Estudo-Vida de Filipenses - Vol. 1

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    ESTUDO-VIDADE FILIPENSES

    MENSAGEMUM

    O PANODE FUNDOE O TEMADO LIVRO

    Leitura Bíblica: Fp 1:1-18,27-30; 2:1-5, 12-16; 3:2-11; 4:2-3, 14-19

    Na Bíblia existem dois livros relacionados com a experiência e não com adoutrina. Esses livros são: Cântico dos Cânticos e Filipenses. Aparentemente, são livrossem relação entre si. Contudo, se penetrarmos em suas profundezas, descobriremosque são livros gêmeos e ambos dizem respeito à experiência de Cristo. Por essa razão,seria proveitoso estudá-los juntos.

    Chamamos sua atenção para o fato de que quatro livros do Novo Testamentocompõem o coração da revelação divina: Gálatas, Efésios, Filipenses e Colossenses.Gálatas, Efésios e Colossenses têm padrão semelhante de composição. Nesses livros,Paulo primeiramente apresenta doutrinas e, em seguida, experiência. Depois demostrar determinada doutrina, Paulo nos encoraja a andar de acordo com ela. Efésios,por exemplo, é escrito em duas partes principais. A primeira parte, capítulos um a três,mostra a doutrina sobre a igreja, o Corpo de Cristo. Mas a segunda seção, composta doscapítulos quatro a seis, diz respeito ao nosso andar segundo a doutrina revelada nosprimeiros três capítulos. Uma vez que Efésios é composto dessa maneira, ele é um livro

    tanto de doutrina como de experiência. Em princípio, o mesmo se aplica a Gálatas eColossenses.O livro de Filipenses, entretanto, é diferente nesse aspecto. Não era intenção de

    Paulo, ao escrever esse livro, transmitir doutrinas. Não significa que não haja doutrinanele. Todos os escritos do Novo Testamento têm ingrediente doutrinário. Mas,rigorosamente falando, Filipenses não diz respeito a doutrinas, e, sim, à experiência deCristo.

    Em  1 :20,  Paulo diz: “Será Cristo engrandecido no meu corpo”, e, em   1:21,  eledeclara: “Para mim, o viver é Cristo”, Essas duas declarações representam o conceito

     básico de todo o livro. Nele somos incumbidos de engrandecer Cristo e vivê-Lo.Engrandecer Cristo não é somente expressá-Lo; é expressar Cristo levando-O a ser

    expandido. Devemos engrandecer Cristo vivendo-O de maneira prática, dia a dia.Nosso viver diário deve ser tal que viva Cristo. Determinados ensinamentos éticosencorajam as pessoas a viver por meio de virtudes específicas. O livro de Filipenses,entretanto, não nos ordena viver de acordo com ética ou virtudes; ele nos ordena viverde acordo com Cristo. Cristo deve ser tudo em nosso viver. Ele deve ser, até mesmo,

     virtudes tais como humildade e bondade. Antes de ser salvo, a vida de Paulo estava centralizada na lei, e ele vivia a lei. Mas

    após converter-se a Cristo e ser regenerado, começou a viver Cristo. Cristo não setornou apenas a vida dele, mas também seu viver. Por fim, de acordo com suaexperiência, Paulo pôde declarar que, para ele, o viver era Cristo.

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    I. O PANODE FUNDO

    Nesta mensagem consideraremos os antecedentes, ou pano de fundo, e o tema deFilipenses. Todo livro na Bíblia possui tanto um pano de fundo como um tema. Vistoque o livro de Filipenses preocupa-se com a experiência de Cristo, alguns podem acharque não seja necessário considerar os antecedentes. No entanto, mesmo esse livro sobrea experiência de Cristo foi escrito com certo pano de fundo, que é a razão pela qual foiescrito. A fim de entrar nas profundezas do significado desse livro, devemos conhecerseus antecedentes.

    Filipenses não diz explicitamente qual é o seu pano de fundo. Mas ao consideraras declarações e exortações de Paulo nesse livro, detectamos alguns indícios. Se lermosseus quatro capítulos cuidadosamente, encontraremos quatro elementos relacionadoscom os antecedentes.

     A. Os Judaizantes Exerciam Influência 'sobre os Crentes em CristoNa época em que o livro de Filipenses foi escrito, os judaizantes exerciam

    influência sobre os crentes em Cristo (3:2-4). Os judaizantes eram muito vigorosos emdefender a religião judaica. Eles não apenas a praticavam, mas também a promoviam eaté mesmo lutavam por ela. Os mais zelosos eram os fariseus, os mais ortodoxos nareligião de seus pais. Corno resultado da dispersão dos judeus, esses judaizantes foramespalhados pela região do Mediterrâneo. Onde houvesse judeus, sempre havia

     judaizantes. Nenhum grupo de pessoas podia igualar-se a eles no zelo com quepromoviam sua religião. Mesmo em Filipos, cidade da Macedônia, eles exerciaminfluência sobre os crentes.

    Em 3:1, Paulo diz: “Quanto ao mais, irmãos meus, alegrai-vos no Senhor. A mim,não me desgosta, e é segurança para vós outros, que eu escreva as mesmas coisas”. Essapalavra indica que regozijar-se no Senhor é uma proteção, uma segurança. Quando nosregozijamos Nele, estamos seguros. Isso nos protege.

    Quando Paulo escreveu Filipenses, determinados crentes em Filipos não seregozijavam no Senhor, pois estavam preocupados ou distraídos com as pessoasdescritas no versículo 2. Nesse versículo, Paulo diz: “Acautelai-vos dos   cães:

     Acautelai-vos dos maus obreiros! Acautelai-vos da falsa circuncisão!” Por um lado,Paulo nos diz que nos regozijemos; por outro, ele nos diz que nos acautelemos dos cães.Como veremos, os “cães”, aqui, referem-se aos judaizantes.

    Hoje também existem “cães” dos quais precisamos estar precavidos. De fato, na

    época de Paulo havia apenas um grupo de “cães”, os judaizantes, mas hoje existemmuitos tipos de “cães”. Todas as vezes que esses “cães” exercem sua influência, talvezespalhando rumores malignos sobre a restauração do Senhor, podemos achar difícilregozijar-nos. Assim, precisamos da exortação de Paulo a que nos regozijemos e nosacautelemos dos “cães”. De acordo com a construção gramatical de 3:2, os cães, osmaus obreiros e os da falsa circuncisão referem-se às mesmas pessoas. O fato de queestão associados aos maus obreiros e aos da falsa circuncisão, indica que os “cães” sãopessoas religiosas. Os maus obreiros aqui mencionados não eram ladrões. Eram os quedefendiam a circuncisão. Mas ao promovê-la zelosamente, eles pareciam cães latindo.Por essa razão, Paulo usa os termos “maus obreiros” e “os da falsa circuncisão” como

    expressões de extremo desprezo. Como “cães” religiosos, os judaizantes não eram

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    somente os que ladravam, mas também os que mordiam. Onde quer que o evangelhofosse pregado e igrejas estabelecidas, lá iam os judaizantes como “cães” religiosos,ladrando e mordendo, para causar transtorno aos santos. O ladrar e o morder dos

     judaizantes eram aspectos do pano de fundo contra o qual o livro de Filipenses foiescrito.

    Hoje há vários grupos de “cães” religiosos ladradores. Em todo lugar a que vamos,somos incomodados pelos diferentes grupos religiosos. Em princípio, nossa situação é amesma dos filipenses quando Paulo lhes escreveu. Assim como os crentes em Filipos,precisamos urgentemente da experiência de Cristo. Se os fili}2enses careciam daexperiência de Cristo por causa d9 meio em que se achavam, muito mais nós, devido àsituação em que nos encontramos hoje! Os filipenses tiveram de lidar com apenas um“ismo”, mas nós devemos lidar com muitos “ismos”, com muitos grupos de “cães”religiosos ladradores. Quando nos levantamos para falar acerca da experiência deCristo, esses “cães” vêm ladrar e morder. PeqUe os opositores escrevem, com muitasacusações falsas contra nós, pode ser considerado os “latidos” dos “cães” religiosos.

    Devido à influência que os judaizantes exerciam sobre os santos, Paulo foicompelido a admoestar os santos em Filipos a se acautelar dos “cães”. Não lhe foi fácilproferir tal palavra, pois esses “cães” ladradores eram seus conterrâneos. Paulo eramuito patriótico, e tinha profundo amor pela nação judaica. Foi difícil para elereferir-se a alguns de seus compatriotas como “cães”. No entanto, a situação forçou-o ausar tal expressão pesada. Muito embora os judaizantes fossem conterrâneos de Paulo,da mesma raça que ele segundo a carne, ele não pôde conter-se de chamar-lhes “cães”,“maus obreiros”, “os da falsa circuncisão”. A influência desses “cães” ocupou parteimportante no contexto histórico de Filipenses. Uma vez que, em princípio, nossa

    situação é a mesma, devemos considerar que Filipenses foi escrito também para nós.Na situação em que se encontravam, os filipenses precisavam da experiência de Cristo,e, em nossa situação, precisamos muito mais experimentá-Lo.

    B.OsCrentes Judaizantes Pregavama Cristo por Inveja e Contenda, emRivalidade com o Apóstolo Paulo

    De acordo com 1:15-18, alguns pregavam a Cristo “por inveja e contenda”(IBB-Rev.) e “por discórdia”. Em particular, eles estavam em rivalidade com Paulo. Osque pregavam a Cristo dessa maneira eram os crentes judaizantes, crentes em Cristoque mantinham a religião judaica e introduziam determinados aspectos do judaísmo na

     vida da igreja. O apego deles às coisas do judaísmo levou-os a pregar a Cristo pordiscórdia de Paulo, que renunciara ao judaísmo com sua lei, rituais, tradições e práticada circuncisão. Visto que os crentes judaizantes ainda mantinham essas coisasreligiosas, eles pregavam a Cristo por inveja e contenda. Contudo, em 1:18 Paulo pôdedizer: “Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendopregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim,sempre me regozijarei”. Paulo permitia que, mesmo os que pregavam por inveja econtenda e por rivalidade, ainda continuassem a pregar a Cristo. Ele podia regozijar-seno fato de que Cristo era anunciado. Enquanto Paulo pregava a Cristo com a economiade Deus, outros pregavam a Cristo com o judaísmo. Assim, havia duas maneiras depregar a Cristo.

    O mesmo ocorre hoje. Muitos cristãos pregam a Cristo, mas não com a economia

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    de Deus concernente à igreja. Na época de Paulo, os crentes judaizantes pregavam aCristo motivados por preocupação com o judaísmo, e não por preocupação com a igreja.Em certo sentido, eles até mesmo pregavam a Cristo pelo judaísmo. Paulo, entretanto,

    pregava a Cristo visando à igreja, ao Corpo de Cristo.Paulo era muito perseguido não apenas por pregar o evangelho, mas em

    particular por defender o evangelho e confirmá-lo. Em 1:7, ele fala sobre “defesa econfirmação do evangelho” e, em 1:16, diz que ele fora “posto para defesa do evangelho”(VRC). Os crentes judaizantes, pelo contrário, pervertiam e distorciam o evangelho. Oevangelho não é em prol do judaísmo, e não deve ser pregado com o propósito deescravizar incrédulos sob a lei e a prática da circuncisão. Pregar o evangelho dessaforma é perversão e distorção do evangelho. Em sua defesa do evangelho, Paulo deixouclaro que a meta do evangelho é produzir o Corpo de Cristo, e não fazer com quealguém carregue o sinal da circuncisão. Ao mesmo tempo em que pregava o evangelhode maneira positiva e divina, Paulo também o defendia e o confirmava. A forma comoPaulo pregava o evangelho era muito diferente da dos crentes judaizantes. Portanto, naépoca em que Filipenses foi escrito, o evangelho era pregado de duas maneirasdistintas.

