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 ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICAManual do Educador

Sumário

 Apresentação................................................................................

1. A GRANDE VIRADA

Tecendo as Redes Planetárias de Cura e Sustentabilidade....................

2. GAIA, O PLANETA VIVO A Reconexão com Nossa Natureza Cósmica........................................

3. A ÉTICA ECOLÓGICA E O PRIN CÍPIO BI OCÊNTRICOTrazendo a Ecologia Profunda para o nosso Cotidiano.........................

4. HUMANI DADE E EVOLUÇÃOUma Visão Ecológica da Nossa Ancestralidade.......................................

5. TRANSFORM AÇÕES NA ESCOLA: A INCORPORAÇÃO DA ECOLOGIA COMO BASE EDUCACIONALContexto Histórico para a Aplicação da Alfabetização Ecológica............

6. PRIN CÍPIOS DA ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA A Organização da Natureza Aplicada no Contexto Humano....................

7. PROJETOS DE ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA A Aplicação do Pensamento Ecológico no Cotidiano da Escola................

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 Apresentação

 Ao adentrarmos o Terceiro Milênio, percebemo-nos em uma situação inquietante.Deparamo-nos com uma época de destruição planetária, em que constatamos a perda dalegitimidade de nossas instituições políticas e religiosas, a alienação da juventude, o

desaparecimento de espécies, a degradação de ecossistemas inteiros, a inviabilidade dosmodelos sociais urbanos, a intensificação das doenças físicas e mentais, a irracionalidadedo sistema econômico, a incoerência dos métodos educacionais.

Simultaneamente vivemos uma época de comunicação planetária, em que temos acesso aum conhecimento filosófico e técnico que nossos ancestrais jamais puderam sonhar. Vemos surgir e se aglutinar uma quantidade significativa de instrumentos dedesenvolvimento local integrado, restauração dos sistemas ecológicos, utilização detecnologias produtivas benignas, reforma das instituições civis, participação cidadã na

resolução dos problemas comunitários.

 Vivemos um momento de contrastes, de polaridades, de contradições, no qual temos apossibilidade de optar entre a vida e a morte, entre a criação de uma nova humanidade eo suicídio coletivo.

 A alfabetização ecológica promove e traz à tona um referencial teórico-prático capaz deempoderar professores, gestores escolares e outros agentes a incorporarem as mudançasde percepção e comportamento essenciais à criação de um novo patamar de existênciapara a sociedade humana.

Conseqüentemente, estes profissionais deverão estar aptos a preparar as crianças dopresente e os adultos do futuro a se organizarem cooperativamente e a agirem a partir deemoções autênticas e senso de pertencimento à comunidade da vida.

Urge a necessidade de prover os educadores e agentes sociais de ferramentas que ospossibilitem enfrentar com convicção os obstáculos do dia-a-dia, fazendo-os acreditar quea mudança está em curso e que não é um fato isolado em um município do interior doBrasil. A transformação da sociedade, apesar do intrigante silêncio das mídias, está

acontecendo em todas as partes do planeta. Envolve as pessoas comuns dos campos, dolitoral, das florestas, das montanhas, das cidades. O Brasil é um dos pólos dessa Grande Virada. Estamos tecendo redes planetárias de cura e sustentabilidade fundamentadas nopensamento ecológico, nas sabedorias ancestrais, na arte e na organização comunitária.

O objetivo primordial de uma iniciativa como essa é estimular a esperança de que ahumanidade tem a capacidade de superar essa crise planetária. Os instrumentos para a

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 Alternativa Educação e Manejo Ambiental

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 A GRANDE VIRADATecendo as Redes Planetárias de Cura e Sustentabilidade

Quando paramos algum momento para refletir sobre a situação do mundo, torna-senotória a sensação de que as coisas da humanidade não poderão seguir seu curso sob as

bases e valores da sociedade atual. Lester Brown, ativista de largo alcance, difusor dopensamento ecológico, faz a impactante observação: “Assim como um câncer comcontínuo crescimento acaba destruindo seus sistemas de suporte de vida ao destruir seuhospedeiro, a economia global em expansão contínua está destruindo lentamente seuhospedeiro – o ecossistema Terra”.1

 O planeta vivo do qual somos parte está doente. As atuais atividades humanas estãoprovocando um enfraquecimento global da biosfera. A Terra perde mais de dois milhectares (imaginemos 2.000 campos de futebol) de florestas por dia e a atual taxa de

desertificação é de 16 mil hectares (16.000 campos de futebol) de solo por dia. Milharesde queimadas simultâneas, milhões de toneladas por ano de pesca inútil, bilhões detoneladas de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera, despejo dequantidades descomunais de fertilizantes e agrotóxicos nas águas.2 Segundo a AvaliaçãoEcossistêmica do Milênio3, 60% dos ecossistemas do planeta já estão deteriorados e/ousão utilizados de maneira indevida, estando ameaçados de destruição completa naspróximas décadas.

Tal devastação ambiental é promovida para satisfazer mercados consumidores cada vezmais vorazes. Para termos uma idéia do nível de expansão do consumo humano, basta

saber que, em 1960, o gasto em consumo privado foi de 4,8 trilhões de dólares. No ano2000, os gastos chegaram a 20 trilhões de dólares. Em quarenta anos, a sociedadehumana quadruplicou seu consumo!

Dos 6,3 bilhões de seres humanos, 1,7 bilhão fazem parte da sociedade de consumo.Enquanto isso, 2,8 bilhões de pessoas mal sobrevivem com uma renda de menos de doisdólares por dia. Enquanto um americano gasta 21.700 dólares por ano, um nigerianogasta 194 dólares. Esse mesmo nigeriano consome 81 quilowatts de energia nesseperíodo, enquanto o americano consome 12.331 quilowatts.

Em 1997 foram gastos em torno de um trilhão de dólares em armas e manutenção deexércitos no mundo. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, tambémde 1997, oitenta bilhões de dólares dariam acesso a água limpa, serviços sociais eeducação básica para os pobres do planeta durante uma década; isso equivale aopatrimônio dos três homens mais ricos do mundo.

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Esses dados são do Worldwatch Institute, escancarando uma situação absurda. Paracomplicar esse colossal desajuste, as mídias estão a serviço desse modelo de sociedade eestimulam ainda mais o consumo de mercadorias e serviços supérfluos. Se levarmos emconsideração que a televisão fica ligada em média 6 horas por dia nos lares norte-americanos, temos a noção do poder descomunal desses aparelhos.

 A publicidade na televisão influencia o conteúdo e a forma dos programas, incluindo os  “shows de notícias”, e usa o grande poder sugestivo desse veículo para modelar asimagens das pessoas, seus gostos e seus comportamentos. A finalidade dessa prática écondicionar a audiência a comprar os produtos anunciados antes, durante e depois decada programa.

Em suma, o consumismo e o desperdício converteram-se num modo de vida. Enquantoalguns esbanjam e gastam caudalosamente os recursos do planeta, a maioria entrega sua

força de trabalho à luta diária pela sobrevivência em meio a um sistema sócio-econômicoincoerente e nocivo.

Diante dessa realidade, acabamos por ter duas opções básicas: a primeira, talvez maiscômoda, mas incapaz de nos trazer felicidade, é seguirmos alimentando esse sistema,recebendo sem visão crítica as informações produzidas pelos artífices da mentalidadeconsumista que está destruindo o planeta, optando por não pensarmos no futuro, emnossos filhos, netos e quem mais vier depois deles, e privilegiando as satisfaçõesimediatas.

 A segunda é optar pela transformação de nossas vidas, o que exigirá um esforço de cadaum de nós para acreditarmos que, apesar desse triste diagnóstico da situação de nossaespécie, podemos agir para assegurar um mundo capaz de abrigar toda a diversidade davida, nos tornando agentes ativos das redes planetárias de cura e sustentabilidade.

Tais redes vêm sendo constituídas através da articulação de instituições, empresas,associações, governos e indivíduos que optaram por não compactuar com as forçassombrias que impõem essa economia que depende do consumo sempre crescente paramanter seus motores funcionando, fazendo da Terra a um só tempo seu depósito de

suprimentos e seu esgoto.

Para participarmos dessas redes, é crucial entendermos isto: podemos satisfazer nossasnecessidades sem destruir o sistema que sustenta nossa vida. Esse é o primeiro passopara nos tornarmos participantes efetivos de um fenômeno global de transformaçãocultural que vem sendo chamado “A Grande Virada”.

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Graças à opção pela transformação tomada por incontáveis pessoas e grupos, o fenômenoda Grande Virada está tomando impulso, se fortalecendo em três áreas ou dimensões quese reforçam mutuamente. Muitos se dedicam às três áreas, mas cada uma delas énecessária para a criação de uma civilização sustentável 4:

1. Agindo em defesa da vida na Terra

Essas atividades podem ser a dimensão mais instintiva da Grande Virada, incluindo todo otrabalho político, legislativo e jurídico necessário para reduzir a devastação do planeta. Abrangendo uma ampla gama de atividades, essas ações incluem:

•  Documentar os efeitos do atual modelo civilizatório na saúde e ecologia do planeta,incluindo as conseqüências da utilização de combustíveis fósseis, agrotóxicos efertilizantes químicos, aditivos químicos da indústria alimentar, produção de

energia e armas nucleares, mineração sem gestão ambiental, etc;•  Promover e participar de campanhas visando a criação, implementação e

melhoramento de leis ambientais e sociais e contribuir para a justa aplicação dasleis através do acompanhamento civil do governo e da indústria, a participação deaudiências e julgamentos públicos;

•  Participar de conselhos municipais, tais como o de saúde, educação e defesa domeio ambiente, influindo nas decisões que determinam os rumos da comunidade;

•  Participar de movimentos de questionamento a acordos internacionais que ponhamem perigo ecossistemas e prejudiquem a justiça econômica e social;

•  Evitar empresas que põem em risco sistemas de vida por meio de produtos nocivos

à saúde, da poluição ou da produção de armamentos, ou que exploram seustrabalhadores com salários baixos e condições de trabalho insalubres;

•  Fazer barreiras e realizar vigílias em lugares onde esteja em curso algumadestruição ambiental, tais como a retirada de cobertura vegetal nativa, construçãode represas, estradas e empreendimentos sem estudo de impacto ambiental, etc.

Essa primeira dimensão da Grande Virada é cansativa. É um trabalho altaneiro muito difícilde ser desenvolvido isoladamente. É uma dimensão de trabalho em grupo, no qual cadaparticipante se apóia mutuamente e promove um revezamento no encabeçamento das

ações, tal como o ganso líder que, ao se cansar, posiciona-se para voar na corrente de ardeixada pelos demais, e outro líder toma o seu lugar. Essa dimensão faz com queganhemos tempo, salvemos ecossistemas, culturas e diversidade genética. Mas somenteela não será suficiente para fazer com que efetivemos uma sociedade sustentável.

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2. Análise das causas e criação de alternativas

Igualmente crucial, essa dimensão da Grande Virada nos traz a compreensão da dinâmicado atual modelo insustentável que vem solapando a saúde do planeta. Quais os acordosque criam fortunas obscenas para uns poucos enquanto empobrecem progressivamente o

resto da humanidade? Que causas entrelaçadas obrigam-nos a uma economia insaciávelque usa nosso corpo maior, a Terra, como depósito e esgoto?

 À medida que as pessoas vão conhecendo o assunto, vamos desmistificando o mecanismoda economia global. Quando entendemos como esse sistema opera, sentimo-nos menostentados a demonizar os políticos, empresários e outros agentes, e nos focamos em nossopotencial criativo. Apesar do aparente poderio desse sistema sócio-econômico, podemosenxergar sua fragilidade (afinal, ele depende de nossa participação) e como ele estáfadado a se devorar.

Na medida em que paramos de alimentá-lo, deixamos de ser consumidos por ele eganhamos força na criação de alternativas estruturais. Conhecer as causas e criaralternativas andam de mãos dadas e compartilham da mesma ânsia pela praticidade.

Como brotos se esforçando para romper a casca, estão surgindo novos arranjos sociais eeconômicos. Talvez não seja fácil identificá-los logo no início, pois raramente aparecem namídia, mas se mantivermos os olhos abertos e ajustarmos nossas lentes, eles entrarão emfoco. Sem aguardar ações dos políticos, vamos nos organizando, agindo em nossascomunidades. As ações que provêm de nossas mãos e mentes podem parecer marginais,

mas contêm as sementes do futuro. Entre exemplos das iniciativas em curso incluem-se:

•   Aulas individuais e grupos de estudo sobre a natureza do modelo sócio-econômicoatual para expor os mecanismos da economia global;

•  Serviços educacionais para divulgar os custos ecológicos e humanos de umasociedade de consumo, tais como os oferecidos pelo Worldwatch Institute;

•   A criação de novas e adequadas medidas de riqueza e prosperidade para substituiros atuais índices monetários de crescimento e desenvolvimento, como o PIB –Produto Interno Bruto – que têm sido o parâmetro de riqueza da economia global,

mas que desconsidera os efeitos do consumo crescente sobre os sistemas vivos;•  Estratégias e programas para defesa não-violenta, com base na sociedade civil,para substituir a dependência da preparação e retaliação militares;

•  Criação de serviços de conciliação baseados na comunidade, que substituem osprocessos jurídicos na mediação e solução de conflitos;

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•  Redução da dependência dos combustíveis fósseis e nucleares com a criação dedispositivos baseados em fontes de energia renovável – vento, biodiesel, célulasfotovoltaicas, marés, pequenas hidrelétricas, etc – e de custo reduzido;

•  Criação de sistemas e processos agroecológicos e programas de desenvolvimentolocal integrado;

•    A difusão de fundos e cooperativas de terra como forma de propriedade nãoindividualizada, com obediência implícita às necessidades da Terra e à abundância;

•  Modalidades colaborativas de moradia, tais como repúblicas e ecovilas, quepermitem que solteiros, famílias e gerações cuidem uns dos outros e da Terra;

•  Iniciativas locais criando jardins e hortas comunitárias, cooperativas de consumo ede comercialização, uso coletivo de ferramentas, banco de habilidades, projetos derevitalização de córregos, rios, matas ciliares, reflorestamento e recuperação dossolos;

•  Programas de compostagem e reciclagem de resíduos capitaneados por

associações comunitárias e prefeituras;•  Surgimento de programas públicos de saúde com métodos holísticos e preventivos,

em complementação aos modelos de diagnóstico e tratamento, enfatizando acapacidade de autocura do corpo, da mente e do planeta.

