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C:: O L ÁO ARMANDO ROLLA .. EDIÇOES .. :: , B 1 B L 1 http://www.obrascatolicas.com

A Biblia e as Ultimas Descobertas

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  • C:: O L E~ O

    ARMANDO ROLLA

    ..

    EDIOES

    . . :: ,

    B 1 B L 1

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  • ARMANDO ROLLA

    I

    A BIBLIA I

    E AS ULTIMAS DESCOBERTAS

    EDIES PAULINAS

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  • TITULO ORIGI NAL

    La Bibbia di fronte alie ultime scoperte Edlzione Paoline - Roma

    Traduo de Reinaldo Scrcaro

    N l H 1 J, O B S T A 1' S!tn Paulo, 31 rle maio de 19Hl

    Pe. .roxo ROATTA, s. R. P. Ct.n.nr

    I M P R 1 M A T 11 lt i"!ln Paulo, li

  • NOTA A EDIO BRASILEIRA

    Sem dvida, para todo aqule que se interessa da Bblia, foi e pruvidencial \a descoberta, nesses ltimos decnios, de inmeros do cumentos arqueolgicos, que projetam luz intensa sbre inmeros ca-ptulos e textos do Livro Sagrado. Atravs de milhares de tabuinhas, cacos de argila, cdices, papiros, etc., o autor faz-nos reescutar as vozes enterradas dsse glorioso passado bblico. Faz-nos reviver, nesses documentos de espcies vrias e procedncia diversa, no s as figuras venerandas dos Patriarcas, os feitos gloriosos de Davi e Salomo, como nos leva comovidamente a falar com aquelas personagens que, por meandros providenciais e seguros, nos conduzem ao verdadeiro "l\1estre de Justia".

    Foi nessa esperana de que alguma alma tateante, mas de boa vontade, encontre o roteiro para aqule que o centro das eras hist-ricas, que tomamos o encargo d~ traduzir, para o leitor brasileiro, a presente edio.

    So Paulo, 22 de agsto de 1960 Pe. REINALDO ScRCAilo

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  • PREFCIO

    Roga-se ao leitor no esperar dste livro mais do que promete "ttulo. Deliberadamente eliminaram-se aquelas descobertas arqueol-gicas que, conquanto ofeream valiosa contribuio ilustrao da Bblia, possuem a desvantagem de j no ser recentes. Todavia nos primeiros quatro captulos, que desejam apresentar uma viso pano-rmica da explorao arqueolgica no mundo da Bblia, foi preocupa-o constante do autor fazer alguma meno tambm dos achados antigos mais relevantes.

    A bibliografia, indispensvel num trabalho desta espcie, reme-teu-se ao fim do livro e foi intencionalmente delimitada s obras mais significativas e s que se prestaram na compilao destas pginas. Outrossim, no final do livro o leitor encontrar um sincronismo histrico-arqueolgico, que poder orient-lo na leitura.

    O que tiver a pacincia de percorrer estas pginas perceber "fcilmente que o fio de Ariana, que guia o autor no labirinto de (antas informaes arqueolgicas, foi a preocupao de ilustrar a Bblia, de confirmar-lhe a historicidade mesmo nos detalhes s vzes minutssimos e, ao mesmo tempo, demonstrar a incomparvel supe-riori

  • CAPTULO 1

    BBLIA E ARQUEOLOGIA

    A Palestina i nica regio do mundo que, desde milnios, c1J11tinua cafvando a ateno de milhes de homens. Ainda hoje, judeus, cristos e muulmanos olham para ela como a uma meta ideal ci o prprio esprito.

    Os que, todavia , demandarnm essa terra privilegiada por Deus, foram so bretudo os antigos peregrinos cristos, ansiosos por reviver, na fanta sia e na prpria f, a profunda espiritualidade que jorra das pginas da Bblia . Na Palestina, sob as lindes do L:vro Sagrado, no era difcil palmilhar passo a passo, com intensa comoo, a pere-grinao dos santos Patriarca s hebreus, a histria do torturado povo hebraicu 11u111 trgicu

  • 9 .i

    10 A llBl.IA E A:; LTIMA::< DE:;C.:OBEllTA::! ; : ~

    i1eu~es num grande ~o'saico que, na poca da primeira assinala

  • 11

    111len!izerniu aus pagos o acesso au rec1p to do ten1plu, re.;erv mio cHJS hebreus. Iluminava-se, llPste modo, a pgina do livro dos Alos (:21,28-29), onde So Paulo acusado de ter introduzido no templo a Trfinw de f~frso, violando formalmente o decreto herodiano. Dois a11us dw,:o Ppigrficu mais considervel

  • 1~ A BJBLIA 1': AH J.TIMAI; lll!:SCOBl!:HTAI"

    o rnsu em que uma cidade antiga, destroada por alguma catstrofe improvisa, como um terremoto, um incndio ou uma guerra, se tenha reconstrudo, aps um intervalo mais ou menos longo, sempre no mesmo lugar, impsto pela sua uhi11uaio privilegiada, qual seja a proximidade de uma 1'011te, a pnsio estratgica ou a passagem de uma grande artria. Arrasada uma cidade, shre suas rnnas, que de forma alguma vinham removi!es seria um entretenimento muito agradvel. Ao invs, les se desdobram, o mais das vzes, de forma emaranhada e confusa , mais abaixo na periferia que no centro; como as pnginas de um livro, que a mo estouvada tenha amassado e encarquilhado. Para deci-frn-lo, mister ento muita destreza e capacidade, dotes que se ad-quirem mais com a experincia do que nos livros.

    aqui que Fliwler Petrie revelou a sua genialidad

  • BBLIA FJ ARQUEOWGIA 13

    por estrato, s.gni_~ indicao precisa do nvel, do pont, das condies em qu -r encontrado (estratigrafia), tambm na previso da runa a que est votada a descoberta no transportvel, no intuito de poder prosseguir a rachadura em profundidade. Nada deve olvidar-se: o msero caco de argila pode ter a mesma importncia do brinco de ouro.

    A Flinder Petrie deve-se tambm a nova cincia da ceramografia. Na Palestina, como em todos os lugares dste mundo, no h um estrato que no esteja juncado por fragmentus de vasilhame em argila cozida; no existe tmulo que no exiba stes objetos que servem vida quotidiana de cada homem.

    Depara-se outrossim com a jia preciosa: mas para o arquelogo moderno ela possui menos valor que o humilde caco de argila. Merece as honras da crnica esta simptica revanche do caco de argila sbre o brinco precioso.

    Nos seus incios, a arqueologia da Palestina e do Oriente foi dominada por urna busca febril de objetos preciosos que saci!lssem a auri sacra /ames e locupletassem as salas dos museus: os simples cacos de argila cozida eram, em vez, acantoados entre os detritos.

    Hoje, que a arqueologia palestiniana, como a dos demais pases do Oriente, est imbuda de preocupaes preferentemente cientficas, as posies inverteram-se: o fragmento de cermica dil igentemente recolhido, estudado na sua composio, "reposto'' no local das pes-quisas a fim de lhe determinar a forma e a decorao. Esta prefe-rncia pelo pedacinho de cermica, mais do que pela jia, deve-se ao fato de que aquefo, variando a cada estrato por causa de sua fragilidade e volubilidade, no raro, constitui o nico elemento que permite a cronologia da camada em que se encontrou, ao passo que o objeto precioso, dada a sua raridade, seguidamente passa de gerao a gerao e pode sugerir-nos somente a poca do ltimo possuidor.

    No resta seno estudar as vrias formas de cermica e de outros utenslios, que normalmente emergem de modo uniforme numa rea muito vasta e determinar-lhes as mtuas relaes: sse estudo denomina-se tipologia.

    A arqueologia oriental moderna baseia-se sbre estas trs colu-nas: a estratigrafia, a ceramografia e a tipologia. A intuio disso e a utilizao delas por primeiro constitui u grande mrito daquele homem de gnio que foi Flinder Petrie !

    A tcnica da escavao arqueolgica - que tambm uma arte - no mister de diletantes. preciso, antes de mais nada, possuir bom faro na escolha do stio antigo, que no iluda as fadigas, as despesas e as expectativas. Estudam-se os dados literrios, exami-nam-se os lugares com diligncia topogrfica, inquire-se a toponoms-tica atual, calculam-se com a mxima aproximao os meios a serem

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  • 14 A BfBLJ,\ I: Ai' i""J.TIMA~ Jlf:f;C'OIH:HTA~

    empregados, o equipamento ncccss/irio, quer cm homens como em materiais. . Para uma escavao requerem-se fundos considerveis. dificilmente em poder de uma s pessoa. f: necessrio apoiar-se numa organizao cientfica: tambm os meios mecnicos e tcnicos so npreciveis, o pessoal (os inglses chamnm-no "staff") deve com-preender um arquiteto, um desenhador, um fotgrafo, um epigrafista, um ceramista, um chefe de obrn tendo sua dependncia equipes de operrios para o desentulho e o transporte dos clctritos. Para realizar escavaes arqueolgic.ns no Oriente. hojP

  • l.'i

    e pan-mitismo bblico. Merc de Deus, hoje mais difcil ceder a esta seduo. Demasiadas so as atitudes extremistas que as des-robertas ulteriores compeliram abandonar, alertando a que os arque-logos modernos no sejam faceis em negar com precipitao a validach histrica da Bblia.

    A segunda tentao est no extremo oposto: a de entrever na arqueologia uma contnua confirmao da Bblia. Deve-se esta atitude a um entusiasmo imprudente, que se insinua com subtileza, sobretudo quando entram em jgo intersses vrios. Tornou-se clssico o exemplo recentssimo do arquelogo hebreu E. L. Sukenik, h pourn falecido, a quem devemos perdoar as imprudncias em considerao aos seus amplssimos mritos no campo da arqueologia palestiniana.

    Aos 6 de janeiro de 19~1. t~sse exmio professor explodiu uma autntica bomba propagandstica com uma comunicao lida diante rla Deutsche Archaeologische Gesellschaft de Berlim, anunciando l descoberta em Jeru~aMm de um oss/irio de "Jesus filho de Jos", munido de inscrio. No foi difcil ao arquelogo Padre Vincent documentar tratar-se de uma pura coincidncia, devida enorme fre-qncia dos nomes de Jesus e de Jos na Palestina.

    Em 1947 o mesmo professor saiu cnm outra notcia ainda mais sensacional. acolhida num relmpago pela imprensa mundial: em Talpiot, na eslrnda que deriva de .Jerusalm a Belm, evidenciaram-sf' Pm 1945 v1irios ossrios acompanhados por nomes autnticamente apostlicos em hebraico e grego e contra-indicados por cruzes. Estas teriam sido efetuadas pelos prprios discpulos de Jesus, a fim de relembrar e chorar a rncente crncifixo de seu Mestre. Esta bri-lhHnte reconstruo foi tamh,;m fcilniente pulverizada por outros arquelogos menos fantasistas. Algum malignu insinuou, no pode-ramos dizer mm que fundamentos, q11e o professor hebreu em ambos os casos fra obsessionndo pela preocupao de obter fundos que consenlissem a publicaiio das in .. ~cries acima mencionadas!

    Poder-se-ia rememornr o alarde suscitado recentemente pela pressuposta descoberta da arca de No. A esta fantasiosa notcia os arquelogos profissionais retorquiram com um honroso silncio ou, quando muito. vislumbraram nela a IPndnci

  • 16 A BBLIA F: AR LTIMAR DERC'OllERTAf::

    desconhecidos fora do Livro Sagrado. Uma autntica confirmao , por exemplo, a descoberta recente de tabuinhas provenientes dos entulhos do palcio de Nabucodonosor na Babilnia, que nos falam dn rao reservada a Joaquim, rei de Jud, deportado para esta cidade em 597 a. C. (2 Rs 24,12). Nada de mais eloqente e penoso no mesmo tempo: o nome de um rei glorioso na listl de um cozi-nheiro!

    queles estudiosos, preferentemente cticos sbre a efetiva des-truio operada pells armadas babilnicas dez anos aps, a arqueologia palestiniana demonstrou no existir em todo o territrio judaico se-quer uma cidade importante, entre as muitas exploradas cientlfica-mente, que no tenha sofrido graves destruies no ocaso do sc. VII ou no como do sc. VI. V rias dessas cidades, depois, no foram mais reabitadls, outras restauraram-se parcialmente somente mais tarde; outras, enfim, aguardaram vrios sculos nntes de conhecer uma reflorescncia notH~l da vida urbana.