    Hoje, também pregamos o evangelho de maneira diferente da que é seguida pormuitos nas organizações religiosas. Muitos o pregam, mas não de modo alinhado com aeconomia de Deus. Todas as vezes que o pregamos de acordo com a economia de Deus,como Paulo fazia, sofremos oposição dos religiosos. Por causa das várias maneiras depregar a Cristo, surge perseguição da parte dos “cães” religiosos.

    C. Os Crentes Filipenses Participavam com o Apóstolo Paulo do

    Progresso do EvangelhoOutro aspecto dos antecedentes desse livro diz respeito a um assunto muito

    positivo: a participação dos crentes filipenses com o apóstolo Paulo no progresso doevangelho (1:5-7; 4:14-19).

    Preocupo-me com o fato de que alguns entre nós ainda se apegam a umentendimento inadequado do evangelho. A pregação do evangelho inclui mais do que ofato de que Cristo é nosso Salvador e que, ao crer Nele, temos perdão de pecados,salvação do inferno para o céu e regeneração. Na verdade, todo o livro de Filipenses éuma definição do evangelho. O evangelho é a proclamação do mover de Deus na terrade acordo com Sua economia. Isso significa que o evangelho é a pregação da economia

    de Deus. Assim, ele inclui a questão de engrandecer Cristo e vivê-Lo. Inclui cadaaspecto da experiência de Cristo falado nesse livro. O fato de os crentes filipensesestarem participando com Paulo no progresso do evangelho significava que elestomavam parte no [!10Ver da economia de Deus na terra.

     A economia de Deus não é simplesmente ter um grupo de pessoas perdoadas' dospecados, justificadas, lavadas pelo sangue de Cristo, regeneradas, salvas do inferno edestinadas para o céu. Essas coisas são apenas parte da salvação de Deus para ocumprimento de Sua economia. O evangelho inclui a economia de Deus em suatotalidade. Não devemos tentar defini-lo tomando algumas frases dos escritos de Paulofora de contexto. Precisamos considerar todo o livro de Filipenses com todos os pontosprincipais. Se juntarmos todos esses itens, teremos a totalidade do evangelho, e

     veremos que ele engloba o mover de Deus segundo a Sua economia. Como eram

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    abençoados os crentes filipenses por participar do progresso de tal evangelho! Oevangelho em que tinham parte não era o evangelho de padrão baixo, estreito,superficial, pregado por muitos cristãos hoje. Os crentes filipenses tinham o privilégio

    de tomar parte da propagação e progresso do evangelho, que é de acordo com aeconomia de Deus.

    D. Havia Dissensão entre os Crentes Filipenses

    Muito embora os crentes filipenses participassem com Paulo do progresso doevangelho, havia ainda alguma dissensão, mesmo pequena, entre eles (1:27; 2:1-4;4:2-3). Como veremos, a razão dessa dissensão residia no fato de que eles não eram umna alma. Eles foram regenerados no espírito, mas ainda não haviam sido transformadosna alma. Não tinham problemas no espírito, mas havia pelo menos alguns problemasna alma, em particular na mente. Alguns possuíam conceitos diferentes, e tais conceitos

    causavam dissensão.

    II. O TEMA: A EXPERIÊNCIA DE CRISTO

    Como já mencionamos, o tema de Filipenses é a experiência de Cristo. Comrelação à experiência de Cristo, cada capítulo de Filipenses se detém num pontoprincipal. Primeiramente, no capítulo um, temos o engrandecimento de Cristo. Nãoimporta em que circunstâncias nos encontremos, precisamos expressar Cristo de talmodo que O engrandeçamos.

    No capítulo dois, Paulo apresenta Cristo como nosso padrão. Em tudo o quefizermos, precisamos ter padrão, modelo, exemplo. Mesmo na experiência e no desfrute

    de Cristo, precisamos de um padrão. Esse padrão é o próprio Cristo.O capítulo três indica que Cristo deve ser nosso alvo, nossa meta. Nós, que

    amamos o Senhor e O buscamos, não somos pessoas sem meta. Nossa meta é o próprioCristo. Ele é o alvo para onde avançamos.

    Finalmente, no capítulo quatro, Cristo é nossa força. Em 4:13, Paulo diz: “Tudoposso naquele que me fortalece”. Cristo não é somente o padrão e o alvo; é também aforça, o poder, o “dínamo”. Como “dínamo” em nós, Ele nos fortalece para que O

     vivamos e O engrandeçamos, e prossigamos em Sua direção como alvo.Nos quatro capítulos de Filipenses vemos Cristo como Aquele que é manifestado

    e engrandecido, como padrão, como meta e como nossa força interior. Esse livro sobre

    a experiência de Cristo toca em quatro pontos principais: a expressão, o padrão, a metae a força. Todos precisamos experimentá-Lo desse modo quádruplo.

     A. Para Vencer a Influência dos Judaizantes

    Foi necessário que os filipenses experimentassem Cristo a fim de vencer ainfluência dos judaizantes. Nós também precisamos experimentá-Lo, se quisermos

     vencer a oposição que enfrentamos. Não podemos vencer os “latidos” dos “cães”religiosos com algo que tenhamos em nós mesmos. A oposição é por demais severa paraser venci da pelos nossos 'próprios esforços. Para isso, precisamos da experiênciaadequada de Cristo. Precisamos experimentá-Lo de tal modo que O vivamos e O

    tomemos como nosso padrão, alvo e poder. Tal experiência de Cristo nos capacitará a

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     vencer toda a oposição.Quanto mais sofrermos oposição, mais devemos viver Cristo. Devemos ser como

    uma bola cheia de ar: quanto mais formos oprimidos, mais alto subiremos. Em certo

    sentido, devemos ser gratos por toda a oposição. Por causa dela, somos impulsionados.Entretanto, não é suficiente ficar despertos e agitados para resistir à oposição; devemosprosseguir para viver Cristo e engrandecê-Lo. Enquanto experimentamos Cristo,

     vencemos a influência negativa dos religiosos hoje.

    B. Para Discernir a Pregação de Cristo em Rivalidade

    Por meio da experiência de Cristo, também adquirimos discernimento quanto às várias maneiras de pregar a Cristo, em particular sobre a pregação de Cristo emrivalidade, ou discórdia (1:9-11). Quanto mais O experimentarmos, mais discernimentoteremos. De fato, o próprio Cristo irá tornar-se nosso discernimento, nossa percepção

    sensível, nosso tato moral. Experimentando Cristo, tornamo-nos sensíveis e hábeis.Esse tato não é natural e tampouco é obtido pela educação. Ele provém somente daexperiência de Cristo. Quando experimentamos Cristo, Ele se torna nossa percepção etato, o discernimento por meio do qual percebemos as intenções das pessoas. TendoCristo como nosso raio X, ninguém pode ocultar-se de nossa percepção. Todosprecisamos de tal discernimento.

    C. Para Participar no Progresso do Evangelho

    Precisamos igualmente experimentar Cristo de tal modo que participemos noprogresso do evangelho (1 :27 -30). Experimentando-O, somos habilitados a participar

    do mover de Deus em Sua economia.

    D. Para Abolir a Dissensão

    Finalmente, a experiência de Cristo visa abolir a dissensão (2:5, 12-16). A dissensão somente pode ser eliminada pela experiência de Cristo. Quanto maisexperiência de Cristo tivermos, menos dissensão teremos.

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    ESTUDO-VIDA DE FILIPENSES

    MENSAGEM DOIS

     A IGREJA EMFILIPOS

    Leitura Bíblica: Fp 1:1-11, 19,27; 2:1-2; 4:2, 14-18

    Nesta mensagem consideraremos algumas características importantes daigreja em Filipos. Filipos era a principal cidade na província da Macedônia, doantigo Império Romano (At 16:12). Na primeira viagem ministerial de Paulo àEuropa (At 16:10-12), uma igreja foi levantada ali; foi a primeira igreja na Europa.

    I. ESTABELECIDA EMBOA ORDEM

    Em Filipenses 1:1, Paulo diz: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todosos santos em Cristo Jesus que estão em Filipos, com os bispos e diáconos”(IBB-Rev.). Esse versículo indica que a igreja em Filipos foi estabelecida em boaordem. Repare que Paulo diz “os santos (...) com os bispos e diáconos”. Esse é oúnico trecho do Novo Testamento onde essa expressão é encontrada. É muitosignificativo que Paulo fale dos santos  com os bispos e diáconos. Em cada igreja, oúnico grupo que há são os santos. Os santos são os componentes da igreja numacidade. Entre eles há os líderes, que o Novo Testamento descreve como presbíterosou bispos [isto é, superintendentes, ou supervisores]. Os bispos são os presbíterosnuma igreja (At 20:17, 28). “Presbítero” denota a pessoa, enquanto “bispo” indica afunção. Quando um presbítero exerce sua função, ele exerce supervisão. Portanto, eleé um supervisor, ou superintendente. Aqui, são mencionados bispos em vez depresbíteros para indicar que os presbíteros desempenhavam adequadamente suaresponsabilidade de supervisionar.

    No segundo século, Inácio1 ensinava que os bispos, ou supervisores, sãosuperiores aos presbíteros. Ele afirmava que os presbíteros são locais e os bispos, ossuperintendentes, exercem autoridade numa área maior que a de uma cidade. Oconceito de Inácio, entretanto, é totalmente contrário às Escrituras. O NovoTestamento indica claramente que os presbíteros são bispos e os bispos são

    presbíteros. Os dois títulos referem-se à mesma pessoa. Quando um presbíterocumpre sua responsabilidade na igreja, ele age como superintendente. Ossuperintendentes, portanto, não são um grupo de pessoas diferentes dos presbíteros.

    Em 1:1, Paulo também menciona os diáconos. Os diáconos são os que servemnuma igreja sob a direção dos superintendentes (1 Tm 3:8). A palavra portuguesadiácono vem do grego diakonós, que significa alguém que serve.

    Filipenses 1:1, ao mostrar que uma igreja em uma cidade é composta de santos,com os superintendentes para liderar e os diáconos para servir, indica que a igrejaem Filipos estava em boa ordem. Paulo não disse: “A todos os santos e os bispos e

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    Inácio, bispo de Antioquia. Martirizado em Roma por volta de 135 d.C. (N. T.)

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    diáconos”; ele disse: “A todos os santos (...) com os bispos e diáconos”. A preposiçãogrega equivalente a   com   na verdade significa   juntamente com.   Se Paulo tivesseusado a conjunção “e” em vez da preposição “com”, indicaria que numa igrejadeveria haver três grupos de pessoas: os santos, os supervisores, ou bispos, e os

    diáconos. Mas ao usar “com” ele mostra que não existem três grupos na igreja.O conceito atual do cristianismo como organização é possuir várias classes de

    pessoas na igreja. No entanto, é contrário à Bíblia ter diferentes classes de crentes naigreja numa cidade. O Novo Testamento revela que numa igreja há um único grupo,e esse grupo é composto de todos os santos.

