7/21/2019 f30 Arthur Azevedo, A Capital Federal
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Arthur Azevedo
A CAPITAL FEDERAL
Personagens e Seus Criadores
Lola - Pepa RuizD. Fortunata - Clélia
envinda - !l"#pia A#oedo$uinota - Este%&nia Louro
'u(uinha - Adelaide La)erda*er)edes - *aria *azza
Dolores - *arieta Alivertilan)hette - *adalena +allet,# Literato - *aria ranada
,#a Senhora - *aria ranada,#a /spede do rande otel da Capital Federal - !l"via
Eusé0io - rand1oFigueiredo - Col2s
ouveia - . *a)hadoLouren3o - LeonardoDu(uinha - 4e%erino
Rodrigues - PortugalPinheiro - Portugal
,# Propriet2rio - Pinto,# Fre(5entador do el/dro#o - Pinto
!utro Literato - Lopes! erente do rande otel da Capital Federal - Lopes
S6il +ous Pla7t8 a#ador de 0i)i)leta - Louro*ota - Azevedo
Le#os - Azevedo,# Convidado - !liveira
uedes - !liveira,# Ingl9s - Peppo
,# Fazendeiro - *ontani! Chasseur - :.:.
Hóspedes e criados do Grande Hotel da Capital Federal, vítimas de uma agência de alugar casa,amadores de bicicleta, convidados, pessoas do povo, soldados etc.
AT! I
$uadro I
(Suntuoso vestíbulo do Grande Hotel da Capital Federal. scadaria ao !undo. "o levantar o pano, acena est# cheia de hóspedes de ambos os se$os, com malas nas m%os, e criados e criadas &ue v%oe vêm. ' gerente do hotel anda da&ui para ali na sua !aina.
) Cena I ;
' Gerente , um *nglês , uma Senhora , um Fa+endeiro e um Hóspede
Coro e Coplas
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's Hóspedes
De esperar esta#os %artos:/s (uere#os des)ansar<Se# de#ora aos nossos (uartosFaz %avor de nos #andar<
's Criados
De esperar esta#os %artos<Pre)isa#os des)ansar<,# hotel )o# tantos (uartos! topete %az suar<
m Hóspede — Um banho quero!
m *nglês — Aoh! Mim quer come!
ma Senhora — Um quarto espero!
m Fa+endeiro — Eu estou com fome!
! erente
,# pou)o)hinho de pa)i9n)ia<Servidos todos v1o ser8 en%i#<Eu (uando %alo8 %ala a ger9n)ia<Fie#-se e# #i#<
Coro
Pois pa)i9n)ia8,#a vez (ue assi# (uer a ger9n)ia<
Coplas
' Gerente
; I ;
Este hotel est2 na 0erra<Coisa é #uito natural<'a#ais houve nesta terra,# hotel assi# #ais tal<toda a gente8 #eus senhores8Toda a gente8 ao v9-lo8 diz=$ue os n1o h2 superiores:a )idade de Paris<$ue 0elo hotel e>)ep)ional
! rande otel da Capital Federal<
Coro
$ue 0elo hotel e>)ep)ional8 et)...
' Gerente
; II ;
:esta )asa n1o é raroProtestar algu# %regu9s=A)ha 0o#8 #as a)ha )aro
$uando )hega o %i# do #9s.Por ser 0o# pre)isa#ente8Se o %regu9s é do 0o#-to#
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+ai dizendo a toda a gente$ue isto é )aro #as é 0o#.$ue 0elo hotel e>)ep)ional<! rande otel da Capital Federal<
Coro
$ue 0elo hotel e>)ep)ional8 et)...
' Gerente (Aos criados.) — Vamos! Vamos! Aviem-se! Tomem as malas e encaminhem estes senhores!Mexam-se! Mexam-se!... (Vozeria. Os hóspedes pedem quartos, banhos, etc... Os criados respondem.Tomam as malas, saem todos, uns pela escadaria, outros pela direita.)
; Cena II ;
' Gerente, depois Figueiredo
' Gerente (Só.) — o h" mos a me#ir! $u#era! %e nunca houve no &io #e 'aneiro um (otel assim!
%ervi)o el*trico #e primeira or#em! +oinha espln#i#a, msica #e c/mara #urante as refei)0es #a mesa-re#on#a! Um rel12io pneum"tico em ca#a aposento! 3anhos frios e quentes, #uchas, sala #e nata)o,2in"stica e massa2em! 4ran#e salo com um plaond pinta#o pelos nossos primeiros artistas! Enfim, umaver#a#eira novi#a#e! — Antes #e nos estabelecermos aqui, era uma ver2onha! (avia hot*is em %. $aulosuperiores aos melhores #o &io #e 'aneiro! Mas em boa hora foi or2ania#a a +ompanhia #o 4ran#e (otel #a+apital 5e#eral, que #otou esta ci#a#e com um melhoramento to reclama#o! E o caso * que a empresa est"#an#o 1timos #ivi#en#os e as a)0es an#am por empenhos! 6!i"ueiredo aparece no topo da escada e come#aa descer .7 Ali vem o 5i2ueire#o. Aquele * o ver#a#eiro tipo #o carioca8 nunca est" satisfeito. Aposto que vemfaer al2uma reclama)o.
; Cena III ;
' Gerente, Figueiredo
Figueiredo — 9 seu :opes, olhe que, se isto continuar assim, eu mu#o-me!
' Gerente 6 $ parte.7 — ;ue #iia eu<
Figueiredo — Esta vi#a #e hotel * intoler"vel! Eu tinha recomen#a#o ao cria#o que me levasse o caf* aoquarto =s sete horas, e ho>e...
' Gerente — ? meliante lhe apareceu um pouco mais tar#e.
Figueiredo — $elo contr"rio. 5altavam #e minutos para as sete... Voc compreen#e que isto no tem lu2ar.
' Gerente — $ois sim, mas...
Figueiredo — $er#o@ eu pe#i o caf* para as sete e no para as seis e cinqenta!
' Gerente — (ei #e provi#enciar.
Figueiredo — E que i#*ia foi aquela ontem #e #arem la2ostas ao almo)o<
' Gerente ) (omem, creio que la2osta...
Figueiredo — B um bom petisco, no h" #vi#a, mas fa-me mal!
' Gerente — $ois no coma!
Figueiredo — Mas eu no posso ver la2ostas sem comer!
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' Gerente — o * >usto por sua causa privar os #emais h1spe#es.
Figueiredo — 5elimente at* a2ora no sinto na#a no estCma2o... B um mila2re! E sexta-feira passa#a<Apresentaram-me ao >antar maionese. — Maionese! ;uase atiro com o prato = cara #o cria#o!
' Gerente — Mas comeu!
Figueiredo — +omi, que rem*#io! Eu posso l" ver maionese sem comer< Mas foi uma coisa extraor#in"riano ter ti#o uma in#i2esto!...
; Cena I+ ;
's mesmos8 ola
ola 6%ntrando arrebatadamente da esquerda.7 — 3om #ia! 6 Ao "erente.7 %abe me #ier se o 4ouveia est"<
' Gerente — ? 4ouveia<
ola — %im, o 4ouveia — um cavalheiro que est" aqui moran#o #es#e a semana passa#a.
' Gerente 6&ndiscretamente.7 — Ah! o >o2a#or... 6Tapando a boca.7 ?h!... Desculpe!...
ola — ? >o2a#or, sim, po#e #ier! $orventura o >o2o * ho>e um vcio inconfess"vel<
' Gerente — +reio que esse cavalheiro est" no seu quarto@ pelo menos ain#a o no vi #escer.
ola — %im, o 4ouveia * >o2a#or, e essa * a nica rao que me fa 2ostar #ele.
' Gerente — Ah! A senhora 2osta #ele<
ola — %e 2osto #ele< 4osto, sim, senhor! 4osto, e hei #e 2ostar, pelo menos enquanto #er a primeira#ia!
' Gerente 6Sem entender.7 — Enquanto #er...
ola — Ele s1 aponta nas #ias — ora na primeira, ora na se2un#a, ora na terceira, conforme o palpite. ("perto #e um ms que est" apontan#o na primeira.
Figueiredo 6 $ parte.7 — B um >o2a#or #as #ias!
ola — Enquanto #er a primeira, am"-lo-ei at* o #elrio!
Figueiredo — A senhora * franca!
ola — !in de si'cle, meu caro senhor, in de si'cle.
+alsa
Eu tenho u#a grande virtude=Sou %ran)a8 n1o posso #entir<Co#igo so#ente se ilude$ue# #es#o se (ueira iludir<Por(ue (uando apanho u# su?eitoIng9nuo8 si#pl/rio8 0a01o8:e)essaria#ente aproveito8Fingindo por ele pai>1o<Engolindo a p"lula8Logo esse i#0e)ilP@e-se a %azer d"vidas
E lou)uras #il<$uando en%i#8 o #"sero'2 nada #ais é8
4
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Eu se# d/ apli)o-lheRi?o pontapé<Eu tenho u#a linha tra3ada8E ?uro (ue n1o #e dou #al...Des%ruto u#a vida %olgadaE evito #orrer no hospital.Des)uidosa8+enturosa8
Co# %oliasSe# a#ar8Passo os diasA %olgar<S/ )onhe3o as alegrias8Se# tristezas pro)urar<Eu tenho u#a grande virtude8 et)...*as va#os8 %a3a o %avor de indi)ar-#e o (uarto do ouveia.
' Gerente — $er#o, mas a senhora no po#e l" ir.
ola — $or qu<
' Gerente — Aqui no h" #isso...
Figueiredo 6 $ parte.7 — Toma!
' Gerente — ?s nossos h1spe#es solteiros no po#em receber nos quartos senhoras que no este>amacompanha#as.
ola — aracoles %ou capa #e chamar o :ouren)o para acompanhar-me.
' Gerente — ;uem * o :ouren)o<
ola — ? meu cocheiro. Ah! Mas que lembran)a a minha! Ele no po#e aban#onar a cale)a!
' Gerente — ? que a senhora #eve faer * esperar no salo. Um belo salo, vai ver, com um plaond pinta#o pelos nossos primeiros artistas!
ola — ?n#e *<
' Gerente 6 Apontando para a direita.7 — Ali.
ola — $ois esper"-lo-ei. ?h! Estes pre>uos! Fsto s1 se v no &io #e 'aneiro!... 6Vai a sair e lan#a um olharbre*eiro a !i"ueiredo.7
Figueiredo — Deixe-se #isso, menina! Eu no >o2o na primeira #ia! 6+ola sai pela direita.7
; Cena + ;
' Gerente, depois o Chasseur
' Gerente — ?h! %r. 5i2ueire#o! o se trata assim uma mulher bonita!...
Figueiredo — o li2o import/ncia a esse povo.
' Gerente — %im, eu sei... * como a la2osta... 5a-lhe mal, talve, mas atira-se-lhe que...
Figueiredo — Est" en2ana#o. Essas estran2eiras no tm o menor encanto para mim.
' Gerente — o conhe)o nin2u*m mais pessimista que o senhor.
Figueiredo — 5alem-me #e uma tri2ueira... bem tri2ueira, bem carre2a#a...
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' Gerente — Uma mulata<
Figueiredo — Uma mulata, sim! Eu #i2o tri2ueira por ser menos rebarbativo. Fsso * que * nosso, * que vaicom o nosso temperamento e o nosso san2ue! E quanto mais #en2osa for a mulata, melhor! FoiC, eu posso<entrar #e caixeiro, sair como s1cio<... Voc >" esteve na 3ahia, seu :opes<
' Gerente — Ain#a no. Mas com licen)a8 vou man#ar chamar o tal 4ouveia. 6hamando.7 hasseur.
6%ntra da direita um menino ardado.7 V" ao quarto nG HIJ e #i2a ao h1spe#e que est" uma senhora nosalo = sua espera. 6O menino sai a correr pela escada.7
Figueiredo — hasseur $ois no havia uma palavra em portu2us para...
' Gerente — o havia, no senhor. hasseur no tem tra#u)o.
Figueiredo — ?ra essa! hasseur *...
' Gerente — B ca)a#or, mas chasseur #e hotel no tem equivalente. ? 4ran#e (otel #a +apital 5e#eral * oprimeiro no 3rasil que se #" ao luxo #e ter um chasseur — Mas como ia #ien#o... a 3ahia<...
Figueiredo — 5oi l" que tomei pre#ile)o pelo 2nero. Ah, meu ami2o! B preciso conhec-las! Aquilo * que
so mulatas! o &io #e 'aneiro no as h"!
' Gerente — $er#o, mas eu tenho visto al2umas que...
Figueiredo — ;ual! o me conte hist1rias. — 1s no temos na#a! Mulatas na 3ahia!...
Coplas
; I ;
As #ulatas da ahiaT9# de )erto a pri#azia:o )ap"tulo #ulher! sult1o l2 na Tur(uia
Se as apanha u# 0elo dia8De outro g9nero n1o (uer<Ai gentes< $ue 0ela8$ue linda n1o éA %ada a#arelaDe trun%a enros)ada8De #anta tra3ada8*i#osa )hinelaLevando )al3ada:a ponta do pé<...
; II ;
As %or#osas georgianas8As gentis )ir)assianas
S1o as %lores dos haréns*as8 seu Lopes8 tais sultanas8Co#paradas Bs 0aianas8:1o #ere)e# dois vinténs<Ai< gentes< $ue 0ela8 et)...Seu Lopes8 vo)9 ?2 viu a imi /ilontra
' Gerente — Fsso vi, mas a Mimi ilontra no * mulata.
Figueiredo — o, no * isso. a Mimi ilontra h" um tipo que 2osta #e lan)ar mulheres. Voc sabe o que *lan)ar mulheres<
opes — %ei, sei.
Figueiredo — $ois eu tamb*m 2osto #e lan)"-las! Mas s1 mulatas! Tenho lan)a#o umas poucas!
opes — Deveras<
6
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Figueiredo — To#as as mulatas bonitas que tm apareci#o por a arrastan#o se#as foram lan)a#as por mim.B a minha especiali#a#e.
' Gerente — Dou-lhe os meus parab*ns.
Figueiredo — ;ue quer< %ou solteiro, aposenta#o, in#epen#ente8 no tenho que #ar satisfa)0es a nin2u*m.6Outro tom.7 3om8 vou #ar uma volta antes #e >antar. o se esque)a #e provi#enciar para que o cria#o no
continue a levar-me caf* =s seis e cinqenta!
' Gerente — V" #escansa#o. A reclama)o * muito >usta.
Figueiredo — At* lo2o! 6Sai 7.
' Gerente 6Só.7 — 4abo-lhe o 2osto #e lan)ar mulatas! Fma2inem se um tipo assim tem capaci#a#e paraapreciar o 4ran#e (otel #a +apital 5e#eral!
; Cena +I ;
' Gerente, ola, depois Gouveia, depois ' Gerente
ola 6%ntrando.7 — Ento< Estou esperan#o h" uma hora!...
' Gerente — A#mirou o nosso plaond <
ola — o a#mirei na#a! ? que eu quero * falar ao 4ouveia!
' Gerente — '" o man#ei chamar. 6Vendo o -oueia que desce a escada.7 E ele a vem #escen#o a esca#a.6 $ parte.7 $ois a esta no se me #ava #e lan)"-la. 6Sai.7
Gouveia 6/ue tem descido.7 — ;ue vieste faer< o te #isse que no me procurasses aqui< Este hotel...
ola — 3em sei8 no a#mite senhoras que no este>am acompanha#as@ mas tu no me apareceste ontemnem anteontem, e quan#o tu no me apareces, #ir-se-ia que eu enlouque)o! +omo te amo, 4ouveia!6 Abra#a0o.7
Gouveia — $ois sim, mas no #s esc/n#alo! ?lha o chasseur . 6O chasseur tem eetiamente descido aescada, desaparecendo por qualquer um dos lados.7
ola — Ento< A primeira #ia<
Gouveia — Tem continua#o a #ar que fa 2osto! J... HH... K... J... ?ntem saiu o J trs vees se2ui#as!
ola — +ontinuas ento em mar* #e felici#a#e<
Gouveia — Uma felici#a#e brutal!... Tanto assim, que tinha >" prepara#o este enelope para ti...
ola — ?h! #" c"! #" c"!...
Gouveia — $ois sim, mas com uma con#i)o8 vai para casa, no este>as aqui.
ola 6Tomando o enelope.7 — ?h! 4ouveia, como eu te amo! Vais ho>e >antar comi2o, sim<
Gouveia — Vou, contanto que saia ce#o. B preciso aproveitar a sorte! Tenho certea #e que a primeira #iacontinuar" ho>e a #ar!
ola 6om entusiasmo.7 — ?h! Meu amor!... 6/uer abra#10lo.7
Gouveia — o! o!... ?lha o 2erente!...
ola — A#eus! 6Sai muito satiseita.7
7
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' Gerente 6/ue tem entrado, 2 parte.7 — Vai contente! Aquilo * que #eu a tal primeira #ia! 6&nclinando0se diante de -oueia.7 Doutor...
Gouveia — ;uan#o aqui vier esta senhora, o melhor * #ier-lhe que no estou. B uma boa rapari2a, masmuito inconveniente.
' Gerente — Vou transmitir essa or#em ao porteiro, porque eu posso no estar na ocasio. 6Sai.7
; Cena +II ;
Gouveia 6Só.7 — B a#or"vel esta espanhola, isso *... no choro uma boa #ia #e contos #e r*is 2astos comela, e que, ali"s, no me custaram a 2anhar... mas tem um #efeito8 * muito colante... Estas li2a)0es so o#iabo... Mas como acabar com isto< Ah! %e a ;uinota soubesse! $obre ;uinota! Deve estar queixosa #emim... ?h! ?s tempos mu#aram... ;uan#o estive em Minas era um simples caixeiro #e cobran)as... Bver#a#e que ho>e na#a sou, porque um >o2a#or no * coisa nenhuma... mas 2anho #inheiro, sou feli, muitofeli! A ;uinota, no final #as contas, * uma roceira... mas to bonita! E #a, quem sabe< — talve >" setivesse esqueci#o #e mim.
; Cena +III ;
Gouveia, 0inheiro, depois ' Gerente
0inheiro 6%ntrando.7 — ?h! 4ouveia!
Gouveia — ?h! $inheiro! ;ue an#as faen#o<
0inheiro — Venho a man#a#o #o patro falar com um su>eito que mora neste hotel... Mas que luxo! +omoest"s abrilhanta#o! Ve>o que as coisas tm te corri#o =s mil maravilhas!
Gouveia 6Muito seco.7 — %im... #eixei #e ser caixeiro... Embirrava com isso #e ir a qualquer parte a
man#a#o #o patro... Atirei-me a umas tantas especula)0es... Tenho arran>a#o para a uns cobres...
0inheiro — V-se... Est"s outro, completamente outro!
Gouveia — Devo lembrar-te que nunca me viste su>o.
0inheiro — %u>o no #i2o... mas vamos l", >" te conheci pau #e laran>eira! $or sinal que...
Gouveia — $or sinal que uma ve me emprestaste #e mil-r*is. 5aes bem em lembrar-me essa #vi#a.
0inheiro — Eu no te lembrei coisa nenhuma!
Gouveia — Aqui tens vinte mil-r*is. Dou-te #e #e >uros.
0inheiro — Ve>o que tens a esmola f"cil, mas — que #iabo! — 2uar#a o teu #inheiro e no o #s a quem tono pe#e. 5ico apenas com os #e mil-r*is que te emprestei com muita vonta#e — e sem >uros. ;uan#oprecisares #eles, vem busc"-los. +" ficam.
Gouveia — ?h! o hei #e precisar, 2ra)as a Deus!
0inheiro — (omem, quem sabe< ? mun#o #" tantas voltas!
Gouveia — A#eus, $inheiro. 6Sai pela esquerda.7
0inheiro — A#eus, 4ouveia. 6Só.7 Umas tantas especula)0es... 3em sei quais so elas... $ois olha, meufi2uro, no te #ese>o nenhum mal, mas conto que ain#a h"s #e vir buscar estes #e mil-r*is, que ficam #epronti#o.
' Gerente 6%ntrando.7 — Dese>a al2uma coisa<
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0inheiro ; %im, senhor, falar a um h1spe#e... Eu sei on#e *, no se incomo#e. 6Sobe a escada edesaparece.7
' Gerente 6Só.7 — E l" vai sem #ar mais cavaco! Esta 2ente h" #e custar-lhe habituar-se a um hotel #eprimeira or#em como * o 4ran#e (otel #a +apital 5e#eral!
; Cena I ;
' Gerente, us1bio, Fortunata,2uinota, /envinda, 3u&uinha, 4ois Carregadores da strada deFerrocom malas, depois o Chasseur ,Criados e Criadas.(" !amília tra+ maletas, trou$as,embrulhos,etc.' Gerente — ?l"! Temos h1spe#es! 6hamando.7 hasseur V" chamar 2ente! 6O chasseur aparece edesaparece, e pouco depois olta com al"uns criados e criadas.7
us1bio 6%ntrando 2 rente da am3lia, echando uma enorme carteira.7 — Ave Maria! Trinta mil-r*is pra nostra #a esta)o #a estra#a #e ferro at* aqui. Esta 2ente pensa que #inheiro se cava! 6 Aperta a m4o ao"erente. O resto da am3lia imita0o, apertando tamb5m a m4o ao chasseur e 2 criada"em.) Deus ossoSinh6 este*e nesta casa!... 6Vai pa"ar aos carre"adores, que saem.7
Fortunata — B um caso!
2uinota — Um pal"cio!
3u&uinha — Eu tou com fome! ;uero *ant1!
/envinda — Espera, nh6 'uquinha!
Fortunata — Menino, no come)a a rein1!
' Gerente — Dese>am quartos<
us1bio — %im sinh6!... Mas antes #isso #eixe lhe diz7 quem sou.
' Gerente — o * preciso. ? seu nome ser" escrito no re2istro #os h1spe#es.
us1bio — $ois sim, sinh6, mas ou)a...
Coplas-Lundu
us1bio
; I ;
Sinh58 eu sou %azendeiroE# S1o 'o1o do Sa0ar28E venho ao Rio de 'aneiro
De )oisas grave trat#.!ra a(ui est2<6arve+ leve u# ano inteiro:a Capit# Feder#<
Coro
!ra a(ui est2< et)...
Eusé0io
; II ;
Apare)eu u# ?anota
E# S1o 'o1o do Sa0ar2Pediu a #1o de $uinotaE vei7 se e#0ora pra )2.
9
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!ra a(ui est2<ei de ach# esse ?anota:a Capit# Feder#<
Coro
!ra a(ui est28 et)...
Esta é #inha mui18 Dona Fortunata.
Fortunata — Uma sua serva. (!az uma mesura.)' Gerente — 5ol2o #e conhec-la, minha senhora. E estamo)a< B sua filha<...
us1bio — ossa.
Fortunata — ome #ela * ;uinota... 'oquina... mas a 2ente chama ela #e ;uinota.
2uinota — +ala a boca, mame. ? senhor no per2untou na#a.
us1bio — B muito estru3da. Teve trs proess6... Este * meu filho... 68rocurando 9uquinha.7 ?n#e est" ele<
'uquinha! 6Vai buscar pela m4o o ilho, que traquinaa ao undo.7 T" aqui ele. Tem cabe)a — qu5 7< Di umverso, 'uquinha!
3u&uinha — ?ra, papai!
Fortunata — Di um verso, menino! o ouve teu pai t" man#an#o<
3u&uinha — ?ra, mame!
2uinota — Di o verso, 'uquinha! Voc parece tolo!...
3u&uinha — o #i2o!
/envinda — :h6 'uquinha, #i2a aquele #e l1 em a lua saindo!
3u&uinha — Eu no sei verso!
Fortunata — Di o verso, #iabo! 6;10lhe um belisc4o. 9uquinha az "rande berreiro.7
us1bio 6Tomando o ilho e acariciando0o.7 — T1 bom! no chora! no chora! 6 Ao "erente.7 T1 muito cheio#e vonta#e... Ah! mas eu hei #e endireit1 ele!
