preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do...

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Ver

são

elet

rôni

ca d

o di

álog

o pl

atôn

ico

“Fed

ão”

Tr

aduç

ão: C

arlo

s A

lber

to N

unes

Cré

dito

s da

dig

italiz

ação

: Mem

bros

do

grup

o de

dis

cuss

ão A

cróp

olis

(Filo

sofia

)H

omep

age

do g

rupo

: http

://br

.egr

oups

.com

/gro

up/a

crop

olis

/

A d

istri

buiç

ão d

esse

arq

uivo

(e d

e ou

tros

base

ados

nel

e) é

livr

e, d

esde

que

se

dê o

s cr

édito

s da

dig

italiz

ação

aos

mem

bros

do

gru

po A

cróp

olis

e s

e ci

te o

end

ereç

o da

hom

epag

e do

gru

po n

o co

rpo

do te

xto

do a

rqui

vo e

m q

uest

ão, t

al c

omo

está

acim

a.

FEDÃO

I – E

stiv

este

tu m

esm

o, F

edão

, jun

to d

e Só

crat

es n

o di

a em

que

ele

tom

ou v

enen

o na

pr

isão,

ou

ouvi

ste d

e al

guém

?

Fedã

o–

Não

, eu

mes

mo,

Equ

écra

tes.

Equ

écrates–

Ent

ão, q

ue d

isse

o h

omem

ant

es d

e m

orre

r? E

com

o fo

i a s

ua m

orte

? G

osta

ria d

e sa

ber t

udo

o qu

e se

pas

sou.

Rec

ente

men

te, n

enhu

m c

idad

ão d

e Fl

iunt

e te

m id

o a

Ate

nas,

e há

mui

to n

ão n

os v

êm d

e lá

fora

stei

ros

capa

zes

de d

ar-n

os in

form

açõe

s se

gura

s, sa

lvo

dize

rem

que

mor

reu

depo

is d

e to

mar

o v

enen

o. Q

uant

o ao

mai

s, na

da in

form

am d

e pa

rticu

lar.

Fedã

o–

E ta

mbé

m n

ão o

uvist

e co

ntar

com

o fo

i o ju

lgam

ento

?

Equ

écrates–

Ouv

imos

, sim

; alg

uém

nos

falo

u ni

sso.

Sur

pree

ndeu

- no

s, ju

stam

ente

, te

r sid

o be

m a

ntes

o ju

lgam

ento

e e

le s

ó vi

r a m

orre

r mui

to d

epoi

s. Q

ue a

cont

eceu

, Fed

ão?

Fedã

o–

Foi t

udo

obra

do

acas

o, E

quéc

rate

s, o

que

se p

asso

u co

m e

le. P

reci

sam

ente

na

vés

pera

do

julg

amen

to c

oroa

ram

a p

opa

do n

avio

que

os

Ate

nien

ses

envi

am a

Del

o.

Equ

écrates–

Que

é is

so?

Fedã

o–

Segu

ndo

os A

teni

ense

s, é

o na

vio

em q

ue o

utro

ra T

eseu

levo

u pa

ra C

reta

as

duas

sep

tena

s de

jove

ns, m

oços

e m

oças

, que

ele

sal

vou,

sal

vand

o-se

tam

bém

. Nes

sa

ocas

ião,

seg

undo

con

tam

, pro

met

eram

a A

polo

env

iar a

nual

men

te u

ma

depu

taçã

o a

Del

o,

no c

aso

de s

e sa

lvar

em, e

até

hoj

e to

dos

os a

nos

vão

em ro

mar

ia à

divi

ndad

e. D

esde

o in

ício

do

s pr

epar

ativ

os d

a vi

agem

, det

erm

ina

a le

i que

se

proc

eda

à pur

ifica

ção

do b

urgo

, não

se

ndo

perm

itido

exe

cuta

r nin

guém

por

crim

e pú

blic

o an

tes

de c

hega

r a D

elo

o na

vio

e re

torn

ar d

e lá

. Por

vez

es e

sse

praz

o fic

a m

uito

dila

tado

, qua

ndo

os v

ento

s sã

o ad

vers

os. O

in

ício

da

pere

grin

ação

é c

onta

do a

par

tir d

o m

omen

to e

m q

ue o

sac

erdo

te d

e A

polo

cor

oa a

po

pa d

o na

vio,

o q

ue s

e de

u, c

onfo

rme

diss

e, n

a vé

sper

a do

julg

amen

to. E

sse

o m

otiv

o de

te

r est

ado

Sócr

ates

tant

o te

mpo

na

pris

ão, d

esde

o ju

lgam

ento

até

à m

orte

.

II –Equ

écrates–

E a

s co

ndiç

ões

em q

ue m

orre

u, F

edão

? Q

uais

fora

m s

uas

pala

vras

? C

omo

se h

ouve

em

tudo

? Q

uais

dos

seu

s fa

mili

ares

se

enco

ntra

vam

ao

seu

lado

? O

u as

au

torid

ades

não

per

miti

ram

que

ent

rass

em, v

indo

ele

a m

orre

r priv

ado

de a

ssis

tênc

ia d

os

amig

os? Fedã

o–

De

form

a al

gum

a; v

ário

s es

tiver

am p

rese

ntes

; em

gra

nde

núm

ero,

mes

mo.

Equ

écrates–

Ent

ão, p

rocu

ra c

onta

r-no

s co

m a

mai

or e

xatid

ão p

ossí

vel c

omo

tudo

se

pass

ou, n

o ca

so d

e di

spor

es d

e fo

lga.

Fedã

o–

Dis

ponh

o, s

im, e

vou

tent

ar e

xpor

-vos

o q

ue s

e de

u. P

ara

mim

, nad

a é

tão

agra

dáve

l com

o re

cord

ar-m

e de

Sóc

rate

s, ou

sej

a qu

ando

falo

nel

e, o

u qu

ando

ouç

o al

guém

fa

lar a

seu

resp

eito

.

Equ

écrates–

Poi

s po

des

ter a

cer

teza

, Fed

ão, d

e qu

e te

us o

uvin

tes

estã

o ne

ssas

m

esm

as c

ondi

ções

. Esf

orça

-te,

por

tant

o, p

ara

cont

ar o

cas

o co

m to

das

as m

inúc

ias.

Fedã

o–

Era

por d

emai

s es

tranh

o o

que

eu s

entia

junt

o de

le. N

ão p

odia

last

imá-

lo,

com

o o

faria

per

to d

e um

ent

e qu

erid

o no

tran

se d

erra

deiro

. O h

omem

me

pare

cia

felic

íssi

mo,

Equ

écra

tes,

tant

o no

s ge

stos

com

o na

s pa

lavr

as, r

efle

xo e

xato

da

intre

pide

z e

da n

obre

za c

om q

ue s

e de

sped

ia d

a vi

da. M

inha

impr

essã

o na

quel

e in

stan

te fo

i que

sua

pa

ssag

em p

ara

o H

ades

não

se

dava

sem

dis

posi

ção

divi

na, e

que

, um

a ve

z lá

che

gand

o,

sent

ir-se

-ia

tão

vent

uros

o co

m o

s qu

e m

ais

o fo

ram

. Por

isso

mes

mo,

não

me

dom

inou

ne

nhum

sen

timen

to d

e pi

edad

e, o

que

ser

ia n

atur

al n

a pr

esen

ça d

e um

mor

ibun

do. T

ambé

m

não

me

sent

ia a

legr

e, c

omo

cost

umav

a fic

ar e

m n

ossa

prá

ticas

sob

re fi

loso

fia. S

im, p

orqu

e to

da n

ossa

con

vers

a gi

rou

em to

rno

de te

mas

filo

sófic

os. E

ra u

m e

stado

difí

cil d

e de

finir,

m

isto

insó

lito

de a

legr

ia e

trist

eza,

por

lem

brar

-me

de q

ue e

le ir

ia m

orre

r den

tro d

e po

uco.

A

s m

ais

pess

oas

pres

ente

s se

enc

ontra

vam

em

con

diçõ

es q

uase

idên

ticas

, um

as ri

ndo,

ou

tras

chor

ando

, prin

cipa

lmen

te A

polo

doro

. Con

hece

s o

hom

em e

sab

es c

omo

ele

é.

Equ

écrates–

Sem

dúv

ida.

Fedã

o–

Pois

des

se je

ito s

e co

mpo

rtou

o te

mpo

todo

. Eu

tam

bém

, fiq

uei m

uito

ab

alad

o, a

mes

ma

cois

a pa

ssan

do-s

e co

m o

s ou

tros.

Equ

écrates–

E q

uem

se

acha

va lá

, Fed

ão?

Fedã

o–

Alé

m d

o m

enci

onad

o A

polo

doro

, seu

s co

nter

râne

os C

ritob

ulo

e o

pai,

Her

móg

enes

, Epí

gene

s, És

quin

es e

Ant

íste

nes.

Cte

sipo

de

Peân

ia ta

mbé

m e

stev

e pr

esen

te,

Men

éxen

o e

mai

s al

guns

da

mes

ma

regi

ão. S

e nã

o m

e en

gano

, Pla

tão

se a

chav

a do

ente

.

Equ

écrates–

E h

avia

tam

bém

est

rang

eiro

s?

Fedã

o–

Sim

, os

Teba

nos

Sím

ias,

Ceb

ete

e Fe

dond

es; e

de

Még

ara,

Euc

lides

e

Térp

sio. Equ

écrates–

Nes

se c

aso,

Aris

tipo

e C

leôm

brot

o ta

mbé

m e

stiv

eram

com

ele

?

Fedã

o–

Não

; fal

aram

que

se

enco

ntra

vam

em

Egi

na.

Equ

écrates–

Hav

ia m

ais a

lgué

m?

Fedã

o–

Cre

io q

ue e

ram

esse

s.

Equ

écrates–

E d

epoi

s? Q

uais

fora

m o

s di

scur

sos

a qu

e te

refe

riste

?

III –

Fedã

o–

Vou

esf

orça

r-m

e pa

ra c

onta

r tud

o do

com

eço.

Tal

com

o na

vés

pera

, to

dos

os d

ias

visi

táva

mos

Sóc

rate

s, e

desd

e a

man

hãzi

nha

íam

os e

ncon

trar-

nos n

o tri

buna

l em

que

se

deu

o ju

lgam

ento

. Fic

a pe

rto d

a ca

deia

. Ali

espe

ráva

mos

con

vers

ando

até

que

a

cade

ia a

bris

se, p

ois

não

cost

umam

abr

i-la

mui

to c

edo.

Por

ém lo

go q

ue is

so s

e da

va,

corr

íam

os p

ara

junt

o de

Sóc

rate

s e

quas

e se

mpr

e pa

ssáv

amos

com

ele

o d

ia to

do. N

essa

m

anhã

reun

imo-

nos

mai

s ce

do, p

orqu

e na

tard

e an

terio

r, ao

nos

retir

arm

os d

a pr

isão

, so

ubem

os q

ue o

nav

io c

hega

ra d

e D

elo.

Por

isso

, com

bina

mos

enc

ontra

r-no

s o

mai

s ce

do

poss

ível

no

luga

r hab

itual

. Ao

cheg

arm

os, o

por

teiro

que

cos

tum

ava

rece

ber-

nos

veio

ao

noss

o en

cont

ro p

ara

dize

r que

esp

erás

sem

os fo

ra e

não

ent

ráss

emos

sem

que

ele

nos

av

isas

se. N

este

mom

ento

, nos

dis

se, o

s O

nze

estã

o tir

ando

os

ferr

os d

e Só

crat

es e

lhe

com

unic

am q

ue h

oje

ele

terá

de

mor

rer.

Dep

ois

de a

lgum

tem

po, v

olto

u pa

ra d

izer

que

en

tráss

emos

. Ao

pene

trarm

os n

o re

cint

o, e

ncon

tram

os S

ócra

tes,

que

acab

ava

de s

er a

livia

do

dos

ferr

os, e

Xan

tipa

– co

nhec

e-la

dec

erto

– c

om o

filh

o pe

quen

o, s

enta

da ju

nto

do m

arid

o.

Ao

ver-

nos,

com

eçou

Xan

tipa

a la

stim

ar-s

e e

clam

ar c

omo

de h

ábito

nas

mul

here

s, di

zend

o: P

ela

últim

a ve

z, S

ócra

tes,

teus

am

igos

con

vers

arão

con

tigo,

e tu

com

ele

s. V

irand

o-se

par

a C

ritão

, Sóc

rate

s lh

e di

sse:

Crit

ão, l

eva-

a pa

ra c

asa.

A is

so, a

lgun

s do

s ho

men

s de

Crit

ão a

retir

aram

, não

ces

sand

o el

a de

grit

ar e

deb

ater

-se.

Sóc

rate

s, d

e se

u la

do,

sent

ado

no c

atre

, dob

rou

a pe

rna

sobr

e a

coxa

e c

omeç

ou a

fric

cion

á-la

dur

o co

m a

mão

, ao

mes

mo

tem

po q

ue d

izia

: Com

o é

extra

ordi

nário

, sen

hore

s, o

que

os h

omen

s de

nom

inam

pr

azer

, e c

omo

se a

ssoc

ia a

dmira

velm

ente

com

o s

ofrim

ento

, que

pas

sa, a

liás,

por

ser

o s

eu

cont

rário

. Não

gos

tam

de

ficar

junt

os n

o ho

mem

; mal

alg

uém

per

segu

e e

alca

nça

um d

eles

, de

regr

a é

obrig

ado

a ap

anha

r o o

utro

, com

o se

am

bos,

com

ser

em d

ois,

estiv

esse

m li

gado

s pe

la c

abeç

a. Q

uer p

arec

er-m

e, c

ontin

uou,

que

se

Esop

o ho

uves

se fe

ito e

ssa

obse

rvaç

ão, n

ão

deix

aria

de

com

por u

ma

fábu

la: R

esol

vend

o Ze

us p

ôr te

rmo

as s

uas

diss

ensõ

es c

ontín

uas,

e nã

o o

cons

egui

ndo,

uni

u-os

pel

a ex

trem

idad

e. P

or is

so, s

empr

e qu

e al

guém

alc

ança

um

de

les,

o ou

tro lh

e ve

m n

o ra

stro

. Meu

cas

o é

pare

cido

: apó

s o

incô

mod

o da

per

na c

ausa

da

pelo

s fe

rros

, seg

ue-s

e-lh

e o

praz

er.

IV –

Nes

ta a

ltura

, fal

ou C

ebet

e: P

or Z

eus,

Sócr

ates

, dis

se, f

oi b

om q

ue m

o le

mbr

asse

s. D

iver

sas

pess

oas

já m

e tê

m fa

lado

a re

spei

to d

os p

oem

as q

ue e

scre

vest

e,

apro

veita

ndo

as fá

bula

s de

Eso

po, e

do

hino

em

louv

or d

e A

polo

. Ant

eont

em m

esm

o, o

po

eta

Even

o m

e in

terp

elou

sob

re a

razã

o de

com

pore

s ve

rso

desd

e qu

e te

enc

ontra

s aq

ui, o

qu

e an

tes

nunc

a fiz

eras

. Se

te im

porta

dei

xar-

me

em c

ondi

ções

de

resp

onde

r a E

veno

qu

ando

ele

vol

tar a

fala

r-m

e a

esse

resp

eito

– e

tenh

o ce

rteza

de

que

o fa

rá –

instr

ui-m

e so

bre

o qu

e de

vere

i diz

er-l

he.

Entã

o di

ze-l

he a

ver

dade

, Ceb

ete,

repl

icou

: que

não

me

mov

ia o

des

ejo

de fa

zer-

lhe

conc

orrê

ncia

nem

aos

seu

s po

emas

, qua

ndo

com

pus

os m

eus,

o qu

e, a

liás,

tent

ativ

a pa

ra

rast

rear

o s

igni

ficad

o de

uns

son

hos

e cu

mpr

ir, a

ssim

, min

ha o

brig

ação

, no

sent

ido

de s

aber

se

era

ess

a a

mod

alid

ade

de m

úsic

a qu

e m

e re

com

enda

vam

com

insi

stên

cia.

É o

seg

uint

e:

Mui

tas

e m

uita

s ve

zes

em m

inha

vid

a pr

egre

ssa,

sob

form

as d

ifere

ntes

me

apar

eceu

um

so

nho,

por

ém d

izen

do s

empr

e a

mes

ma

cois

a: S

ócra

tes,

me

fala

va, c

ompõ

e m

úsic

a e

a ex

ecut

a. A

té a

gora

eu

esta

va c

onve

ncid

o de

ser

just

amen

te o

que

eu

fizer

a a

vida

toda

o q

ue

o so

nho

me

insin

uava

e c

onci

tava

a fa

zer,

à man

eira

de

com

o co

stum

amos

est

imul

ar o

s co

rred

ores

: des

se m

esm

o m

odo,

o s

onho

me

exor

tava

a p

ross

egui

r em

min

ha p

rátic

a ha

bitu

al, a

com

por m

úsic

a, p

or s

er a

Filo

sofia

a m

úsic

a m

ais

nobr

e e

a el

a eu

ded

icar

-me.

A

gora

, por

ém, d

epoi

s do

julg

amen

to e

por

hav

er o

fest

ival

do

deus

adi

ado

min

ha m

orte

,

perg

unte

i a m

im m

esm

o se

a m

úsic

a qu

e co

m ta

nta

insis

tênc

ia o

son

ho m

e m

anda

va

com

por n

ão s

eria

ess

a es

péci

e po

pula

r, te

ndo

conc

luíd

o qu

e o

que

impo

rtava

não

era

de

sobe

dece

r ao

sonh

o, p

orém

faze

r o q

ue e

le m

e or

dena

va. S

eria

mai

s se

guro

cum

prir

essa

ob

rigaç

ão a

ntes

de

parti

r, e

com

por p

oem

as e

m o

bedi

ênci

a ao

son

ho. A

ssim

, com

ecei

por

es

crev

er u

m h

ino

em lo

uvor

à di

vind

ade

cuja

fest

a en

tão

se c

eleb

rava

. Dep

ois

da d

ivin

dade

, co

nsid

eran

do q

ue q

uem

qui

ser s

er p

oeta

de

verd

ade

terá

de

com

por m

itos

e nã

o pa

lavr

as,

por s

aber

-me

inca

paz

de c

riar n

o do

mín

io d

a m

itolo

gia,

reco

rri à

s fa

bula

s de

Eso

po q

ue e

u sa

bia

de c

or e

tinh

a m

ais

à mão

, hav

endo

ver

sific

ado

as q

ue m

e oc

orre

ram

prim

eiro

.

V –

Isso

, Ceb

ete,

é o

que

dev

erás

diz

er a

Eve

no. A

pres

enta

-lhe

, tam

bém

, sau

daçõ

es

de m

inha

par

te, a

cres

cent

ando

que

, se

ele

for s

ábio

, dev

erá

segu

ir-m

e qu

anto

ant

es. P

arto

, ao

que

par

ece,

hoj

e m

esm

o; a

ssim

os

dete

rmin

am o

s A

teni

ense

s.

Sím

ias

excl

amou

: Que

con

selh

o, S

ócra

tes,

man

das

dar a

Eve

no! T

enho

est

ado

bast

ante

s ve

zes

com

o h

omem

, e p

or tu

do o

que

sei

del

e, n

ão te

rá g

rand

e de

sejo

de

acei

tar-

te a

indi

caçã

o.

Com

o as

sim?

Perg

unto

u; E

veno

não

é fi

lóso

fo?

Pens

o qu

e é,

retru

cou

Sím

ias.

Nes

se c

aso,

terá

de

acei

tá-l

a, ta

nto

Even

o co

mo

quem

que

r que

se

apliq

ue d

igna

men

te

a es

se e

stud

o. O

que

é p

reci

so é

não

em

preg

ar v

iolê

ncia

con

tra s

i pró

prio

. Diz

em q

ue is

so

não

é pe

rmiti

do.

Ass

im fa

land

o, s

ento

u-se

e a

poio

u no

chã

o os

pés

, per

man

ecen

do n

essa

pos

ição

, daí

po

r dia

nte,

dur

ante

todo

o te

mpo

da

conv

ersa

.

Nes

sa a

ltura

Ceb

ete

o in

terp

elou

: Por

que

dis

sest

e, S

ócra

tes,

que

não

é pe

rmiti

do a

ni

ngué

m e

mpr

egar

vio

lênc

ia c

ontra

si p

rópr

io, s

e, a

o m

esm

o te

mpo

, afir

mas

que

o fi

lóso

fo

dese

ja ir

apó

s de

que

m m

orre

?

Com

o, C

ebet

e, n

unca

ouv

iste

s na

da a

ess

e re

spei

to, t

u e

Sím

ias,

quan

do c

onvi

vest

es

com

Filo

lau?

Ouv

i, Só

crat

es, p

orém

mui

to p

ela

ram

a.

Sobr

e is

so e

u ta

mbé

m s

ó po

sso

fala

r de

outiv

a; p

orém

nad

a m

e im

pede

de

com

unic

ar-

vos

o qu

e se

i. Ta

lvez

, mes

mo,

sej

a a

quem

se

enco

ntra

no

pont

o de

imig

rar p

ara

o ou

tro

mun

do q

ue c

ompe

te in

vest

igar

ace

rca

dess

a vi

agem

e d

izer

com

o se

rá p

reci

so im

agin

á-la

. Q

ue m

elho

r coi

sa s

e po

derá

faze

r par

a pa

ssar

o te

mpo

até

sol

bai

xar?

VI –

Qua

l o m

otiv

o, e

ntão

, Sóc

rate

s, de

diz

erem

que

a n

ingu

ém é

per

miti

do s

uici

dar-

se?

De

fato

, sob

re o

que

me

perg

unta

ste,

ouv

i Filo

lau

afirm

ar, q

uand

o es

teve

ent

re n

ós, e

ta

mbé

m o

utra

s pe

ssoa

s, qu

e nã

o de

vem

os fa

zer i

sso.

Por

ém n

unca

ouv

i de

ning

uém

m

aior

es p

artic

ular

idad

es.

Entã

o, o

que

impo

rta é

não

des

anim

ares

, dis

se; é

pos

síve

l que

ain

da v

enha

s a

ouvi

-la

s. Ta

lvez

te p

areç

a es

tranh

o qu

e en

tre to

dos

os c

asos

sej

a es

te o

úni

co s

impl

es e

que

não

co

mpo

rte c

omo

os d

emai

s, de

cisõ

es a

rbitr

ária

s, se

gund

o as

circ

unst

ânci

as, a

sab

er: q

ue é

m

elho

r est

ar m

orto

do

que

vivo

. E h

aven

do p

esso

as p

ara

quem

a m

orte

, de

fato

, é

pref

erív

el, n

ão s

aber

ás d

ar a

razã

o de

ser

ved

ado

aos

hom

ens

proc

urar

em p

ara

si m

esm

os

sem

elha

nte

bene

fício

, mas

pre

cisa

rem

esp

erar

por

ben

feito

r est

ranh

o.

Itto

Zeus

, dis

ses

Ceb

ete

em s

eu d

iale

to, e

sboç

ando

um

sor

riso:

Deu

s o

sabe

rá.

Apa

rent

emen

te, c

ontin

uou

Sócr

ates

, iss

o ca

rece

de

lógi

ca; m

as o

fato

é q

ue te

m a

sua

ra

zão

de s

er. A

quilo

dos

mis

tério

s, de

que

nós

, hom

ens,

nos

enco

ntra

mos

num

a es

péci

e de

rcer

e qu

e no

s é

veda

do a

brir

para

esc

apar

, afig

ura-

me

de p

eso

e an

da fá

cil d

e en

tend

er.

Um

a co

isa, p

elo

men

os, C

ebet

e, m

e pa

rece

bem

enu

ncia

da: q

ue o

s de

uses

são

nos

sos

guar

diãe

s, e

nós,

hom

ens,

prop

rieda

de d

eles

. Ace

itas

esse

pon

to?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

Ceb

ete.

Tu ta

mbé

m, c

ontin

uou,

na

hipó

tese

de

algu

m d

os te

us e

scra

vos

pôr t

erm

o à v

ida,

sem

qu

e lh

es h

ouve

sse

dado

a e

nten

der q

ue e

stav

as d

e ac

ordo

em

que

se

mat

asse

, não

te

abor

rece

rias

com

ele

, e s

e fo

sse

poss

ível

, não

o p

uniri

as?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

Por c

onse

guin

te, n

ão a

cho

absu

rdo

ning

uém

pod

er m

atar

-se

sem

que

a d

ivin

dade

o

colo

que

ness

a co

ntin

gênc

ia, c

omo

é o

noss

o ca

so a

gora

.

VII

– E

ssa

parte

, obs

ervo

u C

ebet

e, ta

mbé

m m

e pa

rece

razo

ável

. Por

ém o

que

af

irmas

te a

ntes

, sob

re a

dis

posi

ção

do fi

lóso

fo p

ara

mor

rer,

é um

ver

dade

iro c

ontra

-sen

so,

Sócr

ates

, se

estiv

er c

erto

o q

ue d

isse

mos

pouc

o, q

ue D

eus

cuid

a de

nós

e q

ue s

omos

pr

oprie

dade

s de

le. Q

ue o

s in

diví

duos

mai

s sá

bios

se

insu

rjam

con

tra s

emel

hant

e tu

tela

e

proc

urem

evi

tá-l

a, q

uand

o a

exer

cem

, pre

cisa

men

te, o

s de

uses

, os

mel

hore

s di

rigen

tes,

é o

que

não

cheg

o a

com

pree

nder

. Poi

s ni

ngué

m o

usar

á di

zer q

ue sa

berá

cui

dar m

elho

r de

si

mes

mo,

um

a ve

z em

libe

rdad

e. U

m in

diví

duo

inse

nsat

o po

deria

raci

ocin

ar d

essa

man

eira

, po

r ach

ar b

om fu

gir d

o am

o, s

em c

onsi

dera

r que

não

se

deve

fugi

r do

bem

, mas

fica

r jun

to

dele

o m

aior

tem

po p

ossí

vel.

Foge

por

car

ecer

de

sens

o. O

indi

vídu

o in

telig

ente

, pel

o co

ntrá

rio, s

ó de

seja

con

tinua

r jun

to d

e qu

em lh

e se

ja s

uper

ior.

Por i

sso,

Sóc

rate

s, o

certo

é,

prec

isam

ente

, o o

post

o do

que

foi d

ito h

á po

uco:

aos

sáb

ios

é qu

e fic

a be

m in

surg

ir-s

e co

ntra

a id

éia

da m

orte

, e a

os in

sens

atos

, exu

ltar a

nte

essa

per

spec

tiva.

Ao

ouvi

-lo

assi

m fa

lar,

quis

par

ecer

-me

que

Sócr

ates

se

aleg

rava

com

a a

gude

za d

e C

ebet

e; d

epoi

s, vo

ltand

o-se

par

a no

sso

lado

, fal

ou: C

ebet

e an

da s

empr

e à c

ata

de

argu

men

tos,

sem

ace

itar d

e pr

onto

a o

pini

ão d

os o

utro

s.

Ao

que

Sím

ias

obse

rvou

: Por

ém q

uer p

arec

er-m

e, S

ócra

tes,

que

há b

asta

nte

sens

o na

s pa

lavr

as d

e C

ebet

e. N

ão s

e co

mpr

eend

e, d

e fa

to, q

ue in

diví

duos

ver

dade

iram

ente

sáb

ios

fuja

m d

e am

os m

elho

res

do q

ue e

les

e se

ale

grem

com

ess

a lib

erda

de. A

meu

ver

, o

argu

men

to d

e C

ebet

e va

i diri

gido

con

tra ti

, por

ace

itare

s à l

igei

ra a

idéi

a de

dei

xar-

nos,

e

tam

bém

aos

am

os c

uja

supe

riorid

ade

és o

prim

eiro

a p

rocl

amar

.

Tens

razã

o, o

bser

vou.

Pel

o qu

e ve

jo, s

ois

de p

arec

er q

ue p

reci

so d

efen

der-

me

dess

a ac

usaç

ão, c

omo

o fiz

no

tribu

nal.

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

Sím

ias.

VII

I – P

ois

que

seja

, dis

se. V

ejam

os s

e di

ante

de

vós

outro

s m

inha

def

esa

saíra

mai

s co

nvin

cent

e do

que

a fe

ita n

a fr

ente

dos

juíz

es. O

fato

, Sím

ias

e C

ebet

e, p

ross

egui

u, é

que

se

eu

não

acre

dita

sse,

prim

eiro

, que

vou

par

a ju

nto

de o

utro

s de

uses

, sáb

ios

e bo

ns, e

, de

pois

, par

a o

luga

r de

hom

ens

fale

cido

s m

uito

mel

hore

s do

que

os

daqu

i, co

met

eria

um

a gr

ande

err

o po

r não

me

insu

rgir

cont

ra a

mor

te. P

orém

pod

es fi

ar q

ue e

sper

o ju

ntar

-me

a ho

men

s de

bem

. Sob

re e

sse

pont

o nã

o m

e m

anife

sto c

om m

uita

seg

uran

ça; m

as n

o qu

e en

tend

e co

m m

inha

tran

sfer

ênci

a pa

ra ju

nto

de d

euse

s qu

e sã

o ex

cele

ntes

am

os: s

e há

o q

ue

eu d

efen

da c

om c

onvi

cção

é p

reci

sam

ente

isso

. Ess

e m

otiv

o de

não

me

revo

ltar a

idéi

a da

m

orte

. Pel

o co

ntrá

rio, t

enho

esp

eran

ça d

e qu

e al

gum

a co

isa

há p

ara

os m

orto

s, e,

de

acor

do

com

ant

iga

tradi

ção,

mui

to m

elho

r par

a os

bon

s do

que

par

a os

mau

s.

Com

o as

sim

, Sóc

rate

s, pe

rgun

tou

Sím

ias;

com

sem

elha

nte

conv

icçã

o qu

eres

dei

xar-

nos s

em n

o-la

dar

a c

onhe

cer?

Eu,

pel

o m

enos

, ach

o qu

e se

trat

a de

alg

o de

gra

nde

rele

vânc

ia p

ara

nós

todo

s. A

o m

esm

o te

mpo

, com

isso

fará

s a

tu a

def

esa,

se

com

o q

ue

diss

eres

con

segu

ires

conv

ence

r-no

s.

É o

que

vou

tent

ar, c

ontin

uou;

por

ém p

rimei

ro v

ejam

os o

que

o n

osso

Crit

ão h

á ta

nto

tem

po q

uer d

izer

-me.

Trat

a-se

ape

nas

do s

egui

nte,

Sóc

rate

s, fa

lou

Crit

ão: é

que

mui

to v

em in

sist

ido

com

igo

a pe

ssoa

enc

arre

gada

de

dar-

te o

ven

eno,

par

a av

isar

-te

de q

ue d

eves

con

vers

ar o

m

enos

pos

síve

l. C

onve

rsa

mui

to a

nim

ada

esqu

enta

, é o

que

ele

afir

ma,

e is

so p

reju

dica

a

ação

da

drog

a. D

o co

ntrá

rio, j

á te

m a

cont

ecid

o pr

ecis

ar to

mar

dua

s ou

três

dos

es q

uem

se

com

porta

des

se je

ito.

É Só

crat

es: M

anda

-o p

asse

ar! d

isse

. E q

ue p

repa

re d

ose

dupl

a, e

até

trip

la, s

e fo

r pr

ecis

o. Eu já

sab

ia m

ais

ou m

enos

o q

ue ir

ias

resp

onde

r, ob

serv

ou C

ritão

; mas

o h

omem

não

m

e da

va s

osse

go.

Dei

xa-o

, dis

se. E

ago

ra, j

uíze

s, pr

eten

do e

xpor

-vos

as

razõ

es d

e es

tar c

onve

ncid

o de

qu

e o

indi

vídu

o qu

e se

ded

icou

a v

ida

inte

ira à

Filo

sofia

, ter

á de

mos

trar-

se c

onfia

nte

na

hora

da

mor

te, p

ela

espe

ranç

a de

vir

a pa

rtici

par,

depo

is d

e m

orto

, dos

mai

s va

lioso

s be

ns.

Com

o po

derá

ser

des

sa m

anei

ra, S

ímia

s e

Ceb

ete,

é o

que

tent

arei

exp

licar

-vos

.

IX –

Em

bora

os

hom

ens

não

o pe

rceb

am, é

pos

síve

l que

todo

s os

que

se

dedi

cam

ve

rdad

eira

men

te à

Filo

sofia

, a n

ada

mai

s as

pire

m d

o qu

e a

mor

rer e

est

arem

mor

tos.

Send

o is

so u

m fa

to, s

eria

abs

urdo

, não

faze

ndo

outra

coi

sa o

filó

sofo

toda

a v

ida,

ao

cheg

ar e

sse

mom

ento

, ins

urgi

r-se

con

tra o

que

ele

mes

mo

pedi

ra c

om ta

l em

penh

o e

em p

ós d

o qu

e se

mpr

e se

afa

nara

.

Sím

ias,

entã

o, ri

ndo,

Por

Zeu

s, Só

crat

es, i

nter

rom

peu-

o; fi

zeste

-me

rir, e

m q

ue p

ese

à m

inha

falta

de

disp

osiç

ão p

ara

isso

. O q

ue p

enso

é q

ue, s

e os

hom

ens

te o

uvis

sem

dis

corr

er

dess

a m

anei

ra, a

char

iam

cer

to o

que

se

diz

dos

filós

ofos

– e

nes

se p

onto

con

taria

m c

om a

ap

rova

ção

de n

ossa

gen

te –

que

em

ver

dade

ele

s vi

vem

a m

orre

r, sa

bend

o pe

rfei

tam

ente

qu

e ou

tra c

oisa

não

mer

ecem

.

E só

diri

am a

ver

dade

, Sím

ias,

com

o ex

ceçã

o do

que

se

refe

re a

est

arem

cie

ntes

des

se

pont

o, p

ois,

de fa

to, n

ão s

abem

de

que

mod

o o

verd

adei

ro fi

lóso

fo d

esej

a a

mor

te, n

em

com

o po

de v

ir a

alca

nçá-

la. P

orém

dei

xem

os e

ssa

gent

e de

lado

e p

ergu

ntem

os a

nós

m

esm

os s

e ac

redi

tam

os q

ue a

mor

te s

eja

algu

ma

cois

a?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u Sí

mia

s.

Que

não

ser

á se

não

a se

para

ção

entre

a a

lma

e o

corp

o? M

orre

r, en

tão,

con

sist

irá e

m

apar

tar-

se d

a al

ma

o co

rpo,

fica

ndo

este

redu

zido

a s

i mes

mo

e, p

or o

utro

lado

, em

libe

rtar-

se d

o co

rpo

a al

ma

e is

olar

-se

em s

i mes

ma?

Ou

será

a m

orte

out

ra c

oisa

?

Não

; é is

so, p

reci

sam

ente

, res

pond

eu.

Con

side

ra a

gora

, meu

car

o, s

e pe

nsas

com

o eu

. Est

ou c

erto

de

que

dess

e m

odo

ficar

emos

con

hece

ndo

mel

hor o

que

nos

pro

pom

os in

vest

igar

. És

de o

pini

ão q

ue s

eja

próp

rio d

o fil

ósof

o es

forç

ar-s

e pa

ra a

aqu

isiç

ão d

os p

rete

nsos

pra

zere

s, ta

l com

o co

mer

e

bebe

r? De

form

a al

gum

a, S

ócra

tes,

repl

icou

Sím

ias.

E co

mo

rela

ção

aos

praz

eres

do

amor

?

A m

esm

a co

isa.

E os

dem

ais

praz

eres

, que

ent

ende

m c

om o

s cu

idad

os d

o co

rpo?

És

de p

arec

er q

ue

lhes

atri

bua

algu

m v

alor

? A

pos

se d

e ro

upas

vis

tosa

s, ou

de

calç

ados

e to

da a

sor

te d

e or

nam

ento

s do

cor

po, q

ue ta

l ach

as?

Eles

os

apre

cia

ou o

s de

spre

za n

o qu

e nã

o fo

r de

estri

ta n

eces

sida

de?

Eu, p

elo

men

os, r

espo

ndeu

, sou

de

pare

cer q

ue o

ver

dade

iro fi

lóso

fo o

s de

spre

za.

Send

o as

sim

, con

tinuo

u, n

ão a

chas

que

, de

mod

o ge

ral,

as p

reoc

upaç

ões

dess

a pe

ssoa

, nã

o vi

sam

ao

corp

o, p

orém

tend

em, n

a m

edid

a do

pos

síve

l, a

afas

tar-

se d

ele

para

ap

roxi

mar

-se

da a

lma?

É ta

mbé

m o

que

eu

pens

o.

Nis

to, p

or c

onse

guin

te, a

ntes

de

mai

s na

da, é

que

o fi

lóso

fo s

e di

fere

ncia

dos

dem

ais

hom

ens:

no

empe

nho

de re

tirar

qua

nto

poss

ível

a a

lma

na c

ompa

nhia

do

corp

o.

Evid

ente

men

te.

Essa

é a

razã

o, S

ímia

s, de

, na

opin

ião

da m

aior

ia d

os h

omen

s, nã

o m

erec

er v

iver

o

indi

vídu

o a

quem

nad

a di

sso

é ag

radá

vel e

que

não

se

impo

rta c

om ta

is p

rátic

as, p

or a

char

-se

mui

to m

ais

perto

da

cond

ição

de

mor

to e

por

não

dar

a m

enor

impo

rtânc

ia a

os p

raze

res

alca

nçad

os p

or in

term

édio

do

corp

o.

