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FEDÃO
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II –Equ
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mo.
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écrates–
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Fedã
o–
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se d
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me
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cia
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mo,
Equ
écra
tes,
tant
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xo e
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mo,
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m e
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Pois
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mes
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cois
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do-s
e co
m o
s ou
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Equ
écrates–
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m d
o m
enci
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polo
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s co
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ulo
e o
pai,
Her
móg
enes
, Epí
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s, És
quin
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Ant
íste
nes.
Cte
sipo
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ia ta
mbé
m e
stev
e pr
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te,
Men
éxen
o e
mai
s al
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gano
, Pla
tão
se a
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Equ
écrates–
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tam
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eiro
s?
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nos
Sím
ias,
Ceb
ete
e Fe
dond
es; e
de
Még
ara,
Euc
lides
e
Térp
sio. Equ
écrates–
Nes
se c
aso,
Aris
tipo
e C
leôm
brot
o ta
mbé
m e
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eram
com
ele
?
Fedã
o–
Não
; fal
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que
se
enco
ntra
vam
em
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na.
Equ
écrates–
Hav
ia m
ais a
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m?
Fedã
o–
Cre
io q
ue e
ram
só
esse
s.
Equ
écrates–
E d
epoi
s? Q
uais
fora
m o
s di
scur
sos
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refe
riste
?
III –
Fedã
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esf
orça
r-m
e pa
ra c
onta
r tud
o do
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eço.
Tal
com
o na
vés
pera
, to
dos
os d
ias
visi
táva
mos
Sóc
rate
s, e
desd
e a
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hãzi
nha
íam
os e
ncon
trar-
nos n
o tri
buna
l em
que
se
deu
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lgam
ento
. Fic
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deia
. Ali
espe
ráva
mos
con
vers
ando
até
que
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cade
ia a
bris
se, p
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não
cost
umam
abr
i-la
mui
to c
edo.
Por
ém lo
go q
ue is
so s
e da
va,
corr
íam
os p
ara
junt
o de
Sóc
rate
s e
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do. N
essa
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imo-
nos
mai
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do, p
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terio
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nos
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arm
os d
a pr
isão
, so
ubem
os q
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nav
io c
hega
ra d
e D
elo.
Por
isso
, com
bina
mos
enc
ontra
r-no
s o
mai
s ce
do
poss
ível
no
luga
r hab
itual
. Ao
cheg
arm
os, o
por
teiro
que
cos
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ava
rece
ber-
nos
veio
ao
noss
o en
cont
ro p
ara
dize
r que
esp
erás
sem
os fo
ra e
não
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ráss
emos
sem
que
ele
nos
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isas
se. N
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mom
ento
, nos
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ando
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tráss
emos
. Ao
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o re
cint
o, e
ncon
tram
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ócra
tes,
que
acab
ava
de s
er a
livia
do
dos
ferr
os, e
Xan
tipa
– co
nhec
e-la
dec
erto
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om o
filh
o pe
quen
o, s
enta
da ju
nto
do m
arid
o.
Ao
ver-
nos,
com
eçou
Xan
tipa
a la
stim
ar-s
e e
clam
ar c
omo
de h
ábito
nas
mul
here
s, di
zend
o: P
ela
últim
a ve
z, S
ócra
tes,
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am
igos
con
vers
arão
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tigo,
e tu
com
ele
s. V
irand
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par
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, Sóc
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s lh
e di
sse:
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ão, l
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asa.
A is
so, a
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men
s de
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aram
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-se.
Sóc
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s, d
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sobr
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fric
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dur
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mo
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nário
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, que
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eu
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rário
. Não
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; mal
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uém
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segu
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alca
nça
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eles
, de
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, com
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bos,
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a. Q
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e, c
ontin
uou,
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se fe
ito e
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ão
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rmo
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diss
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praz
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IV –
Nes
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ltura
, fal
ou C
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e: P
or Z
eus,
Sócr
ates
, dis
se, f
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ue m
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asse
s. D
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tes
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. Se
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me
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veno
qu
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vol
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e a
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resp
eito
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s se
guro
cum
prir
essa
ob
rigaç
ão a
ntes
de
parti
r, e
com
por p
oem
as e
m o
bedi
ênci
a ao
son
ho. A
ssim
, com
ecei
por
es
crev
er u
m h
ino
em lo
uvor
à di
vind
ade
cuja
fest
a en
tão
se c
eleb
rava
. Dep
ois
da d
ivin
dade
, co
nsid
eran
do q
ue q
uem
qui
ser s
er p
oeta
de
verd
ade
terá
de
com
por m
itos
e nã
o pa
lavr
as,
por s
aber
-me
inca
paz
de c
riar n
o do
mín
io d
a m
itolo
gia,
reco
rri à
s fa
bula
s de
Eso
po q
ue e
u sa
bia
de c
or e
tinh
a m
ais
à mão
, hav
endo
ver
sific
ado
as q
ue m
e oc
orre
ram
prim
eiro
.
V –
Isso
, Ceb
ete,
é o
que
dev
erás
diz
er a
Eve
no. A
pres
enta
-lhe
, tam
bém
, sau
daçõ
es
de m
inha
par
te, a
cres
cent
ando
que
, se
ele
for s
ábio
, dev
erá
segu
ir-m
e qu
anto
ant
es. P
arto
, ao
que
par
ece,
hoj
e m
esm
o; a
ssim
os
dete
rmin
am o
s A
teni
ense
s.
Sím
ias
excl
amou
: Que
con
selh
o, S
ócra
tes,
man
das
dar a
Eve
no! T
enho
est
ado
bast
ante
s ve
zes
com
o h
omem
, e p
or tu
do o
que
sei
del
e, n
ão te
rá g
rand
e de
sejo
de
acei
tar-
te a
indi
caçã
o.
Com
o as
sim?
Perg
unto
u; E
veno
não
é fi
lóso
fo?
Pens
o qu
e é,
retru
cou
Sím
ias.
Nes
se c
aso,
terá
de
acei
tá-l
a, ta
nto
Even
o co
mo
quem
que
r que
se
apliq
ue d
igna
men
te
a es
se e
stud
o. O
que
é p
reci
so é
não
em
preg
ar v
iolê
ncia
con
tra s
i pró
prio
. Diz
em q
ue is
so
não
é pe
rmiti
do.
Ass
im fa
land
o, s
ento
u-se
e a
poio
u no
chã
o os
pés
, per
man
ecen
do n
essa
pos
ição
, daí
po
r dia
nte,
dur
ante
todo
o te
mpo
da
conv
ersa
.
Nes
sa a
ltura
Ceb
ete
o in
terp
elou
: Por
que
dis
sest
e, S
ócra
tes,
que
não
é pe
rmiti
do a
ni
ngué
m e
mpr
egar
vio
lênc
ia c
ontra
si p
rópr
io, s
e, a
o m
esm
o te
mpo
, afir
mas
que
o fi
lóso
fo
dese
ja ir
apó
s de
que
m m
orre
?
Com
o, C
ebet
e, n
unca
ouv
iste
s na
da a
ess
e re
spei
to, t
u e
Sím
ias,
quan
do c
onvi
vest
es
com
Filo
lau?
Ouv
i, Só
crat
es, p
orém
mui
to p
ela
ram
a.
Sobr
e is
so e
u ta
mbé
m s
ó po
sso
fala
r de
outiv
a; p
orém
nad
a m
e im
pede
de
com
unic
ar-
vos
o qu
e se
i. Ta
lvez
, mes
mo,
sej
a a
quem
se
enco
ntra
no
pont
o de
imig
rar p
ara
o ou
tro
mun
do q
ue c
ompe
te in
vest
igar
ace
rca
dess
a vi
agem
e d
izer
com
o se
rá p
reci
so im
agin
á-la
. Q
ue m
elho
r coi
sa s
e po
derá
faze
r par
a pa
ssar
o te
mpo
até
sol
bai
xar?
VI –
Qua
l o m
otiv
o, e
ntão
, Sóc
rate
s, de
diz
erem
que
a n
ingu
ém é
per
miti
do s
uici
dar-
se?
De
fato
, sob
re o
que
me
perg
unta
ste,
ouv
i Filo
lau
afirm
ar, q
uand
o es
teve
ent
re n
ós, e
ta
mbé
m o
utra
s pe
ssoa
s, qu
e nã
o de
vem
os fa
zer i
sso.
Por
ém n
unca
ouv
i de
ning
uém
m
aior
es p
artic
ular
idad
es.
Entã
o, o
que
impo
rta é
não
des
anim
ares
, dis
se; é
pos
síve
l que
ain
da v
enha
s a
ouvi
-la
s. Ta
lvez
te p
areç
a es
tranh
o qu
e en
tre to
dos
os c
asos
sej
a es
te o
úni
co s
impl
es e
que
não
co
mpo
rte c
omo
os d
emai
s, de
cisõ
es a
rbitr
ária
s, se
gund
o as
circ
unst
ânci
as, a
sab
er: q
ue é
m
elho
r est
ar m
orto
do
que
vivo
. E h
aven
do p
esso
as p
ara
quem
a m
orte
, de
fato
, é
pref
erív
el, n
ão s
aber
ás d
ar a
razã
o de
ser
ved
ado
aos
hom
ens
proc
urar
em p
ara
si m
esm
os
sem
elha
nte
bene
fício
, mas
pre
cisa
rem
esp
erar
por
ben
feito
r est
ranh
o.
Itto
Zeus
, dis
ses
Ceb
ete
em s
eu d
iale
to, e
sboç
ando
um
sor
riso:
Deu
s o
sabe
rá.
Apa
rent
emen
te, c
ontin
uou
Sócr
ates
, iss
o ca
rece
de
lógi
ca; m
as o
fato
é q
ue te
m a
sua
ra
zão
de s
er. A
quilo
dos
mis
tério
s, de
que
nós
, hom
ens,
nos
enco
ntra
mos
num
a es
péci
e de
cá
rcer
e qu
e no
s é
veda
do a
brir
para
esc
apar
, afig
ura-
me
de p
eso
e an
da fá
cil d
e en
tend
er.
Um
a co
isa, p
elo
men
os, C
ebet
e, m
e pa
rece
bem
enu
ncia
da: q
ue o
s de
uses
são
nos
sos
guar
diãe
s, e
nós,
hom
ens,
prop
rieda
de d
eles
. Ace
itas
esse
pon
to?
Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
Ceb
ete.
Tu ta
mbé
m, c
ontin
uou,
na
hipó
tese
de
algu
m d
os te
us e
scra
vos
pôr t
erm
o à v
ida,
sem
qu
e lh
es h
ouve
sse
dado
a e
nten
der q
ue e
stav
as d
e ac
ordo
em
que
se
mat
asse
, não
te
abor
rece
rias
com
ele
, e s
e fo
sse
poss
ível
, não
o p
uniri
as?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u.
Por c
onse
guin
te, n
ão a
cho
absu
rdo
ning
uém
pod
er m
atar
-se
sem
que
a d
ivin
dade
o
colo
que
ness
a co
ntin
gênc
ia, c
omo
é o
noss
o ca
so a
gora
.
VII
– E
ssa
parte
, obs
ervo
u C
ebet
e, ta
mbé
m m
e pa
rece
razo
ável
. Por
ém o
que
af
irmas
te a
ntes
, sob
re a
dis
posi
ção
do fi
lóso
fo p
ara
mor
rer,
é um
ver
dade
iro c
ontra
-sen
so,
Sócr
ates
, se
estiv
er c
erto
o q
ue d
isse
mos
há
pouc
o, q
ue D
eus
cuid
a de
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e q
ue s
omos
pr
oprie
dade
s de
le. Q
ue o
s in
diví
duos
mai
s sá
bios
se
insu
rjam
con
tra s
emel
hant
e tu
tela
e
proc
urem
evi
tá-l
a, q
uand
o a
exer
cem
, pre
cisa
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te, o
s de
uses
, os
mel
hore
s di
rigen
tes,
é o
que
não
cheg
o a
com
pree
nder
. Poi
s ni
ngué
m o
usar
á di
zer q
ue sa
berá
cui
dar m
elho
r de
si
mes
mo,
um
a ve
z em
libe
rdad
e. U
m in
diví
duo
inse
nsat
o po
deria
raci
ocin
ar d
essa
man
eira
, po
r ach
ar b
om fu
gir d
o am
o, s
em c
onsi
dera
r que
não
se
deve
fugi
r do
bem
, mas
fica
r jun
to
dele
o m
aior
tem
po p
ossí
vel.
Foge
por
car
ecer
de
sens
o. O
indi
vídu
o in
telig
ente
, pel
o co
ntrá
rio, s
ó de
seja
con
tinua
r jun
to d
e qu
em lh
e se
ja s
uper
ior.
Por i
sso,
Sóc
rate
s, o
certo
é,
prec
isam
ente
, o o
post
o do
que
foi d
ito h
á po
uco:
aos
sáb
ios
é qu
e fic
a be
m in
surg
ir-s
e co
ntra
a id
éia
da m
orte
, e a
os in
sens
atos
, exu
ltar a
nte
essa
per
spec
tiva.
Ao
ouvi
-lo
assi
m fa
lar,
quis
par
ecer
-me
que
Sócr
ates
se
aleg
rava
com
a a
gude
za d
e C
ebet
e; d
epoi
s, vo
ltand
o-se
par
a no
sso
lado
, fal
ou: C
ebet
e an
da s
empr
e à c
ata
de
argu
men
tos,
sem
ace
itar d
e pr
onto
a o
pini
ão d
os o
utro
s.
Ao
que
Sím
ias
obse
rvou
: Por
ém q
uer p
arec
er-m
e, S
ócra
tes,
que
há b
asta
nte
sens
o na
s pa
lavr
as d
e C
ebet
e. N
ão s
e co
mpr
eend
e, d
e fa
to, q
ue in
diví
duos
ver
dade
iram
ente
sáb
ios
fuja
m d
e am
os m
elho
res
do q
ue e
les
e se
ale
grem
com
ess
a lib
erda
de. A
meu
ver
, o
argu
men
to d
e C
ebet
e va
i diri
gido
con
tra ti
, por
ace
itare
s à l
igei
ra a
idéi
a de
dei
xar-
nos,
e
tam
bém
aos
am
os c
uja
supe
riorid
ade
és o
prim
eiro
a p
rocl
amar
.
Tens
razã
o, o
bser
vou.
Pel
o qu
e ve
jo, s
ois
de p
arec
er q
ue p
reci
so d
efen
der-
me
dess
a ac
usaç
ão, c
omo
o fiz
no
tribu
nal.
Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
Sím
ias.
VII
I – P
ois
que
seja
, dis
se. V
ejam
os s
e di
ante
de
vós
outro
s m
inha
def
esa
saíra
mai
s co
nvin
cent
e do
que
a fe
ita n
a fr
ente
dos
juíz
es. O
fato
, Sím
ias
e C
ebet
e, p
ross
egui
u, é
que
se
eu
não
acre
dita
sse,
prim
eiro
, que
vou
par
a ju
nto
de o
utro
s de
uses
, sáb
ios
e bo
ns, e
, de
pois
, par
a o
luga
r de
hom
ens
fale
cido
s m
uito
mel
hore
s do
que
os
daqu
i, co
met
eria
um
a gr
ande
err
o po
r não
me
insu
rgir
cont
ra a
mor
te. P
orém
pod
es fi
ar q
ue e
sper
o ju
ntar
-me
a ho
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s de
bem
. Sob
re e
sse
pont
o nã
o m
e m
anife
sto c
om m
uita
seg
uran
ça; m
as n
o qu
e en
tend
e co
m m
inha
tran
sfer
ênci
a pa
ra ju
nto
de d
euse
s qu
e sã
o ex
cele
ntes
am
os: s
e há
o q
ue
eu d
efen
da c
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onvi
cção
é p
reci
sam
ente
isso
. Ess
e m
otiv
o de
não
me
revo
ltar a
idéi
a da
m
orte
. Pel
o co
ntrá
rio, t
enho
esp
eran
ça d
e qu
e al
gum
a co
isa
há p
ara
os m
orto
s, e,
de
acor
do
com
ant
iga
tradi
ção,
mui
to m
elho
r par
a os
bon
s do
que
par
a os
mau
s.
Com
o as
sim
, Sóc
rate
s, pe
rgun
tou
Sím
ias;
com
sem
elha
nte
conv
icçã
o qu
eres
dei
xar-
nos s
em n
o-la
dar
a c
onhe
cer?
Eu,
pel
o m
enos
, ach
o qu
e se
trat
a de
alg
o de
gra
nde
rele
vânc
ia p
ara
nós
todo
s. A
o m
esm
o te
mpo
, com
isso
fará
s a
tu a
def
esa,
se
com
o q
ue
diss
eres
con
segu
ires
conv
ence
r-no
s.
É o
que
vou
tent
ar, c
ontin
uou;
por
ém p
rimei
ro v
ejam
os o
que
o n
osso
Crit
ão h
á ta
nto
tem
po q
uer d
izer
-me.
Trat
a-se
ape
nas
do s
egui
nte,
Sóc
rate
s, fa
lou
Crit
ão: é
que
há
mui
to v
em in
sist
ido
com
igo
a pe
ssoa
enc
arre
gada
de
dar-
te o
ven
eno,
par
a av
isar
-te
de q
ue d
eves
con
vers
ar o
m
enos
pos
síve
l. C
onve
rsa
mui
to a
nim
ada
esqu
enta
, é o
que
ele
afir
ma,
e is
so p
reju
dica
a
ação
da
drog
a. D
o co
ntrá
rio, j
á te
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ecid
o pr
ecis
ar to
mar
dua
s ou
três
dos
es q
uem
se
com
porta
des
se je
ito.
É Só
crat
es: M
anda
-o p
asse
ar! d
isse
. E q
ue p
repa
re d
ose
dupl
a, e
até
trip
la, s
e fo
r pr
ecis
o. Eu já
sab
ia m
ais
ou m
enos
o q
ue ir
ias
resp
onde
r, ob
serv
ou C
ritão
; mas
o h
omem
não
m
e da
va s
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go.
Dei
xa-o
, dis
se. E
ago
ra, j
uíze
s, pr
eten
do e
xpor
-vos
as
razõ
es d
e es
tar c
onve
ncid
o de
qu
e o
indi
vídu
o qu
e se
ded
icou
a v
ida
inte
ira à
Filo
sofia
, ter
á de
mos
trar-
se c
onfia
nte
na
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da
mor
te, p
ela
espe
ranç
a de
vir
a pa
rtici
par,
depo
is d
e m
orto
, dos
mai
s va
lioso
s be
ns.
Com
o po
derá
ser
des
sa m
anei
ra, S
ímia
s e
Ceb
ete,
é o
que
tent
arei
exp
licar
-vos
.
IX –
Em
bora
os
hom
ens
não
o pe
rceb
am, é
pos
síve
l que
todo
s os
que
se
dedi
cam
ve
rdad
eira
men
te à
Filo
sofia
, a n
ada
mai
s as
pire
m d
o qu
e a
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rer e
est
arem
mor
tos.
Send
o is
so u
m fa
to, s
eria
abs
urdo
, não
faze
ndo
outra
coi
sa o
filó
sofo
toda
a v
ida,
ao
cheg
ar e
sse
mom
ento
, ins
urgi
r-se
con
tra o
que
ele
mes
mo
pedi
ra c
om ta
l em
penh
o e
em p
ós d
o qu
e se
mpr
e se
afa
nara
.
Sím
ias,
entã
o, ri
ndo,
Por
Zeu
s, Só
crat
es, i
nter
rom
peu-
o; fi
zeste
-me
rir, e
m q
ue p
ese
à m
inha
falta
de
disp
osiç
ão p
ara
isso
. O q
ue p
enso
é q
ue, s
e os
hom
ens
te o
uvis
sem
dis
corr
er
dess
a m
anei
ra, a
char
iam
cer
to o
que
se
diz
dos
filós
ofos
– e
nes
se p
onto
con
taria
m c
om a
ap
rova
ção
de n
ossa
gen
te –
que
em
ver
dade
ele
s vi
vem
a m
orre
r, sa
bend
o pe
rfei
tam
ente
qu
e ou
tra c
oisa
não
mer
ecem
.
E só
diri
am a
ver
dade
, Sím
ias,
com
o ex
ceçã
o do
que
se
refe
re a
est
arem
cie
ntes
des
se
pont
o, p
ois,
de fa
to, n
ão s
abem
de
que
mod
o o
verd
adei
ro fi
lóso
fo d
esej
a a
mor
te, n
em
com
o po
de v
ir a
alca
nçá-
la. P
orém
dei
xem
os e
ssa
gent
e de
lado
e p
ergu
ntem
os a
nós
m
esm
os s
e ac
redi
tam
os q
ue a
mor
te s
eja
algu
ma
cois
a?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u Sí
mia
s.
Que
não
ser
á se
não
a se
para
ção
entre
a a
lma
e o
corp
o? M
orre
r, en
tão,
con
sist
irá e
m
apar
tar-
se d
a al
ma
o co
rpo,
fica
ndo
este
redu
zido
a s
i mes
mo
e, p
or o
utro
lado
, em
libe
rtar-
se d
o co
rpo
a al
ma
e is
olar
-se
em s
i mes
ma?
Ou
será
a m
orte
out
ra c
oisa
?
Não
; é is
so, p
reci
sam
ente
, res
pond
eu.
Con
side
ra a
gora
, meu
car
o, s
e pe
nsas
com
o eu
. Est
ou c
erto
de
que
dess
e m
odo
ficar
emos
con
hece
ndo
mel
hor o
que
nos
pro
pom
os in
vest
igar
. És
de o
pini
ão q
ue s
eja
próp
rio d
o fil
ósof
o es
forç
ar-s
e pa
ra a
aqu
isiç
ão d
os p
rete
nsos
pra
zere
s, ta
l com
o co
mer
e
bebe
r? De
form
a al
gum
a, S
ócra
tes,
repl
icou
Sím
ias.
E co
mo
rela
ção
aos
praz
eres
do
amor
?
A m
esm
a co
isa.
E os
dem
ais
praz
eres
, que
ent
ende
m c
om o
s cu
idad
os d
o co
rpo?
És
de p
arec
er q
ue
lhes
atri
bua
algu
m v
alor
? A
pos
se d
e ro
upas
vis
tosa
s, ou
de
calç
ados
e to
da a
sor
te d
e or
nam
ento
s do
cor
po, q
ue ta
l ach
as?
Eles
os
apre
cia
ou o
s de
spre
za n
o qu
e nã
o fo
r de
estri
ta n
eces
sida
de?
Eu, p
elo
men
os, r
espo
ndeu
, sou
de
pare
cer q
ue o
ver
dade
iro fi
lóso
fo o
s de
spre
za.
Send
o as
sim
, con
tinuo
u, n
ão a
chas
que
, de
mod
o ge
ral,
as p
reoc
upaç
ões
dess
a pe
ssoa
, nã
o vi
sam
ao
corp
o, p
orém
tend
em, n
a m
edid
a do
pos
síve
l, a
afas
tar-
se d
ele
para
ap
roxi
mar
-se
da a
lma?
É ta
mbé
m o
que
eu
pens
o.
Nis
to, p
or c
onse
guin
te, a
ntes
de
mai
s na
da, é
que
o fi
lóso
fo s
e di
fere
ncia
dos
dem
ais
hom
ens:
no
empe
nho
de re
tirar
qua
nto
poss
ível
a a
lma
na c
ompa
nhia
do
corp
o.
Evid
ente
men
te.
Essa
é a
razã
o, S
ímia
s, de
, na
opin
ião
da m
aior
ia d
os h
omen
s, nã
o m
erec
er v
iver
o
indi
vídu
o a
quem
nad
a di
sso
é ag
radá
vel e
que
não
se
impo
rta c
om ta
is p
rátic
as, p
or a
char
-se
mui
to m
ais
perto
da
cond
ição
de
mor
to e
por
não
dar
a m
enor
impo
rtânc
ia a
os p
raze
res
alca
nçad
os p
or in
term
édio
do
corp
o.
Tens
razã
o.
X –
E c
omo
refe
rênc
ia à
aqui
siçã
o do
con
heci
men
to?
O c
orpo
con
stitu
i ou
não
cons
titui
obs
tácu
lo, q
uand
o ch
amad
o pa
ra p
artic
ipar
da
pesq
uisa
? O
que
dig
o é
o se
guin
te:
a vi
sta
e o
ouvi
do a
sseg
uram
aos
hom
ens
algu
ma
verd
ade?
Ou
será
cer
to o
que
os
poet
as
não
se c
ansa
m d
e af
irmar
, que
nad
a ve
mos
nem
ouv
imos
com
exa
tidão
? O
ra, s
e es
ses
dois
se
ntid
os c
orpó
reos
não
são
nem
exa
tos
nem
de
conf
ianç
a, q
ue d
irem
os d
os d
emai
s, em
tudo
in
ferio
res
aos
prim
eiro
s? N
ão p
ensa
s de
sse
mod
o?
Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
.
Entã
o, p
ergu
ntou
, qua
ndo
é qu
e a
alm
a at
inge
a v
erda
de?
É fo
ra d
e dú
vida
que
, des
de
o m
omen
to e
m q
ue te
nta
inve
stig
ar a
lgo
na c
ompa
nhia
do
corp
o, v
ê se
logr
ada
por e
le.
Tens
razã
o.
E nã
o é
no p
ensa
men
to –
se
tiver
de
ser d
e al
gum
mod
o –
que
algo
da
real
idad
e se
lhe
pate
ntei
a?
Perf
eita
men
te.
Ora
, a a
lma
pens
a m
elho
r qua
ndo
não
tem
nad
a di
sso
a pe
rturb
á-la
, nem
a v
ista
nem
o
ouvi
do, n
em d
or n
em p
raze
r de
espé
cie
algu
ma,
e c
once
ntra
da a
o m
áxim
o em
si m
esm
a,
disp
ensa
a c
ompa
nhia
do
corp
o, e
vita
ndo
tant
o qu
anto
pos
síve
l qua
lque
r com
érci
o co
m e
le,
e es
forç
a-se
por
apr
eend
er a
ver
dade
.
Cer
to.
E nã
o é
ness
e es
tado
que
a a
lma
do fi
lóso
fo d
espr
eza
o co
rpo
e de
le fo
ge, t
raba
lhan
do
por c
once
ntra
r-se
em
si p
rópr
ia?
Evid
ente
men
te.
E co
m re
laçã
o ao
seg
uint
e, S
ímia
s: a
firm
arem
os o
u nã
o qu
e o
justo
em
si m
esm
o se
ja
algu
ma
coisa
?
Afir
mar
emos
, sem
dúv
ida,
por
Zeu
s.
E ta
mbé
m o
bel
o em
si e
o b
em?
Tam
bém
.
E al
gum
dia
já p
erce
best
e co
m o
s ol
hos
qual
quer
del
es?
Nun
ca, r
espo
ndeu
.
Ou
por i
nter
méd
io d
e ou
tro s
entid
o co
rpór
eo?
Ref
iro-m
e a
tudo
: gra
ndez
a, s
aúde
, fo
rça
e o
mai
s qu
e fo
r, nu
ma
pala
vra:
à es
sênc
ia d
e tu
do o
que
exi
ste,
con
form
e a
natu
reza
de
cad
a co
isa.
É p
or in
term
édio
do
corp
o qu
e pe
rceb
emos
o q
ue n
eles
há
de v
erda
deiro
, ou
tudo
se
pass
ará
da s
egui
nte
man
eira
: que
m d
e nó
s fic
ar e
m m
elho
res
cond
içõe
s de
pen
sar
em s
i mes
mo
o m
ais
exat
amen
te p
ossí
vel o
que
se
prop
õe e
xam
inar
, não
é e
sse
que
esta
rá
mai
s pe
rto d
o co
nhec
imen
to d
e ca
da c
oisa
? O
u nã
o?
Perf
eita
men
te.
E nã
o al
canç
ará
sem
elha
nte
obje
tivo
da m
anei
ra m
ais
pura
que
m s
e ap
roxi
mar
de
cada
coi
sa s
ó co
m o
pen
sam
ento
, sem
arr
asta
r par
a a
refle
xão
a vi
sta
ou q
ualq
uer o
utro
se
ntid
o, n
em a
ssoc
iá-l
os a
seu
raci
ocín
io, p
orém
val
endo
-se
do p
ensa
men
to p
uro,
esf
orça
r-se
por
apr
eend
er a
real
idad
e de
cad
a co
isa
em s
ua m
aior
pur
eza,
apa
rtado
, qua
nto
poss
ível
, da
vis
ta e
do
ouvi
do, e
, por
ass
im d
izer
, de
todo
o c
orpo
, por
ser
o c
orpo
fato
r de
pertu
rbaç
ão p
ara
a al
ma
e im
pedi
-la
de a
lcan
çar a
ver
dade
e o
pen
sam
ento
, sem
pre
que
a el
e se
ass
ocia
? N
ão s
erá,
Sím
ias,
esse
indi
vídu
o, s
e ho
uver
alg
uém
em
tais
con
diçõ
es, q
ue
alca
nçar
a o
conh
ecim
ento
do
Ser?
Tens
toda
a ra
zão,
Sóc
rate
s, re
spon
deu
Sím
ias.
XI –
Por
tudo
isso
, con
tinuo
u, é
nat
ural
nas
cer n
o es
pírit
o do
s fil
ósof
os a
utên
ticos
ce
rta c
onvi
cção
que
os
leva
a d
isco
rrer
ent
re e
les
mai
s ou
men
os n
os s
egui
ntes
term
os: H
á de
hav
er p
ara
nós
outro
s al
gum
ata
lho
dire
to, q
uand
o o
raci
ocín
io n
os a
com
panh
a na
pe
squi
sa; p
orqu
e en
quan
to ti
verm
os c
orpo
e n
ossa
alm
a se
enc
ontra
r ato
lada
em
sua
co
rrup
ção,
jam
ais
pode
rem
os a
lcan
çar o
que
alm
ejam
os. E
o q
ue q
uere
mos
, dec
lare
mo-
lo
de u
ma
vez
por t
odas
, é a
ver
dade
. Não
têm
con
ta o
s em
bara
ços
que
o co
rpo
nos
apre
sta,
pe
la n
eces
sida
de d
e al
imen
tar-
se, s
em fa
larm
os n
as d
oenç
as in
terc
orre
ntes
, que
são
out
ros
empe
cilh
os n
a ca
ça d
a ve
rdad
e. C
om a
mor
es, r
ecei
os, c
upid
ez, i
mag
inaç
ões
de to
da a
es
péci
e e
um s
em n
úmer
o de
ban
alid
ades
, a ta
l pon
to e
le n
os s
atur
a, q
ue, d
e fa
to, c
omo
se
diz,
por
sua
cau
sa ja
mai
s co
nseg
uire
mos
alc
ança
r o c
onhe
cim
ento
do
quer
que
sej
a. M
ais,
aind
a: g
uerr
as, b
atal
has,
diss
ensõ
es, s
usci
ta-a
s ex
clus
ivam
ente
o c
orpo
com
seu
s ap
etite
s. O
utra
cau
sa n
ão tê
m a
s gu
erra
s se
não
o am
or d
o di
nhei
ro e
dos
ben
s qu
e no
s ve
mos
fo
rçad
os a
adq
uirir
por
cau
sa d
o co
rpo,
vis
to s
erm
os o
brig
ados
a s
ervi
-lo.
Se
care
cerm
os d
e va
gar p
ara
nos
dedi
carm
os à
Filo
sofia
, a c
ausa
é tu
do is
so q
ue e
num
eram
os. O
pio
r é q
ue,
mal
con
segu
imos
alg
uma
trégu
a e
nos
disp
omos
a re
fletir
sob
re d
eter
min
ado
pont
o, n
a m
esm
a ho
ra o
cor
po in
terv
ém p
ara
pertu
rbar
-nos
de
mil
mod
os, c
ausa
ndo
tum
ulto
e
inqu
ietu
de e
m n
ossa
inve
stiga
ção,
até
dei
xar-
nos
inte
iram
ente
inca
paze
s de
per
cebe
r a
verd
ade.
Por
out
ro la
do, e
nsin
a-no
s a
expe
riênc
ia q
ue, s
e qu
iser
mos
alc
ança
r o
conh
ecim
ento
pur
o de
alg
uma
cois
a, te
rem
os d
e se
para
r-no
s do
cor
po e
con
side
rar a
pena
s co
m a
alm
a co
mo
as c
oisa
s sã
o em
si m
esm
as. S
ó ne
ssas
con
diçõ
es, a
o qu
e pa
rece
, é q
ue
alca
nçar
emos
o q
ue d
esej
amos
e d
o qu
e no
s de
clar
amos
am
oros
os, a
sab
edor
ia, i
sto
é,
depo
is d
e m
orto
s, co
nfor
me
noss
o ar
gum
ento
o in
dica
, nun
ca e
nqua
nto
vive
rmos
. Ora
, se
real
men
te, n
a co
mpa
nhia
do
corp
o nã
o é
poss
ível
obt
er o
con
heci
men
to p
uro
do q
ue q
uer
que
seja
, de
duas
um
a te
rá d
e se
r: ou
jam
ais
cons
egui
rem
os a
dqui
rir e
sse
conh
ecim
ento
, ou
só o
fare
mos
dep
ois
de m
orto
s, po
is s
ó en
tão
a al
ma
se re
colh
erá
em s
i mes
ma,
sep
arad
a do
corp
o, n
unca
ant
es d
isso
. Ao
que
pare
ce, e
nqua
nto
vive
rmos
, a ú
nica
man
eira
de
ficar
mos
m
ais
perto
do
pens
amen
to, é
abs
term
o-no
s o
mai
s po
ssív
el d
a co
mpa
nhia
do
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o e
de
qual
quer
com
unic
ação
com
ele
, sal
vo e
est
ritam
ente
nec
essá
rio, s
em n
os d
eixa
rmos
sat
urar
de
sua
nat
urez
a se
m p
erm
itir q
ue n
os m
acul
e, a
té q
ue a
div
inda
de n
os v
enha
libe
rtar.
Puro
s, as
sim
, e li
vres
da
insa
nida
de d
o co
rpo,
com
toda
a p
roba
lidad
e no
s un
irem
os a
ser
es ig
uais
a
nós
e re
conh
ecer
emos
por
nós
mes
mos
o q
ue fo
r est
rem
e de
impu
reza
s. É
niss
o,
prov
avel
men
te, q
ue c
onsi
ste
a ve
rdad
e. N
ão é
per
miti
do a
o im
puro
ent
rar e
m c
onta
to c
om o
pu
ro. –
Eis
aí,
meu
car
o Sí
mia
s, qu
ero
crer
, o q
ue n
eces
saria
men
te p
ensa
m e
ntre
si e
co
nver
sam
uns
com
os
outro
s os
ver
dade
iros
aman
tes
da s
abed
oria
. Não
é e
sse,
tam
bém
, o
teu
mod
o de
pen
sar?
Perf
eita
men
te, S
ócra
tes.
XII
– P
or c
onse
guin
te, c
ompa
nhei
ro, c
ontin
uou
Sócr
ates
, se
tudo
isso
est
iver
cer
to, h
á m
uita
esp
eran
ça d
e qu
e so
men
te n
o po
nto
em q
ue m
e en
cont
ro, e
mai
s em
tem
po a
lgum
, é
que
algu
ém p
oder
á al
canç
ar o
que
dur
ante
a v
ida
cons
titui
nos
so ú
nico
obj
etiv
o. P
or is
so, a
vi
agem
que
me
foi a
gora
impo
sta
deve
ser
inic
iada
com
um
a bo
a es
pera
nça,
o q
ue s
e da
rá
tam
bém
com
qua
ntos
tive
rem
cer
teza
de
acha
r-se
com
a m
ente
pre
para
da e
, de
algu
m
mod
o, p
ura.