    A arqueologia determinou ainda muitas localidades bblicas. Graas a ela hoje estamos matemticmente certos de nos encontrarmos no mesmo stio em que se desenrolaram os eventos bblicos: o poo de Jac, sbre o qual assentou-se o Mestre cansado antes de fulgurar a alma sedenta da Slrnaritana (lo 4,5); a escada palmilhada por Jesus em .Terusalncia ultraterrena. Restituindo-nos a alma, a arqueologia retrata outrossim, o ambiente, o clima religioso, moral e jurdico em que decorreu a revelao histrica do Velho e do Novo Testa-mento. Dos arquivos de Mari (sc. XVIII) e de Nuzu (sc. XV) emerge o ambiente dos Patriarcas; pelos de Tell el Amarna conhe-cemos a ~ituao poltica da Palestina, dois sculos antes que os he-

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  • BBLA I: A lQ l ' l:OLOGIA 17

    brcus nela pcuctrassem; nos textos religiosos de Has Shamra depara-mos com a mais vvida ilustrao daquela religio canania que rnqstitniu a perene tentao dos hebreus aps a conquista da Pa-lrstina.

    Sob sse ngulo visual. essa iluminao indireta da Bblia { particularmente preciosa.

    Nosso reconhecimento arqueologia nfio deve esvair-se quando, entre tanta luz, se delineia alguma sombra antes no entrevista. O ~eu aparecimento deve somente impelir-nos a "mergulhar no fundo". IH> corao

  • r.APTlTLO II

    BBLIA E ESCAVAES PALESTINIANAS

    O ano de 1953 foi portador de grande consolao aos estudiosm cln nrqueologia palestiniana. A inscrio em caracteres fencios de um epistlio que outrora fizera parte de um tmulo do Cedron, em Jerusalm, e fra da mais tarde arrancado, revelara finalmente todo seu segrdo ao paciente decifrador hebreu, N. Avigad:

    "ste (o tmulo de ... ) Jau, prefeito do Palcio. No h aqui prata nem ouro, mas somente seus ossos e os da sua mulher escrava . Maldito todo homem que o abrir!"

    Comove a preocupao dste mordomo do Palcio! talvez o l'l-lehre Shehna, que desempenhou tal mnus sob o rei Ezequias e que, no dizer de Isaas (Is 22,15ss.), "estava escavando para si um sepulcro sbre um lugar elevado e talhava para si uma morada na rocha" - desejoso de repouso na morada eterna, findo o enorme torvelinho de sun existncia terrena ...

    Esta preventiva ameaa com que se topa, muitas vzes, nas inscries funerrias da antiguidade, no bastou para deter garras ividas dos "caadores de tesouros", essas mos que no pouparam nenhuma sepulturn real ou mesmo principesca, em todo o Oriente. As desditosas sombras podiam bem protestar: "No abram! No perturbem o meu repouso! Asseguro-lhes: aqui dentro no h ouro, nem prata nem jias. S eu estou" (Tabnit, rei dos sidnios, V-IV sculo a. C.); "No foi deposto junto a mim objeto algum de prata ou de bronze. No tenho comigo seno minha mortalha. Da nada h para roubar" (Abgor, sacerdote de Neirab, sc. VII a. C.).

    Se a ventura houvesse reservado a descoberta dsses tmulos aos arquelogos modernos, no teramos por certo encontrado nles aquela avidez rapace, que tanto aflige depar-la mesmo soleira duma sepultura ...

    Aps o ano de 1890 a nsia dos arquelogos a de fazer reviver o passado e no a do ouro cintilante ou do "caco de museu". Explo-raes comeam alastrar-se pela Palestina, seus numerosos tell so

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  • 20 A n(BLIA ; AS l.TIMA!': DlcSCOB!;RTA!':

    talados pelos arquelogos de todo o mundo. Evidentemente, no como, no h uma tcnica perfeita: mesmo que os princpios tericos estejam j delineaados, s a experincia de vrios anos lhe confirmar a validade. De 1890 at 1920, os arquelogos procedem com fraca segurana perpetrando no poucos erros, corrigidos so-mente nas escavaes subseqentes. Antes dste ano efetuaram-se descobertas importantes, mas o maior resultado foi o de aprender o mtodo de escavar e de datar o material removido.

    No escopo nosso elencar as centenas de localidades palesti-nenses onde ressou o alvio dos arquelogos. Bastam os nomes mais significativos para a arqueologia e para a Bblia ( ~apa 1).

    TELL JEzER (GESER). - Em cinco expedies arqueolgicas ( 1902-05; 1907-09), financiadas pela Palestine Exploration Fund, o ingls R. A. S. Macalister e os arquelogos que o acompanharam conseguiram reconstruir a histria da cidade.

    Aps uma ocupao das cavernas circunjacentes por parte dum povo no semita, dado agricultura e ao pastoreio, durante a poca do Bronze antigo, a populao instalou-se na crista da colina, ali edificando a necrpole rgia e assegurando-se o fornecimento hdrico por meio de um tnel subterrneo que ia dar fonte, aos ps do outeiro. Na idade subseqente do Bronze mdio a cidade foi cintada por um poderoso sistema de muralhas com porta a ferrlho. Arrasada pelos egpcios, refloresceu sob o seu domnio, que ali deixou traos profundos marcando o apogeu da vida citadina. Possantes muralhas e vinte e oito trres asseguravam-lhe a incolumidade. Particular intersse suscitou uma instalao cultuai. Infelizmente sua natureza hoje controversa: trata-se de elevao cultua} canania ou monu-mento fnebre?

    A poca israeltica est parcamente atestada: uma tabuinha em caolino, descoberta em 1908, conservou-nos um exerccio de aula lavrado com titubeaes e rasuras por uma criana hebria. O ar-gumento prescrito pelo mestre era: os diversos trabalhos agrcolas que caracterizam os diversos meses do ano (daqui o nome de "calen-drio" dadq tabuinha). O aplicado rapazito teve o cuidado de gravar verticalmente o nome, no ngulo inferior da tabuleta: ABIAH. No conhecemos a nota conferida pelo professor: em que pese a rudeza de sua mo de campons, ns lhe conferimos sem dvida dez com louvor, porque sse tema de aula, datado do sculo X a. C., nos for-nece a valiosa confirmao de uma notcia bblica. Com efeito, quando o narrador bblico nos informa que um jovem de Socot, nos tempos de Gedeo (Jz 8,14), grava numa tabuinha os nomes dos chefes e ancios de sua cidade, no h que esbugalhar muito os olho.;:

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  • BBLIA .E ESCAVAES l'AJ,ESTINIANAS 21

    naquele tempo tambm os meninos achavam-se em condio de escrever. Prova-o o calendrio de Geser.

    Em 1934 A. Rowe, sempre sob os auspcios da Palestine Explo-ration Fund, traz a lume uma trrezinha sbre a colina ocidental.

    TELL EL MuTEssELIM (MAGEDo). -- A picareta do alemo _G. Schumacher ali ressoou desde 1903 at 1905. Infelizmente o descaso da estratigrafia e da ceramografia viciaram o resultado da explorao e for-se-o necessrias escavaes subseqentemente efe-tuadas pelo Instituto Oriental da Universidade de Chicago (de 1925 a 1939) para restabelecer a seqncia.arqueolgica e eliminar graves erros arqueolgicos e cronolgicos perpetrados pelos idemes. A histria milenria dste stio estratgico para todo o Oriente -ilustrado pelas vitrias de Tutmsis III em 1468 a. C. sbre os asiticos, de Barnc contrn Ssnra (J z

  • 22 A BiBLIA li: AS LTIMAS DESCOBERTAS

    gica um impulso gigantesco: nada se omitiu que pudesse assegurar a reconstruo histrica da capital do reino de Israel: desde o msero caco ao insignificante tijolo. Seus resultados, porm, deveram ser re-visionados, mxime em fato de cronologia, pelo ingls Y. W. Crowfoot que reabriu em Samaria as exploraes de 1931 a 1935.

    Mais que nas realizaes urbansticas de Herodes, o Grande, e dos imperadores romanos durante a poca romana (as muralhas, a estrada flanqueada de colunas, os templos de Augusto e de Kore, o teatro, a baslica, o fro e o estdio), o nosso intersse se concentra na Samaria israeltica, representada por sete estratos, e principalmente no palcio real atribudo a Amri, Acab e Jeroboo II.

    Das runas desta imponente rgia que deviam aflorar os pre-ciosos lotes de iarras cozidas e a coleo de marfins. A sorte prega muitas vzes peas bem caprichosas aos arquelogos: eis ento que o precioso marfim e o simples estilhao de nrgila nivelam-se no mesmo valor histrico!

    Se estivessem intactos, os marfins da Samaria seriam as peas melhores at hoje sadas das escavaes orientais. Encontraram-se raros fragmentos durante a primeira expedio: um dles estava unido a outro de alabastro, que levava o nome do fara Osorkon II proporcionando-nos dste modo o precioso sincronismo com o reino de Acab. A maior parte dos marfins - crca de 200 pedaos -deviam assomar entre os anos de 1931 e 1935, durante a segunda expedio. Inspiraram-se stes na arte egpcia: ainda que alguns tenham sido trabalhados no lugar, no h dvida de que a maior parte provenha da Fencia ou de Damasco. Parece certa a aplicao dles em adornos do mobilirio do palcio real de Acab ( 1 Rs 22,39) e dos sucessores, particularmente os leitos ("os leitos de marfim" de Ams 6,4: um dles foi descoberto em Ras Shainra em 19.52).

    1?.ste luxo efeito da prosperidade da cidade da Samaria, alcan-ada pelo domnio da Galilia, o influxo na Transjordnia e o predo-mnio comercial, que se seguiu aliana com os fencios. Constitua, porm, impudente desafio misria de tantos cidados do reino (Am 2,6; 3,10; 4,1; 5,11) e ao Javismo integrnlistn, tenazmente adverso a tda representao mitolgica. Cumpre notar que os reis de Jud no deviam fazer m figura defronte ao:; colegas da Samaria. Conquanto em Jerusalm se no tenha descoberto nenhum marfim, num boletim de vitria de Senaquerib lemos a complacente enume-rao dos "leitos e tronos de marfim, as peles de elefantes, o marfim bruto, b bano" enviados pelo rci Ezequias como tributo ao monarcn assrio. Seria uma inesperada ventura se algum dia o.; escavadores de Nnive, como se deu com as de Arslan Ta~h, pude:

  • BfBLIA E ESCAVAES PAl,F:STINIANAS 23

    A pa1xao de G. A. Reisner pelos mseros fragmentos de argila cozida devia ser premiada com a descoberta de 65 estilhaos recobertos de escrita hebraica antiga (potes). Interpretam-se normalmente como boletins de expedio que acompanhavam as jarras de vinho ou de azeite aos armazns reais de Jeroboo II. Revelam-nos uma onomstica de preferncia javstica, mesclada de contaminaes sin-cretistas; rememoram-se 22 localidades do territrio de Manasss, algumas das quais resistem a qualquer tentativa de identificao.

    No ngulo noroeste da cidadela foi descoberto um enorme tanque parcialmente escavado na rocha; com grande probabilidade foi iden-tificado com a piscina em que se lavou o carro ensangentado de Acab, mortalmente ferido durante o assdio de Ramot de Galaad (1 Rs 22,38). -

    TELL EL HosN (BETSAN) . - O local foi explorado sob os aus-pcios do Museu da Universidade de Pensilvnia, de 1911 a 1933. Dirigidas por trs clebres arquelogos, C. Fischer (1921-1923), A. Rowe (1925-1928), G. M. Fitz Gerald (1930-1933), as escavaes se desenvolveram sob rigoroso critrio tcnico e permitiram recons-truir com a mxima preciso a histria da localidade, que se desen-rola ininterruptamente . por dezoito estratos desde a ocupao rabe at ao Calcoltico. Esta perfeita continuidade arqueolgica, unida a uma rigorosa aplicao da tcnica estratigrfica e tipolgica, faz de Betsan um centro de referncia indispensvel aos arquelogos.

