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Crimes Bárbaros

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Até que ponto os estereótipos e preconceitos que criamos em sociedade podem contribuir com o aumento dos índices de criminalidade? Essa é a pergunta que fará o leitor ao participar dessa investigação junto ao escritor Tony Baker. Tony terá uma desagradável surpresa ao começar a investigação sobre a morte do pediatra Ricardo Lobato ...

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Crimes Bárbaros

São Paulo 2011

Crimes Bárbaros C h r i s t i a n P e t r i z i

Copyright © 2011 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa e Projeto GráficoAline Benitez

Revisão Daniel Souza

DiagramaçãoMonica Rodrigues

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________Petrizi, Christian Crimes bárbaros / Christian Petrizi. - São Paulo : Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-460-6 1. Ficção brasileira. I. Título. 11-7589. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

08.11.11 18.11.11 031303

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Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua Januário Miraglia, 88CEP 04507-020 Vila Nova Conceição — São Paulo — SP

Tel.: 11 3167.4261

www.editorabarauna.com.brwww.livrariabarauna.com.br

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Agradecimentos:

Agradeço a Deus, a meus pais e a meus amigos Christian, Gilmar e Rafael que enriqueceram este livro com suporte técnico e jurídico.

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Esta história é dedicada a minha mãe Iara Petrizi, que sempre procurou aprender para entender e respeitar.

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CAPÍTULO 1

CRIMES BÁRBAROS

Rio de Janeiro, sábado, 14 de junho. 22h

Uma chuva fina caía sobre a Zona Sul carioca na-quele fim de noite de outono. Na recepção de um edi-fício da Avenida Rainha Elizabeth, quadra da praia de Copacabana, a porta do elevador social abriu-se dando passagem a uma loira apressada.

Carregando uma mochila num dos ombros, destoando do sexy e elegante vestido lilás que usava, ela abriu caminho pelo hall de entrada na direção da rua. Já na calçada, tomou o sentido contrário à praia, adentrando o bairro rumo à bo-ate e danceteria onde se apresentaria naquela noite. Para ela, era necessário entrar antes do público, pois assim poderia combinar os últimos detalhes da sua apresentação com o DJ da casa. Mas esse era apenas um dos motivos da sua pressa.

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O celular tocou dentro da mochila. Sem deixar de caminhar, ela retirou o aparelho para atender.

— Alô, Barbara, é você? — perguntou uma voz fe-minina do outro lado da linha.

— Sim, pode falar. — respondeu Barbara, olhando para o relógio.

— Pronta para a nossa grande noite? Todos os deta-lhes que você me passou foram confirmados?

— Tudo acertado! Summer Fever Motel na Avenida Nie-meyer, suíte 203. Fica bem no pé do Morro do Vidigal. — disse Barbara, diminuindo os passos. — O canalha vai sair da festa em São Conrado por volta de uma e meia. Vai deixar a família em casa e seguir para o motel trinta minutos depois, esperando até as três e meia da madrugada pela minha chega-da. Ele quer entrar antes de mim pra que ninguém desconfie do seu caso com uma travesti. — ela esboçou um sorriso ma-licioso. — Enfim, o canalha também é um frouxo.

— Bem, minha querida, eu sinto muitíssimo por de-cepcionar o Ricardo. — disse a voz ao celular em tom irôni-co. — Mas na manhã de segunda, esse encontro de vocês es-tará em todos os jornais. Nós aqui já enviamos para a Polícia as provas contra o Dr. Ricardo, para que eles possam prendê--lo na saída do motel. Essa cena que estamos montando será apenas o gran finale que irá garantir as primeiras páginas.

— E os jornalistas, o que eles combinaram com vo-cês? — perguntou Barbara.

— Também receberam as provas hoje, e nenhum deles quer perder esse furo. Nós vamos estar em suítes próximas. Antes de você entrar no quarto, passe uma mensagem para o meu celular que nós entramos em se-

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guida e acabamos com ele e a sua falsa reputação. Nós duas juntas, com a imprensa documentando tudo.