' Gerente — o ser" melhor subirem para os seus quartos<
us1bio — %im, sinh6. 6%<aminando em olta de si.7 ? hotezinho parece bem b4o.
' Gerente — ? hotelinho< Um hotel que seria #e primeira or#em em qualquer parte #o mun#o! ? 4ran#e(otel #a +apital 5e#eral!
Fortunata — E #i que * s1 #e famlia.
' Gerente — Ah! $or esse la#o po#em ficar tranqilos.
; Cena ;
's mesmos, Figueiredo
Figueiredo volta8 e$amina os circunstantes e mostra-se impressionado por /envinda,&ue reparanele.
' Gerente 6 Aos criados.7 — Acompanhem estas senhoras e estes senhores... para escolherem os seusquartos = vonta#e. 6Vai saindo e passa por perto de !i"ueiredo.7
10
7/21/2019 f30 Arthur Azevedo, A Capital Federal
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Figueiredo 6ai<inho.7 — ;ue boa mulata, seu :opes! 6O "erente sai.7
's Criados e Criadas 6Tomando as malas e embrulhos.7 — 5a)am favor!... Venham!... %ubam!...
us1bio 68erto da escada.7 — %uba, Dona 5ortunata! %obe, ;uinota! %obe, 'uquinha! 6Todos sobem.7Vamo 6Sobe tamb5m.7 %obe, 3envin#a! 6/uando eninda ai subindo, !i"ueiredo d10lhe um pequenobelisc4o no bra#o.7
Figueiredo — A#eus, 2ostosura!
/envinda — Ah! %eu assanha#o! 6Sobe.7
' Gerente 6/ue entrou e iu.7 — Ento, que * isso, %r. 5i2ueire#o< ?lhe que est" no 4ran#e (otel #a+apital 5e#eral!
Figueiredo — Ah! %eu :opes, aquela hei #e eu lan)"-la! 6Sobe a escada.7
' Gerente 6Só.7 — ;ueira Deus no v" arran>ar uma car2a #e pau #o faen#eiro! 6Sai, Muta#4o.7
$uadro II
Corredor. 9a parede uma m%o pintada, apontando para este letreiro: ;"gência de alugar casas.0re<o de cada indica<%o,=s. >?@@@, pagos adiantados.;"o !undo um banco, encostado A parede.
; Cena I ;
Bítimas , entrando uriosas da esquerda,depois, ota, Figueiredo
Coro
$ue ladroeira<
$ue #aroteira<$ue 0andalheira<Pas#ado estou<+iu toda a gente$ue o tal agenteCini)a#ente:os enganou<
ota 6%ntrando da esquerda tamb5m muito zan"ado.7 — +inco mil-r*is #eita#os fora!... +inco mil-r*isrouba#os!... Mas #eixem estar que... 6Vai saindo e encontra0se com !i"ueiredo, que entra da direita.7
Figueiredo — ;ue * isto, seu Mota< Vai furioso!
ota — %e lhe parece que no tenho rao! Esta a2ncia in#ica on#e h" casas vaias por cinco mil-r*is.
Figueiredo — +asas por cinco mil-r*is< 3arata feira!
ota — $er#o@ in#ica por cinco mil-r*is...
Figueiredo 6Sorrindo.7 — 3em sei, e * isso >ustamente o que aqui me tra. &esolvi #eixar o 4ran#e (otel #a+apital 5e#eral e montar casa. Es2otei to#os os meios para obter com que naquele suntuoso estabelecimentome levassem o caf* ao quarto =s sete horas em ponto. +omo no estou para me an2ar to#as as manhs,mu#o-me. ? #iabo * que no acho casa que me sirva. Diem-me que nesta a2ncia...
ota — Volte, seu 5i2ueire#o, volte, se no quer que lhe aconte)a o mesmo que me suce#eu e tem suce#i#oa muita 2ente! Fn#icaram-me uma casa no morro #o $into, com to#as as acomo#a)0es que eu #ese>ava...Voc sabe o que * subir ao morro #o $into<
Figueiredo — %ei. '" l" subi uma noite por causa #e uma tri2ueira.
ota — $ois eu subi ao morro #o $into e encontrei a casa ocupa#a.
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Figueiredo — 5oi >ustamente o que me aconteceu com a tri2ueira.
ota — Volto aqui, fa)o ver que a in#ica)o #e na#a me serviu e pe)o que me restituam os meus ricos cincomil-r*is. &espon#em-me que a a2ncia na#a me restitui, porque no tem culpa #e que a casa se tivessealu2a#o.
Figueiredo — E no lhe #eram outra in#ica)o<
ota — Deram. +" est". 6Tira um papel.7
Figueiredo 6 $ parte.7 — Vou aproveit"-la!
ota — Mas provavelmente vale tanto como a outra!
Figueiredo 6;epois de ler.7 — ?h!
ota — ;ue *<
Figueiredo — Esta a2ora no * m"! &ua #os Arcos nG HLL. Fn#icaram a casa #a Minervina!
ota — ;ue Minervina<
Figueiredo — Uma tri2ueira.
ota — A #o morro #o $into<
Figueiredo — o. ?utra. ?utra que eu lancei h" quatro anos. Mu#ou-se para a &ua #os Arcos no h" oito#ias.
ota — Ento< ;uan#o lhe #i2o!
Figueiredo — ?h! As tri2ueiras tm si#o o meu tormento!
ota — As tri2ueiras so...
Figueiredo — As mulatas. Eu #i2o tri2ueiras por ser menos rebarbativo... Ain#a a2ora est" l" no hotel umafamlia #e Minas que trouxe consi2o uma mucama... Ah, seu Mota...
ota — $ois atire-se!
Figueiredo — o tenho feito outra coisa, mas no me tem si#o possvel encontr"-la a >eito. %1 ho>econse2ui meter-lhe uma cartinha na mo, pe#in#o-lhe que v" ter comi2o ao :ar2o #a +arioca. ;uero lan)"-la!
ota — Mas vamos embora! Estamos numa caverna!
Figueiredo — E * tu#o assim no &io #e 'aneiro... o temos na#a, na#a, na#a... Vamos...
; Cena II ;
's mesmos, uma Senhora, depoisum 0ropriet#rio
" Senhora 6Vindo da esquerda.7 — Um #esaforo! Uma pouca ver2onha!
ota — 5oi tamb*m vtima, minha senhora<
" Senhora — &oubaram-me cinco mil-r*is!
Figueiredo — Tamb*m — >usti)a se lhes fa)a — eles nunca roubam mais #o que isso!
" Senhora — Fn#icaram-me uma casa... Vou l", e encontro um tipo que me per2unta se quero um quartomobilia#o! Vou queixar-me...
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ota — Ao bispo, minha senhora! ;ueixemo-nos to#os ao bispo!... 6O 8ropriet1rio entra e ai atraessandoa cena da direita para a esquerda, cumprimentando as pessoas presentes.7
Figueiredo 6%mbar"ando0lhe a passa"em.7 — o v" l", no v" l", meu caro senhor! ?lhe que lhe roubamcinco mil-r*is.
' 0ropriet#rio — a#a! Eu no preten#o casa. ? que eu quero * alu2ar a minha.
's 6rês — Ah! 6ercam0no.7
" Senhora — Talve no se>a preciso ir = a2ncia. Eu procuro uma casa.
ota — E eu.
Figueiredo — E eu tamb*m.
" Senhora — A sua on#e *<
' 0ropriet#rio — %e querem a in#ica)o, venham cinco mil-r*is #e ca#a um!
's 6rês — (ein<
' 0ropriet#rio — ?ra essa! $or que * que a a2ncia h" #e cobrar e eu no<
ota — A a2ncia pa2a impostos e *, apesar #os pesares, um estabelecimento le2almente autoria#o.
' 0ropriet#rio — 3em@ como eu no sou um estabelecimento le2almente autoria#o, #ou a in#ica)o portrs mil-r*is.
ota — 4uar#e-a!
Figueiredo — Dispenso-a!
" Senhora — Aqui tem os trs mil-r*is. A necessi#a#e * to 2ran#e que me submeto a to#as as patifarias!
' 0ropriet#rio 6almo.7 — $atifaria * forte, mas como a senhora pa2a... 6-uarda o dinheiro.7
" Senhora — Vamos!
' 0ropriet#rio — A minha casa * na $raia 5ormosa.
ota e Figueiredo — ;ue horror!
' 0ropriet#rio — Um sobra#o com trs >anelas #e peitoril. ?s baixos esto ocupa#os por um a)ou2ue.
ota e Figueiredo — i!
" Senhora — Deve haver muito mosquito!
' 0ropriet#rio — Mosquitos h" em to#a a parte. %ala, trs quartos, sala #e >antar, #espensa, coinha,latrina na coinha, "2ua, 2"s, quintal, tanque #e lavar e 2alinheiro...
" Senhora — o tem banheiro<
' 0ropriet#rio — Ter", se o inquilino o fier. A casa foi pinta#a e forra#a h" #e anos@ est" muito su>a.Alu2uel, #uentos e cinqenta mil-r*is por ms. +arta #e fian)a passa#a por ne2ociante matricula#o,treentos mil-r*is #e posse e contrato por trs anos. ? imposto pre#ial e #e pena #N"2ua * pa2o peloinquilino.
" Senhora — +om os trs mil-r*is que me surrupiou compre uma cor#a e enforque-se! 6Sai.7
Figueiredo 6%nquanto ela passa.7 — Muito bem respon#i#o, minha senhora!
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ota — +om efeito!
' 0ropriet#rio — Mas os senhores...
Figueiredo 6Tirando um apito do bolso.7 — %e #i mais uma palavra, apito para chamar a polcia.
' 0ropriet#rio — ?ra v" se catar! 6Vai saindo.7
Figueiredo — ;ue *< ;ue *<... 6Se"ue0o.7
' 0ropriet#rio — :ar2ue-me!
Figueiredo — Este tipo merecia uma li)o! 6%mpurrando0o.7 Vamos embora! Deix"-lo!
ota — Vamos!
' 0ropriet#rio 6Voltando e aan#ando para eles.7 — Mas eu...
's 4ois — (ein< 6 Atiram0se ao 8ropriet1rio, que o"e, desaparecendo pela esquerda. Mota e !i"ueiredo
encolhem os ombros e saem pela direita, encontrando0se 2 porta com %us5bio, que entra. O 8ropriet1rioolta e, en"anado, d1 com o "uarda0chua em %us5bio, e o"e. %us5bio tira o casaco para perse"ui0lo.7
; Cena III ;
us1bio, só= depois, Fortunata,2uinota, 3uca, /envinda
us1bio — Tratante! %e eu te a2arro, tu havia #e 7 o que * purso #e mineiro! ;ue terra esta, minha ossa%enhora, que terra esta em que um home apanha sem sab7 por qu< Mas on#e ficou esta 2ente< AquelaDona 5ortunata no presta pra subi esca#a! 6&ndo 2 porta da direita.7 Entra! B aqui! 6%ntra a am3lia.7
Fortunata (%ntrando apoiada no bra#o de /uinota.7 — Deixe-me arrespir1 um boca#inho! Vir"e Maria!
quanta esca#a!
us1bio — E ain#a * no outro and1! ?lhe! 6 Aponta para o letreiro.7
3uca 6Vendo %us5bio a estir o casaco.7 — Mame, papai se #espiu!
"s 6rês — B ver#a#e!
us1bio ; Tirei o casaco pra bri"1! o foi na#a.
Fortunata — o posso mais coNesta hist1ria #e casa!
2uinota — B um inferno!
/envinda — Uma #es2ra)a!
us1bio — $acincia. 1s no podemo ic1 naquele hot5... Aquilo * luxo #emais e custa os óio #a cara!+omo temo que ic1 ar"um tempo na capit1 eder1, o mió * precur1 uma casa. A 2ente compra uns traste eal2uma lou)a... 3envin#a vai pra coinha...
/envinda 6 $ parte.7 — $ois sim!
us1bio — E ;uinota trata #os arran*o #a casa.
2uinota — Mas a coisa * que no se arran>a casa.
us1bio — Desta ve tenho esperan)a #e arran*1. Di que essa a2ncia * muito s*ria. Vamo!
Fortunata — Eu no subo mais esca#a! Espero aqui no corred6.
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us1bio — Tu#o fica! Eu vou e orto! 6Vai saindo.7
3uca 6horando e batendo o p5.7 — Eu quero i com papai! eu quero i com papai!
Fortunata — $ois vai, #iabo!...
us1bio — Vem! vem! no chora! D" c" a mo! 6Sai com o ilho pela esquerda.7
; Cena I+ ;
Fortunata, 2uinota e /envinda
2uinota — Mame, por que no se senta naquele banco<
Fortunata — Ah! * ver#a#e! no tinha arreparado. Estou mo#a. 6Senta0se e echa os olhos.7
/envinda — Sinh1 vai dromi .
2uinota — Deixa.
/envinda 6%m tom conidencial.7 — 9 nhanh4> 2uinota — ;ue *<
/envinda — :hanh4 arreparou naquele home que ia #escen#o pra baixo quan#o a 2ente vinha subin#o pracima<
2uinota — o. ;ue homem<
/envinda — Aquele que mora l" no hot5 em que a 2ente mora...
2uinota — ?lha mame! 6;. !ortunata ressona.7
/envinda — '" est" dromindo. :hanh4 arreparou<
2uinota — &eparei, sim.
/envinda — %abe o que ele fe ho>e #e menh4< Me meteu esta carta na mo!
2uinota — Uma carta< E tu ficaste com ela< Ah! 3envin#a! 68ausa.7 B para mim<
/envinda — $ra quem haera #e s7<
2uinota — o est" sobrescrita#a.
/envinda 6 $ parte, enquanto /uinota se certiica de que !ortunata dorme.7 — 3em sei que a carta *minha... ? que eu quero * que ela leia pra eu oui .
2uinota — D" c". 6Toma a carta e ai abri0la, mas arrepende0se.7 ;ue asneira ia eu faen#o!
Duetino
2uinota
Eu gosto do seu ouveiaCo# ele (uero )asar! #eu )ora31o anseiaPertinho dele pulsarPortanto a ep"stola
:1o posso a0rir<Sérios es)rGpulosDevo sentir<
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/envinda
Est2 longe seu ouveiaA(ui agora n1o ve#...A0ra a )arta8 a )arta leia...:1o digo nada a ningué#<
2uinota
:1o< n1o< a ep"stola:1o posso a0rir<Sérios es)rGpulosDevo sentir<Entretanto8 é verdade$ue tenho tal ou (ual )uriosidade8*a#1e ; eu tre#o< ;Dor#indo est2
/envinda
Si#8 e ela memo
Respondeu ?2. Fortunata tem ressonado.
2uinota
H %eio8
*as (ue i#porta A0ro e leio< "bre a carta.
'untas
2uinota /envinda
Eu sou )uriosa< H 0e# )uriosa<
:1o sei #e )onter< :1o h2 (ue di+ê<
A )arta a#orosa A )arta a#orosa
Depressa vou ler< Depressa vai lê<...
"mbas — U!...
2uinota 6+endo a carta.7 — OMinha bela mulata.O
"mbas — U!...
2uinota 6+endo.7 — OMinha bela mulata. Des#e que est" moran#o neste hotel, tenho #ebal#e procura#ofalar-te. Tu no passas #e uma simples mucama...O 6;1 a carta a eninda.7 A carta * para ti. 6 $ parte.7 5uibem casti2a#a.
/envinda — :eia pra eu oui , nhanh4.
2uinota 6+endo.7 — O%e queres ter uma posi)o in#epen#ente e uma casa tua...O
/envinda — 4entes!
2uinota — O...#eixa o hotel, e vai ter comi2o ter)a-feira, =s quatro horas #a tar#e, no :ar2o #a +arioca, aop* #a charutaria #o Macha#o.O
/envinda 6 $ parte.) — Ter)a-feira... quatro hora...
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2uinota — Oa#a te faltar". Eu chamo-me 5i2ueire#o.O
/envinda — &as2a essa carta, nhanh4! Ve>a s1 que sem-ver2onhice #e home!
2uinota 6?as"ando a carta.7 — %e papai soubesse...
/envinda 6 $ parte.7 — 5i2ueire#o...
; Cena + ;
"s mesmas, us1bio, 3u&uinha
us1bio — '" tenho uma in#ica)o!
4. Fortunata 6;espertando.7 — Ah! quase pe2o no sono! 6%r"uendo0se.7 '" temo casa<
us1bio — $arece. ? #ono #ela * o home com quem eu bri2uei in#a2orinha. Tinha me toma#o por outro.
Vamo = $raia !ermosa pra 7 se a casa serve.
4. Fortunata — ?ra 2ra)a!
/envinda 6 $ parte.7 — $erto #a charutaria.
us1bio (/ue ouiu.7 — o sei se * perto #a charutaria, mas #i que o lo"1 * aprazie@ a casa munto boa... 5ica pro cima #e um a)ou2ue, o que qu5 diz7 que nunca artar1 carne! Vamo!
2uinota — B muito lon2e<
us1bio — B@ mas a 2ente vai no bon#e...
/envinda 6 $ parte.7 — :ar2o #a +arioca...
us1bio 6/ue ouiu.7 — ;ue :ar2o #a +arioca! B os bondinho #a &ua Direita! Vamo!
3u&uinha — Eu quero i co 3envin#a!
Fortunata — Vai vai co 3envin#a! B perciso munta pacincia para atur1 este #emCnio #este menino! 6Saemtodos.7
/envinda 6Saindo por @ltimo, com 9uquinha pela m4o.7 — Ter)a-feira... quatro hora... 5i2ueire#o...
; Cena +I ;
' 0ropriet#rio 6Vindo da esquerda.7 — ;ueira Deus que o mineiro fique com a casa... mas no lhe #ou #oismeses para apanhar uma febre palustre! 6Sai pela direita. Muta#4o.7
$uadro III
' argo da Carioca. uitas pessoas est%o A espera de bonde. 'utras passeiam.
) Cena I ;
Figueiredo, =odrigues, 0essoas do 0ovo
Coro
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espera do 0onde elétri)oEsta#os h2 #eia hora<T1o desusada de#ora:1o sa0e#os e>pli)ar<Talvez ha?a algu# o0st2)ulo8Algu# des)arrila#ento8$ue assi# possa o i#pedi#entoDa linha deter#inar<
Figueiredo e =odrigues vêm ao proscênio. =odrigues est# carregado de pe&uenos embrulhos.
=odrigues — ;ue estopa#a, hein<
Figueiredo — B tu#o assim no &io #e 'aneiro! Este servi)o #e bon#es * terrivelmente malfeito! o temosna#a, na#a, absolutamente na#a!
=odrigues — ;ue #iabo! o se>amos to exi2entes! Esta companhia no serve mal. o * por culpa #elaesse atraso. Ali na esta)o me #isseram. a &ua #o $asseio est" uma fila #e bon#es para#os #iante #e umenorme caminho, que levava uma m"quina #escomunal no sei para on#e, e quebrou as ro#as. B ter umpouco #e pacincia.
Figueiredo — Eu felimente no estou = espera #e bon#e, mas #e coisa melhor. 6onsultando o reló"io.7Estamos na hora.
=odrigues — Ah! %eu ma2ano... al2uma mulher... Voc nunca h" #e tomar >uo!
Figueiredo — Uma tri2ueira... uma #eliciosa tri2ueira!
=odrigues — +ontinua ento a ser um 2ran#e aprecia#or #e mulatas<
Figueiredo — +ontinuo, mas eu #i2o tri2ueiras por ser menos rebarbativo.
=odrigues — $ois eu c" sou o homem #a famlia, porque enten#o que a famlia * a pe#ra an2ular #e umasocie#a#e bem or2ania#a.
Figueiredo — 3onito!
=odrigues — &eprovo incon#icionalmente esses amores escan#alosos, que ofen#em a moral e os bonscostumes.
Figueiredo — ?ra, no amola! Eu sou solteiro... no tenho que #ar satisfa)0es a nin2u*m.
=odrigues — $ois eu sou casa#o, e to#os os #ias a2ra#e)o a Deus a santa esposa e os a#or"veis filhinhosque me #eu! Vivo exclusivamente para a famlia. Ve>a como eu vou para casa cheio #e embrulhos! E * istoto#os os #ias! Vo aqui empa#inhas, #oces, quei>o, chocolate an#alua, sorvetes #e via2em, o #iabo!... Tu#o2ulo#ices!...
Figueiredo 6/ue, preocupado, n4o lhe tem prestado "rande aten#4o.7 — o ima2ina voc como estouimpaciente! B curioso! o varia aos quarenta anos esta sensa)o esquisita #e esperar uma mulher pela
primeira ve! ote-se que no tenho certea #e que ela venha, mas sinto uns formi2ueiros subirem-me pelaspernas! 6Vendo eninda.7 ?h! Diabo! o me en2ano! Afaste-se, afaste-se, que l" vem ela!...
=odrigues — %e>a feli. $ara mim no h" na#a como a famlia. 6 Aasta0se e ica obserando de lon"e.7
) Cena II ;
's mesmos8 /envinda
/envinda 6 Apro<imando0se com uma pequena trou<a na m4o.7 — Aqui estou.
Figueiredo 6;isar#ando a olhar para o c5u.7 — Disfar)a, meu bem. 68ausa.7 — Est"s pronta a acompanhar-me<
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/envinda 6;isar#ando e olhando tamb5m para o c5u.7 — %im, sinh6, mas eu quero sab7 se * ver#a#e oque o sinh6 #isse na sua carta...
Figueiredo 6;isar#ando por er um conhecido que passa e o cumprimenta.7 — +omo passam to#os l" porcasa< As senhoras esto boas<
/envinda 6ompreendendo.7 — 3oas, muito obri2a#o... Sinh1 Miloca * que tem an#a#o com enxaqueca.
Figueiredo 6 $ parte.7 — 5ala mal, mas * inteli2ente.
/envinda — ? sinh6 me #" memo casa pra mim mor1<
Figueiredo — Uma casa muito chique, muito bem mobilia#a, e uns vesti#os muito bonitos. 68assa outroconhecido. O mesmo *o"o de cena.7 — Mas por que esta #emora com a minha roupa lava#a<
/envinda — B porque choveu munto... no se pC#e cor1... 6Outro tom.7 o me artar1 na#a<
Figueiredo — a#a! o te faltar" na#a! Mas aqui no po#emos ficar. $assa muita 2ente conheci#a, e euno quero que me ve>am conti2o enquanto no tiveres outra enca#erna)o. Acompanha-me e toma omesmo bon#e que eu. 6Vai se aastando pela direita e eninda tamb5m.7 Espera um pouco, para no
#armos na vista. 68assa um conhecido.7 A#eus, hein< :embran)as = 3aronesa.
/envinda — %im, sinh6, farei presente. 6!i"ueiredo aasta0se, disar#ando, e desaparece pela direita.;urante a ala que se se"ue, ?odri"ues pouco a pouco se apro<ima de eninda.7 ?ra! Fsto sempre #eve s7mió que aquela vi#a en>oa#a l" #a ro)a! Ah! seu or"e! seu or"e! Voc abusou porque era eit6 l" #afaen#a@ fe o que fe e me prometeu casamento... Mas casar" ou no< Sinh1 e nhanh4 ondem ic1danada... $ois que ique! ;uero a minha liber#a#e! 6Vai aastar0se na dire#4o que tomou !i"ueiredo e 5abordada pelo ?odri"ues, que n4o a tem perdido de ista um momento.7
=odrigues — A#eus, mulata!
/envinda — Viva!
=odrigues 6;isar#ando.7 D"-me uma palavrinha<
/envinda — A2ora no posso.
=odrigues — ?lhe, aqui tem o meu carto... %e precisar #e um homem s*rio... De um homem que * to#ofamlia...
/envinda 6Tomando disar#adamente o cart4o.7 — $ois sim. 6Saindo, 2 parte7 — ? que no arta 5 home...Assim queira uma mui5... 6Sai.7
=odrigues 6onsi"o.7 — %im... l" #e ve em quan#o... para variar... no quero #ier que... 6Outro tom.7 E omal#ito bon#e que no che2a! 6 Aasta0se pela direita e desaparece.7
; Cena III ;
ola, ercedes, /lanchette, 4olores, Gouveia, 0essoas do 0ovo
"s &uatro mulheres entram da es&uerda, tra+endo Gouveia &uase A !or<a.