Isso
mes
mo,
obs
ervo
u Sí
mia
s.
E pu
rific
ação
não
vem
a s
er, p
reci
sam
ente
, o q
ue d
isse
mos
ant
es: s
epar
ar d
o co
rpo,
qu
anto
pos
síve
l, a
alm
a, e
hab
ituá-
la a
con
cent
rar-
se e
a re
colh
er-s
e a
si m
esm
a, a
afa
star
-se
de to
das
as p
arte
s do
cor
po e
a v
iver
, ago
ra e
no
futu
ro, i
sola
da q
uant
o po
ssív
el e
por
si
mes
ma,
e c
omo
que
liber
tada
dos
gril
hões
do
corp
o?
É m
uito
cer
to, r
espo
ndeu
.
E o
que
deno
min
amos
mor
te, n
ão s
erá
a lib
eraç
ão d
a al
ma
e se
u ap
arta
men
to d
o co
rpo?
Sem
dúv
ida,
torn
ou a
fala
r.
E es
sa s
epar
ação
, com
o di
ssem
os, o
s qu
e m
ais
se e
sfor
çam
por
alc
ançá
-la
e os
úni
cos
a co
nseg
ui-l
a nã
o sã
o os
que
se
dedi
cam
ver
dade
iram
ente
à Fi
loso
fia, e
não
con
sist
e to
da a
at
ivid
ade
dos
filós
ofos
na
liber
taçã
o da
alm
a e
na s
ua s
epar
ação
do
corp
o?
Exat
o.
Send
o as
sim
, com
o di
sse
no c
omeç
o, n
ão s
eria
ridí
culo
pre
para
r-se
alg
uém
a v
ida
inte
ira p
ara
vive
r o m
ais
perto
pos
síve
l da
mor
te, e
revo
ltar-
se n
o in
stant
e em
que
ela
ch
ega? R
idíc
ulo,
com
o nã
o?
Logo
, Sím
ias,
cont
inuo
u, o
s qu
e pr
atic
am v
erda
deira
men
te a
Filo
sofia
, de
fato
se
prep
aram
par
a m
orre
r, se
ndo
eles
, de
todo
s os
hom
ens,
os q
ue m
enos
tem
or re
vela
m à
idéi
a
da m
orte
. Bas
ta c
onsi
dera
rmos
o s
egui
nte:
se
de to
do o
jeito
ele
s de
spre
zam
o c
orpo
e
dese
jam
, aci
ma
de tu
do, f
icar
sós
com
a a
lma,
não
ser
ia o
cúm
ulo
do a
bsur
do m
ostra
r med
o e
revo
ltar-
se n
o in
stan
te e
m q
ue is
so a
cont
eces
se, e
m v
ez d
e pa
rtire
m c
onte
ntes
par
a on
de
espe
ram
alc
ança
r o q
ue a
vid
a in
teira
tant
o am
ara
– sim
, poi
s er
am ju
stam
ente
isso
: am
ante
s da
sab
edor
ia –
e fi
car l
ivre
s pa
ra s
empr
e da
com
panh
ia d
os q
ue o
s m
oles
tava
m?
Com
o!
Am
ores
hum
anos
, ant
e a
perd
a de
am
igos
, esp
osas
e fi
lhos
, têm
leva
do ta
nta
gent
e a
baix
ar
volu
ntar
iam
ente
, ao
Had
es, m
ovid
os a
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s da
esp
eran
ça d
e lá
reve
rem
o o
bjet
o de
seu
s an
elos
e d
e co
m e
les
conv
iver
em; n
o en
tant
o, q
uem
am
a de
ver
dade
a s
abed
oria
, e m
ais:
es
tá fi
rmem
ente
con
venc
ido
de q
ue e
m p
arte
alg
uma
pode
r enc
ontrá
-la
a nã
o se
r no
Had
es,
have
rá d
e in
surg
ir-se
con
tra a
mor
te, e
m v
ez d
e pa
rtir c
onte
nte
para
lá?
Sim
, é o
que
te
rem
os d
e ad
miti
r, m
eu c
aro,
se
se tr
atar
de
um v
erda
deiro
am
ante
da
sabe
doria
. Poi
s es
te
há d
e es
tar f
irmem
ente
con
venc
ido
de q
ue a
não
ser
lá, e
m p
arte
alg
uma
pode
rá e
ncon
trar a
ve
rdad
e em
toda
a s
ua p
urez
a. S
e as
coi
sas
se p
assa
m re
alm
ente
com
o ac
abo
de d
izer
, não
se
ria d
ar p
rova
de
inse
nsat
ez te
mer
a m
orte
sem
elha
nte
indi
vídu
o?
Sem
dúv
ida,
por
Zeu
s, fo
i a s
ua re
spos
ta.
XII
I – P
or c
onse
quên
cia,
con
tinuo
u, a
o vi
res
um h
omem
revo
ltar-
se n
o in
stan
te d
e m
orre
r, nã
o se
rá is
so p
rova
suf
icie
nte
de q
ue n
ão tr
ata
de u
m a
man
te d
a sa
bedo
ria, p
orém
am
ante
do
corp
o? U
m in
diví
duo
ness
as c
ondi
ções
, tam
bém
ser
á, p
ossi
velm
ente
, am
ante
do
dinh
eiro
ou
da fa
ma,
se
não
o fo
r de
ambo
s ao
mes
mo
tem
po.
É ex
atam
ente
com
o di
zes,
resp
onde
u.
E a
virtu
de d
enom
inad
a co
rage
m, S
ímia
s, pr
osse
guiu
, não
ass
enta
mar
avilh
osam
ente
be
m n
os in
diví
duos
com
ess
a di
spos
ição
?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u.
E a
tem
pera
nça,
o q
ue to
do o
mun
do c
ham
a te
mpe
ranç
a: n
ão d
eixa
r-se
dom
inar
pel
os
apet
ites,
poré
m d
espr
ezá-
los
e re
vela
r mod
eraç
ão, n
ão s
erá
qual
idad
e ap
enas
das
pes
soas
qu
e em
gra
u em
inen
tíssi
mo
desd
enha
m d
o co
rpo
e vi
vem
par
a a
Filo
sofia
?
Nec
essa
riam
ente
, foi
a re
spos
ta.
Se c
onsi
dera
res,
pros
segu
iu, n
os o
utro
s ho
men
s a
cora
gem
e a
tem
pera
nça,
hás
de
achá
-las
mai
s do
que
abs
urda
s.
Com
o as
sim
, Sóc
rate
s?
Igno
ras
porv
entu
ra, l
he d
isse,
que
na
opin
ião
de to
da a
gen
te a
mor
te s
e in
clui
ent
re
os d
enom
inad
os m
ales
?
Sei d
isso
, res
pond
eu.
E nã
o é
pelo
med
o de
um
mal
ain
da m
aior
que
enf
rent
am a
mor
te e
sses
indi
vídu
os
cora
joso
s, qu
ando
a e
nfre
ntam
.
Cer
to.
Logo
, é p
or m
edo
e te
mor
que
os
hom
ens
são
cora
joso
s, co
m e
xceç
ão d
os fi
lóso
fos,
mui
to e
mbo
ra s
e no
s af
igur
e pa
rado
xal s
er a
lgué
m c
oraj
oso
por t
emor
e p
usila
nim
idad
e.
Perf
eita
men
te.
E co
m o
s m
oder
ados
des
se ti
po, n
ão s
e pa
ssar
á a
mes
ma
cois
a, is
to é
, ser
em
mod
erad
os p
or a
lgum
des
regr
amen
to?
E co
nqua
nto
asse
vere
mos
não
ser
isso
pos
síve
l, é
o qu
e se
dá,
real
men
te, c
om a
tem
pera
nça
balo
fa d
essa
gen
te. D
e m
edo,
ape
nas,
de s
e pr
ivar
em d
e ce
rtos
praz
eres
por
ele
s co
biça
dos,
quan
do s
e ab
stêm
de
algu
ns é
por
que
outro
s o
dom
inam
. E e
mbo
ra c
ham
em in
tem
pera
nça
o se
r ven
cido
pel
os p
raze
res,
o qu
e se
dá
com
to
dos
é qu
e o
dom
ínio
sob
re a
lgun
s pr
azer
es s
e fa
z à c
usta
de
serv
irem
a o
utro
s, o
que
vem
a
ser m
uito
par
ecid
o co
m o
que
há
pouc
o de
clar
ei, d
e se
r, de
alg
um m
odo,
a in
tem
pera
nça
que
os d
eixa
tem
pera
ntes
.
Pare
ce q
ue é
ass
im m
esm
o.
Mas
, meu
bem
ave
ntur
ado
Sím
ias,
essa
não
é a
man
eira
de
alca
nçar
a v
irtud
e, tr
ocar
un
s pr
azer
es p
or o
utro
s, tri
stez
as, o
u te
mor
es p
or te
mor
es d
e ou
tras
espé
cie,
com
o tro
cam
os
em m
iúdo
s m
oeda
de
mai
or v
alor
. Só
há u
ma
moe
da v
erda
deira
, pel
a qu
al tu
do is
so d
eva
ser t
roca
do: a
sab
edor
ia. E
só
por t
roca
com
ela
, ou
com
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mes
ma,
é q
ue e
m v
erda
de s
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mpr
a ou
se
vend
e tu
do is
to: c
orag
em, t
empe
ranç
a e
just
iça,
num
a pa
lavr
a, a
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dade
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virtu
de, a
par
da
sabe
doria
, pou
co im
porta
ndo
que
se lh
e as
soci
em o
u de
la s
e af
aste
m
praz
eres
ou
tem
ores
e tu
do o
mai
s da
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ma
natu
reza
. Sep
arad
as d
a sa
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ria e
pe
rmut
adas
ent
re s
i, to
das
elas
não
são
mai
s do
que
som
bra
de v
irtud
e, s
ervi
s em
toda
a
linha
e s
em n
ada
poss
uíre
m d
e ve
rdad
eiro
nem
são
. A v
erda
de e
m s
i con
sist
e,
prec
isam
ente
, na
purif
icaç
ão d
e tu
do is
so, n
ão p
assa
ndo
a te
mpe
ranç
a, a
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iça,
a c
orag
em
e a
próp
ria s
abed
oria
de
uma
espé
cie
de p
urifi
caçã
o. É
mui
to p
rová
vel q
ue o
s in
stitu
idor
es
de n
osso
s m
isté
rios
não
foss
em fa
lhos
de
mer
ecim
ento
e q
ue d
esde
mui
tos n
os q
uise
ssem
da
r a e
nten
der p
or m
eio
de s
ua li
ngua
gem
obs
cura
que
a p
esso
a nã
o in
icia
da n
em
purif
icad
a, a
o ch
egar
ao
Had
es v
ai p
ara
um la
maç
al, a
o pa
sso
que
o in
icia
do e
pur
o, a
o ch
egar
lá p
assa
a m
orar
com
os
deus
es. P
orqu
e, c
omo
dize
m o
s que
trat
am d
os m
istér
ios:
mui
tos
são
os p
orta
dore
s de
tirs
o, p
orém
pou
quís
sim
os o
s ve
rdad
eiro
s in
spira
dos.
E no
meu
m
odo
de e
nten
der,
são
este
s, ap
enas
, os
que
se o
cupa
ram
com
a fi
loso
fia, e
m s
ua v
erda
deira
ac
epçã
o, n
o nú
mer
o do
s qu
ais
proc
urei
inclu
ir-m
e, e
sfor
çand
o-m
e ne
sse
sent
ido,
por
todo
s os
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os, a
vid
a in
teira
e n
a m
edid
a do
pos
síve
l sem
nad
a ne
glig
enci
ar. S
e tra
balh
ei c
omo
seria
pre
ciso
e ti
rei d
isso
alg
um p
rove
ito, é
o q
ue c
om s
egur
ança
fica
rem
os s
aben
do n
o in
stan
te d
e lá
che
garm
os, s
e D
eus
quis
er, e
den
tro d
e po
uco
tem
po, s
egun
do c
reio
. Eis
aí,
Sím
ias
e C
ebet
e, m
inha
def
esa,
a ra
zão
de a
parta
r-m
e ne
m re
volta
r-m
e, p
or e
star
co
nven
cido
de
que
tant
o lá
com
o aq
ui e
ncon
trare
i com
panh
eiro
s e
mes
tres
exce
lent
es. O
vu
lgo
não
me
dará
cré
dito
; por
ém s
e a
min
ha d
efes
a vo
s pa
rece
u m
ais
conv
ince
nte
do q
ue
aos
meu
s ju
ízes
ate
nien
ses,
é tu
do o
que
pos
so d
esej
ar.
XIV
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epoi
s de
hav
er S
ócra
tes
assi
m fa
lado
Ceb
ete
tom
ou a
pal
avra
e d
isse
: Só
crat
es, t
udo
o qu
e à a
lma,
difi
cilm
ente
os
hom
ens
pode
rão
acre
dita
r que
, um
a ve
z se
para
da d
o co
rpo,
ven
ha e
la a
sub
sist
ir em
alg
uma
parte
, por
des
truir
-se
e de
sapa
rece
r no
mes
mo
dia
em q
ue o
hom
em fe
nece
. No
próp
rio in
stan
te e
m q
ue e
le s
ai d
o co
rpo
e de
le s
ai,
disp
ersa
-se
com
o so
pro
ou fu
maç
a, e
vola
-se,
dei
xand
o, e
m c
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qüên
cia
de e
xist
ir em
qu
alqu
er p
arte
. Por
que,
se
ela
se re
colh
esse
alg
ures
a s
i mes
ma,
livr
e do
s m
ales
que
há
pouc
o en
umer
aste
, hav
eria
gra
nde
e do
ce e
sper
ança
de
ser v
erda
de, S
ócra
tes,
tudo
o q
ue
diss
este
. Mas
o fa
to é
que
se
faz
mis
ter d
e nã
o pe
quen
o po
der d
e pe
rsua
são
e de
mui
tos
argu
men
tos
para
dem
onst
rar q
ue a
alm
a su
bsis
ta d
epoi
s da
mor
te d
o ho
mem
e q
ue c
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rva
algu
ma
ativ
idad
e e
pens
amen
to.
Tens
razã
o, C
ebet
e, re
spon
deu
Sócr
ates
. Mas
que
pod
emos
faze
r? N
ão q
uere
s ex
amin
ar m
ais
de e
spaç
o es
sa q
uest
ão, p
ara
ver s
e as
coi
sas,
real
men
te, s
e pa
ssam
des
se
mod
o?
Eu, p
elo
men
os, r
espo
ndeu
Ceb
ete,
ouv
irei d
e m
uito
bom
gra
do o
que
dis
sere
s a
esse
re
spei
to.
Esto
u ce
rto d
e qu
e de
sta
vez,
con
tinuo
u Só
crat
es, q
uem
nos
ouv
ir, m
as q
ue s
eja
algu
m c
omed
iógr
afo,
não
pod
erá
dize
r que
só
digo
bab
osei
ras
e nu
nca
me
ocup
o co
m c
oisa
de
inte
ress
e. S
e es
tiver
es d
e ac
ordo
, inv
estig
arem
os e
sse
pont
o.
XV
- Es
tude
mo-
lo, p
ois,
sob
o se
guin
te a
spec
to: s
e as
alm
as d
os m
orto
s se
enc
ontra
m
ou n
ão s
e en
cont
ram
no
Had
es?
Con
form
e an
tiga
tradi
ção,
que
ora
me
ocor
re, a
s al
mas
lá
exis
tent
es fo
ram
daq
ui m
esm
o e
para
cá
deve
rão
volta
r, re
nasc
endo
os
mor
tos.
A s
er a
ssim
, e
se
os v
ivos
nas
cem
dos
mor
tos,
não
terã
o de
est
ar lá
mes
mo
noss
as a
lmas
? Po
is n
ão
pode
riam
rena
scer
se
não
exis
tisse
m, v
indo
a s
er e
ssa,
just
amen
te a
pro
va d
ecis
iva,
no
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de
ser
pos
síve
l dei
xar m
anife
sto
que
os v
ivos
de
outra
par
te n
ão p
roce
dem
sen
ão d
os
mor
tos.
Se is
so n
ão fo
r ver
dade
, ter
emos
de
proc
urar
out
ro a
rgum
ento
.
Isso
mes
mo,
dis
se C
ebet
e.
Para
dei
xar a
que
stão
mai
s fá
cil d
e en
tend
er, o
bser
vou,
não
te li
mite
s a
cons
ider
á-la
co
m re
laçã
o ao
s ho
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s, po
rém
est
ende
-a a
o co
njun
to d
os a
nim
ais
e da
s pl
anta
s, nu
ma
pala
vra,
a tu
do o
que
nas
ce, a
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de
verm
os s
e ca
da c
oisa
não
se
orig
ina
excl
usiv
amen
te
do s
eu c
ontrá
rio, o
nde
quer
que
se
verif
ique
ess
a re
laçã
o, ta
l com
o no
cas
o do
bel
o, q
ue te
m
com
o co
ntrá
rio o
feio
, no
do ju
sto
e do
inju
sto
e em
mil
outro
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mpl
os q
ue s
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deria
m
enum
erar
. Inv
estig
uem
os, e
ntão
, se
é fo
rços
o qu
e tu
do o
que
tenh
a al
gum
con
trário
de
nada
m
ais p
ossa
orig
inar
-se
a nã
o se
r des
se m
esm
o co
ntrá
rio. P
or e
xem
plo:
par
a fic
ar g
rand
e al
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a co
isa,
é p
reci
so q
ue a
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foss
e pe
quen
a, s
em o
que
não
pod
eria
aum
enta
r.
Cer
to.
E pa
ra d
imin
uir,
não
é pr
ecis
o se
r mai
or, p
ara
depo
is v
ir a
ficar
peq
uena
?
Exat
amen
te, r
espo
ndeu
.
Ass
im, d
o m
ais
forte
nas
ce o
mai
s fr
aco
e do
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oso,
o rá
pido
.
Sem
dúv
ida.
E en
tão?
Se
algu
ma
cois
a pi
ora,
é p
orqu
e an
tes
era
mel
hor,
com
o te
rá s
ido
ante
s in
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a pa
ra p
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torn
ar-s
e ju
sta?
Com
o nã
o?
E ag
ora?
Não
é p
rópr
io d
essa
opo
siçã
o un
iver
sal h
aver
doi
s pro
cess
os d
e na
scim
ento
: o
que
vai d
e um
con
trário
par
a o
outro
, e o
de
sent
ido
inve
rso:
des
te ú
ltim
o pa
ra a
quel
e?
Entre
a c
oisa
mai
or e
a m
enor
há
cres
cim
ento
e d
imin
uiçã
o, ra
zão
por q
ue d
izem
os q
ue
uma
dela
s cr
esce
e a
out
ra d
imin
ui.
É c
erto
, res
pond
eu.
Val
e o
mes
mo
para
a c
ombi
naçã
o e
a de
com
posi
ção,
o re
sfria
men
to e
o a
quec
imen
to,
e pa
ra a
s de
mai
s op
osiç
ões
do m
esm
o tip
o. E
em
bora
nem
sem
pre
tenh
amos
par
a to
das
elas
de
sign
ação
apr
opria
da, é
forç
oso
ness
es c
asos
ser
idên
tico
o pr
oces
so, d
e fo
rma
que
cada
co
isa
cres
ce à
cus
ta d
e ou
tra, s
endo
recí
proc
a a
gera
ção
entre
ela
s.
Sem
dúv
ida,
obs
ervo
u.
XV
I – E
ent
ão?
Pros
segu
iu: v
iver
não
com
porta
um
con
trário
, tal
com
o se
dá
com
a
vigí
lia e
o so
no?
Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
.
Qua
l é?
Esta
r mor
to, f
oi a
resp
osta
.
Send
o as
sim
, cad
a um
des
ses
esta
dos
prov
ém d
o ou
tro, v
isto
ser
em c
ontrá
rios,
have
ndo
entre
am
bos
um p
roce
sso
recí
proc
o de
ger
ação
.
Com
o nã
o?
Vou
fala
r de
um d
os p
ares
de
cont
rário
s a
que
me
refe
ri há
pou
co, d
isse
Sóc
rate
s, e
de
suas
resp
ectiv
as g
eraç
ões;
tu te
man
ifest
arás
a re
spei
to d
o ou
tro. D
enom
ino
o pr
imei
ro,
vigí
lia e
son
o; d
a vi
gília
nas
ce o
son
o, e
vic
e-ve
rsa:
do
sono
, a v
igíli
a, te
ndo
um d
os
proc
esso
s o
nom
e de
aco
rdar
e o
out
ro o
de
dorm
ir. Is
so te
bas
ta, p
ergu
ntou
, ou
não?
Perf
eita
men
te.
É tu
a ag
ora
a ve
z, p
ross
egui
u, d
e fa
lar a
resp
eito
da
vida
e d
a m
orte
. Não
dis
sest
e qu
e es
tar v
ivo
é o
cont
rário
de
esta
r mor
to.
Dis
se.
E qu
e um
é g
erad
o do
out
ro?
Tam
bém
.
Que
é, e
ntão
, o q
ue p
rové
m d
o vi
vo?
O m
orto
, res
pond
eu.
E do
mor
to, v
olto
u a
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r, o
que
se o
rigin
a?
Será
forç
oso
conv
ir qu
e é
o vi
vo.
Send
o as
sim
, Ceb
ete,
do
que
está
mor
to p
rovê
m o
s ho
men
s e
tudo
o q
ue te
m v
ida?
É ev
iden
te, r
espo
ndeu
.
Logo
, con
tinuo
u, n
ossa
s al
mas
est
ão n
o H
ades
.
Pare
ce q
ue s
im.
E de
sses
doi
s pr
oces
sos
corr
elat
ivos
, um
não
nos
é m
anife
sto?
Poi
s o
ato
de m
orre
r é
bem
visí
vel,
não
é iss
o m
esm
o?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u.
Que
fare
mos
, ent
ão?
Con
tinuo
u; n
ão a
tribu
irem
os a
ess
e pr
oces
so d
e ge
raçã
o o
seu
cont
rário
, ou
adm
itire
mos
que
nes
se p
onto
a n
atur
eza
é m
anca
? N
ão s
erá
prec
iso
acei
tarm
os
um p
roce
sso
gera
dor o
post
o ao
de
mor
rer?
Sem
dúv
ida
nenh
uma,
resp
onde
u.
Qua
l?
Rev
iver
.
Logo
, con
tinuo
u, s
e o
revi
ver é
um
fato
, ter
á de
ser
um
a ge
raçã
o no
sen
tido
dos
mor
tos
para
os
vivo
s: a
revi
vesc
ênci
a.
Perf
eita
men
te.
Des
se m
odo,
fica
mos
tam
bém
de
acor
do q
ue ta
nto
os v
ivos
pro
vêm
dos
mor
tos
com
o os
mor
tos
dos
vivo
s. Se
ndo
assi
m, q
uer p
arec
er-m
e qu
e ap
rese
ntam
os u
m a
rgum
ento
ba
stan
te fo
rte p
ara
afirm
ar q
ue a
s al
mas
dos
mor
tos
terã
o ne
cess
aria
men
te d
e es
tar e
m
algu
ma
parte
, de
onde
vol
tam
a v
iver
.
A m
eu p
arec
er, S
ócra
tes,
repl
icou
, é a
con
clus
ão fo
rços
a de
tudo
o q
ue a
dmiti
mos
até
aq
ui.
XV
II –
Obs
erva
tam
bém
, Ceb
ete,
con
tinuo
u, q
ue n
ão c
hega
mos
a e
sse
acor
do
aere
amen
te, s
egun
do m
e pa
rece
. Por
que
se u
m d
esse
s pr
oces
sos
não
foss
e co
mpe
nsad
o pe
lo
seu
cont
rário
, gira
ndo,
por
ass
im d
izer
, em
círc
ulo,
mas
sem
pre
se fi
zess
e a
gera
ção
em
linha
reta
, de
um d
os c
ontrá
rios
para
o s
eu o
post
o, s
em n
unca
vol
tar d
esta
par
a aq
uele
, nem
anda
r em
sen
tido
inve
rso:
fica
sab
endo
que
tudo
aca
baria
num
a fo
rma
únic
a e
ficar
ia n
um
só e
stad
o, c
essa
ndo,
por
isso
mes
mo,
a g
eraç
ão.
Com
o as
sim?
Perg
unto
u.
Não
é d
ifíci
l, co
ntin
uou,
com
pree
nder
o s
entid
o de
min
has
pala
vras
. No
caso
, por
ex
empl
o, d
e ex
istir
o s
ono,
por
ém s
em h
aver
o c
orre
spon
dent
e de
sper
tar d
o qu
e es
tiver
do
rmin
do, b
em s
abes
que
aca
baria
por
tran
sfor
mar
em
ban
alid
ade
a fá
bula
de
Eudi
miã
o, a
qu
al n
ão s
eria
per
cebi
da e
m p
arte
alg
uma,
por
que
tudo
o m
ais
ficar
ia c
omo
ele,
num
son
o un
iver
sal.
E se
toda
s as
coi
sas
se m
istu
rass
em, s
em v
irem
a s
epar
ar-s
e, d
entr
o de
pou
co
tem
po s
eria
um
fato
aqu
ilo d
e A
naxó
gara
s: a
con
fusã
o ge
ral.
A m
esm
a co
isa
se d
aria
, am
igo
Ceb
ete,
se
vies
se a
per
ecer
qua
nto
parti
cipa
da
vida
, e, d
epoi
s de
mor
to, s
e co
nser
vass
e se
mpr
e no
mes
mo
esta
do, s
em n
unca
rena
scer
; não
ser
ia in
evitá
vel v
ir tu
do a
fic
ar m
orto
e n
ada
mai
s vi
ver?
Se
o qu
e é
vivo
pro
vém
de
algo
dife
rent
e da
mor
te e
aca
ba
por m
orre
r: co
mo
evita
r que
tudo
aca
be p
or d
esap
arec
er n
a m
orte
?
Não
há
mei
o, S
ócra
tes,
resp
onde
u C
ebet
e, s
egun
do p
enso
; que
r par
ecer
-me
que
te
assi
ste
toda
a ra
zão.
A m
im ta
mbé
m, C
ebet
e, c
ontin
uou,
se
me
afig
ura
mui
to c
erto
, não
hav
endo
po
ssib
ilida
de d
e en
gano
da
noss
a pa
rte, p
ois
ficam
os d
e ac
ordo
nes
se p
onto
. Sim
, o re
vive
r é
um fa
to, o
s vi
vos
prov
êm d
os m
orto
s, as
alm
as d
os m
orto
s ex
iste
m, s
endo
mel
hor a
sor
te
das
boas
e p
ior a
das
más
.
XV
III –
É ta
mbé
m, S
ócra
tes,
volto
u C
ebet
e a
fala
r, o
que
se c
oncl
ui d
aque
le o
utro
ar
gum
ento
– s
e fo
r ver
dade
iro –
que
cos
tum
as a
pres
enta
r, so
bre
ser r
emin
iscê
ncia
o
conh
ecim
ento
, con
form
e o
qual
nós
dev
emos
forç
osam
ente
ter a
pren
dido
num
tem
po
ante
rior o
de
que
nos
reco
rdam
os a
gora
, o q
ue s
eria
impo
ssív
el, s
e no
ssa
alm
a nã
o pr
eexi
stis
se a
lgur
es, a
ntes
de
assu
mir
a fo
rma
hum
ana.
Isso
vem
pro
var q
ue a
alm
a de
ve s
er
algo
imor
tal
Poré
m C
ebet
e, in
terr
ompe
u-o
Sím
ias,
que
prov
as h
á so
bre
isso
? A
viva
-me
a m
emór
ia, p
ois
não
me
lem
bro
agor
a qu
ais
seja
m.
Bas
tará
um
a, re
spon
deu
Ceb
ete,
elo
quen
tíssi
ma:
inte
rrog
ando
os
hom
ens,
se a
s pe
rgun
tas
fore
m b
em c
ondu
zida
s, el
es d
arão
por
si m
esm
os re
spos
tas
acer
tada
s, o
de q
ue
não
seria
m c
apaz
es s
e já
não
pos
suís
sem
o c
onhe
cim
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e a
razã
o re
ta. D
epoi
s di
sso,
se
os
puse
rmos
dia
nte
de fi
gura
s ge
omét
ricas
ou
cois
as d
o m
esm
o gê
nero
, fic
ará
dem
onst
rado
a
saci
edad
e qu
e tu
do re
alm
ente
se
pass
a de
sse
mod
o.
Se is
so n
ão b
asta
, Sím
ias,
inte
rvei
o Só
crat
es, p
ara
conv
ence
r-te
, vê
se c
onsi
dera
ndo
a qu
estã
o po
r out
ro p
rism
a, c
hega
rás
a co
ncor
dar c
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co. D
uvid
as q
ue s
eja
apen
as re
cord
ar
o qu
e de
nom
inam
os a
pren
der?
Não
dire
i que
duv
ide,
resp
onde
u Sí
mia
s. O
que
eu
quer
o é
just
amen
te is
so s
obre
di
scut
imos
: rec
orda
r-m
e. C
om a
exp
osiç
ão d
e C
ebet
e ch
egue
i qua
se a
rele
mbr
ar-m
e e
conv
ence
r-m
e. N
ão o
bsta
nte,
gos
taria
de
sabe
r com
o va
is d
esen
volv
er o
tem
a.
Eu?
Des
te m
odo,
repl
icou
. Num
pon
to e
stam
os d
e ac
ordo
: que
par
a re
cord
ar-s
e al
guém
de
algu
ma
cois
a, é
pre
ciso
ter t
ido
ante
s o
conh
ecim
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des
sa c
oisa
.
Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
.
E nã
o po
dere
mos
dec
lara
r-no
s ta
mbé
m d
e ac
ordo
a re
spei
to d
e m
ais
outro
pon
to, q
ue
o co
nhec
imen
to a
lcan
çado
em
cer
tas
cond
içõe
s te
m o
nom
e de
rem
inis
cênc
ia?
Ref
iro-m
e ao
segu
inte
: qua
ndo
algu
ém v
ê ou
ouv
e al
gum
a co
isa,
ou
a pe
rceb
e de
out
ra m
anei
ra, e
não
ap
enas
adq
uire
o c
onhe
cim
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des
sa c
oisa
com
o lh
e oc
orre
a id
éia
de o
utra
que
não
é
obje
to d
o m
esm
o co
nhec
imen
to, p
orém
de
outro
, não
tere
mos
o d
ireito
de
dize
r que
ess
a pe
ssoa
se
reco
rdou
do
que
lhe
veio
ao
pens
amen
to?
Com
o as
sim?
É o
segu
inte
: um
a co
isa
é co
nhec
imen
to d
o ho
mem
, e o
utra
o d
a lir
a.
Sem
dúv
ida.
E nã
o sa
bes
o qu
e se
pas
sa c
om o
s am
ante
s, qu
ando
vêe
m a
lira
, a ro
upa,
ou
qual
quer
ou
tro o
bjet
o de
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de
seus
am
ados
? R
econ
hece
m a
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e fo
rmam
no
espí
rito
a im
agem
do
man
cebo
a q
uem
a li
ra p
erte
nce.
Rem
inisc
ênci
a é
isso:
ver
alg
uém
freq
üent
emen
te a
Sím
ias
e re
cord
ar-s
e de
Ceb
ete.
Há
mil
outro
s ex
empl
os d
o m
esm
o tip
o.
Milh
ares
, por
Zeu
s, re
spon
deu
Sím
ias.
Não
con
stitu
i iss
o, p
ergu
ntou
, um
a es
péci
e de
rem
inisc
ênci
a? P
rinci
palm
ente
qua
ndo
se d
á co
m re
laçã
o a
cois
a de
que
pod
ería
mos
est
ar e
sque
cido
s, p
ela
ação
do
tem
po o
u po
r fa
lta d
e at
ençã
o.
Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
.
E en
tão?
Con
tinuo
u: n
ão é
pos
síve
l lem
brar
-se
algu
ém d
e um
hom
em, a
o ve
r a
pint
ura
de u
m c
aval
o ou
de
uma
lira,
ou
entã
o, a
o ve
r o re
trato
de
Sím
ias,
reco
rdar
-se
de
Ceb
ete? M
uito
pos
sível
.
E di
ante
do
retra
to d
e Sí
mia
s, le
mbr
ar-s
e do
pró
prio
Sím
ias?
Isso
tam
bém
, foi
a re
spos
ta.
XIX
– E
não
é c
erto
que
em
todo
s es
ses
caso
s a
rem
inis
cênc
ia ta
nto
prov
ém d
os
sem
elha
ntes
com
o do
s de
ssem
elha
ntes
?
Prov
ém, d
e fa
to.
E no
cas
o de
lem
brar
-se
algu
ém d
e al
gum
a co
isa
à vis
ta d
e se
u se
mel
hant
e, n
ão s
erá
forç
osos
per
cebe
r ess
a pe
ssoa
se
a se
mel
hanç
a é
perf
eita
ou
se a
pres
enta
alg
uma
falh
a?
Forç
osam
ente
, res
pond
eu.
Con
side
ra, e
ntão
, se
tudo
não
se
pass
a de
ste
mod
o. A
firm
amos
que
há
algu
ma
cois
a a
que
dam
os o
nom
e de
igua
l; nã
o im
agin
o a
hipó
tese
de
que
um p
edaç
o de
pau
ser
igua
l a
outro
, nem
um
a pe
dra
a ou
tra p
edra
, nem
nad
a se
mel
hant
e; re
firo-
me
ao q
ue s
e ac
ha a
cim
a de
tudo
isso
; a ig
uald
ade
em s
i. D
irem
os q
ue e
xist
e ou
que
não
exi
ste?
Exist
e, p
or Z
eus,
excl
amou
Sím
ias;
à mar
avilh
a.
E qu
e ta
mbé
m s
aber
emos
o q
ue s
eja?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u.
E on
de fo
rmos
bus
car e
sse
conh
ecim
ento
? N
ão fo
i naq
uilo
a q
ue n
os re
ferim
os h
á po
uco,
à vi
sta
de u
m p
au o
u de
um
a pe
dra
e de
out
ras
cois
as ig
uais
, que
nos
sur
giu
a id
éia
de ig
uald
ade,
que
dife
re d
elas
? O
u nã
o te
par
ece
dife
rir?
Con
side
ra ta
mbé
m o
seg
uint
e: p
or
veze
s, a
mes
ma
pedr
a ou
o m
esm
o le
nho,
sem
se
mod
ifica
rem
, não
te a
figur
am o
ra ig
uais,
or
a de
sigu
ais?
Sem
dúv
ida.
E en
tão?
O ig
ual j
á se
te a
pres
ento
u al
gum
a ve
z co
mo
desi
gual
, e a
igua
ldad
e co
mo
desi
gual
dade
?
Nun
ca, S
ócra
tes.
Por c
onse
guin
te, c
ontin
uou,
não
são
a m
esm
a co
isa
esse
s ob
jeto
igua
is e
a ig
uald
ade
em si
. De
jeito
nen
hum
, Sóc
rate
s.
Não
obs
tant
e, d
isse
, foi
des
ses
igua
is, d
ifere
ntes
da
igua
ldad
e, q
ue c
once
best
e e
adqu
irist
e o
conh
ecim
ento
des
ta ú
ltim
a.
Está
mui
to c
erto
o q
ue a
firm
aste
, dis
se.
Que
pod
e se
r sem
elha
nte
àque
les
ou d
esse
mel
hant
es?
Perfe
itam
ente
.
Isso
, aliá
s, co
ntin
uou,
é in
dife
rent
e. D
esde
que
, à v
ista
de
um o
bjet
o, p
ensa
s em
ou
tro, s
eja
ou n
ão s
eja
sem
elha
nte
ao p
rimei
ro, n
eces
saria
men
te o
que
se
dá n
esse
cas
o é
rem
inisc
ênci
a.
