, Everardo e Zélia, pelo amor, carinho, apoio durante a

realização desse projeto de vida, e por fazerem de mim, a pessoa que sou

hoje. Sou grata pela dedicação, e por prezarem sempre pela nossa educação e

estudos.

Agradeço também às minhas avós, Lourdinha e Inês, pelo tanto que

aprendi com seus exemplos e força. A minha grande família que sempre me

apoiou e deram suporte nos momentos que mais precisei.

Ao meu namorado Alexandre, agradeço pelo amor, incentivo, paciência

e companheirismo. Sem sua força, alcançar o final desta jornada não seria

possível. Você sempre foi meu apoio para que eu pudesse prosseguir.

Às minhas orientadoras acadêmicas, Prof(a) Dra. Dulce Maria de Araújo

Melo e Prof(a) Dra. Renata Martins Braga, pela orientação deste tcc, pela

amizade, confiança, profissionalismo e apoio em todos esses anos de LabTam.

Foi muito especial trabalhar com vocês!

Aos meus professores de graduação, que marcaram essa trajetória de

curso, com amizade e direcionamento, apoio e conversas, Prof (a) Dra. Sibele

Pergher e Prof. Dr. Eledir Sobrinho.

A todos os amigos feitos na graduação de Química do Petróleo, que

juntos, tornaram essa experiência ainda mais entusiasmante.

Aos amigos do LabTam, que tornam nosso ambiente de trabalho um

ambiente agradável, de parcerias e determinação.

Aos amigos que a vida fez questão de unir, Gabriela

L, Caroline A., Adriana C., Priscyla K., Jéssica A., Mariana B., Sinnara, Julliane,

obrigada por sempre acreditarem em mim.

Finalmente, a todos que de alguma forma, diretamente ou indiretamente,

contribuíram para a realização deste projeto, os meus sinceros

agradecimentos.

Entrego. Confio. Aceito. Agradeço.

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RESUMO

Com o crescente interesse em fontes renováveis e sustentáveis de

energia, a biomassa torna-se um importante recurso alternativo para produção

de biocombustíveis e bioprodutos para substituição parcial dos recursos de

origem fóssil. Grandes quantidades de lignina são produzidas pela Indústria de

Papel e Celulose através do processo kraft, tornando-a como uma das

biomassas fonte de aromáticos mais disponível no mundo. Este trabalho teve

como objetivo a caracterização energética da lignina Kraft e avaliação do

rendimento de aromáticos renováveis em diferentes temperaturas de pirólise

flash. A biomassa foi caracterizada através da análise imediata e elementar,

poder calorífico, densidade aparente e análise termogravimétrica. A pirólise

analítica foi desenvolvida nas temperaturas de 400, 500 e 600°C utilizando um

micro pirolisador Py 5200 HP-R conectado ao cromatógrafo a gás. Os

resultados demonstraram que esta biomassa se apresenta como uma boa

fonte de energia, com um alto poder calorífico, proporcionando um maior

rendimento térmico no processo de degradação. Entretanto, esta biomassa

apresentou um baixo teor de voláteis para a pirólise e alto teor de cinzas. Como

produtos da pirólise têm-se a formação principal de compostos fenólicos e

produtos aromáticos com grupos metoxila. A maior quantidade de compostos

fenólicos foi obtida à temperatura de 600°C, entretanto com o aumento da

temperatura, houve diminuição na quantidade de aromáticos produzidos.

Apesar do baixo teor de voláteis, a presença de compostos aromáticos torna o

estudo da pirólise da lignina Kraft interessante pelo seu grande potencial como

matéria-prima renovável para energia e produtos químicos de alto valor

agregado.

Palavras chave: lignina Kraft, biomassa, pirólise flash, aromáticos renováveis.

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ABSTRACT

With the growing interest in renewable and sustainable energy sources,

biomass becomes an important alternative for the production of biofuels and

bioproducts for the partial replacement of fossil fuels. Large quantities of lignin

are produced by the Pulp and Paper Industry through the kraft process, making

it one of the most available biomass source of aromatics in the world. This work

has the purpose to characterize Kraft lignin and evaluate the yield of renewable

aromatics at different flash pyrolysis temperatures. Biomass was characterized

by ultimate and proximate analysis, high heating value, bulk density and

thermogravimetric analysis. Analytical pyrolysis was developed at temperatures

of 400, 500 and 600 degrees Celsius using a Py 5200 HP-R micro-pyrolyzer

connected to the gas chromatograph. The results demonstrate that this biomass

presents itself as a good source of energy, with a high calorific value, providing

a greater thermal yield in the degradation process. However, this biomass

presented a low content of volatiles for pyrolysis and a high content of ash.

Pyrolysis products have the main formation of phenolic compounds and

aromatic products with methoxy groups. The highest amount of phenolic

compounds was obtained at 600 °C, but with the increase in temperature, there

was a decrease in the amount of aromatics produced. Despite the low volatile

content, the presence of aromatic compounds makes the study of Kraft lignin

pyrolysis interesting because of its great potential as a renewable raw material

for energy and chemical products of high added value.

Keywords: kraft lignin, biomass, flash pyrolysis, renewable aromatics.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Áreas de árvores plantadas no Brasil por estado e por gênero (2016).

......................................................................................................................... 15

Figura 2: Composição da área de árvores plantadas por tipo de proprietários

em 2016. .......................................................................................................... 15

Figura 3: Esquema simplificado da polpação Kraft. ......................................... 17

Figura 4: Esquema de reação principal para a formação de lignina Kraft durante

a produção de celulose. ................................................................................... 18

Figura 5: Estrutura dos alcoóis: (a) álcool cumarílico, (b) álcool coniferílico e (c)

álcool sinapílico – precursores da lignina. ........................................................ 19

Figura 6: Unidades aromáticas constituintes da lignina. .................................. 20

Figura 7: Esquema de uma estrutura química da lignina. ................................ 21

Figura 8: Possíveis produtos formados a partir da lignina ................................ 23

Figura 9: Lignina Kraft cedida pela empresa Suzano Papel e Celulose. .......... 27

Figura 10: Fluxograma de Caracterização da Lignina. ..................................... 28

Figura 11: Probe com Filamento de Platina. .................................................... 32

Figura 12: Esquema Py-GC/MS utilizado para análises de pirólise e

cromatográfica. (a) Pirolisador, (b) Cromatógrafo e (c) Espectrofotômetro de

massas. ............................................................................................................ 33

Figura 13: Análise termogravimétrica TGA/DTG da Lignina Kraft. ................... 36

Figura 14: Estrutura Química da Lignina Kraft. ................................................ 38

Figura 15: Produtos da Pirólise. ....................................................................... 42

Figura 16: Cromatogramas da pirólise de Lignina Flash. ................................. 43

Figura 17: Proposta de mecanismo para geração de monômero de Lignina. .. 44

Figura 18: Proposta de mecanismo para geração de Fenol ............................. 45

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tipos de Pirólise. .............................................................................. 24

Tabela 2: Normas utilizadas para determinação da Análise Imediata e

determinação de Densidade Aparente ............................................................. 28

Tabela 3: Caracterização de Lignina Kraft por Análise Imediata. ..................... 34

Tabela 4: Caracterização por Análise Elementar da Lignina Kraft. .................. 35