•  Criação de grupo de trocas solidárias com moedas sociais, baseados na permutade bens e serviços, de modo que os recursos da comunidade circuleminternamente em vez de serem escoados para longe;

•  Novos empreendimentos educacionais baseados em currículos ecológicos, abrindopara as crianças seu mundo natural e o capital intelectual de suas comunidades,além de estimular os adultos a se dedicarem ao aprendizado vitalício;

•  Desenvolvimento de uma cultura empresarial ecológica, focada na super-produtividade de recursos, no agrupamento de empresas cujos resíduos alimentamumas às outras, nos processos de automação e controle que imitam a natureza,etc;

•  Sistemas de comunicação eletrônica permitindo que comunidades do mundo inteirotroquem informações rapidamente, desenvolvam estratégias e coordenem açõesde restauração e desenvolvimento sustentável.

3. Mudança na percepção da realidade em termos cognitivos e espirituais

Como já dizia Albert Einstein, não será possível resolvermos nossos problemas utilizando amesma mentalidade que os criou. Todas as alternativas apresentadas na dimensãoanterior não se enraizarão se mantivermos o mesmo olhar para o mundo e nossas vidas.Ou seja, uma sociedade sustentável requer uma mudança profunda na forma comopercebemos a realidade. Essa mudança ocorre tanto na dimensão cognitiva, como nadimensão espiritual, e é a terceira e mais básica das dimensões da Grande Virada.

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 Essas mudanças surgem com as respostas dos indivíduos e grupos aos avanços dopensamento científico e às novas lentes que enfocam a realidade dos átomos, daconsciência e do universo, proporcionadas pela física quântica, pela nova biologia, pelacibernética, pela psicologia transpessoal, que trazem à tona uma visão holística e

integrada da mente e da natureza.

  A terceira dimensão também se dá com a difusão de conhecimentos ancestrais cujastradições de sabedoria dos povos nativos e das vozes místicas em nossas própriasreligiões entoam canções quase esquecidas que nos lembram que nosso mundo é umaunidade sagrada, no qual temos uma missão sagrada.

 Além disso, a aproximação da arte como linguagem adequada para expressar o padrão decomunicação da natureza e suas metáforas faz fundi-la aos âmbitos científico e religioso,

promovendo uma trindade cognitiva que se assemelha à confluência de três rios.

  As redes planetárias de cura e sustentabilidade bebem na confluência desses rios,despertando-nos para aquilo que antes sabíamos: estamos vivos em um planeta vivo,fonte de tudo o que somos e podemos realizar, belo em toda a sua integridade celestial.

Essa transformação cognitiva e espiritual nos traz metas mais nobres e prazeres maisprofundos, ajudando-nos a redefinir nossas riquezas e nossos valores. A reorganização denossas percepções liberta-nos das ilusões acerca daquilo que precisamos ter e de nossolugar na ordem das coisas. Leva-nos para fora de batidos e velhos conceitos que se

reproduzem viciosamente em nossa comunicação, aproximam-nos uns dos outros e denossa posição integral no corpo vivo da Terra. Entre os ingredientes desse despertar deconsciência, incluem-se:

•   A Teoria de Gaia, que nos mostra que o planeta é um ser vivo, nosso corpo maior;•   A Teoria da Autopoiese, que nos revela a dinâmica auto-organizadora da vida e a

presença da mente na natureza e confirma a intuição de que temos autonomiapara criarmos a nós mesmos e ao mundo que nos rodeia;

•   A Teoria do Caos, que nos apresenta, na pureza da matemática, a complexidade

do mundo, a textura da realidade, e nos estimula a acreditar na Grande Virada, aodemonstrar que o caos é fonte de novas ordens mais belas e complexas e que sãonas crises que surgem os saltos evolutivos;

•    A Teoria da Simbiogênese, que nos mostra que a matriz evolutiva da vida é asimbiose – parcerias e associações entre os seres – superando a crença arraigadaque estamos no mundo para competir por uma quantidade limitada de recursos;

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•   A Ecologia Profunda e o movimento ecológico de longo alcance, resgatando-nos doantropocentrismo (existência centrada no ser humano) e nos encaminhando a umprincípio biocêntrico (existência focada no fenômeno da vida), tornando-nos nãomais o topo da escalada evolutiva, mas um fio na teia da vida, evocando o sagradoda vida como um todo e reverenciando as bactérias, algas, fungos, plantas e

animais, nossos parceiros terrestres;•   A espiritualidade ecumênica, reunindo a percepção sagrada das diversas religiões

em um mesmo processo de louvor ao Grande Espírito de todos os povos;•    A Simplicidade Voluntária, ou movimento pela vida simples, que nos liberta dos

padrões de consumo que não refletem nossas necessidades, permitindo-nosencontrar meios mais frugais e satisfatórios de nos conectarmos ao mundo.

  A análise das três dimensões da Grande Virada mostra-nos com clareza que existe umvigoroso e silencioso processo de transformação ocorrendo nas nações, nas comunidades

e nos corações e mentes da humanidade. Não podemos, contudo, afirmar que a Grande Virada vai ocorrer, pois não é possível saber o que vai acontecer primeiro: o ponto semretorno, além do qual não será possível deter o colapso dos sistemas que sustentam avida no planeta, ou o momento em que os atores de uma sociedade sustentável ganharãocoesão e assumirão o comando.

Possivelmente teremos pela frente convulsões em escala global. Para que sejamospoupados do pânico, do medo, dos traumas sociopolíticos e ecológicos, deveremosconstruir espaços comunitários capazes de nos acolher e nos proteger das ondas dechoque que poderão nos encobrir. Quanto mais cedo iniciarmos esse processo de

reorganização, mais aptos estaremos para superar a transição que já aponta no horizonte.Fortalecendo-nos como indivíduos e como grupo, seremos capazes de resistir à tentaçãode enfiar a cabeça na areia ou de nos voltarmos uns contra os outros, encontrando bodesexpiatórios que poderíamos culpar por nosso medo, revolta e dor.

Quando estamos distraídos e receosos, e os prognósticos são adversos, é fácil permitir oentorpecimento dos nossos corações e mentes. Estamos confrontando perigos tãoabrangentes e difíceis que a tendência é, de fato, buscarmos inconscientemente umentorpecimento. Há muita dúvida, negação e descrença em nosso comportamento. Mas,

de todos os perigos que podemos enfrentar, das alterações climáticas às guerrasnucleares, talvez o mais devastador de todos eles seja o próprio torpor de nossas reações.Tal entorpecimento paira sobre nós e se reflete nas diversões que criamos, nas lutas queescolhemos, nas metas que buscamos e nas coisas que compramos.

 A educação hoje tem a iluminada missão de ajudar-nos a despertar desse sono mórbido eestimular-nos a voltar à vida. Aí se situa o intuito essencial de trazer esperança para os

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pais e educadores, para que se tornem elos potencializadores das redes planetárias decura e sustentabilidade e catalisem o processo de fortalecimento das comunidades em quevivem.

Preparando as crianças, difundindo práticas sustentáveis, ativando ferramentas

associativas, formando equipes locais de mobilização popular, transcendendo o medo e aresignação, compartilhando a dor pelo mundo e as conquistas da nova humanidade,mulheres e homens são chamados a se reconectarem com a comunidade da vida doPlaneta Terra.

Então, reconectados com nossa existência mais profunda, seremos capazes de participarda Grande Virada, amparados pela arte, pela ciência e pela sabedoria ancestral.Confiemos: a vida prevalecerá.

Notas

1.  World Watch Institute. State of The World, 1998.2.  Mais informações sobre a devastação ambiental no planeta em HAWKEN, Paul; LOVINS, Amory; LOVINS,

Hunter. Capitalismo Natural. São Paulo: Cultrix – Amana Key, 20023.  Maior estudo empreendido pelas Nações Unidas para se conhecer o estado dos ecossistemas do planeta.

Foram mais de 1.300 cientistas de 95 países trabalhando em cooperação. O relatório da AvaliaçãoEcossistêmica do Milênio foi publicado no primeiro semestre de 2005.

4.  Fonte: MACY, Joanna e BROWN, Molly Young. Nossa Vida como Gaia. São Paulo: Ed. Gaia, 2004.

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GAIA, O PLANETA VIVO A Reconexão com Nossa Natureza Cósmica

Muitos de nós temos a nítida impressão de que a Terra é muito mais do que uma esferade rochas com uma camada de ar, repleta de água e habitada pelos seres vivos em sua

superfície. Sentimos intuitivamente que pertencemos a uma grande unidade, algo que seforma a partir de nós, ao mesmo tempo em que nos acolhe e nos provê de tudo o quenecessitamos.

Há muito tempo atrás, os gregos, pensando nessa perspectiva, deram à Terra a condiçãode uma divindade, e batizaram-na Gaia, a “mãe terra” que, confluindo com Urano, o “paicéu”, através das águas, fecundava toda a vida no planeta. Naqueles tempos, ciência eteologia eram a mesma coisa, e a ciência, apesar de menos precisa, tinha alma.

Com o passar do tempo, essa profunda relação mítica foi se enfraquecendo, ao passo quecrescia um rigor acadêmico obcecado pela exatidão matemática e uma tendência defragmentar a realidade para tentar explicá-la que tomou conta da ciência e promoveu suaruptura com a subjetividade. Gaia ficou restrita à teologia e, na ciência mecanicistapreocupada com números, quantidades e mensurações, a Terra acabou sendotransformada em uma espécie de máquina, uma estrutura inerte meramente habitada porseres vivos independentes que lutam entre si pela sobrevivência. Lembranças do mito decriação grego restaram somente no radical “geo”, com o qual foram denominadas algumasciências da Terra, tais como Geologia e Geografia.

Daí se seguiram séculos de desconexão entre a humanidade e a natureza. Tal momentohistórico foi marcado pelo antropocentrismo (o ser humano como centro da existência, ainstância mais importante da criação divina) e pela voraz exploração dos recursosterrestres. O planeta, aos olhos de quem retirava as riquezas de suas entranhas e talhavasua superfície para satisfazer necessidades cada vez mais imediatistas, não passava de umdepósito de suprimentos e local de despejo dos resíduos. Seguindo o mesmo raciocínio,todos os outros seres vivos se tornaram nada mais do que matéria-prima para osempreendimentos da espécie Homo sapiens.

Embora ao longo dos tempos sempre houvesse aqueles filósofos e cientistas que insistiamem trazer à tona a natureza viva da Terra, foi somente no Século 20, quando osastronautas puderam experienciar a extraordinária visão do planeta navegando naimensidão cósmica, que a percepção da Terra como um sistema integrado, um organismovivo, começou a ressurgir. As fotografias daquela entidade azul e branca de inebriantebeleza flutuando no espaço negro tomaram com reverência os sentimentos dahumanidade.

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  Ao longo desse século, a ciência se tornou holística e redescobriu sua alma. E a teologia,movida por forças ecumênicas, reaproximou Gaia do inconsciente coletivo.

Na década de 1970, uma série de pesquisas de cientistas integrados aos avanços do

pensamento sistêmico e às transformações paradigmáticas na ciência fez emergir umateoria que, mais do que nunca, trazia à tona a natureza viva da Terra. Parecíamos enfimcompreender que o planeta não é somente a nossa casa, mas é nosso corpo maior, nossanatureza cósmica.

James Lovelock e Lynn Margulis, químico e bióloga, em uma fascinante trajetóriaintelectual, conseguiram demonstrar que o ar, os oceanos e os solos eram muito mais queum mero ambiente para a vida. Eram, pois, parte da vida. Da mesma forma que os pêlosde um gato, ou as penas de um pássaro, o ar não é propriamente vivo, mas é produzido

pela vida. Lovelock e Margulis compreenderam que todos os ecossistemas e seus suportesminerais e gasosos formam um gigantesco sistema unificado que apresenta uma dinâmicaauto-reguladora, tal como ocorre nas células e organismos vivos que nós conhecemos.

Essa nova visão científica mostra que todos os aspectos da Terra se ligam através de laçosde retroalimentação para regular o ambiente. Quando compreendemos a incrível conexãoentre as partes vivas e não-vivas do planeta – como o magma do interior da Terra que étransformado ininterruptamente em crosta; a crosta que é transformada em micróbios eorganismos; e estes seres vivos posteriormente voltando a ser crosta e a crostatransformando-se novamente em magma para completar o ciclo constante da autocriação

  – percebemos claramente que os domínios da Geologia e da Biologia não podem estarseparados. Toda parte ou aspecto geológico da Terra que podemos encontrar é produtoda atividade de sua dimensão biológica e vice-versa.

Nosso planeta jamais foi um lar pronto para usar, no qual as criaturas vivas sedesenvolveram e ao qual se adaptaram. Rochas foram constantemente rearrumadas e setornaram criaturas vivas, assim como as criaturas vivas rearrumaram rochas,transformando-as em habitats propícios, como também se decompuseram em rochas,transformando-se no próprio habitat.

 Vida não pode ser parte de um ser vivo. A vida é a essência ou o processo de todo o servivo. Vida é processo de corpos, não de uma de suas partes. O mesmo se aplica à Terra.  A vida é seu processo, seu tipo particular de organização, e não uma de suas partes.Podemos dizer que os organismos criam seus ambientes e são criados por eles, no mesmosentido em que dizemos que as células criam seus próprios ambientes e são criadas poreles em nosso corpo.

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   A teoria que descreve a natureza autocriativa e auto-reguladora do nosso planeta foibatizada de Teoria de Gaia, reaproximando a ciência da teologia. Essa visão científica, quenos reconecta ao nosso corpo maior, o Planeta Terra, é uma das bases do pensamentoecológico. Não formula um conhecimento propriamente novo, mas resgata e traz à tona

aquilo que nossos ancestrais já identificavam intuitivamente. A diferença é que agora acivilização está diante de um raciocínio que não necessita de aspectos místicos para nosmostrar a natureza viva da Terra. A linguagem científica exprime de maneira coesa eprofundamente transformadora uma compreensão que é, em seu âmago, espiritual:pertencemos a uma rede viva. Compomos, juntamente com todas as outras criaturas, umser planetário e co-evoluímos com ele.

