1unicomJORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC
SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL
unicomJORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC
SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL
unicomJORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC
SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 25 nº 4 NOV 2014 - EDIÇÃO ESPECIAL
2
Talvez a melhor imagem seja a de uma
prateleira cheia de óculos ao lado de um objeto
ainda não identificado (não, necessariamente,
voador). Marrons, rosas, vermelhas, pretas... as cores
das lentes variam e, conforme a que colocar diante
dos olhos, as cores do objeto variam também. Desde
sua origem, em meados do século XVII, o jornalismo
pode ser visto a partir de diferentes teorias.
Poderíamos imaginar “lentes teóricas” produzidas
por “fábricas” como Sociologia, Psicologia, História
e Literatura. Os teóricos seriam aqueles que se
dispõem a experimentá-las e observar, com a ajuda
delas, as práticas jornalísticas.
“O jornalismo é uma atividade individual, social
e cultural de produção de um tipo de conhecimento
específico sobre o mundo”, começa a descrever o
professor Jorge Pedro Sousa. Quem complementa
é a professora Fabiana Piccinin, para quem a prática
pode ser entendida como “captura, tratamento e
divulgação dessa informação”. Estudar as relações
que surgem nesse processo é buscar estas respostas
para inúmeras questões. Quando uma informação se
transforma em notícia? Como são definidos os critérios
para uma pauta? Qual é a melhor maneira de escrever
o texto de uma reportagem? Por que as pessoas
acessam ou ignoram determinada publicação? Esses
são exemplos de perguntas que impulsionam o
trabalho dos teóricos. É como se fossem pequenas
peças identificadas no interior do objeto.
Para observá-las, o que temos são “teorias
integradoras que visam a explicar os fenômenos
jornalísticos na sua articulação com outros fenômenos
pessoais, sociais, culturais, tecnológicos e históricos”,
Editora-chefe: Cristiane Lindemann
Subeditora: Luísa Ziemann
Diagramação: Martina Scherer
Ilustrações: A4 Agência Experimental de Comunicação - Núcleo Publicidade e Propaganda
Impressão: Lupagraf
Tiragem: 500 exemplares
Pesquisar é exercitar a curiosidade
EDITORIAL
Pesquisar é um exercício que aprendemos
logo cedo, involuntariamente, ao sanar nossas
dúvidas com pais, avôs e demais adultos que
nos cercam. Quando estes não conseguem dar
conta de nossas curiosidades, podemos até
deixar de lado temporariamente, mas em algum
momento refazemos as mesmas perguntas. As
crianças são, os pesquisadores mais ativos já
vistos, pois são inquietas, questionadoras e não
se satisfazem com respostas rasas.
Um pesquisador acadêmico não nasce
repentinamente, ele amadurece, sobretudo,
durante a passagem pelo ensino superior.
É quando aprende a desconfiar do óbvio,
questionar possibilidades e estar em constante
desenvolvimento. Na maioria das vezes, pessoas
inclinadas aos estudos deixam florescer
esse desejo de saber mais lendo, anotando e
buscando sempre um detalhe não explícito que
possa resultar em novas informações.
A pesquisa científica consiste em um
olhar minucioso, embasado em teorias. Os
resultados das investigações realizadas no
campo do jornalismo são compartilhadas pela
comunidade acadêmica em diferentes eventos
da área, dentre os quais o Encontro Nacional
da Associação Brasileira de Pesquisadores em
Jornalismo (SBPJor), que este ano acontece na
Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc).
A edição especial do Unicom que está
em suas mãos foi produzida para brindar a
realização da 12ª edição do evento. Nele, alunos
do Curso e voluntários da Agência A4 abordam
temas como a internacionalização do SBPJor,
a preparação do curso de Comunicação Social
para receber o encontro, as relações entre o
Jornalismo e outros campos de pesquisa e
muito mais.
Além disto, nas páginas deste jornal você
encontrará uma entrevista com o professor
espanhol Pere Masip, que fará a palestra
de abertura do seminário, e também com o
professor Elias Machado, primeiro presidente
da SBPJor. Mais do que um convite para
prestigiar o congresso, que ocorre de 6 a 8 de
novembro, a edição também é fruto do trabalho
daqueles que estão muito empolgados para
receber em casa o evento mais importante do
Brasil para a pesquisa em Jornalismo.
Este jornal foi produzido pelos alunos da disciplina de Estágio Supervisionado em Jornalismo, que estão atuando na Agência Experimental A4, e também por alunos voluntários do Curso.
UNISC - Universidade de Santa Cruz do SulAv. Independência, 2293 - Bairro UniversitárioSanta Cruz do Sul - CEP 96815-900
Curso de Comunicação Social Bloco 15 - Sala 1506Telefone: (51) 3717-7383Coordenador do Curso: Hélio Etges
Reportagem: Augusto Dalpiaz, Diana Azeredo, Frederico Silva, Isadora Trilha, João Junqueira, Jonatan Trindade, Luís Gustavo Finger, Luísa Ziemann, Isadora Trilha e Vania Soares.
EXPEDIENTE
Acompanhe o conteúdo produzido pela nossa equipe durante o 12° SBPJor através do site: hipermidia.unisc.br/sbpjor2014.
O melhor campo teórico do mundoPesquisa em jornalismo
oportuniza cruzamento de reflexões em diversas áreas,
como História, Literatura, Psicologia e Sociologia
DIANA DE AZEREDOE FREDERICO SILVA
REPORTAGEM
nas palavras de Sousa. Para o professor
da Universidade Fernando Pessoa, a teoria
do Jornalismo é “o conjunto integrado de
conhecimentos, que o diferenciam como
campo autônomo”. Ele cita nomes como José
Marques de Melo, Nelson Tranquina, Eduardo
Meditsch e Marialva Barbosa como exemplos de
teóricos que contribuíram de maneira fundamental
para a consolidação dos conceitos sobre a área. Ao
incentivar que alunos e professores sejam, também,
pesquisadores, concebendo formas de estudar
o Jornalismo, Fabiana lembra: “A teoria é uma
sistematização do conhecimento”.
Além de buscar ajuda em outros campos, uma
forma de se chegar à teoria própria do Jornalismo é
a observação. “Não se trata tanto de uma inspiração,
mas sim de uma questão de observação atenta e
pró-ativa da realidade”, alerta Sousa. Eventos com o
SBPJor, onde professores e estudantes apresentam
resultados de suas pesquisas, contribuem para a
construção desse “óculos”. “É o estado da arte da
pesquisa”, compara Fabiana. Para ela, a maturidade
desses momentos é capaz de “fazer com que nós
próprios ofereçamos as nossas próprias teorizações”.
Porém, a professora da Unisc ressalta as mudanças
que ocorrem no Jornalismo. “Por isso a teoria precisa
estar muito bem articulada e embasada para que ela
possa dar conta dessas complexidades”, avalia. O
escritor colombiano Gabriel García Marquez definiu
o Jornalismo como “a melhor profissão do mundo”. É
possível usar a frase como referência para pensar o
Jornalismo na perspectiva científica. Eis aí um campo
em construção, enriquecido por diferentes influências
teóricas e, talvez, por isso mesmo, o melhor.
3
No jornalismo, trabalhos
desenvolvidos em sala de
aula podem resultar em
artigos científicos, monografias,
projetos experimentais e gerar
insights para dissertações e
teses. O resultado de algumas
destas produções serão apresen-
tados na 12ª edição do Encontro
da Associação Brasileira de
Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor), que acontece nos dias
6, 7 e 8 de novembro, na Univer-
sidade de Santa Cruz do Sul
(Unisc).
Associado ao evento, ocorre
a 4ª edição do encontro de Jovens
Pesquisadores em Jornalismo
(JPJor), criado a pedido de
associados da SBPJor e de
orientadores de iniciação cien-
tífica e trabalhos de conclusão,
visando estimular estudantes
a divulgar suas pesquisas. A
intenção é mostrar trabalhos
desenvolvidos por graduandos
e recém-graduados, como
incentivo ao trabalho científico,
permitindo que jovens pesqui-
sadores construam uma trajetória
acadêmica, dando sequência em
programas de mestrado e
doutorado.
Conforme a presidente da
SBPJor, Cláudia Lago, “a missão
da Assossiação é consolidar o
campo da pesquisa em Jornalismo
e isso exige que se trabalhe na
formação dos pesquisadores,
principalmente no início”. Ela
ressalta a expectativa de que o
JPJor se consolide como encontro
de estudantes de graduação que
têm interesse em caminhar rumo
à pesquisa.