    A poca israeltica est parcamente documentada. A idade urea a do Bronze recente, durante a dominao egipciana da XVIII e XIX dinastia. Os cinco templos cananeus e ~emais objetos cultuais constituem a melhor documentao da religio na Palestina antes da ocupao israeltica. Dois dsses templos, provvelmente de Astart e de Dagon mencionados na Bblia (1 Sam 31,10; 1 Crn 10,10), foram destrudos por Davi. Foi nles, talvez, que os filisteus depen-duraram como trofu de guerra a cnbea sangrenta e as armas de Saul tomba'.:lo na batalha de Gelbo.

    Peculiar intersse histrico oferecem as quatro estrlas erguidas pelos Faras egipcianos Seti I e Ramss II e por outro Fara desconhecido. Um dos dois monlitos de Seti I, descoberto em 1821 e que ficou indecifrvel por muitos anos, revelou depois de 1949 seu precioso segrdo insistente solicitude de destros fillogos. Dela sabemos qlle os "Hapiru da montanha de Yarmut", na regio de Betsan, rebelaram-se e que o Fara viu-se obrigado a enviar tropas, flanqueadas por carros, a fim de dominar a rebelio.

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  • A BfBl.lA E AS LTIMAS DF.SCOIJEllTAt;

    TELL BET MrnsIM (DABm) . - As escavaes realizadas nesta localidade por W. F. Albright e M. G. Kyle em quatro expedies (1926-1932), com os financiamentos dn dinmica American School of Oriental Research, so um modlo pela extrema ateno prestada cermica e pela clareza da estratigrafia. Os quinze estratos esten-dem-'e do final do terceiro milnio (Bronze antigo) at 587 antes de Cristo. O stio corresponde a Dabir ou Qiriat Sefer, expugnada por Josu na conquista de Cana (los 10,38; 15,49); uma tremenda destruio, sucedida crca de 1225, contemporneamente quela ates-tada em Lquis, constitui uma clarssima confirmao da historicidade da conquista hebraica.

    - Os estratos israelticos de Tcll bet Mirsim, mais que os contem-porneos de outras localidades, permitem uma reconstruo magnfica

  • IHllLlA 1'., fl'AVA\;W> l'Al.1'1i1'1NJANA,.; 25

    pcm e,tu sobrepostos s muralhas da cidadela e contm uJdo~, tl ue se interpretam como alfaias cultuais, resduos de ossos, cermiCit f' restos de alabastro.

    No decorrer do ano 2000 a populao foi aniquilada e a cidade destruda. Os responsveis por tal destruio so-nos desconhecidos. Ficara'm e!U p os muros e parte das fortificaes. O local foi abau clonado por oitocentos anos: somente no sculo XII-XI (Ferro l) foi reabitado por crca de 150 anos.

    A ausncia completa de qualquer documentao arqueolgiui, durante a fase do Bronze mdio e do Bronze recente, suscitou ardente~ discusses entre os arquelogos e os exegetas. A cidade de Hai, q UP, consoante a Bblia (los 7,8), foi expugnada pr Josu, na poca da conquista era j desde sculos a grande ausente da histria da Pa lestina. Os exegetas, porm, no perderam a batalha porque, conm mostraremos adiante, a histria bblica pode conciliar-se com ;1 arqueologia.

    TELL EL DuwER (LQUis). _Por merecimento de J. L. Starkey, discpulo de Flinder Petrie, esta localidade, escavada de 1932 a 1938, outro ponto luminoso na histria da arqueologia palestinense. Esta luminosidade lhe deriva da tcnica esmeradssima empregada e da farta messe de achados arqueolgicos, j famosos em todo o mundo. A histria da cidade, que viveu horas trgicas durante a ocupao israeltica (los 10,3-31 etc.), a assria de Senaquerib (2 Rs 18,14; 2 Cr;z 32,9) e babilnia de Nabucodonosur (2 Rs 24,2ss.), esti cerrndamente documentada pela arqueologia a partir da idade calcol-Lica at idade helenstica. O auge de prosperidade da cidade coin-cidiu com a poca do Bronze recente caracterizada pela dominao egpcia. Um grandioso templo, reconstrudo trs vzes, o test~munho da religiosidade desta gente canania. Fragmentos de cera-mica, emersos do templo, conservam inscries protocananias, ofe. recendo intersse particular a histria do alfabeto fencio e, por conse-guinte, dos nossos alfabetos modernos que dle derivam, atrav~ dos grego e romano. Somando a estas as inscries de um punhal e dum porta-perfumes, dessoterrados tambm em Lquis, e as demais inscries, descobertas em tdas as regies da Palestina (Tell el Agiul, Tell el Hesi, Bet Shemesh, Geser, Siqum, Magedo, e Tell cs Sarm), tem-se a certeza de que a criana de Socot traando com seu belo estilo, mas com a mo trmula de mdo, os nome~

  • 26 A nini.IA E AR J,TIMMi OEHCOB~:nTAH

    O reflorescimento da vida urbana na fase do Ferro l lento. f: essa uma comtatao precisa anotada pela arqueologia palestinense naquelas localidades reativadas pelos hebreus, aps a destruio da conquista. O muro cristado e a cidadela de Lquis, reconstruda onde antes surgia o palncio do governador egipciano, foram destrudos por volta do ano 701 -700 a. C. pela expedio de Senaquerib. Essa desolao -nos atestada pela Bblia (2 Rs 18, 14; 2 Crn 32,9) e pelo baixo-rclvo de Sen;:querih, cunservado no British Museum, reme-morando e reproduzindo o assdio e a tomada da cidade. A arqueolo-gia documenta-nos outrossim a dplice destruio de Lquis, efetuada pelo babilnio Nahucodonosor, a breve intervalo uma da outra. Fica assim confirmada a Bblia, c1ue refore duas rnmpm1has dsse mc-narca contra Jerusalm e as cidades circunvizinhas (2 Rs 24,11; ler i2,2; 34,7).

    A crtica situaiio poltica

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    dum filho de Elnatan ( cart. III). Com muita probabilicl

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    rnbro

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    dessa trgua forada para concluir a decenal explorao metdica da Transjordnia ( 1933-1943) .

    Ao alvorecer de 1952, reencontramos o incansvel Nlson Glueck no deserto de Negeb, que se desdobra ao sul da Palestina, na ventu-rosa tentativa de ressuscitar a longnqua histria dos Patriarcas hebraicos.

    O padre franciscano Belarmino Bagatti do Studium Biblicum Pranciscanum de Jerusalm, internado no convento de Qubeibeh, aproveitou a estadia forada nesta localidade para oferecer a con-firmao arqueolgica da existncia de el Qubeibeh nos tempos de Jesus. Assim, na elevada porfia representada por vrias localidades palestinenses para o titulo glorioso da Emas evanglica (Lc 24,13-26), el Qubeibeh situada mesmo a sessenta estdios de Jerusalm, como exige a lio criticamente mais segura da passagem evanglica ( Lc 24, 13), no corre o risco de ficar excessivamente afastada. Outro padre do mesmo Studiu~ Biblicum, Sylvester Saller, numa expedio de escavaes de 1941-42, demonstrou que a ' tradio, a qual con-sidera Hain Karim como a ptria do Precursor Joo Batista, possui tvda a probabilidade, por causa da antigidade e continuidade cliis instalnes profanas e sagradas dessa localidade.

    Por trgica incompreenso dos destinos dessa terra privilegiadn. ao cessar a segunda guerra mundial, a Palestina tornou-se terra inquieta. sombra dos argnteos olivais que amantam seus vales. nlo prosperam mais, em todo vio, as obras de paz. No raro as plcidas margens do lago de Genezar, que recolheu as preciosas palavras do Mestre da Galilia, repetem o eco de crepitantes metra-lhadoras... a triste histria que se delonga h j vrios anos. A bizarra repartio da Palestina entre o reino da Jordnia e a Repblica de Israel interpe pesadas barreiras aos peregrinos e ao.:; estudiosos que desejam, com a impacincia que invade quem visita essa terra, deslocar-se rpidamente de um lugar para outro. Es3n tenso poltica, fonte de tantas incertezas e tantos obstculos no conseguiu, porm, refrear a atividade arqueolgica. Antes, dir-se-ia que a tenha vivamente estimulado, imprimindo-lhe um ritmo gran-demente promissor. O mrito sobretudo deve-se s organizaes oficiais do Estado de Israel, como a Superintendncia para as Anti-guidades, a Israel Exploration Society e a Universidade Hebraica de Jerusalm. Tambm o reino da Jordnia, que possui uma SupP-rintendncia para as Antiguidades muito ativa, criou um Museu em Amam e se beneficia do Museu Arqueolgico palestinense de

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  • 30 A BIBl.IA E AR !,TIMAR DESC'OBF.RTAR

    fornsalm, fumlado com os dois milhes ele dla"rcs, doado pelo me-cenas americano .John D. Hockef eller Jr. A cole Biblique et Ar-chologique Franaise de Jerusalm generosa e eficazmente esteia a obra da Superintendncia da Jordnia. No menos til a obra da Escola Americana para as Pesquisas Orientais com sede em Jerusalm. Muito recentemente reabriu-se a Escola Inglsa de Arqueologia, dirigida por aquela habilssima arqueloga que a senhorita Kathleen Kenyon. Valiosa tambm a contribuio do Estdio Bblico Franciscano com sede no Convento da Flagelao em Jerusalm. Com essas fras colaborando em perfeita harmonia, novas vozes do passado devero irromper ela areia milenlria, mesmo que devam s vzes ser interrompidas pelo estardalhao. de metra-lhadoras ou pelo troar dos canhes ...

    TELL EL FARAAH. -- Em junho de 194 a Escola Arqueolgica Francsa de Jerusalm, representada pela gloriosa cole Biblique fun-dada pelo padre J. M. Lagrange, enceta os trabalhos em Tell el Faraah, situada a uma dzia de quilmetros ao nordeste de Naplusa. Das rela-es provisrias sbre as cinco campanhas realizadas at ento forne-cidas pelo diretor padre R. de Vaux, resulta que o local desfruta urna seqncia arqueolgica a comear do ano 3600 a. C. (Calcoltico mdip) at o final do sculo VII (Ferro segundo). A riqussi~a do-cumentao do perodo calcol~tico, proveniente sobretudo da necrpole, alinha-se s que se descobriram atualmente em muitas localidades palestinenses (tambm no deserto de Negeb, consoante as recentssi-mas escavaes hebraicas em Khirbet el Raytar, Safadi, perto de Bersabia e em Tell Habu Matar).

    Durante as primeiras duas fases do Bronze antigo, a cidade, se bem que no imune de destruio, como atestam as cinzas abundantes, desfrutou grande prosperidade e representou papel considervel na histria palestiniana: indcio eloqente disto, as pujantes muralhas defensivas, que atingem os doze metros de largura relembrando as de Hai e os quarteires citadinos.

    Na expedio de 1954 descobriu-se um forno de cozer a cermica, cnsiderado o mais antigo dentre os at hoje aparecidos.

    Aps eclipse de um milnio a cidade reocupada no perodo do Bronze mdio ( crca de .1700 a. C.), reedifica-se a muralha defen-siva e refora-se de um revestimento protetor em terra batida (glacis), itrquiteta-se uma possante porta a ferrolhos; reutiliza-se as sepulturas da poca calcoltica e outras novas so abertas pela primeira vez. A ocupao prossegue durante a poca do Bronze recente: demons-tram-no os vrios tmulos de cermica caracterstica da poca.

    Peculiar intersse para a Bblia oferece a ocupao durante a

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  • BBLIA !'; ES('AVAER PAJ.F:STINIANAf' 31

    primeira (' 11 sP.guruln fase dn idacle cio Ferro, ptilenleada pur lri>s estratos arq11colgicos. Des

  • truiu-sC' mn grande edifcio destinado s func.~ administrativas. O e~tralo stimo, contemporneo dinastia de Jeu, brindou-nos em 1948 dois rnco de argila com imcries cm rnrter hebraico cln TX -VIII sculo. A primeira inscrio diz: "Para o rei: 1100 (me-didas) de azeite: Ahiyahu; a segunda: "Ouro de Ofir para Bet Horon: sido~ 30". A primeira relembra espontneamente as vasi-lhas de Samaria e a complexa administrao renl nos permite loca-lizar nqui um impurtaute centro administrativo
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    ca-se ao cultivo do trigo e criao do gado: a arquitetura, as artes plsticas e os instrumentos de pedra lavrada atestam um alto nvel cultural, que se h de completar com a introduo da cermir.a dos estratos mais recentes. O perodo histrico est representado por crca de quatro cidades designadas com as quatro primeiras letras do alfabeto.

