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1 AS IDEÍAS DE MCLUHAN Por Fernanda Cimino Introdução: "Os meios de comunicação como extensões do homem", publicado em 1964, nos Estados Unidos com o título original, "Understanding Media", é uma das obras fundamentais do pensamento do canadense Marshall McLuhan (1911-1980) que também é considerado um dos mais importantes teóricos da comunicação e que corresponde às denominadas Teorias Midiáticas dentro do contexto das abordagens conceituais da ciência da comunicação.

As Ideias de Mcluhan

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"Os meios de comunicação como extensões do homem", publicado em 1964, nos Estados Unidos com otítulo original, "Understanding Media", é uma das obras fundamentais do pensamento do canadenseMarshall McLuhan (1911-1980) que também é considerado um dos mais importantes teóricos dacomunicação e que corresponde às denominadas Teorias Midiáticas dentro do contexto dasabordagens conceituais da ciência da comunicação.

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AS IDEIacuteAS DE MCLUHAN

Por Fernanda Cimino

IntroduccedilatildeoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem publicado em 1964 nos Estados Unidos com o

tiacutetulo original Understanding Media eacute uma das obras fundamentais do pensamento do canadense

Marshall McLuhan (1911-1980) que tambeacutem eacute considerado um dos mais importantes teoacutericos da

comunicaccedilatildeo e que corresponde agraves denominadas Teorias Midiaacuteticas dentro do contexto das

abordagens conceituais da ciecircncia da comunicaccedilatildeo

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Os estudos de McLuhan fazem parte das Teorias Midiaacuteticas eou Esteacuteticas da comunicaccedilatildeo que

alguns momentos se assemelha agrave concepccedilatildeo benjaminiana defendida no ensaio ldquoA obra de arte na

era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo na qual se detecta as mudanccedilas ocorridas na arte e na cultura a

partir das transformaccedilotildees teacutecnicas e no potencial revolucionaacuterio que as formas tecnoloacutegicas

assumem na sociedade de consumo capitalista Ou seja tanto Walter Benjamin em A Obra de

Arte na Era da Reprodutibilidade Teacutecnica quanto Marshall McLuhan em ldquoOs meios de

comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo vatildeo realizar uma leitura da forma esteacutetica da arte e das

comunicaccedilotildees a partir do efeito provocado pelas novas tecnologias frutos da 1a e 2ordf Revoluccedilotildees

Industrial e da Revoluccedilatildeo Eletroeletrocircnica

DEFINICcedilAtildeO DE MEIO PARA MCLUHANMcLuhan vai definir os meios como sendo extensotildees musculares sensoriais ou psiquicas do

homem Sua originalidade estaacute em afirmar que meio eacute tudo que serve para vincular o homem ao

proacuteprio homem desde a fala comum ateacute a TV passando pelos meios de transporte a moeda e a

palavra impressa satildeo para McLuhan extensotildees do homem pois formam o meio ambiente noqual ele se move se projeta e se forma

Ou seja o meio eacute o proacuteprio ambiente que o homem cria para nele definir o seu papel e nele se

firmar Ou seja a invenccedilatildeo da escrita e dos tipos moacuteveis que deu origem a imprensa satildeo ferramentas

criadas pelos homens para prolongar o sentido da visatildeo humana bem como a fotografia Jaacute o

telefone e o raacutedio satildeo meios que favorecem a extensatildeo da audiccedilatildeo e o computador eacute um

prolongamento do sistema nervoso central do homem que vai ampliar a memoacuteria fora do corpo

humano

Dessa forma o meio como se refere McLuhan aos meios de comunicaccedilatildeo e agrave todas as extensotildees

humanas satildeo educadores privilegiados dos sentidos e geradores de novos comportamentos Eacute

importante notar que para ele natildeo haacute meios de comunicaccedilatildeo de massa ou mass media mas

simplesmente media (meios) plural de meacutedium (meio) que equivale portanto ao conjunto de todos

os meios

Tal como Benjamin afirmou que a reproduccedilatildeo teacutecnica e o surgimento de novos suportes

redefiniram o conceito da arte e consequumlentemente a sua funccedilatildeo social McLuhan diraacute os meios

advindos da 1a e 2 ordf Revoluccedilatildeo Industrial vatildeo inaugurar novos procedimentos teacutecnicos e com isso o

aparecimento de novas linguagens Ou seja com o desenvolvimento da teacutecnica surgiratildeo novas

linguagens que revolucionaratildeo tanto o conceito tradicional de arte quanto o da proacutepria comunicaccedilatildeo

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e isso implicaraacute fatalmente numa mudanccedila da sensibilidade e a percepccedilatildeo do homem moderno O

caso da arquitetura moderna eacute exemplar Na arquitetura o desenvolvimento da teacutecnica e sobretudo

o aparecimento de novos materiais como o ferro o vidro o accedilo e o concreto promoveram o

desenvolvimento de outra linguagem onde foi abolida toda influecircncia do elemento plaacutestico e

ornamental jaacute que na arquitetura claacutessica o ornamento contribuiacutea para intensificar os significados

simboacutelicos e alegoacutericos dos elementos estruturais Para a arquitetura moderna natildeo eacute necessaacuterio que

ela fale de adornos simboacutelicos ou alegoacutericos porque ela deve falar atraveacutes da pureza geomeacutetrica

Com o esplendor dos novos materiais aliados agrave geometria e ao espiacuterito construtivista o arquiteto

passa a ser o construtor de uma cidade nova a cidade do mundo teacutecnico como maacutequina de morar

inaugurada por Le Corbusier Eacute por isso que McLuhan diz que os meios satildeo educadores

privilegiados dos sentidos e geradores de novos comportamentos na medida em que os homens

criam as ferramentas e elas recriam o homem

Poreacutem para McLuhan ao contraacuterio de Benjamin a percepccedilatildeo humana faz parte de um

condicionamento puramente natural Quando ele diz que ldquoos homens criam as suas ferramentas e

elas recriam os homensrdquo ele se refere agraves revoluccedilotildees tecnoloacutegicas como algo que faz parte do

proacuteprio desenvolvimento humano Neste sentido os dois autores tem pontos de vista divergentes jaacute

que para o autor marxista (Benjamin) ldquoo modo pelo qual se organiza a percepccedilatildeo humana o meio

em que ela se daacute natildeo eacute apenas condicionado NATURALMENTE MAS TAMBEacuteM HISTORICAMENTErdquo

Ou seja o modo pelo qual o homem percebe o seu entorno faz parte da formaccedilatildeo social poliacutetica e

sobretudo econocircmica de um determinado meio ou ambiente social Isso porque relembrando o

texto A Obra de Arte na Era da Reproduccedilatildeo Teacutecnica Benjamin parte da tese marxista em que a

superestrutura se modifica mais lentamente do que a base econocircmica e que as mudanccedilas ocorridas

nas condiccedilotildees de produccedilatildeo precisariam mais de meio seacuteculo para refletir em todos os setores da

cultura Portanto para Benjamin a reproduccedilatildeo teacutecnica eacute fruto de mudanccedilas na forma de produccedilatildeo

capitalista e natildeo apenas do desenvolvimento natural de uma potecircncia humana

Poreacutem para McLuhan os media funcionam exclusivamente como extensotildees naturais das

faculdades fiacutesicas (motoras) e psiquiacutecas (sistema nervoso central) do homem Ele diraacute que todos os

meios satildeo prolongamentos de alguma faculdade humana psiacutequica ou fiacutesica a linguagem estaacute para a

nossa inteligecircncia assim como a roda estaacute para os nossos peacutes o telefone e o raacutedio satildeo extensotildees dos

nossos ouvidos o livro eacute extensatildeo da nossa visatildeo e o vestuaacuterio eacute o prolongamento da nossa pelerdquo

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Portanto a tese de McLuhan se baseia na ideacuteia de que o elemento fundamental para a compreensatildeo

dos efeitos sociais mais amplos de um meio de comunicaccedilatildeo qualquer reside na natureza mesma

desse meio e natildeo em fatores externos poliacuteticos econocircmicos e histoacutericos Ou em outras palavras

para se compreender os media na concepccedilatildeo McLuhiana natildeo satildeo considerados os fatores

ideologizantes desses meios mas somente as suas caracteriacutesticas especiacuteficas de estrutura e

funcionamento eacute que iratildeo determinar as peculiaridades das mensagens que ele emite

OS MEDIA COMO EXTENSOtildeESAS MAacuteQUINAS MUSCULARES SENSORIAIS E CEREBRAIS

Maquinas musculares

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Se antes da Revoluccedilatildeo Industrial as relaccedilotildees entre homem e maquina eram ainda incipientes

limitando-se a artefatos do tipo catapulta ou instrumentos de tortura ou o reloacutegio a partir do

seacuteculo XVIII e XIX este cenaacuterio se modificaraacute O seacuteculo XIX marcou a Revoluccedilatildeo Industrial cujo

emblema foi a maquina a vapor e mais tarde a eletricidade foi responsaacutevel pela Revoluccedilatildeo

Eletroeletrocircnica que inaugurou as maacutequinas musculares ou seja maquinas tarefeiras que substituem

o trabalho humano na sua dimensatildeo fiacutesica

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Maquinas sensoriais

Tratam-se de maacutequinas que funcionam como extensotildees dos sentidos humanos especializados

principalmente o ouvido e o olho de que a cacircmera fotograacutefica eacute o exemplo impar Satildeo tambeacutem

denominadas de maacutequinas cognitivas pois satildeo cognitivos os oacutergatildeos sensoriais Assim se os

sentidos humanos funcionam como janelas da alma meios de conexatildeo entre o mundo externo e o

interno e se as funccedilotildees cerebrais jaacute acontecem nos niacuteveis dos olhos e da audiccedilatildeo todos esses papeis

passaram a ser incorporados as maquinas sensoriais Mas ao simular o funcionamento dos nossos

oacutergatildeos sensoriais essas maquinas satildeo capazes tanto de reproduzir quanto de produzir uma nova

realidade provocando alteraccedilotildees em nossas condutas

ldquoO homem cria suas ferramentas e elas recriam o proacuteprio homemrdquo

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Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