Contudo, ainda existe uma força cultural conservadora que tenta impedir a incorporaçãodessa nova compreensão no cerne das atividades científicas. Por conta disso, ainda não há

uma difusão consistente da visão e do aprendizado de Gaia nas escolas e universidades. Épossível que, no futuro, a História registre que o reconhecimento da Terra como umorganismo vivo foi combatido no Século 20 e no início do Século 21 por praticamente asmesmas razões por que foi combatida a teoria de Copérnico que dizia que a Terra giravaem torno do Sol nos Séculos 16 e 17: porque transforma crenças fortemente enraizadas equestiona interesses adquiridos.

  As implicações da visão do planeta como um ser vivo são profundas. Estamos nosreconectando com o organismo maior que é nossa natureza cósmica. Estamos aptos acompreender nosso papel nesse gigantesco sistema unificado, o corpo da Terra. Será que

não somos o sistema nervoso de Gaia? Visto que por nossos olhos ela se viu pela primeiravez e por nossas mentes ela se tornou consciente de si mesma?

Enfim, será possível imaginarmos o que a percepção de Gaia acarretará aos nossosmodelos sociais, econômicos, políticos e culturais, quando incorporarmos, de fato, a noçãoque somos, toda a comunidade da vida, um mesmo ser? O que acontecerá quandoestivermos conscientes da intrigante realidade de que “eu sou o outro você”? Que vivemose trabalhamos por um só coração?

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 A ÉTICA ECOLÓGICA E O PRINCÍP IO BIOCÊNTRI COTrazendo a Ecologia Profunda para o nosso Cotidiano

Como disse o poeta Willian Blake, ainda no Século 18, “se pudermos limpar as portas da

percepção, tudo se revelará ao homem como é: infinito. Pois o homem se fechou em simesmo, e agora vê todas as coisas pelas frestas estreitas de onde vive enfurnado”.

De dentro dessa prisão cultural, o ser humano alimenta um equívoco de profundasimplicações. São milhares de anos que nossa espécie se colocou no topo da pirâmide e seauto-intitulou o ápice da evolução. Por muitos e muitos séculos vimos acreditando naconcepção de que o mundo tal como ele é foi criado para satisfazer nossas necessidades.O planeta, criado como um paraíso para os homens, existe como fonte de suprimentospara os empreendimentos da humanidade.

Também incorporamos o legado cultural que fez do ser humano o centro do universo.Nossa cultura evoluiu de tal forma que nos autocentramos, nos fechamos em nós mesmose perdemos a conexão com a totalidade da vida. Separamo-nos da natureza, criamosentidades divinas exteriores a ela e teorias conceituais que a olham de fora paraseguirmos exercendo nossos postos de controle, exploração, manipulação e subjugação.

Essa visão antropocêntrica – o homem no centro do fenômeno do existir – está,seguramente, no cerne de nossa desarmonia com o restante do planeta. Como uma jovemcriança egocêntrica, a espécie humana vem, ao longo dos tempos, criando noções

utilitaristas do ambiente para justificar conceitualmente sua dominação sobre todas asoutras formas de vida.

  A partir dessa perspectiva existencial, o planeta se tornou o depósito de insumos e oesgoto de nossa civilização. Animais se tornaram escravos para nos fornecerem a carne ouse tornarem cobaias para nossas experiências científicas, as plantas viraram fibrasindustriais e os fungos se tornaram remédios. Podemos rastrear, em toda a trajetóriahistórica documentada, a presença de grupos humanos orientados pelo espíritoantropocêntrico, incapazes de perceberem sua interconexão essencial com o restante da

natureza, desenvolvendo estratégias de convencimento pela força, se beneficiandoarbitrariamente do desgaste e enfraquecimento de outros seres, impondo umamentalidade inconseqüente de satisfação de desejos imediatos, que faz com queacreditemos que é a Terra que tem que se adaptar a nós, e não o contrário.

Para conseguirmos limpar nossas portas da percepção, mudanças culturais profundasdeverão ocorrer. Precisaremos superar criativamente essa noção da existência

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autocentrada e nos abrirmos para a compreensão de que somos parte de uma grande teiade profunda beleza e complexidade que não pode ser desentrelaçada. Somos um fio dateia. Todos os outros seres vivos que compartilham a biosfera conosco são essenciais noprocesso de perpetuação de nossas vidas.

  Atualmente, sentimos intuitivamente que atingimos o limite de tolerância da natureza eestamos vendo se aproximar um colapso. Estamos pressionados contra a parede  juntamente com jacarés, beija-flores, jacarandás, margaridas, peixes-bois e milhares deoutras espécies. Por conseguinte, estamos sedentos de informações que nos auxiliem areorientar nossa cultura de forma que possamos participar sadiamente da evolução davida no planeta Terra.

Uma noção parece necessitar desaparecer com urgência: não será possível continuarmosacreditando que a natureza existe para nos servir ilimitadamente. Isso nos torna agentes

de destruição planetária. Essa situação não condiz com nossa capacidade imaginativa,nossos sentimentos de amor, alegria e cuidado que sabemos possuir em nosso âmago.Basta olharmos para um pequeno bebê e seu frescor de vida, sua energia amorosatransbordando pelo olhar de quem ainda não se envolveu na confusão racional-emotiva daespécie.

E nesse contexto justificam-se todos os esforços de argumentação e constituição de umanova ética ecológica para a humanidade, novos princípios da virtude humana que nosreconectem com a natureza e façam com que sintamos novamente a reverência por todaa vida, o êxtase por pertencer a um espetáculo de tamanha beleza e complexidade.

Para que possamos conceber uma ética condizente com nossa compreensão ecológica,faz-se oportuno evocarmos a perspectiva de nossos parceiros planetários – as bactérias,os fungos, os vegetais e os outros animais. Vejamos como eles se posicionam nacomunidade da vida e o que podemos incorporar de ensinamentos a partir da perspectivade cada um.

Comecemos pelas bactérias, nossas ancestrais, que estão em todas as partes do planeta eem todas as criaturas multicelulares. Quando pensamos que as mitocôndrias, as super-

numerosas usinas de força de nossas células, são bactérias que anteriormente viviamlivremente, compreendemos que todas as bactérias juntas constituem mais ou menos ametade do peso de todos os seres vivos. Podemos então imaginar a dimensão dapresença das bactérias no fenômeno da vida.

  Ao enfocarmos as bactérias, as mestras da biosfera, que originaram todas as outrasformas de vida, podemos comparar, em tom de brincadeira, nossos corpos como sendo

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táxis que elas utilizam para se movimentar. Piadas à parte, o mundo, do ponto de vistadas bactérias, é realmente muito bem organizado para que elas sobrevivam. Vivendo emoutras formas de vida, entrando e saindo de todas as demais, alimentando-se de corposvivos e mortos, elas existem em números imensamente maiores do que qualquer outrotipo de criatura viva e não há virtualmente lugar na Terra – das profundezas dos oceanos

até o pico da montanha mais alta, dos desertos mais quentes às geleiras mais frias, dapele de outras criaturas até as suas vísceras e entranhas – em que elas não vivam emnúmeros extensos.

  As bactérias criaram todo o sistema planetário vivo, o tiveram para si durante a maiorparte do tempo de vida da Terra, e ainda são responsáveis por grande parte do seufuncionamento. As bactérias, na verdade, são as únicas criaturas que poderiam sobreviversem todas as demais. Por que elas não deveriam pensar – se puderem pensar – que todoo mundo lhes pertence?

Em seguida vejamos os fungos, um dos reinos da vida que também se espalha por quasetoda parte. Embora a maioria esteja espalhada em teias microscópicas, alguns fungos sãotão extensos sob a superfície do solo que sabemos que se tornaram as maiores criaturasexistentes na Terra. Todas as plantas com raízes possuem fungos nelas enroscados.Fungos vivem de animais e de plantas. Do ponto de vista deles, toda a natureza foi criadacomo sua mesa de jantar.

Os animais, sem dúvida, podem considerar as plantas como se elas tivessem sido criadasespecialmente para alimentá-los e servi-los. Fornecem não somente o alimento, mas o

oxigênio que respiram. Animais usam-nas na água que bebem e também como abrigo,fazendo seus lares em todos os tipos de vegetais. Com essas evidências, não podemoscensurar os animais por pensarem assim. Mas e se mudarmos a perspectiva para a dasplantas?

Desse ponto de vista, elas poderiam pensar que os animais é que foram criados paraservi-las. As plantas, vasto reino de fotossintetizadoras, variando de seres microscópicos agigantescas criaturas que formam uma floresta em si mesmas, têm razões de sobras parase considerarem criaturas superiores. Não precisam correr por aí em busca de alimento,

como fazem os animais. Permanecem onde estão, fabricando com facilidade seu próprioalimento e energia, com luz solar e elementos químicos do solo fornecidos por bactérias,fungos, vermes, insetos e outros animais. O dióxido de carbono que usam para produzirenergia é também fornecido pelos animais. Insetos transportam pólen de uma planta aoutra, tornando fácil para elas se reproduzirem sem ter que correr para esse fim.

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 Animais continuam trabalhando para elas carregando sementes nas penas e na pelagem. Aves e mamíferos, ao lhes comerem os frutos, umedecem as sementes, envolvem-nas empacotes de fertilizantes de alta qualidade e, em seguida, espalham-nas por outros locaispara que cresçam. Os animais trabalham como mensageiros para as plantas, enquantoelas continuam tranqüilas em seus lugares, sendo servidas durante toda sua vida, onde

quer que lancem raízes.

De maneira idêntica, todas as criaturas poderiam encontrar razões para se sentiremsuperiores às demais. Até as rochas, diga-se de passagem, poderiam considerar todo omundo como nada mais do que sua própria dança, sua transformação interminável emcriaturas vivas, que mais tarde voltam ao estado mineral inicial.

  A grande sabedoria da vida é permitir que todas essas fantásticas criaturascompatibilizem-se mutuamente no sistema planetário sem que almejem tornar-se os reis

ou as rainhas da história.

 As criaturas da Terra sabem que os frutos de seu trabalho e seus esforços não podemacumular-se indefinidamente. Têm que ser distribuídos, devolvidos ao sistema de ondevieram. Essa é uma lição difícil: a matéria do nosso corpo, nossa propriedade e nossariqueza, não nos pertence. Pertence à Terra, à Gaia, à biosfera, e, queiramos ou não, épara lá que se destina.

Os reinos da vida se misturam e se apóiam mutuamente, formam uma rede coesa deparceiros terrestres. Alimentando-se do Sol, são interdependentes, se mostram flexíveis,

equilibram-se dinamicamente, participando de ciclos biológicos que já duram bilhões deanos. A diversidade da vida se apresenta dentro de um contexto de extraordináriaunicidade. Todos os seres vivos formam um sistema planetário, um ser vivo formado portodas as criaturas e seus substratos minerais. Gaia, o planeta vivo, vive da interconexão eda compatibilidade mútua entre todas as dimensões da vida terrestre.

 A partir dessa visão orgânica da teia inseparável que sustenta a vida do planeta, não édifícil perceber a contradição intrínseca ao antropocentrismo. O ser humano não é o fiomais importante ou mais essencial da teia. Nossa condição de seres autoconscientes não

nos dá direitos exclusivos no ambiente da vida. Devemos entrar no jogo deinterdependência da natureza, ou seremos eliminados sem piedade.

Como alternativa ao antropocentrismo, de forma que possamos participar da comunhãoda vida, evoca-se o Princípio Biocêntrico, conceito desenvolvido pelo chileno Rolando Toro,agregando-o aos esforços de construção de uma nova ética para a humanidade.

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Segundo Rolando Toro, “este princípio tem como ponto de partida a vivência de umuniverso organizado em função da vida (…) um estilo de sentir e pensar que toma comoponto de partida, e como referência existencial, a vivência e a compreensão dos sistemasviventes. Tudo o que existe no universo, sejam elementos, astros, plantas ou animais,incluindo o ser humano, são componentes de um sistema vivente maior. O universo existe

porque existe a vida e não o inverso. As relações de transformação matéria-energia sãograus de integração da vida”.1 

  A partir do Princípio Biocêntrico, trocamos a estratégia de conduta existencial. Osparâmetros do nosso estilo de vida tornam-se parâmetros da vida como um todo, doplaneta vivo e sua relação com o Cosmos. Nossas ações se organizam como expressõesda própria vida e não como meios para se atingir os fins antropocêntricos de controle eexploração da natureza. Nossos movimentos se orientam no sentido de nutrir o processoevolutivo, para criar mais vida dentro da vida, restabelecendo as condições sociais e

ambientais para a nutrição do fenômeno do existir.

O Princípio Biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para estruturar novas percepçõese novas ciências que dêem prioridade a tudo o que é vivente. Uma doçura que faz aflorara criança em nós e nos orienta, dizendo-nos poeticamente que tudo se centra, se conduze se enxágua pelo mesmo fluxo que nos anima, que nos move, que está em nós, a própriavida.

  Assim, espontaneamente, focamos nossas atitudes na compatibilidade mútuacaracterística de todo o sistema planetário. A vida na Terra desenvolve-se de tal maneira

que cada parte cuida de si mesma, sem tomar mais do que necessita, e, ao fazer isso,contribui para o bem-estar do todo, em um fenômeno de alta sinergia. Cada partedescobre seu equilíbrio dinâmico com cada outra parte, estabelecendo uma relaçãoassociativa que faz todo o sistema planetário funcionar como um único e sadio organismo.

 Ao incorporarmos o Princípio Biocêntrico, trazemos nossos pensamentos para se alinharemcom a ecologia profunda, uma filosofia e um movimento social de largo alcance surgidosna década de 1970.

  A expressão “ecologia profunda” foi criada pelo filósofo norueguês Arne Naess, umestudioso da obra de Gandhi. Contrastando com o ambientalismo tradicional, elaquestiona as premissas fundamentais do atual modelo de sociedade, propiciando umsentido mais amplo e sustentável de nosso próprio valor como membros viáveis da grandecomunidade terrestre em desenvolvimento. Trabalha no sentido de nos libertarmos daarrogância da nossa espécie, algo que ameaça não só a nós mesmos como a todas asformas de vida complexa ao nosso alcance. Parte do pressuposto que não podemos

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vivenciar de forma autêntica nossa relação com a teia da vida se ficarmos cegos ao nossopróprio olhar autocentrado e a como ele está profundamente arraigado em nossa cultura econsciência.

