- A categoria gramatical de género do português antigo ao português actual. - Maria Carmen de Frias e Gouveia (Universidade de Coimbra / C.E.L.G.A.)

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    Maria Carmen de Frias e GouveiaUniversidade de Coimbra / C.E.L.G.A.;[email protected]

    A categoria gramatical de gnerodo portugus antigo ao portugus actual

    Introduo comum identificar-se o incio do Portugus Moderno ou Portugus Clssico

    com meados do sculo XVI, mais frequentemente com 1536, data da publicao daGramtica de Ferno de Oliveira, j que parece confortavelmente seguro promovera primeira gramtica portuguesa a primeiro testemunho da lngua na sua fase clssica(Castro, 1991:243).

    Com efeito, neste perodo que a lngua portuguesa comea a adquirir a sua feioactual. Se bem que haja j superao de alguns aspectos mais arcaizantes1 a verdade que relativamente ao gnero se est ainda um pouco num perodo de transio. frequente, alis, encontrarmos neste sculo, tal como em Portugus antigo, algumashesitaes de gnero (cortandolhe as pernas lanouas a huma lebre [...] porque holebre[...], J. Ferreira de Vasconcelos cap.18, 104), adjectivos hoje uniformes como bifor-mes, por exemplo, ruda forca (Cames, Os Lusiadas, II, 65), etc.

    De qualquer modo, a partir deste perodo comea a haver uma maior proximidade,em relao ao Portugus actual, no que se refere tambm ao gnero, embora a fixaodefinitiva seja, em muitos casos, posterior a esse sculo.

    Vejamos como evolui o gnero do Portugus arcaico para o moderno2.

    1. Palavras em agemParecem ser j femininas, na sua quase totalidade. Ferno de Oliveira escreve, a res-

    peito do gnero dos vocbulos, femininos, como linguagem, linhagem e borragem

    (Oliveira, 1536: 114). Tambm Duarte Nunes de Leo emprega como feminina a pala-vra linguagem, na expresso parece outra diferente linguagem (Leo: 147).

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    1 Como a resoluo de hiatos, uniformizao em o das terminaes resultantes de ANU, -ONE eANE latinas, a passagem das terminaes dos particpios em udo (conheudo, perdudo, etc.) a ido,desaparecimento das formas tonas dos pronomes possessivos (mia, sa, etc.) e maior fixao grficacomeando a surgir uma ortografia), entre outros aspectos.

    2 O estudo que se apresenta constitui a adaptao de parte de um trabalho mais completo sobre aevoluo do gnero gramatical (Gouveia, 1993).

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    Como se sabe, antes do sculo XVI documentam-se palavras deste tipo ainda comomasculinas: E deyxou a Noe porque ho achou justo e mui bom para rrestaurar holinhagem umanall (Coronica Troiana: 21, 18-20), o que prova que se estava apenasno incio da fixao definitiva do gnero destas palavras como feminino. Portanto, nosculo de quinhentos j se encontra preferentemente esse gnero: Joo de Barros escre-

    veu oDilogo em louvor da nossa linguagem, e atesta-se j o feminino no excertosegundo vimos em as cartas destas mensajes que temos em nosso poder (J. de Barros,Dcadas, 1, 3, 12, p. 117). A mesma situao ocorre no sculo XVII: Como esta lin-goagem no he em algaravia [...] (Frei Bernardino da Silva,Defensam da MonarchiaLusitana, II, 24). E na Grammatica de Melo Bacelar (Bacelar, 1783: cap. V, 41), a pro-psito do gnero l-se : Todo nome que terminar em a, o, ge, gem, he do genero

    feminino. Conhecem-se as excepes desta regra ou porque o nome no tem signifi-cao feminina [...] ou porque o artigo que se lhe ajunta he masculino.

    Domingos Vieira e Caldas Aulete do igualmente este tipo de vocbulos como subs-tantivos femininos.

    Nos nossos dias, com a excepo de personagem, que de gnero ambguo, aspalavras com esta terminao so todas femininas, independentemente da sua origem.Como exemplo, lembremo-nos dos galicismos chauffage e garage, originariamentemasculinos, mas femininos na lngua portuguesa: a chaufagem, a garagem.

    2. Palavras em sAo contrrio do grupo anterior, este tipo de palavras foi das que tardaram a fixar-se

    definitivamente. Ferno de Oliveira, por sua vez, d-as como de gnero comum posto quetenham femininos em a, como portuguesa (Oliveira: cap. XLIV, 13)3. Mas no sc. XVI vai

    ser frequente encontrar ainda este tipo de palavras como uniforme: a nao genoes,como se l nasDcadas, 1, 3, 11 de Joo de Barros; lingoa portugues (Ibidem, 1, 8,6) e balhando mourisca/ dentro gente Portugus (Gil Vicente,Auto da Fama,v. 57).

    No sculo XVIII, ainda se encontra esse uso, por Cruz e Silva, noHyssope,V, v.134:a nossa portugus casta linguagem) (apudNunes, 1989: 262).

    Apenas depois se estabelecer completamente o feminino analgico em a .

    3. Palavras em nteS de Miranda emprega ainda a forma infante como uniforme: Da ifante o deli-

    cado,/ Singelo e brando peito/ Vence se ora de amor, ora de medo (150, 479).J praticamente nos nossos dias, Caldas Aulete refere a designao de infante para

    o masculino e para o feminino, embora acrescente: mais usada a forma femininainfanta.Tambm registam infante como masculino e feminino Artur Bivar e Cndido de

    Figueiredo.Por sua vez, a lngua dos sculos XVI e XVII apresentava o feminino analgico em

    vocbulos onde tal seria hoje impensvel no Portugus normal (embora surja na lin-guagem popular e regional)4. Assim, nessa poca, frequente encontrarmos os femi-

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    3 Cames utiliza tambm a forma em a : a polcia/ Portuguesa (Os Lusadas, VII, 72).4 Para um estudo mais detalhado do gnero do Portugus antigo e seus reflexos na linguagem popu-

    lar e re-gional veja-se Gouveia, 1998.

