Uso de aspectos morfológicos na leitura de textos da mídia
Maria Inez Mateus Dota
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Av. Luiz Edmundo Coube, s/n – 17033-360 – Bauru – SP - Brasil
Abstract. This paper presents a didactic proposal concerning the use of
morphological aspects in English media texts reading, aiming at favoring the
comprehension activities. Based on reading interactive models and on the
English for Specific Purposes approach, it tries to relate the student´s
previous knowledge and the text linguistic aspects – prefixes and suffixes.
Keywords. Reading; English language; media texts.
Resumo. Este artigo apresenta uma proposta didática que diz respeito ao uso
de aspectos morfológicos na leitura de textos da mídia em língua inglesa,
visando a facilitar a atividade de compreensão. Fundamentando-se nos
modelos interativos de leitura e na abordagem instrumental do ensino de
inglês, procura relacionar o conhecimento prévio do aluno com aspectos
lingüísticos do texto – prefixos e sufixos.
Palavras-chave. Leitura; língua inglesa; textos da mídia.
1. Introdução
A leitura de textos em língua inglesa é uma necessidade que se apresenta para alunos
das diversas áreas do conhecimento, entre elas a Comunicação. A expansão da Internet
oferece aos acadêmicos uma enorme quantidade de material produzido e/ou publicado
em inglês (80%, de acordo com a Wikipedia, 2007), ao mesmo tempo em que permite ao
cidadão do mundo divulgar o conhecimento para os quatro cantos do globo. Nesse
contexto, o domínio da leitura em língua inglesa favorece o acesso à informação e a
troca do saber entre os povos.
A proposta didática que aqui apresentamos – uso de aspectos morfológicos na leitura
de textos da mídia – insere-se num programa mais amplo do ensino de leitura em língua
inglesa, dentro da abordagem instrumental do ensino de línguas, em que se enfatiza o
uso de estratégias de leitura tais como skimming, scanning, uso de informação não-
linear e pistas tipográficas, inferência contextual, reconhecimento de grupos nominais,
funções retóricas e elementos coesivos do texto (DOTA, 2006, p. 1368).
Nessa direção e ancorando-se nos modelos interativos de leitura (CARRELL, 1988,
p. 101), propomos atividades em que os alunos, levando em conta o conhecimento de
mundo e o conhecimento do assunto que já possuem, interagem com aspectos
lingüísticos do texto em foco, especificamente com os aspectos morfológicos – prefixos
e sufixos.
ESTUDOS LINGÜÍSTICOS, São Paulo, 37 (2): 17-25, maio-ago. 2008 17
2. Uso de aspectos morfológicos
Ao iniciarmos a proposta didática, desenvolvemos uma atividade de warm-up em
que solicitamos aos alunos que observem algumas palavras em inglês e que apontem
suas correspondentes em português. Trata-se de palavras cognatas que possuem a
mesma raiz em ambas as línguas em questão. Após acolher as respostas dos alunos,
apresentamos o quadro abaixo com as palavras nas duas línguas e com a respectiva
comparação dos prefixos e sufixos que ocorrem nesses termos:
IMPOSSIBLE = impossível; “im-” = “im-”; “-ible” = “-ível”
COMMUNISM = comunismo; “-ism” = “-ismo”
INTERNATIONAL = internacional; “-al” = “-al”
DISCOVER = descobrir; “dis-” = “des-”
Com esse quadro permite-se verificar que existem afixos (prefixos e sufixos) que são
cognatos entre o português e o inglês e que podem ser identificados porque têm uma
origem comum – o latim ou o grego.