     Ao escrever sob a liderança do Espírito Santo, Paulo escreveu de maneiraponderada, cautelosa, usando a preposição “com” e não a conjunção “e”.  É  muitosignificativo que Paulo tenha usado a preposição em vez da conjunção. Isso indicaque em toda e qualquer cidade deve haver somente uma igreja, que deve incluirtodos os santos da cidade. Agradecemos ao Senhor, pois, a despeito de todas asdivisões, fomos restaurados à posição original da igreja: uma igreja numa cidade,incluindo todos os santos como um único grupo de pessoas.

    II. TINHA COMUNHÃONOPROGRESSODOEVANGELHO

     A igreja em Filipos também tinha comunhão com Paulo no progresso doevangelho. Em 1:5 Paulo fala de “vossa cooperação no evangelho, desde o primeirodia até agora”. O termo   cooperação  em grego é a mesma palavra traduzida porcomunhão,   e aqui significa   participação, intercâmbio.  A mesma palavra grega étraduzida por  coleta  em Romanos 15:26, ou  contribuição,  em algumas versões, emútua cooperação  em Hebreus 13:16. Os santos em Filipos tinham comunhão noevangelho, participando do progresso do evangelho por meio do ministério doapóstolo Paulo. Essa participação incluía suas contribuições financeiras ao apóstolo(4:10,15,16), o que resultou no progresso do evangelho. Esse tipo de comunhão, queos afasta do individualismo e de ter I2cnsamentos divergentes, demonstra a unidadedeles com o apóstolo Paulo e entre eles mesmos. Isso lhes proporcionou a base parasua experiência e desfrute de Cristo, que é o ponto principal desse livro. A vida queexperimenta e desfruta Cristo é a que promove o evangelho, prega um evangelho

     vivo e não é individualista, mas corporativa. Portanto, existe a “comunhão noevangelho”. Quanto mais comunhão temos no progresso do evangelho, mais deCristo experimentamos e desfrutamos. Isso elimina nosso ego, ambição, preferênciae escolha.

    Enquanto os crentes filipenses partilhavam do progresso do evangelho,prosseguindo com o mover de Deus na terra segundo Sua economia, elesparticipavam da graça com Paulo. Os que participam da graça são os quecompartilham e desfrutam o Deus Triúno processado como graça. O apóstolo era talpessoa na defesa e confirmação do evangelho, e os santos em Filipos eramco-participantes com ele nessa graça. Graça é o Deus Triúno processado como nossodesfrute. Tendo comunhão no evangelho juntamente com Paulo, os filipensesdesfrutaram essa graça. Conforme a expressão no grego, eles se tornaramparticipantes da graça de Paulo, da própria graça que ele desfrutava.

     A igreja em Filipos também orava por Paulo (1:19), completava a sua alegria efazia com que ele se regozijasse   (2:1-2),  e supria sua necessidade material. Não

    restam dúvidas de que essa igreja era muito boa.

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    III.HAVIADISSENSÕES ENTRE ELES

     Apesar de a igreja em Filipos ter sido estabelecida em boa ordem e tercomunhão com Paulo no progresso do evangelho, havia dissensão entre eles. Poresse fato vemos que é muito difícil evitar dissensão. Ela existe em qualquer lugar e aqualquer tempo. A fonte da dissensão são as nossas opiniões. As opiniões procedemda mente, a parte principal da alma. No livro de Filipenses, Paulo falafreqüentemente da alma, da mente e do pensar. Em 1 :27, ele usa a expressão “comuma só alma” (IBB-Rev.) e em 2:2, a expressão “unidos de alma”. Em 2:20, ele usa otermo “igual sentimento” [que em grego é, literalmente, alma].

    Nós, na vida da igreja, precisamos ser um na alma. Os cristãos freqüentementefalam de ser um no Senhor ou no Espírito, mas você já ouviu cristãos falarem de serum na alma? Enquanto não formos um na alma, não haverá a prática da nossaunidade. Nossa unidade será de dar as mãos por cima do muro. Os cristãos falamsobre unidade, mas ainda se apegam às suas opiniões divergentes. O conceito de

    Paulo sobre unidade era diferente. Em Filipenses ele deixa claro que precisamos serum na alma.Para ser um na alma, precisamos ser transformados e renovados na mente.

    Romanos 12:2 fala da transformação pela renovação da mente. É bem possível quesua mente seja muito velha. Isso pode ocorrer mesmo com os jovens. Contudo, sesua mente tem sido renovada, ela será nova e cheia de frescor, muito embora vocêseja alguém idoso. Posso testificar que Cristo nunca corrompeu minha mente demodo nenhum; pelo contrário, Ele a tem renovado.

    Uma razão para a velhice na mente é que nos lembramos das ofensas passadas. Anos atrás algo pode ter-lhe ocorrido, mas você ainda não está disposto a esquecê-lo.Isso mostra que, nessa questão, você não quer perdoar, pois o verdadeiro perdão

    implica no esquecimento da ofensa. Pela lembrança de ofensas do passado, algunssantos têm a mente envelhecida. Se a nossa mente é velha, ela nos causaráproblemas e nos levará à dissensão. Portanto, é crucial que todos tenhamos a menterenovada .

    O único defeito na igreja em Filipos era a dissensão causada pelas opiniõesdiferentes. Em   4:2   Paulo disse: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique pensemconcordemente, no Senhor”. Essas duas irmãs líderes eram cooperadoras de Paulo.No entanto, não tinham unanimidade no modo de pensar. As diferenças no modo depensar provavelmente não se referiam a questões seculares, mas ao mover de Deusna terra. Sobre isso, elas tinham opiniões divergentes na alma. Visto que eram uma

    no espírito, elas não estavam divididas. Mas, na prática, havia dissensão entre elaspor causa de conceitos diferentes. Essa dissensão era um defeito numa igreja tão boacomo a igreja em Filipos. Como resultado da dissensão entre eles, os santosfilipenses não tinham uma só alma na pregação do evangelho (1 :27).

    Em 2:2 e 4:2 vemos que os santos filipenses não pensavam a mesma coisa, nãotinham o mesmo amor, não eram unidos de alma, não tinham o mesmo parecer. A situação de alguns na restauração do Senhor é a mesma. Eles foram capturados peloSenhor para Sua restauração, conhecem a base da igreja e honram essa base daunidade. No entanto, não pensam a mesma coisa que o restante dos santos, não têmo mesmo amor e não estão unidos na alma. De fato, podem dizer que são um noespírito com todos os santos, mas não que são um na alma, que pensam a mesma

    coisa e têm o mesmo parecer.

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    Que significa pensar a mesma coisa e ter o mesmo parecer? Ambas asexpressões são encontradas em 2:2 (lit.). Em 4:2, Paulo rogou a Evódia e a Síntiqueque pensassem a mesma coisa. A mesma coisa é o próprio Cristo, e o mesmo parecerrefere-se a buscar Cristo a fim de ganhá-Lo, obtê-Lo e possuí-Lo. Não devemos

    considerar outra coisa além de Cristo como a “mesma coisa” a que Paulo se referiu.Muitos grupos cristãos têm algo que consideram ser a “mesma coisa”. De acordocom Paulo, porém, a “mesma coisa” é Cristo, e o “mesmo parecer” é o buscar a Cristopara possuí-Lo. O contexto de Filipenses deixa isso muito claro.

    Pensar a mesma coisa (Cristo), e ter o mesmo parecer (buscar a Cristo a fim deganhá-Lo) faz com que nossa mente seja tratada e renovada. Ser renovado na menteé sofrer mudança metabólica, na qual o elemento velho é descartado e um elementonovo é provido. Algo de Cristo é infundido em nosso ser para remover o elemento

     velho e substituí-lo. Esse processo faz com que nossa mente seja renovada. Mesmoos jovens possuem muitas coisas velhas que precisam ser eliminadas e substituídaspelo elemento de Cristo.

    Precisamos permitir que Cristo se tome esses elementos positivos em nós, quenos renovam a mente. Enquanto muitos usam sua inteligência natural de modonegativo, talvez para cometer ofensas ou outras coisas negativas, devemos serencorajados a colocar a mente em Cristo e permitir que seja ocupada por Ele. Se elanão for renovada, haverá dissensão entre nós como houve entre alguns dos santosfilipenses. Visto que se apegavam à mente natural com sua velhice, existia essedefeito entre eles.

    IV.NECESSITAVAMDEMAIS CONHECIMENTOE DISCERNIMENTO

     A. No Amor Abundante

     A excelência dos escritos de Paulo é mostrada de tal forma, que ele não apontadiretamente o defeito dos santos filipenses. Ele não disse: “Caros filipenses, queroque saibais que sois deficientes no amor”. Em vez disso, em 1:9 ele disse:

    “E isto peço em oração: que o vosso amor aumente mais e   mais   no plenoconhecimento e em todo o discernimento” (IBB-Rev.). Essas palavras indicam que oamor deles não era adequado nem suficiente. Paulo admitia que os crentes filipensespossuíam certa porção de amor, mas ainda havia necessidade de que o amor delesabundasse mais e mais.

    É significativo que Paulo orasse para que o amor deles aumentasse “no plenoconhecimento e em todo o discernimento”. Os crentes filipenses tinham muito amor.

    No entanto, o amor deles precisava abundar, transbordar mais e mais, não de modonéscio, mas no pleno conhecimento; não na ignorância, mas em todo odiscernimento, a fim de que pusessem à prova e aprovassem as coisas que diferempela excelência. Isso devia incluir o discernimento das diferentes pregações doevangelho em 1:15-18 e dos vários tipos de pessoas mencionados em 3:2-3.

    Paulo não orou para que o amor dos filipenses aumentasse quanto ao zelo ou àafeição de um bom coração. Como todos sabemos, amor relaciona-se a emoção. Noentanto, Paulo orou para que o amor deles aumentasse no pleno conhecimento e emtodo o discernimento, relacionados com a mente. Segundo a experiência humana, oamor é cego. Quando alguém calmo, sóbrio e inteligente se esforça para ter mente

    sóbria, o amor se vai. É como se o fato de ser amável não pudesse coexistir com uma

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    mente sóbria. Ou um irmão ama a esposa tolamente, ou tem entendimento claro emente sóbria e torna-se frio no amor por ela.

    Paulo orou para que nosso amor aumentasse mais e mais no plenoconhecimento e em todo o discernimento. A palavra grega traduzida por

    discernimento   significa   percepção sensível, tato moral.   Discernimento é ahabilidade de sentir as coisas. Paulo não queria que os filipenses amassem de modonéscio. Pelo contrário, ele os encorajou a que amassem com mente cheia deconhecimento e discernimento, com percepção sensível e tato moral.

    O conhecimento e discernimento sobre os quais Paulo fala em 1:9 são, na verdade, o próprio Cristo. Quando experimentamos Cristo, Ele se torna nossoconhecimento e discernimento. O motivo de termos falta de conhecimento ediscernimento para distinguir as diferentes pregações é que somos carentes daexperiência de Cristo.

