UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA
ESCOLA DE MÚSICA CURSO DE MÚSICA - LICENCIATURA
Fabio Augusto de Souza Rodrigues
MÚSICA, PIANO E CONSUMO
Orientadora: Profª Msª. Betania Maria Franklin de Melo
NATAL-RN 2010.2
FABIO AUGUSTO DE SOUZA RODRIGUES
MUSICA, PIANO E CONSUMO
Orientadora: Profª Msª. Betania Maria Franklin de Melo
NATAL-RN 2010.2
Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pelo professor Dr. Jean Joubert Freitas Mendes para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Música - Licenciatura.
Catalogação da publicação na fonte
BANCA EXAMINADORA
Rodrigues, Fábio Augusto de Souza.
Música, piano e consumo/ Fábio Augusto de Souza Rodrigues. – Natal, 2010.
41 f. Orientador: Betânia Maria Franklin de Melo.
Monografia (Licenciatura em Música). – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
1. Música de Consumo – Monografia. 2. Piano – Monografia. 3.
Educação Musical – Monografia. I. Melo, Betânia Maria Franklin de. II. Título.
RN/UF/ESCOLA DE MÚSICA CDU:786:37
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________________ Profª. Msª. Betania Maria Franklin de Melo
(Orientadora)
__________________________________________________________ Profª. Dra. Valéria Lázaro de Carvalho
(Membro)
___________________________________________________________ Prof. Dr. Leonardo Vilaça Saldanha
(Membro)
MONOGRAFIA APROVADA EM: 13/12/2010.
Aos membros de minha família, que juntos
constituem uma estrutura capaz de me fazer
seguir de forma perseverante em todos os
momentos de minha vida.
AGRADEÇO
Antes de qualquer coisa, a Deus, que se faz presente em minha vida com
tanta intensidade, enchendo-me de saúde, alegria, otimismo e coragem para
enfrentar os obstáculos que no meu caminho apareceram e os que ainda irão
aparecer, mas no final são superados e só me fazem crescer e melhorar como
pessoa.
A minha mãe e ao meu pai em especial, Fernando Soares e Maria de Fátima,
que com determinação e coragem me ensinaram até sem perceber, que temos o
poder de mudarmos nossas vidas. Obrigado por até hoje se fazerem presentes de
tal forma.
Aos meus irmãos Fernando e Fernanda, nada argumentaria o tamanho do
valor e importância de suas presenças, amo por igual e me orgulho muito de tê-los
como irmãos.
A minha namorada Najara Nascimento, pelo companheirismo, compreensão e
paciência durante esse período de pesquisa.
Aos meus amigos de coração. “A amizade é um sentimento mais nobre do
que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto
o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. (Vinícius de Moraes)
Ao professor Jean Joubert Freitas Mendes, por se fazer sempre disponível,
fazendo-me manter o estímulo em diversos momentos desde a sua chegada à
Escola de Música.
Em especial a minha professora e orientadora Betania Maria Franklin de
Melo, que me acompanha desde o início de minha trajetória como estudante de
música. Obrigado pela dedicação, companheirismo e paciência.
“Saber ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
própria produção ou a sua construção”. (FREIRE, 1996, p. 47)
RESUMO
Esta pesquisa aborda a estrutura predominante entre música e consumo, usando a experiência das apresentações de piano que acontece no shopping Midway Mall. Apresenta uma breve descrição da constituição do espaço usado e os elementos que o compõe, sempre discutindo e desvendando o processo construtivo das mais diversas possibilidades de efeitos sócio-culturais existentes. Demonstra a influência existente do capital em relação ao publico e o privado, fazendo com que se estabeleça elo desde a produção do mundo capitalista e as causas em que resulta o ato de consumi-las. Fala ainda sobre a importância de se analisar fatores que contribuem para que se desenvolva de forma mais positiva a prática consumista, transformando-a muitas vezes em benefício que se torna necessário para o crescimento do músico e usuário. A escolha do tema em pauta, que trata desvendar o processo consumista em relação à música, sugere avaliarmos, de forma responsável, a importância do papel que a música ocupa no nosso cotidiano, os principais pontos positivos e negativos, de forma com que possamos construir uma definição do que na prática significa o termo „Música de Consumo‟.
Palavras-chave: Música de Consumo. Piano. Educação Musical.
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ABSTRACT
Discusses the prevailing structure and consumption of music, using the experience of piano performances that happens in the Midway Mall shopping. Presents a brief description of the constitution of space used and the elements that compose it, always discussing and discovering the building process of several possibilities for the socio-cultural ones. Demonstrates the influence of existing capital in relation to public and private, so that link is established from the production of the capitalist world and the causes resulting in the act of consuming them. Also tells about the importance of examining factors that contribute to develop a more positive consumer practice, turning it often to the benefit that is necessary for the growth of the user and musician.The choice of the topic under discussion, which deals unravel the process of consumerism in relation to music, suggests evaluating in a responsible manner, the important role that music occupies in our daily lives, the main strengths and weaknesses, so that we can build a definition of what it means in practice the term 'music consumption'
Keywords: Music consumption. Piano. Music Education.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Fig 1 - Tema 9° Sinfonia – L.V.Beethoven .................................................. 16
Fig 2 – A banda – Chico Buarque ............................................................... 16
Fig 3 - Moonlight (Sonata ao Luar) – L. Van Beethoven ..............................19
Fig 4 - Jesus Alegria dos Homens – Johan Sebastian Bach .......................19
Fig 5 - Carinhoso – Pixinguinha ....................................................................21
Fig 6 - Hey Jude – The Beatles ...................................................................21
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 11
2 CARCTERIZAÇÃO DO ESPAÇO E ELEMENTOS CONSTITUINTES..............................................................................................