    A primeira (cidade A) pertence poca do Bronze antigo e restringe-se parte setentrional do tell com um muro macio (A). Ao Bronrze .mdio pertencem a segunda (cidade B: 2100-1900 a. C.), com uma extenso de dois hectares e um muro (B) de tijolos sbre alicerces de pedra, e a terceira cidade (cidade C: 1900-1550 a. C.), abrangendo cinco hectares e com muralha possante (C) escoradn por uma escarpa ou glacis.

    Aps o desmoronamento desta ltima cidade, sem dvida a mais prspera de tdas, no Bronze recente surgiu a quarta cidade (cidade D), que se retrai novamente para o cume, protegida por dupla muralha (D).

    A constatao de que a cidade do Bronze recente fra destrudn por terremoto e pelo fogo trouxe ao arquelogo ingls a maior conso-lao sua laboriosa existncia: le julgou ter descoberto a cidade de Jeric, desbaratada por Josu, e as muralhas tombadas ao poderoso som das trombetas hebraicas. A ventura da descoberta devia____ser bem cedo amargurada pelo persistente desacrdo dos arquelogos no concernente datao da destruio, pacificamente admitida por arquelogos e exegetas: .J. Garstang fixou-a entre os anos de 1400 e 1385, W. F . Albright, em vez, entre 1360 e 1320, H . Vincent crca de 1250.

    A desiluso maior, porm, deviam causar~lhe os arquelogos, que em grupo compacto, com meios tcnicos mais modernos e fi-nanciamentos da British School of Archaeology em Jerusalm e da American School of Oriental Research, volveram a Tell es Sulto em 1952 e nos anos sucessivos. Na primavera

  • recente e, da, identificado com a muralha destruda no tempti de Josu, nio seno uma parte do complexo sistema defensivo, recons-trudo ou retocado por bem dezessete vzes durante o terceiro mil-nio (Bronze antigo e mdio). Em tda a rea escavada falta, outros-sim, por completo a cermica do Brnnze recente. Hoje os esava-dores de Tell es Sulto preferiram repor a Bblia ria estante,' pois que se esvaiu tda a esperana ele reencontrar a Jeric de Josu, tambm por motivo do apluinanwnlo do cume cau..;;1do pelos agentes atmosfricos e pelos homens. A quem lhes dirige a pergunta insis-tente: "Quais foram as muralhas de Jeric desabadas no tempo da invaso hebraica?" les respondem com certo embarao: mesmo que no haja prova alguma, ; muros de Josu podem ser os do Bronze antigo e mdio reutilizados naquela poc:a, ou entio a Jeric do tempo de .Tosw; clev
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    hectare:;, corno no tempo do Bronze e que, a comear do estrato XI de Garstang, apresenta. doze fases de construes.

    BEITIN (BETEL). --- Em 1954 tambm sse local, extremamente importante para a conquista hebraica, experimentou o alvio . dos arquelogos. Esta segunda expedio de escavaes~ patrocinada pela American School of Oriental Hesearch e pelo Pittsburgh-Xenia Theological Seminary, foi dirigida pefo prof. James Kelso, o qual, juntamente com W. F. Alhright, guiara j a primeira campanha de t 934. O mrito precpuo dessa recente pesquisa !\ a confirmao da seqncia arqueolgica precedente, que se amplia atravs de doze

    estrato~. A idade urea da cidade foi a do Bronze recente. Na explorao

    de L'-15 a atestaiio arqueolgica cle~;rn idade (; menor: de;cohriu-se, todavia, um lagar para azeitonas em excelente estado de conservao. O terrvel assolamento operado no sc. XIII e a modesta reconstruo na idade subseqente do Ferro foram oportunamente coligadas com a conquista hebraicn (Jz 1,22ss.). O primeiro perodo do Ferro ostenta trs fases de construes e seguido por subtil estrato de transio na segunda 1;poca.

    TELL EL Qi:nAH (Ason). -- A primeira expedio de escavaes, comandada em 1955 pelo prof. Yigael Yadin da Universeidade he-braicn de Jeruslm, traz relevante contribuio soluo de deli-cadas e controversas questes histricas e arqueolgicas. sse local foi identificado desde 1926 com a bblica Asar, a nica cidade forti-ficada na Galilia derrocada por Josu na sua vitoriosa campanha (los 11, 13). Sua histria abrange dezessete estratos de 4000 a. C. at 733, quando foi arrasada pelo assrio Teglat-Falasar III (2 Rs 15,29). A arqueologia confirmou ter-se dado a destruio da cidade canania do Bronze recente no sc. XIII, sendo, por isso, contempo-rnea s de Lquis e Debir na Judia. Temos aqui a primeira comprovao, fora da Judia, daquela tremenda devastao operada pelos hebreus conquistadores crca do ano de 1200 a. e. e, conse-qentemente, um decisivo avano na datao do xodo e da conquista hebraica dessa poca.

    Particularmente interessante a descoberta duma esttua de homem sentado, em patente relao com vrias estelas munidas de emblemas simblicos, relembrando as de Geser e que remontam ao m10 1400 a. C.

    TELL NAHAillA. - sse mido tell brinda-nos com uma copiosa

  • 36 A HIBI.IA r.: Ai' (:1.TIMAI' 1 >1~scnn1mTM<

    J. Ben-Dor descobriu.um templo rnnanet1 qt1c nos sfrulos XVIII-XVII fra dedicado a Astart do mar, assaz conhecida nos textos de Ras Shamra e aqui atestada por uma sua figura e por pombas de argila. nesses santurios, situados fora da cidade, que os Patriarcas hebreus contemporneos se detinham, quando davam em seu caminho com algum "maqm" cananeu. A construio est orientada de leste para oeste e compreende uma grande sala retangular qual se acedia por uma porta principal, aberta no muro meridional, e por outra menor no ngulo setentrional. A esta acresceram-se cm seguida da parte leste e oeste, duas salas menores. O carter sagrado do edifcio acha-se amplamente comprovado pela presena de numerosos frascos de perfumes, de ex-votos em argila, figurando animais e homens, pela supracitada figura argnten da cleusa e por numerosos vasos votivos.

    Em 1951 e 1955 u Superintendncia hebraica para as Antigui-dades efetuou duas campanhas de escavaes ao sul do templo, sob a direo de M. M. Dothan, determinando cinco estratos distribudos em trs fases de construes. Na primeira (estrato V) temos uma construo quadrada, cujo carter cultua! comprova-se pelos objetos descobertos e pela pequena elevao (bamalz) em pedra. Na segunda fase (estrato IV-III) ergueu-se um templo mais vasto, ao norte do precedente, transformando-se ste numa elevao sagrada de 14 m de dimetro; foi junto dela que se descobriu um altar de pedra e um ptio, onde os fiis coziam e consumavam os manjares rncrificais. Na terceira (estratos II e I) a altura sagrada foi suplantada por um novo templo, ampliado e aumentado com o acri>scimo de dois quartos. Enfim, no sc. XVI, a morte alongou sua asa sbre todo o c.omplexo cultua! e as areias o envolveram no olvido dos sculos.

    Testificam-lhe o carter cultua! numerosos vasos a sete taas. que serviam para as libaes e ofertas, inmeros potes e nforazinhas, muitas prolas de gata, de comalina, de cristal, um verdadeiro tesouro de estatuetas femininas em prata, contidas numa jarra des-coberta junto da ara, o modlo duma deusa nua com chifres e chapu cnico (fig. Z) .

    Particular afinidade com essas elevaes sagradas apresentam os vrios "tmulos" que se alteiam ao ocidente de Jerusalm, nos arredores de Hain-Karim. Aps ter aguado a curiosidade de vrios arquelogos e ter sido cm 1923 objeto duma sondagem por parte de W. F. Albright, dezenove dles foram explorados em 1953, em duas expedies dirigidas pela senhora Ruth Amiran, por conta da SupPrintendncia hebraica para as Antiguidade:; e a I~rael Explora-tion Society. Consoante a diretora, vislumbrar-se-iam nqui alguma~ daquelas elevaes sagradas que estiveram em moda no ocaso da

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  • BIBLIA f: F.SCAVAES PALESTINIANAS 37

    monarquia judaica, estigmatizada pela Bblia (2 Rs 12,4; Ez 6,1-6) e, segundo o testemunho arqueolgico, sistemticamente derribadas talvez pela reforma de Josias (2 Rs 23,4-20) ou de Ezequias (2 Rs 18,4).

    KmRBET KERAK (BET-YERAH). - Em 1953 e 1955 o arquelogo M. P . Bar Adon, por encargo da Superintendncia hebraica para as Antiguidades, reexaminou o grandioso sistema defensivo dsse tell, sito na ponta meridional do lago de Genezar, e descoberto em 1944 e 1945 pelos arquelogos hebreus M. Stekelis e B. Maisler. Aps uma ocupao nos tempos pr-histricos ( calcoltico superior), a cidade assumiu uma posio de primeiro plano na poca do Bronze antigo. Uma possante muralha abrangendo a largura de dez metros e conservada at a altura de cinco, assegurava-lhe a incolu- midade. Uma porta espaosa, coligada com os redutos da guarda, controlava-lhe o ingresso. Na poca helenstica todo o tell estava defendido por uma parede de pedras, larga de 4 a 5 metros e encimada por uma linha de tijolos. Nos pontos nevrlgicos ~reforavam-os trres circulares e quadrangulares alternadas: a imponncia assober-bava-se pelo acrscimo de um revestimento protetor (glacis) e de duas portas com dplice trre quadrada. Diante dsses entulhos imponentes de muros vencendo ainda hoje os cinco metros de altura, sentimo-nos impelidos a cogitar que, de modo algum, hiperblico o &ssombro dos hebreus, quando se defrontaram com as cidades cananias que deviam conquistar: "Grandes cidades, cujos muros se elevavam at o cu" (Dt 1,28).

    RAMAT RAHEL. - f:sse tell a meio caminho entre Jerusalm e Belm, foi explorado em 1954 pelo arquelogo Y. Aharoni, incum-bido pela Superintendncia hebraica para. as Antiguidades e pela Israel Exploration Society. A identificao com a Netofa bblica (Ne 7,26; 12,28) confirmada pelo abundante material ps-exlico descoberto. A poca do Ferro II est atestada por um muro em casamatas, tecnicamente semelhante ao da Samaria, e por dois capitis protojnicos, igualmente idnticos aos encontrados em Samaria e no palcio salomnico de Magedo. A epigrafia hebraica enriqueceu-se aqui com umas sessenta placas de sintes da poca persa e israeltica.

    TELL DoTAN. - A histria milenria desta localidade, corres-pondente antiga Dotan, foi reconstruda em quatro expedies que se sucederam de 1953 a 1956, sob a direo do americano J. Free e com os financiamentos da American School of Oriental Research. A continuidade desta cidade atravs de onze e,;tratos, que drivam sem interrupo desde a idade do Ferro at ao Bronze antigo, justifica

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  • 3H A BIBLIA E AS LTl~iA8 DEiiCOBl!:HTA:<

    suo presena na Bblia no tempo de Jac (Gn 37,17ss.) e do profeta Eliseu (g Rs 6,13ss.) .

    *

    Nesses ltimos anos a arqueologia palestiniana propiciou unrn larga contribuio tambm histria evanglica. Em 1950 e 1951 H American School de Jerusalm efetuou duas campanhas de esca-vaes na Jeric herodiana, representada por dois tell que levam n nome de Tulul Habu el 'Alyiq, junto da Jeric moderna. Guiou a primeira expedio J . Kelso, a segunda F. V. Winett e J. B. Pritchard.

    O tell meridional, margem direita do Wadi el Qelt, o que revelou as maiores novidades. Urna grande trre quadrada em pedra, dividida . em nove quartos e com dois andares, identificou-se corno uma das duas trres helensticas destrudas por Pompeu Magno em 63 a. C. (Estrabo 16,2,40): sua construo pode muito bem remontar quele Bquides, que edificou "a fortaleza de Jeric" (1 Mac 9,50). A essa trre encimou-se um edifcio, exibindo a tpica tcnica hero-diana e destrudo pelo fogo, talvez por obra de um tal Simo que se rebelou contra o descendente de seu nntigo benfeitor (FLVIO JosEFO, Guerra ludaica I, 21,4; II, 4,2). Tocava a Arquelau recons-truir o palcio paterno destrudo (Fr.vrn JosEFO, Antiguidades XVII, 13, 1).

