2. C o m en trio B blico Expositivo Antigo Testamento Volume
III Poticos W arren W . W iersbe T r a d u z i d o p o r S u s a n
a E. K la s s e n IaEdio 5aImpresso Geogmfa Santo Andr, SP - Brasil
2010
3. Comentrio Bblico Expositivo Categoria: Teologia / Referncia
Copyright 2001 por Warren W. Wiersbe Publicado originalmente pela
Cook Communications Ministries, Colorado, e u a . Ttulo Original em
Ingls: The Bible Exposition Commentary - Old Testament: Wisdom and
Poetry Preparao: Liege Maria de S. Marucci Reviso: Thefilo Vieira
Capa: Douglas Lucas Diagramao: Viviane R. Fernandes Costa Impresso
e Acabamento: Geogrfica Editora Os textos das referncias bblicas
foram extrados da verso Almeida Revista e Atualizada, 2 a edio
(Sociedade Bblica do Brasil), salvo indi cao especfica. A I a edio
brasileira foi publicada em maio de 2006. Dados Internacionais de
Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Wiersbe, Warren W. Comentrio Bblico Expositivo : Antigo Testamento
: volume III, Poticos / Warren W. Wiersbe ; traduzido por Susana E.
Klassen. - Santo Andr, SP : Geogrfica editora, 2006. Ttulo
original: The Bible Exposition Commentary - Old Testament: Wisdom
and Poetry ISBN 85-89956-51-2 1. Bblia A.T. - Comentrios I. Ttulo.
06-3700 CDD-221.7 ndice para catlogo sistemtico: 1. Antigo
Testamento : Bblia : Comentrios 221.7 2. Comentrios : Antigo
Testamento : Bblia 221.7 Publicado no Brasil com a devida autorizao
e com todos os direitos reservados pela: Geo-Grfica e editora ltda.
Av. Presidente Costa e Silva, 2151 - Pq. Capuava - Santo Andr - SP
- Brasil Site: www.geograficaeditora.com.br
4. S u m r io J
....................................................................................................................
7 Sa l m o s
........................................................................................................
85 P ro v r bio
s...............................................................................................
362
Eclesiastes.................................................................................................4
49 C n t ic o d o s C n t ic o s de Sa l o m o
...................................................512
5. J S em dvida, muitos j ouviram falar de J e de suas provaes,
mas poucos sabem o que elas significam e o que Deus estava
procurando realizar por meio delas. Tambm so poucos os que entendem
que J sofreu desse modo para que o povo de Deus, nos dias de hoje,
aprenda com suas experincias a ser paciente em meio ao sofrimento e
a perseverar at o fim. Quando resolvi escrever sobre J, co mentei
com minha esposa: "Fico imaginan do quanto sofrimento teremos de
suportar para que eu possa escrever este livro". (No desejo
escrever nem pregar de maneira im pessoal ou acadmica. Se a Palavra
no se tornar real para mim, no serei capaz de torn-la real para
outros.) Mal sabamos as tribulaes que Deus permitiria que passs
semos! No entanto, testemunhamos que Deus fiel, responde a oraes e
sempre tem em mente um propsito maravilhoso (Jr 29:11). Talvez voc
tambm tenha de passar pela fornalha a fim de estudar o Livro de J e
de compreender, de fato, sua mensagem. Se esse for o caso, no tema!
Pela f, diga como J: "Mas ele sabe o meu caminho; se ele me
provasse, sairia eu como o ouro" (J 23:10). O ouro no teme o fogo.
Tudo o que quei mado e fica para trs na fornalha no vale coisa
alguma. Ao estudarmos juntos o Livro de J, es pero que duas coisas
se realizem em sua vida: que voc aprenda a ser paciente em meio a
suas provaes e que aprenda a aju dar a outros em meio s
dificuldades deles. Estamos cercados de pessoas necessitando de
encorajamento, e Deus pode estar prepa rando voc exatamente para
esse ministrio. De qualquer modo, espero que este livro venha a
ajud-lo. Lord Byron acertou em cheio quando escreveu: "A verdade
sempre estranha; mais estranha do que a fico". O Livro de J no uma
fico religiosa. J no foi um personagem imaginrio, mas sim uma
pessoa real; tanto Ezequiel (14:14, 20) quanto Tiago (5:11) do
testemunho desse fato. Uma vez que foi um homem real, com
experincias reais, J capaz de nos contar aquilo que precisamos
saber sobre a vida e os problemas no mundo real.
6. C o m e a o D ram a J i - 3 1 Tendes ouvido da pacincia de J
(Tg5:11) O s trs primeiros captulos apresentam o homem chamado J e
revelam qua tro fatos importantes sobre ele. 1. A PROSPERIDADE DE J
(J 1:1-5) E bem provvel que a terra de Uz ficasse prxima a Edom (Lm
4:21). Elifaz, um dos amigos de J, veio de Tem, um lugar associa do
aos edomitas (J 2:11; Cn 36:11). Seu carter (1:1). J era "ntegro e
reto" (J 1:1). No era um indivduo sem pecados, pois essa uma
caracterstica que ningum pode requerer para si. Porm, seu carter
era maduro e pleno, e sua conduta, "reta". O termo "integridade"
outra palavra impor tante em J (2:3, 9; 27:5; 31:6). Pessoas nte
gras so indivduos completos, sem qualquer hipocrisia ou
duplicidade. J manteve sua integridade diante das acusaes de seus
amigos e do silncio de Deus, e, por fim, o Senhor o justificou. J
era um homem "temente a Deus e que se desviava do mal"; esse era o
alicerce de seu carter. "Eis que o temor do Senhor a sabedoria, e o
apartar-se do mal o enten dimento" (28:28). Temer ao Senhor
significa respeit-lo por seu carter, seus atos e suas palavras.
Esse temor no o medo que faz o escravo encolher-se diante de seu
senhor, mas sim a reverncia amorosa de um filho diante do pai, um
respeito que conduz obedincia. Nas palavras de Oswald Cham- bers:
"O mais extraordinrio a respeito do temor a Deus que, quando
tememos a Deus, no temos medo de nada. Ao passo que, se no temermos
a Deus, teremos medo de tudo". Sua famlia (1:2). J possua uma
famlia prspera. Os acontecimentos do livro desen rolam-se na poca
dos patriarcas, quando uma famlia grande era considerada uma bno de
Deus (Cn 12:2; 13:16; 30:1). Os filhos de J deviam gostar de passar
tempo juntos, ten do em vista que se reuniam com freqncia para
comemorar seus aniversrios, indicando que J e sua esposa educaram
bem seus fi lhos. O fato de o patriarca oferecer sacrifcios
especiais depois de cada aniversrio no indi ca que fossem
comemoraes mpias. Mos tra, apenas, que J era um homem piedoso e
desejava se certificar de que tudo em sua fa mlia estava em ordem
diante de Deus. Seus bens materiais (1:3). Naquele tem po, a
riqueza era medida principalmente em termos de terras, animais e
servos; e J pos sua os trs em abundncia. Porm, sua rique za no o
afastou de Deus. Ele reconheceu que o Senhor havia lhe dado todos
os seus recursos (J 1:21) e usou sua riqueza com generosidade para
beneficiar a outros (4:1- 4; 29:12-17; 31:16-32). J no teria proble
ma algum em obedecer quilo que Paulo escreveu em 1 Timteo 6:6-19.
Seus amigos (2:11). Apesar de ser verda de que os trs amigos de J o
magoaram profundamente, ainda assim, eram seus ami gos. Quando
ficaram sabendo das tragdias ocorridas na famlia de J, vieram de
lugares distantes para visit-lo e sentaram a seu lado em silncio,
demonstrando compaixo por ele. Seu erro foi achar que precisavam en
contrar uma justificativa para a situao de J e lhe dizer como
mud-la. Henry Ford disse: "Meu melhor amigo aquele que faz aflorar
o que h de melhor em mim"; mas os amigos de J fizeram aflorar o que
havia de pior nele. No fim das contas, porm, J e seus amigos se
reconciliaram (42:7- 10), e quero crer que seu relacionamento tor
nou-se ainda mais profundo. Sem dvida, os amigos verdadeiros so um
grande tesouro. 2. A ADVERSIDADE DE J (J 1:6-19) Em um nico dia, J
foi privado de suas rique zas. Um aps o outro, quatro
mensageiros
7. J 1 - 3 9 assustados relataram que 500 juntas de bois, 500
jumentos e 3 mil camelos foram rouba dos em ataques inimigos; 7 mil
ovelhas fo ram atingidas por raios e mortas e todos os seus 10
filhos foram mortos por um venda- val. O rei Salomo estava certo:
"Pois o ho mem no sabe a sua hora. Como os peixes que se apanham
com a rede traioeira e como os passarinhos que se prendem com o
lao, assim se enredam tambm os filhos dos homens no tempo da
calamidade, quando cai de repente sobre eles" (Ec 9:12). J sabia o
que havia acontecido, mas no sabia por que isso havia ocorrido;
esse era o "x" da questo. Uma vez que o autor nos permite visitar a
sala do trono no cu e ouvir Deus e Satans conversando, sabemos quem
causou a destruio e por que ele teve per misso de faz-lo. Mas, se
no tivssemos esse insight, bem provvel que usaramos a mesma
abordagem dos trs amigos culpan do J pela tragdia. Essa cena revela
vrias verdades relevan tes, sendo uma das principais que Deus
soberano sobre todas as coisas. Ele est as sentado em seu trono no
cu, os anjos fazem sua vontade e lhe prestam contas; nem mes mo
Satans pode fazer coisa alguma contra o povo de Deus sem a permisso
divina. O "Todo-Poderoso" um dos nomes mais im portantes de Deus em
J e usado trinta e uma vezes nesse livro. Desde o princpio, o autor
nos faz lembrar que no importa o que venha a acontecer neste mundo
e em nossa vida, Deus est assentado em seu trono e tem todas as
coisas sob controle. Outra verdade - talvez at surpreenden te - que
Satans tem acesso ao trono de Deus no cu. Graas ao Paraso Perdido
de John Milton, muita gente tem a idia equivo cada de que Satans
reina sobre este mundo a partir do inferno ("Melhor reinar no infer
no/ do que servir no cu"). Mas Satans s ser lanado no lago de fogo
depois do juzo final (Ap 20:1 Oss). Hoje, ele tem liberdade de
rodear a terra (J 1:7; 1 Pe 5:8) e at mesmo de ir presena de Deus
no cu. A terceira verdade a mais importante de todas: ao contrrio
de Satans, Deus no en controu qualquer culpa em J. A declarao de
Deus em J 1:8 repete a descrio de J no versculo 1, mas Satans a
questionou. A palavra "Satans" significa "adversrio, aque le que se
ope lei". Trata-se de uma cena num tribunal, em que Deus e Satans
do veredictos diferentes sobre J. Ao estudar este livro, devemos
ter sempre em mente que Deus declarou J "inocente" (1:8; 2:3;
42:7). No foi algo na vida de J que levou Deus a faz-lo sofrer.
Porm, Satans o declarou "cul pado", pois ele o acusador do povo de
Deus e no encontra nada de bom naqueles que temem ao Senhor (Zc 3;
Ap 12:10). A acusao de Satans contra J foi, na verdade, um ataque a
Deus. Assim podemos fazer a seguinte parfrase: "Tu ests pagando J
para te temer. Os dois tm um contrato: enquanto ele te obedece e te
adora, tu o proteges e o fazes prosperar. Tu no s um Deus digno de
adorao! Afinal, precisas pagar para que as pessoas te honrem". Os
trs amigos de J afirmaram que ele estava sofrendo porque havia
pecado - o que no era verdade. Eli disse que Deus estava
disciplinando J a fim de aperfeio- lo - o que, em parte, era
verdade. Porm, o motivo fundamental do sofrimento de j foi
silenciar as acusaes blasfemas de Satans e provar que, mesmo tendo
perdido tudo, um homem honraria a Deus. Foi uma luta "nas regies
celestes" (Ef 6:12), mas J no sabia disso. A vida de J foi um campo
de batalha em que as foras de Deus e de Satans tra varam uma guerra
espiritual para decidir a seguinte questo: "O Deus Jeov digno da
adorao do homem?" Agora, podemos compreender melhor por que J se
mostrou to inflexvel ao resistir aos conselhos de seus amigos. Eles
deseja vam que J se arrependesse de seus pecados para que Deus
removesse o sofrimento e o fizesse prosperar outra vez. J se
recusava a "inventar" um pecado em sua vida s para se arrepender e
"merecer" a bno de Deus. Se tomasse tal atitude, estaria fazendo
exa tamente o que o Acusador queria! Em vez disso, J apegou-se
firmemente a sua integri dade e bendisse a Deus, mesmo sem enten
der o que o Senhor estava fazendo. Uma derrota e tanto para o
prncipe das trevas!