    B. Para Discernir as Diferentes Pregações de Cristo e os DiferentesTipos de Pessoas

    De acordo com o contexto de 1:9, o que Paulo quer dizer é que os filipensesprecisavam de conhecimento e discernimento para distinguir entre a pregação dePaulo e a dos crentes judaizantes. Nós também precisamos discernir os muitos tiposde pregação. Entre os cristãos, há muitas maneiras de pregar Cristo. Em todas elas,há pontos bons. Se não houvesse nenhum ponto bom em certa maneira de pregar,ninguém prestaria atenção. Mas apesar de essas pregações terem característicaspositivas, devemos perguntar se elas visam à economia de Deus, ao Seu mover naterra. No seu íntimo, Paulo percebia que alguns filipenses tinham-se distraído com apregação dos judaizantes. Nesses versículos, ele parecia dizer: “Filipenses, alguns de

     vocês foram desviados da economia de Deus pela pregação dos crentes judaizantes.Concordo que vocês precisem amar tais pessoas. Entretanto, seu amor deve abundarno pleno conhecimento e em todo o discernimento. Não amem os outros tolamente;amem-nos sobriamente, com conhecimento e percepção sensível”.

    Discernimento é o poder de percepção, a habilidade de perceber as questões demaneira sensível. Alguns pregadores famosos podem ter conhecimento e eloqüência.Mas se tivermos discernimento, perceberemos que o alvo de suas pregações é oprogresso de sua própria obra, e não da economia de Deus. Para discernir a pregaçãodos outros dessa maneira, precisamos de mais experiência de Cristo. Somente aexperiência de Cristo pode fazer com que o amor abunde em nós no pleno

    conhecimento e em todo o discernimento. Enchidos com tal amor, amaremos osoutros, mas não de maneira tola.Sem dúvida, alguns dos santos filipenses apreciavam a pregação dos crentes

     judaizantes. Por essa razão, Paulo orou para que o amor deles por esses crentesabundasse no pleno conhecimento e em todo o discernimento. Ele os encorajou aamar, mas com conhecimento e discernimento, e não de maneira tola e cega.

    C. Pôr à Prova Sendo Sinceros e Sem Ofensa

    Paulo também orou para que os filipenses aprovassem “as coisas excelentes” afim de que fossem “sinceros, e sem ofensa até o dia de Cristo” (1:10, IBB-Rev.). A 

    palavra grega para “sincero” significa julgado pela luz do sol, isto é, provado e

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    aprovado como autêntico; daí, sincero, puro. Ser sem ofensa significa não serofensivo, não fazer com que os outros tropecem. Ao discernir as coisas, precisamosser sinceros. Em particular, os motivos em nosso coração devem ser sinceros. Casocontrário, ofenderemos os outros. Não é fácil ter discernimento de maneira sincera e

    inculpável. Isso depende muito de nossa intenção.

    D. Pela Experiência de Cristo, que Resulta no Fruto de Justiça

    Nos versículos 9 e 10 Paulo orou por três coisas em favor dos filipenses: que oamor deles aumentasse mais e mais no pleno conhecimento e em todo odiscernimento, que pusessem à prova e aprovassem as coisas que diferem pelaexcelência (lit.) e que fossem sinceros e sem ofensa até o dia de Cristo. O segredodessas três questões é encontrado no versículo 11, onde Paulo fala de ser “cheios dofruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus”.Segundo a gramática, o versículo 11 modifica os três itens pelos quais Paulo orou.

    Uma vez cheios do fruto de justiça, os filipenses poderiam abundar no amor, aprovaras coisas excelentes e ser sinceros e sem ofensa. Isso indica que ser enchido do frutode justiça, mediante Jesus Cristo,   é   uma condição necessária para essas trêsquestões. A fim de que nosso amor aumente mais e mais, que aprovemos as coisasexcelentes e que sejamos sinceros e sem ofensa, devemos primeiramente serenchidos do fruto de justiça, o qual é mediante Jesus Cristo.

    O versículo 11, na verdade, refere-se à experiência de Cristo. Uma vez mais vemos que a chave é a experiência de Cristo. Sabemos que esse versículo refere-se àexperiência de Cristo, por causa da expressão “mediante Jesus Cristo”. O fruto de

     justiça é  mediante Cristo. Ele chega a nós, mediante nossa experiência de Cristo. A partir do Cristo que desfrutamos e experimentamos, temos o fruto de justiça.Quanto mais O experimentamos, mais essa experiência resultará no fruto de justiça.Tal fruto é o produto vivo de um viver adequado, com uma posição justa diante deDeus e dos homens. Isso não ocorre por meio do homem natural dos crentes para

     vanglória deles, mas por meio de Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus. Nossoamor, portanto, deve aumentar mais e mais, de tal maneira que seja de acordo com aeconomia de Deus. Se experimentarmos Cristo, nosso amor aumentará mais e mais,aprovaremos as coisas que diferem e ela excelência e seremos sinceros e sem ofensa.

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    ESTUDO-VIDADE FILIPENSES

    MENSAGEM TRÊS

    O SOFRIMENTODEPAULO PELOEVANGELHOE SEUDESFRUTEDA GRAÇA 

    Leitura Bíblica: Fp 1:7-8, 12-14, 16-17, 28-30

    Nesta mensagem consideraremos o sofrimento de Paulo pelo evangelho e seudesfrute da graça. É-nos fácil entender essas questões de maneira natural. Noentanto, ao lidar com coisas espirituais, precisamos ir além do entendimento naturalou tradicional. De acordo com Filipenses, sofrer pelo evangelho e desfrutar a graçasão questões profundas.

    Sofrer pelo evangelho significa estar na terra somente pelo interesse daeconomia de Deus e preocupar-se com o cumprimento de tal economia. O evangelhoinclui a economia de Deus, e sofrer por ele requer participação nessa economia.

     Assim, sofrer pelo evangelho, na verdade, significa tomar parte no cumprimento daeconomia divina.

    Os escritos de Paulo indicam que ele sofria pelo evangelho. Entretanto, oevangelho pelo qual ele sofria não era inferior nem superficial. Ele sofria peloevangelho no sentido de que estava na terra pelo cumprimento da economia de Deus.Ele não pregava o evangelho apenas para que as pessoas cressem em Jesus como seu

    Salvador e fossem para o céu. A pregação de tal evangelho limitado não requersofrimento. Ao pregar o evangelho de acordo com a economia de Deus, Paulorenunciou à religião, à lei, à cultura, às ordenanças, aos costumes, aos hábitos e atoda forma de “ismo”. O evangelho que Paulo pregava aniquilava tudo o queestivesse fora da economia divina. Aniquilava a religião, a política e a cultura. Emcerto sentido, aniquilava até mesmo a nós. Por ter pregado tal evangelho, Paulo eraconsiderado um causador de problemas, uma peste (At 24:5).

    Muito embora sua pregação do evangelho aniquilasse tudo o que fossecontrário à economia de Deus, Paulo referia-se ao evangelho ele como o evangelhoda paz (Ef 2:17; 6:15). Em Efésios 2:17, Paulo ressaltou que Cristo, após Suacrucificação e ressurreição, veio aos gentios pregando o evangelho da paz. A paz

    somente é possível quando tudo o que for contrário ao evangelho tiver sidoaniquilado. A fim de que houvesse paz entre nós e Deus e de uns para com os outros,a religião, a política, a cultura, as ordenanças e a lei tinham de ser eliminadas. Porter Paulo pregado um evangelho que envolvia a aniquilação de tantas coisas, suapregação não era agradável aos homens. Ele não podia agradar nem aos judeus nemaos gentios. Ele somente podia agradar ao próprio Deus. Sua pregação era umaofensa à religião, à política, à cultura e a toda espécie de “ismo”.

    Se pregarmos o evangelho à maneira de Paulo, também sofreremos. Noentanto, se pregarmos o evangelho de maneira açucarada, seremos bem recebidospor todos. Em tal caso, não seremos os que sofrem pela economia de Deus.

    Não entenda a questão de sofrer pelo evangelho de acordo com o conceito

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    natural. Sofrer pelo evangelho, como salientamos, é ser firme pelo interesse daeconomia de Deus. Uma vez firmes na restauração do Senhor, preocupados com ocumprimento da economia divina, nosso destino é sofrer pelo evangelho.

    O evangelho que pregamos na restauração do Senhor é contrário à religião. Em

    nosso Estudo-Vida de Apocalipse salientamos que, de acordo com Apocalipse  2  e 3,o judaísmo é satânico, o catolicismo é demoníaco e o protestantismo é sem Cristo.Como uma palavra dessas poderia agradar a quem está na religião? Falar dessemodo, entretanto, é simplesmente concordar com os termos usados pelo SenhorJesus em Apocalipse. Foi Ele que usou a expressão: “sinagoga de Satanás” (Ap 2:9).Será que tal expressão não indica que, aos olhos do Senhor, o judaísmo tornou-seum sistema satânico? Além do mais, com relação a Tiatira, que tipifica o catolicismo,o Senhor fala das “coisas profundas de Satanás” (Ap 2:24). Essa expressão refere-seaos mistérios profundos, satânicos. Certamente, tais coisas são demoníacas. Comrelação a Laodicéia, vemos que Cristo está do lado de fora da porta da igreja (Ap3:20). Essa é a razão de dizermos que, num sentido bem real, o protestantismo ésem Cristo, pois Cristo está do lado de fora. Um sentimento semelhante foi expressopor A. W:Tozer num artigo intitulado   The Waning Authority of Christ in theChurches   (O   Declínio da Autoridade de Cristo nas Igrejas).  Mesmo o artigo deTozer indicava que o protestantismo é sem Cristo. Se pregarmos o evangelho dessamaneira, devemos esperar oposição. Ao pregar o evangelho, nosso alvo não éagradar às pessoas, tampouco ofendê-las. É simplesmente proclamar a verdade deDeus. No entanto, a verdade de Deus aniquilará muitas coisas. Portanto, os quepregam o evangelho para o cumprimento da economia de Deus na terra sofrerão porcausa do evangelho.

    Juntamente com o sofrimento pelo evangelho, há sempre o desfrute da graça.

    Se você sofrer pela economia de Deus, terá esse desfrute. Posso testificar que, emmeio a todas as oposições enfrentadas, eu, de fato, desfruto a graça do Senhor. Osofrimento pela economia de Deus introduz o suprimento da graça. Esse desfrute dagraça relaciona-se ao sofrimento em favor do evangelho.

    Desfrutar a graça é ter a real experiência de Cristo, pois a graça quedesfrutamos é o próprio Cristo. Não creio que os que pregam o evangelho do modoque agrada aos homens, saibam algo sobre o desfrute da graça. Esteja certo de queos crentes judaizantes que pregavam o evangelho em contenda com Paulo nãotinham o desfrute de Cristo como graça. A pregação deles não podia introduzirCristo como graça para seu desfrute. Já reforçamos que graça é nada menos que oDeus Triúno processado para nosso desfrute. Alguns podem questionar esse

    entendimento da graça, querendo saber se é correto dizer que graça é o Deus Triúnoprocessado para nosso desfrute. Considere a palavra de Paulo em 2 Coríntios 13:13:“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santosejam com todos vós”. Aqui vemos o Deus Triúno para nosso desfrute. Graça,portanto, é a experiência do Cristo que em nós habita, o qual é o Deus processadocomo nosso desfrute. Quanto mais sofrermos pela economia de Deus na terra, maisdesfrutaremos tal Cristo.

