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Versão eletrônica do diálogo platônico “Fedão” Tradução: Carlos Alberto Nunes Créditos da digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis/ A distribuição desse arquivo (e de outros baseados nele) é livre, desde que se dê os créditos da digitalização aos membros do grupo Acrópolis e se cite o endereço da homepage do grupo no corpo do texto do arquivo em questão, tal como está acima. FEDÃO I – Estiveste tu mesmo, Fedão, junto de Sócrates no dia em que ele tomou veneno na prisão, ou ouviste de alguém? Fedão – Não, eu mesmo, Equécrates. Equécrates – Então, que disse o homem antes de morrer? E como foi a sua morte? Gostaria de saber tudo o que se passou. Recentemente, nenhum cidadão de Fliunte tem ido a Atenas, e há muito não nos vêm de lá forasteiros capazes de dar-nos informações seguras, salvo dizerem que morreu depois de tomar o veneno. Quanto ao mais, nada informam de particular. Fedão – E também não ouviste contar como foi o julgamento? Equécrates – Ouvimos, sim; alguém nos falou nisso. Surpreendeu- nos, justamente, ter sido bem antes o julgamento e ele só vir a morrer muito depois. Que aconteceu, Fedão? Fedão – Foi tudo obra do acaso, Equécrates, o que se passou com ele. Precisamente na véspera do julgamento coroaram a popa do navio que os Atenienses enviam a Delo. Equécrates – Que é isso? Fedão – Segundo os Atenienses, é o navio em que outrora Teseu levou para Creta as duas septenas de jovens, moços e moças, que ele salvou, salvando-se também. Nessa ocasião, segundo contam, prometeram a Apolo enviar anualmente uma deputação a Delo, no caso de se salvarem, e até hoje todos os anos vão em romaria à divindade. Desde o início dos preparativos da viagem, determina a lei que se proceda à purificação do burgo, não sendo permitido executar ninguém por crime público antes de chegar a Delo o navio e retornar de lá. Por vezes esse prazo fica muito dilatado, quando os ventos são adversos. O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme disse, na véspera do julgamento. Esse o motivo de ter estado Sócrates tanto tempo na prisão, desde o julgamento até à morte. II – Equécrates – E as condições em que morreu, Fedão? Quais foram suas palavras? Como se houve em tudo? Quais dos seus familiares se encontravam ao seu lado? Ou as autoridades não permitiram que entrassem, vindo ele a morrer privado de assistência dos amigos? Fedão – De forma alguma; vários estiveram presentes; em grande número, mesmo. Equécrates – Então, procura contar-nos com a maior exatidão possível como tudo se passou, no caso de dispores de folga. Fedão – Disponho, sim, e vou tentar expor-vos o que se deu. Para mim, nada é tão agradável como recordar-me de Sócrates, ou seja quando falo nele, ou quando ouço alguém falar a seu respeito. Equécrates – Pois podes ter a certeza, Fedão, de que teus ouvintes estão nessas mesmas condições. Esforça-te, portanto, para contar o caso com todas as minúcias. Fedão – Era por demais estranho o que eu sentia junto dele. Não podia lastimá-lo, como o faria perto de um ente querido no transe derradeiro. O homem me parecia felicíssimo, Equécrates, tanto nos gestos como nas palavras, reflexo exato da intrepidez e da nobreza com que se despedia da vida. Minha impressão naquele instante foi que sua passagem para o Hades não se dava sem disposição divina, e que, uma vez lá chegando, sentir-se-ia tão venturoso com os que mais o foram. Por isso mesmo, não me dominou nenhum sentimento de piedade, o que seria natural na presença de um moribundo. Também não me sentia alegre, como costumava ficar em nossa práticas sobre filosofia. Sim, porque toda nossa conversa girou em torno de temas filosóficos. Era um estado difícil de definir, misto insólito de alegria e tristeza, por lembrar-me de que ele iria morrer dentro de pouco. As mais pessoas presentes se encontravam em condições quase idênticas, umas rindo, outras chorando, principalmente Apolodoro. Conheces o homem e sabes como ele é. Equécrates – Sem dúvida. Fedão – Pois desse jeito se comportou o tempo todo. Eu também, fiquei muito abalado, a mesma coisa passando-se com os outros. Equécrates – E quem se achava lá, Fedão? Fedão – Além do mencionado Apolodoro, seus conterrâneos Critobulo e o pai, Hermógenes, Epígenes, Ésquines e Antístenes. Ctesipo de Peânia também esteve presente, Menéxeno e mais alguns da mesma região. Se não me engano, Platão se achava doente. Equécrates – E havia também estrangeiros? Fedão – Sim, os Tebanos Símias, Cebete e Fedondes; e de Mégara, Euclides e Térpsio. Equécrates – Nesse caso, Aristipo e Cleômbroto também estiveram com ele? Fedão – Não; falaram que se encontravam em Egina. Equécrates – Havia mais alguém? Fedão – Creio que eram só esses. Equécrates – E depois? Quais foram os discursos a que te referiste?

preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

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Ver

são

elet

rôni

ca d

o di

álog

o pl

atôn

ico

“Fed

ão”

Tr

aduç

ão: C

arlo

s A

lber

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Cré

dito

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dig

italiz

ação

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bros

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grup

o de

dis

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ão A

cróp

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sofia

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olis

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A d

istri

buiç

ão d

esse

arq

uivo

(e d

e ou

tros

base

ados

nel

e) é

livr

e, d

esde

que

se

dê o

s cr

édito

s da

dig

italiz

ação

aos

mem

bros

do

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po A

cróp

olis

e s

e ci

te o

end

ereç

o da

hom

epag

e do

gru

po n

o co

rpo

do te

xto

do a

rqui

vo e

m q

uest

ão, t

al c

omo

está

acim

a.

FEDÃO

I – E

stiv

este

tu m

esm

o, F

edão

, jun

to d

e Só

crat

es n

o di

a em

que

ele

tom

ou v

enen

o na

pr

isão,

ou

ouvi

ste d

e al

guém

?

Fedã

o–

Não

, eu

mes

mo,

Equ

écra

tes.

Equ

écrates–

Ent

ão, q

ue d

isse

o h

omem

ant

es d

e m

orre

r? E

com

o fo

i a s

ua m

orte

? G

osta

ria d

e sa

ber t

udo

o qu

e se

pas

sou.

Rec

ente

men

te, n

enhu

m c

idad

ão d

e Fl

iunt

e te

m id

o a

Ate

nas,

e há

mui

to n

ão n

os v

êm d

e lá

fora

stei

ros

capa

zes

de d

ar-n

os in

form

açõe

s se

gura

s, sa

lvo

dize

rem

que

mor

reu

depo

is d

e to

mar

o v

enen

o. Q

uant

o ao

mai

s, na

da in

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am d

e pa

rticu

lar.

Fedã

o–

E ta

mbé

m n

ão o

uvist

e co

ntar

com

o fo

i o ju

lgam

ento

?

Equ

écrates–

Ouv

imos

, sim

; alg

uém

nos

falo

u ni

sso.

Sur

pree

ndeu

- no

s, ju

stam

ente

, te

r sid

o be

m a

ntes

o ju

lgam

ento

e e

le s

ó vi

r a m

orre

r mui

to d

epoi

s. Q

ue a

cont

eceu

, Fed

ão?

Fedã

o–

Foi t

udo

obra

do

acas

o, E

quéc

rate

s, o

que

se p

asso

u co

m e

le. P

reci

sam

ente

na

vés

pera

do

julg

amen

to c

oroa

ram

a p

opa

do n

avio

que

os

Ate

nien

ses

envi

am a

Del

o.

Equ

écrates–

Que

é is

so?

Fedã

o–

Segu

ndo

os A

teni

ense

s, é

o na

vio

em q

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utro

ra T

eseu

levo

u pa

ra C

reta

as

duas

sep

tena

s de

jove

ns, m

oços

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oças

, que

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sal

vou,

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vand

o-se

tam

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. Nes

sa

ocas

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seg

undo

con

tam

, pro

met

eram

a A

polo

env

iar a

nual

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te u

ma

depu

taçã

o a

Del

o,

no c

aso

de s

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lvar

em, e

até

hoj

e to

dos

os a

nos

vão

em ro

mar

ia à

divi

ndad

e. D

esde

o in

ício

do

s pr

epar

ativ

os d

a vi

agem

, det

erm

ina

a le

i que

se

proc

eda

à pur

ifica

ção

do b

urgo

, não

se

ndo

perm

itido

exe

cuta

r nin

guém

por

crim

e pú

blic

o an

tes

de c

hega

r a D

elo

o na

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e re

torn

ar d

e lá

. Por

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es e

sse

praz

o fic

a m

uito

dila

tado

, qua

ndo

os v

ento

s sã

o ad

vers

os. O

in

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da

pere

grin

ação

é c

onta

do a

par

tir d

o m

omen

to e

m q

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sac

erdo

te d

e A

polo

cor

oa a

po

pa d

o na

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o q

ue s

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onfo

rme

diss

e, n

a vé

sper

a do

julg

amen

to. E

sse

o m

otiv

o de

te

r est

ado

Sócr

ates

tant

o te

mpo

na

pris

ão, d

esde

o ju

lgam

ento

até

à m

orte

.

II –Equ

écrates–

E a

s co

ndiç

ões

em q

ue m

orre

u, F

edão

? Q

uais

fora

m s

uas

pala

vras

? C

omo

se h

ouve

em

tudo

? Q

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dos

seu

s fa

mili

ares

se

enco

ntra

vam

ao

seu

lado

? O

u as

au

torid

ades

não

per

miti

ram

que

ent

rass

em, v

indo

ele

a m

orre

r priv

ado

de a

ssis

tênc

ia d

os

amig

os? Fedã

o–

De

form

a al

gum

a; v

ário

s es

tiver

am p

rese

ntes

; em

gra

nde

núm

ero,

mes

mo.

Equ

écrates–

Ent

ão, p

rocu

ra c

onta

r-no

s co

m a

mai

or e

xatid

ão p

ossí

vel c

omo

tudo

se

pass

ou, n

o ca

so d

e di

spor

es d

e fo

lga.

Fedã

o–

Dis

ponh

o, s

im, e

vou

tent

ar e

xpor

-vos

o q

ue s

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u. P

ara

mim

, nad

a é

tão

agra

dáve

l com

o re

cord

ar-m

e de

Sóc

rate

s, ou

sej

a qu

ando

falo

nel

e, o

u qu

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ouç

o al

guém

fa

lar a

seu

resp

eito

.

Equ

écrates–

Poi

s po

des

ter a

cer

teza

, Fed

ão, d

e qu

e te

us o

uvin

tes

estã

o ne

ssas

m

esm

as c

ondi

ções

. Esf

orça

-te,

por

tant

o, p

ara

cont

ar o

cas

o co

m to

das

as m

inúc

ias.

Fedã

o–

Era

por d

emai

s es

tranh

o o

que

eu s

entia

junt

o de

le. N

ão p

odia

last

imá-

lo,

com

o o

faria

per

to d

e um

ent

e qu

erid

o no

tran

se d

erra

deiro

. O h

omem

me

pare

cia

felic

íssi

mo,

Equ

écra

tes,

tant

o no

s ge

stos

com

o na

s pa

lavr

as, r

efle

xo e

xato

da

intre

pide

z e

da n

obre

za c

om q

ue s

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sped

ia d

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da. M

inha

impr

essã

o na

quel

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stan

te fo

i que

sua

pa

ssag

em p

ara

o H

ades

não

se

dava

sem

dis

posi

ção

divi

na, e

que

, um

a ve

z lá

che

gand

o,

sent

ir-se

-ia

tão

vent

uros

o co

m o

s qu

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ais

o fo

ram

. Por

isso

mes

mo,

não

me

dom

inou

ne

nhum

sen

timen

to d

e pi

edad

e, o

que

ser

ia n

atur

al n

a pr

esen

ça d

e um

mor

ibun

do. T

ambé

m

não

me

sent

ia a

legr

e, c

omo

cost

umav

a fic

ar e

m n

ossa

prá

ticas

sob

re fi

loso

fia. S

im, p

orqu

e to

da n

ossa

con

vers

a gi

rou

em to

rno

de te

mas

filo

sófic

os. E

ra u

m e

stado

difí

cil d

e de

finir,

m

isto

insó

lito

de a

legr

ia e

trist

eza,

por

lem

brar

-me

de q

ue e

le ir

ia m

orre

r den

tro d

e po

uco.

A

s m

ais

pess

oas

pres

ente

s se

enc

ontra

vam

em

con

diçõ

es q

uase

idên

ticas

, um

as ri

ndo,

ou

tras

chor

ando

, prin

cipa

lmen

te A

polo

doro

. Con

hece

s o

hom

em e

sab

es c

omo

ele

é.

Equ

écrates–

Sem

dúv

ida.

Fedã

o–

Pois

des

se je

ito s

e co

mpo

rtou

o te

mpo

todo

. Eu

tam

bém

, fiq

uei m

uito

ab

alad

o, a

mes

ma

cois

a pa

ssan

do-s

e co

m o

s ou

tros.

Equ

écrates–

E q

uem

se

acha

va lá

, Fed

ão?

Fedã

o–

Alé

m d

o m

enci

onad

o A

polo

doro

, seu

s co

nter

râne

os C

ritob

ulo

e o

pai,

Her

móg

enes

, Epí

gene

s, És

quin

es e

Ant

íste

nes.

Cte

sipo

de

Peân

ia ta

mbé

m e

stev

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esen

te,

Men

éxen

o e

mai

s al

guns

da

mes

ma

regi

ão. S

e nã

o m

e en

gano

, Pla

tão

se a

chav

a do

ente

.

Equ

écrates–

E h

avia

tam

bém

est

rang

eiro

s?

Fedã

o–

Sim

, os

Teba

nos

Sím

ias,

Ceb

ete

e Fe

dond

es; e

de

Még

ara,

Euc

lides

e

Térp

sio. Equ

écrates–

Nes

se c

aso,

Aris

tipo

e C

leôm

brot

o ta

mbé

m e

stiv

eram

com

ele

?

Fedã

o–

Não

; fal

aram

que

se

enco

ntra

vam

em

Egi

na.

Equ

écrates–

Hav

ia m

ais a

lgué

m?

Fedã

o–

Cre

io q

ue e

ram

esse

s.

Equ

écrates–

E d

epoi

s? Q

uais

fora

m o

s di

scur

sos

a qu

e te

refe

riste

?

Page 2: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

III –

Fedã

o–

Vou

esf

orça

r-m

e pa

ra c

onta

r tud

o do

com

eço.

Tal

com

o na

vés

pera

, to

dos

os d

ias

visi

táva

mos

Sóc

rate

s, e

desd

e a

man

hãzi

nha

íam

os e

ncon

trar-

nos n

o tri

buna

l em

que

se

deu

o ju

lgam

ento

. Fic

a pe

rto d

a ca

deia

. Ali

espe

ráva

mos

con

vers

ando

até

que

a

cade

ia a

bris

se, p

ois

não

cost

umam

abr

i-la

mui

to c

edo.

Por

ém lo

go q

ue is

so s

e da

va,

corr

íam

os p

ara

junt

o de

Sóc

rate

s e

quas

e se

mpr

e pa

ssáv

amos

com

ele

o d

ia to

do. N

essa

m

anhã

reun

imo-

nos

mai

s ce

do, p

orqu

e na

tard

e an

terio

r, ao

nos

retir

arm

os d

a pr

isão

, so

ubem

os q

ue o

nav

io c

hega

ra d

e D

elo.

Por

isso

, com

bina

mos

enc

ontra

r-no

s o

mai

s ce

do

poss

ível

no

luga

r hab

itual

. Ao

cheg

arm

os, o

por

teiro

que

cos

tum

ava

rece

ber-

nos

veio

ao

noss

o en

cont

ro p

ara

dize

r que

esp

erás

sem

os fo

ra e

não

ent

ráss

emos

sem

que

ele

nos

av

isas

se. N

este

mom

ento

, nos

dis

se, o

s O

nze

estã

o tir

ando

os

ferr

os d

e Só

crat

es e

lhe

com

unic

am q

ue h

oje

ele

terá

de

mor

rer.

Dep

ois

de a

lgum

tem

po, v

olto

u pa

ra d

izer

que

en

tráss

emos

. Ao

pene

trarm

os n

o re

cint

o, e

ncon

tram

os S

ócra

tes,

que

acab

ava

de s

er a

livia

do

dos

ferr

os, e

Xan

tipa

– co

nhec

e-la

dec

erto

– c

om o

filh

o pe

quen

o, s

enta

da ju

nto

do m

arid

o.

Ao

ver-

nos,

com

eçou

Xan

tipa

a la

stim

ar-s

e e

clam

ar c

omo

de h

ábito

nas

mul

here

s, di

zend

o: P

ela

últim

a ve

z, S

ócra

tes,

teus

am

igos

con

vers

arão

con

tigo,

e tu

com

ele

s. V

irand

o-se

par

a C

ritão

, Sóc

rate

s lh

e di

sse:

Crit

ão, l

eva-

a pa

ra c

asa.

A is

so, a

lgun

s do

s ho

men

s de

Crit

ão a

retir

aram

, não

ces

sand

o el

a de

grit

ar e

deb

ater

-se.

Sóc

rate

s, d

e se

u la

do,

sent

ado

no c

atre

, dob

rou

a pe

rna

sobr

e a

coxa

e c

omeç

ou a

fric

cion

á-la

dur

o co

m a

mão

, ao

mes

mo

tem

po q

ue d

izia

: Com

o é

extra

ordi

nário

, sen

hore

s, o

que

os h

omen

s de

nom

inam

pr

azer

, e c

omo

se a

ssoc

ia a

dmira

velm

ente

com

o s

ofrim

ento

, que

pas

sa, a

liás,

por

ser

o s

eu

cont

rário

. Não

gos

tam

de

ficar

junt

os n

o ho

mem

; mal

alg

uém

per

segu

e e

alca

nça

um d

eles

, de

regr

a é

obrig

ado

a ap

anha

r o o

utro

, com

o se

am

bos,

com

ser

em d

ois,

estiv

esse

m li

gado

s pe

la c

abeç

a. Q

uer p

arec

er-m

e, c

ontin

uou,

que

se

Esop

o ho

uves

se fe

ito e

ssa

obse

rvaç

ão, n

ão

deix

aria

de

com

por u

ma

fábu

la: R

esol

vend

o Ze

us p

ôr te

rmo

as s

uas

diss

ensõ

es c

ontín

uas,

e nã

o o

cons

egui

ndo,

uni

u-os

pel

a ex

trem

idad

e. P

or is

so, s

empr

e qu

e al

guém

alc

ança

um

de

les,

o ou

tro lh

e ve

m n

o ra

stro

. Meu

cas

o é

pare

cido

: apó

s o

incô

mod

o da

per

na c

ausa

da

pelo

s fe

rros

, seg

ue-s

e-lh

e o

praz

er.

IV –

Nes

ta a

ltura

, fal

ou C

ebet

e: P

or Z

eus,

Sócr

ates

, dis

se, f

oi b

om q

ue m

o le

mbr

asse

s. D

iver

sas

pess

oas

já m

e tê

m fa

lado

a re

spei

to d

os p

oem

as q

ue e

scre

vest

e,

apro

veita

ndo

as fá

bula

s de

Eso

po, e

do

hino

em

louv

or d

e A

polo

. Ant

eont

em m

esm

o, o

po

eta

Even

o m

e in

terp

elou

sob

re a

razã

o de

com

pore

s ve

rso

desd

e qu

e te

enc

ontra

s aq

ui, o

qu

e an

tes

nunc

a fiz

eras

. Se

te im

porta

dei

xar-

me

em c

ondi

ções

de

resp

onde

r a E

veno

qu

ando

ele

vol

tar a

fala

r-m

e a

esse

resp

eito

– e

tenh

o ce

rteza

de

que

o fa

rá –

instr

ui-m

e so

bre

o qu

e de

vere

i diz

er-l

he.

Entã

o di

ze-l

he a

ver

dade

, Ceb

ete,

repl

icou

: que

não

me

mov

ia o

des

ejo

de fa

zer-

lhe

conc

orrê

ncia

nem

aos

seu

s po

emas

, qua

ndo

com

pus

os m

eus,

o qu

e, a

liás,

tent

ativ

a pa

ra

rast

rear

o s

igni

ficad

o de

uns

son

hos

e cu

mpr

ir, a

ssim

, min

ha o

brig

ação

, no

sent

ido

de s

aber

se

era

ess

a a

mod

alid

ade

de m

úsic

a qu

e m

e re

com

enda

vam

com

insi

stên

cia.

É o

seg

uint

e:

Mui

tas

e m

uita

s ve

zes

em m

inha

vid

a pr

egre

ssa,

sob

form

as d

ifere

ntes

me

apar

eceu

um

so

nho,

por

ém d

izen

do s

empr

e a

mes

ma

cois

a: S

ócra

tes,

me

fala

va, c

ompõ

e m

úsic

a e

a ex

ecut

a. A

té a

gora

eu

esta

va c

onve

ncid

o de

ser

just

amen

te o

que

eu

fizer

a a

vida

toda

o q

ue

o so

nho

me

insin

uava

e c

onci

tava

a fa

zer,

à man

eira

de

com

o co

stum

amos

est

imul

ar o

s co

rred

ores

: des

se m

esm

o m

odo,

o s

onho

me

exor

tava

a p

ross

egui

r em

min

ha p

rátic

a ha

bitu

al, a

com

por m

úsic

a, p

or s

er a

Filo

sofia

a m

úsic

a m

ais

nobr

e e

a el

a eu

ded

icar

-me.

A

gora

, por

ém, d

epoi

s do

julg

amen

to e

por

hav

er o

fest

ival

do

deus

adi

ado

min

ha m

orte

,

perg

unte

i a m

im m

esm

o se

a m

úsic

a qu

e co

m ta

nta

insis

tênc

ia o

son

ho m

e m

anda

va

com

por n

ão s

eria

ess

a es

péci

e po

pula

r, te

ndo

conc

luíd

o qu

e o

que

impo

rtava

não

era

de

sobe

dece

r ao

sonh

o, p

orém

faze

r o q

ue e

le m

e or

dena

va. S

eria

mai

s se

guro

cum

prir

essa

ob

rigaç

ão a

ntes

de

parti

r, e

com

por p

oem

as e

m o

bedi

ênci

a ao

son

ho. A

ssim

, com

ecei

por

es

crev

er u

m h

ino

em lo

uvor

à di

vind

ade

cuja

fest

a en

tão

se c

eleb

rava

. Dep

ois

da d

ivin

dade

, co

nsid

eran

do q

ue q

uem

qui

ser s

er p

oeta

de

verd

ade

terá

de

com

por m

itos

e nã

o pa

lavr

as,

por s

aber

-me

inca

paz

de c

riar n

o do

mín

io d

a m

itolo

gia,

reco

rri à

s fa

bula

s de

Eso

po q

ue e

u sa

bia

de c

or e

tinh

a m

ais

à mão

, hav

endo

ver

sific

ado

as q

ue m

e oc

orre

ram

prim

eiro

.

V –

Isso

, Ceb

ete,

é o

que

dev

erás

diz

er a

Eve

no. A

pres

enta

-lhe

, tam

bém

, sau

daçõ

es

de m

inha

par

te, a

cres

cent

ando

que

, se

ele

for s

ábio

, dev

erá

segu

ir-m

e qu

anto

ant

es. P

arto

, ao

que

par

ece,

hoj

e m

esm

o; a

ssim

os

dete

rmin

am o

s A

teni

ense

s.

Sím

ias

excl

amou

: Que

con

selh

o, S

ócra

tes,

man

das

dar a

Eve

no! T

enho

est

ado

bast

ante

s ve

zes

com

o h

omem

, e p

or tu

do o

que

sei

del

e, n

ão te

rá g

rand

e de

sejo

de

acei

tar-

te a

indi

caçã

o.

Com

o as

sim?

Perg

unto

u; E

veno

não

é fi

lóso

fo?

Pens

o qu

e é,

retru

cou

Sím

ias.

Nes

se c

aso,

terá

de

acei

tá-l

a, ta

nto

Even

o co

mo

quem

que

r que

se

apliq

ue d

igna

men

te

a es

se e

stud

o. O

que

é p

reci

so é

não

em

preg

ar v

iolê

ncia

con

tra s

i pró

prio

. Diz

em q

ue is

so

não

é pe

rmiti

do.

Ass

im fa

land

o, s

ento

u-se

e a

poio

u no

chã

o os

pés

, per

man

ecen

do n

essa

pos

ição

, daí

po

r dia

nte,

dur

ante

todo

o te

mpo

da

conv

ersa

.

Nes

sa a

ltura

Ceb

ete

o in

terp

elou

: Por

que

dis

sest

e, S

ócra

tes,

que

não

é pe

rmiti

do a

ni

ngué

m e

mpr

egar

vio

lênc

ia c

ontra

si p

rópr

io, s

e, a

o m

esm

o te

mpo

, afir

mas

que

o fi

lóso

fo

dese

ja ir

apó

s de

que

m m

orre

?

Com

o, C

ebet

e, n

unca

ouv

iste

s na

da a

ess

e re

spei

to, t

u e

Sím

ias,

quan

do c

onvi

vest

es

com

Filo

lau?

Ouv

i, Só

crat

es, p

orém

mui

to p

ela

ram

a.

Sobr

e is

so e

u ta

mbé

m s

ó po

sso

fala

r de

outiv

a; p

orém

nad

a m

e im

pede

de

com

unic

ar-

vos

o qu

e se

i. Ta

lvez

, mes

mo,

sej

a a

quem

se

enco

ntra

no

pont

o de

imig

rar p

ara

o ou

tro

mun

do q

ue c

ompe

te in

vest

igar

ace

rca

dess

a vi

agem

e d

izer

com

o se

rá p

reci

so im

agin

á-la

. Q

ue m

elho

r coi

sa s

e po

derá

faze

r par

a pa

ssar

o te

mpo

até

sol

bai

xar?

VI –

Qua

l o m

otiv

o, e

ntão

, Sóc

rate

s, de

diz

erem

que

a n

ingu

ém é

per

miti

do s

uici

dar-

se?

De

fato

, sob

re o

que

me

perg

unta

ste,

ouv

i Filo

lau

afirm

ar, q

uand

o es

teve

ent

re n

ós, e

ta

mbé

m o

utra

s pe

ssoa

s, qu

e nã

o de

vem

os fa

zer i

sso.

Por

ém n

unca

ouv

i de

ning

uém

m

aior

es p

artic

ular

idad

es.

Page 3: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Entã

o, o

que

impo

rta é

não

des

anim

ares

, dis

se; é

pos

síve

l que

ain

da v

enha

s a

ouvi

-la

s. Ta

lvez

te p

areç

a es

tranh

o qu

e en

tre to

dos

os c

asos

sej

a es

te o

úni

co s

impl

es e

que

não

co

mpo

rte c

omo

os d

emai

s, de

cisõ

es a

rbitr

ária

s, se

gund

o as

circ

unst

ânci

as, a

sab

er: q

ue é

m

elho

r est

ar m

orto

do

que

vivo

. E h

aven

do p

esso

as p

ara

quem

a m

orte

, de

fato

, é

pref

erív

el, n

ão s

aber

ás d

ar a

razã

o de

ser

ved

ado

aos

hom

ens

proc

urar

em p

ara

si m

esm

os

sem

elha

nte

bene

fício

, mas

pre

cisa

rem

esp

erar

por

ben

feito

r est

ranh

o.

Itto

Zeus

, dis

ses

Ceb

ete

em s

eu d

iale

to, e

sboç

ando

um

sor

riso:

Deu

s o

sabe

rá.

Apa

rent

emen

te, c

ontin

uou

Sócr

ates

, iss

o ca

rece

de

lógi

ca; m

as o

fato

é q

ue te

m a

sua

ra

zão

de s

er. A

quilo

dos

mis

tério

s, de

que

nós

, hom

ens,

nos

enco

ntra

mos

num

a es

péci

e de

rcer

e qu

e no

s é

veda

do a

brir

para

esc

apar

, afig

ura-

me

de p

eso

e an

da fá

cil d

e en

tend

er.

Um

a co

isa, p

elo

men

os, C

ebet

e, m

e pa

rece

bem

enu

ncia

da: q

ue o

s de

uses

são

nos

sos

guar

diãe

s, e

nós,

hom

ens,

prop

rieda

de d

eles

. Ace

itas

esse

pon

to?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

Ceb

ete.

Tu ta

mbé

m, c

ontin

uou,

na

hipó

tese

de

algu

m d

os te

us e

scra

vos

pôr t

erm

o à v

ida,

sem

qu

e lh

es h

ouve

sse

dado

a e

nten

der q

ue e

stav

as d

e ac

ordo

em

que

se

mat

asse

, não

te

abor

rece

rias

com

ele

, e s

e fo

sse

poss

ível

, não

o p

uniri

as?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

Por c

onse

guin

te, n

ão a

cho

absu

rdo

ning

uém

pod

er m

atar

-se

sem

que

a d

ivin

dade

o

colo

que

ness

a co

ntin

gênc

ia, c

omo

é o

noss

o ca

so a

gora

.

VII

– E

ssa

parte

, obs

ervo

u C

ebet

e, ta

mbé

m m

e pa

rece

razo

ável

. Por

ém o

que

af

irmas

te a

ntes

, sob

re a

dis

posi

ção

do fi

lóso

fo p

ara

mor

rer,

é um

ver

dade

iro c

ontra

-sen

so,

Sócr

ates

, se

estiv

er c

erto

o q

ue d

isse

mos

pouc

o, q

ue D

eus

cuid

a de

nós

e q

ue s

omos

pr

oprie

dade

s de

le. Q

ue o

s in

diví

duos

mai

s sá

bios

se

insu

rjam

con

tra s

emel

hant

e tu

tela

e

proc

urem

evi

tá-l

a, q

uand

o a

exer

cem

, pre

cisa

men

te, o

s de

uses

, os

mel

hore

s di

rigen

tes,

é o

que

não

cheg

o a

com

pree

nder

. Poi

s ni

ngué

m o

usar

á di

zer q

ue sa

berá

cui

dar m

elho

r de

si

mes

mo,

um

a ve

z em

libe

rdad

e. U

m in

diví

duo

inse

nsat

o po

deria

raci

ocin

ar d

essa

man

eira

, po

r ach

ar b

om fu

gir d

o am

o, s

em c

onsi

dera

r que

não

se

deve

fugi

r do

bem

, mas

fica

r jun

to

dele

o m

aior

tem

po p

ossí

vel.

Foge

por

car

ecer

de

sens

o. O

indi

vídu

o in

telig

ente

, pel

o co

ntrá

rio, s

ó de

seja

con

tinua

r jun

to d

e qu

em lh

e se

ja s

uper

ior.

Por i

sso,

Sóc

rate

s, o

certo

é,

prec

isam

ente

, o o

post

o do

que

foi d

ito h

á po

uco:

aos

sáb

ios

é qu

e fic

a be

m in

surg

ir-s

e co

ntra

a id

éia

da m

orte

, e a

os in

sens

atos

, exu

ltar a

nte

essa

per

spec

tiva.

Ao

ouvi

-lo

assi

m fa

lar,

quis

par

ecer

-me

que

Sócr

ates

se

aleg

rava

com

a a

gude

za d

e C

ebet

e; d

epoi

s, vo

ltand

o-se

par

a no

sso

lado

, fal

ou: C

ebet

e an

da s

empr

e à c

ata

de

argu

men

tos,

sem

ace

itar d

e pr

onto

a o

pini

ão d

os o

utro

s.

Ao

que

Sím

ias

obse

rvou

: Por

ém q

uer p

arec

er-m

e, S

ócra

tes,

que

há b

asta

nte

sens

o na

s pa

lavr

as d

e C

ebet

e. N

ão s

e co

mpr

eend

e, d

e fa

to, q

ue in

diví

duos

ver

dade

iram

ente

sáb

ios

fuja

m d

e am

os m

elho

res

do q

ue e

les

e se

ale

grem

com

ess

a lib

erda

de. A

meu

ver

, o

argu

men

to d

e C

ebet

e va

i diri

gido

con

tra ti

, por

ace

itare

s à l

igei

ra a

idéi

a de

dei

xar-

nos,

e

tam

bém

aos

am

os c

uja

supe

riorid

ade

és o

prim

eiro

a p

rocl

amar

.

Tens

razã

o, o

bser

vou.

Pel

o qu

e ve

jo, s

ois

de p

arec

er q

ue p

reci

so d

efen

der-

me

dess

a ac

usaç

ão, c

omo

o fiz

no

tribu

nal.

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

Sím

ias.

VII

I – P

ois

que

seja

, dis

se. V

ejam

os s

e di

ante

de

vós

outro

s m

inha

def

esa

saíra

mai

s co

nvin

cent

e do

que

a fe

ita n

a fr

ente

dos

juíz

es. O

fato

, Sím

ias

e C

ebet

e, p

ross

egui

u, é

que

se

eu

não

acre

dita

sse,

prim

eiro

, que

vou

par

a ju

nto

de o

utro

s de

uses

, sáb

ios

e bo

ns, e

, de

pois

, par

a o

luga

r de

hom

ens

fale

cido

s m

uito

mel

hore

s do

que

os

daqu

i, co

met

eria

um

a gr

ande

err

o po

r não

me

insu

rgir

cont

ra a

mor

te. P

orém

pod

es fi

ar q

ue e

sper

o ju

ntar

-me

a ho

men

s de

bem

. Sob

re e

sse

pont

o nã

o m

e m

anife

sto c

om m

uita

seg

uran

ça; m

as n

o qu

e en

tend

e co

m m

inha

tran

sfer

ênci

a pa

ra ju

nto

de d

euse

s qu

e sã

o ex

cele

ntes

am

os: s

e há

o q

ue

eu d

efen

da c

om c

onvi

cção

é p

reci

sam

ente

isso

. Ess

e m

otiv

o de

não

me

revo

ltar a

idéi

a da

m

orte

. Pel

o co

ntrá

rio, t

enho

esp

eran

ça d

e qu

e al

gum

a co

isa

há p

ara

os m

orto

s, e,

de

acor

do

com

ant

iga

tradi

ção,

mui

to m

elho

r par

a os

bon

s do

que

par

a os

mau

s.

Com

o as

sim

, Sóc

rate

s, pe

rgun

tou

Sím

ias;

com

sem

elha

nte

conv

icçã

o qu

eres

dei

xar-

nos s

em n

o-la

dar

a c

onhe

cer?

Eu,

pel

o m

enos

, ach

o qu

e se

trat

a de

alg

o de

gra

nde

rele

vânc

ia p

ara

nós

todo

s. A

o m

esm

o te

mpo

, com

isso

fará

s a

tu a

def

esa,

se

com

o q

ue

diss

eres

con

segu

ires

conv

ence

r-no

s.

É o

que

vou

tent

ar, c

ontin

uou;

por

ém p

rimei

ro v

ejam

os o

que

o n

osso

Crit

ão h

á ta

nto

tem

po q

uer d

izer

-me.

Trat

a-se

ape

nas

do s

egui

nte,

Sóc

rate

s, fa

lou

Crit

ão: é

que

mui

to v

em in

sist

ido

com

igo

a pe

ssoa

enc

arre

gada

de

dar-

te o

ven

eno,

par

a av

isar

-te

de q

ue d

eves

con

vers

ar o

m

enos

pos

síve

l. C

onve

rsa

mui

to a

nim

ada

esqu

enta

, é o

que

ele

afir

ma,

e is

so p

reju

dica

a

ação

da

drog

a. D

o co

ntrá

rio, j

á te

m a

cont

ecid

o pr

ecis

ar to

mar

dua

s ou

três

dos

es q

uem

se

com

porta

des

se je

ito.

É Só

crat

es: M

anda

-o p

asse

ar! d

isse

. E q

ue p

repa

re d

ose

dupl

a, e

até

trip

la, s

e fo

r pr

ecis

o. Eu já

sab

ia m

ais

ou m

enos

o q

ue ir

ias

resp

onde

r, ob

serv

ou C

ritão

; mas

o h

omem

não

m

e da

va s

osse

go.

Dei

xa-o

, dis

se. E

ago

ra, j

uíze

s, pr

eten

do e

xpor

-vos

as

razõ

es d

e es

tar c

onve

ncid

o de

qu

e o

indi

vídu

o qu

e se

ded

icou

a v

ida

inte

ira à

Filo

sofia

, ter

á de

mos

trar-

se c

onfia

nte

na

hora

da

mor

te, p

ela

espe

ranç

a de

vir

a pa

rtici

par,

depo

is d

e m

orto

, dos

mai

s va

lioso

s be

ns.

Com

o po

derá

ser

des

sa m

anei

ra, S

ímia

s e

Ceb

ete,

é o

que

tent

arei

exp

licar

-vos

.

IX –

Em

bora

os

hom

ens

não

o pe

rceb

am, é

pos

síve

l que

todo

s os

que

se

dedi

cam

ve

rdad

eira

men

te à

Filo

sofia

, a n

ada

mai

s as

pire

m d

o qu

e a

mor

rer e

est

arem

mor

tos.

Send

o is

so u

m fa

to, s

eria

abs

urdo

, não

faze

ndo

outra

coi

sa o

filó

sofo

toda

a v

ida,

ao

cheg

ar e

sse

mom

ento

, ins

urgi

r-se

con

tra o

que

ele

mes

mo

pedi

ra c

om ta

l em

penh

o e

em p

ós d

o qu

e se

mpr

e se

afa

nara

.

Page 4: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Sím

ias,

entã

o, ri

ndo,

Por

Zeu

s, Só

crat

es, i

nter

rom

peu-

o; fi

zeste

-me

rir, e

m q

ue p

ese

à m

inha

falta

de

disp

osiç

ão p

ara

isso

. O q

ue p

enso

é q

ue, s

e os

hom

ens

te o

uvis

sem

dis

corr

er

dess

a m

anei

ra, a

char

iam

cer

to o

que

se

diz

dos

filós

ofos

– e

nes

se p

onto

con

taria

m c

om a

ap

rova

ção

de n

ossa

gen

te –

que

em

ver

dade

ele

s vi

vem

a m

orre

r, sa

bend

o pe

rfei

tam

ente

qu

e ou

tra c

oisa

não

mer

ecem

.