8. 10 J 1 - 3 Vemos, ainda, outra verdade: Satans s pode tocar
o povo de Deus com a permis so divina e Deus usa essas situaes para
o bem de seu povo e para sua glria. Nas pala vras de Phillips
Brooks: "O propsito da vida a construo do carter mediante a verda
de". Deus est trabalhando em nossa vida a fim de nos tornar mais
semelhantes a Jesus Cristo (Rm 8:29) e pode usar at mesmo os
ataques do inimigo para nos aperfeioar. Quando trilhamos o caminho
da obedincia e nos vemos dentro de uma grande prova o, devemos nos
lembrar de que nada po de tocar nossa vida se no for da vontade de
Deus. Alguns dos acontecimentos que chama mos de tragdias na vida
do povo de Deus foram, na verdade, armas do Senhor para "[fazer]
emudecer o inimigo e o vingador" (SI 8:2). Os anjos observam a
Igreja e apren dem pelo modo como Deus se relaciona com seu povo (1
Co 4:9; Ef 3:10). Talvez, s quando chegarmos ao cu saberemos por
que Deus permitiu que certas coisas aconte- cessem. Enquanto isso,
andamos pela f e, assim como J, dizemos: "Bendito seja o nome do S
e n h o r !" 3. A FIDELIDADE DE J (J 1:20-22) As hostes do cu e do
inferno ficaram obser vando a reao de J ao perder suas rique zas e
seus filhos. Ele expressou sua tristeza do modo costumeiro da poca,
pois Deus espera que sejamos humanos (1 Ts 4:13). Afinal, at mesmo
Jesus chorou (Jo 11:35). Mas, em seguida, J adorou a Deus e reali
zou uma profunda declarao de f (J 1:21). Em primeiro lugar, olhou
para o passa do, para o dia de seu nascimento: "Nu sa do ventre de
minha me". J havia recebido tudo o que possua das mos de Deus, e o
mesmo Deus que lhe concedeu essas coisas tinha o direito de tom-las
de volta. J sim plesmente reconheceu ser um mordomo. Em seguida, J
olhou para o futuro, para o dia de sua morte: "e nu voltarei". No
vol taria ao ventre de sua me, pois isso seria impossvel. Voltaria
para a "terra me", seria sepultado e tornaria ao p. (A ligao entre
o "nascimento" e a "terra me" tambm pode ser encontrada em SI
139:13-15.) Nada do que ele havia adquirido entre seu nascimen to e
sua morte o acompanharia ao outro mundo. Paulo escreve: "Porque
nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar
dele" (1 Tm 6:7). Por fim, J olhou para o alto e proferiu uma
declarao magnfica de f: "o S e n h o r o deu e o S en h o r o
tomou; bendito seja o nome do S e n h o r !" (J 1:21). Ao invs de
amaldi oar a Deus, como Satans disse que J fa ria, J abenoou o
Senhor! Qualquer um pode dizer: "o S e n h o r o deu" ou "o S e n h
o r o tomou"; mas preciso f verdadeira para dizer, no meio da
tristeza e do sofrimento: "Bendito seja o nome do S e n h o r ".
"Em tudo isto J no pecou, nem atri buiu a Deus falta alguma" (v.
22). 4. A misria de J (J 2:1 - 3:26) Nesta seo, ouvimos quatro
vozes dife rentes. A voz do acusador (2:1-8). Satans no desistiu to
facilmente, pois voltou ao trono de Deus para fazer uma nova acusao
con tra J. Em seu primeiro encontro (1:8), foi Deus quem trouxe
baila o assunto de seu servo J, e Satans aceitou o desafio. Temos a
impresso de que Deus est certo de que seu servo no ser reprovado
nesse teste. "Todo homem tem seu preo", disse Sa tans. "J pode
criar outra famlia e comear outro negcio, pois ainda tem sade e for
as. Permita-me tocar o corpo dele e tirar-lhe a sade e, sem demora,
ele o amaldioar abertamente." Com a permisso de Deus (1 Co 10:1 3),
Satans afligiu J com uma doena que no temos como identificar.
Qualquer que fosse a natureza dessa enfermidade, os sintomas eram
terrveis: coceira forte (J 2:8), insnia (3:13), feridas e crostas
supurantes (2:7), pesadelos (J 7:13, 14), mau hlito (19:17), perda
de peso (v. 20), calafrios e febre (21:6), diarria (30:27) e pele
enegrecida (v. 30). Quando os trs amigos viram J, nem se quer o
reconheceram! (2:12). Nem todas as aflies fsicas procedem do
Maligno, apesar de os demnios de Sata ns serem capazes de causar
(dentre outras
9. J 1 - 3 n coisas) cegueira (Mt 12:22), mudez (9:32, 33),
deformidades fsicas (Lc 13:11-17), dor incessante (2 Co 12:7) e
insanidade (Mt 8:28- 34). Por vezes, as aflies fsicas so resulta do
natural de descuidos de nossa parte, e no podemos culpar ningum
mais alm de ns mesmos. Porm, mesmo nessas oca sies, Satans sabe se
beneficiar de nossa insensatez. A aparncia de J era to repugnante
que ele abandonou o convvio social (J 19:13- 20) e foi para fora da
cidade, sentar-se sobre um monte de cinzas. Esse era o local onde
se jogava e queimava o lixo da cidade e onde os prias viviam,
pedindo esmolas de quem passava por l. Nesse monturo, os ces bri
gavam por algum alimento e o estrume da cidade era queimado. O
cidado mais proe minente daquela comunidade passou a vi ver na mais
abjeta pobreza e vergonha. A voz da desistente (2:9, 10). Se houve
um homem temente a Deus nos dias do An tigo Testamento, algum que
participou do sofrimento de Cristo, esse homem foi J. Humanamente
falando, tudo o que lhe resta va era sua esposa e seus trs amigos -
e at estes se voltaram contra ele. No de se admirar que J sentisse
que Deus o havia abandonado! "Amaldioa a Deus e morre!" era exata
mente o que Satans queria que J fizesse, e a esposa de J colocou
essa tentao dian te do marido. Satans pode trabalhar por intermdio
de pessoas que nos so queri das (Mt 16:22, 23; At 21:10-14), uma
ten tao ainda mais forte por amamos tanto essas pessoas. Ado deu
ouvidos a Eva (Gn 3:6, 12) e Abvao deu ouvidos a Sara (Gn 16); mas
J recusou-se a ouvir o conselho da esposa. Claro que ela estava
errada, mas seja mos justos e consideremos sua situao. Havia
perdido dez filhos em um dia, o que seria suficiente para deixar
qualquer me arrasada. A riqueza da famlia havia desapa recido, e
ela no era mais a "primeira-dama" de sua terra. Seu marido, outrora
o homem mais importante do Oriente (J 1:3), estava assentado no
monturo da cidade sofrendo de uma doena terrvel. O que lhe restava?
Em lugar de ver o marido definhar em dor e vergonha, preferia que
Deus o matasse e aca basse de vez com seu sofrimento. Talvez isso
acontecesse caso J amaldioasse a Deus. Em tempos de grandes
provaes, nossa primeira pergunta no deve ser: "Como pos so sair
dessa situao?" mas sim: "O que posso aprender com essa situao?" A
espo sa de J pensou ter encontrado uma soluo para o problema; porm,
se J tivesse segui do o conselho dela, teria piorado a situao. Crer
viver sem tramar, obedecer a Deus apesar dos sentimentos,
circunstncias ou conseqncias, sabendo que ele est rea lizando seu
plano perfeito a seu modo e a seu tempo. As duas coisas das quais J
se recusava a abrir mo eram sua f em Deus e sua integri dade,
justamente o que sua esposa desejava que ele abandonasse. Mesmo que
Deus per mitisse que o mal lhe sobreviesse, J no se rebelaria
contra o Senhor procurando resol ver os problemas por sua prpria
conta. J no havia lido The Letters of Sam Rutherford, mas estava
seguindo o conselho desse pas tor escocs que passou por grande
sofrimen to: "E obra da f reivindicar e se apropriar da bondade nos
golpes mais severos de Deus". J estava decidido a confiar em Deus -
e at mesmo a discutir com Deus! - e a no desperdiar seu sofrimento
nem sua oportunidade de receber o que o Senhor ti nha para ele.
Quando a vida se complica, fcil desis tir; mas essa a pior coisa
que podemos fazer. Como disse um professor de histria: "Ningum
poderia culpar Colombo se ele tivesse voltado - mas tambm ningum se
lembraria dele". Quem deseja ser memor vel s vezes precisa
sentir-se miservel. No final, a esposa de J reconciliou-se com o
seu marido e com o Senhor, e Deus lhe deu outra famlia (42:13). No
sabemos quanto ela aprendeu com seu sofrimento, mas podemos supor
que foram experincias que promoveram seu crescimento. A voz dos
pranteadores (2:11-13). A expresso "consoladores de J" aplica-se a
pessoas cujo auxlio s faz os outros se sen tirem piores. No
entanto, apesar de sua
10. 12 J 1 - 3 perseguio a J, esses trs homens possuam algumas
qualidades admirveis. Em primeiro lugar, importaram-se o sufi
ciente com J a ponto de percorrer uma longa distncia para visit-lo.
Quando se lamen taram com ele, no o fizeram numa casa confortvel
nem em um quarto de hospital: assentaram-se com ele no monturo,
cerca dos de lixo. Sua tristeza era tanta que no conseguiram falar
durante sete dias. (Fica claro que, posteriormente, tiraram o
atraso desse silncio.) Na verdade, sua expresso de tristeza foi
como o luto pela morte de uma pessoa eminente (Gn 50:10). A melhor
maneira de ajudar as pessoas que sofrem simplesmente ficar com
elas, dizendo pouca coisa ou permanecendo em silncio, demonstrando
que nos preocupa mos com elas. No devemos tentar explicar coisa
alguma, pois as explicaes no curam o corao ferido. Se os amigos de
j tives sem dado ouvidos a ele, aceitando seus senti mentos e no
argumentado com ele, teriam sido de grande ajuda. Porm, escolheram
ser advogados de acusao em vez de testemu nhas. No final, o Senhor
os repreendeu, e ti veram de pedir perdo a J (j 42:7-10). A voz do
sofredor (3:1-26). Depois de sete dias de sofrimento silencioso, J
no abriu a boca para amaldioar a Deus, mas sim para maldizer o dia
do seu prprio nas cimento. "Por que eu fui nascer?". Essa uma
pergunta que, nos momentos de dor, j foi feita aos prantos por
muitos filhos de Deus, inclusive o profeta Jeremias (Jr 20:14-18).
No se trata exatamente da mesma coisa que dizer: "Queria estar
morto", apesar de J ter expressado esse desejo em mais de uma
ocasio (J 6:9; 7:15, 16; 14:13). Em mo mento algum, J fala de dar
cabo da prpria vida. A "lamentao pelo nascimento" profe rida por J
no uma apologia ao suicdio nem eutansia. E a declarao de um ho mem
cujo sofrimento era to intenso que ele desejou jamais ter nascido.