A organizadora do JPJor deste
ano, professora Ângela Felippi,
acrescenta que o evento motiva
os alunos à pesquisa, permite a
vivência e a troca de experiências
com profissionais com mais
tempo de trabalho. “A pesquisa
é uma oportunidade de se fazer
literatura, testar uma realidade
e não só absorver, mas também
produzir conhecimento”, diz ela.
Recém-formada em jornalismo,
Daiana Carpes sempre gostou de
pesquisar, o que a levou a integrar
um grupo de pesquisa no período
da graduação. Segundo ela, isto
foi de extrema importância para a
conclusão do curso e representa
um caminho para o ingresso no
mestrado. Daiana apresentou tra-
balho no JPJor de Brasília em
2013 e, em 2014, teve outro aceito,
resultado de sua monografia.
Sobre a experiência vivida,
a jornalista destaca o momento
em que os participantes puderam
dar sugestões, críticas e elogios
ao seu trabalho, que abordava a
acessibilidade nos meios de comu-
nicação. “Foi maravilhoso, tive a
oportunidade de conhecer diversos
pesquisadores da área, participar
de debates e entender um pouco
mais do universo do jornalismo”.
Já professora universitária
e jornalista Rozana Ellwanger
ressalta que a pesquisa é funda-
mental na formação. Para ela,
jornalismo vai além de decorar
técnicas, é um exercício diário
de análise crítica. “No meu caso,
mais do que auxiliar na formação
para a prática jornalística, a
pesquisa sempre representou
uma meta de vida, pois tinha
o objetivo de seguir a carreira
acadêmica”. Rozana iniciou o
exercício de pesquisar desde cedo,
passando pelo mestrado, até chegar
à docência, em 2014.
Em 2010, sua monografia
recebeu o Prêmio Adelmo Genro
Filho de Iniciação Científica. “Ter
o trabalho reconhecido como o
melhor do Brasil me mostrou que as
dúvidas eram infundadas, me deu
motivação a mais e maior segurança
para seguir na vida acadêmica”.
A pesquisa sempre foi objeto de
desejo para Rozana, mas devido a
alguns empecilhos, só conseguiu
se dedicar depois da metade
da graduação. Mesmo assim,
obteve resultados importantes. A
jornalista lembra que este período
foi essencial para a produção e
publicação de artigos científicos, o
que possibilitou participações em
grandes eventos e a construção de
um currículo consistente.
Cada vez mais, estudantes e
recém-formados, como Daiana e
Rozana, estão se dando conta do
valor da pesquisa. A presidente
da SBPJor salienta que o número
de trabalhos inscritos tende a
crescer a cada ano em função
da divulgação e do incentivo por
parte dos professores. “Temos
observado isso a cada encontro”,
salienta Cláudia. Este ano foram
52 trabalhos inscritos no JPJor, o
maior número de todas as edições.
Cada vez mais, estudantes e recém-
formados se dão conta da importância
da pesquisa
JONATAN TRINDADEREPORTAGEM
Desde cedo, investigar
Daiana Capes: recém-formada, participará pela segunda vez do JPJor
DIV
ULG
AÇÃO
/AC
ERVO
PES
SO
AL
DIV
ULG
AÇÃO
/AC
ERVO
PES
SO
AL
Rozana Ellwagner: professora teve a monografia premiada em 2010
O diferencial de quem pratica a pesquisa
4
União para receber o encontro da SBPJorPlanejamentos
iniciaram em 2011 para que pesquisa
e produção de conhecimento fossem o centro das atenções
AUGUSTO DALPIAZ E LUÍS GUSTAVO FINGER
REPORTAGEM
Desde o final de 2011 a
Universidade de Santa Cruz
do Sul (Unisc) se prepara
de maneira efetiva para receber
em suas dependências o 12º
Encontro da Associação Brasileira
de Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor) e IV Encontro de Jovens
Pesquisadores em Jornalismo
(JPJor). Tudo começou há três
congressos, na edição realizada
no Rio de Janeiro, quando a vinda
do evento para Santa Cruz do Sul
passou a ser planejada.
Duas instâncias se envolvem
diretamente com a organização
do encontro: a nacional, que é a
SBPJor – a essência do congresso
–, e a local, formada no âmbito da
instituição que recebe e realiza o
encontro. A Unisc está dentro desta
segunda instância, responsabili-
zando-se pela organização do espaço
físico, distribuição de salas, marketing,
criação e atualização do site e pela
efetiva realização do congresso.
Segundo o diretor administrativo
da SBPJor e chefe do Departamento
de Comunicação Social da Unisc,
Demétrio de Azeredo Soster, realizar
um congresso como este é um longo
processos. “Podemos dizer com
muita tranquilidade que aprendemos
a fazer congresso. O Intercom [etapa
região Sul, 2013] foi o maior. No
entanto, antes dele, teve o Colóquio
das Agências Experimentais e,
anteriormente, o Fórum Sul Brasileiro
de Professores de Jornalismo e o 1º
Encontro Gaúcho de Professores de
Jornalismo (Egej). Ou seja, há quatro
anos estamos fazendo congressos
anuais e, durante esse período, a
gente vem aprendendo. O Intercom
foi fundamental para isso, pois ali
a instituição soube como fazer um
grande congresso”, pontua.
Para dar conta do encontro de
jornalismo, o curso de Comunicação
Social da universidade optou por
um processo diferente daquele
realizada em 2013, quando a regional
do Intercom ocorreu em Santa Cruz
do Sul. Ao invés de três pessoas se
responsabilizarem pela organização
de todo o congresso, foi criada uma
comissão executiva e os envolvidos
foram divididos em grandes áreas:
Relações Públicas, Publicidade e
Propaganda, Jornalismo e Produção
em Mídia Audiovisual. Já o setor
administrativo cuidou dos primeiros
contatos.
Tim-tim por tim-tim: a organização ao pé da letra
Cerca de 110 voluntários e 50
pessoas do Grupo Executivo – que
inclui professores, coordenadores
da A4 - Agência Experimental do
Curso de Comunicação e monitores
– vão participar da organização
do evento. Para preparar essas
pessoas, no dia 30 de setembro
aconteceu a primeira reunião e
próximo ao congresso ocorreram
outros encontros, a fim de treinar as
equipes para a recepção e execução
do encontro. Além disso, camisetas
e kits sobre o congresso foram
distribuídos a todos os envolvidos.
O envolvimento da A4 - Agência
Experimental, por meio dos quatro
núcleos, foi fundamental na etapa
pré-evento e assim se manterá
durante a realização do mesmo.
O núcleo de Relações Públicas
cuida da parte organizacional, do
protocolo e da arregimentação
dos voluntários. A Publicidade fica
encarregada pela parte de criação
de peças, camisetas e banners.
O Jornalismo faz a divulgação e Próximo ao Curso de Comunicação Social, banner destaca a realização do SBPJor
FÁBI
O G
OU
LART
5
“Muito mais que um congresso de Jornalismo, estamos fazendo um congresso de pesquisa, focados no conhecimento”
Angela Felippi
União para receber o encontro da SBPJorcobertura, enquanto a Produção em
Mídia Audiovisual é responsável por
criar vídeos e spots que auxiliem na
divulgação do evento.
A estudante do 8º semestre
de Jornalismo e monitora da
Agência A4, Andressa Bandeira,
está com boas expectativas para
o evento. Para ela, a oportunidade
de conhecer gente nova na área de
pesquisa é muito interessante. “Além
disso, teremos contato tanto com
os alunos que estão pesquisando,
quanto com professores e autores
que a gente usa como referência.”
Já no núcleo de Relações
Públicas, a acadêmica e monitora
da agência, Jusiane Quoos, acredita
que ter sediado o Intercom foi um
grande aprendizado para saber
como organizar um evento desta
magnitude. Para o trabalho o
SBPJor, os preparativos começaram
em maio deste ano e a expectativa,
segundo ela, é de que haja muito
engajamento. “O evento tem 110
voluntários inscritos, o que nos
surpreendeu. Espero que cada
um se comprometa para fazer
deste um excelente
congresso.”
