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Escutando a praia cooperação
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Escutando a praia: cooperação entre Ecologia Acústica e Educação
Musical
Listening to the beach: cooperation between Acoustic Ecology and
Musical Education
Brena Neilyse Correia dos Santos
Ewelter de Siqueira Rocha
Abstract: Based on a methodology inspired at the art game ’The end of the market’
developed by Teca Brito in partnership with J. Koellreutter, this paper discusses the
elaboration and the results of a workshop on sound education with the students of the
Early Childhood and Basic School Helena de Aguiar Dias, located in a coast side area in
the State of Ceará. The school is located in a greatly pointed out by the natural sounds
of the sea area, and it was chosen to hold the workshop based on the belief that it would
help on the development of the activities that intercept the fields of musical education
and acoustic ecology, in Schafer’s definition as “the study of the sounds related to life
and society” (SCHAFER) The art game ‘Listening to the beach’, where the students
were instigated to think about their own sound universe, based on a thorough listening
of the environmental soundscape, later reproducing them on a scenic and musical way.
Therefore, we worked on an enlarged concept of music, whereupon sound is raw
material to be manipulated by anyone who wants to do it, reinforcing John Cage’s
thought, to whom ‘Music is sounds, sounds around us, either inside or outside concert
rooms’. Through the activity, the article discusses the contribution of the acoustic
ecology to the improvement of the sound perception, concentration and musical
learning itself.
Keywords: musical education, acoustic ecology, soundscape.
Música, Ecologia Acústica e Educação Musical.
A partir da segunda metade do século XX, novas maneiras de pensar, criar e
fazer arte surgiram e se consolidaram. As mais variadas formas de expressão artística
constituíram o que passou a se chamar Nova Arte, uma arte advinda de uma “nova
sensibilidade”, que, como afirma Ortega y Gasset,
não mais “representa” as coisas”. Pode-se partir de qualquer objeto,
não para reproduzi-lo, imitá-lo, e sim para “reconstruir” (até mesmo
“desconstruir”), para salientar, tocar novos ângulos (ORTEGA Y GASSET, 1999, p. 10 e 11).
Consequentemente, a música, a Nova Música, favoreceu o aparecimento de
novas técnicas e estéticas não somente no que se refere à composição ou interpretação,
mas também no que diz respeito ao próprio conceito de música. Uma música sem
limites, permitindo que qualquer som configure-se como matéria-prima em potencial.
Tal visão é fortalecida pela definição de John Cage, relatada por Schafer no seu livro O
Ouvido Pensante, segundo a qual “música é sons, sons à nossa volta, quer estejamos
dentro ou fora das salas de concerto” (SCHAFER, 1991, p. 120). Este conceito
corroborou as ideias de M. Schafer, que compreende o mundo como uma “composição
musical macrocósmica”, na qual o universo sonoro interpreta o papel de orquestra, e os
músicos são tudo o que soa (id., 1997, p. 20).
Schafer, a partir de seu World Soundscape Project (Projeto Paisagem Sonora
Mundial), constatou que cada lugar possui determinado grupo de sons que o caracteriza
e lhe concede uma espécie de identidade acústica. Esse grupo de sons compunha, então,
o que Schafer denominou de paisagem sonora (soundscape), em analogia à paisagem
(landscape) visual que constitui os ambientes.
Os estudos sobre paisagem sonora estão inseridos no campo científico da
Ecologia Acústica, que procura compreender as relações entre os sons, a vida e a
sociedade (id., p. 287), de maneira análoga à própria Ecologia, ciência que estuda a
relação entre os organismos vivos e seu ambiente (ODUM, 2004, p. 4), ambas
compartilhando o mesmo objetivo: a manutenção do equilíbrio entre as relações. Para
tanto, Schafer considera de extrema importância a restauração da habilidade de escuta
do ser humano. Uma escuta no seu sentido mais amplo, levando a uma total consciência
das sonoridades que compõem as paisagens. Deve haver, portanto, um “resgate de uma
cultura auditiva significativa”, visto que, para o autor, somente “uma completa
avaliação do ambiente acústico pode nos fornecer os recursos para melhorar a
orquestração da paisagem sonora” (SCHAFER, 1997, p. 288).