13
2.1 QUE PUBLICO OUVE....................................................................................... 13
2.2 REPERTÓRIO................................................................................................... 14
2.3 O PAPEL DA MÚSICA ERUDITA...................................................................... 15
2.4 O USO DA PARTITURA NA APRESENTAÇÃO: NECESSIDADE OU OPÇÃO?............................................................................................................
17
2.5 POSTURA, ESTÉTICA E ÉTICA....................................................................... 22
3 CONSUMO COMO FORMA DE INTERAÇÃO ................................................ 24
3.1 A MÚSICA POPULAR COMO FERRAMENTA DE MERCADO.........................................................................................................
24
3.2 O TRABALHO, A REPRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO E A INTERAÇÃO COM O PUBLICO..............................................................................................
24
3.3 O PIANO COMO INSTRUMENTO DE MUSICOTERAPIA NO SHOPPING........................................................................................................
26
3.4
3.5
3.6
4
A MÚSICA DE CONSUMO................................................................................
CONSUMO COMO OFERTA DE TRABALHO .......................................................
A PRÁTICA CONSUMISTA E O PROCESSO DE EDUCAÇÃO MUSICAL .....
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................
REFERÊNCIAS ................................................................................................
28
30
31 33 34
11
1 INTRODUÇÃO
O tema abordado foi escolhido mediante fruto de uma percepção e
desconstrução do conceito de „Música de Consumo‟, caminho que tal denominação
resultou em significativa mudança no olhar ao ponto que se poderia alcançar com
este determinado trabalho.
Neste momento, o entendimento do termo „Música de Consumo‟ deixa de
ser apenas uma denominação de estudo, para especificar a música enquanto arte
difundida no ambiente de consumo. Esta forma em que se apresenta a música, por
hora, torna-se acessível na via cultural, embora universalizada, mas extensiva a uma
parcela da população.
Esta parcela, a que referimos em nosso trabalho, se aplica à comunidade
natalense que freqüenta o shopping Midway Mall, situado na Avenida Hermes da
Fonseca, via central e histórica da cidade do Natal. Neste estabelecimento
comercial, temos atuado como pianista desde 2007, e através desta experiência,
podemos reiterar o empírico e atribuir alguns segmentos musicais.
Tais segmentos muitas vezes impostos e, com características e objetivos
pré-determinados, em total ligação ao grande mercado musical que hoje atravessa
de forma efetiva os demais meios de comunicação.
A música neste sentido passa a integrar um espaço mais detalhista no
contexto de consumo, tomando para si uma parcela de contribuição social.
A escolha do tema em pauta procura o processo consumista em relação à
música, sugere avaliarmos, de forma responsável, a importância do papel que a
música ocupa no nosso cotidiano. Os principais pontos positivos e negativos nos
possibilitam construir uma definição do que na prática significa o termo „Música de
Consumo‟. A partir desta definição, modelar tal estrutura para que cada vez mais, a
música na sua totalidade, possa atingir o verdadeiro objetivo que julgamos:
estabelecer nas pessoas um desenvolvimento social e cultural capaz de soar
positivamente no seu aspecto sócio-cognitivo e assim intervir de forma contrária em
determinados fatores que hoje abalam cada vez mais a estrutura de vivência do ser
humano. Desta forma, a música terá sempre o papel de condutor e propulsor às
12
sensibilidades e a combinação de seus elementos básicos pode melhorar o
processo de amadurecimento da apreciação musical.
13
2 CARACTERIZAÇÃO DO ESPAÇO E ELEMENTOS CONSTITUINTES
2.1 QUE PÚBLICO OUVE
Uma das explicações para o tipo de público que participa dessa modalidade
de consumo é a ligação entre o estilo de repertório usado na apresentação e a
presença dos mesmos, no geral esse público tem se mostrado com idade entre 10
(dez) e 80 (oitenta) anos e tem passagens constantes nos horários destinados a
apresentação do pianista.
O público acaba se moldando à estratégia de marketing do shopping, que
tende a transformar as apresentações de piano em um fator diretamente ligado a
qualquer tipo de situação que possa trazer respaldo ao mesmo, podemos citar: se o
shopping estiver passando pelo período das festas juninas, no repertório será
incluso músicas que se adéquam com a realidade do momento, como o Baião, por
exemplo.
O público que participa de forma mais efetiva, pede músicas ou tira dúvidas
sobre o funcionamento do instrumento. Estes tendem a consumir as músicas que
estão ligadas ao contexto que naquele momento está em evidência. Um exemplo
bem presente é o atual período natalino. Nesse período, a apresentação consta
temas natalinos que são repetidos no decorrer do repertório.
Nesta época do ano o público infantil se coloca em alta e o piano passa a
ser um parceiro essencial no desenvolvimento e cumprimento das metas do
estabelecimento. Geralmente o público tende a querer ouvir as músicas que, de
alguma forma estabelecem uma ligação presente em suas vidas. As crianças
gostam de ouvir as músicas infantis as quais têm acesso, seja através dos meios de
comunicação - TV, rádio, internet – ou, músicas que são usadas como fonte de
aprendizagem no seu processo educacional.
Os jovens se colocam totalmente ligados a música de sua fase.
A adolescência é uma fase que, entre outros fatores, acaba sendo percebida
pelo gosto musical externado. Dentre os mais variados estilos, onde aparecem o
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rock, pop, blues e etc, há grande interação entre o pianista e estes jovens
adolescentes.