A Unisc TV também
está engajada, cobrindo
o que está sendo
preparado produzindo
reportagens espe-
ciais que serão exibidas
no Unisc Notícias. O
programa costuma
ser exibido nas sextas-feiras, mas
na semana do evento vai ao ar na
segunda-feira, 10 de novembro,
com toda a cobertura do SBPJor. A
estagiária da Unisc TV e acadêmica
de Jornalismo, Maria Regina Ei-
chenberg, acredita que o Intercom
sediado na universidade em 2013
foi importante para ter uma base
de como cobrir o congresso nesse
ano. Para ela, essas circunstâncias
são boas. “O jornalista acaba
entrevistando pessoas que não
conhece, sai do ciclo da Unisc, em
que estamos muito envolvidos”.
Cenário para estreias - A 12ª
edição do Encontro de Jornalismo
será marcada por muitas estreias,
como a primeira cobertura em
eventos deste porte realizada
por acadêmicos que há pouco
ingressaram no curso, e a primeira
apresentação de um trabalho no
JPJor. Este é o caso da recém-
formada jornalista Vanessa Costa,
que apresentará o artigo “O que
disseram os jornais Zero Hora e
Diário de Santa Maria aos seus
leitores na cobertura do incêndio
da Boate Kiss”. Vanessa conta
que seu objetivo é compartilhar
os resultados de sua pesquisa e
também aprender com o resultado
dos outros trabalhos. Sobre a
presença de jovens pesquisadores
no evento, a jornalista afirma:
“A participação nesses eventos
certamente abre horizontes. Saber
o que se pesquisa na área em
outras universidades e até mesmo
a maneira como se pesquisa, faz
com que surjam
novas ideias e
motivações.”
A professora do
curso de Comunica-
ção Social da Unisc
e organizadora do
JPJor, Angela Felippi,
explica os trabalhos
recebidos, de estu-
dantes ou recém-formados, foram
enviados para pareceristas de outras
instituições, que os avaliaram. Além
disso, a organização focalizou as
atenções na composição das mesas,
ou seja, em como os trabalhos
aceitos iriam ser apresentados.
Cada mesa terá em torno de cinco
pesquisas, distribuídas nas salas de
aula e marcadas para o primeiro
dia, seis de novembro, no turno da
tarde. Angela lembra, ainda, que
na manhã de quinta-feira ocorrerá
a abertura do IV Encontro de Jovens
Pesquisadores e mesa temática sobre
Incentivo à pesquisa em Jornalismo.
Segundo a professora, a principal
dificuldade em organizar algo
grandioso como o evento da SBPJor
está na mobilização das pessoas,
especialmente no que se refere à
questão da logística. “O desafio dos
meses que antecederam o evento
foi mobilizar nossos estudantes,
nossos professores, a instituição.
Fazer com que todos abraçassem
o evento, que trabalhassem em
prol do objetivo e, sobretudo, que
viessem ao encontro do SBPJor
para assisti-lo, porque é uma
oportunidade ímpar”, acrescenta.
Estímulo à pesquisa - São es-
perados cerca de 400 congressistas
no 12º Encontro da SBPJor, que
recebeu em torno de 300 trabalhos
inscritos. De acordo com Soster, a
vinda do evento deve estimular os
alunos para apresentar trabalhos
e se envolver mais com a pesquisa
acadêmica. Para o professor, este é
um fator benéfico, já que por muito
tempo a pesquisa foi periférica
nas atividades do Departamento
de Comunicação Social. “Estamos
muito preocupados com a prática
e queremos não só ensino, mas
sim pesquisa de qualidade. Muito
mais que um congresso de
Jornalismo, estamos fazendo um
congresso de pesquisa, focados no
conhecimento”, enfatiza.
Em 2015 um colóquio sobre
midiatização vai ser realizado na
Unisc. Tendo em vista a amplitude
do tema, Soster deseja que Relações
Públicas, Mídia Audiovisual, Publi-
cidade e Fotografia também parti-
cipem. De acordo com o chefe de
departamento, a visão do congresso
é nacional. “A imagem da Unisc hoje
está, literalmente, do tamanho do
Brasil. Isso é bacana de se perceber,
afinal, é fruto de um trabalho que vem
sendo realizado há longo prazo e que
nos últimos anos ganhou intensidade.
A gente, ao fim de tudo isso, quer que
a qualidade do diploma se fortaleça”,
justifica Soster.
CARO
LIN
E FA
GU
ND
ES/A
GÊN
CIA
A4
CARO
LIN
E FA
GU
ND
ES/A
GÊN
CIA
A4
Encontros foram marcados por presença maciça dos participantes
Diversas reuniões foram realizadas para organizar o SBPJOR
6
Para o estudioso, os meios impressos
têm um futuro complicado ante seus
homólogos digitais
AUGUSTO DALPIAZ E JONATAN TRINDADE
ENTREVISTA
Você pensa que o jorna-lismo pode ser prejudicado pelas novas transmissões de informação através da internet?
Apesar dos discursos catas-tróficos que estão sendo proli-ferados desde a aparição da internet, a realidade nos demonstra que os cidadãos querem informação. E essa informação, na maioria dos casos, segue facilitando a atuação dos jorna- listas. A invasão de novas formas de comunicar, como as redes sociais, não só não prejudica o jornalismo e os meios como também pode converter-se em aliada, oferecendo novas vias de acesso às informações elaboradas pelos jornalistas profissionais.
Democracia ou falta de bom senso na hora de compartilhar informações na rede?
Deixar de tomar decisões por causa do bom senso pode ser perigoso, visto que se sabe que este é o menos comum dos sentidos. Os cidadãos compartilham aquelas informações que lhes parecem interessantes, úteis ou simplesmente divertidas e engraçadas. É perfeitamente compreensível. Encontramos o problema quando, ao invés de se contribuir para a criação de um espaço comum para o debate e o fortalecimento da democracia, o lugar onde se pode compartilhar ou comentar informações se transforma em um ambiente utilizado para menosprezar aos que oferecem pontos de vista distintos, renunciando ao diálogo e o debate baseado em argumentos.
No dia 6 de novembro, a
abertura do 12º Encontro
da Associação Brasileira
de Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor), o maior congresso
jornalístico do país, ficará a
cargo não de um brasileiro, mas
de um espanhol: Pere Masip. O
tema abordado pelo professor
da Universidade Ramon Llull, na
Espanha, será Audiencias activas y periodismo: ¿Ciudadanos implicados o consumidores motivados?. Na
palestra, juntamente com outra
atração estrangeira, Palomo Torres,
da Universidade de Málaga, ele
debaterá o papel das tecnologias
interativas e sua aplicação na produ-
ção de conteúdo midiático e na
promoção dos valores da democracia.
Masip é coordenador do projeto
‘Audiencias activas y periodismo’ e
concedeu uma entrevista exclusiva
ao jornal Unicom. Ele aponta que
“é legítimo que os meios tenham
uma determinada ideologia, mas
uma tendência política não justifica
a manipulação e a distorção da
realidade”. Para o professor, “o
pecado original dos meios de
comunicação tradicionais é ter que
buscar, gratuitamente na internet,
a mesma informação que era paga
no meio impresso. Talvez ali tenha
começado o princípio do fim”.
O pesquisador possui uma ex-
tensa lista de artigos, monografias e
participações em congressos, dentre
eles: Presencia y OSU de internet en las redacciones Catalanas (2002),
Internet uma les redaccions: Informació Diaria i rutines periodístiques (2008),
Modelos de convergência de negócios na indústria da informação: Um mapeamento de casos em Espanha e no Brasil (2009). Confira na íntegra
as reflexões de Masip sobre as novas
mídias dentro do jornalismo.
As novas tecnologias, por Pere Masip
7
Você acredita que o avanço tecnológico pode acabar com as mídias tradicionais?
Como apontávamos anterior-mente, os cidadãos querem informação e essa informação provém fundamentalmente dos meios tradicionais. Natural-mente, os meios impressos têm um futuro complicado ante seus homólogos digitais. Especialmente se não são capazes de oferecer informação de qualidade, diferenciada da que aparece nas versões digitais de maneira gratuita. Assim sendo, além das inovações tec- nológicas, o futuro dos meios de informação depende da capacidade de oferecer infor-mação de qualidade, pela qual os cidadãos estejam dispostos a pagar.
Essa grande participação dos cidadãos nas redes sociais faz com que as pessoas Wrecebam uma informação de qualidade?