    Se eu não falasse a palavra do Senhor em Apocalipse 2 e 3 sobre o judaísmo, ocatolicismo e o protestantismo, sem dúvida poderia ganhar muitos amigos por meioda minha pregação do evangelho. Entretanto, eu perderia o desfrute de Cristo, oúnico Amigo. Na minha tentativa de agradar às pessoas, eu Lhe desagradaria. Não

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    estou interessado em trocar o favor de Cristo pelo dos homens. Assim como Pauloem Filipenses 3, desejo considerar tudo como perda por causa de Cristo. Tambémdesejo sofrer a perda de todas as coisas por causa do desfrute da graça. Não fuicomissionado pelo Senhor para agradar a homem. Quando chegamos à questão da

    economia de Deus, não há lugar para concessões. Tudo o que é contrário à economiade Deus deve ser eliminado por meio da verdade de Deus. Assim como Paulo, nãotemos escolha nessa questão.

    De acordo com Filipenses, Paulo não sofreu apenas por ter pregado oevangelho, mas em particular porque defendia o evangelho e o confirmava. Vimosque o evangelho relaciona-se à economia de Deus, ao Seu mover na terra para ocumprimento de Seu propósito eterno. Quando Paulo escreveu aos filipenses, algunspregadores pervertiam esse evangelho e o distorciam. Paulo levantou-se paradeclarar que no evangelho de Deus não há lugar para o judaísmo ou a filosofia grega.Ele foi posto para a defesa do evangelho (1:16, IBB-Rev.). Além disso, ele oconfirmava pregando dois mistérios: Cristo, como o mistério de Deus, e a igreja,como o mistério de Cristo. Embora outros pregassem a Cristo, eles não eram a favordo cumprimento desses mistérios. O mesmo acontece entre os cristãos hoje. Hámuita obra missionária e pregação do evangelho, mas poucos pregadorespreocupam-se adequadamente com Cristo, que é o mistério de Deus, muito menoscom a igreja, que é o mistério de Cristo. Muitos preferem evitar falar sobre a igreja.Portanto, não existe muita confirmação do evangelho hoje. O Senhor nós temincumbido não somente da defesa do evangelho, mas também da sua confirmação.Isso significa que nos preocupamos com o cumprimento dos dois mistérios. Por isso,sofremos oposição.

    Se pregar o evangelho apenas de maneira superficial, sem defendê-lo nem

    confirmá-lo, você será acolhido calorosamente. Nos primeiros anos do meuministério, um pastor idoso disse que se eu pregasse à maneira deles, todos oscristãos na cidade me acolheriam e ficariam contentes comigo. Todavia, se eupersistisse em falar daquele modo, disse ele, muitos se ofenderiam. Ele me avisoucom boas intenções. Mas tive de dizer-lhe que eu não tinha escolha nessa questão.Daquele dia até agora, tenho tido minha parte no sofrimento pelo evangelho. Mas

     juntamente com o sofrimento, tenho tido rico desfrute de Cristo. Ele, de fato, temsido graça para mim, para meu desfrute.

    Muitos entre nós podem testificar que antes de virmos para a vida da igreja,conhecíamos muito pouco sobre o desfrute de Cristo. Você teve o rico desfrute deCristo quando estava num grupo cristão? Fora da vida da igreja, não há lugar onde

    tenhamos o desfrute adequado de Cristo. Se você não acredita no que digo,encorajo-o a viajar e procurar um lugar onde possamos desfrutar Cristo mais do queo fazemos na vida da igreja. Em 1948, encorajei um irmão, que estava cheio dequeixas sobre a igreja, a encontrar lugar melhor e, feito isso, viesse informar-mepara que eu pudesse ir com ele. No entanto, ele nunca me relatou ter encontrado umlugar onde houvesse mais desfrute de Cristo do que na igreja. Sim, na vida da igrejaexperimentamos sofrer pelo evangelho, mas também temos graça, o Deus Triúnoprocessado para nosso desfrute. O que desfrutamos é muito melhor do que qualquercoisa eliminada pela pregação da verdade de Deus.

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    I. O SOFRIMENTODEPAULO PELOEVANGELHO

     A. EmCadeias

    Quando Paulo escreveu aos filipenses, ele estava sofrendo pelo evangelho. Em

    1:7, 13, 14 e l7 ele se refere às suas cadeias, isto é, ao seu aprisionamento. Isso indicaclaramente que Filipenses foi escrito na prisão. Embora Paulo fosse prisioneiro, suaprisão tornou-se uma casa de vinho, uma casa de banquete, pois ali ele desfrutava oSenhor. O versículo 7, no qual ele fala sobre participar da graça, indica isso. Pauloestava em cadeias, mas desfrutava a graça. Esse versículo mostra clara eenfaticamente que, para ele, a prisão era um lugar de festa e não apenas desofrimento.

    B. Por Causa daDefesa e Confirmação doEvangelho

     A prisão de Paulo foi devida especialmente à defesa e confirmaçãodo

    evangelho (1:7). 1. Defender o Evangelho, do Lado Negativo, das Heresias Perversivas e

     Deturpadoras

     A defesa do evangelho está relacionada, do lado negativo, com as heresiasperversivas e deturpadoras, tais como o judaísmo com o qual Paulo lidou em Gálatase o gnosticismo em Colossenses. O judaísmo pervertia o evangelho; o gnosticismo ea filosofia grega o deturpavam. Paulo defendia o evangelho de toda perversão edistorção herética. Considere sua experiência com Pedro em Antioquia. Emborativesse recebido a visão acerca dos gentios em Atos 10, Pedro afastou-se de comercom os gentios em Antioquia. Nessa questão, ele não tomou posição pela verdade do

    evangelho. Pelo contrário, perverteu essa verdade. Portanto, Paulo resistiu a ele facea face e o repreendeu. Paulo era inigualável em defender o evangelho da perversão edistorção. De acordo com o relato do Novo Testamento, ele foi o que tomou aposição mais firme contra tudo o que pervertesse e deturpasse o evangelho. Essa foia razão da maioria dos seus sofrimentos. No entanto, a graça que ele desfrutavasobrepujava esses sofrimentos.

     2. Confirmar o Evangelho, do Lado Positivo, com Toda a Revelação dos

     Mistérios de Deus a respeito de Cristo e a Igreja

     A confirmação do evangelho relaciona-se, do lado positivo, a todas as

    revelações dos mistérios de Deus concernentes a Cristo e a igreja, como desvendamas Epístolas de Paulo. Nos seus escritos, são desvendados os dois grandes mistérios:Cristo, o mistério de Deus, e a igreja, o mistério de Cristo. Nenhum outro apóstolodesvendou esses mistérios tão adequadamente como Paulo. Esteja certo de que seuensinamento e pregação eram confirmação do evangelho e da economia de Deus.

     Ao contrário de Paulo, que era absoluto pela defesa e confirmação doevangelho, muitos pregadores hoje são frouxos nessa questão. Eles parecem não tercoluna vertebral. Em vez de lidar com os pontos principais da economia de Deus,alguns deles simplesmente dão mensagens açucaradas para alegrar as pessoas. Mas,nós, na restauração do Senhor, devemos defender o evangelho e confirmá-lo. Por um

    lado, devemos defendê-lo dos ensinamentos que o pervertem e distorcem; por outro,

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    crente tem com Cristo ao crer Nele. Crer em Cristo é ter o nosso ser imergido Nele,para que sejamos organicamente um. Sofrer por amor de Cristo, após recebê-Lo etornar-nos um com Ele crendo, é participar de Seus sofrimentos e ter comunhãocom eles (3:10), a fim de experimentá-Lo e desfrutá-Lo em Seus sofrimentos. Isso é

     vivê-Lo e engrandecê-Lo numa situação que O rejeita e se Lhe opõe.Em 1:30 Paulo conclui: “Pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e,

    ainda agora, ouvis que é o meu”. Paulo era um padrão estabelecido pela graça deDeus para Sua economia neotestamentária (1Tm 1:14-16). Os crentes do NovoTestamento devem experimentar e desfrutar Cristo vivendo-O e engrandecendo-O,como Paulo fez em seus sofrimentos por Cristo, para que sejam participantes comele da graça.

    II. PAULODESFRUTAVAA GRAÇA 

     A. Participar da Graça

    Em 1:7 Paulo diz aos filipenses que eles são “participantes da graça comigo”.Participantes da graça são os que tomam parte e desfrutam do Deus Triúnoprocessado, como graça. O apóstolo era tal pessoa na defesa e confirmação doevangelho, e os santos em Filipos eram co-participantes com ele nessa graça. Paulo,pela graça, suportou todos os sofrimentos pelo evangelho. Ao tomar parte nessedesfrute da graça com Paulo para o progresso do evangelho, os crentes filipenseseram um com ele tanto em seu sofrimento como no desfrute da graça.

    B. Experimentar as Entranhas de Cristo

    Em 1:8 Paulo prosseguiu: “Porque Deus me é testemunha das saudades que detodos vós tenho, em entranhável afeição de Jesus Cristo” (VRC). Esse versículoindica que Paulo experimentava as entranhas de Cristo. A palavra grega traduzidapara   entranhável afeição   significa   entranhas, afeição interior,   portanto,   ternamisericórdia e simpatia.  Paulo era um com Cristo, mesmo em Suas entranhas, asternas partes interiores, na saudade pelos santos.

    Os versículos 7 e 8 completam-se e não deveriam estar separados. Note que o versículo 8 começa com a conjunção “pois”. Isso indica que a graça relaciona-se comas entranhas de Cristo. Paulo participou da graça, pois ele sentia saudades de todosos santos nas entranhas de Cristo. Desfrutar Cristo é ser um nas entranhas de Cristo.Isso se refere não somente ao desfrute, mas também a viver Cristo. Viver Cristo é

    permanecer nas Suas entranhas e ali desfrutá-Lo como graça. Ainda nesse capítulo Paulo fala de engrandecer e viver Cristo. Na experiência,

    engrandecer e viver Cristo requer que permaneçamos nas Suas entranhas. Empalavras simples, é permanecer Nele. Se quisermos ser os que estão em Cristo,devemos estar em Suas entranhas. Precisamos estar em Seu terno coração esentimentos refinados. Se aí permanecermos, desfrutaremos Cristo como graça e Oexperimentaremos de forma muito prática. Enquanto O experimentamos edesfrutamos como nossa graça, somos sustentados no sofrimento pelo evangelho,preocupando-nos com o cumprimento da economia de Deus na terra.