Tens

razã

o.

X –

E c

omo

refe

rênc

ia à

aqui

siçã

o do

con

heci

men

to?

O c

orpo

con

stitu

i ou

não

cons

titui

obs

tácu

lo, q

uand

o ch

amad

o pa

ra p

artic

ipar

da

pesq

uisa

? O

que

dig

o é

o se

guin

te:

a vi

sta

e o

ouvi

do a

sseg

uram

aos

hom

ens

algu

ma

verd

ade?

Ou

será

cer

to o

que

os

poet

as

não

se c

ansa

m d

e af

irmar

, que

nad

a ve

mos

nem

ouv

imos

com

exa

tidão

? O

ra, s

e es

ses

dois

se

ntid

os c

orpó

reos

não

são

nem

exa

tos

nem

de

conf

ianç

a, q

ue d

irem

os d

os d

emai

s, em

tudo

in

ferio

res

aos

prim

eiro

s? N

ão p

ensa

s de

sse

mod

o?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

Entã

o, p

ergu

ntou

, qua

ndo

é qu

e a

alm

a at

inge

a v

erda

de?

É fo

ra d

e dú

vida

que

, des

de

o m

omen

to e

m q

ue te

nta

inve

stig

ar a

lgo

na c

ompa

nhia

do

corp

o, v

ê se

logr

ada

por e

le.

Tens

razã

o.

E nã

o é

no p

ensa

men

to –

se

tiver

de

ser d

e al

gum

mod

o –

que

algo

da

real

idad

e se

lhe

pate

ntei

a?

Perf

eita

men

te.

Ora

, a a

lma

pens

a m

elho

r qua

ndo

não

tem

nad

a di

sso

a pe

rturb

á-la

, nem

a v

ista

nem

o

ouvi

do, n

em d

or n

em p

raze

r de

espé

cie

algu

ma,

e c

once

ntra

da a

o m

áxim

o em

si m

esm

a,

disp

ensa

a c

ompa

nhia

do

corp

o, e

vita

ndo

tant

o qu

anto

pos

síve

l qua

lque

r com

érci

o co

m e

le,

e es

forç

a-se

por

apr

eend

er a

ver

dade

.

Cer

to.

E nã

o é

ness

e es

tado

que

a a

lma

do fi

lóso

fo d

espr

eza

o co

rpo

e de

le fo

ge, t

raba

lhan

do

por c

once

ntra

r-se

em

si p

rópr

ia?

Evid

ente

men

te.

E co

m re

laçã

o ao

seg

uint

e, S

ímia

s: a

firm

arem

os o

u nã

o qu

e o

justo

em

si m

esm

o se

ja

algu

ma

coisa

?

Afir

mar

emos

, sem

dúv

ida,

por

Zeu

s.

E ta

mbé

m o

bel

o em

si e

o b

em?

Tam

bém

.

E al

gum

dia

já p

erce

best

e co

m o

s ol

hos

qual

quer

del

es?

Nun

ca, r

espo

ndeu

.

Ou

por i

nter

méd

io d

e ou

tro s

entid

o co

rpór

eo?

Ref

iro-m

e a

tudo

: gra

ndez

a, s

aúde

, fo

rça

e o

mai

s qu

e fo

r, nu

ma

pala

vra:

à es

sênc

ia d

e tu

do o

que

exi

ste,

con

form

e a

natu

reza

de

cad

a co

isa.

É p

or in

term

édio

do

corp

o qu

e pe

rceb

emos

o q

ue n

eles

de v

erda

deiro

, ou

tudo

se

pass

ará

da s

egui

nte

man

eira

: que

m d

e nó

s fic

ar e

m m

elho

res

cond

içõe

s de

pen

sar

em s

i mes

mo

o m

ais

exat

amen

te p

ossí

vel o

que

se

prop

õe e

xam

inar

, não

é e

sse

que

esta

mai

s pe

rto d

o co

nhec

imen

to d

e ca

da c

oisa

? O

u nã

o?

Perf

eita

men

te.

E nã

o al

canç

ará

sem

elha

nte

obje

tivo

da m

anei

ra m

ais

pura

que

m s

e ap

roxi

mar

de

cada

coi

sa s

ó co

m o

pen

sam

ento

, sem

arr

asta

r par

a a

refle

xão

a vi

sta

ou q

ualq

uer o

utro

se

ntid

o, n

em a

ssoc

iá-l

os a

seu

raci

ocín

io, p

orém

val

endo

-se

do p

ensa

men

to p

uro,

esf

orça

r-se

por

apr

eend

er a

real

idad

e de

cad

a co

isa

em s

ua m

aior

pur

eza,

apa

rtado

, qua

nto

poss

ível

, da

vis

ta e

do

ouvi

do, e

, por

ass

im d

izer

, de

todo

o c

orpo

, por

ser

o c

orpo

fato

r de

pertu

rbaç

ão p

ara

a al

ma

e im

pedi

-la

de a

lcan

çar a

ver

dade

e o

pen

sam

ento

, sem

pre

que

a el

e se

ass

ocia

? N

ão s

erá,

Sím

ias,

esse

indi

vídu

o, s

e ho

uver

alg

uém

em

tais

con

diçõ

es, q

ue

alca

nçar

a o

conh

ecim

ento

do

Ser?

Tens

toda

a ra

zão,

Sóc

rate

s, re

spon

deu

Sím

ias.

XI –

Por

tudo

isso

, con

tinuo

u, é

nat

ural

nas

cer n

o es

pírit

o do

s fil

ósof

os a

utên

ticos

ce

rta c

onvi

cção

que

os

leva

a d

isco

rrer

ent

re e

les

mai

s ou

men

os n

os s

egui

ntes

term

os: H

á de

hav

er p

ara

nós

outro

s al

gum

ata

lho

dire

to, q

uand

o o

raci

ocín

io n

os a

com

panh

a na

pe

squi

sa; p

orqu

e en

quan

to ti

verm

os c

orpo

e n

ossa

alm

a se

enc

ontra

r ato

lada

em

sua

co

rrup

ção,

jam

ais

pode

rem

os a

lcan

çar o

que

alm

ejam

os. E

o q

ue q

uere

mos

, dec

lare

mo-

lo

de u

ma

vez

por t

odas

, é a

ver

dade

. Não

têm

con

ta o

s em

bara

ços

que

o co

rpo

nos

apre

sta,

pe

la n

eces

sida

de d

e al

imen

tar-

se, s

em fa

larm

os n

as d

oenç

as in

terc

orre

ntes

, que

são

out

ros

empe

cilh

os n

a ca

ça d

a ve

rdad

e. C

om a

mor

es, r

ecei

os, c

upid

ez, i

mag

inaç

ões

de to

da a

es

péci

e e

um s

em n

úmer

o de

ban

alid

ades

, a ta

l pon

to e

le n

os s

atur

a, q

ue, d

e fa

to, c

omo

se

diz,

por

sua

cau

sa ja

mai

s co

nseg

uire

mos

alc

ança

r o c

onhe

cim

ento

do

quer

que

sej

a. M

ais,

aind

a: g

uerr

as, b

atal

has,

diss

ensõ

es, s

usci

ta-a

s ex

clus

ivam

ente

o c

orpo

com

seu

s ap

etite

s. O

utra

cau

sa n

ão tê

m a

s gu

erra

s se

não

o am

or d

o di

nhei

ro e

dos

ben

s qu

e no

s ve

mos

fo

rçad

os a

adq

uirir

por

cau

sa d

o co

rpo,

vis

to s

erm

os o

brig

ados

a s

ervi

-lo.

Se

care

cerm

os d

e va

gar p

ara

nos

dedi

carm

os à

Filo

sofia

, a c

ausa

é tu

do is

so q

ue e

num

eram

os. O

pio

r é q

ue,

mal

con

segu

imos

alg

uma

trégu

a e

nos

disp

omos

a re

fletir

sob

re d

eter

min

ado

pont

o, n

a m

esm

a ho

ra o

cor

po in

terv

ém p

ara

pertu

rbar

-nos

de

mil

mod

os, c

ausa

ndo

tum

ulto

e

inqu

ietu

de e

m n

ossa

inve

stiga

ção,

até

dei

xar-

nos

inte

iram

ente

inca

paze

s de

per

cebe

r a

verd

ade.

Por

out

ro la

do, e

nsin

a-no

s a

expe

riênc

ia q

ue, s

e qu

iser

mos

alc

ança

r o

conh

ecim

ento

pur

o de

alg

uma

cois

a, te

rem

os d

e se

para

r-no

s do

cor

po e

con

side

rar a

pena

s co

m a

alm

a co

mo

as c

oisa

s sã

o em

si m

esm

as. S

ó ne

ssas

con

diçõ

es, a

o qu

e pa

rece

, é q

ue

alca

nçar

emos

o q

ue d

esej

amos

e d

o qu

e no

s de

clar

amos

am

oros

os, a

sab

edor

ia, i

sto

é,

depo

is d

e m

orto

s, co

nfor

me

noss

o ar

gum

ento

o in

dica

, nun

ca e

nqua

nto

vive

rmos

. Ora

, se

real

men

te, n

a co

mpa

nhia

do

corp

o nã

o é

poss

ível

obt

er o

con

heci

men

to p

uro

do q

ue q

uer

que

seja

, de

duas

um

a te

rá d

e se

r: ou

jam

ais

cons

egui

rem

os a

dqui

rir e

sse

conh

ecim

ento

, ou

só o

fare

mos

dep

ois

de m

orto

s, po

is s

ó en

tão

a al

ma

se re

colh

erá

em s

i mes

ma,

sep

arad

a do

corp

o, n

unca

ant

es d

isso

. Ao

que

pare

ce, e

nqua

nto

vive

rmos

, a ú

nica

man

eira

de

ficar

mos

m

ais

perto

do

pens

amen

to, é

abs

term

o-no

s o

mai

s po

ssív

el d

a co

mpa

nhia

do

corp

o e

de

qual

quer

com

unic

ação

com

ele

, sal

vo e

est

ritam

ente

nec

essá

rio, s

em n

os d

eixa

rmos

sat

urar

de

sua

nat

urez

a se

m p

erm

itir q

ue n

os m

acul

e, a

té q

ue a

div

inda

de n

os v

enha

libe

rtar.

Puro

s, as

sim

, e li

vres

da

insa

nida

de d

o co

rpo,

com

toda

a p

roba

lidad

e no

s un

irem

os a

ser

es ig

uais

a

nós

e re

conh

ecer

emos

por

nós

mes

mos

o q

ue fo

r est

rem

e de

impu

reza

s. É

niss

o,

prov

avel

men

te, q

ue c

onsi

ste

a ve

rdad

e. N

ão é

per

miti

do a

o im

puro

ent

rar e

m c

onta

to c

om o

pu

ro. –

Eis

aí,

meu

car

o Sí

mia

s, qu

ero

crer

, o q

ue n

eces

saria

men

te p

ensa

m e

ntre

si e

co

nver

sam

uns

com

os

outro

s os

ver

dade

iros

aman

tes

da s

abed

oria

. Não

é e

sse,

tam

bém

, o

teu

mod

o de

pen

sar?

Perf

eita

men

te, S

ócra

tes.

XII

– P

or c

onse

guin

te, c

ompa

nhei

ro, c

ontin

uou

Sócr

ates

, se

tudo

isso

est

iver

cer

to, h

á m

uita

esp

eran

ça d

e qu

e so

men

te n

o po

nto

em q

ue m

e en

cont

ro, e

mai

s em

tem

po a

lgum

, é

que

algu

ém p

oder

á al

canç

ar o

que

dur

ante

a v

ida

cons

titui

nos

so ú

nico

obj

etiv

o. P

or is

so, a

vi

agem

que

me

foi a

gora

impo

sta

deve

ser

inic

iada

com

um

a bo

a es

pera

nça,

o q

ue s

e da

tam

bém

com

qua

ntos

tive

rem

cer

teza

de

acha

r-se

com

a m

ente

pre

para

da e

, de

algu

m

mod

o, p

ura.

Isso

mes

mo,

obs

ervo

u Sí

mia

s.

E pu

rific

ação

não

vem

a s

er, p

reci

sam

ente

, o q

ue d

isse

mos

ant

es: s

epar

ar d

o co

rpo,

qu

anto

pos

síve

l, a

alm

a, e

hab

ituá-

la a

con

cent

rar-

se e

a re

colh

er-s

e a

si m

esm

a, a

afa

star

-se

de to

das

as p

arte

s do

cor

po e

a v

iver

, ago

ra e

no

futu

ro, i

sola

da q

uant

o po

ssív

el e

por

si

mes

ma,

e c

omo

que

liber

tada

dos

gril

hões

do

corp

o?

É m

uito

cer

to, r

espo

ndeu

.

E o

que

deno

min

amos

mor

te, n

ão s

erá

a lib

eraç

ão d

a al

ma

e se

u ap

arta

men

to d

o co

rpo?

Sem

dúv

ida,

torn

ou a

fala

r.

E es

sa s

epar

ação

, com

o di

ssem

os, o

s qu

e m

ais

se e

sfor

çam

por

alc

ançá

-la

e os

úni

cos

a co

nseg

ui-l

a nã

o sã

o os

que

se

dedi

cam

ver

dade

iram

ente

à Fi

loso

fia, e

não

con

sist

e to

da a

at

ivid

ade

dos

filós

ofos

na

liber

taçã

o da

alm

a e

na s

ua s

epar

ação

do

corp

o?

Exat

o.

Send

o as

sim

, com

o di

sse

no c

omeç

o, n

ão s

eria

ridí

culo

pre

para

r-se

alg

uém

a v

ida

inte

ira p

ara

vive

r o m

ais

perto

pos

síve

l da

mor

te, e

revo

ltar-

se n

o in

stant

e em

que

ela

ch

ega? R

idíc

ulo,

com

o nã

o?

Logo

, Sím

ias,

cont

inuo

u, o

s qu

e pr

atic

am v

erda

deira

men

te a

Filo

sofia

, de

fato

se

prep

aram

par

a m

orre

r, se

ndo

eles

, de

todo

s os

hom

ens,

os q

ue m

enos

tem

or re

vela

m à

idéi

a

da m

orte

. Bas

ta c

onsi

dera

rmos

o s

egui

nte:

se

de to

do o

jeito

ele

s de

spre

zam

o c

orpo

e

dese

jam

, aci

ma

de tu

do, f

icar

sós

com

a a

lma,

não

ser

ia o

cúm

ulo

do a

bsur

do m

ostra

r med

o e

revo

ltar-

se n

o in

stan

te e

m q

ue is

so a

cont

eces

se, e

m v

ez d

e pa

rtire

m c

onte

ntes

par

a on

de

espe

ram

alc

ança

r o q

ue a

vid

a in

teira

tant

o am

ara

– sim

, poi

s er

am ju

stam

ente

isso

: am

ante

s da

sab

edor

ia –

e fi

car l

ivre

s pa

ra s

empr

e da

com

panh

ia d

os q

ue o

s m

oles

tava

m?

Com

o!

Am

ores

hum

anos

, ant

e a

perd

a de

am

igos

, esp

osas

e fi

lhos

, têm

leva

do ta

nta

gent

e a

baix

ar

volu

ntar

iam

ente

, ao

Had

es, m

ovid

os a

pena

s da

esp

eran

ça d

e lá

reve

rem

o o

bjet

o de

seu

s an

elos

e d

e co

m e

les

conv

iver

em; n

o en

tant

o, q

uem

am

a de

ver

dade

a s

abed

oria

, e m

ais:

es

tá fi

rmem

ente

con

venc

ido

de q

ue e

m p

arte

alg

uma

pode

r enc

ontrá

-la

a nã

o se

r no

Had

es,

have

rá d

e in

surg

ir-se

con

tra a

mor

te, e

m v

ez d

e pa

rtir c

onte

nte

para

lá?

Sim

, é o

que

te

rem

os d

e ad

miti

r, m

eu c

aro,

se

se tr

atar

de

um v

erda

deiro

am

ante

da

sabe

doria

. Poi

s es

te

há d

e es

tar f

irmem

ente

con

venc

ido

de q

ue a

não

ser

lá, e

m p

arte

alg

uma

pode

rá e

ncon

trar a

ve

rdad

e em

toda

a s

ua p

urez

a. S

e as

coi

sas

se p

assa

m re

alm

ente

com

o ac

abo

de d

izer

, não

se

ria d

ar p

rova

de

inse

nsat

ez te

mer

a m

orte

sem

elha

nte

indi

vídu

o?

Sem

dúv

ida,

por

Zeu

s, fo

i a s

ua re

spos

ta.

XII

I – P

or c

onse

quên

cia,

con

tinuo

u, a

o vi

res

um h

omem

revo

ltar-

se n

o in

stan

te d

e m

orre

r, nã

o se

rá is

so p

rova

suf

icie

nte

de q

ue n

ão tr

ata

de u

m a

man

te d

a sa

bedo

ria, p

orém

am

ante

do

corp

o? U

m in

diví

duo

ness

as c

ondi

ções

, tam

bém

ser

á, p

ossi

velm

ente

, am

ante

do

dinh

eiro

ou

da fa

ma,

se

não

o fo

r de

ambo

s ao

mes

mo

tem

po.

É ex

atam

ente

com

o di

zes,

resp

onde

u.

E a

virtu

de d

enom

inad

a co

rage

m, S

ímia

s, pr

osse

guiu

, não

ass

enta

mar

avilh

osam

ente

be

m n

os in

diví

duos

com

ess

a di

spos

ição

?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

E a

tem

pera

nça,

o q

ue to

do o

mun

do c

ham

a te

mpe

ranç

a: n

ão d

eixa

r-se

dom

inar

pel

os

apet

ites,

poré

m d

espr

ezá-

los

e re

vela

r mod

eraç

ão, n

ão s

erá

qual

idad

e ap

enas

das

pes

soas

qu

e em

gra

u em

inen

tíssi

mo

desd

enha

m d

o co

rpo

e vi

vem

par

a a

Filo

sofia

?

Nec

essa

riam

ente

, foi

a re

spos

ta.

Se c

onsi

dera

res,

pros

segu

iu, n

os o

utro

s ho

men

s a

cora

gem

e a

tem

pera

nça,

hás

de

achá

-las

mai

s do

que

abs

urda

s.

Com

o as

sim

, Sóc

rate

s?

Igno

ras

porv

entu

ra, l

he d

isse,

que

na

opin

ião

de to

da a

gen

te a

mor

te s

e in

clui

ent

re

os d

enom

inad

os m

ales

?

Sei d

isso

, res

pond

eu.

E nã

o é

pelo

med

o de

um

mal

ain

da m

aior

que

enf

rent

am a

mor

te e

sses

indi

vídu

os

cora

joso

s, qu

ando

a e

nfre

ntam

.

Cer

to.

Logo

, é p

or m

edo

e te

mor

que

os

hom

ens

são

cora

joso

s, co

m e

xceç

ão d

os fi

lóso

fos,

mui

to e

mbo

ra s

e no

s af

igur

e pa

rado

xal s

er a

lgué

m c

oraj

oso

por t

emor

e p

usila

nim

idad

e.

Perf

eita

men

te.

E co

m o

s m

oder

ados

des

se ti

po, n

ão s

e pa

ssar

á a

mes

ma

cois

a, is

to é

, ser

em

mod

erad

os p

or a

lgum

des

regr

amen

to?

E co

nqua

nto

asse

vere

mos

não

ser

isso

pos

síve

l, é

o qu

e se

dá,

real

men

te, c

om a

tem

pera

nça

balo

fa d

essa

gen

te. D

e m

edo,

ape

nas,

de s

e pr

ivar

em d

e ce

rtos

praz

eres

por

ele

s co

biça

dos,

quan

do s

e ab

stêm

de

algu

ns é

por

que

outro

s o

dom

inam

. E e

mbo

ra c

ham

em in

tem

pera

nça

o se

r ven

cido

pel

os p

raze

res,

o qu

e se

com

to

dos

é qu

e o

dom

ínio

sob

re a

lgun

s pr

azer

es s

e fa

z à c

usta

de

serv

irem

a o

utro

s, o

que

vem

a

ser m

uito

par

ecid

o co

m o

que

pouc

o de

clar

ei, d

e se

r, de

alg

um m

odo,

a in

tem

pera

nça

que

os d

eixa

tem

pera

ntes

.

Pare

ce q

ue é

ass

im m

esm

o.

Mas

, meu

bem

ave

ntur

ado

Sím

ias,

essa

não

é a

man

eira

de

alca

nçar

a v

irtud

e, tr

ocar

un

s pr

azer

es p

or o

utro

s, tri

stez

as, o

u te

mor

es p

or te

mor

es d

e ou

tras

espé

cie,

com

o tro

cam

os

em m

iúdo

s m

oeda

de

mai

or v

alor

. Só

há u

ma

moe

da v

erda

deira

, pel

a qu

al tu

do is

so d

eva

ser t

roca

do: a

sab

edor

ia. E

por t

roca

com

ela

, ou

com

ela

mes

ma,

é q

ue e

m v

erda

de s

e co

mpr

a ou

se

vend

e tu

do is

to: c

orag

em, t

empe

ranç

a e

just

iça,

num

a pa

lavr

a, a

ver

dade

ira

virtu

de, a

par

da

sabe

doria

, pou

co im

porta

ndo

que

se lh

e as

soci

em o

u de

la s

e af

aste

m

praz

eres

ou

tem

ores

e tu

do o

mai

s da

mes

ma

natu

reza

. Sep

arad

as d

a sa

bedo

ria e

pe

rmut

adas

ent

re s

i, to

das

elas

não

são

mai

s do

que

som

bra

de v

irtud

e, s

ervi

s em

toda

a

linha

e s

em n

ada

poss

uíre

m d

e ve

rdad

eiro

nem

são

. A v

erda

de e

m s

i con

sist

e,

prec

isam

ente

, na

purif

icaç

ão d

e tu

do is

so, n

ão p

assa

ndo

a te

mpe

ranç

a, a

just

iça,

a c

orag

em

e a

próp

ria s

abed

oria

de

uma

espé

cie

de p

urifi

caçã

o. É

mui

to p

rová

vel q

ue o

s in

stitu

idor

es

de n

osso

s m

isté

rios

não

foss

em fa

lhos

de

mer

ecim

ento

e q

ue d

esde

mui

tos n

os q

uise

ssem

da

r a e

nten

der p

or m

eio

de s

ua li

ngua

gem

obs

cura

que

a p

esso

a nã

o in

icia

da n

em

purif

icad

a, a

o ch

egar

ao

Had

es v

ai p

ara

um la

maç

al, a

o pa

sso

que

o in

icia

do e

pur

o, a

o ch

egar

lá p

assa

a m

orar

com

os

deus

es. P

orqu

e, c

omo

dize

m o

s que

trat

am d

os m

istér

ios:

mui

tos

são

os p

orta

dore

s de

tirs

o, p

orém

pou

quís

sim

os o

s ve

rdad

eiro

s in

spira

dos.

E no

meu

m

odo

de e

nten

der,

são

este

s, ap

enas

, os

que

se o

cupa

ram

com

a fi

loso

fia, e

m s

ua v

erda

deira

ac

epçã

o, n

o nú

mer

o do

s qu

ais

proc

urei

inclu

ir-m

e, e

sfor

çand

o-m

e ne

sse

sent

ido,

por

todo

s os

mod

os, a

vid

a in

teira

e n

a m

edid

a do

pos

síve

l sem

nad

a ne

glig

enci

ar. S

e tra

balh

ei c

omo

seria

pre

ciso

e ti

rei d

isso

alg

um p

rove

ito, é

o q

ue c

om s

egur

ança

fica

rem

os s

aben

do n

o in

stan

te d

e lá

che

garm

os, s

e D

eus

quis

er, e

den

tro d

e po

uco

tem

po, s

egun

do c

reio

. Eis

aí,

Sím

ias

e C

ebet

e, m

inha

def

esa,

a ra

zão

de a

parta

r-m

e ne

m re

volta

r-m

e, p

or e

star

co

nven

cido

de

que

tant

o lá

com

o aq

ui e

ncon

trare

i com

panh

eiro

s e

mes

tres

exce

lent

es. O

vu

lgo

não

me

dará

cré

dito

; por

ém s

e a

min

ha d

efes

a vo

s pa

rece

u m

ais

conv

ince

nte

do q

ue

aos

meu

s ju

ízes

ate

nien

ses,

é tu

do o

que

pos

so d

esej

ar.

XIV

– D

epoi

s de

hav

er S

ócra

tes

assi

m fa

lado

Ceb

ete

tom

ou a

pal

avra

e d

isse

: Só

crat

es, t

udo

o qu

e à a

lma,

difi

cilm

ente

os

hom

ens

pode

rão

acre

dita

r que

, um

a ve

z se

para

da d

o co

rpo,

ven

ha e

la a

sub

sist

ir em

alg

uma

parte

, por

des

truir

-se

e de

sapa

rece

r no

mes

mo

dia

em q

ue o

hom

em fe

nece

. No

próp

rio in

stan

te e

m q

ue e

le s

ai d

o co

rpo

e de

le s

ai,

disp

ersa

-se

com

o so

pro

ou fu

maç

a, e

vola

-se,

dei

xand

o, e

m c

onse

qüên

cia

de e

xist

ir em

qu

alqu

er p

arte

. Por

que,

se

ela

se re

colh

esse

alg

ures

a s

i mes

ma,

livr

e do

s m

ales

que

pouc

o en

umer

aste

, hav

eria

gra

nde

e do

ce e

sper

ança

de

ser v

erda

de, S

ócra

tes,

tudo

o q

ue

diss

este

. Mas

o fa

to é

que

se

faz

mis

ter d

e nã

o pe

quen

o po

der d

e pe

rsua

são

e de

mui

tos

argu

men

tos

para

dem

onst

rar q

ue a

alm

a su

bsis

ta d

epoi

s da

mor

te d

o ho

mem

e q

ue c

onse

rva

algu

ma

ativ

idad

e e

pens

amen

to.

Tens

razã

o, C

ebet

e, re

spon

deu

Sócr

ates

. Mas

que

pod

emos

faze

r? N

ão q

uere

s ex

amin

ar m

ais

de e

spaç

o es

sa q

uest

ão, p

ara

ver s

e as

coi

sas,

real

men

te, s

e pa

ssam

des

se

mod

o?

Eu, p

elo

men

os, r

espo

ndeu

Ceb

ete,

ouv

irei d

e m

uito

bom

gra

do o

que

dis

sere

s a

esse

re

spei

to.

Esto

u ce

rto d

e qu

e de

sta

vez,

con

tinuo

u Só

crat

es, q

uem

nos

ouv

ir, m

as q

ue s

eja

algu

m c

omed

iógr

afo,

não

pod

erá

dize

r que

digo

bab

osei

ras

e nu

nca

me

ocup

o co

m c

oisa

de

inte

ress

e. S

e es

tiver

es d

e ac

ordo

, inv

estig

arem

os e

sse

pont

o.

XV

- Es

tude

mo-

lo, p

ois,

sob

o se

guin

te a

spec

to: s

e as

alm

as d

os m

orto

s se

enc

ontra

m

ou n

ão s

e en

cont

ram

no

Had

es?

Con

form

e an

tiga

tradi

ção,

que

ora

me

ocor

re, a

s al

mas

exis

tent

es fo

ram

daq

ui m

esm

o e

para

deve

rão

volta

r, re

nasc

endo

os

mor

tos.

A s

er a

ssim

, e

se

os v

ivos

nas

cem

dos

mor

tos,

não

terã

o de

est

ar lá

mes

mo

noss

as a

lmas

? Po

is n

ão

pode

riam

rena

scer

se

não

exis

tisse

m, v

indo

a s

er e

ssa,

just

amen

te a

pro

va d

ecis

iva,

no

caso

de

ser

pos

síve

l dei

xar m

anife

sto

que

os v

ivos

de

outra

par

te n

ão p

roce

dem

sen

ão d

os

mor

tos.

Se is

so n

ão fo

r ver

dade

, ter

emos

de

proc

urar

out

ro a

rgum

ento

.

Isso

mes

mo,

dis

se C

ebet

e.

Para

dei

xar a

que

stão

mai

s fá

cil d

e en

tend

er, o

bser

vou,

não

te li

mite

s a

cons

ider

á-la

co

m re

laçã

o ao

s ho

men

s, po

rém

est

ende

-a a

o co

njun

to d

os a

nim

ais

e da

s pl

anta

s, nu

ma

pala

vra,

a tu

do o

que

nas

ce, a

fim

de

verm

os s

e ca

da c

oisa

não

se

orig

ina

excl

usiv

amen

te

do s

eu c

ontrá

rio, o

nde

quer

que

se

verif

ique

ess

a re

laçã

o, ta

l com

o no

cas

o do

bel

o, q

ue te

m

com

o co

ntrá

rio o

feio

, no

do ju

sto

e do

inju

sto

e em

mil

outro

exe

mpl

os q

ue s

e po

deria

m

enum

erar

. Inv

estig

uem

os, e

ntão

, se

é fo

rços

o qu

e tu

do o

que

tenh

a al

gum

con

trário

de

nada

m

ais p

ossa

orig

inar

-se

a nã

o se

r des

se m

esm

o co

ntrá

rio. P

or e

xem

plo:

par

a fic

ar g

rand

e al

gum

a co

isa,

é p

reci

so q

ue a

ntes

foss

e pe

quen

a, s

em o

que

não

pod

eria

aum

enta

r.

Cer

to.

E pa

ra d

imin

uir,

não

é pr

ecis

o se

r mai

or, p

ara

depo

is v

ir a

ficar

peq

uena

?

Exat

amen

te, r

espo

ndeu

.

Ass

im, d

o m

ais

forte

nas

ce o

mai

s fr

aco

e do

mor

oso,

o rá

pido

.

Sem

dúv

ida.

E en

tão?

Se

algu

ma

cois

a pi

ora,

é p

orqu

e an

tes

era

mel

hor,

com

o te

rá s

ido

ante

s in

just

a pa

ra p

oder

torn

ar-s

e ju

sta?

Com

o nã

o?

E ag

ora?

Não

é p

rópr

io d

essa

opo

siçã

o un

iver

sal h

aver

doi

s pro

cess

os d

e na

scim

ento

: o

que

vai d

e um

con

trário

par

a o

outro

, e o

de

sent

ido

inve

rso:

des

te ú

ltim

o pa

ra a

quel

e?

Entre

a c

oisa

mai

or e

a m

enor

cres

cim

ento

e d

imin

uiçã

o, ra

zão

por q

ue d

izem

os q

ue

uma

dela

s cr

esce

e a

out

ra d

imin

ui.

É c

erto

, res

pond

eu.

Val

e o

mes

mo

para

a c

ombi

naçã

o e

a de

com

posi

ção,

o re

sfria

men

to e

o a

quec

imen

to,

e pa

ra a

s de

mai

s op

osiç

ões

do m

esm

o tip

o. E

em

bora

nem

sem

pre

tenh

amos

par

a to

das

elas

de

sign

ação

apr

opria

da, é

forç

oso

ness

es c

asos

ser

idên

tico

o pr

oces

so, d

e fo

rma

que

cada

co

isa

cres

ce à

cus

ta d

e ou

tra, s

endo

recí

proc

a a

gera

ção

entre

ela

s.

Sem

dúv

ida,

obs

ervo

u.

XV

I – E

ent

ão?

Pros

segu

iu: v

iver

não

com

porta

um

con

trário

, tal

com

o se

com

a

vigí

lia e

o so

no?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

Qua

l é?

Esta

r mor

to, f

oi a

resp

osta

.

Send

o as

sim

, cad

a um

des

ses

esta

dos

prov

ém d

o ou

tro, v

isto

ser

em c

ontrá

rios,

have

ndo

entre

am

bos

um p

roce

sso

recí

proc

o de

ger

ação

.

Com

o nã

o?

Vou

fala

r de

um d

os p

ares

de

cont

rário

s a

que

me

refe

ri há

pou

co, d

isse

Sóc

rate

s, e

de

suas

resp

ectiv

as g

eraç

ões;

tu te

man

ifest

arás

a re

spei

to d

o ou

tro. D

enom

ino

o pr

imei

ro,

vigí

lia e

son

o; d

a vi

gília

nas

ce o

son

o, e

vic

e-ve

rsa:

do

sono

, a v

igíli

a, te

ndo

um d

os

proc

esso

s o

nom

e de

aco

rdar

e o

out

ro o

de

dorm

ir. Is

so te

bas

ta, p

ergu

ntou

, ou

não?

Perf

eita

men

te.

É tu

a ag

ora

a ve

z, p

ross

egui

u, d

e fa

lar a

resp

eito

da

vida

e d

a m

orte

. Não

dis

sest

e qu

e es

tar v

ivo

é o

cont

rário

de

esta

r mor

to.

Dis

se.

E qu

e um

é g

erad

o do

out

ro?

Tam

bém

.

Que

é, e

ntão

, o q

ue p

rové

m d

o vi

vo?

O m

orto

, res

pond

eu.

E do

mor

to, v

olto

u a

fala

r, o

que

se o

rigin

a?

Será

forç

oso

conv

ir qu

e é

o vi

vo.

Send

o as

sim

, Ceb

ete,

do

que

está

mor

to p

rovê

m o

s ho

men

s e

tudo

o q

ue te

m v

ida?

É ev

iden

te, r

espo

ndeu

.

Logo

, con

tinuo

u, n

ossa

s al

mas

est

ão n

o H

ades

.

Pare

ce q

ue s

im.

E de

sses

doi

s pr

oces

sos

corr

elat

ivos

, um

não

nos

é m

anife

sto?

Poi

s o

ato

de m

orre

r é

bem

visí

vel,

não

é iss

o m

esm

o?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

Que

fare

mos

, ent

ão?

Con

tinuo

u; n

ão a

tribu

irem

os a

ess

e pr

oces

so d

e ge

raçã

o o

seu

cont

rário

, ou

adm

itire

mos

que

nes

se p

onto

a n

atur

eza

é m

anca

? N

ão s

erá

prec

iso

acei

tarm

os

um p

roce

sso

gera

dor o

post

o ao

de

mor

rer?

Sem

dúv

ida

nenh

uma,

resp

onde

u.

Qua

l?

Rev

iver

.

Logo

, con

tinuo

u, s

e o

revi

ver é

um

fato

, ter

á de

ser

um

a ge

raçã

o no

sen

tido

dos

mor

tos

para

os

vivo

s: a

revi

vesc

ênci

a.

Perf

eita

men

te.

Des

se m

odo,

fica

mos

tam

bém

de

acor

do q

ue ta

nto

os v

ivos

pro

vêm

dos

mor

tos

com

o os

mor

tos

dos

vivo

s. Se

ndo

assi

m, q

uer p

arec

er-m

e qu

e ap

rese

ntam

os u

m a

rgum

ento

ba

stan

te fo

rte p

ara

afirm

ar q

ue a

s al

mas

dos

mor

tos

terã

o ne

cess

aria

men

te d

e es

tar e

m

algu

ma

parte

, de

onde

vol

tam

a v

iver

.

A m

eu p

arec

er, S

ócra

tes,

repl

icou

, é a

con

clus

ão fo

rços

a de

tudo

o q

ue a

dmiti

mos

até

aq

ui.

XV

II –

Obs

erva

tam

bém

, Ceb

ete,

con

tinuo

u, q

ue n

ão c

hega

mos

a e

sse

acor

do

aere

amen

te, s

egun

do m

e pa

rece

. Por

que

se u

m d

esse

s pr

oces

sos

não

foss

e co

mpe

nsad

o pe

lo

seu

cont

rário

, gira

ndo,

por

ass

im d

izer

, em

círc

ulo,

mas

sem

pre

se fi

zess

e a

gera

ção

em

linha

reta

, de

um d

os c

ontrá

rios

para

o s

eu o

post

o, s

em n

unca

vol

tar d

esta

par

a aq

uele

, nem

anda

r em

sen

tido

inve

rso:

fica

sab

endo

que

tudo

aca

baria

num

a fo

rma

únic

a e

ficar

ia n

um

só e

stad

o, c

essa

ndo,

por

isso

mes

mo,

a g

eraç

ão.

Com

o as

sim?

Perg

unto

u.

Não

é d

ifíci

l, co

ntin

uou,

com

pree

nder

o s

entid

o de

min

has

pala

vras

. No

caso

, por

ex

empl

o, d

e ex

istir

o s

ono,

por

ém s

em h

aver

o c

orre

spon

dent

e de

sper

tar d

o qu

e es

tiver

do

rmin

do, b

em s

abes

que

aca

baria

por

tran

sfor

mar

em

ban

alid

ade

a fá

bula

de

Eudi

miã

o, a

qu

al n

ão s

eria

per

cebi

da e

m p

arte

alg

uma,

por

que

tudo

o m

ais

ficar

ia c

omo

ele,

num

son

o un

iver

sal.

E se

toda

s as

coi

sas

se m

istu

rass

em, s

em v

irem

a s

epar

ar-s

e, d

entr

o de

pou

co

tem

po s

eria

um

fato

aqu

ilo d

e A

naxó

gara

s: a

con

fusã

o ge

ral.

A m

esm

a co

isa

se d

aria

, am

igo

Ceb

ete,

se

vies

se a

per

ecer

qua

nto

parti

cipa

da

vida

, e, d

epoi

s de

mor

to, s

e co

nser

vass

e se

mpr

e no

mes

mo

esta

do, s

em n

unca

rena

scer

; não

ser

ia in

evitá

vel v

ir tu

do a

fic

ar m

orto

e n

ada

mai

s vi

ver?

