20
Goiânia, Jan./Fev. 2010 Ano II – nº 1 A PINTURA APINAJÉ E sua relação com a vitalidade da Língua Indígena e mais Jornal Informativo Intercultural do Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior de Professores Indígenas Licenciatura Intercultural – UFG Entrevista com o Reitor da UFG; Território Indígena; Línguas Indígenas e o Português; Fatores que colocam em risco as línguas indígenas; Inglês Intercultural

APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

  • Upload
    buianh

  • View
    213

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

Goiânia, Jan./Fev. 2010Ano II – nº 1

A PINTURA

APINAJÉE sua relação com a vitalidade da Língua Indígena

e mais

Jornal Informativo Intercultural do Núcleo Takinahakỹ deFormação Superior de Professores Indígenas

Licenciatura Intercultural – UFG

Entrevista com o Reitor da UFG;

Território Indígena;

Línguas Indígenas e o Português;

Fatores que colocam em risco as

línguas indígenas;

Inglês Intercultural

Page 2: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

2

Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior de Professores IndígenasFaculdade de Letras - Sala 48 - Campus II - Caixa Postal 131 - CEP 74001-970 - Goiânia - Goiás - Brasile-mail: [email protected]

Coordenação: Maria do Socorro Pimentel da Silva FL/UFG Vice-coordenador: Leandro Mendes Rocha FH/UFG Editor: André Marques do Nascimento - [email protected] Colaboradores: Professores e acadêmicos da Licenciatura Intercultural da UFG Periodicidade semestral Projetográfico: Ricardo Rafael de Almeida Campos - CEGRAF Ilustrações da capa: Fotos e desenhos dos acadêmicos da Licenciatura Intercultural Impressão: CEGRAF Tiragem: 3.000 cópias

Reitor:Edward Madureira BrasilVice-Reitor:Eriberto Francisco Bevilaqua MarinPró-Reitora de Graduação:Sandramara Matias ChavesInstituições Parceiras:FUNAI, Secretarias de Estado de Educação de Goiás, Tocantins e Mato Grosso e Universidade Federal do Tocantins - UFT

expe

dien

te

Os acadêmicos e as acadêmicas da Licenciatura Intercultural da Uni-versidade Federal de Goiás, turma de 2007, realizaram, durante a última etapa de estudos na UFG, uma entre-vista com o Reitor da Universidade, o professor Dr. Edward Madureira Brasil, no gabinete da reitoria. A en-trevista, elaborada e documentada pelos próprios acadêmicos e acadêmi-cas, fez parte das atividades do Estudo Complementar: Informática IV, com o tema “Utilização de Recursos Audio-visuais”, ministrado pelo professor Vandimar Marques, sob orientação da professora da FAV, Rosa Berardo. De acordo com o professor, o princi-pal objetivo do curso foi promover o contato dos acadêmicos e acadêmicas indígenas com diversos recursos au-diovisuais. A seguir, são apresentadas partes da entrevista, cuja versão com-pleta faz parte do acervo documental da Licenciatura Intercultural.

Reitor Edward Madureira Bra-sil: É uma satisfação muito gra nde ter vocês aqui no gabinete da Reitoria.

Luiz Pereira Kurikalá Karajá: Eu gostaria de fazer uma pergunta, se-nhor Reitor Edward Madureira Brasil, como está o processo da construção

ENTREVISTA COM O

REITOR DA UFGdo prédio da Li-cenciatura Inter-cultural? Essa é a primeira pergunta minha. Segunda pergunta, eu sei que a UFG ofe-receu este curso para os indígenas. A minha pergunta é esta: Será que a UFG vai oferecer pós-graduação depois de terminar este curso? Esta é minha pergunta, as duas perguntas.

Reitor Edward Madureira Bra-sil: Bom, então, respondendo a primei-ra pergunta, aproximadamente no mês de abril desse ano, entre abril e maio eu recebi aqui a visita da professora Socorro, do professor Leandro, junta-mente com um arquiteto da FUNAI, que apresentou uma proposta de uma construção específica para abrigar aLicenciatura Intercultural Indígena e de pronto eu achei a ideia ótima, gos-tei muito da planta, da proposta e nós, a partir daquele momento, começa-mos a invitar nossos esforços no sen-tido de viabilizar aquela obra. É claro queparaconstruirmosaquelaedifica-ção, tão importante para a Licencia-

tura Intercultural Indígena, e para as outras turmas que virão, muito mais importante para as outras do que para vocês que já estão caminhando para o encerramento do curso, nós precisare-mos de recursos que não estão no or-çamento da Universidade e está sendo solicitado, e logo depois dessa visita eu entrei no processo de eleição aqui na Universidade, a eleição aconteceu dia 24 de junho, então, eu me dedi-quei durante mais de quarenta dias so-mente à eleição, depois veio o período de férias escolares, que apesar de eu não ter tirado férias, o andamento das questões não acontece da mesma for-ma que acontece durante o semestre normal. Então, foi solicitada uma au-diência com o presidente da FUNAI e eu estou aguardando a marcação dessa audiência para os próximos dias para levar a proposta. A Universida-

Jornal Informativo Intercultural do Núcleo Takinahakỹ deFormação Superior de Professores Indígenas

Page 3: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

3

de logicamente dará como uma das contrapartidas a cessão da área, que já estádefinidopelanossaáreadeenge-nharia o local da construção e temos condição de aportar algum recurso, mas a gente espera que um aporte maissignificativoocorraporpartedaFUNAI dentro dos programas da pró-pria FUNAI que pode permitir a gente edificar esta obra.Então, a condiçãohoje é essa e eu acredito que, entre este mês de agosto e o início do mês de setembro, o presidente da FUNAI nos receba e no adiantamento da pro-posta continuaremos tentando a forma de viabilizá-la. Uma outra alternativa, essa de mais curto prazo, que é um es-paçomaisdefinitivoparaaLicencia-tura, essa já está sendo providenciada, assim que a gente terminar algumas reformas de obras que estão aconte-cendo na UFG, já tem um espaço que vaificarcomaprofessoraSocorro,ouseja, com a Licenciatura Intercultural Indígena, para o seu funcionamento, o seu dia a dia normal. Bom, e com relação à possibilidade de pós-gradu-ação, essa possibilidade existe, mas, interessante que todos saibam que, a oferta de novos cursos, seja na gra-duação seja na pós-graduação, ela se origina nas Unidades Acadêmicas. Especialmente na pós-graduação, ela se origina de um conjunto de profes-sores dentro das Unidades Acadêmi-cas. Então, se houver a iniciativa por parte dos professores, a UFG, natural-mente, apoiará essa iniciativa e criará as condições para que isso aconteça, mas não dá para a gente, como gestão, definirquenósvamosfazer,quemvaidefinirquequerfazerequetemcon-dições de fazer são os professores. Se eles disserem que sim, terão aqui um aliado para abrir as portas para fazer com que isso aconteça.

Luiz Pereira Kurikalá Karajá: Muito bom.

Indionor Guarani: Os professores que trabalham com a gente, é isso?

Reitor Edward Madureira Bra-sil: Sim. Lógico que são os professo-res que têm interesse pela questão e que podem propor. Eles vão se organi-zar, porque a pós-graduação, o funcio-namento da pós-graduação, é um pou-co diferente do curso de graduação. O curso de graduação, exige que nós te-nhamos um certo número de professo-res, que muitas vezes no crescimento da Universidade, a gente aloca essas pessoas para atenderem determinada demanda. Esse curso recebeu alguns professores para ele continuar. Na pós-graduação, ela tem que ser feita com os professores que já existem na Universidade, nós não temos novas autorizações de concurso para au-mentar o quadro de professores, então ela tem que nascer aqui dentro. Ela nascendo aqui dentro, logicamente que pode ser em parceria com outras universidades, não só com a UFG, e aí monta-se um processo, que é enca-minhado para um órgão do Ministério da Educação, que se chama CAPES e a CAPES é que avalia o mérito da proposta. Se a proposta estiver dentro do que a CAPES entende como ade-quada, ela autoriza o funcionamento do curso de pós-graduação. Então, não basta só os professores quererem. É preciso ter um quantitativo de co-nhecimento acumulado, de trabalhos publicados, projetos aprovados, pro-fessores com determinada formação para estarem aptos a oferecerem um curso dessa natureza.