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    ESTUDO-VIDADE FILIPENSES

    MENSAGEMQUATRO

     AS DIFERENTESMANEIRAS DE PREGARA CRISTO

    Leitura Bíblica: Fp 1:15-21

    Em 1:7-11 Paulo utiliza diversos termos importantes. Ele fala de defesa doevangelho, confirmação do evangelho, pleno conhecimento, todo o discernimento,aprovação das coisas excelentes e fruto de justiça. No versículo 8, ele até se refere à“entranhável afeição de Jesus Cristo” (VRC). A chave para entender esses versículos etodos os termos e expressões que contêm é a experiência de Cristo. A experiência deCristo é a chave mestra que abre a porta do livro de Filipenses. É correto dizer que adefesa do evangelho, a confirmação do evangelho, o conhecimento, o discernimento, aaprovação, a pureza e o fruto de justiça são todos o próprio Cristo. Sim, mesmo a defesado evangelho é Cristo. Sem Cristo, não há como defendê-lo. Somente podemosdefendê-lo por meio de Cristo, e não da eloqüência. É possível pregar o evangelho e atémencionar Cristo com freqüência sem ter a Sua realidade em nosso falar. Em talpregação, não há o ministrar de Cristo às pessoas. A maneira de defender o evangelho éministrar Cristo. Cristo também é a real confirmação do evangelho, pois é acentralidade, o foco do evangelho. Sem Ele, não há como confirmar o evangelho.

    O verdadeiro conhecimento e discernimento são também o próprio Cristo. Se Oexperimentarmos dia após dia, seremos enchidos com conhecimento e discernimento.Discerniremos questões não pela inteligência natural, mas por meio de Cristo, que viveem nós. Experimentá-Lo nos fará sábios e sensíveis. O Cristo em nosso interior é nossopoder de percepção. Embora fosse sequioso do Senhor quando jovem, eu não sabia queEle pudesse ser meu discernimento, meu tato e minha percepção. Com o passar dosanos, entretanto, vim a perceber que Ele é a própria habilidade por meio da qual possoexaminar a natureza das coisas. O Cristo em meu interior é minha percepção.

     Ao ler Filipenses, precisamos lembrar-nos de que a experiência de Cristo é o seutema e a ênfase principal. O fator determinante que nos capacita a entendê-lo é aexperiência de Cristo. Cada aspecto do livro é governado por esse tema. Essa é a razão

    de dizermos que a experiência de Cristo é a chave mestra que nos abre o livro deFilipenses. Se aplicarmos essa chave a cada versículo e frase do livro, veremos que apreocupação de Paulo não é outra senão a experiência de Cristo. Por exemplo, ao sofrerpelo evangelho, podemos desfrutar graça. Desfrutar graça é experimentar Cristo. EmFilipenses 3, Paulo não fala sobre graça, mas sobre o poder da ressurreição de Cristo.Entretanto, o poder da ressurreição no capítulo três é a própria graça no capítulo um.

     Além disso, entrar na comunhão dos sofrimentos de Cristo é sofrer pelo evangelho. Issoindica que, mesmo no sofrimento por causa do evangelho, precisamos experimentarCristo. Apesar de utilizar muitos termos nesse livro, o assunto de Paulo é um só: aexperiência de Cristo. Portanto, se desejamos entender Filipenses, precisamos lê-lo àluz do fato de que seu tema é a experiência de Cristo.

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    Nesta mensagem consideraremos as diferentes maneiras de pregar a Cristo. Deacordo com 1:15-17, alguns pregam a Cristo por inveja e contenda, anunciando-O pordiscórdia; já outros O pregam por amor, com intenção pura. Nessa questão, a situação

    hoje é semelhante à que Paulo enfrentou no primeiro século. Quando ele escreveu aosfilipenses, existiam diferentes maneiras de pregar a Cristo. Ocorre o mesmo hoje.

    I. PREGARA CRISTOPORMOTIVO IMPURO

    Em 1:15 Paulo diz: “Verdade é que alguns pregam a Cristo até por inveja econtenda” (IBB-Rev.). “Alguns”, refere-se aos cristãos que se opunham a Paulo e ao seuministério (2Co 10:7;   11:22-23). Mesmo naquela época, havia alguns que pregavam oevangelho por inveja da influência de Paulo e por contenda com ele. Como indica apalavra grega traduzida por   contenda (porfia,  na VRA), eles pregavam a Cristo porfacção e partidarismo. Em 1: 17 Paulo também diz: “Aqueles, contudo, pregam a Cristo,

    por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias”. A palavra grega traduzida para discórdia denota busca pessoal, ambição egoísta, facção.No grego, a palavra   tribulação   significa   pressão;   os que pregavam a Cristo pordiscórdia esforçavam-se por fazer com que as cadeias de Paulo o pressionassem maisseveramente depreciando-o e ao seu ministério, enquanto ele era privado de pregar.

     A tribulação de Paulo na prisão não se devia principalmente à sua pregação doevangelho, mas à sua defesa do evangelho. Os judaizantes misturavam o evangelho coma lei e a circuncisão, mas Paulo o defendia. Isso causou o tumulto que o colocou naprisão (At 21:27-36).

    II. PREGARA CRISTOCOM INTENÇÃOPURA Em 1: 15 Paulo diz também que alguns pregavam a Cristo de boa mente

    (IBB-Rev.). Esses eram os que tinham comunhão, participação na pregação doevangelho com Paulo e trabalhavam juntamente com ele pela defesa do evangelho,pregando a Cristo por amor.

    É  pensamento comum entre os cristãos que, uma vez que creiamos em Cristocomo Salvador, adoremos o mesmo Deus, ensinemos a Bíblia e preguemos o evangelho,tudo está bem. Embora todos os cristãos creiam no mesmo Senhor Jesus, adorem omesmo Deus, ensinem a mesma Bíblia e preguem o evangelho, eles podem terdiferentes maneiras de pregar a Cristo. Fica evidente pelas palavras de Paulo em 1:

    15-17 que, mesmo no primeiro século, havia diversas maneiras de pregar a Cristo. TantoPaulo como os crentes judaizantes pregavam a Cristo, mas divergiam muito napregação.

    Por haver diferentes maneiras de pregar a Cristo, precisamos de conhecimento ediscernimento. Essa é a razão de Paulo ter orado pelos filipenses: “Que o vosso amoraumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento” (1:9 -IBB-Rev.). Precisamos de discernimento quanto às diferentes pregações de Cristo. Oscristãos por todo o mundo pregam a Cristo. No entanto, não devemos pensar que,apenas porque todos pregam o mesmo Cristo, tudo esteja bem. Precisamos perceberque há diferentes maneiras de pregá-Lo, e discernir entre elas. Por isso, nestamensagem temos o encargo de falar das diferentes maneiras de pregar a Cristo.

    Com relação ao evangelho, Paulo utiliza, em Filipenses, vários termos.

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    significativos: “Comunhão no evangelho” (1:5 - lit.), “defesa e confirmação doevangelho” (1 :7), “o progresso do evangelho” (1:12), “fé do evangelho” (1:27 IBB-Rev.).Todos precisamos ter entendimento claro desses aspectos do evangelho e não  tomá-los

    como se já os entendêssemos. Sempre que lemos essas expressões em Filipenses, devehaver em nós uma profunda reação.

    Os cristãos freqüentemente falam de pregar o evangelho; entretanto, raras vezesos ouvimos falar de ter comunhão no evangelho ou com vistas ao evangelho. Mesmonós não estamos muito familiarizados com esse termo nem estamos acostumados autilizá-lo. O termo “comunhão no evangelho” pode parecer uma expressão estrangeira.Isso indica que ainda estamos sob a influência do passado religioso, nãoadequadamente familiarizados com a terminologia utilizada por Paulo com relação aoevangelho. Aprendamos a utilizar a linguagem de Paulo com respeito. ao evangelho.Falemos sobre a comunhão do evangelho, a defesa do evangelho, a confirmação doevangelho, o progresso do evangelho e a fé do evangelho.

     Ao pregar o evangelho, hoje, muitos cristãos o fazem sem dar lugar à comunhãodo evangelho. Eles não se engajaram na defesa do evangelho nem se exercitam pelaconfirmação do evangelho. A pregação deles não leva ao progresso do evangelho, epodem até mesmo não ter entendimento adequado da fé do evangelho. Por essa razão,existem I diferentes maneiras de pregar a Cristo. A pregação de Paulo, incluíacomunhão, defesa, confirmação, progresso e fé. Mas quando os crentes judaizantespregavam a Cristo, pregavam-No de forma totalmente diferente. Em vez de pregá-Lo àmaneira da comunhão, eles O pregavam por inveja. Em vez de pregá-Lo pela defesa doevangelho, eles o faziam por contenda. Sim, os crentes judaizantes de fato pregavam aCristo, mas sua pregação não era pela confirmação do evangelho, pelo contrário,

    pregavam-No por discórdia, facção e ambição egoísta. Em vez de todos os aspectospositivos do evangelho, havia inveja, contenda e discórdia. Tal pregação não resultavano progresso do evangelho.

    Em princípio, a situação atual é a mesma da época de Paulo. Muitos pregam aCristo, mas nessa pregação podemos discernir inveja, contenda e discórdia em lugar decomunhão, defesa, confirmação, progresso e fé. Portanto, precisamos adotar o

     vocabulário de Paulo sobre o evangelho e de maneira adequada, com humildade e amor,partilhar isso com outros crentes que estejam abertos a nós. Talvez o Senhor dê amuitos jovens uma oportunidade de compartilhar com os pais o que Paulo quis dizercom comunhão do evangelho e com defesa e confirmação do evangelho.

     A Bíblia é profunda e difícil de entender, e não nos devemos contentar com um

    entendimento superficial dela. Ao procurar conhecer a Bíblia, nós nos preocupamoscom a pura Palavra, e não com os séculos de tradição nem com as opiniões dosconselhos da igreja. Precisamos aprender a cavar as profundezas da Palavra, buscandoo significado correto dos diferentes vocábulos, termos e expressões. Então precisamosutilizar o vocabulário da Bíblia em nossa conversa. Não nos importamos com tradiçãoou com a teologia sistemática do homem. Importamo-nos somente com a santa Palavrade Deus.

    Se ficarmos familiarizados com a terminologia de Paulo acerca do evangelho, veremos que muitos dos diferentes ensinamentos do evangelho são muito superficiais.Há determinados pregadores e mestres que descobriram alguns dos tesouros naPalavra de Deus. Todavia, muitos dos que os seguiram negligenciaram essas riquezas,

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    freqüentemente dando mais valor a determinada tradição teológica do que ao verdadeiro entendimento da Palavra de Deus. Nós, na restauração do Senhor, nãodevemos ficar satisfeitos com uma pregação superficial do evangelho; devemos

     voltar-nos à Bíblia e cavar as riquezas nela contidas. Agradecemos ao Senhor que, naSua misericórdia, nós, na restauração, desfrutamos essas riquezas.

    Muitas das pregações hoje não são saudáveis. Nelas, algo é apresentado àspessoas, mas não é comida saudável. Pelo contrário, é doce e coberto de açúcar,agradável ao paladar, mas carente de nutrientes. Devemos ser capazes de discernirentre essa pregação e a pregação de Cristo segundo a economia divina.

    III. O REGOZIJODOAPÓSTOLONOS DOISTIPOS DEPREGAÇÃODECRISTO

    Em 1: 18 Paulo declara: “Todavia, que importa? Urna vez que Cristo, de qualquer

    modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto meregozijo, sim, sempre me regozijarei”. O coração de Paulo era tão alargado pela graçaque ele se regozijava mesmo quando seus opositores pregavam a Cristo por pretexto.Que espírito correto tinha ele! Esse é o operar da vida, natureza e mente do Cristo que

     vivia nele Sua experiência de Cristo era um desfrute. Tal vida regozija-se, nãoimportando quais sejam as circunstâncias.