$uinteto
"s ulheres
Ande pra %rente8Fa3a %avor<Est2 %ilado8
Caro senhor<$ueira ou n1o (ueira8Da(ui n1o sai<
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'anta )onos)o<Conos)o vai<
ola
2 tantos diasTu n1o #e vias8
E agora (u6riasDei>ar-#e s/<A tua Lola8*eu 0e#8 )onsola<D2-#e u#a es#ola<De #i#8 te# d/<
"s 'utras
2 tantos diasTu n1o a vias8E agora (u6riasDei>2-la s/<A tua Lola8*eu 0e#8 )onsola<
D2-lhe u#a es#ola<te# d/8 te# d/<
Gouveia
:1o #e a0orre3a#<:1o #e en%ure3a#<Desapare3a#<$uero estar s/<Isto #e a#ola<Per)o esta 0ola<$uerida Lola8De #i# te# d/<
ola
Ingrato ; ?2 n1o #e (ueres<Tu ?2 n1o gostas de #i#<
Gouveia
S1o terr"veis as #ulheres<osto de ti8 gosto8 si#<*as n1o serve este lugarPra tais assuntos tratar<
ola
Ent1o da(ui saia#os<+a#os<
6odas
+a#os<2 tantos dias8 et)...
ola — Vamos a saber8 por que no tens apareci#o<
Gouveia — Tu bem sabes por qu.
ola — A primeira #ia falhou<
Gouveia — ?h! no! Ain#a no falhou, 2ra)as a Deus, e por isso mesmo * que no a tenho aban#ona#onoite e #ia! o vs como estou p"li#o< como tenho as faces #esbota#as e os olhos encova#os< B porque >"no #urmo, * porque >" me no alimento, * porque no penso noutra coisa que no se>a a roleta!
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ola — Mas * preciso que #escanses, que te #istraias, que espaire)as o esprito. $or isso mesmo exi>o quevenhas >antar ho>e comi2o, quero #ier, conosco, porque, como vs, terei = mesa estas ami2as, que tuconheces8 a Dolores, a Merce#es e a 3lanchette.
"s 6rês — Ento, 4ouveia< Venha, venha >antar!...
Gouveia — '" #eve ter come)a#o a primeira banca!
ola — Deixa l" a primeira banca! Tenho um pressentimento #e que ho>e no #" a primeira #ia.
"s 6rês — Ento, 4ouveia, ento< 6/uerem abra#10lo.7
Gouveia 6%squiando0se.7 — ;ue * isto< Vocs esto #oi#as! &eparem que estamos no :ar2o #a +arioca!
ola — Vem! o te fa)as ro2a#o!
"s 6rês 6&mplorando.7 — 4ouveia!...
Gouveia — $ois sim, vamos l"! Vocs so o #iabo!
ola — Ai! E o meu leque<! Trouxeste-o, Dolores<
4olores — o.
/lanchette — em eu.
ercedes — Tu #eixaste-o ficar sobre a mesa, no 3ra)o #e ?uro.
Gouveia — ;ue foi<
ola — Um ma2nfico leque, compra#o, no h" uma hora, no $alais-&oPal. ;uerem ver que o per#i<
Gouveia — %e queres, vou procur"-lo ao 3ra)o #e ?uro.
ola — $ois sim, fae-me esse favor. 6 Arrependendo0se.7 o! se tu vais = &ua #o ?uvi#or, *s capa #eencontrar l" al2um ami2o que te leve para o >o2o.
ercedes — E esta * a hora #o recrutamento.
ola — Vamos n1s mesmas buscar o leque. 5ica tu aqui muito quietinho = nossa espera. B um instante.
Gouveia — $ois vo e voltem.
ola — Vamos! 6Sai com as tr7s ami"as.7
; Cena I+ ;
Gouveia, depois, us1bio, Fortunata,2uinota e 3u&uinha
Gouveia — +om esta no contava eu. Da — quem sabe< — como an#o em mar* #e felici#a#e, talve se>auma provi#ncia l" no ir ho>e. 6%us5bio entra descuidado acompanhado pela am3lia, e, ao er -oueia,solta um "rande "rito.7
us1bio — ?h! seu 4ouveia! 6hamando.7 Dona 5ortunata! ... ;uinota!... 6ercam -oueia.7
"s Senhoras e 3u&uinha — ?h! seu 4ouveia! 6 Apertam0lhe a m4o.7
us1bio — %eu 4ouveia! 6 Abra#a0o.7
Gouveia 6 Atrapalhado.7 — %r. Eus*bio... Minha %enhora... Dona ;uinota... 6 $ parte.7 Mal#ito encontro!...
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$uarteto
us1bio, Fortunata, 2uinota e 3u&uinha
Seu ouveia8 %inal#ente8Seu ouveia apare)eu<Seu ouveia est2 presente<
Seu ouveia n1o #orreu<
us1bio
Andei por todas as rua8Toda a )idade 0ati*as de tê not")ias suaAs esperan<a perdi<
2uinota
*as ao #eu an?o da guardaE# sonhos dizer ouvi=Sossega8 (ue ele n1o tarda
A apare)er por a"<
6odos — %eu 4ouveia, finalmente, etc...
Fortunata — ?ra, seu 4ouveia! o sinh6 che2ou l" na faen#a feito cometa, e come)ou a namor1 ;uinota.$e#iu ela em casamento, veio se embora #ien#o que vinha trat1 #os pap5, e nunca mais #eu sin1 #e si! Fstose fa, seu 4ouveia<
2uinota — Mame...
us1bio — +omo ;uinota an#ava apaixona#a, coita#inha! que no comia, nem bebia, nem dromia, nemna#a, n1s arresoremo i le procur1... porque le escrevi trs carta que icou sem resposta...
Gouveia — o recebi nenhuma.
us1bio — Ento entre2uei a faen#a a seu or"e, que * home em que a 2ente po#e coni1, e aqui estemo!
Fortunata — ? sinh6 sabe que com mo)a #e famlia no se brinca... %e seu Eus*bio no soub5 s7 pai, aquiestou eu que hei #e sab7 s7 me!
2uinota — Mame, tenha calma... seu 4ouveia * um mo)o s*rio...
Gouveia — ?bri2a#o, Dona ;uinota. %ou, realmente, um mo)o s*rio, e hei #e >ustificar plenamente o meusilncio. Espero ser per#oa#o.
2uinota — Eu h" muito tempo lhe per#oei.
Gouveia 6 $ parte.7 — Est" ain#a muito bonita! 6 Alto.7 ?n#e moram<
us1bio — o 4ran#e ot5 #a apit1 !eder1.
Gouveia 6 $ parte.7 — ?h! #iabo! no meu hotel!... Mas eu nunca os vi!
2uinota — Mas an#amos = procura #e casa8 no po#emos ficar ali.
Fortunata — B muito caro.
Gouveia — %im, aquilo no conv*m.
us1bio — Mas * muito diice ach1 casa. Uma a2ncia nos in#icou uma, na $raia !ermosa...
Fortunata — ;ue chiqueiro, seu 4ouveia!
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us1bio — 8a"uemo cinco mil-r*is pra nos ench7 #e pur"a!
2uinota — E era muito lon2e.
Gouveia — Descansem, h" #e se arran>ar casa. 6 $ parte.7 — E a :ola que no tar#a!
us1bio — +omo #i<
Gouveia — a#a... Mas, ao que ve>o, veio to#a a famlia<
us1bio — To#a! — Dona 5ortunata... ;uinota... o 'uquinha...
3u&uinha — A 3envin#a.
us1bio — Ah! * ver#a#e! nos aconteceu uma #es2ra)a!
Fortunata — Uma 2ran#e #es2ra)a!
Gouveia — ;ue foi< Ah! >" sei... o senhor foi vtima #o conto #o vi2"rio!
us1bio — Eu<!... Ento eu sou ar"um matuto< o sinh6, no foi isso.
3u&uinha — 5oi a 3envin#a que fu2iu!
2uinota — +ale a boca!
3u&uinha — 5u2iu cBum homeus1bio — +ala a boca, menino!
3u&uinha — 5oi ;uinota que #isse!
Fortunata — +ala a boca, #iabo!
us1bio — ? sinh6 se alembra #a 3envin#a<
Fortunata — Aquela mulatinha< cria #a faen#a<
Gouveia — :embra-me.
us1bio — (o>e #e menh4, a 2ente se acorda0se... precura...Fortunata — /u7 d7 3envin#a<
Gouveia — $o#e ser que ain#a a encontrem.
Fortunata — Mas em que esta#o, seu 4ouveia!
us1bio — E seu or"e >" estava arresorido a cas1 com ela... Mas no iquemo aqui...
Gouveia 6&nquieto.7 — %im, no fiquemos aqui.
us1bio — Temo muito que coners1, seu 4ouveia. o quero que Dona 5ortunata #i2a que no sei s7 pai...;uero sab7 se o sinh6 est" ou no est" #isposto a cumprir o que tratou!
Gouveia — +ertamente. %e Dona ;uinota ain#a 2osta #e mim...
2uinota 6ai<ando os olhos.7 — Eu 2osto.
Gouveia — Mas vamos! Em caminho conversaremos. %o contos lar2os!
us1bio — Vamos *ant1 l1 no hot5.
Gouveia — o hotel< o! A linha est" interrompi#a. 6 $ parte.7 Era o que faltava! Ela l" iria! 6 Alto.7 Vamosao Fnternacional.
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us1bio — ?n#e * isso<
Gouveia — Em %anta Teresa. Toma-se aqui o bon#e el*trico.
Fortunata — ? t1 que vai pro cima #o arco<
Gouveia — %im, senhora.
Fortunata — i!
Gouveia — o h" peri2o. Mas vamos! Vamos! 6;1 o bra#o a /uinota.)Fortunata 6/uerendo separ10los.7 —Mas...
us1bio — Deixe. Fsto aqui * mo#a. A senhora se alembre que no estamo em %. 'oo #o %abar".
3u&uinha — Eu quero i co ;uinota!
Fortunata — $rincipia! principia! ;ue menino, minha ossa %enhora!
Gouveia 6Vendo +ola.7 — E l" vamos! Vamos! 6?etira0se precipitadamente.)us1bio — Espere a, seu4ouveia! An#e, Dona 5ortunata!
3u&uinha 6horando.7 — Eu quero i co ;uinota! 6Saem todos a correr pela direita.7
; Cena + ;
ola, ercedes, 4olores, /lanchette, =odrigues, 0essoas do 0ovo
ola — Ento< ? 4ouveia< o lhes #isse< 3em me arrepen#i #e o ter #eixa#o ficar! o teve mo em si el" se foi para o >o2o!
ercedes — ;ue tratante!
4olores — ;ue malcria#o!
/lanchette — ;ue 2rosseiro!
ola — E na#a #e bon#es!
ercedes — ;ue fieste #o teu carro<
ola — $ois no te #isse >" que o meu cocheiro, o :ouren)o, amanheceu ho>e com uma pontinha #e #or #ecabe)a<
/lanchette 6Maliciosa.7 — $oupas muito o teu cocheiro.
ola — +oita#o! * to bom rapa! 6Vendo ?odri"ues que se tem apro<imado aos poucos.7 ?l", como vaivoc<
=odrigues 6;isar#ando.7 — Vou in#o, vou in#o... Mas que bonito ramilhete franco-espanhol! A Dolores... aMerce#es... a 3lanchette... Viva la 2racia!
ola 6 $s outras.7 — Uma i#*ia, uma fantasia8 vamos levar este tipo para >antar conosco<
"s 'utras — Vamos! Vamos!
/lanchette — %ubstituir" o 4ouveia! 3ravo!
ola 6 A ?odri"ues.7 — Voc fa-nos um favor< Venha >antar com ramilhete franco-espanhol!
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=odrigues — Eu<! o posso, filha8 tenho a famlia = minha espera.
ola — Man#a-se um porta#or = casa com esses embrulhos.
ercedes — ?s embrulhos ficam, se * coisa que se coma.
=odrigues — Vocs esto me tentan#o, seus #emCnios!
ola — Vamos! an#a! um #ia no so #ias!
=odrigues — Eu sou um chefe #e famlia!
6odas — o fa mal!
=odrigues — ?ra, a#eus! Vamos! 6Olhando para a esquerda.7 Ali est" um carro. ? pr1prio cocheiro levar"#epois um reca#o = minha santa esposa... #isfarcemos... Vou alu2ar o carro. 6Sai.7
6odas — Vamos! 6 Acompanham-no.7
0essoas do 0ovo — :" vem afinal um bon#e! Tomemo-lo! Avan)a! 6orrem todos. M@sica na orquestra at5o im do ato. Muta#4o.7
$uadro I+
" passagem de um bonde el1trico sobre os arcos. B%o dentro do bonde entre outros passageiros,us1bio, Gouveia, 4. Fortunata, 2uinota e 3u&uinha. "o passar o bonde em !rente ao pblico,us1bio levanta-se entusiasmado pela bele+a do panorama.
us1bio — ?h! a capit1 eder1 a capit1 eder1...
PA:!
AT! II
$uadro +
' argo de S%o Francisco
) Cena I ;
/envinda, 0essoas do 0ovo,depois Figueiredo
/envinda est# e$ageradamente vestida A ltima moda e cercada por muitas pessoas do povo,&ue lhe !a+em elogios ir5nicos.
Coro
Ai8 'esus< $ue #ulata 0onita<Co#o ve# t1o ?anota e %a)eira<Toda a gente por ela palpita<:ingué# h2 (ue ador2-la n1o (ueira<Ai8 #ulata<:1o h2 peito (ue ao ver-te n1o 0ata<
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/envinda
+1o andando seu )a#inho8Dei>e a gente assossegada<
Coro
P2ra ao #enos u# instantinho<:1o te #ostres irritada<
/envinda
entes< #eu Deus< (ue #a3ada<
Coro
Dize o teu no#e8 0enzinho
Coplas
/envinda
; I ;
*eu no#e n1o digo<:1o (uero8 a(ui est2<:1o 0ula# )o#igo<*e dei>e# pass#<'esus< (ue# #e a)ode'2 ve?o (ue a(uiAs #o3as n1o podeSozinha saí <Sai da %rente8*inha gente<Sai da %rente pro !av5<Tenho pressa<+ou depressa<+ou pra Rua do 'uvid5<
Coro
Sai da %rente<*inha gente<Sai da %rente por !avor <+ai )o# pressa<+ai depressa<+ai B Rua do !uvidor<
/envinda
; II ;
:1o digo o #eu no#e<:1o tou de #aré<Dia0o dos home$ue insurta as mui1D$uando eu vou sozinha8S/ ou3o8 di+ê=J+e# )28 #ulatinha8$ue eu vou )o# vo)9<JSai da %rente8 et)...
Coro
Sai da %rente8 et)...
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Figueiredo aparece e coloca-se aolado de /envinda.
Figueiredo
*eus senhores8 (ue é istoPersegui31o assi# é )aso nun)a visto<...*as sai0a# (ue esta %azenda
Te# u# 0ra3o (ue a de%enda<
/envinda
Seu Figueiredo
;Eu tava a(ui )o# #uito #edo<
Coro
E meia vo+.
Este é o #ar)hante...
Dei>2-los8 pois8 no #es#o instante<Provavel#ente o tipo é tolo8E h2 (uerer ar#ar u# rolo< " toda vo+, cumprimentandoironicamente Figueiredo.Feliz #ortal8 para0énsPelo tesouro (ue tens<Ah< ah< ah< ah< ah< ah< ah< ah<*ulher #ais 0ela a(ui n1o h2<
6odos se retiram. 4urante as cenas&ue seguem, at1 o !im do &uadro,passam pessoas do povo.
; Cena II ;
Figueiredo, /envinda
Figueiredo 6?epreensio.7 — '" ve>o que h" #e ser muito #ifcil faer al2uma coisa #e ti!
/envinda — Eu no tenho curpa que esses diabo...
Figueiredo 6 Atalhando.7 — Tens culpa, sim! Em primeiro lu2ar, essa toalete * escan#alosa! Esse chap*u *#escomunal!
/envinda — 5oi o sinh6 que escolheu ele!
Figueiredo — Escolhi mal! Depois, tu abusas #o ace-en-main!
/envinda — Do... #o qu<
Figueiredo — Disto, #a luneta! Em francs chama-se ace-en-main. o * preciso estar a to#o o instante...6!az o "esto de quem lea aos olhos o face-en-main.7 3asta que te sirvas #isso l" uma ve por outra, eassim, olha, assim, com certo ar #e sobranceria. 6&ndica.7 E no sorrias a to#o instante, como umabailarina... A mulher que sorri sem cessar * como o pesca#or quan#o atira a re#e8 os homens vm aoscar#umes, como ain#a a2ora! — E esse an#ar< $or que 2in2as tanto< $or que te remexes assim<
/envinda 6horosa.7 — ?h! meu Deus! Eu an#o bem #ireitinha... no olho pra nin2u*m... Estes diabo * queintica comi2o. — Vem c", mulatinha! Meu bem, ouve aqui uma coisa!
Figueiredo — $ois no respon#as! Vai olhan#o sempre para a frente! o tires os olhos #e um ponto fixo,
como os acrobatas, que an#am na cor#a bamba... ?lha, eu te mostro... 5ae #e conta que eu sou tu e estoupassan#o... Tu *s um 2aiato, e me #ies uma 2racinha quan#o eu passar por ti. 6 Aasta0se, e passa pelarente de eninda muito s5rio.7 Vamos, #ie al2uma coisa!...
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/envinda — ;iz7 o qu<
Figueiredo 6 $ parte.7 — o compreen#eu! 6 Alto.7 ;ualquer coisa! A#eus, meu bem! Aon#e vai com tantapressa! ?lha o len)o que caiu!
/envinda — Ah! bem!
Figueiredo — Vamos, outra ve. 6?epete o moimento.7
/envinda — A#eus, seu 5i2ueire#o.
Figueiredo — ;ue 5i2ueire#o! Eu a2ora sou 3envin#a! E a prop1sito8 hei #e arran>ar-te um nome #e 2uerra.
/envinda — De 2uerra< U!...
Figueiredo — %im, um nome #e 2uerra. B como se #i. eninda * nome #e preta velha. Mas no se trataa2ora #isso. Vou passar #e novo. o te esque)as #e que eu sou tu. '" compreen#este<
/envinda — '", sim sinh6.
Figueiredo — ?ra, muito bem! — :" vou eu. 6?epete o moimento.7
/envinda 6%nquanto ele passa.7 — ?uve uma coisa, mulata! Vem c", meu cora)o!...
Figueiredo 6/ue tem passado imperturb1el .7 — Viste< o se #" troco! Arran>a-se um olhar #e me #efamlia! E #iante #esse olhar, o mais atrevi#o se #esarma! — Vamos! an#a um boca#inho at* ali! ;uero verse apren#este al2uma coisa!
/envinda — %im, sinh6. 6 Anda.7
Figueiredo — ;ue o qu! o * na#a #isso! o * preciso faer pro>e)0es #o holofote para to#os os la#os!Assim, olha... 6 Anda.7 Um movimento 2racioso e quase imperceptvel #os qua#ris...
/envinda 6?indo.7 — ;ue home #ana#o!
Figueiredo — B preciso tamb*m corri2ir o teu mo#o #e falar, mas a seu tempo trataremos #esse ponto, que* essencial. $or enquanto o melhor que tens a faer * abrir a boca o menor nmero #e vees possvel, parano #ieres home em ve #e homem e que>an#as parvoces... o h" ele2/ncia sem boa pros1#ia. — Aon#eias tu<
/envinda — Fa na &ua #o Ouid6.
Figueiredo 6%mendando.7 — ?uvi#orr... ?uvi#orr... o fa)as economia nos erres, porque apesar #acarestia 2eral, eles no aumentaro #e pre)o. E sibila bem os esses — Assim... 3om. Vai e at* lo2o! Mas vl"8 na#a #e olha#elas, na#a #e respostas! Vai!
/envinda — &nt5 lo2o.
Figueiredo — ;ue int5 lo2o! At* lo2o * que *! ?lha, em ve #e int5 lo2o, #ie8 Au reoir Tem muita 2ra)a#e ve em quan#o uma palavra ou uma expresso francesa.
/envinda — C reo1Figueiredo — Antes isso! 6eninda aasta0se.7 o te mexas tanto, rapari2a! Ai! Ai!Fsso! A2ora foi #emais! Ai! 6eninda desaparece.7 De quantas tenho lan)a#o, nenhuma me #eu tantotrabalho! (" #e ser #ifcil coisa lapi#ar este #iamante! B uma ver2onha! o po#e estar ao p* #e 2ente!6+ola ai atraessando a cena= endo !i"ueiredo, encaminha0se para ele.7
; Cena III ;
Figueiredo, ola
ola — ?h! estimo encontr"-lo! $o#e #ar-me uma palavra<
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Figueiredo — $ois no, minha filha!
ola — o o comprometo<
Figueiredo — De forma al2uma! Vossemec >" est" lan)a#a!
ola — +omo<
Figueiredo — Vossemecs s1 enver2onham a 2ente antes #e lan)a#as.
ola — o enten#o.
Figueiredo — em * preciso enten#er. ;ue #ese>ava<
ola — :embra-se #e mim<
Figueiredo — $erfeitamente. Encontramo-nos um #ia no vestbulo #o 4ran#e (otel #a +apital 5e#eral.
ola 6 Apertando0lhe a m4o.7 — unca mais me esqueci #a sua fisionomia. ? senhor no * bonito... oh! no!
mas * muito insinuante.
Figueiredo 6Modestamente.7 — ?h! filha!...
ola — :embra-se #o motivo que me levava =quele hotel<
Figueiredo — :embra-me. Vossemec ia = procura #e um mo)o que apontava na primeira #ia.
ola — Ve>o que tem boa mem1ria. $ois * na sua quali#a#e #e h1spe#e #o 4ran#e (otel #a +apital 5e#eralque me atrevo a pe#ir-lhe uma informa)o.
Figueiredo — Mas eu h" muitos #ias >" l" no moro! Era um bom hotel, no ne2o, mas que quer< — ome levavam o caf* ao quarto =s sete horas em ponto! — Entretanto, se for coisa que eu saiba...
ola — ;ueria apenas que me #esse notcias #o 4ouveia.
Figueiredo — Do 4ouveia<
ola — ? tal #a primeira #ia.
Figueiredo — Mas eu no o conhe)o!
ola — Deveras<
Figueiredo — unca o vi mais 2or#o!
ola — ;ue pena! %upus que o conhecesse!
Figueiredo — $o#e ser que o conhe)a #e vista, mas no li2o o nome = pessoa.
ola — Tenho-o procura#o inmeras vees no hotel... e no h" meio! o est"! %aiu! (" trs #ias noaparece c"! Um inferno!...
Figueiredo — +ontinua a am"-lo<
ola — %im, continuo, porque a primeira #ia, pelo menos at* a ltima ve que lhe falei, no tinha ain#afalha#o@ mas como no o ve>o h" muitos #ias, receio que a sorte afinal se cansasse.
Figueiredo — Ento o seu amor re2ula-se pelos caprichos #a bola #a roleta<
ola — B como #i. Ah! eu c" sou franca!
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Figueiredo — V-se!
Coplas
ola
; I ;
Este a%eto in)andes)entePela 0ola se regula$ue vertiginosa#ente:a roleta salta e pula<
Figueiredo
+osse#e)9 o #o3o esti#aDando a 0ola de u# a doze*as de treze para )i#aCe n7est pas la même choseDola
; II ;
H ouveia u# 0o# patetaSe sup@e (ue inda o (uisesse$uando a 0ola da roletaA pri#eira ?2 n1o desse<
Figueiredo
A #ulata 0rasileiraDe )arinhos é %e)unda8E#0ora dando a pri#eira8E#0ora dando a segunda<
ola — E, por outro la#o, an#o apreensiva...
