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2 0 1 1 Inovações que Nutrem o Planeta ESTADO DO MUNDO THE WORLDWATCH INSTITUTE 2 0 1 1 Inovações que Nutrem o Planeta ESTADO DO MUNDO THE WORLDWATCH INSTITUTE

EstadodoMundo2011 Portugues

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Inovações queNutrem o Planeta

ESTADO DO MUNDO

THE WORLDWATCH INSTITUTE

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Inovações queNutrem o Planeta

ESTADO DO MUNDO

THE WORLDWATCH INSTITUTE

capa:2011 9/2/11 12:20 PM Page 1

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Inovações queNutrem o Planeta

ESTADO DO MUNDO

THEWORLDWATCHINSTITUTE

apoio e realização:

patrocínio Akatu:

patrocínio WWI:

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Royce Gloria AndroaCharles Benbrook

Marie-Ange BinagwahoLouise E. BuckRoland BunchMarshall Burke

Christopher FlavinDianne Forte

Samuel FromartzHans R. Herren

Mario HerreroMarcia Ishii-Eiteman

Nancy KaranjaAnna LappéBrigid LettyDavid Lobell

Saidou MagagiSerena Milano

Anuradha MittalMary Njenga

Qureish NoordinSandra L. Postel

Chris ReijAndrew RiceSara J. Scherr

Alexandra SpieldochTristram Stuart

Abdou TenkouanoAnn Waters-Bayer

Relatório do Worldwatch Institute sobre oAvanço Rumo a uma Sociedade Sustentável

Danielle Nierenberg e Brian Halweil, Diretores de Projeto

Linda Stark, EditoraEduardo Athayde, Editor associado

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Inovações que Nutrem o PlanetaESTADO DO MUNDO

UMA-Univers idade Livre da Mata Atlântica

UMAEditora

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Copyright © 2010 Worldwatch Institute1776 Massachusetts Avenue, N.W.Suite 800Washington, DC 20036www.worldwatch.org

Todos os direitos reservados.Impresso nos Estados Unidos da América.

As marcas registradas The STATE OF THE WORLD e Worldwatch INSTITUTE estão registradas no U.S. Patentand Trademark Office.

As opiniões expressas são as dos autores e não representam, necessariamente, as do Worldwatch Institute, dos membros de seu conselho, de seus diretores, de sua equipe administrativa ou de seus financiadores.

A composição do texto deste livro é em Galliard, com fonte ScalaSans. Projeto do livro, capa e composição por LyleRosbotham; produzido por Victor Graphics.

Primeira EdiçãoISBN 978-0-393-33880-5

W. W. Norton & Company, Inc., 500 Fifth Avenue, New York, N.Y. 10110www.wwnorton.com

W. W. Norton & Company Ltd., Castle House, 75/76 Wells Street, London W1T 3QT

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Tom CrainPresidente do ConselhoESTADOS UNIDOS

Robert Charles FrieseVice-Presidente do ConselhoESTADOS UNIDOS

Geeta B. AiyerTesoureiraESTADOS UNIDOS

Nancy HitzSecretáriaESTADOS UNIDOS

Christopher FlavinPresidenteESTADOS UNIDOS

Ray AndersonESTADOS UNIDOS

L. Russell Bennett, AdvogadoESTADOS UNIDOS

Marcel BrenninkmeijerSUÍÇA

James CameronREINO UNIDO

Cathy CrainESTADOS UNIDOS

James DehlsenESTADOS UNIDOS

Ed GroarkESTADOS UNIDOS

Satu HassiFINLÂNDIA

Jerre HitzESTADOS UNIDOS

Jeffrey LiptonESTADOS UNIDOS

Akio MorishimaJAPÃO

Sam Myers, MD, MPHESTADOS UNIDOS

Ajit NazreESTADOS UNIDOS

Izaak van MelleHOLANDA

Richard SwansonESTADOS UNIDOS

Wren WirthESTADOS UNIDOS

Membros Eméritos:

Øystein DahleNORUEGA

Abderrahman KheneARGÉLIA

Conselho de Administração do Worldwatch Institute

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Equipe Administrativa do Worldwatch Institute

Pesquisadores, Assessores e Consultores

Robert EngelmanVice-Presidente de Programas

Barbara FallinDiretora Financeira e Administrativa

Christopher FlavinPresidente

Gary GardnerPesquisador Sênior

Saya KitaseiPesquisadora de Energia Sustentável

Alex KosturaAssessor de DesenvolvimentoPresidente Adjunto

Colleen KredellGerente de Comunicações On-line

Trudy LooDiretora de Doações de PessoasFísicas

Haibing MaGerente de Programa para aChina

Lisa MastnyEditora Sênior

Danielle NierenbergPesquisadora Sênior

Alexander OchsDiretor de Clima e Energia

Mary RedfernDiretora de Relações Institucionais

Michael RennerPesquisador Sênior

Samuel ShrankPesquisador de Energia Sustentável

Patricia ShyneDiretora de Publicações eMarketing

Russell SimonDiretor de Comunicação

Molly TheobaldPesquisadora

Erik AssadourianPesquisador Sênior

Hilary FrenchPesquisadora Sênior

Brian HalweilPesquisador Sênior

Mia MacDonaldPesquisadora Sênior

Eric MartinotPesquisador Sênior

Bo NormanderAssessor Sênior para a Europa

Corey PerkinsGerente de TI

Sandra PostelPesquisadora Sênior

Lyle RosbothamConsultor de Arte e Design

Janet SawinPesquisadora Sênior

Damandeep SinghAssessor Sênior para a Índia

Sharon SolomonAssessora Sênior para Desenvolvimento

Linda StarkeEditora do Estado do Mundo

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O Worldwatch Institute não poderia compilarum livro tão ambicioso quanto o Estado doMundo 2011: Inovações que Nutrem o Planetasem uma rede global fantástica de assessores ecolaboradores. Nos últimos dois anos, tentamosentender não apenas as conexões entre fome,pobreza e degradação ambiental, mas tambémsoluções sustentáveis para esses problemas.Durante esse período, apresentamos informessobre nosso aprendizado ao www.NourishingthePlanet.org, compartilhando com nossa crescenterede de leitores no mundo todo as histórias deagricultores, grupos de agricultores, jornalistas,cientistas e doadores.

Temos enormes agradecimentos ao Nourishingthe Planet (NtP) Advisory Group. Nos últimosdois anos, eles foram assessores de confiança,mostrando-nos projetos in loco e dando-nosfeedback sobre os diferentes elementos consti-tuintes do projeto, incluindo o blog NtP. OAdvisory Group conta com as seguintesconceituadas pessoas: Bina Agarwal, LorenaAguilar, Dave Andrews, Shayna Bailey, CharlesBenbrook, Jake Blehm, Louise Buck, BenBurkett, Olivier De Schutter, Jim DeVries,Amadou Diop, Alan Duncan, Sue Edwards,Tewolde Berhan Gebre Egziabher, CharlesErhart, Cary Fowler, Dennis Garrity, HansHerren, Jackie Hughes, Dyno Keatinge, GawainKripke, Loren A. Labovitch, David Lobell, LucMougeot, Mark Muller, Sam Myers, SudhaNair, Arivudai Nambi, Eliud Ngunjiri,Diamantino Nhampossa, Jan Nijhoff, TimOgborn, Thomas Pesek, Jules Pretty, Chris Reij,Raj Rengalakshmi, Mike Robinson, Sara Scherr,Christina Schiavoni, Alexandra Spieldoch, David

Spielman, Steve Staal, Abdou Tenkouano,Norman Uphoff, Edith van Walsum, SwarnaS. Vepa e Jacob Wanyama.

Além disso, gostaríamos de agradecer aoConselho de Administração do WorldwatchInstitute por seu comando: ao Presidente doConselho Tom Crain, ao Vice-Presidente doConselho Robert Charles Friese, à TesoureiraGeeta B. Aiyer, à Secretária Nancy Hitz, aoPresidente do Worldwatch Christopher Flavin, aRay Anderson, L. Russell Bennett, Marcel Bren-ninkmeijer, James Cameron, Cathy Crain, JamesDehlsen, Ed Groark, Satu Hassi, Jerre Hitz,Jeffrey Lipton, Akio Morishima, Sam Myers, AjitNazre, Richard Swanson, Izaak van Melle e WrenWirth, e aos membros eméritos de nossoConselho: Øystein Dahle e Abderrahman Khene.Infelizmente, Andrew E. Rice, membro doConselho desde longa data e seu ex-presidente,faleceu em 2010 após uma batalha corajosa contraum câncer. A paixão inextinguível de Andy pelodesenvolvimento econômico e social o teriadeixado particularmente satisfeito com o foco doEstado do Mundo deste ano.

O Estado do Mundo não existiria sem asgenerosas contribuições financeiras de nossosmuitos patrocinadores. Mais de 3.500 Amigosdo Worldwatch financiam praticamente umterço do orçamento operacional do Instituto.

O programa de pesquisa do Worldwatch contacom o patrocínio de um rol de organizações efundações. Somos gratos à Bill & Melinda GatesFoundation por seu apoio em nos permitirapresentar relatórios diretamente do campo epor nos auxiliar a fazer com que o Estado doMundo focasse inteiramente em inovações que

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Agradecimentos

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ajudam a aliviar a fome e a pobreza. Nossosagradecimentos especiais vão para Haven Ley eBrantley Browning, nossos diretores de programana Fundação. Eles nos deram conselhos eestímulo no transcorrer de todo o projeto, esomos profundamente gratos por sua ajuda.

Somos também gratos a diversas outrasfundações, governos e instituições cujo respaldono ano passado viabilizou muitos outrosprojetos do Instituto: a American Clean SkiesFoundation; o Apollo Alliance Project, comrecursos provenientes das Fundações Rockefellere Surdna; a Heinrich Boell Foundation; a CastenFamily Foundation; a Compton Foundation,Inc.; o Del Mar Global Trust; a Energy andEnvironment Partnership with Central America;o Ministério de Relações Exteriores do Governoda Finlândia; Sam Gary and Associates, Inc.; oMinistério do Meio Ambiente, Proteção daNatureza e Segurança da Alemanha; o Richardand Rhoda Goldman Fund e o Goldman Envi-ronmental Prize; a Hitz Foundation; a StevenC. Leuthold Family Foundation; o MAPRoyalty, Inc. Sustainable Energy EducationFellowship Program; o Marianists of the USASharing Fund; a Renewable Energy & EnergyEfficiency Partnership; a Shared EarthFoundation; a Shenandoah Foundation; a FloraL. Thornton Foundation; a Fundação dasNações Unidas; o Fundo das Nações Unidaspara População; a Wallace Genetic Foundation,Inc.; o Global Fund; o JohanetteWallersteinInstitute; e a Winslow Foundation.

Nossos agradecimentos vão também para arede internacional de parceiros da publicação queleva o Estado do Mundo a um público global. Elescuidam da assessoria, tradução, divulgação e apoiona distribuição. Temos agradecimentos especiaisà Universidade Livre da Mata Atlântica, no Brasil;à China Environment Science Press, na China; àYliopistokustannus University Press, na Finlândia;à Good Planet and Editions de La Martiniere,na França; à Germanwatch, Heinrich BöllFoundation e à OEKOM Verlag GmbH, naAlemanha; à Evonymos Ecological Library, na

Grécia; à Earth Day Foundation, na Hungria; aoCentre for Environment Education na Índia; aoWorld Wide Fund for Nature e à EdizioniAmbiente, na Itália; ao Worldwatch Japão; aoAfricam Safari, à Televis Verde, à SEMARNAT eà Universidad de las Americas Puebla, no Méxicoe na América Latina; à Editura Tehnica, naRomênia; ao Worldwatch Norden; ao Center ofTheoretical Analysis of Environmental Problemsand International Independent University ofEnvironmental and Political Sciences, na Rússia;à DOYOSEA-Korea Green Foundation, naCoreia do Sul; ao Centro UNESCO da Catalunhapela versão em catalão e à Fundación Hogar delEmpleado e Editorial Icaria pela versão emcastelhano, na Espanha; ao Taiwan WatchInstitute; ao Turkiye Erozyonla Mucadele,Agaclandima ve Dogal Varliklari Koruma Vakfi,na Turquia; e ao Earthscan, no Reino Unido.

O relacionamento editorial mais longo doWorldwatch é com a W. W. Norton & Companyem Nova York. Graças à sua equipe – espe-cialmente Amy Cherry, Laura Romain, DevonZahn e Louise Mattarelliano – o Estado doMundo, Vital Signs e outros livros doWorldwatch conseguiram chegar às livrarias esalas de aula nos Estados Unidos.

Nossos leitores contam com o atendimentocompetente prestado pela equipe do DirectAnswer, Inc. Somos gratos a Katie Rogers,Marta Augustyn, Colleen Curtis, LolitaGuzman, Cheryl Marshall, Katie Gilroy, RonnieHergett e Valerie Proctor por prestarem umserviço de atendimento ao cliente de altaqualidade e atenderem prontamente os pedidos.

Os autores do Estado do Mundo deste anoforam favorecidos com a análise exaustiva porparte de outros colegas, integrantes do Grupode Assessoria e demais especialistas, bem comode vários críticos anônimos. Thomas Prugh,ex-redador da World Watch Magazine, fezcomentários sobre praticamente todos oscapítulos, ajudando-nos a dar aos autoresrecomendações significativas no estágio inicialde edição. Sophia Murphy e Lisa Mastny, a

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editora do Worldwatch, contribuíram tambémcom um exame completo de diversos artigos,auxiliando-nos a prepará-los para a edição final.

Os especialistas em alimentos e agriculturaMark Bittman, Chad Dobson, Joan Gusow, AnnaLappé, Francis Moore Lappé, Raj Patel, MichaelPollan e Roger Thurow brindaram generosamen-te o projeto nas etapas iniciais com sua mestria,indicando-nos pessoas e projetos específicos.

Para esta edição do Estado do Mundo, arregi-mentamos um número recorde de pensadoresde destaque, apoiadores, jornalistas, agricultores,ativistas e cientistas para ocuparem o lugar deautores e colaboradores. À equipe dos exímiose perspicazes autores dos capítulos juntou-seum grupo estupendo de acadêmicos e jornalistasque contribuíram com os artigos curtos queaparecem entre os capítulos. Esses artigosDIRETO DO CAMPO descrevem inovaçõesespecíficas e organizações agrícolas que atuamno desenvolvimento da agricultura. Além disso,vários outros redatores e pesquisadoreselaboraram Quadros para diversos capítulos.

Entre 2009 e 2010, o projeto Nutrindo oPlaneta contou com a ajuda de um gruposurpreendente e brilhante de estagiários. AbbyMassey trabalhou com grande zelo nosCapítulos 1 e 13 ajudando a rastrear informações,e foi coautora de um quadro de um dos textos.Abby é também uma integrante de relevo daequipe do NtP, escrevendo blogs, ajudando aplanejar nossas reuniões e visitas e trabalhandono banco de dados de inovações agrícolas.Kristina Van Dexter ajudou no princípio doprojeto, e Stephanie Pappas ajudou a encontrarinformações sobre fluxos de financiamento paraagricultura. Ronit Ridberg usou seu talento empesquisa para localizar dados para o Capítulo12, e Alexandra Tung passou o verão levantandoestatísticas e inovações interessantes para osCapítulos 4 e 8, além de ajudar no Capítulo 1.Suas contribuições ao Capítulo 4 foram particu-larmente úteis à autora Sandra Postel. DanielKandy ajudou nos Capítulos 9, 10 e 15; MattStyslinger auxiliou no Capítulo 7; Vanessa Acara

foi muito útil na pesquisa e esboço do Quadropara o Capítulo 7; Janeen Madan trabalhou nosCapítulos 3 e 14; e Abisola Adekoyo, ElenaDavert e Daniel Kane fizeram a verificaçãofactual dos capítulos de modo a assegurar queas estatísticas e os dados fossem consistentesem todo o livro.

Muitos de nossos autores também se bene-ficiaram da ajuda de seus colegas ou equipe:Chris Reij gostaria de deixar aqui um agrade-cimento especial aos parceiros da African Re-greening Initiatives, no Mali em Burkina Fasso,e em particular a Mary Allen e MathieuOuedraogo; Pay Drechsel deseja agradecer aPhilip Amoah, Bem Keraita, Robert Abaidoo,Kwame Nkrumah e Terry Clayton pela ajudaem seu texto sobre irrigação com águas residuaiselaborado para DIRETO DO CAMPO.

Além disso, este livro não poderia ter sidoescrito se não fosse pelas dezenas de especialistas,acadêmicos, jornalistas, mulheres e homens denegócios, motoristas de táxi e de ônibus, proprie-tários de hotéis, agricultores e cidadãos comunsque ofereceram conselhos e ajuda em nossasviagens pela África subsaariana no ano passado.Nossos agradecimentos especiais vão para asseguintes pessoas: Jules Adjima, PierluigiAgnelli, Leila Akahloun, Dr. King DavidAmoah, Stephen Amoah, Dr. Kwasi Ampofo,Festus Annor-Frempong, Emmanuel AntaiTaylor, Raymond Auerbach, Eric Biantuadi,Diallo Bineta, Mark Bittman, Donna Bryson,Madou Camara, Argent Chuula, MaimounaCoulibaly, Madyo Couto, Dr. Rosa da Costa,Matty Demont, Joseph DeVries, Raoul DuToit,Felix Edwards, Bishr El-Touni, Moussa Faye,Gregory Flatt, Mariam Ouattara Gnire, BillGuyton, Richard Haigh, Rick Hall, GetrudeHambira, Jan Helsen, Dee Hertzberg, EricHolt-Gimenez, Momodou Mbye Jabang, ChrisJohnson, Calestous Juma, Susan Kaaria, DanielKamanga, Elizabeth Katushabe, Dr. CharlesKayumba, Sabera Khan, Yacouba Kone, DianaLee-Smith, Suzanne Lenzer, Mark Lesiit, DaleLewis, Mia MacDonald, Seck Madieng,

ESTADO DO MUNDO 2011 Agradecimentos

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Mohamedou Ould Mohamed Mahmoud,Esther Mjoki Maima, Annalisa Mansutti, SaineyMarenah, Santiago Medina, Katlella Abdou MaiMoussa, Rob Munro, Roni Neff, Kristoff eStacia Nordin, Charles Onyoni Onyando,Osabarima, Nancy Ayesua Out, Fatouma SophieOuttara, Dov Pasternack, Raj Patel, StevePower, Charles A. Ray, Jill Richardson, AlbertRouamba, Pap Saine, Aïssatou Seck, KamuturakiSeremos, Lindiwe Majele Sibanda, Ruth N.Simwanza, Paul Yempapou Sinandja, SaliboSome, Noel Kokou Tadegnon, Joe Welsh, MarkWood e Denise Young. Gostaríamos também deagradecer a Joyce Nierenberg, Stuart Pollack eBarbara Sabbath por aceitarem, tarde da noite,nossas chamadas a cobrar da África e por seuapoio em geral aos nossos esforços.

Encorajada por esses esplêndidos financiadores,contatos, amigos, assessores, voluntários ecolegas, a equipe do Worldwatch traz suaprópria dedicação ao Estado do Mundo. OInstituto não teria condições de operar sem aDiretora Financeira e Administrativa BarbaraFallin, que mantém o escritório funcionandosem percalços há 22 anos. Gostaríamos tambémde agradecer a Darcey Rakestraw, gerente decomunicações do Worldwatch, que saiu doInstituto em 2010 para partilhar sua especia-lização no Food and Water Watch. Darceydeixou suas funções nas mãos extremamentecompetentes de Julia Tier, que, pouco antes daconclusão do livro, saiu do Worldwatch parainiciar uma proeza com ensino de inglês naTailândia. Ben Block, redator da equipe doWorldwatch e gerente de Internet, tambémtrocou o Instituto no outono de 2010 por umabolsa da Fulbright no Peru. Além deles, AliceJasperson, gerente da Vital Signs Online, decidiudeixar seu trabalho de levantamento de dadospara trabalhar em El Salvador. E JulianeDiamond deixou o cargo de Assessora deDesenvolvimento e Presidente Adjunta para irao encalço de seus interesses na Wildlife Alliance.

Molly Theobald, nossa Pesquisadora deAlimentos e Agricultura, juntou-se à equipe do

Nutrindo o Planeta em 2009. Molly foi umpau para toda obra, editando vídeos,escrevendo blogs e também contribuindo comdois artigos DIRETO DO CAMPO. No verãode 2010, Amanda Stone, Assistente deComunicação do NtP, juntou-se a Molly e,desde então, vem fazendo um trabalhofantástico, dando suporte a repórteres em todoo mundo e aprimorando o perfil da mídiasocial do NtP via Twitter, Facebook, Tumblre outras que vêm surgindo. Bernard Pollack,parceiro de Danielle e companheiro de viagem,contribuiu com o projeto como consultor emcomunicações do NtP.

As discussões preliminares em torno destelivro foram enriquecidas pela participação devários integrantes da equipe do Worldwatch,inclusive o Vice-Presidente Robert Engelman,que inspirou o NtP e o Instituto com seuespírito de liderança. Nossos agradecimentos aPatricia Shyne, Diretora de Publicações eMarketing, por todo o seu trabalho com nossosparceiros no mundo todo, fazendo questão deque as ideias e exemplos do Estado do Mundofossem disseminados amplamente. Os membrosseniores Gary Gardner e Michael Rennertambém nos ofereceram comentários, recomen-dações e sugestões no decorrer da pesquisa eredação do blog e do livro.

Nossa equipe de desenvolvimento, quealimenta os vínculos do Worldwatch com seuspatrocinadores, respaldou ativamente este livro.Recebemos de bom grado a criatividade de MaryRedfern, Diretora de Relações Institucionais, e deTrudy Loo, Gerente do Programa Amigos doWorldwatch. Contamos ainda com o reforço donovo Assessor de Desenvolvimento e PresidenteAdjunto do Worldwatch, Alex Kostura.

Lisa Mastny usou parte do tempo na ediçãode relatórios do Worldwatch ajustando acronologia deste livro, que fora compilada porKelsey Russell, e Alexander Ochs, ErikAssadourian, John Mulrow, Saya Kitasei, SamShrank, Amanda Chui e o novo Gerente dePrograma para a China do Worldwatch, Haibing

ESTADO DO MUNDO 2011Agradecimentos

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Ma, deram conselhos proveitosos em relaçãoaos capítulos e outros aspectos do projeto.Corey Perkins e sua equipe de consultores de TIauxiliaram para que o site e o blog do NtP semantivessem atualizados.

Como sempre, somos gratos à editora inde-pendente Linda Starke, que ajudou os autoresa transformar seus últimos rascunhos emcapítulos com bom polimento. Esse é ovigésimo oitavo ano em que Linda edita oEstado do Mundo, e temos enorme gratidão porsua proficiência e dedicação. Além disso, odesigner gráfico Lyle Rosbotham transformourapidamente 15 capítulos e diversos artigoscurtos dispersos em um livro com fotos dechamar a atenção.

A família Worldwatch continua a crescer. Noano passado, o Membro Sênior e Codiretor de

Projeto do Worldwatch Brian Halweil e suaesposa Sarah deram as boas vindas à mais novaaquisição da família, Cyrus Halweil. E foi comalegria que Lisa Mastny e seu parceiro SteveConklin acolheram Elsa à família. Tanto Cyrusquanto Elsa nos fazem lembrar de nossasesperanças por um mundo mais justo, ambien-talmente sustentável e livre de pobreza e fome.

Danielle Nierenberg e Brian HalweilDiretores de Projeto

Worldwatch Institute1776 Massachusetts Ave., NWWashington, DC 20036www.Worldwatch.orgwww.NourishingthePlanet.org

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ESTADO DO MUNDO 2011O Instituto Akatu

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Criado em 15 de março de 2001 (DiaMundial do Consumidor), o Instituto Akatupelo Consumo Consciente é uma organizaçãonão governamental sem fins lucrativos, comsede em São Paulo, que tem como missão“mobilizar as pessoas para o uso do podertransformador dos seus atos de consumoconsciente como instrumento de construçãoda sustentabilidade da vida no planeta”.

A palavra “Akatu” vem do tupi e significa, aomesmo tempo, “semente boa” e “mundo melhor”,traduzindo a ideia de que o mundo melhor estácontido nas ações de cada indivíduo.

Para o Instituto Akatu, o ato de consumodeve ser um ato de cidadania, por meio do qualqualquer consumidor pode contribuir para a sus-tentabilidade da vida no planeta, seja na compra,uso ou descarte de produtos ou serviços.

Nesse sentido, o consumidor conscientebusca o equilíbrio entre a sua satisfação pessoal,a preservação do meio ambiente e o bem-estarda sociedade, refletindo sobre o que consomee prestigiando empresas comprometidas com aresponsabilidade social.

O Akatu tem a convicção da necessidade deaprofundar a discussão sobre os impactos doconsumo – positivos e negativos — e sobre asmudanças no comportamento dos consumi-dores, dentro de uma perspectiva de trocaglobal de experiências com outras organiza-ções, contribuindo desta forma para que o con-sumidor deixe de ser um espectador dosproblemas decorrentes dos atos de consumo epasse a ser um agente das soluções. Este é oprincipal objetivo do Instituto Akatu.

Consumo Consciente para um FuturoSustentável.

O Instituto Akatu

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ESTADO DO MUNDO 2011 O Instituto Akatu

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Conselho DeliberativoLuiz Ernesto Gemignani (Presidente)Anamaria Cristina SchindlerCelina Borger Torrealba CarpiHelio MattarOded GrajewRicardo Cavalieri GuimarãesRicardo VacaroRicardo Young SilvaSérgio Ephim Mindlin

Conselho ConsultivoAntônio Jacinto MatiasCarlos Rocha Ribeiro da SilvaDaniela Nascimento FainbergEduardo Bom AgngeloEduardo Ribeiro CapobiancoFabio FeldmanGeraldo CarboneGustavo DondaJoão Paulo Ribeiro CapobiancoJosé Eduardo Nepomuceno MartinsJuscelino Fernandes MartinsLúcia Maria AraújoMaria Alice SetubalPaulo Anis LimaRicardo Rodrigues de CarvalhoThais Corral

Conselho FiscalElcio Anibal de LuccaGuilherme Amorim Campos da SilvaThomaz Lanz

Conselho AcadêmicoRicardo Abramovay (Presidente)Eduardo Giannetti da FonsecaEduardo ViolaEmilio La RovereFátima PortilhoHelio MattarJosé Augusto DrummondJurandir ZulloLivia BarbosaMário MonzoniNisia WenerckRachel BidermanRoberto Schaeffer

Diretor PresidenteHelio Mattar

Diretor AdjuntoRicardo Vacaro

Diretor AdjuntoTomas Lanz

Assistência da PresidênciaAntônio BarbosaDaniel Silva

Diretoria ExecutivaEduardo SchubertAna Maria Wilheim

Coordenação de Comunicação Estanislau Maria de Freitas Jr Carlos Eduardo MinehiraRogério Ferro

Gerência de EducaçãoCamila Melo Viviane LopesMirna Folco

Gerência de Planejamento, Monitoramento e Novos ProjetosLudmila Frateschi Clara Ribeiro Fabíola Gaigher

Gerência Administrativo-FinanceiraMilton Speranzini Dylene FernandesRenata MendesNathaly Ferreira

Gerência de Desenvolvimento de ParceriasAndréia Mualem Diego SchultzDhenig Chagas

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Índice

Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xviiOlivier De Schutter, Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxChristopher Flavin, Presidente do Worldwatch Institute

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xxiiiKelsey Russell e Lisa Mastny

1 A Construção de um Novo Caminho para Acabar com a Fome . . . . . . . . . . . . . . . 3Brian Halweil e Danielle Nierenberg

DIRETO DO CAMPO: Mensuração de Sucesso no Desenvolvimento Agrícola . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 A Popularização da Agroecologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17Louise E. Buck e Sara J. Scherr

DIRETO DO CAMPO: Inovações no Cultivo de Arroz em Madagascar . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . 28

3 O Potencial Nutritivo e Econômico dos Legumes e das Verduras. . . . . . . . . . . . 30Abdou Tenkouano

DIRETO DO CAMPO: Desenvolvimento de Inovações para Cultivo em Escolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40DIRETO DO CAMPO: O Fundo para Um Acre Coloca os Agricultores em Primeiro Lugar. . . . . . . . . . . . 42

4 Mais Safra por Gota d’Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44Sandra L. Postel

DIRETO DO CAMPO: Aproveitamento de Água Pluvial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

5 Agricultores Assumem a Liderança em Pesquisa e Desenvolvimento. . . . . . . . . . . 57Brigid Letty, Qureish Noordin, Saidou Magagi e Ann Waters-Bayer

DIRETO DO CAMPO: Comércio de Grãos em Zâmbia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

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6 A Crise de Fertilidade do Solo na África e a Fome que Vem Aí. . . . . . . . . . . . . . . 67Roland Bunch

DIRETO DO CAMPO: Novas Variedades de Mandioca em Zanzibar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78

7 Proteção da Biodiversidade dos Alimentos Locais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80Serena Milano

DIRETO DO CAMPO: Ameaças aos Recursos de Genética Animal no Quênia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91DIRETO DO CAMPO: As Vantagens do Fogão Solar no Senegal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

8 Como Lidar com a Mudança Climática e Desenvolver Resiliência . . . . . . . . . . . .93Uma Abordagem Agnóstica à Adaptação Climática, David Lobell e Marshall BurkeInvestimento em Árvores para Amenizar a Mudança Climática, Chris ReijA Crise Climática em Nossos Pratos, Anna Lappé

DIRETO DO CAMPO: Uma Revolução Sempre-verde para a África. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .109

9 Perdas Pós-Colheita: Uma Área Negligenciada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111Tristram Stuart

DIRETO DO CAMPO: Transformar a Pesca do Dia em Melhores Condições de Vida . . . . . . . . . . . . . 121

10 Alimentar as Cidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123Nancy Karanja e Mary Njenga

DIRETO DO CAMPO: Estímulo à Irrigação Mais Segura com Águas Residuais na África Ocidental . . . . 132DIRETO DO CAMPO: Uma Resposta Agrícola ao Chamado da Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135

11 Utilização do Conhecimento e das Aptidões das Agricultoras. . . . . . . . . . . . . . .137Dianne Forte, Royce Gloria Androa e Marie-Ange Binagwaho

DIRETO DO CAMPO: O Teatro como Ferramenta de Apoio às Agricultoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148DIRETO DO CAMPO: O que É uma Tecnologia Adequada? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151

12 Investimento em Terras Africanas: Crise e Oportunidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . 153Andrew Rice

DIRETO DO CAMPO: Melhor Armazenagem de Alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162

13 Os Elos Perdidos: Além da Produção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164Samuel Fromartz

DIRETO DO CAMPO: Igrejas: Um Papel Muito Além da Redução da Fome . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175

14 Aprimorar a Produção de Alimentos Provenientes de Animais. . . . . . . . . . . . . . 178Mario Herrero, com colaboração de Susan MacMillan, Nancy Johnson, Polly Ericksen,Alan Duncan, Delia Grace e Philip K. Thornton

DIRETO DO CAMPO: A Criação de Gado de Pequena Escala em Ruanda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188

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ESTADO DO MUNDO 2011Índice

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15 Um Plano Estratégico para Nutrir o Planeta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190Inovações para Entender Sistemas Complexos, Hans R. HerrenInovações para Avaliar Projetos de Desenvolvimento Agrícola, Charles BenbrookInovações Institucionais para Ajudar as Pessoas e o Planeta, Marcia Ishii-EitemanInovações em Governança, Anuradha MittalInovações em Reforma Política, Alexandra Spieldoch

Notas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210

Índice Remissivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251

QUADROS

1–1 Fome no Mundo e Tendências Agrícolas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2–1 Exemplos de Agricultura Ecológica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3–1 Inovações em Melhoramento de Espécies: Necessidade e Promessa . . . . . . . . . .. . . .34

3–2 Itens Alimentícios Autóctones e Mudança Climática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38

4–1 Hortas Solares: Maior Acesso a Energia, Água e Alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51

5–1 Disseminação das Inovações da Etiópia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

7–1 Diversidade no Sistema Alimentar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

9–1 Desperdício de Alimentos na Ásia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

10–1 Ampliação dos Limites da Agricultura Urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

11–1 Investimentos de Capital Social: Uma Inovação para Acabar com a Pobreza . . . . . .140

11–2 O Envolvimento de Comunidades Produtoras de Cacau no Apoio à Autonomia das Mulheres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .142

13–1 Um Negócio Melhor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .166

13–2 Serviços Bancários por Telefone . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .173

14–1 O Controle da Doença de Newcastle nas Aves de Moçambique . . . . . . . . . . . . . . . 185

15–1 P&D em Agricultura: Novas Dinâmicas do Setor Público-Privado . . . . . . . . . . . . . 196

TABELAS

1–1 Prioridade para a África Subsaariana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

4–1 Inovações de Baixo Custo que Aumentam o Acesso à Água e a Eficiência na Agricultura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

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ESTADO DO MUNDO 2011 Índice

XVII

7–1 Alguns Alimentos em Risco na África e Esforços de Salvamento . . . . . . . . . . . . . . . . 87

10–1 Inovações que Nutrem as Cidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

12–1 Investimentos Estrangeiros em Terras Africanas – Propostas e Casos Concretos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

14–1 Gado, Subsistência e Meio Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180

FIGURAS

1–1 Preços de Alimentos, 1990–2010. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6

2–1 Elementos de um Sistema de Cultivo de Base Biológica, com Integração Solo-Planta-Animal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

2–2 Aumento da Produção em Propriedade Agrícola e Proteção da Floresta e da Vida Selvagem em Paisagens Agrícolas de Alta Densidade Demográfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

2–3 A Gestão de Água Azul e Verde em Paisagens Agrícolas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

4–1 Porcentagem de Terra Cultivável Irrigada, em Regiões Selecionadas e Mundialmente, cerca de 2005. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4–2 Crescimento Econômico Anual e Variações da Precipitação Média Mensal no Níger, 1961-2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

9–1 Perdas Estimadas, Conversões e Desperdício na Cadeia de Alimentos Mundial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

10–1 Famílias Urbanas que Participam de Atividades Agrícolas / Alguns Países . . . . . . . .126

13–1 Produção de Milho e Área Plantada na Zâmbia, 2002-2010. . . . . . . . . . . . . . . . . . 169

13–2 Área de Milho Plantado e Colhido e Rendimento Total em Zâmbia, 2002-2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .169

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Vivemos em um mundo em que produzimosmais alimentos do que jamais o fizemos e ondeos famintos nunca foram tantos. Há um motivopara isso: durante muitos anos nosso foco foi noaumento da oferta de alimentos, ao mesmo tempoem que negligenciamos tanto os impactosdistributivos da produção de alimentos, quantoseus impactos ambientais de longo prazo.Tivemos êxito notável no aumento dorendimento. No entanto, precisamos agoraperceber que mesmo tendo condições de produzirmais, não somos capazes de afrontar a fome aomesmo tempo; que aumentos em rendimento –embora uma condição necessária para aliviar afome e a desnutrição – não são uma condiçãosuficiente; e que à medida que incrementamosde modo espetacular os níveis gerais de produçãodurante a segunda metade do século 20, criamosas condições para um desastre ecológico degrandes proporções no século 21.

Esse pensamento é parte do motivo pelo quala luta global contra a fome e a desnutrição vemse calcando cada vez mais, desde a CúpulaMundial de Alimentação de 1996, no direito àalimentação adequada. Em 2000, as NaçõesUnidas instituíram o cargo de Relator Especialpara o Direito a Alimentação, cujo papel éatualizá-la sobre o avanço – ou falta dele – rumoà eliminação da fome. E em 2004, algunsgovernos acordaram em dar apoio à concretizaçãoprogressiva do direito à alimentação adequadano contexto de segurança alimentar nacional.Esses desdobramentos são evidências da convicçãoda comunidade internacional de que precisamosatacar o problema da fome global não apenascomo uma questão de produção, mas também

como uma questão de marginalização, queaprofunda desigualdades e injustiça social.

O direito à alimentação busca aumentar adefinição de responsabilidades e assegurar queos governos não confundam o desafio do combateà fome e à desnutrição com aumento de ren-dimento. Mas a responsabilização é também umaferramenta para se exigir que as políticas públicassejam pautadas pelas necessidades daqueles quese encontram na base da escada social e que essaspolíticas sejam permanentemente testadas e,quando necessário, revistas. Em um mundo commudanças e complexidades crescentes, o apren-dizado torna-se vital para políticas públicas sólidas– um aprendizado que reveja nossos valores epremissas, os próprios paradigmas sob os quaistrabalhamos e nossos modos de ordenar osproblemas.

Em termos de políticas agrícolas e alimentares,três importantes fatos fazem com que esseaprendizado seja não apenas urgente, mas indis-pensável. Em primeiro lugar, percebemos afragilidade de nossos atuais sistemas alimentares.Em consequência do crescimento demográficoe da falta de investimento na agricultura emdiversos países em desenvolvimento, especial-mente na África subsaariana, a dependência dosmercados internacionais vivida por muitos paísesestá aumentando de modo significativo. Issorepresenta um pesado ônus, em especial quandoos preços disparam em virtude de bolhas especu-lativas que se formam nos mercados decommodities agrícolas e, em particular, porquecontas mais altas de alimentos estão, quasesempre, vinculadas a preços mais elevados decombustível.

IntroduçãoOlivier De Schutter

Relator Especial das Nações Unidas para o Direito à Alimentação

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ESTADO DO MUNDO 2011Introdução

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Em segundo lugar, há evidências crescentesde que a mudança climática afetará de modoexpressivo a produção agrícola. De fato, amudança climática já está ameaçando a capacidadede regiões inteiras, particularmente aquelas comagricultura de sequeiro, manterem os níveisanteriores de sua produção agrícola. De acordocom o Programa de Desenvolvimento da ONU,é possível que o acréscimo do número de pessoassob o risco de fome chegue a 600 milhões até2080, como um resultado direto da mudançaclimática.

Na África subsaariana, estima-se que as áreasáridas e semiáridas aumentarão em 60 a 90milhões de hectares, e o Painel Intergoverna-mental sobre Mudança Climática avalia que, naÁfrica do Sul, os rendimentos da agricultura desequeiro podem vir a ser reduzidos à metadeentre 2000 e 2020. As perdas na produçãoagrícola em vários países em desenvolvimentopoderiam ser parcialmente compensadas porganhos em outras regiões, mas o resultado geralseria um decréscimo de, no mínimo, 3% nacapacidade produtiva nos anos 2080, e de até16% se a previsão dos efeitos da fertilização comcarbono (um aumento de rendimento devido àconcentração mais alta de dióxido de carbono naatmosfera) não se concretizar.

Em terceiro lugar, como assinalado antes,entendemos agora que o aumento da produçãode alimentos e a erradicação da fome e dadesnutrição são objetivos muito diferentes –talvez, complementares, mas não necessariamentevinculados. Foi necessário que transcorresse otempo de uma geração para se entender que opacote da “Revolução Verde” composto porirrigação, mecanização, variedade de sementescom alto rendimento e fertilizantes químicostalvez precise ser reconsiderado em termos funda-mentais para que seja mais sustentável social eambientalmente. Em 80% dos estudos sobre aRevolução Verde nos últimos 30 anos, ospesquisadores que levaram em consideração oaspecto da igualdade concluíram que adesigualdade aumentou em consequência damudança tecnológica.

A Revolução Verde não chegou aosagricultores mais pobres que trabalhavam nossolos mais marginais. Ela ignorou em boa doseas mulheres, porque mulheres tinham menosacesso a crédito do que homens, eram menosfavorecidas por extensão rural e não podiam arcarcom os insumos que alimentavam a evoluçãotecnológica. Isso não raro fazia com queagricultores sem recursos dependessem deinsumos externos caros. Ela mudou formas deprodução com uso de mão de obra intensiva paraum modelo agrícola com uso intensivo de capitale, diante da ausência de trabalhos alternativos,acelerou o êxodo rural.

Algumas conclusões claras surgem de todasessas evidências. Precisamos aumentar a resiliênciados países – em particular, a dos países pobres eimportadores de alimentos – em face dos preçoscada vez mais altos e voláteis nos mercados inter-nacionais. Devemos estimular modos deprodução agrícola que sejam mais resistentes àmudança climática, o que significa que precisarãoser mais diversificados e usar mais árvores.Precisamos de um tipo de agricultura que atenuea mudança climática. E precisamos desenvolvera agricultura de formas que contribuam com odesenvolvimento rural, criando postos detrabalho nas propriedades agrícolas, mas tambémfora delas nas zonas rurais, e proporcionandoreceitas condizentes para os agricultores. Oreconhecimento de tudo isso transpõe, de modogeral, fronteiras ideológicas e geográficas. Odesafio, no entanto, é extrair os ensinamentosdesses três fatos em conjunto, e não tratá-los emseparado. Felizmente, o Estado do Mundo 2011mostra que existem alternativas capazes de trazeruma resposta.

A capacidade de os países em desenvolvimentoproverem a própria alimentação pode ser aper-feiçoada com o respaldo à produção agrícola querespeita o meio ambiente e favorece os pobresem áreas rurais. As perspectivas agrícolas afastam-se da tendência do século 20 que reduzia anatureza a seus elementos separados e, aocontrário, passam a reconhecer a complexidadeda produção de alimentos, enxergando a planta

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ESTADO DO MUNDO 2011 Introdução

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em relação a ecossistemas. Elas recompensam ainventividade de agricultores que agora deixamde ser beneficiários passivos de conhecimentocultivado em laboratórios, convertendo-se emcoinventores do conhecimento de que necessitam.

A agroecologia geralmente se caracteriza porbaixo uso de insumos externos, o que limita suadependência de fertilizantes e pesticidas de altocusto. Insumos como esterco ou composto são,em boa parte, produzidos em âmbito local, equando se usam plantas ou árvores leguminosaspara fertilizar os solos, a diversidade no terrenoajuda a fazer com que esses sistemas sejamautossustentáveis. Quase sempre as técnicasagroecológicas impõem um vínculo estreito entreo agricultor e a terra e podem, assim, empregarmão de obra intensiva. Mas, trata-se de um ativo,e não de um passivo: a criação de postos detrabalho em zonas rurais pode beneficiar o desen-volvimento rural, especialmente se aliada aoincentivo de capacitação no processamento dealimentos agrícolas e ao aumento de trabalhofora das propriedades agrícolas.

Contudo, sistemas que se amparam primor-dialmente em insumos produzidos em âmbitolocal, nos conhecimentos especializados deagricultores e em modos sustentáveis de produçãonão prosperarão sem políticas públicas fortes queestimulem esse tipo de mudança. Modosagroecológicos de produção podem ser altamenteprodutivos por hectare e são bastante eficientesno uso que fazem de recursos naturais. Noentanto, como em geral utilizam mão de obraintensiva, não têm condições de competir comfacilidade com formas de produção em largaescala, altamente mecanizadas e com uso intensivode capital. Sem um forte apoio do Estado, eles nãose mantêm.

Os governos têm meios de amparar essessistemas, priorizando a agricultura sustentável emprogramas de licitações públicas ou oferecendoincentivos fiscais que taxem as externalidadesproduzidas por lavouras com alta mecanização

em larga escala e recompensem a produção quecontribua com a redução da pobreza e com asustentabilidade ambiental. E os governos têmainda um papel no sentido de prover os benspúblicos necessários à expansão da agroecologia:extensão rural que atue em conjunto com atransmissão de conhecimento que passa de umagricultor para outro; instalações para arma-zenamento e infraestrutura que aproxime agri-cultores de consumidores, permitindo assim queos agricultores dispensem intermediários; aorganização de cooperativas de agricultores queos ajudem a aumentar seu poder de negociação,atingir algumas economias de escala na indus-trialização e marketing e aumentar o ritmo deaprendizado entre si. Quando os governosestiverem mal equipados para exercer essasfunções ou negligenciarem suas obrigações, osetor privado deve ser conscientizado de suaspróprias obrigações de não aprofundar ainda maisnossa dívida com o futuro.

A plena concretização do direito à alimen-tação, o que inclui uma dimensão de susten-tabilidade, não pode simplesmente ser deixadapara os mecanismos do mercado. Ela exige apresença do Estado, e exige ainda que façamosum investimento em mecanismos de respon-sabilização e no acompanhamento de resultadosque aprimorem a governança pública. É por issoque eu incito os governos a implantar estratégiasnacionais para a realização do direito à alimen-tação, apoiando-se nas Diretrizes Voluntáriasda Organização das Nações Unidas para aAgricultura e Alimentação. Afinal de contas, odireito humano à alimentação não tem apenasum valor simbólico. Ele diz respeito a umaobrigação legal e a uma estrutura operacional. Odireito à alimentação deve abarcar leis, políticase programas de segurança alimentar. Ele comple-mentará o modelo de desenvolvimento agrícolaesboçado neste texto e neste livro e poderágarantir que estejamos no caminho certo docombate à fome.

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A onda de calor que varreu o oeste da Rússiano verão de 2010 parecia, num primeiromomento, uma crise local. As temperaturassubiram para 40 ºC ou mais por várias semanas,fazendo com que Moscou parecesse Dubai.Uma população que, de modo geral, não dispõede ar-condicionado, sofreu com as temperaturassufocantes. As condições se deterioraram maisainda quando a onda de calor causou incêndiosflorestais de grandes proporções, destruindobairros suburbanos e deixando os moscovitasse asfixiarem com a densa fumaça por mais deuma semana. Antes de a calamidade ter chegadoao fim, o primeiro-ministro Vladimir Putinassumiu os comandos de um avião para apagarincêndios, em um esforço teatral para mostrarque o governo não havia perdido o controle dasituação.

Para outras partes do mundo, o clima atípicona Rússia pareceu inicialmente um espetáculotelevisivo, até ficar claro que a onda de calor ea seca que a acompanhou haviam devastado alavoura de trigo do país. Depois de alguns dias,as autoridades russas anunciariam a suspensãodas exportações de trigo, o que imediatamentedisparou os preços mundiais em mais de 30%,com efeitos diretos sobre o mercado do milho,da soja e demais mercados mundiais dealimentos.

Esse segundo aumento vertiginoso nospreços mundiais de alimentos em apenas doisanos foi um duro lembrete da vulnerabilidadede um sistema alimentar mundial que se esforçapara dar de comer a cerca de 6,9 bilhões depessoas em meio a uma série de limitesambientais e um clima mundial cada vez mais

instável. As linhas de frente desta crise agrícolaestão ocupadas pelas 925 milhões de pessoassubnutridas no mundo – muitas das quaiscrianças morando na África e sul da Ásia – queenfrentam a perspectiva de verem suas vidasainda mais precárias nos próximos meses.

Ironicamente, a agricultura mundial foi, emalguns aspectos, uma história de sucesso impres-sionante nas últimas décadas. Os esforços parao aumento da produção das culturas através doinvestimento em novas tecnologias e infra-estrutura agrícolas alcançaram muitos de seusobjetivos imediatos. A produtividade aumentoude modo constante entre os principais produtoresde grãos, como Austrália e Estados Unidos, aomesmo tempo em que vastas áreas da Ásia,incluindo a China, vêm tendo êxito no aumentodo rendimento e, portanto, na redução depobreza rural e fome.

Mas isso é apenas parte da história. Aagricultura avançou pouco em boa parte do sulda Ásia e na África subsaariana, onde osgovernos nacionais e a comunidade interna-cional investiram pouco nas últimas décadas. Ainexistência de incentivo à agricultura emalgumas das regiões mais pobres do mundoimpossibilitou que as economias rurais se desen-volvessem, deixando centenas de milhões depessoas estagnadas em um ciclo de pobreza. Aagricultura propicia trabalho para 1,3 bilhão depequenos agricultores e trabalhadores sem terra,sendo a principal fonte de subsistência paraperto de 85% dos 3 bilhões que integram ocontingente rural em países em desen-volvimento. Um melhor futuro para elesdependerá em boa medida do que acontecer

PrefácioChristopher Flavin

Presidente do Worldwatch Institute

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ESTADO DO MUNDO 2011 Prefácio

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nas propriedades agrícolas nas áreas maisdesprovidas do mundo.

Até recentemente, a maioria dos gestores depolíticas públicas acreditava que o único caminhopara o progresso da agricultura na África erarepetir a Revolução Verde – fornecer maissementes produtivas e fertilizantes, aumentandoassim o rendimento. Trata-se de uma fórmulasedutoramente simples, mas, em muitos casos,ela não funcionou. As sementes e fertilizantessão, quase sempre, muito caros para a maioriados agricultores pobres, ou simplesmente difíceisde obter. E os benefícios de muitos desses projetosvão para um pequeno número de grandesfazendeiros que têm condições de produziralimentos em abundância, mas pouco fazem paraestimular o desenvolvimento rural.

Felizmente, a ideia de que a fome mundialpode ser eliminada apenas com dinheiro etecnologia está sendo desacreditada, não só emfunção de suas deficiências, mas pela evidênciaalentadora de que novos enfoques para aconstrução de um sistema agrícola sustentávele nutritivo podem, de fato, complementar ousubstituir as inovações encontradas na caixa deferramentas agrícolas padrão. Isso é particu-larmente verdadeiro na África subsaariana, ondemilhares de pequenos agricultores estão sevalendo da antiga sabedoria cultural e aliandoesses ensinamentos a novas tecnologiasinteligentes para a produção de alimentos emabundância, sem com isso devastar o solo locale o ecossistema global.

Essa é a história deste livro e do projetoNutrindo o Planeta, do Worldwatch. Durante2009 e 2010, a codiretora de projeto DanielleNierenberg viajou por 25 países africanos,visitando agricultores e aprendendo sobre seusucesso com tudo, de irrigação por gotejamentoa horticultura em telhados, sistemas agroflo-restais e novas técnicas para proteção do solo.Em Washington, nossa equipe de pesquisadorestem usado a Internet para localizar e analisaruma ampla gama de projetos agrícolasinovadores e passado essas informações adiante

para um público crescente, dia a dia, de leitoresdo blog Nutrindo o Planeta, visitantes doYouTube e seguidores do Twitter.

O quadro por eles pintado é animador.Embora nossa tendência seja a de pensar ainovação em termos da ferramenta de busca oudo videogame mais recentes, os agricultorespobres da África estão demonstrando que ainovação está ocorrendo em algumas dascomunidades mais pobres do mundo – e queisso poderá ter um impacto maior sobre aspessoas e o planeta do que a mais hightec dasinovações. Ao oferecer capacitação a pequenosagricultores – particularmente às mulheres, quedominam a agricultura na África – cominovações simples, mas transformadoras, épossível uma mudança rápida e produtiva. Semesmo uma pequena fração dos recursos hojedispendidos em pecuária intensiva nos EstadosUnidos e em plantações de soja no Brasil fosseinvestida em pequenas propriedades agrícolas,o mundo não estaria fazendo um avanço tãotímido para alcançar o objetivo das NaçõesUnidas de reduzir a fome pela metade até 2015.

As questões envolvidas ao se tratar dosproblemas agrícolas mundiais vão muito alémdo problema imediato da fome. Numa épocaem que o mundo começa a deparar-se com oslimites de terra arável e de água em muitas áreas,aumentar a produtividade agrícola será aindamais essencial para se atender às necessidadesalimentares do que jamais o foi no passado. Epetróleo barato deixará de ser o substituto fácilpara recursos renováveis degradados como foi noséculo 20. É por isso que são tão empolgantesas inovações como as que utilizam plantas decobertura como adubo natural ou os biocom-bustíveis produzidos localmente para substituircombustível diesel.

A agricultura tem também enorme impactono mundo da natureza. Muitas das inovaçõesdescritas neste livro podem reverter o dano quea produção de alimentos quase sempre causa àágua e aos solos – e aos ecossistemas dos quaistodos nós dependemos.

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A economia alimentar mundial está tambémno centro dos problemas ambientais globais. Aagricultura de hoje, com sua forte dependênciade combustíveis fósseis, não só contribui parao aquecimento global – parte do carbono hojepresente na atmosfera esteve antes infiltrado emcamadas profundas dos solos das pradarias daAmérica do Norte e da Europa Central – comocorre sério risco em um clima mutante. O verãode 2010 foi o mais quente já registrado, e dizemos cientistas que os eventos climáticos extra-ordinários que o acompanharam, incluindo asinundações 2.000 km ao sul de Moscou, noPaquistão, inundando 567.000 ha de ricas terrascultiváveis – teriam sido improváveis sem oaumento de 30% na concentração de dióxido decarbono na atmosfera ocorrido desde aRevolução Industrial.

Uma notícia animadora comunicada clara-mente pelas inovações agrícolas documentadasneste livro é que novos modos de ver a agriculturapodem contribuir com um leque de prioridadesde desenvolvimento, da proteção de abasteci-mentos de água doce ameaçados à restauraçãode áreas de pesca e desaceleração da mudançaclimática. A inovação agrícola contribui aindapara a melhora da saúde humana, não apenaspor alimentar os mais pobres do mundo, mas

também por reduzir a epidemia de obesidadeque se alastra do mundo rico para o mundopobre.

Foi um prazer enorme ter como parceiro aBill & Melinda Gates Foundation nesseliteralmente revolucionário projeto Nutrindoo Planeta. Ao aliarmos o compromisso dafundação com o aumento da produtividadeagrícola ao nosso foco em encontrar perspectivasambientalmente sustentáveis, estamos construindouma nova ponte que poderá abrir um futuromelhor para centenas de milhões de agricultorespobres na África e em outras partes.

A nutrição das pessoas e a nutrição do planetaestão hoje inextrincavelmente vinculadas, e sãoessenciais para nosso futuro. Esperamos que oEstado do Mundo 2011 contribua para que sepense de modo mais sistêmico – e mais radical– sobre o futuro do sistema alimentar.Precisamos nos livrar de verdades simples como“quanto maior, melhor” e evitar a busca desoluções mágicas para problemas complexos.Se fizermos isso, a agricultura poderá uma vezmais ser um centro de inovação humana – e osobjetivos de acabar com a fome e criar ummundo sustentável estarão um pouco mais pertodo que estão hoje.

ESTADO DO MUNDO 2011Prefácio

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Estado do Mundo:Um Ano em Retrospecto

Compilado por Kelsey Russell e Lisa Mastny

A cronologia a seguir contempla alguns anúnciose relatórios significativos de outubro de 2009 asetembro de 2010. Trata-se de uma combinação deavanços, retrocessos e tropeços no mundo todoque estão afetando a qualidade ambiental e o bem-estarsocial.

Os acontecimentos na cronologia foramescolhidos para elevar o grau de consciência dasconexões entre as pessoas e os sistemas ambientaisdos quais elas dependem.

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ESTADO DO MUNDO 2011Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

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2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28

CLIMA

O Projeto deReflorestamento da Baciado Nilo, em Uganda, é a

primeira iniciativa dereflorestamento na Áfricaa contemplar reduções de

emissão nos termos doProtocolo de Kyoto.

SAÚDE

Cerca de 1.000 crianças namaior área de fundição de

chumbo na Chinaapresentam resultado deteste positivo para “níveisde chumbo em excesso”

devido à poluiçãoindustrial.

SISTEMAS MARINHOS

Estudo constata que amudança climática estáalterando ecossistemas

marinhos a mais de 2.000 mabaixo da superfície,

afetando o abastecimentode animais do fundo do mar.

ESPÉCIES AMEAÇADASDE EXTINÇÃO

Dados sobre apreensõesmostram que o comércio

ilícito de marfim aumentoubruscamente em 2009,sugerindo o crescenteenvolvimento do crime

organizado.

CLIMA

China anuncia meta deredução da intensidade

de carbono da economiaentre 40%-50%, até

2020, comparativamenteaos níveis de 2005.

GOVERNANÇA

O presidente norte-americanoObama é ganhador do Prêmio

Nobel da Paz por seusesforços para o fortalecimentoda diplomacia internacional epelo posicionamento frente à

mudança climática.

CLIMA

Pesquisa constata que a parcelade americanos que acredita haverevidências consistentes de que a

Terra está aquecendo diminuiubruscamente, de 71% em 2008

para 47% em 2009.

PRODUTOS TÓXICOS

Cientistas americanos encontramconcentrações de produtos químicostóxicos, como mercúrio e PCBs, em

amostras de tecidos de peixes de lagose reservatórios em 47 estados.

ALIMENTOS

Participantes da Cúpula Mundialsobre Segurança Alimentar

realizada em Roma renovam ocompromisso para acabar com afome e enfatizam o papel centralda agricultura para alimentar 1

bilhão de subnutridos do planeta.

Brooke et al, NOAA OE 2005/Marine Photobank

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Obama aceitando o Prêmio Nobel

Crescimento sobre peixe da família dos sugadores

ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTOO U T U B R O N O V E M B R O

2009

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EPA

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ESTADO DO MUNDO 2011 Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

XXVII

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AGRICULTURA

Na ocasião do aniversário doSlow Food, 1.000

comunidades de 120 paísesparticipam de eventos deincentivo à diversidadeagrícola e à produção

sustentável de alimentos.

CLIMA

Na histórica Conferênciado Clima em Copenhague,Brasil, China, Índia, Áfricado Sul e Estados Unidos

firmam acordo nãovinculante de redução

de emissões de dióxido de carbono.

ECOSSISTEMAS MARINHOS

Massachusetts é o primeiro estadoamericano a criar um plano

abrangente para a proteção derecursos marinhos.

TRANSPORTES

Grupo do setor diz que oToyota Prius foi o carro maisvendido do Japão em 2009,marcando a primeira vez em

que um veículo híbridosobressai no faturamento

anual de automóveis.

DESASTRES NATURAIS

ONU informa que 36 milhõesde pessoas foram deslocadas

por desastres naturais em2009, sendo que mais de 20milhões foram forçadas a semudar em virtude de fatores

relativos à mudança climática.

CONSUMO

Washington, DC,implanta um imposto da

“sacola” obrigando ocomércio que vendealimentos ou álcool acobrar 5 centavos por

cada sacola descartávelde papel ou plástico.

TRANSPORTES

Relatórios afirmam que, em 2009, os americanosdesfizeram-se mais de

automóveis do que compraramà medida que a recessão

reduzia a demanda, e algumascidades importantes

expandiram serviços detransporte de massa.

DESASTRES NATURAIS

O Haiti vive seu piorterremoto em mais de

200 anos, um tremor demagnitude 7, deixando

mais de 250.000 pessoasmortas e 1 milhão de

desabrigados.

2010D E Z E M B R O J A N E I R O

Terremoto em L’Aquila, Itália

Toyo

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ESTADO DO MUNDO 2011Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

WWW.WORLDWATCH.ORG.BRXXVIII

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ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTOF E V E R E I R O M A R Ç O

2010

BIODIVERSIDADE

Mais de 100 paísesassinam um novo acordo

da ONU visando àproteção de sete

espécies migratóriascontra ameaças, inclusivepesca ilegal, poluição e

mudança climática.

ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Cientistas informam que cercada metade das 634 espécies

de primatas no mundo corremrisco de extinção devido a

desmatamento, comércio ilegale caça para tráfico.

ENERGIA

Estudo relata que oOriente Médio e a regiãodo norte da África têm

potencial para gerar maisdo que o triplo da atualdemanda mundial de

energia, se seu setor deenergia renovável for

desenvolvido.

BIODIVERSIDADE

Cientistas informam uma quedade 26% nos lemingues, caribus

e outras espécies devertebrados da região árticaentre 1970 e 2004, em parte

devido a temperaturas médiasmais quentes.

ALIMENTOS

O Secretário-Geral das NaçõesUnidas destaca o papel vital de

pequenos agricultores eprodutores rurais na produçãoglobal de alimentos e faz umapelo para parcerias novas e

diversificadas para a superaçãoda fome e da pobreza.

ÁGUA

Os níveis do curso dorio Mekong, na Ásia,

atingem baixasrecordes, trazendo

ameaças aoabastecimento de água,

à navegação e àirrigação para milhões

de pessoas na Tailândia,no Laos e na China.

ENERGIA

Empresa canadense é bem-sucedidana captura de emissões de dióxido decarbono provenientes de uma fábrica

de cimento, utilizando-as para aprodução de algas ricas emnutrientes, um marco para

biocombustíveis avançados.

DESASTRES NATURAIS

O sul da China sofre suapior seca em décadas, oque levou à escassez de

água e a perdas naslavouras, afetando 51milhões de pessoas.

TRANSPORTES

Estudo mostra que aprodução global de

carros e caminhonetescaiu 13% em 2009, o

segundo ano consecutivonesse tipo de queda.

Fábrica de cimento

Caça ilícita de lêmure, Madagascar

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Colheita de bananana África

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ESTADO DO MUNDO 2011 Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

XXIX

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A B R I L M A I O

CLIMA

Cientistas relatam que odegelo de permafrost nohemisfério Norte é capaz

de liberar tanto óxidonitroso quanto o que éliberado pelas florestas

tropicais, uma fonteexpressiva de gases

de efeito estufa.

POLUIÇÃO

Uma plataforma de petróleo daBritish Petroleum explode no Golfodo México, matando 11 operários e

despejando aproximadamente 5milhões de barris de petróleo durante3 meses – o maior derramamento de

petróleo da história.ENERGIA

No maior projeto decrédito de carbono, a

Índia promete substituir400 milhões de

lâmpadasincandescentes por

CFLs, evitandoemissões de 40 milhõesde toneladas de dióxido

de carbono.

CLIMA

Perto de 60 países assumemo compromisso de despender

mais de US$ 4 bilhões aolongo de 3 anos em uma nova

parceria para Redução deEmissões por Desmatamento

e Degradação Florestal.

DESASTRES NATURAIS

Cinzas de um vulcão naIslândia afetam viagens

aéreas na Europa,causando a perda de

milhões de dólares emexportações africanas dealimentos e flores devidoà retenção de aeronaves

de carga em solo.

ENERGIA

O governo norte--americano aprovaprojeto de US$ 1

bilhão em Cape Wind,na costa de

Massachusetts, oprimeiro parque eólicoem alto-mar no país.

CLIMA

O governo norte-americano regulaemissões de gases de efeito estufa

provenientes de grandes fontesestacionárias, incluindo refinarias

de petróleo e usinas elétricasmovidas a carvão, responsáveispor 70% das emissões do país.

FLORESTAS

Diversos participantes criama Aliança para a LegalidadeFlorestal com o intuito dereduzir a demanda global

por produtos florestaiscultivados ilegalmente e de

apoiar a produção demadeira e papel legais.

SISTEMAS ECOMARINHOS

Estudo informa que oconfinamento de áreas depesca e a regulamentação

do uso de equipamentos depesca podem resultar em

pescas mais lucrativas e quereforcem a renda dos

pescadores.

Walter Siegmund

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Área devastada emVancouver Island

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ESTADO DO MUNDO 2011Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

WWW.WORLDWATCH.ORG.BRXXX

ESTADO DO MUNDO: UM ANO EM RETROSPECTOJ U N H O J U L H O

2010

CLIMA

Agência da Europarelata que 27 países da

União Europeiaregistraram em 2008 oquinto ano consecutivode quedas de emissões,com 11% a menos degases de efeito estufa

do que em 1990.

ÁGUA

O índice de segurançahídrica de 165 países

constata que 10 deles,inclusive cinco na

África, correm “riscoextremo” devido àescassez de água

doce e limpa.

BIODIVERSIDADE

Rússia anuncia planospara criar 9 novas

reservas naturais e 13parques nacionais até2020, expandindo em

3% as áreas protegidasde seu território.

ENERGIA

O UNEP (Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente) informaque, em 2009, a China ultrapassou osEUA na condição de país com o maior

investimento em desenvolvimento etecnologia de energia limpa.

ÁGUA

A Assembleia Geral daONU declara o acesso a

água limpa e saneamentoum direito humano,expressando grandepreocupação com o fato de que perto de 900 milhões de

pessoas não têm acesso a água potável segura.

FLORESTAS

Cientistas relatam que o desmatamento na

Amazônia brasileira estácriando um hábitat melhor

para mosquitos, tendoacarretado aumento de

48% em casos de maláriaem um dos municípios

examinados.

ENERGIA

Relatório afirma que a Itáliaultrapassou os EstadosUnidos em instalações

solares fotovoltaicas em2009, passando a ser osegundo maior mercadomundial de PV depois da

Alemanha.

CLIMA

Agência norte-americana informa quejunho 2010 foi o 304º mês consecutivo

com temperaturas acima da média,bem como o mês de junho mais quenteregistrado desde que teve início esse

tipo de registro, em 1880.

DESASTRES NATURAIS

A pior onda de calor naRússia em 130 anosdestrói cerca de 10

milhões de hectares deculturas, levando à

declaração de estadode emergência em

17 regiões.

GOVERNANÇA

UNESCO retira IlhasGalápagos de sua lista de

patrimônio mundialameaçado, mencionando

ações enérgicas por parte doEquador para mitigar ameaçasvindas do turismo, imigração e

espécies invasoras.

Bombeando água na Etiópia

© IFAD/Franco Mattioli

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ESTADO DO MUNDO 2011 Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

XXXI

A G O S T O S E T E M B R O

ESPÉCIESAMEAÇADAS DE

EXTINÇÃO

Myanmar afirma que irátriplicar sua Reserva

para Tigres no HukaungValley, que passará a ter

17.477 km2, sendoassim a maior reserva

mundial de tigres.

DESASTRES NATURAIS

Inundações causadas pormonções submergem um

quinto do Paquistão, matandoperto de 1.600 pessoas e

afetando 6,5 milhões, naquiloque analistas chamam de o

pior desastre naturalregistrado atribuível àmudança climática.

CLIMA

Pesquisadores alemães relatamque as emissões globais de

dióxido de carbono caíram 1,3%em 2009 – a primeira quedadessa proporção em uma

década – devido à recessãoeconômica e aos investimentos

em energia renovável.

ÁGUA

Especialistas em águaafirmam que padrões

erráticos crescentes deprecipitação pluvial

vinculados à mudançaclimática trazem ameaça degrandes proporções para a

segurança alimentar e ocrescimento econômico,particularmente na África

e na Ásia.

ALIMENTOS

A ONU informa que o númerode pessoas famintas no

mundo caiu para 925 milhões,abaixo da cifra de 1,02 bilhão

em 2009, ainda assim,inaceitavelmente alto.

CLIMA

Uma ilha de gelo quatro vezesmaior do que o tamanho deManhattan desprende-se da

Groenlândia – para oscientistas, a maior perda

glacial do Ártico desde 1962.

ALIMENTOS

Pesquisadores afirmamque a distribuição denovas variedades de

milho resistentes à secapara agricultoresafricanos poderia

economizar mais deUS$ 1,5 bilhão e

impulsionar orendimento em até

25% até 2016.

ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Cientistas informam que maisde 40% das espécies de

tartaruga de água doce doplaneta estão ameaçadas deextinção devido à destruição

de hábitat, à caça e aocomércio lucrativo comanimais de estimação.

ECOSSISTEMAS MARINHOS

Pesquisadores dizemque a pesca predatóriasubtraiu da indústria de

alimentos no mínimoUS$ 36 bilhões anuais eimpediu que cerca de20 milhões de pobresrecebessem nutrição

adequada anualmente.

ENERGIA

O maior parque eólico emalto-mar do mundo é

inaugurado na costa sudestedo Reino Unido, com 100

turbinas e 300 megawatts decapacidade geradora, o

suficiente para alimentar maisde 200.000 famílias no país.

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Arte de mosteiro em Myanmar

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Geleira na Groenlândia

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2 0 1 1

Inovações queNutrem o Planeta

ESTADO DO MUNDO

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A Construção de um Novo Caminhopara Acabar com a Fome

Brian Halweil e Danielle Nierenberg

Ao longo da orla do rio Gâmbia, um grupode mulheres conseguiu um raro feito naredução da fome em suas comunidades.

Esse sucesso gira em torno de um molusco deágua salgada. Para aumentar a renda e resguardaruma fonte de alimento, as 15 comunidades daAssociação Feminina de Catadoras de Ostras, queconta com quase 6.000 pessoas, concordaramem fechar um afluente no território de ostras porum ano inteiro e prolongar o tempo da estação“fechada” em outras áreas.1

Essas medidas foram difíceis no curto prazo,mas na estação seguinte as ostras estavam maiores,bem como o preço imposto por elas. Os clientes,principalmente outros comerciantes locais ou

mulheres querendo preparar ostras fritas paraoferecer às suas famílias uma refeição deliciosa erepleta de proteína, até agora, têm estadodispostos a pagar um pouco mais por isso. Aomesmo tempo, as catadoras, muitas delasimigrantes de nações próximas e gente dentreos mais pobres de Gâmbia, também ensaiam arestauração de manguezais, e estão construindoincubadoras para incrementar ainda mais osestoques silvestres, de olho no mercado de luxode hotéis e restaurantes que atendem turistas.2

Ostras não são exatamente o alimento quenos vem a mente quando pensamos em comoacabar com a fome e a pobreza no mundo.Afinal, de acordo com o último relatório daOrganização das Nações Unidas para Agricultura

Membro de um grupo de mulheres rega uma plantação de repolho, Zimbábue

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e Alimentação (FAO), há 925 milhões desubnutridos no mundo (Ver Quadro 1–1). Issosignifica uma redução de 98 milhões emcomparação a 2009. Mesmo assim, uma criançaainda morre a cada seis segundos devido àsubnutrição. Ostras por si só não podem acabarcom essa tragédia.3

O que pode ser feito? As soluções usualmenteapresentadas são variedades de sementes de altorendimento, barragens para irrigar grandes árease montanhas de fertilizante para restaurar solosesgotados. Entretanto, frutos do mar propor-cionam perto de 15% das calorias e um terçoda proteína consumidas no mundo, e ainda mais

ESTADO DO MUNDO 2011A Construção de um Novo Caminho para Acabar com a Fome

WWW.WORLDWATCH.ORG.BR4

Quadro 1–1. Fome no Mundo e Tendências Agrícolas

Em setembro de 2010, a FAO publicou seuúltimo relatório sobre a fome, revelando que925 milhões de pessoas no mundo sãosubnutridas – 98 milhões a menos do que em2009 (Ver figura). Apesar de esse novonúmero ser animador, ele ainda éinaceitavelmente alto e está muito longe dosObjetivos de Desenvolvimento do Milênio dediminuir a fome pela metade até 2015. Gana éo único país da África subsaariana a caminhode diminuir a prevalência da fome até lá.

O número mundial de 2010 referente àfome representou uma diminuição de 7,5% emrelação aos níveis de 2009. Essa queda esteveconcentrada principalmente na Ásia, ondehouve um decréscimo de 80 milhões depessoas passando fome em 2010, segundoestimativa da FAO. Os ganhos foram bemmenores na África subsaariana, região em queum terço da população passou fome e queregistrou um aumento no número total depessoas famintas na última década. Pelomenos metade da população do Burundi, dasIlhas Comores, da República Democrática doCongo e da Eritreia é afetada por fome crônica.

De modo geral, mulheres e criançasrepresentam a maior proporção de pessoassofrendo de fome crônica. Os altos preços dosalimentos e a baixa renda colocam famíliaspobres em maior risco de não conseguirreceber alimentação adequada para gestantes,bebês e crianças. De fato, mais de um terço damortalidade infantil no mundo estárelacionado à nutrição inadequada.

A maioria da população, geralmenteagricultores, vive com menos de US$ 1,25por dia e reside em áreas rurais, sem ter aposse da terra, infraestrutura e acesso aserviços de saúde ou eletricidade.Entretanto, cada vez mais as cidadesmostram não estarem imunes à fome. Nos anos 1980 e 1990, a população urbanada África cresceu cerca de 4% ao ano, e onível de pobreza também aumentou nesseperíodo. A população mundial de moradoresde favelas continua a crescer, a uma taxa dequase 1% ao ano, e o aumento nos preçosde alimentos durante a crise mundial de2007/2008 nesse setor afetouprincipalmente a população urbana pobre.No Quênia, por exemplo, a estimativa daFAO foi que, dentre a população pobremorando em regiões urbanas, 4,1 milhões se encontravam em situação “de altainsegurança alimentar” e até 7,6 milhõesnão conseguiam satisfazer suasnecessidades alimentares diárias.

Apesar da queda no preço dos alimentosdesde 2008, eles ainda estão bem acima dosníveis anteriores a 2007 e a tendência temsido de se manterem em alta em 2009 e 2010.Muitos programas de auxílio à alimentaçãonão conseguem comprar a mesmaquantidade de comida, e a recessão significoumenos dinheiro para ajuda alimentar. A Agência Norte-Americana paraDesenvolvimento Internacional informou quesó foi capaz de doar US$ 2,2 bilhões em 2009,um decréscimo de 15% em relação a 2008.

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do que isso em países pobres, inclusive emgrande parte da África ocidental. Assim, emmuitas regiões a pesca será uma fonte dealimento e renda duradouros para ascomunidades pobres. Mas frutos do mar sãoapenas uma parte menosprezada da cadeiaalimentar que poderia suprir as respostas nãotrazidas por fertilizantes, irrigação, ou pelo focono incremento da produção de grãos.4

Foi durante uma jornada para encontrarsoluções negligenciadas como essa quedescobrimos esse grupo de catadoras de ostras.

O contexto – e a base do Projeto Nutrindo oPlaneta, do Worldwatch Institute – foi: aagricultura encontra-se numa encruzilhada. Quasemeio século depois da Revolução Verde, a maiorparte das famílias do mundo ainda sofre de fomecrônica. Além disso, muito dos ganhos dessarevolução foram conseguidos por meio deagricultura altamente intensiva e muitodependente de combustíveis fósseis para insumose energia. Hoje, a questão vai além de saber se asáreas cultiváveis no mundo podem ou nãoproduzir mais alimentos, trata-se de saber se é

ESTADO DO MUNDO 2011 A Construção de um Novo Caminho para Acabar com a Fome

5

Quadro 1-1. Continuação

Os financiamentos para odesenvolvimento agrícola tambémdiminuíram. A nova iniciativanorte-americana de bilhões dedólares para segurança alimentare agricultura (“Feed the Future”)propõe investir US$ 20 bilhões naagricultura africana na próximadécada. Trata-se de umreconhecimento oportuno daurgente necessidade de maioresinvestimentos nessa área, mas amaior parte dos recursos aindaprecisa ser arrecadada. A parcelamundial de auxílio aodesenvolvimento para aagricultura caiu de mais de 16%para meros 4% desde 1980 e,inclusive, apenas nove naçõesafricanas chegam a alocar 10% doorçamento nacional à agricultura. A subsistência integral da maioria dos pobrese famintos do continente africano depende daagricultura. Contudo, o gasto público comagricultura é muitas vezes mais baixo empaíses cuja economia depende da atividadeagrícola – em outras palavras, os agricultoressão, ironicamente, os mais famintos dosfamintos.

Nas últimas duas décadas, os paísesmenos desenvolvidos passaram a dependercada vez mais da importação de alimentos.Metade dos grãos usados em 11 países daÁfrica subsaariana foi importada em 2005-06. Em outros sete países, as importaçõesresponderam por 30% a 50% dos grãosconsumidos no país.

Fonte: Ver nota 3 no final

Número de Subnutridos no Mundo, 1969-2010

Fonte: FAO

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possível fazê-lo sem comprometer o solo, a águae a diversidade de culturas de que o mundodepende. O preço mundial dos alimentos sofreforte pressão de aumento (Ver Figura 1–1),impulsionado pela crescente demanda por carnena Ásia, trigo na África e biocombustíveis naEuropa e América do Norte, entre outros fatores.Nada indica que as mudanças climáticas aliviarãoessa pressão ou tornarão as coisas mais fáceis paraos agricultores.5

Talvez o mais preocupante seja que investi-mentos para o desenvolvimento agrícola prove-nientes de governos, financiadores internacionaise fundações se aproximam de baixas históricas.Contudo, os mesmos preços recordes dealimento que prejudicam as organizações deajuda alimentar e ameaçam centenas de milhõesde pessoas com a fome também pressionamgovernos, fundações e outros grupos a pensaremem mudanças nos investimentos agrícolas. Umarecente análise do Banco Mundial, por exemplo,sugeriu que o Banco havia erradamente negli-genciado esse setor e apontou a necessidade deretomar os investimentos nas áreas rurais, semdúvida o investimento com melhor benefício

de custos para a redução dapobreza e fome no mundo.6

Nos últimos dois anos,visitamos 25 nações sub-saarianas – os lugares demaior fome e onde as comu-nidades rurais mais sofrem –para ouvir histórias de espe-rança e sucesso na agricul-tura. A África tem um dosproblemas de desnutriçãomais persistentes: abriga amaioria das nações em quemais de um terço da popu-lação sofre de fome. Contudo,o continente está se tor-nando um campo rico ediversificado para a produçãode inovações agrícolas queajudam a melhorar a renda

dos agricultores e simultaneamente fornecemnutrientes para as pessoas.7

Essa jornada foi recompensada peladescoberta de um manancial de inovações. Emdezenas de fazendas no Maláui vimos técnicas deaumento de rendimento sendo usadas por maisde 120.000 agricultores, como, por exemplo,o plantio de árvores que fixam oxigênio no soloenriquecendo-o para a cultura subsequente demilho e quadruplicando o rendimento sem aadição de nenhum outro fertilizante. Por todaa África ocidental, conhecemos agricultores ecomerciantes empregando sistemas simples dearmazenamento para prevenir o apodrecimentodo feijão-fradinho, uma cultura importante naregião. Se metade da colheita de feijão-fradinhoda área fosse armazenada dessa forma, ela valeriaUS$ 255 milhões por ano, beneficiando algumasdas pessoas mais pobres do mundo.8

Nosso objetivo era revelar comunidades,países e empresas modelos no caminho para umfuturo sustentável. Para além do objetivo deredução da pobreza e fome, fomos guiados poralguns critérios mais tradicionais do WorldwatchInstitute. Para que continue a alimentar futuras

ESTADO DO MUNDO 2011A Construção de um Novo Caminho para Acabar com a Fome

WWW.WORLDWATCH.ORG.BR6

Figura 1–1. Preços de Alimentos, 1990-2010

1990 1993 1996 1999 1990 2002 2005 2008 201150

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300Fonte: FAO

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Açúcar Carne

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gerações da humanidade, e fazê-lo melhor, aagricultura precisa reforçar os objetivos deconservação, acrescentando diversidade à cadeiaalimentar e cuidando dos ecossistemas. O quetambém ficou claro nas visitas a propriedadesrurais na África é que a base da produção dealimentos está sendo degradada em muitoslugares pela mineração do solo, falta de água eperda da diversidade de lavouras que, em últimainstância, alimentam o futuro da agricultura.

Estávamos também interessados em modelosúteis para empreendimentos de grande escalae usos para além da África, até mesmo em paísesricos que lutam contra o desperdício dealimentos, alimentação excessiva e outras formasde disfunções agrícolas. Uma cooperativa dehorticultura em telhado em Dakar, no Senegal,fornece informação para bairros lutando contraescassez de alimentos em Nova York. Indivi-dualmente, as centenas de milhões deagricultores de pequena escala e suas famílias,que correspondem à maioria dos pobres nomundo, parecem ter pouco poder em face deproblemas mundiais como fome, mudançasclimáticas e disponibilidade de água. Mas secada uma de suas inovações individuais fosseexpandida de forma a pôr comida na mesa denão apenas um agricultor, mas de 100 milhõesou mais, ou se chegasse aos consumidores quedependem deles, todo o sistema alimentar domundo poderia ser mudado.

Entretanto, as conexões globais vão além daÁfrica. Estamos todos juntos nisso, de muitasformas. Em primeiro lugar, a atividade agrícolacorresponde a uma porção tão grande doplaneta, que economias rurais saudáveis sãotambém fundamentais para a sustentabilidadeglobal. Uma ajuda na prevenção de mudançasclimáticas desastrosas seria fornecer umarecompensa aos agricultores no mundo todopor incrementarem o teor de carbono nos seussolos. Segundo, até mesmo “locavores” (pessoasque preferem se alimentar de produtoscultivados na região) resolutos, que buscam darapoio a agricultores locais, dependem de regiões

distantes para suprimentos de café, cacau, frutase outros itens essenciais de uso diário ou fora daestação. Os mesmos norte-americanos queinvadem as feiras locais e hoje deslocam a criaçãode animais em confinamento do centro doagronegócio podem vir a ser aliados fazendolobby para causas ligadas às políticas interna-cionais de combate à fome. Terceiro, mesmoaqueles que não compram milho, arroz e feijãode agricultores africanos são sustentados peladiversidade de culturas daqueles campos. Asnações mais pobres são as que ainda maisabrigam a decrescente biodiversidade alimentardo mundo, e também as maiores depositárias dasabedoria cultural que serve como fonte deprazer e saúde melhor. Por fim, para muitosexiste também um aspecto moral. É difícilapreciar uma boa refeição quando quase umbilhão de pessoas no mundo, às vezes atémesmo gente vivendo por perto, não podemfazer o mesmo.9

Não há uma solução única. De fato, aabordagem “tamanho único” é o que tem sidoincapacitante. As tentativas do passadofracassaram porque oprimiram a diversidade oueram dependentes demais de produtos químicosou outros insumos que os agricultores nãopodiam comprar. Também tropeçaram porignorar as mulheres agricultoras, ou pordeixarem de considerar a cultura alimentíciacomo uma forma de elas mudarem suas formasde cultivo. Embora o número de pessoasfamintas seja ligeiramente menor, o que omundo tem feito para combater a fome nãoestá funcionando. Como o foco de atenção temsido bastante restrito – em poucos tipos delavouras e em poucas tecnologias – regiões eecossistemas inteiros, sem falar em inúmerasvariedades de culturas e estilos de vida nocampo, são ignorados.

Portanto, apresentamos aqui três mudançasprincipais e convidamos agricultores, cientistas,doadores, executivos do agronegócio e acomunidade mundial a considerá-las.

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Ir além das sementes

A primeira mudança necessária é olhar paraalém do punhado de lavouras que têmabsorvido a maior parte da atenção agrícola eadmitir também que o desenvolvimento denovas sementes não é a solução básica para afome e a pobreza. O foco prolongado emsementes não é nenhuma surpresa: elas são umveículo elegante para a introdução de novastecnologias no campo. Sejam elas para umagricultor americano em busca de sementes quetoleram melhor a seca, ou para um cultivadorde feijão nas montanhas do Quênia, a comprade um novo tipo de semente é uma forma baratae rápida na tentativa de incrementar a colheitae renda de uma fazenda. Contudo, a buscaapenas pela semente certa tende a acabar coma diversidade de culturas em países ricos epobres. Ao mesmo tempo, o cuidado com osolo, o cultivo de outras lavouras e não apenascereais, o melhor aproveitamento dos camposde sequeira e investimentos em outroselementos da paisagem agrícola têm sido muitonegligenciados. Entretanto, eles têm grandepotencial para aumentar a renda e reduzir apobreza.

O Grupo Consultivo em Pesquisa AgrícolaInternacional (CGIAR) emprega 27% de seusfundos em melhorias genéticas de sementes, ea maior parte de seus centros ainda é organizadaem torno do cultivo de uma única lavoura –arroz, trigo, milho ou batata, por exemplo.Recentemente, no entanto, essa rede interna-cional de pesquisa evoluiu com a introduçãode centros dedicados a sistemas agroflorestais,controle integrado de pragas e irrigação. Essescentros recebem atualmente quase 25% doorçamento do CGIAR.10

Os retornos sobre investimentos nesses tiposde tecnologias e estratégias foram negligen-ciados até pouco tempo atrás e, por isso mesmo,podem ser surpreendentes, o que não significa

que tais investimentos estejam de fato sendofeitos. O desenvolvimento de novas variedadesde sementes, por exemplo, pode ser umaproposta lucrativa para as empresas que asproduzem, entretanto, poucas delasconseguiram descobrir formas de lucrar comincentivos para a reconstrução do solo ou deaquíferos. A nova realidade do investimentoagrícola é que, hoje, as instituições públicas,como governos e universidades, são fontemenor do que as entidades privadas. Em 1986,por exemplo, dos US$ 3,3 bilhões investidospelos Estados Unidos em pesquisa agrícola, 54%vieram do setor público e 46%, do privado. Emcontrapartida, hoje as empresas de agronegócios,primordialmente as de sementes e agroquímicos,surgem como os principais investidores, respon-sáveis por 72% do total de investimentos.11

Se as sementes representam a opção decompensação em curto prazo, o verdadeiroinvestimento de longo prazo com retorno signi-ficativo é no solo e na água que nutrem asculturas. Os solos do Mali e de outras partesdo Sahel na África estão muito comprometidoscomo resultado da pastagem predatória e desecas, mas o uso de adubação verde e plantas decobertura pode melhorar, e muito, a suafertilidade sem o uso de fertilizantes caros. NoCapítulo 6, Roland Bunch cita entrevistasrecentes com agricultores de mais de 75 vilarejosem seis países africanos que, como grande parteda África subsaariana, sofrem com o bemdocumentado esgotamento do solo. “As pessoasnão tinham mais nenhuma forma de manter osolo fértil”, ele observa. “As colheitas estavamquebrando, caindo de 15% a 25% ao ano”.Bunch observa que o subsídio a fertilizantesquímicos, bastante praticado por muitos paísesafricanos (chegando a até 75% no Maláui, porexemplo), não tem sido em geral uma boaestratégia de longo prazo e, na realidade, reduzo incentivo para que os agricultores invistamem posturas mais agroecológicas de nutriçãodo solo. Quando os subsídios a fertilizantes

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terminarem, a produtividade cairá para quasezero. Como alternativa, Bunch defende que aadubação verde/plantas de cobertura são aúnica solução sustentável para a crise defertilidade do solo africano.12

Considere ainda que, pela maior parte daÁfrica, apenas 15% a 30% das chuvas chega aser usada de forma produtiva pela lavoura, e nocaso de terra muito degradada, esse índice podecair para 5%. Nesses lugares, as quebras decultura podem ser atribuídas mais “ao maumanejo da água da chuva na terra do que à faltade chuva em si”, observa Sandra Postel noCapítulo 4. Apenas uma pequena parcela dasfazendas africanas tem acesso a irrigação – apesardo rápido crescimento daquelas que empregambombas de baixo custo e operação manual,como a MoneyMaker, a Mosi-O-Tunya (“abomba que troveja”), ou a bomba a pedal, maisprevalecente e usada por mais de 2,3 milhões deagricultores pobres na Ásia e África.13

Porém, mesmo sem irrigação, os agricultoresestão descobrindo que podem se proteger dospiores efeitos da seca e incrementar a produçãode modo significativo num ano chuvoso, usandocobertura morta, reduzindo o preparo do soloe recorrendo a plantio de cobertura. Comoobservado por Postel: “trabalhando comagricultores em seis fazendas experimentais noQuênia, na Etiópia, em Zâmbia e na Tanzânia,os pesquisadores descobriram ganhos derendimento da ordem de 20% a 120% para omilho e de 35% a 100% para o tef (um cerealbásico na dieta da Etiópia) em lavouras quefazem uso desses métodos de conservação dosolo e água em contraposição a métodos tradi-cionais”. Essa estratégia, usada em paralelo cominvestimentos em irrigação adequada no local,é relevante por todas as 18 ou mais regiões emcrescimento no continente africano, todas elascom previsão de sofrerem com o choque depadrões mais severos de chuva nos próximosanos. 14

Ir Além do Campo

Como observa Olivier De Schutter naIntrodução deste livro, acabar com a fome nãodepende exclusivamente da capacidade mundialde produzir comida suficiente. Para muitascomunidades, as soluções se encontram em fazermelhor uso da comida produzida. Um novoestudo da Associação do Solo, com sede noReino Unido, sugere que a melhor forma deassegurar que todos tenham comida suficienteé mudar o tipo de comida produzida e melhorarsua distribuição: menor produção de carne, usode métodos agrícolas mais sustentáveis ambi-entalmente que não dependam de produtospetroquímicos, e maior produção de alimentoslocais e regionais. De fato, ao que tudo indica,muitas das fazendas e organizações quevisitamos estão obtendo maior sucesso naredução da fome e da pobreza com trabalhospouco relacionados à produção de maisculturas.15

Como observa Tristram Stuart no Capítulo9, algo entre 25% e 50% da colheita dos paísesmais pobres estraga ou é contaminada porpragas ou fungos antes de chegar à mesa dojantar. A quantidade perdida – por vezes acolheita é devolvida e usada para enriquecer osolo, mas quase sempre acaba sendo jogada ematerros sanitários ou depósitos de lixo – éalarmante, principalmente se considerarmos queos especialistas estimam que será necessárioduplicar a produção de alimentos no mundonos próximos cinquenta anos conforme aspessoas passam a comer mais carne e, em geral,a se alimentar melhor. Portanto, faria sentidoque o investimento em um melhor uso daquiloque já é produzido fosse, no mínimo, tão altoquanto o que se investe no incremento daprodução. Correções simples e de baixo custocontribuem em muito para isso, como sacosplásticos baratos para manter o feijão-frade secoe afastar as pragas, melhor construção de silospara conservação dos cereais, e a preservação

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de frutas (e vitaminas) por meio de técnicas desecagem solar.16

Muitas vezes, desperdiça-se alimento porquea conexão do agricultor com o mercado é lenta,ineficaz ou interrompida. Em Zâmbia, SamuelFromartz constatou que houve um excesso deprodução de milho em 2010 devido à boaprecipitação pluvial e aos subsídios a fertilizantes.Na teoria, isso poderia ser rentável, já que oexcesso poderia ser enviado a países com poucosuprimento de milho. Mas Zâmbia não tem ainfraestrutura nem a rede de comercializaçãonecessárias para isso, e os agricultores estavamsimplesmente fazendo dumping de milho nomercado, a preços baixos, e, portanto, consolidando a pobreza e enviando um sinal aosagricultores para cultivarem menos. Entretanto,Fromartz encontrou algumas exceções, comoJustine Chiyesu, descritas no Capítulo 13. Coma ajuda do programa Produção, Finanças eTecnologia (PROFIT) da Agência Norte--Americana para Desenvolvimento Internacional,Chiyesu conseguiu mecanizar sua propriedadee aumentar a produção. O PROFIT ajudou-aa encontrar formas de evitar redes de comer-cialização ineficientes, o que lhe permitiu venderdiretamente aos moinhos e conseguir um preçomelhor para ela mesma e para os agricultoresde sua aldeia.17

“Agregar valor” tem sido o mantra dascomunidades rurais em dificuldade, do Meio--Oeste dos Estados Unidos às planícies do norteda China. Ou seja, trata-se de processar,preservar e transformar commodities emprodutos de mais valor – amendoim emmanteiga de amendoim, por exemplo. Mas aÁfrica ficou para trás nesse aspecto, em partedevido ao descuido com as atividades fora daspropriedades agrícolas que, na realidade, ajudamos agricultores a agregar valor. Nos últimoscinquenta anos, o total do valor agregado àagricultura, por pessoa, praticamente dobrounos países em desenvolvimento, mas nessemesmo período, caiu ligeiramente na África porfalta de investimentos em infraestrutura agrícola,

como, por exemplo, fábricas de processamentode alimentos. Isso explica, em parte, por queos países mais pobres da África são duas vezesmais dependentes de importações de alimentoshoje do que há vinte anos – uma mudançaperigosa, considerando que o preço mundialde alimentos tornou-se mais errático. 18

Embora a maior parte dos pobres e famintosdo mundo continue em áreas rurais, a fomeestá migrando conforme o contingente urbanoglobal aumenta. Para as pessoas que vivem,trabalham e conseguem comprar sua próximarefeição na própria cidade onde estão fixadas, épossível que o alimento venha de longe, maspara os moradores de favelas no Quênia e emGana, por exemplo, a fonte mais confiável dealimentos é, quase sempre, o que eles mesmossão capazes de cultivar em jardins na varanda,em terrenos baldios, ou em lotes de terraspróximas às favelas. Pelo menos 800 milhõesde pessoas no mundo dependem da agriculturaurbana para a maior parte de suas necessidadesalimentares. Atualmente, a maioria dessesagricultores urbanos está na Ásia, mas,considerando-se a migração anual de 14 milhõesde africanos do campo para as cidades, osresidentes de Lagos, Dakar e Nairóbi comcerteza se tornarão tão dependentes dealimentos cultivados nas cidades como oshabitantes de Hanói, Xangai e Phnom Penh. Aagricultura urbana já é uma fonte importante derenda para milhões de africanos. No Capítulo10, Nancy Karanja e Mary Njenga observamque os pobres das cidades não apenas fornecemalimento para suas comunidades, como tambémcriam projetos de multiplicação de sementes,fazendo de suas “fazendas” uma importantefonte de sementes locais, tanto para agricultoresurbanos como rurais. 19

No longo prazo, talvez o investimento maisimportante fora das propriedades agrícolas sejao de assegurar que os agricultores do futurotenham a oportunidade e a vontade de se tornaragricultores de verdade. Em Uganda, o projetoDISC (para o Desenvolvimento de Inovações

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para o Cultivo em Escolas) verificou que ensinaros alunos a plantar, cozinhar e comer spiderwiki,amaranto e outros vegetais nativos podecontribuir para dar aos jovens motivos para setornarem agricultores. 20

Trabalhar nas escolas também pode ajudar adiminuir a fome. Nos Estados Unidos, onde seconsidera que 16,7 milhões de crianças estãoem situação de “insegurança alimentar”, aintervenção governamental mais eficaz tem sidopor meio das refeições escolares. Os programasde alimentação na escola do Programa Mundialde Alimentos (WFP) atingem atualmente pelomenos 10 milhões de meninas no mundo,ajudando a combater desigualdades de sexo naeducação e contribuindo para a nutrição. Ofornecimento de rações para levar para casa

incentiva os pais a mandarem suas filhas para oensino secundário, e uma melhor nutriçãocontribui para um desenvolvimento adequadodas crianças e para mantê-las atentas em sala deaula. 21

Uma das prioridades desses programaspoderia ser a de aproveitar ao máximo osalimentos locais. Serena Milano, da Slow FoodInternational, relata, no Capítulo 7, queprofessores e chefes de cozinha por toda a Áfricaestão documentando, revitalizando e ensinandoreceitas tradicionais e técnicas de conservaçãode alimentos às famílias, ajudando-as assim atirar maior proveito de seu orçamento limitado.Nos lugares em que plantas nativas ou silvestressão as únicas culturas prósperas, Milano sugereque se invista na conservação dos recursosnaturais, como café e mel, bem como seincentive os agricultores a “cultivar” a biodi-versidade nos seus campos através do plantiode culturas nativas. 22

Ir além da África

Não importa de onde venha o alimento – deuma feira local, de um hipermercado dedescontos, do jardim de uma casa, ou mesmode comerciantes online – todos estão atados aum sistema global de alimentos. (Ver Tabela 1--1). Nesse sentido, a solidariedade internacionalno âmbito da comida, representada por açõesque vão desde o caju vendido por comércio justoaté grupos de agricultores como o Via Campesinae colaborações intercontinentais como o FundoMundial da Diversidade das Culturas Agrícolas,é uma das inovações mais esperançosas para sereduzir a pobreza e a fome. 23

A ajuda alimentar na África e em outras partesvem, tradicionalmente, dos Estados Unidos e deoutros países ricos. Mas essa ajuda poderia terbenefício de custo muito maior se os EstadosUnidos, o maior doador, comprassem osalimentos dos países receptores da doação oupróximos a eles. Hoje em dia, os Estados

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Menino retira uma ração diária de amendoim dedentro de um silo, Camarões

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Tabela 1-1. Prioridade para a África Subsaariana

Indicador Mundo África Subsaariana

População 6,8 bilhões 863 milhões

Total de terra arável 1.380.515.270 hectares 179.197.800 hectares

Parcela da produção de alimentos detida por pequenos proprietários 70% 90%

População urbana 3,49 bilhões 324 milhões

Parcela da população urbana 51% 33%

Famintos 925 milhões (14%) 239 milhões (27%)

Crianças abaixo do peso 148 milhões (24%) 39 milhões (28%)

Idade média 29,1 anos 18,6 anos

Valor agregado da produção agrícola, per capita, entre 1961 e 2006 Aumento de 35% Queda de 12%

Fonte: Ver nota 23 no final.

Unidos fazem doações apenas de suas própriasculturas, e embora esses suprimentos de fatoforneçam calorias muito necessárias a pessoasfamintas, eles afetam o sistema de abastecimentode alimentos porque causam a diminuição dospreços dos alimentos cultivados localmente eexpulsam os produtores das áreas vizinhas dosmercados locais. “Estamos mudando a forma deencarar o objetivo principal do desen-volvimento”, disse o Presidente Barack Obamaa respeito das questões de segurança alimentarmundial. “Nosso foco em amparo salvou vidasno curto prazo, mas nem sempre trouxemelhorias a essas sociedades no longo prazo”.A Europa, o outro grande doador de alimentos,já modificou sua política de doações. Hoje, asestradas no sul da África estão repletas decaminhões levando ajuda alimentar por todo ocontinente, mas um número crescente delestransporta produtos de agricultores africanosque vendem diretamente para o ProgramaMundial de Alimentos (WFP). Na Libéria, emSerra Leoa, em Zâmbia e em muitos outrospaíses da África subsaariana (bem como na Ásia

e na América Latina), o WFP não apenascompra produtos locais, como também ajuda ospequenos agricultores a desenvolver ascapacidades necessárias para fazer parte domercado mundial. E há provas suficientes deque a necessidade de ajuda alimentar vai subirsignificativamente nos próximos anos, nãoapenas devido ao preço mais alto dos produtos,mas também devido ao caos relacionado àsmudanças climáticas e à geopolítica. 24

O impacto mundial da agricultura tambémse expressa no impacto da agricultura sobre asmudanças climáticas. Os agricultores africanospodem retirar 50 bilhões de toneladas dedióxido de carbono da atmosfera nos próximos50 anos, principalmente plantando árvores nomeio das lavouras e supervisionando florestasvizinhas. É o mesmo que eliminar um anointeiro de emissões de gases de efeito estufa –uma contribuição generosa de uma região queemite uma pequena parcela desses gases. Jáexistem perto de 75 projetos em 22 países daÁfrica trabalhando na busca de formas derecompensar agricultores e comunidades rurais

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por esse serviço de cura climática, inclusive umaproposta para criar uma Fábrica de CarbonoAgrícola da África que poderia servir deincubadora de projetos e ajudar a conectá-loscom compradores. 25

Dessa forma, agricultores e comunidades domundo em desenvolvimento poderiam ter umimportante papel na solução de algunsproblemas globais, um papel que poderiaresultar ao mesmo tempo em renda, empregose autoconfiança. Nem todas essas experiênciasfuncionarão, mas David Lobell discute noCapítulo 8 que “no tocante à adaptação,precisamos ser agnósticos, ou seja, precisamosser honestos sobre o que não sabemos e estardispostos a concentrar nossos esforços natentativa de descobrir o que realmente funciona…O mais importante é que investidores públicos eprivados consigam reconhecer rapidamente asolução funcional para que ela possa ser aplicadoem maior escala” 26

Grupos de agricultores já estão promovendomudanças na África, por vezes através deprojetos apoiados pela Prolinnova, em que osagricultores compartilham informações pormeio de workshops, reuniões, fotografias eInternet, conforme descrito no Capítulo 5. Aomesmo tempo, grupos de apoiadores dosagricultores e ativistas, inclusive a GRAIN e aAliança da Terra, estão se mobilizando paraimpedir que grandes empresas e compradoresestrangeiros adquiram terras na Etiópia, emMadagascar e em outros países. No Capítulo12, Andrew Rice conta que nos últimos dezanos, milhões, talvez dezenas de milhões, dehectares foram adquiridos por compradoresinternacionais, como a Arábia Saudita e a China.Hoje, essa terra é usada basicamente para oplantio de culturas para a população do país deorigem ou de outros lugares do mundo.

Mesmo com o investimento de países ecomunidades na agricultura local, as pessoaspermanecem ligadas a um sistema global dealimentos. E mesmo em lugares onde há ummenor número de pessoas passando fome, os

governos e as comunidades lutam comproblemas que basicamente estão relacionadoscom o que a população come. Por exemplo, adieta dos americanos, baseada de muitasmaneiras em alimentos feitos de milho e soja,teve relação com a enorme zona morta no Golfodo México, causada parcialmente por ferti-lizantes e adubos das terras do Meio-Oeste dosEUA, ou ainda, pense nos crescentes problemasde saúde pública relacionados a refeiçõesenriquecidas com xarope de milho, óleo de soja,ou carne de gado alimentado por aquelescereais. O Projeto 30 da Feed Foundation,sediada em Nova York, está reunindo ativistasinternacionais envolvidos nas questões da fomee defensores da causa no país para dar atençãoà obesidade, buscando soluções de longo prazopara melhorar o sistema alimentício para todos.“As crianças no sul do Bronx precisam ingeriralimentos nutritivos tanto quanto as deBotswana”, explica a fundadora Ellen Gustafson.Entre os objetivos da organização para ospróximos 30 anos estão o acesso fácil a frutas everduras frescas para todos os habitantes doplaneta, padrões mundiais de sustentabilidadepara a produção de carne, e alimentos indus-trializados com preços que compensem todosos impactos negativos de sua produção edistribuição. 27

Passos em um Novo Caminho

As inovações que revelamos na nossa viagemà África representam o tipo do novo pensamentoradical que um número crescente de pessoasestá buscando. Mais recentemente, o programade Avaliação Internacional do Conhecimento,Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desen-volvimento sugeriu que agricultores e pes-quisadores abandonem a abordagem conven-cional reducionista que separa a agricultura domeio ambiente e o meio ambiente do papel deprovedor das necessidades humanas. O relatórioobservou que não há uma abordagem uniforme

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para a solução da fome e pobreza, que a reinte-gração da produção de rebanhos e culturaspoderia melhorar significativamente as economiasrurais nos ambientes mais degradados e que as“culturas órfãs” e sementes tradicionais têm maispotencial do que se pensava a princípio. São essesos tipos de inovações que ajudarão a nutrir aspessoas e o planeta. 28

Não é preciso dizer que as expectativas sãoaltas para os produtores mundiais de alimentosna África e em outras partes. A agricultura estásurgindo como uma solução para mitigarmudanças climáticas, reduzir problemas desaúde pública e de custos, tornar as cidades maishabitáveis e criar empregos numa economiamundial estagnada. Num futuro mais promissor,um futuro que é de fato possível, países que

atualmente têm escassez de comida poderiampassar a se alimentar e gerar excedentes paraajudar outros países.

Nossa esperança é que este livro sirva comoum roteiro parcial para as fundações e os doadoresinternacionais interessados em apoiar as inter-venções de desenvolvimento agrícola mais eficazese ambientalmente sustentáveis, e que isso sirvade inspiração e apoio às comunidades rurais quesão a fonte dessas inovações.

Dada a capacidade limitada dos cientistaspara encontrar soluções, a generosidade finitade doadores no apoio à pesquisa agrícola e apaciência por um fio de agricultores emdificuldade e de famílias famintas, uma mudançade direção em investimentos e foco está mais doque na hora de acontecer.

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Após mais de 50 anos de experiênciaacumulada, a comunidade global envolvida com desenvolvimento ainda tem dificuldade emmedir “sucesso” em desenvolvimento agrícola.Políticos, acadêmicos, ativistas e agricultorestêm diferentes indicadores e conjuntos deprovas. Apesar dessas diferenças, houve muitasinovações importantes na história recente que reduziram substancialmente a fome eaumentaram a produtividade. Aprender com esses sucessos pode ajudar a passarinformações aos políticos e alavancarinvestimentos, contribuindo não apenas paraacabar com a fome mas também para preservaros recursos naturais.

Os sucessos mais significativos dos últimos50 anos ocorreram na Ásia. Na metade dos anos1960, os governos do sul da Ásia implantarampolíticas e aceleraram investimentos em ciência,infraestrutura, insumos e estabilização do preçodos alimentos, criando a chamada RevoluçãoVerde. Como resultado, a produção de cereais eo rendimento dobraram entre 1965 e 1990. Além disso, houve melhoria na segurançaalimentar para cerca de um bilhão de pessoasentre 1970 e 1990.1

No final dos anos 1970, as políticas einovações tecnológicas da China tambémaceleraram o crescimento e o desenvolvimento.Entre 1978 e 1984, a China reintroduziu aagricultura familiar depois de mais de 30 anosde agricultura coletiva, dando aos agricultoresum incentivo para venderem o excedente daprodução. Ao devolver mais de 95% das terrasagrícolas chinesas a cerca de 160 milhões defamílias, as reformas contribuíram para umaumento de 137% na renda rural e aumentarama produção de cereais em 34%.2

Contudo, o desenvolvimento agrícola não diz respeito apenas ao incremento de produçãoe resultado, trata-se de inovar na forma deprodução, distribuição e consumo de alimentos.A dependência do mundo moderno de insumos

químicos, combinada ao uso predatório do soloe de recursos hídricos promoveu inovações detécnicas agrícolas mais sustentáveis. Emalgumas das aldeias onde a Revolução Verdechegou primeiro, os agricultores estãocultivando trigo através de técnicas de plantiodireto que ajudam a devolver nutrientes eumidade ao solo. Estima-se que 620.000agricultores de trigo de pequena escala adotamalgum tipo de plantio direto desde meados dosanos 1980, o que representa cerca de 1,8 milhãode hectares de terra no sul da Ásia, gerandoganhos médios de rendimento na ordem de US$ 180-US$ 340 por família, especialmente nos estados indianos de Haryana e Punjab.3

O desenvolvimento agrícola envolve tambémações coletivas. No nível local, isso significaconferir às comunidades uma participaçãoproprietária no processo de desenvolvimento,fazer uso do conhecimento local e envolver ascomunidades nas consultas sobre os projetos,deliberações de políticas e em pesquisacientífica. Em Burkina Fasso, inovações emgestão de recursos ajudaram famílias de baixarenda a aumentar o cultivo de alimentos básicoscomo o sorgo e o painço. Na esteira derepetidas secas, alguns agricultores passaram ainovar valendo-se de práticas tradicionais:manejo de árvores e culturas nativas, coleta deestrume e água da chuva em covas de plantio econstrução de curvas de nível com pedra paracontrole do escoamento e erosão. O apoio doslíderes comunitários e de organizações nãogovernamentais contribuiu para a reabilitação de200.000 a 300.000 hectares no planalto central,o que se traduz em um acréscimo de mais oumenos 80.000 toneladas de alimentos a maispor ano, o suficiente para sustentar meio milhãode pessoas. No sul do Níger, estima-se queesforços parecidos transformaram cerca decinco milhões de hectares, melhorando asegurança alimentar para ao menos 2,5 milhõesde pessoas.4

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Mensuração de Sucesso no Desenvolvimento Agrícola

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Em âmbito mundial, ações coletivassignificam a busca do desenvolvimento agrícolapor meio de cooperação e parcerias. Na Ásia ena África, esforços organizados para controlar apeste bovina – uma doença capaz de matar 95%ou mais dos animais infestados – através devacinação, quarentena e supervisão foramimportantes para garantir a subsistência depequenos agricultores e pastores, impedindoperdas financeiras substanciais de leite, carne,tração animal e meios de subsistência.5

Esses e muitos outros avanços são distintospor serem sucesso de grande escala e longoprazo e por estarem amparados por provas bem documentadas de impacto positivo esustentabilidade. O mais importante, contudo, éque esses êxitos comprovados mostraram que aagricultura pode ser um fator-chave decrescimento e desenvolvimento. Mesmo assim,a persistência da fome e a realidade mutável queenvolve o alimento global e o sistema agrícolaindicam que são necessários mais casos desucesso. A agricultura é cada vez maisimpulsionada pela demanda do mercado, porpreferências dos consumidores e fiscalizaçãoregulatória. O surgimento de informações,comunicações e biotecnologia dá novasoportunidades a agricultores e consumidores,enquanto as mudanças climáticas impõemnovas restrições. Há também preocupaçõesdemográficas mais recentes resultantes dacontinuação da pandemia de HIV/AIDS, quemuda a estrutura etária da população e aumentaa urbanização e a migração.

Dadas essas realidades variáveis, algumaslições devem ser consideradas. Em primeirolugar, sucesso não é um substituto paraestratégia. O sucesso continuado só é possívelse os países mantiverem boas estratégias,criarem políticas de apoio e encorajarem níveisadequados de investimentos e experimentação.Os responsáveis por decisões devem conceber eimplantar estratégias com um enfoqueabrangente para o aumento da produtividadeagrícola, a elevação da renda e a diminuição dapobreza. Isso pode inspirar muitos casos desucessos interligados, resultando numa históriade êxitos mais amplos de âmbito nacional ouregional.

Em segundo lugar, o sucesso é um processo.O desenvolvimento agrícola deve tratar deprioridades e desafios em constante mudança:contendo o movimento de doenças e pragas queatravessam fronteiras, fortalecendo a resiliênciado ecossistema em face das mudançasclimáticas, melhorando a governança docomércio global, encorajando investimentos naagricultura de países em desenvolvimento earticulando as vozes de base de maneira maiseficiente. Dessa forma, pode-se gerar e mantersucesso por meio de processos experienciais.Isso significa descobrir fazendo, aprender comos erros e adaptar-se a mudanças.

Em terceiro lugar, o sucesso pode serreconhecido. Para que sucessos nodesenvolvimento agrícola sejam reconhecidos,precisam ser corroborados por provasconsistentes, de relatos de primeira mão aestudos de impacto de grande escala. Seja qualfor o tipo e nível de prova, o ponto central é queos sucessos no desenvolvimento agrícola, bemcomo seus fracassos, devem ser documentadossistematicamente, examinados ecompartilhados para que outras pessoaspossam aprender com eles, adaptá-los adiferentes contextos e evitar armadilhassemelhantes.

Por fim, o sucesso pode ser ambíguo. Muitos sucessos são caracterizados por umamistura de prós e contras. Aumentos naprodução de alimentos podem depender do uso de agentes químicos danosos, e ganhos deprodutividade podem gerar colapso de preçosque prejudicam agricultores, mas beneficiamconsumidores. Contudo, a ambiguidade nãodeve ser justificativa para redução deinvestimentos no desenvolvimento agrícola. Ao contrário, indica a necessidade de cuidadoem escolhas delicadas. Os benefícios deintervenções que aumentam a disponibilidade,acesso e qualidade dos alimentos devem seravaliados frente aos custos em termos deganhos econômicos e financeiros, impacto nomeio ambiente e importância sociopolítica.

—David J. Spielman e Rajul Pandya-Lorch International Food Policy Research Institute

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A Popularização da AgroecologiaLouise E. Buck e Sara J. Scherr

David Kuria indica com orgulho as novascaracterísticas da paisagem em Lari, noQuênia. Há uma década, ele e os

Voluntários do Meio Ambiente de Kijabe, umgrupo local, começaram a mobilizar osagricultores para proteger e recuperar as florestasde alta diversidade e as bacias hidrográficasameaçadas nessa área densamente povoada. Hojeem dia a floresta e a vida selvagem prosperam eos agricultores também estão obtendo benefícios:solos mais saudáveis, culturas mais produtivas,rebanhos bem alimentados e novos mercados.1

O crescente entusiasmo por sistemas bené-ficos ao meio ambiente e adaptados à agriculturalocal está desencadeando inovações generalizadas

e, em alguns casos, expansão em larga escala naÁfrica e em outras partes. Parte dessa motivaçãoé a necessidade de restaurar meios de vida ruraisdinâmicos e comunidades em que o papel daagricultura, para além da produção, também sejavalorizado. Existe também uma preocupaçãocrescente com a extensa degradação do solo e daágua, como resultado das práticas agrícolas atuais.Além disso, as plantas e animais silvestres estãosendo ameaçados por áreas de cultivo queinvadem as florestas, savanas e áreas alagadas epressionados por um aumento de produtividadedanosa aos ecossistemas. Em um mundo emprocesso de aquecimento, os sistemas e ascomunidades agrícolas terão que se adaptar amudanças abruptas e, por vezes, extremas de

Louise E. Buck é diretora do Landscapes Program na EcoAgriculture Partners e docente da CornellUniversity. Sara J. Scherr é presidente e CEO da EcoAgriculture Partners.

Menino nos campos de arroz próximo a Antananarivo, Madagascar

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temperatura e precipitação e ao alto custo defertilizantes à base de combustíveis fósseis. Osagricultores serão convocados para ajudar amitigar os efeitos das mudanças climáticas, seques-trando mais carbono nas plantas e no solo.2

David Kuria vislumbra uma paisagem de“agroecologia” em Lari, onde a produçãoagrícola, o desenvolvimento rural e o manejodos ecossistemas se apoiam mutuamente. Essavisão parte de duas estratégias amplas: práticasde produção ecologicamente adequadas naspropriedades rurais e uma abordagem quecontempla as diversas partes envolvidas nomanejo da agricultura e dos recursos naturais napaisagem como um todo.3

Agricultura Ecológica

Segundo Robert Watson, diretor daAvaliação Internacional do Conhecimento,

Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desen-volvimento, se bem gerida, a agricultura “podefazer mais do que apenas focar na produção.Pode ajudar a fornecer água limpa e a protegera biodiversidade, e deve ser administrada deforma a manejar nosso solo de maneirasustentável”. Para atingir esses objetivos, aagroecologia depende de sistemas de cultivo debase biológica, com integração solo-planta--animal. (Ver Figura 2–1).4

Muitas vezes chamada de agricultura rege-nerativa, essa abordagem está enraizada noconhecimento da gestão de dinâmicas complexasentre plantas, animais, água, solo, insetos e outrasmicrofaunas para a produção sustentável deculturas e pecuária. O uso de cobertura mortafeita a partir de resíduos de cultivo transformadosem compostagem e adubo verde, a adoção decultivos intercalares de leguminosas e o controle

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Figura 2–1. Elementos de um Sistema de Cultivo de Base Biológica, com Integração Solo-Planta-Animal

Animais fornecemestrume para

compostagem.

Plantas herbáceasadicionam

diversidade àcultura e adubo

verde paracompostagem.

Leguminosascontribuem para afertilidade do solo.

Micro-organismosem solo saudável

afastam as pragas esuprimem doenças.

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biológico de pragas e doenças são algumas daspráticas utilizadas para aumentar a produtividadee manter a fertilidade e a saúde do solo, comdependência mínima de produtos químicos eenergia externos.

Além de aumentar o retorno econômico dosolo, trabalho e capital e de outros fatores deprodução, como água e energia, a agroecologia

tem ainda como meta atender a diversas neces-sidades das famílias e comunidades e abastecero mercado.5

A diversidade nos sistemas agropecuários,tanto num mix de culturas e variedades comono rebanho, é crucial nessa abordagem. (VerQuadro 2–1). Os agricultores em Lari, noQuênia, por exemplo, criam coelhos, galinhas,

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Quadro 2–1. Exemplos de Agricultura Ecológica

Agricultura orgânica visa manter a saúde do solo no longo prazo. Os produtores ruraisusam técnicas como a rotação de culturas,adubo verde, compostagem e controlebiológico de pragas. A certificaçãointernacional para agricultura orgânica excluiou limita bastante o uso de adubos epesticidas sintéticos, reguladores decrescimento das plantas, antibióticos para osrebanhos, aditivos alimentares e organismosgeneticamente modificados. Existemaproximadamente 530.000 produtoresorgânicos na África, quase metade do totalmundial, com cerca de 900.000 hectares deterra orgânica certificada (3% do totalmundial).

