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Evaluation and Development of Advanced Cooling Systems for Microelectronics TIAGO MANUEL OLIVEIRA HENRIQUES MOITA Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA E DE COMPUTADORES Júri Presidente: Professor Doutor José António Beltran Gerald Orientador: Professor Doutor Marcelino Bicho dos Santos Co-Orientador: Professor Doutor António Luís Nobre Moreira Vogal: Professor Doutor José Júlio Alves Paisana Dezembro de 2008

Evaluation and Development of Advanced Cooling Systems for ... · processadores de computadores e inclui a construção de um modelo experimental que permite reproduzir o comportamento

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Evaluation and Development of Advanced Cooling Systems

for Microelectronics

TIAGO MANUEL OLIVEIRA HENRIQUES MOITA

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA E DE COMPUTADORES

Júri

Presidente: Professor Doutor José António Beltran Gerald

Orientador: Professor Doutor Marcelino Bicho dos Santos

Co-Orientador: Professor Doutor António Luís Nobre Moreira

Vogal: Professor Doutor José Júlio Alves Paisana

Dezembro de 2008

I

Agradecimentos

Gostaria de começar por agradecer aos meus orientadores, o Professor Marcelino Santos e o

Professor António Moreira, pelo apoio, sugestões, conselhos e incentivo dados ao longo do processo

de elaboração do presente trabalho.

Também gostaria de deixar um agradecimento muito especial aos meus pais que sempre me

incentivaram e acompanharam. Agradeço-lhes pelos seus conselhos e paciência que tiveram ao

longo de todo o meu percurso académico.

Agradeço ainda à Ana, cuja experiência, conselhos e amizade me permitiram alcançar objectivos e

superar desafios, tendo o seu apoio sido fundamental ao longo de todo o meu percurso académico.

Quero deixar um agradecimento à empresa AquaPC (http://www.aquapc.com/) e em particular ao

Engenheiro Rui Laginha por desde logo se ter disponibilizado a ajudar na escolha do sistema de

arrefecimento a água, por ter acompanhado o processo de selecção do equipamento e por ter

oferecido todo o equipamento de Watercooling utilizado na presente tese.

Gostaria também de agradecer ao representante da Candela em Portugal por ter disponibilizado

ao Laboratory of Thermofluids, Combustion and Energy Systems do IN+ a válvula utilizada neste

trabalho.

Gostava ainda de agradecer aos funcionários das oficinas do departamento de engenharia

mecânica pelo apoio prestado durante a execução deste trabalho.

Por fim, gostava de agradecer a todos os meus amigos e em particular aqueles que me

acompanharam ao longo do curso e com quem pude partilhar a minha experiência académica.

II

Resumo

O presente trabalho comporta o desenvolvimento de sistemas avançados de arrefecimento para

processadores de computadores e inclui a construção de um modelo experimental que permite

reproduzir o comportamento dinâmico de um processador real.

O modelo permite a realização de diversos testes, nomeadamente testes com potência constante,

temperatura constante ou variação de potência no tempo para a reprodução de condições reais.

Estudou-se o desempenho térmico de sistemas de arrefecimento de uso corrente com recurso a ar

e água (contacto indirecto), verificando-se que, embora não exista um claro domínio, o sistema

indirecto a água apresenta um melhor desempenho.

Um sistema de arrefecimento por contacto directo foi também aplicado ao modelo experimental.

Este sistema baseia-se na tecnologia de Spray Cooling Intermitente. O trabalho inclui um estudo

aprofundado da influência do sinal (frequência e duty cycle) e pressão de injecção, distância entre

atomizador e superfície do processador, posição do processador (horizontal versus vertical) e

propriedades do líquido de arrefecimento.

Os resultados demonstram que esta tecnologia poderá funcionar como sistema de arrefecimento,

após optimização, demonstrando-se ainda que: i) existe uma distância óptima entre atomizador e

superfície do processador (20 – 30mm) e ii) uma gama óptima para o duty cycle (50%-60%) que

permite uma correcta gestão de líquido; iii) o uso de reduzidos duty cycle e elevadas frequências

deve ser evitado visto não garantir o equilíbrio térmico; iv) o processador deverá funcionar na

horizontal.

O presente trabalho foi aceite para apresentação oral na 22nd European Conference on Liquid

Atomization and Spray Systems (ISBN 978-88-903712-0-2).

Palavras-Chave

Arrefecimento – Inovação – Processador – Modelo Experimental – Spray – Intermitente

III

Abstract

The work reported aims the development of advanced cooling systems for computer processors. It

includes the design and construction of a test bed which reproduces the dynamic behaviour of a real

processor.

The test bed can operate under diverse thermal boundary conditions, namely constant power

dissipation, constant temperature and a time varying heat flux typical of real operating conditions. The

experiments encompass the quantification of the thermal performance of air-cooling and indirect

water-cooling systems currently available in the market. The results show that, although by a small

margin, the water system performs better.

A direct cooling apparatus was then applied to the test bed, which considers a recently technology

of Intermittent Spray Cooling. The work includes a comprehensive study of the influence of the

injection signal (frequency and duty cycle) and pressure, distance from the nozzle to the processor

surface, orientation of the processor (horizontal versus vertical) and thermal properties of the coolant.

The experiments clearly show that the technology has the ability to operate as a cooling system,

given proper optimization, and the results show that: i) there is an optimal distance to place the nozzle

above the processor (20 – 30mm) and ii) an optimal duty cycle range (50%-60%) that allows a correct

fluid management; iii) small duty cycles with high frequencies should be avoided as they cannot

manage accurately the system temperature; iv) processors should work horizontally.

The present work was accepted for oral presentation at the 22nd European Conference on Liquid

Atomization and Spray Systems (ISBN 978-88-903712-0-2).

Keywords

Cooling – Innovation – Processor – Test Bed – Spray – Intermittent

IV

Índice

Agradecimentos.................................................................................................................................. I

Resumo............................................................................................................................................. II

Abstract ............................................................................................................................................ III

Índice................................................................................................................................................ IV

Lista de Tabelas ............................................................................................................................... VI

Lista de Figuras ............................................................................................................................... VII

Nomenclatura ................................................................................................................................... IX

Capítulo 1 - Introdução........................................................................................................................1

1.1. Contexto, motivação e principais conceitos..........................................................................1

1.2. Objectivos............................................................................................................................7

1.3. Organização da tese............................................................................................................7

Capítulo 2 - Tecnologias de arrefecimento de processadores: estado da arte......................................8

Capítulo 3 - Modelo Experimental: Simulação de um Intel® Pentium® 4 no encapsulamento de 423

pinos.................................................................................................................................................18

3.1. Metodologia de análise ......................................................................................................18

3.2. Principais características do sistema a simular...................................................................18

3.3. Construção do modelo experimental: evolução cronológica ...............................................19

3.4. Versão final do Modelo experimental: construção, controlo e teste.....................................24

3.4.1. Controlo: circuitos auxiliares ........................................................................................26

3.4.2. Controlo: programação do microcontrolador ................................................................29

3.4.3. Controlo: programa de interface com o utilizador .........................................................36

3.4.4. Controlo: testes finais ..................................................................................................42

Capítulo 4 - Sistemas de arrefecimento considerados e metodologia experimental ...........................45

4.1. Sistemas de Arrefecimento de uso corrente.......................................................................45

4.1.1. Sistema de convecção forçada a ar (Air-Cooler) ..........................................................45

4.1.2. Sistema de contacto indirecto com líquido (Watercooling)............................................46

4.2. Sistema de arrefecimento de contacto directo: Intermittent Spray Cooling (ISC).................47

4.3. Metodologia Experimental..................................................................................................50

4.3.1. Sistemas de uso corrente ............................................................................................50

4.3.2. Intermittent Spray Cooling (ISC) ..................................................................................51

Capítulo 5 - Resultados experimentais ..............................................................................................54

5.1. Sistemas de arrefecimento de uso corrente .......................................................................54

5.2. Intermittent Spray Cooling (ISC).........................................................................................58

Capítulo 6 - Conclusão e sugestões para trabalho futuro...................................................................81

Referências ......................................................................................................................................85

ANEXO 1 – Conceitos Termodinâmicos, Transferência de Massa e de Calor....................................88

ANEXO 2 – Programação Microcontrolador: Fluxogramas ................................................................95

ANEXO 3 – Programação Interface: Fluxogramas.............................................................................98

V

ANEXO 4 – Artigo para apresentação oral na 22nd European Conference on Liquid Atomization and

Spray Systems................................................................................................................................102

VI

Lista de Tabelas

Tabela 4.1 – Propriedades termo-físicas dos líquidos de arrefecimento utilizados. ............................52

VII

Lista de Figuras

Figura 1.1 – Evolução do Fluxo de Calor Dissipado (W/cm2), [7]. ........................................................1

Figura 1.2 – Evolução da frequência de relógio consoante a tecnologia de fabrico do processador [3].

....................................................................................................................................................2

Figura 1.3 – Exemplo de fluxos máximos de Calor removido (W/cm2) considerando diversas técnicas

de arrefecimento e tendo por base uma temperatura do chip de 85ºC, [7]. ...................................3

Figura 1.4 – Arrefecimento de processadores por contacto: (a) Indirecto; (b) Directo...........................4

Figura 2.1 – Curva de arrefecimento típica [14]. ..................................................................................9

Figura 3.1 – Esquema do Processador P4, [33].................................................................................18

Figura 3.2 – Esquema com as principais dimensões de um P4, [33]..................................................19

Figura 3.3 – Modelo inicial: (a) Colocação das resistências; (b) Disposição dos termopares. .............20

Figura 3.4 – Esquemático de uma montagem de Darlington. .............................................................22

Figura 3.5 – Segundo modelo experimental: (a) Alojamento para transístor; (b) Sistema final............22

Figura 3.6 – Esquema do controlo manual do segundo modelo experimental. ...................................22

Figura 3.7 – Modelo Final: (a) Fotografia do sistema; (b) Esquema ilustrativo....................................24

Figura 3.8 – Testes realizados com uma potência de 60 W e com uso de Cooler. .............................26

Figura 3.9 – Controlo Automático do modelo experimental. ...............................................................27

Figura 3.10 – Dimensionamento do DAC. .........................................................................................28

Figura 3.11 – Circuito amplificador do sinal de termopar....................................................................29

Figura 3.12 – Testes de temperatura constante a 40ºC em relação ao termopar: (a) Fonte de Calor;

(b) Superfície 1; (c) Superfície 2.................................................................................................43

Figura 4.1 – Funcionamento do sistema de convecção forçada a ar. .................................................45

Figura 4.2 - Sistema de Watercooling: (a) Esquema de ligações; (b) Bloco de arrefecimento.............46

Figura 4.3 – Esquema elucidativo do funcionamento da Técnica de Spray Cooling. ..........................47

Figura 4.4 – Circuito de controlo da válvula a utilizar no Spray. .........................................................48

Figura 4.5 – Spray com HFE7100 a 2.2 bar: (a) Atomização Simples; (b) Atomização Secundaria. ...49

Figura 4.6 – Instalação Experimental. ...............................................................................................50

Figura 4.7 – Perfil de Potência testado, [26]. .....................................................................................51

Figura 5.1 – Comparação entre Watercooling e Cooler para: (a) 15W; (b) 30W; (c) 45W; (d) 60W.....55

Figura 5.2 – Comparação de sistemas de arrefecimento após teste com perfil de potência analisando

2 termopares: (a) Fonte de calor; (b) Superfície 1.......................................................................57

Figura 5.3 – Temperatura no termopar da fonte de calor para testes realizados com HFE7100, 3.0

bar, posição horizontal, com sinal de injecção de 0.71Hz e 72.9% duty cycle. ............................59

Figura 5.4 – Espaço livre numa torre de desktop (volume livre ≈ 11 520 cm3)....................................60

Figura 5.5 – Evolução da temperatura no termopar da fonte de calor para testes com HFE7100, dnoz

de 27 mm, 3.0 bar, posição horizontal e diversos sinais de injecção...........................................61

Figura 5.6 – Evolução da temperatura para testes de spray com sinal de injecção de 2.6Hz, 23.6%

duty cycle, 5.0 bar, posição horizontal recorrendo a metanol. .....................................................62

VIII

Figura 5.7 – Evolução da temperatura no termopar da fonte de calor em testes de spray com metanol

(posição horizontal) para: (a) 2.3 bar, 0.8Hz; (b) 2.3 bar, 2.6Hz; (c) 3.3 bar, 0.8Hz; (d) 3.3 bar,

2.6Hz; (e) 5.0 bar, 0.8Hz; (f) 5.0 bar, 2.6Hz. ...............................................................................64

Figura 5.8 – Evolução da temperatura no termopar de Superfície 2 em testes de spray, posição

horizontal recorrendo a metanol para: (a) 2.3 bar, 0.8Hz; (b) 2.3 bar, 2.6Hz; (c) 3.3 bar, 0.8Hz; (d)

3.3 bar, 2.6Hz; (e) 5.0 bar, 0.8Hz; (f) 5.0 bar, 2.6Hz. ..................................................................66

Figura 5.9 – Efeito da frequência do sinal de injecção na temperatura do termopar da fonte de calor,

em testes de spray (posição horizontal) com metanol, 2.3 bar, para diferentes duty cycle: (a)

23.6%; (b) 57.7%; (c) 75.2%. .....................................................................................................67

Figura 5.10 – Comparação do efeito da pressão em testes de spray na posição horizontal, com um

sinal de injecção de 2.6Hz com 23.6% de duty cycle, recorrendo a metanol para 2 dos

termopares do sistema: (a) Fonte de Calor; (b) Superfície 2. ......................................................68

Figura 5.11 – Efeitos do duty cycle na evolução da temperatura do termopar da fonte de calor para

testes com metanol, posição vertical, 2.3 bar e dnoz de 20 mm para um sinal de injecção com: (a)

0.8Hz; (b) 2.6Hz.........................................................................................................................70

Figura 5.12 – Testes de spray para dnoz de 20 mm, com metanol (posição vertical), 2.3 bar e um sinal

de injecção com 75.2% duty cycle e: (a) 0.8Hz; (b) 2.6Hz...........................................................72

Figura 5.13 – Comparação entre testes na posição horizontal e vertical para testes com metanol, 2.3

bar e sinal de injecção de 0.8Hz com 57.7% duty cycle para os termopares: (a) Fonte de calor;

(b) Superfície 2. .........................................................................................................................73

Figura 5.14 – Teste de spray intermitente recorrendo a HFE7100, 2.3 bar, posição horizontal, com dnoz

de 20 mm e um sinal de injecção de 0.8Hz com 75.2% duty cycle..............................................76

Figura 5.15 – Temperatura no termopar da fonte de calor após variação do duty cycle, usando

HFE7100, 2.3 bar, posição horizontal, dnoz de 20 mm para: (a) 0.8Hz; (b) 2.6Hz.........................76

Figura 5.16 – Efeitos das propriedades do líquido de arrefecimento na temperatura do termopar da

fonte de calor, para testes com dnoz de 20 mm, posição horizontal, 2.3 bar e sinais de injecção de

0.8Hz com duty cycle de: (a) 23.6%; (b) 57.7%; (c) 75.2%. ........................................................77

Figura A 1 – Transferência de calor por condução numa parede plana unidimensional com uma

distribuição de temperatura T(x).................................................................................................90

Figura A 2 – Diagrama de fase para um sistema genérico, [15, 45]. ..................................................94

IX

Nomenclatura

.

Q Taxa de transferência de calor

.

q Fluxo de calor W/m2

µ Viscosidade dinâmica kg m-1 s-1

A Área m2

A/D Analog-to-digital converter

AMPOP Amplificador Operacional

Aq Fonte de Calor

ASIC Application-specific integrated circuit

CI Circuito Integrado

CMOS Complementary metal–oxide–semiconductor

CMRR Common-mode rejection ratio dB

cp Calor específico mássico J kg-1 K-1

CPU Central Processing Unit

Ctrans Capacidade de carga do transístor F

DAC Digital-to-analog converter

DC Direct Current

dnoz Distância entre atomizador e superfície aquecida mm

EEPROM Electrically Erasable Programmable Read-Only Memory

ESC Evaporative Spray Cooling

f Frequência Hz

FC-CBGA Flip-chip ceramic ball grid array

hfg Calor latente de vaporização kJ kg-1

i Corrente A

I/O Input/Output

I2C Inter-Integrated Circuit

IHS Integrated Heat Spreader

ISC Intermittent Spray Cooling

ISCS Intermittent Spray Cooling Systems

ITRS International Technology Roadmap for Semiconductors

k Condutividade Térmica W m-1 K-1

ke Condutividade Térmica resultante do movimento de electrões livres

kl Condutividade Térmica resultante das ondas vibracionais da rede

constitutiva do material

l Comprimento m

m Massa kg

X

Máx. Máximo

MCM Multi-Chip Modules

Mín. Mínimo

MOS Metal–Oxide–Semiconductor Field-Effect Transistor

Noz Nozzle – Atomizador

OLGA Organic Land Grid Array

P (maiúscula) Potência W

p (minúscula) Pressão Bar

P4 Intel® Pentium® 4

PCB Printed circuit board

PDA Phase Doppler Anemometry

PGA Pin Grid Array

PLL Phase-locked loop

Q Transferência de Calor

RAM Random Access Memory

RT Resistência Térmica

RTcond. Resistência Térmica de Condução

RTconv. Resistência Térmica de Convecção

SC Spray Cooling

T Temperatura ºC

T∞ Temperatura em infinito ºC

TAmb. Temperatura Ambiente ºC

Teb Temperatura ebulição ºC

Tenc. Temperatura encapsulamento ºC

Típ. Típico

TLíq. Temperatura do Líquido ºC

TProc. Temperatura no Processador ºC

TS Temperatura na Superfície ºC

TTV Thermal test vehicles

tx Instante de Tempo x s

u Velocidade do escoamento m/s

u∞ Velocidade do escoamento em infinito m/s

us Velocidade do escoamento na superfície m/s

Vx Tensão Volts

v (minúscula) Volume específico m3 kg-1

α Difusividade Térmica m2 s-1

β Ganho de corrente

θ Ângulo do spray º

ρ Densidade kg m-3

σ Tensão Superficial N m-1

1

Capítulo 1 - Introdução

1.1. Contexto, motivação e principais conceitos

Desde o aparecimento do transístor (1948 [1]) que os processadores têm sido alvo de constante

evolução e desenvolvimento, seja ao nível da Arquitectura de Computadores ou seja pelo crescente

aumento do número de transístores por Circuito Integrado (CI). Em 1965, o co-fundador da Intel®

Gordon Moore, previu que o número de transístores por chip duplicaria sensivelmente a cada 2 anos

(Lei de Moore) [2]. De facto, a evolução dos processadores da Intel® ao longo dos últimos 40 anos

confirmou a previsão [2]: veja-se por exemplo a evolução do Intel® 4004 introduzido em 1971 com 2

300 transístores, para o Intel® Pentium® 4 (P4) introduzido no ano 2000 já com 42 000 000

transístores [3].

A procura de novas técnicas de fabrico, aliadas ao desenvolvimento da arquitectura [4] permitiu,

que, desde o final da década de 70 do século XX, se tivessem desenvolvido processadores com

melhorias de desempenho da ordem dos 35% ao ano [4], ao mesmo tempo que se assistiu à redução

dos encapsulamentos dos CI [5]. No entanto, o desenvolvimento de processadores mais rápidos em

encapsulamentos mais reduzidos, conduziu a um aumento significativo da potência dissipada e dos

fluxos de calor [5, 6], o que veio lançar novos desafios aos sistemas de gestão térmica. A Figura 1.1

mostra a tendência exponencial registada no crescimento do fluxo de calor nos últimos anos para

processadores de fabrico bipolar ou para os recentes processadores CMOS.

Fluxo de Calor (W/cm2)

Ano de Lançamento

Tecnologia Bipolar

Tecnologia CMOS

Fluxo de Calor (W/cm2)

Ano de Lançamento

Tecnologia Bipolar

Tecnologia CMOS

Figura 1.1 – Evolução do Fluxo de Calor Dissipado (W/cm2), [7].

Nos caso dos processadores de tecnologia CMOS, a potência dissipada representa um importante

desafio, nomeadamente no que respeita ao consumo de energia registado ao nível dos switching

2

transistors [4]. Neste caso, a energia consumida por transístor é proporcional à capacidade de carga

do transístor, frequência de relógio e tensão, f(Ctrans, f, V). No entanto, a capacidade de carga do

transístor e a frequência de relógio tornaram-se parâmetros dominantes devido aos aumentos

registados em número de transístores e nas frequências de relógio utilizadas [4].

A Figura 1.2 apresenta as frequências de relógio de alguns processadores, dispostos por

tecnologia de fabrico, verificando-se uma tendência de diminuição do tamanho mínimo de fabrico e

um aumento da frequência de relógio. De facto, a evolução dos processadores single-core trouxe

aumentos na frequência de relógio da ordem dos 20% ao ano [8] e actualmente existem

processadores com 60 000 000 transístores e frequências de relógio de 2 a 3 GHz [9, 10].

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 6

Tecnologia [µm]

Fre

quência

[M

Hz]

Intel® Pentium® III

500 MHz

0.18 µm

Intel® Pentium® II

300 MHz

0.25 µm

Intel® 486

25 MHz

1 µm

Intel® 8086

5 MHz

3 µm

Intel® 8080

2 MHz

6 µm

Figura 1.2 – Evolução da frequência de relógio consoante a tecnologia de fabrico do

processador [3].

Esta tendência conduziu Hennessy e Patterson [4] a referir que a questão da gestão térmica de

dispositivos microelectronicos seria, a curto prazo, uma das maiores limitações no desenvolvimento

de novos processadores. Tendo em conta as previsões dos actuais roadmap que apontam para

valores médios de fluxos de calor por chip superiores a 150 W/cm2 e hot spots com fluxos de calor

que podem atingir os 1 kW/cm2, Bar-Cohen et al. [6] alertaram para a degradação do desempenho e

fiabilidade dos chips causada pelo aumento da potência térmica dissipada. Aliás, Tonapi et al. [11]

referem que um aumento de apenas 10ºC na temperatura de junção é suficiente para reduzir a

metade o tempo de vida do sistema, enquanto Paik et al. [12] referem que um aumento de 15ºC pode

aumentar os tempos de resposta (interconnect delay) de 10% a 15%.

Considerando que, de acordo com o International Technology Roadmap for Semiconductors

(ITRS) [12], o consumo de potência dos computadores de alto desempenho irá aumentar de 147 W

para 288 W em 2016, o desenvolvimento de novos sistemas de arrefecimento torna-se decisivo.

Cader et al. [13] referem mesmo que os sistemas convencionais de arrefecimento a ar já têm

dificuldade em conseguir acompanhar os aumentos da frequência de relógio e número de transístores

sendo que o ITRS de 2002 [7] indica já um fluxo de calor de aproximadamente 36 W/cm2 para o

Pentium® 4, valor que não está distante do apresentado por Chu [7] como o máximo (50 W/cm2)

removido por sistemas de arrefecimento de convecção forçada a ar (Figura 1.3).

3

Coloca-se então a questão se estes sistemas têm capacidade para responder aos novos desafios.

0

20

40

60

80

100

120

140

Air Cooling Contacto Indirectocom Água ou Cooling

por Imersão

Cooling com recurso a Materiais de Elevada Condução Térmica

Fluxo de Calor no

Chip (W/cm

2)

Intel® Pentium® 4

≈≈≈≈ 36 W/cm2

Valores considerando:

TChip = 85ºC

Tinlet = 25ºC

Figura 1.3 – Exemplo de fluxos máximos de Calor removido (W/cm2) considerando diversas

técnicas de arrefecimento e tendo por base uma temperatura do chip de 85ºC, [7].

Nos processadores actuais, apesar do tipo de encapsulamento utilizado em cada processador

variar consoante o fabricante, é habitual existir um dissipador térmico colocado no topo do

processador que funciona como interface para a remoção de calor do processador. Este dissipador

encontra-se em contacto directo, recorrendo a massas térmicas para melhorar a condução de calor,

com o processador e arrefece-o por condução. Este conceito de calor associado com o processador

refere-se à quantidade de energia transferida, numa interacção de calor, pela fronteira deste com a

sua envolvente, sendo que o valor desta transferência de calor depende do processo em si e não

apenas dos estados finais atingidos. No caso da transferência de calor existem três mecanismos

básicos de transferência: condução, convecção e radiação térmica. O anexo 1 apresenta alguns

conceitos de forma mais completa, embora não exaustiva, para permitir uma melhor compreensão

dos fenómenos físicos relacionados com o presente trabalho.

Desta forma, na maioria dos casos, os sistemas de arrefecimento arrefecem o dissipador do

encapsulamento do processador que por sua vez, por condução, arrefece o processador. No entanto,

o arrefecimento deste dissipador está relacionado com o tipo de sistema de arrefecimento utilizado,

nomeadamente se este é baseado em contacto directo ou indirecto.

Nos sistemas de arrefecimento por contacto indirecto, o arrefecimento é levado a cabo por um

bloco de interface térmica que é arrefecido e visto estar em contacto directo com o dissipador do

processador, o arrefece por condução. No entanto, este bloco também necessita de ser arrefecido,

podendo-se recorrer a sistemas de convecção forçada a ar ou a sistemas que utilizam líquidos. Seja

qual for o método utilizado, está-se perante um novo tipo de transporte de energia, neste caso a

convecção entre o bloco de interface e o fluido utilizado no arrefecimento (ar ou líquido).

Existem ainda os sistemas de arrefecimento por contacto directo que eliminam a necessidade de

utilizar este bloco de interface visto que a técnica de arrefecimento utilizada actua directamente sobre

o dissipador do processador.

No contexto do arrefecimento de processadores é ainda necessário introduzir o conceito de

resistência térmica. A resistência térmica surge da analogia entre a difusão de calor e a condução de

4

corrente eléctrica [14]. Podem então existir resistências térmicas de condução (RTcond.) e convecção

(RTconv.) sendo que se verifica, em geral, nos meios líquidos e gasosos um domínio da convecção

[15]. Existe ainda um terceiro tipo de resistência térmica que pode desempenhar um importante papel

na diminuição de temperatura entre dois materiais [14]. Este terceiro tipo de resistência é denominado

Resistência de Contacto [14] e deve-se principalmente à existência de rugosidades na superfície que

conduzem ao aparecimento de pontos de contacto mas também de vazios que, na maioria dos casos,

estão cheios de ar [14]. Uma solução para diminuir a resistência de contacto consiste em utilizar, nos

pontos de contacto, um fluido com uma condutividade térmica superior à do material utilizado [14].

Uma utilidade importante do conceito de resistência térmica é que permite tratar o problema da

transmissão de calor em analogia com um circuito eléctrico. De facto, as resistências térmicas podem

ser associadas em série ou paralelo. Desta forma, a associação em série de resistências térmicas

equivale à soma do valor das resistências (Eq. 1.1), enquanto a associação em paralelo corresponde

à soma do inverso destas (Eq. 1.2) [15].

21 RRRSérieT += (Eq. 1.1)

21

111

RRRParaleloT

+= (Eq. 1.2)

Desta forma, ao analisar a Figura 1.4 entende-se que o uso de sistemas de arrefecimento indirecto

comporta uma resistência térmica de condução adicional entre o bloco de interface e o dissipador

térmico. Este facto tem particular importância ao analisar a transferência de calor (Eq. 1.3). De facto,

esta depende da diferença entre a temperatura do processador (TProc.) e a temperatura ambiente

(TAmb.) e da resistência térmica global do sistema.

Rcond. 1

Rcond. 2

Rconv.

Dissipador

Bloco de

interface

Processador

Contacto Indirecto

(a)

Rcond. 1

Rconv.

Dissipador

Processador

Contacto Directo

(b)

Figura 1.4 – Arrefecimento de processadores por contacto: (a) Indirecto; (b) Directo.

( )..Pr

. 11Amboc

TT

TTR

TR

QGLOBALGLOBAL

−=∆= (Eq. 1.3)

5

No caso do arrefecimento de processadores, pretende-se baixar a temperatura do processador

pelo que a diminuição da resistência térmica permite actuar neste sentido (Eq. 1.4).

.

.

.Pr AmbToc TRQTGLOBAL

+= (Eq. 1.4)

Desta forma, para o caso dos sistemas de arrefecimento por contacto indirecto, a resistência

térmica do sistema será superior visto corresponder à associação em série de todas as resistências

envolvidas ( ).2.1. convcondcondGLOBAL TTTT RRRR ++= , enquanto nos sistemas de arrefecimento directo, ao

eliminar o bloco de interface, está-se perante uma resistência térmica global menor

( ).1. convcondGLOBAL TTT RRR += , considerando condições equivalentes. Desta forma, os sistemas de

arrefecimento por contacto directo apresentam um maior potencial para diminuir a temperatura do

processador visto permitirem diminuir a resistência térmica do sistema.

Voltando à Figura 1.4 é possível verificar que o transporte de energia por convecção está presente

nos sistemas de contacto directo ou indirecto. A transferência de calor por convecção pode ser

forçada, nos casos em que o escoamento é provocado por meios externos (e.g. arrefecimento

convectivo a ar), ou livre (ou natural) quando o escoamento é provocado pelas forças que se originam

nas diferenças de densidade provocadas pelas variações de temperatura no fluido [14].

Independentemente da natureza do processo de transferência de calor por convecção, é sempre

possível encontrar uma relação entre a diferença de temperaturas da superfície (TS) e do fluido (TLíq.)

(Eq. 1.5) [14]. A esta relação dá-se o nome de fluxo de calor convectivo, também representado por

.

q , sendo expressa em W/m2 [14]. Na Eq. 1.5 a constante de proporcionalidade h representa o

coeficiente de transferência convectiva de calor, sendo expresso por W/[m2.K] [14]. Esta constante

contém todos os parâmetros que influenciam a transferência de calor por convecção [14].

( ).

.

LíqS TThq −= (Eq. 1.5)

De facto, nos sistemas de arrefecimento por contacto indirecto (e.g. Watercooling) a principal

melhoria face aos sistemas convencionais a ar está relacionada com o facto de o h dos sistemas a ar

ser inferior pelas características do ar quando comparadas face às características da água. Como

observável na Figura 1.3, os sistemas de arrefecimento baseados em água por contacto indirecto

podem chegar a remover o dobro do fluxo de calor relativamente aos sistemas convencionais a ar.

Por outro lado, a convecção também ocorre nos sistemas por contacto directo, que têm a

vantagem de eliminarem uma resistência térmica de contacto entre o bloco de interface e o dissipador

do processador. No entanto também nestes sistemas o coeficiente de transferência de calor h

representa um importante papel visto estar dependente do tipo de sistemas utilizados. De facto, o uso

de sprays em lugar de submergir o processador em líquidos que permitam o contacto directo (líquidos

dieléctricos) pode trazer vantagens. No uso de sistemas de contacto directo existem benefícios se o

líquido de arrefecimento vaporizar, e.g. Bar-Cohen et al. [6], já que, para mudar de fase, o líquido

remove da superfície uma quantidade significativa de calor a temperatura constante. De facto, o

coeficiente de transferência de calor, h, é cerca de 5 vezes inferior num sistema de convecção

6

forçada com líquidos (50 – 20000 W/m2.K) relativamente ao que ocorre num sistema com mudança

de fase (2500 – 100000 W/m2.K), e.g. [14]. Neste sentido, é necessário utilizar líquidos com

temperaturas de ebulição inferiores à temperatura a que se pretende arrefecer, [16].

Adicionalmente, a remoção de calor poderá ser mais eficiente recorrendo a sprays. Os sistemas

de Spray Cooling (SC) consistem na pulverização do líquido (divisão do líquido em pequenas gotas)

que são projectadas sobre o sistema a arrefecer [17]. Com o uso de sprays com a correcta taxa de

evaporação, o sistema poderá estar constantemente a funcionar em mudança de fase desde que se

garanta uma correcta quantidade de líquido a contactar com a superfície apenas durante o tempo

necessário para que ocorra a mudança de fase em todo esse líquido. Nos sprays contínuos esta

situação é difícil de alcançar visto que o líquido pulverizado acaba por não mudar de fase durante o

período de contacto, começando-se a assistir ao aparecimento de um filme de líquido sobre a

superfície que altera o processo de remoção de calor, atrasando a mudança de fase. No entanto, o

uso de sprays intermitentes poderá permitir um maior controlo sobre o filme de líquido e mecanismos

de transferência de calor (e. g., Panão e Moreira [18, 19]) na medida em que num spray intermitente

torna-se possível controlar a quantidade de líquido injectada através do controlo de frequência e

duração do pulso do sinal de injecção.

Bar-Cohen et al. [6] referem que a transferência de calor por SC com uso de dieléctricos aparenta

ser muito mais efectiva do que a técnica de Pool Boiling, garantindo uma temperatura uniforme na

superfície a arrefecer e que apesar do SC e Jet Impingement apresentarem coeficientes de

transferência de calor semelhantes, as técnicas de SC apresentam temperaturas mais uniformes na

superfície quente, bem como evitam o dryout prematuro (situação em que todo o líquido vaporiza da

placa podendo conduzir a danos). Também Shedd [20] refere que as técnicas de SC permitem

alcançar coeficientes de transferência de calor de aproximadamente 10000 W/m2.K, recorrendo a

líquidos refrigerantes.

Relativamente à técnica de Evaporative Spray Cooling (ESC), Bash et al. [21] referem que a

aplicação desta tecnologia em sistemas com fontes de calor uniforme permite remover até 1300

W/cm2 usando água e 300 W/cm2 com líquidos dieléctricos.

Apesar de já haver alguns sistemas deste tipo em comercialização, esta ainda é uma tecnologia

em desenvolvimento pelo que se torna necessário estudar os parâmetros fundamentais a utilizar na

construção de um sistema prático. No caso particular dos sistemas de spray intermitente é ainda

necessário verificar quais as condições mais vantajosas para o uso em casos reais. Adicionalmente,

a maioria dos estudos já apresentados são fundamentais e baseados em montagens experimentais

com fluxos de potência constante (e.g. Panão e Moreira [18, 19] ou Mudawar e Estes [22]). Em

muitos casos, como Moita e Moreira [23, 24, 25], considera-se uma condição de fronteira térmica

correspondente a temperatura constante em vez de fluxo térmico imposto.

Neste contexto, o presente trabalho considera o projecto e construção de um sistema experimental

capaz de reproduzir o comportamento térmico de um processador real de forma a analisar o

desempenho de sistemas de arrefecimento convencionais, bem como o estudo e desenvolvimento de

novos sistemas de arrefecimento baseados em SC. O sistema construído permite a realização de

testes com condições de fronteira que simulam condições reais de funcionamento.

7

1.2. Objectivos

O presente trabalho descreve o desenvolvimento de um sistema experimental construído para

avaliar o desempenho de tecnologias de arrefecimento de processadores em condições reais de

funcionamento. Para cumprir este objectivo foi desenhado e construído um sistema para controlar a

potência dissipada de forma a se obterem condições de fronteira que reproduzem o comportamento

de um processador comercial (Intel® Pentium® 4). O sistema permite ainda ensaios com temperatura

constante imposta num dos sensores de temperatura incorporados.

O principal objectivo do trabalho consiste na avaliação de uma nova tecnologia de arrefecimento,

nomeadamente de contacto directo com um spray intermitente (Intermittent Spray Cooling System –

ISCS). Neste sentido, foi também desenvolvido um sistema de ISCS que permitisse estudar a

influência dos principais parâmetros de funcionamento e que devem ser tidos em conta no projecto

(distância do injector de líquido ao processador; pressão, frequência e duração da injecção de líquido;

orientação do processador relativamente ao spray e propriedades do líquido pulverizado). Pretende-

se analisar os parâmetros em situações exigentes e dinâmicas, equivalentes às que ocorrem em

processadores reais. Para isso foram reproduzidos perfis de potência baseados no estudo de Isci e

Martonosi [26].

Neste trabalho é ainda comparado o desempenho de tecnologias convencionais de contacto

indirecto, nomeadamente um sistema a ar e outro sistema de arrefecimento a água.

1.3. Organização da tese

A presente tese encontra-se dividida em 6 capítulos. O capítulo 1 visa enquadrar o trabalho,

apresenta a motivação e os objectivos; o capítulo 2 apresenta uma breve revisão do estado da arte

na área do arrefecimento de sistemas electrónicos, em particular sistemas de contacto directo; o

capítulo 3 descreve as etapas mais relevantes no desenvolvimento deste sistema. O capítulo 4

apresenta a metodologia experimental utilizada, sendo feita uma introdução aos diversos sistemas de

arrefecimento testados, incluindo o sistema de ISCS. O capítulo descreve de forma separada os

testes realizados com os sistemas de arrefecimento comuns e com o novo sistema desenvolvido visto

que na apresentação de resultados, no capítulo 5, também é feita a divisão entre resultados dos

sistemas de arrefecimento comuns e o sistema de ISCS desenvolvido.

Por fim, o capítulo 6 apresenta as principais conclusões do documento, bem como sugestões de

trabalho futuro.

São ainda apresentados anexos com informação variada, em particular um anexo com uma cópia

do artigo aceite para apresentação oral na 22nd European Conference on Liquid Atomization and

Spray Systems (http://www.ilasseurope2008.org/), tendo sido publicado nos Proceedings (ISBN 978-

88-903712-0-2) da mesma conferência.

Todos os anexos são referenciados ao longo da tese afim de indicar o seu conteúdo.

8

Capítulo 2 - Tecnologias de arrefecimento de

processadores: estado da arte

Embora o estudo das técnicas e sistemas de arrefecimento não seja recente, tem-se intensificado

nos últimos anos devido aos crescentes desafios tecnológicos que se têm apresentado. Em 2003

Tonapi et al. [11] apresentaram um trabalho focado na questão da gestão térmica de dispositivos

microelectronicos, tendo referido a considerável variedade de estratégias existentes e o facto de cada

uma destas apresentar vantagens e desvantagens, sendo que a melhor solução poderá variar de

sistema para sistema. Para a electrónica de consumo, onde se situam os processadores de

computadores, os autores referem o uso de sistemas de arrefecimento por convecção forçada a ar.

Nestes sistemas, o principal problema é o da resistência térmica entre o processador e o dissipador,

sendo que a massa de interface térmica é a principal causa do aumento da temperatura da junção

dos circuitos. De facto, não só esta massa representa, no caso de sistemas complex high-end, até

60% da resistência térmica, como existem dificuldades no desenvolvimento deste tipo de material

devido ao elevado número de propriedades térmicas e mecânicas que este tem de apresentar para

cumprir a sua função de uma forma eficaz [11].

No que respeita a sistemas de arrefecimento com contacto directo, Bar-Cohen et al. [6] referem a

aplicação de líquido, já nos anos 60, para o arrefecimento de sistemas de macro electrónica (e.g.

transístores de potência). Contudo, a técnica só veio a ganhar importância nos anos 80, após ter sido

utilizada por marcas de renome, tais como a IBM. Mas, neste tipo de sistemas de arrefecimento, é

necessário que as propriedades químicas, eléctricas e térmicas dos líquidos respeitem determinadas

restrições. Neste contexto, os autores referem que a constante dieléctrica do líquido de arrefecimento

deve ser próxima da unidade de forma a evitar atrasos de propagação nos circuitos.

