Caatinga, Um Bioma Exclusivamente Brasileiro

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  • Caatinga:um bioma

    exclusivamente brasileiro... e o

    mais frgil

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    IHU ON-LINERevista do Instituto Humanitas Unisinos

    N 3 8 9 - A n o X I I - 2 3 / 0 4 / 2 0 1 2 - I S S N 1 9 8 1 - 8 7 6 9

    MarcosAntonio Drumond: Bioma rico em diversidades

    Castor Bartolom

    Ruiz:Objetivao e governo da vida humana

    Gerhard Overbeck:

    Campos sulinos: os desafios da conservao da biodiversidade

    Joo Arthur Seiffarth: Semirido, o bioma mais diverso do mundo

    Haroldo Schistek: Caatinga, um bioma desconhecido e a Convivncia com o Semi rido

    Ricardo Abramovay:

    Repensar a economia. O desafio do sculo XXI

  • Edit

    ori

    al

    IHU On-Line a revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos - IHU ISSN 1981-8769. IHU On-Line pode ser acessada s segundas-feiras, no stio www.ihu.unisinos.br. Sua verso impressa circula s teras-feiras, a partir das 8h, na Unisinos. Apoio: Comunidade dos Jesutas - Residncia Conceio.

    REDAO

    Diretor de redao: Incio Neutzling ([email protected]). Editora executiva: Graziela Wolfart MTB 13159 ([email protected]).Redao: Mrcia Junges MTB 9447 ([email protected]), Patricia Fachin MTB 13062 ([email protected]) e Thamiris Magalhes ([email protected]). Reviso: Isaque Correa ([email protected]).

    Colaborao: Csar Sanson,

    Andr Langer e Darli Sampaio,

    do Centro de Pesquisa e Apoio

    aos Trabalhadores - CEPAT, de

    Curitiba-PR.

    Projeto grfico: Agncia

    Experimental de Comunicao

    da Unisinos - Agexcom.

    Atualizao diria do stio:

    Incio Neutzling, Rafaela

    Kley e Stefanie Telles.

    Caatinga: um bioma exclusiva-mente brasileiro... e o mais frgil

    O nico bioma exclusivamen-te brasileiro, segundo os pesquisadores, a Caatinga, tambm o mais frgil.Este bioma analisado e debati-

    do na edio desta semana da revista IHU On-Line.

    Ao analisar a biodiversidade, pouco conhecida e explorada do bio-ma, diversos pesquisadores contri-buem com suas pesquisas e militncia nesta edio.

    Haroldo Schistek, agrnomo, idealizador do Instituto Regional da Pequena Agropecuria Apropria-da IRPAA, com sede em Juazeiro, afirma que a situao da Caatinga catastrfica.

    Joo Arthur Seyffarth, coordena-dor do Ncleo do Bioma Caatinga da Secretaria de Biodiversidade e Flores-tas do Ministrio do Meio Ambiente MMA, diz que a Caatinga o bioma semirido mais biodiverso do mundo.

    Por sua vez, Marcos Antonio Drumond, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa, constata que o bioma como uma verdadeira farmcia viva na qual a maioria das espcies des-tacada por inmeras utilizaes na medicina caseira e outras.

    Rejane Magalhes de Mendon-a Pimentel, botnica, professora da Universidade Federal Rural de Per-

    nambuco, frisa que muitas so as es-pcies vegetais da Caatinga utilizadas como medicamentos fitoterpicos.

    J o bilogo Rodrigo Castro, co-ordenador da Aliana da Caatinga e a Associao Caatinga, avalia que o bio-ma s ser valorizado se sua biodiver-sidade for mais conhecida.

    Maria Tereza Bezerra Farias Sa-les, geloga, coordenadora do Projeto Mata Branca, no Cear, relata que a produo com fibras de palhas, ce-rmicas, bordados com registros de espcies da fauna e flora e artefatos oriundos de material reciclvel tam-bm so destaques do bioma.

    Ulysses Paulino de Albuquer-que, bilogo, professor da Universi-dade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, analisa a diversidade de plantas medicinais existentes no lugar.

    Por fim, Lcia Helena Piedade Kiill, biloga, explica que a Caatinga no um ecossistema homogneo, pelo contrrio, trata-se de Caatingas.

    Contribui com esta edio, ainda, Castor Bartolom Ruiz, com o artigo Objetivao e governo da vida huma-na. Rupturas arqueo-genealgicas e filosofia crtica.

    Ricardo Abramovay, professor titular do curso de Economia da Uni-versidade de So Paulo USP, discute as possibilidades de uma outra econo-

    mia tendo em vista a crise ambiental com que nos defrontamos.

    Gerhard Overbeck, engenheiro ambiental, professor do Departamen-to de Botnica da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul UFRGS, analisa a questo dos Campos suli-nos e os desafios da conservao da biodiversidade.

    Jos Luiz Bica de Melo, socilo-go, professor da Unisinos, comenta alguns aspectos do filme 5x Favela agora por ns mesmos.

    Pedro Tonon Zuanazzi, estatsti-co da Fundao de Economia e Esta-tstica FEE e mestrando na Universi-dade do Rio Grande do Sul UFRGS, reflete sobre a contribuio oferecida pela demografia ao desenvolvimento econmico do Rio Grande do Sul.

    Por dispositivos legais sobre a transmisso de eventos esportivos o tema do artigo de Anderson David G. dos Santos, mestrando no Progra-ma de Ps-Graduao em Cincias da Comunicao da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos e Regina Catarina de Alcntara, coordenadora do curso e Nutrio da Unisinos, narra alguns aspectos da sua vida familiar e acadmica.

    A todas e todos uma tima sema-na e uma excelente leitura!

    IHU ON-LINE

    Instituto Humanitas

    Unisinos

    Endereo: Av.

    Unisinos, 950,

    So Leopoldo/RS.

    CEP.: 93022-000

    Telefone: 51 3591

    1122 - ramal 4128. E-mail: humanitas@

    unisinos.br.

    Diretor: Prof. Dr. Incio Neutzling.

    Gerente Administrativo: Jacinto

    Schneider ([email protected]).

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    LEIA NESTA EDIOTEMA DE CAPA | Entrevistas

    05 Conhea a Caatinga

    06 Haroldo Schistek: Caatinga, um bioma desconhecido e a Convivncia com o Semi rido

    09 Joo Arthur Seyffarth: Semirido, o bioma mais diverso do mundo

    11 Lcia Helena Piedade Kiill: Caatinga, ecossistema heterogneo

    13 Marcos Antonio Drumond: Bioma rico em diversidades

    18 Rejane Magalhes de Mendona Pimentel: Plantas medicinais, riquezas do bioma

    20 Rodrigo Castro: Educao ambiental, valorizao de diversidades

    24 Maria Tereza Bezerra Farias Sales: Produtos artesanais compem o cenrio de biodiversidade da Caatinga

    25 Ulysses Paulino de Albuquerque: Plantas com potencial alimentcio em evidncia

    DESTAQUES DA SEMANA28 ENTREVISTA DA SEMANA: Ricardo Abramovay: Repensar a economia.

    O desafio do sculo XXI

    35 Memria: Gilberto Velho (1945-2012): Um adeus ao pai da antropologia da cidade na cidade

    37 COLUNA DO CEPOS: Luciano Gallas: governos, polticas pblicas e comunicao

    39 DESTAQUES ON-LINE

    IHU EM REVISTA40 Agenda da semana

    42 Castor Bartolom Ruiz Objetivao e governo da vida humana. Rupturas arqueo-genealgicas e filosofia crtica

    49 Entrevistas de Eventos: Gerhard Overbeck Campos sulinos: os desafios da conservao da biodiversidade

    53 Entrevistas de Eventos: Jos Luiz Bica de Melo Retratos coloridos e em preto e branco. Os muitos mundos da favela

    55 Entrevistas de Eventos: Pedro Tonon Zuanazzi Retratos coloridos e em preto e branco. Os muitos mundos da favela

    58 IHU REPRTER: Regina Catarina de Alcntara

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    Conhea a Caatinga

    Caatinga (do tupi: caa (mata)

    + tinga (branca) = mata branca)

    o nico bioma exclusivamen-

    te brasileiro, o que significa que

    grande parte do seu patrimnio

    biolgico no pode ser encon-

    trado em nenhum outro lugar do

    planeta. Este nome decorre da

    paisagem esbranquiada apre-

    sentada pela vegetao durante

    o perodo seco: a maioria das

    plantas perde as folhas e os tron-

    cos tornam-se esbranquiados

    e secos. A Caatinga ocupa uma

    rea de cerca de 850.000 km,

    cerca de 10% do territrio nacio-

    nal, englobando de forma cont-

    nua parte dos estados do Mara-

    nho, Piau, Cear, Rio Grande

    do Norte, Paraba, Pernambuco,

    Alagoas, Sergipe, Bahia (regio

    Nordeste do Brasil) e parte do

    norte de Minas Gerais (regio

    Sudeste do Brasil).

    Ocupando cerca de 850 mil

    Km2, o mais fragilizado dos

    biomas brasileiros. O uso insus-

    tentvel de seus solos e recursos

    naturais ao longo de centenas

    de anos de ocupao, associado

    imagem de local pobre e seco,

    fazem com que a Caatinga esteja

    bastante degradada. Entretanto,

    pesquisas recentes vm revelan-

    do a riqueza particular do bioma

    em termos de biodiversidade e

    fenmenos caractersticos.

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    Caatinga, um bioma desconhecido e a Convivncia com o Semi ridoA Caatinga ocupa 11% do territrio nacional e mereceria, sem dvida, um enfoque apropriado para a rea que engloba. Esta rea corresponde s superfcies da Alemanha e Frana juntas, constata o idealizador do Instituto Regional da Pequena Agropecuria Apropriada IRPAA, com sede em Juazeiro, BA Por Graziela Wolfart

    Por Thamiris magalhes

    A Caatinga o bioma mais frgil que temos no Brasil. A cincia, identifi-cando sua fauna e flora, nos mostra que no existe uma Caatinga s, mas muitas formas, criadas pela interao de seus seres vivos com o conjunto edafoclimtico local. O clima Semi rido, com uma estao chuvosa curta e longos meses sem chuva, onde a eva-porao potencial supera a precipitao prati-camente em todos os meses do ano, constata, em entrevista concedida por e-mail IHU On--Line, Haroldo Schistek. Segundo ele, defen-sor do paradigma Convivncia com o Semi--rido, a Caatinga ocupa 11% do territrio nacional e mereceria, sem dvida, um enfoque apropriado e polticas pblicas feitas exclusiva-mente para a rea que engloba.

    Schistek avalia ainda que no se pode pensar o Semi rido Brasileiro com seu bioma Caatinga de forma isolada, com propostas se-toriais. A educao escolar tradicional tem

    contribudo muito para espalhar uma imagem de inviabilidade econmica, feiura e morte, diz.

    Haroldo Schistek telogo pela niversi- telogo pela niversi-dade de Salzburgo, ustria, agrnomo pela niversidade de Agricultura em Viena e tem Faculdade de Agronomia do Mdio So Fran-cisco em Juazeiro, na Bahia. idealizador do Instituto Regional da Pequena Agropecuria Apropriada IRPAA, com sede em Juazeiro, fundado em 1990. Trabalha com assessoria re-lacionada a recursos hdricos, desenvolvimento rural, beneficiamento de frutas nativas, ques-tes agrrias, entre outras reas. elabora-dor de apostilas, livros, relatrios. Alm disso, acompanha e coordena programas junto de agricultores, dentro do conceito da Convivn-cia com o Semi rido. Atualmente integra a Coordenao Coletiva do IRPAA como coorde-nador administrativo.