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    ninos comedianta, farsanta, giganta, etc (apudAli,1964 :62): huma comedianta (Pe.Antnio Vieira, Cartas, 2, 180), Gracejando com as farsantas (Pe. Manuel Bernardes, Nova Floresta, 2, 314) ou Esta giganta era rica (Joo de Barros, Crnica do Impera-dor Clarimundo, 164).

    O masculino giganto regista-se tambm nesta altura, certamente por analogia coma forma feminina.O Grande Dicionrio de Cndido de Figueiredo ainda refere estestrs femininos, somente considerando farsanta como feminino antigo, enquanto que oDicionrio da lngua portuguesa (Costa e Melo, 1990) d como uniformes comediantee farsante, aceitando o feminino giganta.

    4. Palavras em -ol

    Durante o sculo XVI Andr de Resende utiliza ainda a boa gente espanhol (apudNunes, 1989: 225, n.2), de onde se deduz que o feminino analgico se generalizaapenas numa poca posterior.

    5. Palavras em orNo que respeita a este tipo de vocbulos, e no obstante o facto de, desde cedo,

    ter existido uma forma analgica em a para o feminino (senhora, por exemplo), aindase encontram como uniformes neste perodo. Segismundo Spina (Spina, 1987:18) notaque, nos sculos XVI e XVII, se regista ainda gente perturbador.

    No entanto, cada vez mais frequente a marca a para o feminino5: no sculo XVIencontra-se, por exemplo, a pouca gua que tomava era provocadora de mais sede[...] (Frei Lus de Sousa, Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mrtires I, cap. 27, p. 166)e, em Frei Tom de Jesus (Trabalhos de Jesus, I, 17, p. 342), a humildade conserva-

    dora e acrescentadora de todos os bens (apudLorenzo, 1977).No sculo XVII, generaliza-se cada vez mais esse feminino analgico: ...sem dar

    pela humana filosofia, e suas falcias, afectadora e interrompedora da verdade (Pe.Manuel Godinho, Vida do P. Fr. Antnio de Chagas, IV, p. 42, apud Machado,1987).Alm das formas em ora para o feminino, mantm-se a terminao eira, sendopossveis ambas: documentam-se, assim, no sculo XVI (apud Machado, 1987): asquais todas so solteiras e mui grandes msicas, bailadoras e volteadoras (Livro em quese d relao do que viu e ouviu no Oriente Duarte Barbosa, p. 107), os bayladorese bayladeiras que vieram festejar alda... (Foral de D. Joo III, Arquivo,V, p. 132 emulheres cantadeiras (Joo de Barros,Dcadas, II, 6, cap. 6, p. 285).

    Uma outra terminao se regista ainda para o feminino: a par de ora aparecetriz6: Senhora, vs sois Senhora/emperadora... (Gil Vicente,Auto da Alma, v.195-67)e pois tem Rainha to bela emperatriz da Alemanha (Templo de Apolo, v. 30).

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    5 O Elucidrio (Viterbo, 1798) diz que Senhor mui frequente no feminino at ao sculo XVI, oque leva a supor que, a partir dessa data, se tornar mais comum a forma terminada em -a.

    6 Surge a forma latinizante trice em textos do sc. XVII:cantatrices do Pao (Fr. Jacinto de Deus,Vergel de plantas, p. 194, apudMachado, 1987). Morais d ainda a forma saltatrice, com o sentido dedanarina, nessa poca.

    7 Provm destes timos latinos em TRICE as formas em triz, e o sculo XVII mostra-nos, a par daster-minaes acima referidas, tambm vocbulos como genetriz, por exemplo, das Carmeliyas me, ege-netriz (Pe. Antnio Vieira, Sermes, III, 2, pgf. 5, 42, p. 40).

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    O uso actual consagra a forma imperadora para a mulher que exerce o cargo,eimperatriz para a esposa do imperador. No entanto, alguns autores consideram o voc-bulo imperatriz aplicvel s duas situaes (Ali, 1964: 62).

    Relativamente aos restantes substantivos abstractos em or, estabilizam o seugnero nesta altura. Duarte Nunes de Leo (Leo: 233ss) d cor e flor como femininas,acrescentando que o seu gnero foi corrompido, j que eram masculinas em Latim. ACoronica Troiana apresenta j dor no feminino (25r, 7), vocbulo que adopta essegnero definitivamente.

    6. Palavras que mudaram de gneroTal como sucedeu no curso da evoluo de outras lnguas8, muitos vocbulos

    mudaram de gnero desde o Portugus arcaico. Ou porque fixaram um determinadognero, quando havia hesitao, ou porque a terminao da palavra determinou essafixao, ou ainda porque a lngua culta exerceu alguma influncia, um facto queencontramos actualmente palavras cujo gnero difere do antigo, ou que o alteram ataos nossos dias, em muitos casos tendo ainda hoje gnero duvidoso.

    Modificaram, ento, o gnero muitos vocbulos9, dos quais passaremos a analisaralguns.