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A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

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oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

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McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

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simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

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(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

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A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

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ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

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(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

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O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

2

Os estudos de McLuhan fazem parte das Teorias Midiaacuteticas eou Esteacuteticas da comunicaccedilatildeo que

alguns momentos se assemelha agrave concepccedilatildeo benjaminiana defendida no ensaio ldquoA obra de arte na

era da sua reprodutibilidade teacutecnicardquo na qual se detecta as mudanccedilas ocorridas na arte e na cultura a

partir das transformaccedilotildees teacutecnicas e no potencial revolucionaacuterio que as formas tecnoloacutegicas

assumem na sociedade de consumo capitalista Ou seja tanto Walter Benjamin em A Obra de

Arte na Era da Reprodutibilidade Teacutecnica quanto Marshall McLuhan em ldquoOs meios de

comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo vatildeo realizar uma leitura da forma esteacutetica da arte e das

comunicaccedilotildees a partir do efeito provocado pelas novas tecnologias frutos da 1a e 2ordf Revoluccedilotildees

Industrial e da Revoluccedilatildeo Eletroeletrocircnica

DEFINICcedilAtildeO DE MEIO PARA MCLUHANMcLuhan vai definir os meios como sendo extensotildees musculares sensoriais ou psiquicas do

homem Sua originalidade estaacute em afirmar que meio eacute tudo que serve para vincular o homem ao

proacuteprio homem desde a fala comum ateacute a TV passando pelos meios de transporte a moeda e a

palavra impressa satildeo para McLuhan extensotildees do homem pois formam o meio ambiente noqual ele se move se projeta e se forma

Ou seja o meio eacute o proacuteprio ambiente que o homem cria para nele definir o seu papel e nele se

firmar Ou seja a invenccedilatildeo da escrita e dos tipos moacuteveis que deu origem a imprensa satildeo ferramentas

criadas pelos homens para prolongar o sentido da visatildeo humana bem como a fotografia Jaacute o

telefone e o raacutedio satildeo meios que favorecem a extensatildeo da audiccedilatildeo e o computador eacute um

prolongamento do sistema nervoso central do homem que vai ampliar a memoacuteria fora do corpo

humano

Dessa forma o meio como se refere McLuhan aos meios de comunicaccedilatildeo e agrave todas as extensotildees

humanas satildeo educadores privilegiados dos sentidos e geradores de novos comportamentos Eacute

importante notar que para ele natildeo haacute meios de comunicaccedilatildeo de massa ou mass media mas

simplesmente media (meios) plural de meacutedium (meio) que equivale portanto ao conjunto de todos

os meios

Tal como Benjamin afirmou que a reproduccedilatildeo teacutecnica e o surgimento de novos suportes

redefiniram o conceito da arte e consequumlentemente a sua funccedilatildeo social McLuhan diraacute os meios

advindos da 1a e 2 ordf Revoluccedilatildeo Industrial vatildeo inaugurar novos procedimentos teacutecnicos e com isso o

aparecimento de novas linguagens Ou seja com o desenvolvimento da teacutecnica surgiratildeo novas

linguagens que revolucionaratildeo tanto o conceito tradicional de arte quanto o da proacutepria comunicaccedilatildeo

3

e isso implicaraacute fatalmente numa mudanccedila da sensibilidade e a percepccedilatildeo do homem moderno O

caso da arquitetura moderna eacute exemplar Na arquitetura o desenvolvimento da teacutecnica e sobretudo

o aparecimento de novos materiais como o ferro o vidro o accedilo e o concreto promoveram o

desenvolvimento de outra linguagem onde foi abolida toda influecircncia do elemento plaacutestico e

ornamental jaacute que na arquitetura claacutessica o ornamento contribuiacutea para intensificar os significados

simboacutelicos e alegoacutericos dos elementos estruturais Para a arquitetura moderna natildeo eacute necessaacuterio que

ela fale de adornos simboacutelicos ou alegoacutericos porque ela deve falar atraveacutes da pureza geomeacutetrica

Com o esplendor dos novos materiais aliados agrave geometria e ao espiacuterito construtivista o arquiteto

passa a ser o construtor de uma cidade nova a cidade do mundo teacutecnico como maacutequina de morar

inaugurada por Le Corbusier Eacute por isso que McLuhan diz que os meios satildeo educadores

privilegiados dos sentidos e geradores de novos comportamentos na medida em que os homens

criam as ferramentas e elas recriam o homem

Poreacutem para McLuhan ao contraacuterio de Benjamin a percepccedilatildeo humana faz parte de um

condicionamento puramente natural Quando ele diz que ldquoos homens criam as suas ferramentas e

elas recriam os homensrdquo ele se refere agraves revoluccedilotildees tecnoloacutegicas como algo que faz parte do

proacuteprio desenvolvimento humano Neste sentido os dois autores tem pontos de vista divergentes jaacute

que para o autor marxista (Benjamin) ldquoo modo pelo qual se organiza a percepccedilatildeo humana o meio

em que ela se daacute natildeo eacute apenas condicionado NATURALMENTE MAS TAMBEacuteM HISTORICAMENTErdquo

Ou seja o modo pelo qual o homem percebe o seu entorno faz parte da formaccedilatildeo social poliacutetica e

sobretudo econocircmica de um determinado meio ou ambiente social Isso porque relembrando o

texto A Obra de Arte na Era da Reproduccedilatildeo Teacutecnica Benjamin parte da tese marxista em que a

superestrutura se modifica mais lentamente do que a base econocircmica e que as mudanccedilas ocorridas

nas condiccedilotildees de produccedilatildeo precisariam mais de meio seacuteculo para refletir em todos os setores da

cultura Portanto para Benjamin a reproduccedilatildeo teacutecnica eacute fruto de mudanccedilas na forma de produccedilatildeo

capitalista e natildeo apenas do desenvolvimento natural de uma potecircncia humana

Poreacutem para McLuhan os media funcionam exclusivamente como extensotildees naturais das

faculdades fiacutesicas (motoras) e psiquiacutecas (sistema nervoso central) do homem Ele diraacute que todos os

meios satildeo prolongamentos de alguma faculdade humana psiacutequica ou fiacutesica a linguagem estaacute para a

nossa inteligecircncia assim como a roda estaacute para os nossos peacutes o telefone e o raacutedio satildeo extensotildees dos

nossos ouvidos o livro eacute extensatildeo da nossa visatildeo e o vestuaacuterio eacute o prolongamento da nossa pelerdquo

4

Portanto a tese de McLuhan se baseia na ideacuteia de que o elemento fundamental para a compreensatildeo

dos efeitos sociais mais amplos de um meio de comunicaccedilatildeo qualquer reside na natureza mesma

desse meio e natildeo em fatores externos poliacuteticos econocircmicos e histoacutericos Ou em outras palavras

para se compreender os media na concepccedilatildeo McLuhiana natildeo satildeo considerados os fatores

ideologizantes desses meios mas somente as suas caracteriacutesticas especiacuteficas de estrutura e

funcionamento eacute que iratildeo determinar as peculiaridades das mensagens que ele emite

OS MEDIA COMO EXTENSOtildeESAS MAacuteQUINAS MUSCULARES SENSORIAIS E CEREBRAIS

Maquinas musculares

5

Se antes da Revoluccedilatildeo Industrial as relaccedilotildees entre homem e maquina eram ainda incipientes

limitando-se a artefatos do tipo catapulta ou instrumentos de tortura ou o reloacutegio a partir do

seacuteculo XVIII e XIX este cenaacuterio se modificaraacute O seacuteculo XIX marcou a Revoluccedilatildeo Industrial cujo

emblema foi a maquina a vapor e mais tarde a eletricidade foi responsaacutevel pela Revoluccedilatildeo

Eletroeletrocircnica que inaugurou as maacutequinas musculares ou seja maquinas tarefeiras que substituem

o trabalho humano na sua dimensatildeo fiacutesica

6

Maquinas sensoriais

Tratam-se de maacutequinas que funcionam como extensotildees dos sentidos humanos especializados

principalmente o ouvido e o olho de que a cacircmera fotograacutefica eacute o exemplo impar Satildeo tambeacutem

denominadas de maacutequinas cognitivas pois satildeo cognitivos os oacutergatildeos sensoriais Assim se os

sentidos humanos funcionam como janelas da alma meios de conexatildeo entre o mundo externo e o

interno e se as funccedilotildees cerebrais jaacute acontecem nos niacuteveis dos olhos e da audiccedilatildeo todos esses papeis

passaram a ser incorporados as maquinas sensoriais Mas ao simular o funcionamento dos nossos

oacutergatildeos sensoriais essas maquinas satildeo capazes tanto de reproduzir quanto de produzir uma nova

realidade provocando alteraccedilotildees em nossas condutas

ldquoO homem cria suas ferramentas e elas recriam o proacuteprio homemrdquo

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Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

8

A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

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oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

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McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

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simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

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(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

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A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

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ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

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(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

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O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

3

e isso implicaraacute fatalmente numa mudanccedila da sensibilidade e a percepccedilatildeo do homem moderno O

caso da arquitetura moderna eacute exemplar Na arquitetura o desenvolvimento da teacutecnica e sobretudo

o aparecimento de novos materiais como o ferro o vidro o accedilo e o concreto promoveram o

desenvolvimento de outra linguagem onde foi abolida toda influecircncia do elemento plaacutestico e

ornamental jaacute que na arquitetura claacutessica o ornamento contribuiacutea para intensificar os significados

simboacutelicos e alegoacutericos dos elementos estruturais Para a arquitetura moderna natildeo eacute necessaacuterio que

ela fale de adornos simboacutelicos ou alegoacutericos porque ela deve falar atraveacutes da pureza geomeacutetrica