Maria Aparecida Taupia: Eu gos-taria de saber como que funciona a lo-tação de vagas para os indígenas den-tro da Universidade Federal e gostaria de saber se a Universidade tem bolsa. Diferente de nós, que nós viemos aqui duas vezes no ano e outros alunos que estão dentro das aldeias querem parti-

cipar dessa cotação de vagas, mas não têm condição de se manterem numa cidade igual a Goiânia. E aí a gente tem essa preocupação, se a Universi-dade tem bolsas para oferecer.

Reitor Edward Madureira Bra-sil: Bom, isso é no ingresso nos cur-sos convencionais?

Maria Aparecida Tapuia: É.

Reitor Edward Madureira Bra-sil: Não no curso da Licenciatura In-tercultural, nos demais?

Maria Aparecida Tapuia: É.

Reitor Edward Madureira Bra-sil: Desde o último vestibular, nós temos o sistema de cotas. Nós temos cotas, 10% de cotas para alunos oriun-dos de escola pública e mais 10% para negros e oriundos de escolas públicas. Esses são os dois tipos de cotas. Além dessas cotas, nós temos sob demanda a locação de cada curso de uma vaga adicional por ano para comunidades indígenas e para quilombolas. Então todos os cursos tem uma vaga adi-cional, se tiver a demanda. Mas não basta ter a demanda, tem que atin-gir também a pontuação mínima de aprovação no vestibular. Não é a nota paraclassificação,éanotadeaprova-ção que é uma nota bem menor, mas que ele precisa atingir esse mínimo e precisa logicamente estar com a sua documentação de comprovação absolutamente em dia. No caso dos negrosquilombolas,éumcertificado

Page 4: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

4

da Fundação Palmares e no caso dos indígenas, também tem um documen-to próprio, que é um documento que vem pela FUNAI, para comprovação, para que essa vaga não seja ocupada indevidamente. Bom, uma vez in-gresso aqui, existe um programa de assistência estudantil para todos os estudantes de baixa renda que nós te-mos. Nós temos moradia estudantil, que não atende todos, nós temos bol-sa alimentação, bolsa permanência. Tem vários mecanismos que facilitam a permanência do estudante na UFG. Então, é possível, sim, ter esse tipo de ajuda.Elanãoéespecíficaparaindí-gena ou quilombola, é especial para alunos de baixa renda, seja ele de que origem for. Normalmente, a gente tem atingido grandemente essa demanda, com exceção da moradia, nós esta-mos construindo, vocês viram, uma grande Casa de Estudantes aqui, que não tínhamos aqui no Campus e essa casa, logi-camente, não vai atender toda a nossa demanda de alunos que preci-sam de moradia estudantil, mas já vai dar um passo muito grande na situação que a gente tem hoje. Mas, então, as bolsas existem para os alu-nos que ingressam na Universidade e aqueles que ingressarem e comprova-rem, para isso é feito uma análise pela nosso pessoal da Assistência Social, do Serviço Social, eles fazem uma análise da condição socioeconômica e a bolsa é concedida nessa situação.

Jucelino Achurê Karajá: Essa do-cumentação que é feita é pedida no ato da inscrição ou no ato da matrícula?

Reitor Edward Madureira Bra-sil: No ato da matrícula, depois do vestibular.

Jucelino Achurê Karajá: Profes-sor Edward, de que forma a UFG, ela está vendo, através da Reitoria, o cur-so de Licenciatura Intercultural?

Reitor Edward Madureira Brasil: Eu vejo muita empolgação nisso, muita animação. Eu acho que esse é um papel da Universidade, de resgate de seu papel junto a essa comunidade e dando condições para que as pessoas promovam a preser-vação da sua cultura, dê condições realmente de que vocês avancem dentro do ambiente que é o ambien-te de vocês. Eu acho que, pra gente, aUniversidadeficamaioracadadia

com a presença de vocês aqui, não tenho dúvida nenhuma disso. Eu sou entusiasta da ideia. Tanto é que no curso agora não são mais apenas duas turmas. Ele vai ter continuida-de e o processo vai seguir continu-amente. Eu acho que isso é impor-tante.Eficomaisfelizaindadevero cacique com a camiseta aqui com o símbolo da UFG. Ver a UFG no peito de vocês, isso para mim já é motivo de muita satisfação.

Kurikalá: Doutor a gente vai fi-nalizar. Em nome dos universitários eu quero agradecer que o senhor nos recebeu aqui na reitoria e quero dizer que agradeço muito mesmo pela opor-tunidade que a UFG deu para a gente e, como o senhor falou, sempre vai ter continuidade. Isto é muito bom para nós e estamos aqui. Agradeço muito.

Reitor Edward Madureira Bra-sil: Da mesma forma eu agradeço vocês pela visita. Gostaria, inclusive, que esse momento com a Reitoria, ele virasse uma, vamos dizer, uma obrigação nossa, de parte à parte em todos os períodos de estada de vocês aqui. Inclusive mais, além da conver-sa comigo, com o Reitor, com a nossa Pró-reitora de Graduação, a professo-ra Sandramara, com a Pró-reitora de

Pesquisa e Pós-Gradu-ação, com o Pró-reitor da área de Assistên-cia Estudantil, que é a PROCOM, a gente fazer uma reunião mesmo de trabalho, de troca de ideias, para a gente acompanhar o desenrolar do curso de vocês, que para a gente é muito impor-tante que esse curso vá bem e que vocês continuem cumprindo isso que a gente perce-

be de vocês aqui, que vocês estão realmente aproveitando e levando para aldeia, para as comu-nidades de vocês o conhecimento e o que é mais importante, trazendo mui-to conhecimento. Falei para vocês na primeira vez, a Universidade Federal de Goiás é outra a partir da presença de vocês aqui. Os nossos alunos são outros, graças a essa interação, a essa troca, que nós fazemos com vocês nesse tempo todo.

Page 5: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

5

TERRITÓRIO

INDÍGENA

Durante a última etapa de estudos na UFG, os acadêmicos e acadêmicas da Licenciatu-ra Intercultural, turma de 2008, realizaram, nas aulas de Português Intercultural III,

ministradas pelo professor André Marques do Nascimento um importante debate sobre a importância da demarcação e da manutenção dos territórios indígenas. O objetivo era, através da discussão sobre uma questão de grande relevância para as populações indíge-nas brasileiras, ampliar a competência comunicativa em português escrito, observando as-pectos importantes da argumentação. Para isto, os acadêmicos e acadêmicas apresentaram em seus textos suas opiniões sobre a relação entre os povos indígenas e seus territórios de pertencimento. Três dos importantes textos produzidos são apresentados a seguir.

A MÃE TERRA

PARA O POVO INDÍGENA A TERRA REPRESENTA A PRÓPRIA VIDA

Para o povoAkwẽ, a terra significa“Tka” e isso quer dizer coisas. Coisas que estão relacionadas com vários tipos de outras coisas, entre, elas, aves, animais, peixes, etc... Para o povoAkwẽ a terranão é um valor econômico, mas sim o bem essencial para sua sobrevivência.

O povoAkwẽ respeita a terra comorespeita a mãe, porque dela tira o alimen-to que ele precisa para sobreviver. Não só os alimentos, mas sim várias outras coi-sas, como conhecimentos.

OsAkwẽtambémvêematerracomosua morada espiritual, porque eles fa-lam que lá estão enterrados os seus avós e avôs. E é para lá que eles vão quando morrerem.Portanto,aterradosAkwẽnão

está relacionada somente com as ativida-des econômicas.