Possivelmente a nova ética ecológica que vem surgindo – desafiadora em alguns

momentos, reconfortante em outros – é fruto de um processo natural de amadurecimentoda sociedade. Segundo Arne Naess, nós nos subestimamos quando nos identificamos como estreito e competitivo ego. Com suficiente maturidade social, poderemos transcender onível do ego e atingirmos um estágio de unidade com a natureza, vitalizando nossaidentificação como participante da comunidade da Terra, ampliando em muito os limitesdos nossos interesses pessoais, realçando a alegria e o sentido que extraímos do fato deestarmos vivos.

Uma característica bem vinda e importante dessa nova ética ecológica é o modo como ela

transcende a necessidade de se fazer sermões sobre nossas necessidades morais paracom os outros seres. Podemos perceber que aquilo que a humanidade é capaz de amarem virtude do mero dever ou pressão moral é muito limitado. A moralização presente nomovimento ambientalista deu ao público a falsa impressão de que cada um está sendosolicitado a se sacrificar, a mostrar mais responsabilidade, mais preocupação e uma moralmais adequada. Entretanto, o cuidado flui naturalmente quando adquirimos a percepçãoecológica e nos aprofundamos ao ponto de nos fundirmos com a natureza, protegendo-acomo se protegendo a nós mesmos.

John Seed, ativista australiano das florestas tropicais, sintetiza, de forma eloqüente, a

mudança espiritual promovida pela ecologia profunda e pela nova ética ecológica fundadano princípio biocêntrico que viemos desenhando ao longo das últimas páginas. Suaspalavras nos instigam e nos põem a refletir:

 “ ‘Estou protegendo a floresta tropical’ transforma-se em ‘Sou parte da floresta tropical eme protejo. Sou a parte da floresta tropical que acabou de desfrutar do pensamento’. Eque alívio sentimos, então! Acabaram-se milhares de anos de separação imaginária ecomeçamos enfim a nos recordar de nossa verdadeira natureza. Ou seja, a mudança éespiritual, às vezes chamada ecologia profunda”.2

 Notas

1.  Citado em RIBAS, Angela. Biodança – A Terapia da Ternura. São Paulo: Editora Gente, 19952.  Citado em MACY, Joanna e BROWN, Molly Young. Nossa Vida como Gaia. São Paulo: Editora Gaia,

2004.

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HUMANI DADE E EVOLUÇÃOUma Visão Ecológica da Nossa Ancestralidade

Para constituir um estágio evolutivo caracterizado pela harmonia da mente humana e da

natureza, é provável que seja necessário ampliarmos nossa compreensão em torno danossa existência como seres vivos, do caminho através do qual chegamos até aqui.

É inevitável que façamos uma revisão histórica e identifiquemos os desvios de percursoque retroalimentaram nossa desvinculação à matriz originária da vida no planeta eestimularam ações patológicas de nossa espécie em um âmbito sistêmico.

  Atualmente podemos intuir que a visão criacionista da origem da vida – baseada nadoutrina do Gênese Bíblico, segundo a qual o mundo foi criado por Deus a partir do nada

e todos os seres vivos tiveram criação independente e se mantêm biologicamenteimutáveis –, ainda que seja carregada de um belo e profundo simbolismo, oferece-nosgrandes obstáculos para adentrarmos a noção de que somos parte da natureza, somosfilhos da Terra, compartilhamos a mesma história de nossos parceiros de todos os reinosda vida.

É possível que as raízes da dominação do ser humano sobre a natureza sejamencontradas quando pesquisarmos as perspectivas culturais e religiosas que dissociaram aidéia de deus da idéia de natureza, reservando ao ser humano um papel independentecomo ser superior destinado a governar o mundo.

Com o advento de equipamentos de pesquisa com incrível alcance e precisão, a história davida na Terra, sob uma perspectiva evolucionista, começa a ganhar contornos nítidos e asconclusões desse fantástico aumento da nossa capacidade interpretativa desmentem,incisivamente, idéias bastante arraigadas em nossa cultura, tais como o ser humano comocriatura predileta de Deus, a humanidade como o topo da escalada evolutiva, o serhumano como um ser superior, a independência dos seres humanos em relação aorestante da natureza, os outros seres vivos existindo para nos servir. Todas estas noçõessão auto-afirmativas, ou seja, são postulados criados pelos próprios seres humanos para

se autocoroarem os reis da Terra.

Quando voltamos nosso olhar para a observação sistemática da natureza, somosobrigados a reconhecer que estamos nutrindo e condensando equívocos há muito tempo.Nos últimos quarenta anos, entretanto, uma nova e consistente perspectiva da história davida, sustentada pela ciência e seus equipamentos eletrônicos de observação, vemchegando para as pessoas comuns, sugerindo uma compreensão bastante diferente

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daquela convencional que coloca os seres humanos recém-evoluídos em cima e osorganismos inferiores, evolutivamente mais velhos, em baixo.

Pois, afinal, o que é a humanidade? O que é a Terra? Qual a relação entre os dois, se éque de fato são dois? A nova visão biológica que aqui apresentamos sugere que a

evolução é, em suma, um fenômeno bacteriano. Somos bactérias que se desenvolveramatravés de simbioses ao longo de bilhões de anos.

  Atualmente podemos afirmar que existe um continuum ininterrupto de vida através dequatro bilhões de anos de evolução permanente que hoje se distribui por toda a superfíciedo planeta em um anel de 25 quilômetros de espessura (10 quilômetros para baixo, nasprofundezas da Terra, e 15 quilômetros para cima, até a troposfera). Todo o fenômeno davida que conhecemos se unifica em um grandioso sistema vivo de quatro bilhões de anosde idade: Gaia, tal como foi chamado por Lynn Margulis e James Lovelock, na teoria que

expõe a sua dinâmica orgânica auto-reguladora.

  A intenção desse texto é formular uma síntese desse vasto período de tempo,identificando momentos-chaves capazes de nortear nosso entendimento de que somosparte de um superorganismo vivo e que estamos indissociavelmente vinculados a todo orestante da natureza. Espera-se que, através de uma linha do tempo comentada,apontando evidências de nossos ancestrais bacterianos e o caminho de parceria que foitrilhado por eles, possamos ampliar a visão ecológica profunda, enaltecendo nossaconexão essencial com a biosfera, enxergando-nos como parte inseparável da teia da vidae desconstruindo nossa arrogância comportamental.

BREVE RELATO DA AVENTURA EVOLUTIVA

3,8 Bilhões de Anos – Surgimento da vida em forma de bactérias

Parece tolice imaginar um único momento dramático em que ocorreu uma descargaelétrica mágica e durante o qual o DNA e o RNA formaram espontaneamente uma célula ederam início à vida. Muitas estruturas membranosas e longas cadeias de diferentesreações químicas devem ter surgido, reagido e desaparecido antes que a elegante dupla

hélice do nosso antepassado supremo, o DNA, se formasse e se replicasse com extremafidelidade.

O certo é que ninguém sabe como a vida começou. Se através de reações químicas emcondições favoráveis na Terra, ou se transportada de outros mundos em meteoritos oucometas. Sabe-se, porém, que, em algum momento, por volta de 3,8 bilhões de anosatrás (os microfósseis mais antigos já identificados datam dessa época), pequenas células

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bacterianas produziam-se a si mesmas, criando um vínculo com o passado e registrandomensagens para o futuro.

Durante muito tempo, por mais de dois bilhões de anos, as bactérias reinaram soberanassobre a face da Terra. Ao longo desse período, elas desenvolveram todas as principais

adaptações biológicas que conhecemos hoje: alimentação, transformação de energia,movimento, sentidos, sexo, relações comunitárias, e até mesmo cooperação e competição.Como diz Lynn Margulis, “haviam inventado quase tudo do moderno repertório da vida,com exceção, talvez, da linguagem e da música”.

Nesse período, elas se espalharam pela superfície da Terra e promoveram condiçõesfavoráveis à sua própria sobrevivência prolongada em face das adversidades ambientais.Sem as bactérias, hoje o planeta seria inabitável. A atmosfera seria irrespirável, a crostateria permanecido um deserto esburacado e os oceanos teriam escapado do planeta em

forma de gás.

 Ao longo deste período em que viveram soberanas sobre a Terra, inovações metabólicasfantásticas foram concebidas. Entre elas destacam-se:

•   A fotossíntese, através da qual as bactérias azuis-verdes punham em uso a energiasolar para produzir seu próprio alimento;

•   A respiração aeróbica, que surgiu como estratégia de aproveitamento energético,utilizando um resíduo mortal da fotossíntese, o oxigênio, e transformando-o em umaliado da vida;

•  Sistemas de mobilidade, tais como o de bactérias que viviam independentementesob a forma de chicotes finos, realizando movimentos de açoite para se mover deum lugar ao outro;

•  Fixação de nitrogênio, de forma que pudessem aproveitar o nitrogênio gasoso naprodução de proteínas e outros compostos importantes.

Experimentando novas formas e movimentos, as bactérias foram se especializando,facilitando assim suas vidas individuais, pois necessitavam de menos DNA e equipamentosmetabólicos. Ainda assim, todas elas tinham acesso a todo o manancial genético, pois

nunca perderam a capacidade de intercambiar DNA, quando necessário.

1,5 Bilhão de Anos – Bactérias em simbiose: surgimento das células complexas

Quanto mais especializadas as bactérias ficavam, menos independentes se tornavam emais dependiam umas das outras. A especialização introduziu a variedade na dança davida e, nesse contexto, reforçou a interdependência entre as bactérias. Em certo

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momento, mais ou menos há 1,5 bilhão de anos, imensas equipes de bactériasespecialistas dividiam as várias tarefas da Terra, equilibrando a totalidade da vida. Porém,aumentadas em número e vivenciando o espessamento da camada de ozônio, viraminstaurar-se uma grave crise devido à concorrência por alimento.

Em suma, o que aconteceu foi o seguinte: a crosta da Terra adquirira vida,acondicionando sempre mais de seus átomos e moléculas sob a forma de bactérias,muitas das quais dependiam de suprimentos de alimentos prontos que eram produzidossob a influência dos raios ultravioleta. Naquele momento, os alimentos ficaram limitadospor conta da própria atividade das bactérias que modificaram a atmosfera e criaram acamada de ozônio que filtrava os raios ultravioleta. O processo planetário de adquirir vidaestava em perigo de estrangular-se por congestionamento de criaturas e falta de alimento.

Sob a ameaça de uma fome mundial, as bactérias foram pressionadas a descobrir novas

configurações que pudessem sanar a crise. A solução se deu quando elas se reuniramdentro das mesmas paredes, onde poderiam usar seus vários talentos para obtercooperativamente o sustento de todas. Ao fazer isso, criaram um novo tipo de célulamuito grande e sofisticada, um tipo de célula muito diferente do tipo bacteriano, um saltoespetacular na história da evolução.

 As novas células – em média mil vezes maiores do que as células bacterianas – formaramum segundo reino de vida: os protistas.

O processo de criação dos primeiros protistas não deve ter sido fácil. O aparecimento

dessas “cooperativas de bactérias” provavelmente deve ter começado com invasões debactérias menores abrindo caminho no interior de bactérias maiores para lhes alcançar asricas moléculas, algo semelhante ao que nós humanos fazemos ao invadir outros reinos oupaíses em busca de suprimentos prontos e matérias-primas.

Entretanto, o que acontecia provavelmente era insatisfatório. Ou as invasoras eramdigeridas pelas hospedeiras, ou as hospedeiras eram devoradas até a morte pelasinvasoras. Esse padrão parasitário, naquele tempo e hoje em dia, mostra-se problemático,pois nenhuma das partes se beneficia em longo prazo.

Foi então que acordos cooperativos benéficos para ambas as partes devem ter sidoarticulados. Um exemplo explícito dessas alianças: em troca de se alimentarem demoléculas das hospedeiras, invasoras respiradoras de oxigênio davam-lhes energia. Taisacordos devem ter funcionado muito bem, pois, desde os primeiros fósseis protistas de1,5 bilhão de anos atrás até os dias de hoje, em todas as células oriundas dessas

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  “cooperativas” existem um grande número de bactérias respiradoras de oxigênio,anteriormente de vida livre, hoje transformadas em organelas: as mitocôndrias.

Com a evolução das “cooperativas”, o DNA foi recolhido de todas as partes da célula, foidepois envolvido em proteína e armazenado no interior de uma parede nuclear protetora,

como se fosse uma espécie de escritório central de células, para manter em ordem omaterial genético e, dessa maneira, tornar possível uma melhor organização de todo otrabalho da célula.

Esse tipo de padrão que funde as perspectivas, acordos cooperativos que agrupam seresdiferentes em um mesmo ser mais apto e desenvolvido, é chamado de simbiose.  Atualmente temos fortes evidências de que as simbioses são, de fato, a principalferramenta evolutiva da vida no planeta. O surgimento das células eucarióticas (célulascom núcleo) é um dos exemplos mais nítidos de que a natureza recompensa a

cooperação.

 As células complexas oriundas da simbiose de bactérias deram origem a todos os reinosda vida. Essa passagem de uma luta espoliativa por recursos para um padrão cooperativofoi um salto evolutivo extraordinário na história da biosfera. Daí por diante, a evolução seacelerou. Os protistas se desenvolveram, se diversificaram, desenvolvendo-se em criaturasmaiores, multicelulares, originando as plantas, animais e fungos.

500 M ilhões de Anos – A explosão da diversidade da vida

  Ao longo de um bilhão de anos seguintes, os protistas eucariotas evoluíramextraordinariamente, em expressões infindáveis de criatividade. Durante este período,nota-se o desenvolvimento de uma ocorrência biológica que veio determinar os rumos detodos os desdobramentos subseqüentes da vida: a reprodução sexual.

Sexo, no contexto biológico, significa fusão de material genético proveniente de duascélulas diferentes. Assim conceituado, constata-se que o sexo existe desde o âmbitobacteriano, porém ocorrendo como um contínuo intercâmbio de genes que não está ligadoà reprodução. Com a evolução dos protistas, a reprodução e a fusão de genes se ligaram

e evoluíram em processos elaborados e em rituais de fertilização, reforçandosobremaneira as tendências à especialização celular e à pluricelularidade.