Figueiredo — $or qu<
ola — $orque... ? senhor no estranhe estas confi#ncias por parte #e uma mulher que nem ao menossabe o seu nome.
Figueiredo — 5i2ueire#o...
ola — Mas, como >" #isse, a sua fisionomia * to insinuante... simpatio muito com o senhor.
Figueiredo — +reia que lhe pa2o na mesma moe#a. Di2o-lhe mais8 se eu no tivesse a minhaespeciali#a#e... 6 $ parte.7 Deixem l"! %e o moreno fosse mais carre2a#o...
ola — An#o apreensiva porque a Merce#es me contou que h" #ias viu o 4ouveia no teatro com uma famliaque pelos mo#os parecia 2ente #a ro)a... e ele conversava muito com uma mo)a que no era na#a feia...Tenho eu que ver se o tratante se apanha com uma boa bola#a arran>a cas1rio e eu fico a chuchar no #e#o!
Figueiredo 6 $ parte.7 — Ela exprime-se com muita ele2/ncia!
ola — Dos homens tu#o h" que esperar!
Figueiredo — Tu#o, principalmente quan#o #" a primeira #ia.
ola 6%stendendo a m4o que ele aperta.7 — A#eus, 5i2ueire#o.
Figueiredo — A#eus... +omo te chamas<
ola — :ola.
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Figueiredo — A#eus, :ola.
ola 6om uma id5ia.7 — Ah! uma coisa8 voc * homem que v" a uma festa<
Figueiredo — +onforme.
ola — Eu fa)o anos s"ba#o...
Figueiredo — Este a2ora<
ola — o@ o outro.
Figueiredo — %"ba#o #e aleluia<
ola — %"ba#o #e aleluia, sim. 5a)o anos e #ou um baile = fantasia.
Figueiredo — 3ravo! o faltarei!
ola — +ontanto que v" fantasia#o! %e no vai, no entra!
Figueiredo — Frei fantasia#o.
ola — Aqui tem voc a minha mora#a. 6;10lhe um cart4o.7
Figueiredo — Aceito com muito praer, mas olhe que no vou soinho...
ola — Vai com quem quiseres.
Figueiredo — :evo comi2o uma tri2ueira que estou lan)an#o, e que precisa >ustamente #e ocasi0es comoessa para civiliar-se.
ola — Aquela casa * tua, meu velho! 6Vendo -oueia que entra do outro lado, cabisbai<o, e n4o repara
nela.7 ?lha quem vem ali!
Figueiredo — ;uem<
ola — Aquele * que * o 4ouveia.
Figueiredo — Ah! * aquele<... +onhe)o-o #e vista... B um mo)o #o com*rcio.
ola — 5oi. (o>e no fa outra coisa seno >o2ar. Mas como est" cabisbaixo e pensativo! ;uerem ver que aprimeira #ia...
Figueiredo — A#eus! Deixo-te com ele. At* s"ba#o #e aleluia!
ola — o faltes, meu velho! 6 Apertam0se as m4os.7
Figueiredo 6 $ parte.7 — Dir-se-ia que an#amos >untos na escola! 6Sai.7
; Cena I+ ;
ola, Gouveia
Gouveia 6;escendo cabisbai<o ao prosc7nio.7 — (" trs #ias #" a se2un#a #ia... +onsultei ho>e a escrita8per#i em noventa e cinco bolas o que tinha 2anho em perto #e mil e #uentas! Deci#i#amente aquele famosopa#re #o $ar" tinha rao quan#o #iia que no se #eve apontar a roleta nem com o #e#o, porque o pr1prio#e#o po#e l" ficar!
ola 6 $ parte, do outro lado.7 — 5ala soinho!
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Gouveia — (ei #e achar a forra! ? #iabo * que fui obri2a#o a pCr as >1ias no pre2o. Venho neste instante #acasa #o >u#eu. B sempre pelas >1ias que come)a a esbo#e2a)o...
ola 6 $ parte.7 — +ontinua... Aquilo * coisa...
Gouveia — +om certea vo #ar por falta #os meus brilhantes... $obre ;uinota! %e ela soubesse! Ela, tosimples, to in2nua, to sincera!
ola 6 Apro<imando0se inopinadamente.7 — Tu est"s maluco<
Gouveia — (ein<... Eu... Ah! *s tu< +omo vais<...
ola — Estavas falan#o soinho<
Gouveia — 5aen#o uns c"lculos...
ola — Aconteceu-te al2uma coisa #esa2ra#"vel< Tu no est"s no teu natural!
Gouveia — %im... aconteceu-me... fui rouba#o... um 2atuno levou as minhas >1ias... e eu estava aquiplane>an#o #eixar ho>e a primeira #ia e atacar #ois es2uichos, o es2uicho #e Q a HR e o es2uicho #e RJ a
IL, a #obrar, a #obrar!
ola 6om 3mpeto.7 — A primeira #ia falhou<
Gouveia — 5alhou... 6 A um "esto de +ola.7 Mas #escansa8 eu >" a tinha aban#ona#o antes que ela meaban#onasse.
ola — Tens ento continua#o a 2anhar<
Gouveia — Escan#alosamente!
ola — Ain#a bem, porque s"ba#o #e aleluia fa)o anos...
Gouveia — B ver#a#e... faes anos no s"ba#o #e aleluia...
ola — B preciso 2astar muito #inheiro! Tenho te procura#o um milho #e vees! o hotel #iem-me que l"nem apareces!
Gouveia — Exa2era)o.
ola — E outra coisa8 quem era uma famlia com quem estavas uma noite #estas no %. $e#ro< Uma famlia#a ro)a<
Gouveia — ;uem te #isse<
ola — Disseram-me. ;ue 2ente * essa<
Gouveia — Uma famlia muito respeit"vel que eu conheci quan#o an#ei por Minas.
ola — 4ouveia, 4ouveia, tu en2anas-me!
Gouveia — Eu< ?h! :ola! unca te autoriei a #uvi#ares #e mim!...
ola — essa famlia h" uma mo)a que... ?h! o meu cora)o a#ivinha uma #es2ra)a, e... 6;esata a chorar.7
Gouveia 6 $ parte.7 — B preciso, realmente, que ela me ame muito, para ter um pressentimento assim!6 Alto.7 Ento< ;ue * isso< o chores! V que estamos na rua!...
ola 6 $ parte.7 — $e#a)o #Nasno!
Gouveia — Eu irei lo2o l" = casa, e conversaremos.
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ola — o! no te #eixo! ("s #e ir a2ora comi2o, h"s #e acompanhar-me, seno #esapareces como aquelave, no :ar2o #a +arioca!
Gouveia — Mas...
ola — ?u tu me acompanhas, ou #ou um esc/n#alo!
Gouveia — 3om, bom, vamos. Tens a o carro<
ola — o, que o :ouren)o, coita#o, foi passar uns #ias em +axambu. Vamos a p*. 3em sei que tu tensver2onha #e an#ar comi2o em pblico, mas isso so luxos que #eves per#er!
Gouveia — Vamos! 6 $ parte.7 (ei #e achar meio #e escapulir...
ola — Vamos! 6 $ parte.7 ?u eu me en2ano, ou est" liqui#a#o! 6 Aastam0se. %ntram pelo outro lado%us5bio, !ortunata e /uinota, que os 7em sem serem istos por eles.7
; Cena + ;
us1bio, Fortunata, 2uinota
Fortunata — ?lhe. :" vai! B ele! B seu 4ouveia com a mesma espanhola com quem estava aquela noite no >ar#im #o &ecreio! 6orrendo a "ritar.7 — %eu 4ouveia! seu 4ouveia!...
us1bio 6 A"arrando0a pela saia.7 — 9 senhora! no fa)a esc/n#alo! ;ue maluquice #e mui5!...
2uinota 6 Abra#ando o pai, chorosa.7 — $apai, eu sou muito infeli!
us1bio — Aqui est"! B o que a senhora queria!
Fortunata — Aquilo * um #esaforo que eu no posso admiti ! ? #iabo #o home * noivo #e nossa filha e an#a
por to#a a parte cuma pelintra!
us1bio — ;ue pelintra, que na#a!... o acre#ita, ia #a minha ben#a. B uma prima #ele. +oita#inha!+horan#o! 6ei*a0lhe os olhos.7
2uinota — Eu 2osto tanto #aquele in2rato!
us1bio — Ele tamb*m 2osta #e ti... e h" #e cas1 conti2o... e h" #e s7 um bom mari#o!
Fortunata 68u<ando %us5bio de lado.7 — B perciso que voc tome uma porid7ncia quaqu5, seu Eus*bio —seno, fa)o uma estrala#a!...
us1bio 6ai<o.7 — Descanse... Eu >" tomei informa)o... '" sei on#e mora essa espanhola... A2ora mesmovou procur1 ela. V1 as #uas >" pra casa! Eu >" vou.
Fortunata — E 'uquinha< $or on#e an#a aquele menino<
us1bio — Deixe, que o pequeno no se per#e... Est" l" no t1 3el1#romo, apren#en#o a and1 naquelacoisa... umo chama<
2uinota — 3icicleta.
us1bio — B. — Di que * bom pra desenor7 os m@squios!
Fortunata — ;esenor7 a va#ia)o * que *!
2uinota — Ele * to crian)a!
us1bio — Deixa o menino se adierti . — Vo pra casa.
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2uinota — :" vamos para aquele forno!
us1bio — Tem pacincia, ;uinota! Enquanto no se arran>a coisa mió, a 2ente #eve se content1 cNaquelesote.
Fortunata — Vamo, ;uinota!
2uinota — o se #emore, papai!
us1bio — o.
Fortunata 6Saindo.7 — Eu t6 mas * #oi#a pra me apanh1 na faen#a! 6%us5bio lea as senhoras at5 obastidor e, oltando0se, 7 pelas costas eninda.7
; Cena +I ;
us1bio, /envinda
/envinda 6onsi"o.7 — $arece que assim o meu and1 t" #ireito...
us1bio 6onsi"o.7 — i que tenta)o! 6Se"uindo eninda.7 $siu!... 9 Dona... Dona!...
/envinda 6 $ parte.7 — Esta vo... 6Volta0se.7 %inhC Eus*bio!
us1bio — 3envin#a!!...
/envinda (Assestando o face-en-main.7 — C reo1.
us1bio — A mulata #e luneta, minha ossa %enhora! Este mun#o t1 per#i#o!...
/envinda (;ando0se ares e sibilando os esses.7 — Dese>a al2uma coisa< Estou as suas ordes!
us1bio — Ah! ah! ah! que mulata pern1stica! ;uem havia #e diz7! Vem c", #iabo, vem c"@ me conta tuavi#a!
/envinda 6Mudando de tom.7 — VamBc7 no t1 an2a#o comi2o<
us1bio — Eu no! Tu era senhora #o teu nari! ? que tu po#ia t7 feito era se despedi #a 2ente... Dona5ortunata no te per#oa! E seu or"e, quan#o soub5, h" #e ic1 #ana#o, porque ele 2osta #e ti.
/envinda — %e ele 2ostasse #e mim, tinha se casa#o comi2o.
us1bio — Ele um #ia me #eu a entend7 que se eu te #esse um #ote...
/envinda — Vamc7s ain#a mora no hot5<
us1bio — o. os mudemo para um sote #a rua #os &n1lio. 8a"uemo sessenta mi0r5is.
/envinda — %eu 4ouveia >" apareceu<
us1bio — Apareceu e tu#o t1 combina#o... 6 $ parte.7 ? #iabo * a espanhola!
/envinda — %inh"< nhanh4< nh6 'uquinha< tu#o t1 bom<
us1bio — Tu#o! Tu#o t1 bom<
/envinda — :h6 'uquinha eu ve>o ele =s ez pass1 na &ua #o :avra#io... com outros menino...
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us1bio — T1 apren#en#o a and1 no... n... nesses carro #e #uas roda, uma atr"s outra a#iante, que a 2entetrepa em cima e tem um nome esquisito...
/envinda — Eu sei.
us1bio — E tu, mulata<
/envinda — Eu t6 com seu 5i2ueire#o.
us1bio — %ei l" quem * seu 5i2ueire#o!
/envinda — Tou moran#o na &ua #o :avra#io, canto #a &ua #a &ela)o. 6 Assestando o face-en-main.7 %equis5 aparec7 no fa)a cerimCnia. 6Sai requebrando0se.7 C reo1us1bio — A, mulata!
; Cena +II ;
us1bio, depois 3u&uinha
us1bio — ? curpado fui eu... ;uan#o me alembro que seu or"e queria cas1 com ela... 3astava um #ote,quaqu5 coisa... #ois ou trs conto #e r*is... Mas #eixa est18 ele no sabe #e na#a, e tarez que a coisa ain#ase arran>e. ;uem no sabe * como quem no v. 6Vendo passar 9uquinha montado numa bicicleta.7 Eh!'uquinha... Menino, vem c"!
3u&uinha — A2ora no posso, no, sinh6! 6;esaparece.7
us1bio — Ah! menino! Espere l"! 6orre atr1s do 9uquinha. -ar"alhada dos circunstantes. Muta#4o.7
$uadro +I
Saleta em casa de ola
; Cena I ;
ola e Gouveia
ola entra !uriosa. 6ra+ vestidauma elegante bata. Gouveia acompanha-a.Bem vestido de e!istó!eles.
ola — o! Fsto no se fa! E o senhor escolheu o #ia #os meus anos para me faer essa revela)o! Deviaesperar pelo menos que acabasse o baile! +om que mau humor vou a2ora receber os meus convi#a#os!6aindo numa cadeira.7 ?h! os meus pressentimentos no me en2anavam!...
Gouveia — Esse casamento * inevit"vel@ quan#o estive em %. 'oo #o %abar", comprometi-me com afamlia #e minha noiva e no posso faltar = minha palavra!
ola — Mas por que no me #isse na#a< $or que no foi franco<
Gouveia — %upus que essa #vi#a tivesse ca#o em exerccios fin#os@ mas a pequena teve sau#a#es minhas,e tanto fe, tanto chorou, que o pai se viu obri2a#o a vir procurar-me! +omo vs, * uma coisa s*ria!
ola — Mas o senhor no po#e procurar um subterf2io qualquer para evitar esse casamento< ;ue i#*ia *essa #e se casar a2ora que est" bem, quem tem si#o feli no >o2o< E eu< que papel represento eu em tu#oisto<
Gouveia 68u<ando uma cadeira.7 — :ola, vou ser franco, vou #ier-te to#a a ver#a#e. 6Senta0se.7 (" muitotempo no fa)o outra coisa seno per#er... ? outro #ia tive uma ara2em passa2eira, um sopro #e fortuna,
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que serviu apenas para pa2ar as #espesas #a tua festa #e ho>e e man#ar faer esta roupa #e Mefist1feles!Estou completamente per#i#o! As minhas >1ias no foram rouba#as, como eu te #isse. Deitei-as no pre2o even#i as cautelas. $ara faer #inheiro, eu, que aqui vs coberto #e se#a, tenho ven#i#o at* a roupa #o meuuso... essas casas #e >o2o >" no tenho a quem pe#ir #inheiro empresta#o. ?s banqueiros olham-me porcima #os ombros, porque eu tornei-me um piaba... %abes o que * um piaba< B um su>eito que vai >o2ar commuito pouco ba2o. Estou completamente per#i#o!
ola 6%r"uendo0se.7 — 3om. $refiro essa franquea. B muito mais rao"vel.
Gouveia 6%r"uendo0se.7 — Esse casamento * a minha salva)o@ eu...
ola — o precisa #ier mais na#a. A2ora sou eu a primeira a aconselhar-te que te cases, e quanto antesmelhor.
Gouveia — Mas, minha boa :ola, eu sei que com isso vais pa#ecer bastante, e...
ola — Eu< Ah! ah! ah!... %1 esta me faria rir!... Ah! ah! ah! ah!... %empre me saste um 2ran#e tolo! $oisentrou-te na cabe)a que eu al2um #ia quisesse #e ti outra coisa que no fosse o teu #inheiro<
Gouveia 6orrorizado.7 — ?h!
ola — E realmente supunhas que eu te tivesse amor<
Gouveia 6aindo em si.7 — +ompreen#o e a2ra#e)o o teu sacrifcio, minha boa :ola. Tu est" a fin2ir umaperversi#a#e e um cinismo que no tens, para que eu saia #esta casa sem remorsos! Tu *s a Ma#alena, #e$inheiro +ha2as!
ola — E tu *s um asno! — ? que te estou #ien#o * sincero! Estava eu bem avia#a se me apaixonasse porquem quer que fosse!
Gouveia — Dar-se-" caso que te sassem #o cora)o to#os aqueles horrores<
ola — Do cora)o< %ei l" o que isso *! ? que afian)o * que sou to sincera, que me comprometo a amar-teain#a com mais veemncia que #a primeira ve, no #ia em que resolveres #ar cabo #o #ote #a tua futuraesposa!
Gouveia 6om uma e<plos4o.7 — +ala-te, vbora #ana#a! ?lha que nem o >o2o, nem os teus bei>os metiraram totalmente o brio! Eu posso faer-te pa2ar bem caro os teus insultos!
ola — ?ra, vai te catar! %e >ul2as ame#rontar-me com esses ares #e 2al #e #ramalho, en2anas-tere#on#amente! Depois, repara que est"s vesti#o #e Mefist1feles! Esse tra>e pre>u#ica os teus efeitos#ram"ticos! Vai, vai ter com a tua roceira. +asem-se, se>am muito felies, tenham muitos 4ouveiainhos, eno me amoles mais! 6-oueia aan#a, quer dizer al"uma coisa, mas n4o acha uma palara. %ncolhe osombros e sai.7
; Cena II ;
ola, depois ouren<o
ola 6Só.7 — 5altou-lhe uma frase, para o final #a cena — coita#o! A respeito #a ima2ina)o, este pobrerapa foi sempre uma l"stima! — ?s homens no compreen#em que o seu nico atrativo * o #inheiro! Estepasc"cio #evia ser o primeiro a faer uma retira#a em re2ra, e no se su>eitar a tais sensaborias! 3astavamquatro linhas pelo correio. — ?h! tamb*m a mim, quan#o eu ficar velha e feia, nin2u*m me h" #e querer! ?shomens tm o #inheiro, n1s temos a belea@ sem aquele e sem esta, nem eles nem n1s valemos coisanenhuma. 6%ntra +ouren#o, tra*ando uma libr5 de cocheiro. Vem a rir0se.7
ouren<o — ;ue foi aquilo<
ola — Aquilo qu<
ouren<o — ? 4ouveia! Veio unin#o pela esca#a abaixo e, no sa2uo, quan#o eu me curveirespeitosamente #iante #ele, man#ou-me ao #iabo, e foi pela rua fora, a p*, vesti#o #e satan"s #e m"2ica!Ah! ah! ah!
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ola — Daquele estou eu livre!
ouren<o — Eu no #iia a voc< Aquilo * bananeira que >" #eu cacho!
ola — ;ue vieste faer aqui< o te #isse que ficasses l" embaixo<
ouren<o — Disse, sim, mas * que est" a um matuto, pelos mo#os faen#eiro, que #ese>a falar a voc.
ola — A ocasio * impr1pria. %o quase horas, ain#a tenho que me vestir!
ouren<o — +oita#o! o pobre-#iabo >" aqui veio um ror #e vees a semana passa#a, e parece ter muitointeresse nesta visita. Demais... voc bem sabe que nunca se man#a embora um faen#eiro.
ola — ;ue horas so<
ouren<o — ?ito e meia. '" esto na sala al2uns convi#a#os.
ola — 3em! num quarto #e hora eu #espacho esse matuto. 5ae-o entrar.
ouren<o — B >". 6Sai assoiando.7
ola 6Só.7 — +omo an#a a2ora l*pi#o o :ouren)o! Voltou #e +axambu que nem parece o mesmo! — Ele temrao8 um faen#eiro nunca se man#a embora.
ouren<o 6&ntroduzindo %us5bio muito corretamente.7 — Tenha V. Exa. a bon#a#e #e entrar. 6%us5bio entramuito encaiado e +ouren#o sai echando a porta.7
; Cena III ;
ola, us1bio
us1bio — 3oa n6te, ma#ama! Deus este*e nesta casa!
ola — 5a favor #e entrar, sentar-se e #ier o que #ese>a. 6Oerece0lhe uma cadeira. Sentam0se ambos.7
us1bio — a sumana passa#a eu precurei a ma#ama um ban#o #e ve sem conse2uir le al1...
ola — E por que no veio esta semana<
us1bio — Dona 5ortunata no quis, por s7 sumana santa... Eu ento esperei que rompesse as aleluia!6Dma pausa.7 — Eu pensei que a ma#ama embrulhasse ln2ua comi2o, e eu no enten#esse na#a que ama#ama #issesse, mas t6 ven#o que fala muito bem o portu2us...
ola — Eu sou espanhola e... o senhor sabe... o espanhol parece-se muito com o portu2us@ por exemplo8
hombre, homem@ mu*er , mulher.
us1bio 6Mostrando o chap5u que tem na m4o.7 — E como * chap*u, ma#ama<
ola — Sombrero.
us1bio — E 2uar#a-chuva<
ola — 8ara"uas.
us1bio — B! $arece quase a mesma coisa! — E ca#eira<
ola — Silla.
us1bio — E >anela<
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ola — Ventana.
us1bio — Muito pareci#o!
ola — Mas, per#o, creio que no foi para apren#er espanhol que o senhor veio = minha casa...
us1bio — o, ma#ama, no foi para aprend7 espanhol8 foi para trat1 #e coisa munto s*ria!
ola — De coisa s*ria< +omi2o! B esquisito!...
us1bio — o * esquisito, no ma#ama@ eu sou o pai #a noiva #e seu 4ouveia!...
ola — Ah!
us1bio — umo minha ia an#a munto #es2ostosa pru via #a ma#ama, eu me alembrei #e i na sua casapara sab7... sim, para sab7 se * possie a ma#ama se separ1 #e seu 4ouveia. %e 6 possie, munto quebem@ se no 6, pacincia8 a 2ente arruma as mala, e amenh4 memo orta pra faen#a. Minha ia * bonita e* rica@ no h" #e s7 #efunto sem choro!...
ola — +ompreen#o8 o senhor vem pe#ir a liber#a#e #e seu futuro 2enro!
us1bio — %im, ma#ama@ eu quero o mo)o livre e #esembara)a#o #e quaqu5 Cnus! 6+ola leanta0se,in"indo uma como#4o e<traordin1ria= quer alar, n4o pode, e acaba numa e<plos4o de l1"rimas. %us5bioleanta0se.7 ;ue * isso< A ma#ama t1 choran#o<!...
ola 6%ntre l1"rimas.7 — $er#er o meu a#ora#o 4ouveia! ?h! o senhor pe#e-me um sacrifcio terrvel!68ausa.7 Mas eu compreen#o... Assim * necess"rio... Entre a mulher per#i#a e a menina casta e pura. Entreo vcio e a virtu#e, * o vcio que #eve ce#er... Mas o senhor no ima2ina como eu amo aquele mo)o equantas l"2rimas preciso verter para apa2ar a lembran)a #o meu amor #es2ra)a#o! 6 Abra#a %us5bio,escondendo o rosto nos ombros dele, e solu#a.7 %ou muito infeli!
us1bio 6;epois de uma pausa, em que az muitas caretas.7 — Ento, ma#ama<... sosse2ue... A ma#amano per#e na#a... 6 $ parte.7 ;ue can2ote cheiroso!...
ola (Olhando para ele, sem tirar a cabe#a do ombro.7 — o perco na#a< que quer o senhor #ier comisso<
us1bio — ;uero diz7 que... sim... quero diz7... ome, ma#ama, tira a cabe)a #a, porque assim eu noacerto cas palavras!
ola 6Sem tirar a cabe#a.7 — %im, a minha porta se fechar" ao 4ouveia... 'uro-lhe que nunca mais o verei...Mas on#e irei achar consola)o<... ?n#e encontrarei uma alma que me compreen#a, um peito que meabri2ue, um cora)o que vibre harmonia#o com o meu<
us1bio — 1s podemo entr1 num a>uste.
