BURKE, C. History of Information Science (Tradução)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DA INFORMAO PPGCI 1 SEMESTRE DE 2011

TEXTO ORIGINAL BURKE, C. History of Information Science. Annual Review of Information Science and Technology, University of Maryland, Baltimore County, Vol.41, p. 3-53, 2007.

Traduo livre de: CAVALCANTI, Hugo Carlos.; GOUVEIA JUNIOR, Mrio.; QUEIROZ, Malthus Oliveira de.

Histria da Cincia da Informao

CAPTULO 1

Introduo: O Surgimento da Histria da Cincia da Informao como um campo de estudo.

Aps uma dcada de acurado interesse, criando uma infra-estrutura e incentivando a criao de um corpo de literatura, um grupo de profissionais de cincia da informao, em conjunto com organizaes da histria da biblioteca ao redor do mundo, alcanou os primeiros estgios de reconhecimento acadmico de um campo de estudo, a histria da cincia da informao. Esse campo abrange mais do que a histria da teoria, mtodos e tcnicas. Ele inclui instituies, pessoas, poltica e economia. Embora a cincia da informao seja uma atividade internacional, a literatura existente a este captulo est voltada principalmente para o seu desenvolvimento nos Estados Unidos e Europa Ocidental. O nmero de obras histricas publicadas na ltima dcada, 1994-2004, est agora na casa das centenas, e a lista continua a crescer. H muitas outras obras para serem citadas e a bibliografia anexa contm apenas uma amostra da literatura. Vrios eventos sinalizaram que o incio da dcada de 1990 foi um perodo marcante

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para o estudo histrico do conjunto diversificado de atividades e instituies nos Estados Unidos e na Europa que permanecem no mago do que foi por diversas vezes chamado de documentao, recuperao de informao, informtica e cincia da informao. Grandes eventos no incio e em meados da dcada de 1990 marcam o surgimento de questes histricas especiais do Journal of Documentation, Information Processing & Management, o Journal of the American Society for Information Science (JASIS), o Documentaliste, e depois da publicao de um volume de artigos histricos pela Sociedade Americana de Cincia da Informao, Historical Studies in Information Science (HAHN & BUCKLAND, 1998; RAUZIER, 1993; RAYWARD, 1996; VICKERY, 1994). Essas publicaes foram resultado de muito incentivo da pesquisa histrica nos anos de 1980. At o incio dos anos 1990, houve bastante interesse de especialistas e do pblico no sentido de levar os editores das principais revistas de informao profissional a pensar que questes histricas especiais eram possibilidades. Eles comearam a solicitar artigos e rapidamente receberam muito mais do que o nmero esperado de apresentaes. Os trabalhos foram um pouco diferentes daquelas em compilaes histricas e comemorativas das dcadas anteriores. Havia mais interpretaes que dependiam de pesquisa original e primria. Por exemplo, em 1996 Information Processing & Management (RAYWARD, 1996) publicou uma meia dzia de artigos que contm este novo tipo de trabalho. Mais importante ainda, os artigos eram direcionados a um pblico geral e evitavam o uso de uma linguagem especializada. Estas peas interpretativas tambm ajudaram a colocar o presente em perspectiva. Muitas exploraes de como os conceitos de informao do incio do sculo XX, que anteciparam muitas ideias recentes, foram includas na coleo. Eles mostraram que a gerao Web no foi a primeira a conceber a organizao criativa e a reorganizao das lacunas de informao atravs de links, em substituio s formas rgidas, tais como livros ou documentos. Historiadores de informao no estavam sozinhos, focados em sua histria. Os bibliotecrios tambm observavam a histria da cincia da informao, bem como o seu interesse tradicional na evoluo da biblioteca. Historiadores da informao contriburam para a organizao da biblioteca em meados da dcada de 1990, revigorando o interesse em temas ligados histria do processamento de informaes. Um dos debates sobre a histria da biblioteca dos Estados Unidos levou publicao de uma coleo de documentos relevantes (DAVIS, 1996). Bibliografias feitas por bibliotecrios sobre trabalhos histricos tambm passaram a incluir trabalhos em cincia da informao (PASSET, 1994).

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Enquanto isso, cientistas da informao encorajavam pesquisa e publicao complementares. As duas edies especiais do JASIS, publicadas em 1997, foram de grande alcance, conseguindo abordar mais a histria do que o habitual, refletindo o carter internacional do interesse crescente na histria da informao (BUCKLAND & HAHN, 1997a, 1997b). Seus artigos exploravam tpicos desde a indexao de citao hebraica at o desenvolvimento de bibliotecas e sistemas de informao cientfica na Frana e na Unio Sovitica. O valor dos assuntos do JASIS e Information Processing & Management foi reconhecido, combinando-se ambos para criar um livro dedicado a apresentar o melhor da erudio histrica atual, o Historical Studies in Information Science (HAHN & BUCKLAND, 1998). O interesse continuou a crescer, mesmo entre os estudiosos de outras disciplinas. Isso levou primeira Conference on the History and Heritage of Science Information Systems, realizada em Pittsburgh, em outubro de 1998. De especial importncia neste encontro foi o apoio fornecido pela American Society for Information Science (ASIS), que tambm auxiliou na produo de outro volume essencial contendo quase duas dezenas de novos artigos produzidos por historiadores da cincia, bem como outros gerados por estudiosos e profissionais com foco em cincia da informao, os Proceedings of the 1998 Conference on the History and Heritage of Scientific Information Systems (BOWDEN, HAHN, & WILLIAMS, 1999). Este material foi disponibilizado para o acesso pblico, contendo os textos da maioria das apresentaes do encontro. Esta publicao demonstrou que a histria da informao comeava a se mover no fluxo do interesse geral do estudo histrico. Ao mesmo tempo, os qumicos olharam para seu prprio sistema histrico de informao, to longevo quanto importante, anterior Segunda Guerra Mundial (WILLIAMS & BOWDEN, 1999). O JASIS reuniu ento uma edio dupla comemorativa que incluiu vrios artigos histricos (BATES, 1999b, 1999c). Estas publicaes da dcada de 1990 e da reunio de 1998 no foram limitadas. Elas incluram papis e pessoas de todo o mundo moderno e trouxeram reconhecimento aos esforos primeiros na histria da informao. importante dizer que alguns dos participantes tentaram colocar suas histrias da cincia da informao em grandes contextos histricos e explicativos, tais como a modernizao do mundo ocidental, a ascenso da "sociedade psindustrial" e a luta no incio do sculo XX entre socialismo e capitalismo. Em 1998, a reunio de Pittsburgh foi significativa por vrias outras razes. Alm da apresentao de alguns estudos explanatrios, a reunio indicou que outros estudiosos alm daqueles da cincia da informao eram susceptveis de envolver-se no registro e

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interpretao de sua histria. As histrias da informao poderiam ser mais do que reflexes sobre mtodos e podiam ser atraentes para o pblico em geral e essas outras instituies que no fossem de natureza profissional, como o ASIS, estariam dispostas a apoiar a pesquisa acadmica na rea. O Chemical Heritage Foundation e o National Science Foundation, por exemplo, foram grandes contribuintes para projetos no final de 1990 e uma importante parceria na histria da informao foi estabelecida por Eugene Garfield. Embora tenha havido a queda do mercado de aes no incio do sculo XXI, a conteno do governo e a recesso econmica tornaram o apoio financeiro de difcil obteno, e o trabalho histrico continuou. H uma lista crescente de instituies e pessoas tratando da histria da cincia da informao. Alm dos esforos dos grupos associados da American Society for Information Science and Technology (ASIST), a Special Libraries Association est dedicando recursos a uma histria centenria. O Charles Babbage Institute nos Estados Unidos tem mudado sua ateno do hardware do computador e de seus criadores para a histria do software, bases de dados e recuperao da informao. Pesquisadores na Frana, Espanha, Alemanha e outros pases tm gerado suas prprias histrias (BEHRENDS, 1995; FAYET-SCRIBE, 2000; FERNANDEZ & MORENO, 1997; HAPKE, 1999; MARLOTH, 1996). Cientistas da informao finlandeses continuaram a sua tradio de explorar as razes e a natureza da cincia da informao (MAKINEN, 2004). Em meados da dcada de 1990, estudiosos asiticos comearam uma nova rodada de iniciativas histricas, produzindo bibliografias importantes, antologias e livros muito impressionantes e artigos de valor histrico (MURANUSHI, 1994), cujos resultados os pesquisadores americanos rapidamente incorporaram ao seu prprio trabalho (SATOH, 1999). Na Inglaterra, alm dos esforos do Journal of Documentation em 1994, o History Library Group (rebatizado recentemente de Library and Information History Group) tem expandido o seu alcance histrico na histria da informao em geral. Alm disso, a Universidade Leeds Metropolitan garantiu financiamento para as iniciativas amplamente definidas como histria da informao. Alm disso, os lderes da cincia da informao britnica tm feito suas prprias contribuies individuais, como as obras importantes de Brian Vickery (1994, 2000, 2004). Mas os estudiosos e instituies nos Estados Unidos parecem ser os mais ativos no apoio a eventos e publicaes. Um volume contendo diversos artigos apresentados em uma conferncia na Chemical Heritage Foundation na Filadlfia, realizada em conjunto com a conferncia 2002 ASIST, foi rapidamente publicado (RAYWARD & BOWDEN, 2004). Os livros das conferncias de 2002 e 1998 so uma fonte para o pblico em geral e para o

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nmero atualmente pequeno, mas significativo, de estudiosos como Alistair Black, Mark Bowles, Ron Day, Thomas Haigh e Shawne Miksa, que podem muito bem ser a primeira gerao de acadmicos que centraram suas carreiras na histria da cincia da informao e assuntos relacionados. A edio especial de 2004 da Library Trends (RAYWARD, 2004) que focou os pioneiros da biblioteconomia e da cincia da informao, os artigos histricos publicados em recentes volumes da Annual Review of Information Science and Technology (ARIST) (BLACK, 2006; BUCKLAND & LIU, 1996; Warner, 2005) um simpsio da Universidade de Illinois sobre o papel da informao na origem do mundo moderno ("modernidade") e o recente aparecimento de uma obra sobre a histria da relao de trabalho de inteligncia e cincia da informao, editado por Robert V. Williams e Ben-Ami Lipetz (2005, publicado aps a concluso do presente captulo) indicam que a iniciativa histrica nos Estados Unidos vai continuar. No menos importante, o recente IEEE Annals of the History of Computing traz questes sobre a histria da automao das bibliotecas (GRAHAM & RAYWARD, 2002a, 2002b) e a publicao pela MIT Press divulgou uma esperada e importante histria recente da indstria online, por Bourne e Hahn (2003), mostrando que no s editores "com orientao bibliotecria" apoiaram a histria da informao.