E só

diri

am a

ver

dade

, Sím

ias,

com

o ex

ceçã

o do

que

se

refe

re a

est

arem

cie

ntes

des

se

pont

o, p

ois,

de fa

to, n

ão s

abem

de

que

mod

o o

verd

adei

ro fi

lóso

fo d

esej

a a

mor

te, n

em

com

o po

de v

ir a

alca

nçá-

la. P

orém

dei

xem

os e

ssa

gent

e de

lado

e p

ergu

ntem

os a

nós

m

esm

os s

e ac

redi

tam

os q

ue a

mor

te s

eja

algu

ma

cois

a?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u Sí

mia

s.

Que

não

ser

á se

não

a se

para

ção

entre

a a

lma

e o

corp

o? M

orre

r, en

tão,

con

sist

irá e

m

apar

tar-

se d

a al

ma

o co

rpo,

fica

ndo

este

redu

zido

a s

i mes

mo

e, p

or o

utro

lado

, em

libe

rtar-

se d

o co

rpo

a al

ma

e is

olar

-se

em s

i mes

ma?

Ou

será

a m

orte

out

ra c

oisa

?

Não

; é is

so, p

reci

sam

ente

, res

pond

eu.

Con

side

ra a

gora

, meu

car

o, s

e pe

nsas

com

o eu

. Est

ou c

erto

de

que

dess

e m

odo

ficar

emos

con

hece

ndo

mel

hor o

que

nos

pro

pom

os in

vest

igar

. És

de o

pini

ão q

ue s

eja

próp

rio d

o fil

ósof

o es

forç

ar-s

e pa

ra a

aqu

isiç

ão d

os p

rete

nsos

pra

zere

s, ta

l com

o co

mer

e

bebe

r? De

form

a al

gum

a, S

ócra

tes,

repl

icou

Sím

ias.

E co

mo

rela

ção

aos

praz

eres

do

amor

?

A m

esm

a co

isa.

E os

dem

ais

praz

eres

, que

ent

ende

m c

om o

s cu

idad

os d

o co

rpo?

És

de p

arec

er q

ue

lhes

atri

bua

algu

m v

alor

? A

pos

se d

e ro

upas

vis

tosa

s, ou

de

calç

ados

e to

da a

sor

te d

e or

nam

ento

s do

cor

po, q

ue ta

l ach

as?

Eles

os

apre

cia

ou o

s de

spre

za n

o qu

e nã

o fo

r de

estri

ta n

eces

sida

de?

Eu, p

elo

men

os, r

espo

ndeu

, sou

de

pare

cer q

ue o

ver

dade

iro fi

lóso

fo o

s de

spre

za.

Send

o as

sim

, con

tinuo

u, n

ão a

chas

que

, de

mod

o ge

ral,

as p

reoc

upaç

ões

dess

a pe

ssoa

, nã

o vi

sam

ao

corp

o, p

orém

tend

em, n

a m

edid

a do

pos

síve

l, a

afas

tar-

se d

ele

para

ap

roxi

mar

-se

da a

lma?

É ta

mbé

m o

que

eu

pens

o.

Nis

to, p

or c

onse

guin

te, a

ntes

de

mai

s na

da, é

que

o fi

lóso

fo s

e di

fere

ncia

dos

dem

ais

hom

ens:

no

empe

nho

de re

tirar

qua

nto

poss

ível

a a

lma

na c

ompa

nhia

do

corp

o.

Evid

ente

men

te.

Essa

é a

razã

o, S

ímia

s, de

, na

opin

ião

da m

aior

ia d

os h

omen

s, nã

o m

erec

er v

iver

o

indi

vídu

o a

quem

nad

a di

sso

é ag

radá

vel e

que

não

se

impo

rta c

om ta

is p

rátic

as, p

or a

char

-se

mui

to m

ais

perto

da

cond

ição

de

mor

to e

por

não

dar

a m

enor

impo

rtânc

ia a

os p

raze

res

alca

nçad

os p

or in

term

édio

do

corp

o.

Tens

razã

o.

X –

E c

omo

refe

rênc

ia à

aqui

siçã

o do

con

heci

men

to?

O c

orpo

con

stitu

i ou

não

cons

titui

obs

tácu

lo, q

uand

o ch

amad

o pa

ra p

artic

ipar

da

pesq

uisa

? O

que

dig

o é

o se

guin

te:

a vi

sta

e o

ouvi

do a

sseg

uram

aos

hom

ens

algu

ma

verd

ade?

Ou

será

cer

to o

que

os

poet

as

não

se c

ansa

m d

e af

irmar

, que

nad

a ve

mos

nem

ouv

imos

com

exa

tidão

? O

ra, s

e es

ses

dois

se

ntid

os c

orpó

reos

não

são

nem

exa

tos

nem

de

conf

ianç

a, q

ue d

irem

os d

os d

emai

s, em

tudo

in

ferio

res

aos

prim

eiro

s? N

ão p

ensa

s de

sse

mod

o?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

Entã

o, p

ergu

ntou

, qua

ndo

é qu

e a

alm

a at

inge

a v

erda

de?

É fo

ra d

e dú

vida

que

, des

de

o m

omen

to e

m q

ue te

nta

inve

stig

ar a

lgo

na c

ompa

nhia

do

corp

o, v

ê se

logr

ada

por e

le.

Tens

razã

o.

E nã

o é

no p

ensa

men

to –

se

tiver

de

ser d

e al

gum

mod

o –

que

algo

da

real

idad

e se

lhe

pate

ntei

a?

Perf

eita

men

te.

Ora

, a a

lma

pens

a m

elho

r qua

ndo

não

tem

nad

a di

sso

a pe

rturb

á-la

, nem

a v

ista

nem

o

ouvi

do, n

em d

or n

em p

raze

r de

espé

cie

algu

ma,

e c

once

ntra

da a

o m

áxim

o em

si m

esm

a,

disp

ensa

a c

ompa

nhia

do

corp

o, e

vita

ndo

tant

o qu

anto

pos

síve

l qua

lque

r com

érci

o co

m e

le,

e es

forç

a-se

por

apr

eend

er a

ver

dade

.

Cer

to.

E nã

o é

ness

e es

tado

que

a a

lma

do fi

lóso

fo d

espr

eza

o co

rpo

e de

le fo

ge, t

raba

lhan

do

por c

once

ntra

r-se

em

si p

rópr

ia?

Evid

ente

men

te.

E co

m re

laçã

o ao

seg

uint

e, S

ímia

s: a

firm

arem

os o

u nã

o qu

e o

justo

em

si m

esm

o se

ja

algu

ma

coisa

?

Afir

mar

emos

, sem

dúv

ida,

por

Zeu

s.

E ta

mbé

m o

bel

o em

si e

o b

em?

Tam

bém

.

E al

gum

dia

já p

erce

best

e co

m o

s ol

hos

qual

quer

del

es?

Page 5: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Nun

ca, r

espo

ndeu

.

Ou

por i

nter

méd

io d

e ou

tro s

entid

o co

rpór

eo?

Ref

iro-m

e a

tudo

: gra

ndez

a, s

aúde

, fo

rça

e o

mai

s qu

e fo

r, nu

ma

pala

vra:

à es

sênc

ia d

e tu

do o

que

exi

ste,

con

form

e a

natu

reza

de

cad

a co

isa.

É p

or in

term

édio

do

corp

o qu

e pe

rceb

emos

o q

ue n

eles

de v

erda

deiro

, ou

tudo

se

pass

ará

da s

egui

nte

man

eira

: que

m d

e nó

s fic

ar e

m m

elho

res

cond

içõe

s de

pen

sar

em s

i mes

mo

o m

ais

exat

amen

te p

ossí

vel o

que

se

prop

õe e

xam

inar

, não

é e

sse

que

esta

mai

s pe

rto d

o co

nhec

imen

to d

e ca

da c

oisa

? O

u nã

o?

Perf

eita

men

te.

E nã

o al

canç

ará

sem

elha

nte

obje

tivo

da m

anei

ra m

ais

pura

que

m s

e ap

roxi

mar

de

cada

coi

sa s

ó co

m o

pen

sam

ento

, sem

arr

asta

r par

a a

refle

xão

a vi

sta

ou q

ualq

uer o

utro

se

ntid

o, n

em a

ssoc

iá-l

os a

seu

raci

ocín

io, p

orém

val

endo

-se

do p

ensa

men

to p

uro,

esf

orça

r-se

por

apr

eend

er a

real

idad

e de

cad

a co

isa

em s

ua m

aior

pur

eza,

apa

rtado

, qua

nto

poss

ível

, da

vis

ta e

do

ouvi

do, e

, por

ass

im d

izer

, de

todo

o c

orpo

, por

ser

o c

orpo

fato

r de

pertu

rbaç

ão p

ara

a al

ma

e im

pedi

-la

de a

lcan

çar a

ver

dade

e o

pen

sam

ento

, sem

pre

que

a el

e se

ass

ocia

? N

ão s

erá,

Sím

ias,

esse

indi

vídu

o, s

e ho

uver

alg

uém

em

tais

con

diçõ

es, q

ue

alca

nçar

a o

conh

ecim

ento

do

Ser?

Tens

toda

a ra

zão,

Sóc

rate

s, re

spon

deu

Sím

ias.

XI –

Por

tudo

isso

, con

tinuo

u, é

nat

ural

nas

cer n

o es

pírit

o do

s fil

ósof

os a

utên

ticos

ce

rta c

onvi

cção

que

os

leva

a d

isco

rrer

ent

re e

les

mai

s ou

men

os n

os s

egui

ntes

term

os: H

á de

hav

er p

ara

nós

outro

s al

gum

ata

lho

dire

to, q

uand

o o

raci

ocín

io n

os a

com

panh

a na

pe

squi

sa; p

orqu

e en

quan

to ti

verm

os c

orpo

e n

ossa

alm

a se

enc

ontra

r ato

lada

em

sua

co

rrup

ção,

jam

ais

pode

rem

os a

lcan

çar o

que

alm

ejam

os. E

o q

ue q

uere

mos

, dec

lare

mo-

lo

de u

ma

vez

por t

odas

, é a

ver

dade

. Não

têm

con

ta o

s em

bara

ços

que

o co

rpo

nos

apre

sta,

pe

la n

eces

sida

de d

e al

imen

tar-

se, s

em fa

larm

os n

as d

oenç

as in

terc

orre

ntes

, que

são

out

ros

empe

cilh

os n

a ca

ça d

a ve

rdad

e. C

om a

mor

es, r

ecei

os, c

upid

ez, i

mag

inaç

ões

de to

da a

es

péci

e e

um s

em n

úmer

o de

ban

alid

ades

, a ta

l pon

to e

le n

os s

atur

a, q

ue, d

e fa

to, c

omo

se

diz,

por

sua

cau

sa ja

mai

s co

nseg

uire

mos

alc

ança

r o c

onhe

cim

ento

do

quer

que

sej

a. M

ais,

aind

a: g

uerr

as, b

atal

has,

diss

ensõ

es, s

usci

ta-a

s ex

clus

ivam

ente

o c

orpo

com

seu

s ap

etite

s. O

utra

cau

sa n

ão tê

m a

s gu

erra

s se

não

o am

or d

o di

nhei

ro e

dos

ben

s qu

e no

s ve

mos

fo

rçad

os a

adq

uirir

por

cau

sa d

o co

rpo,

vis

to s

erm

os o

brig

ados

a s

ervi

-lo.

Se

care

cerm

os d

e va

gar p

ara

nos

dedi

carm

os à

Filo

sofia

, a c

ausa

é tu

do is

so q

ue e

num

eram

os. O

pio

r é q

ue,

mal

con

segu

imos

alg

uma

trégu

a e

nos

disp

omos

a re

fletir

sob

re d

eter

min

ado

pont

o, n

a m

esm

a ho

ra o

cor

po in

terv

ém p

ara

pertu

rbar

-nos

de

mil

mod

os, c

ausa

ndo

tum

ulto

e

inqu

ietu

de e

m n

ossa

inve

stiga

ção,

até

dei

xar-

nos

inte

iram

ente

inca

paze

s de

per

cebe

r a

verd

ade.

Por

out

ro la

do, e

nsin

a-no

s a

expe

riênc

ia q

ue, s

e qu

iser

mos

alc

ança

r o

conh

ecim

ento

pur

o de

alg

uma

cois

a, te

rem

os d

e se

para

r-no

s do

cor

po e

con

side

rar a

pena

s co

m a

alm

a co

mo

as c

oisa

s sã

o em

si m

esm

as. S

ó ne

ssas

con

diçõ

es, a

o qu

e pa

rece

, é q

ue

alca

nçar

emos

o q

ue d

esej

amos

e d

o qu

e no

s de

clar

amos

am

oros

os, a

sab

edor

ia, i

sto

é,

depo

is d

e m

orto

s, co

nfor

me

noss

o ar

gum

ento

o in

dica

, nun

ca e

nqua

nto

vive

rmos

. Ora

, se

real

men

te, n

a co

mpa

nhia

do

corp

o nã

o é

poss

ível

obt

er o

con

heci

men

to p

uro

do q

ue q

uer

que

seja

, de

duas

um

a te

rá d

e se

r: ou

jam

ais

cons

egui

rem

os a

dqui

rir e

sse

conh

ecim

ento

, ou

só o

fare

mos

dep

ois

de m

orto

s, po

is s

ó en

tão

a al

ma

se re

colh

erá

em s

i mes

ma,

sep

arad

a do

corp

o, n

unca

ant

es d

isso

. Ao

que

pare

ce, e

nqua

nto

vive

rmos

, a ú

nica

man

eira

de

ficar

mos

m

ais

perto

do

pens

amen

to, é

abs

term

o-no

s o

mai

s po

ssív

el d

a co

mpa

nhia

do

corp

o e

de

qual

quer

com

unic

ação

com

ele

, sal

vo e

est

ritam

ente

nec

essá

rio, s

em n

os d

eixa

rmos

sat

urar

de

sua

nat

urez

a se

m p

erm

itir q

ue n

os m

acul

e, a

té q

ue a

div

inda

de n

os v

enha

libe

rtar.

Puro

s, as

sim

, e li

vres

da

insa

nida

de d

o co

rpo,

com

toda

a p

roba

lidad

e no

s un

irem

os a

ser

es ig

uais

a

nós

e re

conh

ecer

emos

por

nós

mes

mos

o q

ue fo

r est

rem

e de

impu

reza

s. É

niss

o,

prov

avel

men

te, q

ue c

onsi

ste

a ve

rdad

e. N

ão é

per

miti

do a

o im

puro

ent

rar e

m c

onta

to c

om o

pu

ro. –

Eis

aí,

meu

car

o Sí

mia

s, qu

ero

crer

, o q

ue n

eces

saria

men

te p

ensa

m e

ntre

si e

co

nver

sam

uns

com

os

outro

s os

ver

dade

iros

aman

tes

da s

abed

oria

. Não

é e

sse,

tam

bém

, o

teu

mod

o de

pen

sar?

Perf

eita

men

te, S

ócra

tes.

XII

– P

or c

onse

guin

te, c

ompa

nhei

ro, c

ontin

uou

Sócr

ates

, se

tudo

isso

est

iver

cer

to, h

á m

uita

esp

eran

ça d

e qu

e so

men

te n

o po

nto

em q

ue m

e en

cont

ro, e

mai

s em

tem

po a

lgum

, é

que

algu

ém p

oder

á al

canç

ar o

que

dur

ante

a v

ida

cons

titui

nos

so ú

nico

obj

etiv

o. P

or is

so, a

vi

agem

que

me

foi a

gora

impo

sta

deve

ser

inic

iada

com

um

a bo

a es

pera

nça,

o q

ue s

e da

tam

bém

com

qua

ntos

tive

rem

cer

teza

de

acha

r-se

com

a m

ente

pre

para

da e

, de

algu

m

mod

o, p

ura.

Isso

mes

mo,

obs

ervo

u Sí

mia

s.

E pu

rific

ação

não

vem

a s

er, p

reci

sam

ente

, o q

ue d

isse

mos

ant

es: s

epar

ar d

o co

rpo,

qu

anto

pos

síve

l, a

alm

a, e

hab

ituá-

la a

con

cent

rar-

se e

a re

colh

er-s

e a

si m

esm

a, a

afa

star

-se

de to

das

as p

arte

s do

cor

po e

a v

iver

, ago

ra e

no

futu

ro, i

sola

da q

uant

o po

ssív

el e

por

si

mes

ma,

e c

omo

que

liber

tada

dos

gril

hões

do

corp

o?

É m

uito

cer

to, r

espo

ndeu

.

E o

que

deno

min

amos

mor

te, n

ão s

erá

a lib

eraç

ão d

a al

ma

e se

u ap

arta

men

to d

o co

rpo?

Sem

dúv

ida,

torn

ou a

fala

r.

E es

sa s

epar

ação

, com

o di

ssem

os, o

s qu

e m

ais

se e

sfor

çam

por

alc

ançá

-la

e os

úni

cos

a co

nseg

ui-l

a nã

o sã

o os

que

se

dedi

cam

ver

dade

iram

ente

à Fi

loso

fia, e

não

con

sist

e to

da a

at

ivid

ade

dos

filós

ofos

na

liber

taçã

o da

alm

a e

na s

ua s

epar

ação

do

corp

o?

Exat

o.

Send

o as

sim

, com

o di

sse

no c

omeç

o, n

ão s

eria

ridí

culo

pre

para

r-se

alg

uém

a v

ida

inte

ira p

ara

vive

r o m

ais

perto

pos

síve

l da

mor

te, e

revo

ltar-

se n

o in

stant

e em

que

ela

ch

ega? R

idíc

ulo,

com

o nã

o?

Logo

, Sím

ias,

cont

inuo

u, o

s qu

e pr

atic

am v

erda

deira

men

te a

Filo

sofia

, de

fato

se

prep

aram

par

a m

orre

r, se

ndo

eles

, de

todo

s os

hom

ens,

os q

ue m

enos

tem

or re

vela

m à

idéi

a

Page 6: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

da m

orte

. Bas

ta c

onsi

dera

rmos

o s

egui

nte:

se

de to

do o

jeito

ele

s de

spre

zam

o c

orpo

e

dese

jam

, aci

ma

de tu

do, f

icar

sós

com

a a

lma,

não

ser

ia o

cúm

ulo

do a

bsur

do m

ostra

r med

o e

revo

ltar-

se n

o in

stan

te e

m q

ue is

so a

cont

eces

se, e

m v

ez d

e pa

rtire

m c

onte

ntes

par

a on

de

espe

ram

alc

ança

r o q

ue a

vid

a in

teira

tant

o am

ara

– sim

, poi

s er

am ju

stam

ente

isso

: am

ante

s da

sab

edor

ia –

e fi

car l

ivre

s pa

ra s

empr

e da

com

panh

ia d

os q

ue o

s m

oles

tava

m?

Com

o!

Am

ores

hum

anos

, ant

e a

perd

a de

am

igos

, esp

osas

e fi

lhos

, têm

leva

do ta

nta

gent

e a

baix

ar

volu

ntar

iam

ente

, ao

Had

es, m

ovid

os a

pena

s da

esp

eran

ça d

e lá

reve

rem

o o

bjet

o de

seu

s an

elos

e d

e co

m e

les

conv

iver

em; n

o en

tant

o, q

uem

am

a de

ver

dade

a s

abed

oria

, e m

ais:

es

tá fi

rmem

ente

con

venc

ido

de q

ue e

m p

arte

alg

uma

pode

r enc

ontrá

-la

a nã

o se

r no

Had

es,

have

rá d

e in

surg

ir-se

con

tra a

mor

te, e

m v

ez d

e pa

rtir c

onte

nte

para

lá?

Sim

, é o

que

te

rem

os d

e ad

miti

r, m

eu c

aro,

se

se tr

atar

de

um v

erda

deiro

am

ante

da

sabe

doria

. Poi

s es

te

há d

e es

tar f

irmem

ente

con

venc

ido

de q

ue a

não

ser

lá, e

m p

arte

alg

uma

pode

rá e

ncon

trar a

ve

rdad

e em

toda

a s

ua p

urez

a. S

e as

coi

sas

se p

assa

m re

alm

ente

com

o ac

abo

de d

izer

, não

se

ria d

ar p

rova

de

inse

nsat

ez te

mer

a m

orte

sem

elha

nte

indi

vídu

o?

Sem

dúv

ida,

por

Zeu

s, fo

i a s

ua re

spos

ta.

XII

I – P

or c

onse

quên

cia,

con

tinuo

u, a

o vi

res

um h

omem

revo

ltar-

se n

o in

stan

te d

e m

orre

r, nã

o se

rá is

so p

rova

suf

icie

nte

de q

ue n

ão tr

ata

de u

m a

man

te d

a sa

bedo

ria, p

orém

am

ante

do

corp

o? U

m in

diví

duo

ness

as c

ondi

ções

, tam

bém

ser

á, p

ossi

velm

ente

, am

ante

do

dinh

eiro

ou

da fa

ma,

se

não

o fo

r de

ambo

s ao

mes

mo

tem

po.

É ex

atam

ente

com

o di

zes,

resp

onde

u.

E a

virtu

de d

enom

inad

a co

rage

m, S

ímia

s, pr

osse

guiu

, não

ass

enta

mar

avilh

osam

ente

be

m n

os in

diví

duos

com

ess

a di

spos

ição

?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

E a

tem

pera

nça,

o q

ue to

do o

mun

do c

ham

a te

mpe

ranç

a: n

ão d

eixa

r-se

dom

inar

pel

os

apet

ites,

poré

m d

espr

ezá-

los

e re

vela

r mod

eraç

ão, n

ão s

erá

qual

idad

e ap

enas

das

pes

soas

qu

e em

gra

u em

inen

tíssi

mo

desd

enha

m d

o co

rpo

e vi

vem

par

a a

Filo

sofia

?

Nec

essa

riam

ente

, foi

a re

spos

ta.

Se c

onsi

dera

res,

pros

segu

iu, n

os o

utro

s ho

men

s a

cora

gem

e a

tem

pera

nça,

hás

de

achá

-las

mai

s do

que

abs

urda

s.

Com

o as

sim

, Sóc

rate

s?

Igno

ras

porv

entu

ra, l

he d

isse,

que

na

opin

ião

de to

da a

gen

te a

mor

te s

e in

clui

ent

re

os d

enom

inad

os m

ales

?

Sei d

isso

, res

pond

eu.

E nã

o é

pelo

med

o de

um

mal

ain

da m

aior

que

enf

rent

am a

mor

te e

sses

indi

vídu

os

cora

joso

s, qu

ando

a e

nfre

ntam

.

Cer

to.

Logo

, é p

or m

edo

e te

mor

que

os

hom

ens

são

cora

joso

s, co

m e

xceç

ão d

os fi

lóso

fos,

mui

to e

mbo

ra s

e no

s af

igur

e pa

rado

xal s

er a

lgué

m c

oraj

oso

por t

emor

e p

usila

nim

idad

e.

Perf

eita

men

te.

E co

m o

s m

oder

ados

des

se ti

po, n

ão s

e pa

ssar

á a

mes

ma

cois

a, is

to é

, ser

em

mod

erad

os p

or a

lgum

des

regr

amen

to?

E co

nqua

nto

asse

vere

mos

não

ser

isso

pos

síve

l, é

o qu

e se

dá,

real

men

te, c

om a

tem

pera

nça

balo

fa d

essa

gen

te. D

e m

edo,

ape

nas,

de s

e pr

ivar

em d

e ce

rtos

praz

eres

por

ele

s co

biça

dos,

quan

do s

e ab

stêm

de

algu

ns é

por

que

outro

s o

dom

inam

. E e

mbo

ra c

ham

em in

tem

pera

nça

o se

r ven

cido

pel

os p

raze

res,

o qu

e se

com

to

dos

é qu

e o

dom

ínio

sob

re a

lgun

s pr

azer

es s

e fa

z à c

usta

de

serv

irem

a o

utro

s, o

que

vem

a

ser m

uito

par

ecid

o co

m o

que

pouc

o de

clar

ei, d

e se

r, de

alg

um m

odo,

a in

tem

pera

nça

que

os d

eixa

tem

pera

ntes

.

Pare

ce q

ue é

ass

im m

esm

o.

Mas

, meu

bem

ave

ntur

ado

Sím

ias,

essa

não

é a

man

eira

de

alca

nçar

a v

irtud

e, tr

ocar

un

s pr

azer

es p

or o

utro

s, tri

stez

as, o

u te

mor

es p

or te

mor

es d

e ou

tras

espé

cie,

com

o tro

cam

os

em m

iúdo

s m

oeda

de

mai

or v

alor

. Só

há u

ma

moe

da v

erda

deira

, pel

a qu

al tu

do is

so d

eva

ser t

roca

do: a

sab

edor

ia. E

por t

roca

com

ela

, ou

com

ela

mes

ma,

é q

ue e

m v

erda

de s

e co

mpr

a ou

se

vend

e tu

do is

to: c

orag

em, t

empe

ranç

a e

just

iça,

num

a pa

lavr

a, a

ver

dade

ira

virtu

de, a

par

da

sabe

doria

, pou

co im

porta

ndo

que

se lh

e as

soci

em o

u de

la s

e af

aste

m

praz

eres

ou

tem

ores

e tu

do o

mai

s da

mes

ma

natu

reza

. Sep

arad

as d

a sa

bedo

ria e

pe

rmut

adas

ent

re s

i, to

das

elas

não

são

mai

s do

que

som

bra

de v

irtud

e, s

ervi

s em

toda

a

linha

e s

em n

ada

poss

uíre

m d

e ve

rdad

eiro

nem

são

. A v

erda

de e

m s

i con

sist

e,

prec

isam

ente

, na

purif

icaç

ão d

e tu

do is

so, n

ão p

assa

ndo

a te

mpe

ranç

a, a

just

iça,

a c

orag

em

e a

próp

ria s

abed

oria

de

uma

espé

cie

de p

urifi

caçã

o. É

mui

to p

rová

vel q

ue o

s in

stitu

idor

es

de n

osso

s m

isté

rios

não

foss

em fa

lhos

de

mer

ecim

ento

e q

ue d

esde

mui

tos n

os q

uise

ssem

da

r a e

nten

der p

or m

eio

de s

ua li

ngua

gem

obs

cura

que

a p

esso

a nã

o in

icia

da n

em

purif

icad

a, a

o ch

egar

ao

Had

es v

ai p

ara

um la

maç

al, a

o pa

sso

que

o in

icia

do e

pur

o, a

o ch

egar

lá p

assa

a m

orar

com

os

deus

es. P

orqu

e, c

omo

dize

m o

s que

trat

am d

os m

istér

ios:

mui

tos

são

os p

orta

dore

s de

tirs

o, p

orém

pou

quís

sim

os o

s ve

rdad

eiro

s in

spira

dos.

E no

meu

m

odo

de e

nten

der,

são

este

s, ap

enas

, os

que

se o

cupa

ram

com

a fi

loso

fia, e

m s

ua v

erda

deira

ac

epçã

o, n

o nú

mer

o do

s qu

ais

proc

urei

inclu

ir-m

e, e

sfor

çand

o-m

e ne

sse

sent

ido,

por

todo

s os

mod

os, a

vid

a in

teira

e n

a m

edid

a do

pos

síve

l sem

nad

a ne

glig

enci

ar. S

e tra

balh

ei c

omo

seria

pre

ciso

e ti

rei d

isso

alg

um p

rove

ito, é

o q

ue c

om s

egur

ança

fica

rem

os s

aben

do n

o in

stan

te d

e lá

che

garm

os, s

e D

eus

quis

er, e

den

tro d

e po

uco

tem

po, s

egun

do c

reio

. Eis

aí,

Sím

ias

e C

ebet

e, m

inha

def

esa,

a ra

zão

de a

parta

r-m

e ne

m re

volta

r-m

e, p

or e

star

co

nven

cido

de

que

tant

o lá

com

o aq

ui e

ncon

trare

i com

panh

eiro

s e

mes

tres

exce

lent

es. O

vu

lgo

não

me

dará

cré

dito

; por

ém s

e a

min

ha d

efes

a vo

s pa

rece

u m

ais

conv

ince

nte

do q

ue

aos

meu

s ju

ízes

ate

nien

ses,

é tu

do o

que

pos

so d

esej

ar.

XIV

– D

epoi

s de

hav

er S

ócra

tes

assi

m fa

lado

Ceb

ete

tom

ou a

pal

avra

e d

isse

: Só

crat

es, t

udo

o qu

e à a

lma,

difi

cilm

ente

os

hom

ens

pode

rão

acre

dita

r que

, um

a ve

z se

para

da d

o co

rpo,

ven

ha e

la a

sub

sist

ir em

alg

uma

parte

, por

des

truir

-se

e de

sapa

rece

r no

Page 7: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

mes

mo

dia

em q

ue o

hom

em fe

nece

. No

próp

rio in

stan

te e

m q

ue e

le s

ai d

o co

rpo

e de

le s

ai,

disp

ersa

-se

com

o so

pro

ou fu

maç

a, e

vola

-se,

dei

xand

o, e

m c

onse

qüên

cia

de e

xist

ir em

qu

alqu

er p

arte

. Por

que,

se

ela

se re

colh

esse

alg

ures

a s

i mes

ma,

livr

e do

s m

ales

que

pouc

o en

umer

aste

, hav

eria

gra

nde

e do

ce e

sper

ança

de

ser v

erda

de, S

ócra

tes,

tudo

o q

ue

diss

este

. Mas

o fa

to é

que

se

faz

mis

ter d

e nã

o pe

quen

o po

der d

e pe

rsua

são

e de

mui

tos

argu

men

tos

para

dem

onst

rar q

ue a

alm

a su

bsis

ta d

epoi

s da

mor

te d

o ho

mem

e q

ue c

onse

rva

algu

ma

ativ

idad

e e

pens

amen

to.

Tens

razã

o, C

ebet

e, re

spon

deu

Sócr

ates

. Mas

que

pod

emos

faze

r? N

ão q

uere

s ex

amin

ar m

ais

de e

spaç

o es

sa q

uest

ão, p

ara

ver s

e as

coi

sas,

real

men

te, s

e pa

ssam

des

se

mod

o?

Eu, p

elo

men

os, r

espo

ndeu

Ceb

ete,

ouv

irei d

e m

uito

bom

gra

do o

que

dis

sere

s a

esse

re

spei

to.

Esto

u ce

rto d

e qu

e de

sta

vez,

con

tinuo

u Só

crat

es, q

uem

nos

ouv

ir, m

as q

ue s

eja

algu

m c

omed

iógr

afo,

não

pod

erá

dize

r que

digo

bab

osei

ras

e nu

nca

me

ocup

o co

m c

oisa

de

inte

ress

e. S

e es

tiver

es d

e ac

ordo

, inv

estig

arem

os e

sse

pont

o.

XV

- Es

tude

mo-

lo, p

ois,

sob

o se

guin

te a

spec

to: s

e as

alm

as d

os m

orto

s se

enc

ontra

m

ou n

ão s

e en

cont

ram

no

Had

es?

Con

form

e an

tiga

tradi

ção,

que

ora

me

ocor

re, a

s al

mas

exis

tent

es fo

ram

daq

ui m

esm

o e

para

deve

rão

volta

r, re

nasc

endo

os

mor

tos.

A s

er a

ssim

, e

se

os v

ivos

nas

cem

dos

mor

tos,

não

terã

o de

est

ar lá

mes

mo

noss

as a

lmas

? Po

is n

ão

pode

riam

rena

scer

se

não

exis

tisse

m, v

indo

a s

er e

ssa,

just

amen

te a

pro

va d

ecis

iva,

no

caso

de

ser

pos

síve

l dei

xar m

anife

sto

que

os v

ivos

de

outra

par

te n

ão p

roce

dem

sen

ão d

os

mor

tos.

Se is

so n

ão fo

r ver

dade

, ter

emos

de

proc

urar

out

ro a

rgum

ento

.

Isso

mes

mo,

dis

se C

ebet

e.

Para

dei

xar a

que

stão

mai

s fá

cil d

e en

tend

er, o

bser

vou,

não

te li

mite

s a

cons

ider

á-la

co

m re

laçã

o ao

s ho

men

s, po

rém

est

ende

-a a

o co

njun

to d

os a

nim

ais

e da

s pl

anta

s, nu

ma

pala

vra,

a tu

do o

que

nas

ce, a

fim

de

verm

os s

e ca

da c

oisa

não

se

orig

ina

excl

usiv

amen

te

do s

eu c

ontrá

rio, o

nde

quer

que

se

verif

ique

ess

a re

laçã

o, ta

l com

o no

cas

o do

bel

o, q

ue te

m

com

o co

ntrá

rio o

feio

, no

do ju

sto

e do

inju

sto

e em

mil

outro

exe

mpl

os q

ue s

e po

deria

m

enum

erar

. Inv

estig

uem

os, e

ntão

, se

é fo

rços

o qu

e tu

do o

que

tenh

a al

gum

con

trário

de

nada

m

ais p

ossa

orig

inar

-se

a nã

o se

r des

se m

esm

o co

ntrá

rio. P

or e

xem

plo:

par

a fic

ar g

rand

e al

gum

a co

isa,

é p

reci

so q

ue a

ntes

foss

e pe

quen

a, s

em o

que

não

pod

eria

aum

enta

r.

Cer

to.

E pa

ra d

imin

uir,

não

é pr

ecis

o se

r mai

or, p

ara

depo

is v

ir a

ficar

peq

uena

?

Exat

amen

te, r

espo

ndeu

.

Ass

im, d

o m

ais

forte

nas

ce o

mai

s fr

aco

e do

mor

oso,

o rá

pido

.

Sem

dúv

ida.

E en

tão?

Se

algu

ma

cois

a pi

ora,

é p

orqu

e an

tes

era

mel

hor,

com

o te

rá s

ido

ante

s in

just

a pa

ra p

oder

torn

ar-s

e ju

sta?

Com

o nã

o?

E ag

ora?

Não

é p

rópr

io d

essa

opo

siçã

o un

iver

sal h

aver

doi

s pro

cess

os d

e na

scim

ento

: o

que

vai d

e um

con

trário

par

a o

outro

, e o

de

sent

ido

inve

rso:

des

te ú

ltim

o pa

ra a

quel

e?

Entre

a c

oisa

mai

or e

a m

enor

cres

cim

ento

e d

imin

uiçã

o, ra

zão

por q

ue d

izem

os q

ue

uma

dela

s cr

esce

e a

out

ra d

imin

ui.

É c

erto

, res

pond

eu.

Val

e o

mes

mo

para

a c

ombi

naçã

o e

a de

com

posi

ção,

o re

sfria

men

to e

o a

quec

imen

to,

e pa

ra a

s de

mai

s op

osiç

ões

do m

esm

o tip

o. E

em

bora

nem

sem

pre

tenh

amos

par

a to

das

elas

de

sign

ação

apr

opria

da, é

forç

oso

ness

es c

asos

ser

idên

tico

o pr

oces

so, d

e fo

rma

que

cada

co

isa

cres

ce à

cus

ta d

e ou

tra, s

endo

recí

proc

a a

gera

ção

entre

ela

s.

Sem

dúv

ida,

obs

ervo

u.

XV

I – E

ent

ão?

Pros

segu

iu: v

iver

não

com

porta

um

con

trário

, tal

com

o se

com

a

vigí

lia e

o so

no?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

Qua

l é?

Esta

r mor

to, f

oi a

resp

osta

.

Send

o as

sim

, cad

a um

des

ses

esta

dos

prov

ém d

o ou

tro, v

isto

ser

em c

ontrá

rios,

have

ndo

entre

am

bos

um p

roce

sso

recí

proc

o de

ger

ação

.

Com

o nã

o?

Vou

fala

r de

um d

os p

ares

de

cont

rário

s a

que

me

refe

ri há

pou

co, d

isse

Sóc

rate

s, e

de

suas

resp

ectiv

as g

eraç

ões;

tu te

man

ifest

arás

a re

spei

to d

o ou

tro. D

enom

ino

o pr

imei

ro,

vigí

lia e

son

o; d

a vi

gília

nas

ce o

son

o, e

vic

e-ve

rsa:

do

sono

, a v

igíli

a, te

ndo

um d

os

proc

esso

s o

nom

e de

aco

rdar

e o

out

ro o

de

dorm

ir. Is

so te

bas

ta, p

ergu

ntou

, ou

não?

Perf

eita

men

te.

É tu

a ag

ora

a ve

z, p

ross

egui

u, d

e fa

lar a

resp

eito

da

vida

e d

a m

orte

. Não

dis

sest

e qu

e es

tar v

ivo

é o

cont

rário

de

esta

r mor

to.

Dis

se.

E qu

e um

é g

erad

o do

out

ro?

Tam

bém

.

Page 8: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Que

é, e

ntão

, o q

ue p

rové

m d

o vi

vo?

O m

orto

, res

pond

eu.

E do

mor

to, v

olto

u a

fala

r, o

que

se o

rigin

a?

Será

forç

oso

conv

ir qu

e é

o vi

vo.

Send

o as

sim

, Ceb

ete,

do

que

está

mor

to p

rovê

m o

s ho

men

s e

tudo

o q

ue te

m v

ida?

É ev

iden

te, r

espo

ndeu

.

Logo

, con

tinuo

u, n

ossa

s al

mas

est

ão n

o H

ades

.

Pare

ce q

ue s

im.

E de

sses

doi

s pr

oces

sos

corr

elat

ivos

, um

não

nos

é m

anife

sto?

Poi

s o

ato

de m

orre

r é

bem

visí

vel,

não

é iss

o m

esm

o?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

Que

fare

mos

, ent

ão?

Con

tinuo

u; n

ão a

tribu

irem

os a

ess

e pr

oces

so d

e ge

raçã

o o

seu

cont

rário

, ou

adm

itire

mos

que

nes

se p

onto

a n

atur

eza

é m

anca

? N

ão s

erá

prec

iso

acei

tarm

os

um p

roce

sso

gera

dor o

post

o ao

de

mor

rer?

Sem

dúv

ida

nenh

uma,

resp

onde

u.

Qua

l?

Rev

iver

.