Sistema agroflorestal: mistura árvores earbustos em terra de cultivo ou pastagens, deforma a imitar a forma natural com que asflorestas ou bosques fazem a ciclagem denutrientes e água, a polinização, a moderaçãodo microclima e a constituição do hábitat daflora e da fauna. Alguns produtores protegemas árvores cuja regeneração ocorrenaturalmente, e outros plantam espécies deárvores selecionadas e melhoradas para aatividade agroflorestal. Em 2006, mais de417.000 agricultores de Malaui, Moçambique,Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue usaram práticasagroflorestais como o plantio de árvores“adubadoras” que fixam nitrogênio no solopara a regeneração da terra, saúde do solo esegurança alimentar; árvores frutíferas paraalimentação; árvores forrageiras parapecuaristas de pequena escala; árvores para

produção de madeira e lenha para abrigo eenergia; árvores de produção diversificada; eárvores medicinais para o combate dedoenças.

Agricultura conservacionista: faz uso depráticas como plantio direto ou preparaçãomínima do solo, manejo do horizonte maissuperficial do solo e rotação de culturas,cujo fundamento é o revolvimento mínimodo solo, utilização de cobertura permanentee controle biológico de doenças para certaslavouras. A adaptação dessas tecnologiaspara pequenas propriedades em Zâmbiavem ajudando cerca de 350.000 famílias aaumentar sua produção de alimentos entre30% e 100%, com melhora da nutrição,crescimento das margens de lucro e reduçãoda necessidade de mão de obra.

Agricultura com cobertura verdepermanente: os ganhos de subsistênciarealizados em prazo relativamente curtopela agricultura conservacionista são aquicombinados com a produtividadesustentada de longo prazo e com aresiliência do meio ambiente propiciadaspor árvores leguminosas e frutíferas. NoMalaui, o cultivo contínuo de milho juntocom árvores fertilizantes da família Gliricidiasepium, sem adição de adubo mineral,obteve produtividade média de 3,7 toneladaspor hectare em comparação com 0,5 a 1tonelada por hectare dos camposconvencionais.

Fonte: Ver nota 6 no final.

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cabras e bovinos em espaços confinados,juntando esterco para a compostagem que serápreparada com resíduos de culturas visando àmelhoria do solo. Eles estão diversificando seussistemas de produção para incluir vegetais,apicultura e piscicultura. Além disso, estãocultivando árvores que fornecem nutrientesimportantes para o cultivo, bem como frutas,forragem e lenha para uso próprio ou venda, eestão ainda protegendo as sementes de cultivarese espécies locais buscando a diversidade genéticados sistemas de cultivo.6

A Paisagem Agroecológica

Contudo, colocar em prática segurançaalimentar, restauração de bacias hidrográficas,conservação da biodiversidade e desenvolvi-mentos do mercado agrícola exige mais que a

adoção de algumas práticas individuais deagricultura. As organizações de agricultores ecomunidades agrícolas precisam colaborar comoutros grupos responsáveis pela gestão deflorestas, água, áreas alagadas, vida selvagem einfraestrutura, de forma a ampliar os efeitospositivos de suas práticas agrícolas ecológicasdando a elas uma escala de paisagem.

A agricultura ecológica baseia-se na ciênciada ecologia da paisagem, que avalia os padrõese fluxos de nutrientes, água, pessoas e fauna eflora através do mosaico dos usos da terra. EmLari, por exemplo, o padrão das florestas, asárvores nas propriedades agrícolas e as práticasagrícolas compatíveis proporcionam um hábitatimportante para pássaros e outros animaisselvagens. (Ver Figura 2–2.)7

A gestão do fluxo e qualidade dos recursoshídricos nas paisagens agrícolas requer tambémmanejo coordenado de terras e águas em partes

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Figura 2–2. Aumento da Produção em Propriedade Agrícola e Proteção da Floresta e da Vida Selvagem em Paisagens Agrícolas de Alta Densidade Demográfica

Materiais de florestasprotegidas são coletados de maneira sustentável,fornecendo produtosessenciais para a subsistênciae fontes de renda.

Árvores espalhadas em áreas decultivo protegem o solo, aumentame diversificam a produção efornecem alimento e cobertura para a flora e a fauna.

Agricultores produzemgrande número de

culturas, gramíneas eárvores em diferentespartes do mosaico da

paisagem. Isso diversificaa renda e cria nichos dehábitat para um amplo

espectro de plantas e animais

selvagens.

Agricultores fazem omanejo do solo deforma a manter amatéria orgânica com benefícios para a produtividade dacultura, infiltração daágua da chuva e abiodiversidade abaixo do solo.

Corredores de árvoresnativas conectamfragmentos da floresta,permitindo que a vidaselvagem passe pelasterras cultivadas.

Faixas de relva em encostasíngremes formam terraços quedesaceleram o fluxo de água e

reduzem a erosão.

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diferentes da bacia hidrográfica. A águaarmazenada na terra e usada pelas plantas (“águaverde”) é tão importante quanto a águasubterrânea, de rios e riachos (“água azul”).(Ver Figura 2–3). A boa gestão da água verdenas propriedades agrícolas e hábitats naturaispode fazer uma grande diferença para a produ-tividade agrícola, o bem-estar da comunidadee o desenvolvimento econômico.8

Para conseguir esses resultados vantajosospara todos é preciso negociação e cooperaçãoentre os diversos envolvidos na paisagem. Umagestão flexível – modificar planos para se adaptara situações variáveis e à nova tecnologia – é abase das paisagens agroecológicas.

Embora existam custos associados à açãocolaborativa, em muitas paisagens os partici-pantes estão descobrindo que os benefíciosultrapassam os custos. Na região do baixoTapajós, estado do Pará, Brasil, por exemplo, em

uma área anteriormente recoberta por floresta,agricultores autóctones introduziram umsistema agroflorestal de plantio de árvores aoredor das áreas de mata protegida que fossemcontíguas a áreas de produção intensiva. Essaação reduz a conversão do hábitat natural,incrementa o valor das áreas cultivadas e criauma matriz benéfica para hábitats fragmentados.O plantio de borracha em agroflorestas tradi-cionais foi revitalizado e adaptado de modo aintegrar os elementos da tecnologia de produçãomoderna que fossem compatíveis com sistemasagroflorestais de baixa necessidade de insumose baixo risco. Implantou-se ainda uma estratégiade colaboração para aprimorar o sistema,ampliada posteriormente pela população local,com pouca ou nenhuma ajuda externa e baixocusto. Esses esforços contribuíram paraincrementar a produtividade do recurso e alucratividade para a população autóctone que faz

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Figura 2–3. A Gestão de Água Azul e Verde em Paisagens Agrícolas

O fluxo desuperfície é rápidoe erosivo se nãofor desaceleradopor vegetação ououtras barreiras.

O alto teor de matériaorgânica aumenta acapacidade do solo dereter água; isso é água“verde”.

Árvores e outras plantas deraízes profundas melhorama infiltração da água dachuva, absorvendo parte daágua nas árvores e solos edesacelerando o fluxo daágua “azul” abaixo dasuperfície.

A água “azul” subterrâneaalimenta fluxos de superfíciesem declive e recarrega aquíferos.

Árvores, culturas e todas asoutras plantas absorvem a águado solo, liberando essa água“verde” na transpiração.

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sua gestão, ao mesmo tempo em que permitiuaos produtores garantirem direitos depropriedade de longo prazo.9

A restauração dos pastos comunais na savanado Zimbábue é mais um exemplo de plane-jamento estratégico tendo em vista a perspectivada paisagem. Uma área de 20.000 acres de pastocomum em Dimbangombe proporciona umhábitat importante para a vida selvagem nosparques nacionais de Hwange e Zambezi. A mágestão do pastejo havia degradado a qualidadeda forragem, o abastecimento de água e a biodi-versidade que mantêm a agricultura, a floresta,a pecuária, a vida selvagem e o turismo naregião. O sustento das pessoas estava ameaçado.Administradores criativos implantaram umsistema de pastejo rotativo muito bemcoordenado, em que imitaram a perturbaçãonatural do pastejo de animais selvagensaumentando o número do rebanho. Issoestimulou mais pisoteio e produziu mais estercoe urina, rejuvenescendo o solo e melhorando aaeração, a penetração da água, a germinação desementes dormentes e a fertilização. Em apenasdois anos a paisagem apresentava muito maisforragens e cobertura do solo, a retenção deágua havia melhorado e o principal rio da regiãovoltou a fluir. As mudanças no pastejoaumentaram a produção pecuária, e os animais,que antes morriam de fome, estavam bemalimentados. O número de cabeças perdidaspara os leões foi reduzido através de sistemastradicionais de cerca, tudo isso enquanto o valorda terra como um hábitat de vida selvagemtambém incrementava.10

Enquanto isso, iniciativas em Kericho, noQuênia, estão possibilitando que pequenosproprietários de cooperativas de cháadministrem 8.000 hectares de plantação dessaerva, com base nos princípios da Plataformapara Iniciativa Agricultura Sustentável. Osprodutores agrícolas estão usando coberturamorta e consórcio de culturas para obteraumento dos níveis de matéria orgânica no solo,enquanto valas (aterros), microrreservatórios e

sistemas de drenagem melhoram a conservaçãodo solo e da água. Nenhum tipo de inseticidaou fungicida é usado nos campos de chá.Pequenas manchas de florestas, áreas depântano, quebra-ventos e proteções de mataciliar estão espalhados pelos campos, fornecendolenha para secagem do chá e benefícios para aconservação do solo e do hábitat. A UnileverTea Company, que faz a gestão do programa,está cooperando com a Aliança da FlorestaTropical para o desenvolvimento de programasde certificação com a finalidade de propiciaraos agricultores um aumento de 10% a 15% narenda proveniente do chá. Esse modelo degestão e certificação está sendo replicado pelosprodutores rurais por toda Kericho e esperam--se benefícios para toda a bacia hidrográfica.11

O Potencial

Qual é o potencial que sistemas de agriculturaecológica, em paisagens agroecológicas, têmpara atender ao ritmo acelerado da crescentedemanda por comida? Será que eles conseguemcompetir de forma econômica – e chamar aatenção dos políticos – com campos demonocultura de sementes de alto rendimentoe com insumos agroquímicos?

Como as paisagens agroecológicas e aspráticas que as compõem visam satisfazermúltiplos objetivos sociais, ecológicos eeconômicos, elas deveriam, na realidade, seravaliadas com base nesses diversos critérios dedesempenho. Entretanto, ainda há relativamentepoucos estudos comparativos abrangentes, eaté que mais deles sejam feitos será difícil avaliarverdadeiramente as vantagens relativas dessasabordagens.

Mesmo assim, um número crescente deestudos vem documentando benefícios signi-ficativos para práticas agroecológicas em termosde produção, subsistência e meio ambiente. Em1999, o pesquisador de sustentabilidade JulesPretty examinou dados concretos de aumento de

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produtividade de diversas práticas agroecológicasem 286 projetos, executados em 57 países emdesenvolvimento, representando uma área totalde 37 milhões de hectares. Ele constatou ganhosmédios de produtividade de 79% em relação apráticas anteriores. Em 2007, uma análise detrabalhos científicos sobre os impactos de práticasde cultivo agroecológico na biodiversidadeverificou que o sistema agroflorestal, agriculturaorgânica, sebes de campo e talhões florestaistiveram impactos positivos em pelo menos trêsclassificações de vida selvagem, e estudos depráticas agroflorestais nos trópicos úmidosindicaram grandes vantagens para a biodiver-sidade.12

O Sistema Sustentável de Arroz Intensificado(SRI) é um sistema agroecológico baseado emseis práticas de manejo de plantas, solo, água enutrientes: plantar as mudas em idade jovem,espaçar as plantas umas das outras, usar matériaorgânica para fertilização (eventualmente comalguns produtos sintéticos), transplantar apenasuma ou duas mudas por colina, aplicar pequenasquantidades de água e alternar a rega e a secadurante o período de crescimento, e usarsachadores manuais e controle integrado depragas. Estudos em campos com SRI em oitopaíses em desenvolvimento revelaram que, emmédia, os agricultores aumentaram seusrendimentos em 47%, fazendo uso princi-palmente de adubos orgânicos, e ao mesmotempo economizando 40% de água, o querepresenta uma redução no custo de insumos de23% e um aumento de 68% na renda. As práticasaumentaram a produtividade dos recursos esimultaneamente diminuíram as exigências deágua, sementes, adubos sintéticos, pesticidas,herbicidas, e muitas vezes, de mão de obra, espe-cialmente nas tarefas executadas por mulheres. Oagricultor indiano Siddimallaiah percebeu outravantagem: “Durante a seca de 2009, minhalavoura com SRI teve boa produção, enquantoos campos que usavam práticas tradicionais deplantio e tinham um sistema de irrigação sofreramcom o solo partido e secaram”.13

Duas importantes e recentes análises inter-nacionais de ciência e tecnologia para o desen-volvimento agrícola chegaram à conclusão quemuitas práticas agroecológicas já apresentambom desempenho e apontam para um futuropromissor. A produtividade das culturas e oscustos de produção são muito melhores quandocomparados a sistemas de produção tradicionaisem que a produtividade existente é de baixa amoderada. Haverá muitos anos em que essaspráticas poderão competir com sistemasindustriais que fazem uso intensivo de insumos,e elas poderão também apresentar maior produ-tividade em anos de pouca chuva. Por outrolado, em alguns casos poderá haver custosmaiores de aprendizagem e adaptação e, emoutros, talvez seja necessária maior quantidadede trabalho, o que é preocupante emcomunidades com falta de mão de obra.14

Indicações do impacto na produção, noecossistema e na subsistência deste viés depaisagem agroecológica são ainda mais difíceisde mensurar de forma integrada. Existempoucos casos bem documentados. O projetode Reabilitação da Bacia Hidrográfica doPlanalto de Loess na China, por exemplo,ajudou os agricultores a reflorestar encostasíngremes, controlar o pastejo, nivelar os campose diversificar a produção. A produção per capitade grãos cresceu de 365 a 591 quilos por ano,a renda anual das famílias participantes doprojeto aumentou de US$ 70 para US$ 200por pessoa e a cobertura de vegetação perenesubiu entre 17% e 34%, reduzindo drasticamenteo fluxo de sedimentos para o rio Amarelo emmais de 100 milhões de toneladas por ano. Umprograma silvipastoril em Matiguás, Nicarágua,que introduziu a cobertura de árvores empastagens degradadas e pagou agricultores porbenefícios ecológicos, reduziu a área de terradegradada em dois terços, elevou a renda dosparticipantes, aumentou a cobertura efetiva deflorestas para 31% em toda a paisagem, econectou 67% de fragmentos de florestas porpelo menos uma via.15

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A medição da paisagem requer abordagenssimplificadas. A Iniciativa para Mensuração dePaisagens da EcoAgriculture Partners’ Inter-national reuniu especialistas de vários setorespara desenvolver um modelo de medição depaisagens, utilizando indicadores que sejamsignificativos para paisagens específicas emensuráveis pelas partes envolvidas. KevinKamp da CARE International observa que“precisamos descobrir como as mudanças naspráticas agrícolas afetam a fauna e a flora, baciashidrográficas e clima, de forma a podermosadaptar nossas estratégias com o tempo”.16

Realizar o Potencial

Não existem estimativas publicadas quanto àverdadeira proporção do total da área e daprodução atribuída às práticas agroecológicase iniciativas de paisagens agroecológicas, massabemos que, hoje em dia, são encontradas nosmais diversos contextos. Elas são estimuladasprincipalmente em lugares de grandeinsegurança alimentar e alta pressão poragricultura intensiva, mas onde os insumosindustriais são caros demais, não estãodisponíveis, ou são economicamente arriscadospara os produtores rurais. Também são vistasem locais em que a degradação do solo é umabarreira para a intensificação da agricultura eonde a degradação do ecossistema ameaça aprodução agrícola e a sustentabilidade, pelo fatode reduzir o fluxo da água de irrigação ou suaqualidade, causar inundações ou a perda dosrecursos de pastejo. Em outras partes, ademanda comercial está criando oportunidadesde mercado atrativas para sistemas de cultivocom certificação ecológica.

Estimuladas pela necessidade e tambémpelo conhecimento de práticas testadas pelotempo, organizações de produtores e comu-nidades rurais têm sido inovadoras e líderes nodesenvolvimento e divulgação de práticasagroecológicas. Os agricultores estão se orga-

nizando e defendendo o movimento agro-ecológico de base e foram os pioneiros domovimento de agricultura orgânica, o queacabou por levar a programas de certificaçãocapitaneados por organizações não governa-mentais.17

Estão também surgindo outros movimentospopulares pela defesa de ações coordenadas emgestão agrícola e do ecossistema. A Landcareteve sua origem nas comunidades rurais daAustrália, com o intuito de tratar das diversasformas de degradação do solo que ameaçavama produção agrícola e os ecossistemas locais, emobilizou uma rede de mais de 4.500 gruposvoluntários Landcare. Esse modelo foi adaptadopela International Landcare na Nova Zelândia,nas Filipinas, na África do Sul, em países daÁfrica oriental e em outras partes. Outro grupo,o Serviço de Conhecimento Comunitário(CKS), promove aprendizado social e troca deconhecimento entre comunidades agrícolas,pastoris, florestais e pesqueiras, locais eautóctones, que trabalham para fortalecer asubsistência e saúde rural, ao mesmo tempo emque preservam a biodiversidade cultural eeconomicamente importante. A CKS ajuda paraque as iniciativas das comunidades locais naÁfrica oriental, no sul da Ásia, nas Filipinas ena América tropical expressem o seu desejo emrelação a políticas e programas de preservaçãoda biodiversidade, da agricultura e do desen-volvimento rural. 18

Iniciativas coordenadas envolvendo paisagensque integram, especificamente, produtoresagropecuários estão proliferando. Uma novageração de projetos de paisagem que buscam apreservação da biodiversidade está sendodisseminada por organizações de conservação eórgãos públicos, com a participação de produtoresrurais. Esses projetos acontecem dentro e ao redorde áreas protegidas, como é o caso do programaAfrican Wildlife Foundation’s Heartlands, mastambém em regiões agrícolas com alto valor debiodiversidade, como o Cabo, na África do Sul.A Rede de Modelo Florestal Ibero-Americano

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apoia grupos formados por integrantes commúltiplos interesses, em 24 paisagens commosaicos agroflorestais, visando promover odesenvolvimento rural de forma a melhorar osustento dos agricultores, aumentar a produçãode alimentos e conservar os recursos florestais.19

Em alguns lugares, essas iniciativas de gestãode recursos e terras foram conectadas aestratégias mais amplas de desenvolvimentorural. As estratégias de desenvolvimentoterritorial na América Latina têm buscadoadaptar o planejamento do desenvolvimentosetorial e investimentos a prioridades locais.Populações autóctones que obtiveram controlepolítico local estão criando estratégias terri-toriais que refletem seus valores, tradições einstituições. O movimento pela soberaniaalimentar vem reunindo pequenos produtores,trabalhadores rurais, pescadores, pastores eartesãos, principalmente nos países em desen-volvimento, para redirecionar o controle daprodução e consumo de alimentos aos sistemaslocais. O movimento “alimento local” nosEstados Unidos e na Europa, entre outros, estáreavaliando o potencial de “silos” locais econectando produtores e consumidores atravésde cadeias de valores locais. 20

O agronegócio e a indústria alimentartambém começam a considerar os benefíciosdas práticas agroecológicas. Eles se preocupamcom a sustentabilidade a longo prazo de suasfontes de abastecimento e também com oatendimento da exigência de consumidores egovernos em relação à responsabilidade sociale ao meio ambiente. O rápido crescimento dademanda de mercado por produtos orgânicose com certificação ecológica está atraindo aatenção de investidores. Uma das expressõesdesse novo foco são as parcerias público-privadasque surgem para ligar iniciativas da cadeia deabastecimento de alimentos sustentáveis à gestãodas bacias hídricas e da biodiversidade. A MarsCorporation, por exemplo, está fomentandopráticas de sistemas agroecológicos e agroflo-restais para a produção sustentável do cacau e

sua melhoria genética e criando corredoresbiológicos que deem sustentação à biodiver-sidade da floresta tropical onde o fruto écultivado. Empresas como a Nestlé estãoajudando pequenos produtores na África, naÍndia e em outros países em desenvolvimentoa gerir os recursos hídricos locais e reduzir asemissões de gases de efeito estufa.21

Alguns governos estão criando programas deapoio à gestão da agricultura e do ecossistema.A TerrAfrica, por exemplo, é uma iniciativa multi-nacional para alinhar investimentos em terrasustentável e práticas de gestão de água por todaa África, inclusive com destinação de US$ 1bilhão a um portfólio de investimentos multis-setoriais. A TerrAfrica está colocando em práticaconhecimento e informação para ampliar aspráticas agroecológicas através de açõescoordenadas de diversas agências e gruposcívicos. Na América Central, oito presidentesconcordaram em promover uma estratégiaregional para o desenvolvimento territorial, comfoco nos territórios transfronteiriços consideradoscríticos para a produção agrícola, biodiversidade,conservação das bacias hídricas e redução dapobreza. Essas e outras iniciativas por todo omundo estão acelerando o aprendizado,ampliando a experiência e gerando fundamentos,com base na prática, necessários para popularizara agroecologia.22

Popularização

Discutir se práticas agroecológicas deprodução em paisagens de agroecologia serãocapazes de suprir toda a demanda por alimentosdo mundo não procede. Indícios disponíveisaté momento indicam que com essasabordagens é possível alimentar grande partedo mundo, e ao mesmo tempo lidar com umasérie de questões atuais que despontam arespeito da degradação do meio ambiente,ameaça da subsistência e pobreza.

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No mundo todo, apenas uma minoria dasterras cultiváveis estão localizadas em áreascontínuas e extensas com monoculturasintensivas e de alta produtividade dentro de ummodelo industrial, embora representem grandeparte da produção total e do comércio inter-nacional. A maior parte das propriedadesagrícolas está localizada em paisagens do tipomosaico, com grande oportunidade para se usaráreas não cultivadas para fins de conservação ede ajuda para que as comunidades agrícolassustentem ou restaurarem os valores doecossistema e ao mesmo tempo aumentem aprodutividade agrícola e atinjam objetivos maisamplos de desenvolvimento rural. 23

Além disso, apenas 10% da produção mundialde alimentos entra no mercado internacional.Mesmo que esse número aumente, a produçãodoméstica para consumo próprio aindaaumentará em termos absolutos e permanecerádominante em termos de área e produção total,principalmente em países de baixa renda comgrande população rural. Assim, a maioria dospaíses terá que aprender a cultivar maisalimentos e, paralelamente, melhorar a forma deproteger os ecossistemas e sustentar ascomunidades rurais.24

Um argumento muitas vezes mencionadopara se ignorar os custos locais da agriculturapara o meio ambiente é que grandes aumentosde produtividade são essenciais para impedirque as últimas florestas tropicais remanescentessejam desmatadas para dar lugar à terraprodutiva. A crescente demanda por commoditiese a contínua elevação de seus preços, os menorescustos relativos de produção e a lucratividadeprogressiva na agricultura estão, de fato, incen-tivando uma corrida pelo desmatamento deáreas nas florestas tropicais, mas para tratardessas questões, são necessárias políticas maisespecíficas. Entretanto, algumas das maioresameaças à biodiversidade estão dentro daspaisagens agrícolas – nas pradarias temperadase tropicais e nos bosques mais interessantes paraa expansão agrícola – e em ecossistemas de água

doce e salgada, ameaçados pelos impactos daprodução agrícola de outros lugares.25

A alternativa para as práticas agroecológicase as paisagens agroecológicas não é o status quo.Em algumas regiões que são hoje importantesprodutoras de excedentes de alimentos, comoo Punjab, o delta do Mekong e o norte doMéxico, o aumento da intensificação através demétodos de monoculturas baseadas em grandequantidade de insumos externos não é maissustentável. Os sistemas de irrigação estão setornando salinizados e a água subterrânea estáesgotada; pragas e doenças estão derrotandoos controles por produtos químicos; e háresistência política à contínua poluição da água.Além disso, a economia subjacente à produçãoagrícola está mudando à medida que os custosde energia, adubo e água sobem e as regula-mentações para o clima e meio ambiente seexpandem.26

As preocupações com as mudanças climáticasmotivarão investimentos na resiliência dasegurança alimentar, que será mais abrangentedo que apenas sementes e insumos agrícolasmelhorados. Em algum momento, o valor dosequestro de carbono na terra como forma dedesacelerar as mudanças climáticas seráreconhecido, e os produtores agrícolas serãorecompensados por seu armazenamento no soloe na vegetação. Também parece provável queaumentos na variabilidade das condições decultivo em decorrência do clima estimularãoesforços para a proliferação das espécies evariedades cultivadas e da consequentediversidade ambiental. Portanto, é quase certoque haverá mudanças significativas nos sistemasde cultivo e paisagens agrícolas.27

No âmbito político, as expectativas acercado papel social, econômico e ambiental daagricultura estão mudando. Em julho de 2010,por ocasião do Diálogo Para um Sistema deAção Compartilhada para Agricultura,Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas naÁfrica, um grupo de líderes africanos afirmouque, embora o crescimento da produção

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agrícola e a produtividade sejam funda-mentais para o continente, a estratégiaagrícola deve contribuir para uma trans-formação rural mais ampla. Em âmbitonacional, regional e local, os objetivospolíticos serão os de sustentar comu-nidades rurais viáveis, desacelerar oumesmo reverter a migração para fora docampo e sustentar os serviços doecossistema.28

Para se realizar o potencial das práticase das paisagens agroecológicas, seránecessário implantar investimentosestratégicos e políticas facilitadoras numaescala muito maior. A ação internacionalem relação ao clima precisa tornar osequestro de carbono ou a redução deemissões na agricultura uma prioridade.Governos e outras instâncias devem colocar emação mecanismos financeiros para dar apoio àsinovações dos produtores, testá-las e expandi--las. A infraestrutura deve ser colocada emprática de forma a promover o desenvolvimento,a disseminação e a adaptação sistemática daspráticas agroecológicas, com ou sem sistemasparalelos de distribuição de insumos industriais,principalmente para pequenos proprietários. Ascadeias de abastecimento do mercado e ainfraestrutura devem se adaptar a sistemasprodutivos mais diversificados. A seleção e omelhoramento de sementes para incrementara lavoura e reforçar sua resiliência, através desistemas geridos pelos agricultores e métodoscientíficos avançados, continuarão a ter papeldecisivo no desenvolvimento agrícola, mas com

atenção particular à incorporação de sementesmelhores em sistemas de produção agro-ecológicos diversificados.

À medida que o interesse político emreinvestir na agricultura global ganha impulso,é importante contemplar uma série deperspectivas. Sabemos que não há um métodoúnico adequado para todas as áreas em todasas condições. Precisamos ser mais sensíveis àsdiferenças no potencial socioecológico e investirem métodos mais adequados às diferentescondições. De fato, as práticas da agriculturaecológica nas paisagens agroecológicas são, pordefinição, específicas ao local, e nutridas pordiversas fontes de inovação. Nesse cenário, umavisão única não é provável e tampouco desejável.

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Revolvendo grãos secos de cacau em São Tomé

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Como em muitas partes da África, apopulação de Madagascar depende diariamentedo arroz. Para o povo malgaxe, esse alimentobásico simboliza família, tradição e economiarural. O arroz é cultivado em quase todas asregiões do país, sendo responsável por 80% da atividade agrícola da ilha.1

De acordo com recentes trabalhos delevantamento de dados realizados em algunsprojetos de colaboração, mais de milvariedades de arroz, inclusive variedadestradicionais e melhoradas, são cultivadas em Madagascar. Em cada ecossistema existeuma gama de variedades à disposição dosagricultores. No passado, o plantioconcentrava-se principalmente em variedadeslocais que pudessem assegurar umaprodutividade estável, como foi o caso emTsipala na região oeste, Makalioka na região do lago Alaotra e Rojo, nas regiõesmontanhosas.2

Muitas das variedades tradicionais são altas, chegando a mais de 1,2 m decomprimento. Os caules altos fornecem palhapara alimento de animais e para uso comocolchão, o que faz esse cultivo sermultifuncional. Além disso, a maioria dasvariedades tradicionais de arroz tem boacapacidade para formar moitas próximas, queas protegem dos efeitos nocivos de doençascomo a podridão da bainha, responsável peladeterioração da qualidade do grão e eventuaisdevastações de colheitas. Fertilizantes nãoaumentam a produtividade dessas variedades,ao contrário, elas respondem melhor ao usode esterco como fonte de nutrientes. Apesarde os agricultores nos planaltos preferirem as variedades de arroz vermelho porque elassatisfazem mais, a maioria dos consumidoresprefere o arroz branco.3

Assim, é importante trabalhar com osagricultores, ajudando-os a explorar diferentesvariedades de arroz para diferentes regiões econdições. O Centre National de la RechercheAppliquée au Développement Rural nãoapenas introduz novas variedades de arroz,mas também ouve os agricultores. O Centrotrabalha para adaptar tecnologias e inovaçõesdiferentes que atendam às própriasnecessidades dos agricultores, oferecendoserviços de extensão rural e testes no local.

A boa adaptabilidade em meios diversos foi o primeiro critério para uma estratégia demelhoramento do arroz. Tolerância a restriçõesde água, resistência a doenças (principalmentepara explosão de doenças nas regiõesúmidas), alto nível de fertilização denitrogênio, rusticidade e preferências quanto à qualidade do grão também foramconsiderados.5

Contudo, o desenvolvimento de umainovação não é suficiente, e os agricultoresdevem ser capazes de colocá-la em prática. Por exemplo, um Sistema de ArrozIntensificado aumenta a produtividade, masexige maior quantidade de mão de obra edepende de uma gestão rígida da água. Da mesma forma, híbridos F1 de arroz exigem grande quantidade de adubos caros.Essas inovações oferecem muitos benefícios,mas também têm defeitos que as tornaminviáveis para produtores locais de arroz.

Embora práticas agrícolas conservacionistascomo o preparo mínimo do solo e uso decompostagem possam prevenir erosão emelhorar o solo, Madagascar – mesmo comfinanciamentos do governo francês, entreoutros – não pode se comparar ao Brasil emtermos de agricultura conservacionista. No sul do Brasil, o plantio de coberturas,

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culturas intercaladas e outras práticasagrícolas de conservação são muito utilizadospara o milho. Mas o arroz irrigado é muitodiferente de outras culturas, e embora sejapossível consorciar arroz com trigo ou árvoresem projetos integrados de arroz e sistemasagroflorestais, nem todo agricultor será capazde adotar essas práticas. Há inovaçõessuficientes, mas elas não são aplicadas devidoa restrições locais, inclusive o acesso dosagricultores ao crédito, à terra ou aosmercados. A remoção das restrições e ofortalecimento dos direitos dos agricultoresdevem ser considerados para aliviar a fome e apobreza.

Com o aumento populacional emMadagascar nas últimas décadas, a produçãode arroz não consegue suprir a demanda porcomida. São necessárias novas tecnologiaspara vencer as restrições que limitam aprodutividade do arroz, e a produtividade deveaumentar em pelo menos 0,5-1,0 tonelada porhectare para que atenda à demanda. Umamelhor compreensão do sistema de produçãode arroz e do comportamento da varietal dearroz em ecossistemas diversos é essencialpara aumentar o aumento da produção.6

Em muitos lugares, o transplante tardio émantido devido à irrigação tardia de água, quefrequentemente vem de fontes distantes. As mudas no viveiro envelhecem e demoram a se recuperar após o transplante. Por razõesdiversas, uma grande quantidade de água énecessária para o crescimento do arroz nosarrozais, principalmente durante a floração,com cerca de 10 cm a 15 cm de profundidade.Contudo, secas que racham o solo e asubmersão de mudas devido à má drenagem

são bastante comuns e destrutivas para asculturas de arroz. São necessárias mudançasna gestão habitual da água para melhorar aprodutividade e diminuir o dano à lavoura.7

Entre o grande número de variedades,inclusive as cultivares semianãs quecontribuíram para o sucesso da RevoluçãoVerde, uma variedade melhorada chamadaMailaka foi adotada pelos agricultores deMadagascar. Essa variedade é conhecida porsua qualidade de cozimento porque seutamanho aumenta mais do que o de outras, ea mesma quantidade de grãos de arroz podealimentar muito mais gente. Campos dedemonstração in loco, bem como testesrealizados durante muitos anos e através demuitas estações e contando com aparticipação de agricultores, convenceram-nosdo potencial dessa variedade. Na realidade, elacobre muitas áreas de arroz e algumasorganizações de produtores estão começandoa criar sementes certificadas dessa variedademelhorada, fortalecendo o sistema desementes, muito necessário para o aumentoda produção de arroz.8

Ao mesmo tempo em que essa variedadefoi introduzida, outras linhagens obtidas apartir de cruzamentos de varietais locaistambém foram adotadas, contribuindo paramaior rendimento. Principalmente nas últimasdécadas, a disseminação das variedades dearroz de terras altas facilitou a expansão dessetipo de cultivo com emprego de técnicasaprimoradas, tal como o semeio direto sobrecobertura orgânica ou viva.

– Xavier RakotonjanaharyNational Center for Rural Development

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O Potencial Nutritivo e Econômico dos Legumes e das Verduras

Abdou Tenkouano

Há seis décadas, a oferta mundial dealimentos cresceu de forma radicalgraças ao desenvolvimento de espécies

mais produtivas de trigo e arroz introduzidaspelo Dr. Norman Borlaug e outros. Essasespécies eram mais bem adaptadas para cultivo,apresentavam melhor resposta a fertilizantes ealocavam parcela maior dos recursos do solo àfração comestível das culturas. Cultivadores deplantas e geneticistas mudaram a composiçãogenética das culturas para torná-las menosvulneráveis a doenças e a outros problemas. Taisconquistas ocorreram principalmente na Ásia e

na América Latina, duas das regiões maispopulosas do planeta, mas seus efeitos foramsentidos mundo afora, inspirando centenas deagrônomos que trabalhavam no desen-volvimento de outras culturas básicas.1

Entretanto, reproduzir esta Revolução Verdena África subsaariana, onde habitam aspopulações mais pobres e com maior taxa decrescimento demográfico do mundo, revelou--se difícil tarefa. Uma das razões é que essaregião com frequência é desprovida da necessáriainfraestrutura de apoio, outra se deve a umacompreensão insuficiente da natureza local do

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Em um mercado nos arredores de Niamey, Níger: pimentas e cebolas

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desenvolvimento agrícola. As atitudes daspessoas com relação a novas oportunidades sãodeterminadas primeiramente por suas escolhasalimentares e, em segundo lugar, por tecnologiasde aumento de produtividade a custo acessível,aí inclusas espécies melhoradas de culturas.2

Ainda assim, novas abordagens vêm trazendoperspectivas melhores para a oferta de alimentosna África subsaariana. Embora culturas básicascomo arroz, milho, trigo e mandioca sejam ofoco de muita pesquisa e investimento, aabundância de tais culturas se tornará apenasuma “Revolução dos Grãos” caso os legumes eas verduras necessários para uma dietaequilibrada sejam igualmente abundantes.

Nessa região, o consumo das culturas básicasé, de modo geral, acompanhado de legumes,portanto uma “Revolução das Verduras e dosLegumes” faz-se também necessária, pois otriste fato é que a África pode estar bemalimentada em termos de culturas básicas, masnão estará bem nutrida até que a dieta básica sejamelhorada. Caso contrário, milhões de pessoas,especialmente na África subsaariana, permanecerãovulneráveis a males que comprometem suasaúde física e mental. No mundo todo, doençasrelacionadas a dietas desequilibradas, sobretudoao consumo insuficiente de frutas e verduras,causam 2,7 milhões de mortes a cada ano eestão entre os maiores fatores de risco demortalidade. 3

Deficiências de micronutrientes, incluindo afalta de vitamina A, de ferro e de iodo, afetamcerca de 1 bilhão de pessoas, sendoextremamente comuns em populações rurais eurbanas na África subsaariana. Esse quadro levaa um mau desenvolvimento físico e mental,principalmente em crianças, acarretandodesempenho fraco no trabalho e nos estudos,prejudicando ainda mais as comunidades quejá enfrentam outros problemas de saúde epobreza. A deficiência de vitamina A, porexemplo, foi detectada em mais de 17 milhõesde pessoas na África ocidental e central,incluindo quase 500 mil crianças em idade pré-

-escolar nessa região. Essa deficiência pode levarà cegueira permanente em crianças e deprimiro sistema imunológico, predispondo-as assima contrair infecções do trato respiratório,sarampo e diarreia.4

É também generalizada a ingestão inadequadade ferro e zinco. No sudeste da Nigéria, porexemplo, chega a 50% o número de crianças e a61% o de mulheres que sofrem de anemia crônicadevido à deficiência de ferro. Esse problematambém está relacionado a dificuldades de apren-dizagem, retardo mental, desenvolvimento físicolimitado, e a uma capacidade reduzida decombater doenças infecciosas, acabando por levarà morte prematura.5

Como dado alarmante, o International FoodPolicy Research Institute prevê um aumentode 18% no número de crianças desnutridas naÁfrica subsaariana entre 2001 e 2020, e, mesmoassim, pesquisas envolvendo legumes e verduraspermanecem com grave carência de recursos.Em 2002, centros de pesquisa pertencentes aoGrupo Consultivo em Pesquisa Agrícola Inter-nacional investiram US$ 118 milhões empesquisa sobre cereais, mas apenas US$ 15,7milhões em pesquisas sobre frutas e verduras, ouseja, 13% do que foi investido em culturas decereais.6

Portanto, o custeio de pesquisas sobreverduras carece de investimentos justamentequando essas pesquisas são mais cruciais.Culturas básicas, com os seus longos ciclos decultivo, tendem a ser mais vulneráveis a ameaçasambientais e ao risco de quebra de safra. Emcontrapartida, espécies de cultura de legumes everduras têm ciclos mais curtos, apresentamcrescimento mais rápido, requerem poucoespaço e, portanto, são colheitas mais garantidas.Além disso, constituem ingredientes necessáriospara que os produtos de culturas básicas setornem mais palatáveis. Legumes e verduras sãoa solução sustentável para uma dieta diversi-ficada e equilibrada.

Felizmente, uma Revolução dos Legumes edas Verduras está bem ao nosso alcance.

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“Milhões de pequenos agricultores estãoempenhados em obter soluções de longo prazopara a fome e a pobreza crônicas por toda aregião.”, afirma Namanga Ngongi, presidenteda Aliança para uma Revolução dos Legumes edas Verduras na África. “Eles dispõem da terra,da energia, da experiência e da vontade decultivar a comida de que a África precisa para pôrfim à subnutrição que aflige mais de um emcada três africanos.”7

Ouvir os Agricultores

Para ser eficaz, uma pesquisa sobre verdurase legumes deve ser conduzida seguindo umdeterminado formato. Na África, como emqualquer lugar do mundo, existem preferênciasculturais por certos ingredientes, pratos e modosde preparo do alimento. Os pesquisadorespodem utilizar seus conhecimentos quanto àscaracterísticas biológicas dos ingredientes paradesvendar as origens genéticas subjacentes eentão usar essa informação para desenvolvernovos cultivares que melhorem e comple-mentem um determinado modo de preparo doalimento. O desenvolvimento dessas novasvariedades a partir do uso final pode seradaptado para a produção em escala, gerandoprodutos destinados não apenas aos agricultorestradicionais que produzem para consumopróprio ou para pequenos mercados locais, mastambém para produtores de culturas especia-lizadas que fornecem para a indústria de proces-samento.8

Para que isso funcione de forma eficaz, énecessário haver contribuição e participação dosagricultores no processo de pesquisa. A avaliaçãodentro da propriedade agrícola requer que sedesenvolvam mecanismos eficientes de moni-toramento dos avanços obtidos, e também quese garanta um bom entendimento entrepesquisadores e agricultores. Os programas maiseficazes de pesquisa participativa procuramgarantir um fluxo contínuo de informações dosagricultores aos pesquisadores, e destes de volta

aos agricultores, incluindo avaliação partici-pativa, seguida por testes das melhores opções,identificação dos melhores resultados, e aindaa multiplicação e disseminação desses melhoresresultados (Ver Quadro 3–1).9 A escolha dasmelhores variedades deve ser feita considerandoa localização geográfica, pois as diversasvariedades respondem de forma diferenteconforme o ambiente.

Além disso, como foi mencionado, existemdiferenças culturais quanto às preferênciasvarietais. Cozinheiros de uma região ou país, porexemplo, podem preferir cebolas vermelhas maisdoces, ao passo que agricultores de outras regiõespodem preferir plantar cebolas brancas devido aseu longo tempo de armazenagem. Comoresultado, a escolha das melhores variedadesprecisa ser feita pelos próprios agricultores, deforma a identificar as variedades com maior pro-babilidade de aceitação por produtores e consu-midores em suas comunidades.

Por este motivo, o World Vegetable Center(Centro Mundial de Legumes e Verduras, antesconhecido como Asian Vegetable Research andDevelopment Center – AVRDC – em Taiwan)consulta agricultores como Babel Isack, quecultiva tomates na Tanzânia e aconselha oAVRDC quanto às melhores variedades detomate para atender às suas necessidadesespecíficas, incluindo variedades que nãoprecisem de pulverização química ou que duremmais quando armazenadas, evitando assimdesperdício. Para os agricultores, é tambémimportante saber o que os consumidoresdesejam das diferentes variedades de verduras elegumes. Workshops, conferências ou dias nocampo, como os promovidos periodicamentepelo AVRDC ou pelo Centro de Pesquisas parao Desenvolvimento Internacional, podem reuniragricultores, consumidores, empresas e acomunidade para juntos descobrirem quaisvariedades de cebola, tomate, berinjela e quiaboas pessoas realmente preferem.10

Os dias em campo também treinam os parti-cipantes sobre como produzir as sementes de

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que precisarão. Porém, para garantir oatendimento à crescente demanda por sementestrazida pela maior conscientização dosagricultores quanto a novas variedades, éimportante que os institutos de pesquisarealizem um trabalho conjunto com empresasde sementes do setor privado. Essas empresaspodem avaliar e iniciar o plantio das variedades,aquelas selecionadas por agricultores, nasfazendas administradas pela empresa. Destaforma, as decisões dos agricultores sobre osmelhores tipos de variedades são comunicadasdiretamente aos produtores de sementes, quepodem, por sua vez, atender a esta demanda. Asempresas podem também dar início à pesquisanecessária para garantir que as novas variedadesestejam em conformidade com as exigênciasregulatórias para a produção e certificação desementes.11

Além disso, reunir agricultores e pesquisa-dores ao longo do ano, assegurando, assim, quecontinuamente aprendam uns com os outros,ajuda a garantir que os dois grupos contribuampara a descoberta coletiva do que funcionoubem, onde e por quê.

Levar Sementes aos Agricultores

A opinião dos agricultores precisa ser apoiada,e, sua voz, amplificada, de tal forma que assementes das variedades de sua preferência setornem disponíveis por toda a Áfricasubsaariana. Na maioria dos países da região, osistema oficial de distribuição para legumes everduras ou não funciona (as sementes nãochegam aos agricultores que precisam delas),ou então é cópia dos sistemas utilizados paradistribuição da produção agrícola básica ou deprodutos agrícolas comerciais (industriais). Umexame dos sistemas regulatórios nacionaisrelativos a sementes é uma maneira monótona,porém necessária, para facilitar a disponibilizaçãode novas variedades. Leis melhores relativas asementes poderiam também amparar produtorese empresas de sementes locais para terem acesso

ao lucrativo mercado de sementes, em geral,dominado por variedades importadas muitasvezes não adaptadas às condições locais.

Qualidade é um insumo essencial para aprodução de hortaliças saudáveis e nutritivas.Sementes melhores se traduzem em maisvitaminas e mais sabor no alimento e comidamais saborosa resultando, por fim, em menosfome e subnutrição. A geração de sementes dequalidade requer um domínio tanto do conhe-cimento técnico da biologia das sementes (aíinclusa a capacidade de superar eventuaisrestrições biológicas), quanto da competênciagerencial para administrar uma empresa desementes. O treinamento das pessoas emempresas de sementes envolvendo essashabilidades, com frequência negligenciadas,assim como o desenvolvimento de sistemasmelhores de secagem e embalagem de sementespoderiam fazer uma diferença considerável tantona qualidade quanto na quantidade de sementeslocais vendidas. Comerciantes de sementes naTanzânia, por exemplo, realizaram um trabalhoem conjunto com o AVRDC para aprendermétodos melhores para conservação dassementes, e, depois, rotulá-las de maneiraadequada, de forma que os agricultores saibamcomo e quando devem ser plantadas.12

Além do apoio técnico e gerencial, para sefornecer sementes de qualidade enfrentam-selimitações relativas a políticas. O maior problemaaparenta ser a falta de acesso do setor privado àssementes de base – as primeiras disponibilizadaspara produção de sementes – fornecidas pelosetor público. Formular estratégias inovadorasque reúnam agricultores, pesquisadores e comer-ciantes de sementes seria de grande auxílio paraajudar a fortalecer os sistemas de sementes delegumes e verduras na África, e também garantiriafácil acesso dos agricultores a sementes adaptadasà região, a preços compatíveis.13

Embora não sejam vistas como opçõeslucrativas por grandes multinacionais, asvariedades de sementes de polinização aberta(VPAs) continuam a ser extensamente plantadas

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Quadro 3-1 Inovações em Melhoramento de Espécies: Necessidade e Promessa

Embora o melhoramento de espécies vegetaisremonte a 12.000 anos, a necessidade de fazê-lonunca foi tão urgente. O cultivo de alimentossuficientes para uma população que não para decrescer – e dobrou entre 1960 e 2000, tendochegado a 6 bilhões, possivelmente alcançandoperto de 9 bilhões até 2050 – demandaráinovações extraordinárias em termos demelhoramento de espécies vegetais. Durante osúltimos 50 anos, a segurança alimentar mundialvem se ancorando em um incremento anual de2% a 4% na produtividade da lavoura das cincomaiores culturas que alimentam a humanidade.

Talvez essa urgência seja maior na Áfricasubsaariana, onde a pressão populacional éintensa, mas onde variedades mais recentes deculturas de gêneros alimentícios têm poucapenetração. Em 2003, por exemplo, o aumentona produtividade anual das variedades maismodernas representou 86% de todo ocrescimento da produção de alimentos na Ásia e na América Latina, porém menos de 10% naÁfrica subsaariana. As variedades modernasrepresentam mais de 80% das variedades deculturas na Ásia, mas abaixo de 20% na Áfricasubsaariana, com exceção da África do Sul.

Hoje, o melhoramento de espécies éresponsável por 50% do crescimento daprodutividade e 40% do crescimento daprodução na Ásia e na América Latina. Ganhosdestas proporções são críticos para o futuro daÁfrica. Felizmente, o histórico de melhoramentode espécies e os novos conhecimentos comrelação a maneiras de maximizar a propagaçãode variedades modernas favoráveis trazemferramentas e inspiração para enfrentar o desafiode alimentar a crescente população africana.

O exemplo emblemático dos aumentossurpreendentes em produtividade que omelhoramento de espécies possibilita é aindústria americana de híbridos de milho.

De acordo com a Aliança de Produtores deMilho, híbridos de milho desenvolvidos pelosetor público nos anos 1930 originaram umganho que multiplicou por seis a produtividadepor acre desde 1931. Um exemplo mais relevantepara o mundo dos países em desenvolvimento éa história de inovação em melhoramento deespécies, a Revolução Verde na Ásia e na América

Latina. Ela teve início no México, em 1944,quando a Fundação Rockefeller, em parceriacom o governo, instituiu um programa demelhoramento do trigo liderado por NormanBorlaug.

As variedades anãs desenvolvidas por esse programa, com alta produtividade e boaresposta a fertilizantes, dobraram a produçãono México. Este se tornou um movimentomundial quando as variedades anãs foramintroduzidas com sucesso na Índia e noPaquistão no início dos anos 1960, seguindo--se ali a triplicação da produção de trigo. O sucesso das variedades de trigo anãs foirapidamente replicado com o arroz: avariedade semianã IR8, desenvolvida peloInstituto Internacional de Pesquisa do Arrozem Manila, aumentou a produção de arroz naÍndia de 2 para 6 toneladas por hectare entre1961 e 1970, fazendo da Índia um dos maioresprodutores mundiais de arroz.

É claro que híbridos com potencialradicalmente novo não revelam a históriainteira por trás do crescimento da produção.Os agricultores devem mostrar-se receptivosàs novas variedades para que estas seespalhem, e não o farão a não ser que essasvariedades atendam às suas necessidadeslocais específicas. Isso implica fazer com que haja diálogo entre agricultores epesquisadores, em um processo chamadomelhoramento genético participativo oupesquisa participativa.

Um bom exemplo dessa postura é o casodo melhoramento da mandioca, uma raiz decultura tropical, para adaptar-se à regiãosemiárida no nordeste do Brasil.

Essa região se caracteriza por baixafertilidade do solo e por secas que perdurampor vários meses. Intensas infestações depragas e doenças podem levar a perdas de até 100%. Embora a mandioca seja a principalcultura para a subsistência local, aprodutividade é muito menor do que norestante do país, e os agricultores preferiramnão adotar variedades geradas através decruzamentos de pesquisa de campoconvencional por serem melhoramentosenvolvendo solo, clima e condições

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Quadro 3-1 continuação

socioeconômicas muito diversas, trazendoresultados aquém do esperado.

No início dos anos 1990, a Empresa Brasileirade Pesquisa Agropecuária e seus agentes locaisderam início a um programa de melhoramentogenético participativo em nove comunidades apartir de nove clones melhorados de mandioca euma variedade local de controle. No anoseguinte, esse trabalho foi estendido a outras 17comunidades com uso dos mesmos nove clones,dos quais quatro foram selecionados comoresultado desse trabalho, e daí distribuídos pelaregião. O segundo estágio da pesquisa envolveu305 testes de campo em 70 comunidades,envolvendo 1.500 famílias de agricultores.

Oito variedades foram oficialmentedistribuídas e multiplicadas, e mais doze foramidentificadas como possuindo alta probabilidadede aceitação por agricultores. O melhoramentogenético participativo foi eficaz para aumentar aaceitação e, mais importante ainda, paraaumentar a produtividade dentro do período doestudo, de 10 anos.

A pesquisa participativa funciona igualmentebem na África, onde pequenos agricultorescultivam mais de 4 milhões de hectares de feijõesa cada ano, fornecendo alimento a pelo menos100 milhões de africanos e gerando rendimentosde centenas de milhões de dólares. O início dosanos 1990, porém, representou um períodosombrio para produtores e consumidores defeijão no leste da África, quando a doença dapodridão radicular dizimou as colheitas. Emresposta, cientistas da Aliança Pan-Africana paraPesquisa sobre Feijão (Pan-Africa Bean ResearchAlliance – PABRA) identificaram variedadesresistentes de feijão de arbusto e de trepadeiraque, aliadas ao controle integrado de pragas edoenças com base no conhecimento eexperiência dos produtores locais, demonstraramser eficazes no combate tanto da podridãoradicular quanto de outras doenças e pragas. Até 2004, um total de 245 novas variedades defeijão havia sido disseminado nos 18 países ondea PABRA estava presente. Pesquisas recentessobre o impacto dessa ação indicam que quase35 milhões de agricultores estavam semeando as novas variedades.

Os países da África subsaariana compõem--se de sociedades predominantemente agráriasem que a agricultura prevalente é a depequenos proprietários de terras, comrecursos limitados para produção e arcandocom o ônus adicional de um solo frágil epouco fértil. Essas condições rigorosasrepresentam a situação ideal para inovaçõesem melhoramento genético. Entretanto, comojá mencionado, fazer com que os produtoresadotem novas variedades pode se revelar umdesafio. Os pioneiros nesse processo são umfator crítico: se forem bem-sucedidos, tornam--se líderes de opinião em um sistema socialque preza pela comunicação informal.

Uma visível tendência na África subsaarianaé o ingresso de uma nova classe deagricultores na atividade agrária: na maiorparte, profissionais de meia idade, alguns jáaposentados, que decidiram começar a plantar.Esses indivíduos poderiam se tornar ospioneiros que introduziriam inovações emmelhoramento de espécies, que, por sua vez,trariam melhoria em produtividade. Mas elesprecisam de maior acesso a variedadesmodernas adaptadas à sua região, juntamentecom pacotes de produção aperfeiçoados. O desenvolvimento de cerca de 1.600variedades para as 16 culturas principaisespalhadas pela agroecologia de umcontinente inteiro é uma tarefa hercúlea.

Considerando as limitações de investimentopelo setor público, as parcerias público--privadas se tornaram interessantes. Um exemplo desse tipo é o movimento Milho com Consumo Eficiente de Água para a África,uma parceria entre a Monsanto, o CentroInternacional de Milho e Trigo no México,Institutos Nacionais de Pesquisa Agrícola decinco países africanos, e a Fundação Africanade Tecnologia Agrícola.

Agricultores da África subsaariana precisamter acesso à mais eficiente tecnologia demelhoramento genético de culturas. Facilitar esseprocesso será de grande ajuda para o aumentode produtividade das culturas na África.

Martin FregeneDanforth Plant Science Center

Fonte: Ver nota 9 no final

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por agricultores da região subsaariana por boasrazões. Ao contrário das sementes híbridas, essassementes não precisam ser adquiridas a cadaépoca de plantio, e são muito menosdispendiosas. Na maior parte dos casos, híbridosde hortaliças são caros demais para pequenosagricultores, e, de modo geral, são desenvolvidospara áreas agrícolas com altos insumos, namaioria das vezes não conseguindo prosperarem áreas com baixos insumos. É, portanto,essencial que as empresas nacionais menoresque sejam produtoras de sementes continuema reconhecer que há mercado para as VPAs,estimulando e atendendo com eficiência àdemanda dos agricultores por esse tipo desemente.14

Há Alguns anos, por exemplo, cientistas doAVRDC desenvolveram duas novas variedadesde tomate (Tanya e Tengeru 97) que não sóapresentam produtividade maior que a dasplantadas anteriormente, mas também possuempele mais grossa e são muito menos vulneráveisa pragas e a danos no transporte. São particu-larmente resistentes ao vírus do mosaico dotomateiro, murcha de fusário e nematoides degalha, e apresentam maior tempo de armazena-gem (duram até três semanas em temperaturaambiente), o que ajuda a evitar desperdícios.Grandes empresas começaram a comercializaras duas variedades, que também vêm sendoutilizadas como genitores para a produção dehíbridos com boas características de horti-cultura.15

Seis anos após a introdução dessas novasvariedades, verificou-se que elas estavam sendocultivadas por mais de dois terços das famíliaspesquisadas na Tanzânia. Em 2003/2004, asnovas variedades de tomate eram encontradasem mais de 80% da área utilizada para o cultivoda fruta. A produtividade deu um salto de maisde um terço, em grande medida devido à maiorresistência dessas variedades ao vírus do mosaicoe à lagarta do tomateiro. Como o custo variávelmédio de produção ficou 17% mais baixo, olucro líquido total aumentou, ficando de fato

40% maior do que o obtido com as variedadesde tomate anteriormente cultivadas.16

Tirar proveito de Legumes eVerduras Autóctones

Hortaliças nativas da África vêm sendo hámuito tempo ignoradas pela agricultura conven-cional. Em muitos países, essas culturas recebempouca atenção em termos de pesquisa e desen-volvimento, levando a enormes lacunas deinformação. São nomes pouco familiares, comoamaranto, baobá, feijão-fradinho, irvingia,ensete, moringa, spider-plant, e muitas são nãoraro consideradas ervas daninhas.17

No entanto, essas e muitas outras plantasnativas representam uma fonte importante denutrientes para milhões de pessoas. Algumas sãousadas há milhares de anos e possuem profundasraízes culturais, além de ajudar no aumento dasegurança alimentar e na renda. Essas “ervasdaninhas”, porém, ricas em proteína, cálcio eoutros micronutrientes importantes, e tambémsaborosas, são geralmente negligenciadas na listainternacional de prioridades para recursosagrícolas, a despeito de seu relevante potencialno combate à fome na África subsaariana.

Com o contínuo aumento de preços dealimentos no continente (em alguns países ospreços chegam a alcançar níveis 50% a 80%superiores aos de 2007), legumes e verdurasautóctones vêm se tornando parte integrantede hortas residenciais. E conforme os impactosdas mudanças climáticas se tornam maisevidentes, a resistência e a tolerância dashortaliças tradicionais às secas se torna cada vezmais importante. Muitas delas consomemmenos água do que variedades híbridas, ealgumas são resistentes a pragas e a doenças,que tendem a aumentar com a intensificaçãodas mudanças climáticas. (Ver Quadro 3-2)18

A produção continua a ocorrer em pequenaescala, com agricultores detendo a custódia domaterial genético e das tecnologias porproduzirem principalmente para subsistência.

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Entretanto, é crescente o interesse por verdurase legumes tradicionais por conta de maiorconscientização e educação sobre os seusbenefícios nutricionais e para a saúde, assimcomo do enriquecimento das receitas tradi-cionais. Isso tem aumentado a demanda porsementes de qualidade e por linhas ecultivares melhorados.

Três linhas melhoradas de amaranto,por exemplo, com folhas mais macias eadocicadas do que as das variedades locais,geraram um novo setor para pequenosagricultores próximos a grandes cidadesno leste da África. Essas novas variedadespodem ser colhidas em apenas 21 a 28dias (outras variedades levam mais tempo),e podem ser cozidas com muito maisrapidez (o que significa menos trabalhopara as mulheres e menor uso de materialcombustível). Empresas nacionais desementes estão comercializando algumasdessas linhas melhoradas na Tanzânia eem Uganda. Em algumas regiões, essasempresas estão enfrentando dificuldadespara atender à crescente demanda.19

Pesquisadores e agricultores vêm trabalhandoem conjunto no desenvolvimento das linhas deberinjelas africanas, a Tangeru White e asvariações com preço mais elevado e de saboradocicado, DB3, AB2 e RW14. Essas linhasforam popularizadas em diversos países atravésde avaliações no local de produção, em canteirosde demonstração, atividades de campo naTanzânia e no Quênia, e em feiras e exposiçõesagrícolas. As sementes para cultivo dessas linhassuperiores foram também distribuídas ainstitutos de pesquisa associados, a organizaçõesnão governamentais (ONGs), e a empresas desementes para teste interno seguido de testesde campo em múltiplas localidades.20

Como essas variedades foram adotadas ecomercializadas de forma mais abrangente, elasestão mudando a percepção de berinjelas como“comida de pobre”. Hoje em dia, a berinjelaafricana aparece com regularidade nas prateleiras

de mercados e de supermercados, sobretudona Tanzânia. Empresas locais de sementes deraminício à produção em escala, e grupos depesquisa (incluindo o AVRDC) vêmtrabalhando em parcerias com outras empresasde pesquisa para agilizar a distribuição oficial

de variedades e o processo de registro paraalgumas das linhas mais promissoras.21

Uma pesquisa recente indica que as novaslinhas já estão fazendo diferença. Umaestimativa da participação do cultivo domésticono plantio da berinjela africana em quatropovoados no distrito de Arumeru, na Tanzânia,aponta nível de renda e índices de posse de terrapor mulheres significativamente mais elevadosdo que em povoados que não plantam berinjela.A variedade DB3 pode ser colhidasemanalmente por sete meses, e produzida poraté 15 meses desde que seja podada ao final daestação. Um agricultor normalmente conseguecolher de 10 a 20 sacas de berinjela (de 30 kgcada) a cada semana durante toda a estaçãoprodutiva de sete meses, recebendo US$ 2.500por hectare por ano, ou seja, quase o dobro darenda possível de se obter com tomates.Produtores da berinjela africana alocaram mais

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Feijões-fradinho descascados, Nigéria

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Quadro 3–2. Itens Alimentícios Autóctones e Mudança Climática

No Quênia, um ciclo devastador de seca eenchentes reflete o que há de pior nas mudançasclimáticas, ameaçando a saúde e a sobrevivênciados habitantes mais pobres e sob maiores riscos.Embora o governo venha tentando melhorar acapacidade de produção de alimentos do paísatravés de verbas para projetos dedesenvolvimento agrícola e rural e paraprogramas ambientais, recursos e técnicasagrícolas fundamentadas na agricultura ocidentalpodem não ser a solução adequada.

Para Mary O. Abukutsa-Onyango, umacientista, professora e pesquisadora dehorticultura na Universidade de Agricultura eTecnologia Jomo Kenyatta de Nairóbi, o problemade se utilizar métodos agrícolas ocidentais noQuênia é o desperdício da incrível diversidadeque um dia fez das plantas nativas do país fontesde alimento confiáveis e nutritivas. “Das cerca de200 espécies autóctones usadas por quenianoscomo verduras e legumes no passado, a maioriaera colhida em áreas selvagens, semicultivada oucultivada. Hoje em dia, muitas estão extintas oucaíram no esquecimento”, observa ela.

O que Mary Abukutsa-Onyango almeja é umasolução de longo prazo que utilize as ferramentasdisponíveis, incluindo o solo árido e poucoprodutivo das planícies do Quênia, para provocaruma revolução duradoura na agricultora daregião, que ela chama de revolução dos“alimentos nativos”. E ela se dedica àsobrevivência da agricultura do Quênia não comouma ramificação das técnicas ocidentais demonocultura, sob protecionismo, porém de difícilrealização, mas sim como a abordagemtradicional quanto à produção de alimentosprevalente antes da intervenção europeia.

Com esse propósito, Mary Abukutsa-Onyangoreintroduziu itens como a nightshade africana e oamaranto junto a agricultores locais e criou umsistema para colocá-los de volta ao mercado. “Atéagora, contabilizamos cerca de 100 agricultoresou grupos de agricultores [contatados] ... queforam treinados em todos os aspectos do plantiode culturas locais nativas, da produção desementes ao processamento, utilizando métodosorgânicos. Os produtores que se saírem bemtambém recebem instruções simples sobretécnicas de conservação de alimentos, como

desidratação, que aumentam o tempo dearmazenagem, retendo ao máximo o teor denutrientes, e são conectados aossupermercados para escoar sua produção. Por receberem intenso treinamento, elesconseguem passar adiante seu conhecimentoda cultura de espécies autóctones de alimentodentro de sua comunidade.”

Esses itens alimentícios nativos, depois deanos sendo desdenhados e vistos comoadequados apenas em épocas de escassez,estimularam uma indústria caseira direcionadaa reduzir a pobreza e melhorar a dieta dascerca de 6,5 milhões de crianças do país.Embora Mary Onyango anteveja o uso dasplanícies quentes e áridas para o plantio deculturas autóctones como a de bambara, elanão se opõe ao uso dos planaltos, de climamais fresco e úmido, para culturas que geremmais renda. “Por exemplo, a bambara e aervilha-de-pombo nativas têm maiorprodutividade relativa em solos pouco férteiscom pouca chuva, quando comparados aofeijão. Isso possibilita um modelo de produçãodiversificado e sustentável que garantasegurança nutricional e prosperidade.”

Quanto a uma coisa, entretanto, ela écategórica: “Não acredito que possamosresolver as questões de segurança nutricional,pobreza e saúde no Quênia sem nosapoiarmos nas culturas autóctones africanas.Com o agravamento da crise de alimentos, ecom a expectativa de colheita do milho 16 %inferior à dos anos anteriores como resultadodas mudanças climáticas no Quênia, os únicosgrãos que poderiam substituirsatisfatoriamente o milho, em minha opinião,seriam o sorgo e o painço nativos, queapresentam maior tolerância às secas.”

Portanto, a solução proposta por MaryOnyango, que propõe harmonia com anatureza em vez da tentativa de controlá-la,pode se revelar a única alternativa adiante emum mundo em processo de aquecimento – enão apenas considerando-se a África, mas todoo planeta.

Jeanne RobertsEscritora ambiental, Minnesota

Fonte: Ver nota 18 no final.

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área (0,76 hectar, em média) ao cultivo de itensalimentícios e obtiveram renda anual estimadamaior (US$ 2.041) do que aqueles que nãoplantaram essa hortaliça (0,70 hectar e US$1.692).22

Há também demanda crescente pelanightshade africana, outra verdura folhosa, emparticular em supermercados, mercearias,varejistas e hotéis, graças a atividades promo-cionais de institutos de pesquisa e ONGs noleste da África. Essa hortaliça tem alto teor debetacaroteno, um precursor da Vitamina A. Osprodutores, de modo geral, conseguem produ-tividade de cerca de 3 toneladas por hectare,uma triste comparação com o rendimentopotencial de cerca de 30 toneladas por hectare.Os agricultores receberam treinamento para oplantio de nightshade e estão conectados comos mercados; a maior limitação advém da faltade sistemas de fornecimento de sementes. Paraacompanhar aumentos em consumo e demanda,a aclimatação e comercialização desses produtos,junto com a seleção e introdução de linhas doSolanum scubrum, ajudaram a melhorar aprodução. Sementes de algumas dessas linhas jáestão sendo comercializadas por empresas noleste da África como variedades chamadas deNightshade Gigante e folha média de LongaDuração.23

O feijão-fradinho é outra hortaliça autóctonecom alta demanda, mas oferta limitada. Emborahaja variação genética suficiente e disponívelpara o desenvolvimento bem-sucedido decultivares para produção de folhas, até omomento o foco tem sido dirigido princi-palmente a melhoras na produtividade dosgrãos. Entretanto, é possível explorar avançosno desenvolvimento de variedades para maiorresistência e tolerância a estresse, pelo processode seleção do feijão-fradinho como um legumefolhoso, ajudando, assim, agricultores e consu-midores a tirar proveito de seus benefícios nutri-cionais. Pesquisadores conseguiram desenvolver

seleções úteis, tais como “Tumaini’ e “Vuli”,atualmente comercializados por empresas desementes. E, para ajudar a fechar o círculo,mulheres agricultoras da favela de Kibera, emNairobi, receberam treinamento do AVRDCpara plantar e vender sementes a agricultoresda zona rural, deste modo aumentando a rendadessas mulheres.24

No entanto, não é suficiente apenas sabercomo cultivar legumes e verduras autóctonespara aumentar a renda: as pessoas precisamtambém saber o modo de consumi-los comoalimento. ONGs como a Slow Food Interna-tional vêm trabalhando com crianças parareacender o interesse e o gosto por hortaliçasregionais, e ao mesmo tempo, institutos depesquisa, incluindo o AVRDC, estão ensinandoa consumidores como preparar as diferentesvariedades. Muitas vezes, os legumes e asverduras são cozidos por tanto tempo, queperdem a maior parte dos nutrientes. Pararesolver essa questão, mulheres estão recebendotreinamento de institutos de pesquisa e detécnicos de extensão rural sobre formas demelhorar o valor nutritivo de alimentoscozidos.25

“É comer para crer”, como diz Mel Oluoch,que já trabalhou para o AVRDC. Ele observaque, quando as pessoas descobrem o quanto ogosto da comida melhora, gastando tão menosmaterial, combustível e tempo, elas nemprecisam de muita argumentação a favor demétodos alternativos.26

Uma revolução agrícola que funcione bempara agricultores, para empresas e para o meioambiente deve envolver mais do que apenas aprodução de calorias suficientes sob a forma dearroz, mandioca, ou trigo. Terá de incluiramaranto, folhas de feijão-fradinho, nightshadeafricana, spiderwiki, e berinjela africana, ou seja,as hortaliças que melhoram o paladar daquelesprodutos básicos.

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Em Uganda, a agricultura é com frequênciauma opção de último recurso para os jovens:eles são forçados a escolher essa atividade senão se saírem bem nos estudos ou nãotiverem recursos para frequentar umauniversidade. Como consequência, muitosdepreciam a lavoura e passam a menosprezara agricultura. Além disso, o interesse e acompreensão em relação à comida regional e àcultura a ela relacionada em Uganda caiudrasticamente.1

Entretanto, em Uganda e em outras regiõesda África subsaariana, alguns estudantes nãosó estão aprendendo a importância dascomidas regionais, mas também estãoaprendendo a gostar de agricultura. Trinta euma escolas e mais de 1.100 alunos país aforafazem parte de um projeto conjunto com aSlow Food Mukono Convivium, uma filial daSlow Food International que foi ali“estabelecida para melhorar o relacionamentoda juventude com a agricultura e paradesenvolver métodos inovadores parasoberania duradoura em termos dealimentação.”2

O Projeto DISC (sigla em inglês paraDesenvolvimento de Inovações para o Cultivoem Escolas) iniciou-se em 2006 para despertarjunto aos jovens o gosto por alimentosplantados e produzidos localmente, em umesforço para combater a crescente escassez dealimentos e para defender as tradiçõesculinárias de Uganda.3

Professores e voluntários ajudam ascrianças a aprender como cultivar variedadesde culturas locais utilizando métodostradicionais e sadios em termos ambientais.Por conta de sua experiência plantando,experimentando e preparando frutas everduras, as crianças não apenas passam aapreciar a agricultura, mas também aprendem

a importância de se consumir alimentos deboa qualidade e produzidos de forma justa.4

Em 2009, o projeto começou umacolaboração com a Slow Food Internationalpara a criação de 17 hortas em escolas e para a integração de um novo programa dedegustação e experimentação sensorial aocurrículo escolar. Durante o ano letivo, oprojeto atraiu muito a atenção decomunidades locais, assim como do resto dopaís. De fato, o interesse foi tão grande quealgumas escolas que desejavam aderir aoprograma tiveram que ser recusadas. As equipes são compostas principalmente devoluntários, que somam essa atividade ao seuemprego regular. Em 2010, um total de 31escolas e comunidades conseguiu participardo Projeto DISC.5

Os líderes do projeto ajudam cada escola aestabelecer e a cuidar de suas hortas. Em áreasconcebidas para incluir inovações quesuportem um clima desfavorável, as criançasaprendem cultivo sustentável, por exemplo,utilizando hortas convencionais e hortas emMandala (variedade), hortas com cavas duplase com canteiros suspensos, irrigação profundae por gotejamento empregando potes egarrafas plásticas, e diversas variedades locaiscom boa tolerância às secas.6

Através de várias aulas interativas, alunosaprendem sobre nutrição e sabor, tanto ematividades escolares quanto extracurriculares.As hortaliças são extraídas diretamente dahorta para serem incorporadas à merendaescolar, e a produção excedente é vendida nomercado local. Em algumas escolas, as hortasforam expandidas de forma a possibilitar apreparação de geleias e conservas com oexcedente, vendidas para angariar fundos quefinanciem o projeto.7

Desenvolvimento de Inovações para Cultivo em Escolas

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Voluntários e professores abordam umaampla gama de tópicos de forma que ascrianças passem a entender os aspectospráticos da agricultura, incluindo preparaçãoda horta, técnicas de cultura sustentáveis,compostagem e culinária. Além decompreender a importância de se consumiralimentos nutritivos e regionais, elas podemapreciar os sabores e texturas dos produtosfrescos originários de Uganda.8

Os professores ligados ao DISC seesforçam para garantir que os alunos apreciema culinária e a agricultura local. E esse trabalhotem valido a pena: os alunos levam para casaseus conhecimentos, começando uma hortano quintal ou na comunidade, escolhendoalimentos nutritivos, e estimulando outrosmembros da família a comprar produtosfrescos locais. Essa mudança de atitudequanto à alimentação pode trazer impactospositivos para uma comunidade, à medida queas famílias comecem a direcionar seusrecursos financeiros de volta para a economialocal e para sustentar os agricultores locais.9

Além de ensinar as crianças a plantarhortaliças e árvores frutíferas regionais etradicionais, o DISC enfatiza muito apreparação e o processamento de alimentos.Se uma pessoa não souber como cultivar,cozinhar ou preparar o alimento, não saberácomo comê-lo. Essas lições vão muito alémdaquelas atualmente ensinadas em sala deaula. Os alunos ficam entusiasmados quandodescobrem o sabor de alimentos frescos e dequalidade, e seus hábitos alimentares de fatomudam após aprenderem sobre nutrição.Como resultado, cresce o respeito que nutrempela agricultura e pela produção dealimentos.10

Melhorar a nutrição é particularmenteimportante para alunos em regime deinternato, que fazem todas as suas refeiçõesna escola. Essas crianças vêm de todas aspartes do país. Elas apenas encontram acomida no prato, comenta outro voluntário,sem ter ideia de onde poderia provir. E isso“coloca em risco o futuro da culinária, uma vezque essas crianças se habituarão a esse estilode vida, sem adquirir habilidades relacionadasà culinária regional.” O DISC tenta fazer comque se sintam em casa cultivando variedadesfamiliares tanto aos habitantes das planíciesquanto das regiões montanhosas.11

Nas escolas regulares e nos internatos, osalunos interagem com os chefs de cozinha paraaprender a preparar os pratos, tendo assimoportunidade para compreender a produçãodo alimento literalmente da lavoura à mesa.Diferentemente da maioria das demais escolasde Uganda, aquelas ligadas ao projeto DISCconseguem frutas regionais para o café damanhã e podem colher sua própria sobremesaà hora do almoço.12

Na Festa Anual de Frutas e Sucos, alunos,professores, pais, e até representantes daagência Nacional de Serviços de Consultoriaem Agricultura celebram o sucesso do DISCquando se reúnem para degustar as frutaspreparadas pelas crianças diretamente dopomar. “Graças ao DISC, os alunos nãoconsideram mais a agricultura como umaopção de último recurso, mas sim como umamaneira de ganhar dinheiro, ajudar suacomunidade, e preservar a biodiversidade”,afirmou Nassaazi Jane, professora titular da St.Balikuddembe Senior School, durante a Festade Frutas e Sucos de 2010.

– Edward Mukiibi e Roger SerunjogiProjeto DISC

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Após uma temporada de plantio, aagricultora queniana Lydia Musila vendeufeijão o suficiente para construir uma casanova. Os agricultores de Ruanda, Gilbert eEdith, começaram a poupar dinheiro ganhocom suas colheitas de feijão para mandar seufilho mais velho para a faculdade deenfermagem. O agricultor queniano FancisMamati adquiriu três cabras com o excedentede sua renda da colheita. O Fundo para UmAcre (One Acre Fund) foi criado em 2006 paraprestar serviços a pequenos agricultores comoLydia, Gilbert, Edith e Francis, ajudando aproporcionar a produtores rurais asferramentas de que precisam para alimentar afamília e aumentar a renda. Essa organizaçãohoje atua junto a cerca de 23.000 famílias noQuênia e em Ruanda, com planos de alcançar50.000 agricultores em 2011, e 1 milhão até2020.1

Desde o início, o Fundo para Um Acredialogou com agricultores de forma acompreender suas necessidades para serembem-sucedidos. Os membros do Fundosabiam que sementes e fertilizante eramnecessários, mas descobriram que tambémprecisavam de financiamento para a compradesses insumos, assim como de treinamentosobre como usá-los. Precisavam também teracesso a um mercado para vender seusprodutos após a colheita.2

O Fundo para Um Acre oferece um modelode serviço que trata cada uma dessasquestões. Quando o agricultor se inscreve noprograma, passa a fazer parte de um grupo de6 a 12 agricultores. Ele recebe um empréstimoem espécie – sementes e fertilizantes – com agarantia dos membros do grupo. O Fundo

para Um Acre entrega esses suprimentos emum ponto comercial dentro de um raio de doisquilômetros da casa do agricultor, e um agentede campo ministra o treinamento de campoem preparação do solo, plantio, aplicação dofertilizante, e extirpação de ervas daninhas.Durante a época de plantio, o agente decampo monitora a plantação, e depois dátreinamento aos novos membros sobre comocolher e armazenar a produção.

O Fundo para Um Acre também oferece umprograma de recompra da colheita, ao qual osagricultores podem aderir se desejarem. O pagamento final do empréstimo é devidovárias semanas após a colheita, e 98% dosagricultores quitam seus empréstimos.3

Antes de associar-se ao Fundo para UmAcre, muitos dos participantes no Quêniacolhiam 5 sacas de milho em uma área demeio acre. Após se associarem, sua colheitanormalmente aumenta para 12 a 15 sacas demilho com a mesma área plantada, ou seja, odobro da receita pela mesma área de cultivo.4

Agricultores utilizam essa renda adicionalpara alimentar a família, pagar mensalidadesescolares, pagar despesas de saúde e adquirircabeças de gado. Suas metas de longo prazo,porém, são muito mais ambiciosas. Durante aprimeira sessão de treinamento de campo,agentes de campo pedem aos agricultorespara escrever o que esperam conseguir casoobtenham uma boa colheita. Alguns sonhamcom a construção de uma casa nova, a comprade um carro, ou o estabelecimento de umpequeno negócio próprio. Uma agricultora,Martha Barasa, sonhava construir um moinhoposha (para moer o milho, produzindofarinha). Outro, Simon Munai, sonhava abrir

O Fundo para Um Acre Coloca os Agricultores em Primeiro Lugar

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uma escola particular para proporcionareducação às crianças da comunidade.5

Esses sonhos representam a força quemotiva a equipe de inovação do Fundo paraUm Acre a desenvolver e aperfeiçoar o modeloprincipal do programa. Conforme aorganização se empenha para alcançar 1milhão de agricultores associados nospróximos 10 anos, ela continuará com foco

incansável no serviço ao cliente, construindorelacionamentos sólidos e entendendo o queseus membros desejam e aquilo de queprecisam. Eles procuram dar ao menos umacontribuição para a Revolução Verde na África:agricultores em primeiro lugar.

– Stephanie HansonOne Acre Fund

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Mais Safra por Gota d’ÁguaSandra L. Postel

Todo agricultor precisa da combinação certade Sol, solo, sementes, nutrientes e águapara que a terra faça sua mágica, que é a

agricultura. A Revolução Verde das últimasdécadas trouxe os três últimos desses ingredientespara milhões de agricultores e vastas áreas deterras cultiváveis do mundo. A combinação devariedades de sementes de alto rendimento, ferti-lizantes e a duplicação da área irrigada no mundopraticamente triplicou a safra mundial de grãosdesde 1960. Ao aumentar a produtividade demilhões de hectares de terras cultiváveis, essarevolução não só permitiu que a produção degrãos acompanhasse o crescimento da população,como também livrou do arado extensas áreas defloresta e pradarias.1

Apesar de todos os seus benefícios, noentanto, a Revolução Verde também trouxealgumas desvantagens. Uma delas foi a exigênciade grandes quantidades de água. Hoje, 70% detoda a água retirada de rios, lagos e aquíferossubterrâneos vai para a irrigação. Em muitasregiões importantes de produção de alimentosda China, da Índia, do Paquistão e de outrospaíses, o uso da água ultrapassa os níveis susten-táveis. Os rios estão secando, os lençóis freáticosestão diminuindo, os lagos estão encolhendo ezonas úmidas estão desaparecendo. Como senão bastasse a pressão sobre a demanda de água,atualmente a expansão das cidades e dasindústrias disputa acirradamente com a agri-cultura o limitado suprimento de água.2

Sandra Postel é diretora do Projeto Global Water Policy, com sede no Novo México.

Irrigação por gotejamento em Níger

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Além disso, o pacote de ingredientes à vendaque constituíram a Revolução Verde não foiapropriado para todas as regiões e não chegou atodos os agricultores. Hoje em dia, a produçãode grãos é suficiente para alimentar toda apopulação mundial, mas, mesmo assim, quase 1bilhão de pessoas são vítimas da fome e dasubnutrição crônicas. Cerca de 60% das pessoasque vivem uma situação de insegurança alimentarestão no sul da Ásia e na África subsaariana – amaioria delas, em pequenas propriedades rurais.Essas famílias de agricultores não dispõem derecursos para tornar suas terras suficientementeprodutivas de modo a satisfazer as suas neces-sidades alimentares, nem de renda para compraros alimentos de que precisam.3

Para muitos desses pequenos agricultores,falta o ingrediente água. Graças a uma variedadede formas inovadoras, hoje as culturas dispõemde maior quantidade de água da natureza parasuprir suas necessidades, por isso, a lavoura e arenda familiar cresceram em alguns bolsões defome do mundo, inclusive na África subsaariana.

Vulnerabilidades da Água na África Subsaariana

Os recursos hídricos da África são ricos evariados, mas não são de fácil acesso para airrigação convencional. Apenas 20% da preci-pitação que cai em terra alimenta rios, córregose aquíferos subterrâneos, ou seja, pouco mais dametade da precipitação que ocorre no mundo.Os outros 80% evaporam ou, quando liberadospelas plantas, retornam à atmosfera. E na regiãodo Sahel, a faixa de território que se estende aleste do Senegal até a Etiópia, essa proporçãoentre escoamento e precipitação é inferior a 6%.4

Com tão pouca precipitação se trans-formando no que os hidrólogos chamam de"água azul” – água que corre em rios e riachosou que é retida em lagos, lagoas e aquíferos –o volume de água para irrigação é menor doque em qualquer outro lugar do mundo. Emcombinação com a falta de estradas e de

infraestrutura, além da má governança e dosconflitos civis crônicos de muitos países, essascondições dificultam e encarecem o desen-volvimento da irrigação. Atualmente, apenas4% da terra cultivada na África subsaariana estáequipada para irrigação, em contraposição a37% na Ásia e 18% no mundo como um todo.(Ver Figura 4–1.) Além disso, a maioria dessasterras irrigadas concentra-se em apenas quatropaíses: Madagascar, Nigéria, África do Sul eSudão.5

Para tornar as coisas ainda mais difíceis, oíndice pluviométrico das savanas semiáridas ede outras regiões áridas da África subsaariana éaltamente variável e imprevisível. Em dois decada três anos, os déficits de chuva ocorremdurante períodos críticos da safra, causando a suaredução nesses anos. Uma vez a cada década,uma grave seca acarreta uma catástrofe para asplantações – e uma fome maior ainda. Em 2009,a fome atingiu milhões de pessoas no Chifre daÁfrica, quando a falta de chuva levou a Etiópiae o Quênia à sua pior crise alimentar em 25anos.6

Como a grande maioria da populaçãodepende da agricultura para viver e, como aagricultura depende de chuvas, que são instáveis,a renda familiar e a renda nacional em alguns dospaíses mais pobres da África oscilam junto comas chuvas. No Níger, por exemplo, onde amaioria dos 14,7 milhões de habitantes ganhamenos de US$ 1 por dia e onde menos de 1%da terra cultivada é irrigada, as mudanças nocrescimento econômico anual mostram umacorrelação extremamente estreita com o índicepluviométrico anual. (Ver Figura 4–2.) Quasetrês quartos da população do Níger depende, aomenos parcialmente, do gado para carne, leitee renda, e a seca dizima rebanhos. Em agostode 2010, quando partes do Níger foramtomadas pela pior seca em quase quatro décadas,as autoridades estimaram que mais de um terçodo gado na região de Diffa foi dizimado. Oscientistas que estudam o clima preveem odeclínio das chuvas em grande parte da África

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nas próximas décadas, comprometendo aindamais a produção de alimentos, a renda e asegurança econômica dessas regiões.7

O lado bom desse quadro sombrio é que omaior potencial de ganhos de produtividade daágua em todo o mundo – mais safra por gotad’água – está justamente nessas áreas deagricultura de baixo rendimento alimentada porágua de chuva. Existe uma grande diferença entrea produtividade de 0,5 a 2 toneladas por hectareda maioria dos agricultores da África subsaarianae o rendimento que pode ser alcançado emcondições similares de crescimento. DavidMolden e seus colegas do Instituto Interna-cional de Gestão Hídrica com sede emColombo, Sri Lanka, estimam que três quartosdas necessidades mundiais de alimentosadicionais em 2050 poderiam ser atendidos seo rendimento das áreas de baixa produçãoatingisse 80% do rendimento das áreas de altaprodução com o mesmo tipo de terra.8

Bombas d’Água Movidas a Tração Humana

Se houver quantidade suficiente de outrosingredientes, o rendimento de uma safraaumentará linearmente com a quantidade deágua levada às raízes das plantas e que, depois,é liberada na atmosfera em forma de vapor(processo conhecido como transpiração).Maneiras inovadoras de canalizar umidade paraa raiz das plantas devem preencher essa “lacunade produtividade” e satisfazer às necessidades dealimentos no futuro. Entre os métodos maispromissores da África subsaariana estão aspráticas agrícolas que conservam a umidade dosolo, coletam e armazenam água de chuva nolocal para complementar a umidade do solodurante a estação de crescimento e que contamcom tecnologias acessíveis de irrigaçãoprojetadas especificamente para pequenosagricultores. (Ver Figura 4–1.) Somente como abastecimento seguro e amplo de água àszonas de raiz de seus campos, os agricultores

podem investir de forma confiante em sementes,fertilizante e outros insumos de valor mais altopara aumentar sua produção e cultivar plantasde maior valor comercial.9

Para mais de 2,3 milhões de agricultorespobres dos países em desenvolvimento e cerca de250.000 da África subsaariana, o aumento daprodutividade agrícola, a maior confiança na safrae o aumento da renda se devem a um modestodispositivo de tração humana para elevação deágua chamado bomba a pedal. Na versão original,concebida para os agricultores de Bangladeshpelo engenheiro norueguês Gunnar Barnes, ooperador pedala duas estacas (chamadas pedais)para cima e para baixo, ativando um cilindro queretira água de uma profundidade de até setemetros. Por um investimento total de US$ 35,os agricultores de Bangladesh podem irrigar 0,2hectare (metade de um acre) durante a estaçãoseca, o suficiente para alimentar suas famílias e atémesmo para comercializar algumas hortaliças demaior valor.10

Em parceria com Barnes e o Serviço Rural deRangpur Dinajpur, a International DevelopmentEnterprises (IDE), organização sem fins lucrativoscom sede em Denver, voltada para o desen-volvimento do norte de Bangladesh e origi-nalmente patrocinada pela Federação LuteranaMundial, criou uma campanha de marketing epromoção extremamente bem-sucedida paravender bombas a pedal a todo o setor privado deBangladesh. As vendas cresceram rapidamentee, hoje, mais de 1,5 milhão dessas bombaspontilham os campos de Bangladesh. O fundadorda IDE, Paul Polak, estima que o investimentode 37,5 milhões dólares em bombas a pedal parapequenos agricultores associado a investimentosde doadores no valor de US$ 12 milhões estágerando aos agricultores de Bangladesh umretorno no valor de US$ 150 milhões ao ano.11

Na esteira desse sucesso, outras organizaçõestrouxeram variações da bomba a pedal para aÁfrica. Em 1998, a organização sem finslucrativos KickStart começou a comercializaruma linha de bombas MoneyMaker através de

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seus escritórios no Quênia, naTanzânia e no Mali. Seu produtode maior sucesso, a Super-MoneyMaker, é uma bomba depressão operada a pedal quepermite que os agricultoresirriguem terras situadas váriosmetros acima da origem da águasem “nenhum esforço além deuma rápida caminhada”. Elaconsegue bombear um litro deágua por segundo, irrigar até 0,8hectare (2 acres) e, normalmente,custa aos agricultores cerca de 140dólares já instalada. Uma versãoprópria para irrigar áreas menores– a MoneyMaker manual que usao peso do corpo todo para seracionada – está sendo vendida pormenos da metade desse preço.Trabalhando em estreita colabo-ração com organizações locais, aKickStart ampliou sua atuação paraBurkina Fasso e Maláui. Até agora,foram vendidas cerca de 150.000bombas MoneyMaker. Essesdispositivos estão gerando US$ 37milhões por ano em novos lucrose salários. Em 2008, citando razõesde custo e qualidade, a KickStarttransferiu a fábrica de bombas daÁfrica para a China.12

Agricultores de outras partes daÁfrica subsaariana estão sendobeneficiados pelo uso das bombasde tração humana. No início de1990, a Enterprise-Works/VITA(que mais tarde se incorporou àRelief International) introduziu abomba a pedal no Senegal e, posteriormente,em Burkina Fasso, Níger e Mali. A IDE recen-temente criou uma nova bomba a pressãomovida a pedal para os agricultores de Zâmbia.Em julho de 2009, após meses ouvindoagricultores a fim de discernir com mais precisão

1960 1970 1980 1990 2000-60

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o que eles desejavam e necessitavam, a IDEapresentou a Mosi-O-Tunya, ou “a bomba quetroveja”, um nome adaptado do idioma doTonga para as Cataratas Vitória, “cataratas quetrovejam”. Fabricada localmente e vendida aopreço de US$ 118, a nova bomba despeja 1,25

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Figura 4.1 Porcentagem de Terra Cultivável Irrigada, em RegiõesSelecionadas e Mundialmente, cerca de 2005

20100 30 40

Fonte: FAOÁfrica

Subsaariana

Europa

América doNorte

América Latina e Caribe

Oriente Médio

Sul e Leste da Ásia

Mundo

Por cento

Figura 4–2. Crescimento Econômico Anual e Variações da Precipitação Média Mensal no Níger, 1961-2000

Fonte: Banco Mundial

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Crescimento do PIB

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Tabela 4.1 – Inovações de Baixo Custo que Aumentam o Acesso à Água e a Eficiência na Agricultura

Tecnologia ou prática

Bombas operadasmanualmente (pé,quadril, mão) queextraem água dasuperfície e de fontessubterrâneas

Microirrigação com conjuntos debaldes, sistemascambiáveis degotejamento, irrigaçãopor regador e aspersor;sistemas degotejamento movido aenergia solar

Coleta de água deneblina com auxílio de redes

Captação de água de superfícies“construídas” ou detelhados em caneletasque levam a lagos deestabilização oupequenos reservatórios

Coleta de águaproveniente de redescomuns ou deexploração por meio deterraceamento,contenção de pedra,barreira vegetal, diquede contenção, poços derecarga e outrosmétodos

Locais de implantação

Bangladesh, índia,Burkina Fasso, Etiópia,Gana, Mali, Maláui,Níger, Tanzânia,Zâmbia

Noroeste, centro e sulda Índia, Nepal; Ásiacentral; China; OrientePróximo: regiõessemiáridas da Américado Sul e Áfricasubsaariana; pilotosmovidos a energia solarem Benin e BurkinaFasso

Peru, Chile, Nepal,África do Sul

Pequim, China; Lima,Peru; Hydebarad, Índia;Ubuntu, África do Sul

Em áreas de baixaaltitude: “fadama” naNigéria; “dambos” noMaláui, em Zâmbia eno Zimbábue; “tassa”no Níger.

Em terras inclinadas:“fanya juu” no Quênia,“teras” no Sudão;barreira vegetal de“vetiver” emMoçambique, emZâmbia e no Zimbábue

Condições apropriadas

Água subterrânea rasa ou de superfíciedisponível; pequenasáreas de terra, zonassemiáridas ou áreascom estações de secadistintas

Áreas montanhosascom períodosfrequentes de neblina

Agriculturaurbana/periurbanaalimentada por água dechuva; água de chuvaproveniente de estufasou outras estruturasconstruídas.

Onde a umidade dosolo é fator limitantepara a produção deculturas e as chuvassazonais locais podemser captadas paracompensar o déficit deumidade do solo; ondea precipitação podecausar erosão do solomais superficial eescoamento da água de chuva

Benefícios gerais

Pode ser a porta deentrada para aagricultura irrigada,proporcionando oacesso à água (bombasmanuais) e possibilitarendimento desuprimentos escassos(gotejamento emicroirrigação); reduz a carga de trabalho decarregamento de água e o risco de quebra desafra; aumenta orendimento e permiteuma diversificação paraculturas de maior valorde mercado; aumenta arenda e a segurançaalimentar

Técnicas simplesproporcionam águadoce para irrigação oano todo, reduzemextração de águasubterrânea e anecessidade de compra de água

Melhoram a segurançaalimentar através demanejo eficaz do solo e águas pluviais;recuperam a terraestéril, reduzem odesmatamento,aumentando orendimento por hectaredas culturas, retêm osolo e conservam afertilidade e a umidadedo solo; muitosmétodos baseados em práticas nativas

Fonte: Ver nota 9 no final. Exemplos compilados por Alexandra Tung, Worldwatch Institute.

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litro de água por segundo, quando operada auma batida por segundo, um aumento de 25%na quantidade de água em relação às versõesanteriores. Com muitos novos mercados aindaa serem explorados, a bomba a pedal em todasas suas variações ainda tem um longo caminhoa percorrer para atingir seu pleno potencial demitigação da fome e da pobreza.13

Acesso à Microirrigação paraExpandir o Abastecimento

Para muitos pequenos agricultores da África,a ampliação dos seus limitados suprimentos deágua pode ser tão crucial quanto o acesso àágua. Em resposta a essa necessidade, projetistasdesenvolveram um conjunto de tecnologias demicroirrigação de baixo custo que está ajudandoos agricultores a fazerem um uso mais eficazdos suprimentos de água localmente escassos.Essa resposta inclui uma gama de sistemasbaratos de irrigação por gotejamento – desderegadores de US$ 5 até kits de tambores deUS$ 25 para áreas até 100 metros quadrados(cerca de 400 plantas) e sistemas cambiáveis degotejamento de US$ 100 que podem irrigar0,2 hectare (metade de um acre), incluindoáreas de encostas com terraços. Tal comoacontece com os sistemas de gotejamentousados em regiões agrícolas mais ricas, essessistemas de baixo custo fornecem água por meiode tubos perfurados ou tubos direcionadosdiretamente para as raízes das plantas. Oaumento do rendimento e a redução das perdaspor evaporação proporcionados pelos sistemasde gotejamento duplicam, em geral, a produ-tividade da água. Mais de 600.000 sistemas degotejamento de baixo custo da IDE foramvendidos na Índia, no Nepal, em Zâmbia e noZimbábue.14

Como os sistemas de irrigação por baldeestão tão distantes do âmbito e da imagem deirrigação “convencional”, frequentemente ficamfora das estatísticas de irrigação relatadas àsNações Unidas e aos órgãos oficiais do governo.

Um estudo de irrigação com balde no entornoda cidade de Kumasi, Gana, por exemplo,constatou que, pelo menos, 11.900 hectares(29.400 acres) eram irrigados dessa maneira.Se esta área fosse incluída nas estatísticas oficiais,a área irrigada de Gana aumentaria em 38%.Embora nenhuma contabilidade formal tenhasido feita, talvez 8 milhões de agricultorestrabalhem a terra na África usando esse tipo deirrigação informal.15

Os sistemas de microirrigação alimentadospor energia solar fotovoltaica usados pelospequenos agricultores são uma novidade naÁfrica ocidental. Em duas aldeias, no distritode Kalalé, ao norte de Benin, o Fundo de LuzElétrica Solar (SELF) e seus parceiros intro-duziram um sistema de irrigação porgotejamento movido a energia solar, que estámelhorando a nutrição e elevando a renda dosagricultores desse bolsão de pobreza profunda.(Ver Quadro 4–1.) Com o baixo índice depluviosidade durante a temporada de seis mesesde seca, os habitantes dessas aldeias suportamum longo período de fome, e muitas criançasapresentam distensão abdominal, sinal indicadorde desnutrição.16

Um ano após a instalação do sistema degotejamento movido a energia solar, umaavaliação por pesquisadores da Universidade deStanford descobriu que os aldeões estavamconsumindo 3 a 5 porções de legumes por dia.E, com a renda da venda de tomate, quiabo,pimentão e outras hortaliças de alto valor nomercado, as mulheres estavam comprandoalimentos com teor mais elevado de proteínapara suas famílias. Em vez de carregar água, ascrianças estavam indo mais à escola. A um custode cerca de US$ 18.000 para instalar o sistemade gotejamento por energia solar para uma áreade 0,5 hectare mais US$ 5.750 por ano demanutenção, a equipe de Stanford estimou umperíodo de retorno para o sistema de 2,3 anos,tomando por base vendas anuais no valor deUS$ 10.000 no primeiro ano e de US$ 16.000a partir de então. Embora financeiramente fora

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do alcance da maioria dos agricultores pobresda África, se a fabricação local e a distribuiçãoem maior escala puderem reduzir os custos aolongo do tempo e se houver acesso a crédito, osbenefícios desses sistemas poderão aumentar.17

Utilização mais Eficaz de Água Pluvial

A irrigação é uma forma óbvia de fornecerágua às culturas de regiões ou estações secas,mas não é a única. O uso e a gestão mais eficazesda água da chuva oferecem maior potencial demelhoria para a produção agrícola – princi-palmente na África subsaariana, onde orendimento médio dos cereais é de apenas 1tonelada por hectare e mais de 95% das terrascultiváveis são irrigadas apenas pela chuva.Nesses campos, apenas 15% a 30% da chuva quecai é usada produtivamente para culturas e, nocaso de severa degradação da terra, essaporcentagem pode cair para 5%. O restanteevapora, infiltra abaixo da zona da raiz ouescorre para fora do campo. Como apontamJohan Rockström do Instituto do MeioAmbiente de Estocolmo e seus colegas, asquebras de safra comumente atribuídas à secapodem ser causadas mais por deficiência degestão da água pluvial no campo do que porescassez de chuva.18

As chamadas práticas agrícolas de conser-vação podem ajudar a melhorar a captação, oarmazenamento e o uso da chuva que caidiretamente sobre o campo de um agricultor –transformando uma parte maior da água dachuva em “água verde” produtiva para asculturas. Uma série desses métodos, tanto osnativos como os introduzidos recentemente,foi implantada na África subsaariana. Boa partedo seu benefício se deve a um melhor manejodo solo, o condutor da umidade e dos nutrientespara as plantas. A maioria dos pequenosagricultores da África subsaariana prepara seuscampos com enxadas ou arados de traçãoanimal, além de removerem e queimarem os

resíduos da safra anterior. Essas práticasrevolvem o solo, deixando-o exposto ao Sol eao vento, causando o seu ressecamento.[Quadro 4–1 p. 50] Com a prática de métodosconservacionistas de preparo do solo, que deixaintacta a sua estrutura, a umidade na zona deraiz é preservada. A eliminação das ervasdaninhas na hora certa para eliminar a concor-rência pela umidade, a cobertura morta paraajudar a manter a umidade e o fertilizante paraacrescentar nutrientes ao solo empobrecido sãoa receita certa para aumentar o rendimento.19

Trabalhando com agricultores em seisfazendas experimentais do Quênia, da Etiópia,de Zâmbia e da Tanzânia, pesquisadoresencontraram ganhos de rendimento de 20% a120% para o milho e de 35% a 100% para o tef(um grão básico da dieta etíope) em fazendasque utilizam práticas de conservação de água esolo em contraposição aos métodos tradicionais.Os melhores resultados foram alcançados coma combinação de preservação da umidade eaplicações localizadas de fertilizantes, pois muitasvezes, nessas regiões, a água e os nutrientesestão abaixo dos níveis ideais para a produção.Em fazendas da Etiópia que receberam ambosos tratamentos, o rendimento do tef foi aprox-imadamente o dobro daquele obtido nasfazendas convencionais (1,1 tonelada porhectare em comparação com 0,5 a 0,7tonelada). Cinco anos após a conclusão dostestes, os agricultores envolvidos nesses expe-rimentos continuavam a praticar os métodos ea divulgá-los a outros agricultores. Além detrabalhar lado a lado com o trabalhador, ospesquisadores também fizeram uma parceriacom organizações locais de desenvolvimento eserviços de extensão para aumentar as chancesde adoção do método.20

Os sistemas semiáridos alimentados por chuvae propensos à seca podem adquirir umaresiliência extra, se adotarem complemen-tarmente as medidas de conservação agrícolacom irrigação de pequena escala. Normalmente,esse processo requer um método para coletar e

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Quadro 4–1 Hortas Solares: Maior Acesso a Energia, Água e Alimentos

O distrito do Kalalé, ao norte de Benin, naÁfrica ocidental, é o lar de 100.000 pessoasque vivem fora da grade. Durante a estaçãoseca de seis meses, de novembro a abril, aregião recebe uma pequena quantidade dechuva preciosa. A terra tem sede, as pessoastêm fome e a desnutrição é generalizada.

Para ajudar a aliviar a crise alimentar doKalalé, o Fundo de Luz Elétrica Solar (SELF),organização sem fins lucrativos com sede emWashington, DC, que fornece soluções deenergia sustentável para o mundo emdesenvolvimento, uniu-se a Dov Pasternak,especialista em irrigação por gotejamento doInternational Crops Research Institute forSemi-Arid Tropics, com sede no Níger. O SELFdecidiu que a energia solar seria a forma maissustentável de bombear água para as culturaslocais e, no final, mais barata do que osgeradores a diesel utilizados anteriormente.

Em 2007, o SELF instalou três sistemas deirrigação por gotejamento movidos a energiasolar em lavouras coletivas de mulheres,situadas em duas aldeias do Kalalé, Dunkassae Bessassi. As instalações utilizam o conceitode Horta Solar do SELF, que combina atecnologia solar de bombeamento comirrigação por gotejamento para irrigação eadubação das culturas. O projeto é a primeirafase de um plano para levar energia às 44aldeias do Kalalé.

Em junho de 2009, os visitantes das duasaldeias viram uma diferença notável entre asmulheres, que estavam visivelmente maisnutridas do que em 2006. Não só elas estavammais bem alimentadas e saudáveis, suasfamílias e o restante dos habitantes da aldeiatambém estavam, pois agora tinham acesso afrutas e vegetais nutritivos o ano todo.

De acordo com uma avaliação doPrograma da Universidade de Stanfordsobre Segurança Alimentar e MeioAmbiente, o projeto Horta Solar do Kalalé“aumenta significativamente a renda familiare a ingestão nutricional” na região. O estudoconstatou que cada horta fornece quaseduas toneladas de produtos frescos pormês, das quais cerca de 20% é destinada aoconsumo doméstico. O restante é vendidoem mercados, o que dá às mulheres umamédia de ganho semanal extra de US$ 7,50,dinheiro usado para pagar taxas escolares etratamento médico, além de estimular odesenvolvimento econômico em geral. As mulheres já estão começando a pensarem outros sistemas geradores de renda.

A fase II do projeto, com lançamentoprevisto para 2011, envolverá a eletrificaçãode “toda a aldeia” de Dunkassa e Bessassi.Os sistemas de energia solar gerarãoenergia elétrica para escolas, clínicas, casas,centros comunitários e ruas das aldeias. O SELF também planeja levar irrigação solarpara outras aldeias do Kalalé.

A iniciativa do Kalalé mostra que o uso deenergia solar e de irrigação por gotejamentoé uma solução rentável que pode serreplicada em muitas partes da Áfricasubsaariana, principalmente em áreaspobres em recursos hídricos, mas ricas emSol. O projeto Horta Solar do SELF estáajudando, simultaneamente, a combater asalterações climáticas, a melhorar asegurança alimentar, a combater a pobreza ea promover a autonomia das mulheres.

-Robert Freling Solar Electric Light Fund

armazenar água da chuva, como a canalizaçãopara lagos de pequena superfície ou recarga deáguas subterrâneas – e, depois, a aplicação dessaágua em campos de cultivo conforme anecessidade. Por exemplo, os agricultores no

Maláui, em Zâmbia e no Zimbábue plantamem terras alagadas sazonalmente chamadasdambos. Suas plantações obtêm a maior parte daumidade de que necessitam das águas subter-râneas rasas subjacentes pelo método de capi-

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laridade, mas os agricultores complementamessa fonte natural com água de irrigação retiradade poços rasos por meio de baldes ou bombasmanuais. Se usadas com cuidado nessas zonasúmidas e frágeis, as bombas a pedal e outrosdispositivos de irrigação de pequena escalapoderiam fornecer irrigação suplementar naforma de poços.21

Gerações de agricultores em condiçõesdifíceis geraram uma série de técnicasengenhosas localmente apropriadas que fazemuso produtivo dos escassos recursos disponíveis.O conhecimento próprio da região pode gerarum grande conjunto de métodos de melhoriada produtividade, que incluem cobertura morta,terraceamento, plantio de cercas vivas paraconservar o solo e a água e construção debarragens de terra e outras estruturas deaproveitamento de água da chuva com o intuitode complementar a irrigação. Um projeto naÁfrica oriental chamado Promovendo Inovaçãona Agricultura, realizado entre 1997 e 2000em áreas de produção de cereais irrigadas porágua de chuva e de escassez hídrica, encontrouuma rica variedade dessas práticas nativas. Paracitar um exemplo: muitos especialistas em desen-volvimento agrícola preferem a barreira vegetalde capim vetiver para promover a conservaçãodo solo e da água, mas os agricultores africanos,às vezes, optam por gramíneas mais palatáveispara o gado, obtendo um benefício duplo, ouseja, a conservação da água e a forragem. Se oesterco de gado for usado para melhorar afertilidade do solo, esse sistema nativopolivalente de agricultura oferece um altopotencial de produção no qual se basear.22

Usos criativos de tecnologia da informaçãotambém podem ajudar os agricultores aaumentar a produção com a chuva local.Imagens de satélite estão sendo usadas paramonitorar a umidade do solo, ajudando osagricultores a saberem quando irrigar. Nasaldeias de Uganda, os agricultores semcomputador usam a riqueza de informações daInternet, fazendo perguntas por meio de uma

linha telefônica gratuita chamada Question Box(Caixa de Perguntas). Esse serviço procura umoperador que fala o idioma local e que busca asrespostas na internet enquanto o autor dapergunta aguarda. Um projeto sem finslucrativos, com sede na Califórnia, chamadoOpenMind, o Question Box permite queagricultores pobres, cujo único dispositivo decomunicação é o telefone da aldeia, obtenhamrespostas em tempo real para perguntas sobrevários assuntos, como o tempo e suas culturas.23

Muitos especialistas em desenvolvimentorural lamentam o número de práticas inovadorasde conservação do solo e da água que ficam“na gaveta” e que, por uma razão ou outra,não são adotadas pelos agricultores em largaescala. Enquanto os cientistas tendem a culparas lacunas entre pesquisa e extensão rural, omaior problema parece ser a análise insuficientede como as condições socioeconômicas dosagricultores e a sua percepção de riscoinfluenciam as decisões de adoção de tecnologia.24

A maioria dos agricultores pobres da Áfricasubsaariana enfrenta escassez não só de água,mas também de terra, de mão de obra e decapital. A construção de terraços e muitas outrastecnologias de conservação do solo e da águaexigem uma grande quantidade de mão de obra:97 pessoas/dia para um hectare de aterros depedras (ou diques), por exemplo, e 279pessoas/dia por hectare de barragens de pedra.Empregar tempo nessas construções só fazsentido se o retorno líquido for superior a outrasoportunidades de geração de renda que possamser exploradas. A maioria dos agricultores precisade uma taxa mínima de retorno de 50% paraadotar um método ou tecnologia pouco familiare uma taxa de retorno de 100% para adotar umnovo método. Assim, a garantia de algunsretornos precoces pode ajudar na adoção demétodos agrícolas conservacionistas que tenhamcompensação de longo prazo e riscos e custosde oportunidade de curto prazo. 25

Sem uma abordagem desprovida de origi-nalidade semelhante ao pacote da Revolução

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Verde de sementes, fertilizantes e irrigaçãoadequada para a maior parte da Áfricasubsaariana, é muito mais difícil “ampliar aescala” dessas estratégias e alcançar ganhosgeneralizados rapidamente. Até o momento hápoucos exemplos na região de um esforçocombinado que tenha conseguido construirmercados e cadeias de suprimentos locais quepermitam que os produtos de gestão inovadorada água “decolem”, como ocorreu com abomba a pedal em Bangladesh, por exemplo.Mas com mais investimento em pesquisa edesenvolvimento, parcerias com agricultores ealdeias, desenvolvimento de mercado empresarial,serviços de extensão rural, capital inicial paraideias-piloto e incentivos financeiros para olançamento de projetos, uma transformação maiorparece possível.

O montanhoso Distrito de Machakos, ao suldo Quênia, praticamente abandonado comoregião desertificada há meio século, dá umaideia das possibilidades. Com fundos da AgênciaSueca de Desenvolvimento Internacional, ogoverno queniano trabalhou com grupos locais,na maior parte formados por mulheres quepraticavam uma técnica de terraceamentoconhecida como fanya-juu (“jogue-o para cima”em suaile). As mulheres, basicamente, cavamuma vala, jogam a terra para cima para formaruma parede de terra ao longo da curva de nívelantes de plantar nos terraços de cultivo que seformam naturalmente. Os terraços concentrama água da chuva no solo e controlam a erosão.Estudos de campo sugerem que o rendimentodo milho aumentou 50%.26

Embora exija 150 a 350 pessoas/dia porhectare, e essa carga recaia principalmente sobreas mulheres, o terraceamento ofereceu benefíciossuficientes para se espalhar rapidamente. Entremeados da década de 1980 e início da década de1990 as mulheres de Machakos construíram umamédia de 1.000 km de terraço por ano. Hoje,70% da terra cultivada no distrito é declar-adamente terraço. Além dos cultivos básicos, osterraços suportam a produção de culturas de

maior valor econômico. A vagem produzida emMachakos é atualmente vendida em superme-rcados do Reino Unido.27

Olhando para o Futuro

Uma das estratégias apresentadas para paísescom problemas de água é a de que eles deveriamimportar água de forma indireta, ou seja, naforma de grãos para ajudar a equilibrar os seusorçamentos de água e atender às suas neces-sidades alimentares. Em média, para produziruma tonelada de grãos são necessárias cerca de1.500 toneladas de água, por isso faz sentidopaíses com escassez de água importar mais deseus alimentos básicos e usar a água para amanufatura e outros empreendimentos de maiorvalor. Mas para os países pobres importadoresde alimentos, esta é uma proposta arriscada. Amaioria não pode pagar as importações e, mesmoque pudesse, raramente os grãos importadosencontram o caminho da mesa dos famintos.Uma das lições mais importantes da segundametade do século passado para a agriculturaglobal é que a segurança alimentar raramentechega aos muito pobres. Além disso, os distúrbiosalimentares que irromperam no Senegal, naMauritânia, no Haiti, e em meia dúzia de outrospaíses quando os preços de grão subiram em2007 e 2008 são, provavelmente, um prenúnciodo que está por vir. Com os mercados globais degrão e petróleo cada vez mais incertos, um nívelmínimo de autossuficiência em alimentos podeser crucial para a segurança alimentar.28

Por fim, parece que os países industrializadosmais responsáveis pelas mudanças climáticasque estão ocorrendo têm a obrigação moral deajudar as populações pobres que sofrerão amaior parte das consequências dessas alterações,preparando-as, adaptando-as e tornando-as maisresilientes aos seus efeitos. Segundo o PainelIntergovernamental sobre Mudanças Climáticas,na região do Sahel na África, já houve condiçõesclimáticas mais quentes e secas, que encurtarama temporada de cultivo e reduziram a safra. Em

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2020, os rendimentos da agricultura com águade chuva, em alguns países da África subsaariana,poderão cair pela metade. No geral, em umadécada, entre 75 milhões e 250 milhões depessoas da África viverão em condições deescassez hídrica devido a mudanças climáticas.29

Os desafios serão grandes. São necessários3.000 litros de água por dia para atender às

exigências nutricionais de uma pessoa, ou seja,cerca de 1 litro por caloria. Satisfazer essanecessidade, levando-se em conta o aumentoda população e do consumo, a pobrezapersistente e as mudanças climáticas globais,exigirá um compromisso muito além do que seconseguiu até agora.30

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A África subsaariana dependeexcessivamente da agricultura comaproveitamento de água pluvial, e a maneiracomo ela lida com os efeitos de estiagens esecas ainda é insuficiente. Comoconsequência, a produção de grãos não atingemais do que uma tonelada por hectare, namaior parte da região. Essa baixaprodutividade tem sido erroneamenteatribuída à escassez física de água. Mas essaescassez é mais econômica do que física. O que ocorre é simplesmente uma falta deinvestimentos tanto para captação quanto paraampliação do armazenamento de água.1

A maioria dos países da África subsaarianautiliza no máximo 5% do seu potencial de águapluvial. Reconhecendo e incorporando a águaverde, ignorada no plano hidrológico, épossível melhorar a situação de insegurançaalimentar e, ao mesmo tempo, proteger omeio ambiente.2

Para ajudar a aliviar a fome e a pobreza, aAgência Sueca de Cooperação Internacionalpara o Desenvolvimento, através de suaUnidade Regional de Conservação do Solo,ajudou a estabelecer a Rede de Água Pluvial daÁfrica Austral e Oriental (SearNet) em 1998. A SearNet é composta por 12 associaçõesnacionais de águas pluviais que trabalham emconjunto para divulgar informações sobreaproveitamento de águas pluviais e inovaçõesem toda a região. A rede está hospedada noCentro Agroflorestal Mundial, em Nairobi.3

Em colaboração com o Ministério deRecursos Agrícolas e Animais de Ruanda, oCentro Mundial Agroflorestal introduziu ummétodo para ampliar a escala de lagostrapezoidais usando mecanismos detransporte de água que facilitam oabastecimento para irrigação e

desenvolvimento da pecuária. Os lagos têmcapacidade para 120 m3 de água e sãorevestidos com uma camada de plástico de 0,8 mm. Materiais de baixo custo, comocordas, uma bomba de água e um sifão, oubomba a pedal de fácil uso, são usados parabombear água do lago. Como o custo do lagoé cerca de US$ 800, os agricultores precisamde um subsídio, sistema de créditocompartilhado ou microfinanciamento. Mas as compensações podem ser enormes.Estudos indicam que, com uma boa gestão, os agricultores recuperam o investimento em apenas dois ou três anos.4

Com acesso a mais água, eles sãoincentivados a plantar hortaliças, como couve,tomate e cebola, e árvores frutíferas, comomanga e papaia, para aumentar a produção emelhorar a nutrição. Essa inovação seespalhou por 10 distritos em Ruanda, sendoque mais de 400 tanques foram construídos eoutros 800 estão em construção.5

As mulheres da zona rural gastam pelomenos três a quatro horas por dia na coleta de água de fontes distantes que, muitas vezes,está contaminada para utilização na culinária.Esse é um fardo muito pesado que, em geral,fica a cargo de meninas que estão na escola.Elas têm de acordar cedo, buscar água e correrpara a aula. No Distrito de Kajiado, no Quênia,o Programa das Nações Unidas Para o MeioAmbiente (UNEP) e o Centro AgroflorestalMundial trabalham com mulheres Maasai para construir tanques de ferrocimento paracaptação de água do telhado para usodoméstico. As participantes dos grupos demulheres foram incentivadas a doar uma partedo seu próprio dinheiro para que pudessemobter fundos de contrapartida do UNEP e doCentro. As mulheres também forneceram

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materiais locais, como água, areia e pedra,bem como mão de obra para a construção detanques.6

Após o treinamento inicial, 86 tanquesforam construídos. As mulheres tambémforam incentivadas a plantar 100 árvores paracada tanque construído. O projeto está sendoampliado de forma rotativa, com a meta deque cada mulher, no final, tenha seu própriotanque. O Rotary Internacional do Canadáadotou essa comunidade, e mais de 200tanques foram construídos usando o mesmomodelo. Com essa medida, houve umamelhora na saúde e as mulheres têm maistempo para outras atividades dedicadas acaptar fundos.7

Os agricultores não precisam demecanismos caros para encontrar águasubterrânea a fim de irrigar suas plantações.Galhos verdes, fios de cobre e prumo podemser usados para localizar e determinar alargura e a condição dos lençóis de água. Os galhos verdes de árvores da espécie Crotonmegalocarpus ou C. microstachys encontradaem terras semiáridas mostraram melhordesempenho do que outras espécies. O fio decobre é usado para determinar a largura dolençol de água, enquanto o prumo ajuda aestimar a profundidade. Esse conjunto deferramentas é usado para mapear lençóissubterrâneos. Uma comparação com osdispositivos utilizados por engenheiros civispara prospecção de águas subterrâneasconfirmou que essas ferramentas não sãoapenas baratas (ou gratuitas, como os galhos),mas são também precisas.8

Nas regiões ocidentais e no Vale do Rift, noQuênia, a água pode ser o ponto de partida parao desenvolvimento rural. O aproveitamento daágua da chuva por meio de captação e

métodos de agricultura de conservação, comoplantio direto e culturas de cobertura fornece abase para empreendimentos produtivos, quesão cruciais para ajudar a aumentar aautossuficiência alimentar e melhorar aeconomia rural. Para as culturas anuais, asmudanças no rendimento são imediatas. Para culturas perenes, são necessários algunsanos para que os impactos sejam sentidos.Mas, com a criação de boas condiçõesagrícolas, é possível obter retornos positivosquando a disponibilidade de água ou umidadeé integrada ao manejo da fertilidade do solo.