Os autores simularam o arrefecimento de um chip com diversas técnicas. O chip simulado era de

silício com dimensões 10 x 10 mm2 e 0.5 mm de espessura, dissipando um fluxo de calor uniforme de

100 W/cm2 pela área activa. Foi ainda simulada a existência de hot spots com diâmetros de 0.1 a 0.4

mm e que dissipavam de 1 a 2 kW/cm2. As medidas de temperatura ao longo de uma diagonal sobre

a face activa do chip (contrária à do arrefecimento), considerando um hot spot de 0.4 mm e com um

fluxo de calor de 2 kW/cm2 com o chip a ser arrefecido com diversos coeficientes de transferência de

calor levaram os autores a concluir que existe uma diminuição considerável de temperatura (≈ 50%)

ao aumentar o coeficiente de transmissão de calor de 5 para 10 kW/m2K, enquanto que aumentos

posteriores até 20 kW/m2K apenas apresentam diminuições de temperatura de 30%, devendo-se este

facto à sobreposição dos efeitos de condução e convecção durante o processo de arrefecimento.

Desta forma, Bar-Cohen et al. [6] concluem que o arrefecimento por contacto directo com recurso a

líquidos tem potencial para limitar a temperatura máxima atingida por chips e hot spots,

apresentando-se como uma solução para o arrefecimento das próximas gerações de

microprocessadores.

O impacto de uma polidispersão líquida (spray) na superfície a arrefecer é hoje considerado por

muitos investigadores no desenvolvimento de sistemas de arrefecimento eficientes (Spray Cooling).

9

Estes sistemas são particularmente relevantes na actual arquitectura dos microprocessadores a qual,

dirigindo-se para dissipações de potência não uniformes, facilita a formação de filme de líquido nos

locais de menor dissipação de potência. De facto, para um processador com 160 mm2 com um CPU

(25% da área) e uma cache (75% da área), ao considerar uma dissipação de 50 W em ambos os

elementos, a densidade de potência do CPU será 3 vezes superior à da cache (124 W/cm2 versus 41

W/cm2) [21]. Neste contexto, Bash et al. [21] apresentam a tecnologia inkjet (utilizada em impressoras

de jacto de tinta) como uma possível solução do problema visto permitir a variação do fluxo de líquido

em cada atomizador, compensando assim a heterogeneidade da potência dissipada. Os autores

construíram uma instalação experimental com um cartucho de inkjet (cartucho de 2 linhas com 256

atomizadores cada) onde era possível variar a frequência de injecção, duração do pulso da fonte de

calor do cartucho, tensão de alimentação e o padrão do spray. O líquido era pulverizado sobre uma

superfície de cobre com 22.5 x 12.5 mm2 aquecida com uma fonte de calor semelhante à utilizada

nos cartuchos, sendo a temperatura monitorizada por 2 termopares do tipo K1 embebidos na placa de

cobre a 2 mm da superfície.

Nesta altura é importante definir o conceito de fluxo crítico. O significado físico do fluxo crítico é

normalmente explicado com recurso a curvas de ebulição que representam a variação do fluxo de

calor removido por um líquido em contacto com uma superfície aquecida. Muito embora a curva

dependa, qualitativamente, das propriedades do líquido e da forma como o líquido contacta com a

superfície (gotas dispersas incidentes ou depositadas, spray incidente ou imersão) a sua forma é

universal e corresponde à representada na Figura 2.1, e. g., [14]: para baixas temperaturas da

superfície, o líquido remove calor sem mudança de fase (calor sensível); à medida que a temperatura

sobe, a evaporação ocorre a taxas sucessivamente crescentes e o calor latente de vaporização

passa a ser o principal mecanismo de remoção de calor; até que a taxa de vaporização se torna

demasiado elevada e o vapor que se forma na interface líquido-sólido não consegue ser eficazmente

removido, actuando como isolamento térmico. A partir desta temperatura, o fluxo de calor removido

pelo líquido diminui até um mínimo à temperatura de Leidenfrost e o sistema entra em colapso

térmico.

Fluxo de calor

∆T = TSuperfície – TSaturação

Fluxo de calor crítico (CHF)

Ponto de Leidenfrost

Figura 2.1 – Curva de arrefecimento típica [14].

1 Termopar de uso genérico que cobre uma gama de temperaturas entre os -184 e os 1260 °C. Utiliza uma junção Cromel (90% Níquel e 10% Crómio) – Alumel (94% Níquel, 3% Magnésio, 2% Alumínio e 1% Silício) [27].

10

O máximo da curva é, por isso, um parâmetro importante a ter em conta no desenho de sistemas

de arrefecimento. É designado por fluxo crítico e a temperatura a que ocorre é a temperatura de

Nukyiama [14].

O seu valor depende das propriedades termo-físicas do líquido de arrefecimento (e.g., calor

latente de vaporização, densidade, tensão superficial) e de parâmetros característicos da forma como

o líquido contacta com a superfície. Quando são utilizados sprays incidentes, esses parâmetros são

as condições de injecção [28].

Bash et al. [21] determinaram o fluxo de calor crítico do sistema de inkjet a partir da variação do

fluxo de calor para diversos fluxos volumétricos de líquido. Verificaram que o fluxo de calor crítico

diminuía linearmente com o aumento da distância vertical a que era colocado o cartucho e atribuíram

a variação à diminuição do momento das gotas do spray. Os autores afirmam ainda que o fluxo de

calor crítico é uma função da configuração do spray e do fluxo de líquido (estando limitado por este)

pelo que, aumentando o fluxo de líquido é possível obter fluxos de calor crítico mais elevados. Este

resultado é concordante com os da presente tese. De facto, também no presente trabalho foram

estudados os efeitos da variação da distância entre o atomizador e a superfície aquecida e a variação

da quantidade de líquido visto ter-se utilizado um spray intermitente com controlo da frequência e

duração de impulso do sinal de injecção. Relativamente ao posicionamento do atomizador sobre a

superfície aquecida, os resultados da presente tese demonstram que este é um parâmetro importante

e os valores obtidos encontram-se de acordo com os verificados por Mudawar e Estes [22]. Estes

autores estudaram a influência da distância do spray a uma superfície aquecida com 12.7 x 12.7 mm2

na optimização do fluxo de calor crítico. Mudawar e Estes [22] referem que, ao contrário do que

acontece num sistema de arrefecimento com jactos, ao se utilizarem sprays a área abrangida é maior

e a distribuição espacial do calor na superfície é mais uniforme.

A quantidade de líquido injectado que atinge a superfície depende do ângulo de spray θ, da

distância entre o atomizador e a superfície (dnoz) e do comprimento da fonte de calor (Laq). Um spray

uniforme, ao embater numa superfície plana que está colocada a uma distância dnoz, ao longo de uma

superfície esférica de raio dnoz produz um fluxo de volume na superfície que decai radialmente a partir

do centro da superfície de impacto. Desta forma, os autores concluíram que a fracção de fluxo de

líquido recebido num alvo (de raio Ralvo) pode ser determinada apenas por relações geométricas e

que esta fracção será igual à unidade quando se verificar a Eq. 2.1.

( )

2tan θ

alvonoz

Rd ≤ (Eq. 2.1)

Esta conclusão é fundamental para a optimização da transferência de calor uma vez que permite

maximizar a utilização do fluxo do spray.

Em [22] realizaram-se testes para optimizar a distância entre o spray e a superfície aquecida e

determinar a correlação deste parâmetro com o fluxo de calor crítico. Os autores concluem que

quando a área de impacto do spray é pequena (spray muito próximo da superfície) apenas uma

pequena fracção da superfície é atingida pelo spray, conduzindo a baixos valores de fluxo crítico de

calor. No extremo oposto, quando a distância entre o spray e a superfície é elevada, o fluxo crítico de

11

calor também diminui uma vez que parte do fluxo de líquido do spray é desperdiçado. Desta forma,

para uma superfície quadrada, o ponto óptimo está situado quando a área de spray é tal que apenas

circunscreve a superfície, sendo de máxima importância a determinação da distância entre o spray e

a superfície aquecida. Os autores referem que para o caso estudado é possível determinar a

distância óptima entre o spray e a superfície sabendo apenas a área da superfície aquecida e o

ângulo do spray.

Relativamente ao uso da técnica de Spray Cooling, Shedd [20] defende que esta pode apresentar

coeficientes de transferência de calor de 10000 Wm-2K-1 recorrendo a refrigerantes e 100000 Wm-2K-1

com o uso de água, deixando no entanto uma nota sobre a falta de conhecimento dos mecanismos

de transporte de energia do SC. Relativamente à quantidade de líquido utilizada, o autor refere que

um spray com uma taxa de evaporação tal que permita a cada gota do spray evaporar totalmente

antes da próxima gota atingir a superfície no mesmo ponto é um sistema extremamente eficiente do

ponto de vista do uso do líquido mas que se torna difícil de controlar. Neste caso, se houver um

intervalo muito grande entre gotas, podem existir aumentos de temperatura levando as gotas do

spray a incidir na superfície já em regime de ebulição pelicular (i.e., acima da temperatura de

Leidenfrost) o que reduz significativamente a remoção de calor, levando a temperatura a aumentar

ainda mais. Por outro lado, se os intervalos forem muito curtos, forma-se um filme de líquido na

superfície, acabando por funcionar como resistência à remoção de calor, diminuindo o desempenho

do sistema de arrefecimento [20]. É ainda referida a falta de conhecimento acerca do papel da

evaporação na remoção de calor, identificando-se uma forte dependência destes sistemas face à

gestão de líquido (que depende do nível de evaporação existente). O autor indica que para sistemas

com pouca evaporação uma correcta gestão do líquido é necessária, apresentando como possível

solução a inversão do sistema (i.e., colocando o sistema a arrefecer voltado para baixo com o spray a

ir de baixo para cima, utilizando a gravidade para remover o filme de líquido). Adicionalmente, Shedd

[20] afirma que nos sistemas com pouca evaporação pode existir acumulação de filme de líquido que

pode bloquear o espaço entre o spray e a superfície. É neste contexto que os sistemas de spray

intermitente podem apresentar vantagens visto permitirem o controlo da quantidade de líquido

injectada e deste modo permitir alcançar a melhor relação entre a quantidade de líquido entregue e o

tempo entre injecções.

Shedd [20] refere ainda o problema do volume total do sistema de arrefecimento e baseado nas

conclusões de Mudawar e Estes [22] afirma que a separação entre o spray e a superfície a arrefecer

pode ser considerável, levando assim ao aumento do volume do sistema de arrefecimento. O autor

determina um conjunto de características que limitam o desempenho dos sistemas de full cone spray,

sendo o principal factor a interacção entre diversos sprays sobre a superfície. Deste modo, é

apresentado um conjunto de características a ser implementadas no desenvolvimento de novos

sistemas: aumento do desempenho térmico, aplicação em escalas maiores sem sacrificar o

desempenho, correcta gestão de líquido e volume final reduzido. Baseado nestas directivas é

apresentado como solução ideal um vector de sprays direccionados para a superfície aquecida a um

ângulo de aproximadamente 45º, devendo o sistema garantir a total cobertura da superfície aquecida,

evitando interacções entre os diversos sprays. No entanto, Shedd [20] refere que este sistema não

12

existe comercialmente e apenas iria permitir uma faixa estreita de gotas a poucos milímetros da saída

do spray, sugerindo antes uma implementação de diversos sprays (aproximadamente 150 µm cada)

furados directamente num microbore tubing (tubos de utilizados por exemplo em testes clínicos [29]),

estando a cerca de 5 mm da superfície aquecida. Testes realizados em [20] indicam que estes sprays

produzem gotas a pressões mais baixas do que é habitual mas que o spray obtido não é tão

uniforme, sendo apresentados coeficientes de transferência de calor de 1.6 a 2.4 W/cm2K com fluxos

de aproximadamente 0.017 a 0.033 l/s utilizando FC-72 sobre uma superfície de 2.54 x 2.54 cm2,

referindo-se que o sistema permite remover em segurança fluxos de 140 W/cm2 (em estacionário) e

picos acima de 150 W/cm2.

A maioria dos trabalhos publicados utiliza instalações experimentais com fluxo de potência

imposto constante, comportamento que não reproduz inteiramente o caso real. No entanto, existem

trabalhos que aplicam sistemas de arrefecimento a casos reais, sendo o caso de Cader et al. [13] um

exemplo. Neste trabalho pretendia-se quantificar a capacidade do SC para funcionar com dissipações

de potência em transitório ao mesmo tempo que se analisavam os efeitos do SC na fiabilidade dos

sistemas electrónicos. Para tal, os autores conduziram estudos com um dummy chip para testar os

efeitos transitórios e com uma placa dual Opteron CompactPCI (microprocessadores AMD Opteron

246) para estudar a fiabilidade do sistema. Foram realizadas comparações com a placa dual Opteron

CompactPCI para sistemas de arrefecimento a ar e SC de forma a comparar ambas as soluções.

No estudo transitório o líquido foi pulverizado de baixo para cima, estando o chip por cima do

spray, com recurso a 5 atomizadores com uma distância entre atomizadores e chip inferior a 20 mm.

Os atomizadores foram dispostos num padrão quadrado com um atomizador no centro, tendo cada

atomizador um spray com 40º de ângulo.

Nos testes de fiabilidade, o líquido foi pulverizado numa posição vertical utilizando 12

atomizadores num padrão de 3 x 4, sendo o ângulo de spray de cada um de 40º. Novamente a

distância dos atomizadores à placa foi inferior a 20 mm.

Os autores referem que o desempenho do sistema foi verificado utilizando thermal test vehicles

(TTV) sendo a temperatura monitorizada em tempo real. Os TTV são protótipos que permitem testes

de fluxo de potência constante, sendo normalmente de silício e com dimensões semelhantes a

processadores reais, contando com elementos resistivos [30].

Nos testes de [13], após estabilização, a potência do sistemas foi variada de forma cíclica, ligando

e desligando a alimentação de forma a provocar uma variação de 94 W com uma temperatura de

junção de aproximadamente 80ºC e, tendo o chip 1.18 cm2, um fluxo de calor de 80 W/cm2. Verificou-

se que o uso do SC permite uma redução de 80ºC (alimentação do sistema ligada) para 34ºC

(alimentação do sistema desligada) em apenas 2 segundos. Relativamente ao uso dos TTV verifica-

se um decaimento exponencial da temperatura.

No estudo de fiabilidade, os autores usaram a placa CompactPCI juntamente com benchmarks

para a mesma frequência de relógio, testando as diferenças entre SC e sistemas de convecção a ar.

Os autores criaram uma rotina em Linux que obriga a um uso contínuo de 100% do processador.

Para os processadores utilizados existe uma temperatura máxima de encapsulamento de 70ºC

para uma potência dissipada de 89 W. Os autores pretendiam quantificar o fluxo de ar necessário

13

para respeitar estas especificações tendo concluído que era necessário um fluxo de ar de 98.7 l/s.

Verificaram ainda que para um fluxo de ar de 58.75 l/s, o processador mais quente dissipava 88.8 W

com uma temperatura de 81.2ºC e que para fluxos mais elevados, de 112.8 l/s, o processador mais

quente apresentava 62ºC com uma redução de potência para os 71.4 W.

Utilizando SC o processador mais quente apresenta para as mesmas características um valor de

47.9ºC e uma queda de potência dissipada para os 58.2 W. Os autores compararam o SC com o

valor de 58.75 l/s a ar, registando no processador mais quente um valor 33.3ºC mais baixo do que

com ar, dissipando 34.5% menos potência.

A influência que o líquido, a temperatura de ebulição e fluxo deste poderiam ter na temperatura do

sistema a arrefecer foi também testada tendo sido utilizados dois líquidos diferentes (PF5060 e

PF5070 ambos da 3M) com pontos de ebulição (a 1 atm) de aproximadamente 56ºC e 80ºC,

respectivamente. Os fluxos de líquido variaram entre 0.0021 l/s e 0.0028 l/s. Os resultados

demonstraram uma redução modesta de temperatura com o uso de PF5060 (menor ponto de

ebulição) sendo considerado normal não existirem alterações significativas visto as propriedades de

ambos os líquidos serem semelhantes. Em [13] refere-se também que a temperatura do sistema a

arrefecer pode ser diminuída com uso de subcooling, i.e., caso se reduza a temperatura do líquido

relativamente à temperatura do seu ponto de ebulição.

Desta forma, Cader et al. [13] afirmam ter provado a possibilidade de utilização de SC como

sistema de arrefecimento, permitindo lidar com potências de 200 W, ao mesmo tempo que permite

aumentar a fiabilidade de circuitos. Os autores registaram coeficientes de transferência de calor na

gama de 3 W/cm2ºC até 4 W/cm2ºC para o SC o que, de acordo com [13], corresponde a um factor de

300 a 400 vezes melhor que os sistemas de ar. Aliás, neste trabalho é indicado que a taxa de falha

de um sistema arrefecido com ar pode ser 30 vezes superior quando comparada com um sistema

arrefecido a SC. Os autores verificaram ainda uma redução de potência dissipada com a redução de

temperatura, apesar de não se alterarem os parâmetros directamente ligados com a variação de

potência. A explicação dada é que apesar da dissipação de circuitos CMOS não estar aparentemente

dependente da temperatura, quando se analisa com atenção os modelos de dissipação verifica-se

que o caso ideal de potência dinâmica dissipada tem em conta a capacidade média que consiste

predominantemente na capacidade de interligações e na capacidade de fanout das portas lógicas

ligadas a um dado nó de saída. Desta forma, nos circuitos actuais de canais pequenos, a dissipação

de potência, sendo provocada por correntes de fuga nos transitórios entre VDD e a massa (aquando

da mudança de valor lógico), acaba por ser dependente da temperatura.

Apesar de o trabalho de Cader et al. [13] usar sistemas reais, continua-se a ter uma análise em

modo transitório da utilização de SC que não representa um comportamento real de um processador.

Adicionalmente, os testes de fiabilidade foram executados com processadores reais mas a funcionar

a 100% da sua capacidade. É neste sentido que a presente tese pretende adicionar conhecimento

visto o sistema construído pretender simular o comportamento dinâmico de um processador

permitindo a variação de potência.

Bonner III et al. [30] apresentaram resultados referentes ao estudo de fluxos de calor na área de

impacto de sistemas de SC. Os autores referem que a maioria dos estudos nesta área recorreram a

14

sistemas experimentais com superfícies aquecidas uniformemente, pelo que foi usado um TTV

(fornecido pela Intel®) com 4 resistências incorporadas e sensores de temperatura e que tem 0.25 mm

de espessura e 7 cm2, permitindo um fluxo de calor constante de 70 W/cm2 e picos superiores a 1000

W/cm2 em pequenos hot spots (menores de 0.25 mm2). Os testes foram conduzidos com água,

metanol e HFE7000 sendo os sprays colocados com um ângulo de 20º relativamente ao TTV e uma

sobreposição na zona de impacto de 50% para garantir cobertura total. O principal objectivo de [30]

era a medição e análise de temperaturas em sistemas com dimensões reais e fluxos de calor

constantes para o uso de sistemas de spray inclinados.

A água foi pulverizada com um fluxo de aproximadamente 0.017 l/s a uma temperatura de 26.7ºC

para um fluxo de calor no chip de 42 W/cm2. O metanol teve um fluxo de aproximadamente 0.021 l/s,

estando o líquido a -31.6ºC. Por fim, o HFE7000 foi utilizado com um fluxo de 0.022 l/s a uma

temperatura de -29.7ºC. Para o metanol e o HFE7000 o chip foi configurado para dissipar 14 W/cm2

de forma uniforme. O coeficiente de transferência de calor é medido na área de impacto, sendo que

este acaba por diminuir à medida que o líquido se afasta da área de impacto.

Os resultados demonstraram um coeficiente de calor para a água na zona de impacto de 7

W/cm2ºC, diminuindo para 1 W/cm2ºC na extremidade do chip, para o metanol de 3.6 W/cm2ºC na

zona de impacto, sendo o valor mínimo de coeficiente de calor de 0.5 W/cm2ºC e para o HFE7000

registou-se 2.5 W/cm2ºC na área de impacto e 0.45 W/cm2ºC na extremidade do chip. Verifica-se que

a água obtém os melhores resultados, seguindo-se o metanol, apesar de haver uma apenas uma

pequena diferença entre este e o HFE7000.

Até este momento os trabalhos apresentados referem-se sempre a sprays contínuos. Tal como

referido na introdução da presente tese, o uso de sprays intermitentes poderá permitir um maior

controlo sobre o filme de líquido e mecanismos de transferência de calor. Neste sentido, o sistema de

SC estudado na presente tese baseia-se na aplicação de um spray intermitente no arrefecimento de

componentes electrónicos. Neste contexto, embora recorrendo a instalações experimentais com

fluxos impostos constantes e não variáveis no tempo, Panão et al. [31] e Panão e Moreira [18, 19]

apresentaram algumas conclusões sobre o uso de sistemas de spray intermitente.

Em [31] é introduzida uma metodologia para análise de efeitos das condições de funcionamento

de um spray intermitente semelhante aos dos sistemas de injecção automóvel (permitindo no entanto

introduzir o estudo do spray intermitente). Os autores combinaram a medição do comportamento

térmico de uma superfície com o uso de um sistema de duas componentes de anemometria laser

(Phase Doppler Anemometry – PDA) permitindo a aquisição em simultâneo da temperatura da

superfície e das características do spray. Desta forma, os autores analisam fluxos críticos de calor e o

fenómeno de Leidenfrost relativamente aos parâmetros de um sistema de injecção intermitente (e.g.

frequência, duração de pulso ou pressão de injecção). Foi criada uma instalação experimental onde

se pulveriza perpendicularmente gasolina comercial num corpo de alumínio que se encontra a 55 mm

do spray, sendo este aquecido por uma resistência eléctrica. De acordo com [31] é possível adquirir

dados sobre o tempo de chegada de cada gota ao corpo aquecido (tempo cíclico e tempo transitório),

velocidades axial e radial das gotas, tamanho destas, temperatura no centro do corpo e na posição

lateral e o fluxo de calor removido pelo uso do spray. Os autores referem que, para além da

15

temperatura de superfície, existem outros parâmetros a considerar, nomeadamente a relação

existente entre interferências de múltiplas injecções.

Os resultados de [31] foram obtidos com durações de pulso de 5 e 10 ms e pressões de 3.0 e 4.5

bar, tendo-se demonstrado que o calor transferido no impacto do spray na superfície depende das

propriedades do líquido, bem como da temperatura da superfície e do tamanho, velocidade e fluxo de

massa de cada gota. Os autores observaram que o fluxo de calor removido da superfície está

relacionado com as características do spray (aquando do impacto) apenas se toda a superfície se

encontrar em regime de ebulição. Isto deve-se ao facto de o fluxo de calor, neste regime, depender

da magnitude de diversas forças que actuam individualmente sobre cada gota na altura de impacto,

determinando o tempo de contacto disponível para a interacção térmica. Os autores concluíram

ainda, utilizando frequências entre 10 e 30 Hz, um pulso de 5 ms e uma pressão de injecção de 3 bar,

que a temperatura obtida na superfície variava com a frequência de injecção. Desta forma, é referido

que com o aumento da frequência, aumenta a interacção entre sucessivas injecções o que contribui

para o aumento do fluxo médio total de calor removido. No entanto, para temperaturas abaixo de um

certo ponto (temperatura de Nukyiama) a eficiência do sistema diminui com o aumento da frequência,

o que pode ser associado com a diminuição da contribuição do calor latente de vaporização (havendo

uma deterioração da taxa de evaporação). Os autores concluem que as curvas de ebulição

dependem das condições da injecção (e.g. pressão, duração e frequência) e que, apesar do fluxo

médio total de calor removido aumentar com a frequência, a eficiência do SC diminui, sendo este

fenómeno atribuído ao excesso de líquido que fica na superfície entre injecções consecutivas.

Os resultados da presente tese apontam não para uma relação com a frequência mas sim com o

duty cycle2. De facto, em trabalhos posteriores (e.g. Panão e Moreira [18, 19]), os autores apresentam

o duty cycle como parâmetro fundamental destes sistemas.

Em Panão e Moreira [18] são estudados os efeitos dos parâmetros de funcionamento do sistema

(e.g. frequência, duração de pulso da injecção, pressão de injecção, distância do sistema à superfície

e temperatura inicial da superfície aquecida) na transferência de calor. É analisado o funcionamento

de um sistema intermitente e a capacidade deste para remover calor de uma superfície por mudança

de fase. Em [18] o duty cycle é definido como sendo a percentagem de tempo cíclico durante a qual o

líquido é injectado. Neste artigo, os autores referem que o escoamento de duas fases encontrado

possui uma natureza complexa e depende de diversos parâmetros do spray e das propriedades da

superfície (e.g. rugosidade), o que dificulta a determinação dos mecanismos que dominam a

transferência de calor. A instalação experimental de [18] comporta um disco plano de alumínio com

10 mm de raio, que é aquecido por uma resistência eléctrica e onde o spray incide

perpendicularmente. Os testes realizados recorrem a HFE7100 e acetona, sendo a temperatura

registada por 3 termopares K.

Também neste trabalho foram efectuadas medições simultâneas da velocidade e tamanho das

gotas do spray (recorrendo a um PDA), juntamente com medições de temperatura da superfície,

2 Considera-se como duty cycle a razão existente, no caso de sinais baseados em pulsos rectangulares,

entre a duração do pulso e o período do pulso [32].

16

tendo-se concluído que as características do spray não são afectadas pela frequência ou duração do

pulso da injecção.

Para avaliar a influência do duty cycle no processo de arrefecimento, em [18] recorreram a

HFE7100 para analisar o decaimento da temperatura de uma superfície previamente aquecida, ao

longo de ciclos consecutivos de spray. Mantendo a duração do pulso constante e variando a

frequência (10Hz, 20Hz, 30Hz até 60Hz), os autores concluíram que duty cycle maiores estão

associados a um potencial de arrefecimento mais elevado. Para ensaios com o mesmo duty cycle e

diferentes combinações de frequência e duração de pulso, os autores referem que frequências mais

elevadas e durações de pulso menores conduzem a um arrefecimento mais rápido, atingindo no

entanto a mesma temperatura final. Desta forma, baixas frequências de injecção de líquido e

reduzidos tempos de injecção minimizam a entropia gerada, sendo por isso mais eficientes no

arrefecimento da superfície. No entanto, à medida que estes valores aumentam, maior quantidade de

calor é extraída da superfície, ao custo de um menor desempenho. De acordo com [18], para baixas

frequências de injecção existe mudança de fase, uma vez que há tempo suficiente entre injecções

consecutivas para que o líquido vaporize. Ao aumentar a frequência é provável a formação de um

filme de líquido na superfície, pelo que o processo de arrefecimento é dominado pelo mecanismo de

troca de calor por ebulição do filme, provocando uma extracção menos eficiente de calor. Os autores

referem então que duty cycle mais elevados podem produzir uma resposta térmica mais rápida mas

com menor desempenho.

Num outro artigo, Panão e Moreira [19] (utilizando a mesma instalação) apresentam uma

descrição do spray intermitente com uma análise da sua resposta térmica e desempenho. Novamente

o duty cycle surge como parâmetro dominante, sendo que, valores reduzidos permitem a remoção de

calor por mudança de fase, enquanto valores mais elevados conduzem à formação de filme de líquido

na superfície. Os autores alertam ainda para o facto do sistema intermitente permitir poupanças

estimadas de líquido entre os 10% a 90% para eficiências de 10% e 45%. O trabalho comporta o uso

de dois líquidos com calores latentes de vaporização diferentes para analisar este parâmetro,

concluindo-se que líquidos com um calor latente de vaporização mais elevado permitem manter mais

facilmente a qualidade do potencial de arrefecimento.

Em [19] é referido que enquanto é sugerido que o melhor desempenho de SC é obtido na

presença de filme de líquido (conhecido por inibir a vaporização de líquido por abrandar a mudança

de fase) é também importante maximizar o fluxo de calor da superfície através da promoção de

mudança de fase o que, paradoxalmente, deveria evitar a formação de formação de filme de líquido.

Tal como em [18], os autores indicam que a frequência e duração da injecção não afectam as

características do spray. No entanto, enquanto em [18] foi referido que mantendo o duty cycle

constante e variando a frequência se verificava, para valores de frequência mais elevados, um

arrefecimento mais rápido, em [19] refere-se que, apesar do valor da frequência ser variado para os

mesmos valores, os decaimentos de temperatura para as várias frequências são semelhantes,

eliminado assim a influência da frequência.

17

Relativamente aos resultados relativos à pressão de injecção, enquanto em [18] os autores

referiram o aumento da pressão para aumentar o potencial de arrefecimento, em [19] sugere-se o uso

de pressões de injecção mais baixas (o mínimo para a formação de spray).

Algumas das diferenças verificadas entre a presente tese e os trabalhos de Panão e Moreira [18,

19] podem dever-se ao facto de os estudos realizados por estes autores se basearem numa

instalação com fluxo de potência constante imposto ao mesmo tempo que o spray utilizado na

presente tese é mais esparso.

Para permitir o estudo em condições de fronteira reais, i.e. fluxos de potência variáveis no tempo,

é necessário estudar perfis de potência de um processador durante um uso normal. Os perfis de

potência reportados na presente tese são reproduções dos medidos por Isci e Martonosi [26] que

mediram perfis de potência reais para um processador Intel® Pentium® 4, semelhante ao simulado

neste trabalho. O processador em questão implementa gestão de potência e monitorização de

temperatura do sistema, contando com 18 hardware counters a funcionar em paralelo. De acordo

com [26] actualmente a potência varia consideravelmente de aplicação para aplicação ao mesmo

tempo que os sistemas implementam métodos agressivos de gestão de frequência e potência,

tornando-se necessário testar sistemas reais. Para tal Isci e Martonosi [26] apresentam uma

metodologia para recolher e estimar dados sobre a potência dissipada, fazendo uso dos hardware

counters. Em [26] os autores apresentam medidas de potência reais para benchmarks e aplicações

reais. A abordagem escolhida foi o uso de multímetros e uma pinça amperimétrica para as medições

reais de potência e o uso dos dados fornecidos pelo sistema para produzir estimativas. A escolha da

pinça deveu-se o facto de este ser um método não intrusivo pelo que não é necessário alterar o

sistema a testar. Os hardware counters do processador foram analisados recorrendo a uma rotina

programada, sendo que a rotina garante um consumo de potência quase nulo e que pode ser

desprezado. Para validar as leituras, os autores criaram benchmarks específicos para determinadas

unidades do processador e, partindo de uma fotografia do die de um P4, os autores identificaram as

diversas unidades constituintes deste para puder estimar o consumo de cada uma. Foram criadas

equações que têm em conta os diversos elementos constituintes do processador, sendo a potência

total um somatório da contribuição de cada elemento e de um factor constante de potência em

repouso.

Isci e Martonosi [26] verificaram para os benchmarks SEPC gcc e vpr que a estimativa obtida é

razoável quando comparada com as medições reais e, analisando outros benchmarks, verificaram

que o sistema permitia obter resultados exactos, sendo as diferenças verificadas entre valores

estimados e reais de 3 W (média), não ultrapassando os 5.8 W (pior caso).

Para exercitar o processador os autores criaram o seu próprio benchmark, tendo ainda sido

testadas aplicações comerciais utilizadas em sistemas Linux.

Os perfis de potência utilizados no trabalho descrito na presente tese foram baseados no trabalho

enumerado uma vez que, como referido em [26], este trabalho conjuga medidas reais de potência

para um processador complexo, ao contrário da maioria dos trabalhos que se baseia em simulações.

18

Capítulo 3 - Modelo Experimental: Simulação de um Intel®

Pentium® 4 no encapsulamento de 423 pinos

3.1. Metodologia de análise

No presente capítulo serão apresentadas as abordagens seguidas até se ter alcançado o sistema

final. O sistema desenvolvido constitui uma ferramenta que permite testar as capacidades de

dissipação de diversos sistemas de arrefecimento, servindo de base comum de comparação.

Todos os modelos experimentais construídos tiveram um suporte, uma área de contacto entre a

fonte de calor e o sistema de arrefecimento (servindo de dissipador de calor) e uma fonte de calor.

3.2. Principais características do sistema a simular

Pretendia-se desenvolver um sistema capaz de simular o aquecimento de processadores reais,

tendo-se optado por simular o processador Intel® Pentium® 4 (P4) no encapsulamento de 423 pinos.

A escolha do P4 prende-se com o facto deste ser relativamente recente, tendo tido uma aplicação

em grande escala ao nível de computadores tipo desktop. Adicionalmente trata-se de um processador

que comporta algum nível de exigência em termos de gestão térmica, existindo ainda a vantagem de

já haver informação disponível sobre o seu funcionamento.

No manual do processador [33] é referido que o sistema utiliza um encapsulamento do tipo Pin

Grid Array (PGA) que inclui um dissipador (Integrated Heat Spreader – IHS) e o processador montado

num substrato de silício ou Organic Land Grid Array (OLGA) (Figura 3.1). O IHS funciona como

interface entre o processador e o sistema de arrefecimento e permite uma maior área de dissipação o

que conduz a uma libertação de calor mais eficiente [33]. A Figura 3.2, baseada em [33], apresenta

um esquema simplificado com algumas dimensões a considerar. Refira-se ainda que o IHS é

normalmente fabricado em cobre coberto com níquel [33].

IHS

Material interface TérmicaDie

OLGA

Figura 3.1 – Esquema do Processador P4, [33].

Relativamente à potência dissipada e à temperatura de encapsulamento, o processador em

questão apresenta uma gama que varia dos 48.9 aos 71.8 W com temperaturas máximas de

encapsulamento de 69ºC a 74ºC. A gama de frequências de funcionamento cujas características de

potência dissipada se enquadram no modelo criado vão dos 1.3 a 1.7 GHz com temperaturas

máximas de encapsulamento até 76ºC. Mais informação pode ser obtida no manual do processador

[33] onde se refere que as temperaturas apresentadas são valores extremos, sendo estes relativos a

um sensor habitualmente colocado no centro do encapsulamento.

19

Ao simular o comportamento do processador é preciso considerar três pontos fundamentais:

temperatura, variação de potência e resposta temporal. No caso da temperatura é necessário

alcançar temperaturas realistas, quando comparadas com um sistema real. No entanto, não é

suficiente reproduzir as temperaturas, sendo necessário que a resposta temporal do sistema seja

equivalente à de um sistema real, ao mesmo tempo que o sistema deve apresentar a capacidade de

variar a potência de forma a reproduzir as variações existentes num processador real, variações

estas que estão relacionadas com os programas em execução num dado momento.

Processador + IHS

OLGA

L

L

27.1027.0026.90L

Máx.

[mm]

Típ.

[mm]

Mín.

[mm]

27.1027.0026.90L

Máx.

[mm]

Típ.

[mm]

Mín.

[mm]

Figura 3.2 – Esquema com as principais dimensões de um P4, [33].

3.3. Construção do modelo experimental: evolução cronológica

Para reproduzir o comportamento térmico de um processador torna-se necessário ter em

consideração um conjunto de características a simular: é necessário reproduzir o IHS (placa de

interface térmica), a fonte de calor, bem como criar um suporte compatível com a temperatura do

sistema e com resistência mecânica necessária para suportar os sistemas de arrefecimento.

Para reproduzir o IHS foi escolhida uma placa de cobre com 27.5 x 27.5 mm2 e 2 mm de

espessura, valores similares aos indicados por [33] (Figura 3.2).

Baseado em estudos existentes na literatura, a primeira abordagem para a fonte de calor recorria

a resistências de potência. Tendo em consideração a dimensão da placa de interface (IHS), a

dimensão das resistências estava limitada, ao mesmo tempo que a potência dissipada tinha de

garantir que se atingiam temperaturas realistas. Analisando a oferta existente, optou-se por

resistências de 1.4Ω (5W) com 10% de tolerância. Para garantir um melhor aproveitamento do calor

gerado pela resistência e diminuir o volume total desta, o revestimento cerâmico exterior,

habitualmente existente, foi removido.

Relacionando a potência da resistência com o produto da sua tensão pela sua corrente e, pela Lei

de Ohm, relacionando a tensão e corrente com o valor da resistência, utilizou-se a informação do

fabricante (1.4Ω – 5W) e concluí-se que cada resistência não suportaria mais do que 2.65V.

Para identificar a gama de temperaturas que se podia alcançar foram realizados ensaios com uma

fonte de tensão de saída variável de 0 a 30 V (DC), com uma corrente máxima de saída de 10 A.

Recorrendo a um termopar tipo K, mediu-se a temperatura dos filamentos da resistência para várias

tensões de alimentação. Os testes foram realizados com uma resistência em contacto com o ar e

usando uma protecção em manta de fibra de vidro para diminuir as perdas de calor, tendo-se

verificado que não existia uma diferença assinalável entre os testes com e sem fibra de vidro.

20

Com estes testes foi possível atingir uma temperatura de 80ºC com 1.0V e de 120ºC com 1.2V,

(testes com duração de 20 minutos). Nesta fase construiu-se um primeiro modelo com 2 resistências

deste tipo como fonte de calor visto os valores de temperatura obtidos para uma resistência serem

aceitáveis. O modelo foi construído num suporte com 51.9 x 51.9 mm2 e 22.6 mm de espessura,

utilizando um material refractário resistente até aos 1500ºC. O suporte foi dimensionado de forma a

garantir que era possível acomodar diferentes sistemas de arrefecimento. No interior do suporte

foram criados alojamentos independentes para as resistências e sobre estes foi colocado um rebordo

de Mica para evitar que os filamentos da resistência entrassem em contacto com a placa de cobre

que serve de IHS. A placa de cobre foi colada sobre o suporte, tendo sido colocados três termopares

do tipo K em contacto com a superfície de dissipação. A Figura 3.3a apresenta os alojamentos para

as resistências e a Figura 3.3b o modelo após colado o dissipador. Para garantir uma correcta leitura

dos termopares foi utilizada massa térmica para melhorar o contacto entre os termopares e a placa

de cobre, garantindo-se que os termopares apenas estavam em contacto com a superfície de cobre.

(a) (b)

12

3

Figura 3.3 – Modelo inicial: (a) Colocação das resistências; (b) Disposição dos termopares.

Recorrendo à fonte de tensão variável aplicaram-se diversas tensões às resistências (em

paralelo), analisando a evolução da temperatura (termopar 2 da Figura 3.3b) ao longo de 60 minutos.

