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sid.inpe.br/mtc-m19/2013/03.28.11.24-NTC
DESASTRES NATURAIS E GEOTECNOLOGIAS:
INUNDACAO – CADERNO DIDATICO No. 7
Tania Maria Sausen
Igor da Silva Narvaes
URL do documento original:
<http://urlib.net/8JMKD3MGP7W/3DQGE82>
INPE
Sao Jose dos Campos
2013
PUBLICADO POR:
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
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sid.inpe.br/mtc-m19/2013/03.28.11.24-NTC
DESASTRES NATURAIS E GEOTECNOLOGIAS:
INUNDACAO – CADERNO DIDATICO No. 7
Tania Maria Sausen
Igor da Silva Narvaes
URL do documento original:
<http://urlib.net/8JMKD3MGP7W/3DQGE82>
INPE
Sao Jose dos Campos
2013
CADERNO DIDÁTICO Nº. 7
Santa Maria, RS, Brasil Março 2013
DESASTRES NATURAIS e GEOTECNOLOGIAS
Inundação
2
DESASTRES NATURAIS E GEOTECNOLOGIAS:
Inundação
Tania Maria Sausen
Igor da Silva Narvaes
INPE/CRS Santa Maria
2013
3
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.................................................................... 05
2. O QUE É INUNDAÇÃO?........................................................ 06
3. INUNDAÇÕES NO BRASIL E NO MUNDO................................ 08
4. SENSORIAMENTO REMOTO PARA INUNDAÇÃO......................................................................
11
5. RESOLUÇÃO ESPACIAL E TEMPORAL..................................... 13
6. APLICAÇÕES DE SENSORIAMENTO REMOTO PARA INUNDAÇÃO......................................................................
20
7. MONITORAMENTO DE INUNDAÇÃO UTILIZANDO IMAGENS DE RADAR.......................................................................
24
8. AVALIAÇÃO DE DANOS DE INUNDAÇÃO UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS......................................................................
32
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................... 36
Capa: Imagem LANDSAT5/TM de 12 de agosto de 2010 próximo a cidade de Kashmor, Paquistão http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=45343, Acessado em 13/03/2013
4
PREFÁCIO
A Região Sul do Brasil e os países do MERCOSUL, bem como a América do Sul têm sido severamente impactados por desastres naturais, principalmente a partir da década de 70, que resultou em grandes prejuízos sócio-econômicos, assim como num elevado número de vítimas fatais. A maioria dos desastres está associada às instabilidades severas que causam entre outros, inundações, escorregamentos, vendavais, tornados e aos períodos de déficit hídrico, caracterizados pelas estiagens. Além dos fatores sócio-econômicos, acredita-se que este aumento no registro do número de desastres naturais, também pode estar diretamente vinculado às alterações do clima por decorrência das mudanças globais. As geotecnologias, representadas principalmente pelas imagens de satélite, softwares de geoprocessamento e dados de GPS, estão disponíveis a todos os usuários e progridem rapidamente. Atualmente já é possível à obtenção de imagens de satélite de várias resoluções espaciais, espectrais e temporais, e de softwares para geoprocessamento, que, em alguns casos, podem ser encontrados gratuitamente na internet. A popularização também do uso do GPS, utilizado principalmente nos trabalhos de campos em eventos de desastres, juntamente com as imagens e os softwares constitui-se no importante triângulo de ferramentas das geotecnologias, que auxiliam de forma decisiva na identificação, monitoramento e mapeamento de desastres naturais e eventos extremos, em todas as partes do mundo. Os fatores mencionados acima, o aumento do número de desastres e a facilidade de acesso e uso das geotecnologias, é o que move as atividades do Núcleo de Pesquisa e Aplicação de Geotecnologias em Desastres Naturais e Eventos Extremos (GEODESASTRES-SUL), do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais (CRS), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), localizado em Santa Maria, no estado do Rio Grande do Sul. A maioria dos órgãos e instituições envolvidos com desastres naturais tem observado que o dano causado por estes fenômenos poderia ser prevenido, reduzido ou minimizado, se a população em geral, os tomadores de decisão, os formadores de políticas e os formadores de opinião tivesse a correta noção do que são estes eventos. Até mesmo em termos conceituais, a população e os tomadores de decisão confundem furacão com tornado, alagamento com enchente, etc. Esta falta de informação e a falta da correta definição de cada um dos fenômenos em muitos casos atrapalha a ação das autoridades, dos órgãos de defesa civil e levam a população a subdimensionar seus efeitos. Muitos tomadores de decisão, planejadores e administradores também desconhecem a potencialidade das geotecnologias para a gestão, prevenção e mitigação de desastres naturais e eventos extremos. Neste contexto o GEODESASTRES-SUL, numa iniciativa pioneira, criou o Projeto Cadernos Didáticos - Desastres Naturais e Geotecnologias. Este projeto tem como objetivo elaborar material didático sobre desastres naturais e geotecnologias visando informar e capacitar os tomadores de decisão e o público em geral sobre as causas, consequências e medidas preventivas que devem ser adotadas em relação aos principais tipos de desastres que ocorrem nesta região da América do Sul.
Tania Maria Sausen Coordenadora GEODESATRES-SUL
5
Introdução
Os rios e os corpos de água sempre foram, e são até hoje, um dos mais
importantes recursos para a sobrevivência da humanidade. Eles são fontes de
abastecimento, irrigação e mesmo de fertilização dos solos, como ocorre
durante as cheias ao longo do rio Nilo, no Egito.