Obviamente, a captação de água é mais doque simplesmente uma questão da construçãode lagos, barragens, poços ou tanques. É umprocesso lento de criação e organização decomunidades para desenvolver, manter egerenciar as atividades de coleta de água, deenvolvimento das comunidades em todos osaspectos do projeto e da criação de sistemasde uso e compartilhamento de água de formasustentável e justa. Essa é a razão pela qualesse processo também é uma questão deenvolvimento e participação da comunidade.9

É crucial, portanto, criar a consciência e aconfiança entre os agricultores e ascomunidades de que a captação de águarealmente funciona. O governo deve serfacilitador, não executor. Ele tem um papelimportante a desempenhar no sentido decatalisar a prática generalizada de captação deágua. Ele pode fazer com que as organizaçõescientíficas desenvolvam projetos de melhorqualidade para os sistemas. Mas o papel maisimportante do governo é oferecer incentivosfinanceiros para captação de água nas zonasrurais e urbanas.10

Maimbo MalesuCentro Mundial Agroflorestal

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Agricultores Assumem a Liderança em Pesquisa e Desenvolvimento

Brigid Letty, Qureish Noordin, Saidou Magagi e Ann Waters-Bayer

Os pequenos agricultores da África, comotodos os outros ao redor do mundo, sãoinvestigadores incansáveis. Por conta

própria e sem qualquer apoio externo, eles semprearquitetam e testam as soluções possíveis aosdesafios que aparecem. “Eu venho investigandodesde sempre, como meu pai costumava fazer”,diz Eddy Ouko, um agricultor queniano. Tomaresta capacidade de inovação como base eincentivar agricultores a orientar o desen-

volvimento de tecnologias localmente apropriadassão posturas essenciais para a resolução dosdesafios que pequenos produtores enfrentam.1

Em Potshini, localizada em KwaZulu-Natal,África do Sul, um agricultor ficou sabendo, poracaso, de um novo método para cultivar batatasque passava por enterrar suas sementes sob umacamada de cobertura morta, ao invés de plantá--las sob o solo. Durante suas tentativas eleutilizou diferentes tipos de cobertura morta e

Brigid Letty é especialista em desenvolvimento agrícola e zoóloga no Institute of Natural Resources, naÁfrica do Sul. Qureish Noordin é coordenadora do projeto Água Transfronteiriça pela Biodiversidade eSaúde Humana na Bacia do Rio Mara, promovido pela Comissão da Bacia do Lago Victoria (LVBC,Quênia). Saidou Magagi é agrônomo no National Agricultural Research Institute of Niger. AnnWaters-Bayer é socióloga rural pela EcoCulture, na Fundação ETC, Holanda.

Estudantes em horta na escola no Centro de Inovações para a Comunidade, em Kigoma, Ruanda

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em diferentes proporções, até obter umaprodução satisfatória com muito menostrabalho. Do mesmo modo, na Tigré oriental,Etiópia, agricultores foram atraídos por umaplanta que havia sido introduzida involuntari-amente nos sacos de grãos trazidos para a regiãocomo auxílio alimentar e passaram, então, aexplorar usos possíveis para a nova planta. Apóstestes informais de tentativa e erro, elesdescobriram que uma solução feita com as folhasdessa planta serve para exterminar carrapatosque atacam o gado.2

Alguns agricultores no Quênia realizaramsuas próprias pesquisas do uso de Tithonia diver-sifolia misturada a esterco de cabra no preparocompostos para o cultivo de milho e de culturasde alto valor. Eddy Ouko foi um dos agricultoresenvolvidos: “Quando o ICRAF (CentroMundial de Sistemas Agroflorestais) trabalhavanesta área, eles nos ensinaram a usar Tithoniapara melhorar a fertilidade do solo. Recen-temente, quando consegui as cabras leiteiras,decidi experimentar por conta própria. Decidimisturar Tithonia com esterco de cabra e aplicaresse adubo nas minhas plantações. Não pudeacreditar quando vi a excelente colheita queobtive no meu shamba [campo]”.3

Esses são apenas três exemplos da experi-mentação informal de pequenos agricultores.Apesar desta prova da habilidade dosagricultores em testar e inovar, a maioria dosagrônomos continua a realizar pesquisasdestinadas aos agricultores, ao invés de realizá--las junto a eles. Os resultados são transmitidosaos agricultores por meio de técnicos emextensão rural e demais agentes de formação –ou seja, pessoas que trabalham para organi-zações que buscam aprimorar a produçãoagrícola e os meios de subsistência rural.Entretanto, muitas das tecnologias desenvolvidaspelos cientistas e disseminadas por agentes deformação não são incorporadas por pequenosagricultores. Isso geralmente acontece porqueeles não foram suficientemente envolvidos noplanejamento e na pesquisa propriamente dita,

o que faz com que os resultados não atendamàs suas necessidades.

Agricultores e demais membros dacomunidade, incluindo inovadores locais,possuem tamanha riqueza de conhecimento eexperiência que, se tivessem a chance, poderiamestimular um desenvolvimento pilotado pelaprópria comunidade. Agricultores e agricultorasprecisam estar à frente do desenvolvimento, iden-tificando suas necessidades, recursos, soluçõespossíveis e procurando respostas para suaspróprias perguntas. Parcerias entre agentes deformação, cientistas e agricultores podemfortalecer e valer-se das experimentações destesúltimos. O método de desenvolvimento queenvolve inovações participativas vê os lavradorescomo o fator-chave na condução do processo,decidindo quando e como agregar outras pessoas:agentes de formação, cientistas, empresários eassim por diante. Felizmente, cientistas e técnicosem extensão rural estão começando a reconheceras contribuições dos agricultores para o processode desenvolvimento, e algumas instituiçõescomeçam a mudar suas maneiras tradicionais defuncionamento.

Incentivo à Inovação Comandadapor Agricultores

Através de inúmeros programas, os agentesde formação têm desempenhado um papel ativono apoio e incentivo à experimentação informal.Às vezes, pessoas de fora ajudam os agricultoresa testar e avaliar, de modo mais sistemático, astecnologias introduzidas. Por exemplo, oPrograma de Desenvolvimento de Muyafwa, noQuênia (parceria entre o Comitê de Desen-volvimento da Vila Muyafwa e a World Neighbors,organização sem fins lucrativos sediada nosEstados Unidos) dedica-se a fazer comparaçõesda recém-introduzida batata doce de polpa corde laranja com a variedade nativa típica. Osmoradores da vila escolheram dez agricultorespara conduzir os testes e reportá-los aos demais.Dentre os escolhidos estava Janet Wabwire, da

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Vila Muyafwa, Distrito de Busia, que relata: “Nósnos reunimos como um grupo, discutimos o quequeríamos descobrir e chegamos a um consensosobre o desempenho da produção, tamanho dostubérculos, extermínio de pragas, capacidadede armazenamento do terreno, facilidade decozimento, sabor... quando temos conhe-cimento sobre as experimentações, ninguémmais consegue nos enganar como antes, prin-cipalmente algumas das empresas de sementes.Se eles nos trazem novas sementes, nóssaberemos experimentá-las e tirar nossas própriasconclusões. E como mulher (cientista), acomunidade me respeita mais”.4

Além da busca para garantir aos agricultoresuma posição central em parcerias pelo desen-volvimento de novas tecnologias, os facilitadoresde pesquisa e desenvolvimento (P&D) partici-pativos também procuram identificar e incentivaras inovações institucionais locais, como, porexemplo, as maneiras como as pessoas seorganizam a fim de obter recursos. No Níger,quando os associados da rede Prolinnova(Promovendo a Inovação Local na AgriculturaEcológica e Gestão de Recursos Ambientais)foram ao encalço de inovações que poderiamapoiar, decidiram olhar mais atentamente paraas formas de organização local envolvendomulheres. Na região de Aguié, eles encontraramum grupo de mulheres que haviam transformadoseus rendimentos tradicionais, denominados“carrossel” (adaché, na língua hausa), em umanova forma de economizar e dividir seudinheiro. Normalmente, cada associada fazuma contribuição mensal e a cada mês umaassociada diferente fatura toda a quantiaacumulada no fundo, para seu próprio uso.5

Após saber que uma organização não gover-namental (ONG) em outra parte do Nígerestava apoiando um sistema de “crédito social”,um grupo adaché de vinte mulheres decidiuexperimentar algo similar. O novo sistema queelas apresentaram consiste em coletar umaquantia bem maior e mais regular das economiasde cada associada, concedendo empréstimos a

quem o solicitar, com taxa de 10% sobre o finan-ciamento. O grupo dá preferência às mulheresmais pobres no momento de decidir quem devereceber o empréstimo. As mulheres denomi-naram seu novo sistema de asasu, que em hausasignifica “tesouro”. Os colaboradores doProlinnova estão trabalhando com este grupoe alguns outros, com o objetivo de fortalecer ascapacitações destas pessoas em administrar osfundos de seus sistemas de crédito e poupanças,criar planos práticos para gerar renda e se auto-organizar melhor, ajudando-as a utilizar osfundos rotativos de modo mais claro esustentável.6

Alguns programas geraram mudanças nospapéis de gênero tradicionais nessas sociedades,como nota Esther Omusi, tesoureira de umaorganização comunitária no Quênia: “As coisas

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Batatas-doces à venda em mercado de Kerenge,Ruanda

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estão começando a mudar em nossa comunidade.Antes, como mulher, eu não teria sonhado emter tantas posições importantes na sociedade etampouco em ter meu trabalho reconhecido,incluindo minhas inovações. Foi difícil para oshomens e para outras mulheres ouvir minhasmensagens.”7

Através da rede Prolinnova, fundos locais deincentivo à inovação estão amparando projetosem inúmeros países da África e da Ásia, parapermitir o acesso de agricultores de pequenaescala a recursos de pesquisas que eles julgamimportantes e também para estimular novosprocessos de inovação liderados por agricultores.Os fundos são administrados ou coadmi-nistrados por organizações de base locais, eatravés deles pode-se adquirir os materiaisnecessários para os experimentos dosagricultores, pagar pela consultoria de um espe-cialista (um técnico ou cientista) ou conseguirinformações com outros agricultores ou espe-cialistas. Os comitês diretivos locais, gerenciadospor agricultores, lançam um tipo de edital delicitação e, com base em critérios elaboradospela comunidade, selecionam os candidatos queserão beneficiados pelo fundo. Como explicaJoe Ouko, do Grupo de Fazendeiros de CabrasLeiteiras de Nyando, no Quênia ocidental, “Nóslançamos o edital e examinamos as propostascom todo o cuidado, de acordo com nossospróprios critérios; em seguida, monitoramos efazemos o acompanhamento. É claro quetrabalhamos em parceria com outras organi-zações, mas nós assumimos o papel principalcomo agricultores e, assim, determinamos nossapauta de desenvolvimento. Antes, costumávamosnos envolver apenas como meros espectadores”.8

Inúmeros projetos têm mostrado que oscomitês de pesquisa comunitária podem sereficazes no planejamento feito pelos agricultorese nas tomadas de decisões que envolvem ainovação local. Por exemplo, a ONG nacionalAgriService Ethiopia já dedicou vários anosajudando comunidades rurais de diversas partesdo país a criar suas próprias instituições comu-

nitárias e as federações que as congregam. NoDistrito de Amaro, região sul da Etiópia, ondeestá sendo implantado um fundo de apoio àinovação local, a comunidade apresentou umaautoavaliação de seus problemas-chave esoluções locais promissoras, decidindo quaistipos de pesquisa devem ser subvencionadospelo fundo. Agricultores inovadores estão desen-volvendo esta pesquisa em benefício da própriacomunidade.9

Do mesmo modo, no Quênia ocidental, aWorld Neighbors e a organização comunitáriaAmigos de Katuk Odeyo agiram para reunir seusagricultores em um comitê de pesquisa local.Dorcas Wena, agricultor local e membro docomitê, explica: “Decidimos nos organizar emum comitê comunitário de pesquisa para sermosmais eficientes e também para planejar nossotrabalho de pesquisa do jeito como queremos”.Vincent Dudi, presidente do comitê de pesquisa,continua: “Nosso trabalho envolve reuniõescom membros da comunidade para discutir emequipe ideias sobre as questões que nos afetam,priorizando soluções e incluindo as opções depesquisa. Depois, entramos em contato com oscolaboradores adequados e nós mesmosconduzimos as experiências. O comitê depesquisa traça um plano de trabalho paradistribuição dos dados, realização de testes emcampo, treinamento, acompanhamento e moni-toramento dos agricultores. Posteriormente,convocamos os agricultores para um dia nocampo, que é quando observamos as diferentesexperiências e planejamos a disseminação dotrabalho.10

Agricultores Conduzem o Fluxo de Inovação

Os agricultores não só estão tomando asrédeas da pesquisa local como também as docompartilhamento dos resultados obtidos comseus experimentos e investigações, de agricultorpara agricultor. Inúmeras iniciativas vêmapoiando este procedimento. Calistus Buluma,

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por exemplo, um dos voluntários associados aoprograma de extensão rural patrocinado pelaWorld Neighbors do distrito de Busia, noQuênia, explica que “cada voluntário prestaauxílio a famílias próximas à sua própria família,para reduzir as distâncias entre os que necessitamde ajuda e também porque as pessoascompreendem melhor seus próprios vizinhos, eisso torna mais fácil transmitir todas asinformações a eles”. Na África do Sul, o Fórumdos Agricultores de Sivusimpilo estimula ocompartilhamento de informações entre osagricultores de diversos povoados vizinhos. NoNíger, agricultores pioneiros da aldeia Takalafiyaorganizaram “Jornadas do Agricultor” paraapresentar os resultados de suas experiênciasformais e informais obtidos na aplicação dasglumas do painço como fertilizante para ocultivo de mandioca. Esses fóruns são tambémimportantes para prestar reconhecimento apesquisadores e pesquisadoras de destaque.11

Também no Quênia foram organizadas duasmostras de inovações agrícolas através doProlinnova – Quênia e da PELUM (GestãoParticipativa do Uso Ecológico do Solo) noQuênia, uma delas na província ocidental e aoutra na oriental. Ambas as mostras forameventos de apenas um dia, nos quais ospesquisadores expuseram e compartilharaminformações sobre suas descobertas. “Éimportante que mais membros da comunidadee autoridades [do governo local] prestigiemnosso trabalho. Apresentamos inovações emvários tópicos, incluindo medicina natural,fertilidade do solo, equipamentos agrícolas emuitos outros que ajudam a comunidade demodo geral. Mas quase nunca somos reco-nhecidos. Fazer estes intercâmbios é realmenteútil”, afirma o agricultor e pesquisador PhillipKilaki, presente em um dos eventos acima.12

Diversas organizações que trabalham compequenos produtores também os estão incen-tivando a tomar a dianteira na documentaçãodaquilo que estão realizando. No Níger, porexemplo, os agricultores capturam e compar-

tilham informações a respeito de seus experi-mentos utilizando câmeras digitais, vídeo,pôsteres e a rádio da comunidade rural. Quandoos próprios agricultores documentam suasexperiências e resultados, eles o fazem de umaperspectiva diferente daquela que cientistas,agentes formadores ou jornalistas fariam. Desdeo início dos tempos, os agricultores fazem usode métodos tradicionais de gravação etransmissão de informações, através de canções,desenhos ou histórias. Agora eles passam acomunicar fatos de suas inovações e pesquisasnão apenas verbalmente – nos fóruns ouworkshops rurais com a participação de cientistas– mas também sob a forma de fotografias, vídeosou arquivos de PowerPoint.13

Por que Apoiar a InovaçãoComandada por Agricultores?

Os enfoques de desenvolvimento que apoiamos processos de inovação conduzidos por gruposde agricultores fazem a diferença em pelo menostrês aspectos. Primeiro, eles vão ao encontrodo avanço de inovações que suprem as neces-sidades e favorecem as circunstâncias dapopulação local, o que, portanto, traz benefícioscomo maior produtividade, maior segurançaalimentar, maior renda, menos exigências detrabalho e menos risco. Em Tigré, Etiópia, porexemplo, os agricultores criaram sistemas deirrigação por gotejamento e aprimoraram ascolmeias, utilizando materiais locais em ambasas inovações. No sul da Etiópia, agricultoresdesenvolveram métodos eficientes para lidarcom a murcha bacteriana do enset, um problemacrucial em uma lavoura básica de milhões depessoas da região e que sempre foi amplamentenegligenciado pela pesquisa acadêmica. (Vertambém Quadro 5–1).14

Às vezes o produto de um processo deinovação serve de degrau para iniciativasposteriores. Por exemplo, no Programa deDesenvolvimento de Muyafwa, mencionadoanteriormente, os agricultores foram além da

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Quadro 5–1. Disseminação das Inovações da Etiópia

Os agricultores de pequena escala dosplanaltos da Etiópia enfrentam vários desafios, incluindo décadas de negligênciagovernamental e a severa degradaçãoecológica. A deterioração do terrenomontanhoso da região parece irreversível.Entretanto, há sinais de que os problemasambientais podem ser superados – e ascondições de vida, melhoradas – quandoagricultores e profissionais de recursosnaturais e agrícolas trabalham juntos ematividades que combinam o conhecimentotradicional com o enfoque científico.

Desde 1996, o Instituto para oDesenvolvimento Sustentável (ISD) na Etiópiatem trabalhado diretamente com comunidadesagrícolas e agricultores locais nas áreassemiáridas e degradadas em Tigré, regiãonorte do país. Como resultado de tais esforços,os agricultores estão agora aprendendo a nãose ater a fertilizantes químicos e pesticidas, aaprimorar técnicas de irrigação e estão seengajando nos treinamentos de agricultor paraagricultor, contribuindo para o aumento daprodução em parceira com especialistasagrícolas locais.

Para reduzir a dependência de fertilizantesquímicos, agricultores e especialistas de quatrocomunidades foram treinados na produção decompostos em valas no solo, para só depoisaplicá-los em seus campos, a maioria dos quaisrepresentam, em tamanho, menos que umquarto de hectare. Em apenas dois anos, osagricultores descobriram que esse adubo eratão eficiente no aumento da produtividade das colheitas quanto o fertilizante químico. Com o passar do tempo, eles descobriram queo composto continuava a melhorar a fertilidadedo solo e a aumentar a produtividade daslavouras, possibilitando a suspensão total da compra de produtos químicos. Elescompararam o uso dos fertilizantes químicos ao “suborno do solo”, técnica que eles mesmosreconheceram como insustentável.

Um dos desafios encontrados pelo ISD, e porvários grupos agrícolas não governamentais, é amobilidade dos especialistas agrícolas locais. Em2003, o ISD mudou sua estratégia de

treinamento para conseguir engajar tanto osagricultores como os especialistas locais. Os agricultores foram encarregados de treinar dez de seus vizinhos ou mais, e osespecialistas assumiram a responsabilidade de acompanhar o trabalho dos agricultores eregistrar os impactos do uso do adubo. Dentreos benefícios dessa abordagem, destaca-se orápido aumento do uso do composto orgânicopor toda a região e um crescimento estável daprodução alimentar geral.

Uma história bem-sucedida de pesquisalocal diz respeito à irrigação. Malede Abreha,agricultor e sacerdote em Tigré, tinha aesperança de encontrar água para irrigar suaplantação de meio hectare durante a longaestação seca, a fim de tornar a vida de suafamília mais segura. Quando ele começou acavar a área seca e rochosa próxima à suapropriedade, seus vizinhos pensaram que ele estava louco e lhe sugeriram procuraremprego como operário na cidade. Mas eleestava convencido de que encontraria água.

Abreha realmente acabou encontrandoágua, doze metros abaixo, e começou aplantar árvores frutíferas e legumes. Para tirara água do poço ele criou uma bomba que éfácil de usar e trabalha rápido. Hoje em dia,sua família cultiva plantações variadas –legumes, frutas e até café – em sua fértilhorta. A renda familiar aumentou e Abrehatornou-se um conhecido engenheiro local. Ao compartilhar suas inovações, ele já ajudoua transformar a vida de muitas outras famíliasdo distrito, cavando mais de dez poços paraagricultores e instituições locais por uma taxabastante baixa. Quando um vizinho pediu aAbreha que o ajudasse a construir um sistemaparecido para captar água de seu poço cavadoà mão, foi preciso apenas uma semana, e nãomais as oito semanas que Abreha precisoupara desenvolver o protótipo inicial.

Sue Edwards e Hailu ArayaInstituto para o Desenvolvimento Sustentável

EtiópiaFonte: Veja nota final 14.

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experimentação e se uniram para formar gruposde interesse comum, que multiplicaram assementes ou os materiais para plantio demandioca, batata-doce de polpa laranja, soja,vagem e sorgo.15

As inovações locais também podem trazerideias estimulantes para pessoas que trabalhamem qualquer outro lugar em condiçõessemelhantes. Isso não é mera “transferência detecnologia”, e sim compartilhamento deprincípios que podem ser experimentados eadaptados por outros agricultores. Osagricultores de certa área podem, por exemplo,ter desenvolvido um sistema de cobertura mortausando um determinado material, sendo queoutros agricultores trabalhando em outra áreapoderiam testar as mesmas técnicas dessacobertura morta, mas com um tipo de materialcompletamente diferente.

Um segundo impacto importante, ainda queindireto, é o fortalecimento da voz dosagricultores e de suas competências de liderança,o que ocorre por meio do apoio às instituiçõeslocais que estão concentradas nos testes einovações liderados por agricultores. Porexemplo, na Semana de Ciências que ocorreudurante o Encontro Anual Geral do Fórum dePesquisa Agrícola na África, sediado na Áfricado Sul, em 2006, os agricultores apresentaramas inovações através de pôsteres, materiaisimpressos e vídeos que foram feitos com a ajudade agentes formadores. Oportunidadesparecidas são oferecidas em encontros científicose em feiras de tecnologias, como as queaconteceram em Tigré, ao norte da Etiópia, nasquais os agricultores foram convidados aapresentar suas inovações em barracas de feira.16

Agricultores cujas inovações foram reco-nhecidas por grupos de pesquisa e desen-volvimento e que se dedicaram a experiênciasconjuntas com esses grupos ganharam confiançapara manifestar o que esperam da pesquisa edos serviços de consultoria. Mawcha Gebremedhin,por exemplo, pioneira em Tigré, que desafiouas normas tradicionais e começou sua própria

aração com tração animal, relatou suas expe-riências aos participantes de um encontro inter-nacional que contou com a participação deautoridades proeminentes do Ministério daAgricultura da Etiópia e do gestor da carteirarural do Fundo Internacional de Desen-volvimento Agrícola.17

Em terceiro lugar, o envolvimento de outrosmembros de P&D que reconhecem e apoiamas inovações dos agricultores – e refletem sobretais experiências como iguais – está gerando umnovo pensar sobre como operam as instituiçõesde pesquisa, desenvolvimento e educação.Agora, vários cientistas do Instituto Nacionalde Pesquisa Agrícola no Níger, por exemplo,utilizam o enfoque participativo no desen-volvimento de inovações em parte de seustrabalhos. O governo do Quênia instituiu umfundo de inovação agrícola administrado pela

Malede Abreha e sua bomba artesanal feita à mão

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Unidade de Coordenação do Setor Agrícola, eparte dele é direcionada ao apoio às inovaçõesdos agricultores. Do mesmo modo, o Ministérioda Agricultura da Etiópia e o Projeto de Reforçode Capacitação Rural, este último com o apoiodo Banco Mundial, remodelaram o Fundo deInovações Agrícolas proposto originalmente,com o intuito de trabalhar de modo maisparecido com o de um fundo de apoio àsinovações locais.18

Lições para os Profissionais do Desenvolvimento

Processos que associam diferentes habilidadese fontes de conhecimento dos mais diversostipos de pessoas e organizações e que utilizame aprimoram a criatividade dos agricultores nãoapenas geram novas tecnologias ou instituiçõesque atendem melhor às necessidades destesagricultores – eles na verdade criam um sistemade inovação mais vibrante e sensível, compostopor diversos tipos de parcerias que podemtrabalhar juntas para se adaptar às condiçõesvariáveis dos agricultores. Inovações específicasservem apenas para situações determinadas e

para períodos limitados, então o que realmenteprecisa ser fortalecido e sustentado é acapacidade de inovação dos agricultores e deseus parceiros no desenvolvimento.

Para estabelecer parcerias reais com osagricultores em P&D agrícola, todos osenvolvidos precisam reconhecer e estimular acapacidade de inovação dos agricultores. E osagricultores, especialmente mulheres, precisamser capazes de lutar por um espaço em quetenham voz quando as decisões passarem a sertomadas em um sistema democrático depesquisa. É necessário, portanto, trabalhar aautoconfiança e a capacidade dos agricultores dedesempenhar um papel importante no processode inovação conjunta. De acordo com JoeOuko, Presidente do Grupo das Cabras Leiteirasde Nyando, oeste do Quênia, “quando nós,agricultores, estamos no comando, assumimostoda a responsabilidade por nossas ações e ficamuito mais fácil fazer os membros dacomunidade se mobilizar e contribuir com asquestões de desenvolvimento. Nós nos sentimosmais fortes, discutimos com pesquisadores eoutros agentes de formação e eles ouvem o quetemos a dizer.”19

ESTADO DO MUNDO 2011Agricultores Assumem a Liderança em Pesquisa e Desenvolvimento

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Mike comercializa grãos em Zâmbia. Comoa maioria dos comerciantes locais, ele compramilho de agricultores das áreas rurais e asvende a moleiros das áreas urbanas, comoCopperbelt, em Zâmbia, uma área demineração bastante populosa. E, de vez em quando, ele vende as espigas aoscomerciantes de Lubumbashi, outra área de mineração, do outro lado da fronteira daRepública Democrática do Congo (RDC). Em certas épocas, ele importa milho da África do Sul, se – e quando – a demanda domercado local assim determina. Em resumo,Mike é um dos empreendedores-chave dacadeia de alimentos que vincula a oferta àprocura.1

Ele observa como carregamentos de milhocruzam a fronteira de Kasumbalesa, o principalposto de fronteira entre a Província deCopperbelt, em Zâmbia, e a RDC. Para suasurpresa, todo o milho vem da África do Sulpela estrada de Zâmbia, para ser vendido emLubumbashi. Então, por que os agricultores daÁfrica do Sul estão suprindo um mercado queé na verdade e, por natureza, o mercado dosagricultores de Zâmbia?

Mike está prestes a presenciar, em primeiramão, algo que ele já conhecia em conceitosabstratos: entraves comerciais agrícolas. Para negociar com comerciantes da RDC quevêm a Zâmbia para comprar milho, ele alugouum armazém perto do posto da fronteira.Antes de começar a vender ali, a polícia local oavisou que ele não podia comercializar milhonessa região. Ainda que Mike pretenda apenasvender milho de seu armazém e não exportar,a polícia ordena que ele feche o local. Comovários outros países na região, Zâmbia nãopermite a livre movimentação de produtosalimentícios entre as fronteiras, e o

fechamento do armazém de Mike demonstracomo as autoridades locais tentam impedir ocomércio ilegal.

Porém, quais são as consequências dessapolítica? Primeiro, os agricultores das regiõespróximas às fronteiras não podem contar com um mercado porque não conseguem tercerteza se o mercado da RDC está fechado aeles, visto que pessoas como Mike e outrosnão têm permissão para vender milho ali. Pior ainda, as grandes empresas de moagemem Lubumbashi têm contratos comfornecedores sul-africanos, porque osfornecedores de Zâmbia não são confiáveis –resultado das restrições às exportações. Mas será que essas restrições são realmentenecessárias? Desde que Zâmbia enfrentoudéficits no milho nacional, este grão vemsendo importado da África do Sul ou de outrospaíses. No entanto, seria mais importantefornecer incentivos de longo prazo para osagricultores cultivarem milho, o que resultariaem produção em larga escala, eliminando anecessidade de banir a exportação, paracomeço de conversa, e Zâmbia poderia até setornar uma zona cerealista capaz de abastecertodos os seus vizinhos.

A inexistência de medidas que fomentem a produção de alimentos e o comércioalimentício na África terá sérias (se nãocatastróficas) consequências. A demandacrescente dos centros urbanos emergentes daÁfrica pede mais comida, muita da qual podeser cultivada por produtores locais – fato queapresenta uma oportunidade substancial dedesenvolvimento agrícola para a comunidadeagrária da África.

Para lidar com essas barreiras comerciais, oMercado Comum da África Oriental e Austral(COMESA), uma comunidade econômica

Comércio de Grãos em Zâmbia

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regional de 19 estados associados, criou aAliança para o Comércio de Produtos da ÁfricaOriental e Austral (ACTESA). O objetivo dessaaliança é desenvolver e implantar programasque melhorem o acesso de agricultores ecomerciantes ao mercado. Como resultado dasdiscussões de políticas conduzidas pelaACTESA, as questões envolvendo o comérciode produtos alimentícios são agora um itemconstante nas pautas das reuniões do Comitê

Técnico de Comércio e Alfândega, umimportante fórum regional de formulação depolíticas. Amparados por dados concretosapresentados pela Michigan State University,esse esforço pela elaboração de programasajudará a ACTESA e o COMESA a dar vazão aopotencial do comércio regional de produtosalimentícios, em benefício de seus agricultorese consumidores.2

– Jan Joost NijhoffEscritório do Banco Mundial em Gana

ESTADO DO MUNDO 2011DIRETO DO CAMPO: Comércio de Grãos na Zâmbia

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A Crise de Fertilidade do Solo na África e a Fome que Vem Aí

Roland Bunch

Em setembro de 2009, perto de 30mulheres e seus filhos estavam reunidossob a sombra de uma árvore imensa – o

local tradicional para os encontros da AldeiaKoboko, no Maláui. Pouco a pouco, elas foramse espremendo sobre diversos tipos de tapetestrançados à mão e em cadeiras de madeira comtalhe rústico. O chefe da aldeia e alguns conse-lheiros fixaram o olhar nas mulheres sentadas aolado de um desconhecido que lá estava parafazer algumas perguntas. “Qual é”, começouo estranho, “isoladamente, o problema maisimportante que impede vocês de ter comida

suficiente para oferecer boa alimentação a seusfilhos?”1

Sem ao menos esperar que uma autoridademasculina respondesse, uma das mulheres maisaltas manifestou-se: “Nosso solo está exauridoe, ano a ano, fica pior”. Ela mal tinha terminadode falar quando mais quatro ou cinco mulheresfizeram coro, falando todas de uma vez: “É issomesmo, o que ela está dizendo é verdade”. “Noano passado, eu colhi 35 sacas de milho, masneste ano, só consegui colher 27, e olha quechoveu bem”. “Nós já não temos mais nenhum

Roland Bunch é profissional de agroecologia e autor de Two Ears of Corn: A Guide to People-CenteredAgricultural Improvement, publicado em 10 idiomas.

Agricultor em Gana rega milho usando água de poços rasos construídos no meio da lavoura

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jeito de manter nossos campos férteis”. “Onosso solo ficou tão duro, que mesmo quandochove, a água simplesmente escoa”. Quando oclima se acalmou, o chefe a aldeia, com calmae autoridade, chancelou o consenso óbvioexpressando sua sincera concordância.2

O visitante ficou surpreso. Apenas cinco anosantes, o Maláui enfrentara uma das piores secasda África, quando então a fome foi tanta, queas pessoas chegaram a usar casca de árvorecozida como comida. Se não fossem as toneladasde alimentos emergenciais distribuídos pelopaís, milhões de pessoas teriam morrido. Mesmoassim, nessa aldeia todos concordavam que afertilidade do solo era um problema muitomaior do que a seca. O desconhecido perguntouentão o porquê, e as mulheres responderamque, sem dúvida, as secas tinham sido terríveis,mas secas ocorrem poucas vezes em umadécada, enquanto a fertilidade do solo ameaçavadestruir o suprimento dos aldeões de modopermanente, para sempre.3

Mulheres e homens foram absolutamenteunânimes e inflexíveis, mas obviamente, tinhammedo. Mesmo estando dentre as pessoas maispobres do mundo, jamais sua sobrevivência foradesafiada por uma ameaça tão prolongada e, aoque parecia, tão insolúvel.4

No ano seguinte, dois estudos de grandeimportância incluíram entrevistas comagricultores de mais de 75 aldeias em seis paísesafricanos (Maláui e Zâmbia, na África Austral,Quênia e Uganda, na África Oriental, e Mali eNíger, na África Ocidental). Salvo raras exceções,a mesa história era repetida em todos os lugares:a população já não dispõe de nenhuma formapara manter a fertilidade dos solos, as quedas nascolheitas chegam a 15% – 25% ao ano, e amaioria das pessoas crê que dentro de cincoanos, suas colheitas serão menos da metade doque as de agora. Elas já estão desesperadas.Alguns aldeões dependem de ajuda alimentarpermanente, e hoje aldeias inteiras planejamerradicar-se percorrendo o território em buscade terra fértil – uma estratégia de sobrevivência

cabível quando a África ainda não era tão povoada,mas, atualmente, esse subterfúgio teria poucaschances de sucesso na maior parte do país.5

A crise de fertilidade do solo africano não énovidade para quem acompanha as notícias.Porém, a rápida velocidade da tragédia queassoma – o fato de que dezenas de milhões depessoas podem morrer de fome nos próximosquatro ou cinco anos – é, de fato, umainformação da maior importância. O continenteestá diante de uma tragédia iminente: umaGrande Fome na África.

Uma Tempestade Perfeita

A crise está sendo acarretada por uma“tempestade perfeita” de fatores que afetamtodo o continente ao mesmo tempo. Contudo,as planícies semiáridas e subúmidas, querepresentam perto de um terço das terras eabrigam quase um quinto da população rural dopaís, ou 200.000 pessoas, serão as regiõesafetadas de modo mais severo.6

Há quatro fatores principais engendrandoesta tempestade perfeita. O primeiro deles éque o esterco é amplamente utilizado para afertilização dos solos africanos há décadas, massua oferta é limitada. O crescimento popula-cional reduziu a tal ponto a área cultivável e ospastos das famílias, que hoje em dia, elaspossuem apenas dois ou três animais. Para queo solo se mantenha fértil e proporcione alimentopara uma família, são necessárias mais ou menos15 cabeças de gado saudável e bem alimentado(e isso, contando que o esterco seja bemgerenciado), o que demonstra a impossibilidadede se contar com grande ajuda do esterco paraa manutenção da fertilidade do solo na África.7

O segundo método para manutenção dafertilidade do solo é uma prática que atinge esseresultado há milênios – o pousio da terra. Atécnica consiste em deixar parte do terreno emdescanso de modo que a vegetação naturalconsiga voltar a crescer, devolvendo ao solomatéria orgânica no prazo de 10 a 15 anos.

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Contudo, também nesse caso o crescimentopopulacional causou diminuição drástica na áreados terrenos dos agricultores, e o resultado éque, hoje em dia, a maioria deles cultiva a terrade que dispõe apenas para subsistência. O períodode pousio na maioria das propriedades agrícolascaiu de 15 anos na década de 1970 para perto de10 na década de 1980, e não mais do que 5 anosna década seguinte. Atualmente, a maior partedos agricultores faz o pousio das terras por, nomáximo, 2 anos, sendo que muitos deles nãoconseguem deixar terra alguma em descanso.8

Séculos de experiência com o pousio nosmostram que, sem essa técnica, os solos africanossofrerão perdas na produtividade que poderãoacarretar produção quase inexistente dentro deaproximadamente cinco anos. Foi isso o que seviu entre os períodos de pousio de terrassubmetidas a sistemas de corte e queima.9

O terceiro fator foi ainda mais crucial paralevar os agricultores africanos ao limite da sobre-vivência. O mundo esgotou toda a energia baratadisponível, principalmente graças aos países ricos.O barril de petróleo, que apenas nove anos atráscustava US$ 20, hoje custa perto de US$ 80.Diante de um cenário de recuperação econômicaimprovável, pode-se supor que o preço dopetróleo continuará a subir.10

O problema aqui é que o preço do nitrogênioembutido em um saco de fertilizante – e onitrogênio é o elemento mais necessário aosagricultores africanos – corresponde basicamenteà energia necessária para transformar essenitrogênio em fertilizante. Portanto, quandoos preços de energia sobem, o preço do ferti-lizante químico mais imprescindível na Áfricasobe também. Considerando-se os preços atuais,os fertilizantes à base de nitrogênio já não sãomais viáveis para os pequenos agricultores quecultivam grãos básicos. Ao que tudo indica,agricultores que dispendem US$ 40 com ferti-lizantes químicos não conseguirão ter aumentosequer de US$ 35 em suas colheitas de grãosbásicos. Como investimento, fertilizantes já nãocompensam e, portanto, dentro de um a dois

anos, a maioria dos agricultores africanos queproduzem para subsistência própria e usamfertilizante químico precisarão desistir desseinsumo, o que ocasionará uma queda sem igualna produtividade, na ordem de 30% a 50%.11

O quarto fator são as mudanças climáticas,que desde perto dos anos 1970 já colocam asregiões em desenvolvimento diante de umairregularidade sem precedentes na distribuiçãodas chuvas. Por muitos séculos, os agricultoresplantavam seus cultivos todo dia 24 de junho,por exemplo, porque sabiam, com certeza, quea estação chuvosa começaria dali a uma ou duassemanas. Mas, atualmente, eles não têm ideia dequando choverá, pode ser que seja em maio,junho, julho ou até mesmo em agosto. Essaimprevisibilidade é muito mais prejudicial paraa produtividade das lavouras do que seria umaredução de 10% ou 20% na precipitação total.Ela também afeta a fertilidade do solo porqueas lavouras e a vegetação natural produzemmuito menos, e se a vegetação natural não tiverboas condições de crescimento, o pousio nãopoderá dar grandes resultados.12

A combinação do impacto desses quatrofatores resultou em uma queda abrupta naprodução de alimentos por hectare nos últimosdois ou três anos, e, para os agricultores naÁfrica, não há como solucionar esse problemaatravés da cultura convencional calcada nosfertilizantes químicos.13

É certo que o restante dos países em desen-volvimento enfrenta a mesma tempestadeperfeita. Mas, em outras regiões, os setoresindustriais são grandes o suficiente, ou ocrescimento macroeconômico é vigoroso obastante para que dezenas de milhões deagricultores encontrem trabalho nas grandes epequenas cidades.

Nos planaltos e regiões úmidas da África osolo se deteriora mais devagar; é nas planíciessubúmidas e nas áreas semiáridas que a dete-rioração do solo é incomparavelmente maisacelerada. Portanto, é aí que ocorrem as perdasmais severas em termos de vidas humanas.

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Sinais Visíveis de uma Crise

De modo geral, a maioria das pessoas quevisita as aldeias da África por um período curto,quer sejam nativos ou estrangeiros, só tomaconhecimento do que está acontecendo em umou dois países, ou em algumas áreas de umúnico país. Muitos reparam no problema dafertilidade do solo, mas não se manifestam pornão perceberem que outras áreas vivem a mesmaquestão. Da mesma forma, aqueles quetrabalham na porção continental ou em suaspróprias regiões raramente vão até as aldeiasconversar com os agricultores e, portanto, seuconhecimento é muito mais dependente deestudos e estatísticas.

Dezenas de estudos e relatórios provenientesda África vêm apontando a iminência de sériosproblemas de escassez de alimentos no longoprazo. Perto de 265 milhões de pessoas jásofrem carência alimentar na África subsaarianae há amplo consenso de que a situação caminhapara uma piora. As instituições tradicionais depesquisas agrícolas de âmbito mundial, repre-sentadas pelo Grupo Consultivo em PesquisaAgrícola Internacional (CGIAR), emitemalertas, há dez ou quinze anos, de que a Áfricavive o problema da deterioração do solo, mas,para esses órgãos, a evolução tem sido maisgradual nos últimos dez ou vinte anos. Se oproblema fosse, basicamente, falta de fósforoou potássio, fatores esses que o CGIARacompanha de perto, a crise estaria, de fato, seaproximando a passos bem mais lentos. Noentanto, o ponto principal é que a falta dematéria orgânica é a responsável pela destruiçãoda produtividade dos solos africanos – e avelocidade de esgotamento da matéria orgânicaé muito maior do que a do fósforo ou a dopotássio.14

Entretanto, recentemente alguns obser-vadores vêm apontando sinais precursores deuma fome aguda que se avizinha. Em 2010, ainstituição beneficente internacional CARITASInternational relatou que, no Níger, 8 milhões

de pessoas passavam fome, além de mais 2milhões no Chade, em Mali e em Burkina Fasso.No momento, o Quênia e a Etiópia estãoacometidos por uma fome de grandesproporções. “Secas”, muitas vezes difíceis dese distinguirem de problemas de fertilidade nosolo – dado que solos exauridos não permitemque a água os penetre –, vêm afetando todos ospaíses da costa leste africana nos últimos tempos– da Somália e Etiópia, passando pelo Quênia,Uganda, Tanzânia, Maláui, Zâmbia, Zimbábue,Moçambique e África do Sul. Portanto, ao invésde essas secas serem sanadas pela chuva seguinte,talvez venham a ser o marco da Grande Fomena África.15

Contudo, a principal autoridade em segurançaalimentar no curto prazo na África, a Rede deSistemas de Alertas Antecipados de Fome (FamineEarly Warning Systems Network), parecediscordar. Seus últimos relatórios mencionambolsões de segurança alimentar, mas, de modo

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Cavando com enxada uma irrigação porgotejamento, Níger

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geral, seu parecer é de que em 2009 houvepoucos indícios de um decréscimo significativo naprodução de alimentos na África.16

Por que, então, a aparente contradição?Existe um fator que poderia explicar muito bempor que a produção total está se mantendoenquanto a fertilidade do solo está caindorapidamente: com a queda de fertilidade dosolo, dizem os agricultores, eles são forçados acultivar cada vez mais terras para que consigamalimentar suas famílias. Mulheres malinesasrelatam que hoje em dia, plantam o dobro ouo triplo do que plantavam dez anos atrás, numatentativa desesperada de obter a mesmaquantidade de alimento. Sendo assim, aprodução total continua a mesma enquanto aprodutividade por lote de terra cultivada declinaa passos rápidos. As áreas onde se constatoudesnutrição e fome aguda talvez venham a seras primeiras onde não será mais possível plantarduas vezes como se costumavam fazer.

Portanto, ao que tudo indica, os estudos eestatísticas apontam para uma fome crítica egeneralizada – e para breve.

Nas aldeias, uma série de outros fatoresapontam na mesma direção. Praticamente emtodas as aldeias estudadas, os entrevistadorestambém visitaram as lavouras e observaram oscampos ao cruzarem as estradas e rodovias. Aprodutividade também era mais baixa do que nopassado. Outro sinal indicativo de problema éque os jovens africanos se dão conta de que nãohá futuro nas aldeias, e já restam bem poucosdeles nas áreas rurais.17

A forma tradicional da posse de terra em boaparte da África baseou-se, por milênios, na ideia– estranha para os ouvidos ocidentais – de quetodos que precisassem de terra para plantaralimentos teriam algum quinhão. Contudo, nosúltimos anos foi tão grande o número defamílias e aldeias que abandonaram o Sahel ese mudaram para o sul, em busca de áreas commelhores condições de chuva, que os países queos acolhiam— Costa do Marfim, Gana, Guinée Nigéria – deixaram de distribuir terras para

cultivo. A polícia nigeriana, por exemplo, agoraobriga as pessoas a voltarem para a região defronteira.18

Em todo o Sahel, até mesmo famílias de fulas,cuja cultura se baseia na criação de gado, já nãodispõem de animais porque precisaram vendê--los ou usar sua carne como meio de subsistência.Vinte anos atrás, os agricultores de Malipraticavam o sistema de pousio das terras por 10a 15 anos. Mas agora, como mencionado ante-riormente, eles só conseguem deixar a terra emdescanso por, no máximo, 2 anos, e, se passardisso, aqueles que no momento não tenhamnenhuma terra produtiva pedirão autorizaçãopara cultivar em terras em pousio, alegando queos proprietários já não precisam delas. Muitospaíses têm assistido a disputas por terras que, porvezes, acabam em mortes.19

Embora alguns desses fenômenos tenhamapenas se agravado nos últimos cinco anos,muitos deles são inéditos na história da África.Está em curso algo que jamais aconteceu nessecontinente antes.

Opções para as Pessoas Afetadas

Os moradores das aldeias africanas nuncadeixaram de recorrer a diversos mecanismosconvencionais para lidar com a situação, e umade suas respostas à infertilidade do solo semprefoi mudar-se para outro lugar. Aldeias inteirasrecomeçavam a vida mudando para um novolocal onde os solos fossem mais férteis.Entretanto, a explosão demográfica vemempurrando as pessoas para regiões ante-riormente menos povoadas. Exceto pequenasporções de floresta, resta muito pouca terradisponível nas áreas subúmidas e semiáridas semuso, e mesmo as florestas estão rapidamente seconvertendo em terras para cultivo. O fato deque agricultores de Mali agora se aferrem aqualquer terra que tenha descansado por maisde 2 anos significa que, na prática, não restamterras para assentamento.

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Outro mecanismo para enfrentar a situação émorar em favelas nas capitais ou grandes cidades.Muitos agricultores adotaram essa saída e, pornão terem capacitação, seus salários, agora comooperários, são muito baixos, quase insuficientespara a subsistência. Além disso, como o preçodos alimentos inevitavelmente aumentará emfunção das quedas de produção, é possível quemuitos dos atuais moradores de favelas nãoconsigam sobreviver nesse meio. Ainda assim,outros se converterão em refugiados do meioambiente, tentando encontrar os barcos furadosa caminho da Espanha ou de Malta, enquantomilhões de outras pessoas começarão a depender,permanentemente, da doação de alimentos.

Se nenhuma ação de envergadura for adotadapara impedir a próxima fome, as mortes causadaspor subnutrição e fome aguda poderão chegara dezenas de milhões.

Quatro Propostas de Solução

A recomendação do CGIAR é que acomunidade internacional subsidie fertilizantesquímicos para toda a África. O impacto de solosinférteis poderia ficar mascarado um pouco maisde tempo se os fertilizantes tiverem subsídiosexpressivos (já contam com subsídio de até 75%no Maláui). No entanto, fertilizantes químicosde baixo custo não podem resolver o problemapor não serem capazes de recuperar solosprivados de matéria orgânica.20

Outro problema decorrente deste enfoqueé que no momento em que os agricultores têmacesso a fertilizante barato, abandonam o usode quase toda a matéria orgânica. Por que elesarrastariam para os campos dúzias de sacos malcheirosos de estrume animal se um saco de fertil-izante consegue, assim parece, trazer o mesmoresultado? Portanto, quanto mais tempo osagricultores pobres usarem fertilizante químico,mais pobres seus solos se tornarão, e mais difícilserá no futuro produzir matéria orgânica emquantidades necessárias à melhora desses solos.Em outras palavras, a ação do fertilizante

químico barato será a mesma de qualqueresforço para manter um boom econômico.Quanto mais tempo o boom econômico durar,maior será a quebra quando os subsídiosterminarem.

Além disso, fertilizantes químicos de baixocusto funcionam como um desestímulo paraque os agricultores busquem as únicas soluçõescapazes de solucionar o problema de formasustentável. Assim, quando o mundo se derconta de que o subsídio a fertilizantes químicosnão é uma solução de longo prazo, os solos dasplanícies africanas propensos a seca serãoinférteis demais para o cultivo de alimentos,duros demais para absorver água e repletosdemais de ervas daninhas, como as gramíneasImperata e Striga, para produzirem seja lá oque for. Mais do que isso, os agricultores terãoperdido anos preciosos que poderiam ter usadona tentativa de experimentar alternativas susten-táveis. Quando os subsídios aos fertilizantesacabarem, a produtividade cairá a quase zero, eas soluções sustentáveis serão então muito maiscaras. Alguns lugares, como em boa parte doNíger e noroeste de Uganda, já atingiram essepatamar.21

Quando se pensa em alternativas aos ferti-lizantes químicos, o que se vislumbra na maioriadas vezes é o esterco animal e a compostagem,na verdade, a segunda e a terceira soluçõesfactíveis. Esses dois materiais são muito bonspara fertilizar o solo, e ambos devem ser usadosna medida do possível. Entretanto, as duastécnicas apresentam limitações quando se tratade superar um problema extenso e deproporções continentais. No caso do estercoanimal, como já observado, não há quantidadesuficiente para resolver o problema. Acompostagem, por outro lado, é com todacerteza um recurso excelente para o cultivo dehortifrútis de valor alto, e até mesmo do arroz.Mas para os lavradores africanos que vivem daagricultura de subsistência, cujas principaisculturas são milho, sorgo, painço e raízes comoa mandioca, a prática tradicional para o preparo

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da compostagem é muito trabalhosa. Tal comoocorre com o fertilizante, seus custos infe-lizmente ultrapassam o valor da renda que elaproporciona em termos de produtividade.22

Porém, há uma solução viável para a crise defertilidade do solo na África, solução essa quepoderia resolver o problema de uma formaaltamente sustentável no curto prazo. Alémdisso, trata-se de uma solução barata e que trazconsigo vários outros benefícios socioambi-entais: chama-se “adubo verde/plantas decobertura”.23

Adubo verde/plantas de cobertura sãoqualquer planta, seja uma árvore, arbusto ouplantas rasteiras ou trepadeiras, usadas peloagricultor para melhorar a fertilidade do soloou controlar ervas daninhas, entre outrasfinalidades. Essas plantas são, portanto, bastantediferentes dos “adubos verdes” mais tradi-cionais, cujo nome vem do fato de serem plantasque são podadas enquanto ainda verdes paradepois serem enterradas, tal como se faz com oesterco. Entretanto, quando alguns agrônomose agricultores começaram a empregar siste-maticamente adubo verde/plantas de coberturano Brasil e em Honduras nos anos 1970,perceberam que muitas plantas tropicais capazesde fertilizar o solo produziam também grãosleguminosos com alto teor proteico. Comoconsequência, os agricultores passaram a resistir,com toda a razão, à destruição das plantas antesda colheita dos grãos. Além disso, com aumidade e o calor nos trópicos, a deterioraçãodas plantas é muito mais veloz, e as minhocasou os cupins enterram rapidamente a matériaorgânica de que precisam (e enterrar essasplantas era, quase sempre, desnecessário e muitocaro). Portanto, após colher as sementes dasplantas, a maior parte dos agricultores as deixana superfície do solo.24

Adubo verde/plantas de cobertura incluemainda culturas como o feijão-de-corda e o feijão--escarlate, quando utilizados também na funçãode fertilizar o solo, ainda que muitos agrônomoscom frequência classifiquem essas plantas sepa-

radamente como “grãos leguminosos”. Noâmbito técnico da agricultura, as árvores quefazem parte do sistema agroflorestal são consi-deradas em separado. No entanto, as definiçõesde adubo verde/plantas de cobertura aquiutilizadas incluem propositadamente as árvores.De fato, “árvores dispersas” constituem umaparte primordial da solução para a Grande Fomena África.25

O Potencial do AduboVerde/Plantas de Cobertura

Por 5.000 anos, o sistema de pousiorecuperou, repetidamente, a fertilidade dos solosnos trópicos. Como já descrito antes, osagricultores não cultivavam terras que tivessemperdido a produtividade porque, em 10 ou 15anos, a floresta ou gramíneas incipientes recu-perariam a fertilidade do terreno original. Avegetação natural despejaria toneladas de folhase galhos sobre a terra, assim recuperando amatéria orgânica perdida durante o cultivo.Posteriormente, os agricultores queimariamesse material e começariam a plantar uma vezmais. Por milhares de anos, esses sistemas de“corte e queima” não causaram nenhuma dete-rioração perceptível do solo.26

Os agricultores das regiões temperadas nomundo todo usavam um processo semelhantedenominado adubação. Segundo alguns registros,esse sistema remonta à época do Império Romanoe foi utilizado até o final da Segunda GuerraMundial, quando então os fertilizantes químicospassaram a ter uso generalizado.

Em outras palavras, no mundo todo e namaior parte da história da humanidade, oprincipal método de manutenção da fertilidadedo solo sempre foi através do cultivo de plantascujas folhas recuperariam a fertilidade. O fatode que nos últimos cinquenta anos muitosagricultores tenham usado fertilizantes químicospara manter a produtividade do solo não querdizer que o método que manteve a espéciehumana viva por milênios não funcione mais,

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muito pelo contrário. Na história dahumanidade há muito mais provas de que asfolhas do adubo verde/plantas de coberturaconseguem manter a fertilidade da terra demodo sustentável do que evidências indicandoque os produtos químicos podem fazer omesmo.

Para impedir outra fome aguda, o melhor afazer é deixar que os agricultores africanos copiemo método bem-sucedido usado por eles mesmosdurante milênios para manter a fertilidade dosolo. Os agricultores têm condições para cultivarplantas e árvores que produzam quantidadesabundantes de folhas e, assim, recuperar a terra.No entanto, hoje em dia eles não dispõem denenhuma terra que possam deixar descansando e,portanto, precisarão produzir a biomassanecessária em suas propriedades e entre as lavourasjá existentes. Em resumo, o cultivo de árvores,arbustos e plantas rasteiras que fertilizem a terrae controlem ervas daninhas deve ser feito juntocom as lavouras – esses sistemas são denominados“pousio simultâneo”.

Para fazer isso nas planícies africanas, osistema mais apropriado é, quase sempre, emtrês camadas. Muitas plantas podem sercultivadas na primeira camada, junto com asculturas de subsistência dos agricultores,podendo compreender feijão-de-corda, umgrupo nutritivo de feijões que inclui o feijão--fradinho, feijão-mungo, feijão mangalô e feijão--de-porco. A decisão pelos melhores feijões develevar em conta se são conhecidos e consumidosna região, sua capacidade de crescimento juntocom outras culturas locais, seu valor de mercadoe sua capacidade de fertilização do solo.

Mais de um milhão de agricultores, princi-palmente nas Américas Central e do Sul, usamatualmente adubo verde/plantas de cobertura,e um número crescente de organizações naÁfrica e na Ásia também começou a trabalharcom esse tipo de cultivo. Hoje em dia, sabe-seque mais de 120 espécies são ou poderiam serusadas na África. Toda essa experiênciapossibilita uma escolha adequada das espécies

que terão melhor desempenho na maioria doscasos.27

A segunda camada seriam as lavouras desubsistência propriamente ditas, acima das quaisos agricultores cultivariam uma terceira camada,a de árvores com copa. Desde que essa copanão seja muito espessa ou muito próxima dosolo, ela poderá proporcionar alguma sombraque, na realidade, aumenta o rendimento daslavouras. Isso acontece porque as lavouras nasplanícies tropicais enfrentam muito calor nomeio do dia e, então, se puderem contar com15% de sombra, produzirão até 50% dealimentos a mais do que se estivessem sob o Solforte. Assim, árvores que possam ser podadascom facilidade ou cuja copa seja rala ou sufi-cientemente alta para proporcionar uma sombraque varie de lugar durante o dia podem ser

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Árvore plantada no meio de uma cultura demilho, no Quênia

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cultivadas nas propriedades agrícolas ebeneficiarão as lavouras. Os sistemasagrícolas que incluem essas árvoresespalhadas pela área plantada são chamadosde sistemas com “árvores dispersas” oude “sombra dispersa.28

Além de propiciar fertilidade do solo esombra, os sistemas de árvores dispersasoferecem várias outras vantagens para osagricultores. A sombra garante a umidadedo solo por mais tempo e, portanto, nasáreas subúmidas e semiáridas, onde a fomeserá mais aguda, essas árvores ajudarão aproteger as lavouras contra as secas eprolongarão a estação de cultivo daslavouras.

Agrônomos e agricultores precisarãoselecionar as espécies para adubo verde/plantas de cobertura que ofereçam o máximopossível de benefícios adicionais: • Adubo verde/plantas de cobertura podem

acrescentar até 60 toneladas de matériaorgânica (peso verde) por hectare ao soloanualmente – as vantagens são a transmissãode nutrientes até a superfície do solo,melhorando assim sua capacidade de retençãode água, teor e equilíbrio nutricionais, biodi-versidade, maciez, penetrabilidade e acidez.29

• A biomassa acrescenta quantidades signi-ficativas de nitrogênio ao sistema agrícola,precisamente o nutriente mais em falta nossolos africanos – a quase totalidade dasculturas que seriam usadas consegue fixarmais de 60 kg de nitrogênio puro porhectare, por ano, sendo que algumas delasconseguem fixar entre 150 kg e 220 kg.30

• Não há custos com transportes – aduboverde/plantas de cobertura são utilizadosexatamente onde são produzidos.

• Adubo verde/plantas de cobertura nãorequerem nenhum dispêndio de capital apósa compra das primeiras sementes.

• Nesse tipo de cultivo, a mão de obranecessária para extirpar ervas daninhas podeser reduzida em até 65% – como na África

essa atividade é quase sempre consideradaum trabalho feminino, o menor emprego demão de obra poderia reduzir a carga detrabalho das mulheres africanas mais do quequalquer outra intervenção isolada, dentro oufora da atividade agrícola.31

• Muitas das culturas de adubo verde/plantasde cobertura conseguem também reduzir oueliminar o uso de herbicidas e algumas delasagem como nematicidas ou inseticidas.

• A sombra e a cobertura do solo, a maiorinfiltração de água e o aumento da capacidadede retenção hídrica em função do aumentode matéria orgânica diminuem a vulnera-bilidade dos cultivos à seca – os fatoressombra e adubação verde proporcionadospelas árvores dispersas podem praticamentetriplicar o teor de umidade do solo durantea estação seca, aumentando em mais 20 diasa época de cultivo.32

• Entre dois e quatro anos após aplicaçõesintensas de matéria orgânica obtida poradubo verde/plantas de cobertura, osagricultores já têm condições de mudar parasistemas de plantio direto, que retêm altosníveis de produtividade e reduzem a erosãodo solo.

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Cultivo de Tephrosia entre fileiras de outrasculturas, Camarões

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• Adubo verde/plantas de cobertura causarãoum grande impacto positivo sobre asmudanças climáticas – impedirão o uso gene-ralizado de fertilizantes químicos à base denitrogênio, cuja fabricação requer grandesquantidades de combustíveis fósseis, e seques-trarão centenas de toneladas de carbono daatmosfera.33

• Árvores dispersas agem como bombas denutriente e umidade, reduzem a erosão pelovento, aumentam os níveis de precipitação,funcionando como quebra-vento, conseguindoassim reduzir as perdas de água nas lavouras edesacelerar ou reverter o processo de deserti-ficação; boa parte do adubo verde/plantas decobertura também produz alimentos, raçãoanimal ou bens com valor comercial, o queaumenta a saúde nutricional e a renda, mesmoconsiderando que qualquer desses usosreduzirá, em alguma medida, a quantidade debiomassa reciclada dentro do solo.Ao adotarem o uso de adubo verde/plantas

de cobertura, os agricultores africanos queplantam para a própria subsistência estarão nãoapenas evitando uma fome aguda, mas tambéminstituindo sistemas agrícolas totalmente novosque reduzem custos, diminuem o emprego demão de obra, melhoram a nutrição de toda afamília e fortalecem, em vez de destruir, osrecursos naturais do planeta.34

Desvantagens Alegadas pelosCríticos do Adubo Verde/

Plantas de Cobertura

Os adeptos da prática agrícola convencionalbaseada no uso de produtos químicos gostamde apontar diversas desvantagens dos sistemasde adubo verde/plantas de cobertura. Emprimeiro lugar, afirmam que sistemas que nãosejam à base de produtos químicos precisam,inevitavelmente, de mais mão de obra e sãoincapazes de gerar produtividade alta. Emsegundo lugar, alegam que esses sistemas não

funcionam em regiões semiáridas. Os doisargumentos são totalmente falsos, comodemonstrado por dezenas de milhares delavouras de subsistência no mundo todo.

Em terceiro lugar, os críticos afirmam quesistemas que usam pouco insumo químico nãosão capazes de proporcionar os nutrientesnecessários às culturas. Entretanto, aduboverde/plantas de cobertura podem suprir nãoapenas todo o nitrogênio de que as plantaçõesnecessitam, mas também uma quantidaderazoável de fósforo, por exemplo, protegendoo solo dos ventos Harmatão que sopram ano aano no Sahel na estação seca. Os solos africanospodem ainda obter fósforo a partir do estercoe urina animal que serão aplicados nos campos.É possível que ainda seja necessária a aplicaçãode quantidades muito pequenas de fosfato derocha ou fosfato químico para que se obtenhasustentabilidade absoluta, mas o desembolsocom essas aplicações seria entre um quinto eum décimo do dispêndio com a dependênciacompleta de fertilizantes químicos.35

A quarta crítica feita é que os sistemas deadubo verde/plantas de cobertura requeremmuito conhecimento e tempo para ensinardezenas de milhões de agricultores sobre oassunto. Esse é um argumento válido. Porém,o fator tempo pode ser reduzido drasticamentese apenas quatro ou cinco espécies de cultivoforem escolhidas para cada zona ecológica, se otreinamento oferecido for o mais simplespossível, sem mudar quase nada nos sistemasagrícolas em uso, e se forem usadas plantasnativas já conhecidas pelos aldeões.

Além disso, é bem possível que esses sistemasse espalhem espontaneamente de uma aldeiapara outra. Perto de Bamenda, em Camarões,um agricultor tentou cultivar uma planta dogênero tephrosia para melhorar o pousio, edepois de oito anos, mais de mil agricultoresestavam usando essa espécie para a mesmafinalidade. As informações a respeito da novatecnologia foram divulgadas entre os própriosagricultores, e o mesmo pode acontecer no caso

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dos sistemas de adubo verde/plantas decobertura porque há um clamor pela soluçãodo problema da fertilidade do solo – eles sabemo que está por vir e estão verdadeiramentepreocupados.36

Um Registro Positivo

O povo Dogon habita uma parte da Áfricaque é das mais suscetíveis à seca. Mesmo assim,diversas aldeias Dogon próximas a Koro, noMali, desenvolveram por conta própria umsistema bastante simples de adubo verde/plantasde cobertura. Primeiro, eles plantam árvoresleguminosas por todo a área (incluindo a Acaciaalbida e vários outros tipos de acácias) e depois,anualmente, aparam todos os galhos lateraismais baixos pouco antes da chegada das chuvas,para fertilizar os campos e adequar a sombra.37

Eles fazem ainda consórcio da cultura desubsistência (painço) com o feijão-fradinho,usando uma variedade de ciclo curto, de modoque o feijão-fradinho produza grãos e sejaenterrado pelo cupim antes da colheita dopainço e antes de os animais de pasto serem

soltos. Além disso, também fazem o cultivo devárias outras espécies de adubo verde/plantas decobertura que produzem alimentos, como anoz de bambara, fonio e amendoim, em rotaçãocom as lavouras de subsistência. Ocasio-nalmente, boiadeiros da etnia Fulani sãoconvidados para deixarem seu gado pernoitarnos campos dos Dogon, para que o esterco sejaadicionado ao solo.38

Como resultado dessas inovações, hoje emdia, a colheita de muitos desses agricultoresDogon chega perto de duas toneladas de painçopor hectare, por ano – quase o triplo da médiaobtida em áreas da África saheliana com preci-pitação semelhante. De mais a mais, a produ-tividade vem se mantendo, e, em alguns casos, atémesmo melhorando com o passar do tempo.39

Esses agricultores Dogon vivem em um dasáreas mais sujeitas a seca na África, onde ocultivo de adubo verde/plantas de cobertura édos mais difíceis. No entanto, eles não estãopreocupados com uma fome de grandesproporções no futuro porque já solucionaramo problema.

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Milhões de plantadores de mandioca naÁfrica Oriental e Central estão aflitos devido àsdoenças que assolam suas culturas. Mas osagricultores na popular ilha turística deZanzibar vivem uma revolução silenciosausando variedades resistentes a doenças ecom alta produtividade introduzidas há trêsanos.

As quatro variedades (Kizimbani, Mahonda,Kama e Machui) renovaram as esperançascom a cultura da mandioca depois que as duasprincipais doenças – podridão da raiz emosaico – devastaram a lavoura na região.Essas doenças custam ao setor do cultivo daraiz na África mais de US$ 1 bilhão de prejuízopor ano, e os efeitos econômicos recaemprincipalmente sobre os pequenosprodutores.1

A doença do mosaico da mandioca surgiuinicialmente em Uganda, em meados dos anos1980, para daí se disseminar rapidamente pelaÁfrica Oriental e Central através da propagaçãode materiais de semeadura infectados e pelamosca branca. A doença só foi parcialmentecontrolada por cientistas, governos,organizações não governamentais eagricultores com o desenvolvimento eutilização de variedades resistentes etolerantes e por meio da amplaconscientização sobre o modo de barrar apropagação do mosaico. Mas, então, a doençada podridão da raiz eclodiu. Essa doença jáestava presente há muito mais tempo, porémapenas nas áreas costais baixas da ÁfricaOriental e nas redondezas do lago Maláui. Em 2004, ela começou a se disseminarrapidamente para áreas de altitudes médiasque estavam se recuperando do mosaico.2

Haji Saleh, responsável pelo programa detubérculos e raízes do Ministério daAgricultura, Pecuária e Meio Ambiente emZanzibar, relata que a primeira pesquisa dadoença da podridão da raiz da mandioca na

ilha, em 1994, apontou que 20% da lavouraapresentava sintomas, e um estudo posteriorpara acompanhamento, em 2002, mostrouque a doença já estava totalmentedisseminada. “Todas as variedades locaiscultivadas eram suscetíveis. Agricultores eautoridades imploravam ajuda”, disse Saleh.3

Atendendo a esse apelo, agrônomos deZanzibar em parceria com o InstitutoInternacional de Agricultura Tropical (IITA)deram início a um programa de melhoramentopara desenvolver variedades resistentes àsduas doenças. Essas iniciativas foramrecompensadoras: depois de apenas quatroanos, quatro novas variedades foram lançadasem 2007.4

“A mandioca é o segundo alimento básicomais importante em Zanzibar, logo depois doarroz”, disse Saleh. “No entanto, é o primeiroem termos de área plantada e produção, sendoque mais de 90% dos agricultores fazem seucultivo. Seu cultivo nos proporciona segurançaalimentar porque é feito na maior parte daszonas de agricultura ecológica, inclusive nasáreas secas da ilha onde outras culturas não se saem bem. Então, quando as doençasatacaram, foram muito devastadoras para asegurança alimentar da ilha”.5

A equipe de pesquisa começou, então, umprograma de rápida expansão, trabalhandocom os agricultores para propagar asvariedades melhoradas na ilha e em outraspartes. “Escolhemos alguns agricultores-pilotoem cada distrito para nos ajudar”, contouSaleh. “O treinamento que oferecemosensinou como cultivar mandioca para se terbom rendimento e manter a fertilidade dosolo, e incluímos também conhecimentoscomerciais, visto que a ideia era vender omaterial de semeadura”.6

Um desses agricultores, Ramadhani AbdalaAme, da aldeia Kianga, participou dos testesfeitos na propriedade agrícola com emprego

Novas Variedades de Mandioca em Zanzibar

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das variedades melhoradas. Durante esses testes, os agricultores ajudaram ospesquisadores a selecionar não só asvariedades de melhor desempenho, mastambém aquelas que atendiam às preferênciase exigências dos agricultores quanto aos váriosusos da cultura. Ame contou que haviadesistido da mandioca porque a planta sofria de “kensa ya mhogo” ou “câncer damandioca”. Quando a planta é acometida pela doença da podridão, suas raízes ficamcomprometidas, e como a raiz é a parte commaior valor econômico, a mandioca não servepara consumo.7

“Quando víamos a mandioca no campo,tínhamos a impressão de que estavam boas,mas quando colhíamos, as raízes estavampodres e sem serventia, e todo o nossotrabalho e esforço eram perdidos”, disse Ame. Ele recebeu 40 mudas das quatro novasvariedades para testá-las em sua propriedade.“Naquela ocasião, elas não tinham nomes,apenas números. Eu fiquei surpreso com odesempenho: os tubérculos eram grandes enão tinham doença. Escolhi as duas que meagradaram mais”.8

Ame contou que a venda das raízes damandioca e do material para semeadura fez uma grande diferença em sua vida,permitindo-lhe comprar duas vacas, construirum estábulo, e ele agora está construindo uma casa melhor, de tijolo e placas de ferropara sua família.9

Outro agricultor-piloto, Suleiman JohnNdebe, da aldeia Machui, também haviadesistido da mandioca depois de 10 anos demás colheitas por causa do “câncer” e outrasdoenças, como a cochonilha, e pragas, como oácaro verde. Mas as variedades fornecidas aele na Estação de Pesquisa de Kizimbani parateste deixaram-no empolgado e motivado pararetomar o cultivo.10

Ndebe diz que o envolvimento com oprojeto levou a uma reviravolta em sua vida, e,agora, a agricultura passou a ser um negóciosério. Ndebe estima que a mandioca lheproporciona lucro entre 50% e 100%,dependendo da época, e sua renda mais doque quadruplicou. “Antes do treinamento, eunão sabia que a agricultura era um negócio

sério, eu não sabia quando tinha lucro ouprejuízo. Hoje em dia, eu sei a quantidade demandioca que plantei, o custo da mão de obrae do esterco, a quantidade que espero colher equal será meu lucro. Agora tenho condições deguardar um pouco de dinheiro no banco eminha vida é menos desgastante”.11

No entanto, existe ainda uma grande lacunaa ser preenchida até que todos os agricultoresde Zanzibar possam desfrutar novasvariedades de mandioca. De acordo comSalma Omar Mohamed, pesquisadoragraduada da Estação de Pesquisa deKizimbani, dentre 800.000 agricultores,apenas perto de 8.000 cultivam atualmente as novas variedades. Ela diz que o modelocomercial de distribuição dos materiais desemeadura excluiu os agricultores pobres quenão tinham condições de custeá-los. Contudo,ela estava grata pelos avanços conquistadosgraças aos financiamentos de doadores comoa Aliança por uma Revolução Verde na África,cujos subsídios viabilizaram a distribuiçãogratuita de materiais de semeadura paraagricultores pobres através de um programade cupons.12

Mohamed tem esperança de que elesconsigam mais apoio para disseminar asvariedades melhoradas a todos os agricultoresde Zanzibar e à vizinha ilha Pemba, onde adoença é prevalente e a penetração de novasvariedades é ainda mais baixa.

Edward Kanju, pesquisador do IITA quetrabalha com melhoramento de mandioca, diz que agricultores do Quênia, de Uganda e da região continental da Tanzânia podemtambém ter esperanças, dado que 15variedades promissoras de mandioca,adequadas às condições climáticas dessasregiões, estão nas últimas fases de teste.“Quando cientistas e agricultores trabalhamlado a lado”, observa Kanju, “conseguemeliminar as doenças na região, garantindo o alimento e subsistência de mais de 200milhões de agricultores na África subsaarianaque dependem da lavoura”.13

—Catherine NjugunaInternational Institute of Tropical Agriculture

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Proteção da Biodiversidade dos Alimentos Locais

Serena Milano

Guiné-Bissau quer dizer arroz. Em média,as pessoas na Guiné-Bissau comem meioquilo de arroz por dia, e se não tiverem

ingerido arroz naquele dia, dirão que ainda nãocomeram. Até os anos 1960, esse pequeno paísno oeste da África, entre o Senegal e a Guiné--Conacri, produzia arroz suficiente para exportaro excedente aos países vizinhos. Muitasvariedades tradicionais diferentes eram cultiva-das. Algumas delas, selecionadas pelos Balanta,na época o principal grupo étnico do país (eainda o é), eram cultivadas em água salgadausando uma técnica muito sofisticada chamadaarroz de bolagna. Os Balanta regulavam as vias

de navegação interior, que parecem rios, massão na realidade entradas profundas de mar, pormeio de diques feitos de terra e manguezais. Aágua do mar era escoada das bacias de formagradual através de canais de drenagem (cavadosnos diques) e as bacias eram abastecidas comágua da chuva.1

Hoje em dia, o número de variedades tradi-cionais diminuiu e, ainda mais importante, aprodução nacional também. A quantidade dearroz cultivada na Guiné atualmente é tão baixaque não consegue suprir a demanda doméstica.Esse déficit é coberto por arroz barato importado

Serena Milano é a Secretária-Geral da Slow Food International’s Foundation for Biodiversity.

Grãos de Café Colhidos à Mão em Uganda

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da Ásia, principalmente da Tailândia, e substituiuo arroz local na preferência alimentar dapopulação. O arroz é levado por navios queretornam à costa da Ásia levando mais de100.000 toneladas de caju por ano. Desdemeados dos anos 1980, a Guiné tem concentradosua produção no cultivo do caju, negligenciandoa maior parte das outras lavouras e compro-metendo sua autossuficiência alimentar. Hoje,o caju é a moeda real do país. As estradas daGuiné-Bissau estão ladeadas por fileiras inter-mináveis de cajueiros. A partir de maio, toda acomunidade começa a colher as castanhas, e asmulheres até abandonam as hortas para ajudarna colheita. Todas as aldeias produzem vinho,e essa prática acabou por instalar uma epidemiade alcoolismo, inclusive entre as crianças.2

O caso da Guiné é emblemático do queacontece em outros países da África. Nas últimasdécadas, a agricultura tradicional baseada nadiversidade local deu lugar a lavouras demonocultura destinadas à exportação, inclusivecaju, azeite de dendê e amendoim, e ao usogeneralizado de adubos químicos e pesticidas.Isso quase sempre reduz a biodiversidade,ameaça as economias locais e desestrutura aidentidade cultural das comunidades. Contudo,muitos produtores rurais, organizações nãogovernamentais e cientistas questionam eresistem a essa tendência e estão agoraencontrando formas de restaurar a biodiver-sidade agrícola e cultural no campo, nosmercados e nas mesas de jantar da Guiné e daÁfrica.

Conservação dos Recursos Naturais

A atividade agrícola está vinculada ao meioambiente e não pode ser tratada como apenasum setor da economia ou estar sujeita às rígidasleis de oferta e procura. A produção de alimentostambém deve proteger os ecossistemas e afertilidade do solo, preservar os recursosnaturais, incluindo as florestas, e deve protegeroceanos, rios, lagos e lençóis freáticos. Quando

uma floresta desaparece, por exemplo, tambémdesaparecem os ecossistemas fundamentais parao equilíbrio hidrogeológico de um país e asobrevivência das comunidades. Quando seperdem árvores, perdem-se também muitos dosalimentos na natureza e ervas medicinaisessenciais para a dieta e a saúde das comunidades.O mesmo ocorre com as bacias hidrográficasque, quando contaminadas, acabam por destruira vida marinha e as fontes de alimento dascomunidades locais.

As montanhas do sul da Etiópia são ricas embiodiversidade. A estrada esburacada que leva atéelas sobe serpenteando até chegar a 4.200metros acima do nível do mar e precisa serpercorrida a passo de tartaruga. Visitantes quechegam ao Planalto Sanetti, contudo, sãorecebidos por um amplo campo de urze querecobre o planalto como um cobertor em coresque vão do branco ao lilás. Essa terra aindaabriga o lobo da Etiópia, o único lobo nativoda África subsaariana. Um bom observadorpoderá ver um pelo vermelho no branco e verdeda vegetação do planalto, movendo-se emsilêncio à caça de coelhos selvagens. A estradacontinua até Harenna e ao que resta da florestaequatorial, que abriga mais de 700 espécies deplantas, embora esse número esteja em quedacomo resultado do desmatamento.3

Uma dessas espécies nativas é o café, quecresce na mata à sombra permanente de grandesárvores. A variedade é provavelmente arábica,mas devido à sua aparência física variável, éimpossível definir as características com precisão.De fato, sua variabilidade na região ajuda aprotegê-lo de doenças. O povo que habita afloresta – está entre os mais pobres da Etiópia– colhe e seca os grãos de café para vendê-los acomerciantes que os levam até Djibouti, e daliserem exportados como café de segunda linha.Os apanhadores de café recebem muito poucopelos grãos, e são, portanto, forçados a seconcentrar em quantidade e não em um proces-samento de qualidade que poderia ajudá-los aconseguir um preço melhor no mercado.4

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Hoje, contudo, os produtores rurais estãotrabalhando com ONGs e bolsas de mercadorias– inclusive a Slow Food International, aACDI/VOCA (uma ONG que trabalha comagricultores e outros setores por toda a África)e a Bolsa de Café da Etiópia – para aprender aproteger os pés de café selvagem, fazer adubaçãocom compostagem orgânica e fazer proces-samento que retenha as qualidades valorizadaspor apreciadores de café. O projeto da SlowFood treina as comunidades a colherem o frutoapenas quando ele estiver maduro e a secaremos grãos cuidadosamente usando suportes feitosde material local. Esse tipo de inovação nãoapenas melhora o sabor do café, mas tambémajuda na renda dos produtores. Aquilo que nãoé economicamente viável não pode sersustentável, observou Joe Welsh, representanteda ACDI/VOCA no país.5

As comunidades pesqueiras da ÁfricaOcidental enfrentam desafios semelhantes. Parapequenos pescadores, viver do mar está cadavez mais difícil. Após levar a maior parte dospróprios estoques de peixe à exaustão, naviospesqueiros europeus, chineses, japoneses erussos encontram agora condições ideais depesca na costa africana. Muitos governosfornecem de bom grado licenças de pesca,mesmo quando isso significa acabar com as áreaspesqueiras, e a falta de regulamentações econtroles significa que os navios estrangeirospodem pescar indiscriminadamente. Nomomento, cerca de 9 milhões de pessoas vivemda pesca de pequeno porte na África, porém aprática da pesca predatória implica na desinte-gração das comunidades costeiras. Em muitoscasos, os pescadores passam a trabalhar nasfábricas locais de processamento de pescadosadministradas por empresas estrangeiras, e nãoraro eles são obrigados a vender seus barcos apreços baixos.6

Contudo, no Senegal, país vizinho à Guiné--Bissau, alguns grupos de mulheres estãoencontrando alternativas para a pesca predatória.O yeet, um molusco endêmico das águas rasas

e arenosas do Delta do Saloum, no Senegal, éexemplo disso e já é uma importante fonte dealimento para as comunidades do delta. Ocaracol é extraído de uma concha brilhante,seco ao Sol e usado no preparo de diversospratos. Contudo, se tempos atrás ele eraabundante, hoje corre o risco de extinção, eapesar de chegar a 35 cm de comprimento, otamanho e a quantidade de caracol tiveram umaredução drástica com o aumento de demandado Japão. Hoje em dia, a maior parte daprodução é exportada, o que levou à reduçãode uma importante fonte local de proteína.7

Nenhuma intervenção nesse quadro é tarefasimples. O ideal seria impedir a venda de yeet acomerciantes, ou, melhor ainda, suspender acoleta permitindo ao molusco refazer seusestoques, mas isso acabaria com a principal fontede renda das pessoas no local. No entanto,diversificar a economia local e trazer novasorigens de receita, inclusive a colheita de frutasnativas e posterior agregação de valor a elas,pode ajudar as comunidades locais. Pensandonisso, mulheres de três comunidades nas ilhasdo delta, Dionewar, Falia, e Niodior, estãomapeando as frutas encontradas nas ilhas, como,por exemplo, o karkadè, pain de singe, gengibre,tamarindo, ditakh e new. Além de fazer acolheita, elas estão também processando asfrutas, convertendo-as em produtos de valoragregado, como sucos e geleias, que são entãovendidos a empresas e aos moradores da região.8

“O primeiro problema a ser resolvido nadiversificação de nossa atividade foi a mobilidadedas mulheres, que dependiam do uso daspirogas [canoas] dos pescadores”, contaSeynabou Ndoye, vice-presidente do grupo depescadoras Fénagie Pêche e presidente de suaseção em Sèelal Dundin. “No delta do Saloumé preciso transitar entre as ilhas para se chegarà terra seca e então colher, transformar e venderas frutas. A primeira parte desse projeto nosdeu duas pirogas administradas diretamentepelas três cooperativas femininas. Com aspirogas também conseguimos um pequeno

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lucro, mas acima de tudo, fomos capazes decompletar a parte mais importante do projeto:montar um laboratório de processamento, deacordo com as regulamentações, onde podemoscolher, processar e embalar as frutas”.9

Cultivo da Biodiversidade no Campo

A diversificação permite que as comunidadesadministrem a produção, mantendo parte delapara consumo próprio e vendendo o excedente.Ela também proporciona à população localmaior variedade de produtos para venda duranteo ano, gerando fontes de renda regulares e nãoapenas nos períodos tradicionais de colheita.Isso garante oferta de alimento em todas asestações e ajuda na proteção contra os riscosde mudanças climáticas, de predadores e deepidemias das doenças que atacam as lavouras.(Ver Quadro 7–1). A diversificação da produçãotambém significa menor vulnerabilidade àflutuação de preços estabelecidos pelo mercadointernacional.10

Os Dogon, um povo africano que vive nasescarpas de Bandiagara, entre Mopti e Timbuktu,

em Mali, cultivam uma relação próximacom essa região inóspita, embora magnífica.Eles constroem as casas na rocha vermelhadas falésias, cavando no arenito e erguendocabanas baixas de barro. Como muitasoutras comunidades do Mali, eles plantamuma grande variedade de hortaliças ecereais, guardando e preservando assementes de um ano para outro e desen-volvendo variedades adaptadas às condiçõesde calor e seca da região. Os visitantes queali chegam são apresentados aos sacos ecuias contendo as sementes preciosas, e asmulheres descrevem os pratos tradicionais:bolinho frito de painço e feijão, tò (mingaude painço), empanados de chalota e erva--canária, pó de cebola e pó de baobá,bolinhas de acasà feitas de uma pasta de

amendoim e açúcar, cuscuz de painço e cervejade painço.11

Ao longo das barragens (pequenos diquesconstruídos nos anos 1980 para disponibilizarmais água), os Dogon cultivam chalotas, de fato,até mesmo em excesso, a ponto de muitasapodrecerem no campo ou ficarem nos armazéns.Por esse motivo, os agricultores estão agoramudando a produção para alimentos mais tradi-cionais, inclusive dedicando uma área para árvoresfrutíferas (manga, laranja, banana e carité), umapara grãos (arroz, milho, painço, fonio) eamendoim e uma para hortaliças. Esses produtos,em parte cultivados e em parte selvagens, bemcomo os animais de criação dos Dogon, sãousados exclusivamente para o consumo familiar.Quanto mais diversificada for a produção, maisrica e completa será a dieta da família, seja qualfor a disponibilidade monetária ou os fatoresexternos além do controle da comunidade, comoclima, abastecimento de água e situação domercado internacional.12

Essa gama de biodiversidade reunida numaárea pequena (todas essas culturas muitas vezesestão em terrenos de apenas um hectare) é umrecurso muito precioso, assim como o conhe-cimento detido pelas mulheres, que transformam

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Agricultor em Gana inspeciona caju em suapropriedade

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Quadro 7–1. Diversidade no Sistema Alimentar

Nos anos 1970, os arrozais da Índia e daIndonésia foram ameaçados pelo vírus dotungro do arroz. Após uma busca de cincoanos que examinou mais de 17.000 amostrasde arroz de cultivo e de arroz selvagem,descobriu-se que a espécie selvagem Oryzanivara, que cresce próximo a Gonda, em UttarPradesh, tinha um único gene resistente àestirpe do vírus do tungro. Hoje em dia,híbridos resistentes contendo o gene do arrozselvagem indiano são cultivados por cerca de110.000 km2 de campos asiáticos. Nos anos1990, o vírus do mosaico da mandiocaespalhou-se por Uganda, diminuindo a safraentre 70% e 100% e, pouco depois, foi adoença da podridão da raiz que infectou maisde 10% da lavoura do tubérculo na região. Por meio de três inovações, estações locais de pesquisa reuniram alguns produtores edesenvolveram o melhoramento do materialde semeadura de mandioca, livre da doença, eexpandiram os métodos aprimorados decultivo e os sistemas de processamento pós-colheita para um grande número deprodutores.

Esses exemplos indicam um papel vital dadiversidade genética: manter uma “caixa deferramentas” própria que possa ser utilizadapara combater diversas ameaças à lavoura.Mesmo assim, no século 20, perdeu-se 75% dadiversidade genética das culturas agrícolas, eatualmente, apenas cerca de 150 espécies deplantas são cultivadas em maior escala, dasquais apenas 3 fornecem perto de 60% dascalorias derivadas de plantas. Os númerosvêm caindo a passos rápidos em muitospaíses, e um dos resultados disso é oempobrecimento da dieta. Em quatro dentreos dez países pesquisados recentemente, maisde um terço das crianças estavam raquíticasdevido à alimentação insuficiente ou de baixaqualidade, sendo que o fator mais comum dadoença eram deficiências de vitaminas eminerais essenciais. No mundo, 2 bilhões depessoas sofrem de anemias por deficiência de ferro, e dentre a população de mulheresgrávidas no Sudoeste Asiático, na África, nas Américas e na Europa, os números

correspondem a três quartos, metade, um terço, e um quarto, respectivamente. A anemia causa 65.000 mortes maternaspor ano na Ásia, e deficiências severas devitamina A afetam entre 100 milhões e 250milhões de crianças em todo o mundo.

Uma chave para reverter essa tendência é a restauração da diversidade biológica nas propriedades rurais. Os arrozais, porexemplo, costumavam ser fontesimportantes de proteína de peixe, e ospeixes que ali viviam ajudavam no ciclo denutrientes e no controle de pragas. Porém,muitos inseticidas são tóxicos aos peixes e o aumento de seu uso desde os anos 1960 acabou com os peixes benéficos nosarrozais. As pragas e as doenças encontramterreno fértil em monoculturas porque háabundância de alimento e pouco ou nenhuminimigo natural para impedir suaproliferação. Mas o que acaba acontecendoé uma resistência inevitável aos pesticidas,que se espalha rapidamente, a não ser queos agricultores consigam usar novosprodutos para combatê-las. Contudo, se ouso de inseticidas for interrompido, ospeixes podem ser reintroduzidos. Issoaconteceu na Província de Jiangsu, na China,resultando num rápido crescimento daaquicultura de arroz, cujos sistemas dearroz/peixe, arroz/caranguejo earroz/camarão passaram de 5.000 hectaresem 1994 para 117.000 hectares em 2001. A produtividade do arroz aumentou entre10% e 15%, mas o maior ganho foi emproteína: cada mu (1/15 de um hectare)produziu 50 kg de peixe. Outros benefíciosobservados foram a redução no uso deinseticidas e na incidência de malária, pelofato de os peixes serem predadores da larvado mosquito transmissor.

A biodiversidade nas propriedadesagrícolas quase sempre confere inúmerosbenefícios – maior produtividade, menoreschances de quebra da produção, redução dorisco de ervas daninhas, menor necessidadede mão de obra e menor erosão. Algumas

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pourkamà, feito com folhas moídas de umaárvore local chamada nerè; djabà pounan, feitode chalota desidratada e moída refogada emóleo de amendoim; gangadjou, farinha de jilóseco; oroupounnà, pó da folha do baobá; ewangue-somè, uma mistura de pimenta local,

as flores, frutos e folhas de cada planta emtemperos e outros produtos de valor agregado.A criatividade dessas mulheres colocou nomercado os temperos Dogon (conhecidos comosomè), e algumas das especiarias são o kamà,um pó feito com as folhas da azeda-miúda;

Quadro 7–1 continuação

sinergias consideráveis podem ser obtidas,como mostra o uso de leguminosas egramíneas para atrair ou repelir parasitas epragas. Esse sistema de “empurra-e-puxa” foi recentemente aplicado ao milho no Quêniacom ótimos resultados. Os pesquisadoresdescobriram que forragens e gramíneas deconservação do solo (como o capim Napier eo capim-gordura) atraem a broca do caule, quepõe seus ovos no capim e não mais no milho,enquanto leguminosas como a Desmodiumagem como repelentes, espantando a broca do caule. A Desmodium é também um potentefixador de nitrogênio no solo e liberaaleloquímicos da raiz, que ajudam a controlara erva daninha Striga. O capim Napier tambémlibera quantidade elevada de compostosquímicos com poder de atração, nas primeirashoras do anoitecer, quando a mariposa dabroca do caule busca plantas hospedeiras parapor seus ovos. Quando os ovos eclodem, 80%das larvas morrem, porque o capim tambémproduz uma seiva pegajosa que as prende.

A adoção da agricultura sustentável porpropriedades muito pequenas também obteveresultados promissores. Maior diversidade setraduz em mais oferta de alimentos para asfamílias, incluindo leite, laticínios, proteína de peixe extraída dos arrozais ou lagoas ouproteína de galinhas e porcos criados noquintal das casas. O aumento da produção edo consumo doméstico caminham lado a lado,com benefícios diretos, principalmente para asaúde de mulheres e crianças. Um dossistemas pautados por esse enfoque priorizou,por exemplo, o uso de canteiros elevados (cuja construção emprega muita mão de obra)que resultam em uma melhor capacidade de retenção de água e maior quantidade dematéria orgânica. Esses canteiros podem ser

muito produtivos e diversificados, além depermitirem a continuidade do cultivo dashortaliças durante a seca, quando sua ofertano mercado é escassa.

Um projeto da FarmAfrica no Quênia e na Tanzânia está voltado à revitalização e expansão do plantio de hortaliçasautóctones em canteiros pequenos. Nesse caso, 500 pequenos proprietáriosorganizaram-se em 20 grupos e cadaagricultor recebeu, em média, 20 canteiroscom área de meio a um hectare para ocultivo de amaranto, feijão-fradinho, erva-moura, espinafre, couve ou repolho. Os retornos comerciais foram muito maiselevados e permitiram redução de 50% nouso de adubo e de 30% no de pesticidas, em contraposição ao que se usava emculturas convencionais de hortaliças.Individualmente, os produtores conseguemcolher entre cinco e oito safras de amarantoe erva-moura por ano, com geração de renda anual de US$ 3.000 a US$ 4.500.

A população rural que adota práticasagrícolas diversificadas e benéficas para omeio ambiente dispõe de comida em maiorquantidade e variedade, com impactofundamental na saúde. Esses sistemaspermitem ainda que os adultos sejam maisprodutivos e que as crianças frequentem aescola e se concentrarem no aprendizado.Sistemas de agricultura sustentável,portanto, tendem a ter um impacto positivono capital natural, social e humano, aocontrário dos métodos não sustentáveis que esgotam os recursos para as futurasgerações.

Jules Pretty, University of EssexAdaptado por Vanessa Arcara, Slow Food USA

Fonte: Ver nota final 10.

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alho e sal. Esses pós formam a base da cozinhaDogon e são usados para fazer molhos paraarroz ou cuscuz (feito de painço ou fonio) epara temperar sopas, legumes e carne.13

Todos os povos dos países africanos aper-feiçoaram as próprias técnicas para transformaros recursos nativos e os cultivados em umavariedade de temperos que conferem mais saboraos pratos de sua culinária, mas esses preparoscomplexos são cada vez mais raros. Por exemplo,mesmo nas áreas rurais mais remotas, as famíliascompram cubinhos de caldo Maggi com alto teorde sal para temperar sopas e outros pratos. Essescubinhos em embalagens coloridas, o leite empó e as garrafas de Fanta e Coca-Cola são mais umsinal de como a comida tradicional está sendosubstituída por alternativas menos saudáveis.Entretanto, ao reacender o interesse e gosto pelostemperos locais – mais baratos e saudáveis – osDogon estão contribuindo para reverter essatendência. E esse sabor está se espalhando alémda comunidade local.14

Mamadou Guindo, líder comunitário Dogon,vem atuando para que os produtores se unamem atividades de embalagem e venda detemperos para as principais feiras na Europa, oque acabou por chamar a atenção de chefes decozinha renomados, dentre os quais GaldinoZara, da região de Vêneto na Itália, e MatthieuToucas, da França. Diz Zara: “Sem dúvida, osomè está muito relacionado à cozinha do Mali,mas é importante que os chefes de cozinhainternacionais conheçam os sabores interes-santes e gostosos e as cores espetaculares que eleoferece. Muitos cozinheiros teriam interesseem usar esses temperos em receitas criativas,apresentando a cultura Dogon para o mundo”15

Apesar de o mercado para esses temperospermanecer principalmente local, o interesseinternacional está aumentando a consciência dasmulheres para a importância de proteger esseconhecimento precioso. (Ver Tabela 7–1).16

A Biodiversidade e o Mercado

A conexão com a terra local confere aosprodutos tradicionais características únicas queos distinguem no mercado e permitem queconcorram com produtos industrializadosimportados, apesar do suprimento menor emenos constante. Aquilo que os franceseschamam de terroir e que foi tão bem feito como vinho, os etíopes tentam fazer com o mel.

Uma antiga lenda egípcia diz que a Abissínia(hoje Etiópia) é a terra do mel e da cera.Embora as provas históricas possam serambíguas, é certo que a Etiópia é o maiorprodutor de mel da África, com produção de24.600 toneladas por ano. Parte do mel vemdas aldeias de Wukro e Wenchi. Wukro localiza--se no coração da região de Tigré, perto dafronteira com a Eritréia no extremo norte dopaís, num planalto de 2.000 m de altitude.Nessa terra árida, montanhas imponentes derocha vermelha se alternam com desfiladeirosprofundos. Já Wenchi está a apenas algumashoras de carro de Adis Abeba, a capital daEtiópia. A estrada que vai para oeste a partir dacapital sobe por meio de pastagens e palmeirasaté chegar à grande caldeira do vulcão Wenchi.Dentro da caldeira existe um lago rodeado porvegetação densa de falsas bananeiras, eucaliptos,urzes, abetos e roseiras silvestres.17

Assim como seus lugares de origem, os doistipos de mel têm características muito diferentes.O mel Wenchi é amarelo-âmbar, cremoso, degranulação muito fina e é marcado por notasflorais e toques de caramelo tostado de leve. Omel Wukro é branco-vivo, tem fragrânciadelicada e doçura sutil e seu gosto permanecena boca.18

Em 2006, quando a Slow Food Internationalteve seu primeiro contato com os produtores,o mel era feito em grandes cilindros de bambutrançado que ficavam dependurados nas árvoresou eram amarrados aos penhascos rochosos. Osapicultores apenas coletavam o mel e poucosabiam a respeito da organização das colmeias.

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Tabela 4.1 – Inovações de Baixo Custo que Aumentam o Acesso à Água e a Eficiência na Agricultura

Alimento

Mel do vulcãoWenchi, Etiópia

Carneiros Zuluou Izimvu,África do Sul

Tainha,Mauritânia

BaunilhaMananara,Madagascar

Características especiais

As abelhas coletampólen e néctar dasplantas locais, inclusiveurze e eucalipto, o queconfere ao mel umaroma floral intenso

Criados e usados peloZulus por centenas deanos; apresentam altatolerância ao calor e àseca; resistentes aparasitas internos eexternos

O peixe é a comidabásica dos Imraguen,um grupo étnico depescadores; importantefonte de renda

As flores sãopolinizadas a mão e asfavas são processadaslocalmente

Motivo do risco

Difícil para osprodutores ruraisfazerem o manejo das abelhas; falta de apoio edesenvolvimento na área

Cruzamentos com raças exóticas

A pesca comercialaumentou emdetrimento de métodostradicionais maissustentáveis; em 2006,a Mauritânia vendeudireitos de pesca à UE em troca de umaredução de sua dívidapública

Agricultura de corte-e-queima écomum, destruindo o hábitat da baunilha

Esforços de salvamento

Slow Food está ajudando aaumentar o ecoturismo naregião; GTZ está promovendo a gestão sustentável dosrecursos naturais; AssociaçãoItaliana de Apicultores estáoferecendo treinamento eapoio técnico aos apicultoresregionais para melhorar aqualidade e embalagem doproduto, bem como o acessoao mercado

Fazenda Enaleni, próximo aDurban, África do Sul, estápreservando a raça erastreando as linhagens

Slow Food está fornecendotreinamento às mulheres parao aprimoramento de técnicasde processamento e melhorada qualidade do peixe; osprodutos melhoradosreceberam aprovação sanitáriada UE e podem ser vendidosdentro da comunidade

Reserva Biosfera de Mananara--Nord, criada pela UNESCO eANGAP, está ajudando osprodutores locais a: melhorar ocultivo e preparo; melhorar oacesso aos mercados e darautonomia a fornecedoresindependentes nos mercadoslocais; formar cooperativas; emelhorar o baixo impacto docultivo para preservação domeio ambiente local

continua na próxima página

A grande quantidade de fumaça que usavampara extrair o mel matava a maior parte dasabelhas e conferia ao produto final um sabordefumado desagradável. O mel obtido dessascolmeias continha impurezas e era vendido nos

favos aos transeuntes que passavam ao longoda estrada.19

Contudo, após treinamento com apicultoresetíopes e italianos, os Wenchi aprenderam sobremétodos melhores de apicultura e maior

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fomento da venda do mel nas cidades, princi-palmente em Adis Abeba, onde é comumencontrar mel adulterado com açúcar, semidentidade ou relação com a terra. Essa iniciativaé consistente com a compreensão da importânciade ajudar pequenos produtores a se organizarempara a venda direta, removendo ao máximo osintermediários, e garantindo, assim, uma rendamelhor. A vulnerabilidade dos consumidores eprodutores na África seria muito menor se emvez de dependerem do mercado internacional– condicionado por especulações e interessesexternos – eles fossem vinculados a um mercadolocal, flexível e próximo das necessidades dascomunidades.21

eficiência no processamento e na venda do mel.Nos últimos quatro anos, o número deprodutores, os preços de venda e a quantidadede mel produzido e colhido aumentaram. Omel já não é mais vendido de forma anônima,e sim identificado com o lugar de origem e onome da associação de produtores.20

Em 2009, foi criada uma rede nacional decomunidades de apicultura baseada no exemplodas duas organizações em Wukro e Wenchi. Nomomento, a rede está trabalhando para catalogaras características específicas de cada mel emelhorar a qualidade com diferentes técnicasde processamento. Além disso, o trabalho inclui

Tabela 7–1 continuação

Alimento

Café selvagemda florestaHarenna,Etiópia

Arroz vermelhode Andasibe,Madagasar

Somè Dogon(chalotasDogon ), Mali

Características especiais

O único lugar domundo onde pésselvagens de café sãocultivados para venda;os grãos são colhidos amão

Nativo do Madagascar;mais nutritivo do queas variedadesintroduzidas

Têm sabor único e sãoadocicadas; podem seringeridas frescas ousecas; as flores, frutos efolhas das plantaspodem sertransformados numcondimento chamadosomè

Motivo do risco

Os produtores nãotêm acesso aosmercados e a técnicasde processamentoeficientes e de altaqualidade

Produtividade menorque as variedadesexóticas; técnicas deprocessamentoineficientessignificando que oarroz é vendido apreços muito baixos

Cultivado numapaisagem seca eagreste; produtoresnão dispõem dosrecursos paramelhoria doprocessamento e nãotêm acesso aomercado

Esforços de salvamento

Cooperação Italiana para oDesenvolvimento estátrabalhando com ospequenos produtores paramelhorar a seleção do grão, aprodução após a colheita e oacesso ao mercado e paracriar uma associação deprodutores

Slow Food Andasibe Red RicePresidium, em conjunto coma federação de produtoreslocais, está ajudando osagricultores a melhorarem aprodutividade, as técnicas deprocessamento e embalagem,e o transporte da colheitapara os mercados locais

Dogon Somè Presidium daSlow Food International estáajudando a: melhorar aescolha de terras, oprocessamento e o acesso amercados (locais, regionais einternacionais); adaptar aembalagem para os diferentesmercados (locais, regionais einternacionais) e melhorar acadeia de suprimento

Fonte: Ver nota final 16.

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promovidas pela Slow Food em Uganda e naCosta do Marfim, por exemplo, são cultivadasde forma sustentável, fazendo uso de compos-tagem, tratamento natural para pragas e usoracional da água. Elas empregam variedadeslocais (com sementes produzidas pela própriacomunidade), em consórcio com árvoresfrutíferas, hortaliças e ervas medicinais. Na aldeiaN’Ganon, na Costa do Marfim, uma comunidadede mulheres está cultivando uma horta de setehectares. Parte da colheita alimenta as famílias,parte é doada para merenda escolar e oexcedente é vendido no mercado local.22

No Quênia, 12 hortas escolares são admi-nistradas em colaboração com a Slow FoodConvivia e a Rede Agroecológica na África(NECOFA). Uma dessas hortas, no distrito deMolo, em Elburgon, foi eleita pelo Ministérioda Agricultura do Quênia a melhor horta escolardo país. Os produtos cultivados pelos alunossão usados nas merendas escolares e o excedenteé disponibilizado às famílias. O programapedagógico une a horticultura com outrasmatérias e as plantas são usadas no ensino dematemática (medição do crescimento dasplantas), biologia (observação dos ciclos devida), língua (documentação do desen-volvimento da horta), história (escolha dealimentos tradicionais), arte (exploração dascores, formas e desenho das plantas) e nutrição(preparo de pratos baseados em produtosfrescos). As escolas organizam viagens e inter-câmbios culturais e, além disso, alunos decomunidades étnicas diferentes se encontrampara compartilhar suas experiências e juntoscomerem o alimento produzido nas hortasescolares.23

Um dos principais objetivos da Slow Foodpara 2011 é a criação de 1.000 hortas em 20países africanos, mas, além dela, várias outrasONGs e instituições estão trabalhando nessemesmo sentido (inclusive a Lay VolunteersInternational Association e a CooperazioneInternazionale, ambas na Itália; a NECOFA,na África; e o eThekwini Municipality, em

A Biodiversidade e a Comunidade

Os supermercados africanos dispõem, emgeral, de muito poucos itens produzidos nopróprio continente. Em vez disso, vendemprodutos importados da Europa, dos EstadosUnidos, da Ásia e até da América do Sul: leitefresco e leite em pó, baguete, maionese e alfaceque percorreram quilômetros de avião parachegar ali. Até mesmo alimentos básicos comoarroz ou milho são, por vezes, importados e, porincrível que pareça, geralmente custam menosque os produtos locais. Contudo, os produtostradicionais são quase sempre melhores de umaperspectiva nutricional, como é o caso dos grãoslocais como o fonio, no Senegal, comparado aoarroz da Tailândia. Entretanto, esses alimentosimportados processados, de baixa qualidade,ricos em sal, gordura e açúcar estão desequili-brando as dietas, principalmente nas cidades, elevando a problemas de saúde.

Encorajar o consumo de produtos locaisatravés de educação, estímulo e valor agregadoé um passo decisivo para fortalecer a economiadas comunidades e melhorar a saúde e a qualidadede vida da população. A produção e o preparo doalimento local dão força e coesão à comunidadee consolidam e enriquecem as relações sociais,graças à colaboração e ao intercâmbio diário deprodutos, trabalho e conhecimentos. Além disso,fortalecem a solidariedade entre os diferentesgrupos e gerações e solidificam o laço criado pormeio de festas, de rituais e através da prática dealimentar idosos ou mulheres grávidas. Esseslaços ajudam a prevenir conflitos sociais, reforçama identidade local de maneira positiva (como umfundo cultural comum e não como uma barreiraideológica contra o que venha de fora) e atenuamo apelo econômico e cultural dos hábitosocidentais de consumo. Até certo ponto, podeminclusive reduzir a migração em massa para ascidades ou outros países.

Em toda a África, existem comunidadesdemonstrando alguns ou todos os benefíciosda produção local de alimentos. As hortas

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O simples cultivo de uma horta pode obtermuitos êxitos: produzir alimento saudável efresco para a comunidade, transmitir conhe-cimento de uma geração para outra, e sensi-bilizar as pessoas para os produtos locais, asreceitas tradicionais, o uso sustentável do soloe da água e o respeito pelo meio ambiente.

Durban). Assim, diversas parcerias interessantesestão sendo formadas para administrar diversosaspectos especializados desse projeto, como acriação de bancos de sementes, a produção decompostos orgânicos e o desenvolvimento demétodos naturais para o combate de infestaçõesde insetos e ervas daninhas.24

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Durante anos, criadores de gado como os famosos Massai, no Quênia, foramempurrados de suas terras tradicionais depastagem para regiões cada vez mais secas,lugares em que era fácil ignorá-los. Contudo, à medida que os efeitos das mudançasclimáticas, da fome, da seca e da perda dabiodiversidade foram ficando mais evidentes,cresceu a dificuldade em ignorar seus direitos.Os governos precisam entender que oscriadores de gado são os melhores guardiõesda biodiversidade genética.1

O gado Anikole, por exemplo, uma raçaautóctone da África Oriental, além de bonito,é também uma raça “da melhor qualidade”porque consegue sobreviver em condiçõesextremamente árduas e secas, algoimportante com a intensificação dasmudanças climáticas na África.

Criadores de gado entendem o desafio de seus pares no Quênia. Eles sabem que as mudanças climáticas são as possíveisresponsáveis pela seca que acomete grandeparte da África Oriental e que dizimoumilhares de animais nos últimos meses.Sabem que os conflitos com comunidadespecuaristas vizinhas pela disputa de recursoshídricos e acesso à terra ganham a primeirapágina dos jornais quenianos, e sabem quemuitos políticos gostariam de esquecer suaexistência por considerarem como bárbaro seu estilo de vida nômade.2

Infelizmente, os governos e o agronegócioestão redobrando o cruzamento de raças degado nativas com raças exóticas, com o intuitode obter animais de mais peso e maiorprodução de leite. O problema, contudo, é queessas raças mais novas têm dificuldade parase adaptar às condições de seca da Áfricasubsaariana e às pragas e doenças presentesna região. Como resultado, os criadores queadotam essas raças são obrigados a gastarmais com ração e insumos, como pesticidas e

antibióticos, para manter o gado saudável. Um dos problemas mais graves diz respeito

à introdução, durante a seca, de raças mistasobtidas pelo cruzamento de gado mais exótico.A substituição do gado Zebu autóctone porraças cruzadas teve início há 15 anos, depoisde essas raças terem sido levadas àscomunidades por missionários. Embora asnovas raças sejam maiores e tenham maiorcapacidade de produção de carne ou leite, elasnão são tão resistentes como o gado nativoque é capaz de percorrer grandes distânciassem necessidade de muita água.3

De acordo com um ancião da comunidadeSamburu, no Quênia, as “raças antigasandavam 40 quilômetros [em busca de água ecomida] e voltavam”, mas as raças novas nãotoleram essa distância nem o calor. Esse é umdos motivos de discórdia entre as diferentescomunidades pecuaristas: quando o gado nãoconsegue ir longe para ter água, os criadoresprecisam procurá-la em outras partes, não raroem locais usados tradicionalmente por outrascomunidades. Um desses criadoresreconheceu que, apesar das brigas com outrascomunidades pelos recursos, “eles são comonós”, tentam sobreviver com pouquíssimoapoio do governo ou de qualquer outrainstância. Mais do que apenas afetar a criaçãode gado, em alguns casos, o conflito levouao fechamento de escolas e ao êxodo dapopulação e consequente maior número de desabrigados.4

Esses criadores de gado entendem que omundo está mudando. Eles sabem que muitosde seus filhos não terão o mesmo tipo de vidaque seus ancestrais tiveram por séculos.Muitos escolherão ir às cidades, mas paraalguns, a pecuária é o que fazem de melhor e oque amam fazer, e eles acreditam que devemter permissão para continuar a fazê-lo.

– Jacob Wanyama, Africa LIFE Network – Danielle Nierenberg, Worldwatch Institute

Ameaças aos Recursos de Genética Animal no Quênia

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Mais da metade da população mundialqueima lenha ou outra biomassa, inclusivecarvão, resíduos agrícolas e esterco animal,para cozinhar, ferver água, obter luz eaquecimento. A África subsaariana tem umadas taxas mais elevadas de uso de combustívelde biomassa no mundo, e mais de 75% dapopulação da maioria dos países docontinente declara que esse tipo decombustível é a principal fonte de energiadoméstica.1

Cozinhar e aquecer com combustíveissólidos em fogão a lenha ou fogão tradicionalem ambientes fechados e pouco ventiladospode causar altos níveis de poluição interna.De acordo com a Organização Mundial daSaúde, 1,6 milhão de pessoas, ou uma pessoaa cada 20 segundos, morrem anualmente emconsequência dos efeitos da inalação defumaça de fogão a lenha ou de outrabiomassa. Essa é a maior causa de óbito decrianças abaixo de cinco anos de idade nospaíses em desenvolvimento e um importantefator de infecções respiratórias, glaucoma ecâncer de pulmão.2

A dependência da biomassa tambémacarreta desmatamento e um grande ônus emtermos de tempo para apanhar a lenha, tempoesse que poderia ser mais bem aproveitado emoutras atividades, como ir à escola, no caso demeninas. Além disso, o uso de esterco animalexaure mais ainda os já escassos recursos parareabastecimento de terras cultiváveis.3

No Senegal, onde a biomassa é responsávelpor 57% do suprimento de energia primária eonde a área de florestas diminuiu em 7% entre1990 e 2005, a Solar Household Energy Inc.,ou SHE, fez uma parceria com AbdoulayeTouré – um ex-professor e instrutor deculinária com uso de fogão solar, com mais de20 anos de experiência – para implantar um

projeto de cozimento solar em seis lugares. O objetivo do projeto piloto era demonstrar asvantagens do fogão solar numa região muitodependente de biomassa e testar a aceitaçãocultural dessa tecnologia.4

Em Ndekou, uma pequena aldeia nonordeste de Dakar, 20 mulheres participaramdo projeto piloto. Ndekou é uma aldeia commenos de 50 famílias, todas dependentes daagricultura de subsistência e trabalho sazonalem Thies e Dakar. As mulheres usaram o fogãosolar para o preparo de uma série de pratos,desde refeições para a família e bolos paravenda até refeições especiais para familiarescom diabetes. Todas as famílias relataramvantagens do uso do fogão solar em termos de economia no cozimento e no uso deaquecimento.5

Fatou Gueye usou o fogão solar paratriplicar a renda da família. Durante a estaçãode plantio, geralmente, os homens passam odia na terra da família limpando e preparandoo solo, enquanto as mulheres apanham lenha,fazem o almoço e o levam a seus maridos.Gueye levou seu fogão solar até a lavourafamiliar e estando lá, começou a ajudar omarido, Cisse Ndiaye, a limpar e preparar aterra enquanto o aparelho fazia o almoço. Com isso, Gueye liberou-se da tarefa deapanhar lenha e passou acompanhar o maridona lavoura, ajudando-o no preparo da terrapara plantio, agora feito com mais rapidez doque o dos vizinhos. Assim, Ndiaye passou adispor de mais tempo durante o dia, podendo,então, oferecer sua mão de obra aos vizinhosque tinham lotes maiores de terra. Foi assimque eles triplicaram a renda anual da famíliadurante a estação de plantio.6

– Marie-Ange Binagwaho Zawadi Enterprises Inc.

As Vantagens do Fogão Solar no Senegal

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Aagricultura talvez seja a atividade humanamais afetada pela mudança climática. Assecas, as inundações e o extremo calor, cada

vez mais frequentes, exercem enorme impactosobre a lavoura e a pecuária. Mas a agriculturatambém é a atividade mais promissora – e a quepode trazer os maiores benefícios para mitigaresses efeitos – no curto prazo, já que dispõe depráticas que fixam o carbono no solo e minimizama dependência de combustíveis fósseis.

Neste capítulo, David Lobell e MarshallBurke discutem a necessidade de uma abordagemagnóstica à mudança climática, uma abordagemque analisa os tipos de inovações agrícolas quepodem ajudar os agricultores na adaptação àsalterações climáticas e as que não podem. Eleschamam a atenção para o rápido reconhe-cimento das necessidades que precisam seratendidas, a fim de que as nações possam se

movimentar rapidamente para proteger osagricultores e os cultivos.

Além disso, os agricultores precisam de maisferramentas à sua disposição no campo, espe-cialmente no Sahel. Chris Reij argumenta que oplantio de árvores não é suficiente para deter oavanço da desertificação no Níger, no Mali e emoutros países. Em vez disso, os programas deregeneração gerenciada pelo agricultor, junta-mente com a maior fixação de carbono nos solos,podem ser a chave para deter a degradação dosolo, melhorar a renda dos agricultores e diminuira fome.

No último ensaio, Anna Lappé descreve porque o sistema atual de alimentos industriaiscontribui para as alterações climáticas e comoopções mais ecológicas de agricultura – ealimentação – podem ajudar a reduzir a emissãode gases de efeito estufa.

– Danielle Nierenberg e Brian Halweil

Mulher samburu lida com a seca no Quênia

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Hoje, um agricultor do Maláui está comprandosemente que promete dobrar a sua produçãode milho em anos de seca. Uma lavradora doBenin está instalando um sistema de irrigaçãopor gotejamento na sua plantação de hortaliças.E um agricultor no Quênia está contratandoum novo programa de seguro com base noclima e pretende comprar um saco de ferti-lizante nas próximas semanas.

Cada um desses eventos na África, juntamentecom inúmeros outros, representa um momentode esperança na vida do agricultor pobre, umainovação que pode ajudar a melhorar sua saúdee sua renda. E cada um representa uma possívelestratégia na corrida para a adaptação a um climaque está mudando. Mas todos eles correm umgrande risco: o de empregar o dinheiro, que já éescasso, em algo que pode não dar muito certoou, pior ainda, que pode dar totalmente errado.