No final do teste as temperaturas medidas eram de 110ºC para uma tensão de 2.2V e 100ºC para

uma tensão de 2.0V. Foram ainda realizados testes com um sistema de arrefecimento a ar (Intel®

C25704-002) com a ventoinha desligada e ligada, utilizando massa térmica para garantir o contacto

entre o sistema de arrefecimento e o modelo experimental. Neste caso as resistências foram ligadas

em série para permitir que a alimentação do sistema fosse realizada por uma fonte de alimentação

equivalente às utilizadas em computadores. A alimentação fornecida foi de 5V (DC), com um máximo

de 23 A de corrente, pelo que cada resistência tem nos terminais 2.5V.

Analisando a temperatura no termopar 2 verifica-se que com a ventoinha ligada a temperatura

estabiliza nos 30ºC após 3 minutos. Para o caso da ventoinha desligada verifica-se que a subida de

temperatura é mais lenta quando comparada com os testes sem sistema de arrefecimento (o sistema

atinge os 50ºC aos 10 minutos quando anteriormente necessitava apenas de 3 minutos, para uma

tensão de 2.2V), sendo a temperatura final menor (80ºC aos 60 minutos).

Analisando os resultados foi possível concluir que o sistema não era capaz de reproduzir o

comportamento de um processador real visto que embora atingisse temperaturas elevadas, com o

sistema de arrefecimento existiam dificuldades em atingir as temperaturas esperadas. Também em

21

termos de resposta temporal, o sistema apresentava uma resposta de minutos e não segundos como

num processador real (um processador demora menos de 1 minuto a ficar irremediavelmente

danificado se não for correctamente arrefecido), ao mesmo tempo que a potência dissipada era

inferior à esperada quando comparada com o processador a simular. Estes resultados conduziram à

procura de uma nova fonte de calor.

Embora numa escala diferente, o elemento fundamental de um processador é o transístor. Deste

modo, decidiu-se usar transístores como fonte de calor visto estes apresentarem comportamentos

semelhantes aos verificados num processador. Ao utilizar um transístor pretendia-se que este estive

em contacto directo com o dissipador, tal como acontece num processador real, pelo que o transístor

tinha de ter uma área de contacto, tendo por isso sido escolhido um encapsulamento do tipo TO-220

(neste encapsulamento existe uma secção metálica directamente ligada ao chip).

O transístor escolhido foi do tipo TIP100 (neste caso um BD645) visto a dissipação deste ser

semelhante ao sistema a simular. O transístor é um NPN (T0-220) com dimensões semelhantes às

apresentadas em [33] para o core do processador e é baseado numa montagem de Darlington (é

necessário realçar que a dimensão referida é do core do processador e não do dissipador).

A montagem de Darlington inclui dois transístores bipolares (par de Darlington), que no caso do

BD645 estão colocados no mesmo encapsulamento. Este tipo de montagem permite, com uma

corrente pequena, controlar uma corrente significativamente maior pois os ganhos de corrente são

elevados devido ao facto de o ganho do primeiro transístor (β1) ser amplificado pelo segundo (β2)

correspondendo o ganho total da montagem ao produto de ambos (βTotal = β1β2). Consegue-se assim

controlar uma potência equivalente ao que seria dissipado por um processador.

Nos actuais sistemas, esta montagem comporta-se como um transístor normal, i.e., apresentando

apenas três terminais. Desta forma, o emissor do primeiro transístor está ligado à base do segundo,

estando os colectores de ambos interligados, constituindo assim o colector da montagem final. A

base da montagem corresponde à base do primeiro transístor e o emissor da montagem corresponde

ao emissor do segundo transístor (Figura 3.4). Relativamente ao transístor bipolar simples a diferença

está que em condução a tensão base-emissor, para transístores NPN, é de aproximadamente 0.7V,

enquanto que no caso da montagem de Darlington este valor é de 1.4V devido ao facto de as junções

base-emissor dos dois transístores se encontrarem ligadas neste tipo de montagem.

O transístor escolhido apresenta uma dissipação de potência máxima de 62.5 W [34],

apresentando uma resposta temporal enquadrada com o pretendido na presente tese.

Foi construído um suporte com 55.6 x 66.4 mm2 e 21.5 mm de espessura, utilizando para este

efeito o mesmo material do primeiro modelo experimental. No interior do suporte foi criado um

alojamento para o transístor e colocada uma ficha para ligação deste com o exterior. A Figura 3.5

apresenta o sistema. A placa de cobre utilizada para o IHS tem as mesmas características que no

primeiro modelo experimental. Tal como acontece nos processadores reais, para melhorar a

condução de calor, foi utilizada massa térmica entre o transístor e a placa de cobre, sendo a placa de

cobre colada sobre o suporte, recorrendo a cola para a fixar no modelo.

22

Foi criado um alojamento para inserir um termopar do tipo K (numa posição equivalente à do

termopar 2 em Figura 3.3b) que fica em contacto com a superfície de dissipação, utilizando-se massa

térmica para melhorar o contacto entre o termopar e a placa de cobre.

C1

E1

B1

C2

E2

B2

BDarlington

CDarlington

EDarlington

Figura 3.4 – Esquemático de uma montagem de Darlington.

(a) (b)

Figura 3.5 – Segundo modelo experimental: (a) Alojamento para transístor; (b) Sistema final.

O controlo da potência dissipada pelo transístor é assegurado pelo circuito da Figura 3.6.

i

V3

R1

R2

R3

13.5 kΩ

1.0 kΩ

0.15 Ω

BD645

1.4 V

12 V

Figura 3.6 – Esquema do controlo manual do segundo modelo experimental.

O circuito permite o controlo manual da potência, realizado por variação do potenciómetro. Neste

caso, estando o transístor na zona activa, este comporta-se como uma fonte de corrente controlada

23

pelo que o sinal de saída é proporcional ao sinal de entrada, comportando-se como um amplificador

[35]. Para este caso as correntes de base e colector são proporcionais (IC = βIB) e a corrente de

emissor, pelas leis de Kirchhoff, é igual à soma da corrente de colector e da corrente de base (IE =

IC+IB). Visto o ganho do transístor ser muito elevado, o valor de IB é muito reduzido quando

comparado com IC pelo que pode ser desprezado. Deste modo a corrente de emissor pode ser

considerada igual à de colector sendo a dissipação de potência expressa pela Eq. 3.1 que, em

conjunto com a Eq. 3.2, pode ser apresentada na forma da Eq. 3.4 (VDD = 12 V).

Assim, controlando a tensão V3, controla-se a potência dissipada no transístor BD645. A tensão V3

é controlada através de uma malha de realimentação baseada num amplificador operacional.

A tensão de saída do amplificador é aplicada à base do BD645 permitindo que a realimentação

negativa do emissor do Darlington actue. Esta realimentação iguala V3 à tensão obtida no divisor R2

que é aplicada à entrada não inversora do amplificador operacional.

A resistência R1, em conjunto com R2, define o valor máximo de V3 (Eq, 3.3) e consequentemente

da potência máxima (aplicando o valor máximo de V3 na Eq. 3.4).

O diodo de Zener assegura que em caso algum a tensão V3 seja superior a 1.4V, constituindo um

limitador adicional para a potência dissipada no BD645. Este limitador foi adicionado para a

eventualidade de a resistência variável apresentar um funcionamento incorrecto devido às partes

mecânicas envolvidas.

CCE IVP .= (Eq. 3.1)

IRV33

= (Eq. 3.2)

DDVRR

RV

MÁX

21

2

3+

= (Eq. 3.3)

3

33

3

)()(

R

VVVIVVP DD

DD

−=−= (Eq. 3.4)

O sistema foi testado recorrendo a uma fonte de alimentação de computador com a saída de 12V

(DC) e corrente máxima de 9A. Os resultados demonstram que, ao comparar ambas as fontes de

calor (transístor versus resistências) sem o uso de sistema de arrefecimento, a resposta temporal

melhorou visto ser agora possível atingir 70ºC em menos de 5 minutos com apenas cerca de 1/6 da

potência total (9.6W) do sistema. De facto, comparado o caso actual com o sistema de resistências

(sem sistema de arrefecimento) verifica-se que a temperatura final é superior, sendo a resposta mais

rápida.

Apesar de promissor, o segundo modelo experimental apresentava a desvantagem de, sendo o

transístor um componente sensível, qualquer anomalia provocar danos irreversíveis e obrigar à

reconstrução total do modelo. Para resolver esta situação decidiu-se criar um novo modelo

experimental totalmente desmontável para permitir o rápido acesso a todos os seus componentes,

mantendo o mesmo tipo de placa de cobre, com as mesmas dimensões, para realizar o IHS e o

transístor como fonte de calor.

24

De forma a obter um sistema desmontável recorreu-se a um novo tipo de material para o suporte

que apresenta características refractárias e suporta mais de 200ºC (valor aceitável visto que o

transístor ou um processador real não atingem temperaturas tão elevadas). Esta solução conduziu ao

modelo final apresentado na secção seguinte sendo que, antes de criar a versão final, foram

ensaiados diversos métodos de construção com o novo tipo de suporte com vista a melhorar o

funcionamento do sistema para o tornar mais flexível e prático.

3.4. Versão final do Modelo experimental: construção, controlo e

teste

Na versão final do modelo experimental, o IHS foi novamente reproduzido pelo uso de uma placa

de cobre com 27.5 x 27.5 mm2 e 2 mm, sendo utilizado um transístor do tipo BD645 como fonte de

calor. O modelo experimental apresenta 60 x 60 mm2 e 19.45 mm de espessura (Figura 3.7), tendo

sido criado um alojamento no suporte para incluir o transístor e as ligações deste ao exterior.

Dissipador

(IHS)Pasta Térmica

Fonte de

Calor

Termopares K

TemperaturaTemperaturaTemperaturaTemperaturaHumidade Humidade Humidade Humidade

RelativaRelativaRelativaRelativa

Higrómetro

(a) (b)

Figura 3.7 – Modelo Final: (a) Fotografia do sistema; (b) Esquema ilustrativo.

Neste novo modelo, e tendo por base os testes efectuados anteriormente, decidiu-se utilizar 3

termopares: 2 em contacto com o dissipador (IHS) e um em contacto directo com a fonte de calor.

Esta disposição de termopares permite analisar o aquecimento na superfície, verificando se o

arrefecimento é ou não uniforme, ao mesmo tempo que permite monitorizar a fonte de calor, evitando

danos e permitindo uma melhor compreensão acerca dos efeitos que os sistemas de arrefecimento

têm directamente na fonte de calor.

Recorrendo ao circuito da Figura 3.6 foi analisado o comportamento do modelo experimental.

Nesta fase decidiu-se testar a influência da massa térmica na condução do calor pelo que se

realizaram testes sem utilizar massa térmica entre o transístor e a placa de cobre.

Sem usar sistema de arrefecimento, colocou-se o modelo experimental a dissipar cerca de 1.20 W

e registaram-se as temperaturas nos 3 termopares ao longo de 20 minutos. Os resultados

apresentam uma temperatura média (aos 20 minutos) de cerca de 54ºC para os termopares de

superfície (a diferença entre estes é inferior a 1ºC) e cerca de 58ºC para o termopar da fonte de calor.

Para uma potência de 1.85 W registaram-se valores na gama de 76ºC para os termopares da

superfície e 85ºC para o termopar da fonte de calor e para testes com 2.42 W, mediram-se valores na

gama dos 90ºC para os termopares de superfície e 100ºC para o termopar da fonte de calor. Apesar

25

das potências apresentadas serem reduzidas face à potencialidade do modelo experimental, era

necessário garantir que as condições de testes não conduziriam a temperaturas acima das máximas

permitidas pelo transístor (visto os testes serem realizados sem sistema de arrefecimento).

De seguida realizaram-se os mesmos testes mas recorrendo ao Cooler Intel® C25704-002, sendo

que numa primeira fase não se colocou massa térmica entre o Cooler e a superfície de cobre.

Registaram-se valores na gama dos 30ºC (termopares da superfície) e 36ºC (fonte de calor) ao fim de

20 minutos para 1.20 W, temperaturas de 29ºC (superfície) e 38ºC (fonte de calor) para 1.85 W,

tendo-se registado valores semelhantes para a potência de 2.42 W.

Para testes com 7.53 W, mediram-se temperaturas na gama de 51ºC (superfície) e 83ºC (fonte de

calor) ao fim dos 20 minutos e para 10.10 W registaram-se 56ºC (superfície) e 98ºC (fonte de calor).

Uma rápida análise dos resultados sugere um correcto desempenho da fonte de calor.

Verifica-se ainda que em todos os casos a temperatura da superfície está habitualmente numa

gama de valores 10ºC abaixo da fonte de calor (exceptuando para a potência mais baixa).

De seguida repetiram-se os testes com o sistema de arrefecimento a ar (Cooler) mantendo o

contacto entre a superfície de cobre (IHS) e o transístor sem massa térmica mas colocando agora

massa térmica entre esta superfície e o sistema de arrefecimento. Para testes de 20 minutos

mediram-se temperaturas na gama dos 25ºC (termopares da superfície) e 30ºC (fonte de calor) para

1.20 W, 26ºC (superfície) e 36ºC (fonte de calor) para 1.85 W e 28ºC (superfície) e 40ºC (fonte de

calor) para 2.42 W. Para 7.53 W registaram-se temperaturas na gama dos 25ºC (superfície) e 58ºC

(fonte de calor) e para 10.10 W valores de 26ºC (superfície) e 72ºC (fonte de calor). Verifica-se neste

caso uma melhoria na temperatura, principalmente no caso de 10.10 W, com uma diminuição de

aproximadamente 30ºC (superfície) e 26ºC (fonte de calor).

Pode-se assim concluir sobre os benefícios do uso de massa térmica na melhoria da condução de

calor pelo que o modelo experimental foi modificado, tendo-se colocado massa térmica entre a fonte

de calor e a placa de cobre (IHS). Os testes anteriores foram repetidos e, com o uso de sistema de

arrefecimento com pasta térmica, mediram-se temperaturas de aproximadamente 29ºC (superfície) e

30ºC para 2.42 W e temperaturas de 30ºC (superfície) e 35ºC (fonte de calor), para 10.10 W. Os

resultados confirmam que o uso de massa térmica melhora a condução de calor pelo que esta foi a

configuração final escolhida. Foram também realizados testes com o sistema de arrefecimento a ar

para aproximadamente 60 W com uma duração de 2h (Figura 3.8). Os dados indicam que, apesar da

massa térmica ajudar, a resistência térmica de condução entre o IHS e a fonte de calor provoca uma

temperatura na superfície na gama dos 35ºC a 40ºC enquanto a fonte de calor está a cerca de 55ºC.

Os testes anteriores permitem ainda demonstrar o correcto desempenho do modelo experimental

em termos de resposta térmica e temporal (a fonte de calor ultrapassa os 50ºC antes dos 40

segundos). Verificou-se que a temperatura do sistema, sem qualquer sistema de arrefecimento, para

a potência máxima era superior a 100ºC em menos de 20 segundos, tendo os testes de ser abortados

para evitar danos.

Em todos os testes verifica-se que a superfície é aquecida/arrefecida de forma uniforme.

O sistema de controlo manual dificultava variações de potência, permitindo apenas testes com

fluxos de potência constante. No entanto, pretendendo-se simular um processador real era

26

necessário criar um sistema capaz de variar a potência do modelo experimental ao longo de um teste

de forma automática. Também a aquisição do valor da temperatura era realizada por leitores externos

mas ao criar um sistema de controlo único tornava-se possível monitorizar a temperatura para

garantir que os valores máximos nunca eram alcançados.

0

10

20

30

40

50

60

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

Figura 3.8 – Testes realizados com uma potência de 60 W e com uso de Cooler.

Nesta fase foi adquirido um microcontrolador para controlo do modelo experimental. Pretendia-se

um sistema com saídas digitais e aquisição de dados para permitir a leitura automática da

temperatura. Deste modo optou-se por um sistema PIC 18F8722 da Microchip® em conjunto com uma

placa de demonstração da mesma marca. O microcontrolador escolhido, em conjunto com a placa,

comporta um cristal de 10 MHz (que com uma PLL interna permite obter 40 MHz), um cristal de 32

KHz (permitindo um relógio de tempo real) e uma interface série RS-232. O sistema suporta 70 portos

de I/O, 16 canais para o conversor A/D (10 bits de resolução), 2 timers de 8 bits cada e 3 de 16 bits

cada, comportando ainda um bootloader que permite a programação do sistema sem programador

específico, tornando-o num sistema flexível e prático. O microcontrolador apresenta 128 KBytes de

memória de programa e comporta memórias de dados (1024 bytes de EEPROM e 3936 bytes de

RAM). Apesar do controlador ser ligado a um computador para transmissão dos dados em tempo

real, a existência de memória de dados permite que facilmente se altere o programa de modo a

armazenar dados nas memórias.

O código criado foi dividido em funções para permitir flexibilidade e rápida modificação.

De seguida será descrita a programação do microcontrolador, a criação de circuitos auxiliares e o

desenvolvimento da interface a ser utilizada no computador.

3.4.1. Controlo: circuitos auxiliares

Analisando o circuito da Figura 3.6 verifica-se que o potenciómetro e a resistência de 13.5 kΩ

podem ser substituídos por um sistema de controlo que forneça à entrada do amplificador operacional

(AMPOP) o valor de tensão necessário para controlar V3 e consequentemente o modelo

experimental. Desta forma, foi criado um circuito DAC (Digital-to-analog converter) que tem como

entradas as saídas digitais do microcontrolador e, por meio da sua electrónica interna, tem na saída o

sinal a aplicar na entrada do AMPOP. Foi também alterada a resistência de 0.15Ω, passando para

27

0.1Ω, e a alimentação do sistema, passando a ser feita por uma fonte de alimentação estabilizada

com 15V. A Figura 3.9 apresenta um esquema do controlo automático do modelo experimental. Neste

caso foi mantida a designação da resistência R3 para uma fácil compreensão do diagrama face ao da

Figura 3.6.

Para controlar a potência decidiu-se utilizar uma palavra de 8 bits o que corresponde a 256 níveis

de potência, permitindo uma resolução de aproximadamente 0.2 W por bit. O valor da potência

dissipada continua a ser dado pela Eq. 3.4 sendo agora VDD = 15V.

PIC 18F8722

8

DAC

OUTPUT

1.4V

0.1Ω

BD645

VDD

R3V3

i

Figura 3.9 – Controlo Automático do modelo experimental.

O DAC utilizado não foi adquirido comercialmente mas sim dimensionado como apresentado na

Figura 3.10. Este baseia-se num circuito de resistências ponderadas com avanços em potências de 2

(R,2R,4R, ..., 2N-1R) consoante o peso do bit, considerando N bits. O microcontrolador é ligado ao

circuito sendo o bit de maior peso ligado na primeira posição. No AMPOP inicial (A1) deverá estar

uma resistência (Rref) cujo valor é metade da menor utilizada (R/2). A palavra digital é convertida numa

tensão dada pela Eq. 3.5, onde D representa a palavra digital representada na forma da Eq. 3.6 (b1

representa o bit de maior peso). A corrente da resistência do AMPOP (A1) é dada pela Eq. 3.7.

DVRIV oladormicrocontrrefsaídasaída −=−= (Eq. 3.5)

NNbb

D2

...2

1

1 ++= (Eq. 3.6)

NNoladormicrocontroladormicrocontroladormicrocontr

saída bR

Vb

R

Vb

R

VI

1212

...2

−+++= (Eq. 3.7)

Repare-se que se apenas existisse A1 a saída do sistema seria negativa (o AMPOP representa

uma montagem inversora). Adicionalmente, o valor na saída de A1 corresponde a um DAC que para

uma palavra toda activa no valor lógico de “1” dará a tensão de saída dos portos do microcontrolador,

i.e., 5V. Desta forma, o segundo AMPOP (A2) funciona como montagem inversora (tornado o sinal

28

positivo) e reduz os valores da saída de A1 para permitir a aplicação directa no AMPOP ligado à base

do transístor (recorde-se Figura 3.9).

Para garantir a precisão do sistema, todas as resistências utilizadas têm 1% de precisão.

Na saída do DAC foi colocada uma resistência (1 kΩ) para criar uma impedância de saída elevada

para evitar possíveis danos no circuito. PIC 18F8722

1kΩ

2kΩ

4kΩ

8kΩ

16kΩ

32kΩ

64kΩ

128kΩ

MSB

LSB

500Ω

1.2kΩ

100Ω

1kΩ

Vout

Figura 3.10 – Dimensionamento do DAC.

Os valores de resistência do DAC são elevados para garantir que a gama de valores de corrente

permitidos para os integrados utilizados e para as correntes máximas de saída dos portos digitais do

microcontrolador não sejam ultrapassadas.

Sendo este um sistema real, os AMPOP e as próprias saídas do microcontrolador não são ideais,

existindo desvios. Desta forma, o DAC foi dimensionado e posteriormente adaptado (variando os

valores das resistências) de forma a compensar eventuais desvios. Foram feitas medições na saída

do DAC afim de alcançar a maior precisão possível para a activação individual de cada um dos portos

do microcontrolador, bem como para compensar desvios do próprio AMPOP (compensação da

tensão de desvio de entrada VOS) e na resistência que se encontram ligada ao transístor (Figura 3.9).

Recorrendo a um multímetro foram analisadas as variações de corrente com as de tensão da

resistência de 0.1Ω para apurar o verdadeiro valor desta. Foram ainda realizados testes aos desvios

da tensão V3 e da tensão na entrada do AMPOP que se encontra na base do transístor (Figura 3.9).

Após programação do microcontrolador foi testada uma vasta gama de potências para monitorizar

os valores de potência do transístor, garantindo que estes estavam de acordo com o pretendido.

Os termopares traduzem a diferença de temperatura numa tensão, que por sua vez tem de ser

convertida em temperatura recorrendo a polinómios. No entanto, o valor de tensão dado pelos

termopares é reduzido (milivolts) pelo que o microcontrolador não é capaz de converter sinais tão

reduzidos. Tornou-se assim necessário criar amplificadores para os sinais dos termopares. Desta

forma, para adquirir o sinal foi necessário recorrer a amplificadores de instrumentação INA128 da

Burr-Brown (amplificadores de elevada precisão). Estes apresentam ganhos reguláveis e CMRR de

120 dB para ganhos superiores a 100, podendo ser utilizados na aquisição de dados.

29

A Figura 3.11 apresenta o circuito amplificador, sendo os pinos do integrado identificados pelo

circulo amarelo com o número a vermelho. Para cada termopar foi criado um circuito independente.

O ganho do circuito, devido a diferenças na resistência de 67Ω (que controla o ganho), é de 745

para 2 dos circuitos e 744 para o terceiro circuito, não existindo qualquer entrave visto que na

conversão do sinal para temperatura (por software) este facto foi tido em conta. Os amplificadores

foram calibrados com sinais constantes para confirmar os ganhos apresentados.

Protecção

Entrada

Protecção

Entrada

25kΩ

25kΩ

40kΩ

40kΩ 40kΩ

40kΩ1

2

8

3

4

5

6

7

67Ω

10kΩ

Termopar (+)

Termopar (-)

0.1µF

0.1µF

12V

12V

Vout

INA128

Figura 3.11 – Circuito amplificador do sinal de termopar.

Na Figura 3.11, a resistência de 10 kΩ (necessária para o funcionamento do circuito) na entrada

positiva do termopar garante a polarização DC (de forma a evitar flutuações) e os condensadores

garantem a filtragem da alimentação do sistema.

3.4.2. Controlo: programação do microcontrolador

Pretendia-se com o microcontrolador permitir a realização de três tipos de testes: potência

constante, perfil de potência e temperatura constante em relação a um dos termopares.

Nos testes de potência constante pretende-se um teste onde é imposto um determinado fluxo de

potência durante um período de tempo estipulado. Nos testes de temperatura constante, pretende-se

que durante um período de tempo o sistema monitorize a temperatura de um termopar de referência,

variando o fluxo de potência de forma a garantir que a temperatura desse termopar se mantêm no

valor predefinido. Nos testes com perfis de potência pretende-se que seja reproduzido um perfil

introduzido pelo utilizador por meio de um ficheiro auxiliar sendo que este ficheiro deve comportar

instantes de tempo e os valores da potência a dissipar em cada instante.

Todos os testes são definidos através de um programa de interface executado num computador,

sendo os parâmetros de cada teste enviados ao microcontrolador por RS-232 que por sua vez envia

para o computador, de segundo a segundo, a informação mais relevante de cada teste.

Sempre que ligado, o microcontrolador monitoriza constantemente a temperatura, de segundo a

segundo, nos 3 termopares garantindo que esta não excede um máximo estipulado. Caso o valor

30

máximo seja atingido o sistema bloqueia, cessando o fluxo de potência, até o utilizador fazer o reset

do sistema.

Todos os erros são reportados ao computador e os leds da placa auxiliar assinalam o normal

funcionamento, activando e desactivando um a um em série de segundo a segundo, ou identificam o

sistema bloqueado através da activação de todos os leds em simultâneo.

O programa do microcontrolador é executado numa só thread com interrupções de alta e baixa

prioridade e desactivação destas para acesso exclusivo a variáveis. Durante as interrupções o

controlo é passado para os vectores de interrupção onde deverão ser incluídas as rotinas para tratar

as respectivas interrupções, devendo estas rotinas ser o mais reduzidas possível.

Fazendo uso do cristal de 32 KHz foi desenvolvida em C uma rotina para obter um relógio de

sistema de segundo a segundo. Recorrendo ao Timer1 do sistema (T1CON) foi activada a escrita do

registo do timer em 2 operações de 8 bits cada, sendo também activado o oscilador do timer. Os bits

de controlo de interrupção do timer (registo IPR) foram configurados para activar uma interrupção de

sistema de alta prioridade para o caso de overflow. Desta forma, carregando os registos do timer com

um valor predefinido, existirá uma interrupção no sistema sempre que for detectado um overflow

(neste caso a cada 1.024 segundos). O controlo sobre o tempo de cada ensaio é mantido com

recurso a variáveis para registar os segundos, minutos e horas do sistema.

Os leds da placa de demonstração são activados sequencialmente, e uma vez que estes se

encontram ligados aos portos de saída D (PORTD) do microcontrolador e este é um porto bidirecional

de 8 bits, é necessário configurar o bit de controlo do porto para indicar o funcionamento em output

(TRISD = 0) [36]. Para activar/desactivar os leds recorre-se aos bits do vector LATD. Foi ainda criada

uma variável que é actualizada pela rotina do timer (variando de 0 a 7) e que indica qual dos leds

deverá ser alterado (on/off) em cada instante e outra rotina para iniciar os registos de controlo dos

portos de saída e o bit TRISD, sendo também iniciada a variável que será actualizada de segundo a

segundo.

Por fim existe uma rotina para activar todos os leds em caso de erro.

Para converter a temperatura do sistema é necessário ligar a saída dos amplificadores aos portos

de entrada analógicos do microcontrolador, utilizando-se 3 canais (um por cada termopar), sendo a

conversão realizada de segundo a segundo. A conversão é feita por pooling, apesar de o sistema

também a permitir por interrupção, tendo sido criadas variáveis para guardar o valor convertido.

Existe uma rotina que é chamada sempre que se faz uma conversão e que configura qual dos 3

portos (i.e., qual dos termopares) irá ser convertido, sendo configurado o tempo de aquisição, bem

como a configuração dos bits dos portos A (analógicos) que serão utilizados para leitura (o bit TRISA

de cada porto deve ser configurado a “1” para indicar que será input). O controlo do conversor é feito

recorrendo aos seus registos: ADRESH, ADRESL, ADCON0, ADCON1 e ADCON2 [36].

Em todas as conversões as tensões de referência são VDD da placa (5V) e VSS (0V).

Sendo o sistema por pooling é feita uma espera activa até assinalado o bit de conversão completa,

altura em que o valor é guardado na respectiva variável. O valor é guardado de modo a ser enviado

de volta ao computador, local onde a conversão de tensão em temperatura é realizada, tendo em

conta que o conversor A/D devolve o valor entre 0 e 1023 (10 bits de resolução).

31

A conversão de temperatura não é realizada pelo microcontrolador devido à complexidade dos

polinómios envolvidos o que iria afectar directamente o funcionamento do sistema.

Ao registar o valor convertido as interrupções são desactivadas para garantir o acesso exclusivo

visto que, não existindo mecanismos de acesso exclusivo do tipo semáforos ou mutex como no caso

de múltiplas threads, é necessário criar mecanismos de segurança que evitem a consulta de variáveis

em alteração devido ao facto de este ser um sistema com mudança de contexto (interrupções).

Os polinómios de conversão a usar necessitam do valor de temperatura ambiente para converter a

temperatura de forma exacta pelo que foi utilizado o sensor de temperatura TC74 incorporado na

placa de demonstração. Para a gama de valores da temperatura ambiente, o sensor tem um erro

inferior a 2ºC, sendo a resolução de 1ºC com uma conversão de 8 amostras/seg. [37]. A temperatura

é convertida numa palavra digital de 8 bits, sendo a comunicação com o sensor por I2C. O protocolo

I2C é um protocolo de comunicação série, que permite vários master e usa prioridades prefixadas que

são definidas pelo endereço de cada dispositivo [38].

O sensor TC74 funciona sempre como slave e permite comandos de configuração ou leitura de

dados sendo que o oitavo bit de endereço serve para indicar se a operação é de leitura ou escrita.

Visto que o microcontrolador permite comunicação I2C basta criar rotinas para aceder ao sensor. Para

recolher o valor da temperatura ambiente foram criadas duas rotinas para iniciar e configurar a

comunicação por I2C e para adquirir a temperatura registada pelo sensor. O microcontrolador

funciona neste caso como master e a Baud Rate utilizada está de acordo com os dados de [37] tendo

em conta a fórmula referida em [36]. Configurou-se ainda o bit de interrupção para desactivar

qualquer tipo de interrupção (PIR1bits.SSPIF=0 [36]). A rotina de leitura segue os passos indicados

pelo manual [37]: emissão do sinal de Start, endereço (último bit para escrita) e comando a efectuar

(leitura de dados). Reinicia-se o protocolo I2C e envia-se o endereço (último bit para leitura),

executando a leitura de dados. Após leitura a comunicação termina com NotACK e final de

comunicação.

Relativamente ao controlo do sistema foi criada uma variável que contém a tensão correspondente

ao valor máximo que pode ser registado nos termopares. Na abordagem seguida, visto a temperatura

ambiente não ter grandes variações, o valor de temperatura máxima do sistema foi registado e

convertido em tensão considerando uma temperatura ambiente de aproximadamente 20ºC. No

entanto, visto haver uma rotina para leitura da temperatura ambiente, o programa pode ser

modificado para que este valor máximo seja convertido no computador após consulta inicial sobre a

temperatura ambiente. Esta abordagem não foi seguida por implicar comunicações adicionais no

início do teste que, devido à pequena variação de temperatura ambiente, seriam desnecessárias.

No sistema existe uma variável com valores que correspondem a cada um dos estados possíveis:

inicial/sem teste (0), potência constante (1), temperatura constante (2) e perfil de potência (3).

Foi também criado um vector de 8 posições correspondente ao funcionamento dos portos de saída

de potência. Cada uma das entradas do vector varia entre 0 (off) e 1 (on).

Existe uma rotina para iniciar os portos de saída para controlo de potência, sendo colocado a zero

o vector de 8 posições, bem como os bits TRISXbits para identificar a situação de output (X

representa a letra do porto a activar) e os bits LATXbits para desactivar os portos.

32

Outra rotina criada é a rotina de bloqueio que desliga todas as interrupções garantindo assim que

a única maneira de sair da rotina é reiniciando o sistema (botão de reset da placa de demonstração).

Após a desactivação das interrupções, os portos de output são desligados para garantir 0 W. É ainda

criada na rotina a mensagem de erro a ser enviada ao computador para notificar o utilizador. Após

enviar a mensagem o sistema fica em espera activa num ciclo infinito. Tendo sido criado um protocolo

de comunicação, a rotina envia os dados da última leitura e o código de erro que permite ao

computador identificar o bloqueio por excesso de temperatura.

Para o controlo da temperatura foi criada uma rotina cuja função é analisar as temperaturas dos

termopares para comparar com o valor máximo permitido. Sendo a conversão de temperatura feita no

computador mas existindo um valor máximo de tensão, a rotina recorre aos dados convertidos,

comparando-os com o máximo permitido. Caso algum dos valores iguale ou ultrapasse esse máximo,

é activado o bloqueio de segurança.

Uma rotina comum aos diversos testes é a de controlo de potência visto que todos os testes se

baseiam na variação/atribuição de um valor de potência. A rotina, com base no vector de 8 posições,

decide quais os portos que devem ser activados. Ao existirem 256 níveis de potência, basta converter

o nível para o correspondente valor binário (8 posições no vector), o que permite o controlo directo

dos portos de saída a activar/desactivar.

A rotina para o teste de temperatura constante utiliza um switch-case, baseado no termopar de

referência, para comparar a temperatura actual do termopar com o valor de referência que veio do

computador, existindo um incremento/decremento do patamar de potência (de 0 a 255) caso a

temperatura seja inferior/superior ao pretendido. A rotina tem a particularidade de verificar, no início

do teste, se a temperatura pretendida é superior/inferior a um determinado patamar e, caso a

temperatura pretendida seja superior a 50ºC, automaticamente o sistema coloca na saída 30 W para

que se possa atingir o valor de temperatura pretendida mais rapidamente. Caso contrário o sistema

atribui 15 W. Em caso de erro ou falha, o termopar de referência é o da fonte de calor.

Foi também criada uma variável para o valor de tensão correspondente à temperatura constante

que o termopar terá de apresentar. Neste caso, e ao contrário do que acontece para a temperatura

máxima, antes do teste é feita a medição da temperatura ambiente que será usada no computador

para identificar o correspondente valor de tensão a enviar para o microcontrolador.

No caso dos testes com perfil de potência é necessário ir actualizando as entradas do perfil com

os valores de potência a utilizar. Desta forma o sistema verifica se o instante temporal actual

corresponde à próxima entrada do perfil e, caso corresponda, o valor da potência desta entrada é

convertida para binário e actualizado o vector de 8 posições, sendo chamada a função de controlo de

potência.

A função específica para o teste de potência constante apenas chama a função que actua

directamente sobre os portos de saída, visto o vector de 8 posições ser actualizado no início do teste.

Existe uma rotina central que controla o sistema e que se baseia num switch-case e na variável de

modo do microcontrolador para chamar o tipo de teste pretendido. De seguida, a rotina cria a

mensagem a enviar ao computador que contém informação sobre a duração do teste, tempo

decorrido, temperaturas dos termopares e ambiente. A rotina verifica ainda se a duração de teste

33

actual corresponde à duração final e, caso aconteça, reinicia os portos de output, alterando o modo

da placa para o estado normal. Caso não seja o final do teste basta enviar a informação recolhida.

Esta função de controlo é constantemente analisada pela rotina principal do microcontrolador.

Para comunicar com o computador foi implementada uma comunicação por RS-232 com Baud

Rate de 57600 e uma transmissão de 8 bits. Apesar de o microcontrolador permitir uma Baud Rate

superior, existia um erro superior entre o valor pretendido e o realmente obtido pelo que se optou por

esta Baud Rate que comporta um erro de apenas 0.94%.

Sendo a comunicação em 8 bits, optou-se por receber/enviar os dados no tipo char (8 bits).

Foi implementado um protocolo de comunicação de forma a permitir a troca de dados entre o

microcontrolador e o computador, sendo este baseado numa comunicação que terá sempre de seguir

o mesmo formato, sendo que o byte inicial (8 bits) de cada comunicação deve corresponder ao

código de início de comunicação, seguindo-se o comando (no caso da recepção no microcontrolador)

e uma resposta ao pedido (OK/ERRO), caso seja a recepção no computador. De seguida deverão ser

transmitidos os dados relevantes e a comunicação deve sempre terminar com o respectivo código.

Foi criado um conjunto de comandos que têm associados códigos únicos (neste caso entre 200 e

255, sendo este valor máximo imposto pelo uso de 8 bits).

Caso o protocolo não seja respeitado será transmitido para o computador uma mensagem de erro.

O protocolo criado permite a detecção de erros visto que deverá sempre seguir a mesma ordem.

Cada pedido recebido pelo microcontrolador só é tratado no final de cada mensagem (assinalada

pelo devido código) pelo que foram criados buffers para a recepção e envio de dados. Foi também

criada uma estrutura de dados que contém os buffers, uma variável para registar a dimensão utilizada

de cada buffer e flags para registar uma mensagem que está a ser recebida, para indicar erros, para

registar a recepção total da mensagem e para indicar a existência de um pedido já totalmente

recebido mas ainda não tratado.

A flag de mensagem a ser recebida aplica-se ao caso em que o código de início chegou mas o de

final ainda não (visto haver uma interrupção para a recepção do byte, retornando o sistema às

funções normais até recepção de novos dados).

A flag de erro serve para indicar que a mensagem recebida infringiu o protocolo.

A flag de pedido pendente indica à rotina principal que deverá chamar a rotina que trata dos

pedidos, visto não serem aceites novos pedidos enquanto houver pedidos pendentes.

Existe também uma rotina para iniciar a interface RS-232 que activa o bit de interrupção na

recepção de dados e desactiva a de envio. O sistema funciona em modo assíncrono, com 8 bits em

modo contínuo de recepção de cada byte. Configura-se ainda o registo que controla a Baud Rate e

iniciam-se os buffers e flags da estrutura criada. Para configurar a interface RS-232 utiliza-se a

função Open1USART da Microchip®. Para tratar da interrupção aquando na recepção de dados,

existe uma rotina que transfere o byte lido para o buffer de input (recorrendo à função Read1USART

da Microchip®), limpando em software a flag de interrupção. Nesta fase são feitas verificações acerca

da existência de alguma mensagem recebida (caso isso aconteça o byte lido é descartado e a função

retorna visto apenas se permitir o tratamento de um pedido de cada vez). No entanto caso não exista

nenhum pedido por tratar a rotina verifica se este primeiro byte corresponde ao código de início de

34

comunicação e, caso contrário, é assinalado o erro. Caso seja o código de início de mensagem, a flag

de mensagem a ser recebida é actualizada e o byte é copiado para o buffer de input, sendo a variável

que controla a dimensão deste actualizada. Caso a flag de mensagem já a ser recebida se encontre

activa, o byte faz parte de uma mensagem a ser recebida e é guardado no buffer de input. Neste

caso, a rotina verifica se há espaço livre no buffer. No final a rotina verifica se o byte lido corresponde

ao final de comunicação.

Existe também a rotina de envio de mensagem que, usando um contador, garante o envio de

todos os dados assinalados na variável de dimensão do buffer de output. A rotina baseia-se num ciclo

for e usa espera activa, com base no bit PIR1bits.TX1IF, para garantir que o envio do byte anterior

está concluído. O envio dos dados é realizado pela função Write1USART da Microchip®.