Logo

, con

tinuo

u, s

e o

revi

ver é

um

fato

, ter

á de

ser

um

a ge

raçã

o no

sen

tido

dos

mor

tos

para

os

vivo

s: a

revi

vesc

ênci

a.

Perf

eita

men

te.

Des

se m

odo,

fica

mos

tam

bém

de

acor

do q

ue ta

nto

os v

ivos

pro

vêm

dos

mor

tos

com

o os

mor

tos

dos

vivo

s. Se

ndo

assi

m, q

uer p

arec

er-m

e qu

e ap

rese

ntam

os u

m a

rgum

ento

ba

stan

te fo

rte p

ara

afirm

ar q

ue a

s al

mas

dos

mor

tos

terã

o ne

cess

aria

men

te d

e es

tar e

m

algu

ma

parte

, de

onde

vol

tam

a v

iver

.

A m

eu p

arec

er, S

ócra

tes,

repl

icou

, é a

con

clus

ão fo

rços

a de

tudo

o q

ue a

dmiti

mos

até

aq

ui.

XV

II –

Obs

erva

tam

bém

, Ceb

ete,

con

tinuo

u, q

ue n

ão c

hega

mos

a e

sse

acor

do

aere

amen

te, s

egun

do m

e pa

rece

. Por

que

se u

m d

esse

s pr

oces

sos

não

foss

e co

mpe

nsad

o pe

lo

seu

cont

rário

, gira

ndo,

por

ass

im d

izer

, em

círc

ulo,

mas

sem

pre

se fi

zess

e a

gera

ção

em

linha

reta

, de

um d

os c

ontrá

rios

para

o s

eu o

post

o, s

em n

unca

vol

tar d

esta

par

a aq

uele

, nem

anda

r em

sen

tido

inve

rso:

fica

sab

endo

que

tudo

aca

baria

num

a fo

rma

únic

a e

ficar

ia n

um

só e

stad

o, c

essa

ndo,

por

isso

mes

mo,

a g

eraç

ão.

Com

o as

sim?

Perg

unto

u.

Não

é d

ifíci

l, co

ntin

uou,

com

pree

nder

o s

entid

o de

min

has

pala

vras

. No

caso

, por

ex

empl

o, d

e ex

istir

o s

ono,

por

ém s

em h

aver

o c

orre

spon

dent

e de

sper

tar d

o qu

e es

tiver

do

rmin

do, b

em s

abes

que

aca

baria

por

tran

sfor

mar

em

ban

alid

ade

a fá

bula

de

Eudi

miã

o, a

qu

al n

ão s

eria

per

cebi

da e

m p

arte

alg

uma,

por

que

tudo

o m

ais

ficar

ia c

omo

ele,

num

son

o un

iver

sal.

E se

toda

s as

coi

sas

se m

istu

rass

em, s

em v

irem

a s

epar

ar-s

e, d

entr

o de

pou

co

tem

po s

eria

um

fato

aqu

ilo d

e A

naxó

gara

s: a

con

fusã

o ge

ral.

A m

esm

a co

isa

se d

aria

, am

igo

Ceb

ete,

se

vies

se a

per

ecer

qua

nto

parti

cipa

da

vida

, e, d

epoi

s de

mor

to, s

e co

nser

vass

e se

mpr

e no

mes

mo

esta

do, s

em n

unca

rena

scer

; não

ser

ia in

evitá

vel v

ir tu

do a

fic

ar m

orto

e n

ada

mai

s vi

ver?

Se

o qu

e é

vivo

pro

vém

de

algo

dife

rent

e da

mor

te e

aca

ba

por m

orre

r: co

mo

evita

r que

tudo

aca

be p

or d

esap

arec

er n

a m

orte

?

Não

mei

o, S

ócra

tes,

resp

onde

u C

ebet

e, s

egun

do p

enso

; que

r par

ecer

-me

que

te

assi

ste

toda

a ra

zão.

A m

im ta

mbé

m, C

ebet

e, c

ontin

uou,

se

me

afig

ura

mui

to c

erto

, não

hav

endo

po

ssib

ilida

de d

e en

gano

da

noss

a pa

rte, p

ois

ficam

os d

e ac

ordo

nes

se p

onto

. Sim

, o re

vive

r é

um fa

to, o

s vi

vos

prov

êm d

os m

orto

s, as

alm

as d

os m

orto

s ex

iste

m, s

endo

mel

hor a

sor

te

das

boas

e p

ior a

das

más

.

XV

III –

É ta

mbé

m, S

ócra

tes,

volto

u C

ebet

e a

fala

r, o

que

se c

oncl

ui d

aque

le o

utro

ar

gum

ento

– s

e fo

r ver

dade

iro –

que

cos

tum

as a

pres

enta

r, so

bre

ser r

emin

iscê

ncia

o

conh

ecim

ento

, con

form

e o

qual

nós

dev

emos

forç

osam

ente

ter a

pren

dido

num

tem

po

ante

rior o

de

que

nos

reco

rdam

os a

gora

, o q

ue s

eria

impo

ssív

el, s

e no

ssa

alm

a nã

o pr

eexi

stis

se a

lgur

es, a

ntes

de

assu

mir

a fo

rma

hum

ana.

Isso

vem

pro

var q

ue a

alm

a de

ve s

er

algo

imor

tal

Poré

m C

ebet

e, in

terr

ompe

u-o

Sím

ias,

que

prov

as h

á so

bre

isso

? A

viva

-me

a m

emór

ia, p

ois

não

me

lem

bro

agor

a qu

ais

seja

m.

Bas

tará

um

a, re

spon

deu

Ceb

ete,

elo

quen

tíssi

ma:

inte

rrog

ando

os

hom

ens,

se a

s pe

rgun

tas

fore

m b

em c

ondu

zida

s, el

es d

arão

por

si m

esm

os re

spos

tas

acer

tada

s, o

de q

ue

não

seria

m c

apaz

es s

e já

não

pos

suís

sem

o c

onhe

cim

ento

e a

razã

o re

ta. D

epoi

s di

sso,

se

os

puse

rmos

dia

nte

de fi

gura

s ge

omét

ricas

ou

cois

as d

o m

esm

o gê

nero

, fic

ará

dem

onst

rado

a

saci

edad

e qu

e tu

do re

alm

ente

se

pass

a de

sse

mod

o.

Se is

so n

ão b

asta

, Sím

ias,

inte

rvei

o Só

crat

es, p

ara

conv

ence

r-te

, vê

se c

onsi

dera

ndo

a qu

estã

o po

r out

ro p

rism

a, c

hega

rás

a co

ncor

dar c

onos

co. D

uvid

as q

ue s

eja

apen

as re

cord

ar

o qu

e de

nom

inam

os a

pren

der?

Não

dire

i que

duv

ide,

resp

onde

u Sí

mia

s. O

que

eu

quer

o é

just

amen

te is

so s

obre

di

scut

imos

: rec

orda

r-m

e. C

om a

exp

osiç

ão d

e C

ebet

e ch

egue

i qua

se a

rele

mbr

ar-m

e e

conv

ence

r-m

e. N

ão o

bsta

nte,

gos

taria

de

sabe

r com

o va

is d

esen

volv

er o

tem

a.

Page 9: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Eu?

Des

te m

odo,

repl

icou

. Num

pon

to e

stam

os d

e ac

ordo

: que

par

a re

cord

ar-s

e al

guém

de

algu

ma

cois

a, é

pre

ciso

ter t

ido

ante

s o

conh

ecim

ento

des

sa c

oisa

.

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

E nã

o po

dere

mos

dec

lara

r-no

s ta

mbé

m d

e ac

ordo

a re

spei

to d

e m

ais

outro

pon

to, q

ue

o co

nhec

imen

to a

lcan

çado

em

cer

tas

cond

içõe

s te

m o

nom

e de

rem

inis

cênc

ia?

Ref

iro-m

e ao

segu

inte

: qua

ndo

algu

ém v

ê ou

ouv

e al

gum

a co

isa,

ou

a pe

rceb

e de

out

ra m

anei

ra, e

não

ap

enas

adq

uire

o c

onhe

cim

ento

des

sa c

oisa

com

o lh

e oc

orre

a id

éia

de o

utra

que

não

é

obje

to d

o m

esm

o co

nhec

imen

to, p

orém

de

outro

, não

tere

mos

o d

ireito

de

dize

r que

ess

a pe

ssoa

se

reco

rdou

do

que

lhe

veio

ao

pens

amen

to?

Com

o as

sim?

É o

segu

inte

: um

a co

isa

é co

nhec

imen

to d

o ho

mem

, e o

utra

o d

a lir

a.

Sem

dúv

ida.

E nã

o sa

bes

o qu

e se

pas

sa c

om o

s am

ante

s, qu

ando

vêe

m a

lira

, a ro

upa,

ou

qual

quer

ou

tro o

bjet

o de

uso

de

seus

am

ados

? R

econ

hece

m a

lira

e fo

rmam

no

espí

rito

a im

agem

do

man

cebo

a q

uem

a li

ra p

erte

nce.

Rem

inisc

ênci

a é

isso:

ver

alg

uém

freq

üent

emen

te a

Sím

ias

e re

cord

ar-s

e de

Ceb

ete.

mil

outro

s ex

empl

os d

o m

esm

o tip

o.

Milh

ares

, por

Zeu

s, re

spon

deu

Sím

ias.

Não

con

stitu

i iss

o, p

ergu

ntou

, um

a es

péci

e de

rem

inisc

ênci

a? P

rinci

palm

ente

qua

ndo

se d

á co

m re

laçã

o a

cois

a de

que

pod

ería

mos

est

ar e

sque

cido

s, p

ela

ação

do

tem

po o

u po

r fa

lta d

e at

ençã

o.

Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

E en

tão?

Con

tinuo

u: n

ão é

pos

síve

l lem

brar

-se

algu

ém d

e um

hom

em, a

o ve

r a

pint

ura

de u

m c

aval

o ou

de

uma

lira,

ou

entã

o, a

o ve

r o re

trato

de

Sím

ias,

reco

rdar

-se

de

Ceb

ete? M

uito

pos

sível

.

E di

ante

do

retra

to d

e Sí

mia

s, le

mbr

ar-s

e do

pró

prio

Sím

ias?

Isso

tam

bém

, foi

a re

spos

ta.

XIX

– E

não

é c

erto

que

em

todo

s es

ses

caso

s a

rem

inis

cênc

ia ta

nto

prov

ém d

os

sem

elha

ntes

com

o do

s de

ssem

elha

ntes

?

Prov

ém, d

e fa

to.

E no

cas

o de

lem

brar

-se

algu

ém d

e al

gum

a co

isa

à vis

ta d

e se

u se

mel

hant

e, n

ão s

erá

forç

osos

per

cebe

r ess

a pe

ssoa

se

a se

mel

hanç

a é

perf

eita

ou

se a

pres

enta

alg

uma

falh

a?

Forç

osam

ente

, res

pond

eu.

Con

side

ra, e

ntão

, se

tudo

não

se

pass

a de

ste

mod

o. A

firm

amos

que

algu

ma

cois

a a

que

dam

os o

nom

e de

igua

l; nã

o im

agin

o a

hipó

tese

de

que

um p

edaç

o de

pau

ser

igua

l a

outro

, nem

um

a pe

dra

a ou

tra p

edra

, nem

nad

a se

mel

hant

e; re

firo-

me

ao q

ue s

e ac

ha a

cim

a de

tudo

isso

; a ig

uald

ade

em s

i. D

irem

os q

ue e

xist

e ou

que

não

exi

ste?

Exist

e, p

or Z

eus,

excl

amou

Sím

ias;

à mar

avilh

a.

E qu

e ta

mbé

m s

aber

emos

o q

ue s

eja?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

E on

de fo

rmos

bus

car e

sse

conh

ecim

ento

? N

ão fo

i naq

uilo

a q

ue n

os re

ferim

os h

á po

uco,

à vi

sta

de u

m p

au o

u de

um

a pe

dra

e de

out

ras

cois

as ig

uais

, que

nos

sur

giu

a id

éia

de ig

uald

ade,

que

dife

re d

elas

? O

u nã

o te

par

ece

dife

rir?

Con

side

ra ta

mbé

m o

seg

uint

e: p

or

veze

s, a

mes

ma

pedr

a ou

o m

esm

o le

nho,

sem

se

mod

ifica

rem

, não

te a

figur

am o

ra ig

uais,

or

a de

sigu

ais?

Sem

dúv

ida.

E en

tão?

O ig

ual j

á se

te a

pres

ento

u al

gum

a ve

z co

mo

desi

gual

, e a

igua

ldad

e co

mo

desi

gual

dade

?

Nun

ca, S

ócra

tes.

Por c

onse

guin

te, c

ontin

uou,

não

são

a m

esm

a co

isa

esse

s ob

jeto

igua

is e

a ig

uald

ade

em si

. De

jeito

nen

hum

, Sóc

rate

s.

Não

obs

tant

e, d

isse

, foi

des

ses

igua

is, d

ifere

ntes

da

igua

ldad

e, q

ue c

once

best

e e

adqu

irist

e o

conh

ecim

ento

des

ta ú

ltim

a.

Está

mui

to c

erto

o q

ue a

firm

aste

, dis

se.

Que

pod

e se

r sem

elha

nte

àque

les

ou d

esse

mel

hant

es?

Perfe

itam

ente

.

Isso

, aliá

s, co

ntin

uou,

é in

dife

rent

e. D

esde

que

, à v

ista

de

um o

bjet

o, p

ensa

s em

ou

tro, s

eja

ou n

ão s

eja

sem

elha

nte

ao p

rimei

ro, n

eces

saria

men

te o

que

se

dá n

esse

cas

o é

rem

inisc

ênci

a.

Perf

eita

men

te.

E en

tão?

Pro

sseg

uiu:

que

se

pass

a co

nosc

o, c

om r

elaç

ão a

os p

edaç

os d

e pa

u ig

uais

e a

tu

do o

mai

s a

que

nos

refe

rimos

pouc

o? A

figur

am-s

e-no

s igu

ais à

igua

ldad

e em

si, o

u lh

es fa

lta a

lgum

a co

isa

para

ser

em c

omo

a ig

uald

ade?

Ou

não

falta

nad

a?

Page 10: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Falta

mui

to, r

espo

ndeu

.

Esta

mos

, por

con

segu

inte

, de

acor

do, q

ue q

uand

o al

guém

um d

eter

min

ado

obje

to e

di

z: O

obj

eto

que

tenh

o ne

ste

mom

ento

dia

nte

dos

olho

s as

pira

a s

er c

omo

outro

obj

eto

real

, po

rém

fica

mui

to a

quém

del

e, s

em c

onse

guir

alca

nçá-

lo, v

isto

lhe

ser i

nfer

ior:

essa

pes

soa,

di

zia,

ao

faze

r sem

elha

nte

obse

rvaç

ão, t

inha

nec

essa

riam

ente

o c

onhe

cim

ento

do

obje

to

com

o q

ual e

la d

isse

que

o o

utro

se

asse

mel

hava

, por

ém e

ra in

ferio

r.

Forç

osam

ente

. E e

ntão

? N

ão s

e pa

ssar

á a

mes

ma

cois

a co

nosc

o, e

m re

laçã

o às

coi

sas

igua

is e

à igu

alda

de e

m si

mes

ma?

Sem

dúv

ida

nenh

uma.

É pr

ecis

o, p

orta

nto,

que

tenh

amos

con

heci

do a

igua

ldad

e an

tes

do te

mpo

em

que

, ve

ndo

pela

prim

eira

vez

obj

etos

igua

is, o

bser

vam

os q

ue to

dos

eles

se

esfo

rçav

am p

or

alca

nçá-

la p

orém

lhe

eram

infe

riore

s.

Cer

to.

Com

o ta

mbé

m n

os d

ecla

ram

os d

e ac

ordo

em

que

não

pod

ería

mos

faze

r sem

elha

nte

obse

rvaç

ão n

em fi

car e

m c

ondi

ções

de

fazê

-la,

a n

ão s

er p

or m

eio

da v

ista

ou

do ta

to, o

u de

qu

alqu

er o

utro

sen

tido.

Não

est

abel

eço

dife

renç

as.

De

fato

, Sóc

rate

s, sã

o eq

uiva

lent

es; p

elo

men

os n

o qu

e re

spei

ta a

o te

ma

em

disc

ussã

o.

De

qual

quer

form

a, é

por

mei

o do

s se

ntid

os q

ue o

bser

vam

os te

nder

em p

ara

a ig

uald

ade

em s

i tod

as a

s co

isas

per

cebi

das

com

o ig

uais

, por

ém s

em ja

mai

s al

canç

á-la

. Ou

que

dire

mos

?

Isso

mes

mo.

Logo

, ant

es d

e co

meç

arm

os a

ver

, a o

uvir,

ou

a em

preg

ar o

s de

mai

s se

ntid

os, j

á de

vem

os te

r adq

uirid

o em

alg

uma

parte

o c

onhe

cim

ento

do

que

seja

a ig

uald

ade

em s

i, pa

ra

ficar

mos

em

con

diçõ

es d

e re

laci

onar

com

ela

as

igua

ldad

es q

ue o

s se

ntid

os n

os d

ão a

co

nhec

er e

afir

mar

que

est

as s

e es

forç

am p

or a

lcan

çá-l

a, p

orém

lhe

são

infe

riore

s.

É a

cons

equê

ncia

nec

essá

ria, S

ócra

tes,

do q

ue fo

i dito

ant

es.

E nã

o é

certo

que

vem

os e

ouv

imos

e fa

zem

os u

so d

os d

emai

s se

ntid

os lo

go a

pós

o na

scim

ento

?

Perf

eita

men

te.

Será

pre

ciso

, ent

ão, é

o q

ue a

firm

amos

, já

term

os a

ntes

dis

so o

con

heci

men

to d

a ig

uald

ade.

Cer

to.

Ant

es d

o na

scim

ento

, por

con

segu

inte

, ao

que

pare

ce, é

que

nec

essa

riam

ente

o

adqu

irim

os.

Pare

ce, m

esm

o.

XX

– L

ogo,

se

o ad

quiri

mos

ant

es d

o na

scim

ento

e n

asce

mos

com

ele

, é p

orqu

e co

nhec

emos

ant

es d

o na

scim

ento

e a

o na

scer

tant

o o

igua

l, o

mai

or e

o m

enor

, com

o as

de

mai

s no

ções

da

mes

ma

natu

reza

. Poi

s ta

nto

é vá

lido

noss

o ar

gum

ento

par

a a

igua

ldad

e co

mo

para

o b

elo

em s

i mes

mo

e o

bem

em

si m

esm

o, a

just

iça,

a p

ieda

de e

tudo

o m

ais,

com

o di

sse,

a q

ue p

usem

os a

mar

ca d

e O

pró

prio

que

é, a

ssim

nas

per

gunt

as q

ue

form

ulam

os c

omo

nas

resp

osta

s ap

rese

ntad

as. A

ess

e m

odo,

adq

uirim

os n

eces

saria

men

te

ante

s de

nas

cer o

con

heci

men

to d

e tu

do is

so.

Cer

to.

E se

, dep

ois

de a

dqui

rido

tal c

onhe

cim

ento

não

o e

sque

cêss

emos

, des

de o

nas

cim

ento

o

poss

uiría

mos

e o

con

serv

aría

mos

toda

a v

ida.

Poi

s co

nhec

er, d

e fa

to, c

onsi

ste

apen

as n

o se

guin

te: c

onse

rvar

o c

onhe

cim

ento

adq

uirid

o, s

em v

ir nu

nca

a pe

rdê-

lo. O

que

de

nom

inam

os e

sque

cer,

Sím

ias,

não

será

pre

cisa

men

te a

per

da d

o co

nhec

imen

to?

Não

ser

á ou

tra

cois

a, S

ócra

tes,

resp

onde

u.

Se, e

m v

erda

de, s

egun

do p

enso

, ant

es d

e na

scer

já tí

nham

os ta

l con

heci

men

to e

o

perd

emos

ao

nasc

er, e

dep

ois,

aplic

ando

nos

sos

sent

idos

a e

sses

obj

etos

, vol

tam

os a

ad

quiri

r o c

onhe

cim

ento

que

já p

ossu

íram

os n

um te

mpo

ant

erio

r: o

que

deno

min

amos

ap

rend

er n

ão s

erá

a re

cupe

raçã

o de

um

con

heci

men

to m

uito

nos

so?

E nã

o es

tare

mos

em

preg

ando

a e

xpre

ssão

cor

reta

, se

derm

os a

ess

e pr

oces

so o

nom

e de

rem

inis

cênc

ia/?

Perf

eita

men

te.

Pois

já s

e no

s re

velo

u co

mo

poss

ível

, ao

perc

ebem

os a

lgum

a co

isa,

pel

a vi

sta

ou p

elo

ouvi

do, o

u po

r qua

lque

r out

ro s

entid

o, p

ensa

r em

out

ra d

e qu

e no

s ha

víam

os e

sque

cido

, m

as q

ue s

e as

soci

a co

m a

prim

eira

por

par

ecer

-se

com

ela

ou

por l

he s

er d

esse

mel

hant

e.

Des

se m

odo,

com

o di

sse,

um

a da

s du

as h

á de

ser

, por

forç

a: o

u na

scem

os c

om ta

l co

nhec

imen

to e

o c

onse

rvam

os d

uran

te to

da a

vid

a, o

u en

tão

as p

esso

as d

as q

uais

diz

emos

qu

e ap

rend

em p

oste

riorm

ente

, o q

ue fa

zem

é re

cord

ar, v

indo

a s

er o

con

heci

men

to

rem

inisc

ênci

a.

Tudo

se

pass

a re

alm

ente

des

se m

odo,

Sóc

rate

s.

XX

I– E

ntão

, que

esc

olhe

s, Sí

mia

s? N

asce

mos

com

o c

onhe

cim

ento

ou

nos

reco

rdam

os u

lterio

rmen

te d

o qu

e co

nhec

emos

ant

e?

Ass

im d

e pr

onto

, Sóc

rate

s, nã

o se

i com

o de

cidi

r-m

e.

Com

o? S

obre

isto

pod

es p

erfe

itam

ente

dec

idir

-te

e di

zer o

que

pen

sas:

que

m s

abe,

es

tá e

m c

ondi

ções

de

dar a

s ra

zões

do

que

sabe

, ou

não?

Page 11: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Nec

essa

riam

ente

, Sóc

rate

s, re

spon

deu.

E és

de

pare

cer q

ue to

do o

mun

do p

ossa

dar

as

razõ

es d

as q

uest

ões

que

acab

amos

de

trata

r?

Tom

ara

que

o pu

dess

em! P

orém

rece

io m

uito

que

am

anhã

a e

stas

hor

as n

ão h

aja

aqui

uma

só p

esso

a em

con

diçõ

es d

e fa

zê-l

o.

Dec

erto

, Sím

ias,

cont

inuo

u, n

ão é

s de

opi

nião

que

todo

s os

hom

ens

ente

ndam

des

sa

ques

tões

.

De

form

a al

gum

a.

Nes

se c

aso,

reco

rdam

-se

do q

ue a

pren

dera

m a

ntes

?

Nec

essa

riam

ente

.

E qu

ando

é q

ue n

ossa

s al

mas

adq

uire

m e

sses

con

heci

men

to?

Não

de s

er a

par

tir d

o m

omen

to e

m q

ue n

asce

mos

com

o ho

men

s.

Não

, dec

erto

.

Entã

o é

ante

s?

Sim

.

Logo

, Sím

ias,

as a

lmas

exi

stem

ant

es d

e as

sum

irem

a fo

rma

hum

ana,

sep

arad

as d

os

corp

os, e

pos

suíre

m e

nten

dim

ento

.

A m

enos

, Sóc

rate

s, qu

e ad

quir

amos

tal c

onhe

cim

ento

ao

nasc

er, p

ois

aind

a fa

lta

cons

ider

ar e

sse

tem

po.

Que

sej

a, c

ompa

nhei

ro! M

as e

ntão

, em

que

tem

po p

erde

mos

ess

e co

nhec

imen

to?

Ao

nasc

erm

os n

ão d

ispo

mos

del

e, c

omo

acab

amos

de

adm

itir.

Ou

será

que

o p

erde

mos

no

mom

ento

exa

to e

m q

ue o

adq

uirim

os?

Pode

rás

indi

car o

utro

tem

po?

Não

jeito

, Sóc

rate

s, se

m o

que

rer,

diss

e um

a to

lice.

XX

II –

Nos

sa s

ituaç

ão, S

ímia

s, nã

o se

rá a

seg

uint

e? S

e ex

iste

, rea

lmen

te, t

udo

isso

co

m q

ue v

ivem

os a

enc

her a

boc

a: o

bel

o e

o bo

m e

toda

s as

ess

ênci

as d

esse

tipo

, e s

e a

elas

re

ferim

os tu

do o

que

nos

che

ga p

or in

term

édio

dos

sen

tidos

, com

o a

algo

pre

exis

tent

e, q

ue

enco

ntra

mos

em

nós

mes

mos

e c

om q

ue o

com

para

mos

: ser

á fo

rços

o qu

e , a

ssim

com

o el

as, e

xist

a no

ssa

alm

a an

tes

de n

asce

rmos

, e q

ue s

em a

quel

as e

stas

não

exi

stiria

m?

Mai

s qu

e ex

ata,

falo

u Sí

mia

s, m

e pa

rece

, Sóc

rate

s, a

mes

ma

nece

ssid

ade;

é m

uito

se

gura

a p

osiç

ão a

que

se

acol

he o

arg

umen

to, n

o qu

e en

tend

e co

m a

afin

idad

e en

tre a

s es

sênc

ias

a qu

e te

refe

riste

, e n

ossa

alm

a, a

ntes

de

nasc

erm

os. N

ão s

ei d

e na

da tã

o cl

aro

com

o di

zer q

ue to

dos

esse

s co

ncei

tos

exis

tem

na

mai

s el

evad

a ac

epçã

o do

term

o: o

bel

o, o

be

m e

tudo

o m

ais

que

enum

eras

te h

á po

uco.

Ess

a de

mon

stra

ção

me

satis

faz

plen

amen

te.

E a

Ceb

ete?

Per

gunt

ou; p

reci

sas

tam

bém

con

venc

er C

ebet

e.

A e

le ta

mbé

m s

atis

faz,

resp

onde

u Sí

mia

s, se

gund

o pe

nso,

mui

to e

mbo

ra s

eja

o ho

mem

mai

s di

fícil

de a

ceita

r a o

pini

ão d

os o

utro

s. M

as c

reio

que

já e

sse

enco

ntra

co

nven

cido

de

que

noss

a al

ma

exis

te a

ntes

de

nasc

erm

os.

XX

III –

Por

ém S

ócra

tes,

que

ela

cont

inue

a e

xist

ir de

pois

de

noss

a m

orte

é o

que

não

m

e pa

rece

suf

icie

ntem

ente

dem

onst

rado

, poi

s ai

nda

está

de

pé a

opi

nião

do

vulg

o a

que

Ceb

ete

se re

feriu

pouc

o: Q

uem

sab

e se

no

inst

ante

pre

ciso

em

que

o h

omem

mor

re, a

al

ma

se d

ispe

rsa,

sen

do e

sse,

just

amen

te, o

seu

fim

? Q

ue im

pede

, de

fato

que

ela

nas

ça

algu

res

e se

con

stitu

a de

out

ros

elem

ento

s e

exis

ta a

ntes

de

alca

nçar

o c

orpo

hum

ano,

mas

de

pois

de

entra

r no

corp

o, q

uand

o tiv

er d

e se

para

r-se

del

e, ta

mbé

m a

cabe

de

uma

vez

e ve

nha

a de

strui

r-se

?

Fala

ste

bem

, Sím

ias,

obse

rvou

Ceb

ete.

Par

ece

que

só fo

i dem

onst

rado

met

ade

do q

ue

era

de m

iste

r, a

sabe

r: qu

e no

ssa

alm

a ex

iste

ant

es d

e na

scer

mos

; ain

da fa

lta p

rova

r, po

r co

nseg

uint

e, q

ue d

epoi

s de

mor

rerm

os e

la n

ão e

xist

irá m

enos

do

que

ante

s do

nas

cim

ento

. Só

ass

im fi

cará

com

plet

a a

dem

onst

raçã

o.

Foi c

ompl

etad

a ag

ora

mes

mo,

Sím

ias

e C

ebet

e, o

bser

vou

Sócr

ates

; bas

tará

junt

arde

s o

pres

ente

arg

umen

to a

o qu

e ad

miti

mos

ant

es, d

e qu

e tu

do o

que

viv

e só

nas

ce d

o qu

e é

mor

to. P

orqu

e se

as

alm

as e

xist

em a

ntes

do

nasc

imen

to e

se,

nec

essa

riam

ente

, par

a co

meç

arem

a v

ida

e ex

istir

em, n

ão p

oder

ão p

rovi

r de

outra

par

te a

não

ser

da

mor

te d

o qu

e es

tá m

orto

, não

ser

á fo

rços

o qu

e co

ntin

uem

a e

xist

ir de

pois

da

mor

te, p

ara

rena

scer

em?

Com

o di

sse,

ess

a pa

rte já

foi d

emon

stra

da.

XX

IV –

Por

ém v

erifi

co, S

ímia

s e

Ceb

ete,

que

am

bos

vós

folg

aríe

is d

e ex

amin

ar m

ais

a fu

ndo

essa

que

stão

, poi

s, co

mo

as c

rianç

as, t

emei

s, de

fato

, que

o v

ento

arr

aste

a a

lma

e a

disp

erse

no

mom

ento

em

que

ela

dei

xa o

cor

po, m

áxim

e se

na

hora

em

que

mor

re a

lgué

m o

u nã

o es

tiver

ser

eno

e so

prar

ven

to fo

rte.

E C

ebet

e, d

esat

ando

a ri

r, Fa

ze d

e co

nta,

Sóc

rate

s, o

bser

vou,

que

est

amos

com

med

o,

e pr

ocur

a co

nven

cer-

nos.

Ou

mel

hor:

será

pre

ferív

el a

dmiti

res,

não

que

tem

os m

edo,

mas

qu

e ta

lvez

haj

a de

ntro

de

nós

uma

cria

nça

que

se a

ssus

ta c

om e

ssas

cos

ias.

Tra

ta, p

or

cons

egui

nte,

de

conv

encê

-la

a nã

o te

r med

o da

mor

te c

omo

do b

icho

-pap

ão.

Para

tant

o, lh

es fa

lou

Sócr

ates

, ser

á pr

ecis

o ex

orci

zá-l

a di

aria

men

te, a

té p

assa

r o

med

o.

E on

de, S

ócra

tes,

perg

unto

u, e

ncon

trare

mos

um

bom

exo

rciz

ador

, um

a ve

z qu

e no

s ab

ando

nas?

A H

élad

e é

gran

de, C

ebet

e, re

plic

ou, e

nel

a há

mui

tos

hom

ens

de m

erec

imen

to.

Gra

ndes

tam

bém

são

s as

ger

açõe

s bá

rbar

as, q

ue p

reci

sare

is e

squa

drin

har p

ara

enco

ntra

r um

m

ágic

o ne

ssas

con

diçõ

es, s

em o

lhar

des

pesa

s ne

m fa

diga

, poi

s em

nad

a m

ais

pode

ríeis

ap

licar

o v

osso

din

heiro

. Mas

con

vém

pro

mov

erde

s es

sa b

usca

tam

bém

ent

re v

ós o

utro

s, po

is ta

lvez

não

sej

a fá

cil e

ncon

trar q

uem

se

desi

ncum

ba d

isso

mel

hor d

o qu

e vó

s m

esm

os.

Page 12: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

É o

que

fare

mos

, fal

ou C

ebet

e. P

orém

se

leva

res

gost

o ni

sso,

vol

tem

os p

ara

o po

nto

em q

ue fi

cam

os a

ntes

.

Agr

ada-

me

a pr

opos

ta, c

omo

não?

XX

V –

Ago

ra o

de

que

prec

isam

os, f

alou

Sóc

rate

s, é

perg

unta

r a n

ós m

esm

o m

ais

ou

men

os o

seg

uint

e: C

om q

ue c

oisa

s é

natu

ral s

emel

hant

e pr

oces

so d

e di

sper

são,

com

qua

is

deve

mos

ter m

edo

de q

ue is

so a

cont

eça,

e c

om q

uais

não

dev

emos

? D

e se

guid

a, te

rem

os d

e ex

amin

ar a

qua

l das

cla

sses

per

tenc

e a

alm

a, p

ara

daí c

oncl

uirm

os s

e pr

ecis

amos

ale

grar

-no

s ou

tem

er d

o qu

e ve

nha

a ac

onte

cer c

om a

nos

sa.

É m

uito

cer

to, d

isse

.

E nã

o é

verd

ade

que

as c

oisa

s, ar

tific

ial o

u na

tura

lmen

te c

ompo

stas

é q

ue d

evem

ac

abar

por

dis

pers

ar-s

e no

s el

emen

tos

orig

inai

s? E

o in

vers

o: n

ão s

erá

o qu

e nã

o fo

r co

mpo

sto,

ant

es d

e tu

do, a

úni

ca c

oisa

que

não

con

vém

pas

sar p

or e

sse

proc

esso

de

diss

ocia

ção?

Ach

o qu

e é

assi

m m

esm

o, o

bser

vou

Ceb

ete.

E ta

mbé

m n

ão é

cer

to q

ue h

á m

uita

pro

balid

ade

de n

ão s

erem

com

post

as a

s co

isas

qu

e se

mpr

e se

man

têm

no

mes

mo

esta

do e

nun

ca s

e al

tera

m, c

omo

serã

o co

mpo

stas

as

que

ora

se a

pres

enta

m d

e um

a fo

rma,

ora

de

outra

, e m

udam

a c

ada

inst

ante

?

É ta

mbé

m o

que

eu

pens

o.

Entã

o, p

ross

egui

u, re

tom

emos

o te

ma

de n

ossa

dis

cuss

ão a

nter

ior.

Aqu

ela

idéi

a ou

es

sênc

ia a

que

em

nos

sas

perg

unta

s e

resp

osta

s at

ribuí

mos

a v

erda

deira

exi

stên

cia,

co

nser

va-s

e se

mpr

e a

mes

ma

e de

igua

l mod

o, o

u or

a é

de u

ma

form

a, o

ra d

e ou

tra?

O ig

ual

em s

i, o

belo

em

sim

, tod

as a

s co

isas

em

si m

esm

as, o

ser

, adm

item

qua

lque

r alte

raçã

o? O

u ca

da u

ma

dess

as re

alid

ades

, uni

form

es e

exi

sten

tes

por s

i mes

mas

, não

se

com

porta

sem

pre

da m

esm

a fo

rma,

sem

jam

ais

adm

itir d

e ne

nhum

jeito

a m

enor

alte

raçã

o?

Forç

osam

ente

, Sóc

rate

s, fa

lou

Ceb

ete,

sem

pre

perm

anec

erá

a m

esm

a e

do m

esm

o je

ito.

E co

m re

laçã

o à m

ultip

licid

ade

das

cois

as b

elas

: hom

ens,

cava

los,

vest

es e

tudo

o

mai

s da

mes

ma

natu

reza

, que

ou

são

igua

is o

u be

las

e re

cebe

m a

pró

pria

des

igna

ção

daqu

elas

real

idad

es: c

onse

rvam

-se

sem

pre

idên

ticas

ou,

dife

rent

emen

te d

as e

ssên

cias

, não

o ja

mai

s id

êntic

as, n

em c

om re

laçã

o às

out

ras

nem

, por

ass

im d

izer

, con

sigo

mes

mas

?

Isso

, jus

tam

ente

, Sóc

rate

s, é

o q

ue s

e ob

serv

a, re

spon

deu

Ceb

ete,

nun

ca se

con

serv

am

as m

esm

as.

E nã

o é

certo

tam

bém

que

toda

s es

sas

cois

as s

e po

dem

ver

e to

car o

u pe

rceb

er p

or

inte

rméd

io d

e qu

alqu

er o

utro

sen

tido,

ao

pass

o qu

e as

ess

ênci

as, q

ue s

e co

nser

vam

sem

pre

igua

is a

si m

esm

as, s

ó po

dem

ser

apr

eend

idas

pel

o ra

cioc

ínio

, por

ser

em to

das

elas

in

visí

veis

e e

star

em fo

ra d

o al

canc

e da

vis

ão?

O q

ue d

izes

, obs

ervo

u, é

a p

ura

verd

ade.

XX

VI –

Ach

as, e

ntão

, per

gunt

ou, q

ue p

odem

os a

dmiti

r dua

s es

péci

es d

e co

isas

: um

as

visív

eis e

out

ras i

nvisí

veis?

Pode

mos

, res

pond

eu.

Send

o qu

e as

invi

síve

is s

ão s

empr

e id

êntic

as a

si m

esm

as, e

as

visí

veis

, o c

ontrá

rio

diss

o?

Adm

itam

os ta

mbé

m e

sse

pont

o, re

spon

deu.

Entã

o, p

ross

igam

os, u

ma

parte

de

nós

mes

mos

não

é c

orpo

, e a

out

ra n

ão é

alm

a?

Sem

dúv

ida,

falo

u.

E co

m q

ual d

aque

las

clas

ses

dire

mos

que

o c

orpo

é m

ais

conf

orm

e e

tem

mai

s af

inid

ade?

Para

todo

o m

undo

é e

vide

nte

que

é co

m a

das

coi

sas

visí

veis

.

E co

m re

laçã

o à a

lma?

É v

isíve

l, ou

será

invi

sível

?

Pelo

men

os p

ara

o ho

mem

, não

o s

erá,

Sóc

rate

s, re

spon

deu.

Mas

, qua

ndo

fala

mos

do

que

é ou

não

é v

isív

el, é

sem

pre

com

vis

ta à

natu

reza

hu

man

a. O

u ac

has

que

seja

com

rela

ção

a ou

tra?

Não

; é c

om a

nat

urez

a hu

man

a, m

esm

o.

E a

alm

a? Q

ue d

irem

os d

ela:

pod

erem

os v

ê-la

ou

não?

Não

pod

emos

.

Logo

, é in

visív

el.

Cer

to.