ola 6 Aastando0se dele com 3mpeto.7 — Um a>uste<! ;ue a>uste<! ? senhor quer talve propor-me#inheiro!... ?h! por amor #essa inocente menina, que * sua filha, no insulte, senhor, os meus sentimentos,
no ofen#a o que eu tenho #e mais sa2ra#o!...
us1bio 6 $ parte.7 — B um panca#o! %eu 4ouveia teve bom 2osto!...
ola — ? senhor quer que eu #eixe o 4ouveia porque sua filha o ama e * ama#a por ele, no * assim< $oisbem8 * seu o 4ouveia@ #ou-lho, mas #ou-lho #e 2ra)a, no exi>o a menor retribui)o!
us1bio — Mas o que vinha prop6 = ma#ama no era um pa2amento, mas uma... umo chama aquilo quese falou cando foi o HI #e Maio< Uma... ?ra, sinh6! 6+embrando0se.7 Ah! uma in#enia)o! ? caso mu#amuito #e fi2ura!
ola — o! — nenhuma in#enia)o preten#o! Mas #e ora em #iante fecharei o meu cora)o aos mancebos#a capital, e s1 amarei 6%nquanto ala ai arran*ando o la#o da "raata e a barba de %us5bio.) al2um homems*rio... #e meia-i#a#e... filho #o campo... in2nuo... sincero... incapa #e um embuste... 6 Alisando0lhe o
cabelo.7 — ?h! o exi2irei que ele se>a belo... ;uanto mais feio for, menos cimes terei! 6%us5bio cai comodesalecido numa cadeira, e +ola senta0se no colo dele.7 A esse hei #e amar com frenesi... com #elrio!...6%nche0o de bei*os.7
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us1bio 6?esistindo e "ritando.7 — Eu quero i me embora! 6%r"ue0se.7
ola — +ala-te, crian)a louca!...
us1bio — +rian)a louca! U!...
ola 6om eem7ncia.7 — Des#e que transpuseste aquela porta, senti que uma for)a misteriosa e ma2n*ticame impelia para os teus bra)os! ?ra, o 4ouveia! ;ue me importa a mim o 4ouveia se *s meu, se est"s presopela tua :ola, que no te #eixar" fu2ir<
us1bio — Fsso tu#o * ver#a#e<
ola — Estes sentimentos no se fin2em! Eu a#oro-te!
us1bio — Eu me conhe)o... >" sou um home #e i#a#e... no sei al1 como os dout6 #a capit1 eder1...
ola — Mas * isso mesmo o que mais me encanta na tua pessoa!
us1bio — ;uan#o a esmola * munta, o pobre #esconfia.
ola — $0e = prova o meu amor! '" te no sacrifiquei o 4ouveia<
us1bio — Fsso * ver#a#e.
ola — $ois sacrifico-te o resto!... ;ueres que me #esfa)a #e tu#o quanto possuo, e que v" viver conti2onuma ilha #eserta<... ?h! bastam-me o teu amor e uma choupana! 6 Abra#a0o.7 D"-me um bei>o! D"-mocomo um presente #o c*u! 6%us5bio limpa a boca com o bra#o e bei*a0a.7 Ah! 6+ola echa os olhos e icacomo num 7<tase.7
us1bio 6 $ parte.7 — %eu Eus*bio t1 per#i#o! 6;10lhe outro bei*o.7
ola 6Sem abrir os olhos.7 — ?utro... outro bei>o ain#a... 6%us5bio bei*a0a e ela aasta0se, esre"ando osolhos.7 ?h! o ser" isto um sonho<
us1bio — 3om, ma#ama, com sua licen)a8 eu vou me embora...
ola — o@ no consinto! 5a)o ho>e anos e #ou uma festa. A minha sala >" est" cheia #e convi#a#os.
us1bio — Ah! por isso * que, quan#o eu entrei, subia uns mascarado...
ola — %im@ * um baile = fantasia. $recisas #e um vestu"rio.
us1bio — ;ue vestu"rio, ma#ama<
ola — Espera. Tu#o se arran>ar". 6Vai 2 porta.7 :ouren)o!
us1bio — ;ue vai az7, ma#ama<
ola — Vais ver.
; Cena I+ ;
's mesmos, ouren<o
ola 6 A +ouren#o que se apresenta muito respeitosamente.7 — V" com este senhor a uma casa #e alu2arvestimentas = fantasia a fim #e que ele se prepare para o baile.
us1bio — Mas...
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ola [email protected] — ?h! no me #i2as que no! 6 A +ouren#o.7 — D or#em ao porteiro para no #eixar entrar o%r. 4ouveia. Esse mo)o morreu para mim!
ouren<o 6 $ parte.7 — ;ue #iabo #isto ser" aquilo<
ola 6ai<o a %us5bio.7 — Est"s satisfeito< 6 Antes que ele responda.7 Vou preparar-me tamb*m. At* lo2o!6Sai pela direita.7
; Cena + ;
us1bio, ouren<o
us1bio 6onsi"o.7 — %im, sinh6@ isto * o que se chama i busc1 l e sa3 tosquia#o! — %e Dona 5ortunatasoubesse... 6;ando com o +ouren#o.7 Vamos l", seu... cumo o sinh6 se chama<
ouren<o — :ouren)o, para servir a V. Ex.S
us1bio ) Vamos l", seu :ouren)o... 6Sem arredar p5 de onde est1.7 Fsto * o #iabo! Enfim!... Mas que
espanhola #ana#a! 6%ncaminha0se para a porta e az lu"ar para +ouren#o passar .7 5a a6!
ouren<o 6&nclinando0se.7 — ?h! meu senhor... isso nunca... eu, um cocheiro!... Ento< $or obs*quio!
us1bio — $asse, seu :ouren)o, passe, que o sinh6 * #e casa e est" far#a#o! 6+ouren#o passa e %us5bioacompanha0o. Muta#4o.7
$uadro +II
=ico sal%o de baile pro!usamente iluminado.
; Cena I ;
=odrigues, 4olores, ercedes, /lanchette, conidados. 6%st4o todos estidos 2 antasia.7
Coro
$ue lindo 0aile< (ue 0ela %esta<Luzes e %lores e# pro%us1o<A nossa Lola n1o é #odesta<Eu sinto aos pulos o )ora31o<
ercedes, 4olores e /lanchette
Senhores e senhoras8Divirta#-se a %artar<KAlegre#ente as horas+e?a#os deslizar<A #o)idade é sonhoEspl9ndido e risonhoK$ue r2pido se esvaiPortanto8 a #o)idadeCo# voluptuosidadeDepressa aproveitai<
/lanchette
Dan)e#os8 (ue a dan3a8
Se o )orpo nos )ansa8A al#a nos lan3a:u# #undo #elhor<
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4olores
e0a#os8 (ue o vinho8Co# do)e )arinho8:os #ostra o )a#inhoFulgente do a#or<
ercedes
A#e#os8 e#0oraChegadas B horaDa %Glgida aurora8Dei>e#os de a#ar<$ue e# n/s os a#ores8Tal )o#o nas %loresPer%u#es e )ores8:1o possa# durar<
"s 6rês
Dan)e#os<e0a#os< A#e#os<
=odrigues 6/ue est1 estido de Arlequim.7 — Ento< ;ue me #iem #esta fantasia< Vocs ain#a no me#isseram na#a!...
ercedes — Deliciosa!
4olores — Ma2nfica.
/lanchette — E patante=odrigues — %aiu baratinha, porque foi feita em casa pelas meninas. +omosabem, sou o homem #a famlia.
ercedes — Voc confessou em casa que vinha ao baile #a :ola<
=odrigues — o, que isso talve aborrecesse minha senhora. Eu #isse-lhe que ia a um baile #a#o em$etr1polis pelo Ministro Fn2ls...
6odas — Ah! ah! ah!...
=odrigues 6ontinuando.7 — ...baile a que no po#ia faltar por amor #e uns tantos interesses comerciais...
/lanchette — Ah! seu patife!
4olores — De mo#o que, neste momento, a sua pobre senhora >ul2a-o em $etr1polis.
=odrigues 6onidencialmente, muito risonho.7 — %a ho>e #e casa com a minha bela fantasia #entro #euma mala #e mo, e fin2i que ia tomar a barca #as quatro horas. Tomei mas foi um quarto #o hotel, on#e o
austero ne2ociante >antou e on#e = noite se transformou no polcromo arlequim que esto ven#o — e #epois,meten#o-me num carro fecha#o, voei a esta #eliciosa manso #e encantos e praeres. Tenho por mim to#a anoite e parte #o #ia #e amanh, pois s1 tenciono voltar = tar#inha. Ah! no ima2inam vocs com quesau#a#e estou #a famlia, e com que satisfa)o abra)arei a esposa e os filhos quan#o vier #e $etr1polis!
ercedes — Voc * na reali#a#e um pai #e famlia mo#elo!
4olores — Um exemplo #e to#as as virtu#es!
/lanchette — Esse vestu"rio #e Arlequim no lhe fica bem! Voc #evia vestir-se #e +ato!
=odrigues — Trocem = vonta#e, mas creiam que no h" no &io #e 'aneiro um chefe #e famlia maiscompleto #o que eu. 6 Aastando0se.7 Em minha casa no falta na#a. 6 Aasta0se.7
ercedes — a#a, absolutamente na#a, a no ser o mari#o.
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4olores — B um 2ran#e tipo.
/lanchette — E a 2ra)a * que a senhora pa2a-lhe na mesma moe#a!
ercedes — B mais escan#alosa que qualquer #e n1s.
4olores — o quero ser m" ln2ua, mas h" #ias encontrei-a num bon#e #a Vila Fsabel muito a2arra#inhaao :ima 4ama!
/lanchette — Aqueles bon#es #a Vila Fsabel so muito compromete#ores.
=odrigues 6Voltando.7 — ;ue esto vocs a a cochichar<
ercedes — 5al"vamos #a vi#a alheia.
/lanchette — Dolores contava que h" #ias encontrou num bon#e #a Vila Fsabel uma senhora casa#a quemora em 3otafo2o.
=odrigues — Fsso no tira! Talve fosse ao 'ar#im ool12ico.
4olores — Talve@ mas o leo ia ao la#o #ela no bon#e...
=odrigues — (", efetivamente, senhoras casa#as que se esquecem #o #ecoro que #evem a si e =socie#a#e!
"s 6rês 6om conic#4o.7 — Fsso h"...
=odrigues — $or esse la#o posso levantar as mos para o c*u! Tenho uma esposa virtuosa!
ercedes — Deus lha conserve tal qual tem si#o at* ho>e.
=odrigues — Am*m.
/lanchette — E :ola que no aparece<
4olores — Est" se vestin#o8 no tar#a.
m Convidado — ?h! que bonito par vem entran#o!
6odos — B ver#a#e!
' Convidado — 5a)amos alas para receb-lo!
=odrigues — $ropomos que o recebamos com um ratapl!
6odos — Apoia#o! Um ratapl... 6!ormam0se duas alas.7
Coro
Ratapl1< Ratapl1< Ratapl1<
!h8 (ue eleg&n)ia< (ue lindo par<...
Todos os outros v9# o%us)ar<
; Cena II ;
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's mesmos, Figueiredo e /envinda(ntra Figueiredo, vestido de =adam1s,tra+endo pela m%o /envinda,vestida de "ída.
Figueiredo
; I ;
Eis A"da8ConduzidaPela #1o de Rada#és<+e# )hi0ante8Corus)ante8Da )a0e3a até os pés<...$ue lindeza<$ue 0eleza<*eus senhores a(ui est2A trigueira*ais %a)eiraDe S1o 'o1o do Sa0ar2<
Coro
A trigueira8 et)...
Figueiredo
; II ;
Diz toli)es8Parvo")es8Se a0re a 0o)a pra %alarSe se )ala8Se n1o %ala8Pode as pedras en)antar<Eu a lan3o
Se# des)anso<:a pont"ssi#a estar2A trigueira*ais %a)eiraDe S1o 'o1o do Sa0ar2<
Coro
A trigueira8 et)...
Figueiredo — Minhas senhoras e meus senhores, apresento a Vossas Excelncias e %enhorias, Dona5re#e2on#a, que — #epois, bem enten#i#o, #as #amas que se acham aqui presentes — * a estrela mais
cintilante #o demi0monde carioca!
6odos 6&nclinando0se.7 — Dona 5re#e2on#a!
Figueiredo 6ai<o a eninda.7 — +umprimenta.
/envinda — C reo1Figueiredo 6ai<o.7 — o. Au reoir * quan#o a 2ente vai-se embora e no quan#oche2a.
/envinda — %ntonces...
Figueiredo 6ai<o.7 — +ala-te! o #i2as na#a!... 6 Alto.7 — +onvi#a#o pela 2entilssima :ola paracomparecer a este forrobo#1 ele2ante, no quis per#er o ma2nfico ense>o, que se me oferecia, #e iniciar aformosa 5re#e2on#a nos inson#"veis mist*rios #a 2alanteria fluminense! Espero que vossas excelncias e
senhorias queiram receb-la com benevolncia, #an#o o necess"rio #esconto =s cl"ssicas emo)0es #aestr*ia, e ao fato #e ser Dona 5re#e2on#a uma simples roceira, quase to selva2em como a princesa etopeque o seu vestu"rio representa.
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6odos 6atendo palmas.7 — 3ravo! 3ravo! Muito bem!
/lanchette 6 A !i"ueiredo.7 — Descanse. A inicia)o #esta ne1fita fica por nossa conta. 6 $s outras.7 o *assim<
4olores e ercedes — +ertamente. 6 As tr7s cercam eninda, que se mostra muito encaiada.7
Figueiredo 6Vendo ?odri"ues e apro<imando0se dele.7 — ?h! ;ue ve>o! Voc aqui!... Voc, o homem #afamlia, o moralista ret1rico e sentimental, o palmat1ria #o mun#o!...
=odrigues — %im... * que... so coisas... estou aqui por necessi#a#e... por inci#ente... por uma s*rie #ecircunst/ncias que... que...
Figueiredo — Deixe-se #isso! o h" na#a mais feio que a hipocrisia! aquela tar#e em que o encontrei no:ar2o #a +arioca, a mulata mostrou-me seu carto #e visitas...
=odrigues — ? meu<... Ah! sim, #ei-lhe o meu carto... para...
Figueiredo — $ara qu<
=odrigues — $ara...
Figueiredo — ?lhe, c" entre n1s que nin2u*m nos ouve8 quer voc tomar conta #ela<
=odrigues — ;u! $ois >" se aborreceu<
Figueiredo — To#o o meu praer * lan)"-las — lan)"-las e na#a mais. Voc viu a Mimi ilontra<
=odrigues — o.
Figueiredo — Mas sabe o que * lan)ar uma mulher<
=odrigues — esses assuntos sou h1spe#e... voc sabe... sempre fui um homem #a famlia... mas quer me
parecer que lan)ar uma mulher * como quem #i atir"-la na vi#a, inici"-la neste meio...
Figueiredo — Ah! qui qui! Fnfelimente no creio que #esta se possa faer al2uma coisa mais que uma boacompanheira. B uma mulher que lhe convinha.
=odrigues — Mas eu no preciso #e companheiras! %ou casa#o, e, 2ra)as a Deus, a minha santa esposa...
Figueiredo (Atalhando.7 — E o carto<
=odrigues — ;ue carto< Ah! sim, o carto #o :ar2o #a +arioca... Mas eu no me comprometi a coisanenhuma!
Figueiredo — 3om@ ento no temos na#a feito... Mas ve>a l"! — se quer...
=odrigues — ;uerer@ queria... mas no com car"ter #efinitivo!
Figueiredo — ?ra, v" pentear macacos!
Es ltimas dei$as, us1bio tem entrado, vestido com uma dessas roupas &ue vulgarmente sechamam de princês. us1bio aperta a m%o aos convidados um por um. 6odos se interrogam comos olhos admirados de t%o estranho convidado.
; Cena III ;
's mesmos8 us1bio
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us1bio 6;epois de apertar a m4o a muitos dos circunstantes.7 — T" tu#o oiando uns pros outro, admirado #e me 7 aqui! Eu fui convi#a#o pela ma#ama #ona #a casa!
/envinda 6 $ parte.7 — Sinh6 Eus*bio!...
Figueiredo 6 A quem %us5bio aperta a m4o, 2 parte.7 — ?h! #iabo! * o patro #a 3envin#a!...
/lanchette — Don#e saiu esta fi2ura<
4olores — B um homem #a ro)a!
/lanchette — o ser" um #oi#o<
us1bio 6&ndo apertar por @ltimo a m4o de eninda, reconhecendo0a. 7 — 3envin#a!
/envinda — C reo1Figueiredo 6 $ parte.7 — E ela a #ar-lhe!...
us1bio — Tu tamb*m t1 #e fantasia, mulata! ? mun#o t1 per#i#o!...
/envinda — Eu vim com seu 5i2ueire#o... mas anc7 * que me a#mira!
us1bio — Eu im al1 ca ma#ama pro mode seu 4ouveia... e ela me convi#ou pra festa... e eu tive quealu"1 esta vestimenta, mas vim #e tilbo porque ho>e * sabo #e aleluia e eu no quero embrulho comi2o!
Figueiredo 6 $ parte.7 — ?h! bom! foi o seu professor #e portu2us!
/envinda — %e sinh1 soubesse...
us1bio — +ala a boca! nem pens1 nisso * b4o! mas on#e t1 o t1 seu 5i2ueire#o< Eu sempre quero oi1 pracara #ele!
/envinda — B aquele.
us1bio 6&ndo a !i"ueiredo.7 — $ois foi o sinh6 que me #esencaminhou a mulata< ? sinh6, um home brancoe que >" come)a a pint1< A2ora me alembro #e 7 o sinh6 l" no hot5 s1 ron#an#o a porta #a 2ente!...
Figueiredo — Estou pronto a #ar-lhe to#as as satisfa)0es em qualquer terreno que mas pe)a... mas h" #econvir que este lu2ar no * o mais pr1prio para...
us1bio 6 Atalhando.7 — ?ra viva! Eu no quero satisfa)o! A mulata no * minha ia nem parenta minha!mas l" em %o 'oo #o %abar" h" um home chama#o seu or"e, que se souber... um! um!... * capa #e i na capit1 eder1!
Figueiredo — $ois que venha!...
ercedes — A che2a a :ola!
6odos — ?h! a :ola!... Viva a :ola!... Viva!...
; Cena I+ ;
!s #es#os8 ola
Coro
Até (ue en%i# Lola apare)e<Até (ue en%i# Lola )2 est2<+e# t1o 0onita (ue entonte)e<Lola8 ve# )2< Lola8 ve# ?2<...
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ola entra ricamente !antasiada A espanhola.
ola
$uere# todos ver a Lola<A(ui est2 ela<
Coro
A(ui est2 ela<
ola
!h8 (ue espl9ndida #anola<:1o h2 #ais 0ela<
Coro
:1o h2 #ais 0ela<
ola
+e?a# (ue gra3aTe# a #anola<:1o é )hala3a<:1o é parola<Co#o se agita<Co#o re0ola<Isto os e>)ita<Isto os )onsola<! olhar 0re?eiroDe u#a espanholaDo #ais #atreiroTranstorna a 0ola8E se# pandeiro8
:e# )astanhola<
Coro
+e?a# (ue gra3a8 et)... 4an<a geral .
Figueiredo — 4entilssima :ola, permite que &a#am*s te apresente A#a!
ola — 5ol2o muito #e conhec-la. +omo se chama<
/envinda — 3env... 6%mendando.7 — 5re#e2on#a.
us1bio 6 $ parte.7 — 5re#e2on#a< U! 3envin#a mu#ou #e nome!...
Figueiredo — Espero que lhe emprestes um raio #a tua lu ful2urante!
ola — $o#e contar com a minha amia#e.
Figueiredo — A2ra#ece.
/envinda — Merci .
us1bio 6 $ parte.7 — A, mulata!...
ola 6Vendo %us5bio.7 — 3ravo! o ima2ina como lhe fica bem essa fatiota!
us1bio — Di que * vestu"rio #e con#e.
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ola — Est" irresistvel!
us1bio — %1 a ma#ama po#ia me met7 nestas unduras!
/lanchette 6 A +ola.7 — ?n#e foste arran>ar aquilo<
ola — +ala-te! B um tesouro, um roceiro rico... e primitivo!
/lanchette — Tiraste a sorte 2ran#e!
ola — Meus ami2os, espera-os na sala #e >antar um ponche, um ponche monumental, que man#ei prepararno intuito #e animar as pernas para a #an)a e os cora)0es para o amor!
6odos — 3ravo! 3ravo!...
Figueiredo — Um ponche! esse caso, * preciso apa2ar as lues!
ola — '" #evem estar apa2a#as. 6 A %us5bio.7 — 5ica. $reciso falar-te.
ercedes — Ao ponche, meus senhores!
6odos — Ao ponche!...
/lanchette 6 A +ola.7 — o vens<
ola — Vo in#o. Eu >" vou. Man#a-me aqui al2umas ta)as.
4olores ) Ao ponche!
Coro
+a#os ao pon)he %la#e?ante<
+a#os ao pon)he se# tardar<! pon)he a(ue)e u# peito a#anteE as )ordas da al#a %az vi0rar<
Saem todos, menos ola e us1bio.
; Cena + ;
us1bio, ola
ola — ?h! finalmente estamos s1s um instante!
us1bio 6%m 7<tase.7 — +omo a ma#ama t1 bonita!
ola — Achas<
us1bio — 'uro por esta lu que nos alumeia que nunca vi uma mui5 to ermosa!...
ola — (ei #e pe#ir a Deus que me conserve assim por muito tempo para que eu nunca te #esa2ra#e!6%ntra +ouren#o com uma bande*a cheia de ta#as de ponche chame*ante.7
; Cena +I ;
's mesmos8 ouren<o
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us1bio — A#eusinho, seu :ouren)o. +omo passou #e in#a2orinha pra c"<
ouren<o 6&mperturb1el e respeitoso.7 — 3em@ a2ra#eci#o a vossa excelncia.
ola — Deixe a ban#e>a sobre esta mesa e po#e retirar-se. 6+ouren#o obedece e ai a retirar0se.7
us1bio — At* lo2o, seu :ouren)o. 6 Aperta0lhe a m4o.7
ouren<o — ?h! excelentssimo! 6!az uma mesura e sai, lan#ando um olhar si"niicatio a +ola.7
ola 6 $ parte.7 — B um bruto!
; Cena +II ;
ola, us1bio
us1bio — Este seu :ouren)o * muito #elica#o. Arruma incel7ncia na 2ente que * um 2osto!
ola 6Oerecendo0lhe uma ta#a de ponche.7 — nossa sa#e!
us1bio — 3ebi#a #e fo2o< o! no * o io #e meu pai!...
ola — $rova, que h"s #e 2ostar. 6%us5bio proa.7 Ento, que tal< 6%le bebe toda a ta#a.7
us1bio — ome, * muito b4o! umo chama isto<
ola — $onche.
us1bio — U! $onche no * aquela coisa que a 2ente veste cando amonta a cavalo<
ola — Aqui tens outra ta)a.
us1bio — Fsto no fa m1< Eu no tenho cabe)a forte!
ola — $o#es beber sem receio.
us1bio — Ento = nossa, pra que Deus nos livre #e al2uma co)a! 6ebe.7
ola ; Die... #ie que h"s #e ser meu... #"-me a esperan)a #e ser um #ia ama#a por ti!...
us1bio — Eu >" 2osto #e ma#ama cumo qu!
ola — o #i2as a ma#ama. Trata-me por tu.
us1bio — o me a>eito... po#e s7 que despois...
ola — Depois #o qu<
us1bio 6om riso tolo e malicioso.7 — Ah! ah!
ola 6;ando0lhe outra ta#a. 7 — 3ebe!
us1bio — Ain#a<
ola — Es2otemos >untos esta ta)a! 6ebe um "ole e d1 a ta#a a %us5bio.7
us1bio — Vou sab7 #os seus se"redo. 6ebe.7
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ola — E eu #os teus. 6ebe.7 — ?h! o teu se2re#o * #elicioso... tu 2ostas muito #e mim... #a tua :ola...mas receias que eu no se>a sincera... tens me#o #e que eu te en2ane...
us1bio 6&ndo a dar um passo e cambaleando.7 — Minha ossa %enhora! Eu tou fora #e mim! parece quetou sonhan#o!... ? t1 ponche tem feiti)o... mas * b4o... * muito b4o!... ;uero mais!
