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D. António I - Rei de Portugal
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D. António I – Rei de Portugal
5Apeiron Edições |
PreâmbuloInterregno – D. António, Prior do Crato
Capítulo ID. Catarina de Bragança, Candidata à Coroa de Portugal Rainer Daehnhardt
Capítulo IID. António IRainer Daehnhardt
1. Como Filipe II de Espanha Comprou Portugal
Capítulo IIID. António, Prior do CratoJosé de Torres
Capítulo IV Cartas Portuguesas do Prior do CratoJosé de Torres
Capítulo V1580 – Batalha da Ponte de AlcântaraRebelo da Silva
a. Apontamento histórico sobre a Ponte de Alcântara
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ÍNDICE
D. António I – Rei de Portugal
Apeiron Edições | 7
PREÂMBULO
INTERREGNO – D. ANTÓNIO, PRIOR DO CRATO
Pela morte do cardeal rei D. Henrique tomaram a re-
gência do reino os cinco governadores por ele nomeados.
A duquesa de Bragança entregou seus direitos ao arbítrio
deles, instando-os a que proferissem sem demora a sen-
tença definitiva. Filipe II escreveu-lhes também, abonando
seus direitos, e prometendo estar pelas capitulações pro-
postas pelo rei defunto, segundo as quais continuaria
sempre Portugal a ser governado por suas leis e costumes,
com inteira separação da Espanha.
Como dos cinco governadores eram três do partido de
Filipe II, fizeram logo publicar as capitulações. O clero e
nobreza aceitaram; porém os procuradores dos povos rejei-
taram-nas, não porque elas fossem más, mas por entende-
rem que não seriam observadas. Em vista do que, os go-
vernadores, impacientes de entregar a Filipe o reino que
lhe haviam vendido, dissolveram os estados, separaram
das fortalezas os fidalgos que lhes eram suspeitos, e em-
pregaram todos os outros meios, que os poderiam ajudar a
levar a cabo a sua obra de infidelidade e traição.
Pouco tardou que entrasse em Portugal o célebre duque
d’Alba à testa de vinte mil espanhóis de tropas escolhidas. O povo acusava altamente os governadores de quererem
entregar o reino a Filipe II, e o descontentamento era geral.
D. António, prior do Crato, aproveitando-se destas dis-
posições dos ânimos, fez-se aclamar rei em Santarém.
O povo declarou-se facilmente a seu favor; mas como os
fidalgos, os que não estavam vendidos a Castela eram pe-
los direitos da duquesa de Bragança, nenhum houve que o
apoiasse, à excepção do conde de Vimioso, que se ligou a
ele, e seguiu constantemente sua fortuna. D. António mar-
Rainer Daehnhardt, José de Torres e Rebelo da Silva
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chou imediatamente para Lisboa, onde foi recebido pelo
povo miúdo, porque a peste tinha obrigado os grandes e
ricos a fugirem da cidade. Mandou logo o conde de Vimioso
a Setúbal, que se declarou também a seu favor, e os cinco
regentes que então ali estavam, fugiram a toda a pressa, e
pronunciaram a sentença por Filipe II, declarando-o rei de
Portugal pela força das leis, quando estava a ponto de o ser
pela força das armas. D. António, vendo-se senhor da capi-
tal, empregou todos os meios possíveis para haver gente e
dinheiro: apoderou-se das joias da coroa, da prata das
igrejas, e dos dinheiros do resgate dos cativos e obras pias,
e deu a liberdade a todos os escravos que quiseram tomar
armas por ele. Disto nasceram mil desordens, porque os
pretos armados roubavam tudo que achavam, e cometiam
muitos atentados. Mas ainda assim com esta gente mal
armada, e sem disciplina, tentou D. António defender a
passagem do Tejo ao duque d’Alba. Este general espanhol, já senhor de tudo quanto fica ao
sul do Tejo, pois que os mesmos de Setúbal, que pouco
antes se haviam declarado pelo prior do Crato, lhe entrega-
ram aquela vila, passou sem dificuldade o seu exército pa-
ra aquém do rio, ajudado pela frota de Espanha, que se
achava fundeada em Cascais. Esta praça, e a de S. Julião
da Barra se lhe renderam, e o duque marchou sem demora
em direcção a Alcântara, onde D. António o esperava com a
sua gente. Mas não tinha ele capitães que soubessem
mandar, nem soldados que soubessem obedecer. O seu
exército, muito inferior em todos os aspectos, foi inteira-
mente desbaratado a 25 de Agosto de 1580. Os espanhóis
perseguiram os fugitivos até aos muros de Lisboa, que se
lhe entregou por capitulação, escapando assim de ser en-
tregue ao saque; porém os seus arrabaldes sofreram mui-
tos roubos e violência da parte dos vencedores.