Mais a ser feito

Apesar de todo o trabalho realizado at agora, no h conhecimento suficiente para embasar a escrita de uma narrativa histrica abrangente da cincia da informao. Muitas questes essenciais permanecem sem resposta e grande parte da literatura histrica tcnica existente aguarda traduo para linguagem e conceitos comuns. Alm disso, existem alguns obstculos para o progresso. Departamentos de universidades da cincia da informao e da histria tm ainda de reformular as orientaes de promoo e de domnio de forma a incentivar a pesquisa da histria da informao. Alm disso, grande parte de estudiosos que escrevem a histria da informao, partem da tica da cincia da informao, e no da cincia da computao, engenharia de comunicaes ou de bibliotecas especiais. Esta distoro na representao das disciplinas acadmicas pode ter promovido uma viso um tanto desequilibrada quanto origem, a natureza do campo e as fontes de inovaes (ASPRAY, 1985). Mas, em breve poder ser uma prtica aceitvel incluir pelo menos o esboo da histria da cincia da informao nos currculos dos cursos de graduao profissional. Com o tempo, um professor pode ser capaz de compor uma narrativa inclusiva, como aquelas da

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histria do computador, que vai fazer a histria da cincia da informao interessante para os estudantes e, talvez, o pblico geral (CERUZZI, 1998). Este captulo analisa a nova literatura da ltima dcada e aponta para as muitas questes ainda a serem respondidas, na esperana de estimular os pesquisadores a preencher as lacunas histricas e corrigir eventuais desequilbrios para que a histria da cincia da informao possa vir a ser considerada como uma madura e independente disciplina acadmica.

A Histria da Informao Antes da dcada de 1990

Houve, naturalmente, um interesse na histria da cincia da informao e assuntos relacionados antes da dcada de 1990. Mais de uma dcada antes, o atual grupo de acadmicos e profissionais defensores da histria da informao comeava seus trabalhos. Artigos histricos sobre teoria da informao, recuperao automatizada de informao e poltica de informao apareceram em revistas como Libraries and Culture, Library Trends, The Annals of the History of Computing e JASIS (REDMOND, 1985; WILLIAMS, WHITMIRE, & BRADLEY, 1997). A Encyclopedia of Library and Information Sciences tambm serviu como fonte de informao histrica. Mesmo que no fosse costume publicar artigos explicitamente histricos, desde o incio seus editores incentivaram autores contribuintes a fornecer o contexto histrico de seus objetos de estudo. Alm disso, as peas de ponta do ARISTs frequentemente incluam algum material histrico. Nos Estados Unidos, uma onda inicial de interesse na histria da cincia da informao e o estado da profisso durante os anos 1970 e incio de 1980 levaram a algumas colees especiais e a algumas questes de revistas especializadas (CHARTRAND, HENDERSON, & RESNICK, 1988; HEILPRIN, 1988; Library and information science: Historical perspectives, 1985). Historiadores da biblioteca foram mais longe, e em 1986 publicaram uma edio da Library Trends dedicada biblioteca e histria da informao (DAVIS & DAIN, 1986). Os historiadores da biblioteca comearam a escrever sobre a evoluo dos sistemas de classificao, indexao e sobre o impacto das novas tecnologias neles (DAVIS & TUCKER, 1989). Somado a essa literatura estava o incio de uma sequncia contnua de histrias internas comemorativas de vrios centros de informao e bibliotecas do governo dos EUA (MILES, 1982; THOMPSON, 2004; VADEN, 1992). A maioria das contribuies da poca era de profissionais, endereada aos especialistas, e foram tratadas como temas de interesse imediato, conforme estabelecido pela natureza ideal da cincia da informao. Dois artigos seminais foram publicados no ARIST e JASIS

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(HERNER, 1984; SHERA & CLEVELAND, 1977). Entre os primeiros esforos importantes estava a contribuio de Anthony Debons (1974), Information Science: Search for Identity, que buscou um tema que os historiadores da informao continuam explorando. Vrios trabalhos do perodo inicial, escritos por lderes reconhecidos em cincia da informao, tais como Jack Meadows (1987), receberam muita ateno. Tambm importantes, mas menos conhecidas, foram as vrias histrias de subcampos e organizaes, tais como Indexing and Searching in Perspective, de Brenner e Saracevic (1985), e Abstracting and Indexing Services in Perspective (GRANICK & CORNOG, 1983), da National Federation of Abstracting and Indexing Services (NFAIS). A Association of Computing Machinery (ACM) publicou um volume de conferncias sobre processos, History of Medical Informatics (BLUM & DUNCAN, 1990). Essa publicao foi sucedida por uma srie de trabalhos sobre sistemas de informao mdica (por exemplo, COLLEN, 1995). Tal como na Amrica do Norte, revistas profissionais europias e asiticas publicaram trabalhos histricos antes de meados da dcada de 1990, geralmente escritos por profissionais da informao que se basearam em suas prprias experincias, memrias e documentos que possuam (WILLIAMS; WHITMIRE; BRADLEY, 1998).

Estabelecendo um contexto

Trabalhos que servem para contextualizar a cincia da informao tambm apareceram. De forma decisiva, alguns livros clssicos e artigos sobre a histria das polticas de informao do governo dos Estados Unidos foram publicados na dcada de 1970 e 1980. Seus autores geralmente so pessoas envolvidas na criao de polticas. Two Centuries of Federal Information, de Burton W. Adkinsons (1978) continua sendo uma obra central. Historical Note: Shining Palaces, Shifting Sands: National Information Systems (1987) de Harold Wooster, escrito uma dcada mais tarde, tambm excelente. A partir dos anos 1970, as preocupaes sobre o papel da Amrica no que foi chamado de "era ps-industrial" levou a esforos que continuam a influenciar os historiadores, incluindo a forma de classificar algum como profissional da informao (Bell, 1973). Entre os vrios estudos tentando definir com preciso o tamanho e os limites da "economia da informao" emergente, estava o trabalho extenso de Porat (1977) para o Departamento de Comrcio dos EUA. Este tema continua fascinando os economistas (MARTIN, 1998; SCHEMENT, 1990). As preocupaes dos Estados Unidos sobre o declnio de sua posio competitiva na

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remodelada economia mundial da dcada de 1970 e as ameaas sua liderana na pesquisa cientfica criou uma nova rodada de intenso interesse, focada na disseminao da informao cientfica e tcnica patrocinada pelo governo (STINFO). Somando-se s antigas preocupaes sobre informaes para a cincia da Guerra Fria, algumas revistas a exemplo da Government Information Quarterly e Journal of Government Information, publicaram muitas peas histricas significativas concentrando-se na poltica de informao e sua relao com a concorrncia econmica. Alm disso, iniciou-se o que se tornou uma preciosa srie de monografias e bibliografias sobre STINFO e programas de informao do governo em geral (DAHLIN, 1990; PINELLI, HENDERSON, BISHOP, & DOTY, 1992).

Contribuies importantes das Cincias Sociais: teis, mas potencialmente confusas

Considerando que os profissionais da informao da dcada de 1970 estavam produzindo os primeiros estudos histricos e os economistas tentando avaliar o tamanho da economia da informao, acadmicos que trabalham dentro dos quadros das cincias sociais, tais como Fritz Machlup e Una Mansfield (1983) e, mais tarde, James R. Beniger (1986) e Joanne Yates (1989) traaram grandes linhas da histria do desenvolvimento da economia e cultura da "informao" na Amrica do sculo XX. Eles definiram o campo de informao muito mais abrangente do que os pesquisadores histricos anteriores. A maioria dos trabalhos histricos sobre a cincia da informao tinha sido bastante simples na descrio do desenvolvimento de mtodos e tcnicas do livro e do documento de catalogao, indexao e recuperao. Outros trabalhos haviam monitorado as carreiras dos rgos de informao estabelecidos e dos lderes. Em contraste, os livros de Yates e Beniger forneceram reviso, pontos de vista e explicaes de alto nvel. No entanto, eles limitaram o seu objetivo de alguma forma, para que atentassem ao papel de todos os tipos de informaes e suas ferramentas, mas apenas dentro dos domnios econmico e comercial, dando pouca ateno s necessidades de informao no domnio das cincias ou das humanidades. A contribuio de Machlup foi de uma importncia especial, porque foi interdisciplinar e olhou para a informao em uma ampla gama de reas. Seu trabalho incluiu esforos de vrios economistas e, sobretudo, estudos realizados por especialistas da informao que j trabalhavam na pesquisa histrica sobre temas de cincia da informao, tais como Boyd Rayward (1983). Machlup estava familiarizado com as ltimas tendncias da historiografia europia e sua obra serviu como uma ponte entre estudiosos americanos e estrangeiros e entre os profissionais e cientistas sociais. Por razes desconhecidas, a iniciativa de Machlup no

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levou a um apoio permanente para a abrangente investigao interdisciplinar da cincia da informao. Isso tem deixado lacunas importantes na literatura histrica. As grandes obras do gnero de Beniger-Machlup, no entanto, permaneceram influentes, mas com algumas consequncias negativas. Ao definir a histria da informao como a histria de quase todos os tipos de comunicao e de registro, eles estimularam a tentao de investigadores em evitar as dificuldades que envolvem identificao precisa dos profissionais da cincia da informao e suas contribuies. Outro resultado do uso de uma definio abrangente de "informao" tem sido situar as origens dos sistemas de informao e cincia da informao em um passado distante (BROWN, 1989; HEADRICK, 2000; STOCKWELL, 2001). Alm disso, as abordagens adotadas pelos autores das obras gerais contriburam para as dificuldades que enfrentam os historiadores quando tentam escrever a histria de profissionais da cincia da informao desde a Segunda Guerra Mundial (CHANDLER & CORTADA, de 2000; CORTADA, 1998). Por exemplo, enquanto se concentravam na mudana massiva da mo de obra no sculo XX, as agncias de estatstica dos Estados Unidos no identificaram e rastrearam de forma til o que comumente se refere como "cientistas da informao". Relatrios do governo dos Estados Unidos no fornecem os dados necessrios para determinar o nmero daqueles que foram treinados como profissionais ou consideravamse como tais. O Bureau of Labor Statistics tem uma categoria de "cientistas da informao", mas no informa seus nmeros separadamente dos cientistas da computao. Outros tipos de trabalho na era ps-Machlup foram de mbito mais limitado, mas tambm um pouco fora do alvo no que diz respeito s necessidades dos historiadores da cincia da informao. Histrias de negcios, que focaram o papel da informao na gesto, apenas parcialmente preencheram as lacunas (LAMOREAUX, RAFF, & TEMIN, 1997; LEVENSTEIN, 1998; TEMIN, 1987). No entanto, durante a dcada de 1980 uma literatura til e detalhada sobre temas interligados com a histria da cincia da informao foi se acumulando. A nfase era na tecnologia, mas havia histria poltica e intelectual em geral. Em meados da dcada de 1980, a histria dos computadores, especialmente sua parte fsica, estava madura e popular o suficiente para apoiar turmas especializadas de faculdade e livros didticos. Os textos mostravam que, por causa da revoluo da microeletrnica, a relao poderpreo da computao foi inaugurando uma nova era da informao (WILLIAMS, 1985). Alguns historiadores do computador, tais como William Aspray (1985) trouxe novas perspectivas para a histria dos aspectos intelectuais da conceituao matemtica e cientfica da informao. Entre muitos outros, o economista Peter Temin (1987) explorou a crtica deciso

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de desregulamentao da AT&T que marcou tanto as polticas de comunicao, as tecnologias, os preos e, portanto, o trabalho dos cientistas da informao dos Estados Unidos.