OsAkwẽtêmváriosolharesqueestãorelacionados à terra. Diferentemente do olhar do não índio. Os não índios, claro, não sabem que a terra tem esse papel fun-damental, que é de ser mãe. Os não índios maltratam e machucam sua mãe, de onde eles tiram os seus alimentos.

Portanto,éporissoqueopovoAkwẽvem sofrendo hoje, porque está muito cheio em seu entorno de populações não índias. Eles acabaram com as caças, pei-xes e várias outras coisas que a terra mãe oferecia para nós.

Portanto, o índio vai morrer quando o não índio matar o último peixe, derrubar

Renato Xerente Acadêmico da Licenciatura Intercultural da Univer-sidade Federal de Goiás – Turma de 2008

Eva Lima Karajá Acadêmica da Licenciatura Intercultural da

Universidade Federal de Goiás – Turma de 2008

A terra é algo muito importante para a comunidade indígena. Uma criança indígena, quando vai crescendo, seus pais

começam a ensinar como amar, respeitar e valorizar a terra, a na-tureza. Ela é nossa amiga, nossa mãe. Com ela nós podemos co-municar através dos sinais do tempo. Dela também tiramos nossa sobrevivência. Por isso respeitamos também os seres, árvores, os animais, os seres não vivos, a água, o ar puro e outros.

Nós sabemos que se não respeitamos a natureza, se destruir-mos as matas, os rios, vamos acabar também com os outros seres

vivos que necessitam deles para viver, com isso estamos destru-indo a nós mesmos.

Os nossos antepassados viveram respeitando e preservando esta natureza e nós temos que continuar nessa luta pelas nossas matas, rios, para que não venham parar nas mãos dos não índios e venha a ser tudo destruído nas mãos deles.

a última árvore e poluir o último rio. O povoAkwẽfazpartedessa terra,nasceudela e é para lá que vai quando morrer.

Page 6: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

6

PARA OS POVOS INDÍGENAS A TERRA REPRESENTA MUITO MAIS DO QUE UM MEIO DE SUBSISTÊNCIA

A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA AS COMUNIDADES INDÍGENAS E SEUS ASPECTOS NEGATIVOS

Quando um tori, ou seja, um não ín-dio, menciona índio, já vem em sua men-te a palavra “terra”, mesmo sem conhecer qual é a relação entre ambos, ou às ve-zes, conhece e ignora, mas ele sabe que o índio e a terra têm uma ligação muito forte,comosefossemãeefilhos.Éalgoinseparável.

Tudo bem que ele não saiba o que re-almente seja isso, qual é essa ligação tão forte, e até mesmo se soubessem, alguns ignorariam, outros não aceitariam, mas nós que somos índios entendemos, por-que a terra faz parte da nossa vida, nossa história e o que ela representa para cada povo, cada etnia. Quando pensamos em terra, se fosse para falarmos em poucas palavras, com certeza, essas palavras se-riam totalmente diferentes das de um não índio. Ele certamente diria riqueza, pro-dutividade, individualismo, tirar o máxi-mo que aquela terra poderia oferecer. Nós índios pensaríamos em nossos antepassa-dos, em nossos povos, coletividade, nossa cultura, cuidar daquele território como

para nós indígenas, porque senão a terra, como para os não índios, passaria também a ser como um meio de subsistência e não teria o outro significado, a não ser tirardali também o máximo de proveito.

Acredito que essas palavras estarão sempre presentes em nossa boca quando alguém perguntar o que a terra representa para nós indígenas.

algo muito precioso, porque para nós, a terra tem uma representação muito maior do que apenas tirar dela nossa sustenta-bilidade.

Poucos entendem quando relaciona-mos nossos antepassados com a terra, mas para a maioria das etnias, os mais velhos, quando morrem, não deixam seu povo de-finitivamente.Elesficampresentesentreele, através das manifestações dos ventos, dos rios, dos pássaros. Cada etnia tem um ritual quando um ancião morre, mas sem-pre com o mesmo propósito, que é fazer com que aquele ancião permaneça entre eles. Isso para os povos indígenas é mui-to importante, porque fortalece um povo, uma cultura e todos têm um mesmo obje-tivo, não se torna um individualista para usufruir sozinho daquela terra, permanece respeitando o seu território como se a ter-ra fosse também um de seu povo.

É importante lembrar dos anciãos, da cultura, da coletividade de um povo indí-gena, para pensar o que a terra representa

Luis Antônio Tapuia Acadêmico da Licenciatura Intercultural da Universidade Federal de Goiás – Turma de 2008

Vivemos no meio de uma sociedade que é totalmente diferente em relação à sociedade indígena. E estamos cada vez mais cercados por esta sociedade. E é por esta e outras razões que nós sentimos a necessidade de aprender a língua por-tuguesa, para que possamos nos comu-nicar com os não índios e também com os parentes indígenas presentes em todo o Brasil.

E é necessário que as nossas comuni-dades tenham muito cuidado quanto ao uso dessa língua perante as nossas crian-ças. Isso porque os meios de comunicação de massa estão presentes em nosso meio e o nosso medo é que as crianças aprendam

algumas palavras na língua portuguesa e tenhamdificuldadede aprender a línguamaterna.

E por conta desse aspecto negativo é que a nossa escola, juntamente com a co-munidade, trabalha com o processo de al-fabetização na nossa própria língua. E nas reuniões com as comunidades e também na escola, incentivamos os pais e os alu-nos a conversarem só na língua materna, pois é importante e necessário que fale-mos a língua portuguesa, mas além dis-so, é muito importante que valorizemos a nossa própria língua, ou seja, colocar a língua materna em primeiro plano e a lín-gua portuguesa como segunda opção. Paulo Belizário Gavião

Acadêmico da Licenciatura Intercultural da Universidade Federal de Goiás – Turma de 2009

O texto seguinte, do acadêmico Paulo Belizário Gavião, apresenta de maneira clara esta preocupação das comunidades indígenas e, especialmente, dos professores das escolas indígenas.

Page 7: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

7

AS LÍNGUAS INDÍGENAS E O PORTUGUÊS

Os acadêmicos e acadêmicas da Licenciatura Intercultural, turma de 2009, realizaram, nas aulas do Estudo Complemen-

tar: Português Intercultural I, ministradas pelo professor André MarquesdoNascimento,umaOficinadeLínguaMaterna,apre-sentando diferentes situações de uso das línguas indígenas e do portuguêspelassuascomunidades.AOficinadeLínguaMaternafaz parte das atividades das aulas de Português Intercultural e tem como principal objetivo valorizar, preservar e fomentar o uso das línguas indígenas naLicenciatura e refletir sobre suas relaçõescom a língua portuguesa em contextos interculturais. Na ocasião, os estudantes de nove etnias e de diversas comunidades apresen-taram situações sociolinguísticas que ocorrem exclusivamente na língua indígena e situações nas quais a língua portuguesa, língua de relações interculturais, se faz necessária. Esta atividade serviu como ponto de partida para um debate sobre a importância da manutenção e de ampliação dos contextos de uso das línguas in-dígenasedosconflitosgeradosquandoalínguaportuguesapassaa invadir esses espaços próprios das línguas originárias de cada grupo. A conscientização sobre o lugar da língua portuguesa foi o principal aspecto ressaltado pelos acadêmicos e acadêmicas du-rante a atividade, pois, segundo eles, a língua portuguesa deve ser utilizada apenas nos contextos de interação intercultural, quando realmente necessária.

Dentre os espaços de uso exclusivo das línguas indígenas, fo-ram destacados pelos acadêmicos e pelas acadêmicas da Licen-ciatura Intercultural os seguintes:

O das músicas e cantos sagrados, como apresentado pela aca-dêmicaCreuzaPrumKwỳjKrahô:

O da caça tradicional, como destacado e ilustrado pelos acadêmicos Paulo Belizário, Célio Guará e pela acadê-

mica Roseana Nascimento, da etnia Gavião:

O acadêmico Edvan Guarany, da etnia Guarani, também destacou o evento de caça como um importante contex-

to de uso da língua indígena:

Tahna ma wa ityj mêIkahoc nê mê kre.Hiri HiriWajê wajêêê.Wajê cô waajê.Wajê Wajêêê.Tep peti ja pe.Wa pu txa ne.Co kampu.Jahi pa hĩPe mã krakiauheTxa ne cokompu.