    Baralha, com o sentido de baralho de cartas, foi feminino em poca mais recuadada histria lingustica do Portugus: D. Francisco Manuel de Melo (Aplogos Dialogais,p. 209) e o Pe. Antnio Vieira (Ali, 1964) utilizam ainda a forma feminina: As cartasno ho de ser de outra baralha, seno as mesmas (Sermes, 8, 261). J. P. Machado(Machado, 1987) j documenta o masculino no sculo XVIII: inimiga mo lhe foibatendo/C um baralho de cartas pela cara (Nicolau Tolentino, O Bilhar, em Obras Po-

    ticas, I, p. 128).Quanto a catstrofe era masculino ainda em Antnio Vieira, Matias Aires e J. Fran-

    cisco Freire (Ali, 1964, 71): Roma [...] condemnada ao catastrophe das cousas muda-veis (Sermes, I, p. 121). O feminino s se fixou posteriormente.

    Por sua vez, cono (vocbulo grosseiro, que designa os rgos genitais femininos)era masculino em Portugus antigo (como se atesta em, por exemplo, PortugaliaeMonumenta Historica, Scriptores, p. 343 ou numa cantiga de escrnio e maldizer deAfonso Eanes do Coton), como se esperaria do timo latino (cunnu-), vai tornar-sevocbulo feminino, segundo Machado, devido, certamente, ao facto de se tratar de atri-buto de mulher ). Domingos Vieira regista j a forma feminina.

    O vocbulo dia hoje inequivocamente masculino, mas Jos Joaquim Nunes(Nunes, 1981) d-o tambm como feminino na poca antiga (embora surja como mas-

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    8 Tambm outras lnguas tiveram alteraes do gnero ao longo da sua evoluo : os abstractos emor, por exemplo, como color e sabor, masculinos em Espanhol, foram femininos na lngua antiga; emFrancs antigo, o gnero de ouvrage, mensonge, ou pape (embora referido a um homem) era feminino,sendo, portanto, diverso do actual.

    9 Recolhi muitos vocbulos que mudaram de gnero do perodo arcaico para o portugus actual:afronto, alcachofra, aleijo, ametisto, apostema, bacio, banco roto, cisma, clima, cometa, cornas, dote,esfinge, espinafre, estige, estratagema, fantasma, hiprbole, bis, mapa, mar, metamorfose, pirmide(pirames), planeta, retrete, rim, rouba, etc. Variaram, desde cedo: rvore, crcere, fim, teir, tribo, entreoutras. Curiosamente, retomaram o gnero etimolgico, por exemplo, andorinha, diocese (esporadica-mente masculino na poca medieval, como se ver) e tribo.

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    culino j no sculo XIII, no Foro Reale nas Cantigas de Santa Maria) numa ocorrn-cia: ficar alli atee a dia presente... (Ho Flos Sanctorum em lingoage portugues, ed.de 1513, folha 247). Se bem que geralmente masculino, como em Orraca Lpez vidoente un dia (Cantigas d escarnho e de mal dizer, 47. 1), ser realmente substantivofeminino na passagem acima transcrita, a crer em A E . da Silva Dias: At o sculo XVIIsempre se disse at e no (com a prepos[io] a) at a; no sculo XVII principia aaparecer at a com o art[igo] feminino (at , at s) e s posteriormente com oart[igo] masculino (at os, at aos) (Dias, 1970: 159, pgf. 211a)10.

    Dote, diocese e espinafre tambm alteraram o seu gnero ao longo da evoluo dalngua: feminino em Latim, o primeiro vocbulo era ainda desse gnero no sculo XVI,em 1514, s mais tarde se fixando como masculino: Os maridos que em suas dotes

    [...] (D. Manuel, Ordenaes, livro IV, 111) ou Nas dotes e casamentos (Ibidem)12;diocese, palavra feminina em Latim, surgiu como masculino no sculo XV (em cujodioesy [..],Arch. Hist. Port., IV, 52, apudVasconcelos, 1939: 9), repondo-se depois ognero etimolgico; e espinafre era feminino ainda no sc. XVII: As espinafres samfrias, e humidas (Dr F. Fonseca Henriques,Ancora Medicinal, p. 141 (apudMachado).

    Quanto a mapa, surge como feminino no sculo XVI (como em Latim), conformedocumenta Frei Heitor Pinto (Na mappa[...] I, 353, apudAli: 71) e torna-se masculinoa partir da. Vieira d-o j com esse gnero, por exemplo em Sermes, 7, 20 (Ibidem).

    Noutros casos, as palavras oscilam quanto ao gnero neste perodo que agora con-sideramos, e s mais tarde se ir estabelecer o gnero definitivo. Vejamos alguns exem-plos dessa situao.

    O gnero de alcachofra era ainda hesitante no sc. XVI, fixando-se, depois, o femi-nino: dizem que h nella hua fructa de feiam de alcachofres, tamanhos quomo cidras

    (Damio de Gois, Crnica do Felicssimo Rei D. Manuel, III, p. 3) e ou alcachoframetida entre duas folhas de cardo (Frei Bernardo de Brito,Monarquia Lusitana, II, 6,cap. 21, apudMachado, 1987).

    rvore era ainda de gnero masculino em Duarte Nunes de Leo, no obstante ofeminino ter surgido em poca muito mais recuada: .., dizemos este mtodo, este dote,este paul, este tribo, este nariz, este rvore [...] (Leo: cap. VII, 224). O feminino defi-nitivo , portanto, posterior a finais do sculo XVI.

    Tambm cometa vacilava ainda nessa data: Appareceo no ceo da parte do orienteh_a cometa (Ferno Lopes de Castanheda,Histria da Descobrimento e Conquista dandia pelos Portugueses, I, 98, apudAli, 1964:70)) e Appareceo no ar hum grandecometa...a qual foi vista per todolos darmada (Joo de Barros,Dcadas, I, 5, 2), fraseque bem traduz a hesitao de gnero que esta palavra sofreu. Antnio Vieira (Ser-mes, 11, 225 e 265, apudAli, 1964: 70) j emprega o masculino.

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    10 Exemplifica, no entanto, com uma citao de 1548 (at a pia (baptismal) das Constit. Synodaesdo bispo de Coimbra, fol. I), que faz recuar a data anteriormente dada (sc. XVII).