Dueto
ola
Dize #ais u#a vez< Dize (ue #e a#as<
us1bio
Eu ?2 disse e arrepito<
ola
! )ora31o #e in%la#a<+e# aos #eus 0ra3os< +e#<
Assi# )o#o eu te a#o8 ai< nun)a a#ei ningué#<Se deste a%eto duvidas8Se #e i#aginas per?ura8Co# essas #1os ho#i)idas*e )avas a sepultura<Ser2 o golpe )erteiro8A #orte ser2 horrenda<Tu és o #eu %azendeiroE eu sou a tua %azenda<
us1bio
Se é #oda a 0e0edeira8 tou na #oda8pois ve?o toda a )asa andando B roda<
ola
e0e ainda u#a ta3aAgora pode ser (ue 0e# te %a3a<
us1bio
4epois de beber.
:1o posso #ais< "tira a ta<a.!h8 Lola8 eu tou perdido<
ola
+e# )28 #eu 0e# (uerido<K'untos
ola us1bio
+e# aos #eus 0ra3os< 6ou nos seus bra<o<
Eusé0io8 ve#< A(ui #e te#<
!s #eus a0ra3os *as os abra<o
Te %aze# 0e#< :1o #e !a+ 0e#<
us1bio — ?h! tou cuma fo2ueira aqui #entro! mas * to b4o 6 Abra#ando +ola.7 :ola, eu sou teu... s1 teu...fa #e mim o que tu quiser , minha ne2ra!
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ola — Meu< Fsso * ver#a#e< Tu *s meu< Meu<
us1bio — %im, sou teu! T1 a! E a2ora< %ou teu e #e mais nin2u*m!...
ola — Ento, esta casa * tua! Bs o meu senhor, o meu #ono, e como tal quero que to#os te reconhe)am!6&ndo 2 porta e batendo palmas.7 Eh! ?l"! Venham to#os!... venham to#os! 6M@sica na orquestra.7
; Cena +III ;
6odos os personagens do ato.
Final
Coro
Lola nos )ha#a<$ue a)onte)eu$ue nos (uer Lola
$ue su)edeu
ola
*eus a#igos8 dese?o neste instanteApresentar-lhes o #eu novo a#ante<Ele a(ui est2< Eu o a#o e ele #e a#a.
us1bio — %im! Aqui est" o home #a ma#ama!
6odos — Ele!... 6 Admira#4o "eral .7
ola
Hs o #eu novo dono<
Pode dizer-#e= Hs #inha<H teu8 é teu so#ente! #eu sin)ero a#or<Eu dava-te o #eu tronoSe %osse u#a rainha<Tu8 e>)lusiva#ente8Hs ho?e o #eu senhor<
us1bio
Sou eu seu novo dono<Posso dizer= H #inha<H #eu uni)a#ente! seu sin)ero am5<Por ela eu #e apai>ono<A Lola é 0onitinha<Eu8 e>)lusiva#ente8Sou ho?e o seu sinh5<
ola
Hs o #eu novo dono< et)...
Coro
50
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Eis o seu novo dono<Pode dizer= H #inha<H dele uni)a#ente! seu sin)ero a#or<ostar assi# de u# #onoH sorte 0e# #es(uinha<Ele8 e>)lusiva#ente8H ho?e o seu senhor<...
Figueiredo
" us1bio.
:ossos )u#pri#entos8*eu a#igo8 aos )entos$ueira re)e0er<E )o#o ho?e é trun%o8Levado e# triun%oAgora vai ser<
Figueiredo e =odrigues carregam us1bio. 'rgani+a-se uma pe&uena marcha, &ue !a+ uma volta pela cena, levando o !a+endeiro em triun!o.
Coro
+iva< viva o %azendeiroona)h1o e prazenteiro$ue de u# peito 0andoleiro!s rigores a0randou8Con(uistando a linda Lola8Essa espl9ndida espanhola$ue o pa"s da )astanholaeneroso nos #andou<
us1bio 1 posto sobre uma mesa ao centro da cena.
us1bio
!0rigado<!0rigado<*as eu t5 #uito )hu#0ado<+e?o tudo do0rado<
ola
Dan)e#< dan)e#< tudo dan)e<:ingué# )anse:o canc%8Pois (ue# se a)ha a(ui presenteTudo é genteFolgaz1<
Coro
Si#< dan)e#os< ; tudo dan)e<:ingué# )anse:o canc%8Pois (ue# se a)ha a(ui presenteTudo é genteFolgaz1<
Can)1 desen!reado em volta da mesa.
PA:!
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AT! III
$uadro +III
" saleta de ola
) Cena I ;
us1bio, ola
us1bio, ridiculamente vestido A moda, prepara um enorme cigarro mineiro. ola, deitada no so!#, lê um ornal e !uma.
us1bio — Fsto t1 o #iabo! o sei #e Dona 5ortunata... no sei #e ;uinota... no sei #e 'uquinha... no sei#e seu 4ouveia... o tenho cora"e #e entr1 em casa!... %e eu me coness1, no encontro um pa#re que meabsora!... — :ola, :ola, que #iabo #e feiti)o foi este<... Tu fe #e mim o que tu bem quis!
ola — Est"s arrepen#i#o<
us1bio — o, arrepen#i#o, no tou, porque a coisa no se po#e diz7 que no se*e boa... Mas minha pobremui5 #eve est1 furiosa!... E ento quan#o ela me i assim to#o >anota, coNesta roupa #e araiate francs,feito monsi@ #a &ua #o Ouid6... ?h! :ola! :ola! as mui5 * os tormento #os home!... 6+ola que se temleantado e que tem ido, um tanto inquieta, at5 2 porta da esquerda, olta ao prosc7nio e em encostar0seao ombro de %us5bio.7
ola — ? tormento! ?h! no!...
Coplas
; I ;
*eu )aro a#igo8 esta vidaSe# a #ulher nada val<H sopa desen>a0ida8Se# u#a pedra de sal<Se a dor torna u# ho#e# triste8Te# ele )ura8 se (uerA pr/pria dor n1o resisteAos 0ei?os de u#a #ulher<
; II ;
Ao lado #eu8 (ueridinho8Ser2s ditoso e %elizTer2s todo o #eu )arinho8H o #eu a#or (ue to diz.Se tu #e a#as )o#o eu te a#o8Se respondes aos #eus ais8:ada #ais de ti re)la#o8:1o te pe3o nada #ais<
us1bio — Mas... me #i uma coisa@ #iabo, fala tua ver#a#e... Tu t1 inteiramente cura#a #e seu 4ouveia<
ola — o me fales mais nisso! 5oi um sonho que passou. 68ausa.7 A prop1sito #e sonho... foste ver navitrine #o :us #e &esen#e o tal broche com que eu sonhei<
us1bio 6o#ando a cabe#a.7 — 5ui... sabe quanto custa<
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ola 6om indieren#a.7 — %ei... uma ba2atela... um conto e oitocentos... 6Sobe e ai de noo obserar 2 porta da esquerda.7
us1bio 6 $ parte.7 — %im, * uma ba2atela... a espanhola 2osta #e mim, * ver#a#e, mas em to poucos #ias >" me custa cinco contos #e r*is! e a2ora o col1!...
ola 6 $ parte.7 — ;ue #emora! 6 Alto, descendo.7 Mas enfim< o colar< %e * um sacrifcio, no quero!
us1bio — ? home ficou #e az7 um abatimento e me mand1 a resposta.
ola 6 $ parte.7 — B meu!
us1bio — %e ele dei<1 por um conto e quinhento, compro! o #ou nem mais um vint*m.
ola 6 $ parte.7 — %obem a esca#a. B ele!...
us1bio — $arece que vem 2ente. 6atem com or#a 2 porta.7 — ;uem *<
ola — Deixa. Eu vou ver. 6Vai abrir a porta. +ouren#o entra arrebatadamente. Traz óculos azuis, barbas posti#as, chap5u desabado e este um sobretudo com a "ola er"uida. +ola in"e0se assustada.7
; Cena II ;
's mesmos, ouren<o
ouren<o — Minha rica senhora, fol2o #e encontr"-la!
us1bio — ;ue * isto<
ouren<o — 5ui entran#o para no lhe #ar tempo #e me man#ar #ier que no estava em casa! B esse oseu costume!
ola — %enhor!
us1bio — ;uem * este home #ana#o<
ouren<o — ;uem sou eu<... Um cre#or que quer o seu #inheiro! ;uer saber tamb*m quem * estasenhora< ;uer saber< B uma caloteira!
ola — ;ue ver2onha! 6ai sentada e cobre o rosto com as m4os.7
us1bio — ? sinh6 * um 2ran#e marcriado! o se insurta assim uma fraca mui5 que est" em sua casa!5a)a a6 #e sa3 !...
ouren<o — %air< Eu no saio #aqui sem o meu rico #inheiro! ? senhor, que tem cara #e homem s*rio,naturalmente h" #e >ul2ar que sou 2rosseiro, um bruto@ mas no ima2ina a pacincia que tenho ti#o at*ho>e! 6atendo com a ben"ala no ch4o.7 Venho #isposto a receber o meu #inheiro!...
us1bio — Mas #inheiro #e qu<
ouren<o — De qu< +omo #e qu<... Dinheiro que me #eve esta senhora! Dinheiro limpo, que me pe#iu h"quatore meses para pa2ar no fim #e trinta #ias!...
ola 6;escobrindo o rosto muito chorosa.7 — +om >uros #e sessenta por cento ao ano!
ouren<o — Eu #ispenso os >uros! Fsto prova que no sou nenhum a2iota! ? que eu quero, o que eu exi>o, *o meu capital, os meus #ois contos #e r*is, que me saram limpinhos #a al2ibeira e seriam quase o #obrocom >uros acumula#os!
ola 6Suplicante.7 — %enhor, eu pa2arei esse #inheiro lo2o que pu#er... $oupe-me tamanha ver2onha #iante#este cavalheiro que estimo e respeito!
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ouren<o — ?ra #eixe-se #e partes! %e a senhora no se quisesse su>eitar a estas cenas, solveria os seuscompromissos! Mas no passa, >" #isse, #e uma reles caloteira!...
us1bio — ome, o sinh6 arrepare que eu tou aqui! 5a)a a6 #e 7 como fala!...
ouren<o — ;uem * o senhor< B mari#o #esta senhora< B seu pai< B seu tio< B seu pa#rinho< B seu irmo<B seu parente< +om que #ireito interv*m< Eu tenho ou no tenho rao< 5ui ou no fui calotea#o<
us1bio — ome, o sinh6 se cale! ?lhe que eu sou mineiro!
ouren<o — o me calo, ora a est"! E #eclaro que no me retiro #aqui sem estar pa2o e satisfeito!6Senta0se.7
us1bio — %eu home, olhe que eu...!
ouren<o 6%r"uendo0se.7 — Eh! l"! Eh! l"! A2ora sou eu que lhe #i2o que se cale! ? senhor no tem o#ireito #e abrir o bico!...
ola 6horando.7 — ;ue ver2onha! ;ue ver2onha!
us1bio 6 $ parte.7 — +oita#inha!...
ouren<o — A princpio supus que o senhor fosse o amante #esta senhora. Ve>o que me en2anei... %e ofosse, >" teria pa2o por ela, e no consentiria que eu a insultasse!...
us1bio — (ein<
ola (%r"uendo0se e correndo a %us5bio.7 — o! o! %ou eu que no consinto que tu pa2ues!... o! otires a carteira! Eu mesma pa2arei essa #vi#a!
ouren<o — Mas h" #e ser ho>e, porque eu no me levanto #esta ca#eira! 6Torna a sentar0se.7
us1bio — Mas eu...
ola — o! no pa2ues! Esse #inheiro pe#i-o para man#"-lo a minha me, que est" em Valla#oli#... Eu *que #evo pa2"-lo 6Voltando suplicante para +ouren#o.7... mas no ho>e!...
ouren<o 6atendo com a ben"ala.7 — (" #e ser ho>e!...
ola — o posso! no posso!...
ouren<o — o po#e<... D-me esse par #e bichas que tra nas orelhas e ficarei satisfeito!
ola — Estas bichas custaram trs contos!
ouren<o — %o os >uros.
ola — $ois bem! 6Vai a tirar as bichas.7
us1bio 68e"ando0lhe no bra#o.7 — o tira as bichas, :ola!... 6 Ao credor.7 — %eu #es2ra)a#o, no tenho#ois conto aqui no borso, mas me acompanha na casa #o meu correspon#ente, na &ua #e %o 3ento... vemreceb7 o teu mardito #inheiro!
ouren<o 6atendo com a ben"ala.7 — '" #isse que #aqui no saio!
ola (Abra#ando %us5bio.7 — o, Eus*bio, meu queri#o Eus*bio! o!...
us1bio 6Sem dar ouidos a +ola.7 — $ois no sai, no sai, #es2ra)a#o! 6;esencilhando0se de +ola.7 Esperaa senta#o, que eu vou busc1 teu #inheiro! 6Sai arrebatadamente. +ola, depois de certiicar0se de que elerealmente saiu, olta, e desata a rir 2s "ar"alhadas. +ouren#o leanta0se, tira os óculos, as barbas e o
chap5u, e tamb5m ri 2s "ar"alhadas.7
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; Cena III ;
ola, ouren<o
ola — %oberbo! soberbo! 5oi uma bela i#*ia! Toma um bei>o! 6;10lhe um bei*o.7
ouren<o — Aceito o bei>o, mas olhe que no #ispenso os vinte por cento.
ola — aturalmente.
ouren<o — Voc h" #e convir que sou um 2ran#e artista!
ola — E ento eu<
ouren<o — Voc tamb*m, mas se eu me houvesse feito cCmico em ve #e me faer cocheiro, estava aestas horas po#re #e rico!
Tango
; I ;
Ai< (ue ?eito pro teatro<$ue vo)a31o<Eu %aria o dia0o a (uatro:u# dra#alh1o<*as Bs rédeas e ao )hi)ote'ungido estou<Sou )o)heiro de cocote<:ada #ais sou<Cu#prir o nosso destino:e# eu (uis ne# vo)9 (uis<Fui ator desde #eninoE vo)9 %oi se#pre atriz<
; II ;
$uando eu era #ais #o)inhoPosso a%ian3ar<Fiz %uror nu# teatrinhoParti)ular<Talvez outro 'o1o CaetanoSe a)hasse e# #i#.*as o %ado desu#ano:1o (uis assi#<Cu#prir o nosso destino8 et)...
ola — Mas por que no acompanhaste o faen#eiro< Era mais se2uro!
ouren<o — $ois eu l" me atrevia a an#ar por essas ruas #e barbas posti)as! a#a, que no queria #ar comos ossos no xa#re!
ola — Tens a2ora que esperar aqui a p* firme!
ouren<o — Estou arrepen#i#o #e ter per#oa#o os >uros. 6atem 2 porta.7
ola — ;uem ser"<
ouren<o 6;epois de espreitar.7 — B o filho-famlia.
ola — Ah! o tal Duquinha! Tomaste as necess"rias informa)0es< ;ue me #ies #esse peti<
ouren<o (Abanando a cabe#a com ares de compet7ncia.7 — Di2o que no seu 2nero no #eixa #e seraproveit"vel... ? pai * muito severo, mas a me, que * rica, satisfa to#os os seus caprichos... o #i2o que
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voc possa esperar #ali mun#os e fun#os, mas * f"cil obri2"-lo a contrair #vi#as, se for preciso, para #aral2uns presentes, e ouro * o que ouro vale.
ola — Man#a-o entrar.
ouren<o — o se #emore muito, porque o faen#eiro foi a to#o o vapor e no tar#a a.
ola — Temos tempo. A &ua #e %. 3ento * lon2e. 6Sai. +ouren#o tira o sobretudo, a que *unta as barbas, osóculos e o chap5u, e ai abrir a porta a ;uquinha.7
; Cena I+ ;
4u&uinha, ouren<o
4u&uinha tem de+oito anos e 1 muito tímido.
4u&uinha — A senhora #ona :ola est" em casa<
ouren<o (muito respeitoso.7 — %im, meu senhor... e pe#e a V. Ex.S que tenha o obs*quio #e esperaral2uns instantes.
4u&uinha — Muito obri2a#o. 6 $ parte.7 B o cocheiro... no sei se #eva...
ouren<o — +omo #i V. Ex.S<
4u&uinha — %e no fosse ofen#-lo, pe#ia-lhe que aceitasse... 6Tira a carteira.7
ouren<o — ?h! no!... $er#oe V. Ex.S... no * or2ulho@ mas que #iria a patroa se soubesse que eu...
4u&uinha — Ah! nesse caso... 6-uarda a carteira.7
ouren<o 6/ue ia sair, oltando.7 — %e bem que eu estou certo que V. Ex.S no #iria na#a = senhora #ona:ola...
4u&uinha 6Tirando de noo a carteira.7 — Ela nunca o saber". 6;10lhe dinheiro.7
ouren<o — 3ei>o as mos #e V. Ex.S A senhora #ona :ola * to escrupulosa! 6 $ parte.7 Uma #e trinta! ?fran2uinho promete... 6Sai com muitas mesuras, leando o sobretudo e demais ob*etos.7
; Cena + ;
4u&uinha — Estou trmulo e nervoso... B a primeira ve que entro em casa #e uma #estas mulheres... o
pu#e resistir!... A :ola * to bonita, e o outro #ia, no 3ra)o #e ?uro, me lan)ou uns olhares to mei2os, toprovoca#ores, que tenho sonha#o to#as as noites com ela! At* versos lhe fi, e aqui lhos tra2o... ;uiscomprar-lhe uma >1ia, mas receoso #e ofen#-la, comprei apenas estas flores... Ai, 'esus! ela a vem! ;uelhe vou #ier<...
; Cena +I ;
4u&uinha e ola
ola — o me en2ano8 * o meu namora#o #o 3ra)o #e ?uro! 6%stendendo0lhe a m4o.7 +omo tem passa#o<
4u&uinha — Eu... sim... bem, obri2a#o@ e a senhora<
ola — +omo tem as mos frias!
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4u&uinha — Estou muito impressiona#o. B uma coisa esquisita8 to#as as vees que fico impressiona#o...fico tamb*m com as mos frias...
ola — Mas no se impressione! Este>a = sua vonta#e! $arece que no lhe #evo meter me#o!
4u&uinha — $elo contr"rio!
ola (Arremedando0o.7 — $elo contr"rio! 6Outro som.7 %o minhas essas flores<
4u&uinha — %im... eu no me atrevia... 6;10lhe as lores.7
ola — ?ra essa! $or qu< 6;epois de aspir10las.7 ;ue lin#as so!
4u&uinha — Tra2o-lhe tamb*m umas flores... po*ticas.
ola — Umas qu<...
4u&uinha — Uns versos.
ola — Versos< 3ravo! o sabia que era poeta!
4u&uinha — %ou poeta, sim, senhora... mas poeta mo#erno, #eca#ente...
ola — Deca#ente< nessa i#a#e<
4u&uinha — 1s somos to#os muito novos.
ola — 1s quem<
4u&uinha — 1s, os #eca#entes. E s1 po#emos ser compreen#i#os por 2ente #a nossa i#a#e. As pessoas #emais #e trinta anos no nos enten#em.
ola — %e o senhor se #emorasse mais al2um tempo, arriscava-se a no ser compreen#i#o por mim.
4u&uinha — %e #" licen)a, leio os meus versos. 6Tirando um papel da al"ibeira.7 ;uer ouvi-los<
ola — +om to#o o praer.
4u&uinha 6+endo.7
%lor das %lores8 linda espanhola8Co#o eu te adoro8 )o#o eu te adoro<Pelos teus olhos8 / Lola< / Lola<De dia )anto8 de noite )horo8Linda espanhola8 linda espanhola<
ola — Dir-se-ia que o tra2o #e canto chora#o!
4u&uinha — ?u)a a se2un#a estrofe8
Hs u#a santa8 santa das santas<Co#o eu te adoro8 )o#o eu te adoro<*eu peito enlevas8 #inh6al#a en)antas<!uve o #eu triste )anto sonoro8Santa das santas8 santa das santas<
ola — %anta< Eu!... Fsto * que * liber#a#e po*tica!
4u&uinha — A mulher ama#a pelo poeta * sempre santa para ele! Terceira e ltima estrofe...
ola — %1 trs< ;ue pena!
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4u&uinha 6+endo.7
%lor das %lores< 0ela andaluza<Co#o eu te adoro8 )o#o eu te adoro<Tu és a #inha p2lida #usa<Desses teus l20ios u# 0ei?o i#ploro8ela andaluza8 0ela andaluza<
ola — $er#o, mas eu no sou #a An#aluia8 sou #e Valla#oli#.
4u&uinha — $ois h" espanholas bonitas que no se>am an#aluas<
ola — $ois no! o que no h" so an#aluas bonitas que no se>am espanholas.
4u&uinha — (ei #e faer uma emen#a.
ola — E que mais<
4u&uinha — +omo<
ola — ? senhor trouxe-me flores... trouxe-me versos... e... no me trouxe mais na#a<
4u&uinha — Eu<
ola — %im... ?s versos so bonitos... as flores so cheirosas... mas h" outras coisas #e que as mulheres2ostam muito.
4u&uinha — Uma caixinha #e marrons "lac5s<
ola — %im, no #i2o que no... * uma boa 2ulo#ice... mas no * isso...
4u&uinha — Ento que *<
ola — 5a)a favor #e me #ier para que se inventaram os ourives.
4u&uinha — Ah! >" percebo... Eu #evia traer-lhe uma >1ia!
ola — aturalmente. As >1ias so o O%*samo, abre-teO #estas cavernas #e amor.
4u&uinha — Eu quis traer-lhe uma >1ia, quis@ mas receei que a senhora se ofen#esse...
ola — ;ue me ofen#esse<... ?h! santa in2enui#a#e!... Em que * que uma >1ia po#eria ofen#er< ;ueremver que o meu ami2uinho me toma por uma respeit"vel me #e famlia< +reia que um simples 2rampo #echap*u, com um bonito brilhante, pro#uiria mais efeito que to#o esse8
Co#o te adoro8 )o#o te adoro<Linda espanhola8 linda espanhola8Santa das santas8 santa das santas<
4u&uinha — Ve>o que lhe no a2ra#a a escola #eca#ente...
ola — +onfesso que as >1ias exercem sobre mim uma fascina)o maior que a literatura. E #emais, no soumulher a quem se ofere)am versos... Ve>o que o senhor no * #e opinio #e 3oca2e...
4u&uinha — ?h! o me fale em 3oca2e!
ola — ;ue mania essa #e no nos tomarem pelo que somos realmente! 4uar#e os seus versos para as#onelinhas sentimentais, e, an#e, v" buscar o O%*samo, abre-teO e volte amanh. 6%mpurra0o para o ladoda porta. %ntra +ouren#o.7
4u&uinha — Mas...