Na seqüência, lançamos uma atividade de pré-leitura com relação ao primeiro texto a
ser trabalhado – Newsweek Special Issues (anexo 1). Introduzimos um quadro (abaixo)
com três colunas e pedimos aos alunos que prestem atenção às palavras da segunda
coluna, as quais encontrarão no texto objeto da próxima leitura. Solicitamos que
preencham a primeira coluna com as palavras primitivas correspondentes e que usem os
prefixos/sufixos dados, se necessário:
tradução
order extraordinary (linhas 1-2)________________
labor collaboration (l. 2) ________________
____________ leaders (l. 14) ________________
____________ globalization (l. 16) ________________
____________ meeting (l. 19) ________________
____________ arrangement (l. 31) ________________
____________ highly (l. 32) ________________
____________ successful (l. 32) ________________
____________ relationship (l. 33) ________________
____________ founder (l. 34) ________________
____________ readers (l. 39) ________________
Prefixos:
extra- = além de - extraordinary
co- (col-, con-) = junto de – collaboration
Suffixos:
18 ESTUDOS LINGÜÍSTICOS, São Paulo, 37 (2): 17-25, maio-ago. 2008
-ary = que tem a qualidade de (adjectivo) - extraordinary
-er (-or) = uma pessoa que; uma coisa que (subs.) – reader
-ment = estado, ação (subs.) - arrangement
-ship = condição, estado (subs.) – relationship
-tion, ation = o ato de (subs.) - collaboration
-ful = caracterizado por (adjectivo) - successful
-ly = de mameira (advérbio) - highly
Observamos que a terminação –ing pode ser usada como um substantivo, como um
adjetivo ou como um verbo. Exemplos:
a) substantivo – This issue marks the beginning of an extraordinary collaboration…
b) adjetivo – The opposing forces are criticizing the president.
c) verbo – You´re smoking too much these days.
Em seguida, observamos que CEOs (l. 25) são “chief executive officers” e
solicitamos aos alunos as seguintes atividades:
a. Agora leiam o texto. Prestem atenção aos aspectos morfológicos, à ilustração, às dicas
tipográficas e às cognatas.
b. Tentem identificar os pontos principais do texto.
c. Vocês podem traduzir as palavras listadas no quadro acima?
d. “Policymakers” e “network” são palavras compostas:
policy+maker (l. 25)
net+work (l. 25)
Vocês podem inferir o significado delas?
e. Voltem para o texto. Procurem uma informação específica. Qual o papel do “World
Economic Forum”? O que ele faz?
f. Os aspectos morfológicos o ajudaram a entender o texto?
g. Vocês já ouviram falar de um outro fórum que se opõe ao “World Economic Forum”?
A seguir, introduzimos o texto Globalization Activists Draw up Battle Lines (anexo
2), solicitamos que façam um “skimming” do texto e, posteriormente, que observem as
palavras do quadro abaixo e encontrem suas derivadas no texto, usando, se necessário,
os afixos dados:
active activists
global ______________________
solidary ______________________
move ______________________
determine ______________________
concentrate ______________________
ESTUDOS LINGÜÍSTICOS, São Paulo, 37 (2): 17-25, maio-ago. 2008 19
proliferate ______________________
equal ______________________
destroy ______________________
Prefixos:
anti- = oposto – anti-globalisation
in- (im-, ir-, il-) = negação– inequalities
Suffixos:
-ist (yst) – uma pessoa que (subs.) – activist
-ity – estado, qualidade (subs.) – inequality
Apontamos que, como se pode ver, existem muitas palavras (e afixos) nesse texto
que os alunos provavelmente conheciam. Então, pedimos que, usando as palavras que já
conheciam (incluindo as cognatas) e os aspectos morfológicos, leiam o texto
novamente, definam o que é o “World Social Forum” e externem sua opinião sobre os
objetivos desse fórum.
Dando seqüência à utilização dos aspectos morfológicos na compreensão de textos,
apresentamos um trecho da matéria Walk, Don´t Run (anexo 3), para que os alunos
desenvolvam as seguintes atividades:
a. Analisem a ilustração. Usem seu conhecimento prévio da situação.
b. O que as pessoas estão fazendo na ilustração?
c. O que vocês esperam de um texto com essa ilustração?
d. Analisem as pistas tipográficas (título, subtítulo, números, abreviações, etc.). Prestem
atenção às palavras cognatas.
e. Vocês podem prever a idéia geral do texto?
f. Façam um “skimming” do texto. As palavras cognatas ajudá-los-ão.
g. De que trata o texto? A previsão que vocês fizeram estava correta?
h. Vamos analisar alguns aspectos morfológicos do texto:
-reasonably (l. 2) tem dois sufixos – -able e –ly (reason + -able + -ly); -able é um
sufixo formador de adjetivos; -ly é um sufixo formador de advérbios. O que reasonably
significa?