A Nova Literatura da Histria da Informao comea a surgir

As histrias da tecnologia, as vises ampliadas do papel da informao na sociedade, na economia e um crescente corpo de literatura feita por profissionais praticantes, motivaram a fundao e as iniciativas histricas da dcada de 1990. O fluxo de reminiscncias por profissionais continuou; no entanto, no final de 1980 e uma nova onda de histria da informao comeou a aparecer. Muito do que continuou a ser escrito por autores que trabalhavam como especialistas em informao ou associados a organizaes profissionais introduziram uma nova abordagem. Suas ambies eram grandes, mas moderadas. As obras principais do gnero apresentaram vises mais amplas, foram marcadas por pesquisas mais originais e bem-sucedidas em alcanar a mdia dos padres acadmicos. Alm disso, os autores evitaram usar uma definio imperialista da informao. A primeira destas publicaes surgiu sem muito alarde. Duas extensas histrias institucionais americanas apareceram em 1989 e 1990: A History of Information Science de Lilley e Trice (1989), 1945-1985, a mais integrada e acadmica From Documentation to Information Science, de Irene Farkas-Conn (1990) que descreveu sensivelmente o estranho despertar para o antecessor da Amrica na cincia da informao, a "documentao". A histria, por Farkas-Conn, de Watson Davis e sua elite de pesquisadores-bibliotecrios e cientistas aliados nas dcadas de 19301950, que primeiro se concentraram em acelerar a disseminao da produo cientfica acadmica atravs da tecnologia de microfilmagem, deu continuidade histrica informao como uma cincia e uma profisso. A incluso do seu livro de informaes sobre a histria do American Documentation Institute (ADI), antecessor da American Society for Information Science, reforou a recepo positiva da obra e ampliou o aumento de interesse no registro de profissionais da informao na Amrica. De grande importncia, o reconhecimento do valor de pesquisas histricas foi logo institucionalizado. Comeando no incio de 1990, uma nova rodada de painis histricos foi realizada em vrias reunies de associaes, e, em meados da dcada, a ASIST deu reconhecimento formal para o campo. Por esse tempo, a ASIST auxiliou na criao de um banco de dados para biografias pioneiras da informao (Bob www.libsci.sc.edu / ISP / ISP.htm) e o ARIST logo publicou seu primeiro captulo sobre histria em mais de uma

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dcada (BUCKLAND & LIU, 1996). O incentivo da ASIST tambm ajudou no esforo para compilar as primeiras bibliografias compreensivas sobre histria da informao, um projeto que continua at hoje (WILLIAMS, 2005; WILLIAMS et al., 1998). Alm disso, o Chemical Heritage Foundation iniciou planos para realizar aquilo que se tornou uma srie preciosa de entrevistas de histria oral com os pioneiros da informao. Ao mesmo tempo, os profissionais da informao e acadmicos europeus foram criando as suas prprias abordagens para a histria da informao. Eles financiaram e publicaram os resultados da historicamente orientada conferncia sobre cincia da informao, em Tampere, Finlndia (1991). A coleo seminal de Vakkarri e Cronin (1992), Conceptions of Library and Information Science: Historical, Empirical and Theoretical Perspectives permanece uma grande fonte. Ele continha mais do que apenas afirmaes sobre a natureza ideal de cincia da informao. Os escritos no volume de Rayward e Saracevic e os de seus contatos com os defensores da histria da Amrica foram catalisadores para futuros trabalhos sobre as origens e o carter da cincia da informao no mundo ocidental. Alm disso, a Documentaliste da Frana lanou uma edio orientada historicamente em 1993 e, um ano depois, a Aslib da Inglaterra publicou uma edio comemorativa de cinquenta anos do Journal of Documentation (VICKERY, 1994). Nos Estados Unidos, houve outras evolues significativas. Os primeiros escritos de Pamela Spence Richards (1981, 1994) sobre como as naes obtinham informaes cientficas estrangeiras durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria foram evoluindo para uma monografia interpretativa. Roy MacLeod (1999) iniciou suas pesquisas sobre a informao na I Guerra Mundial, e Michael Buckland (1992) comeou a publicar artigos bem fundamentados que desafiaram a ideia de que as tcnicas modernas de informao e de recuperao de conceitos, tais como hipertexto, foram apenas o resultado da evoluo pragmtica dentro dos Estados Unidos. Alm disso, a histria intelectual de Paul Otlet, por Boyd Rayward (1975, 1994) alcanou o reconhecimento como um intenso interesse nas origens da Internet e do hipertexto.

O papel de outros "leigos"

Esse interesse na World Wide Web j tinha levado alguns no praticantes da rea a escrever sobre as origens da Internet e das informaes relacionadas com conceitos e tcnicas. O volume de 1991 editado por Nyce e Kahn, que examinou as contribuies intelectuais prescientes de Vannevar Bush e seus dispositivos de informao propostos, reflete a crena

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comum de que a viso de Bush de meados de 1940 da mquina de recuperao avanada, o Memex, foi nica e causalmente relacionada com o mais avanado sistema e ideias metodolgicas de 1980 (NYCE & KAHN, 1989, 1991). A mstica de Bush, incluindo avaliaes do seu papel na organizao da cincia norteamericana durante a Segunda Guerra Mundial, j havia lanado dois no praticantes da pesquisa de longo prazo, que abordaram a histria da informao. O reprter G. Pascal Zachary e o historiador da cincia Larry Owens (1996) exploraram a personalidade de Bush, alm de muito de seu trabalho de engenharia e elaborao de polticas. Por fim, Zachary (1997) publicou uma biografia completa de Bush. Outro historiador, que vem pesquisando as supersecretas mquinas de quebra de cdigo da II Guerra Mundial, descobriu que a histria dos proto-computadores usados contra os cdigos e cifras alems e japonesas estavam intimamente ligadas aos esforos de Bush para construir o que ficou conhecido como a primeira mquina de recuperao automtica de informao, a eletrnica/microfilme Rapid Selector. Por sua vez, a histria um pouco decepcionante do Selector, antes e aps a II Guerra Mundial, foi entrelaada com a criao de centros de recuperao de documentos patrocinados pelos militares e seus novos mtodos e mquinas de processamento de relatrios cientficos e dados de inteligncia e militares (BURKE, 1994). William Aspray comeou um estudo dos primeiros programas de informao cientfica nas universidades americanas, que levou ao seu soberbo artigo de 1999, presente no IEEE Annals of the History of Computing, no qual ele situa a formao e a recente histria do programa da cincia da informao da Universidade de Pittsburgh no contexto da corrida dessa universidade para se tornar uma instituio de pesquisa e empreendedora reconhecida e as vises e as ambies da gerao fundadora do departamento (ASPRAY, 1999). A biografia de Bush, a carreira do Seletor, o estudo curricular de Aspray e a histria lendria do projeto INTREX no Massachusetts Institute of Technology (MIT) um esforo que prometeu construir uma biblioteca totalmente automatizada em 1960 (BURKE, 1996) apontaram para um dos muitos temas a ser explorado na literatura histrica mais recente: as relaes, por vezes, de concorrncia entre os treinados como engenheiros ou empresrios e os de origem da informao/biblioteca na era da automao das informaes. A histria do INTREX tambm destacou as dificuldades enfrentadas at pelas bem fundadas instituies patrocinadoras, como a Fundao Ford e do Council on Library Resources, como eles tentaram modernizar bibliotecas principais das universidades americanas em geral. Quando se tentou criar a igualdade de acesso extremamente cara tecnologia da informao, ento

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disponvel apenas nos maiores centros governamentais e militares, enfrentaram-se muitas decepes (MARCUM, 2002).

As novas histrias da dcada de 1990 nos dizem: a natureza diversa das contribuies e reas de concentrao

Os resumos da literatura histrica a partir da ltima dcada aqui apresentados so baseados em uma pesquisa de bases de dados bibliogrficas relevantes na anlise de classificao e frequncia dos artigos e livros de temas e abordagens histricas. As novas publicaes histricas que se seguiram aos trabalhos iniciados por profissionais de outras reas no se limitaram a alguns tpicos, nem a algumas abordagens. No h ainda nenhuma escola do tipo que os historiadores profissionais chamam de "interpretao" que tenha sucedido na dominao do campo e nenhuma demanda tenha trazido tona nas quais as publicaes so restritas s pessoas com credenciais histricas. Alm disso, a publicao no foi confinada queles cujos interesses e orientaes polticas se ajustem estreitamente s agendas editoriais. Felizmente, h poucas indicaes de que os autores sero necessrios, como em alguns campos histricos, para orientar a sua ateno para tais itens ideologicamente atados, como, por exemplo, conflitos raciais, de gnero e de classe, em cada uma das suas publicaes. Grande parte do trabalho foi simples e est sendo feito pelos "especialistas", ou seja, pelos profissionais de informao ou pelos departamentos acadmicos em cincia da informao. Um nmero crescente de publicaes reflete uma conscincia metodolgica e, em alguns casos, os autores fazem uso de teorias populares vigentes ou quadros de interpretao a partir dos campos da crtica literria, histria corrente, sociologia do conhecimento e filosofia da cincia.

As Contribuies "em construo" da ltima dcada

Em termos de frequncia, no entanto, os ltimos trabalhos histricos foram simples biografias curtas, reminiscncias autobiogrficas e descries participantes de mtodos, projetos e dispositivos. Quase todos tm aparecido em publicaes patrocinadas por organizaes da cincia da informao e de bibliotecas. Um corpo crescente e impressionante de entrevistas suplementa artigos (BJORNER & Ardito, 2003, v. tambm Chemical Heritage Foundation's Oral History Collection [www.chemheritage.org/ exhibits/ex-nav2.html]).