Quando sofremos, podemos dizer e fa zer uma poro de coisas das
quais nos arre penderemos mais tarde. O sofrimento de J era to
grande que ele se esqueceu das bn os que ele e sua famlia haviam
desfrutado durante tantos anos. Se jamais tivesse nasci do, no
teria sido o homem mais importante do Oriente! Mas a dor nos faz
esquecer as alegrias do passado e olhar somente para um futuro sem
esperana. Os amigos de J ouviram o que ele disse, mas no sentiram a
angstia de seu corao e usaram a aborda gem errada para ajud-lo a
lidar com suas provaes. Argumentaram sobre suas pala vras em vez de
ministrar a seus sentimentos. J amaldioou dois momentos: a noite de
sua concepo e o dia do seu nascimento (3:1-13). A concepo uma bno
de Deus (Gn 30:1, 2; SI 139:13-16), de modo que, quando amaldioamos
uma bno, estamos questionando a bondade de Deus. (Observe como J
diz que uma criana foi concebida e no "uma massa de proto plasma"
ou "uma coisa". Ele era uma pessoa desde a concepo.) A
palavra-chave dessa passagem tre vas. Quando um beb nasce, sai das
trevas para a luz, mas J queria permanecer nas trevas. Na verdade,
teria sido melhor se ti vesse nascido morto! Ento, teria ido para o
reino dos mortos (sheol) e no precisaria pas sar por todo esse
sofrimento. J encerra sua maldio repetindo qua tro vezes "por qu?",
fazendo perguntas que somente Deus capaz de responder. fcil
perguntar por qu, mas difcil obter a res posta certa. No h nada de
errado em per guntar, desde que no pensemos que Deus nos deve uma
resposta. At mesmo Jesus perguntou: "Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?" (Mt 27:46). Mas se o Senhor nos explicasse o motivo
de as coisas acontecerem, ser que isso aliviaria nossa dor ou
sararia nosso corao partido? Ver a radiografia faz passar a dor de
uma perna quebrada? Vivemos de promessas e no de explicaes, de modo
que no devemos gastar muito tempo perguntando a Deus "por qu". A
ltima metade do lamento uma des crio do mundo dos mortos, o lugar
que os judeus chamavam de Sheol (J 3:1 3-26). Era l que J desejava
estar! O Antigo Testamen to no apresenta uma revelao completa e
definitiva da vida depois da morte. Essa
11. revelao s foi dada com a vinda do Salva dor (2 Tm 1:10). J
imaginava o Sheol como um lugar de sombras, onde os grandes e os
pequenos descansavam juntos, longe dos far dos e sofrimentos da
vida na terra, j prefe ria estar morto e ter descanso a estar vivo
e suportar toda a misria que lhe havia sobre vindo. Afinal, no que
se referia a seu futuro (J 3:23), j se encontrava no escuro, de
modo que podia muito bem ir para as trevas do Sheol. No final de
seu lamento, J conta um se gredo (vv. 25, 26): antes de todos os
seus problemas terem incio, havia sentido - e te mido - que algo
terrvel aconteceria. Esse sen timento fora uma intuio vinda do
Senhor? Por vezes, o povo de Deus recebe essas in- tuies que o faz
buscar ao Senhor e orar pedindo sua ajuda. Foi isso o que J fez? No
sabemos, mas temos certeza de que estava arrasado, pois seus piores
medos se realizaram. Infelizmente, os trs amigos de J con-
centraram-se em seu lamento, no em sua declarao de f (1:21- 2:10).
Depois de ouvirem J amaldioar o dia de seu nasci mento, pensaram
ser necessrio repreend- lo e defender Deus. Aqui comea a
argumentao, que se transforma numa discusso e, depois, numa
contenda, levando o Senhor a intervir para encerrar a questo de uma
vez por todas.
12. Interld io U ma vez que passaremos um bocado de tempo com
os trs amigos de j, con vm conhec-los um pouco melhor. Os trs
homens eram idosos (J 32:6) e mais velhos que J (15:10), mas
supomos que o mais velho de todos era Elifaz. Seu nome aparece
primeiro (2:11), foi ele quem falou primeiro, e, ao que parece, o
Senhor o considerava o membro mais velho do trio (42:7). E
associado a Tem, um lugar conhe cido por sua sabedoria (Jr 49:7).
Elifaz baseou seus discursos em duas coisas: nas prprias observaes
acerca da vida ("Segundo eu tenho visto", "Bem vi eu", "Eis que
isto j o havemos inquerido"; J 4:8; 5:3, 27, respec tivamente) e
numa experincia assustadora que teve certa noite (4:12-21). Elifaz
confia va muito na tradio (15:18, 19), e o Deus que ele adorava era
um Legislador rgido. "Acaso, j pereceu algum inocente?" (4:7),
perguntou ele, e incontveis mrtires pode riam responder: "Ns!" (Que
dizer do Senhor Jesus Cristo?) Elifaz possua uma teologia inflexvel
que no deixava muito espao para a graa de Deus. E bem possvel que
Bildade fosse o se gundo mais velho, uma vez que seu nome aparece
em segundo lugar e ele fala depois de Elifaz. Pode-se descrever
Bildade com uma s palavra: legalista. Seu lema era: "Eis que Deus
no rejeita ao ntegro, nem toma pela mo os malfeitores" (8:20). Era
capaz de ci tar provrbios antigos e, assim como Elifaz, tinha
profundo respeito pela tradio. Bildade estava certo de que os
filhos de J haviam morrido porque tambm eram peca dores (v. 4). No
demonstra sensibilidade alguma pelo amigo sofredor. Zofar era o
mais jovem dos trs e, sem dvida, o mais dogmtico. Fala como um
diretor de escola dirigindo-se a uma turma de calouros ignorantes.
Sua abordagem in sensvel : "Sabe, portanto!" (11:6; 20:4). No se
mostra, de modo algum, um homem misericordioso e diz a J que, tendo
em vis ta seus pecados, Deus o estava fazendo so frer muito menos
do que merecia! (11:6). Seu lema era: "Porventura, no sabes tu que
desde todos os tempos [...] o jbilo dos perversos breve, e a
alegria dos mpios, momentnea?" (J 20:4, 5). interessante observar
que Zofar s se dirige a J em duas ocasies. Ou ele decidiu que no
era capaz de refutar a argumentao de J, ou con siderou uma perda de
tempo tentar ajudar o amigo. Algumas das palavras desses trs homens
so boas e verdadeiras, enquanto outras so insensatas. De qualquer
modo, por terem uma viso muito restrita, no puderam aju dar o
amigo. Sua teologia no era vital nem vibrante, mas sim morta e
rgida, e o Deus que tentaram defender era pequeno o sufi ciente
para ser compreendido e explicado. Esses homens so uma ilustrao
perfeita da declarao de Dorothy Sayers: "Nada im possvel de ser
provado caso seu ponto de vista seja suficientemente limitado". Por
que algum falaria a um amigo do modo como esses trs homens falaram
a J? Por que estavam to zangados? Encontra mos uma pista nas
palavras de J: "Assim tambm vs outros sois nada para mim; ve des os
meus males e vos espantais" (6:21). Esses trs homens estavam com
medo de que as mesmas calamidades acontecessem com eles! Portanto,
precisavam defender sua pre missa de que Deus recompensa os justos
e castiga os perversos. Enquanto fossem "jus tos", nada de mal lhes
aconteceria nesta vida. O medo e a raiva muitas vezes andam juntos.
Ao afirmar sua integridade e se re cusar a dizer que havia pecado,
J abalou a teologia de seus amigos e tirou deles sua paz e
confiana, o que, por sua vez, os deixou zangados. Deus usou J para
destruir a teo logia superficial desses homens e desafi-los a
aprofundar-se no corao e na mente do
13. INTERLDIO 15 Senhor. Infelizmente, preferiram o superficial
e seguro ao invs do profundo e misterioso. Elifaz, Bildade e Zofar
tm vrios disc pulos hoje. Sempre que encontramos uma pessoa que se
sente obrigada a explicar tudo, que tem uma resposta pronta para
todas as perguntas e uma frmula fixa para resolver todos os
problemas, voltamos ao monturo com J e seus trs amigos. Quando isso
acon tecer, devemos nos lembrar das palavras do psiclogo suo, Paul
Tournier: Ansiamos quase sempre por uma religio fcil, simples de
compreender e simples de seguir; uma religio sem mistrios, sem
problemas insolveis, sem dificulda des inesperadas; uma religio que
nos permita escapar de nossa condio hu mana miservel; uma religio
na qual o contato com Deus nos poupe de todo conflito, toda
incerteza, todo sofrimento e toda dvida; em resumo, uma religio sem
a cruz.1 Imagino como os trs amigos de J explica riam a cruz para
os dois discpulos de Emas! (Lc 24:1 3ss). Vamos ouvir, agora, a
primeira rodada de discursos. 1. T o u r n ie r , Paul.
Reflections. Nova York, Harper & Row, 1976, p. 142.
14. C o m e a a A rg u m en t a o J 4 - 7 Mas, o que Satans no
pde fazercom a ajuda dos sabeus, dos caldeus, de todos osventos do
deserto, no tardou em con seguir com a abordagem argumentativa e as
controvrsias ofensivas de Elifaz, Zofar, Bildade e Eli. Oh, a
maldio da controvrsia, nohquemapossamitigar! (Alexander Whyte) O s
trs amigos passaram sete dias em silncio (J 2:13), e,
posteriormente, J desejou que tivessem permanecido assim (13:5).
"Ento, respondeu Elifaz, o temanita." Mas a que respondeu? A dor no
corao de J? No. Respondeu apenas s palavras dos lbios de J, e esse
foi seu erro. O conselheiro e consolador sbio deve ouvir com o
corao e responder tanto aos sentimentos quanto s palavras. No se
cura um corao partido com lgica, mas sim com amor. Sem dvida,
preciso dizer a verdade, mas esta deve ser dita em amor (Ef 4:15).
1. A REPREENSO DE EFAZ (J 4 - 5 ) Sua abordagem (4:1-4). A
abordagem de Elifaz parece comear de modo positivo e at amvel; mas
apenas um pouco de mel preparando J para a amargura que segue. "Se
intentar'algum falar-te, enfadar-te-s?" (v. 2). Na verdade, estava
dizendo: "No se zan gue, J! Em outros tempos, suas palavras foram
de grande ajuda para muita gente, e nosso desejo que estas palavras
possam ajud-lo agora". Jamais subestime o poder das palavras para
animar as pessoas em meio s bata lhas da vida. James Moffatt sugere
a seguinte 2 traduo para J 4:4: "As suas palavras man tiveram
homens em p". As palavras certas, ditas no momento certo e com a
motivao certa podem fazer uma tremenda diferena na vida dos outros.
Nossas palavras podem sustentar os fracos e encorajar os abatidos.
Mas tambm podem ferir os quebrantados e ser mais um fardo sobre
eles, de modo que devemos ter cuidado com o que falamos e como
falamos. Sua acusao (4:5-11). Em seguida, Elifaz parte para a
acusao. J era capaz de "dar" conselhos, mas no sabia "receb- los"!
Podia dizer aos outros como lidar com suas provaes; mas quando as
dificulda des lhe sobrevieram, no colocou em prti ca seu prprio
discurso. "Porventura, no o teu temor de Deus aquilo em que con
fias"?, perguntou Elifaz. "E a tua esperana, a retido dos teus
caminhos?" (v. 6). De acor do com Elifaz, se J est vivendo no temor
do Senhor, ento no precisaria temer, pois Deus sempre abenoa os
justos e julga os perversos. Esta a premissa bsica dos trs amigos:
faa o que certo e tudo dar certo; faa o que errado e Deus enviar
seu julgamento. possvel que, por vezes, esse julgamento seja
gradual, como o cultivo de uma planta o para a colheita (v. 8).
