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almada_invencao.txt Project Gutenberg's A Invenção do Dia Claro, by José de Almada Negreiros This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included with this eBook or online at www.gutenberg.net Title: A Invenção do Dia Claro Author: José de Almada Negreiros Release Date: September 29, 2007 [EBook #22801] Language: Portuguese Character set encoding: ISO-8859-1 *** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A INVENÇÃO DO DIA CLARO *** Produced by Vasco Salgado OLISIPO TODOS OS DIREITOS RESERVADOS [Nota do Transcritor: Aqui surge a assinatura do autor.] +A INVENÇÃO DO DIA CLARO+ Escripta de uma só maneira para todas as espécies de orgulho, seguida das démarches para a Invenção e acompanhada das confidencias mais intimas e geraes. Ensaios para a iniciação de portuguezes na revelação da pintura Com um retrato do autor por elle-proprio primeiro milhar LISBÔA "OLISIPO", APARTADO 145 1921 1ágina p

A Invenção do Dia Claro

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Page 1: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txtProject Gutenberg's A Invenção do Dia Claro, by José de Almada Negreiros

This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and withalmost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away orre-use it under the terms of the Project Gutenberg License includedwith this eBook or online at www.gutenberg.net

Title: A Invenção do Dia Claro

Author: José de Almada Negreiros

Release Date: September 29, 2007 [EBook #22801]

Language: Portuguese

Character set encoding: ISO-8859-1

*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK A INVENÇÃO DO DIA CLARO ***

Produced by Vasco Salgado

OLISIPO

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

[Nota do Transcritor: Aqui surge a assinatura do autor.]

+A INVENÇÃODO DIA CLARO+

Escripta de uma só maneira para todas as espécies de orgulho,seguida das démarches para a Invenção e acompanhada das confidenciasmais intimas e geraes.

Ensaios para a iniciação de portuguezes na revelação da pintura

Com um retrato do autor por elle-proprio

primeiro milhar

LISBÔA"OLISIPO", APARTADO 145

1921

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Page 2: A Invenção do Dia Claro

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NOUS SAVONS DONNER NOTRE VIE TOUTE ENTIÉRE TOUS LES JOURS. BÉNNISSONS LA VIE! SALUONS LA NAISSANCE DU TRAVAIL NOUVEAU. LE MONDE N'A PAS D'ÂGES, L'HUMANITÉ SE DÉPLACE TOUT SIMPLEMENT. JE NE SUIS PAS PRISONNIER DE MA RAISON. DIEU FAIT MA FORCE ET JE LOUE DIEU. SPLENDEURS DES VILLES. POINT DE CANTIQUE--TENIR TOUJOURS LE PAS GAGNÉ.

_Rimbaud_

[Nota do Transcritor: Aqui surge o retrato do autor por ele próprio.]

AO

MEU AMIGO

FERNANDO AMADO

+O LIVRO+

Entrei numa livraria. Puz-me a contar os livros que ha paraler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem parametade da livraria.

Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa,senão estou perdido.

No entanto, as pessoas que entravam na livraria estavam todasmuito bem vestidas de quem precisa salvar-se.

* * * * *

Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a sciencia que tratada vida; era justamente do que eu necessitava--pôr sciencia na minhavida.

Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.

Disseram-me que era necessario estar já iniciado, ora eu sótenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo á imageme semelhança de Deus. Não basta?

* * * * *

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Page 3: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txtImaginava eu que havía tratados da vida das pessoas, comoha tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assimparecidos com o tratamento que ha para os animaes domesticos,não é? Como os cavalos tão bem feitos que ha!

Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como hahostias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como umahostia. Um livro pequenino, com duas paginas, como uma hostia.Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, coma morada e o dia.

* * * * *

Não achas, Mãe? Por exemplo. Ha um cão vadio, sujo e com fome,cuida-se deste cão e ele deixa de ser vadio, deixa de estarsujo e deixa de ter fome. Até as crianças já lhe fazem festas.

Cuidaram do cão porque o cão não sabe cuidar de si--não sabercuidar de si é ser cão.

Ora eu não queria que cuidassem de mim, mas gostava que meajudassem, para eu não estar assim, para que fosse eu o donode mim, para que os que me vissem dissessem: Que bem que aquelesoube cuidar de si!

* * * * *

Eu queria que os outros dissessem de mim: Olha um homem! Como sediz: Olha um cão! quando passa um cão; como se diz: olha umaarvore! quando ha uma arvore. Assim, inteiro, sem adjectivos,só de uma peça: Um homem!

* * * * *

Mas eu andei a procurar por todas as vidas uma para copiare nenhuma era para copiar.

Como o livro, as pessoas tinham principio, meio e fim. A principioo livro chamava-me, no meio o livro deu-me a mão, no fim fiqueicom a mão suada do livro de me ter estendido a mão.

Talvez que nos outros livros... mas os titulos dos livros sãocomo os nomes das pessoas--não quere dizer nada, é só para nãose confundir...

* * * * *

Na montra estava um livro chamado «O lial conselheiro». Escritoantigamente por um Rei dos Portuguezes! Escrito de uma sómaneira para todas as especies de seus vassalos!