Para implementar o protocolo foi criada uma rotina que começa com a desactivação das

interrupções, visto ser necessário actualizar diversas variáveis do sistema. A rotina escreve de

seguida o código de início de comunicação no buffer de output visto que independentemente da

resposta (OK/ERRO) a mensagem para o computador terá sempre de começar com este código. De

seguida o sistema actualiza uma flag que indica que foi recebido um pedido, flag que serve para

evitar conflitos de envio e recepção simultânea, visto que o envio de mensagens apenas se realiza

quando esta flag está desactiva e uma segunda flag de envio está activa. É verificada a flag de erro

da comunicação para saber se o buffer de output é preenchido com o comando ou com o código de

ERRO e a resposta ao pedido (OK/ERRO).

Para processar o pedido, a rotina analisa o segundo byte recebido para verificar o comando

recebido e preenche o segundo byte do buffer de output com o código deste para confirmar que a

resposta foi ao pedido efectuado. No byte seguinte segue a resposta (neste caso OK). Nesta altura

verifica-se se o buffer de input contém mais dados para além do início de comunicação e do comando

visto que, caso não tenha, terá de ser assinalada uma situação de erro. Com base no código de

comando é utilizada uma sequência switch-case para tratar o pedido.

No pedido de potência constante é feita a recolha da potência que se pretende alcançar, da

duração do teste, verificando se os dados se adequam ao pretendido, e é chamada a rotina de

conversão de potência para binário. Em termos da recepção de potência existe uma particularidade.

A potência pode ter valores entre 0 e 255 pelo que podia ser enviada num só byte mas visto os

valores de 200 a 255 se encontrarem reservados para o protocolo, optou-se por dividir o envio da

potência em 2 bytes sendo que o primeiro leva um valor menor que 200 e o segundo leva zero ou o

suficiente para completar o nível pretendido de potência. Na recepção são recolhidos os dados e é

efectuada a conversão para binário. Após definidos os parâmetros do teste é chamada a rotina para

leitura da temperatura ambiente. Desta forma a resposta que será dada ao computador inclui já o

valor da temperatura ambiente na altura do teste permitindo assim uma conversão exacta dos valores

dos termopares. Por fim as variáveis do sistema são iniciadas, incluindo as do timer, para dar início

ao teste. A variável de modo é colocada a “1” para indicar o teste de potência constante.

No caso dos testes de temperatura constante é recolhido o valor de tensão de referência, bem

como uma letra para identificar o termopar de referência. De forma a obter o valor de tensão de

referência, o programa de interface necessita da temperatura ambiente pelo que neste tipo de teste o

35

programa de interface deverá primeiro executar um comando para pedir a temperatura ambiente.

Com base no valor recebido, o programa executa o pedido de temperatura constante. Tendo então a

tensão de referência e o termopar que deve ser analisado, recolhe-se do buffer de input a duração do

teste. Após recolher os dados, é chamada a rotina de leitura de temperatura do sensor TC74 para

actualizar o valor de temperatura ambiente a ser utilizado na conversão dos valores dos termopares.

No final, é iniciado o timer e as variáveis de controlo da duração do teste, sendo a variável de

modo colocada a “2” para identificar teste de temperatura constante.

Por fim, os testes de perfil de potência recebem os dados da entrada temporal e respectivo nível

de potência. Em vez de se transmitir todas as entradas optou-se por enviar cada entrada do perfil

individualmente para evitar estar a ocupar desnecessariamente a memória do microcontrolador.

Desta forma na primeira entrada, assinalada por uma flag enviada no pedido, é enviada a primeira

entrada do perfil e a duração do teste. Posteriormente, são efectuados pedidos de perfil de potência,

indicando na flag que já se trata de uma entrada de perfil. Na primeira entrada é feita a leitura da

temperatura ambiente, valor devolvido ao computador com a primeira resposta, sendo iniciado o timer

e as variáveis de duração do teste, bem como a variável de modo que é actualizada para “3”, valor de

teste com perfil de potência.

Para todo o tipo de testes, são verificados os dados de duração do teste e potência (ou valor da

temperatura a alcançar no caso dos testes de temperatura constante). Seja qual for o tipo de pedido

no final é enviada a resposta para o computador, sendo limpas as flags da estrutura da comunicação

RS-232. De segundo a segundo são enviadas para o computador as leituras de temperatura

(acompanhadas de uma identificação temporal), bem como o tempo já decorrido e duração total do

teste.

O ficheiro que contém a rotina principal (ficheiro main) contém uma flag que é actualizada pela

interrupção de timer e serve para indicar a chamada da função que trata do overflow e uma variável

para indicar que existem dados para enviar (variável que pode ser actualizada noutras rotinas).

O ficheiro main comporta a zona reservada para o vector de interrupção contendo apenas um

handler de interrupção onde se verifica o PIR1bits.TMR1IF ou PIR1bits.RC1IF referentes às flags de

interrupção por overflow ou recepção de um byte, respectivamente.

O ficheiro apresenta uma rotina para iniciar o sistema, rotina que chama internamente todas

rotinas de início de cada módulo: leds, RS-232, controlo de potência/portos de saída, timer e

comunicação I2C. Por fim a rotina main entra num ciclo while infinito onde constantemente verifica a

ocorrência de overflow do timer, existência de pedidos pendentes ou dados a enviar, tratamento de

todos os eventos temporizados (e.g. rotina de conversão dos termopares) e chamada da rotina de

controlo. Nesta rotina, caso esteja activa a flag de final de teste, é chamada a rotina do

microcontrolador que faz um reset interno ao sistema. Este reset garante que todos os valores voltam

ao seu valor padrão no final de cada teste, evitando assim qualquer erro.

No anexo 2 apresentam-se os principais fluxogramas relativos ao funcionamento das rotinas de

controlo implementadas no microcontrolador.

36

3.4.3. Controlo: programa de interface com o utilizador

Nesta secção será apresentado o programa de interface criado.

O programa de interface foi pensado para ser executado em sistemas Windows®. Tentou-se evitar

uma dependência directa de um sistema operativo específico mas, apesar de a linguagem C

apresentar portabilidade, o programa criado tem a necessidade de aceder directamente a interfaces

físicas do computador (RS-232 ou habitualmente denominada por porta série) pelo que se torna

necessário utilizar directivas do sistema operativo para aceder a estas. Por outro lado, devido à

variada oferta de emuladores, a criação de um programa num determinado sistema operativo já não

constitui actualmente uma limitação. Visto ter sido tomada esta opção foram utilizados comandos

específicos Windows® na execução do programa.

Ao contrário da secção anterior, em vez da denominação de rotina será utilizada

predominantemente a denominação de função para representar cada rotina/função criada, visto que,

ao contrário do microcontrolador, existem neste caso parâmetros que são passados às funções

aquando da sua chamada. No entanto o conceito de rotina/função serve sempre para identificar um

bloco de código criado com vista à realização de uma determinada acção.

Comece-se neste caso pela função main. Neste caso esta é uma função simples, servindo apenas

para chamar as funções dos menus e iniciar a comunicação por RS-232. A função chama o menu

inicial de apresentação que apresenta informação acerca dos autores e enquadramento do programa,

sendo de seguida chamada a função para iniciar a comunicação RS-232 e o menu principal que

permite controlar o programa. A partir deste momento o programa não retorna à função main visto

que, mesmo para terminar o programa, são executados comandos através das funções dos menus.

Relativamente aos menus foram criados quatro sem recepção de parâmetros na chamada tendo

ainda sido criada uma função para limpar a janela de terminal que neste caso, apesar de puder ser

executada com um ciclo for com o número de linhas do ecrã fazendo uso do comando printf (“\n”),

recorre ao comando system do C (que permite chamar rotinas específicas do sistema operativo) em

conjunto com o comando CLS do Windows® (que permite limpar todo o terminar).

Um dos menus criados foi o menu inicial que em vez de recorrer a printf usa o comando system

para chamar uma rotina exterior criada em Java. A rotina Java usa um ambiente gráfico, criando uma

classe do tipo pretendido e fazendo uso de JLabel e JButton. Como segurança é analisado o retorno

do comando system e caso este seja 1 (erro em Windows®) utiliza-se o printf para apresentar a

informação que não pode ser mostrada em Java.

Relativamente ao menu de apresentação, após chamar a rotina que limpa o terminar, é também

chamada uma rotina em Java, sendo verificado o código de retorno de system porque, fazendo uso

do comando System.exit do Java, é retornado neste código a opção escolhida pelo utilizador no

menu. Este menu recorre a um JButton denominado OK que servirá para sair e retornar o valor, tendo

JLabel para indicar as opções disponíveis e JComboBox para permitir ao utilizador escolher a opção.

O menu de apresentação apresenta as opções de menu de simulação, abertura da pasta dos

resultados (pasta criada com o programa onde todos os resultados são armazenados), ajuda (pdf

com ajuda sobre o programa), acerca de (aplicação Java para apresentar informação sobre os

autores), contactos e saída. Também neste caso será criado o menu com printf e scanf, caso a

37

aplicação Java falhe. No caso dos contactos o sistema abre automaticamente o cliente predefinido de

e-mail e preenche os campo de Para e Assunto de forma a permitir o envio de um e-mail a pedir

ajuda. Exceptuando-se a opção do menu de simulação e acerca de, todas as restantes recorrem aos

comandos system em conjunto com o comando START do terminal do Windows®.

O menu de simulação chama a rotina que limpa o terminar e usa o comando system para chamar

uma rotina Java. Também aqui o código de retorno de system serve para indicar a opção escolhida

pelo utilizador. Novamente o menu pode ser criado com JButton, JLabel e JComboBox. O menu de

simulação apresenta as opções de teste de potência constante, temperatura constante e perfil de

potência, bem como o menu de apresentação ou a saída do programa.

Em caso de falha do menu Java, existe em todos os menus uma condição que activa o respectivo

menu recorrendo a printf e scanf. Sempre que o utilizador tem de tomar decisões o sistema recorre a

ciclos while(1) para, caso o utilizador não escolha uma opção válida, a escolha volte a surgir até

selecção de uma opção correcta.

É necessário nesta fase referir que a comunicação se baseia no protocolo da secção anterior.

Para uma correcta gestão e controlo de erros foi criada uma função (equivalente a um handler)

que trata todos os erros possíveis da aplicação. A função erro recebe como parâmetros um código de

erro, uma string com uma mensagem indicativa do erro e dois apontadores (um para o ficheiro de

resultados e outro para o ficheiro de perfil de potência). Caso um dos ficheiros não se encontre em

uso basta passar NULL. A função erro baseia-se num switch-case que, com o código de erro, toma

as acções necessárias. Existem erros que encerram a aplicação e erros que não terminam a

aplicação, sendo que um erro também pode provocar o encerramento dos ficheiros mas não do

programa. Em todos os erros com encerramento da aplicação ou ficheiro, é gravado no ficheiro de

resultados uma mensagem com a causa que levou à interrupção do teste. Erros não fatais, i.e., que

não causam o encerramento do ficheiro e/ou do programa não serão guardados no ficheiro.

Em todos os erros o utilizador é sempre notificado por apresentação de uma mensagem no ecrã.

Os erros possíveis são: erro a abrir ficheiro de resultados (encerra o programa), erro a configurar a

porta RS-232 (encerra o programa), erro a receber/enviar na porta RS-232 (encerra o programa), erro

geral não fatal, erro não fatal mas com encerramento do ficheiro, erro na leitura do ficheiro de perfil de

potência e erro por excesso de temperatura no modelo experimental.

Para esta aplicação foram criadas duas funções de manipulação de ficheiros: uma para o ficheiro

de resultados e outra para o ficheiro que contém a informação sobre o perfil de potência a traçar.

Para o ficheiro de resultados, a função recebe um apontador para apontador que preenche após

abertura do ficheiro, sendo recolhido o nome que o utilizador pretende atribuir ao ficheiro (por scanf).

O nome é indicado sem extensão, sendo todos os ficheiros guardados numa pasta específica. Nesta

fase o utilizador tem a opção de manter a extensão atribuída (Microsoft Excel® - xls) ou alterar.

De seguida, o ficheiro é aberto com fopen no modo “w+”, criando assim um ficheiro vazio para

leitura e escrita. Caso o nome do ficheiro já exista na pasta este é sobreposto pelo novo ficheiro.

Após abertura, cria-se no novo ficheiro um cabeçalho com a data e hora actuais e nome do ficheiro.

Este cabeçalho permite ao utilizador uma rápida consulta do ficheiro e, tal como se verá de seguida,

ao indicar posteriormente outros dados relevantes, facilita a leitura do ficheiro de resultados.

38

Na função para abertura do ficheiro de perfil de potência o utilizador é informado que deverá

indicar o nome do ficheiro que contém o perfil, ficheiro que deverá estar no formato entrada temporal

e nível de potência. No entanto a leitura do ficheiro é executada por funções que configuram a

simulação sendo que a função de abertura apenas pede ao utilizador o nome e extensão do ficheiro

e, com o uso de fopen, abre o ficheiro no modo “r+”. Neste caso o ficheiro tem de existir e estar

colocado na pasta do programa ou então deverá ser indicado o path para este. Caso um ficheiro não

exista ou não o seja possível abrir/criar, será chamada a função de erro.

Relativamente à comunicação RS-232 foi criada uma função para iniciar e configurar a

comunicação (recorrendo às funções específicas disponibilizadas pelo Windows®). Para realizar

operações com a interface RS-232 é necessário ter um handler para a porta série, uma estrutura para

configurar a detecção de eventos e uma mascara para a configurar os eventos. Desta forma, a função

de configuração começa por perguntar ao utilizador que porta série deverá utilizar. Esta operação é

executada recorrendo a uma aplicação Java criada com JLabel, JComboBox e JButton (retornando a

opção escolhida) ou com printf e scanf em caso de erro na aplicação Java. Neste caso em particular,

ao contrário do que se sucede com os menus, se o utilizador fechar a aplicação Java sem indicar

uma resposta é assumido que se irá utilizar a porta série 1.

Em Windows® a porta série comporta-se como um ficheiro pelo que se usa o comando CreateFile

no modo GENERIC_READ e GENERIC_WRITE, indicando a opção OPEN_EXISTING (visto a porta

série já existir fisicamente). Nesta fase verifica-se o handler para garantir que este é válido. Para

configurar a porta utiliza-se uma estrutura auxiliar, recorrendo ao comando GetCommState, e

configura-se de seguida os campos a utilizar. Desta forma configura-se BaudRate (57600), ByteSize

(8), Parity (NOPARITY) e StopBits (ONESTOPBIT), sendo ainda necessário desactivar alguns

controlos de fluxo que o Windows® pode incluir na utilização da porta série. O passo seguinte

corresponde à actualização do estado da porta série.

Nesta altura devem ser configurados os timeout. Apesar de não obrigatórios, ao usar pooling (visto

não haver necessidade de programação paralela por threads) os timeout garantem que o programa

não ficará indefinidamente bloqueado caso exista algum erro na comunicação. Desta forma,

recorrendo-se ao comando GetCommTimeouts actualiza-se a estrutura que controla os tempos do

sistema e configuram-se os campos (em milissegundos) de acordo com o pretendido. Por fim deverá

ser utilizado o comando SetCommTimeouts para configurar os valores pretendidos.

Em todos os comandos, o código de retorno deve ser analisado para excluir a existência de erros.

Para além do método descrito, a Microsoft® disponibiliza outros métodos para configuração da

porta série mas alguns estão limitados visto não permitirem controlar todos os parâmetros ou não

serem compatíveis com todas as versões Windows®.

Para leitura da porta série foi criada uma função que recebe os dados, regista e apresenta estes

ao utilizador. O facto de não existir uma função exclusiva para tratamento de dados deve-se à

semelhança na recepção de dados de cada teste, existindo apenas diferenças pontuais que podem

ser resolvidas com condições, não havendo a necessidade de criar funções específicas. A função de

leitura recebe na sua chamada o comando que está a ser executado no programa e um apontador

para o ficheiro de resultados final onde serão guardados os resultados do teste. A função começa

39

com um ciclo e recebe byte a byte até encontrar um byte que corresponda ao início de sessão. Na

ausência de bytes para leitura, o programa fica em espera no ReadFile. No Windows® os dados são

colocados pelo sistema numa zona acessível pelo comando de leitura pelo que é possível indicar o

número de bytes que se pretende ler de cada vez. O código de retorno da função ReadFile é sempre

analisado para excluir erros. Após detectar o início de comunicação, analisam-se os dois bytes

seguintes afim de verificar se o primeiro corresponde ao código de comando e o segundo

corresponde a OK. Caso não corresponda é chamada a função de erro com o respectivo código.

Após garantir que o protocolo foi seguido, a função entra num ciclo while(1) do qual só se sairá ao

receber o código de final de comunicação. Esta solução não limita o tamanho da mensagem e

permite o envio/recepção contínuo de dados durante a duração do teste. Para identificar o final de

toda a comunicação ou apenas o final de um conjunto de dados (enviados de segundo a segundo),

existe um código diferente para final de comunicação ou final de linha. Desta forma, recebem-se os

bytes até se identificar o final de linha ou comunicação. Nesta fase verifica-se ainda se o byte

recebido contém o código do comando usado unicamente para consultar a temperatura ambiente

(comando auxiliar do teste de temperatura constante). Esta é uma das condições excepcionais

referidas para a qual uma simples condição permite recolher o valor da temperatura ambiente, sendo

neste caso feita a recolha do valor no modo char, i.e., com diversos caracteres onde cada um varia

de 0 a 9 e cuja sua localização representa o seu peso (unidades, dezenas, etc). Este método permite

receber os caracteres e compilar estes dados numa string única a converter com o uso de atoi (visto

a resolução de temperatura do sensor ser de 1ºC em 1ºC).

Os dados recebidos seguem todos a mesma estrutura independentemente do tipo de teste, sendo

que a primeira informação a receber é a da tensão dos termopares. Esta informação é também

recebida em char, tendo a particularidade de ser multiplicada no microcontrolador por 1000,

recolhendo assim dados desde o Volt até milivolt, sendo depois convertida por atoi e dividida por

1000. Neste caso para garantir que os dados são convertidos para float, apesar de não ser

necessário, é feito um cast para float na divisão por 1000. De seguida os dados são utilizados para

converter a tensão para temperatura recorrendo a polinómios específicos dos termopares baseados

em outros trabalhos já realizados, tendo sido efectuadas actualizações e comparações com outros

aparelhos de medida calibrados, para garantir a exactidão e precisão dos resultados.

Juntamente com o primeiro conjunto de dados recebidos é criado no ficheiro de resultados um

cabeçalho que identifica as leituras dos termopares e a temperatura ambiente para cada teste.

Todos os dados recebidos são apresentados no ecrã em tempo real, ao mesmo tempo que são

guardados linha a linha (por entrada temporal de segundo a segundo) no ficheiro de resultados. Cada

entrada do ficheiro contém uma coluna com o tempo da entrada em horas, minutos e segundos e

outra coluna com o tempo total em segundos (para facilitar a criação de gráficos).

No ecrã é apresentado a leitura dos termopares, o valor da temperatura ambiente, o tempo

decorrido de teste e o tempo que o microcontrolador indica como sendo o tempo máximo para o

respectivo teste. Para os testes com perfil de potência há uma verificação para identificar a

necessidade de enviar a próxima entrada ao microcontrolador, sendo que a função de leitura retorna

40

um código para essa situação. Nestes testes é indicado ao utilizador, no ecrã, a próxima entrada do

perfil a ser executada.

Durante todo o processo existem verificações de timeout e de situações de erro, incluindo as

mensagens de erro enviadas pelo microcontrolador.

O retorno da função de leitura varia consoante a saída é sem/com erros ou comandos especiais.

Na comunicação série existe ainda uma função de escrita que recebe como parâmetros um

apontador para o vector com os dados a enviar, o número de bytes a enviar e um apontador para o

ficheiro de resultados para que, em caso de erro, o possa enviar à função de erro para encerrar. A

função recorre ao comando WriteFile (Windows®) sendo feitas as verificações necessárias de retorno

para garantir que não houve erros. A função devolve o número de bytes enviados para permitir à

função que a chamou um controlo sobre a informação enviada.

Para configurar os testes a realizar foram desde logo definidos, utilizando define, os valores

máximos para a duração do teste, número máximo de entradas do ficheiro de perfil e a duração

mínima de cada teste. Estes valores, ao serem definidos com define, podem ser facilmente

modificados. Os valores escolhidos para a aplicação basearam-se nos testes efectuados, bem como

nos valores da literatura, nomeadamente os apresentados em [26] relativos a tempo máximo e o

número de variações dos perfis. Para configurar os testes foram criadas três funções (potência

constante, perfil de potência e temperatura constante), sendo cada função chamada pelo menu de

configuração.

A função de potência constante não recebe qualquer parâmetro inicial e começa por chamar a

função para criar o ficheiro de resultados para este teste. De seguida, recorrendo a printf-scanf, o

utilizador indica o valor de potência que pretende testar. O valor recolhido é verificado afim de

confirmar se está nos limites permitidos (0.2W a 60W) sendo de seguida convertido para um dos 256

níveis de potência (de 0 a 255). Para tal o valor é multiplicado por 255 e dividido por 60, sendo o

utilizador notificado do nível atribuído e da potência real a ser dissipada (resolução do sistema: 0.2W).

De seguida, por meio de printf-scanf, o utilizador indica a duração do teste sendo feita uma

verificação da validade dos dados introduzidos. Nesta fase é criado no ficheiro de resultados uma

nova linha que indica o tipo de teste e o valor de potência utilizado. O utilizador tem também nesta

altura a oportunidade de indicar o valor da humidade relativa para que este seja registado no ficheiro.

Se o utilizador tiver este valor, será criada uma linha com esta informação no ficheiro de resultados,

sendo o valor verificado e, caso esteja fora dos limites (de 0% a 100%), este será ignorado.

De seguida, a função prepara o pedido a enviar para o microcontrolador, sendo este composto

pelo código de início de comunicação, código de potência constante, nível de potência, duração do

teste (horas, minutos e segundos) e final de comunicação. De seguida é chamada a função de escrita

na porta série e inicia-se a leitura de dados. No final da comunicação a função de leitura retorna,

estando já os dados guardados no ficheiro de resultados pelo que basta encerrar o ficheiro que

novamente leva uma linha a indicar o final do teste, juntamente com o tipo de teste e valor de

potência. Após terminar o teste o utilizador tem a opção de ver os resultados e caso opte pela

visualização destes recorre-se a função system para com START iniciar o ficheiro. O utilizador poderá

41

sempre consultar os resultados mais tarde acedendo à pasta Result colocada na directoria do

programa.

Para o teste de temperatura constante é chamada a função para criar o ficheiro de resultados e,

recorrendo a printf-scanf, o utilizador introduz o valor de temperatura a alcançar (30ºC a 100ºC). No

entanto não se garante que esta temperatura seja de facto atingida uma vez que esta depende do

tipo de sistema de arrefecimento utilizado. Após recolha da temperatura verifica-se se o valor está

dentro dos limites, sendo depois recolhida a informação sobre o termopar a usar como referência (o

utilizador indica uma letra consoante o termopar pretendido). A letra introduzida pode ser maiúscula

ou minúscula.

Nesta fase o utilizador indica a duração do teste e é acrescentado no ficheiro de resultados uma

linha com o tipo de teste e valor de temperatura seleccionada, bem como o termopar de referência.

Também neste teste o utilizador é questionado sobre a humidade relativa.

De seguida, para saber qual a tensão de referência a enviar ao microcontrolador, é preciso medir

o valor da temperatura ambiente, sendo feito um pedido ao microcontrolador com o respectivo

comando. Tendo o valor da temperatura ambiente, é analisado o ganho do circuito pretendido,

consoante o termopar escolhido, sendo possível, recorrendo ao polinómio inverso, converter a

temperatura em tensão. Por fim é criado o pedido: início de comunicação, código de temperatura

constante, tensão de referência (também multiplicado por 1000 como quando se recebe do

microcontrolador), letra que identifica o termopar de referência e a duração do teste, terminando com

final de comunicação.

Após chamar a função de escrita, inicia-se a leitura de resultados até ao final da comunicação,

altura em que se insere no ficheiro de resultados uma linha a indicar o final de teste de temperatura

constante. Também neste teste o utilizador tem a opção de visualizar o ficheiro de resultados.

A função para configurar testes com perfil de potência também não recebe parâmetros na sua

chamada e começa por chamar a função para criar um ficheiro de resultados. De seguida chama a

função para abrir o ficheiro que contém o perfil de potência. Após receber o apontador para o ficheiro

de perfil, a função inicia a leitura do perfil e o preenchimento de um vector que irá conter as entradas

temporais (horas, minutos e segundos) e o nível de potência para cada entrada. Antes de criar o

vector é realizada uma primeira leitura do ficheiro para analisar o número de entradas e recolher os

dados sem comentários, isto porque o ficheiro de perfil pode ter comentários incluídos entre “$”,

sendo que toda a informação entre “$” será ignorada. Durante a análise do ficheiro é verificado se

existe algum comentário por encerrar ou se cada linha cumpre o formato imposto, i.e., entrada

temporal seguida de potência e um “;” no final (a potência tem de se situar entre 0.2W e 60W).

De seguida é alocado espaço de forma dinâmica para receber a informação final a ser analisada

e, com base nesta, é preenchido o vector com todas as entradas do perfil.

A primeira linha do perfil deve indicar a duração máxima do teste, tendo a particularidade da sua

potência ser indicada como 0 W para identificar que se trata da linha com a duração do teste. Para

não sobrecarregar o microcontrolador foi imposto um tempo mínimo entre cada entrada consecutiva

do teste de 1 segundo. Verifica-se também se o máximo permitido de entradas de perfil não é

42

ultrapassado ou se, após a linha com a duração, o ficheiro contém mais linhas visto que se não

contiver o perfil não está correcto pois só tem duração, sem entradas de perfil.

Cada linha é analisada para retirar os valores, verificando-se todos os dados recolhidos. Os

valores vão sendo convertidos de char para int (entrada temporal) e double (potência) através de atoi

e atof. O ficheiro é analisado até ao final ou até ultrapassar o número máximo de entradas.

Durante a análise do ficheiro de perfil é mantido um contador que indica no ecrã ao utilizador, em

caso de erro, em que linha do ficheiro de perfil é que este ocorreu, sendo este indicado com uma

causa provável. Cada linha é analisada para garantir que a entrada temporal é superior à anterior (o

ficheiro deve ser apresentado por ordem crescente temporal) e verificando se cada entrada não

ultrapassa o tempo máximo permitido nem a duração máxima do presente teste (indicada no início do

ficheiro). Acabada a análise do ficheiro, e caso não hajam erros, o ficheiro de perfil é encerrado e no

ficheiro de resultados é colocada uma linha com o tipo de teste que se vai realizar, bem como o perfil

aceite já com as potências reais e níveis de potência atribuídos. É também indicada a duração total

do teste. Tal como anteriormente, é possível registar a informação sobre a humidade relativa.

Nos testes de perfil e de potência constante o valor de potência é sempre convertido às decimas,

sendo depois convertido para nível de potência mais próximo, garantindo um erro inferior a 0.2 W.

O primeiro pedido enviado para o microcontrolador comporta o início de comunicação, código de

perfil de potência, flag que indica que se trata da primeira entrada, valor da primeira entrada do perfil,

duração do teste e código de final de comunicação. A partir deste momento a função entra num ciclo

que constantemente recebe dados e envia, sempre que necessário, novas entradas de perfil. Desta

forma, existem dois pedidos diferentes a enviar pela função de escrita: um no comando inicial e outro

para enviar cada entrada ao longo do teste. Cada comunicação enviada com entradas de perfil,

exceptuando a primeira, é composta por início de comunicação, código de perfil de potência, flag que

indica não ser a primeira entrada, entrada de perfil e código de final de comunicação. A cada envio de

entrada de perfil um contador é actualizado para garantir que se está na posição correcta do vector

que contém todas as entradas do perfil de potência.

Quando o teste termina, é escrito no ficheiro de dados uma linha que indica o final do teste e, tal

como nos restantes testes, o utilizador tem a opção de abrir o ficheiro para analisar os resultados.

No final todas as alocações de memória dinâmica são libertadas.

O anexo 3 apresenta alguns fluxogramas exemplificativos das principais funções utilizadas.

3.4.4. Controlo: testes finais

Após criação do controlo a nível físico e de software, foram realizados testes para garantir o

correcto funcionamento do sistema, incluindo testes de potência constante para diversas potências

afim de analisar os valores de tensão e corrente em diversos pontos do sistema, nomeadamente no

DAC e no modelo experimental. Relativamente ao funcionamento geral do sistema foram testadas

todas as funções, incluindo simulação de possíveis erros de comunicação ou introdução de dados.

Devido a restrições relativamente ao número de páginas deste documento e visto todos os testes

presentes nos resultados serem de potência constante e perfis de potência, apenas serão

apresentados nesta secção resultados para testes de temperatura constante.

43

A Figura 3.12 apresenta um exemplo de testes com temperatura constante (40ºC) relativamente

aos 3 termopares, sendo a Figura 3.12a referente ao termopar do interior (fonte de calor), a Figura

3.12b para o termopar de superfície 1 e a Figura 3.12c para o de superfície 2. Todos os testes foram

realizados com o sistema de arrefecimento a ar (Intel® C25704-002) e com massa térmica.

05

10

15

20

25

30

35

40

45

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

(a)

05101520253035404550

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

(b)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

0 20 40 60 80 100 120 140 160180200 220 240260 280300

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

(c)

Figura 3.12 – Testes de temperatura constante a 40ºC em relação ao termopar: (a) Fonte de

Calor; (b) Superfície 1; (c) Superfície 2.

Analisando os gráficos verifica-se que a função de temperatura constante funciona e que o método

de controlo escolhido é aceitável visto que o uso de um patamar inicial de potência na primeira

iteração e as actualizações de segundo a segundo permitem resultados numa janela temporal

reduzida. De facto, para o termopar da fonte de calor, é possível atingir a temperatura pretendida ao

fim de 1 minuto e 20 segundos e para os termopares de superfície a temperatura é atingida ao fim de

cerca de 2 minutos e 30 segundos (é normal que na superfície seja necessário mais tempo para

atingir o mesmo valor de temperatura). Os dados apresentados permitem voltar a confirmar que o

aquecimento da superfície é uniforme (como pretendido).

Como pode ser comprovado no capítulo de resultados, os testes de potência constante e perfil de

potência apresentam um andamento reprodutível (considerando as diferenças de temperatura

44

esperadas por variação das condições de teste). Relativamente aos testes de perfis foram testados

diversas durações e níveis de exigência.

É então possível afirmar que o sistema atinge temperaturas reais, com uma resposta temporal

razoável (em segundos), cumprindo os requisitos pretendidos: controlo e variação de potência e

resposta temporal similar ao caso real. De facto, nos testes de perfil de potência, verifica-se uma

resposta temporal quase imediata a qualquer variação de potência e em testes controlados de fluxo

de potência imposto, sem sistema de arrefecimento, verificou-se que, tal como no caso real, se o

sistema não for desligado em poucos segundos irá apresentar temperaturas muito elevadas.

45

Capítulo 4 - Sistemas de arrefecimento considerados e

metodologia experimental

Neste capítulo será apresentada uma breve descrição dos sistemas testados e da metodologia

experimental seguida sendo que os testes realizados comportam uma comparação directa entre um

sistema de convecção a ar e um sistema de arrefecimento a líquido por contacto indirecto

(Watercooling), bem como testes para um sistema baseado em Spray Cooling Intermitente.

No caso dos testes de SC não se pretende uma comparação directa com outros sistemas mas

antes analisar a aplicabilidade desta tecnologia e identificar os principais parâmetros a optimizar.

4.1. Sistemas de Arrefecimento de uso corrente

4.1.1. Sistema de convecção forçada a ar (Air-Cooler)

Os sistemas de arrefecimento de uso mais corrente utilizam um bloco de interface térmica em

contacto com o processador, do qual recebem, por condução, a energia térmica dissipada e por sua

vez a rejeita para o ambiente. Nos sistemas de convecção forçada a ar, este bloco de interface

térmica é arrefecido, tal como indicado no capítulo 1, por convecção com o ar forçado a circular por

intermédio de uma ventoinha habitualmente colocada no topo deste (Figura 4.1). A capacidade do

bloco de interface para difundir o calor é garantida utilizando-se na sua construção materiais

metálicos, os quais apresentam elevada condutibilidade térmica. Desta forma, a eficiência do sistema

depende, sobretudo, do dimensionamento da ventoinha e da resistência térmica de contacto entre o

processador e o bloco de interface, a qual deve ser mínima como ficou explicado no capítulo 1. Uma

solução passa pelo aumento da área de contacto (recordar a Eq. 1.4) ou pela utilização de ventoinhas

maiores (para aumentar o fluxo de ar), soluções que se encontram limitadas em termos de dimensão

máxima e ruído permitido. Para melhorar o contacto entre o bloco de interface térmica e o dissipador

do processador aplicam-se massas térmicas com elevados valores de condutividade térmica.

Dissipador

(incorporado no encapsulamento)

Material de Interface Térmica

Processador

(core)

Convecção Forçada de Ar

Dissipador do Sistema de

Arrefecimento

(exterior ao processador)

Bloco de Interface Térmica

Figura 4.1 – Funcionamento do sistema de convecção forçada a ar.

46

No presente trabalho o Cooler utilizado é um Intel® C25704-002. Este equipamento foi desenhado

para aplicação em sistemas Pentium® 4, sendo essa a principal razão para a escolha deste modelo.

O Cooler é alimentado por uma fonte de tensão de computador, funcionando nas mesmas

condições a que está sujeito quando aplicado a um sistema real. Em todos os testes realizados, o

contacto entre o sistema de arrefecimento e o modelo experimental (IHS) foi garantido pelo uso de

massa térmica AKASA Pro-Grade 460.

4.1.2. Sistema de contacto indirecto com líquido (Watercooling)

Nos sistemas de Watercooling, o arrefecimento do processador é assegurado por um fluxo de

água que circula num bloco em contacto com o dissipador térmico. Um sistema deste tipo é

normalmente constituído pelo bloco que permite, no seu interior, a circulação de água, um

reservatório de líquido, um radiador externo onde a água rejeita o calor recebido do processador para

o ar ambiente e uma bomba de circulação. A Figura 4.2a mostra esquematicamente as ligações deste

tipo de sistema: a água sai do reservatório, passa pelo radiador (onde troca calor com o ar com

auxilio de ventoinhas) e entra no bloco de interface térmica para o arrefecer. Este, por condução

térmica, arrefece o processador, sendo a circulação de água garantida pela bomba instalada entre o

reservatório e o radiador.

(a) (b)

Figura 4.2 - Sistema de Watercooling: (a) Esquema de ligações; (b) Bloco de arrefecimento.

Apesar de também este sistema continuar limitado pelos materiais utilizados, a utilização de água

como fluido de transferência térmica apresenta vantagens. A água apresenta uma condutividade

térmica e um calor específico superiores aos do ar, razão pela qual apresenta um coeficiente de

transferência de calor por convecção superior (h) e, portanto, melhores condições para a

transferência de calor por convecção (Eq. 1.5). Por vezes são ainda utilizados, como substituto ou

aditivo, líquidos refrigerantes com o intuito de melhorar as capacidades de remoção de calor do

sistema. Outra vantagem apresentada por alguns fabricantes destes sistemas é a diminuição do ruído

já que a ventoinha do radiador é, normalmente, mais silenciosa do que as dos sistemas de convecção

a ar.

47

O equipamento utilizado neste trabalho comporta um radiador Nexxxos Xtreme I (Alphacool), ao

qual foi acoplada uma ventoinha para circulação de ar. A bomba utilizada é uma Laing DDC

(Alphacool) com um nível de ruído indicado pelo fabricante de 10 dB. O bloco de arrefecimento é um

WaterChill™ CPU Cooler (Figura 4.2b) e o reservatório utilizado é um MICRES-MICRO (Swiftech). A

montagem corresponde a um sistema sem alterações ou uso de aditivos na água (apenas água

desmineralizada), tendo sido cedido pela empresa AquaPC (http://www.aquapc.com/).

As condições de teste equivalem ao caso real, estando a ventoinha do radiador e a bomba de

água ligadas a uma fonte de alimentação de computador, fazendo-se uso de massa para garantir o

contacto térmico com o modelo experimental (novamente a massa utilizada foi AKASA Pro-Grade

460). Apesar de existirem outras configurações baseadas em Watercooling, com blocos para

arrefecer placas gráficas, memórias e até discos rígidos, no presente trabalho apenas se pretende um

sistema básico para verificar se este apresentava os benefícios anunciados face aos sistemas a ar.

4.2. Sistema de arrefecimento de contacto directo: Intermittent

Spray Cooling (ISC)

Actualmente existe uma crescente procura de sistemas de arrefecimento baseados em contacto

directo visto que permitem remover a resistência térmica de contacto entre o processador e o bloco

dissipador térmico. Alguns destes sistemas fazem uso de uma polidispersão líquida (spray) que incide

directamente na face exposta do processador. São, normalmente, designados por sistemas de Spray

Cooling (SC). Um sistemas de SC pulveriza directamente o líquido sobre a superfície a arrefecer [17],

a qual está encapsulada para permitir a extracção do fluido que circula em circuito fechado. Para isso,

o sistema inclui ainda um condensador para fazer voltar ao estado líquido o vapor formado na

interacção térmica e uma bomba de circulação (Figura 4.3).

Os sprays utilizados podem ser de diversos tipos. Estes podem ser classificados em sprays de

pressão ou sprays assistidos a ar, dependendo do método utilizado para fazer garantir a

desintegração do líquido em gotas [6]. Apesar dos sprays assistidos a ar apresentarem uma eficiência

superior, acabam por ser mais difíceis de incorporar em soluções comerciais devido à necessidade

de um fluxo adicional de ar.

Processador(core)

Substracto

Extracção Vapor

Extracção Vapor

Entrada

Liquido

Vapor gerado pela mudança de fase do

líquido

Figura 4.3 – Esquema elucidativo do funcionamento da Técnica de Spray Cooling.

A técnica de SC é um exemplo de um sistema de arrefecimento que pode ser utilizado por

contacto directo (aplicação sobre o core do processador recorrendo a líquidos dieléctricos) ou

48

contacto indirecto. Neste trabalho, o sistema utilizado pulveriza directamente o líquido sobre o modelo

experimental (na superfície de cobre – IHS), mas não directamente na fonte de calor.

A eficácia desta técnica depende das propriedades do líquido utilizado e das condições de

funcionamento do spray. A maior dificuldade está na gestão do fluxo de líquido que garanta as

maiores taxas de arrefecimento em todas as condições de funcionamento do processador. A

utilização de sprays intermitentes é uma tecnologia (Intermittent Spray Cooling Systems – ISCS) que

vem permitir optimizar a gestão do fluxo de líquido, através de uma programação adequada dos

tempos de injecção e dos tempos mortos entre injecções sucessivas, e.g. Panão e Moreira [18, 19],

Panão et al. [31].

