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Amazon Cooperation
Treaty Organization
Global Environment
Facility
United Nations
Environment Programme
INTEGRATED AND SUSTAINABLE MANAGEMENT OF TRANSBOUNDARY WATER
RESOURCES IN THE AMAZON RIVER BASIN CONSIDERING CLIMATE VARIABILITY
AND CHANGE
ACTO/GEF/UNEP
GEF-AMAZON
COMPONENT-III RESPONSE STRATEGIES
SUBPROJECT-III.2 SPECIAL PRIORITIES ON ADAPTATION
Activity III.2.1 Climate Change, Adaptation Capacity and Risk Governance in the
Transboundary Purus River Sub-basin of the project “Integrated and Sustainable Management
of Transboundary Water Resources in the Amazon River Basin Considering Climate Variability
and Climate Change”
Bolivia, Brasil, Colombia, Ecuador, Guyana, Perú, Surinam y Venezuela
Produto 5.Cenários Hidro-Meteorológicos e seus impactos da
mudança climática na Sub bacia do Rio Purus
5.1. Introdução, Fundamentos e Definições.
5.1.1.Definições
Mudança climática ou no clima, “Refere-se a qualquer mudança do clima
ao longo do tempo, seja devido à variabilidade natural ou como resultado
da atividade humana. Esse uso difere daquele da Convenção Quadro
sobre Mudanças Climáticas, onde a mudança climática é atribuída direta
ou indiretamente à atividade humana que altera a composição da
atmosfera do planeta e que se soma à variabilidade climática natural
observada ao longo de períodos de tempo comparáveis (IPCC, 2007)”.
Adaptação “É o ajustamento nos sistemas naturais ou humanos em
resposta a estímulos hidroclimáticos ou reais ou os seus efeitos, o que
permite explorar oportunidades benéficas (IPCC, 2007)”.
Vulnerabilidade “É o grau em que um sistema é suscetível e incapaz
de lidar com os efeitos adversos da mudança do clima, inclusive
variabilidade hidroclimática e os seus extremos. A vulnerabilidade é uma
função do caráter, magnitude e taxa de mudança do clima e da variação
que um sistema está exposto, sua sensibilidade e sua capacidade de
adaptação (IPCC, 2007)”.
Enchente ou cheia é, geralmente, uma situação natural de transbordamento de água do seu
leito natural, qual seja, córregos, arroios, lagos, rios, ribeirões, provocadas geralmente por
precipitações intensas e contínuas (Enchentes, 2002).
Segundo o dicionário Aurélio, seca é a falta de precipitação ou o período em que a ausência
dessas acarreta graves problemas sociais. Palmer, 1965, considera a seca como o intervalo
de tempo, geralmente da ordem de meses ou até mesmo anos, durante o qual a precipitação
cai menos “consideravelmente” em relação à climatologia esperada.
5.1.2. Introdução e Fundamentos
As mudanças climáticas direcionam a um cenário de eventos extremos, principalmente
mudanças na temperatura média do ar com aumento de até 2ºC para o sul da Amazônia.
Este aumento na temperatura do ar pode gerar grandes desequilíbrios nos ecossistemas e
biomas e por fim, na sobrevivência da humana. Aumentando a temperatura do ar no
planeta, os padrões de chuva modificam os eventos extremos climáticos como secas,
tempestades severas, que podem gerar enchentes e até inundações, e ondas de frio e de
calor se tornam mais corriqueiras, com impactos importantes em todas as regiões do
planeta, principalmente em regiões com pouco ou nenhum desenvolvimento de
infraestrutura e social.
A mudança climática é um dos desafios mais complexos deste século, e até o
momento nenhum país está isento dos possíveis impactos que ainda hão de vir. Os desafios
são muitos, e estão interligados e compreendidos, principalmente em decisões políticas-
econômicas e avanços tecnológicos com consequências globais de longo e médio alcance e
complexidade.
Conforme o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, o Brasil possui uma grande
disponibilidade hídrica distribuída de forma heterogênea no território. A vazão média anual
dos rios em território brasileiro é de 179 mil m3/s, o que corresponde a aproximadamente
12% da disponibilidade hídrica superficial mundial (PBMC, 2013).