Bemdito homem que foi na verdade Rei! O Mestre que quere que euseja Mestre!

Eu acho que todos os livros deviam chamar-se assim: «O lialconselheiro»! Não achas, Mãe?

O Mestre escreveu o que sabia--por isso ele foi Mestre. As palavrastornaram presentes como o Mestre fazia atenção. Estas palavrasficaram escritas por causa dos outros tambem. Os outros aprendiama ler para chegarem a Mestres--era com esta intenção que se

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Page 4: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txtaprendia a ler antigamente.

* * * * *

Sonhei com um paíz onde todos chegavam a Mestres. Começavacada qual por fazer a caneta e o aparo com que se punha áescuta do universo; em seguida, fabricava desde a materia prima opapel onde ia assentando as confidencias que recebia directamentedo universo; depois, descia até ao fundo dos rochedos por causa datinta negra dos chócos; gravava letra por letra o tipo com que compunhaas suas palavras; e arrancava da arvore a prensa onde apertavacom segurança as descobertas para irem ter com os outros. Eraassim que neste país todos chegavam a Mestres. Era assim queos Mestres iam escrevendo as frases que hão-de salvar a humanidade.

* * * * *

Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade jáestavam todas escritas, só faltava uma coisa--salvar a humanidade.

--O pequeno é como o grande. --O que está em cima é analogo ao que está em baixo. --O interior é como o exterior das coisas. --Tudo está em tudo.

HERMES TRIMEGISTA

+I PARTE+

+ANDAIMES E VÉSPERAS+

+A CONFERENCIA IMPROVISADA+

Minhas Senhoras e meus Senhores:

Mulheres e homens são as duas metades da humanidade--a metademasculina e a metade feminina.

Ha coisas inteiras feitas de duas metades e aonde não se podecortar ao meio para separar essas duas metades. Exemplo: a humanidadecom a metade masculina e a metade feminina. São duas metadesque deixam, cada uma, de ser uma metade se não houver a outra metade.

A linha que passa por entre estas duas metades é parecidissimacom o ar por dentro de uma esponja do mar, sêca.

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Page 5: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txt+ÁCERCA DO HOMEM E DA MULHER+

Lembro-me de uma oleografia que havia em minha casa. Aoleografia estava cheia de amarello do Deserto. O amarello do Desertoera mais comprido do que a vida de um homem se não fôsse ogalope do cavallo onde o arabe rapta a menina loira.

Na oleografia havia uma palmeira. A palmeira era tão pequenacomo a esmeralda do anel da menina loira. A palmeira eraassim tão pequena porque estava muitissimo longe.

Era em direcção à palmeira que ía a correr o cavallo.

Havia outra oleografia quando já tinham chegado à sombrada palmeira. O cavallo estava como morto por terra. O arabe, êsse,ainda nunca tinha estado cançado--tinha a menina loira nos braços,como a esmeralda estava no anel.

Eram trez as oleografias. Na terceira oleografia estava sósinhaa menina loira a dar de mamar a um menino verdadeiro.

+ÁCERCA DAS TRES OLEOGRAFIAS+

Estas trez oleografias explicam muito bem como se pode sersenhora e como se deve ser homem. As senhoras como a meninaloira. Os homens como o arabe.

Um homem--saber raptar; uma senhora--merecer ser raptada.

Exemplo de homem que soube raptar: o arabe. Exemplo de senhoraque mereceu ser raptada: a menina loira da oleografia.

Ser o arabe para desencantar a menina loira; ser a meninaloira para que haja o arabe.

+ATENÇÃO+

Mas não fallêmos sem alicerces. Nós não estamos algúres.

Nós estamos aqui dentro d'esta sala, onde eu estou a dizera conferencia--o chão, o tecto, e quatro paredes. Vocês e eu.

Para nos orientarmos melhor, aqui onde estou fica sendo oNorte, lá no fundo da sala o Sul, Éste ali e Oéste d'aquelle lado.

Que isto fique assim bem combinado entre nós, de tal maneiraque, quando eu chamar Sul aqui ao logar onde estou, vocêsse levantem, protestem, e digam que não, que o Sul é lá no fundoda sala.

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Page 6: A Invenção do Dia Claro

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+AS PALAVRAS+

O preço de uma pessôa vê-se na maneira como gosta de usar aspalavras. Lê-se nos olhos das pessôas. As palavras dançam nosolhos das pessôas conforme o palco dos olhos de cada um.

+VIAGENS DAS PALAVRAS+

As palavras teem moda. Quando acaba a moda para umas começa amoda para outras. As que se vão embora voltam depois. Voltamsempre, e mudadas de cada vez. De cada vez mais viajadas.

Depois dizem-nos adeus e ainda voltam depois de nos terem ditoadeus. Emfim--toda essa tournée maravilhosa que nos põe acabeça em agua até ao dia em que já sômos nós quem dá cordaás palavras para ellas estarem a dançar.

+HISTORIA DAS PALAVRAS+

As mulheres e os homens estavam espalhados pela Terra. Uns estavammaravilhados, outros tinham-se cançado. Os que estavam maravilhadosabriam a bocca, os que se tinham cançado tambem abriam a bocca. Ambosabriam a bocca.