Murray Schafer vislumbra a educação como principal ferramenta a ser utilizada
no cumprimento de tal objetivo. Ele acredita ser necessário, primeiramente, “ensinar às
pessoas como ouvir mais cuidadosa e criticamente a paisagem sonora”, para que, em
seguida, possam replanejá-la (id., p. 12). Sua filosofia educacional preconiza o ensino
da música como fator de extrema relevância para a formação integral do ser humano, a
partir de um fazer musical criativo que valoriza a integração entre as artes. Portanto,
encontramos, ainda em Schafer, referências para um segundo aspecto que fundamenta o
conceito de música aqui descrito. Uma música compreendida como uma arte sem
fronteiras, que dialoga, e até mesmo se confunde, com as demais formas de expressão
artística e que contribui para a formação do ser humano. Esse pensamento aproxima-se
também da proposta pedagógica de Joachim Koellreutter, quando concebe uma
educação musical que incorpora todas as artes e que possibilita o desenvolvimento de
habilidades relacionas à expressividade, à sensibilidade, à concentração, à comunicação,
ao relacionamento interpessoal, à criticidade, ao senso estético, entre outras.
Além dos dois acima citados, muitos outros educadores tem se empenhado na
busca por metodologias que possibilitem o ensino da música de maneira interdisciplinar,
visando à valorização do ser humano e o equilíbrio entre suas relações. No Brasil, entre
os nomes de destaque na atualidade, estão Marisa Fonterrada e Teca Brito. Fonterrada,
tradutora dos livros de Schafer para a língua portuguesa, dedica-se a pesquisas em
Educação Musical e Ecologia Acústica. Brito coordena o centro de atividades musicais
Teca Oficina de Música, em São Paulo, é relatora do Documento de Música do
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e autora de livros que abordam
a temática da educação musical, dentre eles, Koellreutter Educador: o humano como
objetivo da educação musical (2001), que descreve a atividade na qual este trabalho foi
inspirado, o Arte-Jogo Fim de Feira.
O Arte-jogo Fim de Feira1
O Arte-Jogo Fim de Feira foi um projeto idealizado e desenvolvido em São
Paulo, no ano de 1999, pela educadora musical Teca Brito em parceria com o também
educador Koellreutter. Contou com a participação de amigos, professores, estagiários e
alunos do centro de atividades musicais Teca Oficina de Música.
A ideia surgiu quando Teca convidou Koellreutter para realizar um jogo de
improvisação a ser apresentado no Museu de Arte Moderna (MAM). O jogo teve a
‘feira’ como temática escolhida. Dialogando com as ideias de M. Schafer e J. Cage, o
objetivo, então, seria recuperar a escuta da paisagem sonora de uma feira, recriando-a
posteriormente. (BRITO, 2001, p. 60).
Além de trabalhar aspectos musicais como forma, timbre, textura, ritmo,
intensidade, etc., o jogo recorreu também às artes cênicas. E ao colocar-se no ponto de
interseção entre esses dois universos artísticos, mesclando linguagens diversas,
configurou-se, então, como um arte-jogo.
De acordo com de Teca Brito,
1 Todo o processo de criação, montagem e realização está descrito no livro Koellreutter Educador: o
humano como objetivo da educação musical (BRITO, 2001).
Fim de Feira propôs uma vivência cênico musical com base em
situações cotidianas: a feira – espaço que integra ordem e caos,
relacionamento e comunicação, riqueza de cores, formas, odores, sabores, texturas, movimentos e, obviamente, sons (id., p. 61).
O arte-jogo foi considerado, ainda, por Koellreutter como uma oportunidade de
trabalhar a música como meio para o desenvolvimento da
personalidade, da concentração, para o exercício do relacionamento e
da comunicação, para a superação do egocentrismo, entre outras questões (id., p.73).
Durante a preparação da apresentação do Fim de Feira, os participantes reuniam-
se em encontros quinzenais, onde discutiam e refletiam a cerca do projeto, trocavam
ideias e ensaiavam. Além disso, nos intervalos entre os encontros, pesquisavam e
buscavam vivenciar a realidade da feira, com o intuito de compor suas personagens da
melhor forma possível. Teca relata ter havido certa transformação quanto à escuta e
percepção dos participantes, e afirma:
Os pregões passaram a rondar a escuta de cada um, mostrando como um foco de interesse transforma a percepção, a escuta e,
consequentemente, a consciência com relação ao fenômeno observado
(id,. p. 73).
Oficina de Educação Sonora Escutando a Praia
As ideias apresentadas anteriormente constituem o substrato teórico que
embasou a Oficina de Educação Sonora Escutando a Praia, realizada na E. E. I. F.