A região hidrográfica Amazônica detém 73,6% dos recursos hídricos superficiais
nacionais. Ou seja, a vazão média dessa região é quase três vezes maior que a soma das
vazões de todas as demais regiões hidrográficas brasileiras. A vazão específica indica a
capacidade de geração de vazão de uma determinada bacia. No Brasil, a vazão específica
varia de menos de 2 l/s.km2 nas bacias da região semiárida até mais de 40 l/s.km2 no
noroeste da região Amazônica (PBMC, 2013).
“Segundo Tucci (1998) a previsão meteorológica da precipitação,
integrada a um modelo chuva-vazão (denominada previsão
hidroclimática, Figura 1). Podemos observar um exemplo fictício da
previsão de vazão realizada para um instante To + ΔT, sendo que ΔT é a
antecedência, variando de 0 até 24 horas. A chuva observada na estação
está disponível até o instante inicial To, e está representada na figura 1
pela parte escura do hietograma. A partir do instante To a precipitação na
bacia não é conhecida. Neste caso a previsão de vazão com modelo
chuva-vazão poderá será realizada em três formas: I) considerar que a
chuva a partir do instante To é nula; ii) utilizar a previsão de chuva a
partir de To; e III) utilizar a estimativa de água precipitável”.
“Se a previsão de vazão for realizada com base na hipótese de
precipitação nula a partir de To, então existe a tendência que a vazão
prevista seja inferior à vazão observada, como ocorre na figura 1.
Ressalta-se, inclusive, que o hidrograma previsto com base na hipótese de
precipitação nula a partir de To representa uma estimativa do limite
inferior das vazões futuras. Ademais, existe uma previsão quantitativa de
precipitação de boa qualidade para as próximas horas, e esta previsão
estiver disponível no instante To, então a previsão de vazão tende a
melhorar. Já a utilização da água precipitável (quantidade de água, que
poderia ser recolhida se todo o vapor d'água contido numa na atmosfera,
fosse condensado e precipitado) indica um limite teórico máximo (Tucci,
1998)”.
Figura 1. Modelo conceitual de previsão hidroclimática. Fonte: (Tucci, 1998)
5.2. Impactos dos eventos extremos (Passado, Presente e Projeções)
5.2.1. Passado
Nos últimos anos os impactos desses eventos extremos foram fortes na Amazônia
ocidental, principalmente no sul e sudoeste, e se estenderam em várias esferas da vida e
subsistência humana, afetando inclusive os serviços essenciais como, Agricultura, transporte,
energia e saúde pública foram alguns dos setores afetados, com consequências significativas para
a economia. Se o risco de eventos climáticos extremos aumentarem com o aquecimento global,
deverão ser adotadas medidas para mitigar seus impactos principalmente no meio hídrico.
Neste contexto, podemos citar dois eventos extremos ocorrido nos últimos anos na bacia
amazônica que afetou tanto o sudoeste como o sul da bacia. A seca de 2005 foi estudada a partir
de perspectivas meteorológicas, ecológicas, hidrológicas e humanas. Foi provocada pelas
temperaturas elevadas no Atlântico Norte tropical, o que efetivamente desloca os ventos alísios e
toda a umidade que carregam para o norte, distante da Amazônia. A enchente de 2009 ocorreu
devido ao aumento da precipitação sobre a Amazônia Central e Ocidental (Figura 2), que foi
quase 100% acima do normal durante o verão e parte do outono austral de 2009, o que elevou
extraordinariamente o nível dos rios durante o outono e o inverno (Marengo et al. 2008b).
Figura 2. Anomalia de precipitação mensal (em mm/mês, diferença a partir da média de 1961-
2009) durante as enchentes de novembro de 2008 a outubro de 2009. As cores vermelhas
indicam condições mais secas que o normal; as azuis indicam condições mais úmidas. Fonte:
The Global Precipitation Climatology Centre (GPCC).
5.2.2. Presente
Segundo a (CPRM, Bol. 02 – 16/01/2015) a Bacia Rio Purus está em período de
enchente, principalmente na estação de Boca do Acre – AM, onde podemos observar nesta
estação no Rio Purus está 1,34 m abaixo do registrada na mesma data em 2014 (Figura 3).
Seca de 2005
Enchente de 2009
Figura 3. Cotagrama Rio Purus na estação de Boca do Acre – AM, cota em
15/01/2015: 15,00 m. (linha azul 2015, linha lilás maior cheia 1997 e linha marrom
2014) Fonte: CPRM, Bol. 02 – 16/01/2015.