Perf
eita
men
te.
E en
tão?
Pro
sseg
uiu:
que
se
pass
a co
nosc
o, c
om r
elaç
ão a
os p
edaç
os d
e pa
u ig
uais
e a
tu
do o
mai
s a
que
nos
refe
rimos
há
pouc
o? A
figur
am-s
e-no
s igu
ais à
igua
ldad
e em
si, o
u lh
es fa
lta a
lgum
a co
isa
para
ser
em c
omo
a ig
uald
ade?
Ou
não
falta
nad
a?
Falta
mui
to, r
espo
ndeu
.
Esta
mos
, por
con
segu
inte
, de
acor
do, q
ue q
uand
o al
guém
vê
um d
eter
min
ado
obje
to e
di
z: O
obj
eto
que
tenh
o ne
ste
mom
ento
dia
nte
dos
olho
s as
pira
a s
er c
omo
outro
obj
eto
real
, po
rém
fica
mui
to a
quém
del
e, s
em c
onse
guir
alca
nçá-
lo, v
isto
lhe
ser i
nfer
ior:
essa
pes
soa,
di
zia,
ao
faze
r sem
elha
nte
obse
rvaç
ão, t
inha
nec
essa
riam
ente
o c
onhe
cim
ento
do
obje
to
com
o q
ual e
la d
isse
que
o o
utro
se
asse
mel
hava
, por
ém e
ra in
ferio
r.
Forç
osam
ente
. E e
ntão
? N
ão s
e pa
ssar
á a
mes
ma
cois
a co
nosc
o, e
m re
laçã
o às
coi
sas
igua
is e
à igu
alda
de e
m si
mes
ma?
Sem
dúv
ida
nenh
uma.
É pr
ecis
o, p
orta
nto,
que
tenh
amos
con
heci
do a
igua
ldad
e an
tes
do te
mpo
em
que
, ve
ndo
pela
prim
eira
vez
obj
etos
igua
is, o
bser
vam
os q
ue to
dos
eles
se
esfo
rçav
am p
or
alca
nçá-
la p
orém
lhe
eram
infe
riore
s.
Cer
to.
Com
o ta
mbé
m n
os d
ecla
ram
os d
e ac
ordo
em
que
não
pod
ería
mos
faze
r sem
elha
nte
obse
rvaç
ão n
em fi
car e
m c
ondi
ções
de
fazê
-la,
a n
ão s
er p
or m
eio
da v
ista
ou
do ta
to, o
u de
qu
alqu
er o
utro
sen
tido.
Não
est
abel
eço
dife
renç
as.
De
fato
, Sóc
rate
s, sã
o eq
uiva
lent
es; p
elo
men
os n
o qu
e re
spei
ta a
o te
ma
em
disc
ussã
o.
De
qual
quer
form
a, é
por
mei
o do
s se
ntid
os q
ue o
bser
vam
os te
nder
em p
ara
a ig
uald
ade
em s
i tod
as a
s co
isas
per
cebi
das
com
o ig
uais
, por
ém s
em ja
mai
s al
canç
á-la
. Ou
que
dire
mos
?
Isso
mes
mo.
Logo
, ant
es d
e co
meç
arm
os a
ver
, a o
uvir,
ou
a em
preg
ar o
s de
mai
s se
ntid
os, j
á de
vem
os te
r adq
uirid
o em
alg
uma
parte
o c
onhe
cim
ento
do
que
seja
a ig
uald
ade
em s
i, pa
ra
ficar
mos
em
con
diçõ
es d
e re
laci
onar
com
ela
as
igua
ldad
es q
ue o
s se
ntid
os n
os d
ão a
co
nhec
er e
afir
mar
que
est
as s
e es
forç
am p
or a
lcan
çá-l
a, p
orém
lhe
são
infe
riore
s.
É a
cons
equê
ncia
nec
essá
ria, S
ócra
tes,
do q
ue fo
i dito
ant
es.
E nã
o é
certo
que
vem
os e
ouv
imos
e fa
zem
os u
so d
os d
emai
s se
ntid
os lo
go a
pós
o na
scim
ento
?
Perf
eita
men
te.
Será
pre
ciso
, ent
ão, é
o q
ue a
firm
amos
, já
term
os a
ntes
dis
so o
con
heci
men
to d
a ig
uald
ade.
Cer
to.
Ant
es d
o na
scim
ento
, por
con
segu
inte
, ao
que
pare
ce, é
que
nec
essa
riam
ente
o
adqu
irim
os.
Pare
ce, m
esm
o.
XX
– L
ogo,
se
o ad
quiri
mos
ant
es d
o na
scim
ento
e n
asce
mos
com
ele
, é p
orqu
e co
nhec
emos
ant
es d
o na
scim
ento
e a
o na
scer
tant
o o
igua
l, o
mai
or e
o m
enor
, com
o as
de
mai
s no
ções
da
mes
ma
natu
reza
. Poi
s ta
nto
é vá
lido
noss
o ar
gum
ento
par
a a
igua
ldad
e co
mo
para
o b
elo
em s
i mes
mo
e o
bem
em
si m
esm
o, a
just
iça,
a p
ieda
de e
tudo
o m
ais,
com
o di
sse,
a q
ue p
usem
os a
mar
ca d
e O
pró
prio
que
é, a
ssim
nas
per
gunt
as q
ue
form
ulam
os c
omo
nas
resp
osta
s ap
rese
ntad
as. A
ess
e m
odo,
adq
uirim
os n
eces
saria
men
te
ante
s de
nas
cer o
con
heci
men
to d
e tu
do is
so.
Cer
to.
E se
, dep
ois
de a
dqui
rido
tal c
onhe
cim
ento
não
o e
sque
cêss
emos
, des
de o
nas
cim
ento
o
poss
uiría
mos
e o
con
serv
aría
mos
toda
a v
ida.
Poi
s co
nhec
er, d
e fa
to, c
onsi
ste
apen
as n
o se
guin
te: c
onse
rvar
o c
onhe
cim
ento
adq
uirid
o, s
em v
ir nu
nca
a pe
rdê-
lo. O
que
de
nom
inam
os e
sque
cer,
Sím
ias,
não
será
pre
cisa
men
te a
per
da d
o co
nhec
imen
to?
Não
ser
á ou
tra
cois
a, S
ócra
tes,
resp
onde
u.
Se, e
m v
erda
de, s
egun
do p
enso
, ant
es d
e na
scer
já tí
nham
os ta
l con
heci
men
to e
o
perd
emos
ao
nasc
er, e
dep
ois,
aplic
ando
nos
sos
sent
idos
a e
sses
obj
etos
, vol
tam
os a
ad
quiri
r o c
onhe
cim
ento
que
já p
ossu
íram
os n
um te
mpo
ant
erio
r: o
que
deno
min
amos
ap
rend
er n
ão s
erá
a re
cupe
raçã
o de
um
con
heci
men
to m
uito
nos
so?
E nã
o es
tare
mos
em
preg
ando
a e
xpre
ssão
cor
reta
, se
derm
os a
ess
e pr
oces
so o
nom
e de
rem
inis
cênc
ia/?
Perf
eita
men
te.
Pois
já s
e no
s re
velo
u co
mo
poss
ível
, ao
perc
ebem
os a
lgum
a co
isa,
pel
a vi
sta
ou p
elo
ouvi
do, o
u po
r qua
lque
r out
ro s
entid
o, p
ensa
r em
out
ra d
e qu
e no
s ha
víam
os e
sque
cido
, m
as q
ue s
e as
soci
a co
m a
prim
eira
por
par
ecer
-se
com
ela
ou
por l
he s
er d
esse
mel
hant
e.
Des
se m
odo,
com
o di
sse,
um
a da
s du
as h
á de
ser
, por
forç
a: o
u na
scem
os c
om ta
l co
nhec
imen
to e
o c
onse
rvam
os d
uran
te to
da a
vid
a, o
u en
tão
as p
esso
as d
as q
uais
diz
emos
qu
e ap
rend
em p
oste
riorm
ente
, o q
ue fa
zem
é re
cord
ar, v
indo
a s
er o
con
heci
men
to
rem
inisc
ênci
a.
Tudo
se
pass
a re
alm
ente
des
se m
odo,
Sóc
rate
s.
XX
I– E
ntão
, que
esc
olhe
s, Sí
mia
s? N
asce
mos
com
o c
onhe
cim
ento
ou
nos
reco
rdam
os u
lterio
rmen
te d
o qu
e co
nhec
emos
ant
e?
Ass
im d
e pr
onto
, Sóc
rate
s, nã
o se
i com
o de
cidi
r-m
e.
Com
o? S
obre
isto
pod
es p
erfe
itam
ente
dec
idir
-te
e di
zer o
que
pen
sas:
que
m s
abe,
es
tá e
m c
ondi
ções
de
dar a
s ra
zões
do
que
sabe
, ou
não?
Nec
essa
riam
ente
, Sóc
rate
s, re
spon
deu.
E és
de
pare
cer q
ue to
do o
mun
do p
ossa
dar
as
razõ
es d
as q
uest
ões
que
acab
amos
de
trata
r?
Tom
ara
que
o pu
dess
em! P
orém
rece
io m
uito
que
am
anhã
a e
stas
hor
as n
ão h
aja
aqui
uma
só p
esso
a em
con
diçõ
es d
e fa
zê-l
o.
Dec
erto
, Sím
ias,
cont
inuo
u, n
ão é
s de
opi
nião
que
todo
s os
hom
ens
ente
ndam
des
sa
ques
tões
.
De
form
a al
gum
a.
Nes
se c
aso,
reco
rdam
-se
do q
ue a
pren
dera
m a
ntes
?
Nec
essa
riam
ente
.
E qu
ando
é q
ue n
ossa
s al
mas
adq
uire
m e
sses
con
heci
men
to?
Não
há
de s
er a
par
tir d
o m
omen
to e
m q
ue n
asce
mos
com
o ho
men
s.
Não
, dec
erto
.
Entã
o é
ante
s?
Sim
.
Logo
, Sím
ias,
as a
lmas
exi
stem
ant
es d
e as
sum
irem
a fo
rma
hum
ana,
sep
arad
as d
os
corp
os, e
pos
suíre
m e
nten
dim
ento
.
A m
enos
, Sóc
rate
s, qu
e ad
quir
amos
tal c
onhe
cim
ento
ao
nasc
er, p
ois
aind
a fa
lta
cons
ider
ar e
sse
tem
po.
Que
sej
a, c
ompa
nhei
ro! M
as e
ntão
, em
que
tem
po p
erde
mos
ess
e co
nhec
imen
to?
Ao
nasc
erm
os n
ão d
ispo
mos
del
e, c
omo
acab
amos
de
adm
itir.
Ou
será
que
o p
erde
mos
no
mom
ento
exa
to e
m q
ue o
adq
uirim
os?
Pode
rás
indi
car o
utro
tem
po?
Não
há
jeito
, Sóc
rate
s, se
m o
que
rer,
diss
e um
a to
lice.
XX
II –
Nos
sa s
ituaç
ão, S
ímia
s, nã
o se
rá a
seg
uint
e? S
e ex
iste
, rea
lmen
te, t
udo
isso
co
m q
ue v
ivem
os a
enc
her a
boc
a: o
bel
o e
o bo
m e
toda
s as
ess
ênci
as d
esse
tipo
, e s
e a
elas
re
ferim
os tu
do o
que
nos
che
ga p
or in
term
édio
dos
sen
tidos
, com
o a
algo
pre
exis
tent
e, q
ue
enco
ntra
mos
em
nós
mes
mos
e c
om q
ue o
com
para
mos
: ser
á fo
rços
o qu
e , a
ssim
com
o el
as, e
xist
a no
ssa
alm
a an
tes
de n
asce
rmos
, e q
ue s
em a
quel
as e
stas
não
exi
stiria
m?
Mai
s qu
e ex
ata,
falo
u Sí
mia
s, m
e pa
rece
, Sóc
rate
s, a
mes
ma
nece
ssid
ade;
é m
uito
se
gura
a p
osiç
ão a
que
se
acol
he o
arg
umen
to, n
o qu
e en
tend
e co
m a
afin
idad
e en
tre a
s es
sênc
ias
a qu
e te
refe
riste
, e n
ossa
alm
a, a
ntes
de
nasc
erm
os. N
ão s
ei d
e na
da tã
o cl
aro
com
o di
zer q
ue to
dos
esse
s co
ncei
tos
exis
tem
na
mai
s el
evad
a ac
epçã
o do
term
o: o
bel
o, o
be
m e
tudo
o m
ais
que
enum
eras
te h
á po
uco.
Ess
a de
mon
stra
ção
me
satis
faz
plen
amen
te.
E a
Ceb
ete?
Per
gunt
ou; p
reci
sas
tam
bém
con
venc
er C
ebet
e.
A e
le ta
mbé
m s
atis
faz,
resp
onde
u Sí
mia
s, se
gund
o pe
nso,
mui
to e
mbo
ra s
eja
o ho
mem
mai
s di
fícil
de a
ceita
r a o
pini
ão d
os o
utro
s. M
as c
reio
que
já e
sse
enco
ntra
co
nven
cido
de
que
noss
a al
ma
exis
te a
ntes
de
nasc
erm
os.
XX
III –
Por
ém S
ócra
tes,
que
ela
cont
inue
a e
xist
ir de
pois
de
noss
a m
orte
é o
que
não
m
e pa
rece
suf
icie
ntem
ente
dem
onst
rado
, poi
s ai
nda
está
de
pé a
opi
nião
do
vulg
o a
que
Ceb
ete
se re
feriu
há
pouc
o: Q
uem
sab
e se
no
inst
ante
pre
ciso
em
que
o h
omem
mor
re, a
al
ma
se d
ispe
rsa,
sen
do e
sse,
just
amen
te, o
seu
fim
? Q
ue im
pede
, de
fato
que
ela
nas
ça
algu
res
e se
con
stitu
a de
out
ros
elem
ento
s e
exis
ta a
ntes
de
alca
nçar
o c
orpo
hum
ano,
mas
de
pois
de
entra
r no
corp
o, q
uand
o tiv
er d
e se
para
r-se
del
e, ta
mbé
m a
cabe
de
uma
vez
e ve
nha
a de
strui
r-se
?
Fala
ste
bem
, Sím
ias,
obse
rvou
Ceb
ete.
Par
ece
que
só fo
i dem
onst
rado
met
ade
do q
ue
era
de m
iste
r, a
sabe
r: qu
e no
ssa
alm
a ex
iste
ant
es d
e na
scer
mos
; ain
da fa
lta p
rova
r, po
r co
nseg
uint
e, q
ue d
epoi
s de
mor
rerm
os e
la n
ão e
xist
irá m
enos
do
que
ante
s do
nas
cim
ento
. Só
ass
im fi
cará
com
plet
a a
dem
onst
raçã
o.
Foi c
ompl
etad
a ag
ora
mes
mo,
Sím
ias
e C
ebet
e, o
bser
vou
Sócr
ates
; bas
tará
junt
arde
s o
pres
ente
arg
umen
to a
o qu
e ad
miti
mos
ant
es, d
e qu
e tu
do o
que
viv
e só
nas
ce d
o qu
e é
mor
to. P
orqu
e se
as
alm
as e
xist
em a
ntes
do
nasc
imen
to e
se,
nec
essa
riam
ente
, par
a co
meç
arem
a v
ida
e ex
istir
em, n
ão p
oder
ão p
rovi
r de
outra
par
te a
não
ser
da
mor
te d
o qu
e es
tá m
orto
, não
ser
á fo
rços
o qu
e co
ntin
uem
a e
xist
ir de
pois
da
mor
te, p
ara
rena
scer
em?
Com
o di
sse,
ess
a pa
rte já
foi d
emon
stra
da.
XX
IV –
Por
ém v
erifi
co, S
ímia
s e
Ceb
ete,
que
am
bos
vós
folg
aríe
is d
e ex
amin
ar m
ais
a fu
ndo
essa
que
stão
, poi
s, co
mo
as c
rianç
as, t
emei
s, de
fato
, que
o v
ento
arr
aste
a a
lma
e a
disp
erse
no
mom
ento
em
que
ela
dei
xa o
cor
po, m
áxim
e se
na
hora
em
que
mor
re a
lgué
m o
cé
u nã
o es
tiver
ser
eno
e so
prar
ven
to fo
rte.
E C
ebet
e, d
esat
ando
a ri
r, Fa
ze d
e co
nta,
Sóc
rate
s, o
bser
vou,
que
est
amos
com
med
o,
e pr
ocur
a co
nven
cer-
nos.
Ou
mel
hor:
será
pre
ferív
el a
dmiti
res,
não
que
tem
os m
edo,
mas
qu
e ta
lvez
haj
a de
ntro
de
nós
uma
cria
nça
que
se a
ssus
ta c
om e
ssas
cos
ias.
Tra
ta, p
or
cons
egui
nte,
de
conv
encê
-la
a nã
o te
r med
o da
mor
te c
omo
do b
icho
-pap
ão.
Para
tant
o, lh
es fa
lou
Sócr
ates
, ser
á pr
ecis
o ex
orci
zá-l
a di
aria
men
te, a
té p
assa
r o
med
o.
E on
de, S
ócra
tes,
perg
unto
u, e
ncon
trare
mos
um
bom
exo
rciz
ador
, um
a ve
z qu
e no
s ab
ando
nas?
A H
élad
e é
gran
de, C
ebet
e, re
plic
ou, e
nel
a há
mui
tos
hom
ens
de m
erec
imen
to.
Gra
ndes
tam
bém
são
s as
ger
açõe
s bá
rbar
as, q
ue p
reci
sare
is e
squa
drin
har p
ara
enco
ntra
r um
m
ágic
o ne
ssas
con
diçõ
es, s
em o
lhar
des
pesa
s ne
m fa
diga
, poi
s em
nad
a m
ais
pode
ríeis
ap
licar
o v
osso
din
heiro
. Mas
con
vém
pro
mov
erde
s es
sa b
usca
tam
bém
ent
re v
ós o
utro
s, po
is ta
lvez
não
sej
a fá
cil e
ncon
trar q
uem
se
desi
ncum
ba d
isso
mel
hor d
o qu
e vó
s m
esm
os.
É o
que
fare
mos
, fal
ou C
ebet
e. P
orém
se
leva
res
gost
o ni
sso,
vol
tem
os p
ara
o po
nto
em q
ue fi
cam
os a
ntes
.
Agr
ada-
me
a pr
opos
ta, c
omo
não?
XX
V –
Ago
ra o
de
que
prec
isam
os, f
alou
Sóc
rate
s, é
perg
unta
r a n
ós m
esm
o m
ais
ou
men
os o
seg
uint
e: C
om q
ue c
oisa
s é
natu
ral s
emel
hant
e pr
oces
so d
e di
sper
são,
com
qua
is
deve
mos
ter m
edo
de q
ue is
so a
cont
eça,
e c
om q
uais
não
dev
emos
? D
e se
guid
a, te
rem
os d
e ex
amin
ar a
qua
l das
cla
sses
per
tenc
e a
alm
a, p
ara
daí c
oncl
uirm
os s
e pr
ecis
amos
ale
grar
-no
s ou
tem
er d
o qu
e ve
nha
a ac
onte
cer c
om a
nos
sa.
É m
uito
cer
to, d
isse
.
E nã
o é
verd
ade
que
as c
oisa
s, ar
tific
ial o
u na
tura
lmen
te c
ompo
stas
é q
ue d
evem
ac
abar
por
dis
pers
ar-s
e no
s el
emen
tos
orig
inai
s? E
o in
vers
o: n
ão s
erá
o qu
e nã
o fo
r co
mpo
sto,
ant
es d
e tu
do, a
úni
ca c
oisa
que
não
con
vém
pas
sar p
or e
sse
proc
esso
de
diss
ocia
ção?
Ach
o qu
e é
assi
m m
esm
o, o
bser
vou
Ceb
ete.
E ta
mbé
m n
ão é
cer
to q
ue h
á m
uita
pro
balid
ade
de n
ão s
erem
com
post
as a
s co
isas
qu
e se
mpr
e se
man
têm
no
mes
mo
esta
do e
nun
ca s
e al
tera
m, c
omo
serã
o co
mpo
stas
as
que
ora
se a
pres
enta
m d
e um
a fo
rma,
ora
de
outra
, e m
udam
a c
ada
inst
ante
?
É ta
mbé
m o
que
eu
pens
o.
Entã
o, p
ross
egui
u, re
tom
emos
o te
ma
de n
ossa
dis
cuss
ão a
nter
ior.
Aqu
ela
idéi
a ou
es
sênc
ia a
que
em
nos
sas
perg
unta
s e
resp
osta
s at
ribuí
mos
a v
erda
deira
exi
stên
cia,
co
nser
va-s
e se
mpr
e a
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ma
e de
igua
l mod
o, o
u or
a é
de u
ma
form
a, o
ra d
e ou
tra?
O ig
ual
em s
i, o
belo
em
sim
, tod
as a
s co
isas
em
si m
esm
as, o
ser
, adm
item
qua
lque
r alte
raçã
o? O
u ca
da u
ma
dess
as re
alid
ades
, uni
form
es e
exi
sten
tes
por s
i mes
mas
, não
se
com
porta
rá
sem
pre
da m
esm
a fo
rma,
sem
jam
ais
adm
itir d
e ne
nhum
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a m
enor
alte
raçã
o?
Forç
osam
ente
, Sóc
rate
s, fa
lou
Ceb
ete,
sem
pre
perm
anec
erá
a m
esm
a e
do m
esm
o je
ito.
E co
m re
laçã
o à m
ultip
licid
ade
das
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as b
elas
: hom
ens,
cava
los,
vest
es e
tudo
o
mai
s da
mes
ma
natu
reza
, que
ou
são
igua
is o
u be
las
e re
cebe
m a
pró
pria
des
igna
ção
daqu
elas
real
idad
es: c
onse
rvam
-se
sem
pre
idên
ticas
ou,
dife
rent
emen
te d
as e
ssên
cias
, não
sã
o ja
mai
s id
êntic
as, n
em c
om re
laçã
o às
out
ras
nem
, por
ass
im d
izer
, con
sigo
mes
mas
?
Isso
, jus
tam
ente
, Sóc
rate
s, é
o q
ue s
e ob
serv
a, re
spon
deu
Ceb
ete,
nun
ca se
con
serv
am
as m
esm
as.
E nã
o é
certo
tam
bém
que
toda
s es
sas
cois
as s
e po
dem
ver
e to
car o
u pe
rceb
er p
or
inte
rméd
io d
e qu
alqu
er o
utro
sen
tido,
ao
pass
o qu
e as
ess
ênci
as, q
ue s
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nser
vam
sem
pre
igua
is a
si m
esm
as, s
ó po
dem
ser
apr
eend
idas
pel
o ra
cioc
ínio
, por
ser
em to
das
elas
in
visí
veis
e e
star
em fo
ra d
o al
canc
e da
vis
ão?
O q
ue d
izes
, obs
ervo
u, é
a p
ura
verd
ade.
XX
VI –
Ach
as, e
ntão
, per
gunt
ou, q
ue p
odem
os a
dmiti
r dua
s es
péci
es d
e co
isas
: um
as
visív
eis e
out
ras i
nvisí
veis?
Pode
mos
, res
pond
eu.
Send
o qu
e as
invi
síve
is s
ão s
empr
e id
êntic
as a
si m
esm
as, e
as
visí
veis
, o c
ontrá
rio
diss
o?
Adm
itam
os ta
mbé
m e
sse
pont
o, re
spon
deu.
Entã
o, p
ross
igam
os, u
ma
parte
de
nós
mes
mos
não
é c
orpo
, e a
out
ra n
ão é
alm
a?
Sem
dúv
ida,
falo
u.
E co
m q
ual d
aque
las
clas
ses
dire
mos
que
o c
orpo
é m
ais
conf
orm
e e
tem
mai
s af
inid
ade?
Para
todo
o m
undo
é e
vide
nte
que
é co
m a
das
coi
sas
visí
veis
.
E co
m re
laçã
o à a
lma?
É v
isíve
l, ou
será
invi
sível
?
Pelo
men
os p
ara
o ho
mem
, não
o s
erá,
Sóc
rate
s, re
spon
deu.
Mas
, qua
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fala
mos
do
que
é ou
não
é v
isív
el, é
sem
pre
com
vis
ta à
natu
reza
hu
man
a. O
u ac
has
que
seja
com
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ção
a ou
tra?
Não
; é c
om a
nat
urez
a hu
man
a, m
esm
o.
E a
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a? Q
ue d
irem
os d
ela:
pod
erem
os v
ê-la
ou
não?
Não
pod
emos
.
Logo
, é in
visív
el.
Cer
to.
Send
o as
sim, a
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a é
mai
s co
nfor
me
à esp
écie
invi
síve
l do
que
o co
rpo,
e e
ste
mai
s à
visív
el. D
e to
da a
nec
essi
dade
, Sóc
rate
s.
XX
VII
– M
as ta
mbé
m d
isse
mos
há
algu
ns in
stan
tes,
que
quan
do a
alm
a se
ser
ve d
o co
rpo
para
con
side
rar a
lgum
a co
isa
por i
nter
méd
io d
a vi
sta
ou d
o ou
vido
, ou
por q
ualq
uer
outro
sen
tido
– po
is c
onsi
dera
r sej
a o
que
for p
or m
eio
dos
sent
idos
é fa
zê-l
o po
r in
term
édio
do
corp
o –
é ar
rast
ada
por e
le p
ara
o qu
e nu
nca
se c
onse
rva
no m
esm
o es
tado
, pa
ssan
do a
div
agar
e a
per
turb
ar-s
e, e
fica
ndo
tom
ada
de v
ertig
ens,
com
o se
est
ives
se
embr
iaga
da, p
elo
fato
de
entra
r em
con
tato
com
tais
coi
sas?
Sim
, diss
emos
isso
mes
mo.
E o
cont
rário
diss
o: q
uand
o el
a ex
amin
a so
zinh
a al
gum
a co
isa, v
olta
-se
para
o q
ue é
pu
ro, s
empi
tern
o, e
que
sem
pre
se c
ompo
rta d
o m
esm
o m
odo,
e p
or lh
e te
r afin
idad
e, v
ive
com
ele
enq
uant
o pe
rman
ecer
con
sigo
mes
ma
e lh
e fo
r per
miti
do, d
eixa
ndo,
ass
im, d
e di
vaga
r e p
ondo
-se
com
o re
laçã
o co
m o
que
é s
empr
e ig
ual e
imut
ável
, por
est
a em
con
tato
co
m e
le. A
ess
e es
tado
, jus
tam
ente
, é q
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amos
o n
ome
de p
ensa
men
to.
Tudo
isso
, Sóc
rate
s, é
verd
adei
ro e
foi m
uito
bem
enu
ncia
do.
E ag
ora,
de
acor
do c
om o
pre
sent
e ar
gum
ento
e o
ant
erio
r, co
m q
ual d
essa
s du
as
espé
cies
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lma
se m
ostra
sem
elha
nte
e re
vela
mai
or a
finid
ade?
No
meu
mod
o de
pen
sar,
Sócr
ates
, res
pond
eu, n
ão h
á qu
em d
eixe
de
conc
orda
r, po
r m
ais
obtu
so q
ue s
eja,
se
te a
com
panh
ar o
raci
ocín
io, q
ue e
m tu
do e
por
tudo
a a
lma
tem
m
ais
sem
elha
nça
com
o q
ue s
empr
e se
con
serv
a o
mes
mo
do q
ue c
om o
que
var
ia.
E o
corp
o?
Com
a o
utra
esp
écie
.
XX
VII
I – E
xam
ina
agor
a a
ques
tão
da s
egui
nte
man
eira
: enq
uant
o se
man
têm
junt
os
o co
rpo
e a
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a, im
põe
a na
ture
za a
um
del
e ob
edec
er e
ser
vir e
ao
outro
com
anda
r e
dom
inar
. Sob
ess
e as
pect
o, q
ual d
eles
se
asse
mel
ha a
o di
vino
e q
ual a
o m
orta
l? N
ão te
pa
rece
que
o d
ivin
o é
natu
ralm
ente
feito
par
a co
man
dar e
diri
gir,
e o
mor
tal p
ara
obed
ecer
e
serv
ir?
Ach
o qu
e sim
.
E co
m q
ual d
eles
a a
lma
se p
arec
e?
Evid
ente
men
te, S
ócra
tes,
a al
ma
se a
ssem
elha
ao
divi
no, e
o c
orpo
ao
mor
tal .
Con
side
ra a
gora
, Ceb
ete,
con
tinuo
u, s
e de
tudo
o q
ue d
isse
mos
não
se
conc
lui q
ue a
o qu
e fo
r div
ino,
imor
tal,
inte
ligív
el, d
e um
a só
form
a, in
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olúv
el, s
empr
e no
mes
mo
esta
do
e se
mel
hant
e a
si p
rópr
io é
com
o q
ue a
lma
mai
s se
par
ece;
e o
con
trário
: ao
hum
ano,
m
orta
l e in
inte
ligív
el, m
ultif
orm
e, di
ssol
úvel
e ja
mai
s igu
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si m
esm
o, c
om is
so é
que
o
corp
o se
par
ece?
Pod
erem
os, a
mig
o C
ebet
e, a
rgum
enta
r de
outro
mod
o e
dize
r que
não
é
dess
a m
anei
ra?
Não
é p
ossí
vel.
XX
IX –
E e
ntão
? Se
for a
ssim
, não
fica
rá o
cor
po s
ujei
to a
dis
solv
er-s
e de
pres
sa,
cons
erva
ndo-
se a
alm
a in
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olúv
el o
u nu
m e
stad
o qu
e m
uito
dis
so s
e ap
roxi
ma?
Sem
dúv
ida.
Obs
erva
ain
da, c
ontin
uou,
com
o de
pois
que
o h
omem
mor
re, s
ua p
orçã
o vi
síve
l, o
corp
o, a
que
dam
os o
nom
e de
cad
áver
, col
ocad
o ta
mbé
m n
um lu
gar v
isív
el, e
mbo
ra o
suje
ito a
dis
solv
er-s
e, a
des
agre
gar-
se, d
e im
edia
to n
ão re
vela
nen
hum
a de
ssas
alte
raçõ
es,
cons
erva
ndo-
se in
tact
o po
r tem
po re
lativ
amen
te lo
ngo;
e s
e, n
o m
omen
to d
a m
orte
, o c
orpo
es
tiver
em
boa
s co
ndiç
ões,
send
o bo
a, ig
ualm
ente
, a e
staç
ão d
o an
o, e
ntão
con
serv
a-se
m
uito
mai
s te
mpo
. Qua
ndo
o co
rpo
é de
scar
nado
e e
mba
lsam
ado,
tal c
omo
se fa
z no
Egi
to,
ele
perm
anec
e qu
ase
inte
iro p
or te
mpo
inca
lcul
ável
. Aliá
s, at
é m
esm
o no
cor
po e
m
deco
mpo
siçã
o, a
lgum
a de
sua
s pa
rtes:
oss
os, t
endõ
es; e
tudo
mai
s do
gên
ero,
são
, por
ass
im
dize
r, im
orta
is. N
ão é
isso
mes
mo?
Cer
to.
Ao
pass
o qu
e a
alm
a, a
por
ção
invi
síve
l, qu
e va
i par
a um
luga
r sem
elha
nte
a el
a,
nobr
e, p
uro
e in
visí
vel,
o ve
rdad
eiro
Had
es, o
u se
ja, o
Invi
síve
l, pa
ra ju
nto
de u
m d
eus
sábi
o e
bom
, par
a on
de ta
mbé
m, s
e D
eus
quis
er, d
entro
de
pouc
o irá
min
ha a
lma:
ess
a al
ma
dizi
a, c
om s
emel
hant
e or
igem
e c
onst
ituiç
ão. A
o se
para
r-se
do
corp
o, n
o m
esm
o in
stan
te s
e di
ssip
aria
e v
iria
a de
stru
ir, c
onfo
rme
crê
a m
aior
ia d
os h
omen
s: N
unca
, meu
s ca
ros
Sím
ias
e C
ebet
e! P
elo
cont
rário
; o q
ue s
e dá
é o
seg
uint
e: s
e el
a é
pura
no
mom
ento
de
sua
liber
taçã
o e
não
arra
star
con
sigo
nad
a co
rpór
eo, p
or is
so m
esm
o qu
e du
rant
e a
vida
nun
ca
man
tiver
a co
mér
cio
volu
ntár
io c
om o
cor
po, p
orém
sem
pre
evita
ra, r
ecol
hida
em
si m
esm
a e
tend
o se
mpr
e is
so c
omo
preo
cupa
ção
excl
usiv
a, q
ue o
utra
coi
sa n
ão é
sen
ão fi
loso
far,
no
rigor
oso
sent
ido
da e
xpre
ssão
, e p
repa
rar-
se p
ara
mor
rer f
acilm
ente
... P
ois
tudo
isso
não
se
rá u
m e
xerc
ício
par
a a
mor
te?
Sem
dúv
ida
nenh
uma.
Ass
im c
onsti
tuíd
a, d
irigi
-se
para
o q
ue lh
e as
sem
elha
, par
a o
invi
sível
, div
ino,
imor
tal
e in
telig
ível
, ond
e, a
o ch
egar
, viv
e fe
liz, l
iber
ta d
o er
ro, d
a ig
norâ
ncia
, do
med
o, d
os
amor
es s
elva
gens
e d
os o
utro
s m
ales
da
cond
ição
hum
ana,
pas
sand
o ta
l com
o se
diz
dos
in
icia
dos,
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ver o
rest
o do
tem
po n
a co
mpa
nhia
dos
deu
ses.
Fala
rem
os d
esse
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, Ceb
ete,
ou
de
outra
form
a?
XX
X –
Ass
im m
esm
o, p
or Z
eus,
resp
onde
u C
ebet
e.
No
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, por
ém, c
onfo
rme
pens
o, d
e es
tar m
anch
ada
e im
pura
ao
sepa
rar-
se d
o co
rpo,
po
r ter
con
vivi
do s
empr
e co
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le, c
uida
do d
ele
e o
ter a
mad
o e
esta
r fas
cina
da p
or e
le e
por
se
us a
petit
es e
del
eite
s, a
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o de
só
acei
tar c
omo
verd
adei
ro o
que
tive
sse
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a co
rpór
ea,
que
se p
ode
ver,
toca
r, be
ber,
com
er, o
u se
rvir
para
o a
mor
; e s
e el
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ue s
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bitu
ou a
od
iar,
tem
er e
evi
tar o
que
é o
bscu
ro e
invi
síve
l par
a os
olh
os, p
orém
inte
ligív
el e
ap
reen
síve
l com
à fil
osof
ia: a
cred
itas
que
uma
alm
a ne
ssas
con
diçõ
es e
stej
a re
colh
ida
em s
i m
esm
a e
sem
mis
tura
no
mom
ento
em
que
dei
xar o
cor
po?
De
form
a al
gum
a, re
spon
deu.
Poré
m s
egun
do p
enso
, de
todo
em
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sat
urad
a de
ele
men
tos
corp
óreo
s qu
e co
m e
la
cres
cera
m c
omo
resu
ltado
de
sua
fam
iliar
idad
e e
cont
ínua
com
unic
ação
com
o c
orpo
, de
que
nunc
a se
sep
arou
e d
e qu
e se
mpr
e cu
idar
a.
Sem
dúv
ida.