Se

o qu

e é

vivo

pro

vém

de

algo

dife

rent

e da

mor

te e

aca

ba

por m

orre

r: co

mo

evita

r que

tudo

aca

be p

or d

esap

arec

er n

a m

orte

?

Não

mei

o, S

ócra

tes,

resp

onde

u C

ebet

e, s

egun

do p

enso

; que

r par

ecer

-me

que

te

assi

ste

toda

a ra

zão.

A m

im ta

mbé

m, C

ebet

e, c

ontin

uou,

se

me

afig

ura

mui

to c

erto

, não

hav

endo

po

ssib

ilida

de d

e en

gano

da

noss

a pa

rte, p

ois

ficam

os d

e ac

ordo

nes

se p

onto

. Sim

, o re

vive

r é

um fa

to, o

s vi

vos

prov

êm d

os m

orto

s, as

alm

as d

os m

orto

s ex

iste

m, s

endo

mel

hor a

sor

te

das

boas

e p

ior a

das

más

.

XV

III –

É ta

mbé

m, S

ócra

tes,

volto

u C

ebet

e a

fala

r, o

que

se c

oncl

ui d

aque

le o

utro

ar

gum

ento

– s

e fo

r ver

dade

iro –

que

cos

tum

as a

pres

enta

r, so

bre

ser r

emin

iscê

ncia

o

conh

ecim

ento

, con

form

e o

qual

nós

dev

emos

forç

osam

ente

ter a

pren

dido

num

tem

po

ante

rior o

de

que

nos

reco

rdam

os a

gora

, o q

ue s

eria

impo

ssív

el, s

e no

ssa

alm

a nã

o pr

eexi

stis

se a

lgur

es, a

ntes

de

assu

mir

a fo

rma

hum

ana.

Isso

vem

pro

var q

ue a

alm

a de

ve s

er

algo

imor

tal

Poré

m C

ebet

e, in

terr

ompe

u-o

Sím

ias,

que

prov

as h

á so

bre

isso

? A

viva

-me

a m

emór

ia, p

ois

não

me

lem

bro

agor

a qu

ais

seja

m.

Bas

tará

um

a, re

spon

deu

Ceb

ete,

elo

quen

tíssi

ma:

inte

rrog

ando

os

hom

ens,

se a

s pe

rgun

tas

fore

m b

em c

ondu

zida

s, el

es d

arão

por

si m

esm

os re

spos

tas

acer

tada

s, o

de q

ue

não

seria

m c

apaz

es s

e já

não

pos

suís

sem

o c

onhe

cim

ento

e a

razã

o re

ta. D

epoi

s di

sso,

se

os

puse

rmos

dia

nte

de fi

gura

s ge

omét

ricas

ou

cois

as d

o m

esm

o gê

nero

, fic

ará

dem

onst

rado

a

saci

edad

e qu

e tu

do re

alm

ente

se

pass

a de

sse

mod

o.

Se is

so n

ão b

asta

, Sím

ias,

inte

rvei

o Só

crat

es, p

ara

conv

ence

r-te

, vê

se c

onsi

dera

ndo

a qu

estã

o po

r out

ro p

rism

a, c

hega

rás

a co

ncor

dar c

onos

co. D

uvid

as q

ue s

eja

apen

as re

cord

ar

o qu

e de

nom

inam

os a

pren

der?

Não

dire

i que

duv

ide,

resp

onde

u Sí

mia

s. O

que

eu

quer

o é

just

amen

te is

so s

obre

di

scut

imos

: rec

orda

r-m

e. C

om a

exp

osiç

ão d

e C

ebet

e ch

egue

i qua

se a

rele

mbr

ar-m

e e

conv

ence

r-m

e. N

ão o

bsta

nte,

gos

taria

de

sabe

r com

o va

is d

esen

volv

er o

tem

a.

Eu?

Des

te m

odo,

repl

icou

. Num

pon

to e

stam

os d

e ac

ordo

: que

par

a re

cord

ar-s

e al

guém

de

algu

ma

cois

a, é

pre

ciso

ter t

ido

ante

s o

conh

ecim

ento

des

sa c

oisa

.

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

E nã

o po

dere

mos

dec

lara

r-no

s ta

mbé

m d

e ac

ordo

a re

spei

to d

e m

ais

outro

pon

to, q

ue

o co

nhec

imen

to a

lcan

çado

em

cer

tas

cond

içõe

s te

m o

nom

e de

rem

inis

cênc

ia?

Ref

iro-m

e ao

segu

inte

: qua

ndo

algu

ém v

ê ou

ouv

e al

gum

a co

isa,

ou

a pe

rceb

e de

out

ra m

anei

ra, e

não

ap

enas

adq

uire

o c

onhe

cim

ento

des

sa c

oisa

com

o lh

e oc

orre

a id

éia

de o

utra

que

não

é

obje

to d

o m

esm

o co

nhec

imen

to, p

orém

de

outro

, não

tere

mos

o d

ireito

de

dize

r que

ess

a pe

ssoa

se

reco

rdou

do

que

lhe

veio

ao

pens

amen

to?

Com

o as

sim?

É o

segu

inte

: um

a co

isa

é co

nhec

imen

to d

o ho

mem

, e o

utra

o d

a lir

a.

Sem

dúv

ida.

E nã

o sa

bes

o qu

e se

pas

sa c

om o

s am

ante

s, qu

ando

vêe

m a

lira

, a ro

upa,

ou

qual

quer

ou

tro o

bjet

o de

uso

de

seus

am

ados

? R

econ

hece

m a

lira

e fo

rmam

no

espí

rito

a im

agem

do

man

cebo

a q

uem

a li

ra p

erte

nce.

Rem

inisc

ênci

a é

isso:

ver

alg

uém

freq

üent

emen

te a

Sím

ias

e re

cord

ar-s

e de

Ceb

ete.

mil

outro

s ex

empl

os d

o m

esm

o tip

o.

Milh

ares

, por

Zeu

s, re

spon

deu

Sím

ias.

Não

con

stitu

i iss

o, p

ergu

ntou

, um

a es

péci

e de

rem

inisc

ênci

a? P

rinci

palm

ente

qua

ndo

se d

á co

m re

laçã

o a

cois

a de

que

pod

ería

mos

est

ar e

sque

cido

s, p

ela

ação

do

tem

po o

u po

r fa

lta d

e at

ençã

o.

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

E en

tão?

Con

tinuo

u: n

ão é

pos

síve

l lem

brar

-se

algu

ém d

e um

hom

em, a

o ve

r a

pint

ura

de u

m c

aval

o ou

de

uma

lira,

ou

entã

o, a

o ve

r o re

trato

de

Sím

ias,

reco

rdar

-se

de

Ceb

ete? M

uito

pos

sível

.

E di

ante

do

retra

to d

e Sí

mia

s, le

mbr

ar-s

e do

pró

prio

Sím

ias?

Isso

tam

bém

, foi

a re

spos

ta.

XIX

– E

não

é c

erto

que

em

todo

s es

ses

caso

s a

rem

inis

cênc

ia ta

nto

prov

ém d

os

sem

elha

ntes

com

o do

s de

ssem

elha

ntes

?

Prov

ém, d

e fa

to.

E no

cas

o de

lem

brar

-se

algu

ém d

e al

gum

a co

isa

à vis

ta d

e se

u se

mel

hant

e, n

ão s

erá

forç

osos

per

cebe

r ess

a pe

ssoa

se

a se

mel

hanç

a é

perf

eita

ou

se a

pres

enta

alg

uma

falh

a?

Forç

osam

ente

, res

pond

eu.

Con

side

ra, e

ntão

, se

tudo

não

se

pass

a de

ste

mod

o. A

firm

amos

que

algu

ma

cois

a a

que

dam

os o

nom

e de

igua

l; nã

o im

agin

o a

hipó

tese

de

que

um p

edaç

o de

pau

ser

igua

l a

outro

, nem

um

a pe

dra

a ou

tra p

edra

, nem

nad

a se

mel

hant

e; re

firo-

me

ao q

ue s

e ac

ha a

cim

a de

tudo

isso

; a ig

uald

ade

em s

i. D

irem

os q

ue e

xist

e ou

que

não

exi

ste?

Exist

e, p

or Z

eus,

excl

amou

Sím

ias;

à mar

avilh

a.

E qu

e ta

mbé

m s

aber

emos

o q

ue s

eja?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

E on

de fo

rmos

bus

car e

sse

conh

ecim

ento

? N

ão fo

i naq

uilo

a q

ue n

os re

ferim

os h

á po

uco,

à vi

sta

de u

m p

au o

u de

um

a pe

dra

e de

out

ras

cois

as ig

uais

, que

nos

sur

giu

a id

éia

de ig

uald

ade,

que

dife

re d

elas

? O

u nã

o te

par

ece

dife

rir?

Con

side

ra ta

mbé

m o

seg

uint

e: p

or

veze

s, a

mes

ma

pedr

a ou

o m

esm

o le

nho,

sem

se

mod

ifica

rem

, não

te a

figur

am o

ra ig

uais,

or

a de

sigu

ais?

Sem

dúv

ida.

E en

tão?

O ig

ual j

á se

te a

pres

ento

u al

gum

a ve

z co

mo

desi

gual

, e a

igua

ldad

e co

mo

desi

gual

dade

?

Nun

ca, S

ócra

tes.

Por c

onse

guin

te, c

ontin

uou,

não

são

a m

esm

a co

isa

esse

s ob

jeto

igua

is e

a ig

uald

ade

em si

. De

jeito

nen

hum

, Sóc

rate

s.

Não

obs

tant

e, d

isse

, foi

des

ses

igua

is, d

ifere

ntes

da

igua

ldad

e, q

ue c

once

best

e e

adqu

irist

e o

conh

ecim

ento

des

ta ú

ltim

a.

Está

mui

to c

erto

o q

ue a

firm

aste

, dis

se.

Que

pod

e se

r sem

elha

nte

àque

les

ou d

esse

mel

hant

es?

Perfe

itam

ente

.

Isso

, aliá

s, co

ntin

uou,

é in

dife

rent

e. D

esde

que

, à v

ista

de

um o

bjet

o, p

ensa

s em

ou

tro, s

eja

ou n

ão s

eja

sem

elha

nte

ao p

rimei

ro, n

eces

saria

men

te o

que

se

dá n

esse

cas

o é

rem

inisc

ênci

a.

Perf

eita

men

te.

E en

tão?

Pro

sseg

uiu:

que

se

pass

a co

nosc

o, c

om r

elaç

ão a

os p

edaç

os d

e pa

u ig

uais

e a

tu

do o

mai

s a

que

nos

refe

rimos

pouc

o? A

figur

am-s

e-no

s igu

ais à

igua

ldad

e em

si, o

u lh

es fa

lta a

lgum

a co

isa

para

ser

em c

omo

a ig

uald

ade?

Ou

não

falta

nad

a?

Falta

mui

to, r

espo

ndeu

.

Esta

mos

, por

con

segu

inte

, de

acor

do, q

ue q

uand

o al

guém

um d

eter

min

ado

obje

to e

di

z: O

obj

eto

que

tenh

o ne

ste

mom

ento

dia

nte

dos

olho

s as

pira

a s

er c

omo

outro

obj

eto

real

, po

rém

fica

mui

to a

quém

del

e, s

em c

onse

guir

alca

nçá-

lo, v

isto

lhe

ser i

nfer

ior:

essa

pes

soa,

di

zia,

ao

faze

r sem

elha

nte

obse

rvaç

ão, t

inha

nec

essa

riam

ente

o c

onhe

cim

ento

do

obje

to

com

o q

ual e

la d

isse

que

o o

utro

se

asse

mel

hava

, por

ém e

ra in

ferio

r.

Forç

osam

ente

. E e

ntão

? N

ão s

e pa

ssar

á a

mes

ma

cois

a co

nosc

o, e

m re

laçã

o às

coi

sas

igua

is e

à igu

alda

de e

m si

mes

ma?

Sem

dúv

ida

nenh

uma.

É pr

ecis

o, p

orta

nto,

que

tenh

amos

con

heci

do a

igua

ldad

e an

tes

do te

mpo

em

que

, ve

ndo

pela

prim

eira

vez

obj

etos

igua

is, o

bser

vam

os q

ue to

dos

eles

se

esfo

rçav

am p

or

alca

nçá-

la p

orém

lhe

eram

infe

riore

s.

Cer

to.

Com

o ta

mbé

m n

os d

ecla

ram

os d

e ac

ordo

em

que

não

pod

ería

mos

faze

r sem

elha

nte

obse

rvaç

ão n

em fi

car e

m c

ondi

ções

de

fazê

-la,

a n

ão s

er p

or m

eio

da v

ista

ou

do ta

to, o

u de

qu

alqu

er o

utro

sen

tido.

Não

est

abel

eço

dife

renç

as.

De

fato

, Sóc

rate

s, sã

o eq

uiva

lent

es; p

elo

men

os n

o qu

e re

spei

ta a

o te

ma

em

disc

ussã

o.

De

qual

quer

form

a, é

por

mei

o do

s se

ntid

os q

ue o

bser

vam

os te

nder

em p

ara

a ig

uald

ade

em s

i tod

as a

s co

isas

per

cebi

das

com

o ig

uais

, por

ém s

em ja

mai

s al

canç

á-la

. Ou

que

dire

mos

?

Isso

mes

mo.

Logo

, ant

es d

e co

meç

arm

os a

ver

, a o

uvir,

ou

a em

preg

ar o

s de

mai

s se

ntid

os, j

á de

vem

os te

r adq

uirid

o em

alg

uma

parte

o c

onhe

cim

ento

do

que

seja

a ig

uald

ade

em s

i, pa

ra

ficar

mos

em

con

diçõ

es d

e re

laci

onar

com

ela

as

igua

ldad

es q

ue o

s se

ntid

os n

os d

ão a

co

nhec

er e

afir

mar

que

est

as s

e es

forç

am p

or a

lcan

çá-l

a, p

orém

lhe

são

infe

riore

s.

É a

cons

equê

ncia

nec

essá

ria, S

ócra

tes,

do q

ue fo

i dito

ant

es.

E nã

o é

certo

que

vem

os e

ouv

imos

e fa

zem

os u

so d

os d

emai

s se

ntid

os lo

go a

pós

o na

scim

ento

?

Perf

eita

men

te.

Será

pre

ciso

, ent

ão, é

o q

ue a

firm

amos

, já

term

os a

ntes

dis

so o

con

heci

men

to d

a ig

uald

ade.

Cer

to.

Ant

es d

o na

scim

ento

, por

con

segu

inte

, ao

que

pare

ce, é

que

nec

essa

riam

ente

o

adqu

irim

os.

Pare

ce, m

esm

o.

XX

– L

ogo,

se

o ad

quiri

mos

ant

es d

o na

scim

ento

e n

asce

mos

com

ele

, é p

orqu

e co

nhec

emos

ant

es d

o na

scim

ento

e a

o na

scer

tant

o o

igua

l, o

mai

or e

o m

enor

, com

o as

de

mai

s no

ções

da

mes

ma

natu

reza

. Poi

s ta

nto

é vá

lido

noss

o ar

gum

ento

par

a a

igua

ldad

e co

mo

para

o b

elo

em s

i mes

mo

e o

bem

em

si m

esm

o, a

just

iça,

a p

ieda

de e

tudo

o m

ais,

com

o di

sse,

a q

ue p

usem

os a

mar

ca d

e O

pró

prio

que

é, a

ssim

nas

per

gunt

as q

ue

form

ulam

os c

omo

nas

resp

osta

s ap

rese

ntad

as. A

ess

e m

odo,

adq

uirim

os n

eces

saria

men

te

ante

s de

nas

cer o

con

heci

men

to d

e tu

do is

so.

Cer

to.

E se

, dep

ois

de a

dqui

rido

tal c

onhe

cim

ento

não

o e

sque

cêss

emos

, des

de o

nas

cim

ento

o

poss

uiría

mos

e o

con

serv

aría

mos

toda

a v

ida.

Poi

s co

nhec

er, d

e fa

to, c

onsi

ste

apen

as n

o se

guin

te: c

onse

rvar

o c

onhe

cim

ento

adq

uirid

o, s

em v

ir nu

nca

a pe

rdê-

lo. O

que

de

nom

inam

os e

sque

cer,

Sím

ias,

não

será

pre

cisa

men

te a

per

da d

o co

nhec

imen

to?

Não

ser

á ou

tra

cois

a, S

ócra

tes,

resp

onde

u.

Se, e

m v

erda

de, s

egun

do p

enso

, ant

es d

e na

scer

já tí

nham

os ta

l con

heci

men

to e

o

perd

emos

ao

nasc

er, e

dep

ois,

aplic

ando

nos

sos

sent

idos

a e

sses

obj

etos

, vol

tam

os a

ad

quiri

r o c

onhe

cim

ento

que

já p

ossu

íram

os n

um te

mpo

ant

erio

r: o

que

deno

min

amos

ap

rend

er n

ão s

erá

a re

cupe

raçã

o de

um

con

heci

men

to m

uito

nos

so?

E nã

o es

tare

mos

em

preg

ando

a e

xpre

ssão

cor

reta

, se

derm

os a

ess

e pr

oces

so o

nom

e de

rem

inis

cênc

ia/?

Perf

eita

men

te.

Pois

já s

e no

s re

velo

u co

mo

poss

ível

, ao

perc

ebem

os a

lgum

a co

isa,

pel

a vi

sta

ou p

elo

ouvi

do, o

u po

r qua

lque

r out

ro s

entid

o, p

ensa

r em

out

ra d

e qu

e no

s ha

víam

os e

sque

cido

, m

as q

ue s

e as

soci

a co

m a

prim

eira

por

par

ecer

-se

com

ela

ou

por l

he s

er d

esse

mel

hant

e.

Des

se m

odo,

com

o di

sse,

um

a da

s du

as h

á de

ser

, por

forç

a: o

u na

scem

os c

om ta

l co

nhec

imen

to e

o c

onse

rvam

os d

uran

te to

da a

vid

a, o

u en

tão

as p

esso

as d

as q

uais

diz

emos

qu

e ap

rend

em p

oste

riorm

ente

, o q

ue fa

zem

é re

cord

ar, v

indo

a s

er o

con

heci

men

to

rem

inisc

ênci

a.

Tudo

se

pass

a re

alm

ente

des

se m

odo,

Sóc

rate

s.

XX

I– E

ntão

, que

esc

olhe

s, Sí

mia

s? N

asce

mos

com

o c

onhe

cim

ento

ou

nos

reco

rdam

os u

lterio

rmen

te d

o qu

e co

nhec

emos

ant

e?

Ass

im d

e pr

onto

, Sóc

rate

s, nã

o se

i com

o de

cidi

r-m

e.

Com

o? S

obre

isto

pod

es p

erfe

itam

ente

dec

idir

-te

e di

zer o

que

pen

sas:

que

m s

abe,

es

tá e

m c

ondi

ções

de

dar a

s ra

zões

do

que

sabe

, ou

não?

Nec

essa

riam

ente

, Sóc

rate

s, re

spon

deu.

E és

de

pare

cer q

ue to

do o

mun

do p

ossa

dar

as

razõ

es d

as q

uest

ões

que

acab

amos

de

trata

r?

Tom

ara

que

o pu

dess

em! P

orém

rece

io m

uito

que

am

anhã

a e

stas

hor

as n

ão h

aja

aqui

uma

só p

esso

a em

con

diçõ

es d

e fa

zê-l

o.

Dec

erto

, Sím

ias,

cont

inuo

u, n

ão é

s de

opi

nião

que

todo

s os

hom

ens

ente

ndam

des

sa

ques

tões

.

De

form

a al

gum

a.

Nes

se c

aso,

reco

rdam

-se

do q

ue a

pren

dera

m a

ntes

?

Nec

essa

riam

ente

.

E qu

ando

é q

ue n

ossa

s al

mas

adq

uire

m e

sses

con

heci

men

to?

Não

de s

er a

par

tir d

o m

omen

to e

m q

ue n

asce

mos

com

o ho

men

s.

Não

, dec

erto

.

Entã

o é

ante

s?

Sim

.

Logo

, Sím

ias,

as a

lmas

exi

stem

ant

es d

e as

sum

irem

a fo

rma

hum

ana,

sep

arad

as d

os

corp

os, e

pos

suíre

m e

nten

dim

ento

.

A m

enos

, Sóc

rate

s, qu

e ad

quir

amos

tal c

onhe

cim

ento

ao

nasc

er, p

ois

aind

a fa

lta

cons

ider

ar e

sse

tem

po.

Que

sej

a, c

ompa

nhei

ro! M

as e

ntão

, em

que

tem

po p

erde

mos

ess

e co

nhec

imen

to?

Ao

nasc

erm

os n

ão d

ispo

mos

del

e, c

omo

acab

amos

de

adm

itir.

Ou

será

que

o p

erde

mos

no

mom

ento

exa

to e

m q

ue o

adq

uirim

os?

Pode

rás

indi

car o

utro

tem

po?

Não

jeito

, Sóc

rate

s, se

m o

que

rer,

diss

e um

a to

lice.

XX

II –

Nos

sa s

ituaç

ão, S

ímia

s, nã

o se

rá a

seg

uint

e? S

e ex

iste

, rea

lmen

te, t

udo

isso

co

m q

ue v

ivem

os a

enc

her a

boc

a: o

bel

o e

o bo

m e

toda

s as

ess

ênci

as d

esse

tipo

, e s

e a

elas

re

ferim

os tu

do o

que

nos

che

ga p

or in

term

édio

dos

sen

tidos

, com

o a

algo

pre

exis

tent

e, q

ue

enco

ntra

mos

em

nós

mes

mos

e c

om q

ue o

com

para

mos

: ser

á fo

rços

o qu

e , a

ssim

com

o el

as, e

xist

a no

ssa

alm

a an

tes

de n

asce

rmos

, e q

ue s

em a

quel

as e

stas

não

exi

stiria

m?

Mai

s qu

e ex

ata,

falo

u Sí

mia

s, m

e pa

rece

, Sóc

rate

s, a

mes

ma

nece

ssid

ade;

é m

uito

se

gura

a p

osiç

ão a

que

se

acol

he o

arg

umen

to, n

o qu

e en

tend

e co

m a

afin

idad

e en

tre a

s es

sênc

ias

a qu

e te

refe

riste

, e n

ossa

alm

a, a

ntes

de

nasc

erm

os. N

ão s

ei d

e na

da tã

o cl

aro

com

o di

zer q

ue to

dos

esse

s co

ncei

tos

exis

tem

na

mai

s el

evad

a ac

epçã

o do

term

o: o

bel

o, o

be

m e

tudo

o m

ais

que

enum

eras

te h

á po

uco.

Ess

a de

mon

stra

ção

me

satis

faz

plen

amen

te.

E a

Ceb

ete?

Per

gunt

ou; p

reci

sas

tam

bém

con

venc

er C

ebet

e.

A e

le ta

mbé

m s

atis

faz,

resp

onde

u Sí

mia

s, se

gund

o pe

nso,

mui

to e

mbo

ra s

eja

o ho

mem

mai

s di

fícil

de a

ceita

r a o

pini

ão d

os o

utro

s. M

as c

reio

que

já e

sse

enco

ntra

co

nven

cido

de

que

noss

a al

ma

exis

te a

ntes

de

nasc

erm

os.

XX

III –

Por

ém S

ócra

tes,

que

ela

cont

inue

a e

xist

ir de

pois

de

noss

a m

orte

é o

que

não

m

e pa

rece

suf

icie

ntem

ente

dem

onst

rado

, poi

s ai

nda

está

de

pé a

opi

nião

do

vulg

o a

que

Ceb

ete

se re

feriu

pouc

o: Q

uem

sab

e se

no

inst

ante

pre

ciso

em

que

o h

omem

mor

re, a

al

ma

se d

ispe

rsa,

sen

do e

sse,

just

amen

te, o

seu

fim

? Q

ue im

pede

, de

fato

que

ela

nas

ça

algu

res

e se

con

stitu

a de

out

ros

elem

ento

s e

exis

ta a

ntes

de

alca

nçar

o c

orpo

hum

ano,

mas

de

pois

de

entra

r no

corp

o, q

uand

o tiv

er d

e se

para

r-se

del

e, ta

mbé

m a

cabe

de

uma

vez

e ve

nha

a de

strui

r-se

?

Fala

ste

bem

, Sím

ias,

obse

rvou

Ceb

ete.

Par

ece

que

só fo

i dem

onst

rado

met

ade

do q

ue

era

de m

iste

r, a

sabe

r: qu

e no

ssa

alm

a ex

iste

ant

es d

e na

scer

mos

; ain

da fa

lta p

rova

r, po

r co

nseg

uint

e, q

ue d

epoi

s de

mor

rerm

os e

la n

ão e

xist

irá m

enos

do

que

ante

s do

nas

cim

ento

. Só

ass

im fi

cará

com

plet

a a

dem

onst

raçã

o.

Foi c

ompl

etad

a ag

ora

mes

mo,

Sím

ias

e C

ebet

e, o

bser

vou

Sócr

ates

; bas

tará

junt

arde

s o

pres

ente

arg

umen

to a

o qu

e ad

miti

mos

ant

es, d

e qu

e tu

do o

que

viv

e só

nas

ce d

o qu

e é

mor

to. P

orqu

e se

as

alm

as e

xist

em a

ntes

do

nasc

imen

to e

se,

nec

essa

riam

ente

, par

a co

meç

arem

a v

ida

e ex

istir

em, n

ão p

oder

ão p

rovi

r de

outra

par

te a

não

ser

da

mor

te d

o qu

e es

tá m

orto

, não

ser

á fo

rços

o qu

e co

ntin

uem

a e

xist

ir de

pois

da

mor

te, p

ara

rena

scer

em?

Com

o di

sse,

ess

a pa

rte já

foi d

emon

stra

da.

XX

IV –

Por

ém v

erifi

co, S

ímia

s e

Ceb

ete,

que

am

bos

vós

folg

aríe

is d

e ex

amin

ar m

ais

a fu

ndo

essa

que

stão

, poi

s, co

mo

as c

rianç

as, t

emei

s, de

fato

, que

o v

ento

arr

aste

a a

lma

e a

disp

erse

no

mom

ento

em

que

ela

dei

xa o

cor

po, m

áxim

e se

na

hora

em

que

mor

re a

lgué

m o

u nã

o es

tiver

ser

eno

e so

prar

ven

to fo

rte.

E C

ebet

e, d

esat

ando

a ri

r, Fa

ze d

e co

nta,

Sóc

rate

s, o

bser

vou,

que

est

amos

com

med

o,

e pr

ocur

a co

nven

cer-

nos.

Ou

mel

hor:

será

pre

ferív

el a

dmiti

res,

não

que

tem

os m

edo,

mas

qu

e ta

lvez

haj

a de

ntro

de

nós

uma

cria

nça

que

se a

ssus

ta c

om e

ssas

cos

ias.

Tra

ta, p

or

cons

egui

nte,

de

conv

encê

-la

a nã

o te

r med

o da

mor

te c

omo

do b

icho

-pap

ão.

Para

tant

o, lh

es fa

lou

Sócr

ates

, ser

á pr

ecis

o ex

orci

zá-l

a di

aria

men

te, a

té p

assa

r o

med

o.

E on

de, S

ócra

tes,

perg

unto

u, e

ncon

trare

mos

um

bom

exo

rciz

ador

, um

a ve

z qu

e no

s ab

ando

nas?

A H

élad

e é

gran

de, C

ebet

e, re

plic

ou, e

nel

a há

mui

tos

hom

ens

de m

erec

imen

to.

Gra

ndes

tam

bém

são

s as

ger

açõe

s bá

rbar

as, q

ue p

reci

sare

is e

squa

drin

har p

ara

enco

ntra

r um

m

ágic

o ne

ssas

con

diçõ

es, s

em o

lhar

des

pesa

s ne

m fa

diga

, poi

s em

nad

a m

ais

pode

ríeis

ap

licar

o v

osso

din

heiro

. Mas

con

vém

pro

mov

erde

s es

sa b

usca

tam

bém

ent

re v

ós o

utro

s, po

is ta

lvez

não

sej

a fá

cil e

ncon

trar q

uem

se

desi

ncum

ba d

isso

mel

hor d

o qu

e vó

s m

esm

os.

É o

que

fare

mos

, fal

ou C

ebet

e. P

orém

se

leva

res

gost

o ni

sso,

vol

tem

os p

ara

o po

nto

em q

ue fi

cam

os a

ntes

.

Agr

ada-

me

a pr

opos

ta, c

omo

não?

XX

V –

Ago

ra o

de

que

prec

isam

os, f

alou

Sóc

rate

s, é

perg

unta

r a n

ós m

esm

o m

ais

ou

men

os o

seg

uint

e: C

om q

ue c

oisa

s é

natu

ral s

emel

hant

e pr

oces

so d

e di

sper

são,

com

qua

is

deve

mos

ter m

edo

de q

ue is

so a

cont

eça,

e c

om q

uais

não

dev

emos

? D

e se

guid

a, te

rem

os d

e ex

amin

ar a

qua

l das

cla

sses

per

tenc

e a

alm

a, p

ara

daí c

oncl

uirm

os s

e pr

ecis

amos

ale

grar

-no

s ou

tem

er d

o qu

e ve

nha

a ac

onte

cer c

om a

nos

sa.

É m

uito

cer

to, d

isse

.

E nã

o é

verd

ade

que

as c

oisa

s, ar

tific

ial o

u na

tura

lmen

te c

ompo

stas

é q

ue d

evem

ac

abar

por

dis

pers

ar-s

e no

s el

emen

tos

orig

inai

s? E

o in

vers

o: n

ão s

erá

o qu

e nã

o fo

r co

mpo

sto,

ant

es d

e tu

do, a

úni

ca c

oisa

que

não

con

vém

pas

sar p

or e

sse

proc

esso

de

diss

ocia

ção?

Ach

o qu

e é

assi

m m

esm

o, o

bser

vou

Ceb

ete.

E ta

mbé

m n

ão é

cer

to q

ue h

á m

uita

pro

balid

ade

de n

ão s

erem

com

post

as a

s co

isas

qu

e se

mpr

e se

man

têm

no

mes

mo

esta

do e

nun

ca s

e al

tera

m, c

omo

serã

o co

mpo

stas

as

que

ora

se a

pres

enta

m d

e um

a fo

rma,

ora

de

outra

, e m

udam

a c

ada

inst

ante

?

É ta

mbé

m o

que

eu

pens

o.

Entã

o, p

ross

egui

u, re

tom

emos

o te

ma

de n

ossa

dis

cuss

ão a

nter

ior.

Aqu

ela

idéi

a ou

es

sênc

ia a

que

em

nos

sas

perg

unta

s e

resp

osta

s at

ribuí

mos

a v

erda

deira

exi

stên

cia,

co

nser

va-s

e se

mpr

e a

mes

ma

e de

igua

l mod

o, o

u or

a é

de u

ma

form

a, o

ra d

e ou

tra?

O ig

ual

em s

i, o

belo

em

sim

, tod

as a

s co

isas

em

si m

esm

as, o

ser

, adm

item

qua

lque

r alte

raçã

o? O

u ca

da u

ma

dess

as re

alid

ades

, uni

form

es e

exi

sten

tes

por s

i mes

mas

, não

se

com

porta

sem

pre

da m

esm

a fo

rma,

sem

jam

ais

adm

itir d

e ne

nhum

jeito

a m

enor

alte

raçã

o?

Forç

osam

ente

, Sóc

rate

s, fa

lou

Ceb

ete,

sem

pre

perm

anec

erá

a m

esm

a e

do m

esm

o je

ito.

E co

m re

laçã

o à m

ultip

licid

ade

das

cois

as b

elas

: hom

ens,

cava

los,

vest

es e

tudo

o

mai

s da

mes

ma

natu

reza

, que

ou

são

igua

is o

u be

las

e re

cebe

m a

pró

pria

des

igna

ção

daqu

elas

real

idad

es: c

onse

rvam

-se

sem

pre

idên

ticas

ou,

dife

rent

emen

te d

as e

ssên

cias

, não

o ja

mai

s id

êntic

as, n

em c

om re

laçã

o às

out

ras

nem

, por

ass

im d

izer

, con

sigo

mes

mas

?

Isso

, jus

tam

ente

, Sóc

rate

s, é

o q

ue s

e ob

serv

a, re

spon

deu

Ceb

ete,

nun

ca se

con

serv

am

as m

esm

as.

E nã

o é

certo

tam

bém

que

toda

s es

sas

cois

as s

e po

dem

ver

e to

car o

u pe

rceb

er p

or

inte

rméd

io d

e qu

alqu

er o

utro

sen

tido,

ao

pass

o qu

e as

ess

ênci

as, q

ue s

e co

nser

vam

sem

pre

igua

is a

si m

esm

as, s

ó po

dem

ser

apr

eend

idas

pel

o ra

cioc

ínio

, por

ser

em to

das

elas

in

visí

veis

e e

star

em fo

ra d

o al

canc

e da

vis

ão?

O q

ue d

izes

, obs

ervo

u, é

a p

ura

verd

ade.

XX

VI –

Ach

as, e

ntão

, per

gunt

ou, q

ue p

odem

os a

dmiti

r dua

s es

péci

es d

e co

isas

: um

as

visív

eis e

out

ras i

nvisí

veis?

Pode

mos

, res

pond

eu.

Send

o qu

e as

invi

síve

is s

ão s

empr

e id

êntic

as a

si m

esm

as, e

as

visí

veis

, o c

ontrá

rio

diss

o?

Adm

itam

os ta

mbé

m e

sse

pont

o, re

spon

deu.

Entã

o, p

ross

igam

os, u

ma

parte

de

nós

mes

mos

não

é c

orpo

, e a

out

ra n

ão é

alm

a?

Sem

dúv

ida,

falo

u.

E co

m q

ual d

aque

las

clas

ses

dire

mos

que

o c

orpo

é m

ais

conf

orm

e e

tem

mai

s af

inid

ade?

Para

todo

o m

undo

é e

vide

nte

que

é co

m a

das

coi

sas

visí

veis

.

E co

m re

laçã

o à a

lma?

É v

isíve

l, ou

será

invi

sível

?

Pelo

men

os p

ara

o ho

mem

, não

o s

erá,

Sóc

rate

s, re

spon

deu.

Mas

, qua

ndo

fala

mos

do

que

é ou

não

é v

isív

el, é

sem

pre

com

vis

ta à

natu

reza

hu

man

a. O

u ac

has

que

seja

com

rela

ção

a ou

tra?

Não

; é c

om a

nat

urez

a hu

man

a, m

esm

o.

E a

alm

a? Q

ue d

irem

os d

ela:

pod

erem

os v

ê-la

ou

não?

Não

pod

emos

.

Logo

, é in

visív

el.

Cer

to.

Send

o as

sim, a

alm

a é

mai

s co

nfor

me

à esp

écie

invi

síve

l do

que

o co

rpo,

e e

ste

mai

s à

visív

el. D

e to

da a

nec

essi

dade

, Sóc

rate

s.

XX

VII

– M

as ta

mbé

m d

isse

mos

algu

ns in

stan

tes,

que

quan

do a

alm

a se

ser

ve d

o co

rpo

para

con

side

rar a

lgum

a co

isa

por i

nter

méd

io d

a vi

sta

ou d

o ou

vido

, ou

por q

ualq

uer

outro

sen

tido

– po

is c

onsi

dera

r sej

a o

que

for p

or m

eio

dos

sent

idos

é fa

zê-l

o po

r in

term

édio

do

corp

o –

é ar

rast

ada

por e

le p

ara

o qu

e nu

nca

se c

onse

rva

no m

esm

o es

tado

, pa

ssan

do a

div

agar

e a

per

turb

ar-s

e, e

fica

ndo

tom

ada

de v

ertig

ens,

com

o se

est

ives

se

embr

iaga

da, p

elo

fato

de

entra

r em

con

tato

com

tais

coi

sas?

Sim

, diss

emos

isso

mes

mo.

E o

cont

rário

diss

o: q

uand

o el

a ex

amin

a so

zinh

a al

gum

a co

isa, v

olta

-se

para

o q

ue é

pu

ro, s

empi

tern

o, e

que

sem

pre

se c

ompo

rta d

o m

esm

o m

odo,

e p

or lh

e te

r afin

idad

e, v

ive

com

ele

enq

uant

o pe

rman

ecer

con

sigo

mes

ma

e lh

e fo

r per

miti

do, d

eixa

ndo,

ass

im, d

e di

vaga

r e p

ondo

-se

com

o re

laçã

o co

m o

que

é s

empr

e ig

ual e

imut

ável

, por

est

a em

con

tato

co

m e

le. A

ess

e es

tado

, jus

tam

ente

, é q

ue d

amos

o n

ome

de p

ensa

men

to.

Tudo

isso

, Sóc

rate

s, é

verd

adei

ro e

foi m

uito

bem

enu

ncia

do.

E ag

ora,

de

acor

do c

om o

pre

sent

e ar

gum

ento

e o

ant

erio

r, co

m q

ual d

essa

s du

as

espé

cies

a a

lma

se m

ostra

sem

elha

nte

e re

vela

mai

or a

finid

ade?

No

meu

mod

o de

pen

sar,

Sócr

ates

, res

pond

eu, n

ão h

á qu

em d

eixe

de

conc

orda

r, po

r m

ais

obtu

so q

ue s

eja,

se

te a

com

panh

ar o

raci

ocín

io, q

ue e

m tu

do e

por

tudo

a a

lma

tem

m

ais

sem

elha

nça

com

o q

ue s

empr

e se

con

serv

a o

mes

mo

do q

ue c

om o

que

var

ia.