Send

o as

sim, a

alm

a é

mai

s co

nfor

me

à esp

écie

invi

síve

l do

que

o co

rpo,

e e

ste

mai

s à

visív

el. D

e to

da a

nec

essi

dade

, Sóc

rate

s.

XX

VII

– M

as ta

mbé

m d

isse

mos

algu

ns in

stan

tes,

que

quan

do a

alm

a se

ser

ve d

o co

rpo

para

con

side

rar a

lgum

a co

isa

por i

nter

méd

io d

a vi

sta

ou d

o ou

vido

, ou

por q

ualq

uer

outro

sen

tido

– po

is c

onsi

dera

r sej

a o

que

for p

or m

eio

dos

sent

idos

é fa

zê-l

o po

r in

term

édio

do

corp

o –

é ar

rast

ada

por e

le p

ara

o qu

e nu

nca

se c

onse

rva

no m

esm

o es

tado

, pa

ssan

do a

div

agar

e a

per

turb

ar-s

e, e

fica

ndo

tom

ada

de v

ertig

ens,

com

o se

est

ives

se

embr

iaga

da, p

elo

fato

de

entra

r em

con

tato

com

tais

coi

sas?

Page 13: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Sim

, diss

emos

isso

mes

mo.

E o

cont

rário

diss

o: q

uand

o el

a ex

amin

a so

zinh

a al

gum

a co

isa, v

olta

-se

para

o q

ue é

pu

ro, s

empi

tern

o, e

que

sem

pre

se c

ompo

rta d

o m

esm

o m

odo,

e p

or lh

e te

r afin

idad

e, v

ive

com

ele

enq

uant

o pe

rman

ecer

con

sigo

mes

ma

e lh

e fo

r per

miti

do, d

eixa

ndo,

ass

im, d

e di

vaga

r e p

ondo

-se

com

o re

laçã

o co

m o

que

é s

empr

e ig

ual e

imut

ável

, por

est

a em

con

tato

co

m e

le. A

ess

e es

tado

, jus

tam

ente

, é q

ue d

amos

o n

ome

de p

ensa

men

to.

Tudo

isso

, Sóc

rate

s, é

verd

adei

ro e

foi m

uito

bem

enu

ncia

do.

E ag

ora,

de

acor

do c

om o

pre

sent

e ar

gum

ento

e o

ant

erio

r, co

m q

ual d

essa

s du

as

espé

cies

a a

lma

se m

ostra

sem

elha

nte

e re

vela

mai

or a

finid

ade?

No

meu

mod

o de

pen

sar,

Sócr

ates

, res

pond

eu, n

ão h

á qu

em d

eixe

de

conc

orda

r, po

r m

ais

obtu

so q

ue s

eja,

se

te a

com

panh

ar o

raci

ocín

io, q

ue e

m tu

do e

por

tudo

a a

lma

tem

m

ais

sem

elha

nça

com

o q

ue s

empr

e se

con

serv

a o

mes

mo

do q

ue c

om o

que

var

ia.

E o

corp

o?

Com

a o

utra

esp

écie

.

XX

VII

I – E

xam

ina

agor

a a

ques

tão

da s

egui

nte

man

eira

: enq

uant

o se

man

têm

junt

os

o co

rpo

e a

alm

a, im

põe

a na

ture

za a

um

del

e ob

edec

er e

ser

vir e

ao

outro

com

anda

r e

dom

inar

. Sob

ess

e as

pect

o, q

ual d

eles

se

asse

mel

ha a

o di

vino

e q

ual a

o m

orta

l? N

ão te

pa

rece

que

o d

ivin

o é

natu

ralm

ente

feito

par

a co

man

dar e

diri

gir,

e o

mor

tal p

ara

obed

ecer

e

serv

ir?

Ach

o qu

e sim

.

E co

m q

ual d

eles

a a

lma

se p

arec

e?

Evid

ente

men

te, S

ócra

tes,

a al

ma

se a

ssem

elha

ao

divi

no, e

o c

orpo

ao

mor

tal .

Con

side

ra a

gora

, Ceb

ete,

con

tinuo

u, s

e de

tudo

o q

ue d

isse

mos

não

se

conc

lui q

ue a

o qu

e fo

r div

ino,

imor

tal,

inte

ligív

el, d

e um

a só

form

a, in

diss

olúv

el, s

empr

e no

mes

mo

esta

do

e se

mel

hant

e a

si p

rópr

io é

com

o q

ue a

lma

mai

s se

par

ece;

e o

con

trário

: ao

hum

ano,

m

orta

l e in

inte

ligív

el, m

ultif

orm

e, di

ssol

úvel

e ja

mai

s igu

al a

si m

esm

o, c

om is

so é

que

o

corp

o se

par

ece?

Pod

erem

os, a

mig

o C

ebet

e, a

rgum

enta

r de

outro

mod

o e

dize

r que

não

é

dess

a m

anei

ra?

Não

é p

ossí

vel.

XX

IX –

E e

ntão

? Se

for a

ssim

, não

fica

rá o

cor

po s

ujei

to a

dis

solv

er-s

e de

pres

sa,

cons

erva

ndo-

se a

alm

a in

diss

olúv

el o

u nu

m e

stad

o qu

e m

uito

dis

so s

e ap

roxi

ma?

Sem

dúv

ida.

Obs

erva

ain

da, c

ontin

uou,

com

o de

pois

que

o h

omem

mor

re, s

ua p

orçã

o vi

síve

l, o

corp

o, a

que

dam

os o

nom

e de

cad

áver

, col

ocad

o ta

mbé

m n

um lu

gar v

isív

el, e

mbo

ra o

suje

ito a

dis

solv

er-s

e, a

des

agre

gar-

se, d

e im

edia

to n

ão re

vela

nen

hum

a de

ssas

alte

raçõ

es,

cons

erva

ndo-

se in

tact

o po

r tem

po re

lativ

amen

te lo

ngo;

e s

e, n

o m

omen

to d

a m

orte

, o c

orpo

es

tiver

em

boa

s co

ndiç

ões,

send

o bo

a, ig

ualm

ente

, a e

staç

ão d

o an

o, e

ntão

con

serv

a-se

m

uito

mai

s te

mpo

. Qua

ndo

o co

rpo

é de

scar

nado

e e

mba

lsam

ado,

tal c

omo

se fa

z no

Egi

to,

ele

perm

anec

e qu

ase

inte

iro p

or te

mpo

inca

lcul

ável

. Aliá

s, at

é m

esm

o no

cor

po e

m

deco

mpo

siçã

o, a

lgum

a de

sua

s pa

rtes:

oss

os, t

endõ

es; e

tudo

mai

s do

gên

ero,

são

, por

ass

im

dize

r, im

orta

is. N

ão é

isso

mes

mo?

Cer

to.

Ao

pass

o qu

e a

alm

a, a

por

ção

invi

síve

l, qu

e va

i par

a um

luga

r sem

elha

nte

a el

a,

nobr

e, p

uro

e in

visí

vel,

o ve

rdad

eiro

Had

es, o

u se

ja, o

Invi

síve

l, pa

ra ju

nto

de u

m d

eus

sábi

o e

bom

, par

a on

de ta

mbé

m, s

e D

eus

quis

er, d

entro

de

pouc

o irá

min

ha a

lma:

ess

a al

ma

dizi

a, c

om s

emel

hant

e or

igem

e c

onst

ituiç

ão. A

o se

para

r-se

do

corp

o, n

o m

esm

o in

stan

te s

e di

ssip

aria

e v

iria

a de

stru

ir, c

onfo

rme

crê

a m

aior

ia d

os h

omen

s: N

unca

, meu

s ca

ros

Sím

ias

e C

ebet

e! P

elo

cont

rário

; o q

ue s

e dá

é o

seg

uint

e: s

e el

a é

pura

no

mom

ento

de

sua

liber

taçã

o e

não

arra

star

con

sigo

nad

a co

rpór

eo, p

or is

so m

esm

o qu

e du

rant

e a

vida

nun

ca

man

tiver

a co

mér

cio

volu

ntár

io c

om o

cor

po, p

orém

sem

pre

evita

ra, r

ecol

hida

em

si m

esm

a e

tend

o se

mpr

e is

so c

omo

preo

cupa

ção

excl

usiv

a, q

ue o

utra

coi

sa n

ão é

sen

ão fi

loso

far,

no

rigor

oso

sent

ido

da e

xpre

ssão

, e p

repa

rar-

se p

ara

mor

rer f

acilm

ente

... P

ois

tudo

isso

não

se

rá u

m e

xerc

ício

par

a a

mor

te?

Sem

dúv

ida

nenh

uma.

Ass

im c

onsti

tuíd

a, d

irigi

-se

para

o q

ue lh

e as

sem

elha

, par

a o

invi

sível

, div

ino,

imor

tal

e in

telig

ível

, ond

e, a

o ch

egar

, viv

e fe

liz, l

iber

ta d

o er

ro, d

a ig

norâ

ncia

, do

med

o, d

os

amor

es s

elva

gens

e d

os o

utro

s m

ales

da

cond

ição

hum

ana,

pas

sand

o ta

l com

o se

diz

dos

in

icia

dos,

a vi

ver o

rest

o do

tem

po n

a co

mpa

nhia

dos

deu

ses.

Fala

rem

os d

esse

jeito

, Ceb

ete,

ou

de

outra

form

a?

XX

X –

Ass

im m

esm

o, p

or Z

eus,

resp

onde

u C

ebet

e.

No

caso

, por

ém, c

onfo

rme

pens

o, d

e es

tar m

anch

ada

e im

pura

ao

sepa

rar-

se d

o co

rpo,

po

r ter

con

vivi

do s

empr

e co

m e

le, c

uida

do d

ele

e o

ter a

mad

o e

esta

r fas

cina

da p

or e

le e

por

se

us a

petit

es e

del

eite

s, a

pont

o de

acei

tar c

omo

verd

adei

ro o

que

tive

sse

form

a co

rpór

ea,

que

se p

ode

ver,

toca

r, be

ber,

com

er, o

u se

rvir

para

o a

mor

; e s

e el

a, q

ue s

e ha

bitu

ou a

od

iar,

tem

er e

evi

tar o

que

é o

bscu

ro e

invi

síve

l par

a os

olh

os, p

orém

inte

ligív

el e

ap

reen

síve

l com

à fil

osof

ia: a

cred

itas

que

uma

alm

a ne

ssas

con

diçõ

es e

stej

a re

colh

ida

em s

i m

esm

a e

sem

mis

tura

no

mom

ento

em

que

dei

xar o

cor

po?

De

form

a al

gum

a, re

spon

deu.

Poré

m s

egun

do p

enso

, de

todo

em

todo

sat

urad

a de

ele

men

tos

corp

óreo

s qu

e co

m e

la

cres

cera

m c

omo

resu

ltado

de

sua

fam

iliar

idad

e e

cont

ínua

com

unic

ação

com

o c

orpo

, de

que

nunc

a se

sep

arou

e d

e qu

e se

mpr

e cu

idar

a.

Sem

dúv

ida.

Page 14: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Entã

o, m

eu c

aro,

terá

s de

adm

itir q

ue tu

do is

so é

esp

esso

, ter

reno

e v

isív

el. A

alm

a,

com

ess

a so

brec

arga

, tor

na-s

e pe

sada

e é

de

novo

arr

asta

da p

ara

a re

gião

vis

ível

, de

med

o do

Invi

sível

– o

Had

es, c

omo

e di

z –

e ro

la p

or e

ntre

os

mon

umen

tos

e tú

mul

os, n

a pr

oxim

idad

e do

s qu

ais

têm

sid

o vi

stos

fant

asm

as te

nebr

osos

, sem

elha

ntes

aos

esp

ectro

s de

ssas

alm

as q

ue n

ão s

e lib

erta

ram

pur

as d

e co

rpo

e qu

e se

torn

aram

vis

ível

.

É m

uito

pos

síve

l, Só

crat

es, q

ue s

eja

assi

m m

esm

o.

Sim

, é m

uito

pos

síve

l, C

ebet

e, e

tam

bém

que

ess

as a

lmas

não

sej

am d

os b

ons,

poré

m

dos

mau

s, qu

e se

vêe

m o

brig

adas

a v

agar

por

ess

e lu

gare

s, co

mo

cast

igo

de s

ua c

ondu

ta

dura

nte

a vi

da, q

ue fo

ra p

éssi

ma.

E a

ssim

fica

m a

vag

ar, a

té q

ue o

ape

tite

do e

lem

ento

co

rpor

al a

que

sem

pre

estã

o lig

adas

vol

te a

pre

ndê-

las

nout

ros

corp

os.

XX

XI –

Com

o é

natu

ral,

volta

m a

ser

apr

isio

nada

s em

nat

urez

as d

e co

stum

es ig

uais

aos

que

elas

pra

ticar

am e

m v

ida.

A q

ue a

nat

urez

as te

refe

res,

Sócr

ates

?

É o

segu

inte

: as

que

eram

dad

as à

glut

onar

ia, a

o or

gulh

o ou

à em

bria

guez

des

brag

ada,

en

tram

nat

ural

men

te n

os c

orpo

s de

asn

os e

de

anim

ais

cong

êner

es. N

ão te

par

ece?

Fala

s co

m m

uita

pro

prie

dade

.

As

que

com

eter

am in

just

iças

, a ti

rani

a ou

a ra

pina

, pas

sam

par

a a

gera

ção

dos

lobo

s, do

s aç

ores

e d

os a

butre

s. Pa

ra o

nde

mai

s po

dem

os d

izer

que

vão

as

alm

as d

essa

nat

urez

a?

Não

dúvi

da, r

espo

ndeu

Ceb

ete;

é p

ara

esse

s co

rpos

que

ela

s vã

o.

E nã

o é

evid

ente

, con

tinuo

u, q

ue o

mes

mo

se p

assa

com

os

dem

ais,

por s

e or

ient

arem

to

das

elas

no

sent

ido

de s

uas

próp

rias

tend

ênci

as?

É cl

aro,

obs

ervo

u; n

em p

oder

ia s

er d

e ou

tra m

anei

ra.

Logo

, dis

se, o

s m

ais

feliz

es e

que

vão

par

a os

mel

hore

s lu

gare

s sã

o os

que

pra

ticam

a

virtu

de c

ívic

a e

soci

al q

ue d

omin

amos

tem

pera

nça

e ju

stiç

a, p

or fo

rça

apen

as d

o há

bito

e d

a di

spos

ição

pró

pria

, sem

a p

artic

ipaç

ão d

a fil

osof

ia e

da

inte

ligên

cia.

Por q

ue s

erão

ess

es o

s m

ais

feliz

es?

Por s

er n

atur

al q

ue p

asse

m p

ara

uma

raça

soc

iáve

l e m

ansa

, de

abel

has,

vesp

as o

u fo

rmig

as, o

u at

é pa

ra a

mes

ma

raça

, a h

uman

a, a

fim

de

gera

rem

hom

ens

mod

erad

os.

Sem

dúv

ida.

XX

XII

– P

ara

a ra

ça d

os d

euse

s nã

o é

perm

itido

pas

sar o

s qu

e nã

o pr

atic

aram

a

Filo

sofia

nem

par

tiram

inte

iram

ente

pur

os, m

as a

pena

s os

am

igos

da

Sabe

doria

. É p

or is

so,

meu

s ca

ros

Sím

ias

e C

ebet

e, q

ue o

s ve

rdad

eiro

s fil

ósof

os s

e ac

aute

lam

con

tra o

s ap

etite

s do

co

rpo,

resi

stem

-lhe

s e

não

se d

eixa

m d

omin

ar p

or e

les;

não

têm

med

o da

pob

reza

nem

da

ruín

a de

sua

pró

pria

cas

a, c

omo

a m

aior

ia d

os h

omen

s, am

igos

das

riqu

ezas

, nem

tem

em a

falta

de

honr

aria

s e

a vi

da in

glór

ia, c

omo

se d

á co

m o

s am

ante

s do

pod

er e

das

dis

tinçõ

es.

Não

é e

ssa

a ra

zão

de s

e ab

ster

em d

e tu

do?

De

fato

, Sóc

rate

s; n

ada

diss

o lh

es fi

caria

bem

, fal

ou C

ebet

e.

Não

, por

Zeu

s, re

torq

uiu.

Por

isso

mes

mo,

Ceb

ete,

todo

s os

que

cui

dam

da

alm

a e

não

vive

m s

impl

esm

ente

par

a o

culto

do

corp

o, d

izem

ade

us a

tudo

isso

e n

ão s

egue

m o

ca

min

ho d

os q

ue n

ão s

abem

par

a on

de v

ão.

Con

venc

idos

de

que

não

deve

mos

faze

r nad

a em

con

trário

à Fi

loso

fia n

em a

o qu

e el

a pr

escr

eve

para

libe

rtar-

nos

e pu

rific

ar-n

os, v

olta

m-

se p

ara

esse

lado

, seg

uind

o na

dire

ção

por e

la a

cons

elha

da.

XX

XII

I – D

e qu

e m

odo,

Sóc

rate

s?

Vou

diz

er-t

e, re

spon

deu.

Est

ão p

erfe

itam

ente

cie

ntes

os

amig

os d

a Sa

bedo

ria, q

ue

quan

do a

Filo

sofia

pas

sa a

diri

gir-

lhes

a a

lma,

est

a se

enc

ontra

com

o qu

e lig

ada

e ag

lutin

ada

ao c

orpo

, por

inte

rméd

io d

o qu

al é

forç

ada

a ve

r a re

alid

ade

com

o at

ravé

s da

s gr

ades

de

um c

árce

re, e

m lu

gar d

e o

faze

r soz

inha

e p

or s

i mes

ma,

por

ém a

tola

da n

a m

ais

abso

luta

igno

rânc

ia. O

que

de te

rrív

el n

esse

liam

es, r

econ

hece

-o a

Filo

sofia

, é

cons

istir

em n

os p

raze

res

e se

r pró

prio

pris

ione

iro q

uem

mai

s co

oper

a pa

ra m

anie

tar-

se.

Com

o di

sse,

os

amig

os d

a Sa

bedo

ria e

stão

cie

ntes

de

que,

ao

tom

ar c

onta

de

sua

alm

a em

ta

l est

ado,

a F

iloso

fia lh

e fa

la c

om d

oçur

a e

proc

ura

liber

tá-l

a, m

ostra

ndo-

lhe

quão

che

io d

e ilu

sões

é o

con

heci

men

to a

dqui

rido

por m

eio

dos

olho

s, qu

ão e

ngan

ador

o d

os o

uvid

os e

do

s m

ais

sent

idos

, aco

nsel

hand

o-a

a ab

ando

ná-l

os e

a n

ão fa

zer u

so d

eles

se

não

só o

ne

cess

ário

, e a

reco

lher

-se

e co

ncen

trar-

se e

m s

i mes

ma

e só

a a

cred

itar e

m s

i pró

pria

e n

o qu

e el

a em

si m

esm

a ap

rend

er d

a re

alid

ade

em s

i, e

o in

vers

o: a

não

ace

itar c

omo

verd

adei

ro tu

do o

que

ela

con

side

rar p

or m

eios

que

em

cad

a ca

so s

e m

odifi

cam

, poi

s as

co

isas

des

ses

gêne

ro s

ão s

ensí

veis

e v

isív

eis,

ao p

asso

que

é in

telig

ível

e in

visí

vel o

que

ela

por

si m

esm

a. C

onve

ncid

a de

que

não

dev

e op

or-s

e a

sem

elha

nte

liber

taçã

o, a

alm

a do

ve

rdad

eiro

filó

sofo

abs

tém

dos

pra

zere

s, da

s pa

ixõe

s e

dos

tem

ores

, tan

to q

uant

o po

ssív

el,

certa

de

que

sem

pre

que

algu

ém s

e al

egra

em

ext

rem

o, o

u te

me,

ou

dese

ja, o

u so

fre,

o m

al

daí r

esul

tant

e nã

o é

o qu

e se

pod

eria

imag

inar

, com

o se

ria o

cas

o, p

or e

xem

plo,

de

adoe

cer

ou v

ir a

arru

inar

-se

por c

ausa

das

pai

xões

: o m

aior

e o

pio

r dos

mal

es é

o q

ue n

ão s

e de

ixa

perc

eber

.

Qua

l é, S

ócra

tes?

per

gunt

ou C

ebet

e.

É qu

e to

da a

lma

hum

ana,

nos

cas

os d

e pr

azer

ou

de s

ofrim

ento

inte

nsos

, é

forç

osam

ente

leva

da a

cre

r que

o o

bjet

o ca

usad

or d

e se

mel

hant

e em

oção

é o

que

de m

ais

clar

o e

verd

adei

ro, q

uand

o, d

e fa

to, n

ão é

ass

im. D

e re

gra,

trat

a-se

de

cois

as v

isív

eis,

não

é iss

o m

esm

o?

Perf

eita

men

te.

E nã

o é

quan

do p

assa

por

tudo

isso

que

a a

lma

se e

ncon

tra m

ais

intim

amen

te p

resa

ao

corp

o?

Com

o as

sim?

Page 15: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Porq

ue o

s pr

azer

es e

os

sofr

imen

tos

são

com

o qu

e do

tado

s de

um

cra

vo c

om o

qua

l tra

nsfix

am a

alm

a e

a pr

ende

m a

o co

rpo,

dei

xand

o-a

corp

órea

e le

vand

o-o

a ac

redi

tar q

ue

tudo

o q

ue o

cor

po d

iz é

ver

dade

iro. O

ra, p

elo

fato

de

ser d

a m

esm

a op

iniã

o qu

e o

corp

o e

de s

e co

mpr

azer

com

ele

, é o

brig

ada,

seg

undo

pen

so, a

ado

tar s

eus

cost

umes

e a

limen

tos,

sem

jam

ais

pode

r che

gar a

o H

ades

em

est

ado

de p

urez

a, p

ois

é se

mpr

e sa

tura

da d

o co

rpo

que

ela

o de

ixa.

Res

ulta

do: l

ogo

depo

is, v

olta

a c

air n

outro

cor

po, o

nde

cria

raíz

es c

omo

se

tives

se s

ido

sem

eada

nel

e, fi

cand

o de

todo

alh

eia

da c

ompa

nhia

do

divi

no, d

o qu

e é

puro

e

de u

ma

só fo

rma.

É m

uito

cer

to o

que

dis

sest

e, o

bser

vou

Ceb

ete.

XX

XIV

– E

ssa

é a

razã

o, C

ebet

e, d

e se

rem

tem

pera

ntes

e c

oraj

osos

os

verd

adei

ros

amig

os d

o sa

ber,

não

pelo

que

imag

ina

o po

vo. O

u ac

has

que

sim?

Eu?

De

form

a al

gum

a.

Não

, de

fato

; a a

lma

do fi

lóso

fo n

ão ra

cioc

ina

dess

e je

ito n

em p

ensa

que

a fi

loso

fia

deva

libe

rtá-l

a, p

ara,

dep

ois

de li

vre,

ent

rega

r-se

de

novo

aos

pra

zere

s e

às d

ores

e v

olta

r a

acor

rent

ar-s

e, d

eixa

ndo

írrito

seu

esf

orço

ant

erio

r e c

omo

que

empe

nhad

a em

faze

r o

inve

rso

do tr

abal

ho d

e Pe

nélo

pe e

m s

ua te

ia. A

o co

ntrá

rio: a

lcan

çand

o a

calm

aria

das

pa

ixõe

s e

guia

ndo-

se p

ela

razã

o, s

em n

unca

a a

band

onar

, con

tem

pla

o qu

e é

verd

adei

ro e

di

vino

e q

ue p

aira

aci

ma

das

opin

iões

, cer

ta d

e qu

e pr

ecis

ará

vive

r ass

im a

vid

a to

da, p

ara

depo

is d

a m

orte

, uni

r-se

ao

que

lhe

for a

pare

ntad

o e

da m

esm

a na

ture

za, l

iber

ta d

as

mis

éria

s hu

man

as. N

ão é

de

adm

irar,

Sím

ias

e C

ebet

e, q

ue u

ma

alm

a al

imen

tada

des

se je

ito

e co

m s

emel

hant

e oc

upaç

ão n

ão te

nha

med

o de

des

mem

brar

-se

quan

do s

e re

tirar

do

corp

o,

e de

ser

dis

pers

ada

pelo

s ve

ntos

, dis

sipa

ndo-

se d

o to

do, s

em v

ir a

ficar

em

par

te a

lgum

a.

XX

XV

– A

ess

as p

alav

ras

de S

ócra

tes,

segu

iu-s

e pr

olon

gado

silê

ncio

. Com

o se

po

deria

obs

erva

r, o

próp

rio S

ócra

tes

med

itava

no

tem

a de

senv

olvi

do n

a co

nver

saçã

o, o

que

, al

iás,

acon

teci

a co

m q

uase

todo

s os

pre

sent

es. C

ebet

e e

Sím

ias

fala

ram

de

soca

pa a

lgum

a co

isa,

o q

ue fo

i per

cebi

do p

or S

ócra

tes,

que

lhes

dis

se:

E en

tão?

Per

gunt

ou: q

uem

sab

e se

soi

s de

pare

cer q

ue a

inda

falta

diz

er a

lgo?

Em

ve

rdad

e, m

uita

s dú

vida

s. E

obje

ções

pod

eria

m s

er le

vant

adas

por

que

m s

e di

spus

esse

a

apro

fund

ar o

tem

a. S

e tra

tais

ago

ra d

e ou

tro a

ssun

to, n

ão d

igo

nada

; por

ém s

e o

noss

o m

esm

o é

que

vos

atra

palh

a, e

xpõe

m s

em a

canh

amen

to o

que

vos

par

ecer

indi

cado

par

a m

elho

r esc

lare

cim

ento

da

ques

tão,

ou

perm

iti q

ue e

u ta

mbé

m to

me

parte

no

diál

ogo,

no

caso

de

julg

arde

s qu

e co

m a

min

ha c

oope

raçã

o po

deis

ven

cer m

ais

faci

lmen

te a

s di

ficul

dade

s.

Sím

ias,

entã

o, fa

lou:

Sen

do a

ssim

, Sóc

rate

s, vo

u di

zer-

te a

ver

dade

. Já

faz

tem

po q

ue

esta

mos

em

dúv

ida

e pr

ocur

amos

ani

mar

-nos

reci

proc

amen

te a

diri

gir-

te p

ergu

ntas

, pel

o de

sejo

de

ouvi

r-te

fala

r, po

rém

tem

os m

edo

de in

com

odar

-te

por c

ausa

do

pres

ente

in

fortú

nio.

Ouv

indo

-o e

xpre

ssar

-se

dess

e m

odo,

resp

onde

u Só

crat

es, e

sboç

ando

um

sor

riso:

Ora

, Sí

mia

s! D

ifici

lmen

te c

hega

rei a

con

venc

er o

s ou

tros

hom

ens

que

não

cons

ider

o ne

nhum

a de

sgra

ça m

inha

situ

ação

nes

te m

omen

to, s

e ne

m a

vós

mes

mos

con

sigo

per

suad

ir, p

or

terd

es re

ceio

de

eu e

star

ago

ra c

om â

nim

o di

fere

nte.

Pel

o qu

e ve

jo, c

onsi

dera

is-m

e in

ferio

r ao

s ci

snes

, poi

s qu

ando

est

es p

erce

bem

que

est

ão p

erto

de

mor

rer,

por t

erem

can

tado

a v

ida

toda

, mai

s ve

zes

e m

elho

r põe

m s

e a

cant

ar, c

onte

ntes

de

parti

rem

par

a ju

nto

do d

eus

de

que

são

os s

ervi

dore

s. Po

rém

com

seu

med

o ca

ract

erís

tico

da m

orte

, os

hom

ens

calu

niam

os

cisn

es, c

om a

firm

arem

que

ele

s ca

ntam

por

cho

rare

m a

mor

te, d

e tri

stez

a, s

em re

fletir

em

que

nenh

um a

ve c

anta

qua

ndo

tem

fom

e ou

frio

, ou

quan

do p

resa

de

outra

ang

ústia

, nem

m

esm

o o

roux

inol

, a a

ndor

inha

ou

a po

upa,

cuj

o ca

nto,

seg

undo

diz

em, s

erve

de

alim

enta

r a

dor.

Poré

m n

ão c

reio

que

nen

hum

del

es c

ante

por

est

arem

tris

tes,

mui

to m

enos

os

cisn

es.

Ao

cont

rário

: por

per

tenc

erem

a A

polo

, seg

undo

pen

so, t

êm o

Dom

da

prof

ecia

, e p

or

prev

erem

as

delíc

ias

do H

ades

, can

tam

e s

e al

egra

m n

esse

dia

mui

to m

ais

do q

ue a

ntes

. Eu,

de

min

ha p

arte

, tam

bém

me

cons

ider

o se

rvid

or ig

ual d

a di

vind

ade,

com

o os

cis

nes,

e a

ela

cons

agra

do, e

por

ser

dot

ado

pelo

meu

sen

hor d

e nã

o m

enor

Dom

de

prof

ecia

, não

dei

xare

i a

vida

com

men

os c

orag

em d

o qu

e el

es. P

or is

so, p

odei

s fa

lar à

von

tade

e fo

rmul

ar a

s pe

rgun

tas

que

ente

nder

des

todo

o te

mpo

que

o p

erm

itire

m o

s on

ze c

idad

ãos

de A

tena

s.

Perfe

ito, f

alou

Sím

ias,

pois

ent

ão v

ou d

izer

-te

quai

s sã

o as

min

has

dúvi

das,

para

de

pois

indi

car e

ste

aqui

os

pont

os d

e tu

a ex

posi

ção

com

que

ele

não

con

cord

a. S

obre

ess

es

assu

nto,

Sóc

rate

s, cr

eio

esta

r de

acor

do c

ontig

o, q

ue s

e ne

sta

vida

não

for i

mpo

ssív

el s

aber

a

essa

resp

eito

alg

o de

finiti

vo, é

ext

rem

amen

te d

ifíci

l. M

as ta

mbé

m s

erá

prov

a de

fraq

ueza

de

ixar

de

anal

isar

por

todo

s os

mod

os o

que

foi d

ito, e

não

aba

ndon

ar o

ass

unto

enq

uant

o nã

o se

ntirm

os c

ansa

ço. N

este

pas

so v

emo-

nos

ante

o d

ilem

a: a

pren

der e

des

cobr

ir o

de q

ue

se tr

ata,

ou,

no

caso

de

não

ser i

sso

poss

ível

, ado

tar a

mel

hor o

pini

ão e

a m

ais d

ifíci

l de

cont

esta

r, e

nela

inst

alan

do-n

os à

guis

a de

jang

ada,

pro

cura

r faz

er a

trav

essi

a da

vid

a, n

a hi

póte

se d

e nã

o co

nseg

uir i

sso

mes

mo

com

mai

or fa

cilid

ade

e m

enos

per

igo

num

a em

barc

ação

mai

s fir

me,

ou

seja

, com

alg

uma

pala

vra

divi

na. A

ssim

, não

fica

rei a

canh

ado

agor

a de

inte

rrog

ar-t

e, já

que

tu p

rópr

io m

o ac

onse

lhas

, nem

pre

cisa

rei c

ensu

rar-

me

de

futu

ro p

or n

ão te

hav

er d

ito h

oje

o qu

e pe

nsav

a. O

fato

, Sóc

rate

s, é

que

quan

do re

flito

no

que

diss

este

, ou

seja

com

igo

mes

mo

ou n

a co

mpa

nhia

des

te a

qui,

tenh

o a

impr

essã

o de

que

ne

m tu

do fi

cou

bem

fund

amen

tado

.

XX

XV

I – S

ócra

tes

resp

onde

u: T

alve

z, c

ompa

nhei

ro, l

he fa

lou,

est

ejas

com

a ra

zão;

po

rém

exp

lica

o qu

e nã

o te

par

ece

bem

fund

amen

tado

.

É qu

e se

ria p

ossí

vel a

lega

r a m

esm

a co

isa,

con

tinuo

u, a

resp

eito

da

harm

onia

e d

a lir

a co

m s

uas

cord

as, a

sab

er: q

ue a

har

mon

ia é

alg

o in

visí

vel,

inco

rpór

eo e

sum

amen

te b

elo

num

a lir

a be

m a

finad

a, e

que

est

a, p

or s

ua v

ez, é

cor

po, c

om ta

mbé

m o

são

as

cord

as,

cois

as m

ater

iais

, com

post

as, t

erre

nas

e de

nat

urez

a m

orta

. Ora

, no

caso

de

algu

ém q

uebr

ar a

lir

a e

corta

r ou

arre

bent

ar a

s co

rdas

, alg

uém

pod

eria

arg

umen

tar c

omo

o fiz

este

: fo

rços

amen

te a

quel

a ha

rmon

ia a

inda

viv

e, p

ois

não

foi d

estru

ída;

poi

s nã

o é

poss

ível

su

bsis

tir a

lira

dep

ois

de s

e pa

rtire

m a

s co

rdas

, e a

s pr

ópria

s co

rdas

, tod

as e

las

de n

atur

eza

mor

ta, e

des

apar

ecer

a h

arm

onia

, da

mes

ma

natu

reza

e d

a fa

míli

a do

div

ino

e do

imor

tal,

que

assi

m v

iria

a se

r des

truíd

a at

é m

esm

o an

tes

do q

ue é

per

ecív

el. N

ão, p

ross

egui

ria e

ssa

pess

oa; n

eces

saria

men

te a

har

mon

ia te

rá d

e co

ntin

uar e

m q

ualq

uer p

arte

, por

ser

forç

oso

que

a m

adei

ra a

podr

eça

prim

eiro

, e a

s co

rdas

, ant

es d

e ac

onte

cer à

quel

a al

gum

a co

isa.

A

esse

s re

spei

to, S

ócra

tes,

crei

o qu

e tu

mes

mo

já c

onsi

dera

ste

que

a no

ção

da a

lma

adm

itida

po

r nós

é m

ais

ou m

enos

a s

egui

nte:

Da

mes

ma

fora

m q

ue te

mos

o c

orpo

dis

tend

ido

e co

eso

pelo

cal

or e

o fr

io, o

sec

o e

o úm

ido,

e tu

do o

mai

s do

mes

mo

gêne

ro, v

iria

a se

r

Page 16: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

noss

a al

ma

a m

istu

ra e

a h

arm

onia

de

todo

s es

ses

elem

ento

s, qu

ando

com

bina

dos

em ju

sta

prop

orçã

o. O

ra, s

e no

ssa

alm

a fo

r um

a es

péci

e de

har

mon

ia, é

evi

dent

e qu

e, a

o fic

ar

rela

xado

o c

orpo

, ou

dist

endi

do e

m e

xces

so, p

or d

oenç

as e

out

ras

pertu

rbaç

ões,

fo

rços

amen

te a

alm

a fe

nece

rá lo

go, e

m q

ue p

ese

à sua

nat

urez

a di

vina

, tal

com

o se

com

as

out

ras

harm

onia

s, ta

nto

as re

sulta

ntes

de

sons

com

o da

s de

mai

s ob

ras

dos

artis

ta; a

o pa

sso

que

os d

espo

jos

do c

orpo

per

dura

m p

or m

uito

tem

po, a

té q

ue o

fogo

os

dest

rua

ou

venh

am a

apo

drec

er. V

ê, p

orta

nto,

o q

ue d

evem

os o

por a

ess

es a

rgum

ento

s, no

cas

o de

al

guém

nos

vir

dize

r que

a a

lma,

por

ser

a m

istu

ra d

os e

lem

ento

s do

cor

po, é

a p

rimei

ra a

fe

nece

r naq

uilo

que

cha

mam

os m

orte

.

XX

XV

II –

Sóc

rate

s se

con

serv

ou d

uran

te a

lgum

tem

po c

om o

olh

ar p

arad

o, c

omo

era

seu

cost

ume;

dep

ois

falo

u, s

orrin

do: A

obj

eção

de

Sím

ias,

decl

arou

, é p

roce

dent

e. S

e al

gum

de

vós

est

iver

em

mel

hore

s co

ndiç

ões

do q

ue e

u, p

or q

ue n

ão re

spon

de a

ele

? O

arg

umen

to

dele

é m

uito

feliz

. Por

ém a

ntes

de

form

ular

qua

lque

r res

post

a, s

ou d

e pa

rece

r que

dev

emos

pr

imei

ro o

uvir

o qu

e te

m C

ebet

e a

opor

à no

ssa

tese

, poi

s as

sim

gan

hare

mos

tem

po p

ara

refle

tir n

o qu

e se

rá p

reci

so d

izer

. E d

epoi

s de

ouv

ir a

ambo

s, da

r-lh

es-e

mos

nos

sa

apro

vaçã

o, s

e no

s pa

rece

rem

bem

afin

ados

os

argu

men

tos;

cas

o co

ntrá

rio; d

izen

do lo

go o

qu

e te

dei

xa a

trapa

lhad

o.

Vou

diz

er, r

espo

ndeu

Ceb

ete.

A m

eu p

arec

er, n

osso

arg

umen

to n

ão s

aiu

do lu

gar e

co

ntin

ua c

omo

alvo

das

mes

mas

obj

eçõe

s de

ant

es. Q

ue n

ossa

alm

a já

exi

stis

se a

ntes

de

assu

mir

esta

form

a, é

pro

posi

ção

que

não

me

repu

gna

acei

tar,

por e

ngen

hosa

e –

sal

vo

imod

éstia

de

min

ha p

arte

– su

ficie

ntem

ente

dem

onst

rada

. Por

ém q

ue s

ubsi

sta

algu

res

depo

is d

e es

tarm

os m

orto

s, co

m is

so é

que

não

pos

so c

onco

rdar

. Não

ace

ito, t

ambé

m o

re

paro

de

Sím

ias,

quan

do a

firm

a qu

e a

alm

a nã

o é

mai

s fo

rte n

em m

ais

durá

vel d

o qu

e o

corp

o, p

ois

sob

ambo

s os

asp

ecto

s el

a se

dis

tingu

e im

ensa

men

te d

ele.

Por

que

ent

ão, l

he

diria

o a

rgum

ento

, ain

da te

mos

tras

incr

édul

o, s

e es

tás

vend

o qu

e de

pois

da

mor

te d

o ho

mem

sua

por

ção

mai

s fr

aca

aind

a su

bsis

te?