Tambm pode vir de repente, como a chegada de uma tem pestade ou o
ataque de um leo (vv. 9-11). Mas no h dvida de que o julgamento
vir, pois Deus um Juiz justo. A maioria das pessoas cr que, em lti
ma anlise, Deus abenoa os justos - seu povo - e julga os perversos;
mas no isso o que est em questo em J. Ele e seus ami gos no esto
tratando do que acontece no fim das contas, mas sim das implicaes
ime diatas, um assunto sobre o qual Davi (SI 37), Asafe (SI 73) e
at o profeta Jeremias (Jr 12:1- 6) falaram. Seus argumentos (4:12 -
5:7). Elifaz ba seou sua argumentao em dois pontos: a experincia
(4:12-21) e a observao (5:1- 7). O primeiro argumento refere-se a
uma experincia sinistra pela qual ele passou cer ta noite, quando
teve uma "viso" e ouviu uma voz. Cabe aqui levantar duas
perguntas:
15. J 4 - 7 17 Qual foi o contedo da mensagem? Essa men sagem
foi uma revelao direta de Deus? Uma vez que os manuscritos
hebraicos do Antigo Testamento no apresentam pon tuaes, nem sempre
sabemos, ao certo, onde comeam e terminam certas citaes. A maioria
das tradues em nossa lngua determina o trecho de 4:1 7-21 como a
decla rao completa do "esprito". Porm, alguns estudiosos acreditam
que essa declarao limita-se ao versculo 17 e que o restante um
comentrio de Elifaz. De qualquer modo, a mensagem a mesma: a vida
do ser huma no breve e frgil, e, por sua prpria conta, ele nunca
capaz de ser suficientemente jus to para agradar a Deus. Mas ser
que essa declarao foi uma revelao direta de Deus? bem provvel que
no, uma vez que essa experincia como um todo no parece encaixar na
maneira habitual de Deus revelar a verdade. Em pri meiro lugar, no
tem a autoridade de uma declarao como: "Veio a mim a palavra do
Senhor, dizendo" ou "Assim diz o Senhor". Alm do mais, Deus no
costuma aparecer de modo furtivo e assustar as pessoas. No sabemos
ao certo, mas possvel que Elifaz tenha sonhado com essa experincia,
medi tado sobre ela e, aos poucos, a transforma do numa viso. Uma
coisa certa: Elifaz no estava di zendo tudo sobre a relao entre
Deus e o ser humano. Sem dvida, o ser humano vive numa casa de
barro que, a seu tempo, se transforma em p, e a vida humana pode
ser exterminada como se esmaga uma traa ou como se desmonta uma
tenda. No entanto, o ser humano tambm feito imagem de Deus, e seu
Criador um Deus de graa e de misericrdia bem como um Deus de
justia. O segundo argumento de Elifaz baseia- se em suas observaes
pessoais sobre a vida (5:1-7). Ele viu pecadores prosperarem e cria
rem razes, mas que acabaram destrudos e perdendo tudo. Trata-se de
uma descrio nada sutil da situao de J. Deve t-lo ma goado
profundamente ouvir que seus pe cados haviam provocado a morte de
seus filhos. Porm, no Salmo 73, Asafe apresenta uma perspectiva
totalmente diferente. Ele conclui que Deus permite que os mpios
pros perem nesta vida, pois este o nico "cu" que tero. Deus acertar
as contas na vida depois desta e providenciar para que seu povo
seja recompensado e os perversos se jam castigados. O problema de
argumentar com base naquilo que observamos que nossas obser vaes so
extremamente limitadas. Alm disso, ao contrrio de Deus, no somos ca
pazes de enxergar o que h no corao hu mano e determinar quem reto
aos olhos do Senhor. Alguns pecadores sofrem julgamen to quase
imediato, enquanto outros tm vida prspera e morrem em paz (Ec
8:10-14). Os problemas no brotam do solo como ervas daninhas, mas
fazem parte do ser hu mano desde seu nascimento, pois todo ser
humano nasce pecador (J 5:6, 7). Elifaz con clui que, se J est
passando por dificul dades, ele prprio culpado, pois pecou contra
Deus. Assim, J deve se arrepender de seus pecados e pedir que Deus
o perdoe. Seu apelo (5:8-17). Essa concluso leva Elifaz a fazer um
apelo para que J busque ao Senhor e se entregue a ele. O Deus que
faz maravilhas e cuida de sua criao certa mente socorrer J, se ele
se humilhar e con fessar seus pecados. J deve considerar suas
tribulaes como uma disciplina de Deus para torn-lo um homem melhor
(vv. 17, 18), tema que ser retomado mais adiante por Eli. Ao que
parece, J estava levando uma vida deplorvel, pois Deus lhe tomou
suas riquezas, sua famlia e sua sade a fim de coloc-lo na linha!
Afinal, a disciplina no um instrumento do amor de Deus? (Pv 3:11,
12; Hb 12:1-11.) Sua convico (5:17-27). Elifaz encerra seu discurso
com palavras de convico. O mesmo Deus que fere tambm cura (Dt
32:39; Os 6:1, 2). Ele livrar das dificulda des, salvar dos
inimigos e dar uma vida longa e uma morte tranqila. "Eis que isto j
o havemos inquirido, e assim ; ouve-o e medita nisso para teu bem"
(J 5:27). Mas essas palavras no passam de uma reformulao da
filosofia de Satans! "Porventura, J debalde teme a Deus? [...] Pele
por pele, e tudo quanto o homem tem
16. 18 J 4 - 7 dar pela sua vida" (1:9; 2:4). Elifaz estava
pedindo que J negociasse com Deus: con fesse seus pecados, e Deus
lhe dar de volta tudo o que perdeu. Se houvesse escolhido agir
assim, J teria envergonhado Jeov e provado que Satans estava certo,
algo que se recusou a fazer. 2. A RESPOSTA DE J (J 6-7) J respondeu
com dois apelos veementes. Primeiro, suplicou aos trs amigos que
mos trassem mais compreenso e compaixo (J 6). Em seguida, suplicou
a Deus para que considerasse sua situao miservel e alivias se seu
sofrimento antes que morresse (J 7). A splica de J a seus amigos
(cap. 6). At ento, somente Elifaz havia falado, mas J percebeu que
Bildade e Zofar concorda vam com ele. Nenhum dos amigos identifi
cou-se com aquilo que J estava passando fsica e emocionalmente. Uma
coisa era as sentar a seu lado, outra bem diferente era sentir o
que ele estava sentindo (Ez 3:15). Uma criana definiu "compaixo"
como "sen tir sua dor em meu corao", mostrando sa ber mais sobre
como oferecer consolo do que esses trs homens. Para comear, no
sentiram o peso de seu sofrimento (J 6:1-3). No de se admi rar que
J tenha falado de modo to enrgi co! Seus amigos teriam feito a
mesma coisa se estivessem carregando um fardo como o dele. Ao
contrrio dos cristos de hoje, J no possua a revelao plena do cu, de
modo que seu futuro era um enigma. Ns, por outro lado, podemos ler
2 Corntios 4:16-18 e receber novo nimo. Seus amigos tambm no
entenderam a amargura de seu sofrimento (J 6:4-7). J se sentia como
um alvo contra o qual Deus ati rava flechas envenenadas, e esse
veneno amargurava seu esprito. Deus havia enfilei- rado seus
soldados que, agora, atiravam contra um nico homem fraco, e os
amigos de J apenas destilavam mais veneno. J pre cisava de palavras
de estmulo para nutrir seu esprito e fortalec-lo, mas seus amigos o
alimentavam apenas com palavras inteis e inspidas. Se suas queixas
soavam como um jumento zurrando ou um boi mugindo, era porque,
assim como um animal morrendo de fome, ansiava por amor e
compreenso. J tentou faz-los sentir o desespero de sua situao (vv.
8-13). O sofrimento inten so e prolongado pode levar a pessoa a se
sentir impotente para lidar com a vida, o que, por sua vez, pode
conduzir ao deses pero. Como planejar para o futuro se no somos
capazes de controlar alguns dos ele mentos que constituem a vida?
Assim, J perguntou: "Por que esperar, se j no te nho foras? Por que
prolongar a vida, se o meu fim certo?" (v. 11). Em outras pala
vras: "O que estou esperando? A vida s est ficando pior!" O
desespero pode gerar um sentimento de inutilidade, e, quando nos
sentimos in teis, perdemos a vontade de viver. Isso expli ca por
que J desejava que Deus lhe tirasse a vida (3:20-23; 6:8, 9; 7:15,
16; 10:18, 19; 14:1 3). J no atentou contra a prpria vida, pois
sabia que o suicdio era errado; porm, pediu a Deus que o libertasse
de sua condi o miservel. Os amigos de J possuam sade e conforto e
no entendiam como era acordar cada manh sabendo que outro dia de
sofrimento os esperava. J havia perdido todas as suas foras e se
sentia imprestvel (6:12, 13). Numa atitude corajosa, J lhes mostrou
a ineficcia de seu ministrio a ele (vv. 14- 30). No tinham piedade
dele nem tentavam suprir suas necessidades. Eram como um crrego
seco no meio do deserto, que serve apenas para decepcionar os
viajantes seden tos. Nos tempos de prosperidade, foram seus
"amigos", mas em tempos de dificuldade, se voltaram contra ele. J
fez dois pedidos aos amigos: "Ensinai- me" (v. 24) e "Olhai para
mim" (v. 28). No precisava de acusaes, e sim de esclare cimento!
Mas eles nem sequer o fitavam e atentavam para sua situao miservel.
Fi sicamente, os homens estavam assentados com J no monturo, mas
emocionalmente eram como o sacerdote e o levita que passa ram "de
largo" (Lc 10:30-37). Em meu ministrio pastoral, lembro-me de
visitar pacientes de hospital para os quais era difcil olhar por
causa de sua enfermidade,
17. J 4 - 7 19 acidente ou cirurgia e, por vezes, tambm era
difcil escut-los, pois haviam se tornado amargurados. Pela forma
como eu os olhava e pelas minhas reaes a suas palavras, essas
pessoas eram capazes de perceber se me preocupava mesmo com elas ou
no. No adiantaria muita coisa ler a Bblia e orar a menos que,
antes, tivssemos construdo uma ponte entre nossos coraes. S ento
seria possvel ministrar um ao outro. J encerrou seu discurso a seus
amigos com uma splica veemente para que recon siderassem sua situao
e o tratassem com mais amor. "Tornai a julgar, vos peo, e no haja
iniqidade; tornai a julgar, e a justia da minha causa triunfar" (J
6:29). Esses trs homens estavam to preocupados em de fender a si
mesmos que haviam se esqueci do de consolar seu amigo! A splica de
J ao Senhor (cap. 7). J usou vrias imagens vividas para descrever a
futilidade da vida. Sentia-se como um ho mem que havia sido
alistado fora num exrcito, sendo obrigado a levar uma vida "penosa"
(v. 1a); como um escravo que anseia pela sombra e um trabalhador
que espera pelo fim do dia e por seu pagamento (v. 2). Pelo menos,
esses homens tinham algo pelo que esperar, enquanto o futuro de J
era de- sesperador. Suas noites eram insones e seus dias, inteis
(Dt 28:67), e o Senhor parecia no se importar. Em seguida,
concentrou-se na brevidade da vida. O tempo estava passando veloz
mente, de modo que, se Deus pretendia fa zer alguma coisa, era
melhor se apressar! A vida de J era como a lanadeira do tecelo (J
7:6), movendo-se com rapidez e ficando quase sem fio. (O termo
"soltar", em 6:9, re fere-se a cortar o tecido do tear. Ver Is
38:12.) A vida como uma tecelagem, e somente Deus conhece o desenho
todo e sabe quan do est completo. J tambm viu sua vida como um
sopro ou uma nuvem, que existe por um breve momento e depois
desaparece para sempre (J 7:7-10; Tg 4:14). Deus o estava tratando
como um monstro perigoso que precisava ser vigiado incessantemente
(J 7:11, 12). No de se admirar que J estivesse amar gurado contra
Deus por guard-lo a todo tempo. O fato de, no original, J se
referir a Yam ("o mar") e a Tammin ("um monstro ma rinho"), duas
figuras mitolgicas, no signifi ca que aprovava os ensinamentos dos
mitos orientais. Estava apenas usando personagens conhecidos para
ilustrar sua argumentao. Era impossvel J escapar de Deus, o
"Espreitador dos homens" (v. 20). Se J ador mecia, Deus o
aterrorizava em seus sonhos. Se estava acordado, sabia que Deus o
estava observando (10:14; 13:27; 31:4). No podia sequer engolir sua
saliva sem que Deus sou besse! Por que toda essa ateno de Deus
sobre um s homem? (7:17, 18; SI 8:4.) J encerrou seu apelo com um
pedido de perdo (J 7:20, 21). "Se pequei, ento me perdoa. Por que
devo ser um fardo para ti e para mim mesmo? O tempo est passan do
rapidamente, ento vamos resolver tudo sem demora!" No era uma
confisso de pecados, pois J continuava afirmando sua integridade;
antes, era a oportunidade de Deus tratar de reas da vida de J que
lhe eram desconhecidas (SI 19:12-14). Ento, J se calou. Havia
expressado sua dor e frustrao e suplicado a seus amigos por nimo e
compreenso. Ser que seu pe dido seria atendido? Observemos, a
seguir, as palavras de Bildade, o suta, que faz uma breve preleo
teolgica acerca da justia de Deus.