    IV. A PREGAÇÃODECRISTODEAMBASASMANEIRASREDUNDOUEMSALVAÇÃOPARAO APÓSTOLOPAULO

    Em 1: 19 Paulo continua: “Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa

    súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em libertação”. [O vocábulo   libertação  pode ser traduzido por  salvação.]  Paulo percebia que ambas asmaneiras de pregar a Cristo resultariam em salvação. Salvação no versículo 19 significaser sustentado e fortalecido para engrandecer a Cristo e vivê-Lo, As circunstâncias nasquais Paulo se encontrava forçavam-no a experimentar Cristo e desfrutá-Lo de maneiramais plena por meio da provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo.  Nu experiênciade Paulo a salvação de Deus foi realizada ao máximo. A experiência de tal salvação estátotalmente relacionada com o desfrute e a experiência de Cristo.

     As circunstâncias também encorajaram Paulo a viver Cristo e engrandecê-Loutilizava as situações causadas pelas diferentes pregações do evangelho para

    experimentar, viver e engrandecer Cristo. Nossa situação é a mesma. Por um lado,  nãopodemos concordar com determinadas maneiras de pregar a Cristo; por outro, devemosaprender a estar alegres com o fato de  que Cristo está sendo anunciado. Se essa for anossa   atitude,   então   a   situação   anormal causada pelas diferentes   pregações   de Cristotomar-se-á um incentivo para que O   desfrutemos,   vivamos e engrandeçamos, comoPaulo fez.

    Se  tivermos comunhão na defesa e confirmação, e no progresso do evangelho,nossa pregação será saudável. A pregação adequada é protegida por essas questões. Osurgimento das igrejas na América do Sul ilustra esse princípio. Em 1959 alguns irmãosmudaram-se para o Brasil com o encargo de espalhar a restauração do Senhor. Nosprimeiros dez anos, esses irmãos sofreram muito. Mas nos onze anos seguintes mais de

    cinqüenta igrejas foram levantadas em diversos países. Determinado irmão, que tomou

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    a liderança nessa questão, não é orador talentoso. Mas, visto que sua pregação baseia-se na comunhão do evangelho, no progresso do evangelho e na defesa econfirmação do evangelho, o Senhor o tem usado para levantar essas igrejas. Louvamos

    o Senhor pelo que Ele tem feito na América do Sul por meio da pregação adequada esaudável! Que todos aprendamos a discernir as diferentes maneiras de pregar a Cristo.Em particular, que possamos discernir entre a pregação saudável e a não saudável.

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    ESTUDO-VIDADE FILIPENSES

    MENSAGEMCINCO

     A PROVISÃOABUNDANTEDO ESPÍRITODE JESUS CRISTO

    Leitura Bíblica: Fp 1:19-21

    Em 1: 19- 21 há três expressões cruciais: “a provisão do Espírito de JesusCristo” (v. 19), “será Cristo engrandecido no meu corpo” (v. 20) e “para mim o viveré Cristo” (v. 21). Nesta mensagem consideraremos a primeira delas: “A provisão doEspírito de Jesus Cristo”.

    I. A PROVISÃOABUNDANTE

    Em 1: 19 Paulo diz: “Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa súplicae pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me redundará em libertação” [O

     vocábulo   provisão   também pode ser traduzido por   provisão abundante.]   A expressão “provisão abundante” não é uma simples tradução do grego, mas umainterpretação do termo grego utilizado. Literalmente, a palavra grega refere-se àfunção de prover todas as necessidades de um coro. Essa tarefa era exercida poralguém conhecido como corego, o líder ou diretor do coro. A palavra grega utilizadapor Paulo, dessa forma, implica uma provisão abundante. O corego supria todas asnecessidades de cada componente do coro, as necessidades de comida, vestes,alojamento e instrumentos musicais. A provisão do corego era, de fato, abundante,até mesmo todo-inclusiva. Uma vez que se juntava ao coro, a pessoa não precisavapreocupar-se com as necessidades da vida; o corego supria tudo o que elanecessitasse. Ao usar a expressão “provisão abundante do Espírito de Jesus Cristo”,Paulo compara a provisão do Espírito à do corego. Portanto, a fim de ter umentendimento apropriado de 1: 19, precisamos da palavra  abundante  junto com apalavra  provisão. Essa provisão abundante do Espírito todo-inclusivo era para quePaulo vivesse Cristo e O engrandecesse em seus sofrimentos por Ele. A provisão doEspírito de Jesus Cristo é abundante e todo-inclusiva. O que temos hoje não é umaprovisão parcial, mas abundante e todo-inclusiva.

    II. O ESPÍRITO DE JESUS CRISTO

    O Espírito de Jesus Cristo é “o Espírito” mencionado em João 7:39. Não émeramente o Espírito de Deus antes da encarnação do Senhor, mas o Espírito deDeus, o Espírito Santo com divindade, após a ressurreição do Senhor, composto daencarnação (humanidade) do Senhor, viver humano sob a cruz, crucificação eressurreição. O óleo sagrado da unção em Êxodo 30:23-25, uma mistura de azeite deoliva com quatro especiarias, era uma figura completa desse Espírito de Deuscomposto, que agora é o Espírito de Jesus Cristo. Aqui não é o Espírito de Jesuscomo em Atos 16:7 nem o Espírito de Cristo como em Romanos 8:9, mas o Espírito

    de Jesus Cristo. O Espírito de Jesus visa principalmente   à humanidade e ao viver

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    humano do Senhor; o Espírito de Cristo visa principalmente à Sua ressurreição. Paraexperimentar a humanidade do Senhor, como ilustra Filipenses 2:5-8, precisamosdo Espírito de Jesus. Para experimentar o poder da ressurreição do Senhor, comomenciona 3:10, precisamos do Espírito de Cristo. Em seu sofrimento, Paulo

    experimentou tanto o sofrimento do Senhor em Sua humanidade como aressurreição do Senhor. Portanto, o Espírito para ele era o Espírito de Jesus Cristo, oEspírito do Deus Triúno, composto, todo-inclusivo e que dá vida. Tal Espírito tem, eaté mesmo é, a provisão abundante para alguém como Paulo, que experimentava edesfrutava Cristo em Seu viver humano e em ressurreição. Por fim, esse Espírito deJesus Cristo, composto torna-se os sete Espíritos de Deus, que são as sete tochas defogo diante de Seu trono, a fim de levar a cabo Sua administração na terra para ocumprimento de Sua economia com a igreja, e que são os sete olhos do Cordeiropara transfundir na igreja tudo o que Ele é (Ag 1 :4; 4:5; 5:6).

     A. O Espírito de Deus na Criação A revelação na Bíblia concernente a Deus, Cristo e o Espírito é progressiva.

    Essa revelação começa em Gênesis 1 e desenvolve-se progressivamente até suaconsumação no livro de Apocalipse. A primeira menção do Espírito nas Escrituras éencontrada em Gênesis 1 :2, onde é dito que o Espírito de Deus pairava por sobre aságuas.; Com relação à criação de Deus, o Espírito é especificamente chamado deEspírito de Deus.

    B. O Espírito de Jeová no Seu Relacionamento com o Homem

    O relacionamento de Deus com o homem, obviamente, é mais íntimo que Seu

    relacionamento com a criação. Portanto, ao falar do relacionamento de Deus com ohomem, o título do Espírito é o Espírito de Jeová (Jz 3:10; 1 Sm 10:6).  [Q  vocábulo Jeová é traduzido pela maioria das versões em português por SENHOR, com todasas letras maiúsculas, ou seja, Versão Versalete].

    C. O Espírito Santo ao Santificar o Homem

     À   época da concepção e nascimento de Cristo, o termo Espírito Santo foiutilizado (Lc   1   :35; Mt   1 :20).   Esse título do Espírito relaciona-se a santidade,santificação e separação para Deus. Por meio do Espírito Santo algo no homem ésantificado, toma-se santo.

    D. O Espírito de Jesus no SofrimentoNo grego, Atos 16:7 fala do Espírito de Jesus. A vida do Senhor na terra foi um

     viver de sofrimento. Assim, o título “o Espírito de Jesus” refere-se em particular aoEspírito em relação ao sofrimento do Senhor.

    E. O Espírito de Cristo na Ressurreição

    Romanos 8:9-11, Paulo fala do Espírito de Cristo. De acordo com o contextodesses versículos, o Espírito de Cristo relaciona-se principalmente  à ressurreição deCristo.

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    F. O Espírito de Jesus Cristo em Seu Sofrimento e Ressurreição

     Vimos que em 1:19 Paulo fala sobre o Espírito de Jesus Cristo. Uma vez que oEspírito de Jesus tem particular referência ao sofrimento do Senhor, e o Espírito deCristo, à Sua ressurreição, o Espírito de Jesus Cristo está relacionado tanto com osofrimento como com a ressurreição. Na prisão, Paulo desfrutava o Espírito, que eratanto o Espírito de Jesus em sofrimento como o Espírito de Cristo em ressurreição.Enquanto sofria, Paulo desfrutava a ressurreição de Cristo. Visto que experimentavatanto o sofrimento como a ressurreição, para ele o Espírito era o Espírito de JesusCristo.

    G. O Espírito: o Espírito do Deus Triúno, Todo-Inclusivo, que Dá Vida

    Em João 7:39 é dito: “Isso, porém, disse Ele com respeito ao Espírito quehaviam de receber os que Nele cressem; pois ainda não havia   o   Espírito, porqueJesus não havia sido ainda glorificado”. Esse versículo fala de “o Espírito”,dizendo-nos que antes de o Senhor Jesus ser crucificado e ressuscitado, ainda nãohavia “o Espírito”. Havia o Espírito de Deus desde o princípio (Gn 1: 1-2), mas“ainda não havia o Espírito” como Espírito de Jesus Cristo no tempo de João 7:39,porque o Senhor ainda não havia sido glorificado. Após Sua ressurreição, o Espíritode Deus tornou-se o Espírito do Jesus Cristo encarnado, crucificado e ressurreto.Muito embora, antes da morte e ressurreição do Senhor, o Espírito de Deus fosse oEspírito de Jeová e o Espírito Santo, ainda não havia “o Espírito”.   9   termo “oEspírito” é utilizado freqüentemente por Paulo em suas epístolas e por João no livrode Apocalipse. Em vez de falar o Espírito de Deus ou  o Espírito Santo, Paulo muitas

     vezes disse o Espírito - O Espírito todo-inclusivo, que dá vida, do Deus Triúno.