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line Como podemos definir a atual situao da Caatinga? Quais os avanos e dilemas que ainda preocupam as populaes que vivem no local e os pesquisadores que estu-dam o bioma?

    Haroldo Schistek A situao da Caatinga catastrfica. Esse bioma continua sendo o mais desconhecido do Brasil embora seja caraterstico nosso, s existe no nosso pas. Cien-tificamente tem-se avanado, mas os polticos que tomam a deciso no querem reconhecer sua fragilidade e realizar as propostas da sociedade ci-vil que, de um lado, poderiam garantir a sua preservao e, de outro lado, poderiam garantir uma renda estvel para a populao humana. A essncia

    nesta proposta se resume no paradig-ma da Convivncia com o Semi ri-do. A Caatinga ocupa 11% do territ-rio nacional e mereceria, sem dvida, um enfoque apropriado e polticas pblicas feitas exclusivamente para a rea que engloba. Esta rea corres-ponde s superfcies da Alemanha e Frana juntas! imagine quantas po-lticas localizadas regionalmente po-demos encontrar nesses dois pases e aqui no temos, at o momento, nenhuma poltica consistente para a rea toda.

    IHU On-Line De que maneira podemos pensar formas de preserva-o da Caatinga?

    Haroldo Schistek Infelizmente, preciso insistir num fato que todos preferem no mencionar, por ser in-cmodo, por tocar em privilgios de uma minoria e de ser perigoso e, em muitos casos, at mortal. Trata-se da questo da terra, ou melhor, do ta-manho dela. A Embrapa Semi rido afirma que na grande regio da De-presso Sertaneja1 uma propriedade

    1 A Depresso Sertaneja - So Francisco uma unidade geoambiental localizada no Nordeste brasileiro e centro-oeste de Minas Gerais. Ocorre em grande parte do estado do Cear, e grandes reas do Rio Grande do Norte, Paraba, Alagoas, Sergipe, Bahia e centro-oeste de Minas Gerais. Na Bahia, ocupa toda a calha do rio So Francisco at a regio de Pirapora. (Nota da IHU On-Line)

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    necessita de at 300 hectares de terra para ser sustentvel, sendo a atividade principal a criao de caprinos e ovi-nos. Assim, a principal forma de pre-servar a Caatinga dotar as famlias de um tamanho de terra adequado s condies de semiaridez. Quanto mais seca a regio, mais terra se precisa. E qual a realidade? Propriedades de dois, trs, dez hectares, enquanto no outro lado da cerca uma nica pes-soa possui dois ou trs mil hectares. E no falo de reforma agrria, mas de adequao fundiria, pois as famlias possuem terra, so da terra, mas s precisam dela em tamanho suficiente para ter uma produo estvel, poder acumular reservas e assim suportar as instabilidades climticas. Se for assim, poderemos esquecer para sempre os programas famigerados como Bolsa Fa-mlia, carros-pipa e cestas de alimentos.

    IHU On-Line Existe a possibili-dade de recuperao de reas do bio-ma em alguns casos? O que falta para que isso acontea?

    Haroldo Schistek O grande mal que se fez Caatinga no vem de ago-ra, deste ou do sculo passado. Vem desde a primeira ocupao pelos por-tugueses e tem alguma coisa a ver com a monocultura de cana de acar no litoral nordestino. O gado, indis-pensvel para o manejo da cana de acar e para a alimentao da popu-lao humana, num certo momento, numa poca que no existia o arame farpado, no podia mais ficar prximo s plantaes e foi por decreto gover-namental mandado para o interior. E j em 1640 se estabeleceu o primeiro curral para gado bovino no mdio So Francisco, dando assim incio a uma se-quncia at hoje mantida: uma poltica concebida fora da regio, introduzindo algo no adaptado ao clima, servindo a interesses estranhos. No demorou e se formaram dois imensos latifndios que ocuparam toda a regio desde o Maranho at Minas Gerais: os morga-dos da Casa da Torre e outro da Casa da Ponte. Para o povo, s existia lugar como vaqueiro, que mantinha sua ro-cinha para alimentar a famlia, mas ele nunca poderia ser dono daquele peda-o de cho. Essa a origem da agricul-tura familiar na regio.

    Caatinga pensada de forma micro

    O que se precisa uma mudan-a de percepo em relao Caa-tinga: devemos deixar de pensar esta regio em termos macro Brasil. Em vez disso, pens-la em termos micro. Tendo em vista unicamente a Caatinga e sua populao humana, encontran-do solues sustentveis, estaremos beneficiando o bioma, os homens e mulheres e, em ltima consequncia, o Brasil macro.

    IHU On-Line Quais as principais caractersticas da Caatinga?

    Haroldo Schistek A Caatinga o bioma mais frgil que temos no Bra-sil. A cincia, identificando sua fauna e flora, nos mostra que no existe uma Caatinga s, mas muitas formas, cria-das pela interao de seus seres vivos com o conjunto edafoclimtico local. O clima Semi rido, com uma esta-o chuvosa curta e longos meses sem chuva, onde a evaporao potencial supera a precipitao praticamente em todos os meses do ano. Em Jua-zeiro da Bahia, temos, por exemplo, cerca de 550 mm de chuva, mas a evaporao potencial atinge at 3.000 mm por ano. Os solos so, em sua maioria, rasos e de baixa fertilidade. Ento, pode-se perguntar: o que fazer com um pedao do Brasil desse jeito, uma vez que quase no chove, e, mui-tas vezes, os solos so inapropriados? Alm disso, em 80% da regio no existe lenol fretico, pois a natureza nos oferece uma resposta muito clara. Porm, na Caatinga h uma diversida-de de plantas e animais maior que em outros biomas do Brasil. Existem plan-tas e animais que aprenderam a convi-ver de maneira perfeita com esse tipo de chuva e de solo e que descansam durante os oito meses em que no h chuva, para resplandecer de manei-ra inacreditvel depois das primeiras chuvas numa exploso de cores, per-fumes, frutas e sementes. A convivn-cia com o Semi rido consiste nisto: aprender com a natureza a realizar as atividades; criar plantas e animais aos quais ela d suporte e no insistir em algo que no possui a maleabilidade gentica como o caso do milho e do gado bovino.

    IHU On-Line No que consiste e qual a importncia da produo adaptada e das formas de captao e armazenamento de gua para o bioma?

    Haroldo Schistek Devemos ab-dicar da ideia que o fornecimento de gua para as famlias e suas criaes possa trazer algum benefcio Caa-tinga. primeira vista, a gua parece o fator limitante quando, na verdade, a capacidade de produzir forragens para os animais e alimento para os hu-manos. Ela continua mantendo popu-laes humanas e rebanhos em reas reduzidas. Mas, fornecendo gua, h somente uma maior presso sobre o bioma j fragilizado.

    Em relao produo adaptada, defendemos a manuteno ou reesta-belecimento da vegetao nativa, pois a Caatinga em p vale mais do que a Caatinga derrubada. Somente em pequenas reas, especialmente para o consumo local e utilizando todos os preceitos agronmicos de preser-vao da umidade e da estrutura do solo, pode-se pensar em plantios de roas, utilizando plantas adaptadas s irregularidades climticas.

    IHU On-Line No que consiste o recaatingamento e de que forma ele pode ser uma soluo para os proble-mas enfrentados no bioma?

    Haroldo Schistek O prprio ter-mo j quer chamar ateno de que o desafio diferente. Poderamos ter chamado de reflorestar a Caatinga. Mas Caatinga no uma floresta, no estepe, nem savana Caatinga mesmo. Tambm no se trata de criar uma reserva do tipo Ibama. Temos um caso deste na regio de Juazeiro--Sobradinho. Querem expulsar todos os moradores para criar um parque de preservao natural. Para proteger a Caatinga. E quem protege as famlias que tm sua base de vida h geraes nestas reas? Ademais, podemos afir-mar com toda certeza que estas reas que se pretendem proteger so pre-servadas assim at hoje, pois foram utilizadas no sistema de Fundo de Pasto.

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    RecaatingamentoO recaatingamento um proces-

    so complexo, pois inclui amplas medi-das educativas e aprofundamento em conhecimentos sobre a natureza para as populaes. No se trata de trazer um agente de fora, que cerque uma rea e plante mudas. No bioma, for-mam-se pessoas. Portanto, neces-srio que cada uma seja convencida do valor da Caatinga em p, que seja o plantador e cuidador das plantas e cercas nos anos seguintes.

    Quem se interessar pode acessar: http://www.recaatingamento.org.br/.

    IHU On-Line Quais as principais ameaas que a Caatinga enfrenta?

    Haroldo Schistek Podemos di-zer que a principal ameaa o cami-nho econmico (equivocado!) tomado pelo Brasil nos ltimos anos. Nosso pas se tornou campeo mundial em exportao de commodities, e as re-as da Caatinga se tornaram objetos de cobia para grandes empreendimen-tos. Depois de alguns anos de maior calma, est agora recrudescendo a gri-lagem de terra e o assassinato de agri-cultores familiares e de seus represen-tantes, quando resistem ao roubo de suas terras. No bioma, querem fazer de tudo: usina nuclear, grandes bar-ragens para hidroeltricas, intermin-veis reas irrigadas para, por exemplo, produo de etanol, minerao, par-ques elicos, criao industrializada de caprinos e bovinos, entre outros.

    IHU On-Line De que maneira ela pode ser utilizada de forma sus-tentvel? Qual o papel da populao nesse sentido?

    Haroldo Schistek No se pode pensar o Semi rido Brasileiro com seu bioma Caatinga de forma isolada, com propostas setoriais. A educao esco-lar tradicional tem contribudo muito para espalhar uma imagem de inviabi-lidade econmica, feiura e morte. Ain-da recentemente, encontrei um livro didtico, no captulo sobre os biomas brasileiros, que mostrava uma foto da Caatinga nos meses da estiagem, com a legenda inacreditvel: Caatin-ga morta. Na verdade, os arbustos e rvores retratados somente estavam em hibernao, cheios de seiva e nu-trientes, esperando apenas a primeira chuva para se vestirem novamente em

    abundantes roupas de folhas e flores. Ou seja, precisamos de uma educao contextualizada, que leve o contex-to da vida dos alunos, das plantas da Caatinga, da sua casa de adobe, para dentro da sala de aula. Tivemos expe-rincias magnficas nesse sentido com os alunos preservando ateno de ma-neira inacreditvel, sendo as faltas s aulas quase no registradas. Materiais nesse sentido j existem. Precisamos que o Ministrio da Educao e Cul-tura faa uma volta de 180 graus em termos de polticas educacionais, pois no somente necessrio que exista material didtico apropriado. indis-pensvel que a formao de professo-res nas universidades seja no sentido da contextualizao e que a formao continuada do corpo docente acom-panhe a proposta. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional nos d cobertura total nesse sentido.