Tabela 5: Compostos gerados a partir da Pirólise Flash da Lignina Kraft a

400°C. .............................................................................................................. 39

Tabela 6: Compostos gerados a partir da Pirólise Flash da Lignina Kraft a

500°C ............................................................................................................... 40

Tabela 7: Compostos gerados a partir da Pirólise Flash da Lignina Kraft a

600°C ............................................................................................................... 41

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 11

2. OBJETIVOS ............................................................................................... 13

2.1. Gerais ........................................................................................................ 13

2.2. Específicos ................................................................................................ 13

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................... 14

3.1. Indústria do papel e celulose no Brasil ................................................ 14

3.2. Obtenção da pasta celulósica e processo Kraft ......................................... 15

3.3. Recuperação do Licor Negro .............................................................. 18

3.4. Estrutura Química da Lignina .................................................................... 19

3.5. Pirólise ....................................................................................................... 23

3.6. Pirólise instantânea (pirólise de “flash”) ..................................................... 25

3.7. Pirólise da lignina ....................................................................................... 25

4. MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 27

4.1. Análise imediata ........................................................................................ 28

4.1.1. Determinação do Teor de Umidade .................................................... 29

4.1.2. Determinação de Teor de .................................................................... 29

Cinzas .............................................................................................................. 29

4.1.3. Determinação do Teor de Voláteis ...................................................... 30

4.1.4. Determinação de Teor de Carbono fixo .............................................. 30

4.2. Densidade aparente .................................................................................. 30

4.3. Poder calorífico .......................................................................................... 31

4.4. Análise Elementar ...................................................................................... 31

4.5. Análises termogravimétrica TG/DTG ......................................................... 31

4.6. Pirólise da biomassa .................................................................................. 32

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................... 34

5.1. Análise Imediata ........................................................................................ 34

5.2. Análise Elementar ...................................................................................... 35

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5.3. Poder Calorífero ........................................................................................ 35

5.4. Densidade Aparente .................................................................................. 36

5.5. Análise termogravimétrica TG/DTG ........................................................... 36

5.6. Pirólise Flash ............................................................................................. 37

6. CONCLUSÕES .......................................................................................... 46

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 47

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1. INTRODUÇÃO

A biomassa lignocelulósica é o recurso renovável mais abundante no

mundo, (RASTOGI e DWIVEDI, 2007) seu reconhecimento para uso potencial

na produção de produtos químicos e biomateriais com alto valor agregado tem

despertado o interesse da comunidade científica devido seu baixo custo e

abundância. Seus três principais componentes são:

celulose, hemicelulose e lignina, sendo a celulose o recurso natural mais

abundantemente disponível com demanda constante devido sua estrutura

química favorável a geração de produtos . Com a crescente produção de

celulose nos últimos anos, e os relatórios da Indústria Brasileira de Florestas

apontam um aumento de 9% entre 2013 e 2014 e de 4% entre 2014 e 2015,

chegando a dobrar de produção na última década. Isso gera o crescimento das

indústrias, tendo como consequência o aumento na produção de celulose

ocasionando, também, um aumento do volume de licor negro gerado no

processo, que é considerado um subproduto do processo de polpação da

madeira (DIAS, 2014). O Licor negro é composto pela pasta celulósica e

liginina dissolvidos após etapa de digestão em uma planta de processo kraft.

A lignina é um subproduto importante na indústria de papel e celulose,

e é um recurso renovável com potencial para ser usados na geração produtos

químicos de matérias-primas primárias aromáticas valiosas (TAN, 2009). Sua

principal função como coproduto é gerar energia através de sua queima para

produção de vapor superaquecido, no entanto, a utilização da lignina como

combustível não é economicamente racional, pois o equivalente em dinheiro da

lignina usada como combustível é de 0,70 R$ / kg, enquanto o valor

aproximado da lignina usada na conversão química pode chegar a 4,22 R$ / kg

(MACFARLANE et al, 2009).

Atualmente, a indústria de celulose e papel libera aproximadamente 5

milhões de toneladas de lignina Kraft por ano, e apenas cerca de 2% dessa

lignina é utilizada comercialmente (LAURICHESS e AVÉROUS, 2014),

(SCHORR et al, 2014), (MAI et al, 2000).

O processamento da lignina ainda é um desafio, com toda sua

complexidade química, recalcitrância, estrutura não uniforme, reatividade

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química característica e a presença de várias impurezas orgânicas e

inorgânicas, são alguns dos vários fatores que restringem o seu uso (VISHTAL

E KRASLAWSKI, 2011), entretanto, por ser o produto renovável aromático

mais abundante, vários estudos são feitos a fim de elaborar estratégias para

sua degradação e obter promessas para sua utilização (ZAKZESKI et al, 2010;

BRUIJNINCX et al, 2015; ZHAO et al, 2015; ZHAI et al, 2017).

Nesse contexto, o trabalho teve como objetivo avaliar influência de

diferentes temperaturas de degradação da lignina pelo método de pirólise flash

a monômeros para produção de produtos comercialmente lucrativos.

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2. OBJETIVOS

2.1. Gerais

Avaliar influência de diferentes temperaturas de degradação da lignina

pelo método de pirólise flash a monômeros aromáticos para produção de

produtos comercialmente lucrativos.

2.2. Específicos

Caracterização energética da lignina Kraft

Avaliar a influência da temperatura nos rendimentos dos produtos da

Pirólise da lignina kraft.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. Indústria do papel e celulose no Brasil

A indústria de papel e celulose é de grande importância para a economia

brasileira, sendo responsável por aproximadamente 1% do PIB do país. Com a

produção de celulose em constante crescimento, registra-se recordes

consecutivos nos últimos anos, devido a demanda externa aquecida,

principalmente na China e Europa (os principais mercados de destino). O Brasil

é o quarto maior produtor de celulose no cenário mundial, com uma capacidade

produtiva de 13.315 mil toneladas de celulose, e nono maior produtor de papel

no planeta (BRACELPA, 2009).

A madeira é a principal matéria-prima para a indústria da celulose. A

totalidade da produção brasileira é realizada através de florestas plantadas e

manejadas especificamente para este fim. O eucalipto, árvore do ramo das

folhosas, que fornece celulose de fibra curta, mostrou-se extremamente

produtivo para grandes plantações no Brasil, sendo hoje em dia, junto a Pinus,

responsáveis pela produção de mais de 98% do volume produzido de celulose

no país.

Apesar de não ser uma espécie nativa do Brasil, o eucalipto se adaptou

muito bem no país. Antes de iniciar o plantio para a fabricação de papel, a

International Paper1 desenvolveu pesquisas para verificar a adaptação da

planta no solo e clima brasileiro.

Segundo o Relatório Anual do Ibá (2017), em 2016, o plantio de eucalipto

no país ocupava cerca de 5,7 milhões de hectares da área de árvores

plantadas e estão localizados principalmente no sudeste, em Minas Gerais

(24%), São Paulo (17%) e no Mato Grosso do Sul (15%) (Figura 1). Desta

produção, 34% correspondem ao segmento de Celulose e papel (Figura 2).

1 A International Paper é uma empresa estadunidense do ramo de papel e celulose constituída

em 1898 através da aquisição de diversas empresas do setor e possui sua cede em Memphis,

Tennessee, EUA

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Figura 1: Áreas de árvores plantadas no Brasil por estado e por gênero (2016).

Fonte: Relatório Anual 2017 IBÁ (2017).

Figura 2: Composição da área de árvores plantadas por tipo de proprietários em 2016.

Fonte: IBÁ (2017)

3.2. Obtenção da pasta celulósica e processo Kraft

Atualmente, o processo Kraft é o processo de polpação mais utilizado nas

fábricas de celulose por todo o mundo, cujas vantagens são a deslignificação

das fibras e branqueamento da celulose, tendo como objetivo a dissolução da

lignina individualizando as fibras da madeira (SANTOS, 2016), como também

possui capacidade de ter mínimas perdas químicas e máxima eficiência

energética (FOELKEL, 2013).