São também usados em várias regiões do mundo, como vias naturais de
circulação, ao longo das quais as embarcações se deslocam transportando
mercadorias, pessoas e animais. Os rios sempre foram importantes vias de
transporte, interligando as comunidades ribeirinhas, localizadas as margens
dos corpos de água, nas várzeas e planícies fluviais, terrenos sujeitos às
inundações.
Na Amazônia, principalmente, o transporte tanto de cargas como de
passageiros é realizado pelos caudalosos rios da região, que funcionam como
grandes vias de comunicação (Figura 1).
Figura 1-Barco para transporte fluvial na região Amazônica
Historicamente, a humanidade se estabeleceu nas proximidades dos
corpos hídricos, principalmente em virtude da necessidade do uso da água,
tanto para o consumo direto quanto para atividades como a agricultura, a
6
pecuária, a indústria e como meio de comunicação (Figura 2).
Figura 2-Cidade de Paris, a beira do rio Sena, França.
Isto fez com que muitas cidades tivessem sua origem ou estão
totalmente localizadas na planície fluvial, áreas sujeitas as inundações
periódicas, algumas delas devastadoras.
O que é Inundação?
De acordo com o glossário da Secretaria Nacional de Defesa Civil-
SEDEC (Castro, 2005), inundação é o “transbordamento de água da calha
normal de rios, mares, lagos e açudes, ou acumulação de água por
drenagem deficiente, em áreas não habitualmente submersas”.
Para Kobiyama et al (2006), a inundação, que é popularmente tratada
como enchente, é “o aumento do nível dos rios além da sua vazão normal,
ocorrendo o transbordamento de suas águas sobre as áreas próximas a
ele”. Quando não ocorre o transbordamento, apesar de o rio ficar praticamente
cheio, tem-se uma enchente e não uma inundação (Figura 3).
7
Figura 3-Representação gráfica de um rio em sua vazão normal, em situação de enchente e de inundação. Fonte: www.revistaemergencia.com.br
Assim, por este motivo, no mundo científico os termos inundação e
enchente devem ser usados de forma diferenciada (Figura 4).
Figura 4-Inundação na cidade do Rosário do Sul, RS Fonte: Diário de Santa Maria, março de 2011
8
Inundações no Brasil e no mundo
Entre todos os tipos de desastres naturais no mundo, as inundações
provavelmente são os mais devastadores, que abrangem maior área e os
que ocorrem com maior frequência. É um evento natural e recorrente para um
rio. Estatisticamente, os rios igualam ou excedem a inundação média anual a
cada 2,33 anos (Figura 5).
Figura 5-Imagem 3D (LANDSAT5/TM + SRTM) de inundação no rio Jacuí, RS, em 28/08/1998
Os eventos de inundação são responsáveis por quase 55% de todos os
desastres registrados e aproximadamente 72.5% do total de perdas
econômicas ao redor do mundo.
Anualmente causam danos às cidades, rodovias e agricultura com
altíssimos custos em vidas e para a economia como um todo. A Tabela 1
apresenta a relação das dez mais importantes inundações ocorridas no período
de 1900 a 2012, de acordo com o Emergency Events Database EM-DAT
(http://www.emdat.be/), o maior banco de dados sobre desastres no mundo.
Por esta tabela é possível constatar que a região do mundo que mais
sofre com inundações é a Ásia, ao redor de 75% dos eventos de inundação
ocorrem neste continente. Na Europa, é o tipo mais frequente de desastre
natural e responsável por 75% das indenizações, causadas por desastres
naturais, pagas por companhias de seguro.
9
Tabela 1-Dez maiores inundações ocorridas no período de 1900 a 2012 e número de pessoas mortas por país
País Data N° pessoas mortas
China-inundação gradual Jul-1931 3.700.000
China-inundação gradual Jul-1959 2.000.000
China-inundação gradual Jul-1939 500.000
China-inundação gradual 1935 142.000
China-inundação gradual 1911 100.000
China-inundação gradual Jul-1949 57.000
Guatemala-inundação gradual Out-1949 40.000
China-inundação gradual Aug-1954 30.000
Venezuela-inundação brusca 15-Dez-1999 30.000
Bangladesh-inundação gradual Jul-1974 28.700
Fonte: "EM-DAT: The OFDA/CRED International Disaster Database www.em-dat.net - Université Catholique de Louvain - Brussels - Belgium", 9 de Maio 2012
Em 2011 os desastres naturais no mundo geraram quase 30 mil mortos,
o Brasil entra na conta com 900 óbitos causados por inundações e
deslizamentos, Figura 6.
Pelo mapa da Figura 6 pode-se observar que num período de 29 anos
os paises que mais sofreram com eventos de inundação foram o Brasil,
Estados Unidos, Índia, China, Bangladesh e Indonésia. Todos tiveram mais de
60 episódios de inundação.
10
Figura 6-Mapa mundial com a distribuição de ocorrências de inundação por país no período de 1974 a 2003. Fonte: EM-DAT, 2013.