Esse complexo processo deu origem aos animais e plantas, os primeiros surgidos há maisou menos 700 milhões de anos e as segundas há mais ou menos 500 milhões de anos. Apartir daí, plantas e animais co-evoluíram juntos, em intrincados sistemas de parceria queenvolveram flores, insetos e pássaros.

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 Por volta de 500 milhões de anos atrás, os animais já haviam desenvolvido sistemasnervosos e estruturas esqueléticas. Datam deste período uma profusão de fósseis, combelas e nítidas impressões de conchas, peles rígidas e esqueletos que os paleontólogos,por muito tempo, acreditaram que marcassem o início da vida (foi somente nas últimas

quatro décadas que os traços do microcosmo se revelaram, mostrando, de formaconclusiva, que as origens da vida remontavam para mais de três bilhões de anos antes).

Nessa época, constata-se uma grande diversidade de formas animais. Insetos, vermes,moluscos, celenterados, o planeta ganhava personagens dos mais variados hábitos ecaracterísticas.

  As primeiras criaturas vertebradas com caixa craniana para proteger o sistema nervosoevoluíram mais ou menos nesse período. Entre elas estava uma linhagem de peixes

pulmonados com barbatanas espessas e maxilares que rastejava pelas praias e acabouevoluindo nos primeiros anfíbios. Estes constituem o elo evolutivo entre os animaisaquáticos e terrestres.

Durante 150 milhões de anos depois de deixarem o mar, os anfíbios evoluíram em répteis,com várias vantagens seletivas – poderosas mandíbulas, pele resistente à seca e um novotipo de ovo que encapsulava o antigo ambiente marinho e preparava os filhotes parapassar todo o seu ciclo de vida na terra firme. Com essas inovações, os répteis,rapidamente, conquistaram a terra e evoluíram em numerosas variedades. Os muitos tiposde lagartos que ainda existem hoje, incluindo as cobras, são descendentes desses répteis

antigos.

Estes primeiros répteis viveram em vigorosas florestas tropicais, tendo em vista que asplantas também vinham conquistando as áreas secas. Por volta de 300 milhões de anosatrás, surgia o quinto reino da vida, os fungos, expandindo-se em estreita co-evoluçãocom as plantas. Praticamente todas as plantas que crescem no solo contam comminúsculos fungos em suas raízes para a absorção do nitrogênio. Numa floresta, as raízesde todas as árvores estão interconectadas por uma extensa rede de fungos que,ocasionalmente, emerge da terra sob a forma de cogumelos.

30 milhões de anos após o surgimento dos primeiros répteis, uma de suas linhagensevoluiu em dinossauros, que se desenvolveram em uma grande variedade de tamanhos eformas. Como os outros répteis, os dinossauros eram animais que punham ovos. Muitosconstruíam ninhos, e alguns até mesmo desenvolveram asas para, finalmente, algumasdezenas de milhões de anos depois, evoluírem em pássaros.

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200 M ilhões de Anos – O surgimento dos primeiros mamíferos

Há mais ou menos 200 milhões de anos, um vertebrado de sangue quente evoluiu dosrépteis e se diversificou numa nova classe de animais que, finalmente, produziria nossosancestrais, os primatas. As fêmeas desses animais de sangue quente não mais punham

ovos. Ao invés disso, nutriam seus embriões dentro de seus próprios corpos. Ao nascerem,os filhotes ficavam relativamente desamparados, exigindo cuidados especiais dosprogenitores. A nutrição dos filhotes era baseada no leite secretado pelas glândulasmamárias e, por isso, essa classe de animais ficou conhecida como “mamíferos”.

Os primeiros mamíferos eram pequenas criaturas noturnas com alguns diferenciaisevolutivos bastante importantes. Entre eles, surgia a capacidade de regular a temperaturacorporal independentemente da temperatura do ambiente. Essa nova característica ostornou alertas e ativos mesmo à noite. Também apresentavam pêlos, ocorrência que os

isolou e os protegeu ainda mais, permitindo que migrassem para regiões de clima maisfrio.

Os gambás estão entre as espécies mais primitivas de mamíferos que ainda existem.Parece que mudaram pouco desde que evoluíram entre os dinossauros e, por isso, sãoimportantes no estudo da evolução. Entre outras coisas, podem ter sido os primeirosanimais a dormir e sonhar.

Na medida em que os mamíferos foram evoluindo, o sistema nervoso e, em especial, océrebro, vieram se tornando maiores e mais complexos, o que permitiu maior flexibilidade

no que tange ao comportamento das espécies. Na medida em que os cérebros evoluíam,mais opções em reagir ao meio ambiente e às necessidades externas os animaisadquiriam, trabalhando para mudar o comportamento e ajustá-lo a circunstânciasmutáveis.

Desta forma, os animais ganharam mais liberdade sobre o que fazer, e como e quandofazer, agindo de acordo com seus sentimentos, alguns dos quais pareciam ser o quepoderíamos chamar do início do amor na evolução do animal.

65 M ilhões de Anos – O surgimento dos primatas

Em meio a uma grande crise que provocou a extinção dos dinossauros, por volta de 65milhões de anos atrás, surgiram os primeiros primatas. Habitantes dos trópicos, estesancestrais da nossa espécie viviam em árvores, se alimentavam de insetos e seassemelhavam um tanto aos esquilos da atualidade. Para saltar pelas árvores, os

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prossímios, como são chamados, desenvolveram uma visão tridimensional, bem comomãos e pés que agarram, unhas chatas, polegares opositores e grandes dedos nos pés.

Muitos inimigos ameaçavam os prossímios, fato que, evolutivamente, deve ter exercidogrande influência no desenvolvimento da destreza e inteligência que os caracterizam.

Fugindo e se escondendo constantemente, os antigos primatas foram encorajados àspráticas cooperativas e ao comportamento social que é característico de todos os primatassuperiores. Protegiam-se fazendo barulhos freqüentes em voz alta, característica queevoluiu gradualmente para a comunicação vocal.

Em sua maioria, os primatas são vegetarianos ou se alimentam de insetos e, na falta dealimento suficiente nas árvores, eles provavelmente desceram ao chão. Ansiosamenteatentos à presença de inimigos por sobre as altas gramíneas, devem ter assumido apostura ereta por breves momentos, antes de retornar a uma posição agachada. Essa

capacidade para permanecer ereto, mesmo que por pouco tempo, representou uma fortevantagem seletiva, pois permitiu que os primatas usassem as mãos para coletar alimentose atirar pedras a fim de se defender. Gradualmente, a destreza motora aumentou e o usode ferramentas e armas primitivas estimulou o crescimento do cérebro. Desse modosurgiram os macacos, os chimpanzés e os gorilas.

Por volta de 20 milhões de anos atrás, as florestas tropicais estavam repletas de macacosnas árvores e 10 milhões de anos depois, nossos ancestrais imediatos, os grandes símiosantropóides – orangotangos, gorilas e chimpanzés – habitavam florestas de toda parte,compartilhando várias características que verificamos nos seres humanos de hoje em dia.

4 Milhões de Anos – Os primeiros hominídeos

Por volta de 4 milhões de anos atrás, uma espécie de chimpanzé africano evoluiu numsímio antropóide que caminhava ereto. Essa característica, embora haja controvérsia entreos cientistas, foi suficiente para se criar uma nova família de primatas, os hominídeos.

Desde o surgimento dos primeiros mamíferos de sangue quente que cuidavam dos filhotese, posteriormente, entre os primatas, o desenvolvimento de unhas achatadas, polegares

opositores, o início da comunicação vocal, caixas toráxicas, braços versáteis, cérebroscomplexos, capacidade de fazer ferramentas, podemos rastrear, neste ínterim de 200milhões de anos, o surgimento de nossas próprias características humanas. Contudo, écom o surgimento dos símios antropóides de caminhar ereto e mãos livres que a aventurada evolução humana começa efetivamente.

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Por volta de 2 milhões de anos atrás, os primeiros descendentes humanos dos símiosantropóides emergiram na África Oriental. Indivíduos pequenos e magros, com cérebrosacentuadamente desenvolvidos, tinham habilidades de construção de ferramentas muitosuperiores às de qualquer de seus ancestrais. Por isso foram chamados Homo habilis(Humanos habilidosos).

Depois vieram os Homo erectus (Humanos eretos), indivíduos maiores e mais robustos ecérebros ainda maiores, que adaptaram suas tecnologias e modos de vida a uma amplafaixa de condições ambientais. O controle do fogo pode ter sido conquistado por eles, hámais ou menos 1,4 milhão de anos atrás. O Homo erectus foi a primeira espécie a deixar oconfortável trópico africano e migrar para a Ásia, há um milhão de anos, e Europa, há400.000 anos.

Os períodos glaciais exerceram fundamental importância sobre a evolução da espécie

humana. Durante os períodos mais frios, lençóis de gelo cobriam grande parte da Europae das Américas, bem como de partes da Ásia. Essas épocas geladas eram interrompidaspor períodos de clima mais ameno que, no entanto, apresentavam inundações em grandeescala.

Espécies robustas e peludas de mamíferos evoluíram para suportar as severas condiçõesdas eras glaciais. Os primeiros seres humanos caçavam estes animais com machados depedra e lanças pontudas e banqueteavam-se com eles junto às fogueiras de suascavernas, usando as peles desses animais para se protegerem do frio. Caçando juntos,também partilhavam seus alimentos, e essa partilha dos alimentos tornou-se um

catalisador para a civilização e cultura humanas, originando finalmente as dimensõesmíticas, espirituais e artísticas da consciência humana.

250.000 anos – Surge a espécie Homo sapiens

Entre 400.000 e 250.000 anos atrás, o Homo erectus começou a evoluir no Homo sapiens(Humanos sábios), a espécie que nós, seres humanos modernos, pertencemos. Atransição completou-se por volta de 100.000 anos atrás na África e na Ásia e há somente35.000 anos na Europa. Nessa época, os Homo Neandertalensis, ou os Homens de

Neandertal, como são chamados, se extinguiram ou se misturaram com os Homo sapiens,que permaneceram então como a única espécie humana sobrevivente.

35.000 anos – Pinturas rupestres

Há 35.000 anos, os Homo sapiens eram anatomicamente idênticos aos seres humanosatuais, tinham uma linguagem plenamente desenvolvida e eram muito criativos,

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apresentando uma verdadeira explosão de inovações tecnológicas e atividades artísticas.Um dos mais significativos fenômenos desta época são as pinturas rupestres, queapontam claramente para a evolução da linguagem e da cultura, dimensões que noscolocam em um plano diferente dos demais reinos da vida.

 Atualmente podemos afirmar que todos os seres vivos, desde as mais simples bactérias,têm consciência. Contudo, somente nós, seres humanos, alguns primatas superiores etalvez alguns cetáceos, como as baleias e os golfinhos, temos consciência de que temosconsciência. E somente nós, seres humanos, contamos histórias e somos artistas. A arte,desde estágios muito rudimentares da cultura, é parte integral da evolução dahumanidade.

Pouco se sabe sobre as comunidades humanas desse período. A arqueologia deveráexercer um importantíssimo papel na construção de uma compreensão mais aprofundada

dos estágios iniciais da evolução cultural dos seres humanos na Terra.

10.000 anos – A Revolução Agrícola

  Até 10.000 anos atrás, em um período chamado Antiga Idade da Pedra, a experiênciahumana era caracterizada pela vida em bandos, pelo nomadismo e pela economiacoletora. Os grupos humanos iam até o alimento, pois não sabiam produzi-lo. Esse quadromudou radicalmente com a Revolução Agrícola, nome que se dá à descoberta dos ciclosde vida dos vegetais e o advento da agricultura. A partir da compreensão das técnicas decultivo, foi possível estabelecer espaços permanentes de convivência.

Iniciava-se o período das civilizações. No princípio, nota-se a presença de civilizações,como a de Catal Huyuk, na atual Turquia, que via a natureza como uma grande mãe, umadeusa que lhe dava vida e tudo que era necessário para sustentá-la. O mais notávelnessas civilizações, com suas grandes cidades, tecnologia agrícola, pinturas murais,cerâmica decorada, esculturas e outras artes, é que, ao contrário de culturas posteriores,não foram encontradas provas de fortificações, guerra, conquista, escravidão ou qualquerdesigualdade social importante. Pensam os estudiosos que homens e mulherestrabalhavam em parceria e há provas de que os que passavam necessidades eram

socorridos por reservas públicas de alimentos ou com produtos das hortas do templo dadeusa.

Com essas pesquisas arqueológicas, tivemos uma visão inteiramente nova das antigascivilizações, que praticavam um tipo de democracia pacífica que as sociedades atuaisestão muito distantes de alcançar. Pudemos constatar que a noção dos seres humanoscomo uma espécie anti-social por natureza é equivocada e que devemos tratar os

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desarranjos sociais da atualidade como um fenômeno cultural, passível de ser rastreadona história.

5.000 anos – Início da História escrita

Há mais ou menos cinco mil anos, entre os Sumérios, povos da Mesopotâmia, surgia aescrita, inicialmente em placas de barro. Esta prática marcou o início da documentaçãosistemática da História e, desses tempos para cá, temos um conhecimento muito maisapurado dos acontecimentos que traçaram os rumos da civilização.

Datam deste período invasões das civilizações igualitárias antigas por caçadores nômadesadoradores de deuses masculinos, liderados por homens experimentados no manejo dearmas. Talvez esses grupos humanos tivessem sido empurrados para a competiçãoviolenta pelo ambiente inclemente onde viviam e viessem a adorar deuses celestiais que

geravam os raios e os trovões porque viviam grande parte da vida ao ar livre,relativamente carentes de abrigo e vulneráveis a ataques de outras tribos.

 Ao assumirem o governo das sociedades derrotadas, onde encontraram deusas da vida, osconquistadores mudavam a estrutura social e a forma de governo, bem como a visão devida do povo subjugado. Não raro, transformavam a deusa-mãe em esposa ou filha de seuprincipal deus ou mesmo livravam-se inteiramente da deusa, inventando histórias nasquais o deus era supremo e a deusa apenas uma mulher mortal e desobediente, sempre acriar casos.