Cabe aqui salientar que o Boletim número 3 da CPRM emitido no dia 23 de janeiro de
2015, o Rio Purus no posto de Boca do Acre apresentava cota de 17.80cm, onde em 9 dia o rio
Purus subiu 2.80m em referência ao boletim anterior, com aproximadamente 0.31cm de subida
do nível do rio por dia (Figura 4).
Figura 4. Cotagrama Rio Purus na estação de Boca do Acre – AM, cota em 22/01/2015: 17,80 m.
(linha azul 2015, linha lilás maior cheia 1997 e linha marrom 2014) Fonte: CPRM, Bol. 03 –
23/01/2015.
A figura 5, mostra uma previsão de precipitação de aproximadamente 374mm para o mês
de março, assim corroborando com o aumento da cota do rio no Município. Ademais, a figura
em miniatura é a climatologia para o mês de fevereiro 1961-1990, e corrobora dentro do
intervalo de 300-340, para o mês de fev.15 que foi de 317mm.
Figura 5. Precipitação mensal simulada (RegCM4) no posto de Boca do Acre para o
ano de 2015. Figura em miniatura é a climatologia para o mês de fevereiro 1961-1990
(Fonte: www.inmet.gov.br).
Cheia no Acre – Coletiva de Imprensa, Jornal Local.
Coletiva de imprensa para divulgação de dados apurados
pela CPRM. Fonte: www.cprm.gov.br
“A situação do rio Acre, no entanto, é a mais
grave. Nesta semana o município de Assis Brasil
foi inundado e os municípios de Brasiléia, Xapuri
e Rio Branco, também ficaram seriamente
comprometidos com as chuvas. Já o rio Branco
223.7
317.4
373.7
204.9
127.1
44.2 39.556.2
96.6
164.4
294.3280.3
0.0
50.0
100.0
150.0
200.0
250.0
300.0
350.0
400.0
jan feb mar apr may jun jul aug sep oct nov dec
Pre
cip
itaç
ão A
cum
ula
da
Me
nsa
l (m
m)
Meses Boca do Acre PRP-RegCM4Normal Climatológica Fev. (61/90) aprox. 300-340mm
está aproximadamente 2 metros acima da cota de
inundação e os níveis continuam a subir”.
“Chuvas intensas tem atingido a bacia
hidrográfica do rio Acre desde semana passada e a
previsão é de que permaneçam intensas por mais
alguns dias. Uma equipe da CPRM encontra-se
em Brasiléia para registrar as áreas alagadas dos
municípios que foram atingidos. Atualmente a
CPRM mantém 74 estações de monitoramento,
que utilizam equipamentos de ponta para medir o
nível dos rios em Rondônia e no Acre”.
“Além disso, de acordo com a CPRM, no Acre as
chuvas que caem no Brasil afetam diretamente as
águas do rio. "O rio Acre tem a nascente em parte
do Peru, mas o que está influenciando hoje são os
rios que ficam dentro do Brasil, que são o Xapuri
e o Espalha", informou Francisco Reis”. Fonte:
http://www.cprm.gov.br/
5.2.3. Projeções
Conforme relatam diversos autores a projecão mais crítica para a região Amazônica é a
possível “savanização” da floresta, um dos primeiros autores a publicar sobre este tema foi
(Nobre et al., 1991) que acarretaria perdas significativas nos estoques de carbono tanto do solo
como da vegetação. Os cenários futuros fornecidos pelos modelos do Hadley Center (HadCM3),
a região leste da Amazônia poderia ser substituída por uma vegetação tipo savana. No entanto,
outros autores (Cox et al. 2000; e Betts et al. 2004, 2008), utilizando uma compilação maior de
modelos climáticos globais, a perda de floresta também tem efeitos sobre o clima regional, local
e em escala de bacia hidrográfica (Figura 6). No Brasil, essas mudanças causaram a morte de
uma parte maior da floresta e assim intensificando mais o efeito estufa no clima local e regional,
conforme os autores citados. Observa-se que na maior parte da subbacia do rio Purus, é
predominantemente alterada a sua cobertura verde em um percentual de aproximadamente 50%,
onde esta retirada da vegetação pode acarretar uma aceleração no escoamento superficial na
maior parte da bacia.