Não

te p

arec

e qu

e a

porç

ão m

ais

durá

vel t

erá

forç

osam

ente

de

sobr

eviv

er ig

ual t

empo

? V

ê ag

ora

se o

que

dig

o co

ntém

alg

uma

subs

tânc

ia. P

ara

mai

or c

omod

idad

e vo

u so

corr

er-m

e, c

omo

o fe

z Sí

mia

s, de

um

a im

agem

. Pa

ra m

im, f

alar

des

se je

ito é

o m

esm

o qu

e fa

zer a

s se

guin

tes

cons

ider

açõe

s a

resp

eito

de

um v

elho

tece

lão

que

acab

asse

de

mor

rer:

o ho

mem

não

está

mor

to: c

ontin

ua v

ivo

em

algu

ma

parte

; e p

ara

prov

a de

ssa

afirm

ação

, apr

esen

tass

e a

roup

a qu

e el

e en

tão

trazi

a no

co

rpo,

teci

da p

or e

le m

esm

o, c

onse

rvad

a e

sem

ter a

inda

per

ecid

o. E

se

algu

ém s

e m

ostra

sse

incr

édul

o, p

oder

ia p

ergu

ntar

o q

ue é

por

nat

urez

a m

ais

durá

vel,

imag

inar

ia te

r de

mon

stra

do q

ue c

om m

aior

ia d

e ra

zões

o h

omem

terá

de

esta

r bem

, vis

to n

ão h

aver

pe

reci

do o

que

por

nat

urez

a é

men

os d

uráv

el. P

orém

a m

eu v

er, S

ímia

s, a

real

idad

e, é

mui

to

dife

rent

e. P

rest

a at

ençã

o ao

seg

uint

e: N

ão h

á qu

em n

ão v

eja

quan

to é

frac

o se

mel

hant

e ar

gum

ento

. Hav

endo

gas

to m

uita

s ro

upas

por

ele

pró

prio

teci

das,

o no

sso

hom

em m

orre

u,

de fa

to, d

epoi

s de

toda

s, e

não

fora

m p

ouca

s, po

rém

ant

es d

a úl

tima,

seg

undo

pen

so; m

as

nem

por

isso

o h

omem

é in

ferio

r ou

mai

s fr

aco

do q

ue a

roup

a. E

ssa

imag

em, q

uero

cre

r, se

ap

lica

tant

o à a

lma

com

o ao

cor

po, e

que

m a

rgum

enta

sse

dess

e m

odo

com

rela

ção

ao

corp

o, fa

laria

com

mui

to m

ais

prop

rieda

de, a

sab

er: q

ue a

alm

a é

mai

s du

ráve

l e o

cor

po

mai

s fr

aco

e tra

nsitó

rio, p

ois

fora

ace

rtado

acr

esce

ntar

que

cad

a al

ma

cons

ome

vário

s co

rpos

, prin

cipa

lmen

te q

uand

o vi

ve m

uito

s an

os. S

e o

corp

o se

esc

oa e

se

deliq

uesc

e en

quan

to o

hom

em v

ive,

a a

lma

rete

ce d

e co

ntín

uo o

que

for c

onsu

mid

o. F

orço

so s

erá,

por

co

nseg

uint

e, q

ue, n

o in

stan

te d

e m

orre

r, ai

nda

este

ja a

alm

a co

m a

últi

ma

vest

imen

ta p

or

ela

feia

, só

vind

o a

mor

rer a

ntes

da

últim

a. D

esap

arec

ida

a al

ma,

mos

tra, d

e pr

onto

, o c

orpo

su

a fr

aque

za n

atur

al e

se

desm

anch

a pe

la p

utre

façã

o. P

or is

so m

esm

o, c

om b

ase

ness

es

argu

men

tos

não

pode

mos

con

fiar q

ue n

ossa

alm

a su

bsis

ta a

lgur

es d

epoi

s da

mor

te. E

se

algu

ém c

once

dess

e ao

exp

osito

r de

tua

prop

osiç

ão m

ais

aind

a do

que

faze

s e

lhe

dess

e de

ba

rato

não

pen

as q

ue n

ossa

s al

mas

exi

stem

ant

es d

o te

mpo

do

nasc

imen

to, s

endo

que

nad

a im

pede

, até

mes

mo

depo

is de

nos

sa m

orte

, exi

stire

m a

lgum

as e

con

tinua

rem

a e

xisti

r, e

mui

tas

veze

s re

nasc

erem

e to

rnar

em a

mor

rer,

por s

erem

de

natu

reza

bas

tant

e fo

rte p

ara

supo

rtar e

sses

nas

cim

ento

s su

cess

ivos

: se

lhe

conc

edês

sem

os e

sse

pont

o, d

e to

do o

jeito

ele

se

recu

saria

a a

dmiti

r que

a a

lma

não

se e

sgot

a ne

sses

nas

cim

ento

s su

cess

ivos

, par

a ac

abar

nu

ma

dess

as ú

ltim

as m

orte

s, po

r des

apar

ecer

de

todo

. Des

sa m

orte

últi

ma,

pod

eria

ac

resc

enta

r, e

dess

a de

com

posi

ção

do c

orpo

que

leva

par

a a

alm

a a

dest

ruiç

ão, n

ingu

ém

pode

ter c

onhe

cim

ento

, por

não

est

ar e

m n

ós e

xper

imen

tá-l

a. S

e as

coi

sas

se p

assa

m m

esm

o de

ssa

form

a, p

or fo

rça

terá

de

ser i

rrac

iona

l a c

onfia

nça

de q

ualq

uer p

esso

a di

ante

da

mor

te,

a m

enos

que

ess

e al

guém

pud

esse

dem

onst

rar q

ue a

alm

a é

abso

luta

men

te im

orta

l e

impe

recí

vel.

Send

o is

so im

poss

ível

, não

com

o ev

itar q

ue o

mor

ibun

do s

e ar

rece

ie d

e qu

e no

inst

ante

em

que

sua

alm

a se

des

apar

ecer

do

corp

o, v

enha

a d

esap

arec

er d

e to

do.

XX

XV

III –

Ao

ouvi

-los

fala

r des

sa m

anei

ra, t

odos

nós

nos

sen

timos

de

sagr

adav

elm

ente

impr

essi

onad

os, c

onfo

rme

depo

is c

onfe

ssam

os a

nós

mes

mos

; fir

mem

ente

con

venc

idos

com

o fic

áram

os, a

nte

os a

rgum

ento

s an

terio

res,

as p

alav

ras

de

agor

a co

mo

que

nos

deix

avam

inqu

ieto

s e

nos

leva

vam

out

ra v

ez a

duv

idar

, tan

to c

om

rela

ção

ao q

ue já

fora

dito

com

o ao

que

ain

da re

stav

a po

r diz

er. O

u ér

amos

mau

s ju

ízes

ou

o as

sunt

o nã

o ad

miti

a pr

ova.

Equ

écrates–

Pel

os d

euse

s, F

edão

! Com

pree

ndo

o qu

e se

pas

sou

conv

osco

, poi

s ag

ora

mes

mo,

per

gunt

ei-m

e em

que

arg

umen

to p

oder

emos

con

fiar d

aqui

por

dia

nte,

se

o qu

e Só

crat

es a

cabo

u de

des

envo

lver

, com

ser

tão

conv

ince

nte,

per

deu

de to

do o

cré

dito

? É

mar

avilh

osa

a at

raçã

o qu

e so

bre

mim

sem

pre

exer

ceu,

e a

inda

exe

rce,

a d

outri

na d

e qu

e no

ssa

alm

a é

uma

espé

cie

de h

arm

onia

. O q

ue a

caba

ste

de e

xpor

me

fez

lem

brar

que

até

ao

pres

ente

eu

a ac

eita

va. M

as a

gora

nec

essi

to d

e no

vos

argu

men

tos

para

con

venc

er-m

e de

qu

e a

alm

a nã

o m

orre

junt

amen

te c

om o

cor

po. D

ize

logo

, por

Zeu

s, de

que

mod

o Só

crat

es

pros

segu

iu n

a su

a ar

gum

enta

ção?

Por

vent

ura

reve

lou

desâ

nim

o, c

omo

diss

este

ter

acon

teci

do c

om to

dos

vós,

ou, p

elo

cont

rário

, def

ende

u a

sua

opin

ião

com

a s

eren

idad

e ha

bitu

al?

Foi c

ompl

eta

ou fa

lha

nalg

um p

onto

sua

def

esa?

Con

ta-n

os tu

do c

om a

mai

or

exat

idão

pos

síve

l.

Fedã

o–

Em v

erda

de, E

quéc

rate

s, po

r mai

s qu

e an

tes

eu ti

vess

e ad

mira

do S

ócra

tes,

nu

nca

me

sent

i tão

arr

ebat

ado

naqu

ele

inst

ante

. Não

é d

e es

pant

ar q

ue u

m h

omem

do

seu

esto

fo p

udes

se s

air-

se b

em e

m s

emel

hant

e co

njun

tura

. Mas

o q

ue n

ele,

prim

eiro

de

tudo

, m

e ad

miro

u ao

ext

rem

o fo

i a m

anei

ra d

elic

ada,

cor

dial

e d

efer

ente

com

o q

ue a

colh

eu a

s ob

jeçõ

es d

os m

oços

; dep

ois,

a sa

gaci

dade

com

que

obs

ervo

u o

efei

to d

e su

as p

alav

ras

sobr

e nó

s e,

por

últi

mo,

com

o so

ube

cura

r-no

s: d

e fu

gitiv

os e

der

rota

dos,

fez-

nos

volta

r e

conc

itou-

nos

a se

gui-

lo, p

ara

cons

ider

arm

os ju

nto

o ar

gum

ento

.

Equ

écrates–

De

que

mod

o?

Page 17: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Fedã

o–

Vou

te d

izer

com

o fo

i. A

cont

eceu

que

eu

me

acha

va, j

usta

men

te à

sua

dire

ita, n

um b

anqu

inho

ao

pé d

o ca

tre, f

ican

do e

le n

um p

lano

mui

to m

ais

alto

. Afa

gand

o-m

e a

cabe

ça e

aba

rcan

do c

om a

mão

os

cabe

los

que

me

cobr

iam

a n

uca

– po

is s

empr

e qu

e se

lhe

ofer

ecia

oca

sião

gra

ceja

a re

spei

to d

e m

inha

cab

elei

ra –

me

diss

e: D

ecer

to é

am

anhã

, Fe

dão,

que

vai

s pô

r aba

ixo

esta

bel

a ca

bele

ira?

Pens

o qu

e si

m, S

ócra

tes,

resp

ondi

.

Não

, se

me

acei

tare

s um

con

selh

o.

Que

dev

o, e

ntão

, faz

er?

Perg

unte

i.

Hoj

e m

esm

o, d

isse

, cor

tare

i a m

inha

, com

o fa

rás

com

a tu

a, s

e no

sso

argu

men

to v

ier

a m

orre

r e n

os re

vela

rmos

inca

paze

s de

lhe

dar l

ume

e vi

da. D

e m

inha

par

te, s

e eu

est

ives

se

em te

u lu

gar e

o a

rgum

ento

me

esco

rreg

asse

por

ent

re o

s de

dos,

faria

um

jura

men

to à

feiç

ão d

os A

rgiv

os, d

e nã

o de

ixar

cre

scer

os

cabe

los

enqu

anto

não

ven

cess

e em

luta

fran

ca

a pr

opos

ição

de

Sím

ias

e C

ibet

e.

Mas

, com

o se

cos

tum

a di

zer,

obje

tei-l

he, c

ontra

doi

s ne

m H

ércu

les

ague

nta.

Entã

o, c

ham

a-m

e em

teu

auxí

lio, e

nqua

nto

é di

a; s

erei

o te

u Io

lau.

Bem

, cha

mar

ei, l

he re

spon

di; p

orém

não

na

qual

idad

e de

Her

ácle

s: Io

lau

é qu

e va

i ch

amar

Her

ácle

s em

seu

aux

ílio.

Tant

o fa

z, m

e di

sse.

XX

XIX

– In

icia

lmen

te, p

reca

tem

o-no

s co

ntra

cer

to p

erig

o.

Qua

l ser

á? P

ergu

ntei

.

Para

não

fica

rmos

mis

ólog

os, d

isse

, com

o ou

tros

ficam

mis

antro

pos.

O q

ue d

e pi

or

pode

aco

ntec

er a

qua

lque

r pes

soa

é to

rnar

-se

inim

igo

da p

alav

ra. A

miso

logi

a e

a m

isan

tropi

a tê

m a

mes

ma

orig

em. O

ódi

o ao

s ho

men

s na

sce

do e

xces

so d

e co

nfia

nça

sem

ra

zão

de s

er, q

uand

o co

nsid

eram

os a

lgué

m fi

el, s

ince

ro e

ver

dade

iro, e

logo

dep

ois

desc

obrim

os q

ue s

e tra

ta d

e pe

ssoa

cor

rupt

a e

desl

eal,

e de

pois

out

ra m

ais

nas

mes

mas

co

ndiç

ões.

Vin

do is

so a

repe

tir-s

e vá

rias

veze

s co

m o

mes

mo

paci

ente

, prin

cipa

lmen

te s

e se

tra

tar d

e am

igos

íntim

os e

com

panh

eiro

s de

alto

cré

dito

, dep

ois

de d

ecep

ções

seg

uida

s, ac

aba

essa

pes

soa

por o

diar

os

hom

ens

e ac

redi

tar q

ue n

ingu

ém é

sin

cero

. Nun

ca o

bser

vast

e qu

e é

assi

m m

esm

o qu

e as

coi

sas

se p

assa

m.

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

E nã

o é

isso

ver

gonh

oso?

Con

tinuo

u. P

ois

é cl

aro

que

esse

indi

vídu

o pr

ocur

a o

conv

ívio

com

seu

s se

mel

hant

es s

em c

onhe

cer d

evid

amen

te a

nat

urez

a hu

man

a, p

ois

se

disp

uses

se d

e al

gum

a ex

periê

ncia

nas

sua

s re

laçõ

es c

om e

les,

teria

com

pree

ndid

o co

mo

é re

alm

ente

o m

undo

, ist

o é,

que

são

pou

cos

os in

diví

duos

inte

iram

ente

bon

s ou

mau

s de

to

do, e

que

a m

aior

ia c

onsti

tui o

mei

o-te

rmo.

Com

o as

sim?

Perg

unto

u.

É o

mes

mo

que

acon

tece

, pro

sseg

uiu,

com

as

pess

oas

exce

ssiv

amen

te b

aixa

s ou

ex

cess

ivam

ente

alta

s. Ju

lgas

que

pod

e ha

ver n

ada

mai

s ra

ro d

o qu

e en

cont

rarm

os u

m

hom

em m

uito

gra

nde

ou m

uito

peq

ueno

, ou

um c

ão, o

u se

ja o

que

for?

O m

esm

o se

dig

a do

ve

loz

e do

lent

o, d

o fe

io e

do

belo

, do

bran

co e

do

pret

o. O

u nã

o pe

rceb

este

que

em

tudo

is

so o

s ex

trem

os s

ão ra

ros

e po

uco

num

eros

os, e

os

da m

edia

nia,

ext

rem

amen

te fr

eqüe

ntes

e

em g

rand

e nú

mer

o?

Perf

eita

men

te, r

espo

ndi.

E nã

o te

par

ece,

con

tinuo

u, q

ue s

e se

org

aniz

asse

um

con

curs

o de

mal

dade

, os

prim

eiro

s se

apr

esen

taria

m e

m n

úmer

o m

uito

redu

zido

?

É m

uito

pro

váve

l, re

spon

di.

Sim

, mui

to p

rová

vel,

cont

inuo

u. P

orém

não

é s

ob e

sses

asp

ecto

que

os

argu

men

tos

se

pare

cem

com

os

hom

ens.

Nes

te p

asso

não

fiz

senã

o se

guir

tua

orie

ntaç

ão. A

sem

elha

nça

cons

iste

no

segu

inte

: qua

ndo

se a

dmite

a e

xatid

ão d

e um

arg

umen

to, s

em s

er-s

e ve

rsad

o na

ar

te d

a di

alét

ica,

pod

e ac

onte

cer q

ue lo

go d

epoi

s el

e no

s pa

reça

fals

o, às

vez

es c

om

fund

amen

to, o

utra

s ve

zes

sem

nen

hum

, e d

epoi

s m

ais

outro

e m

ais

outra

da

mes

ma

natu

reza

. Com

o sa

bes,

é o

que

se v

erifi

ca c

om o

s di

sput

ador

es d

e ra

zões

con

tradi

tória

s, qu

e ac

abam

por

con

side

rar-

se o

s m

aior

es s

ábio

s, po

r ser

em o

s ún

icos

a re

conh

ecer

que

nad

a há

de

são

e fi

rme,

nem

nas

coi

sas,

nem

no

raci

ocín

io, e

ncon

trand

o-se

tudo

, em

ver

dade

, em

pe

rman

ente

agi

taçã

o, ta

l com

o se

com

as

água

s do

Eur

ipo,

sem

per

man

ecer

nad

a, u

m s

ó in

stan

te, n

o m

esm

o es

tado

.

É m

uito

cer

to o

que

diz

es, o

bser

vei.

E se

, de

fato

, exi

ste

raci

ocín

io v

erda

deiro

e e

stáv

el, c

apaz

de

ser c

ompr

eend

ido,

não

se

ria d

e la

stim

ar, F

edão

, no

caso

de

ouvi

r alg

uém

ess

es a

rgum

ento

s qu

e or

a pa

rece

m

verd

adei

ros

ora

fals

os, e

m v

ez d

e in

culp

ar-s

e ou

à su

a pr

ópria

inca

paci

dade

, aca

bass

e po

r irr

itar-

se e

com

praz

er-s

e em

tira

r de

si a

cul

pa p

ara

lanç

ar n

o ra

cioc

ínio

, e p

assa

r, da

í por

di

ante

, o re

sto

da v

ida

a od

iá-l

o e

a de

prec

iá-l

o, c

om o

que

alca

nçar

ia p

rivar

-se

da

verd

ade

e do

con

heci

men

to d

as c

oisa

s?

Por Z

eus,

lhe

diss

e; s

eria

, de

fato

gra

nde

lást

ima.

XL

– A

ssim

, con

tinuo

u, d

e in

ício

pre

cisa

mos

aca

utel

ar-n

os c

ontra

sem

elha

nte

perig

o;

não

perm

itam

os o

ingr

esso

em

nos

sa a

lma

da id

éia

de q

ue n

ão h

á na

da s

ão e

m n

osso

ra

cioc

ínio

; dig

amos

, iss

o si

m, q

ue n

ós é

que

ain

da n

ão e

stam

os s

ufic

ient

emen

te s

ãos,

mas

qu

e de

vem

os e

sfor

çar-

nos

para

alc

ança

r ess

e de

side

rato

, tu

e os

dem

ais,

por c

ausa

da

vida

qu

e ai

nda

tend

es p

ela

fren

te; e

u, p

or m

otiv

o, ju

stam

ente

, da

mor

te. R

ecei

o m

uito

que

, ne

ste

mom

ento

em

que

a m

orte

é tu

do, n

ão m

e ha

ja c

omo

filós

ofo

ou a

mig

o da

sab

edor

ia.,

com

o se

com

os

indi

vídu

os m

uito

igno

rant

es. E

stes

tais

, qua

ndo

deba

tem

alg

um te

ma,

não

se

preo

cupa

m a

bsol

utam

ente

de

sabe

r com

o sã

o, d

e fa

to, a

s co

isas

a re

spei

to d

e qu

e ta

nto

disc

utem

, sen

ão e

m d

eixa

r con

venc

idos

os

circ

unst

ante

s de

sua

s pr

ópria

s as

serç

ões.

Nis

so

põem

todo

o e

mpe

nho.

Eu,

tam

bém

, num

pon

to a

pena

s, ag

ora,

me

dife

renc

io d

eles

: não

me

Page 18: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

esfo

rço

por d

emon

stra

r aos

pre

sent

es a

ver

dade

do

que

afirm

o, a

não

ser

com

o ac

essó

rio,

mas

por

con

venc

er-m

e, ta

nto

quan

to p

ossí

vel,

a m

im m

esm

o. M

eu c

álcu

lo, c

ompa

nhei

ro, é

o

segu

inte

; obs

erva

qua

nto

o ar

gum

ento

é in

tere

ssei

ro: S

e fo

r ver

dade

o q

ue e

u di

sse,

have

rá v

anta

gem

em

forta

lece

rmos

ess

a co

nvic

ção;

por

ém s

e na

da m

ais

houv

er d

epoi

s da

m

orte

, pel

o m

enos

não

impo

rtuna

rei o

s pr

esen

tes

com

min

has

lam

enta

ções

no

pouq

uinh

o de

tem

po q

ue a

inda

me

rest

a pa

ra v

iver

. Aliá

s, es

se e

stad

o de

coi

sas

não

vai d

urar

mui

to, o

qu

e se

ria m

au; a

caba

rá d

entro

de

pouc

o. P

repa

rado

des

se m

odo,

Sím

ias

e C

ebet

e,

cont

inuo

u, é

que

ace

itou

a di

scus

são.

Qua

nto

a vó

s ou

tros,

se m

e ac

eita

rdes

um

con

selh

o,

conc

edei

pou

ca a

tenç

ão a

Sóc

rate

s, po

rém

mui

to m

ais

a ve

rdad

e; s

e vo

s pa

rece

r que

verd

ade

no q

ue e

u di

go, c

onco

rdai

com

igo;

cas

o co

ntrá

rio, r

esis

ti qu

anto

pud

erde

s, ac

aute

land

o-vo

s pa

ra q

ue n

o m

eu e

ntus

iasm

o nã

o ve

nha

a en

gana

r-vo

s e

a m

im p

rópr

io e

m

e re

tire

com

o as

abe

lhas

, dei

xand

o em

todo

s vó

s o

agui

lhão

.

XLI

– P

orém

pro

ssig

amos

, con

tinuo

u. In

icia

lmen

te, l

embr

ai-m

e do

que

dis

sest

es, s

e vo

s pa

rece

r que

não

me

reco

rdo

mui

to b

em d

e tu

do, O

u m

uito

me

enga

no, S

ímia

s, ou

tens

vida

s de

rece

io d

e qu

e a

alm

a, a

pesa

r de

mai

s be

la e

div

ina

do

que

o co

rpo,

per

eça

ante

s de

ste,

por

ser

um

a es

péci

e de

har

mon

ia. C

ebet

e te

rá a

dmiti

do q

ue a

alm

a é

mai

s du

ráve

l do

que

o co

rpo,

mas

que

nin

guém

pod

e sa

ber s

e de

pois

de

gast

ar s

uces

siva

men

te m

uito

s co

rpos

, não

aca

bará

tam

bém

por

des

apar

ecer

, qua

ndo

aban

dona

r o ú

ltim

o co

rpo,

vin

do a

ser

is

so, p

reci

sam

ente

, a m

orte

: a d

estru

ição

da

alm

a, v

isto

não

par

ar n

unca

o c

orpo

de

mor

rer.

Não

é is

so m

esm

o, S

ímia

s e

Ceb

ete,

o q

ue p

reci

sam

os e

xam

inar

?

Am

bos

conf

irmar

am a

per

gunt

a.

E os

arg

umen

tos

ante

riore

s, pr

osse

guiu

, ace

itai-o

s po

r jun

to, o

u ad

miti

s al

guns

e

reje

itai o

utro

s?

Alg

uns,

sim

, res

pond

eram

, out

ros

não.

E qu

e di

zeis

, ent

ão, c

ontin

uou,

daq

uilo

do

com

eço

de q

ue a

pren

der é

reco

rdar

, e q

ue

se fo

r ass

im, a

nos

sa a

lma

terá

de

exis

tir e

m a

lgum

a pa

rte, a

ntes

de

vir a

fica

r pre

sa a

o co

rpo?

Qua

nto

a m

im, f

alou

Ceb

ete,

con

venc

este

-me

à mar

avilh

a co

m tu

a ex

posiç

ão, n

ão

have

ndo

outro

arg

umen

to q

ue a

té a

gora

me

tives

se d

espe

rtado

mai

or e

ntus

iasm

o.

Com

igo,

falo

u Sí

mia

s, dá

-se

a m

esm

a co

isa,

sen

do d

ifíci

l de

conc

eber

que

eu

venh

a a

mud

ar d

e op

iniã

o.

Entã

o, fa

lou

Sócr

ates

: No

enta

nto,

fora

stei

ro d

e Te

bas,

é o

que

terá

s de

faze

r, se

co

ntin

uare

s a

dize

r que

a h

arm

onia

é a

lgo

com

post

o, e

a a

lma,

um

a es

péci

e de

har

mon

ia

resu

ltant

e da

tens

ão d

os e

lem

ento

s co

nstit

utiv

os d

o co

rpo.

Poi

s de

certo

não

te p

erm

itirá

s af

irmar

que

a h

arm

onia

, sen

do u

m c

ompo

sto,

é a

nter

ior a

os e

lem

ento

s de

que

é fo

rmad

a.

Ou

afirm

arás

isso

mes

mo?

De

form

a al

gum

a, S

ócra

tes,

resp

onde

u.

E nã

o pe

rceb

es, c

ontin

uou,

que

é ju

stam

ente

o q

ue s

e dá

,qua

ndo

decl

aras

que

a a

lma

exis

tia a

ntes

de

ingr

essa

r no

corp

o do

hom

em e

de

lhe

assu

mir

a fo

rma,

por

ém é

com

post

a de

ele

men

tos

que

até

entã

o nã

o ex

istia

m?

Har

mon

ia n

ão é

o q

ue a

firm

as e

m tu

a co

mpa

raçã

o; a

o co

ntrá

rio: p

rimei

ro e

xist

em a

lira

, as

cord

as e

os

sons

, sem

nen

hum

a ha

rmon

ia. E

sta é

a ú

ltim

a a

form

ar-s

e, c

omo

é ta

mbé

m a

que

des

apar

ece

mai

s ce

do. D

e qu

e m

odo

porá

s em

con

sonâ

ncia

est

a as

serç

ão c

om o

que

dis

sest

e an

tes?

Não

jeito

, res

pond

eu S

ímia

s.

No

enta

nto,

pro

sseg

uiu,

se

é pr

ecis

o ha

ver c

onso

nânc

ia, é

qua

ndo

se tr

ata

de

harm

onia

.

Sem

dúv

ida,

obs

ervo

u Sí

mia

s.

Tuas

pro

posi

ções

são

des

arm

ônic

as, d

isse

. Por

con

segu

inte

, qua

l del

as e

scol

hes:

a d

e qu

e ap

rend

er é

reco

rdar

ou

a de

que

a a

lma

é a

harm

onia

?

Sobr

e to

dos

os p

onto

s, Só

crat

es, e

u pr

efiro

a p

rimei

ra, p

orqu

e a

outra

foi a

ceita

sem

de

mon

stra

ção,

por

par

ecer

-me

vero

ssím

il e

algu

m ta

nto

conv

enie

nte,

razã

o de

adm

iti-l

a a

mai

oria

dos

hom

ens.

No

enta

nto,

est

ou c

erto

de

que

as d

emon

stra

ções

nes

sas

com

para

ções

o pa

ssam

de

impo

stur

a, c

apaz

es d

e ilu

dir-

nos

se n

ão to

mar

mos

as

devi

das

prec

auçõ

es,

em g

eom

etria

com

em

tudo

mai

s. M

as o

arg

umen

to re

lativ

o ao

con

heci

men

to e

à re

min

iscên

cia

se b

asei

a nu

m p

rincí

pio

dign

o de

ace

itaçã

o, p

ois

foi a

ssev

erad

o qu

e no

ssa

alm

a ex

iste

ant

es m

esm

o de

ingr

essa

r no

corp

o, c

omo

o ex

ige

tua

rela

ção

com

a e

ssên

cia

daqu

ilo q

ue d

enom

inam

os O

que

é. O

ra, e

ssa

prop

osiç

ão, c

onfo

rme

esto

u co

nven

cido

, foi

po

r mim

ado

tada

com

arg

umen

tos

mui

to s

ólid

os. D

aí, v

er m

e fo

rçad

o, a

o qu

e pa

rece

, a n

ão

perm

itir q

ue n

em e

u, n

em n

ingu

ém a

firm

e qu

e a

alm

a é

harm

onia

.

XLI

I – E

o s

egui

nte,

Sím

ias,

perg

unto

u, c

omo

te p

arec

e: é

s de

opi

nião

que

a

harm

onia

, ou

qual

quer

out

ro c

ompo

sto,

pod

erá

proc

eder

de

man

eira

dife

rent

e da

dos

el

emen

tos

se q

ue é

feito

?

De

form

a al

gum

a.

Com

o ta

mbé

m n

ão p

oder

á, s

egun

do p

enso

, faz

er o

u so

frer

o q

ue q

uer q

ue s

eja

que

não

faça

m o

u so

fram

aqu

eles

ele

men

tos.

Con

cord

ou.

É qu

e nã

o co

mpe

te à

harm

onia

con

duzi

r os

elem

ento

s qu

e a

com

põem

, por

ém se

gui-

los.

Dec

laro

u-se

tam

bém

de

acor

do.

Logo

, de

nenh

um je

ito a

har

mon

ia p

oder

á m

over

-se

ou

soar

, ou

faze

r sej

a o

que

for

em c

ontrá

rio d

os e

lem

ento

s?

Não

com

pree

ndo,

dis

se.

Page 19: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Pois

não

é ce

rto q

ue s

e el

a es

tiver

mai

s ha

rmon

izad

a ou

em

gra

u m

aior

, a a

dmiti

rmos

qu

e se

ja p

ossí

vel s

emel

hant

e hi

póte

se, t

anto

mai

s ha

rmon

izad

a se

rá e

em

mai

or g

rau,

e s

e es

tiver

men

os e

em

gra

u m

enor

, ser

á m

enos

har

mon

izad

a e

em g

rau

men

or?

Perf

eita

men

te.

E da

alm

a, ju

stific

ar-s

e-á

dize

r a m

esm

a co

isa,

que

reve

la d

ifere

nça,

em

bora

mín

ima,

em s

er m

ais

alm

a e

em g

rau

mai

or d

o qu

e ou

tra, o

u m

enos

alm

a e

em g

rau

men

or, n

isso,

ju

stam

ente

, de

ser a

lma?

Nun

ca d

os n

unca

s, re

spon

deu.

Pass

emos

adi

ante

, con

tinuo

u, p

or Z

eus!

De

uma

alm

a nã

o di

zem

os q

ue é

dot

ada

de

razã

o e

de v

irtud

e, e

que

é b

oa, e

de

outra

, pel

o co

ntrá

rio, q

ue é

des

truíd

a de

sen

so, v

icio

sa

e m

á? E

não

est

ão c

erto

s os

que

afir

mam

sem

elha

nte

prop

osiç

ão?

Cer

tíssi

mo,

resp

onde

u.

Send

o as

sim

, os

que

adm

item

que

a a

lma

é ha

rmon

ia, c

omo

expl

icar

ão a

exi

stên

cia

dess

as q

ualid

ades

na

alm

a, a

sab

er, a

virt

ude

e o

víci

o? D

irão,

por

vent

ura,

que

se

trata

de

uma

harm

onia

ou

desa

rmon

ia d

e ou

tra e

spéc

ie?

Que

um

a de

las,

a bo

a, fo

i har

mon

izad

a e

que,

por

ser

har

mon

ia, p

ossu

i em

si m

esm

a es

sa m

odal

idad

e de

har

mon

ia, e

nqua

nto

a ou

tra,

por n

ão e

star

har

mon

izad

a, c

arec

e ab

solu

tam

ente

de

harm

onia

?

Não

sei

o q

ue re

spon

da, f

alou

Sím

ias;

por

ém q

uero

cre

r que

o a

dept

o de

ssa

dout

rina

se e

xpre

ssar

ia m

ais

ou m

enos

nes

ses

term

os.

No

enta

nto,

num

pon

to já

fica

mos

de

acor

do, c

ontin

uou:

que

nen

hum

a al

ma

é m

ais

alma

ou m

enos

alm

a do

que

out

ra, o

que

eqü

ival

e a

ace

itar q

ue n

enhu

ma

harm

onia

pod

erá

ser m

ais h

arm

onia

ou

mai

or –

ou

o in

vers

o –

do q

ue o

utra

, não

é v

erda

de?

Perf

eita

men

te.

Ora

, se

a ha

rmon

ia n

ão a

dmite

gra

us, n

ão s

e co

nceb

e, ta

mbé

m, q

ue p

ossa

fica

r mai

s ou

men

os h

arm

oniz

ada.

Não

é is

so m

esm

o?

Cer

to.

Mas

a h

arm

onia

que

não

for n

em m

ais h

arm

oniz

ada

nem

men

os, p

oder

á pa

rtici

par e

m

grau

dife

rent

e da

har

mon

ia, o

u se

mpr

e o

fará

na

mes

ma

prop

orçã

o?

Na

mes

ma.

Send

o as

sim

, a a

lma,

um

a ve

z qu

e nã

o se

rá is

so m

esm

o, a

lma,

nem

mai

s nem

men

os,

do q

ue o

utra

, tam

bém

não

pod

erá

ser m

ais

ou m

enos

har

mon

izad

a.

Exat

o.

Don

de v

em q

ue n

ão p

artic

ipar

á em

gra

u m

aior

nem

da

harm

onia

nem

da

desa

rmon

ia.

Não

, de

fato

.

Nes

sas

cond

içõe

s, ai

nda,

com

o po

deria

um

a al

ma

parti

cipa

r em

gra

u m

aior

ou

men

or

do q

ue o

utra

, da

virtu

de o

u do

víc

io, s

e o

víci

o fo

r des

arm

onia

e a

virt

ude,

har

mon

ia?

Não

é p

ossí

vel.

Logo

, Sím

ias,

se b

em c

onsi

dera

rmos

, nun

ca a

alm

a po

derá

par

ticip

ar d

o ví

cio,

se

ela

for,

de fa

to, h

arm

onia

, poi

s a

harm

onia

, evi

dent

emen

te, s

endo

sem

pre

de m

anei

ra p

erfe

ita o

qu

e é,

a s

aber

, har

mon

ia, n

ão p

artic

ipar

á da

des

arm

onia

.

Não

, de

fato

.

Com

o nã

o po

derá

a a

lma,

por

ser

tota

lmen

te a

lma,

par

ticip

ar d

o ví

cio.

Com

o o

pode

ria, d

e ac

ordo

com

o q

ue d

isse

mos

ant

es?

Com

o de

corr

ênci

a, p

orta

nto,

de

noss

o ar

gum

ento

ant

erio

r, as

alm

as d

e to

dos

os s

eres

vi

vos

são

igua

lmen

te b

oas,

se fo

rem

, por

nat

urez

a, ig

ualm

ente

alm

as.

É ta

mbé

m o

que

eu

pens

o, S

ócra

tes,

resp

onde

u.

E pa

rece

r-te

-ia

tam

bém

cer

ta a

exp

licaç

ão, c

ontin

uou,

e q

ue n

osso

arg

umen

to v

iria

a pa

rar n

isso

, se

foss

e ve

rdad

eira

a h

ipót

ese

de q

ue a

alm

a é

harm

onia

?

De

form

a al

gum

a, re

spon

deu.

XLI

I – E

ago

ra, f

alou

, de

tudo

o q

ue h

á no

hom

em, n

ão d

irás

ser a

alm

a, ju

stam

ente

, qu

e do

min

a, m

áxim

e qu

ando

dot

ada

de p

rudê

ncia

?

É o

que

diria

, sem

dúv

ida.

De

que

mod

o: c

onde

scen

dend

o co

m o

s ap

etite

s do

cor

po o

u, d

e pr

efer

ênci

a, o

pond

o-lh

es re

sist

ênci

a? O

que

dig

o é

o se

guin

te: s

e o

corp

o se

nte

calo

r ou

sede

, ela

o p

uxa

para

trá

s, pa

ra n

ão b

eber

, e s

e te

m fo

me,

par

a nã

o co

mer

, e n

uma

infin

idad

e de

situ

açõe

s co

mo

essa

vem

os a

alm

a op

or-s

e às

pai

xões

do

corp

o. O

u nã

o?

Perf

eita

men

te.

Por o

utro

lado

, não

adm

itim

os a

ntes

que

, no

caso

de

ser h

arm

onia

, nun

ca p

oder

ia

ficar

a a

lma

em d

isso

nânc

ia c

om a

s te

nsõe

s, os

rela

xam

ento

s e

as v

ibra

ções

de

seus

el

emen

tos

com

pone

ntes

, e q

ue, p

elo

cont

rário

, ela

sem

pre

os s

egui

ria, s

em n

unca

diri

gi-l

os?

Adm

itim

os is

so, p

or q

ue n

ão?

E ag

ora?

O q

ue v

erifi

cam

os n

ão é

que

ela

faz

prec

isam

ente

o c

ontrá

rio, d

irigi

ndo

todo

s os

ele

men

tos

de q

ue a

imag

inam

os c

ompo

sta,

opo

ndo-

se-l

hes

em q

uase

tudo

dur

ante

a

vida

inte

ira e

dom

inan

do-o

s de

mil

mod

os, à

s ve

zes

por m

eio

de c

astig

os v

iole

ntos

e

dolo

roso

s, do

âm

bito

da

giná

stic

a e

da m

edic

ina,

às v

ezes

por

mei

os s

uasó

rios,

com

Page 20: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

amea

ças

ou a

dmoe

staç

ões,

em fr

anco

diá

logo

com

os

apet

ites,

as c

óler

as e

os

tem

ores

? É

com

o im

agin

a H

omer

o iss

o m

esm

o na

Odi

sséi

a qu

ando

diz

que

Odi

sseu

.

Bat

e, in

dign

ado,

no

peito

e a

si p

rópr

io d

esta

arte

se

expr

ime:

Sê, c

oraç

ão, p

acie

nte,

poi

s vi

da m

ais

baix

a e

mes

quin

ha já

sup

orta

ste.

