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4 DESTAQUE Sábado11 de Maio de 2019

CHRIS HUGHES, CO-FUNDADOR DA REDE SOCIAL

Num artigo de opiniãopublicado no The New YorkTimes, Chris Hughes, co-fundador do Facebook, afirmaque “é hora de desmantelar” arede social. As críticas nãoficam por aqui, com Hughes apedir acção aos reguladores

“É hora dedesmantelar o Facebook”

Chris Hughes ajudou a criara maior rede social do mundo,num dormitório de Harvard.Quinze anos depois, utilizaum artigo de opinião paradescrever Zuckerberg como“uma pessoa boa e generosa”,mas não poupa na crítica.“Tem uma influência quemais ninguém tem no sectorprivado ou no Governo”, épossível ler no extenso artigode opinião, publicado naúltima quinta-feira.

Criticando o monopólioda empresa que ajudou acriar e onde já não trabalhahá mais de dez anos, ChrisHughes refere que Mark -Zuckerberg “criou um leviatãque expulsa o empreende-dorismo e restringe a escolhado consumidor”.

Perante este cenário, oco-fundador da rede socialpede aos reguladores medidaspara limitar a operação doFacebook. Enquanto empresa,o Facebook tem a seu cargoo Messenger, o Instagram etambém o WhatsApp, comas estimativas a apontarque Zuckerberg controlecerca de 80% das receitasdas redes sociais.

Nas palavras de ChrisHughes, “controla três pla-taformas de comunicaçãonucleares - Facebook, Ins-tagram e WhatsApp - usadaspor milhares de milhões depessoas todos os dias”.

“O Mark consegue decidirsozinho como configurar osalgoritmos do Facebook paradeterminar aquilo que aspessoas vêem nos feeds denotícias, que definições deprivacidade usam e que tipos

de mensagens são entregues.Ele define as regras”, escreveno artigo de opinião.

“O Governo deve respon-sabilizar Mark. Há demasiadotempo que os legisladoresestão maravilhados com ocrescimento explosivo doFacebook e desvalorizam aresponsabilidade de garantirque os americanos estão pro-tegidos e que os mercadossão competitivos”, apontaChris Hughes.

Nos últimos anos, têmsido flagrantes os problemasde privacidade do Facebook,com as críticas a adensa-rem-se. O caso CambridgeAnalytica é o maior exemplo,levando até Mark Zuckerberga reconhecer que a reputaçãoda empresa relativamenteao tema da privacidade nãoé a melhor.

CríticasEntretanto, Brian Acton éum dos co-fundadores doWhatsApp, plataforma demensagens instantâneas quefoi vendida ao Facebook, em2014, por 19 mil milhões dedólares. Depois de deixar atecnológica, o empreendedortem sido particularmente crí-tico da rede social. Há doismeses, num discurso na Uni-versidade de Harvard, nosEUA, voltou a pedir que,sobretudo os jovens, aban-donem a rede social.

“Nós demos-lhes poder(às tecnológicas). Essa é aparte má. Nós compramos osseus produtos. Nós registamo-nos nestes websites. Apaguemo Facebook, certo?”.

Não foi a primeira vez que

o responsável fez o pedido.Em 2018, depois do escân-dalo de privacidade que ficouconhecido como CambridgeAnalytica e que afectou quase90 milhões de utilizadores,Acton aderiu ao movimento#deletefacebook (apaga oFacebook, em tradução livre).

Na base das críticas e dospedidos de abandono da redesocial está o modelo de negó-cio no qual o Facebook ganhadinheiro através da perfilaçãominuciosa dos seus utiliza-dores, método que só é pos-sível através de uma extensarecolha de dados.

As críticas de Brian Actonpodem parecer irónicas,sabendo que o responsávellucrou sobremaneira com avenda da sua empresa ao Face-book, mas o próprio faz ummea culpa. “Eu vendi a pri-vacidade dos meus utilizadorespara um benefício maior”.

“Se olhares para a culturade Silicon Valley, as pessoasperguntam ‘Podias não tervendido?’ e a resposta é não”,explicou aos estudantes. “Eutinha 50 empregados, tinhade pensar neles e no dinheiroque fariam com esta venda.Tinha de pensar nos nossosinvestidores e tinha de pensarna minha posição minori-tária. Eu não tinha a influên-cia total para dizer não caso,assim o quisesse”.

Brian Acton recordoudepois o modelo de negócioque o WhatsApp tinha - cobrarum dólar por um ano de uti-lização do serviço - e em comoisso não encaixa no perfil dasgrandes tecnológicas.