Com o esplendor dos novos materiais aliados agrave geometria e ao espiacuterito construtivista o arquiteto

passa a ser o construtor de uma cidade nova a cidade do mundo teacutecnico como maacutequina de morar

inaugurada por Le Corbusier Eacute por isso que McLuhan diz que os meios satildeo educadores

privilegiados dos sentidos e geradores de novos comportamentos na medida em que os homens

criam as ferramentas e elas recriam o homem

Poreacutem para McLuhan ao contraacuterio de Benjamin a percepccedilatildeo humana faz parte de um

condicionamento puramente natural Quando ele diz que ldquoos homens criam as suas ferramentas e

elas recriam os homensrdquo ele se refere agraves revoluccedilotildees tecnoloacutegicas como algo que faz parte do

proacuteprio desenvolvimento humano Neste sentido os dois autores tem pontos de vista divergentes jaacute

que para o autor marxista (Benjamin) ldquoo modo pelo qual se organiza a percepccedilatildeo humana o meio

em que ela se daacute natildeo eacute apenas condicionado NATURALMENTE MAS TAMBEacuteM HISTORICAMENTErdquo

Ou seja o modo pelo qual o homem percebe o seu entorno faz parte da formaccedilatildeo social poliacutetica e

sobretudo econocircmica de um determinado meio ou ambiente social Isso porque relembrando o

texto A Obra de Arte na Era da Reproduccedilatildeo Teacutecnica Benjamin parte da tese marxista em que a

superestrutura se modifica mais lentamente do que a base econocircmica e que as mudanccedilas ocorridas

nas condiccedilotildees de produccedilatildeo precisariam mais de meio seacuteculo para refletir em todos os setores da

cultura Portanto para Benjamin a reproduccedilatildeo teacutecnica eacute fruto de mudanccedilas na forma de produccedilatildeo

capitalista e natildeo apenas do desenvolvimento natural de uma potecircncia humana

Poreacutem para McLuhan os media funcionam exclusivamente como extensotildees naturais das

faculdades fiacutesicas (motoras) e psiquiacutecas (sistema nervoso central) do homem Ele diraacute que todos os

meios satildeo prolongamentos de alguma faculdade humana psiacutequica ou fiacutesica a linguagem estaacute para a

nossa inteligecircncia assim como a roda estaacute para os nossos peacutes o telefone e o raacutedio satildeo extensotildees dos

nossos ouvidos o livro eacute extensatildeo da nossa visatildeo e o vestuaacuterio eacute o prolongamento da nossa pelerdquo

4

Portanto a tese de McLuhan se baseia na ideacuteia de que o elemento fundamental para a compreensatildeo

dos efeitos sociais mais amplos de um meio de comunicaccedilatildeo qualquer reside na natureza mesma

desse meio e natildeo em fatores externos poliacuteticos econocircmicos e histoacutericos Ou em outras palavras

para se compreender os media na concepccedilatildeo McLuhiana natildeo satildeo considerados os fatores

ideologizantes desses meios mas somente as suas caracteriacutesticas especiacuteficas de estrutura e

funcionamento eacute que iratildeo determinar as peculiaridades das mensagens que ele emite

OS MEDIA COMO EXTENSOtildeESAS MAacuteQUINAS MUSCULARES SENSORIAIS E CEREBRAIS

Maquinas musculares

5

Se antes da Revoluccedilatildeo Industrial as relaccedilotildees entre homem e maquina eram ainda incipientes

limitando-se a artefatos do tipo catapulta ou instrumentos de tortura ou o reloacutegio a partir do

seacuteculo XVIII e XIX este cenaacuterio se modificaraacute O seacuteculo XIX marcou a Revoluccedilatildeo Industrial cujo

emblema foi a maquina a vapor e mais tarde a eletricidade foi responsaacutevel pela Revoluccedilatildeo

Eletroeletrocircnica que inaugurou as maacutequinas musculares ou seja maquinas tarefeiras que substituem

o trabalho humano na sua dimensatildeo fiacutesica

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Maquinas sensoriais

Tratam-se de maacutequinas que funcionam como extensotildees dos sentidos humanos especializados

principalmente o ouvido e o olho de que a cacircmera fotograacutefica eacute o exemplo impar Satildeo tambeacutem

denominadas de maacutequinas cognitivas pois satildeo cognitivos os oacutergatildeos sensoriais Assim se os

sentidos humanos funcionam como janelas da alma meios de conexatildeo entre o mundo externo e o

interno e se as funccedilotildees cerebrais jaacute acontecem nos niacuteveis dos olhos e da audiccedilatildeo todos esses papeis

passaram a ser incorporados as maquinas sensoriais Mas ao simular o funcionamento dos nossos

oacutergatildeos sensoriais essas maquinas satildeo capazes tanto de reproduzir quanto de produzir uma nova

realidade provocando alteraccedilotildees em nossas condutas

ldquoO homem cria suas ferramentas e elas recriam o proacuteprio homemrdquo

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Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

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A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

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McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

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simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

12

(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

4

Portanto a tese de McLuhan se baseia na ideacuteia de que o elemento fundamental para a compreensatildeo

dos efeitos sociais mais amplos de um meio de comunicaccedilatildeo qualquer reside na natureza mesma

desse meio e natildeo em fatores externos poliacuteticos econocircmicos e histoacutericos Ou em outras palavras

para se compreender os media na concepccedilatildeo McLuhiana natildeo satildeo considerados os fatores

ideologizantes desses meios mas somente as suas caracteriacutesticas especiacuteficas de estrutura e

funcionamento eacute que iratildeo determinar as peculiaridades das mensagens que ele emite

OS MEDIA COMO EXTENSOtildeESAS MAacuteQUINAS MUSCULARES SENSORIAIS E CEREBRAIS

Maquinas musculares

5

Se antes da Revoluccedilatildeo Industrial as relaccedilotildees entre homem e maquina eram ainda incipientes

limitando-se a artefatos do tipo catapulta ou instrumentos de tortura ou o reloacutegio a partir do

seacuteculo XVIII e XIX este cenaacuterio se modificaraacute O seacuteculo XIX marcou a Revoluccedilatildeo Industrial cujo

emblema foi a maquina a vapor e mais tarde a eletricidade foi responsaacutevel pela Revoluccedilatildeo

Eletroeletrocircnica que inaugurou as maacutequinas musculares ou seja maquinas tarefeiras que substituem

o trabalho humano na sua dimensatildeo fiacutesica

6

Maquinas sensoriais

Tratam-se de maacutequinas que funcionam como extensotildees dos sentidos humanos especializados

principalmente o ouvido e o olho de que a cacircmera fotograacutefica eacute o exemplo impar Satildeo tambeacutem

denominadas de maacutequinas cognitivas pois satildeo cognitivos os oacutergatildeos sensoriais Assim se os

sentidos humanos funcionam como janelas da alma meios de conexatildeo entre o mundo externo e o

interno e se as funccedilotildees cerebrais jaacute acontecem nos niacuteveis dos olhos e da audiccedilatildeo todos esses papeis

passaram a ser incorporados as maquinas sensoriais Mas ao simular o funcionamento dos nossos

oacutergatildeos sensoriais essas maquinas satildeo capazes tanto de reproduzir quanto de produzir uma nova

realidade provocando alteraccedilotildees em nossas condutas

ldquoO homem cria suas ferramentas e elas recriam o proacuteprio homemrdquo

7

Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

8

A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

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McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

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(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

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A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

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ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

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O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

5

Se antes da Revoluccedilatildeo Industrial as relaccedilotildees entre homem e maquina eram ainda incipientes

limitando-se a artefatos do tipo catapulta ou instrumentos de tortura ou o reloacutegio a partir do

seacuteculo XVIII e XIX este cenaacuterio se modificaraacute O seacuteculo XIX marcou a Revoluccedilatildeo Industrial cujo

emblema foi a maquina a vapor e mais tarde a eletricidade foi responsaacutevel pela Revoluccedilatildeo

Eletroeletrocircnica que inaugurou as maacutequinas musculares ou seja maquinas tarefeiras que substituem

o trabalho humano na sua dimensatildeo fiacutesica

6

Maquinas sensoriais

Tratam-se de maacutequinas que funcionam como extensotildees dos sentidos humanos especializados

principalmente o ouvido e o olho de que a cacircmera fotograacutefica eacute o exemplo impar Satildeo tambeacutem

denominadas de maacutequinas cognitivas pois satildeo cognitivos os oacutergatildeos sensoriais Assim se os

sentidos humanos funcionam como janelas da alma meios de conexatildeo entre o mundo externo e o

interno e se as funccedilotildees cerebrais jaacute acontecem nos niacuteveis dos olhos e da audiccedilatildeo todos esses papeis

passaram a ser incorporados as maquinas sensoriais Mas ao simular o funcionamento dos nossos

oacutergatildeos sensoriais essas maquinas satildeo capazes tanto de reproduzir quanto de produzir uma nova

realidade provocando alteraccedilotildees em nossas condutas

ldquoO homem cria suas ferramentas e elas recriam o proacuteprio homemrdquo

7

Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

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A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

10

McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

12

(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

6

Maquinas sensoriais

Tratam-se de maacutequinas que funcionam como extensotildees dos sentidos humanos especializados

principalmente o ouvido e o olho de que a cacircmera fotograacutefica eacute o exemplo impar Satildeo tambeacutem

denominadas de maacutequinas cognitivas pois satildeo cognitivos os oacutergatildeos sensoriais Assim se os

sentidos humanos funcionam como janelas da alma meios de conexatildeo entre o mundo externo e o

interno e se as funccedilotildees cerebrais jaacute acontecem nos niacuteveis dos olhos e da audiccedilatildeo todos esses papeis

passaram a ser incorporados as maquinas sensoriais Mas ao simular o funcionamento dos nossos

oacutergatildeos sensoriais essas maquinas satildeo capazes tanto de reproduzir quanto de produzir uma nova

realidade provocando alteraccedilotildees em nossas condutas

ldquoO homem cria suas ferramentas e elas recriam o proacuteprio homemrdquo

7

Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

8

A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

10

McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

12

(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

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O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