As dezessetes mais importantes inundações no Brasil que ocorreram
num periodo de cem anos estão listadas a seguir:
• Rio de Janeiro (região serrana) - Janeiro de 2011
• São Paulo - Janeiro de 2011
• Alagoas e Pernambuco - 2010
• Rio de Janeiro - Abril de 2010
• São Luiz do Paraitinga - 2010
• Santa Catarina - Novembro de 2008
• Barragem de Camará, Paraíba - 2004
• Minas Gerais - 2001
• Acre - 1997
• Rio de Janeiro - 1988
• Blumenau - 1983
• Minas Gerais e Espírito Santo - 1979
• Cuiabá - 1974
• Santa Catarina - 1974
11
• Rio de Janeiro - 1966 e 1967
• Porto Alegre - 1941
• Blumenau – 1911
Sensoriamento remoto para inundação
O monitoramento de inundações utilizando dados de sensoriamento
remoto possibilita que rapidamente e de forma precisa se tenha uma visão
geral das áreas inundadas. A extensão da inundação e das áreas afetadas
pode ser informada as autoridades e tomadores de decisão, as agências de
proteção civil e de seguro. Avaliações do evento incluem informações para
facilitar a avaliação de danos, estimarem melhor os riscos futuros e preparar
mais adequadamente as medidas de proteção.
O uso de geotecnologias para o estudo e monitoramento de inundações
possibilita que:
• Sejam identificadas e mapeadas as planícies de inundação e outras
áreas sujeitas a inundação;
• O monitoramento da inundação;
• Mapeamento, caracterização e cálculo da área inundada;
• Avaliação do impacto causado por este tipo de desastres;
• Planejamento integrado para a prevenção e redução dos impactos
causados por inundações;
• Avaliação dos danos ambientais provocados por inundações;
• Mapa da frequência de inundação;
• Mapa da altura da inundação
A Observação da Terra pode contribuir para melhorar a gestão de
inundação. Informações desta natureza são fontes valiosas de geoinformação
atualizada para o mapeamento de risco de inundação (fase da prevenção),
para a previsão de inundação (fase da preparação) e para as fases de crise e
pós-crise utilizando mapas de extensão da inundação e avaliação de danos
(Appel and Fraipont, 2005)
12
Para a caracterização e monitoramento de eventos de inundação podem
ser utilizados sistemas sensores que operam na faixa óptica do espectro
eletromagnético bem como na porção das microondas. Sensores como o TM a
bordo do satélite LANDSAT e os que estão a bordo do satélite CBERS, do
Obview, GEOEYE, SPOT, operam na porção óptica do espectro que vai do
ultravioleta ao infravermelho, conforme mostrado na Figura 7.
Figura 7-Espectro eletromagnético Fonte: http://www.google.com.br/imgres
Imagens obtidas na porção do infravermelho são excelentes para
mapeamento de corpos de água, e consequentemente de inundações, em
função do comportamento espectral da água nesta faixa do espectro (Figura 8).
Figura 8-Relação entre as bandas espectrais dos sensores remotos a bordo de satélites e a refletância de objetos (alvos) na superfície terrestre, onde se pode observar a baixa refletância da água na região do infravermelho.
13
Na porção do espectro acima 0,7 µm a água, em seu estado líquido,
absorve toda radiação eletromagnética que chega até ela, o que faz com que
apareça nas imagens em tonalidade escura, contrastando com os alvos ao seu
redor. Este contraste facilita o mapeamento das áreas inundadas ( Figura 9).
Figura 9-Imagem LANDSAT 5/TM, no infravermelho, do reservatório de Itaipu e rios Paraná e Iguaçu, na fronteira ente o Brasil, Argentina e Paraguai, onde os corpos de água aparecem em tonalidade preta, contrastando com os alvos ao redor.
Resolução Espacial e Temporal
Ao eleger-se um dado de sensoriamento remoto para estudos e
monitoramento de eventos de inundação é necessário que se considere as
características da plataforma/sensor, tais como as resoluções espacial,
temporal e espectral, a acessibilidade e os custos dos dados.
Resolução Espacial se refere ao menor elemento ou superfície que
pode ser distinguida por um sistema sensor. Determina o nível de detalhe das
informações adquiridas pelo sensor. Nos satélites de Observação da Terra há
uma grande variedade de sensores com distintas resoluções, tais como as
14
imagens do sensor ETM do LANDSAT com 30m nas bandas do visível e 15m
no modo pancromático e o sensor HRVIR do SPOT-5 com bandas com 10m e
20m de resolução. O sensor MODIS a bordo dos satélites Terra e Aqua,
apresenta uma resolução de 250m, os que estão a bordo do satélite GEOEYE,
tem resolução de 0,41m no modo pancromático e de 1,65m no modo
multiespectral.
Estas diversas resoluções espaciais fazem com que os eventos de
inundação sejam analisados de diferentes modos, pois em uma imagem de um
sensor com resolução espacial de 250m como o MODIS, é possível
caracterizar e analisar inundações que abarcam grandes regiões, como a que
ocorreu no Rio Grande do Sul no período de setembro de 2009 a janeiro de
2010, onde morreram cinco pessoas e a ponte sobre o rio Jacuí não resistiu a
força das águas e caiu (Figura 10).
Figura 10-Imagem do sensor MODIS a bordo do satélite Terra de 29/11/2009, abarcando todo o estado do Rio Grande do Sul, onde se observam as inundações que atingiram as bacias do rio Jacuí, Ibicuí e Urugai. O rio Negro no Uruguai também foi atingido por inundações nesta ocasião.