Os mais idosos já têm um critério de apreciação musical mais detalhista. Os
experientes conseguem extrair de forma mais precisa o que a música pode oferecer
de melhor. Assim, a música que preferem ouvir sempre está em harmonia com
alguma situação no qual tenham passado na vida, como um momento bom, algo que
marcou. Nessa classe de público percebe-se que a música executada quase sempre
toma pra si a responsabilidade de causar o efeito das lembranças e por esse motivo
esse mesmo público acaba retornando cada vez mais de forma efetiva às
apresentações.
2.2 REPERTÓRIO
O shopping conta com a estrutura de 3 (três) pianistas que se revezam
durante o período da semana, dessa forma se consegue diversificar o repertório e
atingir o maior número de pessoas possível. Isso acabou criando entre os pianistas
uma identidade própria. Da mesma forma, o público sabe em que dia da semana
terá o pianista que apresenta o repertório específico que mais lhe agrada.
O repertório do qual fazemos uso nas apresentações carrega a
característica de ser formado quase na sua totalidade por clássicos, tendo em seu
corpo variações como: temas de novela, temas de filmes, músicas gospel, infantis e
regionais. Assim conseguimos que o público se identifique imediatamente com a
canção no momento em que passam pelo piano. De forma dinâmica, a música em
execução chama a atenção do público.
Ainda quanto ao repertório podemos destacar: Smile – Charlie Chaplin;
Imagine – Jonh Lennon; Wave – Tom Jobim; Garota de Ipanema – Vinícius de
Moraes e Tom Jobim; João e Maria – Chico Buarque de Holanda; Oceano – Djavan;
Carinhoso – Pixinguinha e Emoções – Roberto Carlos
É bem natural trabalharmos também com a adição de novas músicas no
repertório, pois com o tempo de nossa experiência se desenvolveu o costume de
ouvir a indicação do público, dando alguma opção de música que gostariam de
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ouvir. Isso se deu totalmente pelo fato de ao longo do tempo de trabalho a distância
entre o público e o pianista se tornar cada vez menor, gerando assim certa
intimidade capaz de conceder a liberdade de escolha e inserção.
Percebe-se que ao longo do tempo de duração das apresentações o estilo
de música que mais o público se identifica é o estilo popular.
(1) Normativa que é a música popular como música de qualidade inferior; (2) Negativa que é a música popular como música que não pode ser classificada em qualquer outro gênero; (3) Sociológica que é a música popular associada a um estrato específico da sociedade e (4) Tecnológico-econômica que é a música popular disseminada pela mídia
de massa e pelo mercado.(BIRRER, 1985, p. 104)
Middleton (1990) por outro lado vem quebrar com essa idéia e afirmar que
“nenhuma das situações citadas são cabíveis, se estiverem sendo vistas por apenas
um ponto” (MIDDLETON, 1990, p.1).
2.3 O PAPEL DA MÚSICA ERUDITA
O conceito de música erudita ainda trafega por diversas vias, muitas vezes
denominada musica admitida nas academias, música séria, música de estrutura
esteticamente distinta. Diante de tantos conceitos admitimos a idéia de originalidade
vinda das formas ocidentais.
A música erudita, tem seu termo “erudito” vindo do latim „eruditus‟, significando „educado‟ ou „instruído‟. A música elaborada neste estilo desenvolveu-se segundo os moldes da música secular e da liturgia ocidental, em uma escala temporal ampla que vai do século IX até os nossos dias. Suas regras essenciais foram estruturadas entre 1550 e 1900. Esta música engloba várias modalidades, desde as complexas fugas até as operetas, criadas para entreter os ouvintes [...]. A expressão “música clássica” passou a ser usada a partir de princípios do século XIX, quando houve a intenção de se transformar a era que inicia com Bach e vai até Beethoven, em um período de ouro. Atualmente este rótulo é aplicado tanto à música clássica, no sentido de produção de alto nível, quanto à erudita no todo. Não é fácil delimitar suas bases, que só começam a serem delineadas após a intervenção de Reicha, em 1826, e de Czerny, em 1848 (SANTANA, 2009, p.1).
Esse estilo também aparece na preferência do público, só que em uma
porcentagem bem menor em relação à Popular. Pelo que percebemos a música
16
erudita ainda se mantém menos acessível as classes sociais e consequentemente
se torna pouco absorvida por carregar muitas vezes uma denominação de maior
complexidade em sua estrutura. Idéia que acaba em alguns momentos entrando em
uma certa contradição, as vezes a música popular carrega em si um grande grau de
complexidade, enquanto muitas música eruditas podem ser apreciadas e
executadas facilmente por sua estrutura simples.
A seguir será apresentado um trecho de uma música erudita com
possibilidade de fácil execução.
Tema 9° Sinfonia – L.V.Beethoven Fig.1
A seguir será apresentado um exemplo um trecho de uma música popular
com um nível bem complexo para sua execução.
A Banda – Chico Buarque Fig.2
17
Dessa forma exemplificamos e mostramos de fato que a música popular se
coloca como mais preferida em relação a música erudita mais pela questão cultural
do que pela questão estrutural de sua forma.
O que acontece no shopping em relação ao repertório, a escolha do mesmo,
o gosto de cada pessoa, é facilmente explicado por esse tema abordado no
parágrafo anterior, independente de idade, estilos de música ou período do ano, a
música popular sempre se coloca com uma porcentagem bem mais expressiva em
relação a música erudita.