Helena de Aguiar Dias, localizada na praia do Cumbuco, Caucaia-CE. Inserida em uma
paisagem sonora sobremaneira marcada por sons naturais do mar, vento, de coqueiros,
pássaros e outros, a referida escola favoreceu significativamente o desenvolvimento de
atividades que interceptam os campos da educação musical e da ecologia acústica,
através de uma abordagem lúdica, que vislumbrou um fazer musical diferenciado, no
qual o domínio dos sons passou a interagir com outras formas de expressão artística,
como artes cênicas, dança e artes plásticas. Através da realização de exercícios e jogos,
a oficina buscou aprimorar habilidades de escuta, percepção, concentração, criação e
expressão, além de promover um despertar para aspectos característicos da identidade
acústica local, sendo esta explorada cenicamente através da atividade final, que
denominamos Arte-Jogo Escutando a Praia. O curso totalizou uma carga horária de 20
horas, distribuídas entre cinco encontros diários, dos quais participaram alguns alunos
do ensino fundamental II.
No primeiro dia, uma roda de conversa sobre a definição de música norteou os
rumos a serem seguidos em relação à proposta de se trabalhar uma música que dialoga e
até mesmo se confunde com as demais formas de expressão artística, e que contem em
si infinitas possibilidades sonoras. O debate incluiu a apreciação de áudios previamente
selecionados2, como Primavera, de Vivaldi, Show das Poderosas, de Larissa Machado,
Ocean of Sounds, de John Cage, Largadinho, de Duller, Fabinho Alcântara e Samir,
Melodia Sentimental, de Heitor Villa Lobos e Dora Vasconcelos, Forró de Cabo a Rabo,
de Luiz Gonzaga e João Silva, 4’33”, de John Cage, Pacifc Fanfare, composta em
virtude do WSP e sons diversos (mar, vento, jangada, pássaros, pessoas falando, etc.),
com posterior discussão, procurando responder ao seguinte questionamento: Isso é
música? Pergunta respondida prontamente e em senso comum quando tratavam-se de
obras que atendiam às especificações comumente exigidas para que se configurassem
como música: melodia, ritmo, harmonia, presença de instrumentos e/ou voz, etc.
Entretanto, peças como Pacific Fanfare e 4’33” ou sons aleatórios causaram certa
hesitação diante da elaboração de uma resposta e grande surpresa com possibilidade
destas serem compreendidas como músicas.
Ainda no primeiro dia, foram realizados alguns exercícios de escuta extraídos do
livro Educação Sonora, de M. Schafer (2009), a partir dos quais, os alunos puderam
experimentar momentos de consciência voltada especificamente para a escuta, levando
à percepção sonora do ambiente e ao reconhecimento da identidade acústica do lugar.
Primeiramente, realizaram uma escuta da própria escola, listando os sons que puderam
ouvir a partir da sala de aula (figura 13). Em seguida um passeio auditivo
4 (figura 2),
numa rota entre escola e praia, proporcionou um encontro com uma maior variedade de
sons, que motivaram um segundo momento de reflexão a cerca da composição da
paisagem sonora do trecho percorrido.
No segundo dia, a temática do encontro esteve centrada na escuta e gravação5
(figura 3) dos sons percebidos durante as atividades anteriores. Os alunos foram, então,
convidados a realizar outro passeio auditivo e gravar sons a sua escolha, que
2 O repertório foi escolhido de maneira a contemplar uma maior diversidade de gêneros musicais,
presentes ou não no cotidiano de apreciação dos alunos, tornando o processo de construção do
conhecimento mais significativo. 3 As figuras enumeradas nesta e na próxima seção compõem o ensaio fotográfico Oficina e Arte-Jogo
Escutando a Praia, que antecede as considerações finais deste artigo. 4 “Passeio concentrado na audição” (SCHAFER, 1997, p. 297). 5 Para este fim, foi utilizado um equipamento de gravação de áudio TASCAM modelo DR-100MKII.
posteriormente seriam escutados e analisados. De acordo com Schafer,
A gravação pode ser um útil acessório ao ouvido. Tentar isolar um
som pela gravação em alta-fidelidade sempre traz ao ouvido a
lembrança de pormenores da paisagem sonora que antes não haviam
sido percebidos (SCHAFER, 1997, p. 292).