Os estudos que estamos realizando na Espanha nos mostram que a informação que os cidadãos recebem através das redes sociais procede na última instância dos meios de comunicação tradicionais - através de suas edições digitais. Assim, as versões web dos meios tradicionais, basicamente periódicos, são a principal fonte de informação de atualidade dos cidadãos espanhóis. O que muda é a maneira de acessar a essa informação. Os leitores acessam a informação através de buscadores, RSS e redes sociais. Na maioria dos casos são os amigos que facilitam e compartilham ligações às
notícias, mas essas ligações acabam conduzindo a notícias elaboradas por jornalistas profissionais e publicadas em meios tradicionais. É também destacável observar como mais da metade dos usuários do Twitter seguem algum meio de informação nesta rede social, e quase 30% a jornalistas.
A publicidade pode ser maléfica para o jornalismo?
A informação gratuita não existe. Os meios se financiam fundamentalmente pela contri-buição dos leitores que compram os periódicos e a publicidade. É bem conhecido que só através da venda de exemplares os periódicos não são economicamente viá-veis, por isso a publicidade é imprescindível para a sobrevivência dos meios de comunicação. Assim, por si só, a publicidade não é ruim. O problema é quando os anunciantes, especialmente os grandes, são absolutos ou majoritários. Nesses casos, essa dependência resulta pouco compatível com uma informação, como quando as entidades financeiras e redes de poder se instauram nesses conselhos de administração dos grupos midiáticos ou da dependência política desses grupos.
Como você vê a entrada do entretenimento no jornalismo?
A irrupção do entretenimento no jornalismo não é nova nem própria da internet. Na televisão, está plenamente consolidada faz muitas décadas. A questão fundamental é a necessidade que têm os meios de captar a atenção dos leitores. Nessa luta pela audiência, graças à informação disponível através da web, os
meios sabem perfeitamente que seus conteúdos são do gosto e atraem as pessoas. Nessa circunstância, os meios enfrentam um dilema entre a lógica jornalística e a lógica empresarial. Um equilíbrio ins-tável entre oferecer aqueles conteúdos que acreditam que são importantes para os cida-
As novas tecnologias, por Pere Masip
DIV
ULG
AÇÃO
/AC
ERVO
PES
SO
AL
Pere Masip: “o futuro dos meios depende da capacidade de oferecer informação de qualidade”
dãos e aqueles que sabem que satisfazem os interesses da audiência, ainda que não sejam relevantes. Em outras palavras, um equilíbrio entre o interesse público e o interesse do público. Quando esse equilíbrio significa optar pela segunda função, o jornalismo de serviço público é dilacerado.
8
Durante o nono encontro realizado
pela Associação Brasileira de
Pesquisadores em Jornalismo
(SBPJor), no Rio de Janeiro, Marcia
Veiga recebeu a placa alusiva à melhor
dissertação de mestrado. Marcia con-
quistou o Prêmio Adelmo Genro Filho
(PAGF) em sua categoria no ano de
2011. Para a aluna do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação e
Informação (PPGCOM/UFRGS) a
distinção com o PAGF foi decorrência
do esforço de pesquisar. “O PAGF da
SBPJor representa, por si só, uma
importante iniciativa de reconhecimento
das pesquisas desenvolvidas no campo
do Jornalismo em nosso país”, salienta.
A autora da dissertação com o título
Masculino, o gênero do jornalismo: um
estudo sobre o modo de produção das
notícias classifica como incentivadora a
premiação.
Em entrevista ao jornal Unicom,
Marcia revela suas motivações para
imersão na pesquisa. Na 12ª edição
do encontro da SBPJor, lança o livro
Masculino, o gênero do jornalismo:
modos de produção das notícias
(Insular, 2014). A publicação é
resultante do trabalho premiado, que
trata das relações entre os valores
dos jornalistas, a escolha das pautas
e a construção das notícias a partir
da concepção de gênero. “Costumo
pensar que um ingrediente importante
para a pesquisa é ter uma curiosidade
genuína, questões que se queira
realmente compreender”. Esta é uma
das ideias que o leitor encontra na
entrevista com a autora da obra.
Doutoranda na UFRGS, Marcia
Veiga, vencedora da categoria dissertação
do PAGF em 2011, lança livro de sua
pesquisa no mestrado
JOÃO JUNQUEIRAENTREVISTA
Vencedora de prêmio detalha trajetória na pesquisaO que despertou sua aten-
ção em pesquisar?As inquietações que me levam
à pesquisa originaram-se em meu percurso de vida pessoal e profissional que, a partir de uma visão de mundo e de vivências empíricas, transformaram-se no intento de compreender algumas facetas da sociedade através da ciência. Desde muito cedo, empiricamente, tomei contato com algumas violações de direto que, quando já adulta, serviram como mola motora de meus valores, minha ideologia e, por certo, das escolhas militantes, profissionais e educacionais que se sucederam a partir delas. No ano 2000, tive a oportunidade de exercitar minha militância social, concomitante com minha dupla formação, universitária e política. Essa dupla formação, a incursão nesses dois lugares, transformou meu olhar sobre o mundo. Mais do que isso, impulsionou-me a seguir adiante, buscando na pesquisa um lugar para continuar pensando e compartilhando minhas inquietações.
Como entrou na área de pesquisa?
Oriunda de escolas públicas, experiência da qual resultaram algumas de minhas grandes inquie-tações sobre ensino e aprendizagem, em 1993 iniciei minha graduação em Comunicação Social na Univer-sidade Luterana do Brasil. Era eu a primeira, de minha família de origem, a ingressar no ensino superior. Entretanto, por ocasião da gravidez de minha única filha, cursei apenas um semestre e tive que adiar por sete anos esta experiência tão ansiada. Somente em 2000 retomei meus estudos no curso de Jornalismo naquela universidade. Juntamente com minha formação na universidade, atuei na assessoria de imprensa de ONGs e de Grupos de Pesquisa. Nessas experiências de trabalho, como uma das práticas da profissão, encontrei caminhos
para pensar não só jornalismo, mas também novos conceitos e formas de enxergar a realidade. Para propor aos jornalistas ideias não usualmente circulantes no senso comum, como as que eram pautadas pelas instituições assessoradas, precisei estudá-las e melhor conhecê-las, traduzi-las e mediá-las.
Jornalismo sempre foi seu objetivo na graduação?
Não. Meu primeiro ingresso na universidade, em 1993, foi para cursar Publicidade e Propaganda. Quando retornei à universidade, 7 anos depois, já estava decidida a mudar de curso para o Jornalismo. Mais amadurecida, encontrei tam-bém no regresso à universidade uma nova forma de pensar não apenas minha vida profissional, mas também a pensar sobre as formas como podemos conhecer aspectos da realidade que nos envolvem direta ou indiretamente. E o Jornalismo passou a me instigar ainda mais, em função de suas características peculiares, pela “vontade de verdade” com que partilha conhecimentos acerca da sociedade.
Qual sua atuação profis-sional hoje em dia?
Estou no último ano do doutora-do, escrevendo minha tese. Nesses quatro anos de doutoramento, me dediquei exclusivamente à pesquisa e à docência, esta última ainda que em forma de estágio dentro da própria UFRGS, foi uma experiência muito desejada e enriquecedora. Tive a oportunidade de aprender um pouco sobre essa profissão – a docência – através da orientação e co-orientação de alunos, minis-trando disciplinas. Inclusive uma destas disciplinas sobre Comu-nicação, gênero e sexualidade, meus temas de pesquisa, que com muita alegria pude perceber que são de grande interesse por
9
Vencedora de prêmio detalha trajetória na pesquisaparte dos alunos e que sem dúvida fazem parte dos temas cotidianos que tanto se discute e pauta no jornalismo. Nesses anos, também fui convidada a participar das aulas de professores de comunicação de outras universidades, como a Unisc, oferecendo atividades de sensibilização sobre as temáticas a que me dedico a estudar (comunicação, jornalismo, gênero, cultura, sexualidade, diferença) numa interlocução que foi de extrema aprendizagem pra mim.
Na sua avaliação, qual a importância de pesquisar?
A pesquisa é uma das formas com que se pode ter a oportunidade de conhecer, a partir de uma mirada diferente, questões que muitas vezes nos afligem ou nos tocam diretamente, seja na profissão, seja no assujeitamento social a que estamos colocados pelas normas e comportamentos sociais exigidos, seja no cotidiano das práticas (profissionais ou sociais) que, via de regra, não nos debruçamos a refletir. Seja qual for a motivação de pesquisar, entendo como um processo de aprendizagem e de construção do conhecimento extre- mamente importante, e que pode nos ajudar a compreender e a melhor contribuir com a sociedade na qual vivemos, seja porque nossas pesquisas podem ajudar nessas compreensões (e até mes- mo transformações), seja porque nós, como pesquisadores e pesqui- sadoras, sempre saímos trans-formados depois de imersões tão grandiosas nestas formas de conhecer.