RRiioo JJaaccuuíí
RRiioo IIbbiiccuuíí
RRiioo UUrruugguuaaii
RRiioo NNeeggrroo
15
Como mostrado no Figura 10 este tipo de imagem é excelente para se
ter uma visão geral de toda a área afetada, principalmente se a inundação
atingir grandes extensões, mas não possibilita a análise de detalhes.
De forma oposta têm-se as imagens com resolução espacial maior como
as do GEOEYE ou WORLDVIEW-2 (0,5 metros), que abarcam uma área
menor, porém permitem que se analise em detalhes, como neste evento de
inundação em Bangkok, na Tailândia, onde é possível distinguir-se as ruas,
avenidas e a área residencial que foram afetadas pela inundação. Na porção
central da imagem pode-se observar o engarrafamento produzido no viaduto
pela inundação (Figura 11).
Figura 11-Imagem Worldview-2 de 24/10/2011 da cidade de Bangkok, Tailândia afetada por inundação, onde está salientado o engarrafamento no viaduto (setas vermelhas) produzido pela inundação. Fonte:http://www.satimagingcorp.com/galleryimages/worldview-2-thailand-bangkok.jpg
16
A Resolução Temporal se refere a frequencia de cobertura que
proporciona o sistema sensor, é a periodicidade com que o sensor adquire
imagens da mesma porção da superfície terrestre. É o tempo decorrido pela
plataforma, a qual transporta o sensor, para que ocorra o imageamento da
mesma área de interesse (mesma órbita/ponto).
Este tipo de resolução permite que uma mesma área seja imageada
várias vezes ao longo do ano. Tratando-se de eventos de inundação, esta
resolução dá a possibilidade de obterem-se imagens de antes, durante e
depois do evento (Figura 12).
21 de agosto de 2002
26 de agosto de 2002
Figura 12-Imagens IKONOS (1 metro) dos rios Elbe e Mulde ao norte de Dessau, Alemanha. A imagem a esquerda é de antes da inundação e a direita é do período de inundação.
As inundações graduais, quando as águas elevam-se de forma
paulatina e previsível são cíclicas e nitidamente sazonais. Estão mais
relacionadas a períodos prolongados de chuvas contínuas do que as chuvas
intensas e concentradas, e caracterizam-se por sua abrangência e grande
extensão. São típicas das grandes bacias hidrográficas e dos rios de planície.
Neste caso a resolução temporal possibilita que se construa uma série
histórica destas inundações. Hoje já é possível ter séries de mais de trinta
anos, uma vez que as imagens do satélite LANDSAT estão disponíveis em
acervos do INPE e do USGS desde junho de 1973 (Figura 13).
17
24/09/1973
01/06/1986
08/09/1987
29/09/1989
27/09/2000
01/10/2007
Figura 13-Série histórica de inundações na bacia do Guaíba, com imagens LANDSAT-MSS e TM.
Com isto é possível identificar o período e o local de ocorrência das
inundações, bem como obter informações sobre a sua magnitude em diferentes
eventos, e verificar se está se modificando ao longo dos anos em função do
18
uso e cobertura do solo. Com as séries históricas é possível também averiguar
se a frequencia das inundações está aumentando ou diminuindo.
Pode-se também com os dados temporais identificar em que época do
ano preferencialmente ocorre às inundações em uma dada área.
Alguns sistemas sensores coletam imagens diariamente sobre uma
mesma região, é o caso do sensor MODIS a bordo dos satélites Terra e Aqua.
Assim é possível, em um evento de inundação, fazer um acompanhamento
diário, durante todo o seu período, e monitorar em tempo real a evolução do
fenômeno e as áreas atingidas e comparar estas informações com os dados de
vazão e nível do rio. Um exemplo é o monitoramento feito durante as
inundações ocorridas no Rio Grande do Sul, no período de setembro de 2009 a
Janeiro de 2010, quando foi feito um acompanhamento diário de evento, para
análise e avaliação de danos.
A Figura 14 apresenta a seqüência das imagens MODIS sem cobertura
de nuvens para todo o período.
31 de agosto de 2009
5 de setembro de 2009
21 de setembro 2009
03 de outubro de 2009
01 novembro de 2009
09 de novembro de 2009
19
29 de novembro de 2009
5 de dezembro de 2010
18 de dezembro de 2009
14 de janeiro de 2010
Figura14-Sequência de imagens MODIS da inundação no rio Jacuí, RS, no período de agosto de 2009 a janeiro de 2010.
Utilizando esta sequência de imagens, em combinação com os dados de
vazão dos rios e de precipitação, foi possível identificar o período de pico da
inundação (29 de novembro de 2009), bem como caracterizar dois períodos da
vazante, durante todo o processo (01 de novembro e 18 de dezembro de 2009)
acompanhado logo em seguida por outro período de inundação, de diferente
magnitude, janeiro de 2010. A queda da ponte do rio Jacuí ocorreu no dia 7 de
janeiro de 2010, porém devido à grande cobertura de nuvens como
consequência das chuvas intensas, não foi possível obter uma imagem desta
data. Apenas em 14 de janeiro de 2010, uma semana após a queda da ponte,
obteve-se uma imagem sem cobertura de nuvens.