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O processo Kraft (Figura 3) tem início pelo preparo da madeira, onde

picadores são utilizados para reduzir as dimensões das toras produzindo os

chamados cavacos de madeira. Em seguida, os cavacos são encaminhados

para a etapa de digestão. Nesta parte do processo, os cavacos que alimentam

o digestor são aquecidos junto ao licor branco de cozimento (que contém os

produtos químicos ativos de cozimento como hidróxido de sódio (NaOH) e

sulfeto de sódio (Na2S) até a temperatura de 175 °C.

Durante o cozimento (Figura 4), várias reações paralelas ocorrem,

incluindo a clivagem das ligações lignina-carboidrato, despolimerização da

lignina, reação com o íon hidrossulfeto (HS-) e sua recondensação. A

despolimerização de lignina ocorre principalmente pela clivagem das ligações α

e β-éter-arílicas, primeiramente em unidades fenólicas e em seguida, a

deslignificação em unidades não-fenólicas. Tais reações geram porções com

compostos fenólicos livres (FOELKEL, 1977). O Licor negro obtido pela etapa

de digestão é rico em compostos orgânicos dissolvidos, obtidos a partir da

madeira e quantidades significativas de sódio e enxofre, provenientes do licor

de cozimento (DIAS, 2014).

No processo seguinte à digestão, a polpa cozida é separada do licor

negro residual num processo cuidadoso e controlado conhecido por

Deslignificação. Este método de lavagem emprega uma série de tambores

lavadores a vácuo com filtros rotativos, separando a pasta celulósica rica em

matéria orgânica, do licor, denominado licor negro fraco, onde parte deste

alimenta o tanque de descarga do digestor, e a outra parte segue para

recuperação.

Em comparação com a lignina presente na madeira, a lignina Kraft sofre

mudança em sua estrutura química. Grande parte da rede de ligações formada

entre a lignina e os polissacarídeos é degradadas, deixando apenas pequenas

quantidades de ligações lignina-carboidrato intactas na lignina dissolvida após

o processo de polpação (GELLERSTEDT, 2015).

Segundo Mezzomo et al. (1997), a quantidade de lignina pode afetar

negativamente a deslignificação no cozimento Kraft, ocorrendo variações no

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número Kappa2, no rendimento e alvura da celulose marrom. Madeiras com

quantidades maiores de lignina podem produzir maior número kappa2 e menor

alvura ou exigirem maiores quantidades de álcali no cozimento.

A grande vantagem do processo Kraft consiste em sua capacidade de

ter mínimas perdas químicas e máxima eficiência energética. O processo

resulta na dissolução de cerca de 90-95% de toda a lignina presente no

material de partida. Por acidificação da polpa do licor, a lignina dissolvida pode

ser recuperada como uma mistura complexa de estruturas fenólicas com alta

massa molecular. Cerca de 5-95% dos reagentes quimicos utilizados na

polpação são recuperados (GELLERSTEDT e HENRIKSSON, 2008).

Figura 3: Esquema simplificado da polpação Kraft.

Fonte: Dias (2014).

2 Nas indústrias de celulose uma variável muito importante, utilizada para medir a qualidade

da polpa produzida no processo de digestão é o Número Kappa, que é um índice que traduz o

grau de deslignificação da celulose. No Brasil, seu método de análise está expresso na norma

ABNT NBR ISO 302:2005. (CORREIA et al, 2014).

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Figura 4: Esquema de reação principal para a formação de lignina Kraft durante a produção de

celulose.

Fonte: Adaptado de LORA (2008).

3.3. Recuperação do Licor Negro

Foelkel (2014) considera o licor negro como um combustível rico em

matéria orgânica e em elementos minerais (sódio, sulfetos, carbonatos,

hidróxidos, potássio, cloretos, etc.). A sua queima em uma caldeira especial

(caldeira de recuperação) promove a geração de energia térmica e elétrica e

permite a recuperação dos reagentes químicos minerais para novo ciclo de

cozimento. Esta parte do processo é considerada um ciclo fechado e de grande

sucesso tecnológico.

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3.4. Estrutura Química da Lignina

Segundo Favaro (2015), a lignina é uma macromolécula com alta

complexidade e ramificações, classificada como um material homogêneo,

amorfo e polifenóico, proveniente da polimerização desidrogenativa de três

monômeros de fenil-propanóides: álcool coniferílico, álcool sinapílico e álcool p-

cumarílico, mediado por uma enzima. (Figura 5).

Figura 5: Estrutura dos alcoóis: (a) álcool cumarílico, (b) álcool coniferílico e (c) álcool sinapílico

– precursores da lignina.

FONTE: Adaptado de CORDEIRO (2016).

Esses percursores entram em contato com enzimas desidrogenases

(perioxidases e lacases), conduzindo à abstração inicial de um hidrogênio

radicalar no fenol, o que dá início a todo o processo de polimerização nos sítios

de lignificação (FAVARO apud FREUDENBERG e NEICH, 1968).

As ligações para a formação da lignina podem ocorrer nos átomos de

carbono da cadeia lateral do propano, no núcleo aromático e na hidroxila

fenólica. A principal ocorrência é a ligação entre as unidades de fenilpropano

do tipo β-O-4 (éter-arila). Além dessa ligação, outros tipos podem ocorrer,

como as ligações 4-O-5, 1-O-4, 5-5, β-5, β-1, β-β e ligações condensadas nos

carbonos 2 e 6 (Figura 7). Esses três precursores são a base do polímero e

levam à formação das unidades monoméricas da lignina p-hidroxifenil (H),

guaiacila (G) e siringila (S) conforme ilustrado na Figura 6 (FAVARO, 2015).

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Figura 6: Unidades aromáticas constituintes da lignina.

Fonte: FAVARO, 2015 apud SJÖSTROM (1993).

A copolimerização desses alcoóis produz uma macromolécula

heterogênea de alta massa molar, opticamente inativa e polidispersa (Figura 7).

A lignina é principalmente constituída de unidades fenilpropano associadas por

ligações estáveis do tipo C-C, aril-éster e aril-aril. (FENGEL, 1989).

Segundo Phillipp e D’Almeida (1988), a estrutura das ligninas de

diversos tipos de biomassas podem sem diferentes entre si, dependendo de

sua localização no vegetal, isso devido à contribuição de fatores topo-químico,

que influenciam em sua formação. Esses fatores, no final, podem terminar

afetando a quantidade relativa de ocorrência e a estrutura das ligninas

(PHILIPP e D’ALMEIDA, 1988).

Sua estrutura tridimensional explica a rigidez e a resistência às forças de

compressão, gerando uma estrutura resistente ao impacto, compressão e

quebra ao conferir rigidez à parede celular, ao agir como um agente

permanente de ligação entre as células (PHILIPP e D’ALMEIDA, 1988).

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Figura 7: Esquema de uma estrutura química da lignina.

FONTE: LAURICHESSE e AVÉROUS, 2013.

A lignina, produz até 10 a 25% da biomassa lignocelulósica insolúvel em

água, atua como a “cola” que conecta celulose e hemicelulose (WATKINGS,

2014). Depois da celulose, a lignina é o polímero natural mais abundante na

terra (RASTOGI e DWIVEDI, 2007).

Cerca de 5 milhões de toneladas de lignina é produzida a nível mundial,

anualmente, como subproduto da indústria de celulose e papel, sendo apenas

uma pequena fração empregada como fonte de calor e energia, para fins de

combustível de baixa qualidade em caldeiras de calor residual para fins de

geração de calor e energia na indústria de celulose, devido seu alto calor

especifico. Logo, a conversão dessa matéria-prima para a produção de

produtos químicos e combustíveis é um assunto de alta importância para o

meio científico, despertando interesse de pesquisadores por todo o mundo.