Como chegou ao assunto da sua dissertação?
As experiências de quase uma década atuando como jornalista e envolvida com as temáticas de gênero, sexualidade, classe, raça e educação deram os contornos do interesse de pesquisar as
relações entre Jornalismo e Cultura, em especial nos processos de normalização social. Minha pesquisa no mestrado foi o primeiro exercício de reflexão metódica, cujo objetivo era investigar quais seriam as concepções de gênero dos jornalistas, a fim de entender em que medida participavam dos processos de produção das notícias e na reprodução ou ressignificação da heteronormatividade. Assim desenvolvi um estudo de news-making, ao longo de três meses junto a redação de um programa tele jornalístico em uma grande emissora, inspirada no método etnográfico, com observação participante e descrição densa, no acompanhamento das rotinas produtivas. Observando a atuação dos jornalistas no âmbito do mercado, entendi que os valores culturais hegemônicos eram constitutivos das lentes pelas quais esses profissionais apreendiam
a realidade e narravam o Outro. Tratava-se daqueles conhecimentos tidos como não questionáveis, tomados de antemão a partir daquilo que mais predominantemente se compreende na cultura sobre as normas que nos assujeitam. Esse processo ocorria sem que os próprios jornalistas parecessem ter consciência de que acionavam esses valores em suas escolhas.
Quais foram as respostas após o período de observação?
Compreendi que não apenas as concepções hegemônicas de gênero, mas os demais marcadores sociais, se imiscuíam nas relações de poder, de produção do saber sobre a realidade, em sintonia com as hierarquias, valores e relações sociais dominantes que eram parte das visões de mundo dos jornalistas, acionadas na cultura profissional e em tomadas de decisão. O jornalismo foi entendido como
masculino, com práticas e saberes masculinistas, em intersecção com outros marcadores de diferença que perpassam as relações e os modos de compreender a realidade e o Outro. A pesquisa resultou na dissertação “Masculino, o gênero do jornalismo: um estudo sobre o modo de produção das notícias”, que recebeu o Prêmio Adelmo Genro Filho da SBPJor, na categoria melhor dissertação de mestrado, no ano 2011. E com muita alegria, essa dissertação está sendo publicada pela Editora Insular como 8º Volume da Série Jornalismo a rigor, e será lançada na próxima SBPJor, na Unisc, em Santa Cruz do Sul. Tanto o prêmio quanto a publicação da dissertação em livro significam a possibilidade de seguir dialogando, refletindo, um processo que não se encerra com o término de uma pesquisa, mas precisa ser constantemente discutido, refletido e repensado.
Marcia Veiga reproduz, em livro a ser lançado no 12º SBPJor, o trabalho premiado em 2011
DIV
ULG
AÇÃO
/BER
NA
RD
O J
AR
DIM
RIB
EIR
O
10
A facilidade de acesso às infor-
mações vivenciada nos últimos
tempos tornou obsoleto o ensino
tradicional fundamentado apenas
na comunicação oral. Além disso, é
inviável, em muitas disciplinas, o
professor conseguir apresentar todo
o conteúdo no tempo que lhe é dispo-
nível. Porém, o conhecimento não se
configura como um processo com
ponto final. É justamente por meio
da necessidade de descobrimento
que o aluno vai buscar alicerces para
solidificar suas ideias. Isto é, além
daquilo que recebe em sala de aula,
o estudante deve procurar se inserir
nas áreas de seu interesse, mesmo
que desconhecidas. A partir do
estranhamento, o acadêmico precisa
buscar, por meio da investigação, as
respostas para suas indagações.
Conforme a professora do Curso
de Comunicação Social da Univer-
sidade de Santa Cruz do Sul (Unisc)
e também organizadora deste ano
do Encontro Nacional de Jovens
Pesquisadores em Jornalismo (JPJor)
deste ano, Angela Felippi, uma for-
mação universitária não se limita
apenas à sala de aula, ela é composta
por ensino, pesquisa e extensão. A
iniciação científica pode ser incentivada
dentro das próprias disciplinas mais
teóricas que demandem uma produção
mais densa, acredita Angela, e a
realização do congresso na Unisc já se
caracteriza como fator motivador para
o estudante se inserir na área. “Essa
é a ideia do congresso, oportunizar
essa experiência para o nosso aluno
e para os demais, de poderem ver
as discussões de ideias e produções
científicas, esse momento rico tem que
fazer parte de um estudante de ensino
superior”, afirma.
Sediar um evento do nível do
SBPJor na universidade santa-
cruzense, segundo a professora,
vai colaborar para a criação de
uma cultura comportamental
nos estudantes em se inte-
ressarem pela investigação
científica e pelos eventos,
para que eles conheçam e
se motivem a participar em
outras instituições.
Formar alunos como sim-
ples receptores de informação
não é a maneira mais eficaz
de promover a pesquisa,
nem mesmo a sociedade em
que estamos inseridos. A
universidade tem o objetivo
de fornecer o conhecimento
e preparar profissionais
qualificados a fazerem
uso efetivo dele. Por
isso, a participação em
atividades científicas ex-
traclasse se torna forte
aliada no processo de
formação destes acadê-
micos. Dessa forma, a
inserção do graduando
em grupos e projetos de
pesquisa ao longo de seus
estudos irá colaborar para aperfeiçoar
as habilidades mais exigidas em
profissionais com nível superior
completo, bem como instigar e auxiliar
outros jovens estudantes que querem
se inserir na área.
Para Angela, a formação intelectual
teórica do estudante vai fazer com
que ele seja um profissional muito
mais crítico, maduro, reflexivo e bem
preparado para fazer o que deve fazer.
“A pesquisa se torna algo não apenas
essencial para o ambiente científico,
ela colabora para formar profissionais
de mercado com muito mais
embasamento intelectual para poder
trabalhar, ainda mais no jornalismo que
a matéria é o conhecimento”, garante.
A professora do Curso de
Comunicação Social da Unisc, Fabiana
Piccinin confirma que não existe outra
maneira de pensar na qualificação do
jornalismo, que não seja através da
reflexão oportunizada pela investigação
científica. “A reflexão sobre o ‘fazer’
permite avançar o processo que
qualifica a prática jornalística.” A
iniciação científica oportuniza ao aluno
de graduação manifestar a vontade
para a área e, assim, aprimorar seu
espírito crítico e questionador, além de
servir como ferramenta de aprendizado
e agente de fomento à influência mútua
entre o estudante, a universidade e a
comunidade.
A pesquisa potencializa as
oportunidades do estudante de
graduação se adentrar no âmbito da
ciência e é durante essa iniciação
que o mesmo pode avaliar técnicas e
investigar teorias estudadas em sala
de aula, expandir e experimentar seu
leque de conhecimentos. Através dela,
o jovem investigador pode descobrir
fatos que anteriormente estavam
obscuros, assim como aperfeiçoar
suas aptidões intelectuais e facilitar seu
seguimento nos passos posteriores à
graduação.
Diversas modalidades já inseridas
em eventos jornalísticos propiciam
que o jovem pesquisador inicie as
atividades rotineiras da busca pelo
saber. Fabiana, que coordena o
grupo Narrativas Audiovisuais e a
Investigação permite ao estudante
descobrir perspectivas teóricas e expandir o
conhecimento
LUÍS GUSTAVO FINGER E LUÍSA ZIEMANN
REPORTAGEM
Desenvolvimento intelectual já na academia
11
Autenticação do Real no Mestrado
em Letras da Unisc, admite perceber
diferença de rendimento e qualidade no
acadêmico após inserir-se no ambiente
cientifico. “A gente vê nitidamente um
olhar muito mais maduro dos alunos
que estão dentro da iniciação científica
no que se refere a olhar para as teorias,
para as técnicas, de refletir sobre os
conteúdos e na própria redação, que
se torna muito mais densa, muito mais
aprofundada pelo fato de conhecer a
largura das perspectivas teóricas e de
saber mais sobre as escolas teóricas.”
A pesquisa e a inserção do
estudante na iniciação científica fazem
parte da evolução e da valorização
da atividade. O compartilhamento do
conhecimento e a oportunidade de
apresentar o seu trabalho aos demais,
bem como a discussão do problema
expressa significante subsídio à
formação do acadêmico.