As apostas são nitidamente muito altas. Agrande maioria dos africanos depende daagricultura para sobreviver, e uma série de novaspesquisas sugere que a produtividade agrícolaem todo o continente poderá sofrer muito coma mudança climática. Mesmo com esforçosagressivos para restringir as alterações do clima,a agricultura precisará de uma adaptação urgente.1

Tal fato não passou despercebido pelosgestores de políticas públicas, pois recentesdiscussões sobre o clima resultaram empromessas de centenas de bilhões de dólaresem fundos de adaptação para o mundo emdesenvolvimento. Os números são grandes. Se

as promessas forem cumpridas, a ajuda dospaíses ricos aos países em desenvolvimento prati-camente dobrará. E o potencial de investi-mentos do setor privado é ainda maior.2

Como deve ser empregado esse dinheiro?Na melhoria das variedades de milho tolerantesà seca compradas pelo agricultor do Maláui?Na compra do sistema de irrigação porgotejamento pela lavradora de Benin ou nacontratação de seguro de safra pelo agricultorqueniano? Ou deve ser empregado nas trêscoisas? Ou em algo totalmente diferente? Infe-lizmente, a verdade é que ninguém sabe, equalquer alegação em contrário deve serrecebida com cautela. Nossa ignorância resulta,em parte, da própria mudança climática: o climada África e o do resto do mundo será, dentrode algumas décadas, algo que nunca aconteceuna história da humanidade, e essas mudançasfora do nosso controle complicam qualquertentativa de extrapolação a partir de experiênciasdo passado.3

Então, como o mundo deve agir diante detamanha incerteza? A seleção de projetos iniciais,inevitavelmente, combinará experiênciaspassadas e simulação do futuro com uma boadose de adivinhação – sem deixar de reconhecero papel crucial dessa adivinhação. No tocanteà adaptação, precisamos ser agnósticos, ou seja,precisamos ser honestos sobre o que nãosabemos e estar dispostos a concentrar nossosesforços na tentativa de descobrir o querealmente funciona.

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Uma Abordagem Agnóstica à Adaptação Climática

David Lobell e Marshall Burke

David Lobell é professor do Departamento de Ciência do Sistema Ambiental da Terra e do Programade Segurança Alimentar e Meio Ambiente da Universidade de Stanford. Marshall Burke é estudante depós-graduação do Departamento de Economia Agrícola e Economia de Recursos Naturais da Universi-dade da Califórnia, Berkeley.

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O significado disso, na prática, é que umapequena parte do financiamento da adaptaçãodeve ser destinada, inegavelmente, a descobrirse as abordagens específicas estão funcionando.O padrão de provas das avaliações de projetodeve ser elevado. Por exemplo, simplesmentecomparar os rendimentos dos agricultores quecompraram sementes tolerantes à seca com osrendimentos daqueles que não compraram nãovai dizer muita coisa sobre o desempenho dassementes tolerantes à seca. Talvez os agricultoresque compraram as sementes fossem agricultoresmais capacitados, por exemplo, ouo solo de suas propriedades fosse demelhor qualidade. Ou talvez elesfizessem algo de modo diferente eque não fosse passível de observaçãopelo pesquisador.

Um melhor desenho de projetopoderia ser algo assim. Em primeirolugar, reconhecer logo no início quenão sabemos se as novas sementessão melhores do que as que osagricultores já estão usando, mesmose acharmos que elas sejam. Se oprojeto tiver quantidade suficientede novas sementes para fornecer a500 agricultores, fazer uma lista de1.000 agricultores e, aleatoriamente,oferecer à metade deles a oportunidade decomprar a semente. Em seguida, comparar orendimento dos agricultores que tiveram a opor-tunidade de comprar a nova semente (grupode “tratamento”) com o rendimento daquelesque não tiveram (grupo de “controle”).Partindo do princípio de que uma parcelarazoável dos agricultores a quem foi fornecidaa nova semente realmente comprou, a compa-ração apresentará um número muito maior deinformações sobre o desempenho das sementestolerantes à seca; a distribuição aleatória dassementes, efetivamente, elimina os efeitosconfusos de outras variáveis, que não podemser observadas (como a habilidade do agricultor).Esses “estudos controlados aleatórios” são a base

da investigação clínica e são cada vez maiscomuns em pesquisas econômicas, porém elesnunca são mencionados nas discussões sobre ouso de bilhões de dólares em financiamentopara adaptação à mudança climática.4

Pelo menos dois argumentos contrários aoinvestimento nesse tipo de avaliação de projetoestão sempre presentes. O primeiro é que nãohá nem tempo nem dinheiro para gastar comgrupos de controle. Alguns chegam a sugerirque é antiético ter grupos de controle no casode uma intervenção que pode salvar vidas. Em

princípio, se houver a certeza absoluta de queuma intervenção funciona e que tem um bomcusto benefício, então, sim, ela deve ser ampliadao mais rapidamente possível. Mas isso é, semsombra de dúvida, uma exceção e não a regra.A maioria das ideias tem alguns defensores que“sabem” que elas funcionarão, alguns céticosque “sabem” que elas não funcionarão e muitosoutros que não estão convencidos nem de umacoisa nem de outra. Esses debates só podem seresolver com dados, e continuar gastando osfundos de adaptação em projetos de eficácianão comprovada pode desviar o dinheiro queseria essencial para outros projetos que gerariambenefícios reais.

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Hibiscus desidratado em um mercado do Níger

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A segunda e mais impressionante objeção éque nem tudo pode ser avaliado de forma clarae imediata. Por exemplo, os investimentos napesquisa de culturas ou de solo podem demoraruma década ou mais para dar frutos, e asmudanças na política dos países não podem seraleatórias. Por esta razão, é importante não usarrequisitos demasiado rigorosos para avaliaçãodos projetos. Mas o risco de usar recursosdemais na avaliação ainda é muito menor doque o risco de usar recursos de menos.

A resposta convencional para a degradaçãoambiental na região do Sahel sempre foi:“Vamos plantar árvores”. Governos, organi-zações não governamentais e entidades doadoraspropõem e implantam campanhas de plantiode árvores e, em seguida, relatam os númerosimpressionantes de mudas cultivadas ou deárvores plantadas. Um exemplo recente é aproposta dos chefes de estado da África de fazeruma “Grande Muralha Verde”, com 7.100 kmde comprimento e 15 km de largura, cortandotodo o Saara, do Senegal a Djibuti. O projetofaz parte do acordo de cooperação estratégicaentre a União Africana e a União Europeia.Outro exemplo é a campanha Um Bilhão deÁrvores do Programa de Meio Ambiente daONU, que espera plantar 12 bilhões de árvores.5

O pressuposto importante por trás dessesprojetos é que o Saara está avançando para osul de forma implacável e ameaça engolir a terraatualmente cultivada. Os planejadores supõem

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Investimento em Árvores para Amenizar a Mudança Climática

Chris Reij

No final, uma adaptação bem-sucedida àmudança climática não exigirá que todas asinovações funcionem. O mais provável é queapenas uma pequena parte delas funcione. Omais importante é que investidores públicos eprivados consigam reconhecer rapidamente asolução funcional para que ela possa ser aplicadaem maior escala. Qualquer projeto a serplanejado e implantado deve ser capaz deresponder a uma pergunta simples: Comosaberemos se ele funciona?

que a Muralha Verde impedirá o avanço dodeserto para o sul. Esse pressuposto está errado.Consideremos a fronteira entre o Níger e aNigéria: a alta densidade arbórea no sul doNíger, que, efetivamente, criou uma versão emescala menor da Muralha Verde com cerca de 80km de largura, não impediu a degradação daterra ao norte da Nigéria, que tem baixadensidade arbórea nas áreas de cultivo.

O plantio de árvores é importante, mas adura realidade é que apenas 10% a 20% dasárvores plantadas sobrevivem mais de dois outrês anos, particularmente em condições de seca.Se todas as árvores plantadas no Sahel desde assecas das décadas de 1970 e 1980 tivessemsobrevivido, boa parte da região seria muitomais verde hoje do que realmente é. Há váriasrazões para os baixos índices de sobrevida,inclusive o plantio tardio e a falta de clarezasobre quem é o dono das árvores.6

Chris Reij é especialista sênior em gestão sustentável da terra do Centro de Cooperação Internacional,Universidade Livre de Amsterdã e facilitador das Iniciativas para o Reflorestamento da África.

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Não há nenhum argumento que justifique anecessidade de maior número de árvores.Então, como seria possível aumentar a coberturaflorestal nas áreas de cultivo e também nas outrasáreas? O segredo pode estar na “regeneraçãonatural gerenciada pelo agricultor”, que é aproteção e o manejo pelos agricultores deespécies arbóreas que se regeneram espon-taneamente. Os muitos sucessos dessa estratégiaoferecem lições importantes para os governose as entidades doadoras que atuam comseriedade para impedir a degradação do solo naregião do Sahel.

Reflorestamento: Já estáAcontecendo

Em 2005 e 2006, uma equipe multidisciplinarde investigação do Níger realizou um estudo dastendências de longo prazo na agricultura e nomeio ambiente. A equipe identificou mudançasque ocorreram entre 1975 e 2005 e estudou osimpactos dos investimentos públicos e privadosna gestão dos recursos naturais.7

A maior surpresa da equipe foi comprovar oreflorestamento de larga escala em áreas decultivo. Relatórios anteriores mencionavam queos agricultores da região do Maradi protegiame gerenciavam a regeneração espontânea deespécies lenhosas em suas lavouras. Mas nenhumdos estudos anteriores mencionava a escala doreflorestamento em áreas de cultivo do sul doNíger. Agricultores de partes densamentepovoadas da região de Maradi e de Zinderprotegiam e gerenciavam a regeneração espon-tânea de espécies lenhosas em 5 milhões dehectares. Esse fato faz da região o local em queocorreu a maior transformação ambiental daregião do Sahel, se não da África.8

Além disso, o esforço teve um grandeimpacto positivo no âmbito socioambiental,que está se mostrando determinante paraassegurar a sustentabilidade dos projetos deregeneração de áreas desmatadas. Por exemplo,as árvores reduzem a temperatura e a velocidade

do vento, aumentando, assim, a evaporação, afixação de carbono e a biodiversidade. Osagricultores podem produzir forragem para ogado, bem como frutas e folhas ricas emvitaminas próprias para o consumo humano.Algumas espécies fixam nitrogênio e, por isso,aumentam a fertilidade do solo. Os benefíciossociais incluem maior segurança alimentardoméstica (a partir de sistemas agrícolas maiscomplexos, produtivos e resistentes à seca) e,portanto, menos fome, menos pobreza e baixamortalidade infantil, além da redução drásticado tempo que as mulheres empregam na coletade lenha. As árvores reduziram radicalmente oconflito entre criadores de gado e agricultoresnas áreas reflorestadas do Níger, pois o “bolode recursos” aumentou.

Estudos preliminares também mostram queo investimento em regeneração natural éeconomicamente vantajoso para os agricultores.Um estudo de 2006 – que não chegou aconsiderar todos os benefícios que acabamos demencionar – mostrou uma taxa interna de retornodo investimento em reflorestamento de 31% aolongo de 20 anos. Em suma, está claro que hámuitas razões para promover o desenvolvimentode sistemas agroflorestais através da regeneraçãonatural, e não apenas no Níger. Um relatóriorecente do Centro Mundial Agroflorestal, comestudos de caso do Maláui, Zâmbia e Nígermenciona impactos semelhantes.9

Os numerosos exemplos, grandes e peque-nos, de agricultores que protegem e gerenciama regeneração espontânea de espécies lenhosasem suas terras na região do Sahel, levaram àcriação da Iniciativa para o Reflorestamento doSahel, em 2007. Este programa, que visaaumentar a escala de sucessos já existentes, foiimplantado em Burkina Fasso e no Mali, emjunho de 2009 e, desde então, expandiu-se parao Níger e a Etiópia. O sucesso crescente noSahel, e em outras regiões da África, levou àdecisão de ampliar o programa no que agorase chama Iniciativas para o Reflorestamento daÁfrica.10

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As Iniciativas para o Reflorestamento daÁfrica não se referem à criação de um grandeprojeto convencional, com enormes somas dedinheiro e metas quantitativas bem definidas,porém irrealistas, como o plantio de X árvoresem Y hectares em Z anos. Em vez disso, ainiciativa visa criar um movimento de organi-zações dispostas a promover diferentes processosde reflorestamento. Trata-se de colocar omáximo de responsabilidade possível nas mãosdas pessoas às quais ela pertence: os usuáriosdos recursos.

Embora existam muitos sucessos em que sebasear, ainda há muito a ser feito. Muitas partesdo Sahel, bem como outras terras secas daÁfrica, permanecem muito degradadas. Devidoaos atuais níveis de pobreza e às taxas decrescimento da população rural, a ampliação daescala de sucessos já existentes deve ser feitacom urgência. O reflorestamento de áreas deplantio em alguns milhares de hectares não serásuficiente. A pergunta importante é: Comoaumentar a escala o mais rapidamente possível?

Ferramentas para Ampliar a Escala

As Iniciativas para o Reflorestamento daÁfrica identificaram 16 ferramentas paraincrementar as atividades que revertam a deser-tificação e a degradação dos solos, com baseem experiências passadas ou recentes. A primeiraferramenta é selecionar uma organização parceirade cada país com experiência relevante emgestão participativa de recursos naturais (depreferência com regeneração natural gerenciadapelo agricultor) e elaborar uma proposta.

A qualidade das organizações parceiras e desuas lideranças é de vital importância. Desen-volvimento não se refere a projetos, mas apessoas. Em Burkina Fasso, por exemplo, oprincipal parceiro de reflorestamento é o MARPReseau, que tem suas raízes em um projetoagroflorestal, financiado pela Oxfam, na regiãode Yatenga e é considerado um dos projetosmais bem-sucedidos da África em matéria de

preservação de solo e água. O Reseau MARPestá envolvendo outros grupos não governa-mentais nas atividades de reflorestamento e estátrabalhando para criar um movimento de orga-nizações.11

O papel dos coordenadores nacionais de reflo-restamento também é de vital importância. Elesdevem ter poder de convocação e capacidade dese comunicar com todos os níveis, ou seja, comministros e gestores de políticas e também comagricultores e técnicos de extensão rural.

A segunda ferramenta importante éidentificar e analisar os sucessos já existentes dereflorestamento. O estudo do Níger de 2005 e2006 revelou a escala de reflorestamento emáreas de exploração agrícola e densamentepovoadas do país e inspirou uma investigação doreflorestamento bem-sucedido de Burkina Fassoe do Mali. Essa investigação documentou cuida-dosamente a idade das árvores em áreas deexploração agrícola durante as visitas de campo.(Quando as pessoas são apresentadas ao

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Mudas de árvores do Níger aguardando o plantio

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conceito de regeneração natural, começam adescobrir exemplos disso durante as visitas decampo. Mas quando não sabem procurar, nãoconseguem enxergar os exemplos).12

Um dos sucessos interessantes identificadosdessa forma é Ousséni Kindo, agricultor daregião de Yatenga, Burkina Fasso, que, em1985, destacou-se na questão de proteção emanejo do reflorestamento de áreas agrícolasem regiões totalmente áridas. Kindo faz expe-riências com o plantio de árvores frutíferas,como mangueira e abacateiro. Em 1985, haviaapenas uma árvore em seus campos. Em 2001,ele tinha 15 espécies lenhosas, inclusive 100baobás (Adansonia digitata) jovens. Desdeentão, as árvores em suas terras vêmaumentando em número e diversidade.13

Outra ferramenta importante são as visitasde campo realizadas pelos formuladores depolíticas regionais e locais, representantes eleitose técnicos a áreas reflorestadas por agricultores;outra forma de ingressarem nessas atividades éparticipando de iniciativas de reflorestamento.As decisões sobre atividades de desenvolvimentoforam descentralizadas nos últimos anos, porisso é muito proveitosa a participação daquelesque tomam decisões em âmbito regional e localnos projetos de recuperação florestal. Porexemplo, durante seu primeiro ano (2009--2010), a Iniciativa para o Reflorestamento deBurkina Fasso organizou uma visita de 20prefeitos e técnicos regionais aos parquesagroflorestais novos das planícies de Seno, noMali, e realizou reuniões com mais de 230agentes de serviços técnicos e 200 represen-tantes locais eleitos e com poder de decisão.14

Também é importante identificar osentusiastas do reflorestamento entre os legis-ladores e responsáveis por políticas nacionais,talvez, fazendo apresentações em PowerPointou exibindo documentários ou levando-os aocampo para visitar agricultores que já trans-formaram seus sistemas de produção. Duranteuma feira na capital Bamako, a SahelECOmostrou ao primeiro-ministro do Mali um

documentário sobre uma visita de estudo a umagricultor e, posteriormente, o ministro doMeio Ambiente presidiu o lançamento oficial dainiciativa no país.15

A quarta ferramenta está ajudando osagricultores a aprender com outros agricultores.A SahelECO do Mali organizou visitas entreos próprios agricultores para 526 deles em2009-2010 (27% dos quais eram mulheres) e,depois, produziu um documentário sobre umadas visitas. As visitas de estudo ocorrem tantodentro dos países como além das fronteirasnacionais. Por exemplo, a World Vision Senegallevou uma delegação de agricultores à regiãodo Maradi, no Níger, para conhecer aregeneração natural gerenciada por agricultor.O grupo também convidou um lavrador doNíger para o Senegal, a fim de que ele treinasseagricultores de lá no manejo da regeneraçãonatural de árvores em terras agrícolas. Dezoitomeses após o início do seu programa deregeneração, a World Vision Senegal informouque os agricultores estavam protegendo egerenciando 21.000 hectares de área comregeneração natural, bem como as árvores aliplantadas.16

A criação de instituições, no âmbito dasaldeias, responsáveis pelo manejo de árvores éa quinta ferramenta. Muitos exemplos deagricultores individuais que protegem egerenciam árvores podem ser encontrados, masa disposição das comunidades para o trabalhoconjunto facilita bastante o projeto. Os aspectostécnicos da regeneração são bastante simples;a formação do capital social é muito maiscomplexa. Em alguns casos, existem instituiçõestradicionais de aldeias ou inter-aldeias que sãoresponsáveis pelo manejo das árvores em suasterras. O Barahogon em torno de Bankass, Mali,excelente exemplo de instituição tradicionalpara o manejo de árvores, protege e gerenciaárvores de 21 aldeias. Durante o períodocolonial, essa instituição perdeu esse papel parao serviço florestal, mas foi revitalizada pelaSahelECO (à época, SOS Sahel UK) após a

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promulgação da lei florestal de 1994. A lei deuaos agricultores o direito sobre as árvores em suapropriedade. O Barahogon protege árvores deáreas agrícolas contra o corte ilegal.17

Novas instituições locais de manejo deárvores também podem ser criadas. O Projetopara a Promoção da Iniciativa Local para oDesenvolvimento do Fundo Internacional deDesenvolvimento Agrícola (FIDA) em Aguiéé um bom exemplo. Esse projeto ajudou a criarinstituições para proteger e gerenciar árvorestanto no âmbito de aldeias como de inter--aldeias. No âmbito de aldeias, são tomadasdecisões, por exemplo, sobre medidas contra ocorte ilegal, multas a serem pagas quando ogado danifica árvores, como as árvores serãoexploradas, que parte do produto da venda delenha irá para um fundo comunitário e comoesse fundo será usado. Ao mesmo tempo, oprojeto apoiou a criação de plataformas inter--aldeias para discutir todas as questões rela-cionadas à proteção e ao manejo de árvores.18

A próxima ferramenta envolve treinamentotécnico (agricultores e criadores de gado) empoda, manejo e exploração de árvores para osusuários da terra. Os usuários de recursos obtêmo máximo de benefícios econômicos e ambientaisquando plantam espécies lenhosas que seregeneram espontaneamente após a poda. Otreinamento é simples, e os agricultores aprendemrapidamente. Eles determinam a densidade deárvores e arbustos que querem ter em seuscampos. Quando sentem que a densidade estáalta demais, eles a reduzem. Tony Rinaudo daWorld Vision Australia, que catalisou o processode reflorestamento no Níger, em 1984 e 1985,recentemente ofereceu treinamento em regene-ração natural gerenciada pelo agricultor noNíger, em Gana, em Tigré (Etiópia) e emMiamar.19

A radiodifusão rural e regional é umaimportante ferramenta de propagação demensagens sobre reflorestamento. Após aaprovação da nova lei florestal em 1994 no Mali,a SahelECO percebeu que os agricultores da

região em torno de Bankass sabiam pouco sobreela. Através do rádio, o grupo informouagricultores sobre o conteúdo da lei e sobre odireito às árvores em suas propriedades. Osagricultores imediatamente entenderam queeles poderiam negar acesso aos lenhadores quechegavam a suas lavouras com autorização doserviço florestal. Daquele momento em diante,o número de agricultores que protegem eadministram a regeneração natural em seuscampos aumentou exponencialmente.

Muitas cidades rurais pequenas na região doSahel têm sua própria estação de rádio. Algumasatingem milhões de pessoas. Por exemplo, “LaVoix du Paysan” (A Voz do Agricultor), emOuahigouya, Burkina Fasso, chega a muitosagricultores da parte norte e central dodensamente povoado planalto central. No Mali,23 estações de rádio rurais criaram umaassociação; juntas chegam à maioria dosprodutores rurais.20

Para ampliar a divulgação de realizações einovações em reflorestamento, também podemser organizadas competições em uma aldeia,entre aldeias ou entre distritos. Elas podemavaliar qual agricultor obteve os melhoresresultados, quem foi o mais inovador ou queiniciativa envolveu a maioria dos agricultores.Em 2009/2010, a SahelECO (Mali) lançouum concurso para saber quais agricultores seempenharam mais no reflorestamento. Oconcurso contou com a participação de 228agricultores de 10 municípios. Em cada comuna,foram selecionados os cinco melhores agricultorese, em junho de 2010, os 50 agricultores sele-cionados receberam uma camiseta durante umacerimônia pública. A camiseta exibia o logotipo“Reverdir le Sahel” (Reflorestamento do Sahel).Esses pequenos presentes são muito apreciados ereforçam a confiança dos agricultores.21

A nona ferramenta é o desenvolvimento deuma tecnologia de informação e comunicação(TIC) do programa de reflorestamento. AFundação World Wide Web adotou as Iniciativaspara o Reflorestamento da África como seu

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primeiro projeto. Em fevereiro de 2010, elarealizou um encontro em Ouagadougou coma finalidade de dar início a um projeto de TICem apoio ao reflorestamento. O projeto ligaráInternet, telefones celulares e rádios rurais e foiprogramado para começar antes do final de2010. Quase todas as famílias das aldeias doPlanalto Central de Burkina Fasso têm acesso aum telefone celular. O sistema enviará brevesmensagens de texto no idioma local a 1,5milhão de assinantes de telecomunicações.22

Outra ferramenta são os diálogos sobrelegislação e políticas nacionais. As iniciativasde reflorestamento passam pela criação demovimentos de base, mas a legislação e aspolíticas nacionais são essenciais para induzirmilhões de agricultores a investir na arborizaçãode suas áreas de cultivo. A experiência mostraque os agricultores protegerão e gerenciarão asárvores quando tiverem, de fato, a propriedadedelas, e, de fato, são poucos os países em queo Estado reconhece esse direito. Em 1985, osagricultores partiam do princípio de que asárvores do Níger pertenciam ao Estado, agoraeles partem do princípio de que são donos dasárvores que estão em suas terras, o querepresenta um enorme passo a frente.

É difícil para uma única organizaçãoinfluenciar a legislação e as políticas nacionais.Os parceiros das iniciativas nacionais de reflo-restamento precisam criar redes de organizaçõespara estabelecer diálogo com formuladores depolíticas e legisladores.

A próxima ferramenta é a integração do reflo-restamento aos projetos nacionais de desen-volvimento agrícola. Só se consegue essaintegração com a plena participação dosMinistérios da Agricultura, uma vez que asárvores em terras de cultivo fazem parte dossistemas de produção rural. Outra abordagemé abrir o diálogo com as agências doadoras. Porexemplo, o FIDA tem um histórico interessantena reabilitação de terras da região do Sahel e,atualmente, está apoiando atividades de reflo-restamento no Níger.23

Os sistemas agroflorestais produzem múltiplosbenefícios para os agricultores, como a melhoriada fertilidade do solo ou o aumento da produçãode forragens. O interesse dos agricultores noreflorestamento de suas terras pode crescer coma exploração das possibilidades de aumento derenda através do desenvolvimento de cadeias devalor do agroflorestamento. A semente de carité,na África Ocidental, é um exemplo bastanteconhecido de um produto agroflorestal, comfrequência, colhido por grupos de mulheres eadquirido por empresas nacionais e por indústriasfarmacêuticas.24

Atualmente, os dados sobre a renda que essassementes geram são escassos. Devido aoaumento das campanhas de divulgação combase em TIC, as 365 integrantes da Cooperativade Mulheres Produtoras de Manteiga de Caritéde Zantiébougou, no Mali, conseguiramduplicar suas vendas entre 2007 e 2009 paracerca de 62.500 dólares. Embora dadosconfiáveis sobre o valor dos produtos agroflo-restais usados para consumo doméstico e comer-cialização sejam escassos, não há dúvida de queeles constituem uma importante fonte de rendapara pequenos produtores. 25

Também é importante explorar as possibili-dades de desenvolvimento de cadeias de valorpara espécies atualmente subvalorizadas. AMoringa oleifera é um exemplo interessante deespécie que possui um potencial considerávelpara aumentar a renda do agricultor e demelhorar a nutrição. Seria útil que a pesquisapara embasar os múltiplos benefícios dessaárvore fosse intensificada.

O reflorestamento em grande escala das terrasdo Níger, de Burkina Fasso e do Mali temchamado bastante a atenção da mídia interna-cional, apontando para outra ferramentaimportante. A mídia se interessa por esse tipode história positiva, porque desafia a percepçãocomum sobre o Sahel. Em 2010, foram feitosvários documentários que mostram claramentea transformação dos sistemas de produção. Odocumentário “Mais pessoas, Mais Árvores”,

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produzido pelo Centro de Cooperação Inter-nacional da Universidade Livre de Amsterdã,revisita áreas de projeto no Quênia e BurkinaFasso cobertas há 17 anos e encontra os mesmosagricultores e o mesmo pessoal do projeto. Éuma história inspiradora sobre regiões que estãosignificativamente mais verdes e agricultores quecolheram os benefícios do reflorestamento.26

“The Man Who Stopped the Desert” (Ohomem que Parou o Deserto), documentáriode uma hora que conta a história do criativoagricultor Yacouba Sawadogo, de Burkina Fasso,que aprimorou as tradicionais covas de plantio,ou zaï. Essa inovação tem sido usada parareabilitar dezenas de milhares de hectares deterra intensamente degradada. Existe assuntopara outros documentários, como, por exemplo,o reflorestamento em larga escala de Tigré, queainda é totalmente desconhecido. O interesse damídia ajuda a criar uma imagem mais equilibradasobre o que já foi realizado na luta contra adegradação das terras áridas da África.27

Uma ferramenta importante é fazer com quetodas as partes interessadas assumam umcompromisso de longo prazo (no mínimo 10anos) com o reflorestamento. É fundamental

criar um movimento de interessados dispostosa participar de um processo que promova arecuperação da vegetação e a mobilizar recursospróprios. Um projeto de conservação de águae solo financiado pelo FIDA em Burkina Fassoé um exemplo brilhante. Em funcionamentodesde 1989, o projeto já recuperou milharesde hectares de terras degradadas e também

propiciou a plantação de mais árvores.Muitas agências doadoras interrompemsuas intervenções depois de alguns anos.A expansão do reflorestamento requer,acima de tudo, uma combinação deflexibilidade, transparência e um mínimode burocracia, bem como a aceitação deque é impossível prever onde o processoestará em 5 ou 10 anos.28

Os sistemas de automonitoramentoe autoavaliação por parte dos agri-cultores também são ferramentas queprecisam ser criadas. Em Burkina Fasso,a experiência de um projeto quecombinou pesquisa e ação em inovaçãode agricultores mostra que eles sãoperfeitamente capazes de monitorar eavaliar a entrada e a saída de insumos

agrícolas. Mesmo os agricultores analfabetosconseguem fazer isso com o uso de símbolospara as diferentes atividades. O Reseau MARPdesenvolverá um sistema igualmente simplespara que os agricultores possam monitorar asmudanças na vegetação decorrentes da proteçãoda regeneração natural em suas terras. O sistemaserá complementado pela análise de imagensde alta resolução por satélite e por visitas decampo.29

A última ferramenta identificada pelasIniciativas para o Reflorestamento da África é odesenvolvimento de atividades de pesquisa sobrereflorestamento. É preciso aumentar a quantidadee melhorar a qualidade dos dados sobre osimpactos socioeconômicos e biofísicos do reflo-restamento na redução da pobreza rural, naredução da velocidade do vento e da evaporação,na fertilidade do solo, na segurança alimentar e

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Uma árvore Pomme Du Sahel cresce em campo de instituto depesquisa no Níger

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outros. As Iniciativas para o Reflorestamentoda África referem-se principalmente ao desen-volvimento de ações na terra, mas tambémbuscam promover a investigação do impactoque possa fortalecer o reflorestamento e, senecessário, levar à adaptação de atividades.

Maximização dos Benefícios

Os benefícios do reflorestamento das áreas decultivo são duradouros? A resposta é sim, mas,para isso, os agricultores precisarão ter direitosexclusivos sobre suas árvores. Se eles receberemcapacitação e incentivos, protegerão e admi-nistrarão suas árvores. Isso não só trará váriosbenefícios para os agricultores, mas tambémproduzirá serviços ambientais para comunidadesmaiores, tudo a um custo mínimo para governose doadores.

Portanto, o valor do reforço das iniciativas dereflorestamento é claro. Peter Uvin distinguiuvários formas de ampliação dessas iniciativas:quantitativa, funcional, política e organizacional.As ferramentas identificadas pelas IniciativasPara o Reflorestamento da África se encaixambem em uma ou outra forma descrita porUvin.30

Ampliação quantitativa diz respeito àpropagação horizontal de uma atividade. Oprincipal desafio de todas as iniciativas de reflo-restamento é criar condições para que milhõesde usuários de recursos invistam em árvores.O ritmo de reflorestamento é essencial. Comoé que vamos passar de algumas centenas oualguns milhares de hectares ao ano para dezenasde milhares de hectares ou mais ao ano?

Observe que o processo de regeneração noNíger começou por volta de 1985 e atingiucerca de 5 milhões de hectares no período entre2005 e 2010. Isto significa que, a cada ano, oprocesso foi adicionando uma média 200.000hectares. Os projetos contribuíram para esseaumento da vegetação organizando visitas deestudo para agricultores e equipes de projeto,mas aqueles agricultores que observaram os

benefícios aderiram espontaneamente. (Nemtodos os agricultores ou comunidades queobservam os benefícios do reflorestamentoadotam a prática, por exemplo, os conflitos nasaldeias podem atrasar ou impedir a adesão).31

Ampliação funcional refere-se à ampliaçãodo escopo da ação. É possível apenas promovertécnicas de reflorestamento, mas é melhor apoiartambém a criação de instituições locais paraproteger e gerenciar o crescente estoque deárvores, uma das ferramentas identificadas ante-riormente. Além disso, a exploração de opor-tunidades para o desenvolvimento de cadeiasde valor do sistema agroflorestal possibilitaaumentar a renda rural ainda mais.

Ampliação política implica esforços parainfluenciar o processo político e trabalhar comoutros grupos interessados. Conforme observadoanteriormente, as iniciativas de reflorestamentoprecisam estabelecer diálogos de políticanacional para que ele seja integrado aos projetosnacionais de desenvolvimento agrícola e paraque as leis florestais sejam adaptadas de formaa induzir os agricultores a investir em árvores.Também é necessário obter o apoio, no âmbitoregional e local, de técnicos e representanteseleitos, além de informar a mídia nacional einternacional para que os esforços de reflo-restamento por parte dos agricultores sejamcolocados na pauta dos formuladores depolíticas nacionais e internacionais.

Por fim, a ampliação organizacional refere--se à ampliação das entidades que implantam aintervenção ou à participação de outras insti-tuições existentes. Conforme já mencionado, aorganização Iniciativas para o Reflorestamentoda África dedica-se a criar um processo e ummovimento de diferentes partes interessadasque, em conjunto, promovam diferentes formasde reflorestamento. O processo de criação dessemovimento já começou.

Uma advertência final: a promoção do reflo-restamento por agricultores deve ser atraentepara governos e agências doadoras por tratar-sede uma medida que permite múltiplos impactos

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a um custo mínimo, principalmente para osgovernos. Mas alguns governos e doadorespodem considerar justamente este ponto umponto fraco; grandes empréstimos ou doaçõespagam a infraestrutura e o equipamento doprojeto e podem contribuir positivamente paraa carreira do pessoal das agências doadoras. Aspolíticas de adaptação e a legislação para induzirmilhões de usuários de recursos a investir emárvores são menos glamorosas e, no curto prazo,rendem dividendos políticos menores do que

A Fazenda Nova Floresta está situada no ValeKickapoo, 130 quilômetros a oeste de Madison,Wisconsin. No verão de 2008, o estado deWisconsin – e grande parte do Centro-Oestedos EUA – sofreu uma inundação causada porchuvas fora de época, e grandes extensões deterras foram inundadas. As fortes chuvas einundações causaram prejuízos de US$ 15bilhões e mataram 24 pessoas nessa região.Wisconsin declarou estado de emergência. Noentanto, em uma visita apenas algumas semanasapós as tempestades terem varrido a região,Mark Shepard da Fazenda Nova Floresta nãoparecia nem um pouco abatido.32

Shepard está descansando na varanda de suarecém-construída fábrica de suco de maçãalimentada por painéis solares e um moinho devento a ser construído brevemente. Sua fazendaestá cheia de vida: campos ondulantes decerejeiras, ervilhas siberianas, damascos, cerejas,kiwis, oliveiras de outono, amoras, mirtilos,rosehips e aspargos, nogueiras e carvalho, maçãs,

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plantar uma Grande Muralha Verde no Saaraou investir grandes somas no plantio de árvorespara ampliar a Mata Atlântica no Brasil.

Mas mobilizando apoiadores nacionais einternacionais de reflorestamento, construindoalianças entre pessoas dispostas a ajudar osagricultores nessa tarefa, influenciando a opiniãopública e envolvendo as organizações deagricultores, quando e onde possível, podemoscriar um mundo mais verde, mais frio, mais ricoe mais saudável.

castanhas e muito mais. Ele escapou dadevastação do dilúvio, afirma ele, não por sorte,mas por uma agricultura mais sábia.

O tipo de agricultura que criou esses camposresilientes e que coloca Shepard no centro de ummovimento é o mesmo que se espalha dos valesverdejantes do Centro-Oeste dos EUA à Coreiado Sul, do sopé do Himalaia às planícies do suldo Brasil. Esse tipo de agricultura é conhecidopor muitos nomes, mas está fundamentalmenterelacionado a princípios agroecológicos. Sheparde os agricultores ao redor do mundo que pensamcomo ele estão provando que um sistemasustentável de alimento abundante não precisadepender de combustíveis fósseis. Eles tambémestão mostrando como essas fazendas querespeitam o clima podem ajudar o mundo a seadaptar à crise climática. Eventos climáticosextremos, como as cheias que inundaramWisconsin, serão cada vez mais comuns dianteda desestabilização do clima causada pelascrescentes emissões de gases de efeito estufa

A Crise Climática em Nossos Pratos

Anna Lappé

Anna Lappé é cofundadora do Small Planet Fund e autora do livro Diet for a Hot Planet: The ClimateCrisis at the End of Your Fork and What You Can Do About It.

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(GEE), inclusive as do setor de alimentos eagricultura.

Comendo o Céu

A crise climática e seus principais impul-sionadores evocam, geralmente, imagens defábricas sujas movidas a carvão ou veículosutilitários esportivos devoradores de combustível.No entanto, a indústria de alimentos e oagronegócio estão entre os que mais contribuempara a mudança climática. Em muitos paísesem desenvolvimento que não têm indústriapesada significativa, a agricultura é, defato, a mais importante fonte deemissões de gases de efeito estufa, emgrande parte devido ao seu papel nodesmatamento.33

A pecuária, especialmente a criaçãode gado em confinamento, está entreos maiores impulsionadores do desma-tamento. À medida que as florestas sãodesmatadas, as árvores liberam enormesquantidades de carbono na atmosferajuntamente com gases de efeito estufa,como metano e óxido nitroso. Adevastação de florestas contribui commais de 17% das emissões de dióxidode carbono causadas pelo ser humano.Globalmente, a produção de gadoresponde por 18% das emissões,segundo as Nações Unidas. O gado ruminanteda Nova Zelândia produz 85% por cento dasemissões de metano do país, um gás de efeitoestufa muito mais potente que o dióxido decarbono.34

As emissões de gases de efeito estufa oriundasde alimentos ocorrem em todas as etapas dacadeia alimentar: manejo, processamento,embalagem, transporte, vendas no atacado evarejo, serviços de restaurante, consumodoméstico e resíduos. Responsável por todas asemissões diretas e indiretas, inclusive mudançasno uso da terra, produção de produtos químicosagrícolas e fertilizantes sintéticos e uso de

energia de combustíveis fósseis ao longo detoda a cadeia de abastecimento, o sistemaalimentar responde por até um terço dasemissões globais de GEE. Se forem rastreadas,essas emissões nos levarão à reformulação radicaldos sistemas de agricultura e de alimentação noséculo 20, primeiro no mundo industrial e,depois, nos países em desenvolvimento.35

Mas não tem que ser assim. Agricultorescriativos, como Mark Shepard, estão mostrandoo potencial de fazendas sustentáveis paraalimentar o mundo sem esgotar os recursosfinitos, como os combustíveis fósseis, e sem

exacerbar a crise climática. Os agricultoressustentáveis usam uma variedade de técnicas einovações para proteger a plantação contra ervasdaninhas e pragas e para aumentar a fertilidadedo solo que não dependem de combustíveisfósseis ou pesticidas sintéticos. Algumas dessastécnicas incluem o uso de culturas de cobertura,rotação de culturas e insetos benéficos.Agricultores que optaram por essas técnicastambém estão começando a gerar sua própriaenergia, no caso de Shepard, por meio deturbinas eólicas e painéis solares. Digestoresde metano de pequena escala também podemconverter resíduos animais em energia utilizável.

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Milho orgânico cultivado em Madagascar

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Técnicas de agricultura sustentável geramsolo saudável, beneficiando a planta e a esta-bilidade climática. Em ensaios de lavoura ladoa lado ao longo de mais de 30 anos, o InstitutoRodale, com sede nos EUA, constatou quemilho e soja cultivados com técnicas orgânicasarmazenam mais carbono no solo com odecorrer dos anos. Em uma análise dessesensaios de campo, o professor David Pimentelda Cornell University constatou que os métodosde agricultura orgânica produziam os mesmosrendimentos de milho e soja que a agriculturaindustrial, porém com 30% a menos de energia,menos água e nenhum pesticida sintético. Combase nessas lições, o ex-chefe-executivo doInstituto Rodale, Timothy LaSalle, estima que,se 1.756 milhões de hectares de terras agrícolasdos Estados Unidos fossem utilizados para aprodução orgânica, perto de 1,6 bilhão detoneladas de dióxido de carbono poderiam sersequestradas anualmente, “diminuindo em cercade um quarto o total das emissões decombustível fóssil do país”.36

Essas descobertas, e resultados semelhantesde pesquisas ao redor do mundo, são notáveis,pois apontam para o potencial da agriculturaem ajudar a atenuar a mudança climática. Alémdisso, a pesquisa mostra que as fazendas susten-táveis também são mais resistentes à insta-bilidade climática desencadeada pelo efeitoestufa. No Instituto Rodale, os pesquisadoresconstataram que os campos de testes orgânicostiveram melhor desempenho durante os anosde seca, “graças à melhoria da capacidade deretenção de água possibilitada pela quantidadeadicional de matéria orgânica no solo”, dizLaSalle.37

Em uma escala global, a ausência de produtospetroquímicos no abastecimento de alimentosnão precisa ameaçar a produtividade dealimentos. Em um meta-estudo de rendimentosprovenientes de explorações orgânicas eindustriais em todo o mundo, pesquisadores daUniversidade de Michigan mostraram que aintrodução da abordagem agroecológica nos

países em desenvolvimento levou a rendimentosduas a quatro vezes superiores. Em umaestimativa do impacto sobre o abastecimentoglobal de alimentos se toda a produção passassea usar o método orgânico, os autores constataramum aumento do rendimento médio em todas ascategorias de alimento que investigaram.38

Pesquisadores da Universidade de Essex,Reino Unido, autores de um dos maioresestudos de como as práticas agroecológicasafetam a produtividade no mundo em desen-volvimento, analisaram 286 projetos em 57países, a maioria da África. Dos 12,6 milhõesde agricultores que estavam em transição parauma forma de agricultura sustentável, ospesquisadores constataram um aumento de 79%na taxa média de rendimento. Em 2008, aConferência da ONU sobre Comércio e Desen-volvimento e o relatório do Programa da ONUpara o Meio Ambiente concluíram que “aagricultura orgânica pode ser mais propícia àsegurança alimentar na África do que a maioriados sistemas de produção convencional e, nolongo prazo, é provável que seja maissustentável”.39

Na análise mais abrangente da agriculturamundial até o momento, a Avaliação Interna-cional do Conhecimento, Ciência e TecnologiaAgrícolas para o Desenvolvimento (IAASTD)constatou que “a dependência da agriculturaindustrial extrativa é arriscada e insustentável,sobretudo em face do agravamento da crise deenergia, clima e água”, segundo Marcia Ishii--Eiteman, uma das principais autoras dorelatório.40

Como Chegaremos Lá

O estudo da IAASTD, os resultados daUniversidade de Essex, as conclusões doInstituto Rodale e os campos abundantes deMark Shepard apontam em uma direção: sequisermos continuar a alimentar o planeta – ealimentar bem – diante do caos climático global,devemos repensar radicalmente o sistema

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alimentar industrial. Podemos começar com oque está em nossos pratos.

Podemos fazer escolhas de alimentos querespeitam o clima. Podemos optar por consumiralimentos de fazendas sustentáveis, reduzir oconsumo de alimentos altamente processados erestringir – ou cortar – o consumo de carnes elaticínios obtidos de gado criado em confi-namento. Podemos também consumir alimentoscultivados local e regionalmente. (Mesmo queas emissões relacionadas ao transporte sejamum segmento relativamente pequeno doimpacto global da maioria dos alimentos, oapoio aos agricultores regionais é parteimportante da formação de um sistema alimentarresiliente e biodiversificado.)

Mas é importante não parar por aí. Pelomenos por enquanto, as opções que respeitamo clima não estão disponíveis na maioria dascomunidades, em grande parte porque aspolíticas agrícolas nos Estados Unidos e emoutros países vêm oferecendo incentivos paraa produção industrial há décadas, em detrimentode produtores sustentáveis. A pecuária intensivados EUA recebe bilhões de dólares empagamentos diretos com base na Farm Bill,política de muitos bilhões de dólares que regulaos alimentos e a agricultura. De 1995 a 2006,a Farm Bill pagou quase US$ 3 bilhões emsubsídios diretos aos produtores de gado delarga escala.41

Os produtores de gado também sebeneficiam da Farm Bill dos EUA de formaindireta. Entre 2003 e 2005, os produtores demilho receberam US$ 17,6 bilhões emsubsídios, e os produtores de soja, outros US$2 bilhões. Como os custos da ração animal, demodo geral, respondem por 60% ou mais docusto total de produção para a maioria dosoperadores de confinamento, as políticas quepermitem que os preços de grãos e soja fiquemabaixo do custo de produção são uma bênçãopara processadores e varejistas. E, uma vez que,67% do milho dos EUA e quase todo o farelode soja são utilizados internamente ou na

composição de ração para gado ou peixe deoutros países ou dos EUA, esses subsídios acommodities também poderiam ser consideradossubsídios à indústria pecuária.42

No total, esses subsídios federais propiciaramao setor de confinamento de gado umaeconomia de cerca de US$ 35 bilhões, entre1997 e 2005, segundo pesquisadores da TuftsUniversity. Lobistas da indústria pecuáriatambém conseguiram pagamentos do Programade Incentivos à Qualidade Ambiental (EQIP)da Farm Bill para operações de confinamento,ainda que o programa tivesse sido concebidopara ajudar os pequenos agricultores a reduzira poluição. Em 2007, as fazendas de confi-namento estavam recebendo 125 milhões dedólares por ano só desse programa.43

Essas são apenas algumas das políticasagrícolas “perversas” que estão promovendoum sistema alimentar que contribui para a criseclimática. Mas a Farm Bill, em vez disso, poderiaincentivar uma mudança da agriculturadependente de combustível fóssil para umsistema agrícola que contribuísse para o abran-damento da crise climática. Poderia, porexemplo, fornecer: • educação ao agricultor para facilitar a transição

da agricultura química para a agriculturaorgânica;

• incentivos mais amplos para os agricultoresque fizessem a transição e apoio financeiropara subsidiar os custos da certificaçãoorgânica (em 2009, a Iniciativa OrgânicaEQIP destinou mais de 35 milhões de dólarespara assistência à certificação e à transição deagricultores para o sistema orgânico);

• incentivos e apoio a todos os agricultores paratornar o solo mais saudável e rico em carbonoe para reduzir o uso de fertilizantes sintéticos;

• maior cumprimento dos regulamentosambientais para o setor de confinamento degado responsável por grandes emissões e deprodução de commodities, e

• financiamento a pesquisas para estudarmaneiras de reduzir emissões de gases de

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efeito estufa produzidas pelo setor pecuário(atualmente, apenas 2,6% do orçamento depesquisa do Ministério da Agricultura dosEUA vai para abordagens orgânicas).44

A Farm Bill poderia também expandir osseus programas de incentivo ao consumo defrutas, hortaliças e alimentos locais, em vez deprodutos altamente processados. O ProgramaNutrição em Feiras de Produtores paraMulheres e Crianças (WIC Farmers MarketNutrition Program), por exemplo, atua em 45estados e fornece até US$ 30 por ano emcupons para crianças, gestantes de baixa renda,inclusive no período pós-parto, para seremusados em feiras de produtores. Atingindo 2,2

milhões de pessoas, este programa poderia sersignificativamente ampliado, fomentando ummaior consumo de alimentos que respeitam oclima e sistemas alimentares regionais.45

Estas são apenas algumas das mudançaspolíticas que podem incentivar a mudança nosistema alimentar. Ao defender uma reformapolítica, os indivíduos podem ajudar aumentandoa demanda de mercado por alimentos querespeitam o clima, seguindo os princípios deuma alimentação sustentável.

Sim, não podemos mudar o mundo apenascomprando maçãs orgânicas na feira deprodutores da vizinhança, mas é um começo.

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plantas retiram nitrogênio do ar e o transferempara o solo através das raízes e da serapilheirafoliar, quando suas folhas podadas e outrasbiomassas são incorporadas ao solo.5

Mariko Majoni, da aldeia de Jiya, ao sul doMaláui, costumava obter uma produtividadede 30 a 40 sacas de milho, quando podiacomprar fertilizantes minerais. Depois que odinheiro acabou, sua produtividade passou aser de apenas 6 a 9 sacas. Mas em 2006,depois de plantar e cuidar de suas árvoresfertilizantes, sua produtividade passou a ser de 70 sacas de milho. “Minha terra agora émuito rica e retém muito mais água”, dizMajoni, acrescentando que ele tem milhosuficiente para sua família e sobra abundantepara vender.6

Ao combinar a integração de árvores comos princípios da agricultura de conservação em sistemas agrícolas (agroflorestamento), o conceito de Agricultura Sempre-Verde está emergindo como uma forma, viável eembasada na ciência, de cuidar melhor daterra e de aumentar a produção de alimentosdos pequenos produtores. A agricultura deconservação envolve três princípios básicos:revolver o solo o mínimo possível (ou seja,manejo mínimo ou plantio direto), mantendo-o coberto com material orgânico,como resíduos de culturas, e fazer rotação ediversificação de culturas, principalmente como uso de espécies leguminosas que repõem osnutrientes do solo. Atualmente, cerca de 100milhões de hectares ao redor do mundo estãosendo geridos por esses princípios.7

Com a Agricultura Sempre-Verde – como amaioria das formas de agroflorestamento – asárvores oferecem múltiplos benefícios para asubsistência de agricultores, inclusive fontesde adubo verde para deixar os solos mais

Uma Revolução Sempre-Verde para a África

O desafio da agricultura africana é imenso.Nas próximas décadas, será necessário pelomenos o dobro de produtividade para produzirmais alimentos para uma população que nãopara de crescer e, ao mesmo tempo, combatera pobreza e reabilitar a fertilidade de solosdegradados. Os riscos trazidos pela mudançaclimática tornam essa tarefa ainda maisassustadora.1

Mas, para centenas de milhares depequenos agricultores de Zâmbia, do Maláui,do Níger e de Burkina Fasso, o futuro parecemais brilhante. São agricultores que mudarampara sistemas agrícolas que recuperam solosesgotados e que aumentam drasticamente orendimento de culturas alimentares, asegurança alimentar das famílias e a renda.2

“Antes, eu costumava colher cerca de 10sacas de milho da minha plantação, agora euconsigo pelo menos 25 sacas”, diz MarySabuloni, cuja lavoura fica a cerca de uma horade carro a sudeste de Blantyre no Maláui. “No passado, muitas vezes, passávamosfome, mas agora eu posso alimentar a minhafamília durante o ano todo”.3

Sabuloni é apenas um dos muitosagricultores do Maláui que viram suaprodutividade de milho aumentar e o solomelhorar depois que começaram a plantarárvores fertilizantes. Árvores desse tipo, nomínimo, duplicam a média de produção demilho. O aumento de 1 para 2 toneladas porhectare fornece um quilograma adicional degrãos durante 200 dias para uma família decinco pessoas.4

Durante décadas, os cientistas avaliaramvários arbustos e árvores que fixam nitrogênio,como Sesbania, Gliricidia, Tephrosia eFaidherbia, que os agricultores podem plantarpara melhorar a fertilidade do solo. Estas

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saudáveis e melhorar a produção agrícola,além de árvores frutíferas, medicinais,forrageiras e fornecedoras de madeira e lenha.8

Existem outros benefícios ambientais, comosombra e abrigo, controle de erosão, proteçãode mananciais, sequestro de carbono eaumento da biodiversidade. Se os pequenosagricultores aumentarem a produtividade desuas terras de forma sustentável, anecessidade de expansão agrícola será menor.A crescente adoção de sistemas agroflorestaistambém significa que muitos bens e serviçosflorestais podem ser produzidos na terra. Se, no futuro, os pequenos agricultorestiverem acesso aos mercados de carbono,o resultado será a presença de um númeroainda maior de árvores nas paisagens agrícolasde todo o mundo.9

A Faidherbia albida é uma árvore exclusivade fertilizante que poderia ser a pedra angularda Agricultura Sempre-Verde no futuro. Nativa da África, a árvore é um componentenatural dos sistemas agrícolas em muitaspartes do continente. A Faidherbia apresenta a característica de fenologia foliar reversa, oque significa que ela solta suas folhas ricas em nitrogênio no início da estação chuvosa epermanece dormente durante todo o períodode cultivo. As folhas voltam a crescer no inícioda estação seca. Isso faz com que as árvoresdessa espécie sejam altamente compatíveiscom as culturas alimentares, porque nãodisputam luz, nutrientes ou água com asplantas de cultivo durante a estação decrescimento. Na fase de crescimento dasplantas até a maturidade, apenas os ramosnus dessas árvores são vistos.

Em Zâmbia, mais de 160.000 agricultoresampliaram as suas práticas de agricultura deconservação de modo a incluir o cultivo dealimentos em agroflorestas contendo asárvores da espécie Faidherbia, totalizando umaárea de 300.000 hectares. E por boas razões: a

produtividade do milho cultivado navizinhança dessas árvores é maior, e a saúdedo solo também melhora.10

A produção de milho é o alicerce daagricultura em Zâmbia e a base doabastecimento alimentar do país, mas o seurendimento médio é de apenas 1,1 toneladaspor hectare. Na estação de crescimento de2008, a Unidade de Agricultura deConservação da Zâmbia observou que aprodução média de milho não fertilizado nas proximidades de árvores Faidherbia era de 4,1 toneladas por hectare, em comparaçãocom 1,3 tonelada próximo a elas, porém além da sua copa.11

Resultados promissores semelhantessurgiram no Maláui, onde a produção de milhoaumentou até 280% na zona sob a copa deárvores Faidherbia, comparando-se com a zonafora da copa. E, no Níger, mais de 4,8 milhõesde hectares de agroflorestas dominadas porFaidherbia estão, atualmente, enriquecendo aprodução de milho e sorgo.12

Tembo Chanyenga, do Instituto de PesquisaFlorestal do Maláui, diz que já pode prever umtempo em que as famílias de agricultorespoderão comer frutas no café da manhã todosos dias. “O cenário estará muito mais rico emárvores do que está agora, e os solos, maisférteis”, diz ele.13

Está surgindo uma grande aliança entregovernos, doadores internacionais, instituiçõesde pesquisa e parceiros de desenvolvimentointernacionais e locais interessados emexpandir essa abordagem inovadora por toda aÁfrica. As soluções embasadas na ciência enas melhores práticas e conhecimentos locais,e que são perfeitamente viáveis e acessíveis,constituem a única maneira de garantir ocrescimento da agricultura que combate apobreza extrema.14

– Dennis Garrity Centro Mundial Agroflorestal, Nairóbi

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Perdas Pós-Colheita: Uma Área Negligenciada

Tristram Stuart

Quase todo inseto, fungo, pássaro eroedor quer colocar as mãos, metafori-camente, na produção de uma lavoura.

Desde as origens do armazenamento dealimentos por longo prazo, há mais de dez milanos, o ser humano trabalha para evitar que issoaconteça. Hoje, os países ricos desfrutam deuma abundância de tecnologias e conhecimentosobre armazenamento, que reduziram a quasezero a perda acidental da produção após acolheita. O agronegócio tem à disposição umarsenal de medidas preventivas para impedirque o alimento estrague antes de chegar ao

mercado, como câmaras frigoríficas, pasteu-rização, instalações para conservação, equipa-mentos de secagem, centrais de armazenamentoclimatizadas, infraestrutura de transporte,agentes químicos que inibem a germinação eplantas melhoradas aliado ao conhecimentoprofissional adquirido durante décadas com oapoio de governos, instituições acadêmicas ealgumas das maiores empresas do mundo.

Tudo isso, ironicamente, pode ter contribuídopara a grande abundância que estimulou umacultura em que quantidades impressionantes dedesperdício “deliberado” são aceitas e até insti-

Aldeã no Zimbábue pega milho da área de armazenamento comum para uso no dia

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Tristram Stuart é historiador e ativista da área de alimentos. Este capítulo é baseado no livro Waste: Uncovering the Global Food Scandal.

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tucionalizadas. O desperdício é hoje um infelize desnecessário corolário da profusão da ofertade alimentos nos países ricos. Jogar forahortifrútis cosmeticamente “imperfeitos”,descartar no mar peixe comestível, desconsiderarcasca de pão em fábricas de sanduíche, abastecerem excesso os supermercados e comprar oucozinhar comida demais em casa são exemplosda negligência perdulária em relação aosalimentos. Contudo, nada disso deve desviarnossa atenção do fato que os sistemas modernosde abastecimento de alimentos conseguiramfeitos grandiosos para evitar perdas “pós--colheitas” acidentais entre a lavoura e omercado. Hoje em dia nos países ricos, emsituações climáticas ideais, culturas básicas comotrigo podem ser colhidas com perdas muitobaixas, em torno de 0,07%.1

O armazenamento das colheitas nos paísespobres, por outro lado, é totalmente inadequado,resultando em níveis espantosos de desperdício,exatamente onde o alimento é mais necessário.Os países em desenvolvimento ainda são pre-judicados por muitos dos problemas logísticosde armazenamento superados pelas nações ricashá décadas, ou mesmo séculos. Produtores e

comerciantes perdem parte significativa de suassafras para as devastações da natureza, e lidarcom esse problema deveria ser uma prioridadecentral à medida que a ameaça à segurançaalimentar mundial se torna uma questão crítica.

A Revolução Verde, nos anos 1970 e 1980,trouxe novas linhagens de cultivo, maquinaria,pesticidas, fertilizantes e outros agentes químicospara a agricultura mundial, aumentando signi-ficativamente a produtividade. As empresasocidentais enriqueceram com a exportação desoluções agrícolas de alta tecnologia. Contudo,deixaram-se de lado, em grande parte, as coisasmais simples, como o armazenamento de grãos,equipamentos de secagem, engradados defrutas, refrigeração e outros métodos essenciaisinerentes à tecnologia pós-colheita. Essesmétodos proporcionam menores lucros às

empresas, mas poderiam resultar em maioresbenefícios para a disponibilidade geral dealimento. Cepas caras de alta produtividadesão, muitas vezes, parte do problema. Istoporque as variedades tradicionais estavamadaptadas aos meios em que eram cultivadase armazenadas, tinham menor teor deumidade nos grãos maduros e suas cascaseram mais duras e resistentes a roedores,insetos e mofo, o que significa que poderiamsobreviver armazenadas até a estação deplantio seguinte. Hoje, agrônomos, profis-sionais da área de desenvolvimento eprodutores rurais entendem que não bastacultivar o alimento, a safra precisa serarmazenada, preservada e transportada demaneira mais eficiente.2

Montes Incontáveis deDesperdício

O descuido com as perdas pós-colheita é umadas anomalias do setor agrícola. Em 1981, aOrganização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO) sugeriu que a reduçãode perdas pós-colheita “tem importância nãoapenas devido à obrigação moral de se evitar o

Recolhendo pedaços de manga seca ao Sol, Guiné

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desperdício, mas também por… demandarmenos recursos e porque a pressão colocada nomeio ambiente para que a qualidade e aquantidade dos alimentos sejam mantidas émenor do que a pressão exercida através deaumentos de produtividade”. No entanto,apesar de a Conferência Mundial de Alimentosde 1974 ter declarado que a redução dedesperdício pós-colheita era uma prioridadepara o desenvolvimento, e ainda que asresoluções da ONU no ano seguinte tivessemfeito um apelo por uma redução de 50% nasperdas pós-colheitas na década a seguir, esseponto continua a receber financiamento insu-ficiente.3

A ajuda externa direcionada ao fomento daagricultura nos países em desenvolvimentodiminuiu globalmente. No início dos anos1980, a assistência oficial ao desenvolvimentoera de 20% e, no final de 2007, havia caído para3% a 4%. No caso de pesquisas e de atividadesde incentivo para melhorias agrícolas, apenas5% do investimento é dirigido à redução deperdas pós-colheitas. Conforme declarou aFAO, “É lamentável observar tanto tempodedicado para o cultivo de uma planta, tantodinheiro gasto com irrigação, adubação emedidas de proteção da lavoura, e tudo isso serperdido uma semana após a colheita”.4

Os números publicados a respeito dos níveisexatos do desperdício quase sempre se amparamem estimativas desatualizadas, e poucos estudosprecisos foram, de fato, realizados, o que indicaa negligência com esse tema. A confiabilidadedos dados também é questionada porque osnúmeros são, muitas vezes, manipulados, sejapara exagerar as perdas e assim encorajardoadores a fazer aportes, seja para minimizá--las de modo a evitar constrangimento político.Mesmo assim, de acordo com estimativasoficiais, em 1993, a China perdeu 15% daprodução de grãos e 11% de sua safra de arrozficou destruída devido ao mau armazenamentoem construções sem manutenção adequada. Damesma forma, no Vietnã, a perda usual com o

arroz é da ordem de 10% a 25%, e, em condiçõesextremas, esse número pode ser de 40% a 80%.Em toda a Ásia, a perda média pós-colheita dearroz gira em torno dos 13%, e o Brasil eBangladesh registraram perdas de 22% e 20%,respectivamente. (Ver Quadro 9–1).5

O agrônomo Vaclav Smil estima que se todosos países de baixa renda estão perdendo seusgrãos na ordem de 15%, o prejuízo pós-colheitasanual chega a 150 milhões de toneladas decereais. Isso representa seis vezes mais do quea FAO declara ser necessário para alimentartodos os que passam fome no mundo em desen-volvimento. Os especialistas sugerem ser possíveldiminuir para 4% as perdas pós-colheita decereais e tubérculos nos países em desen-volvimento.6

Quando se armazenam grãos em máscondições, a porção não comprometida, emboracomestível, também está degradada do pontode vista nutricional. Em certas condições dearmazenamento, os níveis de aminoácidos comoa lisina podem cair em até 40%, e o mesmo ocorrecom a tiamina e o caroteno. As estatísticas brutassobre perdas alimentares, portanto, subestimamas deficiências na nutrição oferecida.7

Em 2008, o Homo sapiens passou a sermajoritariamente uma espécie urbana. Sendoassim, desde então, o alimento precisa percorrermaiores distâncias para sair das propriedadesagrícolas e chegar à mesa. Um agricultor queantes produzia apenas para a aldeia local, talvezagora transporte por caminhão a produção desua lavoura até que ela desembarque em cidadesa centenas ou até milhares de quilômetros dedistância. Isso exige tecnologia e conhecimentoque nem sempre estão ao alcance dos agricultorese comerciantes. Recentemente, muitas economiasliberalizaram o comércio, em parte devido àspressões do Banco Mundial. Por conseguinte,o armazenamento de grãos, que antes era umapreocupação dos governos de muitos países,hoje está sendo administrado pela iniciativaprivada, que, com frequência, não detém oconhecimento ou os incentivos para preservar

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a qualidade dos grãos. Muitos desses problemaspodem ser resolvidos pela mera disseminaçãode conhecimento.

O suprimento de alimentos de boa qualidadeàs cidades em expansão econômica e demográficaé essencial para se evitar a generalização deturbulências sociais. No passado, a escassez dealimentos nas áreas urbanas ajudou a desencadearrevoluções, como por exemplo, em Paris em1789, em várias cidades europeias em 1848, ena Rússia em 1917. Em 2008, os protestos reivin-dicando alimentos ocorridos em Burkina Fasso,em Camarões, na Costa do Marfim, no Egito,no Haiti, na Indonésia, em Madagascar e noSenegal estão longe de ser exceção.

Desperdício de Alimentos na África

A desnutrição infantil na África subsaarianaaumentou mais de 75% nos últimos 30 anos, oequivalente a 12,9 milhões de criançassubnutridas, e ainda assim, faltam até mesmomedidas rudimentares para impedir perdas pós--colheitas. Um estudo de 2009 revelou danosgeneralizados à colheita de cereais em Zâmbia.O milho é o alimento básico mais importantede Zâmbia, fornecendo 68% das calorias dapopulação e proporcionando 76% da renda dospequenos produtores. A escassez de milho nopaís contribuiu para a desnutrição crônica e afome. Contudo, até agora, têm sido exíguos osrecursos destinados à infraestrutura pós-colheitapara proteger a lavoura mais valiosa das altastemperaturas e umidade da região.8

Na pesquisa, constatou-se que 96% dasamostras do milho estocado continhamfumonisinas tóxicas, resultantes de mofo. Alémdisso, em um quinto das amostras o nível deaflatoxinas (substâncias tóxicas produzidas pelofungo Aspergillus que inibem o crescimento decrianças e animais e causam câncer) era até 10vezes maior do que o limite de segurançarecomendado pelo governo. Em muitos paísesafricanos, 98% das pessoas apresentam afla-toxinas no sangue, em concentrações muitíssimo

mais elevadas do que as permitidas pelos regu-lamentos da União Europeia e dos EstadosUnidos. Isso é causado, quase exclusivamente,pelo consumo de alimento mofado.

Nas amostras de milho de Zâmbia encontraram--se também carunchos que, juntamente com abroca maior do cereal, comem os grãos e setornam vetores do fungo destruidor. Constatou--se que até mesmo os armazéns com adminis-tração pública excediam os limites de segurançaestabelecidos pelo governo em relação amicotoxinas. O problema se resume à simplesfalta de instalações para armazenar grãos, quegarantiriam que eles se mantivessem secos e livresde infestações de insetos.10

A pesquisa revelou que “a maioria dasinstalações usadas pelos agricultores paraarmazenamento estavam em mau estado,propícias à infestação de insetos e contaminaçãopor fungos”. As estruturas de armazenamentomais usadas são feitas de estacas e galhos entre-laçados, ou simplesmente em sacos de poli-propileno mantidos nas casas dos agricultores.Ambayeba Muimba Kankolongo, coautor dapesquisa, diz que “fornecer aos agricultoresinstalações de boa qualidade para armazenamentode grãos e treiná-los para que ampliem aconsciência a respeito da questão irá melhorar aqualidade do grão consideravelmente”.11

Mesmo sem o uso de armazéns caros paraarmazenagem de cereais, ao estilo ocidental,muito pode ser feito para auxiliar os pequenosprodutores a impedirem danos tão drásticos asuas colheitas. Fumaça, formas mecânicas delimpeza dos armazéns e inseticidas químicospodem ser usados para diminuir o risco deinfestação e são práticas muitas vezes nãoutilizadas nos minifúndios da Zâmbia. Existematé mesmo diferenças notáveis no desempenhodos vários tipos de estruturas locais, comresultados melhores em estruturas de bambuou quando se usam sacos em conjunto comalgum recipiente secundário, como um tamborde aço recoberto de lama ou tijolos.12

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Quadro 9–1. Desperdício de Alimentos na Ásia

Sabe-se que a taxa anual de perdas com frutas elegumes no Sri Lanka é de 40% a 60%, ou270.000 toneladas, o que corresponde a umvalor aproximado de 9 bilhões de rúpiascingalesas (US$ 100 milhões). Só no principalmercado abastecedor de hortifrútis na capital,Colombo, onde milhares de pessoas não têmcondições financeiras para comprar alimentofresco em quantidade suficiente para uma dietaadequada, o Conselho Municipal descarta cercade 10 toneladas de frutas e legumes todos osdias. Segundo o Instituto Cingalês de TecnologiaPós-Colheita, três quartos das perdas pós-colheita de hortifrútis no país poderiam sereliminados através de medidas relativamentesimples. Hoje em dia, uma grande parcela dosuprimento abundante de frutas do país éjogada em sacolas polysack e arrastado porlongos quilômetros de estradas esburacadas, no calor tropical, até chegar ao mercado. Nesteponto, parte significativa do trabalho árduo doagricultor estará reduzida a uma maçaroca docee pegajosa. Se as frutas e os legumes fossemempilhados em engradados reutilizáveis demadeira ou plástico logo após a colheita, como é feito nos países ricos, esse problemapoderia ser resolvido.

Da mesma forma, muito poderia seralcançado por meio da educação, por exemplo,ensinando aos agricultores o momento certopara colher as frutas de forma a maximizar suavalidade. A posição exata no caule para extraçãode certas frutas também pode contribuir parareduzir as chances de deterioração. Nosmercados, podem ser aplicados sistemas deresfriamento ao usar recursos simples comosombra e água. A adoção de novos métodoscomo esses pode fazer muita diferença.Recentemente, uma série de projetos no SriLanka cortou o desperdício de 30% para 6% eaumentou a renda das propriedades agrícolasem 23.000 rúpias (US$ 256) por hectare. Apesar do bom trabalho, os esforços no Sri

Lanka sofrem da falta crônica de fundos. Até mesmo o governo, que está subsidiandoengradados plásticos reutilizáveis parafruticultores, só consegue financiar umapequena parcela da quantidade necessária.

O Paquistão e a Índia enfrentam muitosproblemas semelhantes, mas em escala bemmaior. A Índia é o terceiro maior produtoragrícola do mundo e planta 41% da manga,30% da couve-flor, 23% da banana e 36% daervilha do mundo. Ela é ainda o terceiro maiorcerealista mundial, com produção anual de204 milhões de toneladas de cereaisalimentícios e de 90 bilhões de litros de leite,e é o país com o maior índice de extração deleite por vaca do mundo. Mesmo assim,detém apenas 1% a 1,5% da participação nomercado alimentício mundial e processaapenas cerca de 2% de sua produção, emcomparação com os países industrializadosque processam de 60% a 70%. As estimativasindicam que 35% a 40% de suas frutas elegumes são desperdiçados. Em 2008, P. K.Mishra, do Departamento de Agricultura,informou números ainda mais altos: 72%.

O problema é ilustrado pelo principalmétodo de colheita de manga no sul da Ásia:uma vara e uma sacola feita à mão. O usodesses apetrechos pode fazer com que muitosfrutos caiam no chão, mas se, em vez disso,eles adotassem uma lâmina ou gancho paracortar a fruta da árvore, o método poderia seraperfeiçoado. Um dano leve na fruta nesseestágio talvez não seja visível um ou dois diasapós a colheita, mas o mecanismo de defesada fruta logo estará destruído, permitindo aentrada de um exército de insetos, fungos ebactérias. Só no Paquistão, estima-se quemais de 1 bilhão de rúpias em mangas sãoarruinadas todo ano, e seria possível evitarmetade disso com o uso de melhores técnicasde colheita.

Fonte: Ver nota final 5.

o fato de que as perdas pós-colheita atualmente“comprometem a possibilidade de o setoragrícola se beneficiar de seu pleno potencial e,

Na Política Agrícola Nacional [NationalAgricultural Policy] 2004-2015, o Ministério daAgricultura de Zâmbia chamou a atenção para

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toda a produção. Treinamento simplificado ealguns equipamentos poderiam aumentar arenda dos agricultores e melhorar a dieta locale eliminariam a necessidade de importação dederivados de leite na região – nos países emdesenvolvimento, as importações de laticíniosaumentaram, de modo geral, 43% entre 1998e 2001. Segundo a FAO, essas importações são“desnecessárias e poderiam ser reduzidas pelasimples diminuição de perdas pós-colheita”.16

Alguns projetos conduzidos em outras partesda África demonstraram também o benefíciode custos obtido com medidas de prevençãode desperdício e de degradação das colheitas. NaGuiné, por exemplo, um projeto comunitárioconseguiu reduções significativas de exposiçãoa aflatoxinas em comunidades de agricultura desubsistência. Isso ocorreu através de diversosprocedimentos simples e baratos para preveniro crescimento de fungos no amendoimarmazenado, uma cultura importante na região.Os agricultores aprenderam a escolher oamendoim manualmente, eliminando os queestivessem mofados ou danificados. Em vez desecar o amendoim no solo, que pode ser umafonte de umidade, a secagem foi feita sob o Sol,em tapetes de fibra natural produzidos naregião. Os agricultores aprenderam a avaliar sea secagem estava completa – basta chacoalhar anoz do amendoim para ouvir o som domovimento do grão seco. Em vez de armazenaro amendoim em sacolas de plástico ou outromaterial sintético, materiais esses que causamacúmulo de umidade, foram usados sacos defibra natural de juta. A seguir, esses sacos foramguardados em paletes de madeira, e não mais nochão de terra e, para exterminar as pragas,borrifou-se inseticida sob as paletes.17

Os resultados do programa foram relatadosem The Lancet. Eles mostraram que nas aldeiasque seguiram à risca esses métodos simples depós-colheita, a exposição a aflatoxinas caiu maisque 50% e a quantidade de indivíduos cujosangue estava completamente livre de aflatoxinasfoi dez vezes maior do que a verificada nas

portanto, de fazer um corte significativo nosníveis de pobreza do país”. Ele anunciou aindaa esperança de que “as perdas pós-colheita sejamreduzidas dos atuais 30% para menos de 10%até 2015”. Isso poderia ser alcançado, prometeuo ministério, através de planos e fomento de“transportes adequados nas propriedades rurais,estruturas de processamento e armazenagem,principalmente para pequenos proprietários, deforma a minimizar ou prevenir as perdas pós--colheita”.13

O progresso é lento, mas as entidadesdoadoras têm colaborado na implantação dosplanos governamentais. Agências alemãs, porexemplo, auxiliam os produtores de Zâmbia aconstruírem melhores armazéns para grãos, comuso de materiais encontráveis no local, e osresultados indicam que essas edificações inibemou eliminam por completo o desenvolvimentode mofo. As perdas de cereais são particu-larmente nocivas porque os cereais suprem ascalorias básicas da maior parte da populaçãomundial. No entanto, o nível de desperdício dealimentos perecíveis é bem maior.14

A produção de laticínios é muito passível dedesperdício devido à falta de tecnologias, comorefrigeração e pasteurização, nas propriedadesrurais e nos entrepostos comerciais. Em Zâmbia,o governo japonês, a Care International e aAgência Norte-Americana para o Desen-volvimento Internacional, em colaboração comempresas locais e outros interessados, ajudarama instaurar centros rurais de coleta de leite.Pequenos criadores de gado leiteiro que nuncahaviam se envolvido com a comercialização doleite podem, agora, entregar seus excedentesnos centros coletores. Esses centros sãoequipados com infraestrutura para resfriamento,o que permite a venda do leite para o setorindustrial, dessa forma criando um negócioautossustentável que aumenta a renda dessespequenos pecuaristas e a oferta de leite local.15

Só na África Oriental e Oriente Médio, asperdas de leite chegaram a US$ 90 milhões em2004 e, em Uganda, elas contabilizam 27% de

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mundo, deixando-a mais apetitosa e saborosa.A mandioca e o inhame, alimentos básicos dadieta africana, têm baixa durabilidade e, nacultura africana, há pouca tradição paratransformá-los em produtos mais estáveis comofarinha. Portanto, eles apodrecem nos celeirosdaqueles que passam fome.20

A batata-doce, a sétima mais importantecultura do mundo, é rica em betacaroteno (umprecursor da vitamina A) e tem alto teor hídrico.Isso significa que ela tende a deteriorar maisfacilmente que cereais secos. Nos países ricos,em condições ideais, a batata-doce pode serarmazenada por até um ano, mas na Áfricasubsaariana, até 79% dos tubérculos armazenadospodem ser perdidos. No entanto, sistemas dearmazenamento bem concebidos, incluindopráticas como retirar o caule da parte de cima dabatata, demonstraram melhorar a recuperaçãodo tubérculo em até 48%. Trabalhos recentesajudaram a identificar o momento exato damaturidade dessa cultura (aos 105 dias) parauma colheita melhor dos tubérculos, de formaa maximizar a produtividade, a qualidadenutritiva, as propriedades de armazenamento ea aceitação por parte dos consumidores.Portanto, melhorar a disponibilidade dealimentos e reduzir o desperdício é, muitasvezes, uma questão de destinar recursos paraensino de melhores práticas aos agricultores,sem a necessidade de dispêndios de capital.21

Mudar a forma com que os agricultoresafricanos fazem a colheita dos tubérculos podeajudá-los a alimentar suas famílias e, ao mesmotempo, abrir novas oportunidades de capita-lização diante da crescente demanda porprodutos frescos nos centros urbanos. Ospadrões rígidos e superficiais estabelecidos porvarejistas que atendem os consumidores urbanossão um obstáculo com que muitos agricultoresde subsistência não estão acostumados. Maisuma vez, o treinamento pode ter um papel signi-ficativo no aumento da renda nas propriedadesrurais. Os produtores africanos quase nuncadispõem de instalações exclusivas para

aldeias de controle onde os agricultoresseguiram suas práticas normais. O custo total detodos os procedimentos pós-colheita chegou aUS$ 50 por agricultor, quantia elevada para umpaís em que a renda média anual é US$ 1.100.No entanto, esses custos certamente podem serreduzidos e deveriam ser considerados emrelação aos ganhos substanciais em termos desaúde, nutrição e renda da propriedade rural.18

Salvar o Alimento

Os países ocidentais usam conservantes,incluindo ácido propiônico, sórbico e benzoicoe, mais recentemente, antioxidantes comopropilparabeno e resveratrol, para proteger suaslavouras. Isso pode se tornar cada vez mais viávelnos países em desenvolvimento. Contudo,mesmo sem recorrer a esses modernos agentesquímicos sintéticos, quase sempre caros, debaixa qualidade, ou não encontráveis nas regiõesrurais dos países em desenvolvimento, o uso dealternativas “naturais” que estejam ao alcancee sejam de baixo custo poderia ser estimulado.Pesquisas recentes indicaram que um fármacoafricano tradicional extraído da raiz seca daSecuridaca longepedunculata, por exemplo, éeficaz para repelir insetos de grãos armazenados.Em quantidades corretas, dentro de condiçõeslaboratoriais, esse medicamento foi responsávelpor 100% das mortes de pragas em fase adulta.Descobertas como essa dão esperança àsagências de desenvolvimento e aos governosnacionais interessados em usar recursos locaispara promover as empresas agrícolas e, simul-taneamente, incrementar a segurança alimentar.19

O “fruto mais acessível”, em termos deeconomias rápidas e com benefício de custos,encontra-se, adequadamente, no setor dehortifrútis. O desperdício desses gêneros alimen-tícios ocorre até mesmo onde as pessoas nãoconseguem o suficiente para se alimentar. Alémde fornecer micronutrientes vitais, as frutas eos legumes transformam a dieta predominan-temente herbívora de muitos dos pobres do

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interesse próprio. A Associação da Câmara deComércio e Indústria, responsável pelaorganização de um fórum de diálogo entre asempresas e o governo da Índia, diz que o paísprecisa aumentar em um terço a capacidade dearmazenamento com refrigeração para que possasalvar os 40% das frutas e legumes desperdiçadosanualmente após a colheita.23

Um método de conservação com menor usoenergético e, portanto, mais adequado para apreservação de alimentos nas regiões tropicaise subtropicais, é a utilização da grande quantidadede Sol existente para fazer a secagem de umamaior proporção das frutas cultivadas na região.Um projeto inovador na África Ocidentalconseguiu a desidratação de mangas até o pontode obter teor de umidade perto de 10%, usandopara isso uma estufa de secagem solar. Comoresultado, as mangas desidratadas mantiveramos carotenoides provitamina A por mais de seismeses. Os organizadores do projeto fizeramuma estimativa ambiciosa: se 100.000 toneladasde mangas que seriam desperdiçadas na regiãotodo ano após a colheita fossem salvas, essesistema poderia aumentar em 27.000 vezes osuprimento de vitamina A na dieta da região.24

A Taste of Freedom, uma nova organizaçãoque combate o desperdício de alimentos, fezum experimento de desidratação de bananasque seriam descartadas e conseguiu desenvolverum produto que pode ser consumido comobala ou ser prensado em folhas que servem deinvólucro natural e doce, adequado paraexportação e consumo doméstico. Essas técnicasinovadoras de preparo de produtos alimentíciosconhecidos têm boa chance de ser bemrecebidas pelos consumidores e podem fomentaras economias locais.25

A fermentação é outro método de baixoinvestimento adequado à conservação dealimento em âmbito local. Na África, o kefir éuma bebida láctea ácida, com leve teor alcoólico,produzida pela fermentação do leite a partir deuma matriz granulosa. Esse é, sem dúvida, ummétodo de conservação mais viável para alguns

armazenamento e, de modo geral, guardam asbatatas no chão de terra de suas cabanas debarro e sapé. Nestas condições, as batatas ficam,muitas vezes, expostas ao Sol e isso faz com quecomecem a esverdear e brotar, levando a perdassignificativas, principalmente em lugares comventilação irregular.

Culturas parcialmente degradadas como essaainda são usadas por pequenos agricultoresafricanos para consumo familiar ou venda apreços reduzidos na região. Contudo, essesprodutos não têm valor comercial e, portanto,representam uma perda de renda. Talvez oarmazenamento de tubérculos em câmarafrigorífica, como praticado por grandesprodutores rurais no mundo inteiro, não sejauma tecnologia adequada, nem accessível, paraos agricultores africanos. Assim, uma alternativaviável seria deixar o produto na terra porperíodos mais longos após estarem maduros efazer a colheita em lotes sequenciais, e não emuma única vez. Isso poderia ajudar nadistribuição do trabalho nas lavouras e na rendae contribuiria também para que se atingissempadrões de qualidade na comercialização.

Um estudo na África do Sul comparou asperdas de colheitas tradicionais armazenadasnos depósitos dos produtores rurais com as dacolheita sequencial em que a batata permanecena terra por até seis semanas depois de madura.Os melhores resultados apontaram que, nacolheita sequencial, o desperdício caiu de 37%para apenas 11%, uma redução de 71% nasperdas. Na média anual, 8% de toda a lavourafoi salva por meio da colheita sequencial.22

A economia dos países emergentes faz hojealtos investimentos no modelo de armazenamentocom uso de frigoríficos como os usados nomundo ocidental, apesar da alta demanda deenergia. O orçamento do governo indiano para2009-2010 alocou incentivos e subsídios paraa criação de armazéns e equipamentos de refri-geração, mas, mesmo assim, grupos de lobistasdo setor industrial ainda fazem pressão pormaiores estímulos, não sem certo alarde por

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-colheita. O programa Celeiros de ComunidadesCampesinas, em Madagascar, auxiliou 27.000pequenos produtores rurais a armazenar 80.000toneladas de arroz, aumentando a produçãoem 50%. Em Benin, uma das experiências foi oarmazenamento de feijão em recipientesfechados hermeticamente, causando assim aasfixia das larvas de insetos, e outra foi aarmazenagem de inhame em casas sobrepalafitas, como forma de ajudar no controle deumidade.28

A área rural da Nigéria sofria grandes perdasde mandioca com os métodos tradicionais decolheita (14%), manuseio (9%) e processamento(23%). Entretanto, nos anos 1990, o InstitutoInternacional de Agricultura Tropical investiuem centros de processamento localizados nasaldeias, e, com esta medida, as perdas porprocessamento caíram pela metade e as horas detrabalho diminuíram 70%. Na esteira da crisede alimentos de 2008, o governo das Filipinas,um dos países mais afetados pelo aumento nopreço do arroz, anunciou investimentos degrande vulto em máquinas de secagem de arrozpara combater perdas de 25% a 50% (do valor,já considerando as perdas de quantidade equalidade) sofridas pelos rizicultores doSudoeste Asiático.

No Timor Leste, as Nações Unidas financiaramos serralheiros locais para a construção decentenas de pequenos silos e ofereceramtreinamento aos agricultores e às famílias como intuito salvar alimentos que já estavam sendoproduzidos.29

Em meados dos anos 1980, a ONU apoiou9% dos agricultores de áreas não irrigadas noPaquistão a investirem em recipientes de metalpara armazenamento de grãos, com a finalidadede substituir sacos de juta e construções debarro. Esse procedimento reduziu as perdascom armazenamento em 70%. Projetossimultâneos para a eliminação de infestações deratos incrementaram a produtividade em 10% a20%. Entretanto, a grande maioria dosagricultores continua a usar métodos de

produtores do que sistemas de pasteurização erefrigeração. Atualmente, alguns trabalhos naÁfrica do Sul têm se concentrado em métodosde comercialização dessa bebida original.26

A biotecnologia talvez tenha dominado deforma desproporcional os gastos recentes naagricultura, por vezes, em detrimento de inves-timentos em instalações básicas de armazena-mento pós-colheita com eficiência comprovada.Contudo, ela poderia ter um papel importantena conservação dos alimentos. Uma parceriapara transferência de tecnologia entre o CentroInternacional da Batata e especialistas belgas daBayer Crop Science busca corrigir o fato de quequase todas as culturas geneticamente modificadasdisponíveis para o comércio, até o momento,foram direcionadas para a agricultura de grandeporte e não para lavouras de subsistência dosagricultores mais pobres do mundo. Na ÁfricaCentral e Oriental, a produtividade média dabatata-doce chega a meras 4,17 toneladas porhectare, muito abaixo do potencial de 50toneladas. Os esforços dessa parceria para criaruma estirpe de batata-doce modificada geneti-camente capaz de tolerar carunchos e doençasvirais, responsáveis por cerca de 50% a 100%das perdas de cultura dos agricultores pobresda região, poderiam ser um avanço inestimávelpara esses agricultores e contribuiriam parasegurança alimentar de milhões de pessoas.27

Ajuda para os Produtores RuraisAlimentarem o Mundo

Algumas tentativas para resolver os problemasenfrentados por agricultores dos países emdesenvolvimento não foram bem-sucedidas,mas as iniciativas bem engendradas e bemexecutadas conseguiram transformar associedades rurais. As agências de microcréditodo Grameen Bank, por exemplo, ajudaram oscamponeses a investir em empresas rurais, eempréstimos semelhantes, com juros baixos,têm priorizado a construção de tipos deinfraestrutura que reduzem as perdas pós-

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ESTADO DO MUNDO 2011Perdas Pós-Colheita: Uma Área Negligenciada

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ração animal, a perda ocorre antesmesmo de ele sair do campo. Asoma das perdas e do desperdícioresultantes do processamento,distribuição e manuseio familiartotaliza um decréscimo de 2.600quilocalorias, e, portanto, restamapenas 2.000 quilocalorias porpessoa para consumo. Se houvernecessidade de se colocar maisgrãos no mercado mundial, seriasensato começar a busca nos furosdos grãos estragados nos países emdesenvolvimento. Investimentosem tecnologias agrícolas para aprevenção de perdas acidentaisbeneficiariam os países em desen-volvimento e proporcionariamextravagância aos países industria-lizados. Essas medidas distintaspara tratar de dois tipos muitodiferentes de desperdício poderiam

contribuir para melhorar a vida dos pobres 31

Por fim, é mais sustentável aumentar adisponibilidade de alimento reduzindo odesperdício do que cortando matas virgens paraque se obtenha maior área de terra cultivável –ainda o principal método empregado paraexpandir a produção mundial de gênerosalimentícios. A ajuda para que mais alimentoscheguem às mesas sem a derrubada de nenhumaárvore está nas mãos das agências internacionaisde assistência, governos, doadores individuais,empresas de gêneros de alimentos e tambémna dos consumidores de países ricos e de paísesem desenvolvimento.

qualidade inferior, ficando ainda ameaçados pormariposas, roedores e mofo.30

Por mais terrível que pareça, de certa forma,é até encorajador que milhões de toneladas dealimentos sejam ainda desperdiçadas, semnecessidade, devido à indiferença dos ricos e àsperdas acidentais pós-colheitas nos países emdesenvolvimento. Isso significa que umaquantidade muito maior de alimento poderiaestar à disposição, de forma relativamentesimples. Conforme ilustrado pela Figura 9–1,após a colheita, o alimento perde um total de1.800 quilocalorias no percurso desde asfazendas até as mesas, e quando usado como

Fonte: Smil

Total de alimento comestível no momento da colheita = 4.600 kcal per capita, por dia

Perdas pós-colheita,

-600 kcal

Ração animal, -1.700 kcal

Perdas edesperdício no

processamento,na distribuição

e no usodoméstico, -800 kcal

Disponibilidadelíquida paraconsumo

+2,000 kcal

Carne elaticínios, +500 kcal

PROPRIEDADEAGRÍCOLA

MESA

PORTEIRA DA PROPRIEDADE AGRÍCOLA

Figura 9–1. Perdas Estimadas, Conversões e Desperdício naCadeia de Alimentos Mundial

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Fora dos limites de Banjul, capital deGâmbia, um grupo de mulheres oferece ostrasao longo da estrada, por 15 dalasis a xícara,perto de 55 centavos de dólar por algo como 75pedaços de carne de ostra. As mulheres dessaregião catam ostras no grande manguezal aliperto há décadas. A maior parte da coletaacontece no Parque Nacional Tanbi, uma áreaalagada de importância nacional.1

Embora os manguezais continuemsaudáveis, as catadoras de ostras foram asprimeiras a testemunhar os efeitos causadospor maior pressão sobre a população deostras, e, atualmente, as ostras estão menorese mais difíceis de encontrar do que há dezanos. Mesmo com o aumento do trabalhodecorrente dessa situação, hoje em dia, hámais mulheres fazendo a coleta. Elasdependem das ostras para o sustento próprioe contribuem para a segurança alimentar deum país fortemente dependente da proteínaproveniente de frutos do mar.

Em 2007, um grupo de catadoras de ostrasorganizou-se em uma associação deprodutores chamada Associação TRY deMulheres Catadoras de Ostras. O número deassociadas cresceu rapidamente: de 14mulheres em uma aldeia, para 500 catadorasde 15 comunidades na Grande Banjulatualmente. Esse crescimento não foi nadadesprezível. Apesar de as mulheres seremtodas Jola, um grupo étnico minoritário, elastêm origens diferentes e línguas e herançasdistintas. Por meio da TRY elas conseguiramdeixar de lado essas diferenças, tomardecisões consensuais e estabelecer prioridadescoletivamente.2

No outono de 2009, a TRY associou-se aoBa Nafaa, o Projeto de Pesca Sustentávelfinanciado pela Agência Norte-Americana parao Desenvolvimento Internacional. Desdeentão, o Ba Nafaa tem auxiliado a TRY aexpandir o escopo de sua missão e trabalhadono sentido de criar um plano sustentável decogestão para a pesca da ostra, respeitando asnecessidades de catadores, consumidores emeio ambiente.3

Através do trabalho cooperativo com o BaNafaa, as mulheres aderiram a práticas difíceisno curto prazo, mas com benefícios emhorizonte de tempo mais longo. A coleta deostras ocorre, quase sempre, na estação seca eé interrompida nos meses úmidos, de julho adezembro. Em 2010, as associadas da TRYconcordaram em prolongar a estação fechadapara pesca até março. Quando a coletarecomeçou, as mulheres perceberam osbenefícios de imediato – as ostras estavamsignificativamente maiores. Além disso, cadacomunidade concordou em fechar um afluenteem seu território por um ano inteiro, paraestimular a regeneração da população deostras no local.4

As mulheres também estão adotandomedidas para assegurar que o Tanbipermaneça um ecossistema saudável. Elas aprenderam, por exemplo, que cortarraízes com facão para liberar as ostrasgrudadas danifica a capacidade doecossistema de sustentar os viveiros de ostrase peixes. Essas lições estão sendo passadasadiante para outras pessoas em Gâmbia, por meio de pequenas peças teatrais quedemonstram as técnicas de coleta. Além disso,

Transformar a Pesca do Dia em Melhores Condições de Vida

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beira da estrada ou de mercados temporáriosna Grande Banjul. Com o tempo, as catadoraspoderiam desenvolver um mercado deexportação para os Estados Unidos ou aEuropa, com a possibilidade de determinarpreços altos o suficiente para seu sustento.Enquanto isso, as catadoras de ostras aindapodem ser vistas vendendo o produto à beirada estrada, próximo a Banjul – e trabalhandojuntas para melhorar sua situação.

– Christi Zaleski Projeto de Pesca Sustentável de

Gâmbia–Senegal

as catadoras ajudam o Departamento deAdministração de Parques e Vida Selvagem avigiar os manguezais, denunciando cortesilegais de lenha.5

Uma das primeiras conquistas da TRY foiconseguir aumento no preço das ostras, de 10 para 15 dalasis por xícara, e um de seusgrandes objetivos é obter elevação exponencialnos preços, abrindo novos espaços de vendanos estabelecimentos de luxo que atendemturistas. A existência de um comérciopermanente para as catadoras ajudaria muito.Hoje, elas dependem de clientes que param na

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DIRETO DO CAMPO: Transformar a Pesca do Dia em Melhores Condições de Vida ESTADO DO MUNDO 2011

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Alimentar as CidadesNancy Karanja e Mary Njenga

Quando Alice Wairimu chegou emNairóbi, Quênia, em 1987, ela se juntoua inúmeras outras pessoas que estavam

migrando para as cidades – um fluxo migratórioque, ao longo dos últimos 50 anos, fez comque a África subsaariana ficasse praticamenteirreconhecível. Essa não é uma história isolada.Alice se instalou em Kawangware, um dos assen-tamentos de renda média e baixa da cidade, ecomeçou a vender frangos. Mais tarde, casou--se com Michael Macharia, morador da favelade Kibera. Michael comprou cinco vacas parasua esposa, que ela cuidou até que, duranteuma turbulência política em 2007, uma foiroubada e eles foram forçados a vender as outrasquatro para pagar despesas hospitalares. O casal

também tentou a agricultura irrigada com águasresiduais em um pedaço de terra pertencente auma instituição governamental, que retomoua posse da terra em 2010. Com suas parcaseconomias, eles arrendaram um lote na mesmaárea e continuam a de dedicar à agriculturaurbana.1

Para Alice Wairimu, Michael Macharia emilhões de outras pessoas, a agricultura urbanatornou-se uma tábua de salvação numa épocade convulsão social e profundas mudanças. Ocrescimento espetacular de Nairóbi e osurgimento de outras extensas cidades – o índiceanual de crescimento urbano na região gira emtorno de 5% – estão impondo novos desafiosaos seus habitantes, bem como aos governos, às

Vendedores de frutas em um mercado de Antananarivo, Madagascar

Mar

co S

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Nancy Karanja e Mary Njenga são pesquisadoras da Uban Harvest, sediada em Nairóbi, Quênia.

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organizações não governamentais (ONGs) e aomundo em geral. A segurança alimentar, umeterno problema, de muitas maneiras éamplificada pelo crescimento dessas cidades.2

Nas cidades de países em desenvolvimento, ocontraste entre ricos e pobres é bastanteacentuado e visualmente chocante. Grandesresidências rodeadas por jardins paisagísticos ecom acesso a infraestrutura e outros serviços quegarantem conforto e segurança são literalmentevizinhas de favelas. Os moradores dessascomunidades carentes, como Kibera em Nairóbie Jamestown em Gana, lutam por moradiaadequada e serviços básicos, como água esaneamento. Eles estão expostos ao crime e àinsegurança alimentar, e a pobreza e a desnutriçãoandam de mãos dadas. Oitenta por cento da rendadas famílias pobres que vivem em centros urbanosé usada na compra de alimentos; os pobres quevivem nas cidades passam mais fome e estão emmuito mais desvantagem do que os que vivemem áreas rurais, pois eles têm de comprar a maiorparte dos alimentos que consomem. E milhões demoradores de favelas vivem sob a ameaçaconstante de despejo, pois eles não detêm a posseda terra; tecnicamente, a maior parte é deposseiros, que constroem moradias, montamnegócios e cultivam lavouras em terras ociosasdo governo. Grande parte dessa terra éconsiderada inabitável ou problemática, porqueestá situada em regiões pantanosas ou encostas.3

Esses são desafios imensos. No entanto, essesdesafios estimularam algumas soluções inovadorase promissoras, como o ressurgimento do cultivode alimentos para consumo e venda no ambienteurbano. Em toda a África subsaariana e em todoo mundo em desenvolvimento, as comunidadesestão criando sistemas agrícolas urbanos adaptadosao local para tratar de questões vitais de nutrição,igualdade entre os sexos, renda e segurançaalimentar. (ver Tabela 10–1).4

Em muitas dessas cidades, a agriculturaurbana tem uma longa história, ainda que inter-rompida, de aumento da segurança alimentar eredução da fome entre as populações

vulneráveis. Pesquisas realizadas no final dosanos 1990 em 24 cidades, principalmente naÁfrica e na Ásia, revelaram que as pessoas quecultivavam parte dos alimentos que consumiamrepresentavam de uma importante minoria auma grande maioria das famílias. As pesquisasmostraram também que os membros de famíliaspobres que praticavam agricultura urbana faziammais refeições e tinham uma dieta maisbalanceada do que as outras pessoas. Dados deKampala, em Uganda, da década de 1990,indicam que as crianças de famílias agricultoraseram mais bem nutridas do que aquelas quenão pertenciam a famílias agricultoras.5

As pessoas que cultivam os próprios alimentoseconomizam o dinheiro que usariam paracomprar mantimentos. E, além disso, ganhamuma importante fonte de trabalho e renda, quepode ser gasta com mensalidades escolares,roupas e necessidades domésticas. Uma pesquisarealizada em Lome, Togo, por exemplo,mostrou que os horticultores ganhavam oequivalente a dez salários mínimo por mês.6

A agricultura urbana produz alimentos novalor de dezenas de milhões de dólares por anoe é bastante substancial. No que diz respeito àcriação de animais, por exemplo, em 2004 foramcriados 250.000 frangos e 45.000 carneiros ecabras em Nairóbi, e foram produzidos 42milhões de litros de leite de vaca. No final dadécada de 1990, a produção anual de leite devaca em Dar es Salaam, Tanzânia, foi estimadaem mais de 10 milhões de dólares. Na capital doZimbábue, Harare, a agricultura urbana foiavaliada em 25 milhões de dólares em 2003 ecobriu mais de 9.000 hectares de terra. Calcula--se que, em 2004, havia de 50.000 a 168.000cabeças de gado na área urbana de Kampala, dasquais 73% eram vacas leiteiras de alta produção.7

As cidades estão se tornando centros de inter-venções de desenvolvimento e estratégias deplanejamento destinados a combater a fome, apobreza e a desigualdade para promover asustentabilidade. A agricultura urbana na Áfricasubsaariana é uma parte importantíssima desse

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Tabela 10-1. Inovações que Nutrem as Cidades

movimento, pois oferece maneiras de atender àsnecessidades prementes da região, comosegurança alimentar, geração de renda, fortale-cimento de comunidades, descarte de resíduos ea condição das mulheres.

Cultivo de Alimentos, Mais Segurança

A agricultura urbana já contribui substan-cialmente para a segurança alimentar de muitascidades, tanto como um importante componente

dos sistemas urbanos de alimentação em geralcomo uma maneira de grupos vulneráveisenfrentarem suas próprias inseguranças alimen-tares. (ver Figura 10-1) Estima-se que 800milhões de pessoas em todo o mundo se dedicamà agricultura urbana, produzindo de 15% a 20%de todo o alimento. Desses agricultores urbanos,200 milhões produzem alimentos para vendernos mercados e empregam 150 milhões depessoas. Calcula-se que, até 2020, entre 35 e 40milhões de africanos que vivem nas cidadesdependerão da agricultura urbana para suprir suas

Inovação,Localização

Fazenda vertical,Urban HarvestNairóbi, Quênia

Horta em pneus,ECHO Farms e emtoda a Áfricasubsaariana

Horta no telhadoEagle StreetRooftop Farm emNova York

Horta emplataformas,ECHO Farms etoda a Áfricasubsaariana

Agricultura apoiada pelacomunidadeHarvest of Hope,África do Sul.

Descrição

Hortas cultivadas em sacos de terra perfurados. Em Kibera, Nairóbi, maisde 1.000 agricultores – em sua maioria mulheres – estão cultivando essashortas para alimentar a família e aumentar sua renda.

Pneus velhos cortados ao meio e convertidos em jardineiras leves e fáceisde transportar se transformam em pequenas hortas para os agricultoresurbanos que não dispõem de solo. Os agricultores usam a parede do pneucomo suporte e o enchem de terra para conferir estabilidade às raízes dasplantas. Orgânica ou comercial.

No Brooklyn, em Nova York, a Eagle Street Rooftop Farm cultiva frutas everduras frescas no telhado de um velho armazém e vende para os mercadose restaurantes locais. Voluntários aparecem nos fins de semana para ajudar acuidar da horta e aprender técnicas para formar suas próprias hortas urbanasem parapeitos de janelas, escadas de incêndio e telhados.

As hortas em plataformas ajudam os agricultores urbanos que têm acessoa espaços, mas não ao solo. Usando compostagem, lixo e outrosfertilizantes orgânicos ou químicos, os agricultores podem formar hortasem plataformas para manejar melhor a qualidade do solo, proteger oscultivos de inundação e evitar pragas.

A Harvest of Hope trabalha com mais de 50 comunidades e hortasinstitucionais fora da Cidade do Cabo, na África do Sul, para ajudá-las a setornar sustentáveis. Quando as hortas estão produzindo o suficiente paracriar um excedente, o excesso é vendido para a Harvest of Hope, queentrega os produtos em caixas nas escolas da cidade. O programapropicia uma fonte de renda para os agricultores periurbanos e produtosfrescos para alunos das escolas urbanas.

Fonte: Ver nota final 4.

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necessidades alimentares. Isso poderia fornecera algumas pessoas até 40% da ingestão diáriarecomendada de calorias e 30% das necessidadesproteicas.8

O cultivo de alimentos em cidades temalgumas vantagens em relação à agriculturarural, como proximidade dos mercados, baixocusto do transporte e redução de perdas pós--colheita, graças ao menor tempo entre ascolheitas. Em períodos de turbulência ou insta-bilidade, a agricultura urbana sempre mantémas pessoas alimentadas quando o fornecimentode alimentos do campo é interrompido. EmNairóbi, em 2008, por exemplo, a instabilidadeapós as eleições nacionais interrompeu omovimento de serviços e transporte demercadorias, inclusive de alimentos, para acidade. Mas as pessoas não passaram fome, poishavia suprimentos de hortaliças e outrosalimentos dentro dos limites da cidade e nasáreas adjacentes. “Durante a crise política de2008, as lavouras de hortaliças ao longo do valedo rio Ngo’ng e ao redor da barragem deNairóbi salvaram famílias da inanição”, disse

Mary Mutola, uma agricultora dafavela de Kibera que usa águasresiduais para irrigação. Essaexperiência chamou a atenção daCruz Vermelha Internacional, quedistribuiu sementes de hortaliçasaos agricultores de Kibera.9

As hortas verticais, embora sejauma antiga prática em Kibera, umadas maiores favelas do mundo,tornaram-se bastante popularesdurante a crise. Essas hortas sãofeitas de sacos de aniagem reci-clados ou sacos de cimento biode-gradáveis cheios de terra e estercoanimal. Hortaliças folhosas e ervas,como coentro e cebolinha-verde,são semeadas na parte de cima enas laterais dos sacos para otimizara produção em espaços restritos.ONGs como o grupo francês

Solidarites, bem como grupos de autoajuda,têm fornecido assistência técnica e suportematerial aos agricultores urbanos em Kibera.As mulheres ensinam umas às outras o queaprenderam, trocam informações sobre opor-tunidades de mercado e insumos, comomateriais de plantio, e fortalecem os laços sociaise a criação de comunidades. Embora ascondições de vida reflitam miséria, a esperançaaumentou juntamente com as hortaliçasproduzidas por essas mulheres que vivem nafavela. Atualmente, existem 10.000 hortasverticais em Kibera.10

Fortalecimento de Comunidades

A agricultura urbana reúne os moradoresda cidade e ajuda a promover interação social.Grupos de “autoajuda” formados por jovens,mulheres e pessoas vulneráveis, inclusive idosos,reúnem-se em decorrência do seu envolvimentocom agricultura urbana, o que lhes dá a opor-tunidade de se organizar e trocar informaçõese habilidades. Isso ajuda a aumentar o bem-

Figura 10-1. Famílias Urbanas que Participam de Atividades Agrícolas / Alguns Países

0

20

40

60

80

100Fonte: Zetta e Tasciotti

Gana

MédiaUm quinto mais pobre da população

Madagascar Maláui Nigéria

Porc

enta

gem

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alimentando as cidades e precisam de apoioinstitucional.12

“Estou muito feliz por ter conseguidocomprar uma área com a renda que obtive daagricultura urbana aqui em Nairóbi”, disse MaryMutola, agricultora em Kibera. Ela dissetambém que, com o dinheiro que ganhou coma venda de hortaliças, reformou a cozinha e asala de estar, e agora tem uma casa confortávele acolhedora para as visitas. Mutola auxilia notrabalho de pesquisas sobre agricultores urbanosem Kibera, o que a torna respeitada pelos outrosagricultores e, por sua vez, a ajuda a fazer comque eles participem de levantamentos de dadosdomiciliares, grupos de discussão e workshops.13

Outra agricultora urbana, Eunice Ambani,que pertence ao mesmo grupo de agricultorasde Mutola, sente-se bastante capacitada, poisconsegue fazer frente às despesas da família comalimentos, roupas e moradia. Ela ajuda criançascarentes em Kibera, uma atividade que lhe trazalegria e satisfação. Seus familiares comem oque ela acha que é bom para a saúde deles, e suaescolha não depende da quantidade de dinheiroque ela tem, como acontece com muitas outrasmulheres da sua comunidade. Jane Okaka éuma mãe solteira queniana portadora do vírusHIV. Ela foi apresentada à agricultura urbanapor intermédio do programa Colheita Urbana,e depois de dois anos disse o seguinte: “Euagora tomo medicamentos antirretrovirais, e ashortaliças fizeram com que eu ficasse cada diamais forte. Eu vendia as hortaliças excedentese, com o dinheiro, comprava alimentosrecomendados, como ovos e carne branca eoutros gêneros de primeira necessidade parameus filhos”.14

Melhorar o Meio Ambiente

Além de aumentar a segurança alimentar eelevar a posição das mulheres na sociedade, aagricultura urbana pode melhorar a qualidadeambiental de pelo menos duas maneiras. (Vertambém o Quadro 10–1).15

-estar individual, ao mesmo tempo em queoferece uma voz que, de outra forma, não seriaouvida. Esses grupos também abrem espaçopara que seus membros adquiram aptidõestécnicas e obtenham oportunidades de mercado.Por meio deles, os agricultores exercitam seusentimento de autodeterminação e dignidadediante das adversidades.

Outra maneira de formar comunidades nascidades são as hortas escolares e escolas deextensão rural. Os alunos adquirem conhe-cimento prático sobre como cultivar e colheralimentos e desenvolvem também outrosimportantes aspectos, como liderança, organi-zação e responsabilidade sociais. Como as escolasgeralmente têm acesso a terra, água e instalaçõesfísicas, elas têm sido usadas como agentes deextensão da agricultura urbana e de produção desementes. A Câmara de Vereadores de Kampala,por exemplo, abriu várias escolas de extensãorural para oferecer treinamento, bem como apoiotécnico e material, aos agricultores urbanos nascidades, e muitas escolas primárias têm hortaspara ensinar aos alunos noções de agriculturaurbana e nutrição. Existem outros exemplosespalhados por toda a África subsaariana, quetratam de questões como desenvolvimento decomunidades, impacto da AIDS e segurançaalimentar.11

Elevar a Condição das Mulheres

A maioria dos agricultores urbanos em todoo mundo é mulher. Elas são responsáveis porobter comida para suas famílias e, de modogeral, predominam na agricultura de subsistência.(Os homens desempenham um papel maiorna produção urbana de alimentos para finscomerciais). Ora esse objetivo é alcançado pormeio de hortas caseiras e hortas comunitáriasora pelas mulheres que cultivam hortas emáreas rurais e próximas à cidade. As mulheresfazem o melhor que podem para sustentarsuas famílias em circunstâncias bastantedifíceis, e é por isso que, na verdade, acabam

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Na África subsaariana, todos os anos sãoproduzidos milhões de toneladas de resíduosde todos os tipos, inclusive 730.000 toneladasem Nairóbi, 646.780 toneladas em Dar esSalaam, 313.900 toneladas em Kumasi e765.040 toneladas em Accra. Mais de 60% dosresíduos sólidos dessas cidades são materiaisbiodegradáveis que, se fossem recuperados,poderiam ser usados como ração para gado ouprodução de compostagem, gerando, assim,renda e emprego para os moradores pobres dascidades e poupando os agricultores de gastoscom fertilizantes artificiais.17

Em segundo lugar, a agricultura urbana naforma de sistema agroflorestal também podebeneficiar o meio ambiente local. As árvoresfornecem sombra para os animais e produzemfrutas e castanhas. Os produtos agroflorestaisincluem carvão vegetal, madeira e mudas, quepodem ser vendidos nos mercados locais. Asárvores também podem servir de proteçãocontra o vento (ajudando a reduzir a erosão e

Em primeiro lugar, a maioria das cidadesdos países em desenvolvimento tem de lidarcom poluição e eliminação de resíduos prove-nientes dos setores agrícola e industrial. Emmuitas cidades, os pobres são hábeis nareciclagem de lixo e na produção de compostoem escala limitada. No Quênia, um estudo sobreprodução urbana de alimentos, por exemplo,identificou o uso disseminado de insumosorgânicos pelos agricultores urbanos. Naverdade, em muitos países o reúso de águasresiduais na agricultura urbana é uma práticapopular com longa tradição. Na China, noEgito, na Índia, no Líbano, no México, noMarrocos, no Peru e no Vietnã, há muitasdécadas as águas residuais são uma fonte denutrientes para as lavouras. Nos países em desen-volvimento, pelo menos 2 milhões de hectaressão irrigados com esgotos não tratados ouparcialmente tratados, e pelo menos 10% domundo consome produtos irrigados com águasservidas.16

Quadro 10-1 . Ampliação dos Limites da Agricultura Urbana

Como um número crescente de pessoas quemoram em cidades no mundo todo estácultivando hortas urbanas para consumopróprio e, em alguns casos, como fonte derenda, importantes desafios precisam servencidos, como poluição do ar, do solo e daágua, que pode prejudicar a saúde daspessoas, e manejo inadequado de efluentesdomésticos, resíduos sólidos e dejetos deanimais em áreas urbanas. Em resposta a isso,o Centro Internacional de Pesquisas para oDesenvolvimento (IDRC) e seus parceiros têmapoiado o desenvolvimento de políticasbaseadas em comprovações e inovaçõestécnicas em vários países, como Jordânia eUganda.

A Jordânia é um dos dez países com maiorescassez de água do mundo. Três quartos da população vivem em cidades onde aquantidade de água mal dá para beber. Um censo realizado em Amã, em 2001,

revelou que 40% da população usava águacinza (água que foi usada no banho, notanque e na cozinha) para irrigar suashortas. Cerca de 50.000 famílias praticavamvárias formas de produção de alimentos,mas usavam predominantemente águapotável. Diversos projetos financiados peloIDRC e pela Rede Interislâmica para oDesenvolvimento e Gestão dos RecursosHídricos (Inter-iIslamic Network on WaterResources Development) exploraram novastecnologias para expandir o uso domésticoseguro e aceitável de água cinza paraagricultura, com o objetivo de restringir oemprego de água potável e ajudar a produzirmais alimentos para os pobres.

Os pesquisadores testaram diferentestecnologias de baixo custo e decidiram-sepor um sistema que utiliza quatro barrisplásticos com capacidade para 50 a 220litros. O sistema foi testado em algumas

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Quadro 10-1 . continuação

moradias da cidadezinha de Tafila. A economiainicial do uso da água foi de pelo menos 15%,e houve outras reduções de custos, pois asfossas sépticas podiam ser esvaziadas commenos frequência. As safras (de azeitonas eberinjelas, por exemplo) também aumentaram,o que significa que o custo das unidades podiaser recuperado rapidamente. Os benefíciossuperaram os custos em uma relação de cincopara um ao longo dos 10 anos de vida útil dasunidades. O sistema foi instalado em umamesquita da cidade para irrigar os jardins eárvores à sua volta; na escola feminina local, aágua residual dos bebedouros era coletada eusada para regar a plantação de oliveiras daescola. A água cinza das unidades detratamento atende ao padrão da OrganizaçãoMundial da Saúde para irrigação restrita, o quesignifica que é adequada para a irrigação deárvores e culturas que devem ser cozidas antesde ingeridas.

O ministro do Planejamento da Jordâniaficou tão impressionado com os resultadosque, em 2002, apoiou a construção de 689sistemas em 91 comunidades de todo o país.O ministro do Desenvolvimento Socialparticipou do projeto, oferecendo para apopulação pobre treinamento de váriashabilidades necessárias ao uso da tecnologia.Muitos dos sedentos países vizinhos daJordânia manifestaram interesse, e existemprojetos de reutilização de águas cinzas emandamento no Líbano, na Síria, na Cisjordâniae na Faixa de Gaza.

Um novo financiamento do IDRC, em 2004,ajudou a expandir e aprimorar o projeto, bemcomo a levar a tecnologia para a cidade deKarak, Jordânia. Mais de 110 famílias tiveramuma redução significativa na necessidade desuprimento extra de água nos meses de verão.Uma pesquisa de 2006 revelou que a maioriadessas famílias considerava seu sistema deáguas cinzas como um bem pessoal eincentivavam parentes e amigos a usar.

Em Kampala, Uganda, a criação de gadodentro do perímetro urbano é permitida por leidesde 2004, ano em que a Câmara deVereadores criou várias leis municipais para

legalizar as atividades agrícolas. Isso foiresultado de um longo e paciente trabalhoda Comissão de Coordenação de SegurançaAlimentar, Agricultura e Pecuária Urbanas deKampala (KUFSALCC), criada pororganizações não governamentais, pelaCâmara de Vereadores, Ministério daAgricultura, Pecuária e Pesca; UniversidadeMakerere; Organização Nacional dePesquisa Agrícola da Uganda (NARO) e pelo Grupo Consultivo de Pesquisa AgrícolaInternacional (CGIAR). Os membrosajudaram a instruir e convencer asautoridades municipais sobre a necessidadede modificar as normas agrícolas da cidade.Em sua maioria, os críticos concentraram-senos impactos negativos sobre a saúde, aomesmo tempo em que ignoraram osbenefícios à saúde.

A Comissão de Coordenação deSegurança Alimentar, Agricultura e PecuáriaUrbanas de Kampala (KUFSALCC) mostrouque era possível controlar o gado solto sembani-lo totalmente. A comissão tambéminvestigou os perigos para a saúde, inclusivezoonoses, os riscos causados por poluentes,as questões relacionadas com segurançaalimentar e nutrição e a irrigação dehortaliças com águas servidas. Em busca do apoio vital dos políticos, a vereadoraWinnie Makumbi liderou uma revisãopública das reformas agrícolas propostaspelas autoridades municipais em 1998. A KUFSALCC, então, convenceu a Câmarade Vereadores a permitir que as partesinteressadas participassem da elaboraçãodas novas leis.

Foram preparadas versões fáceis deentender das novas leis em idiomas locais. A comissão foi solicitada a fazer um teste--piloto das leis para avaliar as dificuldades na implantação das novas normas.

– Luc J. A. MougeotInternational Development

Research Center, CanadaFonte: Ver nota final 15.

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por toda a cidade para garantir um suprimentoregular de alimentos para si mesmas e para suasfamílias. As autoridades locais reconheceram ovalor dessa prática e começaram a disponibilizarterras públicas para cultivo. A prefeitura tambémforneceu ferramentas, sementes e outros itensessenciais aos agricultores urbanos.20

Reconhecendo “a dura realidade de quefome, insegurança alimentar e desnutrição sãoquestões prementes de saúde, até mesmo emuma cidade rica e vibrante como São Francisco”,na Califórnia, em julho de 2009 o prefeitoGavin Newsom pediu que todas as secretariasmunicipais realizassem uma auditoria das terrassob sua jurisdição para criar uma lista de terrasadequadas à lavoura. Essa medida fez parte daprimeira política alimentar implementada noâmbito de toda uma cidade e se baseou, emparte, nas recomendações da San FranciscoUrban-Rural Roundtable, um grupo de pessoasinteressadas, tanto da área rural como da áreaurbana, que se reuniram durante nove meses. Ogrupo também recomendou a criação de umamissão comercial com o objetivo de reuniragricultores da região com donos de restau-rantes e comerciantes locais do ramo alimentício.Além disso, sugeriu o uso de verbas assistenciaispara ajudar os residentes que usam vale--alimentação a comprar nas feiras-livres deprodutores locais.21

Esse movimento em direção a uma políticaurbana de alimentos pode ser observadotambém em outras regiões. Por exemplo, em2003, foi realizado um congresso de ministrospara tratar de agricultura urbana e periurbananas regiões leste e sul da África. Desse congressoresultou a Declaração de Harare sobre agriculturaurbana e periurbana, assinada por todas asnações participantes. Esse documento exigia apromoção de uma visão comum da agriculturaurbana e periurbana que levasse em consi-deração as necessidades e condições específicasda região.22

Kampala já pode se orgulhar de ter diretrizese uma secretaria municipal de agricultura urbanacriada para institucionalizar a prática. No

a estabilizar o solo), melhorar a qualidade do are da água, proporcionar locais de lazer ao arlivre, conservar a biodiversidade e oferecersombra para exposição de artigos manufaturadospara venda.