(MAI, 2000; XU et al, 2014).

As ligninas são agora consideradas como o principal recurso renovável

aromático, representando uma excelente alternativa para a elaboração de

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produtos químicos e polímeros. O método de extração da biomassa

lignocelulósica tem importância por definir a forma de seu uso em aplicações

industriais (LAURICHESSE, 2014). Um dos principais problemas é sua

estrutura aromática indefinida apresentada por este composto. Embora

utilizado atualmente como um aditivo, a lignina ainda é pouco explorada como

matéria-prima para a produção de produtos químicos (LAURICHESSE, 2014).

A lignina é uma excelente candidata a modificações estruturais e químicas e

desenvolvimento de novos materiais pela sua composição rica em grupos

hidroxila fenólicas e alifáticas, o que conduziu a numerosas pesquisas e

estudos durante as últimas décadas (LAURICHESSE, 2014).

Seu uso e funções dentro dos processos da refinaria de biomassa, no

entanto, ainda precisam ser mais explorados e desenvolvidos. A valorização

da lignina é um caminho muito promissor, uma vez que detém as

possibilidades de produzir produtos altamente funcionalizados, monoméricos

ou oligoméricos que podem servir como materiais de partida para outros

processos de valorização nas indústrias química e farmacêutica (LANGE,

2013).

Os principais produtos químicos gerados a partir da degradação da

lignina (fenóis, guaiacol, cresol, eugenol, siringol e catecóis), bem como os

seus produtos de oxidação (vanilina, siringaldeído, coniferaldeído, ácido

vanílico, ácido ferúlico, etc.) e os seus derivados hidrocarbonetos (benzeno,

tolueno, xileno, estireno e ciclo-hexano), já estão presentes em grande

proporção no mercado de commodities e de especialidades químicas, sendo

usados principalmente como matérias primas “verdes” para a fabricação de

nylons e resinas poliméricas (LlEVOT et al, 2015) (Figura 11). Artigos

publicados recentemente sobre o uso de lignina revisam diferente metodologia

química para conversão desse material em compostos químicos com alto valor

agregado, dificuldades são encontradas para o manuseio e conversão desta

(DONATE, 2014).

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Figura 8: Possíveis produtos formados a partir da lignina

Fonte: DONATE (2014).

Segundo Varanasi et al (2013) os produtos de degradação de lignina

gerados são considerados dependentes da biomassa de partida.

Como matéria-prima natural e renovável, obtida a um custo acessível e

com ótimas propriedades químicas e físicas, o potencial de substituição da

lignina se estende a qualquer produto atualmente oriundo de

substâncias aromáticas (WATKINGS et al., 2014). As áreas em que a lignina é

aplicável inclui industrias poliméricas (WANG et al., 2009)

3.5. Pirólise

A pirólise tem sido a forma mais antiga utilizada pelo homem para

aproveitamento da biomassa vegetal. O processo consiste na degradação

térmica de materiais orgânicos em ausência total ou quase total de um agente

de oxidação como o oxigênio do ar, e ocorre em uma faixa de temperatura

entre 400° a 1000°C, sendo seu principal objetivo obter produtos de elevado

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potencial energético e propriedades de uso melhores que aquelas da biomassa

inicial. (FAAIJ et al., 2005; MOHAN et al, 2006; SANTOS et al, 2010).

O método implica na decomposição térmica da biomassa formando

composto de menores massas moleculares, através da ruptura de ligações e e

na formação de ligações C-C e C-O, tonando-o um processo de oxidação-

redução no qual uma parte da biomassa é reduzida a carbono, enquanto a

outra parte é oxidada e hidrolisada dando origem a fenóis, carboidratos,

álcoois, aldeídos, cetonas e ácidos carboxílicos. Posteriormente, esses

produtos primários combinam-se entre si para formar moléculas mais

complexas tais como ésteres, produtos poliméricos, entre outros (ROCHA et al,

2004).

A pirólise tem sido amplamente aplicada como forma de conversão

tecnologia biomassa em combustíveis gasosos, líquidos e sólidos (TSAI, 2006).

Os produtos podem ser utilizados na geração de calor e eletricidade ou passar

por processos de melhoramento para serem usados com combustível e/ou

outros produtos químicos. (MOTA et al, 2015)

De acordo com Pedroza (2011), existem dois tipos de pirólise: a

convencional e a pirólise rápida, que se diferem pelas variáveis existentes no

processo, tais como a taxa de aquecimento, a temperatura, o tempo de

residência das fases sólida e gasosa e quais os produtos desejados. A partir

dessas, os tipos de pirolise são subdivididas em: carbonização, pirolise

convencional, pirólise rápida, pirólise flash-liquido, pirólise flash-gás, ultra,

vácuo, hidro-pirólise e metano-pirólise, diferindo-se uma das outras conforme

Tabela 1 abaixo:

Tabela 1: Tipos de Pirólise.

VARIANTES

DO PROCESSO

TEMPO DE

RESIDÊNCIA

TEMPERATURA DO

PROCESSO, °C

PRINCIPAIS PRODUTOS

OBTIDOS

Carbonização

Horas/dias

400-500

Carvão vegetal

Pirólise convencional, 5 – 30 min Até 600 Bio-óleo, carvão e gás

Pirólise rápida 0,5 – 5 seg 500 – 550 Bio-óleo

Pirólise flash-liquido < 1 seg <650 Bio-óleo

Pirólise flash-gás < 1 seg >650 Gás combustível

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Vácuo 2 – 30 seg 400 Bio-óleo

Metano-Pirólise < 10 seg > 700 Produtos químicos

Hidro-Pirólise < 10 seg <500 Bio-óleo e produtos químicos

Fonte: Pedroza (2011).

3.6. Pirólise instantânea (pirólise de “flash”)

A pirólise flash tem como principal característica altíssimas taxas de

aquecimento e tempo muito baixo de resistência da biomassa no reator. Estas

características favorecem a produção de vapores e torna o processo bastante

parecido com a gaseificação. Devido à alta taxa de aquecimento, onde os

tempos de resistência da biomassa são de apenas alguns segundos, faz-se

necessário o uso de reatores que atendam essas necessidades de

aquecimento, sendo eles de leito fluidizado e de fluxo arrastado. O reator de

leito fluidizado é empregado na execução de reações químicas multifásicas,

onde se emprega um catalisador, que funciona com um fluido dentro do

processo (MOTA et al, 2015).

Em comparação com a pirólise rápida, as velocidades de aquecimento são

bastante elevadas (maiores que 1000°C/s). Além disso, os tempos de

residência são menores que 1 segundo, e se utiliza partículas muito pequenas

de biomass, de modo a maximizar a transferência de calor (PARADELA, 2012).

Horne e William (1996), afirmam que as condições físicas da pirólise flash

de biomassa, tais como temperatura de aquecimento, taxa e o tempo de

residência mostraram ter um efeito importante sobre o produto, seus

rendimentos e a composição, favorecendo a formação de produtos líquidos e

minimizando formação de carvão e gás. Ainda afirmam que temperaturas

maiores que 650°C tendem a favorecer a formação de produtos gasosos a

partir de produtos líquidos (HORNE e WILLIAM, 1996)

3.7. Pirólise da lignina

Os produtos obtidos pela pirólise da lignina e sua cinética de reação,

refletem a complexidade de sua molécula, onde diferentes unidades

monoméricas derivados dos alcoóis que formam sua estrutura estão unidas

entre si por diversos tipos de ligações etéreas e ligações C-C. As fases

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preliminares dos estudos de processo de pirólise indicaram que as ligações

éter entre as unidades fenilpropano são clivadas, levando de forma eficaz para

a repartição dos polímeros de lignina, enquanto que as ligações duplas das

cadeias aromáticas são relativamente estáveis e permanecem em grande parte

intacta (KAWAMOTO et al, 2007).