    Os arquelogos americanos tivcrnrn a rnrte de desentulhar, no cimo do tell, os restos de um grande eflifcio, relevante a caracters-tica tcnica romana do opus reticulaturn e do opus qundratum que se podem contemplar em Roma, Pompin, Tvoli etc. A construo mnis notvel conservuda , purm, urna esplndida fachada que do-mina o curm . do rio, liga

  • BBLIA E ESCAVA\;ES PAU:ST!N.!ANAR 39

    cermica e as moedas levam a atribu-lo a Arquelau. Falta a essa construo, interpretada como um ginsio, a tcnica romana caracte-rstica dos demais edifcios contemporneos: sugeriu-se, todavia, ser o opus, reticulatum pouco usado nos edifcios pblicos.

    Certamente Jesus em suas visitas a Jeric pousou seu olhar sbre essas luxuosas vivendas, feitas "pelas mos dos homens" pode-rosos; mas no mister muita fantasia para entrever que a pregao do Mestre se dirigia aos mseros tugrios em terra batida, distantes apenas um quilmetro, habitados por aquela gente pobre, que o aclamava e lhe arrancava os milagres.

    A historicidade do Evangelho da infncia de Jesus recebe uma valiosa confirmao das pesquisas recentes, efetuadas pela Custdia Franciscana da Terra Santa, em duas localidades evanglicas, parti-cularmente caras sensibilidade crist.

    Em Klzirbet es Siyar, a dois quilmetros a leste de Belm, a tradio localiza aqule "campo dos pastres", sbre o qual resplan-deceu na noite de Natal a glria divina e ressoou, por primeiro, a boa-nova do nascimento do Redentor (Lc .2,8). Aqui o franciscano Virglio Corbo, em duas expedies (1951-1952)-, descobriu a exis-tncin, na poca herodiana, dum lagar e de grutas para habitao, usadas sem dvida pelos pastres. Neste stio, no ocaso do sculo IV ou no incio do V, surgiu o primeiro1 mosteiro, ladeado por uma igrejn, perpetuando assim atravs dos sculos a lembrnna precisa do local privilegiado.

    Aps as escavaes de 1955 feitas pelo franciscanu B. Bagatti, resultou que a gruta atualmente venerada na Baslica da Anunciao em Nazar no era seno a borda duma habitao. Com efeito, na t'.poca romana, contempornea ao Evangelho, a regio rochosa, que se alonga ao norte da Igreja medieval, mostrava uma rde de lapas, cisternas, silos e lagares que constituam locandas de casas ora desa-parecidas, habitadas por uma populao agrcola. Em relao direta com essa gruta, descobriu-se uma baslica bizantina, ostentando acen-tuadas analogias com aquela erguida contemporneamente (aps o ano de 400) no Getsmani. As escavaes hodiernas foram-nos a aceitar o testemunho dos antigos peregrinos, segundo os quais a igreja teria surgido onde antes estava a "Domus constructa" de Nossa Senhora (Lc 1,28) e a considerar a gruta no como a "Capela do Anjo" ou o "Tmulo de So .Jos", mas como o poro da casa ora de-saparecida.

    Em El Azariyelz (a Betnia evanglica) a figura de Lzaro surge pela segunda vez da sepultura: a faz-la aparecer no mais o

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  • 40 A BBLIA E AS LTIMAS DF.SCOBERTA"

    taumaturgo Jesus, mas os arquelogos. Os dominicanos Benoit e Boismard estudaram pacientemente os grafitos e desenhos que cobrem as paredes dum antro descoberto em 1950, a 400 metros do tradicional tmulo de Lzaro, na propriedade das Filhas da Caridade de So Vicente. Particular emoo assalta-nos au lermos as inscries, quase tdas em grego, referindo inmeros nomes prprios (Florus, Glycria, A bidela, Makai, Barrabs), invocaes no Senhor miseri-cordioso (Kyrie eleison), ao "Deus dos Cristos", e, em particular, a prece que rememora a ressurreio de Lzaro: "Senhor Deus, que ressuscitnste a Lzaro dentre os mor los, lcmhra- te de ten servo Asklpios e de tua serva Quionion".

    No dizer dos supramencionados estudiosos, estamos diante duma cisterna que, n partir do sculo V, foi visitada pelos romeiros que acorriam ao tmulo de Lzaro. Precioso testemunho duma piedade antir,a, que sacudiu o indiferentismo, mesmo dos que no eram cristos, do momento em que um

  • Bf.BLIA E fJSCAVAES PAl,ESTINIANAt; 41

    ccu-lhe a interpretao "sensacional", de que j dissemos no primeirn captulo. Teramos aqui uma comprovao dos lamentaes, feitas sbre Cristo morto pelos apstolos, e a indicao de seu suplcio (lous ai de mim; alth: lamentao; as cruzes significariam: "fc foi crucificado"); teramos, alm disso, o mais remoto testemunho sbre a cristandade nascente; a sepultura da famlia de Barsabs e de seus membros, alguns dos quais mencionados pelo.; Atos (Atos 1,23: Jos; 15,22: Judas) .

    A C%a precipitada reconstruo os arquelogos responderam que o nome de Jesus e de outras pssoas rememoradas no N. Testa-mento freqente na onomstica palestinense e que os dois textos gregos no podem por ora receber uma verso segura, por causa dos trmos obscuros, no permitindo, por conseguinte, a reconstruo histrica supradita.

    Na propriedade franciscana do "Do mi nus f levit'', sbre uma das ladeiras do monte das Oliveiras, em 1953 e 54 o franciscano B: Bagatti descobriu um inteiro cemitrio, contendo 400 tmulos, 23 ossrios e 5 sarcfagos. A importncia dessa necrpole, datvel em base aos achados arqueolgicos da poca herodiana, deve-se descoberta de numerosos nomes evanglicos, em hebraico (Matanias, l\1arta-Maria ou ento Marta e Maria, Salom e os seus, Simo bar Jonas) e em grego (Jairo, Zacarias) e a de smbolos cristos. Mais que os nomes, so sses smbolos que levam a consider-lo um cemi-trio judeu-cristo do I sculo. Damos, com efeito, com um "mono-grama constantiniano", que relembra o que foi recentemente encon-trado numa jarra de Pompia e numa casa de Dura Europos. Temos tambm outro monograma combinado com a letra ~B; que pode inter-pretar-se Jesous Christos Basileus (Jesus Cristo Ri) ; finalmente uma cruz bem desenhada.

    Aps essa recente descoberta pode-se, com certeza, considerar cristos tambm os ossrios de Talpiot. A cruz que encontramos em ambos os cemitrios e tambm em ossrios do monte das Oliveiras recebeu diversas interpretaes profanas, tem muita probabilidade ele ser o fatdico emblema com que os cristos de ontem e de hoje exprimem sua adeso ao Cristo, que rnube transformar sse suplcio infame em instrumento de Salvao e ttulo de glria.

    Dsse rol de convergncias, a gloriosa comunidade crist de Jerusalm, conhecida pelo Livro dos Atos, ilumina-se de nova luz. E o mrito pertence ainda arqueologia.

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  • 42 A BIBLIA E AS LTIMAS DESCOBERTAS

    Dessa rpida e incompleta resenha, o leitor pde certificar-se de que a arqueologia palestinense, se bem que tenha ilustrado tantas pginas bblicas, at ao ano de 1947 no nos forneceu nada de comparvel s grandes bibliotecas da Babilnia, da Assria, de Ugarit ou aos arquivos do Egito.

    verdade que, de quando em quando, algum documento epigr-. fico veio luz das escavaes palestinian.as: basta lembrar as cartas de Lquis, os potes da Samaria e os de Tell Qasileh. Achamo-nos porm, em face de textos breves e mesmo fragmentrios, que se eclipsam diante do A. Testamento, o qual, mesmo transmitido em cpias, das quais as mais antigas remontam ao fim do primeiro milnio da era crist, foi at . 1947 prticamente a nica literatura hebraica.

    Os anos de 1947 e 195Z marcaram, todavia, o fim des~a lamen-tvel inferioridade da Palestina em fato de manuscritos. Os 1'manus-critos do Mar Morto", como geralmente se denominam os documentos de Qumran, de Wadi Murabaat e de outras localidades do deserto de Jud, postos a descoberto precisamente nesses dois anos, repre-sentam a grande biblioteca palestinense, que rivaliza magnificamente com as maiores do Oriente: pois, enquanto nos consente de controlar a fidelidade da transmisso textual do A. Testamento, ela ilumina de modo particular o ambiente religioso em que nasceu o Cristianismo.

    Tambm recentemente o pas de Jesus mimoseou-nos insolita-mente com numerosos papiros gregos e latinos. So os provenientes ela Auia-el-Hafir (a antiga Nessana) na Palestina meridional, onde a expedio Colt realizou escavaes em 1937. O maior intersse situa-se, porm, nos trs papiros, em forma de cdice, reportando-nos ao Novo Testamento, mormente aos dois amplos fragmentos do Evan-gelho de S. Joo que remontam ao sculo VII ou VIII.

    Os manuscritos, porm, do Mar Morto tm sempre a primazia: por isso que um especialista, afeito a controlar rigorosamente suas expresses, saudou-os como "a maior descoberta de manuscritos nos tempos modernos" (W. F. Albright).

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  • CAPTULO III

    BiBLIA E ARQUEOLOGIA OIUENTAL

    No mistrio para ningum que a arqueologia oriental recebem seu impulso inicial da Bblia. At aos meados do sculo passado, quando se abre a era das escavaes, o Oriente antigo sobreviveu na memria das geraes unicamente merc da Bblia.

    Muitas clebres cidades orientais, que h milnios a areia j cancelara da histria, revivem ao longo de suas pginas suscitando a mais variada seqncia de impresses: a trre de Babel, que j se tornou o smbolo do eterno desafio do homem divindade; a Babi-lnia de Nabucodonosor, testemunha do pranto amargo e da angus-tiada nostalgia dos hebreus, abandonados sombra dos salgueiros, ao longo dos numerosos audes; a cidadela de Susa, onde Neemias meditava a restaurao de Jerusalm e a doce Ester se consagrava ao amor do espso e salvao de seus compatrcis; Nnive, que na sua grandeza e riqueza prodigiosa a tantas depredaes, se humi-lha s palavras do profeta Jonas.. . uma inteira filigrana de nomes, ligados aos dramticos destinos do povo eleito.

    Por sse impulso inicial e por aqule contnuo intersse que a Bblia sempre conservou vivo entre os . profanos, a arqueologia oriental, mesmo hoje, quando j caminha independentemente da Bblia, ficou-lhe sempre muito grata. 1tsse reconhecimento demons-trou-se sobremaneira no como, quando os primeiros golpes de pi-careta no assim chaniado "tringulo assrio'', onde um dia floresce-ram as clebres cidades de Nnive, Kalhu, Dur Sarrukin e Assur, puseram a descoberto inmeros monumentos e inscries que vinham confirmar e iluminar tantas pginas bblicas.

    A preocupao inicial da arqueologia oriental, que marca seu ano de nascimento em 1842, foi a de recolher apetrechos para museu: caixas repletas de baixos-relevos e de esttuas aviaram-se aos dois grandes Museus da Europa, o Louvre de Paris e o British Museum de Londres. Somente de Nnive, entre 1849 e 1854, os inglses enderearam ao British Museum 25.000 tabuinhas. A viagem, porm, trouxe-lhes mais prejuzos do que a conquista da prprl

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  • 44 A DillL!.\ t; AS (!f,TIMAS DESCOBERTA:;

    cidade por parle dos medos: tendo-as, com efeito, tomado por ced1-mica decorada", foram desordenadamente amontoadas em c..;tos, carregadas em barcaas, para a viagem no Tigre, enfim baldcndas cm navios em demanda da Inglaterra... Copiaram-se as inscrie,; que acompanhavam os baixos-relevos e as esttuas: mas faz-se mister esperar at o ano de 1857 para poderem ser lidas com alguma segurana. 1\1uitos outros anos devero ainda transcorrer a fim de que a esta cobia de cacos para museu e de inscries, suceda a preocupao cientfica de reconstruir a histria duma regio, atravs da estratigrr.fia e d[l rernmornfia: antes, o mtodo cirmtfiro, inau-gurado por Sarzec em Telas, foi prticamente aplicado somente aps a primeira guerra mundial (mapa 2).