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Ambas, publicaes e entrevistas serviro como base de construo importante para uma histria integrativa maior. Mas uma nota de cautela deve ser pregada. Como mencionado, as biografias e entrevistas tendem a concentrar-se nas pessoas previamente identificadas como importantes dentro da cincia da informao do ps-II guerra, e no da cincia da computao ou reas afins. Os futuros historiadores tero de compensar isso e classificar com diferentes pontos de vista da histria da cincia da informao, resultantes das experincias de autores participantes de carreira variada. As bases construtivas dos artigos e entrevistas concentraram-se nas pessoas e nos avanos ocorridos naquela que alguns muito apropriadamente chamam de "idade de ouro" da cincia da informao nos Estados Unidos, 1950-1970. Aqueles cerca de trinta anos constituem o perodo em que as necessidades tecnolgicas da Guerra Fria, o crescimento de grandes projetos de cincia aplicada e o aumento das universidades gigantes com contratos de pesquisa aplicada levou busca de novas abordagens para a indexao, novas tecnologias de recuperao, ferramentas de gerenciamento de informao formal e inovadores sistemas bibliogrficos online. O governo forneceu uma quantidade sem precedentes de dinheiro aos sistemas de informao e pesquisa e ajudou a definir o que prometia ser uma distinta e homognea profisso e disciplina (HAYES, 1999; SARACEVIC, 1992, 1999). A maioria das bases referenciais de trabalhos histricos da dcada de 1990 e contribuies anteriores similares est de acordo quanto ao ncleo da "idade de ouro". Embora a maior parte da literatura tenha sido sobre as tendncias nos Estados Unidos, os padres encontrados na informao na era da Guerra Fria parecem, para este autor, se adequar aos da Europa Ocidental (EAST, 1998). As bases da construo histrica encontram alguma continuidade com o passado: tanto os velhos documentalistas de 1930 quanto os emergentes cientistas da informao focaram nas necessidades cientficas e acadmicas (WALKER, 1997). Mas a dcada de 1950 assistiu a uma mudana. A primeira gerao de documentalistas havia se empenhado em servir patrocinadores tpicos do pr-II Guerra Mundial: universidades de elite, velhas faculdades que trabalharam de forma independente, e estabeleceu organizaes cientficas sem fins lucrativos. Aps a ecloso da II Guerra Mundial, apareceu uma nova gerao, a primeira a ser chamada de "cientistas da informao". Suas diferentes experincias profissionais os tornaram centrais para a criao de uma cincia da informao ligada a novas variedades de patronos. Engenheiros, fsicos, qumicos e at psiclogos comearam a ter um papel crtico e destacado na construo de novos sistemas e na criao do ncleo metodolgico da cincia da informao da "idade de ouro.

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A Guerra Fria e o crescimento da regulamentao governamental sobre a indstria nos Estados Unidos proveu recursos e poder para aqueles reformulados e inteligentes sistemas de informao cientficos e militares. Estes primeiros cientistas da informao olharam para as necessidades da universidade empreendedora, defesa e agncias governamentais orientadas para misses e seus contratantes e algumas empresas de expanso com necessidades especiais de informao, tais como os da indstria qumica. A principal misso dos novos especialistas da informao foi melhorar os chamados servios bibliogrficos "secundrios" (CRAGIN, 2004; KASER & KASER, 2001; KUALNES, 1999). Adicionados a esse trabalho de indexao e eficiente recuperao de documentos (e fatos) estavam, em algum dos novos centros, os esforos mais esotricos. Alguns projetos tentaram desenvolver traduo automtica de idioma, indexao automtica e novas ferramentas para a identificao das fotografias e do seu contedo. Necessidades militares e de inteligncia levaram a uma definio ainda mais ampla da "cincia" (DEBONS & HOME, 1997; GIMBEL, 1990). O trabalho tambm incluiu alguns novos desafios. Muitos centros governamentais tiveram de garantir que as informaes secretas seriam mantidas em segredo. Necessidades de segurana ultrapassaram o antigo desejo das empresas de proteger informaes de negcios. Inteligncia e outros rgos necessitaram de sistemas inovadores para lidar com uma torrente de dados e para proteg-los de intrusos. Incorporado nos desafios foram os frustrantes problemas de balanceamento de mandatos para o livre fluxo de informao cientfica com as leis de privacidade e sigilo das exigncias de segurana nacional. A tecnologia tambm era nova. O perodo foi marcado pelo surgimento de um grupo de profissionais que estavam entre os primeiros a ter acesso a ento exorbitantemente cara e ainda limitada tecnologia do computador. Essa tecnologia fez antecipar abordagens de indexao e recuperao impraticveis tidas como possveis. Grande parte do trabalho ocorreu dentro das agncias governamentais vastamente expandidas, o que produziu uma forma desafiadora de publicao, o "relatrio tcnico". Ao contrrio dos livros e artigos acadmicos, esses relatrios e outros documentos irregulares tiveram uma vida curta: foram utilizados apenas por alguns leitores e tiveram que ser disponibilizados quase que instantaneamente. Importante tambm que os sistemas mais antigos de classificao no atendiam s necessidades da literatura do "relatrio tcnico". Isso levou procura de maneiras rpidas e de preferncia baratas para indexar e recuperar materiais, incluindo patentes e at mesmo fotos. Novos mtodos e novos termos apareceram: unitermos, arquivos invertidos, palavra-chave no contexto e fora do contexto (AUSTIN, 1998; GAIVOTA, 1987; KILGOUR, 1997; OHLMAN, 1999; STEWART, 1993).

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A maioria dos profissionais da informao que trabalham em novos tipos de publicaes e documentos presta pouca ateno s formas tradicionais de sistemas completos de classificao, porque estava se concentrando em fornecer informaes aos especialistas o mais rapidamente possvel. Os termos usados por especialistas em assuntos contemporneos pareciam ser satisfatrios para muitas tarefas de indexao e sugeriam no haver necessidade de sistemas com base em esquemas de classificao abrangentes e intelectualmente agradveis. O objetivo de criar ferramentas teis para no-especialistas era, na melhor das hipteses, de importncia secundria. Houve esperana de que as novas tecnologias para recuperao, que vo desde dispositivos de microfilmes em massa at o computador eletrnico, teriam vencido, pela fora tecnolgica bruta, eventuais falhas lgicas das novas abordagens mais simples para a classificao e a indexao (BURKE, 1994). Mas houve excees. Na Europa, vrios documentalistas procuraram estruturas de classificao integrada, que pudessem gerir os novos documentos, sem ignorar os desejos dos no-especialistas (JUSTICE, 2004; McLLWAINE, 1997). Enquanto isso, alguns profissionais da informao americanos estavam focados em preencher as lacunas das informaes cientficas deixadas pelas deficincias criadas pelos servios bibliogrficos e de publicao profissionais gratuitos. Esses antigos provedores e seus mantenedores no tinham dinheiro para modernizar e continuaram com os tipos tradicionais de bibliografias e revistas profissionais. Eles e a infra-estrutura acadmica estabelecida foram incapazes de atender s necessidades de indexao rpida e de publicao. Seus sistemas foram esmagados pela enxurrada de publicaes oriundas da expanso do ensino superior e das presses crescentes em todos os grupos universitrios por pesquisa e publicao, quando "publicar ou perecer" tornou-se um padro nacional. Mesmo a rica profisso mdica e seus fornecedores na indstria qumica sentiram-se assediadas e esperaram por uma revoluo na recuperao e disseminao da informao para atender s demandas intelectuais extraordinrias de suas cincias. Educadores de escolas pblicas carentes de recursos procuraram maneiras de trazer resultados de pesquisa para a sala de aula. Todos eles logo pediram ao governo apoio e proteo (ALTMAN, 1993; HORN & CLEMENTS, 1989; KASER & KASER, 2001; NEUFELD, CORNOG & SPERR, 1983; POWELL, 2000). Enquanto poucos cientistas da informao se concentravam na reformulao do antigo, porm crescente, setor gratuito, um nmero pequeno de pioneiros da informao criou empresas e estendeu seu alcance na lei, em vrias literaturas tcnicas, na busca de patentes e at mesmo em escritrios de informao (BJORNER & ARDITO, 2003; BROWN, 2002a,

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2002b, 2003a, 2003b; HAHN, 1996; PEMBERTON, 1983; POWER, 1990). Um empreendedor cientfico inovador, Eugene Garfield, desenvolveu uma empresa cujos produtos tornaram-se essenciais para a academia. Sua indexao de citao logo teve um papel nas consideraes de promoo e estabilidade, na compra de materiais para biblioteca e na certificao de departamentos (CRONIN & ATKINS, 2000; WOUTERS, 1999). Todos os setores da cincia da informao da "poca de ouro" compartilharam um efusivo apoio direto e indireto do governo americano. Verbas federais para a Guerra Fria e, mais tarde, as iniciativas de reforma social da Grande Sociedade foram importantes para a maioria destes esforos (ALTAIAN, 1993; BRAND-HORST, 1993; National Science Foundation, Office of Science Information Service, 1960). Havia mais na "idade de ouro", pois parecia que uma profisso estava sendo criada. As dcadas da Guerra Fria, ocorridas em um conjunto relativamente estvel de tecnologias, tarefas, mercados e patrocinadores, viram o que muitos interpretaram como o surgimento de uma identidade clara, incontestvel, profissional e permanente para a cincia da informao. Parecia haver um territrio de emprego muito bem definido, havia sinais de que uma cincia com a sua prpria teoria podia se desenvolver, e havia razes para esperar que os departamentos de cincia da informao de universidades de alto escalo se tornariam membros completos, independentes e auto-determinados da comunidade universitria (KLINE, 2004; VARLEJS, 1999). Pode ter havido tambm uma esperana de que as novas pesquisas em informao e, talvez, as teorias conduziriam descoberta das leis fundamentais da informao, para alm das regularidades estatsticas anteriores de uso da palavra e taxas de publicao criada nos anos pr-guerra por inovadores tais como Zipf e Bradford. Diante dessa viso e do aparecimento de programas de cincia da informao de tempo integral e de educadores, a mais antiga organizao na rea da documentao dos Estados Unidos mudou seu nome: ADI virou ASIS (mais tarde ASIST). Distinguindo-se das organizaes de bibliotecrios e continuando a sua relao com a comunidade de investigao cientfica, a ASIS centrou a sua maior revista na pesquisa e no em notcias e comentrios de profissionais. Havia mais do que uma mudana de nome. Com muito apoio do governo, atravs de instituies como a National Science Foundation, a investigao em mtodos de recuperao de informao (e resultados) orientada pela matemtica/estatstica parecia estar cumprindo a promessa cientfica de campo. Novas ferramentas, como tcnicas estatsticas para analisar a natureza das comunicaes cientficas e acadmicas, prometeram ainda mais para a nova cincia da informao. O desenvolvimento contnuo de mtodos e perspectivas, tais como a