20
Aplicações de sensoriamento remoto para inundação
OLIVEIRA et al (2010) realizaram um estudo sobre a “Espacialização e
análise das inundações na bacia hidrográfica do rio CAÍ/RS”, cujo objetivo
era espacializar e analisar as inundações na bacia hidrográfica do rio Caí, RS,
a partir de dados obtidos por sensoriamento remoto, dados fluviométricos e da
aplicação de técnicas de geoprocessamento. Para o cálculo do tempo de
retorno (TR) das cheias foram utilizadas séries históricas de cota de três
estações fluviométricas. A análise dessas séries possibilitou o entendimento da
distribuição sazonal das cheias na bacia.
Foram também utilizados dois modelos digitais de elevação (MDE),
sendo que um foi elaborado a partir da interpolação das curvas de nível, pontos
cotados e linhas de drenagem obtidos das cartas da DSG. O outro foi obtido a
partir de dados do Shuttle Radar Topography Mission-SRTM,
disponibilizados na forma matricial, com resolução de 90 m.
Por meio da interpretação de variáveis morfométricas, tais como
declividade, curvatura e perfis do relevo, derivadas dos MDEs e de informações
obtidas em trabalhos de campo, foi elaborado um mapa de referência dos
limites da inundação ocorrida em 24-25/09/2007.
Posteriormente, as áreas de inundação, por elevação do nível dos
cursos d’água, foram modeladas a partir dos MDEs SRTM e DSG. Os autores
verificaram que mais de 75% dos eventos de grande magnitude na bacia do rio
Caí ocorrem entre os meses de junho e outubro. A partir do mapeamento da
inundação de 2007, eles observaram que os municípios mais afetados foram
Montenegro e São Sebastião do Caí, e que existe uma tendência maior de
inundações à margem esquerda do rio Caí, provavelmente em virtude da
deflexão que ocorre no médio curso. De modo geral, os modelos de inundação
superestimaram as áreas atingidas, mas representaram satisfatoriamente os
locais de maior avanço das águas OLIVEIRA et al (2010).
As Figuras 15 e 16 mostram os mapas das áreas de inundação a partir
dos MDEs do SRTM e da DSG.
21
Figura 15-Mapas das áreas de inundação na bacia do rio Caí, RS, a partir do MDE do SRTM.
Figura 16-Mapas das áreas de inundação, na bacia do rio Caí, RS, a partir do MDE da DSG.
22
Um dos países, no mundo, que mais sofre com inundações é
Bangladesh, na Ásia. Em 1988, este país foi afetado por uma das piores
inundações já registradas, com um custo total de aproximadamente 2 bilhões
de dólares e uma estimativa de que 45 milhões de pessoas foram diretamente
afetadas (Brammer, 1990). Bangladesh está localizado na jusante da bacia de
três rios o Ganges, o Brahmaputra e o Meghna (Figura 17). O país tem controle
limitado sobre estas bacias, que se originam na Índia, e para ter uma previsão
de inundações adequada e precisa depende de informações dos países
vizinhos.
Figura 17– Bangladesh, as bacias dos rios Ganges, Brahmaputra e Meghna, o delta do Ganges Brahmaputra que desagua no golfe de Benagli, Asia Fonte: http://earthobservatory.nasa.gov/IOTD/view.php?id=77364&src=eoa-iotd
Para fazer frente a esta situação Islam e Sado (2000) desenvolveram um
estudo sobre “Estimativa de ameaça de inundação utilizando imagens
NOAA AVHRR em Bangladesh”, onde foram utilizadas imagens de períodos
de inundação x área normalmente coberta por água. As imagens de satélite
aliadas a modelos digital de elevação mostraram-se bastante apropriadas uma
vez que as inundações nas bacias dos rios Ganges, Brahmaputra e Meghna
caracterizam-se pela grande magnitude, alta freqüência, longa duração e
extensiva devastação.
23
O objetivo do estudo era utilizar técnicas de sensoriamento remoto e SIG
para:
• Construir um banco de dados sobre inundações;
• Mapas de áreas afetadas por inundação;
• Mapa de áreas prioritárias para futuros desenvolvimentos;
• Auxiliar as autoridades, planejadores e operadores de infraestruturas de
controle de inundações.
• Auxiliar na preparação de operações de socorro e ajuda as vitimas nas
áreas de alto risco em futuros eventos de inundação (Islam e Sado,
2000).
Para cobrir Bangladesh são necessárias três imagens NOAA/AVHRR
(1,1 km de resolução espacial) e para este estudo foram utilizadas as imagens
de 18/Setembro/1988 (inundação severa); 31/Outubro/1995(evento de média
intensidade) e 18/Setembro/1998 (inundação severa). Estas imagens foram as
que apresentaram menor cobertura de nuvens em datas próximas ao pico de
vazão dos três rios, e foram utilizadas para estimar a área inundada, a
freqüência com que eram inundadas e a profundidade da inundação, além dos
dados de Modelo Digital de Elevação, divisões fisiográficas, geológicas e
administrativas do país, bem como rede de drenagem e densidade
populacional.
O cálculo da área inundada foi obtido pela razão entre o mapa de
drenagem, onde constava a informação da área ocupada pela água (rio, lagos,
açudes, reservatórios, etc.) em períodos normais e o mapa do total da área
inundada. Com isto foi possível determinar que a inundação de 1988 cobriu
60% do país e a de 1998 afetou mais de 50%.
A frequencia das inundações foi calculada utilizando as três imagens
NOAA/AVHRR. Ela foi determinada para cada pixel da imagem como a razão
do número de imagens dentro dos três eventos de inundação (1988,1995 e
1998), mostrando a inundação para o total do número de imagens
NOAA/AVHRR livre de nuvens com data próxima ao período de pico da
inundação.