Kawamoto et al (2007) ainda propuseram que devido à existência destas

ligações, a pirólise da lignina é tida como um trabalho pouco explorado, por não

originar um produto principal, em comparação à celulose. Como consequência

deste fato, os modelos cinéticos que são utilizados para a celulose, não podem

ser aplicados à decomposição térmica da lignina. Embora uma parte da

macromolécula de lignina seja menos estável que a celulose e se decomponha

a baixa temperatura, a maior parte se descompõe a elevadas temperaturas

(KAWAMOTO et al, 2007)

Os compostos identificados de pirólise térmica da lignina são compostos

quase inteiramente fenólicos, mais complexos do que os fenóis de celulose e

hemicelulose, como na maioria fenóis com substitutos metoxi, benzenediois e

fenóis polissubstituídos, como Catecóis, Vanilinas, guaiacóis, propilguaiacóis,

outros fenóis, hidrocarbonetos aromáticos, entre outros. Também encontram-se

como produtos principais da lignina os voláteis leves (GREENHALF, 2012).

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

A lignina Kraft estudada neste trabalho foi fornecida pela Empresa Suzano

Papel e Celulose, extraída do licor negro de uma planta de produção de

celulose de eucalipto que usa o processo Kraft (Figura 9). O resíduo foi seco

em estufa à 100°C para perda do excesso de umidade, seguido de

peneiramento com seleção das partículas de 100mm para serem submetidos

às análises de caracterização energética e pirólise analítica, seguindo as

etapas do fluxograma abaixo (Figura 10):

Figura 9: Lignina Kraft cedida pela empresa Suzano Papel e Celulose.

Fonte: O próprio Autor.

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Figura 10: Fluxograma de Caracterização da Lignina.

Fonte: O próprio Autor.

4.1. Análise imediata

Os procedimentos para as análises imediatas basearam-se na norma ASTM

(American Society for Testing and Materials) segundo Tabela 2 abaixo, e foram

realizados em triplicata.

Tabela 2: Normas utilizadas para determinação da Análise Imediata e determinação de

Densidade Aparente

Norma ASTM Parâmetro determinado

Umidade

E871-82

Cinzas E1755-01

Voláteis E897 e E872

Carbono Fixo Determinado por diferença

Densidade ASTM E 873-82

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4.1.1. Determinação do Teor de Umidade

O teor de umidade de uma biomassa é definido como a quantidade de água

presente no material, expressa como porcentagem em relação a sua massa.

Para determinação da umidade foram adotados os procedimentos descritos na

ASTM E871-82 utilizando cadinhos previamente secos em estufa e cerca de 3g

de biomassa, deixando-os 16 hora em estufa a 100°C e em seguida, colocados

em dessecador por 15 minutos para serem então pesados. O processo de

secagem em estufa e pesagem se repete até ser alcançada massa constante.

O teor de umidade foi determinado utilizando a Equação 1

% =

(Equação 1)

Onde:

Mc: Massa do cadinho (g);

Mi: Massa inicial da amostra (g);

Mf: Massa final da amostra (g).

4.1.2. Determinação de Teor de Cinzas

O teor de cinzas é uma medida do conteúdo mineral e outros materiais

inorgânicos presentes na biomassa. Para a determinação do teor de cinzas

foram adotados os procedimentos descritos na ASTM E1755-01, utilizando

aproximadamente 1 g da lignina, que foi aquecida a 575 ± 25°C por 3 h em

uma mufla EDG 7000 TECNAL

O teor de cinzas foi determinado utilizando a Equação 2.

(Equação 2)

Onde:

Mf: Massa final do cadinho + cinzas (g);

Mc: Massa do cadinho (g);

Mi: Massa inicial do cadinho + amostra (g)

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4.1.3. Determinação do Teor de Voláteis

O teor de voláteis se refere à parte da lignina que é liberada quando

aquecida até 800°C. Durante esse processo de aquecimento a lignina se

decompõe em gases voláteis e carvão sólido. O teor de voláteis foi

determinado de acordo com a norma ASTM E872-82, utilizando uma mufla

EDG 7000 da TECNAL. Aproximadamente 1g da biomassa é pesada em um

cadinho e inserida em uma mufla aquecida a 850ºC ± 20ºC, durante 7 min,

resfriada a temperatura ambiente em dessecador e pesada.

O teor de material volátil foi calculado de acordo com a Equação 3.

(Equação 3)

Onde:

Mi: Massa inicial da amostra (g);

Mf: Massa final da amostra (g);

Mc: Massa do Cadinho + tampa (g).

4.1.4. Determinação de Teor de Carbono fixo

O teor de carbono fixo é uma medida indireta e é determinado por

diferença, onde:

CF TC + TV + TU (Equação 4)

Onde:

CF = %Carbono Fixo

TC = % Cinzas

TV = % Voláteis

TU = %Umidade

4.2. Densidade aparente

A densidade aparente ou a granel da biomassa, foi determinada

experimentalmente de acordo com a norma ASTM E 873-82, medindo-se a

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massa da amostra (g) e dividindo pelo volume (cm3) ocupado em uma proveta

graduada.

4.3. Poder calorífico

O poder calorífico superior foi estimado de acordo com o modelo de

CORDERO et al (2001). A equação define a correlação entre a análise

imediata e o poder calorífico superior utilizando os resultados da análise

imediata através das Equação 5:

PCS=354,3(CF)+170,8(TV) (MJ/kg) (Equação 5)

Onde:

CF= Carbono Fixo

TV = Teor de Voláteis

4.4. Análise Elementar

A análise química elementar corresponde ao conteúdo percentual em

massa dos principais constituintes da biomassa: carbono (C), hidrogênio (H),

oxigênio (O), nitrogênio (N) e enxofre (S). A análise elementar foi realizada em

um equipamento Series II CHNS/O Analyzer PerkinElmer 2400. O PE 2400 usa

o método de combustão para converter os elementos em gases simples (CO2,

H2O e N2). Primeiramente, a amostra é oxidada em ambiente de oxigênio

puro, e os produtos são homogeneizados e controlados em condições exatas

de temperatura, pressão e volume para serem separados e detectados em

função de suas condutividades térmicas.

O teor percentual de oxigênio foi calculado pela diferença dos percentuais dos

demais constituintes, como mostra a Equação 6.

% O = 100 - %C - %H - %N – %S (Equação 6)

4.5. Análises termogravimétrica TG/DTG

A análise termogravimétrica (TG/DTG) da lignina kraft foi realizada para

avaliaras perdas de massa dos principais componentes da lignina. As análises

foram desenvolvidas em uma balança TGA Q500 da Shimadzu, o cadinho

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utilizado foi de Alumina, a taxa de aquecimento de 10°C/min, da temperatura

ambiente até 900°C, em atmosfera de N2, e com vazão de 50 mL/min.