2.4 O USO DA PARTITURA NA APRESENTAÇÃO: NECESSIDADE OU OPÇÃO?
A partitura é um tipo de ferramenta musical e representa de forma escrita a
música, como todo sistema de escrita dispõe de seus próprios simbolos.
No meio musical moderno, onde se encontra com enorme facilidade meios
capazes de fazer com que o estudante de música dê, de forma rápida e prática, sua
iniciação no campo musical, o que acontece é que automaticamente a cultura do uso
da partitura torna-se cada vez mais uma ferramenta opcional. A internet, por
exemplo, oferece inúmeras possibilidades de se excluir do processo educacional
uma peça chave como a partitura. Anúncios na rede mundial de computadores como
“aprenda a tocar de ouvido” já tomam conta de uma expressiva camada dentro do
processo de aprendizagem nesse meio.
Existem questionamentos sobre a discussão do uso da partitura, caso seja
necessária ou não, acreditamos que sim.
O que deve ser colocado em evidência é a existência também de formas
alternativas a serem usadas em todo o processo de formação do músico, para que o
mesmo futuramente possa ter adquirido bagagem necessária para se firmar em
situações diversas.
Aderir apenas ao sistema da partitura poderá trazer efeitos opostos, por um
lado o músico estará executando uma música de forma extremamente correta, com
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todos os detalhes que só a escrita musical pode oferecer, pois nela é instituído ritmo,
notas, duração e dinâmicas. Por outro lado, o músico pode em algum momento se
encontrar com alguma situação em que o mesmo não precise ler, mas tenha que
escutar algum tipo de música e posteriormente reproduzi-la, ou da mesma forma, ou
modificando-a apartir de sua originalidade.
É inevitável afirmar que o processo de educação musical que conta apenas
com o método de leitura de partitura acabará por causar uma dependência por parte
do músico, pois o mesmo só estará apto a se apresentar se tiver de posse desta
ferramenta, e nos dias de hoje em que a música cada vez mais se torna objeto da
diversidade, o músico tem por necessidade de se adequar a este meio para sua
própria sobrevivência nele.
Não invalidando a capacidade musical, mas na questão de superar as
exigencias de mercado e de sobreviver em um contexto musical moderno, se for
adébito ao uso restrito da partitura, como abordamos a realidade de um shopping
center, onde os pedidos de música não param e os gostos musicais se dividem em
enormes quantidades, aderir a apenas uma opção acaba por não ser a o melhor
caminho.
A opinião do público quanto a isto se divide. Ora quer ver o músico fazendo
uso da partitura, ou não. Os músicos com aprendizagem formal ou acadêmica vêm
com a instituição cultural guardada de que o pianista está totalmente ligado a leitura
musical, e por um lado estão certos sim, mas, também é verdade que se é
totalmente possível fazer uma boa execução no piano usando os moldes populares.
Por outro lado o público também que ver o pianista usando e abusando da
criatividade, com o repertório pronto a ser apresentado, e essa execução de forma
mais livre tende sempre a chamar muito a atenção público, pois vêem essa
capacidade do músico como habilidade única e exclusiva de quem prática a música
e associam esta prática à genialidade.
A partitura é indispensável nas execuções de músicas eruditas, pois nelas
estão contidas todo o conteúdo fiel do compositor de sua autoria.
Ao referirmos aos pedidos dos ouvinte lembramos que as musicas mais
pedidas entre o público que frequenta as apresentações são:
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Moonlight (Sonata ao Luar) – L. Van Beethoven Fig.3
Jesus Alegria dos Homens – Johan Sebastian Bach Fig.4
O método de livre execução, com a ausência de partitura e incrementação
da composição em execução, tende cada vez mais a ocupar um expressivo espaço
dentro das apresentações musicais.
É com essa forma de execução que os músicos tomam a liberdade de
experimentar novos conceitos, idéias, além de levar ao aprimoramento da
percepção, dependência ritmica, improvisação e rearmonização. Já se é posível
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encontrar facilmente músicos que trocam estilos de determinadas canções, ou seja,
experimentam uma música em diversas formas distintas, com isso a música ganha
em termo de possibilidades e leva ao músico a oportunidade de demosntrar
habilidades.
Relacionando este método de execução, com o piano, acabamos
entendendo que situação como essa não é vista de forma original em relação ao
instrumento pela classe conservadora, pois, como citamos acima, o piano ainda está
totalmente ligado a forma erudita.
Existem situações que se é extremamente necessário tal desenvoltura,
podemos citar como exemplo as apresentações de grupos populares como:
emboladores de côco; quem tem a parte ritmica totalmente independente de leitura,
repentistas; que tem como chave principal a improvisação e os grupos de musica
instrumental; que apenas lêem o tema da música em execução e improvisam sua
maior parte.
Executar uma música, de forma livre, para o público é sinônimo de
fomentação de perguntas, geração de duvidas e de participação como Educador
Musical por parte do músico.
Nas apresentações no Midway o papel do pianista muitas vezes ultrapassa a
idéia central da presença do músico naquele ambiente, nota-se que se é possível ir
além disso, em algumas situações o ato de se apresentar de forma mais informal
traz ao pianista o papel de agente expansivo, pois aquele público, na maioria das
vezes jovens, que também se inserem nas área musical, acabam por querer adquirir
o metódo usado pelo músico, isso resulta na geração de aulas particulares,
propostas de ensino à escolas de música, questionamento sobre o método e
consequentemente a expansão desta prática.
No repertório é possível exemplificar músicas que tem a preferência do
público e que são executadas de forma livre.