7

Maacutequinas cerebraisAparecem na segunda metade do seacuteculo XX onde a maior metaacutefora eacute o computador Na raiz dessa

metaacutefora estaacute a ideacuteia de que nossa estrutura essencial assemelha-se a um computador Assim as

maquinas cerebrais vatildeo ampliar o sistema nervoso humano fora do corpo ldquoOs signos estatildeo

crescendo para onde mais poderiam se expandir que natildeo fosse fora do ceacuterebro humanordquo

8

A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

10

McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

12

(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

8

A GALAacuteXIA DE GUTENBERGAs duas principais obras de McLuhan foram escritas na deacutecada de 60 ldquoA Galaacutexia de Gutenbergrdquo em

1962 e ldquoOs meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homemrdquo em 1964 Em A Galaacutexia de Gutenberg

McLuhan defende a ideacuteia de que a humanidade do ponto de vista da comunicaccedilatildeo atravessou trecircs

estaacutegios sucessivos o mundo tribalizado o mundo destribalizado e o mundo retribalizado

No primeiro deles predominou a tradiccedilatildeo oral como forma de transmissatildeo do conhecimento

mesmo com o advento da escrita a leitura dos textos raros em papiro e pergaminho era feita de

forma coletiva e em voz alta Essa tradiccedilatildeo oral se registrava nas poucas universidades medievais

quando o mestre expunha suas ideacuteias e lecionava para numerosos disciacutepulos reunidos em praccedila

puacuteblico

Jaacute num segundo estaacutegio mundo destribalizado teria comeccedilado com a Imprensa de Gutenberg Essa

destribalizaccedilatildeo deve ser entendida como uma queda daquele ambiente uacutenico formado pelo alcance

da voz (tradiccedilatildeo oralidade) Com o advento do livro e dos impressos em geral a mensagem grafada

ou estampada (texto ou gravura) reproduziu-se para aleacutem dos controle dos detentores do ensino

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

10

McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

12

(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

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A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

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ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

9

oficial (monges escribas) Assim com sua multiplicaccedilatildeo tiveram acesso ao conhecimento os

indiviacuteduos letrados O livro pode ser lido individual e silenciosamente em decorrecircncia disso estimulou-se

o individualismo e o exerciacutecio da reflexatildeo e da criacutetica

Jaacute no terceiro estaacutegio o mundo retribalizado natildeo eacute propriamente uma volta aos tempos primitivos

mas a unificaccedilatildeo do sistema nervoso central do homem num todo em consequecircncia da accedilatildeo dos

meios eletrocircnicos da comunicaccedilatildeo principalmente o raacutedio e a televisatildeo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os indiviacuteduos fazem parte de uma ldquoaldeia globalrdquo

ao alcance de qualquer um em qualquer lugar e a qualquer momento

Essa mudanccedila de cadecircncia proporcionada pela era eletrocircnica foi responsaacutevel por uma

transformaccedilatildeo na relaccedilatildeo de continuidade entre o homem e a natureza Nesta medida deu-se o

rompimento da visatildeo do progresso linear e cumulativo substituindo-o por uma anaacutelise comparativa

dos diferentes sistemas de relaccedilatildeo da percepccedilatildeo sensorial predominante

Por exemplo nos tempos arcaicos no mundo tribalizado a cultura oral estabelecia um ambiente de

predominacircncia acuacutestica definindo uma sociedade em que todas as relaccedilotildees eram simultacircneas e

agregadas O conhecimento fazia parte de uma aquisiccedilatildeo coletiva o seu valor correspondia ao maior

nuacutemero de adeptos conquistados pelos detentores do saber

Jaacute no mundo destribalizado com a introduccedilatildeo da escrita mecanizada e depois dos tipos moacuteveis de

Gutenberg consolida-se uma cultura centrada na visatildeo linear hieraacuterquica e cumulativa do

conhecimento O valor de um determinado indiviacuteduo era proporcional a quantidade de

conhecimento que este era capaz de absorver individualmente

Posteriormente a partir das teacutecnicas eletroeletrocircnicas esse contexto foi totalmente modificado

trazendo novamente a simultaneidade a descontinuidade e a instantaneidade de fragmentos

autocircnomos e a tendecircncia a conectividade taacutectil do aparato perceptivo A voz e a imagem datildeo a

volta ao mundo instantaneamente e assim todos os seres humanos convivem numa aldeia global

ao alcance de qualquer um em qualquer momento e em qualquer lugar McLuhan natildeo chegou a

conhecer a INTERNET soacute que suas teses jaacute aparecem como prognoacutestico da globalizaccedilatildeo

OS MEDIA COMO EDUCADORES DOS SENTIDOS E PRODUTORES DENOVOS COMPORTAMENTOS

10

McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

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(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

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A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

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ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

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Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

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McLuhan sustenta que a experiecircncia humana e difusa e plural e que o proacuteprio ato de nos darmos

consciecircncia de noacutes mesmos transforma-nos num receptaacuteculo de uma rica variedade de sensaccedilotildees

simultacircneas Segundo Mcluhan uns meacutetodos de comunicaccedilatildeo mostram-se melhores do que outros

dependendo do grau em que o meio eacute empregado e reproduz o integral matiz sensoacuterio da

experiecircncia original A capacidade de um meio qualquer agir dessa maneira depende do nuacutemero de

canais sensoriais que ele chama a atuarem quando esteja atuando adequadamente Quanto maior o

nuacutemero de sentidos em pauta melhor a possibilidade de transmitir uma coacutepia fiel do estado mental

de uma pessoa

Acredita McLuhan que a palavra falada preencha esses requisitos mais completamente do que

qualquer outro meio Embora o falar se destine a ser ouvido a ele usualmente se recorre a situaccedilotildees

que chamam a cena os demais sentidos Quando desejamos esclarecer o sentido do que dizemos

apelamos para expressotildees faciais e gestuais

Para McLuhan o canal da audiccedilatildeo eacute mais rico ou mais quente digamos do que o da visatildeo Como

consequumlecircncia ainda que natildeo existissem outras vias sensoriais acompanhando a fala aquele que ouve

continua a receber mensagem mais rica mais quente do que a que lhe chegaria pelos olhos

Segundo McLuhan a invenccedilatildeo da escrita violou a multiplicidade sagrada da oralidade e forccedilou os

homens a se concentrarem na visatildeo em detrimento de todos os outros sentidos O

empobrecimento provocado pela descoberta da escrita aumentou ainda mais com a imprensa

mecanizada A loacutegica verbal que acompanha a escrita fez surgir um novo padratildeo sensorial nos

homens McLuhan chama a atenccedilatildeo para a regularidade linear da paacutegina impressa e afirma que

nosso longo contato com essa forma de apresentaccedilatildeo conduziu-nos a somente aceitar ideacuteias que se

conformem com certos padrotildees estritos O homem de Gutenberg eacute expliacutecito loacutegico e literal

permitindo os bem enfileirados regimentos do texto o tornassem disciplinado assim o homem

fechou seu espiacuterito a possibilidades mais amplas de expressatildeo imaginativa

McLuhan assinala tambeacutem que a uniformidade visual da letra impressa corresponde ao modelo

primitivo da tecnologia industrial e diz que deixando-nos tomar pela informaccedilatildeo processada sob

esse esquema condiciona a aceitar a tirania desumanizadora da vida mecacircnica O homem que vive

da letra impressa se submete a um condicionamento linear e hieraacuterquico de normatizaccedilotildees e regras

de conduta O homem de Gutenberg eacute pontual produtivo e tem senso de oportunidade ao mesmo

tempo seu senso comunitaacuterio de organizaccedilatildeo coletiva tende a desaparecer

Ao mesmo tempo os meios eletroeletrocircnicos como o raacutedio e a televisatildeo concede-nos a

oportunidade de estabelecer comunicaccedilatildeo reciacuteproca utilizando vias capazes de reproduzir a

11

simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

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(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

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simultaneidade plural do proacuteprio pensamento As imagens e os sons podem ser prontamente

transmitidos a um espiacuterito atento com velocidade telepaacutetica e podem ser relacionados entre si

formando uma vasta rede que corresponde a aldeia global

ldquoA nova tecnologia eletroeletrocircnica desloca o nosso centro de gravidade sensorial

para longe do visual e mais perto do cineacutetico e audiotaacutetil (monitores de TV e

computadores natildeo satildeo miacutedias visuais) Agrave medida que alteramos nossos estados

sensoriais nos afastamos do homem visual e civilizado e iniciamos o processo de

retribalizaccedilatildeo Retribalizaccedilatildeo eacute um processo atualmente em andamento no mundo

em vaacuterios estaacutegios de mudanccedilardquo

ldquoA retribalizaccedilatildeo comeccedilou com o telegrafo Para se representar cada tecnologia

projeta uma figura miacutetica da histoacuteria A longa descida de volta ao tribalismo foi

acelerada com o raacutedio sateacutelite e a televisatildeo Mas com a Internet e a transmissatildeo de

dados em alta velocidade pela primeira vez noacutes retardamos o processo em vez de

aceleraacute-lo Assim a HDTV pode ser uma volta aos valores visuaisrdquo

A visatildeo sistecircmica dos media em McLuhan

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(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

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A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

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ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

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16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

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O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

12

(Autopoiese)