Nos últimos cinco mil anos de história, coincidentemente a fase da história marcada porculturas patriarcais de índole dominadora, firmamos praticamente todos os valores eorientações da nossa atual cultura. Sumérios, egípcios, hindus, chineses, gregos, romanos,e todas as civilizações desse período promoveram todo o espectro cultural sobre o qualnos baseamos para firmar nossas condutas, crenças e senso de justiça.

Homens possuidores de armas e riquezas minerais, governantes de todas as partes,apresentaram aos povos, hegemonicamente, uma visão de mundo profundamenteinfluenciada por valores competitivos atrelados a uma filosofia que se baseava na crença

da própria superioridade de sua raça ou de sua tribo. Projetou-se a auto-imagem dahumanidade em um deus autoritário e violento, dissociado da natureza, justificando assima formação de impérios e a dominação sobre os povos inimigos, sobre as mulheres esobre todas as outras formas de vida.

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Podemos rastrear a História documentada e verificar que os grupos que impõem a culturaconsumista e supérflua da atualidade são os herdeiros dos mesmos governantesautoritários que vem se sucedendo nas posições de poder e controle há cinco mil anos.

500 anos – A Renascença

O período da Renascença, há mais ou menos 500 anos, marca a potencialização daexpansão cultural dos povos europeus ao redor do mundo e a consolidação do modo depensar moderno na civilização. Com a expansão marítima, o advento da ciência, ainstitucionalização das religiões e o progresso tecnológico, a sociedade humanadesenvolveu seu paradoxo atual através de dois caminhos paralelos antagônicos, a saber:

Na medida em que demos vazão à espetacular capacidade criativa da humanidade,encadeamos um período pródigo, no qual criamos ferramentas extraordinárias que

projetaram exponencialmente nossa compreensão do mundo físico e espiritual.Desenvolvemos um arcabouço conceitual antes inimaginável, adentramos a realidadeatômica e visitamos os horizontes do universo. Temos técnicas de produção de altaeficácia, formulamos sistemas organizacionais de grande complexidade, ampliamosprofundamente a sensibilidade dos nossos sentidos, criamos conexões não-lineares eestruturas de comunicação que se assemelham a um grande cérebro da Terra.

 Ao mesmo tempo, estamos parecendo um tecido canceroso do superorganismo terrestre,pois nos autocentramos e nos posicionamos arrogantemente como os donos do planeta,impondo aos ecossistemas da Terra um vertiginoso processo de devastação. Vivemos um

momento de superpopulação, poluição aguda, doenças da civilização (cardiopatias,câncer, derrames), doenças mentais (esquizofrenia, depressão), acidentes, suicídios,crimes violentos, desemprego, alcoolismo, toxicomania, esgotamento energético,catástrofes ambientais, exploração incontrolada dos recursos naturais. Enfim, chegamos aum momento crítico, em que constatamos, diante de gigantescos arsenais nucleares, quea vida do planeta Terra atravessa um momento de perigo concreto de aniquilação.

50 anos – As bombas atôm icas e os computadores

Compreender esse paradoxo da civilização é um bom ponto de partida para superá-lo. Hápouco mais de cinqüenta anos, a civilização concebia dois dos seus mais engenhososartefatos: a bomba atômica e o computador. O fato de terem sido inventados na mesmaépoca é um curioso fato e um elemento importante na compreensão e elucidação desseatual paradoxo humano.

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Enquanto um é a prova da capacidade de aniquilação da vida, o outro é a prova dacapacidade da vida de se reproduzir em outros pontos do universo. A metáfora adequadapara os dias de hoje é a dos dois lobos que habitam o coração de uma pessoa. Um écruel, sanguinolento, perverso, destruidor. O outro é cuidadoso, astuto, ágil, amoroso.Eles não poderão viver juntos, um deles será eliminado. A pergunta é: qual deles

sobreviverá? Se refletirmos bem, a resposta talvez seja: aquele que nós alimentarmosmelhor.

Tempos atuais

O planeta está adoecido. Podemos escolher entre um suicídio coletivo e um saltoevolutivo. O processo de cura está em curso. Resta saber se há tempo e energia paravivificarmos nossas instituições e nossos valores humanos mais nobres. A corrupçãoatingiu níveis muito profundos do sistema social. Há, de fato, pouca confiança na

superação da crise e muita descrença em torno de um futuro sadio. Estamos à mercê degrupos involutivos que cegamente reforçam o espírito consumista e destrutivo paraalimentar a ilusão do poder, a vontade de poder.

O caminho da cura passa pela tomada de consciência de que estamos doentes e temosque nos transformar para desencadear o processo de cura no planeta. A mudança deveráocorrer dentro de cada um de nós. Reconhecer emocionalmente a necessidade de umamudança interior é o primeiro passo para fazer vicejar novamente a extraordinária belezada complexidade da vida.

O segundo passo é comunitário. Não há como esperar pelos governantes. O processo demelhoria da qualidade de vida no local onde vivemos pode ser deflagrado com aorganização das pessoas no âmbito da comunidade. Se lograrmos efetivar a mudançanestes dois níveis, pessoal e comunitário, podemos estar seguros que as chances deregeneração do planeta são muito grandes.

 A trajetória de quatro bilhões de anos da vida na Terra nos traz valiosas lições. Não somosmais importantes, nem mais fundamentais que nenhum outro ser vivo. Nossas ancestraise mestras bactérias nos ensinam a ser humildes e flexíveis.

Formamos, junto com os outros reinos da vida, um ser planetário já maduro em suatrajetória. A expectativa de vida do planeta são mais cinco bilhões de anos, tempo que oSol brilhará e nos proverá com sua energia primordial. Ao término deste período, ohidrogênio, que é o combustível da caldeira estelar que nos move, se esgotará e o Sol setornará uma estrela gigante vermelha e a vida na Terra terá chegado inevitavelmente aoseu fim.

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 Mas, será mesmo o fim inevitável da vida? Talvez não. Afinal, temos cinco bilhões de anospara arranjar formas de sair daqui e perpetuá-la em outro contexto galáctico, em habitatsespaciais que encerrem tecnologias naturais capazes de se autocriar, resistindo a tudo,menos às tentações.

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TRANSFORM AÇÕES NA ESCOLA: A INCORP ORAÇÃO DA ECOLOGIA COMO BASE EDUCACIONAL

Contexto Histórico para a Aplicação da Alfabetização Ecológica

Este texto tem a incumbência de contextualizar o processo de profundas transformaçõesna escola que deverão acontecer nos próximos anos, de forma que possamoscompreender a incorporação do pensamento ecológico como alicerce no desenvolvimentode atividades pedagógicas focadas na cura e na sustentabilidade do planeta.

  A partir dessa perspectiva, a educação deixará de ser um sistema de reprodução damentalidade atual e se tornará uma alternativa estrutural e um elemento ativo noprocesso da “Grande Virada”, o fenômeno global de transformação cultural que deverános impulsionar rumo a uma sociedade integrada com a totalidade da vida no Planeta

Terra.

  A intrigante constatação de que nossos modelos educacionais foram concebidos paraservir ao industrialismo, servindo de base de formação de sua força de trabalho, é o iníciode nossa jornada de contextualização da alfabetização ecológica como diretriz para areformulação dos sistemas de ensino-aprendizagem no Século 21.

Nosso modelo de escola, embora tenha sido superficialmente reformulado ao longo dostempos, remonta à época da Revolução Industrial, quando as escolas treinavam ascrianças para chegarem no horário correto e se sentarem imóveis durante longas horas,

sem conversar com os coleguinhas, fazendo o que lhe mandavam, mesmo que fossemaçante, como teriam que fazer nas fábricas quando fossem mais velhas. Era como sefossem matérias-primas passadas na máquina da escola, de onde sairiam como operários.

É interessante perceber como tal modelo se ajusta à perspectiva da ciência e da políticadaquela época. Para compreendermos isso, vamos retornar no tempo, voltando à épocada Grécia Antiga, o berço das idéias que constituem a base da nossa forma de enxergar omundo e a vida.

  A INFLUÊNCIA DA IGREJA E DA FILOSOFIA GREGA NO PENSAMENTO DACIVILIZAÇÃO

 Voltemos precisamente à época em que a visão hebraico-cristã chegava à Grécia atravésdo apóstolo Paulo. A religião que era trazida por ele desde o Oriente ajustava-se comouma luva ao raciocínio do grande filósofo Platão de que um mundo perfeito teria que ser

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obra de um criador perfeito. O criador existia fora deste mundo de sombras e havia criadoum mundo ideal e imutável.

Platão foi um pensador de largo alcance e profunda influência no pensamento grego. Comele, a velha filosofia da natureza como viva e criativa em sua imperfeição, muito difundida

por filósofos anteriores, tais como Heráclito e Anaximandro, foi substituída pela crença nacriação perfeita e fortemente mecânica de um único deus, embora este fosse aindadesconhecido na Grécia naquele tempo.

Com a chegada de Paulo à Grécia, essa entidade criadora ganharia uma versão deprofundo simbolismo. Segundo a tradição hebraico-cristã, Deus criara o mundo há apenasalguns milhares de anos, com todos os seus diferentes tipos de plantas e animais,exatamente como é agora e bem no centro do universo. Essa idéia combinava muito bemcom a visão estática da natureza de Aristóteles, brilhante aluno de Platão, outro pilar da

filosofia grega que veio dar forma e fundamentação ao pensamento ocidental nos dois milanos seguintes, vindo culminar com o industrialismo e a sociedade de consumo atual.

O cenário é bem conhecido: Deus criou o mundo como um paraíso para o homem,colocando nessa perfeição as duas primeiras criaturas humanas. Elas foram expulsasdepois que Eva desobedeceu a lei de Deus ao tentar Adão a juntar-se a ela no pecado decomer o fruto da árvore do conhecimento, trazendo dessa maneira, e daí para sempre,desordem e conflito no mundo. Ainda assim, o paraíso poderia ser reconquistado, após amorte, em um mundo celestial, se os homens se tornassem novamente perfeitos aos olhosde Deus, perfeição essa que poderia ser conseguida pedindo-lhe perdão e cumprindo-lhe a

lei.

Com a expansão do Império Romano, que invadiu e conquistou a Grécia, vários textossagrados foram reescritos para adequar-se ao clero da Nova Igreja, depois de os primeiroscristãos terem sido torturados e mortos. Embora Jesus tenha afirmado a igualdade entretodos os povos e entre homens e mulheres, a Igreja mudou a visão de mundo cristã eadaptou-a à sociedade cuja mentalidade de formação de impérios e dominação dos povosdestruiu a rica herança das antigas tradições e sabedorias ancestrais. Para se ter umaidéia, a biblioteca de Alexandria foi repetidamente saqueada e queimada ao ponto de

serem perdidos quase um milhão de livros-pergaminhos de conhecimentos e culturashumanas anteriores.

Durante mais de mil anos, na Europa, todas as idéias que não refletiam a visão de mundoda Igreja foram postas fora da lei. Cruzadas foram lançadas contra os muçulmanos emulheres foram queimadas como feiticeiras por praticarem religiões da natureza maisantigas e por curarem doenças com remédios naturais. Os sacerdotes, que vieram ao

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longo do tempo reescrevendo os textos sagrados e se afastando dos ensinamentos deJesus, eram soberanos em toda a Europa e impunham a ferro e fogo a lei de Deus aopovo.

Como dissemos, as idéias de Platão e Aristóteles eram compatíveis com o ideário da

Igreja, e numerosas dessas idéias dos dois filósofos foram postas em prática durante aIdade Média. A idéia de céu e inferno como locais para onde o homem iria após a mortepara ser recompensado ou castigado por seu comportamento durante a vida, porexemplo, veio dos trabalhos de Platão. Por sua vez, o culto à virtude que valorizava aobediência e a lógica formal que deu base sólida ao racionalismo ocidental foramensinadas a partir das obras de Aristóteles.

Em síntese, a humanidade passou mais de mil anos mergulhada nas leis de Deus advindasde textos sagrados que foram reescritos por um clero poderoso de forma a tornar a

religião católica a única verdade possível, e nas idéias de Platão e Aristóteles, quecomungavam do ideal de um mundo perfeito, governado pelos cidadãos mais educados,obedientes ao Deus severo que punia aqueles que não seguissem os ordenamentos deseus porta-vozes, os sacerdotes.

 A CIÊNCIA CLÁSSICA E O M ECANICISMO

  As coisas começaram a mudar, há cerca de 500 anos, na chamada Renascença. Estefenômeno de renascimento da ciência, da curiosidade e da cultura humana foicapitaneado por europeus mundanos que ficaram extremamente ricos no comércio com o

oriente ao contratarem arquitetos, cientistas e pintores para criar novas e esplêndidasobras e pesquisar novos conhecimentos.

Manuscritos de matemática, astronomia, alquimia e medicina reacenderam o interesse porquestões como o movimento dos planetas e a localização e a natureza da Terra, comtodas as suas plantas e animais. Florescia um abrangente espírito criativo que pareciaabrir as portas e deixar a luz entrar, após mais de mil anos de realidade sombria eestagnação intelectual. Contudo, o poder da Igreja ainda era muito intenso.

Giordano Bruno, inquieto filósofo-cientista que ajudou a ressucitar a idéia antiga de que aTerra se move em torno do Sol, foi queimado na fogueira no ano 1600 por padres dainquisição. Somente dez anos depois, Galileu Galilei concebeu o primeiro telescópio, umainvenção que pôde mostrar que a Terra, de fato, girava em torno do Sol. Galileu tambémacabou sendo castigado pela Igreja, escapando da fogueira, mas sendo jogado em umcalabouço e proibido de ensinar.

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Todos os fundadores da ciência moderna foram homens religiosos, ansiosos pordemonstrar a glória de Deus. Eles imaginavam Deus de uma forma muito parecida comPlatão, ou seja, um matemático, um geômetra. Galileu dizia que a matemática era alinguagem em que fora escrita toda a natureza, e, portanto, a tarefa mais importante daciência era descobrir as leis matemáticas com as quais Deus criara o mundo.

 Apesar de todo um sistema de repressão a qualquer idéia que não se ajustasse à filosofiada Igreja, a crença na natureza como viva, pessoal e misteriosa, tal como nossosancestrais a viam, persistiu em pequenos núcleos, principalmente os ligados à alquimia. Aciência moderna, entretanto, erradicou essas idéias, assumindo a tese de que a naturezaera um mecanismo impessoal, que tinha que ser posto sob dominação humana através decompreensão racional e descrição matemática.