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ola — V", v"! o me apare)a aqui sem uma >1ia. 6 A +ouren#o.7 :ouren)o, con#ua este senhor at* aporta. 6Sai pela direita.7
4u&uinha — o, no * preciso, no se incomo#e. 6 $ parte.7 Vou pe#ir #inheiro a mame. 6Sai .7
; Cena +II ;
ouren<o — s or#ens #e Vossa Excelncia. 6Só.7 — A :ola saiu-me uma artista #e primeirssima or#em! —3om! vou caracteriar-me #e cre#or, que o faen#eiro no tar#a por a. ;uatrocentos mil-r*is c" para o#e2as! ;ue bom! (o #e 2relar esta noite no 3el1#romo, on#e conto or2aniar uma mala on)a! 6Saicantarolando o tan"o. Muta#4o.7
$uadro I
9o /elódromo 9acional
) Cena I ;
emos, Guedes , um Fre&entador do /elódromo , pessoas do poo, depois amadores, depois S7il vous- plat , depois ouren<o
4urante todo este ato, ouve-se, a intervalos, o som de uma sineta &ue chama os compradores Acasa das pules, A es&uerda, e uma vo+ &ue grita: ;Bai !echar <J
Coro
:1o h2 nada )o#ovir ao el/dro#o<S1o estas )orridas*uito divertidas<Desgra3ada#ente*uito rara#ente! povo8 )oitado<:1o é )2 rou0ado<*as o )a0e3udo8Apesar de tudo8Pules vai )o#prando8Se#pre protestando<Tipos a(ui pisa#8*estres e# )a0alas8E elas organiza#As %a#osas #alas<E )o# arti#anha*anha #ais do (ue arte
$uase se#pre ganhaP"%io 0a)a#arte< ntrada dos amadores.
Coro de "madores
A(ui esta#os os #elhoresA#adoresDa elegante 0i)i)leta<:/s )orre#os8 prazenteiros8*ais ligeiros8*ais velozes (ue u#a seta<A todo o pG0li)oDos 0el/dro#os*uito si#p2ti)osSe diz (ue so#os.
! povo aplaude-nos$uando ven)e#os8*as ta#0é# vaia-nos
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$uando perde#os<A(ui esta#os os #elhores8 et)...
' Fre&entador do /elódromo 6 A +emos e -uedes.7 — $arece impossvel!... o p"reo passa#o >o2uei nonmero HQ por ser a #ata em que minha mulher morreu, e, por causa #as #vi#as, >o2uei tamb*m nonmero H, por ser a #ata em que ela foi enterra#a... e 2anhou o nmero HK! $arece impossvel!...
emos — B ver#a#e! $arece! 6 A -uedes.7 Voc >" viu velho mais cabuloso<
' Fre&entador — A2ora vou >o2ar no RJ... o po#e falhar, porque a sepultura #ela tem o nmero JRJ.
Guedes — B... * isso... v" comprar, v".
' Fre&entador — Vou >o2ar uma em primeiro e #uas em se2un#o. 6 Aasta0se para o lado da casa das pules.7
emos — E que me #ies a esta, 1 4ue#es< ? %Nil vous-plaWt foi arran>ar tu#o, e #o :ouren)o nem novasnem man#a#os!
Guedes — ;uem sabe se ele teve #e levar a :ola #e carro a al2um teatro<...
emos — ;ual! o creias! $ois se ele * um cocheiro que fa #a patroa o que bem quer!...
Guedes — Est" s1 pelo #iabo! Uma mala se2ura, e no h" #inheiro para o >o2o!... ?lha, aqui est" #e volta o%Nil vous-plaWt.
S7il vous-plat 6 Apro<imando0se, estido de corredor.7 — Venho #a pista. Est" tu#o combina#o.
emos — %im, mais ain#a no temos o melhor! ? caixa #a mala no aparece!
S7il vous-plat — ;ue #i voc< $ois o :ouren)o...
Guedes — ? :ouren)o at* a2ora!
ouren<o 6 Aparecendo entre eles.7 — ;ue esto vocs a a falar #o :ouren)o<
's 6rês — ?ra 2ra)as!
ouren<o — Vocs sabem que eu sou #e palavra... ;uan#o #i2o que venho * porque venho!
emos — Est"vamos sobre brasas!
ouren<o — '" esto ven#en#o<
Guedes — (" que tempos!
S7il vous-plat — '" se fe a se2un#a apre2oa)o.
ouren<o — ? que est" combina#o<
S7il vous-plat — 4anha o MeneliF .
ouren<o — ? !5li< !aure no corre<
S7il vous-plat — +orre.
ouren<o — %e tiver boa m"quina, po#e 2anhar sem querer.
S7il vous-plat — Est" combina#o que ele cair" na quinta volta.
ouren<o — ;uantas voltas so<
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7/21/2019 f30 Arthur Azevedo, A Capital Federal
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S7il vous-plat — ?ito.
ouren<o — ;uem mais corre<
S7il vous-plat — ? -aribaldi , o arnot e o olibri .
ouren<o — ;ue olibri * esse<
S7il vous-plat — B um pequenote... um bacamarte... no vale na#a... nem eu o meti na combina)o!
ouren<o — ?s outros quatro quanto recebem<
S7il vous-plat — ;uine mil-r*is ca#a um.
ouren<o — E #e por cento #os lucros para vocs trs... 3om. 6;ando dinheiro a +emos.7 Tome, seu:emos@ v" comprar #e pules... 6;ando dinheiro a -uedes.7 Tome, seu 4ue#es8 compre outras #e... V"ca#a um por sua ve, para #isfar)ar... %eno, o rateio no #" para o buraco #e um #ente! Eu compro trscheques. Vamos. 6 Aastam0se todos.7
; Cena II ;
/envinda, Figueiredo
/envinda — Me #eixe! '" le #isse que no quero mais sab7 #o sinh6!
Figueiredo — $or que, rapari2a<
/envinda — ? sinh6 coBessa mania #e quer7 me lan#1 * um cacete insuportae! T1 sempre me #an#o li)oe raiando comi2o! $ra isso eu no percisaa sa3 #e casa #e sinh6 Eus*bio!
Figueiredo — Mas * para o teu bem que eu...
/envinda — ;uais pera meu bem nem pera nada! (ei #e encontr1 quem me queira mesmo falan#o cumo sefala na ro)a!
Figueiredo — Est"s bem avia#a!
/envinda — Eu mesmo posso me lan#1 sem percisar #o sinh6!
Figueiredo — ?h! mulher, olha que tu no tens nenhuma experincia #o mun#o! Bs uma tola... umai2norantona... no sabes o que * a capital-fe#eral!
/envinda — +omo o sinh6 se en2ana! Eu >" tou meia capitalista-fe#eralista!
Figueiredo — 3om@ tuNalma, tua palma! Estou com a minha conscincia tranqila. Mas v l"8 se al2um #iaprecisares #e mim, procura-me.
/envinda — Merci 6Vai0se aastando.7
Figueiredo — A#eus, 5re#e2on#a!
/envinda 68arando.7 — ;ue 5re#e2on#a! Assim * que o sinh6 me lan#6! Me #eu lo2o um nome to feio queto#a a 2ente se ri quan#o ouve ele!
Figueiredo — B porque no sabem hist1ria! 5re#e2on#a foi uma rainha... era casa#a com +hilperico...
/envinda — $ois eu por minha #es2ra)a no sou casa#a nem com seu or"e. C reo1. 6 Aasta0se.7
Figueiredo 6Só.7 — o fun#o estou satisfeito, porque #eci#i#amente no havia meio #e faer #ela al2umacoisa... $arece que vai chover... mas >" a2ora vou assistir = corri#a. 6 Aasta0se.7
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; Cena III ;
ouren<o, emos, Guedes, depois ' Fre&entador do /elódromo
ouren<o — 3om! venham as pules. 6+emos e -uedes entre"am as pules, que ele "uarda.7
emos — A mala no transpirou. !5li< !aure * o favorito.
Guedes — ;ueira Deus que o %Nil vous-plaWt no # com a ln2ua nos #entes!
' Fre&entador 6Voltando.7 — +omprei no RJ... Mas a2ora me lembro... soman#o o nmero #a sepultura#" a soma #e HR. J e R-Q@ e J-HR. ?ra HR e HR so RX.
emos — RX * o tal +olibri. o #eite o seu #i-nheiro fora!
' Fre&entador — Aceito o conselho... '" c" tenho o RJ... e no po#e falhar! ? #iabo * que parece que vaichover. ? tempo est" muito entrovisca#o! 6 Aasta0se.7
ouren<o 6/ue tem estado a calcular.7 — %e o !5li< !aure * o favorito, o MeneliF no po#e #ar menos #esete mil-r*is.
Guedes — $ara cima!
ouren<o — %eparemo-nos. +reio que a #iretoria >" nos tra #e olho... o fim #a corri#a esper"-los-ei nolu2ar #o costume para a #iviso #os l@caros. At* lo2o!
emos e Guedes — At* lo2o. 6 Aastam0se. eninda olta passeando.)
; Cena I+ ;
ouren<o e /envinda
ouren<o 6onsi"o.7 — Estes malan#retes 2anham pela certa... no arriscam um nicolau... 6Vendoeninda.7 o me en2ano8 * a celeste A#a #o s"ba#o #e aleluia... &econhecer" ela na minha fisolostria ococheiro #a :ola< Ve>amos! 68assa e acotoela eninda.7 — A#eus, cora)o #os outros!
/envinda — V" passan#o seu caminho e no bula ca 2ente!
ouren<o — To an2a#a, meu Deus!
/envinda — ;ue #ese>a o sinh6<
ouren<o — $elo menos saber on#e mora.
/envinda — Moro na rua #as casa.
ouren<o — o se>a m"! 3em sei que * aqui mesmo na &ua #o :avra#io.
/envinda — ;uem le #isse<
ouren<o — in2u*m. 5ui eu que lhe vi na >anela.
/envinda — $ois no v" l" que no lhe arrecebo!
ouren<o — $or que no me arrecebe, marada<
/envinda — Vou s7 franca... %1 arrecebo quem quis5 me tir1 #esta vi#a. o nasci pra isto. ;uero i7 emfamlia.
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ouren<o — Ah, seu beninho! isso * que no po#e ser! (o>e em #ia no * possvel viver em famlia!
/envinda — $or qu<
ouren<o — $or qu< Ain#a me per2untas, amor<
Coplas
ouren<o
; I ;
'2 n1o se en)ontra )asa de)ente8$ue )uste apenas uns )e# #il-réis8E os senhorios )onstante#ente! pre3o au#enta# dos aluguéis<Anda o povinho #uito in(uieto8E te# ; pudera< ; toda a raz1o:1o apare)e nenhu# pro?eto$ue nos arran(ue desta opress1o<,# )idad1o neste te#po
:1o pode andar a#arrado...A gente v9-se8 e adeusinho=Cada u# vai pro seu lado<
; II ;
Das algi0eiras so#e-se o )o0re8Co#o levado por u# tu%1o<Carne de va)a n1o )o#e o po0re8E (ual(uer dia n1o )o#e p1o<F/s%oros8 velas8 )ouve8 (uia0os8+inho8 aguardente8 #ilho8 %ei?1o8Frutas8 )onservas8 )enouras8 na0os8Tudo se vende pr6u# dinheir1o<,# )idad1o neste te#po et)...
/envinda — Tenho se#e, venha pa"1 um copo #e cerve>a.
ouren<o — +om muito 2osto, mas #a 3abilCnia, que as alamoas esto pela hora #a morte!
/envinda — Vamo.
ouren<o — +omo voc se chama, seu beninho<
/envinda — Artemisa.
ouren<o — ;ue bonito nome! Vamos ali no botequim #o :opes. 6Saem.7
; Cena + ;
us1bio, ola, ercedes, 4olores, /lanchette, depois Figueiredo
us1bio entra no meio das mulheres8 tra+ o chap1u atirado para a nuca,e um enorme charuto.Bêm todos alegres. "cabaram de antar e lembraram-se de dar uma volta pelo/elódromo.us1bio — o, :ola! Tu ho>e h1 #e me dei<1 i pra casa! Dona 5ortunata #eve est1 furiosa!
ola — ;ue #ona 5ortunata nem na#a!
ercedes — (avemos #e acabar a noite num 2abinete #o Munchen!
4olores — o o #eixamos!
/lanchette — Est" preso!... E, #emais, vamos ter chuva!
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us1bio — a chuva >" tou eu, se no me en2ano. Aquele vinho * b4o, mas * eiaco!
Figueiredo 6 Apro<imando0se.7 — ?l"! viva a bela socie#a#e!
ola — ?lha quem ele *! o 5i2ueire#o!
ercedes — ? &a#am*s!
4olores — Voc no 3el1#romo!
Figueiredo — $or mero acaso... o 2osto #isto... o &io #e 'aneiro no h" #ivertimentos que prestem! otemos na#a, na#a!
us1bio 6:um tom ma"oado.7 — +omo vai a 5re#e2on#a, seu 5i2ueire#o<
Figueiredo — A 5re#e2on#a >" no * 5re#e2on#a!
6odos — Ah!...
Figueiredo — Tornou a ser 3envin#a, como anti2amente. Deixou-me!
6odos — Deixou-o<
Figueiredo — Deixou-me, e an#a = procura #e al2u*m que saiba lan)"-la melhor #o que eu!
us1bio — U!
Figueiredo — Deve estar aqui no 3el1#romo... Acompanhei-a at* c" para pe#ir-lhe que tivesse >uo, mas asua resolu)o * inabal"vel... $obre rapari2a!...
us1bio 6Muito comoido, para o que concorre o inho que bebeu.7 — +oita#a #a 3envin#a!... $o#ia t1 casa#a e a2ora... an#a atira#a por a como uma coisa = toa... sem nin2u*m que tome conta #ela... 6oml1"rimas na oz .7 +oita#a!... no a#um caso... Eu vi ela pequena... nasceu e cresceu l" em casa...
6horando.7 Minha ia mamou o leite #a me #ela!
6odos — ;ue * isso<! +horan#o<! ?ra esta!...
us1bio 6om solu#os.7 — ;ue choran#o que na#a! '" passou!... o foi na#a!... ;ue qu5 ac7s! Mineirotem muito cora)o!...
6odos — Vamos l"! ;ue * isso< Ento<...
ola — (" #e passar. %o efeitos #o +hambertin! — Eus*bio, an#e... ento<... v" comprar umas pules paratomar interesse pela corri#a.
us1bio — Eu no enten#o #isso!
Figueiredo — Escolha um nome #aqueles. ?lhe, ali, na pe#ra... +i"@ria, arnot, MeneliF, olibri e !5li<!aureus1bio — olibri ! Eu quero olibri !
Figueiredo — ?uvi #ier que no vale na#a... B o que aqui chamam um bacamarte... o lhe sorri nenhum#os presi#entes #a &epblica 5rancesa<
us1bio — o sinh6, no quero outro! olibri * o nome #e um >umento que tenho l" na faen#a.
4olores, ercedes e /lanchette 6 Ao mesmo tempo.7 — o fa)a isso! %e * bacamarte, no presta! B#inheiro #eita#o fora!
ola — Deixem-no l"! B um palpite! V" comprar cinco pules naquele 2uich.
us1bio — aquele qu<
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Figueiredo — aquele buraco.
us1bio — anto custa<
Figueiredo — +inco pules so #e mil-r*is.
us1bio — Mas como se fa<
Figueiredo — Esten#a o bra)o, meta o #inheiro #entro #o buraco, abra a mo, e #i2a8 Oolibri O.
us1bio — %im, sinh6. 6 Aasta0se.7
Figueiredo — $ois * o que lhes conto8 estou livre como o lin#o amor!
ercedes — %e me quiser tomar sob a sua valiosa prote)o...
4olores — %e quiser faer a minha ventura...
/lanchette — %e me quiser lan)ar...
ola — Vocs esto a ler! Ele s1 2osta #e...
Figueiredo 6 Atalhando.7 — De tri2ueiras! Eu #i2o tri2ueiras, por ser menos rebarbativo... Acho que asbrancas so encanta#oras, apetitosas, a#or"veis, lin#ssimas, mas que querem< — tenho c" o meu 2nero...
ercedes — Fsso * um crime!
4olores — Devia ser preso!
/lanchette — Deporta#o!
ola — %im, #eporta#o... para a +osta #a Yfrica!...
$uinteto
ola
Figueiredo8 eu )2 sou %ran)a=Estou )o# pena de vo)9<
"s 'utras
:/s te#os pena de vo)9<
Figueiredo
Fa3a# %avor8 diga# por (u9<
ola
Por n1o gostar da #ulher 0ran)a<
"s 'utras
Por n1o gostar da #ulher 0ran)a<
Figueiredo
*eu Deus< Deveras
Por isso s/
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6odas
So#os sin)eras<Causa-nos d/<
Figueiredo
!h< oh< oh< oh<
6odas
!h< oh< oh< oh<
ola
; I ;
Pele )&ndida e rosada8Cetinosa e deli)adaSe#pre teve algu# valor<
Figueiredo
$ue toli)e<
6odas
Si#8 senhor<
ola
A )or 0ran)a8 pelo #enos8Era a )or da loura +9nus8
Deusa espl9ndida do a#or.
Figueiredo
$ue# lhe disse
6odas
Si#8 senhor<
Figueiredo
Se eu da *itologia
Fosse o re%or#ador8+9nus trans%or#aria:u#a #ulata<
6odas
orror<...
Figueiredo
; II ;
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A #i#osa )or do ?a#0oPede u# #eigo ditira#0oCinzelado )o# pri#or<
ola
$ue toli)e<
6odas
:1o8 senhor<
Figueiredo
Eu )o# os ovos8 por siste#a8Dei>o a )lara e )o#o a ge#a8Por(ue te# #elhor sa0or.
ola
$ue# lhe disse
6odas
:1o8 senhor<
Figueiredo
Se eu da *itologiaFosse o re%or#ador+9nus trans%or#aria:u#a #ulata<
6odas
orror<...
3untos
Figueiredo "s Cocotes
osto do a#arelo< osta do a#arelo<
$ue prazer #e d2< *aus e>e#plos d2<
:ada #ais anelo8 +ara de #ar#elo
:e# aspiro ?2< *ere)ia ?2<
us1bio 6Voltando.7 — Aqui est1 cinco papezinho #o olibri . +ustou! To#a a 2ente queria compr1! Eu meti o#inheiro no buraco, e o home l" #e #entro per2untou8 O?n#e leva<O Eu respon#i8 Oolibri O, e ele ficou muitoespanta#o, e #isse8 OB o premero que compra nesse bacamarte.O
Figueiredo — Vamos ver a corri#a l" #e cima. $e#irei um camarote ao +artaxo.
6odos — Vamos! 6Saem.7
; Cena +I ;
/envinda, ouren<o e 0ovo
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ouren<o 6orrendo.7 — +orren#o ain#a apanho@ mas olhe que o MeneliF ... 6;esaparece.7
/envinda — o sinh6, no sinh6! o quero MeneliF ! +ompre no que eu #isse! 6Só, no prosc7nio.7 o2osto #este home8 tem cara #e pa#re... * muito en>oa#o... em #este, nem #e nenhum... o 2osto #enin2u*m... ? que eu tenho a az7 #e mió * ort1 para casa e pedi per#o a sinh1 5ia. 6Oue0se o sinal doechamento do *o"o.7
0essoas do 0ovo — 5echou! 5echou! ?ra! e eu que no comprei! 6;iri"em0se todos para o undoG 4oassistir 2 corrida.7
ouren<o 6Voltando.7 — %empre che2uei a tempo #e comprar a pule! 6;ando a pule a eninda.7 Mas quelembran)a a sua #e >o2ar no olibri !
/envinda — B porque * o nome #e um burrinho que h" numa faen#a on#e eu fui pass1 uns tempo.
ouren<o — Ah! * cabula< 6Oue0se um toque de campainha el5trica.7 %e ele vencesse, voc levava a casa#as pules! 6Oue0se um tiro de reóler e um pouco de [email protected] +ome)ou a corri#a! Vamos ver! 6 Aastam0se para o undo.7
; Cena +II ;
Gouveia, Fortunata e 2uinota
Fortunata 6%ntrando apressada 2 rente de -oueia e /uinota.7 — o! no quero 7 meu io corr7 na t1 hist1ria!... E lo2o que acab1 a corri#a, levo ele pra casa, e aqui no orta!... ;ue coisa!... 3envin#a#esaparece... %eu Eus*bio #esaparece... 'uquinha no sai #o 3el1#romo... Tou ven#o quan#o ;uinota me#eixa!...
2uinota — ?h! mame! no tenha esse receio!
Fortunata — ;ue terra! Eu bem no queria i no &io #e 'aneiro!
2uinota — ;ue vi#a to #iversa #a vi#a #a ro)a! 6 A -oueia.7 o ficaremos aqui #epois #e casa#os.
Gouveia — $or qu<
2uinota — A vi#a fluminense * cheia #e sobressaltos para as ver#a#eiras mes #e famlia!
Fortunata — ?lhe seu Eus*bio, um home #e cinqenta ano, que teve at* a2ora tanto >uo! Arrespirou o 1 #a capit1 eder1, e per#eu a cabe)a!
Gouveia — Apanhou o micr1bio #a p/n#e2a!
2uinota — Aqui h" muita liber#a#e e pouco escrpulo... fa-se ostenta)o #o vcio... no se respeitanin2u*m... B uma socie#a#e mal constitu#a!
Gouveia — o a supunha to observa#ora...
2uinota — Eu sou roceira, mas no tola que no ve>a o mal on#e se acha.
Fortunata — $arece que >" est" chuviscan#o... Eu senti um pin2o...
2uinota — ? senhor, por exemplo, o senhor, se pensa que me en2ana, en2ana-se. +onhe)o perfeitamenteos seus #efeitos.
Fortunata 6 $ parte.7 — A!
Gouveia — ?s meus #efeitos<
2uinota — ?h! so muitssimos — e o menor #eles no * querer aparentar uma fortuna que no existe.Desa2ra#am-me esses visveis esfor)os que o senhor fa para ilu#ir os outros. ? melhor parti#o que o senhor
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tem a tomar... e olhe que este * o conselho #a sua noiva, isto *, #a pessoa que mais o estima nestemun#o... o melhor parti#o que o senhor tem a tomar * abrir-se com papai... confessar-lhe que * um >o2a#orarrepen#i#o...
Gouveia — ?h! ;uinota!...
Fortunata — o tem — 1 ;uinota nem na#a! B a ver#a#e!...
2uinota — Fr" conosco para a faen#a, on#e no lhe faltar" ocupa)o.
Fortunata — %im sinh6@ * mió trabai1 na ro)a que az7 vi#a #e va2abun#o na ci#a#e! — ?utro pin2o!
2uinota — $apai precisa muito associar-se a um mo)o inteli2ente, nas suas con#i)0es. %acrifique = suatranqili#a#e os seus praeres@ case-se, fa)a-se a2ricultor, e sua esposa, que no ser" muito exi2ente e ter"muito bom-senso, to#os os anos lhe #ar" licen)a para vir matar sau#a#es #aquilo a que o senhor chama omicr1bio #a p/n#e2a.
Gouveia 6 $ parte.7 — %im, senhor, pre2ou-me uma li)o #e moral mesmo nas bochechas!
Fortunata — %eu 4ouveia, * mió a 2ente i pro lu"1 por on#e 'uquinha tem #e sa3 !
Gouveia — Deve sair por acol"... Vamos esper"-lo na passa2em. 6%stendendo o bra#o.7 B ver#a#e! >" est"chuviscan#o.
Saem. ' !inal da corrida. m to&ue de campainha el1trica. 0ouco depois de um pouco de msica.Bo+eria do povo, &ue vem todo ao proscênio.
Coro
!h< $ue# diria$ue ganharia
! Colibri <anhou B toa<
Pule t1o 0oaEu nun)a viA(ui<
; Cena +III ;
emos, Guedes, ouren<o, o Fre&entador do /elódromo, depois us1bio,Figueiredo, ola, ercedes, 4olores, /lanchette, depois S7il vous-plat, 3u&uinha, depois Fortunata,2uinota, Gouveia, depois /envinda , depois ouren<o
emos — 4anhou o olibri ! ;uem #iria<
Guedes — o olibri ... que pulo!...
ouren<o — ;ue #es2ra)a!... ? !5li< !aure caiu #e prop1sito, mas por cima #o !5li< !aure caiu o MeneliF ,por cima #o MeneliF o +i"@ria, por cima #o +i"@ria, o arnot , e o olibri , que vinha na ba2a2em, no caiu porcima #e nin2u*m e 2anhou o p"reo! ;ue palpite #e mulata! ?n#e estar" ela< Vou procur"-la. 6;esaparece.7
' Fre&entador 6 A +emos e -uedes.7 — Ento< eu no #iia< 2anhou o RX! Doe e #oe, vinte e quatro.6om uma id5ia.7 Ah!