Page 8: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

8

As festas tradicionais também foram destacadas como um importante domínio de uso das línguas indígenas, como apresentado pe-losacadêmicosAkwẽ,RogérioSrõneXerente,JoãoBatistaWazakruXerente,JoanaSdupudiXerente,GilmarA.BritoXerentee

ArlindoWdêkruwẽXerente:

AKWẼNÕKRÊWASKUZE

KãhãdanõkrêtôAkwẽtê,tazizakbureAkwẽtsĩpêsĩptokrda,waptekãtôaik-de.Sõkrêtêkmãsnãkrtawizaambâkãtôpikõsimãtsĩmpok.Tazizaambâ

nõrĩdamãkmãsnãkratarepikõinõrĩkmãsdakâ.Ambânõrĩaimõwiĩsõkrêzehãtazizanẽsikmãtsikuiwa.

Akwẽdanõkrêtmãwẽki,mãrapâzakmãtsihâzuwarãwa.Ĩptokrdazadamnõkre,areĩsihâzumnẽhãzatôdurenõkrkaka,wawẽtêwaihkâpibumã.

Ambâ: Tô tazi pesahã azamã tôkahã

Wipesaamrẽmẽtôkahã.

Pikõ: Are, are, are wahã

Are, are, are wahã.( 2x)

TâkãnẽhãromkmãdkâmbazaAkwẽmrmẽzemnãsikrmrmẽzus,nõkwaktâwankõmrmẽzemnãmrmẽkõdi.

Dasĩpsê wa Akwẽ sihâzum ze

Os acadêmicos e acadêmicas da etnia Tapirapé, Cleber-son Iakymytywygi Tapirapé, Iparewao Tapirapé, Iranildo

Arowaxeo‟iTapirapé,ManayriTapirapé,apresentaramcomoumimportante contexto de uso exclusivo da língua indígena a fabri-caçãodeflechasusadasparadiferentesfins.Deacordocomosacadêmicos e acadêmicas tapirapé, em sua cultura há quatro dife-rentestiposdeflechas,umausadaparacaça,outraparaaguerra,uma para caçar aves e outra para pesca de peixes. É através da língua tapirapé que estes conhecimentos relacionados à cultura material desse povo são transmitidos dos mais velhos para os mais jovens, como representado pelos acadêmicos:

Cândido Borges Ferraz de Lima e Uéder Aparecido de Moraes, acadêmicos da etnia Tapuia, apresentaram

a situação bidialetal de sua comunidade, que tem a língua portuguesa como primeira língua, destacando que, mesmo havendo contextos em que uma variedade mais formal da língua portuguesa é utilizada pelos tapuia, existe uma outra variedade usada em contextos menos formais e de maior pro-ximidades entre os falantes, com características próprias e funções particulares:

Page 9: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

9

IJASÒIXEHãbu mahãdu hèka ijasò rarỹỹnymyhỹreu ibutu-my he-

toàrè-myrỹimyhỹrenyre.

Ijasònarỹỹhèkainaubiòwa-myijõdire:

-Itbòriòrè,idòriòrè,itbòhòkỹ,idòhòkỹ.

Ijasòjuhutyhyrarỹỹnymyhỹreuhèkasõe-myrèsèmyhỹre,tahèijadòmamahadurèsèmyhyrenyreijasòbròò,Weryryijoi-nakõdu tahè hirarina-my rỹimyhỹrenyre tii boho ijasòwi-òroholamyhỹrènyrèrièryrènykre-my.

Txioró-my rudityhyu tahè ijasò tainỹra-di reamyhỹre,irbi rexihudi tahè rèsèmyhỹre. Tahè txutyeu ijasò ixèrabynymyhỹre,ijasòralòkreko-kihèkataròtènawiriryrymyhỹretahè ralòmyhỹre. Iu tahè ijasòtby, tariòrè nõhõ rỹsỹna-diròhònymyhỹreijoinai-ò.

Ijasò tatbòriòrè riijèmyhỹreu hèka iwèru-my riõmyhỹretahè ijasò rurumyhyre.

Os acadêmicos e acadêmica Moisés Belehiru Karajá, José Uriawa Karajá, Edi Matalori Karajá, guido Hiwe Karajá, Ixyjuwedu Karajá, Iykana Karajá, Cleber Kaxiwera Karajá, Jurandir Mabulewe Karajá e Viviane Txebuare Karajá, da etnia Karajá, também

destacaram a importância da língua materna em contextos de uso como as festas tradicionais e a produção de artesanato, contextos em que a língua indígena é o principal meio de transmissão dos conhecimentos culturais tradicionais. De acordo com os acadêmicos, “o povoKarajáutilizasualínguamaternaparaessassituações:nacasadearuanã,nasfestastradicionais,comomraasi,anarỹỹeoutras.Etambém quando a pessoa mais velha está ensinando a pessoa mais nova a fazer boneca de barro e de madeira, esteira, cocar etc. Para essas situações, o povo Karajá só fala a língua própria, o Iny Rybè.”

Page 10: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

10

A práticadoartesanatotradicionalseconfiguracomoumim-portante espaço de uso das línguas indígenas, como apre-

sentado pelos acadêmico e acadêmicas Rogério Evangelista Dias Apinajé, Maria Célia Dias de Souza e Maria dos Reis Pandy Api-najé, da etnia Apinajé. Os acadêmicos destacaram a importân-cia do babaçu para seu povo e a relação entre a preservação da natureza, das práticas artesanais tradicionais e o uso da línguas indígena:

RõrpàrjarẽnhRõrpàrjanamẽinhõpikakamãraxtinapahtemhomẽmoj

piitãhipêx,rõrpàrjakurũmnapahtemamnhĩm,kuhpĩknêixkrenẽỳhowẽnênẽkàhopràprà,nẽtwỳm,gwra,kuwỳkapêr-xà,nẽpàrjahonapahtemhogwranẽhoixprõt,jakamãnahtemỹrôrpàrjarũmmèmojkwỳmanẽ,tãmnamẽhixijaja

-Ỳ

-Kuhpĩk

- Pràprà

- Ixkre

-Twỳm

- Gwra

-Kuwỳkapêrxà

- Kawà

O acadêmicos e acadêmicas Marcos Kalari Javaé, Do-rivaldo Idiau Javaé, Ricardo Tenaxi Javaé, Rosange-

la R. de O. Castro e Izamar de O. Karajá, representantes da etnia Javaé, destacaram a importância da pescaria nas práticas tradicionais desse povo e na manutenção do uso da língua indígena, através da interação entre diferentes gerações. A pesca da tartaruga, segundo os acadêmicos, é um importante espaço de socialização e de preservação da língua Karajá.

Page 11: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

11

DuranteaOficinadeLínguaMaterna,osacadêmicoseacadêmicas da turma de 2009 da Licenciatura Intercul-turaldaUniversidadeFederaldeGoiásrefletiram,ain-da, sobre o uso da língua portuguesa pelas populações indígenas no Brasil, destacaram as vantagens e riscos ocasionados pela relação entre o português e as dife-renteslínguasindígenasebuscaramidentificaroscon-textos em que a língua portuguesa tonar-se necessária para as populações indígenas. De modo geral, segundo as constatações dos acadêmicos e acadêmicas, o portu-guês é mais utilizado pelas populações indígenas em si-tuações de comunicação intercultural, com a sociedade não indígena e suas instituições, principalmente, e entre etnias diferentes.