Houve um homem sósinho que se poz a espreitar esta diferença--haviapessoas maravilhadas e outras que estavam cançadas.

Depois ainda espreitou melhor: Todas as pessoas estavam maravilhadas,depois não sabiam aguentar-se maravilhadas e ficavam cançadas.

As pessoas estavam tristes ou alegres conforme a luz para cada um--maisluz, alegres--menos luz, tristes.

O homem sósinho ficou a pensar n'esta diferença. Para não esquecerfez uns signaes n'uma pedra.

Este homem sósinho era da minha raça--era um Egypcio!

Os signaes que elle gravou na pedra para medir a luz por dentro daspessôas, chamaram-se hieroglifos.

Mais tarde veiu outro homem sósinho que tornou estes signaesainda mais faceis. Fez vinte e dois signaes que bastavam paratodas as combinações que ha ao Sol.

Este homem sósinho era da minha raça--era um Phenicio!

Cada um dos vinte e dois signaes era uma lettra. Cada combinaçãode lettras uma palavra.

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Page 7: A Invenção do Dia Claro

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+CENTENARIO DAS PALAVRAS+

Todos os dias faz annos que foram inventadas as palavras.

É preciso festejar todos os dias o centenario das palavras.

+VALOR DAS PALAVRAS+

Ha palavras que fazem bater mais depressa o coração--todasas palavras--umas mais do que outras, qualquer mais do quetodas. Conforme os logares e as posições das palavras. Segundo olado d'onde se ouvem--do lado do Sol ou do lado onde não dá o Sol.

Cada palavra é um pedaço do universo. Um pedaço que faz faltaao universo. Todas as palavras juntas formam o Universo.

As palavras querem estar nos seus logares!

+NÓS E AS PALAVRAS+

Nós não somos do seculo d'inventar as palavras. As palavrasjá foram inventadas. Nós somos do seculo d'inventar outra vez aspalavras que já foram inventadas.

+AS PALAVRAS E EU+

Gásto os dias a experimentar logares e posições para as palavras.É uma paciencia de que eu gósto. É o meu gôsto.

Tudo se passa aqui pelas palavras--todos os gôstos.

Collei algumas d'estas paciencias com palavras. São estas aspalavras que trago aqui. Ainda não estão promptas--são pedaçosde coisas, aqui e alli, como um rapaz novo, como uma rapariganova. Como os cavallos quando ainda são petizes--vê-se já que setrata de um cavallo, mas tambem se vê que ainda não está concluido.As pernas cresceram mais depressa do que a espinha. A cabeçamuito grande é que já está do tamanho em que ha-de ficar. Tudose aguenta de pé provisoriamente--ainda não está prompto, vê-seperfeitamente que ainda não é tudo.

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Page 8: A Invenção do Dia Claro

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Agarrei uma mancheia de palavras e espalhei-as em cima dameza. Ficaram n'esta posição:

+PARABOLA+

A humanidade abriu alas--as duas grandes alas da humanidade.Uma á direita, a outra á esquerda. Em baixo a Terra, emcima o Sol.

Vae acontecer qualquer coisa--os que passam vão mais depressa,os outros já estão á espreita.

As duas grandes alas da humanidade lá estão as duas em frenteuma da outra. Não levantem os braços! não virem as cabeças!

Em baixo a Terra, em cima o Sol!

Ainda não chegou o homem-que-sabe-viver!

As duas grandes alas da humanidade querem ver com olhosda cara o homem-que-sabe-viver!

As duas grandes alas da humanidade não querem senão vercom os olhos da cara o homem-que-sabe-viver!

Em baixo a Terra, em cima o Sol!

Jesus-Christo desce sósinho por entre as duas grandes alasda humanidade. As duas grandes alas da humanidade estendem osbraços para Jesus-Christo.

Uma das duas alas accusa a outra ala, e esta accusa aquella.

Jesus-Christo desce sósinho por entre as duas grandes alasda humanidade, sem se approximar de uma nem da outra.

As duas grandes alas da humanidade.

Jesus-Christo acabou de passar por entre as duas grandes alasda humanidade, sem se ter approximado de uma nem da outra.

As duas grandes alas da humanidade.

Em baixo a Terra, em cima o Sol.

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Page 9: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txt+UMA CRUZ NA ENCRUZILHADA+

Quando acabou a parabola, as duas grandes alas da humanidadedesconjunctaram-se.

Havia uma cruz na encruzilhada.

A cada um que passava dizia o Christo de pedra:

«Em vez de ter morrido n'uma cruz, por ti, antes tivesse pegadona lança que me abriu o peito, para com ella te rasgar os olhosda cara. Para deixar entrar claridade para dentro de ti pelosburacos dos teus olhos rasgados.

«Tudo quanto eu te disse ficou escrito e é tudo ainda hojetenho para te dizer.

«Se me fiz crucificar para t'o dizer porque não te deixas crucificarpara sabêres como eu t'o disse?