24
O conceito dos diferentes graus de freqüência é mostrado na Figura 18
onde a área que não aparece em nenhuma das três imagens mencionadas
anteriormente foi considerada como área sem perigo (Non-hazard área).
A área na qual a inundação aparece uma única vez foi considerada de
baixo perigo (Low hazard area). As áreas inundadas comuns que aparecem em
duas imagens foram consideradas de médio perigo (MH-Medium hazard area)
e aquelas que aparecem em todas as três imagens foram consideradas de alto
perigo (HH-High hazard área).
Figura 18-Conceito de frequencia de inundação das áreas afetadas. Os círculos representam a área de água em cada imagem e o quadrado representa toda a área de Bangladesh
A figura 19 apresenta o mapa de freqüência de inundações das áreas
afetadas, onde a cor vermelha corresponde a área com alta freqüência, o
amarelo média freqüência, o azul claro baixa freqüência e o azul mais escuro
área sem inundação.
25
Figura 19-Mapa de frequencia de inundação considerando os eventos de 1988, 1995 e 1998.
Monitoramento de inundação utilizando imagens de radar
A importância das características de resolução espacial, espectral e
temporal, acerca do monitoramento de inundações é fundamental para que os
eventos de inundação possam ser analisados. Grande parte dos estudos
efetuados para este fim, monitora eventos em larga escala, o que faz com que
a resolução espacial adquira caráter secundário.
Com isto, há uma ampla gama de equipamentos sensores de radar
imageador, a bordo de plataformas orbitais, além de sensores a bordo de
aviões, denominados de aerotransportados.
Estes operam na região do espectro eletromagnético de microondas, ao
contrário das imagens ópticas que operam na região do visível, ultravioleta e
infravermelho próximo, médio e termal (Figura 20).
26
Figura 20 – Faixa de atuação dos sensores ópticos e microondas (radar). Fonte: http://sellerink.com.br/blog/series/harmonia-das-cores/
Desde o advento das primeiras imagens de radar, por questões militares
de defesa, a sua região de atuação foi particionada por bandas, sendo que as
utilizadas para fins comerciais são, por ordem de comprimento de onda,
usualmente medidas em centímetros, as bandas X (2,4 cm - 3,75 cm), C (3,75
cm - 7,5 cm), L (15 cm – 30 cm) e P (77 cm – 136 cm).
Além disto, as imagens são adquiridas seguindo o conceito de
polarização, pois a onda eletromagnética emitida verticalmente pelo sistema
sensor (emissão vertical - V), pode ser registrada em sua antena, tanto na
forma vertical (polarização VV), quanto na forma horizontal (polarização VH). O
mesmo conceito se aplica para a emissão e recepção horizontal (polarização
HH).
Os sensores de radar possuem ainda o diferencial em relação aos
sensores ópticos, que é uma geometria de observação (imageamento) de
visada lateral, enquanto que no segundo as imagens são adquiridas próximas
ao nadir. Esta característica se traduz em uma ampla gama de configurações,
denominados como modos de aquisição, sendo que sua variação implica em
diferentes faixas de imageamento (dimensão das imagens) e variação de
ângulos de incidência.
O ângulo de incidência é conceituado por Jensen (2009), como:
• “ângulo formado entre o pulso de radar de energia EM e uma linha
perpendicular à superfície da terra, onde faz contato.”
• “é o melhor descritor da relação entre o feixe de radar e a
inclinação da superfície.”
27
Este ângulo varia de acordo com a largura da faixa de imageamento,
sendo que sua variação é responsável pelo maior ou menor retorno da onda a
antena do radar (intensidade do sinal – brilho). Todavia, isto não se traduz em
perda de informação para o monitoramento de inundações, pois as superfícies
inundadas e sem ondas “aparecem” na imagem como objetos escuros, devido
a reflexão denominada como especular (Figura 21).
Figura 21–Desenho esquemático (a) representando a reflexão especular em uma área inundada (b) de uma imagem COSMO-Skymed, modo StripMap, polarização HH, órbita descendente com ângulo de incidência no centro da cena de 35,9°.
28
Dado ao exposto, os radares imageadores, desenvolvidos para os mais
diversos fins, entre estes o monitoramento de inundações, e que se encontram
em operação, ou recém desativados por problemas técnicos, podem ser vistos
na Tabela 2.
Tabela 2 – Principais sistemas sensores de radar operacionais.
Sistemas sensores
Faixa de operação
Resolução Polarizações*
ERS-2/AMI-SAR Banda C ≈ 30 m VV RADARSAT-1 Banda C 10 m - 100 m HH
ENVISAT/ASAR** Banda C 6 – 1000m VV e HH; HH e HV; VV e VH ALOS/PALSAR** Banda L 7 – 100m HH; HH+HV; HH+HV+VH+VV
TerraSAR-X Banda X 1,1 – 18,5 m HH ou VV; HH/VV; HH/HV; VV/VH
COSMO-SkyMed Banda X 1 – 100m HH ou VV; HH ou HV ou VH, ou HV; HH, VV ou HH,VH, ou VV,
VH. RADARSAT-2 Banda C 3 – 100m HH, HV, VV e VH
RISAT-1 Banda C 1- 50m HH e HV SAR R99B Banda X, L 3 – 18m HH+HV+VH+VV
ORBISAR-1 Banda X, P ≥ 0,5 m (X); ≥1,5 m (P). HH+HV+VH+VV
Sentinel -1*** Banda C 5-20m Dual (HH+HV ou VV+VH) * polarizações disponíveis e resolução variam de acordo com o modo de aquisição. ** desativados devido a problemas técnicos relacionados ao sensor/plataforma em abril de 2011 (ALOS/PALSAR) e maio de 2012 (ENVISAT/ASAR). ***Previsto para ser lançado em 2013 (ESA).