    Criao de animaisA Caatinga representa um pas-

    to nativo de grande valor nutritivo, muito apropriado para a criao de animais de mdio porte menos para gado bovino, que pouco aproveita o pasto, consome muita gua e causa ainda eroso no solo, por causa de seu maior peso. No entanto, faz-se neces-srio evitar o superpastoreio, atravs da anlise criteriosa de capacidade de suporte e de fornecimento de alimen-to suplementar na segunda metade dos meses secos. Mas preciso ficar atento forma organizacional.

    Caracterstica da chuva na Caatinga

    A caracterstica da chuva irregu-lar em dois sentidos: no tempo e no espao geogrfico. Quer dizer, nunca se sabe quando se ter outra chuva nem em que rea ela cair. Essa ir-regularidade muito acentuada. O Fundo de Pasto, forma tradicional de posse de terra no Semi rido, remo-to desde as Sesmarias, atende a esta caracterstica. As reas de pasto no so individualizadas, no possuem cercas para separar cada propriedade. Os animais de todos os proprietrios pastam livremente em toda a rea, deslocando-se sempre para aquelas manchas onde choveu recentemente.

    Com isso eles evitam superpastoreio e garantem animais bem alimentados. Organizando dessa maneira a terra, de forma coletiva, a rea necessria por famlia pode ser bem menor, mes-mo na Depresso Sertaneja: entre 80 e 100 hectares. A rea do Fundo de Pasto fica sob a responsabilidade de uma associao, dos prprios donos. Temos belos exemplos de como essa forma organizacional eleva a conscin-cia ambiental e proteje a Caatinga.

    DiversidadesAlm da criao de animais, exis-

    tem grandes riquezas extrativistas, como o umbu ou a maracuj do mato que, beneficiado em forma de geleia, doce e compota, at j conquistaram o paladar europeu. Encontramos tam-bm, como em nenhum bioma brasi-leiro, uma grande diversidade de plan-tas medicinais, com uso industrial, ainda no explorada ou apenas de ma-neira irregular. J o potencial lenheiro duvidoso e, a nosso ver, no deve ser cogitado em se tratando de Caatinga.

    IHU On-Line Gostaria de acrescentar algum aspecto no questionado?

    Haroldo Schistek O Semi rido Brasileiro era algo desconhecido para a percepo geral e o IRPAA desmistifi-cou isso. Sempre se falava no Nordes-te tem seca. Mas Nordeste Mara-nho com sua regio pr-amaznica; a regio com as chuvas de Belmonte da Bahia com seus 3.000 mm por ano e do oeste baiano com chuva to regu-lares que parece que tem um contrato com So Pedro. Isso foi parte da nossa campanha nos primeiros dez anos de existncia do IRPAA: dizer que a regio da seca o Semi rido que fica na maior parte no Nordeste, mas abrange tambm parte de Minas Gerais.

    Programas para o Semi ridoFiquei contente quando Dilma,

    em seu discurso de posse, falou em programas especficos para o Semi rido e no mais Nordeste. Para dar visibilidade, criamos o nome Semi rido Brasileiro, como iniciais em maisculo. Ento, devemos distinguir quando se fala de uma regio semiri-da ou quando fala do Semi rido Bra-sileiro. At a sigla criada SAB j se popularizou.

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    IHU On-Line Como pode ser definido sistematicamente o bioma Caatinga? Quais reas ele abrange? Equivale a quantos por cento do territrio nacional?

    Joo Arthur Seyffarth A Ca-atinga o nico bioma exclusiva-mente brasileiro. Ela composta por oito ecorregies e vrios tipos de vegetao de savana e flo-restais. um bioma adaptado s condies semiridas e se locali-za nos nove estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais, ocu-pando 11% do territrio nacional (844.453 km).

    IHU On-Line Como pode ser caracterizado o clima no bioma?

    Joo Arthur Seyffarth O cli-ma da Caatinga semirido, com temperaturas anualmente entre 25C e 29C, em mdia. A esta-o de seca em geral de 7 a 10 meses, podendo ficar at 12 me-ses sem chover em certas regies, sendo que as estiagens podem durar mais do que dois anos em algumas regies. Em geral, a pre-cipitao anual no passa de 800 mm em reas de plancie e fica entre 800 e 1.200 mm nas reas mais elevadas.

    IHU On-Line Que tipos de biodiversidades a Caatinga oferece?

    Joo Arthur Seyffarth A Ca-atinga o bioma semirido mais biodiverso do mundo, sendo ex-tremamente diverso em espcies animais, vegetais, em paisagens e sob o ponto de vista gentico. Tambm muito rico o conheci-mento tradicional associado a esta biodiversidade, que pode ser ex-plorado para seu uso sustentvel e para o desenvolvimento sustent-vel do pas.

    IHU On-Line Por que moti-vo a Caatinga um dos biomas menos conhecidos do pas?

    Joo Arthur Seyffarth O bioma Pampa ainda menos co-nhecido do que a Caatinga. O desconhecimento da Caatinga e do seu potencial para o desenvol-vimento do pas decorre de vrios fatores. Dentre eles est o menos-prezo por biomas que no sejam florestais, vistos como pobres em biodiversidade e potencial econ-mico; o fato de a Caatinga estar situada longe dos principais cen-tros do pas, em termos econ-micos e populacionais; e o pouco

    conhecimento cientfico sobre sua biodiversidade, que resulta dos poucos centros de pesquisa e universidades instaladas em seu territrio. Tudo isso tambm gera pouco interesse da mdia em di-vulgar o bioma, o que s comeou a mudar nos ltimos anos.

    IHU On-Line Quais so as riquezas vegetais que o bioma oferece?

    Joo Arthur Seyffarth A Ca-atinga tem identificadas 932 es-pcies vegetais, sendo 318 end-micas, que s ocorrem no bioma. Existem 12 tipos de vegetaes na Caatinga, que vo das mais aber-tas, como as Caatingas arbusti-vas e arbustivo-arbreas, at as mais florestais, como as florestas estacionais.

    IHU On-Line Tem dados de quantas espcies de animais vi-vem no bioma? O que isso repre-senta para o pas?

    Joo Arthur Seyffarth Em torno de 1.487 espcies nativas de animais vivem na Caatinga, sendo 178 de mamferos, 591 de aves, 177 de rpteis, 79 de anfbios, 241 de peixes e 221 de abelhas.

    Semirido, o bioma mais diverso do mundoTrata-se de um bioma adaptado s condies semiridas e se localiza nos nove estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais, ocupando 11% do territrio nacional

    Por Thamiris Magalhes

    A Caatinga o bioma semirido mais biodiverso do mundo, sendo extre-mamente distinto em espcies ani-mais, vegetais, em paisagens e sob o ponto de vista gentico, frisa o bilogo Joo Arthur Seyffarth, em entrevista concedida por e-mail IH On-Line. E continua: tambm muito rico o conhecimento tradicional associado a esta biodiversidade, que pode ser explorado para seu uso sustentvel e para o desenvolvimento sustentvel do pas. Segundo Seyffarth, a Ca-atinga tem identificadas 932 espcies vegetais,

    sendo 318 endmicas, que s ocorrem no bioma. Existem 12 tipos de vegetaes na Ca-atinga, que vo das mais abertas, como as ca-atingas arbustivas e arbustivo-arbreas, at as mais florestais, como as florestas estacionais.

    Joo Arthur Seyffarth bilogo, mestre em ecologia e coordenador do Ncleo do Bio-ma Caatinga da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministrio do Meio Ambiente MMA.

    Confira a entrevista.

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    Essa diversidade ajuda a preservar uma srie de servios ambientais importantes para a regio e o pas, como a polinizao, sem a qual no existe agricultura, e mantm a diversidade das plantas, j que elas dependem da fauna para se reproduzirem, dispersarem suas sementes e para a ciclagem de nutrientes. As abelhas nativas so uma fonte de rendimentos para um grande nmero de pessoas e so utilizadas em produtos industriais. Tal diversidade tambm pode ser explorada, com grandes benefcios econmicos para o pas, na utili-zao de seus recursos genticos, desde que devidamente autoriza-dos, para os mais diversos fins, tan-to na indstria farmacutica como na alimentcia, dentre outros.

    IHU On-Line Tem dados de quantos por cento da rea do bioma j foi alterada?

    Joo Arthur Seyffarth Em torno de 46% do bioma j foram desmatados, segundo dados do Projeto de Monitoramento dos Biomas Brasileiros, do Ministrio do Meio Ambiente MMA/Ibama, sendo que grande parte dos rema-nescentes foram alterados e so utilizados para vrias atividades humanas, como criao de bovi-nos, caprinos e ovinos, bem como para a retirada de lenha para fo-ges domsticos e fornos indus-triais, principalmente nos polos gesse iro (Chapada do Araripe CE/PI/PE) e cermicos (por exemplo,

    as regies do Serid-RN e Baixo Jaguaribe-CE).

    IHU On-Line Qual a situao social e econmica das pessoas que residem na rea da Caatinga?

    Joo Arthur Seyffarth O semirido brasileiro ainda apre-senta os piores ndices de desen-volvimento humano do pas. Em geral, isso se repete para os de-mais ndices sociais e econmicos. No entanto, a regio vem nos lti-mos anos crescendo mais do que a mdia nacional e os ndices sociais vm melhorando, fruto do maior investimento pblico na regio e das polticas sociais destinadas aos menos favorecidos.

    IHU On-Line Em que sen-tido a conservao da Caatinga est intimamente associada ao combate da desertificao?

    Joo Arthur Seyffarth Cer-ca de 60% das reas susceptveis desertificao no pas esto na Caatinga, incluindo trs ncleos de desertificao (regies do Se-

    rid-RN, Cabrob-PE e Irauuba--CE), que so as reas mais afe-tadas pelo processo. Alm dessas, existem muitas reas do bioma j afetadas de forma grave ou mui-to grave por esse processo. Dessa forma, promover a conservao, por meio de aes de conservao de paisagem (por exemplo, cria-o e consolidao de Unidades de Conservao) e de espcies (con-servao de espcies ameaadas, controle de invasoras) bem como o uso sustentvel (manejo madei-reiro e no madeireiro, manejo agrosilvopastoril) e a recuperao de reas degradadas neste bioma o mesmo que combater a deser-tificao, a mitigao e adaptao s mudanas climticas.

    IHU On-Line Gostaria de acres-centar algo?

    Joo Arthur Seyffarth im-portante destacar as aes que vm sendo realizadas pelos go-vernos estaduais e federal bem como por inmeras organizaes da sociedade civil em prol do bio-ma, o que tem aumentado a rea protegida por unidades de con-servao, e os projetos voltados para o manejo sustentvel da sua biodiversidade para diversos usos. Destaca-se que alguns fundos tm investido no bioma, como o Fundo Socioambiental da Caixa Econmi-ca, o Fundo de Converso da Dvi-da Americana e o Fundo Clima. Es-ses ltimos sob a responsabilidade do MMA.

    Cerca de 60% das reas susceptveis

    desertificao no pas esto na

    Caatinga

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    IHU On-Line Como avalia a devastao e o desaparecimento de plantas e animais na Caatinga?