Os benefícios ambientais das florestas urbanasabrangem redução da poluição atmosférica edos efeitos nocivos das enchentes, o quecontribui sobremaneira para a sustentabilidadedos centros urbanos. Além disso, as árvores eoutras vegetações atuam como sumidouros dedióxido de carbono na atmosfera, contribuindo,assim, para a redução dos gases de efeito estufa.Pesquisadores, gestores de políticas públicas eplanejadores urbanos adotaram o manejo dasilvicultura urbana como uma importanteestratégia para melhorar o ambiente de vida ede trabalho urbanos. Na China, por exemplo,foram iniciados projetos de pesquisa eprogramas educacionais para planejar melhoras florestas urbanas.18

Políticas para a Agricultura Urbana

Até bem pouco tempo atrás, a maioria dascidades ignorava a agricultura urbana, dando-lhepouca atenção política ou, talvez, considerando-aapenas um uso temporário da terra. Atualmente,porém, a agricultura na cidade tem sido cada vezmais reconhecida por sua contribuição naredução da pobreza e da fome, como fonte deprodução local de alimentos e um componentede desenvolvimento urbano sustentável. Em2007, a Associação Americana de Planejamento(American Planning Association) adotou umapolítica que estimula seus membros a ajudarema desenvolver “sistemas de produção de alimentoslocais mais fortes, sustentáveis e mais indepen-dentes”.19

Na Argentina, os programas de apoio àagricultura urbana surgiram em resposta à criseeconômica de 2001. Com a economia emfrangalhos, a população de mais de 1 milhãode habitantes de Rosário teve de se adaptar parasobreviver, e muitas pessoas começaram acultivar lotes de terra disponíveis espalhados

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para a agricultura de subsistência, osgovernos locais precisam instituir um plane-jamento do uso da terra e garantir umacompensação adequada à perda de acesso àterra.24

Da mesma forma, as atividades queinteragem com sistemas agrícolas urbanos,como ciclagem de nutrientes envolvendofabricação de compostos e manuseio deesterco, precisam estar integradas àspolíticas urbanas. O desenvolvimento deuma estratégia integrada e bem orquestradarequer capital financeiro, humano e social.Assim, a agricultura urbana deve serincluída nos planejamentos de desen-volvimento urbano e uso da terra e serregulamentada pelos municípios.25

O principal desafio das cidades atualmenteé integrar as ideias de projetistas e planejadorescom as necessidades e desejos de agricultorese consumidores para desenvolver projetos queexplorem de maneira sustentável recursos poucousados, bem como catalisar modelos partici-pativos e voltados para os cidadãos para a criaçãode bairros sustentáveis.

As mulheres e os jovens também precisam termais voz nas decisões sobre agricultura urbana.É preciso envidar esforços para reconhecer asmulheres como protagonistas e beneficiárias inde-pendentes, sejam as lavouras para subsistência oupara comercialização. Os formuladores de políticaque querem apoiar a agricultura urbana devemreconhecer o real valor da contribuição femininae encarar o fato de que homens e mulheres têmnecessidades distintas, que as políticas e os projetospúblicos têm efeitos diferentes sobre homens emulheres e que o acesso aos recursos e o controledesses recursos são restringidos por configuraçõessocioculturais, econômicas e institucionais. Osprogramas precisam tentar eliminar essasdesigualdades. Dessa maneira, as cidades poderãocontribuir para a redução da fome e da pobreza,ao mesmo tempo em que conservam oecossistema urbano para as gerações vindouras.

Quênia, a National Land Policy de 2009 temum artigo sobre agricultura e silviculturaurbanas, e está sendo elaborado um programanacional de agricultura urbana.23

O Futuro da Agricultura nas Cidades

Em suma, a agricultura urbana chegou paraficar, e tudo indica que não vai apenas ajudar aalimentar os moradores das cidades, mas tambémservir como uma importante força propulsora decrescimento no setor agrícola. Mas é necessárioum maior reconhecimento político das práticasagrícolas urbanas para que elas se tornem maissustentáveis, produtivas e abrangentes.

A agricultura urbana precisa ser integrada aprocedimentos de planejamento de uso da terraurbana e contar com diretrizes para sua regula-mentação e solução de quaisquer possíveis riscos.As políticas nesse sentido devem ser voltadas pararedução da pobreza, desenvolvimento econômicolocal, gestão ambiental, integração de gruposdesfavorecidos e promoção de cidades orientadaspela democracia e governança participativa. Paraproteger os interesses dos agricultores urbanosde baixa renda que têm acesso informal à terra

Couve e espinafre em uma horta de Kibera, Quênia

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disponível para irrigação são córregos locaiscontaminados por esgoto doméstico.3

Colaborando com horticultores,comerciantes e vendedores ambulantes dealimentos, os pesquisadores desenvolveram etestaram 15 “boas práticas” para tornar osalimentos mais seguros – analisando suaeficácia no controle de micro-organismos, seuscustos e seu “potencial de adoção”. Se aspráticas que tornam os alimentos maisseguros forem mais caras ou mais trabalhosasdo que as atuais, será difícil persuadir osagricultores a adotá-las. Em sua maioria, osconsumidores não estão dispostos a pagarmais por lavouras mais seguras, mas quecustam mais caro para produzir, pois elesdesconhecem os riscos para a saúde daspráticas não seguras.4

Os pesquisadores usaram estudos depercepção e métodos de marketing social paraanalisar qual a melhor maneira de apresentarsuas recomendações e “vender” a necessidadede mudança. Os alunos pesquisadorestrabalharam durante várias semanas junto avendedores ambulantes de alimentos paraaprender as rotinas e limitações relacionadascom higiene e segurança dos alimentos. Eles documentaram fatores de percepção derisco e hábitos culturais e tentaram identificaras melhores oportunidades para intervenções. Ao mesmo tempo, pesquisadores eagricultores exploraram juntos as opções deobtenção de água e irrigação seguras. Essespesquisadores descobriram que a concessãode propriedade da terra era um forte incentivoà adoção de novas práticas – indicando quepolítica, prática e segurança alimentar estão

Estímulo à Irrigação Mais Segura com Águas Residuais na África Ocidental

Em Gana e nas áreas circunjacentes, águas decórregos poluídos costumam ser usadas parairrigar lavouras de hortaliças. O problema éque a água muitas vezes contém substânciasquímicas e biológicas prejudiciais à saúdehumana. Felizmente, há várias maneiras desuperar esse problema – até mesmo em partesda África subsaariana onde o tratamentoconvencional de águas residuais é bastanterestrito.1

O Instituto Internacional de Gestão da Água(International Water Management Institute)iniciou vários projetos para melhorar a saúdepública em Gana, trabalhando em parceriacom o Ministério de Agricultura e Alimentação,duas universidades federais e diversas partesinteressadas, inclusive agricultores. Essesprojetos concentram-se em intervenções “semtratamento” ou “pós-tratamento”, como apromoção de práticas mais seguras deirrigação e lavagem eficaz das hortaliças.2

Uma das principais ênfases da nova políticade extensão rural do ministério são maneirasinovadoras de tornar as tecnologias maisacessíveis aos agricultores. Para auxiliar esseprocesso, o projeto Troca de Conhecimentosem Pesquisas (Knowledge Sharing inResearch) do Grupo Consultivo de PesquisaAgrícola Internacional (Consultative Group onInternational Agricultural Research) buscoumaneiras de reunir pesquisadores eprofissionais da área de extensão rural, doisgrupos que não costumam recorrer um aooutro. O pessoal do projeto trabalhou em trêscidades com grandes espaços abertos urbanosusados para horticultura: Accra, Kumasi eTamale. Nessas cidades, a única fonte de água

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ou o grupo-alvo (como vendedoresambulantes de alimentos) é grande demaispara eventos locais, o rádio pode representarum canal de comunicação eficaz. O uso derádios em toda a África aumentoutremendamente ao longo da última década edemonstrou ser uma maneira eficaz de atingiros agricultores em seus próprios dialetos. Parao projeto Troca de Conhecimentos emPesquisas (Knowledge Sharing in Research), oprograma “Radio Justice”, de Tamale, foiescolhido por ser transmitido nos dialetosDagbani e Gonja e cobrir quase todo o nortede Gana, onde é mais difícil chegar aoshorticultores.8

Um programa de rádio sobre segurança dosalimentos era transmitido em duas sessõescom dois grupos diferentes, inclusivecontando com autoridades em extensão rural,agricultores, comerciantes, especialistasacadêmicos e vendedores ambulantes dealimentos. Os ouvintes podiam participar portelefone. Comprovou-se que o programa derádio era uma estratégia eficaz, pois além defornecer informações relevantes sobre ocontexto agroecológico e cultural local,também ajudava os pesquisadores a entendercomo os agricultores e comerciantes dealimentos discutiam seus problemas nacomunidade. Nas palavras de um comerciantede hortaliças de Tamale: “Quando eucomprava hortaliças de um agricultor, eucostumava lavá-las com água do riacho local.Mas parei de fazer isso depois de ouvir oprograma (de rádio). Eu também transmitiessas informações para alguns dos meuscolegas... e acho que... esses programas derádio podem desempenhar um importantepapel no ensino público para melhorar ascondições de saúde”.9

Para mostrar às autoridades como osagricultores e vendedores ambulantes estãolevando a sério as questões de saúde,representantes de outros grupos interessadosforam convidados para eventos itinerantes(“road-shows”). Os participantes eram levadosem um passeio de ônibus que iniciava em um

intimamente relacionadas.5

As práticas recomendadas foram resumidasem vídeos destinados a instrutores eprofissionais de extensão rural. Alguns vídeosforam produzidos com agricultores ecomerciantes de alimentos, que ajudaram nosroteiros e nas filmagens. Consequentemente,eles são mais realistas e transmitemmensagens alinhadas com as percepçõeslocais.6

Depois de identificar uma série de possíveisboas práticas, o pessoal do projeto organizou“World Cafés”— grupos de discussão em queas pessoas se sentem suficientemente àvontade para dar sua opinião em pequenosgrupos – para obter feedback sobre asdescobertas antes de finalizarem asrecomendações. Depois que os participantesdos grupos de discussão analisavam umconjunto de melhores práticas, elas eramtransformadas em materiais audiovisuais etestadas em estudos de percepção. Os estudosde percepção são essenciais para garantir queas mensagens sejam transmitidas de maneirasapropriadas a cada cultura. (Por exemplo, o símbolo que os pesquisadores usavam para uma lente de aumento, para “ver” micro-organismos que de outra maneiraseriam invisíveis, muitas vezes era identificadocomo uma frigideira e tinha de ser trocado).7

Antes de serem impressos, os materiaiseram testados com os agricultores. Asrespostas foram positivas, e um participantefez a seguinte observação: “Quando íamospegar água, costumávamos pisar dentro dotanque. Mas agora sabemos que levamosmicróbios causadores de doença para otanque. Por esse motivo, não pisamos maisdentro dele; em vez disso, ficamos em pésobre uma tábua para pegar água”.

Como são em número relativamentepequeno e moram próximos uns dos outros,os agricultores urbanos de Gana e de outraslocalidades podem ser facilmente alcançadospor meio de workshops de treinamento e deprofissionais de extensão rural. Porém, quandoos agricultores estão em locais mais afastados

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sítio que usava águas residuais, seguia para omercado e terminava em restaurantes de ruaque serviam refeições à base de verduras. Em cada parada, os participantes aprendiamsobre ameaças à saúde e métodos para reduziros riscos. Embora os eventos itinerantesexigissem planejamento cuidadoso efacilitação, o método acabou com a separaçãotradicional entre professores ativos eaprendizes passivos. Ao compartilhar seusconhecimentos de boas práticas, osparticipantes se tornaram instrutores,defensores e mediadores.10

O evento itinerante também oferecia umaplataforma comum de comunicação entrediferentes grupos: agricultores, vendedores de hortaliças e donos de bufês ou vendedoresambulantes de alimentos que, raramente, sereúnem com autoridades municipais paradiscutir questões relacionadas à suasubsistência. Como diz o Diretor

Metropolitano do Ministério de Agricultura eAlimentação: “Agora, todas as partesinteressadas viram a situação de perto eentendem qual é o papel que eles têm dedesempenhar, e compreenderam também quese trata de uma responsabilidade conjunta, enão de apenas um indivíduo ou de um grupode pessoas”.11

Esses exemplos mostram que, para que aspesquisas agrícolas realmente beneficiem ospaíses nos quais os vínculos entre pesquisas eextensão rural são fracos, a publicação deartigos científicos precisa estar acompanhadapor opções inovadoras e eficazes – como“world cafés”, programas de rádioparticipativos e eventos itinerantes. Essasopções podem facilitar a adoção de práticasapropriadas e, nesse caso, aumentar o usoprodutivo da água.

– Pay Drechsel International Water Management Institute

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Por incrível que pareça, estima-se que 2,6bilhões de pessoas do mundo emdesenvolvimento ainda não têm acesso aosserviços de saneamento básico. Isso acarretaum sério risco sanitário, sobretudo em áreasurbanas e favelas densamente povoadas, ondea água para beber contaminada pode propagardoenças rapidamente. Todos os anos, cerca de1,5 milhão de crianças morrem em decorrênciade diarreia causada por condições precárias desaneamento e higiene.1

Além disso, nessas cidades superpovoadas,a segurança alimentar é enfraquecida pela faltade solo limpo e rico em nutrientes, bem comode espaço disponível para plantação para asfamílias locais.

Mas existe uma solução barata para os doisproblemas. Uma inovação recente, chamada“Peepoo”, que nada mais é do que um sacodescartável que pode ser usado uma vez comovaso sanitário e depois enterrado. Cristais deureia presentes no saco matam os micro-organismos causadores de doenças edecompõem os dejetos em fertilizante,eliminando ao mesmo tempo o risco sanitárioe oferecendo uma vantagem para as hortasurbanas. Depois de testes bem-sucedidosrealizados no Quênia e na Índia, os sacoscomeçaram a ser produzidos em massa em2010 e vendidos por dois ou três centavos dedólar, o que os torna mais acessíveis àquelesque mais se beneficiarão deles.2

No Haiti pós-terremoto, onde muitospobres e desabrigados são forçados a viver emmontes de lixo e fazer as necessidades ondequer que possam ter privacidade, a SOIL/SOL– uma organização sem fins lucrativos queestá trabalhando no sentido de melhorar osolo e converter o lixo em recursos – uniu-se à

Oxfam para construir banheiros secos emambiente fechado para 25 famílias, bem comoquatro banheiros secos públicos. Faz parte doprojeto a criação de uma usina decompostagem para converter resíduos secosem fertilizantes e, dessa forma, obter um solorico em nutrientes que poderá ser usado nocultivo de hortaliças em telhados e quintais.3

No Maláui, o projeto de permacultura deStacia e Kristof Nordin usa um banheiro decompostagem para adubar as lavouras.Embora seja caro comprar e instalar essasunidades, uma empresa (Rigel Technology)fabrica um vaso sanitário que custa apenasUS$ 30 e separa os dejetos sólidos doslíquidos, convertendo-os em fertilizante. A Sulabh International, uma organizaçãoindiana sem fins lucrativos, também instalaunidades comunitárias que convertem ometano dos dejetos em biogás para ser usadona cozinha.4

Em uma escala maior, as áreas pantanosasna periferia de Calcutá, na Índia, processamcerca de 600 milhões de litros de esgoto quechegam da cidade todos os dias em 300 lagosde peixes. Essas áreas produzem 13.000toneladas de peixe por ano para o consumodos 12 milhões de habitantes da cidade. Alémdisso, servem como um centro de tratamentode resíduos ecologicamente correto, comjacintos, eflorescências de algas e peixes quedecompõem os resíduos, ao mesmo tempoem que fornecem um lugar para as avesmigratórias e uma importante fonte dealimento local para a população de Calcutá.5

Além dos custos e da instalação, osprincipais obstáculos ao uso de dejetoshumanos para adubar lavouras são culturais ecomportamentais. Em um estudo de caso na

Uma Resposta Agrícola ao Chamado da Natureza

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Gaurav Dwivedi, cobrador de impostos emagistrado do distrito de Bilaspur. “Temos demudar a maneira de pensar das pessoas, paraque elas sejam receptivas ao uso debanheiros”. 6

– Molly Theobald Worldwatch Institute

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Internet, a UNICEF afirma que um programagovernamental indiano forneceu latrinas a 33 famílias da vila de Bahtarai, que foramconstruídas perto de suas casas. Mas amaioria dos moradores da vila ainda preferiafazer suas necessidades nos campos, poisestavam acostumados a fazer isso a vida toda.“Não basta construir os banheiros”, disse

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Utilização do Conhecimento e das Aptidões das Agricultoras

Dianne Forte, Royce Gloria Androa e Marie-Ange Binagwaho

“Éum problema de invisibilidade,ninguém se dá conta de que estamosali”. Com essas palavras, Imodale

Caulker-Burnett, residente nos EUA, mas quetodo ano retorna a seu povoado de origem emSerra Leoa por três meses, resume os desafiosenfrentados pelas comunidades rurais na Áfricae, em especial, por agricultoras. Imodale acreditaque as mulheres que deixam o local origináriodevem se tornar embaixadoras das que alipermanecem e, por isso, quando ela voltou para

Mambo, sua aldeia natal, fundou a Lesana, umaorganização para o desenvolvimento comuni-tário. Sua tarefa é tornar essas mulheres visíveisaos olhos dos governantes. Para elas, visibilidadeé tão importante quanto insumos para aprodução e mercados, porque elas são asprodutoras primárias de alimento para a famíliae estão, portanto, empenhadas em evoluir deum patamar de subsistência para outro quecontribua de forma efetiva com o fim da fomeno continente.1

Agricultoras de uma cooperativa em Gana processam frutos de dendezeiro para extração do azeite

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Dianne Forte é consultora em gestão, estabelecida em Washington, e conta com 22 anos de experiênciaem gestão de programas na África. Royce Gloria Androa é sócia sênior da Reach Your Destiny ConsultLtd. em Uganda, com 26 anos de experiência em serviços de extensão rural naquele país. Marie-AngeBinagwaho é proprietária da Zawadi Enterprises, Inc.

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O percentual de mulheres agricultoras naÁfrica chega a 75%. No entanto, mesmo sendoas guardiãs do alimento e da segurançanutricional, elas estão representadas de formadesproporcional entre os 51% de africanos quevivem em pobreza absoluta – pessoas quesobrevivem com menos de US$ 1,25 por dia.Embora uma resolução da ONU de 2000 esta-belecesse uma meta de cortar a fome globalpela metade até 2015, em 2009, a escassezcrônica de alimentos havia aumentado na África,exatamente a região onde a fome é prevalente.Está claro que essa meta não será alcançada semuma revolução na maneira como os decisoresenxergam as mulheres, e uma nova visãoprecisaria reconhecer o papel delas comoprodutoras agrícolas e também como um elocom os mercados. Apesar desse contexto, certasestratégias de enorme êxito têm conseguidotirar algumas mulheres da pobreza absoluta etransformá-las em agentes de sucesso nomercado global, em alguns casos, no decorrerde apenas seis anos.2

Essas estratégias inovadoras têm muito emcomum, e alguns dos aspectos levados em contasão, por exemplo, o modo como as mulheresobtêm e se relacionam com informações, créditoe tecnologia e as formas para aumentar a parti-cipação feminina na vida econômica formal.Esses projetos tratam das necessidades dasagricultoras pobres em três níveis: comopequenas proprietárias tendo por meta omercado, como agricultoras de subsistência ecomo trabalhadoras da lavoura, e, em cada umdestes níveis, o direito à propriedade, aosserviços sociais, a seguro e a outras formas deproteção social está sempre contemplado. Alémdisso, este tipo de enfoque se apoia no conhe-cimento e nas habilidades das agricultoras parapromover benefícios paralelos: incorporarmudanças na tecnologia da informação e nascomunicações; fomentar canais de ligação novose criativos dentro dos próprios mercados e entreeles; criar programas de crédito voltados àsmulheres; oferecer serviços de extensão rural e

estimular a troca de informações através decanais de mídia diversos. O resultado é oaumento da segurança alimentar e nutricionale o ingresso nos mercados em condições justas.3

Mulheres em Busca do Mercado Global

A manteiga de karité, conhecida como o ourodas mulheres ou simplesmente karite (quesignifica vida, no idioma dioula), proporcionoua Mawoubé, de Sokode, Togo, uma bicicleta erealizou seu sonho de ser médica. Mais do queisso, o produto também garantiu que asmulheres do povoado de Mawoubé tivessemacesso a água, serviços de saúde e educação paraos filhos. A produção e comercialização damanteiga de karité abriu uma janela por ondealgumas das mulheres mais pobres do planetachegaram ao mercado global.4

O karité cresce apenas em um lugar domundo, numa faixa de 500 km do Sahel, regiãoque abrange 19 países, aí inclusos Burkina Fasso,Mali, Senegal, Togo e Uganda. Assim como osdiamantes, sua ocorrência é espontânea e, talcomo os diamantes, é muito procurado porconsumidores ocidentais em busca de produtosde luxo. Mas, ao contrário dos diamantes, okarité é gerenciado por mulheres e é utilizadoe valorizado por aqueles que controlam suacolheita e processamento. As nozes de karitépossuem quatro vezes mais vitamina C porunidade de peso do que a laranja e têmaplicações tradicionais, tais como combustívelpara lamparina, óleo de cozinha, repelente demosquito, sabão, lenitivo para doenças ebálsamo para os defuntos. A árvore do karité étão preciosa, que raramente é cortada paraextração de lenha.5

A chave para a realização do sonho deMawoubé foi a conexão entre o cultivo da nozde karité e um segmento específico dosmercados mundiais voltado a produtos de belezae práticas justas e orgânicas (“éticas”). Talconexão foi possível graças a pessoas engajadas

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que forneceram recursos e deram visibilidadeàs comunidades. Uma história de sucesso comoesta depende de um modelo de negócios queencurte a distância entre o agricultor e oconsumidor final.

A cadeia de valor começa com cooperativaslocais de mulheres na África. Essas cooperativaspossibilitam que as produtoras coloquem emprática uma economia melhor e de escala e quese conectem com organizações não governa-mentais (ONGs) estrangeiras, governos eagências da ONU. No caso acima, a atuaçãoconjunta levou à criação de uma rede paradivulgar informações ao mercado, propiciaracesso a melhores tecnologias e dar o apoionecessário em relação a mudanças de políticas(por exemplo, assegurar a propriedade da terraàs mulheres). Na outra ponta da cadeia de valorestão organizações comprometidas com ocomércio justo e empresas socialmente respon-sáveis, que pagam o preço equitativo pelamanteiga de karité e investem nas comunidadeslocais. Muitas vezes crucial para este “círculovirtuoso” é a presença de africanos comoImodale Caulker-Burnett e Olowo–n’djoTchala. Eles emigraram, mas como aindamantêm vínculos com o vilarejo, conseguemdar visibilidade às práticas da aldeia e funcionamcomo elo com os produtores locais. (VerQuadro 11-1)6

A L’Occitane, Body Shop, Origins e L’Oreal,por exemplo, compram a manteiga de karitédiretamente das organizações de produtorascomo a Associação Songtaab-Yalgre, de BurkinaFasso, e a Ideal Woman Shea Butter Producersand Pickers, de Gana. A L’Occitane, especifi-camente, investe em grupos de mulheres, facilitaa certificação de ética e comércio justo e criacondições para que as produtoras possamcompetir no mercado internacional.

O início de relacionamentos como estepode ser visto no exemplo a seguir. Em 1998,Fatou Ouedraogo, mulher pobre da área ruralde Burkinabe, organizou apanhadoras denozes de karité em uma associação denominada

Songtaab-Yalgre. O UNIFEM, fundo daONU para financiamento de mulheres, e oministro do Desenvolvimento das Mulheresde Burkina Fasso empreenderam uma iniciativaconjunta visando conectar a associação àL’Occitane e a uma rede de outras organi-zações internacionais. O objetivo era oferecertreinamento e tecnologia, garantir padro-nização e estabelecer preços justos. Comoresultado, houve um acréscimo de US$ 7milhões à renda de Burkina Fasso em 2001, ea manteiga de karité passou a ser a terceiramaior fonte nacional de receita, superadaapenas pelo algodão e pela pecuária. Em 2004,a Associação Songtaab-Yalgre já era umacoligação de mais de 150 associações, com3.100 membros. Seis anos depois, mulheresanteriormente analfabetas, isoladas e invisíveisestavam usando computador para redigirboletins periódicos.7

Em um país como Burkina Fasso, onde asmulheres perdem o direito às próprias terrascom a morte do marido, 92% delas sãoanalfabetas e mais de 85% das moradoras daszonas rurais vivem da agricultura de subsistência,passar de US$ 1 para US$ 4 por dia é um fatomarcante. Atingir esse patamar em um períodode seis anos é uma conquista significativa quereflete a eficácia de condições justas de comércioe de vínculos com uma fonte de “capital social”que possibilita trazer visibilidade e proporcionarremessas de grande valor.8

A produção da manteiga de karité coincidiucom uma demanda crescente dos mercados desaúde, beleza e artesanato em países ricos porprodutos orgânicos e artesanais, trazendo opor-tunidades inéditas para camponesas sem terra.Contudo, vale ressaltar que o mercado decomércio justo adquire apenas cerca de 10% dokarité produzido. Os principais compradoressão um pequeno número de fábricas dechocolate que vêm continuamente substituindoa manteiga de cacau por óleo de karité. O típicopequeno produtor de karité cujo cultivo atendeao mercado de chocolate não recebe nenhuma

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participação relativa ao valor agregado mais àfrente na cadeia de produção e nem aos lucrosda comercialização do produto.9

Quando as mulheres passam a competir nosmercados tradicionais, enfrentam uma sériede barreiras, dentre elas, enormes obstáculosestruturais impostos pelos padrões mundiais edificuldade de obtenção de crédito einformações. Na tentativa de conseguiremmais de US$ 1 por dia, confrontam-se tambémcom os interesses das grandes empresas, quebuscam a mão de obra mais barata possível.Como observam Marilyn Carr e Martha Chenno International Labour Review: “Os mesmosfatores que levaram à 'inclusão' das mulheresna economia global agora as aprisionam e

limitam sua mobilidade apenas no sentidodescendente”.10

Embora as políticas de liberalização agrícolaadotadas por alguns governos africanos nos anos1990 tenham conferido aos cidadãos maispoder, informação, acesso a terra, a ativosfinanceiros e a mercados, o ingresso dasmulheres nos mercados internacionais continuaprecário, com as raras exceções em que órgãosassistenciais desempenham um papel ativo nessesentido. O economista Jeffrey Sachs salientaque a “extrema pobreza é quase sempresinônimo de isolamento extremo, em especialisolamento rural”. São necessários mecanismosque forneçam às mulheres informação emsentido amplo.11

Quadro 11–1. Investimentos de Capital Social: Uma Inovação para Acabar com a Pobreza

Mawoubé é um fenômeno raro em Togo: amais velha de oito irmãos, ela tem 14 anos eestá cursando a série correta para a sua idade.Mawoubé mora a 5 km do colégio e, parachegar lá, vai de bicicleta. Ela foi uma dasprimeiras ganhadoras de uma das 3.000bicicletas fornecidas pela Alaffia, filial daAssociação Agbanga nos EUA. A gravidezprecoce era frequente nos vilarejos próximos aSokodé, aldeia natal de Mawoubé, pois asmeninas muitas vezes tinham que trocar sexopor uma carona para a escola. Porém, nãohouve nenhum caso de gravidez entre as 3.000garotas que receberam bicicleta.

O projeto das bicicletas é um dosinvestimentos da Alaffia voltados àcomunidade. Rose Hyde, desenvolvedora deprodutos para a Alaffia, insiste que a empresanão é uma varejista de produtos de belezaéticos, e sim um conceito de capital social. Asmais de 100 sócias-proprietárias dessaempresa togolesa, todas da zona rural, estãosatisfeitas, saudáveis e, agora, têm poder dedecisão. A Alaffia foi fundada por Olowo-n’djoTchala, inspirada pela condição da mãe, cujoganho por 30 horas de trabalho era de US$ 1, ovalor correspondente a 4 kg de nozes de karité,

que rendem em torno de 1 kg de manteiga.Depois de se formar na Universidade da

Califórnia em Davis, Tchala passou aassessorar as mulheres de Sokodé nacriação da Cooperativa Feminina deComércio Justo da Manteiga de Karité deAbganga. As mulheres que trabalham nacooperativa ganham US$ 4 por diaproduzindo a manteiga de karité, e osprodutos são comercializados pela AlaffiaSustainable Skincare. A Alaffia dos EUAelabora as fórmulas para transformar amanteiga de karité de Abganga em produtosfinais vendidos diretamente a pontos devenda como o Whole Foods. A empresapaga todos os custos indiretos da produçãoem Togo, como impostos, transporte, frete etaxas alfandegárias, e depois devolve para acomunidade, no mínimo, 10% da receita dasvendas, a ser usada em projetos decapacitação. Desde 2003, a Alaffia dos EUAjá restituiu US$ 1,25 milhão para aplicaçãoem iniciativas de desenvolvimentocomunitário, como o projeto bicicletas paraa educação.

Fonte: Ver nota final 6.

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árvores autóctones, melhores mudas de árvoresfrutíferas e árvores de crescimento rápido parauso como lenha e estaca. A criação e venda degado eram atividades importantes para o for-talecimento da independência dessas agricultorase para o aumento de sua renda.14

As mulheres dessas comunidades tambémdisseram precisar de melhores tecnologias pós--colheita, incluindo moinho para cereais comomandioca, sorgo e painço, e prensas simples paraextração do óleo de girassol e de gergelim.Algumas solicitaram infraestrutura de armaze-namento, como, por exemplo, “bancos de grãos”,para uso em períodos de escassez. Os bancos decereais proporcionam boa renda e garantemsegurança alimentar à família, mas se não houvertreinamento adequado em processos de manuseiopós-colheita para controlar o teor de umidade,pragas comuns na armazenagem e doenças, osprodutos hortifrútis estocados poderão sedeteriorar por completo.15

As mulheres enfatizaram a necessidade decapital inicial para os negócios e a dificuldade emobtê-lo. Mas em Uganda, Susan Ocokoru eJanet Asege, profissionais de serviços deextensão rural, conseguiram que a comunidadegerasse receita através de poupança e programascomunitários. As associações comunitáriaspodem ser uma ferramenta muito influente, eas próprias profissionais de extensão rural achammais fácil e rentável dar apoio e treinamento aagricultoras organizadas em grupos cominteresses comuns, como, por exemplo,produtoras de hortaliças, processadoras demandioca, ou grupos de comerciantes dehortifrútis. As profissionais de extensão ruralfuncionam como uma ponte entre o conhe-cimento nativo das camponesas e as novastecnologias e recursos. Alguns grupos femininosem Uganda, por exemplo, aprenderam sobre atecnologia coolbot, um método que empregaenergia solar e um inversor térmico para reduzirtemperaturas e prolongar o tempo dearmazenamento de legumes e verduras, quepodem então ser guardados com segurança em

Serviços de Extensão RuralDirigidos a Mulheres

Os profissionais que atuam na área deextensão rural são críticos do método “boca aboca” usado pelas mulheres para obterinformação. Estes serviços são uma formaimportante de utilizar o conhecimento local,aproximando-o de métodos agrícolas tradi-cionais e formais, e de apoiar as agricultoras porintermédio das profissionais que atuam emextensão rural. Infelizmente, as mulheres têmsido excluídas de muitos desses programas, sejana condição de profissionais, seja como benefi-ciárias. Investir menos no segmento femininoresulta em níveis mais baixos de alfabetização demulheres, em contraposição aos dos homens, etambém em menos mulheres treinadas paraatuar como prestadoras de serviços de extensãoagrícola. Em Uganda, apenas 15% a 30% dosalunos matriculados em escolas de formaçãoagrícola são do sexo feminino.12

Quando os programas de extensão ruralinvestem no segmento feminino, os retornospodem ser consideráveis. As mulheres recebemcapacitação, elevam a produtividade, aumentama renda, enriquecem a condição nutricional dafamília e contribuem para melhorias nascomunidades. (Ver também Quadro 11-2)13

Em abril de 2010, um estudo realizado emquatro colônias de Karimojong, no nordestede Uganda, entrevistou 1.135 indivíduos paraavaliar atividades com potencial de geração derenda. As mulheres conseguiram identificarsementes de rápida maturação e culturas comboa resistência às secas, como sorgo, mandioca,milho, batata, feijão-fradinho, amendoim,girassol e hortaliças e, além disso, reivindicarammelhores ferramentas agrícolas, comoroçadeiras, enxadas, carrinhos de mão, regadorese arados puxado a boi para semear camposmaiores. Elas também apontaram a necessidadede água para o gado e para as plantações e demelhor manejo ambiental, com mais plantio de

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Quadro 11–2. O Envolvimento de Comunidades Produtoras de Cacau no Apoio à Autonomia das Mulheres

O envolvimento da comunidade é a pedraangular de qualquer programa sustentável ebem-sucedido e pode abrir o caminho para aemancipação feminina. A Fundação Mundial doCacau (WCF) é uma entidade sem finslucrativos, empenhada em promover odesenvolvimento socioeconômico e a gestãoambiental em comunidades plantadoras decacau em diferentes partes do mundo. A WCFfinancia dois programas inovadores, Clubes deVídeo e Bolsas de Estudo para SustentoFamiliar, com o propósito de ajudar asmulheres a encontrar formas de melhorar osustento próprio.

Nas regiões produtoras de cacau da ÁfricaOcidental, as atividades de capacitação dosagricultores são, quase sempre, conduzidaspor integrantes da própria comunidade queaprenderam a instruir seus pares – homens emulheres que cultivam o cacau – em técnicasde produção e pós-colheita. Os participantesaprendem como desenvolver uma produção demelhor qualidade e, portanto, de maior valor.No entanto, uma pesquisa feita pelo Programade Culturas Arbóreas Sustentáveis (STCP) doInstituto Internacional de Agricultura Tropicalconstatou baixa participação feminina notreinamento, pois em sua maioria elas ficavamem casa para cuidar dos filhos, apanhar lenhae água e cultivar alimentos. Em alguns casos,o marido não permitia que participassem dotreinamento.

O STCP dedicou-se a criar um ambiente deaprendizado conveniente e adequado para asmulheres, utilizando vídeos que apresentamexercícios de treinamento semelhantes aospresenciais. A ideia é que o conhecimentoadquirido pelas participantes desses Clubes deVídeo seja divulgado a mais duas pessoasenvolvidas no cultivo de cacau, garantindoassim que o aprendizado chegue a um númeromaior de agricultoras na comunidade. Desde2006, perto de 1.600 agricultores da Costa doMarfim e de Gana receberam treinamento emprodução de cacau diretamente dos Clubes deVídeo.

Outras formas de chegar até asagricultoras vão muito além do treinamentoem técnicas agrícolas e do suporte àcomunidade em geral. Por exemplo, umprograma da WCF denominado Autonomiapara as Famílias Plantadoras de Cacau(ECHOES) luta por melhorias na vida e nosustento da próxima geração de agricultores,recorrendo a formação profissional,educação e desenvolvimento de liderança.Em diversas regiões produtoras de cacau naÁfrica Ocidental, as despesas educacionaissão altas demais para os pais. Sendo assim,a ECHOES desenvolveu o programa Bolsasde Estudo para Sustento Familiar. Trata-sede um programa em três níveis, implantadoatravés da Winrock International, com afinalidade de ajudar as mães a manterem osfilhos na escola e ao mesmo tempofomentar os empreendimentos já existentes.A primeira parcela da verba é usada paracustear as despesas escolares anuais dosfilhos, e depois que as mães concluem umcurso de formação em negócios, elasrecebem os dois terços restantes parainvestir em seus próprios negócios. Nosdois anos subsequentes, eventuais lucrosadicionais são direcionados ao pagamentodas despesas escolares das crianças.

A ECHOES envolve por completo ascomunidades nos desdobramentos doprograma e na concessão das Bolsas deEstudo para Sustento Familiar, incentivandocomitês de seleção compostos pormembros comunitários, com a função deanalisar as solicitações e definir quemreceberá as bolsas. Desde 2007, os comitêsna Costa do Marfim e em Gana concederambolsas a mais de 250 famílias. Uma dasbeneficiárias, Sopi Akissi, da Costa doMarfim, conseguiu acrescentar novosprodutos à sua mercearia, aumentandoassim a renda mensal. Esta receita adicionalpermitiu-lhe aderir a um grupo de poupançacomunitária, através do qual ela pôde secredenciar para receber um empréstimo e

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depósitos feitos com junco, barro e telhado decolmo.16

O trabalho em grupo une essas mulheres efortalece sua voz, de forma que elas possam serouvidas por parceiros de desenvolvimento,governantes e outros agentes do mercado. Amaior autonomia pode ser medida pela crescenteparticipação feminina em atividades grupais e emfeiras setoriais. As mulheres preferem ser treinadaspor técnicas em extensão rural como Ocokoru eAsege, pois consideram que o entendimento émelhor entre as próprias mulheres.

Os serviços de extensão rural contribuemdiretamente para maior produtividade. Emcontrapartida, o aumento de produtividade se

traduz em maior segurança alimentar, maisdiversidade na dieta e crescimento da rendafamiliar, propiciado pelo excedente de produção.Cria-se também uma economia mais resilienteem função da maior variedade agrícola. Umapesquisa em Uganda mostrou que o plantiodeliberado de culturas com a intenção de gerare vender um excedente da produção era umaideia nova para muitos dos agricultores, e quetécnicas simples como um maior espaçamentoentre as bananeiras, o plantio em fileiras em vezde semeadura a lanço e o uso de fertilizante àbase de esterco poderiam aumentar a produçãode modo significativo.17

As mulheres eram gratas ao Serviço Nacionalde Assessoria Agrícola (NAADS) de Ugandapor ter-lhes propiciado inclusão social, fornecidoas sementes e por ter oferecido aprendizado aelas e aos respectivos maridos. Algumas entre-vistadas com baixa escolaridade formal reco-nheceram que, através do NAADS, estavamadquirindo conhecimentos úteis, e, em algunscasos, afirmaram que o grupo as havia ajudadoa escrever, aptidão necessária para participaremde alguns seminários. Além disso, algunsagricultores reconheceram que algumas dasparticipantes havia adquirido competência emliderança.18

O Microcrédito na Luta Contra a Pobreza

Desde a segunda metade dos anos 1970, asinstituições de microcrédito são ferramentasusuais na luta pela diminuição da pobreza. Este

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Quadro 11–2. continuação

comprar um freezer, diversificando ainda maisos itens oferecidos em seu estabelecimento.“Não tenho dificuldades para pagar as despesasda casa”, declarou Akissi. “Posso dizer o mesmoquanto à educação dos meus filhos, inclusive os

estudos de um deles que começará a cursar afaculdade este ano”.

– Catherine AlstonFundação Mundial do Cacau

Fonte: Ver nota final 13.

Mulheres senegalesas processam caju

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físicas que mantêm relacionamento com osmercados vêm adotando medidas em âmbitolocal, com o intuito de amparar as mulheres.20

No Maláui, assim como nos exemplos acima,mulheres escolarizadas que retornam às regiõesrurais são uma importante fonte de ideias paraajudar as agricultoras a ter acesso ao crédito ea outros serviços do setor agrícola. DinnahKapiza é comerciante de produtos agrícolas emMponela, 60 quilômetros ao norte de Lilongwe,capital do Maláui. Ela é ex-professora primáriae mudou-se para Mponela em 1998, quandoentão ela e o marido, também ex-professor, seaposentaram. Em 2002, Dinah vendia sementesem sua lojinha de roupas, e hoje ela é pro-prietária de quatro lojas na zona rural do Maláui,onde vende insumos para os agricultores ecompra deles produtos hortifrútis.21

O Programa Rural de Expansão do Forne-cimento de Insumos Agrícolas, implantado peloCNFA (um grupo internacional para o desen-volvimento), ofereceu a Kapiza treinamento emadministração de empresas, controle dequalidade de insumos, contabilidade e geren-ciamento de estoque. Em seguida, ela deu inícioàs atividades da Tisaiwale Trading, usando suaprópria loja de roupas como ponto de apoio. OCNFA concedeu a garantia do empréstimo,possibilitando que Kapiza estocasse insumos acrédito. Hoje, a Tisaiwale Trading prestaserviços de extensão rural usando métodos dedemonstração prática nas lavouras e de excursãode um dia ao campo. A empresa ajudaagricultores a testar o solo para saberem quetipo de fertilizante melhor se adapta à área eoferece assessoria gratuita para o manuseio eutilização dos produtos.22

Como comerciante de produtos agrícolas,Dinnah Kapiza não apenas levou insumos eserviços de extensão rural para mais perto dos3.000 agricultores com os quais interage, mastambém tirou proveito de sua capacidade delidar com grandes volumes, ajudando osagricultores mais vulneráveis do entorno deMponela: as mulheres, em particular as viúvas.

setor vem prosperando com foco emempréstimos para mulheres e para pequenosempreendimentos, por menores que sejam.Entretanto, o êxito dos microfinanciamentosnão se traduziu automaticamente em maioracesso ao crédito pelos pobres da zona ruraldevido, em parte, à dificuldade de concessãode empréstimo nestas áreas. O empréstimo depequenas quantias a pessoas distribuídas emlocais dispersos, onde a infraestrutura detransportes é deficiente, a distância entre osclientes é grande e a operação traz mais riscosdo que na prestação de pequenos serviços parapopulações urbanas, não é tarefa fácil.

Ainda assim, nos últimos 10 a 15 anos houveuma retomada do financiamento rural, capita-neado por instituições de microfinanciamento.Infelizmente, a expansão do microcrédito para aagricultura tem beneficiado agricultores homensmuito mais do que mulheres, apesar de ocontingente feminino na atividade agrícola superarem muito o masculino.19

De acordo com a Organização das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação, asinformações disponíveis sobre concessão decrédito nos países da África subsaariana apontamque apenas 10% dos empréstimos sãoconcedidos a mulheres. Isso ocorre porque elasnão possuem o direito de propriedade e sofremdiscriminação no direito consuetudinário, o quedificulta a apresentação de garantias ao tomaremum empréstimo. Com a falta de acesso aocrédito, as agricultoras mais pobres enfrentamobstáculos adicionais para adquirir tecnologia eingressar nos mercados. No Senegal, asmulheres da zona rural passam até 13 horas pordia em tarefas domésticas, como apanhar lenhae água e preparar a comida. A obtenção decrédito ajudaria essas mulheres a utilizar tiposde tecnologia que poupariam tempo, comofogão com baixo consumo de combustível emáquinas de processamento de grãos, e poderiaainda garantir o transporte dos produtos até ospontos comerciais. Na ausência de políticasgovernamentais eficazes, alguns grupos e pessoas

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O sucesso do grupo Kanananji na obtençãode vários empréstimos e no pagamento dosjuros não passou despercebido em Mponela e,até maio de 2010, mais três grupos de mulhereshaviam se constituído e já negociavam comKapiza e com a MicroLoan Foundation.26

O Impacto das Novas Tecnologias

Pesquisas recentes mostram que inovações nacriação de conhecimento, gestão e comunicaçãoajudam a colocar as mulheres em condições demaior igualdade. Programas de rádio específicossobre agricultura mostraram ser particularmentebem adaptados às necessidades de agricultorasde poucos recursos. Entretanto, nenhumainovação suplantou o impacto dos telefonesmóveis na última década, nem apresenta tantaspossibilidades para atingir um número maior demulheres nas zonas rurais. Em junho de 2010,a Intermedia apresentou um relatório sobre ouso de meios de comunicação, fluxos deinformação e comunicação em geral em Gana eno Quênia. As conclusões mostram que osambientes de mídia não são indiferentes aogênero: o uso regular dos meios de comuni-cação tende a ser menor entre as mulheres doque entre os homens.27

Como já observado anteriormente, aprincipal fonte de informação para as mulheresé o método “boca a boca”. Quando usamoutros meios de comunicação, as mulheresafricanas mostram clara preferência pelo rádio.Mas o telefone móvel vem aos poucos setornando a nova comunicação “boca a boca”entre as camponesas. O nível de utilização dotelefone móvel já se aproxima do de rádios. Emtodo o continente africano, o número deassinantes de telefonia móvel disparou de 1milhão em 1996 para um número estimado em278 milhões em 2007.28

Em 2009, uma pesquisa realizada junto a110 pequenas e médias unidades agrícolasfamiliares em Uganda revelou que, das 54mulheres pesquisadas, 33 haviam adquirido

Em 2009, Kapiza organizou dois gruposfemininos, o Chiyembekezo, formado por viúvase composto por 50 membros, e o Kanananji,com 43 mulheres. Ambos foram apresentadosà MicroLoan Foundation, à qual o Kanananjisolicitou empréstimos para os insumosnecessários à produção de milho e amendoim.Estes empréstimos foram obtidos com maisfacilidade porque Kapiza garantiu aos doisgrupos que compraria a produção.23

Para Dinnah Kapiza, ajudar na constituiçãodesses grupos, apresentá-los a instituições demicrofinanciamento e constatar que sua reputaçãoe a promessa de compra dos produtos são aceitoscomo garantia representa, além de um bomserviço à comunidade, a possibilidade de expansãode sua base de clientes. “O grupo Kanananji foicriado em maio do ano passado, depois que essasmulheres me procuraram para obter insumosagrícolas a crédito, mas, na época, eu não tinhacapacidade para atendê-las. Decidi, então,conectá-las com uma empresa de microfinan-ciamento e prometi comprar os estoques dasprodutoras. O primeiro empréstimo foi de US$71 por associada, e o segundo, de US$ 94”.24

O grupo Kanananji aplicou os recursos doprimeiro empréstimo na compra de insumosagrícolas para a estação de inverno. Elasplantaram em terrenos com área média de1.000 m2, com capacidade produtiva suficientepara o sustento da família, e o restante doempréstimo foi usado na compra de matéria--prima para comercializar a confecção de bolos,roupas e outros itens de baixo investimento. Areceita gerada com esse empreendimento foidepois aplicada no pagamento dos juros doempréstimo. As 43 mulheres, sem exceção,quitaram integralmente os empréstimos e aindadispunham de recursos suficientes para comprarinsumos para a estação seguinte. Todas plantaramsoja, milho e tabaco. O tabaco já foi colhido, e areceita obtida foi destinada ao pagamento dosjuros do segundo empréstimo. Dinnah Kapizatem a intenção de comprar o excedente de sojae milho produzido pelo grupo.25

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telefone móvel desde 2007. O estudo concluiuque a adesão ao serviço, quando feita em grupo,tem correlação com a transferência de conhe-cimento, e que mulheres que faziam parte dealguma entidade de agricultores adquiriam osmeios, as informações e a motivação para obternovas tecnologias como a telefonia móvel. Essetipo de recurso também ajuda as associadas dascooperativas a coordenarem com mais eficiênciao acesso aos insumos, aos preços de mercado oua informações financeiras, tais como regras dasinstituições de microcrédito para concessão deempréstimo, e remessas financeiras para pessoafísica ou jurídica. As agricultoras usam, comfrequência, o telefone móvel para obter ajudaem situações de emergência, por exemplo,telefonar para o veterinário quando precisamde orientação no cuidado de um animaldoente.29

Essa pesquisa em Uganda oferece umexemplo de como o telefone móvel, que emmuito pouco tempo se converteu numaferramenta importantíssima para o comércio naÁfrica, está rompendo o isolamento dasagricultoras, propiciando que elas adquiraminformações e encontrem novas saídas. Histori-camente, barreiras estruturais intransponíveisimpediram as campesinas de se beneficiarem deserviços vitais. Tais obstáculos incluem os altoscustos dos serviços financeiros tradicionais, opouco conhecimento financeiro e a inexistênciade produtos concebidos para atender às neces-sidades específicas dos proprietários e comer-ciantes de pequeno porte. As remessasconstituem a principal modalidade de inves-timento nos empreendimentos rurais femininos,entretanto, até pouco tempo atrás não existiammétodos para a transferência de dinheiro deforma barata e segura das áreas urbanas para asrurais. Do mesmo modo, faltavam também osmeios para conectar micro e médias empresasrurais pertencentes a mulheres aos bancosnacionais e ao sistema de crédito internacional.30

A NetHope, uma empresa de tecnologia eminformática e comunicações que agrega 29

ONGs internacionais, mostra que as camponesastêm, por fim, uma chance de conseguir chegarnos serviços bancários tradicionais. Tecnologiasinovadoras de comunicação móvel como a M-Pesa, do Quênia, conseguem levar serviçosbancários a mulheres pobres das zonas rurais, eé importante observar que a telefonia móvel éapenas a primeira onda tecnológica. O acessoa outras tecnologias ainda muito distantes dascomunidades rurais, como a Internet, porexemplo, promete ser uma dádiva às mulheresquando novos cabos de fibra óptica estivereminstalados e grupos como a agência de desen-volvimento alemã GTZ, cuja atuação se dá nazona rural do Zimbábue, disponibilizarem aconectividade para essas comunidades. Esta éuma intervenção vital, considerando que, naÁfrica, o custo médio da linha digital de umassinante gira em torno de US$ 366 por mês,enquanto na Índia, o valor é de US$ 6 a US$44 mensais. Em um continente com fortedependência da tecnologia sem fio, como é ocaso da África, as empresas de tecnologia dainformação e de comunicação vertical crescemapoiadas em uma estrutura que conta comapenas 1% de cabos de fibra óptica, em contra-posição aos 40% de cabos usados nos países commaior utilização de banda larga.31

Embora seja verdade que as camponesas aindaprecisem de aparatos de baixa tecnologia que lhespoupem tempo e economizem energia, aliviandosua exaustiva tripla jornada de trabalho, o elodessas mulheres com os mercados depende deinovações de alta tecnologia. O Fundo Interna-cional para Agricultura e Desenvolvimentodescreve inovação como “um processo que agregavalor ou soluciona um problema de maneirasnovas”, e é exatamente isso que a telefonia móvelfaz pelas mulheres das regiões rurais.32

O crescimento da digitalização possibilitará,enfim, que as agricultoras pobres da Áfricatenham a oportunidade de superar as barreirasde infraestrutura que lhes dificultam o acesso ainformações e mercados, ter condições justasde comercialização e articular contatos inter-

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nacionais de âmbito institucional e pessoal. Osgovernantes estão diante de uma ocasião únicapara garantir a inclusão dessas mulheres nasmudanças que vêm pela frente.

As mulheres já foram excluídas por tempodemais. A emancipação feminina fortalece ascomunidades, melhora as perspectivas dos filhose da própria coletividade e alimenta esperançasde um presente e de um futuro melhores. Seos governantes não tiverem intenções firmes deincluir as mulheres, se não respeitarem seuconhecimento, se não estiverem preparadospara lutar pelos direitos femininos no contexto

das leis e tradições que marginalizam asmulheres, então seus programas de desen-volvimentos estarão fadados a ter poucoresultado ou a fracassar por completo. Asmulheres, assim como a África, merecem maisdo que têm hoje. As ideias e as tecnologias estãoao alcance, e é preciso uma visão que dê voz àsmulheres e as apoie em seu direito de tomardecisões e controlar as próprias atividadeseconômicas. As possibilidades são imensas eaguardam apenas uma visão e a determinação detrazer melhorias à vida dessas mulheres.

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Após décadas de estagnação da produtividadeagrícola e pouco ou nenhum investimento naeconomia rural, os países africanos estãocomeçando a priorizar o desenvolvimento da atividade e do mercado agrícolas. O desenvolvimento rural e a produtividadeagrícola agora ocupam posição de destaquenas agendas dos governos nacionais e dosórgãos regionais. Planos e investimentos dedimensão continental, como o ProgramaBásico de Desenvolvimento Agrícola da Áfricae a Aliança para uma Revolução Verde naÁfrica, vêm estimulando e direcionandoalgumas iniciativas de âmbito nacional. Por outro lado, instituições doadorasinternacionais também reconhecem anecessidade de se investir no desenvolvimentoagrícola, como demonstrado claramente noRelatório de 2008 sobre DesenvolvimentoMundial, do Banco Mundial.1

A Rede de Análise de Políticas paraAlimentação, Agricultura e Recursos Naturais(FANRPAN), sediada em Pretória, África doSul, é uma organização multinacional formadapor participantes de diversos segmentos. A entidade trabalha para oferecer suporte àelaboração de melhores políticas nas áreas dealimentos, agricultura e recursos naturais em13 países africanos, tendo como parâmetro umcontinente com segurança alimentar. Essa redeconta com mais de 670 membros, incluindouniversidades, entidades representativas deagricultores, empresas, agênciasgovernamentais e organizações ligadas àsociedade civil, e é justamente por fazer aponte entre agricultores, empreendedores,instituições acadêmicas, pesquisadores,doadores e governos regionais e nacionais que ela faz jus ao nome que adotou.2

Em julho de 2009, reconhecendo o papeldecisivo das agricultoras na garantia dasegurança alimentar da família, a FANRPAN

lançou o programa Acesso de Mulheres aMercados Realinhados (WARM), um projetopiloto em Moçambique e no Maláui, comduração prevista de três anos, cuja finalidade éreforçar a capacidade das agricultoras de lutarpor programas e políticas agrícolasadequados. O objetivo é auxiliar essasagricultoras a obterem ferramentas comocrédito e sementes de qualidade para quepossam exercer suas atividades com melhoresresultados, e também garantir que as políticase serviços locais e nacionais atendam às suasnecessidades.3

Na África, a maioria dos agricultores são mulheres. De acordo com a Organizaçãodas Nações Unidas para Agricultura eAlimentação, as mulheres dos países da África subsaariana constituem 75% dostrabalhadores rurais e representam 60% a80% da mão de obra para a produção dealimentos destinados ao consumo domésticoe à venda. Elas também são responsáveis por100% do processamento de alimentos básicos,80% do armazenamento e transporte dosalimentos do campo para as cidades, 90% dotrabalho de carpir e extirpar ervas daninhas e60% das atividades relacionadas à colheita e àcomercialização. Sendo assim, recai sobre asagricultoras mais da metade daresponsabilidade pela mão de obra rural.Entretanto, sua produtividade e seu acesso aosmercados são muito restritos e, portanto, asfamílias de agricultores cujo chefe sãomulheres tendem a ser mais pobres e a termenos segurança alimentar do que aschefiadas por homens.4

As mulheres na África, com frequência, sãoexcluídas das decisões, sendo este um dosmotivos de não participarem da administraçãopública local. Como resultado, as necessidadesdas agricultoras quase nunca estão refletidasnas políticas agrícolas locais e nacionais.

O Teatro como Ferramenta de Apoio às Agricultoras

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ESTADO DO MUNDO 2011 DIRETO DO CAMPO: O Teatro como Ferramenta de Apoio às Agricultoras

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mulheres, algumas delas viúvas lutandosozinhas para sustentar a família, em talmedida, que algumas não plantavam nadahavia três anos. Porém, em certo ponto,Nkonkoni é questionado por uma viúvadesesperada, pelo recém-eleito membro doParlamento local e até mesmo pela própriaesposa. O conflito pela distribuição dosinsumos realça a dinâmica de poder existenteno vilarejo: entre homens e mulheres, entrejovens e idosos e entre moradores da cidade edo campo.6

A peça foi apresentada pela primeira vezdurante o Diálogo sobre Políticas Regionaispromovido pela FANRPAN em 2009, emMaputo, Moçambique. O público foi além de 250 pessoas, provenientes de mais de 22países africanos, representando entidades deagricultores, secretarias governamentais,organizações da sociedade civil, institutos de pesquisa, parceiros de desenvolvimento ecomunidades econômicas regionais. Depoisda apresentação, o público foi convidado aparticipar da discussão sobre as principaisquestões levantadas pela peça.7

Linda Nghatsane, agricultora e membro da Associação de Desenvolvimento AgrícolaNelspruit, da África do Sul, declarou: “Os agricultores sabem o que querem. As decisões que envolvem a agriculturadeveriam ser tomadas ao ar livre, sob a copadas árvores e entre as pessoas que têm naatividade agrícola sua fonte de sustento, e não por engravatados em salas de reunião”. Ela ressaltou ainda que, em vez de ditar o queos agricultores devem fazer, os governantesdeveriam travar com eles diálogos para quecompreendessem melhor as dificuldades enecessidades próprias do setor agrícola.8

Ngatshane contou com o apoio do ex-vice-ministro da Agricultura e dasCooperativas da Zâmbia, Chance Kabaghe, que afirmou: “o agricultor ou agricultora sabe o que quer, mas há sempre alguém noescritório central decidindo dar a eles o queeles não querem”. Ele fez um apelo aosgovernos para que criem políticas deviabilização do acesso dos agricultores aosmercados além das fronteiras nacionais,permitindo que os pequenos proprietários

As mulheres, quase sempre, sãomarginalizadas dos relacionamentoscomerciais e têm controle mínimo dos fatoresde produção como terra, insumos, sementes efertilizantes, crédito e tecnologia. Devido auma combinação de fatores logísticos,culturais e econômicos, elas não conseguemse beneficiar plenamente dos serviços eprogramas de desenvolvimento. Ao capacitaras agricultoras para a defesa de seus própriosinteresses, o projeto WARM espera garantirque elas tenham tudo de que precisam paraaumentar a renda e sustentar a família.5

O projeto WARM usa o teatro comoferramenta de defesa de políticas quebusquem o engajamento de agricultoras,líderes comunitários, prestadores de serviços e governantes, com o intuito de promover aparticipação comunitária e pesquisar asnecessidades das agricultoras. Celebridadespopulares ligadas ao teatro viajam acomunidades em Moçambique e no Maláui,apresentando peças com roteiros baseadosnas pesquisas da FANRPAN. Após cadaapresentação, mulheres, homens, jovens elíderes locais são incentivados a participar dediálogos com a presença de um moderador.Isso dá a todos os membros da comunidade, e em especial às mulheres, uma oportunidadepara falar abertamente a respeito dasdificuldades enfrentadas, sem que temam serculturalmente incorretos. O mais importantenesses diálogos é permitir que as mulheresexponham às organizações que atuam para odesenvolvimento quais são suas reaisnecessidades, e não o contrário.

A FANRPAN criou o roteiro de “Ventos dasMudanças” com base nos resultados depesquisas realizadas no Maláui, entre 2006 e2009, a respeito de insumos subsidiados. A peça explora as dificuldades enfrentadaspelas mulheres da zona rural para obterinsumos agrícolas. O enredo gira em torno de Nkonkoni, chefe de vilarejo que domina olugar e garante à família e aos amigos acessopreferencial a insumos agrícolas subsidiados edistribuídos pelo governo e por agências dedesenvolvimento. Desde longa data, suaprática fora distribuir sementes e fertilizantes a seus asseclas, privando desta forma as

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rurais se beneficiem de mercadoscompetitivos. Cecília Makota, agricultora daZâmbia, confirmou que, em 2008, sua rendaproveniente da atividade agrícola quadruplicoudepois que ela começou a vender milho noZimbábue.9

Obed Dlamini, ex-primeiro-ministro daSuazilândia e atual membro do Ligogo, oConselho Consultivo Real, aplaudiu o usoinovador do teatro para amplificar a voz dasmulheres agricultoras, considerando-o “ummétodo simples, mas eficaz”. O projetoWARM procura capitalizar a experiência doFANRPAN como uma rede de pesquisaregional com participantes de segmentos

diversos e encurtar a distância que separa asagricultoras dos pesquisadores e dosprocessos que definem as políticas agrícolas. A FANRPAN criou parcerias com outrossetores interessados, como organizaçõesregionais e nacionais de agricultores, institutosnacionais de pesquisa, universidades, gruposcomunitários e governantes locais e nacionais,com o intuito de garantir que os agricultorestenham acesso a mercados, serviços deextensão rural, sementes melhores,fertilizantes adequados e outros recursosimportantes.10

– Sithembile NdemaRede de Análise de Políticas para Alimentação,

Agricultura e Recursos Naturais

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No lançamento de seu novo livro, Science andInnovation for Development, em janeiro de2010, Gordon Conway afirmou: “Não importade onde vem a tecnologia, o que importa é queela seja adequada”. Muitas vezes, ospesquisadores internacionais na área dedesenvolvimento, governantes e profissionaisse prendem à origem de uma tecnologia,usando esse parâmetro como referência paramedir suas possibilidades de sucesso.Entretanto, a forma como uma tecnologia foi concebida, seu país de origem e o tipo deinstituição que a criou não são tão importantesquanto a adequação da tecnologia em si.1

Uma tecnologia será adequada se for defácil acesso, tiver preço acessível, for simplesde usar e de manter, se for eficaz e atender auma necessidade real. Por exemplo, umasemente de arroz que tenha sido melhoradaou modificada para amadurecer mais rápidopoderá ser adequada em qualquer lugar onde avariante prospere. Os agricultores locais, demodo geral, desejarão comprar essa semente,seja ela proveniente de iniciativas locais para apreservação de sementes ou do InstitutoInternacional de Pesquisa do Arroz.

Nos países industrializados, muitoscientistas e governantes costumam tambémdeclarar que não se podem aplicar diferentestipos de tecnologia para resolver o mesmoproblema. Na verdade, muitas vezes éexatamente isso o que deve ser feito. Em áreas muito sujeitas a secas, por exemplo,os agricultores precisam de técnicas“tradicionais” de conservação de água emétodos de plantio como o sistema zai,utilizado no oeste da África. Neste sistema, os agricultores fazem pequenos orifícios queserão preenchidos com esterco e,consequentemente, os cupins cavarãoextensos túneis subterrâneos que servirão paracoletar água e reciclar os nutrientes do solo.

No entanto, pode-se também utilizartecnologias “intermediárias”, como irrigaçãopor gotejamento, bem como atuais e novastecnologias com “novas plataformas”, como,por exemplo, variedades de cereaisgeneticamente modificados que sobrevivamou até prosperem em condições de escassezde água. Os agricultores deveriam ter acesso aqualquer tipo de solução porque, na realidade,eles quase sempre têm melhores condiçõespara selecionar a combinação ideal para suaslavouras e introduzir inovações queacompanhem as mudanças circunstanciais.

Um exemplo revelador do forte preconceitoexistente em relação a certas fontes detecnologia foi exposto em uma recenteconferência sobre biotecnologia vegetal.Alguns palestrantes apresentaram os métodosque vinham empregando para o controle daerva daninha Striga. De um lado estava aabordagem dos sistemas biológicos, quedefende o consórcio do cultivo do milho comalguma cultura que suprima a Striga. Do outrolado, uma solução tecnológica, segundo a quala melhoria da resistência ao herbicida queextermina as ervas daninhas deve ser feita nassementes de milho, de forma que as própriassementes possam ser mergulhadas nesseherbicida. As sementes de milho tratadasmatariam as sementes parasitárias no solo,permitindo que o milho crescesse comimpacto ambiental mínimo.2

Os dois sistemas apresentamdesvantagens. No caso do controle biológico,há maior necessidade de mão de obra emanejo qualificado, e no enfoque demelhoramento de sementes, os custos depesquisa são mais altos e o risco de maiorresistência é mais elevado. Então, por que nãousar ambos?

Em vez disso, cada um dos dois ladosdefendeu o próprio ponto de vista. Mais

O que É uma Tecnologia Adequada?

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adiante no debate, quando outro palestrantesugeriu maior uso de herbicidas convencionaisna África, a reação imediata foi de escárnio, emparte devido à origem norte-americana dessesherbicidas. A maioria sequer considerou o fatode que os herbicidas convencionais, seaplicados da maneira informada e com critério,podem ser uma ótima ferramenta paraagricultores de poucos recursos.

Entretanto, parece que há mudanças emcurso. Como afirmou Jeff Waage, coautor deScience and Innovation for Development: “Entre

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DIRETO DO CAMPO: O que É uma Tecnologia Adequada? ESTADO DO MUNDO 2011

os extremos da abordagem tecnológica daciência desenvolvimentista que prega a“solução exclusiva”, de um lado, e a crença deque tecnologias locais e intermediárias são oúnico enfoque legítimo, do outro lado,estamos agora vendo o surgimento de umanova comunidade científica pautada por umavisão abrangente sobre o que vem a ser umaciência adequada para o desenvolvimento”.3

– Sara DelaneyImperial College, Londres

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Investimento em Terras Africanas:Crise e Oportunidade

Andrew Rice

Robert Zeigler, eminente botânico norte-americano, esteve na Arábia Saudita emmarço de 2009 para participar de uma

série de debates aprofundados a respeito dofuturo da oferta de alimentos naquele reino.Os líderes sauditas estavam tensos. Bastantedependentes de importações, eles assistiam, hátrês anos, à forte flutuação do preço mundial doarroz e do trigo, os alimentos básicos da dietalocal. Nesses três anos, houve até mesmo ummomento em que os preços chegaram a dobrarem poucos meses. Os sauditas, ricos em

petróleo, mas pobres em terras aráveis,sondavam então uma estratégia que lhesassegurasse que poderiam continuar atendendoo apetite de uma população cada vez maior, econtavam com o conhecimento especializadode Zeigler.1

Há, basicamente, duas maneiras paraaumentar a oferta de alimento: encontrar novasáreas cultiváveis ou inventar formas demultiplicar a atual produtividade. Zeigler édiretor do Instituto Internacional de Pesquisado Arroz (IRRI), cujo foco, portanto, é o

Fava, Etiópia

Ber

nard

Pol

lack

Andrew Rice é autor de The Teeth May Smile but the Heart Does Not Forget: Murder and Memory inUganda. Este capítulo se baseia no artigo “Is There Such a Thing as Agro-Imperialism?”, publicado emNew York Times Magazine em 2009

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estudo científico desse cereal com vistas àexpansão do porte das colheitas. Durante achamada Revolução Verde nos anos 1960, olaboratório do IRRI desenvolveu o “arrozmilagroso”, uma linhagem de alto rendimentoà qual se atribuiu o crédito de ter salvadomilhares de pessoas da inanição. Zeigler foi atéa Arábia Saudita esperando que um reino tãoopulento pudesse oferecer fundos para apesquisa básica capaz de ocasionar esse tipo dereviravolta. No entanto, para sua surpresa, eleconstatou que os sauditas pretendiam atacar oproblema a partir da direção oposta. Elesestavam em busca de terras.

As autoridades governamentais, os banqueirose os executivos dos agronegócios sauditasdisseram a uma delegação do IRRI presididapor Zeigler que pretendiam injetar bilhões dedólares para iniciar plantações de arroz e deoutros alimentos básicos em países africanos,como Mali, Senegal, Sudão e Etiópia. Zeiglerficou atônito, não apenas pela dimensão doprojeto, mas também pela audácia da escolha doambiente. A África, continente onde a fome émais intensa, não tem hoje condições dealimentar a si própria, e menos ainda, dealimentar os mercados mundiais.2

Robert Zeigler entrevia um novo teste paraos recursos alimentares do planeta, teste esse quecomeçara a tomar forma nos últimos anos, emboa parte fora dos limites do escrutínio interna-cional. Fatores diversos, alguns transitórios, comoa escalada de preço dos alimentos, outros menoscontornáveis, como o crescimento da populaçãomundial e a escassez de água, foram criando ummercado para as terras cultiváveis. Isso se deuporque nações ricas, porém sem recursos, noOriente Médio, na Ásia e em outras partesprocuram agora “terceirizar” a produção dealimentos em locais onde as terras são baratas eabundantes. Como boa parte das terras aráveisjá está sendo usada – de acordo com umaestimativa, perto de 90%, sem contar áreas defloresta e ecossistemas frágeis – a busca foi pararnos países até aqui intocados pelo desen-

volvimento. Uma das áreas do planeta comgrandes estoques de terra não usada são os bilhõesde hectares da zona de savana da Guiné, umafaixa em forma de meia-lua que atravessa a Áfricaem direção leste até a Etiópia, seguindo na direçãosul até o Congo e Angola. Segundo um estudocom copatrocínio das Organizações das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação (FAO) edo Banco Mundial, apenas 10% das terras aráveisdessa zona têm hoje algum plantio.3

Vários interesses governamentais e da iniciativaprivada estão representados nos investidoresestrangeiros que prometem construir infra-estrutura, levar novas tecnologias, como, porexemplo, sementes melhoradas, criar empregos eincrementar a produtividade de terras não usadasbuscando que elas produzam o suficiente paraalimentar os mercados externos, mas tambémmais africanos – ressalte-se que a populaçãosubnutrida do continente é superior a um terço.Esses investidores perceberam que os governosdos países pobres são, quase sempre, bastantereceptivos e oferecem terras a preços irrisórios.Algumas negociações tiveram divulgação consi-derável, como foi o caso de um arrendamentode cerca de 40.000 hectares feito pelo Quêniaao governo do Qatar, em troca de finan-ciamento para um novo porto, ou ainda, oacordo proposto pela Coreia do Sul paraexploração de perto de 1.000 km2 na Tanzânia.Contudo, muitos outros negócios de porteinédito envolvendo terras foram fechados semmuita algazarra.4

No entanto, embora os candidatos ainvestidores exaltem os possíveis benefícios parao progresso da agricultura na África subsaariana,alguns críticos vêm acionando um alarme,execrando os investimentos e considerando-os“usurpação de terras”. Dizem esses críticos queas transações em curso são abusivas e elespreveem que o resultado não trará desen-volvimento, e sim uma cantilena de possíveisconsequências calamitosas: xenofobia, tumultos,golpes e mais fome. “Trata-se de uma questãomuito séria e bastante perigosa”, disse Alexandra

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Spieldoch do Instituto de Política Agrícola eComercial. “O que está em jogo é o rumo dodesenvolvimento internacional, da segurançaalimentar e do controle dos recursos”.5

Mais recentemente, e talvez em resposta aalgumas transações agrárias controversas e muitocomentadas, o foco vem mudando para modeloscomerciais alternativos, que aparecem comoum ponto de consenso para as partes envolvidas.Um relatório de 2010 encomendado pordiversas agências intergovernamentais, incluindoa FAO, avaliou em detalhes algumas dasparcerias entre comunidades e investidores.Apesar de os resultados serem híbridos, é desuma importância fortalecer o entendimentosobre o que possibilita uma colaboração desucesso num momento em que a demanda porterra é mais intensa.6

A Corrida pela Terra na Etiópia

Talvez a Etiópia dê a impressão de ser umviveiro implausível para investimento agrícola.Para o resto do mundo, o país é definido porimagens de fome aguda: cerca de 1 milhão depessoas morreram na Etiópia durante a seca dasegunda metade dos anos 1980 e, hoje, quaseo quádruplo desse número de gente depende deajuda alimentar emergencial. Porém, de acordocom o Banco Mundial, três quartos da terraarável da Etiópia não são cultivados e, segundoos agrônomos, com um aporte significativo decapital, boa parte dessa área poderia terprodução abundante. Desde a crise mundial dealimentos, o primeiro-ministro Meles Zenawi,um ex-rebelde marxista convertido em defensordo capital privado, vem dizendo, publicamente,que está “muito entusiasmado” em atrairinvestidores estrangeiros para o setor agrícola e,em contrapartida, oferecer-lhes aquilo que ogoverno chama de “terra virgem”. Um altofuncionário do Ministério da Agricultura daEtiópia disse à Reuters, em 2009, ter identi-ficado mais de 2,8 milhões de hectares de terrasprontas para receber investimento.7

A atitude dócil do governo e a localizaçãoconveniente da Etiópia transformaram o paísem meta ideal para investidores do OrienteMédio, inclusive o sheik Mohammed AlAmoudi, um bilionário nascido na Etiópia, masestabelecido na Arábia Saudita e vinculado aossetores de petróleo e construção, e que mantémrelação próxima com o regime de Zenawi. Nãomuito tempo atrás, uma nova empresa de AlAmoudi, a Saudi Star Agricultural Development,anunciou planos para obter os direitos a mais de400 mil hectares – área do tamanho deDelaware – com intenção, assim parece, deaproveitar a iniciativa do governo saudita desubsidiar a produção de alimentos básicos noexterior.8

Os planos de Al Amoudi levantam umapergunta recorrente quando se trata de investirna produção de alimentos: quem serão os benefi-ciários? Assim como a Revolução Verde ajudoupaíses como Índia e China, hoje os cientistas egovernantes tentam obter aumento semelhantede produtividade na África subsaariana. Em umtrecho do discurso de sua posse, o presidenteBarack Obama aludiu aos pobres do mundodizendo “prometemos trabalhar junto com vocêspara que suas terras prosperem”, e ele agora alçouo tema da segurança alimentar ao nível deprioridade de política externa. Contudo, apesarde décadas de pesquisa e milhões em doações, acomunidade internacional de especialistascomprometidos com a alimentação do planetatem pouco a mostrar sobre suas realizações naÁfrica.9

Os entusiastas dos investimentos privadosafirmam que é hora de tentar nova postura. “AÁfrica é a fronteira final”, diz Susan Payne, CEOda Emergent Asset Management, no momentoinvestindo centenas de milhões de dólares empropriedades agrícolas comerciais em todo ocontinente, por intermédio de um novo fundo,o African Agricultural Land Fund (Fundo emTerras para Agricultura na África). Até agora, asmais conceituadas empresas de serviços financeirostêm sido cautelosas em relação a investimentos nos

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países em desenvolvimento. Para Payne, elas estãoperdendo uma oportunidade de ouro. Elaargumenta que, embora a África talvez sejaconhecida por sua infraestrutura obsoleta egovernos corruptos, problemas esses que estãosendo tratados com firmeza, a terra e a mão deobra são tão baratas, que vale a pena correr osriscos.10

A comunidade internacional engajada emprestar assistência enxerga com algumatemeridade a nascente expansão dos investi-mentos agrícolas na África. Para esse setor,muito tem se falado sobre o uso de instru-mentos tênues, por exemplo, códigos deconduta não vinculativos juridicamente, comoforma de estímulo a investimentos em que todossaem ganhando. Mas na Etiópia, os investidoresestrangeiros não estão aguardando instruções.Na fazenda de Mohammed Al Amoudi, próximaao lago Ziway, dúzias de agricultores plantammilho e cebola em terras salpicadas de plátano;o empreendimento de 800 hectares produz,atualmente, alimento para o mercado local, mas,segundo o encarregado da fazenda, existemplanos de fazer irrigação com água do lago emudar o foco para a exportação.11

Nessa propriedade, os trabalhadores nãorecebem grande coisa, apenas algo em torno de9 berres por dia, o equivalente a 75 centavos dedólar. No entanto, os defensores de Al Amoudiafirmam que, na Etiópia, esta é a remuneraçãopara a mão de obra no campo. Eles argumentamque os investimentos de Al Amoudi estão criandoempregos, melhorando a produtividade de terrasinativas e levando progresso econômico para ascomunidades rurais. Porém, alguns jornalistas eopositores etíopes vêm questionando os benefícioseconômicos dos negócios e o relacionamentoafetuoso de Al Amoudi com o partidogovernante.12

Potenciais Explosivos

A questão do direito à terra, um problema deproporções históricas na Etiópia, é, de longe, a

que enfrenta oposição mais contundente.Seguindo pela estrada logo depois da fazendapróxima ao lago Ziway, há um pequeno vilarejoe lá, os moradores contam uma história deressentimento. Há algumas décadas, dizem eles,durante o governo de uma ditadura comunista,suas terras foram confiscadas. Depois que oditador foi deposto, Al Amoudi assumiu ocontrole das propriedades agrícolas, graças àpolitica de privatizações levada a cabo pelogoverno, não sem enfrentar objeções débeis porparte da população agora desalojada. É possívelque o bilionário considere ser ele o proprietáriodas terras, mas os moradores da zona rural têmboa memória e sustentam, com raiva, seremeles os legítimos donos.13

Em toda a África, a política agrária estávinculada à sombria realidade da fome. A escassezcrítica de alimentos decorrente, em geral, dealguma combinação entre condições climáticas,pestes e má governança eclode com arbi-trariedade impiedosa, desencadeando calamidadee remodelando a história. Cada país tem umadinâmica própria, e sob o atual regime etíope, apropriedade privada da terra é proibida, portanto,qualquer agricultor, estrangeiro ou não, trabalhano campo de acordo com um contrato de licençaoutorgada pelo governo. Essa política em relaçãoà posse da terra permitiu que um Estado compartido único transmitisse a posse de enormesextensões de terra a investidores, cobrando aluguelsimbólico, em sigilo, sem o incômodo de umprocesso judicial.14

O governo etíope nega a existência de qualquerpessoa expulsa do campo e afirma que as terrasconcedidas não são usadas, mas essa alegação équestionada por muitos especialistas. Para MichaelTaylor, uma autoridade em política e membrodo International Land Coalition, “existe umponto bastante claro e que parece ter escapado daatenção da maioria dos investidores: não se tratasimplesmente de terras desocupadas”. Para ele, seexiste na África terra não cultivada, o motivo éoutro. Talvez esteja sendo usada para pasto deanimais, ou tenha ficado intencionalmente em

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transações estivessem sendo intermediadas emlocais distintos, como Austrália, Cazaquistão,Ucrânia e Vietnã, o campo mais controversoenvolvendo investimentos era, claramente, aÁfrica. (Ver Tabela 12–1). No prazo de ummês, os alertas do GRAIN seriam comprovados;o Financial Times publicou a notícia de que oconglomerado sul-coreano Daewoo Logisticshavia firmado um contrato para assumir ocontrole de cerca da metade das terras cultiváveisde Madagascar, sem pagamento, com o intuito

pousio como forma de evitar a exaustão denutrientes e a erosão do solo.15

Sem dúvida, as disputas por terras africanasnão começaram agora. No entanto, foi apenasem outubro de 2008, quando o GRAIN, umgrupo internacional de defensores da causaagrária, compilou uma extensa lista contendoesses tipos de transação e consolidou os dadosem um polêmico relatório chamado Seized!(“Confiscado”), que os especialistas começarama falar sobre uma tendência grave. Embora as

Tabela 12–1. Investimentos Estrangeiros em Terras Africanas – Propostas e Casos Concretos

Investidor

Várias empresas

Ruchi Soy Industries

Trans4mationAgric-Tech Ltd.(Reino Unido)

Arábia Saudita

ForasInternationalInvestment Co.(Arábia Saudita)

Coreia do Sul(setor privado)

País Escolhido

Mali

Etiópia

Nigéria

Serra Leoa

Sudão

Sudão

Detalhes do Acordo

As operações fundiárias já aprovadas incluem: um projeto conjuntoentre a Petrotech e a AgroMali, em área de 10.000 ha, para aprodução de matéria-prima (semente de pinhão-manso) parabiodiesel, visando exportações para Europa, Estados Unidos eEgito; arrendamentos de longo prazo em contrapartida ainvestimentos estrangeiros na exploração de mais de 160.000 ha de terras. (Informado em dezembro de 2009)

Ruchi Soy, uma das principais empresas de processamento de óleode cozinha, assinou um memorando de entendimento com ogoverno etíope para o cultivo de soja e instalação de uma unidadede processamento em Gambella e em Benishangul Gumuz. A operação abrange 25.000 ha (com possível expansão para 50.000 ha), com prazo de arrendamento de 25 anos. (Anunciadoem janeiro de 2010)

A T4M assinou um contrato de 25 anos para o cultivo eprocessamento de arroz e mandioca em larga escala e commecanização, para fins comerciais, em área de 30.000 ha no deltado rio Níger (Informado em 2008)

Serra Leoa e Arábia Saudita assinaram um memorando deentendimento para investimento saudita na produção de arroz parafins de consumo doméstico e exportação. (Informado em 2008)

O setor de investimentos da Câmara Islâmica de Comércio eIndústria lançou seu primeiro projeto de segurança alimentar: oprojeto agrícola Al-Faihaa Integrated, no estado de Sennar, noSudão. A duração prevista é de 7 anos, com investimentosestimados em US$ 200 milhões, abrangendo 126.000 ha(Informado em janeiro de 2010)

No final de 2008, o governo sudanês destinou 690.000 ha deterras para que a Coreia do Sul plantasse trigo a ser exportado para a própria Coreia. (Informado em fevereiro de 2010)

continuação na próxima página

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de plantar milho e azeite de dendê paraexportação. Com isso, irromperam protestospopulares que ajudaram a mobilizar a oposiçãoao já impopular presidente de Madagascar, queacabou deposto por um golpe, em 2009.16

Entretanto, sempre há os dois lados damoeda. Os economistas desenvolvimentistas ealguns governos africanos afirmam que, se éverdade que um país como a Etiópia precisacontinuar a produzir o próprio alimento e, maisdo que isso, tornar-se independente da ajudaexterna – que, em 2007, foi de US$ 2,4 bilhões– o país precisará encontrar alguma forma paraaumentar a produtividade de sua agricultura.17

O modelo para saciar a fome de países comoa Etiópia é, quase sempre, o envio emergencial

de excedentes produzidos no restante domundo. Apoiados nesta constatação, osgovernos que hoje tentam atrair investimentosafirmam que a criação de novas fazendas poderiaproporcionar uma solução duradoura e semcaráter assistencialista. Porém, seja qual for ajustificativa de longo prazo, não seria politi-camente correto que países como Quênia eEtiópia consentissem que investidoresestrangeiros usassem as terras quando o espectroda fome em massa ronda a população.

Um Apetite Inesgotável

Repercutindo as teses proféticas que correla-cionavam superpopulação e fome, apresentadasno século 19 por Thomas Robert Malthus,

Tabela 12–1 – continuação

Investidor

HADCO(Arábia Saudita)

ChongqingSeep Corp(China)

China(setor privado)

Estados Unidos,EmiradosÁrabes Unidos

País Escolhido

Sudão

Tanzânia,Nigéria

Uganda

Zâmbia

Detalhes do Acordo

Com a finalidade de adquirir mais de 10.000 ha ao norte deKhartoum para a produção de trigo e milho para exportação, aempresa saudita de agronegócios Hail Agricultural DevelopmentCompany (HADCO) reservou US$ 45,3 milhões e a estatal SaudiIndustrial Development Fund comprometeu-se a arcar com cercade 60% dos custos do projeto. (Informado em fevereiro de 2009)

Em 2008, a chinesa Chongqing Seed Corp anunciou ter escolhido300 ha de terra para a produção de arroz híbrido na Tanzânia. O plano é contratar agricultores locais para a produção e exportaçãoda colheita para a China. Em 2006, a Chongqing começou projetossemelhantes na Nigéria e no Laos. (Informado em maio de 2008)

Uganda arrendou 4.046 ha de terras a serem cultivadas por 400agricultores chineses, para plantio de milho e outras culturas, comuso de sementes importadas da China. O projeto é supervisionadopor Liu Jianjun, dirigente do Conselho de Comércio Chino-Africano.(Informado em abril de 2008)

O Ministro da Agricultura Brian Chituwo informou que a Zâmbiadispunha de excedente de terras de ótima qualidade e não hesitouem fazer negócios com empresas norte-americanas e árabes, asquais mostraram interesse em construir grandes fazendas para aplantação de açúcar e grãos (inclusive para a produção de etanol).O ministro também sugeriu ter interesse em fazer negócios comuma empresa de Dubai que pretende plantar arroz ou trigo.(Informado em junho de 2009)

Fonte: Ver nota final 16.

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alguns peritos alertam que o crescimento popu-lacional está prestes a superar a oferta dealimentos. Para outros pensadores, o mundosempre será capaz de inventar novas maneirasde aumentar a produtividade, especialmente sehouver mais investimentos no setor agrícola. AFAO, por exemplo, acaba de fazer exatamenteessa proposta, dizendo que a África é um“gigante adormecido” da agricultura, enquantoo Banco Mundial, revertendo décadas de apatia,vem exaltando o potencial da agricultura comoferramenta de expansão econômica. O Bancoavalia que o “aumento do PIB gerado naagricultura é, no mínimo, duas vezes maiseficiente para a redução da pobreza” do que ogerado em outros setores.18

Historicamente, no entanto, a agriculturatem sido um item ínfimo no orçamento da ajudaexterna. Por anos a fio, diversos governos,fundações privadas e instituições doadoras comoo Banco Mundial conclamaram os governosafricanos a suprir a falta de dispêndios por meiode investimentos privados. Agora, no exatomomento em que uma crise de alimentos sematerializa, engendrando uma possibilidade,quem sabe transitória, de um influxo de capitalna agricultura africana, algumas dessas mesmasinstituições emitem mensagens conflitantes. AFAO, por exemplo, foi copatrocinadora de umrelatório cujas conclusões exigem maiorexpansão da agricultura comercial na África; aomesmo tempo, porém, o diretor-geral daentidade adverte sobre os perigos “neocoloniais”dos negócios fundiários.19

Teoricamente, os investimentos poderiamtrazer imensas compensações. Em um país comoa Etiópia, por exemplo, os plantadores de trigofazem esforços extenuantes, mas o rendimentopor área cultivada é cerca de um terço do queos agricultores na Europa, China ou Chileobtêm. Até mesmo intervenções modestaspoderiam começar a diminuir esta discrepância.Se insumos avançados, sementes melhoradas efertilizantes fossem usados, o rendimento dotrigo no rico solo argiloso da região do Vale do

Rift poderia ser duplicado. A Etiópia, assimcomo o restante da África, está repleta de opor-tunidades como essa, em que investimentossensatos poderiam ser utilizados para encherestômagos e rechear carteiras. O segredo, dizemmuitos conhecedores do assunto, é incluir osafricanos no processo de seu próprio desen-volvimento. Em maio de 2009, numaconferência sobre o fenômeno da aquisição deterras, Chido Makunike, produtor e comercianteagrícola nascido no Zimbábue, declarou:“Vocês… propõem ir até um país e fazer inves-timentos lá, onde vocês não conhecem nada, enem querem conversar com as pessoas do lugar?Não consigo entender, inclusive não entendo doponto de vista puramente comercial qual é alógica disto. A agricultura já é um negócio bemarriscado do jeito que está”.20

Makunike aponta para uma questão crucial:além de contestáveis do ponto de vista moral eprejudiciais aos interesses da maioria dosagricultores pobres, transações agrícolas iníquassão mau negócio. Quando o presidente deMadagascar foi deposto, o conglomerado sul--coreano que fechara um acordo para fazeragronegócios no país viu seus planos de inves-timento fazerem fumaça e, além do mais, sofreuuma investida violenta de publicidade negativa.Na tentativa de evitar este tipo de constran-gimento, no ano passado, o primeiro-ministrodo Japão – país importador de alimentos –começou a pressionar por um código deconduta internacional que reja investimentosem terra. A FAO recentemente promoveu umasérie de encontros com o intuito de criar aquiloque a instituição chama de diretrizes voluntáriaspara boa governança em relação à terra.21

Sem dúvida, a palavra problemática é“voluntária”. Se a Etiópia e a Arábia Saudita,ambas sob administração de governos obscurose autoritários, decidirem que querem interromperuma transação agrária, o que é que as organi-zações internacionais podem fazer além de carafeia? E que direito têm essas entidades de adotarmedidas mais enérgicas? Muitas das agências da

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mentos agrícolas devem emitir previamente seuconsentimento, com liberdade e munidos deinformações. Contudo, na prática, quando setrata de decidir o que é e como se obtémconsentimento, falar é mais fácil do que fazer.Consideremos, por exemplo, o caso deMoçambique. Dos 34 milhões de hectaresaráveis, o país cultiva cerca de 4 milhões, e nãomuito tempo atrás, o governo anunciara estaraberto para investimentos estrangeiros,instituindo, então, uma política de consulta àscomunidades locais. Porém, ficou claro que asreuniões foram insatisfatórias, dispuseram deinformações insuficientes e acabaram dominadaspelas lideranças locais, deixando de foramulheres e outros interessados de menorenvergadura. Houve muita confusão, em parte,deliberada. Alguns lotes chegaram a ser“vendidos” três vezes a diferentes grupos deinvestidores. No final, o sistema foi derrotadopelo caos e pela procura. Depois de receberpropostas que totalizaram 13 milhões dehectares, o governo impôs uma moratória àspressas para impedir “outro Zimbábue”.23

Por fim, a terceira pergunta é: quem vaipagar? Existe um consenso geral de que énecessário aumentar os investimentos emagricultura nos países mais pobres. Isto incluifinanciamento para infraestrutura física, ensinode agricultura e pesquisa, elementos esses quedecresceram na metade dos países africanos nosúltimos 10 anos. Porém, durante a recessãoglobal, muitos países doadores se depararamcom fortes restrições em seus orçamentos paraajuda externa. Mas há esperança. A economiaafricana teve desempenho relativamente bomem comparação aos países do primeiro mundo,e o próprio Fundo Monetário Internacional fezprevisões de crescimento do PIB na ordem de6% na África subsaariana em 2010. Esse dadofaz com que o continente seja um campo cadavez mais atraente para o investimento privado.24

Além disso, existem muitas formas de investirna agricultura sem expulsar os agricultoresafricanos do campo. David Hallam, vinculado

ONU e ONGs são de países com longohistórico de agronegócios vultosos, portanto,quando seus representantes aparecem para fazersermão sobre investimentos adequados, os paísesem desenvolvimento só podem ser desculpadospor sentirem nessa conduta um cheiro de pater-nalismo. Sendo assim, será que algo pode serfeito? Não existem soluções que contentemgregos e troianos, mas conceber reformas querespondam a algumas perguntas simples poderiaser de grande ajuda no sentido de garantir queos investimentos em agricultura sejam dire-cionados para benefícios mútuos.

Em primeiro lugar, quem é dono do quê? Amaioria dos especialistas concorda que a primeiraprovidência crucial, antes mesmo que a terramude de mãos, é definir quem é o verdadeiroproprietário, problema espinhoso em países emdesenvolvimento, onde a posse de boa partedas terras não está documentada de acordo comos sistemas usuais. Alguns estudos mostramque, quando existe a titularidade legítima daterra, a produtividade econômica melhora. Porexemplo, em 1984, a Tailândia empreendeuuma iniciativa que emitiu 8,5 milhões de títulosde propriedade relativos a mais de 5 milhõesde hectares; posteriormente, uma avaliação dessamedida constatou que, depois de 16 anos, aterra produzia mais colheitas, vendidas a preçosmais elevados, e os proprietários tinham maioracesso a crédito. Em uma recente conferênciado Banco Mundial sobre direitos fundiários, ospalestrantes enfatizaram que, até mesmomedidas simplistas, como a confecção de mapasdelimitando a titularidade, seriam um grandeavanço para a garantia dos interesses dospequenos proprietários.22

Em segundo lugar, quem decide? Boa partedas iniciativas da comunidade internacional emrelação a investimentos privados na agriculturapassa por encorajar governos e investidores amanterem conversas com representantes dacomunidade local antes de fechar negócios. Emteoria, quase todos concordariam que osresidentes dos locais sugeridos para os investi-

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não trabalham duro para os outros. Elestambém escutaram rumores de que investidoresestrangeiros estavam interessados em terrasetíopes. Imam Gemedo Tilago, um idoso de78 anos, trajando um xale de algodão branco,fez um sinal com o dedo, pedindo que Alá nãopermitisse que a comunidade ficasse passiva.Mas este era um problema para o futuro, e osagricultores tinham preocupações maisconcretas. Na viagem de carro que percorreu astrilhas rurais até chegar a esta fazenda, o resse-camento da terra era evidente e as costelas dogado estavam à vista sob o couro marrom. Apreocupação dos agricultores era com as chuvassazonais vindas do Vale do Rift, que já estavamatrasadas. Se elas não chegassem logo, haveriafome.26

à FAO e uma autoridade em comércio,sugere um arranjo específico. No modeloproposto por ele, as fazendas comprodução comercial em larga escala cujosproprietários sejam investidores interna-cionais manteriam um “relacionamentosimbiótico” com pequenos proprietários,em que estes últimos venderiam suascolheitas para a fazenda e, em contra-partida, receberiam dela pagamento,crédito e assistência técnica. Outra ideia,que já apresentou em Zâmbia resultadosheterogêneos, embora promissores, é omodelo do “crescimento além da conta”,em que os pequenos produtores entregamtoda a produção para uma empresa degrande porte, que se encarregará então daembalagem e venda, dentro do próprio país oupara o exterior. Na região do Vale do Rift, naEtiópia, existe um acordo de uma cooperativadessa modalidade, em que cerca de 300 etíopestrabalham em lotes de 1,6 – 4 hectares. Oarranjo feito determina que durante o invernoeuropeu, os agricultores plantam vagem para omercado holandês, e no resto do ano cultivammilho e outras culturas para consumo local. Aterra está sendo irrigada com a ajuda de umaorganização sem fins lucrativos e um fazendeiroe comerciante etíope chamado Tsegaye Abebe,responsável por levar a produção para omercado.25

Um grupo de agricultores dessa cooperativaafirmou que o acordo, ainda que imperfeito,foi benéfico no aspecto mais importante: eles

Agricultora em Moçambique transmite informações sobre aescolha das melhores sementes para a época de plantio seguinte

USA

ID

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Nenhum agricultor deseja que as frutas ehortaliças produzidas com seu trabalho acabemno lixo. No entanto, em algumas partes da Áfricasubsaariana, onde mais de 265 milhões depessoas passam fome, mais de um quarto doalimento produzido estraga antes de serconsumido, devido a técnicas ineficientes decolheita ou armazenamento, condiçõesclimáticas severas, doenças ou pragas. As perdas pós-colheita de cereais, raízes,tubérculos, frutas e hortaliças e as perdas decarne, leite e peixe totalizam perto de 100milhões de toneladas por ano, ou US$ 48milhões em alimentos.1

Ziyelesa Banda é uma das lavradoras nodistrito de Mambwe, na Província Sul, emZâmbia. Durante anos ela teve que lidar com oproblema de cupins e outras pragas quedestruíam a lavoura. É possível produzir entre2,5 a 2,8 toneladas de milho por hectare,anualmente, mas o cupim destrói cerca de 20%da colheita. Além disso, Banda também precisaenfrentar o vírus do mosaico da mandioca.2

Segundo estimativa de Sunduzwayo Banda,funcionário de serviços de extensão rural, dosUS$ 760 que Ziyelesa Banda espera obter com avenda de sua colheita, haverá uma perda de US$ 260 por ano. Num país em que a maioriada população vive com menos de US$ 1 por dia,essa cifra é monumental.3

Ziyelesa Banda e outros agricultores contamem se beneficiar com a tecnologia que estásendo desenvolvida pelo Instituto Nacional de Pesquisa Científica e Relações Industriais(NISIR) e demais instituições de pesquisa. “Aqui no NISIR, queremos iniciar umacolaboração com as pequenas jazidas deMindeco, para a criação de um pesticida que useo talco em pó produzido pela mina”, disse RayHandema, diretor-superintendente adjunto doInstituto. As jazidas remuneram o NISIR paraque eles descubram a eficácia do uso do talco

em pó como inseticida. Agora que o trabalho delaboratório já está concluído, o NISIR estácomeçando a fazer testes de campo. Handemadisse que, como Zâmbia importa a maior partedos pesticidas que usa, o NISIR tem por objetivo“encontrar uma solução local para problemaslocais”, nesse caso, usando material feitolocalmente com a tecnologia desenvolvida em Zâmbia.4

Os Mercados Comunitários paraConservação atendem a uma rede deagricultores na Província Leste de Zâmbia.Recentemente, passaram a comprar daGrainPro, Inc., das Filipinas, sacos paraarmazenamento de grãos, com a finalidade de proteger o milho de gorgulho e broca. “Com essa tecnologia de armazenamentohermético dos grãos, sem uso de pesticida,conseguimos impedir perdas de grãos pós-colheita, de sementes e de culturas mais caras,em particular nas regiões quentes de climaúmido”, observou Daniel Tesfaye Haileselassie,gerente de vendas e marketing da GrainPro. “As embalagens patenteadas (os “Cocoons”) daGrainPro são flexíveis e herméticas, permitindoarmazenamento seguro e prolongado de arroz,milho e trigo, e também de culturas maisvaliosas, como café, cacau e amendoim, eimpedem os danos causados por insetos,roedores e mofo. O armazenamento herméticode sementes preserva a capacidade degerminação, trazendo mais uma grandevantagem, e esse é também um dos motivos da crescente adesão de diversos países”.5

Outra opção para o armazenamento dassafras são os sacos como os criados pela PurdueUniversity, chamados de ArmazenamentoAperfeiçoado pela Purdue para Feijão-Fradinho(PICS). Neste caso, os sacos são vedadoshermeticamente para que previnam acontaminação por oxigênio e pragas e, deacordo com Martin C. Jischke, reitor da Purdue,

Melhor Armazenagem de Alimentos

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ESTADO DO MUNDO 2011 DIRETO DO CAMPO: Melhor Armazenagem de Alimentos

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procedimento importantíssimo. Porém, talcomo ocorre com a refrigeração, a maioria dosagricultores não dispõe da infraestruturanecessária para processar e produzir laticíniosde melhor qualidade.

No Quênia, em Uganda e em Ruanda, oprojeto Aprimoramento de Laticínios da ÁfricaOriental (EADD) está apoiando criadores degado a aperfeiçoarem o processamento econservação de leite, com o intuito de gerarprodutos de maior durabilidade, mais saborosose mais seguros para o consumidor. O EADDincentiva que os agricultores participem decooperativas, porque esse é um meio de elesterem acesso a centros de coleta de leite comequipamentos coletivos de refrigeração, que elesmesmos gerenciam, e de diminuíremsensivelmente seus encargos financeiros. O leiteé enviado para uma central de processamento ede lá segue para o mercado, onde seu preço serásuperior ao do leite não pasteurizado.10

O aprimoramento da produção local dealimentos e o próprio mercado protegem aeconomia local, ao mesmo tempo em quefacilitam o acesso aos alimentos e reduzem odesperdício. Quando o vulcão na Islândia entrouem erupção, em abril de 2010, impedindo adecolagem de todos os aviões na Europa,milhares de produtos hortifrútis e flores – algunsdos quais são parte dos principais produtos deexportação do Quênia – apodreceram no limbo.Lírios, rosas, cravos, cenoura, cebola, milhoverde baby e ervilha-torta que abasteceriammercearias de alto padrão em toda a Europaestragaram amontoados em pilhas, nastrepadeiras e no chão, porque os armazéns dosaeroportos já estavam lotados e não haviamercados locais para esses produtos caros.11

Tendo em vista a contínua escalada dospreços mundiais dos alimentos, reduzir odesperdício será um elemento crucial para aliviara fome e a pobreza no mundo. Até mesmopequenas providências, como aperfeiçoar oarmazenamento, plantar hortaliças no jardim decasa e usar técnicas simples de processamento,podem reduzir sensivelmente o desperdício.

– Benedict Tembo, Zambia Daily Mail– Molly Theobald, Worldwatch Institute

“o método é simples, seguro, barato e muitoeficiente”. Na África Ocidental, o feijão-fradinholeva proteína a milhões de pessoas. Ao contráriodo milho, o feijão-fradinho é nativo da região eadaptado às condições locais de cultivo, por issomesmo uma fonte ideal de alimento.6

Além de preservar uma importante culturasazonal durante o ano, com os sacos PICS, osagricultores economizam no uso de pesticidascaros. Contando com o patrocínio da FundaçãoBill & Melinda Gates, o projeto PICS esperachegar em 28.000 povoados em Benin, BurkinaFasso, Camarões, Chade, Gana, Mali, Níger,Nigéria, Senegal e Togo até 2011.7

“A maior parte dos alimentos acaba indo para o lixo porque não temos estrutura paraprocessamento”, disse Ray Handema do NISIR.No entanto, manga, mamão, tomate e outrasfrutas podem ser desidratados com o uso desecadores de baixo custo. O amendoim e abatata doce podem ser fervidos e secos para ter duração prolongada. O NISIR está tambémaproveitando limão para produzir limonada efazendo vinho com frutas silvestres comomasuku e mpundu.8

O processamento de alimentos pode aindaajudar os agricultores a fazer produtos maisatrativos. No Quênia, o Instituto Mazingiratreina comunidades no processamento dealimentos, para que eles tenham maior duraçãoe aparência mais apetitosa. Em um dessescasos, o Instituto ajudou Esther Mjoki Maifa, deNairóbi, a aproveitar o crescente interesse dosquenianos em produtos naturais e saudáveis eensinou-lhe a processar amendoim, sem uso deconservantes ou outros produtos químicos. Para que se processem 50 kg de amendoim, énecessário quase um dia de trabalho, e o preçoque Maifa consegue por um pote varia entreUS$ 2,50 e US$ 3,50. Maifa espera que, um dia,consiga ganhar o suficiente com os produtosque vende para poder comprar seu própriotriturador.9

A pasteurização é mais um método deprocessamento que também pode prolongar avalidade dos alimentos e agregar-lhes valor. O leite não pasteurizado estraga com facilidadee, portanto, pasteurizá-lo, ou seja, aquecê-lo atéuma temperatura especificada necessária paramatar as bactérias patogênicas, é um

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Os Elos Perdidos: Além da ProduçãoSamuel Fromartz

Quando se discute agricultura africana,em geral, os excedentes de alimentosnunca fazem parte do foco da discussão.

Invariavelmente, os temas mais conhecidos sãoa fome, a inanição, o desmatamento e a imensaincapacidade de um continente de proveralimentos à sua população, como mostra suamais recente crise alimentar.

É por isso que as manchetes de Lusaka,Zâmbia, em maio de 2010, surpreenderamtanto ao anunciar uma impressionante safra demilho. Graças a subsídios a fertilizantes e àschuvas favoráveis, a produção dos 800.000produtores de milho do país cresceu 48%, onível mais alto em 22 anos. Esse crescimento

espetacular ocorreu após um aumento de 31%no ano anterior. Agora, a queda nos preços domilho era o centro das especulações, espe-cialmente durante o período de seca entre junhoe agosto. “Uma onda gigantesca de milhoinundará o mercado”, previu Rob Munro,conselheiro sênior de desenvolvimento demercado da Agência para o DesenvolvimentoInternacional (AID) dos EUA, em Lusaka.1

Nas cidades, o foco era o preço do mealie,uma espécie de creme feito de milho ralado, ese os moinhos repassariam seus ganhos ouengordariam suas margens de lucro. O governoestava preocupado sem saber o que fazer com

Amendoim à venda no Grand Marche, periferia de Niamey, Níger

Ber

nard

Pol

lack

Samuel Fromartz é autor de Organic, Inc., tem um blog sobre alimentos e é colaborador da seção decomida do Washington Post.

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toda essa comida. Zâmbia tivera um excedentede 600 mil toneladas na safra de 2009, partedo qual ainda estava nos armazéns. E agoraainda haveria um excedente de 1,1 milhão detoneladas da safra de 2010. As exportações eramincertas, por causa das restrições esporádicas aocomércio. Além disso, o milho de Zâmbia tempreço mais alto do que o milho sul-africano,pois o custo de produção da África do Sul é omais baixo da região.2

Zâmbia estava produzindo tanto alimentoque o excedente tornou-se um problema. Noentanto, não há como negar que a produçãode alimentos foi um sucesso inequívoco. Osagricultores zambianos produziram milho alémdo suficiente e fizeram isso com culturas trans-gênicas ou, na maior parte, com equipamentomecanizado e irrigação. Mas esse desen-volvimento levantou uma série de perguntas:se os agricultores realmente modernizaram eaumentaram seu rendimento, seria o excedenteainda maior a ponto de desafiar a capacidadepolítica para lidar com essa abundância? E porque o país ainda enfrentava fome e desnutriçãoinfantil se havia comida em excesso?

Segurança Alimentar desde o Início

De certa forma, a situação de Zâmbia ofereceo estudo de caso perfeito de uma cadeia devalor, isto é, todos os passos necessários àprodução de alimentos e à sua colocação nomercado. (Ver Quadro 13–1.) Muitas vezes, aquestão da segurança alimentar se reduz a umslogan, como “alimentar 9 bilhões de pessoas em2050”, muito provavelmente se referindo a umanova semente transgênica. Mas, apesar daatração que exercem sobre as pessoas, essaspromessas passam longe de uma soluçãoabrangente. Na verdade, elas representam umaabordagem simplista, e até errada, desligada docontexto mais amplo da agricultura: onde ecomo o agricultor recebe sementes e insumose quanto paga por isso; se há disponibilidadede mão de obra e equipamentos; se existe

assessoria de serviços de extensão rural no prazoadequado; se existem mercados viáveis paraabsorver a safra; se os preços são transparentese se, no final do dia, os agricultores conseguemdinheiro suficiente para comprar comida e enviarseus filhos à escola, e, talvez, até mesmo, parasair da pobreza. Semente e alarde na mídia nãoresolvem esses problemas, tampouco o objetivoúnico de aumentar a produção sem levar emconta esses detalhes, como mostra o caso deZâmbia.3

Essas questões são o motivo de uma viagempor uma estrada poeirenta no Mkushi, ao centrodo cinturão do milho de Zâmbia, cerca de trêshoras a noroeste de Lusaka. Consultores doPrograma PROFIT (Produção, Finanças eTecnologia) da AID são enviados ao “mato”para se reunir com os agricultores. Este inovador“programa de desenvolvimento do setorprivado” de 17 milhões de dólares, lançado em2005, procurou trabalhar com as empresasexistentes para impulsionar a agricultura familiar.A primeira coisa que o programa fez foi disponi-bilizar insumos aos agricultores, não comoesmola, mas explicando aos revendedores deinsumos que o pequeno agricultor era ummercado valioso e viável. Em seguida, tentaramabrir novos canais de venda, uma vez que ospequenos agricultores tinham pouquíssimaschances nos canais de distribuição tradicionais.Em 2009, o PROFIT estimou que os projetosgeraram ganhos superiores a US$ 14 milhõesaos 150 mil agricultores que, de alguma forma,participaram do programa.4

Na zona rural de Mkushi, as cabanas de palhadas aldeias estão rodeadas por campos de milhoque os agricultores cultivam manualmente.“Fazendas comerciais” de milho e trigo muitomaiores, graças à enorme explosão deequipamento mecânico e de irrigação, avançampara a margem das estradas poeirentas – ocenário não é diferente de um campo de milhode Iowa. Depois que suas terras foramapropriadas, muitos agricultores comerciaisimigraram do Zimbábue e estão se saindo muito

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bem no ambiente favorável a investidores deZâmbia. Essas modernas fazendas comerciais(cerca de 700 a 800), juntamente com os 4% depequenos agricultores, cultivam cerca de metadedo milho do país.5

Elas pertencem a um segmento totalmentediferente da grande maioria dos pequenosagricultores de Zâmbia, que usam enxadas, bois,ou, se tiverem sorte, um trator. Esses 750 milagricultores cultivam os 50% restantes daprodução de milho. Por falta de irrigação, ospequenos produtores plantam milho emnovembro, pouco antes da chegada das chuvas,

e colhem em abril, quando termina a estaçãochuvosa. Nos meses secos do inverno, o trabalhode campo é pequeno, a menos que o agricultortenha conseguido um sistema de irrigação. Asbombas a pedal – bombas acionadas pelo péque podem canalizar água de córregos ou poços– são populares entre aqueles que cultivamhortaliças durante o inverno. Os dias de Solabundante e clima ameno dos meses de invernosão ideais para culturas de alto valor, como otomate. Mas sem uma fonte de água ou dinheiropara comprar uma bomba, os agricultoresvendem o milho e depois esperam as chuvas

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Quadro 13-1 - Um Negócio Melhor

Matooke, ou banana verde, é a principalcultura de Uganda, mas os meios tradicionaisde distribuição não beneficiam nem oagricultor nem o atacadista. Compradoresestabelecidos em cidades agrícolas contratam“meninos de bicicleta” para fazer a ronda pelasplantações e comprar a banana produzidapelos agricultores. Em geral, os agricultorestêm pouco conhecimento do mercado e umagrande dose de desconfiança doscomerciantes.

Com uma demanda tão forte por banana, oTechno-Serve, grupo não governamental comsede nos EUA, pensou que o cultivo dessafruta pudesse gerar renda para os agricultoresse os problemas de mercado fossemsolucionados. Esta foi apenas uma das muitastentativas recentes, na África, de melhorar acadeia de valor ligando agricultores ecomerciantes de insumos, dandotransparência às vendas por meio datecnologia móvel que oferece cotação depreços e dados de mercado, obtendoempréstimo de microcrédito – e melhorando orelacionamento comercial entre compradores evendedores.

O TechnoServe primeiro incentivou osprodutores de banana de Uganda a formar

grupos de negócio, que comprariaminsumos, ofereceriam assessoria técnica aosagricultores e também venderiam sua safra.Os representantes dos grupos se reuniamcom os compradores de banana e discutiamestruturas de preços, requisitos do produtoe pontos de distribuição.

Com a união dos agricultores, os custosde transação diminuíram drasticamente. “O preço que os agricultores recebemmelhorou cerca de 70%”, disse EratusKibugu, diretor do Technoserve para oInterior de Uganda. “O comprador conseguepagar mais, porque deixa de perder dinheirocom ineficiências incorporadas à cadeia decomercialização.”

Cerca de 20.000 agricultores agoraparticipam do projeto de banana de Uganda.O TechnoServe também conta com aparticipação de um banco que forneceempréstimos de microcrédito aosagricultores que quiserem expandir sualavoura. A média de empréstimo é dealgumas centenas de dólares, com índice deadimplência de 97%.

No Quênia, os horticultores tiveram umproblema semelhante. Os preços querecebiam dos comerciantes eram muito

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retornarem na primavera. É por isso que 35%desses pequenos agricultores compram alimentosdurante o ano.6

Como em outras regiões da África, o fim dasafra marca um momento complicado para essespequenos produtores, uma vez que eles, aospoucos, consomem parte da safra quearmazenaram ou compram comida com odinheiro que obtiveram da venda da colheita.Em dezembro, os estoques de alimentos e odinheiro costumam estar em baixa. “Osagricultores ficam sem comida e, então, têm detrabalhar duro nos campos, com muito pouco

para comer”, ressalta Mabvuto Chisi, consultorde negócios do PROFIT no Mkushi. “Os mesesde dezembro a março são os piores, porque elesestão trabalhando e esperando a colheita deabril.” Uma em cada cinco famílias de agricultoresé composta por mulheres que criam os filhossozinhas, e para elas, a situação é ainda maisdifícil.7

À margem de estradas de terra no campo,muitas mulheres são vistas carregando bebês emercadorias. Crianças em uniformes escolarescarregam enxadas, prontas para trabalhar nalavoura. Ocasionalmente, passa alguém montado

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Quadro 13-1 - continuação

mais baixos do que os do mercado atacadistade Nairóbi, onde seu produto acabavachegando. Um empreendimento conhecidocomo DrumNet agora liga os agricultores aomercado, para que eles possam tomarmelhores decisões e fazer vendas maisvantajosas. O DrumNet pretende oferecer umagama de serviços pagos por Internet, inclusiveligações entre mercados, preços em temporeal, coordenação dos transportes e produçãoe compra de insumos agrícolas em grupo.

O telefone celular também desempenha umpapel importante em toda a África ao fornecerdados de mercado e capacidade de transação,muitas vezes por mensagens de texto, que sãomais baratas que as chamadas de voz. No Níger,a utilização do celular para obter informações demercado reduziu a variação regional do preçodos grãos em 20%. Ele também reduziu oscustos de pesquisa dos comerciantes em 50%,além de fornecer informações para que osagricultores possam planejar sua resposta aexcesso ou escassez de cereais. A E-soko,empresa de telefonia móvel na África, é outroexemplo, pois ela fornece dados de preços de300 mercados e acompanha commoditiesespecíficas. Os dados também podem serenviados para a web para que os agricultores

acompanhem as informações de mercado aolongo do tempo.

Outra inovação tecnológica, trazida paraUganda pela Grameen Foundation em junhode 2009, é o Trader Google. Com umadoação da Bill e Melinda Gates Foundation,a tecnologia liga os agricultores a ummercado maior através de um boletimeletrônico. Além disso, um aplicativochamado Farmer’s Friend (Amigo doFazendeiro) fornece as previsõesmeteorológicas da região e informaçõessobre pecuária, pragas e controle dedoenças, bem como dicas de plantio earmazenamento.

Em outro exemplo, a União Nacional deAgricultores de Zâmbia, apoiada pelo FundoInternacional de Desenvolvimento Agrícola,fornece preços de mercado e informações decontato de comerciantes por meio demensagens de texto e de um site.Atualmente, ela tem 30 mil clientes quecomparam e negociam preços para depoisrealizar as operações. O projeto seráampliado em breve para a RepúblicaDemocrática do Congo.

– Samuel Fromartz e Abigail Massey Fonte: Ver nota final 3.

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da AID. No cinturão do milho, onde as pessoasestão encontrando soluções para a fome, aquestão passa a ser como melhorar sua área deplantação e deixar de viver em situação tãoprecária. Elevar o rendimento faz parte daequação, uma vez que se traduzirá em maiorprodutividade. Mas a questão não é apenas orendimento, porque a produção maciça podederrubar os preços. Parece que foi isso queaconteceu em 2010, quando a área de terraplantada aumentou em um quinto, a produçãode milho cresceu 22% e a quantidade de milhocolhido, em vez de ser abandonado no campo,também aumentou. (Ver Figuras 13–1 e 13-2.)Então, como o agricultor consegue viver nessemundo de produção tão cheio de altos e baixos?9

Justine Chiyesu, um “agricultor emergente”que representa, talvez, 4% dos agricultores deZâmbia, os quais formam um grupo comercialpequeno, mas notável, oferece uma resposta.Ele vive na aldeia de Chikupiloi, a mais oumenos 60 quilômetros de Mkushi, na zonarural, em uma casa de tijolo com telhado dezinco, o que representa um passo à frente emrelação às cabanas de palha de seus vizinhos.Ele tem dois telefones celulares, sendo que umdeles frequentemente emite uma mensagem emvoz baixa, “chefe, você tem uma mensagem detexto”. Ele também tem um blazer Armani.Apesar desses sinais de sucesso, sua aldeia nãotem eletricidade (os celulares são movidos abateria solar). Existe apenas uma escola de umcômodo, e a maioria de seus vizinhos aindacolhe grãos manualmente, batendo a palha demilho seca com um bastão em uma grade demadeira para liberar os grãos. Chiyesu tem umadebulhadeira mecânica e quer comprar umanova, razão pela qual o revendedor deimplementos, Mwape, está viajando com ostrabalhadores da AID. De muitas maneiras,Chiyesu está vivendo em dois mundos: entreos pequenos agricultores, sem ser mais umdeles.10

Sua trajetória é impressionante, considerando--se que ele está na atividade agrícola há apenas

em uma bicicleta. Alguns carregam sacos demilho na bicicleta, outros carregam na mão.Crianças aparentando cinco anos de idadeequilibram um saco de milho na cabeça. Ossacos pesam cerca de 50 quilos, embora os queas crianças carregam sejam menores.