Neste trabalho é desenvolvido um sistema de injecção para ser utilizado num ISCS. O método

utilizado tem por base o sistema apresentado por Vu et al. [39]. Apesar de num contexto diferente,

estes autores recorrem a uma válvula de solenoide igual à utilizada pela Candela (GentleLASE) nos

seus equipamentos. Neste trabalho é utilizada uma válvula Parker 099-0169-900 cedida pela Candela

Portugal. Foi ainda desenhado e construído um circuito electrónico auxiliar para fazer a abertura e o

fecho da válvula e para garantir o controlo da intermitência – frequência e duração de cada injecção.

O circuito criado está representado na Figura 4.4 e baseia-se num transístor MOS que serve como

interruptor controlado pelo gerador de sinais ligado à Gate deste. O transístor foi escolhido de modo a

garantir uma resposta rápida, tendo-se optado por um do tipo NPN High Speed Switch.

12VVálvula

(12Ω)

5.1kΩ

Gerador

de Sinal (5V)

NMOS

D

S

G

Figura 4.4 – Circuito de controlo da válvula a utilizar no Spray.

Assim sendo, existe uma fonte de alimentação DC de 12V para a válvula, sendo que, em

funcionamento, a válvula comporta-se como uma resistência. Deste modo, o circuito permite a

passagem da corrente sempre que a tensão na Gate do transístor permitir que este deixe a zona de

corte. Uma vez que a tensão aplicada na Gate do transístor serve de sinal de controlo, é gerado um

sinal rectangular onde, pelo controlo da duração do pulso e da frequência, é possível controlar a

intermitência.

Em relação ao atomizador a utilizar, e após testar diversas soluções, optou-se por adaptar um

atomizador de aplicação médica na válvula para obter spray (com um diâmetro de saída de 250 µm).

49

A pressão do líquido a montante da válvula é o parâmetro de funcionamento que, em conjunto

com o diâmetro do injector (250 µm), determina a qualidade de atomização e, consequentemente, as

características do spray que vai arrefecer o dissipador térmico. Neste sentido, foram conduzidos

diversos testes para se optimizar a pressão de injecção. A Figura 4.5 apresenta imagens obtidas com

uma câmara de alta velocidade (Motion Corder Analyser – Series SR – Model PS-120) do spray de

um líquido dieléctrico (HFE7100 fabricado pela 3M) quando é descarregado a 2.2 bar de encontro à

placa de cobre que serve de IHS no modelo experimental. Nestas imagens a superfície está à

temperatura ambiente e o spray incide com um ângulo de inclinação. Nesta fase apenas se pretende

caracterizar a qualidade da atomização e a área de impacto coberta pela dispersão de gotas, pelo

que não é absolutamente necessário centrar o spray relativamente à superfície. No entanto, testes

posteriores garantiram que era possível, alterando o posicionamento do spray, cobrir toda a área

aquecida. De facto, como se verá nos resultados, a disposição do spray face à superfície revelou-se

de extrema importância.

A Figura 4.5a permite identificar um spray esparso com um cone bem definido (linhas laranja),

apresentando assim aplicabilidade em sistemas de arrefecimento. Na Figura 4.5b observa-se a

ocorrência de atomização secundaria (linhas azuis) associada à desintegração causada pelo impacto

das gotas com a superfície e que se devem em grande parte ao facto de a superfície estar fria e não

haver vaporização de líquido.

(a) (b)

Figura 4.5 – Spray com HFE7100 a 2.2 bar: (a) Atomização Simples; (b) Atomização Secundaria.

Na sequência destes testes foi dimensionado um sistema de alimentação de líquido que faz uso

de um depósito pressurizado. O líquido dentro do depósito é pressurizado com ar proveniente de um

compressor e alimentado ao injector a pressão constante controlada por uma válvula controladora de

pressão e monitorizada num manómetro analógico colocado na linha de ar comprimido (ver Figura

4.6). Um manómetro colocado na linha de alimentação de líquido ao depósito, imediatamente a

montante da válvula injectora, permite ter em conta as perdas de pressão e ter uma leitura correcta

da real pressão de atomização.

Para garantir um posicionamento preciso do sistema foi instalado um sistema micrométrico de três

eixos que permite deslocações controladas, na escala de décima de milímetro, no eixo XX, YY e ZZ.

A válvula é montada de forma a deslocar-se ao longo do eixo ZZ sendo o modelo experimental

colocado numa plataforma que permite os deslocamentos XX e YY. A posição central XX=YY=0

corresponde ao spray alinhado com o centro da superfície de cobre do modelo experimental.

50

Figura 4.6 – Instalação Experimental.

4.3. Metodologia Experimental

4.3.1. Sistemas de uso corrente

Os sistemas de arrefecimento correntes foram testados com o modelo alimentado, não só a

potência constante à semelhança do que é feito na maior parte dos estudos publicados na literatura

(e.g., Bash et al. [21], Panão e Moreira [18, 19], Mudawar e Estes [22] ou Bonner III et al. [30]), mas

também com perfis de potência variável no tempo que simulam condições de funcionamento mais

próximas das reais. Desta forma, ambos os sistemas em avaliação foram submetidos a testes de

potência constante para 15 W, 30 W, 45 W e 60 W com uma duração de 5 minutos por teste. Testes

preliminares tinham mostrado que as variações de temperatura ao fim de 5 minutos são mínimas e

que, portanto, o sistema estaria termicamente estabilizado, como se mostra na Figura 3.8 para um

teste realizado com uma potência de 60 W ao longo de 2 horas.

O estudo que aqui é apresentado difere da maior parte dos publicados na literatura (veja-se a

discussão do capítulo 2) nos quais o líquido é injectado sobre a superfície a arrefecer depois de esta

ter atingido o equilíbrio térmico. No presente caso, a potência térmica dissipada é feita variar

subitamente quando o sistema de arrefecimento está em condições de funcionamento estacionárias e

é registada a subsequente evolução térmica da superfície. Esta metodologia aproxima-se mais das

condições reais de funcionamento, nas quais os processadores são arrefecidos a partir do momento

em que são iniciados, passando rapidamente da temperatura ambiente para temperaturas de

funcionamento mais elevadas, à medida que se vão executando programas, sendo a função do

sistema de arrefecimento garantir que a temperatura final não excede os máximos permitidos.

Todos os resultados apresentados resultam de um conjunto alargado de testes para as mesmas

condições, comprovando assim a reprodutibilidade dos resultados obtidos. Em todos os testes a

temperatura ambiente e humidade relativa da sala são registadas.

Outra das limitações apresentadas pelos estudos já realizados sobre sistemas de arrefecimento é

o facto de estes utilizarem fluxos de potência constantes, situação que raramente ocorre nos

processadores reais. Apesar de Cader et al. [13] terem aplicado variações temporais no estudo de

sistemas de arrefecimento, estes não reproduzem condições reais pelo que, no presente trabalho, os

51

sistemas de arrefecimento também foram testados com um perfil de potência variável no tempo,

como o que se mostra na Figura 4.7. Este perfil é a reprodução de um benchmark de treino criado por

Isci e Martonosi [26] e foi escolhido por representar um conjunto de situações reais e exigentes a que

um processador está sujeito durante o seu funcionamento. Este facto torna o perfil uma boa base de

comparação dos diversos sistemas de arrefecimento.

0

10

20

30

40

50

60

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Tempo [s]

Potê

ncia [W

]

Figura 4.7 – Perfil de Potência testado, [26].

No perfil é possível identificar quatro instantes distintos. O primeiro vai do início do teste até

aproximadamente 45 segundos e corresponde a um código que envolve cálculos computacionais em

ciclo entre inteiros e números de virgula flutuante. O segundo, dos 45 aos 60 segundos, corresponde

a um benchmark que gera hits de cache de nível 1. O terceiro segmento vai dos 60 aos 94 segundos

e representa um benchmark criado para gerar Taken Branches. Por fim, é provocada uma variação

rápida de aproximadamente 30 W, levando o sistema a uma situação limite. O trabalho de Isci e

Martonosi [26] permite verificar que as aplicações reais testadas (nomeadamente o programa de

cálculo Gnumeric) apresentam segmentos com um comportamento similar a este último segmento do

perfil testado e uma análise geral dos perfis presentes no mesmo trabalho permite identificar neste

perfil comportamentos similares com a maioria dos restantes casos apresentados.

4.3.2. Intermittent Spray Cooling (ISC)

Pretende-se também analisar as potencialidades do ISC e ao mesmo tempo identificar os

parâmetros mais importantes a optimizar no desenvolvimento de um sistema de uso comercial.

A metodologia seguida consiste no estudo de cada parâmetro isoladamente, i.e., apenas um

parâmetro varia em cada ensaio. Para identificar a gama inicial de valores a ser utilizada, foram

realizados testes de potência constante. Nestes testes foi identificada a gama de valores para o sinal

de controlo da válvula e a distância a que o atomizador deve ser colocado da superfície. Foram ainda

consideradas diversas pressões de injecção, tendo-se visualizado o spray resultante, como se mostra

na Figura 4.5, para identificar a gama de pressões a ser utilizada. Desta forma verifica-se que existe

um patamar superior imposto pela capacidade da própria válvula (aproximadamente a 6 bar) e um

patamar mínimo a partir do qual a atomização é fortemente deteriorada. A análise efectuada permite

concluir que acima dos 2.0 bar é possível obter um spray com características adequadas para ser

aplicado como sistema de arrefecimento.

Após a realização dos testes de potência constante, todos os restantes testes foram efectuados

com o perfil de potência apresentado na Figura 4.7.

52

O modelo experimental é mantido à temperatura ambiente até o sistema de arrefecimento ser

ligado no início do teste (como no caso real). A evolução da temperatura começa então a ser

monitorizada nos três termopares ao longo da duração do teste, ao mesmo tempo que o software do

microcontrolador garante que esta não ultrapassada o máximo permitido.

Tal como referido, um dos parâmetros testados foi a frequência do sinal que controla a válvula

tendo-se optado por, após os testes iniciais de potência constante, realizar testes para 0.8Hz e 2.6Hz

visto estas frequências apresentarem uma diferença de 3.25 vezes entre si, o que foi considerado

suficiente para estudar a influência deste parâmetro. Outro parâmetro analisado foi o duty cycle do

sinal que controla a válvula, sendo este conceito definido como a razão entre a duração do pulso e o

período do pulso, considerando um sinal baseado em pulsos rectangulares. Esta definição encontra-

se de acordo com a fornecida pela Alliance for Telecommunications Industry Solutions [32]. Foram

estudados 3 duty cycle distintos: 23.6%, 57.7% e 75.2%. O valor de 23.6% corresponde ao valor

próximo do mínimo encontrado nos testes de potência constante, o valor de 57.7% representa uma

condição intermédia e o valor de 75.2% aproxima-se de um spray contínuo.

Em termos de pressão de injecção foram estudadas 3 pressões: 2.3 bar, 3.3 bar e 5.0 bar.

Para estudar o efeito das propriedades físicas do líquido de arrefecimento recorreu-se a dois

líquidos diferentes, HFE7100 (C4F9OCH3) fabricado pela 3M e metanol (CH3OH). As principais

propriedades dos líquidos estão assinaladas na Tabela 4.1 sendo os valores apresentados baseados

nos fornecidos pela 3M para o HFE7100 [40] e pelo CRC Handbook of Chemistry and Physics [41]

para o metanol.

Tabela 4.1 – Propriedades termo-físicas dos líquidos de arrefecimento utilizados.

Líquido HFE 7100 Metanol ρ [kg m-3] 1488 788

µ x 1004 [kg m-1 s-1] 5.7 5.6

σ x 1003 [kg s-2] 13.6 22.3

α x 1008 [m2 s-1] 3.9 10.4

k x 1003 [W m-1 K-1] 68.8 203.3

cp [J kg-1 ºC-1] 1177 2481

T.b [ºC] 61 65

hfg [kJ kg-1] 126 1158

Foi ainda testada a influência da posição do modelo experimental (vertical versus horizontal) para

analisar a influência da presença de um filme de líquido que se poderá formar e acumular sobre a

superfície quando esta está na posição horizontal.

Desta forma, foram conduzidos testes com metanol para a mesma frequência, pressão, distância

entre atomizador e superfície, posição e líquido, variando o duty cycle. Para cada um dos duty cycle,

e mantendo as restantes variáveis constantes, foram realizados testes para a segunda frequência.

Repetiu-se o mesmo procedimento para as três pressões distintas, estudando sempre os 3 duty

cycle, para ambas as frequências. Foram efectuados testes preliminares para garantir que mantendo

o duty cycle e variando a frequência, a quantidade de líquido entregue no final era a mesma visto que

53

a relação entre a duração de impulso e o período são alteradas com a frequência que por sua vez

compensa com o número de injecções totais na duração do teste.

De seguida, alterando a posição do modelo experimental para vertical, repetiram-se os testes de

duty cycle para ambas as frequências com uma pressão de 2.3 bar. Não se repetiram testes para

outras pressões pois foi possível nos testes iniciais descartar a influência deste parâmetro.

Mudando de líquido para HFE7100 e utilizando 2.3 bar voltou-se a repetir o procedimento.

A distância entre atomizador e a superfície foi mantida constante em todos os testes uma vez que

nos testes de potência constante foi encontrado um valor óptimo para este parâmetro.

Todos os resultados apresentados resultam de um conjunto alargado de testes para as mesmas

condições, comprovando assim a reprodutibilidade dos resultados obtidos. Em todos os testes a

temperatura ambiente e humidade relativa da sala são registadas.

54

Capítulo 5 - Resultados experimentais

5.1. Sistemas de arrefecimento de uso corrente

Para testar as soluções comerciais de arrefecimento foram realizados testes a potência constante

e testes com um perfil de potência variável. Os resultados obtidos demonstram que o comportamento

dos termopares de superfície é sempre coincidente. De facto, analisando todos os testes de potência

constante e de perfil de potência, verifica-se que em média o desvio registado entre as temperaturas

dos termopares de superfície não ultrapassa 1ºC, no caso do sistema de arrefecimento a ar, e apenas

0.28ºC, no caso do sistema indirecto a água. Por esta razão, os resultados que aqui são

apresentados apenas consideram as temperaturas medidas por um dos termopares de superfície e,

uma vez que as condições mais restritivas ocorrem na fonte de calor, a análise incidirá sobre o

termopar que se encontra em contacto directo com esta. Todos os resultados apresentados a seguir

foram obtidos de um conjunto de testes para cada condição de funcionamento.

A Figura 5.1 compara as temperaturas medidas pelo termopar colocado na fonte de calor quando

cada um dos sistemas de arrefecimento convencionais é utilizado ao longo de 5 minutos para

arrefecer o modelo experimental quando este dissipa diferentes potências (15W, 30W, 45W e 60W).

Os resultados mostram que, para uma potência dissipada de 15 W, a utilização do sistema de

arrefecimento a ar dá origem a temperaturas, em média, superiores em 1.6ºC, chegando as

diferenças a atingir 2.4ºC (Figura 5.1a). O mesmo acontece para 30 W (Figura 5.1b), sendo que

agora as diferenças são, em média, de 2.2ºC, atingindo valores máximos de 3.1ºC. Novamente a

diferença torna-se definida logo nos instantes iniciais. Para 45 W (Figura 5.1c) as diferenças são mais

evidentes, com resultados para o uso do sistema a ar a apresentar uma temperatura em média 4.3ºC

acima do sistema de água, podendo existir diferenças de 5.6ºC. Por fim, no caso de 60 W (Figura

5.1d) as diferenças tendem a desaparecer no final do teste. Embora os testes com o sistema a ar

continuem a apresentar temperaturas superiores (cerca de 2ºC), no final do teste os resultados para

ambos os sistemas tendem a aproximar-se, existindo nesta fase apenas uma diferença média de

1.3ºC. No entanto, ao longo do teste de potência a 60 W verificam-se pontos de diferença máxima de

3.4ºC, verificando-se sempre uma temperatura superior aquando do uso do sistema de arrefecimento

a ar.

É também de se assinalar o facto de a temperatura estabilizar logo nos instantes iniciais quando é

utilizado o sistema de arrefecimento a água, enquanto que, quando é utilizado o sistema a ar, serem

necessários alguns segundos para estabilizar. Embora não seja muito evidente no caso de 15 W, o

mesmo se observa em todos os testes a potência constante. De facto, para 30 W, analisando as

temperaturas medidas a 10, 60 e 300 segundos, observa-se que nos testes com o sistema de ar

existem variações de 34.7ºC (10s) para 40.3ºC (60s) e 42.2ºC (300s), enquanto que no caso do

sistema a água as variações são de 35.2ºC para 38.4ºC (60s) e 40ºC (300s). O mesmo se observa

para as restantes potências. Para 45 W a temperatura varia de 40.2ºC (10s) para 47.4ºC (60s) e

terminando em 50.7ºC (300s) quando se utiliza o sistema a ar, contra 39.4ºC (10s), 43.6ºC (60s) e

55

46ºC (300s) quando se utiliza o sistema de arrefecimento indirecto com água. Mesmo para 60 W

verifica-se uma passagem de 41.2 (10s) para 50.5 (60s) e 53.9ºC (300s) com o sistema a ar e 42.6ºC

(10s) para 49.1ºC (60s) e 52.6ºC (300s) com o de água. Repare-se que, neste caso, e ao contrário do

que se verifica para as outras potências, os testes com o sistema a ar apresentam aos 10 segundos

uma temperatura mais baixa do que os testes com o uso do sistema a água mas no entanto o

sistema de arrefecimento a ar não é capaz de manter essa diferença, perdendo antes do final do

teste a vantagem alcançada.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo [s]

T [ºC]

Cooler

Watercooling

(a)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo [s]

T [ºC]

Cooler

Watercooling

(b)

05

10152025303540455055

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo [s]

T [ºC]

Cooler

Watercooling

(c)

05

10

1520

2530

3540

455055

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300

Tempo [s]

T [ºC]

Cooler

Watercooling

(d)

Figura 5.1 – Comparação entre Watercooling e Cooler para: (a) 15W; (b) 30W; (c) 45W; (d) 60W.

Relativamente aos termopares de superfície observa-se o mesmo comportamento. Considerando

o termopar de superfície 1 verifica-se que para 15 W os testes com o sistema de arrefecimento a ar

56

apresentam em média uma temperatura 1.9ºC mais elevada do que os com o sistema a água,

registando-se pontos em que a temperatura dos testes com o sistema a ar é 2.7ºC mais elevada.

Para 30 W, o termopar de superfície 1 apresenta para os testes com o sistema a ar uma temperatura

em média 2.2ºC superior aos testes com o sistema a água e pontos em que a diferença é de 3.2ºC.

Nos 45 W encontra-se, em média, uma temperatura 4.6ºC superior para os testes com o sistema a ar,

podendo atingir pontos superiores a 5.7ºC relativamente aos testes com o sistema a água. Por fim,

para 60 W, tal como no termopar interior, verifica-se uma diminuição da diferença entre as

temperaturas sendo que no termopar de superfície a diferença registada é superior, verificando-se em

média para os testes com o sistema a ar uma temperatura 2.4ºC superior à dos testes com o sistema

a água. Em termos de pontos de diferença máxima podem existir diferenças de 4.1ºC. Também nos

termopares de superfície se verifica uma estabilização de temperatura mais rápida para os testes

com o uso do sistema a água e, a titulo de exemplo, veja-se o caso de 60 W onde novamente os

testes com o sistema a ar apresentam nos primeiros segundos uma temperatura mais reduzida mas

rapidamente perdem esta vantagem. Os testes com o sistema a ar apresentam uma temperatura de

34.2ºC aos 10 segundos passando para os 40.6ºC (60s) e terminando em 43.9ºC (300s). Pelo

contrário, os testes com o sistema a água começam com uma temperatura ligeiramente superior,

35.5ºC (10s), mas recuperam aos 60 segundos apresentando uma temperatura de 38.9ºC e finalizam

em 41.8ºC (300s).

Verifica-se deste modo que, nos testes efectuados com o sistema de arrefecimento indirecto a

água, quer os termopares de superfície, quer o termopar colocado na fonte de calor, apresentam

valores inferiores, embora com diferenças pouco significativas, aos que apresentam quando é

utilizado o sistema de arrefecimento a ar. Adicionalmente, as variações de temperatura após os 10

segundos iniciais são menores no primeiro caso.

A análise apresentada nos parágrafos anteriores considerou o comportamento dos dois sistemas

de arrefecimento quando a potência térmica dissipada é constante. Na análise que se segue

compara-se o comportamento de ambos os sistemas numa situação real, aqui simulada com o perfil

de potência térmica descrito na Figura 4.7 do capítulo 4.

A Figura 5.2 compara as temperaturas medidas em ambos os casos pelo termopar colocado na

fonte de calor (Figura 5.2a) e pelo termopar de superfície 1 (Figura 5.2b). Mais uma vez, os

resultados mostram que o termopar da fonte de calor apresenta, ao longo de todo o teste, uma

temperatura superior com o sistema de arrefecimento a ar, com uma diferença média de 1.9ºC

(existem pontos com diferenças de aproximadamente 3ºC). Ao nível do termopar de superfície as

diferenças são maiores. Neste caso, o teste com o sistema de arrefecimento a ar apresenta, em

média, valores 2.5ºC acima dos medidos no teste com o sistema a água, havendo diferenças de 4ºC.

Ao analisar o comportamento de cada sistema ao longo de perfil verifica-se que, à parte da diferença

de temperatura, o comportamento é semelhante. A titulo de exemplo examine-se alguns dos picos de

potência. Por exemplo, após o primeiro pico de potência e durante a diminuição de potência dos 44

aos 50 segundos, os testes para ambos os sistemas apresentam um decaimento semelhante. Para o

termopar da fonte de calor, os testes com o sistema a ar apresentam um declive de 1.28ºC/s contra

1.41ºC/s para os testes com o sistema a água. No caso do termopar de superfície, e para o mesmo

57

troço de perfil, novamente os testes para ambos os sistemas apresentam um declive semelhante

(0.68ºC/s no teste do sistema a ar contra 0.70ºC/s no caso do sistema com água). De facto

analisando outros períodos, por exemplo o período entre 75 e 94 segundos, o comportamento dos

sistemas mantém-se idêntico, sendo que o termopar da fonte de calor apresenta um declive de

0.33ºC/s para o teste com o sistema a ar contra 0.34ºC/s para o teste com o sistema de água. O

mesmo acontece com o termopar de superfície 1, com valores de 0.17ºC/s para o teste com ar e

0.14ºC/s para o teste com água.

05101520253035404550

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Cooler

Watercooling

(a)

051015202530354045

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Cooler

Watercooling

(b)

Figura 5.2 – Comparação de sistemas de arrefecimento após teste com perfil de potência

analisando 2 termopares: (a) Fonte de calor; (b) Superfície 1.

Com base nos resultados descritos até aqui é possível afirmar que, embora as diferenças sejam

reduzidas, existe uma melhoria quando se utiliza o sistema a água face ao sistema a ar, sendo que o

sistema a água consegue ainda, em todos os casos, apresentar uma menor variação de temperatura

após os instantes iniciais. Muito embora não seja possível afirmar um domínio claro de uma das

tecnologias, o sistema a água permitiu que o modelo funcionasse, em todos os testes, a temperaturas

inferiores, sugerindo uma maior potencialidade desta tecnologia. Ao mesmo tempo, os sistemas a ar

têm actualmente dificuldade em evoluir devido a limitações ao tamanho e no tipo de materiais

utilizados. No lado oposto, o sistema de arrefecimento indirecto a água testado (Watercooling) utiliza

uma montagem básica sem qualquer melhoramento, uso de refrigerantes ou ventoinhas de radiador

mais potentes.

Por estas razões, as soluções de arrefecimento indirecto com líquido, como já referido por Chu em

[7], podem constituir-se como uma melhor solução face aos sistemas de convecção a ar

precisamente por não estarem ainda limitadas em termos evolutivos. De facto, o bloco do sistema de

arrefecimento é menor que o de ar, existindo já tentativas neste campo para aumentar o desempenho

térmico destes sistemas. Em termos empíricos, visto não se terem realizado testes de ruído aos

58

sistemas, o sistema de água aparenta ser mais silencioso (a ventoinha do radiador e a bomba de

água são silenciosas).

Uma vantagem evidente do arrefecimento convectivo a ar é que faz uso de apenas um

componente que é facilmente incorporado em qualquer sistema. No entanto, embora actualmente os

sistemas de arrefecimento a água convencionais sejam constituídos por diversos componentes,

existem já equipamentos em comercialização desenhados para serem incorporados em

equipamentos portáteis. Como exemplo da variedade de soluções e equipamentos actualmente

existentes, refira-se que o fabricante NEC apresentou em 2003 o primeiro sistema de arrefecimento a

água projectado para uso em computadores portáteis [42].

Ainda neste contexto, Zhang et al. [43] compararam um sistema de arrefecimento a ar e um

sistema de arrefecimento indirecto com água. O sistema de arrefecimento a ar utilizado pelos autores

contém uma câmara de vapor arrefecida com um dissipador e ventilador e o sistema de arrefecimento

a água comporta componentes semelhantes aos utilizados no presente trabalho. Os sistemas foram

testados com vista a se encontrar um sistema capaz de suportar 140 W de dissipação térmica. Os

autores concluíram que o sistema a ar apresentava limitações, enquanto o sistema a água podia ser

aplicado a sistemas com dissipações de 140 a 170 W (100 a 118 W/cm2), apresentando-se como

solução fiável no arrefecimento da próxima geração de sistemas electrónicos de alto desempenho.

5.2. Intermittent Spray Cooling (ISC)

O principal objectivo deste trabalho consiste numa caracterização do desempenho de um sistema

de ISC que permita avaliar a aplicação da tecnologia ao arrefecimento de processadores. Muito

embora alguns investigadores tenham publicado estudos experimentais em sprays intermitentes

incidentes em superfícies aquecidas, todos eles abordam os fundamentos físicos dos mecanismos de

transmissão de calor. Por exemplo, Panão e Moreira [18, 19] estudaram a influência das condições

de injecção de líquido, e.g. frequência e duração da injecção, pressão de injecção do líquido e

distância do injector à superfície. Em todos os casos são utilizadas instalações experimentais

simplificadas, nas quais a dissipação térmica é constante e a metodologia experimental consiste em

fazer o spray incidir na superfície quando esta se encontra a uma temperatura estabilizada. Apenas o

trabalho de Cader et al. [13] considera uma condição de fronteira térmica variável no tempo mas,

mesmo assim, não reproduz inteiramente características de funcionamento reais.

Uma vez que o modelo experimental construído no presente trabalho reproduz condições de

funcionamento de um processador, pretende-se realizar testes que sirvam de guia no projecto de

sistemas práticos. Para isso as experiências são conduzidas iniciando-se o sistema à temperatura

ambiente e procurando as condições de funcionamento do sistema de arrefecimento capazes de

manter a temperatura abaixo do valor máximo permitido, quando o modelo experimental está sujeito a

um perfil de potência térmica semelhante ao de um processador real.

Os parâmetros a analisar incluem a frequência e a duração do sinal de abertura e fecho do

injector, a pressão do líquido a montante do injector, a direcção do spray relativamente à superfície

de impacto (horizontal versus vertical), a distância do atomizador à superfície (dnoz) e as propriedades

59

do líquido de arrefecimento. O termo duty cycle é frequentemente utilizado ao longo da análise e

corresponde ao definido na secção de metodologia experimental (capítulo 4).

Para definir a gama de valores de alguns parâmetros foram realizados testes de potência

constante. Devido a restrições do número de páginas deste documento, não será feita uma descrição

exaustiva destes testes, sendo apresentados alguns resultados considerados como representativos

dos testes realizados. Todos os testes apresentados foram realizados para 60 W.

Assim, foram realizados testes para uma dissipação de potência constante de 60 W, com o

modelo experimental na posição horizontal, utilizando-se o mesmo sinal de injecção e variando a

distância dnoz do atomizador à superfície desde poucos milímetros (dnoz ≈ 5 mm) até valores

relativamente elevados (dnoz > 80 mm). Os resultados confirmam a importância de dnoz na transmissão

de calor e mostram que, para distâncias acima de 80 mm a temperatura no modelo experimental

aumenta continuamente até que o sistema de arrefecimento deixa de ser capaz de manter a

temperatura dentro dos valores permitidos. Este comportamento evidencia a existência de uma valor

máximo para dnoz. Esta conclusão é confirmada na Figura 5.3, onde se mostra o efeito de dnoz na

temperatura medida pelo termopar colocado na fonte de calor quando o sistema dissipa 60 W na

posição horizontal e o líquido é injectado a 3.0 bar com um sinal de injecção a 0.71Hz e 72.9% duty

cycle. As curvas de temperatura representadas na figura mostram ainda que, embora numa fase

inicial ambas apresentem um comportamento semelhante, a tendência das temperaturas medidas a

dnoz = 78 mm é de incremento, denunciado a incapacidade do sistema de arrefecimento para manter

o equilíbrio térmico, enquanto à distância dnoz = 27 mm se consegue atingir o equilíbrio térmico antes

de decorrido 1 minuto de teste. Note-se que foi utilizado um duty cycle elevado, pelo que o

funcionamento do sistema de arrefecimento se aproxima do de um spray contínuo o que realça a

influência que elevadas distâncias entre atomizador e superfície podem ter.

5

15

25

35

45

55

65

75

85

010 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo [s]

T [ºC]

dnoz = 27 mm

dnoz = 78 mm

5

15

25

35

45

55

65

75

85

010 20 30 40 50 60 70 80 90

Tempo [s]

T [ºC]

dnoz = 27 mm

dnoz = 78 mm

Figura 5.3 – Temperatura no termopar da fonte de calor para testes realizados com HFE7100,

3.0 bar, posição horizontal, com sinal de injecção de 0.71Hz e 72.9% duty cycle.

Verificou-se ainda que também existe um valor mínimo de dnoz capaz de manter a temperatura do

modelo abaixo do limite de segurança. De facto, observa-se um comportamento semelhante ao

observado para elevados dnoz quando o atomizador está muito próximo da superfície (dnoz < 10 mm).

Existe, assim, um intervalo óptimo para dnoz, fora do qual o sistema de arrefecimento não é capaz

de arrefecer eficazmente o modelo experimental. A análise apresentada em Mudawar e Estes [22]

permite explicar este resultado: sendo a superfície utilizada como IHS quadrada, o desempenho do

60

sistema de arrefecimento depende se o spray circunscreve, ou não, a área aquecida. Desta forma se

a distância entre a superfície e o atomizador ultrapassar o ponto em que o spray circunscreve a

superfície aquecida, a capacidade de arrefecimento do sistema é diminuída devido ao facto de uma

fracção do líquido do spray estar a ser perdida para fora da superfície aquecida. Por outro lado,

quando dnoz é muito reduzido, a área do spray não é suficiente para cobrir toda a superfície aquecida,

sendo que apenas uma pequena porção da superfície é arrefecida por impacto directo do spray (no

presente trabalho esta porção corresponde ao centro do IHS). Desta forma, ao não arrefecer toda a

superfície, o sistema não é capaz de atingir o equilíbrio térmico.

Além disso, Bash et al. [21] também referem que o fluxo de calor crítico diminui linearmente

quando se aumenta a distância do atomizador à superfície aquecida. Os resultados obtidos no

presente trabalho permitem concluir que a distância do atomizador à superfície deve ser regulada

entre 20 e 30 mm, sendo esta a distância para a qual o spray centrado no IHS circunscreve toda a

área aquecida.

Apesar de Shedd [20] ter referido que as conclusões de Mudawar e Estes [22] poderiam significar

uma limitação à aplicação desta tecnologia, considera-se que a distância encontrada no presente

trabalho é compatível com a aplicação a sistemas reais. De facto, o Cooler utilizado anteriormente

pode ter cerca de 92 mm de diâmetro e 61.3 mm de altura. Desta forma, apesar dos 20 a 30 mm

apenas se referirem à distância entre a superfície e o atomizador, é possível afirmar que existe

espaço num computador de desktop normal (Figura 5.4) para a colocação de um sistema deste tipo

(incluindo o equipamento de injecção). A titulo de exemplo veja-se que o sistema de arrefecimento

indirecto a água comporta diversos elementos, incluindo um radiador com 152.8 mm x 120.3 mm x

70.3 mm, facto que não limita a aplicação destes sistemas.

ALTURA LIVRE = ±320 mm

LARGURA LIVRE = ±300 mm

PROFUNDIDADE LIVRE = ±120 mm

Figura 5.4 – Espaço livre numa torre de desktop (volume livre ≈ 11 520 cm3).

A forma do sinal electrónico de controlo de abertura do injector, nomeadamente a frequência e

duty cycle, é outro parâmetro importante que foi considerado nos testes preliminares efectuados com

uma dissipação de potência constante. Após a realização de diversos testes verificou-se que o

equilíbrio térmico do sistema não era atingido para todos os casos, sendo que alguns dos sinais

testados não eram capazes de manter o sistema abaixo dos valores máximos de temperatura

permitida. Em particular, verificou-se que a combinação de frequências elevadas com duty cycle

61

reduzidos, situação por vezes referida como sendo um caso ideal, não se demonstrava eficaz na

manutenção da temperatura. No entanto, esta situação pode ocorrer devido ao facto de muitos dos

casos relatados na literatura se basearem em sprays densos e não esparsos, como o utilizado no

presente trabalho.

Na Figura 5.5 mostra-se o efeito do sinal de injecção na evolução da temperatura medida pelo

termopar que está em contacto com a fonte de calor, em testes realizados com o modelo

experimental na posição horizontal, com uma pressão de injecção de 3.0 bar e dnoz = 27 mm. Verifica-

se a importância do sinal de injecção já que não é possível manter a temperatura constante em todos

os casos. De facto, sinais com baixo duty cycle e elevada frequência, como acontece para o caso de

3.13Hz com 25.0% de duty cycle, podem já não ser capazes de garantir uma temperatura constante

dentro dos limites máximos permitidos, pelo que o teste tem de ser interrompido por questões de

segurança.

0

20

40

60

80

100

120

140

0 10 20 30 40 50

Tempo [s]

T [ºC]

1.14 Hz; 50.0% Duty Cycle

0.71 Hz; 72.9% Duty Cycle

3.13 Hz; 25.0% Duty Cycle

2.78 Hz; 55.6% Duty Cycle

Figura 5.5 – Evolução da temperatura no termopar da fonte de calor para testes com HFE7100,

dnoz de 27 mm, 3.0 bar, posição horizontal e diversos sinais de injecção.

Os resultados na Figura 5.5 mostram também que, aumentando-se o duty cycle, é possível atingir

temperaturas estáveis dentro de uma gama de valores abaixo do máximo permitido pelo sistema. De

facto, verifica-se que desde que o duty cycle esteja acima ou na gama dos 50%, embora a frequência

varie desde 0.71Hz até 2.78Hz (um incremento de aproximadamente 3.9 vezes), a temperatura

estabiliza num valor relativamente próximo para todas as frequências.

Os testes descritos nos parágrafos anteriores, embora tenham sido realizados impondo-se ao

modelo experimental uma potência térmica constante, permitiram definir o intervalo de variação dos

parâmetros de funcionamento a considerar nos ensaios em condições reais de funcionamento.

Nestes ensaios a distância do atomizador à superfície foi mantida constante em dnoz = 20 mm. Cada

um dos parâmetros foi analisado de forma independente. Em todos os ensaios o spray é accionado

no instante inicial do perfil de potência e a evolução das temperaturas medida ao longo do tempo.

Tal como referido na metodologia experimental foram escolhidas 3 pressões de injecção. Estas

pressões foram escolhidas após garantia de que o spray apresenta uma correcta atomização, mesmo

à pressão mínima.

62

A Figura 5.6 apresenta as distribuições de temperatura medidas nos ensaios realizados com um

sinal de injecção a 2.6Hz e duty cycle de 23.6%, com o modelo experimental na posição horizontal,

utilizando-se metanol como líquido de arrefecimento a uma pressão de injecção de 5.0 bar. Os picos

de temperatura apresentados nas figuras que se seguem correspondem aos picos de potência do

perfil que está a ser testado. Para todos os ensaios, os valores são muito semelhantes em todos os

termopares de superfície (a diferença média é de cerca de 1.3ºC) sinónimo de que a distribuição

espacial do fluxo de calor na superfície é uniforme. Por isso, excepto nos ensaios em que esses

desvios não são negligenciáveis, a análise do comportamento térmico da superfície considerará

apenas a temperatura medida por um termopar.

A Figura 5.6 mostra ainda que, tal como nos sistemas de arrefecimento de uso corrente, o

termopar da fonte de calor está sempre a uma temperatura superior relativamente aos termopares de

superfície atingindo, em alguns instantes, 11ºC de diferença. Embora esperado, este facto é aqui

destacado para sublinhar o papel importante da resistência térmica criada pelo IHS na transmissão

de calor. Contudo, uma vez que a região próxima da fonte de calor é aquela que condiciona o

funcionamento seguro do sistema, a análise que se segue incidirá, sobretudo, na evolução da

temperatura medida pelo termopar colocado junto à fonte de calor.

0

10

20

30

40

50

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70

80

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

Figura 5.6 – Evolução da temperatura para testes de spray com sinal de injecção de 2.6Hz,

23.6% duty cycle, 5.0 bar, posição horizontal recorrendo a metanol.

Em todos os casos o sistema opera de forma automática, variando a potência ao longo da duração

do ensaio e, sempre que o sistema de arrefecimento não é capaz de suster o aumento excessivo de

temperatura, a rotina de segurança interrompe automaticamente o ensaio.

Nos parágrafos que se seguem é estudada a influência do duty cycle no desempenho do sistema

de arrefecimento. A Figura 5.7 apresenta a evolução da temperatura do termopar da fonte de calor,

quando o duty cycle varia de 23.6% a 75.2%, medida em ensaios com metanol injectado a diferentes

pressões e diferentes frequências. Cada gráfico da figura mostra o efeito das variações do duty cycle

quando todos os outros parâmetros são mantidos constantes. Recorde-se que o atomizador é

mantido na horizontal à distância dnoz = 20 mm da superfície.

63

0

10

20

3040

50

60

70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(a)

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(b)

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(c)

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(d)

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(e)

64

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(f)

Figura 5.7 – Evolução da temperatura no termopar da fonte de calor em testes de spray com

metanol (posição horizontal) para: (a) 2.3 bar, 0.8Hz; (b) 2.3 bar, 2.6Hz; (c) 3.3 bar,

0.8Hz; (d) 3.3 bar, 2.6Hz; (e) 5.0 bar, 0.8Hz; (f) 5.0 bar, 2.6Hz.

A análise dos resultados, tal como já se fazia notar nos testes de potência constante, confirma que

perante uma situação transitória, existe um valor de duty cycle óptimo, entre 50% e 60%, acima do

qual o aumento deste parâmetro não melhora significativamente a capacidade de arrefecimento do

sistema. Por exemplo, a Figura 5.7a (0.8Hz e 2.3 bar) mostra que os declives das curvas obtidas com

duty cycle de 57.7% e 75.2% são semelhantes. Repare-se, por exemplo, que as temperaturas

medidas no período de 50 para 60 segundos, onde as variações de potência são significativas, são

muito semelhantes nos dois casos (e.g. aos 60 segundos existe apenas uma diferença de 3.7ºC entre

as duas curvas). Obtêm-se conclusões semelhantes quando se analisa o período de declive negativo

da curva de potência, entre 60 e 72 segundos. Note-se que, sendo o duty cycle de 75.2% um valor

elevado, o comportamento do sistema nesta condição aproximar-se-á do que se obtém com um spray

contínuo.