18. A A rg u m en ta o C o n t in u a J 8 - 1 0 possvel ser to
ortodoxo quanto o dia bo - e tambm to perverso quanto ele. (John
Wesley) v A medida que a discusso prossegue, Bil dade apresenta trs
argumentos lgicos, a fim de provar que J culpado, e J o con testa
com trs perguntas difceis, a fim de ajudar seus amigos a
compreender como ele est perplexo e atormentado. 1. Trs argum entos
l g ico s (J 8:1-22) "At quando as palavras da tua boca sero qual
vento impetuoso?" (J 8:2). possvel imaginar um conselheiro fazendo
uma per gunta assim a algum que est sofrendo e deseja morrer? Foi o
que Bildade perguntou a J e, em seu discurso seguinte (18:2), usou
a mesma abordagem. J havia derramado diante deles toda a sua
tristeza e esperava ouvir uma palavra de consolo, mas seu ami go
disse que o discurso de J no passava de conversa fiada. Essa
abordagem de Bildade justificada: estava to preocupado em defender
a justi a de Deus que se esqueceu das necessida des de seu amigo.
"Perverteria Deus o direito ou perverteria o Todo-Poderoso a
justia?" (8:3). Bildade pregou um sermo sobre a justia de Deus,
usando como tema a "vi so" de Elifaz: "Seria, porventura, o mortal
justo diante de Deus?" (4:1 7). Em sua defesa da justia de Deus,
Bildade apresentou trs argumentos lgicos. O carter de Deus (w.
1-7). Bildade es tava irado com o fato de J ter considerado que
Deus faria alguma coisa errada. Acaso J havia se esquecido do que
Deus havia 3 feito aos pecadores no dilvio ou em Sodo- ma e
Gomorra? Jeov no , afinal, o Deus santo, cuja prpria natureza exige
que ele faa o que certo? J estava blasfemando ao questionar Deus e
acus-lo de proceder equivocadamente. Apesar de a teologia de
Bildade estar correta - Deus , de fato, justo -, sua aplica o dessa
teologia estava errada. Bildade concentrava-se em apenas um aspecto
da natureza de Deus - sua santidade e justia deixando de lado seu
amor, sua misericr dia e sua bondade. Sem dvida, "Deus luz" (1 Jo
1:5); mas no devemos nos esquecer de que "Deus amor" (4:8, 16). Seu
amor santo, e sua santidade exercida em amor, mesmo quando ele
julga o pecado. Como possvel conciliar esses dois atri butos de
Deus? Isso acontece na cruz. Quan do Jesus morreu pelos pecados do
mundo, a retido de Deus foi justificada, pois o pe cado foi
julgado; porm, o amor de Deus tambm foi demonstrado, pois ofereceu
ao mundo um Salvador. No Calvrio, Deus "justo e o justificador" (Rm
3:24-26). De acor do com a lei de Deus, "a alma que pecar, essa
morrer" (Ez 18:4, 20); e Deus obede ceu sua prpria lei ao
sacrificar seu Filho. Na ressurreio de Cristo, a graa de Deus
triunfou sobre o pecado e a morte, e todos os que se arrependem e
crem em Jesus Cris to so salvos. Nos tempos do Antigo Testamento,
aque les que criam olhavam adiante para a cruz e eram salvos pela f
no Salvador que estava por vir (Jo 8:56; Rm 3:25; Hb 11). J era um
homem temente a Deus, e, portanto, Deus havia perdoado seus
pecados. Mesmo se J tivesse pecado contra Deus de algum modo mais
grave, Deus teria tratado seu filho com base em sua graa e
misericrdia e no de acordo com a sua justia. Quando confessa mos
nossos pecados, Deus nos perdoa, pois fiel sua promessa e justo
para com seu Filho que morreu por esses pecados (1 Jo 1:9). J deve
ter sentido uma dor profunda quando Bildade lhe disse que seus
filhos ha viam morrido porque haviam pecado (J 8:4). E provvel que
Bildade acreditasse estar
19. J 8 - 10 21 animando J: "Talvez no tenham sido mor tos por
causa de suas transgresses, J, mas sim, porque eles prprios viviam
em pecado. No h nada que eles possam fazer agora, mas voc ainda
pode tomar uma providn cia; portanto, se apresse!" O apelo de
Bildade nos versculos 5 a 7 outro reflexo da filosofia de Satans.
"Voc diz que no pecou. Ento, rogue a Deus que restaure sua
prosperidade. Se sua vida esti ver em ordem diante de Deus, ele far
gran des coisas por voc. Acaso a prosperidade no melhor que o
sofrimento?" O que Bil dade no sabia era que, posteriormente, suas
palavras se cumpririam e J seria ainda mais prspero do que no
comeo. Porm, no fi nal, a orao de J seria por Bildade e pelos
outros, pois a vida deles no estava em or dem diante de Deus
(42:7-13). A sabedoria do passado (w. 8-10). Elifaz baseou seu
raciocnio na observao e na experincia, mas como um bom tradiciona
lista, Bildade foi procurar sua sabedoria no passado. Sua
pergunta-chave : "O que os antigos tm a dizer sobre isso?" Por
certo, podemos aprender com o passado. Nas pa lavras de George
Santayana: "Aqueles que no se lembram do passado esto condena dos a
repeti-lo". Porm, o passado deve ser um leme que nos conduz e no
uma ncora que nos prende. "Pela maneira que o passa do perece que
se constri o futuro", disse o filsofo Alfred North Whitehead. O
fato de que algo foi dito ou escrito h muitos anos no garante, de
modo algum, que seja certo. Gosto de literatura clssica e fico
impressionado como seus textos con tm tanta sabedoria e tanta
insensatez e como, com freqncia, caem em contradi o. Dr. Robert
Hutchins, editor da colet nea The Creat Books of the Western World
[Os Grandes Livros do Mundo Ocidental], es creveu em seu prefcio:
"Num dilogo que se estende por mais de 25 sculos, apare cem todos
os tipos de dogmas e de pontos de vista. A esto os grandes erros
bem como as grandes verdades". "Tradio" e "tradicionalismo" so duas
coisas bem diferentes. O historiador Jeroslav Pelikan expressa essa
distino de modo bastante preciso: "Tradio a f viva da queles que j
morreram; tradicionalismo a f morta daqueles que ainda esto vivos".
Para Bildade, o passado era um estaciona mento; mas Deus quer que o
passado seja uma plataforma de lanamento. Permane cemos com os
antigos para que possamos caminhar com eles e nos mover em direo
aos objetivos que buscavam'. Isso inclui nos so conhecimento de
Deus bem como nosso conhecimento do ser humano e do mundo. Como
disse John Robinson aos pioneiros, quando partiram para o Novo
Mundo: "O Senhor ainda tem muitas verdades para re velar de sua
Santa Palavra". Bildade no citou os antigos; sabia que J conhecia o
passado to bem quanto ele. Porm, deixou claro que respeitava a sa
bedoria dos antigos mais do que os ensina mentos dos contemporneos.
A sabedoria acumulada ao longo das eras certamente era mais valiosa
do que as palavras de pessoas que "nasceram ontem". A vida curta
demais para aprendermos tudo o que elas podem nos ensinar. Somos
sombras passageiras, de modo que o melhor a fazer aprender a sa
bedoria enquanto temos oportunidade. As evidncias da natureza (w.
11-22). possvel que, em seu "poema sobre a sabe doria", Bildade
tenha resumido alguns dos dizeres dos antigos, argumentando em
favor de uma lei de "causa e efeito". Se essa lei se aplica
natureza, por que no vale tambm para a vida humana? Considere, por
exemplo, o papiro, uma planta que murcha se no tiver gua (vv. 11-
13). J estava murchando, de modo que devia haver uma causa: era um
hipcrita, e sua esperana estava se esmorecendo. Em seguida, Bildade
passa das plantas para as aranhas (vv. 14, 15). possvel apoiar- se
na teia de uma aranha e ser sustentado por seus fios? Claro que no!
Por mais certo que algum esteja de que isso possvel, a teia se
romper. A convico de J tambm era assim: a seu tempo, ela se
romperia, e ele cairia. O terceiro exemplo tirado do jardim: se
arrancarmos uma planta, por mais viosa que esteja, cedo ou tarde
acabar morrendo
20. 22 J 8 - 10 (vv. 16-22). Algo havia acontecido s "raizes"
de J, e ele estava desfalecendo; assim, o pecado seria a causa de
tudo. Ningum ar ranca uma planta boa e a destri, de modo que devia
haver algo de errado com J, pois Deus o havia desarraigado de seu
jardim. Deus no cultiva ervas daninhas nem lana fora as plantas
boas! Bildade reafirmou sua promessa anterior de que Deus
restauraria a sorte de J, se ele reconhecesse que havia pecado e
colocasse sua vida em ordem dian te do Senhor. Mais um convite de
Satans! 2. Trs perguntas difceis (J 9:1 - 10:22) Daqui em diante, a
nfase da discusso recai sobre a justia de Deus, e a imagem proe
minente nos pensamentos de J a de um processo legal. Ele deseja
levar Deus a um tribunal e ter a oportunidade de provar sua
integridade. Essa inteno fica clara pelo vo cabulrio que emprega:
contender (J 9:3; 10:2) = processar legalmente responder (9:3, 16)
= testemunhar no tribunal juiz (v. 15) =um oponente em demanda,
acusador citar(v. 19) =convocar para seapresentar no tribunal
rbitro (v. 33) =mediador, moderador defender-se (13:3)
=justificar-se encaminhar a minha causa (v. 18) =pre parar o caso
ouvir (31:35) =conceder uma audincia adversrio (v. 35) =acusador no
tribunal Em J 9 e 10, J faz trs perguntas: [1] "Como posso ser reto
diante de Deus?" (9:1-13); [2] "Como posso me encontrar com Deus no
tri bunal?" (vv. 14-35); [3] "Por que nasci?" (10:1- 22; ver v.
18). Podemos ver como essas perguntas encontram-se interligadas. J
um homem reto, mas precisa provar esse fato. Como possvel um mortal
provar que reto diante de Deus? Pode processar Deus num tribunal?
Mas se Deus no se apresentar e tes temunhar em favor de J, que
propsito h em tanto sofrimento? Afinal, por que J nasceu? " Como
posso ser reto diante de Deus?" (9:1-13). No se trata de uma
pergunta so bre a salvao ("Como posso ser justifica do?"), mas sim
sobre a justificao ("Como posso ser declarado inocente?"). Se um ho
mem tentasse processar Deus num tribunal, de modo algum seria capaz
de responder s perguntas de Deus, nem uma em mil! No entanto, J no
conhece outra forma de "lim par seu nome" perante os amigos. A
maior parte dessa seo uma declara o que se concentra nos atributos
de Deus, especialmente em sua sabedoria invencvel e em seu poder,
que controla a Terra e os cus. Algum ousaria processar um oponen te
que tem o poder de abalar a Terra, criar as estrelas e andar sobre
as ondas? (ver Is 44:24 e Am 4:13). Porm, Deus no apenas invencvel,
mas tambm invisvel. J no podia v-lo, nem det-lo para intim-lo a
comparecer ao tri bunal. Deus pode fazer o que bem lhe aprouver, e
ningum capaz de question- lo! At mesmo os "auxiliadores do Egito",
a grande potncia da poca, devem se curvar diante do poder de Deus
(J 9:13). "Como posso me encontrar com Deus no tribunal?"