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bibliometria (um precursor da minerao de dados), sugeriu que a cincia da informao poderia fornecer importantes compreenses sobre todas as cincias (BENS-MAN, 2004; HERTZEL, 1987; OLASEN, MUNCH-PETERSON, & WILSON, 1995; OLUIC-VUKOVIC, 1997; SHAPIRO, 1992). No incio dos anos 1980, as esperanas de status acadmico pareciam brilhar quando publicaes na rea tornaram-se mais formalizadas e abstratas (LIPETZ, 1999). A pesquisa em informao j havia sido realizada nas universidades mais prestigiadas e por estudiosos respeitados, como Gerald Salton, cujo trabalho foi elogiado por acadmicos fora do campo (HARMAN, 1997; LESK, 1996). O progresso acadmico foi alm da pesquisa. Um mercado de trabalho promissor guiou os programas de cincia da informao para a formao profissional a ser estabelecida em todo o pas. Outra nova gerao de cientistas da informao estava surgindo a primeira a ter sido formalmente treinada na prtica, e no na cincia, da informao. A literatura em construo traa mais do que um esboo da "idade de ouro". Ele fornece uma compreenso sobre o lado humano da profisso nascente. Muitos dos artigos apresentam detalhes sobre as vidas dos membros da gerao fundadora, um grupo com origens variadas e fascinantes. Nem todos aqueles que contriburam para o surgimento da cincia da informao foram includos, no entanto. A maioria das biografias sobre as pessoas que se identificaram como profissionais da informao preocupados com a recuperao e trabalhavam em agncias governamentais ou em instituies de informao sem fins lucrativos que se tornaram grandes na rea, tais como Chemical Abstracts Service ou a Ohio College Library Center (agora Online Computer Library Center [OCLC]). Poucas obras biogrficas nos informam sobre a vida daqueles que se aventuraram na nascente do lucro do setor da informao cientfica, e algumas falam de experincias de pessoas que trabalharam em grandes centros de informao corporativa. No explcito, mas identificvel, mesmo nestas obras, o tema de como as pessoas sem perfil formal bibliotecrio ou da informao remodelaram mtodos, organizaes profissionais e de treinamento em nvel universitrio e de pesquisa na poca (Chemical Abstracts Service, de 1997, Wouters, 1999). Outras obras no bibliogrficas tm aparecido na literatura em construo e sero importantes para uma futura histria em geral. Estudos tm sido feitos sobre os primeiros avanos tecnolgicos, como um artigo de Susan Cady (1999) sobre o nascimento e os primeiros anos de vida da indstria de microfilme. Uma jovem estudiosa, Shawne Miksa (2002), contribuiu com uma dissertao perspicaz que resume muito do que conhecido sobre a tecnologia precoce e o tratamento da informao. Um livro de um leigo sobre a Itek Corporation da Guerra Fria forneceu dicas tentadoras sobre o desenvolvimento de tcnicas

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avanadas para recuperao de informao e processamento para o U-2 e programas iniciais de fotografia via satlite (LEWIS, 2002). Como mencionado anteriormente, os qumicos tm olhado para sua prpria histria do sistema de informaes, uma histria longa e importante que antecede a II Guerra Mundial (MEYER & FUNKHOUSER, 1998). As contribuies de dois pesquisadores de blocos de construo se destacam. Entre muitas outras atividades (como o seu Pioneers of Information Project), Robert V. Williams est coletando e incentivando a preservao dos registros documentais em mquinas de informao pr-computador (e mtodos aliados das dcadas de 1930 a 1950) e est resgatando e traduzindo em linguagem comum descries dos mtodos de informao utilizados durante as primeiras fases do desenvolvimento de hardware de computador. Ele tambm vem monitorando a relao do trabalho nos centros de quebra de cdigo e inteligncia da Guerra Fria para a cincia da informao. Embora aparentemente no afirme ter a pretenso de ser uma historiadora, Marcia Bates tem nos dado uma grande contribuio. Seu artigo de 1999 apresentou uma lista e uma breve descrio, organizada por tpicos, dos principais artigos que apareceram no JASIS e seu antecessor, desde 1950 (BATES, 1999a). assim descrito o desenvolvimento da agenda de pesquisa do novo campo, que continua a incidir sobre os mtodos de recuperao de informao. Apesar de no ser uma histria interpretativa ou avaliativa, o artigo de Bates uma pea base para a histria integrada extremamente necessria dos mtodos e conceitos de informao norte-americanos. Essa histria do futuro deveria incorporar estudos anteriores e deve comparar as contribuies para o JASIS pelos autores que foram treinados como cientistas da informao com aqueles autores que no receberam essa formao, a fim de avaliar o impacto da formao no campo. de se esperar que uma nova rodada de pesquisas semelhantes, do contedo de ARIST, as bibliotecas especiais, e os trabalhos de organizaes como ASIST aparecer (JARVELIN & VAKKARI, 1992; LIPETZ, 1999).

Alm das bases A Literatura Interpretativa

Em menor nmero do que a construo, mas no de menor importncia, so os artigos e livros temticos, analticos e interpretativos que foram publicados na ltima dcada. Eles tocam em diversos tpicos e colocam itens de construo em contextos mais amplos. Alguns dos tpicos parecem ter sido selecionados por serem de interesse atual para os profissionais e acadmicos. Embora escolher temas devido a sua relevncia para as questes possivelmente ideolgicas ou emocionalmente carregadas e momentaneamente importantes detm os perigos

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do que so chamados de "presentismo" e "a-historicismo" (a definio da viso do passado para se conformar aos contextos contemporneos ou ideologias), pesquisando a histria das questes contemporneas bastante aceitvel e no necessariamente leva a concluses tendenciosas (FISCHER, 1970). Assim, embora as preocupaes atuais sobre o futuro dos programas acadmicos e do papel do cientista da informao na era da World Wide Web, bem como um mal-estar ps-moderno cultural geral, parece ter direcionado muitos projetos histricos recentes, as novas histrias temticas renderam muito valor. Especialmente significativa entre os temas de destaque nos trabalhos analticos so as teses de que a "idade de ouro" da cincia da informao no levou a uma profisso estvel, permanente; que a era da fundao no foi to harmoniosa como o alicerce e as histrias imaginadas anteriormente; e que as dcadas da Guerra Fria e da Grande Sociedade programas de reforma social, no foram marcadas por um consenso profundo e duradouro sobre a natureza da cincia da informao. Alm disso, a nova literatura histrica interpretativa d fortes indcios de que muitos dos primeiros sonhos profissionais e cientficos no foram totalmente preenchidos. Certamente, a esperana de que uma teoria da cincia da informao seria a ponte da diviso intelectual e institucional entre a biblioteca, o computador, cincias cognitivas e da informao continua no realizado. Estas concluses parecem justificadas, mas aguardamos confirmao. Quase todas as publicaes tm explorado o ano ps-"idade de ouro" em profundidade. Inclusive o recente informativo por Griffiths e King (2002) e o importante livro de Bourne e Hahn (2003), que renem muito material sobre as ferramentas e tendncias das dcadas de 1950 a 1970, pouco dizem sobre a cincia da informao ou o negcio da informao aps meados de 1970. Alm disso, uma reviso crtica e analtica dos fundamentos intelectuais e profissionais estabelecidos durante a Guerra Fria apenas o comeo (DAY, 2005). No entanto, ns temos alguns indcios das condies que a cincia e a profisso enfrentaram nos anos ps-"idade de ouro". Os anos 1980 trouxeram mudanas sociais, econmicas e tecnolgicas que alteraram ambas; a profisso e, talvez, a cincia. Certamente, as condies de trabalho e emprego mudaram: Cincia da informao mudou para o que tem sido chamado a era do "ps-profissionalismo" (CRONIN e DAVENPORT, 1988; DAY, 2002). As transformaes desde os anos 1970 parecem profundas, mas no foram submetidas a um exame detalhado (HAYES, 1999). Houve ainda pouca investigao sobre o impacto de novos tipos de empregadores sem fins lucrativos e as suas reivindicaes sobre a profisso e os seus programas educacionais aliados. Sabemos que o contexto social dos Estados Unidos

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tambm desempenhou um papel no ps-profissionalismo, colocando todas as profisses sob presso ideolgica. Mas aguardamos os detalhes sobre o que aconteceu com a cincia da informao quando a agitao poltica e mudanas econmicas levaram a um menor respeito e auto-determinao por muitos profissionais. Ser que os cientistas da informao experimentaram mudanas similares s dos profissionais de sade, em que as hierarquias antigas foram deslocadas por novas composta por contadores? Ns tambm precisamos de respostas sobre o impacto do software user-friendly por ele ter permitido a recuperao da informao por usurios sem qualificao (e at mesmo a indexao) como a economia americana recm-competitiva exigiu cortes de custos e terceirizao de trabalho para reas com baixos salrios. Precisamos de investigaes sobre o que aconteceu em resposta solicitao de novas habilidades, as que foram ensinadas em programas de informtica e gesto de informaes de negcios e nas lojas , bem como em programas de informao e biblioteca (DAY, 2002). Aguardamos tambm investigaes sobre a influncia do aumento do tamanho das empresas de informaes sobre o estatuto profissional e da cultura. O que aconteceu quando profissionais tornaram-se funcionrios dentro da empresa complexa, com fins lucrativos? Histrias profundas do crescimento das outrora pequenas empresas sem fins lucrativos bibliogrficas em enormes corporaes em todo o mundo podem revelar uma grande mudana na cultura profissional, to importante como a disseminao de informaes para as empresas multinacionais com fins lucrativos exceo da informao cientfica e acadmica (POWELL, 2000; SCHULTZ & GEORGY, 1994; Smith, 1998). Embora ainda existam lacunas na histria da profisso pr-1980 e um grande esforo na Era do Ps-Guerra, a literatura temtica existente fornece alguns insights sobre o registro das ltimas trs dcadas assim como na histria da era de formao do profissionalismo da informao. Uma breve reviso dos escritos, organizados em torno das principais categorias temticas na literatura histrica, tambm ajuda como os autores provavelmente pretendiam, no sentido de colocar as preocupaes atuais em perspectiva.

A busca pelas razes intelectuais e institucionais

Como de se esperar de qualquer iniciativa histrica, muita ateno tem sido dada s origens da cincia da informao. Cerca de duas dezenas de artigos relacionados e livros surgiram desde meados da dcada de 1990. Eles concordam que o campo comeou com nfase no processamento de documentos como o relatrio e informaes cientficas. Alm

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disso, h consenso de que tal foco continuou durante dcadas. No entanto, apesar de no competir, escolas distintas de interpretao foram formadas, h diferenas marcantes na literatura temtica como o calendrio e a natureza do incio da disciplina. Amarrados a essas diferenas, em muitos casos, so as crenas quanto ao que a cincia da informao deve ser no futuro. O que se sabe hoje em dia sobre a histria da cincia da informao ajuda a explicar as variadas histrias de origens. A mistura de pessoas de diferentes disciplinas, instituies e orientaes no mbito da cincia da informao, tanto hoje como no seu nascimento, tem muito a ver com a ambivalncia histrica presente. As variaes interpretativas so tambm devido aplicao de diferentes mtodos histricos e suposies. Alguns autores se socorrem da histria das ideias, enquanto outros adotam uma abordagem comportamental. Alm disso, existem dificuldades semnticas. Um pesquisador se depara com um redemoinho de definies instveis de termos bsicos, tais como informao e cincia da informao (CAPURRO & HJORLAND, 2002; HJORLAND, 2000; SCHRADER, 1984). Uma soluo para as divergncias sobre as origens possvel, mas vai ter muita lgica e trabalho emprico. Fundamental para uma resoluo a necessidade de vencer qualquer tentao de permitir que os desejos relativos a uma cincia da informao ideal determinem a interpretao de suas origens. Entre as muitas verses de origens h diversas que enfatizam as razes europias e humanistas do campo e suas instituies. Essas histrias rastreiam a cincia da informao de volta para, pelo menos, o incio do sculo XX e no para os anos 1950. Michael Buckland e Boyd Rayward tm destacado contribuies idealistas iniciais dos europeus, como Paul Otlet, cuja viso de uma biblioteca total foi ancorada tanto nos ideais das cincias humanas como nas necessidades de expanso dos reinos da cincia e da engenharia. Para os historiadores apontando para a Europa, grandes esperanas intelectuais, e no exigncias prticas deram origem cincia da informao e, mais tarde, profisso (RAYWARD, 1994). O sonho de HG Wells de uma biblioteca universal, um crebro mundial, e a pr-Segunda Guerra Mundial academicamente vincularam esforos no desenvolvimento de mtodos de classificao geral, tambm fazem parte das histrias humansticas (MUDDIMAN, 1998). Alm disso, Buckland (1992, 1995) demonstrou que a tecnologia pioneira, como catlogo de microfilme automatizado e mtodos de recuperao de vrias informaes, nasceram tanto na Europa como nos Estados Unidos. Essas obras tambm fazem reivindicaes das continuidades institucionais e afirmam um domnio enorme para a cincia da informao. Como Farkas-Conn (1990) eles traam o