4.6. Pirólise da biomassa

A pirólise analítica da lignina kraft foi realizada em um micro pirolisador

Py 5200 HP-R da CDS Analytical, com objetivo de avaliar os produtos da

pirólise em diferentes temperaturas (400, 500 e 600 °C). A amostra foi inserida

em um tubo de quartzo, e aquecida por um filamento de platina em volta deste

tubo (Figura 11). Após a decomposição térmica, os vapores foram arrastados

através de um fluxo de Hélio de 50 mL.min-1, sendo posteriormente

dessorvidos em um trap de Tenax, a 300 °C, por 4 minutos. Os vapores

dessorvidos foram analisados no cromatógrafo a gás acoplado ao

espectrofotômetro de massas da VARIAN (Figura 12). E separados em uma

coluna cromatográfica ZB-5 MS (60 m x 25mm) com programação de

temperatura de: 40 °C por 4 minutos, seguida de aquecimento a 10°C.min-1 até

280 °C, permanecendo por 14 minutos. Os espectros dos picos

cromatográficos, resultantes da pirólise, foram identificados através da

biblioteca comercial NIST, sendo considerados identificados quando a

similaridade espectral for maior que 80%, e após detalhada análise de cada

espectro.

Figura 11: Probe com Filamento de Platina.

Fonte: O próprio Autor.

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Figura 12: Esquema Py-GC/MS utilizado para análises de pirólise e cromatográfica. (a)

Pirolisador, (b) Cromatógrafo e (c) Espectrofotômetro de massas.

Fonte: O próprio Autor.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Análise Imediata

Na Tabela 2 são apresentados os resultados de análise imediata para a

lignina Kraft..

Tabela 3: Caracterização de Lignina Kraft por Análise Imediata.

Análise Imediata (%) Lignina

Umidade 12,44 ± 0,36

Cinzas 21,6 ± 2,28

Teor de Voláteis 45,64 ± 4,21

Carbono Fixoa 20,32 a calculado por diferença = (100 – umidade – cinzas – voláteis)%

O valor de umidade é importante para processos termoquímicos de

conversão da biomassa em energia, sabendo que a água interfere

significativamente na quantidade de energia necessária para a queima da

biomassa. (BARBOSA, 2017). O valor obtido de 12,44 está de acordo com o

esperado pela estrutura química da lignina rica em grupos hidroxila, que

absorvem água.

É apresentado que as ligninas possuem alto teor de cinzas e carbono

fixo e um baixo teor de materiais voláteis quando comparadas a outras

biomassas, tais como Coroa de Abacaxi (BARBOSA, 2017; BRAGA et al.,

2015), Palha do Milho (CALIXTO, 2016) e Bagaço de Cana-de-Açúcar

(CALIXTO, 2016). Segundo Santana (2018), o teor de cinzas encontrado é

esperado, sendo um fator que está diretamente ligado ao rendimento dos

produtos líquidos formados, onde uma grande quantidade deste conduz a

formação de gás e água à custa de compostos orgânicos, os valores obtidos

são semelhantes ao encontrado pelo mesmo autor.

Segundo Cardoso (2017), é importante que a biomassa lignicelulósica

possua um alto teor de voláteis para a pirólise, pois é nessa parte que se

encontram os produtos responsáveis pelo rendimento do bio-óleo ou pelo

enriquecimento de produtos químicos, sabe-se que esta fração é rica em

compostos aromáticos, cetonas, aldeídos e ácidos carboxílicos. Esta biomassa

apresentou teor de voláteis menor que outras aplicadas para pirólise como

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Bagaço de Cana-de-Açúcar e Palha do Milho (CALIXTO, 2016). Sabe-se que a

lignina é termicamente mais estável (GUTIERREZ et al,2006) característica

que confere a lignina um menor teor de voláteis.

5.2. Análise Elementar

Tabela 4: Caracterização por Análise Elementar da Lignina Kraft.

Análise Elementar (%) Lignina

Carbono 61,1

Oxigênioa 31,1

Hidrogênio 5,5

Nitrogênio 0,7

Enxofre 1,7 a calculado por diferença = (100 – carbono – hidrogênio – nitrogênio)%

Segundo Gouvêa (2012), biomassas que contem maiores teores de

Carbono e Hidrogênio, possuem maior capacidade térmica, em função da

energia liberada por eles na reação de combustão. O teor de enxofre

encontrado na lignina é devido ao método de extração da lignina e de polpação

da madeira, que usa o sulfeto de sódio (Na2S) para o processo Kraft, e apesar

de baixo é indesejável, mesmo este tendo potencial energético elevado, pois

pode provocar corrosão nos equipamentos e emissão de gases poluentes a

atmosfera (SO2) durante a degradação térmica deste material. Os resultados

de análise elementar encontrados para as ligninas Kraft são similares aos que

foram encontrados por LI et al. (2015), OHRA-AHO e LINNEKOSKI (2015),

ZHANG et al. (2014), SANTANA (2018).

5.3. Poder Calorífero

O potencial energético de uma biomassa é medido pelo seu poder

calorífico, que é dado pela quantidade de energia liberada por unidade de

massa ou de volume do combustível quando este é totalmente comburido

(ANSI/ASABE S593. 1 2011). O poder calorífero obtido através do método de

Cordero et al, (2001), foi de aproximadamente 15MJ/kg da lignina Kraft, um

poder calorífico relativamente alto, que se aproxima do valor obtido a partir de

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outras biomassas, como por exemplo bagaço de cana de açúcar 19,3 MJ/kg,

Vagem 16,1 MJ/kg e Palha do Milho 17,5 MJ/kg (CALIXTO, 2016). De acordo

com Santana (2013), este valor demonstra que esta biomassa se apresenta

como uma boa fonte de energia, pois um alto poder calorífico superior

proporciona um maior rendimento térmico no processo.

5.4. Densidade Aparente

A lignina Kraft apresenta um baixo valor de densidade (0,6368 g/m3)

sendo este também um parâmetro importante para constatar o potencial

energético de uma biomassa, pois a queima de um menor volume de biomassa

de baixa densidade produzirá menor quantidade de energia quando comparado

com outro material de densidade maior no mesmo volume, onde, quanto maior

for a densidade, maiores as chances de o material ter um melhor

aproveitamento energético.

5.5. Análise termogravimétrica TG/DTG

Figura 13: Análise termogravimétrica TGA/DTG da Lignina Kraft.

Fonte: Próprio Autor.

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O perfil de decomposição da lignina apresenta três estágios durante seu

processo de degradação. O estágio inicial é atribuído principalmente à

liberação de água e umidade, além de alguns constituintes orgânicos, cerca de

10% do peso da amostra é perdido neste estágio o que está coerente com a

análise do teor de umidade realizada na análise imediata A decomposição da

lignina dentro de uma ampla faixa de temperatura (150 - 450 ° C)

correspondente ao segundo estágio, que, por apresentar uma estrutura

complexa e aromática (ROWELL, 2005, SHAO et al), constituída de

macromoléculas tridimensionais, amorfas e ramificada (hidroxilas fenólicas,

grupos carbonila e hidroxilas benzílicas) lhe garantem uma maior estabilidade

térmica, sendo assim necessário uma maior quantidade de energia para

quebrá-la, conferindo maior resistência à degradação térmica. Gutiérrez et al.

(2006), afirma que a lignina é o componente da madeira mais estável

termicamente, quando comparada com as holoceluloses. Esse fato está

relacionado, segundo o autor e como já mencionado, com a complexidade de

sua estrutura química e com os tipos de ligações existente entre as moléculas.

A faixa de peso perdida nesta etapa é de aproximadamente 35%.

Em temperaturas mais elevadas, (>500°C), reações de decomposição e

reações de condensação de anéis aromáticos são predominantes durante o

processo pirolítico da lignina (3º estágio) sendo o carvão seu principal produto,

a perda de massa nesse estágio foi de aproximadamente 26%. As etapas

encontradas nas curvas termogravimétricas da lignina (Figura 13) estão de

acordo com outros trabalhos da literatura (FREITAS et al, 2017; SANTANA et

al, 2018), em que a perda de massa, em geral, começa em aproximadamente

200 °C e prossegue até 500 ou 600 ° C. Ao final da análise é mantida um

pouco mais de 20% da massa. Este valor é atribuído ao teor de cinzas +

carbono fixo. É importante o conhecimento de que diferentes tipos de ligninas e

seus processos de obtenção e separação da biomassa, geram diferentes

comportamentos na degradação térmica, resultado de sua diferente estrutura e

composições. (LIN et al, 2015).