    Lcia Helena Piedade Kiill A de-vastao e o desaparecimento da Ca-atinga podem ser considerados como um dos impactos ambientais mais re-levantes para o semirido brasileiro. Hoje, a degradao e fragmentao de ambientes naturais so considera-das como uma das principais causas de extino, pois, alm de reduzirem os habitats disponveis para a fauna e flora locais, aumentam o grau de iso-lamento entre suas populaes, o que pode acarretar perdas de variabilida-de gentica. Por ser tratar de um bio-ma de ocorrncia exclusivamente no territrio brasileiro, a Caatinga possui flora e fauna endmicas da regio, ou seja, que no ocorre em nenhum ou-tro bioma. O desaparecimento dessas espcies, mesmo antes de serem es-tudadas, dificulta o entendimento dos

    processos ecolgicos e, consequente-mente, de aes para minimizar esses impactos.

    IHU On-Line Quais so as r-vores e espcies brasileiras conside-radas ameaadas de extino na Ca-atinga? Como podemos definir esta situao no bioma?

    Lcia Helena Piedade Kiill Por ser considerado como um bioma ain-da pouco estudado, torna-se difcil quantificar as espcies ameaadas de extino e quantas j foram extin-tas antes de serem conhecidas. Atu-almente a lista de espcies da flora ameaadas de extino divulgada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis - Ibama - contempla cerca de 50 esp-cies de ocorrncia na Caatinga. Porm, como j se sabe que mais de 60% da rea do bioma encontra-se de alguma forma alterada pela ao antrpica,

    acreditamos que este nmero pos-sa ser muito maior. Entre as famlias botnicas, as cactceas se destacam como o grupo com maior nmero de espcies sob ameaa. Quanto fauna, a lista est sendo atualizada. Para a Caatinga, as aves e os mamferos po-dem ser considerados como os grupos mais ameaados, principalmente pela caa e venda de animais silvestres.

    IHU On-Line Qual a importn-cia das espcies endmicas para o pa-trimnio biolgico do bioma?

    Lcia Helena Piedade Kiill Dian-te dos cenrios das mudanas clim-ticas globais, as plantas e animais da Caatinga constituem um patrimnio biolgico de valor incalculvel. Essas espcies esto totalmente adaptadas s condies locais, apresentando es-tratgias para conviver com a escassez de gua, a irregularidade das chuvas, as altas temperaturas, etc.

    Caatinga, ecossistema heterogneoNa verdade, este bioma formado por vrias fitofisionomias e, por isso, alguns autores j utilizam a denominao no plural as Caatingas brasileiras, diz Lcia Helena Piedade Kiill

    Por Thamiris Magalhes

    E m minha opinio, para se minimi-zar os impactos sobre a Caatinga, a sensibilizao de agentes multi-plicadores e a educao ambiental seriam os meios mais indicados para se divulgar a ri-queza e a importncia da sua biodiversidade, pontua Lcia Helena Piedade Kiill, em entrevis-ta concedida por e-mail IHU On-Line. Para a biloga, diante dos cenrios das mudanas climticas globais, as plantas e animais da Caatinga constituem um patrimnio biolgi-co de valor incalculvel. Essas espcies esto totalmente adaptadas s condies locais, apresentando estratgias para conviver com a escassez de gua, a irregularidade das chuvas, as altas temperaturas, etc. E completa: alm da importncia biolgica, essas espcies apre-

    sentam diversos potenciais que, se manejados de forma sustentvel, poderiam se tornar uma alternativa para o desenvolvimento da regio. A flora da Caatinga apresenta espcies de po-tencial frutfero, medicinal, aromtico, melfe-ro, forrageiro, ornamental, que podem ser con-sideradas como uma alternativa sustentvel para a regio.

    Lcia Helena Piedade Kiill possui graduao em Cincias Biolgicas pela Faculdade de Filo-sofia Cincias e Letras de Ribeiro Preto, ni-versidade de So Paulo SP e mestrado em Biologia Vegetal pela niversidade Estadual de Campinas nicamp. Nessa instituio, con-cluiu o doutorado em Biologia Vegetal.

    Confira a entrevista.

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    Alm da importncia biolgica, essas espcies apresentam diversos potenciais que, se manejados de for-ma sustentvel, poderiam se tornar uma alternativa para o desenvolvi-mento da regio. A flora da Caatinga apresenta espcies de potencial fru-tfero, medicinal, aromtico, melfero, forrageiro, ornamental, que podem ser consideradas como uma alternati-va sustentvel para a regio.

    IHU On-Line Como podemos caracterizar as diversidades florsticas encontradas na Caatinga?

    Lcia Helena Piedade Kiill A Caatinga no um ecossistema ho-mogneo. Na verdade, este bioma formado por vrias fitofisionomias e, por isso, alguns autores j utilizam a denominao no plural as Caatingas brasileiras. Essa variao na composi-o vegetal est relacionada a vrios fatores, destacando-se tipo de solos, volume das precipitaes, altitude e as prprias associaes entre as plan-tas. De modo geral, a Caatinga pode ser caracterizada como um complexo vegetal rico em espcies lenhosas e herbceas, sendo que as primeiras ge-ralmente perdem as folhas na estao seca, e as segundas apresentam ciclo anual.

    IHU On-Line Qual o papel das rvores, com suas folhas, flores e fru-tos, para a alimentao dos animais e da populao no bioma?

    Lcia Helena Piedade Kiill A flora da Caatinga desempenha impor-tante papel na relao com a fauna e com o sertanejo. No primeiro caso, as plantas podem ser consideradas como fonte forrageira para animais silves-tres e domsticos. As flores fornecem nctar, plen, leos e resinas para di-versos grupos de visitantes (abelhas,

    borboletas, moscas, besouros, aves, morcegos etc.) e os frutos servem de alimento para aves, mamferos e rp-teis. Alm disso, seus troncos e galhos so utilizados como locais de nidifica-o, havendo estreita relao entre es-pcies vegetais e determinadas esp-cies de abelhas, por exemplo. Quanto ao sertanejo, como comentando an-teriormente, a Caatinga apresenta plantas consideradas medicinais e j consagradas pelo uso popular. Outras, a exemplo do umbuzeiro, so impor-tantes fontes de renda para a comuni-dade local, que se mantm pelo extra-tivismo de seus frutos.

    IHU On-Line De que maneira a ecologia reprodutiva da flora pode contribuir para o uso racional dos re-cursos disponveis na Caatinga?

    Lcia Helena Piedade Kiill O co-nhecimento da ecologia reprodutiva das plantas, a exemplo da fenologia, dos processos de polinizao das flo-res e de disperso das sementes, es-sencial para se conhecer as interaes entre flora e fauna de um ecossiste-ma e como os impactos causados um grupo pode refletir direta ou indireta-mente sobre o outro. Para que uma espcie possa ser utilizada de forma sustentvel, sem comprometer essas associaes, estudos de sua ecologia reprodutiva so fundamentais para que possamos, a mdio e longo prazo, us-la sem comprometer seus proces-sos ecolgicos.

    IHU On-Line Quais so as plan-tas encontradas no bioma que ser-vem de uso medicinal?

    Lcia Helena Piedade Kiill V-rios so os exemplos de plantas da Caatinga que apresentam potencial medicinal. A literatura lista mais de 40 espcies entre rvores, arbustos, cips e herbceas, cujas folhas, razes, cascas ou sementes so utilizadas no preparo dos medicamentos caseiros. Dentre essas espcies, destacamos a aroeira do serto, barana e umbura-na de cheiro, espcies arbreas consi-deradas ameaadas de extino.

    IHU On-Line Gostaria de acrescentar algum aspecto no questionado?

    Lcia Helena Piedade Kiill Sim. Em minha opinio, para se minimizar os impactos sobre a Caatinga, a sen-sibilizao de agentes multiplicadores e a educao ambiental seriam os meios mais indicados para se divul-gar a riqueza e a importncia da sua biodiversidade.

    A devastao e o desaparecimento

    da Caatinga podem ser

    considerados como um

    dos impactos ambientais mais relevantes para

    o semirido brasileiro

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    IHU On-Line Por que motivo muitas vezes a Caatinga vista como uma rea seca e quente, com uma ve-getao formada por cactus e arbus-tos contorcidos?

    Marcos Antonio Drumond Como a Caatinga um tipo de vege-tao constituda especialmente de rvores e arbustos de pequeno porte, folhas midas e caduciflias2 e que

    2 Em botnica, caduciflia, caduca ou decdua o nome dado s plantas que, numa certa estao do ano, perdem suas folhas, geralmente nos meses mais frios e com chuva (outono e inverno). a forma que as plantas encontram para no perder gua pelo processo de evaporao, pelas folhas. s vezes, ficam s os galhos e o caule. Desta forma, elas armazenam a gua sem perder praticamente nada pela evaporao. (Nota da IHU On-Line)

    passa por pelo menos seis meses de estiagem ao ano, alguns mecanismos de adaptao foram desenvolvidos como espinhos, folhas pequenas e ca-duciflias, mecanismos que reduzem a transpirao excessiva. A vegetao herbcea temporria e presente apenas no perodo chuvoso. Sob a vegetao de Caatinga, os solos so geralmente rasos e, s vezes, com afloramentos rochosos. Em geral, a temperatura alta, com baixos ndices pluviomtricos, marcada pela irregu-laridade na distribuio das chuvas no tempo e no espao. Seus ndices plu-viomtricos so bastante irregulares, variando de 250 a 1.000 mm por ano e, geralmente, concentradas de dois a trs meses. Devido proximidade do Equador, as temperaturas mdias

    so elevadas em torno de 27C, com precipitaes mdias anuais em tor-no de 500 mm, com insolao mdia de 2.800 horas.ano-1, e evaporao em torno de 2.000 mm.ano-1. Essas caractersticas bioedafoclimticas so determinantes para as reas de domnio das Caatingas. Totalmente coberto pela vegetao de Caatinga, o semirido brasileiro um dos mais densamente povoados do mundo e, em funo das adversidades clim-ticas, associadas aos outros fatores histricos, geogrficos e polticos que remontam centenas de anos, abriga a parcela mais pobre da populao do pas.

    IHU On-Line Quais riquezas da fauna e flora a Caatinga oferece?

    Bioma rico em diversidades Produes florsticas, faunsticas, frutferas, de plantas medicinais e madeireiras so alguns exemplos do que pode ser encontrado no nico bioma exclusivamente brasileiro

    Por Thamiris Magalhes

    V ejo a Caatinga com uma parti-cularidade mpar. E esta beleza excepcional do bioma reside na diversidade de paisagens e o contraste visual proporcionado pelas estaes seca e chuvosa, comenta, em entrevista concedida por e-mail IH On-Line, Marcos Antonio Drumond. Segun-do ele, aps um episdio de chuva na Caatin-ga seca, em poucos dias surge uma vegetao exuberante, sugerindo uma verdadeira ressur-reio da vegetao, como se fosse uma p-gina acinzentada que, quando virada, d lugar ao verde com vrias tonalidades mescladas com o amarelo e branco e outras cores das flo-res do referido bioma.

    Quando aborda a questo das plantas me-dicinais, Drumond afirma que a Caatinga como uma verdadeira farmcia viva na qual a maioria das espcies destacada por inme-ras utilizaes na medicina caseira e outras. Como exemplo, ele cita a aroeira, barana, an-gico, pelo alto teor de tanino; pau-ferro, mar-meleiro, quebra-faca e outras. Vale destacar que toda a diversidade de espcies do bioma poderia ser mais bem aproveitada economi-

    camente, diante de estudos pormenorizados, especialmente explorando os princpios ativos de cada uma dessas espcies para a indstria farmacolgica, diz.