    11 Outra razo pode ter a ver com o facto de os substantivos deverbais em e serem masculinos,como ajuste, arranque, saque, toque, etc (apudVasconcelos, 1939: 18).

    12J. P. Machado tenta explicar a mudana de gnero de vocbulo: talvez se deva analogia comoutros nomes em -ote, tambm masculinos: bote, lote, mote, pote, etc.; creio haver ainda outro motivo:o voc(bulo) no entrou directamente, mas pelo fr. dot, que foi masculino nos sculos XVI e XVII, pocada sua entrada em port. [...].

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    7. Adjectivos biformes que se tornaram uniformesAlguns adjectivos perderam as formas diferentes para cada gnero, passando, por-

    tanto, a uniformes. Esto neste caso os adjectivos comum, contente, cobarde, quite erude, entre outros.

    Relativamente a comum, a forma feminina usava-se ainda nos sculos XVI e XVII,embora Ferno de Oliveira recomendasse j a uniformidade genrica para este adjec-tivo: Este nome adjectivo comum serve a masculino e feminino, por que no digamosnos femininos comua (Gramtica da linguagem portuguesa, cap. XLIV, p. 114).

    Assim, embora no sculo XVI apaream construes com o vocbulo comum para osdois gneros (Segundo a commum opinio, Joo de Barros,Dcadas, 2. 9. 5), a formafeminina tambm se documenta: sendo ellas commuas a elles,Ibidem, 2.5.15). Vieira

    hesita igualmente entre as duas formas: A concluso mais comm_a... (Sermes, 3. 34,apudAli, 1964: 70)) e A commum exposio dos interpretes (Ibidem, 3. 6). Ainda nossculos XVIII e XIX (apudMachado, 1987) possvel documentar o emprego da formafeminina (dentro da mesma membrana commua..., Avelar Brotero, Compndio deBotnica, I, p. 18), que se perdeu posteriormente.

    Contempto e contempta eram formas vulgares no perodo medieval (Cf. Orto doEsposo), e no sculo XV j se registavam a par de contente: E elle contemto foy-se(Crnica da Ordem dos Frades Menores., I, p. 10) e ... e disse que era contente epagado compridamente por seu procurador (Ibidem, II, p. 266). Tambm S deMiranda j usa a forma actual: No vai mal quem vai contente (116, 215, apudCar-

    valho, 97)16.Embora Frei Joo lvares escrevesse minha rude pena (II, 5, 1. 7-8, apudAntu-

    nes, 1961: 188), Cames usava ainda a forma feminina. No sculo XVII acentua-se o

    uso da forma actual (A este fim se apontam aqui para pessoas rudes..., Manuel Ber-nardes, Po Partido em Pequeninos, p. 126, apud Machado, 1987) mas Domingos

    Vieira refere que Garret, tal como Cames, ainda utilizava a forma rudo, e admite-a,como Caldas Aulete, para quem, assim como para Cndido de Figueiredo, o mesmoque rude. ODicionrio da Lngua Portuguesa,por sua vez, atesta tambm as formasrudo e ruda, apesar de o seu uso estar praticamente confinado linguagem popular(Costa e Melo, 1990).

    Portanto, salvo poucos casos (como o que acabamos de ver), a passagem destes vocbulos a uniformes foi-se fazendo gradualmente, ao longo deste perodo, acen-tuando-se essa tendncia de uniformidade no sculo XVII17 Estas palavras tornaram-seuniformes possivelmente por razes etimolgicas, analgicas, etc. Said Ali (Ali,1964: 71)justifica de seguinte maneira o desaparecimento do feminino comua: deve-se natural-mente ao sentido baixo que veio a adquirir o vocbulo como substantivo.

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    16Antenor Nascentes (Nascentes: 209) explica a origem do e final talvez por influncia do ant-nimo triste ou do sinnimo alegre. Parece que, no sculo XVI, a terminao do vocbulo era j a actual,uma vez que Clarinda de Azevedo Maia (Maia, 1986: 662) regista contento num documento galego dessesculo (doc. N. 18, p. 66) e aponta-o como provvel castelhanismo.

    17 S de Miranda emprega ainda covardo (fugindo...como um covardo, 106, 167), e em Jorge Fer-reira de Vasconcelos ainda se encontra quite como biforme, apesar de este uso ser j raro no sculo XV.

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    8. Palavras que, mantendo o gnero, alteraram a terminaoEsto neste caso alguns vocbulos, de que destacamos apetito, boosco e combato.Com efeito, o Portugus antigo seguiu a forma etimolgica appetitu-, que se encon-

    tra ainda no sculo XVI: entre um e outro manjar se aluantavam,/ Despertando os ale-gres apetitos (Lus de Cames, Os Lusadas, X, 5) ou Nem apetitos que mais desejar(S de Miranda, 150, 391, apudCarvalho, 1955). No entanto, o mesmo sculo vai aco-lher a forma apetite: a agoa, que por satisfazer a seu apetite [...]. (Frei Amador Arrais,Dilogos, III, 9, apudMachado, 1987). Para alguns autores (Machado, 1987), a termi-nao e dever-se- a influncia do fr. apptit, enquanto que outros (Nunes, 1989: 70)defendem a influncia de certos deverbais, como arranque.