Os agricultores transportam o milho parapontos de coleta à beira da estrada, onde ossacos ficam empilhados. Caminhões chegampara levar a produção, e os agricultores vão paracasa com o que conseguiram obter da venda aesses intermediários, geralmente entre 20.000e 25.000 kwacha (4 a 5 dólares) por saco.Muitas vezes, o preço pago é ainda menor porcausa da qualidade inferior, muitos grãosquebrados, impurezas, e assim por diante. Umfazendeiro que cultiva um hectare de milhocom produção pouco acima de 1,5 toneladacolherá 34 sacas de milho. Ele receberá um totalde 170 dólares, sem contar as despesas comfertilizantes, sementes ou embalagens. E issosomente se toda a produção for vendida, o quenão acontece, porque parte dela é retida paraservir de alimento e de sementes para novoplantio. Dois hectares de milho é o máximoque um agricultor consegue cultivar sozinho, oque significa um rendimento bastante escasso,mesmo em um ano de boa produtividade.Muitos não podem dar-se o luxo de escolherquando e para quem vender, eles estão deses-perados e precisam vender para comer. Então,aceitam o preço que lhes é oferecido. Queixassobre negociações injustas são comuns, mas asalternativas são poucas.8

Ao longo da estrada, as feiras que vendemdireto do produtor são movimentadas, cheias deberinjelas polpudas, batatas-doces gigantes,tomates e pepinos. Embora essas áreas ruraissejam pobres, sem água encanada, ruas asfaltadase energia elétrica (com exceção de telefonescelulares), ninguém parece estar morrendo defome. “Aqui, todos podem ter pelo menos umarefeição por dia”, diz Wilson Mwape, negociantede implementos agrícolas e nativo da região deMkushi e que está agora viajando com a equipe

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negócios para os seus vizinhos. Como oslavradores que vendem seus produtos à beirada estrada não têm poder de negociação, ospreços obtidos por eles não são muito bons –4 a 5 dólares a saca. Percebendo que não era

alguns anos. Ele começou com doishectares, trabalhando a terra comuma enxada e um arado de traçãoanimal. Mas havia restrições.“Minha família é muito pequena,por isso dois hectares era muitaterra para ser trabalhada manual-mente”, disse ele. “Quando euchegava ao final da capina, o milhoque estava no começo do campo jáestava tomado por ervas daninhas.”No primeiro ano, ele colheu 54sacas de milho, produzindo 1,3tonelada por hectare, a média deum pequeno agricultor.11

Quando ficou sabendo, atravésdo programa PROFIT, que haviaa oportunidade de se tornar umagente local de uma empresa deinsumos, ele aproveitou a chance.Além de usar defensivos para elevaro rendimento da sua plantação,atuava como distribuidor paraoutros agricultores da área. Elerecebeu treinamento para aplicaros produtos químicos corre-tamente e, com um pulverizadorde herbicida às costas, matava aservas daninhas de sua lavoura.Com o dobro da terra e a ajudadesses insumos, ele mais do quetriplicou sua produtividade,elevando-a para 4,3 toneladas porhectare. Em poucos anos, eleexpandiu sua lavoura para 37hectares e, atualmente, tem oitotrabalhadores em tempo integrale mais de 30 trabalhadoressazonais.12

Como até recentemente ele nãotinha conta bancária, colocava os milhões dekwacha (dezenas de milhares de dólares) emsacos, que escondia no meio de pilhas de roupa.Ele ganhava dinheiro, não só com a venda deinsumos e agricultura, mas também fazendo

Fonte: FAO, MACO e CSOMilh

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Figura 13-1 Produção de Milho e Área Plantada em Zâmbia, 2002-2010

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caminhoneiro e moinho. E isso deixa patenteque ele é um empresário africano.

Em termos de abundância de milho, umadas estratégias para evitar a queda de preço seriavendê-lo depois que passasse o tsunami demilho no mercado e os preços se recuperassem.Mas Chiyesu tem outros planos: “Eu vou venderagora”, ele diz. Ele quer vender antes que ospreços caiam, em vez de esperar sua recupe-ração. (Não há mercado de futuros em Zâmbia).Mas ele também tem a flexibilidade de aceitarum preço mais baixo, se for necessário, porquesua produtividade é muito maior do que a do

pequeno agricultor típico. Com 4 a 5toneladas de milho por hectare, ele podeadministrar a queda de preços, porqueproduz mais em relação a seus custos; amaioria dos agricultores que colhem umaou duas toneladas por hectare não teria amesma sorte. Eles ainda vendem porqualquer preço que lhes oferecem, compouca ou nenhuma recompensa por seutrabalho.15

Dessa forma, o excesso de produçãoenvia dois sinais conflitantes do mercadoaos agricultores: plantar menos porque asprobabilidades de ganhar dinheiro sãoruins ou plantar mais e se tornar muitomais produtivo para compensar no volumeo que se perde no preço.

Custos e Benefícios

Mas, ainda que o modelo de Chiyesu pareçaser a melhor estratégia, ele também impõe seuscustos a uma nação que está perdendo cerca de1% de suas áreas florestais por ano. Com aaprovação do chefe tribal, ele desmatou umaárea para expandir a própria fazenda, além deplantar milho sobre milho com o uso de ferti-lizantes e herbicidas. Se continuasse com essaestratégia, em pouco tempo seu solo estariaexaurido, mas ele pretende alternar o cultivo demilho com soja ou amendoim para manter o soloprodutivo. No entanto, para um agricultor que

muito vantajoso vender a intermediários, quedepois vendiam para os moinhos da cidade,Chiyesu passou a negociar diretamente com osmoinhos. Atuando como distribuidor para 200a 300 agricultores de sua aldeia, ele conseguiacerca do dobro do preço do milho vendido àbeira da estrada, ganho que ele repassava aosprodutores depois de descontar o custo dotransporte e uma pequena comissão.13

Chiyesu também atuava como agente defazendas comerciais da região, já que ele tinhaligações com caminhoneiros e donos demoinho. Quando lhe perguntam qual o melhor

negócio, comercializar ou plantar milho, eleresponde que é plantar. Quem planta o milhoe vende diretamente ao moinho, fica com todoo lucro – do cultivo e da venda. Sua meta éexpandir sua área de cultivo para 50 hectares econstruir um moinho na cidade.14

Esse processo é bastante semelhante à“integração vertical” e, apesar de Chiyesu nãoconhecer o termo, abraçou totalmente oconceito. Ele quer dominar todas as peças dacadeia de abastecimento para que possa usufruirde todos os lucros, em vez de perder fatias parao vendedor de insumos, distribuidor de grãos,

Fazendeiro contempla sua safra de milho prejudicada pelaseca de 2006 na Província do Sul, Zâmbia

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“orgânico” nunca vem à tona nas discussõesentre agricultores e conselheiros. Nas lojas, nãoparece haver demanda local e, sem demanda,não há incentivo para a difusão do conhe-cimento prático sobre métodos alternativos deagricultura.

Este é um grande desafio para os defensoresda agroecologia na África: qual é o incentivopara disseminar esses métodos, que demandammuito conhecimento especializado e nãoenvolvem a venda de insumos? Em contra-posição, as empresas de produtos agroquímicostêm todo o incentivo para divulgar os seusmétodos, pois a África é um mercado novo queestá em expansão.

Assim, há sementes de milho híbrido queexigem menos insumos, a mandioca que exigepouco fertilizante e a agricultura mista, queintegra os animais à lavoura. No segundométodo, o gado se alimenta dos caules de milhoapós a colheita e deixa o esterco, que aumentaa fertilidade do solo. Outra abordagempromissora promovida pelos defensores daagricultura de conservação é expandir o plantioda árvore msangu (Faidherbia albida), que fixanitrogênio graças a uma fenologia inversa. Ouseja, suas folhas crescem na estação seca, quandoos campos estão dormentes, e caem na estaçãochuvosa, quando o milho está crescendo,permitindo que a área de plantio receba luzsolar. Como a msangu fixa nitrogênio no solo,a fertilidade aumenta. Com isso, além deaumentar a produção em 250% a 400%, elatambém atua como um sumidouro de carbono,com potencial de gerar créditos de carbono paraos agricultores de Zâmbia.18

A pergunta sobre cada um desses métodosnão é qual é o “melhor” no sentido absoluto,mas qual é o método mais adequado e viável,dada a realidade enfrentada pelo agricultor. ParaChiyesu, os insumos representaram a formamais clara de aumentar a produtividade e arenda, apesar dos “custos externos” na forma deexposição a pesticidas ou degradação florestal.19

Chiyesu não teria alcançado o sucesso que

tem mata em abundância, fica muito fácil ver asvantagens de desmatar mais terras virgens paraplantar, em vez de trabalhar o mesmo solo.16

Ainda assim, poderia ser pior. Pelo menosChiyesu está seguindo as práticas agrícolas deconservação, como deixar caules de milho nocampo para que se decomponham e sejamincorporados ao solo, em vez de recorrer àqueimada, que é uma prática comum. Eletambém usa métodos para minimizar o preparodo solo e, assim, evitar a erosão. Se o objetivoé aumentar a produtividade e a renda, é difícilver um caminho mais direto, pois o uso de ferti-lizantes e de agricultura de conservação aumentao rendimento. Mas ele faz parte de umaminoria. A maioria dos agricultores cultiva osolo até que ele esteja totalmente exaurido, oque significa abandonar os campos e desmatarmais áreas para novos plantios.

Quanto a insumos, os revendedores nuncaconsideraram os pequenos agricultores ummercado, em virtude de sua dispersão geográfica.Em vez disso, os revendedores se concentram,quase que exclusivamente, na venda para grandesfazendas comerciais. Em 2006, o PROFIT seempenhou em mudar esse cenário por meio daformação de uma rede de fornecedores para asaldeias. Em três anos, ele tinha mais de 1.500agentes, como Chiyesu, atingindo 56.000agricultores. “Uma vez que você esteja nestemercado, o potencial é enorme”, diz ZuluLytton, diretor-executivo da revendedora deprodutos agroquímicos CropServe e queparticipa ativamente desse programa. As vendas,a maior parte delas de sementes híbridas eherbicidas, atingiram mais de um milhão dedólares. Em essência, o PROFIT fomentou umnovo mercado para os agrofornecedores, que,por sua vez, levaram sua tecnologia e seu conhe-cimento para o campo.17

Existe uma alternativa a esses insumosquímicos? Não parece ser algo de fácil acessopara Chiyesu. Não há profissionais da área deextensão rural especializados em agroecologia,por exemplo. De fato, em Zâmbia, o sistema

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horas. Um laptop, planilhas e uma impressoraportátil teriam feito maravilhas nesse processo,mas não importa, um dia depois, o empréstimofoi aprovado. (Ver Quadro 13-2 sobre outroprojeto conjunto da Dunavant para ajudar osagricultores.)20

Os empréstimos foram lançados como parte dainiciativa Compra para o Progresso do ProgramaMundial de Alimentos (WFP). O WFP comproualimentos localmente, evitando importações decaráter humanitário, que contribuem para sufocara agricultura local. Ao identificar os agricultoresemergentes e vender tratores por financiamentorural, o WFP estimulou o desenvolvimentoagrícola, em consonância com seus objetivos decompra local. No programa de empréstimo deUS$ 150.000, o WFP financiou 10 tratores; aDunavant, ansiosa para colocar os tratores nocampo a fim de aumentar a produção de algodão,já financiou mais 10. Os empréstimos de trêsanos é um sucesso, e o primeiro agricultor pagouseu empréstimo em 12 meses, incentivandoemprestadores do setor privado a se juntarem aoprograma. Esse é um exemplo de como asagências multilaterais poderiam estimular umainiciativa do setor privado, que logo assumiriauma dinâmica própria.21

O grupo por trás desses empréstimos, quetambém inclui a Corporação Financeira Inter-nacional e o PROFIT, sabia que a obtenção detratores pelos agricultores e a produção dealimentos não eram o único problema. Oproblema seria vender o alimento no mercadode Zâmbia. Assim, o WFP passou a comprarseus suprimentos humanitários de alimentosem uma bolsa de cereais chamada Zamace,criada em 2007 em Lusaka. A bolsa tem umasessão diária de negociação e dispõe de armazénsem regiões produtoras de grãos, que podematestar a qualidade do produto. Os agricultoresjá não precisariam vender sua produção naestrada; eles poderiam vendê-la a um preçoselecionado na bolsa, desde que sua safra tivessequalidade suficiente para ser aceita em umarmazém certificado. O WFP, por exemplo,

alcançou sem um trator. O trator possibilitouque ele cultivasse suas próprias terras e tambémfoi primordial em sua aldeia, pois ele foi o únicoentre várias centenas de agricultores queconseguiu comprar um. Oferecendo os serviçosdo seu trator, ele possibilitou que outrosagricultores também se tornassem maisprodutivos. Dessa forma, o sucesso de Chiyesugerou renda para toda a aldeia. Reconhecendoesse potencial, uma parceria de agências multi-laterais de ajuda tenta implantar um programade empréstimo de trator em Zâmbia, que jáacontece em Chongwe, na Província Central,onde um agricultor recebeu um.

Ajuda de Fora

“Procuro o escritório da Dunavant”, dizJames Luhana, um conselheiro do PROFIT daAID depois de dirigir por horas em estradas deterra. A Dunavant, empresa dos EUA, compraalgodão de Zâmbia, mas não tem “escritório”na aldeia, apenas uma cabana com piso de terrabatida com uma pequena tabuleta anunciandoo nome da empresa e um laptop movido aenergia solar em que um administrador faz osregistros. O agricultor que Luhana encontratinha esperado pacientemente grande parte dodia para ser atendido. Então, Luhana iniciaimediatamente seu trabalho. A tarefa: fazer umademonstração de lucro/prejuízo para que oagricultor possa habilitar-se para um empréstimono setor privado. Por meio de um mecanismoum tanto complexo, ele já recebeu o trator e oempréstimo do grupo, mas a carteira de créditoserá assumida por um banco, que precisa deuma demonstração financeira. Assim, à sombrade uma cabana de palha ao ar livre, Luhanapreenche a demonstração: custos mensais comfertilizantes, sementes, diesel, insumos, vendase rendimento por hectare. Surpreendentemente,o agricultor tem todos os números na cabeça.Depois de três horas, a demonstração de lucrose o balanço são concluídos e Luhana volta paraLusaka dirigindo seu caminhão durante cinco

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Quadro 13-2 Serviços Bancários por Telefone

Enos Banda talvez seja o agricultor que maistrabalha no Maláui – e também o dono domaior sorriso. Ele sustenta a família de cincofilhos com a agricultura. Porém, Enos estáperdendo a maior mudança ocorrida naagricultura de pequena escala nas últimasdécadas. Bem do outro lado da fronteira, nabarulhenta cidade de Chipata, em Zâmbia, aMobile Transactions e a gigante do algodão,Dunavant, lançaram um novo sistema depagamento pelo qual os produtores dealgodão recebem crédito eletrônico, em vez de dinheiro.

Usando a tecnologia de serviços bancáriospor telefone, 100 produtores de algodão estãosendo pagos por meio de suas contas pessoaisno celular. E em torno desses agricultores seestende uma rede de lojas e estabelecimentoscomerciais que aceitam essa forma depagamento de insumos e implementosagrícolas. As escolas também aceitampagamentos de suas taxas por meio eletrônico.

O uso de celular pelos agricultores aindanão é tão revolucionário. Mas será. Há umacrescente rede de acesso financeiro rural e deliquidez que permite a criação de uma amplagama de novos serviços – com os zambianosda zona rural à frente. Essa rede permitirá aosagricultores fazer depósitos que rendem juros,criar dados brutos necessários para modelosviáveis de seguro de culturas, fornecerinformações sobre padrões de gastos doagricultor que são necessárias à obtenção deempréstimos agrícolas, aumentar a capacidadede empréstimo e pagamento para ampliar oalcance do agrofinanciamento e forjar relaçõesde maior confiança entre agricultores eempresas – a base de novos compromissoscomerciais.

Voltando ao Maláui, Enos Banda sabe pouco dessas possibilidades tãoempolgantes. Mas ele saberá mais embreve. Há muitas razões para que as redesde serviços bancários por telefonia móvelcheguem ao Maláui tão logo seja possível.Para começar, o país tem uma densidadedemográfica 10 vezes superior à de Zâmbia,o que facilita a criação de uma redefinanceira. As atuais redes de telefoniamóvel são semelhantes às de Zâmbia,portanto qualquer mudança na tecnologiaexistente será relativamente simples e direta.A produção agrícola praticamente cobrecada metro quadrado do Maláui, por isso arelevância da abertura de novas fontes deagrofinanciamento é enorme. E háexatamente a mesma possibilidade demudança sistemática do suporte financeirodo setor agrícola que há em Zâmbia.

Este é o lugar onde um doador ouinvestidor sábio poderia criar uma mudançareal. A Mobile Transactions, empresa detecnologia pioneira em rede financeira ruralem Zâmbia, e outras empresas desse tipoainda estão engatinhando. O esforço e ocapital necessários para estabeleceroperações bancárias por telefonia móvel emZâmbia são grandes, e será necessário aindamais para que elas sejam internacionais.Mas os modelos estão lá. A tecnologia estálá. O conhecimento existe e crescediariamente. Este é o lugar perfeito para aspessoas que têm recursos e visãoacelerarem a mudança real para agricultorescomo Enos Banda.

– Graham Lettner Mobile Transactions,Lusaka, Zâmbia

Fonte: Ver nota final 20.

colocou na bolsa uma proposta de compra degrão e deixou que os negociantes da bolsacolocassem seus preços de venda. Durante opregão, quando um revendedor optava porvender por um preço mais baixo, os preços

caíam; quando o pregão fechava, o WFP ficavacom o menor preço. Esse sistema baixou o preçode seus programas alimentares, acrescentou atransparência que faltava à venda informal àbeira da estrada e reduziu o número de inter-

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agricultores, o preço da FRA agiu como um“preço mínimo” percebido, embora tivessepouca relação com o mercado e produzisse umefeito claro: a grande maioria dos agricultoresque não conseguiu celebrar contrato com aFRA se sentiu enganada pelo restante domercado.23

Então, qual é a alternativa? Se o governocortar os subsídios a fertilizantes, a queda naprodução e no rendimento será brutal, ou talvezos fazendeiros mudem para culturas que usammenos insumos, como a mandioca. Ou talvezo governo devesse investir mais dinheiro eminfraestrutura básica, como estradas, ferrovias eágua, o que por sua vez, poderia reduzir oscustos de transação (e obter benefícios sociais).O resultado líquido seria uma produção demilho mais competitiva. O PROFIT e suaequipe depositam suas esperanças nesse modelode mercado, que levaria os agricultores a setornarem competitivos em relação aos baixospreços do milho do sul da África. Mas comoessa abordagem leva tempo, talvez quando seusresultados chegassem muitos agricultores jáestivessem fora da terra. Nem todos conseguiriamaumentar os rendimentos da mesma forma queJustine Chiyesu. Afinal, ele é um “agricultoremergente” – um caso isolado entre os 4% maisbem-sucedidos, e não um pequeno agricultortentando viver com um ou dois hectares.24

Nesse meio tempo, a explosão na produçãode milho se traduz em queda de preços e de rendapara os agricultores. Em Zâmbia, como na África,uma explosão na produção, sozinha, não resolveo empobrecimento dos pequenos agricultores.A produção é a primeira coisa a ser consideradaquando se trata de agricultura e alimentação daspessoas, mas certamente não é a última. Nem éalgo a ser perseguido isoladamente.

mediários. E mais, os agricultores podiamdecidir se vendiam seu produto ou se esperavampor um preço melhor no futuro.

“Neste momento, a bolsa ainda não passade um modelo teórico”, diz Rob Munro doPrograma do PROFIT da AID. A bolsa aindaé muito pequena para influenciar os preços deforma mais ampla, embora ela esteja crescendoem função da legitimidade trazida pelo WFP.A despeito de o volume de negócios da bolsa tercrescido 127% em 2009 e atingido a casa dosUS$ 19,3 milhões, esses números ainda cor-respondem apenas à metade do esperado. Nocurto prazo, os pequenos agricultores nãodispõem de outras alternativas, a não ser a vendaaos intermediários da beira das estradas, e essasituação não mudará enquanto a bolsa nãoatingir massa crítica.22

As perspectivas dos agricultores são aindamais ofuscadas pela agência governamentalFood Reserve Agency (FRA), que comproumilho a um preço superior. A FRA vendeu umaparte desses grãos e armazenou o restante, porisso, quando ocorreu o excesso de safra de 2010,ela ainda tinha milho da safra de 2009. Osagricultores esperavam que o governocomprasse sua produção a um preço maiselevado, mas apenas uma parte deles conseguiuvender para o governo. Olhando por esseprisma, Zâmbia gastou milhões em subsídiosa fertilizantes para aumentar a produção, depoisgastou milhões para tentar absorver o excedentee outros milhões para armazenar os grãos emarmazéns, onde uma parte da safra apodreceu.O resultado final foi que ninguém, salvo oscomerciantes da Zamace que operaram umafatia desse comércio, realmente sabia qual era opreço transparente de mercado. E esse preçotambém foi duplamente afetado, de um ladopelas compras do governo e de outro pelaimposição de restrições comerciais. Para os

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Igrejas e outros grupos de assistência combase religiosa que trabalham na África têmuma longa e admirável história de trabalho emfavor do alívio da fome. Muitas vezes, porém,esses grupos concentram sua assistênciaapenas na ajuda alimentar e não chegam aabordar as causas subjacentes da fome. A distribuição, aos agricultores, de sacos detrigo do Nebraska durante períodos de fomeou de presentes anuais, como petrofertilizantese sementes “milagrosas”, pode aliviar a fomeno curto prazo, mas perpetua a dependênciados agricultores africanos da benevolênciaexterna. E seu efeito é pequeno sobre aresiliência de longo prazo da terra.

Hoje, várias igrejas e organizações cristãsde desenvolvimento com longos anos deserviço na África estão usando abordagensmais holísticas à fome, buscando as respostasdos próprios agricultores.

Peter Cunningham, missionário agrícolaaustraliano que trabalhou durante nove anoscom a Serving in Mission, no Níger, está bemconsciente das abordagens à fome que nãofuncionam. “Houve incontáveis intervençõesdo projeto e milhões de dólares foram gastosno Níger nos últimos 30 anos”, diz ele, “tudoisso para reduzir a pobreza, porém com poucoou nenhum benefício duradouro à agriculturapraticada pelas aldeias. A adoção cessaquando o projeto é interrompido ou termina.”1

Trabalhando ao lado de pequenosagricultores, Cunningham buscava umaabordagem agroecológica que pudesse seradaptada às regiões e culturalmente específica.Isso significava começar com o ecossistemaoriginal do Sahel. “Nas zonas onde Deus criouo ecossistema como a savana – árvores,gramíneas e ervas – devemos seguir essepadrão de árvores. Nas áreas que foram

desmatadas para dar lugar a plantações,devemos voltar a ter árvores associadas acultivos anuais”, diz Cunningham.2

Seguir o padrão de árvores é uma ideia queCunningham e agricultores locais do Nígerconcretizaram em um projeto agroflorestal que eles chamam de Semeando Sementes daMudança no Sahel. Além de árvores nativas,esse projeto inclui a acácia da Austrália, porcausa de seus frutos comestíveis. Pelo fato deadicionarem nitrogênio ao solo, as acáciasservem para prepará-lo para culturas anuais epara outras árvores, que são plantadas noscorredores formados pelas acácias. Suassementes, ricas em proteínas, servem para oconsumo humano e animal. As acáciasconfirmam um provérbio dos hauçás: Quem planta árvores não passa fome.3

O sucesso desse modelo agroflorestal foiimediato e impressionante, com rendimentosduas a três vezes superiores ao dos métodosagrícolas tradicionais. Em vez de um sistemarígido, ele funciona como um modelo que seadapta facilmente a cada região. Esse modelopoderia ser repetido em outras partes daÁfrica? Cunningham acha que sim. Paradifundir essa ideia, ele recorreu à ECHO,Educational Concerns for HungerOrganization.4

A missão dessa organização cristã nãoconfessional é “dotar as pessoas decompetências e recursos para reduzir a fome e melhorar a vida dos pobres”. Sua principalfunção é coletar ideias que ajudem osagricultores pobres e difundir esseconhecimento entre eles por meio demissionários agrícolas e trabalhadores dodesenvolvimento.5

Nos últimos 30 anos, a ECHO tornou-seum celeiro de conhecimentos sobre tecnologia

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agroecológica das regiões tropicais esubtropicais do mundo. Na fazenda modelo da ECHO de 20 hectares em Fort Myers, naFlórida, há seis ecossistemas representados –desde uma área de monção tropical até hortaurbana no telhado. Dividida em zonas, afazenda exibe uma série de “melhorespráticas” específicas de cada região.6

A ECHO reconhece que os agricultorespobres têm grande riqueza de conhecimentosagrícolas. O grupo não pretende “ensinar” aspessoas como cultivar a terra. Ao contrário, eletrabalha para tornar os pequenos agricultoresmais eficientes no cultivo em condiçõesadversas. E faz isso de várias maneiras: artigosmensais chamados Notas Técnicas da ECHO,que podem ser baixados gratuitamente do site;um extenso banco de sementes tropicais, compacotes de sementes grátis para testedistribuídos entre trabalhadores internacionaisdo desenvolvimento, líderes comunitários emissionários, além de uma Unidade deResposta Técnica de especialistas querespondem a perguntas do campo.7

Stan Doerr, CEO da ECHO, espera que,apesar dos desafios da mudança climática e da seca, os pequenos agricultores da Áfricapossam não só se alimentar, mas tambémprosperar. “Gostaria de afirmar que a Áfricatem mais recursos naturais do que qualquerlugar do mundo: inteligência humana, terra,água, minerais. A África é extremamenteabençoada nessas áreas. É apenas umaquestão de usar esses recursos de forma mais eficaz.”8

Ao mesmo tempo em que Doerr e seuscolegas ajudam a aumentar a difusão doconhecimento, talvez o maior potencialinexplorado para a promoção dodesenvolvimento agrícola sustentável na África esteja nas igrejas africanas. A igreja,muitas vezes, é a maior organização nãogovernamental do local e, portanto, dispõe de infraestrutura e recursos para ensinaragricultura sustentável.9

Tomemos, por exemplo, a Igreja Episcopaldo Sudão (ECS). Depois de uma guerra

genocida de décadas, durante a qual aprodução de alimentos praticamente cessou eas pessoas passaram a depender fortementede ajuda alimentar, a ECS lançou uma série deiniciativas agrícolas para ajudar os quevoltaram da guerra a readquirir as habilidadesagrícolas perdidas. Robin Denney, que fezparte de sua formação na ECHO, é umaconsultora agrícola norte-americana que a ECSconvidou para se juntar à equipe diocesana. Ao longo dos próximos anos, ela vai treinar osagentes agrícolas de 11 dioceses que, em nomeda igreja, trabalharão como técnicos emextensão rural em suas regiões. “Parte daessência de ser um trabalhador da igreja”,Denney diz, “é que você vive entre o povo e,com isso, aprende muito sobre suas lutas esobre o que funciona e o que não funciona.”10

Além de contratar Denney, a ECS tambémcomeçou a incorporar formação agrícola nocurrículo de suas faculdades de teologia. EllenDavis, professora de Antigo Testamento daDuke Divinity School, está trabalhando comcolegas do Sudão para elaborar o currículo.Desde a assinatura dos acordos de paz em2005, Davis tem viajado regularmente para oRenk Theological College, ao sul do Sudão,onde leciona hebraico bíblico.11

Davis acredita que a combinação de aulasde estudo bíblico e desenvolvimento agrícolasustentável deve ser imitada em semináriospor toda a África subsaariana. É parte do queela chama de “um modelo holístico deeducação teológica”. Os graduados noseminário, diz ela, serão as pessoas commaior nível de educação em suascomunidades locais, serão disseminadoresconfiáveis de conhecimento e, portanto, terão a capacidade de ensinar agriculturasustentável, o que pode trazer uma mudançaduradoura no âmbito das comunidades.12

E em uma região muito afetada por conflito,a ação da ECS na promoção da agricultura estáfazendo mais do que trazer segurançaalimentar e melhoramento do solo. Comodisse um sudanês a Davis, “A agricultura é a

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construção da paz. É uma alternativa àguerra”.13

O plantio de árvores na região do Sahel, atroca de ideias sobre agricultura sustentávelcom os agricultores necessitados, oengajamento de seminaristas e de membrosda igreja no trabalho agrícola – são exemplosde como os grupos religiosos e as igrejasestão indo muito além da ajuda para alívio dafome na África. Eles estão trabalhando paracriar pequenas lavouras e comunidades onde afome não seja uma opção, onde a terra sejaresistente em anos bons e ruins, onde a

abundância de criação não dependa depresentes anuais de gente de fora.

Eles poderiam dizer que estão trabalhandopautados por uma visão de paz que osescritores bíblicos chamaram de shalom, emque as pessoas vivem em harmonia umas comas outras e com a terra. Segundo Martin Price,fundador da ECHO, “Eliminar a fome e adesnutrição é apenas o primeiro passo. Hámuitas outras coisas na vida além de saciar afome”.14

– Fred Bahnson Agricultor, Escritor e Membrodo Food and Society 2009-10 do Instituto de

Agricultura e Política Comercial

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Aprimorar a Produção de AlimentosProvenientes de Animais

Mario Herrero, com colaboração de Susan MacMillan, Nancy Johnson,Polly Ericksen, Alan Duncan, Delia Grace e Philip K. Thornton

Criadores de animais e pequenos agricul-tores que combinam a produção daslavouras com pecuária estão enfrentando

grandes desafios. Pelos próximos 25 anos, ocrescimento da população e das cidades domundo em desenvolvimento representará umademanda cada vez maior dos alimentos de fonteanimal – leite, carne e ovos. Ao mesmo tempo,tudo indica que a escassez de água, as mudançasclimáticas e novas tecnologias comandarãograndes mudanças nas produções de pequena

escala que, hoje, alimentam a maior parte dospobres do mundo e, no futuro, terão importânciacrescente para a segurança alimentar global.1

O mundo precisa que os sistemas alimentaresbaseados na criação de animais atendam às neces-sidades nutricionais, econômicas e ambientais deum bilhão de pessoas pobres. Para que issoaconteça, devemos encontrar maneiras deaumentar a produção de leite, carne e ovos, semprejudicar o meio ambiente. Ao mesmo tempo,

Gado à procura de sombra, Botsuana

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Mario Herrero é pesquisador sênior do International Livestock Research Institute, em Nairóbi, Quênia.Susan MacMillan, Nancy Johnson, Polly Ericksen, Alan Duncan, Delia Grace e Philip K. Thornton são cientistas sêniores do mesmo instituto.

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os grupos mais vulneráveis de criadores de gado,que incluem pastores nômades como os Massai,do Quênia, e os Fulani, do Níger, necessitam deajuda para lidar com as variações de temperatura,secas que acontecem cada vez mais e fenômenosclimáticos extremos que podem vir a ocorrer porcausa das alterações climáticas. Uma gama amplade mecanismos – desde melhores estratégias dealimentação e gado mais saudável até novasmaneiras de lidar com as mudanças climáticas –pode ajudar. O nosso desafio, que é o mesmodesafio dos pequenos criadores ao redor domundo, é tirar o máximo proveito dessesmecanismos e continuar a alimentar um fluxo denovas opções, para que ao longo do tempo osempreendimentos pecuaristas reduzam a pobrezahumana e a ambiental.

Por que o Gado é Importante

Os animais de criação são um recurso antigo,vital e renovável. Em todo o mundo em desen-volvimento, perto de um bilhão de pessoasdependem de suas criações para sobreviver. É ogado que sustenta a maioria das práticas deintensificação agrícola, desde os pastos do Sahelna África Ocidental até as pequenas produçõesmistas das regiões montanhosas da ÁfricaOriental e, ainda, a produção de arroz intensi-ficado na Ásia. Além disso, hoje a pecuária estáse tornando o subsetor agrícola mais importanteem termos econômicos (ver Tabela 14–1), ealgumas projeções apontam o dobro dedemanda por alimentos de origem animal nospróximos 20 anos nos países em desen-volvimento.

O leite é um alimento básico nas sociedadesde criadores de gado, que sobrevivem princi-palmente de animais ruminantes criados emáreas onde o solo não é aproveitado para aagricultura. Nos sistemas que combinamprodução agrícola e pecuária, ainda a colunavertebral da agricultura de países em desen-volvimento, o alto valor nutritivo do leite, carnee ovos significa que, mesmo em pequenas

quantidades, estes alimentos contribuem demodo importante para a nutrição de famíliasque vivem, sobretudo, de grãos ricos em amido.

Entretanto, nas comunidades pobres, osanimais de criação representam mais do queuma fonte de carne, leite ou ovos. Para inúmeraspessoas da zona rural, o gado é, acima de tudo,um bem, como um lote de terra, uma casa ouuma conta bancária. Qualquer renda extra éusada para comprar animais, que são ou nãovendidos de acordo com as necessidadesfinanceiras da família. A venda de animaismenores (galinhas, cabras, ovelhas) cobre gastosde rotina e a dos animais de grande porte (gadobovino, búfalos, camelos) serve para investi-mentos de maior monta ou para fazer frente aemergências médicas ou de outra ordem. Oque leva os fazendeiros mais pobres a aumentara produtividade de sua criação não é a ambiçãode produzir mais alimento para eles mesmos,mas sim a necessidade de maior acesso aomercado, onde têm a chance de vender o gadoe os produtos pecuários.

Mas as coisas estão mudando, e depressa, emmuitas regiões. O aumento da renda e do êxodorural no mundo em desenvolvimento cria umademanda contínua por alimentos derivados deanimais e forja prósperos mercados pecuaristas.Mudanças técnicas e institucionais em outrasesferas do setor agrícola, que não a da criaçãode animais, reduzirão a dependência que ospequenos criadores possuem da pecuária desubsistência. Instituições financeiras mais sólidasdiminuirão a necessidade de concentrar capitalem rebanhos. O uso mais regular da mecanizaçãono campo garantirá maior produção de raçãopara o gado leiteiro e de corte. O maior acessoa fertilizantes inorgânicos poderá diminuir anecessidade de adubo. O aprimoramento dainfraestrutura rural, como a melhoria dasestradas e conexões à telefonia celular, trarãoos mercados para mais perto dos produtores.

Essas mudanças vão acelerar a pecuáriaintensiva nos países em desenvolvimento. Emfunção das estratégias de alimentação, a principal

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função do gado passará a ser produção de leitee carne, mas isso dependerá do local. As raçõesserão oferecidas com mais regularidade e

qualidade a um número menor e mais produtivode animais. Ao invés de deixar o gado pastarlivremente nas terras comunitárias, mais animais

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Tabela 14–1. Gado, Subsistência e Meio Ambiente

Setor ou Recurso

Produção

Valor de produção

Gases de efeitoestufa (GEEs)

Sequestro decarbono

Água

Nutrientes

Desmatamento

Contribuição ou Impacto

Os países em desenvolvimento produzem 50% da carne bovina, 41% doleite, 72% da carne de carneiro, 59% da carne suína e 53% da carne deaves de todo o mundo. Sistemas de integração lavoura-pecuária tambémproduzem cerca de 50% do cereal mundial. O crescimento dos setoresindustriais de aves e suínos corresponderá a 70% da produção daAmérica do Sul e da Ásia. Nesses sistemas haverá aumento da demandade grãos para alimentar os animais (em 2050, essa demandarepresentará mais de 40% do uso de cereal mundial).

Entre todas as commodities, o leite possui o maior valor de produção.Exceto o arroz (que é o segundo da escala), carne bovina, suína e deaves são as próximas da lista, em ordem de importância. Nos paísesmenos desenvolvidos, o setor detém cerca de US$ 1,4 trilhão de ativosem gado, excluído o valor da infraestrutura ou da terra.

O gado contribui com 18% das emissões globais de GEE (25% a 30% dometano e óxido nitroso e 30% a 35% do dióxido de carbono).

Em função da área ocupada, os pastos poderiam ser um sumidouromundial, do tamanho aproximado de uma floresta. Entretanto, há umanecessidade real de se pesquisar como todo esse potencial pode serexplorado por meio de tecnologias e políticas.

Cerca de 30% da água utilizada mundialmente na agricultura vai para ogado, mas tendo em vista o aumento previsto na demanda de produtospecuários, talvez seja necessário dobrar o uso de água na agricultura. Ospastos poderiam aumentar sensivelmente a produtividade regional deágua.

O adubo fornece 14% do nitrogênio, 25% do fósforo e 40% do potássiodas cargas de nutrientes aplicadas nos solos agrícolas de todo o mundo.

Grandes empreendimentos pecuaristas são responsáveis por 65% a80% do desmatamento da Amazônia. A cada ano, 400.000 a 600.000hectares da floresta são desmatados para a plantação de lavouras comoas de soja, quase sempre para alimentar porcos e aves de criaçãoindustrial, mas também para fornecer altas doses de proteína ao gadoleiteiro. Porém, isso já está mudando, graças ao cumprimento da lei eaos incentivos oferecidos pelo governo brasileiro aos fazendeiros e aosetor varejista.

Fonte: Ver nota final 2.

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serão confinados em estrebarias. As estratégiasde procriação combinarão os traços deresistência do gado nativo com a alta produ-tividade dos animais trazidos de fora. E surgirãopecuaristas mais especializados em criaçãointensiva de gado de leite e de corte.

Esses avanços levarão mais tempo em algunslocais do que em outros. Mas, uma vez emmarcha, as tecnologias, políticas e investimentosem pecuária terão por meta ou obter osbenefícios do aprimoramento do gado, comosegurança alimentar, nutricional, econômica eambiental, ou minimizar algum problemagerado pela criação dos animais, como a con-taminação das fontes de água por fertilizanteou a emissão de gases de efeito estufa. Oaumento da produção de gado para suprir ademanda crescente por produtos pecuários emregiões em desenvolvimento não precisa, neces-sariamente, ser acompanhado de maior pegada

ecológica deixada pelos animais. Por exemplo,a intensificação dos sistemas de produção e suaconsequente maior eficiência implicam emmenor necessidade de ração para produzir umdado produto pecuário. Por outro lado, épossível que, no futuro, haja maior criação degado também nas áreas urbanas e maior concen-tração na pecuária intensiva, cuja consequênciaserão problemas de poluição relacionados aodescarte de excremento animal.

Também é importante lembrar que qualquermudança em um sistema alimentar que se baseiano gado trará consequências de outras ordensalém da ambiental. Aprimorar a ração, porexemplo, não só reduzirá as emissões de gasesde efeito estufa, mas também poderá aumentaro custo dos produtos pecuários (por seremgeralmente mais caros).

Melhores Estratégias deAlimentação do Gado

A ração animal é, quase sempre, citada comoo maior entrave para melhorias na produção dogado de pequena escala. Isso parte dopressuposto de que os produtores de países emdesenvolvimento, assim como os fazendeirosde maior porte de países industrializados, criamgado principalmente para obter carne e leite.Porém, como observado antes, os pequenoscriadores também podem extrair valor de seusrebanhos atribuindo a eles outras funções queresultem em economia: arar a terra, transportarmercadorias, fertilizar as lavouras com aduboproduzido pelo próprio gado, ou fornecer leitepara consumo familiar. Olhando por esse prisma,a prática generalizada de manter muitos ao invésde apenas alguns animais, assim como o costumedos pequenos produtores de manter o rebanhocom níveis mínimos de ração – o que nãopermite que o gado obtenha uma produçãoexcedente de carne e leite com valor comercial– são totalmente racionais. Os Massai da ÁfricaOriental, por exemplo, seguem essa estratégia.As vacas são tidas como bancos que se movem

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Rebanho sendo conduzido para uma áreacomunitária de tratamento de gado na cidade deSurubu, Tanzânia

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lucro anual obtido por essas famílias com avenda dos animais que passaram pelo programade engorda é da ordem de 2.250 a 4.500 berres(US$ 167 a US$ 333). Quem sai ganhandosão as mulheres, tradicionalmente as respon-sáveis pela engorda dos animais de pequenoporte.4

Na Índia, a escassez de ração é comum e,por isso, alguns fazendeiros estão tentandomelhorar sua qualidade, visando maior produçãode leite com menos animais, o que, indire-tamente, reduz emissões de gases de efeitoestufa. A. K. Singh, agricultor de AndhraPradesh, ganha a vida mantendo apenas trêsbúfalas, delas utilizando o leite e o estercoproduzido. Singh cuida muito bem de seusanimais, alimentando-os quase sempre comgramíneas, palha de sorgo e farelos. Cada búfalaproduzia cerca de 5 litros de leite por dia, atéque Singh começou a alimentá-las com a palhadas diversas variedades de sorgo que ele cultivatanto para produzir grandes quantias de grão(para alimentação humana) quanto para obtercaules mais nutritivos e outros resíduos daslavouras (para ração animal). Essa raçãomelhorada duplicou a quantidade de leite queseus animais produziam. Com o aumento de50% na renda proveniente do leite e com avenda de um dos animais, ele conseguiumatricular mais um dos filhos na escola. Aomesmo tempo, a melhoria da dieta reduziu em30% a quantidade de metano (um gás de efeitoestufa muito potente) que seus animaisproduziam por quilograma de leite. A palha(forragem) é a principal fonte de alimentaçãopara búfalos na Índia. Centros de pesquisa eempresas de melhoria de espécies reconhecema importância de desenvolver esse tipo de cultivopara aperfeiçoar a alimentação do gado etambém a humana.5

Algumas das melhores estratégias paraalimentar o gado nos países em desenvolvimentovirão, em boa parte, da aplicação de princípiosnutricionais já existentes. Hoje, a alimentaçãopredominante para o gado vem de resíduos de

e sua venda serve para garantir o colégio dascrianças, casamentos ou auxílio em épocas decrise. Durante séculos, os pastores viajaram comseus animais – bois, cabras e até mesmo camelos– por rotas de migração bem definidas na ÁfricaOriental. Mas isso está mudando, por causa deconflitos, escassez de água, estreitamento defronteiras regionais e internacionais e expansãoda produção agrícola.3

As múltiplas funções do gado nos países emdesenvolvimento são, quase sempre, amparadaspor estratégias “oportunistas” de alimentaçãoque recorrem a qualquer provisão que esteja aoalcance dos criadores, como, por exemplo, talosde plantas, folhas e outros resíduos aproveitadosapós a colheita dos grãos. Esses restos de lavouratêm papel chave na alimentação dos animais decriação em todos os países em desenvolvimento.Plantas forrageiras, quase nunca cultivadasespecificamente para a alimentação do gado,também são utilizadas, junto com o raleamentode áreas cultiváveis e materiais aproveitados dosacostamentos das estradas. E a pastagem deanimais ruminantes em terras comunitárias éuma prática bastante disseminada. A pouca raçãocontendo suplementos concentrados que éfornecida ao gado de pequenos produtores vai,em geral, para as vacas leiteiras e para outrosanimais cuja produtividade depende de umanutrição melhor.

Porém, no distrito de Gomma, região oesteda Etiópia, as mulheres aumentaram a produ-tividade de seus animais de pequeno porteinstituindo e colocando em funcionamentociclos de engorda dos carneiros. Um númerocada vez maior de animais saudáveis estáconseguindo preços superiores quando eles, ouseus derivados, são vendidos nos mercados. Osfazendeiros estão utilizando o lucro obtido paraexpandir o número de animais participantes doprograma de engorda, e também para adquiririnsumos agrícolas como sementes, fertilizantese ferramentas. Itens para o lar, principalmentealimentos, também estão mais acessíveis, e agorajá é possível pagar pela educação dos filhos. O

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entre pessoas e gado. Em ecossistemas relati-vamente estáveis e intactos, como os sistemasagrícolas altamente diversificados de pequenosprodutores, a evolução simultânea de agentespatogênicos, hospedeiros (animais e humanos)e vetores (carrapatos e moscas tsé-tsé) favoreceníveis um tanto baixos de patogenicidade edoenças. Porém, as crescentes intervenções,agrícolas ou não, praticadas pelos seres humanosem ecossistemas relativamente virgens levaramos agentes patogênicos a encontrar novoshospedeiros e, assim, favorecer o surgimentode novas doenças – algumas delas, comoHIV/AIDS, com o potencial de prejudicar asaúde pública de maneiras incalculáveis.7

Embora a agricultura intensiva gere produtosbaratos, ela também apresenta novos riscos àsaúde dos animais e das pessoas. Isso ocorre,principalmente, porque esse sistema selecionaagentes patogênicos difíceis de detectar empopulações animais (como o Campylobacter spp.em aves e o Escherichia coli no gado) ou comcapacidade de sobreviver ao tratamento conven-cional (devido ao aumento da resistênciagenética a antibióticos). A ampla distribuiçãogeográfica e os grandes volumes característicosdos sistemas modernos de distribuição dealimentos possibilitam a rápida disseminaçãodas doenças transmitidas por alimentos, afetandogrande número de pessoas, inclusive as queestão bastante distantes do local de produção.

Dentre as inovações mais importantes e bem--sucedidas em saúde animal, estão as drogas(como antimicrobianos, parasiticidas e acaricidas)para a cura de doenças animais. As políticasveterinárias oficiais, em âmbito nacional e inter-nacional, estipulam que os tratamentos sejamrealizados apenas sob a supervisão de umveterinário, o que faz com que muitas drogasveterinárias estejam ao alcance de usuáriosremotos, não por causa das políticas, mas apesardelas. Na maioria dos países pobres, quepossuem dezenas de milhões de cabeças de gadoe de criadores de gado, (mas apenas poucascentenas de veterinários), proliferam os sistemas

lavouras e outras rações de baixa qualidade,porém, para fazer frente ao aumento daprodução de leite e carne, será necessáriodescobrir meios de proporcionar mais energianas dietas. Tudo indica que haverá também ummaior uso de subprodutos refinados, tortas desementes de oleaginosas e outros subprodutosagroindustriais combinados de modo maiseficiente às dietas básicas, para um melhoraproveitamento da ração recebida Os resíduosdas lavouras podem ser picados e moldados emblocos de ração, para facilitar o transporte e acomercialização. Como a demanda porprodutos pecuários de alto valor continua acrescer, a plantação de culturas específicas pararação animal se tornará economicamentecompetitiva em algumas regiões. Melhorestécnicas para processamento e conservação deração viabilizam o transporte entre longasdistâncias, inclusive da área rural para a urbana.

Grande parte do conhecimento a respeitode melhorias nas práticas de nutrição animal jáexiste, mas a lenta absorção dessas práticas deve--se, principalmente, aos custos e também àspesadas exigências de mão de obra. E é isso queas reiteradas tentativas de explorar tecnologiasque aprimoram a ração animal no setor pecuáriode pequena escala não compreendem.

Animais com Mais Saúde

Em países tropicais, a comercialização deanimais e de seus produtos derivados é muitodifícil quando existe algum tipo de doença queos afete. Apesar das recentes tentativas de libe-ralização, as regulamentações sanitárias efitossanitárias continuam a permitir que os paísesimportadores assumam medidas preventivas dotipo “na dúvida, fique longe”. Isso impede quepaíses pobres, mas donos de gado rico, saiam dapobreza, ao mesmo tempo em que nada se fazpara evitar que impactos inesperados atinjamalgumas das nações mais pobres do mundo.6

Mais de 70% das doenças que afetam osanimais são zoonoses, ou seja, transmissíveis

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A convergência dessas disciplinas em filosofiascomo “One Medicine – One Health” (UmaMedicina – Uma Saúde) ou “EcoHealth”(Saúde Ecológica) provavelmente terá implicaçõesprofundas na medicina veterinária e na assistênciamédica do século 21.

Em alguns casos, o conhecimento tradicionalajudou a melhorar a inspeção de doenças. Porexemplo, os antigos sistemas de alerta entre ospastores somalis e os da tribo Massai, na ÁfricaOriental, foram fundamentais na identificaçãodos fatores de risco e sintomas da febre do Valedo Rift nos surtos de 2006 e 2007. A febre doVale do Rift é uma zoonose viral aguda,transmitida por mosquitos, e afeta principalmenteo gado doméstico, como rebanhos bovinos,camelos, carneiros e cabras, mas também podeinfectar e matar pessoas, especialmente aquelasque lidam com os animais infectados. Na décadade 1970, ocorreram surtos explosivos entre apopulação de toda a África e em regiões doOceano Índico e da Península Arábica. Asepidemias ocorridas no Egito em 1977/78 e noQuênia em 1997/98 mataram centenas depessoas. Outro surto no Quênia, em 2006/07,matou mais de 100 pessoas.11

Os pastores somalis do nordeste do Quêniaanalisaram com precisão as possibilidades dosurto de 2006/07, amparados em suasavaliações de fatores de risco realizadas muitoantes do início das intervenções veterinárias e dasaúde pública. Eles são particularmente hábeisem prever não só os sintomas da febre do Valedo Rift em seus animais, mas também as possi-bilidades de um surto da doença. De fato, asobservações feitas pelas comunidades locais emáreas propensas ao risco foram quase sempremais oportunas e precisas do que os primeirosalertas emitidos pelos sistemas globais em usodurante o surto de 2006/07. Os pastores datribo Massai, ao norte da Tanzânia, souberamreconhecer com exatidão sintomas como aelevada taxa de aborto, que indica a presença deinfecção no rebanho. Esses exemplos destacamo papel importante que os criadores de gado

de distribuição informal e parcialmente formaldas drogas.8

Devido a esse descompasso entre políticasveterinárias e a realidade dos países pobres, ficamais difícil que todas as pessoas medicandoanimais em caráter extraoficial consigaminformações sobre os procedimentos corretos.Os tratamentos impróprios resultantes dessaprática são o maior motivo da rápida evoluçãoda resistência às drogas nos organismos,causando doenças no gado. O controle integradode doenças, que reduz a dependência detratamentos terapêuticos ao combinar diferentesmétodos de controle de doenças, tem tidosucesso em locais onde a escala e a rentabilidadeda criação justificam os altos investimentostécnicos e gerenciais. O surgimento de equipescomunitárias para cuidar da saúde animal é umainovação promissora para muitas comunidadespobres de criadores de gado.9

As vacinas têm a melhor relação custo--benefício no controle da maioria das doençasanimais e também humanas. Dentre as principaisinovações no desenvolvimento de vacinas aolongo das últimas décadas, destaca-se a DIVA(Diferenciação entre Animais Infectados eVacinados) – como o próprio nome indica, trata--se de um recurso que possibilita aos agentesde saúde fazer esse tipo de distinção. Isso faz davacinação uma opção de controle muito maisatraente do que sacrificar animais, prática essacada vez mais rejeitada pelos países ricos einviável financeiramente para os países pobres.O surgimento de vacinas termoestáveis foi deter-minante para a recente erradicação da diarreiaviral bovina e está atualmente ajudando acontrolar a Doença de Newcastle em avesdomésticas. (Ver Quadro 14–1).10

Ao mesmo tempo, os agentes de saúdecomunitária estão substituindo as soluçõesbaseadas em tecnologias (que privilegiam ascausas mais imediatas das doenças, como faltade vacinas, por exemplo) e passam a adotarabordagens mais holísticas, cujo foco está nasrelações entre saúde humana, animal e ambiental.

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As mudanças climáticas já estão afetando asubsistência e o bem-estar dos criadores de gadodos países em desenvolvimento, que enfrentama escassez crescente de água e de ração, danosà diversidade genética do gado e novas ameaçasde doenças. A variabilidade climática tende ase acentuar, trazendo secas e enchentes cadavez mais frequentes que colocam em risco asegurança ambiental, econômica e alimentardas comunidades puramente pecuaristas edaquelas que praticam a integração lavoura-pecuária. Os já complicados trade-offs entre osdesejos de conservar a água e demais recursosnaturais, reduzir emissões de GEEs e ajudar aspessoas pobres a alcançar sua subsistência esegurança alimentar são ainda mais complexos

podem desempenhar nos primeiros alertas e nafiscalização veterinária.12

Enfrentar as Mudanças Climáticas

Os impactos da produção pecuária nasmudanças climáticas já foram amplamentediscutidos por publicações científicas e genéricas.Ainda assim, cada uma das cerca de um bilhãode pessoas que dependem da produção pecuáriade pequena escala deixa apenas uma minúsculapegada ambiental, em relação às que vivem empaíses industrializados. Comparados com ascontribuições vitais que o gado gera para asobrevivência das comunidades pobres, os gasesde efeito estufa produzidos pelos animais dospequenos criadores são modestos.13

Quadro 14–1. O Controle da Doença de Newcastle nas Aves de Moçambique

A doença de Newcastle, capaz de dizimarbandos inteiros de galinhas e se espalhar defazenda a fazenda, é particularmentedevastadora para agricultores e criadores deanimais na África subsaariana. Sempre foidifícil fazer com que a vacina para essa doençachegasse até a África: ela era importada emuito cara, portanto, fora do alcance depequenos criadores. E, mesmo que estivessedisponível, necessitaria de refrigeração, o quenão é comum na maioria dos vilarejos rurais.

Hoje em dia, no entanto, graças ao trabalhodo Centro Internacional de Aves Rurais, daFundação Kyeema, em Moçambique, as aldeiasjá contam com as vacinas e com vacinadoresda comunidade (ou “paraveterinários”),capacitados para identificar e tratar a doençade Newcastle, bem como outras moléstias queafetam as aves, antes que elas comecem a seespalhar. Graças a uma doação do programade ajuda externa do governo australiano, aFundação Kyeema desenvolveu uma vacinatermoestável que não precisa de refrigeração eque os criadores conseguem administrar commaior facilidade em suas aves.

As campanhas de vacinação acontecem trêsvezes por ano e nelas, recursos educativos

como pôsteres e folhetos bem elaboradosensinam os criadores a aplicar as vacinascom conta-gotas. Os vacinadores dacomunidade tentam associar o controle da doença de Newcastle com as medidasrelacionadas à gripe aviária, porque ossintomas de ambas as doenças – tosse,diarreia, letargia, olhos lacrimejantes,mortalidade – são parecidos. As liderançascomunitárias ajudam a Kyeema a identificarpessoas respeitadas entre eles para quesejam vacinadores. De modo geral, asmulheres são as escolhidas porque tendema ficar nas aldeias por mais tempo do que oshomens e, geralmente, ajudam muito mais afamília, pois com o dinheiro que ganham,compram comida ou livros escolares para osfilhos. E, como as aves estão sobrevivendoàs doenças, graças às vacinas, a Kyeematambém está trabalhando com os criadoresno sentido de melhorar o alojamento paraos animais e buscar outras fontes de raçãoanimal.

– Danielle NierenbergFonte: Ver nota final 10.

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animais. Felizmente, milhares de criadoresde gado no norte árido e ressecado doQuênia podem, agora, adquirir apólices deseguro para o gado, com base em um novoplano que consegue prever se a secacolocará em risco seus camelos, vacas,cabras e carneiros. Esse plano de seguro“indexado” utiliza imagens de satélite quemonitoram gramados e outros tipos devegetação para determinar possíveldestruição de forragens e, quando asimagens indicam a previsão de seca, asindenizações são pagas. Por muito tempo,o seguro de rebanhos familiares foi tidocomo impossível, devido às dificuldadesconsideráveis de verificar se um animal estárealmente morto, pois eles percorrem

grandes distâncias em busca de alimento. Nestanova modalidade de seguro, não é necessário tera confirmação da morte do animal para que sereceba a indenização; o pagamento é efetuadotão logo as imagens de satélite, disponíveis prati-camente em tempo real, mostrem que o grau deescassez da forragem indica alta probabilidadede morte dos animais. As secas são frequentesna região – houve 28 nos últimos 100 anos e 4somente na década passada – e as perdas que elasrepresentam aos criadores de animais podemfacilmente jogá-los na pobreza em curto espaçode tempo.15

Em algumas regiões estão surgindo oportu-nidades para que esses criadores de gado não sóreduzam suas emissões de gases de efeito estufa,mas também se adaptem às alterações climáticas.Práticas de manejo que aumentam o forne-cimento fotossintético de carbono, ou queretardam a devolução do carbono armazenadopara convertê-lo em dióxido de carbono (viarespiração, combustão ou erosão), ajudam nosequestro de carbono. Melhores armazenamentoe manejo de adubos podem ajudar a reduzir asemissões de GEE e aumentar a eficácia doadubo aplicado nas lavouras. Recompensar ostrabalhadores rurais pelos serviços ambientaisque eles realizam, como a manutenção de

quando se considera a possibilidade de aumentona produção de biocombustível.

Para lidar com mudanças climáticas rela-cionadas à agricultura, as duas principais alter-nativas são: encontrar maneiras de reduzir ouatenuar as emissões de gases de efeito estufagerados na produção agrícola e ajudar osagricultores em sua adaptação às condiçõesclimáticas variáveis. As opções de adaptaçãopodem ser tecnológicas (plantação de lavourastolerantes a secas), comportamentais (mudançasnas dietas) ou, ainda, gerenciais (utilização dediferentes técnicas de administração rural) epolíticas (criação de mercados e infraestruturaque garantam o suprimento de recursos maisapropriados e preços mais justos para oprodutor). Alguns produtores estão utilizandoprevisões climáticas sazonais como ajuda para oplanejamento de seus ciclos agrícolas. Outrosestão contratando seguros pecuários com“indexação do clima”.14

Seguros são como o Santo Graal para quemtrabalha com gado na África, em especial, paraproteção contra secas – ameaças que se tornarãomais comuns em certas regiões, conforme oclima mudar – e como forma de aumento dopotencial de rendimentos dos donos dos

Criadora de gado queniana e sua vaca saudável

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Aprimorar a Produção de Alimentos Provenientes de Animais ESTADO DO MUNDO 2011

animais selvagens e de outras formas de biodi-versidade, ou, ainda, armazenar carbono, seriamoportunidades enormes de ajudar famíliaspobres a diversificar seus meios de subsistênciae aumentar a renda.

Conclusão

A velocidade das mudanças globais nademografia humana, na tecnologia, no uso derecursos, nas percepções das pessoas e em outrosfatores significa que os sistemas de produçãode alimentos, incluindo o setor pecuário, inevi-tavelmente enfrentarão mudanças também. Portodo o mundo há bons exemplos de maneirascriativas de se adaptar ao ritmo dessas mudanças,de forma sustentável. Seja qual for o foco dasestratégias – diversificação de renda, cultivo

intensivo ou expansão sustentáveis, ou mesmouma combinação entre elas – as histórias desucesso quase sempre aliam o empreende-dorismo local ao apoio público-privado para aconsecução de políticas sólidas e investimentosem desenvolvimento tecnológico, infraestrutura,serviços e expansão de mercado. Em algunssegmentos, como é o caso dos pequenoscriadores de gado leiteiro no Quênia e, cadavez mais, em outras partes da África Oriental,esses fatores se fundiram para criar um ambienteque possibilitasse o aumento da produção deleite da região. O acesso a melhores vacas, raçãoe serviços veterinários, agora viabilizado aosprodutores, bem como o respaldo de políticasnacionais, fizeram prosperar os lucros, asprovisões alimentares e os mercados informaisde leite na região.

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Recuperação é uma palavra que se ouve muitoem Ruanda. De anúncios dos serviços públicosveiculados na TV a cartazes nas ruas,recuperação é o lema para esse lugar queapenas 15 anos atrás foi destroçado pelogenocídio. Mais de um milhão de pessoasforam assassinadas em 1994, quando conflitosétnicos colocaram vizinho contra vizinho emuma das guerras civis mais sangrentas dahistória.1

“A Heifer está ajudando no processo derecuperação”, explica o Dr. Dennis Karamuzi,veterinário e gerente de programas da HeiferInternational em Ruanda. Em 2000, a Heifercomeçou a trabalhar em uma comunidade dodistrito de Gicumbi, a cerca de uma hora dacapital Kigali. É em parte graças à HeifnerInternational que esse distrito agora estáempreendendo seu retorno.2

O início do grupo em Ruanda foi um pouco instável. Em um primeiro momento, acomunidade estava desconfiada porque aHeifer estava dando “vacas muito caras” aosprodutores, diz Holimdintwoli Cyprien, um dos que recebeu treinamento para criar vacasleiteiras. Muitos membros da comunidadepensavam que se tratava de um complô dogoverno para que os criadores cuidassem deum gado que depois seria tomado de volta.3

A Heifer introduziu na comunidade umaraça de vaca leiteira sul-africana, famosa pelaalta produção de leite. De acordo comKaramuzi, a opção por introduzir essesanimais foi porque “nenhuma reserva de bonsgenes [de gado leiteiro]” havia sobrevivido nacomunidade após o genocídio; o gado foidizimado e as plantações foram queimadas.Além disso, diz ele, esses animais ajudaram a provar que “até mesmo criadores pobrespodem cuidar de vacas altamente

produtivas”.4

Esses animais fazem mais do quesimplesmente produzir leite – uma importantefonte de proteínas e renda familiar. Eles também fornecem esterco, que é umafonte de fertilizante agrícola, e, agora,passaram também a gerar biogás paracozinhas domésticas, como parte do Programa Nacional de Biogás.5

Helen Bahikwe começou a trabalhar com aHeifer International em 2002. Agora, ela temcinco vacas – e esterco de sobra. Com umsubsídio do governo, Bahikwe construiu umtanque coletor de biogás que lhe permite usaro metano liberado pelo esterco emdecomposição para cozinhar para a família. Ela já não precisa cortar ou comprar lenha, e,com isso, economiza tempo e dinheiro eprotege o meio ambiente. A queima docombustível também é mais limpa, sem afumaça característica dos demais tipos decombustível.6

Holimdintwoli Cyprien nem sempretrabalhou como criador de animais. Quando ogenocídio terminou, ele e a esposa, Donatilla,eram professores colegiais e ganhavam cercade US$ 50 por mês. Viviam em uma pequenacasa de barro, sem eletricidade ou águaencanada, e estavam economizando paracomprar uma vaca, na esperança de que issoos ajudaria a aumentar a renda. Mas quando aHeifer International começou o trabalho emRuanda, os Cyprien foram escolhidos comoum dos 93 primeiros criadores que seriamparceiros da organização. Além de ganhar avaca de presente, a família recebeutreinamento e apoio dos coordenadores deprojeto da Heifer.7

O presente foi utilizado não só paraaumentar a renda – eles agora conseguem

A Criação de Gado de Pequena Escala em Ruanda

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de US$ 300 a US$ 600 por mês – mastambém para melhorar as condições dehabitação e a alimentação da família. Além decultivar capim-elefante e outros tipos deforragem para as cinco vacas que possuematualmente, os Cyprien também cultivamhortaliças e criam galinhas. Eles construíramuma casa de tijolos que tem eletricidade econseguiram mais renda ainda alugando aantiga casa.8

Hoje em dia, Cyprien faz planos de voltar aensinar, mas, dessa vez, ensinar a outrosagricultores.

Em 2008, o governo instituiu o ProgramaUma Vaca para cada Família Pobre, cujoobjetivo é dar treinamento e apoio para que as257.000 famílias mais pobres do paísobtenham leite para consumo familiar. A Heifer International, diz o Dr. Karamuzi, está preparando também uma estratégia deretirada, associando os criadores acooperativas que organizam e treinam essescriadores por conta própria.9

– Jim DeVries, Heifer International– Danielle Nierenberg, Worldwatch Institute

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No decorrer deste livro, discutimos agrande variedade de inovações existentespara ajudar na redução da fome e da

pobreza nos locais onde esses problemas sãomais agudos. De técnicas participativas paramelhoria de plantas e uso da água da chuva parairrigar as plantações a medidas que impeçamque o produto da lavoura estrague antes dechegar ao mercado, os capítulos deram destaquea formas de nutrir pessoas e o próprio planeta.

Contudo, essas inovações concretas nãoexistem em um vácuo. Elas dependem de outrasinovações que nos ajudem a entender as conexões

entre todas as partes do sistema alimentar e nosorientem a avaliar o resultado efetivo de umaprática ou programa em particular; e elasdependem também de inovações no plano dereformas institucionais, de governança e depolíticas que protejam os agricultores, a soberaniaalimentar e o direito humano fundamental àalimentação. Entre os especialistas que reunimospara este capítulo final estão alguns dos maisproeminentes pensadores, cientistas e defensoresdo desenvolvimento agrícola.

– Danielle Nierenberg e Brian Halweil

Colheita de berinjelas do Projeto Horta de Mulheres Bakau, em Banjul, Gâmbia

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Nos últimos 50 anos, o produto mundial brutodisparou de aproximadamente US$ 7 trilhõesao ano para perto de US$ 60 trilhões. Essaexpansão impressionante teve efeitos desastrososnos recursos naturais renováveis e nãorenováveis. Em 2003, por exemplo, 27% dasáreas de pesca marítima no mundo todo jáestavam devastadas. A produção de petróleoestá em declínio na maioria dos países, e tudoindica que atingirá o ápice em poucas décadas,ou mesmo em prazo menor. Existe crescenteescassez de água e as estimativas apontam parauma demanda superior à oferta: calcula-se que,dentro de 20 anos, o abastecimento de águaserá adequado para atender apenas 60% dapopulação mundial. A velocidade de extinção devárias espécies é muito superior à registradaanteriormente.1

Todos esses fatos sombrios já são bastanteconhecidos. Menos conhecido é o fato de aagricultura ser uma das grandes culpadas dessecenário. Atualmente, as atividades agrícolas sãoresponsáveis por 70% do uso de água e por 15%das emissões de gases de efeito estufa, sendoque os países em desenvolvimento respondempor 75% desse índice. A destruição de 13milhões de hectares de floresta ano a ano, quasesempre causada por atividades impróprias,representa 11% do total das emissões. Apopulação global hoje está perto de 7 bilhões,e as previsões apontam que, até 2050, o saltoterá sido de 35% a 40%. Esse aumento popula-cional e o crescimento econômico se traduzirãoem maior e mais premente demanda poralimentos, ração, fibras e consumo de carne.2

A agricultura tal como a conhecemos hojeestá em apuros. Os desafios e incertezas a seremenfrentados exigem uma mudança de paradigmaque deve levar em conta a complexidade de“agri” e “cultura”, a intersecção confusa entrelavoura e sistemas humanos, sociais e políticos.

São várias as fontes da complexidade daagricultura. Em primeiro lugar, a atividadeagrícola em si traz elementos intrincados quenão são de fácil compreensão para quem não édo setor: um fazendeiro bem-sucedido precisaentender sobre determinadas características dacultura em questão, condições climáticas evariações de microclima, tipos de solo efertilidade, ameaça de pragas e doenças, sistemasde rotação de terras, interações gado/lavoura,demanda de mercado e inúmeros outros fatores.A atividade agrícola sustentável requer muitoconhecimento, pesquisa e a combinação deinovações com a experiência dos agricultores.

Em segundo lugar, a agricultura sustentávelé mais complexa porque ela não existe em umvácuo econômico; a produção de alimentos éapenas uma das facetas de um sistema socio-econômico multifacetado. Por exemplo, umcontexto social adequado em que o conhe-cimento e as habilidades sejam de fácil acesso eum cenário de prosperidade econômica em queos recursos financeiros e sistemas de gestão deriscos estejam ao alcance são elementos facili-tadores da agricultura. Ao mesmo tempo, umaagricultura forte e sustentável que proporcionerenda e recursos para as famílias mais vulneráveisé essencial para o desenvolvimento socio-econômico.

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Hans R. Herren é presidente do Millennium Institute em Arlington, Virginia. Andrea M. Bassi e Matteo Pedercini, ambos do Instituto, colaboraram neste artigo.

Inovações para Entender Sistemas Complexos

Hans R. Herren

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E, em terceiro lugar, a produção de alimentosestá inserida na natureza e é agente de suarecomposição. A atividade agrícola quase sempreprincipia, ou costumava principiar, pelodesmatamento de florestas. Porém, se isto forfeito em harmonia com o meio ambiente,propicia ecossistemas que nos prestam serviçosessenciais e, além de alimento, ração e fibra,retribuirão com sequestro de carbono no solo,água e ar puros, controle natural de pragas epolinização.

Tentativas anteriores que buscaram enxergara eficácia de políticas agrícolas fora de umcontexto ecológico mais amplo ou descon-siderando seus fortes vínculos com outrossetores tiveram consequências inesperadas eresultados pífios. Para que as experimentaçõescom mudanças no setor agrícola tenham êxito,pesquisadores e gestores de políticas devem,simplesmente, pensar e analisar em termos desistemas complexos.3

Felizmente, há meios de proceder a essasanálises com sistemática, usando modelos decomputação que já demonstraram sua grandeutilidade. Os modelos de dinâmica de sistemas,em particular, permitem que o desenvolvimentoagrícola seja representado como um processo demúltiplas dimensões sociais, econômicas eambientais e, a partir de então, pergunteinúmeras vezes “E se?” Essa conduta metódicapossibilita a comparação de diferentes políticasem cenários diversos.

Por exemplo, o uso de um modelo dedinâmica de sistema para comparar o empregode fertilizantes orgânicos e químicos revela quea transição para fertilizante orgânico poderesultar em solo de mais qualidade, aumentode produtividade, menor consumo de água emaior sequestro de carbono no solo e, portanto,tem um papel central para reduzir as concen-trações de dióxido de carbono na atmosfera.Ao mesmo tempo, o uso desse mesmo modeloconsegue mostrar que o aumento no preço dopetróleo e de combustíveis fósseis tem relaçãodireta com a menor competitividade dos ferti-

lizantes químicos, especialmente para osagricultores dos países em desenvolvimento.Como resultado, em um horizonte de médio alongo prazo, práticas mais sustentáveisapresentam vantagens econômicas e ambientaisconcretas.

A transição da atual agricultura convencionalpara a ecológica impõe melhor gestão dosrecursos primordiais, como solo, biodiversidadee água, e incorporação de pesquisa e serviçosde extensão rural. Essas práticas aumentam aprodutividade, criam emprego e atenuam asemissões.4

Para que essa transição seja feita, mais doque capital e tempo, são necessários investi-mentos que contemplem a sinergia entre aagricultura e os sistemas hídricos e agroflo-restais. Os investimentos na agricultura devemser divididos em quatro áreas:• redução de perdas antes da colheita, hoje

estimadas em 30% do total da produçãoagrícola;

• redução de perdas de alimentos após acolheita, por meio de melhores práticas dearmazenamento e processamento nas áreasrurais;

• práticas de manejo agrícola visando aoaumento da produtividade agrícola natransição para a agricultura orgânica,conservacionista e ecológica (custo médiode US$ 85 – US$ 100 por hectare); e

• pesquisa, desenvolvimento, capacitação econhecimentos práticos em agriculturasustentável.5O investimento nessas áreas terá impactos

significativos, setorial e intersetorialmente, porexemplo, sustentando o crescimento econômicoe a criação de empregos, melhorando a nutriçãoe reduzindo externalidades negativas, comoconsumo de energia e emissões de carbono.6

Uma diferença primordial entre essa estratégiade investimento e a de “fazer os negócios do jeitode sempre” (“business-as-usual”, ou BAU, nasigla em inglês) são os efeitos sobre os recursosnaturais. Os cenários da agricultura e economia

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ecológicas demonstram por que o desen-volvimento econômico e a exploração dosrecursos naturais não devem ser consideradosanálogos. Examinando a média global deresultados obtidos pelo método de modelagem,percebe-se que, em horizonte de médio a longoprazo, os cenários ecológicos asseguram maiordisponibilidade de alimentos (medida em caloriasdiárias per capita). Embora no curto prazo oritmo de crescimento seja mais lento nessescenários (devido à conservação dos recursosnaturais e à baixa produção de carbono), no longoprazo, eles são mais sustentáveis e apresentamcrescimento mais rápido. Nesse sentido, oscenários ecológicos apresentam maior adap-tabilidade: diminuem as emissões, reduzem adependência de combustíveis fósseis e priorizamuma utilização eficiente e sustentável dos recursosnaturais, contendo assim o aquecimento globale o esgotamento dos recursos.

Por outro lado, as estratégias de investimentoreferenciadas no BAU aceleram o consumo,trazendo crescimento econômico no curto emédio prazo, mas ampliando e piorando a atualtendência de esgotamento dos recursos naturais.E a perspectiva a longo prazo é assustadora. Apartir do momento em que os recursos naturaisregistrem queda acentuada (em fertilidade dosolo, pesca, florestas, combustíveis fósseis, porexemplo), a economia e o nível de empregocomeçarão a ser afetados pelo declínio naprodução, pelos preços de energia e pelo aumentodas emissões. Outras consequências possíveis dessaestratégia são migração em massa resultante daescassez de recursos como água, por exemplo,aceleração das mudanças climáticas e aumentoconsiderável nos índices de extinção de recursos.

Nas simulações de cenários ecológicos, ototal da produção no setor rural (incluindoprodutos agropecuários, florestais e pesqueiros)aumenta em comparação com os cenários BAU.Os níveis de emprego, direto e indireto, crescemsensivelmente por causa do maior rendimento,mesmo que a área cultivada continue a mesmaou diminua. Uma redução na demanda por

terra indica sinergias positivas entre investi-mentos na agricultura ecológica e manejo derecursos florestais (por causa do aumento deprodutividade e melhor qualidade do solo,resultantes de maior preservação de áreasflorestais e uso mais frequente de fertilizantesorgânicos). Investimentos na melhoria daeficiência hídrica possibilitam redução dademanda de água na área cultivada, corrigindoos efeitos de demanda de água superior à oferta.Cabe ainda ressaltar que as emissões decorrentesdo uso de fertilizantes químicos, do desma-tamento e do manejo da terra para cultivodiminuem bastante em comparação ao BAU.

Por fim, seria razoável admitir que os cenáriosecológicos podem propiciar o início, e mesmoa expansão, da segunda geração de biocom-bustíveis. Estima-se que até 25% dos resíduosagrícolas e de sistemas agroflorestais já estariamdisponíveis para produção. O uso desse tipo derecurso aliado ao aproveitamento de terras nãoutilizadas para a agricultura poderia criar milhõesde emprego até 2030 e respaldar concretamentea transição para um modelo que prescinda dopetróleo. Esse cenário nos relembra tambémque a manutenção de longo prazo da fertilidadedo solo passa por “reinvestir” todos os resíduosdas lavouras e da produção para biocombustívelem fertilizantes orgânicos. De todo modo, sãonecessárias mais pesquisas que pautem aprodução de biocombustíveis segundo umparâmetro de sustentabilidade.7

Já é mais do que tempo de adotar uma visãosistêmica e de longo prazo em relação a ummodelo agrícola para um futuro sustentável.Não há mais desculpas, pois as ferramentas paraembasar novas políticas em pesquisa e desen-volvimento agrícola estão disponíveis. A maioriados países, muitos dos quais em grande sinergiacom o tema da agricultura, meio ambiente esociedade, não conseguirá cumprir até 2015 asMetas de Desenvolvimento do Milênioavençadas em 2000. É fundamental uma açãofirme e efetiva para mudar o atual paradigmada agricultura.8

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É surpreendente o baixíssimo número dehistórias de desenvolvimento coroadas de êxitodescritas neste livro que dependeram, em algumgrau relevante, de descobertas técnicas ecientíficas avançadas. Na verdade, o acesso aferramentas e técnicas simples, baratas, duráveise de fácil manutenção para a realização dastarefas diárias é um ingrediente muito maiscomum em projetos bem-sucedidos do quetecnologias de ponta ou mudanças de sistemaspossibilitadas pelas inovações científicas.

Praticamente todas as pessoas de comunidadesengajadas em desenvolvimento reconhecem anecessidade de análise objetiva e sensata dasraízes da insegurança alimentar, bem como aimportância de pesquisa e desenvolvimento naprodução, manuseio, armazenamento, comer-cialização e políticas de alimentos. Porém, dá--se muita pouca atenção à investigação do tipo

As ações serão diferentes de um lugar paraoutro, porque é necessário considerar que aagricultura adota expressão local de acordo como ambiente, as pessoas e outros fatores. É nesteaspecto que se evidencia a conveniência dasferramentas que avaliam os sistemas agrícolasem contextos mais amplos, contemplando adimensão ambiental, social e econômica. Criarcenários hipotéticos de políticas de desen-volvimento com a participação de todos os inte-ressados permitirá forjar uma visualização ediscussão que apontem para um entendimentocomum e um consenso sobre o caminho a

seguir, considerando as consequências, desejadase indesejadas, de uma política específicaescolhida. Se vamos despender bilhões dedólares para reinventar a agricultura – e estáclaro que devemos fazer isto – precisaremostambém investir em infraestrutura e instituiçõesrurais além da esfera da agricultura. Precisamoseliminar subsídios perversos e substituí-los porrecompensas para práticas agrícolas prudentese precisamos mudar os padrões de consumovigentes. Esta é a única maneira de marcar adiferença entre fazer negócios do jeito desempre e fazer negócios de um novo jeito.

de análise, pesquisa e aplicações tecnológicasque tragam melhor benefício de custos napromoção de agricultura sustentável e desen-volvimento econômico. Isto precisa mudar – erapidamente.

A gravidade dos atuais problemas em segurançaalimentar, aliada à crescente fragilidade daspopulações e ecossistemas em áreas densamentepovoadas e vulneráveis à seca, inundações,incêndios, tsunamis e terremotos impõe que acomunidade mundial explore a ciência e atecnologia mais do que nunca, mas de formasdiferentes e com maior rigor do que houve até umpassado recente. (Ver Quadro 15–1).9

A falta de consenso e clareza sobre o melhorcaminho com vistas à maior segurança alimentare econômica, bem como a desconfiança arraigadaentre as diversas partes envolvidas e os supostosbeneficiários, clama por avaliação transparente e

Inovações para Avaliar Projetos de Desenvolvimento Agrícola

Charles Benbrook

Charles Benbrook cientista-chefe de The Organic Center, com sede em Boulder, Colorado.

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de alto valor comercial, ano a ano, desde queinvistam o suficiente em insumos que sustentema alta produtividade.11

Esta “nova religião” pode acabar deixando delado o interesse em enfoques agroecológicos etrazer uma nova geração de pragas e problemasde saúde do solo e das plantas acarretados pornutrientes em excesso ou em desequilíbrio. Porexemplo, quando se aplica muito nitrogênio,o excesso normalmente estimula um aumentosúbito de micróbios do solo que consomem suamatéria orgânica. A consequência é uma piorada qualidade do solo, apesar do uso do ferti-lizante.12

Algumas pesquisas sugerem que serãonecessários entre 5 e 10 anos de esforçosconcentrados e intensos na maior parte dasregiões africanas para que os níveis de matériaorgânica no solo aumentem em medidasuficiente para elevar não só a capacidade deabsorção e retenção de água, mas também osníveis de fertilidade no solo. No entanto, comoa saúde do solo é continuamente restaurada, épossível não só que essas regiões diminuam suadependência dos fertilizantes importados, mastambém que mais nutrientes que sustentam odesenvolvimento das plantas venham da lavourae da própria região. Fazer com que a fertilidadepossa se apoiar na atividade agrícola local é umadas melhores formas de aumentar a parcela darenda agrícola que fica na propriedade rural.13

A origem de boa parte da má vontade atualna área de desenvolvimento agrícola talvez estejanas pessoas, organizações e empresas com umaplataforma própria, da qual alguns elementosforam repaginados e oferecidos como a receitacerta para o progresso. O debate sobre o papele usos corretos da engenharia genética (EG)em contraposição a sistemas agroecológicos naprodução agrícola é especialmente controverso.Esse debate também é de importância funda-mental porque ele dará os contornos do rumoe dos impactos da assistência em desen-volvimento e da reforma de políticas agrícolaspara um futuro já antevisto e, portanto, ajudará

independente dos impactos de projetos eestratégias de desenvolvimento. A busca que estelivro faz de elementos essenciais em iniciativasbem-sucedidas e sustentáveis é um bom primeiropasso, mas o desenvolvimento agrícola deve serdisseminado – e mais rapidamente –, casocontrário, corre o risco de engrossar a semprecrescente lista de prioridades globais.

Uma medida imprescindível para aprimoraro acompanhamento dos projetos e refinar aavaliação é definir de comum acordo umconjunto de parâmetros de desempenho ecritérios de avaliação que sirvam de referênciapara uma tecnologia, prática, sistema ou projetoespecífico a ser avaliado. Sugerimos que “seisprincípios” sejam aplicados ao se proceder auma avaliação:• Promover biodiversidade.• Trabalhar dentro de limites naturais.• Buscar soluções na raiz dos problemas.• Estimular melhoria da qualidade e da

produtividade do solo.• Preservar capacidade inovadora.• Privilegiar soluções autossustentáveis.10

Mesmo com esses princípios em mãos, amaior parte das ações bem-sucedidas no campodo desenvolvimento requer que diversos fatoresocorram em uma sequência lógica e progressiva.A ação correta praticada na hora erradageralmente leva a resultados decepcionantes.

Melhorar a fertilidade e a produtividade desolos exauridos talvez seja, isoladamente, omaior problema atravancando a segurançasustentável dos alimentos cultivados na Áfricae em partes da Ásia. Inúmeros projetosalcançaram resultados rápidos e expressivos como uso de fertilizantes disponibilizados aosagricultores por meio de diversos investimentosem infraestrutura e programas de subsídios. Aeuforia despertada por êxitos iniciais não rarocria uma demanda de “mais do mesmo”, o queacarreta a continuidade dos subsídios e taxassempre crescentes de utilização de fertilizantes.Os agricultores são, quase sempre, persuadidospela ideia de que conseguirão plantar culturas

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a determinar se o mundo será mais ou menosseguro em termos alimentares. Com o tempo,a radicalização de posições entre os participantesda causa do desenvolvimento poderia deses-truturar o apoio político necessário paraestimular e sustentar o financiamento paraprogramas de assistência ao desenvolvimento.

Hoje em dia, há quem defenda a combinaçãoou fusão entre enfoques concorrentes emrelação ao desenvolvimento agrícola, naesperança de que um sistema híbrido terámelhor desempenho do que qualquer enfoque

isolado. Embora atraente em termos abstratos,a fusão de sistemas que são essencialmentediferentes quase sempre é má ideia e engendraresultados erráticos e decepcionantes.14

Em vez disso, as agências de desenvolvimentoe órgãos de financiamento deveriam investir emdiversos enfoques e estratégias, dando a cadaum deles uma chance justa de demonstrar se ecomo podem contribuir para margens maisamplas de segurança alimentar em basesacessíveis e sustentáveis. Uma avaliação rigorosados projetos, calcada em parâmetros de

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Quadro 15-1 P&D em Agricultura: Novas Dinâmicas do Setor Público-Privado

Até recentemente, governos, universidades,organizações multilaterais e demaisinstituições públicas estabeleceram asprioridades e pagaram a maior parte dasatividades de desenvolvimento técnico ecientífico na área de agricultura e sistemasalimentares. Em contrapartida, ao se lançar em P&D em sistemas alimentares, o setorprivado acatou a condição de dependente dasinstituições públicas e das instruções delasrecebidas.

A transição para o domínio do setor privadoem P&D em agricultura começou nos anos1970, ganhou impulso nos anos 1980, quandoo potencial de lucro da engenharia genéticaganhou evidência, e foi concluída na viradapara o século 21. Em 1986, nos EstadosUnidos, os investimentos do setor público edo privado em pesquisa de produção agrícolaforam de 54% e 46%, respectivamente,totalizando cerca de US$ 3,33 bilhões.

Em 2009, os investimentos mundiais emP&D agrícola feitos pela Monsanto foram daordem de US$ 980 milhões, e os da Syngenta,US$ 960 milhões. Outras empresas pioneirasem pesticidas para aplicação em sementesinvestiram, no mínimo, US$ 4 bilhões, eoutros US$ 3 bilhões ou mais foramdesembolsados por diversas empresas dosegmento de insumos agrícolas(equipamentos rurais, saúde animal, irrigação,agricultura de precisão, e assim por diante), o

que representou um investimento total do setor privado de, pelo menos, US$ 9bilhões. Como nos Estados Unidos o totaldo desembolso público em P&D agrícola foi de aproximadamente US$ 3,5 bilhõesnaquele ano, pode-se concluir que aparticipação do setor público em P&Ddiminuiu de 54% em 1986 para perto de28% em 2009, enquanto a participação do setor privado cresceu de 46% para 72% no mesmo período.

Nessa mesma ocasião, ocorreramreduções significativas no financiamentopúblico para pesquisa, desenvolvimento eprogramas de treinamento, obrigando asinstituições públicas a se voltarem,humildemente, para o setor privado embusca de fundos, o que não raro embutiriaum custo razoável em termos deindependência e de integridade científica.

Na maioria dos países, as empresasprivadas são obrigadas por lei a maximizarretornos financeiros a seus investidores.Para uma grande corporação, não éexatamente confortável ter que apresentar amargem de lucro usual, investir e preservara propriedade intelectual se ela for sócia emum projeto de desenvolvimento quecontemple as necessidades de pequenosagricultores em regiões pobres do mundo.

Fonte: Ver nota final 9.

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desempenho originados de princípios como osdescritos acima e aceitos amplamente, deveentão ser feita para que se identifiquem osenfoques mais promissores e com melhorbenefício de custos.

Os princípios da agroecologia e da agriculturaorgânica, assim como os da engenharia genética,têm potencial para contribuir para sistemas maisprodutivos, saudáveis e sustentáveis. Mas, nocaso dos primeiros sistemas mencionados, hámaiores possibilidades de que essa contribuiçãoseja mais impactante e tenha melhor benefíciode custos do que a engelharia genética porque,de modo geral, as soluções baseadas em manejointegradas aos sistemas de agricultura ecológicae orgânica são concebidas para melhorar aqualidade do solo e promover a saúde dasplantas e dos animais.

Um sistema agroecológico consegue melhorara qualidade do solo o suficiente para elevar asmetas de produtividade, de modo sustentável,em 50% ou mais, com uso relativamente baixode insumos externos; além disso, é possívelatingir tal meta no mesmo tempo que serianecessário para desenvolver, testar e introduzirum cultivar de uma espécie modificada geneti-camente. O aumento em potencial da produ-tividade de cultivares de uma espécie resultantede EG não é superior a 10% da produtividadepossível de se obter com uma variedade deespécie convencional e bem adaptada. Contudo,esse possível incremento de produtividaderequer outros insumos, ano a ano, e a variedademodificada possivelmente não será tão robustaem certas condições ambientais em virtude deimpactos imprevistos da transformação genéticana fisiologia da espécie e/ou na resposta aestresse.15

Cabe ainda ressaltar que qualquer futuravariedade de planta modificada geneticamenteterá melhor desempenho em um ambiente emque solos degradados tenham sido recuperadospela adoção de práticas agroecológicas demelhoramento do solo. Neste mesmo sentido,qualquer família que gerencie uma pequena

fazenda com sistema agroecológico combinandocultivo e criação de animais será beneficiada poreventuais vacinas para animais geneticamentemodificadas para a prevenção de doençasrecorrentes. Porém, esses exemplos de comoos enfoques agroecológicos e da EG podem terbenefícios mútuos são insignificantes quandocomparados às profundas diferenças entre eles.

A tecnologia de EG e os sistemas com usointensivo de insumos focalizam, em geral, umaintervenção em um problema, tendo como metaverificar o dano causado por pragas ou porproblemas oriundos de desequilíbrios no sistemaagrícola. Historicamente, a adoção de insumose novas tecnologias para manter níveis elevadose crescentes de rendimento acarretaram outrosproblemas, como resistência a herbicidas oudanos colaterais a organismos não alvejados portais procedimentos, como peixes e abelhas. Associedades ocidentais conseguiram e estãodispostas a conter e enfrentar esses danoscolaterais por meio de programas regulatórioscomplexos e caros e através de pesquisa e fisca-lização. Seria realista esperar que países africanose asiáticos fizessem o mesmo?

Os sistemas com uso intensivo de insumostambém tendem a corroer a sustentabilidadeeconômica da agricultura familiar porque, deum lado, aumentam o rendimento das culturase os custos de produção e, de outro, diminuema renda agrícola líquida, por área cultivada, pelomenos anualmente. Durante décadas, com ointuito de sustentar a renda familiar em vistados retornos líquidos cada vez mais baixos porárea cultivada, os fazendeiros norte-americanossimplesmente expandiram a área de suasplantações. Inúmeros fazendeiros na AméricaLatina seguiram essa prática, montandooperações que ocupam dezenas de milhares dehectares e fazendo um uso combinado de sojaresistente a herbicida e sistemas de plantiodireto. Embora altamente produtivas em termosde renda agrícola por hora de trabalho investido,essas fazendas fazem muito pouco para

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incrementar o bem-estar econômico dos despos-suídos que vivem na área da lavoura. A rendagerada, assim como o produto da lavoura, escoapara fora da região.

Felizmente, existem outros modelosde desenvolvimento e de produçãoagrícola que trazem resultados muitodiferentes. Como ilustrado em diversoscapítulos deste livro, as necessidadeseconômicos e nutricionais dos agri-cultores com menos recursos são maisbem atendidas com sistemas diversi-ficados, que tenham valor agregado ese amparem nos conhecimentos, nascompetências, nos recursos e na biodi-versidade locais. Quando esses sistemasavançarem em sintonia com empresasde perfis diversos e contarem compolíticas de respaldo e investimentos

direcionados para a infraestrutura, surgirão opor-tunidades concretas que priorizem a segurançaalimentar e que se fundamentem em sistemas quetendem a limitar e dispersar os riscos.

Inovações Institucionais para Ajudar as Pessoas e o Planeta

Marcia Ishii-Eiteman

Marcia Ishii-Eiteman é cientista sênior da Pesticide Action Network North America e uma das autorasda Avaliação Internacional do Conhecimento, Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento.

Estamos hoje no limiar de um colapso dasfunções de ecossistemas vitais que sustentam aspessoas e o planeta. Ao mesmo tempo, estamosassistindo a níveis intoleráveis de pobreza, emque cerca de 1 bilhão de pessoas passam fomediariamente. Em todo o mundo, a agriculturase depara com crises convergentes de mudançasclimáticas, escassez de água e diminuição desuprimentos de combustível fóssil, além deseveras crises socioeconômicas no campo e umaepidemia de usurpação de terras e, neste cenário,é imperativo uma rápida e terminante reori-

entação no sentido da sustentabilidade ecológicae da equidade.16

Felizmente, temos condições de produzirsuprimentos adequados de alimento saudávele, ao mesmo tempo, promover regeneraçãoecológica, de modo a garantir justiça social eresfriamento do planeta. No entanto, colocarisso em prática em escala global exige firmecompromisso e determinação política, calcadosem uma compreensão clara das origens dapobreza e da fome e em uma disposição paramudar o rumo. Isso, por sua vez, requer que os

A cultivar de arroz desenvolvida em Uganda para maior rendimento

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políticos encarem com honestidade a economiapolítica da fome e a ecologia política de umsistema alimentar em crise.

A apreciação mais detalhada da agriculturaglobal até o momento, a Avaliação Interna-cional do Conhecimento, Ciência e TecnologiaAgrícolas para o Desenvolvimento (IAASTD),conduzida pela ONU, fez isso e mais ainda.Redigido por mais de 400 cientistas e profis-sionais da área de desenvolvimento de mais de80 países, e endossado por 58 governos, orelatório concluiu que “Fazer os negócios dojeito de sempre não é uma opção”. A avaliaçãoconstatou que as tecnologias e práticas agroin-dustriais, bem como os programas políticos,econômicos e institucionais que as respaldam,conseguiram, em alguns momentos, aumentara produtividade agrícola, mas cobrando umpreço altíssimo em termos de saúde pública,meio ambiente, equidade social, igualdade entreos sexo e dos próprios fundamentos da segurançaalimentar.17

Esse relatório histórico detalhou os resultadosfunestos dessas tecnologias e práticas: poucosfavorecidos à custa de muitos renegados, sériadegradação dos recursos naturais que sustentama sobrevivência humana, níveis inéditos deemissões de gases de efeito estufa vinculados àagroindústria e, mais do que isso, a continuidadede tais práticas agrícolas hoje ameaça a segurançahídrica, energética, alimentar e climática.18

A IAASTD alertou ainda que, a crescenteconcentração de mercado nos setores dealimentos e agronegócios, a integração verticaldo sistema alimentar, a velocidade da libera-lização do comércio em muitas regiões e ainfluência do setor empresarial sobre políticaspúblicas, pesquisa e extensão rural tiveramconsequências negativas de vulto para os paísesmais pobres, afetando seu meio ambiente e asaúde e o sustento de suas populações. Arealidade é que, em muitos países, a populaçãorural pobre simplesmente não tem meios depagar o alimento cultivado na própria região, emespecial, quando o preço é inflacionado pelos

efeitos da ajuda alimentar, dumping eespeculação financeira. Sendo assim, o queprecisa mudar?19

Para que se ampliem os casos notáveis desucesso apresentados no Estado do Mundo2011 e se chegue ao desenvolvimento justo esustentável no século 21, é necessário um redi-recionamento de grandes proporções no apoioinstitucional e político e nos investimentos.Como descrito na IAASTD, isto requer nãoapenas a injeção de capital em práticas agrícolasecológicas que incorporem a biodiversidade,mas também a implantação de novas instituiçõese a criação de um ambiente que permita queos planos de ação favoreçam a segurançaalimentar e a subsistência de pequenos produtorese comunidades agrícolas. Essa meta impõetambém que os agricultores sejam livres paradispor de suas próprias competências e conhe-cimentos e fazer aquilo que sabem fazer e queeles recebam a ajuda necessária, na forma demais informações, iniciativas de cooperação, ouintervenções de programas e de mercado.20

Como evidenciado em alguns casos, osavanços demonstrados por agricultores quepraticam agroecologia não ocorreram em funçãode políticas nacionais de amparo. Ao contrário,muitas vezes eles aconteceram com a ausênciadessas políticas e a despeito de pressões intensasexercidas, por exemplo, por forças do mercadoglobal e pelos interesses próprios do comércioneoliberal em favor da produção de commoditiesem grande escala e com uso intensivo derecursos naturais. A boa notícia é que o esforçoconjunto e coordenado por parte dos tomadoresde decisões para que se trabalhe lado a ladocom a sociedade civil pode trazer muito maisresultados. Um planejamento participativo, porexemplo, poderia gerar um modelo nacionalcoerente que servisse de parâmetro para umatransição do país para a produção agroecológica.21

Respaldar os agricultores significa levar apoiopolítico para a criação de entidades comunitáriasvoltadas à causa da mulher, das populaçõesautóctones, dos operários, dos trabalhadores

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rurais e de outros setores, como a Rede deOrganizações de Produtores Agrícolas da ÁfricaOcidental, a Associação Nacional de Traba-lhadoras Rurais e Nativas do Chile, a Federaçãode Trabalhadores Rurais de Bangladesh e aFederação Nacional de Pescadores de Sri Lanka.Estes e muitos outros grupos têm papéisdecisivos no fortalecimento do bem-estar sociale econômico da comunidade rural, em especial,nos casos em que a ação coletiva possa fortalecero poder político, proteger os direitos dos traba-lhadores rurais e reduzir os riscos e custos deingresso nos mercados almejados.22

Amparar comunidades rurais também significagarantir que os camponeses tenham acesso econtrole seguros da terra, da água, de sementes,do mercado e do capital, e significa aindaaumentar os investimentos públicos em saúde,educação e infraestrutura nas áreas rurais. Arevisão de leis de propriedade intelectual (PI)visando a um sistema mais equitativo quereconheça o direito dos agricultores de preservar,usar, permutar e vender sementes poderia ser umcomeço para se dar atenção a algumas das ameaçasà subsistência trazidas pelos atuais sistemas de(PI) que tendem a favorecer as grandescorporações concedendo-lhes patentes sobresementes. Além disso, firmar acordos comerciaisjustos e flexíveis, regional e mundialmente, é umamudança fundamental de posicionamento quedeve ocorrer para permitir que os agricultores eos países em desenvolvimento tenham atendidassuas necessidades básicas de segurança alimentare sustento.

Portanto, em última análise, o que se impõehoje é nada mais do que a democratização dosistema alimentar global. O funcionamentopleno de uma democracia alimentar requer aeducação alimentar de seus integrantes, ou seja,as pessoas precisam não apenas compreenderas origens do alimento que consomem, mastambém o contexto social, político e culturalde quem o produz e de todos os envolvidos nasua distribuição.23

Em termos práticos, o reequilíbrio de forçasno sistema de alimentos implica a revitalizaçãode sistemas alimentares locais e regionais, bemcomo a redução da concentração de poderes eexcesso de influência no sistema globalizado.O avanço no primeiro caso pode se dar pormeio de conselhos locais e regionais de políticaalimentar, instituídos em bases democráticas,de modo a assegurar ampla participação públicana elaboração de políticas alimentares, comoexiste hoje no Canadá, na Índia, na Holanda,no Reino Unido e nos Estados Unidos. Osórgãos de representação dos agricultores têmmeios para definir coletivamente as práticas demanejo agrícola e dos recursos naturais dacomunidade, como ocorre em Rajasthan, Índia.Além disso, é possível fomentar projetos urbanose periurbanos, semelhantes aos que estão emcurso em cidades do Brasil, China, Cuba, Gana,Quênia, Índia, Uganda, Venezuela, e Vietnã.24

No entanto, a ação isolada das comunidadesnão consegue redefinir estruturas, instituições eforças de mercado globais que costumamfavorecer o ganho financeiro no curto prazo emnome de interesses poderosos, em detrimentodo bem-estar de longo prazo dos pobres evulneráveis e das funções dos ecossistemas quealimentam o planeta. Portanto, é necessário quehaja uma interferência no âmbito nacional einternacional.

Incentivos financeiros, como linhas decrédito, seguro agrícola, isenções de impostode renda, políticas de compras ecológicas epagamentos pelos serviços dos ecossistemas,podem estimular os agricultores a fazer atransição para práticas ambientalmente susten-táveis. Ao mesmo tempo, a taxação de impostossobre danos à saúde e ao meio ambiente viabilizaa captação de fundos para a conservaçãoambiental e desestimula a dependência deinsumos químicos, combustíveis fósseis e damodalidade produtiva que faz uso intensivo deágua ou energia.

Faz-se também necessário forte espírito deliderança moral dos governos nacionais e órgãos

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internacionais para conter a atual epidemia deusurpação de terras e para instituir e fazer valerpadrões elevados na esfera ambiental e de justiçasocial. É imprescindível que haja engajamentodos governos nacionais no cenário global, para ofortalecimento dos acordos e tratados interna-cionais relativos ao meio ambiente, para a revisãode leis internacionais sobre propriedade e acessoà terra e para a garantia de que as iniciativas naesfera nacional para a proteção do bem públiconão sejam desestabilizadas por uma interpretaçãoestreita de regras comerciais. No âmbito de cadapaís individualmente, a intervenção pública é cadavez mais solicitada, porque esta é uma forma dereverter tendências de concentração empresarialno setor agrícola e de alimentos, aplicar políticasde defesa da concorrência e assegurar que asplataformas públicas em relação a pesquisas visemao bem comum.25

Por fim, movimentos sociais no mundo todoreivindicam uma postura em relação a alimentosque seja baseada em direitos. Um númerocrescente de governos, dentre os quais os doBrasil, do Equador, de Mali e do Nepal, estãohoje adotando exatamente este posicionamento.Proteger, respeitar e consumar o direito àcomida, através de práticas de desenvolvimentojusto e ambientalmente sustentável deve setransformar em uma coordenada para o século21. A IAASTD nos fornece uma ampla gama dealgumas da melhores e mais promissorasferramentas para a implementação de umapostura de governança justa dos sistemasagrícolas e alimentares, que não perca de vistaos direitos e que seja coerente com o conhe-cimento socioambiental sólido e, portanto,calcado nos princípios de soberania alimentar.26

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Inovações em Governança

Anuradha Mittal

Anuradha Mittal é diretora executiva do Oakland Instituto na Califórnia.

A agricultura é o maior setor econômico domundo, empregando mais de 1 bilhão depessoas e gerando anualmente não menos doque 1 trilhão de dólares em alimentos. Contudo,cerca de 1 bilhão de pessoas continuam a passarfome, ao mesmo tempo em que os impactosdestrutivos da agricultura sobre o clima e abiodiversidade não param de se expandir.27

Diante de uma crise humanitária e ecológicadesta proporção, é necessário questionar o atualsistema do setor agroindustrial. Em 2008, umaumento alarmante no número de pessoassubnutridas ensejou diversas conferências dealto nível sobre segurança alimentar, resultandoem compromissos e promessas pomposos em

nome de ajuda e mudança. Dois anos depois,pouca coisa havia mudado.

O problema reside na seguinte falácia: a fomemundial continua a ser encarada como umacrise de oferta e demanda que deve serenfrentada, principalmente, com ações deaumento da produção agrícola e desen-volvimento. Essa visão coloca uma ênfaseequivocada em soluções técnicas, como aengenharia genética e um maior uso de insumosquímicos para aumentar a produtividade, aomesmo tempo em que ignora questões degovernança e responsabilização no que se referea compromissos de ajuda, gastos públicos,parcerias público-privadas e recomendações das

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instituições financeiras e de países doadores arespeito das políticas a serem adotadas.

Para que se remova o ônus trazido por estavisão que ignora as causas estruturais da segurançaalimentar e se cultive uma aceitação de soluçõestecnológicas, o diálogo agora deve priorizar anecessidade de investimentos em todos osenfoques – agroecologia, uso intensivo deprodutos químicos e engenharia genética – como objetivo maior de acabar com a fome. NoSimpósio da Premiação do World Food Prize2009, Bill Gates, um dos presidentes e patroci-nadores da Fundação Bill and Melinda Gates –entidade que participa ativamente da questãoagrícola por meio da Aliança para uma RevoluçãoVerde na África – defendeu a premência de secontemplar produtividade e sustentabilidade naagricultura como base de um programa de amploescopo para ajudar os agricultores pobres.28

No entanto, esta tentativa conciliadora ignorao fato de que a maior parte dos atuais investi-mentos em agricultura é alocada em soluçõestécnicas que concentram poder nas mãos depoucos e desconsidera o potencial socioam-biental de muitos. Consideremos, por exemplo,a engenharia genética – a manipulação humanado material genético de um organismo, de umaforma que não ocorre naturalmente, calcadaem estudos insuficientes sobre os riscos ao meioambiente e à saúde humana e em leis discutíveisde propriedade intelectual. A visão conciliadoramenospreza a questão central por trás daprevisível prosperidade da engenharia genética:a criação de um ambiente favorável viabilizadopor diversos agentes. Esse leque de diferentesinteressados inclui parcerias público-privadas,como por exemplo, a que reuniu o InstitutoQueniano de Pesquisa Agrícola (KARI), aMonsanto, o Programa de Fomento à Biotec-nologia Agrícola (ABSP) da Agência Norte--Americana para o Desenvolvimento Interna-cional (AID) e o Mid-American Consortium,para pesquisa de desenvolvimento de batata-doce transgênica resistente a SPFMV. Apesarde ter a batata-doce como foco, esta parceria

contribuiu para influenciar na criação deestruturas de biossegurança nacional, napreparação e encaminhamento de pedidos delicença de biossegurança, na avaliação labora-torial e em campo da biossegurança de espéciesmodificadas geneticamente, na proteção dedireitos de propriedade intelectual (DPR) e nacriação de mecanismos de transferência detecnologia. As inovações agroecológicas nãogozaram da proteção de nenhum DPR e tiveramque se contentar com as restrições financeiras dosetor público para realizar as suas atividades dedesenvolvimento. As parcerias também permiti-ram que a indústria de biotecnologia consumisserecursos de faculdades públicas de agronomiae oferecesse subsídio às universidades parapesquisa científica, buscando assim respaldoacadêmico para as suas atividades tecnológicas.

Outra fonte de incentivo são as instituiçõesfilantrópicas, incluindo a Fundação Rockefellere a Fundação Gates, cuja potência financeiravem estimulando um sistema agrícola criticadopor parte considerável da sociedade civil e degrupos de agricultores, porque o tipo de sistemapor elas patrocinado prejudica a abordagem debaixo uso de insumos. A Fundação Gates, porexemplo, desembolsou milhões de dólares nodesenvolvimento de EG de mandioca, banana,arroz e sorgo “nutritivos”. Em 2009, elaconcedeu subsídio de US$ 21,2 milhões, comprazo de cinco anos, para que o Centro Inter-nacional da Batata produzisse variedades debatata-doce de alta produtividade e resistentesa estresse e, em 2010, subvencionou cerca deUS$ 1,4 milhão, com prazo de três anos, aoCentro Internacional de Agricultura Tropicalpara contribuir com atividades que acelerassema melhoria da mandioca, buscando umavariedade com maior produtividade, resistênciaa doenças e outras características. Essa mesmafundação fez uma parceria com a FundaçãoRockefeller e a Fundação Syngenta para umfinanciamento de Milho Resistente a Insetos,para o Projeto África do Instituto Queniano dePesquisa Agrícola. Aproximadamente 80% dos

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financiamentos da fundação no Quênia são dire-cionados para biotecnologia, e mais de US$100 milhões são subsidiados a organizaçõesvinculados à Monsanto.29

Outra força de peso que tem contribuído noavanço da EG na agricultura global é a AgênciaNorte-Americana para o Desenvolvimento. Umde seus principais projetos, inicialmentegerenciado pela Michigan State University eatualmente pela Cornell, é o Programa deFomento à Biotecnologia Agrícola (ABSP), queinclui parceiros do setor público-privado, comoa Monsanto, a Alpha Seed e a Bayer. Um dosprojetos da ABSP foi o Programa de Biosse-gurança Regional na África Meridional, com oobjetivo declarado de prover “fundamentoregulatório para auxiliar testes de campo deprodutos modificados geneticamente”. A AIDtambém deu apoio para o desenvolvimento devariedades de berinjela resistentes a insetos, naÍndia; a ideia inicial era lançar o projeto naquelepaís e, posteriormente, transferi-lo para asFilipinas e Bangladesh, porém, a resistênciageneralizada ao programa acabou impondo umamoratória do lançamento na Índia.30

Embora o discurso de “maior investimentona agricultura” seja invocado para preparar ocaminho rumo a uma revolução tecnológica naagricultura, Olivier de Schutter, Relator Especialdas Nações Unidas para o Direito à Alimentação,observou, como outros antes dele já haviamfeito, que não se trata de apenas aumentar asdestinações orçamentárias para a agricultura, esim fazer uma escolha dentre os diferentesmodelos de desenvolvimento agrícola, quepoderão ter diferentes impactos e beneficiardiferentes grupos de modo diverso. As alter-nativas que atenderiam às necessidades daquelesque passam fome, dos pequenos produtores edo meio ambiente são abundantes local, regionale nacionalmente.

Belo Horizonte, no Brasil, por exemplo, éreconhecida como uma pioneira mundial emgovernança para segurança alimentar. Em 1993,a prefeitura implantou um sistema de políticas

comprometidas com o conceito de soberaniaalimentar: o direito dos povos de definir suaspróprias políticas alimentares e agrícolas, deproteger e regulamentar a produção e ocomércio dos alimentos, assegurando desen-volvimento sustentável, de estabelecer o graude sua autonomia e de eliminar práticas dedumping em seus mercados.31

O direito dos cidadãos à alimentação tornou--se realidade através de diversos programasinovadores, dentre os quais: um conselhocomposto por cidadãos comuns e representantesde trabalhadores, empresários e igrejas, com ointuito de prestar assessoria na elaboração eimplantação de um novo sistema alimentar;orçamento participativo; barracas com hortifrútis“Direto da Roça” em áreas movimentadas docentro da cidade; armazéns que oferecemalimentos valendo dois terços do preço demercado; “Restaurantes Populares” que atendemdiariamente 12.000 ou mais pessoas, usandoalimento cultivado na região, a um preçoequivalente a menos de 50 centavos de dólar,serviços de extensão rural para a comunidade,hortas escolares e aulas de nutrição. Recursosfederais são usados para comprar alimentosintegrais, principalmente de agricultores da região,e para subvencionar as merendas escolares.32

Graças, em parte, a esses programas, no prazode apenas uma década, Belo Horizonte reduziua taxa de mortalidade infantil – amplamenteusada como indicativo de desnutrição – em maisde 50%. Hoje em dia, essas iniciativas beneficiamperto de 40% da população da cidade, com gastode um centavo de dólar por dia, por pessoa.33

Existem também exemplos de ações deâmbito nacional para a proteção da subsistênciados agricultores e da segurança alimentar. Porexemplo, após a Indonésia atingir autossufi-ciência em arroz em 1984, o governo liberalizouos mercados agrícolas nos anos 1990, reduzindosensivelmente a ajuda pública aos agricultoresdo país. Em 1998, a situação se inverteria, e aIndonésia passaria a ser o maior importador dearroz e o maior destinatário de ajuda alimentar

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do mundo. O governo reverteu sua política deliberalização em 2002 e, para estimular aprodução doméstica, conteve as importaçõesde arroz com aumento de impostos. AIndonésia voltou a ser autossuficiente em arrozem 2004 e, quando o preço do arroz disparounos mercados internacionais em 2008, a políticapública da Indonésia permitiu que o paísmantivesse o preço do arroz estável, garantindoque a parcela mais pobre e vulnerável tivesseacesso a alimento.34

Para um exemplo em nível regional, aComunidade Econômica dos Estados da ÁfricaOcidental (ECOWAS) tem um caso interessantea mostrar. Em maio de 2008, no auge da crisedo preço dos alimentos, a ECOWAS lançou a“ofensiva para produção de alimentos nocombate à fome”. A estratégia – aumento rápidoe sustentável da produção de alimentos básicos,organização de cadeia de valor, integração eregulamentação regional e criação de redes desegurança – teve por finalidade implantar apolítica agrícola comum preparada em 2005,mas jamais colocada em prática. A estratégiacriou ainda uma comissão da ECOWAS com oobjetivo de auxiliar os Estados participantes aelaborarem programas de desenvolvimento e

constituírem parcerias encarregadasde coordenar a implantação doprojeto. A ECOWAS já conseguiucaptar US$ 900 milhões em fundosde apoio. Essa estratégia de integraçãotambém começa a ser adotada naÁfrica Oriental e no Sudeste Asiático.35

Para contemplar as questões refe-rentes a aumento da produtividade emelhoria dos meios de subsistência,há também exemplos que apontamum caminho a seguir, com uso depoucos insumos e benéficos para oagricultor e o meio ambiente. Porexemplo, diante de limitações signi-ficativas na produtividade dos grãos ena segurança alimentar, pesquisadoresda Estação de Pesquisa Rothamsted,

no Reino Unido, e do Centro Internacional deFisiologia do Inseto e Ecologia, trabalharam naÁfrica Oriental para criar uma solução ecológicaem controle de pragas, no caso, a broca docaule. As perdas decorrentes da broca do caulenessa região atingem, em média, 20%–40% ,podendo até mesmo chegar a 80% em algumasáreas. Os danos causados pela striga podem seraté maiores, havendo registros de perdas naordem de 30%–100% em diversas áreas. Quandoas duas pragas atacam ao mesmo tempo, quasesempre os agricultores perdem toda a safra. Osprejuízos econômicos causados pela broca docaule e pela erva daninha striga totalizam cercade US$ 7 bilhões ao ano.36

Uma tecnologia de culturas intercalares“empurra e puxa” foi usada para controlar abroca do caule e a striga e, ao mesmo tempo,para aumentar a forragem animal e melhorar aqualidade e a fertilidade do solo. Desde osprimeiros ensaios experimentais e, poste-riormente, nos testes feitos na propriedade rurale na implantação do projeto em maior escala, aestratégia “empurra e puxa” de culturas inter-calares demonstrou ótimo resultado. No oestedo Quênia, seis distritos foram objeto de umestudo da tecnologia “empurra e puxa” com afinalidade de avaliar o desempenho agronômico

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Melancias cultivadas localmente são vendidas em Nouakchott,Mauritânia

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e o benefício de custos. Nos sete anos deduração da pesquisa, constatou-se que orendimento do grão de milho fora homogêneoe mais alto em comparação com o consórciode milho e feijão e sistemas de monocultura demilho. A análise de custo-benefício mostrouque em todos os distritos, exceto em um, odesempenho dos sistemas de “empurra e puxa”foi superior ao dos sistemas de consórcio milho--feijão e das monoculturas de milho, apesar doscustos iniciais variáveis e de custos de mão deobra mais elevados no primeiro ano.37

Uma ferramenta útil para que se obtenhamalgumas das mudanças necessárias nos modelosde desenvolvimento agrícola é a figura de umouvidor – uma autoridade independente com opoder de mediação entre instituições e as pessoaspor elas atendidas. Um exemplo dessemecanismo é a Ouvidoria/Departamento deOmbudsman (CAO), uma instância para inter-posição de recursos instituída na InternationalFinance Corporation (IFC) e na MultilateralInvestment Guarantee Agency (MIGA), braçosdo World Bank Group para concessão deempréstimos ao setor privado. O CAO trabalhapara tratar dos interesses de pessoas físicas oucomunidades afetadas por projetos da IFC/MIGA, aprimorar os resultados socioambientaisdesses projetos e estimular maior transparênciada IFC e da MIGA.38

Por exemplo, em resposta a uma queixaapresentada por organizações não governa-mentais, uma auditoria do CAO em 2009constatou que o financiamento da IFC concedidoao Wilmar Group, uma empresa indonésia deagronegócios, havia infringido os procedimentosda própria instituição ao permitir que interessescomerciais se sobrepusessem a padrões socioam-bientais. Isso acarretou a suspensão de emprés-timos da IFC para o setor de azeite de dendê,enquanto se aguardavam salvaguardas garantindoque o empréstimo não causaria dano social ouambiental. Uma estrutura de governançasemelhante, que ofereça às comunidades canaisde apelação e lhes ajude a encaminhar suasqueixas, poderia ser um instrumento de

referência valioso na concessão de empréstimode grandes fundações e de agências de amparona esfera da agricultura.39

Auditorias sociais são outra ferramenta válidapara assegurar que os financiadores e as grandesempresas estão amparando, de fato, a agriculturasustentável. O objetivo seriam avaliaçõesminuciosas dos efeitos socioambientais de açõeseconômicas. Por exemplo, desde 1989 a empresade sorvetes Ben & Jerry’s elabora e publicaanualmente um Relatório de Avaliação Socioam-biental. Esse informe apresenta em detalhes osavanços da empresa em metas de missão social(como, por exemplo, um ingrediente que passaa ser adquirido por comércio justo, implantaçãode programas de consumo sustentável de laticíniose reduções de gases de efeito estufa) e inclui umaanálise pormenorizada de impactos socioambi-entais, elaborada com comentários dos chefes dedepartamento. O que dá legitimidade ao relatórioé o fato de ele passar por auditoria independentee ser usado para educação do pessoal interno daempresa, em comunicações externas e para acom-panhamento e planejamento pela gerência ediretoria. Esse monitoramento público e trans-parente de pegadas sociais, econômicas eambientais feito através de auditores indepen-dentes deixa pouco espaço para “lavagemecológica” e oportunismo de relações públicas.40

O sucesso no enfrentamento da fome global,cujas origens estão na pobreza e na degradaçãoambiental, requer intervenções e mudanças deparadigma. Existe um reconhecimento crescenteda premência de uma nova postura que reconheçana agricultura um elemento fundamental para obem-estar de todos, não apenas em termos deacesso a alimento seguro e nutritivo, mastambém como o fundamento de comunidades,culturas e ambiente saudáveis. Acima de tudo,a agricultura precisa ser vista como uma guerrapara garantir o direito humano à alimentação.Isto exige um novo foco, onde a busca desoluções únicas para o problema da fome dálugar à identificação de suas verdadeiras causasque, assim, podem ser confrontadas com êxito.

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A novidade extraordinária é que, depois de anosde abandono, os governos voltaram a investirem agricultura, colocando em destaque ospequenos produtores. Eles estão reconhecendoa importância das mulheres, da infraestrutura,de redes de segurança e dos mercados locais, eestão, acertadamente, examinando maneiras deaprimorar a ajuda alimentar emergencial, omercado financeiro e as conexões entre osmercados. Eles estão pedindo apoio para umaONU mais forte e para respostas mais articuladase eficazes para a crise alimentar. O conjuntodessas medidas tem enorme potencial paraerradicar a fome.