— Eu estou louca pra que esse pesadelo acabe. Es-pero que tudo dê certo.

— Não há nada que possa atrapalhar os nossos planos!— Então, eu te vejo mais tarde. Boa sorte!— Boa sorte, querida! A partir de amanhã vamos

nos sentir mais leves sem este peso que carregamos. Basta não se esquecer de que foi ele quem fez essa opção, por-tanto, não sinta pena do covarde. Ele provocou o mal que vai se voltar contra ele mesmo. — enfatizou, para logo em seguida tornar-se doce e mordaz. — Barbara, você era tão novinha quando precisou fugir de casa, por causa daquele verme, que provavelmente não frequentou a escola como deveria. Seria inútil eu citar Newton para você. Mas mi-nha amiga, na vida nós colhemos o que plantamos. Isso você entende, não é mesmo? — e desligou.

Barbara olhou novamente o relógio e percebeu que ainda havia tempo para mais uma última ligação. Pro-curou o número de Ricardo na agenda do seu telefone e chamou. Quatro toques depois, ele atendeu em meio a muito barulho. Eram vozes e a música vinda de um salão de festas em São Conrado.

— Não era pra você me ligar agora. — disse Ricardo de forma áspera. — Eu acabei de chegar com minha família.

— Oi, gostoso! — Barbara fingia excitação. — Li-guei pra saber se está tudo ok pra nossa night. Quero mui-to encontrar contigo, hoje.

— Tudo isso é tesão pelo titio? “Viadinho” safado, filho de uma... — Ricardo parou de repente, como se

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percebesse um erro. — Eu já disse que está tudo certo. A suíte está reservada. E não me chame mais aqui na festa.

— Que imbecil! — ela pensou, antes de dizer: — Eu só queria confirmar, gatão. Quando eu chegar no Summer Fever, espero te encontrar bem quente.

— Hoje eu acabo com você, sua putinha! — Ricar-do desligou em seguida.

Barbara voltou a caminhar apressada enquanto guar-dava o celular na mochila. O barulho dos seus sapatos de salto ecoava pela avenida, enquanto sua figura alta e esguia despertava o interesse dos porteiros que conversa-vam nas calçadas. Quando se aproximava da esquina com a rua da boate, ela parou abruptamente. Um pensamento ou uma constatação vinha-lhe à cabeça a respeito do seu nome de guerra escolhido por uma amiga:

— Na verdade, eu nunca consegui ser Barbara na minha vida. — pensou. — Nem de nascimento, nem de ações. Eu mesma não escolhi esse nome... Acho que a amizade da Elizabeth foi a única coisa boa que me aconteceu nessa existência miserável.

Mas hoje vai ser diferente, porque eu vou fazer a di-ferença pelo menos uma vez na minha vida. Depois desta noite, eu vou merecer ser chamada de Barbara Taylor. E quanto ao Dr. Ricardo, nós vamos ver quem vai acabar com quem. Tenho dito! — ela disse a última frase em voz alta para depois completar: — Agora, o primeiro show da noite!

Gargalhava enquanto dobrava a esquina e seguia an-dando em direção à portaria lotada da Blade Man Disco Club.

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Domingo, 15 de junho. 03h05min.

Donna Summer, a rainha das discotecas, era a per-formance mais aplaudida de Barbara nas boates cariocas onde se apresentava. Naquela noite não foi diferente: o ritmo disco eletrizou a pista enquanto ela dublava e dan-çava a música “Last dance”, como se fosse realmente a última dança para aquele público que amava agradar.

Quando o show acabou e após receber seus merecidos aplausos por uma fantástica apresentação, ela correu para o ca-marim em busca da sua mochila. Sequer pensou em trocar de roupa quando viu o adiantado da hora, saindo pela portaria de serviço da casa com o mesmo figurino do seu pocket show.

O vestido era um longo plissado branco de man-gas compridas que se alargavam dos ombros em dire-ção aos pulsos, assim como também ele ia se abrindo do colo ao chão. Um modelo glamoroso dos anos se-tenta, copiado de um videoclipe da mesma cantora, que serviria bem aos propósitos daquela madrugada fria à beira-mar e aos flashes dos repórteres.