-outros sufixos formadores de adjetivos:
-ous = cheio de – vigorous (l. 2);
-ar = que tem a qualidade de – regular (l. 7);
-ive = que tem a qualidade de - preventive (l. 8);
-ic = que tem a qualidade de – chronic (l. 25).
Observamos que esses sufixos formadores de adjetivos nos ajudam a identificar os
modificadores de um substantivo e a entender melhor o significado de um grupo
nominal, como por exemplo em chronic disease (l. 25).
- o prefixo un- = negação – untoward (l. 17). Vocês podem inferior o significado dessa
palavra?
20 ESTUDOS LINGÜÍSTICOS, São Paulo, 37 (2): 17-25, maio-ago. 2008
-comparação:
- a terminação –er + than são marcas de comparativo – easier…than (l. 15);
- the … + a terminação -est são marcas de superlativo – the safest (l. 13).
Enfatizamos que esses aspectos morfológicos nos ajudam a identificar as idéias
apresentadas pelo texto e damos seqüência às atividades de compreensão:
i. Leiam o texto novamente. Ele tem dois parágrafos. Quais são os pontos principais em
cada um deles? Discutam essa questão com o seu colega.
j. Vocês concordam com o ponto de vista do texto? Vocês fazem caminhadas?
l. Vocês praticam alguma outra atividade física?
3. Conclusão
Para concluir, apontamos aos alunos que os prefixos geralmente mudam o
significado de uma palavra. Ex.: globalization – anti-globalization. Os sufixos mudam a
classe de uma palavra. Ex.: high (adjetivo) – highly (advérbio). Enfatizamos que os
aspectos morfológicos podem ajudá-los a usar as palavras conhecidas que ocorrem com
afixos (prefixos e sufixos), para entenderem a idéia geral e os pontos principais de um
texto. Especificamente, os aspectos morfológicos podem ajudá-los a inferir o significado
de palavras desconhecidas, uma vez que os prefixos carregam um significado e os
sufixos marcam uma classe gramatical.
4.Referências
CARRELL, Patricia L. Some causes of text-boundedness and schema interference in
ESL reading. In: CARRELL, Patricia L.; DEVINE, Joanne; ESKEY, David E.
(Eds.). Interactive approaches to second language reading. New York: Cambridge
University Press, 1988, p. 101-113.
CEPRIL. Resouce package number IV. São Paulo: PUC-SP, 1986.
DOTA, Maria Inez M. Leitura crítica de textos da mídia em língua inglesa. Estudos
Lingüísticos, São Paulo, v. 35, p. 1368-1374, 2006.
ENGLISH on the Internet. In: WIKIPEDIA. Disponível em:
<http://en.wikipedia.org/wiki/English_on_the_Internet>. Acesso em: 20 ago. 2007.
GLOBALIZATION activists draw up battle lines. Financial Times, Londres, 4 fev.
2002. Disponível em: <http://specials.ft.com/wef2002/FT3Q4PWRAXC.html>.
Acesso em: 4 fev. 2002.
GORMAN, Christine. Walk, dont´t run. Time, Amsterdam, v. 159, n.3, p. 54, 21 jan.
2002.
GRELLET, F. Developing reading skills: a practical guide to teaching comprehension
exercises. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.
ESTUDOS LINGÜÍSTICOS, São Paulo, 37 (2): 17-25, maio-ago. 2008 21
NUTTAL, C. Teaching reading skills in a foreign language. London: Heinemann
Educational Books, 1995.
REVELL, R.; SWEENEY, S. In print. Cambridge: Cambridge University Press, 1993.
ZAKARIA, Fareed. Newsweek special issues. Newsweek, New York, v. 139, n. 14, p.
54, 8/15 abr. 2002.
5. Anexos
22 ESTUDOS LINGÜÍSTICOS, São Paulo, 37 (2): 17-25, maio-ago. 2008