(9:14-35). A fim de provar que era um homem reto, J precisava levar
Deus a um tribunal. Mas e se Deus aceitasse a intimao, o que J
diria ou faria? Ele discute essa questo imaginando vrias situaes.
(1) "Se Deus comparecesse, o que eu di ria?" (vv. 14-19). De que
maneira J poderia responder ao interrogatrio de Deus? Como possvel
arrazoar com Deus ou se defen der diante dele? Se Deus respondesse,
J no acreditaria que era sua voz, e se j disse algo errado, Deus o
afligiria ainda mais. Quan do, por fim, J se encontrou com Deus (J
38 - 41), o Senhor lhe fez 77 perguntas! E J no conseguiu responder
a nem uma! Sua nica resposta foi admitir sua ignorncia e se calar.
(2) "O que eu faria se pudesse declarar minha inocnciaV (vv.
20-24). De modo al gum isso garantiria que Deus libertaria J. Tanto
Elifaz quanto Bildade declararam que Deus recompensa o justo e
julga o mpio, mas J afirmou que, por vezes, Deus destri
21. J 8 - 10 23 tanto o justo quanto o mpio. Os juizes in quos
condenam os justos e ajudam os per versos, e, ao que parece, Deus
permanece indiferente. J est acusando Deus de ser in justo no
apenas para com ele e sua famlia, mas tambm para com as pessoas
inocentes de sua terra. (3) "De que adiantar tentarser feliz?" (w.
25-31). O tempo de J estava se esgotando, passando rapidamente como
os mensagei ros do rei que se apressam para chegar a seu destino,
como os barcos de junco do Egito que deslizam velozmente sobre as
guas do rio e a guia que mergulha do cu. Talvez J devesse assumir
uma atitude mais positiva com relao a sua aflio, esquecer sua dor e
sorrir (v. 27). Mas ser que isso mudaria alguma coisa? No! Ainda
seria culpado diante de Deus, rejeitado pelos amigos e continua ria
assentado no depsito de lixo da cidade, com sua enfermidade e
agonia. Mesmo que tomasse um banho e trocasse de roupas num ato de
contrio e de purificao pblica, ainda temeria o que Deus lhe poderia
fazer. J estava convicto de que Deus estava con tra ele e de que
qualquer passo que desse na terra seria anulado pelo cu. O ru pode
sorrir e aparentar coragem quando est no tribunal, mas isso no
impede o jri de declar-lo "culpado". (4) "Se ao menos eu tivesse um
media dor!" (vv. 32-35). Se Deus fosse um ser hu mano, J poderia
abord-lo e defender sua causa. Ou se houvesse um "rbitro" (media
dor) entre Deus e J, poderia remover sua vara de julgamento e
reunir J e Deus. Mas Deus no homem e no h mediador algum! Eaqui que
jesus entra em cena! Jesus Deus e se fez homem para revelar o Pai
(Jo 14:7-11) e conduzir os pecadores a Deus (1 Tm 2:5, 6; 1 Pe 3:1
8). Ele o "rbi tro" pelo qual J suplicou sculos antes (J 16:21).
"Porque eu nasci?"(10:1-22). Nessa pas sagem, J argumenta que Deus
o criou e lhe deu vida (vv. 3, 8-12, 18, 19), mas Deus no o est
tratando como parte de sua criao. Depois de dedicar tempo e esforo
para criar J, Deus o est destruindo! Alm disso, Deus julga J sem
sequer lhe dizer quais so as acusaes contra ele (v. 2)! No de se
admirar que J esteja exausto, amargurado e confuso (vv. 1, 15).
Observe que, nesse captulo, J se dirige diretamente a Deus e no a
seus amigos. Deus no um homem para precisar es quadrinhar as coisas
e correr contra o tempo (vv. 4-6). Deus eterno e pode demorar o
tempo que quiser; Deus tambm oniscien te e no precisa realizar
investigaes como um detetive particular. J, a princpio, quis um
rbitro (9:33), mas agora busca um li bertador que o livre do
julgamento (10:7). Deus um Guarda sempre presente, vigian do todos
os movimentos de J (v. 14). Es preita J como um leo (v. 16) e o
ataca com seu exrcito (v. 17). J est cercado e no tem como escapar.
Diante disso, parece-lhe justo perguntar: "Por que, pois, me
tiraste da madre?" (v. 18). A vida de J na terra parecia to sem
prop sito que ele suplicou a Deus por alguns mo mentos de paz e de
felicidade antes do fim. Podia ver sua vida passando rapidamente
(7:6, 7; 9:25, 26), e no havia um momento sequer a perder.
"Deixe-me em paz", pede em orao, "para que possa ter um pouco de
conforto antes de ir para o mundo das trevas". J no conseguia
entender o que Deus estava fazendo, e era importante que no
entendesse. Se J soubesse que Deus o estava usando para derrotar
Satans, teria simples mente se recostado e esperado, confiante
mente, at a batalha terminar. Porm, ao olhar para si mesmo e para
sua situao, fez a mesma pergunta feita pelos discpulos de Jesus,
quando Maria o ungiu: "Para que este desperdcio?" (Mc 14:4). Antes
de criticar mos J com muita severidade, devemos lem brar quantas
vezes ns mesmos fizemos essa pergunta ao saber de um beb que morreu
ou de um jovem com um futuro promissor morto num acidente. Nada do
que entregue a Cristo pela f e com amor desperdiado. A fragrncia do
blsamo de Maria desapareceu h muitos sculos, mas o significado de
sua adorao tem abenoado cristos de todas as eras. J estava falido e
enfermo, e tudo o que podia
22. 24 J 8 - 10 oferecer ao Senhor pela f era seu sofrimento.
Mas era justamente isso o que o Senhor dese java a fim de calar o
diabo. Quando William Whiting Borden morreu no Egito, em 191 3, a
caminho do campo mis sionrio, possvel que algum tenha per guntado:
"Por que esse desperdcio?" Mas Deus continua usando a histria dessa
vida to curta para desafiar as pessoas a entregar tudo a Cristo.
Quando John e Betty Stam foram marti- rizados na China, em 1934,
houve quem per guntasse: "Por que esse desperdcio?" Mas a obra O
Triunfo de john e Betty Stam, escrita pela esposa de Hudson Taylor,
tem transfor mado vidas desde que foi publicada em 1935. Em meu
aniversrio de 21 anos, rece bi esse livro de presente de minha
namorada (agora minha esposa) e at hoje sua mensa gem fala a meu
corao. Quando cinco missionrios foram marti- rizados no Equador
pelos ndios Auca, al guns chamaram esse acontecimento de "um
desperdcio trgico de obreiros". Mas no foi o que Deus pensou, e a
histria desses cinco heris da f tem ministrado Igreja desde ento. J
perguntou: "Por que eu nasci?" Diante de suas perdas e de seu
sofrimento pessoal, tudo parecia um desperdcio to grande! Mas Deus
sabia o que estava fazendo naquele tempo e sabe o que est fazendo
hoje. "Tendes ouvido da pacincia de J e vistes que fim o Senhor lhe
deu; porque o Senhor cheio de terna misericrdia e compassivo" (Tg
5:11). Se algum dissesse tais palavras a J, talvez ele no tivesse
acreditado, mas isso no muda a verdade. E uma verdade que se
aplicava a ele em seu tempo e que vale para ns hoje. Pode
crer!
23. Interld io O termo hebraico traduzido por "rbi tro" em J
9:33 refere-se pessoa que tem autoridade para marcar um dia em que
duas partes contendedoras se encontraro para chegar a um acordo. No
Oriente, o "r bitro" colocava a mo sobre a cabea de ambas as partes
para lembr-las de que ele possua a autoridade para resolver a ques
to. J desejava que algum fizesse isso com ele e Deus. Ainda que no
tivesse algum para represent-lo, J estava falando srio sobre
encontrar-se com Deus em um tribunal. "Mas falarei ao Todo-Poderoso
e quero defender- me perante Deus" (13:3). "Contudo, defen derei o
meu procedimento" (v. 15). "Tenho j bem encaminhada minha causa e
estou certo de que serei justificado" (v. 18). A seu ver, Deus no o
estava tratando com justia. "Grito: socorro! Porm no h justia"
(19:7). Deus havia tirado seu "direito" (27:2), e J exigiu uma
oportunidade de ser ouvido dian te do trono de Deus. Porm, quando
rece beu essa chance, J calou-se.
24. U m " R a pa z" Irad o J 11 -14 4 No desejo saber por que
sofro, mas sim se sofro por ti. (Levi YitzhakBerditcher) O s trs
amigos de J eram homens de idade, mas Zofar devia ser o mais jo
vem, uma fez que falou por ltimo. Seu pri meiro discurso no longo,
mas o que lhe falta em extenso sobra em animosidade, pois revela
que Zofar estava irado. Existe um lugar e um momento certo para
demonstrar uma ira justificada (Ef 4:26), mas o monte de cinzas
onde J se encontrava no era o lugar certo nem aquele era o momento
apropria do. "Porque a ira do homem no produz a justia de Deus" (Tg
1:20). J no precisava de um tapa no rosto, mas sim da mo bon dosa
de um amigo. Zofar faz trs acusaes contra J: ele pecou (J 11:1-4);
no tem conhecimento de Deus (vv. 5-12) e obstinando em sua recusa
de se arrepender (vv. 13-20). J res ponde s trs acusaes: afirma a
grandeza de Deus (J 12) e sua prpria inocncia (J 13), mas uma vez
que no tem esperana alguma, por que se arrepender? (J 14) 1. AS TRS
ACUSAES DE ZOFAR (J 11:1-20) Depois de ouvir Elifaz e Bildade
acusarem J, Zofar deveria ter mostrado bom senso e compaixo
suficientes para usar outra abor dagem. No importava o que Deus ou
seus amigos dissessem, J continuaria a afirmar sua integridade,
ento por que persistir nessa discusso? Como triste quando as
pessoas que deveriam compartilhar de um mesmo ministrio acabam
sendo motivo de tristeza. "Alegrai-vos com os que se alegram e
chorai com os que choram" (Rm 12:15) um bom conselho a ser seguido.
"j culpado!" (w. 1-4). Assim como Bildade (8:2), Zofar iniciou seu
discurso cha mando J de "tagarela". lamentvel que esses trs amigos
se concentrassem nas pa lavras de J e no nos sentimentos por trs
das palavras. De acordo com um provrbio chins: "Pode haver mil
quilmetros de dis tncia entre os coraes de duas pessoas conversando
face a face". Exatamente o que estava se passando naquele monte de
cin zas! Afinal, informao no o mesmo que comunicao. Sidney J.
Harris lembra que "informar simplesmente anunciar; comuni car
alcanar um objetivo". O discurso de J no apenas era tagareli ce
como tambm no passava de conversa fiada ("parolas") e de zombaria
(11:3). As palavras de J a respeito de Deus no seriam verdadeiras e
s poderiam ser comparadas ao parlatrio daqueles que falam sem pen
sar. Alm disso, as afirmaes de j a respei to de si mesmo eram
falaciosas, pois ele no era puro diante de Deus. Ao asseverar sua
integridade, J deu a impresso de ser incul- pvel, o que, sem dvida,
no era verdade (ver 6:30; 9:20, 21; 10:7). j no tem conhecimento de
Deus (w. 5-12). O pedido de Zofar no versculo 5 foi respondido
quando Deus apareceu (38:1); mas Zofar e seus dois amigos - e no J
- que foram repreendidos posteriormente por Deus! J foi elogiado
pelo Senhor por dizer a verdade. No pea a Deus que diga aos ou tros
aquilo que precisam saber a menos que esteja disposto a ouvir dele
o que voc pre cisa saber. Zofar desejava que J compreendesse a
altura, a profundidade e a extenso da sa bedoria de Deus (11:8, 9).