's 4ois — ;ue *<
' Fre&entador — 5ui um asno! RX * a #ata #a missa #e s*timo #ia #e minha mulher! 6+emos e -uedesaastam0se rindo.7 ?ra esta! ora esta!... E era um pulo!... 6 Abre o "uarda0chua.7 +hove... aturalmenteno h" mais corri#as ho>e... 6 Aasta0se. 1 na cena al"uns "uarda0chuas abertos. Aparecem %us5bio,
!i"ueiredo e as cocotes. V7m todos de "uarda0chuas abertos.7
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Figueiredo — 3ravo! 5oi um tiro, seu Eus*bio, foi um tiro!... ? olibri ven#eu apenas seis pules e o senhortem cinco!
S7il vous-plat 6Metendo0se na conersa, e abri"ando0se no "uarda0chua de %us5bio.7 — D" mais #e cemmil-r*is ca#a pule!...
us1bio — Mais #e cem mil-r*is< Ento< Eu no #isse< o aquele nome, o menino no po#ia perd7! ?
olibri * um >umento #e muita sorte! 6 A SBil ous0plaHt.7 ? sinh6 conhece ele<
S7il vous-plat — ;uem< ? olibri < %im senhor!
us1bio — V" cham1 ele. ;uero le d1 uma lambu"e!
S7il vous-plat — em #e prop1sito! Ele a vem! 6hamando 9uquinha que aparece.7 C +olibri! est" aqui umsenhor que >o2ou cinco pules em voc e quer #ar-lhe uma 2ratifica)o.
3u&uinha 6 Apro<imando0se muito lampeiro.7 — Aqui estou. /u7 d7 o home<
us1bio — Era o 'uquinha!
3u&uinha — $apai! 6;eita a correr e o"e.7
us1bio — Ah! tratante! ? olibri era ele! Alembrou0se #o >umento!... E fo2e #o pai! ?ra espera l"! 6orreatr1s do 9uquinha e desaparece. A chua cresce. O poo corre todo e abandona a cena.7
ola — ?n#e vai< Espere! 6orre atr1s de %us5bio e desaparece.7
"s ulheres — Vamos tamb*m! Vamos tamb*m! 6orrem atr1s de +ola e desaparecem.7
Figueiredo — Ento, minhas filhas< o corram! 6Vai atr1s delas e desaparece.7
Fortunata 6%ntrando de "uarda0chua.7 — B ele! B ele! B seu Eus*bio! 6Sai correndo pelo mesmo lado.7
2uinota 6%ntrando, idem.7 — Mame! Mame! 6orre acompanhando !ortunata.7
Gouveia 6&dem.7 — Minhas senhoras!... Minhas senhoras! 6orre e desaparece.7
/envinda 6%ntrando perse"uida por +ouren#o, ambos de "uarda0chua.7 — Me #eixe! Me #eixe!...6;esaparece.7
ouren<o 6Só em cena.7 — D c" a pule, seu beninho, # c" a pule, que eu vou receber! 6;esaparece.Muta#4o.7
$uadro
" =ua do 'uvidor
) Cena I ;
IJ iterato, KJ iterato, 0essoas do 0ovo, depois Fortunata, 2uinota, 3u&uinha
Coro
:1o h2 rua )o#o a rua$ue se )ha#a do !uvidor<:1o h2 outra (ue possuaCerta#ente o seu valor<*uita gente h2 (ue se #a)e
$uando8 se?a por (ue %or8Passe u# dia se# (ue passePela Rua do !uvidor<
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IJ iterato — Tens visto o Duquinha<
KJ iterato — ;ual! Depois que se meteu com a :ola, nin2u*m mais lhe p0e a vista em cima!
IJ iterato — B pena! Um #os primeiros talentos #esta 2era)o...
KJ iterato — Apaixona#o por uma cocote!
IJ iterato — 5elimente a arte lucra al2uma coisa com isso. ? Duquinha fa ma2nficos versos = :ola.Ain#a ontem me #eu uns, que so puros Verlaine. Vou public"-los no se2un#o nmero #a minha revista.
KJ iterato — ;ue est" para sair h" seis meses<
IJ iterato — ?h! v que lin#a rapari2a ali vem!
KJ iterato — $arece 2ente #a ro)a. 6!icam de lon"e, a e<aminar /uinota, que entra com a m4e e o irm4o.V7m todos tr7s carre"ados de embrulhos.7
Fortunata — Vamo, minha ia, amo tom1 o bon#e no :ar2o #e %o 5rancisco. As nossa compra est1 eita. Amenh4 #e menh4 vamos embora!
2uinota — %em papai<
Fortunata — Ele que 1 quan#o quis5! (ei #e mostr1 que l" em casa no se percisa #e home!
2uinota — E... seu 4ouveia<
Fortunata — o me fale #e seu 4ouveia! (" oito dia no aparece! 5e cumo teu pai! 5oi mió assim... (avia#e s7 muito mau mari#o!
3u&uinha — Eu no quero i pra faen#a!
Fortunata — Eu te amostro se tu ai ou no ai ! An#a pra frente! 6V4o saindo.7
IJ iterato 6 A /uinota.7 — A#eus, tet*ia!
Fortunata — ;uem * que * tet*ia< Arrepita a 2racinha, seu #esaver2onha#o, e ver" como le parto estechap*u #e só no lombo!... 6?isadas.7 — Vamo Vamo... ;ue terra!... Eu bem no queria i no &io #e'aneiro! 6Saem entre risadas.7
; Cena II ;
IJ iterato, KJ iterato, 0essoas do 0ovo, depois 4u&uinha
KJ iterato — Tu ain#a um #ia te sais mal com esse mal#ito costume #e bulir com as mo)as!
IJ iterato — a#a #isse que a ofen#esse. OA#eus, tet*iaO no * precisamente um insulto.
KJ iterato — $ois sim, mas que farias tu se #issessem o mesmo = tua irm<
IJ iterato — o * a mesma coisa! Minha irm *...
KJ iterato — o * melhor que as irms #os outros. 6%ntra ;uquinha, em p1lido e com "randes olheiras.7
4u&uinha — Ah! meus ami2os! meus ami2os! %e soubessem o que me aconteceu<
's 4ois — ;ue foi<
4u&uinha — Ain#a no estou em mim!
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's 4ois — 5ala!
4u&uinha — ? faen#eiro... aquele faen#eiro #e quem lhes falei<...
's 4ois — %im!
4u&uinha — Apanhou-me com a boca na boti>a!...
IJ iterato — Mas que tem isso<
4u&uinha — +omo que tem isso< Aquele homem * rico! Dava tu#o = :ola!
KJ iterato — Tu tamb*m no lhe #avas pouco!
4u&uinha (Viamente.7 — Dinheiro nunca lhe #ei —, nem ela o aceitaria...
IJ iterato — $ois sim!
4u&uinha — '1ias... vesti#os... pares #e luvas... leques... chap*us... Dinheiro, nem vint*m! ;uem sempre
me apanhava al2um era o :ouren)o, o cocheiro.
KJ iterato — Bs um pateta! Mas conta-nos isso!
4u&uinha — Est"vamos — ela e eu — na saleta e o bruto #ormia na sala #e >antar. Eu tinha leva#o = :olaumas p*rolas com que ela sonhou... Vocs no ima2inam como aquela rapari2a sonha com coisas caras!
IJ iterato — Fma2inamos! — A#iante!
4u&uinha — Eu lia para ela ouvir os meus ltimos versos... aqueles que te #ei ontem para a revista...
Depois (ue te a#o8 depois (ue és #inha8
:ado e# del")ia8 nado e# del")ia...
IJ iterato — Eu sei. Verlaine puro.
4u&uinha — ?bri2a#o. — o fim #e ca#a estrofe, eu #ava-lhe um bei>o... um bei>o quente e apaixona#o...um bei>o #e poeta!... $ois bem, #epois #a terceira estrofe8
!h< se algu# dia destino %ero
:os separasse8 nos separasse...
IJ iterato 6ontinuando.7
;! (ue %aria )ontar n1o (uero...
4u&uinha
$ue se o )ontasse8 (ue se o )ontasse...
:o %i# dessa estro%e8 Lola8 (ue esperava a dei>a8 estende-#e a %a)e8 eu 0ei?o-a e o %azendeiro8 depé8 na porta da saleta8 )o# os olhos es0ugalhados d2 este grito= Ah< seu pelintre)a<...
KJ iterato — E tu<
4u&uinha — Eu<... Eu... eu c" estou. o sei o que mais aconteceu. ;uan#o #ei por mim estava #entro #eum bon#e el*trico, tocan#o a to#a para a ci#a#e!...
IJ iterato — 5ieste uma bonita fi2ura, no h" #vi#a! $o#es limpar a mo = pare#e!
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7/21/2019 f30 Arthur Azevedo, A Capital Federal
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4u&uinha — $or qu<
IJ iterato — Essa mulher no te per#oar" nunca tal covar#ia!
KJ iterato — ?lha, o melhor que tens a faer * no voltares l"!
4u&uinha — Ah! meu ami2o! isso * bom #e #ier, mas eu estou apaixona#o...
KJ iterato — Tu est"s mas * faen#o asneiras! ?n#e vais tu buscar #inheiro para essas loucuras<
4u&uinha — Mame tem me #a#o al2um... mas confesso que contra al2umas #vi#as, e no pequenas. —?ra, a#eus! no pensemos em coisas tristes, e vamos tomar al2uma coisa... ale2re!
's 4ois — Vamos l"!
"!astam-se pela direita, cumprimentando ercedes, 4olores e /lanchette, &ue entram por esselado e se encontram com ola, &ue entra da es&uerda, muito nervosa e agitada. Figueiredo entrada direita, observa as cocotes, p#ra, e, colocado por tr#s, ouve tudo &uanto elas di+em.
; Cena III ;
ola, ercedes, 4olores, /lanchette, Figueiredo, 0essoas do 0ovo, depois 4u&uinha
ola — Ah! venham c". Estou aflitssima! o calculam vocs que s*rie #e #es2ra)as!
"s 'utras — ;ue foi< que foi<
ola=ondó
Co# o Du(uinha a pou)o eu estava:a saleta a )onversar8
E o Eusé0io ressonavaL2 na sala de ?antar.! Du(uinha uns versos lia8*as n1o lia se# parar8$ue a leitura interro#piaPara uns 0ei?os #e %urtar*as ao (uarto ou (uinto 0ei?o8Se# se %azer anun)iar8Entra o Eusé0io8 e o poeta ve?oDar u# grito e pMr-se a andar<Pretendi novos enganos8:ovas tri)as inventar8*as o Eusé0io pMs-se a panos=:1o #e (uis a)reditar<+endo a sorte assi# %ugir-#e8+endo o Eusé0io se es)apar8
Fui ao (uarto pra vestir-#eE sair para o apanhar.*as no (uarto vi8 de )ho%re8;6Stive (uase a des#aiar< ;+i as portas do #eu )o%reA0ertas de par e# par<! ladr1o %oi o )o)heiro<:ada ali #e (uis dei>ar<Levou ?/ias e dinheiro$ue ne# posso avaliar<
/lanchette — ? cofre aberto!
4olores — '1ias e #inheiro!
ercedes — ? cocheiro!
ola — %im, o cocheiro, o :ouren)o, que #esapareceu!
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7/21/2019 f30 Arthur Azevedo, A Capital Federal
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/lanchette — Mas como soubeste que foi ele<
ola — $or esta carta, a nica coisa que encontrei no cofre! Ain#a por cima escarneceu #e mim! 6Tem tiradoa carta da al"ibeira.7
ercedes — Deixa ver.
ola — Depois! A2ora vamos = polcia! o! = polcia no!
"s 6rês — $or qu<
ola — o conv*m. :o2o sabero por qu. Vamos a um a#vo2a#o! 6 9ul"a "uardar a carta, mas est1 t4onerosa que dei<a0a cair.7 Vamos!
"s 6rês — Vamos! 6V4o saindo e encontram com ;uquinha.7
4u&uinha — :ola!
ola 6;ando0lhe um empurr4o.7 — V" para o #iabo!
"s 6rês — V" para o #iabo! 6Saem as cocotes. !i"ueiredo disar#a e apanha a carta que +ola dei<ou cair.7
4u&uinha 6onsi"o.7 — Estou #esmoralia#o! Ela no me per#oa o ter sa#o, #eixan#o-a entre2ue = fria #ofaen#eiro! %ou um #es2ra)a#o! ;ue hei #e faer<... Vou #esabafar em verso... o! vou tomar umabebe#eira!... 6Sai.7
; Cena I+ ;
Figueiredo, 0essoas do 0ovo
Figueiredo — ?ra aqui est" como uma pessoa, sem querer, vem ao conhecimento #e tanta coisa! Ve>amos oque o cocheiro lhe #eixou escrito. 68Ie a luneta e l7.7 — O:ola. — Eu sou um pouco mais artista que tu. %aio#a tua casa sem me #espe#ir #e ti, mas levo, como recor#a)o #a tua pessoa, as >1ias e o #inheiro que pu#eapanhar no teu cofre. +ala-te@ se faes esc/n#alo, ficas #e mal parti#o, porque eu te #i2o8 HG, que #ecombina)o representamos uma com*#ia pra extorquir #inheiro ao Eus*bio@ RG, que in#uiste um filho-famlia a contrair #vi#as para presentear-te com >1ias@ IG, que nunca foste espanhola e sim ilhoa@ XG, quefoste a amante #o teu ex-cocheiro — :ouren)o.O %im, senhor, * #e muita for)a a tal senhora Dona :ola!...o h", >uro que no h" mulata capa #e tanta pouca ver2onha! 6Sai.7
; Cena + ;
Gouveia, 0essoas do 0ovo, depois 0inheiro(Gouveia tra+ as botas rotas, a barba por !a+er, umaspecto geral da mis1ria e desLnimo.
Gouveia — in2u*m, que me visse ain#a h" to pouco tempo to cheio #e >1ias, no acre#itar" que notenho #inheiro nem cr*#ito para comprar um par #e sapatos! (" oito #ias no vou = casa #e minha noiva,porque tenho ver2onha #e lhe aparecer neste esta#o!
0inheiro 6 Aparecendo.7 — ?h! 4ouveia! como vai isso<
Gouveia — Mal, meu ami2o, muito mal...
0inheiro — Mas que quer isto #ier< o me pareces o mesmo! Tens a barba cresci#a, a roupa no fio...Desapareceu #o teu #e#o aquele espln#i#o e escan#aloso farol, e tens umas botas que riem #a tuaesbo#e2a)o!
Gouveia — 5ala = vonta#e. Eu mere)o os teus remoques.
0inheiro — E #ier que >" me quiseste pa2ar, com >uros #e cento por cento, #e mil-r*is que eu te havia
emprestatado!
Gouveia — $or sinal, que #isseste, creio, que esses #e mil-r*is ficavam ao meu #ispor.
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0inheiro — E ficaram. 6Tirando dinheiro do bolso.7 +" esto eles. — Mas, como um par #e botinas no secompra com #e mil-r*is, aqui tens vinte... sem >uros. $a2ar"s quan#o quiseres.
Gouveia — ?bri2a#o, $inheiro@ bem se v que tens uma alma 2ran#e e nunca >o2aste a roleta.
0inheiro — a#a! — %empre achei que o >o2o, se>a ele qual for, no leva nin2u*m para #iante. — A#eus,4ouveia... aparece! A2ora, que est"s pobre, isso no te ser" #ifcil!... 6Sai.7
; Cena +I ;
Gouveia, depois us1bio
Gouveia — +omo este tipo fa pa2ar caro os seus vinte mil-r*is! Ah! ele apanhou-me #escal)o! Enfim vamoscomprar os sapatos! 6Vai saindo e encontra0se com %us5bio, que entra cabisbai<o.7 ?h! o %r. Eus*bio!...
us1bio — ?ra! in#a bem que le encontro!...
Gouveia 6 $ parte.7 — aturalmente >" voltou = casa... +omo est" senti#o!... Vai falar-me #e ;uinota!...
us1bio — (o>e #e menh4 encontrei ela bei>an#o um mocinho!
Gouveia — (ein<
us1bio — B leva#a #o #iabo! no sei como o sinh6 pC#e "ost1 #ela!
Gouveia — ?ra essa! a ponto #e querer casar-me!
us1bio — Era uma burrice!
Gouveia — +usta-me crer que ela...
us1bio — $ois creia! 3ei>an#o um mocinho, um pelintreca, seu 4ouveia!... Ve>a o sinh6 #e que serviu "ast1tanto #inheiro com ela!...
Gouveia — %im, o senhor e#ucou-a bem... ensinou-lhe muita coisa...
us1bio 6Viamente.7 — o, sinh6! no ensinei na#a!... Ela >" sabia tu#o! ? sinh6, sim! %e ar"u5m ensinoufoi o sinh6 e no eu! 3ei>an#o um pelintreca, seu 4ouveia!...
Gouveia — Dona 5ortunata no viu na#a<
us1bio — Dona 5ortunata<... U!... +omo * que haera #e 7<... ?lhe, eu l" no orto!
Gouveia — o volta! ora esta!
us1bio — o quero mais sab7 #ela.
Gouveia — Deve lembrar-se que * pai!
us1bio — $or isso mesmo! Ah! seu 4ouveia, se arrepen#imento sarasse... 3em@ o sinh6 vai meapadrinh1, como noutro tempo se faia cum preto fu2i#o... o me astreo a entr1 in casa soinho #epois #etantos #ias #e osen#a!
Gouveia — Em casa< $ois o senhor no me acaba #e #ier que l" no volta porque #ona ;uinota...
us1bio — ;uem le falou #e ;uinota<
Gouveia — ;uem foi ento que o senhor encontrou aos bei>os com o pelintreca< — Ah! a2ora percebo! A:ola!...
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us1bio — $ois quem haera #e s7<
Gouveia — E eu supus... ?n#e tinha a cabe)a<... $er#oa, ;uinota, per#oa!... Vamos, senhor Eus*bio... Eu oapa#rinharei, mas com uma con#i)o8 o senhor por sua ve me h" #e apa#rinhar a mim, porque eu tamb*mno apare)o = minha noiva h" muitos #ias!
us1bio — $or qu<
Gouveia — Em caminho tu#o lhe #irei. 6 $ parte.7 — Aceito o conselho #e ;uinota8 vou abrir-me. 6 Alto.7Tenho ain#a que comprar um par #e sapatos e faer a barba.
us1bio — Vamo, seu 4ouveia! 6Saem. Ao mesmo tempo aparece +ouren#o perse"uido por +ola, Mercedes,;olores e lanchette.7
; Cena +III ;
ouren<o, ola, ercedes, 4olores, /lanchette, 0essoas do 0ovo
ola e os 'utros — 8e"a ladr4o 8e"a ladr4o... (+ouren#o 5 a"arrado por pessoas do poo e dois soldadosque aparecem. -rande ozeria e conus4o. Apitos. Muta#4o.)
$uadro I
' sót%o ocupado pela !amília de us1bio.
; Cena I ;
3u&uinha, depois Fortunata, depois 2uinota
3u&uinha 6%ntrando a correr da esquerda.7 — Mame! Mame!
Fortunata 6%ntrando da direita.7 — ;ue *, menino<
3u&uinha — $apai t1 i !
Fortunata — T1 i <
3u&uinha — Eu encontrei ele ali no canto e ele me #isse que viesse 7 se aBmec7 taa an2a#a, que setivesse, ele no entrava.
Fortunata — ?h! aquele home, aquele home o que merecia! — Vai, vai diz7 a ele que no t6 an2a#a!
3u&uinha — %eu 4ouveia t1 >unto co ele.
Fortunata — 3em! enha to#os #ois! 6 9uca sai correndo.7 ;uinota! ;uinota!...
" vo+ de 2uinota ; Senhora
Fortunata — Vem c", minha ia. — Eu no 2anho na#a me consumin#o. '" tou 5ia@ no quero me amoin1.6%ntra /uinota.7 — ;uinota, teu pai vem a... mas o que est" arresolido est"8 amenh4 #e menh4 amo embora.
2uinota — E seu 4ouveia<
Fortunata — Tamb*m vem a.
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7/21/2019 f30 Arthur Azevedo, A Capital Federal
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2uinota 6ontente.7 — Ah!
Fortunata — o quero mais ic1 numa terra on#e os marido passa #ias e noite fora #e casa!...
; Cena II ;
Fortunata, 2uinota, 3u&uinha, us1bio, depois Gouveia
3u&uinha 6%ntrando.7 — T1 i papai!
us1bio 6;a porta.7 — $osso entr1< o temo bri2a<
2uinota — Estan#o eu aqui, no h" #isso!
Fortunata — %im, minha ia, tu 5 o an>o #a pa.
2uinota 6Tomando o pai pela m4o.7 — Venha c". 6Tomando !ortunata pela m4o.7 Vamos! Abracem-se!...
Fortunata 6 Abra#ando0o.7 — Diabo #e home, 5io sem >uo!
us1bio — 5oi uma maluquice que me #eu! ?aie, raie, Dona 5ortunata!
Fortunata — $ai #e ia casa#eira!
us1bio — T" bom! t" bom! >uro que nunca mais! mas #eixe le diz7...
Fortunata — o! no #i2a na#a! o se #efen#a! B mió que as coisa ique como est".
3u&uinha — %eu 4ouveia t1 no corred6.
2uinota — Ah! 6Vai buscar -oueia pela m4o. -oueia entra manque*ando.7
us1bio — Assim * que o sinh6 me apa#rinhou<
Gouveia — Deixe-me! Estes sapatos novos faem-me ver estrelas!
Fortunata — %eu 4ouveia, le participo que amenh4 #e menh4 tamo #e ia"e.
us1bio — '" conversei co ele.
Gouveia 6 A /uinota.7 — Eu abri-me!
us1bio — Ele vai coa 2ente. o tem que az7 aqui. T1 na pin#aba, mas * o memo. +asa com ;uinota e
fica sen#o meu s1cio na faen#a.
2uinota — Ah! papai! quanto lhe a2ra#e)o!
3u&uinha — A 3envin#a t1 i .
6odos — A 3envin#a!
Fortunata — o quero 7 ela! no quero 7 ela!
2uinota vai buscar /envinda, &ue entra a chorar, vestida como no IJ &uadro, e aoelha-se aos
p1s de Fortunata.
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; Cena III ;
's mesmos, /envinda
/envinda — T6 muito arrepen#i#a! o valeu a pena!
Fortunata — &ua, sua #esaver2onha#a!
us1bio — Tenha pena #a mulata!
Fortunata — &ua!
2uinota — Mame, lembre-se #e que eu mamei o mesmo leite que ela!
Fortunata — Este #iabo no tem descurpa! &ua!
Gouveia — o se>a m", #ona 5ortunata. Ela tamb*m apanhou o micr1bio #a p/n#e2a.
Fortunata — $ois bem, mas se no se comport1 dereto... 6eninda ai para *unto de 9uquinha.7
us1bio 6ai<o 2 !ortunata.7 — Ela h" #e cas1 com seu or"e... Eu #ou o #ote...
Fortunata — Mas seu or"e...
us1bio — ;uem no sabe * como quem no v. 6 Alto.7 A vi#a #a capit1 no se fe para n1s... E quem temisso<... B na ro)a, * no campo, * no serto, * na lavoura que est" a vi#a e o pro2resso #a nossa queri#a$"tria! 6Muta#4o.7
$uadro II
"poteose A vida rural.
6oda a msica desta pe<a 1 composta pelo Senhor 9icolino ilano, A e$ce<%o das coplas As p#gs.KM e NI, do coro A p#g. NO, do duetino A p#g. PM e do &uarteto A p#g. NO &ue !oram compostas pelo Senhor 4outor "ssis 0acheco, e da valsa A p#g. KP, composi<%o do Senhor uís oreira.
F*
httpGJJKKK.biblio.com.brJTemplatesJArturAzeedoJAapital!ederal.htm
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