A obra de McLuhan comporta vaacuterias possibilidades de leitura pois natildeo fazem parte de um corpo

sistematizado de teorias acabadas ou fixas em seus pontos de investigaccedilatildeo sobre os fenocircmenos

midiaacuteticos Para o autor eacute fundamental abolir qualquer abordagem fixa e uacutenica de qualquer

investigaccedilatildeo fenomecircnica Ele diraacute que a ciecircncia tradicional parte muitas vezes de preacute-concepccedilotildees

altamente tendenciosas Ou seja tudo aquilo que venha prejudicar ou abalar as premissas que

fundamentam uma determinada teoria eacute prontamente refutada pelo pesquisador Soacute se manteacutem

aquilo que eacute valido para a sustentaccedilatildeo de verdades previamente intencionalizadas pelo pesquisador

ou seja ao inveacutes de se partir de uma pergunta parte-se de uma deduccedilatildeo a priori sobre o mundo

Para McLuhan deve ser vista como suspeita toda investigaccedilatildeo que reflita valores absolutos e

universais Para ele o bom cientista natildeo passa de uma antena sensiacutevel sintonizada para captar fatos e

cifras (iacutendices) tal como eles ocorrem O conhecimento natildeo eacute acumulaccedilatildeo de dados mas um

universo de possibilidades que nunca se esgota em certezas

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

13

A ABOLICcedilAtildeO DO PONTO DE VISTA UacuteNICO EM DIRECcedilAtildeO ASIMULTANEIDADE PERCEPTIVA

No cubismo diraacute McLuhan o artista ganha uma visatildeo global da realidade visual visatildeo que eacute negada

por exemplo com a perspectiva que acaba conduzindo o olhar do espectador aquele ponto de vista

selecionado pelo artista

McLuhan se afasta da maior parte dos criacuteticos da cultura de massa ao propor uma visatildeo sistecircmica

dos meios no qual forma e funccedilatildeo ou meio e mensagem natildeo satildeo instancias antagocircnicas mas

concorrem para a produccedilatildeo de significaccedilatildeo sobre aquela materialidade A ecircnfase posta na analise

estrutural situa McLuhan dentro de uma tradiccedilatildeo critica da qual foi o expoente o suiacuteccedilo Wolfflin

historiador da arte Ele criou um meacutetodo de analise pictoacuterica que ignorava a matriz emocional e o

conteuacutedo narrativo das telas em exame Ou seja a leitura da obra de arte se encontra na

materialidade da proacutepria obra e natildeo fora dela

A ideacuteia da perspectiva

Na perspectiva linear os objetos satildeo apresentados sobre uma superfiacutecie plana de

conformidade com a maneira com que satildeo vistos sem referencia com suas formas

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

14

ou relaccedilotildees absolutas A pintura ou desenho em sua integridade eacute algo para ser

fruiacutedo a partir de um uacutenico ponto de vista Para o seacuteculo XV o principio da

perspectiva surgiu como revoluccedilatildeo total envolvendo um rompimento extremado e

violento com a concepccedilatildeo medieval do espaccedilo e com os arranjos sem relevo e

flutuantes que correspondiam a expressatildeo artiacutestica

ldquoCom a invenccedilatildeo da perspectiva a ideacuteia moderna de

individuo encontrou a sua contrapartida artiacutestica Todo

elemento de uma representaccedilatildeo em perspectiva se relaciona

ao ponto de vista uacutenico do espectador individualrdquo

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

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ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

15

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

16

(Casal Arnolfini ndash Pintor flamenco Jan Van Eike seacuteculo XV)

O paralelismo entre esse pronunciamento e o peculiar horror de McLuhan pelo ldquoponto de vista

uacutenicordquo pocircde ser compreendido na sua entusiasta referecircncia ao procedimento cubista como uma

melhor forma de traduccedilatildeo da complexidade sensorial humana na era Eletroletrocircnica

Jaacute a descoberta do cubismo em 1910 retirou a autoridade do ponto de vista uacutenico e emprestou

expressatildeo simultacircnea a todos os aspectos de um determinado objeto O cubismo afirmou McLuhan

visualiza os objetos de maneira relativa isto eacute de vaacuterios pontos de vista nenhum dos quais tem

domiacutenio exclusivo E dissecando os objetos dessa maneira o cubismo os vecirc simultaneamente de

todos os acircngulos ndash de cima para baixo de dentro para fora Contorna e penetra os objetos Assim

as trecircs dimensotildees da Renascenccedila que se mostraram satisfatoacuterias ao longo de tantos seacuteculos vecirc-se

amplificada de um olhar dicotocircmico em que se valoriza os pares figura fundo claro e escuro para

uma visatildeo sistecircmica dos objetos artiacutesticos Como eacute o caso da pintura de Picasso que inaugura a

modernidade em 1906

17

(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

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(Lecircs Demasoiles DrsquoAvion Picasso 1906)

ldquoA apresentaccedilatildeo dos objetos de vaacuterios pontos de vista introduz um

principio que se relaciona intimamente agrave vida moderna a simultaneidaderdquo

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O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

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seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

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(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

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ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

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semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

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ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

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Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

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(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

18

O DEVIR EM McLUHAN o eterno retorno da simultaneidade

Impressionado pela ideacuteia de fluxo em Heraacuteclito McLuhan

adaptou seu estilo literaacuterio sob esse conceito Ele abandona a

exposiccedilatildeo linear em favor de

uma abordagem em mosaico e por meio de teacutecnicas que

reproduzem de perto o movimento dadaiacutesta faz colagens de

slogans fatos e citaccedilotildees esperando retratar atraveacutes da

justaposiccedilatildeo o presente da realidade histoacuterica ldquoInfelizmente

esse fluxo da consciecircncia histoacuterica natildeo oferece ponto fixo a

partir do qual o leitor possa fazer observaccedilotildees criticas

Antes que o leitor pretendesse levantar certas objeccedilotildees a qualquer fato singular jaacute tal fato teve sua

feiccedilatildeo alterada na superfiacutecie ou para sempre desapareceu de vista Toda pessoa que proteste contra

essa maneira de ser eacute simplesmente posta de parte e dada como uma vitima da tirania de Gutenberg

ldquoA instruccedilatildeo e a loacutegica mutilaram a capacidade de criar conexotildees

significativas e como consequumlecircncia violamos a simultaneidade

integral da experiecircncia primitiva As ideacuteias foram sendo despidas dos

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

19

seus vaacuterios sentidos imaginativos de modo que em vez de levarem a

possibilidade de se verem associadas em amplos agregados sugestivos

viram-se forccediladas a se relacionarem segundo uma sucessatildeo simples e

disciplinadardquo

ldquoPara o olho alerta a primeira pagina de um jornal eacute um caos aparente que pode conduzir o espiacuterito

a contemplar harmonias coacutesmicas de altiacutessimo niacutevel Natildeo obstante quando essas harmonias satildeo

estilizadas de forma aguda por um Picasso ou por um Joyce parecem ofender aquelas mesmas

pessoas que mais deveriam apreciaacute-lardquo

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

20

(Piet Mondrian)

TODO MEIO NOVO CRIA UM AMBIENTE CORRUPTO O MEIO eacute a mensagem significa que em termos da era eletrocircnica jaacute se criou um ambiente

totalmente novo O conteuacutedo deste ambiente eacute o velho ambiente mecanizado da era industrial O

novo ambiente reprocessa o novo tatildeo radicalmente quanto a TV esta reprocessando o cinema ou a

fotografia que reprocessou a pintura (Numa analogia as teses propostas por Walter Benjamin no

ensaio ldquoA Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnicardquo Abaixo ldquoO homem da Cacircmera

de Filmarrdquo Vertov

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

21

ldquoA cacircmara leva-nos ao inconsciente oacuteptico tal como apsicanaacutelise ao inconsciente das pulsotildeesrdquo (Benjamin W A

Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Teacutecnica 1936)

ldquoO CINEMA NOS ABRE O INCONCIENTE OacuteTICOrdquo ENTREBENJAMIN E MCLUHAN

ldquoDe facto o cinema enriqueceu o nosso horizonte de percepccedilatildeo com meacutetodos que podem ser

ilustrados pela teoria freudiana Haacute cinquenta anos um lapso numa conversa passava mais ou

menos despercebido Podia considerar-se uma excepccedilatildeo que tal lapso abrisse perspectivas

profundas numa conversa que parecia decorrer superficialmente Desde Psicopatologia da Vida

Quotidiana esse fato alterou-se Esta obra isolou e simultaneamente tornou analisaacuteveis coisas que

anteriormente fluiacuteam na ampla corrente do percepcionado O cinema em toda amplitude da

percepccedilatildeo oacuteptica e agora tambeacutem acuacutestica teve como consequecircncia um aprofundamento

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

23

suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

22

semelhante da percepccedilatildeo O reverso deste facto reside em que os desempenhos num filme satildeo

analisaacuteveis mais exactamente e sob mais pontos de vista do que os desempenhos apresentados num

quadro ou no palco O cinema por sua vez atraveacutes de grandes planos do realce de pormenores

escondidos em aspectos que nos satildeo familiares da exploraccedilatildeo de ambientes banais com uma

direccedilatildeo genial objetiva aumenta a compreensatildeo das imposiccedilotildees que rege nossa existecircncia e

consegue assegurar-nos um campo de accedilatildeo imenso e insuspeitado As nossas tabernas as ruas das

grandes cidades os nossos escritoacuterios e quartos mobilizados as nossas estaccedilotildees ferroviaacuterias e as

faacutebricas pareciam aprisionar-nos irremediavelmente Chegou o cinema e fez explodir este mundo

de prisotildees com a dinamite do deacutecimo de segundo de forma tal que agora viajamos calma e

aventurosamente por entre os seus destroccedilos espalhados Com o grande plano aumenta-se o espaccedilo

e o movimento adquire novas dimensotildees

Uma ampliaccedilatildeo natildeo tem por uacutenica funccedilatildeo tornar mais claro o que sem isso teria permanecido

confuso o mais importante sendo a revelaccedilatildeo de estruturas de mateacuteria inteiramente novas Assim

tambeacutem o ralenti natildeo revela apenas motivos conhecidos em movimento antes descobrindo nestes

movimentos conhecidos outros desconhecidos que longe de parecerem movimentos raacutepidos

retardados atuam como peculiarmente deslizantes aeacutereos e supra-terrenos Assim se torna

compreensiacutevel que a natureza da linguagem da cacircmara seja diferente da do olho humano