E o

corp

o?

Com

a o

utra

esp

écie

.

XX

VII

I – E

xam

ina

agor

a a

ques

tão

da s

egui

nte

man

eira

: enq

uant

o se

man

têm

junt

os

o co

rpo

e a

alm

a, im

põe

a na

ture

za a

um

del

e ob

edec

er e

ser

vir e

ao

outro

com

anda

r e

dom

inar

. Sob

ess

e as

pect

o, q

ual d

eles

se

asse

mel

ha a

o di

vino

e q

ual a

o m

orta

l? N

ão te

pa

rece

que

o d

ivin

o é

natu

ralm

ente

feito

par

a co

man

dar e

diri

gir,

e o

mor

tal p

ara

obed

ecer

e

serv

ir?

Ach

o qu

e sim

.

E co

m q

ual d

eles

a a

lma

se p

arec

e?

Evid

ente

men

te, S

ócra

tes,

a al

ma

se a

ssem

elha

ao

divi

no, e

o c

orpo

ao

mor

tal .

Con

side

ra a

gora

, Ceb

ete,

con

tinuo

u, s

e de

tudo

o q

ue d

isse

mos

não

se

conc

lui q

ue a

o qu

e fo

r div

ino,

imor

tal,

inte

ligív

el, d

e um

a só

form

a, in

diss

olúv

el, s

empr

e no

mes

mo

esta

do

e se

mel

hant

e a

si p

rópr

io é

com

o q

ue a

lma

mai

s se

par

ece;

e o

con

trário

: ao

hum

ano,

m

orta

l e in

inte

ligív

el, m

ultif

orm

e, di

ssol

úvel

e ja

mai

s igu

al a

si m

esm

o, c

om is

so é

que

o

corp

o se

par

ece?

Pod

erem

os, a

mig

o C

ebet

e, a

rgum

enta

r de

outro

mod

o e

dize

r que

não

é

dess

a m

anei

ra?

Não

é p

ossí

vel.

XX

IX –

E e

ntão

? Se

for a

ssim

, não

fica

rá o

cor

po s

ujei

to a

dis

solv

er-s

e de

pres

sa,

cons

erva

ndo-

se a

alm

a in

diss

olúv

el o

u nu

m e

stad

o qu

e m

uito

dis

so s

e ap

roxi

ma?

Sem

dúv

ida.

Obs

erva

ain

da, c

ontin

uou,

com

o de

pois

que

o h

omem

mor

re, s

ua p

orçã

o vi

síve

l, o

corp

o, a

que

dam

os o

nom

e de

cad

áver

, col

ocad

o ta

mbé

m n

um lu

gar v

isív

el, e

mbo

ra o

suje

ito a

dis

solv

er-s

e, a

des

agre

gar-

se, d

e im

edia

to n

ão re

vela

nen

hum

a de

ssas

alte

raçõ

es,

cons

erva

ndo-

se in

tact

o po

r tem

po re

lativ

amen

te lo

ngo;

e s

e, n

o m

omen

to d

a m

orte

, o c

orpo

es

tiver

em

boa

s co

ndiç

ões,

send

o bo

a, ig

ualm

ente

, a e

staç

ão d

o an

o, e

ntão

con

serv

a-se

m

uito

mai

s te

mpo

. Qua

ndo

o co

rpo

é de

scar

nado

e e

mba

lsam

ado,

tal c

omo

se fa

z no

Egi

to,

ele

perm

anec

e qu

ase

inte

iro p

or te

mpo

inca

lcul

ável

. Aliá

s, at

é m

esm

o no

cor

po e

m

deco

mpo

siçã

o, a

lgum

a de

sua

s pa

rtes:

oss

os, t

endõ

es; e

tudo

mai

s do

gên

ero,

são

, por

ass

im

dize

r, im

orta

is. N

ão é

isso

mes

mo?

Cer

to.

Ao

pass

o qu

e a

alm

a, a

por

ção

invi

síve

l, qu

e va

i par

a um

luga

r sem

elha

nte

a el

a,

nobr

e, p

uro

e in

visí

vel,

o ve

rdad

eiro

Had

es, o

u se

ja, o

Invi

síve

l, pa

ra ju

nto

de u

m d

eus

sábi

o e

bom

, par

a on

de ta

mbé

m, s

e D

eus

quis

er, d

entro

de

pouc

o irá

min

ha a

lma:

ess

a al

ma

dizi

a, c

om s

emel

hant

e or

igem

e c

onst

ituiç

ão. A

o se

para

r-se

do

corp

o, n

o m

esm

o in

stan

te s

e di

ssip

aria

e v

iria

a de

stru

ir, c

onfo

rme

crê

a m

aior

ia d

os h

omen

s: N

unca

, meu

s ca

ros

Sím

ias

e C

ebet

e! P

elo

cont

rário

; o q

ue s

e dá

é o

seg

uint

e: s

e el

a é

pura

no

mom

ento

de

sua

liber

taçã

o e

não

arra

star

con

sigo

nad

a co

rpór

eo, p

or is

so m

esm

o qu

e du

rant

e a

vida

nun

ca

man

tiver

a co

mér

cio

volu

ntár

io c

om o

cor

po, p

orém

sem

pre

evita

ra, r

ecol

hida

em

si m

esm

a e

tend

o se

mpr

e is

so c

omo

preo

cupa

ção

excl

usiv

a, q

ue o

utra

coi

sa n

ão é

sen

ão fi

loso

far,

no

rigor

oso

sent

ido

da e

xpre

ssão

, e p

repa

rar-

se p

ara

mor

rer f

acilm

ente

... P

ois

tudo

isso

não

se

rá u

m e

xerc

ício

par

a a

mor

te?

Sem

dúv

ida

nenh

uma.

Ass

im c

onsti

tuíd

a, d

irigi

-se

para

o q

ue lh

e as

sem

elha

, par

a o

invi

sível

, div

ino,

imor

tal

e in

telig

ível

, ond

e, a

o ch

egar

, viv

e fe

liz, l

iber

ta d

o er

ro, d

a ig

norâ

ncia

, do

med

o, d

os

amor

es s

elva

gens

e d

os o

utro

s m

ales

da

cond

ição

hum

ana,

pas

sand

o ta

l com

o se

diz

dos

in

icia

dos,

a vi

ver o

rest

o do

tem

po n

a co

mpa

nhia

dos

deu

ses.

Fala

rem

os d

esse

jeito

, Ceb

ete,

ou

de

outra

form

a?

XX

X –

Ass

im m

esm

o, p

or Z

eus,

resp

onde

u C

ebet

e.

No

caso

, por

ém, c

onfo

rme

pens

o, d

e es

tar m

anch

ada

e im

pura

ao

sepa

rar-

se d

o co

rpo,

po

r ter

con

vivi

do s

empr

e co

m e

le, c

uida

do d

ele

e o

ter a

mad

o e

esta

r fas

cina

da p

or e

le e

por

se

us a

petit

es e

del

eite

s, a

pont

o de

acei

tar c

omo

verd

adei

ro o

que

tive

sse

form

a co

rpór

ea,

que

se p

ode

ver,

toca

r, be

ber,

com

er, o

u se

rvir

para

o a

mor

; e s

e el

a, q

ue s

e ha

bitu

ou a

od

iar,

tem

er e

evi

tar o

que

é o

bscu

ro e

invi

síve

l par

a os

olh

os, p

orém

inte

ligív

el e

ap

reen

síve

l com

à fil

osof

ia: a

cred

itas

que

uma

alm

a ne

ssas

con

diçõ

es e

stej

a re

colh

ida

em s

i m

esm

a e

sem

mis

tura

no

mom

ento

em

que

dei

xar o

cor

po?

De

form

a al

gum

a, re

spon

deu.

Poré

m s

egun

do p

enso

, de

todo

em

todo

sat

urad

a de

ele

men

tos

corp

óreo

s qu

e co

m e

la

cres

cera

m c

omo

resu

ltado

de

sua

fam

iliar

idad

e e

cont

ínua

com

unic

ação

com

o c

orpo

, de

que

nunc

a se

sep

arou

e d

e qu

e se

mpr

e cu

idar

a.

Sem

dúv

ida.

Entã

o, m

eu c

aro,

terá

s de

adm

itir q

ue tu

do is

so é

esp

esso

, ter

reno

e v

isív

el. A

alm

a,

com

ess

a so

brec

arga

, tor

na-s

e pe

sada

e é

de

novo

arr

asta

da p

ara

a re

gião

vis

ível

, de

med

o do

Invi

sível

– o

Had

es, c

omo

e di

z –

e ro

la p

or e

ntre

os

mon

umen

tos

e tú

mul

os, n

a pr

oxim

idad

e do

s qu

ais

têm

sid

o vi

stos

fant

asm

as te

nebr

osos

, sem

elha

ntes

aos

esp

ectro

s de

ssas

alm

as q

ue n

ão s

e lib

erta

ram

pur

as d

e co

rpo

e qu

e se

torn

aram

vis

ível

.

É m

uito

pos

síve

l, Só

crat

es, q

ue s

eja

assi

m m

esm

o.

Sim

, é m

uito

pos

síve

l, C

ebet

e, e

tam

bém

que

ess

as a

lmas

não

sej

am d

os b

ons,

poré

m

dos

mau

s, qu

e se

vêe

m o

brig

adas

a v

agar

por

ess

e lu

gare

s, co

mo

cast

igo

de s

ua c

ondu

ta

dura

nte

a vi

da, q

ue fo

ra p

éssi

ma.

E a

ssim

fica

m a

vag

ar, a

té q

ue o

ape

tite

do e

lem

ento

co

rpor

al a

que

sem

pre

estã

o lig

adas

vol

te a

pre

ndê-

las

nout

ros

corp

os.

XX

XI –

Com

o é

natu

ral,

volta

m a

ser

apr

isio

nada

s em

nat

urez

as d

e co

stum

es ig

uais

aos

que

elas

pra

ticar

am e

m v

ida.

A q

ue a

nat

urez

as te

refe

res,

Sócr

ates

?

É o

segu

inte

: as

que

eram

dad

as à

glut

onar

ia, a

o or

gulh

o ou

à em

bria

guez

des

brag

ada,

en

tram

nat

ural

men

te n

os c

orpo

s de

asn

os e

de

anim

ais

cong

êner

es. N

ão te

par

ece?

Fala

s co

m m

uita

pro

prie

dade

.

As

que

com

eter

am in

just

iças

, a ti

rani

a ou

a ra

pina

, pas

sam

par

a a

gera

ção

dos

lobo

s, do

s aç

ores

e d

os a

butre

s. Pa

ra o

nde

mai

s po

dem

os d

izer

que

vão

as

alm

as d

essa

nat

urez

a?

Não

dúvi

da, r

espo

ndeu

Ceb

ete;

é p

ara

esse

s co

rpos

que

ela

s vã

o.

E nã

o é

evid

ente

, con

tinuo

u, q

ue o

mes

mo

se p

assa

com

os

dem

ais,

por s

e or

ient

arem

to

das

elas

no

sent

ido

de s

uas

próp

rias

tend

ênci

as?

É cl

aro,

obs

ervo

u; n

em p

oder

ia s

er d

e ou

tra m

anei

ra.

Logo

, dis

se, o

s m

ais

feliz

es e

que

vão

par

a os

mel

hore

s lu

gare

s sã

o os

que

pra

ticam

a

virtu

de c

ívic

a e

soci

al q

ue d

omin

amos

tem

pera

nça

e ju

stiç

a, p

or fo

rça

apen

as d

o há

bito

e d

a di

spos

ição

pró

pria

, sem

a p

artic

ipaç

ão d

a fil

osof

ia e

da

inte

ligên

cia.

Por q

ue s

erão

ess

es o

s m

ais

feliz

es?

Por s

er n

atur

al q

ue p

asse

m p

ara

uma

raça

soc

iáve

l e m

ansa

, de

abel

has,

vesp

as o

u fo

rmig

as, o

u at

é pa

ra a

mes

ma

raça

, a h

uman

a, a

fim

de

gera

rem

hom

ens

mod

erad

os.

Sem

dúv

ida.

XX

XII

– P

ara

a ra

ça d

os d

euse

s nã

o é

perm

itido

pas

sar o

s qu

e nã

o pr

atic

aram

a

Filo

sofia

nem

par

tiram

inte

iram

ente

pur

os, m

as a

pena

s os

am

igos

da

Sabe

doria

. É p

or is

so,

meu

s ca

ros

Sím

ias

e C

ebet

e, q

ue o

s ve

rdad

eiro

s fil

ósof

os s

e ac

aute

lam

con

tra o

s ap

etite

s do

co

rpo,

resi

stem

-lhe

s e

não

se d

eixa

m d

omin

ar p

or e

les;

não

têm

med

o da

pob

reza

nem

da

ruín

a de

sua

pró

pria

cas

a, c

omo

a m

aior

ia d

os h

omen

s, am

igos

das

riqu

ezas

, nem

tem

em a

falta

de

honr

aria

s e

a vi

da in

glór

ia, c

omo

se d

á co

m o

s am

ante

s do

pod

er e

das

dis

tinçõ

es.

Não

é e

ssa

a ra

zão

de s

e ab

ster

em d

e tu

do?

De

fato

, Sóc

rate

s; n

ada

diss

o lh

es fi

caria

bem

, fal

ou C

ebet

e.

Não

, por

Zeu

s, re

torq

uiu.

Por

isso

mes

mo,

Ceb

ete,

todo

s os

que

cui

dam

da

alm

a e

não

vive

m s

impl

esm

ente

par

a o

culto

do

corp

o, d

izem

ade

us a

tudo

isso

e n

ão s

egue

m o

ca

min

ho d

os q

ue n

ão s

abem

par

a on

de v

ão.

Con

venc

idos

de

que

não

deve

mos

faze

r nad

a em

con

trário

à Fi

loso

fia n

em a

o qu

e el

a pr

escr

eve

para

libe

rtar-

nos

e pu

rific

ar-n

os, v

olta

m-

se p

ara

esse

lado

, seg

uind

o na

dire

ção

por e

la a

cons

elha

da.

XX

XII

I – D

e qu

e m

odo,

Sóc

rate

s?

Vou

diz

er-t

e, re

spon

deu.

Est

ão p

erfe

itam

ente

cie

ntes

os

amig

os d

a Sa

bedo

ria, q

ue

quan

do a

Filo

sofia

pas

sa a

diri

gir-

lhes

a a

lma,

est

a se

enc

ontra

com

o qu

e lig

ada

e ag

lutin

ada

ao c

orpo

, por

inte

rméd

io d

o qu

al é

forç

ada

a ve

r a re

alid

ade

com

o at

ravé

s da

s gr

ades

de

um c

árce

re, e

m lu

gar d

e o

faze

r soz

inha

e p

or s

i mes

ma,

por

ém a

tola

da n

a m

ais

abso

luta

igno

rânc

ia. O

que

de te

rrív

el n

esse

liam

es, r

econ

hece

-o a

Filo

sofia

, é

cons

istir

em n

os p

raze

res

e se

r pró

prio

pris

ione

iro q

uem

mai

s co

oper

a pa

ra m

anie

tar-

se.

Com

o di

sse,

os

amig

os d

a Sa

bedo

ria e

stão

cie

ntes

de

que,

ao

tom

ar c

onta

de

sua

alm

a em

ta

l est

ado,

a F

iloso

fia lh

e fa

la c

om d

oçur

a e

proc

ura

liber

tá-l

a, m

ostra

ndo-

lhe

quão

che

io d

e ilu

sões

é o

con

heci

men

to a

dqui

rido

por m

eio

dos

olho

s, qu

ão e

ngan

ador

o d

os o

uvid

os e

do

s m

ais

sent

idos

, aco

nsel

hand

o-a

a ab

ando

ná-l

os e

a n

ão fa

zer u

so d

eles

se

não

só o

ne

cess

ário

, e a

reco

lher

-se

e co

ncen

trar-

se e

m s

i mes

ma

e só

a a

cred

itar e

m s

i pró

pria

e n

o qu

e el

a em

si m

esm

a ap

rend

er d

a re

alid

ade

em s

i, e

o in

vers

o: a

não

ace

itar c

omo

verd

adei

ro tu

do o

que

ela

con

side

rar p

or m

eios

que

em

cad

a ca

so s

e m

odifi

cam

, poi

s as

co

isas

des

ses

gêne

ro s

ão s

ensí

veis

e v

isív

eis,

ao p

asso

que

é in

telig

ível

e in

visí

vel o

que

ela

por

si m

esm

a. C

onve

ncid

a de

que

não

dev

e op

or-s

e a

sem

elha

nte

liber

taçã

o, a

alm

a do

ve

rdad

eiro

filó

sofo

abs

tém

dos

pra

zere

s, da

s pa

ixõe

s e

dos

tem

ores

, tan

to q

uant

o po

ssív

el,

certa

de

que

sem

pre

que

algu

ém s

e al

egra

em

ext

rem

o, o

u te

me,

ou

dese

ja, o

u so

fre,

o m

al

daí r

esul

tant

e nã

o é

o qu

e se

pod

eria

imag

inar

, com

o se

ria o

cas

o, p

or e

xem

plo,

de

adoe

cer

ou v

ir a

arru

inar

-se

por c

ausa

das

pai

xões

: o m

aior

e o

pio

r dos

mal

es é

o q

ue n

ão s

e de

ixa

perc

eber

.

Qua

l é, S

ócra

tes?

per

gunt

ou C

ebet

e.

É qu

e to

da a

lma

hum

ana,

nos

cas

os d

e pr

azer

ou

de s

ofrim

ento

inte

nsos

, é

forç

osam

ente

leva

da a

cre

r que

o o

bjet

o ca

usad

or d

e se

mel

hant

e em

oção

é o

que

de m

ais

clar

o e

verd

adei

ro, q

uand

o, d

e fa

to, n

ão é

ass

im. D

e re

gra,

trat

a-se

de

cois

as v

isív

eis,

não

é iss

o m

esm

o?

Perf

eita

men

te.

E nã

o é

quan

do p

assa

por

tudo

isso

que

a a

lma

se e

ncon

tra m

ais

intim

amen

te p

resa

ao

corp

o?

Com

o as

sim?

Porq

ue o

s pr

azer

es e

os

sofr

imen

tos

são

com

o qu

e do

tado

s de

um

cra

vo c

om o

qua

l tra

nsfix

am a

alm

a e

a pr

ende

m a

o co

rpo,

dei

xand

o-a

corp

órea

e le

vand

o-o

a ac

redi

tar q

ue

tudo

o q

ue o

cor

po d

iz é

ver

dade

iro. O

ra, p

elo

fato

de

ser d

a m

esm

a op

iniã

o qu

e o

corp

o e

de s

e co

mpr

azer

com

ele

, é o

brig

ada,

seg

undo

pen

so, a

ado

tar s

eus

cost

umes

e a

limen

tos,

sem

jam

ais

pode

r che

gar a

o H

ades

em

est

ado

de p

urez

a, p

ois

é se

mpr

e sa

tura

da d

o co

rpo

que

ela

o de

ixa.

Res

ulta

do: l

ogo

depo

is, v

olta

a c

air n

outro

cor

po, o

nde

cria

raíz

es c

omo

se

tives

se s

ido

sem

eada

nel

e, fi

cand

o de

todo

alh

eia

da c

ompa

nhia

do

divi

no, d

o qu

e é

puro

e

de u

ma

só fo

rma.

É m

uito

cer

to o

que

dis

sest

e, o

bser

vou

Ceb

ete.

XX

XIV

– E

ssa

é a

razã

o, C

ebet

e, d

e se

rem

tem

pera

ntes

e c

oraj

osos

os

verd

adei

ros

amig

os d

o sa

ber,

não

pelo

que

imag

ina

o po

vo. O

u ac

has

que

sim?

Eu?

De

form

a al

gum

a.

Não

, de

fato

; a a

lma

do fi

lóso

fo n

ão ra

cioc

ina

dess

e je

ito n

em p

ensa

que

a fi

loso

fia

deva

libe

rtá-l

a, p

ara,

dep

ois

de li

vre,

ent

rega

r-se

de

novo

aos

pra

zere

s e

às d

ores

e v

olta

r a

acor

rent

ar-s

e, d

eixa

ndo

írrito

seu

esf

orço

ant

erio

r e c

omo

que

empe

nhad

a em

faze

r o

inve

rso

do tr

abal

ho d

e Pe

nélo

pe e

m s

ua te

ia. A

o co

ntrá

rio: a

lcan

çand

o a

calm

aria

das

pa

ixõe

s e

guia

ndo-

se p

ela

razã

o, s

em n

unca

a a

band

onar

, con

tem

pla

o qu

e é

verd

adei

ro e

di

vino

e q

ue p

aira

aci

ma

das

opin

iões

, cer

ta d

e qu

e pr

ecis

ará

vive

r ass

im a

vid

a to

da, p

ara

depo

is d

a m

orte

, uni

r-se

ao

que

lhe

for a

pare

ntad

o e

da m

esm

a na

ture

za, l

iber

ta d

as

mis

éria

s hu

man

as. N

ão é

de

adm

irar,

Sím

ias

e C

ebet

e, q

ue u

ma

alm

a al

imen

tada

des

se je

ito

e co

m s

emel

hant

e oc

upaç

ão n

ão te

nha

med

o de

des

mem

brar

-se

quan

do s

e re

tirar

do

corp

o,

e de

ser

dis

pers

ada

pelo

s ve

ntos

, dis

sipa

ndo-

se d

o to

do, s

em v

ir a

ficar

em

par

te a

lgum

a.

XX

XV

– A

ess

as p

alav

ras

de S

ócra

tes,

segu

iu-s

e pr

olon

gado

silê

ncio

. Com

o se

po

deria

obs

erva

r, o

próp

rio S

ócra

tes

med

itava

no

tem

a de

senv

olvi

do n

a co

nver

saçã

o, o

que

, al

iás,

acon

teci

a co

m q

uase

todo

s os

pre

sent

es. C

ebet

e e

Sím

ias

fala

ram

de

soca

pa a

lgum

a co

isa,

o q

ue fo

i per

cebi

do p

or S

ócra

tes,

que

lhes

dis

se:

E en

tão?

Per

gunt

ou: q

uem

sab

e se

soi

s de

pare

cer q

ue a

inda

falta

diz

er a

lgo?

Em

ve

rdad

e, m

uita

s dú

vida

s. E

obje

ções

pod

eria

m s

er le

vant

adas

por

que

m s

e di

spus

esse

a

apro

fund

ar o

tem

a. S

e tra

tais

ago

ra d

e ou

tro a

ssun

to, n

ão d

igo

nada

; por

ém s

e o

noss

o m

esm

o é

que

vos

atra

palh

a, e

xpõe

m s

em a

canh

amen

to o

que

vos

par

ecer

indi

cado

par

a m

elho

r esc

lare

cim

ento

da

ques

tão,

ou

perm

iti q

ue e

u ta

mbé

m to

me

parte

no

diál

ogo,

no

caso

de

julg

arde

s qu

e co

m a

min

ha c

oope

raçã

o po

deis

ven

cer m

ais

faci

lmen

te a

s di

ficul

dade

s.

Sím

ias,

entã

o, fa

lou:

Sen

do a

ssim

, Sóc

rate

s, vo

u di

zer-

te a

ver

dade

. Já

faz

tem

po q

ue

esta

mos

em

dúv

ida

e pr

ocur

amos

ani

mar

-nos

reci

proc

amen

te a

diri

gir-

te p

ergu

ntas

, pel

o de

sejo

de

ouvi

r-te

fala

r, po

rém

tem

os m

edo

de in

com

odar

-te

por c

ausa

do

pres

ente

in

fortú

nio.

Ouv

indo

-o e

xpre

ssar

-se

dess

e m

odo,

resp

onde

u Só

crat

es, e

sboç

ando

um

sor

riso:

Ora

, Sí

mia

s! D

ifici

lmen

te c

hega

rei a

con

venc

er o

s ou

tros

hom

ens

que

não

cons

ider

o ne

nhum

a de

sgra

ça m

inha

situ

ação

nes

te m

omen

to, s

e ne

m a

vós

mes

mos

con

sigo

per

suad

ir, p

or

terd

es re

ceio

de

eu e

star

ago

ra c

om â

nim

o di

fere

nte.

Pel

o qu

e ve

jo, c

onsi

dera

is-m

e in

ferio

r ao

s ci

snes

, poi

s qu

ando

est

es p

erce

bem

que

est

ão p

erto

de

mor

rer,

por t

erem

can

tado

a v

ida

toda

, mai

s ve

zes

e m

elho

r põe

m s

e a

cant

ar, c

onte

ntes

de

parti

rem

par

a ju

nto

do d

eus

de

que

são

os s

ervi

dore

s. Po

rém

com

seu

med

o ca

ract

erís

tico

da m

orte

, os

hom

ens

calu

niam

os

cisn

es, c

om a

firm

arem

que

ele

s ca

ntam

por

cho

rare

m a

mor

te, d

e tri

stez

a, s

em re

fletir

em

que

nenh

um a

ve c

anta

qua

ndo

tem

fom

e ou

frio

, ou

quan

do p

resa

de

outra

ang

ústia

, nem

m

esm

o o

roux

inol

, a a

ndor

inha

ou

a po

upa,

cuj

o ca

nto,

seg

undo

diz

em, s

erve

de

alim

enta

r a

dor.

Poré

m n

ão c

reio

que

nen

hum

del

es c

ante

por

est

arem

tris

tes,

mui

to m

enos

os

cisn

es.

Ao

cont

rário

: por

per

tenc

erem

a A

polo

, seg

undo

pen

so, t

êm o

Dom

da

prof

ecia

, e p

or

prev

erem

as

delíc

ias

do H

ades

, can

tam

e s

e al

egra

m n

esse

dia

mui

to m

ais

do q

ue a

ntes

. Eu,

de

min

ha p

arte

, tam

bém

me

cons

ider

o se

rvid

or ig

ual d

a di

vind

ade,

com

o os

cis

nes,

e a

ela

cons

agra

do, e

por

ser

dot

ado

pelo

meu

sen

hor d

e nã

o m

enor

Dom

de

prof

ecia

, não

dei

xare

i a

vida

com

men

os c

orag

em d

o qu

e el

es. P

or is

so, p

odei

s fa

lar à

von

tade

e fo

rmul

ar a

s pe

rgun

tas

que

ente

nder

des

todo

o te

mpo

que

o p

erm

itire

m o

s on

ze c

idad

ãos

de A

tena

s.

Perfe

ito, f

alou

Sím

ias,

pois

ent

ão v

ou d

izer

-te

quai

s sã

o as

min

has

dúvi

das,

para

de

pois

indi

car e

ste

aqui

os

pont

os d

e tu

a ex

posi

ção

com

que

ele

não

con

cord

a. S

obre

ess

es

assu

nto,

Sóc

rate

s, cr

eio

esta

r de

acor

do c

ontig

o, q

ue s

e ne

sta

vida

não

for i

mpo

ssív

el s

aber

a

essa

resp

eito

alg

o de

finiti

vo, é

ext

rem

amen

te d

ifíci

l. M

as ta

mbé

m s

erá

prov

a de

fraq

ueza

de

ixar

de

anal

isar

por

todo

s os

mod

os o

que

foi d

ito, e

não

aba

ndon

ar o

ass

unto

enq

uant

o nã

o se

ntirm

os c

ansa

ço. N

este

pas

so v

emo-

nos

ante

o d

ilem

a: a

pren

der e

des

cobr

ir o

de q

ue

se tr

ata,

ou,

no

caso

de

não

ser i

sso

poss

ível

, ado

tar a

mel

hor o

pini

ão e

a m

ais d

ifíci

l de

cont

esta

r, e

nela

inst

alan

do-n

os à

guis

a de

jang

ada,

pro

cura

r faz

er a

trav

essi

a da

vid

a, n

a hi

póte

se d

e nã

o co

nseg

uir i

sso

mes

mo

com

mai

or fa

cilid

ade

e m

enos

per

igo

num

a em

barc

ação

mai

s fir

me,

ou

seja

, com

alg

uma

pala

vra

divi

na. A

ssim

, não

fica

rei a

canh

ado

agor

a de

inte

rrog

ar-t

e, já

que

tu p

rópr

io m

o ac

onse

lhas

, nem

pre

cisa

rei c

ensu

rar-

me

de

futu

ro p

or n

ão te

hav

er d

ito h

oje

o qu

e pe

nsav

a. O

fato

, Sóc

rate

s, é

que

quan

do re

flito

no

que

diss

este

, ou

seja

com

igo

mes

mo

ou n

a co

mpa

nhia

des

te a

qui,

tenh

o a

impr

essã

o de

que

ne

m tu

do fi

cou

bem

fund

amen

tado

.

XX

XV

I – S

ócra

tes

resp

onde

u: T

alve

z, c

ompa

nhei

ro, l

he fa

lou,

est

ejas

com

a ra

zão;

po

rém

exp

lica

o qu

e nã

o te

par

ece

bem

fund

amen

tado

.

É qu

e se

ria p

ossí

vel a

lega

r a m

esm

a co

isa,

con

tinuo

u, a

resp

eito

da

harm

onia

e d

a lir

a co

m s

uas

cord

as, a

sab

er: q

ue a

har

mon

ia é

alg

o in

visí

vel,

inco

rpór

eo e

sum

amen

te b

elo

num

a lir

a be

m a

finad

a, e

que

est

a, p

or s

ua v

ez, é

cor

po, c

om ta

mbé

m o

são

as

cord

as,

cois

as m

ater

iais

, com

post

as, t

erre

nas

e de

nat

urez

a m

orta

. Ora

, no

caso

de

algu

ém q

uebr

ar a

lir

a e

corta

r ou

arre

bent

ar a

s co

rdas

, alg

uém

pod

eria

arg

umen

tar c

omo

o fiz

este

: fo

rços

amen

te a

quel

a ha

rmon

ia a

inda

viv

e, p

ois

não

foi d

estru

ída;

poi

s nã

o é

poss

ível

su

bsis

tir a

lira

dep

ois

de s

e pa

rtire

m a

s co

rdas

, e a

s pr

ópria

s co

rdas

, tod

as e

las

de n

atur

eza

mor

ta, e

des

apar

ecer

a h

arm

onia

, da

mes

ma

natu

reza

e d

a fa

míli

a do

div

ino

e do

imor

tal,

que

assi

m v

iria

a se

r des

truíd

a at

é m

esm

o an

tes

do q

ue é

per

ecív

el. N

ão, p

ross

egui

ria e

ssa

pess

oa; n

eces

saria

men

te a

har

mon

ia te

rá d

e co

ntin

uar e

m q

ualq

uer p

arte

, por

ser

forç

oso

que

a m

adei

ra a

podr

eça

prim

eiro

, e a

s co

rdas

, ant

es d

e ac

onte

cer à

quel

a al

gum

a co

isa.

A

esse

s re

spei

to, S

ócra

tes,

crei

o qu

e tu

mes

mo

já c

onsi

dera

ste

que

a no

ção

da a

lma

adm

itida

po

r nós

é m

ais

ou m

enos

a s

egui

nte:

Da

mes

ma

fora

m q

ue te

mos

o c

orpo

dis

tend

ido

e co

eso

pelo

cal

or e

o fr

io, o

sec

o e

o úm

ido,

e tu

do o

mai

s do

mes

mo

gêne

ro, v

iria

a se

r

noss

a al

ma

a m

istu

ra e

a h

arm

onia

de

todo

s es

ses

elem

ento

s, qu

ando

com

bina

dos

em ju

sta

prop

orçã

o. O

ra, s

e no

ssa

alm

a fo

r um

a es

péci

e de

har

mon

ia, é

evi

dent

e qu

e, a

o fic

ar

rela

xado

o c

orpo

, ou

dist

endi

do e

m e

xces

so, p

or d

oenç

as e

out

ras

pertu

rbaç

ões,

fo

rços

amen

te a

alm

a fe

nece

rá lo

go, e

m q

ue p

ese

à sua

nat

urez

a di

vina

, tal

com

o se

com

as

out

ras

harm

onia

s, ta

nto

as re

sulta

ntes

de

sons

com

o da

s de

mai

s ob

ras

dos

artis

ta; a

o pa

sso

que

os d

espo

jos

do c

orpo

per

dura

m p

or m

uito

tem

po, a

té q

ue o

fogo

os

dest

rua

ou

venh

am a

apo

drec

er. V

ê, p

orta

nto,

o q

ue d

evem

os o

por a

ess

es a

rgum

ento

s, no

cas

o de

al

guém

nos

vir

dize

r que

a a

lma,

por

ser

a m

istu

ra d

os e

lem

ento

s do

cor

po, é

a p

rimei

ra a

fe

nece

r naq

uilo

que

cha

mam

os m

orte

.

XX

XV

II –

Sóc

rate

s se

con

serv

ou d

uran

te a

lgum

tem

po c

om o

olh

ar p

arad

o, c

omo

era

seu

cost

ume;

dep

ois

falo

u, s

orrin

do: A

obj

eção

de

Sím

ias,

decl

arou

, é p

roce

dent

e. S

e al

gum

de

vós

est

iver

em

mel

hore

s co

ndiç

ões

do q

ue e

u, p

or q

ue n

ão re

spon

de a

ele

? O

arg

umen

to

dele

é m

uito

feliz

. Por

ém a

ntes

de

form

ular

qua

lque

r res

post

a, s

ou d

e pa

rece

r que

dev

emos

pr

imei

ro o

uvir

o qu

e te

m C

ebet

e a

opor

à no

ssa

tese

, poi

s as

sim

gan

hare

mos

tem

po p

ara

refle

tir n

o qu

e se

rá p

reci

so d

izer

. E d

epoi

s de

ouv

ir a

ambo

s, da

r-lh

es-e

mos

nos

sa

apro

vaçã

o, s

e no

s pa

rece

rem

bem

afin

ados

os

argu

men

tos;

cas

o co

ntrá

rio; d

izen

do lo

go o

qu

e te

dei

xa a

trapa

lhad

o.

Vou

diz

er, r

espo

ndeu

Ceb

ete.

A m

eu p

arec

er, n

osso

arg

umen

to n

ão s

aiu

do lu

gar e

co

ntin

ua c

omo

alvo

das

mes

mas

obj

eçõe

s de

ant

es. Q

ue n

ossa

alm

a já

exi

stis

se a

ntes

de

assu

mir

esta

form

a, é

pro

posi

ção

que

não

me

repu

gna

acei

tar,

por e

ngen

hosa

e –

sal

vo

imod

éstia

de

min

ha p

arte

– su

ficie

ntem

ente

dem

onst

rada

. Por

ém q

ue s

ubsi

sta

algu

res

depo

is d

e es

tarm

os m

orto

s, co

m is

so é

que

não

pos

so c

onco

rdar

. Não

ace

ito, t

ambé

m o

re

paro

de

Sím

ias,

quan

do a

firm

a qu

e a

alm

a nã

o é

mai

s fo

rte n

em m

ais

durá

vel d

o qu

e o

corp

o, p

ois

sob

ambo

s os

asp

ecto

s el

a se

dis

tingu

e im

ensa

men

te d

ele.

Por

que

ent

ão, l

he

diria

o a

rgum

ento

, ain

da te

mos

tras

incr

édul

o, s

e es

tás

vend

o qu

e de

pois

da

mor

te d

o ho

mem

sua

por

ção

mai

s fr

aca

aind

a su

bsis

te?