Dentre os contextos de uso da língua portuguesa pelas populações indígenas destacaram-se:

•As relações comerciais entre indígenas e não indígenas;

Acadêmicos Tapirapé

Acadêmicos Xerente

ConformeressaltamosacadêmicosXerente,“nessaocasião,nós indígenas utilizamos somente a língua portuguesa. O

povoXerentetrabalhamuitonaconfecçãodeartesanatoseaco-mercialização destes é feita na cidade, onde os não-índios com-pram os trabalhos indígenas. Para o comércio ser bom, é necessá-rio a utilização da língua portuguesa, para que se possa vender os produtos por preços dignos”.

AcadêmicosKarajáeKarajáXambioá

• A comunicação com a sociedade não-indígena;

Acadêmicos Apinajé

Acadêmicos Karajá

Page 12: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

12

Acadêmicos Gavião

De acordo com os acadêmicos Karajá, “a etnia Karajá utili-za a língua portuguesa quando sai da sua aldeia para algu-mas cidades dos não-indígenas. Também usa no mercado, hospital, prefeitura, na reunião com os não índios etc.”

• As instituições públicas e prestadoras de serviços diversos, como bancos, hospitais, dentista, médico etc.;

Acadêmica Krahô

Acadêmicos Javaé

Acadêmico Guarani

Apesardeosacadêmicoseacadêmicasteremidentificadoos contextos de uso das línguas indígenas e do português, eles enfatizaram que a relação entre as duas línguas não é sempre harmoniosa. Todos são conscientes de que as línguas indígenas são constantemente ameaçadas na convivência com a língua dominante no Brasil e se preocupam com essa relação.

Page 13: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

13

FATORES QUE COLOCAM EM RISCO AS LÍNGUAS INDÍGENASAOficinadeLínguaMaterna, realizadaduranteasaulasde

Português Intercultural III, ministradas pelo professor André Marques do Nascimento, teve como tema os fatores que podem colocar em risco as línguas indígenas no Brasil. Nesta atividade, como pode ser visto nos textos dos acadêmicos e acadêmicas da

turmade2008,destacou-seocaráter transdisciplinardas refle-xões sobre a realidade sociolinguística das comunidades indíge-nas brasileiras, em que não basta pensar exclusivamente na língua sob ameaça, mas em diversos outros fatores e aspectos sociais interligados e provocadores dessa ameaça.

WASIMRMẼZEKTÂWANKÕMRMẼZEMMẼKRSIWAZARMNÕZE

Tokto waza damrmẽ krsiwarzar mnõze aim waskukw, akwẽ waikwamãtôktâwankõmrmẽzerowazarpêsê,waptemnõrĩzatôkahâsnãktâwankõmrmẽzeakwẽmrmẽzepnãkmãwazarwawẽ,arewatôzaaimkmẽwaskukbanĩnhânêssnãkrtbromnõze.

Ktâwankõ mrmẽze akwẽ waikwa tê rowazar mnõ tô kãnẽzem hawi,kahâsnãakwẽzakrukrikahâ tmẽromturêzemhawi,kãtôkahâsnãmãtôpikõinõrĩktâwankõmẽsisnãmrõ,twa,zatôtôtanõraikramnõktâwankõmrmẽzepnãsikrmrmẽzusi.Kãtôiptokrtanõrĩromkmãdâtkrêwaskumnõkõzemhawiwaptemnõraimã.Arewazatôaimãkbahêsukawawawatkuĩkresnãaimkawaskukbanĩ,kãnmẽwatôdamrmẽsitommnõkmẽkuĩkrenĩ.

Vamos contar um pouco sobre os empréstimos do portu-guêsemdialetosXerente,emquepelomenos20%dalín-gua portuguesa é falada pelos nativos, a maioria jovens, o que leva à ameaça da língua nativa. Esses empréstimos influenciam através de casamentos de indígenas e não-indígenas,emqueosfilhosdessescasaisfalamamaio-ria das vezes o português. Além disso, há várias aldeias bem próximas da cidade, onde o contato é praticamente direto entre indígenas e não-indígenas. Outro fator pre-ocupante é que a maioria dos mais velhos está deixando de repassarem conhecimentos tradicionais para os jovens, ou seja, para os netos, e assim poderia se evitar invasão de empréstimos do português. Fizemos alguns exemplos para que vocês observem esses tipos de empréstimos do português.

Page 14: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

14

ACADÊMICOS: Paulo César W. Xerente; Bonfim S. Xerente; Ercivaldo D. Xerente; Agripino W. Xerente

MÊ IPÊ KRAHÔ JOH CUKREN-XÀ

Mê ipê krahô joh cukren-xà mã crow, crow to mã mẽ.ijohcukrenxà.Mammẽquêtjêpêĩmpeajkãmajcocrowitatomẽahcukre,pêmẽĩntuwajcoamcrocunẽakãmmẽahcukre.

Peanamcroitakãmmã,hapuhnãmẽintuw,nẽraamẽcrowitatomẽ,hohcukrenpejnare.Ramẽcumãbolapitjapĩrprãm,nẽracrowtoamẽhohcukrenpejnare.

Itacwỳrjapêquêihtỳjcrowtomẽhohcukrenxàitajũhnãcaxuwhamrẽ,mẽipê.

ESPORTES TRADICIONAIS INDÍGENAS E NÃO-TRADICIONAIS

O nosso esporte tradicional krahô é a corrida de tora. Antigamente, para nossos antepassados, a corrida de tora era muito frequente para os mais novos. A corrida de tora é o nosso principal esporte cultural. Mas, hoje em dia, os mais novos só querem praticar

esportes não-indígenas, como o futebol. Eles praticam mais é o esporte não-indígena. E eles estão praticando menos a corrida de tora. Isso põe o risco de um dia perder a língua, a nossa cultura e a nossa tradição.

ACADÊMICOS: Ataúlio Krahô, Dodanin Krahô e Isauro Krahô

Page 15: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

15

KOXỸMENE,ỸMA‘YHÃJA NE

,Ỹwãripemikakoxyweraagỹixerawykakariakwãpamairatãwãropiywyrãpe re.Wemirekamĩ ame‘eg iraawomairawe.Ñeramõmĩmaĩraãkoma‘ekwera agỹ iexakakari ixope ywyrãpe. Ñerepy re mĩ i‘o iraâwotawaxãkoxyweraagỹ.Tawaxakoxyweragymĩiywyatãtyakwãpaywyrãperema‘epyykawymareranõ.Tawaxãkoxyweragymĩaamairatawipe,ã‘emĩmairakomo‘ekweraagyayryrykeeixopeaxe‘ematata,axe‘egmatãtirawykaware.Marỹmĩixopexe‘egireiraãiray‘owoay‘owajpe.Ñepemĩi‘oraãwoyhãjapeimaka‟oakãt.Emanỹmĩtawaxãkoxyweraagỹikwawi.Axemamoro‘ãakãtamairaagỹweywyrãpere.‘ereruĩiraã,rekawoaporo‘ãatãwipe.Ñepemĩimemyrãtaawo.Ñepemiikaaxemaãwãwo,mairara‟yramĩepeaaakawo.Ña‘eramõmĩiyima‘eirekawotowaxe‘egarexe.Epemĩwetaagỹxe‘egaramõnaxe‘ematãriixope.Emimiarearekyyxãwa.

PROSTITUIÇÃO E ALCOOLISMO

Atualmente, está acontecendo prostituição em algumas al-deias. As mulheres indígenas estão vendendo o seu próprio

corpo para ganhar dinheiro. O homem não indígena encontra a mulher indígena na cidade mostrando dinheiro, pois ela está encontrandodificuldadedeganhardinheironavidaparasesus-tentar. Quando o não-indígena consegue conquistá-la, ao mesmo tempo fala para ela para levá-la ao bar e tomar uma bebida. Então ela começa a tomar bebida alcoólica e faz a relação sexual. Tam-bém o não-indígena leva a mulher e deixa na cidade, onde ela

nãotemconhecimento.Eficafalandoapenasemportuguês,semir para a aldeia. Um dia, quando ela chega na aldeia, já não tem coragemdefalarasuapróprialíngua,porqueficamuitotímidaparacomunicarcomoparente.Apartirdaí,elapodeficargrávidae,seumdiaganhabebê,acriançapodeficarcomooclonedopai.Então,elapensaemensinarasuafilhaoufilhosobrealínguaportuguesa. Por isso, na nossa observação, é muito perigoso. E é um risco de perder a sua língua.