«Não posso, por mais que tente, livrar uma das mãos, pregaram-m'asbem, como se prega um crucificado; não posso, por mais que tente,livrar uma das mãos, para te sacudir a cabeça quando viéresajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz.

«Se fôsse o teu orgulho de joelhos, ainda era o teu orgulho,mas são as tuas pernas dobradas com o pezo do ar.

«Não tenho uma das mãos livre para te empurrar d'aqui da minhacruz até ao teu logar lá em baixo na terra.

«Levanta-te, homem! No dia em que tu nascêste, nasceu no mesmodia um logar para ti, lá em baixo na terra. Esse logar é oteu! o teu logar é a tua fortuna! o teu logar é a tua gloria. Nãodeixes o teu logar vazio, nem te deixes pr'áhi sem logar.

«Não te aleijes a procurar outras fortunas que não terás,--ha umasó para ti--é a unica que ha para ti, não serve senão para ti, nãoserve para os outros,--é por isto que ella é a tua fortuna!

«Porque viéste ajoelhar-te aqui aos pés da minha cruz? Foiporque a tua cabeça se encheu de duvida?...

Tanto melhor! Aproveita agora que tens a duvida dentro da tuacabeça, aproveita a sorte de têres a duvida dentro da tua cabeça.Não te cances de ter esta sorte!

«Não tenhas mêdo de estares a ver a tua cabeça a ir directamentepara a loucura, não tenhas mêdo! Deixa-a ir até á loucura!ajuda-a a ir até á loucura. Vae tu tambem pessoalmente, co'a tuacabeça até á loucura! Vem ler a loucura escripta na palma da tuamão. Fecha a tua mão, com força. Agarra bem a loucura dentro datua mão!

«Senão... se tens mêdo da duvida e te pões a fugir d'ella pormôr da loucura que já está á vista, se não começas desde já adesbastar a fantasia que cresceu no logar marcado para ti, lá embaixo na terra; se não pretendes transformar essa fantasia emimaginação tranquilla e creadora...

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Page 10: A Invenção do Dia Claro

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... um dia a loucura virá plo seu proprio pé bater á tua porta, etu, desprevenido, e tu sem mãos para a esganar, porque a loucurajá será maior do que na palma da tua mão, porque a loucura serámaior do que as tuas mãos, porque a loucura poderá mais do que tucom as tuas mãos; e ella fará de ti o pior de todos, por não teressabido servir-te d'ella como tu devias sabe-lo querer!

+FIM DE DIA+

Um por um, toda a humanidade ouviu a Cruz da encruzilhada, e acada um parecia-lhe reconhecer aquelle modo de fallar.

Havia oliveiras á beira da estrada para a gente se encostar.

Antes de cada um chegar a casa havia um chafariz para matar a sêde.

Eu não sabia que o chafariz tinha tanto que vêr--havia muitossoldados por causa das raparigas a encher as bilhas!

Depois o Sol começou a ficar muito encarnado e cada vez maiorpor detraz das dunas, muito encarnado, e deixou-me sósinho emcima do muro.

Do lado do mar ouvia-se uma nóra a puxar agua. O boi tinhaos olhos guardados para não entontecer. Os alcatruzes da nórasubiam por um lado e desciam plo outro lado--como hontem!

A musica da nóra só tem uma volta. Todos os dias. Ámanhãtambem, os alcatruzes da nóra vão subir por aqui e descer porlá. Todos os dias. Em baixo a Terra, em cima o Sol.

Quando olharam para traz, a Cruz da encruzilhada já estava muitolonge. Era necessario acertar a vista para a reconhecer. Mas, erasem duvida ella, a cruz inconfundivel--aquella onde cabe umhomem inteiro e de pé!

+FIM DA PRIMEIRA PARTE+

+CONFIDENCIAS+

Mãe! a oleografia está a entornar o amarello do Deserto por cima daminha vida. O amarello do Deserto é mais comprido do que um dia todo!

Mãe! eu queria ser o arabe! Eu queria raptar a menina loira! Eu queriasaber raptar.

Dá-me um cavallo, mãe! Até á palmeira verde esmeralda! E o anel?!

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Page 11: A Invenção do Dia Claro

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A minha cabeça amollece ao sol sobre a areia movediça do Deserto! Aminha cabeça está molle como a minha almofada!

Ha uns signaes dentro da minha cabeça, como os signaes do Egypcio,como os signaes do Phenicio. Os signaes d'estes já teem antecedentese eu ainda vou para a vida.

Não ha muros para que haja estrada! Não ha muros para pôr cartazes! Nãoestá a mão de tinta preta a apontar--por aqui!

Só ha sombra do Sol nas larangeiras da outra margem; e todas as noiteso somno chega roubado!

Mãe! As estrellas estão a mentir. Luzem quando mentem. Mentem quandoluzem. Estão a luzir, ou mentem?

Já ia a cuspir para o ceu!

Mãe! a minha estrella é doida! Coube-me nas sortes a Estrella-doida!

Mãe! dá-me um cavallo! Eu já sou o gallope! Ha uma palmeira, Mãe!O que quer dizer um anel? Tem uma esmeralda.

Mãe! eu quero ser as trez oleografias!

* * * * *

Mãe!