5.6. Pirólise Flash

Os compostos resultantes da degradação térmica da lignina Kraft

estudada foram principalmente produtos aromáticos monoméricos com grupos

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hidroxila fenólica e metoxila aromática, dependendo das diferentes ligações

entre as unidades individuais de lignina. Os produtos de pirólise identificados

correlacionaram-se bem com a estrutura da lignina, devido à decomposição

dos compostos precursores do polímero, monômeros p-hidroxifenil, guaiacila e

siringila, devido a quebra de ligações β – O – 4, α – O – 4, C – C existentes na

molécula, produzindo então uma grande quantidade de estruturas fenólicas (

Lin et al, 2015). A formação dos compostos fenólicos e espécies voláteis de

baixo peso molecular é explicada pelas reações em cadeia com clivagem das

cadeias lateral como –OCH3 e –OH no anel aromático (SHEN et al, 2010).

A lignina Kraft é oriunda de uma madeira macia de eucalipto, sendo

este tipo formado a partir de unidades do tipo Guaiacol (R1 = H na Figura 14a)

apresentando uma grande diversidade e abundância na estrutura de suas

cadeias laterais, resultando na ampla gama de derivados deste como principais

produtos da pirólise. Ao contrário da celulose e hemicelulose, a lignina possui

varios tipos de ligações tridimensionais entre suas unidades monoméricas,

dando à lignina sua característica recalcitrante (SHEN et at, 2010).

Figura 14: Estrutura Química da Lignina Kraft (SHEN et al, 2010)

(A) Estrutura do monômero (B) Estrutura química da Lignina Kraft

Fonte: SHEN et al, 2010.

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É notável pela Figura 14, que a ligação em maior quantidade para este

polímero é a ligação alquil aril éter (β – O – 4), B1 e B2, representando cerca

de 60% do total de ligações poliméricas para essa molécula. Acredita-se que

este tipo de ligação seja mais reativo que a ligação C-C, desempenhando um

papel fundamental na pirólise primária, formando o grupo hidroxi-fenólico

através da abstração do próton H+ por clivagem da cadeia lateral (SHEN et al,

2010 apud BENSON, 1978).

Froass e Ragauskas (1996) acreditam que a ligação B7, gliceraldeído-

2-aril éter, possa ser um doador de próton H+ para formação de hidroxila

fenólica através de clivagem, atuando também como importante fonte de

geração de espécies voláteis.

São apresentados os produtos da pirólise flash da lignina Kraft para as

temperaturas de 400°C, 500°C e 600°C nas Tabelas 4, 5 e 6 respectivamente.

Observa-se uma grande quantidade de compostos fenólicos e aromáticos

gerados através da degradação térmica, além de outros compostos como

compostos leves, cetonas e sulfetos, para estas diferentes temperaturas de

reação.

Tabela 5: Compostos gerados a partir da Pirólise Flash da Lignina Kraft a 400°C.

Tempo de

Retenção Composto Classe %Área

1 1,303 (C1-C4) Hidrocarboneto 0,828468

2 1,618 (C1-C4) Hidrocarboneto 17,93904

3 1,819 (C1-C4) Hidrocarboneto 4,131652

4 3,837 Dimetil Disulfeto Sulfeto 6,413534

5 7,63 3-Metil-2-Ciclopenten-1-ona Cetona 0,141692

6 7,762 Dimetil-Trisulfeto Sulfeto 2,784221

7 8,846 2,3-Dimetil-2-Ciclopenten-1-ona Cetona 0,129213

8 9,086 3-Metil Fenol Fenol 0,26176

9 9,705 5-Fluoro-2-Metilanilina Amina 42,40831

10 10,556 1,2-Dimetoxi Benzeno Aromático 2,469546

11 11,099 2-Metoxi-4-metil Fenol Fenol 2,951132

12 11,293 2,5-Dimetil-1,4-Benzenodiol Éter 3,113271

13 11,942 2,3-Dimetoxi Tolueno Tolueno 0,881873

14 12,058 2,6-Dimetoxi Fenol Fenol 1,193091

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15 12,975 1,2,4-Trimetoxi Benzeno Aromático 5,75161

16 13,075 4-Amino-3,5-dietilpiridina Amina 5,742418

17 14,174 5-Metil-1,2,3-trimetoxi Benzeno Aromático 0,855339

18 14,8 1,2,4-Trimetoxi Benzeno Aromático 1,46337

19 15,123 3,4,5-Trimetoxi Benzaldeído Aldeído 0,367238

20 15,616 1,2-Dimetoxi-4-(2-metoxietenil)

Benzeno Aromático

0,173227

Tabela 6: Compostos gerados a partir da Pirólise Flash da Lignina Kraft a 500°C

Tempo de Retenção Composto Classe %Área

1 1,28 C1-C4 Hidrocarboneto 0,603386

2 1,606 C1-C4 Hidrocarboneto 15,77079

3 1,809 C1-C4 Hidrocarboneto 5,525823

4 2,132 Anidrido acético Anidrido 12,02239

5 3,84 Dimetil sulfeto Sulfeto 5,501427

6 4,172 Tolueno Tolueno 0,66245

7 6,58 p-Xileno Xileno 0,550561

8 7,143 2-Hepten-4-ona Cetona 0,120348

9 7,284 2-Hepten-4-ona Cetona 0,070433

10 7,638 3-Metil-2-ciclopenten-1-ona Cetona 0,247407

11 7,772 Dietil sulfeto Sulfeto 1,244935

12 7,824 Fenol Fenol 0,433582

13 8,85 2,3-dimetil-2-ciclopenten-1-ona Cetona 0,211617

14 9,086 3-Metil fenol Fenol 1,7244

15 9,451 4-Metil fenol Fenol 0,929188

16 9,709 5-Fluoro-2-metilanilina Amina 36,53055

17 10,01 2,6-Dimetil fenol Fenol 0,62005

18 10,561 1,2-Dimetoxi benzeno Aromático 1,965096

19 11,097 2-Metoxi-4-metil fenol Aromático 3,547393

20 11,298 2-Metoxi-4-metil fenol Aromático 3,424493

21 11,944 3,4-Dimetoxi tolueno Tolueno 0,923471

22 12,063 2,6-Dimetoxi fenol Aromático 0,508416

23 12,306 3,4-Metilenedioximetoxibenzeno Aromático 0,286592

24 12,975 1,2,4-Trimetoxi benzeno Aromático 4,144565

25 13,762 4-Etileno-1,2-dimetoxi benzeno Aromático 0,589401

26 14,172 5-Metil-1,2,3-trimetoxi benzeno Aromático 0,072015

27 14,804 1,2,4-Trimetoxi Benzeno Aromático 1,189725

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28 14,912 2-metoxi-4-propenil benzeno Aromático 0,5795