ACADÊMICOS: Arivaldo Takwari‘i Tapirapé; Arokomyo Claudio Junior Tapirapé; Kaxowari‘i Tapirapé; Xawatamy Nelio Tapirapé.

TECNOLOGIAS E MEIOS DE COMUNICAÇÃO

Chegando as tecnologias nas aldeias, mui-tos indígenas têm comprado esses meios

de comunicação como: celulares, rádio, tele-visão e outros.

Esses meios de comunicação, frequentes no meio do povo, têm causado a perda da prá-tica da fala desse grupo e enfraquecendo os seus usos tradicionais.

Pelo uso desses meios de comunicação, tipo o celular, na aldeia indígena não tem sido

necessário o serviço do mediador para levar ou trazer informações. Por isso, o uso do celular substitui o uso e contribui com a perda da fala e da sua identidade cultural.

Târa mmẽrê psê ktabdi.Are zatô wapkẽzako, ktâwankõ mrmẽzem nã si. Mrmẽ wa,kãtô dure sõkrê wa.

O rádio é um meio de comunicação muito importante,mastrazainfluênciadoportuguêsmuito forte para dentro das aldeias.

Page 16: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

16

KTÂWANKÕNĨM

ROMKMÃKWAMÃRMNÕDASISDAKBÂZE

Ktâwankõnĩmromkmãkwamãrĩdasisdakbâzemãtwi,mãtakwẽnõrĩtôtanẽhãduredamẽsĩmmãrd,tõramamẽ,târawamhãromwaskuzekãtôĩwadimnõ.

Tôtonẽhãromkmãdkâttêwambuirehawitetôaimõdammẽzekãtôahâmrehãromkmãdkâttuirê pês.

Tôtahẽhãdasisdakbâzemhawi,datkmãtâramrmẽrêmãtdanõhuikwaiwibdâditêtwistoaretôtanẽpratoktodanohuikwaromwaskudazakruikamõikutêdamdurkõdi.

Romkmãdkâ kahâ kbuurõizeKãhãmãtôakwẽnõrĩdamẽtêwaihuk, kmã sizdakbâ pibu-mã.

Are mãtô dure akwẽ sĩmromkmãdâ sakre, tâkahã tô ktâwankõnĩro.

NotebookNotebook é uma das coisas usadas pelos índios na comu-

nicação. Deixando a cultura tradicional de lado, se envolven-do com a cultura dos não-indígenas.

TECNOLOGIA E MEIO DE COMUNICAÇÃO EM PORTUGUÊS

A televisão traz a comunicação positiva e negativa, principal-mente no uso da língua portuguesa. Os jovens e crianças as-

sistem televisão e eles aprendem mais o uso da língua portuguesa doquealínguaakwẽ.

Por isso, alguns indígenas deixam de praticar sua cultura tra-dicional.

Ktâwankônĩromkmãkwãmãrĩdasisdakbâze.Katôktãwankõhêmbawarbeze.Ktâwankô hêmbawarbeze tô ĩpê, kãtô ĩkunê,tôtahãtôktâwankõmrmẽzemsizawam.Kmãmrêtahãwanĩmaiktenõrĩkmãsõprewatôktâwankõmrmẽzemsi,zatêwaikuku,arewanõr tê za sakre.Tanẽnmẽmãtôwanĩm romkmãdâ akwẽwaiba sisut are kbure kõdi adu.

TOCANTÍNIA/ KRIKAHÂ

Kri kahânĩm tka.Kãwa btâ bâ za akwẽ nõrĩ tsinã.Ro têsmrãmnõpibumã,arenmãhãduresrôwarekitônmẽ.

Tocantínia é um município frequentado em massa pelos índios xerente. Eles vão fazer compra e alguns até moram na cidade.

ACADÊMICOS: Carmelita Krtdi Xerente; Euzébio Srêze Xerente; Fernando Kbasdimeêkwa Xerente; Gilberto Srõzdazê Xerente; Renato Sikrbowẽ Xerente.

ROMWRA/CARRO

Kahãromwraakwẽtmãwẽktabdi.Tâkãhãromwrawazabtâbâ krwaireb kri kahâ ku.

O carro é o meio de transporte mais utilizado pelos índios. Esse carro leva constantemente os mais velhos e os mais jovens para a cidade.

Page 17: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

17

A TECNOLOGIA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃOtelefone não querem mais falar em sua língua materna, principalmente quando estãonacidade.Enfim,atecnologiateminfluenciadomuitonomeioindígena.

Tori bdedỹỹnana hekar ijõ awirare ijõ tahe ibinare inymahadu-ò.Taitahe iny toriaõnaaõnariuhemyhyrekitiutaikiinytobdeỹỹnana-òixybyroseõtyhy.Wijiinymahadunyimyhydeinybdedỹỹnanaribiixawimyrỹirainyhareaõherekibotikiemyhetorihõrõawityhymyhyde wijina mahadu-ò, taiki tahe wijina mahadu matuari mahadu ijyky-ò tiu rolaõtyhy, tikiemyhe tamyreny ibinareri ijyy.Tori bdedỹỹnana sõemy iny bdedỹỹnanarixawinyreaõherekibotikiemyhetoridedỹỹnanainydèèiruteretyhyreki..

TORI AÕMYDYYNA

A ESCOLA NÃO-DIFERENCIADA, NÃO INDÍGENAA escola também é um grande fator que causa a perda da língua, porque ainda existem escolas que ensinam mais o português do

que a língua materna. Não se preocupou ainda com uma escola de verdade, ou seja, a escola que adota os princípios pedagógicos bilín-gues.

TORI TYYRITINA HETOTyyritina tule inihikymy oraruna, riwahinymyhyre iny rybeò, tyyritina

iny hawaki, tyyritidỹỹdu tori rybe riwahinymyre tai tuu rohonyre rybedeosa. Tai tori rybemy iny reoarire, wiuri urimy rybe kie.

ALIMENTAÇÃO NÃO-INDÍGENAA alimentação não-indígena é um grande fator na perda da língua numa sociedade indígena. Por

exemplo, na alimentação que faz parte da vida cotidiana dos povos indígenas, como: arroz, feijão, carne bovina, suína, de frango e saladas.

TORI BYRÈNAToribyrènaribiriorarunyreinihikỹmy,riwyreinyrybè,torininidỹỹna.

Arioikrebyrenadetxu-õtxu-õinytuurarybèmyhỹremaixõmõ,òmyta,aõdè-dè,ixỹni-dè,hãniè-dèrỹsỹnawiuri-uri.

ACADÊMICOS: Augusto Curarrá Karajá; Cláudio Idjani Karajá; Ruruca Javaé; Samuel Ioló da S. Javaé; Fernando Hadori KArajá; Mairu KArajá; Eva Lima Karajá.

A tecnologia é um fator negativo para a comunidade indígena. Através de apa-relhos como: televisão, rádio, telefone e outros, os indígenas vão deixando de usar seus costumes. Por causa da televisão, os jovens não gostam mais de cantar, dançar, ouvir as histórias dos mais velhos, porque nos programas de televisão eles veem as danças dos brancos, o futebol, as de-mais brincadeiras, as comidas, bebidas e quando experimentam esquecem dos seus costumes. Os indígenas quando falam ao

Page 18: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

18

FALTA DE TERRITÓRIO

Por falta de terra para plantar, os índios têm que sair para trabalhar nas cidades e fazendas vizinhas. Nas fazendas e cidades, vivem com os não

índios e sofrem discriminação por não falarem uma língua indígena e falam que eles não são índios, pois se fossem índios estariam morando na aldeia. Assim, acabam sujeitos à discriminação por necessidade de trabalho.