“Eu escolhi pesquisar”
Um dos deveres da academia é
mostrar as possibilidades profissionais
para os estudantes. Afora o mercado
jornalístico, que diz respeito às
redações de jornais, emissoras de
televisão e rádio e agências de notícias,
seguir estudando também é possível.
Para isso, o jornalista deve se dedicar
à pesquisa científica. Um trabalho que
envolve centenas de livros, muita leitura
e horas em frente ao computador ou na
biblioteca. Sem a pressão do deadline, mas com a pressão da descoberta,
foram nas monografias, teses e
dissertações que muitos jornalistas se
encontraram profissionalmente.
No caso de Maicon Elias Kroth,
que hoje é professor universitário, o
interesse pela investigação científica
se manifestou já no início da faculdade
de Jornalismo, cursada na Unisc. No
entanto, apenas nos últimos semestres
do curso ele começou a desenvolver
trabalhos na área. “Desde o primeiro
semestre eu atuei como repórter em
jornais e rádios da região. A experiência
radiofônica ganhou preferência quando
tive a oportunidade de produzir o meu
próprio programa”, lembra.
Desenvolvimento intelectual já na academiaO professor explica que foram
os modos de produção e suas
especificidades que o levaram a
observar com mais acuidade as rotinas
de trabalho de diversas emissoras e a
se dedicar à pesquisa. “Na emissora
onde trabalhei em Venâncio Aires, um
programa em especial me despertou
atenção. Tratava-se de uma proposta
de auditório itinerante. Foi então que
iniciei, ainda no sétimo semestre,
uma espécie de pré-observação do
programa. Este programa acabou se
tornando o objeto de estudos de meu
trabalho de conclusão de curso.”
Kroth, que concluiu a graduação
em 2002, realizou um estudo de
recepção orientado pelo professor
Hélio Afonso Etges, seu principal
incentivador durante a faculdade.
“Sua influência foi tão importante,
que despertou a vontade de continuar
investigando fenômenos midiáticos, em
especial os radiofônicos”, lembra. E,
por isso, foi também com o auxílio de
Etges que Kroth organizou mais uma
pesquisa para o mestrado na Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande
do Sul (PUC-RS), desta vez sobre as
práticas radiofônicas e as gramáticas
de produção. No doutorado, o rádio
continuou sendo seu objeto de estudo.
Estímulo - O apoio que recebeu
de seu orientador foi fundamental
para que o interesse em investigar
aumentasse. “Vejo que as univer-
sidades têm apoiado cada vez mais
a pesquisa. O interesse por parte
dos estudantes também aumentou.”
Kroth, que escolheu deixar de lado o
mercado jornalístico e seguir sua vida
profissional na academia, salienta que
as atividades se diferem na mesma
medida em que se complementam. “Os
avanços da pesquisa científica podem
apontar caminhos interessantes para
a otimização das práticas jornalísticas
desenvolvidas no mercado”, explica.
“E, no mercado, isto qualifica a
produção dos textos, respaldando todo
o processo de apuração, produção e
edição dos mesmos.”
A opinião é compartilhada por
Patrícia Regina Schuster, formada desde
2007, também pela Unisc. “Pesquisar é
ler, reler, vasculhar, revirar, procurar. É
entender porque as coisas são como
são. Foi graças à a este processo que
eu descobri coisas acerca da nossa
profissão que jamais o ritmo frenético
das redações, com suas obrigações
editoriais, me proporcionaria.” Segundo
a jornalista, ainda durante a realização
da monografia ela descobriu este
caminho como algo muito prazeroso.
“Fiquei empolgada com o processo de
“sujar as mãos” que a pesquisa naquele
momento já me proporcionou”, diz.
Isso porque Patrícia literalmente
sujou as mãos. Durante a monografia, a
jornalista estudou discurso jornalístico
e política. Ela analisou matérias das
editorias de política e economia
publicadas pelo jornal santa-cruzense,
Gazeta do Sul, durante o primeiro ano
de governo do general Médici, em
1969. Para realizar o trabalho, precisou
buscar o conteúdo nos arquivos físicos
do jornal – empoeirados, mas um prato
cheio para a análise.
Da mesma forma que Kroth, o
interesse cresceu e Patrícia decidiu
continuar no âmbito acadêmico.
“No mestrado em Desenvolvimento
Regional, desenvolvi uma pesquisa
exaustiva, já que o tema da dissertação
era movimento grevista da década de
1980”, recorda. “Novamente analisei
arquivos da Gazeta do Sul e, mesmo
em meio a dezenas de crises alérgicas
provocadas pela imensidão de ácaros
presentes naqueles documentos
velhos, eu segui motivada para ir
adiante.” Hoje, a jornalista cursa o
doutorado em Comunicação Midiática
na Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM). “Descobri que isso
poderia ser a porta de entrada para
a sala de aula. Não deixaria de ser
jornalista, mas, assim, associaria o
ensinar a minha trajetória.”
Inspiração - Kroth e Patrícia são
exemplos para Bianca Cardoso que,
ainda na faculdade, já traçou alguns
planos. “A bolsa de iniciação científica,
da qual participo, revolucionou
completamente a minha escrita,
as minhas leituras e, sobretudo, as
minhas perspectivas em relação ao
futuro”, diz. “Nela, vi a possibilidade
de seguir estudando.” A acadêmica
de Jornalismo da Unisc, que se dedica
há cerca de um ano e meio à pesquisa
na área de narrativas e literatura,
garante que, hoje, suas observações
em relação à academia são outras. “O
que mais mudou foi meu olhar diante
da graduação e do que quero fazer
depois dela. Agora vejo como posso
ir longe. Pretendo fazer um mestrado
em Letras e depois, quem sabe, um
doutorado, algo que eu não pensava
antes, pois parecia estar muito longe
da minha realidade.”
Bianca, porém, acredita que deve
existir mais incentivo ao ambiente da
investigação no curso de Jornalismo.
“A culpa não é só dos professores, mas
sim do sistema, que forma o aluno para
sair da graduação e ir direto para o
mercado”, salienta. “Mas muito mais do
que incentivo, o estudante precisa ter
algum contato com o texto científico já
durante a graduação, uma vez que ele é
fortemente utilizado na monografia, por
exemplo.” Para a acadêmica, a solução
seria inserir disciplinas relativas à área
na grade curricular do curso. “Seria uma
ótima maneira de familiarizar o aluno
com a pesquisa e também de mostrar
que ele pode, sim, seguir estudando, que
isso não é algo inalcançável.”
VAN
IA S
OAR
ES/A
GÊN
CIA
A4
Angela acredita que a pesquisa pode ser incentivada dentro das próprias disciplinas teóricas
12
As participações estrangeiras
no Encontro da Associação
Brasileira de Pesquisadores
em Jornalismo, (SBPJor) contabilizam
nomes de peso na pesquisa em
âmbito internacionail. Ainda assim, a
tendência internacional dava indícios
de que iria se fortificar. A segunda
edição do SBPJor, realizado em
Salvador, na Bahia, contou com a
aprovação de artigos de três países
do exterior para serem exibidos
no congresso: Portugal, França e
México. Já de início era possível
perceber a tendência do evento em
conciliar conhecimentos nativos a
novas ideias e linhas de pesquisa
estrangeiras.
A relação da entidade com
pesquisadores de fora do Brasil
acontece de duas formas. Uma é a
de congressistas que frequentam o
encontro, geralmente oriundos de
Portugal e da América Latina. Essa
participação é muito interessante para
perceber similaridades e diferenças
em relação às pesquisas produzidas
aqui e o que é feito em outros lugares,
por meio da apresentação dos
trabalhos destes pesquisadores em
nossos congressos. A segunda são
os pesquisadores que são convidados
pela SBPJor para proferir conferência
de abertura ou participar de mesas
temáticas. Isso é estimulado pela
direção da entidade, por entender
que, assim, os brasileiros conectam-
se com as tendências de temas
de pesquisa e abordagens que se
produzem no mundo.
Para os eventos, nomes
com destaque internacional são
procurados. Além do assunto da
pesquisa dos possíveis convidados
ser muito analisado pelo viés
metodológico que empregam, a
importância teórico-conceitual de
seus trabalhos também é considerada.
No caso de conferencistas, é
selecionado e convidado alguém que
tenha relação com o tema principal
do evento. Geralmente é a diretoria
quem os procura e confere a relação
que todos devem ter com o que se
pretende enfocar no encontro.