    H. O Espírito Composto Tipificado pelo Ungüento Composto

    Embora não se encontre o termo “Espírito composto” na Bíblia, encontra-se arealidade desse aspecto do Espírito. O mesmo se aplica à Trindade. Embora essetermo não seja encontrado na Bíblia, não se pode racionalmente negar que a Bíbliarevele que Deus é triúno. Mateus 28:19 fala de batizar as pessoas em nome do Pai,do Filho e do Espírito Santo, uma indicação clara de que Deus é   triúno.   Outraindicação é 2 Coríntios 13: 13, que fala da graça de Cristo, do amor de Deus e dacomunhão do Espírito Santo. Tendo por base o fato de que, segundo a Bíblia, Deus étriúno, o termo Trindade é utilizado. No mesmo princípio, com base em fatos na

    Escritura, podemos falar corretamente do Espírito como o Espírito composto. Deacordo com Êxodo 30:23-24, um him de azeite de oliva era misturado com quatroespeciarias a fim de produzir o óleo sagrado da unção, o ungüento santo. Emtipologia, o azeite tipifica o Espírito de Deus, e o ungüento composto, o azeitemesclado com quatro especiarias, simboliza o Espírito Santo. Pela mistura, o azeitetornava-se ungüento e era utilizado para ungir o tabernáculo e tudo o que serelacionava a ele. Mesmo os sacerdotes eram ungidos com esse ungüento santo.

     Antes de Êxodo 30, “ainda não havia” esse ungüento composto, mas após Êxodo 30,tal ungüento definitivamente veio a existir. De semelhante modo, antes de Cristo sercrucificado, ressuscitado e glorificado, “ainda não havia” o Espírito como Espíritoque dá vida, todo-inclusivo. Mas pelo processo de crucificação e ressurreição deCristo, o Espírito de Deus, tipificado pelo azeite, tornou-se o Espírito composto,

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    tipificado pelo ungüento. As quatro especiarias utilizadas para elaborar o ungüento em Êxodo 30

    tipificam a eficácia da morte de Cristo, a doçura de Sua morte, o poder de Suaressurreição e a fragrância de Sua ressurreição. Antes da crucificação e ressurreição

    de Cristo, o Espírito de Deus não possuía esses quatro elementos. Após aressurreição de Cristo, porém, esses elementos foram adicionados ao Espírito deDeus, e o Espírito de Deus tornou-se “o Espírito”, o Espírito composto.

    I. Os Sete Espíritos de Deus

     Apocalipse faz referência aos sete Espíritos de Deus (Ap 1:4; 4:5; 5:6). São assete tochas queimando diante do trono de Deus e também os sete olhos do Cordeiro.

     Visto que Apocalipse menciona os sete Espíritos, devemos perguntar se DeusEspírito é um ou sete. De acordo com a matemática em nossa mente, um é um e seteé sete. Mas segundo a matemática da Bíblia, há um sentido no qual sete é um e um é

    sete. O único Espírito é chamado de os sete Espíritos.Segundo o entendimento tradicional da Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito

    são considerados três Pessoas distintas. Alguns vão mais longe, insistindo que sãoPessoas distintas e separadas. De acordo com a Bíblia, entretanto, os Três nãopodem ser separados. Gostaria de saber o que fazem os que defendem oentendimento tradicional da Trindade com Apocalipse 5:6. Esse versículo nos dizque os sete Espíritos, a terceira Pessoa, são os sete olhos do Cordeiro, a segundaPessoa. Se o Filho e o Espírito fossem duas Pessoas separadas, como poderiam ossete Espíritos ser os olhos do Cordeiro? Em outras palavras, como pode uma Pessoada Trindade, o Espírito, ser os olhos da outra Pessoa, o Filho? Não há lugar para “oEspírito”, o Espírito composto, ou os sete Espíritos no entendimento tradicional daTrindade, especialmente se for seguida a formulação do Credo de Nicéia2.   Na

     verdade, os que se apegam à tradição são muito limitados e restritos em seuentendimento, mas os que se apegam à pura Palavra em sua totalidade são muitoabertos  e inclusivos.

    Podemos utilizar a palavra  pessoas  para falar dos Três do Deus Triúno. Noentanto, devemos ser cuidadosos em não ser extremistas ao usá-la. W. H. GriffithThomas reconheceu o perigo disso. Em   Os Princípios da Teologia  ele disse comrelação à Trindade: “O termo Pessoa é também contestado, às vezes. Como todalinguagem humana, ele está sujeito a ser acusado de inadequado e mesmo de errodogmático. Certamente ele não deve ser enfatizado demais ou isso levará ao

    triteísmo...” Os que enfatizam demais o termo  pessoas terão, por fim, não somenteas três Pessoas da Deidade, mas três Deuses. No final, o que eles têm é o triteísmoem vez da Trindade. Sem perceber, muitos mestres cristãos têm feito isso.Precisamos reconhecer que simplesmente não somos capazes de definiradequadamente a Trindade. Nem mesmo temos um entendimento completo dohomem. Como, então, podemos esperar entender adequadamente o mistério doDeus Triúno? Temos de desistir das inadequações do Credo de Nicéia e do

    2Credo de Nicéia: "Oração cristã em latim, que se inicia com as palavras  credo in unum Deus Patrem

    ('creio em Deus pai') e sintetiza os artigos essenciais do catolicismo" (Dic. Houaiss); a formulação

    desse credo ocorreu no concílio de Nicéia, cidade da Bitínia, atual Irã, realizado em 325 d.C. (N. T.)

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    entendimento tradicional acerca da Trindade e voltar à pura Palavra de Deus. À luzda Palavra de Deus, vemos que o Espírito que desfrutamos não é somente o Espíritode Deus, o Espírito de Jeová e o Espírito Santo; esse Espírito não está sequerlimitado ao Espírito de Jesus ou ao Espírito de Cristo. O Espírito que desfrutamos é

    o Espírito de Jesus Cristo.  É  “o Espírito”, o Espírito todo-inclusivo, composto, quedá vida, do Deus Triúno. Por ser tão rico, abundante e todo-inclusivo, esse Espíritotem a provisão para cada necessidade nossa. Por isso, quando Paulo sofria por causado evangelho, ele desfrutava a provisão abundante do Espírito todo-inclusivo.

    Os cristãos, hoje, podem falar sobre o Espírito e mesmo escrever livros sobre oEspírito, mas nada dizem com relação ao Espírito composto ou aos sete Espíritos.Em vez disso, apegam-se ao entendimento limitado, tradicional do Espírito de Deusexpresso no Credo de Nicéia. Os que estão no movimento carismático ou nopentecostalismo alegam experimentar o Espírito. No entanto, eles também parecemnegligenciar o Espírito que dá vida, o Espírito composto e os sete Espíritos. Sequisermos ter um entendimento adequado do Espírito Santo, precisamos perceberque o Espírito nada mais é do que o Deus Triúno processado por meio daencarnação, viver humano, crucificação e ressurreição. Alguns se opõem à palavra processado. Argumentam que não é possível que Deus seja processado. Mas Deusnão passou pela encarnação, viver humano, crucificação e ressurreição? Se isso não éum processo, então que palavra devemos utilizar para descrevê-lo? Assim comoutilizamos a palavra  trindade para exprimir a revelação do Deus Triúno na Bíblia,utilizamos a palavra  processo  para exprimir os passos tomados pelo Deus Triúnodesde a encarnação de Cristo até Sua ressurreição.

    Não estamos satisfeitos simplesmente em ter um entendimento doutrinário doEspírito de Jesus Cristo. Devemos prosseguir para experimentar o Espírito, o

    Espírito composto e os sete Espíritos de Deus. Precisamos de mais e maisexperiência do Espírito composto, todo-inclusivo, que dá vida, que é o Deus Triúnoprocessado como tudo para nós. Por meio de tal Espírito, Paulo sofria pela economiade Deus e ao mesmo tempo desfrutava a provisão abundante para fortalecê-la emressurreição. Paulo foi um vencedor, não porque tivesse vontade forte. Ele pôde serum vencedor porque experimentou e desfrutou o Espírito todo-inclusivo com Suaprovisão abundante habitando nele para ser tudo para ele. Ele percebia, pelaexperiência, que o Deus Triúno trabalhava a Si mesmo no seu ser. Que tambémexperimentemos e desfrutemos o Deus Triúno suprindo-nos e trabalhando a Simesmo em nós como o Espírito composto, todo-inclusivo, que dá vida.

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    ESTUDO-VIDADE FILIPENSES

    MENSAGEM SEIS

    ENGRANDECERA CRISTOVIVENDO-O

    Leitura Bíblica: Fp 1: 19-21

    Nesta mensagem consideraremos a questão de engrandecer a Cristo vivendo-O(1:19-21). No versículo 20 Paulo diz: “Segundo a minha ardente expectativa e esperançade que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, tambémagora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte”. Nos

    sofrimentos físicos de Paulo, Cristo foi engrandecido, isto é, demonstrado ou declaradogrande (sem limitação), exaltado e enaltecido. Seus sofrimentos proporcionaram-lhe aoportunidade de expressar Cristo em Sua grandeza ilimitada. Ele iria engrandecer nelesomente a Cristo, e não a lei ou a circuncisão. Filipenses preocupa-se com a experiênciade Cristo. Engrandecer a Cristo sob quaisquer circunstâncias é experimentá-Lo com omais alto desfrute.

    I. ENGRANDECER A CRISTO

    No versículo 20, várias expressões relacionam-se com a afirmação de Paulo deque Cristo seria engrandecido nele: “Com toda a ousadia”, “como sempre”, “também

    agora”, “no meu corpo”, “quer pela vida, quer pela morte”. Paulo não diz simplesmente“com ousadia”, mas “com toda a ousadia”. Em seguida, ele salienta especificamente queCristo seria engrandecido em seu corpo. Ele disse isso porque seu corpo estava emcadeias. Ao menos à noite, se não o tempo todo, Paulo ficava acorrentado a um guarda.No entanto, apesar de seu corpo estar em cadeias, Cristo seria engrandecido em seucorpo. Além disso, Cristo seria engrandecido quer pela vida, quer pela morte. Issoindica que não importava quais fossem as circunstâncias, Paulo esperava que Cristofosse engrandecido nele.

    Precisamos agora considerar o que significa engrandecer a Cristo. A palavraengrandecer significa tornar grande, aumentar.  Talvez você se pergunte como Cristopode ser engrandecido, uma vez que Ele já é universalmente grande. Conforme Efésios3, as dimensões de Cristo (extensão, largura, altura e profundidade) são imensuráveis.São as dimensões do universo. Embora seja vasto, extenso e imensurável, aos olhos daguarda pretoriana de César, Cristo virtualmente não existia. Aos olhos deles, não haviaa pessoa de Jesus Cristo. Entretanto, Paulo O engrandecia; ele O fez grande perante osolhos dos outros, especialmente dos que o aprisionavam. Como resultado, alguns seconverteram a Cristo. Uma evidência disso é encontrada em Filipenses 4:22, ondePaulo fala dos santos da casa de César. Quando Cristo foi engrandecido por Paulo, atémesmo alguns da casa de César foram salvos.

    Na época do aprisionamento de Paulo, os judeus eram desprezados pelosromanos. Os romanos eram os conquistadores, e os judeus, os conquistados. Entre os

    conquistados havia um homem chamado Jesus. Embora Ele seja grandioso e o mais

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    maravilhoso, aos olhos dos romanos Ele era nada. Mas enquanto Paulo era mantidocativo na prisão romana, ele engrandecia a Cristo, fazendo com que Ele parecessegrandioso aos olhos de seus captores.

    Em  nosso viver também devemos engrandecer a Cristo, fazendo-O grande aosolhos dos outros. No lugar em que você trabalha ou estuda, as pessoas podemmenosprezar a Cristo. Eles p