Com isso, Zofar estava insinuando que ele prprio conhecia a
grandeza da sabedoria de Deus e poderia ensin-la a J se ele lhe
desse ouvidos. Infe lizmente, Zofar no conhecia a grandeza do amor
de Deus (Ef 3:17-19) e no comparti lhou um pouco desse amor com J.
O que Zofar queria dizer ao afirmar que a sabedoria de Deus
"multiforme" (J 11:6)?
25. J 11 -14 27 Talvez isso significasse que a sabedoria de
Deus total e plena ou que Deus muitas vezes mais sbio do que J
imaginava. Uma vez que Deus onisciente, sabia tudo sobre J e
poderia t-lo castigado ainda mais. A expresso "poderia ser pior!"
certa mente no consolo algum para um homem que perdeu a famlia, a
riqueza, a sade e que, por pouco no perdeu tambm a vida. No
aferimos o sofrimento de maneira quan titativa, como se pesam
frutas e legumes no supermercado. A leviandade com que os amigos de
J falavam de sua situao de monstra sua falta de entendimento. De
acor do com um ditado do Talmucle: "Quanto mais profunda a
tristeza, menor a lngua". As duas perguntas do versculo 7 espe ram
uma resposta negativa. Ningum pode desvendar "os arcanos de Deus"
nem pene trar "at perfeio do Todo-Poderoso". E evidente que, em
momento algum, J afir mou saber tudo sobre Deus, mas aquilo que ele
conhecia do Senhor lhe deu nimo para se apegar firmemente sua
integridade e no desistir. Deus no precisa prestar contas para ns.
Pode capturar e aprisionar quem ele quiser, reunir o tribunal e
declarar a senten a sem que haja quem tenha autoridade para
protestar (v. 10; ver 9:12). Deus sabe quem sbio e quem insensato,
que puro e quem est em pecado. Uma vez que Deus julgou J, ento J
devia ser culpado. Zofar encerrou essa acusao citando um provrbio
(11:12). No fcil determi nar seu significado. E possvel que esteja
di zendo que por mais estulto que um homem seja quando nasce, mesmo
que seja to tolo quanto um asno selvagem, ainda h espe rana de ele
se tornar inteligente. Ou talvez queira dizer exatamente o oposto,
como aparece na a r a : "Mas o homem estpido se tornar sbio, quando
a cria de um asno mon- ts nascer homem". Tendo em vista a ira de
Zofar e sua linguagem insultuosa, bem pro vvel que se trate desta
ltima possibilidade. J obstinado e deve se arrepender (w. 73-20). "
Haver esperana" - disse Zofar a fim de animar J (v. 18) e descreveu
o que J poderia experimentar. Deus o abenoaria abundantemente e
seus problemas chega riam ao fim. Poderia erguer a cabea outra vez,
e seus medos passariam (v. 15; 10:15). Esqueceria sua desgraa como
guas passa das (11:16). Deus lhe daria uma vida longa e seria o
incio de um novo dia para ele (v. 17). No habitaria nas trevas do
Sheol, mas sim na luz (10:20-22), e a proteo de Deus daria cabo de
todos os seus temores (11:19, 20). Porm, se J desejava essas bnos,
deveria obt-las de acordo com os termos de Zofar. Sem dvida, havia
esperana, mas era condicional: J precisava arrepender-se e
confessar seus pecados (vv. 13, 14). Zofar est tentando J a
negociar com Deus a fim de se ver livre das suas dificuldades. Era
exata mente isso o que Satans desejava que J fizesse! "Porventura,
J debalde teme a Deus?", perguntou Satans (1:9). Satans acusou J de
ter uma "f interesseira", com base nas promessas de prosperidade em
tro ca de sua obedincia. Se J tivesse seguido o conselho de Zofar,
teria feito exatamente o que o inimigo queria. J no possua uma "f
interesseira" que negociava com Deus. Antes, era uma f con fiante
que dizia: "Ainda que Deus d cabo de mim, confiarei nele" (ver
13:15, n v i ). Essas no parecem ser as palavras de um homem em
busca de uma soluo fcil para seus problemas. Como disse C. H.
Spurgeon: "J no entendia os motivos de Deus, mas ainda assim
continuou a confiar em sua bondade". Essa a verdadeira f! 2. As TRS
DECLARAES DE J (J 12-14) O discurso de Zofar foi curto, mas J apre
sentou respostas demoradas para cada uma das acusaes de Zofar.
Comeou com a segunda acusao, de acordo com a qual J no tinha
conhecimento de Deus (J 11:5- 12). J afirmou que possua
conhecimento e discernimento como eles (J 12). Em segui da,
respondeu primeira acusao de Zofar, de acordo com a qual J estaria
vivendo em pecado (11:1-4). Mais uma vez, J afirmou sua integridade
(J 13). Em seguida, encer rou seu discurso objetando ao terceiro
pon to de Zofar, de que ainda havia esperana
26. 28 J 11 -1 4 (11:13-20). Em J 14, J admite que perdeu quase
toda a esperana. A grandeza de Deus (cap. 12). Em primei ro lugar,
J contraps a declarao de seus amigos de que possuam mais sabedoria
do que ele. Por certo, eram mais velhos que J, mas a idade no
garantia alguma de sabe doria. Existem tolos de todas as idades. Em
seguida, J os repreendeu por sua falta de sensibilidade para com
ele e por transform-lo em motivo de riso. Acreditava ser um homem
justo e reto, e foi assim que Deus o descreveu (1:1, 8; 2:3). "No
pensa mento de quem est seguro, h desprezo para o infortnio, um
empurro para aquele cujos ps j vacilam. As tendas dos tiranos gozam
paz, e os que provocam a Deus es to seguros; tm o punho por seu
deus" (12:5, 6). Zofar afirmou que a sabedoria no est ao alcance
dos homens (11:7-9), porm J disse que as criaturas de Deus podiam
lhes ensinar aquilo que precisavam saber (12:7-11; ver Cn 1:26-28).
At mesmo as criaturas "insensatas" sabem que foi a mo de Deus que
fez e que mantm todas as coi sas. At mesmo o flego usado para
acusar J era uma ddiva de Deus a esses homens, e o Senhor poderia
remov-lo sem a permis so deles. O Senhor deu aos seres humanos a
capacidade de provar e de avaliar os af- mentos. No lhes daria,
portanto, a capaci dade ainda mais importante de avaliar as
palavras e de analisar a verdade? (J 12:11). Nos versculos 12 a 25,
J descreve a sabedoria e o poder de Deus. bem prov vel que o
versculo 12 seja uma referncia a Deus, o "idoso" e "Longevo". Essas
designa es divinas so uma repreenso aos ami gos idosos de J, que
acreditavam que seus anos de experincia lhes haviam ensinado tanta
coisa! J ressaltou que Deus inteiramente so berano naquilo que faz
com a natureza (vv. 14, 15) e com as pessoas (vv. 16-25). No
podemos reconstruir aquilo que ele destri, nem libertar aquilo que
ele prende (Ap 3:6- 8). Deus pode enviar secas ou inundaes e no h
quem seja capaz de det-lo (J 12:1 5). Ele sabe o que fazer e tem o
poder para rea lizar o que preciso (vv. 13, 16). Em sua soberania
sobre as pessoas, qual quer que seja seu status, Deus est no con
trole. De acordo com a argumentao de J, todo tipo de gente passa
por dificuldades na vida, pois Deus pode fazer o que bem lhe
aprouver. Ele no faz acepo de pessoas e no se impressiona com sua
posio, rique za ou condio social. Por exemplo: se for da vontade de
Deus, os conselheiros do rei perdem sua autorida de e riqueza e os
juizes se tornam confusos e insensatos. Na verdade, os prprios reis
so transtornados e os sacerdotes so despoja dos de seus cargos e
levados cativos (v. 19). Homens sbios, como os conselheiros e
ancios, sero calados (v. 20), e os prncipes (nobres) e os fortes
(poderosos) (v. 21) per dero seu respeito e fora. Deus, porm,
soberano tanto sobre as naes quanto sobre os indivduos (vv. 23- 25;
Dn 2:20-22; At 17:24-28). Pode fazer uma nao crescer ou destru-la;
pode dar-lhe a liberdade ou o cativeiro - basta tirar a sabe doria
de seus lderes e sua destruio certa. Os orgulhosos no gostam de
ouvir essa men sagem. Desde de a cidade de Enoque (Gn 4:16-18) e a
torre de Babel (11:1-9), a huma nidade vem tentando construir e
administrar as coisas sem Deus, e suas tentativas termi nam sempre
em fracasso e em julgamento. A integridade deJ (cap. 13). Nessa
parte de sua defesa, J expressou, primeiramente, sua decepo com os
trs amigos (vv. 1-12), depois, sua declarao de f no Senhor (vv.
13-1 7) e, por fim, seu desejo de que Deus v ao encontro dele e
acerte a questo de uma vez por todas (vv. 18-28). (1) Decepo (w.
1-12). Os amigos de J no haviam levantado seu nimo. Antes, ha viam
assumido uma atitude de superioridade como juizes, partindo do
pressuposto de que conheciam Deus melhor do que J. No se
identificaram com ele em sua tristeza e dor. J os acusou de
"[besuntar] a verdade com mentiras", de ser "mdicos que novalem
nada" e de "[falar] perversidades em favor de Deus". O termo
"besuntar" (v. 4) tambm signifi ca "caiar". Eles besuntaram a
discusso com a cal de suas mentiras de modo a evitar o pro blema
difcil e, ao mesmo tempo, a manter
27. J 11 -14 29 suas idias tradicionais (SI 119:69). Perma
neceram num nvel superficial sem jamais se aprofundar nas verdades
de Deus ou nos sentimentos de J. Os conselhos que se atm superfcie
no valem muita coisa. A fim de ajudarmos as pessoas, precisamos ir
muito mais fundo, um processo que requer amor, coragem e pacincia.
Como mdicos, haviam feito um diagns tico incorreto, de modo que
seus medica mentos foram inteis (Jr 6:14; 8:11). E como "defensores
de Deus", teriam feito melhor permanecendo calados, pois no sabiam
do que estavam falando. Sua viso de Deus era to rgida e limitada e
sua viso de J era to preconceituosa que todo o seu "caso" no
passava de uma inveno construda a partir de uma srie de mentiras. O
que fariam quan do Deus virasse a mesa e os examinasse? (ver Rm
14:1-13). "As vossas mximas so como provrbios de cinza, os vossos
baluar tes, baluartes de barro" (J 13:12). Aquilo que os trs amigos
consideravam declara es profundas da verdade no passava de cinzas
requentadas de fogos antigos e de su portes de barro que no
tardariam a se de sintegrar. Um bom conselheiro precisa de muito
mais do que uma excelente memria. Precisa de sabedoria para aplicar
a verdade s necessidades das pessoas nos dias de hoje. (2) Declarao
(vv. 13-17). Trata-se de uma das mais extraordinrias declaraes de f
registradas nas Escrituras, mas importante que seja compreendida
dentro de seu con texto. J est dizendo: "Pleitearei meu caso
diretamente junto a Deus e provarei minha integridade. Sei que
estou arriscando a vida ao abordar o Senhor, pois ele capaz de me
aniquilar. Porm, se ele no o fizer, provar que no sou o hipcrita
que vocs me consi deram". Posteriormente, J faz um juramento e
desafia Deus a julg-lo (J 27). Aproximar- se pessoalmente de Deus
era um grande ato de f (x 33:20; Jz 13:22, 23), mas J estava to
certo de sua integridade que se mostrou disposto a correr esse
risco. Afinal, se ficasse de braos cruzados, morreria, e se fosse
rejei tado por Deus, tambm. No entanto, havia sempre a
possibilidade de ser justificado pelo Senhor. (3) Desejo (vv.