Não

te p

arec

e qu

e a

porç

ão m

ais

durá

vel t

erá

forç

osam

ente

de

sobr

eviv

er ig

ual t

empo

? V

ê ag

ora

se o

que

dig

o co

ntém

alg

uma

subs

tânc

ia. P

ara

mai

or c

omod

idad

e vo

u so

corr

er-m

e, c

omo

o fe

z Sí

mia

s, de

um

a im

agem

. Pa

ra m

im, f

alar

des

se je

ito é

o m

esm

o qu

e fa

zer a

s se

guin

tes

cons

ider

açõe

s a

resp

eito

de

um v

elho

tece

lão

que

acab

asse

de

mor

rer:

o ho

mem

não

está

mor

to: c

ontin

ua v

ivo

em

algu

ma

parte

; e p

ara

prov

a de

ssa

afirm

ação

, apr

esen

tass

e a

roup

a qu

e el

e en

tão

trazi

a no

co

rpo,

teci

da p

or e

le m

esm

o, c

onse

rvad

a e

sem

ter a

inda

per

ecid

o. E

se

algu

ém s

e m

ostra

sse

incr

édul

o, p

oder

ia p

ergu

ntar

o q

ue é

por

nat

urez

a m

ais

durá

vel,

imag

inar

ia te

r de

mon

stra

do q

ue c

om m

aior

ia d

e ra

zões

o h

omem

terá

de

esta

r bem

, vis

to n

ão h

aver

pe

reci

do o

que

por

nat

urez

a é

men

os d

uráv

el. P

orém

a m

eu v

er, S

ímia

s, a

real

idad

e, é

mui

to

dife

rent

e. P

rest

a at

ençã

o ao

seg

uint

e: N

ão h

á qu

em n

ão v

eja

quan

to é

frac

o se

mel

hant

e ar

gum

ento

. Hav

endo

gas

to m

uita

s ro

upas

por

ele

pró

prio

teci

das,

o no

sso

hom

em m

orre

u,

de fa

to, d

epoi

s de

toda

s, e

não

fora

m p

ouca

s, po

rém

ant

es d

a úl

tima,

seg

undo

pen

so; m

as

nem

por

isso

o h

omem

é in

ferio

r ou

mai

s fr

aco

do q

ue a

roup

a. E

ssa

imag

em, q

uero

cre

r, se

ap

lica

tant

o à a

lma

com

o ao

cor

po, e

que

m a

rgum

enta

sse

dess

e m

odo

com

rela

ção

ao

corp

o, fa

laria

com

mui

to m

ais

prop

rieda

de, a

sab

er: q

ue a

alm

a é

mai

s du

ráve

l e o

cor

po

mai

s fr

aco

e tra

nsitó

rio, p

ois

fora

ace

rtado

acr

esce

ntar

que

cad

a al

ma

cons

ome

vário

s co

rpos

, prin

cipa

lmen

te q

uand

o vi

ve m

uito

s an

os. S

e o

corp

o se

esc

oa e

se

deliq

uesc

e en

quan

to o

hom

em v

ive,

a a

lma

rete

ce d

e co

ntín

uo o

que

for c

onsu

mid

o. F

orço

so s

erá,

por

co

nseg

uint

e, q

ue, n

o in

stan

te d

e m

orre

r, ai

nda

este

ja a

alm

a co

m a

últi

ma

vest

imen

ta p

or

ela

feia

, só

vind

o a

mor

rer a

ntes

da

últim

a. D

esap

arec

ida

a al

ma,

mos

tra, d

e pr

onto

, o c

orpo

su

a fr

aque

za n

atur

al e

se

desm

anch

a pe

la p

utre

façã

o. P

or is

so m

esm

o, c

om b

ase

ness

es

argu

men

tos

não

pode

mos

con

fiar q

ue n

ossa

alm

a su

bsis

ta a

lgur

es d

epoi

s da

mor

te. E

se

algu

ém c

once

dess

e ao

exp

osito

r de

tua

prop

osiç

ão m

ais

aind

a do

que

faze

s e

lhe

dess

e de

ba

rato

não

pen

as q

ue n

ossa

s al

mas

exi

stem

ant

es d

o te

mpo

do

nasc

imen

to, s

endo

que

nad

a im

pede

, até

mes

mo

depo

is de

nos

sa m

orte

, exi

stire

m a

lgum

as e

con

tinua

rem

a e

xisti

r, e

mui

tas

veze

s re

nasc

erem

e to

rnar

em a

mor

rer,

por s

erem

de

natu

reza

bas

tant

e fo

rte p

ara

supo

rtar e

sses

nas

cim

ento

s su

cess

ivos

: se

lhe

conc

edês

sem

os e

sse

pont

o, d

e to

do o

jeito

ele

se

recu

saria

a a

dmiti

r que

a a

lma

não

se e

sgot

a ne

sses

nas

cim

ento

s su

cess

ivos

, par

a ac

abar

nu

ma

dess

as ú

ltim

as m

orte

s, po

r des

apar

ecer

de

todo

. Des

sa m

orte

últi

ma,

pod

eria

ac

resc

enta

r, e

dess

a de

com

posi

ção

do c

orpo

que

leva

par

a a

alm

a a

dest

ruiç

ão, n

ingu

ém

pode

ter c

onhe

cim

ento

, por

não

est

ar e

m n

ós e

xper

imen

tá-l

a. S

e as

coi

sas

se p

assa

m m

esm

o de

ssa

form

a, p

or fo

rça

terá

de

ser i

rrac

iona

l a c

onfia

nça

de q

ualq

uer p

esso

a di

ante

da

mor

te,

a m

enos

que

ess

e al

guém

pud

esse

dem

onst

rar q

ue a

alm

a é

abso

luta

men

te im

orta

l e

impe

recí

vel.

Send

o is

so im

poss

ível

, não

com

o ev

itar q

ue o

mor

ibun

do s

e ar

rece

ie d

e qu

e no

inst

ante

em

que

sua

alm

a se

des

apar

ecer

do

corp

o, v

enha

a d

esap

arec

er d

e to

do.

XX

XV

III –

Ao

ouvi

-los

fala

r des

sa m

anei

ra, t

odos

nós

nos

sen

timos

de

sagr

adav

elm

ente

impr

essi

onad

os, c

onfo

rme

depo

is c

onfe

ssam

os a

nós

mes

mos

; fir

mem

ente

con

venc

idos

com

o fic

áram

os, a

nte

os a

rgum

ento

s an

terio

res,

as p

alav

ras

de

agor

a co

mo

que

nos

deix

avam

inqu

ieto

s e

nos

leva

vam

out

ra v

ez a

duv

idar

, tan

to c

om

rela

ção

ao q

ue já

fora

dito

com

o ao

que

ain

da re

stav

a po

r diz

er. O

u ér

amos

mau

s ju

ízes

ou

o as

sunt

o nã

o ad

miti

a pr

ova.

Equ

écrates–

Pel

os d

euse

s, F

edão

! Com

pree

ndo

o qu

e se

pas

sou

conv

osco

, poi

s ag

ora

mes

mo,

per

gunt

ei-m

e em

que

arg

umen

to p

oder

emos

con

fiar d

aqui

por

dia

nte,

se

o qu

e Só

crat

es a

cabo

u de

des

envo

lver

, com

ser

tão

conv

ince

nte,

per

deu

de to

do o

cré

dito

? É

mar

avilh

osa

a at

raçã

o qu

e so

bre

mim

sem

pre

exer

ceu,

e a

inda

exe

rce,

a d

outri

na d

e qu

e no

ssa

alm

a é

uma

espé

cie

de h

arm

onia

. O q

ue a

caba

ste

de e

xpor

me

fez

lem

brar

que

até

ao

pres

ente

eu

a ac

eita

va. M

as a

gora

nec

essi

to d

e no

vos

argu

men

tos

para

con

venc

er-m

e de

qu

e a

alm

a nã

o m

orre

junt

amen

te c

om o

cor

po. D

ize

logo

, por

Zeu

s, de

que

mod

o Só

crat

es

pros

segu

iu n

a su

a ar

gum

enta

ção?

Por

vent

ura

reve

lou

desâ

nim

o, c

omo

diss

este

ter

acon

teci

do c

om to

dos

vós,

ou, p

elo

cont

rário

, def

ende

u a

sua

opin

ião

com

a s

eren

idad

e ha

bitu

al?

Foi c

ompl

eta

ou fa

lha

nalg

um p

onto

sua

def

esa?

Con

ta-n

os tu

do c

om a

mai

or

exat

idão

pos

síve

l.

Fedã

o–

Em v

erda

de, E

quéc

rate

s, po

r mai

s qu

e an

tes

eu ti

vess

e ad

mira

do S

ócra

tes,

nu

nca

me

sent

i tão

arr

ebat

ado

naqu

ele

inst

ante

. Não

é d

e es

pant

ar q

ue u

m h

omem

do

seu

esto

fo p

udes

se s

air-

se b

em e

m s

emel

hant

e co

njun

tura

. Mas

o q

ue n

ele,

prim

eiro

de

tudo

, m

e ad

miro

u ao

ext

rem

o fo

i a m

anei

ra d

elic

ada,

cor

dial

e d

efer

ente

com

o q

ue a

colh

eu a

s ob

jeçõ

es d

os m

oços

; dep

ois,

a sa

gaci

dade

com

que

obs

ervo

u o

efei

to d

e su

as p

alav

ras

sobr

e nó

s e,

por

últi

mo,

com

o so

ube

cura

r-no

s: d

e fu

gitiv

os e

der

rota

dos,

fez-

nos

volta

r e

conc

itou-

nos

a se

gui-

lo, p

ara

cons

ider

arm

os ju

nto

o ar

gum

ento

.

Equ

écrates–

De

que

mod

o?

Fedã

o–

Vou

te d

izer

com

o fo

i. A

cont

eceu

que

eu

me

acha

va, j

usta

men

te à

sua

dire

ita, n

um b

anqu

inho

ao

pé d

o ca

tre, f

ican

do e

le n

um p

lano

mui

to m

ais

alto

. Afa

gand

o-m

e a

cabe

ça e

aba

rcan

do c

om a

mão

os

cabe

los

que

me

cobr

iam

a n

uca

– po

is s

empr

e qu

e se

lhe

ofer

ecia

oca

sião

gra

ceja

a re

spei

to d

e m

inha

cab

elei

ra –

me

diss

e: D

ecer

to é

am

anhã

, Fe

dão,

que

vai

s pô

r aba

ixo

esta

bel

a ca

bele

ira?

Pens

o qu

e si

m, S

ócra

tes,

resp

ondi

.

Não

, se

me

acei

tare

s um

con

selh

o.

Que

dev

o, e

ntão

, faz

er?

Perg

unte

i.

Hoj

e m

esm

o, d

isse

, cor

tare

i a m

inha

, com

o fa

rás

com

a tu

a, s

e no

sso

argu

men

to v

ier

a m

orre

r e n

os re

vela

rmos

inca

paze

s de

lhe

dar l

ume

e vi

da. D

e m

inha

par

te, s

e eu

est

ives

se

em te

u lu

gar e

o a

rgum

ento

me

esco

rreg

asse

por

ent

re o

s de

dos,

faria

um

jura

men

to à

feiç

ão d

os A

rgiv

os, d

e nã

o de

ixar

cre

scer

os

cabe

los

enqu

anto

não

ven

cess

e em

luta

fran

ca

a pr

opos

ição

de

Sím

ias

e C

ibet

e.

Mas

, com

o se

cos

tum

a di

zer,

obje

tei-l

he, c

ontra

doi

s ne

m H

ércu

les

ague

nta.

Entã

o, c

ham

a-m

e em

teu

auxí

lio, e

nqua

nto

é di

a; s

erei

o te

u Io

lau.

Bem

, cha

mar

ei, l

he re

spon

di; p

orém

não

na

qual

idad

e de

Her

ácle

s: Io

lau

é qu

e va

i ch

amar

Her

ácle

s em

seu

aux

ílio.

Tant

o fa

z, m

e di

sse.

XX

XIX

– In

icia

lmen

te, p

reca

tem

o-no

s co

ntra

cer

to p

erig

o.

Qua

l ser

á? P

ergu

ntei

.

Para

não

fica

rmos

mis

ólog

os, d

isse

, com

o ou

tros

ficam

mis

antro

pos.

O q

ue d

e pi

or

pode

aco

ntec

er a

qua

lque

r pes

soa

é to

rnar

-se

inim

igo

da p

alav

ra. A

miso

logi

a e

a m

isan

tropi

a tê

m a

mes

ma

orig

em. O

ódi

o ao

s ho

men

s na

sce

do e

xces

so d

e co

nfia

nça

sem

ra

zão

de s

er, q

uand

o co

nsid

eram

os a

lgué

m fi

el, s

ince

ro e

ver

dade

iro, e

logo

dep

ois

desc

obrim

os q

ue s

e tra

ta d

e pe

ssoa

cor

rupt

a e

desl

eal,

e de

pois

out

ra m

ais

nas

mes

mas

co

ndiç

ões.

Vin

do is

so a

repe

tir-s

e vá

rias

veze

s co

m o

mes

mo

paci

ente

, prin

cipa

lmen

te s

e se

tra

tar d

e am

igos

íntim

os e

com

panh

eiro

s de

alto

cré

dito

, dep

ois

de d

ecep

ções

seg

uida

s, ac

aba

essa

pes

soa

por o

diar

os

hom

ens

e ac

redi

tar q

ue n

ingu

ém é

sin

cero

. Nun

ca o

bser

vast

e qu

e é

assi

m m

esm

o qu

e as

coi

sas

se p

assa

m.

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

E nã

o é

isso

ver

gonh

oso?

Con

tinuo

u. P

ois

é cl

aro

que

esse

indi

vídu

o pr

ocur

a o

conv

ívio

com

seu

s se

mel

hant

es s

em c

onhe

cer d

evid

amen

te a

nat

urez

a hu

man

a, p

ois

se

disp

uses

se d

e al

gum

a ex

periê

ncia

nas

sua

s re

laçõ

es c

om e

les,

teria

com

pree

ndid

o co

mo

é re

alm

ente

o m

undo

, ist

o é,

que

são

pou

cos

os in

diví

duos

inte

iram

ente

bon

s ou

mau

s de

to

do, e

que

a m

aior

ia c

onsti

tui o

mei

o-te

rmo.

Com

o as

sim?

Perg

unto

u.

É o

mes

mo

que

acon

tece

, pro

sseg

uiu,

com

as

pess

oas

exce

ssiv

amen

te b

aixa

s ou

ex

cess

ivam

ente

alta

s. Ju

lgas

que

pod

e ha

ver n

ada

mai

s ra

ro d

o qu

e en

cont

rarm

os u

m

hom

em m

uito

gra

nde

ou m

uito

peq

ueno

, ou

um c

ão, o

u se

ja o

que

for?

O m

esm

o se

dig

a do

ve

loz

e do

lent

o, d

o fe

io e

do

belo

, do

bran

co e

do

pret

o. O

u nã

o pe

rceb

este

que

em

tudo

is

so o

s ex

trem

os s

ão ra

ros

e po

uco

num

eros

os, e

os

da m

edia

nia,

ext

rem

amen

te fr

eqüe

ntes

e

em g

rand

e nú

mer

o?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndi.

E nã

o te

par

ece,

con

tinuo

u, q

ue s

e se

org

aniz

asse

um

con

curs

o de

mal

dade

, os

prim

eiro

s se

apr

esen

taria

m e

m n

úmer

o m

uito

redu

zido

?

É m

uito

pro

váve

l, re

spon

di.

Sim

, mui

to p

rová

vel,

cont

inuo

u. P

orém

não

é s

ob e

sses

asp

ecto

que

os

argu

men

tos

se

pare

cem

com

os

hom

ens.

Nes

te p

asso

não

fiz

senã

o se

guir

tua

orie

ntaç

ão. A

sem

elha

nça

cons

iste

no

segu

inte

: qua

ndo

se a

dmite

a e

xatid

ão d

e um

arg

umen

to, s

em s

er-s

e ve

rsad

o na

ar

te d

a di

alét

ica,

pod

e ac

onte

cer q

ue lo

go d

epoi

s el

e no

s pa

reça

fals

o, às

vez

es c

om

fund

amen

to, o

utra

s ve

zes

sem

nen

hum

, e d

epoi

s m

ais

outro

e m

ais

outra

da

mes

ma

natu

reza

. Com

o sa

bes,

é o

que

se v

erifi

ca c

om o

s di

sput

ador

es d

e ra

zões

con

tradi

tória

s, qu

e ac

abam

por

con

side

rar-

se o

s m

aior

es s

ábio

s, po

r ser

em o

s ún

icos

a re

conh

ecer

que

nad

a há

de

são

e fi

rme,

nem

nas

coi

sas,

nem

no

raci

ocín

io, e

ncon

trand

o-se

tudo

, em

ver

dade

, em

pe

rman

ente

agi

taçã

o, ta

l com

o se

com

as

água

s do

Eur

ipo,

sem

per

man

ecer

nad

a, u

m s

ó in

stan

te, n

o m

esm

o es

tado

.

É m

uito

cer

to o

que

diz

es, o

bser

vei.

E se

, de

fato

, exi

ste

raci

ocín

io v

erda

deiro

e e

stáv

el, c

apaz

de

ser c

ompr

eend

ido,

não

se

ria d

e la

stim

ar, F

edão

, no

caso

de

ouvi

r alg

uém

ess

es a

rgum

ento

s qu

e or

a pa

rece

m

verd

adei

ros

ora

fals

os, e

m v

ez d

e in

culp

ar-s

e ou

à su

a pr

ópria

inca

paci

dade

, aca

bass

e po

r irr

itar-

se e

com

praz

er-s

e em

tira

r de

si a

cul

pa p

ara

lanç

ar n

o ra

cioc

ínio

, e p

assa

r, da

í por

di

ante

, o re

sto

da v

ida

a od

iá-l

o e

a de

prec

iá-l

o, c

om o

que

alca

nçar

ia p

rivar

-se

da

verd

ade

e do

con

heci

men

to d

as c

oisa

s?

Por Z

eus,

lhe

diss

e; s

eria

, de

fato

gra

nde

lást

ima.

XL

– A

ssim

, con

tinuo

u, d

e in

ício

pre

cisa

mos

aca

utel

ar-n

os c

ontra

sem

elha

nte

perig

o;

não

perm

itam

os o

ingr

esso

em

nos

sa a

lma

da id

éia

de q

ue n

ão h

á na

da s

ão e

m n

osso

ra

cioc

ínio

; dig

amos

, iss

o si

m, q

ue n

ós é

que

ain

da n

ão e

stam

os s

ufic

ient

emen

te s

ãos,

mas

qu

e de

vem

os e

sfor

çar-

nos

para

alc

ança

r ess

e de

side

rato

, tu

e os

dem

ais,

por c

ausa

da

vida

qu

e ai

nda

tend

es p

ela

fren

te; e

u, p

or m

otiv

o, ju

stam

ente

, da

mor

te. R

ecei

o m

uito

que

, ne

ste

mom

ento

em

que

a m

orte

é tu

do, n

ão m

e ha

ja c

omo

filós

ofo

ou a

mig

o da

sab

edor

ia.,

com

o se

com

os

indi

vídu

os m

uito

igno

rant

es. E

stes

tais

, qua

ndo

deba

tem

alg

um te

ma,

não

se

preo

cupa

m a

bsol

utam

ente

de

sabe

r com

o sã

o, d

e fa

to, a

s co

isas

a re

spei

to d

e qu

e ta

nto

disc

utem

, sen

ão e

m d

eixa

r con

venc

idos

os

circ

unst

ante

s de

sua

s pr

ópria

s as

serç

ões.

Nis

so

põem

todo

o e

mpe

nho.

Eu,

tam

bém

, num

pon

to a

pena

s, ag

ora,

me

dife

renc

io d

eles

: não

me

esfo

rço

por d

emon

stra

r aos

pre

sent

es a

ver

dade

do

que

afirm

o, a

não

ser

com

o ac

essó

rio,

mas

por

con

venc

er-m

e, ta

nto

quan

to p

ossí

vel,

a m

im m

esm

o. M

eu c

álcu

lo, c

ompa

nhei

ro, é

o

segu

inte

; obs

erva

qua

nto

o ar

gum

ento

é in

tere

ssei

ro: S

e fo

r ver

dade

o q

ue e

u di

sse,

have

rá v

anta

gem

em

forta

lece

rmos

ess

a co

nvic

ção;

por

ém s

e na

da m

ais

houv

er d

epoi

s da

m

orte

, pel

o m

enos

não

impo

rtuna

rei o

s pr

esen

tes

com

min

has

lam

enta

ções

no

pouq

uinh

o de

tem

po q

ue a

inda

me

rest

a pa

ra v

iver

. Aliá

s, es

se e

stad

o de

coi

sas

não

vai d

urar

mui

to, o

qu

e se

ria m

au; a

caba

rá d

entro

de

pouc

o. P

repa

rado

des

se m

odo,

Sím

ias

e C

ebet

e,

cont

inuo

u, é

que

ace

itou

a di

scus

são.

Qua

nto

a vó

s ou

tros,

se m

e ac

eita

rdes

um

con

selh

o,

conc

edei

pou

ca a

tenç

ão a

Sóc

rate

s, po

rém

mui

to m

ais

a ve

rdad

e; s

e vo

s pa

rece

r que

verd

ade

no q

ue e

u di

go, c

onco

rdai

com

igo;

cas

o co

ntrá

rio, r

esis

ti qu

anto

pud

erde

s, ac

aute

land

o-vo

s pa

ra q

ue n

o m

eu e

ntus

iasm

o nã

o ve

nha

a en

gana

r-vo

s e

a m

im p

rópr

io e

m

e re

tire

com

o as

abe

lhas

, dei

xand

o em

todo

s vó

s o

agui

lhão

.

XLI

– P

orém

pro

ssig

amos

, con

tinuo

u. In

icia

lmen

te, l

embr

ai-m

e do

que

dis

sest

es, s

e vo

s pa

rece

r que

não

me

reco

rdo

mui

to b

em d

e tu

do, O

u m

uito

me

enga

no, S

ímia

s, ou

tens

vida

s de

rece

io d

e qu

e a

alm

a, a

pesa

r de

mai

s be

la e

div

ina

do

que

o co

rpo,

per

eça

ante

s de

ste,

por

ser

um

a es

péci

e de

har

mon

ia. C

ebet

e te

rá a

dmiti

do q

ue a

alm

a é

mai

s du

ráve

l do

que

o co

rpo,

mas

que

nin

guém

pod

e sa

ber s

e de

pois

de

gast

ar s

uces

siva

men

te m

uito

s co

rpos

, não

aca

bará

tam

bém

por

des

apar

ecer

, qua

ndo

aban

dona

r o ú

ltim

o co

rpo,

vin

do a

ser

is

so, p

reci

sam

ente

, a m

orte

: a d

estru

ição

da

alm

a, v

isto

não

par

ar n

unca

o c

orpo

de

mor

rer.

Não

é is

so m

esm

o, S

ímia

s e

Ceb

ete,

o q

ue p

reci

sam

os e

xam

inar

?

Am

bos

conf

irmar

am a

per

gunt

a.

E os

arg

umen

tos

ante

riore

s, pr

osse

guiu

, ace

itai-o

s po

r jun

to, o

u ad

miti

s al

guns

e

reje

itai o

utro

s?

Alg

uns,

sim

, res

pond

eram

, out

ros

não.

E qu

e di

zeis

, ent

ão, c

ontin

uou,

daq

uilo

do

com

eço

de q

ue a

pren

der é

reco

rdar

, e q

ue

se fo

r ass

im, a

nos

sa a

lma

terá

de

exis

tir e

m a

lgum

a pa

rte, a

ntes

de

vir a

fica

r pre

sa a

o co

rpo?

Qua

nto

a m

im, f

alou

Ceb

ete,

con

venc

este

-me

à mar

avilh

a co

m tu

a ex

posiç

ão, n

ão

have

ndo

outro

arg

umen

to q

ue a

té a

gora

me

tives

se d

espe

rtado

mai

or e

ntus

iasm

o.

Com

igo,

falo

u Sí

mia

s, dá

-se

a m

esm

a co

isa,

sen

do d

ifíci

l de

conc

eber

que

eu

venh

a a

mud

ar d

e op

iniã

o.

Entã

o, fa

lou

Sócr

ates

: No

enta

nto,

fora

stei

ro d

e Te

bas,

é o

que

terá

s de

faze

r, se

co

ntin

uare

s a

dize

r que

a h

arm

onia

é a

lgo

com

post

o, e

a a

lma,

um

a es

péci

e de

har

mon

ia

resu

ltant

e da

tens

ão d

os e

lem

ento

s co

nstit

utiv

os d

o co

rpo.

Poi

s de

certo

não

te p

erm

itirá

s af

irmar

que

a h

arm

onia

, sen

do u

m c

ompo

sto,

é a

nter

ior a

os e

lem

ento

s de

que

é fo

rmad

a.

Ou

afirm

arás

isso

mes

mo?

De

form

a al

gum

a, S

ócra

tes,

resp

onde

u.

E nã

o pe

rceb

es, c

ontin

uou,

que

é ju

stam

ente

o q

ue s

e dá

,qua

ndo

decl

aras

que

a a

lma

exis

tia a

ntes

de

ingr

essa

r no

corp

o do

hom

em e

de

lhe

assu

mir

a fo

rma,

por

ém é

com

post

a de

ele

men

tos

que

até

entã

o nã

o ex

istia

m?

Har

mon

ia n

ão é

o q

ue a

firm

as e

m tu

a co

mpa

raçã

o; a

o co

ntrá

rio: p

rimei

ro e

xist

em a

lira

, as

cord

as e

os

sons

, sem

nen

hum

a ha

rmon

ia. E

sta é

a ú

ltim

a a

form

ar-s

e, c

omo

é ta

mbé

m a

que

des

apar

ece

mai

s ce

do. D

e qu

e m

odo

porá

s em

con

sonâ

ncia

est

a as

serç

ão c

om o

que

dis

sest

e an

tes?

Não

jeito

, res

pond

eu S

ímia

s.

No

enta

nto,

pro

sseg

uiu,

se

é pr

ecis

o ha

ver c

onso

nânc

ia, é

qua

ndo

se tr

ata

de

harm

onia

.

Sem

dúv

ida,

obs

ervo

u Sí

mia

s.

Tuas

pro

posi

ções

são

des

arm

ônic

as, d

isse

. Por

con

segu

inte

, qua

l del

as e

scol

hes:

a d

e qu

e ap

rend

er é

reco

rdar

ou

a de

que

a a

lma

é a

harm

onia

?

Sobr

e to

dos

os p

onto

s, Só

crat

es, e

u pr

efiro

a p

rimei

ra, p

orqu

e a

outra

foi a

ceita

sem

de

mon

stra

ção,

por

par

ecer

-me

vero

ssím

il e

algu

m ta

nto

conv

enie

nte,

razã

o de

adm

iti-l

a a

mai

oria

dos

hom

ens.

No

enta

nto,

est

ou c

erto

de

que

as d

emon

stra

ções

nes

sas

com

para

ções

o pa

ssam

de

impo

stur

a, c

apaz

es d

e ilu

dir-

nos

se n

ão to

mar

mos

as

devi

das

prec

auçõ

es,

em g

eom

etria

com

em

tudo

mai

s. M

as o

arg

umen

to re

lativ

o ao

con

heci

men

to e

à re

min

iscên

cia

se b

asei

a nu

m p

rincí

pio

dign

o de

ace

itaçã

o, p

ois

foi a

ssev

erad

o qu

e no

ssa

alm

a ex

iste

ant

es m

esm

o de

ingr

essa

r no

corp

o, c

omo

o ex

ige

tua

rela

ção

com

a e

ssên

cia

daqu

ilo q

ue d

enom

inam

os O

que

é. O

ra, e

ssa

prop

osiç

ão, c

onfo

rme

esto

u co

nven

cido

, foi

po

r mim

ado

tada

com

arg

umen

tos

mui

to s

ólid

os. D

aí, v

er m

e fo

rçad

o, a

o qu

e pa

rece

, a n

ão

perm

itir q

ue n

em e

u, n

em n

ingu

ém a

firm

e qu

e a

alm

a é

harm

onia

.

XLI

I – E

o s

egui

nte,

Sím

ias,

perg

unto

u, c

omo

te p

arec

e: é

s de

opi

nião

que

a

harm

onia

, ou

qual

quer

out

ro c

ompo

sto,

pod

erá

proc

eder

de

man

eira

dife

rent

e da

dos

el

emen

tos

se q

ue é

feito

?

De

form

a al

gum

a.

Com

o ta

mbé

m n

ão p

oder

á, s

egun

do p

enso

, faz

er o

u so

frer

o q

ue q

uer q

ue s

eja

que

não

faça

m o

u so

fram

aqu

eles

ele

men

tos.

Con

cord

ou.

É qu

e nã

o co

mpe

te à

harm

onia

con

duzi

r os

elem

ento

s qu

e a

com

põem

, por

ém se

gui-

los.

Dec

laro

u-se

tam

bém

de

acor

do.

Logo

, de

nenh

um je

ito a

har

mon

ia p

oder

á m

over

-se

ou

soar

, ou

faze

r sej

a o

que

for

em c

ontrá

rio d

os e

lem

ento

s?

Não

com

pree

ndo,

dis

se.

Pois

não

é ce

rto q

ue s

e el

a es

tiver

mai

s ha

rmon

izad

a ou

em

gra

u m

aior

, a a

dmiti

rmos

qu

e se

ja p

ossí

vel s

emel

hant

e hi

póte

se, t

anto

mai

s ha

rmon

izad

a se

rá e

em

mai

or g

rau,

e s

e es

tiver

men

os e

em

gra

u m

enor

, ser

á m

enos

har

mon

izad

a e

em g

rau

men

or?

Perf

eita

men

te.

E da

alm

a, ju

stific

ar-s

e-á

dize

r a m

esm

a co

isa,

que

reve

la d

ifere

nça,

em

bora

mín

ima,

em s

er m

ais

alm

a e

em g

rau

mai

or d

o qu

e ou

tra, o

u m

enos

alm

a e

em g

rau

men

or, n

isso,

ju

stam

ente

, de

ser a

lma?

Nun

ca d

os n

unca

s, re

spon

deu.

Pass

emos

adi

ante

, con

tinuo

u, p

or Z

eus!

De

uma

alm

a nã

o di

zem

os q

ue é

dot

ada

de

razã

o e

de v

irtud

e, e

que

é b

oa, e

de

outra

, pel

o co

ntrá

rio, q

ue é

des

truíd

a de

sen

so, v

icio

sa

e m

á? E

não

est

ão c

erto

s os

que

afir

mam

sem

elha

nte

prop

osiç

ão?

Cer

tíssi

mo,

resp

onde

u.

Send

o as

sim

, os

que

adm

item

que

a a

lma

é ha

rmon

ia, c

omo

expl

icar

ão a

exi

stên

cia

dess

as q

ualid

ades

na

alm

a, a

sab

er, a

virt

ude

e o

víci

o? D

irão,

por

vent

ura,

que

se

trata

de

uma

harm

onia

ou

desa

rmon

ia d

e ou

tra e

spéc

ie?

Que

um

a de

las,

a bo

a, fo

i har

mon

izad

a e

que,

por

ser

har

mon

ia, p

ossu

i em

si m

esm

a es

sa m

odal

idad

e de

har

mon

ia, e

nqua

nto

a ou

tra,

por n

ão e

star

har

mon

izad

a, c

arec

e ab

solu

tam

ente

de

harm

onia

?

Não

sei

o q

ue re

spon

da, f

alou

Sím

ias;

por

ém q

uero

cre

r que

o a

dept

o de

ssa

dout

rina

se e

xpre

ssar

ia m

ais

ou m

enos

nes

ses

term

os.

No

enta

nto,

num

pon

to já

fica

mos

de

acor

do, c

ontin

uou:

que

nen

hum

a al

ma

é m

ais

alma

ou m

enos

alm

a do

que

out

ra, o

que

eqü

ival

e a

ace

itar q

ue n

enhu

ma

harm

onia

pod

erá

ser m

ais h

arm

onia

ou

mai

or –

ou

o in

vers

o –

do q

ue o

utra

, não

é v

erda

de?

Perf

eita

men

te.

Ora

, se

a ha

rmon

ia n

ão a

dmite

gra

us, n

ão s

e co

nceb

e, ta

mbé

m, q

ue p

ossa

fica

r mai

s ou

men

os h

arm

oniz

ada.

Não

é is

so m

esm

o?

Cer

to.

Mas

a h

arm

onia

que

não

for n

em m

ais h

arm

oniz

ada

nem

men

os, p

oder

á pa

rtici

par e

m

grau

dife

rent

e da

har

mon

ia, o

u se

mpr

e o

fará

na

mes

ma

prop

orçã

o?

Na

mes

ma.

Send

o as

sim

, a a

lma,

um

a ve

z qu

e nã

o se

rá is

so m

esm

o, a

lma,

nem

mai

s nem

men

os,

do q

ue o

utra

, tam

bém

não

pod

erá

ser m

ais

ou m

enos

har

mon

izad

a.

Exat

o.

Don

de v

em q

ue n

ão p

artic

ipar

á em

gra

u m

aior

nem

da

harm

onia

nem

da

desa

rmon

ia.

Não

, de

fato

.

Nes

sas

cond

içõe

s, ai

nda,

com

o po

deria

um

a al

ma

parti

cipa

r em

gra

u m

aior

ou

men

or

do q

ue o

utra

, da

virtu

de o

u do

víc

io, s

e o

víci

o fo

r des

arm

onia

e a

virt

ude,

har

mon

ia?

Não

é p

ossí

vel.

Logo

, Sím

ias,

se b

em c

onsi

dera

rmos

, nun

ca a

alm

a po

derá

par

ticip

ar d

o ví

cio,

se

ela

for,

de fa

to, h

arm

onia

, poi

s a

harm

onia

, evi

dent

emen

te, s

endo

sem

pre

de m

anei

ra p

erfe

ita o

qu

e é,

a s

aber

, har

mon

ia, n

ão p

artic

ipar

á da

des

arm

onia

.

Não

, de

fato

.

Com

o nã

o po

derá

a a

lma,

por

ser

tota

lmen

te a

lma,

par

ticip

ar d

o ví

cio.

Com

o o

pode

ria, d

e ac

ordo

com

o q

ue d

isse

mos

ant

es?

Com

o de

corr

ênci

a, p

orta

nto,

de

noss

o ar

gum

ento

ant

erio

r, as

alm

as d

e to

dos

os s

eres

vi

vos

são

igua

lmen

te b

oas,

se fo

rem

, por

nat

urez

a, ig

ualm

ente

alm

as.

É ta

mbé

m o

que

eu

pens

o, S

ócra

tes,

resp

onde

u.

E pa

rece

r-te

-ia

tam

bém

cer

ta a

exp

licaç

ão, c

ontin

uou,

e q

ue n

osso

arg

umen

to v

iria

a pa

rar n

isso

, se

foss

e ve

rdad

eira

a h

ipót

ese

de q

ue a

alm

a é

harm

onia

?

De

form

a al

gum

a, re

spon

deu.

XLI

I – E

ago

ra, f

alou

, de

tudo

o q

ue h

á no

hom

em, n

ão d

irás

ser a

alm

a, ju

stam

ente

, qu

e do

min

a, m

áxim

e qu

ando

dot

ada

de p

rudê

ncia

?

É o

que

diria

, sem

dúv

ida.

De

que

mod

o: c

onde

scen

dend

o co

m o

s ap

etite

s do

cor

po o

u, d

e pr

efer

ênci

a, o

pond

o-lh

es re

sist

ênci

a? O

que

dig

o é

o se

guin

te: s

e o

corp

o se

nte

calo

r ou

sede

, ela

o p

uxa

para

trá

s, pa

ra n

ão b

eber

, e s

e te

m fo

me,

par

a nã

o co

mer

, e n

uma

infin

idad

e de

situ

açõe

s co

mo

essa

vem

os a

alm

a op

or-s

e às

pai

xões

do

corp

o. O

u nã

o?

Perf

eita

men

te.

Por o

utro

lado

, não

adm

itim

os a

ntes

que

, no

caso

de

ser h

arm

onia

, nun

ca p

oder

ia

ficar

a a

lma

em d

isso

nânc

ia c

om a

s te

nsõe

s, os

rela

xam

ento

s e

as v

ibra

ções

de

seus

el

emen

tos

com

pone

ntes

, e q

ue, p

elo

cont

rário

, ela

sem

pre

os s

egui

ria, s

em n

unca

diri

gi-l

os?

Adm

itim

os is

so, p

or q

ue n

ão?

E ag

ora?

O q

ue v

erifi

cam

os n

ão é

que

ela

faz

prec

isam

ente

o c

ontrá

rio, d

irigi

ndo

todo

s os

ele

men

tos

de q

ue a

imag

inam

os c

ompo

sta,

opo

ndo-

se-l

hes

em q

uase

tudo

dur

ante

a

vida

inte

ira e

dom

inan

do-o

s de

mil

mod

os, à

s ve

zes

por m

eio

de c

astig

os v

iole

ntos

e

dolo

roso

s, do

âm

bito

da

giná

stic

a e

da m

edic

ina,

às v

ezes

por

mei

os s

uasó

rios,

com

amea

ças

ou a

dmoe

staç

ões,

em fr

anco

diá

logo

com

os

apet

ites,

as c

óler

as e

os

tem

ores

? É

com

o im

agin

a H

omer

o iss

o m

esm

o na

Odi

sséi

a qu

ando

diz

que

Odi

sseu

.

Bat

e, in

dign

ado,

no

peito

e a

si p

rópr

io d

esta

arte

se

expr

ime:

Sê, c

oraç

ão, p

acie

nte,

poi

s vi

da m

ais

baix

a e

mes

quin

ha já

sup

orta

ste.

Pens

as, e

ntão

, que

, ao

com

por e

ssa

pass

agem

, ele

con

side

rava

a a

lma

uma

espé

cie

de

harm

onia

, cap

az d

e se

r diri

gida

pel

as d

ispo

siçõ

es d

o co

rpo,

ou

o co

ntrá

rio, p

rópr

ia p

ara

dirig

i-lo

e do

min

á-lo

, por

ser

alg

o, ju

stam

ente

, mui

to m

ais

divi

no d

o qu

e um

a sim

ples

ha

rmon

ia?

Por Z

eus,

Sóc

rate

s, é

tam

bém

o q

ue e

u pe

nso.

Por c

onse

guin

te, m

eu c

aro,

de

jeito

nen

hum

fica

rá b

em p

ara

nós

afirm

ar q

ue a

alm

a é

uma

espé

cie

de h

arm

onia

. Poi

s de

sse

mod

o, a

o qu

e pa

rece

, não

nos

por

íam

os n

em d

e ac

ordo

com

Hom

ero,

o d

ivin

o po

eta,

nem

mes

mo

cono

sco.

É m

uito

cer

to, d

isse

.

XLI

V –

Mui

to b

em, f

alou

Sóc

rate

s; tu

do in

dica

que

Har

mon

ia, a

div

inda

de te

bana

, já

se n

os to

rnou

pro

píci

a. E

ago

ra, C

ebet

e, c

ontin

uou,

de

que

jeito

apl

acar

emos

Cad

mo,

e c

om

que

argu

men

tos?

Tenh

o ce

rteza

de

que

tu m

esm

o os

enc

ontra

rás

falo

u C

ebet

e. T

ua a

rgum

enta

ção

a re

spei

to d

a ha

rmon

ia fo

i not

ável

; ultr

apas

sou

de m

uito

min

ha e

xpec

tativ

a. Q

uand

o Sí

mia

s te

opô

s s

uas

dific

ulda

des,

eu ti

nha

quas

e ce

rteza

que

não

ser

ia p

ossí

vel r

efut

ar a

teor

ia p

or

ele

apre

sent

ada.