Diferente principalmente porque em vez de um espaccedilo preenchido conscientemente pelo homem

surge outro preenchido inconscientemente Mesmo que seja comum observar ainda que

grosseiramente o andar das pessoas nada se sabe da sua atitude na fraccedilatildeo de segundo em que

avanccedilam um passo Em geral o ato de pegar num isqueiro ou numa colher eacute-nos familiar mas mal

sabemos o que se passa entre a matildeo e o metal ao efetuar esses gestos para natildeo falar de como neles

atua a nossa flutuaccedilatildeo de humor Aqui a cacircmara interveacutem com os seus meios auxiliares os seus

mergulhos e subidas as suas interrupccedilotildees e isolamentos os seus alongamentos e aceleraccedilotildees as

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

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Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

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ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

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Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

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sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

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(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

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(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

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explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

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suas ampliaccedilotildees e reduccedilotildees

Filme ldquoIrreversiacutevelrdquo

A AMBIEcircNCIA MIDIAacuteTICA EM MCLUHANA televisatildeo eacute ambiental e imperceptiacutevel como todos os ambientes Noacutes apenas temos consciecircncia

do seu conteuacutedo ou seja do seu velho ambiente Desse modo toda tecnologia nova cria um

ambiente que eacute logo considerado corrupto e degradante Todavia o novo transforma o seu

predecessor em forma de arte O raacutedio transformou o cinema em seacutetima arte por exemplo

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Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

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Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

24

Desse modo o mundo mecacircnico Ocidental estaacute implodindo Durante as idades mecacircnicas

projetamos nossos corpos no espaccedilo jaacute hoje projetamos nosso sistema nervoso central num

abraccedilo global abolindo tempo e espaccedilo

O pensamento de Marshall McLuhan e sua obra representaram uma mudanccedila paradigmaacutetica nos

estudos da comunicaccedilatildeo por um decidido afastamento seja em relaccedilatildeo agraves anaacutelises de conteuacutedo ou

ainda em relaccedilatildeo ao modelo teoacuterico matemaacutetico da comunicaccedilatildeo preconizado por Cl Shannon e

W Weaver Diferiratildeo igualmente da teoria criacutetica da cultura (no sentido alematildeo de Kultur)

concebida e professada por Theodore W Adorno e Max Horkheimer (preocupados em denunciar a

hipoteca ideoloacutegica dos conteuacutedos) Tambeacutem sua abordagem difere-se da Mass Communications

Research (Paul Lazarsfeld Wilbur Schramm e outros) apoiada no procedimento funcionalista que

prescrevendo anaacutelises empiacutericas e formais dos fatos da comunicaccedilatildeo estava em vigor nos Estados

Unidos desde os anos 40

Por miacutedia contrariamente a todas essas abordagens conceituais Marshall McLuhan entendia bem

mais do que meios de comunicaccedilatildeo tais como o jornal o raacutedio e a televisatildeo Neste rol estavam

incluiacutedos a estrada o dinheiro o reloacutegio a roda a roupa e outros tantos artefatos humanos que se

prestassem agrave realizaccedilatildeo de atividades de comunicaccedilatildeo satildeo tecnologias ou aplicaccedilotildees de

conhecimentos cientiacuteficos Conquistas humanas e sociais Por que motivo somente seriam

compreensiacuteveis se tomadas em funccedilatildeo de um admissiacutevel conteuacutedo latente ou manifesto E

inescapavelmente de cunho ideoloacutegico e finalidade poliacutetica

Ao fundar suas ldquoexploraccedilotildees da miacutedia rdquoem uma reflexatildeo acerca das tecnologias Marshall McLuhan

se insurgia contra a ideacuteia de que toda tecnologia nada mais eacute do que um utensiacutelio uma ferramenta

da qual se faz um uso bom ou mau Por forccedila desta ldquovisatildeo instrumentalrdquo um meio de comunicaccedilatildeo

constitui mero continente por cujo intermeacutedio se veicula um conteuacutedo avultando neste processo

vertical as figuras da fonte emissora e do destinataacuterio aleacutem de especificidades teacutecnicas referentes ao

canal

O mestre de Toronto fora bem mais longe ao intuir que expansotildees tecnoloacutegicas resultam em novas

percepccedilotildees e estas em seu dinamismo proacuteprio fazem aparecer novas formas de cogniccedilatildeo A

principal tese que Marshall McLuhan defenderaacute em aulas livros e em entrevistas seraacute a de que eacute a

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natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

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meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

25

natureza mesma dos meios ndash e natildeo seu eventual conteuacutedo ndash que tem alcance e consequumlecircncias de

ordem psiacutequica e por extensatildeo sociocultural Considerando-se que cada tecnologia estende um

modo de ver sentir e fazer coisas dotando de proporccedilotildees bem definidas a toda percepccedilatildeo isto

implicaraacute uma recomposiccedilatildeo um novo equiliacutebrio sensorial atingido Qualquer ex-tensatildeo de nosso

corpo ou de nossos sentidos elementares propiciada por um ldquoinvento ineacuteditordquo obriga nossos

sentidos a ocupar novas posiccedilotildees a retomar seu equiliacutebrio original

Em outras palavras cada readaptaccedilatildeo efetuada altera nossa captaccedilatildeo dos fatos do mundo pelos

sentidos e significa um modo diferente de perceber nosso entorno completado o processo

verificam-se mudanccedilas nas interaccedilotildees e nas instituiccedilotildees vale dizer na cultura como um todo Satildeo

precisamente estas modificaccedilotildees (do contexto sociocultural) que compotildeem a mensagem de um

meio de comunicaccedilatildeo

O professor McLuhan dizia natildeo estar ocupado com a comunicaccedilatildeo isto eacute o aparato (hardware) de

transmissatildeo de conteuacutedos preocupava-se isto sim com a informaccedilatildeo ou melhor com padrotildees de

organizaccedilatildeo (software) dos dados obtidos e das transformaccedilotildees operadas fossem no pensamento

humano fossem em suas estrateacutegias de argumentaccedilatildeoEle afirmava que a inteligibilidade moderna

jazia em um ldquoreconhecimento [identificaccedilatildeo] de padrotildeesrdquo (padrotildees de cogniccedilatildeo)

Ou seja dependia das tentativas de perceber e comparar esquemas informacionais Para designar

agora a totalidade dos efeitos produzidos por um meio de comunicaccedilatildeo ele faraacute uso do termo

environment ndash que em liacutengua inglesa denota ldquoentornordquo e ldquoimediaccedilotildeesrdquo conotando a ldquocontextosrdquo e a

ldquocircunstacircnciasrdquo Mais do que um ambiente uma ambiecircncia Agrave semelhanccedila da referida ldquoecologia

humanardquo ndash um estudo compreensivo dos meios em que vivem e agem seres humanos assim como

das relaccedilotildees destes uacuteltimos com tais meios ndash Marshall McLuhan proporaacute uma ecologia midial Teraacute

querido dizer que nessa ldquoecologia midiaacuteticardquo procede-se a um exame exploratoacuterio do modo pelo

qual a miacutedia afeta a percepccedilatildeo as sensaccedilotildees os processos cognitivos e os valores humanos

aprende-se de imediato que a qualidade avaliada da relaccedilatildeo da espeacutecie humana com a miacutedia faraacute

aumentar ou ao inveacutes diminuir as chances que noacutes temos de sobrevivecircncia psiacutequica ldquoMind your

media menrdquo dizia o professor da U of T sem jamais chegar a entender por que tantas vezes o ser

humano recusa a compreensatildeo (sensiacutevel mas jaacute assim inteligiacutevel) de processos tecnoloacutegicos capazes

de ditar o rumo de sua vidaVerifica-se ao longo de sua histoacuteria material uma afluecircncia de distintos

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

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novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

26

meios de comunicaccedilatildeo natildeo de modo a que um venha a anular o outro masao contraacuterio venha um

outro reforccedilarcompondo uma ambiecircncia O raacutedio contribuiu mais para programas de alfabetizaccedilatildeo

do que o fez a TV natildeo obstante pelo recurso a teacutecnicas de radiodifusatildeo a TV representou um

extraordinaacuterio instrumento didaacutetico-pedagoacutegico para o ensino de liacutenguas por meacutetodos audiovisuais