18-28). Essas palavras so dirigidas a Deus. J havia "encaminhado"
sua causa (v. 18) e estava certo de que venceria. Tinha dois
desejos: que Deus removesse sua mo disciplinadora e lhe concedesse
alvio e que fosse ao encontro dele de maneira a no aterroriz-lo. J
estava pedindo que Deus se encontrasse com ele no tribunal para que
pudessem discutir o "pleito" de Deus contra J e vice-versa. No
versculo 22, J d a Deus a opo de falar primeiro! Por que J deseja
encontrar-se com Deus no tribunal? Para que Deus apresente, de uma
vez por todas, seu "pleito" contra J e revele os pecados na vida
dele que lhe cau saram tanto sofrimento. "Por que Deus de veria me
dar tanta ateno?", pergunta J. "Ele me trata como um inimigo, mas
sou apenas uma folha frgil ao vento, uma palha seca que no vale
coisa alguma. Sou um pedao de madeira podre e uma roupa comi da
pelas traas, e, no entanto, Deus me trata como um prisioneiro de
guerra e me vigia o tempo todo". J sentia que havia chegado a hora
de acertar essa questo, mesmo que perdesse a vida ao longo do
processo. A falta de esperana deJ (cap. 14). Zofar havia garantido
a J que ainda haveria espe rana, caso ele reconhecesse seus pecados
e se arrependesse (J 11:13-20). Mas Zofar no se encontrava na
situao de J! Do ponto de vista de J, seu futuro era desanimador.
Nos versculos 1 a 12, J empregou vrias imagens para ilustrar a
situao desesperadora do ser humano neste mundo. como uma flor que
logo seria cortada, uma sombra que desapa rece lentamente, um
jornaleiro que trabalha e depois dispensado. Deus conhece os limi
tes de nossos dias (7:1; 14:5; SI 139:16). Em sua insensatez, um
suicida pode apressar o dia de sua morte, mas ningum vai alm dos
limites estabelecidos por Deus para sua vida. Uma vez que o ser
humano apenas uma flor, uma sombra e um servo, por que Deus lhe
daria alguma ateno? Tendo em vista que a vida to curta, por que
Deus encheria os dias do homem de tristeza e dor? "Desvia dele [do
homem] os olhares, para que tenha repouso [...] [para que] tenha
prazer no seu dia" (J 14:6). Em outras palavras, o que J
28. 30 J 11 -1 4 est pedindo : "Deixe-me ter um pouco de paz
antes que minha vida to breve chegue ao fim!" A imagem mais forte
que J apresenta de uma rvore (vv. 7-12). Ainda que seja cortada,
seu toco permanece, e h sempre a possibilidade de voltar a brotar.
A rvore tem esperana, mas o ser humano no. Quando morre, no deixa
sequer um toco para trs. O ser humano mais parecido com a gua que
evapora ou penetra o solo irreversivel- mente (v. 11; 2 Sm 14:14).
Pode se deitar noite e despertar pela manh, mas quando se deita
para sua prpria morte, no h cer teza alguma de que voltar a
despertar. As primeiras pessoas que, como J, eram tementes a Deus,
no possuam uma reve lao da vida futura como temos hoje em Cristo (2
Tm 1:10). As passagens do Antigo Testamento indicam vagamente uma
ressur reio futura (SI 16:9-11; 17:15; Is 26:19; Dn 12:2), mas J no
tinha nenhum desses livros para ler e meditar. "Morrendo o ho mem,
porventura tornar a viver?" (J 14:14). J apresenta essa pergunta
crtica, mas no lhe responde. Posteriormente, J faz uma declarao
maravilhosa sobre a ressurreio futura (19:25, 26); mas, nesse
momento, ain da vacila entre o desespero e a esperana. Em 14:13, J
pediu a Deus que se lem brasse de traz-lo de volta do Sheol, o
reino dos mortos. E bem provvel que no tivesse em mente a
ressurreio, mas sim uma bre ve estadia na terra para que Deus o
justifi casse diante de seus acusadores. Claro que, hoje, o cristo
selado com o Esprito Santo para o dia da redeno (Ef 1:13, 14) e
Deus no se esquecer de nenhum de seus filhos na ressurreio (1 Co
15:50-58). J lembrou ao Senhor que era feitura das mos de Deus (J
14:15), argumento j usa do anteriormente (10:3). Para J, parecia
que, em vez de cuidar de sua criatura, Deus no fazia outra coisa
seno manter um re gistro de seus pecados. Que esperana J poderia
ter enquanto Deus o estivesse inves tigando e elaborando seu pleito
contra ele? Em vez de purificar os pecados de J, Deus os estava
ocultando sem sequer dizer a J quais eram suas transgresses! J se
queixou dizendo: "Assim destris a esperana do homem" (14:19), e
usou duas ilustraes para provar como isso era ver dade. O ser
humano parece uma montanha inabalvel, mas, aos poucos, a gua vai
erodindo a rocha e, um dia, a faz desmoro nar. Ou, ainda, um
terremoto pode abalar as rochas, deslocando-as para outro lugar e
mudando o aspecto da montanha. A morte pode vir de modo gradual ou
sbito, mas certamente vir, e o ser humano partir para um mundo no
qual no saber coisa alguma sobre o que acontece com sua famlia. J
ansiava por esse alvio da tristeza e da dor. Em meio a um
sofrimento intenso, fcil as pessoas pensarem que o futuro desani-
mador e que Deus as abandonou. O famoso psiquiatra norte-americano
Karl Menninger chamava a esperana de "principal arma con tra o
mpeto suicida". Aqueles que no tm esperana acreditam que no vale a
pena viver, pois no vem coisa alguma no futuro alm de dor e
fracasso. Concluem que melhor morrer do que continuar vivendo e ser
um fardo para si mesmos e para outros. O filsofo alemo Friedrich
Nietzsche chamava a esperana de "o pior de todos os males, pois
prolonga o tormento do homem". Porm, aquele que cr em Jesus Cristo
parti cipa de uma "esperana viva" que se torna mais maravilhosa a
cada dia (1 Pe 1:3ss). As esperanas mortas desaparecem, pois no tm
razes, mas nossa "esperana viva" se torna cada vez melhor, pois est
arraiga da no Cristo vivo e em sua Palavra Viva. A certeza da
ressurreio e da vida na glria uma forte motivao para prosseguirmos,
mesmo quando as coisas ficam difceis (1 Co 15:58). Charles L. Allen
escreveu: "Quando dize mos que no h esperana para uma pessoa ou
situao, na verdade estamos batendo a porta no rosto de Deus", j
ainda no havia batido a porta, mas estava perto de faz-lo, e seus
amigos no estavam ajudando em nada. "E o Deus da esperana vos encha
de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de
esperana no poder do Espri to Santo" (Rm 15:1 3).
29. 5 A A rg u m en ta o T ra n sfo rm a -se em D isc u ss o J
15 - 17 Como raro pesarmos o prximo na mesma balana em que pesamos
a ns mesmos! (Thomasa Kempis) D urante a segunda rodada de
discursos, a argumentao ganha intensidade, en quanto os trs amigos
no se esforam para ajudar J, mas sim para provar que ele est
errado. Afinal, o que se encontra em jogo a prpria paz de esprito
dos trs e, portan to, no esto prestes a se entregar. Se J no era um
pecador sendo castigado pelo Senhor, ento a viso que os trs amigos
possuam de Deus era completamente equi vocada. Isso significava que
no poderiam contar com proteo alguma contra o sofri mento! Se a
obedincia no garantia de sade e de riqueza, aquilo que havia acon
tecido a J poderia acontecer com eles! Deus os livre! Um
espirituoso annimo descreveu um telogo como "um homem cego que se
encontra num quarto escuro procura de um gato preto que no est l -
e que o encontra!". Mas um verdadeiro telogo caminha na luz da
revelao de Deus em sua Palavra, na histria e na criao e acei ta a
verdade humildemente e a qualquer custo. Os trs amigos de j no eram
telogos de verdade, pois enxergavam somente um lado da situao - o
lado que desejavam enxergar. O estivador e filsofo Eric Hoffer
escreveu: "Estamos menos abertos para o conhecimento preciso das
coisas sobre as quais somos mais entusisticos". E tambm das coisas
que mais tememos! 1. Elifaz: D uas advertncias (J 15) Em seu
primeiro discurso (J 4 - 5), Elifaz havia demonstrado certa bondade
para com J, mas sua segunda fala desprovida de qualquer pacincia ou
bondade. Tambm no apresenta idias novas: Elifaz simplesmente repete
sua tese anterior de que o ser huma no pecador e de que Deus deve
castigar os pecadores (5:17-19). Alm disso, faz duas advertncias a
J. J no tem sabedoria (w. 1-16). Como Elifaz sabia disso? Em
primeiro lugar, havia escutado as palavras de j (vv. 1-6) e desco
berto que eram vazias. As idias de J eram "cincia de vento" e
"palavras que de nada servem" (vv. 2, 3). Suas palavras vinham de
um ventre cheio do vento quente do deserto (Jn 4:8) e no de um
corao repleto de ver dadeira sabedoria. Elifaz estava usando uma
das tticas mais antigas da polmica: se no possvel atacar os
argumentos de seu opo nente, ento ataque suas palavras e as faa
parecer vazias. Samuel Johnson foi o "czar literrio" do sculo
dezoito na Inglaterra, um homem que adorava passar tempo com os
amigos e dis cutir todo e qualquer assunto. No entanto, quer
estivesse certo quer no, Johnson sem pre tinha de vencer esses
debates. O poeta e dramaturgo Oliver Goldsmith disse: "E im possvel
discutir com Johnson, pois se a arma dele nega fogo, ele acerta o
oponente com a coronha!" Elifaz tambm era assim. Eficaz no apenas
ouviu as palavras de J, mas viu para onde elas levavam (J 15:4).
"Tornas vo o temor de Deus e diminuis a devoo a ele devida" (v. 4).
Se todo mun do cresse, como J, que Deus nem sempre castiga os
perversos e recompensa os jus tos, ento que motivo haveria para
obede cer a Deus? A religio no valeria a pena! Mas essa a teologia
do diabo, justamente aquilo que Deus estava refutando por meio de j
! Se as pessoas servem a Deus pensan do apenas no que iro ganhar
com isso, na verdade no esto servindo a Deus coisa nenhuma; esto
apenas servindo a si mes mas e colocando Deus a seu servio. Em vez
de glorificar a Deus, sua "religio" no
30. 32 J 15 - 17 passa de um sistema com ares de piedade para
promover o egosmo. Quando Deus chamou a nao de Israel e fez sua
aliana com ela, o povo foi motivado a obedecer por medo do castigo.
Se obede cessem lei, Deus os abenoaria; se desobe decessem, ele os
castigaria. Porm, isso se deu na infncia de Israel como nao, quan
do Deus ainda tratava com eles como se fossem crianas. As crianas
entendem mui to melhor um sistema de recompensas e de castigos do
que princpios de tica e mora lidade. Mas quando uma nova gerao esta
va prestes a entrar em Cana, Moiss deu ao povo uma motivao muito
maior para obe decer: seu amor por Deus (Dt 6:4, 5; 7:7; 10:12-16;
11:1,13, 22; 19:9). No eram mais crianas, e Deus no precisava
assust-los (nem "suborn-los") para que obedecessem. O amor o
cumprimento da lei (Rm 13:8- 10) e o mais elevado de todos os
motivos para obedecer (Jo 14:15). Para Elifaz, as palavras de J
indicavam que ele possua um corao perverso (J 15:5, 6). "A tua
iniqidade ensina tua boca!" (v. 5; ver Mt 12:34-37). J estava de
clarando sua inocncia, mas Elifaz interpre tou essas palavras como
prova de sua culpa! Que esperana haveria para J quando seus amigos
nem sequer acreditavam no que ele estava dizendo? J no tinha
sabedoria, pois lhe faltava experincia (J 15:7-10). A essa altura,
Eli