Daí

min

ha g

rand

e su

rpre

sa, p

or v

er q

ue e

la n

ão re

sistiu

ao

prim

eiro

ass

alto

da

tua.

Nad

a m

e ad

mira

ria, p

or c

onse

guin

te, s

e ac

onte

cess

e a

mes

ma

cois

a co

m o

ar

gum

ento

de

Cad

mo.

Não

fale

s de

mai

s, ca

ro a

mig

o, in

terp

elou

-o S

ócra

tes,

para

que

alg

um m

au-o

lhad

o nã

o ve

nha

desa

rticu

lar n

osso

pró

xim

o di

scur

so. P

orém

dei

xem

os is

so a

car

go d

a di

vind

ade;

o

que

nos

com

pete

é c

ongr

egar

esf

orço

s, co

mo

acon

selh

a H

omer

o, p

ara

ver o

que

dis

sest

e te

m a

lgum

val

or. R

esum

e-se

no

segu

inte

o q

ue p

rocu

ras:

Exi

ges

prov

as d

e qu

e no

ssa

alm

a é

impe

recí

vel e

imor

tal,

para

que

o fi

lóso

fo q

ue e

stej

a no

pon

to d

e m

orre

r se

enco

raje

e

acre

dite

que

dep

ois

da m

orte

se

sent

irá m

uito

mel

hor n

o ou

tro m

undo

do

que

se v

ives

se d

e m

anei

ra d

ifere

nte

até

o fim

, e n

ão s

e m

ostre

cor

ajos

o po

r mod

o es

tulto

e ir

raci

onal

. A

dem

onst

raçã

o de

que

a a

lma

é al

go fo

rte e

sem

elha

nte

à div

inda

de, e

que

exi

stia

ant

es d

e no

s to

rnam

os h

omen

s, nã

o im

pede

, seg

undo

dis

sest

e, q

ue tu

do is

so n

ão p

rova

que

ela

sej

a m

orta

l, m

as tã

o-so

men

te q

ue é

rela

tivam

ente

dur

ável

e q

ue a

ntes

pod

erá

ter v

ivid

o al

gure

s um

tem

po in

defin

ido

e ap

rend

ido

e pr

atic

ado

mui

ta c

oisa

. Mas

nem

por

isso

ser

á im

orta

l. Se

u in

gres

so n

o co

rpo

pode

rá s

er o

com

eço

de s

ua p

rópr

ia d

estru

ição

, um

a es

péci

e de

do

ença

. Ass

im, c

ansa

da d

e ca

rreg

ar o

fard

o de

sta

vida

, aca

bará

por

des

apar

ecer

no

que

deno

min

amos

mor

te C

onfo

rme

dize

s, é

indi

fere

nte

ingr

essa

r ela

no

corp

o um

a só

vez

ou

mui

tas,

no q

ue re

spei

te a

o m

edo

que

todo

s nó

s m

anife

stam

os. A

liás,

just

ifica

-se

esse

med

o,

a m

enos

que

se

trate

de

pess

oa in

sens

ata,

por

não

est

arm

os e

m c

ondi

ções

de

dem

onst

rar q

ue

a al

ma

é im

orta

l. Es

se é

, mai

s ou

men

os, C

ebet

e, o

sen

tido

de tu

as p

alav

ras.

De

caso

pens

ado,

insi

sto

no m

esm

o ar

gum

ento

s, pa

ra q

ue n

ão n

os e

scap

e ne

nhum

a pa

rticu

larid

ade

e po

ssas

, cas

o qu

eira

s, ac

resc

enta

r ou

tirar

alg

uma

cois

a.

Ao

que

Ceb

ete

resp

onde

u: P

or e

nqua

nto,

nad

a te

nho

a ac

resc

enta

r ou

a re

tirar

; foi

is

so m

esm

o qu

e eu

dis

se.

XLV

– D

uran

te a

lgum

tem

po S

ócra

tes

se c

onse

rvou

cal

ado,

com

o se

refle

tisse

a s

ós

cons

igo.

Dep

ois

cont

inuo

u: O

pro

blem

a co

m q

ue te

ocu

pas,

Ceb

ete,

é d

e su

ma

impo

rtânc

ia;

prec

isar

emos

inve

stig

ar a

fund

o a

natu

reza

do

nasc

imen

to e

da

mor

te. S

e te

r par

ecer

, vou

co

ntar

-te

o qu

e se

pas

sou

com

igo

ness

e pa

rticu

lar.

Dep

ois,

se a

char

es o

que

eu

diss

er d

e al

gum

a ut

ilida

de p

ara

refo

rçar

a tu

a te

se, p

odes

util

izá-

los

com

o be

m e

nten

dere

s.

Não

des

ejo

outra

coi

sa, f

alou

Ceb

ete.

Entã

o, o

uve

o qu

e pa

sso

a re

lata

r-te

. O fa

to, C

ebet

e, é

qua

ndo

eu e

ra m

oço

sent

ia-m

e to

mad

o do

des

ejo

irres

istív

el d

e ad

quiri

r ess

e co

nhec

imen

to a

que

dão

o n

ome

de H

istó

ria

Nat

ural

. Afig

urav

a-se

-me,

real

men

te, m

arav

ilhos

o co

nhec

er a

cau

sa d

e tu

do, o

por

quê

do

nasc

imen

to e

da

mor

te d

e ca

da c

oisa

, e a

razã

o de

exi

stire

m. V

ezes

sem

con

ta m

e pu

nha

a re

fletir

em

todo

s os

sen

tidos

, ini

cial

men

te a

resp

eito

de

ques

tões

com

o a

segu

inte

: Ser

á qu

ando

o c

alor

e o

frio

pas

sam

por

um

a es

péci

e de

ferm

enta

ção,

con

form

e al

guns

afir

mam

, qu

e se

form

am o

s an

imai

s? É

por

mei

o do

san

gue

que

pens

amos

? O

u do

ar?

Ou

do fo

go?

Ou

nada

dis

so e

star

á ce

rto, v

indo

a s

er o

cér

ebro

que

orig

em às

sen

saçõ

es d

a vi

sta,

do

ouvi

do e

do

olfa

to, d

as q

uais

sur

giria

a m

emór

ia e

a o

pini

ão, e

, da

mem

ória

e d

a op

iniã

o,

uma

vez,

torn

adas

cal

mas

, nas

ceria

o c

onhe

cim

ento

? D

e se

guid

a, o

cupe

i-me

com

a

corr

upçã

o da

s co

isas

e c

om a

s m

odifi

caçõ

es d

o cé

u e

da te

rra,

par

a ch

egar

à co

nclu

são

de

que

nada

de

prov

eito

so s

e tir

ava

de m

inha

inap

tidão

par

a co

nsid

eraç

ões

dess

a na

ture

za.

Vou

dar

-te

uma

prov

a el

oque

nte

diss

o m

esm

o. P

ara

as c

oisa

s qu

e, s

egun

do m

eu p

rópr

io

pare

cer e

de

outra

s pe

ssoa

s, eu

con

heci

a be

m, a

tal p

onto

me

deix

aram

ceg

o se

mel

hant

es

espe

cula

ções

, que

che

guei

a d

esap

rend

er a

té m

esm

o o

que

ante

s eu

pre

sum

ia c

onhe

cer,

entre

out

ras,

por e

xem

plo,

por

que

o h

omem

cre

sce.

Até

ent

ão, e

u im

agin

ava

ser e

vide

nte

para

toda

gen

te q

ue o

hom

em c

re3s

ce p

orqu

e co

me

e be

be; p

ois

quan

do, p

ela

alim

enta

ção,

a

carn

e se

junt

a à c

arne

e o

oss

o ao

oss

o, e

, sem

pre

de a

cord

o co

m o

mes

mo

proc

esso

, as

dem

ais

parte

s do

cor

po s

ão a

cres

cida

s de

ele

men

tos

afin

s, a

mas

sa q

ue a

ntes

era

peq

uena

se

torn

a vo

lum

osa,

do

que

resu

lta fi

car g

rand

e o

hom

em p

eque

no. E

ra a

ssim

que

eu

pens

ava.

N

ão te

par

ece

razo

ável

?

Sem

dúv

ida,

falo

u C

ebet

e.

Ref

lete

tam

bém

no

segu

inte

: Sem

pre

cons

ider

ei s

ufic

ient

e, q

uand

o al

guém

par

ecia

al

to a

o la

do d

e ou

tra p

esso

a de

peq

uena

est

atur

a, d

izer

que

a u

ltrap

assa

va d

e um

a ca

beça

, o

mes

mo

acon

tece

ndo

com

um

cav

alo

em c

onfr

onto

com

o o

utro

. Mai

s cl

aram

ente

, ain

da: o

mer

o de

z se

me

afig

urav

a m

aior

do

que

o nú

mer

o oi

to p

or a

junt

ar-s

e do

is a

est

e úl

timo,

co

mo

o cú

bito

dup

lo s

eria

mai

or d

o qu

e o

sim

ples

por

ultr

apas

sá-l

o de

met

ade.

E ag

ora,

per

gunt

ou C

ebet

e, c

omo

te p

arec

e?

Com

o es

tou

long

e, p

or Z

eus,

cont

inuo

u, d

e im

agin

ar q

ue c

onhe

ço a

cau

sa d

e tu

do

isso

! Poi

s nu

nca

cheg

o a

com

pree

nder

, no

caso

de

acre

scen

tar u

ma

unid

ade

a ou

tra, s

e é

a

unid

ade

a qu

e es

ta ú

ltim

a fo

i acr

esce

ntad

a qu

e se

torn

ou d

uas,

ou s

e fo

i a a

cres

cent

ada,

ju

ntam

ente

com

a p

rimei

ra, q

ue fi

cara

m d

uas,

pelo

fato

de

uma

ter s

ido

acre

scen

tada

à ou

tra. N

ão p

odia

ent

ende

r que

, est

ando

sep

arad

as, c

ada

uma

era

uma

unid

ade,

não

dua

s, e

que

o fa

to d

e fic

arem

junt

as fo

i a c

ausa

de

se to

rnar

em d

uas,

a sa

ber,

por t

erem

sid

o po

stas

la

do a

lado

. Do

mes

mo

mod

o, n

ão c

onse

guia

con

venc

er-m

e de

ser

ess

a a

caus

a de

torn

ar-s

e du

as a

uni

dade

, a s

aber

: a d

ivis

ão. S

eria

pre

cisa

men

te o

opo

sto

do q

ue a

ntes

nos

ens

ejar

a du

as u

nida

des:

naq

uela

oca

sião

, foi

isso

con

segu

ido

por s

e ap

roxi

mar

em a

s du

as e

fica

rem

la

do a

lado

; ago

ra, p

orém

, a c

ausa

foi a

sep

araç

ão e

o a

fast

amen

to d

elas

dua

s. A

ssim

, ta

mbé

m, n

ão a

cred

ito s

aber

com

o se

ger

a a

unid

ade,

nem

, par

a di

zer t

udo,

com

o na

sce

ou

mor

re o

u ex

iste

sej

a o

que

for,

a ac

eita

rmos

o p

rincí

pio

dess

e m

étod

o. P

refir

o ar

risca

r-m

e no

utra

dire

ção;

ess

e ca

min

ho n

ão m

e se

rve.

XLV

I – A

o ou

vir,

poré

m, c

erta

vez

alg

uém

ler n

um li

vro

de A

naxá

gora

– s

egun

do

dizi

a –

que

a m

ente

é o

rgan

izad

ora

e ca

usa

de tu

do, f

ique

i sat

isfe

itíss

imo

com

sem

elha

nte

caus

a, p

or p

arec

er-m

e de

alg

um m

odo,

mui

to c

erto

que

a m

ente

foss

e a

caus

a de

tudo

, te

ndo

imag

inad

o qu

e, a

ser

ass

im m

esm

o, c

omo

coor

dena

dora

do

Uni

vers

o, a

men

te

disp

oria

cad

a co

isa

parti

cula

r pel

a m

elho

r man

eira

pos

síve

l. Se

alg

uém

qui

sess

e ex

plic

ar a

ca

usa

de c

omo

algu

ma

cois

a na

sce

ou m

orre

ou

exis

te, t

eria

ape

nas

de d

esco

brir

qual

é a

m

elho

r man

eira

par

a el

a de

exi

stir,

sof

rer o

u pr

oduz

ir se

ja o

que

for.

Segu

ndo

esse

crit

ério

, só

o q

ue im

porta

ao

hom

em c

onsi

dera

r, ta

nto

em re

laçã

o a

si m

esm

o co

mo

a tu

do o

mai

s, é

o m

odo

mel

hor e

mai

s pe

rfei

to. D

esse

jeito

, fic

aria

nec

essa

riam

ente

con

hece

ndo

o pi

or, p

or

ambo

s se

rem

obj

eto

do m

esm

o co

nhec

imen

to. D

epoi

s de

ssas

refle

xões

, ale

grei

-me

ao

pens

ar q

ue h

avia

enc

ontra

do e

m A

naxá

gora

s um

pro

fess

or d

a ca

usa

das

cois

as c

omo

havi

a m

uito

eu

dese

java

, que

com

eçar

ia p

or d

izer

-me

se a

Ter

ra é

cha

ta o

u re

dond

a, e

dep

ois

me

expl

icar

ia a

cau

sa e

a n

eces

sida

de d

essa

form

a, re

corr

endo

sem

pre

ao p

rincí

pio

do m

elho

r, co

m d

emon

stra

r que

par

a a

Terr

a er

a m

elho

r mes

mo

ser a

ssim

. No

caso

de

dize

r que

a

Terr

a se

enc

ontr

a no

cen

tro, e

xplic

aria

por

que

mot

ivo

é m

elho

r par

a el

a fic

ar n

o ce

ntro

. Se

ele

me

dem

onst

rass

e es

se p

onto

, dec

idir

-me-

ia, d

e um

a ve

z po

r tod

as, a

não

pro

cura

r out

ra

espé

cie

de c

ausa

. O m

esm

o fa

ria c

om re

laçã

o ao

Sol

, à L

ua, e

aos

out

ros

astro

s, no

que

diz

resp

eito

à su

a ve

loci

dade

rela

tiva,

o p

onto

de

conv

ersã

o e

dem

ais

acid

ente

a q

ue e

stão

su

jeito

s, be

m c

omo

a ra

zão

de s

er m

elho

r par

a ca

da u

m d

eles

faze

r o q

ue fa

zem

ou

sofr

er o

qu

e so

frem

. Um

mom

ento

seq

uer n

ão p

odia

adm

itir q

ue, d

epoi

s de

afir

mar

que

tudo

est

á or

dena

do p

ela

men

te, i

ndic

asse

out

ra c

ausa

que

não

a d

e se

r mel

hor p

ara

tudo

pro

cede

r co

mo

proc

edem

. Ao

atrib

uir u

ma

caus

a pa

rticu

lar a

cad

a co

isa

e ao

con

junt

o, e

stav

a ce

rto

de q

ue n

o m

esm

o po

nto

dem

onst

raria

o q

ue p

ara

cada

um

era

mel

hor e

em

que

con

sistia

pa

ra to

dos

o be

m c

omum

. Por

nad

a do

mun

do a

briri

a m

ão d

essa

esp

eran

ça. P

or is

so,

have

ndo

tom

ado

do li

vro

com

sof

regu

idão

, li-

o de

um

fôle

go, p

ara

pode

r fic

ar c

onhe

cend

o,

o m

ais

depr

essa

pos

síve

l, ta

nto

o m

elho

r com

o p

ior.

XLV

II –

Por

ém, n

ão d

emor

ei, c

ompa

nhei

ro, a

cai

r do

alto

des

sa m

arav

ilhos

a ex

pect

ativ

a, a

o pr

osse

guir

na le

itura

e v

erifi

car q

ue o

nos

so h

omem

não

reco

rria

à m

ente

pa

ra n

ada,

nem

a q

ualq

uer o

utra

cau

sa p

ara

a ex

plic

ação

da

orde

m n

atur

al d

as c

oisa

s, se

não

só o

ar,

ao é

ter,

à águ

a, e

um

a in

finid

ade

mai

s de

cau

sas

extra

vaga

ntes

. Qui

s pa

rece

r-m

e qu

e co

m e

le a

cont

ecia

com

o co

m q

uem

com

eças

se p

or d

ecla

rar q

ue tu

do o

que

Sóc

rate

s fa

z é

dete

rmin

ado

pela

inte

ligên

cia,

par

a de

pois

, ao

tent

ar a

pres

enta

r a c

ausa

de

cada

um

dos

m

eus

atos

, afir

mar

, de

iníc

io, q

ue a

razã

o de

enc

ontra

r-m

e se

ntad

o ag

ora

nest

e lu

gar é

ter o

co

rpo

com

post

o de

oss

os e

mús

culo

s, p

or s

erem

os

osso

s du

ros

e se

para

dos

uns

dos

outro

s

pela

s ar

ticul

açõe

s, e

os m

úscu

los

de ta

l mod

o co

nstit

uído

s qu

e po

dem

con

trair

-se

ou

rela

xar-

se, e

por

cob

rirem

os

osso

s, ju

ntam

ente

com

a c

arne

e a

pel

e qu

e os

env

olve

m.

Send

o m

óvei

s os

oss

os e

m s

uas

artic

ulaç

ões,

pela

con

traçã

o ou

rela

xam

ento

dos

mús

culo

s fic

o em

con

diçõ

es d

e do

brar

nes

te m

omen

to o

s m

embr

os, r

azão

de

esta

r ago

ra s

enta

do a

qui

com

as

pern

as fl

ectid

as. A

mes

ma

cois

a se

dar

ia, s

e a

resp

eito

de

noss

a co

nver

saçã

o in

dica

sse

com

o ca

usa

a vo

z, o

ar,

os s

ons,

e m

il ou

tras

parti

cula

ridad

es d

o m

esm

o tip

o,

poré

m s

e es

quec

esse

de

men

cion

ar a

s ve

rdad

eira

s ca

usas

, a s

aber

: pel

o fa

to d

e ha

vere

m

acor

dado

os

Ate

nien

ses

em c

onde

nar-

me,

par

eceu

-me,

tam

bém

, mel

hor f

icar

sen

tado

aqu

i, e

mai

s ju

sto

subm

eter

-se

nest

e lo

cal à

pen

a co

min

ada.

Sim

, é is

so, p

elo

cão!

Poi

s de

mui

to,

quer

o cr

er, e

ste

mús

culo

s e

este

s os

sos

esta

riam

em

Még

ara

ou e

ntre

o B

eóci

os, m

ovid

os

pela

idéi

a do

mel

hor,

se n

ão m

e pa

rece

sse

mui

to m

ais

just

o e

belo

, em

vez

de

evad

ir-m

e e

fugi

r, su

bmet

er-m

e à p

ena

que

a ci

dade

me

impu

sera

. É o

cúm

ulo

do a

bsur

do d

ar o

nom

e de

cau

sa a

sem

elha

ntes

coi

sas.

Se a

lgué

m d

isse

sse

que

sem

oss

os e

mús

culo

s e

tudo

o m

ais

que

tenh

o no

cor

po e

u nã

o se

ria c

apaz

de

pôr e

m p

rátic

a ne

nhum

a re

solu

ção,

fala

ria

verd

ade.

Por

ém a

firm

ar q

ue é

por

cau

sa d

isso

que

eu

faço

o q

ue e

u fa

ço, e

que

, ass

im

proc

eden

do, m

e va

lho

da in

telig

ênci

a, p

orém

não

em

virt

ude

da e

scol

ha d

o m

elho

r, é

leva

r ao

ext

rem

o a

impr

ecisã

o da

ling

uage

m e

reve

lar-

se in

capa

z de

com

pree

nder

que

um

a co

isa

é a

verd

adei

ra c

ausa

, e o

utra

, mui

to d

ifere

nte,

aqu

ilo q

ue s

em a

cau

sa ja

mai

s po

derá

ser

ca

usa.

A m

eu p

arec

er, é

just

amen

te is

so o

que

faz

a m

aior

ia d

os h

omen

s, co

mo

que

a ta

tear

na

s tre

vas,

empr

egan

do u

m te

rmo

impr

óprio

e o

des

igna

ndo

com

o ca

usa.

Daí

, env

olve

r um

de

les

a Te

rra n

um tu

rbilh

ão e

dei

xá-l

a im

óvel

deb

aixo

do

céu,

enq

uant

o ou

tro a

con

cebe

à m

anei

ra d

e um

a ga

mel

a la

rga,

que

tem

com

o su

porte

o a

r. Q

uant

o à p

otên

cia

que

dete

rmin

ou a

atu

al d

ispo

siçã

o da

s co

isas

pel

a m

elho

r man

eira

, nem

a p

rocu

ram

nem

co

nceb

em q

ue s

eja

dota

da d

e al

gum

pod

er s

uper

ior,

por s

e ju

lgar

em c

apaz

es d

e en

cont

rar

algu

m A

tlant

e m

ais f

orte

e m

ais i

mor

tal d

o qu

e el

a, p

ara

man

ter c

oeso

o c

onju

nto

das

cois

as. M

as q

ue o

bem

, de

fato

, e a

nec

essi

dade

aba

rque

m e

ligu

em to

das

as c

oisa

s, é

o qu

e nã

o ad

mite

m d

e ne

nhum

mod

o. D

e m

inha

par

te, p

ara

ficar

sab

endo

com

o at

ua s

emel

hant

e ca

usa,

de

mui

to b

om g

rado

me

faria

dis

cípu

lo d

e qu

em q

uer q

ue fo

sse.

Mas

, um

a ve

z qu

e nã

o a

conh

eço

nem

me

acho

em

con

diçõ

es d

e de

scob

ri-la

por

mim

pró

prio

nem

de

apre

nder

co

m o

utro

s o

que

ela

seja

: que

res

que

te fa

ça u

ma

desc

rição

com

plet

a, C

ebet

e, d

e co

mo

empr

eend

i o s

egun

do ro

teiro

de

nave

gaçã

o pa

ra a

inve

stig

ação

da

caus

a?

Não

o qu

e eu

mai

s de

seje

, res

pond

eu.

XLV

III –

De

segu

ida,

con

tinuo

u, já

can

sado

de

cons

ider

ar a

s co

isas

, hou

ve q

ue e

ra

prec

iso

prec

atar

-me

para

não

aco

ntec

er c

omig

o o

que

se d

á co

m a

s pe

ssoa

s qu

e ob

serv

am e

co

ntem

plam

o S

ol q

uand

o há

ecl

ipse

: por

vez

es p

erde

m a

vis

ta, s

e nã

o ol

ham

ape

nas

para

a

imag

em d

ele

na á

gua

ou n

algu

m m

eio

sem

elha

nte.

Pen

sei n

essa

pos

sibili

dade

e re

ceei

fica

r co

m a

lma

inte

iram

ente

ceg

a, s

e fix

asse

os

olho

s na

s co

isas

e p

rocu

rass

e al

canç

á-la

s po

r m

eio

de u

m d

os s

entid

os. P

arec

eu-m

e ac

onse

lháv

el a

colh

er-m

e ao

pen

sam

ento

, par

a ne

le

cont

empl

ar a

ver

dade

ira n

atur

eza

das

cois

as. É

mui

to p

rová

vel q

ue m

inha

com

para

ção

clau

diqu

e um

pou

co, p

ois

esto

u lo

nge

de a

dmiti

r que

que

m c

onsi

dera

as

cois

as p

or m

eio

do

pens

amen

to s

ó co

ntem

ple

suas

imag

ens,

o qu

e nã

o se

com

que

as

vê n

a re

alid

ade.

De

qual

quer

mod

o, m

eu c

amin

ho fo

i ess

e. E

m c

ada

caso

par

ticul

ar, p

arto

sem

pre

do p

rincí

pio

que

se m

e af

igur

a m

ais

forte

, con

side

rand

o ve

rdad

eiro

o q

ue c

om e

le c

onco

rda,

ou

se tr

ate

de c

ausa

s ou

do

que

for,

e co

mo

fals

o o

que

não

afin

a co

m e

le. V

ou e

xpor

-te

com

mai

or

clar

eza

min

ha m

anei

ra d

e pe

nsar

, poi

s qu

er p

arec

er-m

e qu

e nã

o a

apre

ende

ste

mui

to b

em.

Não

mui

to, p

or Z

eus,

resp

onde

u C

ebet

e.

XLI

X –

No

enta

nto,

pro

sseg

uiu,

o q

ue e

u di

go n

ão é

nov

o, m

as o

que

sem

pre

afirm

ei,

tant

o no

utra

s oc

asiõ

es c

omo

em n

ossa

arg

umen

taçã

o re

cent

e. V

ou te

ntar

mos

trar-

te a

na

ture

za d

a ca

usa

por m

im e

stud

ada,

vol

tand

o a

trata

r daq

uilo

mes

mo

de q

ue te

nho

fala

do

toda

a v

ida,

par

a, d

e sa

ída,

adm

itir q

ue e

xist

e o

belo

em

si,

e o

bem

, e o

gra

nde,

e tu

do o

m

ais

da m

esm

a es

péci

e. S

e m

e ac

eita

res

esse

pon

to e

con

cord

ares

que

exi

stem

, ten

ho

espe

ranç

a de

mos

trar-

te a

cau

sa e

pro

var a

imor

talid

ade

da a

lma.

Adm

ite q

ue já

con

cedi

tudo

, fal

ou C

ebet

e, p

ara

não

atra

sare

s a

inda

mai

s tu

a ex

posi

ção.

Entã

o, c

onsi

dera

o q

ue s

e se

gue,

con

tinuo

u, p

ara

ver s

e es

tás

de a

cord

o co

mig

o. O

qu

e m

e pa

rece

é q

ue s

e ex

iste

alg

o be

lo a

lém

do

belo

em

si,

só p

oder

á se

r bel

o po

r pa

rtici

par d

o be

lo e

m s

i. O

mes

mo

afirm

o de

tudo

o m

ais.

Adm

ites

essa

esp

écie

de

caus

a?

Adm

ito, r

espo

ndeu

.

Entã

o, já

não

com

pree

ndo,

con

tinuo

u, a

s ou

tras

caus

as, d

e pu

ra e

rudi

ção,

nem

co

nsig

o ex

plic

á-la

s. E

se, p

ara

justi

ficar

a b

elez

a de

alg

uma

coisa

, alg

uém

me

fala

r de

sua

cor b

rilha

nte,

ou

da fo

rma,

ou

do q

ue q

uer q

ue s

eja,

dei

xo tu

do o

mai

s de

lado

, que

cont

ribui

par

a at

rapa

lhar

-me,

e m

e at

enho

úni

ca e

sim

ples

men

te, t

alve

z m

esm

o co

m u

ma

boa

dose

de

inge

nuid

ade,

ao

meu

pon

to d

e vi

sta,

a s

aber

, que

nad

a m

ais

a de

ixa

bela

sen

ão

tão

só a

pre

senç

a ou

com

unic

ação

daq

uela

bel

eza

em si

m, q

ualq

uer q

ue se

ja o

mei

o ou

ca

min

ho d

e se

lhe

acre

scen

tar.

De

tudo

o m

ais

não

faço

gra

nde

cabe

dal;

o qu

e di

go é

que

é

pela

bel

eza

em s

i que

as

cois

as b

elas

são

bel

as. N

a m

inha

opi

nião

, ess

a é

a m

anei

ra m

ais

certa

de

resp

onde

r, ta

nto

a m

im m

esm

o co

mo

aos

outro

s. Fi

rman

do-m

e ne

ssa

posi

ção,

te

nho

certe

za d

e nã

o vi

r a c

air e

de

que

tant

o eu

com

o qu

alqu

er p

esso

a em

idên

ticas

ci

rcun

stân

cias

pod

erá

resp

onde

r com

seg

uran

ça q

ue é

pel

a be

leza

que

as

cois

as b

elas

são

be

las.

Não

te p

arec

e?

Sem

dúv

ida.

Com

o é

por m

eio

da g

rand

eza

que

o gr

ande

é g

rand

e e

o m

aior

é m

aior

, e p

elo

da

pequ

enez

que

o p

eque

no é

peq

ueno

.

Cer

to.

Logo

, tam

bém

não

con

cord

aria

s co

m q

ue d

isse

sse

que

um h

omem

é m

aior

do

que

outro

um

a ca

beça

, nem

que

é m

enor

é ta

mbé

m u

ma

cabe

ça m

enor

do

que

o pr

imei

ro, p

orém

pe

rsis

tiria

s na

def

esa

de tu

a pr

opos

ição

, de

que

na tu

a m

anei

ra d

e pe

nsar

tudo

o q

ue é

gr

ande

pode

ser

gra

nde

por c

ausa

da

gran

deza

, nad

a m

ais,

send

o es

ta, a

gra

ndez

a, q

ue

deix

a gr

ande

s as

coi

sas,

com

o o

pequ

eno

só s

erá

pequ

eno

por c

ausa

da

pequ

enez

, vin

do a

se

r ist

o m

esm

o, a

peq

uene

z, q

ue d

eixa

peq

ueno

o p

eque

no, d

e m

edo,

que

ro c

rer,

no c

aso

de

afirm

ares

que

um

hom

em é

mai

or o

u m

enor

do

que

o ou

tro u

ma

cabe

ça, q

ue p

udes

se

algu

ém o

bjet

ar-t

e, p

rimei

ro, q

ue é

pel

a m

esm

a co

isa

que

o m

aior

é m

aior

e o

men

or é

m

enor

; dep

ois,

que,

sen

do p

eque

na a

cab

eça,

é p

or m

eio

dela

que

o m

aior

é m

aior

,

verd

adei

ro d

ispa

rate

: vir

a se

r alg

uém

gra

nde

por c

ausa

do

que

é pe

quen

o. N

ão te

arr

ecei

as

diss

o?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u rin

do C

ebet

e.

Com

o ta

mbé

m re

cear

ias

dize

r, co

ntin

uou,

que

dez

e d

ois

mai

s do

que

oito

, sen

do

essa

a ra

zão

de u

ltrap

assá

-lo,

não

pel

a qu

antid

ade

e po

r cau

sa d

a qu

antid

ade,

com

o o

cúbi

to

mai

or é

um

a m

etad

e m

aior

do

que

o si

mpl

es, n

ão p

or c

ausa

da

gran

deza

. O p

erig

o é

o m

esm

o. Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

E en

tão?

No

caso

de

uma

unid

ade

ser a

cres

cent

ada

a ou

tra, n

ão te

rás

med

o de

diz

er

que

essa

adi

ção

foi a

cau

sa d

e fo

rmar

-se

o do

is, o

u, n

a hi

póte

se d

e se

r a u

nida

de c

orta

da a

o m

eio,

que

foi a

div

isão

? E

não

prot

esta

rias

em a

ltas

voze

s qu

e nã

o sa

bes

com

o um

a co

isa

poss

a tra

nsfo

rmar

-se

nout

ra, a

não

ser

pel

a pa

rtici

paçã

o da

ess

ênci

a pr

ópria

da

natu

reza

que

el

a pr

ópria

par

ticip

a e

que,

no

caso

con

cret

o da

ger

ação

do

dois

, não

sab

erás

info

rmar

out

ra

caus

a se

não

for a

par

ticip

ação

da

dual

idad

e? D

essa

dua

lidad

e é

que

terá

de

parti

cipa

r o q

ue

tiver

de

ficar

doi

s, co

mo

parti

cipa

rá d

a un

idad

e, tu

do o

que

vie

r a s

er u

m. Q

uant

o às

di

visõ

es e

acr

esce

ntam

ento

s e

dem

ais

sutil

ezas

do

mes

mo

gêne

ro, m

anda

rás

toda

s el

as

pass

ear,

deix

ando

o c

uida

do d

a re

spos

ta a

que

m fo

r mai

s sá

bio

do q

ue tu

. Qua

nto

a ti,

de

med

o, c

omo

se d

iz, d

a pr

ópria

som

bra

e de

tua

inex

periê

ncia

, e fi

rmad

o na

quel

e pr

essu

post

o se

gurís

sim

o, re

spon

deria

s da

quel

e je

ito. E

no

caso

de

inve

stir

o ad

vers

ário

co

ntra

tua

próp

ria te

se, n

ão lh

e da

rias

aten

ção

nem

resp

onde

rias

a el

e se

m p

rimei

ro

verif

icar

es s

e as

con

sequ

ênci

as d

e se

u po

stul

ado

são

diss

onan

tes

ou h

arm

ônic

as. E

na

hipó

tese

de

fund

amen

tar t

ua p

ropo

siçã

o, fá

-lo-i

as d

a m

esm

a fo

rma,

com

adm

itir u

m n

ovo

prin

cípi

o, q

ue s

e te

afig

uras

se m

ais

valio

so, a

té c

onse

guire

s re

sulta

do s

atis

fató

rio. A

o co

ntrá

rio d

os d

ispu

tado

res,

não

conf

undi

reis

com

sua

s co

nseq

uênc

ias

o pr

incí

pio

em

disc

ussã

o, c

aso

quis

esse

s al

canç

ar a

lgum

a re

alid

ade.

Com

est

a, a

o qu

e pa

rece

, é q

ue

nenh

um d

eles

se

preo

cupa

no

mín

imo.

Com

todo

o s

eu s

aber

, o q

ue fa

zem

é b

aral

har t

udo,

m

uito

s an

chos

de

si m

esm

os. T

u, p

orém

, se

te in

clui

s en

tre o

s fil

ósof

os, f

arás

o q

ue te

dis

se.

Fala

ste

a pu

ra v

erda

de, d

isse

ram

a u

m s

ó te

mpo

, Sím

ias

e C

ebet

e.

Equ

écrates–

Por

Zeu

s, Fe

dão,

nem

lhe

seria

pos

síve

l exp

ress

ar-s

e de

out

ro m

odo,

po

is m

e pa

rece

de

clar

eza

mer

idia

na s

emel

hant

e ex

plan

ação

, até

mes

mo

para

que

m fo

r do

tado

de

parc

o en

tend

imen

to.

Fedã

o–

Perf

eita

men

te, E

quéc

rate

s; to

dos

os c

ircun

stan

tes

fora

m d

esse

mes

mo

pare

cer. Equ

écrates–

Que

é ta

mbé

m o

de

todo

s nó

s qu

e nã

o pa

rtici

pam

os d

o co

lóqu

io e

te

ouvi

mos

nes

te m

omen

to.

L –

E de

pois

dis

so, o

que

dis

sera

m?

Fedã

o–

Segu

ndo

crei

o, d

epoi

s de

lhe

conc

eder

em e

sse

pont

o e

de a

dmiti

rem

a

exis

tênc

ia re

al d

as id

éias

e q

ue é

da

sua

parti

cipa

ção

que

as d

ifere

ntes

coi

sas r

eceb

em

dete

rmin

ação

par

ticul

ar, p

ergu

ntou

Sóc

rate

s o

segu

inte

: Se

é as

sim

que

fala

s, co

ntin

uou,

qu

ando

diz

es q

ue S

ímia

s é

mai

or d

o qu

e Só

crat

es p

orém

men

or d

o qu

e Fe

dão,

não

equ

ival

e is

so a

diz

er q

ue e

m S

ímia

s se

enc

ontra

m a

mba

s: g

rand

eza

e pe

quen

ez?

Sem

dúv

ida.

No

enta

nto,

adm

ites

que

a ex

pres

são:

Sím

ias

ultra

pass

a Só

crat

es, n

ão d

eve

ser t

omad

a no

sen

tido

liter

al; n

ão é

por

sua

pró

pria

nat

urez

a, p

or s

er S

ímia

s, qu

e el

e o

ultra

pass

a, m

as

por s

ua g

rand

eza

ocas

iona

l, co

mo

não

ultra

pass

a Só

crat

es p

or e

ste

ser S

ócra

tes,

mas

pel

a pe

quen

ez d

este

, no

que

ente

nde

com

a g

rand

eza

do o

utro

.

Cer

to.

Com

o ta

mbé

m e

le n

ão s

erá

ultra

pass

ado

por F

edão

, por

est

e se

r Fed

ão, m

as e

m

virtu

de d

a gr

ande

za d

e Fe

dão

em c

ompa

raçã

o co

m a

peq

uene

z de

Sím

ias.

Isso

mes

mo.

Des

se m

odo,

apl

ica-

se a

Sím

ias,

a um

tem

po, o

ape

lido

de g

rand

e e

de p

eque

no,

por e

star

ele

a m

eio

cam

inho

dos

doi

s, ex

cede

ndo

com

sua

gra

ndez

a a

pequ

enez

de

um

dele

s e

reco

nhec

endo

no

outro

a g

rand

eza

que

venc

e su

a pe

quen

ez. D

epoi

s, ac

resc

ento

u so

rrind

o: M

inha

ling

uage

m p

arec

e de

esc

rivão

; mas

o q

ue e

u di

sse

está

cer

to.

Con

cord

ou.