    Possivelmente do germnico bosk, era comum o uso de boosco na poca medie-

    val, at ao sculo XVI. Em Frei Joo Alvares l-se: as matas e os booscos se encom-brem (II, 132, 1. 14, apudAntunes, 1961: 7)). No sculo XVI, porm, comea a surgira forma actual, com a terminao e : Andando pelas sombras das florestas /E pelosbosques (S de Miranda, 118, 61, apudCarvalho, 1955) ou De tanques, de piscinas,de arcos, termas/ Bosques, parques [...] (Antnio Ferreira, Poemas Lusitanos, carta 1,

    vol. II, p. 34-35, apudMachado, 1987).Combato era ainda a forma usada por Ferno Lopes, at se fixar a terminao actual:

    duramdo o combato per mui grande espao (Crnica de D. Joo I, cap. CXIII)18.

    9. Palavras que admitiam duas formas com diferena de gneroPouco h a dizer relativamente a este tipo de vocbulos, que, muitas vezes, se

    mantm em simultneo nos nossos dias. Admite ainda o Portugus actual aumentaoe aumento, lavagem e lavamento, perdio e perdimento, submisso e submetimento,

    etc.. No entanto, tal como ocorria j nos sculos XVI e XVII, houve preferncia por umadas formas, sendo a outra desusada: parece haver, por exemplo, preferncia, no sculo

    XVI, por lavagem em detrimento de lavamento, assim como se perdeu a forma muda-mento em favor de mudana. Uso e usana, por sua vez, so ainda admitidas (Figuei-redo, 1986), mas a ltima muito pouco utilizada.

    10. Outros femininos formados por analogiaEm virtude de a terminao mais comum do feminino ser a, criaram-se, analogi-

    camente, algumas formas desse tipo, a partir de masculinos que eram invariveis, sub-sistindo ainda algumas delas, e tendo outras cado em desuso.

    Deste modo, os femininos analgicos generala, hspeda, dola, juza, etc., ou aca-baram por manter-se na lngua normal, ou perderam-se, subsistindo apenas na lingua-

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    18 Esto na mesma situao, entre outros: alcano, bailo (muito usada ainda no sculo XVI, por GilVicente, S de Miranda e Cames, por exemplo. Cf.Os Lusadas, V, 62), deleito, etc.A lngua actual, paraalgumas palavras, admite ainda as duas terminaes: aaime e aaimo, andaime e andaimo, biscate e bis-cato, cacife e cacifo, saiote e saioto, traje e trajo, e muitos outros exemplos. Actualmente mais comuma forma saiote, mas Camilo Castelo Branco usou saioto: muito preocupada com as pulgas do seu saioto...(Senhor Ministro. Lisboa, Veja, 1989, cap. Xi, p. 110) e a barra espulgada do saioto (Ibidem, p. 112).Fruto da acomodao da forma e do gnero, registaram-se os casos de, por exemplo, alfaa, amyzada,que surgem no Orto de Esposo, ou apocopa e lpida, que se documentam ainda no sculo XVI, oumesmo de Madama (usado por Gil Vicente, Cortes de Jpiter, Copilaom, fl. 167b, apudMachado) eMademusela(empregue, no sculo XVIII, por D. Francisco Manuel de Melo, Carta de Guia de Casados, 97).

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    gem popular. Por exemplo, a forma hspeda, j comum em Portugus antigo, encon-tra-se em Camilo (alucinou-se loucamente pela hspeda, O Senhor Ministro, cap. IX,p. 89) e regista-se ainda em Cndido de Figueiredo, s desaparecendo posteriormente.ODicionrio da lngua portuguesa (Costa e Melo, 1990) d o vocbulo hspede comocomum de dois. dola, pelo contrrio, encontra-se no sculo XV (Jorge Ferreira de

    Vasconcelos, Comdia Eufrosina, 1, 1, apudFigueiredo, 1986), e dado como femi-nino de dolo por Costa e Melo19, apesar de o seu uso me parecer muito restrito20.

    Noutro caso esto os vocbulos generala e juza: regra geral, a primeira forma usada como designao para mulher do general, enquanto a segunda vem registadacomo designao antiga para mulher que julga. Com esse sentido, a palavra usadapor Camilo (aquelas duas mulheres viessem a ser juzas das minhas torpezas, O

    Senhor Ministro, cap. XI, p. 108), e embora os dicionrios recomendem essa formapara a mulher que exerce esse cargo, ou a considerem o mesmo que juiz, s aos pou-cos o seu uso se foi estabilizando na lngua, continuando a ouvir-se embora j espo-radicamente21 juiz para os dois sexos, tal como general para as pessoas (mulher ouhomens) que exercem essa funo. sem dvida, mais fcil para os falantes aceitaremo feminino ministra para o vocbulo ministro (por associao com aluno/aluna,gato/gata, bonito/bonita, mdico/mdica, etc.) do que um feminino para uma palavracuja terminao no o usual o para o masculino, ao contrrio do que ocorre entreos falantes menos cultos, para quem as formas chefa, estudanta ou presidenta, perfei-tamente condenveis no Portugus normal, h muito esto consagrados.

    11. Palavras em oRelativamente aos femininos destes nomes diz Ferno de Oliveira, na Gramtica

    da linguagem portuguesa: Estes nomes, eu no os pronunciaria nesta forma, cidadoa,capitoa, viloa, rascoa e aldeoa, mas pronunci-los-ia assim: alde, vil e cidad. Ver-dade que rasc nem capit no so mui usados, e contudo zamboa e padoa e quais-quer que o costume consentir (cap. XXVII). Mais adiante, escreve: vindo [...] de capi-to, dizemos mulher capitoa e no capitaina, cap. XLI).

    Talvez estas palavras subentendam que ainda no se havia estabelecido totalmenteo feminino de certos vocbulos. Alis, enquanto alguns tm o feminino h muito con-sagrado (como irm, por exemplo), outros ainda hoje so duvidosos. Assim, mantive-ram-se, como em perodos mais antigos da lngua, por exemplo abegoa, horteloa, etc.;modificou-se, entre outros casos, a forma sabechans (D. Francisco Manuel de Melo,Aplogos Dialogais, 229), hoje sabichonas.Noutras palavras, aceitam-se dois tipos defemininos: bretoa ou bret, viloa ou vil, etc (Bergstr_m e Reis, 1989: 80). Costa e Melodo para beiro o feminino beiroa, mas no beir22.