As lideranças passam a adotar medidasimportantes para melhorar o sistema dealimentos global num momento em que umamudança é crucial. Em 2008, uma força-tarefade alto nível propôs o Modelo Geral para Ação(CFA), que é um plano estratégico para que osgovernos se comprometam com uma reformaem política alimentar e agrícola. Na CúpulaMundial da ONU sobre Alimentação realizadaem 2009, os governos reafirmaram o papel doComitê de Segurança Alimentar Mundial daOrganização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO), fortalecendo seu mandatoe tendo no CFA uma diretriz. Em 2009, oBanco Mundial lançou o Programa Global deSegurança Alimentar e Agrícola, tambémdesignado como um fundo de segurançaalimentar, com o intuito de criar programas decrédito para os países em desenvolvimento. Emjunho de 2010, o fundo selecionou cinco paísespara receber o primeiro lote de ajuda emsegurança alimentar. E em 2010, nos Estados

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Unidos, o governo Obama lançou seu primeiroprograma Alimentar o Futuro, cujas principaisprioridades para o desenvolvimento interna-cional são segurança alimentar, saúde eigualdade entre os sexos.41

Apesar de todas estas medidas positivas, umadas maiores dificuldades é que ainda uma boaparte dos investimentos é destinada paraaumentar o suprimento global, ampliar o papelbalizador do agronegócio em novos mercadose expandir o comércio. Nesse contexto, algunsdoadores priorizam aumentar o abastecimentopara um mercado internacional de alimentos,deixando de fazer o tipo de investimento quepode revigorar os mercados locais e os pequenosprodutores.

A declaração da ONU de 1999 sobre o direitoà alimentação afirma que “as raízes do problemada fome e da desnutrição não são a falta dealimentos, e sim a falta de acesso ao alimento queestaria ao alcance, mas que não é obtenível, entreoutros motivos, devido à pobreza de grande parteda população”. O fato de que o acesso e adistribuição, e não o abastecimento, sejam osprincipais responsáveis pela fome é um diferencialimportante. Daryll Ray, membro do Centro deAnálise de Políticas Agrícolas da Universidade doTennessee relatou, no início de 2010, que aprodução crescente não se correlaciona comredução da fome. De 1980 a 2009, a produçãode cevada, milho, painço, aveia, arroz, centeio,sorgo e trigo aumentou 55%, e a de sete sementesoleaginosas subiu quase 189%, totalizando 67%para 15 culturas. Ao mesmo tempo, a fometambém cresceu e a autossuficiência alimentar dediversos países diminuiu.42

Inovações em Reforma Política

Alexandra Spieldoch

Alexandra Spieldoch é coordenadora da Rede de Ministras e Lideranças em Agricultura da Organizaçãode Mulheres pela Mudança em Gestão Agrícola e de Recursos Naturais.

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Está claro que os mercados globaistêm uma função crucial para contribuircom a segurança alimentar. Mas osmercados não estão se autocorrigindoe precisam de certos controles quereduzam seu potencial de causardanos. Durante a crise de alimentosde 2008, os países sem capacidadeprodutiva eram dependentes demaisdo mercado global de alimentos e nãodispunham de controles adequadosque contivessem a especulação e avolatilidade dos preços, o que levoua um aumento acentuado no númerode famintos.

Olhando para o futuro, podemosdizer que os políticos precisam adotaras providências corretas para garantirque os mercados sejam monitorados mais deperto. Medidas protecionistas são, muitas vezes,descartadas pelos mais ferrenhos ideólogos dolivre mercado. No entanto, algumas medidasprotecionistas fazem bastante sentido e deveriamfazer parte da reforma política alimentar eagrícola que está sendo proposta. Na mescla dereformas que estão sendo apresentadas eimplantadas, os governos não precisamreinventar a roda. Eles podem começar a reveras iniciativas em curso ou as que tenham sidosugeridas com o propósito de atingir segurançaalimentar e desenvolvimento sustentável emdiferentes regiões e comunidades.

Desde 2003, por exemplo, países em desen-volvimento, inclusive alguns da África, buscamformas de proteção por meio de mecanismosde salvaguarda especial, tais como impostosmais altos que refreiem as importações quepoderiam inundar seus mercados domésticos.Eles também vêm tentando obter reduçõestarifárias para alguns itens alimentícios quefazem parte de uma lista de produtos especiais.Ainda que essas medidas não resolvam todas asdiscrepâncias de mercado, são ferramentasimportantes que dão mais possibilidades paraque esses países invistam em sua produção

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nacional e a protejam, tendo por meta asegurança alimentar. Por exemplo, no Quênia,o súbito crescimento da importação de açúcare laticínios desestruturou a produção; o mesmoaconteceu com aves, arroz e óleos vegetais emCamarões, com milho, açúcar e leite no Maláuie com arroz na Indonésia e no Nepal.43

Em um dos casos, as importações de avescresceram 300% em Camarões entre 1999 e2004. Como era de se esperar, 92% dosprodutores de aves no país saíram do setor pornão conseguirem mais manter seu sustentodepois que aves baratas invadiam o país.Existem motivos diferentes para essa tendência.Um dos principais fatores é que durante anos,Camarões reduziram os impostos de importaçãopara menos de 25% e, como resultado, asimportações de aves subiram quase seis vezesnesse período. Quando o país aumentou osimpostos para 42% e restringiu certas importações,o setor aviário local enxergou aí alguns avançosporque os produtores nacionais conseguiamreceber um preço mais alto.44

Diante da especulação excessiva em 2008 eda previsão de que os preços continuariam asubir até 40% na década seguinte, os governos

Agricultura observa pesagem de milho em um armazémcooperativado, Tanzânia

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estoque de alimentos regionais. Na Ásia, aASEAN acrescentou ao programa ReservaEmergencial de Arroz no Leste da Ásia mais trêsmodalidades, com o intuito de responder aosabalos e escassez de alimentos da região. Emtermos mundiais, alguns observadores propõema implantação de um mecanismo internacionalque funcione por meio de estoques virtuais, ouainda, a criação de algum órgão de governançapara monitoramento dos níveis dos estoques edos preços. O fortalecimento do Convênio paraAjuda Alimentar também será importantes paraajudar os países a sempre obterem alimentosculturalmente adequados.46

No que diz respeito a investimentos, estão emcurso transações envolvendo quantias vultosasde capital para terceirizar a produção dealimentos e combustível – que, em alguns casos,poderiam ser chamadas de “usurpação deterras”–, sem regulamentação adequada e semprocessos condizentes para a proteção dosdireitos das pessoas e do meio ambiente. Emsetembro de 2010, o Banco Mundial publicouum relatório que destacava a necessidade demaior rendimento na produção de alimentosna África, mas, ao mesmo tempo, questionavase os investimentos poderiam prejudicar direitosagrários e marginalizar pequenos produtores.O Banco Mundial, a FAO, o Fundo Interna-cional para o Desenvolvimento Agrícola e aConferência das Nações Unidas sobre Comércioe Desenvolvimento prepararam um esboço dePrincípios para Investimentos Responsáveis naAgricultura. Do ponto de vista conceitual, essequadro de referência deveria servir para orientaros investidores, de modo que os direitos à terrae aos respectivos recursos nacionais sejam reco-nhecidos e respeitados, a segurança alimentarseja intensificada e os investimentos sejam trans-parentes, responsáveis e sujeitos a análiseambiental e avaliações de impacto nos direitoshumanos.47

No entanto, para que esse tipo de investimento– na verdade, qualquer investimento – tenha êxitosão necessários códigos de conduta compulsórios

deveriam encarar os mercados de outra maneira.Em junho de 2010, o presidente Obama assinoua Reforma de Wall Street e a Lei de Proteção doConsumidor. Os americanos esperam que issorestrinja o excesso de especulação sobre osmercados de futuros de commodities agrícolase controle e regulamente as bolsas de valores.A legislação é uma instância importante parapôr fim à manipulação do mercado. O Institutode Políticas Agrícolas e Comerciais assinala que“maior transparência e limites mais rigorososnos EUA também favorecerão muitos paísesem desenvolvimento que dependem deexportações agrícolas, porque eles se benefi-ciarão da maior previsibilidade e estabilidadede preços no mercado global”.45

Outra forma de os governos colaboraremcom a estabilidade dos mercados é investindoem produção e infraestrutura para estoque dealimentos, em vários níveis, oferecendo, assim,um caminho para restaurar a confiança nosmercados e contribuir com a segurançaalimentar de forma concreta. Eles podem, porexemplo, auxiliar os agricultores com sistemasde armazenamento de frutas e verduras, demodo a evitar que acabem no lixo; podemfacilitar-lhes acesso ao crédito, com empréstimosem que a safra seja usada como garantia doempréstimo e podem atender às necessidadesde segurança alimentar das comunidades rurais.Nos programas governamentais de estoque dealimentos a prioridade deve recair sobrealimentos culturalmente adequados e sobre ospequenos produtores, inclusive mulheres, e ascomunidades locais.

Em termos de iniciativas regionais, a Áfricaestá hoje criando armazéns e programas dearmazenamento, com apoio do ProgramaMundial de Alimentos, do Conselho da ÁfricaOriental para Cereais, (EAGC) – que já inauguroutrês armazéns certificados (principalmente paramilho) no Quênia – e da Agência Norte--Americana para o Desenvolvimento Interna-cional. A Comunidade para o Desenvolvimentoda África Meridional conta com instalações para

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que responsabilizem as empresas por objetivossocioambientais mais amplos. Esses códigosdevem incluir disposições que protejam os direitosagrários e a reforma agrária, tributem as empresasde forma adequada, assegurando também queum percentual do valor fique na comunidade,estipulem que os investimentos sejam tambémna infraestrutura necessária (como escolas,hospitais e estradas), beneficiem pequenosprodutores, garantam que a produção nãodanifique o meio ambiente, assegurem que osdireitos trabalhistas sejam respeitados e que asnegociações com as empresas sejam discutidase acompanhadas publicamente e modificadasquando necessário para que os resultadosesperados sejam alcançados. Sem essas salva--guardas, e talvez outras mais, as transaçõesagrárias continuarão precárias, na melhor dashipóteses, e na pior, devastadoras.

Os países em desenvolvimento precisam deum tipo de investimento que os ampare natransição de sua atual dependência de umcrescimento baseado nos mercados interna-cionais que os abastecem com todos os tiposde suprimentos (particularmente arriscado emtempos de alta de preços) para um patamar quedê destaque aos pequenos produtores, a umaagricultura menos intensiva e a políticasalimentares mais justas, em sintonia com o direitoà alimentação. Em 2009, a FAO publicou umguia sobre como avaliar o “direito à alimentação”,instrumento esse que pode auxiliar vários paísesa identificar os famintos e os pobres, fazer umaanálise de estruturas jurídicas, políticas e insti-tucionais, elaborar um plano nacional desegurança alimentar, definir responsabilidades eobrigações, monitorar o andamento e instituirrecursos jurídicos.48

Menções ao direito à alimentação já constamde 24 constituições, bem como de diferentespolíticas nacionais, instituições de segurançaalimentar e tribunais. O Relator Especial dasNações Unidas para o Direito à Alimentação

examinou programas em curso voltados aodireito à alimentação no Brasil, na Índia, emMoçambique, no Nepal e na África do Sul, entreoutros. Os resultados foram animadores e elesagregam diversas abordagens, inclusive reformajurídica e processos participativos para aformulação de política nacional e internacionalsólidas. Os resultados talvez sejam heterogêneos,ou não tão rápidos como se desejaria, noentanto, essas iniciativas estabelecem prece-dentes importantes para se alcançar o direito àalimentação.49

Por exemplo, o Equador aprovou um projetode lei em 2009 para implantar o compromissoassumido com o direito à alimentação, incluindodisposições que viabilizam o acesso de pequenosprodutores a capital e recursos, asseguram aparticipação pública em processos decisórios eprotegem os povos nativos, entre outras. Outroexemplo é o programa brasileiro Fome Zero,que respalda o direito à alimentação por meiode auxílio emergencial, maior oferta de canaisde acesso a alimentos básicos e geração de renda.Um dos itens de destaque no projeto FomeZero é o programa de merenda escolar, queoferece refeições gratuitas a crianças em idadeescolar, e no qual pelo menos 30% dos alimentoscomprados devem ser provenientes de pequenosagricultores. Outra vertente do programaacontece pela transferência de dinheiro parafamílias pobres, possibilitando que disponhamde mais renda para a compra de alimentos.50

Há muito que comemorar em termos de umnovo olhar para alimentos e agricultura. Odesafio agora é dar forma a esse olhar de modoque ele traga benefícios concretos. A agriculturaestá no centro do desenvolvimento interna-cional e, justamente por isso, precisa continuarna linha de frente no radar da comunidade inter-nacional. Não há melhor momento do que opresente para pôr em marcha um quadro dereferência global.

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Notas

Estado do Mundo: Um Ano em Retrospecto

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Novembro de 2009. K. L. Smith et al., “Climate,Carbon Cycling, and Deep-ocean Ecosystems”,Proceedings of the National Academy of Sciences, vol.106 (2009), pp. 19211–18; Agência de ProteçãoAmbiental dos EUA (EPA), “EPA Study RevealsWidespread Contamination of Fish in US Lakes andReservoirs”, press release (Washington, DC: 10 denovembro de 2009); WWF, “Data Shows IllegalIvory Trade on Rise”, press release (Cambridge,U.K.: 16 de novembro de 2009); Organização dasNações Unidas para Agricultura e Alimentação,“Renewed Commitment to End Hunger”, pressrelease (Roma: 16 de novembro de 2009); “ChinaUnveils Emissions Targets Ahead of Copenhagen”,BBC News, 26 de novembro de 2009.

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Fevereiro de 2010. Programa das Nações Unidaspara o Meio Ambiente (UNEP), “UN WildlifeConference Enhances IntergovernmentalCooperation to Safeguard Sharks”, press release(Bonn: 12 de fevereiro de 2010); “Smallholders,Rural Producers Key to Slashing Global Hunger andPoverty – Ban”, UN News Service, 17 de fevereirode 2010; Conservation International, “Primates inPeril”, press release (Bristol, U.K.: 18 de fevereiro de2010); Mekong River Commission, “DroughtConditions Cause Low Mekong Water Flow”, pressrelease (Vientiane: 26 de fevereiro de 2010).

Março de 2010. Booz & Company, “A New Sourceof Power, the Potential for Renewable Energy in theMENA Region”, press release (Abu Dhabi: 14 demarço de 2010); Arctic Species Trend Index, “HighArctic Species on Thin Ice”, press release(Whitehorse, Canadá: 17 de março de 2010); TylerHamilton, “CO2-eating Algae Turns Cement MakerGreen”, Toronto Star, 18 de março de 2010; CliffordCoonan, “More than 50 Million Hit by Drought inSouth of China”, Irish Times, 22 de março de 2010;Michael Renner, “Auto Industry in Turmoil, butChinese Production Surges”, Vital Signs Online(Washington, DC: Worldwacht Institute, 11 defevereiro de 2010).

Abril de 2010. Bo Elberling, Hanne H. Christiansene Birger U. Hansen, “High Nitrous OxideProduction from Thawing Permafrost”, NatureGeoscience, vol. 3 (2010), pp. 332–35; JeffreyGettleman, “With Flights Grounded, Kenya’sProduce Wilts”, New York Times, 19 de abril de2010; Jeremy Clarke e Antony Gitonga, “VolcanoDisrupts African Rose Exports”, Reuters, 20 de abrilde 2010; Campbell Robertson, “Search ContinuesAfter Oil Rig Blast”, New York Times, 20 de abril de2010; Campbell Robertson e Clifford Krauss, “GulfSpill Is the Largest of Its Kind, Scientists Say”, NewYork Times, 2 de agosto de 2010; Cape Wind, “CapeWind Approved by Federal Government as America’sFirst Offshore Wind Farm; Project Will Add CleanEnergy Jobs for Region”, press release (Boston: 28de abril de 2010).

Maio de 2010. Nitin Sethi, “CFL Bulb Scheme WillBe World’s Biggest Carbon Credit Project”, Timesof India, 1º. de maio de 2010; EPA, “EPA Sets

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Junho de 2010. Agência Europeia do Meio Ambiente,“Climate Change: Commissioner HedegaardWelcomes Fall in EU Greenhouse Gas Emissions forFifth Year Running”, press release (Bruxelas: 2 dejunho de 2010); Sarah H. Olson et al., “Deforestationand Malaria in Mâncio Lima County, Brazil”, EmergingInfectious Diseases, julho de 2010; Maplecroft, “NewMaplecroft Index Rates Pakistan and Egypt AmongNations Facing ‘Extreme’ Water Security Risks”, pressrelease (Bath, U.K.: 24 de junho de 2010); Paul Gipe,“Italy Surpasses USA in Solar PV”, GreenEner-gyTimes.org, 28 de junho de 2010.

Julho de 2010. WWF, “Russia to Create NewNational Parks and Reserves Nearly Size ofSwitzerland”, press release (Gland, Suíça: 6 de julhode 2010); UNEP, “Global Trends in Green Energy2009: New Power Capacity from Renewable SourcesTops Fossil Fuels Again in US, Europe”, press release(Nairobi: 15 de julho de 2010); U.S. National Oceanicand Atmospheric Administration, “NOAA: June, Aprilto June, and Year-to-Date Global Temperatures areWarmest on Record”, press release (Washington, DC:15 de julho de 2010); Amie Ferris-Rotman eAleksandras Budrys, “Russia Swelters in Heatwave,Many Crops Destroyed”, Reuters, 16 de julho de 2010;“General Assembly Declares Access to Clean Waterand Sanitation Is a Human Right”, UN News Service,28 de julho de 2010; UNESCO, “List of WorldHeritage in Danger: World Heritage CommitteeInscribes the Tombs of Buganda Kings (Uganda) andRemoves Galapagos Islands (Equador)”, press release(Paris: 29 de julho de 2010).

Agosto de 2010. Panthera, “Myanmar OfficiallyDesignates World’s Largest Tiger Reserve in theHukaung Valley”, press release (Hukaung Valley,

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Myanmar: 3 de agosto de 2010); University ofDelaware, “Greenland Glacier Calves Island 4 Timesthe Size of Manhattan, UD Scientist Reports”, pressrelease (Newark, DE: 6 de agosto de 2010);“Pakistan’s Flooding Sweeps South”, BBC News, 6de agosto de 2010; Nathanial Gronewold andClimateWire, “Is the Flooding in Pakistan a ClimateChange Disaster?” ScientificAmerican.com, 18 deagosto de 2010; International Economic Platform forRenewable Energies, “Economic Crisis Will SlowGlobal CO2 Emissions”, press release (Münster,Alemanha: 31 de agosto de 2010); Tim Cocks,“Drought Tolerant Maize to Hugely Benefit Africa:Study”, Reuters, 25 de agosto de 2010.

Setembro de 2010. International Water ManagementInstitute, “In a Changing Climate, Erratic RainfallPoses Growing Threat to Rural Poor, JustifyingBigger Investment in Water Storage, New ReportSays”, press release (Estocolmo: 6 de setembro de2010); Conservation International, “Shell Shock:The Catastrophic Decline of the World’s FreshwaterTurtles”, press release (Washington, DC: 10 desetembro de 2010); FAO, “925 Million in ChronicHunger Worldwide”, press release (Roma: 14 desetembro de 2010); Allan Dowd, “World Pays HighPrice for Overfishing, Studies Say”, Reuters, 14 desetembro de 2010; “Global Fisheries Research FindsPromise and Peril: While Industry Contributes$240B Annually, Overfishing Takes Toll on Peopleand Revenue”, ScienceDaily.com, 14 de setembro de2010; Vattenfall, “Vattenfall Inaugurates World’sLargest Offshore Wind Farm”, press release(Londres: 23 de setembro de 2010).

Capítulo 1. A Construção de um Novo Caminho para Acabar com a Fome

1. Christine Zaleski, e-mail para Danielle Nierenberg,27 de agosto de 2010; Christine Zaleski, “Turningthe Catch of the Day into Improved Livelihoods forthe Whole Community”, Blog: Nourishing the Planet,12 de julho de 2010.

2. Zaleski, “Turning the Catch of the Day”, op. cit.nota 1.

3. Organização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO), “925 Million in ChronicHunger Worldwide”, press release (Roma: 14 desetembro de 2010). Quadro 1–1 elaborado a partirde: FAO, op. cit. esta nota; Gana - de Sara J. Scherre Courtney Wallace, “Rural Landscapes andLivelihood in Africa: Sustainable Development inthe Context of Climate Change and CompetingDemands on Rural Lands and Ecosystems”, IssuePaper for Dialogue towards a Shared ActionFramework for Agriculture, Food Security andClimate Change in Africa, Eco-Agriculture Partners,and World Wildlife Fund, Washington, DC, 6–9 dejulho de 2010, p. 4; FAO, “Global HungerDeclining, But Still Unacceptably High”, Resumo doPrograma (Roma: 14 September 2010); FAO, “FoodSecurity Statistics by Country”, em www.fao.org/economic/ess/food-securitystatistics/food-security-statistics-by-country/en; Organização Mundial daSaúde, Children: Reducing Mortality Fact Sheet(Genebra: novembro de 2009); International FoodPolicy Research Institute (IFPRI), “2009 GlobalHunger Index Calls Attention to Gender Inequality”,press release (Washington DC: 14 de outubro de2009); Shaohua Chen e Martin Ravallion, TheDeveloping World Is Poorer Than We Thought, ButNo Less Successful in the Fight against Poverty(Washington, DC: Grupo de Trabalho de Pesquisaem Desenvolvimento, Banco Mundial, 2008), p. 4;UN HABITAT, State of the World’s Cities 2010/2011:Bridging the Urban Divide (Londres: Earthscan,2010), p. 28; Agência Norte-Americana para Desen-volvimento Internacional, “USAID’s Office of Foodfor Peace 2009 Statistics”, press release (Washington,DC: 10 de janeiro de 2010); tendências em finan-ciamento para desenvolvimento agrícola - do Depar-tamento de Assuntos Socioeconômicos da ONU,Trends in Sustainable Development 2008–2009:Agriculture, Rural Development, Land, Desertifi-cation, and Drought (Nova York: ONU, 2008);orçamentos para a agricultura nacional na África –do Departamento de Assuntos Socioeconômicos daONU, Seção de Desenvolvimento Sustentável,“Summary Report of Multi-Stakeholder Dialogueon Implementing Sustainable Development”, 1º.de fevereiro de 2010, Nova York; importações degrãos – de Stacey Rosen et al., Food SecurityAssessment, 2007 GFA-19 (Washington, DC:, U.S.Department of Agriculture (USDA), 2007); Númeroda FAO – “Hunger Statistics”, em www.fao.org/

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hunger/en, e da FAO, “Hunger”, em www.fao.org/hunger/hunger-home/en.

4. FAO, Fisheries and Aquaculture Department, TheState of World Fisheries and Aquaculture 2008 (Roma:2009), p. 4.

5. International Assessment of AgriculturalKnowledge, Science and Technology for Development(IAASTD), Agriculture at a Crossroads, SynthesisReport (Washington, DC: Island Press, 2009); Figura1–1 da FAO, Índice da FAO de Preço de Alimentos(2010).

6. Banco Mundial, World Development Report 2008:Agriculture for Development (Washington, DC:2007).

7. FAO, “Global Hunger Declining”, op. cit. nota 3.

8. W. Makumba et al., “The Long-Term Effects ofa Gliricidia-Maize Intercropping System in SouthernMalawi, on Gliricidia and Maize Yields, and SoilProperties”, Agriculture, Ecosystems & Environment,agosto de 2006, pp. 85–92; D. Garrity e L. Verchot,Meeting the Challenges of Climate Change and Povertythrough Agroforestry (Nairobi: World AgroforestryCentre, 2008); armazenamento de cowpeas – dePurdue University, “Gates Foundation Funds PurdueEffort to Protect Food, Enhance African Economy”,press release (Seattle, WA: 6 de julho de 2007).

9. Chris Reij, Gray Tappan, e Melinda Smale, Agroen-vironmental Transformation in the Sahel: Another Kindof “Green Revolution”, Paper para discussão com oIFPRI (Washington, DC: IFPRI, 2009).

10. Consultative Group on International AgriculturalResearch, Financial Report 2008 (Washington, DC:2008).

11. Dados sobre dispêndios com pesquisa extraídosdo Board on Agriculture, Investing in Research: AProposal to Strengthen the Agricultural, Food, andEnvironmental System (Washington, DC: NationalResearch Council, 1989), “Appendix B: PrivateSector Research Activities and Prospects”. Os totais

não incluem a pesquisa e desenvolvimento do ForestService and Economic Research Service e não contamcom pesquisa feita pela indústria de processamentode alimentos.

12. R. Bunch, “Adoption of Green Manure andCover Crops”, LEISA Magazine, vol. 19, no. 4(2003), pp. 16–18; Ver o Capítulo 6 para entrevistascom agricultores e informação sobre o esgotamentodo solo e subsídios para fertilizantes.

13. Johan Rockström et al., “Managing Water inRainfed Agriculture – The Need for a ParadigmShift”, Agricultural Water Management, abril de2010, pp. 543–50; Ver Capítulo 4 para MoneyMakere outras bombas.

14. Ver Capítulo 4; Johan Rockström et al., “Conser-vation Farming Strategies in East and SouthernAfrica: Yields and Rain Water Productivity from On-farm Action Research”, Soil & Tillage Research, abrilde 2009, pp. 23–32.

15. Soil Association, Telling Porkies: The Big Fat LieAbout Doubling Food Production (Bristol, ReinoUnido: 2010), p. 3.

16. Stockholm International Water Institute, SavingWater: From Field to Fork – Curbing Losses andWastage in the Food Chain (Estocolmo: 2008); VerCapítulo 9 para correções de baixo custo.

17. Ver Capítulo 13 para informações sobre JustineChiyesu.

18. Fórum de Pesquisa Agrícola na África, Frameworkfor African Agricultural Productivity (Accra: 2006);“Rural Landscapes and Livelihoods in Africa:Sustainable Development in the Context of ClimateChange and Competing Demands on Rural Landsand Ecosystems”, minuta: Discussion Paper forDialogue towards a Shared Action Frame-work forAgriculture, Food Security and Climate Change inAfrica, Bellagio, Itália, 6–9 de julho de 2010.

19. Pessoas dependentes da agricultura urbana – deAlice Hovorka, Henk de Zeeuw e Mary Njenga,

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Women Feeding Cities: Mainstreaming Gender inUrban Agriculture and Food Security (Warwickshire,U.K.: Practical Action Publishing Ltd, 2009); Vertambém o Capítulo 10.

20. Desenvolvimento de Inovações no CultivoEscolar – em projectdiscnews.blogspot.com, vistoem 12 de maio de 2010.

21. Número de crianças passando fome nos EstadosUnidos – de Mark Nord, Margaret Andrews e StevenCarlson, Household Food Security in the United States,2008, Economic Research Report No. 83(Washington, DC: USDA, novembro de 2009), p.15; USDA, Food and Nutrition Service, “NationalSchool Lunch Program”, ficha do programa – emwww.fns.usda.gov/cnd/Lunch/AboutLunch/NSLPFactSheet.pdf, atualizado em setembro de 2010;World Food Programme, Feed Minds, Change Lives:School Feeding, the Millennium Development Goalsand Girls’ Empowerment (Roma: 2010).

22. Ver Capítulo 7.

23. Via Campesina – em viacampesina.org/en, visto em27 de setembro de 2010; Global Crop Diversity Trust– em www.croptrust.org, visto em 27 de setembro de2010. Tabela 1-1 – do seguinte: população mundialtotal e parcela urbana – da FAO, “Global Issue: WorldHunger and Poverty Facts and Statistics 2010” – emwww.worldhunger.org/ articles/Learn/world%20hunger%20facts%202002.htm; população da Áfricasubsaariana, população urbana mundial, parcela urbanada África subsaariana e idades médias – da ONU, WorldPopulation Prospects: The 2008 Revision (Nova York:2008); terra arável – da FAO, FAOSTAT StatisticalDatabase, em faostat.fao.org; parcela da produçãomundial de alimentos detida por pequenos propri-etários – do Development Fund/Utviklingsfondet,Norway, A Viable Food Future (Oslo: 2010), p. 7;parcela da produção de alimento da África subsaarianadetida por pequenos proprietários – de Eric Holt--Giménez, “From Food Crisis to Food Sovereignty:The Challenge of Social Movements”, Monthly Review,julho-agosto de 2009, p. 145; população urbana naÁfrica subsaariana – de UN HABITAT, “UrbanIndicators” – em www.unhabitat.org/ stats; populaçõesfamintas – da FAO, “Global Hunger Declining”, op.

cit. nota 3; crianças abaixo do peso – da UNICEF,The State of the World’s Children 2009 (Nova York:dezembro de 2008), p. 23; porcentagem abaixo dopeso – da UNICEF, The State of the World’s Children2008 (Nova York: dezembro de 2007); valor agregadoda produção agrícola per capita – do Forum for Agri-cultural Research in Africa, Framework for AfricanAgricultural Productivity (Accra, Gana: junho de2006), p. 8.

24. Restrições para as lavouras cultivadas nos EUA– do U.S. Government Accountability Office, Inter-national Food Assistance: Local and RegionalProcurement Can Enhance the Efficiency of U.S. FoodAid, but Challenges May Constrain its Implemen-tation (Washington, DC: 2009); Barack Obama,Comentários na Cúpula de Objetivos de Desen-volvimento do Milênio, Nações Unidas, Nova York,22 de setembro de 2010; Programa Mundial deAlimentos, “P4P Overview” - em www.wfp.org/node/18711, visto em 12 de maio de 2010.

25. Sara J. Scherr e Sajal Sthapit, Mitigating ClimateChange Through Food and Land Use, WorldwatchReport 179 (Washington, DC: Worldwatch Institute,2009), pp. 5, 9; World Agroforestry Centre, Creatingan Evergreen Agriculture in Africa for Food Securityand Environmental Resilience (Nairóbi: 2009), p.23; Scherr and Wallace, op. cit. nota 3, p. 33.

26. Ver Capítulo 8.

27. Ellen Gustafson, “Obesity + Hunger = 1 GlobalFood Issue”, TEDxEast Talk, maio de 2010.

28. IAASTD, Agriculture at a Crossroads: The GlobalReport (Washington, DC: Island Press, 2009).

Mensuração de Sucesso no Desenvolvimento Agrícola

1. P. B. R. Hazell, “Transforming Agriculture: TheGreen Revolution in Asia” – em D. J. Spielman e R.Pandya-Lorch, eds., Millions Fed: Proven Successes inAgricultural Development (Washington, DC: Inter-national Food Policy Research Institute, 2009), pp.25–32.

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2. J. W. Bruce e Z. Li, “Crossing the River whileFeeling the Rocks: Land-Tenure Reform in China”,in Spielman e Pandya-Lorch, op. cit. nota 1, pp.131–38.

3. O. Erenstein, “Leaving the Plow Behind: Zero-Tillage Rice-Wheat Cultivation in the Indo-GangeticPlains” – em Spielman and Pandya-Lorch, op. cit.nota 1, pp. 65–70.

4. C. Reij, G. Tappan e M. Smale, “Re-Greeningthe Sahel: Farmer-Led Innovation in Burkina Fasoand Niger” - em Spielman e Pandya-Lorch, op. cit.nota 1, pp. 53–58.

5. P. Roeder e K. Rich, “Conquering the CattlePlague: The Global Effort to Eradicate Rinderpest”,em Spielman e Pandya-Lorch, op. cit. nota 1, pp.109–16.

Capítulo 2. A Popularização da Agroecologia

1. Kijabe Environmental Volunteers 2008 – emtdesigns.free.fr/kenvo/index.html.

2. Avaliação Ecossistêmica do Milênio, Ecosystemsand Human Well-being: Synthesis (Washington, DC:Island Press, 2005); Z. G. Bai et al., Global Assessmentof Land Degradation and Improvement. 1. Identifi-cation by Remote Sensing (Wageningen, Netherlands:ISRIC–World Soil Information, 2008); Inter-governmental Panel on Climate Change (IPCC),Climate Change 2007: Impacts, Adaptation andVulnerability (Cambridge, U.K.: Cambridge

3. J. A. McNeely e S. J. Scherr, Ecoagriculture:Strategies to Feed the World and Save Wild Biodi-versity (Washington, DC: Island Press, 2003); S. J.Scherr e J. A. McNeely, “Biodiversity Conservationand Agricultural Sustainability: Towards a NewParadigm of ‘Ecoagriculture’ Landscapes”, Philo-sophical Transactions of the Royal Society B, 12 defevereiro de 2008, pp. 477–94.

4. Robert Watson – do International Assessment ofAgricultural Knowledge, Science and Technology(IAASTD), “Inter-Governmental Report Aims to

Set New Agenda for Global Food Production”, pressrelease (Londres: 31 de março de 2008); Figura 2–1 elaborada por Molly Phemister, adaptada de O. P.Rupela et al., “Evaluation of Crop ProductionSystems based on Locally Available Biological Inputs”– em N. T. Uphoff et al., eds., Biological Approachesto Sustainable Soil Systems (Boca Raton, FL: CRCPress, 2006), Figura 35.1.

5. M. Altieri, “Biodiversity and Biocontrol: Lessonsfrom Insect Pest Management”, Advances in PlantPathology, vol. 11 (1995), pp. 191–209; S. R.Gliessman, Agroecosystem Sustainability: DevelopingPractical Strategies (Boca Raton, FL: CRC Press,2001); N. Uphoff, Agroecological Innovations:Increasing Food Production with ParticipatoryDevelopment (Londres: Earthscan, 2002); McNeely eScherr, op. cit. nota 3; N. Uphoff et al., “Under-standing the Functioning and Management of SoilSystems” – em Uphoff et al., op. cit. nota 4, pp. 3–13.

6. J. Thompson et al., “Biodiversity in Agro-ecosystems” – em S. J. Scherr e J. A. McNeely,Farming with Nature (Washington, DC: Island Press,2007); H. H. Koepf, B. D. Pettersson e S. Wolfgang,Biodynamic Agriculture: An Introduction (Hudson,NY: Anthroposophic Press, 1976); B. Mollison e R.M. Slay, Introduction to Permaculture (Tyalgum,Australia: Tagari Publishers, 1991); J. G. Bene, H.W. Beall e A. Côté, Trees, Food and People: LandManagement in the Tropics (Ottawa: InternationalDevelopment Research Centre, 1977). Quadro 2–1 extraído do seguinte: H. Willer e L. Kilcher, eds.,The World of Organic Agriculture – Statistics andEmerging Trends 2009 (Bonn, Frick, e Geneva: Inter-national Federation of Organic Agriculture Movements(IFOAM), Research Institute of Organic Agriculture,and International Trade Center, 2009); P. A. Oduolet al., “Adoption and Impact of Agroforestry Tech-nologies on Rural Livelihoods in Southern Africa”,apresentado no Segundo Workshop Nacional sobreSistema Agroflorestal e Meio Ambiente, Mbeya,Tanzânia, 14–17 de março de 2006 (Maputo,Moçambique: World Agroforestry Centre (ICRAF),2006); ICRAF, Creating an Evergreen Agriculturein Africa (Nairobi: 2009); P. R. Hobbs, K. Sayre eR. Gupta, “The Role of Conservation Agriculturein Sustainable Agriculture”, Philosophical Transactionsof the Royal Society B, 12 de fevereiro de 2008, pp.

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543–55; cobertura verde permanente – de W.Makumba et al., “The Long-Term Effects of aGliricidia – Maize Intercropping System in SouthernMalawi, on Gliricidia and Maize Yields, and SoilProperties”, Agriculture, Ecosystems & Environment,agosto de 2006, pp. 85–92, e de ICRAF, Creatingan Evergreen Agriculture, op. cit. esta nota.

7. McNeely e Scherr, op. cit. nota 3; J. Milder et al.,“Landscape Approaches to Achieving FoodProduction, Natural Resource Conservation, andthe Millennium Development Goals” – em F. A. J.DeClerck , J. C. Ingram, e C. R. del Rio, IntegratingEcology into Poverty Alleviation and InternationalDevelopment Efforts (New York: Springer, no prelo).Figura 2–2 elaborada por Molly Phemister, adaptadade fotografias do Kijabe, Quênia, paisagem.

8. Figura 2–3 elaborada por Molly Phemister,adaptada do ISRIC–World Soil Information, “GreenWater Credits”, Policy Brief, Wageningen, Netherlands,sem data, Figura 2.

9. G. Schroth e M. S. S. DaMota, “Tropical Agro-forestry” – em Scherr e McNeely, op. cit. nota 6,pp. 103–20; G. Schroth e M. S. S. DaMota, “Conser-vation of a Forest Landscape and TraditionalLivelihoods in an Area of High Land Use Pressurein the Central Amazon” – em www.landscapemeasures.org/?p=77.

10. C. L. Neely e J. Butterfield, “HolisticManagement of African Rangelands”, LeisaMagazine, vol. 20, no. 4 (2004), pp. 26–28.

11. EcoAgriculture Partners, “Sustainable TeaProduction in Kericho, Kenya”, EcoagricultureSnapshots, Washington, DC.

12. J. Pretty, “Can Sustainable Agriculture FeedAfrica? New Evidence on Progress, Processes andImpacts”, Environment, Development, and Sustain-ability, vol. 1, nos. 3–4 (1999), pp. 253–74; L. E.Buck et al., “Scientific Assessment of EcoagricultureSystems” – em Scherr e McNeely, op. cit. nota 6;Schroth e DaMota, op. cit. nota 9; R. R. B. Leakey,“Domesticating and Marketing Novel Crops”, inScherr e McNeely, op. cit. nota 6.

13. Africare, Oxfam America e WWF-ICRISATProject, “More Rice for People, More Water for thePlanet”, WWF-ICRISAT Project, Hyderabad, India,2010, pp. 2, 8, 28; N. T. Uphoff, “Increasing WaterSavings While Increasing Rice Yields with the Systemof Rice Intensification” – em P. K. Aggrawal et al.,eds., Science, Technology and Trade for Peace andProsperity, Trabalhos do 26º Congresso Interna-cional do Arroz, 9–12 de outubro de 2006, NovaDéli (Los Banos, Filipinas: International RiceResearch Institute), pp. 353–65; Siddimallaiah – deAfricare, Oxfam America, e WWF-ICRISAT Project,op. cit. esta nota.

14. National Academy of Sciences, TowardSustainable Agricultural Systems in the 21st Century(Washington, DC: 2010); IAASTD, Agriculture ata Crossroads: Global Report (Washington, DC: IslandPress, 2008).

15. International Development Association,“Restoring China’s Loess Plateau” – emgo.worldbank.org/RGXNXF4A00; EcoAgriculturePartners, “Paying for Silvopastoral Systems inMatiguás, Nicaragua”, Ecoagriculture Snapshots, No.12, Washington, DC.

16. L. E. Buck e S. J. Scherr, “Building InnovationSystems for Managing Complex Landscapes” – emK. M. Moore, ed., The Sciences and Art of AdaptiveManagement: Innovating for Sustainable Agricultureand Natural Resources Management (Ankeny, IA:Soil and Water Conservation Society, 2009);Landscape Measures Resource Center – emtreadwell.cce.cornell.edu/ecoag1a; Kevin Kamp –em L. E. Buck et al., EcoAgriculture Partners’Landscape Measures Initiative Toward a Proof ofConcept, Planning Workshop, Washington, DC, 12de maio de 2009.

17. K. D. Warner, Agroecology in Action: ExtendingAlternative Agriculture Through Social Networks(Cambridge, MA: The MIT Press, 2007); M. A.Altieri e C. I. Nicholl, “Scaling up AgroecologicalApproaches for Food Sovereignty in Latin America”,Development, vol. 51 (2008), pp. 472–80; G.Rundgren, ed., Building Trust in Organic (Bonn:IFOAM, Germany, 2007).

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18. S. Franzel et al., “Scaling Up the Impact of Agro-forestry: Lessons from Three Sites in Africa and Asia”,Agroforestry Systems, vol. 61–62, no. 1–3 (2004), pp.329–44; EcoAgriculture Partners, “The CommunityKnowledge Service”, Washington, DC, 2008.

19. African Wildlife Foundation, “The AfricanHeartlands” – em www.awf.org/section/heartlands;The Ibero-American Model Forest Network – emwww.bosquesmodelo.net/new/english/index.html.

20. Milder et al. op. cit. nota 7.

21. Mars, Inc., “Cocoa Sustainability” – emwww.mars.com/global/assets/documents; Nestlé,“Water and Environmental Sustainability” – emwww2.nestle.com/CSV/WaterAndEnvironmentalSustainability.

22. Propuesta de Estrategia Centroamericana deDesarrollo Territorial (ECADERT) (San Jose, CostaRica: 2009) – em pesacentroamerica.org/pesa_ca/prupuesta_ecadert.pdf; TerrAfrica – em www.terrafrica.org.

23. Yale University and Center for InternationalEarth Science Information Network, EnvironmentalPerformance Index (New Haven, CT: 2008).

24. Organização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação, FAOSTAT Database – em faostat.fao.org/default.aspx.

25. L. Brussaard et al., “Reconciling BiodiversityConservation and Food Security: ScientificChallenges for a New Agriculture”, Current Opinionin Environmental Sustainability, maio de 2010, pp.34–42; R. E. Green et al., “Farming and the Fateof Wild Nature”, Science, 28 de janeiro de 2005, pp.550–55.

26. Programa das Nações Unidas para o MeioAmbiente, The Environmental Food Crisis (Nairóbi:2009).

27. S. J. Scherr e S. Sthapit, Mitigating ClimateChange Through Food and Land Use, Relatório do

Worldwatch 179 (Washington, DC: WorldwatchInstitute, 2009).

28. S. J. Scherr e C. A.Wallace, Dialogue Towards aShared Action Framework for Agriculture, FoodSecurity and Climate Change in Africa, Relatóriode Workshop (Washington DC: EcoAgriculturePartners, New Partnership for Africa’s Development,United Nations Foundation e World Wide Fund forNature, 2010).

Inovações no Cultivo do Arroz em Madagascar

1. Ministère de l’Agriculture, de l’Elévage et de laPêche, Deuxième Rapport National sur l’Etat desRessources Phytogénétiques pour l’Alimentation et l’Agri-culture, Madagascar (Antananarivo, Madagascar:2009).

2. Informações não publicadas referentes a missõesde levantamento de dados entre 1986 e 1998 obtidascom o apoio do International Board for Plant GeneticResources, o projeto japonês e a Swiss DevelopmentCorporation.

3. X. Rakotonjanahary, “New Rice Varieties for theHighlands of Madagascar: A Tool for Improving theProductivity and Income in Rice-based FarmingSystems” – em International Rice Research Institute,Fragile Lives – em Fragile Ecosystems: Proceedings ofthe International Rice Research Conference (Manila:1995); E. Ralambofetra, “Contribution à L’étudede la Valeur Nutritionnelle Comparée de Variétés deRiz de Madagascar”, Thèse de 3ème cycle (Antana-narivo, Madagascar: Université d’Antananarivo,1983); Andrianilana Fidelis et al., “Grain QualityCharacteristics of Rice in Madagascar Retail Markets”,Plant Foods for Human Nutrition, 30 de janeiro de1990, pp. 21–30.

4. Rakotonjanahary, op. cit. nota 3.

5. Sant S. Virmani, C. X. Mao e B. Hardy, HybridRice for Food Security, Poverty Alleviation, and Envi-ronmental Protection (Manila: International RiceResearch Institute, 2003).

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6. T. Defoer et al., “Rice-based Production Systemsfor Food Security and Poverty Alleviation in Sub--Saharan Africa” – em N. Van Nguyen, ed., Rice isLife, International Rice Commission Newsletter 53Trabalhos da Conferência Arroz é Vida, da FAO(Roma: FAO, 2004), pp. 85–96.

7. Ibid.

8. Ibid.

Capítulo 3. O Potencial Nutritivo e Econômico dos Legumes e Verduras

1. “Biotechnology and the Green Revolution:Norman Borlaug”, em ActionBioScience.org,atualização de 2002.

2. Beverly D. McIntyre et al., eds., Synthesis Report:Agriculture at a Crossroads, International Assessmentof Agricultural Knowledge, Science and Technologyfor Development (Washington, DC: Island Press,2009); Raj Patel, Eric Holt-Gimenez e AnnieShattuck, “Ending Africa’s Hunger”, The Nation,21 de setembro de 2009.

3. M. Ezzati et al., “Selected Major Risk Factors andGlobal and Regional Burden of Disease”, Lancet, 2de novembro de 2002, pp. 1347–60.

4. Ibid.

5. H. E. Bouis, “Breeding for Nutrition”, PublicInterest Report, julho/agosto 1995, pp. 8–16; M.Lotfi et al., Micronutrient Fortification of Foods:Current Practices, Research and Opportunities(Wageningen, The Netherlands: The MicronutrientInitiative, International Agricultural Center, 1996);Governo Federal da Nigéria e UNICEF, TheNutritional Status of Women and Children in Nigeria(Lagos, Nigéria: National Planning Commission eUNICEF Country Office, 1994).

6. Mark W. Rosegrant et al., 2020 Global FoodOutlook: Trends, Alternates, and Choices (WashingtonDC: International Food Policy Research Institute,2001), p. 7; K. Weinberger e T. A. Lumpkin, Horti-

culture for Poverty Alleviation – The UnfundedRevolution, Working Paper No. 15 (Shanhua, Taiwan:AVRDC–The World Vegetable Center, 1995).

7. Namanga Ngongi, “A New Green Revolution:Challenges and Opportunities in Linking SmallholderFarmers”, comentários no Fórum Global de NutriçãoInfantil: Simpósio sobre Agricultura Global eSegurança Alimentar”, Accra, Gana, 1º. de junhode 2010.

8. “Spotlight on AVRDC: Africa IndigenousVegetables”, Maendeleo Agricultural Technology FundNewsletter, junho de 2006, pp. 12–13; “HealthyUrban Fast Food - A New Maasai Enterprise”, Pointof Impact (AVRDC – The World Vegetable Center),novembro de 2008.

9. Quadro 3–1 extraído de: crescimento popula-cional – da Divisão de Estudos Populacionais daONU, World Population Prospects: The 2002 Revision,Highlights (New York: 2002); produtividade dasculturas – de D. Spielman e R. Pandya-Lorch, eds.,Millions Fed: Proven Successes in AgriculturalDevelopment (Washington, DC: International FoodPolicy Research Institute, 2009); participação dasvariedades modernas – de R. E. Evenson e D. Gollin,“Assessing the Impact of the Green Revolution, 1960to 2000”, Science, 2 de maio de 2003, pp. 758–62;Corn Farmers’ Coalition de J. Eisenthal, “Corn YieldTrending Higher”, Ethanol Today, março/abril de2010; R. S. Zeigler e S. Mohantya, “Support forInternational Agricultural Research: Current Statusand Future Challenges”, New Biotechnology, no prelo;W. M. Fukuda e N. Saad, Participatory Research inCassava Breeding with Farmers in NortheasternBrazil, Documento Operacional No. 99 (Cruz dasAlmas – Bahia, Brasil: Centro Nacional de Pesquisade Mandioca e Fruticultura Tropical, 2001); N. Saadet al., Participatory Cassava Breeding in NortheastBrazil. Who Adopts and Why? DocumentoOperacional no. 24 (Cali, Colômbia: Centro Inter-nacional de Agricultura Tropical, 2006); L. Sperling,J. Lancon e M. Loosvelt, eds., Participatory PlantBreeding and Participatory Plant Genetic ResourceEnhancement, Debates de um workshop em Bouaké,Costa do Marfim, 7-10 de maio de 2001 (Cali,Colômbia: CGIAR Systemwide Program on Partici-patory Research and Gender Analysis, 2004); P.

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P. O. Ojwang et al., “Participatory Plant BreedingApproach for Host Plant Resistance to Bean Fly inCommon Bean under Semi-arid Kenya Conditions”,Euphytica, vol. 170, no. 3 (2009), pp. 383-93;Aliança Pan-Africana para Pesquisa sobre Feijão,“Bean Seed Production in Rwanda: One Farmer’sStory” – de ww.pabra.org/project07.html; site Milhocom Suficiência de Água na África – em www.aatf-africa.org/wema.

10. Babel Isack, discussão com Danielle Nierenberg,26 de novembro de 2009; Ronnie Vernooy e BobStanley, “Breeding Better Barley – Together” – emInternational Development Research Center, SeedsThat Give: Participatory Plant Breeding (Ottawa:2003).

11. G. Keding et al., “Diversity, Traits and Use ofTraditional Vegetables in Tanzania”, TechnicalBulletin No. 40 (Shanhua, Taiwan: AVRDC, 2007).

12. Sementes Alfa descritas em “Partnerships for aBetter African Tomato”, Point of Impact (AVRDC),novembro de 2008.

13. Andreas Ebert, Genebank Manager, AVRDC,discussão com o autor, 2009.

14. Marilyn L. Warburton et al., “Toward a Cost-Effective Fingerprinting Methodology to DistinguishMaize Open-Pollinated Varieties”, Crop Science,março–abril de 2010, pp. 467–77.

15. AVRDC, “Improvements That Pay Off:Tomatoes for Tanzania”, AVRDC Factsheet, agostode 2006.

16. Ibid.; “Improved Indigenous Vegetables HaveMarket Potential”, Point of Impact (AVRDC),novembro de 2008.

17. Danielle Nierenberg e Bernard Pollock,“Breeding Vegetables with Farmers in Mind”,Huffington Post, 8 de dezembro de 2009.

18. Organização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO), Fundo Internacional para

Desenvolvimento Agrícola e Programa Mundial deAlimentos, “High Food Prices: Impact and Recom-mendations”, preparado para o encontro do ChiefExecutive Board for Coordination, Berna, Suíça, 28--29 de abril de 2008; J. Aphane, M. L. Chadha eM. O. Oluoch, “Increasing the Consumption ofMicronutrient-rich Foods through Production andPromotion of Indigenous Foods”, ata das Discussõesdo Workshop Internacional FAO-AVRDC, FAO eAVRDC-Regional Center for Africa, Arusha,Tanzânia, 5-8 de março de 2002. Quadro 3–2extraído de: Michael Burnham, “Kenya ProvidesSharp Increase in Sustainable-DevelopmentSpending”, New York Times, 1º. de julho de 2010;Mary O. Abukutsa-Onyango, conversa com JeanneRoberts, 8 de agosto de 2010; Jeanne Roberts,“Solving Kenya’s Food Crisis, One Indigenous Cropat a Time”, SolveClimate.com, 2 de setembro de2009; “Kenya: No Longer a Weed”, IRIN (Escritórioda ONU para a Coordenação de Assuntos Huma-nitários), 7 de agosto de 2009.

19. “Healthy Urban Fast Food”, op. cit. nota 8.

20. “Improved Indigenous Vegetables”, op. cit. nota16.

21. Ibid.

22. Ibid.

23. “A Surprising Nutritional Heritage”, Point ofImpact (AVRDC), novembro de 2008; AVRDC,“How to Grow African Nightshade”, folheto,Regional Center for Africa.

24. H. C. Bittenbender, R. P. Barrett e B. M. Indire-Lavusa, “Beans and Cowpea as Leaf Vegetables andGrain Legumes”, Occasional Monograph Series No. 1(East Lansing, MI: Michigan State University, 1984),pp. 1-21; Keding et al., op. cit. nota 11; DanielleNierenberg, “Vertical Farms: Finding Creative Waysto Grow Food in Kibera”, Blog Nourishing thePlanet, 11 de novembro de 2009.

25. Shayna Bailey e Danielle Nierenberg, “A GlobalReason to Eat Locally”, Vancouver Sun, 17 de agosto

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de 2010; Mel Oluoch, oficial de ligação, VegetableBreeding and Seed System Program, AVRDC–TheWorld Vegetable Center, conversa com DanielleNierenberg, 26 de novembro de 2009.

26. Oluoch conforme citado em Danielle Nierenberge Abdou Tenkouano, “Cultivating Food Security inAfrica”, Kansas City Star, 18 de fevereiro de 2010.

Desenvolvimento de Inovações para Cultivo em Escolas

1. Slow Food International, School Gardens inUganda: Food Education Project (Kampala, Uganda:2009).

2. Ibid.

3. Ibid.

4. Ibid.

5. Ibid.

6. Ibid.

7. Ibid.

8. Ibid.

9. Ibid.

10. Danielle Nierenberg, “How to Keep Kids ‘Downon the Farm’”, Blog Nourishing the Planet, 9 dedezembro de 2009; Slow Food International, op.cit. nota 1.

11. Danielle Nierenberg, “Cultivating a Passion forAgriculture”, Blog Nourishing the Planet, 15 dedezembro de 2009.

12. Ibid.

13. Slow Food International, op. cit. nota 1.

O Fundo para Um Acre Coloca os Agricultores em Primeiro Lugar

1. Entrevistas com agricultores do Distrito deChwele, Quênia, e de Nyamasheke, Ruanda,dezembro de 2009.

2. One Acre Fund, Fall 2009 Performance Report, emwww.oneacrefund.org/files/reports/OneAcreFund_SixMonthReport_Fall2009.pdf.

3. Ibid.

4. One Acre Fund, “Program Dashboard”, emwww.oneacrefund.org/our_results/program_dashboard.

5. Entrevistas com agricultores do Distrito deChwele, Quênia, janeiro de 2010.

6. One Acre Fund, “Leadership” – emwww.oneacrefund.org/about_us/leadership; oficiaisde campo do One Acre Fund em Ruanda e noQuênia, conversas com o autor, janeiro de 2010.

Capítulo 4. Mais Safra por Gota d’Água

1. Rendimento de grãos e área irrigada – daOrganização das Nações Unidas para Agricultura eAlimentação (FAO), FAOSTAT Statistical Database,em faostat.fao.org, visto em 13 agosto de 2010.

2. Número de 70% – da FAO Aquastat Database –em www.fao.org/NR/ÁGUA/AQUA STAT/main/index.stm, visto em julho de 2010; análise do usoda água agrícola global, por país – de www.fao.org/nr/água/Aquastat/water_use/index 6.stm; SandraPostel, Pillar of Sand: Can the Irrigation MiracleLast? (New York: W.W. Norton & Company, 1999).

3. FAO, The State of Food Insecurity in the World(Roma: 2010), número de 60% e maioria emfazendas – de David Molden, ed, Water for Food,Water for Life: A Comprehensive Assessment of WaterManagement in Agriculture (London and Colombo:Earthscan and International Water ManagementInstitute (IWMI), 2007), pp. 7-8.

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4. Postel, op. cit. nota 2, p. 209-10.

5. Figura 4–1 – da FAO, op. cit. nota 2.

6. Anos de escassez de chuva e seca – de JohanRockström et al, “Managing Water in RainfedAgriculture – The Need for a Paradigm Shift”, Agri-cultural Water Management, abril de 2010, pp. 543--50; Paul Rogers, “Millions Facing Famine inEthiopia as Rains Fail”, The Independent, 30 deagosto de 2009.

7. Figura 4-2 do Banco Mundial, Climate ChangeData Portal – em beta.worldbank.org/climatechange/data; Banco Mundial, Databank on WorldDevelopment Indicators (WDIs) and Global Finance,em databank.worldbank.org/ddp/home.do?Step=12&id=4&CNO=2, visto em 09 de julho de 2010;três quartos – de “NIGER: Forced to Sell Cattle fora Handful of Dollars”, IRIN News, 22 de junho de2010; estimativa de rebanho – de “NIGER: Chasingafter Pastoralists with Truckloads of Aid”, IRINNews, 4 de agosto de 2010; menos chuva com amudança climática – de M. Boko et al, "África" emPainel Intergovernamental sobre MudançasClimáticas (IPCC), Climate Change 2007: Impacts,Adaptation and Vulnerability. Contribution ofWorking Group II to the Fourth Assessment Report(Cambridge, U.K.: Cambridge University Press,2007).

8. Variação de rendimento – de S.P Wani et al.,“Rainfed Agriculture – Past Trends and FutureProspects”, em Suhas P. Wani, Johan Rockström eTheib Oweis, eds., Rainfed Agriculture: Unlockingthe Potential (Wallingford, U.K.: CAB International,2009); Molden, op. cit. nota 3, p. 92.

9. Panorama geral de métodos – de Molden, op. cit.nota 3, p. 27. Tabela 4-1 a partir do seguinte: Inter-national Development Enterprises (IDE), 2009Annual Progress Report for the Bill and MelindaGates Foundation; “Super MoneyMaker”, site da Kick-Start, em www.kickstart.org; Ashley Dean, “Solar-powered Irrigation Systems Improve Diet andIncome in Rural Sub-Saharan Africa, Stanford StudyFinds”, Stanford University News, 6 de janeiro de2010; “Projects”, Site da Solar Electric Light Fund

(SELF), em www.self.org/benin.shtml; NetherlandsWater Partnership et al., Smart Water HarvestingSolution, Examples of Innovative Low-cost Technologies(The Hague: 2007); Fidelis Zvomuya, “HarvestingFog to Deal with Drought”, AlertNet, 13 de julhode 2010; SWITCH (Sustainable Water ManagementImproves Tomorrow’s Cities’ Health): ManagingWater for the City of the Future, em www.switchubanwater.eu; “Water for Urban Agriculture”, UrbanAgriculture Magazine, setembro de 2008, pp. 7–8,11–13; International Fund for AgriculturalDevelopment, “Niger: Managing Rainfall with Tassa”,em www.ifad.org/english/water/innowat/cases/niger.htm; Postel, op. cit. nota 2, p. 204.

10. Número total de bombas a pedal – de Paul Polak,Out of Poverty: What Works When TraditionalApproaches Fail (San Francisco: Berrett-KoehlerPublishers, Inc., 2008), pp.104–07; origens dabomba a pedal – de ibid., e de Postel, op. cit. nota2, pp. 205–08.

11. Polak, op. cit. nota 10, p. 105.

12. “SuperMoneyMaker”, op. cit. Nota 9; MichaelMills, KickStart, discussão com Alexandra Tung,Worldwatch Institute, 28 de julho de2010; mudançapara a China – de “Less Labour with SimpleIrrigation System”, Appropriate Technology, marçode 2010, pp. 20–22.

13. EnterpriseWorks/VITA (EWV), “US$ 420Million Water Pump: The Story Behind the Story”– em www.enterpriseworks.org/pubs/ACF2FB9.pdf,visto em 11 julho de 2010; Jon Naugle, DiretorTécnico da Relief International/discussão comAlexandra Tung, Worldwatch Institute, 09 de agostode 2010; IDE, op. cit. nota 9; Andy Vermouth, IDE,discussão com Alexandra Tung, Worldwatch Institute,23 de julho de 2010.

14. Sandra Postel et al., “Drip Irrigation for SmallFarmers: A New Initiative to Alleviate Hunger andPoverty”, Water International, março de 2001, pp.3-13; 600.000 vendas – de “Design for the Other90%”, em other90.cooperhewitt.org/Design/dripirigation-system, visto em 14 de julho de 2010.

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15. O estudo de irrigação por balde é de autoria deH. R. Wallingford, Reino Unido, de 2001, conformecitado em Polak, op. cit. nota 10, p. 102; a áreairrigada de Gana, de acordo com a FAO, op. cit.nota 2, é de 30.900 hectares; 8 milhões – de Polak,op. cit. nota 10, p. 102.

16. “Projects”, op. cit. nota 9.

17. Jennifer Burney et al., “Solar-powered DripIrrigation Enhances Food Security in the Sudano-Sahel”, Proceedings of the National Academy ofSciences, fevereiro de 2010, pp. 1,848–53; Dean, op.cit. nota 9; frequência escolar – de “Projects”, op. cit.nota 9.

18. Rockström et al., op. cit. nota 6.

19. Ver a base de conhecimentos de World Overviewof Conservation Approaches and Technologies, emwww.wocat.net/en/knowledge-base/technologiesapproaches.html.

20. Johan Rockström et al., “Conservation FarmingStrategies in East and Southern Africa: Yields andRain Water Productivity from On-farm ActionResearch”, Soil & Tillage Research, abril de 2009,pp. 23–32.

21. Postel, op. cit. nota 2, p. 209-10.

22. William Critchley, Girish Negi e Marit Brommer,“Local Innovation in ‘Green Water’ Management”,em Deborah Bossio e Kim Geheb, eds., ConservingLand, Protecting Water (Wallingford, U.K.: CABInternational, 2008), pp 107-18.

23. Question Box em questionbox.org; Ron Nixon,“Dialing for Answers Where Web Can’t Reach”,New York Times, 28 setembro de 2009.

24. P. Drechsel et al., “Adoption Driver andConstraints of Resource Conservation Technologiesin Sub-Saharan Africa”, IWMI, FAO e HumboldtUniversity (Berlin), 2005, em westafrica2.iwmi.org/projects/Adoption%20Technology/Technology_Adoption-article.htm.

25. Ibid.

26. Will Critchley, Looking After Our Land: Soil andWater Conservation in Dryland Africa (Oxford:Oxfam, 1991), número de 50% – de um relatório de2000 do Programa de Meio Ambiente da ONU,citado em “Fanya Juu”, em IWMI, FAO, e daUniversidade de Humboldt (Berlim), Boletim deInformações sobre Tecnologia – em westafrica2.iwmi.org/projects/Adoption% 20Technology/RainWaterHarvesting/50-Fanya% 20juu.htm.

27. Exigência de mão de obra e número de 70% – deIWMI, FAO e da Universidade de Humboldt, op. cit.nota 24, a 1.000 quilômetros de Critchley, op. cit.nota 26; vagem de Fred Pearce, Confessions of anEco-Sinner: Tracking Down the Sources of My Stuff(Boston: Beacon Press, 2008), pp. 72–73.

28. O número de 1.500 toneladas é médiaaproximada do teor virtual de água de arroz comcasca, trigo e milho – de A. K. Chapagain e A. Y.Hoekstra, Water Footprints of Nations, Vol. 1: MainReport (Delft, Netherlands: UNESCO-IHE Delft,novembro de 2004); revoltas por comida – de GlobalWater Policy Project, com base em Leonard Doyle,“Starving Haitians Riot as Food Prices Soar”,(Londres) The Independent, 10 de abril de 2008, emRachelle Kliger, “Cairo Grapples with Bread Crisis”,Jerusalem Post, 18 de março de 2008, em“Mauritania; High Food Prices Spark Protests”,Africa News, 13 de novembro de 2007, em “BurkinaFaso; Food Riots Shut DownMain Towns”, AfricaNews, 22 de fevereiro de 2008, em “Senegal; HeavyHanded Response to Food Protesters”, Africa News,31 de março de 2008, e outras fontes de notícias.

29. IPCC, op. cit. nota 7.

30. Postel, op. cit. nota 3, p. 5.

Aproveitamento de Água Pluvial

1. Comprehensive Assessment of Water Managementin Agriculture, Water for Food, Water for Life: AComprehensive Assessment of Water Management inAgriculture (Londres e Colombo, Sri Lanka:

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Earthscan and International Water ManagementInstitute, 2007), p. 11.

2. Centro de Metas de Desenvolvimento do Milênioda África Oriental e Austral, Programa de Desen-volvimento da Tanzânia das Nações Unidas, e CentroMundial Agroflorestal, An Assessment of RainwaterHarvesting Potential in Zanzibar (Nairobi: maio de2007), p. 34.

3. Perfil da Organização SearNet – em worldagroforestry.org/projects/searnet/index.php?id=30.

4. Ministério da Agricultura e Recursos Animais doGoverno de Ruanda e Centro Mundial Agroflorestal,Action Plan for Implementation of AgriculturalRainwater Harvesting Interventions in Rwanda(Nairobi: maio de 2007).

5. Órgão de Desenvolvimento Agrícola de Ruanda,“Rainwater Harvesting for Agricultural Production–Rwanda”, sem data.

6. Joseph Sang e Caroline Wambui, RainwaterHarvesting Project among the Maasai Communityin Olepolos, Kajiado District in Kenya (Nairobi:Unidade Regional de Gestão de Terras (RELMA) –em ICRAF (Centro Mundial Agroflorestal), abril de2006), p. 17.

7. Colaboração do Rotary Canadense para o Desen-volvimento Internacional, “Água do Vale do Rift eAtualização do Programa de Saneamento”, Londres,ON, Canadá, 8 de fevereiro de 2010.

8. Alex R. Oduor e Maimbo M.Malesu, eds.,Managing Water for Food Self Sufficiency, Proceedingsof Regional Rainwater Harvesting Seminar for Easternand Southern Africa (Nairobi: RELMA – em ICRAF,Ministério das Relações Exteriores da Holanda eAgência Sueca de Cooperação para o Desenvolvimento(Sida), 2005), pp 39-43.

9. Orodi J. Odhiambo, Alex R. Oduor e MaimboM. Malesu, Impacts of Rainwater Harvesting(Nairobi: RELMA em ICRAF, Ministério dasRelações Exteriores da Holanda e Sida, 2005).

10. Stephen N. Ngigi, Climate Change AdaptationStrategies: Water Resources Management Optionsfor Smallholder Farming Systems in Sub-SaharanAfrica (New York: Centro de Objetivos de Desen-volvimento do Milênio da África Oriental e Australe Instituto da Terra na Universidade de Colúmbia,2010), p. 136

Capítulo 5. Agricultores Assumem a Liderançaem Pesquisa e Desenvolvimento

1. Eddy Ouko – em Qureish Noordin e SubashGumaste, “Training Report: Training on Farmer-Led Experimentation in FOCODEP (WorldNeighbors)”, 2007.

2. Michael Malinga et al., “Farmer’s Own and JointResearch on Alternative Ways to Grow Potatoes inSouth Africa” – em Chesha Wettasinha e Ann Waters-Bayer, eds., Farmer-led Joint Research (Silang,Filipinas, e Leusden, Holanda: Instituto Interna-cional para Reconstrução Rural e Secretariado doProlinnova International, 2010); Ann Waters-Bayer,notas de trabalho de campo, avaliação externa – daAdigrat Diocesan Development Action, Tigré,Etiópia, 13 de janeiro a 7 de fevereiro de 1996.

3. Eddy Ouko – de Qureish Noordin, visita de moni-toramento à LISF com o Comitê Diretivo Local -FOCODEP, 2009.

4. World Neighbors, East Africa Area Report2008/2009 (Oklahoma City, OK: sem data); JanetWabwire – em Daniel Omondi, encontro de líderesde equipes e agricultores cientistas, 2009.

5. Saidou Magagi, Ekadé Roumanatou e Saley Kanta,“Women’s Innovation in Savings and Credit inNiger” – em Chesha Wettasinha, MarianaWongtschowski e AnnWaters-Bayer, eds., RecognisingLocal Innovation (Silang, Filipinas, e Leusden,Holanda: Instituto Internacional para ReconstruçãoRural e Secretariado do Prolinnova International,2008), pp. 17–18.

6. Ibid.

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7. Esther Omusi em Noordin, op. cit. nota 3.

8. Mariana Wongtschowski et al., “Towards a Farmer--Governed Approach to Agricultural Research forDevelopment: Lessons from InternationalExperiences with Local Innovation Support Funds”,apresentado no Simpósio Internacional de Inovaçõesem Desenvolvimento Sustentável em Agricultura eAlimentos, 28 de junho a 1º. de julho de 2010,Montpellier, França; Joe Ouko em Qureish Noordin,“Meeting Report: Awareness Creation Meeting onAsset Based Citizen-led Development”, VilaOnyuongo, 2009.

9. Tesfahun Fenta et al., The Ethiopian Experiencein Piloting Local Innovation Support Funds, abril de2006–março de 2008 (Addis Abeba, Etiópia:Prolinnova – Etiópia 2008).

10. Dorcas Wena – de Noordin, op. cit. nota 3;Vincent Dudi – de Caroline Adera, “Field DayReport: Field Day on Method Establishment atFOCODEP”, 2010.

11. Calistus Buluma – de Qureish Noordin, visitados participantes à vila Muyafwa durante aConferência Mundial Anual Sobre Vizinhos, 2007;Fórum dos Agricultores de Sivusimpilo – de MichaelMalinga, Nicholas Madondo e Maxwell Mudhara,“Farmer-Led Documentation: Report of a Pilot inPotshini in KwaZulu-Natal, South Africa”(Prolinnova, 2008); Takalafiya – de conversa comSaidou Magagi, abril de 2010.

12. Phillip Kilaki – de Ann Wanja, “Event Report:Farmer Innovators Forum in Eastern Kenya”,organizado por PELUM, Quênia, 2009.

13. Saidou Magagi et al., “Supporting Farmers inDocumenting and Sharing Local Innovations inNiger” (Prolinnova, 2008); Joy Bruce, “ParticipatoryVideo to Document Farmer Innovation in NorthGhana” – de Wettasinha, Wongtschowski e Waters-Bayer, op. cit. nota 5, pp. 35–37; Anne Piepenstocket al., “Digital Technology Supports Farmer-ledDocumentation in Bolivia”, em ibid., pp. 31–32.

14. Irrigação por gotejamento – da PROFIEET(Promoção de Inovações e Experimentos Agrícolasna Etiópia), Catalogue of Farmer Innovations, vol.1(Addis Ababa: AgriService Etiópia, 2006); HailuAraya et al., “Participatory Research That Builds onLocal Innovation in Beekeeping to Escape Poverty”,apresentado na Conferência de Tropentag sobrePesquisa Agrícola Internacional sobre Desen-volvimento, Universidade de Bonn, 11 a 13 deoutubro de 2006; Demekech Gera e Tesfahun Fenta,“Participatory Research Based on Farmer Innovationto Control Enset Bacterial Wilt” – em Wettasinhaand Waters-Bayer, op. cit. nota 2. Quadro 5–1 dosque seguem: Hailu Araya e Sue Edwards, The TigrayExperience: A Success Story in Sustainable Agriculture,Environment & Development Series 4 (Penang,Malásia: Third World Network, 2006); EmiruSeyoum e Sue Edwards, “Re-Inventing Extensionfor Small Scale Farmers in Africa: Novelty orNecessity?” apresentado em Workshops Interna-cionais sobre Geração de Competências para Concor-rência Global em Economias em Desenvolvimento:O Nexo do Desenvolvimento e TransferênciaTecnológica, Educação e Cultura, Gana, 14 a 16 deoutubro de 2009; Arefayne Asmelash, Dekhu’i tefetro:intayn bkhemeyn (Fazer Compostos: O que é e comoisso é feito), Tigray – Secretaria de Agricultura eRecursos Naturais e Instituto para o DesenvolvimentoSustentável, Tigré; Sue Edwards et al., The Impactof Compost Use on Crop Yields in Tigray, Ethiopia,2000-2006, Environment & Development Series 10(Penang, Malásia: Third World Network, 2007);Abreha – de Hailu Araya et al., eds., A Fund toSupport Local Innovation: Experience of a Farmer inTigray (Addis Abeba, Etiópia: Prolinnova – Secre-tariado da Etiópia, 2008)

15. World Neighbors, op. cit. nota 4.

16. Hailu Araya, Sue Edwards e Ann Waters-Bayer,“Agricultural Innovation: Do We Understand WhoWants What?” Rural Development News, vol. 2(2006), pp. 39–43.

17. Mengistu Hailu, “My Name is MawchaGebremedhin: A Woman Innovator Speaks”, IKNotes 70 (Washington, DC: World Bank Knowledgeand Learning Center, 2004).

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18. Instituto do Níger – de Saidou Magagi, abril de2010; Fundo queniano – do site da Unidade deCoordenação do Setor Agrícola – emwww.ascu.go.ke; Fundo etíope – de IbrahimMohammed, Ministério da Agricultura e do Desen-volvimento Rural, Addis Abeba, Etiópia, conversacom AnnWaters-Bayer, março de 2010.

19. Ouko, op. cit. nota 8.

Direto do Campo: Comércio de Grãos em Zâmbia

1. Com base em conversas com o autor, novembrode 2009.

2. Mercado Comum da África Oriental e Austral –em www.comesa.int; Aliança para o Comércio deProdutos da África Oriental e Austral – em www.actesacomesa.org; “Food Security Group: Research,Policy Dialogue, and Training Projects”, MichiganState University – em www.aec.msu.edu/fs2/index.htm.

Capítulo 6. A Crise de Fertilidade do Solo na África e a Fome que Vem Aí

1. Conversas com o autor, Aldeia de Koboko, Maláui,setembro de 2009.

2. Ibid.

3. Craig Timberg, “Drought Magnifies Hunger,Suffering of Children” – em Washington Post, 4 denovembro de 1995; conversas com o autor, op. cit.,nota 1.

4. Conversas com o autor, op. cit. nota 1; T. Benson,J. Chamberlin e I. Rhinehart, “An Investigation ofthe Spatial Determinants of the Local Prevalence ofPoverty in Rural Malawi”, Food Policy, vol. 30, no.5–6 (2005), pp. 532–50.

5. Baseado em material de estudos inéditos realizadospelo autor. Esses estudos examinaram os impactosdo programa e as necessidades dos aldeões emprogramas patrocinados pelo Christian Reformed

World Relief Committee e Oxfam America.

6. Para informações sobre a extensão das áreassemiáridas e subúmidas, ver Munyaradzi Chenje,“Chapter 3. Land” – em Programa das NaçõesUnidas para o Meio Ambiente, Africa EnvironmentOutlook 2 (Nairóbi: 2006), pp. 78–118.

7. Cheryl A. Palm, Robert J. K. Myers e StephenM. Nandwa, “Combined Use of Organic andInorganic Nutrient Sources for Soil FertilityManagement and Replenishment” – em Roland J.Buresh, Pedro A. Sanchez e Frank Calhoun, eds.,Replenishing Soil Fertility in Africa (Indianapolis,IN: Soil Science Society of America, 1996), pp. 193–216.

8. Dados inéditos extraídos de trabalho do autor em19 nações africanas nos últimos 30 anos.

9. Eric M. A. Smailing, Stephen M. Nandwa e BertH. Jansen, “Soil Fertility in Africa Is at Stake” – emBuresh, Sanchez, and Calhoun, op. cit. nota 7, pp.47–61.

10. R. Trostle, Global Agricultural Supply andDemand: Factors Contributing to the Recent Increasein Food Commodity Prices (Washington, DC:Economic Research Service, Departamento deAgricultura dos Estados Unidos, julho 2008).

11. The Fertilizer Institute, “The U.S. FertilizerIndustry and Climate Change Policy” – emwww.tfi.org/publications/climatechange.pdf.

12. Dados inéditos, op. cit. nota 8.

13. Ver nota final 5.

14. População que já enfrenta escassez de alimentos– de “African Hunger”, AlertNet, 11 de novembro de2009; P. A. Sanchez, “Soil Fertility and Hunger inAfrica”, Science, 15 de março de 2002, pp. 2,019–20.

15. CARITAS Internationalis, “Food Crisis in NigerWorse than in 2005 as Millions Face Hunger”,

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Caritas.org, 16 de junho de 2010; ver também JonGambrell, “10 Million Face Famine in West Africa”,(Londres) The Independent, 30 de maio de 2010;Eric de Carbonnel, “Catastrophic Fall in 2009 GlobalFood Production”, Centre for Research on Globalization, 10 de fevereiro de 2009.

16. Famine Early Warning Systems Network, “TheUSAID FEWSNET Weather Hazards ImpactsAssessment for Africa January 14, 2009 – January20, 2010” – em www.reliefweb.int/rw/fullmaps_af.nsf/luFullMap/0510EB48B8A8B51DC12576AB0027B643/US$File/map.pdf?OpenElement.

17. Ver nota final 5.

18. Elizabeth Blunt, “Nigeria Shuts Benin Border”,BBC News, 9 de agosto de 2003.

19. G. Baechler, “Environmental Degradation andViolent Conflict: Hypotheses, Research Agendas andTheory Building” – em M. Suliman, ed., Ecology,Politics and Violent Conflict (Londres: Zed Books,1999), pp. 76–112.

20. A. Dorward et al., “Towards ‘Smart’ Subsidiesin Agriculture? Lessons from a Recent Experiencein Malawi”, Natural Resource Perspectives No. 116(Londres: Overseas Development Institute, outubrode 2008).

21. Ver nota final 5.

22. Cheryl A. Palm, Robert J. K. Myers e StephenM. Nandwa, “Combined Use of Organic andInorganic Nutrient Sources for Soil FertilityManagement and Replenishment” – em Buresh,Sanchez, and Calhoun, op. cit. nota 7, pp. 193–216.

23. R. Bunch, “Adoption of Green Manure andCover Crops”, LEISA Magazine, vol. 19, no. 4(2003), pp. 16–18.

24. Ibid.

25. Palm, Myers, and Nandwa, op. cit. nota 22.

26. Peter J. A. Kleinman, Ray B. Bryant e DavidPimentel, “Assessing Ecological Sustainability ofSlash-and-Burn Agriculture through Soil FertilityIndicators”, Agronomy Journal, vol. 88, no. 2 (1996),pp. 122–27.

27. Dados inéditos, op. cit. nota 8.

28. Organização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO), “Honduras: People’s Parti-cipation Brings Food Security”, FAO Focus – emwww.fao.org/FOCUS/E/honduras/story-e.htm.

29. Dados inéditos, op. cit. nota 8.

30. FAO, “Vigna unguiculata (L.) Walp”, e “Lablabpurpureus (L.) Sweet” – em www.fao.org/ag/AGP/agpc/doc/GBASE; Roland Bunch, “Tropical Green-Manures/Cover Crops”, The Overstory, Agroforestrye Journal – em www.agroforestry.net/overstory/overstory29.html.

31. Dados inéditos, op. cit. nota 8.

32. Em um experimento realizado durante uma secaem Honduras, o milho que recebeu fertilizantequímico morreu um mês depois durante a seca,enquanto o que havia recebido esterco animal morreucerca de duas semanas depois, e o milho fertilizadocom feijão-de-porco conseguiu produzir umapequena colheita.

33. Sharon Begley, “The Evolution of an Eco-Prophet: Al Gore’s Views on Climate Change AreAdvancing as Rapidly as the Phenomenon Itself”,Newsweek, 9 de novembro de 2009.

34. Bunch, op. cit. nota 23.

35. Ibid.

36. Ibid.

37. Conversas com o autor nas aldeias de Dogon.

38. Ibid.

39. Ibid.

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Novas Variedades de Mandioca em Zanzibar

1. J. P. Legg et al., “Cassava Mosaic Virus Disease inEast and Central Africa: Epidemiology andManagement of a Regional Pandemic”, Advances inVirus Research, vol. 67 (2006), pp. 355–418.

2. T. Alicai et al., “Re-emergence of Cassava BrownStreak Disease in Uganda”, Plant Disease, janeirode 2007, pp. 24–29.

3. Haji Saleh, conversas com o autor, 14 de junho de2010; “African Cassava Breeders Network Moves toDerail Spreading Epidemic of Devastating CropVirus”, press release (Nairóbi: Aliança por umaRevolução Verde na África, 18 de outubro de 2007).

4. Zanzibar Leo, 18 de março de 2007; “SolutionFound for Cassava Root-Rot Devastation in Africa”,press release (Dar es Salaam: Instituto Internacionalde Agricultura Tropical, 2 de maio 2007).

5. Saleh, op. cit. nota 3.

6. Ibid.

7. Alicai et al., op. cit. nota 2; Ramadhani AbdalaAme, conversa com o autor, 14 de junho de 2010.

8. Ame, op. cit. nota 7.

9. Ibid.

10. Suleiman John Ndebe, conversa com o autor,15 de junho de 2010.

11. Ibid.

12. Salma Omar Mohamed, conversa com o autor,16 de junho de 2010; African Cassava BreedersNetwork”, op. cit. nota 3.

13. Edward Kanju, conversa com o autor, 10 dejunho de 2010; A. G. O. Dixon et al., “Cassava:From Poor Farmers’ Crop to a Pacesetter of African

Rural Development”, Chronica Horticulturae,dezembro de 2003, pp. 8–15.

Capítulo 7. Proteção da Biodiversidade dos Alimentos Locais

1. Organização das Nações Unidas para Agriculturae Alimentação (FAO), FAO Rice Information,Volume 3 (Roma: dezembro de 2002).

2. Visita do autor à Guiné-Bissau, 18 a 26 de junhode 2010.

3. Tadesse Woldemariam Gole e Feyera Senbeta,Sustainable Management and Promotion of ForestCoffee in Bale, Ethiopia (Adis Abeba: SOSSahel/FARM-Africa, agosto de 2008); visita do autorà Etiópia, 1º a 10 de novembro de 2009.

4. Slow Food Foundation for Biodiversity, “HarennaForest Wild Coffee: Ethiopia” – em www.slowfoodfoundation.org.

5. Ibid.; Welsh de Danielle Nierenberg, “In Ethiopia,Learning from Past Mistakes”. Nourishing the PlanetBlog, 2 de novembro de 2009.

6. WorldFish Center, Fish and Food Security in Africa,Resumo da Política (Penang, Malásia: 2005).

7. Slow Food, “Meeting Convivia and Terra MadreCommunities in Senegal”, press release (Bra, Itália:10 de março de 2008).

8. Ibid.

9. Seynabou Ndoye, presidente da Slow Food SèelalDundin, discussão com o autor, novembro de 2009.

10. Quadro 7–1 – extraído de: R. L. Roothaert e R.Magado, “Revival of Cassava Production inNakasongola District, Uganda”, InternationalJournal of Agricultural Sustainability, no prelo; FAO,“What is Happening to Global Agrobiodiversity?”Economic and Social Development Department –em www.fao.org; World Hunger Education Service,

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“World Hunger and Poverty Facts and Statistics2010”, maio de 2010 – em www.worldhunger.org;Roothaert e Magado, op. cit. essa nota; G. Muhanjiet al., “African Indigenous Vegetable Enterprises andMarket Development for Small Scale Farmers in EastAfrica”, International Journal of AgriculturalSustainability, no prelo; L. Smith e L. Haddad,“Explaining Child Malnutrition in DevelopingCountries: A Cross-Country Analysis”, InternationalFood Policy Research Institute, Washington, DC,2000; A. Hassanali et al., “Integrated PestManagement: The Push – Pull Approach forControlling Insect Pests and Weeds of Cereals, andIts Potential for Other Agricultural Systems IncludingAnimal Husbandry”, Philosophical Transactions ofthe Royal Society B: Biological Sciences, 12 de fevereirode 2008, pp. 611–21; Jules Pretty, “Jules Pretty onHigher Food Production, Lower Impact on theLand”. Earth Sky, abril de 2010; Jules Pretty, “Agro-ecological Approaches to Agricultural Development”– de Banco Mundial, World Development Report2008: Agriculture for Development (Washington, DC:2007), p. 23; Jules Pretty, Regenerating Agriculture:Policies and Practices for Sustainability and Self-Reliance (Londres: Earthscan, 1995); Jules Pretty,Agri-Culture: Reconnecting People, Land and Nature(Londres: Earthscan, 2002), pp. 84, 93; Jules Pretty,The Earth Only Endures (Londres: Earthscan, 2007).

11. Visita de Velia Lucidi a Mali, Slow Food Inter-national (África), 23 de julho a 1º de agosto 2010;Slow Food, “Dogon Somè Presdium” 24 de junhode 2010 – em multimedia.slowfood.com.

12. Visita a Mali, op. cit. nota 11; Slow Food, op. cit.nota 11.

13. Visita a Mali, op. cit. nota 11; Slow Food, op. cit.nota 11.

14. Visita a Mali, op. cit. nota 11; Slow Food, op. cit.nota 11.

15. Galdino Zara, Conselho de Curadores, SlowFood Italy, discussão com o autor, novembro de2009.

16. Tabela 7–1 – extraída de: Slow Food Foundationfor Biodiversity, Slow Food Presidium: Wenchi VolcanoHoney (Roma: 2008); Tim Truluck, “PresidiumProject: Zulu Sheep/Izimvu”, Slow Food Johan-nesburg Convivium: Presidium, 14 de abril de 2009;Slow Food, Imraguen Women’s Mullet Bottarga,Mauritania Slow Food Presidium (Roma: 2009);baunilha de Mananara – de Slow Food, “TraditionalVegetables and Solidarity with Small Slow FoodPresidia Producers in Africa and South America”,press release, 31 de maio de 2007, e de Slow FoodFoundation for Biodiversity, “Mananara Vanilla:Madagascar” – em www.slowfoodfoundation.org;Slow Food Foundation for Biodiversity, op. cit. nota4; Slow Food Foundation for Biodiversity, “AndasibeRed Rice: Madagascar” – em www.slowfoodfoundation.org; Slow Food Foundation for Biodi-versity, “Dogon Somè: Mali” – em www.slowfoodfoundation.org.

17. FAO, “FAO STAT: Natural Honey” – emfaostat.fao.org; Slow Food, “Wukro White HoneyPresidium in Ethiopia” – em www.slowfood.com.

18. Slow Food, op. cit. nota 19.

19. Visita do especialista técnico da Slow Food Inter-national à Etiópia, setembro a outubro de 2006.

20. Slow Food Foundation for Biodiversity, “WenchiVolcano Honey in Ethiopia” – em www.slowfoodfoundation.com.

21. Slow Food Foundation for Biodiversity, “Honeyof Ethiopia” – em www.slowfoodfoundation.com.

22. Slow Food, “School Gardens Food EducationProject in Uganda” – em www.slowfood.com; SlowFood Waitekere, “Seven Examples of FoodCommunities around the World”, 17 de setembro de2008 – em slowfoodwaitakere.blogspot.com.

23. Slow Food Foundation for Biodiversity, “SlowKenya”, 19 de janeiro de 2010 – em www.slow-foodfoundation.org.

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24. Terra Madre, “A Thousand Gardens in Africa”,Slow Food International, Bra, Itália, outubro de2010; Lay Volunteers International Association,“LVIA Solidarity and International Cooperation” –em www.lvia.it/en; Cooperazione Internazionale –em www.coopi.org/en; Rede de Ecoagricultura naÁfrica – em www.necofa.org/6.0.html; “TheeThekwini Municipality Green Roof Pilot Project”,Greenroofs.com – em www.greenroofs.com/content/guest _features010.htm.

Ameaças aos Recursos de Genética Animal no Quênia

1. Jacob Wanyama, discussão com DanielleNierenberg, 7 de novembro 2009.

2. Walter Menya, “Drought Triggers Rise inKillings”, (Nairóbi) Daily Nation, 6 de outubro de2009; Mwangi Ndirangu, “Herders Hard Hit asSkies Refuse to Open Up”. (Nairobi) Daily Nation,22 de setembro de 2009.

3. Grupo de criadores de gado, Samburu, Kenya,discussão com Danielle Nierenberg, 7 de novembrode 2010.

4. Criador de gado, Samburu, Quênia, discussãocom Danielle Nierenberg, 7 de novembro de 2010.

As Vantagens do Fogão Solar no Senegal

1. Eva Rehfuess, Sumi Mehta e Annette Prüss-Üstün,“Assessing Household Solid Fuel Use: MultipleImplications for the Millennium Development Goals”Environmental Health Perspectives, março de 2006,pp. 373–78; Organização Mundial da Saúde (OMS),Global Health Atlas, 2007 (Genebra: 2007).

2. Rehfuess, Mehta e Prüss-Üstün, op. cit. nota 1;OMS, “Indoor Air Pollution and Health”. FolhaInformativa No. 292 (Genebra: junho 2005).

3. Banco Mundial, The Welfare Impacts of RuralElectrification: A Reassessment of the Costs and Benefits(Washington, DC: 2008), Anexo D.

4. Moussa Diop, Energy Systems: Vulnerability –Adaptation – Resilience: Senegal (Paris: Helio Inter-national, 2009), p. 11; “Senegal”, Mongabay.com –em rainforests.mongabay.com/deforestation/2000/Senegal.htm.

5. Abdoulaye Touré, “Proposal for Pilot ProjectSites”, SHE, Inc, Senegal, 2006; discussões com oautor, março de 2007 e maio de 2008.

6. Fatou Gueye, discussão com o autor, maio de2008.

Capítulo 8. Como Lidar com a MudançaClimática e Desenvolver Resiliência

1. DB Lobell et al, “Prioritizing Climate ChangeAdaptation Needs for Food Security in 2030”,Science, 1º de fevereiro de 2008, pp. 607–10; W.Schlenker e D. B. Lobell, “Robust Negative Impactsof Climate Change on African Agriculture”, Envi-ronmental Research Letters, janeiro-março de 2010.

2. Banco Mundial, World Development Report 2010:Development and Climate Change (Washington, DC:2009).

3. M. B. Burke, D. B. Lobell e L. Guarino, “Shiftsin African Crop Climates by 2050, and the Impli-cations for Crop Improvement and GeneticResources Conservation”, Global EnvironmentalChange, vol. 19, no. 3 (2009), pp. 317–25.

4. E. Duflo, R. Glennerster e M. Kremer, “UsingRandomization in Development Economics: AToolkit” – em T. P. Schultz e J. Strauss, eds., Handbookof Development Economics, Volume 4 (Amsterdam:North-Holland Press, 2008), capítulo 61.

5. “Push for ‘Great GreenWall of Africa’ to HaltSahara”, BBC News, 17 de junho de 2010; BillionTree Campaign – em www.unep.org/billiontreecampaign.

6. "Nigeria: Dead Baby Trees by the Millions asReforestation Fails”, Reuters, 8 de abril de 2008.

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7. T. Adam et al., Plus de Gens, Plus D’arbres: LaTransformation des Systèmes de Production au Nigeret Les Impacts des Investissements dans la Gestion desRessources Naturelles (Niamey, Níger: ComitéPermanent Inter-Etats de Lutte contre la Sécheressedans le Sahel (CILSS) e Université de Niamey, 2006).

8. B. Yamba, Ressources Ligneuses et Problèmes D’amé-nagement Forestier dans la Zone Agricole du Niger,dissertação de doutorado (Bordeaux, França:Université de Bordeaux, 1995); M. Mortimore etal., Synthesis of Long-term Change in MaradiDepartment 1960–2000, Drylands ResearchWorkingPaper No. 39 (Crekerne, U.K.: Drylands Research,2001); Agência para o Desenvolvimento Interna-cional dos EUA, CILSS e Grupo Internacional deRecursos, Investing in Tomorrow’s Forests: Towardan Action Agenda for Revitalizing Forestry in WestAfrica (Washington, DC e Ouagadougou: 2002);Instituto Mundial de Recursos, Roots of Resilience:Growing the Wealth of the Poor (Washington, DC:2008); C. Reij, G. Tappan e M. Smale, Agroenvi-ronmental Transformation in the Sahel: Another Kindof “Green Revolution” (Washington, DC: Interna-tional Food Policy Research Institute, 2009).

9. T. Abdoulaye e G. Ibro, Analyse des Impacts Socio-économiques des Investissements dans la Gestion desRessources Naturelles: Etude de Cas dans les Régionsde Maradi, Tahoua et Tillabéry (Níger) (Niamey,Níger: Centre Régional d’Enseignement Spécialisé enAgriculture, Université Abdou Moumouni, 2006).

10. Para obter informações básicas sobre o grupo,consulte www.cis.vu.nl/en/our-expertise/natural-resource-management/current-projects/africa-regreening-initiatives/index.asp. Para atualizações,consulte africa-regreening.blogspot.com.

11. P. Wright, “Water and Soil Conservation byFarmers” – em H. W. Ohm e J. G. Nagy, eds.,Appropriate Technologies for Farmers in Semi-aridAfrica (West Lafayette, IN: Purdue University, Officeof International Programs in Agriculture, 1985).

12. Abdoulaye e Ibro, op. cit. nota 9.

13. H. Sawadogo et al., “Pits for Trees: How Farmersin Semi-arid Burkina Faso Increase and DiversifyPlant Biomass” – em C. Reij e A.Waters-Bayer, eds.,Farmer Innovation in Africa: A Source of Inspirationfor Agricultural Development (Londres: Earthscan,2001), Ousséni Kindo é um dos agricultores maisinovadores nos sistemas agroflorestais analisadosneste capítulo.

14. SahelECO, Primeiro Relatório Anual (Junho de2009 – Junho de 2010), sobre a iniciativa no Mali.

15. Este é apenas um exemplo de trabalho em defesada maior conscientização por parte de formuladoresde políticas de alto nível relativas a reflorestamentogerenciado por agricultores e seus múltiplos impactos.Seu impacto sobre a tomada de decisão ainda nãoestá claro. Para se atingir o impacto, talvez sejanecessário que os formuladores de políticas sejamexpostos de forma mais regular e por período maisprolongado às realizações e impactos.

16. Para o documentário “Trees Outside the Forest”,ver www.saheleco.net; Peter Weston, World VisionAustralia, discussão com o autor, 2 de agosto de2010.

17. M. Allen, “Regreening the Sahel: A Case Studyof Farmer Managed Natural Regeneration in theSahel”, em preparação.

18. “Project de Promotion de l’Initiative Locale pourle Développement à Aguie”, IFAD Africa – emwww.fidafrique.net/rubrique121.html.

19. Tony Rinaudo, discussão com o autor, AddisAbeba, 22 de julho de 2010.

20. Moctar Coulibaly, coordenador, Alliance desRadios Communautaires du Mali (Aliança de RádiosComunitárias do Mali), discussão com o autor.

21. SahelECO, op. cit. nota 14.

22. Web Foundation - em www.webfoundation.org;1,5 milhão de assinantes – de Carlos Sanogo; empresade telecomunicações ZAI – na oficina Web Alliance

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for Re-greening in Africa, Ouagadougou, 3 fevereirode 2010.

23. Por exemplo, o Fundo Internacional de Desen-volvimento Agrícola financia um projeto de reabi-litação de terra no Planalto Central de Burkina Fassodesde 1989. O projeto começou como Conservaçãoda Água e do Solo: Projeto Agroflorestal; a fase atualé chamada de Programa de Desenvolvimento RuralSustentável (2005-2013).

24. J.-M. Boffa, Agroforestry Parkland in Sub-Saharan Africa, Guia de Conservação do FAO 34(Roma: 1999); R. R. B. Leakey et al. “AgroforestryTree Products (AFTPs): Targeting Poverty Reductionand Enhanced Livelihoods”, International Journalof Agricultural Sustainability, vol. 3, no. 1 (2005),pp. 1–23.

25. Cooperativa de manteiga de carité – emwww.iicd.org/projects/articles/KariICT; Leakey etal., op. cit. nota 24.

26. Exemplos de cobertura de reflorestamentoincluem "Reboiser le Désert: et Si On Essayait?"(Reflorestamento do Deserto: e se tentássemos?),Le Monde, 21 de agosto de 2009; “Le Sahel Reverdit”(Reflorestamento do Sahel), Le Monde Diplomatique,agosto de 2010; “Regreening Africa”, The Nation,6 de dezembro de 2009; e um documentário daBBC World de 25 minutos de duração sobre o reflo-restamento em Burkina Fasso e veiculação no Maliem agosto de 2009.

27. “The Man Who Stopped the Desert”, 1080Films – em www.1080films.co.uk.

28. Ver nota final 23.

29. F. Hien e A. Ouedraogo, “Joint Analysis of theSustainability of a Local SWC Technique in BurkinaFaso” – em Reij e Waters-Bayer, op. cit. nota 13.

30. P. Uvin, “Fighting Hunger at the Grassroots:Paths to Scaling Up”, World Development, vol. 23,no. 6 (1995), pp. 927–39.

31. Ver “Uncovering the Geographic Extent ofFarmer-Managed Natural Regeneration”, Anexo emReij, Tappan e Smale, op. cit. nota 8.

32. NOAA Satellite Information Service, NationalOceanic and Atmospheric Administration – emwww.ncdc.noaa.gov/oa/reports/billionz.html#chron; visita do autor à Fazenda Nova Floresta, julhode 2008.

33. Programa da ONU para o Meio Ambiente(UNEP), Assessing the Environmental Impacts ofConsumption and Production: Priority Products andMaterials (Nairobi: 2010); Greenpeace International,Slaughtering the Amazon (Amsterdã: 2009).

34. Painel Intergovernamental sobre MudançaClimática, Climate Change 2007: Fourth AssessmentReport (Cambridge, U.K.: Cambridge UniversityPress, 2007); Henning Steinfeld et al., Livestock’sLong Shadow: Environmental Issues and Options(Roma: Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação, 2006).

35. Anna Lappé, Diet for a Hot Planet: The ClimateCrisis at the End of Your Fork and What You CanDo About It (Nova York: Bloomsbury EUA, 2010).

36. Tim J. LaSalle e Paul Hepperly, “RegenerativeOrganic Farming: A Solution to GlobalWarming”,Rodale Institute, Kutztown, PA, 2008.

37. Ibid.

38. Catherine Badgley et al., “Organic Agricultureand the Global Food Supply”, Renewable Agricultureand Food Systems, junho de 2007, pp. 86–108.

39. Jules Pretty, Agroecological Approaches to Agri-cultural Development (Santiago, Chile: CentroLatino-Americano para o Desenvolvimento Rural,2006); Conferência da ONU sobre Comércio eDesenvolvimento e UNEP, Organic Agriculture andFood Security in Africa (New York: 2008).

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40. Discussão com o autor, 27 de abril de 2010.

41. Grupo de Trabalho Ambiental, Farm SubsidyDatabase – em farm.ewg.org/farm/regiondetail.php?fips=00000&summlevel=2.

42. Subsídios – de Doug Gurian-Sherman, CAFOsUncovered: The Untold Costs of Confined AnimalFeeding Operations (Washington, DC: Union ofConcerned Scientists, 2008). porcentagem de ofertade milho utilizado como ração para animais inter-namente e no exterior – do Gabinete do Economista--Chefe, Ministério da Agricultura dos EUA (USDA),“World Supply and Demand Estimates, 2008–2009”– em www.usda.gov/oce/commodity/wasde/index.htm.

43. Timothy A.Wise, Identifying the Real Winnersfrom U.S. Agricultural Policies (Medford, MA: GlobalDevelopment and Environment Institute, TuftsUniversity, 2005); Timothy A. Wise e Elanor Starmer,eds., Feeding at the Trough: Industrial Livestock FirmsSaved $35 Billion from Low Feed Prices (Medford,MA: Global Development and EnvironmentInstitute, Tufts University, 2007); Gurian-Sherman,op. cit. nota 42.

44. Iniciativa Orgânic EQIP – de Catherine Green,Edward Slattery e William D. McBride, “America’sOrganic Farmers Face Issues and Opportunities”,Amber Waves (USDA), junho de 2010; finan-ciamento para pesquisa – da Secretária-Adjunta doUSDA Kathleen Merrigan, em depoimento naAudiência da Comissão de Agricultura do Senado no20°. aniversário da aprovação da Lei de Produçãode Alimentos Orgânicos, 15 de setembro de 2010.

45. Informações sobre o Programa de Nutrição emFeiras de Produtores – do Ministério da Agriculturados EUA em www.fns.usda.gov/wic/WIC-FMNP-Fact Sheet.pdf.

Uma Revolução Sempre-Verde para a África

1. Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo,Sustainable Pathways to Attain the MillenniumDevelopment Goals – Assessing the Role of Water,

Energy and Sanitation, elaborado para a CúpulaMundial da ONU (Estocolmo: 2005).

2. DP Garrity et al, “Agricultura Evergreen: A RobustApproach to Sustainable Food Security in Africa”,Food Security, setembro de 2010, pp. 197–214.

3. C. Pye-Smith, Farming Trees, Banishing Hunger:How an Agroforestry Programme is Helping Small-holders in Malawi to Grow More Food and ImproveTheir Livelihoods (Nairóbi: Centro Mundial Agroflo-restal, 2008), p. 10.

4. G. Sileshi et al., Evidence for Impact of GreenFertilizers on Maize Production in Sub-SaharanAfrica: A Meta-analysis, Trabalho ocasional doICRAF No. 10 (Nairóbi: Centro Mundial de SistemaAgroflorestal, 2009).

5. IPCC, op. cit. nota 2.

6. Postel, op. cit. nota 3, p. 209-10.

7. IPCC, op. cit. nota 2.

8. Ibid., P. 5; RD Barnes e CW Fagg, Faidherbiaalbida: Monograph & Annotated Bibliography,Tropical Forestry Papers No 41 (Oxford: OxfordForestry Institute, 2003); F. K. Akinnifesi et al.,“Synergistic Effect of Inorganic N & P Fertilizers& Organic Inputs from Gliricidia Sepium on Produc-tivity of Intercropped Maize in Southern Malawi”,Plant and Soil, vol. 294, nos. 1–2 (2007), pp. 203–17; D. P. Garrity, “Agroforestry & the Achievementof the Millennium Development Goals”, AgroforestrySystems, vol. 61–62 (2004), pp. 5–17; G. Sileshi eP. L. Mafongoya, “Longterm Effect of Legume-improved Fallows on Soil Invertebrates & MaizeYield in Eastern Zambia”, Agriculture, Ecosystems &Environment, julho de 2006, pp. 69–78.

9. Garrity, op. cit. nota 2, p. 5; J. M. Boffa, Agro-forestry Parklands in Sub-Saharan Africa, FAOConservation Guide 34 (Roma: Organização dasNações Unidas para Agricultura e Alimentação,1999); P P. W. Chirwa et al., “Soil Water Dynamicsin Intercropping Systems Containing Gliricidia

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Sepium, Pigeonpea and Maize in Southern Malawi”,Agroforestry Systems, vol. 69, no. 1 (2007) pp. 29–43; W. Makumba et al., “Long-term Impact of aGliricidia-Maize Intercropping System on CarbonSequestration in Southern Malawi”, Agriculture,Ecosystems & Environment, vol. 118 (2007), pp.237–43; S. Scherr e J.McNeely, eds., Farming withNature (Washington, DC: Island Press, 2009), p.473.

10. Garrity, op. cit. nota 2.

11. Ibid.; P. Aagard, Conservation Farming Unit,Lusaka, Zâmbia, discussão com o autor, 2009.

12. A. R. Saka et al., “The Effects of Acacia albidaon Soils and Maize Grain Yields under SmallholderFarm Conditions in Malawi”, Forest Ecology andManagement, vol. 64 (1994), pp. 217–30; Dadossobre Níger – de C. Reij, G. Tappan e M. Smale,Agroenvironmental Transformation in the Sahel:Another Kind of “Green Revolution” (Washington,DC: International Food Policy Research Institute,2009).

13. Pye-Smith, op. cit. nota 3, p. 22.

14. D. P. Garrity, “Hope Is Evergreen”, Our Planet,maio de 2010, pp. 28–30.

Capítulo 9. Perdas Pós-Colheita: Uma Área Negligenciada

1. V. Smil, “Improving Efficiency and ReducingWaste in Our Food System”, Environmental Sciences,vol. 1, no. 1 (2004), pp. 17–26.

2. “Post-Harvest Food Losses in DevelopingCountries: A New Study”, Food and NutritionBulletin, vol. 1 (1979), p. 2; compare M. Grolleaud,Overview of the Phenomenon of Losses during the Post-Harvest System (Roma: Organização das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação (FAO),2001), capítulo 1.

3. FAO, Food Loss Prevention in Perishable Crops,FAO Agricultural Services Bulletin No. 43, 1981; aresolução foi aprovada na 7ª. Sessão Especial daAssembleia Geral da ONU, em 1975.

4. Organização para Cooperação e DesenvolvimentoEconômico, “Agriculture: Improving PolicyCoherence for Development”, Policy Brief (Paris:abril de 2008); Departamento do Reino Unido parao Desenvolvimento Internacional, OfficialDevelopment Assistance to Agriculture (Londres:2004); C. Nellemann et al., eds., The EnvironmentalFood Crisis – The Environment’s Role in AvertingFuture Food Crises. A UNEP Rapid ResponseAssessment (Noruega: GRID – Arendal e Programadas Nações Unidas para o Meio Ambiente, 2009), p.12; 5% – de A. Kader e R. Rolle, The Role of Post-Harvest Management in Assuring the Quality andSafety of Horticultural Produce (Roma: FAO, 2004),p. 2; FAO, op. cit. nota 3.

5. China – de Smil, op. cit. nota 1, e de L. Liang etal., “China’s Post-Harvest Grain Losses and theMeans of Their Reduction and Elimination”, JingjiDili (Economic Geography), vol. 1 (1993), pp. 92–96; Vietnam – de World Resources Institute, Disap-pearing Food: How Big Are Postharvest Losses?(Washington, DC: 1998); perdas na Ásia – de D.Calverley, A Study of Loss Assessment in Eleven Projectsin Asia Concerned with Rice (Roma: FAO, 1996);perdas no Brasil e Bangladesh – de Grolleaud, op. cit.nota 2, parágrafo 3.2.1. Quadro 9–1 – de 11toneladas por dia e estimativa do Institute – de PostHarvest Technology, Annual Report (Colombo, SriLanka: 2002), p. 5; para sistemas de refrigeração ementrepostos comerciais, ver FAO, op. cit. nota 3,Recomendação 5; financiamento insuficiente – deInstitute of Post Harvest Technology, op. cit. estanota, e de H. Senewiratne, “Rs. 9 Billion WorthFruits, Vegetables Go to Waste”, Daily News (SriLanka), 27 de junho de 2006; Índia – de Confe-deration of Indian Industry and McKinsey & Co.,Modernizing the Indian Food Chain: Food &Agriculture Integrated Development Action Plan(Nova Déli: 1997), e do Banco Mundial, WorldDevelopment Report 2008: Agriculture forDevelopment (Washington, DC: 2007); Mishra – de“72% of India’s Fruit, Vegetable Goes to Waste”,Economic Times, 12 de maio de 2008; mangas no

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Paquistão – de A. Khushk e A. Memon, “MakingHarvesting of Mangoes Productive”, Dawn, 8 demaio 2006.

6. Smil, op. cit. nota 1; Ricardo Sibrián, estatísticosênior, FAO, discussão com o autor, 2007; 4% – deW. Bender, “An End Use Analysis of Global FoodRequirements”, Food Policy, vol. 19, no. 4 (1994),pp. 381–95.

7. D. Proctor, ed., Grain Storage Techniques:Evolution and Trends in Developing Countries, FAOAgricultural Services Bulletin No. 109, 1994; V.Smil, Feeding the World: A Challenge for the Twenty-First Century (Cambridge, MA: The MIT Press,2001), p. 187.

8. M. W. Rosegrant e S. Meijer, “Appropriate FoodPolicies and Investments Could Reduce Child Malnu-trition by 43% in 2020”, The Journal of Nutrition,novembro de 2002, pp. 3437S – 40S; A. MuimbaKankolongo, Kerstin Hell e Irene N. Nawa,“Assessment for Fungal, Mycotoxin and InsectSpoilage in Maize Stored for Human Consumptionin Zambia”, Journal of the Science of Food andAgriculture, vol. 89, no. 8 (2009), pp. 1366–75.

9. Kankolongo, Hell e Nawa, op. cit. nota 8.

10. Ibid.

11. A. Muimba Kankolongo, discussão com o autor,10 de agosto de 2010.

12. Kankolongo, Hell e Nawa, op. cit. nota 8;compare K. Hell et al., “The Influence of StoragePractices on Aflatoxin Contamination in Maize inFour Agroecological Zones of Benin, W. Africa”,Journal of Stored Products Research, vol. 36, no. 4(2000), pp. 365–82.

13. Ministério da Agricultura e Cooperativas,Governo da República de Zâmbia, National Agri-cultural Policy 2004–2015 (novembro de 2004) – emFANR Directorate e SADC Secretariat, Implemen-tation and Coordination of Agricultural Researchand Training (ICART) in the SADC Region:

Situation Analysis of Agricultural Research andTraining in the SADC Region (Gaborone, Botsuana:2008), Anexo II (a), pp. 55, 4, 25.

14.Kankolongo, op. cit. nota 11.

15. Agência Norte-Americana para o Desen-volvimento Internacional/de Zâmbia, AnnualReport 2005 (Lusaka: 2004), p. 13.

16.T. Armitage, “Post-Harvest Loss Costs EastAfrican Milk Market $90m”, Dairy Processing &Markets, 27 de outubro de 2004.

17. P. C. Turner et al., “Reduction in Exposure toCarcinogenic Aflatoxins by Postharvest InterventionMeasures in West Africa: A Community – BasedIntervention Study”, Lancet, 4–10 de junho de 2005,pp. 1950–56.

18. Ibid.

19. Naresh Magan et al., “Limiting Mycotoxins inStored Wheat”, Food Additives and Contaminants,maio de 2010, pp. 644–50; T. K. Jayasekara et al.,“Effect of Volatile Constituents from Securidacalongepedunculata on Insect Pests of Stored Grain”,Journal of Chemical Ecology, vol. 31, no. 2 (2005),pp. 303–13.

20. M. Fehr et al., “A Practical Solution to theProblem of Household Waste Management inBrazil”, Resources, Conservation and Recycling,setembro de 2000, pp. 245–57.

21. K. Tomlins et al., “On Farm Evaluation ofMethods for Storing Fresh Sweet Potato Roots inEast Africa”, Tropical Science, vol. 47, no. 4 (2007),pp. 197–210; S. Mitra et al., “Impacts of DifferentMaturity Stages and Storage on Nutritional Changesin Raw and Cooked Tubers of Orange-Fleshed SweetPotato (Ipomoea batatas) Cultivars”, ISHS ActaHorticulturae 858: III International ConferencePostharvest Unlimited, 2008.

22. M. Katundu et al., “Can Sequential HarvestingHelp Small Holder Organic Farmers Meet Consumer

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Expectations for Organic Potatoes?” Food Qualityand Preference, vol. 21, no. 4 (2010), pp. 379–84.

23. KPMG-ASSOCHAM, Food Processing and AgriBusiness (Nova Déli: 2009).

24. J. Rankins et al., “Solar Drying of Mangoes:Preservation of an Important Source of Vitamin Ain French-Speaking West Africa”, Journal of theAmerican Dietetic Association, junho de 2008, p.986–90.

25. A Taste of Freedom – em www.atasteoffreedom.org.uk.

26. R. C. Witthuhn, A. Cilliers e T. J. Britz,“Evaluation of Different Preservation Techniqueson the Storage Potential of Kefir Grains”, Journalof Dairy Research, fevereiro de 2005, pp. 125–28.

27. N. Terryn, G. Gheysen e M. Van Montagu,“Increasing Food Security in Central Africa byReducing Sweet Potato Losses due to Weevils andViral Diseases Using Biotechnology”, Journal ofBiotechnology, vol. 131, no. 2 (2007).

28. J. Coulter, “Making the Transition to a Market– Based Grain Marketing System”, sem data, enviadopara publicação – em www.nri.org/docs/grainmarket.pdf, pp.19–20; World ResourcesInstitute, op. cit. nota 5; Grolleaud, op. cit. nota 2;compare Proctor, op. cit. nota 7, Anexo 1, sobreeficiência de custo.

29. Nigéria – de M. Bokanga, “Cassava: Post-HarvestOperations”, em FAO, Compendium on Post-HarvestOperations (Roma: 1996); World Resources Institute,op. cit. nota 5; Instituto Internacional de Pesquisado Arroz – em “Postproduction Management”,Consórcio para Pesquisa sobre Arroz Irrigado – emwww.irri.org/irrc/postharvest/index.asp; R. Bas,“Enthusiasms and Forebodings”, Manila Times, 21de abril de 2008; Fundo das Nações Unidas paraSegurança Humana, “Timor-Leste: Reducing Post-Harvest Losses to Improve Food Security”, 2007,ochaonline – em un.org/LinkClick.aspx?link=2125&tabid=2110.

30. U. Baloch et al., “Loss Assessment and LossPrevention in Wheat Storage – TechnologyDevelopment and Transfer in Pakistan” – em E.Highley, ed., Stored Product Protection (Wallingford,CT: CABI Publishing, 1994).

31. Figura 9–1 – de Smil, op. cit. nota 7.

Transformar a Pesca do Dia em Melhores Condições de Vida

1. Danae Maniatis, “Retrospective Study of theMangroves of the Tanbi Wetland Complex, TheGambia”, Dissertação de Mestrado, Vrije University,Bruxelas, 19 de agosto de 2005.

2. Daniel Theisen, “Pilot Ba Nafaa Oyster CultureProject”, 20 de janeiro de 2010 – emwww.crc.uri.edu/download/Report_Oyster_Aquaculture_Train ing_2010.pdf.

3. Agência Norte-Americana para o DesenvolvimentoInternacional, República de Gâmbia, Centro deRecursos Costais da University of Rhode Island, eEscritório Regional da WWF na África Ocidental,Gambia–Senegal Sustainable Fisheries Project, Year 1Work Plan (Narragansett, RI: Coastal ResourcesCenter, sem data), p. 21.

4. Catadoras de ostras, Lamin, discussão com o autor,2 de julho de 2010.

5. Fatou Janha, fundadora da TRY, discussão com aautora, 16 de junho de 2010.

Capítulo 10. Alimentar as cidades

1. Alice Wairimu, discussão com os autores, 13 dejulho de 2010.

2. UN-HABITAT, State of the World Cities2010/2011: Cities for All, Bridging the Urban Divide(Londres: Earthscan, 2010).

3. René van Veenhuizen, ed., Cities Farming for theFuture: Urban Agriculture for Green and Productive

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Cities (Manila: Instituto Internacional de Recons-trução Rural e ETC Urban Agriculture, 2006); LucJ. A. Mougeot, Growing Better Cities: UrbanAgriculture for Sustainable Development (Ottawa:Centro Internacional de Pesquisas para o Desen-volvimento (IDRC), 2006).

4. Tabela 10-1 – de Fazenda vertical – de UrbanHarvest, Nairóbi, em uharvest.org, e de DanielleNierenberg, “Vertical Farms: Finding Creative Waysto Grow Food in Kibera”, Nourishing the PlanetBlog, 9 de novembro de 2009; horta em pneu – deECHO Farm, “Urban Garden” – emwww.echonet.org/content/globalFarm/864/Urban%20Garden e de Danielle Nierenberg, “GrowingFood in Urban Trash”, Nourishing the Planet Blog,1o de setembro de 2009; horta no telhado – de EagleStreet Rooftop Farm – em rooftop farms.org; hortaem plataformas – de ECHO Farm, op. cit. essa notae de Danielle Nierenberg, “Growing Food in Urban‘Trash,’” op. cit. essa nota; Community SupportedAgriculture – de Michael Levenston, “RUAF Update15: Urban Agriculture News from Around theWorld” – em www.city farmer.info/2010/07/15/ruaf-update-15-urban-agriculture-news-from-around-the-world, e de Abalimi Besekhaya – emwww.abalimi.org.za.

5. Daniel G. Maxwell, The Political Economy of UrbanFood Security in Sub-Saharan Africa, FCNDDiscussion Paper No 41 (Washington, DC: (InstitutoInternacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares,IFPRI) 1998).

6. Paule Moustier e George Danso, “Local EconomicDevelopment and Marketing of Urban ProducedFood” – em van Veenhuizen, op. cit. nota 3, pp.174–91.