Entã
o, m
eu c
aro,
terá
s de
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itir q
ue tu
do is
so é
esp
esso
, ter
reno
e v
isív
el. A
alm
a,
com
ess
a so
brec
arga
, tor
na-s
e pe
sada
e é
de
novo
arr
asta
da p
ara
a re
gião
vis
ível
, de
med
o do
Invi
sível
– o
Had
es, c
omo
e di
z –
e ro
la p
or e
ntre
os
mon
umen
tos
e tú
mul
os, n
a pr
oxim
idad
e do
s qu
ais
têm
sid
o vi
stos
fant
asm
as te
nebr
osos
, sem
elha
ntes
aos
esp
ectro
s de
ssas
alm
as q
ue n
ão s
e lib
erta
ram
pur
as d
e co
rpo
e qu
e se
torn
aram
vis
ível
.
É m
uito
pos
síve
l, Só
crat
es, q
ue s
eja
assi
m m
esm
o.
Sim
, é m
uito
pos
síve
l, C
ebet
e, e
tam
bém
que
ess
as a
lmas
não
sej
am d
os b
ons,
poré
m
dos
mau
s, qu
e se
vêe
m o
brig
adas
a v
agar
por
ess
e lu
gare
s, co
mo
cast
igo
de s
ua c
ondu
ta
dura
nte
a vi
da, q
ue fo
ra p
éssi
ma.
E a
ssim
fica
m a
vag
ar, a
té q
ue o
ape
tite
do e
lem
ento
co
rpor
al a
que
sem
pre
estã
o lig
adas
vol
te a
pre
ndê-
las
nout
ros
corp
os.
XX
XI –
Com
o é
natu
ral,
volta
m a
ser
apr
isio
nada
s em
nat
urez
as d
e co
stum
es ig
uais
aos
que
elas
pra
ticar
am e
m v
ida.
A q
ue a
nat
urez
as te
refe
res,
Sócr
ates
?
É o
segu
inte
: as
que
eram
dad
as à
glut
onar
ia, a
o or
gulh
o ou
à em
bria
guez
des
brag
ada,
en
tram
nat
ural
men
te n
os c
orpo
s de
asn
os e
de
anim
ais
cong
êner
es. N
ão te
par
ece?
Fala
s co
m m
uita
pro
prie
dade
.
As
que
com
eter
am in
just
iças
, a ti
rani
a ou
a ra
pina
, pas
sam
par
a a
gera
ção
dos
lobo
s, do
s aç
ores
e d
os a
butre
s. Pa
ra o
nde
mai
s po
dem
os d
izer
que
vão
as
alm
as d
essa
nat
urez
a?
Não
há
dúvi
da, r
espo
ndeu
Ceb
ete;
é p
ara
esse
s co
rpos
que
ela
s vã
o.
E nã
o é
evid
ente
, con
tinuo
u, q
ue o
mes
mo
se p
assa
com
os
dem
ais,
por s
e or
ient
arem
to
das
elas
no
sent
ido
de s
uas
próp
rias
tend
ênci
as?
É cl
aro,
obs
ervo
u; n
em p
oder
ia s
er d
e ou
tra m
anei
ra.
Logo
, dis
se, o
s m
ais
feliz
es e
que
vão
par
a os
mel
hore
s lu
gare
s sã
o os
que
pra
ticam
a
virtu
de c
ívic
a e
soci
al q
ue d
omin
amos
tem
pera
nça
e ju
stiç
a, p
or fo
rça
apen
as d
o há
bito
e d
a di
spos
ição
pró
pria
, sem
a p
artic
ipaç
ão d
a fil
osof
ia e
da
inte
ligên
cia.
Por q
ue s
erão
ess
es o
s m
ais
feliz
es?
Por s
er n
atur
al q
ue p
asse
m p
ara
uma
raça
soc
iáve
l e m
ansa
, de
abel
has,
vesp
as o
u fo
rmig
as, o
u at
é pa
ra a
mes
ma
raça
, a h
uman
a, a
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de
gera
rem
hom
ens
mod
erad
os.
Sem
dúv
ida.
XX
XII
– P
ara
a ra
ça d
os d
euse
s nã
o é
perm
itido
pas
sar o
s qu
e nã
o pr
atic
aram
a
Filo
sofia
nem
par
tiram
inte
iram
ente
pur
os, m
as a
pena
s os
am
igos
da
Sabe
doria
. É p
or is
so,
meu
s ca
ros
Sím
ias
e C
ebet
e, q
ue o
s ve
rdad
eiro
s fil
ósof
os s
e ac
aute
lam
con
tra o
s ap
etite
s do
co
rpo,
resi
stem
-lhe
s e
não
se d
eixa
m d
omin
ar p
or e
les;
não
têm
med
o da
pob
reza
nem
da
ruín
a de
sua
pró
pria
cas
a, c
omo
a m
aior
ia d
os h
omen
s, am
igos
das
riqu
ezas
, nem
tem
em a
falta
de
honr
aria
s e
a vi
da in
glór
ia, c
omo
se d
á co
m o
s am
ante
s do
pod
er e
das
dis
tinçõ
es.
Não
é e
ssa
a ra
zão
de s
e ab
ster
em d
e tu
do?
De
fato
, Sóc
rate
s; n
ada
diss
o lh
es fi
caria
bem
, fal
ou C
ebet
e.
Não
, por
Zeu
s, re
torq
uiu.
Por
isso
mes
mo,
Ceb
ete,
todo
s os
que
cui
dam
da
alm
a e
não
vive
m s
impl
esm
ente
par
a o
culto
do
corp
o, d
izem
ade
us a
tudo
isso
e n
ão s
egue
m o
ca
min
ho d
os q
ue n
ão s
abem
par
a on
de v
ão.
Con
venc
idos
de
que
não
deve
mos
faze
r nad
a em
con
trário
à Fi
loso
fia n
em a
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e el
a pr
escr
eve
para
libe
rtar-
nos
e pu
rific
ar-n
os, v
olta
m-
se p
ara
esse
lado
, seg
uind
o na
dire
ção
por e
la a
cons
elha
da.
XX
XII
I – D
e qu
e m
odo,
Sóc
rate
s?
Vou
diz
er-t
e, re
spon
deu.
Est
ão p
erfe
itam
ente
cie
ntes
os
amig
os d
a Sa
bedo
ria, q
ue
quan
do a
Filo
sofia
pas
sa a
diri
gir-
lhes
a a
lma,
est
a se
enc
ontra
com
o qu
e lig
ada
e ag
lutin
ada
ao c
orpo
, por
inte
rméd
io d
o qu
al é
forç
ada
a ve
r a re
alid
ade
com
o at
ravé
s da
s gr
ades
de
um c
árce
re, e
m lu
gar d
e o
faze
r soz
inha
e p
or s
i mes
ma,
por
ém a
tola
da n
a m
ais
abso
luta
igno
rânc
ia. O
que
há
de te
rrív
el n
esse
liam
es, r
econ
hece
-o a
Filo
sofia
, é
cons
istir
em n
os p
raze
res
e se
r pró
prio
pris
ione
iro q
uem
mai
s co
oper
a pa
ra m
anie
tar-
se.
Com
o di
sse,
os
amig
os d
a Sa
bedo
ria e
stão
cie
ntes
de
que,
ao
tom
ar c
onta
de
sua
alm
a em
ta
l est
ado,
a F
iloso
fia lh
e fa
la c
om d
oçur
a e
proc
ura
liber
tá-l
a, m
ostra
ndo-
lhe
quão
che
io d
e ilu
sões
é o
con
heci
men
to a
dqui
rido
por m
eio
dos
olho
s, qu
ão e
ngan
ador
o d
os o
uvid
os e
do
s m
ais
sent
idos
, aco
nsel
hand
o-a
a ab
ando
ná-l
os e
a n
ão fa
zer u
so d
eles
se
não
só o
ne
cess
ário
, e a
reco
lher
-se
e co
ncen
trar-
se e
m s
i mes
ma
e só
a a
cred
itar e
m s
i pró
pria
e n
o qu
e el
a em
si m
esm
a ap
rend
er d
a re
alid
ade
em s
i, e
o in
vers
o: a
não
ace
itar c
omo
verd
adei
ro tu
do o
que
ela
con
side
rar p
or m
eios
que
em
cad
a ca
so s
e m
odifi
cam
, poi
s as
co
isas
des
ses
gêne
ro s
ão s
ensí
veis
e v
isív
eis,
ao p
asso
que
é in
telig
ível
e in
visí
vel o
que
ela
vê
por
si m
esm
a. C
onve
ncid
a de
que
não
dev
e op
or-s
e a
sem
elha
nte
liber
taçã
o, a
alm
a do
ve
rdad
eiro
filó
sofo
abs
tém
dos
pra
zere
s, da
s pa
ixõe
s e
dos
tem
ores
, tan
to q
uant
o po
ssív
el,
certa
de
que
sem
pre
que
algu
ém s
e al
egra
em
ext
rem
o, o
u te
me,
ou
dese
ja, o
u so
fre,
o m
al
daí r
esul
tant
e nã
o é
o qu
e se
pod
eria
imag
inar
, com
o se
ria o
cas
o, p
or e
xem
plo,
de
adoe
cer
ou v
ir a
arru
inar
-se
por c
ausa
das
pai
xões
: o m
aior
e o
pio
r dos
mal
es é
o q
ue n
ão s
e de
ixa
perc
eber
.
Qua
l é, S
ócra
tes?
per
gunt
ou C
ebet
e.
É qu
e to
da a
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hum
ana,
nos
cas
os d
e pr
azer
ou
de s
ofrim
ento
inte
nsos
, é
forç
osam
ente
leva
da a
cre
r que
o o
bjet
o ca
usad
or d
e se
mel
hant
e em
oção
é o
que
há
de m
ais
clar
o e
verd
adei
ro, q
uand
o, d
e fa
to, n
ão é
ass
im. D
e re
gra,
trat
a-se
de
cois
as v
isív
eis,
não
é iss
o m
esm
o?
Perf
eita
men
te.
E nã
o é
quan
do p
assa
por
tudo
isso
que
a a
lma
se e
ncon
tra m
ais
intim
amen
te p
resa
ao
corp
o?
Com
o as
sim?
Porq
ue o
s pr
azer
es e
os
sofr
imen
tos
são
com
o qu
e do
tado
s de
um
cra
vo c
om o
qua
l tra
nsfix
am a
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a e
a pr
ende
m a
o co
rpo,
dei
xand
o-a
corp
órea
e le
vand
o-o
a ac
redi
tar q
ue
tudo
o q
ue o
cor
po d
iz é
ver
dade
iro. O
ra, p
elo
fato
de
ser d
a m
esm
a op
iniã
o qu
e o
corp
o e
de s
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mpr
azer
com
ele
, é o
brig
ada,
seg
undo
pen
so, a
ado
tar s
eus
cost
umes
e a
limen
tos,
sem
jam
ais
pode
r che
gar a
o H
ades
em
est
ado
de p
urez
a, p
ois
é se
mpr
e sa
tura
da d
o co
rpo
que
ela
o de
ixa.
Res
ulta
do: l
ogo
depo
is, v
olta
a c
air n
outro
cor
po, o
nde
cria
raíz
es c
omo
se
tives
se s
ido
sem
eada
nel
e, fi
cand
o de
todo
alh
eia
da c
ompa
nhia
do
divi
no, d
o qu
e é
puro
e
de u
ma
só fo
rma.
É m
uito
cer
to o
que
dis
sest
e, o
bser
vou
Ceb
ete.
XX
XIV
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ssa
é a
razã
o, C
ebet
e, d
e se
rem
tem
pera
ntes
e c
oraj
osos
os
verd
adei
ros
amig
os d
o sa
ber,
não
pelo
que
imag
ina
o po
vo. O
u ac
has
que
sim?
Eu?
De
form
a al
gum
a.
Não
, de
fato
; a a
lma
do fi
lóso
fo n
ão ra
cioc
ina
dess
e je
ito n
em p
ensa
que
a fi
loso
fia
deva
libe
rtá-l
a, p
ara,
dep
ois
de li
vre,
ent
rega
r-se
de
novo
aos
pra
zere
s e
às d
ores
e v
olta
r a
acor
rent
ar-s
e, d
eixa
ndo
írrito
seu
esf
orço
ant
erio
r e c
omo
que
empe
nhad
a em
faze
r o
inve
rso
do tr
abal
ho d
e Pe
nélo
pe e
m s
ua te
ia. A
o co
ntrá
rio: a
lcan
çand
o a
calm
aria
das
pa
ixõe
s e
guia
ndo-
se p
ela
razã
o, s
em n
unca
a a
band
onar
, con
tem
pla
o qu
e é
verd
adei
ro e
di
vino
e q
ue p
aira
aci
ma
das
opin
iões
, cer
ta d
e qu
e pr
ecis
ará
vive
r ass
im a
vid
a to
da, p
ara
depo
is d
a m
orte
, uni
r-se
ao
que
lhe
for a
pare
ntad
o e
da m
esm
a na
ture
za, l
iber
ta d
as
mis
éria
s hu
man
as. N
ão é
de
adm
irar,
Sím
ias
e C
ebet
e, q
ue u
ma
alm
a al
imen
tada
des
se je
ito
e co
m s
emel
hant
e oc
upaç
ão n
ão te
nha
med
o de
des
mem
brar
-se
quan
do s
e re
tirar
do
corp
o,
e de
ser
dis
pers
ada
pelo
s ve
ntos
, dis
sipa
ndo-
se d
o to
do, s
em v
ir a
ficar
em
par
te a
lgum
a.
XX
XV
– A
ess
as p
alav
ras
de S
ócra
tes,
segu
iu-s
e pr
olon
gado
silê
ncio
. Com
o se
po
deria
obs
erva
r, o
próp
rio S
ócra
tes
med
itava
no
tem
a de
senv
olvi
do n
a co
nver
saçã
o, o
que
, al
iás,
acon
teci
a co
m q
uase
todo
s os
pre
sent
es. C
ebet
e e
Sím
ias
fala
ram
de
soca
pa a
lgum
a co
isa,
o q
ue fo
i per
cebi
do p
or S
ócra
tes,
que
lhes
dis
se:
E en
tão?
Per
gunt
ou: q
uem
sab
e se
soi
s de
pare
cer q
ue a
inda
falta
diz
er a
lgo?
Em
ve
rdad
e, m
uita
s dú
vida
s. E
obje
ções
pod
eria
m s
er le
vant
adas
por
que
m s
e di
spus
esse
a
apro
fund
ar o
tem
a. S
e tra
tais
ago
ra d
e ou
tro a
ssun
to, n
ão d
igo
nada
; por
ém s
e o
noss
o m
esm
o é
que
vos
atra
palh
a, e
xpõe
m s
em a
canh
amen
to o
que
vos
par
ecer
indi
cado
par
a m
elho
r esc
lare
cim
ento
da
ques
tão,
ou
perm
iti q
ue e
u ta
mbé
m to
me
parte
no
diál
ogo,
no
caso
de
julg
arde
s qu
e co
m a
min
ha c
oope
raçã
o po
deis
ven
cer m
ais
faci
lmen
te a
s di
ficul
dade
s.
Sím
ias,
entã
o, fa
lou:
Sen
do a
ssim
, Sóc
rate
s, vo
u di
zer-
te a
ver
dade
. Já
faz
tem
po q
ue
esta
mos
em
dúv
ida
e pr
ocur
amos
ani
mar
-nos
reci
proc
amen
te a
diri
gir-
te p
ergu
ntas
, pel
o de
sejo
de
ouvi
r-te
fala
r, po
rém
tem
os m
edo
de in
com
odar
-te
por c
ausa
do
pres
ente
in
fortú
nio.
Ouv
indo
-o e
xpre
ssar
-se
dess
e m
odo,
resp
onde
u Só
crat
es, e
sboç
ando
um
sor
riso:
Ora
, Sí
mia
s! D
ifici
lmen
te c
hega
rei a
con
venc
er o
s ou
tros
hom
ens
que
não
cons
ider
o ne
nhum
a de
sgra
ça m
inha
situ
ação
nes
te m
omen
to, s
e ne
m a
vós
mes
mos
con
sigo
per
suad
ir, p
or
terd
es re
ceio
de
eu e
star
ago
ra c
om â
nim
o di
fere
nte.
Pel
o qu
e ve
jo, c
onsi
dera
is-m
e in
ferio
r ao
s ci
snes
, poi
s qu
ando
est
es p
erce
bem
que
est
ão p
erto
de
mor
rer,
por t
erem
can
tado
a v
ida
toda
, mai
s ve
zes
e m
elho
r põe
m s
e a
cant
ar, c
onte
ntes
de
parti
rem
par
a ju
nto
do d
eus
de
que
são
os s
ervi
dore
s. Po
rém
com
seu
med
o ca
ract
erís
tico
da m
orte
, os
hom
ens
calu
niam
os
cisn
es, c
om a
firm
arem
que
ele
s ca
ntam
por
cho
rare
m a
mor
te, d
e tri
stez
a, s
em re
fletir
em
que
nenh
um a
ve c
anta
qua
ndo
tem
fom
e ou
frio
, ou
quan
do p
resa
de
outra
ang
ústia
, nem
m
esm
o o
roux
inol
, a a
ndor
inha
ou
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upa,
cuj
o ca
nto,
seg
undo
diz
em, s
erve
de
alim
enta
r a
dor.
Poré
m n
ão c
reio
que
nen
hum
del
es c
ante
por
est
arem
tris
tes,
mui
to m
enos
os
cisn
es.
Ao
cont
rário
: por
per
tenc
erem
a A
polo
, seg
undo
pen
so, t
êm o
Dom
da
prof
ecia
, e p
or
prev
erem
as
delíc
ias
do H
ades
, can
tam
e s
e al
egra
m n
esse
dia
mui
to m
ais
do q
ue a
ntes
. Eu,
de
min
ha p
arte
, tam
bém
me
cons
ider
o se
rvid
or ig
ual d
a di
vind
ade,
com
o os
cis
nes,
e a
ela
cons
agra
do, e
por
ser
dot
ado
pelo
meu
sen
hor d
e nã
o m
enor
Dom
de
prof
ecia
, não
dei
xare
i a
vida
com
men
os c
orag
em d
o qu
e el
es. P
or is
so, p
odei
s fa
lar à
von
tade
e fo
rmul
ar a
s pe
rgun
tas
que
ente
nder
des
todo
o te
mpo
que
o p
erm
itire
m o
s on
ze c
idad
ãos
de A
tena
s.
Perfe
ito, f
alou
Sím
ias,
pois
ent
ão v
ou d
izer
-te
quai
s sã
o as
min
has
dúvi
das,
para
de
pois
indi
car e
ste
aqui
os
pont
os d
e tu
a ex
posi
ção
com
que
ele
não
con
cord
a. S
obre
ess
es
assu
nto,
Sóc
rate
s, cr
eio
esta
r de
acor
do c
ontig
o, q
ue s
e ne
sta
vida
não
for i
mpo
ssív
el s
aber
a
essa
resp
eito
alg
o de
finiti
vo, é
ext
rem
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te d
ifíci
l. M
as ta
mbé
m s
erá
prov
a de
fraq
ueza
de
ixar
de
anal
isar
por
todo
s os
mod
os o
que
foi d
ito, e
não
aba
ndon
ar o
ass
unto
enq
uant
o nã
o se
ntirm
os c
ansa
ço. N
este
pas
so v
emo-
nos
ante
o d
ilem
a: a
pren
der e
des
cobr
ir o
de q
ue
se tr
ata,
ou,
no
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de
não
ser i
sso
poss
ível
, ado
tar a
mel
hor o
pini
ão e
a m
ais d
ifíci
l de
cont
esta
r, e
nela
inst
alan
do-n
os à
guis
a de
jang
ada,
pro
cura
r faz
er a
trav
essi
a da
vid
a, n
a hi
póte
se d
e nã
o co
nseg
uir i
sso
mes
mo
com
mai
or fa
cilid
ade
e m
enos
per
igo
num
a em
barc
ação
mai
s fir
me,
ou
seja
, com
alg
uma
pala
vra
divi
na. A
ssim
, não
fica
rei a
canh
ado
agor
a de
inte
rrog
ar-t
e, já
que
tu p
rópr
io m
o ac
onse
lhas
, nem
pre
cisa
rei c
ensu
rar-
me
de
futu
ro p
or n
ão te
hav
er d
ito h
oje
o qu
e pe
nsav
a. O
fato
, Sóc
rate
s, é
que
quan
do re
flito
no
que
diss
este
, ou
seja
com
igo
mes
mo
ou n
a co
mpa
nhia
des
te a
qui,
tenh
o a
impr
essã
o de
que
ne
m tu
do fi
cou
bem
fund
amen
tado
.
XX
XV
I – S
ócra
tes
resp
onde
u: T
alve
z, c
ompa
nhei
ro, l
he fa
lou,
est
ejas
com
a ra
zão;
po
rém
exp
lica
o qu
e nã
o te
par
ece
bem
fund
amen
tado
.
É qu
e se
ria p
ossí
vel a
lega
r a m
esm
a co
isa,
con
tinuo
u, a
resp
eito
da
harm
onia
e d
a lir
a co
m s
uas
cord
as, a
sab
er: q
ue a
har
mon
ia é
alg
o in
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vel,
inco
rpór
eo e
sum
amen
te b
elo
num
a lir
a be
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a, e
que
est
a, p
or s
ua v
ez, é
cor
po, c
om ta
mbé
m o
são
as
cord
as,
cois
as m
ater
iais
, com
post
as, t
erre
nas
e de
nat
urez
a m
orta
. Ora
, no
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de
algu
ém q
uebr
ar a
lir
a e
corta
r ou
arre
bent
ar a
s co
rdas
, alg
uém
pod
eria
arg
umen
tar c
omo
o fiz
este
: fo
rços
amen
te a
quel
a ha
rmon
ia a
inda
viv
e, p
ois
não
foi d
estru
ída;
poi
s nã
o é
poss
ível
su
bsis
tir a
lira
dep
ois
de s
e pa
rtire
m a
s co
rdas
, e a
s pr
ópria
s co
rdas
, tod
as e
las
de n
atur
eza
mor
ta, e
des
apar
ecer
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arm
onia
, da
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ma
natu
reza
e d
a fa
míli
a do
div
ino
e do
imor
tal,
que
assi
m v
iria
a se
r des
truíd
a at
é m
esm
o an
tes
do q
ue é
per
ecív
el. N
ão, p
ross
egui
ria e
ssa
pess
oa; n
eces
saria
men
te a
har
mon
ia te
rá d
e co
ntin
uar e
m q
ualq
uer p
arte
, por
ser
forç
oso
que
a m
adei
ra a
podr
eça
prim
eiro
, e a
s co
rdas
, ant
es d
e ac
onte
cer à
quel
a al
gum
a co
isa.
A
esse
s re
spei
to, S
ócra
tes,
crei
o qu
e tu
mes
mo
já c
onsi
dera
ste
que
a no
ção
da a
lma
adm
itida
po
r nós
é m
ais
ou m
enos
a s
egui
nte:
Da
mes
ma
fora
m q
ue te
mos
o c
orpo
dis
tend
ido
e co
eso
pelo
cal
or e
o fr
io, o
sec
o e
o úm
ido,
e tu
do o
mai
s do
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mo
gêne
ro, v
iria
a se
r
noss
a al
ma
a m
istu
ra e
a h
arm
onia
de
todo
s es
ses
elem
ento
s, qu
ando
com
bina
dos
em ju
sta
prop
orçã
o. O
ra, s
e no
ssa
alm
a fo
r um
a es
péci
e de
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mon
ia, é
evi
dent
e qu
e, a
o fic
ar
rela
xado
o c
orpo
, ou
dist
endi
do e
m e
xces
so, p
or d
oenç
as e
out
ras
pertu
rbaç
ões,
fo
rços
amen
te a
alm
a fe
nece
rá lo
go, e
m q
ue p
ese
à sua
nat
urez
a di
vina
, tal
com
o se
dá
com
as
out
ras
harm
onia
s, ta
nto
as re
sulta
ntes
de
sons
com
o da
s de
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s ob
ras
dos
artis
ta; a
o pa
sso
que
os d
espo
jos
do c
orpo
per
dura
m p
or m
uito
tem
po, a
té q
ue o
fogo
os
dest
rua
ou
venh
am a
apo
drec
er. V
ê, p
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nto,
o q
ue d
evem
os o
por a
ess
es a
rgum
ento
s, no
cas
o de
al
guém
nos
vir
dize
r que
a a
lma,
por
ser
a m
istu
ra d
os e
lem
ento
s do
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po, é
a p
rimei
ra a
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r naq
uilo
que
cha
mam
os m
orte
.
XX
XV
II –
Sóc
rate
s se
con
serv
ou d
uran
te a
lgum
tem
po c
om o
olh
ar p
arad
o, c
omo
era
seu
cost
ume;
dep
ois
falo
u, s
orrin
do: A
obj
eção
de
Sím
ias,
decl
arou
, é p
roce
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e. S
e al
gum
de
vós
est
iver
em
mel
hore
s co
ndiç
ões
do q
ue e
u, p
or q
ue n
ão re
spon
de a
ele
? O
arg
umen
to
dele
é m
uito
feliz
. Por
ém a
ntes
de
form
ular
qua
lque
r res
post
a, s
ou d
e pa
rece
r que
dev
emos
pr
imei
ro o
uvir
o qu
e te
m C
ebet
e a
opor
à no
ssa
tese
, poi
s as
sim
gan
hare
mos
tem
po p
ara
refle
tir n
o qu
e se
rá p
reci
so d
izer
. E d
epoi
s de
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ir a
ambo
s, da
r-lh
es-e
mos
nos
sa
apro
vaçã
o, s
e no
s pa
rece
rem
bem
afin
ados
os
argu
men
tos;
cas
o co
ntrá
rio; d
izen
do lo
go o
qu
e te
dei
xa a
trapa
lhad
o.
Vou
diz
er, r
espo
ndeu
Ceb
ete.
A m
eu p
arec
er, n
osso
arg
umen
to n
ão s
aiu
do lu
gar e
co
ntin
ua c
omo
alvo
das
mes
mas
obj
eçõe
s de
ant
es. Q
ue n
ossa
alm
a já
exi
stis
se a
ntes
de
assu
mir
esta
form
a, é
pro
posi
ção
que
não
me
repu
gna
acei
tar,
por e
ngen
hosa
e –
sal
vo
imod
éstia
de
min
ha p
arte
– su
ficie
ntem
ente
dem
onst
rada
. Por
ém q
ue s
ubsi
sta
algu
res
depo
is d
e es
tarm
os m
orto
s, co
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so é
que
não
pos
so c
onco
rdar
. Não
ace
ito, t
ambé
m o
re
paro
de
Sím
ias,
quan
do a
firm
a qu
e a
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a nã
o é
mai
s fo
rte n
em m
ais
durá
vel d
o qu
e o
corp
o, p
ois
sob
ambo
s os
asp
ecto
s el
a se
dis
tingu
e im
ensa
men
te d
ele.
Por
que
ent
ão, l
he
diria
o a
rgum
ento
, ain
da te
mos
tras
incr
édul
o, s
e es
tás
vend
o qu
e de
pois
da
mor
te d
o ho
mem
sua
por
ção
mai
s fr
aca
aind
a su
bsis
te?
Não
te p
arec
e qu
e a
porç
ão m
ais
durá
vel t
erá
forç
osam
ente
de
sobr
eviv
er ig
ual t
empo
? V
ê ag
ora
se o
que
dig
o co
ntém
alg
uma
subs
tânc
ia. P
ara
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idad
e vo
u so
corr
er-m
e, c
omo
o fe
z Sí
mia
s, de
um
a im
agem
. Pa
ra m
im, f
alar
des
se je
ito é
o m
esm
o qu
e fa
zer a
s se
guin
tes
cons
ider
açõe
s a
resp
eito
de
um v
elho
tece
lão
que
acab
asse
de
mor
rer:
o ho
mem
não
está
mor
to: c
ontin
ua v
ivo
em
algu
ma
parte
; e p
ara
prov
a de
ssa
afirm
ação
, apr
esen
tass
e a
roup
a qu
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e en
tão
trazi
a no
co
rpo,
teci
da p
or e
le m
esm
o, c
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rvad
a e
sem
ter a
inda
per
ecid
o. E
se
algu
ém s
e m
ostra
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incr
édul
o, p
oder
ia p
ergu
ntar
o q
ue é
por
nat
urez
a m
ais
durá
vel,
imag
inar
ia te
r de
mon
stra
do q
ue c
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aior
ia d
e ra
zões
o h
omem
terá
de
esta
r bem
, vis
to n
ão h
aver
pe
reci
do o
que
por
nat
urez
a é
men
os d
uráv
el. P
orém
a m
eu v
er, S
ímia
s, a
real
idad
e, é
mui
to
dife
rent
e. P
rest
a at
ençã
o ao
seg
uint
e: N
ão h
á qu
em n
ão v
eja
quan
to é
frac
o se
mel
hant
e ar
gum
ento
. Hav
endo
gas
to m
uita
s ro
upas
por
ele
pró
prio
teci
das,
o no
sso
hom
em m
orre
u,
de fa
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epoi
s de
toda
s, e
não
fora
m p
ouca
s, po
rém
ant
es d
a úl
tima,
seg
undo
pen
so; m
as
nem
por
isso
o h
omem
é in
ferio
r ou
mai
s fr
aco
do q
ue a
roup
a. E
ssa
imag
em, q
uero
cre
r, se
ap
lica
tant
o à a
lma
com
o ao
cor
po, e
que
m a
rgum
enta
sse
dess
e m
odo
com
rela
ção
ao
corp
o, fa
laria
com
mui
to m
ais
prop
rieda
de, a
sab
er: q
ue a
alm
a é
mai
s du
ráve
l e o
cor
po
mai
s fr
aco
e tra
nsitó
rio, p
ois
fora
ace
rtado
acr
esce
ntar
que
cad
a al
ma
cons
ome
vário
s co
rpos
, prin
cipa
lmen
te q
uand
o vi
ve m
uito
s an
os. S
e o
corp
o se
esc
oa e
se
deliq
uesc
e en
quan
to o
hom
em v
ive,
a a
lma
rete
ce d
e co
ntín
uo o
que
for c
onsu
mid
o. F
orço
so s
erá,
por
co
nseg
uint
e, q
ue, n
o in
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te d
e m
orre
r, ai
nda
este
ja a
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a co
m a
últi
ma
vest
imen
ta p
or
ela
feia
, só
vind
o a
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rer a
ntes
da
últim
a. D
esap
arec
ida
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ma,
mos
tra, d
e pr
onto
, o c
orpo
su
a fr
aque
za n
atur
al e
se
desm
anch
a pe
la p
utre
façã
o. P
or is
so m
esm
o, c
om b
ase
ness
es
argu
men
tos
não
pode
mos
con
fiar q
ue n
ossa
alm
a su
bsis
ta a
lgur
es d
epoi
s da
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te. E
se
algu
ém c
once
dess
e ao
exp
osito
r de
tua
prop
osiç
ão m
ais
aind
a do
que
faze
s e
lhe
dess
e de
ba
rato
não
pen
as q
ue n
ossa
s al
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exi
stem
ant
es d
o te
mpo
do
nasc
imen
to, s
endo
que
nad
a im
pede
, até
mes
mo
depo
is de
nos
sa m
orte
, exi
stire
m a
lgum
as e
con
tinua
rem
a e
xisti
r, e
mui
tas
veze
s re
nasc
erem
e to
rnar
em a
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rer,
por s
erem
de
natu
reza
bas
tant
e fo
rte p
ara
supo
rtar e
sses
nas
cim
ento
s su
cess
ivos
: se
lhe
conc
edês
sem
os e
sse
pont
o, d
e to
do o
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ele
se
recu
saria
a a
dmiti
r que
a a
lma
não
se e
sgot
a ne
sses
nas
cim
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s su
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ivos
, par
a ac
abar
nu
ma
dess
as ú
ltim
as m
orte
s, po
r des
apar
ecer
de
todo
. Des
sa m
orte
últi
ma,
pod
eria
ac
resc
enta
r, e
dess
a de
com
posi
ção
do c
orpo
que
leva
par
a a
alm
a a
dest
ruiç
ão, n
ingu
ém
pode
ter c
onhe
cim
ento
, por
não
est
ar e
m n
ós e
xper
imen
tá-l
a. S
e as
coi
sas
se p
assa
m m
esm
o de
ssa
form
a, p
or fo
rça
terá
de
ser i
rrac
iona
l a c
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de q
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uer p
esso
a di
ante
da
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te,
a m
enos
que
ess
e al
guém
pud
esse
dem
onst
rar q
ue a
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a é
abso
luta
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te im
orta
l e
impe
recí
vel.
Send
o is
so im
poss
ível
, não
há
com
o ev
itar q
ue o
mor
ibun
do s
e ar
rece
ie d
e qu
e no
inst
ante
em
que
sua
alm
a se
des
apar
ecer
do
corp
o, v
enha
a d
esap
arec
er d
e to
do.
XX
XV
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Ao
ouvi
-los
fala
r des
sa m
anei
ra, t
odos
nós
nos
sen
timos
de
sagr
adav
elm
ente
impr
essi
onad
os, c
onfo
rme
depo
is c
onfe
ssam
os a
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mes
mos
; fir
mem
ente
con
venc
idos
com
o fic
áram
os, a
nte
os a
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ento
s an
terio
res,
as p
alav
ras
de
agor
a co
mo
que
nos
deix
avam
inqu
ieto
s e
nos
leva
vam
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ra v
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, tan
to c
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rela
ção
ao q
ue já
fora
dito
com
o ao
que
ain
da re
stav
a po
r diz
er. O
u ér
amos
mau
s ju
ízes
ou
o as
sunt
o nã
o ad
miti
a pr
ova.
Equ
écrates–
Pel
os d
euse
s, F
edão
! Com
pree
ndo
o qu
e se
pas
sou
conv
osco
, poi
s ag
ora
mes
mo,
per
gunt
ei-m
e em
que
arg
umen
to p
oder
emos
con
fiar d
aqui
por
dia
nte,
se
o qu
e Só
crat
es a
cabo
u de
des
envo
lver
, com
ser
tão
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ince
nte,
per
deu
de to
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cré
dito
? É
mar
avilh
osa
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raçã
o qu
e so
bre
mim
sem
pre
exer
ceu,
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inda
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rce,
a d
outri
na d
e qu
e no
ssa
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a é
uma
espé
cie
de h
arm
onia
. O q
ue a
caba
ste
de e
xpor
me
fez
lem
brar
que
até
ao
pres
ente
eu
a ac
eita
va. M
as a
gora
nec
essi
to d
e no
vos
argu
men
tos
para
con
venc
er-m
e de
qu
e a
alm
a nã
o m
orre
junt
amen
te c
om o
cor
po. D
ize
logo
, por
Zeu
s, de
que
mod
o Só
crat
es
pros
segu
iu n
a su
a ar
gum
enta
ção?
Por
vent
ura
reve
lou
desâ
nim
o, c
omo
diss
este
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vós,
ou, p
elo
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, def
ende
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ião
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Con
ta-n
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om a
mai
or
exat
idão
pos
síve
l.
Fedã
o–
Em v
erda
de, E
quéc
rate
s, po
r mai
s qu
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tes
eu ti
vess
e ad
mira
do S
ócra
tes,
nu
nca
me
sent
i tão
arr
ebat
ado
naqu
ele
inst
ante
. Não
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e es
pant
ar q
ue u
m h
omem
do
seu
esto
fo p
udes
se s
air-
se b
em e
m s
emel
hant
e co
njun
tura
. Mas
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ue n
ele,
prim
eiro
de
tudo
, m
e ad
miro
u ao
ext
rem
o fo
i a m
anei
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elic
ada,
cor
dial
e d
efer
ente
com
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ue a
colh
eu a
s ob
jeçõ
es d
os m
oços
; dep
ois,
a sa
gaci
dade
com
que
obs
ervo
u o
efei
to d
e su
as p
alav
ras
sobr
e nó
s e,
por
últi
mo,
com
o so
ube
cura
r-no
s: d
e fu
gitiv
os e
der
rota
dos,
fez-
nos
volta
r e
conc
itou-
nos
a se
gui-
lo, p
ara
cons
ider
arm
os ju
nto
o ar
gum
ento
.