21
Carinhoso – Pixinguinha Fig.5
Hey Jude – The Beatles Fig.6
22
2.5 POSTURA, ESTÉTICA E ÉTICA
Abordar postura, estética e ética, no âmbito musical, significa firmar
compromisso com a continuidade de manter a parte visual de uma apresentação,
sempre com qualidade.
Se apresentar para um público conservador e liberal ao mesmo tempo, como
o do Midway, significa adotar regras necessárias ao bom funcionamento da
apresentação, e nestas regras estão contidas indispensavelmente o modo de falar,
vestir, abordar, interagir e recepcionar os usuários. O conjunto composto pela
habilidade musical, performance e estética é um fator essencial para caracterizar, de
forma precisa, o espaço pretendido.
É fato que todos esses ítens juntos completam o estado ideal da pessoa que
se apresenta, fazendo com que ela obtenha êxito em toda e qualquer situação que
seja necessário usar de tais artíficios.
Em nossa apresentação é obrigatório o uso do terno, com finalidade de
expressar idéia de grandiosidade do evento, e também por se entender que vestes
casuais não combinam, em termo de apresentação, com a perspectiva histórica do
piano. Essa ação de se vestir adequadamente enquadra o músico em um elevado
contexto social, eleva a estrutura de marketing do shopping e o insere nos moldes
capitalista, que oportuniza muitas vezes o ser humano pelo o que ele veste.
É necessário também sempre saber manter o melhor diálogo com o público.
O público gosta de receber atenção por parte do músico, gosta de ser atendido
adequadamente, de forma compatível ao seu papel diante do estabelecimento, que
é o de consumidor.
Em algumas situações não é possível atender totalmente aos anseios dos
usuários, como um pedido de uma música que não está no repertório por exemplo,
neste momento é necessário usar uma linguagem mais interativa com o público a
ponto que o mesmo entenda que o seu pedido é importante, e que será concedido
em uma próxima oportunidade, dessa forma o usuário tende a retornar ao piano, e o
pianista exerce seu papel de bom receptor.
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A postura do músico diante de um instrumento como o piano é assunto
inserido em seus estudos desde seu período de musicalização, a postura eleva a
estética do ambiente, e faz do músico agente transmissor, além de concretizar a
ética e demonstrar o comprometimento do pianista diante de seu instrumento.
24
3 CONSUMO COMO FORMA DE INTERAÇÃO
3.1 A MÚSICA POPULAR COMO FERRAMENTA DE MERCADO
A música sempre foi produto de mercado. Erudito e popular, apenas
mercados diferentes. Os trabalhadores vinculados aos negócios relacionados à
música tentam cada vez mais descobrir e manter novas músicas que acabam por ter
um grande respaldo pelo público que a consome, e com isso expandir cada vez mais
o poder de movimentar de forma grandiosa o mercado que a assiste.
Por esse lado, a música popular se torna diferente de outros segmentos
como por exemplo a música erudita tinha em si mesma e na sua escrita finalidades
religiosoas, politicas e sociais. Para a igreja ou para nobreza, era gerenciada pelos
governos e universidades.
Mesmo a música popular sendo alvo direto de grandes negócios, nem
sempre os jovens que iniciam suas atividades no meio artístico e que aderem ao
movimento popular, o fazem meramente por dinheiro. Na maior parte, eles
encontram na música uma forma de desenvolver sua capacidade musical, e assim
expressar várias formas de criatividade.
Podemos dizer que se analisarmos esse contexto histórico, em geral
perceberemos que na maioria das vezes os conflitos entre os músicos e os
executivos acabam desestabilizando a indústria da música popular.
3.2 O TRABALHO, A REPRESENTAÇÃO DO INSTRUMENTO E A INTERAÇÃO
COM O PÚBLICO
As apresentações de piano no Midway Mall acontecem desde à sua
inauguração há 5 (cinco) anos. O nosso trabalho já acontece a 3 (três) anos, 3 (três)
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vezes por semana, segundas, terças e sextas-feira e sempre no horário das 17:00
às 19:00h.
Disponibilizar um piano ao público de um shopping como o Midway Mall
significa, na teoria, é estimular o interesse dos usuários pela música e assim
ascender e contribuir para o cenário cultural local, já, na prática, o piano apenas
significa mais uma opção de lazer.
Durante o tempo em que o trabalho vem sendo desenvolvido foi inevitável
estabelecer alguns laços com o público, laços esses que decorrem ou da admirição
pelo piano, no sentido de gostar do instrumento ou por não conhece-lo e o mesmo
acabar chamando atenção. Ou pelo fato da representação do pianista naquele
momento da apresentação para determinadas pessoas. gerar simpatias.
O piano nasceu na Itália e teve sua primeira fabricação por volta de 1700
pelo construtor italiano Bartolomeu Cristofori (SICA, 2010, p. 3).
Podemos dizer que o piano foi um instrumento criado originalmente com
uma ligação direta com a nobreza, e com a expansão do capitalismo e
consequentemente o surgimento da classe média o piano começou a ser fabricado
em tamanhos menores, com a finalidade de serem consumidos em ambientes mais
compactos. Isso nos mostra que a idéia plantada inicialmente no século XVIII, onde
encontrar o piano relacionado sempre as camadas sociais mais altas era tido como
“natural”, e também por não ser um instrumento simples de se ver em qualquer
lugar, seja pelo seu tamanho ou por se necessitar de um poder financeiro maior para
se poder adquirilo, se perpetuou até os dias de hoje fazendo com que o usuário que
hoje entra em um shopping como o Midway, muitas vezes se sinta conflitado em
enxergar uma certa complexidade ao ver um instrumento como esse pela primeira
vez, devido a sua envergadura.