Em cima das estatuas está o verbo ganhar, Mãe! será para mim?

Quando passo pelas estatuas fico parado. A olhar para cima dasestatuas. Fico parado a subir. Não sei quem me agarra para melevantar ao ar. Agarram-me por debaixo dos braços para me levantarao ar. Para eu ver o verbo ganhar em cima das estatuas.

* * * * *

Mãe! eu não sei nada! Eu não me lembro de nada!

Ah! lembro-me!

Lembro-me de ter ajudado a levar pedras para as pyramides do Egypto!

Tambem me lembro de me ter chamado José, antigamente, com meus irmãose uma mulher!

Mãe!

Estou a lembrar-me! Tu já fôste a menina loira! Eu já fui o meninoverdadeiro a quem tu davas de mamar! Eu já estive comtigo na terceiraoleografia!

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Page 12: A Invenção do Dia Claro

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Lembro-me exactamente! Quando tu me beijavas, o sol não doía tantona minha pelle!

Mãe!

Estou a lembrar-me!

E as tardes quando iamos todos juntos soltar palavras no caes e vêrchegar mais laranjas!

Outras vezes juntavamo-nos na praia para nadar melhor do que osoutros e deixar o sol queimar quem mais merecêsse. Já as laranjasestavam contentes com o que chegasse primeiro! O melhor jovem ganhavaa melhor rapariga. Os outros sabiam aquella que tinham ganhado. Eutinha ganho a minha!

De uma vez, quando deixavamos o caes, entornou-se o cêsto dastangerinas. Foi a alegria! E uma das raparigas pôz-se a cantaro succedido ás tangerinas a rolar pró mar:

tam tam-tam tanque estanque tangerina bola tangerina boia tangerina ina tangerininha pacote rôto batuque nú quintal da nóra e o dique e o Duque e o acqueducto do Cúco Rei Carmim e tamarindos e amarellos de Mahomet alli e lá e acolá ...

* * * * *

Mãe!

Vem ouvir a minha cabeça a contar historias ricas que ainda nãoviageie. Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tintacôr de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão deviagens! Eu vou viajar. Tenho sêde! Eu prometo saber viajar.

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Page 13: A Invenção do Dia Claro

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Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Euvou aprender de cór os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-mea teu lado. Tu a cosêres e eu a contar-te as minhas viagens, aquellasque eu viagei, tão parecidas com as que não viagei, escritas ambascom as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado!Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a meza. Eu tambemquero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossacasa, como a meza.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

+II PARTE+

+A VIAGEM

OU

O QUE NÃO SE PODE PREVÊR+

A Eternidade existe mas não tão devagar!

(QUADRADO AZUL, 1917).

+PARIS E EU+

Um dia foi a minha vez de ir a Paris. Foi necessario um passaporte.Pediram a minha profissão. Fiquei atrapalhado! Pensei um pouco pararesponder verdade e disse a verdade: Poeta!

Não acceitaram.

Tambem pediram o meu estado. Fiquei atrapalhado. Pensei um poucopara responder verdade e disse a verdade: Menino!

Tambem não acceitaram.

E para ter o passaporte tive de dizer o que era necessario parater o passaporte, isto é--uma profissão que houvésse! e um estadoque houvésse!

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Page 14: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txt+PARTIDA PARA PARIS+

Á despedida os vizinhos deram-me o melhor conselho: Juizo!

+PARIS+

Em Paris é tudo de carne e osso,--O Sacré-Coeur, O Sêna e a TorreEiffel--as casas, as pessoas, os domingos e os outros dias.

Ha em Paris uma Rocha Tarpeia que não é feita de rocha, é feitade domingos e dos outros dias.

+EU+

Quando digo Eu não me refiro apenas a mim mas a todo aquelle quecoubér dentro do geito em que está empregado o verbo na primeirapessôa.

+LIBERDADE+

Quando entrei na cidade fiquei sósinho no meio da multidão.

Em redor as portas estavam abertas. A multidão entrava naturalmentepelas portas abertas. Por cima das portas havia tabolêtas ondeestava collada aquella palavra que sóbe--Liberdade!

Entrei por uma porta. Entrei como uma farpa!

Era uma ratoeira, Mãe! era uma ratoeira! Se eu tivesse entradocomo uma agulha podia ter sahido como uma agulha, mas entrei comouma farpa, fiz sangue verdadeiro, já não me esquece. Aconteceuexactamente. Dei um mau geito nos rins por causa da ratoeira! Aindame lembro da palavra--Liberdade!

Mãe! Vou contar-te como foi.

Havia dois vazos iguaes. Um tinha um licor bonito. O outroparecia ter agua simples. Um tinha a felicidade, o outro não tinhaa felicidade. Era á sorte. A casa estava cheia de gente. Ninguemqueria ser o primeiro a começar.

Depois, começaram a beber o licor. Diziam coisas tão felizes! Coisasquentes que enchem a cabeça toda e deixam os olhos escancarados! Euvi-os, Mãe! estavam a augmentar a olhos vistos, juro-te!

Os que beberam do outro vazo não divertiam ninguem. Iam-se logo

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Page 15: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txtembora. E ninguem já se lembrava d'elles.