    Apresenta dificuldade de fixao da correcta forma feminina, por exemplo, capito:os dicionrios e oPronturio ortogrfico so unnimes em recomendar capitoa, acres-

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    A CATEGORIA GRAMATICAL DE GNERO DO PORTUGUS ANTIGO AO PORTUGUS ACTUAL

    19Alis Figueiredo (1986) d-o como feminino antigo.20 Cf. os dicionrios de Bivar, Figueiredo e Costa e Melo. Para as profisses femininas ver outro

    breve trabalho (Gouveia, 1998).21 ODicionrio da lngua portuguesa 2004j indica explicitamente juza como o feminino de juiz,

    o que no acontecia na edio de 1990.22A 39 ed., de 2000, j no refere qual o feminino de vilo. Cf. p. 55.

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    centando esta ltima fonte que capit o feminino errado de capito (p. 144). Omesmo se diz quanto a campe, que dado como feminino errado de campeo, pro-pondo-se campeona, sendo os restantes dicionrios omissos a esse respeito. No entanto,alguns autores, como Rodrigo de S Nogueira (Nogueira, 1989:82), defendem os femi-ninos campe e capit, que so os mais correntes actualmente.

    12. Aumentativos e diminutivosPouco h a dizer a este respeito, quanto evoluo. Apenas que a tendncia para

    este tipo de derivao se mantm na lngua, e surgem mais vocbulos que apresentam,com o acrescento do sufixo, alguma alterao do gnero primitivo. Como exemplos,apontam-se, entre outros: agulha e agulho (j documentados no sc. XVII segundo

    Machado), aranha e aranhio (sc. XVIII) e aranho (registado em Aulete, embora devaser anterior), caixa e caixo, (sc. XVI), dinheiro e dinheirame23 e at dinheirama (emDomingos Vieira e Caldas Aulete), febre e febro (sc. XIX) ou serpente e serpento(tambm abonado no sc. XIX).

    13. Nomes de pessoas, rios, cidades, pases, etc.Um caso curioso na poca medieval que havia tendncia para, analogicamente,

    criar os femininos dos apelidos se aplicados a mulheres24 . Assim, frequente ler-se,nessa poca, por exemplo: Lianor Pinta procuradeira [...] e Micia Ribeira e CatalinaMendez e Catarina Vaasquez e Issabel Pinta e a Coelha (doc. de 1470, Pergaminhosdo Instituto de Paleografia, n. 11, apudSantos e Veloso, 1983: 23), Lianor Peixotaproccuradeira (doc. de 1472, ibidem, n. 12), etc25.

    A Crnica de D, Joo I, de Ferno Lopes, mostra ainda essa tendncia, mas no

    sculo XVI j se deixa de feminizar pela terminao este tipo de nomes: dona Isabellade Castro (Pergaminhos do Instituto de Paleografia, doc. n. 21a, de 1519).

    De qualquer modo, Camilo d-lhes esse uso ainda, eventualmente por razes esti-lsticas: do padre Martinho e das sras. Botelhas (O Senhor Ministro, cap. IV, p. 45).

    Os nomes de rios eram masculinos em Latim, devido ao facto de se associarem afluuius. Rodrigo de S Nogueira aconselha o masculino, tal como para os lagos: o(lago) Niassa, o (lago) Vitria, o (rio) Sena, etc. Cames, no entanto, havia usado, even-tualmente devido terminao, fresca Guadiana (Os Lusadas, VII, 70).

    Relativamente aos nomes de cidades, femininos da primeira declinao em Latim,ainda hoje o seu gnero duvidoso. Esperar-se-ia o feminino, devido elipse decidade, por exemplo26, mas nem sempre acontece assim. A ttulo de exemplo, Londres

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    MARIA CARMEN DE FRIAS E GOUVEIA

    23 C. Castelo Branco usa o gnero feminino : Tanta dinheirame[...] (O Senhor Ministro, cap, IV, p. 45).24 O mesmo caso se verifica, ainda hoje, com os apelidos polacos (Leckzinski-Leckizinska), russos

    (Karenin-Karenina) ou checos (Mendlikov-Mendlikova).25 Note-se, porm, que apenas os apelidos terminados em o sofrem essa transformao. Permane-

    cem invariveis os restantes: Vaasquez, Mendez, Lopez, Fernandez, etc. Na origem deste tipo de formasestava o nome do pai, ou seja, Mendez, filho de Mendo, Fernadez, filho de Ferno, Vaasquez, filhode Vaasco, Lopez, filho de Lopo, etc. Veja-se J. Leite de Vasconcelos (Vasconcelos, 1939: 15) para maisexemplos de apelidos com a terminao a.

    26 Talvez por essa razo S Nogueira (Nogueira, 1989: 27) prefira o gnero feminino para Alabamae Alasca).Vrios casos de incerteza de gnero dos nomes de cidades e pases, etc., podem encontrar-seem Said Ali (Ali, 1964: 68-69 e Leite de Vasconcelos (Vasconcelos, 1939:16-17.

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    masculino em Ferno Lopes (que boom Lomdres he este, Crnica de D.Joo I, cap.XXII), feminino em Garrett (Eu sentia-me morrer de tristeza e de isolamento no meioda populosa e turbulenta Londres, Viagens na Minha Terra, cap. XLVII), enquantoCamilo emprega os dois gneros. Para Ferno Mendes Pinto so femininas as cidadesterminadas em a tono: porque se no h de imaginar que ela uma Roma, umaConstantinopla, uma Veneza, um Paris, uma Londres, uma Sevilha, uma Lisboa (Pere-grinao, cap. CVII).