Equ
écrates–
De
que
mod
o?
Fedã
o–
Vou
te d
izer
com
o fo
i. A
cont
eceu
que
eu
me
acha
va, j
usta
men
te à
sua
dire
ita, n
um b
anqu
inho
ao
pé d
o ca
tre, f
ican
do e
le n
um p
lano
mui
to m
ais
alto
. Afa
gand
o-m
e a
cabe
ça e
aba
rcan
do c
om a
mão
os
cabe
los
que
me
cobr
iam
a n
uca
– po
is s
empr
e qu
e se
lhe
ofer
ecia
oca
sião
gra
ceja
a re
spei
to d
e m
inha
cab
elei
ra –
me
diss
e: D
ecer
to é
am
anhã
, Fe
dão,
que
vai
s pô
r aba
ixo
esta
bel
a ca
bele
ira?
Pens
o qu
e si
m, S
ócra
tes,
resp
ondi
.
Não
, se
me
acei
tare
s um
con
selh
o.
Que
dev
o, e
ntão
, faz
er?
Perg
unte
i.
Hoj
e m
esm
o, d
isse
, cor
tare
i a m
inha
, com
o fa
rás
com
a tu
a, s
e no
sso
argu
men
to v
ier
a m
orre
r e n
os re
vela
rmos
inca
paze
s de
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dar l
ume
e vi
da. D
e m
inha
par
te, s
e eu
est
ives
se
em te
u lu
gar e
o a
rgum
ento
me
esco
rreg
asse
por
ent
re o
s de
dos,
faria
um
jura
men
to à
feiç
ão d
os A
rgiv
os, d
e nã
o de
ixar
cre
scer
os
cabe
los
enqu
anto
não
ven
cess
e em
luta
fran
ca
a pr
opos
ição
de
Sím
ias
e C
ibet
e.
Mas
, com
o se
cos
tum
a di
zer,
obje
tei-l
he, c
ontra
doi
s ne
m H
ércu
les
ague
nta.
Entã
o, c
ham
a-m
e em
teu
auxí
lio, e
nqua
nto
é di
a; s
erei
o te
u Io
lau.
Bem
, cha
mar
ei, l
he re
spon
di; p
orém
não
na
qual
idad
e de
Her
ácle
s: Io
lau
é qu
e va
i ch
amar
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ácle
s em
seu
aux
ílio.
Tant
o fa
z, m
e di
sse.
XX
XIX
– In
icia
lmen
te, p
reca
tem
o-no
s co
ntra
cer
to p
erig
o.
Qua
l ser
á? P
ergu
ntei
.
Para
não
fica
rmos
mis
ólog
os, d
isse
, com
o ou
tros
ficam
mis
antro
pos.
O q
ue d
e pi
or
pode
aco
ntec
er a
qua
lque
r pes
soa
é to
rnar
-se
inim
igo
da p
alav
ra. A
miso
logi
a e
a m
isan
tropi
a tê
m a
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ma
orig
em. O
ódi
o ao
s ho
men
s na
sce
do e
xces
so d
e co
nfia
nça
sem
ra
zão
de s
er, q
uand
o co
nsid
eram
os a
lgué
m fi
el, s
ince
ro e
ver
dade
iro, e
logo
dep
ois
desc
obrim
os q
ue s
e tra
ta d
e pe
ssoa
cor
rupt
a e
desl
eal,
e de
pois
out
ra m
ais
nas
mes
mas
co
ndiç
ões.
Vin
do is
so a
repe
tir-s
e vá
rias
veze
s co
m o
mes
mo
paci
ente
, prin
cipa
lmen
te s
e se
tra
tar d
e am
igos
íntim
os e
com
panh
eiro
s de
alto
cré
dito
, dep
ois
de d
ecep
ções
seg
uida
s, ac
aba
essa
pes
soa
por o
diar
os
hom
ens
e ac
redi
tar q
ue n
ingu
ém é
sin
cero
. Nun
ca o
bser
vast
e qu
e é
assi
m m
esm
o qu
e as
coi
sas
se p
assa
m.
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u.
E nã
o é
isso
ver
gonh
oso?
Con
tinuo
u. P
ois
é cl
aro
que
esse
indi
vídu
o pr
ocur
a o
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ívio
com
seu
s se
mel
hant
es s
em c
onhe
cer d
evid
amen
te a
nat
urez
a hu
man
a, p
ois
se
disp
uses
se d
e al
gum
a ex
periê
ncia
nas
sua
s re
laçõ
es c
om e
les,
teria
com
pree
ndid
o co
mo
é re
alm
ente
o m
undo
, ist
o é,
que
são
pou
cos
os in
diví
duos
inte
iram
ente
bon
s ou
mau
s de
to
do, e
que
a m
aior
ia c
onsti
tui o
mei
o-te
rmo.
Com
o as
sim?
Perg
unto
u.
É o
mes
mo
que
acon
tece
, pro
sseg
uiu,
com
as
pess
oas
exce
ssiv
amen
te b
aixa
s ou
ex
cess
ivam
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alta
s. Ju
lgas
que
pod
e ha
ver n
ada
mai
s ra
ro d
o qu
e en
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rarm
os u
m
hom
em m
uito
gra
nde
ou m
uito
peq
ueno
, ou
um c
ão, o
u se
ja o
que
for?
O m
esm
o se
dig
a do
ve
loz
e do
lent
o, d
o fe
io e
do
belo
, do
bran
co e
do
pret
o. O
u nã
o pe
rceb
este
que
em
tudo
is
so o
s ex
trem
os s
ão ra
ros
e po
uco
num
eros
os, e
os
da m
edia
nia,
ext
rem
amen
te fr
eqüe
ntes
e
em g
rand
e nú
mer
o?
Perf
eita
men
te, r
espo
ndi.
E nã
o te
par
ece,
con
tinuo
u, q
ue s
e se
org
aniz
asse
um
con
curs
o de
mal
dade
, os
prim
eiro
s se
apr
esen
taria
m e
m n
úmer
o m
uito
redu
zido
?
É m
uito
pro
váve
l, re
spon
di.
Sim
, mui
to p
rová
vel,
cont
inuo
u. P
orém
não
é s
ob e
sses
asp
ecto
que
os
argu
men
tos
se
pare
cem
com
os
hom
ens.
Nes
te p
asso
não
fiz
senã
o se
guir
tua
orie
ntaç
ão. A
sem
elha
nça
cons
iste
no
segu
inte
: qua
ndo
se a
dmite
a e
xatid
ão d
e um
arg
umen
to, s
em s
er-s
e ve
rsad
o na
ar
te d
a di
alét
ica,
pod
e ac
onte
cer q
ue lo
go d
epoi
s el
e no
s pa
reça
fals
o, às
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es c
om
fund
amen
to, o
utra
s ve
zes
sem
nen
hum
, e d
epoi
s m
ais
outro
e m
ais
outra
da
mes
ma
natu
reza
. Com
o sa
bes,
é o
que
se v
erifi
ca c
om o
s di
sput
ador
es d
e ra
zões
con
tradi
tória
s, qu
e ac
abam
por
con
side
rar-
se o
s m
aior
es s
ábio
s, po
r ser
em o
s ún
icos
a re
conh
ecer
que
nad
a há
de
são
e fi
rme,
nem
nas
coi
sas,
nem
no
raci
ocín
io, e
ncon
trand
o-se
tudo
, em
ver
dade
, em
pe
rman
ente
agi
taçã
o, ta
l com
o se
dá
com
as
água
s do
Eur
ipo,
sem
per
man
ecer
nad
a, u
m s
ó in
stan
te, n
o m
esm
o es
tado
.
É m
uito
cer
to o
que
diz
es, o
bser
vei.
E se
, de
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, exi
ste
raci
ocín
io v
erda
deiro
e e
stáv
el, c
apaz
de
ser c
ompr
eend
ido,
não
se
ria d
e la
stim
ar, F
edão
, no
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de
ouvi
r alg
uém
ess
es a
rgum
ento
s qu
e or
a pa
rece
m
verd
adei
ros
ora
fals
os, e
m v
ez d
e in
culp
ar-s
e ou
à su
a pr
ópria
inca
paci
dade
, aca
bass
e po
r irr
itar-
se e
com
praz
er-s
e em
tira
r de
si a
cul
pa p
ara
lanç
ar n
o ra
cioc
ínio
, e p
assa
r, da
í por
di
ante
, o re
sto
da v
ida
a od
iá-l
o e
a de
prec
iá-l
o, c
om o
que
só
alca
nçar
ia p
rivar
-se
da
verd
ade
e do
con
heci
men
to d
as c
oisa
s?
Por Z
eus,
lhe
diss
e; s
eria
, de
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gra
nde
lást
ima.
XL
– A
ssim
, con
tinuo
u, d
e in
ício
pre
cisa
mos
aca
utel
ar-n
os c
ontra
sem
elha
nte
perig
o;
não
perm
itam
os o
ingr
esso
em
nos
sa a
lma
da id
éia
de q
ue n
ão h
á na
da s
ão e
m n
osso
ra
cioc
ínio
; dig
amos
, iss
o si
m, q
ue n
ós é
que
ain
da n
ão e
stam
os s
ufic
ient
emen
te s
ãos,
mas
qu
e de
vem
os e
sfor
çar-
nos
para
alc
ança
r ess
e de
side
rato
, tu
e os
dem
ais,
por c
ausa
da
vida
qu
e ai
nda
tend
es p
ela
fren
te; e
u, p
or m
otiv
o, ju
stam
ente
, da
mor
te. R
ecei
o m
uito
que
, ne
ste
mom
ento
em
que
a m
orte
é tu
do, n
ão m
e ha
ja c
omo
filós
ofo
ou a
mig
o da
sab
edor
ia.,
com
o se
dá
com
os
indi
vídu
os m
uito
igno
rant
es. E
stes
tais
, qua
ndo
deba
tem
alg
um te
ma,
não
se
preo
cupa
m a
bsol
utam
ente
de
sabe
r com
o sã
o, d
e fa
to, a
s co
isas
a re
spei
to d
e qu
e ta
nto
disc
utem
, sen
ão e
m d
eixa
r con
venc
idos
os
circ
unst
ante
s de
sua
s pr
ópria
s as
serç
ões.
Nis
so
põem
todo
o e
mpe
nho.
Eu,
tam
bém
, num
pon
to a
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s, ag
ora,
me
dife
renc
io d
eles
: não
me
esfo
rço
por d
emon
stra
r aos
pre
sent
es a
ver
dade
do
que
afirm
o, a
não
ser
com
o ac
essó
rio,
mas
por
con
venc
er-m
e, ta
nto
quan
to p
ossí
vel,
a m
im m
esm
o. M
eu c
álcu
lo, c
ompa
nhei
ro, é
o
segu
inte
; obs
erva
qua
nto
o ar
gum
ento
é in
tere
ssei
ro: S
e fo
r ver
dade
o q
ue e
u di
sse,
só
have
rá v
anta
gem
em
forta
lece
rmos
ess
a co
nvic
ção;
por
ém s
e na
da m
ais
houv
er d
epoi
s da
m
orte
, pel
o m
enos
não
impo
rtuna
rei o
s pr
esen
tes
com
min
has
lam
enta
ções
no
pouq
uinh
o de
tem
po q
ue a
inda
me
rest
a pa
ra v
iver
. Aliá
s, es
se e
stad
o de
coi
sas
não
vai d
urar
mui
to, o
qu
e se
ria m
au; a
caba
rá d
entro
de
pouc
o. P
repa
rado
des
se m
odo,
Sím
ias
e C
ebet
e,
cont
inuo
u, é
que
ace
itou
a di
scus
são.
Qua
nto
a vó
s ou
tros,
se m
e ac
eita
rdes
um
con
selh
o,
conc
edei
pou
ca a
tenç
ão a
Sóc
rate
s, po
rém
mui
to m
ais
a ve
rdad
e; s
e vo
s pa
rece
r que
há
verd
ade
no q
ue e
u di
go, c
onco
rdai
com
igo;
cas
o co
ntrá
rio, r
esis
ti qu
anto
pud
erde
s, ac
aute
land
o-vo
s pa
ra q
ue n
o m
eu e
ntus
iasm
o nã
o ve
nha
a en
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r-vo
s e
a m
im p
rópr
io e
m
e re
tire
com
o as
abe
lhas
, dei
xand
o em
todo
s vó
s o
agui
lhão
.
XLI
– P
orém
pro
ssig
amos
, con
tinuo
u. In
icia
lmen
te, l
embr
ai-m
e do
que
dis
sest
es, s
e vo
s pa
rece
r que
não
me
reco
rdo
mui
to b
em d
e tu
do, O
u m
uito
me
enga
no, S
ímia
s, ou
tens
dú
vida
s de
rece
io d
e qu
e a
alm
a, a
pesa
r de
mai
s be
la e
div
ina
do
que
o co
rpo,
per
eça
ante
s de
ste,
por
ser
um
a es
péci
e de
har
mon
ia. C
ebet
e te
rá a
dmiti
do q
ue a
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a é
mai
s du
ráve
l do
que
o co
rpo,
mas
que
nin
guém
pod
e sa
ber s
e de
pois
de
gast
ar s
uces
siva
men
te m
uito
s co
rpos
, não
aca
bará
tam
bém
por
des
apar
ecer
, qua
ndo
aban
dona
r o ú
ltim
o co
rpo,
vin
do a
ser
is
so, p
reci
sam
ente
, a m
orte
: a d
estru
ição
da
alm
a, v
isto
não
par
ar n
unca
o c
orpo
de
mor
rer.
Não
é is
so m
esm
o, S
ímia
s e
Ceb
ete,
o q
ue p
reci
sam
os e
xam
inar
?
Am
bos
conf
irmar
am a
per
gunt
a.
E os
arg
umen
tos
ante
riore
s, pr
osse
guiu
, ace
itai-o
s po
r jun
to, o
u ad
miti
s al
guns
e
reje
itai o
utro
s?
Alg
uns,
sim
, res
pond
eram
, out
ros
não.
E qu
e di
zeis
, ent
ão, c
ontin
uou,
daq
uilo
do
com
eço
de q
ue a
pren
der é
reco
rdar
, e q
ue
se fo
r ass
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nos
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lma
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tir e
m a
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ntes
de
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r pre
sa a
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rpo?
Qua
nto
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im, f
alou
Ceb
ete,
con
venc
este
-me
à mar
avilh
a co
m tu
a ex
posiç
ão, n
ão
have
ndo
outro
arg
umen
to q
ue a
té a
gora
me
tives
se d
espe
rtado
mai
or e
ntus
iasm
o.
Com
igo,
falo
u Sí
mia
s, dá
-se
a m
esm
a co
isa,
sen
do d
ifíci
l de
conc
eber
que
eu
venh
a a
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ar d
e op
iniã
o.
Entã
o, fa
lou
Sócr
ates
: No
enta
nto,
fora
stei
ro d
e Te
bas,
é o
que
terá
s de
faze
r, se
co
ntin
uare
s a
dize
r que
a h
arm
onia
é a
lgo
com
post
o, e
a a
lma,
um
a es
péci
e de
har
mon
ia
resu
ltant
e da
tens
ão d
os e
lem
ento
s co
nstit
utiv
os d
o co
rpo.
Poi
s de
certo
não
te p
erm
itirá
s af
irmar
que
a h
arm
onia
, sen
do u
m c
ompo
sto,
é a
nter
ior a
os e
lem
ento
s de
que
é fo
rmad
a.
Ou
afirm
arás
isso
mes
mo?
De
form
a al
gum
a, S
ócra
tes,
resp
onde
u.
E nã
o pe
rceb
es, c
ontin
uou,
que
é ju
stam
ente
o q
ue s
e dá
,qua
ndo
decl
aras
que
a a
lma
exis
tia a
ntes
de
ingr
essa
r no
corp
o do
hom
em e
de
lhe
assu
mir
a fo
rma,
por
ém é
com
post
a de
ele
men
tos
que
até
entã
o nã
o ex
istia
m?
Har
mon
ia n
ão é
o q
ue a
firm
as e
m tu
a co
mpa
raçã
o; a
o co
ntrá
rio: p
rimei
ro e
xist
em a
lira
, as
cord
as e
os
sons
, sem
nen
hum
a ha
rmon
ia. E
sta é
a ú
ltim
a a
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ar-s
e, c
omo
é ta
mbé
m a
que
des
apar
ece
mai
s ce
do. D
e qu
e m
odo
porá
s em
con
sonâ
ncia
est
a as
serç
ão c
om o
que
dis
sest
e an
tes?
Não
há
jeito
, res
pond
eu S
ímia
s.
No
enta
nto,
pro
sseg
uiu,
se
é pr
ecis
o ha
ver c
onso
nânc
ia, é
qua
ndo
se tr
ata
de
harm
onia
.
Sem
dúv
ida,
obs
ervo
u Sí
mia
s.
Tuas
pro
posi
ções
são
des
arm
ônic
as, d
isse
. Por
con
segu
inte
, qua
l del
as e
scol
hes:
a d
e qu
e ap
rend
er é
reco
rdar
ou
a de
que
a a
lma
é a
harm
onia
?
Sobr
e to
dos
os p
onto
s, Só
crat
es, e
u pr
efiro
a p
rimei
ra, p
orqu
e a
outra
foi a
ceita
sem
de
mon
stra
ção,
por
par
ecer
-me
vero
ssím
il e
algu
m ta
nto
conv
enie
nte,
razã
o de
adm
iti-l
a a
mai
oria
dos
hom
ens.
No
enta
nto,
est
ou c
erto
de
que
as d
emon
stra
ções
nes
sas
com
para
ções
nã
o pa
ssam
de
impo
stur
a, c
apaz
es d
e ilu
dir-
nos
se n
ão to
mar
mos
as
devi
das
prec
auçõ
es,
em g
eom
etria
com
em
tudo
mai
s. M
as o
arg
umen
to re
lativ
o ao
con
heci
men
to e
à re
min
iscên
cia
se b
asei
a nu
m p
rincí
pio
dign
o de
ace
itaçã
o, p
ois
foi a
ssev
erad
o qu
e no
ssa
alm
a ex
iste
ant
es m
esm
o de
ingr
essa
r no
corp
o, c
omo
o ex
ige
tua
rela
ção
com
a e
ssên
cia
daqu
ilo q
ue d
enom
inam
os O
que
é. O
ra, e
ssa
prop
osiç
ão, c
onfo
rme
esto
u co
nven
cido
, foi
po
r mim
ado
tada
com
arg
umen
tos
mui
to s
ólid
os. D
aí, v
er m
e fo
rçad
o, a
o qu
e pa
rece
, a n
ão
perm
itir q
ue n
em e
u, n
em n
ingu
ém a
firm
e qu
e a
alm
a é
harm
onia
.
XLI
I – E
o s
egui
nte,
Sím
ias,
perg
unto
u, c
omo
te p
arec
e: é
s de
opi
nião
que
a
harm
onia
, ou
qual
quer
out
ro c
ompo
sto,
pod
erá
proc
eder
de
man
eira
dife
rent
e da
dos
el
emen
tos
se q
ue é
feito
?
De
form
a al
gum
a.
Com
o ta
mbé
m n
ão p
oder
á, s
egun
do p
enso
, faz
er o
u so
frer
o q
ue q
uer q
ue s
eja
que
não
faça
m o
u so
fram
aqu
eles
ele
men
tos.
Con
cord
ou.
É qu
e nã
o co
mpe
te à
harm
onia
con
duzi
r os
elem
ento
s qu
e a
com
põem
, por
ém se
gui-
los.
Dec
laro
u-se
tam
bém
de
acor
do.
Logo
, de
nenh
um je
ito a
har
mon
ia p
oder
á m
over
-se
ou
soar
, ou
faze
r sej
a o
que
for
em c
ontrá
rio d
os e
lem
ento
s?
Não
com
pree
ndo,
dis
se.
Pois
não
é ce
rto q
ue s
e el
a es
tiver
mai
s ha
rmon
izad
a ou
em
gra
u m
aior
, a a
dmiti
rmos
qu
e se
ja p
ossí
vel s
emel
hant
e hi
póte
se, t
anto
mai
s ha
rmon
izad
a se
rá e
em
mai
or g
rau,
e s
e es
tiver
men
os e
em
gra
u m
enor
, ser
á m
enos
har
mon
izad
a e
em g
rau
men
or?
Perf
eita
men
te.
E da
alm
a, ju
stific
ar-s
e-á
dize
r a m
esm
a co
isa,
que
reve
la d
ifere
nça,
em
bora
mín
ima,
em s
er m
ais
alm
a e
em g
rau
mai
or d
o qu
e ou
tra, o
u m
enos
alm
a e
em g
rau
men
or, n
isso,
ju
stam
ente
, de
ser a
lma?
Nun
ca d
os n
unca
s, re
spon
deu.
Pass
emos
adi
ante
, con
tinuo
u, p
or Z
eus!
De
uma
alm
a nã
o di
zem
os q
ue é
dot
ada
de
razã
o e
de v
irtud
e, e
que
é b
oa, e
de
outra
, pel
o co
ntrá
rio, q
ue é
des
truíd
a de
sen
so, v
icio
sa
e m
á? E
não
est
ão c
erto
s os
que
afir
mam
sem
elha
nte
prop
osiç
ão?
Cer
tíssi
mo,
resp
onde
u.
Send
o as
sim
, os
que
adm
item
que
a a
lma
é ha
rmon
ia, c
omo
expl
icar
ão a
exi
stên
cia
dess
as q
ualid
ades
na
alm
a, a
sab
er, a
virt
ude
e o
víci
o? D
irão,
por
vent
ura,
que
se
trata
de
uma
harm
onia
ou
desa
rmon
ia d
e ou
tra e
spéc
ie?
Que
um
a de
las,
a bo
a, fo
i har
mon
izad
a e
que,
por
ser
har
mon
ia, p
ossu
i em
si m
esm
a es
sa m
odal
idad
e de
har
mon
ia, e
nqua
nto
a ou
tra,
por n
ão e
star
har
mon
izad
a, c
arec
e ab
solu
tam
ente
de
harm
onia
?
Não
sei
o q
ue re
spon
da, f
alou
Sím
ias;
por
ém q
uero
cre
r que
o a
dept
o de
ssa
dout
rina
se e
xpre
ssar
ia m
ais
ou m
enos
nes
ses
term
os.
No
enta
nto,
num
pon
to já
fica
mos
de
acor
do, c
ontin
uou:
que
nen
hum
a al
ma
é m
ais
alma
ou m
enos
alm
a do
que
out
ra, o
que
eqü
ival
e a
ace
itar q
ue n
enhu
ma
harm
onia
pod
erá
ser m
ais h
arm
onia
ou
mai
or –
ou
o in
vers
o –
do q
ue o
utra
, não
é v
erda
de?
Perf
eita
men
te.
Ora
, se
a ha
rmon
ia n
ão a
dmite
gra
us, n
ão s
e co
nceb
e, ta
mbé
m, q
ue p
ossa
fica
r mai
s ou
men
os h
arm
oniz
ada.
Não
é is
so m
esm
o?
Cer
to.
Mas
a h
arm
onia
que
não
for n
em m
ais h
arm
oniz
ada
nem
men
os, p
oder
á pa
rtici
par e
m
grau
dife
rent
e da
har
mon
ia, o
u se
mpr
e o
fará
na
mes
ma
prop
orçã
o?
Na
mes
ma.
Send
o as
sim
, a a
lma,
um
a ve
z qu
e nã
o se
rá is
so m
esm
o, a
lma,
nem
mai
s nem
men
os,
do q
ue o
utra
, tam
bém
não
pod
erá
ser m
ais
ou m
enos
har
mon
izad
a.
Exat
o.
Don
de v
em q
ue n
ão p
artic
ipar
á em
gra
u m
aior
nem
da
harm
onia
nem
da
desa
rmon
ia.
Não
, de
fato
.
Nes
sas
cond
içõe
s, ai
nda,
com
o po
deria
um
a al
ma
parti
cipa
r em
gra
u m
aior
ou
men
or
do q
ue o
utra
, da
virtu
de o
u do
víc
io, s
e o
víci
o fo
r des
arm
onia
e a
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ude,
har
mon
ia?
Não
é p
ossí
vel.
Logo
, Sím
ias,
se b
em c
onsi
dera
rmos
, nun
ca a
alm
a po
derá
par
ticip
ar d
o ví
cio,
se
ela
for,
de fa
to, h
arm
onia
, poi
s a
harm
onia
, evi
dent
emen
te, s
endo
sem
pre
de m
anei
ra p
erfe
ita o
qu
e é,
a s
aber
, har
mon
ia, n
ão p
artic
ipar
á da
des
arm
onia
.
Não
, de
fato
.
Com
o nã
o po
derá
a a
lma,
por
ser
tota
lmen
te a
lma,
par
ticip
ar d
o ví
cio.
Com
o o
pode
ria, d
e ac
ordo
com
o q
ue d
isse
mos
ant
es?
Com
o de
corr
ênci
a, p
orta
nto,
de
noss
o ar
gum
ento
ant
erio
r, as
alm
as d
e to
dos
os s
eres
vi
vos
são
igua
lmen
te b
oas,
se fo
rem
, por
nat
urez
a, ig
ualm
ente
alm
as.
É ta
mbé
m o
que
eu
pens
o, S
ócra
tes,
resp
onde
u.
E pa
rece
r-te
-ia
tam
bém
cer
ta a
exp
licaç
ão, c
ontin
uou,
e q
ue n
osso
arg
umen
to v
iria
a pa
rar n
isso
, se
foss
e ve
rdad
eira
a h
ipót
ese
de q
ue a
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a é
harm
onia
?
De
form
a al
gum
a, re
spon
deu.
XLI
I – E
ago
ra, f
alou
, de
tudo
o q
ue h
á no
hom
em, n
ão d
irás
ser a
alm
a, ju
stam
ente
, qu
e do
min
a, m
áxim
e qu
ando
dot
ada
de p
rudê
ncia
?
É o
que
diria
, sem
dúv
ida.
De
que
mod
o: c
onde
scen
dend
o co
m o
s ap
etite
s do
cor
po o
u, d
e pr
efer
ênci
a, o
pond
o-lh
es re
sist
ênci
a? O
que
dig
o é
o se
guin
te: s
e o
corp
o se
nte
calo
r ou
sede
, ela
o p
uxa
para
trá
s, pa
ra n
ão b
eber
, e s
e te
m fo
me,
par
a nã
o co
mer
, e n
uma
infin
idad
e de
situ
açõe
s co
mo
essa
vem
os a
alm
a op
or-s
e às
pai
xões
do
corp
o. O
u nã
o?
Perf
eita
men
te.
Por o
utro
lado
, não
adm
itim
os a
ntes
que
, no
caso
de
ser h
arm
onia
, nun
ca p
oder
ia
ficar
a a
lma
em d
isso
nânc
ia c
om a
s te
nsõe
s, os
rela
xam
ento
s e
as v
ibra
ções
de
seus
el
emen
tos
com
pone
ntes
, e q
ue, p
elo
cont
rário
, ela
sem
pre
os s
egui
ria, s
em n
unca
diri
gi-l
os?
Adm
itim
os is
so, p
or q
ue n
ão?
E ag
ora?
O q
ue v
erifi
cam
os n
ão é
que
ela
faz
prec
isam
ente
o c
ontrá
rio, d
irigi
ndo
todo
s os
ele
men
tos
de q
ue a
imag
inam
os c
ompo
sta,
opo
ndo-
se-l
hes
em q
uase
tudo
dur
ante
a
vida
inte
ira e
dom
inan
do-o
s de
mil
mod
os, à
s ve
zes
por m
eio
de c
astig
os v
iole
ntos
e
dolo
roso
s, do
âm
bito
da
giná
stic
a e
da m
edic
ina,
às v
ezes
por
mei
os s
uasó
rios,
com
amea
ças
ou a
dmoe
staç
ões,
em fr
anco
diá
logo
com
os
apet
ites,
as c
óler
as e
os
tem
ores
? É
com
o im
agin
a H
omer
o iss
o m
esm
o na
Odi
sséi
a qu
ando
diz
que
Odi
sseu
.
Bat
e, in
dign
ado,
no
peito
e a
si p
rópr
io d
esta
arte
se
expr
ime:
Sê, c
oraç
ão, p
acie
nte,
poi
s vi
da m
ais
baix
a e
mes
quin
ha já
sup
orta
ste.
Pens
as, e
ntão
, que
, ao
com
por e
ssa
pass
agem
, ele
con
side
rava
a a
lma
uma
espé
cie
de
harm
onia
, cap
az d
e se
r diri
gida
pel
as d
ispo
siçõ
es d
o co
rpo,
ou
o co
ntrá
rio, p
rópr
ia p
ara
dirig
i-lo
e do
min
á-lo
, por
ser
alg
o, ju
stam
ente
, mui
to m
ais
divi
no d
o qu
e um
a sim
ples
ha
rmon
ia?
Por Z
eus,
Sóc
rate
s, é
tam
bém
o q
ue e
u pe
nso.
Por c
onse
guin
te, m
eu c
aro,
de
jeito
nen
hum
fica
rá b
em p
ara
nós
afirm
ar q
ue a
alm
a é
uma
espé
cie
de h
arm
onia
. Poi
s de
sse
mod
o, a
o qu
e pa
rece
, não
nos
por
íam
os n
em d
e ac
ordo
com
Hom
ero,
o d
ivin
o po
eta,
nem
mes
mo
cono
sco.
É m
uito
cer
to, d
isse
.
XLI
V –
Mui
to b
em, f
alou
Sóc
rate
s; tu
do in
dica
que
Har
mon
ia, a
div
inda
de te
bana
, já
se n
os to
rnou
pro
píci
a. E
ago
ra, C
ebet
e, c
ontin
uou,
de
que
jeito
apl
acar
emos
Cad
mo,
e c
om
que
argu
men
tos?
Tenh
o ce
rteza
de
que
tu m
esm
o os
enc
ontra
rás
falo
u C
ebet
e. T
ua a
rgum
enta
ção
a re
spei
to d
a ha
rmon
ia fo
i not
ável
; ultr
apas
sou
de m
uito
min
ha e
xpec
tativ
a. Q
uand
o Sí
mia
s te
opô
s s
uas
dific
ulda
des,
eu ti
nha
quas
e ce
rteza
que
não
ser
ia p
ossí
vel r
efut
ar a
teor
ia p
or
ele
apre
sent
ada.
Daí
min
ha g
rand
e su
rpre
sa, p
or v
er q
ue e
la n
ão re
sistiu
ao
prim
eiro
ass
alto
da
tua.
Nad
a m
e ad
mira
ria, p
or c
onse
guin
te, s
e ac
onte
cess
e a
mes
ma
cois
a co
m o
ar
gum
ento
de
Cad
mo.
Não
fale
s de
mai
s, ca
ro a
mig
o, in
terp
elou
-o S
ócra
tes,
para
que
alg
um m
au-o
lhad
o nã
o ve
nha
desa
rticu
lar n
osso
pró
xim
o di
scur
so. P
orém
dei
xem
os is
so a
car
go d
a di
vind
ade;
o
que
nos
com
pete
é c
ongr
egar
esf
orço
s, co
mo
acon
selh
a H
omer
o, p
ara
ver o
que
dis
sest
e te
m a
lgum
val
or. R
esum
e-se
no
segu
inte
o q
ue p
rocu
ras:
Exi
ges
prov
as d
e qu
e no
ssa
alm
a é
impe
recí
vel e
imor
tal,
para
que
o fi
lóso
fo q
ue e
stej
a no
pon
to d
e m
orre
r se
enco
raje
e
acre
dite
que
dep
ois
da m
orte
se
sent
irá m
uito
mel
hor n
o ou
tro m
undo
do
que
se v
ives
se d
e m
anei
ra d
ifere
nte
até
o fim
, e n
ão s
e m
ostre
cor
ajos
o po
r mod
o es
tulto
e ir
raci
onal
. A
dem
onst
raçã
o de
que
a a
lma
é al
go fo
rte e
sem
elha
nte
à div
inda
de, e
que
exi
stia
ant
es d
e no
s to
rnam
os h
omen
s, nã
o im
pede
, seg
undo
dis
sest
e, q
ue tu
do is
so n
ão p
rova
que
ela
sej
a m
orta
l, m
as tã
o-so
men
te q
ue é
rela
tivam
ente
dur
ável
e q
ue a
ntes
pod
erá
ter v
ivid
o al
gure
s um
tem
po in
defin
ido
e ap
rend
ido
e pr
atic
ado
mui
ta c
oisa
. Mas
nem
por
isso
ser
á im
orta
l. Se
u in
gres
so n
o co
rpo
pode
rá s
er o
com
eço
de s
ua p
rópr
ia d
estru
ição
, um
a es
péci
e de
do
ença
. Ass
im, c
ansa
da d
e ca
rreg
ar o
fard
o de
sta
vida
, aca
bará
por
des
apar
ecer
no
que
deno
min
amos
mor
te C
onfo
rme
dize
s, é
indi
fere
nte
ingr
essa
r ela
no
corp
o um
a só
vez
ou
mui
tas,
no q
ue re
spei
te a
o m
edo
que
todo
s nó
s m
anife
stam
os. A
liás,
just
ifica
-se
esse
med
o,
a m
enos
que
se
trate
de
pess
oa in
sens
ata,
por
não
est
arm
os e
m c
ondi
ções
de
dem
onst
rar q
ue
a al
ma
é im
orta
l. Es
se é
, mai
s ou
men
os, C
ebet
e, o
sen
tido
de tu
as p
alav
ras.
De
caso
pens
ado,
insi
sto
no m
esm
o ar
gum
ento
s, pa
ra q
ue n
ão n
os e
scap
e ne
nhum
a pa
rticu
larid
ade
e po
ssas
, cas
o qu
eira
s, ac
resc
enta
r ou
tirar
alg
uma
cois
a.
Ao
que
Ceb
ete
resp
onde
u: P
or e
nqua
nto,
nad
a te
nho
a ac
resc
enta
r ou
a re
tirar
; foi
is
so m
esm
o qu
e eu
dis
se.
XLV
– D
uran
te a
lgum
tem
po S
ócra
tes
se c
onse
rvou
cal
ado,
com
o se
refle
tisse
a s
ós
cons
igo.
Dep
ois
cont
inuo
u: O
pro
blem
a co
m q
ue te
ocu
pas,
Ceb
ete,
é d
e su
ma
impo
rtânc
ia;
prec
isar
emos
inve
stig
ar a
fund
o a
natu
reza
do
nasc
imen
to e
da
mor
te. S
e te
r par
ecer
, vou
co
ntar
-te
o qu
e se
pas
sou
com
igo
ness
e pa
rticu
lar.
Dep
ois,
se a
char
es o
que
eu
diss
er d
e al
gum
a ut
ilida
de p
ara
refo
rçar
a tu
a te
se, p
odes
util
izá-
los
com
o be
m e
nten
dere
s.
Não
des
ejo
outra
coi
sa, f
alou
Ceb
ete.
Entã
o, o
uve
o qu
e pa
sso
a re
lata
r-te
. O fa
to, C
ebet
e, é
qua
ndo
eu e
ra m
oço
sent
ia-m
e to
mad
o do
des
ejo
irres
istív
el d
e ad
quiri
r ess
e co
nhec
imen
to a
que
dão
o n
ome
de H
istó
ria
Nat
ural
. Afig
urav
a-se
-me,
real
men
te, m
arav
ilhos
o co
nhec
er a
cau
sa d
e tu
do, o
por
quê
do
nasc
imen
to e
da
mor
te d
e ca
da c
oisa
, e a
razã
o de
exi
stire
m. V
ezes
sem
con
ta m
e pu
nha
a re
fletir
em
todo
s os
sen
tidos
, ini
cial
men
te a
resp
eito
de
ques
tões
com
o a
segu
inte
: Ser
á qu
ando
o c
alor
e o
frio
pas
sam
por
um
a es
péci
e de
ferm
enta
ção,
con
form
e al
guns
afir
mam
, qu
e se
form
am o
s an
imai
s? É
por
mei
o do
san
gue
que
pens
amos
? O
u do
ar?