Só ficaram os que gostavam do licor. Eu fiquei com estes. Eu tambembebi do licor. Não imaginas, Mãe! nunca subi tão alto! Ainda maisalto do que o verbo ganhar!

Havia uma rã que tinha entrado comigo ao mesmo tempo. A rã tambemestava a augmentar.

Depois, quando já estava quasi do tamanho de um boi, a rãestoirou. Coitada! Como antigamente, em latim.

Então, puz-me logo a escorregar desde lá de cima, até aondeeu já tinha amarinhado; desde mais alto do que o verbo ganhar.

A escorregar, a ser necessario escorregar, a querer por forçaescorregar, a custar immenso escorregar, a fazer doer escorregar, aescorregar.--O verbo desinchar!

O verbo desinchar dura muito tempo. No fim do verbo desincharé outra vez a terra, cá em baixo.

+FIM DA SEGUNDA PARTE+

+CONFIDENCIAS+

Mãe! doe-me o peito. Bati com o peito contra a estatua que tem emcima o verbo ganhar. Ainda não sei como foi. Eu ia tão contente! euia a pensar em ti e no verbo saber e no verbo ganhar. Estava tudoa ser tão facil! Já estava a imaginar a tua alegria quando eu voltássea casa com o verbo saber e o verbo ganhar, um em cada mão!

Doe-me muito o peito, Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!

Mãe!

Já não volto á cidade sem ir comtigo! para a cidade ser bonita. Irmosos dois juntos de braço-dado, e andarmos assim a passear; para vercomo tudo està pôsto na cidade por causa de ti e de mim e por causados outros que andam de braço-dado.

Mãe! dize essa metade que tu sabes do que é necessario saber, dizeessa metade que tu sabes tão bem! para eu pensar na outra metade.

Se não houvésse senão homens e saltimbancos eu ia buscar a outrametade, mas os saltimbancos estão vestidos como os homens, e oshomens estão vestidos como os saltimbancos, ambos estão vestidosde uma só maneira, não sei quaes são os homens nem os saltimbancos,elles tambem não o sabem,--não ha senão losangos de arlequim!

Mãe!

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Page 16: A Invenção do Dia Claro

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Quando eu vinha para casa a multidão ia na outra direcção. Tive deme fazer ainda mais pequeno e escorregadío, para não ir na onda.

Perguntei para onde iam tão unidos, assim, com tanto balanço.Responderam-me: Para deante! para a frente!

Iam para deante! iam para a frente!

Fiquei a pensar na multidão.

O meu anjo da guarda disse-me: Prompto! A multidão já passou, levou umquarto d'hora a passar. A multidão não é senão aquillo que levou umquarto d'hora a passar. Prompto! já está vista! anda d'ahi!

O meu anjo da guarda está sempre dizer-me: De que estás á espera? Vá,anda! Começa já! Começa já a cuidar da tua presença!

Não sei o que o meu anjo da guarda quer que eu advinhe em taes palavras.

Outras vezes, o meu anjo da guarda pede-me para que seja eu o anjo daguarda d'elle.

Mãe!

Hoje acordei todo virado para deante. Assim, como tu o compreendes,Mãe!

Vi as coisas do ar que havia, as coisas que estavam focadas com o arde hoje. As lembranças já estão inteiras, muito poucos os minutos falsos.

Fiz todas as horas do Sol e as da sombra. Ao chegar a noite estive deaccordo com o Sol no que houve desde manhã até ser bastante a luz porhoje. Depois veiu o somno. E o somno chegou a horas. Antes do somnoainda houve uma imagem--um leão a dormir!

Na verdade, não ha somno mais bem ganho do que o de um leão a dormircom restos de sangue ainda no focinho, como os leões de pedra que hanas escadarias por onde se sobe depois da batalha!

+RETRATO DA ESTRELLA QUE GUIOU O FILHO PRODIGO NA VOLTA Á CASA PATERNA+

Na praia uma menina perguntou-me se eu era rico. Estava de gatas emuito longe, a perguntar-me se eu era rico.

* * * * *

Todas as manhãs ia brincar com os vizinhos para a sombra da egreja.Depois do almoço a sombra era do outro lado.

* * * * *

Quando as meninas corriam no jardim, os cabellos e os vestidos ficavam

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Page 17: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txtpara traz.

* * * * *

A rapariga das laranjas tinha uma linda voz para vender laranjas. Aspessoas ficavam co'as laranjas na mão a ouví-la.

* * * * *

A larangeira ao pé da nóra já me conhecia--punha-se a fingir que erao vento que a fazia mexer.

* * * * *

Acho mais sinceros os dias de chuva. Nos dias em que chove ponho-mea pensar que não sou eu só que vivo arreliado. Depois, o cheiro daterra molhada é que me faz de novo animar.

* * * * *

Ás vezes ponho-me a pensar em coisas que eu nunca vi. Naturalmentesó ha muito longe, nas outras terras!

* * * * *

Estou a espera de ser grande para ver se o que eu penso é verdade ounão. Se não fôr, mato-me!