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nascimento da mais importante nova organizao de cincia da informao americana, a Sociedade Americana de Cincia da Informao (agora American Society for Information Science and Technology) de Otlet atravs do advogado de cincia da Amrica, Watson Davis, cujo trabalho tinha vnculos com as elites intelectuais e universitrias dos EUA, suas expectativas acadmicas e suas conexes sociais/polticas (VARLEJS, 1999). As variedades de reivindicaes histricas Buckland/Rayward podem ser facilmente interpretadas como implicando um conjunto de afirmaes no-ditas sobre as obrigaes e os futuros profissionais: Cincia da Informao foi e deve continuar a ser casada com o extraordinrio patrimnio das artes liberais; ela deveria exigir formao avanada e interdisciplinar; deveria ter programas tericos de orientao; deveria estudar todos os tipos de comunicao, inclusive a arte e a msica; e seus praticantes devem ser representados por uma organizao com vises expansivas intelectual e culturalmente (BUCKLAND, 1991, 1997; McCRANK, 1995, 2001). Outros historiadores apontam para comeos um pouco diferentes, embora eles tambm enfatizem razes intelectuais e conexes universitrias, em vez de tcnicas ou tecnologias. Recentemente, a orientao terica do primeiro programa de ps-graduao de nvel universitrio em biblioteconomia nos Estados Unidos, da Universidade de Chicago, foi tratada como tendo amadurecido nos anos 1950 para "epistemologia social". Essa teoria, desenvolvida por Jesse Shera e seus colegas (como Margaret Egan) foi uma verso inicial da sociologia do conhecimento, que trata a informao como o resultado de pessoas, contextos complexos e necessidades da sociedade, no apenas como um item intelectual. Os defensores da epistemologia social a vem como um precursora dos estudos de usurios teoricamente orientados. Eles tambm fazem uma alegao maior, interpretando o trabalho de Shera como a primeira academicamente vivel teoria de alto nvel, para toda a rea da cincia da informao, pois estava no mesmo nvel de prestgio como a sociologia mais avanada da poca (FURNER, 2004; SMIRAGLIA, 2002; WRIGHT, 1985; ZANDONADE, 2004). H outras verses das origens intelectuais e institucionais que buscam mtodos e tcnicas, em vez de teorias. Em contraste com os pontos de vista mais humansticos e sociais da cincia ligada, a perspectiva de alguns comentadores repousa sobre a afirmao implcita de que o ncleo da cincia da informao moderna surgiu a partir da aplicao de ferramentas avanadas de matemtica e estatstica e da utilizao de computadores durante a Guerra Fria, especialmente atravs do trabalho do acadmico norte-americano Gerald Salton (DUBIN, 2004; HARMAN, 1997). As conexes sociais/profissionais daqueles que esto associados com todas essas

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reivindicaes explicam em parte as vantagens dos membros da ASIST de buscarem apoio das maiores agncias de financiamento da ps-Segunda Guerra Mundial II. Os cientistas da informao em departamentos de universidades de prestgio, independentemente de artes liberais ou cientficas, tiveram muito mais sucesso obtendo subsdios governamentais e subsdios para pesquisa de informao do que os bibliotecrios, os bibliotecrios especiais, ou cientistas da informao no-acadmicos (HARTER & HOOTEN, 1992). A organizao fundada para atualizar a pesquisa no meio acadmico americano, o National Science Foundation, e muitas agncias militares tendem a patrocinar projetos de informao e programas executados por aqueles que eram membros de universidades de elite e seus departamentos "cientficos" acadmicos estabelecidos e organizaes profissionais (National Science Foundation, Gabinete do Servio de Cincia da Informao, 1960). H outras afirmaes sobre os primrdios. Alguns programas universitrios de cincia da informao europeus e norte-americanos j traaram suas origens semitica e vrias outras teorias da comunicao. Muitas dessas teorias surgiram a partir de estudos da linguagem e at mesmo de pesquisa com inteligncia artificial relacionadas a computadores realizadas por recm-chegados aos estudos da informao no perodo ps-II Guerra Mundial. Outros investigadores histricos colocam nfase nas razes em trabalhos mais tradicionais relacionados com bibliotecas. Eles rastreiam a cincia da informao explorao das filosofias de classificao alternativa na Inglaterra e na anlise estatstica de publicaes e de frequncias de palavras durante a dcada de 1930. Aos olhos de alguns, esses esforos so o que levaram formao do hoje extinto Instituto dos Cientistas da Informao (IIS) do Reino Unido, em 1958 (HJORLAND, 2000; OLAISEN et al, 1995). Para outros, as bases metodolgicas foram estabelecidas h muito tempo e por diferentes tipos de pessoas. Robert V. Williams mostrou como muitas das tarefas e mtodos que diferenciavam os bibliotecrios regulares dos profissionais da informao vieram do trabalho do incio do sculo XX de "bibliotecrios especiais" americanos floor-trained que eram empregados em empresas e bibliotecas empresariais. Suas contribuies metodolgicas foram o resultado de responder s necessidades prtica e imediata dos utilizadores atravs da aplicao de tecnologias criadas para outros fins que no o processamento de documentos. Eles transformaram o United States Special Libraries Association (SLA) em uma organizao de grande escala antes do surgimento do American documentalists e antes que algum sonhasse com o computador eletrnico (WILLIAMS, 1997; WILLIAMS & ZACHERT, 1983). As afirmaes de origens nas bibliotecas especiais no se limitam aos Estados Unidos. Jack Meadows viu a verso inglesa mais abrangente de bibliotecrios especiais como

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dispondo dos fundamentos da teoria da informao, bem como contribuindo com tcnicas e fazendo-o no perodo imediatamente aps a I Guerra Mundial (HJORLAND, 2000; MEADOWS, 1987). Outras exploraes da histria da organizao de biblioteca especial (Aslib) dos anos 1930 na Inglaterra esto provando-se informativas. Mas os europeus que tm uma orientao mais terica e acadmica vem o trabalho do Classification Research Group (CRG), que construa um sistema de classificao de biblioteca novo e intelectualmente garantido, como o autor verdadeiro da "cincia" (JUSTICE, 2004; LA BARRE, 2004; MOHANRAJAN, 1992; RANGANATHAN, 2001; SATIJA, 1992). Em contraste, Alistair Black (1998, 2004) da Inglaterra, tendo uma viso muito ampla, juntou tcnicas de gerenciamento de informaes de escritrio com as dos bibliotecrios em exerccio. Isto o levou a uma imagem de um campo em desenvolvimento fora do que ele v como a "revoluo da informao" do sculo XIX. Para ele, os profissionais da informao surgiram pela primeira vez sem a orientao (ou talvez a necessidade) de teoria, avanada formao acadmica, ou tecnologias sofisticadas. Outros, especialmente nos Estados Unidos, continuam a localizar as origens e as obrigaes nos domnios da engenharia e cincias da computao aplicada. Os trabalhos de Van-nevar Bush nos anos 1940 sobre o MEMEX, a teoria de engenharia/estatstica da informao desenvolvida por Claude Shannon, e ciberntica tm sido tratados como os fundamentos intelectuais do campo. Estas afirmaes vm somente com poucas saudaes para a necessidade de outras teorias ou filosofias, como a lingustica, para orientar a pesquisa de informao ou de construo do currculo (CHOMSKY, 2002; GARFINKEL & ABELSON, 1999; HAYES, 1999; KLINE, 2004). Algumas das queixas mais frequentes sobre as origens e a natureza do campo so em maior consonncia com a construo da "idade de ouro" de interpretao. Estas verses centralizam em necessidades prticas, financiamento relacionado, e os mercados no perodo ps-II Guerra Mundial. De acordo com Tefko Saracevic (1992, 1999), a profisso era originalmente, e continua a ser orientada em torno de problemas, em vez de teorias ou tcnicas. Nesta perspectiva, a cincia da informao nasceu da II Guerra Mundial e demandas da Guerra Fria por cientistas aplicados para o acesso rpido a novos tipos de documentos e tem vivido em torno de questes prticas, desde ento (JACKSON, 1992). Donald Windsor (1999) vai mais longe: ele tambm enfatiza a orientao prtica da profisso, mas localiza sua origem nas necessidades de determinados setores como o crescimento corporativo e regulamentos do governo foraram a busca de novos mtodos, que foram elaborados principalmente pelos especialistas que se treinaram como profissionais da informao. S

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mais tarde, afirma Windsor, acadmicos substituiriam os tipos de fundao na cabea das organizaes profissionais da informao. Apesar do surgimento do "cientista" acadmico, historiadores como Windsor e Saracevic veem uma constncia na histria da cincia da informao: Foi, e uma "cincia" pragmtica e em constante mudana, dependente de um conjunto de ferramentas que esto sempre mudando, tecnologias e perspectivas, todas provenientes de outras disciplinas. Pode um historiador de o futuro conciliar essas afirmaes diferentes? Pode uma estimativa confivel ser o grau de influncia das origens diversas afirmadas? A resposta sim, respostas razoveis podem ser encontradas. Por exemplo, em termos de razes intelectuais, as solues so possveis se as distines forem feitas entre os paralelos e de livre flutuao contribuies intelectuais e o comportamento dos atores histricos. Um historiador, talvez usando ferramentas bibliomtricas e anlise de contedo, pode mostrar como as ideias migraram ou no de pessoa para pessoa e como essas pessoas usaram (ou no usaram) essas ideias em seu trabalho e no reforo das instituies (SMITH, 1991). Os estudos empricos dos currculos tambm podem determinar influncias ao longo do tempo e do espao. Um estudo sobre a formao educacional e associaes institucionais de inovadores de informao tambm ajudaria (LIPETZ, 1999). Tambm pode haver progresso nas questes relativas s ideias daqueles considerados como os fundadores da cincia da informao. Algumas anlises sobre a natureza e as consequncias das instalaes por trs dos documentalistas e f da "idade de ouro" na possibilidade de uma cincia da informao esto comeando a aparecer (DAY, 2001). At agora, as tcnicas utilizadas pelos autores tm sido as marcas atuais da crtica literria e anlise retrica. Este trabalho ainda tem que atingir a profundidade e a maturidade da literatura analtica sobre as ideias dos principais contribuintes para as cincias estabelecidas (por exemplo, HERBERT, 2005).