D. António I – Rei de Portugal
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Saiu D. António mal ferido da peleja, em que combatera
com muito valor; e sem deter-se em Lisboa, retirou-se para
Santarém, e daí para Coimbra, onde conseguiu reunir ain-
da uns quatro ou cinco mil homens, que foram pouco de-
pois derrotados por D. Sancho d’Ávila, general espanhol que o duque d’Alba mandara sobre ele. Obrigado de novo a
fugir, retirou-se para o Porto; mas tendo D. Sancho atra-
vessado o Douro, e entrado nesta cidade, o prior do Crato
dirigiu-se a Viana, onde embarcou num navio para França.
Mas porque os ventos contrários lhe embaraçavam a saída,
os espanhóis foram-lhe acometer o navio, de modo que o
obrigaram a salvar-se numa lancha para a outra parte do
rio, tendo a felicidade de escapar disfarçado por entre os
soldados espanhóis que o procuravam. Escondido, ainda
ficou em Portugal nove meses, sem que fosse possível des-
cobri-lo, não obstante oferecerem os espanhóis oitenta mil
cruzados a quem o entregasse, e terem feito atormentar, e
sofrer até à morte alguns criados seus para os obrigar a
atraiçoar seu amo. Por fim, depois de muitas tentativas
inúteis em Lisboa e outros portos, conseguiu embarcar em
Setúbal com doze amigos fiéis, e foi aportar a Calais.
Depois da retirada de D. António todo o reino se sujei-
tou às forças de Filipe II. Entretanto, o prior do Crato apre-
sentou-se em França com o título de rei de Portugal, e
achou ali tal favor, que obteve de Henrique III os meios ne-
cessários para armar uma frota de sessenta velas, e avul-
tado número de gente de desembarque, com que tentou
uma expedição à ilha Terceira. Mas foi vencido pelos espa-
nhóis, os quais tratando de piratas os muitos prisioneiros
que fizeram, a todos deram morte com tratos cruéis. Toda-
via ainda por algum tempo conservou D. António alguns
lugares daquela ilha na sua obediência, e ali mandou cu-
nhar moeda, e exerceu outros actos de soberania; mas por
fim foi obrigado a retirar-se, e com muito trabalho conse-
Rainer Daehnhardt, José de Torres e Rebelo da Silva
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guiu voltar para França. De lá passou à Inglaterra, onde a
rainha Isabel o recebeu e tratou como rei de Portugal; e
muitas pessoas armaram navios para andarem a corso con-
tra os espanhóis, com cartas de marca por ele passadas.
Depois da destruição da armada invencível, que Filipe II
pôs no mar para a conquista da Inglaterra, a rainha Isabel
concedeu a D. António uma boa armada e um exército au-
xiliar, ao comando dos cavalheiros Norris e Drake, para o
restituírem ao trono de Portugal. A fim de obter os fundos
necessários para o bom êxito desta empresa, D. António
enviou o seu filho primogénito D. Manuel ao rei de Fez e
Marrocos, em penhor de duzentos mil cruzados, que este
lhe prometera emprestar. Porém Filipe II conseguiu desviar
o mouro do cumprimento da sua promessa, restituindo-lhe
em troca a praça de Arzila.