Ela já estava na calçada quando uma bexiga d’água caiu, estourando bem próximo aos seus pés. Teria sido atirada de um dos apartamentos que ficavam no prédio logo acima da boate. Em uma noite qualquer, Barbara desfilaria todo o seu repertório de palavrões que sabia incomodar aquelas pessoas ultraconservadoras e hipócritas. Mas aquela não seria uma noite qualquer, então, preferiu entrar pelo banco traseiro no primeiro táxi que viu parado em sua frente.

— Summer Fever Motel, na Av. Niemeyer próximo

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ao Vidigal, por favor. — ela disse ao taxista, sem deixar dúvidas quanto ao destino.

Um aperto no estômago e as batidas aceleradas do seu coração denunciavam seu nervosismo e ansiedade. Para se controlar, ela retirou da mochila uma escova e refez o penteado dos seus longos e bem tratados cabelos loiros.

O táxi, assim que deixou Copacabana, seguiu por uma orla de Ipanema e Leblon praticamente sem tráfego, provavelmente por já ser madrugada e pelo clima chu-voso e frio não muito atraente aos cariocas. O fato é que conseguiriam chegar a tempo ao seu destino, pontual-mente no horário combinado com Ricardo.

Um curto trajeto por uma sinuosa Avenida Niemeyer, na encosta entre o paredão de morros e o mar, levou-os ao motel bem ao pé do Vidigal. Assim que o táxi parou, Barbara retirou o dinheiro da mochila, pagou a corrida ao motorista e encaminhou-se à portaria. As câmeras de segu-rança do motel registraram sua chegada. 03h26min.

O tempo que se passou entre a sua entrada e a sua sa-ída, também registrada pelas câmeras de segurança, foram exatos onze minutos. Um período relativamente curto, mas uma eternidade tratando-se de situações específicas. Um tempo médio para se atingir um orgasmo, mas tam-bém um período perfeito para se cometer um assassinato.

Considerando esse curto e quase improvável interva-lo passado por Barbara na suíte daquele estabelecimento, quem assistisse aquelas imagens de segurança certamente notaria uma mudança comportamental na pessoa que en-trou minutos antes com determinação e controle emocio-nal. Ao sair, ela seria identificada como alguém visivelmen-

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te transtornada. Atravessou a garagem e passou pela cabine do recepcionista sem pensar ao menos em comunicar sua saída. O rapaz até que tentou perguntar algo, desistindo em seguida devido ao tempo insuficiente para formular a frase. Além disso, ele já havia presenciado alguns encontros mal-sucedidos como aquele que estava supondo no momento. O que importava para o motel era o cliente ainda estar no quarto para arcar com as despesas na saída, ele pensava.

Quando Barbara pisou novamente na avenida, ob-servou assustada não haver táxi algum ali parado, o que na verdade era seu desejo. Não precisaria de mais alguém que pudesse reconhecê-la depois. Assim, atravessou para o outro lado da pista e seguiu caminhando de volta ao Leblon pela escura Av. Niemeyer. Seus passos eram com-pridos, sua respiração era ofegante e seu semblante osci-lava entre a perplexidade e o horror pela cena que acabara de presenciar. Passou em frente ao Hotel Sheraton com a cabeça baixa e deixando que os longos cabelos loiros lhe cobrissem a face, a mesma que nesse momento começava a ficar encharcada pelo suor frio e as lágrimas do medo que tomava conta do seu coração.

No Summer Fever Motel, um Palio preto, com os vidros escurecidos ao máximo, acertava a conta e pegava o mesmo rumo tomado por Barbara na avenida. Notava-se muita lama nas laterais do carro. As placas do veículo também estavam intencionalmente sujas com essa mesma lama, o que impedia de forma não natural a sua identificação. Eles desciam deva-gar, sem pressa, esperando a oportunidade perfeita.

Passando pelo Mirante do Leblon, quase no final da avenida, a exótica criatura de branco atraía a observa-