    ConsABAD (DuR SAnnuKIN). - Aps ter esnwndo em Corsabad de 1843 a 18+4, o cnsd francs P. E. Botta ammciou ao mundo a descoberta da cidade de Nnive. Essa, ao invs, jazia rnb o tell Kuyundjiq, que le sondara em dezembro de 184.2 e abandonara em seguida por motivos de resultados muito parcos: Corsabad representava outra capital assria Dur-Sarrukin, de existncia to efmera como a vida do monarca Sargo II. Em fevereiro de 1847 chegou a Paris o primeiro carregamento excepcional de relevos assrios e de ljeas esculpidas.

    Outro francs, Victor Place ( 1852-1854) recuperou mais relevos assrios do grande palcio de Sargo II: infelizmente a preciosa carga, que devia embarcar-se em Bassora, afundou no Tigre e somente um dos touros androcfalos e o grande gnio alado puderam atingir a glria do Louvre.

    Enfim o americano G. Loud, com o financiamento do colossal Instituto Oriental de Chicago, efetuou ali escavaes sistemticas de 1929 a 1935, recolhendo os preciosos testos, fugidos lauta mesa dos primeiros dois franceses . Na verdade valiosa migalha a grande lista real descoberta durante a expedio de G. Loud de 1932-33 e publicada em 1942-1943 por A. Poebel. Outro rol muito semelhante ao divulgado em 1942-1943, apareceu em 1954. Cotejadas com outras listas fragmentrias, j possudas e controladas nos sincro-nismos fornecidos por diversos outros documentos, elas nos facultam datar o reino de Shamshi-Addu I, rei da Assria, e nos obrigam a remoar o grande rei Hamurabi de Babilnia, que os textos de Mari os fazem contemporneos. Naturalmente tda a cronologia oriental do segundo milnio subverteu-se com sse rejuvenescimento de Hamurabi.

    O grandioso palcio de Sargo II, descoberto pelos dois franceses aps os meados do sculo passado, brindou os melhores relevos do

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  • BIBLIA F. ARQl'~:OLOGIA ORIENTAI, 45

    Oriente; originriumente devilm les cobrir no menos de 5000 metros quadrados de pedra. Dos Anais e dos Fastos do monarca assrio temos a confirmao da conquista da Samaria, iniciada por Salmanasar III, mas levada a trmo somente pelo sucessor Sargo II. Deve-se notar somente que a Bblia atribui a Salmanasar (2 Rs 18,9-10) a conquista da cidade que Sargo, em seus Anais, em vez, reivindica para si. Temos tambm confirmada a substituio da populao hebraica com povos orientais que deviam mais tarde dar origem aos samaritanos (2 Rs 17 ,24).

    A imponncia da cidade construda em seis anos superior do grandioso palcio, tambm pelas muralhas que a cintam, refor-adas por bem 167 to.rrees e pela trre templar, figurando a "escadl celeste" pela qual a divindade baixava ao templo, que constitua sua morada terrestre.

    KuYUNDJIQ (NNIVE). - :f:sse tell que se eleva uns trinta metros acima da plancie circunstante, com o comprimento de um quil-metro e a largura aprox_imada de seiscentos metros, por um sculo inteiro (de 1842 com B. E. Botta at 1932 com C. Thompson) cons-tituiu o centro mais luminoso para a arqueologia oriental e a Bblia. Produziu, com efeito, o maior nmero de documentos teis inteli-gncia e qmfirmao da historicidade bblica.

    Os monarcas assrios Senaquerib e Assurbanipal nela deixaram seus imponentes palcios documentando as grandes paixes dominado-ras de suas vidas: a caa, a guerra e as belas artes.

    As cenas de caa do palcio de Assurbanipal assumem valor artstico mximo e universal. A biblioteca dsse munarca guardou--nos as maiores obras mitolgicas e as melhores epopias do Oriente antigo. Bastam alguns ttulos: as sete tbuas da criao, tratando o mesmo tema e refletindo as mesmas concepes cosmolgicas da criao bblica; as doze tbuas da epopia de Gilgams, que retomam os motivos, caros antiguidade, do herosmo e da imortalidade e nos relatam o dilvio babilnico, muito afim ao bblico; a lenda de Etana; o mito de Adapa e o de Zu. Os Anais (cilindro Rassam) de Assurbanipal transmitem aos psteros seus feitos guerreiros e atestam o tributo de Manasss, rei de Jud (cfr. 2 Crn 33,11 ).

    O palcio do guerreiro Senaquerib conservou-nos os anais defi-nitivos dsse terrorista do Oriente: so o prisma Taylor e o do Insti-tuto Oriental de Chicago, confirmando o assdio de Jerusalm no tempo de Ezequias (2 R.s 18-19; 2 Crn 32; Is 36-37) e concordam substancialmente com a narrao bblica, sobretudo admitindo-se, como fazem alguns exegetas e historiadores, duas campanhas de Senaquerib na Palestina, uma em 701-700 e outra posterior. Um

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  • dos relevos mm r
  • B[Bl.IA ~; J\KQl'~O(.()GI,\ om~:NTAJ. 47

    a qual

  • t,. ,, A B!ll.IA ~; AR t":I.Tl!\I Af' l>l:sconi;;RTAS

    ~eu rei, temos 11m

  • 49

    . e Ninhursag., acentuando a criao de algumas plantas medicinais, foi insistentemente coligado com a narrao bblica do paraso terres-tre e a queda dos progenitores; o do dilvio de Ziusudra, o No su-mrico, atesta-nos a extrema antiguidade do tema diluviano. Outras obras so o mito da descida de /nana ao Inferno, donde volta trazendo demnios consigo; o de Innna que prefere Enkimdu a Dumuzi; a epopia de Gilgams e A1ra de Kis; a aventura de Gilgams na regio da vida e sua morte.

    Catalogando as numerosas tabuinhas contidas no Museu Univer-sitrio

  • 5G A BlllJ.IA E Af' (1J,Tll\1Af' nP.f'fOBF.R'fAf'

    TELL Ano H.'\JtMAL. - Esta elevao, nos nrrahaldes de Bagdad; rasgada pelos arquelogos sob a direo da Superintendi'ncia iraquena de Antiguidades a comear de 1945, deve sua fama a duas tabuinhas (n. 51029 e 52614 do Museu de Bagdad) que encerram o cdice de Bilalama, um dos primeiros reis do estadozinho amorreu de Eshununa, que viveu pelo ano 1950 a. C. f:sse cc'Jdice formado por 60 artigos com prc'Jlogo e eplogo, foi publirn

  • 51

    No prinwirn perodo hi~trico, m1lcrior ocupao de Sargo de Acad, Mari governada por 11ma dinastia semtica: um dsse~ reis, Lamgi-Mari, deixou-nos uma esttua que o representa em ato de adorao diante de sua deusa.

    Essa esttua, como a do intendente Ebih-il, e cinqenta outras estatuetas inteiras ou fragmentrias -- s vzes h somente a cabea - um ex-voto proveniente do templo da deusa Ishtar (fig. 3). Nada mais tocante que esta estatueta de adoradores e adoradoras: na inten-o dos CYfertantes, deviam prolongar a adorao pelo tempo em que les estavam entregues s coisas profanas, longe dos olhos da divin-dade! Ela nos comprova que mc~mo h quatro mil anos o homem jamais se sentia to grande como quando se humilhava diante da divindade.

    No outro templo, consagrado deusa Ninhursag, num~ placa de madreprola, eterniza-se o gesto de oferta de um cabrito, feito por um homem trajando veste peluda.

    Aps um perodo de dominao por parte da terceira dinastia de Ur e uma emancipao por obra dos governadores 1ocais, a come-ar dos meados do sculo XVIII, Mari governada por uma dinastia amorria. Por vinte anos, porm, o poderoso rei assrio Shamshi-Addu impe-lhe a supremacia: representando o rei da As-sria nessa cidade, est o filho Iasmakh-Addu, que merecer ardentes exprobraes do enrgico pai . pela sua indolncia e moleza. Esface-lado o interregno assrio, Mari tornou-se independente por mrito de Zimri-Lim. A estreita amizade, porm, dsse soberano com Hamu-rabi, devia concluir-se trgicamcnte com a furiosa destruio da cidade nos anos 32 e 35 do monarca babilnio.

    O poder dh dinastia amorria de Mari releva-se magnlficamente do grandioso palcio real, j na antiguidade universalmente conhe-cido como "a jia da arquitetura oriental arcaica'', ocupando com seus 206 quartos dois hectares e meio do tell. Surpreende a tcnica com que se assegurou a iluminao natural dsse imenso edi-fcio completamente desprovido de janelas. A ampla abertura das portas que davam ao ptio interno, permitia luz, que inundava essa rea, projetar-se em todos os ambientes. Admira outrossim o cuidado com que se ins.talaram os servios higinicos, tanto que nada deixam a invejar aos modernos. O profundo gsto artstico dsses semitas ilustra-se pelas grandes composies pictricas, cobrindo as paredes de uma sala: duma ampla cena sacrifical subsiste um touro, con-duzido ao sacrifcio por um homem com barba, cujas faces aver-melhadas contrastam fortemente com o negro da ris dos olhos, dos bigodes e da barba; mais conservada a cena interpretada como uma investidura real pelas mos da deusa Ishtar. Uma deusa est

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  • 52 A BRl.IA ;; ,\S (: t : rtMA:-< l>l;Sf'Ol!lrnTAI'

    figurada num relvo de pedra, em ato de inebriar-se no perfume de uma flor. Contemporneos dessa rgia so os templos de Ishtar e de Dagan; a sse ltimo est anexo um torreo templar, construdo roma tcnica usada por Salomo no templo (1 Rs 7,11-12).

    Descobriram-se no palcio rgio os arquivos reais, constitudos por mais de 23.000 tabuinhas de argila, escritas em lngua acdica, mas com algumas peculiaridades gramaticais e lexicogrficas amor-rias: 15.000 tabuinhas so textos jurdicos, econmicos e religiosos; as demais 5000 relatam a correspondncia de Shamsi-Addu e dos filhos, e a do rei Zimri-Lim com seus embaixadores, observadores e informadores, com os reis vizinhos, em particular com Hamurabi da Babilnia e mesmo com os familiares. Essas tabuinhas so as mais importante descoberta de Mari: fornecem, com efeito, preciosas not-cias da geografia, da toponmica, da histria poltica, comercial, reli-giosa da Mesopotilmia. Como veremo ~ nos respectivos captulos, elas revestem peculiar intersse para a poca patriarcal e para algumas instituies hebraicas, entre as quais o profetismo.

    Delas aflora outrossim a "pequena histria" tecida de pequenos episdios, ora prazenteiros, outras vzes de preocupaes delicadas,

    que avizinham sses longnquos semitas da nossa humanidade moder-na . Particularmente tocante a amorosa recomendao feita pela espsa a Zimri-Lim a fim de que se cubra bem durante a viagem, para no apanhar frio, e a no menos desvelada ateno em lhe enviar vestes pesadas. Qual pai exemplar, o monarca assrio Shamshi-Addu desejaria ver os filhos trilharem seu nobre exemplo. Um dos dois filhos, Isme Dagan, um homem enrgico, o outro, em vez, Iasmakh--Addu, indolente e irrefletido. O pai escreve-lhe: " ... enquanto teu irmo aqui mata o dawidum, tu, ao invs, preferes ficar no leito com as mulheres. Quando, porm, fores com a armada para Qata-num, s homem. Como teu irmo granjeou celebridade, tu tambm o

  • BIBl. IA E ARQUEOLOGIA OltlENTAI. 51

    fica "rnben do funcho'', foi arqueologicamente explorada pelo frnu-cs C. Schaeffer de 1929 a 1939. Aps o ltimo conflito, em 1948, reabriram-se os locais de trnbalho e todos os anos as expedies arqueolgicas so particularmente generosas. A despertar a ateno dos arquelogos foi n charrua de um campons, que cnsualmente empuxara uma sepultura em Minet el Beida.