Figura 6. Mudança na cobertura florestal no fim do século XXI em comparação com as
condições pré-industriais, tendo como base o modelo HadCM3LC do Centro Hadley
incorporando dados de clima-carbono em cenário de emissões usuais de gases de efeito estufa.
As cores avermelhadas indicam redução na cobertura florestal. Elas demonstram o die-back
(colapso) da floresta na simulação de um clima mais quente e seco no futuro. Fonte: Adaptado de
Betts et al. 2004.
Em suma, as projeções para o sul da bacia Amazônica (Sub bacia do rio Purus) ainda são
muitas incertas, as projeções de mudanças climáticas futuras ao longo do século XXI são
coerentes com as forçantes físicas impostas nos mesmos, tais projeções constituem-se em
informações valiosas tanto para fins de mitigação como planejamento de ações de adaptação e
minimização de impactos e vulnerabilidade junto ao conjunto da sociedade habitante nos
diferentes biomas brasileiros. As incertezas científicas nas projeções das mudanças do clima são
inerentes ao complexo sistema climático, resultado, das interações não lineares e complexos
fenômenos naturais, que pode ir desde escala, local até global. Dessa forma, múltiplas
abordagens envolvendo modelagem e observações são necessárias para minimizar as incertezas,
e devem ser empregadas em conjunto.
Alteração na cobertura florestal (%)
5.3. Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação
5.3.1. Impactos dos eventos extremos
A partir das primeiras observações do século XX a mudança do clima impacta o regime
hidrológico das regiões hidrográficas brasileiras de forma diversa. O impacto da mudança do
clima deve considerar a diversidade hidrológica do território brasileiro. As secas e as enchentes
que ocorreram na Amazônia brasileira em 2005 e 2009 atingiram os níveis mínimos e máximos,
respectivamente, desalojando milhares de pessoas em toda a região. As enchentes de 2009
vieram apenas cinco anos após a intensa seca de 2005, quando os níveis do Rio Negro baixaram
em Manaus. A subida do nível do rio teve impacto direto e prolongado sobre a vida, a saúde e a
economia das comunidades que vivem às margens do rio ou em grandes centros urbanos. A
biodiversidade da Amazônia foi igualmente afetada e muitas espécies ameaçadas de extinção
atingiram o ponto crítico. No ano seguinte, 2010, houve outra seca severa, e da alta recorde de
2009, o nível do Rio Negro caiu para 13,63 m em 24 de outubro em Manaus, um valor ainda
menor que o anterior de 13,64 m em 1963, o nível mais baixo até então registrado. A atividade
pesqueira e o abastecimento de água na região ficaram seriamente comprometidos em
consequência dos níveis extremamente baixos dos rios (PBMC, 2013).
A mudança do clima impacta o regime hidrológico das regiões hidrográficas brasileiras
de forma diversa. No que tange a região da bacia do Purus, observamos que os comportamentos
entre o alto médio e baixo são bem diferente seus regimes pluviométrico e fluviométrico.
A maioria dos artigos consultados é unânime em dizer que os impactos das mudanças do
clima em escala global, regional e local que haverá o acúmulo de pessoas na capital devido aos
extremos climáticos, redução do crescimento social e econômico, aumento das áreas de savana
na Amazônia, aumento das desigualdades sociais e o aumento da pobreza.
5.3.2. Vulnerabilidade e adaptação aos eventos extremos
Hoje o conceito de vulnerabilidade é traduzido como sendo uma condição instável, todos
de um jeito ou de outro, em relação a algo são mais ou menos vulneráveis, mas buscam a
adaptabilidade ao contexto atual, alguns exemplos nas fotos 1, 2 e 3.
Foto 1. Adaptação a inundação 1.
Foto 2. Adaptação a inundação 2.
Foto 3. Adaptação a inundação 3.
5.4. Resultados de Modelagem – Eventos Extremos
No contexto das discussões sobre mudanças climáticas globais, as projeções reportadas
pelo IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change em seu 5º relatório (IPCC, 2013)
apontam para modificações significativas nos padrões de clima regional em grande parte do
território Brasileiro nas próximas décadas (meados para o final do século XXI).