    No sculo XVII, inclusivamente, documenta-se, em Severim de Faria, no mesmoGuin (Notcias de Portugal, p. 231, apudVasconcelos, 1939: 17).

    Seria, talvez, prefervel no atender a terminaes dos nomes das cidades e rios,etc., e sim aos nomes genricos cidade e rio, como defende tambm Mrio Barreto

    (Barreto, 1982, 293 ss).Ainda em relao prxima com estes aspectos, encontramos o gnero das letras do alfa-

    beto. Em Latim eram femininas, por associao a littira: consonans (littira) e vocalis(l_tt_ra), o que acontece em Portugus actual com as palavras vogal e consoante.

    A diferena encontra-se em que, em Portugus antigo, se documenta a expresso:h_as is gregas (Viterbo, Livraria Real, 38, apudVasconcelos, 1939: 20), quando hojediramos os is Gregos, pr os pontos nos is, etc27.

    j o masculino, no entanto, que usam Ferno de Oliveira e Duarte Nunes de Leo,gnero esse que se fixou na lngua: verdade que temos a grande, a pequeno ( Gra-mtica da linguagem portuguesa, cap. VIII) e ...E no h mais que um a, por serlongo e ser breve, acidentalmente, ca ele por si no longo nem breve e pode serum e outro (Ortografia da lngua portuguesa. Da letra a e das outras, p. 52).

    14. Nomes de animaisNo obstante o facto de as gramticas darem como epicenos muitos nomes de ani-

    mais, como a baleia, a cobra, o rouxinol, a sardinha ou o tigre28, documentam-sealguns casos de mudana de gnero ou de emprego no feminino de alguns nomesdeste tipo. No caso de passarinha, cadelo (embora se fixasse o feminino a cadela o masculino caiu em desuso. Algo de semelhante ocorreu, alis, com cavalo e gua,sendo o feminino proveniente da forma equa, de equus), entre outros, houve altera-o ao longo dos tempos. Vejamos o que sucedeu com os seguintes exemplos, regis-tados num perodo menos antigo da lngua:

    Tanto andorinha como andorinho (de hirundo, -inis, f.) se documentam nesta fase:Altas andorinhas brancas (S de Miranda, 103, 459) e Aues que fug as frialdades dasnossas terras sobre o uerno como Handorinhos (O Manuscrito Valentim Fernandes,p. 41). O dicionrio de Morais regista, no sculo XVII, andrino; hoje, existem ambas as

    formas, sendo o masculino para o macho da andorinha, como se atesta no Dicionrioda lngua portuguesa (Costa e Melo, 1990).

    A. Feliciano de Castilho emprega lince (de lynx, m. e f.) como feminino (As lyin-ces mosqueadas (Gergicas, 177, apudAli, 1964: 73), mas hoje inequivocamentemasculino e funciona como epiceno.

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    27 Em Espanhol so tambm femininas: la v, la h, etc.28Ver Gouveia, 1999.

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    Quanto a passarinha (lat.passer, passarinho), foi vocbulo feminino no sc. XIII,como se prova pelo verso oyu h_a passarinna cantar... (Cantigas de Santa Maria, 103,23), mas neste perodo de transio j tem o gnero actual. Viterbo regista pssara como sentido de perdiz.

    Por ltimo, tigre (de tigris,-is, m. e f.)29 foi tambm usado como feminino: bra-mando como a tygre quando perde os filhos ou lhos matam (Coronica troiana, 33r,5-7). Actualmente vocbulo masculino (epiceno).

    No sculo XVII regista-se j, segundo J. P. Machado, o masculino de abelha: zango.Vemos, deste modo, que tambm neste tipo de vocbulos, embora possa existir

    uma associao gnero-sexo, se encontram casos de formas que sofreram alterao.

    15. Diferena semntica dada pelo gneroNeste perodo evidencia-se, como em Portugus mais antigo e na lngua actual, que

    o sentido pode, muitas vezes, ser clarificado pelo gnero da palavra. Essa situaoocorre, tambm, como consequncia da alterao de gnero de um vocbulo, que o

    vai deixar em oposio semntica com outro. Consideremos, ento, apenas dois dosmuitos exemplos possveis:

    Copa e copoAt ao sculo XVI, copa usava-se como sinnimo de taa, com o sentido que hoje

    damos a copo. Nesse sculo j coexistem ambas as formas: Cada hu_ bebe per h_acopa de ouro... (O livro de Marco Paulo, 33 r) e Hum envoltorio em que vinho muitoscopos e jarros de prata (Ferno Mendes Pinto, Peregrinao, 2, 275). Copo, ope-sesemanticamente a copa, com o sentido de armrio, por exemplo, o que j ocorria em

    Bernardes (Nova Floresta, 4.267): huma copa de vrios vidros.Espinha e espinho

    A alterao de gnero que sofreu a forma feminina com o sentido de espinho, pos-sibilitou uma clarificao semntica, dada pelo gnero, em oposio a espinha (depeixe), que j era de gnero feminino em Joo de Barros. Em Portugus antigo tnha-mos: sem cardos e sem espinhas (G. de Vasconcelos-Abreu,A Lenda dos Santos Bar-lao e Josafate, 12, apudMachado, 1987).

    O sculo XVI conhece as duas formas para o mesmo sentido, fixando-se depois o mas-culino para espinho: cabea coroada de espinhas (Pe. Manuel Bernardes,Luz e Calor,539, apudMachado, 1987) e Jesu teceo de novos espinhos a sua coroa (Ibidem, 540).