* * * * *

Gósto mais dos bois de barro que dos bois verdadeiros.

* * * * *

O gabão do jardineiro era forrado d'azul!

* * * * *

A rosa encarnada cheira a branco.

* * * * *

Quando vejo o côr-de-rosa parece que se referem a mim.

+CONFIDENCIAS+

Bom-Dia, Mãe!

Bem nos tinham dito!--Espérem! foi o que nos tinham dito. E nósesperámos. Ah! que sempre tive a certeza que havia de chegar «odescerrar do escuro»! (ANTHERO, Sonetos.)

A eternidade e um instante é a mesma coisa.

SANTO AGOSTINHO.

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almada_invencao.txt

Bom-Dia, Mãe!

Senta-te ao meu lado, que eu vou contar-te a viagem que eu fiz. Dá-mea tua mão para que eu a conte bem!

Dei a volta ao mundo, fiz o itinerario universal. Tudo consta do meudiario intimo onde é memoravel a viagem que eu fiz desde e universo atéao meu peito quotidiano. Vim de muito longe até ficar dentro do meuproprio peito e defendido pelo meu proprio corpo.

Durante a viagem encontrei tudo disposto de antemão para que nuncame apartasse dos meus sentidos. E assim aconteceu sempre desde aquelledia inolvidavel em que reparei que tinha olhos na minha propria cara. Foiprecisamente n'esse dia inolvidavel que eu soube que tudo o que ha nouniverso podia ser visto com os dois olhos que estão na nossa propriacara. Não foi, portanto, sem orgulho que constatei que era precisamentepor causa de cada um de nós que havia o universo.

E assim foi que, todas as coisas que a principio me pareciam tãoestranhas, começaram logo desde esse dia inolvidavel a dirigirem-se-mee a interrogarem-me, quando ainda hontem era eu que lhes preguntavatudo. Foi-me facil comprehender que o universo era precisamente oresultado de haver quem tivesse olhos na propria cara. Muito maiorfoi o meu orgulho, portanto, quando tive a certeza de que hoje ouniverso esperava anciosamente por cada um de nós. Hontem, cada umde nós viajava por todas as partes do universo, com aquelle desejolegitimo de se encontrar, e se a viagem demorou mais do que deviaé porque não seria facil acreditar immediatamente que cada um de nósestava, na verdade, em todas as partes do universo. Confesso que nãopude supôr logo d'entrada que o papel de que seriamos incumbidos cána terra fôsse precisamente o mais importante de todos.

Ainda hontem o universo me parecia um gigante colossal capaz de meatropellar sem querer; e emquanto eu procurava a maneira de nãoficar espesinhado plo gigante, quem poderia, Mãe, ter-me convencidode que eramos nós-proprios o gigante?

Todas as coisas do universo aonde, por tanto tempo, me procurei, sãoas mesmas que encontrei dentro do peito no fim da viagem que fizpelo universo.

+III PARTE+

+O REGRESSO

OU

O HOMEM SENTADO+

AO JOAQUIM GRAÇA

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Page 19: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txt+A FLOR+

--«Je travaille tant que je peux et le mieux que je peux, toute la journée. Je donne toute ma mesure, tous mes moyens. Et après, si ce que j'ai fait n'est pas bon, je n'en suis plus responsable; c'est que je ne peux vraiement pas faire mieux.»

_Henri Matisse._

Pede-se a uma creança. Desenhe uma flor! Da-se-lhe papel elapis. A creança vae sentar-se no outro canto da sala onde não hamais ninguem.

Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas n'umadirecção, outras n'outras; umas mais carregadas, outras maisleves; umas mais faceis, outras mais custosas. A creança quiztanta força em certas linhas que o papel quasi que não resistiu.

Outras eram tão delicadas que apenas o pezo do lapis já era demais.

Depois a creança vem mostrar essas linhas ás pessôas: Uma flôr!

As pessôas não acham parecidas estas linhas com as de uma flôr!

Comtudo, a palavra flôr andou por dentro da creança, da cabeçapara o coração e do coração para a cabeça, á procura das linhascom que se faz uma flôr, e a creança pôz no papel algumas d'essaslinhas, ou todas. Talvez as tivesse pôsto fóra dos seus logares,mas, são aquellas as linhas com que Deus faz uma flôr!

ÁCERCA DA PINTURA DE CÉZANNE E DE MATISSE:

«Elle vous donne la sécurité.»

_Charles Péquin._

_Sécurité_--M. f. (lat. securitas) Confiance, tranquilité d'esprit resultant de l'idée, qu'il n'ya de péril à craindre: l'industrie a besoin de sécurité.

_Petit Larousse._

+A MINHA VEZ+

Tu separeras la terre du feu, le subtil de l'épais--doucement--avec grande industrie.

HERMES TRIMEGISTA

O desenho das creanças é como o das pessôas que não sabem desenhar--ambosdizem, mas não sabem o que dizem. Não sabem desembaraçar as linhas de

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Page 20: A Invenção do Dia Claro

almada_invencao.txtuma coisa das linhas das outras coisas que veem ao mesmo tempo dentroda mesma palavra. A prova é que não são capazes de imitar o que daprimeira vez lhes escorregou do corpo pela mão para o papel.