Aos dois dias seguintes, ficou reservada a atividade de criação e montagem do
produto final desta oficina, o Arte-Jogo Escutando a Praia, a partir do qual os sons
puderam ser exteriorizados, também, através da expressão corporal. Baseando-se em um
roteiro semi-estruturado, os alunos escolheram os sons que fariam parte da composição
da paisagem sonora a ser recriada. Tais sons seriam incorporados, indicariam ações e/ou
seriam emitidos durante a atuação, compondo, então, o que denominamos sons-
personagens. Estes, quando incorporados, determinaram a performance a eles
relacionada, pois os alunos buscaram, durante a atuação, assumir de fato a
“personalidade do som”, assim como os atores o fazem quando interpretam suas
personagens. Como exemplos, temos o mar e o vento, sons-personagens criados não
somente a partir do imaginário coletivo, mas, principalmente, em função da escuta
durante a atuação. Já como indicadores de ação, os sons tiveram a função de pontuar o
início e a duração da performance. Dentre todos os sons-personagens, apenas o som do
sol não indicou uma ação, sendo emitido durante a encenação, a partir da fala.
Os sons-personagens foram estes: o Mar, interpretado por duas alunas, que
incorporando o som, realizaram um balé, como “meninas ondas”; o Ser da areia,
personagem híbrido, representando elementos presentes na areia da praia, como pedras,
animais, algas, búzios, sonoridades das jangadas “estacionadas” e a própria areia,
interpretado por um aluno, que tinha sua atuação indicada (início e duração) pelos sons
escutados durante a apresentação; o Vento, papel semelhante ao do mar; a Massa
Sonora, outro personagem híbrido, representando a alegria, o colorido e a descontração
da praia, a presença das pessoas, os passeios de buggy e as músicas tocadas nas
barracas, foi interpretado por um aluno, que sambou ao som de instrumentos
percussivos tocados pelo Ser da areia; e o Sol, emitindo, através da fala, um som
simbolicamente entendido como um alerta à importância da escuta.
As atuações foram improvisadas de acordo com a perspectiva de Koellreutter,
como relata Brito, segundo a qual “não há nada que precise ser mais planejado do que
uma improvisação” (BRITO, 2001, p. 61). Então, a partir do conceito de música
definido no primeiro dia e utilizando elementos, colhidos durante as atividades de
escuta, que proporcionaram uma recuperação da escuta da praia, foi criada a “música da
praia”, composta de sons gravados e emitidos em tempo real, cores e movimentos.
Finalmente, no quinto e último dia, foi realizada a apresentação do Arte-Jogo
Escutando a Praia.
Arte-Jogo Escutando a Praia
Inspirado no Arte-Jogo Fim de Feira, desenvolvido por Teca Brito e Koellreutter,
o Arte-Jogo Escutando a Praia consistiu numa representação cênica e musical da
paisagem sonora de um dia na praia. Uma paisagem que mesclou elementos reais e
simbólicos6, promovendo certa provocação no imaginário do expectador, levando-o a
um reencontro com aspectos presentes no seu cotidiano, visto que o público era
formado por professores e alunos da escola.
O Arte-Jogo Escutando a Praia foi apresentado no ginásio da E. E. I. F. Helena
de Aguiar Dias, durante o encerramento da Oficina de Educação Sonora Escutando a
Praia. O chão, coberto por tecidos azul e bege, representando mar e areia, serviu de
palco. Sobre o tecido bege, foram depositados objetos que seriam úteis durante a
performance: pedras, miniatura de jangada, marionetes de pássaros-origami, cata-vento,
chocalhos e apito. Os alunos trajaram como figurino, tecidos finos e leves sobre suas
roupas. Cada tecido possuía uma cor relacionada à personagem. A maquiagem,
encerrando a composição visual das personagens, constituiu-se de pinturas no rosto,
elaboradas pelos alunos, utilizando pastas coloridas próprias para esse fim.
Descritos os pormenores relativos à montagem do espetáculo, passamos a
descrever a brincadeira:
O som do mar começa a soar e permanece presente durante toda a peça, como
uma nota pedal. As “meninas ondas” realizam uma dança com movimentos suaves e
fluidos. O dia está amanhecendo. O sol surge ao leste e traz consigo um alerta aos
ouvintes: – Escuta! – ele sussurra. O ser da areia assiste a tudo (figura 4). Cantos de
pássaros podem ser ouvidos, e o ser da areia passa a brincar com marionetes de
pássaros-origami. Ele também simula a navegação de uma pequena jangada quando os
sons emitidos pelas embarcações “estacionadas” na areia indicam que é hora de sair
para o mar (figura 5). O vento, com sua eólica energia, move jangadas e cata-ventos;
6 Segundo Schafer, um evento sonoro é simbólico quando desperta no ouvinte emoções ou pensamentos,
“quando ressoa nos mais profundos recessos da psique” (SCHAFER, 1997).