Com alguns meios podem ser feitas coisas que com outros natildeo satildeo factiacuteveis Que se estime

portanto o ldquocampo midialrdquo como uma totalidade estruturada anotando-se a ocorrecircncia de

associaccedilotildees de meios em regime de sinergia5 ldquoEcologia da miacutediardquo diraacute enfim respeito ao estudo de

ambiecircncias informacionais Sob este aspecto constitui proposiccedilatildeo teoacuterica e instacircncia praacutetica do

complexo conjunto formado pelas relaccedilotildees dos signos circulantes (e dos coacutedigos aos quais

pertencem) agrave miacutedia e desta agrave cultura Tendo a intenccedilatildeo de dar pleno curso a suas afirmaccedilotildees - de

caraacuteter eminentemente experimental de sua investigaccedilatildeo exploratoacuteria ndash o teoacuterico e educador

canadense recorreraacute a ousadas alusotildees metafoacutericas manejando paradoxos com a habilidade retoacuterica

de um sofista Fulgurantes introvisotildees calidoscoacutepio vertiginoso e composiccedilatildeo mosaica saber em

fragmentos frases sentenciosas providenciais palavras ouvidas de um oraacuteculo Ao cartesianismo

filosoacutefico afeito a construccedilotildees sintaacuteticas em regime de hipotaxe (coordenaccedilatildeo ou subordinaccedilatildeo na

composiccedilatildeo de periacuteodos) ndash ajustado por pontual e produtivo agrave racionalidade da vida moderna ndash

substitui-se a experiecircncia da ldquoaldeia globalrdquo proporcionada pela tecnologia eletroeletrocircnica Vigora

o regime da comunicaccedilatildeo por parataxe (justaposiccedilatildeo frasal ou sequumlecircncia de frases-ponto) com ele

uma mesma experiecircncia pode ser ldquotelegraficamenterdquo compartilhada por distintas culturas

independentemente de fronteiras geograacuteficas

Dissemina-se e passa a viger uma nova linguagem agrave qual caracterizam instantaneidade

fragmentaccedilatildeo simultaneidade sensorial e rapidez de emissatildeo bem como facilidade de recepccedilatildeo e

divertido entendimento Reteacutem-se somente a informaccedilatildeo que sensibiliza-nos (de caraacuteter referencial

emotivo) Em livros palestras aulas e entrevistas Herbert Marshall McLuhan afirmou

essencialmente o que se segue ndash ora transcrito em esforccediladas paraacutefrasesA nova interdependecircncia

eletrocircnica recria o mundo agrave imagem de uma aldeia global O ldquoconteuacutedordquo de um meio eacute sempre um

outro meio O conteuacutedo da escrita eacute a fala tal como a palavra escrita eacute o conteuacutedo da imprensa e a

imprensa o conteuacutedo do teleacutegrafo O teleacutegrafo eacute a eletrificaccedilatildeo da escrita A palavra falada foi a

primeira tecnologia pela qual o homem tentou liberar-se de sua ambiecircncia a fim de apreendecirc-la de

uma nova maneira Todos os meios satildeo metaacuteforas ativas por seu poder de traduzir a experiecircncia em

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

27

novas formas Os efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo se vertem em novas ambiecircncias Cada

ambiecircncia promove uma reprogramaccedilatildeo da vida sensorial

Qualquer modificaccedilatildeo operada nos meios de comunicaccedilatildeo produz reaccedilotildees em cadeia nas esferas da

cultura e da poliacutetica Natildeo haveraacute mudanccedila tecnoloacutegica nos meios de comunicaccedilatildeo que natildeo venha

acompanhada por uma espetacular mudanccedila social Todas as mudanccedilas sociais representam efeitos

das novas tecnologias sobre o equiliacutebrio de nossa vida sensorial Os efeitos produzidos pelas novas

miacutedias em nossas vidas se assemelham aos efeitos da nova poesia mudam natildeo somente o nosso

pensamento senatildeo tambeacutem as bases em que ele se estrutura Quando varia a proporccedilatildeo existente

entre os seus sentidos elementares o homem tambeacutem varia A proporccedilatildeo existente entre os

sentidos se altera sempre que qualquer um deles assim como qualquer funccedilatildeo corporal ou mental

se exterioriza em forma tecnoloacutegica

Cada nova tecnologia que surge traz consigo uma ambiecircncia agrave qual se tem na conta de corrupta e

degradante ateacute que tal tecnologia faccedila daquela que a precede uma forma de arte As novas miacutedias

natildeo satildeo modos pelos quais noacutes nos relacionamos ao velho mundo real satildeo na verdade o mundo

real e reformam agrave vontade o que resta do velho mundo

O que muda com o advento de uma nova tecnologia eacute a moldura do quadro e natildeo apenas a

paisagem emoldurada Para o telespectador o noticiaacuterio da TV se faz passar pelo mundo real ainda

que natildeo valha como sucedacircneo da realidade em si mesmo tal noticiaacuterio eacute uma realidade imediata

Estamos comeccedilando a compreender que os novos meios natildeo satildeo apenas trucagens mecacircnicas

utilizadas para criar mundos de ilusatildeo satildeo novas linguagens com potencialidades ineacuteditas de

expressatildeo Uma tecnologia nova desperta a sociedade de seu sono letaacutergico As sociedades humanas

sempre se deixaram moldar mais pela iacutendole dos meios pelos quais os homens se comunicam do

que pelo conteuacutedo de sua comunicaccedilatildeo Um sentido elementar estendido acarreta profunda

modificaccedilatildeo em nosso modo de pensar e de agir em nossa maneira de perceber o mundo Os

efeitos da tecnologia natildeo se datildeo a ver no plano das opiniotildees e dos conceitos o que fazem de modo

contiacutenuo e sem encontrar qualquer resistecircncia de nossa parte eacute alterar as correlaccedilotildees entre os

sentidos elementares ou as pautas perceptuais que satildeo as nossas Olhamos para o futuro por meio

de um espelho retrovisor

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

28

Estamos indo de marcha-a-reacute em direccedilatildeo ao futuro Assim falou (e disse) Marshall McLuhanUma

ambiecircncia tende agrave invisibilidade McLuhan malgrado ele proacuteprio se integrou naturalmente a um

ambiente psico-soacutecio-cultural No entanto natildeo se fez invisiacutevel pior foi esquecido Injusto este

ostracismo natildeo poderia mesmo durar muito Fecircnix das cinzas renascido ele ressurgiraacute ndash uma vez

mais naturalmente ndash com a expansatildeo nos anos 90 da rede digital proporcionada pela fusatildeo da

televisatildeo ao telefone ndash meios ldquofriosrdquo envolventes ndash em escala planetaacuteria A web ndash experiecircncia

multimidial ndash que McLuhan anteviu ou de que havia tido forte intuiccedilatildeo retomaria seu pensamento

Vivemos uma segunda ldquoera da oralidaderdquo agrave qual datildeo niacutetidos contornos as novas miacutedias a

multimiacutedia e as redes digitais de comunicaccedilatildeo Esta a ambiecircncia midial do nosso tempo

Se a imprensa eacute meio ldquoquenterdquo e a miacutedia eletrocircnica (emissotildees de TV em broadcasting) eacute ldquofriardquo por

interativa entatildeo a hipermiacutedia em rede (telefone TV viacutedeo e computador) tende a um resfriamento

(de sua temperatura) informacional agrave medida que requer maior participaccedilatildeo sensorial de seus

encantados usuaacuterios Marshall McLuhan jamais foi um ldquointegradordquo (conivente com a ldquobarbaacuterie

culturalrdquo induzida pelos mass media) ou pura e simples-mente um ldquoalienadordquo (da conjuntura poliacutetica

de seu tempo) ao contraacuterio ele nos interpelou encarecendo a necessidade de nos conscientizarmos

de toda sorte de mudanccedilas impostas pelo dinamismo tecnoloacutegico da miacutedia

Mais sentidos (sendo) estendidos mais sentidos (a serem) entendidos Compor ou formar uma

memoacuteria de Marshall McLuhan eacute dar ensejo agrave reconstituiccedilatildeo ou a uma atualizaccedilatildeo de seu legado de

ideacuteias eacute deixar-se fascinar uma vez mais por sua obra decantada em quintessecircncia eacute enfim

retomar em modo criacutetico seus enlevos poeacuteticos aceitar o desafio de seus conceitos e aferir a

pertinecircncia de suas introvisotildees Eacute ter em mente que os clichecircs de Marshall McLuhan se deixaram

moldar em arqueacutetipos e se fizeram eternos

O MEIO Eacute A MENSAGEM Ao proclamar que o meio eacute a mensagem McLuhan comporta-se como um analista de sistemas que

prefere esquecer a significaccedilatildeo daquilo que eacute dito para se concentrar na forma do que eacute dito ou seja

nas estruturas mecacircnicas por via das quais agravequilo eacute transmitido O meio efetivamente exerce efeito

maior do que o daquilo que eacute veiculado pela proacutepria mensagem

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

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parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

29

Em Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem McLuhan revelaraacute uma maacutexima que

revolucionou todo o universo dos estudos da comunicaccedilatildeo Ele diraacute que numa cultura como a nossa

haacute muito acostumada a dividir e a estraccedilalhar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agraves vezes de ser

um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos e operacionais o meio eacute a mensagem

McLuhan estaacute fazendo uma criacutetica feroz a todo processo de divisatildeo e especializaccedilatildeo das ciecircncias

pois como dissemos no iniacutecio da aula a ciecircncia moderna compartimentou e seccionou o

conhecimento em prol de uma anaacutelise das partes que revelasse a totalidade do saber Essa criacutetica de

McLuhan eacute semelhante a Teoria Criacutetica da Escola de Frankfurt que diz que a razatildeo instrumental

fruto do Iluminismo levou a uma fragmentaccedilatildeo do conhecimento e aboliu toda e qualquer

complexidade que viesse a abalar as verdades e certezas da ciecircncia positivista Neste sentido

McLuhan se aproxima do estruturalismo francecircs que tem em Leacutevi-Strauss um dos seus mais ardentes

defensores Para Leacutevi-Strauss conteuacutedo e forma natildeo existem como instacircncias paralelas abstrata de

um lado e concreta de outro corpo e veste claramente diversificadas mas ambas constituem um

todo uacutenico e indivisiacutevel Ele diraacute a estrutura natildeo tem conteuacutedo ela eacute o proacuteprio conteuacutedo apreendido em uma

organizaccedilatildeo loacutegica Da mesma forma McLuhan diraacute que o meio eacute a mensagem

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

30

ldquoNuma cultura como a nossa haacute muito acostumada a dividir eestilhaccedilar todas as coisas como meio de controlaacute-las natildeo deixa agravesvezes de ser um tanto chocante lembrar que para efeitos praacuteticos eoperacionais o meio eacute a mensagemrdquo

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

31

Isto significa que o conteuacutedo de um veiculo eacute sempre um outro veiacuteculo O conteuacutedo da escrita eacute a

fala da palavra escrita eacute a imprensa da palavra impressa eacute o telegrafo e da fala eacute o proacuteprio

pensamento

Uma pintura abstrata representa uma manifestaccedilatildeo direta de processos de pensamento criativo tais

como poderiam como poderiam comparecer num desenho de um computador

A mensagem de qualquer meio eacute a mudanccedila de escala ou de padratildeo que este meio introduz nas

coisas humanas A estrada de ferro natildeo introduziu movimento transporte roda ou caminhos na