    Aps ter explorado as necrpoles de Minet e1 Reida, ricas em cermica micenia, acometeu-se tambm o tell de Ras Shamra, a 800 metros ao Jc,te . Os cinco estratos arqueolgicos estendem-se da poca cakoltica at ao sculo XII, quando, com a invaso dos povos do mar, a cidade fica abandonada e recoberta pelas areias. Depois do ano 2000, Ugarit habitnda por gente semtica, comer-cialmente relacionada rnm u Mdio Eufrates (Mari) e com o Egito (XII dinastia). A sse perodo pertencem os templos de :Baal e de Dagan com as numerosas cstclas e esttuas de Baal, que' revestem enorme intersse para

  • 51 A BIBLIA E AS 1!1.TlMAS DESCOBERTAS

    mente atribudo ao grupo ocidental da5 lnguas semticas e, mHis precisamente, ao grupo cananeu.

    Para a histria do alfabeto es.:;a uma descoberta de impor-tncia rripital: demonstra que le existia jn no sculo XV a. C. Se, aMm disso, considerarmos a tabuinha descoberta em Ras Shamra em novembro de 1949, contendo o abeced1rio ugartico, infere-se clarnmente que as letras do alfahelo fencio, no qual se inspiram 03 alfabetos grego e latino e por conseguinle os modernos, tinham a ordem atual j1 no sc. XV: de fato o alfabeto cuneiforme de Ugarit limitasc a intercalar nas consoantes fencias os valores que lhes siio prprios e que reproduzem certos fonemas depois desapareci-dos do alfabeto canancn-hebrairn, e a acrc'.'cer no final trs letras rnplementares.

    A lngua alfabtica niio era, porm, a nica a ser conhecida nessa cidade cosmopolita. As escavaes realizadas antes e depois da ltima guerra mundial desvendaram-nos textos e~critos em mais quatro idiomas: o sumPrico, o ac1rlico, o hurrtico e o egipciano. Coisa ainda mais surpreendenle: algum textos em lngua hurrtica e acidica foram escritos com caracteres ronsonntiros, e no com os normms

    cune~formcs silibicos usado~ no _Oriente. Os textos mitolgir.o-religiosos da hihliotern do templo de Baal

    concentram j n Rtcno dos orientali.>tas e biblistas: les representam jbre a comparao filolgica com as lnguas semticas afins; depois a incerteza em agru-par as vrias tabuinhas; finalmente o derncrdo sbre a natureza dos textos tanto que no sabemos exatamente se constituem dramas cul-tuais ou cantos rituais ou lendas e mitos.

    Os poemas so: o ciclo de Baal e Anat, a lenda de Keret, a de Aqhat, o Nascimento dos deuses, as Npcias de Nikal e da lua. Comumente o ciclo de Baal e Anal assim reconstrudo: Baal, deus da primavera e das fontes, recusa submeter-se ao "prncipe do mar" que detinha o domnio do mundo: com a ajuda da virgem Anat vence o dspota .. e torna-se deus soberano, enquanto El permanece sempre o deus supremo. Para que sua soberaniH seja plenn, le pede e obtm do velho EI um pal'icio, que lhe coust rudo pelo deus

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  • BfBLL' l!l ARQUEOLOGIA ORIENTAI, 55

    artista e arteso Kotar-e-Hsis. A descrio e a imaginao dsse edifcio relembram a construo do templo de Salomo.

    Contra Baal, porm, insurge:se Mot, que representa a fra do calor e do vero, em relao ao inferno, e o mata. A frm Anat recupera o cadver de Baal e o sepulta; depois, para ving-lo, trucida o adversrio, disseca-o, f-lo moer e semeia-o no terreno a fim de chamar vida, com um rito de magia simptica, o irmo.

    O ciclo concentra-se num duplo antagonismo: aqule entre Baal e o prncipe do mar, que uma potncia primordial, terfica, e aqule entre Baal e Mot. 'ste ltimo relembra os mitos orientai; de Tamuz, Telepino, Adnis, que ~e inspiram ao alternar -se das estaes no Oriente.

    A lenda de Keret a histria legendria de um rei que perde tda sua famlia e pede um filho ao deus EI. O deus afiana-lhe uma mulher, que le dever conquistar com as armas e que lhe dar sete filhos e uma filha. Essa ltima de nome "Otvia", porque oitava entre os filhos , suplantar o primognito e lhe ocupan o lugar: na Bblia, mormente na poca patriarcal, a idia de que o caula sobre-puje o mais velho um motivo corrente.

    A lenda sublinha o estreito liane, nitidamente oriental, entre o destino do rei e seu reino, por isso Pste definha na indigncia e na cstingem pela doena de seu senhor.

    A lenda de Aqhat, de carter semi-mitolgico, narra as vicissi-tudes do filho, que Danei consegue por intercesso de Baal. Tendo-se negado a ceder o arco belicosa deus

  • 51.. A B1BLIA E AS LTIMAS OESCOBERTA8

    afinidades com o mundo do Velho Testamento. Muitos trmos que ocorrem raramente ou uma vez s na Bblia encontram aqui eco e explicao. Muitos afins so tambm os processos estilsticos e a mtrica das duas literaturas. Vislumbraram-se paralelismos ntimos com o Saltrio, o Eclesiastes, com os Provrbios e o livro de l. Parecidos afiguram-se, outrossim, os usos e costumes: idnticos os

    ~inais de luto, o casamento mediante uma quantia paga pelo marido ao pai da espsa; a punio de uma cidade cegando um lho aos habi-lantes; a iseno do espso do servio militar. Mas, como veremos no captulo dcimo dedicado religio e ao culto, os contactos mais slidos efetuam-se no campo religioso-cultuai.

    Se no plano literrio e social a Bblia possui estreitas afinidades com o mundo de Ras Shamra, no religioso-moral, em vez, ela exibe uma consciente reao. Os perigosos deslizes da alma hebraica para aqule mundo so sombras que mais. realam o quadro.

    Alm de iluminar a Bblia, com sua copiosa literatura e abun-dante documentao arqueolgica, Ras Shamra consente reconstruir o ambiente cananeu, pouco antes de entrar em contacto com os hebreus, integrando brilhantemente a documentao que nos fornece-rnm as famosas cartas de El Amarna.

    Em Ras Shamra o rei um privilegiado, alcandorado e.;f era do divino, porque sugou o leite no seio das deusas Anat e Asherah. Seu mnus o exerccio da justia e da benevolncia, sobretudo em prol dos que se vem privados de apoio, como as vivas e os rfos. O exrcito ocupa um lugar preeminente na vida social; os chefes do exrcito e do sacerdcio derivam das classes dominantes,. no excetuada a famlia real. A tropa assistida por um sacerdote, encarregado sobretudo de consultar a divindade e auscultar os ausp-cios de xito favorvel nos empreendimentos. A vida social concen-tra-se em trno da tribo e da cidade: existem corporaes de arte e profisses. O chefe da famlia o pai, que pode ter uma ou mais mulheres. A instruo reservada somente aos que exercero a profisso de escrives. Na cosmopolita Ugarit isso comportava . o conhecimento de crca de cinco lnguas. O filho primognito, ou melhor, o filho mais idoso da mulher preferida, possui privilgios no que respeita herana paterna. Existem escravos: faculta-se-lhes, porm, o re~gate, o matrimnio e a formao do prprio lar.

    DJEBF.JL (Brnws). - As escavaes de P. Montet (1921-1924) e de M. Dunand (de 1926 a 1938; de 1948 at hoje) confirmam plenamente a grande importncia atribuda a essa cidade pelas fontes literrias e documentam fartamente mltiplos aspectos da cidade, comeando du idade calcoltica at a era romana. Se ao arquelogo

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  • BlBLIA E ARQUEOLOGIA ORIENTAL 57

    oriental interessam particularmente a urbanstica, a cermica, os utenslios, as fortificaes, as vrias necrpoles de soberbos tesouros.

    o leitor da Bblia, ao contrrio, dedica peculiar cuidado aos dois templos e s numerosas inscries.

    Um templo dedicado deusa Baalat de Biblos, que os egipcianos, em sen sincretismo. cosmopolita, identificavam com a deusa l{athor a quem gratificavam com riqussimos presentes descobertos nos de-psitos de .oferendas. '.li.le teve dois momentos de singular esplendor: antes no tempo das primeiras seis dinastias egpcias; depois quando a cidade se reergueu da aniquiladora invaso amorria iniciando uma nova vida, por mrito daqueles dillastas locais, contemporneos XII dinastia egpcia, que nos legaram suas esplndidas necrpoles.

    O segundo templo, atribudo aos incios do Bronze mdio, cons-titudo de duas salas com vestbulos, atrs das quais se erguem este-las que lembram as de Geser. Dessa cidade, cujo nome est ligado ao "livro", porque daqui os carregamentos de papiro egipciano eram baldeados para a rea egia, os exploradores desvendaram numerosas inscries que interessam, mais que a tdas as outras, histria das escritas alfabtica e bblica.

    Antes de mais nada foroso mencionar as imcries pseudo--hieroglficas, constitudas por duas tabuinhas de bronze, uma estela, trs espadelas de bronze, o retro da esptula de Asdrbal e quatro fragmentos. Essas inscries, que encerram 114 caracteres, que primeira vista parecem pictogramas muito estilizados e que so provvelmente contemporneos ao Mdio Imprio egipciano, h anos resistem a qualquer tentativa de decifrao. O professor E. Dhorme, aos 2 de agsto de 1946 cientificou Academia das lnscrie~ e Belas Letras francesas de ter resolvido o enigma dos pseudo-hierogl-ficos de Biblos, mas sua interpretao, considerando essa lngua como fencia e a escrita como intermediria entre a silbica e a alfabtica, embateu-se em muito ceticismo.

    Essa reserva desapareceu, ao invs, no tocante inscrio gra-vada num bloco de pedra, adscrita ao ano 1200 a. C., e considerada como intimamente aparentada com as vrias inscries protofencias ou protocananias, descobertas tambm ultimamente em el Khadr na Palestina.

    Peculiar curiosidade apresentam as numerosas inscries fencias de Biblos, perfoitamente legveis e que atualmente esto distribudas desde o sculo X (inscrio do sarcfago de Ahiram) at ao sculo V ou IV (epitfio de Batnoam). Alm de documentar-nos o alfabeto fencio com 22. consoantes do qual devia estar composto o texto hebraico do Velho Testamento, elas projetam luz suficiente sbre as crenas religiosas dsses povos, que assombraram o mundo antigo .

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  • 58 A BBLIA E AS LTIMAS DESCDBERTA8

    cum suas audazes emprsas martimas e realizaes artsticas. A inscrio encastoada nesse mimo da escultura fencia, que o sarc-fago do rei Ahiram, -fala-nos da piedde filial de Itoball pelo pai e do grande desejo que tinham os antigos de no serem perturbados no sono da campa. A inscrio de outro rei de Biblos, Yekimilk, mani-festa a prpria solicitude pelos edifcios de culto e a f nos deuses da cidade, dentre os quais sobressai Baal-Shamim.

    INSCRIES FENCIO-AHAMAICAS. -- As inscries fencias de Bi-blos t~ um magnfico complemento naquelas dl enterradas a rdo na rea circunstante. Bast lembrar as estelas dv "i de Hamat e de Laas, Zakir, que Pognon descobriu em 1903 em lffis, a noroeste de Damasco. Esta inscrio aramaica, em caracteres fencios, que remonta ao incio do sculo VIII a. C., celebra a vitria alcanada pelo supramencionado rei contra personagens bem conhecidos na

    . Bblia (Z Rs). Quem lha garantiu teria sido o deus Baal-Shamin "o sen: -.or do cu", o qual teria afianado isso ao rei por meio de videntes, 11tc;; da realizao.