Pens

as, e

ntão

, que

, ao

com

por e

ssa

pass

agem

, ele

con

side

rava

a a

lma

uma

espé

cie

de

harm

onia

, cap

az d

e se

r diri

gida

pel

as d

ispo

siçõ

es d

o co

rpo,

ou

o co

ntrá

rio, p

rópr

ia p

ara

dirig

i-lo

e do

min

á-lo

, por

ser

alg

o, ju

stam

ente

, mui

to m

ais

divi

no d

o qu

e um

a sim

ples

ha

rmon

ia?

Por Z

eus,

Sóc

rate

s, é

tam

bém

o q

ue e

u pe

nso.

Por c

onse

guin

te, m

eu c

aro,

de

jeito

nen

hum

fica

rá b

em p

ara

nós

afirm

ar q

ue a

alm

a é

uma

espé

cie

de h

arm

onia

. Poi

s de

sse

mod

o, a

o qu

e pa

rece

, não

nos

por

íam

os n

em d

e ac

ordo

com

Hom

ero,

o d

ivin

o po

eta,

nem

mes

mo

cono

sco.

É m

uito

cer

to, d

isse

.

XLI

V –

Mui

to b

em, f

alou

Sóc

rate

s; tu

do in

dica

que

Har

mon

ia, a

div

inda

de te

bana

, já

se n

os to

rnou

pro

píci

a. E

ago

ra, C

ebet

e, c

ontin

uou,

de

que

jeito

apl

acar

emos

Cad

mo,

e c

om

que

argu

men

tos?

Tenh

o ce

rteza

de

que

tu m

esm

o os

enc

ontra

rás

falo

u C

ebet

e. T

ua a

rgum

enta

ção

a re

spei

to d

a ha

rmon

ia fo

i not

ável

; ultr

apas

sou

de m

uito

min

ha e

xpec

tativ

a. Q

uand

o Sí

mia

s te

opô

s s

uas

dific

ulda

des,

eu ti

nha

quas

e ce

rteza

que

não

ser

ia p

ossí

vel r

efut

ar a

teor

ia p

or

ele

apre

sent

ada.

Daí

min

ha g

rand

e su

rpre

sa, p

or v

er q

ue e

la n

ão re

sistiu

ao

prim

eiro

ass

alto

da

tua.

Nad

a m

e ad

mira

ria, p

or c

onse

guin

te, s

e ac

onte

cess

e a

mes

ma

cois

a co

m o

ar

gum

ento

de

Cad

mo.

Não

fale

s de

mai

s, ca

ro a

mig

o, in

terp

elou

-o S

ócra

tes,

para

que

alg

um m

au-o

lhad

o nã

o ve

nha

desa

rticu

lar n

osso

pró

xim

o di

scur

so. P

orém

dei

xem

os is

so a

car

go d

a di

vind

ade;

o

que

nos

com

pete

é c

ongr

egar

esf

orço

s, co

mo

acon

selh

a H

omer

o, p

ara

ver o

que

dis

sest

e te

m a

lgum

val

or. R

esum

e-se

no

segu

inte

o q

ue p

rocu

ras:

Exi

ges

prov

as d

e qu

e no

ssa

alm

a é

impe

recí

vel e

imor

tal,

para

que

o fi

lóso

fo q

ue e

stej

a no

pon

to d

e m

orre

r se

enco

raje

e

acre

dite

que

dep

ois

da m

orte

se

sent

irá m

uito

mel

hor n

o ou

tro m

undo

do

que

se v

ives

se d

e m

anei

ra d

ifere

nte

até

o fim

, e n

ão s

e m

ostre

cor

ajos

o po

r mod

o es

tulto

e ir

raci

onal

. A

dem

onst

raçã

o de

que

a a

lma

é al

go fo

rte e

sem

elha

nte

à div

inda

de, e

que

exi

stia

ant

es d

e no

s to

rnam

os h

omen

s, nã

o im

pede

, seg

undo

dis

sest

e, q

ue tu

do is

so n

ão p

rova

que

ela

sej

a m

orta

l, m

as tã

o-so

men

te q

ue é

rela

tivam

ente

dur

ável

e q

ue a

ntes

pod

erá

ter v

ivid

o al

gure

s um

tem

po in

defin

ido

e ap

rend

ido

e pr

atic

ado

mui

ta c

oisa

. Mas

nem

por

isso

ser

á im

orta

l. Se

u in

gres

so n

o co

rpo

pode

rá s

er o

com

eço

de s

ua p

rópr

ia d

estru

ição

, um

a es

péci

e de

do

ença

. Ass

im, c

ansa

da d

e ca

rreg

ar o

fard

o de

sta

vida

, aca

bará

por

des

apar

ecer

no

que

deno

min

amos

mor

te C

onfo

rme

dize

s, é

indi

fere

nte

ingr

essa

r ela

no

corp

o um

a só

vez

ou

mui

tas,

no q

ue re

spei

te a

o m

edo

que

todo

s nó

s m

anife

stam

os. A

liás,

just

ifica

-se

esse

med

o,

a m

enos

que

se

trate

de

pess

oa in

sens

ata,

por

não

est

arm

os e

m c

ondi

ções

de

dem

onst

rar q

ue

a al

ma

é im

orta

l. Es

se é

, mai

s ou

men

os, C

ebet

e, o

sen

tido

de tu

as p

alav

ras.

De

caso

pens

ado,

insi

sto

no m

esm

o ar

gum

ento

s, pa

ra q

ue n

ão n

os e

scap

e ne

nhum

a pa

rticu

larid

ade

e po

ssas

, cas

o qu

eira

s, ac

resc

enta

r ou

tirar

alg

uma

cois

a.

Ao

que

Ceb

ete

resp

onde

u: P

or e

nqua

nto,

nad

a te

nho

a ac

resc

enta

r ou

a re

tirar

; foi

is

so m

esm

o qu

e eu

dis

se.

XLV

– D

uran

te a

lgum

tem

po S

ócra

tes

se c

onse

rvou

cal

ado,

com

o se

refle

tisse

a s

ós

cons

igo.

Dep

ois

cont

inuo

u: O

pro

blem

a co

m q

ue te

ocu

pas,

Ceb

ete,

é d

e su

ma

impo

rtânc

ia;

prec

isar

emos

inve

stig

ar a

fund

o a

natu

reza

do

nasc

imen

to e

da

mor

te. S

e te

r par

ecer

, vou

co

ntar

-te

o qu

e se

pas

sou

com

igo

ness

e pa

rticu

lar.

Dep

ois,

se a

char

es o

que

eu

diss

er d

e al

gum

a ut

ilida

de p

ara

refo

rçar

a tu

a te

se, p

odes

util

izá-

los

com

o be

m e

nten

dere

s.

Não

des

ejo

outra

coi

sa, f

alou

Ceb

ete.

Entã

o, o

uve

o qu

e pa

sso

a re

lata

r-te

. O fa

to, C

ebet

e, é

qua

ndo

eu e

ra m

oço

sent

ia-m

e to

mad

o do

des

ejo

irres

istív

el d

e ad

quiri

r ess

e co

nhec

imen

to a

que

dão

o n

ome

de H

istó

ria

Nat

ural

. Afig

urav

a-se

-me,

real

men

te, m

arav

ilhos

o co

nhec

er a

cau

sa d

e tu

do, o

por

quê

do

nasc

imen

to e

da

mor

te d

e ca

da c

oisa

, e a

razã

o de

exi

stire

m. V

ezes

sem

con

ta m

e pu

nha

a re

fletir

em

todo

s os

sen

tidos

, ini

cial

men

te a

resp

eito

de

ques

tões

com

o a

segu

inte

: Ser

á qu

ando

o c

alor

e o

frio

pas

sam

por

um

a es

péci

e de

ferm

enta

ção,

con

form

e al

guns

afir

mam

, qu

e se

form

am o

s an

imai

s? É

por

mei

o do

san

gue

que

pens

amos

? O

u do

ar?

Ou

do fo

go?

Ou

nada

dis

so e

star

á ce

rto, v

indo

a s

er o

cér

ebro

que

orig

em às

sen

saçõ

es d

a vi

sta,

do

ouvi

do e

do

olfa

to, d

as q

uais

sur

giria

a m

emór

ia e

a o

pini

ão, e

, da

mem

ória

e d

a op

iniã

o,

uma

vez,

torn

adas

cal

mas

, nas

ceria

o c

onhe

cim

ento

? D

e se

guid

a, o

cupe

i-me

com

a

corr

upçã

o da

s co

isas

e c

om a

s m

odifi

caçõ

es d

o cé

u e

da te

rra,

par

a ch

egar

à co

nclu

são

de

que

nada

de

prov

eito

so s

e tir

ava

de m

inha

inap

tidão

par

a co

nsid

eraç

ões

dess

a na

ture

za.

Vou

dar

-te

uma

prov

a el

oque

nte

diss

o m

esm

o. P

ara

as c

oisa

s qu

e, s

egun

do m

eu p

rópr

io

pare

cer e

de

outra

s pe

ssoa

s, eu

con

heci

a be

m, a

tal p

onto

me

deix

aram

ceg

o se

mel

hant

es

espe

cula

ções

, que

che

guei

a d

esap

rend

er a

té m

esm

o o

que

ante

s eu

pre

sum

ia c

onhe

cer,

entre

out

ras,

por e

xem

plo,

por

que

o h

omem

cre

sce.

Até

ent

ão, e

u im

agin

ava

ser e

vide

nte

para

toda

gen

te q

ue o

hom

em c

re3s

ce p

orqu

e co

me

e be

be; p

ois

quan

do, p

ela

alim

enta

ção,

a

carn

e se

junt

a à c

arne

e o

oss

o ao

oss

o, e

, sem

pre

de a

cord

o co

m o

mes

mo

proc

esso

, as

dem

ais

parte

s do

cor

po s

ão a

cres

cida

s de

ele

men

tos

afin

s, a

mas

sa q

ue a

ntes

era

peq

uena

se

torn

a vo

lum

osa,

do

que

resu

lta fi

car g

rand

e o

hom

em p

eque

no. E

ra a

ssim

que

eu

pens

ava.

N

ão te

par

ece

razo

ável

?

Sem

dúv

ida,

falo

u C

ebet

e.

Ref

lete

tam

bém

no

segu

inte

: Sem

pre

cons

ider

ei s

ufic

ient

e, q

uand

o al

guém

par

ecia

al

to a

o la

do d

e ou

tra p

esso

a de

peq

uena

est

atur

a, d

izer

que

a u

ltrap

assa

va d

e um

a ca

beça

, o

mes

mo

acon

tece

ndo

com

um

cav

alo

em c

onfr

onto

com

o o

utro

. Mai

s cl

aram

ente

, ain

da: o

mer

o de

z se

me

afig

urav

a m

aior

do

que

o nú

mer

o oi

to p

or a

junt

ar-s

e do

is a

est

e úl

timo,

co

mo

o cú

bito

dup

lo s

eria

mai

or d

o qu

e o

sim

ples

por

ultr

apas

sá-l

o de

met

ade.

E ag

ora,

per

gunt

ou C

ebet

e, c

omo

te p

arec

e?

Com

o es

tou

long

e, p

or Z

eus,

cont

inuo

u, d

e im

agin

ar q

ue c

onhe

ço a

cau

sa d

e tu

do

isso

! Poi

s nu

nca

cheg

o a

com

pree

nder

, no

caso

de

acre

scen

tar u

ma

unid

ade

a ou

tra, s

e é

a

Page 21: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

unid

ade

a qu

e es

ta ú

ltim

a fo

i acr

esce

ntad

a qu

e se

torn

ou d

uas,

ou s

e fo

i a a

cres

cent

ada,

ju

ntam

ente

com

a p

rimei

ra, q

ue fi

cara

m d

uas,

pelo

fato

de

uma

ter s

ido

acre

scen

tada

à ou

tra. N

ão p

odia

ent

ende

r que

, est

ando

sep

arad

as, c

ada

uma

era

uma

unid

ade,

não

dua

s, e

que

o fa

to d

e fic

arem

junt

as fo

i a c

ausa

de

se to

rnar

em d

uas,

a sa

ber,

por t

erem

sid

o po

stas

la

do a

lado

. Do

mes

mo

mod

o, n

ão c

onse

guia

con

venc

er-m

e de

ser

ess

a a

caus

a de

torn

ar-s

e du

as a

uni

dade

, a s

aber

: a d

ivis

ão. S

eria

pre

cisa

men

te o

opo

sto

do q

ue a

ntes

nos

ens

ejar

a du

as u

nida

des:

naq

uela

oca

sião

, foi

isso

con

segu

ido

por s

e ap

roxi

mar

em a

s du

as e

fica

rem

la

do a

lado

; ago

ra, p

orém

, a c

ausa

foi a

sep

araç

ão e

o a

fast

amen

to d

elas

dua

s. A

ssim

, ta

mbé

m, n

ão a

cred

ito s

aber

com

o se

ger

a a

unid

ade,

nem

, par

a di

zer t

udo,

com

o na

sce

ou

mor

re o

u ex

iste

sej

a o

que

for,

a ac

eita

rmos

o p

rincí

pio

dess

e m

étod

o. P

refir

o ar

risca

r-m

e no

utra

dire

ção;

ess

e ca

min

ho n

ão m

e se

rve.

XLV

I – A

o ou

vir,

poré

m, c

erta

vez

alg

uém

ler n

um li

vro

de A

naxá

gora

– s

egun

do

dizi

a –

que

a m

ente

é o

rgan

izad

ora

e ca

usa

de tu

do, f

ique

i sat

isfe

itíss

imo

com

sem

elha

nte

caus

a, p

or p

arec

er-m

e de

alg

um m

odo,

mui

to c

erto

que

a m

ente

foss

e a

caus

a de

tudo

, te

ndo

imag

inad

o qu

e, a

ser

ass

im m

esm

o, c

omo

coor

dena

dora

do

Uni

vers

o, a

men

te

disp

oria

cad

a co

isa

parti

cula

r pel

a m

elho

r man

eira

pos

síve

l. Se

alg

uém

qui

sess

e ex

plic

ar a

ca

usa

de c

omo

algu

ma

cois

a na

sce

ou m

orre

ou

exis

te, t

eria

ape

nas

de d

esco

brir

qual

é a

m

elho

r man

eira

par

a el

a de

exi

stir,

sof

rer o

u pr

oduz

ir se

ja o

que

for.

Segu

ndo

esse

crit

ério

, só

o q

ue im

porta

ao

hom

em c

onsi

dera

r, ta

nto

em re

laçã

o a

si m

esm

o co

mo

a tu

do o

mai

s, é

o m

odo

mel

hor e

mai

s pe

rfei

to. D

esse

jeito

, fic

aria

nec

essa

riam

ente

con

hece

ndo

o pi

or, p

or

ambo

s se

rem

obj

eto

do m

esm

o co

nhec

imen

to. D

epoi

s de

ssas

refle

xões

, ale

grei

-me

ao

pens

ar q

ue h

avia

enc

ontra

do e

m A

naxá

gora

s um

pro

fess

or d

a ca

usa

das

cois

as c

omo

havi

a m

uito

eu

dese

java

, que

com

eçar

ia p

or d

izer

-me

se a

Ter

ra é

cha

ta o

u re

dond

a, e

dep

ois

me

expl

icar

ia a

cau

sa e

a n

eces

sida

de d

essa

form

a, re

corr

endo

sem

pre

ao p

rincí

pio

do m

elho

r, co

m d

emon

stra

r que

par

a a

Terr

a er

a m

elho

r mes

mo

ser a

ssim

. No

caso

de

dize

r que

a

Terr

a se

enc

ontr

a no

cen

tro, e

xplic

aria

por

que

mot

ivo

é m

elho

r par

a el

a fic

ar n

o ce

ntro

. Se

ele

me

dem

onst

rass

e es

se p

onto

, dec

idir

-me-

ia, d

e um

a ve

z po

r tod

as, a

não

pro

cura

r out

ra

espé

cie

de c

ausa

. O m

esm

o fa

ria c

om re

laçã

o ao

Sol

, à L

ua, e

aos

out

ros

astro

s, no

que

diz

resp

eito

à su

a ve

loci

dade

rela

tiva,

o p

onto

de

conv

ersã

o e

dem

ais

acid

ente

a q

ue e

stão

su

jeito

s, be

m c

omo

a ra

zão

de s

er m

elho

r par

a ca

da u

m d

eles

faze

r o q

ue fa

zem

ou

sofr

er o

qu

e so

frem

. Um

mom

ento

seq

uer n

ão p

odia

adm

itir q

ue, d

epoi

s de

afir

mar

que

tudo

est

á or

dena

do p

ela

men

te, i

ndic

asse

out

ra c

ausa

que

não

a d

e se

r mel

hor p

ara

tudo

pro

cede

r co

mo

proc

edem

. Ao

atrib

uir u

ma

caus

a pa

rticu

lar a

cad

a co

isa

e ao

con

junt

o, e

stav

a ce

rto

de q

ue n

o m

esm

o po

nto

dem

onst

raria

o q

ue p

ara

cada

um

era

mel

hor e

em

que

con

sistia

pa

ra to

dos

o be

m c

omum

. Por

nad

a do

mun

do a

briri

a m

ão d

essa

esp

eran

ça. P

or is

so,

have

ndo

tom

ado

do li

vro

com

sof

regu

idão

, li-

o de

um

fôle

go, p

ara

pode

r fic

ar c

onhe

cend

o,

o m

ais

depr

essa

pos

síve

l, ta

nto

o m

elho

r com

o p

ior.

XLV

II –

Por

ém, n

ão d

emor

ei, c

ompa

nhei

ro, a

cai

r do

alto

des

sa m

arav

ilhos

a ex

pect

ativ

a, a

o pr

osse

guir

na le

itura

e v

erifi

car q

ue o

nos

so h

omem

não

reco

rria

à m

ente

pa

ra n

ada,

nem

a q

ualq

uer o

utra

cau

sa p

ara

a ex

plic

ação

da

orde

m n

atur

al d

as c

oisa

s, se

não

só o

ar,

ao é

ter,

à águ

a, e

um

a in

finid

ade

mai

s de

cau

sas

extra

vaga

ntes

. Qui

s pa

rece

r-m

e qu

e co

m e

le a

cont

ecia

com

o co

m q

uem

com

eças

se p

or d

ecla

rar q

ue tu

do o

que

Sóc

rate

s fa

z é

dete

rmin

ado

pela

inte

ligên

cia,

par

a de

pois

, ao

tent

ar a

pres

enta

r a c

ausa

de

cada

um

dos

m

eus

atos

, afir

mar

, de

iníc

io, q

ue a

razã

o de

enc

ontra

r-m

e se

ntad

o ag

ora

nest

e lu

gar é

ter o

co

rpo

com

post

o de

oss

os e

mús

culo

s, p

or s

erem

os

osso

s du

ros

e se

para

dos

uns

dos

outro

s

pela

s ar

ticul

açõe

s, e

os m

úscu

los

de ta

l mod

o co

nstit

uído

s qu

e po

dem

con

trair

-se

ou

rela

xar-

se, e

por

cob

rirem

os

osso

s, ju

ntam

ente

com

a c

arne

e a

pel

e qu

e os

env

olve

m.

Send

o m

óvei

s os

oss

os e

m s

uas

artic

ulaç

ões,

pela

con

traçã

o ou

rela

xam

ento

dos

mús

culo

s fic

o em

con

diçõ

es d

e do

brar

nes

te m

omen

to o

s m

embr

os, r

azão

de

esta

r ago

ra s

enta

do a

qui

com

as

pern

as fl

ectid

as. A

mes

ma

cois

a se

dar

ia, s

e a

resp

eito

de

noss

a co

nver

saçã

o in

dica

sse

com

o ca

usa

a vo

z, o

ar,

os s

ons,

e m

il ou

tras

parti

cula

ridad

es d

o m

esm

o tip

o,

poré

m s

e es

quec

esse

de

men

cion

ar a

s ve

rdad

eira

s ca

usas

, a s

aber

: pel

o fa

to d

e ha

vere

m

acor

dado

os

Ate

nien

ses

em c

onde

nar-

me,

par

eceu

-me,

tam

bém

, mel

hor f

icar

sen

tado

aqu

i, e

mai

s ju

sto

subm

eter

-se

nest

e lo

cal à

pen

a co

min

ada.

Sim

, é is

so, p

elo

cão!

Poi

s de

mui

to,

quer

o cr

er, e

ste

mús

culo

s e

este

s os

sos

esta

riam

em

Még

ara

ou e

ntre

o B

eóci

os, m

ovid

os

pela

idéi

a do

mel

hor,

se n

ão m

e pa

rece

sse

mui

to m

ais

just

o e

belo

, em

vez

de

evad

ir-m

e e

fugi

r, su

bmet

er-m

e à p

ena

que

a ci

dade

me

impu

sera

. É o

cúm

ulo

do a

bsur

do d

ar o

nom

e de

cau

sa a

sem

elha

ntes

coi

sas.

Se a

lgué

m d

isse

sse

que

sem

oss

os e

mús

culo

s e

tudo

o m

ais

que

tenh

o no

cor

po e

u nã

o se

ria c

apaz

de

pôr e

m p

rátic

a ne

nhum

a re

solu

ção,

fala

ria

verd

ade.

Por

ém a

firm

ar q

ue é

por

cau

sa d

isso

que

eu

faço

o q

ue e

u fa

ço, e

que

, ass

im

proc

eden

do, m

e va

lho

da in

telig

ênci

a, p

orém

não

em

virt

ude

da e

scol

ha d

o m

elho

r, é

leva

r ao

ext

rem

o a

impr

ecisã

o da

ling

uage

m e

reve

lar-

se in

capa

z de

com

pree

nder

que

um

a co

isa

é a

verd

adei

ra c

ausa

, e o

utra

, mui

to d

ifere

nte,

aqu

ilo q

ue s

em a

cau

sa ja

mai

s po

derá

ser

ca

usa.

A m

eu p

arec

er, é

just

amen

te is

so o

que

faz

a m

aior

ia d

os h

omen

s, co

mo

que

a ta

tear

na

s tre

vas,

empr

egan

do u

m te

rmo

impr

óprio

e o

des

igna

ndo

com

o ca

usa.

Daí

, env

olve

r um

de

les

a Te

rra n

um tu

rbilh

ão e

dei

xá-l

a im

óvel

deb

aixo

do

céu,

enq

uant

o ou

tro a

con

cebe

à m

anei

ra d

e um

a ga

mel

a la

rga,

que

tem

com

o su

porte

o a

r. Q

uant

o à p

otên

cia

que

dete

rmin

ou a

atu

al d

ispo

siçã

o da

s co

isas

pel

a m

elho

r man

eira

, nem

a p

rocu

ram

nem

co

nceb

em q

ue s

eja

dota

da d

e al

gum

pod

er s

uper

ior,

por s

e ju

lgar

em c

apaz

es d

e en

cont

rar

algu

m A

tlant

e m

ais f

orte

e m

ais i

mor

tal d

o qu

e el

a, p

ara

man

ter c

oeso

o c

onju

nto

das

cois

as. M

as q

ue o

bem

, de

fato

, e a

nec

essi

dade

aba

rque

m e

ligu

em to

das

as c

oisa

s, é

o qu

e nã

o ad

mite

m d

e ne

nhum

mod

o. D

e m

inha

par

te, p

ara

ficar

sab

endo

com

o at

ua s

emel

hant

e ca

usa,

de

mui

to b

om g

rado

me

faria

dis

cípu

lo d

e qu

em q

uer q

ue fo

sse.

Mas

, um

a ve

z qu

e nã

o a

conh

eço

nem

me

acho

em

con

diçõ

es d

e de

scob

ri-la

por

mim

pró

prio

nem

de

apre

nder

co

m o

utro

s o

que

ela

seja

: que

res

que

te fa

ça u

ma

desc

rição

com

plet

a, C

ebet

e, d

e co

mo

empr

eend

i o s

egun

do ro

teiro

de

nave

gaçã

o pa

ra a

inve

stig

ação

da

caus

a?

Não

o qu

e eu

mai

s de

seje

, res

pond

eu.

XLV

III –

De

segu

ida,

con

tinuo

u, já

can

sado

de

cons

ider

ar a

s co

isas

, hou

ve q

ue e

ra

prec

iso

prec

atar

-me

para

não

aco

ntec

er c

omig

o o

que

se d

á co

m a

s pe

ssoa

s qu

e ob

serv

am e

co

ntem

plam

o S

ol q

uand

o há

ecl

ipse

: por

vez

es p

erde

m a

vis

ta, s

e nã

o ol

ham

ape

nas

para

a

imag

em d

ele

na á

gua

ou n

algu

m m

eio

sem

elha

nte.

Pen

sei n

essa

pos

sibili

dade

e re

ceei

fica

r co

m a

lma

inte

iram

ente

ceg

a, s

e fix

asse

os

olho

s na

s co

isas

e p

rocu

rass

e al

canç

á-la

s po

r m

eio

de u

m d

os s

entid

os. P

arec

eu-m

e ac

onse

lháv

el a

colh

er-m

e ao

pen

sam

ento

, par

a ne

le

cont

empl

ar a

ver

dade

ira n

atur

eza

das

cois

as. É

mui

to p

rová

vel q

ue m

inha

com

para

ção

clau

diqu

e um

pou

co, p

ois

esto

u lo

nge

de a

dmiti

r que

que

m c

onsi

dera

as

cois

as p

or m

eio

do

pens

amen

to s

ó co

ntem

ple

suas

imag

ens,

o qu

e nã

o se

com

que

as

vê n

a re

alid

ade.

De

qual

quer

mod

o, m

eu c

amin

ho fo

i ess

e. E

m c

ada

caso

par

ticul

ar, p

arto

sem

pre

do p

rincí

pio

que

se m

e af

igur

a m

ais

forte

, con

side

rand

o ve

rdad

eiro

o q

ue c

om e

le c

onco

rda,

ou

se tr

ate

de c

ausa

s ou

do

que

for,

e co

mo

fals

o o

que

não

afin

a co

m e

le. V

ou e

xpor

-te

com

mai

or

clar

eza

min

ha m

anei

ra d

e pe

nsar

, poi

s qu

er p

arec

er-m

e qu

e nã

o a

apre

ende

ste

mui

to b

em.

Page 22: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Não

mui

to, p

or Z

eus,

resp

onde

u C

ebet

e.

XLI

X –

No

enta

nto,

pro

sseg

uiu,

o q

ue e

u di

go n

ão é

nov

o, m

as o

que

sem

pre

afirm

ei,

tant

o no

utra

s oc

asiõ

es c

omo

em n

ossa

arg

umen

taçã

o re

cent

e. V

ou te

ntar

mos

trar-

te a

na

ture

za d

a ca

usa

por m

im e

stud

ada,

vol

tand

o a

trata

r daq

uilo

mes

mo

de q

ue te

nho

fala

do

toda

a v

ida,

par

a, d

e sa

ída,

adm

itir q

ue e

xist

e o

belo

em

si,

e o

bem

, e o

gra

nde,

e tu

do o

m

ais

da m

esm

a es

péci

e. S

e m

e ac

eita

res

esse

pon

to e

con

cord

ares

que

exi

stem

, ten

ho

espe

ranç

a de

mos

trar-

te a

cau

sa e

pro

var a

imor

talid

ade

da a

lma.

Adm

ite q

ue já

con

cedi

tudo

, fal

ou C

ebet

e, p

ara

não

atra

sare

s a

inda

mai

s tu

a ex

posi

ção.

Entã

o, c

onsi

dera

o q

ue s

e se

gue,

con

tinuo

u, p

ara

ver s

e es

tás

de a

cord

o co

mig

o. O

qu

e m

e pa

rece

é q

ue s

e ex

iste

alg

o be

lo a

lém

do

belo

em

si,

só p

oder

á se

r bel

o po

r pa

rtici

par d

o be

lo e

m s

i. O

mes

mo

afirm

o de

tudo

o m

ais.

Adm

ites

essa

esp

écie

de

caus

a?

Adm

ito, r

espo

ndeu

.

Entã

o, já

não

com

pree

ndo,

con

tinuo

u, a

s ou

tras

caus

as, d

e pu

ra e

rudi

ção,

nem

co

nsig

o ex

plic

á-la

s. E

se, p

ara

justi

ficar

a b

elez

a de

alg

uma

coisa

, alg

uém

me

fala

r de

sua

cor b

rilha

nte,

ou

da fo

rma,

ou

do q

ue q

uer q

ue s

eja,

dei

xo tu

do o

mai

s de

lado

, que

cont

ribui

par

a at

rapa

lhar

-me,

e m

e at

enho

úni

ca e

sim

ples

men

te, t

alve

z m

esm

o co

m u

ma

boa

dose

de

inge

nuid

ade,

ao

meu

pon

to d

e vi

sta,

a s

aber

, que

nad

a m

ais

a de

ixa

bela

sen

ão

tão

só a

pre

senç

a ou

com

unic

ação

daq

uela

bel

eza

em si

m, q

ualq

uer q

ue se

ja o

mei

o ou

ca

min

ho d

e se

lhe

acre

scen

tar.

De

tudo

o m

ais

não

faço

gra

nde

cabe

dal;

o qu

e di

go é

que

é

pela

bel

eza

em s

i que

as

cois

as b

elas

são

bel

as. N

a m

inha

opi

nião

, ess

a é

a m

anei

ra m

ais

certa

de

resp

onde

r, ta

nto

a m

im m

esm

o co

mo

aos

outro

s. Fi

rman

do-m

e ne

ssa

posi

ção,

te

nho

certe

za d

e nã

o vi

r a c

air e

de

que

tant

o eu

com

o qu

alqu

er p

esso

a em

idên

ticas

ci

rcun

stân

cias

pod

erá

resp

onde

r com

seg

uran

ça q

ue é

pel

a be

leza

que

as

cois

as b

elas

são

be

las.

Não

te p

arec

e?

Sem

dúv

ida.

Com

o é

por m

eio

da g

rand

eza

que

o gr

ande

é g

rand

e e

o m

aior

é m

aior

, e p

elo

da

pequ

enez

que

o p

eque

no é

peq

ueno

.

Cer

to.

Logo

, tam

bém

não

con

cord

aria

s co

m q

ue d

isse

sse

que

um h

omem

é m

aior

do

que

outro

um

a ca

beça

, nem

que

é m

enor

é ta

mbé

m u

ma

cabe

ça m

enor

do

que

o pr

imei

ro, p

orém

pe

rsis

tiria

s na

def

esa

de tu

a pr

opos

ição

, de

que

na tu

a m

anei

ra d

e pe

nsar

tudo

o q

ue é

gr

ande

pode

ser

gra

nde

por c

ausa

da

gran

deza

, nad

a m

ais,

send

o es

ta, a

gra

ndez

a, q

ue

deix

a gr

ande

s as

coi

sas,

com

o o

pequ

eno

só s

erá

pequ

eno

por c

ausa

da

pequ

enez

, vin

do a

se

r ist

o m

esm

o, a

peq

uene

z, q

ue d

eixa

peq

ueno

o p

eque

no, d

e m

edo,

que

ro c

rer,

no c

aso

de

afirm

ares

que

um

hom

em é

mai

or o

u m

enor

do

que

o ou

tro u

ma

cabe

ça, q

ue p

udes

se

algu

ém o

bjet

ar-t

e, p

rimei

ro, q

ue é

pel

a m

esm

a co

isa

que

o m

aior

é m

aior

e o

men

or é

m

enor

; dep

ois,

que,

sen

do p

eque

na a

cab

eça,

é p

or m

eio

dela

que

o m

aior

é m

aior

,

verd

adei

ro d

ispa

rate

: vir

a se

r alg

uém

gra

nde

por c

ausa

do

que

é pe

quen

o. N

ão te

arr

ecei

as

diss

o?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u rin

do C

ebet

e.

Com

o ta

mbé

m re

cear

ias

dize

r, co

ntin

uou,

que

dez

e d

ois

mai

s do

que

oito

, sen

do

essa

a ra

zão

de u

ltrap

assá

-lo,

não

pel

a qu

antid

ade

e po

r cau

sa d

a qu

antid

ade,

com

o o

cúbi

to

mai

or é

um

a m

etad

e m

aior

do

que

o si

mpl

es, n

ão p

or c

ausa

da

gran

deza

. O p

erig

o é

o m

esm

o. Perf

eita

men

te, r

espo

ndeu

.

E en

tão?

No

caso

de

uma

unid

ade

ser a

cres

cent

ada

a ou

tra, n

ão te

rás

med

o de

diz

er

que

essa

adi

ção

foi a

cau

sa d

e fo

rmar

-se

o do

is, o

u, n

a hi

póte

se d

e se

r a u

nida

de c

orta

da a

o m

eio,

que

foi a

div

isão

? E

não

prot

esta

rias

em a

ltas

voze

s qu

e nã

o sa

bes

com

o um

a co

isa

poss

a tra

nsfo

rmar

-se

nout

ra, a

não

ser

pel

a pa

rtici

paçã

o da

ess

ênci

a pr

ópria

da

natu

reza

que

el

a pr

ópria

par

ticip

a e

que,

no

caso

con

cret

o da

ger

ação

do

dois

, não

sab

erás

info

rmar

out

ra

caus

a se

não

for a

par

ticip

ação

da

dual

idad

e? D

essa

dua

lidad

e é

que

terá

de

parti

cipa

r o q

ue

tiver

de

ficar

doi

s, co

mo

parti

cipa

rá d

a un

idad

e, tu

do o

que

vie

r a s

er u

m. Q

uant

o às

di

visõ

es e

acr

esce

ntam

ento

s e

dem

ais

sutil

ezas

do

mes

mo

gêne

ro, m

anda

rás

toda

s el

as

pass

ear,

deix

ando

o c

uida

do d

a re

spos

ta a

que

m fo

r mai

s sá

bio

do q

ue tu

. Qua

nto

a ti,

de

med

o, c

omo

se d

iz, d

a pr

ópria

som

bra

e de

tua

inex

periê

ncia

, e fi

rmad

o na

quel

e pr

essu

post

o se

gurís

sim

o, re

spon

deria

s da

quel

e je

ito. E

no

caso

de

inve

stir

o ad

vers

ário

co

ntra

tua

próp

ria te

se, n

ão lh

e da

rias

aten

ção

nem

resp

onde

rias

a el

e se

m p

rimei

ro

verif

icar

es s

e as

con

sequ

ênci

as d

e se

u po

stul

ado

são

diss

onan

tes

ou h

arm

ônic

as. E

na

hipó

tese

de

fund

amen

tar t

ua p

ropo

siçã

o, fá

-lo-i

as d

a m

esm

a fo

rma,

com

adm

itir u

m n

ovo

prin

cípi

o, q

ue s

e te

afig

uras

se m

ais

valio

so, a

té c

onse

guire

s re

sulta

do s

atis

fató

rio. A

o co

ntrá

rio d

os d

ispu

tado

res,

não

conf

undi

reis

com

sua

s co

nseq

uênc

ias

o pr

incí

pio

em

disc

ussã

o, c

aso

quis

esse

s al

canç

ar a

lgum

a re

alid

ade.

Com

est

a, a

o qu

e pa

rece

, é q

ue

nenh

um d

eles

se

preo

cupa

no

mín

imo.

Com

todo

o s

eu s

aber

, o q

ue fa

zem

é b

aral

har t

udo,

m

uito

s an

chos

de

si m

esm

os. T

u, p

orém

, se

te in

clui

s en

tre o

s fil

ósof

os, f

arás

o q

ue te

dis

se.

Fala

ste

a pu

ra v

erda

de, d

isse

ram

a u

m s

ó te

mpo

, Sím

ias

e C

ebet

e.

Equ

écrates–

Por

Zeu

s, Fe

dão,

nem

lhe

seria

pos

síve

l exp

ress

ar-s

e de

out

ro m

odo,

po

is m

e pa

rece

de

clar

eza

mer

idia

na s

emel

hant

e ex

plan

ação

, até

mes

mo

para

que

m fo

r do

tado

de

parc

o en

tend

imen

to.

Fedã

o–

Perf

eita

men

te, E

quéc

rate

s; to

dos

os c

ircun

stan

tes

fora

m d

esse

mes

mo

pare

cer. Equ

écrates–

Que

é ta

mbé

m o

de

todo

s nó

s qu

e nã

o pa

rtici

pam

os d

o co

lóqu

io e

te

ouvi

mos

nes

te m

omen

to.

L –

E de

pois

dis

so, o

que

dis

sera

m?

Fedã

o–

Segu

ndo

crei

o, d

epoi

s de

lhe

conc

eder

em e

sse

pont

o e

de a

dmiti

rem

a

exis

tênc

ia re

al d

as id

éias

e q

ue é

da

sua

parti

cipa

ção

que

as d

ifere

ntes

coi

sas r

eceb

em

Page 23: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

dete

rmin

ação

par

ticul

ar, p

ergu

ntou

Sóc

rate

s o

segu

inte

: Se

é as

sim

que

fala

s, co

ntin

uou,

qu

ando

diz

es q

ue S

ímia

s é

mai

or d

o qu

e Só

crat

es p

orém

men

or d

o qu

e Fe

dão,

não

equ

ival

e is

so a

diz

er q

ue e

m S

ímia

s se

enc

ontra

m a

mba

s: g

rand

eza

e pe

quen

ez?

Sem

dúv

ida.

No

enta

nto,

adm

ites

que

a ex

pres

são:

Sím

ias

ultra

pass

a Só

crat

es, n

ão d

eve

ser t

omad

a no

sen

tido

liter

al; n

ão é

por

sua

pró

pria

nat

urez

a, p

or s

er S

ímia

s, qu

e el

e o

ultra

pass

a, m

as

por s

ua g

rand

eza

ocas

iona

l, co

mo

não

ultra

pass

a Só

crat

es p

or e

ste

ser S

ócra

tes,

mas

pel

a pe

quen

ez d

este

, no

que

ente

nde

com

a g

rand

eza

do o

utro

.

Cer

to.

Com

o ta

mbé

m e

le n

ão s

erá

ultra

pass

ado

por F

edão

, por

est

e se

r Fed

ão, m

as e

m

virtu

de d

a gr

ande

za d

e Fe

dão

em c

ompa

raçã

o co

m a

peq

uene

z de

Sím

ias.

Isso

mes

mo.