Fale

i des

se je

ito p

or d

esej

ar q

ue c

ompa

rtilh

es d

e m

inha

man

eira

de

pens

ar. O

que

me

pare

ce, é

que

tant

o a

gran

deza

em

si m

esm

a nã

o de

seja

ser

gra

nde

e pe

quen

a ao

mes

mo

tem

po, c

omo

a pr

ópria

gra

ndez

a pr

esen

te e

m n

ós n

ão a

ceita

jam

ais

acei

ta a

peq

uene

z ne

m

cons

ente

em

ser

ultr

apas

sada

. De

duas

um

a te

rá d

e se

r: ou

ela

foge

e s

ai d

o ca

min

ho q

uand

o de

la a

prox

ima

seu

cont

rário

, a p

eque

nez,

ou,

com

sua

che

gada

, dei

xa d

e ex

istir

. O q

ue d

e ne

nhum

mod

o de

seja

, hav

endo

adm

itido

e re

cebi

do a

peq

uene

z, s

em d

eixa

r de

ser o

que

er

a, c

ontin

uou

send

o pe

quen

o, a

o pa

sso

que

a gr

ande

za, c

om s

er g

rand

e, ja

mai

s co

nsen

te

em s

er p

eque

na. O

mes

mo

vale

par

a a

pequ

enez

em

nós

, que

nun

ca s

e de

cide

a to

rnar

-se

gran

de o

u a

ser i

sso

mes

mo,

o q

ue s

e ta

mbé

m s

e dá

com

todo

s os

con

trário

s, en

quan

to c

ada

um é

o q

ue é

, rec

usam

-se

a to

rnar

-se

e se

r ao

mes

mo

tem

po o

seu

con

trário

, ret

irand

o-se

ou

desa

pare

cend

o qu

ando

ess

a co

njun

tura

se

apre

sent

a.

É ex

atam

ente

ass

im q

ue e

u pe

nso,

obs

ervo

u C

ebet

e.

LI –

Nes

se in

stan

te u

m d

os p

rese

ntes

falo

u, n

ão s

aber

ei d

izer

com

seg

uran

ça q

uem

tiv

esse

sid

o: P

elos

deu

ses!

Em

nos

sa p

rátic

a de

pouc

o nã

o fo

i dito

just

amen

te o

opo

sto

do q

ue é

afir

mad

o ag

ora,

que

do

mai

or n

asce

o m

enor

, e v

ice-

vers

a, d

o m

enor

o m

aior

, e

que

essa

é, p

reci

sam

ente

, a m

anei

ra d

e na

scer

em o

s co

ntrá

rios,

de s

eus

resp

ectiv

os

cont

rário

s? N

o en

tant

o, q

uer p

arec

er-m

e qu

e af

irmas

te n

ão s

er is

so p

ossí

vel.

Sócr

ates

, que

se

incl

inar

a pa

ra m

elho

r ouv

i-lo

, ent

ão fa

lou:

A o

bser

vaçã

o é

cora

josa

, po

rém

não

apa

nhas

te b

em a

dife

renç

a en

tre o

que

foi d

ito a

ntes

e a

pre

sent

e af

irmat

iva.

O

que

entã

o di

ssem

os é

que

a c

oisa

con

trário

nas

ce d

a qu

e lh

e é

cont

rária

, por

ém a

gora

que

o

cont

rário

jam

ais

adm

ite s

er s

eu p

rópr

io c

ontrá

rio, n

em e

m n

ós n

em n

a na

ture

za. N

aque

la

ocas

ião,

meu

car

o, fa

láva

mos

de

cois

a qu

e tê

m c

ontrá

rios;

ago

ra, p

orém

trat

amos

dos

pr

óprio

s co

ntrá

rios

iner

ente

s as

coi

sas,

cuja

pre

senç

a em

pres

ta a

toda

s a

resp

ectiv

a de

sign

ação

. Ora

, o q

ue a

firm

amos

é q

ue e

sses

con

trário

s, ju

stam

ente

, não

adm

item

tra

nsiç

ão d

e um

par

a ou

tro.

Ao

dize

r iss

o, v

olto

u-se

par

a C

ebet

e e

lhe

falo

u: P

orve

ntur

a, C

ebet

e, lh

e di

sse,

de

ixou

-te

atra

palh

ado

a ob

jeçã

o de

ste

aqui

?

Não

é o

meu

cas

o, re

spon

deu

Ceb

ete,

con

quan

to n

ão p

ossa

diz

er q

ue tu

do p

ara

mim

es

teja

cla

ro.

Mas

o fa

to, p

ross

egui

u, é

que

já a

ssen

tam

os q

ue n

unca

o c

ontrá

rio p

ode

ser o

co

ntrá

rio d

e si

mes

mo.

Sem

a m

ínim

a re

striç

ão, f

oi a

sua

resp

osta

.

LII –

Ent

ão, c

onsi

dera

tam

bém

o s

egui

nte,

con

tinuo

u, p

ara

ver s

e es

tás

de a

cord

o co

mig

o. N

ão h

á al

gum

a co

isa

a qu

e da

mos

o n

ome

de q

uent

e, e

out

ra q

ue d

enom

inam

os

frio?

Sem

dúv

ida.

E se

rão,

por

vent

ura,

o m

esm

o qu

e a

neve

e o

fogo

?

Não

, por

Zeu

s; n

unca

afir

mei

sem

elha

nte

cois

a.

Logo

, o q

uent

e nã

o é

a m

esm

a co

isa

que

o fo

go, n

em o

frio

o m

esm

o qu

e a

neve

.

Exat

o.

Mas

, est

ou c

erto

de

que

tam

bém

adm

ires

que

nunc

a po

derá

a n

eve,

com

o ne

ve,

conf

orm

e di

ssem

os h

á po

uco,

dep

ois

de re

cebe

r o c

alor

, con

tinua

r a s

er o

que

era

: nev

e co

m

calo

r. C

om a

apr

oxim

ação

do

calo

r, ou

ela

se

retir

a ou

vem

a fe

nece

r.

Perf

eita

men

te.

Tal q

ual c

omo

o fo

go: c

om a

che

gada

do

frio

, ret

ira-s

e ou

per

ece;

de

jeito

nen

hum

, de

pois

de

rece

ber o

frio

, se

atre

veria

a s

er o

que

ant

es e

ra: f

ogo,

a u

m te

mpo

, e fr

io.

Fala

ste

com

mui

to a

certo

, obs

ervo

u.

Pode

aco

ntec

er, c

ontin

uou,

nal

guns

exe

mpl

os d

esse

tipo

, que

não

som

ente

a id

éia

em

si m

esm

a te

nha

o di

reito

de

cons

erva

r ete

rnam

ente

o m

esm

o no

me,

com

o ta

mbé

m a

lgo

dife

rent

e qu

e, s

em s

er d

aque

la id

éia,

apr

esen

ta-s

e, e

nqua

nto

exis

te, c

om s

ua fo

rma.

É

poss

ível

que

com

o se

guin

te e

xem

plo

eu d

eixe

mai

s cla

ro m

eu p

ensa

men

to. O

núm

ero

ímpa

r ter

á de

con

serv

ar s

empr

e es

se n

ome

com

o q

ue d

esig

nam

os. O

u nã

o?

Perf

eita

men

te.

Mas

, é s

ó co

m e

le q

ue is

so a

cont

ece

– é

o qu

e pe

rgun

to –

ou

com

mai

s alg

uma

coisa

qu

e, s

em s

er, d

e fa

to, o

ímpa

r em

si m

esm

o, a

o la

do d

o se

u pr

óprio

nom

e te

rá fo

rços

amen

te

de s

er s

empr

e de

nom

inad

o de

ssa

man

eira

, por

ser

de

tal n

atur

eza,

que

nun

ca p

ode

disp

ensa

r o

ímpa

r? C

om is

so, q

uero

refe

rir-m

e ao

que

se

pass

a co

m o

con

ceito

da

tríad

e e

mui

tos

outro

s da

mes

ma

espé

cie.

Con

side

ra a

pena

s o

núm

ero

três.

Não

te p

arec

e qu

e el

e pr

ecis

ará

sem

pre

ser d

esig

nado

, a u

m s

ó te

mpo

, pel

o se

u pr

óprio

nom

e e

pelo

do

ímpa

r, ap

esar

de

não

ser o

nom

e ím

par a

mes

ma

cois

a qu

e trê

s? S

eja

com

o fo

r, de

tal m

odo

é co

nstit

uída

a

natu

reza

do

três,

do c

inco

e d

e to

da u

ma

met

ade

dos

núm

eros

, que

ape

sar d

e ca

da u

m d

eles

o se

r a m

esm

a co

isa

que

o ím

par,

sem

pre

terã

o de

ser

ímpa

res.

O m

esm

o se

pas

sa c

om o

do

is, o

qua

tro e

toda

a o

utra

met

ade

dos

núm

eros

, que

, sem

ser

em o

par

, sem

pre

terã

o de

ser

pa

rtes.

Adm

ites

isso

ou

não?

Com

o nã

o ad

miti

r? F

oi a

sua

resp

osta

.

Pres

ta a

gora

ate

nção

, dis

se, a

o qu

e m

e di

spon

ho a

dem

onst

rar.

Trat

a-se

do

segu

inte

: é

fora

de

dúvi

da q

ue n

ão s

ão a

pena

s os

con

trário

s qu

e se

exc

luem

reci

proc

amen

te, m

as to

das

as c

oisa

s qu

e, s

em s

erem

con

trária

s en

tre s

i, nã

o ad

mite

m a

idéi

a co

ntrá

ria d

a qu

e lh

es é

pr

ópria

, à a

prox

imaç

ão d

a qu

al o

u ce

dem

o lu

gar o

u vê

m a

per

ecer

. Poi

s já

não

dis

sem

os

que

o nú

mer

o trê

s pr

imei

ro d

eixa

rá d

e ex

istir

ou

sofr

erá

seja

o q

ue fo

r, an

tes

de v

ir a

ficar

pa

r, po

r ser

, de

fato

, o q

ue é

, pre

cisa

men

te tr

ês?

É m

uito

cer

to, f

alou

Ceb

ete.

No

enta

nto,

con

tinuo

u, o

s nú

mer

os d

ois

e trê

s nã

o sã

o co

ntrá

rios

entre

si.

Nun

ca.

Logo

, não

são

ape

nas

as id

éias

con

trária

s qu

e nã

o ad

mite

m a

apr

oxim

ação

recí

proc

a;

há o

utra

s, ta

mbé

m, q

ue n

ão a

ceita

m e

ssa

apro

xim

ação

dos

con

trário

s.

É m

uito

cer

to o

que

afir

mas

, res

pond

eu.

LIII

– E

não

ach

aria

s bo

m, c

ontin

uou,

det

erm

inar

mos

, na

med

ida

do p

ossí

vel,

quai

s es

sas

idéi

as?

Perf

eita

men

te.

Não

ser

ão, C

ebet

e, p

ross

egui

u, a

s qu

e fo

rçam

as

cois

as d

e qu

e el

as s

e ap

oder

am a

co

nser

var t

anto

a s

ua p

rópr

ia fo

rma

com

o a

que

sem

pre

lhes

é c

ontrá

ria?

Que

que

res

dize

r com

isso

?

O q

ue d

ecla

ram

os n

este

mom

ento

. Com

o m

uito

bem

sab

es, t

odas

as

cois

as d

e qu

e se

ap

ossa

a id

éia

do n

úmer

o trê

s, ta

nto

terã

o, p

or fo

rça,

de

ser t

rês

com

o ím

pare

s.

É m

uito

cer

to.

Ora

bem

; o q

ue d

izem

os é

que

a id

éia

cont

rária

à fo

rma

eu a

con

stitu

i nun

ca p

ode

entra

r nel

a.

Nun

ca, d

e fa

to.

O q

ue a

con

stitu

i é a

idéi

a do

ímpa

r, nã

o é

isso

mes

mo?

Cer

to.

Com

o o

seu

cont

rário

é a

idéi

a do

par

.

Sem

dúv

ida.

Send

o as

sim

, no

três

jam

ais

entra

rá a

idéi

a de

par

.

Nun

ca.

Pelo

sim

ples

fato

de

o trê

s nã

o pa

rtici

par d

o pa

r.

Isso

mes

mo.

Vis

to s

er ím

par.

Exat

amen

te.

Pois

era

isso

, pre

cisa

men

te, q

ue e

u qu

eria

det

erm

inar

: as

cois

as q

ue, s

em s

erem

co

ntrá

rias

entre

si,

não

adm

item

o s

eu c

ontrá

rio. S

erá

o ca

so d

o trê

s qu

em, s

em s

er o

co

ntrá

rio d

o pa

r, de

form

a al

gum

a o

acei

ta, p

ois

ele

lhe

opõe

sem

pre

o se

u co

ntrá

rio, c

omo

faz

o do

is co

m o

ímpa

r, o

fogo

com

o fr

io e

um

infin

ito m

ais d

e ex

empl

os. D

ize-

me

agor

a se

não

con

clui

rias

que

não

é ap

enas

o c

ontrá

rio q

ue n

ão re

cebe

o s

eu c

ontrá

rio, p

orém

tudo

o

que

leva

a id

éia

do c

ontrá

rio d

a co

isa

que

o re

cebe

, não

adm

ite n

esta

o c

ontrá

rio d

aqui

lo

que

ele

leva

. Rec

apitu

lem

os tu

do o

que

dis

sem

os a

té a

qui,

pois

não

mal

em

ouv

ir a

mes

ma

coisa

vár

ias v

ezes

: O n

úmer

o ci

nco

não

adm

ite a

idéi

a de

par

, nem

o d

ez, o

dob

ro

daqu

ele,

a d

e ím

par.

Por s

ua v

ez, o

dup

lo é

o c

ontrá

rio d

e ou

tra c

oisa

, por

ém n

ão a

dmite

a

idéi

a do

ímpa

r, co

mo

tam

bém

não

a a

dmite

m o

s nú

mer

os s

esqu

iálte

ros,

o m

eio

e ou

tras

fraç

ões

do m

esm

o tip

o, n

em a

idéi

a de

todo

, de

terç

o e

de tu

do o

mai

s da

mes

ma

natu

reza

, se

é q

ue m

e ac

ompa

nhas

e e

stás

de

acor

do c

omig

o.

Não

som

ente

est

ou d

e in

teiro

aco

rdo,

dis

se, c

omo

te a

com

panh

o.

LIV

– E

ntão

, rep

ete

tudo

isso

do

com

eço,

con

tinuo

u, p

orém

não

me

resp

onda

com

m

inha

s pr

ópria

s pa

lavr

as, m

as d

e ou

tra fo

rma,

tom

ando

-me

com

o m

odel

o. O

que

dig

o é

que,

alé

m d

a re

spos

ta c

erta

que

eu

apre

sent

ei n

o co

meç

o, e

ncon

trou

outra

de

não

men

or

conf

ianç

a no

que

fico

u di

to d

epoi

s. D

e fa

to, s

e m

e pe

rgun

tass

es: Q

ue p

reci

sas

have

r no

corp

o pa

ra q

ue e

le fi

que

quen

te?

Não

te d

aria

a re

spos

ta, c

erta

, sem

dúv

ida,

por

ém in

gênu

a,

que

é o

calo

r, po

rém

out

ra m

uito

mai

s ap

rimor

ada,

com

bas

e em

nos

sa e

xpos

ição

ant

erio

r: fo

go. C

omo

tam

bém

se

me

perg

unta

sses

o q

ue p

reci

sa h

aver

no

corp

o, p

ara

que

ele

adoe

ça,

não

resp

onde

ria q

ue é

a d

oenç

a, p

orém

alg

uma

febr

e. E

no

caso

de

perg

unta

res

o qu

e

prec

isa

have

r num

núm

ero

para

ser

ímpa

r, nã

o m

e re

ferir

a a

impa

ridad

e, m

as à

unid

ade,

e

assi

m s

uces

siva

men

te. A

gora

se a

panh

aste

bem

meu

pen

sam

ento

.

À m

arav

ilha,

resp

onde

u.

Entã

o, m

e di

gas,

cont

inuo

u, q

ue p

reci

sa h

aver

no

corp

o pa

ra q

ue e

le v

iva?

Alm

a, re

spon

deu.

E se

mpr

e te

rá d

e se

r ass

im?

Por q

ue n

ão?

Foi s

ua re

spos

ta.

Logo

, tud

o o

de q

ue a

alm

a se

apo

dera

, a is

so e

la d

á vi

da?

É o

que

ela

faz,

de

fato

, res

pond

eu.

E po

rven

tura

hav

erá

algu

ma

cois

a co

ntrá

ria à

vida

? O

u nã

o há

?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

Que

é?

A m

orte

.

De

onde

vem

, que

a a

lma

nunc

a po

derá

ace

itar o

con

trário

daq

uilo

que

ela

sem

pre

traz

cons

igo;

é o

que

se

conc

lui d

e tu

do o

que

dis

sem

os a

té a

gora

.

Con

clus

ão c

ertís

sim

a, re

spon

deu

Ceb

ete.

LV –

E e

ntão

? O

que

não

adm

ite a

idéi

a do

par

, que

nom

e lh

e de

mos

ago

ra m

esm

o?

Ímpa

r, re

spon

deu.

E o

que

não

rece

be o

just

o, o

u nã

o re

cebe

o h

arm

ônic

o?

Des

arm

ônic

o, d

isse

, ou

inju

sto.

Mui

to b

em. E

o q

ue n

ão re

cebe

a m

orte

, com

o de

nom

inar

emos

?

Imor

tal,

foi a

sua

resp

osta

.

Ora

, a a

lma

não

rece

be a

mor

te.

Não

.

A a

lma

é, p

ois,

imor

tal?

Imor

tal.

Mui

to b

em. P

odem

os a

firm

ar, p

or c

onse

guin

te, q

ue is

so fi

cou

dem

onst

rado

? O

u co

mo

te p

arec

e?

Fico

u de

mon

stra

do à

saci

edad

e, S

ócra

tes.

E ag

ora,

Ceb

ete,

con

tinuo

u: s

e o

ímpa

r fos

se in

dest

rutív

el p

or fo

rça

das

cois

as, n

ão

teria

tam

bém

de

ser i

ndes

trutív

el o

três

?

Com

o nã

o?

E se

o n

ão-q

uent

e ta

mbé

m fo

sse

por n

eces

sida

de in

dest

rutív

el, s

empr

e qu

e al

guém

ap

roxi

mas

se d

a ne

ve o

fogo

, não

se

retir

aria

a n

eve

inta

cta

e se

m d

erre

ter-

se?

Não

pe

rece

ria, é

cla

ro, e

por

mai

s qu

e fic

asse

exp

osta

ao

calo

r, nã

o o

rece

beria

.

É m

uito

cer

to, r

espo

ndeu

.

Com

o ta

mbé

m, s

egun

do p

enso

, se

o nã

o-fr

io fo

sse

inde

stru

tível

por

nat

urez

a, e

al

guém

apr

oxim

asse

do

fogo

o fr

io, j

amai

s o

fogo

se

apag

aria

ou

viria

a fe

nece

r, po

rém

af

asta

r-se

-ia

incó

lum

e.

Nec

essa

riam

ente

, res

pond

eu.

E nã

o se

rá ta

mbé

m p

reci

so fa

larm

os n

esse

s m

esm

o te

rmos

no

que

ente

nde

com

o

mor

tal?

Se

o im

orta

l tam

bém

for i

mpe

recí

vel,

a al

ma,

sem

pre

que

a m

orte

se

apro

xim

ar

dela

, não

pod

erá

mor

rer;

pois

de

acor

do c

om o

que

dis

sem

os a

ntes

, ela

não

adm

itirá

a m

orte

ne

m v

irá a

mor

rer,

da m

esm

a fo

rma

que

o trê

s, co

nfor

me

vim

os, n

unca

pod

erá

ser p

ar, e

co

m e

le o

ímpa

r, ne

m o

fogo

fica

rá fr

io n

em o

cal

or q

ue h

á no

fogo

. Por

ém o

que

impe

de –

pode

ria a

lgué

m o

bjet

ar –

que

o ím

par,

mui

to e

mbo

ra n

ão fi

que

par à

apr

oxim

ação

do

par,

e so

bre

isso

, já

nos

decl

aram

os d

e ac

ordo

, ven

ha, d

e fa

to, a

per

ecer

, por

tran

sfor

mar

-se

em

par?

A q

uem

tal o

bjet

asse

, não

pod

ería

mos

resp

onde

r que

não

per

ece,

poi

s o

ímpa

r não

é

inde

stru

tível

. Por

ém s

e is

so h

ouve

sse

sido

ace

ito a

ntes

por

nós

, for

a fá

cil r

etor

quir

que

à ap

roxi

maç

ão d

o pa

ra o

ímpa

r e o

três

se

retir

am. D

a m

esm

a m

anei

ra re

spon

dería

mos

com

re

spei

to a

o ca

lor,

ao fo

go e

a tu

do o

mai

s. O

u nã

o?

Sem

dúv

ida.

Send

o as

sim

, ago

ra, c

om re

laçã

o ao

imor

tal,

uma

vez

adm

itido

por

nós

doi

s qu

e ta

mbé

m é

impe

recí

vel,

a al

ma,

terá

de

ser p

or fo

rça

impe

recí

vel.

Cas

o co

ntrá

rio,

prec

isar

íam

os la

nçar

mão

de

outro

arg

umen

to.

Não

por

cau

sa d

isso

, ret

orqu

iu; d

ifici

lmen

te p

oder

ia h

aver

que

não

adm

itiss

e a

dest

ruiç

ão, s

e o

imor

tal,

com

ser

ete

rno,

foss

e pa

ssív

el d

e ac

abar

.

LVI –

Qua

nto

a D

eus,

falo

u Só

crat

es, a

o qu

e su

ponh

o, e

à id

éia

da v

ida

e a

tudo

o

mai

s qu

e po

ssa

have

r de

imor

tal,

todo

s es

tão

de a

cord

o em

que

nun

ca p

odem

par

ecer

.

Sim

, por

Zeu

s, to

dos

os h

omen

s, re

spon

deu,

e, c

om m

aior

ia d

e ra

zões

, os

próp

rios

deus

es.

Era,

um

a ve

z qu

e o

imor

tal é

impe

recí

vel,

a al

ma,

sen

do im

orta

l, nã

o te

rá d

e se

r, da

m

esm

a fo

rma,

impe

recí

vel?

Forç

osam

ente

.

Logo

, com

o pa

rece

, ao

apr

oxim

ar-s

e do

s ho

men

s a

mor

te, o

que

nel

es fo

r mor

tal t

erá

de p

erec

er, e

nqua

nto

sua

porç

ão im

orta

l ced

e o

luga

r à m

orte

e c

ontin

ua s

ã e

inco

rrup

tível

.

Cla

ro.

É ce

rtíss

imo,

por

con

segu

inte

, Ceb

ete,

con

tinuo

u, s

er a

alm

a im

orta

l e im

pere

cíve

l, e

exis

tirem

real

men

te n

ossa

s al

mas

no

Had

es.

Enqu

anto

a m

im, S

ócra

tes,

falo

u C

ebet

e, n

ada

tenh

o a

obje

tar c

ontra

teus

ar

gum

ento

s, ne

m o

que

ale

gar p

ara

não

adm

iti-l

os. P

orém

no

caso

de

Sím

ias

ou q

ualq

uer

outro

que

rer d

izer

alg

uma

coisa

, far

á be

m e

m n

ão s

e co

nser

var c

alad

o, p

ois

não

sei q

ue

mel

hor o

portu

nida

de d

o qu

e es

ta p

oder

á en

cont

rar q

uem

se

disp

onha

a fa

lar o

u a

ouvi

r sej

a o

que

for a

resp

eito

des

tas

ques

tões

.

Eu ta

mbé

m, f

alou

Sím

ias,

não

vejo

razã

o pa

ra n

ão a

ceita

r o q

ue fo

i dito

. Dad

a,

poré

m, a

gra

ndez

a da

mat

éria

e p

or n

ão c

onfia

r mui

to n

a fr

aque

za d

e m

atér

ia e

por

não

co

nfia

r mui

to n

a fra

quez

a hu

man

a, s

ou fo

rçad

o a

decl

arar

que

ain

da a

limen

to a

lgum

as

dúvi

das

com

resp

eito

ao

que

foi e

xpla

nado

.

Não

é s

ó is

so, S

ímia

s, fa

lou

Sócr

ates

com

o m

uito

bem

te e

xprim

iste,

até

mes

mo

noss

as p

ropo

siçõ

es in

icia

is, p

or d

igna

s de

con

fianç

a qu

e pa

reça

m, p

reci

sam

ser

co

nsid

erad

as m

ais

a fu

ndo,

e, u

ma

vez

sufic

ient

emen

te a

nalis

adas

, est

ou c

erto

de

que

acom

panh

arei

s a

argu

men

taçã

o, n

a m

edid

a da

cap

acid

ade

de c

ompr

eens

ão d

o ho

mem

, até

qu

e, tu

do e

scla

reci

do, n

ada

mai

s te

nhai

s a

inve

stig

ar.

É m

uito

cer

to o

que

diz

es, r

espo

ndeu

.

LVII

– P

orém

dev

emos

sen

hore

s, co

nsid

erar

tam

bém

o s

egui

nte:

se

a al

ma

for

imor

tal,

exig

irá c

uida

dos

de n

ossa

par

te n

ão a

pena

s ne

sta

porç

ão d

o te

mpo

que

de

nom

inam

os v

ida,

sen

ão o

tem

po to

do e

m u

nive

rsal

, par

ecen

do q

ue s

e ex

põe

a um

gra

nde

perig

o qu

em n

ão a

tend

er e

sse

aspe

cto

da q

uest

ão. P

ois

se a

mor

te fo

sse

o fim

de

tudo

, que

im

ensa

van

tage

m n

ão s

eria

par

a os

des

ones

tos,

com

a m

orte

livr

arem

-se

do c

orpo

e d

a ru

inda

de m

uito

pró

pria

junt

amen

te c

om a

alm

a? A

gora

, por

ém, q

ue s

e no

s re

velo

u im

orta

l, nã

o re

sta

à alm

a ou

tra p

ossi

bilid

ade,

se

não

for t

orna

r-se

, qua

nto

poss

ível

, mel

hor e

mai

s se

nsat

a. A

o ch

egar

ao

Had

es, n

ada

mai

s le

va c

onsi

go a

não

ser

a in

stru

ção

e a

educ

ação

, ju

stam

ente

, ao

que

se d

iz, o

que

mai

s fa

vore

ce o

u pr

ejud

ica

o m

orto

des

de o

iníc

io d

e su

a vi

agem

par

a lá

. O q

ue c

onta

m é

o s

egui

nte:

ou

mor

rer a

lgué

m, o

dem

ônio

que

em

vid

a lh

e to

cou

por s

orte

se

enca

rreg

a de

levá

-lo

a um

luga

r em

que

se

reún

em o

s m

orto

s pa

ra s

erem

ju

lgad

os e

de

onde

são

con

duzi

dos

para

o H

ades

com

gui

as in

cum

bido

s de

indi

car-

lhes

o

cam

inho

. Dep

ois

de te

rem

o d

estin

o m

erec

ido

e de

lá p

erm

anec

erem

o te

mpo

indi

spen

sáve

l, ou

tro g

uia

os tr

az d

e vo

lta, a

pós

num

eros

os e

long

os p

erío

dos

de te

mpo

. Ess

e ca

min

ho n

ão

é o

que

diz

Téle

fo, d

e És

quilo

, ao

afirm

ar q

ue o

cam

inho

do

Had

es é

sim

ples

; a m

eu v

er

nem

é s

impl

es n

em ú

nico

. Se

foss

e o

caso

, ser

ia d

ispe

nsáv

el g

uia,

poi

s ni

ngué

m s

e pe

rde

onde

a e

stra

da é

um

a só

. O q

ue p

arec

e é

que

ele

é ch

eio

de v

olta

s e

bifu

rcaç

ões.

Dig

o is

so

com

bas

e no

s rit

os s

agra

dos

e ce

rimôn

ias

aqui

em

uso

. De

qual

quer

form

a, a

alm

a pr

uden

te

e m

oder

ada

acom

panh

a se

u gu

ia, p

erfe

itam

ente

con

scie

nte

do q

ue s

e pa

ssa

com

ela

; mas

, co

mo

diss

e há

pou

co, a

que

se

agar

ra a

vida

men

te a

o co

rpo

esvo

aça

dura

nte

mui

to te

mpo

em

torn

o de

le e

do

mun

do v

isív

el, e

dep

ois

de g

rand

e re

lutâ

ncia

e d

e so

frim

ento

s se

m

cont

a, é

por

fim

arr

asta

da d

ali,

à for

ça e

com

difi

culd

ade

pelo

dem

ônio

incu

mbi

do d

e co

nduz

i-la

. Um

a ve

z al

canç

ado

o lu

gar e

m q

ue s

e en

cont

ram

, out

ras

alm

as, a

que

se

acha

im

pura

pel

a pr

átic

a do

mal

, de

hom

icíd

ios

inju

stos

ou d

e cr

imes

sem

elha

ntes

, irm

ãos

daqu

eles

e ig

uais

aos

que

soe

m p

ratic

ar a

lmas

irm

ãs, d

e um

as a

lma

com

o es

sa to

das

se

afas

tam

, evi

tam

-na,

não

hav

endo

gui

a ne

m c

ompa

nhei

ro d

e jo

rnad

a qu

e co

m e

la s

e as

soci

e. T

omad

a de

gra

nde

perp

lexi

dade

, vag

ueia

por

todo

s os

luga

res

até

esco

ar-s

e ce

rto

tem

po, d

epoi

s do

que

a a

rras

ta a

Nec

essi

dade

par

a a

mor

adia

que

lhe

foi d

eter

min

ada.

A

que

atra

vess

ou a

vid

a co

m p

urez

a e

mod

eraç

ão e

alc

anço

u de

uses

por

gui

as e

co

mpa

nhei

ros

de jo

rnad

a, o

btém

mor

adia

apr

opria

da.

LVII

I – A

Ter

ra a

pres

enta

um

sem

-núm

ero

de lu

gare

s mar

avilh

osos

, não

send

o ne

m

de tã

o ex

tens

a ne

m d

a fo

rma

com

o a

imag

inam

as

que

se c

ompr

azem

em

dis

corr

er a

seu

re

spei

to, c

onfo

rme

algu

ém m

o de

mon

strou

.

Nes

sa a

ltura

falo

u Sí

mia

s: Q

ue q

uere

s di

zer c

om is

so, S

ócra

tes?

Sob

re a

Ter

ra e

u ta

mbé

m já

ouv

i diz

erem

mui

ta c

oisa

; por

ém n

ão o

de

que

te m

ostra

s co

nven

cido

. De

mui

to

bom

gra

do te

ouv

iria

fala

r a e

sse

resp

eito

.

Para

faze

r ess

a de

scriç

ão, S

ímia

s, nã

o m

e pa

rece

nec

essá

ria a

arte

de

Gla

uco.

Mas

o

que

se m

e af

igur

a m

ais

difíc

il do

que

a a

rte d

e G

lauc

o é

prov

ar a

sua

ver

acid

ade.

É

poss

ível

, até

, que

me

falte

cap

acid

ade

para

tant

o; p

orém

mes

mo

que

a tiv

esse

, o p

ouqu

inho

de v

ida

que

me

rest

a, S

ímia

s, nã

o ch

egar

ia p

ara

tão

long

a ex

posi

ção.

Con

tudo

não

vej

o im

pedi

men

to e

m e

xpor

-te

a id

éia

que

faço

da

form

a da

Ter

ra e

de

suas

dife

rent

es re

giõe

s.

Será

o s

ufic

ient

e, fa

lou

Sím

ias.

Para

com

eçar

, prin

cipi

ou, f

ique

i con

venc

ido

de q

ue, s

e a

Terr

a é

de fo

rma

esfé

rica

e es

tá c

oloc

ada

no m

eio

do c

éu, p

ara

não

cair

não

prec

isar

á ne

m d

e ar

nem

de

qual

quer

out

ra

nece

ssid

ade

da m

esm

a na

ture

za: p

or q

ue p

ara

sust

enta

r-se

é s

ufic

ient

e a

perfe

ita

unifo

rmid

ade

do c

éu e

seu

equ

ilíbr

io n

atur

al. P

ois

uma

coisa

em

equ

ilíbr

io n

atur

al. P

ois

uma

coisa

em

equ

ilíbr

io n

o m

eio

de q

ualq

uer e

lem

ento

hom

ogên

eo, n

ão s

e in

clin

ará,

no

mín

imo,

par

a ne

nhum

lado

, mas

se

cons

erva

rá s

empr

e fix

a e

no m

esm

o es

tado

. Foi

ess

e o

prim

eiro

pon

to, a

rrem

atou

, que

pas

sei a

adm

itir.

E co

m ra

zão,

obs

ervo

u Sí

mia

s.

Ao

depo

is, c

ontin

uou,

que

tam

bém

se

trata

de

algo

imen

sam

ente

gra

nde

e qu

e nó

s ou

tros,

mor

ador

es d

a re

gião

que

vai

do

Fási

s às

Col

unas

da

Hér

cule

s, oc

upam

os u

ma

porç

ão in

sign

ifica

nte

da te

rra,

em

torn

o do

mar

à fe

ição

de

form

igas

e rã

s na

beira

de

um

char

co. É

que

por

toda

a T

erra

mui

tas

con

cavi

dade

s, de

form

a e

tam

anho

var

iáve

is, p

ara

as q

uais

con

verg

e ág

ua, v

apor

e a

r. Po

rém

a p

rópr

ia te

rra

se a

cha

pura

no

céu

puro

, ond

e es

tão

os a

stro

s, de

nom

inad

o ét

er p

or q

uant

os c

ostu

mam

dis

corr

er s

obre

ess

as q

uest

ões,

cuja

bo

rra,

pre

cisa

men

te, é

tudo

aqu

ilo q

ue n

ão p

ára

de d

epos

itar-

se n

as c

avid

ades

da

terr

a.

Qua

nto

a nó

s, po

r não

per

cebe

mos

que

mor

amos

nes

sas

conc

avid

ades

, im

agin

amos

viv

er

em c

ima

da T

erra

com

o se

dar

ia c

om q

uem

mor

asse

no

mei

o do

mar

fund

o e

pens

asse

est

ar

na s

uper

fície

, e v

endo

atra

vés

da á

gua

o So

l e o

s ou

tros

astro

s, to

mar

ia o

mar

pel

o cé

u. P

or

indo

lênc

ia e

fraq

ueza

mui

to p

rópr

ias,

nunc

a su

biu

até

o es

pelh

o da

águ

a, n

em v

iu n

unca

, de

pois

de

emer

gir d

o m

ar e

de

leva

ntar

a c

abeç

a fo

ra d

a ág

ua n

a di

reçã

o de

sses

luga

res,

quan

to s

ão m

ais

puro

s e

mai

s lin

dos

do q

ue o

out

ro, o

que

tam

bém

não

pod

eria

ter o

uvid

o de

nen

hum

a te

stem

unha

ocu

lar.

É ex

atam

ente

o q

ue s

e dá

con

osco

. Hab

itant

es d

e um

a de

ssa

conc

avid

ades

da

Terr

a, im

agin

amos

mor

ar e

m c

ima

dela

, e d

amos

ao

ar o

nom

e de

u, c

omo

se o

ar f

osse

o p

rópr

io c

éu e

m q

ue s

e m

ovim

enta

m o

s as

tros.

É ig

ualz

inha

nos

sa

situ

ação

: por

indo

lênc

ia e

fraq

ueza

, não

som

os c

apaz

es d

e at

ingi

r o li

mite

ext

rem

o do

ar.

Pois

no

caso

de

cheg

ar a

lgué

m a

o ci

mo

ou d

e ad

quiri

r asa

s e

de v

oar,

emer

giria

e p

assa

ria a

ve

r com

o os

pei

xes

aqui

de

baix

o qu

ando

põe

m a

cab

eça

fora

da

água

e v

êem

o q

ue s

e pa

ssa

entre

nós

: de

igua

l mod

o ve

ria o

que

por l

á, e

no

caso

de

agüe

ntar

sua

nat

urez

a

por a

lgum

tem

po s

emel

hant

e vi

sta,

reco

nhec

eria

ser

aqu

ele

o ve

rdad

eiro

céu

, a v

erda

deira

lu

z e

a ve

rdad

eira

terr

a. S

im, p

orqu

e es

ta n

ossa

terr

a, a

s pe

dras

e to

da a

regi

ão q

ue n

os

circ

unda

est

ão e

stra

gada

s e

corr

oída

s, ta

l com

o co

rroí

do e

stá

pela

sal

suge

m tu

do o

que

no m

ar. N

ada

cres

ce n

o m

ar d

igno

de

men

ção,

nem

nada

per

feito

, por

ass

im d

izer

; ap

enas

cav

erna

s, ar

eia,

lam

a a

perd

er d

e vi

sta

e lo

do p

or o

nde

quer

que

haj

a te

rra,

nad

a, e

m

sum

a, q

ue s

upor

te c

otej

o co

m a

s co

isas

bel

as d

e no

sso

mun

do. M

as a

quel

as, p

or s

ua v

ez,

em c

onfr

onto

com

as

noss

as, d

e m

uito

as

ultra

pass

am. S

e fo

sse

opor

tuno

, con

tar-

vos-

ia um

be

lo m

ito, S

ímia

s, di

gno

de s

er o

uvid

o, d

e co

mo

é co

nstit

uída

ess

a te

rra

situ

ada

emba

ixo

do

céu.