A cobertura de nuvens é um grande problema para o estudo e
monitoramento de inundações, uma vez que só corre inundações se há
chuvas, e em havendo chuva há consequentemente cobertura de nuvens. A
imagem GEOEYE mostrada na Figura 22 dá um exemplo claro dos problemas
provocados pela cobertura de nuvem em situações de inundação. Uma solução
para este problema é a utilização de imagens geradas por sensor que operam
na região das microondas do espectro eletromagnético.
29
Figura 22-Imagem GEOEYE de 14 de janeiro de 2012 mostrando a área de inundação no rio Paraíba do Sul entre os municípios e Além Paraíba (MG) e Sapucaia (RJ). Fonte: The International Charter, http://www.disasterscharter.org/image/journal/article.jpg?img_id=115372&t=1331637794523
Este tipo de limitação não é encontrado para os sensores de
microondas, já que estas são consideradas indiferentes as condições
atmosféricas, uma vez que a energia de microondas “atravessa” as nuvens e
brumas, além de operar tanto de dia como à noite. Este tipo de sensor cria a
sua própria energia eletromagnética (não necessita da luz do sol como fonte de
energia, ou das propriedades termais da terra), sendo considerado por
30
definição como um sensor ativo. A influência das condições atmosféricas pode
ser vista na Figura 23.
Figura 23–Efeito das condições atmosféricas (presença de nuvens e brumas) em uma imagem LANDSAT/TM – sensor óptico, composição 5R-4G-3B (a) e em uma imagem JERS-1 – sensor de microondas, polarização HH, adquiridas em uma mesma data.
Dada à importância deste tipo de evento, o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) é um dos membros da Carta Internacional -
Espaço e Grandes Desastres (http://www.disasterscharter.org), que tem por
objetivo melhorar a eficácia e a organização das operações de socorro nas
regiões afetadas, prevenir acidentes e otimizar a reconstrução das
infraestruturas destruídas por grandes desastres, fazendo uso de dados de
sensoriamento remoto.
Os eventos considerados relevantes, os quais causam mortes e perdas
materiais de grandes proporções, podem ser mapeados de forma emergencial
via Charter. Isto é feito por intermédio de ativações de chamadas, onde
imagens fornecidas em caráter emergencial pelas diversas agências espaciais
membros, e são analisadas e os produtos gerados são disponibilizados em no
máximo 48 horas para a Defesa Civil, exército, aeronáutica e grupos de
salvamento e resgate. Como exemplo, tem-se a inundação ocorrida em 07 de
janeiro de 2012, na região de Campos dos Goytacazes e arredores que pode
ser vista na Figura 24.
31
Figura 24-Mapa de inundação da região de Campos de Goytacazes, RJ, elaborado a partir de imagem Envisat/SAR de janeiro de 2012. Fonte: http://www.disasterscharter.org/image/journal/article.jpg?img_id=115334&t=1331637749059
O monitoramento da mancha de inundação levou em conta duas
imagens do sensor ENVISAT/ASAR, com polarização HH e resolução espacial
de 75 metros. Para o mapeamento desta inundação levaram-se em
consideração duas imagens multitemporais corrigidas (ortorretificadas), anterior
e após o evento de inundação. Neste caso, os elementos de resolução (pixels)
entre ambas devem ser iguais. Para a geração da região alagada, foram
testados limiares sob as imagens amplitude, de tal forma que esta região
corresponda às novas áreas com reflexão especular.
Outra perspectiva importante a se considerar, é a utilização de imagens
multisensores, como as utilizadas na região do Vale do Itajaí-SC. O objetivo
principal era mapear as áreas de ocorrência do evento e gerar um mapa
temático de forma ágil (classificação), sem a utilização de informações de
campo (amostras), para possibilitar um processamento rápido, onde os
tomadores de decisão possam utilizá-lo como produto de análise (MARINHO et
32
al., 2011).
A variação temporal de ocorrência do evento, associado a reflexão
especular (rios, lagos, manchas de inundações com superfícies não agitadas),
utilizando imagens PALSAR/modo FDB, ENVISAT/ASAR, RADARSAT-2 e
TerraSAR-X, podem ser vistas na Figura 25.
Figura 25-Variação temporal de uma área afetada pela inundação no município de Gaspar: (a) PALSAR/FBD de 15/Set; (b) ENVISAT/ASAR de 27/Nov; (c) RADARSAT-2 de 28/Nov; (d) RADARSAT-2 de 30/Nov; (e) TerraSAR-X de 01/Dez; (f) PALSAR/FBS de 31/jan 2009. Fonte: Marinho et al. (2011).
Considerando como corpos de água as superfícies de menor
retroespalhamento (cor preta), é possível observar a dinâmica de uma mancha
de inundação (b, c, d, e), bem como a situação dos campos de rizicultura com
lâmina de água antes (a) e depois das fortes chuvas (f).