Des

se m

odo,

apl

ica-

se a

Sím

ias,

a um

tem

po, o

ape

lido

de g

rand

e e

de p

eque

no,

por e

star

ele

a m

eio

cam

inho

dos

doi

s, ex

cede

ndo

com

sua

gra

ndez

a a

pequ

enez

de

um

dele

s e

reco

nhec

endo

no

outro

a g

rand

eza

que

venc

e su

a pe

quen

ez. D

epoi

s, ac

resc

ento

u so

rrind

o: M

inha

ling

uage

m p

arec

e de

esc

rivão

; mas

o q

ue e

u di

sse

está

cer

to.

Con

cord

ou.

Fale

i des

se je

ito p

or d

esej

ar q

ue c

ompa

rtilh

es d

e m

inha

man

eira

de

pens

ar. O

que

me

pare

ce, é

que

tant

o a

gran

deza

em

si m

esm

a nã

o de

seja

ser

gra

nde

e pe

quen

a ao

mes

mo

tem

po, c

omo

a pr

ópria

gra

ndez

a pr

esen

te e

m n

ós n

ão a

ceita

jam

ais

acei

ta a

peq

uene

z ne

m

cons

ente

em

ser

ultr

apas

sada

. De

duas

um

a te

rá d

e se

r: ou

ela

foge

e s

ai d

o ca

min

ho q

uand

o de

la a

prox

ima

seu

cont

rário

, a p

eque

nez,

ou,

com

sua

che

gada

, dei

xa d

e ex

istir

. O q

ue d

e ne

nhum

mod

o de

seja

, hav

endo

adm

itido

e re

cebi

do a

peq

uene

z, s

em d

eixa

r de

ser o

que

er

a, c

ontin

uou

send

o pe

quen

o, a

o pa

sso

que

a gr

ande

za, c

om s

er g

rand

e, ja

mai

s co

nsen

te

em s

er p

eque

na. O

mes

mo

vale

par

a a

pequ

enez

em

nós

, que

nun

ca s

e de

cide

a to

rnar

-se

gran

de o

u a

ser i

sso

mes

mo,

o q

ue s

e ta

mbé

m s

e dá

com

todo

s os

con

trário

s, en

quan

to c

ada

um é

o q

ue é

, rec

usam

-se

a to

rnar

-se

e se

r ao

mes

mo

tem

po o

seu

con

trário

, ret

irand

o-se

ou

desa

pare

cend

o qu

ando

ess

a co

njun

tura

se

apre

sent

a.

É ex

atam

ente

ass

im q

ue e

u pe

nso,

obs

ervo

u C

ebet

e.

LI –

Nes

se in

stan

te u

m d

os p

rese

ntes

falo

u, n

ão s

aber

ei d

izer

com

seg

uran

ça q

uem

tiv

esse

sid

o: P

elos

deu

ses!

Em

nos

sa p

rátic

a de

pouc

o nã

o fo

i dito

just

amen

te o

opo

sto

do q

ue é

afir

mad

o ag

ora,

que

do

mai

or n

asce

o m

enor

, e v

ice-

vers

a, d

o m

enor

o m

aior

, e

que

essa

é, p

reci

sam

ente

, a m

anei

ra d

e na

scer

em o

s co

ntrá

rios,

de s

eus

resp

ectiv

os

cont

rário

s? N

o en

tant

o, q

uer p

arec

er-m

e qu

e af

irmas

te n

ão s

er is

so p

ossí

vel.

Sócr

ates

, que

se

incl

inar

a pa

ra m

elho

r ouv

i-lo

, ent

ão fa

lou:

A o

bser

vaçã

o é

cora

josa

, po

rém

não

apa

nhas

te b

em a

dife

renç

a en

tre o

que

foi d

ito a

ntes

e a

pre

sent

e af

irmat

iva.

O

que

entã

o di

ssem

os é

que

a c

oisa

con

trário

nas

ce d

a qu

e lh

e é

cont

rária

, por

ém a

gora

que

o

cont

rário

jam

ais

adm

ite s

er s

eu p

rópr

io c

ontrá

rio, n

em e

m n

ós n

em n

a na

ture

za. N

aque

la

ocas

ião,

meu

car

o, fa

láva

mos

de

cois

a qu

e tê

m c

ontrá

rios;

ago

ra, p

orém

trat

amos

dos

pr

óprio

s co

ntrá

rios

iner

ente

s as

coi

sas,

cuja

pre

senç

a em

pres

ta a

toda

s a

resp

ectiv

a de

sign

ação

. Ora

, o q

ue a

firm

amos

é q

ue e

sses

con

trário

s, ju

stam

ente

, não

adm

item

tra

nsiç

ão d

e um

par

a ou

tro.

Ao

dize

r iss

o, v

olto

u-se

par

a C

ebet

e e

lhe

falo

u: P

orve

ntur

a, C

ebet

e, lh

e di

sse,

de

ixou

-te

atra

palh

ado

a ob

jeçã

o de

ste

aqui

?

Não

é o

meu

cas

o, re

spon

deu

Ceb

ete,

con

quan

to n

ão p

ossa

diz

er q

ue tu

do p

ara

mim

es

teja

cla

ro.

Mas

o fa

to, p

ross

egui

u, é

que

já a

ssen

tam

os q

ue n

unca

o c

ontrá

rio p

ode

ser o

co

ntrá

rio d

e si

mes

mo.

Sem

a m

ínim

a re

striç

ão, f

oi a

sua

resp

osta

.

LII –

Ent

ão, c

onsi

dera

tam

bém

o s

egui

nte,

con

tinuo

u, p

ara

ver s

e es

tás

de a

cord

o co

mig

o. N

ão h

á al

gum

a co

isa

a qu

e da

mos

o n

ome

de q

uent

e, e

out

ra q

ue d

enom

inam

os

frio?

Sem

dúv

ida.

E se

rão,

por

vent

ura,

o m

esm

o qu

e a

neve

e o

fogo

?

Não

, por

Zeu

s; n

unca

afir

mei

sem

elha

nte

cois

a.

Logo

, o q

uent

e nã

o é

a m

esm

a co

isa

que

o fo

go, n

em o

frio

o m

esm

o qu

e a

neve

.

Exat

o.

Mas

, est

ou c

erto

de

que

tam

bém

adm

ires

que

nunc

a po

derá

a n

eve,

com

o ne

ve,

conf

orm

e di

ssem

os h

á po

uco,

dep

ois

de re

cebe

r o c

alor

, con

tinua

r a s

er o

que

era

: nev

e co

m

calo

r. C

om a

apr

oxim

ação

do

calo

r, ou

ela

se

retir

a ou

vem

a fe

nece

r.

Perf

eita

men

te.

Tal q

ual c

omo

o fo

go: c

om a

che

gada

do

frio

, ret

ira-s

e ou

per

ece;

de

jeito

nen

hum

, de

pois

de

rece

ber o

frio

, se

atre

veria

a s

er o

que

ant

es e

ra: f

ogo,

a u

m te

mpo

, e fr

io.

Fala

ste

com

mui

to a

certo

, obs

ervo

u.

Pode

aco

ntec

er, c

ontin

uou,

nal

guns

exe

mpl

os d

esse

tipo

, que

não

som

ente

a id

éia

em

si m

esm

a te

nha

o di

reito

de

cons

erva

r ete

rnam

ente

o m

esm

o no

me,

com

o ta

mbé

m a

lgo

dife

rent

e qu

e, s

em s

er d

aque

la id

éia,

apr

esen

ta-s

e, e

nqua

nto

exis

te, c

om s

ua fo

rma.

É

poss

ível

que

com

o se

guin

te e

xem

plo

eu d

eixe

mai

s cla

ro m

eu p

ensa

men

to. O

núm

ero

ímpa

r ter

á de

con

serv

ar s

empr

e es

se n

ome

com

o q

ue d

esig

nam

os. O

u nã

o?

Perf

eita

men

te.

Page 24: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Mas

, é s

ó co

m e

le q

ue is

so a

cont

ece

– é

o qu

e pe

rgun

to –

ou

com

mai

s alg

uma

coisa

qu

e, s

em s

er, d

e fa

to, o

ímpa

r em

si m

esm

o, a

o la

do d

o se

u pr

óprio

nom

e te

rá fo

rços

amen

te

de s

er s

empr

e de

nom

inad

o de

ssa

man

eira

, por

ser

de

tal n

atur

eza,

que

nun

ca p

ode

disp

ensa

r o

ímpa

r? C

om is

so, q

uero

refe

rir-m

e ao

que

se

pass

a co

m o

con

ceito

da

tríad

e e

mui

tos

outro

s da

mes

ma

espé

cie.

Con

side

ra a

pena

s o

núm

ero

três.

Não

te p

arec

e qu

e el

e pr

ecis

ará

sem

pre

ser d

esig

nado

, a u

m s

ó te

mpo

, pel

o se

u pr

óprio

nom

e e

pelo

do

ímpa

r, ap

esar

de

não

ser o

nom

e ím

par a

mes

ma

cois

a qu

e trê

s? S

eja

com

o fo

r, de

tal m

odo

é co

nstit

uída

a

natu

reza

do

três,

do c

inco

e d

e to

da u

ma

met

ade

dos

núm

eros

, que

ape

sar d

e ca

da u

m d

eles

o se

r a m

esm

a co

isa

que

o ím

par,

sem

pre

terã

o de

ser

ímpa

res.

O m

esm

o se

pas

sa c

om o

do

is, o

qua

tro e

toda

a o

utra

met

ade

dos

núm

eros

, que

, sem

ser

em o

par

, sem

pre

terã

o de

ser

pa

rtes.

Adm

ites

isso

ou

não?

Com

o nã

o ad

miti

r? F

oi a

sua

resp

osta

.

Pres

ta a

gora

ate

nção

, dis

se, a

o qu

e m

e di

spon

ho a

dem

onst

rar.

Trat

a-se

do

segu

inte

: é

fora

de

dúvi

da q

ue n

ão s

ão a

pena

s os

con

trário

s qu

e se

exc

luem

reci

proc

amen

te, m

as to

das

as c

oisa

s qu

e, s

em s

erem

con

trária

s en

tre s

i, nã

o ad

mite

m a

idéi

a co

ntrá

ria d

a qu

e lh

es é

pr

ópria

, à a

prox

imaç

ão d

a qu

al o

u ce

dem

o lu

gar o

u vê

m a

per

ecer

. Poi

s já

não

dis

sem

os

que

o nú

mer

o trê

s pr

imei

ro d

eixa

rá d

e ex

istir

ou

sofr

erá

seja

o q

ue fo

r, an

tes

de v

ir a

ficar

pa

r, po

r ser

, de

fato

, o q

ue é

, pre

cisa

men

te tr

ês?

É m

uito

cer

to, f

alou

Ceb

ete.

No

enta

nto,

con

tinuo

u, o

s nú

mer

os d

ois

e trê

s nã

o sã

o co

ntrá

rios

entre

si.

Nun

ca.

Logo

, não

são

ape

nas

as id

éias

con

trária

s qu

e nã

o ad

mite

m a

apr

oxim

ação

recí

proc

a;

há o

utra

s, ta

mbé

m, q

ue n

ão a

ceita

m e

ssa

apro

xim

ação

dos

con

trário

s.

É m

uito

cer

to o

que

afir

mas

, res

pond

eu.

LIII

– E

não

ach

aria

s bo

m, c

ontin

uou,

det

erm

inar

mos

, na

med

ida

do p

ossí

vel,

quai

s es

sas

idéi

as?

Perf

eita

men

te.

Não

ser

ão, C

ebet

e, p

ross

egui

u, a

s qu

e fo

rçam

as

cois

as d

e qu

e el

as s

e ap

oder

am a

co

nser

var t

anto

a s

ua p

rópr

ia fo

rma

com

o a

que

sem

pre

lhes

é c

ontrá

ria?

Que

que

res

dize

r com

isso

?

O q

ue d

ecla

ram

os n

este

mom

ento

. Com

o m

uito

bem

sab

es, t

odas

as

cois

as d

e qu

e se

ap

ossa

a id

éia

do n

úmer

o trê

s, ta

nto

terã

o, p

or fo

rça,

de

ser t

rês

com

o ím

pare

s.

É m

uito

cer

to.

Ora

bem

; o q

ue d

izem

os é

que

a id

éia

cont

rária

à fo

rma

eu a

con

stitu

i nun

ca p

ode

entra

r nel

a.

Nun

ca, d

e fa

to.

O q

ue a

con

stitu

i é a

idéi

a do

ímpa

r, nã

o é

isso

mes

mo?

Cer

to.

Com

o o

seu

cont

rário

é a

idéi

a do

par

.

Sem

dúv

ida.

Send

o as

sim

, no

três

jam

ais

entra

rá a

idéi

a de

par

.

Nun

ca.

Pelo

sim

ples

fato

de

o trê

s nã

o pa

rtici

par d

o pa

r.

Isso

mes

mo.

Vis

to s

er ím

par.

Exat

amen

te.

Pois

era

isso

, pre

cisa

men

te, q

ue e

u qu

eria

det

erm

inar

: as

cois

as q

ue, s

em s

erem

co

ntrá

rias

entre

si,

não

adm

item

o s

eu c

ontrá

rio. S

erá

o ca

so d

o trê

s qu

em, s

em s

er o

co

ntrá

rio d

o pa

r, de

form

a al

gum

a o

acei

ta, p

ois

ele

lhe

opõe

sem

pre

o se

u co

ntrá

rio, c

omo

faz

o do

is co

m o

ímpa

r, o

fogo

com

o fr

io e

um

infin

ito m

ais d

e ex

empl

os. D

ize-

me

agor

a se

não

con

clui

rias

que

não

é ap

enas

o c

ontrá

rio q

ue n

ão re

cebe

o s

eu c

ontrá

rio, p

orém

tudo

o

que

leva

a id

éia

do c

ontrá

rio d

a co

isa

que

o re

cebe

, não

adm

ite n

esta

o c

ontrá

rio d

aqui

lo

que

ele

leva

. Rec

apitu

lem

os tu

do o

que

dis

sem

os a

té a

qui,

pois

não

mal

em

ouv

ir a

mes

ma

coisa

vár

ias v

ezes

: O n

úmer

o ci

nco

não

adm

ite a

idéi

a de

par

, nem

o d

ez, o

dob

ro

daqu

ele,

a d

e ím

par.

Por s

ua v

ez, o

dup

lo é

o c

ontrá

rio d

e ou

tra c

oisa

, por

ém n

ão a

dmite

a

idéi

a do

ímpa

r, co

mo

tam

bém

não

a a

dmite

m o

s nú

mer

os s

esqu

iálte

ros,

o m

eio

e ou

tras

fraç

ões

do m

esm

o tip

o, n

em a

idéi

a de

todo

, de

terç

o e

de tu

do o

mai

s da

mes

ma

natu

reza

, se

é q

ue m

e ac

ompa

nhas

e e

stás

de

acor

do c

omig

o.

Não

som

ente

est

ou d

e in

teiro

aco

rdo,

dis

se, c

omo

te a

com

panh

o.

LIV

– E

ntão

, rep

ete

tudo

isso

do

com

eço,

con

tinuo

u, p

orém

não

me

resp

onda

com

m

inha

s pr

ópria

s pa

lavr

as, m

as d

e ou

tra fo

rma,

tom

ando

-me

com

o m

odel

o. O

que

dig

o é

que,

alé

m d

a re

spos

ta c

erta

que

eu

apre

sent

ei n

o co

meç

o, e

ncon

trou

outra

de

não

men

or

conf

ianç

a no

que

fico

u di

to d

epoi

s. D

e fa

to, s

e m

e pe

rgun

tass

es: Q

ue p

reci

sas

have

r no

corp

o pa

ra q

ue e

le fi

que

quen

te?

Não

te d

aria

a re

spos

ta, c

erta

, sem

dúv

ida,

por

ém in

gênu

a,

que

é o

calo

r, po

rém

out

ra m

uito

mai

s ap

rimor

ada,

com

bas

e em

nos

sa e

xpos

ição

ant

erio

r: fo

go. C

omo

tam

bém

se

me

perg

unta

sses

o q

ue p

reci

sa h

aver

no

corp

o, p

ara

que

ele

adoe

ça,

não

resp

onde

ria q

ue é

a d

oenç

a, p

orém

alg

uma

febr

e. E

no

caso

de

perg

unta

res

o qu

e

Page 25: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

prec

isa

have

r num

núm

ero

para

ser

ímpa

r, nã

o m

e re

ferir

a a

impa

ridad

e, m

as à

unid

ade,

e

assi

m s

uces

siva

men

te. A

gora

se a

panh

aste

bem

meu

pen

sam

ento

.

À m

arav

ilha,

resp

onde

u.

Entã

o, m

e di

gas,

cont

inuo

u, q

ue p

reci

sa h

aver

no

corp

o pa

ra q

ue e

le v

iva?

Alm

a, re

spon

deu.

E se

mpr

e te

rá d

e se

r ass

im?

Por q

ue n

ão?

Foi s

ua re

spos

ta.

Logo

, tud

o o

de q

ue a

alm

a se

apo

dera

, a is

so e

la d

á vi

da?

É o

que

ela

faz,

de

fato

, res

pond

eu.

E po

rven

tura

hav

erá

algu

ma

cois

a co

ntrá

ria à

vida

? O

u nã

o há

?

Sem

dúv

ida,

resp

onde

u.

Que

é?

A m

orte

.

De

onde

vem

, que

a a

lma

nunc

a po

derá

ace

itar o

con

trário

daq

uilo

que

ela

sem

pre

traz

cons

igo;

é o

que

se

conc

lui d

e tu

do o

que

dis

sem

os a

té a

gora

.

Con

clus

ão c

ertís

sim

a, re

spon

deu

Ceb

ete.

LV –

E e

ntão

? O

que

não

adm

ite a

idéi

a do

par

, que

nom

e lh

e de

mos

ago

ra m

esm

o?

Ímpa

r, re

spon

deu.

E o

que

não

rece

be o

just

o, o

u nã

o re

cebe

o h

arm

ônic

o?

Des

arm

ônic

o, d

isse

, ou

inju

sto.

Mui

to b

em. E

o q

ue n

ão re

cebe

a m

orte

, com

o de

nom

inar

emos

?

Imor

tal,

foi a

sua

resp

osta

.

Ora

, a a

lma

não

rece

be a

mor

te.

Não

.

A a

lma

é, p

ois,

imor

tal?

Imor

tal.

Mui

to b

em. P

odem

os a

firm

ar, p

or c

onse

guin

te, q

ue is

so fi

cou

dem

onst

rado

? O

u co

mo

te p

arec

e?

Fico

u de

mon

stra

do à

saci

edad

e, S

ócra

tes.

E ag

ora,

Ceb

ete,

con

tinuo

u: s

e o

ímpa

r fos

se in

dest

rutív

el p

or fo

rça

das

cois

as, n

ão

teria

tam

bém

de

ser i

ndes

trutív

el o

três

?

Com

o nã

o?

E se

o n

ão-q

uent

e ta

mbé

m fo

sse

por n

eces

sida

de in

dest

rutív

el, s

empr

e qu

e al

guém

ap

roxi

mas

se d

a ne

ve o

fogo

, não

se

retir

aria

a n

eve

inta

cta

e se

m d

erre

ter-

se?

Não

pe

rece

ria, é

cla

ro, e

por

mai

s qu

e fic

asse

exp

osta

ao

calo

r, nã

o o

rece

beria

.

É m

uito

cer

to, r

espo

ndeu

.

Com

o ta

mbé

m, s

egun

do p

enso

, se

o nã

o-fr

io fo

sse

inde

stru

tível

por

nat

urez

a, e

al

guém

apr

oxim

asse

do

fogo

o fr

io, j

amai

s o

fogo

se

apag

aria

ou

viria

a fe

nece

r, po

rém

af

asta

r-se

-ia

incó

lum

e.

Nec

essa

riam

ente

, res

pond

eu.

E nã

o se

rá ta

mbé

m p

reci

so fa

larm

os n

esse

s m

esm

o te

rmos

no

que

ente

nde

com

o

mor

tal?

Se

o im

orta

l tam

bém

for i

mpe

recí

vel,

a al

ma,

sem

pre

que

a m

orte

se

apro

xim

ar

dela

, não

pod

erá

mor

rer;

pois

de

acor

do c

om o

que

dis

sem

os a

ntes

, ela

não

adm

itirá

a m

orte

ne

m v

irá a

mor

rer,

da m

esm

a fo

rma

que

o trê

s, co

nfor

me

vim

os, n

unca

pod

erá

ser p

ar, e

co

m e

le o

ímpa

r, ne

m o

fogo

fica

rá fr

io n

em o

cal

or q

ue h

á no

fogo

. Por

ém o

que

impe

de –

pode

ria a

lgué

m o

bjet

ar –

que

o ím

par,

mui

to e

mbo

ra n

ão fi

que

par à

apr

oxim

ação

do

par,

e so

bre

isso

, já

nos

decl

aram

os d

e ac

ordo

, ven

ha, d

e fa

to, a

per

ecer

, por

tran

sfor

mar

-se

em

par?

A q

uem

tal o

bjet

asse

, não

pod

ería

mos

resp

onde

r que

não

per

ece,

poi

s o

ímpa

r não

é

inde

stru

tível

. Por

ém s

e is

so h

ouve

sse

sido

ace

ito a

ntes

por

nós

, for

a fá

cil r

etor

quir

que

à ap

roxi

maç

ão d

o pa

ra o

ímpa

r e o

três

se

retir

am. D

a m

esm

a m

anei

ra re

spon

dería

mos

com

re

spei

to a

o ca

lor,

ao fo

go e

a tu

do o

mai

s. O

u nã

o?

Sem

dúv

ida.

Send

o as

sim

, ago

ra, c

om re

laçã

o ao

imor

tal,

uma

vez

adm

itido

por

nós

doi

s qu

e ta

mbé

m é

impe

recí

vel,

a al

ma,

terá

de

ser p

or fo

rça

impe

recí

vel.

Cas

o co

ntrá

rio,

prec

isar

íam

os la

nçar

mão

de

outro

arg

umen

to.

Não

por

cau

sa d

isso

, ret

orqu

iu; d

ifici

lmen

te p

oder

ia h

aver

que

não

adm

itiss

e a

dest

ruiç

ão, s

e o

imor

tal,

com

ser

ete

rno,

foss

e pa

ssív

el d

e ac

abar

.

LVI –

Qua

nto

a D

eus,

falo

u Só

crat

es, a

o qu

e su

ponh

o, e

à id

éia

da v

ida

e a

tudo

o

mai

s qu

e po

ssa

have

r de

imor

tal,

todo

s es

tão

de a

cord

o em

que

nun

ca p

odem

par

ecer

.

Sim

, por

Zeu

s, to

dos

os h

omen

s, re

spon

deu,

e, c

om m

aior

ia d

e ra

zões

, os

próp

rios

deus

es.

Page 26: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Era,

um

a ve

z qu

e o

imor

tal é

impe

recí

vel,

a al

ma,

sen

do im

orta

l, nã

o te

rá d

e se

r, da

m

esm

a fo

rma,

impe

recí

vel?

Forç

osam

ente

.

Logo

, com

o pa

rece

, ao

apr

oxim

ar-s

e do

s ho

men

s a

mor

te, o

que

nel

es fo

r mor

tal t

erá

de p

erec

er, e

nqua

nto

sua

porç

ão im

orta

l ced

e o

luga

r à m

orte

e c

ontin

ua s

ã e

inco

rrup

tível

.

Cla

ro.

É ce

rtíss

imo,

por

con

segu

inte

, Ceb

ete,

con

tinuo

u, s

er a

alm

a im

orta

l e im

pere

cíve

l, e

exis

tirem

real

men

te n

ossa

s al

mas

no

Had

es.

Enqu

anto

a m

im, S

ócra

tes,

falo

u C

ebet

e, n

ada

tenh

o a

obje

tar c

ontra

teus

ar

gum

ento

s, ne

m o

que

ale

gar p

ara

não

adm

iti-l

os. P

orém

no

caso

de

Sím

ias

ou q

ualq

uer

outro

que

rer d

izer

alg

uma

coisa

, far

á be

m e

m n

ão s

e co

nser

var c

alad

o, p

ois

não

sei q

ue

mel

hor o

portu

nida

de d

o qu

e es

ta p

oder

á en

cont

rar q

uem

se

disp

onha

a fa

lar o

u a

ouvi

r sej

a o

que

for a

resp

eito

des

tas

ques

tões

.

Eu ta

mbé

m, f

alou

Sím

ias,

não

vejo

razã

o pa

ra n

ão a

ceita

r o q

ue fo

i dito

. Dad

a,

poré

m, a

gra

ndez

a da

mat

éria

e p

or n

ão c

onfia

r mui

to n

a fr

aque

za d

e m

atér

ia e

por

não

co

nfia

r mui

to n

a fra

quez

a hu

man

a, s

ou fo

rçad

o a

decl

arar

que

ain

da a

limen

to a

lgum

as

dúvi

das

com

resp

eito

ao

que

foi e

xpla

nado

.

Não

é s

ó is

so, S

ímia

s, fa

lou

Sócr

ates

com

o m

uito

bem

te e

xprim

iste,

até

mes

mo

noss

as p

ropo

siçõ

es in

icia

is, p

or d

igna

s de

con

fianç

a qu

e pa

reça

m, p

reci

sam

ser

co

nsid

erad

as m

ais

a fu

ndo,

e, u

ma

vez

sufic

ient

emen

te a

nalis

adas

, est

ou c

erto

de

que

acom

panh

arei

s a

argu

men

taçã

o, n

a m

edid

a da

cap

acid

ade

de c

ompr

eens

ão d

o ho

mem

, até

qu

e, tu

do e

scla

reci

do, n

ada

mai

s te

nhai

s a

inve

stig

ar.

É m

uito

cer

to o

que

diz

es, r

espo

ndeu

.

LVII

– P

orém

dev

emos

sen

hore

s, co

nsid

erar

tam

bém

o s

egui

nte:

se

a al

ma

for

imor

tal,

exig

irá c

uida

dos

de n

ossa

par

te n

ão a

pena

s ne

sta

porç

ão d

o te

mpo

que

de

nom

inam

os v

ida,

sen

ão o

tem

po to

do e

m u

nive

rsal

, par

ecen

do q

ue s

e ex

põe

a um

gra

nde

perig

o qu

em n

ão a

tend

er e

sse

aspe

cto

da q

uest

ão. P

ois

se a

mor

te fo

sse

o fim

de

tudo

, que

im

ensa

van

tage

m n

ão s

eria

par

a os

des

ones

tos,

com

a m

orte

livr

arem

-se

do c

orpo

e d

a ru

inda

de m

uito

pró

pria

junt

amen

te c

om a

alm

a? A

gora

, por

ém, q

ue s

e no

s re

velo

u im

orta

l, nã

o re

sta

à alm

a ou

tra p

ossi

bilid

ade,

se

não

for t

orna

r-se

, qua

nto

poss

ível

, mel

hor e

mai

s se

nsat

a. A

o ch

egar

ao

Had

es, n

ada

mai

s le

va c

onsi

go a

não

ser

a in

stru

ção

e a

educ

ação

, ju

stam

ente

, ao

que

se d

iz, o

que

mai

s fa

vore

ce o

u pr

ejud

ica

o m

orto

des

de o

iníc

io d

e su

a vi

agem

par

a lá

. O q

ue c

onta

m é

o s

egui

nte:

ou

mor

rer a

lgué

m, o

dem

ônio

que

em

vid

a lh

e to

cou

por s

orte

se

enca

rreg

a de

levá

-lo

a um

luga

r em

que

se

reún

em o

s m

orto

s pa

ra s

erem

ju

lgad

os e

de

onde

são

con

duzi

dos

para

o H

ades

com

gui

as in

cum

bido

s de

indi

car-

lhes

o

cam

inho

. Dep

ois

de te

rem

o d

estin

o m

erec

ido

e de

lá p

erm

anec

erem

o te

mpo

indi

spen

sáve

l, ou

tro g

uia

os tr

az d

e vo

lta, a

pós

num

eros

os e

long

os p

erío

dos

de te

mpo

. Ess

e ca

min

ho n

ão

é o

que

diz

Téle

fo, d

e És

quilo

, ao

afirm

ar q

ue o

cam

inho

do

Had

es é

sim

ples

; a m

eu v

er

nem

é s

impl

es n

em ú

nico

. Se

foss

e o

caso

, ser

ia d

ispe

nsáv

el g

uia,

poi

s ni

ngué

m s

e pe

rde

onde

a e

stra

da é

um

a só

. O q

ue p

arec

e é

que

ele

é ch

eio

de v

olta

s e

bifu

rcaç

ões.

Dig

o is

so

com

bas

e no

s rit

os s

agra

dos

e ce

rimôn

ias

aqui

em

uso

. De

qual

quer

form

a, a

alm

a pr

uden

te

e m

oder

ada

acom

panh

a se

u gu

ia, p

erfe

itam

ente

con

scie

nte

do q

ue s

e pa

ssa

com

ela

; mas

, co

mo

diss

e há

pou

co, a

que

se

agar

ra a

vida

men

te a

o co

rpo

esvo

aça

dura

nte

mui

to te

mpo

em

torn

o de

le e

do

mun

do v

isív

el, e

dep

ois

de g

rand

e re

lutâ

ncia

e d

e so

frim

ento

s se

m

cont

a, é

por

fim

arr

asta

da d

ali,

à for

ça e

com

difi

culd

ade

pelo

dem

ônio

incu

mbi

do d

e co

nduz

i-la

. Um

a ve

z al

canç

ado

o lu

gar e

m q

ue s

e en

cont

ram

, out

ras

alm

as, a

que

se

acha

im

pura

pel

a pr

átic

a do

mal

, de

hom

icíd

ios

inju

stos

ou d

e cr

imes

sem

elha

ntes

, irm

ãos

daqu

eles

e ig

uais

aos

que

soe

m p

ratic

ar a

lmas

irm

ãs, d

e um

as a

lma

com

o es

sa to

das

se

afas

tam

, evi

tam

-na,

não

hav

endo

gui

a ne

m c

ompa

nhei

ro d

e jo

rnad

a qu

e co

m e

la s

e as

soci

e. T

omad

a de

gra

nde

perp

lexi

dade

, vag

ueia

por

todo

s os

luga

res

até

esco

ar-s

e ce

rto

tem

po, d

epoi

s do

que

a a

rras

ta a

Nec

essi

dade

par

a a

mor

adia

que

lhe

foi d

eter

min

ada.

A

que

atra

vess

ou a

vid

a co

m p

urez

a e

mod

eraç

ão e

alc

anço

u de

uses

por

gui

as e

co

mpa

nhei

ros

de jo

rnad

a, o

btém

mor

adia

apr

opria

da.

LVII

I – A

Ter

ra a

pres

enta

um

sem

-núm

ero

de lu

gare

s mar

avilh

osos

, não

send

o ne

m

de tã

o ex

tens

a ne

m d

a fo

rma

com

o a

imag

inam

as

que

se c

ompr

azem

em

dis

corr

er a

seu

re

spei

to, c

onfo

rme

algu

ém m

o de

mon

strou

.

Nes

sa a

ltura

falo

u Sí

mia

s: Q

ue q

uere

s di

zer c

om is

so, S

ócra

tes?

Sob

re a

Ter

ra e

u ta

mbé

m já

ouv

i diz

erem

mui

ta c

oisa

; por

ém n

ão o

de

que

te m

ostra

s co

nven

cido

. De

mui

to

bom

gra

do te

ouv

iria

fala

r a e

sse

resp

eito

.

Para

faze

r ess

a de

scriç

ão, S

ímia

s, nã

o m

e pa

rece

nec

essá

ria a

arte

de

Gla

uco.

Mas

o

que

se m

e af

igur

a m

ais

difíc

il do

que

a a

rte d

e G

lauc

o é

prov

ar a

sua

ver

acid

ade.

É

poss

ível

, até

, que

me

falte

cap

acid

ade

para

tant

o; p

orém

mes

mo

que

a tiv

esse

, o p

ouqu

inho

de v

ida

que

me

rest

a, S

ímia

s, nã

o ch

egar

ia p

ara

tão

long

a ex

posi

ção.

Con

tudo

não

vej

o im

pedi

men

to e

m e

xpor

-te

a id

éia

que

faço

da

form

a da

Ter

ra e

de

suas

dife

rent

es re

giõe

s.

Será

o s

ufic

ient

e, fa

lou

Sím

ias.

Para

com

eçar

, prin

cipi

ou, f

ique

i con

venc

ido

de q

ue, s

e a

Terr

a é

de fo

rma

esfé

rica

e es

tá c

oloc

ada

no m

eio

do c

éu, p

ara

não

cair

não

prec

isar

á ne

m d

e ar

nem

de

qual

quer

out

ra

nece

ssid

ade

da m

esm

a na

ture

za: p

or q

ue p

ara

sust

enta

r-se

é s

ufic

ient

e a

perfe

ita

unifo

rmid

ade

do c

éu e

seu

equ

ilíbr

io n

atur

al. P

ois

uma

coisa

em

equ

ilíbr

io n

atur

al. P

ois

uma

coisa

em

equ

ilíbr

io n

o m

eio

de q

ualq

uer e

lem

ento

hom

ogên

eo, n

ão s

e in

clin

ará,

no

mín

imo,

par

a ne

nhum

lado

, mas

se

cons

erva

rá s

empr

e fix

a e

no m

esm

o es

tado

. Foi

ess

e o

prim

eiro

pon

to, a

rrem

atou

, que

pas

sei a

adm

itir.

E co

m ra

zão,

obs

ervo

u Sí

mia

s.

Ao

depo

is, c

ontin

uou,

que

tam

bém

se

trata

de

algo

imen

sam

ente

gra

nde

e qu

e nó

s ou

tros,

mor

ador

es d

a re

gião

que

vai

do

Fási

s às

Col

unas

da

Hér

cule

s, oc

upam

os u

ma

porç

ão in

sign

ifica

nte

da te

rra,

em

torn

o do

mar

à fe

ição

de

form

igas

e rã

s na

beira

de

um

char

co. É

que

por

toda

a T

erra

mui

tas

con

cavi

dade

s, de

form

a e

tam

anho

var

iáve

is, p

ara

as q

uais

con

verg

e ág

ua, v

apor

e a

r. Po

rém

a p

rópr

ia te

rra

se a

cha

pura

no

céu

puro

, ond

e es

tão

os a

stro

s, de

nom

inad

o ét

er p

or q

uant

os c

ostu

mam

dis

corr

er s

obre

ess

as q

uest

ões,

cuja

bo

rra,

pre

cisa

men

te, é

tudo

aqu

ilo q

ue n

ão p

ára

de d

epos

itar-

se n

as c

avid

ades

da

terr

a.

Page 27: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Qua

nto

a nó

s, po

r não

per

cebe

mos

que

mor

amos

nes

sas

conc

avid

ades

, im

agin

amos

viv

er

em c

ima

da T

erra

com

o se

dar

ia c

om q

uem

mor

asse

no

mei

o do

mar

fund

o e

pens

asse

est

ar

na s

uper

fície

, e v

endo

atra

vés

da á

gua

o So

l e o

s ou

tros

astro

s, to

mar

ia o

mar

pel

o cé

u. P

or

indo

lênc

ia e

fraq

ueza

mui

to p

rópr

ias,

nunc

a su

biu

até

o es

pelh

o da

águ

a, n

em v

iu n

unca

, de

pois

de

emer

gir d

o m

ar e

de

leva

ntar

a c

abeç

a fo

ra d

a ág

ua n

a di

reçã

o de

sses

luga

res,

quan

to s

ão m

ais

puro

s e

mai

s lin

dos

do q

ue o

out

ro, o

que

tam

bém

não

pod

eria

ter o

uvid

o de

nen

hum

a te

stem

unha

ocu

lar.

É ex

atam

ente

o q

ue s

e dá

con

osco

. Hab

itant

es d

e um

a de

ssa

conc

avid

ades

da

Terr

a, im

agin

amos

mor

ar e

m c

ima

dela

, e d

amos

ao

ar o

nom

e de

u, c

omo

se o

ar f

osse

o p

rópr

io c

éu e

m q

ue s

e m

ovim

enta

m o

s as

tros.

É ig

ualz

inha

nos

sa

situ

ação

: por

indo

lênc

ia e

fraq

ueza

, não

som

os c

apaz

es d

e at

ingi

r o li

mite

ext

rem

o do

ar.

Pois

no

caso

de

cheg

ar a

lgué

m a

o ci

mo

ou d

e ad

quiri

r asa

s e

de v

oar,

emer

giria

e p

assa

ria a

ve

r com

o os

pei

xes

aqui

de

baix

o qu

ando

põe

m a

cab

eça

fora

da

água

e v

êem

o q

ue s

e pa

ssa

entre

nós

: de

igua

l mod

o ve

ria o

que

por l

á, e

no

caso

de

agüe

ntar

sua

nat

urez

a

por a

lgum

tem

po s

emel

hant

e vi

sta,

reco

nhec

eria

ser

aqu

ele

o ve

rdad

eiro

céu

, a v

erda

deira

lu

z e

a ve

rdad

eira

terr

a. S

im, p

orqu

e es

ta n

ossa

terr

a, a

s pe

dras

e to

da a

regi

ão q

ue n

os

circ

unda

est

ão e

stra

gada

s e

corr

oída

s, ta

l com

o co

rroí

do e

stá

pela

sal

suge

m tu

do o

que

no m

ar. N

ada

cres

ce n

o m

ar d

igno

de

men

ção,

nem

nada

per

feito

, por

ass

im d

izer

; ap

enas

cav

erna

s, ar

eia,

lam

a a

perd

er d

e vi

sta

e lo

do p

or o

nde

quer

que

haj

a te

rra,

nad

a, e

m

sum

a, q

ue s

upor

te c

otej

o co

m a

s co

isas

bel

as d

e no

sso

mun

do. M

as a

quel

as, p

or s

ua v

ez,

em c

onfr

onto

com

as

noss

as, d

e m

uito

as

ultra

pass

am. S

e fo

sse

opor

tuno

, con

tar-

vos-

ia um

be

lo m

ito, S

ímia

s, di

gno

de s

er o

uvid

o, d

e co

mo

é co

nstit

uída

ess

a te

rra

situ

ada

emba

ixo

do

céu.