7. G. W. Nasinyama, D. C. Cole e D. Lee-Smith,“Health Impact Assessment of Urban Agriculturein Kampala” – em Gordon Prain, Nancy Karanja eDiana Lee-Smith, eds., African Urban Harvest:Agriculture in and around African Cities, 2002–-2006 (Ottawa e Nairóbi: IDRC e CIP/UrbanHarvest, 2010).

8. Figura 10–1 – de: Alberto Zetta e Luca Tasciotti,“Urban Agriculture, Poverty, and Food Security:Empirical Evidence from a Sample of DevelopingCountries”, Food Policy, agosto de 2010, pp. 265–73; S. Haluna, “The Contribution of UrbanAgriculture to Household Food Security in theTamala Municipality”, B.Sc. Project Report, 2002;Jac Smit e Martin Bailkey, “Urban Agriculture andthe Building of Communities” – em van Veenhuizen,op. cit. nota 3; Luc J. A. Mougeot, “African CityFarming from World Perspective” – em AuxumiteG. Egziabher et al., eds., Cities Feeding People(Ottawa: IDRC, 1994); M. Denninger, B. Egero eD. Lee Smith, Urban Food Production: A SurvivalStrategy of Urban Households, Relatório de umWorkshop sobre a África Oriental e Ocidental(Nairóbi: Instituto Mazingira, 1998); O.Soemarwato, “Home Gardens in Indonesia”,apresentado no Quarto Intercongresso de Ciênciasdo Pacífico, Cingapura, setembro de 1981.

9. Mary Njenga, Nancy Karanja e Janet Magoiya,“Urban Farmers Earn Income from Seed Productionin Nairobi, Kenya”, Urban Grown (boletiminformativo do Centro de Agricultura Urbana daCidade de Kansas), agosto de 2009.

10. Winnie, Coordinator, Solidarites, discussão comos autores, Nairóbi, setembro de 2010.

11. C. Ssekyewa et al., “Vegetable Gardening inPrimary Schools and Its Impact on CommunityLivelihoods in Uganda”, Journal of SustainableDevelopment in Africa, vol. 9, no. 2 (2007), pp.149–63.

12. Alice Hovorka, Henk De Zeeuw e Mary Njenga,eds., Women Feeding Cities: Mainstreaming Genderin Urban Agriculture and Food Security (Rugby,Reino Unido: Practical Action Publishing, 2009).

13. Mary Mutola, “Urban Agriculture: A SustainableSolution to Alleviating Urban Poverty, Addressing theFood Crisis, and Adapting to Climate Change”,Estudo de Caso de Nairóbi, Quênia, workshop,Nairóbi, 21 de julho de 2010.

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14. Eunice Ambani e Jane Okaka from N. Karanjaet al., “Strengthening Capacity for SustainableLivelihoods and Food Security through UrbanAgriculture among HIV and AIDS AffectedHouseholds in Nakuru, Kenya”, InternationalJournal of Agricultural Sustainability, vol, 8. no. 1–2 (2010), pp. 40–53.

15. Quadro 10-1 – de Mark Redwood, “Intro-duction: Greywater Use in the Middle East–TheStory So Far” – em Stephen McIlwaine e MarkRedwood, eds., Greywater Use in the Middle East:Technical, Social, Economic and Policy Issues (Rugby,Reino Unido; Ottawa; e Amã: Practical ActionPublishing, IDRC e Center for the Study of the BuiltEnvironment, 2010), p. 2; produção de alimentos –de Departamento de Estatística, Jordan in Figures,Número 4 (Amã: Hashemite Kingdom of Jordan,2001); IDRC, Dealing With the Water Deficit inJordan, Growing Better Cities Case Study 3 (Ottawa:2006), pp. 1, 3, 4; Murad Bino, Shihab Al Beiruti eMohammad Ayesh, “Greywater Use in Rural HomeGardens in Karak, Jordan” – em McIlwaine eRedwood, op. cit. essa nota, pp. 29, 31, 38; Kampala– de IDRC, From the Ground Up: Urban AgricultureReforms Take Root, Growing Better Cities Case Study2 (Ottawa: 2006), p. 2.

16. Estudo sobre o Quênia – de D. Lee-Smith e D.Lamba, “The Potential of Urban Farming in Africa”,Ecodecision, dezembro de 1991, pp. 37–40;Australian Academy of Technological Sciences andEngineering, Water Recycling in Australia (Victoria,Austrália: 2004); B. Jimenez e T. Asano,“Acknowledge All Approaches: The Global Outlookon Reuse”, Water21, dezembro de 2004, pp. 32–37; J. Smit, A. Ratta e J. Nassr, Urban Agriculture– Food, Jobs and Sustainable Cities, Publicação paraa Habitat II, Vol. I (Nova York: Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento, 1996)

17. S. Kiongo e J. Amend, “Linking (Peri) UrbanAgriculture and Organic Waste Management in Dares Salaam”, apresentado no Workshop Internacionalda IBSRAM-FAO sobre Agricultura Urbana ePeriurbana, Accra, Gana, 2 a 6 de agosto de 1999;O. Cofie, “Co-composting of Faecal Sludge andSolid Waste for Urban and Peri-urban Agricultureem Kumasi, Gana”, Instituto Internacional de Gestão

da Água, Departamento de Água e Saneamento emPaíses em Desenvolvimenot do Swiss Federal Institutefor Environmental Science and Technology, KwameNkrumah University of Science and Technology eKumasi Metropolitan Assembly, Kumasi, 2003; MaryNjenga et al., “Nutrient Recovery from Solid Wasteand Linkage to Urban and Peri Urban Agriculturein Nairobi, Kenya” – em A. Bationo et al., eds.,Advances in Integrated Soil Fertility Managementin Sub-Saharan Africa: Challenges and Opportunities(Amsterdã: Springer, 2007), pp. 487–91.

18. Andra D. Johnson e Henry D. Gerhold, “CarbonStorage by Urban Tree Cultivars, em Roots andAbove-ground”, Urban Forestry & Urban Greening,vol. 2, no 2 (2003), pp. 65–72; C. Liu, P. Zhou e Y.Zhang, “Urban Forestry in China: Status andProspects” – em van Veenhuizen, op. cit. nota 3.

19. American Planning Association, Policy Guide onCommunity and Regional Food Planning(Washington, DC: 2007).

20. IDRC, Rosario, Argentina: A City Hooked onUrban Farming, Growing Better Cities Case Study6 (Ottawa: 2006); Minu Hemmati, Multi-StakeholderProcesses for Governance and Sustainability: BeyondDeadlock and Conflict (Londres: Earthscan, 2002).

21. Prefeitura, “Mayor Newsom Announces RegionalFood Policy for San Francisco and Several New FoodInitiatives”, press release (São Francisco: Cidade eComarca de São Francisco, 8 de julho de 2009).

22. Municipal Development Partnership for Eastand Southern Africa, The Harare Declaration onUrban and Peri-urban Agriculture, CongressoMinisterial sobre Agricultura Urbana e Periurbana,Harare, 2003.

23. Diana Lee-Smith, “The Contribution ofResearch-Development Partnerships to BuildingUrban Agriculture Policy” – em Prain, Karanja eLee-Smith, op. cit. nota 7; República do Quênia,Ministry of Lands Sessional Paper No 3 de 2009sobre Política Agrária Nacional (National LandPolicy).

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24. Mougeot, op. cit. nota 3; Daniel G. Maxwell,“Highest and Best Use? Access to Urban Land forSemi-subsistence Food Production”, Land Use Policy,julho de 1996, pp. 181–95.

25. IDRC, Programa de Gestão Urbana para aAmérica Latina e o Caribe e Promoção do Desen-volvimento Sustentável (Peru), “Urban Agriculture:Land Management and Physical Planning. Guidelinesfor Municipal Policymaking on Urban Agriculture”,Ottawa, março de 2003.

Estímulo à Irrigação Mais Segura com ÁguasResiduais na África Ocidental

1. Instituto Internacional de Gestão de Água(IWMI), Recycling Realities: Managing Health Risksto Make Wastewater an Asset, Water Policy Briefing17 (Colombo, Sri Lanka: 2006); cobertura limitadana África subsaariana – de Organização Mundial daSaúde (OMS), Global Water Supply and SanitationAssessment 2000 Report (Genebra e Nova York): OMSe UNICEF, 2000).

2. Águas de córregos poluídos – de B. Keraita et al.,“Harnessing Farmers’ Knowledge and Perceptionsfor Health Risk Reduction in Wastewater IrrigatedAgriculture” – em P. Drechsel et al., eds., WastewaterIrrigation and Health: Assessing and Mitigating Risksin Low-income Countries (Londres: Earthscan, CentroInternacional de Pesquisas para o Desenvolvimento(IDRC), e IWMI, 2010), pp. 337–54; H. Karg et al.,“Facilitating the Adoption of Food Safety Inter-ventions in the Street Food Sector and On Farm”,em ibid., pp. 319–35.

3. P. Amoah et al., “From World Cafés to RoadShows: Using a Mix of Knowledge SharingApproaches to Improve Wastewater Use in UrbanAgriculture”, Knowledge Management forDevelopment Journal, dezembro de 2009, pp. 246–62; B. Keraita e P. Drechsel. “Agricultural Use ofUntreated Urban Wastewater in Ghana” – em C.Scott, N. I. Faruqui e L. Raschid, eds., Waste WaterUse in Irrigated Agriculture: Confronting theLivelihood and Environmental Realities (Wallingford,Reino Unido: CABI Publishing, IDRC e IWMI,2008).

4. Karg et al., op. cit. nota 2.

5. Ibid.

6. Amoah et al., op. cit. nota 3.

7. Ibid.

8. J. P. Ilboudo, “After 50 Years: The Role and Useof Rural Radio in Africa” – em Bruce Girard, ed.,The One to Watch: Radio, New ICTs e Interactivity(Roma: Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação, 2003); Amoah et al., op.cit. nota 3.

9. Amoah et al., op. cit. nota 3.

10. Ibid.

11. Ibid.; citação de discussão com Philip Amoah,IWMI Gana.

Uma Resposta Agrícola ao Chamado da Natureza

1. Programa Conjunto de Monitoramento de Abaste-cimento de Água e Saneamento da OrganizaçãoMundial da Saúde (OMS) / UNICEF, Water For Life:Making it Happen (Genebra: 2005), p. 4; Emily WhiteJohansson e Tessa Wardlaw, Diarrhoea: Why ChildrenAre Still Dying and What Can Be Done (Genebra:OMS e UNICEF , 2009, p. v).

2. Sindya N. Bhanoo, “For Pennies, a DisposableToilet That Could Help Grow Crops”, New YorkTimes, 1ºde março de 2010; Peepoople – emwww.peepoople.com/index.php.

3. Nicholas D. Kristof, “On the Ground withNicholas Kristof: American Ingenuity in Haiti”(vídeo), New York Times, 29 de março de 2009;Sustainable Organic Integrated Livelihoods (SOIL),em www.oursoil.org.

4. Danielle Nierenberg, “Improving Livelihoods andNutrition with Permaculture”, Blog Nourishing the

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Planet, 5 de janeiro de 2010; Bhanoo, op. cit. nota2; Peepoople, op. cit. nota 2; Rigel Technology Ltd.– em www.rigel.com.sg/en/home, visto em 9 desetembro de 2010; Sulabh International SocialService Organisation, “Community Toilet LinkedBiogas Plant” – em www.sulabhinternational.org/st/community_toilet_linked_biogas_pant.php.

5. Banco Mundial, Changing the Face of the Waters:Meeting the Promise and Challenge of SustainableAquaculture (Washington, DC: 2007), p. 26.

6. Nitin Jugran Bahuguna, “Walk of Shame TriggersToilet Consciousness”, UNICEF – emwww.unicef.org/india/wes_2920.htm.

Capítulo 11. Utilização do Conhecimento e das Aptidões das Agricultoras

1. Imodale Caulker-Burnett, discussão com DianneForte, 7 de junho de 2010.

2. Banco Mundial, Organização das Nações Unidaspara Agricultura e Alimentação (FAO) e Fundo Inter-nacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD),Agriculture and Rural Development: Gender inAgriculture Sourcebook (Washington, DC: BancoMundial, 2009); Shaohua Chen e Martin Ravallion,The Developing World Is Poorer Than We Thought,But No Less Successful in the Fight against Poverty,Policy Research Working Paper 4703 (Washington,DC: Grupo de Pesquisa para o Desenvolvimento /Banco Mundial, 2008); FAO, The State of FoodInsecurity in the World: Economic Crises – Impactsand Lessons Learned (Roma: 2009); Objetivos deDesenvolvimento do Milênio / ONU – emwww.un.org/millenniumgoals.

3. AudienceScapes, “Are New Media in ÁfricaBridging the Gender Divide?” 2 de julho de 2010 –em www.audiencescapes.org/are-new-media-africabridging-gender-divide-gap-Kenya-Ghana-mobileinternet-radio-television; Marilyn Carr eMartha Chen, “Globalization, Social Exclusion andGender”, International Labour Review, vol. 143,no. 1–2 (2004), pp. 129–59; Pauline Tiffen et al.,“From Tree-minders to Global Players: CocoaFarmers in Ghana”, em Marilyn Carr, ed., Chains

of Fortune: Linking Women Producers and Workerswith Global Markets (Londres: CommonwealthSecretariat, 2004), pp. 11–43; N. Kanji et al.,“Cashing In on Cashew Nuts: Women Producersand Factory Workers in Mozambique” – em ibid., pp.75–102; Oxfam, “Make Trade Fair” – emwww.youtube.com/TTVCanada#p/a/f/0/9mgPEP8HAss, visto por Dianne Forte, 26 de junho de 2010.

4. Rose Hyde, cofundadora, Agbanga KariteWomen’s Fair Trade Shea Butter Cooperative,discussão com Dianne Forte, 4 de junho de 2010.

5. Marlene Elias e Judith Carney, “African SheaButter: A Feminized Subsidy from Nature”, Africa:The Journal of the International African Institute,vol. 77, no. 1 (2007), pp. 37–62.

6. Quadro 11–1 – de Hyde, op. cit. nota 4.

7. Delaney Greig, “Shea Butter: Connecting RuralBurkinabè Women to International Markets ThroughFair Trade”, Development in Practice, agosto de 2006,pp. 465–75.

8. Lorenzo Cotula, Gender and Law – Women’sRights in Agriculture, Estudo Legislativo nº. 76 /FAO (Roma: FAO, rev. 2007); “Burkina Faso”,International Women’s Rights ActionWatch, Univer-sidade – de Minnesota – em www1.umn.edu/humanrts/iwraw/burkina.htm; FAO, Women,Agriculture and Rural Development: A SynthesisReport of the Africa Region (Roma: 1995).

9. Elias e Carney, op. cit. nota 5.

10. Carr e Chen, op. cit. nota 3.

11. Jeffrey Sachs, “Internet and Mobile Phones SpurDevelopment”, Real Clear Markets – em www.realclearmarkets.com, 21 de agosto de 2008.

12. Website da Agricultural Education and Trainingin Africa (AET) – em www.aet-africa.org/?q=node/1.

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13. Quadro 11–2 – de: World Cocoa Foundation(WCF), “Sustainable Tree Crops Program”, TheWorld Cocoa Foundation Annual Program Book(Washington, DC: maio de 2010), pp.12–13, 14–15;WCF, “Innovative Approaches”, em The ECHOESAlliance Quarter Five Report, outubro – dezembrode 2008 (Washington, DC: dezembro de 2008), pp.11–12; WCF, “Success Stories”, em The ECHOESAlliance Quarter Two Report, janeiro – março de2008 (Washington, DC: março de 2008), pp. 27–28.

14. Royce Gloria Androa, Assessment Report ofPotential On-Farm, Off-Farm IGAs in Four Settlementsin Karamoja, para Gesellschaft für Technische Zusam-menarbeit, Alemanha, inédito, abril de 2010.

15. Ibid.

16. Susan Ocokoru, profissional da área de extensãorural, Arua, Uganda, discussão com Royce GloriaAndroa, 28 de maio de 2010; Janet Asege, espe-cialista em desenvolvimento comunitário, Karamoja,Uganda, discussão com Royce Gloria Androa, 18 deabril de 2010.

17. Sarah Parkinson, “Learning to Respond toFarmers”, Secretariado dos Serviços de AssessoriaAgrícola Nacional (NAADS), Kampala, Uganda,inédito, maio de 2006.

18. Secretariado da NAADS, National AgriculturalAdvisory Services Annual Report 2006-2007(Kampala, Uganda: agosto de 2007).

19. D. Pearce et al., Microfinance Institutions Movinginto Rural Finance for Agriculture (Washington,DC: Grupo do Banco Mundial, 2004).

20. Women and Population Division, “Women andSustainable Food Security”, FAO – emwww.fao.org/sd/fsdirect/fbdirect/fsp001.htm,atualização de 2007; Fatma Denton et al., Le Visagede la Pauvreté Energétique à Travers la Femme auSénégal (Dakar, Senegal: Environment andDevelopment Action in the Third World, 2005).

21. Dinnah Kapiza, discussão com Marie-AngeBinagwaho, 22 de abril de 2010, com notas de acom-panhamento.

22. Ibid.

23. Ibid.

24. Ibid.

25. Dinnah Kapiza, discussão com Marie-AngeBinagwaho, 6 de junho de 2010.

26. Ibid.

27. Global System of Mobile CommunicationsAssociation (GSMA), Universal Access: How MobileCan Bring Communications to All (Londres: 2008);AudienceScapes, op. cit. nota 3.

28. Sokari Ekine, “SMS Uprising: Mobile Activism inAfrica”, Pambazuka Press – em www.pambazuka.org, 6de janeiro de 2010; International TelecommunicationsUnion, Telecommunication/ICT Markets and Trendsin Africa (Genebra: 2007).

29. GSMA, op. cit. nota 27; Brandie Martin e EricAbbott, “Development Calling: The Use of MobilePhones in Agriculture Development in Uganda”,documento de conferência, 2009; Helen Aitkin,Rural Women and Telecommunication in DevelopingCountries, 1998 – em www.ardaf.org/NR/rdonlyres/049DC4A9-0D80-4A9A-9CB6-6B08A914A243/0/199813HelenAitkin.pdf.

30. Mark Williams, Broadband for Africa: DevelopingBackbone Communications Networks (Washington,DC: Banco Mundial, 2010); Aitkin, op. cit. Nota29; Banco Mundial, FAO, e IFAD, op. cit. nota 2;Janine Firpo, “Banking the Unbanked: Technology’sRole in Delivering Accessible Financial Services to thePoor”, SEMBA Consulting, sem data; GautamBandyopadhyay, “Banking the Unbanked: GoingMobile in Africa”, – em Standard Chartered PLC,Asia, Africa and the Middle East: The Guide toWorking Capital Management 2009/2010 (2009),pp. 60–67.

ESTADO DO MUNDO 2011Notas

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31. Williams, op. cit. nota 30.

32. IFAD, Innovation Strategy: Enabling Poor RuralPeople to Overcome Poverty (Roma: 2007).

O Teatro como Ferramenta de Apoio a Mulheres Agricultoras

1. Banco Mundial, Relatório de 2008 sobre Desen-volvimento Mundial: Agriculture for Development(Washington, DC: 2007).

2. Rede FANRPAN – em www.fanrpan.org/about/network.

3. FANRPAN, “FANRPAN Launches Project toStrengthen the Capacity of Women Farmers’Influence in Agricultural Policy and DevelopmentProgrammes in Southern Africa”, press release(Pretoria, África do Sul: 27 de julho de 2009).

4. Banco Mundial, Organização das Nações Unidaspara Agricultura e Alimentação e Fundo Interna-cional para o Desenvolvimento Agrícola, Agricultureand Rural Development: Gender in AgricultureSourcebook (Washington, DC: Banco Mundial, 2009).

5. Programa de Desenvolvimento das NaçõesUnidas/ Comissão Econômica das Nações Unidaspara a África, Local Governance for Poverty Reductionin Africa: Post-Maputo Followup Framework (NovaYork: outubro de 2002).

6. “Lançamento do Projeto Women AccessingRealigned Markets (WARM) Project Launch”, site daFANRPAN – em www.fanrpan.org/documents/d00961.

7. Ibid.

8. Linda Nghatsane em citação de Vusumuzi Sifile,“Policy Makers Out of Touch with Farmers Reality”,Terraviva (IPS Africa), 3 de setembro de 2009.

9. Chance Kabaghe e Cecilia Makota no lançamentodo projeto WARM, 3 de setembro de 2009.

10. Obed Dlamini no lançamento do projetoWARM, 3 de setembro de 2009.

O que É uma Tecnologia Adequada?

1. Gordon Conway e Jeff Waage, com Sara Delaney,Science and Innovation for Development (Londres:Reino Unido. Collaborative on DevelopmentSciences, 2010); citação do lançamento do livro emLondres, 19 de janeiro de 2010.

2. “Agriculture: Africa’s ‘Engine for Growth’– PlantScience and Biotechnology Hold the Key”,Conferência da Associação de Biologia Aplicada,Rothamsted International, Harpenden, Reino Unido,10–12 de outubro de 2009.

3. Conway e Waage, op., cit. nota 1, p. 358.

Capítulo 12. Investimento em Terras Africanas: Crise e Oportunidade

1. Robert Ziegler, discussão com autor, 2009.

2. Ibid.

3. Para as causas da crise mundial de alimentos de2008, ver Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação (FAO), The State of Agri-cultural Commodity Markets: High Food Prices andthe Food Crisis – Experiences and Lessons Learned(Roma: 2009); 90% – de Robert Thompson,University of Illinois, discussão com o autor,verão/outono de 2009; savana na Guiné – de BancoMundial e FAO, Awakening Africa’s Sleeping Giant:Prospects for Commercial Agriculture in the GuineaSavannah Zone and Beyond (Washington, DC: 2009),pp. 152–53.

4. Escritório Subregional da FAO para a ÁfricaOriental, Soaring Food Prices in Ethiopia: TowardsBalanced and Sustainable Solutions (Addis Abeba:outubro de 2008), p. 6; Nick Wadhams, “KenyanActivists Fight Land Deal With Qatar”, (Abu Dhabi)The National, 5 de junho de 2009; “S. Korea in‘Tanzania Land Deal,’” BBC, 24 de setembro de2009.

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5. Alexandra Spieldoch, Instituto de Política Agrícolae Comercial, discussão com autor, 2009.

6. Sonja Vermeulen e Lorenzo Cotula, Making theMost of Agricultural Investment: A Survey of BusinessModels That Provide Opportunities for Smallholders(Londres, Roma e Berna: Instituto Internacionalpara o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED),FAO, Fundo Internacional para o DesenvolvimentoAgrícola (IFAD) e Agência Suíça para Cooperaçãoem Desenvolvimento, 2010).

7. “Cerca de 1 milhão de pessoas morreram” – deOxfam, “Oxfam Calls for Radical Shake-up of AidSystem to Break Cycle of Hunger in Ethiopia”, pressrelease (Oxford, Reino Unido: 22 de outubro de2009); para o potencial agrícola da Etiópia – verBanco Mundial, “Four Ethiopias: A RegionalCharacterization Assessing Ethiopia’s GrowthPotential and Development Obstacles”, Washington,DC, 24 de maio de 2004. O noticiário sobre asiniciativas governamentais para estimular investimentoestrangeiro na agricultura inclui: K. S. Ramkumar,“Ethiopia Offers Huge Land for Saudis to GrowCereals”, Arab News, 7 de agosto de 2008; TsegayeTadesse, “Ethiopia Sets Aside Land for ForeignInvestors”, Reuters, 29 de julho de 2009; ArgawAshine, “Ethiopia: Hunger-Ridden Country DefendsLand Grabs”, Business Daily, 14 de agosto de 2009.

8. Wudineh Zenebe, “Sheik’s New Agro Firm ShellsOut $80m”, Addis Fortune, 12 de outubro de 2009.

9. “Transcrição: Discurso de Posse de BarackObama”, New York Times, 20 de janeiro de 2009.

10. Susan Payne, CEO, Emergent AssetManagement, discussão com autor, 2009.

11. Encarregado e trabalhadores na fazenda deMohammed Al Amoudi na Etiópia, discussão comautor, junho-julho de 2009.

12. Ibid.; conversas com diversos jornalistas etíopese membros da sociedade civil.

13. Moradores do vilarejo etíope, discussão comautor, 2009.

14. Para histórico de questões relativas à posse daterra na Etiópia, ver Dessalegn Rahmato, The Peasantand the State: Studies in Agrarian Change in Ethiopia,1950s–2000s (Traverse City, MI: Custom BooksPublishing, 2008).

15. Michael Taylor, gerente de programas da Inter-national Land Coalition, discussão com autor, 2009.

16. GRAIN, Seized! The 2008 Land Grab forFinancial and Food Security (Barcelona: outubro de2008); Tabela 12–1 – de Shepard Daniel e AnuradhaMittal, (Mis)Investment in Agriculture: The Role ofthe International Finance Corporation in GlobalLand Grabs (Oakland, CA: Oakland Institute, 2010),e de site com catalogações do GRAIN – emwww.farmlandgrab.org; Javier Blas, “S. Koreans toLease Farmland in Madagascar”, Financial Times,19 novembro de 2008.

17. Banco Mundial, “Data Catalog” – emdata.worldbank.org/data-catalog.

18. Banco Mundial e FAO, op. cit. nota 3; WorldBank, World Development Report 2008: Agriculturefor Development (Washington, DC: 2007), p. 6.

19. Banco Mundial e FAO, op. cit. nota 3; JavierBlas, “UN Warns of Food ‘Neo-colonialism,’”Financial Times, 18 de agosto de 2008.

20. Chido Makunike, apresentação na Conferênciasobre Aquisição de Terras, Woodrow Wilson Inter-national Center for Scholars, Washington, DC, maiode 2009.

21. “G8 Backs Japan’s Farmland Investment PrincipleIdea”, Reuters, 8 de julho de 2009.

22. Banco Mundial e, op. cit. nota 3, pp. 152–53;Conferência Anual do Banco Mundial sobre Políticae Administração Fundiária, Washington, DC, 26–27 de abril de 2010.

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23. Lorenzo Cotula et al., Land Grab or DevelopmentOpportunity? Agricultural Investment and Interna-tional Land Deals in Africa (Londres e Roma: IIED,FAO e IFAD, 2009); “outro Zimbábue” –comentário Klaus Deininger, especialista do BancoMundial na área de propriedade, Conferência daGlobal Aginvesting, Nova York, 23 de junho de2009.

24. Banco Mundial e FAO, op. cit. nota 3, p. 17;William Wallis, “Africa’s Frontier Market Ready toScore”, Financial Times, 1º de junho de 2010.

25. David Hallam, “International Investments inAgricultural Production”, apresentação no Encontrode Especialistas em Formas de Alimentar o Mundoem 2050, FAO, Roma, 24–26 de junho de 2009;Davison Gumbo, “Do Outgrower Schemes ImproveRural Livelihoods? Evidence from Zambia”, apre-sentação em PowerPoint na Conferência Anual doBanco Mundial sobre Política e AdministraçãoFundiária, Washington, DC, 26–27 de abril de 2010.

26. Gemedo Tilago, discussão com autor, 2009.

Melhor Armazenagem de Alimentos

1. African Development Bank Group, “AfDBDelegation Makes Key Presentation at the HighLevel Conference in Abuja”, press release (Túnis: 8de maio 2010).

2. Ziyelesa Banda, discussão com Benedict Tembo,1º de março de 2010; Sunduzwayo Banda, discussãocom Benedict Tembo, 5 de junho de 2010.

3. Sunduzwayo Banda, op. cit. nota 2.

4. Ray Handema, diretor-presidente adjunto doInstituto Nacional de Pesquisa Científica e RelaçõesIndustriais, discussão com Benedict Tembo, 25 defevereiro de 2010.

5. Daniel Tesfaye Haileselassie, e-mail para BenedictTembo, 18 de março de 2010.

6. AVRCDC–The World Vegetable Center, “How toGrow Cowpea”, Centro Regional para a África,Tanzânia – em www.avrdc.org/fileadmin/pdfs/Grow_Cowpea.pdf.

7. Danielle Nierenberg, “Innovation of the Week:Investing in Better Food Storage in Africa”,Nourishing the Planet Blog, 21 de janeiro de 2010.

8. Handema, op. cit. nota 4.

9. Danielle Nierenberg, “Women Entrepreneurs:Adding Value”, Nourishing the Planet Blog, 8 denovembro de 2009; Mazingira Institute – emwww.mazinst.org.

10. East Africa Dairy Development – emeadairy.wordpress.com.

11. Jeffrey Gettleman, “With Flights to EuropeGrounded, Kenya’s Produce Wilts”, New York Times,19 de abril de 2010.

Capítulo 13. Os Elos Perdidos: Além da Produção

1. Rob Munro, Agência Norte-Americana para oDesenvolvimento Internacional (AID) LUCRO(Produção, Finanças e Tecnologia), discussão com oautor, junho de 2010; “Zambia in Historic BumperMaize Harvest”, Lusaka Times, Lusaka Times, 24de maio de 2010.

2. AID PROFIT, “2009–2010 Zambia AgriculturalStatistics Data File”, junho de 2010; “Zambia toHarvest 1.9 Million Metric Tones of Maize for2008/2009 Season”, Lusaka Times, 14 de maio de2009.

3. Quadro 13–1 – a partir do seguinte: EratusKibugu, Diretor do Technoserve de Uganda,discussão com o autor, maio de 2010; Ken Opala,“Kenyan Farmers Discover the Internet”, Interna-tional Development Research Centre News, 29 dejaneiro de 2004; Jenny C. Aker, “‘Can You HearMe Now?’ How Cell Phones are TransformingMarkets in Sub-Saharan Africa”, CGD Notes(Washington, DC: Centro de Desenvolvimento

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Global, outubro de 2008); site da ESokoWeb – emwww.esoko.com, visto em 7 de maio de 2010; “Agri-cultural Applications Deployed”, Centro deTecnologia da Grameen Foundation – emwww.grameenfoundation.applab.org/section/uganda-ag-apps; site da União Nacional de Agricultoresde Zâmbia – em www.znfu.org.zm, visto em 7 demaio de 2010; Katharina Felgenhauer “Zambia –Leveraging Agricultural Potential”, Organização paraCooperação e Desenvolvimento Econômico – emwww.oecd.org/dataoecd/35/34/41302315.pdf.

4. AID PROFIT, Annual Report 2009 (Washington,DC: 2009), pp. 10–11.

5. Thilo Thielke, “Zimbabwe’s Displaced FarmersFind a New Home”, Spiegel Online International, 27de dezembro de 2004; AID PROFIT, “Overviewof Zambian Agricultural Sector”, dados do Censode 2000 da Zâmbia, p. 12.

6. Número de agricultores da AID PROFIT, op. cit.nota 4; números de compras líquidas de alimentos –de Rob Munro, PROFIT AID, discussão e troca dee-mails com o autor, junho de 2010.

7. Mabvuto Chisi, AID PROFIT, discussão com oautor, junho de 2010; AID PROFIT, op. cit. nota 5,p. 13.

8. Chisi, op. cit. nota 7; AID PROFIT, op. cit. nota2.

9. Wilson Mwape, discussão com o autor, junho de2010; Zambia Food Security Research Project,Michigan State University, What’s Behind Zambia’sRecord Maize Crop”, apresentação em PowerPoint,slide 9; Figuras 13-1 e 13-2 – de Organização dasNações Unidas para Agricultura e Alimentação(FAO), Base de Dados Estatísticos da FAO, emfaostat.fao.org, atualizado em 2 de setembro de 2010– de Ministério de Agricultura e Cooperativas deZâmbia (MACO) e Gabinete Central de Estatística(CSO), Patterns of Maize Farming Behavior andPerformance Among Small-and Medium-Scale Small-holders in Zambia: A Review of Statistical Data fromthe CSO/MACO Crop Forecast Survey 2000/2001 to2007/2008 Production Seasons, Working Draft for

Comments, 20 de junho de 2008, e do MACO eCSO, 2009/2010 Agricultural Statistics (Lusaka,Zâmbia: 2010).

10. Justine Chiyesu, discussão com o autor, junho de2010.

11. Ibid., com cálculos de rendimento feitos peloautor.

12. Ibid.

13. Ibid.

14. Ibid.

15. Ibid.

16. FAO, “Change in Extent of Forest and OtherWooded Land 1990–2005” (Table), ForestryResources Assessment 2005 – em www.fao.org/forestry/ 32033/en.

17. Lytton Zulu, diretor-executivo, CropServe,discussão com o autor, junho de 2010; AIDPROFIT, op. cit. nota 4, pp. 12–13.

18. AID PROFIT, Conservation Agriculture inZambia (Washington, DC: undated), p. 2.

19. De acordo com entrevistas com CropServe, umdos herbicidas normalmente usados nos campos demilho de Zâmbia é atrazine; embora usado no mundotodo, é proibido na União Europeia e está em análisepela Agência Norte-Americana de ProteçãoAmbiental; www.epa.gov/pesticides/reregistration/atrazine/ atrazine_update.htm.

20. Observação do autor; James Luhana, PROFITAID, discussão com o autor, junho de 2010; Quadro13-2 – de Graham Lettner, Mobile Transactions,Lusaka, Zâmbia.

21. Pelos danos causados por importações huma-nitárias de alimentos, ver Roger Thurow e ScottKilman, Enough: Why the World’s Poorest Starve in

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an Age of Plenty (New York: Public Affairs, 2009);Felix Edwards, World Food Programme, Lusaka,Zambia, discussão com o autor, junho de 2010;outros detalhes – de Munro, op. cit. nota 1, e deAID PROFIT, op. cit. nota 4, p. 33.

22. AID PROFIT, op. cit. nota 4, p. 37; detalhessobre a bolsa – de Edwards, op. cit. nota 21, e deBrian Tembo, diretor-executivo, Zamace, junho de2010.

23. Munro, op. cit. nota 1; Tembo, op. cit. nota 22;Jan Joost Nijhoff, Coordenador do ProgramaRegional no Mercado Comum do Leste e do Sul daÁfrica da Universidade de Michigan sobre políticasagrícolas do governo, discussão com o autor, junhode 2010.

24. Para uma discussão sobre os gastos de Zâmbiacom agricultura, ver J. Govereh et al., Raising theProductivity of Public Investments in Zambia’s Agri-cultural Sector, Documento de Trabalho No. 20(Lusaka, Zâmbia: Projeto de Pesquisa sobreSegurança Alimentar, dezembro de 2006).

Igrejas: Um Papel Muito Além da Redução da Fome

1. Peter Cunningham, e-mails ao autor, julho de2010; site do Serving in Mission – em www.sim.org/index.php/project/97355.

2. Cunningham, op. cit. nota 1; Serving in Mission,op. cit. nota 1.

3. Peter Cunningham, “Farmer Managed Agro-forestry Farming Systems”, ECHO Technical Note,agosto de 2010.

4. Educational Concerns for Hunger Organization(ECHO), visita do autor em, 29 de março a 1º deabril de 2009; site da ECHO, em www.echonet.org.

5. ECHO, visita do autor, op. cit. nota 4; site daECHO, op. cit. nota 4.

6. ECHO, visita do autor, op. cit. nota 4; site daECHO, op. cit. nota 4.

7. ECHO, visita do autor, op. cit. nota 4; site daECHO, op. cit. nota 4.

8. Stan Doerr, ECHO, discussão com o autor, 30de março de 2009.

9. Ibid.

10. “A Discussion with Robin Denney, AgricultureConsultant, Episcopal Church of Sudan”, BerkleyCenter for Religion, Peace, & World Affairs, daUniversidade de Georgetown, 16 de abril de 2010– em berkleycenter.georgetown.edu.

11. Ellen Davis, discussão com a autora, 14 de abrilde 2010.

12. Ibid.

13. Ibid.

14. Martin Price, discussão com o autor, 1 de abrilde 2009.

Capítulo 14. Aprimorar a Produção de Alimentos Provenientes de Animais

1. Christopher Delgado et al., Livestock to 2020: TheNext Food Revolution, Alimentação, Agricultura e aDiscussão Ambiental, Documento 28 (Washington,DC: Instituto Internacional de Pesquisa em PolíticasAlimentares, 1999).

2. A tabela 14–1 se baseia em Mario Herrero etal.,“Livestock, Livelihoods and the Environment:Understanding the Trade-offs”, Current Opinionin Environmental Sustainability, vol. 1 (2009),pp.111–20.

3. K. Homewood et al., eds., Staying Maasai:Livelihoods Transitions Livelihoods, ConservationandDevelopment in East African Rangelands (Alemanha:Springer, 2009).

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4. S. Gizah et al., Sheep and Goat Production andMarketing Strategies in Ethiopia: Characteristics andStrategies for Improvement, IPMS – Documento deTrabalho 53 (Nairóbi: Instituto Internacional dePesquisa em Gado, 2010).

5. M. Blummel e P. Pathasarathy Rao, “EconomicValue of Sorghum Stover Traded as Fodder for Urbanand Peri-urban Dairy Production in Hyderabad,India,” International Sorghum and Millet Newsletter,vol. 47 (2006), pp. 97–99.

6. G. R. Thomson et al., “International Trade inLivestock and Livestock Products: The Need for aCommodity-Based Approach”, Veterinary Record,2 de outubro de 2004, pp. 429–33.

7. L. H. Taylor et al., “Risk Factors for HumanDisease Emergence”, Philosophical Transactions ofthe Royal Society of London B: Biological Sciences, 29de julho de 2001, pp. 983–89.

8. D. Grace et al., “Characterisation and Validationof Farmers’ Knowledge and Practice of CattleTrypanosomosis Management in the Cotton Zoneof West Africa”, Acta Tropica, agosto de 2009, pp.137–43.

9. Ana Riviere-Cinnamond, “Animal Health Policyand Practice: Scaling-up Community-based AnimalHealth Systems, Lessons from Human Health”,Iniciativa de Política Pecuária a Favor dos Pobres,Documento 23775 (Roma: Organização das NaçõesUnidas para Agricultura e Alimentação, 2005).

10. I. Capua et al., “Development of a DIVA (Diffe-rentiating Infected from Vaccinated Animals) StrategyUsing a Vaccine Containing a HeterologousNeuraminidase for the Control of Avian Influenza”,Avian Pathology, fevereiro de 2003, pp. 47–55; Oquadro 14–1 se baseia na visita de DanielleNierenberg à Fundação Kyeema em Maputo,Moçambique, em fevereiro de 2010; ver também“Improving Access to Livestock Disease Prevention”,Nourishing the Planet Blog, 2 de fevereiro de 2010,e R. G. Alders, B. Bagnol, e M. P. Young,“Technically Sound and Sustainable NewcastleDisease Control in Village Chickens:Lessons Learnt

over Fifteen Years”, World’s Poultry Science Journal,vol. 66, no. 3 (2010), pp.433–40.

11. Christine C. Jost et al., “EpidemiologicalAssessment of the Rift Valley Fever Outbreak inKenya and Tanzania in 2006 and 2007”, AmericanJournal of Tropical Medicine and Hygiene, vol. 83,segundo suplemento (2010), pp. 65–72.

12. Homewood et al., op. cit. nota 3.

13. Herrero et al., op. cit. nota 2.

14. M. E. Hellmuth et al., eds., Index Insuranceand Climate Risk: Prospects for Development andDisaster Management, Climate and Society No. 2(Nova York: Instituto Internacional de Pesquisa sobreClima e Sociedade, Columbia University, 2009).

15. Andrew Mude et al., Insuring against Drought-Related Livestock Mortality: Piloting Index BasedLivestock Insurance in Northern Kenya and SouthernEthiopia (Nairóbi: Instituto Internacional de Pesquisaem Gado, 2009).

Direto do Campo: A Criação de Gado de Pequena Escala em Ruanda

1. Danielle Nierenberg, visita a Ruanda, 7 dedezembro de 2009; Kigali Memorial Centre, emwww.kigalimemorialcentre.org/old/genocide/index.html.

2. Dr. Dennis Karamuzi, gerente de programas,Heifer International Ruanda, em conversa comDanielle Nierenberg, 7 de dezembro de 2009.

3. Holimdintwoli Cyprien, beneficiário e fazendeiroda Heifer International, em conversa com DanielleNierenberg, 8 de dezembro de 2009.

4. Karamuzi, op. cit. nota 2.

5. Ministério da Infraestrutura de Ruanda, em:mininfra.gov.rw/index.php?option=com_content&task=view&id=115&Itemid=143.

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6. Helen Bahikwe, beneficiária e fazendeira da HeiferInternational, em conversa com Danielle Nierenberg,8 de dezembro de 2009.

7. Cyprien, op. cit. nota 3.

8. Ibid.

9. Autoridade do Desenvolvimento de RecursosAnimais de Ruanda, em www.rarda.gov.rw/spip.php?rubrique12; Karamuzi, op. cit. nota 2.

Capítulo 15. Um Plano Estratégico para Nutrir o Planeta

1. Crescimento do produto mundial bruto – deBanco Mundial, World Development IndicatorsDatabase; recursos pesqueiros – de B. Worm et al.,“Impacts of Biodiversity Loss on Ocean EcosystemServices”, Science, 3 de novembro de 2006, pp.787–90; produção de petróleo – de U.S. Departmentof Energy, Energy Information Agency, Interna-tional Energy Statistics (Washington, DC), e da Inter-national Energy Agency (IEA), World Energy Outlook2009 (Paris: 2009); uso de água – de McKinsey &Company, Charting Our Water Future: EconomicFrameworks to Inform Decision Making (Washington,DC: 2009).

2. Uso de água – de McKinsey & Company, op. cit.nota 1; gases de efeito estufa – de Banco Mundial,World Development Report 2008: Agriculture forDevelopment (Washington, DC: 2007), e da U.N.Convenção-Quadro das Nações Unidas SobreMudanças Climáticas, em www.unfccc.int; 13 milhõesde hectares de florestas devastadas – de Organizaçãodas Nações Unidas para Agricultura e Alimentação(FAO), State of the World’s Forests (Roma: 2009);atividades agrícolas impróprias – de Programa daONU para Meio Ambiente (UNEP), Green Jobs:Towards Decent Work in a Sustainable, Low-CarbonWorld (Genebra: 2008); projeções demográficas ede crescimento – de UNEP/GRID-Arendal, TheEnvironmental Food Crisis: The Environment’s Rolein Averting Future Food Crises (Noruega: 2009).

3. K. Saeed, Towards Sustainable Development: Essayson System Analysis of National Policy (Aldershot,U.K.: Ashgate Publishing Company, 1998); Inter-national Assessment of Agricultural Knowledge,Science and Technology for Development (IAASTD),Agriculture at a Crossroads, Synthesis Report(Washington, DC: Island Press, 2009).

4. Aumento de produtividade – de J. N. Pretty etal., “Resource-Conserving Agriculture IncreasesYields in Developing Countries”, EnvironmentalScience & Technology, vol. 40, no. 4 (2006), pp.1114–19, e de C. Badgley e I. Perfecto, “CanOrganic Agriculture Feed the World?” RenewableAgriculture and Food Systems, junho de 2007, pp.80–86; criação de emprego – de UNEP, op. cit. nota2, e de GHK Consulting, em colaboração comCambridge Econometrics and Institute of EuropeanEnvironmental Policy, Links between the Environment,Economy and Jobs (London: 2007); níveis mais baixode emissões – de Pretty et al., op. cit. esta nota.

5. A. Markandya et al., The Costs of Achieving theMillennium Development Goals through AdoptingOrganic Agriculture, Documento de Trabalho ADBINo. 193 (Tokyo: Asian Development Bank Institute,janeiro de 2010).

6. A.M. Bassi et al., Assessing Future Prospects of theAgriculture Sector Using an Integrated Approach(Arlington, VA: Millennium Institute, 2010).

7. Resíduos disponíveis – de IEA, SustainableProduction of Second-Generation Biofuels (Paris:2010).

8. Nações Unidas, Objetivos de Desenvolvimentodo Milênio – em www.un.org/millenniumgoals.

9. Quadro 15–1 extraído do seguinte: dados sobregastos com pesquisa – de Board on Agriculture,Investing in Research: A Proposal to Strengthen theAgricultural, Food, and Environmental System(Washington, DC: National Research Council,1989), “Appendix B: Private Sector ResearchActivities and Prospects.” Os totais excluem P&Dem Serviços Florestais e Serviços de PesquisaEconômica e não incluem pesquisas feitas pela

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indústria de processamento de alimentos. Gastos deempresas – de Monsanto, “Corporate Profile” – emwww.monsanto.com/investors/corporate_profile.aspe de Syngenta Global, “Research & Development”,em www2.syngenta.com/en/investor_relations/thisissyngenta_randd.html. Parte do crescimento deP&D no setor privado reflete a crescente globa-lização da indústria de insumos agrícolas. Portanto,seria mais indicado comparar o total de P&D nosetor privado com o total mundial de P&D no setorpúblico, incluindo gastos por país e por instituiçõesmultilaterais. Embora a participação do setor privadono total seja um pouco mais baixa, a tendência geralno sentido de um papel muito maior do setor privadocontinuaria a ser inequívoca.

10. C. Benbrook, “Principles Governing the Long-Run Risks, Benefits, and Costs of AgriculturalBiotechnology”, em Charles McManis, ed., Biodi-versity and the Law: Intellectual Property, Biotech-nology, and Traditional Knowledge (Londres:Earthscan, 2007).

11. J. K. Bourne, “The Global Food Crisis: The Endof Plenty”, National Geographic, junho de 2009.

12. R. L. Mulvaney, S. A. Khan e T. R. Ellsworth,“The Browning of the Green Revolution”, State ofScience: Commentaries (Boulder, CO: The OrganicCenter, março de 2010).

13. M. Stevenson, “Malawi Reaps the Reward ofReturning to Age-Old, Chemical-Free Farming”,Theecologist.org, 22 de junho de 2010.

14. P. C. Ronald e R.W. Adamchak, Tomorrow’sTable: Organic Farming, Genetics, and the Future ofFood (Oxford: Oxford University Press, 2008).

15. R. Lal, “Enhancing Crop Yields in theDeveloping Countries Through Restoration of theSoil Organic Carbon Pool in Agricultural Lands”,Land Degradation & Development, março/abril de2006, pp. 197–209; R. E. Evans e D. Gollin,“Assessing the Impact of the Green Revolution,1960–2000”, Science, 2 de maio de 2003, pp. 758–62.

16. FAO, “925 Million in Chronic HungerWorldwide”, press release (Roma: 14 de setembro de2010); Daniel Shepard e A. Mittal, The Great LandGrab: Rush for World’s Farmland Threatens FoodSecurity for the Poor (Oakland, CA: Oakland Institute,2009).

17. IAASTD, op. cit. nota 3.

18. Ibid.; M. Ishii-Eiteman, “Food Sovereignty andthe International Assessment of AgriculturalKnowledge, Science and Technology forDevelopment”, Journal of Peasant Studies, julho de2009, pp. 689–700.

19. Anne-Marie Izac et al., “Options for EnablingPolicies and Regulatory Environments”, emIAASTD, Agriculture at a Crossroads: The GlobalReport (Washington, DC: Island Press, 2009);Conferência das Nações Unidas sobre Comércio eDesenvolvimento (UNCTAD) Secretariado,Tracking the Trend towards Market Concentration:The Case of the Agricultural Input Industry (Genebra:2006); F. Dreyfus et al., “Historical Analysis of theEffectiveness of AKST Systems in PromotingInnovation” – em IAASTD, op. cit. esta nota.

20. C. Badgley et al., “Organic Agriculture and theGlobal Food Supply”, Renewable Agriculture andFood Systems, June 2007, pp. 86–108; IAASTD,Agriculture at a Crossroads: Global Summary forDecision Makers (Washington, DC: Island Press, 2009).

21. Jules Pretty, “Agroecological Approaches to Agri-cultural Development”, Texto com dados para oWorld Development Report 2008 (Santiago, Chile:Centro Latino-Americano de DesenvolvimentoRural, 2006); UNCTAD/UNEP, OrganicAgriculture and Food Security in Africa (Nova Yorke Genebra: 2008).

22. IAASTD, op. cit. nota 20; J. Berdegue,“‘Learning to Beat Cochrane’s Treadmill: PublicPolicy, Markets and Social Learning in Chile’s SmallScale Agriculture” – em C. Leeuwis e R. Pyburn,eds., Wheelbarrows Full of Frogs: Social Learning andRural Resource Management (Wageningen, Holanda:University of Wageningen, 2002).

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23. Cathy Rozel Farnworth, Emyr Vaughn Thomase Janice Jiggins, “Towards a New Agenda” – emCathy Rozel Farnworth, Janice Jiggins e EmyrVaughn Thomas, eds., Creating Food Futures: Trade,Ethics and the Environment (Aldershot, Reino Unido:Gower Publishing, 2008), pp. 229–36.

24. Aletheia Harper et al., Food Policy Councils: LessonsLearned (Oakland, CA: Food First/Institute forFood and Development Policy, 2009); MarkRedwood, “Urban Agriculture and Changing FoodMarkets”, in Jennifer Clapp e Marc Cohen, eds., TheGlobal Food Crisis: Governance Challenges and Oppor-tunities (Waterloo, Canada: Centro de Inovação emGovernança Internacional e Wilfrid Laurier UniversityPress, 2008), pp. 205–16; Syed Miftahul Hasnat,“Arvari Sansad: The Farmers’ Parliament”, LEISAMagazine, dezembro de 2005.

25. Jérôme Ballet, Jean-Luc Dubois e François-RégisMahieu, “Responsibility in Value Chains andCapability Structures” – em Farnworth, Jiggins eThomas, op. cit. nota 23, pp. 189–202; FabriceDreyfus et al., “Historical Analysis of the Effec-tiveness of AKST Systems in Promoting Innovation”– em IAASTD, op. cit. nota 19; M.Hendrickson etal., “Changes in Agriculture and Food Production inNAE since 1945” – em IAASTD, op. cit. note 19;Izac et al., op. cit. note 19.

26. Olivier De Schutter, “Countries Tackling Hungerwith a Right to Food Approach: Significant Progressin Implementing the Right to Food at National Scalein Africa, Latin America and South Asia”, Briefing 01(Nova York: ONU, maio de 2010); IAASTD, op.cit. nota 19.

27. Tamanho do setor e emprego – de World WildlifeFund, “Agriculture”, em www.worldwildlife.org/what/globalmarkets/agriculture; FAO, op. cit. nota16.

28. “Bill Gates—2009 World Food Symposium”,15 de outubro de 2009, Bill & Melinda GatesFoundation, em www.gatesfoundation.org.

29. Subsídios – de Bill & Melinda Gates Foundation– em www.gatesfoundation.org.

30. Programa de Fomento à Biotecnologia Agrícola– em www.absp2.cornell.edu/consortiumpartners;Programa de Biossegurança Regional na ÁfricaMeridional – em www.usaid.gov/press/factsheets/2003/fs030623_7.html; Agência Norte-Americanapara o Desenvolvimento Internacional, “PestResistant Eggplant: India, Bangladesh, Philippines,”Boletim Informativo, Washington, DC, sem data.

31. World Future Council, “Belo Horizonte: A CityAbolishes Hunger” – em www.worldfuturecouncil.org/future_policy_award_shortlist.html.

32. Frances Moore Lappé, “The City that EndedHunger”, YES! Magazine, primavera de 2009.

33. Ibid.

34. Anuradha Mittal, “The 2008 Food Price Crisis:Rethinking Food Security Policies”, Texto paraDiscussão na G24 (Genebra: UNCTAD, 2009).

35. Frederic Mousseau, The High Food PriceChallenge: A Review of Responses to Combat Hunger(Oakland, CA: Oakland Institute, 2010).

36. Z. R. Khan e J. A. Pickett, “The ‘Push-Pull’Strategy for Stemborer Management: A Case Studyin Exploiting Biodiversity and Chemical Ecology”– em Geoff M. Gurr, Steve D. Wratten e Miquel A.Altieri, eds., Ecological Engineering for PestManagement: Advances in Habitat Manipulationfor Arthropods (Ithaca, NY: Cornell University Press,2004), pp. 155–64.

37. Z. R. Khan et al., “Economic Performance ofthe ‘Push-Pull’ Technology for Stemborer and StrigaControl in Smallholder Farming Systems in WesternKenya”, Crop Protection, vol. 27 (2008), pp. 1084–97.

38. Ouvidoria/Departamento de Ombudsman – emwww.cao-ombudsman.org.

39. “Indonesia/Wilmar Group–01/West Kalimantan”,Ouvidoria/Departamento de Ombudsman – emwww.cao-ombudsman.org/cases/case_detail.aspx?id=76.

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40. Ben&Jerry’s Social and Environmental AssessmentReport – em www.benjerry.com/ company/sear.

41. Força-Tarefa de Alto Nível para a Crise deSegurança Alimentar Global, ComprehensiveFramework for Action (Nova York: julho de 2008);FAO, “Declaration of the World Summit on FoodSecurity”, Roma, novembro de 2009; BancoMundial, “Five Countries Receive Food SecuritySupport Through Multi-Donor Fund”, press release(Washington, DC: 23 de junho de 2010); Alimentaro Futuro – em www.feedthefuture.gov.

42. Comitê de Direitos Econômicos, Sociais eCulturais, “General Comment 12: The Right toFood (Article 11)”, ONU 12 de maio de 1999;Daryll E. Ray, “Battling Global Hunger by IncreasingGlobal Production?” Policy Pennings, Centro deAnálise de Políticas Agrícolas, University of Tennessee,2 de abril de 2010.

43. Action Aid International, Impact of Agro-ImportSurges on Developing Countries (Johannesburgo: julhode 2008).

44. Ibid.

45. Organização para Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) e FAO, OECD-FAO Agri-cultural Outlook 2010–2019 (Paris: OECD, 2010);H.R. 4173 Dodd-Frank Wall Street Reform andConsumer Protection Act – em www.opencongress.org/bill/111-h4173/show; Instituto de PolíticasAgrícolas e Comerciais, “Wall Street Reform BillSigned Today Will Limit Excessive Speculation in

Agriculture: New Rules to Curb Wall Street’sInfluence over Food and Farming”, press release(Minneapolis, MN: 21 de julho de 2010).

46. Conselho da África Oriental para Cereais,“Approved Warehouses” – em www.eagc.org/warehouses.asp; The Sahel and West Africa Club(SWAC/OECD), “2010 SWAC Forum: Call forContributions” – em www.oecd.org/document/8/0,3343,en_38233741_38242551_45431968_1_1_1_1,00.html; Riza Bernabe, “The Need for a RiceReserve Mechanism in Southeast Asia”, para aAssociação de Agricultores Asiáticos – apresentaçãoem PowerPoint preparada para Food Reserves:Stabilizing Markets, Investing in Farmers andAchieving Food Security Conference, Bruxelas, 1–2de junho de 2010; Joachim von Braun, “Time toRegulate Food Markets”, Financial Times, 9 deagosto de 2010.

47. Banco Mundial, Rising Global Interest inFarmland: Can it Yield Sustainable and EquitableBenefits? (Washington, DC: setembro de 2010);Alexandra Spieldoch, Global Land Grab (Washington,DC: Foreign Policy in Focus, 18 de junho de 2009);FAO et al., “Principles for Responsible AgriculturalInvestment that Respects Rights, Livelihoods andResources”, Texto para discussão, Roma, 25 dejaneiro de 2010.

48. FAO, Guide to Conducting a Right to FoodAssessment (Roma: 2009).

49. De Schutter, op. cit. nota 26.

50. Ibid.

ESTADO DO MUNDO 2011Notas

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Índice

AA Taste of Freedom, 118Abebe, Tsegaye, 161Abreha, Malede, 62Abukutsa-Onyango, Mary O., 38ACDI/VOCA, 82Associação Agbanga, 140 agronegócios. Ver produção de alimentos

agricultores, 64investimento estrangeiro em terras para

agricultura e,159-61investimentos ecológicos versus investimentos

em negócios do jeito de sempre, 192–93insustentabilidade econômica de sistemas

agrícolas com uso intensivo de insumos, 197-98

mensuração de sucesso em, 15–16 AgriService Etiópia, 60agroecologia, 17-27

biodiversidade e, 17, 19, 22desestímulo ao uso de fertilizante agrícola,

194–95igrejas e organizações cristãs de

desenvolvimento, novas abordagens de, 175–76

mudança climática e, 17–18, 26–27, 104–08atuais programas e organizações, 24–26definida, 18–19uso e geração de energia, 105avaliação de projetos de P&D em agricultura à

luz da, 194–97como forma de contrabalancear emissões de

gases de efeito estufa, 12, 26, 93, 104–08

abordagem holística da paisagem ecológica, 19–22

como forma de combate à fome e subnutrição, 6–7

problemas de mensuração de paisagem, 23biodiversidade de alimentos locais, importância

de preservar a, 82popularização de práticas agroecológicas, 26–27

agroecologia (continuação)benefícios em potencial de, 24-25motivos para seguir a, 17–18arroz, 22, 28pequenos agricultores, 171–72fertilidade do solo e, 17, 27tipos de, 19conservação e gestão do abastecimento de

água na, 17, 20sistemas agroflorestaismudança climática, efeitos sobre, 12, 93,

96–104definidos, 19regeneração natural de cobertura florestal

gerenciada pelo agricultor, 96–104árvores fertilizantes, 109–10, 171–72, 175Grande Muralha Verde, 96, 104como forma de contrabalancear emissões de

gases de efeito estufa, 12, 26, 93, 104–08abordagem holística da paisagem ecológica,

18–19, 20benefícios em potencial de, 24treinamento em, 98–99, 175–76agricultura urbana e, 128

AID. Ver Agência Norte-Americana para o

17_newIndice:2011 10/10/11 8:57 PM Page 251

Page 281: EstadodoMundo2011 Portugues

Desenvolvimento Internacional Akissi, Sopi, 142Alaffia, 140Aliança para uma Revolução Verde na África,

32, 79, 148, 201Aliança para o Comércio de Produtos da África

Oriental e Austral, 78Alpha Verd, 204amaranto, 36Ambani, Eunice, 127Ame, Ramadhani Abdala, 78–79Associação Americana de Planejamento, 129Al Amoudi, Mohammed, 155–56animais domésticos. Ver tecnologia adequada

para criação de gado, 151aquíferos. Ver conservação e gestão do

abastecimento de águaArgentina, 130Asege, Janet, 141Ásia. Ver também desenvolvimento agrícola de

países específicos na, 15, 16reserva emergencial de arroz na, 208adubo verde/plantas de cobertura, 74Revolução Verde na, 15, 30, 32níveis de fome na, 4deficiência de ferro na, 84perda de alimentos pós-colheita na, 114, 115controle de peste bovina na, 16agricultura urbana na, 11, 124

Asociación Nacional de Mujeres Rurales y Indígenas, Chile, 200

Associação da Câmara de Comércio e Indústria, 118

Associação Songtaab-Yalgre, Burkina Fasso, 139Austrália, 25, 175, 185AVRDC–Centro Asiático de Desenvolvimento e

Pesquisa de Hortaliças, 33, 36, 37, 39ação colaborativa/coletiva. Ver também

agricultores e grupos de agricultoresdesenvolvimento agrícola, 15–16agroecologia, 20–21cultivadores de banana, 166centros de processamento de leite,

cooperativa de, 116–17, 163redes de agentes locais, 169–72

aumento da produção, lidar com o, 164–65, 170–71, 174

ação cooperativa Ver ação colaborativa/coletivaAssociação dos Plantadores de Milho, 34

Asociación Nacional de Mujeres Rurales y Indígenas, Chile,200

África Orientalagroecologia na, 23-24, 25hortaliças autóctones, agricultura comercial

de, 39técnicas nativas de conservação de água na, 52gado na, 91, 184, 187controle de pragas na, 205perda de alimento pós-colheita na, 117

agricultura ecológica. Ver agroecologiaAutonomia para as Famílias Plantadoras

de Cacau, 142agricultores e grupos de agricultores, 57–64. Vertambém ligações entre agricultores e mercados;

mecanismos de empréstimo para agricultores; mulheres/mulheres agricultoras

cultivadores de banana, 166profissionais da área de desenvolvimento,

lições para, 63-64disseminação de inovações agrícolas via,

60–61, 62no combate à fome e desnutrição, 12apoio institucional para, 199profissionais de meia idade como, 35Fundo de um Acre disponibiliza empréstimos

para, 42-43motivos para apoiar, 61–62apoio e estímulo à inovação de, 58–61hortaliças, envolvimento em pesquisa

participativa em, 32–33, 34–35irrigação com águas residuais, melhora na

segurança de, 132–34prática de abastecimento e gestão de água,

adoção de, 50–53Ver agricultura

Alimentar o Futuro, 5, 206armazenamento de alimentos

tecnologias dos agronegócios para, 111feijão-fradinho, 6, 162recipientes metálicos para armazenamento

de grãos, 120problemas de bolor e fungo, 116precariedade no armazenamento em países

em desenvolvimento, 112, 113, 162batata-doce, 118tecnologias para nações em desenvolvimento,

162aquisição de terras estrangeiras para agricultura. Ver

aquisição internacional de terras para agricultura

ESTADO DO MUNDO 2011Índice

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Amigos de Katuk Odeyo, Quênia, 60Alemanha, 116, 146-47aquecimento global. Ver mudança climática adubo verde/plantas de cobertura, 73–77amendoimagronegócios de escala industrial. Ver produção

de alimentosagricultura com cobertura verde permanente, 19,

109–110. Ver também sistemas agroflorestaisajuda alimentar

alta dos preços de alimentos afetam a, 4ir além da, 175

apoio institucional, inovações em, 198–201aquisição internacional de terras para agricultura,

153–61vantagens e desvantagens para o

desenvolvimento, 158–61como uma iniciativa para controlar os

preços dos alimentos, 153no combate à fome e desnutrição, 12–14questões de direitos fundiários, 156, 161a corrida da terra na Etiópia, 155–56mão de obra local, uso de, 155–56modelo “crescer além da conta”, 161políticas de controle para, 208–09propostas e casos concretos de investimento,

158–61Avaliação Internacional do Conhecimento,

Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento, 13, 18, 106, 199, 201

América Latina. Ver também países específicos Árvores msangu, 171–72Associação de Desenvolvimento Agrícola

Nelspruit, África do Sul, 149agricultura orgânica, 19, 22, 107, 197.

Ver também agroecologiaAliança Pan-Africana para Pesquisa sobre

Feijão, 35aves. Ver animais de criaçãoArmazenamento Aperfeiçoado pela Purdue

para Feijão-Fradinho, 162Aliança da Floresta Tropical, 22águas pluviais . Ver conservação e gestão

do abastecimento de águaarroz

reservas emergenciais de arroz na Ásia, 208biodiversidade de variedades tradicionais,

80, 84inovações em melhoria de espécie, 28–29,

151, 153–54

modificado geneticamente, 202importado, 80, 89Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz,

34, 151, 153–154perdas pós-colheita e prevenção de perdas,

113, 119sustentabilidade do arroz intensificado, 22, 28liberalização do comércio e autossuficiência

em, 204áreas rurais

agroecologia e subsistência com atividades rurais, 17

níveis de fome em, 4crise de fertilidade do solo e abandono de,

71–72Arábia Saudita, 13, 153–54, 155, 160auditorias sociais, 205–06Associação do Solo, 9África do Sul

agroecologia na, 23, 25agricultores e grupos de agricultores na,

57, 60, 61comércio de grãos, 65áreas irrigadas na, 45prevenção de perda de alimento

pós-colheita, 118, 119África subsaariana. Ver também países e regiões

específicosagricultura na. Ver agriculturauso de combustível de biomassa na, 92espécies alimentares em perigo de extinção,

86–88crise de preço dos alimentos de 2008 na,

113, 207variedades modernas de plantas, baixos

níveis de uso de, 34valor agregado a produtos agrícolas

africanos na, 11aquisição internacional de terras. Ver aquisição

de terras estrangeiras para agriculturaagricultura sustentável. Ver agroecologiaarroz intensificado sustentável, 22, 28Agência Sueca de Desenvolvimento

Internacional, 53, 55alimentos tradicionais, preservação.

Ver biodiversidade de alimentos locaisárvores. Ver sistemas agroflorestaisAssociação TRY de Mulheres Catadoras de

Ostras, Gâmbia, 3–4, 121

ESTADO DO MUNDO 2011 Índice

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agricultura urbana, 123–31como meio de fortalecimento comunitário,

126–27benefícios ambientais provenientes da, 127–28como meio de garantir segurança alimentar,

125–26desdobramentos futuros na, 130–31Declaração de Harare sobre, 130como forma de combate à fome e desnutrição,

9–11, 124hortaliças autóctones, 39inovações em, 124, 125criação de gado, 123, 127, 129, 180políticas para, 129–30uso de dejeto humano para compostagem,

127–28, 135hortas verticais em cestos, 126agricultura com irrigação de águas residuais,

123, 127, 128–29, 132–33envolvimento de mulheres em, 123, 126,

127, 131áreas urbanas

contraste entre ricos e pobres em, 124suprimento de alimentos em, 113, 118níveis de fome dos pobres em, 4, 11fertilidade do solo e êxodo rural, 71–72

armazéns e programas de armazenamento, 208agricultura irrigada com águas residuais,

123, 127, 128–29, 132–34África Ocidental

produção de cacau na, 142Comunidade Econômica dos Estados da

África Ocidental,políticas agrícolas comuns da, 204–05pesca e frutos do mar na, 82Rede de Organizações de Produtores

Agrícolas da, 200prevenção de perdas pós-colheita na, 6, 119coleta de noz de karité na, 100deficiência de vitamina A na, 32

áreas alagadiças, como centro de tratamento de dejetos, 135

Associação de Mulheres Catadoras de Ostras, Gâmbia, 3–4, 121

aumento de produtividadeobtido com a agroecologia, 6, 22–23produtividade da mandioca no Brasil, 34–35árvores fertilizantes e, 109Revolução Verde, 15, 30, 34, 44

do milho, práticas de conservação do solo e da água que afetam o, 9, 51–52, 53

Maláui, técnicas de aumento de produtividade no, 6

arroz, 29adubo verde/plantas de cobertura para redução

de ervas-daninhas, 75

BBa Nafaa, 121Bahikwe, Helen, 188bananas, 119, 165, 203Banda, Enos, 173Banda, Sunduzwayo, 162Banda, Ziyelesa, 162Bangladesh, 46–48, 53, 113, 200, 203Barasa, Martha, 40Barnes, Gunnar, 48, 49Bayer Crop Science, 119, 176Belo Horizonte, Brasil, 203Ben & Jerry’s, 205–06Benin, 50, 51, 93, 119Bill & Melinda Gates Foundation, 162, 167,

201, 202biotecnologia e preservação de alimento, 119Borlaug, Norman, 30Brasil

cultivo agroecológico de arroz no, 28sistemas agroflorestais no, 20–21, 104produtividade da mandioca no, 34–35Fome Zero, 209inovação em governança no, 204adubo verde/plantas de cobertura, 73perda de alimento pós-colheita no, 114

Buluma, Calistus, 60Burkina Fasso, 15, 47, 97–102, 138Berinjela africana, 37, 39barreiras comerciais agrícolas, 65biodiversidade

agroecologia e, 17, 19, 22benefícios globais da, 8gado, 19, 91alimentos locais. Ver biodiversidade de

alimentos locaisvariedades de sementes, foco em, 8

biodiversidade de alimentos locais, 80–90mudança climática e hortaliças autóctones,

37, 38no combate à fome e desnutrição, 11, 84

ESTADO DO MUNDO 2011Índice

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acesso comunitário à, 89–90declínio na, 80–82como forma de combate a doenças e pragas,

83, 84–85condimentos Dogon (somè), 83–87espécies alimentares em perigo de extinção na

África, 86–88globalização do mercado de alimentos e, 85–89importância da preservação da, 81–83escolas, plantar, cozinhar e comer hortaliças

autóctones na, 11, 39, 40–41, 90hortaliças e pesquisa em hortaliças, 36–39, 85

bomba d’água Mosi-O-Tunya, 9, 49bombas d’água Moneymaker, 9, 49Barack, Obama, 11, 155, 206, 208bombas movidas à tração humana, 9, 47–49,

53, 55, 166benefícios dos sistemas agroflorestais para a, 97

broca do caule, 84, 85, 205batata-doce, 118, 119, 163, 202Bolsa de Café da Etiópia, 81-82bombas d’água movidas a tração humana,

9-10, 47–49, 53, 55, 166bomba d’água Super Moneymaker, 49banheiros, compostagem, 135bombas a pedal, 9, 48–49, 53, 55, 166Banco Mundial

financiamento para desenvolvimento agrícola, importância de, 5, 148, 157

terra arável na zona de savanas da Guiné, 154Programa Global de Segurança Alimentar e

Agrícola, 206direitos fundiários, 160Multilateral Investment Guarantee Agency, 205Princípios para Investimentos Responsáveis

em Agricultura, 208Projeto de Reforço de Capacitação Rural,

Banco Mundial, 63liberalização do comércio estimulada pelo, 113

bolsa de grãos deem Zamace, 172–74berinjela africana, 37, 39

C Camarões, 75, 206Care International, 116CARITAS International, 70Carr, Marilyn, 141caju, 82Caulker-Burnett, Imodale, 137, 138

Centro para Cooperação Internacional, Amsterdã, 102

África Central, 31, 88Centre National de la Recherche Appliquée au

Développement Rural, Madagascar, 28Centro Internacional de Agricultura Tropical.

Ver Instituto Internacional de Agricultura Tropical

Chanyenga, Tembo, 110Chen, Martha, 141crianças. Ver também educação e escolas

coleta de combustível por, 92níveis de fome entre, 4, 204ligações entre agricultores e mercados, 166–67

ChinaAgroecologia na, 23agricultura familiar, retorno para, 15terras estrangeiras para agricultura

adquiridas pela, 14bombas d’água Moneymaker, fabricação de, 49perda de alimento pós-colheita na, 113, 114cultura hidropônica de arroz na, 84sistema agroflorestal urbano na, 128demanda de água na, 44

Chisi, Mabvuto, 167, 168Chiyembekezo (Hope), 145Chiyesu, Justine, 10, 169–70, 174CNFA, 144comunidades plantadoras de cacau, estímulo à

participação de mulheres em, 142café, nativo, colheita, 81–82Comitê de Segurança Alimentar Mundial,

FAO, 206Congo, República Democrática do, 65, 167agricultura conservacionista/de conservação, 19,

28, 109, 171. Ver também agroecologiaUnidade de Agricultura de Conservação da

Zâmbia, 110Grupo de Consultoria em Pesquisa Agrícola

Internacionalvariedades de sementes, foco em 7crise de fertilidade do solo e, 70–71, 72pesquisa de hortaliças, 32irrigação com águas residuais, 129, 132

Conway, Gordon, 151Cornell University, 105, 202-03Costa do Marfim, 89–90, 142cruzamento de raças mistas de gado, 91Cunningham, Peter, 175Cyprien, Holimdintwoli e Donatilla, 188-89

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Centro de Análise de Políticas Agrícolas, University of Tennessee, 207

Campanha Um Bilhão de Árvores, 96composto. Ver fertilizanteConselho da África Oriental para Cereais, 208conservação ecológica. Ver agroecologia; sistemas

agroflorestais; conservação do meio ambienteComunidade Econômica dos Estados da África

Ocidental, 204–05conservação do meio ambiente. Ver também

agroecologia; sistemas agroflorestaisagricultura comercial, como culpada

ecológica, 191contribuição da agricultura urbana para,

127–128crise financeira global de 2008–09, 161comercialização de grãos, 65-66Convênio para Ajuda Alimentar, 208cultura agrícola e alimentar

primeiros programas de combate à fome ignoram, 7

compostagem de dejetos humanos, 135-36hortaliças autóctones, 39superabundância e desperdício, 111–112, 120pesquisa participativa em agricultura e, 32–33conservação e gestão do abastecimento de

água, 52–53cruzamento de raças mistas de gado, 91Centros Nacionais de Pesquisa Agrícola, África, 35covas de plantio (zaï), 102, 151Cruz Vermelha, 126compostagem e serviços de saneamento, 135chalota, 83Coreia do Sul, 154, 156, 158–161Centro Internacional de Fisiologia de Inseto

Ecologia, 205Centro Internacional de Pesquisas para o

Desenvolvimento, 33, 128, 129Centro Internacional de Milho e Trigo, 35Centro Internacional da Batata, 119, 202-03Cruz Vermelha Internacional, 126Centro Internacional de Aves Rurais, Fundação

Kyeema, Moçambique, 185Comissão de Coordenação de Segurança

Alimentar, Agricultura e Pecuária Urbanas de Kampala, Uganda, 129

Cúpula Mundial sobre Alimentos (2009), 206cadeias de valor, 165, 166Clubes de Vídeo, 142

conservação e gestão do abastecimento de água, 44–54

agroecologia e, 17, 20tanques e poços de coleta, 55–56mudança climática e, 53–54uso e gestão mais eficazes de água pluvial,

56–59, 61–62cultura agrícola afeta a, 58–59importações de grãos como forma de

importação indireta de água, 53adubo verde/plantas de cobertura, 75–76Revolução Verde, requisitos de irrigação da,

44–46ferramentas para mapear lençóis de água

subterrânea, 56bombas d’água movidas a tração humana,

9, 47–49, 53, 55, 166fome e desnutrição, combate à, 7–9criação de gado, 91métodos de baixo custo e tecnologia

simples, 47, 48tecnologias de microirrigação, 49–50, 61, 151vulnerabilidades e vantagens na África, 45–47agricultura irrigada com águas residuais, 123,

127, 128–29, 132–34Centro Mundial de Sistemas Agroflorestais,

55, 58, 97Conferência Mundial sobre Alimentos, 112Cooperativa de Produtoras de Manteiga de

Karité de Zantiébougou, Mali, 100cultivo com plantio direto, 15, 76Congresso de Ministros para discutir Agricultura

Urbana e Periurbana no leste e sul da África, 130

controle da peste bovina, 16

DDaewoo Logistics, 156Dakar, Senegal, coooperativa de hortas em

telhado, 6Davis, Ellen, 176-77de Schutter, Olivier, 9, 202-03Denney, Robin, 176Diálogo Para um Sistema de Ação Compartilhada

para Agricultura, Segurança Alimentar e Mudanças Climáticas na África, 27

doenças e pragas. Ver também doenças e pragas específicas

tecnologia adequada para, 151

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mandioca, doença do mosaico e doença da podridão do caule em, 78, 84

enset, murcha bacteriana em, 61vírus do tungro do arroz, 84gado, 183–85biodiversidade de alimentos locais como

meio de combate a, 83, 84–85monocultura como estímulo a, 84perda de alimento pós-colheita decorrente de.

Ver armazenamento de alimentos; perda de alimento pós-colheita

sistemas empurra-e-puxa para controle de, 84, 205

controle de peste bovina, 16diversidade. Ver biodiversidadeDlamini, Obed, 149Doerr, Stan, 176DrumNet, 167-68Dudi, Vincent, 60-61Duke Divinity School, 176-77Dunavant, 172, 173Dwivedi, Gaurav, 135-36doença da podridão da raiz (da mandioca), 78, 84dióxido de carbono. Ver emissões de gases de

efeito estufadiversidade de culturas. Ver biodiversidadedesperdício de alimentos. Ver perda de alimento

pós-colheita Declaração de Harare, 130dejeto humano, compostagem de, 135-36direitos de propriedade intelectual, 200, 202-03doença do mosaico da mandioca, 78, 84doença de Newcastle em aves, 184, 185disponibilidade de sementes, 33–36desperdício de alimentos. Ver perda de alimento

pós-colheitadeficiência de vitamina A, 32

EEcoAgriculture Partners, 23-24Equador, 209Edith (agricultor ruandês), 42-43educação e escolas. Ver também treinamento

P&D em agricultura, envolvimento das universidades em, 196

bicicletas para garotas que frequentam a escola, 140

programas de merenda escolar, 11, 209

plantar, cozinhar e comer hortaliças autóctones, 11, 39, 40–41, 90

educação teológica, inclusive desenvolvimento de agricultura sustentável, como parte de, 176-77

agricultura urbana, fortalecimento da comunidade por meio de, 126–127

mulheres agricultoras, serviços de extensão rural para, 141–43, 144

Educational Concerns for Hunger Organization, 175–77

Egito, 184Emergent Asset Management, 155espécies alimentares em perigo de extinção na

África, 86–88energia. Ver também energia solar

práticas agroecológicas e, 105produção de biocombustíveis, 193uso de combustível de biomassa na África

subsaariana, 92fertilizantes químicos, preços de energia

afetam custos de, 70esterco como fonte de biogás, 188-89

enset, 61Etiópia

potencial de desenvolvimento agrícola na, 158-59

sistemas agroflorestais na, 97-98, 102agricultores e grupos de agricultores na,

58, 60-61, 61, 62aquisição internacional de terras para

agricultura na, 155–56, 160, 161criação de gado na, 181–83biodiversidade de alimentos locais na,

82, 88–89métodos de conservação da água e do solo,

51–52inanição causada por escassez de água na,

45-46Europa/União Europeia, 11, 96-97, 113-114Erva-moura africana, 85Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,

34–35engenharia genética, 119, 151, 197, 202-03emissões de gases de efeito estufa, 199, 205

agroecologia e sistemas agroflorestais como forma de contrabalancear, 12, 25, 93, 104–08, 128

teor de carbono no solo, aumento de, 6, 27, 105, 192

ESTADO DO MUNDO 2011 Índice

257

17_newIndice:2011 10/10/11 8:57 PM Page 257

Page 287: EstadodoMundo2011 Portugues

contribuição da agricultura comercial para, 191produzidas pela pecuária, 105, 180–83,

185–87agricultura urbana na redução de, 128

Empreendimentos para o Desenvolvimento Internacional, 49–50

Estação de Pesquisa Kizimbani, Zanzibar, 79esterco

como fonte de biogás, 188-89escassez devido ao baixo número de cabeças

de gado, 68-69fertilidade do solo e uso de, 68, 72, 77

Estação de Pesquisa Rothamsted, Reino Unido, 205

escolas. Ver educação e escolasenergia solar

fogão movido a energia solar, 92tecnologia coolbot, 143preservação de alimentos por meio de

desidratação solar, 117, 119sistemas de microirrigação, movidos a

energia solar, 50, 51Estados Unidos. Ver também Agência

Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional

gastos em P&D em agricultura nos, 196produção agroecológica de alimentos

versus industrializada nos, 104, 106–08iniciativa Alimentar o Futuro, 5, 206ajuda alimentar dos, 11implicações globais da dieta norte-americana, 13indústria de milho híbrido nos, 34merendas escolares nos, 11agricultura urbana nos, 130Reforma de Wall Street e Lei de Proteção do

Consumidor, 208estratégias de desenvolvimento territorial, 25educação teológica, incluindo desenvolvimento

agrícola sustentável, como parte da, 176

F Faidherbia (árvore fertilizante), 109, 110, 171–72FarmAfrica, 85Fundo de Inovações Agrícolas, 63-64Feed Foundation, 13-14fertilizante. Ver também fertilizantes químicos;

uso de resíduo de esterco sólido para

compostagem, 127–28, 135-36modelo de dinâmicas de sistemas para a

comparação de produtos orgânicos e químicos, 192

árvores fixadoras de nitrogênio, 109–10, 171–172, 175

Fome Zero, Brasil, 209 fonio, 77, 83, 89Fórum de Pesquisa Agrícola na África, 61Fábrica de Carbono Agrícola da África, 12Fundo em Terras para Agricultura na África, 155Fundação Africana de Tecnologia Agrícola, 35Fundação para a Vida Silvestre na África, 25Federação de Trabalhadores Rurais de

Bangladesh, 199fonte de biogás, esterco como 188fertilizantes químicos

investimentos em pesquisa e desenvolvimento na agricultura, 9–10

enfoques agroecológicos, desestímulo, 194–95preços de energia afetam custos de, 69adubo verde/plantas de cobertura em

comparação com, 76uso excessivo de, 196diminuição da dependência de, 62uso de, pelos pequenos agricultores, 171subsídio a, problemas relativos a, 71–72modelo de dinâmicas de sistemas para a

comparação de produtos orgânicos e químicos, 192

fabricação de chocolate, uso de manteiga de karité na, 141

fortalecimento comunitário, agricultura urbana como meio de, 126–27

fio de cobre e prumo para determinar dimensões de lençol freático, 56

frutas secas, 119, 163feijão-fradinho, 6, 39, 74, 77, 162Fundo Mundial de Diversidade das Culturas

Agrícolas, 11fome e desnutrição, 3–14

agroecologia, 6–8em crianças, níveis de, 4, 204igrejas e organizações cristãs de

desenvolvimentos, novas abordagens de, 175–77

relatório da FAO sobre a fome (2010), 3, 4–5agricultores e grupos de agricultores, papel de, 12produção de alimentos, 9–11

ESTADO DO MUNDO 2011Índice

WWW.WORLDWATCH.ORG.BR258

17_newIndice:2011 10/10/11 8:57 PM Page 258

Page 288: EstadodoMundo2011 Portugues

natureza global do mercado de alimentos e, 11–14, 207

biodiversidade de alimentos locais e, 11, 84Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

para a, 4, 193economia política da, 198–201perda de alimento pós-colheita e, 9–12,

113, 120aspectos problemáticos dos programas iniciais, 7variedades de sementes, foco na, 7–10agricultura urbana como meio de combate à,

10–11, 124hortaliças, valor nutricional das, 32problemas de água e solo, 6, 7–9em mulheres, níveis de, 4, 137–39

Federação Nacional de Pescadores, Sri Lanka, 199Fundo para Um Acre, 42Filipinas, 23, 24, 119, 201Faculdade de Teologia Renk, Sudão, 176Fórum de Agricultores de Sivusimpilo, 60favelas urbanas. Ver áreas urbanasfertilidade do solo, 67–77. Ver também fertilizante

agroecologia e, 17, 27esterco animal, uso de, 70, 72, 77teor de carbono no solo aumenta a, 27, 105, 192mudança climática afeta a, 70primeiros sinais de crise na, 70–72práticas de pousio, 68–70, 72, 76adubo verde/plantas de cobertura, 73–77abordagem doméstica versus tecnológica para

melhoria da, 194–96fome e desnutrição, combate à, 6, 7–9novas terras, iniciativas para encontrar e usar,

68, 71, 72áreas rurais, abandono de, 71–72uso de dejeto sólido para compostagem,

127–28, 135ameaças à, 68–69

Fundo de Luz Elétrica Solar, 50, 51Fundo Monetário Internacional, 161Fundação Kyeema, Moçambique, 185frutos do mar. Ver pesca e frutos do marfebre do Vale do Rift, 184–85Fundação Mundial do Cacau, 142Fome Zero, Brasil, 209

GGâmbia, 3–4, 121Gates, Bill, 201Gates Foundation, 162, 167-68, 201, 202-03Gebremedhin, Mawcha, 61Gana

microirrigação em, 50Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

para fome em, 4áreas urbanas e população urbana pobre em,

11-12, 110irrigação com águas residuais em, 118–19mulheres agricultoras em, 123, 125, 128

Gilbert (agricultor ruandês), 38globalização do mercado de alimentos

mudança climática, responsabilidade pela, 53–54

titularidade de terras para agricultura detida por empresas e estrangeiros. Ver aquisição internacional de terras para agricultura

fome e desnutrição, combate à, 11–14, 207erupções vulcânicas na Islândia, transporte de

alimentos e flores interrompido por, 163alimentos locais/nativos/tradicionais na, 85–89movimentos de “locavore”/alimentos locais,

7, 25porcentagem de terras para agricultura e

introdução da produção de alimentos, 26importações de grãos como forma de

importação indireta de água, 53mulheres agricultoras na, 138–41, 149-50

Google Trader, 167questões de governança, 201–06GRAIN, 11-12, 156GrainPro, Inc., 162Banco Grameen, 119Grameen Foundation, 167-68Grande Muralha Verde, 96-97, 103–04GTZ, 146-47Gueye, Fatou, 92Guindo, Mamadou, 85Guiné, 117Guiné-Bissau, 80–82Gustafson, Ellen, 13-14gado. Ver criação de gadoGrupo de Criadores de Cabras Leiteiras deNyando, Quênia, 60, 63gorgulhos, 113, 119, 162Grupo Wilmar, 205

ESTADO DO MUNDO 2011 Índice

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Page 289: EstadodoMundo2011 Portugues

H Haileselassie, Daniel Tesfaye, 162Haiti, 135-36Hallam, David, 161Handema, Ray, 162, 163Heifer International Ruanda, 188-89HIV/AIDS, 16, 127, 183Honduras, 73Hyde, Rose, 140hortas comunitárias, 90

IIdeal Woman Shea Butter Producers and Pickers

Association, Ghana, 140Índia

agroecologia na, 22, 25produtos agrícolas modificados geneticamente

na, 202-03Revolução Verde na, 34processamento de dejetos humanos na, 135-36criação de gado na, 183microirrigação na, 50perda de alimento pós-colheita na, 115, 118demanda de água na, 44

Indonésia, 204inovações, 190–209

na avaliação de projetos de pesquisa e desenvolvimento em agricultura, 194–98

por parte de agricultores e grupos de agricultores, 58–61

disseminadas por agricultores e grupos de agricultores, 60–61, 62

em governança, 201–06em apoio institucional, 198–201na economia política da fome e de sistemas

alimentares, 198–201em melhoramento de arroz, 28–29, 151,

153–154para entender sistemas complexos, 191–93em agricultura urbana, 124, 125de mulheres/mulheres agricultoras, 58, 59, 61

insustentabilidade econômica de sistemas agrícolas com uso intensivo de insumos, 197–98

Instituto de Políticas Agrícolas e Comerciais, 154, 208

Instituto para o Desenvolvimento Sustentável, Etiópia, 62

Instituto de Tecnologia Pós-Colheita, Sri Lanka, 115

Intermedia, 145Instituto de Pesquisas Internacionais de Culturas

para Regiões Semiáridas Tropicais, 51International Finance Corporation, 172, 205Instituto Internacional de Pesquisa de Políticas

Alimentares, 32Fundo Internacional para o Desenvolvimento

Agrícolamudança climática, 99, 100-01, 102agricultores e grupos de agricultores, 61ligações entre agricultores e mercados, 167-68Princípios para Investimentos Responsáveis em

Agricultura, 208mulheres agricultora, 146-47

Instituto Internacional de Agricultura Tropical, 78, 119, 142, 202-03

International Land Coalition, 156International Landcare, 23-24Instituto Internacional de Pesquisa do Arroz,

34, 151, 153–54Instituto Internacional de Gestão da Água,

47, 132Internet. Ver tecnologia da informaçãoinvestimento agrícola em terras aráveisestrangeiras. Ver aquisição internacional

de terras para agriculturaquestões políticas, 208–09

irrigação. Ver conservação e gestão do abastecimento de água

Isack, Babel, 33Ishii-Eiteman, Marcia, 106Iniciativas para o Reflorestamento da África,

96-98, 100, 102-103investimento agrícola

terra arável estrangeira. Ver questões de política internacional envolvendo aquisição de terras para agricultura, 208-209

irrigação com uso de balde, 45–46igrejas e organizações cristãs de desenvolvimento,

175–76irrigação por gotejamento, 49–50, 61, 151insustentabilidade econômica de sistemas agrícolas

com uso intensivo de insumos, 197–98Igreja Episcopal do Sudão, 176-77incentivos financeiros para estimular práticas

sustentáveis, 199insegurança alimentar. Ver fome e subnutrição,

combate à Instituto de Pesquisa Florestal do Maláui, 110irrigação com água cinza (águas residuais), 123,

ESTADO DO MUNDO 2011Índice

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Page 290: EstadodoMundo2011 Portugues

127, 128–29, 132–34Instituto Queniano de Pesquisa Agrícola, 202-03insustentabilidade econômica de sistemas agrícolas

com uso intensivo de insumos na, 198adubo verde/plantas de cobertura, 73, 74Revolução Verde na, 15, 30-31, 33estratégias de desenvolvimento territorial, 25

Instituto Mazingira, Quênia, 163Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola, Níger,

62-64Instituto Nacional de Pesquisa Científica e

Relações Internacionais, 162–63investimento privado em terras aráveis

estrangeiras. Ver aquisição internacional de terras para agricultura

iniciativa Compra para o Progresso, 172Instituto Rodale, 105–106Iniciativa para Reflorestamento do Sahel, 97irrigação de pequena escala, 52iniciativas de reflorestamento. Ver sistemas

agroflorestaisInstituto do Meio Ambiente de Estocolmo, 50integração vertical, 170

JJane, Nassaazi, 41Japão, 82, 116Jischke, Martin C., 162Jomo Kenyatta University of Agriculture and

Technology, Nairóbi, 38Jordânia, 128–29

KKabaghe, Chance, 149-50Kanananji, 144–45Kanju, Edward, 79Kankolongo, Ambayeba Muimba, 116Kapiza, Dinnah, 144–45Karamuzi, Dennis, 188-89Karanja, Nancy, 11Kibugu, Eratus, 166KickStart, 47Kilaki, Phillip, 61Kindo, Ousséni, 98Kuria, David, 17, 18

L Landcare, 23-24LaSalle, Timothy, 105América Latina. Ver também países específicos ligações entre agricultores e mercados, 164–74

questões de agricultura ecológica, 171–72aumento da produção, lidar com o, 164–65,

170–71, 174práticas de agricultura comercial, 165bolsas de grãos, 172–74comercialização de grãos, 74-76fome e desnutrição, combate à, 11mecanismos de empréstimo para fomentar, 172perda de alimento pós-colheita, prevenção de,

163pequenos agricultores, 165–69cadeias de valor, 165, 166rede de fornecedores para as aldeias, 169–72

L’Occitane, 138, 140Reabilitação da Bacia Hidrográfica do Planalto

de Loess, China, 23-24Luhana, James, 172laticínios

cooperativas de centros de processamento de leite, 116–17, 163

produtos importados, diminuição da necessidade de, 117

kefir, 119pasteurização de, 163

Lei Florestal (EUA), 106–08ligações entre agricultores e mercados, 164–74

questões de agricultura ecológica, 171–72aumento da produção, lidar com o, 164–65,

170–71, 174práticas de agricultura comercial, 165bolsas de grãos, 172–74comercialização de grãos, 74-76fome e desnutrição, combate à, 11mecanismos de empréstimo para fomentar, 172perda de alimento pós-colheita, prevenção de,

163pequenos agricultores, 165–69cadeias de valor, 165, 166rede de fornecedores para as aldeias, 169–72

leite e produtos derivados de leite. Ver laticíniosliberalização do comércio, 65, 113, 141, 204,

207–08

ESTADO DO MUNDO 2011 Índice

261

17_newIndice:2011 10/10/11 8:57 PM Page 261

Page 291: EstadodoMundo2011 Portugues

M povo Massai, 91, 178-79, 181-82, 184–85Macharia, Michael, 123Madagascar, 28–29, 45-46, 119, 156, 158–161Maifa, Esther Mjoki, 163Mailaka (variedade de arroz), 29Milho

lidar com o aumento da produção de, 164–65, 170–71, 174

agricultura de conservação e, 28agricultura de conservação de, 171agricultura com cobertura verde permanente e,

19, 109–110forragem e gramíneas para conservação do solo

com plantação de 84–85modificação genética de, 151variedades com alto rendimento, 94indústria de milho híbrido, EUA, 34grãos nativos como substituto para, 38comércio internacional de, 65-66Fundo para Um Acre, ganhos de produtividade

após ajuda do, 42-43perdas pós-colheita, 115–16tecnologias de consórcio empurra-e-puxa de

culturas para controle de pragas, uso de, 205práticas de conservação do solo e da água

gerando ganhos em produtividade de, 9, 51–52, 53

Majoni, Mariko, 109Makerere University, Uganda, 129Makota, Cecilia, 149-150Makumbi, Winnie, 129Makunike, Chido, 158-159Maláui

agroecologia em, 19subsídios a fertilizantes químicos, 72mudança climática em, 93compostagem de dejetos humanos em,

135-136árvores fertilizantes em, 109–10serviços bancários por telefonia móvel em, 173bombas d’água Moneymaker em, 49técnicas de irrigação para pequenas

propriedades em, 52fertilidade do solo em, 67–69mulheres agricultoras em, 144–45, 148–50técnicas de aumento de produtividade, 6

Malisistemas agroflorestais no, 97–101

biodiversidade de alimentos locais no, 83–87técnicas de irrigação para pequenas

propriedades no, 52problemas de fertilidade do solo no, 9, 68, 71, 77bombas a pedal no, 49desnutrição. Ver pobreza e desnutrição,

combate àMalthus, Thomas Robert, 157Mamati, Francis, 42-43manga, 115, 119mercados e agricultores, ligações entre.

Ver ligações entre mercados e agricultoresMars Corporation, 25Mawoubé (agricultora), 138, 140metano. Ver emissões de gases de efeito estufaMéxico, 34Michigan State University, 65-66, 202-03microcrédito, 119, 143–45, 166Microloan Foundation, 144, 145Mid-American Consortium, 202-03Mike (comerciante de grãos), 65-66Mohamed, Salma Omar, 79Molden, David, 47Monsanto, 35, 196, 202-203“Mais Pessoas, Mais Árvores” (documentário), 102Moçambique, 19, 148–49, 160–61, 185Multilateral Investment Guarantee Agency, 205Munai, Simon, 42-43Munro, Rob, 164, 174Musila, Lydia, 42-43Mutola, Mary, 126, 127Mwape, Wilson, 169Mercados Comunitários para Conservação, 162mandioca

novas variedades de, resistentes a doenças, 78–79modificada geneticamente, 203glumas de painço como fertilizante para, 60doença do mosaico na, 88prevenção de perda de alimento pós-colheita, 119produtividade da, no Brasil, 34–35

mudança climática, 93–108abordagem agnóstica na elaboração de projeto,

12, 93, 94–95agroecologia e, 17–18, 26–27, 104–108sistemas agroflorestais e, 12, 93, 96–104teor de carbono nos solos, aumento do, 6impacto global da agricultura na, 12hortaliças autóctones e, 37, 38sistema industrial de produção de alimentos e,

93, 104–108

ESTADO DO MUNDO 2011Índice

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17_newIndice:2011 10/10/11 8:57 PM Page 262

Page 292: EstadodoMundo2011 Portugues

gado afetado por, 178–79criação de gado e, 178–79, 185–87fertilidade do solo afetada por, 70problemas de abastecimento e gestão de água,

53–54Mercado Comum da África Oriental e Austral,

65-66Modelo Geral para Ação, 206mercado de comércio justo de manteiga de

karité, 138–41Milho Resistente a Insetos para o Projeto África

do Instituto Queniano de Pesquisa Agrícola, 202-03

mecanismos de empréstimo para agricultoresincentivos financeiros para estimular práticas

sustentáveis, 199preservação de alimentos e prevenção de

perdas, 119inovação, reconhecimento e estímulo de, 59–61para fomentar ligações entre agricultores e

mercados, 172microcrédito, 119, 143–45, 166Fundo para Um Acre, 42-43programas de crédito social, 59mulheres agricultoras, 59, 143–45, 146–48

movimentos de “locavore”/alimentos locais, 7, 25mulheres/mulheres agricultoras, 137–47

Asociación Nacional de Mujeres Rurales y Indígenas, Chile,200

em comunidades plantadoras de cacau, 142programas iniciais de combate à fome

ignoraram a contribuição de, 7serviços de extensão rural para, 141–43, 144coleta de combustível por, 92globalização do mercado de alimentos e,

138–41, 149níveis de fome, 4, 137–39hortaliças autóctones, 37, 39tecnologia da informação, acesso à, 145–47criação de gado e, 181–83, 185mecanismos de empréstimo para, 59,

143–45, 146–48biodiversidade de alimentos locais e, 82–83, 90preocupação de mulheres agricultoras com

perda de alimento pós-colheita, 141–43coleta de noz de karité, 102noz de karité e manteiga de karité, 100, 138–41famílias com apenas um dos pais, 166fogão solar, uso de, 92

somè (condimentos Dogon), conhecimento sobre, 83, 86

inovação, reconhecimento e estímulo por parte de, 58, 59, 61

agricultura urbana, envolvimento em, 123, 126, 127, 131

projeto WARM, 148–49abastecimento e gestão de água, 51, 53, 55–56extirpação de ervas como um trabalho

feminino, 75mensuração de paisagem, 23-24Mishra, P. K., 115mercado para produtos orgânicos de beleza,

138–40Milho com Consumo Eficiente de Água para a

África, 35mel Wukro, Etiópia, 88–89

NNdebe, John, 79Ndiaye, Cisse, 92Ndoye, Seynabou, 82–83Nepal, 50Nestle, 25NetHope, 146New Forest Farm, Wisconsin, 104Nova Zelândia, 23, 105Newsom, Gavin, 130Nghatsane, Linda, 149Ngongi, Namanga, 32Nicarágua, 23Níger

sistemas agroflorestais no, 96–101, 103igrejas e organizações cristãs de

desenvolvimento, novas abordagens de, 175ação coletiva em desenvolvimento agrícola no, 15agricultores e grupos de agricultores no, 59–63árvores fertilizantes no, 110ligações entre agricultores e mercados no, 167fertilidade do solo no, 68, 73bombas a pedal no, 49vulnerabilidades hídricas no, 45

Nigéria, 32, 45, 96, 119Njenga, Mary, 11Notas Técnicas da ECHO, 176-77Nações Unidas

FAO. Ver Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

armazenamento de alimentos, projetos de, 120

ESTADO DO MUNDO 2011 Índice

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17_newIndice:2011 10/10/11 8:57 PM Page 263

Page 293: EstadodoMundo2011 Portugues

emissões de gases de efeito produzidas pela pecuária, 106

Avaliação Internacional do Conhecimento, Ciência e Tecnologia Agrícolas para o Desenvolvimento, 13, 18, 106, 199, 201

estatísticas sobre irrigação, 50Objetivos de Desenvolvimento do Milênio,

4, 138, 193direito à alimentação, 202, 207, 209

noz de karité e manteiga de karité, 100, 138–41

OOcokoru, Susan, 143Ouvidoria/Departamento de Ombudsman,

IFC, 205Okaka, Jane, 127Oluoch, Mel, 39ombudsmen, 205Omusi, Esther, 59Open Mind, 52Ouedraogo, Fatou, 140Ouko, Eddy, 57, 58Ouko, Joe, 60, 63Oxfam, 97, 135Organização das Nações Unidas para Agricultura

e Alimentação, 206relatório sobre fome (2010), 3, 4–5aquisição internacional de terras para

agricultura, 154, 158, 160, 161perda de alimento pós-colheita, 112, 113-14, 117Princípios para Investimentos Responsáveis em

Agricultura, 208guia para avaliação do direito à alimentação, 209terra arável africana não utilizada, 154, 157mulheres agricultoras, 130acesso das mulheres a microcrédito, 144

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, 4, 138-139, 193

Operações por Telefonia Móvel, 173Organização Nacional de Pesquisa Agrícola,

Uganda, 129organizações de desenvolvimento de base

religiosa, 175–77

PPaquistão, 34, 44, 115, 120pesquisa participativa, envolvimento de

agricultores em, 32–33, 34–35 Pasternak, Dov, 51

pasteurização, 163pastores/criadores de gado, 91, 179, 181, 184–85Payne, Susan, 155Peepoo, 135PELUM-Quênia, 12, 59, 60pesticidas. Ver doenças e pragasPimentel, David, 105Polak, Paul, 49políticas

definição de, para alimentos 199para P&D em agricultura, 194–98questões de governança, 201–06apoio institucional para o desenvolvimento

de, 198–201agricultura urbana, 129–30

perda de alimento pós-colheita, 111–20produtos derivados de leite, 116–17, 119, 163produção de alimentos como meio de

prevenção de, 119, 163fome e desnutrição, combate à, 8–10, 113, 120investimentos e assistência para prevenção de,

119–20mercados locais, desenvolvimento de, 163alternativas de baixo custo para conservantes

sintéticos, 117–19superabundância, cultura de, 111–12, 120como um problema em países em

desenvolvimento, 112–17técnicas de armazenamento.

Ver armazenamento de alimentospreocupação de mulheres agricultoras com,

141–43preservação de alimentos, 117–19. Ver também

perda de alimentos pós-colheitaPretty, Jules, 22Price, Martin, 176preços. Ver preços de alimentosPrincípios para Investimentos Responsáveis

em Agricultura, 208P&D privados em agricultura, 196processamento de alimentos. Ver produção de

alimentosprograma de Produção, Financiamento e

Tecnologia, AID, 11, 165, 166, 170–72, 174Projeto DISC, Uganda, 11, 40–41Projeto para a Promoção de Iniciativas Locais

para o Desenvolvimento em Aguié, IFAD, 99Prolinnova, 12, 59, 60Promovendo Inovação na Agricultura, 52programa de poupança adaché, 59

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Programa Básico de Desenvolvimento Agrícola da África, 148

Programa Comum para a Agricultura, Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental, 204–05

pesquisa em agriculturaprojetos de avaliação, 194–97participação de agricultores em. Ver

agricultores e de grupos de agricultores, variações modernas, uso de, 34variedades de sementes, foco em, 7–8

produção de biocombustível, 193povo Dogon, 77, 83–87plantas de cobertura/adubo verde, 73–77projeto Aprimoramento de Laticínios da África

Oriental, 163Programa de Incentivos à Qualidade Ambiental,

EUA, 107-08práticas de pousio, 68–70, 72, 76Programa de Bolsas de Estudo para Sustento

Familiar, ECHOES, 142pesca e frutos do mar

zona morta do Golfo do México, 13-14como estímulo à biodiversidade de alimentos

locais, 82–83pesca e frutos do mar (continuação)

pesca predatória, 82viveiros de ostras, preservação de, 3–4, 121-22porcentagem de proteína na dieta

proporcionada por, 4arrozais, 84yeet, 82–83

preços de alimentosprogramas de ajuda afetados por, 4aumento da produção, lidar com o, 164–165,

170–71, 174crises de 2008, 113, 207aquisição de terras estrangeiras como meio

de controle dos, 153hortaliças autóctones, 37aumentos generalizados nos, 4pequenos agricultores e, 167-68pressões ascendentes sobre, 5

produção de alimentosmudança climática e sistema industrial de

alimentos, 93, 104–108iniciativas para conservação, reforço de.

Ver agroecologiaRevolução Verde. Ver Revolução Verdefome e desnutrição, combate à, 9–11

hortaliças autóctones, 37ligações entre agricultores e mercados.

Ver ligações entre agricultores e mercadoscomo meio de prevenção de perdas

pós-colheita, 119, 163crise de fertilidade do solo e queda na, 70valor agregado a produtos agrícolas africanos,

11-12políticas alimentares, criação de, 199povo Fulani, 72, 77, 178-79Programa Global de Segurança Alimentar e

Agrícola, Banco Mundial, 124Programa para Pântanos, Fundação para a

Vida Silvestre na África, 25povos pastoris (criadores de gado), 91, 179,

181-82, 184–85produção de mel na Etiópia, 88–89povos nativos. Ver também grupos específicos,

por exemplo, povo MassaiAsociación Nacional de Mujeres Rurales y

Indígenas, Chile, 200criadores de gado, 91, 179, 181, 184–85estratégias de desenvolvimento territorial, 25

plantas e alimentos nativos. Ver biodiversidade de alimentos locais

para paisagens integradas, 25Painel Intergovernamental sobre Mudanças

Climáticas, 54paisagem ecológica, agroecologia como parte da,

19–22 produção de alimentos com base em monocultura,

26, 84, 205Programa de Desenvolvimento de Muyafwa,

Quênia, 58, 61Programa de Biogás Natural, Ruanda, 188Programa “Uma Vaca para cada Família Pobre”, 188Programa Rural de Expansão do Fornecimento

de Insumos Agrícolas, CNFA, 144Projeto de Reforço de Capacitação Rural,

Banco Mundial, 63programas de crédito social, 59pastores Somali, 184–85Programa de Biossegurança Regional na

África Meridional, 202Plataforma para Iniciativa em Agricultura

Sustentável, 22Programa de Culturas Arbóreas Sustentáveis,

Instituto Internacional de Agricultura Tropical, 142

Parque Nacional Tanbi, Gâmbia, 121

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plantações de chá, agroecologia em, 22pesquisa. Ver pesquisa em agriculturaProjeto 30, Feed Foundation, 13preparo do solo

minimização do, 171tratores, 172métodos de conservação da água e do solo,

51–52cultivo com plantio direto, 15, 76

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 55, 96, 106

Programa de Celeiros de Comunidades Campesinas, Madagascar, 119

Programa Mundial de Alimentos, 11, 12, 172–74, 208

produtos descartados, compostagem de, 127–28, 135

projeto Acesso de Mulheres a Mercados Realinhados, 148–50

QQuatar, 154questões culturais. Ver alimento e cultura agrícolagramínea Imperata, 73Quênia

agroecologia no, 17, 18, 19, 20–22sistemas agroflorestais no, 102plantação de mandioca no, 79mudança climática no, 93agricultores e grupos de agricultores no,

57–61, 63-64produção de alimentos no, 163hortaliças autóctones e mudanças climáticas no, 38tecnologia da informação, acesso das

agricultoras a, 145, 146-47aquisição internacional de terras para

agricultura no, 154, 156ligações entre agricultores e mercados no,

166–68criação de gado no, 91, 185, 187biodiversidade de alimentos locais no, 84–85, 90Fundo para um Acre, 42-43controle de pragas no, 205febre do Vale do Rift Valley no, 184fertilidade do solo no, 68-69agricultura urbana no, 10–11, 111, 115–27, 130áreas urbanas e população urbana pobre, 4, 124abastecimento e gestão da água no, 45-46, 53,

55, 56

gado, 178–87. Ver também estercobenefícios dos sistemas agroflorestais para o, 97como um ativo, 179, 181

gado (continuação)biodiversidade em, 19, 91mudança climática e, 178–79, 185–87restauração de áreas comuns de pasto e, 21cruzamento e raças mistas, 91mundo em desenvolvimento, mudança de

papel no, 179–182doenças e pragas, controle de, 183–85estratégias de alimentação, 181–83emissões de gases de efeito estufa, 105,

180–83, 185–87seguro para, 186iniciativas para paisagens integradas, 25emissões de metano, 105pernoite nas áreas de pasto, 77programa de recuperação em Ruanda, 188-89uso de dejeto sólido como ração para, 127agricultura urbana envolvendo, 123, 127,

129, 180subsídios norte-americanos para produção

industrial de, 106–08mulheres agricultoras e, 181–83, 185

R radiodifusão, 99, 133, 145Ray, Daryll, 207Relief International, 49Reseau MARP, 97–98, 102reservas de alimentos, 173, 208Rigel Technology, 135Rinaudo, Tony, 99Rockefeller Foundation, 202Rockström, Johan, 50Rotary Internacional do Canadá, 55redes de serviços bancários por telefonia móvel, 173Ruanda, 42, 55, 188República Democrática do Congo, 65, 167-68Rede de Sistemas de Alertas Antecipados

de Fome, 71regeneração natural de florestas gerenciada por

agricultor, 96–104Rede de Análise de Políticas para Alimentação,

Agricultura e Recursos Naturais, 148–50fontes de alimentos proporcionadas por

meio de, 11–12reservas de alimentos, 173, 208

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restauração de áreas de pastagem, 21Revolução Verde

aumento da produtividade das culturas e da segurança alimentar resultante da, 15, 30-31, 34, 44

desenvolvimento do “arroz milagroso” pela, 153–54

persistência da fome apesar da, 4–5variedades de trigo semianã e de arroz

desenvolvidas na, 29, 34abordagem de solução única, 45-46, 53papel das hortaliças na versão africana da,

30–32necessidade de água, 44–46

Rede de Modelo Florestal Ibero-Americano, 25Rede Interislâmica para o Desenvolvimento e

Gestão dos Recursos Hídricos, 128Rede de Agroecologia na África, 90Rede de Organizações de Produtores Agrícolas

da África Ocidental, 200Rede de Água Pluvial da África Austral e Oriental, 55Reino Unido, 105, 205Reforma de Wall Street e Lei de Proteção do

Consumidor (EUA), 208

S Sabuloni, Mary, 109Sachs, Jeffrey, 141Saara, movimento em direção ao sul do, 96Sahel, região do

agroecologia na, 175mudança climática, plantar árvores para fazer

frente à, 93, 96–104adubo verde/plantas de cobertura na, 76manteiga de karité e, 138crise de fertilidade do solo, sinais de

aparecimento de, 9, 72vulnerabilidades hídricas da, 45, 48

SahelECO, 98–100Saleh, Haji, 78San Francisco Urban-Rural Roundtable, 130Saudi Star Agricultural Development, 155Sawadogo, Yacouba, 102Schutter, Olivier de, 9, 202SearNet, 55Securidaca longepedunculata (repelente natural

de pragas), 117Senegal

sistemas agroflorestais no, 99biodiversidade de alimentos locais no, 82–83, 89

cooperativa de horta em telhado, Dakar, 6fogão solar no, 92bombas a pedal no, 49mulheres agricultoras no, 144

Serving in Mission, 175Shepard, Mark, 104, 105, 106Siddimallaiah (agricultor indiano), 22Serra Leoa, 137Singh, A. K., 183sistemas agrícolas de corte e queima, 70, 74Slow Food International, e seções locais, 11,

39, 40, 81–82, 88, 89, 90Smil, Vaclav, 113SOIL/SOL, 135Solar Household Energy Inc., 92uso de dejeto sólido para compostagem,

127–28, 135Solidarites, 126somè (condimentos Dogon), 83–87Semeando Sementes da Mudança no Sahel, 175–76Spieldoch, Alexandra, 154Sri Lanka, 115, 199Stanford University, 50, 51Striga (erva-daninha parasitária), 73, 85, 153, 205Sudão, 45, 176Syngenta, 196, 202serviços bancários, acesso a, 147, 173.

Ver também mecanismos de empréstimo para agricultores

Serviço de Conhecimento Comunitário, 23–25sistemas complexos, inovações para entender,

191–93sistemas de árvores/sombras dispersas, 75, 76serviços de extensão rural para mulheres

agricultoras, 141–143, 144segurança alimentar

Revolução Verde, resultante de, 15, 30, 34, 44agricultura urbana como meio de garantir,

125–126soberania alimentar, 204sistemas agroflorestais. Ver sistemas agroflorestaissociedades pastoris. Ver criadores de gadoseguro para gado, 186Serviços Nacionais de Assessoria Agrícola,

Uganda, 41, 143superabundância, cultura de, 111–12, 120sistemas empurra-e-puxa, 84, 205Serviços de Extensão Rural Rangpur Dinajpur

em, Bangladesh, 49Simpósio da Premiação do World Food Prize

(2009), 200

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Ttalco em pó, como pesticida, 162Tanzânia

agroecologia na, 19plantação de mandioca na, 79hortaliças autóctones na, 37aquisição internacional de terras para

agricultura na, 154criação de gado na, 185biodiversidade de alimentos locais na, 85agricultura urbana na, 124sementes e variedades de hortaliças na, 36

tarifas protecionistas, 204, 207–08Taylor, Michael, 156Tchala, Olowo–n’djo, 138, 140tecnologia adequada, 151TechnoServe, 166tef, 8, 51–52TerrAfrica, 25Tailândia, 80, 89teatro, projeto de mulheres agricultoras com

uso de, 148–149Tilago, Gemedo, 161Timor, 120Tisaiwale Trading, 144Tithonia diversifolia, 58Togo, 124, 138, 140Toucas, Matthieu, 85treinamento. Ver também educação e escolar

sistemas agroflorestais, 98–99, 175–76igrejas e organizações cristãs de

desenvolvimento, novas abordagens, 175–76prevenção de perda de alimentos, 117mulheres agricultoras, serviços de extensão

rural para, 141–43, 144teor de carbono nos solos, aumento do, 6, 27, 105tecnologia coolbot, 143técnicas nativas de conservação de água, 52tecnologia da informação

sistemas agroflorestais e iniciativas de reflorestamento, 100-01

Notas Técnicas da ECHO, 176-77propiciando ligações entre agricultores e

mercados, 167-68telefonia móvel, 145, 167-68, 169, 173acesso das agricultoras a, 145–47

técnica de preservação de alimentos, 117–119. Ver também perda de alimento pós-colheita

The Land Coalition, 12

tarifas protecionistas, 204, 207–08trigo, cultivo de, com plantio direto, 15telefone celular, 145, 167-68, 169, 173tanques coletores de água do telhado, 55–56

UUganda

plantação de mandioca em, 78, 79hortaliças autóctones em, 37ligações entre agricultores e mercados em,

166, 168biodiversidade de alimentos locais em, 89perda de alimento pós-colheita em, 117Projeto DISC, 11, 40–41fertilidade do solo em, 68, 73agricultura urbana em, 124, 129, 130mulheres agricultoras em, 141–43, 145

UNICEF, 135UNIFEM, 140Unilever Tea Company, 22Urban Harvest, 127Uvin, Peter, 103University of Essex, Reino Unido, 105University of Michigan, 105University of Tennessee, 207União Africana, 96Unidade de Coordenação do Setor Agrícola,

Quênia, 73uso de combustível de biomassa na África

subsaariana, 92União Nacional de Agricultores da Zâmbia, 167

V vacinas para gado, 184, 185valor agregado a produtos agrícolas africanos, 11verduras e legumes / hortaliças, 30–39

Revolução Verde na África, papel necessário na, 30–32

nativos/autóctone, 36–39, 85valor nutricional de, 32pesquisa participativa, envolvimento de

agricultores em, 32–33, 34–35perdas pós-colheita, prevenção de, 117–19disponibilidade de sementes, 33–36abastecimento e gestão de água, 55

Via Campesina, 11Vietnã, 113VU University, Amsterdã, 102

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vacinas DIVA para gado, 184variedades de semente com polinização aberta, 36viveiros de ostras, preservação de, 3–4, 121Voluntários do Meio Ambiente de Kijabe,

Quênia, 17Vale do Rift, 56, 161variedades de sementes, foco em, 7–8

WWaage, Jeff, 151Wabwire, Janet, 58Wairimu, Alice, 123Watson, Robert, 18Welsh, Joe, 82Wena, Dorcas, 60WIC – Programa Nutrição em Feiras de

Produtores para Mulheres e Crianças, 107Winrock International, 142World Neighbors, 58, 60World Vision Austrália, 99World Vision Senegal, 99World Wide Web Foundation, 100

Y yeet, 82–83

ZZâmbia

agroecologia na, 19árvores fertilizantes na, 110armazenamento de alimentos na, 162comércio de grãos, 65, 149aquisição de terras para agricultura na, 161ligações entre agricultores e mercados na, 11,

164–74. Ver também ligações entre agricultores e mercados

micro-irrigation na, 50serviços bancários por telefonia móvel na, 173perda de alimento pós-colheita na, 115–17fertilidade do solo na, 68bombas a pedal na, 49, 166

Zanzibar, 78–79Zara, Galdino, 85–87Zeigler, Robert, 153–54Zenawi, Meles, 155Zimbábue

agroecologia no, 19, 21comércio de grãos no, 149

serviços de acesso à Internet no, 146microirrigação no, 50técnicas de irrigação para pequenas

propriedades no, 52agricultura urbana no, 124

Zulu, Lytton, 171zona de savanas na Guiné, 154zona morte no Golfo do México, 13-14

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