Foi no terceiro encontro da SBPJor,
ocorrido na Universidade Federal de
Santa Catarina, em Florianópolis,
que as relações com os estudos
internacionais se consolidaram:
pesquisadores de fora do país
vieram ao Brasil para participar
das discussões pela segunda vez. A
conferência de abertura desta edição
contou com três nomes conceituados
no mundo da pesquisa em jornalismo:
Nelson Traquina, de Portugal,
Thomas Hanitszch, da Alemanha e
Javier Diaz Noci, do País Basco, na
Espanha.
Segundo a presidente da SBPJor
na gestão 2013-2015, Cláudia Lago,
esse intercâmbio é fundamental
em dois sentidos. Em um deles,
os pesquisadores brasileiros
têm a oportunidade de conhecer
ou aprofundar o conhecimento
sobre o que são as pesquisas e
os interesses de pesquisa que
existem mundialmente. Em outro,
os pesquisadores estrangeiros têm
a oportunidade de conhecer aquilo
que é pensado e pesquisado no
Brasil – “e isso com certeza, auxilia
na propagação da nossa pesquisa lá
fora”, assinala.
Após a primeira aparição
estrangeira nos encontros, tornou-
se tradicional abrir o evento – ou
contar com alguma participação
durante as mesas de discussão
– com pesquisadores de outros
países que pudessem contribuir
para os pensamentos enfatizados
no congresso. Na quarta edição,
realizada em Porto Alegre, na
Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, o tema A Pesquisa em Jornalismo e o Interesse Público foi o
norteador da conferência de abertura,
que teve como principal palestrante
o professor Denis Ruellan, da
Universidade de Rennes, na França.
Com relação à língua, Cláudia
considera que “hoje, no mundo, a
língua por assim dizer ‘internacional’,
é o inglês. Mesmo que tenhamos uma
série de justas ressalvas quanto a isso,
o fato é que, se queremos falar com
pesquisadores no mundo, temos que
falar em inglês”. De acordo com
a diretora, um pesquisador
brasileiro que queira
Intercâmbio cultural: a internacionalização do SBPJorEncontro de
pesquisadores em Jornalismo
proporciona troca de estudo e
conhecimentos entre especialistas de diversos países
AUGUSTO DALPIAZE ISADORA TRILHA
REPORTAGEM Portugal
Alemanha
Espanha
Portugal
Alemanha
13
Intercâmbio cultural: a internacionalização do SBPJorparticipar de congressos, eventos e
suce-dâneos internacionais, tem de
investir no aprendizado da língua. Mas,
para resolver essa questão, durante
os congressos da SBPJor, um sistema
de tradução simultânea é instalado,
para aqueles que não conseguem
acompanhar as palestras proferidas
em outras línguas.
Registro histórico - Ao longo dos
11 anos de eventos organizados
pela SBPJor, diversos nomes de
relevância no campo da pesquisa
em jornalismo vieram ao
Brasil para proferir
seus resultados e
aliá-los às descobertas brasileiras
em determinadas linhas de estudos.
Já estiveram pelo país professores
como Maxwell McCombs, da
Universidade do Texas (Estados
Unidos); Miquel Rodrigo Alsina,
da Universidad Pompeu Fabra
de Barcelona (Espanha); Silvio
Waisbord, da School of Media and
Public Affairs da George Washington
University; Stuart Allan, da Media
School da Bournemouth University
(Reino Unido); e Ramón Salaverría,
da Universidade de Navarra
(Espanha).
A respeito da qualidade dos
trabalhos conterrâneos, Cláudia
acredita que os artigos brasileiros
possuem o mesmo nível dos
produzidos no exterior. O único
problema que ela enxerga diz
respeito à divulgação das produções
brasileiras. “É preciso conseguir
furar o bloqueio da divulgação no
exterior. E, para isso, precisamos,
entre outras coisas, publicar em
inglês”. Silvio Waisbord, professor
americano que esteve no 6º encontro
nacional, realizado em São Bernardo
Com a consolidação da SBPJor, a associação se tornou apta
a extrapolar as fronteiras nacionais e, a partir disso, participar
da organização de eventos internacionais, que trouxeram à tona
discussões no campo do jornalismo em suas diversas formas de
expressão. Em 2004 foi realizado, nos dias 24 e 25 de novembro em
Salvador, na Bahia, o 5º Congreso Iberoamericano de Periodismo
en Internet, operacionalizado pela Sociedad Iberoamericana de
Acadêmicos, Investigadores y Profesionales del Periodismo en
Internet, com o apoio da SBPJor. Ao longo dos dois dias do congresso,
especialistas de cerca de 20 instituições diferentes participaram
dos debates e da apresentação de trabalhos. Em 2006, de 3 a 5 de
novembro, foi a vez da associação integrar o primeiro Journalism
Brazil Conference, com o tema central Thinking Journalism across
national boundaries que, em tradução livre, significa “Pensando o
jornalismo para além das fronteiras nacionais”.
do Campo, em São Paulo, acredita
que também é necessário estimular
os estudantes desde cedo para a
pesquisa na área do jornalismo.
Para tal, é essencial que eles tenham
contato com assuntos interessantes
e motivadores. “Curiosidade e pen-
samento crítico são a chave para o
sucesso. Isso deve ser usado para
encontrar tópicos que nos permitam
entender melhor a complexidade da
realidade”, define o especialista.
Neste ano, durante a 12ª edição do
Encontro, a tradição do intercâmbio
cultural se confirma ao ter-se, na
conferência de abertura o professor
Pere Masip, da Universidade Ramon
Llull, de Barcelona, na Espanha. O
tema da palestra será Audiencias
activas y periodismo: ¿Ciudadanos
implicados o consumidores moti-
vados?. Além de Masip, Bella
Palomo Torres, da Universidade
de Málaga, na Espanha, participa
do debate sobre o papel das tecno-
logias interativas e a aplicação na
produção de conteúdo midiático e
na promoção dos valores da
democracia.
Para além das fronteiras
Portugal
Alemanha
Espanha
Portugal
Alemanha
14
Cada vez mais debatida, a
pesquisa científica jornalís-
tica será reforçada na 12ª
edição do Encontro Nacional da
Associação Brasileira de Pesqui-
sadores em Jornalismo (SBPJor).
Segundo o primeiro presidente da
entidade, Elias Machado, nestes
11 anos de evento, as pesquisas
registram significativos avanços.
Para ele, formado pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM)
em 1989 e doutor em Jornalismo
pela Universidade Autônoma de
Barcelona (2000), a vinda de
pesquisadores estrangeiros amplia
a qualidade deste congresso e
reforça seu caráter científico.
A primeira edição do encontro da
SBPJor aconteceu na Universidade
de Brasília (UnB), em novembro
de 2003, com a participação de
94 pesquisadores. De acordo com
o Machado, o congresso só foi
realizado graças ao esforço de
professores da UnB, como Luiz
Gonzaga Motta, Dione Moura, Zelia
Adghirni, Kenia Maia, Luiz Martins,
e dos demais membros do Comitê
Organizador. “Cada um fez a sua
parte para que o evento fosse um
sucesso, com uma participação
muito acima da esperada, com tão
pouco tempo de organização e
divulgação”. Agora, o ex-presidente,
com mandatos entre 2003 e 2007,
considera ter chegado o momento
de definir projetos estratégicos
para os próximos 10 anos. Confira
a entrevista que Machado concedeu
ao jornal Unicom.
Elias Machado fala sobre o
desenvolvimento dos estudos de jornalismo
no Brasil e sua trajetória a partir da
SBPJor
VANIA SOARESENTREVISTA
Entidade constrói caminho da pesquisa no jornalismo Como foi o processo para
fundar a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo e de pensar o encontro anual?