Um outro aspecto que podemos externar é a via da representação do
pianista para cada pessoa. Observamos que muitas pessoas do público ao parar
para apreciar a apresentação acabam descarregando seus medos, anseios,
vontades, frustrações, e usam o pianista como meio condutor para dividir estes
sentimentos.
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Certa vez um jovem nos abordou e perguntou se conhecíamos determinada
música, na sequência ele explicou que o objetivo daquela canção pedida era
contextualizar o momento do noivado que o mesmo formalizou ao lado do piano
como decisão oportuna. Como não conhecíamos a canção ele fez questão de trazer
a partitura da mesma para que nós pudéssemos executar enquanto o noivado era
dado sequência, ou seja, numa situação dessa em que normalmente na nossa
cultura é um momento que deveria ser compartilhado com familiares ou amigos mais
próximos, o público toma a liberdade de dividí-lo com o pianista, fazendo dele uma
representação bem próxima de suas verdadeiras origens e criando total interação
para situações futuras.
3.3 O PIANO COMO INSTRUMENTO DE MUSICOTERAPIA NO SHOPPING.
A musicoterapia tem por objetivo fazer criar possibilidades com intenção de
desenvolvimento do ser humano, tendo como proposta final estabelecer uma melhor
qualidade de vida através dos resultados obtidos.
Segundo a Federação Mundial de Musicoterapia (1996):
A musicoterapia significa a utilização da música e/ou seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia) por um musicoterapeuta qualificado, com um cliente ou grupo, num processo para facilitar, e promover a comunicação, relação, aprendizagem, mobilização, expressão, organização e outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas. A musicoterapia objetiva desenvolver potenciais e/ou restabelecer funções do indivíduo para que ele/ela possa alcançar uma melhor integração intra e/ou interpessoal e, conseqüentemente, uma melhor qualidade de vida, pela prevenção, reabilitação ou tratamento (FEDERAÇÃO MUNDIAL DE MUSICOTERAPIA, 1996)
A revisão sistemática publicada pela Biblioteca Cochrane, organização
mundial dedicada ao estudo da eficácia de intervenções terapêuticas, revelou que o
tratamento através da musica pode reduzir os sintomas da depressão.
Pesquisadores analisaram cinco estudos que avaliaram o uso da música no
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tratamento de pessoas deprimidas, dos quais quatro mostraram que o método foi
mais eficaz que outras técnicas psicoterápicas que não usam recursos musicais.
Nesta área, os estudos nos quais são resultantes as evidências usadas
como argumento, ainda são vistos como estudos de pequeno porte, diante de tais
fatos sugere-se que a musicoterapia seja uma área em que receba um olhar mais
abrangente.
O interesse pela música como recurso terapêutico não é novo, mas tem crescido nos últimos anos devido a inúmeras experiências que mostram a influência benéfica da combinação de ritmos, melodias e harmonias em uma série de transtornos psíquicos. Alguns bons exemplos estão no livro mais recente do neurologista britânico Oliver Sacks, Alucinações musicais, publicado no Brasil pela Companhia das Letras (MARATOS, 2008, p. 1).
Diante destas informações percebe-se que a interação que acontece entre o
pianista e o público muitas vezes leva a situações de natureza semelhante à citada
parágrafo acima. Nessa situação, consideramos o trabalho que fazemos quase
sempre resultado de positividades das mais diversas sensações, e é extremamente
notório que as pessoas que necessitam dessa atividade para produção de bem estar
próprio, ouçam o piano e debrucem seus anseios ao lado de muitos ao seu redor.
Quer seja vítima de uma depressão, ou um idoso que se sente bem ao ouvir
o piano, um portador de Síndrome de Down que ficaria feliz em experimentar as
teclas do instrumento, um pedido de uma canção que pode vir a causar uma boa
lembrança e conseqüentemente um bem estar e outros diversos motivos, fazem com
que as pessoas tendam a se sentir livres para buscar a solução de seus problemas
usando o piano e o pianista como instrumento para tal finalidade.
Seguindo essa linha de pensamento, destaco uma situação em que passei
no shopping, ao ouvir uma profissional da área de Terapia Ocupacional. A mesma
nos explicou que estava em trabalho com uma senhora paciente, que também era
pianista, e que havia entrado em depressão decorrente de problemas familiares e
que resultou em um total afastamento dela em relação ao piano que ela tem em
casa. Na ocasião foi nos explicado que a enferma já não conseguia chegar perto de
seu piano e também não permitia que qualquer outra pessoa o fizesse, assim fomos
convidados a fazer parte das sessões terapeuticas que naquele momento ocorriam
semanalmente na casa da paciente. A nossa ida até às sessões acabaram
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resultando primeiramente em permitir que nós pudéssemos sentar e tocar no piano
dela e conseguinte a mesma se reaproximaria de seu instrumento.
Nesta situação notamos a grande importância do papel que o pianista
representou diante da situação. Para a paciente o mesmo foi visto como forma
representativa de uma saída para seu problema, e de mera forma de lazer, a música
passou a ser consumida e se aplicou de forma essencial para a solução do
problema, como cura.
Percebemos que a interação acontece sempre da mesma forma, as pessoas
abordam, conhecem o nosso trabalho, indicam novas músicas, dividem problemas,
tiram dúvidas, aprendem, ensinam, deixam de ser um simples público e se tornam
figuras essenciais para o funcionamento da idéia inicial proposta pelo
estabelecimento no momento em que oferece a apresentação de piano, que é fazer
com que o usuário cada vez mais encurte a mínima distância que ainda existe entre
a sociedade e a prática consumista.