MIGRAÇÃO INDÍGENA PARA AS CIDADESAo sair da aldeia em busca de trabalho na cidade, esses índios acabam

ficandodefinitivamenteporlá,enãoqueremassumirsuaidentidadeindígena.As crianças desses índios que vão morar na cidade também falam que não são índios, que somente os pais deles é que têm um parentesco longe com os índios.

ACADÊMICOS: Adriana Rosário da Silva Tapuia; Luís Antônio Vieira Tapuia.

Durante muitos anos atrás, o povo apinajé usava suas pinturas todos os dias na festa tradicional. Cada pintu-ra temoseusignificadodiferente,deacordocomoseunome,comowanhmẽe katàm. No entanto, hoje, essas pintu-ras já não são praticadas todos os dias e, às vezes, nem todos se pintam no dia das festas tradicionais. Essas pinturas

estão sendo esquecidas, cada vez que o tempo passa, isso gera preocupação para o povo apinajé, que antigamente vivia de pin-

Ỳmẽhôkjanapahtemarĩhoamnhĩjôko ixpa.Napahtemamarĩamnhĩjôknẽ tõhãmẽhkĩnhkãmamnhĩjôkoixpa.Nẽkojamẽkãmhprõhprãmrỳmjêmhprãm,nhũmẽmẽ ra tanhmãKuteKôtomu.KojaxênẽpuKêpKootihãkojamẽ kooti hôk o hôk.Nhũm rĩ hãmyt àpanh tỳx nẽnhũmmẽaxpenmãwakure.Nokojakêpkoorejapêrnhũmmytapanhkêtrinhũmmẽaxpẽnmãwakure.Rỳkojamẽkaxyw gwra ho hprõt kaxyw nẽ ra amnhĩjôk. Nhũmmẽhkwỳjajawanhmẽ jôk o amnhĩjôk. Jakamã na pu htem ãamnhĩjôkanhỹropapa.Nẽjarãhãnahtemrarigrêrenẽriamnhĩjôkopa.Kojatõhãmẽhkĩnhõhokraxmẽtỳxrimrakãmamnhĩjôkhprãmkêtnẽrimra.Tããmẽhôkjahorẽnhkotanhỹr.

Ỳmẽapinajéjajahôknaja.Amnepêmmẽpahteamnhĩnhixikôtamnhĩjôkpumunhmexri.Mẽkêppẽpkrejêhôknaja.Tãnapuhtemrarihoamnhĩjôkkêtopapa.Rỳhtãhãtỳxrihoamnhĩjôkopapa.Tããpẽpkrejâhôkjaharẽnhkotanhỹr.

PINTURA CORPORAL DO POVO APINAJÉturatodososdias.Atéasmãesnãopintamosseusfilhos.Algunspintam, mas é pouco. Então, algumas pinturas já foram esqueci-das,comoapinturadepẽpkre,masrestamaindamuitaspinturasutilizadas pelo povo apinajé, como na cerimônia da sepultura, festa de tora grande, festa da garça, casamento, festa de plantio etc. Muitas vezes, as crianças sabem todas as pinturas, mas não sabem escrever os nomes na forma de utilização da escrita na sua língua materna. Isso está relacionado com a perda da língua na comunidade, ou seja, os nomes da pintura que o povo apinajé não pratica mais, alguns já foram perdidos, principalmente os nomes da pintura na língua apinajé.

TANHMÃMẼKOTAMNHĨJÔKTOHÃ

HARẼNH

ACADÊMICOS: Davi Wamimen Chavito Apinajé; Jose Eduardo Dias Pereira Apinajé; Josué Dias de Sousa Apinajé; Julio Kamer Ribeiro Apinajá; Francisco Ribeiro da Costa Apinajé.

Page 19: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

19

O estudo de língua inglesa no Curso de Licenciatura Intercultural faz parte dos Estudos Complementares deste curso, tendo como seu principal objetivo o oferecimento aos alunos oportunidades de am-pliação de seus conhecimentos e de acesso ao mundo globalizado, de forma crítica, ou seja, sem perder de vista os possíveis proces-sosdeassimilaçãocultural.Teracessoaesta línguasignificaparanossos alunos/professores dominar uma ferramenta de comunicação poderosa, tornando possível, além da ampliação de conhecimentos, crescimento pessoal e defesa de seus direitos, já que todos têm cons-ciência de sua importância no mundo globalizado, mundo este em que também estão inseridas as comunidades indígenas.

Nosso papel enquanto professores de Inglês Intercultural é esti-mular por meio desse novo conhecimento a possibilidade de conti-nuação dos estudos e formação mais ampla de nossos alunos, uma vez que eles já começam a questionar a possibilidade de ingresso em cursos de pós-graduação, sendo assim essencial a leitura em língua inglesa.

Diante desse panorama, apresentamos a seguir a visão que alguns alunosdaetniaKarajá,jánasMatrizesEspecíficasdocurso,têmemrelação à língua inglesa, seus interesses, expectativas e sentimentos relativosaessenovodesafioemsuasvidas.

Caroline Pereira de Oliveira

Rodrigo Guimarães Prudente Marques Cotrim

Professores de Inglês Intercultural na Licenciatura Intercultural da UFG

No meu ponto de vista, o inglês como estudo comple-mentar é muito importante. Como nós indígenas estamos cada vez mais envolvidos no universo dos não-índios, por-que não nos adaptar a uma outra linguagem? É difícil, mas não é impossível, basta cada um de nós ter força de vontade em aprender o inglês.

Ana Cristina Karajá

A língua do norte-americano é muito importante dentro das es-colas indígenas, porque através dela nós podemos comunicar com as pessoas que não falam o português.

Meriana rybè heka, tyyritina woki awi rare, uladu dee. Uladu rierykeki heka tii tuhyy rarybemyhyke meirana rybè ery-ò.

Wadeehekaawiremerianarybè,arierykekituhyyararyhewahãkeirybe ery-ò, tai awire.

Luiz Pereira Kurikalá Karajá

“Inglês-my” rybè awi-rare

“Inglês” rybè heka anoni awi rare urile tahe anoni isirare, kiemy-hè.Wiji bde sõemy tori witxira nahãkunanymyhyde, tai taheingles-di rybè awilemy ikyamy rakerymyhykeki awimyhyde.

Tori rybè ratyre isira.

MelíciaWremoãdeMello

I prefer speak English my life.

My name is Tewaxixa Karajá, I am student science language in UFG.

Speak English is important to population indigenous.

My perspective learn English, my big dream, please help my teacher.

Diary resynymyhyre inatyhyky-my meriana rybè ixidèè arièrykemy.

Tewaxixa Karajá wanire, diary ciências rybè-di ratyyrtinymyhyre UFG-ki.

Meèriana rybèhè aõtyhy rare ixyju mahadu-ò.

Rèraòmyhyre meriana rybè arièrykèmy warasinana nihikyhè rare. Biwawiohenany-se làhà wadohodyydu.

EuprefiromesmofalarInglêsnaminhavida.

Meu nome é Tewaxixa Karajá. Sou estudante de ciências da linguagem na UFG.

Falar inglês é importante para população indígena.

A minha perspectiva é ler inglês, meu grande sonho, por favor ajude-me minha professora Carol.

Tewaxixa Karajá

Merikyna rybè di ixyju ixyju mahãdu naty rirti nymy dyi-myhyde UFG-ki waoke awirere merikyna-di tkyrti. Sõemy

merikyna mahãdu rybè, karikerykemy rarumyhyre. Anõhoreki-bo ijõ mahãdu wna irybè karikerymy widke krarybemyhykemy.

Tule wabikòwa iny mahãdu merikyna rybè rikerykemy, rurumyhyre. Tai tahe awireri wadke reny, merikyna mahãdu rybè.