“Se tens mil milhões de

utilizadores, vais ter milmilhões de dólares em recei-tas. Não é isso que a Googlee o Facebook querem. Elesquerem milhares de milhõesde dólares”.

ArrependimentoNo ano passado, o antigovice-presidente do Facebookresponsável pelo crescimentode utilizadores, ChamathPalihapitiya, disse que sesentia arrependido sobre oseu trabalho nessa rede social.Na altura, disse que pretendiaavisar os utilizadores paraos riscos que correm.

Os avisos tinham sido lan-çados numa conferência, naStanford Graduate School ofBusiness. Aqui ficam alguns

dos comentários mais impor-tantes que fez na conferência:

Sente-se “tremendamenteculpado”, sobre a sua parti-cipação no Facebook. “Achoque criámos ferramentas queestão a destruir o tecido sociale a forma como a sociedadefunciona. Os ciclos de feed-back de curto prazo guiadospela dopamina (sistema docérebro de comportamentomotivado pela recompensa),onde se incluem os corações,gostos e polegares para cima,estão a destruir a forma comoa sociedade funciona”.

Chamath acrescentoumesmo que, “não há discursocívico, nem cooperação, ape-nas desinformação e faltade verdade. E não é um pro-

blema americano – não ésobre os anúncios russos. Éum problema global.”

Já relativamente a umincidente que levou a quesete homens inocentes naÍndia fossem linchados,depois de uma partida sobreraptos que se espalhou peloWhatsApp:

“É com situações desta queestamos a lidar. E imaginemlevar isto a um extremo, ondemaus actores podem mani-pular grandes quantidadesde pessoas e fazer o que elesquerem. É uma situaçãomuito grave”.

Já quando lhe perguntamse os seus filhos usam redessociais, respondeu: “eles nãopodem usar ”.

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Co-fundador da rede social pede aos reguladores medidas para limitar a operação do Facebook

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5Sábado11 de Maio de 2019

O Facebook e a FTC, que super-visiona as práticas empresariaisnos Estados Unidos, estarão atentar chegar a acordo relativa-mente aos problemas de priva-cidade. Além de uma avultadamulta, o acordo poderá representartambém a inclusão de novos exe-cutivos na estrutura da empresa.

A notícia é avançada pelo Poli-tico, que aponta que o acordoinclui, além de uma multa, quepoderá variar entre os 3 e os 5 milmilhões de dólares, a criação denovos lugares na estrutura doFacebook.

“Um possível acordo pode exi-gir a colocação de executivosfocados na privacidade nos níveismais altos da empresa”, apontao site, citando uma fonte ligadaàs negociações.

Há uma semana, durante aapresentação na conferência F8,Mark Zuckerberg referia que “aprivacidade é o próximo capítulo”da história da empresa. A juntara isto, frisava também que iriamcolaborar de perto com entidadese especialistas em privacidade -ainda que não tenha indicadoquem seriam estas figuras.

de acordo com o Politico, seráMark Zuckerberg a assumir o papel

de ‘designated compliance officer’,algo como o papel de responsávelpor conformidade com as práticasde privacidade.

O acordo refere ainda que estasnovas figuras terão de ser apro-vadas pelas autoridades federais.Além de figurar na estrutura doFacebook, as ideias destes exe-cutivos precisarão ainda de serdiscutidas com um “comité inde-pendente de supervisão de pri-vacidade”, que será criado paraavaliar as decisões da rede social.Neste grupo, estariam tambémincluídos membros do Facebook.

Por enquanto, fica por escla-recer se as decisões do comitépoderão efectivamente ter algumtipo de autoridade ou influênciano destino dos produtos do Face-book, que tem sob a sua alçadaa rede social, o Messenger, Ins-tagram e WhatsApp.

A FTC está a investigar a par-ticipação do Facebook no casoCambridge Analytica, onde terãosido violadas as práticas de pri-vacidade e expostos os dadosde 87 milhões de utilizadoresna rede social.

Caso o Facebook e a FTC nãoconsigam chegar a acordo, oassunto avançará para tribunal.

Tentativa de acordo com o supervisorO Facebook violou deliberadamentea lei da privacidade e concorrência, deacordo com um relatório parlamentardo reino Unido, que adverte para anecessidade de ser elaborada a regu-lamentação urgente, para fazer face aesse tipo de irregularidades. Esse docu-mento classifica mesmo que os exe-cutivos da empresa que gere a redesocial como “gangsters digitais.”