Contudo, os resultados mostram diferenças significativas nos valores das temperaturas medidas

quando o duty cycle aumenta de 23.6% para 57.7%, muito embora com evoluções qualitativamente

semelhantes, tanto nos períodos de gradiente positivo, como nos períodos de gradiente negativo da

potência térmica. Considerando novamente a Figura 5.7a, verifica-se que para o mesmo troço dos 50

a 60 segundos, existem diferenças evidentes entre os ensaios com duty cycle de 23.6% e 57.7% e

aos 60 segundos a curva com duty cycle de 23.6% apresenta-se 11.5ºC superior à de 57.7%.

A Figura 5.7 mostra ainda que a conclusão é independente da frequência e da pressão de

injecção: existe uma gama de valores do duty cycle que optimiza o desempenho do sistema de

arrefecimento.

Note-se ainda que, apesar de numa gama de temperatura mais baixa a temperatura da superfície

ter um comportamento semelhante ao da temperatura da fonte de calor, são de salientar as

diferenças significativas que ocorrem quando a potência térmica varia rapidamente. Observe-se, por

exemplo, que, enquanto a temperatura da fonte de calor responde às variações muito rápidas de

potência que ocorrem a partir dos 94 segundos, a temperatura da superfície praticamente não varia.

A evolução da temperatura na superfície pode ser analisada com base nas temperaturas medidas

pelo termopar de superfície 2, já que a distribuição espacial do fluxo de calor é, neste caso,

homogénea. Na Figura 5.8 estão representados os resultados obtidos para as mesmas condições de

funcionamento da Figura 5.7 mas considerando agora o termopar de superfície 2.

65

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Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(a)

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Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%

(b)

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Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(c)

0

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Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%

(d)

0

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50

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0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(e)

66

0

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70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(f)

Figura 5.8 – Evolução da temperatura no termopar de Superfície 2 em testes de spray, posição

horizontal recorrendo a metanol para: (a) 2.3 bar, 0.8Hz; (b) 2.3 bar, 2.6Hz; (c) 3.3

bar, 0.8Hz; (d) 3.3 bar, 2.6Hz; (e) 5.0 bar, 0.8Hz; (f) 5.0 bar, 2.6Hz.

Observe-se, por exemplo, os resultados obtidos nos ensaios a 0.8Hz a 2.3 bar (Figura 5.8a).

Novamente se observa que os declives das curvas são semelhantes para o duty cycle de 57.7% e

75.2%, tanto no período de 50 a 60 segundos (0.89ºC/s versus 0.96ºC/s), em que a potência térmica

dissipada aumenta, como no período em que a potência diminui, de 60 a 72 segundos. Também

neste caso, aos 60 segundos, apenas existe uma diferença de 3.7ºC entre as duas curvas.

Por outro lado, a capacidade de arrefecimento do sistema é consideravelmente deteriorada

quando o duty cycle diminui abaixo do valor óptimo. Mas, tal como acontece à temperatura da fonte

de calor, embora a temperatura da superfície varie muito pouco quando o duty cycle aumenta de

57.7% para 75.2%, as diferenças são significativas quando o duty cycle aumenta de 23.6% para

57.7% (e.g. aos 60 segundos existe uma diferença de 11.3ºC entre as curvas de 23.6% e 57.7% de

duty cycle). Os resultados da Figura 5.8 corroboram a conclusão de que a frequência e a pressão de

injecção não alteram este comportamento.

Os resultados apresentados na Figura 5.7 e Figura 5.8 e a discussão que é apresentada nos

parágrafos anteriores, evidenciam que o duty cycle é o parâmetro mais importante no funcionamento

do sistema de arrefecimento, enquanto a frequência de abertura e fecho do injector e a pressão de

injecção do líquido têm efeitos negligenciáveis.

O papel da frequência pode ser analisado na Figura 5.9 e o da pressão na Figura 5.10. A primeira

mostra os resultados das medidas efectuadas pelo termopar colocado na fonte de calor a 0.8Hz e

2.6Hz, para cada um dos duty cycle; a segunda mostra o efeito de se variar a pressão de injecção

entre os três valores definidos. Em ambos os casos é utilizado metanol e o modelo experimental é

mantido na posição horizontal a dnoz = 20 mm da superfície. Recorde-se, no entanto, que o duty cycle

é definido como a razão entre a duração do pulso e o período do pulso, considerando um sinal

baseado em pulsos rectangulares [32]. Por isso, nos testes em que se varia a frequência, garante-se

que se altera o tempo de injecção e o tempo entre injecções, não se influenciando no entanto o fluxo

mássico de líquido injectado na duração total do ensaio. Foram realizados ensaios para garantir que

variando apenas a frequência existia, no final de um período de tempo definido, o mesmo fluxo

mássico de líquido.

Os resultados da Figura 5.9 e da Figura 5.10 mostram claramente que o desempenho do sistema

de Spray Cooling Intermitente é independente da frequência e pressão utilizadas. É importante

67

sublinhar que este resultado foi confirmado em ensaios exaustivos efectuados a diversas condições

de funcionamento.

Apenas a titulo de exemplo, verifica-se que na Figura 5.9 as diferenças entre as curvas são

negligenciáveis sendo que o desvio médio de temperatura entre as duas curvas é de apenas 1.7ºC

para o caso do duty cycle de 23.6% (Figura 5.9a), sendo ainda inferior para o 57.7% (Figura 5.9b:

desvio médio de 0.4ºC) ou 75.2% (Figura 5.9c: desvio médio de 0.8ºC). O mesmo comportamento é

verificado, em termos de influência da frequência, para os termopares de superfície.

Para o caso da Figura 5.10, e comparando a temperatura em alguns pontos representativos de

situações exigentes, verifica-se que a temperatura para as 3 pressões é equivalente. Por exemplo,

para o termopar da fonte de calor, verifica-se que aos 44 segundos a curva de 2.3 bar apresenta uma

temperatura de 65.4ºC, a de 3.3 bar apresenta 66.4ºC e a de 5.0 bar apresenta 65.5ºC. Verifica-se

que neste ponto a diferença máxima entre as curvas não ultrapassa 1ºC.

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Freq. 0.8 Hz

Freq. 2.6 Hz

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0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Freq. 0.8 Hz

Freq. 2.6 Hz

(b)

0

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30

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50

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0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Freq. 0.8 Hz

Freq. 2.6 Hz

(c)

Figura 5.9 – Efeito da frequência do sinal de injecção na temperatura do termopar da fonte de

calor, em testes de spray (posição horizontal) com metanol, 2.3 bar, para

diferentes duty cycle: (a) 23.6%; (b) 57.7%; (c) 75.2%.

68

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

2.3 bar

3.3 bar

5.0 bar

(a)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

2.3 bar

3.3 bar

5.0 bar

(b)

Figura 5.10 – Comparação do efeito da pressão em testes de spray na posição horizontal, com

um sinal de injecção de 2.6Hz com 23.6% de duty cycle, recorrendo a metanol

para 2 dos termopares do sistema: (a) Fonte de Calor; (b) Superfície 2.

É então de salientar que, uma vez que a pressão de injecção não afecta o desempenho do

sistema, recomenda-se a utilização da pressão mínima que garanta uma correcta atomização de

forma a manter o hardware simples e seguro. Por exemplo, nos testes em transitório efectuados por

Cader et al. [13] os autores utilizam uma pressão de aproximadamente 1.01 bar (1 atm).

De facto, é possível afirmar que, com o uso de pressões reduzidas, não existem limitações à

aplicabilidade desta tecnologia a sistemas reais uma vez que apenas é necessário recorrer a um

depósito resistente a baixas pressões e a um sistema de compressão reduzido. Pela análise da

Figura 5.4 e recordando que existe um volume livre de aproximadamente 11 520 cm3 pode-se afirmar

que existe espaço suficiente para incorporar um sistema de injecção e um pequeno compressor com

um reservatório para o líquido.

A principal conclusão agora encontrada está de acordo com o trabalho de Panão e Moreira [18,

19] visto que estes autores também referem que o principal parâmetro a considerar no sinal de

controlo é o duty cycle. No entanto, ao contrário do apresentado por Panão e Moreira [18], o uso de

duty cycle reduzidos com frequências elevadas não se demonstrou eficiente quer para os estudos de

perfil de potência, quer para os de potência constante.

Neste trabalho também se verificou que existe uma distância óptima entre o atomizador e a

superfície, enquanto em [18] os autores apenas sugerem o uso de distâncias curtas. As diferenças

encontradas entre o presente trabalho e o de Panão e Moreira [18, 19] poderão ser explicadas pelo

facto de o sistema experimental utilizado na presente tese ser diferente, nomeadamente nos testes

de perfil de potência que correspondem a situações transitórias e não de fluxo de potência constante

como no caso dos autores referidos. Adicionalmente, no caso de [18] os autores optaram por partir de

uma situação com o sistema numa temperatura máxima, analisando o decaimento desta ao longo de

injecções consecutivas. Existem ainda diferenças ao nível da fonte de calor que no caso de [18, 19]

69

se baseia numa resistência eléctrica. Por fim, o spray utilizado por Panão e Moreira [18, 19] difere do

apresentado no presente trabalho na medida em que é um spray denso ao contrário do utilizado na

presente tese que é esparso.

Também no trabalho apresentado por Shedd [20] é focada a importância que o controlo de fluxo

tem na transferência de calor. Com base nos resultados aqui obtidos, o fluxo pode ser controlado

recorrendo a uma correcta escolha de duty cycle (visto o efeito negligenciável da frequência). Os

dados encontrados na presente tese estão ainda de acordo com Bash et al. [21] que, utilizando fluxos

de calor constante da mesma ordem dos utilizados em alguns dos picos de potência deste estudo,

afirmam a dependência do fluxo crítico de calor com o fluxo de líquido.

Nesta fase é então possível afirmar a existência de um valor óptimo de duty cycle, entre 50% e

60% (no presente trabalho) a partir do qual qualquer aumento não comporta melhorias significativas

na capacidade de arrefecimento do sistema. A recomendação para casos reais é a do uso de um

sinal de controlo com apenas um duty cycle central visto que, apesar da possibilidade de formação de

filme de líquido, demonstra-se eficaz para o controlo de temperatura. Neste sentido, o uso de um duty

cycle na gama óptima é uma opção mais fiável do que a variação do duty cycle visto que a rápida

alteração do funcionamento do processador conduz facilmente a picos de potência que poderão

necessitar de uma resposta que um sistema de variação poderá não fornecer. Adicionalmente, o uso

de duty cycle reduzidos pode conduzir a temperaturas elevadas e perigosas em termos de segurança

do processador. Desta forma a solução deverá ser baseada num sinal constante de controlo da

injecção ou num sistema como o utilizado por alguns sistemas convencionais a ar que se baseia em

dois modos de funcionamento, um normal e um de alto desempenho. Neste caso poderia ser aplicado

um duty cycle intermédio no funcionamento normal, mudando para um duty cycle elevado em

situações mais exigentes (por questões de segurança). É necessário realçar que esta situação é

diferente da variação de duty cycle reduzidos para os intermédios, situação que, apesar de se puder

apresentar mais eficiente na mudança de fase, está também mais vulnerável perante mudanças

exigentes do sistema, podendo conduzir a situações em que a resposta temporal do sistema de

arrefecimento não é suficiente para evitar danos no processador. O uso de duty cycle reduzidos deve

estar restrito a condições menos exigentes do que as presentes num processador real deste tipo.

Em termos da geração do sinal não existe qualquer entrave à aplicação desta tecnologia podendo-

se recorrer a um circuito gerador para o sinal de controlo, ou utilizar os sinais do próprio processador

fazendo divisão de frequência ou como trigger externo de timers.

A existência de uma gama de duty cycle óptimo, acima da qual os melhoramentos são

negligenciáveis, revela ainda uma das vantagens do uso de sistemas intermitentes sobre sistemas

contínuos, visto indicar que é possível obter uma capacidade de arrefecimento semelhante com uma

poupança considerável de líquido. Também Panão e Moreira [19] haviam referido que este tipo de

sistema poderia trazer poupanças estimadas de 10% a 90% de líquido.

O facto de a capacidade de arrefecimento do sistema não demonstrar melhorias significativas

após um certo valor de duty cycle pode ser analisada do ponto de vista físico tendo em conta a

explicação apresentada por Panão e Moreira [19] relativamente à alteração do processo de remoção

de calor que, na presença de um filme de líquido (provocada a partir de um certo duty cycle) acaba

70

por ser menos eficiente uma vez que se diminui a remoção de calor por mudança de fase. Deste

modo, para entender a influência que a formação de filme de líquido poderá representar neste

sistema, a posição do modelo experimental foi alterada de horizontal para vertical. Com esta

configuração o modelo passa a ter a superfície aquecida numa posição vertical, sendo a posição do

spray também alterada para garantir que continua a incidir à mesma distância e posição consideradas

nos ensaios realizados na horizontal (garantindo assim que se cobre toda a área aquecida). A

variação corresponde assim a um movimento de rotação de 90º de todo o sistema o que, fazendo uso

da gravidade, permite que qualquer filme de líquido anteriormente formado na superfície deixe de

existir.

Considerando uma pressão de injecção de 2.3 bar e uma distância absoluta entre o spray e a

superfície de 20 mm, foram realizados testes para as frequências de 0.8Hz e 2.6Hz, variando em

cada uma o duty cycle pelos valores seleccionados (23.6%, 57.7% e 75.2%), sendo utilizado metanol.

A Figura 5.11 mostra as temperaturas medidas pelo termopar da fonte de calor. No caso do sinal

de injecção a 0.8Hz (Figura 5.11a) verifica-se que, tal como nos testes efectuados na horizontal,

existe um melhoramento considerável ao variar o duty cycle de 23.6% para 57.7%. Analisando o pico

de potência compreendido entre 50 e 60 segundos verifica-se que os declives de ambas as curvas

são semelhantes mas a temperatura não é. De facto, relativamente aos testes na horizontal, a

diferença entre declives é superior (neste caso observa-se 1.18ºC/s para o teste com duty cycle de

23.6% contra 1.35ºC/s para 57.7%) mas continua a não ser significativa. No entanto a análise da

temperatura aos 60 segundos permite verificar que a curva com 23.6% é 7ºC superior à de 57.7%.

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%

(a)

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%(b)

Figura 5.11 – Efeitos do duty cycle na evolução da temperatura do termopar da fonte de calor

para testes com metanol, posição vertical, 2.3 bar e dnoz de 20 mm para um sinal

de injecção com: (a) 0.8Hz; (b) 2.6Hz.

71

O mesmo acontece nas zonas de diminuição de potência. Por exemplo, aos 72 segundos as

curvas apresentam entre si uma diferença de 8.8ºC.

Analisando estes resultados, e comparando com a curva de 2.3 bar e 0.8Hz mas na posição

horizontal, verifica-se que, apesar de continuar a existir uma melhoria, a diminuição de temperatura

verificada entre as curvas de 23.6% de duty cycle e as de 57.7% é inferior para os testes na posição

vertical (aos 60 segundos, no teste de 2.3 bar e 0.8Hz a curva de 23.6% apresenta uma diferença de

11.3ºC em relação à curva de 57.7% para o teste na horizontal enquanto que na vertical a diferença é

de 7ºC).

Outro resultado dos ensaios em posição vertical prende-se com o facto de agora a melhoria

verificada quando se passa do duty cycle de 57.7% para 75.2% ser superior, sendo no entanto

sempre inferior à verificada na passagem de 23.6% para 57.7%. Para 0.8Hz verifica-se que enquanto

a curva com duty cycle de 57.7% é em média 3.7ºC superior à de 75.2%, existindo pontos com

diferenças de 5ºC, a curva de 23.6% é em media 6.7ºC superior à de 57.7%, podendo existir 9.7ºC de

diferença. Verifica-se assim que a diferença média de temperaturas entre a curva de 23.6% de duty

cycle e a de 57.7% é cerca de 1.8 vezes superior à diferença encontrada entre as curvas de 57.7% e

de 75.2%. No caso do sinal com 2.6Hz (Figura 5.11b) verifica-se um comportamento semelhante no

termopar da fonte de calor.

Para os ensaios conduzidos na posição vertical verificam-se ainda diferenças ao nível do

arrefecimento na superfície que, ao contrário do verificado na posição horizontal, não é homogéneo.

Existe neste caso uma diferença de temperatura entre os termopares de superfície sendo que o

termopar de superfície 1 (termopar que está na posição mais elevada) apresenta temperaturas mais

baixas que o termopar de superfície 2. Registam-se diferenças médias de temperatura na superfície

que podem chegar a 2.6ºC (e.g. caso do duty cycle de 75.2%) para 0.8Hz ou 2.5ºC para 2.6Hz

(também para o duty cycle de 75.2%). As diferenças de temperatura na superfície chegam a atingir os

4.6ºC para 0.8Hz ou de 4.4ºC para 2.6Hz. Na Figura 5.12 apresenta-se um exemplo da diferença de

temperatura na superfície, para ensaios na posição vertical, com metanol, 2.3 bar, dnoz de 20 mm e

duty cycle de 75.2% para ambas as frequências de funcionamento.

Nos testes com o sistema na posição vertical regista-se ainda que a temperatura da superfície é

mais elevada e próxima da temperatura da fonte de calor, quando comparada para testes com as

mesmas condições mas com o sistema na horizontal. Analisando por exemplo os casos da figura

anterior, verifica-se que para 0.8Hz e 75.2% duty cycle, na posição vertical, as temperaturas

registadas pelo termopar de superfície 2 (visto ser o que apresenta uma temperatura mais elevada na

superfície) são, em média, 3.4ºC menores do que as do termopar da fonte de calor enquanto que

para o mesmo caso mas na posição horizontal, os valores de temperatura do termopar de superfície

2 apresentam-se, em média, 5.3ºC inferiores aos do termopar da fonte de calor. Desta forma, em

média, a diferença de temperatura entre a superfície e a fonte de calor é no caso horizontal cerca de

2ºC mais elevada do que no caso vertical, existindo pontos com 10.3ºC de diferença no caso

horizontal enquanto que no caso vertical não existem diferenças superiores a 5.8ºC.

Desta forma, os ensaios realizados na vertical apresentam temperaturas mais elevadas, sendo as

temperaturas de superfície mais próximas da fonte de calor, indicando um arrefecimento menos

72

eficiente (testes iniciais demonstraram que na ausência de sistema de arrefecimento a temperatura

da superfície tende a igualar a da fonte de calor). De facto, durante a variação final de 30 W do perfil

de potência, verifica-se que a recuperação de temperatura nos momentos de decaimento de potência

é mais evidente nos testes na posição horizontal do que quando o sistema está na posição vertical

(sem formação de filme de líquido), sendo que neste segundo caso a temperatura é globalmente mais

elevada.

010

20

30

40

50

60

70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

(a)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

(b)

Figura 5.12 – Testes de spray para dnoz de 20 mm, com metanol (posição vertical), 2.3 bar e um

sinal de injecção com 75.2% duty cycle e: (a) 0.8Hz; (b) 2.6Hz.

A Figura 5.13 apresenta uma comparação entre as temperaturas registadas para ensaios na

posição horizontal e vertical utilizando-se metanol, com uma pressão de injecção de 2.3 bar, dnoz de

20 mm e um sinal de abertura e fecho do injector de 0.8Hz e duty cycle de 57.7%. A figura demonstra

que o sistema de arrefecimento por spray intermitente apresenta um menor desempenho quando o

modelo experimental se encontra na vertical sendo que, considerando o termopar da fonte de calor, a

temperatura no caso vertical é em média 11.2ºC superior à do caso horizontal, existindo diferenças de

14.7ºC.

Este resultado aparece como uma contradição ao que se esperava visto que demonstra que a

extracção de calor por filme de líquido na horizontal, ainda que menos eficiente (e.g. Shedd [20] ou

Panão e Moreira [18]), conduz a resultados finais melhores em termos de temperatura. No entanto,

uma possível explicação reside no facto de embora a transferência de calor possa ser menos

eficiente com filme de líquido, a presença deste ajuda a manter a temperatura em valores mais

baixos, nomeadamente em alturas de menor potência dissipada, o que por sua vez permite um

melhor controlo da temperatura nos picos de potência. Verifica-se então que, se por um lado a

presença de filme de líquido torna a transferência e remoção de calor menos eficiente, como afirmado

em Panão e Moreira [18] e verificado no presente trabalho pelo benefício negligenciável aquando do

aumento do duty cycle acima de 60%, por outro lado este filme ajuda a manter a temperatura em

73

valores inferiores nos períodos de menor potência, ajudando no controlo de temperatura nos picos de

potência. No trabalho de Panão em Moreira [19] também é referido que existe um paradoxo neste

tema visto sugerir-se que o melhor desempenho do sistema de arrefecimento se encontra na

presença de filme de líquido enquanto que este diminui a capacidade de remoção de calor por

mudança de fase, fenómeno reconhecido como mais eficiente na remoção de calor.

0

10

20

30

40

50

60

70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Horizontal

Vertical

(a)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Horizontal

Vertical

(b)

Figura 5.13 – Comparação entre testes na posição horizontal e vertical para testes com

metanol, 2.3 bar e sinal de injecção de 0.8Hz com 57.7% duty cycle para os

termopares: (a) Fonte de calor; (b) Superfície 2.

Os resultados obtidos relativamente ao posicionamento são contrários aos recomendados por

Shedd [20] que sugere que para sistemas com pouca evaporação se recorre-se à inversão do

sistema (i.e., colocar o sistema a arrefecer voltado para baixo com o spray a ir de baixo para cima,

usando a gravidade para remover o filme de líquido).

O menor desempenho verificado na posição vertical também pode ser explicado por uma área de

impacto do spray menos eficiente. Sendo o spray esparso e analisando a interacção directa entre as

gotas de spray e a superfície, na posição vertical o contacto entre as gotas e a superfície ocorre

durante um período de tempo mais curto, sendo as gotas removidas da superfície devido à

componente tangencial. Adicionalmente, como referido por Moreira et al. [44], a área de contacto e a

própria morfologia das gotas são alteradas com o ângulo de impacto o que afecta o processo de

transferência de calor, impossibilitando uma eficiente remoção de calor por mudança de fase. Uma

possível solução para este problema prende-se com a optimização da wettability (molhabilidade) da

superfície aquecida por modificação da sua topografia e características. Esta alteração das

características poderá ser útil também no caso horizontal visto que Moita e Moreira [23] concluíram

que a topografia da superfície, a molhabilidade e propriedades do líquido influenciam o

comportamento de gotas no impacto com uma superfície.

Os autores de [23] verificaram que o impacto de gotas em superfícies frias é fortemente

dependente da morfologia e molhabilidade da superfície e que estas determinam o mecanismo de

74

desintegração em superfícies de baixa rugosidade. De facto, de acordo com [23], a ebulição de

líquido em superfícies de elevada rugosidade ocorre nos instantes iniciais do espalhamento do líquido

na superfície o que é atribuído a uma melhoria da transferência de calor associada com um aumento

do contacto líquido-sólido pelo que é defendido em [23] que o aumento da rugosidade da superfície

resulta em gotas secundarias maiores. Num outro trabalho, Moita e Moreira [24] referem os efeitos

que a topografia da superfície, mais concretamente a rugosidade, têm no desempenho do

arrefecimento de superfícies com gotas, tendo concluído que o período de contacto está dependente

das propriedades do líquido mas que é também fortemente afectado pela rugosidade da superfície.

Também em Moita e Moreira [25] é referido que as características das gotas secundarias estão

fortemente relacionadas com o calor latente e tensão superficial do líquido utilizado mas, ao mesmo

tempo, que é a textura da superfície de impacto que influência e melhora a ebulição, sendo que no

entanto gera gotas secundarias maiores.

A análise do trabalho de Moita e Moreira [23, 24, 25] sugere que o estudo da superfície em termos

de rugosidade, bem como o estudo das condições necessárias para melhorar a molhabilidade da

superfície, pode beneficiar ou solucionar alguns dos problemas encontrados em termos de

desempenho do sistema de arrefecimento quando o modelo experimental está na vertical, sendo que

estes resultados podem também ser utilizados para melhorar o caso horizontal. Apesar destes

estudos se referirem a gotas isoladas e não sprays, podem ser adaptados ao trabalho da presente

tese visto o spray utilizado ser bastante esparso, facto que permite considerar a interacção das gotas

do spray de forma semelhante à considerada por estes autores no estudo do impacto de gotas em

superfícies frias e aquecidas.

Relativamente ao estudo aqui apresentado, para se perceber a influência da orientação do modelo

experimental na temperatura final do sistema, é possível concluir que as temperaturas registadas

para a posição vertical são sempre superiores às registadas para a posição horizontal. Desta forma,

tendo em conta o importante papel do ângulo de contacto entre as gotas e a superfície e a

importância demonstrada pelo filme de líquido na manutenção da temperatura, a recomendação é

que um sistema de arrefecimento baseado em ISC funcione com o processador na posição

horizontal. Esta recomendação não é impeditiva relativamente à aplicação em sistemas reais visto

que existem actualmente no mercado diversas ofertas (desktop ou servidores) que se baseiam numa

distribuição interna de hardware que coloca o processador na posição horizontal. São exemplos

alguns dos novos desktop HP Compaq para empresas ou alguns dos sistemas de servidor da Intel®.

Ainda em relação aos testes na posição vertical foi possível verificar que em termos de parâmetros

analisados o duty cycle continua a ser um parâmetro dominante relativamente à frequência do sinal

de injecção e, apesar de não ter sido apresentado nenhum gráfico comparativo, a frequência tem um

efeito negligenciável na posição vertical, tal como nos testes realizados na horizontal. De facto,

comparando as curvas obtidas por variação da frequência de injecção, considerando o duty cycle

constante, verificam-se resultados muito similares entre as curvas de 0.8Hz e 2.6Hz. A titulo de

exemplo, considerando ensaios com metanol, a uma pressão de injecção de 2.3 bar, dnoz de 20 mm,

posição vertical e duty cycle de 75.2%, a análise do termopar da fonte de calor permite verificar que

existe uma diferença média de temperaturas de apenas 2.8ºC entre as curvas de 0.8Hz e de 2.6Hz.

75

Verifica-se um comportamento similar para os restantes duty cycle e, para o termopar da fonte de

calor, a diferença média de temperatura entre as curvas de 0.8Hz e 2.6Hz é sempre inferior a 3.5ºC.

Para os termopares de superfície o mesmo se verifica, mesmo considerando o facto de o

arrefecimento da superfície não ser homogéneo. Novamente para as condições de teste de metanol,

2.3 bar, dnoz de 20 mm, posição vertical e duty cycle de 75.2%, a análise do termopar de superfície 1

indica uma diferença média de temperaturas de apenas 3ºC entre as curvas de 0.8Hz e de 2.6Hz e o

termopar de superfície 2 apresenta uma diferença média de temperatura, entre curvas, inferior a

3.5ºC.

Testes efectuados permitiram ainda demonstrar que, tal como na posição horizontal, existe para o

duty cycle uma gama óptima situada entre os 50% e 60%, apesar de na vertical os aumentos acima

de 60% conduzirem a melhorias ligeiramente superiores às verificadas na horizontal.

Por fim, o último parâmetro a analisar era o tipo de líquido utilizado no sistema. Panão e Moreira

[19] já haviam referido a importância das propriedades do líquido de arrefecimento nomeadamente

em termos de ponto de ebulição e calor latente de vaporização e Moita e Moreira [24, 25] referiram a

importância das propriedades do líquido de arrefecimento em termos da sua influência no período de

contacto das gotas com a superfície, bem como na influência que se observa relativamente às

próprias características das gotas. Também Bonner III et al. [30] calcularam coeficientes de

transferência de calor para TTV com o uso de diversos líquidos tendo concluído que o arrefecimento

dependia do tipo de líquido utilizado.

Neste contexto, foram efectuados ensaios para demonstrar a importância das propriedades do

líquido de arrefecimento num sistema de spray intermitente. Para tal aplicou-se o sistema de

arrefecimento novamente ao modelo experimental durante a execução do perfil de potência, para

uma pressão de injecção de 2.3 bar, utilizando HFE7100 da 3M. Foram conduzidos testes para

ambas as frequências e, em cada frequência, foi analisado o efeito do duty cycle. Para todos os

testes efectuados o modelo experimental encontrava-se na posição horizontal com dnoz = 20 mm.

Os resultados mostram que, apesar do líquido utilizado ser diferente, o facto de o modelo

experimental se encontrar na posição horizontal permite novamente obter um arrefecimento

homogéneo em toda a superfície pelo que a análise de resultados apenas incide sobre um dos

termopares de superfície. Para demonstrar esta situação a Figura 5.14 apresenta a evolução da

temperatura para ensaios com um sinal de controlo do injector de 0.8Hz e 75.2% duty cycle, para

HFE7100, a uma pressão de injecção de 2.3 bar, na horizontal com dnoz = 20 mm. Na figura verifica-

se que a diferença média entre os termopares da superfície é de apenas 0.62ºC, não existindo

nenhum ponto com diferenças superiores a 2ºC. Os restantes testes apresentam um comportamento

semelhante. Por exemplo, para os testes com sinal de injecção de 0.8Hz e 23.6% de duty cycle a

diferença média de temperatura na superfície é de apenas 0.63ºC e para o caso com a mesma

frequência e 57.7% de duty cycle a diferença média de temperatura é de apenas 0.69ºC. O mesmo

acontece para 2.6Hz.

76

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Termopar Superfície 1

Termopar Interior

Termopar Superfície 2

Figura 5.14 – Teste de spray intermitente recorrendo a HFE7100, 2.3 bar, posição horizontal,

com dnoz de 20 mm e um sinal de injecção de 0.8Hz com 75.2% duty cycle.

Relativamente ao duty cycle, a Figura 5.15 apresenta os resultados obtidos para o termopar da

fonte de calor ao variar o duty cycle para ambas as frequências de teste. A figura permite identificar

uma considerável diferença entre as temperaturas obtidas para os ensaios com HFE7100 e os

ensaios com metanol. De facto, ao comparar estes resultados com os obtidos para as mesmas

condições para metanol, as temperaturas registadas com o uso de HFE7100 são muito superiores.

Este era um facto esperado visto que as propriedades do líquido influenciam o comportamento do

sistema de arrefecimento e ao comparar o metanol com o HFE7100 verifica-se que apesar do seu

ponto de ebulição ser semelhante, o calor latente de vaporização do metanol é aproximadamente 9

vezes superior ao do HFE7100 (ver Tabela 4.1).

0

20

4060

80

100

120

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%MAX TEMPERATURA STOP

(a)

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

Duty 23.6%

Duty 57.7%

Duty 75.2%MAX TEMPERATURA STOP

(b)

Figura 5.15 – Temperatura no termopar da fonte de calor após variação do duty cycle, usando

HFE7100, 2.3 bar, posição horizontal, dnoz de 20 mm para: (a) 0.8Hz; (b) 2.6Hz.

A Figura 5.16 apresenta a comparação directa entre metanol e HFE7100 para os duty cycle

testados para a frequência de 0.8Hz, estando o modelo experimental na posição horizontal, utilizando

77

uma pressão de injecção de 2.3 bar e dnoz = 20 mm. A análise dos resultados indica um desempenho

superior nos testes com metanol, demonstrando assim a importância do calor latente de vaporização

do líquido. Adicionalmente o uso de HFE7100 demonstrou de forma clara a fragilidade em termos de

resposta dos duty cycle reduzidos, sendo necessário interromper o teste de menor duty cycle antes

do final do perfil para evitar danos no sistema (assinalado nas figuras por MAX TEMPERATURA

STOP). Este comportamento também se verifica para o sinal de injecção de 2.6Hz. Os dados indicam

que duty cycle reduzidos (que provocam redução do fluxo de líquido injectado) não são suficientes

para manutenção da temperatura do sistema, mesmo variando a frequência, cujo efeito, tal como no

caso do metanol, se demonstra negligenciável.

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

HFE 7100

Metanol

MAX TEMPERATURA STOP

(a)

0102030405060708090100

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

HFE 7100

Metanol

(b)

01020304050607080

0 20 40 60 80 100 120

Tempo [s]

T [ºC]

HFE 7100

Metanol

(c)

Figura 5.16 – Efeitos das propriedades do líquido de arrefecimento na temperatura do termopar

da fonte de calor, para testes com dnoz de 20 mm, posição horizontal, 2.3 bar e

sinais de injecção de 0.8Hz com duty cycle de: (a) 23.6%; (b) 57.7%; (c) 75.2%.

Analisando a Figura 5.16 compreende-se que a diferença de 9 vezes no calor latente é suficiente

para se encontrarem diferenças médias de temperatura entre as curvas, para o termopar da fonte de

calor, de 17.2ºC (duty cycle de 23.6% - Figura 5.16a), ou 22.1ºC (57.7% - Figura 5.16b), ou 16.5ºC

(75.2% - Figura 5.16c). Para a frequência de injecção de 2.6Hz o comportamento é semelhante. As

diferenças podem chegar, para o termopar da fonte de calor, a pontos com 43ºC de diferença (no

78

caso do sinal de injecção de 0.8Hz com 23.6% de duty cycle) ou 36.8ºC (0.8Hz com 57.7% duty

cycle). Em todos os casos as curvas de HFE7100 apresentam sempre uma temperatura superior.

O mesmo resultado é encontrado ao analisar a temperatura nos termopares de superfície. Por

exemplo para a frequência de injecção de 0.8Hz e para o termopar de superfície 2 é possível

encontrar diferenças médias de temperatura entre os ensaios com metanol e HFE7100 de 20.3ºC

(duty cycle de 23.6%), de 22.2ºC (57.7%) ou de 16ºC (75.2%). Também no caso da temperatura na

superfície, são os testes com HFE7100 que apresentam uma temperatura superior.

Relativamente a este parâmetro, apesar de apresentar uma instalação experimental baseada em

fluxos de potência constantes e com um spray diferente, Bonner III et al. [30] também concluíram que

havia uma melhoria no uso de metanol face a HFE7000. De acordo com os autores este resultado era

esperado visto que, tal como no presente trabalho, o metanol apresentava propriedades termo-físicas

superiores. No mesmo trabalho os autores apresentaram ainda um melhor desempenho com água.

No entanto, devido às suas propriedades eléctricas, a água não pode ser directamente aplicada em

sistemas de arrefecimento por contacto directo, o que invalida esta solução.

Analisando os efeitos provocados pela variação do duty cycle (Figura 5.15) verifica-se que

novamente este parâmetro é importante, existindo um claro melhoramento na passagem do duty

cycle de 23.6% para 57.7%, face à mudança de 57.7% para 75.2%. De facto neste caso o duty cycle

de 23.6% mostrou-se incapaz de conter a temperatura do sistema dentro dos valores máximos

configurados no sistema. Para o caso analisado na Figura 5.15a (0.8Hz) verifica-se que para o

termopar da fonte de calor, a curva de 23.6% de duty cycle é em média 9.4ºC superior à curva de

57.7% e, ao contrário do verificado no caso do metanol, o andamento da curva de 23.6% é diferente

do andamento da curva de 57.7% visto que no aumento de potência registado no período dos 20 a 44

segundos, enquanto a curva de 23.6% apresenta um declive de 2.61ºC/s, a curva de 57.7%

apresenta 2ºC/s. A diferença mais evidente está novamente na temperatura de cada curva, sendo

exemplo a temperatura aos 44 segundos onde a curva de 23.6% é 18.6ºC superior à de 57.7%.

Para a mesma figura, ao comparar as curvas de 57.7% com 75.2% de duty cycle verifica-se que,

como no metanol, a diferença é menor. No entanto aqui as propriedades do líquido, em particular o

calor latente de vaporização, apresentam uma forte influência nos resultados, conduzindo a que a

gama óptima de duty cycle possa já não estar confinada a valores de 50% a 60% visto que apesar de

o andamento das curvas ser semelhante a diferença de temperaturas é ainda elevada. De facto,

neste caso, aos 44 segundos a diferença de temperaturas é agora de 9ºC. Apesar de a diferença ser

ainda considerável, este valor corresponde à diferença máxima de temperatura registada no termopar

da fonte de calor no período dos 0 aos 44 segundos quando se comparam as curvas para 57.7% e

75.2% de duty cycle, valor que continua a ser mais baixo do que a diferença máxima encontrada

entre as curvas de 23.6% e 57.7% que, no mesmo período, pode chegar a 18.6ºC. Pode-se então

afirmar que se continua a verificar uma melhoria no desempenho do sistema de arrefecimento ao

transitar do duty cycle de 23.6% para o de 57.7% sendo que, para HFE7100, transitar do duty cycle

de 57.7% para 75.2% produz ainda um melhoramento assinalável.

Relativamente aos termopares de superfície, o comportamento é semelhante. Por exemplo para o

termopar de superfície 2 e no caso do sinal de injecção de 0.8Hz, no troço dos 20 aos 44 segundos

79

encontra-se um declive de 2.58ºC/s para a curva de 23.6% de duty cycle contra 1.69ºC/s para o caso

de 57.7%. A temperatura aos 44 segundos é 21.3ºC mais elevada para a curva de 23.6%. Para o

mesmo termopar verifica-se um declive de 1.59ºC/s, no mesmo troço, para o duty cycle de 75.2%, o

que pode ser considerado como semelhante com o declive da curva de 57.7%. Neste caso, aos 44

segundos existe uma diferença de 10.8ºC entre as duas curvas, sendo a curva de 57.7% a que

apresenta uma temperatura superior.

Este facto está relacionado com a vaporização do líquido na superfície que, devido ao facto do

HFE7100 ter um calor latente de vaporização menor, conduz a uma evaporação de líquido na

superfície mais rápida pelo que a formação de filme de líquido apenas se fará notar em fluxos de

líquidos superiores, i.e., para valores de duty cycle mais elevados. Desta forma, as propriedades do

líquido de arrefecimento podem afectar a gama óptima de duty cycle na medida em que, ao utilizar

um líquido com um calor latente de vaporização menor, a gama óptima de duty cycle irá,

provavelmente, aumentar ligeiramente.

Relativamente à variação verificada por mudança da frequência de injecção, tal como verificado

em todos os casos anteriores, desde que o duty cycle seja mantido constante, as diferenças

encontradas são negligenciáveis. Por exemplo, para o termopar da fonte de calor, considerando um

sinal de injecção com um duty cycle de 57.7%, a diferença média de temperatura entre as curvas de

0.8Hz e 2.6Hz é inferior a 3.5ºC e no caso de 75.2% verifica-se que ambas as curvas não diferem, em

média, mais do que 0.9ºC para o termopar da fonte de calor. Para o mesmo termopar e para o sinal

de injecção com 23.6% de duty cycle a diferença média, comparando as frequências, é de apenas

1.8ºC.