O processo representou um acúmulo de relações de traba-lho de pesquisa e entre os pesquisadores que remonta à fundação da revista Cadernos de Jornalismo e Editoração no Departamento de Jornalismo da USP, em 1982 e a criação do GT de Jornalismo da Intercom em 1993, no congresso da Intercom em Vitória. No mesmo ano lançamos a revista especializada em Jornalismo Pauta Geral, na Universidade Federal da Bahia, editada por mim, que era pesquisador visitante junto ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação e pelo então mestrando Sergio Gadini. Nestes casos contamos com a presença de colegas muito experientes (com doutorado José Marques de Melo, Nilson Lage, Sergio Mattos, Custodio da Silva) e de pesquisadores em formação (mestres ou mestrandos), Elias Machado, Victor Gentilli, Sergio Gadini, Derval Golzio, Gerson Martins, entre outros. Naquele período ainda não contávamos com a quantidade suficiente de doutores para levar adiante a proposta de fundação de uma sociedade científica, tanto que a própria Pauta Geral sofreu descontinuidade entre 1996 e 2000, quando estive afastado do país para meu doutorado na Espanha. Somente dez anos depois conseguimos aglutinar doutores e mestres suficientes para o lançamento oficial da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo. Os contatos começaram no Congresso Luso-Brasileiro de Pesquisadores em Jornalismo, na cidade do Porto, em abril de 2002, organizado pelo professor Jorge Pedro Sousa, da Universidade Fernando Pessoa. Na volta ao
Brasil, três meses depois no congresso da Compós em Recife elegemos um comitê organizador do I Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, previsto para novembro de 2003 na UnB: Alfredo Vizeu (UFPE), Elias Machado (UFBA), Victor Gentilli (Ufes), Zelia Adghirni, Luiz Gonzaga Motta (Unb), Claudia Lago (Anhembi Morumbi), Eduardo Meditsch (UFSC) e Marcia Benetti (UFRGS).
Qual o balanço do primeiro encontro da SBPJor, em 2003?
Muito positivo. Conseguimos mobilizar a comunidade de pesquisadores e sair ao final do evento com uma associação criada e com uma primeira diretoria instituída. Antes do congresso precisamos elaborar estatutos e garantir a sua aprovação na assembleia fundacional da entidade. No começo houve certa resistência das associações mais antigas da área de comunicação, em particular da Compós, porque se tinha o receio de que o nosso movimento representava um perigo de fragmentação do campo comunicacional. A Intercom teve uma participação muito importante, através do apoio do seu presidente, José Marques de Melo, que esteve entre os entusiastas da criação da SBPJor. Dez anos depois conquistamos muitos avanços. Quando da fundação identificamos 48 doutores atuando como pesquisadores. Hoje temos mais de 150 e o número de associados está na casa dos 500. Na época faltava uma identidade nacional para os pesquisadores e um espaço concreto para a produção do conhecimento. Temos muitos desafios pela frente, mas avançamos para a criação de três programas de pós-graduação: dois acadêmicos, um completo na UFSC, com mestrado e doutorado e um de mestrado na UEPG e um
profissional da UFPb. Existem quatro revistas especializadas em funcionamento: Brazilian Journalism Research, da SBPJor, Pauta Geral, agora integrada ao Programa da UEPG, Jornalismo e Mídia, do Posjor da UFSC e Âncora, do Programa de Pós da UFPb, lançada neste ano.
Qual a importância dos encontros anuais da SBPJor para a academia?
Os encontros são importantes por vários motivos. Destaco cinco: 1) O principal é que possibilita dar mais visibilidade para a comunidade de pesquisadores. 2) O segundo aspecto importante é que garante um espaço para que a produção científica da área seja avaliada pelos próprios pares. 3) O terceiro ponto relevante é que estabelece condições para que a produção de livros e papers possa circular mais institucionalmente entre os pesquisadores. 4) O quarto aspecto que julgo decisivo é que permite o reconhecimento da Associação Brasileira de Pesquisadores pelas agências de fomento como Capes e CNPq e pelas entidades congêneres da área de Comunicação e 5) Um quinto ponto é a visibilidade internacional para as pesquisas em Jornalismo, através da participação de pesquisadores de outros países como palestrantes e apresentadores de trabalhos.
Como está a pesquisa em jornalismo nos dias atuais?
A pesquisa em Jornalismo está em fase de consolidação e afirmação de identidade própria. O grande desafio é estabelecer parâmetros institucionais para a pesquisa de alto nível, com-patíveis com o melhor da produção científica em nível internacional. A criação da Brazilian Journalism Research teve este propósito desde o início. Identifico duas fragilidades que
15
Entidade constrói caminho da pesquisa no jornalismo precisamos avançar: 1) maior rigor formal e metodológico nas pesquisas, que muitas vezes deixam a desejar neste quesito, comprometendo os resultados finais dos trabalhos e 2) o desenvolvimento institucional da pesquisa aplicada.
O que mudou desde a primeira edição do SBPJor?
Muito. A principal mudança é que hoje temos uma sociedade científica afirmada e consolidada que já organizou 12 congressos nas principais universidades do país. A SBPJor é hoje reconhecida nacional e internacionalmente como uma das associações científicas que mais congrega pesquisadores em único país no mundo. Em dez anos avançamos muito. É, por um lado, motivo de satisfação e alegria. Por outro lado, é motivo para muita responsabilidade. Precisamos estar atentos para identificar nossas fragilidades e, como associação científica e comunidade, tomarmos ações no sentido de aperfeiçoar os níveis da pesquisa desenvolvida e para consolidar o Jornalismo como disciplina científica com status próprio. Como entidade, a participação da SBPJor como associada da SBPC é um passo decisivo nesta direção. O reconhecimento pela Capes e pelo CNPq aponta na mesma direção.
Desde quando existe o prêmio Adelmo Genro Filho?
O Prêmio Adelmo Genro Filho existe desde 2006, tendo sido criado no meu segundo mandato como presidente.
Por que foi criado o PAGF?Criamos o prêmio para
reconhecer os principais trabalhos de pesquisa produzidos pelos pesquisadores da área e para divulgar a produção científica da nossa comunidade científica.
Por que esta homenagem a Adelmo?
A homenagem para o professor Adelmo Genro Filho representa um reconhecimento ao trabalho original que produziu no sentido de legitimar a espe-cificidade do Jornalismo como disciplina científica. Na época foi o nome que conseguiu o maior apoio entre os pesquisadores, mas não foi um nome consensual. Houve pesquisadores que defen-deram nomes como Danton Jobim e Pompeu de Souza. Eu, particularmente, defendi o nome de Adelmo Genro Filho porque considero que, dos pesquisadores brasileiros, é o que contribuiu de forma mais original para definir a especificidade do conhecimento produzido pelo Jornalismo. Os outros tiveram uma contribuição importante seja para a institucio-nalização do ensino, seja para o resgate da história do Jorna-lismo. Mas, Adelmo Genro Filho foi além, apresentando elementos para uma definição do tipo de conhecimento produzido pela prática jornalística, sistematizando contribuições antes apenas in-tuídas por pesquisadores como Tobias Peucer, Octavio de la Suarée, Robert Park e Luiz Beltrão.
Desde a primeira edição houve preocupação e/ou inte- resse em trazer convidados pesquisadores estrangeiros?
Não. Na primeira edição o objetivo principal era fundar uma associação científica. No primeiro congresso – até porque carecíamos de recursos para este fim – não tivemos convidados estrangeiros, mas priorizamos a organização da nossa entidade. Somente a partir do segundo congresso em 2004, em Salvador, na Facom/UFBA é que passamos a contar com a participação de convidados estrangeiros como forma aumentar a internacionalização da pesquisa em Jornalismo.
Passados onze encontros, o senhor acredita que o evento está firmado no calendário da comunicação?
Não tenho a menor dúvida. O congresso da SBPJor é um dos mais importantes no país na área de comunicação. Tanto pela quantidade quanto pela qualidade dos trabalhos apresentados. É reconhecido pelas agências nacionais de fomento como Capes e CNPq e já foi organizado com o apoio das mais importantes universidades do país.
Qual a tendência do SBPJor
para os próximos anos?A tendência do congresso é
definida em termos gerais pela comunidade científica e pela ação indutora da direção da entidade. Passados dez anos, penso que está na hora da SBPJor traçar um projeto estratégico
para os próximos dez anos. Quando lançamos a entidade em 2003 tínhamos um projeto estratégico que incluía várias ações: 1) criação e consolidação da SBPJor, 2) lançamento de uma revista científica em inglês, 3) criação do Prêmio Adelmo Genro Filho, 4) realização dos congressos anuais, 5) divulgação internacional da pesquisa em Jornalismo, 5) legitimação peran-te as agências de fomento como Capes e CNPq, 6) fortalecimento da área de comunicação a partir do reconhecimento da sua diversidade, 7) criação da pós-graduação específica em Jornalismo, 8) contribuição para a melhor institucionalização da área de Comunicação com a criação da Socicom, 9) Criação de uma coleção de Livros e 10) criação de redes de pesquisa.
DIV
ULG
AÇÃO
/AC
ERVO
9º
ENPJ
Elias Machado: “A SBPJor é hoje reconhecida nacional e internacionalmente como uma das associações científicas que mais congrega pesquisadores em único país no mundo”
16