A interação do público para com o trabalho que se oferece vem da
necessidade de fazer parte, de alguma forma, do produto oferecido. Dessa forma se
colocam como ouvintes de piano e assim mantêm um padrão que foi pré-
estabelecido culturalmente desde a originalidade e perspectivas do instrumento, ou
que seja na copia da postura, da roupa, da forma de execução do pianista e se
caracterizam assim tais influencias até conseguirem estabelecer o padrão capaz de
colocarem como entendedores de tal arte.
3.4 A MÚSICA DE CONSUMO
Nos dias de hoje, o mercado fonográfico é sem dúvida um dos negócios
mais lucrativos que está inserido dentro da economia do país, a televisão, o rádio, a
internet se colocam como meios divulgadores dessa prática, é possível no dia a dia,
já encontrarmos cds, dvds ou qualquer ferramenta desta natureza em shooopings,
supermercados, bancas de revista e até camelôs, que neste caso mesmo sendo de
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forma “genérica”, de alguma forma direta ou indireta acabam gerando uma grande
lucratividade aos empresários da indústria musical.
Na modernidade em que vivemos, onde se insere cada vez mais novas
tecnologias de mídia e consequentemente a comercialização e o consumo
desenfreado desta prática, gera-se um problema que preocupa a parte dos artistas
que lutam pelo ideal de fazer a música com objetivo verdadeiro, responsável, atinge
diretamente aquele grupo de pessoas que optam por estudar arte, música, e cria
uma proposta duvidosa de “arte” de consumo, comparando-se as pessoas que não
cuidam de sua alimentação e aderem em massa aos enlatados, por exempo.
Consumir se tornou moda, adquirir algo deixou de ser uma prática de quem
necessita realmente de tal produto e se estabelece numa realidade de quem precisa
consumir como forma de se fazer inserido no meio da classe consumista. No meio
musical não é diferente, para se estar contido em determinados grupos, conceitos e
costumes, é necessário se fazer corpo integrante desses meios, como a música na
nossa sociedade faz parte integralmente de qualquer movimento do cotidiano do ser
humano, torna-se necessário então consumir a música “ideal” a determinados
segmentos como forma de se colocarem sempre presentes a atuantes do mesmo
meio.
A indústria percebe essa necessidade e por sua vez cria em massa uma
enorme possibilidade de escolha aos usuários. Uma forma de enxergamos
nitidamente esta prática é analisando a explosão de novos estilos musicais que
aparecem no momento, todos com o mesmo objetivo de cada vez mais solidificar
novos grupos sociais e com isso manter em alta o consumo do segmento musical.
No trabalho que proporcionamos no shopping, o sentido que torna a música
presente é o mesmo que propulsiona a industria fonográfica, oferecer uma música
capaz de prender um certo público com o único foco de fazê-lo retornar sempre, e
assim renovar sempre a criação de possibilidades de consumo. A idéia do shopping
é fazer com que a classe musical também se insira no contexto e padrão consumista
de seus produtos, e nada melhor que a apresentação de um instrumento como o
piano, que por sua história e por ser um instrumento difícil de se visualizar em
ambientes como este, torna eficaz tal idéia.
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Por outro lado, nem sempre o efeito que se causa é apenas o pretendido.
Através da oportunidade de visualização de uma apresentação musical deste porte,
se é gerada grandes possibilidades de negócios, agora já não voltada somente para
o público, e sim também para o músico, fazendo do mesmo um personagem
totalmente atuante e necessário nesse processo capitalista, e beneficiando-o cada
vez mais na sua inserção no mercado de trabalho.
3.5 CONSUMO COMO OFERTA DE TRABALHO
Nesta modalidade o músico também passa a ganhar no fim da transação, o
lucro. O usuário necessita dos serviços musicais a serem usados em situações
particulares diversas e o músico recebe pagamento adequado para cada uma
dessas situações.
Quando isso acontece se desvia a idéia inicial, o shopping deixa de ser o
agente que oferece o serviço de música e passa a ser o meio que serve como vitrine
para o músico em questão. Trabalhar com esse tipo de oportunidade gera
crescimento para o músico e possibilita a ascenção de sua imagem, perante um
público diverso, e pode-se muitas vezes beneficiar terceiros.
Durante esse tempo em que o trabalho é execultado, foi possível conhecer
um senhor que nos convidou a fazer uma apresentação no seu Lar especializado em
cuidar de idosos. Neste lar se encontra a tia deste senhor, e a mesma tem formação
de pianista, ele explicou que seria de muita valia a apresentação naquele ambiente
com o objetivo de trazer uma espécie de sensação de paz àquelas pessoas.
Aceitamos a proposta imediatamente por acreditarmos ser aquela uma grande
oportunidade de estarmos cumprindo um importante papel diante daquelas pessoas.
O Lar Geriatrico em que fomos, se encontra na rua Joaquim Araújo Filho, n°
1413, ao lado da avenida Jaguarari, nesta cidade, e conta com uma equipe de
profissionais da área de saúde e 1 (um) profissional da área de administração, um
grupo de 15 (quinze) idosos residem no Lar. No ambiente também encontra-se um
piano que voltou a ser usado depois de nossas idas até o local. As apresentações
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no local se dão mensalmente, 1 (uma) vez a cada mês. Naquela ocasião se instituiu
um vínculo entre o músico e o consumidor, firmando-se uma parceria que já dura
mais de 1 (um) ano. Esse tipo de oportunidade vem afirmar que se é possível
envolver e relacionar o consumismo com positividade, e acontecimentos como esse
só são possíveis pelo fato da imagem do músico ter estado associado a um meio
capaz de gerar grande visibilidade.