Eu-proprio, apenas agora começo a saber recordar o que foramos meus desenhos de ha dez e vinte annos, quando fiz uns traçosem pedaços de papeis que guardaram.

Escuto estes desenhos como a um homem, do campo que diz, semquerer, coisas mais importantes do que o que está a contar,e que põe tudo á mostra sem dar por isso. Atravez d'estes desenhossigo grafologicamente o meu instincto á espera da minha vontade,--aminha querida ignorancia a aquecer ao sol e a transformar-se naminha vez cá na terra.

+FIM DA TERCEIRA PARTE+

+UMA FRASE QUE SOBEJOU+

Quando copiei pela ultima vez a Invenção do Dia Claro, sobejou umafrase que não me recordo a que alturas pertence. A frase é esta:

Ha systemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar, sónão ha systemas para saber amar!

NOTA--Seguem-se as démarches para a Invenção. Foi-nos completamenteimpossivel incluir na presente edição as démarches. No entanto,reproduzimos como specimen a mais antiga de todas para que o leitorse convença do seu interesse quotidiano e imediato. N'esta, comoem todas as outras démarches para a Invenção é flagrante a maneiracomo se representa a fortuna que nos rodeia todos os dias.

+A VERDADE+

Je ne crois que les histoires dont les témoins se feraient égorger!

PENSÉES, PASCAL.

Eu tinha chegado tarde á escola. O mestre quiz, por força, saberporquê. E eu tive que dizer: Mestre! quando sahi de casa tomei umcarro para vir mais depressa mas, por infelicidade, deante do carrocahiu um cavalo com um ataque que durou muito tempo.

O mestre zangou-se comigo: Não minta! diga a verdade!

E eu tive de dizer: Mestre! quando sahi de casa... minha mãe tinha umirmão no extrangeiro e, por infelicidade, morreu hontem de repente enós ficámos de luto carregado.

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almada_invencao.txt

O mestre ainda se zangou mais comigo: Não minta! diga a verdade!!

E eu tive de dizer: Mestre! quando sahi de casa ... estava apensar no irmão de minha mãe que está no extrangeiro ha tantosannos, sem escrever. Ora isto ainda é peor do que se elle tivessemorrido de repente porque nós não sabemos se estamos de luctocarregado ou não.

Então o mestre perdeu a cabeça comigo: Não minta, ouviu? diga averdade, já lh'o disse!

Fiquei muito tempo calado. De repente, não sei o que me passoupela cabeça que acreditei que o mestre queria effectivamente quelhe dissesse a verdade. E, creança como eu era, puz todo o pezodo corpo em cima das pontas dos pés, e com o coração á soltaconfessei a verdade: Mestre! antes de chegar á Escola ha uma casaque vende bonecas. Na montra estava uma boneca vestida de côr-de-rosa!Mestre! a boneca estava vestida de côr-de-rosa! A boneca tinhaa pelle de céra. Como as meninas! A boneca tinha os olhos devidro. Como as meninas! A boneca tinha as tranças cahidas. Comoas meninas! A boneca tinha os dedos finos. Como as meninas!Mestre! A boneca tinha os dedos finos...

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS

* * * * *

O MOINHO1 ACTO

23, 2.^O ANDAR3 ACTOS

ANTES DE COMEÇAR1 ACTO

OS OUTROS3 ACTOS

* * * * *

O MENDES--A ENGOMADEIRA--HERCULES DA SILVA

A SCENA DO ODIO

SALTIMBANCOS--MIMA FATÁXA--LA FEMME ÉLECTRIQUE

O QUADRADO AZUL

* * * * *

DÉMARCHES PARA A INVENÇÃO DO DIA CLARO

DA ARTE DE ATRAVESSAR A MULTIDÃO, COM APONTAMENTOS SOBRE O QUE EUQUIZ DIZER.

POBREZA VOLUNTARIA

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DADOS ARBITRARIOS PARA A FUTFURA ARISTOCRACIA

* * * * *

AS TREZ IDADES DE CADA UM

--«AS TREZ IDADES DE CADA UM» É O OVO DE COLOMBO!

_Dr. F. Alves de Azevedo._

* * * * *

O MENINO D'OLHOS DE GIGANTE

FEITO COM A PRETENÇÃO DE POEMA UNIVERSAL.

COM UMA POSIÇÃO GEOGRAFICA PORTUGUEZA NA FORMA POETICA DA TONTERIAPOPULAR.

ACABADA D'IMPRIMIR AOS TRINTADIAS DO MEZ DE NOVEMBRO DEMIL NOVECENTOS E VINTE E UM,NAS OFICINAS DA SOCIEDADE NACIONALDE TIPOGRAFIA, RUA DOSECULO, 59, FICANDO DEPOSITARIA«PORTUGAL E BRAZIL», RUA--GARRETT, 58, 60, LISBOA.--

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Volunteers and financial support to provide volunteers with theassistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's

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almada_invencao.txtgoals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection willremain freely available for generations to come. In 2001, the ProjectGutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secureand permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundationand how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.

Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary ArchiveFoundation

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