Tabela 7: Compostos gerados a partir da Pirólise Flash da Lignina Kraft a 600°C

Tempo de Retenção Composto Classe %Área

1 1,278 (C1-C4) Hidrocarboneto 0,888370569

2 1,591 (C1-C4) Hidrocarboneto 19,16808425

3 1,799 (C1-C4) Hidrocarboneto 5,282721395

4 2,105 (C1-C4) Hidrocarboneto 1,43317927

5 3,835 Dimetil Disulfeto Sulfeto 4,695250021

6 4,18 Tolueno Tolueno 1,683169798

7 5,96 p-Xileno Xileno 1,289654397

8 6,58 p-Xileno Xileno 0,950613499

9 9,07 3-Metil Fenol Fenol 6,875726499

10 9,437 4-Metil Fenol Fenol 2,863493137

11 9,68 5-Fluoro-2-metilanilina Amina 34,19381398

12 10 2,4-Dimetil Fenol Fenol 2,225144934

13 10,412 2-Etil Fenol Fenol 0,766559087

14 10,553 1,2-Dimetoxi Benzeno Aromático 1,337665823

15 10,614 2,4-Dimetil Fenol Fenol 0,422233111

16 11,092 2-Metoxi-4-metil Fenol Fenol 3,534061209

17 11,208 2-Etil-5-metil Fenol Fenol 0,849114543

18 11,294 2-Metoxi-4-metil Fenol Fenol 3,585383768

19 11,939 2,4-Dimetoxi Tolueno Tolueno 1,270901924

20 12,056 3,4-Dimetoxi Fenol Fenol 0,377755682

21 12,398 3,5-Dimetoxi Tolueno Tolueno 0,508067862

22 12,54 2-Metoxi-4-etil Fenol Fenol 1,835068017

23 12,96 1,2,4-Trimetoxi Benzeno Aromático 2,840474396

24 13,757 1,2-Dimetoxi-4-etileno Benzeno Aromático 0,530418008

25 14,165 1,2,3-Trimetoxi-5-metil Benzeno Aromático 0,593074829

A elevação da temperatura de pirólise apresentou como característica

principal o aumento do rendimento de fenóis, esse mesmo resultado foi obtido

por Santana (2018), na degradação de dois tipos de ligninas em diferentes

temperaturas, isso possivelmente devido a desmetoxilação do anel aromático.

(AMEN-CHEN, 2001).

Outro aspecto observado é a redução na formação de aromáticos do

tipo metoxi benzeno e consequente aumento de fenóis, como apresentado na

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Figura 15. É notável que o rendimento da pirólise aumente com temperatura

elevada, pois como a biomassa é estável termicamente, como pode ser

observado no resultado de TG, o maior desprendimento de voláteis se dá a

600°C devido a seus grupos substituintes serem reativos (especialmente –

OCH3) no anel aromático. Supõe-se que no craqueamento dos compostos do

tipo guaiacila para produzir derivados do tipo fenol, os compostos passem por

caminhos de craqueamento semelhantes.

Figura 15: Produtos da Pirólise.

A Figura 16 apresenta os cromatogramas dos produtos da pirólise nas 3

diferentes temperaturas estudadas, explicitando os maiores picos com seus

respectivos componentes.

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Figura 16: Cromatogramas da pirólise de Lignina Flash.

0 2 4 6 8 10 12 14 16

0,05,0x10

4

1,0x105

1,5x105

2,0x105

2,5x105

3,0x105

0 2 4 6 8 10 12 14 16

0

1x105

2x105

3x105

4x105

5x105

0 2 4 6 8 10 12 14 16

0,0

5,0x105

1,0x106

1,5x106

2,0x106

O H

CH3

500 °C

S

CH3CH3

F

CH3

NH2

O

O CH3

CH3

OCH3

O

O CH3

CH3

OH

OCH3

CH3

OH

CH3

OH

600 °C

C1-C

4

Inte

nsid

ad

e (

u.a

.)

Tempo de retençao (min.)

400 °C

Os principais produtos do tipo G (Guaiacila) e S (Siringuila) são obtidos

nas 3 diferentes temperaturas de pirólise, são eles: 1,2-dimetoxi benzeno, 2-

metoxi-4-metil fenol, 6-dimetoxi fenol, 1,2-dimetoxi benzeno, 2,3-dimetoxi

tolueno, 5-metil-1,2,3-trimetoxi benzeno, 1,2,4-trimetoxi benzeno, 3,4,5-

trimetoxi benzaldeido, 1,2-dimetoxi-4-(2-metoxietenil)benzeno. Os principais

produtos obtidos a partir do Tipo H (p-hidroxifenil) foi o 3-metil fenol, em baixa

quantidade. Vários dos produtos obtidos dessa pirólise foram encontrados por

outros pesquisadores (BREBU et al 2013), (LI et al, 2012), (NUNES et al 2010),

(SANTANA, 2018).

Os compostos contendo enxofre, são derivados do processo de

polpação Kraft, que sofrem reações termoquímicas durante a pirólise,

resultando na diminuição destes compostos e consequente formação de SOx,

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com o aumento da temperatura. Os compostos do tipo SOx não podem ser

analisados pelo sistema GC-MS utilizado neste trabalho. Segundo Zhang et al

(2012), o dissulfeto de metila que aparece em ambas as pirólises, está

associado a natureza de obtenção da Lignina Kraft.

Em comparação com os compostos do tipo Siringila (S), os compostos

Guaiacila (G) são os produtos predominantes da pirólise primária de lignina de

madeira macia (eucalipto). Um caminho possível para a formação de Guaiacila

(G1) e siringila (S1) é por meio da clivagem da ligação aril-alquil-aril, B4 na

Figura 14, em paralelo com a abstração do próton H+ do grupo fenóxi (C6H5O—

) formando hidroxil-fenólico (AMEN-CHEN, 2001). Outra forma de obtenção do

monômero de guaiacila e siringila é pela eliminação do grupo (R2), como

descrito pela reação (1) na Figura 17 proposta por Shen et al (2010):

Figura 17: Proposta de mecanismo para geração de monômero de Lignina (Shen et al (2010)).

Fonte: Shen et al (2010).

Os derivados de Guaiacila (G) de cadeia lateral alquílica saturada,

como 4-metilguaiacila (2-Methoxi-4-metil fenol) e 4-etilguaiacila (4-etilfenol), são

possivelmente formados pela clivagem da ligação Cα – Cβ causado pelo

aumento da temperatura de pirólise (Shen et al, 2010).

Uma série de reações com radicais livres, expostos na Figura 18, é

empregada para explicar a formação de compostos fenólicos.

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Figura 18: Proposta de mecanismo para geração de Fenol (Shen et al, (2010))

Fonte: Shen et al, (2010).

O grupo metóxi (–OCH3) é inicialmente clivado do anel aromático para

gerar radicais e provocar uma reação em cadeia. O hidrogênio do radical metila

é então abstraído produzindo o fenol, juntamente com a liberação de um radical

metileno (-CH2).

Sequencialmente, o radical metileno atua como um doador H+ para a

formação de outro tipo de fenol, promovendo novos radicais livres que podem

ser acoplados para produzir as espécies de baixo peso molecular (CO, CO2,

CH4 e CH3OH)

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6. CONCLUSÕES

Os resultados de caracterização energética confirmaram o baixo teor de

voláteis e elevado teor de cinzas da lignina Kraft. No entanto os voláteis

produzidos pela pirólise a 600 °C apresentaram composição rica em compostos

fenólicos.

A pirólise Flash tem efeito sobre as características estruturais da Lignina

Kraft e os produtos obtidos, onde a temperatura de pirólise tem influência

considerável nos rendimentos do produtos, sendo a temperatura de 400° C a

mais apropriada para produção de compostos do tipo metoxi benzeno.

Os derivados da lignina têm potencial para aplicações industriais e

comerciais e, portanto, podem ser utilizados em diferentes áreas, no

desenvolvimento de polímeros renováveis, para substituição de plásticos

derivados do petróleo, ou na formulação de compostos para uso em fármacos,

resinas fenólicas ou epóxi, poliéster, nailons, detergentes, membranas,

adesivos, corantes e etc.

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