    Marcos Antonio Drumond pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa desde 1978. graduado em Enge-nharia Florestal pela niversidade Federal de Viosa, com mestrado em Engenharia Flores-tal pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/SP e doutorado em Cincias Flores-tais pela niversidade Federal de Viosa. Tem experincia nas reas de fitossociologia, mane-jo florestal, agrossilvicultura, recuperao de reas degradadas, florestas energtica e ainda com a seleo e manejo de plantas oleaginosas dos gneros Jatropha, Ricinus e Helianthus. responsvel pela introduo de diversas esp-cies arbreas de mltiplos usos na regio do semirido. Drumond ainda professor no cur-so de ps-graduao em Engenharia Florestal da niversidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos.

    Confira a entrevista.

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    Marcos Antonio Drumond Es-tas riquezas j foram temas de in-meros trabalhos cientficos. Dentre tais trabalhos, os inventrios da flora demonstram que o estoque madeirei-ro da Caatinga baixo quando compa-rado a outros biomas, podendo variar conforme as condies edafoclim-ticas locais. Algumas espcies so de grande importncia econmica, es-pecialmente para os agricultores da regio, como o caso de Spondias tu-berosa3, Anadenanthera macrocarpa4, Schinopis brasiliensis5, Miracroduon urundeuva6, Mimosa caesalpiniifolia7, Tabebuia impetiginosa8, Bursera lepto-phloeos9. Alm dessas, temos a Ambu-rana cearenses10, considerada espcie nobre, como S. brasiliensis, M. urun-deuva, que j se encontram de alguma forma protegidas, portanto, proibidas de explorao para fins energticos pelo Cdigo Florestal Brasileiro, para evitar sua extino. (Portaria do Ibama n. 37, de 3 de abril de 1992.)

    Quanto fauna, ela diversifi-cada e rica em endemismo embora haja, de forma geral, informaes in-suficientes para a maioria dos grupos estudados e, por isso, os nmeros en-contrados ainda subestimam a real di-

    3 Umbuzeiro ou Imbuzeiro. (Nota da IHU On-Line)4 Mais conhecido como Angico, localiza-se na floresta estacional semidecdual, floresta ombrfila densa, Cerrado e Caatinga. (Nota da IHU On-Line)5 Barana. (Nota da IHU On-Line)6 A urundeva tambm conhecida como aroeira, aroeira-preta, aroeira-do-serto, uriunduba, aroeira-do-campo e aroeira-da-serra. (Nota da IHU On-Line)7 Sabi. (Nota da IHU On-Line)8 Ip-roxo, pau-darco-roxo. (Nota da IHU On-Line)9 Imburana, Amburana, espinho, Amburana de cambao, entre outros. Cientificamente, recebeu o nome cientfico de Bursera leptophloeos, pertencendo famlia Burseraceae, a mesma da Amescla de cheiro. rvore com espinhos; folhas opostas e pinadas. Suas flores em cachos florescem nos meses de novembro e dezembro. Possui fruto do tipo drupa, acre doce, mas comestvel, quando bem maduro; os frutos da Imburana aparecem nos meses de janeiro, maro, abril e dezembro, geralmente. (Nota da IHU On-Line)10 A Amburana cearensis uma rvore pequena na Caatinga, de 4 a 10 m e de 20 m na mata pluvial, caduciflia. A casca vermelho-pardacenta, lisa suberosa e fina, com 7 mm de espessura, descamando em lminas delgadas. A ramificao dicotmica. Copa achatada e curta na Caatinga e alta, larga e umbeliforme na floresta. (Nota da IHU On-Line)

    versidade desse ecossistema. Porm, assim como as plantas, os animais tambm desenvolveram adaptaes s condies climticas da regio, a exemplo de hbitos noturnos e com-portamento migratrio.

    IHU On-Line Quais so as con-tribuies frutferas, medicinais e ma-deireiras do bioma?

    Marcos Antonio Drumond Den-tre as principais espcies frutferas na-tivas, o maior destaque recai sobre o umbuzeiro, por ele ser responsvel pela sustentao econmica de mui-tas famlias que vivem do seu extrati-vismo, nos perodos de safra. O estado da Bahia o maior produtor extrativis-ta do umbuzeiro e o maior consumi-dor nacional desse fruto, consumido in natura e nas formas de sucos, um-buzadas, doces variados, geleias, alm dos picles dos xilopdios das mudas de at 20 cm de altura. Dentre outras espcies frutferas alternativas para os agricultores familiares, podemos citar o maracuj-do-mato (Passiflora cincin-nata Mast. Passifloraceae); os arati-cuns (Anona sp. Annonaceae), com sete espcies listadas no Nordeste; o murici (Byrsonima spp. Malpighia-ceae), presente nas dunas s margens do rio So Francisco; o mandacaru (Cereus jamacaru P. DC. Cactaceae) e outras cactceas; o cambu (Euge-nia crenata Vel.), a goiabinha ou ara (Psidium spp. Myrtaceae) e o croa-t (Bromelia corata Linn. Bromelia-ceae). Todas podem ser encontradas sendo comercializadas em feiras livres nas regies da Caatinga.

    Plantas medicinaisQuanto s plantas medicinais, a

    Caatinga como uma verdadeira far-mcia viva em que a maioria das es-pcies destacada por inmeras uti-lizaes na medicina caseira e outras. Podemos citar a aroeira, barana, an-gico, pelo alto teor de tanino; pau-fer-ro, marmeleiro, quebra-faca e outras. Vale destacar que toda a diversidade de espcies do bioma poderia ser mais bem aproveitada economicamente, diante de estudos pormenorizados es-pecialmente explorando os princpios ativos de cada uma dessas espcies para a indstria farmacolgica.

    Espcies madeireirasAs espcies madeireiras so

    aquelas responsveis pelo abasteci-mento energtico de usos domsti-co, comercial e industrial em peque-nas, mdias e grandes indstrias de transformao. Muitas espcies, pelo elevado valor energtico ou por gran-de concentrao de tanino nas suas cascas, foram bastante exploradas no passado. Atualmente, com a demanda por produtos orgnicos para curtio e produo do couro orgnico, a procu-ra por essas espcies vem se intensifi-cando, trazendo grande preocupao com as ameaas a esses patrimnios genticos. Dentre as espcies mais procuradas, pode-se citar: Miracrodun urundeuva, Anadenanthera macrocar-pa, Schinopis brasiliensis e as do gne-ro Mimosa, especialmente a Mimosa tenuiflora. Dentre as espcies nativas, apenas a sabi Mimosa caesalpi-niifolia plantada comercialmente para produo de estacas.

    Caractersticas das principais espcies madeireiras da Caatinga

    Angico Anadenanthera macro-carpa Benth. uma rvore da famlia Mimosaceae, com porte mediano, atingindo at 15 m de altura, depen-dendo da regio. A casca grossa e muito rugosa. As folhas so compostas bipinadas e pequenas, com 10-25 pi-nas, com 20 a 80 fololos. As flores so alvas, dispostas em captulos globosos, axilares. Os frutos so vagens achata-das, finas, compridas e de cor escura. As folhas so txicas ao gado, porm, quando fenadas ou secas juntamente com os ramos novos, constituem exce-lente forragem para bovinos, caprinos e ovinos; a resina exudada dos troncos hemosttica, depurativa, adstringen-te e utilizada na medicina caseira em infuso e em xarope. A casca, muito rica em tanino, utilizada na indstria do curtume; e na medicina popular utilizada como expectorante (ch) ou cicatrizante (infuso). A madeira serve para estacas, moures, lenha e carvo de elevado poder calorfico.

    Aroeira Miracroduon urundeuva uma rvore da famlia Anacardia-ceae, de porte mediano, chegando a atingir 10 m de altura e 30 cm de di-metro. Apresenta fuste linheiro, ma-

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    deira dura de cor bege-roseado quan-do verde e roxo escuro quando seco. A casca castanho escuro, subdivididas em placas escamiformes, rica em tani-no (cerca de 15%), e so utilizadas na indstria do curtume. Na medicina po-pular, a casca utilizada no tratamen-to das vias respiratrias e urinrias. As folhas quando maduras servem como forrageiras. A resina exudada dos tron-cos utilizada no preparo da goma arbica. A madeira serve para obras externas, moures, vigas, construes rurais, estacas, dormentes e carvo de elevado poder calorfico; a densidade bsica da madeira superior a 0,66g/cm3, o rendimento gravimtrico de carbonizao 38,4% a 420200C, o teor de carbono de 72%, teor de cin-za de 4,8, obtidos atravs da anlise qumica imediata do carvo em base seca.

    Barana Schinopsis brasiliensis Engl. uma rvore da famlia Ana-cardiaceae, tpica do serto nordes-tino, geralmente, encontrada em grupamentos em certas reas e desa-parecendo em outras. rvore de porte mediano chegando a atingir 12 m de altura e 30 cm de dimetro. A casca escura, rugosa e tambm rica em tanino, utilizada na indstria do cur-tume. Na medicina popular, a casca utilizada como analgsico digestivo. As folhas so verdes e permanecem durante quase todo ano, podendo ser utilizadas no tratamento da gri-pe e presso alta. A resina exudada dos troncos utilizada no preparo da goma arbica. A madeira muito dura e de elevada densidade, servindo para obras internas, pilo esteios, vigas, es-tacas, moures, lenha e carvo de ele-vado poder calorfico.

    Jurema preta Mimosa tenuiflora (Willd.) Poiret., pertencente famlia Mimosaceae, uma rvore de peque-no porte de at 7 m de altura, com acleos esparsos nas partes mais no-vas, s vezes, podendo ser encontrada inermes naturalmente na Caatinga. As folhas so compostas, alternas e bipi-nadas. As flores so alvas, dispostas em espigas e melferas. Os frutos so pequenas vagens pluriarticuladas. As folhas so forrageiras para os caprinos e bovinos e as cascas so sedativas, narcticas, adstringentes e amargas, sendo utilizadas como cicatrizantes, digestivas e na curtio de couro. A

    madeira serve para estacas, lenha e carvo de elevado poder calorfico.

    Sabi Mimosa caesalpiniaefo-lia Benth., pertencente famlia Mi-mosaceae, ocorre naturalmente nos estados do Rio Grande do Norte, Piau e Cear, parte do Maranho e de Per-nambuco, na chapada do Araripe, di-visa com o Cear. Foi introduzida com xito em regies midas dos estados do Rio de Janeiro e So Paulo, sendo que nesses locais a espcie conheci-da como sanso-do-campo. uma r-vore de pequeno porte, atingindo fase adulta, at 8 m de altura e cerca de 20 cm de dimetro altura do peito; o tronco apresenta acleos que desapa-recem com a idade. J os ramos jovens apresentam um grande nmero de acleos. Tem crescimento cespitoso, ou seja, de um mesmo ponto na base da planta partem vrios fustes. Cresce preferencialmente em solos profun-dos e frteis, podendo, a partir do ter-ceiro ao quarto ano, j poder fornecer madeira para estacas de cercas. Tem apresentado bom desenvolvimento tambm em solos mais pobres, po-rm, nesses casos, importante suprir as plantas por meio de adubao org-nica ou qumica. A espcie se destaca como uma das principais fontes de es-tacas para cercas no Nordeste, em es-pecial no estado do Cear. A madeira tambm utilizada para energia, apre-sentando peso especfico em torno de 0,87 g cm-3 e um teor de carbono de aproximadamente 73%. Essas carac-tersticas qualificam a espcie como uma boa opo para a produo de lenha e carvo. Atualmente, nas reas irrigadas do Vale do Rio So Francisco, no semirido nordestino, as estacas tm sido amplamente comercializa-das e utilizadas principalmente como tutores para apoio e sustentao das videiras.