Ou
do fo
go?
Ou
nada
dis
so e
star
á ce
rto, v
indo
a s
er o
cér
ebro
que
dá
orig
em às
sen
saçõ
es d
a vi
sta,
do
ouvi
do e
do
olfa
to, d
as q
uais
sur
giria
a m
emór
ia e
a o
pini
ão, e
, da
mem
ória
e d
a op
iniã
o,
uma
vez,
torn
adas
cal
mas
, nas
ceria
o c
onhe
cim
ento
? D
e se
guid
a, o
cupe
i-me
com
a
corr
upçã
o da
s co
isas
e c
om a
s m
odifi
caçõ
es d
o cé
u e
da te
rra,
par
a ch
egar
à co
nclu
são
de
que
nada
de
prov
eito
so s
e tir
ava
de m
inha
inap
tidão
par
a co
nsid
eraç
ões
dess
a na
ture
za.
Vou
dar
-te
uma
prov
a el
oque
nte
diss
o m
esm
o. P
ara
as c
oisa
s qu
e, s
egun
do m
eu p
rópr
io
pare
cer e
de
outra
s pe
ssoa
s, eu
con
heci
a be
m, a
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onto
me
deix
aram
ceg
o se
mel
hant
es
espe
cula
ções
, que
che
guei
a d
esap
rend
er a
té m
esm
o o
que
ante
s eu
pre
sum
ia c
onhe
cer,
entre
out
ras,
por e
xem
plo,
por
que
o h
omem
cre
sce.
Até
ent
ão, e
u im
agin
ava
ser e
vide
nte
para
toda
gen
te q
ue o
hom
em c
re3s
ce p
orqu
e co
me
e be
be; p
ois
quan
do, p
ela
alim
enta
ção,
a
carn
e se
junt
a à c
arne
e o
oss
o ao
oss
o, e
, sem
pre
de a
cord
o co
m o
mes
mo
proc
esso
, as
dem
ais
parte
s do
cor
po s
ão a
cres
cida
s de
ele
men
tos
afin
s, a
mas
sa q
ue a
ntes
era
peq
uena
se
torn
a vo
lum
osa,
do
que
resu
lta fi
car g
rand
e o
hom
em p
eque
no. E
ra a
ssim
que
eu
pens
ava.
N
ão te
par
ece
razo
ável
?
Sem
dúv
ida,
falo
u C
ebet
e.
Ref
lete
tam
bém
no
segu
inte
: Sem
pre
cons
ider
ei s
ufic
ient
e, q
uand
o al
guém
par
ecia
al
to a
o la
do d
e ou
tra p
esso
a de
peq
uena
est
atur
a, d
izer
que
a u
ltrap
assa
va d
e um
a ca
beça
, o
mes
mo
acon
tece
ndo
com
um
cav
alo
em c
onfr
onto
com
o o
utro
. Mai
s cl
aram
ente
, ain
da: o
nú
mer
o de
z se
me
afig
urav
a m
aior
do
que
o nú
mer
o oi
to p
or a
junt
ar-s
e do
is a
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e úl
timo,
co
mo
o cú
bito
dup
lo s
eria
mai
or d
o qu
e o
sim
ples
por
ultr
apas
sá-l
o de
met
ade.
E ag
ora,
per
gunt
ou C
ebet
e, c
omo
te p
arec
e?
Com
o es
tou
long
e, p
or Z
eus,
cont
inuo
u, d
e im
agin
ar q
ue c
onhe
ço a
cau
sa d
e tu
do
isso
! Poi
s nu
nca
cheg
o a
com
pree
nder
, no
caso
de
acre
scen
tar u
ma
unid
ade
a ou
tra, s
e é
a
unid
ade
a qu
e es
ta ú
ltim
a fo
i acr
esce
ntad
a qu
e se
torn
ou d
uas,
ou s
e fo
i a a
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cent
ada,
ju
ntam
ente
com
a p
rimei
ra, q
ue fi
cara
m d
uas,
pelo
fato
de
uma
ter s
ido
acre
scen
tada
à ou
tra. N
ão p
odia
ent
ende
r que
, est
ando
sep
arad
as, c
ada
uma
era
uma
unid
ade,
não
dua
s, e
que
o fa
to d
e fic
arem
junt
as fo
i a c
ausa
de
se to
rnar
em d
uas,
a sa
ber,
por t
erem
sid
o po
stas
la
do a
lado
. Do
mes
mo
mod
o, n
ão c
onse
guia
con
venc
er-m
e de
ser
ess
a a
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a de
torn
ar-s
e du
as a
uni
dade
, a s
aber
: a d
ivis
ão. S
eria
pre
cisa
men
te o
opo
sto
do q
ue a
ntes
nos
ens
ejar
a du
as u
nida
des:
naq
uela
oca
sião
, foi
isso
con
segu
ido
por s
e ap
roxi
mar
em a
s du
as e
fica
rem
la
do a
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; ago
ra, p
orém
, a c
ausa
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sep
araç
ão e
o a
fast
amen
to d
elas
dua
s. A
ssim
, ta
mbé
m, n
ão a
cred
ito s
aber
com
o se
ger
a a
unid
ade,
nem
, par
a di
zer t
udo,
com
o na
sce
ou
mor
re o
u ex
iste
sej
a o
que
for,
a ac
eita
rmos
o p
rincí
pio
dess
e m
étod
o. P
refir
o ar
risca
r-m
e no
utra
dire
ção;
ess
e ca
min
ho n
ão m
e se
rve.
XLV
I – A
o ou
vir,
poré
m, c
erta
vez
alg
uém
ler n
um li
vro
de A
naxá
gora
– s
egun
do
dizi
a –
que
a m
ente
é o
rgan
izad
ora
e ca
usa
de tu
do, f
ique
i sat
isfe
itíss
imo
com
sem
elha
nte
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a, p
or p
arec
er-m
e de
alg
um m
odo,
mui
to c
erto
que
a m
ente
foss
e a
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a de
tudo
, te
ndo
imag
inad
o qu
e, a
ser
ass
im m
esm
o, c
omo
coor
dena
dora
do
Uni
vers
o, a
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te
disp
oria
cad
a co
isa
parti
cula
r pel
a m
elho
r man
eira
pos
síve
l. Se
alg
uém
qui
sess
e ex
plic
ar a
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de c
omo
algu
ma
cois
a na
sce
ou m
orre
ou
exis
te, t
eria
ape
nas
de d
esco
brir
qual
é a
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elho
r man
eira
par
a el
a de
exi
stir,
sof
rer o
u pr
oduz
ir se
ja o
que
for.
Segu
ndo
esse
crit
ério
, só
o q
ue im
porta
ao
hom
em c
onsi
dera
r, ta
nto
em re
laçã
o a
si m
esm
o co
mo
a tu
do o
mai
s, é
o m
odo
mel
hor e
mai
s pe
rfei
to. D
esse
jeito
, fic
aria
nec
essa
riam
ente
con
hece
ndo
o pi
or, p
or
ambo
s se
rem
obj
eto
do m
esm
o co
nhec
imen
to. D
epoi
s de
ssas
refle
xões
, ale
grei
-me
ao
pens
ar q
ue h
avia
enc
ontra
do e
m A
naxá
gora
s um
pro
fess
or d
a ca
usa
das
cois
as c
omo
havi
a m
uito
eu
dese
java
, que
com
eçar
ia p
or d
izer
-me
se a
Ter
ra é
cha
ta o
u re
dond
a, e
dep
ois
me
expl
icar
ia a
cau
sa e
a n
eces
sida
de d
essa
form
a, re
corr
endo
sem
pre
ao p
rincí
pio
do m
elho
r, co
m d
emon
stra
r que
par
a a
Terr
a er
a m
elho
r mes
mo
ser a
ssim
. No
caso
de
dize
r que
a
Terr
a se
enc
ontr
a no
cen
tro, e
xplic
aria
por
que
mot
ivo
é m
elho
r par
a el
a fic
ar n
o ce
ntro
. Se
ele
me
dem
onst
rass
e es
se p
onto
, dec
idir
-me-
ia, d
e um
a ve
z po
r tod
as, a
não
pro
cura
r out
ra
espé
cie
de c
ausa
. O m
esm
o fa
ria c
om re
laçã
o ao
Sol
, à L
ua, e
aos
out
ros
astro
s, no
que
diz
resp
eito
à su
a ve
loci
dade
rela
tiva,
o p
onto
de
conv
ersã
o e
dem
ais
acid
ente
a q
ue e
stão
su
jeito
s, be
m c
omo
a ra
zão
de s
er m
elho
r par
a ca
da u
m d
eles
faze
r o q
ue fa
zem
ou
sofr
er o
qu
e so
frem
. Um
mom
ento
seq
uer n
ão p
odia
adm
itir q
ue, d
epoi
s de
afir
mar
que
tudo
est
á or
dena
do p
ela
men
te, i
ndic
asse
out
ra c
ausa
que
não
a d
e se
r mel
hor p
ara
tudo
pro
cede
r co
mo
proc
edem
. Ao
atrib
uir u
ma
caus
a pa
rticu
lar a
cad
a co
isa
e ao
con
junt
o, e
stav
a ce
rto
de q
ue n
o m
esm
o po
nto
dem
onst
raria
o q
ue p
ara
cada
um
era
mel
hor e
em
que
con
sistia
pa
ra to
dos
o be
m c
omum
. Por
nad
a do
mun
do a
briri
a m
ão d
essa
esp
eran
ça. P
or is
so,
have
ndo
tom
ado
do li
vro
com
sof
regu
idão
, li-
o de
um
fôle
go, p
ara
pode
r fic
ar c
onhe
cend
o,
o m
ais
depr
essa
pos
síve
l, ta
nto
o m
elho
r com
o p
ior.
XLV
II –
Por
ém, n
ão d
emor
ei, c
ompa
nhei
ro, a
cai
r do
alto
des
sa m
arav
ilhos
a ex
pect
ativ
a, a
o pr
osse
guir
na le
itura
e v
erifi
car q
ue o
nos
so h
omem
não
reco
rria
à m
ente
pa
ra n
ada,
nem
a q
ualq
uer o
utra
cau
sa p
ara
a ex
plic
ação
da
orde
m n
atur
al d
as c
oisa
s, se
não
só o
ar,
ao é
ter,
à águ
a, e
um
a in
finid
ade
mai
s de
cau
sas
extra
vaga
ntes
. Qui
s pa
rece
r-m
e qu
e co
m e
le a
cont
ecia
com
o co
m q
uem
com
eças
se p
or d
ecla
rar q
ue tu
do o
que
Sóc
rate
s fa
z é
dete
rmin
ado
pela
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ligên
cia,
par
a de
pois
, ao
tent
ar a
pres
enta
r a c
ausa
de
cada
um
dos
m
eus
atos
, afir
mar
, de
iníc
io, q
ue a
razã
o de
enc
ontra
r-m
e se
ntad
o ag
ora
nest
e lu
gar é
ter o
co
rpo
com
post
o de
oss
os e
mús
culo
s, p
or s
erem
os
osso
s du
ros
e se
para
dos
uns
dos
outro
s
pela
s ar
ticul
açõe
s, e
os m
úscu
los
de ta
l mod
o co
nstit
uído
s qu
e po
dem
con
trair
-se
ou
rela
xar-
se, e
por
cob
rirem
os
osso
s, ju
ntam
ente
com
a c
arne
e a
pel
e qu
e os
env
olve
m.
Send
o m
óvei
s os
oss
os e
m s
uas
artic
ulaç
ões,
pela
con
traçã
o ou
rela
xam
ento
dos
mús
culo
s fic
o em
con
diçõ
es d
e do
brar
nes
te m
omen
to o
s m
embr
os, r
azão
de
esta
r ago
ra s
enta
do a
qui
com
as
pern
as fl
ectid
as. A
mes
ma
cois
a se
dar
ia, s
e a
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de
noss
a co
nver
saçã
o in
dica
sse
com
o ca
usa
a vo
z, o
ar,
os s
ons,
e m
il ou
tras
parti
cula
ridad
es d
o m
esm
o tip
o,
poré
m s
e es
quec
esse
de
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cion
ar a
s ve
rdad
eira
s ca
usas
, a s
aber
: pel
o fa
to d
e ha
vere
m
acor
dado
os
Ate
nien
ses
em c
onde
nar-
me,
par
eceu
-me,
tam
bém
, mel
hor f
icar
sen
tado
aqu
i, e
mai
s ju
sto
subm
eter
-se
nest
e lo
cal à
pen
a co
min
ada.
Sim
, é is
so, p
elo
cão!
Poi
s de
mui
to,
quer
o cr
er, e
ste
mús
culo
s e
este
s os
sos
esta
riam
em
Még
ara
ou e
ntre
o B
eóci
os, m
ovid
os
pela
idéi
a do
mel
hor,
se n
ão m
e pa
rece
sse
mui
to m
ais
just
o e
belo
, em
vez
de
evad
ir-m
e e
fugi
r, su
bmet
er-m
e à p
ena
que
a ci
dade
me
impu
sera
. É o
cúm
ulo
do a
bsur
do d
ar o
nom
e de
cau
sa a
sem
elha
ntes
coi
sas.
Se a
lgué
m d
isse
sse
que
sem
oss
os e
mús
culo
s e
tudo
o m
ais
que
tenh
o no
cor
po e
u nã
o se
ria c
apaz
de
pôr e
m p
rátic
a ne
nhum
a re
solu
ção,
só
fala
ria
verd
ade.
Por
ém a
firm
ar q
ue é
por
cau
sa d
isso
que
eu
faço
o q
ue e
u fa
ço, e
que
, ass
im
proc
eden
do, m
e va
lho
da in
telig
ênci
a, p
orém
não
em
virt
ude
da e
scol
ha d
o m
elho
r, é
leva
r ao
ext
rem
o a
impr
ecisã
o da
ling
uage
m e
reve
lar-
se in
capa
z de
com
pree
nder
que
um
a co
isa
é a
verd
adei
ra c
ausa
, e o
utra
, mui
to d
ifere
nte,
aqu
ilo q
ue s
em a
cau
sa ja
mai
s po
derá
ser
ca
usa.
A m
eu p
arec
er, é
just
amen
te is
so o
que
faz
a m
aior
ia d
os h
omen
s, co
mo
que
a ta
tear
na
s tre
vas,
empr
egan
do u
m te
rmo
impr
óprio
e o
des
igna
ndo
com
o ca
usa.
Daí
, env
olve
r um
de
les
a Te
rra n
um tu
rbilh
ão e
dei
xá-l
a im
óvel
deb
aixo
do
céu,
enq
uant
o ou
tro a
con
cebe
à m
anei
ra d
e um
a ga
mel
a la
rga,
que
tem
com
o su
porte
o a
r. Q
uant
o à p
otên
cia
que
dete
rmin
ou a
atu
al d
ispo
siçã
o da
s co
isas
pel
a m
elho
r man
eira
, nem
a p
rocu
ram
nem
co
nceb
em q
ue s
eja
dota
da d
e al
gum
pod
er s
uper
ior,
por s
e ju
lgar
em c
apaz
es d
e en
cont
rar
algu
m A
tlant
e m
ais f
orte
e m
ais i
mor
tal d
o qu
e el
a, p
ara
man
ter c
oeso
o c
onju
nto
das
cois
as. M
as q
ue o
bem
, de
fato
, e a
nec
essi
dade
aba
rque
m e
ligu
em to
das
as c
oisa
s, é
o qu
e nã
o ad
mite
m d
e ne
nhum
mod
o. D
e m
inha
par
te, p
ara
ficar
sab
endo
com
o at
ua s
emel
hant
e ca
usa,
de
mui
to b
om g
rado
me
faria
dis
cípu
lo d
e qu
em q
uer q
ue fo
sse.
Mas
, um
a ve
z qu
e nã
o a
conh
eço
nem
me
acho
em
con
diçõ
es d
e de
scob
ri-la
por
mim
pró
prio
nem
de
apre
nder
co
m o
utro
s o
que
ela
seja
: que
res
que
te fa
ça u
ma
desc
rição
com
plet
a, C
ebet
e, d
e co
mo
empr
eend
i o s
egun
do ro
teiro
de
nave
gaçã
o pa
ra a
inve
stig
ação
da
caus
a?
Não
há
o qu
e eu
mai
s de
seje
, res
pond
eu.
XLV
III –
De
segu
ida,
con
tinuo
u, já
can
sado
de
cons
ider
ar a
s co
isas
, hou
ve q
ue e
ra
prec
iso
prec
atar
-me
para
não
aco
ntec
er c
omig
o o
que
se d
á co
m a
s pe
ssoa
s qu
e ob
serv
am e
co
ntem
plam
o S
ol q
uand
o há
ecl
ipse
: por
vez
es p
erde
m a
vis
ta, s
e nã
o ol
ham
ape
nas
para
a
imag
em d
ele
na á
gua
ou n
algu
m m
eio
sem
elha
nte.
Pen
sei n
essa
pos
sibili
dade
e re
ceei
fica
r co
m a
lma
inte
iram
ente
ceg
a, s
e fix
asse
os
olho
s na
s co
isas
e p
rocu
rass
e al
canç
á-la
s po
r m
eio
de u
m d
os s
entid
os. P
arec
eu-m
e ac
onse
lháv
el a
colh
er-m
e ao
pen
sam
ento
, par
a ne
le
cont
empl
ar a
ver
dade
ira n
atur
eza
das
cois
as. É
mui
to p
rová
vel q
ue m
inha
com
para
ção
clau
diqu
e um
pou
co, p
ois
esto
u lo
nge
de a
dmiti
r que
que
m c
onsi
dera
as
cois
as p
or m
eio
do
pens
amen
to s
ó co
ntem
ple
suas
imag
ens,
o qu
e nã
o se
dá
com
que
as
vê n
a re
alid
ade.
De
qual
quer
mod
o, m
eu c
amin
ho fo
i ess
e. E
m c
ada
caso
par
ticul
ar, p
arto
sem
pre
do p
rincí
pio
que
se m
e af
igur
a m
ais
forte
, con
side
rand
o ve
rdad
eiro
o q
ue c
om e
le c
onco
rda,
ou
se tr
ate
de c
ausa
s ou
do
que
for,
e co
mo
fals
o o
que
não
afin
a co
m e
le. V
ou e
xpor
-te
com
mai
or
clar
eza
min
ha m
anei
ra d
e pe
nsar
, poi
s qu
er p
arec
er-m
e qu
e nã
o a
apre
ende
ste
mui
to b
em.
Não
mui
to, p
or Z
eus,
resp
onde
u C
ebet
e.
XLI
X –
No
enta
nto,
pro
sseg
uiu,
o q
ue e
u di
go n
ão é
nov
o, m
as o
que
sem
pre
afirm
ei,
tant
o no
utra
s oc
asiõ
es c
omo
em n
ossa
arg
umen
taçã
o re
cent
e. V
ou te
ntar
mos
trar-
te a
na
ture
za d
a ca
usa
por m
im e
stud
ada,
vol
tand
o a
trata
r daq
uilo
mes
mo
de q
ue te
nho
fala
do
toda
a v
ida,
par
a, d
e sa
ída,
adm
itir q
ue e
xist
e o
belo
em
si,
e o
bem
, e o
gra
nde,
e tu
do o
m
ais
da m
esm
a es
péci
e. S
e m
e ac
eita
res
esse
pon
to e
con
cord
ares
que
exi
stem
, ten
ho
espe
ranç
a de
mos
trar-
te a
cau
sa e
pro
var a
imor
talid
ade
da a
lma.
Adm
ite q
ue já
con
cedi
tudo
, fal
ou C
ebet
e, p
ara
não
atra
sare
s a
inda
mai
s tu
a ex
posi
ção.
Entã
o, c
onsi
dera
o q
ue s
e se
gue,
con
tinuo
u, p
ara
ver s
e es
tás
de a
cord
o co
mig
o. O
qu
e m
e pa
rece
é q
ue s
e ex
iste
alg
o be
lo a
lém
do
belo
em
si,
só p
oder
á se
r bel
o po
r pa
rtici
par d
o be
lo e
m s
i. O
mes
mo
afirm
o de
tudo
o m
ais.
Adm
ites
essa
esp
écie
de
caus
a?
Adm
ito, r
espo
ndeu
.
Entã
o, já
não
com
pree
ndo,
con
tinuo
u, a
s ou
tras
caus
as, d
e pu
ra e
rudi
ção,
nem
co
nsig
o ex
plic
á-la
s. E
se, p
ara
justi
ficar
a b
elez
a de
alg
uma
coisa
, alg
uém
me
fala
r de
sua
cor b
rilha
nte,
ou
da fo
rma,
ou
do q
ue q
uer q
ue s
eja,
dei
xo tu
do o
mai
s de
lado
, que
só
cont
ribui
par
a at
rapa
lhar
-me,
e m
e at
enho
úni
ca e
sim
ples
men
te, t
alve
z m
esm
o co
m u
ma
boa
dose
de
inge
nuid
ade,
ao
meu
pon
to d
e vi
sta,
a s
aber
, que
nad
a m
ais
a de
ixa
bela
sen
ão
tão
só a
pre
senç
a ou
com
unic
ação
daq
uela
bel
eza
em si
m, q
ualq
uer q
ue se
ja o
mei
o ou
ca
min
ho d
e se
lhe
acre
scen
tar.
De
tudo
o m
ais
não
faço
gra
nde
cabe
dal;
o qu
e di
go é
que
é
pela
bel
eza
em s
i que
as
cois
as b
elas
são
bel
as. N
a m
inha
opi
nião
, ess
a é
a m
anei
ra m
ais
certa
de
resp
onde
r, ta
nto
a m
im m
esm
o co
mo
aos
outro
s. Fi
rman
do-m
e ne
ssa
posi
ção,
te
nho
certe
za d
e nã
o vi
r a c
air e
de
que
tant
o eu
com
o qu
alqu
er p
esso
a em
idên
ticas
ci
rcun
stân
cias
pod
erá
resp
onde
r com
seg
uran
ça q
ue é
pel
a be
leza
que
as
cois
as b
elas
são
be
las.
Não
te p
arec
e?
Sem
dúv
ida.
Com
o é
por m
eio
da g
rand
eza
que
o gr
ande
é g
rand
e e
o m
aior
é m
aior
, e p
elo
da
pequ
enez
que
o p
eque
no é
peq
ueno
.
Cer
to.
Logo
, tam
bém
não
con
cord
aria
s co
m q
ue d
isse
sse
que
um h
omem
é m
aior
do
que
outro
um
a ca
beça
, nem
que
é m
enor
é ta
mbé
m u
ma
cabe
ça m
enor
do
que
o pr
imei
ro, p
orém
pe
rsis
tiria
s na
def
esa
de tu
a pr
opos
ição
, de
que
na tu
a m
anei
ra d
e pe
nsar
tudo
o q
ue é
gr
ande
só
pode
ser
gra
nde
por c
ausa
da
gran
deza
, nad
a m
ais,
send
o es
ta, a
gra
ndez
a, q
ue
deix
a gr
ande
s as
coi
sas,
com
o o
pequ
eno
só s
erá
pequ
eno
por c
ausa
da
pequ
enez
, vin
do a
se
r ist
o m
esm
o, a
peq
uene
z, q
ue d
eixa
peq
ueno
o p
eque
no, d
e m
edo,
que
ro c
rer,
no c
aso
de
afirm
ares
que
um
hom
em é
mai
or o
u m
enor
do
que
o ou
tro u
ma
cabe
ça, q
ue p
udes
se
algu
ém o
bjet
ar-t
e, p
rimei
ro, q
ue é
pel
a m
esm
a co
isa
que
o m
aior
é m
aior
e o
men
or é
m
enor
; dep
ois,
que,
sen
do p
eque
na a
cab
eça,
é p
or m
eio
dela
que
o m
aior
é m
aior
,
verd
adei
ro d
ispa
rate
: vir
a se
r alg
uém
gra
nde
por c
ausa
do
que
é pe
quen
o. N
ão te
arr
ecei
as
diss
o?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u rin
do C
ebet
e.
Com
o ta
mbé
m re
cear
ias
dize
r, co
ntin
uou,
que
dez
e d
ois
mai
s do
que
oito
, sen
do
essa
a ra
zão
de u
ltrap
assá
-lo,
não
pel
a qu
antid
ade
e po
r cau
sa d
a qu
antid
ade,
com
o o
cúbi
to
mai
or é
um
a m
etad
e m
aior
do
que
o si
mpl
es, n
ão p
or c
ausa
da
gran
deza
. O p
erig
o é
o m
esm
o. Perf
eita
men
te, r
espo
ndeu
.
E en
tão?
No
caso
de
uma
unid
ade
ser a
cres
cent
ada
a ou
tra, n
ão te
rás
med
o de
diz
er
que
essa
adi
ção
foi a
cau
sa d
e fo
rmar
-se
o do
is, o
u, n
a hi
póte
se d
e se
r a u
nida
de c
orta
da a
o m
eio,
que
foi a
div
isão
? E
não
prot
esta
rias
em a
ltas
voze
s qu
e nã
o sa
bes
com
o um
a co
isa
poss
a tra
nsfo
rmar
-se
nout
ra, a
não
ser
pel
a pa
rtici
paçã
o da
ess
ênci
a pr
ópria
da
natu
reza
que
el
a pr
ópria
par
ticip
a e
que,
no
caso
con
cret
o da
ger
ação
do
dois
, não
sab
erás
info
rmar
out
ra
caus
a se
não
for a
par
ticip
ação
da
dual
idad
e? D
essa
dua
lidad
e é
que
terá
de
parti
cipa
r o q
ue
tiver
de
ficar
doi
s, co
mo
parti
cipa
rá d
a un
idad
e, tu
do o
que
vie
r a s
er u
m. Q
uant
o às
di
visõ
es e
acr
esce
ntam
ento
s e
dem
ais
sutil
ezas
do
mes
mo
gêne
ro, m
anda
rás
toda
s el
as
pass
ear,
deix
ando
o c
uida
do d
a re
spos
ta a
que
m fo
r mai
s sá
bio
do q
ue tu
. Qua
nto
a ti,
de
med
o, c
omo
se d
iz, d
a pr
ópria
som
bra
e de
tua
inex
periê
ncia
, e fi
rmad
o na
quel
e pr
essu
post
o se
gurís
sim
o, re
spon
deria
s da
quel
e je
ito. E
no
caso
de
inve
stir
o ad
vers
ário
co
ntra
tua
próp
ria te
se, n
ão lh
e da
rias
aten
ção
nem
resp
onde
rias
a el
e se
m p
rimei
ro
verif
icar
es s
e as
con
sequ
ênci
as d
e se
u po
stul
ado
são
diss
onan
tes
ou h
arm
ônic
as. E
na
hipó
tese
de
fund
amen
tar t
ua p
ropo
siçã
o, fá
-lo-i
as d
a m
esm
a fo
rma,
com
adm
itir u
m n
ovo
prin
cípi
o, q
ue s
e te
afig
uras
se m
ais
valio
so, a
té c
onse
guire
s re
sulta
do s
atis
fató
rio. A
o co
ntrá
rio d
os d
ispu
tado
res,
não
conf
undi
reis
com
sua
s co
nseq
uênc
ias
o pr
incí
pio
em
disc
ussã
o, c
aso
quis
esse
s al
canç
ar a
lgum
a re
alid
ade.
Com
est
a, a
o qu
e pa
rece
, é q
ue
nenh
um d
eles
se
preo
cupa
no
mín
imo.
Com
todo
o s
eu s
aber
, o q
ue fa
zem
é b
aral
har t
udo,
m
uito
s an
chos
de
si m
esm
os. T
u, p
orém
, se
te in
clui
s en
tre o
s fil
ósof
os, f
arás
o q
ue te
dis
se.
Fala
ste
a pu
ra v
erda
de, d
isse
ram
a u
m s
ó te
mpo
, Sím
ias
e C
ebet
e.
Equ
écrates–
Por
Zeu
s, Fe
dão,
nem
lhe
seria
pos
síve
l exp
ress
ar-s
e de
out
ro m
odo,
po
is m
e pa
rece
de
clar
eza
mer
idia
na s
emel
hant
e ex
plan
ação
, até
mes
mo
para
que
m fo
r do
tado
de
parc
o en
tend
imen
to.
Fedã
o–
Perf
eita
men
te, E
quéc
rate
s; to
dos
os c
ircun
stan
tes
fora
m d
esse
mes
mo
pare
cer. Equ
écrates–
Que
é ta
mbé
m o
de
todo
s nó
s qu
e nã
o pa
rtici
pam
os d
o co
lóqu
io e
te
ouvi
mos
nes
te m
omen
to.
L –
E de
pois
dis
so, o
que
dis
sera
m?
Fedã
o–
Segu
ndo
crei
o, d
epoi
s de
lhe
conc
eder
em e
sse
pont
o e
de a
dmiti
rem
a
exis
tênc
ia re
al d
as id
éias
e q
ue é
da
sua
parti
cipa
ção
que
as d
ifere
ntes
coi
sas r
eceb
em
dete
rmin
ação
par
ticul
ar, p
ergu
ntou
Sóc
rate
s o
segu
inte
: Se
é as
sim
que
fala
s, co
ntin
uou,
qu
ando
diz
es q
ue S
ímia
s é
mai
or d
o qu
e Só
crat
es p
orém
men
or d
o qu
e Fe
dão,
não
equ
ival
e is
so a
diz
er q
ue e
m S
ímia
s se
enc
ontra
m a
mba
s: g
rand
eza
e pe
quen
ez?
Sem
dúv
ida.
No
enta
nto,
adm
ites
que
a ex
pres
são:
Sím
ias
ultra
pass
a Só
crat
es, n
ão d
eve
ser t
omad
a no
sen
tido
liter
al; n
ão é
por
sua
pró
pria
nat
urez
a, p
or s
er S
ímia
s, qu
e el
e o
ultra
pass
a, m
as
por s
ua g
rand
eza
ocas
iona
l, co
mo
não
ultra
pass
a Só
crat
es p
or e
ste
ser S
ócra
tes,
mas
pel
a pe
quen
ez d
este
, no
que
ente
nde
com
a g
rand
eza
do o
utro
.
Cer
to.
Com
o ta
mbé
m e
le n
ão s
erá
ultra
pass
ado
por F
edão
, por
est
e se
r Fed
ão, m
as e
m
virtu
de d
a gr
ande
za d
e Fe
dão
em c
ompa
raçã
o co
m a
peq
uene
z de
Sím
ias.
Isso
mes
mo.
Des
se m
odo,
apl
ica-
se a
Sím
ias,
a um
só
tem
po, o
ape
lido
de g
rand
e e
de p
eque
no,
por e
star
ele
a m
eio
cam
inho
dos
doi
s, ex
cede
ndo
com
sua
gra
ndez
a a
pequ
enez
de
um
dele
s e
reco
nhec
endo
no
outro
a g
rand
eza
que
venc
e su
a pe
quen
ez. D
epoi
s, ac
resc
ento
u so
rrind
o: M
inha
ling
uage
m p
arec
e de
esc
rivão
; mas
o q
ue e
u di
sse
está
cer
to.
Con
cord
ou.
Fale
i des
se je
ito p
or d
esej
ar q
ue c
ompa
rtilh
es d
e m
inha
man
eira
de
pens
ar. O
que
me
pare
ce, é
que
tant
o a
gran
deza
em
si m
esm
a nã
o de
seja
ser
gra
nde
e pe
quen
a ao
mes
mo
tem
po, c
omo
a pr
ópria
gra
ndez
a pr
esen
te e
m n
ós n
ão a
ceita
jam
ais
acei
ta a
peq
uene
z ne
m
cons
ente
em
ser
ultr
apas
sada
. De
duas
um
a te
rá d
e se
r: ou
ela
foge
e s
ai d
o ca
min
ho q
uand
o de
la a
prox
ima
seu
cont
rário
, a p
eque
nez,
ou,
com
sua
che
gada
, dei
xa d
e ex
istir
. O q
ue d
e ne
nhum
mod
o de
seja
, hav
endo
adm
itido
e re
cebi
do a
peq
uene
z, s
em d
eixa
r de
ser o
que
er
a, c
ontin
uou
send
o pe
quen
o, a
o pa
sso
que
a gr
ande
za, c
om s
er g
rand
e, ja
mai
s co
nsen
te
em s
er p
eque
na. O
mes
mo
vale
par
a a
pequ
enez
em
nós
, que
nun
ca s
e de
cide
a to
rnar
-se
gran
de o
u a
ser i
sso
mes
mo,
o q
ue s
e ta
mbé
m s
e dá
com
todo
s os
con
trário
s, en
quan
to c
ada
um é
o q
ue é
, rec
usam
-se
a to
rnar
-se
e se
r ao
mes
mo
tem
po o
seu
con
trário
, ret
irand
o-se
ou
desa
pare
cend
o qu
ando
ess
a co
njun
tura
se
apre
sent
a.
É ex
atam
ente
ass
im q
ue e
u pe
nso,
obs
ervo
u C
ebet
e.
LI –
Nes
se in
stan
te u
m d
os p
rese
ntes
falo
u, n
ão s
aber
ei d
izer
com
seg
uran
ça q
uem
tiv
esse
sid
o: P
elos
deu
ses!
Em
nos
sa p
rátic
a de
há
pouc
o nã
o fo
i dito
just
amen
te o
opo
sto
do q
ue é
afir
mad
o ag
ora,
que
do
mai
or n
asce
o m
enor
, e v
ice-
vers
a, d
o m
enor
o m
aior
, e
que
essa
é, p
reci
sam
ente
, a m
anei
ra d
e na
scer
em o
s co
ntrá
rios,
de s
eus
resp
ectiv
os
cont
rário
s? N
o en
tant
o, q
uer p
arec
er-m
e qu
e af
irmas
te n
ão s
er is
so p
ossí
vel.
Sócr
ates
, que
se
incl
inar
a pa
ra m
elho
r ouv
i-lo
, ent
ão fa
lou:
A o
bser
vaçã
o é
cora
josa
, po
rém
não
apa
nhas
te b
em a
dife
renç
a en
tre o
que
foi d
ito a
ntes
e a
pre
sent
e af
irmat
iva.
O
que
entã
o di
ssem
os é
que
a c
oisa
con
trário
nas
ce d
a qu
e lh
e é
cont
rária
, por
ém a
gora
que
o
cont
rário
jam
ais
adm
ite s
er s
eu p
rópr
io c
ontrá
rio, n
em e
m n
ós n
em n
a na
ture
za. N
aque
la
ocas
ião,
meu
car
o, fa
láva
mos
de
cois
a qu
e tê
m c
ontrá
rios;
ago
ra, p
orém
trat
amos
dos
pr
óprio
s co
ntrá
rios
iner
ente
s as
coi
sas,
cuja
pre
senç
a em
pres
ta a
toda
s a
resp
ectiv
a de
sign
ação
. Ora
, o q
ue a
firm
amos
é q
ue e
sses
con
trário
s, ju
stam
ente
, não
adm
item
tra
nsiç
ão d
e um
par
a ou
tro.
Ao
dize
r iss
o, v
olto
u-se
par
a C
ebet
e e
lhe
falo
u: P
orve
ntur
a, C
ebet
e, lh
e di
sse,
de
ixou
-te
atra
palh
ado
a ob
jeçã
o de
ste
aqui
?