A armada partiu de Inglaterra em 1589, e, apesar da
grande perda que sofreu num mal sucedido ataque contra
a Corunha, que o governo inglês mal aconselhado havia
mandado se tentasse de caminho, veio aportar a Peniche,
que logo se lhe rendeu. Dali partiu D. António por terra
com o general Norris sobre Lisboa, enquanto Drake com a
esquadra demandava a barra do Tejo. D. António chegou
sem grande dificuldade a Santa Catarina de Ribamar, ten-
do-se-lhe já unido alguns portugueses; e sem dúvida Lis-
boa se lhe entregaria, porque era muito grande o descon-
tentamento de todos contra os espanhóis, se o exército
chegasse a acometer a cidade; mas ou fosse porque o gene-
ral Norris receasse alguma traição, ou, como parece mais
provável, pelas desinteligências que se levantaram entre ele
e o almirante Drake, o certo é que a expedição se frustrou,
e que as tropas voltaram para Inglaterra sem terem feito
coisa notável.
Aí se demorou D. António algum tempo, até que enten-
dendo que já não havia para ele a mesma boa vontade que
D. António I – Rei de Portugal
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dantes se lhe mostrara, partiu para França a solicitar de
Henrique IV os meios necessários para tentar de novo a
fortuna. Mas eram muito grandes os apertos em que se via
este soberano no seu próprio reino, para que pudesse aten-
der a causas estranhas.
D. António passou alguns anos em França já desenga-
nado das suas esperanças, com falta de meios, e vivendo
de uma pequena pensão que lhe dava Henrique IV, até que
veio a falecer ao 26 de Agosto de 1595, na idade de sessen-
ta e quatro anos. Foi sepultado no convento grande dos
Franciscanos de Paris, e o seu coração depositado na igreja
da Ave Maria, com um epitáfio em que se lhe dá o título de
rei de Portugal.
Foi este príncipe ornado de muita instrução e virtudes,
porém a falta de prudência, e uma ambição inquieta corta-
ram-lhe de desgostos e trabalhos toda a sua vida. Deixou
dois filhos, D. Manuel, que casou na Holanda com uma
princesa da casa de Nassau, de que ficou descendência; e
D. Cristóvão, que morreu solteiro em França.
Rainer Daehnhardt, José de Torres e Rebelo da Silva
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CAPÍTULO I
D. CATARINA DE BRAGANÇA, CANDIDATA À COROA DE PORTUGAL
Rainer Daehnhardt
Após o falecimento do Cardeal-rei D. Henrique, que dei-
xou o Mundo Português em testamento aos Filipes, surgiu
D. Catarina como um dos principais candidatos à coroa de
Portugal. O povo e os franciscanos queriam D. António, o
Prior do Crato. Os dominicanos, tal como toda a Inquisição
e os Jesuítas, queriam Filipe de Espanha. O mesmo acon-
tecia com grande parte da fidalguia portuguesa, então en-
dividada a Castela (foram precisas grandes somas para
resgatar os prisioneiros de Alcácer-Quibir e, com autoriza-
ção de D. Henrique, os nobres empenharam os seus mor-
gadios aos espanhóis).
Sem o apoio do povo, do clero ou da fidalguia, D. Cata-
rina de Bragança não teve hipótese prática de realizar o
seu desejo de vir a ser rainha. O seu casamento com o
primo direito, D. João, em vez de a ajudar, prejudicou-a,
pois ele era uma personagem muito impopular.
D. Catarina escreveu acerca dos seus direitos à coroa
portuguesa, à qual, como neta de D. Manuel I, tinha tanto
direito como qualquer dos outros pretendentes, mas estes
manuscritos nunca foram publicados, por “inconveniência política”.
Filipe II de Espanha disse, e com razão, que herdou,
comprou e conquistou Portugal; mas estava bem conscien-
te de que não podia dizer o mesmo em relação ao coração
dos portugueses. Houve quem o chamasse “o Demónio do Meio-Dia”!