A língua inglesa é muito importante e por isso várias etnias estão estudando o inglês na UFG. Pra mim é importante estudar esta língua e eu quero aprender muitas. Porque através da língua inglesa queremos entender outras línguas e culturas, e não só essa, também gostaria de conhecer e saber sobre outras línguas, porque é o meio de comunicação internacional, assim como o português facilita meu conhecimento com os povos brasileiros.

Malu Karajá

INGLÊS INTERCULTURAL

É importante ter a disciplina inglês na matriz curricular na Universidade Fede-ral de Goiás na Licenciatura Intercultural. Por que nós precisamos conhecer o bási-co na língua inglesa, pois no nosso país é obrigatório conhecer a língua estrangeira na educação escolar.

Manaijé Karajá

Page 20: APINAJÉ - Educação Intercultural · Editor: André Marques do Nascimento ... do que a CAPES entende como ade-quada, ... dos de escola pública e mais 10% para

20

EumechamoWeuraKarajá,alunodaLicenciaturaIntercultural,da ciências da natureza, dentro da Universidade Federal de Goiás. Euqueroaprenderalínguainglesa,nomomentoemqueseverificaoconhecimento da língua inglesa, uma revolução na vida e no trabalho acontece. Cada escola precisa de mudar, conhecer outras culturas, na minha vida, hoje em dia, a competência de obtenção e utilização de língua inglesa é importante aprender, porque nós encontramos alguns estrangeiros e conversarmos com eles de football. Também impor-tante de aprender, porque algumas tecnologias são usadas em língua inglesa, por causa disso que é importante de estudar língua inglesa. Assim, abriu caminho dentro da UFG, nós tempos que aproveitar nosso futuro que está caminhando, buscar o conhecimento para nos-sas comunidades.

WeuraKarajá

A língua inglesa é muito importante para a comunidade Iny. Isso para dialogar com os estrangeiros, quando chegam na aldeia porque ninguém sabe falar inglês. Por isso queremos aprender, não muito, mas algumas coisas sobre o inglês. Também porque aparecem muitas letras nas camisetas, ou então nas paredes, e isso quem escreve são os próprios brasileiros em vez de escrever no língua portuguesa. Isso é muito bom, para qualquer de nós. Aprender essa língua ajuda a melhorar os conhecimentos de nossos alunos na escola.

Ismael Kuhanama Karajá

O casamento indígena apinajé é bem co-nhecido tradicionalmente. Na realidade, os Apinajé sempre realizavam duas formas de casamento. Uma forma era de acordo com a promessa da pessoa que nascia durante o período, no caso, se fosse homem ou mu-lher, os pais e as mães já combinavam uns com os outros, para que os dois passassem afasedaadolescência,atéquandoficassemno ponto de casar. Aí, a madrinha e o pa-drinho preparavam o paparuto, ou comida típica mesmo, para deixar na casa da sogra ou sogro. Depois era só aguardar com a tro-ca dessa comida que fora ofertada. Depois, mais tarde, duas pessoas da família da noiva iam à casa do noivo para buscá-lo e deixá-lo na casa dela. Então, essa era uma forma de se casar na cultura indígena apinajé.

A outra era na forma de festa. Porque quando chega o momento de uma pessoa gostar de alguém da aldeia, o padrinho e a madrinha marcam o dia para fazer o casa-mento. E assim chega o dia do casamento, eles preparam os enfeites e a tinta para a pintura corporal.

Os homens saem para o mato para caçar e as mulheres vão à roça para arrancar man-dioca. Quando terminam de ajeitar tudo, al-guns dias depois, todo mundo vai cantar no

AMNEPÊM AXPẼNHMÃMẼ

RER

O CASAMENTO APINAJÉpátio a noite toda. Quando chega a manhã, todos os padrinhos e madrinhas vão à casa onde todos irão se juntar para preparar a ce-rimônia. Conforme o partido que eles são, ser forem kooti, vão se preparar só à tarde; se forem koore, vão se preparar mais cedo, até o meio dia. Isso é a forma de troca com a comida ou paparuto que foi feito, e após a troca vão preparar a pintura corporal dos dois. E quando chega a hora, vão buscar a tora e o noivo vai atrás, para acompanhar essa corrida até a aldeia. Depois da chega-da na aldeia, o cantador vai cantar no pátio e os cunhados do noivo vão ao pátio para buscá-lo. Assim, chegam ao pátio, pegam-no pelo braço e o levam até a casa da noiva, e todos vão acompanhando até a casa dela, cantando.

Quando chegam na casa, o cacique ou conselheiro vão aconselhar para que eles tenham respeito e sejam honestos com a fa-mília da noiva. Depois, as madrinhas fazem a despedida com o choro.

Essas eram as formas de se casar do tempo passado. O casamento dos Apinajé de hoje realmente mudou do que era antes. Hoje, quando uma pessoa gosta daquela pessoa, não combina mais com o pai e a mãe. Já entra sem a permissão deles.

Assim, a família dessa pessoa marca o casamento para acontecer tal dia. Então, quando chega o dia, os padrinhos e as ma-drinhas convidam os irmãos próximos para que arrumem mantimentos para o local onde todos prepararão a comida. A comida será feita de acordo com a combinação; se for com carne de caititu com carne de anta, deve ser feito da maneira combinada. De-pois, meio dia, eles levam essa comida para os outros padrinhos ou madrinhas daquela pessoa, isso é sempre entregue com um fa-cão para deixar para eles. E ainda soltando foguete, até chegar a eles. Depois, à tarde, eles vão pintar e enfeitar os dois. Também, as pinturas não são mais como as dos an-tepassados; às vezes se usa, mas já se usa sempre a pintura comum. Depois os irmãos vão buscar o rapaz da noiva onde ele esti-ver aguardando, e levam o noivo para dei-xar na casa dela. E também, comemora-se com paparuto, suco, refrigerante, e depois o cacique aconselha para que tenham respeito com todos os familiares.

Enofinaldocasamento,todosvãoco-memorar com a festa dançando da dança doskupẽ.Issoéaformadecasamentohojedos Apinajé.

ACADÊMICO: Eduardo Apinajé.

Ỳ,amnepêmnaprehtemãanhĩhĩpêxanẽ.Kojamẽhõtujarônẽpijagrinhũmxênepumyrerỳnirejapêr,hãmrinhũmnãrỳtukatyjkãmkamãwỳjrỳhipinhõprãmhãmrinẽramõnẽaxpẽnhmãkarõnẽwahãaxpênhmã.Hãmrinẽraaxpẽnhtowanêkamãnhũmwaprêk.Nẽrĩwaprêkmexhãmrinhũmnãrỳtukatyjhãmriwahãaxpênhmãnẽhãmrirawakaxywarĩgrotahõta.Hãmrinhũmxênẽpuarĩgrotawỳrpôjnhũmnãrỳpãmtajênhta kuhtã nojarêt.

Nẽmẽjênhjanapreteãmxwỳkupupix.Kotjamẽhãamnhĩjaprãamrinẽkumỳnẽhimõkrikuxênẽkrurtajaxwỳnẽmanãtawỳrhoaxà.Kotjapuxênepunijapêrnhũmmẽmããnẽnxwỳkuputanhĩmõkrininhõwapoxinẽmããnẽmamnhĩxwarmẽkôthoaxà.Hãmrinẽkaxywkĩnh,nẽkaxywgwrahõkrãhtahamrinẽmawỳrtẽnẽkumỳotẽnẽopôjhãmrinẽhãõkrepôjhamrinhũmumretawawỳrtẽnẽpahãkupynẽmaprõtawỳrotẽ,hoaxànẽkãmkure.Hamrinẽwakãmkapẽrnẽkurũmmamra.Hãmrinhũmwarahamakêtkatinẽpa.

Jakamãnatemãaxpẽnhmãmẽrerjarenhkotanhỹr.Kêrkamẽamãjahoanhỹrprãmjapêrnẽkagàjakamãharẽnẽama.

Jakamã ãm já pix na hapêx.