Todavia, é necessário entender que muitas superfícies de inundações
apresentam comportamento decorrente ao tipo de região inundada
(relacionada as características físicas das superfícies).
O estudo de Arnesen et al. (2011) para a avaliação do potencial de
imagens SCANSAR/ALOS no mapeamento da extensão total inundada na
planície do Rio Amazonas apresenta este tipo de peculiaridade. Os alvos
imageados nem sempre tem como característica principal a reflexão especular
33
como espalhamento dominante na cena.
De acordo Hess et al. (1990), nas áreas inundáveis os mecanismos
dominantes de espalhamento decorrentes da interação com a radiação
eletromagnética (REM) são: reflexão de canto, ou double bounce;
espalhamento volumétrico, ou de dossel; e espalhamento de superfície.
Estes tipos de reflexão são descritas de uma forma esquemática,
conforme a Figura 26, adaptada de Freeman e Durden (1998).
Figura 26 – Mecanismos de espalhamento: a) reflexão de canto (ou double bounce); b) espalhamento volumétrico (ou de dossel) e; c) espalhamento superficial. Fonte: Adaptado de Freeman e Durden (1998).
Durante um pico de inundação, o qual se refere ao período de maior
precipitação em que as inundações atingem cotas máximas é possível verificar
comportamentos distintos do sinal retroespalhado (REM que retorna ao sistema
e é registrado pela antena do radar), conforme podem ser vistos na Figura 27 a
e b.
Com a utilização da banda L, no caso de florestas inundadas ocorre uma
intensificação da reflexão de canto, resultante da interação entre REM, os
troncos e galhos e a superfície da água, o qual produz um aumento no
retroespalhamento (maior brilho na imagem), Figura 27a.
Nas classes de água aberta com vento o mecanismo de espalhamento
superficial predomina, sendo considerado superior a água aberta sem vento, já
que com o aumento da rugosidade da superfície aumenta o sinal
retroespalhado devido ao espalhamento do tipo Bragg, Figura 27b.
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Figura 27 a e b – Fotografias registradas em campo de algumas classes definidas com base em imagens ScanSAR/ALOS (à esquerda) e TM/Landsat-5 na composição RGB-543 (à direita). Fonte: Modificada de Arnesen et al. (2011).
Com base no exposto até o momento, o monitoramento das variações
na inundação por meio de técnicas in situ é limitado devido a problemas de
logística e acesso a estes ambientes remotos e, em muitos casos, à grande
dimensão das áreas inundadas.
Com isto, conforme verificado nos trabalhos que utilizam o
sensoriamento remoto como ferramenta para o monitoramento, esta é
considerada a forma mais rápida e econômica deste tipo de análise, os quais
permitem mapear a dinâmica de inundação nas áreas inundáveis.
Avaliação de danos de inundação utilizando geotecnologias
O Instituto de Aplicações de Sensoriamento Remoto (IRSA) da
Academia Chinesa de Ciências (CAS) e o Centro de Informação do Estado
desenvolveram um Sistema de Avaliação de Danos de Inundação utilizando
35
sensoriamento remoto e SIG. Ele consegue fazer a avaliação de danos
rapidamente e desempenha um importante papel no controle de inundações e
na mitigação de desastres (Shi-rong et al, 2003). A Figura 28 apresenta o
conceito do sistema.
Figura 28-Sistema de avaliação de danos de inundação utilizando sensoriamento remoto e SIG Fonte: Shi-rong et al, 2003
O sistema tem três características:
• Pode operar com dados adquiridos de várias plataformas de
sensoriamento remoto (LANDSAT/TM, SAR, MODIS) e com imagens de
várias resoluções espaciais (50m, 250m, etc). Os dados MODIS, devido
Imagens Landsat MODIS SAR
Extração da área submersa
BD espacial e temporal de inundações
Estatísticas sócio-econômicas
econômicas
Análise integrada
Análise da dinâmica e avaliação de perda da
área afetada
Determinação uso e cobertura, ... da área
afetada
Análise da dinâmica da área residencial e população afetada
Diagnóstico de perdas pela inundação
Dados físicos naturais
36
a sua alta resolução temporal são usados para avaliação de perdas de
forma rápida e para grandes áreas, os dados LANDSAT/TM são
utilizados para avaliação de perdas com relativa precisão enquanto as
imagens SAR são utilizadas quando as imagens ópticas são limitadas
devido à grande cobertura de nuvens, bastante comuns em eventos de
inundação;
• O sistema pode adquirir rapidamente resultado de perdas por meio da
sobreposição de dados de inundação e aqueles fornecidos pelas bases
de Dados Espaciais Básicos e de Dados Estatísticos Sócio-Econômicos;
• O sistema pode processar análises históricas de inundações para
estimar as perdas causadas por elas. A análise histórica pode ser usada
para estimar perdas com vários modelos de avaliação de perdas por
inundação;
• Possui sistema de saída multiforma, gerando tabelas, gráficos e
imagens.
Este sistema mostra as vantagens de se utilizar dados de sensoriamento
remoto e SIG para avaliação de danos causados por inundações. Ele começou
a ser operado em 2001 e em dois anos já gerou relatórios de mais de 40 series
de inundações, que foram entregues aos conselhos estaduais, ministérios e
governos provinciais. O sistema tem apoiado atividades de prevenção de
inundações e proporcionado grande apoio para ações por ocasião dos eventos.
37
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