    IHU On-Line Quais so as prin-cipais espcies forrageiras encontra-das no bioma?

    Marcos Antonio Drumond O potencial das espcies forrageiras po-dem variar em funo das variaes edafoclimticas. Entre as diversas espcies da Caatinga com potencial forrageiro, pode-se destacar a mani-oba (Manihot pseudoglaziovii Pax& K. Hoffm.), o angico (Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan), o pau fer-ro (Caesalpinia ferrea Mart), a catin-gueira (Caesalpinia pyramidalis Tul), a catingueira rasteira (Caesalpinia mi-crophylla Mart), a favela (Cnidoscolus quercifolius Pax & K. Hoff.), a canafis-tula (Senna spectabilis (DC.) Irwin et Barn), o marizeiro (Geoffroea spinosa Jacq.) o moror (Bauhinia sp.), o sabi (Mimosa caesalpiniifolia Benth.), o rompe gibo (Pithecelobium avaremo-temo Mart.), o juazeiro (Ziziphus joa-zeiro Mart.), a jurema preta (Mimosa tenuiflora Willd ), o engorda-magro (Desmodium sp), a marmelada de ca-valo (Desmodium sp), o feijo bravo (Phaseolus firmulus Mart), a camaratu-ba (Cratylia mollis Mart), o mata pasto (Senna sp) e as urinrias (Zornia spp), entre as espcies arbreas, arbustivas e semiarbustivas. Destacam-se ainda as cactceas forrageiras como, por exemplo, o facheiro (Pilosocereus pa-chycladus Ritter) e o mandacaru (Ce-reus jamacaru DC.). Entretanto, des-tacamos ainda o umbuzeiro, que pode ter suas folhas utilizadas como opo alimentar para caprinos, ovinos, bovi-nos e muares como pastejo direto no perodo chuvoso e/ou fenadas, espe-cialmente, no perodo de seca.

    IHU On-Line Existem espcies na Caatinga que no so encontradas em nenhum outro lugar do planeta? Isso d destaque ao bioma?

    Marcos Antonio Drumond Sim. O nico bioma exclusivamente brasi-leiro abriga fauna e flora com muitas espcies endmicas, ou seja, que no so encontradas em nenhum outro lugar do planeta. Da a importncia desse que considerado patrimnio biolgico de valor incalculvel. Dentre elas podemos destacar o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda), pela sua expresso econmica, geradora de emprego e renda para o sertanejo,

    Quanto flora, so registradas cerca de 1.500 espcies para a

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    que uma espcie arbrea de ocor-rncia natural exclusiva do semirido brasileiro, e um dos recursos genticos mais importantes para a produo de frutos destinados ao consumo in na-tura e industrializao, alm de ser importante alternativa econmica e recurso de subsistncia para comuni-dades rurais no semirido do nordeste brasileiro nos perodos de safra.

    IHU On-Line Quais so as ri-quezas e diversidades vegetais que a Caatinga oferece? Tem dados de quantas espcies vegetais e animais vivem no bioma? O que esses dados representam?

    Marcos Antonio Drumond Quanto flora, so registradas cerca de 1.500 espcies para a regio, sen-do as famlias Leguminosae (18,4%), Convolvulaceae (6,82%) Euphorbia-ceae (4,83%), Malpighiaceae (4,7%) e Poaceae (4,37%) consideradas as mais ricas em nmero de espcies. De en-dmicas, so 20 gneros e mais de 300 espcies.

    Algumas famlias apresentam grande diversidade no bioma. A fam-lia Leguminosae a mais diversa, com 293 espcies em 77 gneros, das quais 144 so endmicas da Caatinga. Es-pcies de muitos gneros de Legumi-nosae contribuem para a constituio dos extratos arbreo e arbustivo que do a feio caracterstica da Caatin-ga, como Mimosa, Acacia, Caesalpinia e Senna. Outra famlia floristicamen-te importante Euphorbiaceae, com grande diversidade de espcies dos gneros: Croton, Cnidoscolus e Jatro-pha. As Cactceas constituem um im-portante elemento da paisagem, com seus caules suculentos, desprovidos de folhas e cobertos por espinhos. Fo-ram registradas para o referido bioma 58 espcies das quais 42 so endmi-cas da Caatinga. Outros gneros ca-ractersticos so Cereus, Pilosocereus, Melocactus e Tacinga, sendo este lti-mo endmico do bioma. A famlia Big-noniaceae bem representada, espe-cialmente com espcies de lianas dos gneros Arrabidaea, Adenocalymma e Piriadacus, o ltimo endmico da Caa-tinga. Vale destacar que o nmero de espcies arbreo-arbustivas peque-no com predominncia do extrato her-bceo, sendo a maioria temporrias.

    FaunaQuanto fauna, a Caatinga

    pobre em espcies e em nmero de animais por espcie, porm rica em endemismo; em espcies migrat-rias; em animais de hbitos noturnos e com adaptaes fisiolgicas. A he-terogeneidade ambiental associada singularidade de certos locais permite supor a possibilidade de a fauna de invertebrados da Caatinga ser riqussi-ma em diversidade e endemismo. Po-rm, o conhecimento do grupo ainda pequeno para uma quantificao. Os insetos, as abelhas, as formigas e os cupins so os representantes mais estudados, onde a apifauna da Caatin-ga est representada por cerca de 190 espcies, sendo registrada uma predo-minncia de abelhas raras e elevado percentual de endemismo.

    Sobre a biota aqutica, os conhe-cimentos so ainda incipientes, sendo os peixes os mais estudados: 240 es-pcies de peixes das quais, aproxima-damente, 57% so endmicas deste bioma; as informaes tambm so pontuais, destacando-se o grande nmero de peixes registrado para o Mdio So Francisco. A herpetofauna tambm pouco conhecida, sendo esta representada por 47 espcies de lagartos, dez anfisbendeos, 52 esp-cies de serpentes, quatro quelnios, trs crocodilos e 48 anfbios, dos quais existe um endemismo de 15%.

    Avifauna

    Apesar de a Caatinga ser consi-derada um importante centro de en-demismo para aves sul-americanas, a distribuio, a evoluo e a ecologia da avifauna continuam ainda muito pouco investigadas quando compa-radas com o esforo feito para ou-tros ecossistemas, sendo esse grupo o mais representativo, com cerca de 510 espcies registradas, das quais aproximadamente 92% se reprodu-zem na regio, estimando-se que cer-ca de 15 espcies e 45 subespcies sejam endmicas desse bioma. Entre-tanto, o grupo das aves considerado mais vulnervel, sendo listadas mais de 20 espcies ameaadas, dentre elas a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e a arara-azul-de-lear (Anodorbynchus leari).

    MamferosO grupo dos mamferos, em ge-

    ral, de pequeno porte e ainda exis-tem lacunas no conhecimento da diversidade do grupo, mas rica em diversidade: 148 espcies com ende-mismo para 19 espcies, podendo ser maior aps estudos com roedores e morcegos. Os primeiros so os mais abundantes.

    IHU On-Line Em que sentido a pecuria tem modificado a vegetao do bioma?

    Marcos Antonio Drumond Com relao pecuria, a capacidade de suporte da Caatinga de oito a 13 hectares por bovino e de 1 a 1,5 ha/caprino. O Nordeste possui 10,4 mi-lhes de caprinos, o que corresponde a 88% do rebanho brasileiro, e a ovi-nocultura responde por 39%, com 7,2 milhes de ovelhas. Como alternativa alimentar, vem crescendo a formao de pastos de capins exticos. A deso-bedincia dessa relao da capacida-de de suporte da Caatinga, que a su-perlotao de animais nas reas, tem causado impactos indesejveis tanto para vegetao como para os solos, pela compactao do pisoteio intenso de animais. Essa degradao dos solos reflete diretamente de forma quanti-tativa e qualitativa a cobertura vegetal das reas.

    IHU On-Line Como avalia o fato de uma grande concentrao

    Totalmente coberto pela

    vegetao de Caatinga, o semirido

    brasileiro um dos mais densamente

    povoados do mundo

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    de indstrias, como a de gesso nos municpios pernambucanos da Cha-pada do Araripe, utilizarem-se dos recursos florestais da Caatinga, neste caso, como suprimento energtico?

    Marcos Antonio Drumond A Chapada do Araripe, inserida no se-mirido brasileiro, estende-se por mais de 76 mil km2, ocorrendo em 103 municpios, dos quais 25 se en-contram no estado do Cear, 18 em Pernambuco e 60 no Piau.

    Em aproximadamente 18 mil km2, que corresponde a 20% do ter-ritrio pernambucano, est concen-trada a maior reserva de gipsita em explorao do Brasil. a maior rea de produo da Amrica Latina e a segunda do mundo, abastecendo o mercado nacional com 95% do ges-so consumido. A indstria do gesso responsvel por 93% de todo consu-mo de energticos florestais na rea do polo gesseiro. Estima-se que apro-ximadamente 65% da rea da Chapa-da do Araripe foram desmatadas at 2009.

    A demanda atual de energticos de base florestal para o polo gessei-ro do Araripe ultrapassa dois milhes de mst.ano-1 (incluindo os consumos industrial, comercial e domiciliar). Ressalta-se ainda que as atividades do polo gesseiro concorrem de maneira determinante para o agravamento dos problemas ambientais da regio por consumir, quase que exclusivamente, a vegetao nativa em seus fornos de desidratao do minrio a gipsi-ta. Isso representa, numa superfcie de corte sob manejo florestal, entre 9.500 ha.ano-1 (ciclo de rotao com 13 anos) e 11.885 ha.ano-1 (ciclo de rotao de 15 anos), considerando-se estoques mdios de lenha entre 160 e 200 mst.ha-1, respectivamente.

    Nesse contexto, a lenta recupe-rao da Caatinga devastada ainda mais preocupante, j que so necess-rios pelo menos de 13 a 15 anos para que a vegetao nativa cortada volte a recompor o estoque original. Isso im-plica dizer que, com o desmatamento de 21 ha para obteno de 5.250 mst.dia-1 de madeira da floresta nativa, a rea do bioma s voltar a alcanar volume de produo semelhante aps ser deixada sem uso algum ao longo de 15 anos.

    IHU On-Line De que maneira pode ser realizado o uso sustentvel dos recursos naturais na Caatinga?

    Marcos Antonio Drumond Re-comenda-se adotar o manejo susten-tvel da Caatinga, que seria uma inter-veno na vegetao, com a finalidade de introduzir modificaes na estru-tura e na composio de espcies de sua cobertura florestal. Em uma an-lise mais generalizada, esse manejo sustentvel do bioma implicaria uma mudana de perspectiva onde no mais suficiente apenas o manejo, con-forme o princpio do rendimento sus-tentvel, mas tambm o manejo obje-tivando outros benefcios mltiplos de sustentabilidade, entre os quais: eco-nmicos, sociais e ambientais.

    Para as reas degradadas, reco-menda-se a realizao das ativida-des de recuperao de acordo com o seu estgio sucessional, utilizando espcies de uso mltiplo de rpido crescimento, especialmente visando torn-las produtivas e, consequente-mente, contribuir para a reduo da presso sobre a vegetao nativa ain-da existente.