Mas

nem

dúvi

da, S

ócra

tes,

falo

u Sí

mia

s; e

scut

arem

os te

u m

ito c

om o

mai

or

praz

er. LI

X –

O q

ue d

izem

, com

panh

eiro

, par

a co

meç

ar, é

que

ess

a te

rra

foss

e vi

sta

de c

ima

por a

lgué

m, p

arec

eria

um

des

ses

balõ

es d

e co

uro

de d

oze

peça

s de

cor

es d

ifere

ntes

, de

que

são

sim

ples

am

ostra

s as

cor

es c

onhe

cida

s en

tre n

ós q

ue o

s pi

ntor

es e

mpr

egam

. Tod

a aq

uela

te

rra

é as

sim

, por

ém d

e co

res

mui

to m

ais

pura

e b

rilha

ntes

; um

a pa

rte é

de

cor é

púr

pura

e

adm

irave

lmen

te b

ela;

out

ra é

dou

rada

; out

ra, a

inda

, com

ser

bra

nca,

é m

ais

alva

do

que

o gi

z e

a ne

ve, o

mes

mo

acon

tece

ndo

com

toda

s as

cor

es d

e qu

e é

feita

, em

mui

to m

aior

mer

o e

mai

s be

las

do q

ue q

uant

as p

ossa

mos

já te

r vis

to. P

ois

até

mes

mo

as c

onca

vida

des

da te

rra,

est

ando

che

ias

de a

r e d

e ág

ua, m

ostra

m u

ma

cor d

e br

ilho

espe

cial

, res

ulta

nte

da

mis

tura

de

toda

s as

cor

es, d

e fo

rma

que

a Te

rra

apre

sent

a co

lorid

o de

uni

form

e va

rieda

de.

Nes

sa te

rra

assi

m c

onst

ituíd

a, tu

do c

resc

e na

s m

esm

as p

ropo

rçõe

s: á

rvor

es, f

lore

s ou

frut

os.

Com

as m

onta

nhas

dá-

se o

mes

mo;

as

pedr

as, r

elat

ivam

ente

, são

mai

s m

acia

s e

trans

lúci

das

e de

cor

es m

uito

lind

as, d

as q

uais

são

par

cela

insi

gnifi

cant

e no

ssas

ped

razi

nhas

tão

apre

ciad

as: s

ardô

nica

s, ja

spe

e es

mer

alda

s, e

toda

s as

out

ras

da m

esm

a n

atur

eza.

As

de lá

o to

das

dess

e je

ito e

ain

da m

ais

bela

s. A

cau

sa d

isso

, vam

os e

ncon

trá-l

a no

fato

de

sere

m

pura

s aq

uela

s pe

dras

e n

ão fi

care

m e

stra

gada

s ne

m c

orro

ídas

, com

o as

nos

sas,

pela

pu

trefa

ção

e pa

la s

alsu

gem

que

con

verg

em p

ara

os lu

gare

s cá

de

baix

o e

que

defo

rmam

e

deix

am d

oent

e nã

o so

men

te a

s pe

dras

e o

sol

o, c

omo

tam

bém

os

anim

ais

e as

pla

ntas

. Tud

o iss

o en

feita

aqu

ela

terr

a, ta

mbé

m o

uro

e pr

ata

e o

que

mai

s ho

uver

do

mes

mo

gêne

ro, d

e ta

nta

refu

lgên

cia

tudo

em

tão

gran

de c

ópia

esp

alha

do p

ela

vast

idão

da

terr

a ,q

ue s

ua v

ista

é

verd

adei

ram

ente

edi

fican

te. E

xiste

m n

ela

anim

ais

em p

rofu

são,

e ta

mbé

m e

m p

arte

nas

m

arge

ns d

o ar

, com

o nó

s m

oram

os n

as d

o m

ar, e

m p

arte

nas

ilha

s ce

rcad

as d

e ar

, per

to d

os

cont

inen

tes.

Num

a pa

lavr

a: o

ar p

ara

eles

é c

om a

águ

a e

o m

ar p

ara

noss

as n

eces

sida

des,

assi

m c

omo

para

ele

s o

éter

é o

que

par

a nó

s é

o ar

. As

esta

ções

ent

re e

les

são

de ta

l mod

o te

mpe

rada

s, qu

e ni

ngué

m c

ai d

oent

e, v

iven

do to

dos

mui

to m

ais

tem

po d

o qu

e os

hom

ens

de b

aixo

. Qua

nto

à vis

ta, o

ouv

ido

o pe

nsam

ento

e d

emai

s at

ribut

os d

esse

gên

ero,

ele

s no

s ul

trapa

ssam

na

mes

ma

prop

orçã

o em

que

o a

r ven

ce e

m p

urez

a a

água

e o

éte

r o p

rópr

io a

r. H

á ta

mbé

m e

ntre

ele

s te

mpl

os e

bos

ques

sag

rado

s, no

s qu

ais

vive

r ef

etiv

amen

te a

s di

vind

ades

, bem

com

o vo

zes,

prof

ecia

s e

apar

içõe

s do

s de

uses

, que

é c

omo

se c

omun

icam

co

m e

les,

de ro

sto

a ro

sto.

Ade

mai

s, vê

em o

sol

, a lu

a e

as e

stre

las

com

são

na

real

idad

e,

anda

ndo

a pa

r com

tudo

isso

o re

stan

te d

e su

a be

m-a

vent

uran

ça.

LX –

Ass

im é

a n

atur

eza

da te

rra

em s

eu c

onju

nto

e da

s co

isas

que

a c

ircun

dam

. Nas

en

tranh

as d

a te

rra,

por

todo

o s

eu c

onto

rno

nota

m-s

e nu

mer

osas

con

cavi

dade

s, al

gum

asm

ais

prof

unda

s e

pate

ntes

do

que

esta

em

que

mor

amos

, out

ras

tam

bém

pro

fund

as, p

orém

co

m e

ntra

da m

ais

angu

sta

do q

ue a

nos

sa, h

aven

do, a

inda

, um

as ta

ntas

de

men

or fu

ndur

a,

poré

m m

ais

larg

as d

o qu

e es

ta. T

odas

ess

as re

giõe

s se

com

unic

am e

ntre

si e

m m

uito

s lu

gare

s po

r pas

sage

ns s

ubte

rrân

eas,

de la

rgur

a va

riáve

l, al

ém d

e po

ssuí

rem

out

ras

vias

de

aces

so. M

uita

águ

a co

rre

de u

ma

para

out

ra, c

omo

nos

gran

des

vaso

s, ha

vend

o, o

utro

ssim

, em

baix

o da

terr

a rio

s pe

rene

s de

gra

ndez

a de

scom

unal

, de

água

que

nte

e fr

ia, e

tam

bém

m

uito

fogo

e g

rand

es ri

os d

e fo

go, b

em c

omo

corr

ente

s de

lam

a líq

uida

, ora

mai

s lim

pa, o

ra

mai

s su

ja, t

al c

omo

ante

s de

lava

os

rios

de la

ma

da S

icíli

a, e

dep

ois

a pr

ópria

lava

. Ess

as

dife

rent

es re

giõe

s s

e en

chem

de

sem

elha

nte

mat

éria

, de

acor

do c

om a

dire

ção

ocas

iona

l da

corr

ente

. Ess

as á

guas

se

mov

imen

tam

par

a ci

ma

e pa

ra b

aixo

, com

o um

pên

dulo

col

ocad

o no

inte

rior d

a te

rra.

Sem

elha

nte

osci

laçã

o de

ve p

rovi

r do

segu

inte

: Ent

re a

s ab

ertu

ras

da

terr

a, u

ma

há p

artic

ular

men

te g

rand

e, q

ue a

atra

vess

a em

toda

a s

ua e

xten

são

e a

que

se

refe

re H

omer

o no

s se

guin

tes

term

os:

Essa

vor

agem

pro

fund

a qu

e em

bai

xo d

a te

rra

se e

ncon

tra, e

que

por

ele

mes

mo

e m

uito

s ou

tros

poet

as é

den

omin

ada

Tárta

ro. É

par

a es

sa a

bertu

ra q

ue c

onflu

em to

dos

os

rios,

com

o é

dela

, tam

bém

, que

todo

s pa

rtem

, adq

uirin

do c

ada

um a

s pr

oprie

dade

s do

te

rren

o po

r ond

e pa

ssam

. A ra

zão

de s

aíre

m d

e to

dos

os ri

os d

essa

abe

rtura

e d

e vo

ltare

m

para

ela

, é c

arec

erem

sua

s ág

uas

de fu

ndo

e de

bas

e; d

aí o

scila

rem

e fl

utua

rem

par

a ci

ma

e pa

ra b

aixo

. Con

corr

em p

ara

o m

esm

o ef

eito

o a

r e o

ven

to q

ue a

s en

volv

em, p

or

acom

panh

á-la

s ta

nto

quan

do s

e pr

ecip

itam

par

a as

regi

ões

do o

utro

lado

da

terr

a co

mo

quan

do s

e di

rigem

par

a o

lado

de

cá. E

ass

im c

omo

o so

pro

de q

uem

resp

ira s

e en

cont

ra e

m

cons

tant

e m

ovim

ento

, na

insp

iraçã

o e

na e

xpira

ção,

do

mes

mo

mod

o o

sopr

o pr

edom

inan

te

naqu

elas

regi

ões,

junt

amen

te c

om a

s ág

uas,

quan

do e

ntra

m e

qua

ndo

saem

, pro

duz

vent

os

de ir

resis

tível

vio

lênc

ia. A

o se

diri

gire

m a

s ág

uas

para

os

luga

res

que

deno

min

amos

de

baix

o, a

fluem

par

a os

leito

s da

s co

rren

tes

dess

e la

do e

os

ench

em, c

omo

nos

sist

emas

de

irrig

ação

; qua

ndo,

inve

rsam

ente

, os

aban

dona

m e

reto

rnam

par

a cá

, vol

tam

a e

nche

r os

dest

e la

do. U

ma

vez

chei

os, c

orre

m p

elos

can

ais

e pe

la te

rra,

seg

uind

o as

via

s na

tura

is d

o so

lo e

pas

sam

a fo

rmar

lago

s, m

ares

, rio

s e

font

es. D

e lá

, vol

tand

o a

mer

gulh

ar n

a te

rra,

de

pois

de

uma

parte

das

águ

as c

ircul

ar p

or m

aios

núm

ero

de re

giõe

s e

mai

s ex

tens

as,

enqu

anto

out

ras

faze

m tr

ajet

o pe

quen

o em

men

os lu

gare

s, la

nçam

-se

outra

vez

no

Tárta

ro,

algu

mas

mui

to m

ais

abai

xo d

o ní

vel e

m q

ue c

orria

m, o

utra

s um

pou

co m

enos

, con

quan

to

dese

mbo

quem

toda

s m

uito

aba

ixo

do p

onto

de

parti

da. A

lgun

s rio

s irr

ompe

m d

o la

do

opos

to d

a sa

ída,

out

ros

do m

esm

o la

do; s

im, c

asos

de d

escr

ever

em u

m c

írcul

o co

mpl

eto:

en

rola

ndo-

se u

ma

ou m

ais

veze

s em

torn

o da

terr

a, à

feiç

ão d

e se

rpen

tes,

desc

em o

mai

s

poss

ível

par

a de

nov

o se

lanç

arem

no

Tárta

ro. O

s rio

s de

am

bos

os la

dos

pode

m b

aixa

r até

o

cent

ro, p

orém

não

ultr

apas

sá-l

o, p

ois

de c

ada

lado

a m

arge

m d

esse

s rio

s é

de a

cliv

e ac

entu

ado.

LXI –

mui

tas

outra

s ca

udai

s do

mai

s va

riado

asp

ecto

, por

ém n

essa

mul

tidão

de

rios

há q

uatro

, par

ticul

arm

ente

, dos

qua

is o

mai

or e

mai

s af

asta

do d

o ce

ntro

, den

omin

ado

Oce

ano,

circ

unda

a T

erra

inte

ira. D

e fr

onte

des

te e

em

sen

tido

cont

rário

def

lui o

Aqu

eron

te,

que

além

de

atra

vess

ar m

uita

s re

giõe

s de

serta

s, co

rre

por b

aixo

da

terr

a, a

té a

lcan

çar a

La

goa

Aqu

erús

ia, p

ara

onde

vão

as

alm

as d

a m

aior

ia d

os m

orto

s, as

qua

is, d

epoi

s de

ali

perm

anec

erem

o te

mpo

mar

cado

pel

o de

stin

o, u

mas

mai

s ou

tras

men

os, s

ão re

envi

adas

par

a re

nasc

erem

em

ani

mai

s. O

terc

eiro

rio

irrom

pe d

entre

os

dois

prim

eiro

s, pa

ra la

nçar

-se,

pe

rto d

e su

a or

igem

, num

luga

r am

plo

e ch

eio

de fo

go, o

nde

form

a um

lago

mai

or d

o qu

e o

noss

o m

ar, d

e ág

ua e

lam

a fe

rven

tes.

Daí

, tor

vo d

e ta

nta

lam

a, d

escr

eve

um c

írcul

o e

depo

is

de c

onto

rnar

a te

rra

e at

rave

ssar

out

ros

luga

res,

atin

ge o

lim

ite e

xtre

mo

da L

agoa

A

quer

úsia

, sem

que

sua

s ág

uas

se m

istu

rem

com

as

dest

a. P

or fi

m, d

epoi

s de

mui

tas

volta

s se

mpr

e de

ntro

da

terr

a la

nça-

se n

a po

rção

mai

s ba

ixa

do T

árta

ro. E

sse

é qu

e te

m o

nom

e de

Pi

rifle

geto

nte,

cuj

as la

vas

joga

m p

artíc

ulas

inca

ndes

cent

es e

m d

iver

sos

pont

os d

a su

perf

ície

da

terr

a. D

efro

nte

dele

, por

sua

vez

, des

embo

ca o

qua

rto ri

o, a

prin

cípi

o nu

ma

regi

ão

selv

átic

a e

pavo

rosa

, e, a

o qu

e se

diz

, tod

a el

a de

col

orid

o az

ul e

scur

o, d

enom

inad

a Es

tígia

, se

ndo

cham

ada

Est

ige

a la

goa

em q

ue e

le v

em la

nçar

-se.

Dep

ois d

e ne

la c

air e

adq

uirir

em

suas

águ

as p

ropr

ieda

des

terr

ívei

s, af

unda

pel

a te

rra,

traç

ando

vol

tas

sem

con

ta e

m s

entid

o co

ntrá

rio às

do

Pirif

lege

tont

e, c

om o

qua

l vai

def

ront

ar-s

e no

lado

opo

sto

da la

goa

Aqu

erús

ia. S

uas

água

s, ta

mbé

m, n

ão s

e m

istu

ram

com

as

outra

s, vi

ndo

ele

a de

sagu

ar n

o Tá

rtaro

def

ront

e do

Piri

flege

tont

e. O

nom

e de

sse

rio, n

o di

zer d

os p

oeta

s, é

Cóc

ito.

LXII

– S

endo

ess

a a

disp

osiç

ão n

atur

al d

os ri

os, q

uand

o os

mor

tos

cheg

am a

o lo

cal

dete

rmin

ado

para

cad

a um

o s

eu d

emôn

io p

artic

ular

, ant

es d

e m

ais

nada

são

julg

ados

, tan

to

os q

ue le

vara

m v

ida

bela

e s

anta

com

o os

que

viv

eram

mal

. Os

clas

sific

ados

com

o de

pr

oced

imen

to m

edia

no, d

irige

m-s

e pa

ra o

Aqu

eron

te e

sob

em p

ara

as b

arca

s qu

e lh

es s

ão

dest

inad

as e

que

os

trans

porta

m p

ara

a la

goa.

Aí p

assa

m a

resi

dir e

se

purif

icam

, e n

o ca

so

de h

aver

em c

omet

ido

algu

ma

falta

, cum

prem

a p

ena

impo

sta

e sã

o ab

solv

idos

ou

reco

mpe

nsad

os, d

e ac

ordo

com

o m

érito

de

cada

um

. Os

reco

nhec

idam

ente

incu

ráve

is, p

or

caus

a da

eno

rmid

ade

de s

eus

crim

es, r

oubo

s de

tem

plos

, rep

etid

os e

gra

ves,

hom

icíd

ios

iníq

uos

e co

ntra

a le

i, e

mui

tos

outro

s do

mes

mo

tipo

que

se c

omet

em p

or a

í: es

ses

lanç

a-os

no

Tár

taro

a s

orte

mer

ecid

a, d

e on

de n

ão s

airã

o nu

nca

mai

s. O

s au

tore

s de

falta

s sa

náve

is,

embo

ra g

rave

s –

seria

o c

aso

dos

que,

num

mom

ento

de

cóle

ra, u

sara

m d

e vi

olên

cia

cont

ra

o pa

i ou

a m

ãe, m

as q

ue s

e ar

repe

nder

am o

rest

o da

vid

a, o

u os

que

se

torn

aram

hom

icid

as

por i

dênt

icos

mot

ivos

– to

dos

terã

o fa

talm

ente

de

ser l

ança

dos

o Tá

rtaro

. Por

ém m

ano

de

pois

de

ali c

aíre

m, a

s on

das

joga

m o

s as

sass

inos

par

a o

Cóc

ito, e

os

culp

ados

de

viol

ênci

a co

ntra

o p

ai e

a m

ãe p

ara

o Pi

rifle

geto

nte.

Arr

asta

dos,

assi

m, p

ela

corr

ente

za, q

uand

o at

inge

m a

Lag

oa A

quer

úsia

, alg

uns

cham

am a

voz

es o

s qu

e el

es m

esm

os m

atar

am, o

utro

s as

víti

mas

de

suas

vio

lênc

ias;

e a

o ac

orre

rem

todo

s a

seus

bra

dos,

impl

oram

per

mis

são

de

pass

ar p

ara

a la

goa

e de

ser

em re

cebi

dos.

Se c

onse

guem

com

ele

s qu

e os

ate

ndam

, in

gres

sam

na

lago

a, te

rmin

ando

logo

ali

seus

sofri

men

tos;

caso

con

trário

, são

mai

s um

a ve

z le

vado

s pa

ra o

Tár

taro

e d

este

, nov

amen

te, p

ara

os ri

os, p

rolo

ngan

do-s

e, d

essa

form

a, o

ca

stig

o at

é c

onse

guire

m o

per

dão

de s

uas

vítim

as. E

ssa

pena

lhes

é im

post

a pe

los

juíz

es.

Por ú

ltim

o, o

s qu

e sã

o re

conh

ecid

os c

omo

de v

ida

emin

ente

men

te s

anta

, fic

am d

ispe

nsad

os

de p

erm

anec

er n

essa

s m

orad

as s

ubte

rrân

eas

e, c

omo

egre

ssos

da

pris

ão a

tinge

m, a

s re

giõe

s pu

ras

e pa

ssam

a re

sidi

r na

terr

a. E

ntre

ess

es, o

s qu

e já

se

purif

icar

am s

ufic

ient

emen

te p

or

mei

o da

filo

sofia

, viv

em d

aí p

or d

iant

e se

m c

orpo

e v

ão p

ara

mor

adia

s ai

nda

mai

s be

las

do

que

as o

utra

s. D

esis

to d

e de

scre

vê-l

as, à

um

a, p

or n

ão s

er fá

cil t

aref

a, à

outra

s, po

r não

di

spor

ago

ra d

e te

mpo

par

a ta

nto.

Do

que

vos

expu

sem

os, S

ímia

s, pr

ecis

amos

tudo

faze

r pa

ra e

m v

ida

adqu

irir v

irtud

e e

sabe

doria

, poi

s be

la é

a re

com

pens

a e

infin

itam

ente

gra

nde

a es

pera

nça.

LXII

I – A

firm

ar, d

e m

odo

posi

tivo,

que

tudo

sej

a co

mo

acab

ei d

e ex

por,

não

é pr

óprio

de

hom

em s

ensa

to; m

as q

ue d

eve

ser a

ssim

mes

mo

ou q

uase

ass

im n

o qu

e di

z re

spei

to a

nos

sas

alm

as e

sua

s m

orad

as, s

endo

a a

lma

imor

tal c

omo

se n

os re

velo

u, é

pr

opos

ição

que

me

pare

ce d

igna

de

fé e

mui

to p

rópr

ia p

ara

reco

mpe

nsar

-nos

do

risco

em

qu

e in

corr

emos

por

ace

itá-l

a co

mo

tal.

É um

bel

o ris

co, e

is o

que

pre

cisa

mos

diz

er a

nós

m

esm

os à

guis

a da

form

ula

de e

ncan

tam

ento

. Ess

a é

a ra

zão

de m

e te

r alo

ngad

o ne

ste

mito

. C

onfia

do n

ele;

é q

ue p

ode

tranq

üiliz

ar-s

e co

m re

laçã

o a

sua

alm

a o

hom

em q

ue p

asso

u a

vida

sem

dar

o m

enor

apr

eço

aos

praz

eres

do

corp

o e

aos

cuid

ados

esp

ecia

is q

ue e

ste

requ

er, p

or c

onsi

derá

-los

est

ranh

os a

si m

esm

o e

capa

zes

de p

rodu

zir,

just

amen

te, o

efe

ito

opos

to. T

odo

entre

gue

aos

dele

ites

da in

stru

ção,

com

os

quai

s ad

orna

va a

alm

a, n

ão c

omo

se o

fize

sse

com

alg

o es

tranh

o a

ela,

por

ém c

omo

jóia

s da

mai

s fe

liz in

dica

ção:

tem

pera

nça,

ju

stiç

a, c

orag

em, n

obre

za e

ver

dade

, esp

era

o m

omen

to d

e pa

rtir p

ara

o H

ades

qua

ndo

o de

stin

o o

conv

ocar

. Vós

tam

bém

, Sím

ias

e C

ebet

e, a

cres

cent

ou, e

todo

s os

out

ros,

tere

is d

e fa

zer m

ais

tard

e es

sa v

iage

m, c

ada

um n

o se

u te

mpo

. A m

im, p

orém

, par

a fa

lar c

omo

heró

i trá

gico

, ago

ra m

esm

o ch

ama-

me

o de

stin

o. M

as e

sta

quas

e na

hor

a de

tom

ar o

ban

ho. A

cho

mel

hor f

azer

isso

ant

es d

e be

ber o

ven

eno,

par

a nã

o da

r às

mul

here

s o

traba

lho

de la

var o

ca

dáve

r. LXIV

– D

epoi

s de

diz

er e

ssas

pal

avra

s, fa

lou

Crit

ão: E

stá

bem

, Sóc

rate

s; p

orém

que

de

term

inaç

ões

me

deix

as o

u a

este

s aq

ui, a

resp

eito

de

teus

filh

os, o

u o

que

mai

s po

dere

mos

fa

zer p

or a

mor

de

ti, q

ue n

os fo

ra g

rato

exe

cuta

r?

O q

ue s

empr

e vo

s di

go, C

ritão

, foi

a s

ua re

spos

ta; n

ada

tenh

o a

acre

scen

tar:

se

cuid

arde

s de

vós

mes

mos

, tud

o o

que

fizer

des

será

tant

o po

r am

or d

e m

im e

dos

meu

s co

mo

de to

dos,

aind

a m

esm

o qu

e na

da m

e tiv

ésse

is p

rom

etid

o ne

ste

mom

ento

. Por

ém n

o ca

so d

e vo

s de

scui

dard

es d

e vó

s m

esm

os e

de

não

orie

ntar

des

a vi

da c

omo

que

no ra

stro

do

que

vos

diss

e ag

ora

e no

pas

sado

, por

mai

s nu

mer

osos

e s

olen

es q

ue fo

ssem

vos

sos

jura

men

tos

nest

e in

stan

te, n

ão a

vanç

arei

s um

úni

co p

asso

.

Qua

nto

a is

so, r

espo

ndeu

, esf

orça

r-no

s-em

os p

ara

vive

r des

sa m

anei

ra. M

as, c

omo

deve

mos

sep

ulta

r-te

?

Com

o qu

iser

des,

diss

e; b

asta

que

seg

urei

s de

ver

dade

e q

ue e

u nã

o vo

s es

cape

.

Dep

ois,

sorr

iu d

e m

ansi

nho

e di

sse,

olh

ando

par

a o

noss

o la

do: N

ão c

onsi

go,

senh

ores

, con

venc

er C

ritão

de

que

eu s

ou o

Sóc

rate

s qu

e ne

ste

mom

ento

con

vers

a co

m e

le

e co

men

ta s

eus

argu

men

tos;

tom

a-m

e po

r que

m e

le ir

á ve

r mor

to d

entro

de

pouc

o. P

or is

so

perg

unta

com

o de

verá

sep

ulta

r-m

e. Q

uant

o ao

que

vos

tenh

o di

to ta

ntas

vez

es, q

ue d

epoi

s de

beb

er o

ven

eno

não

ficar

ei c

onvo

sco

mai

s ire

i com

parti

lhar

da

dita

dos

bem

-

aven

tura

dos,

ele

acha

que

eu

só fa

lo a

ssim

par

a tra

nqüi

lizar

-vos

e a

mim

tam

bém

. Ser

vi-

me,

poi

s, de

fiad

or ju

nto

de C

ritão

, por

ém q

ue s

eja

essa

fian

ça o

opo

sto

da q

ue e

le p

rest

ou

pera

nte

os ju

ízes

. Em

penh

ou, e

ntão

, a p

alav

ra e

m c

omo

eu fi

caria

; por

vos

sa v

ez, a

firm

ai-lh

e, q

ue n

ão fi

care

i dep

ois

de m

orto

, por

ém s

aire

i daq

ui e

par

tirei

, par

a qu

e el

e se

mos

tre

mai

s pac

ient

e e

não

se a

flija

tant

o po

r min

ha c

ausa

, qua

ndo

vir q

ueim

arem

ou

ente

rrare

m

meu

cor

po, n

o pr

essu

post

o de

que

eu

este

ja s

ofre

ndo

enor

mem

ente

, nem

dig

a no

s m

eus

fune

rais

que

exp

õe S

ócra

tes,

ou o

car

rega

, ou

o se

pulta

. Fic

a sa

bend

o, c

ontin

uou,

meu

ad

mirá

vel C

ritão

, que

a im

prec

isão

da li

ngua

gem

, alé

m d

e se

r um

def

eito

em

si m

esm

a,

prod

uz m

al às

alm

as. I

mpo

rta c

riare

s co

rage

m e

diz

er q

ue é

meu

cor

po q

ue v

ais

ente

rrar

; de

pois

sep

ulta

-o c

omo

te a

prou

ver e

com

o te

par

ecer

mai

s de

aco

rdo

com

as

leis

.

LXV

– T

endo

aca

bado

de

fala

r, le

vant

ou-s

e e

foi p

ara

outro

com

parti

men

to, a

fim

de

banh

ar-s

e. C

ritão

o a

com

panh

ou; a

nós

man

dou

que

espe

ráss

emos

. Ali

ficam

os, e

ntão

, a

conv

ersa

r e c

omen

tar t

udo

o qu

e el

e di

sser

a e

a di

scor

rer s

obre

o n

osso

gra

nde

info

rtúni

o.

Sent

íam

os, e

m v

erda

de, c

omo

quem

hou

vess

e pe

rdid

o o

pai e

tive

sse

de fi

car ó

rfão

par

a o

rest

o da

vid

a. D

epoi

s de

tom

ar b

anho

, tro

uxer

am-l

he o

s filh

os –

doi

s ai

nda

eram

peq

ueno

s;

o ou

tro, m

ais

cres

cido

. – C

hega

ram

tam

bém

as

mul

here

s de

cas

a, c

om a

s qu

ais

ele

conv

erso

u na

fren

te d

e C

ritão

, e d

epoi

s de

lhes

hav

er fe

ito c

erta

s re

com

enda

ções

, ped

iu q

ue

retir

asse

m d

ali a

s mul

here

s e

os m

enin

os e

vei

o pa

ra o

nos

so la

do. O

sol

já e

stav

a qu

ase

a de

sapa

rece

r, po

is S

ócra

tes

havi

a fic

ado

lá d

entro

bas

tant

e te

mpo

. Ao

vir d

o ba

nho,

sen

tou-

se, p

orém

não

con

vers

ou m

uito

. Ach

egou

-se-

lhe

o co

mis

sário

dos

Onz

e, q

ue lh

e di

sse:

Sócr

ates

, fal

ou, d

e ti

não

tere

i de

quei

xar-

me

com

o do

s ou

tros,

que

se z

anga

m c

omig

o e

rom

pem

em

pal

avra

s e

prag

as, q

uand

o os

con

vido

a to

mar

o v

enen

o po

r det

erm

inaç

ão

supe

rior.

No

teu

caso

, pel

o co

ntrá

rio, d

uran

te to

do e

ste

tem

po e

em

vár

ias

outra

s op

ortu

nida

des,

pude

reco

nhec

er e

m ti

o h

omem

mai

s no

bre,

mai

s de

licad

o e

mel

hor d

e qu

anto

s pa

ra a

qui t

êm v

indo

. Hoj

e, e

spec

ialm

ente

, ten

ho c

erte

za d

e qu

e nã

o te

zan

gará

s co

mig

o, p

ois

sabe

s m

uito

bem

que

é d

os o

utro

s a

culp

a. E

ago

ra, j

á qu

e fic

aste

cie

nte

do

que

vim

anu

ncia

r-te

. Ade

us; s

upor

ta o

inev

itáve

l da

mel

hor m

anei

ra p

ossív

el.

E de

sata

ndo

a ch

orar

, deu

as

cost

as e

retir

ou-s

e. S

ócra

tes

olho

u pa

ra e

le d

isse

: Ade

us,

tam

bém

par

a ti;

fare

mos

isso

mes

mo.

Dep

ois,

volta

ndo-

se p

ara

o no

sso

lado

: Que

hom

em d

elic

ado!

Dis

se. D

uran

te to

do

este

tem

po ,

vinh

a se

mpr

e ve

r-m

e e

vária

s ve

zes

conv

erso

u co

mig

o. E

xcel

ente

cria

tura

. A

gora

mes

mo,

qua

nta

gene

rosi

dade

reve

la c

om e

sse

chor

o po

r min

ha c

ausa

! Por

ém v

amos

, C

ritão

; obe

deça

mos

-lhe

; tra

gam

logo

o v

enen

o, s

e es

tiver

pro

nto;

sen

ão, c

uide

de

prep

ará-

lo o

enc

arre

gado

dis

so.

Crit

ão o

bser

vou:

O q

ue e

u ac

ho, S

ócra

tes,

lhe

diss

e, é

que

o s

ol a

inda

est

á po

r cim

a da

s m

onta

nhas

; não

bai

xou

de to

do. S

ei ta

mbé

m q

ue m

uito

s to

mar

am o

ven

eno

bem

dep

ois

da in

timaç

ão e

de

com

erem

e b

eber

em à

farta

; sim

, alg

uns

mes

mo

depo

is d

e re

laçõ

es

amor

osas

com

que

lhe

apet

eces

se. N

ão te

apr

esse

s; te

mos

tem

po.

E Só

crat

es: É

nat

ural

, Crit

ão, a

ssim

falo

u, q

ue e

sses

tais

pro

cede

ssem

con

form

e di

sses

te, p

or im

agin

arem

que

diss

e lh

es a

dviri

a al

gum

a va

ntag

em. M

as é

tam

bém

nat

ural

o pr

oced

er e

u de

ssa

man

eira

, poi

s nã

o ve

jo o

que

pos

so v

ir a

lucr

ar e

m b

eber

o v

enen

o

um p

ouco

mai

s ta

rde,

se

não

for t

orna

r-m

e rid

ícul

o a

meu

s pr

óprio

s ol

hos,

por a

garr

ar-m

e de

ssa

man

eira

à vi

da e

tent

ar e

cono

miz

ar o

que

já n

ão e

xist

e. V

amos

, con

tinuo

u: o

bede

ce-

me

e só

faça

s o

que

eu d

igo.

LXV

I – O

uvin

do-o

, Crit

ão fe

z si

nal a

o m

enin

o qu

e se

enc

ontra

va m

ais

perto

. Est

e sa

iu e

vol

tou

pouc

o de

pois

em

com

panh

ia d

o en

carr

egad

o de

lhe

dar o

ven

eno,

que

já o

tra

zia

espr

emid

o na

taça

. Ao

ver o

hom

em, S

ócra

tes

perg

unto

u-lh

e. E

ago

ra, m

eu c

aro:

que

ente

ndes

des

tas

cois

as, q

ue p

reci

sare

i faz

er?

Nad

a m

ais,

resp

onde

u, d

o qu

e an

dar d

epoi

s de

beb

er, a

té s

entir

es p

eso

nas

pern

as, e

em

seg

uida

s de

itar-

te. A

ssim

o v

enen

o at

uará

.

Dep

ois

dess

as p

alav

ras,

este

ndeu

a S

ócra

tes

a ta

ça, q

ue a

tom

ou d

as m

ãos

dele

com

to

da a

tran

quili

dade

, sem

o m

enor

trem

or n

em a

ltera

ção

da c

or o

u da

s fe

içõe

s. M

irand

o po

r ba

ixo

o ho

mem

, com

aqu

ele

seu

olha

r de

tour

o, p

ergu

ntou

-lhe

: Que

me

dize

s? E

se e

u fiz

esse

um

a lib

ação

com

um

pou

quin

ho d

isto

aqui

? É

perm

itido

ou

não?

Só p

repa

ram

os, S

ócra

tes,

resp

onde

u, a

qua

ntid

ade

que

nos

pare

ce s

ufic

ient

e.

Com

pree

ndo,

retru

cou.

Mas

pel

o m

enos

é p

erm

itido

, e a

té u

m d

ever

, ped

ir ao

s de

uses

qu

e fa

çam

feliz

a p

assa

gem

des

te m

undo

par

a o

outro

. É o

que

peç

o. P

rouv

era

que

me

aten

dam

!

Dep

ois

de a

ssim

fala

r, le

vou

a ta

ça a

os lá

bios

e c

om to

da a

nat

ural

idad

e, s

em v

acila

r um

nad

a, b

ebeu

até

à úl

tima

gota

. Até

ess

e m

omen

to, q

uase

todo

s tín

ham

os c

onse

guid

o re

ter a

s lá

grim

as; p

orém

qua

ndo

o vi

mos

beb

er e

que

hav

ia b

ebid

o tu

do, n

ingu

ém m

ais

ague

ntou

. Eu

tam

bém

não

me

cont

ive:

cho

rei à

lágr

ima

viva

. Cob

rindo

a c

abeç

a, la

stim

ei o

m

eu in

fortú

nio;

sim

, não

era

por

des

graç

a qu

e eu

cho

rava

, mas

a m

inha

pró

pria

sor

te, p

or

ver d

e qu

e es

péci

e de

am

igo

me

veria

priv

ado.

Crit

ão le

vant

ou-s

e an

tes

de m

im, p

or n

ão

pode

r ret

er a

s lá

grim

as. A

polo

doro

, que

des

de o

com

eço

não

havi

a pa

rado

de

chor

ar, p

ôs s

e a

urra

r, co

mov

endo

seu

pra

nto

e la

men

taçõ

es a

té o

íntim

o to

dos

os p

rese

ntes

, com

exc

eção

do

pró

prio

Sóc

rate

s.

Que

é is

so, g

ente

inco

mpr

eens

ível

? Pe

rgun

tou.

Man

dei s

air a

s m

ulhe

res,

para

evi

tar

esse

s ex

ager

os. S

empr

e so

ube

que

só s

e de

ve m

orre

r com

pal

avra

s de

bom

ago

uro.

A

calm

ai-vo

s! S

ede

hom

ens!

Ouv

indo

-o fa

lar d

essa

man

eira

, sen

timo-

nos

enve

rgon

hado

s e

para

mos

de

chor

ar. E

el

e, s

em d

eixa

r de

anda

r, ao

sen

tir a

s pe

rnas

pes

adas

, dei

tou-

se d

e co

stas

, com

o re

com

enda

ra o

hom

em d

o ve

neno

. Est

e, a

inte

rval

os, a

palp

ava-

lhe

os p

és e

as

pern

as.

Dep

ois,

aper

tand

o co

m m

ais

forç

a os

pés

, per

gunt

ou s

e se

ntia

alg

uma

cois

a. R

espo

ndeu

que

o. D

e se

guid

a, s

em d

eixa

r de

com

prim

ir-l

he a

per

na, d

o ar

telh

o pa

ra c

ima,

mos

trou-

nos

que

com

eçav

a a

ficar

frio

e a

enr

ijece

r. A

palp

ando

-o m

ais

uma

vez,

dec

laro

u-no

s qu

e no

m

omen

to e

m q

ue a

quilo

che

gass

e ao

cor

ação

, ele

par

tiria

. Já

se lh

e tin

ha e

sfria

do q

uase

to

do o

bai

xo-v

entre

, qua

ndo,

des

cobr

indo

o ro

sto

– po

is o

hav

ia ta

pado

ant

es –

dis

se, e

fo

ram

sua

s úl

timas

pal

avra

s: C

ritão

, exc

lam

ou, d

evem

os u

m g

alo

a A

sclé

pio.

Não

te

esqu

eças

de

sald

ar e

ssa

dívi

da!

Ass

im fa

rei,

resp

onde

u C

ritão

, vê

se q

uere

s di

zer m

ais a

lgum

a co

isa.

A e

ssa

perg

unta

, já

não

resp

onde

u. D

ecor

rido

mai

s al

gum

tem

po, d

eu u

m e

stre

meç

ão.

O h

omem

o d

esco

briu

; tin

ha o

olh

ar p

arad

o. P

erce

bend

o is

so, C

ritão

fech

ou-l

he o

s ol

hos

e a

boca

. Tal f

oi o

fim

do

noss

o am

igo,

Equ

écra

tes,

do h

omem

, pod

emos

afir

má-

lo, q

ue e

ntre

to

dos

os q

ue n

os fo

i dad

o co

nhec

er, e

ra o

mel

hor e

tam

bém

o m

ais

sábi

o e

mai

s ju

sto.

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