Não
é o
meu
cas
o, re
spon
deu
Ceb
ete,
con
quan
to n
ão p
ossa
diz
er q
ue tu
do p
ara
mim
es
teja
cla
ro.
Mas
o fa
to, p
ross
egui
u, é
que
já a
ssen
tam
os q
ue n
unca
o c
ontrá
rio p
ode
ser o
co
ntrá
rio d
e si
mes
mo.
Sem
a m
ínim
a re
striç
ão, f
oi a
sua
resp
osta
.
LII –
Ent
ão, c
onsi
dera
tam
bém
o s
egui
nte,
con
tinuo
u, p
ara
ver s
e es
tás
de a
cord
o co
mig
o. N
ão h
á al
gum
a co
isa
a qu
e da
mos
o n
ome
de q
uent
e, e
out
ra q
ue d
enom
inam
os
frio?
Sem
dúv
ida.
E se
rão,
por
vent
ura,
o m
esm
o qu
e a
neve
e o
fogo
?
Não
, por
Zeu
s; n
unca
afir
mei
sem
elha
nte
cois
a.
Logo
, o q
uent
e nã
o é
a m
esm
a co
isa
que
o fo
go, n
em o
frio
o m
esm
o qu
e a
neve
.
Exat
o.
Mas
, est
ou c
erto
de
que
tam
bém
adm
ires
que
nunc
a po
derá
a n
eve,
com
o ne
ve,
conf
orm
e di
ssem
os h
á po
uco,
dep
ois
de re
cebe
r o c
alor
, con
tinua
r a s
er o
que
era
: nev
e co
m
calo
r. C
om a
apr
oxim
ação
do
calo
r, ou
ela
se
retir
a ou
vem
a fe
nece
r.
Perf
eita
men
te.
Tal q
ual c
omo
o fo
go: c
om a
che
gada
do
frio
, ret
ira-s
e ou
per
ece;
de
jeito
nen
hum
, de
pois
de
rece
ber o
frio
, se
atre
veria
a s
er o
que
ant
es e
ra: f
ogo,
a u
m te
mpo
, e fr
io.
Fala
ste
com
mui
to a
certo
, obs
ervo
u.
Pode
aco
ntec
er, c
ontin
uou,
nal
guns
exe
mpl
os d
esse
tipo
, que
não
som
ente
a id
éia
em
si m
esm
a te
nha
o di
reito
de
cons
erva
r ete
rnam
ente
o m
esm
o no
me,
com
o ta
mbé
m a
lgo
dife
rent
e qu
e, s
em s
er d
aque
la id
éia,
apr
esen
ta-s
e, e
nqua
nto
exis
te, c
om s
ua fo
rma.
É
poss
ível
que
com
o se
guin
te e
xem
plo
eu d
eixe
mai
s cla
ro m
eu p
ensa
men
to. O
núm
ero
ímpa
r ter
á de
con
serv
ar s
empr
e es
se n
ome
com
o q
ue d
esig
nam
os. O
u nã
o?
Perf
eita
men
te.
Mas
, é s
ó co
m e
le q
ue is
so a
cont
ece
– é
o qu
e pe
rgun
to –
ou
com
mai
s alg
uma
coisa
qu
e, s
em s
er, d
e fa
to, o
ímpa
r em
si m
esm
o, a
o la
do d
o se
u pr
óprio
nom
e te
rá fo
rços
amen
te
de s
er s
empr
e de
nom
inad
o de
ssa
man
eira
, por
ser
de
tal n
atur
eza,
que
nun
ca p
ode
disp
ensa
r o
ímpa
r? C
om is
so, q
uero
refe
rir-m
e ao
que
se
pass
a co
m o
con
ceito
da
tríad
e e
mui
tos
outro
s da
mes
ma
espé
cie.
Con
side
ra a
pena
s o
núm
ero
três.
Não
te p
arec
e qu
e el
e pr
ecis
ará
sem
pre
ser d
esig
nado
, a u
m s
ó te
mpo
, pel
o se
u pr
óprio
nom
e e
pelo
do
ímpa
r, ap
esar
de
não
ser o
nom
e ím
par a
mes
ma
cois
a qu
e trê
s? S
eja
com
o fo
r, de
tal m
odo
é co
nstit
uída
a
natu
reza
do
três,
do c
inco
e d
e to
da u
ma
met
ade
dos
núm
eros
, que
ape
sar d
e ca
da u
m d
eles
nã
o se
r a m
esm
a co
isa
que
o ím
par,
sem
pre
terã
o de
ser
ímpa
res.
O m
esm
o se
pas
sa c
om o
do
is, o
qua
tro e
toda
a o
utra
met
ade
dos
núm
eros
, que
, sem
ser
em o
par
, sem
pre
terã
o de
ser
pa
rtes.
Adm
ites
isso
ou
não?
Com
o nã
o ad
miti
r? F
oi a
sua
resp
osta
.
Pres
ta a
gora
ate
nção
, dis
se, a
o qu
e m
e di
spon
ho a
dem
onst
rar.
Trat
a-se
do
segu
inte
: é
fora
de
dúvi
da q
ue n
ão s
ão a
pena
s os
con
trário
s qu
e se
exc
luem
reci
proc
amen
te, m
as to
das
as c
oisa
s qu
e, s
em s
erem
con
trária
s en
tre s
i, nã
o ad
mite
m a
idéi
a co
ntrá
ria d
a qu
e lh
es é
pr
ópria
, à a
prox
imaç
ão d
a qu
al o
u ce
dem
o lu
gar o
u vê
m a
per
ecer
. Poi
s já
não
dis
sem
os
que
o nú
mer
o trê
s pr
imei
ro d
eixa
rá d
e ex
istir
ou
sofr
erá
seja
o q
ue fo
r, an
tes
de v
ir a
ficar
pa
r, po
r ser
, de
fato
, o q
ue é
, pre
cisa
men
te tr
ês?
É m
uito
cer
to, f
alou
Ceb
ete.
No
enta
nto,
con
tinuo
u, o
s nú
mer
os d
ois
e trê
s nã
o sã
o co
ntrá
rios
entre
si.
Nun
ca.
Logo
, não
são
ape
nas
as id
éias
con
trária
s qu
e nã
o ad
mite
m a
apr
oxim
ação
recí
proc
a;
há o
utra
s, ta
mbé
m, q
ue n
ão a
ceita
m e
ssa
apro
xim
ação
dos
con
trário
s.
É m
uito
cer
to o
que
afir
mas
, res
pond
eu.
LIII
– E
não
ach
aria
s bo
m, c
ontin
uou,
det
erm
inar
mos
, na
med
ida
do p
ossí
vel,
quai
s es
sas
idéi
as?
Perf
eita
men
te.
Não
ser
ão, C
ebet
e, p
ross
egui
u, a
s qu
e fo
rçam
as
cois
as d
e qu
e el
as s
e ap
oder
am a
co
nser
var t
anto
a s
ua p
rópr
ia fo
rma
com
o a
que
sem
pre
lhes
é c
ontrá
ria?
Que
que
res
dize
r com
isso
?
O q
ue d
ecla
ram
os n
este
mom
ento
. Com
o m
uito
bem
sab
es, t
odas
as
cois
as d
e qu
e se
ap
ossa
a id
éia
do n
úmer
o trê
s, ta
nto
terã
o, p
or fo
rça,
de
ser t
rês
com
o ím
pare
s.
É m
uito
cer
to.
Ora
bem
; o q
ue d
izem
os é
que
a id
éia
cont
rária
à fo
rma
eu a
con
stitu
i nun
ca p
ode
entra
r nel
a.
Nun
ca, d
e fa
to.
O q
ue a
con
stitu
i é a
idéi
a do
ímpa
r, nã
o é
isso
mes
mo?
Cer
to.
Com
o o
seu
cont
rário
é a
idéi
a do
par
.
Sem
dúv
ida.
Send
o as
sim
, no
três
jam
ais
entra
rá a
idéi
a de
par
.
Nun
ca.
Pelo
sim
ples
fato
de
o trê
s nã
o pa
rtici
par d
o pa
r.
Isso
mes
mo.
Vis
to s
er ím
par.
Exat
amen
te.
Pois
era
isso
, pre
cisa
men
te, q
ue e
u qu
eria
det
erm
inar
: as
cois
as q
ue, s
em s
erem
co
ntrá
rias
entre
si,
não
adm
item
o s
eu c
ontrá
rio. S
erá
o ca
so d
o trê
s qu
em, s
em s
er o
co
ntrá
rio d
o pa
r, de
form
a al
gum
a o
acei
ta, p
ois
ele
lhe
opõe
sem
pre
o se
u co
ntrá
rio, c
omo
faz
o do
is co
m o
ímpa
r, o
fogo
com
o fr
io e
um
infin
ito m
ais d
e ex
empl
os. D
ize-
me
agor
a se
não
con
clui
rias
que
não
é ap
enas
o c
ontrá
rio q
ue n
ão re
cebe
o s
eu c
ontrá
rio, p
orém
tudo
o
que
leva
a id
éia
do c
ontrá
rio d
a co
isa
que
o re
cebe
, não
adm
ite n
esta
o c
ontrá
rio d
aqui
lo
que
ele
leva
. Rec
apitu
lem
os tu
do o
que
dis
sem
os a
té a
qui,
pois
não
há
mal
em
ouv
ir a
mes
ma
coisa
vár
ias v
ezes
: O n
úmer
o ci
nco
não
adm
ite a
idéi
a de
par
, nem
o d
ez, o
dob
ro
daqu
ele,
a d
e ím
par.
Por s
ua v
ez, o
dup
lo é
o c
ontrá
rio d
e ou
tra c
oisa
, por
ém n
ão a
dmite
a
idéi
a do
ímpa
r, co
mo
tam
bém
não
a a
dmite
m o
s nú
mer
os s
esqu
iálte
ros,
o m
eio
e ou
tras
fraç
ões
do m
esm
o tip
o, n
em a
idéi
a de
todo
, de
terç
o e
de tu
do o
mai
s da
mes
ma
natu
reza
, se
é q
ue m
e ac
ompa
nhas
e e
stás
de
acor
do c
omig
o.
Não
som
ente
est
ou d
e in
teiro
aco
rdo,
dis
se, c
omo
te a
com
panh
o.
LIV
– E
ntão
, rep
ete
tudo
isso
do
com
eço,
con
tinuo
u, p
orém
não
me
resp
onda
com
m
inha
s pr
ópria
s pa
lavr
as, m
as d
e ou
tra fo
rma,
tom
ando
-me
com
o m
odel
o. O
que
dig
o é
que,
alé
m d
a re
spos
ta c
erta
que
eu
apre
sent
ei n
o co
meç
o, e
ncon
trou
outra
de
não
men
or
conf
ianç
a no
que
fico
u di
to d
epoi
s. D
e fa
to, s
e m
e pe
rgun
tass
es: Q
ue p
reci
sas
have
r no
corp
o pa
ra q
ue e
le fi
que
quen
te?
Não
te d
aria
a re
spos
ta, c
erta
, sem
dúv
ida,
por
ém in
gênu
a,
que
é o
calo
r, po
rém
out
ra m
uito
mai
s ap
rimor
ada,
com
bas
e em
nos
sa e
xpos
ição
ant
erio
r: fo
go. C
omo
tam
bém
se
me
perg
unta
sses
o q
ue p
reci
sa h
aver
no
corp
o, p
ara
que
ele
adoe
ça,
não
resp
onde
ria q
ue é
a d
oenç
a, p
orém
alg
uma
febr
e. E
no
caso
de
perg
unta
res
o qu
e
prec
isa
have
r num
núm
ero
para
ser
ímpa
r, nã
o m
e re
ferir
a a
impa
ridad
e, m
as à
unid
ade,
e
assi
m s
uces
siva
men
te. A
gora
vê
se a
panh
aste
bem
meu
pen
sam
ento
.
À m
arav
ilha,
resp
onde
u.
Entã
o, m
e di
gas,
cont
inuo
u, q
ue p
reci
sa h
aver
no
corp
o pa
ra q
ue e
le v
iva?
Alm
a, re
spon
deu.
E se
mpr
e te
rá d
e se
r ass
im?
Por q
ue n
ão?
Foi s
ua re
spos
ta.
Logo
, tud
o o
de q
ue a
alm
a se
apo
dera
, a is
so e
la d
á vi
da?
É o
que
ela
faz,
de
fato
, res
pond
eu.
E po
rven
tura
hav
erá
algu
ma
cois
a co
ntrá
ria à
vida
? O
u nã
o há
?
Sem
dúv
ida,
resp
onde
u.
Que
é?
A m
orte
.
De
onde
vem
, que
a a
lma
nunc
a po
derá
ace
itar o
con
trário
daq
uilo
que
ela
sem
pre
traz
cons
igo;
é o
que
se
conc
lui d
e tu
do o
que
dis
sem
os a
té a
gora
.
Con
clus
ão c
ertís
sim
a, re
spon
deu
Ceb
ete.
LV –
E e
ntão
? O
que
não
adm
ite a
idéi
a do
par
, que
nom
e lh
e de
mos
ago
ra m
esm
o?
Ímpa
r, re
spon
deu.
E o
que
não
rece
be o
just
o, o
u nã
o re
cebe
o h
arm
ônic
o?
Des
arm
ônic
o, d
isse
, ou
inju
sto.
Mui
to b
em. E
o q
ue n
ão re
cebe
a m
orte
, com
o de
nom
inar
emos
?
Imor
tal,
foi a
sua
resp
osta
.
Ora
, a a
lma
não
rece
be a
mor
te.
Não
.
A a
lma
é, p
ois,
imor
tal?
Imor
tal.
Mui
to b
em. P
odem
os a
firm
ar, p
or c
onse
guin
te, q
ue is
so fi
cou
dem
onst
rado
? O
u co
mo
te p
arec
e?
Fico
u de
mon
stra
do à
saci
edad
e, S
ócra
tes.
E ag
ora,
Ceb
ete,
con
tinuo
u: s
e o
ímpa
r fos
se in
dest
rutív
el p
or fo
rça
das
cois
as, n
ão
teria
tam
bém
de
ser i
ndes
trutív
el o
três
?
Com
o nã
o?
E se
o n
ão-q
uent
e ta
mbé
m fo
sse
por n
eces
sida
de in
dest
rutív
el, s
empr
e qu
e al
guém
ap
roxi
mas
se d
a ne
ve o
fogo
, não
se
retir
aria
a n
eve
inta
cta
e se
m d
erre
ter-
se?
Não
pe
rece
ria, é
cla
ro, e
por
mai
s qu
e fic
asse
exp
osta
ao
calo
r, nã
o o
rece
beria
.
É m
uito
cer
to, r
espo
ndeu
.
Com
o ta
mbé
m, s
egun
do p
enso
, se
o nã
o-fr
io fo
sse
inde
stru
tível
por
nat
urez
a, e
al
guém
apr
oxim
asse
do
fogo
o fr
io, j
amai
s o
fogo
se
apag
aria
ou
viria
a fe
nece
r, po
rém
af
asta
r-se
-ia
incó
lum
e.
Nec
essa
riam
ente
, res
pond
eu.
E nã
o se
rá ta
mbé
m p
reci
so fa
larm
os n
esse
s m
esm
o te
rmos
no
que
ente
nde
com
o
mor
tal?
Se
o im
orta
l tam
bém
for i
mpe
recí
vel,
a al
ma,
sem
pre
que
a m
orte
se
apro
xim
ar
dela
, não
pod
erá
mor
rer;
pois
de
acor
do c
om o
que
dis
sem
os a
ntes
, ela
não
adm
itirá
a m
orte
ne
m v
irá a
mor
rer,
da m
esm
a fo
rma
que
o trê
s, co
nfor
me
vim
os, n
unca
pod
erá
ser p
ar, e
co
m e
le o
ímpa
r, ne
m o
fogo
fica
rá fr
io n
em o
cal
or q
ue h
á no
fogo
. Por
ém o
que
impe
de –
pode
ria a
lgué
m o
bjet
ar –
que
o ím
par,
mui
to e
mbo
ra n
ão fi
que
par à
apr
oxim
ação
do
par,
e so
bre
isso
, já
nos
decl
aram
os d
e ac
ordo
, ven
ha, d
e fa
to, a
per
ecer
, por
tran
sfor
mar
-se
em
par?
A q
uem
tal o
bjet
asse
, não
pod
ería
mos
resp
onde
r que
não
per
ece,
poi
s o
ímpa
r não
é
inde
stru
tível
. Por
ém s
e is
so h
ouve
sse
sido
ace
ito a
ntes
por
nós
, for
a fá
cil r
etor
quir
que
à ap
roxi
maç
ão d
o pa
ra o
ímpa
r e o
três
se
retir
am. D
a m
esm
a m
anei
ra re
spon
dería
mos
com
re
spei
to a
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lor,
ao fo
go e
a tu
do o
mai
s. O
u nã
o?
Sem
dúv
ida.
Send
o as
sim
, ago
ra, c
om re
laçã
o ao
imor
tal,
uma
vez
adm
itido
por
nós
doi
s qu
e ta
mbé
m é
impe
recí
vel,
a al
ma,
terá
de
ser p
or fo
rça
impe
recí
vel.
Cas
o co
ntrá
rio,
prec
isar
íam
os la
nçar
mão
de
outro
arg
umen
to.
Não
por
cau
sa d
isso
, ret
orqu
iu; d
ifici
lmen
te p
oder
ia h
aver
que
não
adm
itiss
e a
dest
ruiç
ão, s
e o
imor
tal,
com
ser
ete
rno,
foss
e pa
ssív
el d
e ac
abar
.
LVI –
Qua
nto
a D
eus,
falo
u Só
crat
es, a
o qu
e su
ponh
o, e
à id
éia
da v
ida
e a
tudo
o
mai
s qu
e po
ssa
have
r de
imor
tal,
todo
s es
tão
de a
cord
o em
que
nun
ca p
odem
par
ecer
.
Sim
, por
Zeu
s, to
dos
os h
omen
s, re
spon
deu,
e, c
om m
aior
ia d
e ra
zões
, os
próp
rios
deus
es.
Era,
um
a ve
z qu
e o
imor
tal é
impe
recí
vel,
a al
ma,
sen
do im
orta
l, nã
o te
rá d
e se
r, da
m
esm
a fo
rma,
impe
recí
vel?
Forç
osam
ente
.
Logo
, com
o pa
rece
, ao
apr
oxim
ar-s
e do
s ho
men
s a
mor
te, o
que
nel
es fo
r mor
tal t
erá
de p
erec
er, e
nqua
nto
sua
porç
ão im
orta
l ced
e o
luga
r à m
orte
e c
ontin
ua s
ã e
inco
rrup
tível
.
Cla
ro.
É ce
rtíss
imo,
por
con
segu
inte
, Ceb
ete,
con
tinuo
u, s
er a
alm
a im
orta
l e im
pere
cíve
l, e
exis
tirem
real
men
te n
ossa
s al
mas
no
Had
es.
Enqu
anto
a m
im, S
ócra
tes,
falo
u C
ebet
e, n
ada
tenh
o a
obje
tar c
ontra
teus
ar
gum
ento
s, ne
m o
que
ale
gar p
ara
não
adm
iti-l
os. P
orém
no
caso
de
Sím
ias
ou q
ualq
uer
outro
que
rer d
izer
alg
uma
coisa
, far
á be
m e
m n
ão s
e co
nser
var c
alad
o, p
ois
não
sei q
ue
mel
hor o
portu
nida
de d
o qu
e es
ta p
oder
á en
cont
rar q
uem
se
disp
onha
a fa
lar o
u a
ouvi
r sej
a o
que
for a
resp
eito
des
tas
ques
tões
.
Eu ta
mbé
m, f
alou
Sím
ias,
não
vejo
razã
o pa
ra n
ão a
ceita
r o q
ue fo
i dito
. Dad
a,
poré
m, a
gra
ndez
a da
mat
éria
e p
or n
ão c
onfia
r mui
to n
a fr
aque
za d
e m
atér
ia e
por
não
co
nfia
r mui
to n
a fra
quez
a hu
man
a, s
ou fo
rçad
o a
decl
arar
que
ain
da a
limen
to a
lgum
as
dúvi
das
com
resp
eito
ao
que
foi e
xpla
nado
.
Não
é s
ó is
so, S
ímia
s, fa
lou
Sócr
ates
com
o m
uito
bem
te e
xprim
iste,
até
mes
mo
noss
as p
ropo
siçõ
es in
icia
is, p
or d
igna
s de
con
fianç
a qu
e pa
reça
m, p
reci
sam
ser
co
nsid
erad
as m
ais
a fu
ndo,
e, u
ma
vez
sufic
ient
emen
te a
nalis
adas
, est
ou c
erto
de
que
acom
panh
arei
s a
argu
men
taçã
o, n
a m
edid
a da
cap
acid
ade
de c
ompr
eens
ão d
o ho
mem
, até
qu
e, tu
do e
scla
reci
do, n
ada
mai
s te
nhai
s a
inve
stig
ar.
É m
uito
cer
to o
que
diz
es, r
espo
ndeu
.
LVII
– P
orém
dev
emos
sen
hore
s, co
nsid
erar
tam
bém
o s
egui
nte:
se
a al
ma
for
imor
tal,
exig
irá c
uida
dos
de n
ossa
par
te n
ão a
pena
s ne
sta
porç
ão d
o te
mpo
que
de
nom
inam
os v
ida,
sen
ão o
tem
po to
do e
m u
nive
rsal
, par
ecen
do q
ue s
e ex
põe
a um
gra
nde
perig
o qu
em n
ão a
tend
er e
sse
aspe
cto
da q
uest
ão. P
ois
se a
mor
te fo
sse
o fim
de
tudo
, que
im
ensa
van
tage
m n
ão s
eria
par
a os
des
ones
tos,
com
a m
orte
livr
arem
-se
do c
orpo
e d
a ru
inda
de m
uito
pró
pria
junt
amen
te c
om a
alm
a? A
gora
, por
ém, q
ue s
e no
s re
velo
u im
orta
l, nã
o re
sta
à alm
a ou
tra p
ossi
bilid
ade,
se
não
for t
orna
r-se
, qua
nto
poss
ível
, mel
hor e
mai
s se
nsat
a. A
o ch
egar
ao
Had
es, n
ada
mai
s le
va c
onsi
go a
não
ser
a in
stru
ção
e a
educ
ação
, ju
stam
ente
, ao
que
se d
iz, o
que
mai
s fa
vore
ce o
u pr
ejud
ica
o m
orto
des
de o
iníc
io d
e su
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agem
par
a lá
. O q
ue c
onta
m é
o s
egui
nte:
ou
mor
rer a
lgué
m, o
dem
ônio
que
em
vid
a lh
e to
cou
por s
orte
se
enca
rreg
a de
levá
-lo
a um
luga
r em
que
se
reún
em o
s m
orto
s pa
ra s
erem
ju
lgad
os e
de
onde
são
con
duzi
dos
para
o H
ades
com
gui
as in
cum
bido
s de
indi
car-
lhes
o
cam
inho
. Dep
ois
de te
rem
o d
estin
o m
erec
ido
e de
lá p
erm
anec
erem
o te
mpo
indi
spen
sáve
l, ou
tro g
uia
os tr
az d
e vo
lta, a
pós
num
eros
os e
long
os p
erío
dos
de te
mpo
. Ess
e ca
min
ho n
ão
é o
que
diz
Téle
fo, d
e És
quilo
, ao
afirm
ar q
ue o
cam
inho
do
Had
es é
sim
ples
; a m
eu v
er
nem
é s
impl
es n
em ú
nico
. Se
foss
e o
caso
, ser
ia d
ispe
nsáv
el g
uia,
poi
s ni
ngué
m s
e pe
rde
onde
a e
stra
da é
um
a só
. O q
ue p
arec
e é
que
ele
é ch
eio
de v
olta
s e
bifu
rcaç
ões.
Dig
o is
so
com
bas
e no
s rit
os s
agra
dos
e ce
rimôn
ias
aqui
em
uso
. De
qual
quer
form
a, a
alm
a pr
uden
te
e m
oder
ada
acom
panh
a se
u gu
ia, p
erfe
itam
ente
con
scie
nte
do q
ue s
e pa
ssa
com
ela
; mas
, co
mo
diss
e há
pou
co, a
que
se
agar
ra a
vida
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te a
o co
rpo
esvo
aça
dura
nte
mui
to te
mpo
em
torn
o de
le e
do
mun
do v
isív
el, e
dep
ois
de g
rand
e re
lutâ
ncia
e d
e so
frim
ento
s se
m
cont
a, é
por
fim
arr
asta
da d
ali,
à for
ça e
com
difi
culd
ade
pelo
dem
ônio
incu
mbi
do d
e co
nduz
i-la
. Um
a ve
z al
canç
ado
o lu
gar e
m q
ue s
e en
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ram
, out
ras
alm
as, a
que
se
acha
im
pura
pel
a pr
átic
a do
mal
, de
hom
icíd
ios
inju
stos
ou d
e cr
imes
sem
elha
ntes
, irm
ãos
daqu
eles
e ig
uais
aos
que
soe
m p
ratic
ar a
lmas
irm
ãs, d
e um
as a
lma
com
o es
sa to
das
se
afas
tam
, evi
tam
-na,
não
hav
endo
gui
a ne
m c
ompa
nhei
ro d
e jo
rnad
a qu
e co
m e
la s
e as
soci
e. T
omad
a de
gra
nde
perp
lexi
dade
, vag
ueia
por
todo
s os
luga
res
até
esco
ar-s
e ce
rto
tem
po, d
epoi
s do
que
a a
rras
ta a
Nec
essi
dade
par
a a
mor
adia
que
lhe
foi d
eter
min
ada.
A
que
atra
vess
ou a
vid
a co
m p
urez
a e
mod
eraç
ão e
alc
anço
u de
uses
por
gui
as e
co
mpa
nhei
ros
de jo
rnad
a, o
btém
mor
adia
apr
opria
da.
LVII
I – A
Ter
ra a
pres
enta
um
sem
-núm
ero
de lu
gare
s mar
avilh
osos
, não
send
o ne
m
de tã
o ex
tens
a ne
m d
a fo
rma
com
o a
imag
inam
as
que
se c
ompr
azem
em
dis
corr
er a
seu
re
spei
to, c
onfo
rme
algu
ém m
o de
mon
strou
.
Nes
sa a
ltura
falo
u Sí
mia
s: Q
ue q
uere
s di
zer c
om is
so, S
ócra
tes?
Sob
re a
Ter
ra e
u ta
mbé
m já
ouv
i diz
erem
mui
ta c
oisa
; por
ém n
ão o
de
que
te m
ostra
s co
nven
cido
. De
mui
to
bom
gra
do te
ouv
iria
fala
r a e
sse
resp
eito
.
Para
faze
r ess
a de
scriç
ão, S
ímia
s, nã
o m
e pa
rece
nec
essá
ria a
arte
de
Gla
uco.
Mas
o
que
se m
e af
igur
a m
ais
difíc
il do
que
a a
rte d
e G
lauc
o é
prov
ar a
sua
ver
acid
ade.
É
poss
ível
, até
, que
me
falte
cap
acid
ade
para
tant
o; p
orém
mes
mo
que
a tiv
esse
, o p
ouqu
inho
de v
ida
que
me
rest
a, S
ímia
s, nã
o ch
egar
ia p
ara
tão
long
a ex
posi
ção.
Con
tudo
não
vej
o im
pedi
men
to e
m e
xpor
-te
a id
éia
que
faço
da
form
a da
Ter
ra e
de
suas
dife
rent
es re
giõe
s.
Será
o s
ufic
ient
e, fa
lou
Sím
ias.
Para
com
eçar
, prin
cipi
ou, f
ique
i con
venc
ido
de q
ue, s
e a
Terr
a é
de fo
rma
esfé
rica
e es
tá c
oloc
ada
no m
eio
do c
éu, p
ara
não
cair
não
prec
isar
á ne
m d
e ar
nem
de
qual
quer
out
ra
nece
ssid
ade
da m
esm
a na
ture
za: p
or q
ue p
ara
sust
enta
r-se
é s
ufic
ient
e a
perfe
ita
unifo
rmid
ade
do c
éu e
seu
equ
ilíbr
io n
atur
al. P
ois
uma
coisa
em
equ
ilíbr
io n
atur
al. P
ois
uma
coisa
em
equ
ilíbr
io n
o m
eio
de q
ualq
uer e
lem
ento
hom
ogên
eo, n
ão s
e in
clin
ará,
no
mín
imo,
par
a ne
nhum
lado
, mas
se
cons
erva
rá s
empr
e fix
a e
no m
esm
o es
tado
. Foi
ess
e o
prim
eiro
pon
to, a
rrem
atou
, que
pas
sei a
adm
itir.
E co
m ra
zão,
obs
ervo
u Sí
mia
s.
Ao
depo
is, c
ontin
uou,
que
tam
bém
se
trata
de
algo
imen
sam
ente
gra
nde
e qu
e nó
s ou
tros,
mor
ador
es d
a re
gião
que
vai
do
Fási
s às
Col
unas
da
Hér
cule
s, oc
upam
os u
ma
porç
ão in
sign
ifica
nte
da te
rra,
em
torn
o do
mar
à fe
ição
de
form
igas
e rã
s na
beira
de
um
char
co. É
que
por
toda
a T
erra
há
mui
tas
con
cavi
dade
s, de
form
a e
tam
anho
var
iáve
is, p
ara
as q
uais
con
verg
e ág
ua, v
apor
e a
r. Po
rém
a p
rópr
ia te
rra
se a
cha
pura
no
céu
puro
, ond
e es
tão
os a
stro
s, de
nom
inad
o ét
er p
or q
uant
os c
ostu
mam
dis
corr
er s
obre
ess
as q
uest
ões,
cuja
bo
rra,
pre
cisa
men
te, é
tudo
aqu
ilo q
ue n
ão p
ára
de d
epos
itar-
se n
as c
avid
ades
da
terr
a.
Qua
nto
a nó
s, po
r não
per
cebe
mos
que
mor
amos
nes
sas
conc
avid
ades
, im
agin
amos
viv
er
em c
ima
da T
erra
com
o se
dar
ia c
om q
uem
mor
asse
no
mei
o do
mar
fund
o e
pens
asse
est
ar
na s
uper
fície
, e v
endo
atra
vés
da á
gua
o So
l e o
s ou
tros
astro
s, to
mar
ia o
mar
pel
o cé
u. P
or
indo
lênc
ia e
fraq
ueza
mui
to p
rópr
ias,
nunc
a su
biu
até
o es
pelh
o da
águ
a, n
em v
iu n
unca
, de
pois
de
emer
gir d
o m
ar e
de
leva
ntar
a c
abeç
a fo
ra d
a ág
ua n
a di
reçã
o de
sses
luga
res,
quan
to s
ão m
ais
puro
s e
mai
s lin
dos
do q
ue o
out
ro, o
que
tam
bém
não
pod
eria
ter o
uvid
o de
nen
hum
a te
stem
unha
ocu
lar.
É ex
atam
ente
o q
ue s
e dá
con
osco
. Hab
itant
es d
e um
a de
ssa
conc
avid
ades
da
Terr
a, im
agin
amos
mor
ar e
m c
ima
dela
, e d
amos
ao
ar o
nom
e de
cé
u, c
omo
se o
ar f
osse
o p
rópr
io c
éu e
m q
ue s
e m
ovim
enta
m o
s as
tros.
É ig
ualz
inha
nos
sa
situ
ação
: por
indo
lênc
ia e
fraq
ueza
, não
som
os c
apaz
es d
e at
ingi
r o li
mite
ext
rem
o do
ar.
Pois
no
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de
cheg
ar a
lgué
m a
o ci
mo
ou d
e ad
quiri
r asa
s e
de v
oar,
emer
giria
e p
assa
ria a
ve
r com
o os
pei
xes
aqui
de
baix
o qu
ando
põe
m a
cab
eça
fora
da
água
e v
êem
o q
ue s
e pa
ssa
entre
nós
: de
igua
l mod
o ve
ria o
que
há
por l
á, e
no
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de
agüe
ntar
sua
nat
urez
a
por a
lgum
tem
po s
emel
hant
e vi
sta,
reco
nhec
eria
ser
aqu
ele
o ve
rdad
eiro
céu
, a v
erda
deira
lu
z e
a ve
rdad
eira
terr
a. S
im, p
orqu
e es
ta n
ossa
terr
a, a
s pe
dras
e to
da a
regi
ão q
ue n
os
circ
unda
est
ão e
stra
gada
s e
corr
oída
s, ta
l com
o co
rroí
do e
stá
pela
sal
suge
m tu
do o
que
há
no m
ar. N
ada
cres
ce n
o m
ar d
igno
de
men
ção,
nem
há
nada
per
feito
, por
ass
im d
izer
; ap
enas
cav
erna
s, ar
eia,
lam
a a
perd
er d
e vi
sta
e lo
do p
or o
nde
quer
que
haj
a te
rra,
nad
a, e
m
sum
a, q
ue s
upor
te c
otej
o co
m a
s co
isas
bel
as d
e no
sso
mun
do. M
as a
quel
as, p
or s
ua v
ez,
em c
onfr
onto
com
as
noss
as, d
e m
uito
as
ultra
pass
am. S
e fo
sse
opor
tuno
, con
tar-
vos-
ia um
be
lo m
ito, S
ímia
s, di
gno
de s
er o
uvid
o, d
e co
mo
é co
nstit
uída
ess
a te
rra
situ
ada
emba
ixo
do
céu.
Mas
nem
há
dúvi
da, S
ócra
tes,
falo
u Sí
mia
s; e
scut
arem
os te
u m
ito c
om o
mai
or
praz
er. LI
X –
O q
ue d
izem
, com
panh
eiro
, par
a co
meç
ar, é
que
ess
a te
rra
foss
e vi
sta
de c
ima
por a
lgué
m, p
arec
eria
um
des
ses
balõ
es d
e co
uro
de d
oze
peça
s de
cor
es d
ifere
ntes
, de
que
são
sim
ples
am
ostra
s as
cor
es c
onhe
cida
s en
tre n
ós q
ue o
s pi
ntor
es e
mpr
egam
. Tod
a aq
uela
te
rra
é as
sim
, por
ém d
e co
res
mui
to m
ais
pura
e b
rilha
ntes
; um
a pa
rte é
de
cor é
púr
pura
e
adm
irave
lmen
te b
ela;
out
ra é
dou
rada
; out
ra, a
inda
, com
ser
bra
nca,
é m
ais
alva
do
que
o gi
z e
a ne
ve, o
mes
mo
acon
tece
ndo
com
toda
s as
cor
es d
e qu
e é
feita
, em
mui
to m
aior
nú
mer
o e
mai
s be
las
do q
ue q
uant
as p
ossa
mos
já te
r vis
to. P
ois
até
mes
mo
as c
onca
vida
des
da te
rra,
est
ando
che
ias
de a
r e d
e ág
ua, m
ostra
m u
ma
cor d
e br
ilho
espe
cial
, res
ulta
nte
da
mis
tura
de
toda
s as
cor
es, d
e fo
rma
que
a Te
rra
apre
sent
a co
lorid
o de
uni
form
e va
rieda
de.
Nes
sa te
rra
assi
m c
onst
ituíd
a, tu
do c
resc
e na
s m
esm
as p
ropo
rçõe
s: á
rvor
es, f
lore
s ou
frut
os.
Com
as m
onta
nhas
dá-
se o
mes
mo;
as
pedr
as, r
elat
ivam
ente
, são
mai
s m
acia
s e
trans
lúci
das
e de
cor
es m
uito
lind
as, d
as q
uais
são
par
cela
insi
gnifi
cant
e no
ssas
ped
razi
nhas
tão
apre
ciad
as: s
ardô
nica
s, ja
spe
e es
mer
alda
s, e
toda
s as
out
ras
da m
esm
a n
atur
eza.