O relatório, de Fevereiro passado,da responsabilidade da comissão digital,Cultura, Média e desporto, na sequênciade uma investigação de 18 meses sobrenotícias falsas e desinformação, acusamesmo o Facebook de obstruir de formapropositada a investigação sobre astentativas da rússia de manipular elei-ções. Algo que levou damian Collins,presidente desse comité do parlamentobritânico, a frisar que “a democraciaestá em risco”, por ser o “alvo maliciosoe implacável”, ao se atingirem os cida-dãos “com desinformação e anúnciosobscuros por parte de fontes não iden-tificadas através das principais plata-formas de redes sociais usadas todosos dias.”

Há três ideias fundamentais quepodem ser retiradas do relatório de108 páginas. Uma delas é que MarkZuckerberg, um dos fundadores e CEOdo Facebook, é acusado de ignorartrês pedidos do parlamento britânicopara que fizesse o seu depoimento,

em vez de ter enviado funcionáriosincapazes de responder às perguntasda comissão.

Menos informações falsasEntretanto, a rede social Facebookanunciou, recentemente, ter elimi-nado 2.632 páginas, contas e grupossuspeitos de ligações ao Irão, rússia,Macedónia e Kosovo, acusando-osde difundir informações falsas parainfluenciar sentimentos políticosdos utilizadores.

A rede social apagou 1.907 páginas,grupos e contas do Facebook e do Ins-tagram alegadamente ligadas à rússia,513 ligadas ao Irão e 212 ligadas à Mace-dónia e ao Kosovo, considerando-os“enganosos” e “inautênticos.”

de acordo com o chefe de segurançado Facebook, Nathaniel Gleicher, aspáginas enganavam os utilizadores“sobre identidades e actividades” epartilhavam informações falsas publi-cadas sob a forma de notícia.

As contas abordavam temas comoas sanções impostas por Washingtona Teerão, as tensões entre a Índia e oPaquistão e os conflitos na Síria e noIémen. Os números divulgados surgiramnum momento em que a rede socialjá enfrentava várias acusações quecolocam em dúvida a moderação deconteúdos da plataforma, na sequênciade um ataque a duas mesquitas emChristchurch, Nova Zelândia, que foigravado e transmitido em directo no'Facebook', durante 17 minutos.

O WhatsAppactualizou as definiçõesde compatibilidade com os diferentessistemas operativos. A partir de2020, a aplicação deixará de fun-cionar em telefones com o sistemaoperativo da Microsoft. É algo queo serviço de mensagens faz comfrequência - terminar a compati-bilidade com determinadas versõesdos sistemas operativos, normal-mente as mais antigas.

Desta vez, o serviço de men-sagens anunciou que só será pos-sível usar o WhatsApp no WindowsPhone até ao dia 31 de Dezembrode 2019. E, ainda assim, algumasfuncionalidades existentes podemnão funcionar até esse dia, garanteo WhatsApp. Até aqui, é possívelusar o WhatsApp na versão 8.1 doWindows Phone, lançada em Abrilde 2014. A partir do próximo ano,será o fim da utilização no sistemaoperativo móvel da Microsoft,mesmo para quem tenha a versãomais recente.

O sistema operativo móvel daMicrosoft nunca chegou a atingir umgrau elevado de popularidade, espe-cialmente quando comparado como domínio de mercado do Android.O WhatsApp não é o único produtodetido pelo Facebook que deixaráde funcionar no Windows Phone.

Recentemente, foi também indi-cado que as aplicações do Facebookiriam deixar de funcionar para quemtivesse Windows Phone. Isto incluitoda a família de apps da empresade Mark Zuckerberg: Messenger,Instagram e o Facebook. Até aqui,só o WhatsApp ficava de fora da listade exclusões. O Windows Phonefoi lançado a 21 de Outubro de 2010.Quando a Microsoft adquiriu o negó-cio da Nokia, em 2013, foram jus-tamente os smartphones desta marcaa faceta mais visível do sistema ope-rativo móvel da tecnológica norte-americana. Além do WindowsPhone, também as versões a partirdo Android 2.3.7 e do iOS 7 vão deixarde ser compatíveis com o WhatsApp,a partir de 1 de Fevereiro de 2020.

Para quem não actualizar as versõesde sistemas operativos mais obsoletas,não será possível criar ou reactivara conta do WhatsApp, indica a notapartilhada no blog da empresa, queé regularmente actualizada.

Fim da compatibilidade com WhatsApp

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“Gangsterismo digital” prejudica utilizadores

Mark Zuckerberg é acusado de violar a lei da privacidade e concorrência

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