    IHU On-Line De que forma re-cursos como gua, solo, fauna e flora esto sendo utilizados no bioma?

    Marcos Antonio Drumond De maneira exaustiva. Atualmente a uti-lizao da Caatinga ainda se funda-menta em processos meramente extra-tivistas para obteno de produtos de origens pastoril, agrcola e madeireira.

    O modelo predatrio, contudo, causa preocupao. Devido explorao indis-criminada da vegetao, especialmente para fins energticos, j se observam perdas irrecuperveis da diversidade florstica e faunstica, acelerao do pro-cesso de eroso, declnio da fertilidade do solo e da qualidade e quantidade da gua pela sedimentao, desencadea-das por prticas inapropriadas.

    Outros fatores que contribuem de forma significativa para a ampla degradao ambiental e, consequen-temente, para a perda da diversidade biolgica da Caatinga so mtodos tradicionais de manejo e explorao intensiva da vegetao arbreo-ar-bustiva para obteno de madeiras, implantao de culturas irrigadas e pastagens, aliados s precariedades climticas.

    Pelo elevado valor energtico e pela grande concentrao de tanino nas suas cascas, espcies como o angi-co foram exploradas de modo signifi-cativo no passado. Atualmente, com a procura de produtos naturais para cur-tio e produo do couro orgnico, a explorao vem se agravando. Com isso, a preocupao de uma eroso gentica do patrimnio vegetal vem sendo reforada. Nesse sentido, a falta de tradio do segmento florestal na regio, o ensino e as prticas voltadas ao monocultivo bem como a inexis-tncia de pesquisas que quantifiquem e qualifiquem as melhores alternativas agroflorestais, por zona agroecolgica, entre outros, so fatores limitantes ao desenvolvimento de sistemas agroflo-restais no bioma Caatinga.

    IHU On-Line Gostaria de acrescentar algum aspecto no questionado?

    Marcos Antonio Drumond Vejo a Caatinga com uma particularidade mpar. E esta beleza excepcional do bioma reside na diversidade de pai-sagens e o contraste visual proporcio-nado pelas estaes seca e chuvosa. Aps um episdio de chuva na Caa-tinga seca, em poucos dias surge uma vegetao exuberante, sugerindo uma verdadeira ressurreio da vegetao, como se fosse uma pgina acinzen-tada que, quando virada, d lugar ao verde com vrias tonalidades mescla-das com o amarelo e branco e outras cores das flores do referido bioma.

    O estado da Bahia o

    maior produtor extrativista do umbuzeiro e

    tambm o maior consumidor

    nacional desse fruto

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    IHU On-Line Como pode-mos definir didaticamente o bioma Caatinga?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel Podemos definir o bioma Caatinga como uma formao vegeta-cional constituda por um conjunto de paisagens caracterizadas por uma ve-getao que perde suas folhas duran-te longos perodos de estiagem e volta a ficar verde aps curtos perodos de chuva. A Caatinga dominada por ti-pos de vegetao com caractersticas xerofticas formaes vegetais secas, que compem uma paisagem clida e espinhosa com estratos compostos por gramneas, arbustos e rvores de porte baixo ou mdio (3 a 7 metros de altura); caduciflias (folhas que caem),

    com grande quantidade de plantas es-pinhosas (exemplo: leguminosas), en-tremeadas de outras espcies como as cactceas e as bromeliceas.

    IHU On-Line Qual a maior bio-diversidade que o bioma oferece?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel A maior biodiversidade do bioma Caatinga est nos tipos de ve-getao existentes: a xeroftica plan-tas secas, espinhosas, de porte baixo, sem folhas em pocas secas e muitas suculentas.

    IHU On-Line Quantas e quais so as diversidades de plantas que a Caatinga oferece? Elas podem servir como medicamentos em alguns casos?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel A Caatinga se caracteriza por apresentar vegetao sob estresse ambiental, especialmente associado falta de gua, excesso de luminosi-dade e temperatura. Como resposta a extremos desses fatores, as plantas desenvolvem mecanismos de defesa que esto associados produo de princpios ativos, os quais apresen-tam efeitos farmacolgicos e, por isso, so utilizados na produo de medica-mentos. Muitas so as espcies vege-tais da Caatinga ampla e tradicional-mente utilizadas como medicamentos fitoterpicos e crescente o nmero e os efeitos causados pelo uso dessas plantas.

    Plantas medicinais, riquezas do biomaMuitas so as espcies vegetais da Caatinga ampla e tradicionalmente utilizadas como medicamentos fitoterpicos e crescente o nmero e os efeitos causados pelo uso dessas plantas, explica Rejane Magalhes de Mendona Pimentel

    Por Thamiris Magalhes

    bastante considervel o nmero de plantas com efeitos medicinais no bioma Caatinga que contribuem e que podero contribuir para um melhor tra-tamento e alvio de sintomas indesejveis re-lacionados a diferentes enfermidades, tanto para a populao humana como para a ani-mal. Essa a avaliao de Rejane Magalhes de Mendona Pimentel, em entrevista conce-dida por e-mail IHU On-Line. Segundo ela, a forma mais adequada para sua utilizao na indstria farmacutica se d como resposta a estudos desenvolvidos por pesquisadores de diferentes especialidades, como botnicos, far-macuticos, qumicos, mdicos, entre outros, os quais, em conjunto, informaro desde uma segura identificao da espcie botnica, tipo e doses de substncias, at formas de uso e/ou aplicao. Rejane afirma ainda que a po-pulao, de modo geral, utiliza as plantas me-dicinais a partir do conhecimento passado por familiares, a famosa indicao boca a boca,

    sem controle e segurana, podendo ocasionar srios riscos sade ou, at mesmo, vida de quem utiliza estas plantas.

    Rejane Magalhes de Mendona Pimen-tel graduada em Cincias Biolgicas pela Faculdade de Filosofia do Recife FPE. Pos-sui mestrado em Botnica pela niversidade Federal Rural de Pernambuco FRPE e dou-torado em Botnica pela mesma instituio. Atualmente Professora Associada II da ni-versidade Federal Rural de Pernambuco, onde coordena as atividades no Laboratrio de Fito-morfologia Funcional. Tem experincia na rea de Botnica, com nfase em Ecologia Vegetal, especialmente em Fitomorfologia Funcional, aplicando informaes da Morfologia e Ana-tomia Vegetal. membro do Corpo Editorial dos peridicos: Revista de Geografia (Recife), Revista Brasileira de Geografia Fsica e Journal of Hyperspectral Remote Sensing.

    Confira a entrevista.

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    IHU On-Line H um nmero considervel de plantas medicinais no bioma? Elas podem contribuir no tratamento de algumas doenas? De que maneira elas podem auxiliar para uma melhor utilizao farmacutica?

    Rejane Magalhes de Mendon-a Pimentel bastante consider-vel o nmero de plantas com efeitos medicinais no bioma Caatinga que contribuem e que podero contribuir para um melhor tratamento e alvio de sintomas indesejveis relacionados a diferentes enfermidades, tanto para a populao humana como para a ani-mal. A forma mais adequada para sua utilizao na indstria farmacutica se d como resposta a estudos desenvol-vidos por pesquisadores de diferentes especialidades, como botnicos, far-macuticos, qumicos, mdicos, entre outros, os quais, em conjunto, infor-maro desde uma segura identifica-o da espcie botnica, tipo e doses de substncias, at formas de uso e/ou aplicao.

    IHU On-Line De que maneira as plantas medicinais da Caatinga so utilizadas pela populao local do ecossistema?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel De modo geral, a popu-lao utiliza as plantas medicinais a partir do conhecimento passado por familiares, a famosa indicao boca a boca, sem controle e segurana, po-dendo ocasionar srios riscos sade ou, at mesmo, vida de quem utiliza estas plantas.

    IHU On-Line A senhora acredi-ta que a Caatinga o bioma menos estudado do Brasil? A que se deve esse fato?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel No diria que o bioma Ca-atinga o menos estudado no Brasil, mas necessita de maiores incentivos para a pesquisa, especialmente em virtude de sua grande riqueza quanto biodiversidade e potencial econ-mico em diferentes reas. A pesqui-sa com espcies de valor medicinal uma delas; uma das linhas que des-perta maior interesse pblico em di-ferentes pases, destacando-se Cuba. No Brasil, a utilizao de fitoterpicos atravs do Programa Nacional de Plan-

    tas Medicinais e Fitoterpicos dentro do Sistema nico de Sade SUS, des-de dezembro de 2008, tem estimulado um maior nmero de pesquisas com as plantas medicinais.

    IHU On-Line Por que afirma que neste ecossistema os indivduos passam por perodos de dficit hdri-co? Em que isso consiste?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel A regio nordeste do Brasil caracterizada pelos climatologistas por apresentar longos perodos de estiagem, o que, consequentemente, causa deficincia hdrica nos indiv-duos que ali vivem, especialmente vegetao. Os organismos vivos esto constitudos por mais de 80% de gua e a vegetao depende da disponibi-lidade da gua presente no solo ou proveniente de chuvas para realizar a fotossntese e produzir seu prprio ali-mento. Os efeitos da escassez ou falta de gua so sentidos em diferentes es-calas, desde a simples queda prema-tura de folhas at a morte das plantas, especialmente aquelas mais jovens e que no possuem estruturas de reser-va de gua que podem ser utilizadas durante os perodos de estiagem.

    IHU On-Line A senhora tem realizado inmeras pesquisas refe-rentes s plantas na Caatinga. Nesse sentido, quais foram os principais re-sultados obtidos em seus trabalhos e de que maneira eles podem auxiliar a populao que reside no local?

    Rejane Magalhes de Mendona Pimentel A pesquisa realizada por ns, no Laboratrio de Fitomorfologia Funcional LAFF do Departamento de Biologia/Botnica da Universidade Federal Rural de Pernambuco UFR-PE, est voltada para as plantas esta-belecidas em diferentes biomas do Nordeste, como a Mata Atlntica, a Restinga, o Manguezal e a Caatinga. Dentre esses biomas, a Caatinga tem recebido ateno especial no que se refere s estruturas morfoanatmicas e suas aplicaes funcionais, especial-mente relacionadas fotossntese, transporte de gua no interior das plantas, resposta ao ataque de micror-ganismos como fungos e bactrias, e plantas de interesse e/ou uso medici-nal pela populao local.

    ResultadosOs resultados obtidos so divul-

    gados atravs de meios de divulgao variados, como eventos cientficos e acadmicos em diferentes institui-es de ensino no pas e de revistas especializadas em diferentes campos de interesse. Os mais relevantes para uso da populao local so relativos segurana no uso da planta que verda-deiramente possui aquelas substn-cias chamadas de princpios ativos e que so responsveis pelas respostas positivas aos sintomas indesejveis causados por doenas. O de maior destaque est sendo enviado para publicao e est relacionado a uma planta que comprovadamente tem efeitos antiasmticos e que utilizada pela populao local como xarope.

    IHU On-Line Gostaria de acres-centar algo?