É consenso na comunidade cientifica de que uma das ferramentas atuais mais adequadas
na geração das projeções climáticas é o downscaling (regionalização) dinâmico (PBMC, 2013),
cuja técnica consiste em usar um modelo climático regional “aninhado” a um modelo climático
global. Basicamente, as saídas dos modelos globais com baixa resolução espacial (~ 100 a 200
km) são utilizadas como condições de fronteira dentro do modelo regional que realiza as
simulações em alta resolução espacial (~ 25 a 50 km). Diversos estudos sugerem que o
downscaling proporciona uma representação mais realística do clima onde fatores locais
(proximidade com o oceano, topografia acentuada, solo e cobertura superficial heterogênea, etc),
que são capturadas pelos modelos regionais, funcionam como importantes moduladores das
condições de tempo e clima, adicionados aos fatores de grande escala (modulação dos oceanos e
circulação geral da atmosfera) que são capturadas pelos modelos globais (Marengo et al., 2009;
De Souza et al., 2009).
O objetivo do presente trabalho é realizar um estudo de downscaling dinâmico sobre a
região da Amazônia ocidental, com ênfase para as características do clima regional da sub-bacia
do rio Purus, entre os estados do Acre e Amazonas.
5.4.1. Clima Atual (Média anual)
A Figura 7 mostra a distribuição espacial da precipitação média anual dos últimos 25
anos (período de 1993 a 2012), considerado como clima atual para os dados observados do CPC
e os dados simulados pelo modelo climático regional REGCM4. Observa-se que o modelo não
representa muito bem o padrão espacial dos dados observados principalmente na porção sul da
região. Na parte central e norte o modelo consegue posicionar a região de máxima precipitação
entre 2600 e 2400 mm.
Figura 7. Precipitação (mm/dia) média anual do período 1993-2012 considerando os dados
observados do CPC (mapa à esquerda) e simulados pelo modelo regional RegCM4 (mapa à
direita) sobre a região do Purus.
5.4.2. Médias sazonais
A Figura 8 mostra a distribuição espacial da precipitação sazonal para os trimestres de
JJA, SON, DJF e MAM considerando a média dos últimos 25 anos (período de 1993 a 2012)
para os dados observados do CPC e os dados simulados pelo modelo climático regional
REGCM4. Observa-se que o modelo consegue simular bem os padrões observados
principalmente nos trimestres de JJA, DJF e MAM.
Figura 8. Precipitação (mm) média sazonal em JJA, SON, DJF e MAM do período 1993-2012
considerando os dados observados do CPC (mapas na parte superior) e simulados pelo modelo
regional RegCM4 (mapas na parte inferior) sobre a região do Purus.
5.4.3. Projeções de Clima Futuro ( Médias anuais)
A Figura 9 ilustra as projeções de precipitação média anual do modelo REGCM4 para os
próximos 25 anos (2015 a 2034), considerado como clima futuro, a qual mostra valores acima de
2600 mm na porção norte e entre 2400 e 2200 mm na parte sul da região. A Figura também
mostra a configuração espacial da mudança do clima futuro relativo ao clima atual, ou seja, o
percentual do período 2015/2034 em relação ao período 1993/2012, na qual verificam-se
condições de aumento da precipitação anual entre 2 e 6% na porção norte da sub-bacia. Por outro
lado, a porção sul da região mostra valores negativos de -2%, indicando diminuição
pluviométrica fraca.
Figura 9. Precipitação (mm) média anual para o período 2015-2034 simulada pelo modelo
regional RegCM4 (figura à esquerda) e percentual (%) da mudança do clima futuro em relação
ao clima atual (figura à direita).
5.4.4. Médias sazonais
A Figura 10 ilustra as projeções de precipitação sazonal de JJA, SON, DJF e MAM do
modelo REGCM4 para os próximos 25 anos (2015 a 2034). A Figura também ilustra a
distribuição espacial do percentual de mudança do período 2015/2034 (clima futuro) em relação
ao período 1993/2012 (clima atual). Em JJA observam-se condições de diminuição da
precipitação em torno de -5% no norte da região, enquanto que na parte sul nota-se indicação de
aumento entre 5 a 10%. Em SON verifica-se a projeção de aumento de precipitação ao longo de
toda a sub-bacia entre 10 e 15%. Em DJF, observam-se projeções de leve diminuição (-5%) na
porção sul e aumento entre 5 e 15% na porção norte da sub-bacia do Purus. Em MAM, condições
de diminuição generalizada são observadas ao longo da região, com valores entre -10 e -20%.