Existe também a possibilidade em que o shopping que oferece o serviço de
música passa a consumir material trazido pelo músico, decorrente de oferta gerada
pelo próprio shopping, neste caso o produto do meio gera resultados que passam a
ser produtos consumidos indiretamente pelo ambiente do trabalho.
Um exemplo dessa modalidade foi a nossa ida com finalidade de
apresentação na Escola Doméstica de Natal, situada na avenida Hermes da
Fonseca. Na ocasião a participação do pianista se deu em parceria com o coral das
ex-alunas da instituição, e a música trabalhada na apresentação foi o hino da
Escola. Este hino, de estilo valsa, foi inserido no repertório nas apresentações no
shopping, a aceitação foi imediata e pudemos constatar a importância que a
inserção daquela música trouxe para as apresentações, e significou um crescimento
bem expressivo para a imagem do estabelecimento, tornando-se uma canção
sempre lembrada e pedida pelo público daquele momento em diante.
Entendemos que o ato de consumir no segmento musical, e em especial na
situação que estamos abordando, torna-se uma ferramenta capaz de beneficiar ao
mesmo tempo lados opostos, de modo que se tenha sempre a continuidade do
processo consumista inserido no contexto socio-cultural dos usuários.
3.6 A PRÁTICA CONSUMISTA E O PROCESSO DE EDUCAÇÃO MUSICAL
Entender na prática a ligação que se faz presente entre consumo e
educação, é desvendar no interior desse processo uma forma de transformar um
sintoma excessivo em algo benéfico a quem o consome.
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Consumir desenfreadamente pode vir a causar danos futuros, fazendo com
que a pessoas que aderem a esta forma sejam tomadas por uma espécie de
dependência, e que as leve a proporções cada vez maiores. Por isso quando
tratamos de educação musical, o assunto não se coloca tão diferente, a vontade de
consumir a música que se gosta por exemplo, demonstra o anseio do usuário que já
se encontra atravessado pela imposição dos grandes meios de distribuição dessa
música de consumo, e indiretamente faz do músico agente atuante direto à essa
realidade.
Nas apresentações de piano o ato de educar e passar esse conhecimento
ao público tem sido constante. É preciso fazer com que o usuário entenda o porque
e a exatidão do que se está pedindo, entender o porque de se gostar de
determinada música, determinado estilo, e o músico toma para si o papel de não só
proporcionar esse conhecimento, e sim também fazer com que o agente que recebe
esse conhecimento tenha capacidade de construir ou produzir o seu próprio.
Preocupar-se com questões desta natureza faz parte do compromisso
musical que se assume a partir do momento em que o músico permite tornar-se
público.
A experiêcia das apresentações no Midway Mall vem nos mostrar que,
educar através da música se faz presente também fora do contexto da sala de aula,
e que é perfeitamente possível obter êxito nesse modo de ensino.
O educador se coloca mais próximo do aluno, já que naquele ambiente o
conceito de aprendizagem foge totalmente do método padrão, onde culturalmente
está voltado à sala de aula e métodos tradicionais. Assim se rompe muitas vezes a
barreira existente entre docente e discente, fazendo com que o aluno consiga de
forma mais eficaz chegar ao professor, e fazer com os resultados sejam, assim
como nos métodos tradicionais, também de forma positiva.
Dessa forma, a educação se faz presente a todo instante nas
apresentações, seja por meio dúvidas que são tiradas, músicas ensinadas,
conceitos repassados, e informações obtidas também pelo pianista, que de
educador também se torna educando.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do estudo realizado sobre a relação entre música e consumo - no
ambiente do Midway Mall onde o piano está localizado - pudemos constatar que as
possibilidades de resultados decorrente dessa relação pode se dá de inúmeras
formas. O intuito de relatar a forma como se dá o processo de origem desse
fenômeno consumista, nos mostrou que a imposição que a mídia exerce em relação
ao consumidor se dá de maneira eficiente, fato que vem comprovar através desde
trabalho que inserir música em um contexto capitalista poderá resultar em
positividade.
Ao longo do referido construto observamos a positividade em alguns
resultados aqui relatados. Quando se une o interesse capital com a responsabilidade
do social, ganha o estabelecimento, o músico e o consumidor, e mostra que é
possível redefinir esse conceito impar e capitalista do termo “consumo”.
O tipo de público, repertório, postura, estética e ética são fatores que faz um
trabalho como este tomar proporção diante de quem o aprecia. Saber se vestir, falar
e desenvolver capacidade de interação constitui um grupo de elementos essencial
para o seu bom funcionamento.
Discutir questões como a necessidade do uso da partitura abre no âmbito da
Educação Musical uma nova forma de se trabalhar o conteúdo que remete a
execução da composição. A partir da experiência que se adquiriu durante o período
em que o trabalho vem se firmando dentro do estabelecimento é divulgada de forma
contínua uma nova proposta no modo de transmissão dessas composições até o
público. Agora, o mesmo passa a perceber que existem novas possibilidades de
apreciação a mesma música, e que é possível desenvolver novas linguagens sem
ter que estar ligado diretamente a uma única via.
Enfim, possibilita ao leitor entender o processo de consumo desde o seu
princípio, entendendo os resultados das experiências e novos conceitos de interação
como fator positivo, e ensina a absorver de forma consciente os produtos musicais,
que no nosso cotidiano, de forma fácil e veloz, é nos oferecido com base nas
investigações percebidas e resultados alcançados.
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