É então possível afirmar que, como esperado, as propriedades do líquido são importantes e

podem significar alterações no comportamento do sistema de arrefecimento. No entanto a escolha do

líquido a usar num sistema deste tipo encontra-se limitada pela oferta existente no mercado visto que,

apesar de existirem hoje em dia diversos líquidos com aplicação em sistemas de arrefecimento, é

necessário ponderar os seus custos e disponibilidade, visto serem factores essenciais para o sucesso

de um sistema de arrefecimento com aplicação num caso real. Por outro lado, uma correcta escolha

de duty cycle de injecção e da posição do sistema podem ajudar na gestão de líquido utilizado e ao

mesmo tempo compensar alguma dificuldade que possa surgir caso seja necessário optar por um

líquido economicamente mais apelativo, mesmo que isso signifique abdicar de algumas das suas

propriedades. A recomendação em termos de líquido baseia-se numa escolha ponderada das

propriedades que se pretendem para cada aplicação, nomeadamente ao nível do ponto de ebulição e

calor latente de vaporização. Ao escolher um líquido para uma aplicação de arrefecimento,

especialmente se for para contacto directo, deve-se ainda ter em conta as recomendações fornecidas

por Bar-Cohen et al. [6] visto que este tipo de líquido deve apresentar características químicas,

eléctricas e térmicas que se coadunem com a aplicação em dispositivos microelectronicos.

Shedd [20] também referiu a importância do líquido utilizado, tendo descrito algumas das

características analisadas e a sua influência no comportamento do sistema de arrefecimento.

Do ponto de vista de aplicação desta tecnologia de arrefecimento, o líquido a utilizar não comporta

nenhuma restrição.

80

Analisando de forma global a aplicabilidade da tecnologia de ISC a processadores reais concluiu-

se que não existe nenhum impedimento. Os resultados obtidos demonstram que, apesar de se

recorrer a um sistema de spray experimental e em desenvolvimento, foi possível verificar que este

tipo de tecnologia tem capacidade de manter a temperatura do sistema constante e, com a

conjugação de alguns parâmetros sem qualquer optimização final, é capaz de manter o sistema

abaixo das temperaturas impostas pelo fabricante do processador que se pretende simular (recordar

Figura 5.7).

O estudo realizado não permite uma comparação directa com os actuais sistemas de

arrefecimento em comercialização visto que o sistema testado apenas pretendia analisar os

parâmetros a considerar e não optimizar o sistema com vista à obtenção de um sistema final. No

entanto, as potencialidades demonstradas vão ao encontro de alguns dos trabalhos existentes na

literatura, nomeadamente Bar-Cohen et al. [6] que concluíram que, apesar de a comercialização

deste tipo de sistemas por mudança de fase necessitar ainda de mais investigação, os resultados

demonstrados permitem afirmar o uso promissor deste tipo de tecnologia de arrefecimento por

contacto directo com spray no arrefecimento de microprocessadores, mesmo na presença de

situações exigentes. Também Cader et al. [13] concluíram a possibilidade de aplicação de sprays

contínuos no arrefecimento de processadores reais, tendo comprovado que para uma comparação

directa entre soluções de arrefecimento a ar e spray para processadores reais (AMD Opterons) existe

uma redução de temperatura de 81.2ºC para 47.9ºC ao mesmo tempo que se verifica uma redução

de 35% no consumo de potência.

Apesar de o presente trabalho não ter permitido encontrar temperaturas para o spray intermitente

mais reduzidas do que o arrefecimento a ar, é necessário referir que o presente trabalho apenas

utilizou um único spray. Pelo contrário, Cader et al. [13] basearam-se numa instalação experimental

que comporta uma organização de 3 x 4 atomizadores.

Em termos de controlo de temperatura a recomendação final é que a análise da temperatura seja

realizada próximo da fonte de calor em vez de no encapsulamento visto que, devido às resistências

térmicas, um arrefecimento exterior eficiente não significa necessariamente um correcto

arrefecimento da fonte de calor.

81

Capítulo 6 - Conclusão e sugestões para trabalho futuro

A presente tese reportou um estudo sobre sistemas de arrefecimento para processadores de

computadores pessoais, pelo que um dos objectivos era criar as condições necessárias para estudar

e desenvolver novos sistemas de arrefecimento. Neste contexto, mostrou-se ser possível desenvolver

um modelo experimental que reproduz o comportamento térmico de processadores reais. De facto,

após a fase de desenvolvimento, foi possível concluir que um sistema cujo aquecimento recorra a

resistências, embora capaz de reproduzir temperaturas realistas em alguns casos, não é capaz de

atingir as temperaturas pretendidas com uma resposta temporal e dissipação de potência

equivalentes à de um sistema real.

Por outro lado, utilizando um sistema cuja fonte de calor se baseia num transístor, é possível,

recorrendo a circuitos auxiliares e um correcto sistema de controlo, desenvolver um sistema capaz de

reproduzir o comportamento térmico de um processador real em termos de temperatura, resposta

temporal e controlo de potência dissipada. O sistema desenvolvido permite testes com dissipações de

potência constante e reprodução de perfis de potência equivalentes aos de um processador real. O

sistema é ainda capaz de realizar testes de temperatura constante em relação a um termopar de

referência.

Verificou-se também que a melhor solução para analisar a temperatura do sistema se baseava no

uso de 3 termopares: 2 na superfície aquecida e 1 em contacto directo com a fonte de calor.

Assim sendo, utilizando o sistema criado, foram testados dois sistemas de arrefecimento de uso

corrente, um sistema baseado em convecção forçada a ar e outro baseado em arrefecimento

indirecto recorrendo a água (Watercooling). Desde logo se verificou que em ambos os sistemas o

aquecimento/arrefecimento da superfície era uniforme.

Os resultados obtidos demonstraram que, para os testes de potência constante e perfil de

potência, embora com diferenças reduzidas, o sistema de contacto indirecto a água consegue sempre

manter o modelo experimental com temperaturas mais reduzidas, sendo que, para os testes de

potência constante, o sistema de água estabiliza a temperatura em menos tempo. Este

comportamento verificou-se para o termopar da fonte de calor e para ambos os termopares de

superfície. No caso dos testes de perfil de potência verificou-se ainda que, exceptuando a diferença

de temperatura, o andamento das curvas era semelhante.

Os resultados encontram-se de acordo com outros trabalhos da literatura e, embora não seja

possível afirmar um claro domínio de uma das tecnologias de arrefecimento, o facto é que o sistema

indirecto a água mostra uma ligeira melhoria ao mesmo tempo que, pelas suas características,

poderá apresentar uma maior capacidade de se adaptar a sistemas com maior dissipação de

potência.

Adicionalmente ao estudo de sistemas de uso corrente, pretendia-se desenvolver e testar a

aplicabilidade de um sistema de arrefecimento por contacto directo baseado em Spray Cooling

Intermitente. Deste modo, após desenvolver um sistema deste tipo para aplicação no modelo

experimental, pretendia-se estudar os diversos parâmetros controláveis neste tipo de sistema para

82

verificar se existiam impedimentos à aplicação desta tecnologia a casos reais, bem como verificar

quais os principais parâmetros a ser optimizados no desenvolvimento de um sistema comercial. Não

se pretendia neste trabalho realizar uma comparação directa deste sistema com os de uso corrente

mas sim estudar a sua aplicabilidade num futuro próximo.

Os parâmetros testados foram o sinal (frequência e duty cycle) e pressão de injecção, distância

entre o atomizador e a superfície a arrefecer, a posição do sistema a arrefecer (horizontal versus

vertical para analisar a influência da formação de filme de líquido) e as propriedades do líquido

utilizado.

Verificou-se que, excepto na posição vertical, o aquecimento/arrefecimento da superfície é

uniforme.

A análise dos termopares de superfície e da fonte de calor permitiu demonstrar as potencialidades

que sistemas de contacto directo poderão ter devido à importância da resistência térmica existente

nos dissipadores de contacto existentes nos actuais processadores.

Relativamente à distância entre o atomizador e a superfície a arrefecer foi possível concluir que,

após variar a distância absoluta desde poucos milímetros (≈ 5 mm) até distâncias elevadas, para este

tipo de sistema (acima dos 80 mm), este é um parâmetro importante a considerar e que existe uma

posição óptima (para o sistema testado) situada entre os 20 e 30 mm. Verificou-se ainda que o

desempenho do sistema se deteriorava para distâncias acima ou abaixo desta gama óptima,

resultado que pode ser explicado pelo facto de o melhor desempenho ser alcançado quando a área

do spray circunscreve a superfície aquecida, considerando uma superfície quadrada, visto que fora

desta posição o spray apenas arrefece uma parcela da área (distâncias curtas) ou parte do líquido é

desperdiçado por não embater na superfície (distâncias longas). A distância encontrada é compatível

com a aplicação num caso real.

Relativamente ao sinal de injecção, variando este por 3 duty cycle ao longo de 2 frequências

verifica-se que, garantindo que o fluxo total de líquido é o mesmo em todos os casos, a frequência

tem uma influência negligenciável no desempenho do sistema de arrefecimento, mesmo

considerando frequências com diferenças entre si de 3.25 vezes. Por outro lado, o duty cycle

mostrou-se como sendo um parâmetro fundamental a considerar não só no sinal de injecção mas

também com importância elevada face aos restantes parâmetros.

Desde logo se verificou que a combinação de frequências elevadas com duty cycle reduzidos,

situação por vezes referida como ideal, não se demonstrava eficaz na manutenção da temperatura.

Foi possível concluir acerca de uma gama de valores óptimos de duty cycle que, apesar de puder

variar ligeiramente com a mudança de líquido, se situa, neste trabalho, na gama dos 50% a 60%. De

facto verificou-se um considerável melhoramento ao passar de reduzidos duty cycle para valores

intermédios (na gama óptima) sendo que após esta gama os benefícios eram reduzidos. Este valor

permite uma poupança considerável de líquido face a sistemas de spray contínuos. Este

comportamento verificou-se para a temperatura da fonte de calor e da superfície.

Assim sendo, a recomendação para casos reais é a do uso de um sinal de controlo com apenas

um duty cycle intermédio ou um sistema como o utilizado por alguns sistemas convencionais a ar que

se baseia em dois modos de funcionamento, um normal e um de alto desempenho sendo neste caso

83

aplicado um duty cycle intermédio no funcionamento normal, mudando para um duty cycle elevado

em situações mais exigentes (por questões de segurança). A sugestão do uso de apenas um valor de

duty cycle poderá permitir um controlo simples o que poderá conduzir a um sistema comercialmente

competitivo. O uso de duty cycle reduzidos deverá ser limitado a sistemas cujas exigências de

dissipação sejam inferiores às verificadas em processadores como o presentemente simulado.

Face à criação de um sistema de controlo intermitente, não existe qualquer limitação da aplicação

deste sistema a casos reais.

Relativamente à pressão de injecção, apesar de se variar a pressão por 3 valores cujos limites

distam mais do dobro entre si, a influência deste parâmetro mostrou-se negligenciável pelo que se

recomenda o uso da mínima pressão que garanta uma boa atomização para evitar limitações à

aplicação deste sistema em casos reais.

Face ao estudo realizado para perceber a influência que o filme de líquido teria na temperatura

final do sistema é possível concluir que os valores obtidos para a posição vertical são superiores aos

obtidos para a posição horizontal. De facto, a diminuição de temperatura verificada na passagem de

duty cycle reduzidos para valores na gama óptima é menor no caso vertical, sendo no entanto ainda

de assinalar que o duty cycle continua no caso vertical a desempenhar um importante papel.

As diferenças verificadas no caso vertical podem dever-se à não existência de filme de líquido

que, apesar de menos eficiente na remoção de calor, permite que o sistema atinja temperaturas mais

reduzidas, podendo ainda dever-se a uma área de subscrição do spray menos eficiente na posição

vertical. Considerando a aplicação desta tecnologia a processadores reais, a recomendação é que

um sistema de arrefecimento baseado em Spray Cooling Intermitente funcione com o processador na

posição horizontal. Esta recomendação não é impeditiva relativamente à aplicação em sistemas reais

visto que existem actualmente sistemas com uma distribuição interna de hardware que colocam o

processador na posição horizontal.

Por fim, para analisar a influência das propriedades do líquido de arrefecimento, foram realizados

ensaios com líquidos diferentes cujos pontos de vaporização são semelhantes mas o calor latente

dista de 9 vezes. O uso de um líquido com um calor latente 9 vezes superior demonstrou-se como

sendo melhor em todos os casos testados pelo que, como esperado, as propriedades do líquido são

importantes e podem significar alterações consideráveis no comportamento do sistema de

arrefecimento sendo que a escolha do líquido deverá ter em conta o sistema a arrefecer.

Apesar de as propriedades do líquido serem importantes na criação de um sistema deste tipo, a

sua escolha poderá estar limitada em termos de oferta de mercado, nomeadamente em termos de

custos. No entanto poderá tentar-se compensar com o duty cycle algumas dificuldades que possam

surgir, caso seja necessário optar por um líquido economicamente mais apelativo.

Analisando os resultados obtidos nos testes do sistema de ISC, os principais parâmetros a

considerar são a distância entre o atomizador e a superfície, o duty cycle do sinal de abertura e fecho

do injector, a posição do sistema a arrefecer e as propriedades do líquido.

Como conclusão final acerca da aplicabilidade de soluções de Spray Cooling Intermitente ao

arrefecimento de processadores reais, o presente trabalho demonstrou que é uma possibilidade

viável visto não existirem parâmetros restritivos à sua aplicabilidade, sendo possível que o sistema

84

apresente melhor desempenho após optimização. Adicionalmente, existe a possibilidade de utilizar

estes sistemas com contacto directo, conseguindo assim remover a resistência térmica que os

actuais processadores comportam nas interfaces com os sistemas de arrefecimento indirectos.

Tendo em conta as diferenças verificadas na temperatura da superfície em relação à da fonte de

calor, sugere-se que a temperatura a ser considerada por um sistema de controlo seja a temperatura

da fonte de calor para evitar danos no sistema visto que, devido às resistências térmicas dos IHS, a

temperatura da superfície poderá não traduzir fielmente a temperatura real do sistema.

Em termos de trabalho a desenvolver sugere-se a construção de um novo modelo experimental

visto que, apesar de o sistema construído ser similar ao caso real, com base no conhecimento

adquirido será possível criar um chip (construído em termos de microelectrónica) com a introdução de

pontos de aquecimento não homogéneos na área aquecida. O novo sistema deverá continuar a

permitir um controlo de potência dissipada. Sugere-se ainda a introdução de diversos sensores de

temperatura, com base em junções pn do circuito, para permitir avaliar o sistema em diversos pontos

(nomeadamente no interior do chip). O sistema a desenvolver deverá ter em conta o conhecimento

adquirido com o presente trabalho com vista a aperfeiçoar sistemas do tipo thermal test vehicles.

Relativamente ao estudo comparativo dos sistemas de arrefecimento sugere-se um estudo

aprofundado das características do sistema de líquido indirecto para analisar a influência dos diversos

parâmetros (e.g. líquido utilizado ou fluxos) para tentar optimizar o sistema.

Em termos do sistema de ISC sugere-se a continuação do estudo para optimizar os parâmetros

aqui encontrados como fundamentais, ao mesmo tempo que se sugere o estudo de outros

parâmetros (e.g. importância da topografia da superfície aquecida) em condições reais como as

testadas no presente trabalho. Poderá ainda ser analisada a interacção de sistemas com múltiplos

sprays.

85

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88

ANEXO 1 – Conceitos Termodinâmicos, Transferência de

Massa e de Calor

O presente anexo pretende contextualizar alguns dos conceitos termodinâmicos e de transferência

de massa e calor abordados na presente tese.

É necessário começar por definir o conceito de sistema que, de acordo com [45], é o conteúdo

material que se pretende estudar. Todo o conteúdo exterior ao sistema é considerado como

envolvente, sendo o sistema distinguido da envolvente através da sua fronteira [45]. Uma correcta

definição de fronteira é importante dado que esta é um elemento fundamental nas trocas entre o

sistema e a envolvente. Os sistemas podem ser classificados como sistemas fechados ou abertos

(volumes de controlo) [45]. O sistema fechado contém sempre o mesmo tipo de conteúdo, não

podendo existir transferência de massa através da fronteira [45]. Existe um caso particular de sistema

fechado, denominado sistema isolado, onde não existe qualquer tipo de interacção com a envolvente

[45]. Em alguns casos, o sistema pode ser subdivido em regiões, denominadas volume de controlo,

que apresentam fronteiras próprias entre as quais podem ocorrer trocas de matéria e/ou energia [45].

Para a termodinâmica clássica o conceito de equilíbrio é fundamental visto o principal ênfase ser

dado aos estados de equilíbrio e à transição entre eles [45]. Assim sendo, um sistema em equilíbrio

termodinâmico é aquele que se encontra num estado estacionário com uma distribuição uniforme dos

parâmetros, i.e., quando o sistema, isolado da sua envolvente, não apresenta alterações nas

propriedades (o que indica que estas já se encontravam num estado estacionário) [45]. Pode ainda

definir-se equilíbrio térmico resultante da interacção entre dois sistemas em contacto e isolados da

envolvente. Este equilíbrio é atingido quando ambos estabilizam à mesma temperatura [45]. Neste

contexto, existem materiais termicamente isolantes capazes de evitar esta interacção, denominados

de parede adiabática, dando-se o nome de processo adiabático ao processo que envolve uma parede

adiabática [45]. Num processo adiabático não ocorre transferência de calor, embora não seja

necessariamente um processo a temperatura constante.

Outro conceito fundamental na análise de sistemas termodinâmicos é o conceito de Calor,

representado por Q. Este aplica-se à quantidade de energia transferida, numa interacção de calor,

pela fronteira de um sistema com a sua envolvente [45]. Considera-se que o calor é positivo (Q>0)

quando a transferência de calor é feita para o sistema, sendo negativo (Q<0) em caso contrário [45].

No caso do processo ser adiabático, não existindo interacção térmica entre sistemas, não há

transferência de energia por calor. O valor da transferência de calor depende do processo em si e

não apenas dos estados finais atingidos, pelo que Q não é uma propriedade do sistema. A energia

transferida por calor corresponde ao integral, ao longo da mudança do estado 1 para o 2, da forma

diferencial δQ (Eq. A1) [45].

Deve ainda referir-se que a variação de temperatura corresponde a uma transferência de calor

mas que o contrário não é verdadeiro [15]. Desta forma, pode-se transferir calor de, ou para, um

sistema sem que a sua temperatura se altere, sendo disso exemplo a energia libertada (ou recebida)

89

pelo sistema ao ser utilizada na regeneração (ou destruição) de ligações químicas, dando origem a

uma mudança de estado [15].

∫∂=

2

1

QQ (Eq. A 1)

Defina-se agora .

Q como sendo a taxa de transferência de calor, que corresponde ao integral do

fluxo de calor, .

q , na área A da fronteira do sistema onde ocorre a transferência de calor (Eq. A2)

[45].

∫=A

dAqQ..

(Eq. A 2)

O conceito de fluxo de calor aplica-se à taxa de transferência de calor por unidade de área do

sistema, sendo expresso em W/m2 [45]. É agora possível calcular a quantidade de calor transferida

durante um período de tempo, calculando o integral da taxa de transferência de calor durante esse

período (Eq. A3) [45].

∫=2

1

.t

t

dtQQ (Eq. A 3)

Existem três mecanismos básicos de transferência de calor, nomeadamente: condução,

convecção e radiação térmica.

No caso da condução, esta pode ocorrem em sólidos, líquidos ou gases, e corresponde à

transferência de energia devido à interacção entre partículas da mesma substância, ocorrendo esta

transferência de partículas mais energéticas para partículas adjacentes de menor energia [45].

O fenómeno de transporte de energia por condução decorre então da transferência de energia

associada às colisões entre as partículas constituintes de um material com diferentes gradientes de

temperatura [15]. No caso dos sólidos, a energia pode ser conduzida quer por transporte por

electrões livres, quer pela estrutura do material [46]. Para os bons condutores eléctricos, como por

exemplo os metais (e.g. cobre – material usual nos sistemas de convecção a ar), existe um elevado

número de electrões livres a circular na estrutura do material, transportando consigo cargas eléctricas

e energia de uma região com uma determinada temperatura para outra com uma temperatura inferior.

Devido a este fenómeno, os electrões são por vezes denominados de electron gás, visto que a

transferência de energia se processa de forma análoga à dos gases [46].

Neste contexto, surge a Lei de Fourier (1815) [15], que permite calcular a quantidade de energia

transferida por unidade de tempo [14]. Esta lei não foi deduzida a partir dos princípios fundamentais

mas foi antes desenvolvida a partir da observação de fenómenos, razão pela qual é designada como

sendo uma lei fenomenológica [14]. Desta forma, considere-se uma parede plana unidimensional com

distribuição de temperatura T(x) (Figura A 1). O conceito de fluxo de calor, descrito como a taxa de

transferência de calor por unidade de área perpendicular à direcção de transferência e proporcional

ao gradiente de temperatura nesse sentido (dT/dx) pode agora ser calculado pela Lei de Fourier (Eq.

90

A4) [14]. A constante k representa a condutividade térmica e é uma propriedade do próprio material,

sendo expressa em W/[m.K] [14]. O sinal negativo na Eq. A4 representa o facto de o calor se

transmitir na direcção da temperatura decrescente [14]. Considerando as condições da Figura A 1 e

considerando uma distribuição de temperatura linear, a Eq. A4 pode ser rescrita na forma

apresentada na Eq. A5.

dx

dTkq −=

.

(Eq. A 4)

L

Tk

L

TTkq

∆=

−= 21

.

(Eq. A 5)

T1

T2

T(x)

T

x

L

Figura A 1 – Transferência de calor por condução numa parede plana unidimensional com uma

distribuição de temperatura T(x).

Considere-se agora uma barra cilíndrica, feita de material conhecido, cuja face cilíndrica se

encontra isolada e as faces terminais (Face 1 e Face 2) são mantidas a uma determinada

temperatura T, que difere entre si (T1 > T2). Ao haver uma variação de temperatura vai existir uma

transferência de calor da face 1 (T1) para a face 2 (T2), sendo possível determinar a taxa de

transferência de calor relacionando a área das faces (A) com a relação entre a diferença de

temperaturas, o comprimento da barra (L) e a condutividade térmica do material. No entanto,

recordando a relação obtida para o fluxo de calor obtida na Eq. A4, a taxa de transferência de calor

pode ser relacionada com o fluxo de calor pela Eq. A6 [14]. Novamente neste caso o sinal negativo é

necessário devido ao facto de o calor se transferir sempre nas direcção das temperaturas

decrescentes.

..

qAQ −= (Eq. A 6)

Nas várias relações enunciadas, a propriedade de condutividade térmica surge diversas vezes,

influenciando o fluxo térmico de condução na medida que este aumenta com o aumento da

condutividade térmica [14]. Esta propriedade é própria de cada material sendo, em geral, maior para

o caso dos sólidos relativamente a líquidos, que por sua vez, apresentam valores mais elevados do

que os gases [14]. Esta diferença nos valores de k está associada às diferenças verificadas ao nível

91

do espaçamento intermolecular [14]. No caso dos sólidos o transporte de energia térmica é realizado

pelos electrões livres e pelas ondas vibracionais da rede constitutiva do próprio material [14]. Uma

vez que estes efeitos se associam os dois no transporte de energia, a condutividade térmica no caso

dos sólidos pode ser decomposta na soma entre a condutividade resultante da componente dos

electrões (ke) e a componente relacionada com a própria rede constitutiva (kl) [14]. Desta forma é

possível aproximar a componente resultante do movimento dos electrões livres como sendo o inverso

da resistividade eléctrica do material [14]. Assim sendo, no caso dos metais, sendo a resistividade

eléctrica do material reduzida, a condutividade térmica destes será elevada, o que conduz a que ke

seja muito superior a kl [14]. No caso dos materiais não metálicos, a principal contribuição para a

condutividade térmica é dada pela parcela resultante das ondas vibracionais da rede que constitui o

material, que por sua vez irá depender do número de ligações existentes na interacção dos átomos

que constituem a rede [14]. Desta forma, materiais cuja rede seja ordenada, como o caso dos

materiais cristalinos (e.g. quartzo) apresentam condutividades térmicas resultantes de ondas

vibracionais superiores às apresentadas por materiais amorfos (e.g. vidro), podendo-se mesmo

verificar que materiais como os diamantes (rede bem ordenada) apresentem valores de kl superiores

aos valores de k apresentados por materiais condutores (e.g. alumínio) [14].

Ao contrário do verificado nos sólidos, no caso dos líquidos o espaçamento intermolecular é maior,

sendo o movimento nas partículas mais caótico, razão pela qual o transporte de energia neste estado

é menos efectivo do que no estado sólido [14]. No caso dos líquidos os fenómenos envolvidos na

condutividade térmica não são bem entendidos mas sabe-se que a condutividade térmica de líquidos

não é afectada pela pressão (excepto nas proximidades do ponto crítico3), diminuindo com o aumento

da massa molecular [14]. Relativamente a mudanças de temperatura, a condutividade térmica de

líquidos, em geral, diminui com o aumento de temperatura [14]. No entanto existem excepções, sendo

disso exemplo o caso da água e da glicerina [14].

A transferência de calor também se pode processar por convecção. Neste caso a transferência de

calor é provocada quer pelo movimento molecular aleatório (difusão), quer pelo movimento de massa

do fluido, sendo neste segundo caso a transferência efectuada por agregados de moléculas que em

movimento ficam na presença de gradientes de temperatura [14]. No caso do transporte de calor por

movimento de massa do fluido, visto que as moléculas nos agregados continuam a apresentar

movimentos aleatórios, a transferência de calor resulta da sobreposição do transporte de calor

causado pelo movimento aleatório das moléculas, também designado por convecção, com o

transporte de energia devido ao movimento de massa do próprio fluido, por vezes designado por

advecção [14]. No entanto, o principal interesse no transporte de energia por convecção é no caso

em que este ocorre quando um fluido em movimento contacta com uma superfície que o limita,

estando ambos a temperaturas diferentes [14]. Neste caso, ao existir interacção entre o fluido e a

superfície, desenvolve-se uma região no fluido, denominada camada hidrodinâmica ou camada limite,

na qual a velocidade de escoamento varia desde zero (na superfície) até a um valor infinito [14].

Adicionalmente, havendo uma diferença de temperatura entre o fluido e a superfície, existe uma

3 Ponto que corresponde à máxima temperatura para a qual o estado líquido e de vapor podem coexistir em

equilíbrio [45].

92

região no fluido, denominada camada limite térmica, através da qual a temperatura varia desde TS, na

superfície, até T∞, na região externa [14]. Desta forma, se TS > T∞, existe uma transferência de calor

por convecção, da superfície para o escoamento externo, transferência esta realizada quer pelo

movimento molecular aleatório, quer pelo movimento macroscópico do fluido no interior da camada

limite [14]. Na vizinhança da superfície é o movimento molecular aleatório (difusão) que domina o

processo de transferência de calor, sendo que na interface entre a superfície e o fluido, devido ao

facto da velocidade do fluido ser nula (condição de não-escorregamento), apenas existe transferência

de calor por movimento molecular [14]. É ainda importante realçar que a camada limite térmica não

tem de ter a mesma dimensão que a camada hidrodinâmica [14].

A transferência de calor por convecção pode ser classificada de acordo com a natureza do

escoamento [14], podendo ser forçada, nos casos em que o escoamento é provocado por meios

externos (e.g. arrefecimento convectivo a ar), ou livre (ou natural) quando o escoamento é provocado

pelas forças que se originam nas diferenças de densidade provocadas pelas variações de

temperatura no fluido [14]. A descrição apresentada de convecção aplica-se tipicamente à energia

sensível ou interna do fluido [14]. No entanto, há processos convectivos nos quais existe troca de

calor latente, troca esta normalmente associada à mudança de fase entre os estados líquido e gasoso

[14]. Independentemente da natureza do processo de transferência de calor por convecção, é sempre

possível encontrar uma relação entre a diferença de temperaturas da superfície e do fluido (Eq. A7)

[14]. A esta relação dá-se o nome de fluxo de calor convectivo, também representado por .

q , sendo

expressa em W/m2 [14]. A mesma expressão é também por vezes denominada por Lei de Newton do

arrefecimento [14]. Ao utilizar esta expressão, o fluxo convectivo será positivo se o calor for

transferido da superfície (TS > T∞), sendo negativo caso contrário (TS < T∞) [14]. Na Eq. A7 a

constante de proporcionalidade h representa o coeficiente de transferência convectiva de calor, sendo

expresso por W/[m2.K] [14]. Esta constante contém todos os parâmetros que influenciam a

transferência de calor por convecção e depende das condições de camada limite que, por sua vez,

dependem da geometria da superfície, da natureza do movimento do fluido, dependendo ainda de um

conjunto de propriedades termodinâmicas e de transporte do fluido [14].

( )∞−= TThq S

.

(Eq. A 7)

Retome-se agora o conceito de resistências térmicas já apresentado na introdução do presente

documento. A resistência térmica surge da analogia entre a difusão de calor e a condução de

corrente eléctrica [14]. Usando a definição de resistência como sendo a razão entre potencial motriz e

taxa de transferência que este provoca, e aplicando essa mesma definição ao caso da condução de

calor, recordando as Eq. A5 e Eq. A6, é possível obter a relação presente na Eq. A8 [14]. É

necessário referir que o sinal negativo presente na Eq. A6 é anulado pelo facto de se trocar o sentido

das temperaturas (continuando no entanto a ter T1 > T2). De forma análoga, recorrendo à Lei de

Newton para a convecção, é possível obter a Eq. A9, correspondente à resistência térmica de

convecção [14].

93

Relativamente à resistência térmica de condução e convecção verifica-se, em geral, que em meios

líquidos e gasosos, RTconv. é consideravelmente menor que a RTcond., denunciando um domínio da

convecção térmica [15].

kA

L

Q

TTR

condT =−

=.

12

. (Eq. A 8)

hAqA

TTR S

Tconv

1..

=−

= ∞ (Eq. A 9)

Tal como já apresentado na introdução, existe ainda a Resistência térmica de Contacto [14] que

se deve principalmente à existência de rugosidades na superfície que conduzem ao aparecimento de

pontos de contacto mas também de vazios que, na maioria dos casos, estão cheios de ar [14]. Neste

caso a transferência de calor passa a ser feita não só por condução, nos pontos de contacto, mas

também por convecção na zona dos vazios [14]. Desta forma, a resistência de contacto equivale ao

paralelo da resistência nos pontos de contacto com a resistência nos vazios [14]. Uma vez que,

habitualmente, os pontos de contacto têm uma área pequena, a principal contribuição para a

resistência total é a dada pela resistência dos pontos vazios [14]. Uma solução possível para diminuir

a resistência de contacto é a escolha de um fluido cuja condutividade térmica seja superior à do

material utilizado nos pontos de contacto [14], sendo esta uma das razões para a aplicação de pastas

térmicas entre os dissipadores dos processadores e os sistemas de arrefecimento por contacto

indirecto.

Por fim, considerem-se as mudanças de estados. Comece-se por uma substância pura e

compressível. Experimentalmente é possível considerar temperatura e volume específico de forma

independente, determinando a pressão como função destas duas propriedades, p = p (T,ν), sendo

que o gráfico que resulta desta função é uma superfície conhecida como superfície p-ν-T [45]. Neste

tipo de gráficos existem três zonas distintas: sólido, líquido e vapor [45]. Nestas regiões o estado da

substância é fixado por qualquer de duas das seguintes propriedades: pressão, temperatura ou

volume específico [45]. O gráfico resultante da superfície p-ν-T pode ser projectado sobre o plano

pressão-temperatura, dando origem ao denominado diagrama de fase (Figura A 2) [45].

Neste gráfico as linhas representam zonas em que a substância se encontra em duas fases (ou

estados) [45]. Desta forma, a linha que separa o estado sólido do vapor é denominada curva de

sublimação, a curva que separa o estado líquido do vapor é a curva de saturação e a curva que

separa o estado líquido do sólido é a curva de fusão [15]. Também na figura existe um ponto

designado por ponto triplo, sendo que neste ponto os três estados coexistem ao mesmo tempo [15,

45]. Existe ainda um segundo ponto denominado ponto crítico, definido pela temperatura e pressão

crítica, que corresponde à máxima temperatura para a qual o estado líquido e de vapor podem

coexistir em equilíbrio [45]. Desta forma, a partir do ponto crítico deixa de haver uma diferença nítida

entre os estados líquido e de vapor [15].

94

T

p

Ponto Crítico

Ponto Triplo

Sólido

Líquido

Vapor

Figura A 2 – Diagrama de fase para um sistema genérico, [15, 45].

Relativamente à curva que separa os estados líquido e de vapor é possível referir que, devido à

elevada energia interna do estado de vapor relativamente ao estado líquido quando comparado para

uma mesma substância e temperatura, a evaporação de uma substância (desde que em condições

afastadas do ponto crítico) permite, de uma forma geral, uma absorção substancial de calor [6], pelo

que uma rápida evaporação facilita a transferência de calor da superfície para o líquido [6]. Também

se pode definir temperatura de saturação como a temperatura à qual a substância muda de fase,

sendo a pressão correspondente denominada por pressão de saturação [45].

À medida que uma substância pura é aquecida, a uma pressão constante, a temperatura aumenta

consideravelmente sendo acompanhada por um aumento, moderado, de volume [45]. Este fenómeno

continua até se atingir o ponto de saturação [45]. Quando a substância atinge o ponto de saturação, o

aumento da transferência de calor, para uma pressão constante, provoca a formação de vapor, não

existindo no entanto alteração na temperatura mas sim no volume [45]. Nesta ponto o sistema entra

num estado de duas fases (líquido-vapor) no qual o aumento contínuo da transferência de calor irá

conduzir à vaporização de todo o líquido passando a existir apenas vapor [45]. Existe uma razão que

possibilita a comparação de qualidade entre diversas misturas líquido-vapor, sendo que a quantidade

de massa de vapor relativamente à massa total da mistura traduz a qualidade da mistura (Eq. A10)

[45]. A razão varia entre zero (estado líquido) e a unidade (estado de vapor) [45].

líquidovapor

vapor

mm

mqualidade

+= (Eq. A 10)

95

ANEXO 2 – Programação Microcontrolador: Fluxogramas

Os fluxogramas apresentados serão apenas referentes a funções com particular importância no

contexto do programa ou cujo algoritmo de programação contenha particularidades. No entanto, estes

fluxogramas são apenas ilustrativos, não sendo uma reprodução integral das rotinas do programa.

Em diversas situações são feitas verificações de erros. No entanto apenas será feita referência a

esta verificação quando necessário para entender o fluxograma.

Rotina Main do Programa

Chamar rotina inicialização do Sistema

Início

Interrupçãotimer?

Chamar rotina para actualização da flag de eventos temporizados e carregar timer

Flag eventostemporizados

Converter Temperatura

Comparar com Temperatura Máxima

Chamar rotina de controlo de testes

Dados aenviar?

Chamar rotina de envio RS-232

Chamar rotina de leds para acender/apagar sequencialmente

Flag de testeTerminado?

Chamar rotina de Reset do sistema

Limpar flag de eventos temporizados

while(1)

s

1

n

0

sn

sn

Rotina para testes de Perfil de Potência

Início

Final

Tempo =

Entrada Perfil?

Leitura Variávelnível depotênciaperfil

Actualizar controlo

de potência

sn

96

Rotina para testes de Temperatura Constante

Termopar 1

Identificar termopar

de referência

Início

Termopar 2

Nível de potência 30 W

Termopar 3

Início de

teste?Tref > 50ºC

Nível de potência 15 W

Diminuir um nívelde potência

T > Tref

Potência > 0

Manter nívelpotência

T = Tref

Aumentarum nível

de potência

Potência<Max

Actualizar controlo de Potência

Final

sn

snsn

sn

sn

T < Tref

sn

Rotina para testes de Potência Constante

O fluxograma apresentado apenas pretende demonstrar que esta rotina simplesmente chama a

função que controla os portos de saída do microcontrolador visto que o valor de potência a colocar

já se encontra configurado desde a recepção do pedido para este tipo de teste.

Manter valorpotência

Início

Actualizar controlo de Potência

Final

97

Rotina de controlo dos testes em execução

Esta rotina é chamada pela rotina main e é responsável por verificar que tipo de teste se está a

realizar e tomar as medidas necessárias para garantir a execução do teste e preparação dos

dados a enviar para o computador.

Potência constante

Identificar tipo deteste pela variável de modo

Início

Tempo=

Duração de Teste?

Criar mensagem para enviar ao computador:Ok - Horas, Minutos, Segundos – Temperaturas Termopares - Duração programada de teste - Temperatura Ambiente

Final

Temperaturaconstante

Perfil de Potência

Desactivar saídas

de potência

Modo de Teste normal

Colocar código de final de comunicação

Colocar código de final de linha de dados

Actualizar Flag paraenvio de dados

sn

98

ANEXO 3 – Programação Interface: Fluxogramas

Tal como no Anexo 2, apenas serão apresentados alguns fluxogramas referentes a funções com

importância no contexto do programa de interface ou cujo algoritmo de programação contenha

particularidades. No entanto, os fluxogramas apresentados são apenas ilustrativos, não sendo uma

reprodução integral das rotinas do programa.

Em diversas situações são feitas verificações de erros mas apenas será feita referência a esta

verificação quando necessário para entender o fluxograma.

Rotina de configuração porta Série (RS-232)

Início

Handler válido?

Recolha do númerode porta

Série a iniciar

Abertura da Porta(CreateFile)

Erro Adquirir informação da porta(GetCommState)

Configurar Porta

Actualizar com os novosdados para Porta Série(SetCommState)

Configurar novos Timeouts

Adquirir informação sobre Timeout(GetCommTimeouts)

Actualizar com os novosTimeouts

(SetCommTimeouts)

Final

sn

99

Rotina de escrita na porta Série (RS-232)

Início

Bytes enviados <Total

a enviar

Enviar Bytes(WriteFile)

Final

Retornar número de Bytes Enviados

IncrementarBytes enviados

sn

Rotina de leitura na porta Série (RS-232)

Início

Recolha de bytes até detectar código de início de comunicação

Erro

Final

2 bytes seguintessão o comando pedido e OK?

Recebe dados até final delinha ou comunicação

Comando de Pedidode Temperatura

Ambiente?

Recebe TemperaturaRecebe dados enviadospelo microcontrolador

Converte tensões em Temperaturas

Apresenta no monitor a informação e guarda os dados

no ficheiro de resultados

Comando Perfil de Potência?

Enviar nova entrada?

Notificar Programa deSimulação

sn

sn

sn

s

n

Final dacomunicação?

sn

100

Rotina de configuração de testes com Potência Constante

Início

Potênciadentro

dos limites?