    16. Palavras de gnero duvidosoDevido ao gnero dos vocbulos poder ser dado por inmeros factores, algumas

    palavras tm vacilado quanto a este aspecto, levando os falantes a optar ora por um gnero,ora por outro de acordo com o uso comum ou com as suas prprias preferncias.

    Tm sido palavras de gnero duvidoso, por exemplo: dipe, gape, aluvio,axioma, carisma, eptome, estratego, esquema, fcies, faringe, fnix, filoxera, guarda(homem que vigia), laringe, sanduiche, etc.30.

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    29 Tigris em Latim era sobretudo feminino na poesia, o que talvez pudesse explicar o uso de Castilho.30 Para amlgama, apndice, avestruz, diabetes, grama, hlice, personagem e sndroma ver Gouveia, 1998.

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    Os estudiosos no esto de acordo quanto ao gnero a atribuir-lhes, de modo que tmvariado ao longo dos tempos. Assim dipe tem um uso feminino antigo, como em Latim(at Celso), e depois passou a masculino. Machado (1987) exemplifica a evoluo: era femi-nino ainda no sculo XVII (Em os espaos dos msculos...se acha uma dipe ou gordura,

    Antnio Ferreira,Luz de toda a cirurgia, I, 40), masculino no sculo XIX (nos esponjososdipos da cidade invicta, Camilo,Narcticos, II, p. 210) e a partir da: embarrilado no prpriodipe (Xavier Marques,As voltas da estrada). Masculino e feminino tambm em Latim,os dicionrios registam-no como tal ainda hoje, embora o masculino parea o mais frequente.

    gape, por sua vez, originalmente feminino em Latim, aparece com os dois gne-ros em Portugus: Filinto Elsio d-o como masculino, no sculo XVIII (aps a comu-nho se apresta o gape, Os Mrtires, II, 14, p. 23, apudMachado, 1987) e Herculano

    como feminino (nas gapas dos cristos,Lendas e Narrativas, II, p.207). Ainda actual-mente o seu gnero incerto, mas Cndido de Figueiredo e Celso Cunha (Cunha, 1984:198) recomendam o masculino.

    Devem tomar-se, ento, como masculinos: axioma, carisma (embora feminino nosculo XVII, possivelmente pela terminao: com a suavidade das charismas, Sebas-tio Pacheco Varela,Nmero Vocal, p. 69, apudMachado, 1987), eptome (feminino emLatim), esquema, estratego, grama (peso), guarda (foi feminino em Vieira, embora apli-cado a um homem, por influncia da terminao), pijama; e como femininos: aluvio,clera, fcies (embora Almeida Costa e A. Sampaio e Melo o dem como masculino),faringe, fnix, filoxera, laringe (etimologicamente masculino e ainda com esse gnerono Brasil, segundo Cndido de Figueiredo e de gnero hesitante de acordo com oNovoDicionrio Aurlio . Vd. Ferreira,1986) e sanduiche (masculino para Celso Cunha)31.

    ConclusesEste perodo de evoluo do gnero na lngua portuguesa apresenta-se como um

    perodo de transio, para uma fase mais moderna do Portugus, mas em que a hesi-tao relativamente arrumao genrica ainda notria.

    Assim, embora a partir dos sculos XVI e XVII se v tornando, como refere MariaTereza Biderman (Biderman, 1974, 50), mais generalizado o uso das formas em ora e

    esa, verifica-se, aps o estudo feito, que alguns tipos de palavras levaram mais tempoa fixar o gnero definitivo do que outras, tendo sido, a ttulo de exemplo, mais proble-mtica a uniformizao do vocbulo comum, ou a passagem a biformes de vocbulosterminados em s, havendo ainda vacilao nos casos de alguns femininos de palavrasem o (como campe ou campeona, capit ou capitoa, etc.) ou na manuteno ouno de femininos analgicos para palavras como hspede, parente, juiz, etc. Por outrolado, as palavras em ol somente aps o sculo XVI se tornam biformes, como se viu.

    No obstante o aparecimento das gramticas da lngua a partir de meados dosculo XVI, no possvel falar da fixao do gnero contemporneo antes dos scu-los XVI e XVII e, nalguns casos, s posteriormente a estas datas32, conforme se evi-dencia pela anlise feita.

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    31 Sobre a diferena de gnero de sanduiche e de outros vocbulos em Portugal e no Brasil veja--se Gouveia, 2000.

    32A lngua popular e regional conserva, ainda hoje, muitos traos arcaizantes no que se refere aognero. Sobre este assunto consulte-se Gouveia, 1997.

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    Por outro lado, provou-se que, em vrios casos, a hesitao no emprego do gnerogramatical, com a consequente coexistncia de formas, levou como ainda hoje acon-tece a uma mudana.. O mesmo sucede com outros vocbulos, como as palavras degnero duvidoso, podendo ocorrer uma futura alterao, como se anuncia j na formagrama, que conhece o uso erudito (o masculino) e o feminino que tende a fixar-se porinfluncia da terminao. No entanto, no pode afirmar-se com toda a segurana queessa coexistncia, numa determinada poca, de uma forma masculina e outra femininaleve automaticamente a uma mudana, ou ao abandono de uma forma em favor deoutra. Registaram-se casos, por exemplo, em que houve coexistncia de formas, umadelas mais evoluda em relao ao timo, e voltou-se, depois, ao gnero etimolgico(como com cometa, tribo, etc.) e o inverso (dote, diocese, entre outros exemplos).

    Nota-se, por outro lado, que tendncias verificadas na lngua na sua transio doperodo arcaico para o moderno , como a analogia, a influncia da terminao, etc.,continuam a manifestar-se numa clara evidncia de continuidade e do poder criador dofalante na evoluo de qualquer lngua viva.

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    MARIA CARMEN DE FRIAS E GOUVEIA