A busca por uma identidade e pelo status da Cincia da Informao

Outras questes, entrelaadas com as questes das origens institucionais e do patrimnio intelectual, tm recebido muita ateno nos escritos de interpretao histrica da ltima dcada, embora tenham sido muitas vezes tratadas apenas como uma parte secundria de uma histria. A identidade da cincia da informao um desses tpicos. Pelo menos desde a dcada de 1960, tem havido esforos para distinguir a cincia da informao de outras disciplinas e estabelecer a exclusividade e o status acadmico da profisso.

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Entre as novas exploraes de carter histrico, mais de uma dezena de grandes obras (alm daquelas sobre as origens) tm tentado usar a histria para comprovar ou estabelecer limites da cincia da informao (HJORLAND, 2000; WARNER, 2004). Uma dzia a mais tem aparecido, lidando com a questo relacionada com a histria da teoria da informao. Tal como acontece com as obras sobre as origens, h muitas afirmaes diferentes sobre a identidade da cincia da informao e o que ela pode reivindicar como seus respectivos territrios, nas universidades e no mercado de trabalho (SCHRADER, 1984). Existem reas de consenso, no entanto. As novas histrias apontam para uma luta de longo prazo para obter o reconhecimento e para garantir um domnio. As tenses geradas durante as lutas so refletidas nas histrias dos primeiros programas americanos de nvel universitrio de cincia da informao. A pesquisa mostrou que os programas de incio acharam difcil diferenciar-se da biblioteconomia e da cincia da computao/programas de inteligncia artificial ou manter um corpo docente interdisciplinar harmonioso em tempo integral (BUCKLAND, 1999; SWEENEY, 2003). Os estudos histricos de dois dos primeiros programas universitrios conhecidos destacam os atritos decorrentes da tentativa de misturar bibliotecrios, especialistas em recuperao da informao e analistas de sistemas/operaes em departamentos coesos. A histria da famosa iniciativa da Western Reserve University, criando o Center for Documentation and Communication Research, revelou uma diviso entre bibliotecrio e especialista/empresrios do setor. Uma investigao do ambicioso departamento da Universidade de Pittsburgh mostrou que mesmo professores que vieram de outras reas, tais como a qumica, a engenharia, a psicologia, tinham dificuldades de chegar a um acordo sobre a natureza da "cincia" (ASPRAY, 1999; BOWLES, 1999). Um cientista da informao ativo durante a formao dos "anos dourados" tomou recentemente uma viso histrica extrema da histria da educao da cincia da informao (SARACEVIC, 1999). Ele afirma que os departamentos e currculos comearam e continuam a ter fundamentalmente com duas orientaes diferentes. Uma seguiu a ideia de conjunto de servios de Jesse Shera, que teve uma viso centrada no bibliotecrio/ser humano, a outra pela abordagem rgida da cincia, de Gerald Salton, das universidades de Harvard e de Cornell. Naturalmente, estas duas abordagens foram, e so, difceis de conciliar e estabelecer uma identidade nica para a fugidia cincia da informao. Outras evidncias sugerem que muitos departamentos e indivduos enfrentam dificuldades. A biografia coletiva da gerao ps-II Guerra Mundial provavelmente vai reforar as concluses de que as demandas e solicitaes da cincia da Guerra Fria,

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especialmente na aplicao e em programas de misses-orientadas (tais como esforos de msseis e espaciais), bem como programas de inteligncia, mudaram a indexao, catalogao e recuperao para as mos de especialistas e engenheiros cujo foco foi a soluo imediata de problemas para um pblico especializado. Eles poderiam acolher os desvios dos procedimentos bibliotecrios estabelecidos, mas alguns deles, ao que parece, foram capazes de encontrar formas de viver confortavelmente no mundo social/profissional em cada cincia da informao terica ou programas de biblioteca orientada como responderam a novas oportunidades tecnolgicas (CRAGIN, 2004; CROWLEY, 1999). Um estudo do projeto INTREX no MIT demonstrou que as tentativas de cientistas da computao de misturar bibliotecrios, especialistas e auto-descritos cientistas da informao em um programa de longo prazo enfrentaram obstculos considerveis (BURKE, 1996). Outra complicao contribuiu para as dificuldades de formar uma identidade nica e distinta: as diferenas sobre os papis do empreendedorismo de pesquisa/acadmico patrocinado versus definio departamental com base no ensino e harmonia ilusria. (ASPRAY, 1999; BOWLES, 1999). Em paralelo com essa tese e a de Saracevic dos dois mundos, parte da literatura histrica, embora no seja focada especificamente nas questes de definio e de fronteira, sugere que houve uma tenso latente entre aqueles que veem a profisso da informao como parte do setor de servios sem fins lucrativos e aqueles que a veem como um recurso para o mundo do banco de dados com fins lucrativos. Um estudo bibliomtrico emprico significativo da literatura da cincia da informao a partir da dcada de 1970 at meados dos anos 1990 revela ainda outra diviso: o mundo da pesquisa da informao foi dividido ele mesmo em dois reinos separados (WHITE & McCAIN, 1998). Aqueles envolvidos em trabalhos quantitativos sobre questes como as melhores tcnicas de recuperao de documentos e a relevncia para os usurios dos resultados das buscas de informao raramente citavam aqueles cujo trabalho foi de orientao mais filosfica ou humanista. Os dois grupos intelectuais e profissionais de pesquisadores parecem ter persistido at o sculo XXI. Uma investigao similar da interao entre os profissionais envolvidos na investigao sobre as necessidades dos usurios e aqueles que trabalham no projeto do sistema tambm revelou divises (BUCKLAND, 1999; ELLIS, ALLEN, & WILSON, 1999). Foras temporais, sociais e econmicas tm um papel na formao de identidades profissionais. Uma considerao importante do programa inovador da Universidade da Califrnia em Berkeley mostrou que a cincia da informao e a biblioteconomia foram definidas diferentemente ao longo do tempo e do espao (BATES, 2004). Durante a dcada de

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1960, a biblioteca da Berkeley e o programa de cincia da informao colocavam a nfase na formao em operaes de investigao, anlise estatstica e teoria das cincias sociais. O programa foi, em seguida, se adaptando s ideias atuais, at mesmo nos livros didticos utilizados, o que foi chamado de "comportamento" das cincias sociais. A devoo a essa orientao cientfica social particular logo mudada para o "behaviorismo" caiu em popularidade, assim como as prprias cincias sociais, talvez por causa da efervescncia ideolgica dos anos da guerra do Vietn (BATES, 2004; RAU, 2000). As foras de mercado tambm desempenharam um papel na determinao dos programas. Da Universidade de Drexel, na Filadlfia, os primeiros compromissos com a teoria e a pesquisa deram lugar a cursos prticos destinados a atender s necessidades da grande rea da indstria da informao cientfica (FLOOD, 2000). Apesar da continuidade de padres de pesquisa discernveis na lista de Bates (1999a), lista de artigos significativa no JASIS, experincias de Berkeley e de Drexel, reforam a concluso de que a cincia da informao sempre encontra dificuldade para esculpir um domnio distinto de outras reas e criar uma identidade estvel. Alm disso, uma histria duradoura recente do programa de cincia da informao na Universidade de Pittsburgh coloca em questo como muita teoria e profissionalismo independente contriburam para a determinao de pesquisa e educao da cincia da informao (BLEIER, 2001). A autodeterminao acadmica dos contedos e programas era limitada. A dependncia de financiamento externo, orientado para solues de problemas, geralmente de agncias governamentais, parece ter impulsionado a seleo do corpo docente, bem como do curso e contedo do programa. Em contextos tradicionais de ensino superior, os departamentos sem um grau significativo de independncia no so susceptveis de serem vistos verdadeiramente como uma parte da academia embora possam gerar uma grande quantidade de dinheiro para a instituio. Infelizmente, ainda no h uma pesquisa abrangente, emprica e histrica dos currculos de cincia da informao ou da faculdade, quer nos Estados Unidos ou nos outros pases. Estudos de catlogos e livros didticos da universidade vo produzir evidncias necessrias sobre identidade e status, incluindo informaes importantes sobre as credenciais e origens disciplinares necessrias para se tornar um membro do departamento de cincia da informao de uma faculdade (LIPETZ, 1999). H indcios de que essa investigao vai mostrar variaes significativas continuadas em longo prazo pelo menos entre os programas americanos. Alguns foram, e so tecnologicamente orientados e difceis de diferenciar de programas de cincia da computao. Outros enfatizam a psicologia cognitiva. E alguns como aqueles em Illinois e Berkeley, tiveram, durante parte de suas histrias, os laos para a

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formao bibliotecria, as artes liberais e a ampla teoria quase-humanstica (ASPRAY, 1999). Embora haja sugestes sobre a natureza da histria dos currculos e do corpo docente, h um vazio em relao aos alunos e ex-alunos. Esse vazio pode ser eliminado. Muitos tipos de dados esto disposio dos pesquisadores para o desenvolvimento de uma histria das formaes dos estudantes e suas carreiras. Registros de colgio e alunos, dados da associao, sociedade e at mesmo anncios de emprego podem servir como uma base emprica (CRONIN, STIFFLER, & DAY, 1993). Quais eram os padres de admisso? Quais foram os contextos sociais e econmicos dos alunos? Que empregos eles tiveram depois de completar sua educao? Como estudantes de cincia da informao se comparam com os treinados como bibliotecrios, bibliotecrios especiais, cientistas da computao ou mesmo aqueles que foram treinados na prtica? Responder a essas perguntas ajudar a determinar a identidade e o domnio da cincia.