Final

Calcular nível de potência para o valor inserido

Chamar função paracriar ficheiro de Resultados

Recolher Valor potência

Erro

Recolher valor duraçãoteste

Valor dentrodos limites?

Erro Criar cabeçalho no ficheiro de Resultados

Valor da HumidadeRelativa?

Criar Pedido a enviar

Chamar função de escrita na porta RS-232

Chamar função de leitura de dados da porta RS-232que termina no final dos dados todos recebidos

Encerrar ficheiro de Resultados

Ver Resultados?

Abrir FicheiroRecolher Valor

sn

sn

sn

sn

Rotina de configuração de testes com Temperatura Constante

Início

Valordentro dos limites?

Chamar função paracriar ficheiro de Resultados

Recolher valor Temperaturaa atingir

Erro

sn

Recolher Termopar de Referência

Valordentro dos limites?

Erro

sn

Recolher Duração doTeste

Valordentro dos limites?

Erro

sn

Criar Pedido de Temperatura Ambiente

Criar cabeçalho noficheiro de Resultados

Valor da HumidadeRelativa?

Recolher Valor

sn

Chamar função de escrita na porta RS-232

Chamar função de leitura de dados da porta RS-232

Valor adquirido?

Erro

sn

Identificar ganho do termopar e usar polinómio inversopara cálculo da Tensão correspondente à temperatura a alcançar

Criar Pedido a enviar

Chamar função de escrita na porta RS-232

Chamar função de leitura de dados da porta RS-232que termina no final de todos os dados recebidos

Final

Encerrar ficheiro de Resultados

Ver Resultados?

Abrir Ficheiro

sn

101

Rotina de configuração de testes com Perfil de Potência

Início

Chamar função paracriar ficheiro de Resultados

Todos osdados

Analisados?

sn

Valordentro dos limites?

Erro

sn

Acrescentar dadosao vector de perfil

Chamar função paraabrir ficheiro de Perfil

AtingidoFinal

Ficheiro?

sn

Recolher dados semcomentários

Recolher próxima entrada perfil

Criar Pedido aenviar ao computador

Chamar função de escrita na porta RS-232

Chamar função de leitura de dados da porta RS-232que termina no final ou caso seja necessário enviar uma nova entrada de perfil

Valor da HumidadeRelativa?

sn

Enviarnova entrada

Perfil?

sn

Final

Final do testeEncerrar ficheiro de Resultados

Ver Resultados?

Abrir Ficheiro

snRecolher Valor

Criar cabeçalho noficheiro de Resultados

Rotina Main do programa de interface

A rotina main simplesmente inicia o programa de interface, passando depois o controlo do

programa para os menus e restantes funções, sendo a terminação do programa controlada por

estes.

Chamar menu comapresentação do

programa

Início

Chamar rotina inicialização porta

RS-232

Final

Chamar menu inicial

Na realidade nunca atinge este ponto porque o

programa termina através dos menus

102

ANEXO 4 – Artigo para apresentação oral na 22nd European

Conference on Liquid Atomization and Spray Systems.

De seguida será apresentada uma cópia do artigo submetido e aceite para apresentação oral na

22nd European Conference on Liquid Atomization and Spray Systems.

O artigo apresentado foi publicado nos Proceedings of the 22nd European Conference on Liquid

Atomization and Spray Systems (ISBN 978-88-903712-0-2).

Sendo uma cópia integral da versão enviada, o formato apresentado difere da formatação da

presente tese. No entanto optou-se por apresentar uma cópia da versão final aceite para publicação.

Mais informação poderá ser encontrada no site oficial: http://www.ilasseurope2008.org/.

NOTA ADICIONAL (ERRATA)

Ao longo do artigo apresentado, onde se apresenta “fluid consumption” como sendo uma

vantagem do duty cycle na gama óptima, deveria ler-se “reduction in the fluid consumption”,

indicando desta forma uma das vantagens do uso de sprays intermitentes relativamente a uma

melhoria em termos de gestão de líquido face a sprays contínuos.

Adicionalmente, na Figura 1 do artigo, onde se apresenta “K type Thermocuples”, deveria ser

apresentado “K type Thermocouples”.

ILASS 2008 Sep. 8-10, 2008, Como Lake, Italy

Paper ID ILASS08-A035

INTRODUCTION

Personal Computers’ processors have registered, in the past years, a considerable evolution. In 1965, the Intel

® co-founder

Gordon Moore predicted that the number of transistors on a chip would double about every two years and, in fact, the evolution of Intel’s

® processors, over the past 40 years,

respected this prevision [1]. The innovations and technological advances in computer design [2] allowed to achieve faster processors, registering improvement rates of performance of the order of 35% per year [2], with the reduction of packaging size [3], bringing new challenges in terms of Thermal and Power Management. Power is an important issue for modern CMOS processors, since the energy required to function the transistor is proportional to a number of factors, including the frequency of switching [2]. But, as the working frequency increases and the dimensions of the chip decreases, the transistor leakage current increases, leading to excess power consumption and heat generation [4]. Hennessy and Patterson [2] referred that thermal management would be, in the short term, one of the majors limitations to the development of faster processors. Bar-Cohen et al. [3] refer that the rise in chip power dissipation and heat fluxes, with roadmap projections of average chip heat fluxes exceeding 150 W/cm

2 and the emergence of on-chip hot spots,

with heat fluxes approaching 1 kW/cm2, can degrade the

processor performance and reliability. As an example, Paik et al. [5] argue that an increase of just 15ºC in the temperature can affect timing at the same time that the on-chip thermal variation reduces reliability. Given this scenario and taking into account that according to International Technology Roadmap for Semiconductors (ITRS) [5], the power consumption of high-performance desktops will jump from 147W to 288W in 2016, the development of new and more effective cooling methods is an emergent need. As stated by Cader et al. [6], conventional air-cooling solutions are struggling to cope with the increase in clock frequency and in

the number of gates, which reinforces the call for alternative cooling technologies. In line with this, Shedd [7] refers that spray cooling allows reaching heat transfer coefficients of about 10000 Wm

-2K-1

with the use of refrigerants. In this context, spray impingement has the potential for further miniaturization of the packed device, since spraying directly onto the processor die with a dielectric coolant allows removing the contact resistance between the die and the thermal dissipater. Also, one can expect significant enhancements in the performance of the cooling device with the use of two-phase boiling flows.

However, fluid management is the main limitation to the development of this technology (e.g., Shedd [7]). In this context, Intermittent Spray Cooling System (ISCS) appears as a new technological concept for two-phase cooling, which provides better performance and control over heat transfer mechanisms such as thin film boiling, e. g., Panão and Moreira [8, 9]. One of the advantages of using an intermittent spray is the ability to control the amount of liquid injected by proper matching the frequency of injection and pulse duration through the duty cycle. Nevertheless, most of those studies addressed the physical fundamentals behind heat, the heat transfer process and, although experimental, were performed at static boundary conditions, which do not entirely reproduce the dynamic behaviour of real processors. Only a few studies are based on dynamic arrangements. For instance, Cader et al. [6] addressed the ability of spray cooling to handle transient die power dissipation and its effects on device reliability using a bare die thermal system and a dual Opteron CompactPCI single board computer. In this context, the present paper reports on the assessment of a test bed built to assist computer product designers and manufacturers to develop new cooling systems and compare diverse cooling technologies based on real dynamic conditions. With this objective in mind, the test bed was designed to reproduce the dynamic behaviour of a real processor so to allow to characterize the design parameters of

DIRECT-CONTACT-INTERMITTENT-SPRAY-COOLING FOR

THERMAL MANAGEMENT OF A COMPUTER PROCESSOR

Tiago H. Moita1,*

, Marcelino B. dos Santos2 and António L. N. Moreira

3

Technical University of Lisbon - Instituto Superior Técnico, Lisbon, PORTUGAL 1 Dep. of Electrical and Computer Engineering, Lab. of Thermofluids, Combustion and Energy Systems, IN+

2 Dep. of Electrical and Computer Engineering, INESC-ID

3 Dep. of Mechanical Engineering, Lab. of Thermofluids, Combustion and Energy Systems, IN+

*Corresponding author: [email protected], http://ltces.dem.ist.utl.pt/

ABSTRACT The present paper reports on the assessment of a test bed built to assist computer product designers and manufacturers to optimize the design parameters of new developed cooling systems based on Direct-Contact-Intermittent-Spray-Cooling. A test bed was designed and built, which has the ability to reproduce programmed power profiles, as measured in benchmarks and desktop applications for a real processor. The results evidence that the duty cycle is the main operational parameter to consider in the control of the cooling system for dynamic boundary conditions, thus confirming the major conclusions reported in previous studies performed with a static test bed. There is an optimal range for the duty cycle, between 50% and 60%, above which there are no significant improvements in the cooling performance, due to the formation of a thick liquid film which mitigates an efficient heat removal by phase change. Based on the thermal behaviour of this test bed one should recommend that it can be more advantageous and safe, in a real system, to work with such mid term duty cycle, than trying to alter the operation conditions between smaller and higher duty cycles, for fluid management. The position of the test bed also has an important role: the system should work horizontally.

Paper ID ILASS08-13-11

1

Direct-Contact-Intermittent-Spray-Cooling systems applied to a computer processor.

EXPERIMENTAL APPARATUS

In a real processor, power dissipation varies considerably at a rate which depends on the programs currently being executed. A variation of 50W on an application-by-application basis is usual in today’s processors, so that power dissipation of real running systems has become crucial for hardware and software system research and design [10]. Given that, the present work focuses on the analysis of the application of cooling systems to real case studies. To reproduce a real processor behaviour, three main features must be taken into account: i) the power of the test bed must be controlled to vary at the same rate as in a real processor; ii) the temperatures achieved must be realistic and iii) the response to power changes must occur in a practical time frame. The test bed developed in this work is based on a

commercial processor, the Intel® Pentium® 4 processor in the

423-pin package and was designed in accordance with the specifications given in the manual of the processor [11]. As in the commercial processor, the heat source is in contact with an Integrated Heat Spreader (IHS). The contact between the heat source and the IHS is made through the use of a thermal interface material (AKASA AK-460 Thermal Compound), similar to that used in most common commercial personal computers, to guarantee a good thermal contact between the processor and the cooling system (Figure 1). The IHS is made of the same material of that used in practice and has similar dimensions (27.5 x 27.5 mm2) in accordance with [11]. The components are assembled in a support base which is designed to allow the accommodation of different cooling systems and is made to resist to the temperature of the heat source. The main component of the heat source is a transistor, which was chosen, in opposition to an electrical resistance system, because it allows fulfilling the three aforementioned design characteristics. A heat source based on electrical resistances was tested first, but the results showed that, although the temperatures achieved were realistic, the time response was not in accordance to those expected for a real processor. Nevertheless, the transistor must be selected in order to achieve power dissipations of the same order of magnitude as those in the commercial processor, with response times allowing to fulfil the required time response rates, as assured in preliminary tests using a commercial air cooling system. The transistor used in the present system is based on a Darlington scheme which allows obtaining higher power dissipation and a more accurate control on power dissipation. The temperature of the system is monitored by three K type

thermocouples: two in direct contact with the heat spreader and a third in direct contact with the heat source. This arrangement allows controlling the effects of cooling on both elements of the test bed.

Figure 2 shows a photo of the test bed assemblage. The facility can accommodate different cooling systems and allows to perform three different types of tests, namely: at constant power dissipation (from 0 to 60 W), at a constant temperature for one of the thermocouples or it may introduce power variations during a test, to simulate the dynamic boundary conditions of a real processor. The entire control system for this test bed has been

developed by the authors. It includes a microcontroller (Microchip

® PIC18F8722) which, in association with a

specific board, also from Microchip®, and by means of

auxiliary circuits specifically developed for this purpose, has the ability to control the power variation and to monitor and collect the measured data. The signal of the thermocouples is monitored and collected by the microcontroller. A program was then created to receive the test parameters from a personal computer and monitor and collect the measured data, online, while a test is being performed. All the communications are made by means of a communication protocol via an RS-232 interface. The various tests configuration can be selected by the means of a computer interface, also developed for this particular application. All the measured data return to the personal computer and are automatically saved in a file with a format chosen by the user. The power control and necessary variations are made automatically in real time, eliminating the need for the user to perform any type of manual control or verification during the tests. The control program also ensures a continuous monitoring of the system temperature in order to ensure that its maximum limit is not reached.

Heat Spreader

Thermal

Interface Material

Heat Source

K type

Thermocuples

TemperatureTemperatureTemperatureTemperature

ValueValueValueValue

RoomRoomRoomRoom

HumidityHumidityHumidityHumidity

Hygrometer

Air

Fluid

Manometer

Z

X

Y

Heat Spreader

Thermal

Interface Material

Heat Source

K type

Thermocuples

TemperatureTemperatureTemperatureTemperature

ValueValueValueValue

RoomRoomRoomRoom

HumidityHumidityHumidityHumidity

Hygrometer

Air

Fluid

Manometer

Heat Spreader

Thermal

Interface Material

Heat Source

K type

Thermocuples

TemperatureTemperatureTemperatureTemperature

ValueValueValueValue

RoomRoomRoomRoom

HumidityHumidityHumidityHumidity

Hygrometer

Air

Fluid

Manometer

Z

X

Y

Figure 1 – Schematic of the test facility.

Figure 2 – Assemblage.

Using the ability of the system to introduce power variations during a test, the experiments conducted here were based on the power profiles reported by Isci and Martonosi [10], who obtained live power measurements for benchmarks as well as some desktop applications for an Intel

® Pentium®

4 processor, by combining real total power measurement with performance-counter-based per-unit power estimation. To study the design parameters of Direct-Contact-

Intermittent-Spray-Cooling, a cooling system was built which sprays a dielectric fluid directly onto the heat spreader. Two fluids are used, methoxy-nonafluorobutane (HFE7100 - C4F9OCH3) manufactured by 3M and methanol (CH3OH). The thermo-physical properties of the working liquids are presented in Table 1. The information provided here is based on that supplied by 3M for the HFE7100 and by CRC Handbook of Chemistry and Physics [12] for the methanol.

2

The fluid is supplied from a tank pressurized with air and

delivered by a fast response electronic valve, supplied by Candela, through a nozzle, as depicted in Figure 1. An electronic circuit was developed, combined with a function generator, to control the frequency and the duty cycle of the valve signal.

Table 1 – Working fluids Thermo-physical properties.

Fluid HFE 7100 Methanol

ρ [kg m-3] 1488 788

µ x 1004 [kg m-1 s-1] 5.7 5.6

σ x 1003 [kg s-2] 13.6 22.3

α x 1008 [m2 s-1] 3.9 10.4

k x 1003 [W m-1 K-1] 68.8 203.3

cp [J kg-1 ºC-1] 1177 2481

Temp.b [ºC] 61 65

hfg [kJ kg-1] 126 1158

The values of pressure reported in the present paper are measured by a manometer placed just before the electronic valve (Figure 1). The spray system is accommodated in a micrometer

translation platform which provides a precise positioning of the nozzle in relation to the test bed, allowing displacements on the x axis, y axis and z axis (x=0, y=0 corresponds to the position where the spray is centred with the IHS). The impact angle of the spray onto the surface of the test bed can also be varied from 0 deg to 90 deg.

RESULTS AND DISCUSSION

The present paper aims to provide the guidelines to optimize the design parameters of Direct-Contact-Intermittent-Spray-Cooling systems applied under dynamic behaviour conditions. Cader et al. [6] have already investigated the ability of spray cooling to handle transient die power dissipation and it effects on device reliability, but they evaluated the transient condition by switching on and off the power supply, so that transient responses during processor’s operation were not investigated. On the other hand, Panão and Moreira [8, 9] studied the effects of injection parameters (such as frequency, pulse duration, pressure and impingement distance) on the performance of intermittent cooling systems under static boundary conditions. The study reported here make use of the ability of test

facility to introduce power variations during a test, as to reproduce power profiles of the processor during its normal use (e.g. opening an Internet site). This procedure was followed with the intention of verifying, for real conditions, the choice of the most important parameters to enhance the system cooling performance and to establish guidelines values for the design of a practical cooling system. Here, the duty cycle is defined as the ratio of the pulse duration to the pulse period, considering a signal made of rectangular pulses, as by the Alliance for Telecommunications Industry Solutions [13]. The effect of the distance from the nozzle to the test bed

was considered, for the spray at various conditions, when the test bed dissipates 60W (constant power tests). The absolute distance of the nozzle to the surface (dnoz) was varied from

few millimetres (≈ 5 mm) above the surface up to 80 mm and the results show that, for large distances, the temperature of the processor is globally higher and evidences a trend of continuous increase, thus indicating a deterioration of the potential of the spray cooling capability. This is illustrated in figure 3, where the temporal evolution of the temperature

registered by the thermocouple in direct contact with the heat source is shown for several conditions. In particular, it is worth noting the results obtained at the larger distance (dnoz = 78 mm), which suggest that the thermal equilibrium of the system is no longer attained, even using a large duty cycle. Further increasing dnoz, the cooling performance of the spray continues to degrade down to a point where the test bed cannot be cooled below its maximum working temperature. At this point the tests had to be interrupted in order to avoid permanent damages of the test bed. A similar behaviour is observed when the nozzle is very close to the test surface (dnoz < 10 mm) and can be explained as in Mudawar and Estes [14]: as the IHS is square, the cooling performance depends weather the spray impact area covers, or not, the entire surface

of the heater. Hence, when dnoz is increased past the point of heated area inscription, the cooling performance decreases due to the fact that a fraction of the liquid leaving the nozzle does not meet the surface and is wasted. On the other hand, when the dnoz is very small, the spray impact area decreases and only a small fraction of the heated area is directly impacted by the spray drops (in the present study only a small portion on the centre of the IHS) which is insufficient to achieve the thermal equilibrium for high power peaks, such as those considered here. In line with this, the optimal dnoz obtained with the injector used in the present study lays between 20 and 30 mm, which is the minimal distance ensuring that the impact area just inscribes the heat spreader area. The signal applied to the electronic valve was also studied

for constant power tests in order to select the range of frequencies and duty cycles to be considered in the experiments. Once again, thermal equilibrium is not attained at all conditions, particularly when higher frequencies are associated with small duty cycles. This is illustrated in figure 4, which depicts the variation of temperature at the heat source for an injection frequency of 3.1 Hz and duty cycle of 25.0%, for which the cooling system is no longer capable of keeping the heat source temperature below its maximum working value and the test had to be aborted around 50 seconds after it started. Other design parameters were further investigated under

dynamic conditions. Each was varied independently with the nozzle at the optimal distance from the surface (dnoz = 20 mm) and with thermal boundary conditions corresponding to the one of power profiles measured by Isci and Martonosi [10] in benchmarks and desktop applications for an Intel® Pentium®

4 processor. This particular power profile (see figure 5) was chosen because it gathers multiple operation conditions of a real processor under demanding situations, thus being a good case study to evaluate the behaviour of the ISCS. Moreover, the selected profile includes most of the thermal characteristics of benchmarks and desktop applications.

For all the tests, the spray cooling technique is applied to the test bed at the same time that the power profile starts. In this manner, instead of evaluating the temperature decay of the test bed when the cooling system is activated (as in previous works reported by Panão and Moreira [8, 9]), the experiments start at room temperature, so that the cooling performance is evaluated under more realistic conditions along the power profile duration. Three different injection pressures were selected (2.3 bar,

3.3 bar and 5.0 bar) after a preliminary study, which revealed that 2.3 bar was sufficient to assure an adequate atomization and with a good cooling performance. The frequency of injection was varied from 0.8 Hz up to 2.6 Hz, a 3.25 fold increase which was observed to be enough to conclude on the

3

relative influence of this parameter. Three representative duty cycles were also chosen after preliminary study: 23.6% is close to the smallest duty cycle at which the ISCS can keep the heat source at a safe temperature, 57.7% represents an average test condition and 75.2% approaches a continuous spray application.

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Time [s]

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p.

[ºC

]

dnoz = 27 mm

dnoz = 78 mm

Figure 3 – Temporal evolution of the temperature of the heat source for a test performed with spray cooling, when the system dissipates 60W, for different dnoz using HFE7100 for an injection signal of 0.71 Hz with 72.9% duty cycle at 3.0 bar.

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Time [s]

Tem

p.

[ºC

]

0.71 Hz ; 72.9% Duty Cycle

3.13 Hz ; 25.0% Duty Cycle

Figure 4 – Temporal evolution of the temperature of the heat source for a test performed with spray cooling, when the system dissipates 60W, using HFE7100 for dnoz = 27 mm and a 3.0 bar pressure.

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Time [s]

Pow

er [

W]

Figure 5 – Dynamic boundary conditions: power profile as measured and reported by Isci and Martosini [10].

The analysis focuses on the thermal behaviour of the test bed, as characterized by the temporal evolution of the temperature measured at the heat source and on the surface of the IHS. Figure 6 depicts the temporal evolution of the temperatures measured at the surface of the IHS, registered by thermocouples 1 and 2 and the temperature measured at the thermocouple which is direct contact with the heat source. The large temperature gradients are associated with the peaks of the power supplied and represent the main challenge of practical processors to the performance of the intermittent spray cooling system. Without any cooling (or when the operating conditions are not adequate to assure the thermal equilibrium of the system, so that the tests had to be interrupted) the power peaks would lead to very high

temperatures and the test bed would be damaged in just a few seconds. As shown in figure 6, the thermocouple in the heat source consistently registers the largest temperature (the difference to the temperature registered at the surface is larger than 10ºC along the entire power profile). Thus, the information provided by this thermocouple is the most relevant to assure the safety operation of the processor. The temperatures registered by both surface thermocouples

are similar (maximum peak difference is smaller that 2.5ºC), thus confirming that for the test bed at the horizontal position, the heating and cooling processes are symmetric.

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Time [s]

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Surface Thermocouple 1

Heat Source Thermocouple

Surface Thermocouple 2

Figure 6 – Temporal evolution of the temperature registered by the three thermocouples for a test conducted for a 2.6 Hz, 23.6% duty cycle signal, with 5.0 bar in horizontal position using methanol.

Figure 7 shows the temporal evolution of the temperature of the thermocouple in direct contact with the heat source, measured at duty cycles of 23.6%, 57,7% and 75.2%, for the two frequencies, at the three prescribed pressures of injection (2.3, 3.3 and 5 bar). The coolant is methanol and the test bed is in the horizontal position, at a distance dnoz = 20 mm from the nozzle. In general, the results highlight that there is an optimum

duty cycle (between 50% and 60%) above which a further increase of the duty cycle does not significantly improves the cooling performance. In particular, for the case where the spray is injected at 0.8Hz and 2.3 bar test (figure 7a), it is clear that, not only the rising slopes (between 50 seconds and 60 seconds) are similar (1.61 for the 57.7% duty cycle versus 1.65 for the 75.2% duty cycle) but also the final temperatures (at 60 seconds) show only a 3.7ºC difference. Also, the slope of temperature associated with the power decay between 60 seconds and 72 seconds, measured at the 57.7% duty cycle condition is 1.73 against a 1.72 slope for that registered for the 75.2% duty cycle: again the difference between the temperatures achieved at 72 seconds is small (3.7ºC). Similar trends are observed in the temporal evolution of the

surface temperatures, as depicted in figure 8. Moreover, the use of smaller duty cycles is evidenced in

Figure 7 to alter the time response to the power changes: the temperature increases to larger values during power peaks and does not decrease so much during power valleys. This is clear in figure 7a: at the power peak between 50 and 60 seconds, although the temperature registered for the 23.6% duty cycle condition presents a similar rise slope (1.65) when compared to that of the 57.7% duty cycle condition (1.61), the final temperature (at 60 seconds) is considerably higher (there is a 11.5ºC difference between the two curves). Also, during the power decay between 60 and 72 seconds,

the temperature slope is 1.77ºC/s for the 23.6% duty cycle condition and 1.73ºC/s for the 57.7% duty cycle, but the difference between the minima temperatures achieved at each duty cycle is again 11.0ºC. This aspect may appear redundant but it must not be

disregarded when evaluating the performance of the cooling

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system because, although the system may seem apparently efficient in cooling the surface, it may not be able to keep temperature of the heat source within safety conditions.

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23.6% Duty Cycle

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75.2% Duty Cycle

(a)

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

(c)

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

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23.6% Duty Cycle57.7% Duty Cycle75.2% Duty Cycle

(e)

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

(f)

Figure 7 – The temporal evolution of the temperature registered by the thermocouple in direct contact with the heat source, when the test bed is in the horizontal position, using methanol, varying the duty cycle for different conditions: (a) 0.8 Hz for 2.3 bar; (b) 2.6 Hz for 2.3 bar; (c) 0.8 Hz for 3.3 bar; (d) 2.6 Hz for 3.3 bar; (e) 0.8 Hz for 5.0 bar; (f) 2.6 Hz for 5.0 bar.

The advantage of the ISCS stems from the capacity to deal efficiently with this aspect: using an adequate fluid (dielectric) the heat source can be directly cooled eliminating the intermediate surface (IHS) which is required in other cooling systems (e.g. air cooling systems or indirect liquid cooling systems). Overall, it is now clear from figures 7 and 8 that the temperature of the surface is significantly lower than that of the heat source and the response to the transient power variations (e.g. in the last part of the profile which reproduces the 30W power swing) is almost unnoticed in the surface temperature.

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

(b)

Figure 8 – The temporal evolution of the temperature registered by one of the surface thermocouple, when the test bed is in the horizontal position, using methanol, varying the duty cycle for different conditions: (a) 0.8 Hz for 2.3 bar; (b) 2.6 Hz for 2.3 bar.

Figures 9 and 10 further demonstrate that the effects of the frequency and pressure of injection are negligible compared with those of the duty cycle. Also, though not reported here due to lack of space, the surface temperature behaves similarly. It is worth noting, however, that the duty cycles considered so far were obtained varying simultaneously the frequency and the duration of injection in such a way to keep the liquid flow constant.

Given the negligible effect of pressure regardless the duty cycle, a practical system should use the lowest pressure capable of achieving a good atomization in order to keep hardware as simple as possible. The analysis performed so far highlights that the duty cycle

is the operational parameter of an ISCS that allows a more accurate control of the temperature of the processor. This is in accordance with previous studies by Panão and Moreira [8, 9], who reported detailed research of the effects of injection parameters, as previously refer, on the thermal response of a cooling system with stationary thermal boundary conditions. Also Shedd [7] refers that it is the droplet flux which controls the heat transfer performance and Bash et al. [15] reported that, for heat fluxes of the order of those achieved in the present study, the critical heat flux is flow limited. In line with this, the present study confirms an improvement of the cooling performance of the system as the duty cycle increases up to an optimum value, of the order of 60%, above which the cooling system cannot lower significantly the temperature of processor. This trend is associated by Panão and Moreira [9] with the formation of a liquid film at the surface, which mitigates heat removal by phase change. In this context, the

5

value of the lowest temperature achievable by spraying the heated surface depends, not only on droplet flux at impact, but also on the thermo-physical properties of the coolant (namely its latent heat of vaporization and saturation temperature). However, it is worth noting that Panão and Moreira [8] achieved smaller duty cycles with similar coolant properties and much larger droplet fluxes. Careful analysis allows us to attribute this to the dynamic (instead of static) thermal boundary conditions of our experiments.

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Freq. 0.8 Hz

Freq. 2.6 Hz

Figure 9 – The temporal evolution of the temperature registered by the thermocouple in direct contact with the heat source, when the test bed is in the horizontal position, using methanol, for a 2.3 bar test and a injection signal with 57.7% duty cycle for the two different frequencies.

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2.3 bar

3.3 bar

5.0 bar

Figure 10 – The temporal evolution of the temperature registered by the thermocouple in direct contact with the heat source, varying the pressure, when the test bed is in the horizontal position, using methanol for a 23.6 % duty cycle and 2.6 Hz signal.

In the context of the discussion above, the angle of impact is expected to alter the dynamics of the liquid film and therefore, the thermal behaviour of the system. Several experiments were then conduced with the processor in the vertical position, which would preclude the formation of the liquid film over the IHS. The experiments were again performed with methanol, for dnoz = 20mm and followed the same methodology as for the processor in the horizontal position. Figure 11 depicts the thermal response for the three duty cycles (23.6%, 57.7%, 75.2%), the two frequencies of injection (0.8Hz and 2.6Hz) and for the lower injection pressure (2.3 bar). The results in the Figure show that, also in this case, the systems performs better when the duty cycle increases from 23.6% to 57.7%, although now with a lower gain than with the test bed in the horizontal position. Further increasing the duty cycle, one can still slightly cool down the heat source but the benefits of increasing the duty cycle over 60% are also reduced. For instance, for the power peaks occurring at 60 seconds the final temperature achieved at duty cycle of 23.6% is of the order of 6.5ºC to 8ºC larger than that achieved at a duty cycle of 57.7%. However, the difference between the temperatures achieved at duty cycles of 57.7% and the largest duty cycle of 75.2% is always smaller than 5ºC (for 0.8Hz) and 4ºC (for 2.6Hz).

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57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

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23.6% Duty Cycle

57.7% Duty Cycle

75.2% Duty Cycle

(b)

Figure 11 – The temporal evolution of the temperature registered by the thermocouple in direct contact with the heat source, varying the duty cycle, when the test bed is in the vertical position, using methanol for different conditions: (a) 0.8 Hz for 2.3 bar; (b) 2.6 Hz for 2.3 bar.

Figure 12 shows the distribution of the surface temperature compared with that measured at the heat source for an illustrative test condition. It is now noticeable a difference between the temperatures measured by the two surface thermocouples, which indicates that the surface cooling is no longer homogeneous when the test bed is in the vertical position. The difference is of the order of 5ºC, with smaller values measured at the region of the surface which is firstly impinged by the spray (thermocouple 1). Moreover, the values of surface temperature reported in Figure 12 are larger than those measured with the processor in the horizontal position and closer to the temperatures measured at the heat source. This trend is a clear result of the influence of gravity on the

dynamics of the liquid film. When the processor is in the horizontal position, the vaporization of the liquid film remaining at the surface between successive injections, guarantees a continuously removal of heat thus allowing to keep the surface temperature lower for the following power peaks (which during the test will also contribute to control the temperature of the heat source). This is observed, for instance in the last part of the power profiles where, in the short periods of power decrease the cooling is not enough to decrease the temperature which will subsequently be higher in the following power peaks. On the other hand, when the processor is in the vertical position, the spray is promptly swept away from the surface. The main differences between the thermal behaviour of the

system are better understood in figure 13, which compares the temperatures at the heat source when the ISCS operates at 2.3 bar, with a frequency of injection frequency of 0.8 Hz and a duty cycle of 57.7%. The Figure clearly shows that the temperature at the heat source is larger by almost 12ºC when the processor is in the vertical position, thus corroborating that the cooling system acts less efficiently when the test bed is in the vertical position, which contrasts with the recommendations given in Shedd [7]. Similar trends are observed for different frequencies and

duty cycles, in the sense that the temperatures measured at both, the IHS and the heat source, are larger when the test bed is vertical, contrarily to what was expected considering that the film would lead to a less efficient heat extraction (e.g.

6

Shedd [7], Panão and Moreira [8]). It can be speculated that the differences may be due to a less efficient area subscription of the spray when the impacted surface is vertical, particularly because droplets swept away from the surface, thus reducing the time of thermal contact. The contact area is also altered (e.g. Moreira et al. [16]) which, again, precludes an efficient heat removal by phase change.

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Time [s]

Tem

p.

[ºC

]

Surface Thermocouple 1

Heat Source Thermocouple

Surface Thermocouple 2

Figure 12 – The temporal evolution of the temperature registered by the three thermocouples, when the test bed is in the vertical position, using methanol for 2.3 bar with a 75.2% duty cycle and 0.8 Hz signal.

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0 20 40 60 80 100 120 140

Time [s]

Tem

p. [ºC

]

Horizontal

Vertical

Figure 13 – The temporal evolution of the temperature registered by the thermocouple in direct contact with the heat source, varying the test bed position, for a 2.3 bar test with a 57.7% duty cycle and 0.8 Hz injection signal.

Although the experiments performed with the test bed in the vertical position show generally worse cooling performances than those obtained at the horizontal position, the duty cycle is still the operational parameter which most affects the thermal behaviour of the system, when compared to the injection frequency. An exhaustive study performed to optimize the cooling performance of the processor in the vertical position, showed that the spray must operate with a duty cycle of 50%-60%. In summary, based on the aforementioned role of the

contact time of the impingement spray and of the benefit role of the liquid film in abrupt consecutive power peaks, one should recommend for the design and integration of practical systems a configuration considering the horizontal positioning of the processor. Moreover, it is more advantageous and safe, in a real system to work with a mid term duty cycle, of the order of 50%-60% (even if it may lead to a thin film formation during part of the working period), which provides good practical results in terms of the temperature of the processor, than trying to alter the operation conditions between smaller and higher duty cycles, since the use of very small duty cycles brings the system to dangerous high working temperatures and the thermal response of the system may not be fast enough to avoid damages, given that the temperature increase is very fast on the continuous power peaks. Duty cycles within the range between 50% and 60% still offer a much more effective working mode in terms of fluid management since it allows significant fluid consumption when compared to a continuous

spray cooling system. Smaller duty cycles, promoting phase change, should be effective in less demanding conditions and in this case they should offer optimum fluid management performances.

Further improvements may be achieved by optimizing the properties of the working fluid, namely the temperature for phase change and the latent heat of evaporation (e g., Panão and Moreira [8]). In this context, further experiments were conducted using a dielectric fluid, the methoxy-nonafluorobutane (HFE7100). Although not showed here due to paper length constrains,

the temporal evolution of the temperature was measured at different duty cycles, with two frequencies of injection at a pressure of injection of 2.3 bar. When compared with the results obtained with methanol the temperatures measured at the heat source using the HFE7100 are much larger, as expected, since the vaporization temperature is similar for both fluids but the latent heat of evaporation of the HFE7100

is much smaller (hfgMethanol 9.hfgHFE7100). It is clear here, given the low latent heat of evaporation of the liquid which further reduces the heat flux removal, that small duty cycles, which are associated with smaller flows, are not sufficient to maintain the test bed surface at a low safe temperature, thus the tests were automatically stopped by the security routine to avoid damages in the test bed. There is an evident improvement of the cooling

performance of the system when the duty cycle is increased from 23.6% to 57.7%. Further increasing the duty cycle there is still some improvement, when comparing to the experiments performed with methanol, as in this case the vaporization of the liquid over the surface of the IHS is faster, given the smaller hfg, which delays the formation of a liquid film thick enough to mitigate an effective heat removal by phase change. Nevertheless the difference in the temperature curves obtained for the duty cycle of 57.7.% and 75.2% is at the most of 9ºC, against 18.6ºC difference obtained when the duty cycle is increased from 23.6% to 57.7%. Therefore, although the exact optimum value of the duty cycle may be slightly adjusted depending on the properties of the working liquid, the results obtained for the whole conditions studied here suggest an optimum working range between 50% and 60%, which allows a significant fluid consumption, thus confirming the advantage of the ISCS in terms of fluid management potential, as strongly argued by previous authors (e.g. Bash et al. [15], Panão and Moreira [8, 9]) while it assures the safety of the system. Any significant changes are observed, also using a fluid

with different properties, in changing the injection frequency. The properties of the working fluid are naturally important

and major improvements can be achieved by combining the design of the cooling system with the development of an appropriate working fluid. However, as the selection of the working fluid for current systems can be much limited from the commercial point of view, to the cost and availability of the fluid, an adjustment of the system duty cycle can work as an alternative solution, when the choice of the most adequate fluid is restricted to commercial limitations. The control of this parameter should act based on the temperature of the heat source, which quickly responds to power variations (most of the existing commercial systems are based on temperature information also, although not always on the most critical points, which leads to additional costs to ensure the safety of the system) to avoid damages due to burnout of the system.

7

CONCLUSIONS

This paper reports an experimental study conducted to identify the main operational parameters to be considered in the design of efficient Direct-Contact-Intermittent-Spray-Cooling systems. The final aim is to assist computer product designers and manufacturers to develop new cooling systems and compare diverse cooling technologies. For that purpose a test bed has been designed and build to reproduce pre-programmed power profiles during the tests, which replicate those measured in benchmarks and desktop applications for a real processor. The experiments were conduced to infer on the effect of several operation conditions (injection frequency and duty cycle, the distance between the nozzle and the test bed, the injection pressure, the position of the test bed and the properties of the working fluid). The results showed that the best performance of the system is achieved when the distance from the spray nozzle to the impacted is within a definite range. Outside this range, the cooling performance is degraded as the spray area does not cover the surface of the test bed: the minimum distance to surface distance is that assuring that the spray area just covers the surface

of the

heater. For the spray used in the current study this range is between 20 and 30 mm. The experiments confirm that the main conclusions drawn

in previous studies under static boundary conditions, still apply under the dynamic boundary conditions of real processors: the duty cycle is the main operational parameter to consider in the control of the cooling system; injection pressure and frequency have a negligible influence, so that small injection pressures and frequencies can be used with evident advantages for the design of a commercial system compatible with the hardware used in a personal computer. However, the analysis must take into account that a dynamic system brings a stringent constraint to the operation of the system, which is the need to keep the core temperature of the system below safety values. In this context, there is a range of duty cycles above which the cooling performance does not improves due to the formation of a thick liquid film over the IHS which will mitigate an efficient heat removal by phase change. The whole tests performed here point that, for the current ISCS, this value lies within 50-60%. Based on these results one should recommend that it can be more advantageous and safe to work with a mid term duty cycle, of the order of 50%-60% (even if it may lead to a thin film formation during part of the working period), which provides good practical results in terms of the temperature of the processor, than trying to alter the operation conditions between smaller and higher duty cycles, since the use of very small duty cycles brings the system to dangerous high working temperatures and the thermal response of the system may not be fast enough to avoid damages, given that the temperature increase is very fast on the continuous power peaks. Duty cycles within the range between 50% and 60% still offer a much more effective working mode in terms of fluid management since they allow significant fluid consumption when compared to a continuous spray.

ACKNOWLEDGMENT

The authors acknowledge the contribution of the National Foundation of Science and Technology by supporting the research through the project “Advanced Intermittent Spray Cooling Systems” (PTDC/EME-MFE/69459/2006). The authors are also grateful to Msc. Eng. Ana Moita for her help and support during the presented work.

NOMENCLATURE cp Specific heat capacity at constant

pressure

J kg-1

K-1

CPU Central Processing Unit

d Distance mm

hfg Latent heat of vaporization kJ kg-1

IHS Integrated Heat Spreader

ISCS Intermittent Spray Cooling System

ITRS International Technology Roadmap

for Semiconductors

k Thermal conductivity W m-1

K-1

Temp. Temperature ºC

Greek Symbols

αααα Thermal diffusivity m2 s-1

ρρρρ Density kg m-3

µ Dynamic viscosity kg m-1

s-1

σ Surface tension N m-1

Subscripts

b Boiling

noz Nozzle

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