René Descartes, outro fundador da ciência moderna, inventou uma nova matemática e um

contexto inteiramente novo para a visão religiosa-científica do mundo. Na visão deDescartes, Deus era não só um matemático, como também um Grande Engenheiro.Usando leis matemáticas, Deus não apenas criara o mecanismo cósmico, mas colocaranele incontáveis invenções mecânicas, tais como plantas, animais e homens. ParaDescartes, não havia diferença entre máquinas fabricadas pelo homem, tais como relógiose moinhos, e os mecanismos vivos criados por Deus. Esta visão de mundo veio se tornardominante em toda a ciência, sendo chamada Mecanicismo.

Na visão de Descartes, os homens (as mulheres não) eram os mecanismos preferidos deDeus e suas mentes foram inventadas para trabalhar de forma muito parecida com a Dele.

É oportuno indagar por que nenhum cientista que aceitava essa visão de mundoaparentemente jamais se perguntou se o homem não colocara sua própria mente, talentose realizações na imagem que fazia de Deus, e não o contrário.

Por mais estranha que essa visão mecanicista pudesse ser, ela fundia a visão religiosa ecientífica em uma só e dava aos cientistas novas visões de controle sobre a natureza, oque, estavam convencidos, era a intenção de Deus. Dá até para imaginar a emoção doscientistas quando raciocinavam que todo o universo era mecânico. Então homens quecompreendessem mecânica poderiam compreender como toda a natureza funcionava, ao

desmontar as coisas para ver o que as fazia funcionar.

Francis Bacon, outro dos fundadores da ciência clássica, discorreu longamente sobre aIdade de Ouro da Ciência, quando o homem compreenderia e controlaria toda a natureza,criando sociedades mecanicamente perfeitas, isentas de todos os problemas humanos.Bacon, um advogado que participou de vários julgamentos de feiticeiras, via a naturezacomo uma mulher. Ele dizia que a ciência floresceria quando os homens crescessem e

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deixassem de esperar que a natureza se despisse a seu pedido, mas, em vez disso, aperseguissem e, pela tortura, lhe arrancassem os segredos.

 A visão mecanicista satisfez plenamente os anseios da sociedade nos séculos seguintes.  Afinal, nada importava tanto quanto as máquinas, que vinham mudando radicalmente

todo o estilo de vida humano. Cientistas, vivendo em uma sociedade que se tornava cadavez mais mecanizada, viam cada vez mais mecanismos onde quer que olhassem nanatureza. Descobertas científicas de mecanismos naturais dependiam da invenção denovos mecanismos inventados pelo homem. A matemática ganhava cada vez maisimportância, pois modelava relações entre as partes medidas do mundo, e somente partesmensuráveis poderiam ser estudadas por cientistas mecanicistas.

Cientistas desmontavam coisas para ver como eram construídas, assim como o que asfazia funcionar. Esse método de reduzir as coisas às partes componentes, muitíssimo

utilizado na ciência mecanicista, veio a ser conhecido como Reducionismo. Ao reduzircoisas às suas partes, cientistas nos mostraram o fascinante mundo interno dessas coisas.Foram adentrando o mundo das células, das moléculas, até que tinham matemática einstrumentos para mostrar que todos os mecanismos naturais eram compostos de átomos,exatamente como gregos antigos haviam dito há mais de dois mil anos!

Baseado em medições e modelos, Isaac Newton formulou leis matemáticas de movimentoentre os mecanismos naturais, confirmando a filosofia de Descartes. Porém, quanto maisos cientistas estudavam o movimento, mais o universo parecia se mover e mudar,contradizendo o ideário da Igreja de um mundo perfeito e imutável. Geólogos, escavando

rocha e estudando paisagens, descobriram que a própria Terra mudara muito no tempo. ATerra parecia conter seu próprio registro de plantas e animais que haviam vivido há muitotempo e o registro indicava que eles haviam mudado muito também.

Como a Terra só poderia ter uns poucos milhares de anos, contados pelas gerações deindivíduos mencionados na Bíblia, desde a criação de Adão até reis conhecidos naHistória? O registro biológico provava que a Terra era muito mais velha, tendo possuídotipos diferentes de plantas e animais em ocasiões diferentes de sua história. Teria Deuscriado esses diferentes tipos de plantas e animais em tempos diferentes, e não todos

simultaneamente? Estaria Deus os tornando cada vez mais complexos a cada nova ondade criação? Ou teriam eles mudado por si mesmos?

 A idéia de evolução, sepultada desde os tempos de Anaximandro, voltava à tona, virandode cabeça para baixo a visão de mundo científico-religiosa. Cientistas passaram a duvidarda existência de Deus e dos anjos e a ciência parecia estar se afastando cada vez mais dareligião e se aproximando da política de homens mundanos que haviam tomado da Igreja

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o poder social. Os cientistas passaram a ser sustentados pelos governos e recompensadospor conceber visões de mundo que se ajustassem à política da sociedade.

Na Teoria de Darwin, por exemplo, a seleção natural funcionava através da competiçãopor recursos limitados, de modo que só os mais aptos sobreviviam. Uma vez que os

industriais da Inglaterra de Darwin estavam justamente em meio a uma competição dessetipo pela sobrevivência, eles adotaram a nova teoria evolutiva como parte de sua visão demundo. Os ricos industriais não se sentiam lá muito felizes com a notícia de que eramprimos de macacos, embora a idéia de que eram as criaturas mais aptas de toda anatureza compensasse esse fato. Não precisavam perder o sono com a pobreza e otrabalho penoso que estavam impondo aos seus empregados nas fábricas e colônias,porque suas riquezas e confortos eram simplesmente prova de sua aptidão natural. Naverdade, eles aceitaram a teoria de Darwin como prova de que seu estilo de vida – acompetição industrial – era o caminho mais natural e seguro para o progresso humano. O

  “mecanismo” da sociedade capitalista competitiva era com certeza o melhor mecanismosocial possível para produzir, através da seleção natural, os seres humanos mais aptos.

E, com essa mentalidade, o industrialismo moldou os hábitos humanos às suasnecessidades, transformando a própria sociedade em uma espécie de grande mecanismo.Escolas, famílias, hospitais, governos, empresas, eram operados com tanta eficiênciaquanto máquinas de fábricas. Todo estilo de vida tornou-se tão mecânico quanto a visãocientífica do mundo, e novos ramos da ciência – economia, ciência política, sociologia,entre outras – foram criados para projetar e construir a maquinaria da sociedade, paramantê-la bem lubrificada e em boas condições de funcionamento.

Retornamos então à questão que deu início a esse apanhado histórico. Percorremossinteticamente um período de mais de dois mil anos para que pudéssemos compreenderas condições de implantação de um modelo de escola que atendesse aos interesses dosistema industrial, amparados pela ciência e política da época da Revolução Industrial.

 A VISÃO HOLÍSTICA E O PENSAM ENTO ECOLÓGICO

É inquietante constatar que esse modelo mecanicista de escola ainda vigora, apesar das

profundas transformações por que passou a humanidade posteriormente. Vejamos agorao surgimento de uma nova visão de mundo ecológica resultante dos largos avanços napesquisa científica. Tal visão de mundo, entretanto, ainda não foi assimilada pelo sistemaeducacional, como poderemos constatar.

  Ao longo do Século 20, a ciência vivenciou mudanças radicais em seus pressupostosbásicos. De uma perspectiva mecanicista, tornou-se holística e as bases do paradigma

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ecológico foram concebidas. Será de providencial importância para nós compreendermosessa transição, de forma que implementemos efetivamente uma nova perspectivapedagógica compatível com o pensamento ecológico nos sistemas de ensino-aprendizagem.

  A visão holística é uma cosmovisão resultante da revolução do pensamento humanoacontecida ao longo do Século 20 e que tem como alicerce fundamental o “PrincípioOrganizador da Totalidade”. Ao invés de desmontar o grande quebra-cabeças universalpara compreender suas peças componentes, a compreensão holística foca-se na visão doquebra-cabeças como um todo, enxergando cada peça em relação à totalidade na qual elase integra.

 A visão holística enxerga o universo como um todo interconectado, um padrão energéticoorgânico que não pode ser fragmentado, estando presente em todas as partes, como uma

mente cósmica que abrange a si mesma no imenso e no ínfimo. Através de freqüênciasdiferentes, esse padrão cósmico da totalidade materializa-se em instânciascomplementares que interagem criativamente gerando a extraordinária diversidade damatéria.

Os passos iniciais para se alcançar a visão holística aconteceram em 1900, quando o físicoMax Planck, ao descobrir o “quantum” de energia, abriu o caminho para uma fantásticaodisséia intelectual que reuniu uma brilhante equipe de físicos de várias nacionalidades notrabalho de desvendar os mistérios do funcionamento dos átomos. Era o início da físicaquântica.

  As pesquisas quânticas provocaram uma grande ruptura conceitual. As verdades ecertezas da ciência clássica que vieram sendo reproduzidas desde a decisiva influência deRené Descartes e Isaac Newton foram colocadas abaixo diante de incontestáveisevidências experimentais.

 Ao penetrarem no átomo, os físicos se depararam com uma realidade que em nada separecia com um mecanismo que segue leis matemáticas exatas e evidentes. Pelocontrário, o que os cientistas enxergaram foi uma incrível interconexão entre as entidades

subatômicas em um padrão imprevisível estabelecido pelas relações entre as partículas, enão pelas partículas em si mesmas. Era como se tivessem encontrado uma dança semdançarinos, um todo interligado por fluxos de energia em que o próprio físico queobservava os fenômenos tinha a capacidade de interferir no que era observado,propiciando um estado de incerteza que mudou radicalmente nossa percepção darealidade.

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O mundo, por conseguinte, deixava de ser visto como uma máquina impessoal eprevisível. Os átomos nos mostravam um universo que se assemelhava a um ser vivocriativo e instável. Uma nova visão do universo como um grande organismo que não maispoderia ser fragmentado emergia daquelas descobertas científicas revolucionárias.

Para se ter uma idéia do quão diferente as pesquisas apresentavam a matéria, a energia,a mente e a vida para os físicos daquela época, citamos o desabafo do pródigo WernerHeisemberg, que ilustra a profundidade das transformações pelas quais a ciência passariadepois do conhecimento quântico:

 “Lembro-me de longas discussões com Niels Bohr, até altas horas da noite, que acabavamquase em desespero. E, quando, ao final de uma dessas discussões, saí para umacaminhada pelo parque vizinho, fiquei repetindo interiormente a mesma pergunta: pode anatureza ser tão absurda como nos tem parecido nessas experiências com os átomos?” 1

 Ao longo das primeiras três décadas do Século 20, a humanidade se via frente a frentecom uma nova e intrigante visão de realidade. Tal visão, desde então, vem influenciandotodas as outras ciências, introduzindo a incerteza, o paradoxo, o caos e a metáfora nocotidiano do pensamento científico.

  A ciência holística, construída ao longo de todo o Século 20, apresenta o universo comuma fisionomia profundamente diferente daquele modelo clássico inerte e sem emoçãoque, desafortunadamente, perdura até hoje nas bases da nossa cultura, se realimentandopelas mídias, pelas instituições sociais e pelos sistemas de educação.

Torna-se um tanto significativo perceber que a base da ciência pela qual todas asgerações que estão vivas atualmente cresceram aprendendo diariamente nas escolas detodos os continentes é ainda a concepção que enxerga o mundo como o funcionamentoda espetacular e perfeita máquina universal criada e controlada pelo Grande Engenheiro.Estamos no Século 21 e a grande maioria de nossas escolas ainda é orientada pela visãode mundo do Século 19.

Com o avanço da visão holística, vastos campos de convergência entre a nova ciência e

muitas tradições filosófico-espirituais foram abertos. Tais perspectivas se conjugaram nanoção de interconexão entre tudo o que existe, enfocando as relações entre as partes enão as partes em si mesmas, enxergando a realidade como um processo vivo, emconstante movimento e transformação.

Nas três últimas décadas do Século 20, o físico austríaco Fritjof Capra empreendeu umtrabalho de grande amplitude, buscando sintetizar a revolução do pensamento que

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ocorreu nas décadas anteriores, fundindo diversas correntes de pensamento que háséculos se desdobravam separadamente e propiciando uma visão clara das mudançasculturais pelas quais a humanidade estava passando a partir da ciência holística.

Seus livros “O Tao da Física”, “O Ponto de Mutação”, “Pertencendo ao Universo”, “A Teia

da Vida” e “As Conexões Ocultas” apresentam uma estrutura conceitual que delineia deforma convincente uma nova percepção ecológica da realidade, reconciliando a ciênciacom o espírito humano e dando diretrizes para o futuro que está para acontecer.

Nesse ínterim, Capra e seus colaboradores focaram-se no desenvolvimento de umametodologia educacional que fosse capaz de introduzir a visão holística e a percepçãoecológica no cotidiano das escolas, promovendo transformações estruturais tanto nocurrículo, como na dinâmica escolar. Essa metodologia foi batizada de alfabetizaçãoecológica, ou ecoalfabetização, e significa, em suma, introduzir a ecologia profunda no

cotidiano das escolas.

Dentre seus pressupostos, a ecoalfabetização provê às crianças e adultos a compreensãode Gaia e a natureza orgânica do nosso planeta, promove um senso de pertencimento àcomunidade da vida ao nos relembrar da nossa interconexão essencial com os outrosreinos que partilham conosco a biosfera terrestre e estimula o entendimento de como anatureza se organiza, para que possamos construir comunidades baseadas nos mesmosprincípios bem sucedidos de toda a comunidade da vida. Afinal, ela vem, há mais de trêsbilhões de anos, evoluindo sustentavelmente, aumentando sua complexidade e belezasem destruir o ambiente que a hospeda.

Uma comunidade escolar ecologicamente alfabetizada se assemelha, em organização, aum ecossistema: interdependente, fluida, diversificada, flexível, cíclica e cooperativa. Issoimplica em uma série de mudanças na forma como o processo de ensino-aprendizagem éconduzido. Para que possamos visualizar com mais facilidade essa mudança deperspectiva da escola, a seguir apresentamos um quadro relacionando o atual modelo,baseado na ciência mecanicista e no pensamento reducionista, e o modelo de comunidadede aprendizagem, baseado na ciência holística e no pensamento ecológico.