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

32

sociedade humana mas acelerou e ampliou a escala das funccedilotildees humanas anteriores criando tipos

de cidades de trabalho e de lazer totalmente novos O aviatildeo de outro acelerando o ritmo dos

transportes tende a dissolver a forma ferroviaacuteria da cidade da poliacutetica e das associaccedilotildees

independentemente da finalidade para o qual eacute utilizado

Ao afirmar que o meio eacute a mensagem McLuhan estaacute dizendo que o elemento fundamental para a

compreensatildeo dos efeitos sociais de um meio de comunicaccedilatildeo reside na natureza mesma deste meio

em ultima analise na sua estrutura em suas caracteriacutesticas especificas de estrutura e funcionamento

eacute que iratildeo determinar as pecularidades das mensagens que o meio emite Assim um jornal veicula

mensagens de modo significativamente diverso daquele que um aparelho de raacutedio ou de televisatildeo e

essas diferenccedilas satildeo independentes do conteuacutedo deste veiculo Para ilustrar essa maacutexima Mcluhiana

tomamos a poesia concreta

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

33

(Deacutecio Pignatari 1959)

O significado de uma mensagem eacute a mudanccedila que ela produz na imagem O interesse pelo efeito ou pelosignificado eacute uma mudanccedila baacutesica no nosso tempo pois o efeito envolve a situaccedilatildeo total e natildeo apenas umplano do movimento da informaccedilatildeo ldquoO cruzamento ou hibridizaccedilatildeo dos meios libera grande forccedila ouenergia por fissatildeo ou fusatildeordquo

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

34

(Haroldo de Campos Pulsar)

DO MUNDO MECAcircNICO EM DIRECcedilAtildeO AOS CIRCUITOS ELEacuteTRICOS

A LUZ ELEacuteTRICA Eacute INFORMACcedilAtildeO PURA sua mensagem eacute radical difusa e

descentralizada Eacute algo assim como um meio sem mensagem a menos que seja usada para

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

35

explicitar algum anuncio verbal ou algum nome

Hoje na era eletrocircnica vivemos num mundo dos circuitos eleacutetricos e os dados se alteram

rapidamente e a classificaccedilatildeo eacute por demais fragmentada ldquoHoje o jovem estudante cresce num

mundo eletricamente estruturado Natildeo eacute mais o mundo das rodas mas dos circuitos natildeo eacute o

mundo dos fragmentos mais das estruturas e padrotildees Mas na escola ele encontra uma outra

organizaccedilatildeo Os assuntos natildeo satildeo correlacionadosPor outro lado noacutes estamos entrando numa

nova era da educaccedilatildeo que passa a ser programada no sentido da descoberta e natildeo mais da

instruccedilatildeo Ou seja privilegia-se a aprendizagem e natildeo mais o ensinordquo

ldquoEssa situaccedilatildeo se refere tambeacutem ao problema da crianccedila culturalmente retardada Esta eacute a

crianccedila-televisatildeo A televisatildeo proporcionou um ambiente de baixa orientaccedilatildeo visual (baixa saturaccedilatildeo

de dados ou definiccedilatildeo) e alta participaccedilatildeo o que torna muito difiacutecil a sua participaccedilatildeo ao sistema de

ensino Uma das soluccedilotildees seria elevar o niacutevel visual da televisatildeo a fim de possibilitar ao jovem

estudante o acesso ao velho mundo visual da sala de aula A televisatildeo poreacutem eacute apenas um

componente do ambiente eleacutetrico de circuito instantacircneo que sucede o velho mundo da roda dos

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

36

parafusos ou seja o mundo mecacircnico Seriacuteamos tolos se natildeo tentaacutessemos superar o mundo

fragmentaacuterio visual do nosso sistema educacional atualrdquo

MEIOS QUENTES E MEIOS FRIOSConforme o impacto cognitivo provocado por um meio Mcluhan vai dividi-los em meios quentes

e frios Ele diraacute

ldquoHaacute um princiacutepio baacutesico pelo qual se pode distinguir um meio quente como o raacutedio

de um meio frio como o telefone ou um meio quente como o cinema de um meio

frio como a televisatildeo Um meio quente eacute aquele que prolonga os nossos sentidos em

alta definiccedilatildeo () alta definiccedilatildeo se refere ao estado de alta saturaccedilatildeo de dados ()

visualmente uma fotografia se distingue pela ldquoalta definiccedilatildeordquo Jaacute uma caricatura ou

desenho animado satildeo de baixa definiccedilatildeo pois fornecem pouca informaccedilatildeo De

outro lado os meios quentes natildeo deixam muita coisa a ser preenchida ou

completada pela audiecircncia Segue-se naturalmente que um meio quente como o raacutedio

e um meio frio como a televisatildeo tem efeitos bem diferentes sobre os usuaacuteriosrdquo

O principio que distingue os meios quentes dos meios frios estaacute bem corporificado

na sabedoria popular

ldquogarota de oacuteculos natildeo convida a cantadas pois os oacuteculos intensificam a visatildeo de

dentro para fora saturando a imagem feminina Jaacute os oacuteculos escuros criam uma

imagem inacessiacutevel que convida agrave participaccedilatildeo e agrave contemplaccedilatildeo

Eacute POSSIacuteVEL CONTROLAR OS EFEITOS DE UM MEIONatildeo devemos esquecer que a analise dos programas e dos conteuacutedos natildeo oferecem pistas para

desvendar a magia ou a carga subliminar destes veiacuteculos McLuhan insistiu no caraacuteter subliminar dos

efeitos dos meios de comunicaccedilatildeo ldquoEacute perfeitamente ilusoacuterio tentar controlar os efeitos com base

no conteuacutedo daquilo que cada meio veicula Para defender-se de um meio somente recorrendo a

outro meiordquo Os meios de comunicaccedilatildeo satildeo o sustentaacuteculo do mundo contemporacircneo Somente

aqueles que os controlam sabem dos mecanismos que podem atuar para persuasatildeo do publico

37

Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

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Aqueles que controlam os meios conhecem sobretudo seus coacutedigos e sua linguagem mas o

puacuteblico natildeo

O que significa conhecer a linguagem de um meio

O fato de ligarmos e desligarmos a televisatildeo ou assistirmos sua programaccedilatildeo ou o fato de usarmos o

computador natildeo nos qualifica como conhecedores do coacutedigo televisual ou comunicacional e muito

menos de sua linguagem

Por exemplo a notiacutecia num telejornal se restringe ao lide do meio impresso pois a imagem que

caracteriza o meio audiovisual se incumbe de orientar o telespectador para a compreensatildeo da

mensagem informativa Porem a TV contextualiza muito menos a informaccedilatildeo do que o impresso

jaacute que o tempo da televisatildeo eacute muito fugaz Tudo passa muito rapidamente diante do olho do

espectador a televisatildeo eacute impressatildeo imediata natildeo tem memoacuteria Tem-se uma carga imensa de

informaccedilatildeo num curtiacutessimo espaccedilo de tempo e muito pouco fica registrado nas cabeccedilas com sons e

imagens que querem atuar sobre o comportamento das pessoasrdquo

Eacute por isso que Derrick de Kerchove diraacute que

ldquoA televisatildeo fala em primeiro lugar ao corpo e natildeo a mente O ecratilde do viacutedeo tem um

impacto tatildeo direto sobre o nosso sistema nervoso e nossas emoccedilotildees e muito pouco efeito

sobre a nossa mente entatildeo a maior parte do processamento de informaccedilatildeo esta a realizar-se

no ecratilde A TV eacute hipnoticamente envolvente (por isso seu efeito subliminar) qualquer

movimento no ecratilde atrai a nossa atenccedilatildeo tatildeo automaticamente como se algueacutem estivesse nos

tocado A televisatildeo fascina para aleacutem do nosso consciente O principal efeito da TV como

afirma Mcluhan esta a ser processado natildeo em niacutevel do conteuacutedo mas si do proacuteprio meio

com o piscar constante dos eleacutetrons percorrendo o ecratilde As mudanccedilas e cortes nas imagens

chamam a atenccedilatildeo sem nos satisfazer Quando vemos televisatildeo nos eacute negado o tempo

necessaacuterio para integrar a informaccedilatildeo a um niacutevel de consciecircncia completo Sugere-se que a

televisatildeo nos deixa pouco se eacute que deixa algum tempo para a reflexatildeo sobre o que estamos

assistindo pois com a TV estamos constantemente a reconstruir imagens incompletas Ela

corta a informaccedilatildeo em segmentos minuacutesculos e desligados entre si juntando todos quanto

possiacutevel num menor tempo Noacutes completamos as imagens fazendo generalizaccedilotildees Isto natildeo

implica porem que estamos a fazer sentido estamos apenas a fazer imagens Fazer sentido eacute

outra coisa natildeo necessariamente essencial para a televisatildeordquo

(KERKCHOVE D A Pele da Cultura Lisboa Reloacutegio Drsquoaacutegua 2000)

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000

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REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

BENJAMIN W A obra de arte na era da sua reprodutibilidade teacutecnica IN Obras Escolhidas Satildeo Paulo

Record 1982

CIMINO L F A construccedilatildeo da notiacutecia materiais e procedimentos da miacutedia impressa Bauru UNESP

(Dissertaccedilatildeo Mestrado) 2001

MCLUHAN M A Galaacutexia de Gutenberg Edusp Editora Nacional 1972

MCLUHAN M Os meios de comunicaccedilatildeo como extensotildees do homem Satildeo Paulo Cultrix 1980

MILLER J As ideacuteias de McLuhan Satildeo Paulo Cultrix 1971

KERCHOVE D de A pele da cultura Lisboa Reloacutegio DrsquoAgua 2000