As
de lá
sã
o to
das
dess
e je
ito e
ain
da m
ais
bela
s. A
cau
sa d
isso
, vam
os e
ncon
trá-l
a no
fato
de
sere
m
pura
s aq
uela
s pe
dras
e n
ão fi
care
m e
stra
gada
s ne
m c
orro
ídas
, com
o as
nos
sas,
pela
pu
trefa
ção
e pa
la s
alsu
gem
que
con
verg
em p
ara
os lu
gare
s cá
de
baix
o e
que
defo
rmam
e
deix
am d
oent
e nã
o so
men
te a
s pe
dras
e o
sol
o, c
omo
tam
bém
os
anim
ais
e as
pla
ntas
. Tud
o iss
o en
feita
aqu
ela
terr
a, ta
mbé
m o
uro
e pr
ata
e o
que
mai
s ho
uver
do
mes
mo
gêne
ro, d
e ta
nta
refu
lgên
cia
tudo
em
tão
gran
de c
ópia
esp
alha
do p
ela
vast
idão
da
terr
a ,q
ue s
ua v
ista
é
verd
adei
ram
ente
edi
fican
te. E
xiste
m n
ela
anim
ais
em p
rofu
são,
e ta
mbé
m e
m p
arte
nas
m
arge
ns d
o ar
, com
o nó
s m
oram
os n
as d
o m
ar, e
m p
arte
nas
ilha
s ce
rcad
as d
e ar
, per
to d
os
cont
inen
tes.
Num
a pa
lavr
a: o
ar p
ara
eles
é c
om a
águ
a e
o m
ar p
ara
noss
as n
eces
sida
des,
assi
m c
omo
para
ele
s o
éter
é o
que
par
a nó
s é
o ar
. As
esta
ções
ent
re e
les
são
de ta
l mod
o te
mpe
rada
s, qu
e ni
ngué
m c
ai d
oent
e, v
iven
do to
dos
mui
to m
ais
tem
po d
o qu
e os
hom
ens
cá
de b
aixo
. Qua
nto
à vis
ta, o
ouv
ido
o pe
nsam
ento
e d
emai
s at
ribut
os d
esse
gên
ero,
ele
s no
s ul
trapa
ssam
na
mes
ma
prop
orçã
o em
que
o a
r ven
ce e
m p
urez
a a
água
e o
éte
r o p
rópr
io a
r. H
á ta
mbé
m e
ntre
ele
s te
mpl
os e
bos
ques
sag
rado
s, no
s qu
ais
vive
r ef
etiv
amen
te a
s di
vind
ades
, bem
com
o vo
zes,
prof
ecia
s e
apar
içõe
s do
s de
uses
, que
é c
omo
se c
omun
icam
co
m e
les,
de ro
sto
a ro
sto.
Ade
mai
s, vê
em o
sol
, a lu
a e
as e
stre
las
com
são
na
real
idad
e,
anda
ndo
a pa
r com
tudo
isso
o re
stan
te d
e su
a be
m-a
vent
uran
ça.
LX –
Ass
im é
a n
atur
eza
da te
rra
em s
eu c
onju
nto
e da
s co
isas
que
a c
ircun
dam
. Nas
en
tranh
as d
a te
rra,
por
todo
o s
eu c
onto
rno
nota
m-s
e nu
mer
osas
con
cavi
dade
s, al
gum
asm
ais
prof
unda
s e
pate
ntes
do
que
esta
em
que
mor
amos
, out
ras
tam
bém
pro
fund
as, p
orém
co
m e
ntra
da m
ais
angu
sta
do q
ue a
nos
sa, h
aven
do, a
inda
, um
as ta
ntas
de
men
or fu
ndur
a,
poré
m m
ais
larg
as d
o qu
e es
ta. T
odas
ess
as re
giõe
s se
com
unic
am e
ntre
si e
m m
uito
s lu
gare
s po
r pas
sage
ns s
ubte
rrân
eas,
de la
rgur
a va
riáve
l, al
ém d
e po
ssuí
rem
out
ras
vias
de
aces
so. M
uita
águ
a co
rre
de u
ma
para
out
ra, c
omo
nos
gran
des
vaso
s, ha
vend
o, o
utro
ssim
, em
baix
o da
terr
a rio
s pe
rene
s de
gra
ndez
a de
scom
unal
, de
água
que
nte
e fr
ia, e
tam
bém
m
uito
fogo
e g
rand
es ri
os d
e fo
go, b
em c
omo
corr
ente
s de
lam
a líq
uida
, ora
mai
s lim
pa, o
ra
mai
s su
ja, t
al c
omo
ante
s de
lava
os
rios
de la
ma
da S
icíli
a, e
dep
ois
a pr
ópria
lava
. Ess
as
dife
rent
es re
giõe
s s
e en
chem
de
sem
elha
nte
mat
éria
, de
acor
do c
om a
dire
ção
ocas
iona
l da
corr
ente
. Ess
as á
guas
se
mov
imen
tam
par
a ci
ma
e pa
ra b
aixo
, com
o um
pên
dulo
col
ocad
o no
inte
rior d
a te
rra.
Sem
elha
nte
osci
laçã
o de
ve p
rovi
r do
segu
inte
: Ent
re a
s ab
ertu
ras
da
terr
a, u
ma
há p
artic
ular
men
te g
rand
e, q
ue a
atra
vess
a em
toda
a s
ua e
xten
são
e a
que
se
refe
re H
omer
o no
s se
guin
tes
term
os:
Essa
vor
agem
pro
fund
a qu
e em
bai
xo d
a te
rra
se e
ncon
tra, e
que
por
ele
mes
mo
e m
uito
s ou
tros
poet
as é
den
omin
ada
Tárta
ro. É
par
a es
sa a
bertu
ra q
ue c
onflu
em to
dos
os
rios,
com
o é
dela
, tam
bém
, que
todo
s pa
rtem
, adq
uirin
do c
ada
um a
s pr
oprie
dade
s do
te
rren
o po
r ond
e pa
ssam
. A ra
zão
de s
aíre
m d
e to
dos
os ri
os d
essa
abe
rtura
e d
e vo
ltare
m
para
ela
, é c
arec
erem
sua
s ág
uas
de fu
ndo
e de
bas
e; d
aí o
scila
rem
e fl
utua
rem
par
a ci
ma
e pa
ra b
aixo
. Con
corr
em p
ara
o m
esm
o ef
eito
o a
r e o
ven
to q
ue a
s en
volv
em, p
or
acom
panh
á-la
s ta
nto
quan
do s
e pr
ecip
itam
par
a as
regi
ões
do o
utro
lado
da
terr
a co
mo
quan
do s
e di
rigem
par
a o
lado
de
cá. E
ass
im c
omo
o so
pro
de q
uem
resp
ira s
e en
cont
ra e
m
cons
tant
e m
ovim
ento
, na
insp
iraçã
o e
na e
xpira
ção,
do
mes
mo
mod
o o
sopr
o pr
edom
inan
te
naqu
elas
regi
ões,
junt
amen
te c
om a
s ág
uas,
quan
do e
ntra
m e
qua
ndo
saem
, pro
duz
vent
os
de ir
resis
tível
vio
lênc
ia. A
o se
diri
gire
m a
s ág
uas
para
os
luga
res
que
deno
min
amos
de
baix
o, a
fluem
par
a os
leito
s da
s co
rren
tes
dess
e la
do e
os
ench
em, c
omo
nos
sist
emas
de
irrig
ação
; qua
ndo,
inve
rsam
ente
, os
aban
dona
m e
reto
rnam
par
a cá
, vol
tam
a e
nche
r os
dest
e la
do. U
ma
vez
chei
os, c
orre
m p
elos
can
ais
e pe
la te
rra,
seg
uind
o as
via
s na
tura
is d
o so
lo e
pas
sam
a fo
rmar
lago
s, m
ares
, rio
s e
font
es. D
e lá
, vol
tand
o a
mer
gulh
ar n
a te
rra,
de
pois
de
uma
parte
das
águ
as c
ircul
ar p
or m
aios
núm
ero
de re
giõe
s e
mai
s ex
tens
as,
enqu
anto
out
ras
faze
m tr
ajet
o pe
quen
o em
men
os lu
gare
s, la
nçam
-se
outra
vez
no
Tárta
ro,
algu
mas
mui
to m
ais
abai
xo d
o ní
vel e
m q
ue c
orria
m, o
utra
s um
pou
co m
enos
, con
quan
to
dese
mbo
quem
toda
s m
uito
aba
ixo
do p
onto
de
parti
da. A
lgun
s rio
s irr
ompe
m d
o la
do
opos
to d
a sa
ída,
out
ros
do m
esm
o la
do; s
im, c
asos
há
de d
escr
ever
em u
m c
írcul
o co
mpl
eto:
en
rola
ndo-
se u
ma
ou m
ais
veze
s em
torn
o da
terr
a, à
feiç
ão d
e se
rpen
tes,
desc
em o
mai
s
poss
ível
par
a de
nov
o se
lanç
arem
no
Tárta
ro. O
s rio
s de
am
bos
os la
dos
pode
m b
aixa
r até
o
cent
ro, p
orém
não
ultr
apas
sá-l
o, p
ois
de c
ada
lado
a m
arge
m d
esse
s rio
s é
de a
cliv
e ac
entu
ado.
LXI –
Há
mui
tas
outra
s ca
udai
s do
mai
s va
riado
asp
ecto
, por
ém n
essa
mul
tidão
de
rios
há q
uatro
, par
ticul
arm
ente
, dos
qua
is o
mai
or e
mai
s af
asta
do d
o ce
ntro
, den
omin
ado
Oce
ano,
circ
unda
a T
erra
inte
ira. D
e fr
onte
des
te e
em
sen
tido
cont
rário
def
lui o
Aqu
eron
te,
que
além
de
atra
vess
ar m
uita
s re
giõe
s de
serta
s, co
rre
por b
aixo
da
terr
a, a
té a
lcan
çar a
La
goa
Aqu
erús
ia, p
ara
onde
vão
as
alm
as d
a m
aior
ia d
os m
orto
s, as
qua
is, d
epoi
s de
ali
perm
anec
erem
o te
mpo
mar
cado
pel
o de
stin
o, u
mas
mai
s ou
tras
men
os, s
ão re
envi
adas
par
a re
nasc
erem
em
ani
mai
s. O
terc
eiro
rio
irrom
pe d
entre
os
dois
prim
eiro
s, pa
ra la
nçar
-se,
pe
rto d
e su
a or
igem
, num
luga
r am
plo
e ch
eio
de fo
go, o
nde
form
a um
lago
mai
or d
o qu
e o
noss
o m
ar, d
e ág
ua e
lam
a fe
rven
tes.
Daí
, tor
vo d
e ta
nta
lam
a, d
escr
eve
um c
írcul
o e
depo
is
de c
onto
rnar
a te
rra
e at
rave
ssar
out
ros
luga
res,
atin
ge o
lim
ite e
xtre
mo
da L
agoa
A
quer
úsia
, sem
que
sua
s ág
uas
se m
istu
rem
com
as
dest
a. P
or fi
m, d
epoi
s de
mui
tas
volta
s se
mpr
e de
ntro
da
terr
a la
nça-
se n
a po
rção
mai
s ba
ixa
do T
árta
ro. E
sse
é qu
e te
m o
nom
e de
Pi
rifle
geto
nte,
cuj
as la
vas
joga
m p
artíc
ulas
inca
ndes
cent
es e
m d
iver
sos
pont
os d
a su
perf
ície
da
terr
a. D
efro
nte
dele
, por
sua
vez
, des
embo
ca o
qua
rto ri
o, a
prin
cípi
o nu
ma
regi
ão
selv
átic
a e
pavo
rosa
, e, a
o qu
e se
diz
, tod
a el
a de
col
orid
o az
ul e
scur
o, d
enom
inad
a Es
tígia
, se
ndo
cham
ada
Est
ige
a la
goa
em q
ue e
le v
em la
nçar
-se.
Dep
ois d
e ne
la c
air e
adq
uirir
em
suas
águ
as p
ropr
ieda
des
terr
ívei
s, af
unda
pel
a te
rra,
traç
ando
vol
tas
sem
con
ta e
m s
entid
o co
ntrá
rio às
do
Pirif
lege
tont
e, c
om o
qua
l vai
def
ront
ar-s
e no
lado
opo
sto
da la
goa
Aqu
erús
ia. S
uas
água
s, ta
mbé
m, n
ão s
e m
istu
ram
com
as
outra
s, vi
ndo
ele
a de
sagu
ar n
o Tá
rtaro
def
ront
e do
Piri
flege
tont
e. O
nom
e de
sse
rio, n
o di
zer d
os p
oeta
s, é
Cóc
ito.
LXII
– S
endo
ess
a a
disp
osiç
ão n
atur
al d
os ri
os, q
uand
o os
mor
tos
cheg
am a
o lo
cal
dete
rmin
ado
para
cad
a um
o s
eu d
emôn
io p
artic
ular
, ant
es d
e m
ais
nada
são
julg
ados
, tan
to
os q
ue le
vara
m v
ida
bela
e s
anta
com
o os
que
viv
eram
mal
. Os
clas
sific
ados
com
o de
pr
oced
imen
to m
edia
no, d
irige
m-s
e pa
ra o
Aqu
eron
te e
sob
em p
ara
as b
arca
s qu
e lh
es s
ão
dest
inad
as e
que
os
trans
porta
m p
ara
a la
goa.
Aí p
assa
m a
resi
dir e
se
purif
icam
, e n
o ca
so
de h
aver
em c
omet
ido
algu
ma
falta
, cum
prem
a p
ena
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sta
e sã
o ab
solv
idos
ou
reco
mpe
nsad
os, d
e ac
ordo
com
o m
érito
de
cada
um
. Os
reco
nhec
idam
ente
incu
ráve
is, p
or
caus
a da
eno
rmid
ade
de s
eus
crim
es, r
oubo
s de
tem
plos
, rep
etid
os e
gra
ves,
hom
icíd
ios
iníq
uos
e co
ntra
a le
i, e
mui
tos
outro
s do
mes
mo
tipo
que
se c
omet
em p
or a
í: es
ses
lanç
a-os
no
Tár
taro
a s
orte
mer
ecid
a, d
e on
de n
ão s
airã
o nu
nca
mai
s. O
s au
tore
s de
falta
s sa
náve
is,
embo
ra g
rave
s –
seria
o c
aso
dos
que,
num
mom
ento
de
cóle
ra, u
sara
m d
e vi
olên
cia
cont
ra
o pa
i ou
a m
ãe, m
as q
ue s
e ar
repe
nder
am o
rest
o da
vid
a, o
u os
que
se
torn
aram
hom
icid
as
por i
dênt
icos
mot
ivos
– to
dos
terã
o fa
talm
ente
de
ser l
ança
dos
o Tá
rtaro
. Por
ém m
ano
de
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de
ali c
aíre
m, a
s on
das
joga
m o
s as
sass
inos
par
a o
Cóc
ito, e
os
culp
ados
de
viol
ênci
a co
ntra
o p
ai e
a m
ãe p
ara
o Pi
rifle
geto
nte.
Arr
asta
dos,
assi
m, p
ela
corr
ente
za, q
uand
o at
inge
m a
Lag
oa A
quer
úsia
, alg
uns
cham
am a
voz
es o
s qu
e el
es m
esm
os m
atar
am, o
utro
s as
víti
mas
de
suas
vio
lênc
ias;
e a
o ac
orre
rem
todo
s a
seus
bra
dos,
impl
oram
per
mis
são
de
pass
ar p
ara
a la
goa
e de
ser
em re
cebi
dos.
Se c
onse
guem
com
ele
s qu
e os
ate
ndam
, in
gres
sam
na
lago
a, te
rmin
ando
logo
ali
seus
sofri
men
tos;
caso
con
trário
, são
mai
s um
a ve
z le
vado
s pa
ra o
Tár
taro
e d
este
, nov
amen
te, p
ara
os ri
os, p
rolo
ngan
do-s
e, d
essa
form
a, o
ca
stig
o at
é c
onse
guire
m o
per
dão
de s
uas
vítim
as. E
ssa
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lhes
é im
post
a pe
los
juíz
es.
Por ú
ltim
o, o
s qu
e sã
o re
conh
ecid
os c
omo
de v
ida
emin
ente
men
te s
anta
, fic
am d
ispe
nsad
os
de p
erm
anec
er n
essa
s m
orad
as s
ubte
rrân
eas
e, c
omo
egre
ssos
da
pris
ão a
tinge
m, a
s re
giõe
s pu
ras
e pa
ssam
a re
sidi
r na
terr
a. E
ntre
ess
es, o
s qu
e já
se
purif
icar
am s
ufic
ient
emen
te p
or
mei
o da
filo
sofia
, viv
em d
aí p
or d
iant
e se
m c
orpo
e v
ão p
ara
mor
adia
s ai
nda
mai
s be
las
do
que
as o
utra
s. D
esis
to d
e de
scre
vê-l
as, à
um
a, p
or n
ão s
er fá
cil t
aref
a, à
outra
s, po
r não
di
spor
ago
ra d
e te
mpo
par
a ta
nto.
Do
que
vos
expu
sem
os, S
ímia
s, pr
ecis
amos
tudo
faze
r pa
ra e
m v
ida
adqu
irir v
irtud
e e
sabe
doria
, poi
s be
la é
a re
com
pens
a e
infin
itam
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gra
nde
a es
pera
nça.
LXII
I – A
firm
ar, d
e m
odo
posi
tivo,
que
tudo
sej
a co
mo
acab
ei d
e ex
por,
não
é pr
óprio
de
hom
em s
ensa
to; m
as q
ue d
eve
ser a
ssim
mes
mo
ou q
uase
ass
im n
o qu
e di
z re
spei
to a
nos
sas
alm
as e
sua
s m
orad
as, s
endo
a a
lma
imor
tal c
omo
se n
os re
velo
u, é
pr
opos
ição
que
me
pare
ce d
igna
de
fé e
mui
to p
rópr
ia p
ara
reco
mpe
nsar
-nos
do
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em
qu
e in
corr
emos
por
ace
itá-l
a co
mo
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É um
bel
o ris
co, e
is o
que
pre
cisa
mos
diz
er a
nós
m
esm
os à
guis
a da
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ula
de e
ncan
tam
ento
. Ess
a é
a ra
zão
de m
e te
r alo
ngad
o ne
ste
mito
. C
onfia
do n
ele;
é q
ue p
ode
tranq
üiliz
ar-s
e co
m re
laçã
o a
sua
alm
a o
hom
em q
ue p
asso
u a
vida
sem
dar
o m
enor
apr
eço
aos
praz
eres
do
corp
o e
aos
cuid
ados
esp
ecia
is q
ue e
ste
requ
er, p
or c
onsi
derá
-los
est
ranh
os a
si m
esm
o e
capa
zes
de p
rodu
zir,
just
amen
te, o
efe
ito
opos
to. T
odo
entre
gue
aos
dele
ites
da in
stru
ção,
com
os
quai
s ad
orna
va a
alm
a, n
ão c
omo
se o
fize
sse
com
alg
o es
tranh
o a
ela,
por
ém c
omo
jóia
s da
mai
s fe
liz in
dica
ção:
tem
pera
nça,
ju
stiç
a, c
orag
em, n
obre
za e
ver
dade
, esp
era
o m
omen
to d
e pa
rtir p
ara
o H
ades
qua
ndo
o de
stin
o o
conv
ocar
. Vós
tam
bém
, Sím
ias
e C
ebet
e, a
cres
cent
ou, e
todo
s os
out
ros,
tere
is d
e fa
zer m
ais
tard
e es
sa v
iage
m, c
ada
um n
o se
u te
mpo
. A m
im, p
orém
, par
a fa
lar c
omo
heró
i trá
gico
, ago
ra m
esm
o ch
ama-
me
o de
stin
o. M
as e
sta
quas
e na
hor
a de
tom
ar o
ban
ho. A
cho
mel
hor f
azer
isso
ant
es d
e be
ber o
ven
eno,
par
a nã
o da
r às
mul
here
s o
traba
lho
de la
var o
ca
dáve
r. LXIV
– D
epoi
s de
diz
er e
ssas
pal
avra
s, fa
lou
Crit
ão: E
stá
bem
, Sóc
rate
s; p
orém
que
de
term
inaç
ões
me
deix
as o
u a
este
s aq
ui, a
resp
eito
de
teus
filh
os, o
u o
que
mai
s po
dere
mos
fa
zer p
or a
mor
de
ti, q
ue n
os fo
ra g
rato
exe
cuta
r?
O q
ue s
empr
e vo
s di
go, C
ritão
, foi
a s
ua re
spos
ta; n
ada
tenh
o a
acre
scen
tar:
se
cuid
arde
s de
vós
mes
mos
, tud
o o
que
fizer
des
será
tant
o po
r am
or d
e m
im e
dos
meu
s co
mo
de to
dos,
aind
a m
esm
o qu
e na
da m
e tiv
ésse
is p
rom
etid
o ne
ste
mom
ento
. Por
ém n
o ca
so d
e vo
s de
scui
dard
es d
e vó
s m
esm
os e
de
não
orie
ntar
des
a vi
da c
omo
que
no ra
stro
do
que
vos
diss
e ag
ora
e no
pas
sado
, por
mai
s nu
mer
osos
e s
olen
es q
ue fo
ssem
vos
sos
jura
men
tos
nest
e in
stan
te, n
ão a
vanç
arei
s um
úni
co p
asso
.
Qua
nto
a is
so, r
espo
ndeu
, esf
orça
r-no
s-em
os p
ara
vive
r des
sa m
anei
ra. M
as, c
omo
deve
mos
sep
ulta
r-te
?
Com
o qu
iser
des,
diss
e; b
asta
que
seg
urei
s de
ver
dade
e q
ue e
u nã
o vo
s es
cape
.
Dep
ois,
sorr
iu d
e m
ansi
nho
e di
sse,
olh
ando
par
a o
noss
o la
do: N
ão c
onsi
go,
senh
ores
, con
venc
er C
ritão
de
que
eu s
ou o
Sóc
rate
s qu
e ne
ste
mom
ento
con
vers
a co
m e
le
e co
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ta s
eus
argu
men
tos;
tom
a-m
e po
r que
m e
le ir
á ve
r mor
to d
entro
de
pouc
o. P
or is
so
perg
unta
com
o de
verá
sep
ulta
r-m
e. Q
uant
o ao
que
vos
tenh
o di
to ta
ntas
vez
es, q
ue d
epoi
s de
beb
er o
ven
eno
não
ficar
ei c
onvo
sco
mai
s ire
i com
parti
lhar
da
dita
dos
bem
-
aven
tura
dos,
ele
acha
que
eu
só fa
lo a
ssim
par
a tra
nqüi
lizar
-vos
e a
mim
tam
bém
. Ser
vi-
me,
poi
s, de
fiad
or ju
nto
de C
ritão
, por
ém q
ue s
eja
essa
fian
ça o
opo
sto
da q
ue e
le p
rest
ou
pera
nte
os ju
ízes
. Em
penh
ou, e
ntão
, a p
alav
ra e
m c
omo
eu fi
caria
; por
vos
sa v
ez, a
firm
ai-lh
e, q
ue n
ão fi
care
i dep
ois
de m
orto
, por
ém s
aire
i daq
ui e
par
tirei
, par
a qu
e el
e se
mos
tre
mai
s pac
ient
e e
não
se a
flija
tant
o po
r min
ha c
ausa
, qua
ndo
vir q
ueim
arem
ou
ente
rrare
m
meu
cor
po, n
o pr
essu
post
o de
que
eu
este
ja s
ofre
ndo
enor
mem
ente
, nem
dig
a no
s m
eus
fune
rais
que
exp
õe S
ócra
tes,
ou o
car
rega
, ou
o se
pulta
. Fic
a sa
bend
o, c
ontin
uou,
meu
ad
mirá
vel C
ritão
, que
a im
prec
isão
da li
ngua
gem
, alé
m d
e se
r um
def
eito
em
si m
esm
a,
prod
uz m
al às
alm
as. I
mpo
rta c
riare
s co
rage
m e
diz
er q
ue é
meu
cor
po q
ue v
ais
ente
rrar
; de
pois
sep
ulta
-o c
omo
te a
prou
ver e
com
o te
par
ecer
mai
s de
aco
rdo
com
as
leis
.
LXV
– T
endo
aca
bado
de
fala
r, le
vant
ou-s
e e
foi p
ara
outro
com
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to, a
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de
banh
ar-s
e. C
ritão
o a
com
panh
ou; a
nós
man
dou
que
espe
ráss
emos
. Ali
ficam
os, e
ntão
, a
conv
ersa
r e c
omen
tar t
udo
o qu
e el
e di
sser
a e
a di
scor
rer s
obre
o n
osso
gra
nde
info
rtúni
o.
Sent
íam
os, e
m v
erda
de, c
omo
quem
hou
vess
e pe
rdid
o o
pai e
tive
sse
de fi
car ó
rfão
par
a o
rest
o da
vid
a. D
epoi
s de
tom
ar b
anho
, tro
uxer
am-l
he o
s filh
os –
doi
s ai
nda
eram
peq
ueno
s;
o ou
tro, m
ais
cres
cido
. – C
hega
ram
tam
bém
as
mul
here
s de
cas
a, c
om a
s qu
ais
ele
conv
erso
u na
fren
te d
e C
ritão
, e d
epoi
s de
lhes
hav
er fe
ito c
erta
s re
com
enda
ções
, ped
iu q
ue
retir
asse
m d
ali a
s mul
here
s e
os m
enin
os e
vei
o pa
ra o
nos
so la
do. O
sol
já e
stav
a qu
ase
a de
sapa
rece
r, po
is S
ócra
tes
havi
a fic
ado
lá d
entro
bas
tant
e te
mpo
. Ao
vir d
o ba
nho,
sen
tou-
se, p
orém
não
con
vers
ou m
uito
. Ach
egou
-se-
lhe
o co
mis
sário
dos
Onz
e, q
ue lh
e di
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Sócr
ates
, fal
ou, d
e ti
não
tere
i de
quei
xar-
me
com
o do
s ou
tros,
que
se z
anga
m c
omig
o e
rom
pem
em
pal
avra
s e
prag
as, q
uand
o os
con
vido
a to
mar
o v
enen
o po
r det
erm
inaç
ão
supe
rior.
No
teu
caso
, pel
o co
ntrá
rio, d
uran
te to
do e
ste
tem
po e
em
vár
ias
outra
s op
ortu
nida
des,
pude
reco
nhec
er e
m ti
o h
omem
mai
s no
bre,
mai
s de
licad
o e
mel
hor d
e qu
anto
s pa
ra a
qui t
êm v
indo
. Hoj
e, e
spec
ialm
ente
, ten
ho c
erte
za d
e qu
e nã
o te
zan
gará
s co
mig
o, p
ois
sabe
s m
uito
bem
que
é d
os o
utro
s a
culp
a. E
ago
ra, j
á qu
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aste
cie
nte
do
que
vim
anu
ncia
r-te
. Ade
us; s
upor
ta o
inev
itáve
l da
mel
hor m
anei
ra p
ossív
el.
E de
sata
ndo
a ch
orar
, deu
as
cost
as e
retir
ou-s
e. S
ócra
tes
olho
u pa
ra e
le d
isse
: Ade
us,
tam
bém
par
a ti;
fare
mos
isso
mes
mo.
Dep
ois,
volta
ndo-
se p
ara
o no
sso
lado
: Que
hom
em d
elic
ado!
Dis
se. D
uran
te to
do
este
tem
po ,
vinh
a se
mpr
e ve
r-m
e e
vária
s ve
zes
conv
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u co
mig
o. E
xcel
ente
cria
tura
. A
gora
mes
mo,
qua
nta
gene
rosi
dade
reve
la c
om e
sse
chor
o po
r min
ha c
ausa
! Por
ém v
amos
, C
ritão
; obe
deça
mos
-lhe
; tra
gam
logo
o v
enen
o, s
e es
tiver
pro
nto;
sen
ão, c
uide
de
prep
ará-
lo o
enc
arre
gado
dis
so.
Crit
ão o
bser
vou:
O q
ue e
u ac
ho, S
ócra
tes,
lhe
diss
e, é
que
o s
ol a
inda
est
á po
r cim
a da
s m
onta
nhas
; não
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xou
de to
do. S
ei ta
mbé
m q
ue m
uito
s to
mar
am o
ven
eno
bem
dep
ois
da in
timaç
ão e
de
com
erem
e b
eber
em à
farta
; sim
, alg
uns
mes
mo
depo
is d
e re
laçõ
es
amor
osas
com
que
lhe
apet
eces
se. N
ão te
apr
esse
s; te
mos
tem
po.
E Só
crat
es: É
nat
ural
, Crit
ão, a
ssim
falo
u, q
ue e
sses
tais
pro
cede
ssem
con
form
e di
sses
te, p
or im
agin
arem
que
diss
e lh
es a
dviri
a al
gum
a va
ntag
em. M
as é
tam
bém
nat
ural
nã
o pr
oced
er e
u de
ssa
man
eira
, poi
s nã
o ve
jo o
que
pos
so v
ir a
lucr
ar e
m b
eber
o v
enen
o
um p
ouco
mai
s ta
rde,
se
não
for t
orna
r-m
e rid
ícul
o a
meu
s pr
óprio
s ol
hos,
por a
garr
ar-m
e de
ssa
man
eira
à vi
da e
tent
ar e
cono
miz
ar o
que
já n
ão e
xist
e. V
amos
, con
tinuo
u: o
bede
ce-
me
e só
faça
s o
que
eu d
igo.
LXV
I – O
uvin
do-o
, Crit
ão fe
z si
nal a
o m
enin
o qu
e se
enc
ontra
va m
ais
perto
. Est
e sa
iu e
vol
tou
pouc
o de
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em
com
panh
ia d
o en
carr
egad
o de
lhe
dar o
ven
eno,
que
já o
tra
zia
espr
emid
o na
taça
. Ao
ver o
hom
em, S
ócra
tes
perg
unto
u-lh
e. E
ago
ra, m
eu c
aro:
já
que
ente
ndes
des
tas
cois
as, q
ue p
reci
sare
i faz
er?
Nad
a m
ais,
resp
onde
u, d
o qu
e an
dar d
epoi
s de
beb
er, a
té s
entir
es p
eso
nas
pern
as, e
em
seg
uida
s de
itar-
te. A
ssim
o v
enen
o at
uará
.
Dep
ois
dess
as p
alav
ras,
este
ndeu
a S
ócra
tes
a ta
ça, q
ue a
tom
ou d
as m
ãos
dele
com
to
da a
tran
quili
dade
, sem
o m
enor
trem
or n
em a
ltera
ção
da c
or o
u da
s fe
içõe
s. M
irand
o po
r ba
ixo
o ho
mem
, com
aqu
ele
seu
olha
r de
tour
o, p
ergu
ntou
-lhe
: Que
me
dize
s? E
se e
u fiz
esse
um
a lib
ação
com
um
pou
quin
ho d
isto
aqui
? É
perm
itido
ou
não?
Só p
repa
ram
os, S
ócra
tes,
resp
onde
u, a
qua
ntid
ade
que
nos
pare
ce s
ufic
ient
e.
Com
pree
ndo,
retru
cou.
Mas
pel
o m
enos
é p
erm
itido
, e a
té u
m d
ever
, ped
ir ao
s de
uses
qu
e fa
çam
feliz
a p
assa
gem
des
te m
undo
par
a o
outro
. É o
que
peç
o. P
rouv
era
que
me
aten
dam
!
Dep
ois
de a
ssim
fala
r, le
vou
a ta
ça a
os lá
bios
e c
om to
da a
nat
ural
idad
e, s
em v
acila
r um
nad
a, b
ebeu
até
à úl
tima
gota
. Até
ess
e m
omen
to, q
uase
todo
s tín
ham
os c
onse
guid
o re
ter a
s lá
grim
as; p
orém
qua
ndo
o vi
mos
beb
er e
que
hav
ia b
ebid
o tu
do, n
ingu
ém m
ais
ague
ntou
. Eu
tam
bém
não
me
cont
ive:
cho
rei à
lágr
ima
viva
. Cob
rindo
a c
abeç
a, la
stim
ei o
m
eu in
fortú
nio;
sim
, não
era
por
des
graç
a qu
e eu
cho
rava
, mas
a m
inha
pró
pria
sor
te, p
or
ver d
e qu
e es
péci
e de
am
igo
me
veria
priv
ado.
Crit
ão le
vant
ou-s
e an
tes
de m
im, p
or n
ão
pode
r ret
er a
s lá
grim
as. A
polo
doro
, que
des
de o
com
eço
não
havi
a pa
rado
de
chor
ar, p
ôs s
e a
urra
r, co
mov
endo
seu
pra
nto
e la
men
taçõ
es a
té o
íntim
o to
dos
os p
rese
ntes
, com
exc
eção
do
pró
prio
Sóc
rate
s.
Que
é is
so, g
ente
inco
mpr
eens
ível
? Pe
rgun
tou.
Man
dei s
air a
s m
ulhe
res,
para
evi
tar
esse
s ex
ager
os. S
empr
e so
ube
que
só s
e de
ve m
orre
r com
pal
avra
s de
bom
ago
uro.
A
calm
ai-vo
s! S
ede
hom
ens!
Ouv
indo
-o fa
lar d
essa
man
eira
, sen
timo-
nos
enve
rgon
hado
s e
para
mos
de
chor
ar. E
el
e, s
em d
eixa
r de
anda
r, ao
sen
tir a
s pe
rnas
pes
adas
, dei
tou-
se d
e co
stas
, com
o re
com
enda
ra o
hom
em d
o ve
neno
. Est
e, a
inte
rval
os, a
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ava-
lhe
os p
és e
as
pern
as.
Dep
ois,
aper
tand
o co
m m
ais
forç
a os
pés
, per
gunt
ou s
e se
ntia
alg
uma
cois
a. R
espo
ndeu
que
nã
o. D
e se
guid
a, s
em d
eixa
r de
com
prim
ir-l
he a
per
na, d
o ar
telh
o pa
ra c
ima,
mos
trou-
nos
que
com
eçav
a a
ficar
frio
e a
enr
ijece
r. A
palp
ando
-o m
ais
uma
vez,
dec
laro
u-no
s qu
e no
m
omen
to e
m q
ue a
quilo
che
gass
e ao
cor
ação
, ele
par
tiria
. Já
se lh
e tin
ha e
sfria
do q
uase
to
do o
bai
xo-v
entre
, qua
ndo,
des
cobr
indo
o ro
sto
– po
is o
hav
ia ta
pado
ant
es –
dis
se, e
fo
ram
sua
s úl
timas
pal
avra
s: C
ritão
, exc
lam
ou, d
evem
os u
m g
alo
a A
sclé
pio.
Não
te
esqu
eças
de
sald
ar e
ssa
dívi
da!
Ass
im fa
rei,
resp
onde
u C
ritão
, vê
se q
uere
s di
zer m
ais a
lgum
a co
isa.
A e
ssa
perg
unta
, já
não
resp
onde
u. D
ecor
rido
mai
s al
gum
tem
po, d
eu u
m e
stre
meç
ão.
O h
omem
o d
esco
briu
; tin
ha o
olh
ar p
arad
o. P
erce
bend
o is
so, C
ritão
fech
ou-l
he o
s ol
hos
e a
boca
. Tal f
oi o
fim
do
noss
o am
igo,
Equ
écra
tes,
do h
omem
, pod
emos
afir
má-
lo, q
ue e
ntre
to
dos
os q
ue n
os fo
i dad
o co
nhec
er, e
ra o
mel
hor e
tam
bém
o m
ais
sábi
o e
mai
s ju
sto.
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