dissipa-se e dissolve-se em som e movimento (figura 6). As horas vão passando e outros
sons surgem e se sobrepõem aos já presentes nesta paisagem. O sol dirige-se a sua
posição de meio dia, e, mais uma vez, emite o alerta: – Escuta! – ele clama. A massa
sonora, então, se apresenta como um clímax de sol a pino: forró tocando, pessoas
falando, gritos de crianças, motores de buggy, cachorros latindo... Um menino, em
cores, sons e alegria samba ao som percussivo tocado pelo ser da areia (figura 7). O
dia passa, e o entardecer traz consigo o decrescendo dos sons e do próprio dia. Os sons
que restam denunciam as jangadas voltando do mar e os pássaros disputando lugar nas
copas das árvores. O que é traduzido, novamente em gestos, pelo ser da areia,
enquanto, ao oeste, o sol se põe (figura 8), após emitir seu último alerta: – Escuta! – ele
balbucia. Então, falas e gestos cessam, podendo-se apenas escutar o som do mar.
Ensaio Fotográfico: Oficina e Arte-Jogo Escutando a Praia
Figura 1 – Exercícios de escuta em sala de aula.
Figura 2 – Passeio auditivo.
Figura 3 – Aluna gravando os sons da jangada e aluno gravando o som do mar.
Figura 4 – Duas alunas, como “meninas ondas”, integrando o som-personagem mar. À direita, um aluno
realiza a performance do nascer do sol. À esquerda, o ser da areia deitado ao chão, assiste a tudo.
Figura 5 – Personagem Ser da areia brinca com pássaros-origami, à esquerda, e simula uma jangada a
navegar, à direita.
Figura 6 – Aluno representando o vento.
Figura 7 – Alunos realiza a performance que integra o som-personagem Massa Sonora. Ele samba ao som
percussivo tocado pelo ser da areia. Ao fundo, o sol encontra-se em posição centralizada, indicando o
meio-dia.
Figura 8 – À direita, o ser da areia, novamente, manipula os pássaros-origami. Ao centro, as “meninas
ondas” realizam o balé do mar. À esquerda e ao fundo, o sol se põe.
Considerações Finais
A Ecologia Acústica, aqui trabalhada em sua definição mais geral, a que trata do
relacionamento entre sons, vida e sociedade, foi inserida de forma significativa no
ambiente escolar. As experiências de escuta proporcionaram aos estudantes momentos
de reflexão a cerca do seu relacionamento com os sons presentes no cotidiano,
indicando caminhos para o encontro com uma identidade acústica própria do lugar. Em
depoimentos, os alunos relataram ter havido mudanças em sua percepção sonora,
corroborando o pensamento de Teca Brito, quando comenta ter havido transformações
quanto à escuta e percepção dos participantes do arte-jogo Fim de Feira (BRITO, 2001,
p. 73). Em nosso caso, uma aluna comentou: “Eu comecei a ouvir a praia de forma
diferente. Hoje, eu escuto sons que nunca percebi que estavam lá”. A maneira de
perceber e compreender música também foi alterada, em função do conceito de música
trabalhado ser diferenciado do conceito com o qual os alunos estavam acostumados a
lidar. Noutro depoimento, um aluno afirmou que “Essa aula é legal! Estamos
conhecendo uma música diferente”. Portanto, esta parceria entre Ecologia Acústica e
Educação Musical contribuiu de forma significativa para o aprimoramento das
habilidades de percepção, escuta, concentração e criatividade dos alunos, a partir de
uma experiência musical diferenciada.
Referências
BRITO, Teca Alencar de. Koellreutter Educador: o humano como objetivo da educação
musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.
ODUM, Eugene P. Fundamentos da Ecologia. Tradução de Antônio Manuel de
Azevedo Gomes. 7a ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
ORTEGA Y GASSET, José. A desumanização da arte. Tradução de Ricardo Araújo. 2a
ed. São Paulo: Cortez, 1999.
SHAFER, R. Murray. A Afinação do Mundo, uma exploração pioneira pela história
passada e pelo atual estado do mais negligenciado aspecto do nosso ambiente: a
paisagem sonora. Tradução de Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Editora Unesp,
1997.
SCHAFER, R. Murray. Educação Sonora: 100 exercícios de escuta e criação de sons.
Tradução de Marisa Trench Fonterrada. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2009.
SCHAFER, R. Murray. O Ouvido Pensante. Tradução de Marisa Trench Fonterrada,
Magda R. Gomes da Silva, Maria Lúcia Pascoal. São Paulo: Editora Unesp, 1991.