    '?oder-se-iam lembrar ainda as numerosas inscries fencio-ara-maicas de Sengirli (a antiga Shamal), tambm do sculo VIII, que correm oob o nome de Hadad, Panamu, Kilamua e Ben-Rekub. En-quanto todos os soberanos dos pases do oeste no mostram excessivo entusiasmo em sentir-se vassalos do poderoso a.>srio Teglat-Falasar III, Ben-Rekub, ao contrrio, na sua inscrio, manifesta verdadeiro prazer pela servido e uma alma de perfeito colaborador:

    "Eu sou Ben-Rekub, filh-0 de Panamu, rei de Shamal, servo de Te-glat-Falasar, senhor das quatro partes do mundo. Pela justia de meu pai e pela minha prpria, o meu senhor, o deus Rekul-el e o meu senhor Teglat-Falasar colocaram-me no trono de meu pai. A casa de meu pai trabalhou mais que qualquer outra (zelou mais) e eu galopava junto ao carro de meu senhor, o rei da Assria, entre reis poderosos, senhores do ouro e da prata. Guardei a casa de meu pai e tornei-a mais feliz que qualquer outra de poderosos reis e os meus irmos, os reis desejavam os bens de minha casa". ".

    Essa prosperidade, todavia, "sabe a duro .;;ai"; le deve currer junto ao carro de seu Senhor da Assria!

    Po

  • BlBLIA E ARQUEOLOGIA ORIENTAL 59

    dsse breve monlito considervel. Antes de tudo fornece-nos a iconografia do deus Melqart, ao qual o rei de Israel, Acab, scubo da mulher sidnia Jezabel, edifica um templo na prpria capital Samaria ( 1 Rs 16,32). Em segundo lugar, essa estela, escrita em 850 a. C., permitiu a algum -estudioso concluir que Ben-Hadad, filho de Tabremon e contemporneo do rei Asa e Baasa (1 Rs 15,18), o mesmo que o Ben-Hadad coevo de Acab ( 1 Rs 20, 1 ) . Os reis arameus com o nome de Ben-Hadad, mencionados na Bblia, seriam somente dois em vez de trs (Ben-Hadad I, .filho de Tabremon: 1 Rs 15,18; 20,1; Ben-Hadad II, filho de Hazael: 2 Rs 13,3).

    Mas as inscries fencias que eclipsariam tdas as . precedentes so as que procedem do palcio real de Karatepe na Cilcia, onde foram descobertas imediatamente aps a ltima guerra. So .trs inscries do sculo VIII a. C. nas quais Azitawada, rei dos danunitas, canta as obras gloriosas realizadas em prol de seus sditos e dos deuses. Constituem trs recenses de um mesmo texto primitivo, reproduzido com aquela parca fidelidade literal, caracterstica dos escribas de todo o antigo Oriente. A lngua um puro fencio, com algumas peculiaridades morfolgicas e . foi traada numa prosa potica, dominada pelo paralelismo. O mrito precpuo dessas ins-cries, sem dvida, as mais longas entre as que foram descberta,s at hoj$, o de fazer-nos conhecer as concepes religiosas dsse antigo povo. A prosperidade material assegurada aos cidados, a construo de possantes muralhas de defesa, a eliminao da injus-tia social, a libertao de fras adversas que punham em nsia o corao dos . cidados, o alargamento .dos confins do reino, so todos benefcios atribudos proteo dos deuses. Em reconhecimento, o rei, fiel servidor das divindades, garante-lhes o esplendor de seus templos e abundncia de sacrifcios.

    As divindades so aquelas caraCtersticas do Panteo cananeu, acompanhadas, porm, de atribuies locais; entre elas sobressaem Baal, Baal-Shamim, Resheph, Shamash, a assemblia dos filhos de Deus, El. Especial ateno merece o atributo de El "criador da terra e do cu" .('l qn 'rs wshmm), idntico ao do Deus cananeu" Mel-quiscdec ( Gn 14, 19). Outro grande mrito dessas inscries o ter--nos fornecido a chave para decifrar os hierglifos hititas, 9ue no obstante os esforos ince~santes dos estudiosos como Bossert, Gelb, Horzny e Meriggi, constituram at hoje um enigma insolvel.

    Essa decifrao ser possvel graas dplice recenso em hierglifo hitita, apoiando, passo a passo, a trplice recenso fencia .

    TELL ATSHANAH (ALALAKH). - Nessa capital .do antigo reino de Mukishkhe, situada nos arredores de Djisr el Hadid, no caminho

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  • GO A llflll.IA F: AI< f l l,TIMAI" IH:X
  • BIBI,IA ~l ARQllF.01.0GIA ORIENTAI, 61

    vrias parles da sia ocidental e tambm no Egito e que, hoje, coli-gam-se insistentemente com os hebreus.

    Para cavar a vida, o rei destronado exerce por sete anos a adivi-nhao, interpretando o vo das aves, o movimento dos intestinos dos rnrdeiro~.

    Esta sua habilidade no nos deve surpreender, porque a ins-n:io revelou, de modo inesperado, ser le coevo do famoso adivinho Balao, que o esprito do Senhor constrangiu a abenoar os israelitas, quando le, assoldadado pelo rei Balac de Moab, devia, com suas artes mgicas, impedir-lhes a irresistvel marcha. De fato, a Bblia atribui a Balao como ptria a regio de Aman (Nm 22,5), a mesma regio situada no vale de Sajur, entre Alepo e Carcamis, onde, no dizer da inscrio, imperava o rei Idrimi. No h quem no veja a preciosa confirmao que ste texto d histria do adivinho Balao. A regio de Aman devia gozar de fama particular por essa espcie de profisso, se, mesmo de longe, recorria-se a ela.

    Mas tambm as numerosas tabuinhas acdicas do sua valiosa contribuio Bblia. Conquanto publicadas recentemente ( 1953), hoje j possvel inferir vrias concluses, sobretudo no que concerne estrutura social daquela antiga populao, que tem pontos de con-tacto com a israeltica. Das tabuinhas de Alalakh j certo que o trmo hophssi, encontrado na Bblia (P:x 21,5; 1 Sam 17,25) e com que damos em tdas as literaturas orientais, designa um indivduo que desfruta liberdade civil e que, sob o ponto de vista social, algo de entremeio na classe aristocrtica proprietria de terras e a dos r.scravos.

    * * *

    Para que nossa resenha seja menos incompleta deveramos re-memorar, pela sua particular interferncia com a Bblia, as escava-es de Boghazkoi, iniciadas em 1906, e que nos deram a conhecer os hititas, revelados at quarenta anos somente na Bblia.

    Enquanto essas escavaes confirmaram ainda uma vez a plena historicidade do Livro Sagrado, permitiram-nos reconstruir, das mi-lhail'es de tabuinhas ali descobertas e em seguida brilhantementP decifradas, a milenria histria dsse povo, mxime sua legislao, que revela muitas concordncias com o direito bblico.

    Deveramos recordar ainda as escavaes de Babilnia, onde uma misso alem guiada por R. Koldewey (1899-1917) ps a descoberto os palcios que contemplaram prisioneiros os reis de Jud e os ban-quetes do mpio Baltaza.r, o trplice cinto fortificado, os templos de Ishtar e de Marduk com o relativo torreo templar, que pode ter

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  • BBLIA J: AltQlmOLOGJA ORmNTAJ. 63

    a cidade, capturou o rei

  • G1 A BIBI.IA r. AR J.TIMAR llf; fWOBf:HTAR

    tetnicas. O mrito dPsses cilindros o de atestar-nos que o sonho o caminho habitual com que as instrues divinas se comunicam aos homens ( cfr. 1 som 28,6) e que a construo de um templo no Oriente deve sempre regular-se por uma especial revelao do alto (1 Rs 3,5-15; 9,2-9).

    Mas a arqueologia mesopotmica possui seu segrdo, g:i;andioso e aterrador ao mesmo tempo, que no obteve ainda uma adequada soluo. Quem no-lo apresenta a antiga cidade sumrica de Ur (a atual Muqajar), da qual, no segundo milnio, saiu o Patriarca Abrao seguindo a luminosa vocao divina, que o queria estpite do povo eleito ( Gn 11,31). Um sentido de verdadeiro assombro assal-ta-nos ao contemplar tdas aquelas grandes personagens da antiga cidade sumria, que os arquelogos surpreenderam em seus suntuosos sepulcros, circundados de seus tesouros e acompanhados por uma crte de guerreiros em plena compostura militar, por condutores de carros, por cantatrizes luxuosamente adornadas, de mos imvei~ sbre as cordas de suas harpas. Num s tmulo enumeraram-se nnda menos de 74 pessoas, das quais 68 mulheres.

    Embora essas tumbas de Ur exprimam a mesma crena no alm, qua,nto diferem da msera sepultura, que o cansado patriarca hebrell t

  • \PTPT.O !\'

    BiBLIA E ARQUEOLOGIA EGIPCIANA

    Se foi a -Bblia que levo os arquelogos ao Oriente, no Egito, no invs, foram as tropas napolenicas que os arrastaram, durante a aventurosa expedio egpcia ( 1798) daquele Cabo de Guerra cuja ambio tinha por confins o mundo. tsses primeiros arquelogos tiveram que limitar-se a admirar os grandiosos restos de um glorioso passado, desprovidos como estavam de qualquer preparao tcnica, ~obretudo do conhecimento da lngua egpcia. Somente aps a ousadu decifrao dos hierglifos egipcianos, feita por F. Champollion ( 18~2), a arqueologia pde verdadeiramente iniciar sua apaixonante aven-tura na terra dos Faras. . No nosso intento fazer reviver ns etapas de;sa explorao arqueolgica, que teve j horas gloriosas at ltima guerra mundial, e que promete maiores lauris para o' futuro, j que podem considerar-se bons auspcios os .mrpreenden ies resultados obtidos, nesse ltimo decnio, por numeroso grupo dP arquelogos egipcianos j familiarizados com a tcnica mais avan-ada.

    Limitar-nos-emos a recolher aquelas vozes do passado, que nos falam da Bblia e de seu ambiente, com particular considerao por aquelas recentes (mapa 3).

    Abalanando uma comparao com o Oriente, cai logo aos olhos a grande inferioridade da contribuio arqueolgica egipciana causu da Bblia. As referncias a Israel na literatura histrica do Egito, que permitam liames seguros com os fatos narrados no Livro Sagrado, so relativamente raras. No devemos, contudo, admirar-nos demais. Um evento que interessava histria hebraica, no interessava nos analistas egipcianos, e, da, no merecia ser imortalizada na pedra. 1:: mter, alm disso, notar que os Faras no estavam afeitos u relembrar as derrotas sofridas e que, a seus olhos, os grandes reis assrios ou babilnicos avultavam muito mais do que a insignificante gente hebraica. O pequeno povo de Israel nunca teve, nem me.,mo no znite de seu poderio, seno papel de segundo plano na poli tica i 111 NnacionaI.

    5 - .A. Blbliet e a. ltimas ...

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  • 66 A BBLIA (.] Afi (;J.TIMAfi DEfiCORlmTAf<

    TEBAS. - a cidade egpcia maior e mais famosa da antiguidade, e outrossim a que nos forneceu maiores confirmaes epigrficas, concernentes Palestina e aos hebreus.

    Dos quatro principais subrbios modernos, que oupam o local da velha cidade, o mais importante certamente Karnak: as impo-nentes runas de seu templo, dedicado ao deus Amon-Ra, devem sua fama s paredes sbre que os Faras do noVD imprio eternizaram seus brilhantes feitos de paz e de guerra. Somente do templo de Karnak procedem os anais daquele Tutmsis III, que guindou ao apogeu 'O poderio egpcio e realizou, em vinte anos, dezesseis expedi-es sia, a primeira das quais lhe permitiu arrasar em Magedo ( crca de 1468) colossais fras asiticas a ,le adversas. Daqui deri-vam tambm os anais de Amenfis II e de Seti I: a campanha de Seti I na Palestina, aqui descrita, foi brilhantemente confirmada

    pela~ duas estelas descobertas em Retsan, na Palestina. Os anais de Sheshonq I, que daqui provm, possuem peculiar

    intersse para a Bblia, sobretudo pela longa lista das cidades con-quistadas na sia, que Me fz encasloar, imitau dos Faras predecessores e de modo particular do grande Tutmsis III. No s sse Sheshonq o primeiro rei egpcio, lembrado, com seu nome, na Bblia (Ses.ac: I Rs 14,25-28), mas i' o primeiro a mencionar-se, entre as setenta e cincn cidades asilicas, com nomes autnticamente cananeus, um lugar denominado "recinto de Abrao", sem dvida o antepassado dos hebreus. Dois monumentos descobertos no Oriente, a estela de Magedo, com o seu 1mme gravado, e o slio encimado por uma es