Mas

nem

dúvi

da, S

ócra

tes,

falo

u Sí

mia

s; e

scut

arem

os te

u m

ito c

om o

mai

or

praz

er. LI

X –

O q

ue d

izem

, com

panh

eiro

, par

a co

meç

ar, é

que

ess

a te

rra

foss

e vi

sta

de c

ima

por a

lgué

m, p

arec

eria

um

des

ses

balõ

es d

e co

uro

de d

oze

peça

s de

cor

es d

ifere

ntes

, de

que

são

sim

ples

am

ostra

s as

cor

es c

onhe

cida

s en

tre n

ós q

ue o

s pi

ntor

es e

mpr

egam

. Tod

a aq

uela

te

rra

é as

sim

, por

ém d

e co

res

mui

to m

ais

pura

e b

rilha

ntes

; um

a pa

rte é

de

cor é

púr

pura

e

adm

irave

lmen

te b

ela;

out

ra é

dou

rada

; out

ra, a

inda

, com

ser

bra

nca,

é m

ais

alva

do

que

o gi

z e

a ne

ve, o

mes

mo

acon

tece

ndo

com

toda

s as

cor

es d

e qu

e é

feita

, em

mui

to m

aior

mer

o e

mai

s be

las

do q

ue q

uant

as p

ossa

mos

já te

r vis

to. P

ois

até

mes

mo

as c

onca

vida

des

da te

rra,

est

ando

che

ias

de a

r e d

e ág

ua, m

ostra

m u

ma

cor d

e br

ilho

espe

cial

, res

ulta

nte

da

mis

tura

de

toda

s as

cor

es, d

e fo

rma

que

a Te

rra

apre

sent

a co

lorid

o de

uni

form

e va

rieda

de.

Nes

sa te

rra

assi

m c

onst

ituíd

a, tu

do c

resc

e na

s m

esm

as p

ropo

rçõe

s: á

rvor

es, f

lore

s ou

frut

os.

Com

as m

onta

nhas

dá-

se o

mes

mo;

as

pedr

as, r

elat

ivam

ente

, são

mai

s m

acia

s e

trans

lúci

das

e de

cor

es m

uito

lind

as, d

as q

uais

são

par

cela

insi

gnifi

cant

e no

ssas

ped

razi

nhas

tão

apre

ciad

as: s

ardô

nica

s, ja

spe

e es

mer

alda

s, e

toda

s as

out

ras

da m

esm

a n

atur

eza.

As

de lá

o to

das

dess

e je

ito e

ain

da m

ais

bela

s. A

cau

sa d

isso

, vam

os e

ncon

trá-l

a no

fato

de

sere

m

pura

s aq

uela

s pe

dras

e n

ão fi

care

m e

stra

gada

s ne

m c

orro

ídas

, com

o as

nos

sas,

pela

pu

trefa

ção

e pa

la s

alsu

gem

que

con

verg

em p

ara

os lu

gare

s cá

de

baix

o e

que

defo

rmam

e

deix

am d

oent

e nã

o so

men

te a

s pe

dras

e o

sol

o, c

omo

tam

bém

os

anim

ais

e as

pla

ntas

. Tud

o iss

o en

feita

aqu

ela

terr

a, ta

mbé

m o

uro

e pr

ata

e o

que

mai

s ho

uver

do

mes

mo

gêne

ro, d

e ta

nta

refu

lgên

cia

tudo

em

tão

gran

de c

ópia

esp

alha

do p

ela

vast

idão

da

terr

a ,q

ue s

ua v

ista

é

verd

adei

ram

ente

edi

fican

te. E

xiste

m n

ela

anim

ais

em p

rofu

são,

e ta

mbé

m e

m p

arte

nas

m

arge

ns d

o ar

, com

o nó

s m

oram

os n

as d

o m

ar, e

m p

arte

nas

ilha

s ce

rcad

as d

e ar

, per

to d

os

cont

inen

tes.

Num

a pa

lavr

a: o

ar p

ara

eles

é c

om a

águ

a e

o m

ar p

ara

noss

as n

eces

sida

des,

assi

m c

omo

para

ele

s o

éter

é o

que

par

a nó

s é

o ar

. As

esta

ções

ent

re e

les

são

de ta

l mod

o te

mpe

rada

s, qu

e ni

ngué

m c

ai d

oent

e, v

iven

do to

dos

mui

to m

ais

tem

po d

o qu

e os

hom

ens

de b

aixo

. Qua

nto

à vis

ta, o

ouv

ido

o pe

nsam

ento

e d

emai

s at

ribut

os d

esse

gên

ero,

ele

s no

s ul

trapa

ssam

na

mes

ma

prop

orçã

o em

que

o a

r ven

ce e

m p

urez

a a

água

e o

éte

r o p

rópr

io a

r. H

á ta

mbé

m e

ntre

ele

s te

mpl

os e

bos

ques

sag

rado

s, no

s qu

ais

vive

r ef

etiv

amen

te a

s di

vind

ades

, bem

com

o vo

zes,

prof

ecia

s e

apar

içõe

s do

s de

uses

, que

é c

omo

se c

omun

icam

co

m e

les,

de ro

sto

a ro

sto.

Ade

mai

s, vê

em o

sol

, a lu

a e

as e

stre

las

com

são

na

real

idad

e,

anda

ndo

a pa

r com

tudo

isso

o re

stan

te d

e su

a be

m-a

vent

uran

ça.

LX –

Ass

im é

a n

atur

eza

da te

rra

em s

eu c

onju

nto

e da

s co

isas

que

a c

ircun

dam

. Nas

en

tranh

as d

a te

rra,

por

todo

o s

eu c

onto

rno

nota

m-s

e nu

mer

osas

con

cavi

dade

s, al

gum

asm

ais

prof

unda

s e

pate

ntes

do

que

esta

em

que

mor

amos

, out

ras

tam

bém

pro

fund

as, p

orém

co

m e

ntra

da m

ais

angu

sta

do q

ue a

nos

sa, h

aven

do, a

inda

, um

as ta

ntas

de

men

or fu

ndur

a,

poré

m m

ais

larg

as d

o qu

e es

ta. T

odas

ess

as re

giõe

s se

com

unic

am e

ntre

si e

m m

uito

s lu

gare

s po

r pas

sage

ns s

ubte

rrân

eas,

de la

rgur

a va

riáve

l, al

ém d

e po

ssuí

rem

out

ras

vias

de

aces

so. M

uita

águ

a co

rre

de u

ma

para

out

ra, c

omo

nos

gran

des

vaso

s, ha

vend

o, o

utro

ssim

, em

baix

o da

terr

a rio

s pe

rene

s de

gra

ndez

a de

scom

unal

, de

água

que

nte

e fr

ia, e

tam

bém

m

uito

fogo

e g

rand

es ri

os d

e fo

go, b

em c

omo

corr

ente

s de

lam

a líq

uida

, ora

mai

s lim

pa, o

ra

mai

s su

ja, t

al c

omo

ante

s de

lava

os

rios

de la

ma

da S

icíli

a, e

dep

ois

a pr

ópria

lava

. Ess

as

dife

rent

es re

giõe

s s

e en

chem

de

sem

elha

nte

mat

éria

, de

acor

do c

om a

dire

ção

ocas

iona

l da

corr

ente

. Ess

as á

guas

se

mov

imen

tam

par

a ci

ma

e pa

ra b

aixo

, com

o um

pên

dulo

col

ocad

o no

inte

rior d

a te

rra.

Sem

elha

nte

osci

laçã

o de

ve p

rovi

r do

segu

inte

: Ent

re a

s ab

ertu

ras

da

terr

a, u

ma

há p

artic

ular

men

te g

rand

e, q

ue a

atra

vess

a em

toda

a s

ua e

xten

são

e a

que

se

refe

re H

omer

o no

s se

guin

tes

term

os:

Essa

vor

agem

pro

fund

a qu

e em

bai

xo d

a te

rra

se e

ncon

tra, e

que

por

ele

mes

mo

e m

uito

s ou

tros

poet

as é

den

omin

ada

Tárta

ro. É

par

a es

sa a

bertu

ra q

ue c

onflu

em to

dos

os

rios,

com

o é

dela

, tam

bém

, que

todo

s pa

rtem

, adq

uirin

do c

ada

um a

s pr

oprie

dade

s do

te

rren

o po

r ond

e pa

ssam

. A ra

zão

de s

aíre

m d

e to

dos

os ri

os d

essa

abe

rtura

e d

e vo

ltare

m

para

ela

, é c

arec

erem

sua

s ág

uas

de fu

ndo

e de

bas

e; d

aí o

scila

rem

e fl

utua

rem

par

a ci

ma

e pa

ra b

aixo

. Con

corr

em p

ara

o m

esm

o ef

eito

o a

r e o

ven

to q

ue a

s en

volv

em, p

or

acom

panh

á-la

s ta

nto

quan

do s

e pr

ecip

itam

par

a as

regi

ões

do o

utro

lado

da

terr

a co

mo

quan

do s

e di

rigem

par

a o

lado

de

cá. E

ass

im c

omo

o so

pro

de q

uem

resp

ira s

e en

cont

ra e

m

cons

tant

e m

ovim

ento

, na

insp

iraçã

o e

na e

xpira

ção,

do

mes

mo

mod

o o

sopr

o pr

edom

inan

te

naqu

elas

regi

ões,

junt

amen

te c

om a

s ág

uas,

quan

do e

ntra

m e

qua

ndo

saem

, pro

duz

vent

os

de ir

resis

tível

vio

lênc

ia. A

o se

diri

gire

m a

s ág

uas

para

os

luga

res

que

deno

min

amos

de

baix

o, a

fluem

par

a os

leito

s da

s co

rren

tes

dess

e la

do e

os

ench

em, c

omo

nos

sist

emas

de

irrig

ação

; qua

ndo,

inve

rsam

ente

, os

aban

dona

m e

reto

rnam

par

a cá

, vol

tam

a e

nche

r os

dest

e la

do. U

ma

vez

chei

os, c

orre

m p

elos

can

ais

e pe

la te

rra,

seg

uind

o as

via

s na

tura

is d

o so

lo e

pas

sam

a fo

rmar

lago

s, m

ares

, rio

s e

font

es. D

e lá

, vol

tand

o a

mer

gulh

ar n

a te

rra,

de

pois

de

uma

parte

das

águ

as c

ircul

ar p

or m

aios

núm

ero

de re

giõe

s e

mai

s ex

tens

as,

enqu

anto

out

ras

faze

m tr

ajet

o pe

quen

o em

men

os lu

gare

s, la

nçam

-se

outra

vez

no

Tárta

ro,

algu

mas

mui

to m

ais

abai

xo d

o ní

vel e

m q

ue c

orria

m, o

utra

s um

pou

co m

enos

, con

quan

to

dese

mbo

quem

toda

s m

uito

aba

ixo

do p

onto

de

parti

da. A

lgun

s rio

s irr

ompe

m d

o la

do

opos

to d

a sa

ída,

out

ros

do m

esm

o la

do; s

im, c

asos

de d

escr

ever

em u

m c

írcul

o co

mpl

eto:

en

rola

ndo-

se u

ma

ou m

ais

veze

s em

torn

o da

terr

a, à

feiç

ão d

e se

rpen

tes,

desc

em o

mai

s

Page 28: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

poss

ível

par

a de

nov

o se

lanç

arem

no

Tárta

ro. O

s rio

s de

am

bos

os la

dos

pode

m b

aixa

r até

o

cent

ro, p

orém

não

ultr

apas

sá-l

o, p

ois

de c

ada

lado

a m

arge

m d

esse

s rio

s é

de a

cliv

e ac

entu

ado.

LXI –

mui

tas

outra

s ca

udai

s do

mai

s va

riado

asp

ecto

, por

ém n

essa

mul

tidão

de

rios

há q

uatro

, par

ticul

arm

ente

, dos

qua

is o

mai

or e

mai

s af

asta

do d

o ce

ntro

, den

omin

ado

Oce

ano,

circ

unda

a T

erra

inte

ira. D

e fr

onte

des

te e

em

sen

tido

cont

rário

def

lui o

Aqu

eron

te,

que

além

de

atra

vess

ar m

uita

s re

giõe

s de

serta

s, co

rre

por b

aixo

da

terr

a, a

té a

lcan

çar a

La

goa

Aqu

erús

ia, p

ara

onde

vão

as

alm

as d

a m

aior

ia d

os m

orto

s, as

qua

is, d

epoi

s de

ali

perm

anec

erem

o te

mpo

mar

cado

pel

o de

stin

o, u

mas

mai

s ou

tras

men

os, s

ão re

envi

adas

par

a re

nasc

erem

em

ani

mai

s. O

terc

eiro

rio

irrom

pe d

entre

os

dois

prim

eiro

s, pa

ra la

nçar

-se,

pe

rto d

e su

a or

igem

, num

luga

r am

plo

e ch

eio

de fo

go, o

nde

form

a um

lago

mai

or d

o qu

e o

noss

o m

ar, d

e ág

ua e

lam

a fe

rven

tes.

Daí

, tor

vo d

e ta

nta

lam

a, d

escr

eve

um c

írcul

o e

depo

is

de c

onto

rnar

a te

rra

e at

rave

ssar

out

ros

luga

res,

atin

ge o

lim

ite e

xtre

mo

da L

agoa

A

quer

úsia

, sem

que

sua

s ág

uas

se m

istu

rem

com

as

dest

a. P

or fi

m, d

epoi

s de

mui

tas

volta

s se

mpr

e de

ntro

da

terr

a la

nça-

se n

a po

rção

mai

s ba

ixa

do T

árta

ro. E

sse

é qu

e te

m o

nom

e de

Pi

rifle

geto

nte,

cuj

as la

vas

joga

m p

artíc

ulas

inca

ndes

cent

es e

m d

iver

sos

pont

os d

a su

perf

ície

da

terr

a. D

efro

nte

dele

, por

sua

vez

, des

embo

ca o

qua

rto ri

o, a

prin

cípi

o nu

ma

regi

ão

selv

átic

a e

pavo

rosa

, e, a

o qu

e se

diz

, tod

a el

a de

col

orid

o az

ul e

scur

o, d

enom

inad

a Es

tígia

, se

ndo

cham

ada

Est

ige

a la

goa

em q

ue e

le v

em la

nçar

-se.

Dep

ois d

e ne

la c

air e

adq

uirir

em

suas

águ

as p

ropr

ieda

des

terr

ívei

s, af

unda

pel

a te

rra,

traç

ando

vol

tas

sem

con

ta e

m s

entid

o co

ntrá

rio às

do

Pirif

lege

tont

e, c

om o

qua

l vai

def

ront

ar-s

e no

lado

opo

sto

da la

goa

Aqu

erús

ia. S

uas

água

s, ta

mbé

m, n

ão s

e m

istu

ram

com

as

outra

s, vi

ndo

ele

a de

sagu

ar n

o Tá

rtaro

def

ront

e do

Piri

flege

tont

e. O

nom

e de

sse

rio, n

o di

zer d

os p

oeta

s, é

Cóc

ito.

LXII

– S

endo

ess

a a

disp

osiç

ão n

atur

al d

os ri

os, q

uand

o os

mor

tos

cheg

am a

o lo

cal

dete

rmin

ado

para

cad

a um

o s

eu d

emôn

io p

artic

ular

, ant

es d

e m

ais

nada

são

julg

ados

, tan

to

os q

ue le

vara

m v

ida

bela

e s

anta

com

o os

que

viv

eram

mal

. Os

clas

sific

ados

com

o de

pr

oced

imen

to m

edia

no, d

irige

m-s

e pa

ra o

Aqu

eron

te e

sob

em p

ara

as b

arca

s qu

e lh

es s

ão

dest

inad

as e

que

os

trans

porta

m p

ara

a la

goa.

Aí p

assa

m a

resi

dir e

se

purif

icam

, e n

o ca

so

de h

aver

em c

omet

ido

algu

ma

falta

, cum

prem

a p

ena

impo

sta

e sã

o ab

solv

idos

ou

reco

mpe

nsad

os, d

e ac

ordo

com

o m

érito

de

cada

um

. Os

reco

nhec

idam

ente

incu

ráve

is, p

or

caus

a da

eno

rmid

ade

de s

eus

crim

es, r

oubo

s de

tem

plos

, rep

etid

os e

gra

ves,

hom

icíd

ios

iníq

uos

e co

ntra

a le

i, e

mui

tos

outro

s do

mes

mo

tipo

que

se c

omet

em p

or a

í: es

ses

lanç

a-os

no

Tár

taro

a s

orte

mer

ecid

a, d

e on

de n

ão s

airã

o nu

nca

mai

s. O

s au

tore

s de

falta

s sa

náve

is,

embo

ra g

rave

s –

seria

o c

aso

dos

que,

num

mom

ento

de

cóle

ra, u

sara

m d

e vi

olên

cia

cont

ra

o pa

i ou

a m

ãe, m

as q

ue s

e ar

repe

nder

am o

rest

o da

vid

a, o

u os

que

se

torn

aram

hom

icid

as

por i

dênt

icos

mot

ivos

– to

dos

terã

o fa

talm

ente

de

ser l

ança

dos

o Tá

rtaro

. Por

ém m

ano

de

pois

de

ali c

aíre

m, a

s on

das

joga

m o

s as

sass

inos

par

a o

Cóc

ito, e

os

culp

ados

de

viol

ênci

a co

ntra

o p

ai e

a m

ãe p

ara

o Pi

rifle

geto

nte.

Arr

asta

dos,

assi

m, p

ela

corr

ente

za, q

uand

o at

inge

m a

Lag

oa A

quer

úsia

, alg

uns

cham

am a

voz

es o

s qu

e el

es m

esm

os m

atar

am, o

utro

s as

víti

mas

de

suas

vio

lênc

ias;

e a

o ac

orre

rem

todo

s a

seus

bra

dos,

impl

oram

per

mis

são

de

pass

ar p

ara

a la

goa

e de

ser

em re

cebi

dos.

Se c

onse

guem

com

ele

s qu

e os

ate

ndam

, in

gres

sam

na

lago

a, te

rmin

ando

logo

ali

seus

sofri

men

tos;

caso

con

trário

, são

mai

s um

a ve

z le

vado

s pa

ra o

Tár

taro

e d

este

, nov

amen

te, p

ara

os ri

os, p

rolo

ngan

do-s

e, d

essa

form

a, o

ca

stig

o at

é c

onse

guire

m o

per

dão

de s

uas

vítim

as. E

ssa

pena

lhes

é im

post

a pe

los

juíz

es.

Por ú

ltim

o, o

s qu

e sã

o re

conh

ecid

os c

omo

de v

ida

emin

ente

men

te s

anta

, fic

am d

ispe

nsad

os

de p

erm

anec

er n

essa

s m

orad

as s

ubte

rrân

eas

e, c

omo

egre

ssos

da

pris

ão a

tinge

m, a

s re

giõe

s pu

ras

e pa

ssam

a re

sidi

r na

terr

a. E

ntre

ess

es, o

s qu

e já

se

purif

icar

am s

ufic

ient

emen

te p

or

mei

o da

filo

sofia

, viv

em d

aí p

or d

iant

e se

m c

orpo

e v

ão p

ara

mor

adia

s ai

nda

mai

s be

las

do

que

as o

utra

s. D

esis

to d

e de

scre

vê-l

as, à

um

a, p

or n

ão s

er fá

cil t

aref

a, à

outra

s, po

r não

di

spor

ago

ra d

e te

mpo

par

a ta

nto.

Do

que

vos

expu

sem

os, S

ímia

s, pr

ecis

amos

tudo

faze

r pa

ra e

m v

ida

adqu

irir v

irtud

e e

sabe

doria

, poi

s be

la é

a re

com

pens

a e

infin

itam

ente

gra

nde

a es

pera

nça.

LXII

I – A

firm

ar, d

e m

odo

posi

tivo,

que

tudo

sej

a co

mo

acab

ei d

e ex

por,

não

é pr

óprio

de

hom

em s

ensa

to; m

as q

ue d

eve

ser a

ssim

mes

mo

ou q

uase

ass

im n

o qu

e di

z re

spei

to a

nos

sas

alm

as e

sua

s m

orad

as, s

endo

a a

lma

imor

tal c

omo

se n

os re

velo

u, é

pr

opos

ição

que

me

pare

ce d

igna

de

fé e

mui

to p

rópr

ia p

ara

reco

mpe

nsar

-nos

do

risco

em

qu

e in

corr

emos

por

ace

itá-l

a co

mo

tal.

É um

bel

o ris

co, e

is o

que

pre

cisa

mos

diz

er a

nós

m

esm

os à

guis

a da

form

ula

de e

ncan

tam

ento

. Ess

a é

a ra

zão

de m

e te

r alo

ngad

o ne

ste

mito

. C

onfia

do n

ele;

é q

ue p

ode

tranq

üiliz

ar-s

e co

m re

laçã

o a

sua

alm

a o

hom

em q

ue p

asso

u a

vida

sem

dar

o m

enor

apr

eço

aos

praz

eres

do

corp

o e

aos

cuid

ados

esp

ecia

is q

ue e

ste

requ

er, p

or c

onsi

derá

-los

est

ranh

os a

si m

esm

o e

capa

zes

de p

rodu

zir,

just

amen

te, o

efe

ito

opos

to. T

odo

entre

gue

aos

dele

ites

da in

stru

ção,

com

os

quai

s ad

orna

va a

alm

a, n

ão c

omo

se o

fize

sse

com

alg

o es

tranh

o a

ela,

por

ém c

omo

jóia

s da

mai

s fe

liz in

dica

ção:

tem

pera

nça,

ju

stiç

a, c

orag

em, n

obre

za e

ver

dade

, esp

era

o m

omen

to d

e pa

rtir p

ara

o H

ades

qua

ndo

o de

stin

o o

conv

ocar

. Vós

tam

bém

, Sím

ias

e C

ebet

e, a

cres

cent

ou, e

todo

s os

out

ros,

tere

is d

e fa

zer m

ais

tard

e es

sa v

iage

m, c

ada

um n

o se

u te

mpo

. A m

im, p

orém

, par

a fa

lar c

omo

heró

i trá

gico

, ago

ra m

esm

o ch

ama-

me

o de

stin

o. M

as e

sta

quas

e na

hor

a de

tom

ar o

ban

ho. A

cho

mel

hor f

azer

isso

ant

es d

e be

ber o

ven

eno,

par

a nã

o da

r às

mul

here

s o

traba

lho

de la

var o

ca

dáve

r. LXIV

– D

epoi

s de

diz

er e

ssas

pal

avra

s, fa

lou

Crit

ão: E

stá

bem

, Sóc

rate

s; p

orém

que

de

term

inaç

ões

me

deix

as o

u a

este

s aq

ui, a

resp

eito

de

teus

filh

os, o

u o

que

mai

s po

dere

mos

fa

zer p

or a

mor

de

ti, q

ue n

os fo

ra g

rato

exe

cuta

r?

O q

ue s

empr

e vo

s di

go, C

ritão

, foi

a s

ua re

spos

ta; n

ada

tenh

o a

acre

scen

tar:

se

cuid

arde

s de

vós

mes

mos

, tud

o o

que

fizer

des

será

tant

o po

r am

or d

e m

im e

dos

meu

s co

mo

de to

dos,

aind

a m

esm

o qu

e na

da m

e tiv

ésse

is p

rom

etid

o ne

ste

mom

ento

. Por

ém n

o ca

so d

e vo

s de

scui

dard

es d

e vó

s m

esm

os e

de

não

orie

ntar

des

a vi

da c

omo

que

no ra

stro

do

que

vos

diss

e ag

ora

e no

pas

sado

, por

mai

s nu

mer

osos

e s

olen

es q

ue fo

ssem

vos

sos

jura

men

tos

nest

e in

stan

te, n

ão a

vanç

arei

s um

úni

co p

asso

.

Qua

nto

a is

so, r

espo

ndeu

, esf

orça

r-no

s-em

os p

ara

vive

r des

sa m

anei

ra. M

as, c

omo

deve

mos

sep

ulta

r-te

?

Com

o qu

iser

des,

diss

e; b

asta

que

seg

urei

s de

ver

dade

e q

ue e

u nã

o vo

s es

cape

.

Dep

ois,

sorr

iu d

e m

ansi

nho

e di

sse,

olh

ando

par

a o

noss

o la

do: N

ão c

onsi

go,

senh

ores

, con

venc

er C

ritão

de

que

eu s

ou o

Sóc

rate

s qu

e ne

ste

mom

ento

con

vers

a co

m e

le

e co

men

ta s

eus

argu

men

tos;

tom

a-m

e po

r que

m e

le ir

á ve

r mor

to d

entro

de

pouc

o. P

or is

so

perg

unta

com

o de

verá

sep

ulta

r-m

e. Q

uant

o ao

que

vos

tenh

o di

to ta

ntas

vez

es, q

ue d

epoi

s de

beb

er o

ven

eno

não

ficar

ei c

onvo

sco

mai

s ire

i com

parti

lhar

da

dita

dos

bem

-

Page 29: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

aven

tura

dos,

ele

acha

que

eu

só fa

lo a

ssim

par

a tra

nqüi

lizar

-vos

e a

mim

tam

bém

. Ser

vi-

me,

poi

s, de

fiad

or ju

nto

de C

ritão

, por

ém q

ue s

eja

essa

fian

ça o

opo

sto

da q

ue e

le p

rest

ou

pera

nte

os ju

ízes

. Em

penh

ou, e

ntão

, a p

alav

ra e

m c

omo

eu fi

caria

; por

vos

sa v

ez, a

firm

ai-lh

e, q

ue n

ão fi

care

i dep

ois

de m

orto

, por

ém s

aire

i daq

ui e

par

tirei

, par

a qu

e el

e se

mos

tre

mai

s pac

ient

e e

não

se a

flija

tant

o po

r min

ha c

ausa

, qua

ndo

vir q

ueim

arem

ou

ente

rrare

m

meu

cor

po, n

o pr

essu

post

o de

que

eu

este

ja s

ofre

ndo

enor

mem

ente

, nem

dig

a no

s m

eus

fune

rais

que

exp

õe S

ócra

tes,

ou o

car

rega

, ou

o se

pulta

. Fic

a sa

bend

o, c

ontin

uou,

meu

ad

mirá

vel C

ritão

, que

a im

prec

isão

da li

ngua

gem

, alé

m d

e se

r um

def

eito

em

si m

esm

a,

prod

uz m

al às

alm

as. I

mpo

rta c

riare

s co

rage

m e

diz

er q

ue é

meu

cor

po q

ue v

ais

ente

rrar

; de

pois

sep

ulta

-o c

omo

te a

prou

ver e

com

o te

par

ecer

mai

s de

aco

rdo

com

as

leis

.

LXV

– T

endo

aca

bado

de

fala

r, le

vant

ou-s

e e

foi p

ara

outro

com

parti

men

to, a

fim

de

banh

ar-s

e. C

ritão

o a

com

panh

ou; a

nós

man

dou

que

espe

ráss

emos

. Ali

ficam

os, e

ntão

, a

conv

ersa

r e c

omen

tar t

udo

o qu

e el

e di

sser

a e

a di

scor

rer s

obre

o n

osso

gra

nde

info

rtúni

o.

Sent

íam

os, e

m v

erda

de, c

omo

quem

hou

vess

e pe

rdid

o o

pai e

tive

sse

de fi

car ó

rfão

par

a o

rest

o da

vid

a. D

epoi

s de

tom

ar b

anho

, tro

uxer

am-l

he o

s filh

os –

doi

s ai

nda

eram

peq

ueno

s;

o ou

tro, m

ais

cres

cido

. – C

hega

ram

tam

bém

as

mul

here

s de

cas

a, c

om a

s qu

ais

ele

conv

erso

u na

fren

te d

e C

ritão

, e d

epoi

s de

lhes

hav

er fe

ito c

erta

s re

com

enda

ções

, ped

iu q

ue

retir

asse

m d

ali a

s mul

here

s e

os m

enin

os e

vei

o pa

ra o

nos

so la

do. O

sol

já e

stav

a qu

ase

a de

sapa

rece

r, po

is S

ócra

tes

havi

a fic

ado

lá d

entro

bas

tant

e te

mpo

. Ao

vir d

o ba

nho,

sen

tou-

se, p

orém

não

con

vers

ou m

uito

. Ach

egou

-se-

lhe

o co

mis

sário

dos

Onz

e, q

ue lh

e di

sse:

Sócr

ates

, fal

ou, d

e ti

não

tere

i de

quei

xar-

me

com

o do

s ou

tros,

que

se z

anga

m c

omig

o e

rom

pem

em

pal

avra

s e

prag

as, q

uand

o os

con

vido

a to

mar

o v

enen

o po

r det

erm

inaç

ão

supe

rior.

No

teu

caso

, pel

o co

ntrá

rio, d

uran

te to

do e

ste

tem

po e

em

vár

ias

outra

s op

ortu

nida

des,

pude

reco

nhec

er e

m ti

o h

omem

mai

s no

bre,

mai

s de

licad

o e

mel

hor d

e qu

anto

s pa

ra a

qui t

êm v

indo

. Hoj

e, e

spec

ialm

ente

, ten

ho c

erte

za d

e qu

e nã

o te

zan

gará

s co

mig

o, p

ois

sabe

s m

uito

bem

que

é d

os o

utro

s a

culp

a. E

ago

ra, j

á qu

e fic

aste

cie

nte

do

que

vim

anu

ncia

r-te

. Ade

us; s

upor

ta o

inev

itáve

l da

mel

hor m

anei

ra p

ossív

el.

E de

sata

ndo

a ch

orar

, deu

as

cost

as e

retir

ou-s

e. S

ócra

tes

olho

u pa

ra e

le d

isse

: Ade

us,

tam

bém

par

a ti;

fare

mos

isso

mes

mo.

Dep

ois,

volta

ndo-

se p

ara

o no

sso

lado

: Que

hom

em d

elic

ado!

Dis

se. D

uran

te to

do

este

tem

po ,

vinh

a se

mpr

e ve

r-m

e e

vária

s ve

zes

conv

erso

u co

mig

o. E

xcel

ente

cria

tura

. A

gora

mes

mo,

qua

nta

gene

rosi

dade

reve

la c

om e

sse

chor

o po

r min

ha c

ausa

! Por

ém v

amos

, C

ritão

; obe

deça

mos

-lhe

; tra

gam

logo

o v

enen

o, s

e es

tiver

pro

nto;

sen

ão, c

uide

de

prep

ará-

lo o

enc

arre

gado

dis

so.

Crit

ão o

bser

vou:

O q

ue e

u ac

ho, S

ócra

tes,

lhe

diss

e, é

que

o s

ol a

inda

est

á po

r cim

a da

s m

onta

nhas

; não

bai

xou

de to

do. S

ei ta

mbé

m q

ue m

uito

s to

mar

am o

ven

eno

bem

dep

ois

da in

timaç

ão e

de

com

erem

e b

eber

em à

farta

; sim

, alg

uns

mes

mo

depo

is d

e re

laçõ

es

amor

osas

com

que

lhe

apet

eces

se. N

ão te

apr

esse

s; te

mos

tem

po.

E Só

crat

es: É

nat

ural

, Crit

ão, a

ssim

falo

u, q

ue e

sses

tais

pro

cede

ssem

con

form

e di

sses

te, p

or im

agin

arem

que

diss

e lh

es a

dviri

a al

gum

a va

ntag

em. M

as é

tam

bém

nat

ural

o pr

oced

er e

u de

ssa

man

eira

, poi

s nã

o ve

jo o

que

pos

so v

ir a

lucr

ar e

m b

eber

o v

enen

o

um p

ouco

mai

s ta

rde,

se

não

for t

orna

r-m

e rid

ícul

o a

meu

s pr

óprio

s ol

hos,

por a

garr

ar-m

e de

ssa

man

eira

à vi

da e

tent

ar e

cono

miz

ar o

que

já n

ão e

xist

e. V

amos

, con

tinuo

u: o

bede

ce-

me

e só

faça

s o

que

eu d

igo.

LXV

I – O

uvin

do-o

, Crit

ão fe

z si

nal a

o m

enin

o qu

e se

enc

ontra

va m

ais

perto

. Est

e sa

iu e

vol

tou

pouc

o de

pois

em

com

panh

ia d

o en

carr

egad

o de

lhe

dar o

ven

eno,

que

já o

tra

zia

espr

emid

o na

taça

. Ao

ver o

hom

em, S

ócra

tes

perg

unto

u-lh

e. E

ago

ra, m

eu c

aro:

que

ente

ndes

des

tas

cois

as, q

ue p

reci

sare

i faz

er?

Nad

a m

ais,

resp

onde

u, d

o qu

e an

dar d

epoi

s de

beb

er, a

té s

entir

es p

eso

nas

pern

as, e

em

seg

uida

s de

itar-

te. A

ssim

o v

enen

o at

uará

.

Dep

ois

dess

as p

alav

ras,

este

ndeu

a S

ócra

tes

a ta

ça, q

ue a

tom

ou d

as m

ãos

dele

com

to

da a

tran

quili

dade

, sem

o m

enor

trem

or n

em a

ltera

ção

da c

or o

u da

s fe

içõe

s. M

irand

o po

r ba

ixo

o ho

mem

, com

aqu

ele

seu

olha

r de

tour

o, p

ergu

ntou

-lhe

: Que

me

dize

s? E

se e

u fiz

esse

um

a lib

ação

com

um

pou

quin

ho d

isto

aqui

? É

perm

itido

ou

não?

Só p

repa

ram

os, S

ócra

tes,

resp

onde

u, a

qua

ntid

ade

que

nos

pare

ce s

ufic

ient

e.

Com

pree

ndo,

retru

cou.

Mas

pel

o m

enos

é p

erm

itido

, e a

té u

m d

ever

, ped

ir ao

s de

uses

qu

e fa

çam

feliz

a p

assa

gem

des

te m

undo

par

a o

outro

. É o

que

peç

o. P

rouv

era

que

me

aten

dam

!

Dep

ois

de a

ssim

fala

r, le

vou

a ta

ça a

os lá

bios

e c

om to

da a

nat

ural

idad

e, s

em v

acila

r um

nad

a, b

ebeu

até

à úl

tima

gota

. Até

ess

e m

omen

to, q

uase

todo

s tín

ham

os c

onse

guid

o re

ter a

s lá

grim

as; p

orém

qua

ndo

o vi

mos

beb

er e

que

hav

ia b

ebid

o tu

do, n

ingu

ém m

ais

ague

ntou

. Eu

tam

bém

não

me

cont

ive:

cho

rei à

lágr

ima

viva

. Cob

rindo

a c

abeç

a, la

stim

ei o

m

eu in

fortú

nio;

sim

, não

era

por

des

graç

a qu

e eu

cho

rava

, mas

a m

inha

pró

pria

sor

te, p

or

ver d

e qu

e es

péci

e de

am

igo

me

veria

priv

ado.

Crit

ão le

vant

ou-s

e an

tes

de m

im, p

or n

ão

pode

r ret

er a

s lá

grim

as. A

polo

doro

, que

des

de o

com

eço

não

havi

a pa

rado

de

chor

ar, p

ôs s

e a

urra

r, co

mov

endo

seu

pra

nto

e la

men

taçõ

es a

té o

íntim

o to

dos

os p

rese

ntes

, com

exc

eção

do

pró

prio

Sóc

rate

s.

Que

é is

so, g

ente

inco

mpr

eens

ível

? Pe

rgun

tou.

Man

dei s

air a

s m

ulhe

res,

para

evi

tar

esse

s ex

ager

os. S

empr

e so

ube

que

só s

e de

ve m

orre

r com

pal

avra

s de

bom

ago

uro.

A

calm

ai-vo

s! S

ede

hom

ens!

Ouv

indo

-o fa

lar d

essa

man

eira

, sen

timo-

nos

enve

rgon

hado

s e

para

mos

de

chor

ar. E

el

e, s

em d

eixa

r de

anda

r, ao

sen

tir a

s pe

rnas

pes

adas

, dei

tou-

se d

e co

stas

, com

o re

com

enda

ra o

hom

em d

o ve

neno

. Est

e, a

inte

rval

os, a

palp

ava-

lhe

os p

és e

as

pern

as.

Dep

ois,

aper

tand

o co

m m

ais

forç

a os

pés

, per

gunt

ou s

e se

ntia

alg

uma

cois

a. R

espo

ndeu

que

o. D

e se

guid

a, s

em d

eixa

r de

com

prim

ir-l

he a

per

na, d

o ar

telh

o pa

ra c

ima,

mos

trou-

nos

que

com

eçav

a a

ficar

frio

e a

enr

ijece

r. A

palp

ando

-o m

ais

uma

vez,

dec

laro

u-no

s qu

e no

m

omen

to e

m q

ue a

quilo

che

gass

e ao

cor

ação

, ele

par

tiria

. Já

se lh

e tin

ha e

sfria

do q

uase

to

do o

bai

xo-v

entre

, qua

ndo,

des

cobr

indo

o ro

sto

– po

is o

hav

ia ta

pado

ant

es –

dis

se, e

fo

ram

sua

s úl

timas

pal

avra

s: C

ritão

, exc

lam

ou, d

evem

os u

m g

alo

a A

sclé

pio.

Não

te

esqu

eças

de

sald

ar e

ssa

dívi

da!

Page 30: preciso. - sofianaescola.files.wordpress.com · O início da peregrinação é contado a partir do momento em que o sacerdote de Apolo coroa a popa do navio, o que se deu, conforme

Ass

im fa

rei,

resp

onde

u C

ritão

, vê

se q

uere

s di

zer m

ais a

lgum

a co

isa.

A e

ssa

perg

unta

, já

não

resp

onde

u. D

ecor

rido

mai

s al

gum

tem

po, d

eu u

m e

stre

meç

ão.

O h

omem

o d

esco

briu

; tin

ha o

olh

ar p

arad

o. P

erce

bend

o is

so, C

ritão

fech

ou-l

he o

s ol

hos

e a

boca

. Tal f

oi o

fim

do

noss

o am

igo,

Equ

écra

tes,

do h

omem

, pod

emos

afir

má-

lo, q

ue e

ntre

to

dos

os q

ue n

os fo

i dad

o co

nhec

er, e

ra o

mel

hor e

tam

bém

o m

ais

sábi

o e

mai

s ju

sto.