Figura 10. Precipitação (mm) média sazonal para JJA, SON, DJF| e MAM para o período 2015-
2034 simulada pelo modelo regional RegCM4 (mapas na parte superior) e percentual (%) da
mudança do clima futuro em relação ao clima atual (mapas na parte inferior).
5.4. Considerações Finais
A Floresta Amazônica “A bacia Hidrográfica como unidade integradora” desempenha
importante papel no equilíbrio do sistema hidroclimático local, regional e mesmo global, com
seus serviços ecossistêmicos que servem de base para as atividades (agrícolas, sociais, etc) e o
bem estar das pessoas tanto em regiões próximas quanto distantes da capital. Ademais, quaisquer
mudanças em escala de bacia sejam elas mudanças climáticas, no uso da terra ou uma
combinação de ambas, trazer consequências significativas para o funcionamento dos sistemas
naturais e a vida das pessoas que os utilizam para sobrevida. Compreender que a floresta
Amazônica funciona como parte integrada de um sistema terrestre, e os riscos de que isso pode
no futuro mudar, é base para a criação de estratégias mitigadoras e adaptativas mais eficientes.
Ademais, cabe aqui citar algumas considerações na escala local, de bacia hidrográfica e regional
como unidade integradora:
# A sub-bacia do rio Purus e quem a ocupa estão periodicamente sujeita a eventos extremos
como enchentes e secas, tanto no alto, como no médio e baixo Purus, mas com impactos
diferentes. Casos recentes evidenciam a vulnerabilidade das comunidades locais e dos
ecossistemas e biomas dos quais elas dependem aos atuais eventos extremos climáticos;
# Os eventos de secas e cheias intensas, tais como as dos anos 2005 e 2009 se tornarem mais
frequentes no futuro, serão necessárias medidas adaptativas a fim de evitar que os impactos
sentidos naquele ano aconteçam mais frequentemente com igual devastação. Deve ter evidências
concretas de que os “tomadores de decisões” podem adotar medidas mais eficazes a fim de
mitigar os efeitos hidrometeorológicos;
# Cabe aqui ressaltar que, as mudanças climáticas deverão aumentar a intensidade e frequência
das precipitações extremas na sub-bacia do rio Purus, principalmente no alto e baixo, nas escalas
interanual/interdecadal e intrasazonal, respectivamente;
# Além de que, temos grande incerteza sobre a variabilidade natural do complexo sistema
climático não linear, onde ferramentas lineares não são capazes de projetar o futuro devido as
complexas interações de diferentes escalas de tempo-espaço entre as interfaces oceano-
atmosfera;
# Os estudos vêm relatando que o impacto do desenvolvimento (urbano/rural), a partir da ação
antrópica sobre o solo e os recursos naturais, vem produzindo sérias alterações nas sub-bacias
hidrográficas e nos processos hidrológicos e terrestres, com efeitos significativos nos sistemas
urbanos e no seu entorno, bem como no solo e recursos hídricos e na saúde da população;
# As alterações no clima “seca e enchente” aumentarão o risco na saúde pública dos habitantes
dos municípios do alto Purus, Sena Madureira, Manoel Urbano e Santa Rosa do Purus que não
possuem saneamento básico;
# Análise dos dados de modelagem regional nos leva há uma leve tendência de aumento dos
eventos extremos de chuvas – vazão no Médio e baixo Purus, Lábrea, Pauini, Canutama e Beruri
e assim aumentando o risco a qualidade de vida;
# O desmatamento e diminuição da área verde em decorrência das mudanças climáticas
provavelmente trará sérias consequências para as comunidades, perda da fauna e flora, transição
da precipitação, influência sobre o balanço de CO2 e todos os serviços ecossistêmicos que a
floresta oferece gratuitamente;
# Por fim, a alteração no uso do solo na maior parte da sub bacia do Purus “Savanização”, pode
acarretar uma mudança nos extremos de máximo e mínimo de vazão, devido a aceleração do
escoamento de base “sem vegetação não há impedimento para manter a água” e assim causando
sérios problemas no balanço hídrico e que afetará por tabela a agricultura familiar.
5.5. Referências Citadas
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INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA. Estações climatológicas. Disponível em
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Marengo J. A., C. Nobre, J. Tomasella, M. Cardoso and M. Oyama (2008b), Hydroclimatic and
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Nobre, C.A.; Sellers, P.J.; Shukla, J. Amazonian deforestation and regional climate change.
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