Estatuto profissional e Organizaes

As profisses so vistas como estabelecidas e dignas de respeito quando elas tm um grau significativo de controle sobre a descoberta e aplicaes de mtodos exercem poder com respeito ao emprego e desempenham um papel importante no monitoramento do comportamento profissional. O controle de emprego importante, pois tende a garantir relativamente elevado retorno econmico para os profissionais. Profisses estabelecidas tambm modelam os programas acadmicos e so capazes de manipular a legislao de interesse (HABER, 1991; LYNN, 1965; McDONALD, 1995). Profisses de alto status como direito e medicina ganharam, em grande medida, o privilgio da auto-regulao. Elas mantiveram muito do poder atravs das suas organizaes profissionais, que exercem presso poltica eficaz e atividade jurdicas. Nos Estados Unidos, o poder das profisses jurdicas e mdicas so contabilizados pela sua evoluo histrica desde o incio como uma espcie de associao como tambm por sua ligao com a formao de longos e difceis mtodos intelectualmente exigentes. Embora a profisso mdica nos Estados Unidos tenha experimentado recentemente um declnio de status e os advogados norteamericanos tenham perdido o controle total sobre os nmeros que entram na profisso, ambos mantm muito do seu status jurdico formal e respeito popular. Em alguns casos, domnios profissionais tm sido defendidos atravs da ligao com a teoria que prev e explica a pesquisa e a prtica (cf. ABBOTT, 1988, captulo 8). A teoria parece justificar quaisquer poderes especiais que tenham sido concedidos a uma profisso e

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suas instituies. O tipo de profisso diferente da de mdico e advogado, fsico, serve como talvez o melhor modelo para aqueles que procuram o reconhecimento acadmico atravs da teoria. Fsicos pretendem realizar teorias que produzam explicaes fundamentais. O status do campo dentro da comunidade intelectual surgiu devido a essas grandes teorias, bem como s suas surpreendentes realizaes prticas no sculo XX (KEVLES, 1978). Parece que os historiadores da cincia da informao ainda tm que explorar o quebracabea da identidade da rea, olhando diretamente para a natureza e para o poder das organizaes profissionais. Algumas das obras histricas acumuladas nos do dicas do estatuto profissional, argumentando que as organizaes principais da cincia de informao parecem ter desempenhado um papel no estabelecimento de algumas normas tcnicas (KOKABI, 1996; McCALLUM, 2002; SPICHER, 1996). Mas os historiadores ainda tm que mostrar a influncia de organizaes como ASIST ou aquelas que representam outros profissionais (corretores de informao ou indexadores e resumidores) em atividades como creditao de programas acadmicos, definio de padres de certificao, estabelecimento e aplicao de normas de conduta profissional, controle dos mercados de trabalho e formao e cumprimento dos cdigos de tica (RUBIN, 2000). Organizaes tradicionais de bibliotecrios, como a American Library Association (ALA), parecem ter desenvolvido mais poder profissional do que os cientistas da informao sobre o acesso a emprego. Nenhuma das organizaes de informao nos Estados Unidos parece ter se envolvido no cumprimento das normas profissionais por meio de qualquer forma de sano (KISTER, 2002).

Estatuto profissional e Teoria

Uma pedra fundamental do estatuto profissional est nos primeiros estgios de investigao pelos historiadores da informao: a teoria. Grande parte deste trabalho sobre a histria da teoria da informao tem sido ligada s questes da origem e do conjunto de concluses sobre a natureza e o estado dos ecos da teoria das divises mais antigas. A histria da teoria tambm est ligada quantidade surpreendente de ateno recente para a histria da classificao e para o surgimento de uma abordagem trazida do campo da crtica literria, o ps-estruturalismo, que tem sido recomendada como um fundamento terico para a cincia da informao e histria da informao (HEROLD, 2004). Embora muita ateno tenha sido dada classificao, apenas algumas das muitas teorias mencionadas como importantes na histria da cincia informao tm sido exploradas pelos historiadores da informao. Alm de Jesse Shera e sua epistemologia social, apenas

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algumas teorias abrangentes e demandas metodolgicas de alto nvel tm recebido tratamento histrico extenso. Muitos aspectos do tema exigiriam a traduo em linguagem compreensvel para os no-especialistas. Tem havido exames no que muitos viram como sendo o guia terico para a pesquisa de informao na engenharia e programas de cincia da computao. Os estudiosos se debruaram sobre a carreira da teoria estatstica de Claude Shannon, bem como sobre as vrias verses dos sistemas e teorias da ciberntica ps-II Guerra Mundial (COLE, 1993; KLINE, 2004; VERDU, 1998). Abordagens que orientam outros tipos de programas de informao tambm esto sendo investigados. Dubin (2004) explorou as teorias de Gerald Salton, e Rau (2000) analisou a carreira de operaes de anlise nos meios acadmicos e militares e servios de informao industrial. Estudiosos como Day (2005) e Smiraglia (2002) esto comeando a usar e, de certa forma, investigar a natureza e o impacto das teorias trazidas pelas cincias humanas desde a dcada de 1970. Mizzaro (1997) avaliou a evoluo das teorias e mtodos para medir a relevncia dos materiais produzidos atravs da pesquisa automatizada de documento. Tague-Sutcliffe (1994) forneceu uma obra monumental sobre mtodos quantitativos. No entanto, ainda no temos conhecimentos histricos sobre a natureza e o papel da lingustica, da semitica, dos grficos e da teoria comunicao (TUFTE, 2001). Os recentes esforos dedicados histria das teorias so apenas os primeiros passos em direo a um entendimento de que as teorias, se existirem, tm sido empregadas para definir e orientar os profissionais. Decisivamente, a histria no mostrou ainda mais do que a relao mais geral entre o uso particular de uma teoria de nvel superior, os mtodos empregados pelos investigadores e as concluses resultantes. Tambm no foi demonstrado que a teoria tem desempenhado um papel significativo na definio do status da profisso, mesmo dentro dos crculos acadmicos. Alm disso, pode-se ver que o grande papel da teoria tem sido reforar a justificativa post-facto do trabalho, assim como h indcios de que as publicaes cientficas formais no tm sido, em muitos casos, diretamente relacionadas com o trabalho de cientistas estabelecidos nem para comunicar a informao a outros cientistas. Pelo contrrio, a teoria e a publicao formal pode ter sido de mais valor na determinao do estatuto acadmico e na orientao dos alunos durante os estgios iniciais da formao profissional (FROHMANN, 1999).

O Inexplorado

H muitas questes inexploradas ligadas aos problemas da origem, da identidade e do

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status que so relevantes para a histria da cincia da informao, tanto na era pr quanto na ps-1970. Significativamente, a persistncia dessas questes sugere a existncia de muitos paralelos histricos entre os dois perodos. Um deles a aparente desconexo entre os mtodos de documentaristas americanos da dcada de 1940, 1950 e todos os mtodos anteriores e a aparente descontinuidade entre o nascimento dos mecanismos de busca da Web e a cincia da informao estabelecida nas dcadas de 19801990. Outra tarefa para os historiadores a comparao do papel crtico das prioridades federais durante a Guerra Fria com o impacto da privatizao e o aumento da comercializao de servios de informao desde 1980 na elaborao de programas de informao. Em ambos os casos, os profissionais de outras reas parecem ter sido os responsveis. Aliada a esses dois pontos est a questo da influncia desproporcional de engenheiros e cientistas aplicados na concepo e gesto dos primeiros sistemas on-line e de um perfil similar para a Internet embora a cincia da informao tenha amadurecido no tempo da Web (BERNERS-LEE & FISCHETTI, 1999; BOURNE & HAHN, 2003). Como j foi discutido, h um paralelo entre a luta nas dcadas de 1950-1970 para criar uma profisso que pudesse determinar a si mesma e o tumulto criado por mudanas e declnios no financiamento acadmico em conjunto com o que parece ser uma crescente importncia do setor empresarial na reformulao dos currculos e atitudes profissionais (CROWLEY, 1999; OROM, 2000).

Tecnologia, mtodos e o aspecto do negcio

Alguns outros temas tm recebido um pouco mais de ateno da literatura temtica. Historiadores da computao tm produzido mais uma rodada de histrias informativas gerais (CAMPBELL-KELLY & ASPRAY, 1996; CERUZZI, 1998). Existem alguns trabalhos sobre a histria do software, incluindo o conhecimento sobre sistemas para automao de bibliotecas (CAMPBELL-KELLY, 2003; CORTADA, de 2002; GRAD & JOHNSON, 2002; HAIGH, 2004). As grandes mudanas na tecnologia de comunicaes, tais como o desenvolvimento da fibra ptica de alta capacidade e roteadores de alta velocidade, esto enfim sendo abordadas (VERDU, 1998). Muitas exploraes histricas sobre as origens intelectuais e polticas da Internet tm aparecido, mas talvez seja muito cedo para esperar obras equilibradas sobre o desenvolvimento dos mais recentes softwares da Web e mecanismos de busca (ABBATE, 1999; BERNERS-LEE & FISCHETTI, 1999; HAFNER, 1996; REID, 1997). Tambm muito cedo para esperar perspicazes anlises histricas sobre o impacto da

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Web na prestao de informaes cientficas e acadmicas, o corao da cincia da informao americana nos "anos dourados". Os historiadores da nova era da comunicao cientfica certamente tero de explorar quatro temas relacionados: o custo crescente de publicaes cientficas, apesar das revolues tecnolgicas da comunicao e de impresso; a relutncia da academia para alterar os seus sistemas de recompensa de modo que as publicaes eletrnicas feitas pelo corpo docente possam dar crdito na promoo e posse de decises; as formas com que a Web alterou a formao e a definio dos cientistas da informao; e o grau de contribuio da internet para o desenvolvimento de um sistema de comunicaes informais alternativo de cientistas e acadmicos (CASE, 2002; SCHIFFRIN, 2000). A questo mais ampla sobre se a Web ir criar uma cultura em todo o mundo ou promover o reconhecimento das diversas culturas vai levar dcadas para ser respondida. Por outro lado, talvez mais tpicos fundamentais aguardem trabalhos histricos. Um deles o cerne da questo da identidade profissional. Embora historiadores como Robert V. Williams tivessem diligentemente coletado informaes sobre os mtodos iniciais, no h ainda nenhum levantamento histrico geral das ferramentas intelectuais da cincia da informao. Notadamente faltam estudos focados nos no-especialistas sobre a criao e aplicao de mtodos, aps os "anos dourados". Aguardamos a histria dos instrumentos intelectuais, seus criadores, a sua relao com inovaes tecnolgicas e seu significado. E, no importando a origem intelectual, uma pergunta bsica sobre os mtodos tm de ser respondida: havia quantidade suficiente de contribuies metodolgicas para defender a tese de que houve, e h uma distinta e valiosa cincia da informao? Surpreendentemente, quase no houve nenhum trabalho histrico novo sobre a economia da informao, apesar do aumento no interesse do problema da construo de uma teoria abstrata geral da economia da informao (STIGLITZ, 2000; WARNER, 2005). (Ver tambm o captulo Braman [2006], que foi recentemente chamado ateno do autor.) Falta-nos o conhecimento fundamental sobre a histria da informao e "conhecimento" das empresas e sobre o papel da cincia da informao na formao do custo da informao. Por exemplo, apesar das contribuies duradouras de Robert Hayes (1999), os preos dos produtos, os salrios e as margens de lucro permanecem incgnitas histricos. Ns sabemos que a informao tratada como extenses de domnios da cincia da informao, como os servios de informao textual/bibliogrfica online, tornou-se um grande negcio, pelo menos, na dcada de 1980. No entanto, temos apenas trechos sobre suas dificuldades financeiras e sobre empresas de informaes enquanto empregadoras (MEYER, 1997). Bourne e Hahn (2003) forneceram algumas informaes sobre os aspectos financeiros

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da indstria on-line durante seus primeiros anos e existe uma fascinante srie de artigos escritos por um dos primeiros lderes dos provedores pago, Lexis-Nexis (BROWN, 2002a, 2002b, 2003a, 2003b). A conturbada histria das primeiras experincias de jornais online experimentou alguma ateno nos anos 1980 (PEMBERTON, 1983). Mas, embo