    Rejane Magalhes de Mendon-a Pimentel Nosso Laboratrio de Fitomorfologia Funcional LAFF da UFRPE deseja registrar nossos agra-decimentos pelo apoio recebido do Departamento de Biologia da UFRPE e de rgos de fomento como a Funda-o de Amparo Cincia e Tecnologia de Pernambuco FACEPE e ao Con-selho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico CNPq pela concesso de bolsas de estudo e de pesquisador, alm de recursos finan-ceiros que possibilitaram a melhoria na qualidade, ampliao de tipos de anlises e o desenvolvimento de abor-dagens tecnolgicas de maior relevn-cia para a qualidade de nossos resul-tados. Alm disso, registramos nossos agradecimentos aos pesquisadores de outros departamentos da UFRPE de outras instituies do pas, espe-cialmente queles da UFPE, pela cola-borao e parceria, sem os quais no teramos avanado adequadamente em nossas pesquisas. Enfatizamos que todos eles, rgos de fomento e pesquisadores, foram fundamentais para atingirmos um de nossos maio-res objetivos, enquanto professora de uma instituio de ensino superior no Nordeste brasileiro, que a forma-o de recursos humanos, muitos dos quais j esto atuando em diferentes setores de nossa sociedade, garantin-do a disseminao dos conhecimentos adquiridos.

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    IHU On-Line Como podemos descrever a Caatinga? Quais as pecu-liaridades do bioma?

    Rodrigo Castro A Caatinga de-terminada por aspectos de clima, rele-vo, de regimes de chuvas etc. Ela tem as caractersticas que conhecemos de-

    vido a questes ligadas topografia, ao clima, a estrutura dos solos, entre outros. Ento, trata-se de um conjun-to de fatores que criam as condies para que exista a Caatinga como co-nhecemos, que um bioma que est inserido em todos esses atributos.

    IHU On-Line Por que a Caatinga representa um dos biomas brasilei-ros mais alterados pelas atividades humanas?

    Rodrigo Castro Na verdade, a Caatinga uma regio com alta den-sidade populacional. Ou seja, muitas

    Educao ambiental, valorizao de diversidades Se o bioma for mais valorizado, teremos investimentos. Tendo mais investimentos em tecnologias e em polticas pblicas em reas protegidas, a Caatinga conseguir enfrentar de cabea erguida o grande desafio que o aquecimento global e a desertificao, explica Rodrigo Castro

    Por Thamiris Magalhes

    A educao ambiental tem um importan-te papel para a Caatinga, pois tem a capacidade de valorizar cada vez mais as diversidades que podem ser encontradas no bioma. Quer dizer, ele ainda hoje visto, no imaginrio predominante da sociedade, como um ambiente sem valor, atrelado a questes de escassez, de falta, sofrimento. Ou seja, no existe viabilidade ou sustentabilidade na Caa-tinga, lamenta o bilogo Rodrigo Castro, em entrevista concedida por telefone IHU On--Line. Essa uma viso que, segundo ele, se acumulou devido questo das grandes secas histricas desde o sculo XIX. Alm disso, no imaginrio popular, fixou-se a ideia de que o bioma sinnimo de sofrimento e de que nele difcil sobreviver. Essa uma faceta que no devemos subestimar. Porm, em muitos as-pectos, no se deu espao para falar de uma Caatinga rica, com grande potencial para o desenvolvimento, com uma enorme biodiversi-dade, a ser conhecida e descoberta, e de um bioma que tem muitos exemplos de desenvol-vimento vivel, completa. E lana uma novi-dade: recentemente, a Associao Caatinga lanou uma campanha nacional de valorizao para atrair o interesse da sociedade no intui-to de conhecer melhor a Caatinga e por que importante cuidar dela. Trata-se da campanha do tatu-bola para mascote da Copa do Mun-do. Lanamos essa campanha em janeiro deste ano. A Fifa recebeu a proposta e achou muito interessante. Ento, o tatu-bola concorre para

    se tornar, efetivamente em setembro, o masco-te da Copa do Mundo.

    Rodrigo Castro bilogo. Tem mestrado em Cincias do Desenvolvimento. Participa de diversas redes nacionais e internacionais volta-das para a questo da conservao ambiental. Fundou e coordena a Aliana da Caatinga e a Associao Caatinga, que so movimentos de instituies que se unem para trabalhar algu-mas questes do bioma, no intuito de unir es-foros, buscando ampliar a proteo e o nvel de conservao da Caatinga. Alm disso, busca trazer um novo olhar para o semirido brasilei-ro, preservando a flora e a fauna e fomentan-do o desenvolvimento sustentvel do entorno das reservas particulares. Rodrigo criou ainda a primeira Reserva Particular do Patrimnio Natural RPPN do pas no bioma Caatinga. pioneiro na implantao do Selo Municpio Verde, programa de certificao ambiental de municpios do Brasil reconhecido pelo Minist-rio do Meio Ambiente. Desde 1998, beneficiou mais de 50 mil pessoas que vivem nas proximi-dades das 50 reservas criadas em nove estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais. Alm disso, participou da fundao da Associao dos Proprietrios de RPPNs do Cear, a Asa Branca, e esteve frente, como diretor durante trs anos, at o ano de 2011, da Confederao Nacional de RPPNs, movimento nacional de proprietrios e proprietrias. Atualmente so 1.072 em todos os biomas do Brasil.

    Confira a entrevista.

  • EDIO 389 | SO LEOPOLDO, 23 DE ABRIL DE 2012

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    pessoas vivem no bioma, desenvol-vem suas atividades no local, sejam elas agrcolas ou econmicas. Ento, essa relao do homem com o bioma, bem como a ocupao deste ltimo pelo homem, muito antiga. O que ns vivenciamos atualmente um processo de muito tempo de modifi-cao do ambiente devido s ativida-des humanas. Temos como resultado de tudo isso um nvel de degradao. O que vemos um acumulado do pro-cesso de ocupao desordenado, de certa forma muito predatrio, que leva situao de agonia da Caatinga. Estu-dos indicam que metade da cobertura original do bioma j foi desmatada e degradada. Porm, trata-se de dados conservadores, uma vez que sabemos que esse nmero mais elevado. A es-timativa, hoje, a de que pelo menos 65% da Caatinga tenha sido destruda.

    IHU On-Line Quais so os principais fatores que contribuem para esse cenrio de constante degradao?

    Rodrigo Castro A ocupao an-tiga e a densidade populacional eleva-da so uns dos principais fatores. Ou-tra questo muito importante o uso da Caatinga como fonte de energia de forma ainda no muito sustentvel. No bioma, os estudos indicam que pelo menos 1/3 de toda a energia utilizada provm da queima de madeira, lenha ou carvo, que so extrados, na gran-de maioria das vezes, de forma no planejada, sem plano de manejo flo-restal, sem uma atividade ordenada e planejada. Ento, temos hoje um gran-de territrio que precisa de energia e a mais barata ainda a da lenha. Porm, trata-se de uma energia explorada de forma irracional. E isso, ao longo de muito tempo, causou um processo de degradao muito grande.

    IHU On-Line De que maneira a educao ambiental pode contribuir para a conservao do bioma?

    Rodrigo Castro Ela tem uma vertente fundamental que a valori-zao da Caatinga. Quer dizer, o bio-ma ainda hoje visto, no imaginrio predominante da sociedade, como um ambiente sem valor, atrelado a ques-tes de escassez, de falta, sofrimento. Ou seja, no existe viabilidade ou sus-tentabilidade na Caatinga. Essa uma

    viso que se acumulou devido ques-to das grandes secas histricas des-de o sculo XIX. Alm disso, no imagi-nrio popular, fixou-se a ideia de que o bioma sinnimo de sofrimento e de que nele difcil sobreviver. Essa uma faceta que no devemos subesti-mar. Porm, em muitos aspectos, no se deu espao para falar de uma Caa-tinga rica, com grande potencial para o desenvolvimento, com uma enor-me biodiversidade, a ser conhecida e descoberta, e de um bioma que tem muitos exemplos de desenvolvimento vivel. Desde o norte de Minas Ge-rais at o centro sul do Piau existem

    exemplos e experincias exitosas de convivncia com o semirido e com a Caatinga, de explorao mais racional e de condies de melhoria de vida de muitas populaes.

    Tecnologias sustentveis A educao ambiental tem um

    papel fundamental na valorizao para aproximar as pessoas a enxerga-rem a Caatinga como um todo e, prin-cipalmente, esses aspectos positivos que no so vistos. Na verdade, o que no se conhece muito difcil valori-zar. Porm, a educao ambiental no o suficiente para reverter o quadro de degradao que predomina. Alm de uma educao para o meio am-biente, tem que se trabalhar trs ou-tros aspectos fundamentais: acesso ao conhecimento (chamamos isso de Tec-nologias Sustentveis), que serve para trabalhar a Caatinga explorando-a de forma mais sustentvel, seja o manejo das florestas, manejo de espcies ou silvicultura, plantando espcies com grande valor econmico de rvores do

    bioma para o comrcio, seja atravs do desenvolvimento de atividades ex-trativistas tanto com a carnaba como com a explorao de abelhas nativas de forma racional, que fornecem mel de altssima qualidade e de alto valor agregado de mercado. Alm disso, o investimento em artesanato, em ati-vidades em que se explora a Caatin-ga com menos impactos e que possa gerar renda, de suma importncia. Ento, a questo das tecnologias sus-tentveis fundamental.

    Polticas pblicasA outra vertente criar polticas

    pblicas da nossa regio que sejam voltadas a oferecer incentivos para quem protege, preserva, utiliza de forma racional e trabalha a Caatinga com uma nova proposta, mais inteli-gente e contempornea, de explorar os recursos sem exterminar as suas bases. E tudo isso precisa de incen-tivo, reconhecimento pblico. Para isso, precisamos de polticas pblicas que possam premiar quem tem boas atitudes, aes produtivas mais sus-tentveis. Isso na forma de incentivos financeiros, reduo de impostos para propriedades que possuam manejo adequado da Caatinga etc. Ento, exis-tem muitas formas.

    Ampliao de reas protegidasA terceira vertente seria criar

    condies para que haja a ampliao das reas protegidas no bioma. Que possa se investir de maneira forte na criao de Unidades de Conservao em reas protegidas. Precisamos pre-servar reas sensveis e frgeis, como topos de morros, encostas, reas de nascentes na Caatinga para continuar garantindo a segurana hdrica; para que continue existindo gua em um bioma onde o dficit hdrico e a es-cassez de gua so grandes. Se no preservarmos reas estratgicas, que produzem gua, que controlam as pra-gas e a eroso, h um maior incentivo ao processo de desertificao, porque quanto mais se desmata mais cresce a desertificao. E, com as reas pro-tegidas, h uma forma de enfrentar e no deixar que o processo de desertifi-cao possa expandir. Ento, trabalhar

    A estimativa, hoje, a de que pelo menos 65%

    da Caatinga tenha sido destruda

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    de maneira forte a criao de Unida-des de Conservao e fazer com que aquelas existentes sejam bem geridas d condies de trazer mais sustenta-bilidade para o bioma.

    Criao de Unidades de Conservao

    importante frisar que a criao de Unidades de Conservao vai de encontro com a viso de promover o desenvolvimento regional na Caatinga dentro de uma lgica de zoneamento, onde existem reas para a preserva-o, produo, pecuria e a possibi-lidade de desenvolver o potencial de cada uma, no esquecendo que algu-mas delas devem permanecer sendo preservadas para o bem da humanida-de, para o equilbrio do ecossistema e da manuteno das espcies que so importantes para ns.

    IHU On-Line Por que o senhor afirm