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Escola Mecanicista Escola Ecológica

perspectiva multidisciplinarcurrículos fragmentados

perspectiva transdisciplinarcurrículos integrados

fluxo vertical de ensino:de cima para baixo,

de educador para aprendiz

fluxo horizontal de ensino:de educador para aprendiz,de aprendiz para educador

sistema baseado em testes e notas:fundamentação competitiva

sistema baseadoem auto-avaliação e autocrítica:

fundamentação colaborativa

currículo pré-estabelecido:

dinâmica focadano cumprimento do programa

currículo construído na medida em que

os passos são dados:poder de escolha dos aprendizes

pressuposto de que todosos aprendizes são iguais:

abafamento da diversidade

enaltecimento das diferençasentre os aprendizes:

valorização da diversidade

pôr para dentro o conhecimento extrair a compreensão e as virtudes

relações hierárquicas:tomadas de decisão não-participativas

relações em rede:tomada de decisão em conselhos comparticipação de toda a comunidade

ritmos rígidos, com horários pré-estabelecidos para todas as atividades

flexibilidade no ritmo: maleabilidade naconstrução dos horários

ênfase na análise: separação efracionamento dos saberes

ênfase na síntese: contextualizar eenglobar os saberes

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 As mudanças de perspectiva apresentadas no quadro acima, quando compreendidas emsua totalidade, deverão:

•  Motivar aprendizes, professores e gestores escolares, estimulando-os à reflexão, àcriatividade e à autocrítica;

•  Encorajar a participação ativa de todos os envolvidos no sistema de ensino-aprendizagem, aproximando pais e outros agentes sociais da realidade dasescolas;

•  Capacitar crianças e adultos a desenvolverem planos de ação para a resolução dosproblemas locais que afetam o cotidiano das comunidades.

 Ainda que não sejam mudanças que possam ser efetivadas imediatamente, necessitandode um período de transição, no qual a visão holística e o pensamento ecológico vão sendoassimilados pelos educadores, acreditamos ser muito valiosa a compreensão histórica

dessas mudanças e as bases científicas e políticas sobre as quais elas se assentam.

  A intenção desse texto foi posicionarmo-nos criticamente em relação à mudança deperspectiva da escola, de uma perspectiva mecanicista de sustentação do modelo atualpara uma visão ecológica de transformação cultural. Buscamos promover o entendimentodo contexto sobre o qual essas mudanças ocorrem, demonstrando a profundidadehistórica das questões envolvidas.

O objetivo é contribuir na construção do pensamento ecológico do educador, para que elepossa utilizar-se de forma legítima dos instrumentos e alternativas estruturais que surgirão

em seu cotidiano, tendo passado por uma mudança de percepção ancorada na ecologiaprofunda, tornando-se um elo notável na efetivação da “Grande Virada”.

Notas

1.  Citado em CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Ed. Cultrix, 1986

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PRIN CÍPIOS DA ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA A Organização da Natureza Aplicada no Contexto Humano

O principal propósito da educação é nutrir as possibilidades inerentes ao desenvolvimento

humano. A partir dessa ótica, iniciamos uma reflexão sobre como operacionalizar, dentrodas escolas, uma nova ética ecológica que permeie todas as atividades curriculares,permitindo que homens e mulheres identifiquem seu papel nas redes planetárias de cura esustentabilidade.

Tal reflexão nos levará à urgente questão de como poderemos nos integrar à comunidadeda vida de forma que façamos cessar a devastação ambiental e iniciar um estágio denossa evolução caracterizado pela harmonia da mente humana e da natureza.

O ser humano é autotranscendente, ou seja, tem a capacidade de se dirigir criativamentepara além das fronteiras físicas e mentais nos processos de aprendizagem,desenvolvimento e evolução. Ao compreendermos esse impulso natural de nossa espécie,notamos que cabe aos educadores construir ambientes de aprendizagem nos quais essaautotranscendência possa ser promovida.

Por conseguinte, o papel mais apropriado do educador não é o de direcionar ou enquadraros aprendizes dentro de um modelo de conhecimento pré-determinado, mas o de facilitarum processo natural e orgânico de aprendizagem que:

•  ofereça oportunidades para escolhas verdadeiras por cada aprendiz, em qualquerestágio do processo;•  promova o contato lúcido com o ambiente dinâmico e imprevisível de suas vidas;•  valorize as múltiplas possibilidades de síntese e o desenvolvimento de práticassignificativas.

Essa nova perspectiva de educação é base para a aplicação da alfabetização ecológica.Nesse contexto, é possível trazer para o cotidiano das escolas um profundo sentimento dereverência pela vida em todas as suas manifestações.

 A estratégia da alfabetização ecológica é bem definida. A partir da compreensão de comoa natureza se organiza, estaremos aptos a empreender uma transformação culturalprofunda e redirecionarmos nossos esforços de construção e desenvolvimento, de formaque espontaneamente façamos emergir a humildade em nossa espécie e nos percebamoscomo co-participantes da teia da vida do Planeta Terra.

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Essa visão de que estamos interconectados com tudo o mais que existe é muito diferenteda visão que preponderou nos últimos séculos no seio de nossa civilização. A arrogânciade nos considerarmos o topo da evolução e de acreditar que o mundo havia sido criadopara atender as nossas necessidades implicou em ações de controle, domínio,manipulação e exploração desenfreada do restante da natureza. Acreditamos por muito

tempo que era a Terra que deveria se adaptar a nós e não o contrário. Isso fez com quevivêssemos uma era baseada naquilo que podíamos extrair da natureza. O ambiente setransformou em depósito de suprimentos e esgoto, e os reinos da vida se tornaram meramatéria prima para nossos empreendimentos.

  A alfabetização ecológica surge buscando contornar esse desvio em nossa percepçãocultural e promover o início de uma era cujas bases se assentam não naquilo quepodemos extrair, mas no que podemos aprender com a natureza. E quanto mais o nossomundo se parecer com a natureza e funcionar como ela, mais probabilidade teremos de

ser aceitos nesse lar que é nosso, mas não exclusivamente nosso.

Dessa forma, deixamos de ser os agentes patogênicos que vêm degradando eenfraquecendo a biosfera, para nos tornarmos músicos de uma extraordinária sinfonia quevem sendo executada há bilhões de anos, entrelaçando as mais diversas formas de vidaem um espetáculo de cores, aromas e texturas.

Em linhas gerais, podemos definir a alfabetização ecológica como sendo a compreensãosistêmica dos princípios de organização da natureza para criar, na educação, nacomunicação, na administração e na política, comunidades humanas sustentáveis

inspiradas nos modelos e processos utilizados pela comunidade da vida do Planeta Terra.

 Amparada pela sabedoria ancestral e pelas mais recentes descobertas científicas, aplicadaaos sistemas de ensino-aprendizagem nas escolas, nas comunidades e nos meios decomunicação, é possível que a alfabetização ecológica defina diretrizes seguras para aconstrução de comunidades humanas capazes de satisfazer suas necessidades semenfraquecer a biosfera em sua trajetória evolutiva.

Para lograrmos compreender a essência da alfabetização ecológica, concentraremos

nossos esforços no entendimento de três de suas dimensões básicas: o pensamentosistêmico, os princípios de organização da natureza, e as mudanças de percepção quedeverão ocorrer ao longo do processo.

PENSAMENTO SISTÊMICO

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Para que possamos compreender os princípios de organização da natureza e,conseqüentemente, aplicá-los em nossa vida cotidiana, é importante primeiramente queentendamos a teia da vida, a constituição do Planeta Terra como um sistema.

Um sistema é uma totalidade integrada cujas partes estão essencialmente relacionadas.

Se fragmentamos o sistema, este deixa de apresentar suas propriedades constitutivas. OPlaneta Terra é um sistema, tendo em vista que suas partes estão inextricavelmenterelacionadas; seus ecossistemas, organismos e substratos minerais interagemintimamente, produzindo-se a si mesmos em um fenômeno que se unifica na totalidade doglobo. Nós, seres humanos, somos parte indissociável dessa realidade, somos um fio dateia da vida, uma fração do majestoso sistema planetário que se constitui a partir de suascriaturas em constante compartilhamento de nutrientes.

Para compreendermos a dinâmica da natureza, além de buscarmos compreender cada

parte, cada componente de cada organismo, devemos nos voltar para o todo, buscandoentender como cada ser vivo se organiza, em sua totalidade. Com esse exercício vamosdescobrir que cada todo – seja uma célula, um corpo, um ecossistema, ou a teia da vidaem si – não é um monte de peças montadas, mas sistemas que não podem ser partidos.Os seres vivos são totalidades que se auto-organizam e não podem ser divididas.

Esta é noção básica do pensamento sistêmico, que é focado nas relações e não nosobjetos, nas totalidades e não nas partes. A partir da visão sistêmica, podemos perceberque toda a imensidão cósmica não se constitui de partes isoladas, mas estáessencialmente interligada. O universo constitui-se de um sistema que não pode ser

fragmentado nem reduzido aos seus componentes, tal como o nosso corpo, que dependede cada órgão para funcionar satisfatoriamente. Ambos, o universo e o nosso corpo, sãosistemas.

O pensamento sistêmico nos permite identificar algumas características fundamentais detodos os seres vivos e, consequentemente, nos permite entender como estamosconectados a tudo o mais que existe. Afinal, todo ser vivo é um sistema que é tanto algointeiro em si mesmo, composto de partes constituintes, como é simultaneamente umaparte constituinte de um sistema mais amplo, formando sistemas dentro de sistemas,

circuitos dentro de circuitos.

Para ilustrar essa idéia, imaginemos uma célula humana, que é, ela própria, um sistemavivo. A célula é simultaneamente uma totalidade e também parte de um corpo humano. Ocorpo, por sua vez, é um sistema que é parte de uma sociedade. Por sua vez, a sociedadeé um sistema que é, ao mesmo tempo, uma totalidade e uma parte integrante de umecossistema. E assim por diante.

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 Todo sistema vivo é todo e parte simultaneamente e, para se afirmar como um ser total,ele precisa se integrar ao todo maior que o engloba. Esse é um grande ensinamento paranós, seres humanos, que esquecemos as maneiras de como nos integrarmosharmoniosamente à comunidade da vida no Planeta Terra.

  Assim, para que consigamos construir comunidades humanas sustentáveis, nossaconsciência precisará passar por uma mudança de princípios, de forma que entendamos anossa necessidade de integração à teia da vida.

PRI NCÍPIOS DE ORGANI ZAÇÃO DA NATUREZA

Nossos parceiros planetários que formam a teia da vida, o sistema vivo da Terra, vêm seaperfeiçoando há mais de três bilhões de anos, ininterruptamente, desde as primeiras

bactérias. Nesse período imenso de tempo, a vida aprendeu a voar, a circunavegar oglobo, a viver nas profundezas dos oceanos e no topo das montanhas mais altas, aproduzir substâncias miraculosas, a iluminar a noite, a armazenar energia solar e adesenvolver um cérebro pensante. Coletivamente, organismos conseguiram transformarrocha e mar num lar de vida aconchegante, com temperaturas estáveis e ciclos quetranscorrem suavemente.

 A proposta da alfabetização ecológica é adotarmos os princípios básicos que regeram aevolução da vida na Terra em nossas ações cotidianas, fazendo com que nossa sociedadetambém seja regida por esses mesmos princípios. Afinal, que modelos mais primorosos

poderiam existir?

 A seguir apresentamos os princípios básicos de organização da natureza. O leitor poderáperceber que nossos atuais modos de vida se antagonizam claramente à dinâmica deorganização da vida no Planeta Terra. O fato de ignorarmos estes princípios e nosguiarmos na contramão da evolução da teia da vida é, possivelmente, uma das maisrelevantes razões para estarmos destruindo nosso meio ambiente natural.

1.  Interdependência – A natureza forma uma teia que se sustenta através das

relações essenciais entre as suas partes 

Interdependência é a palavra chave para se entender as relações ecológicas: o sucesso dacomunidade da vida depende do sucesso de cada um de seus membros e o sucesso decada um depende do sucesso da comunidade da vida como um todo.

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 A teia da vida é um padrão em rede no qual as partes se apóiam entre si, gerando a simesmas e regenerando-se mutuamente. Os reinos da vida se alimentam reciprocamente.Tudo está interligado e depende do restante para prosseguir. Não há como uma parte seaproveitar do desgaste das outras, alçando-se ao nível máximo em detrimento da saúdedo restante do sistema. O câncer é um exemplo típico da falta do senso de

interdependência em um organismo. A organização humana atual é outro exemplo decomo pode ser nociva a falta do senso de interdependência, quando uma parte decide seexpandir às custas do restante do sistema.

No ambiente escolar, identificamos a interdependência na rede de relações em queprofessores, aprendizes, gestores escolares, pais e membros da comunidade estabelecempara trabalharem juntos e promoverem a aprendizagem em todos os níveis do sistema.

2.  Ciclos – A natureza recicla tudo, enxergando todo resíduo como recurso. 

Há mais de três bilhões de anos a vida na Terra usa e recicla continuamente suasmoléculas orgânicas, minerais e gasosas. O resíduo de uma espécie é alimento para outra.Desse modo, os ecossistemas permanecem livres de resíduos.

 Aqui, a lição para as comunidades humanas é óbvia. Nossas atividades industriais extraemrecursos e os transformam em produtos e resíduos. Depois vendem os produtos aosconsumidores, que descartam mais resíduos depois de terem consumido os produtos.

Não será possível mantermos a crença em um crescimento econômico ilimitado nos

moldes dos processos industriais atuais, pois os recursos do planeta são limitados emuitos não-renováveis.

Essa ilusão que sustenta a dinâmica econômica atual é intolerável para o sistemaplanetário. O planeta possui limites físicos. Ele exige uma dinâmica de reciclagem dosrecursos para que possa continuar se autogerando e se regenerando. Os seres humanosvêm desregulando a estrutura ecológica da Terra, na perspectiva de expansão e progressoilimitados, pouco se preocupando com a necessidade urgente de desenvolvimento deprocessos de reciclagem dos recursos materiais e também das idéias e conceitos.

Numa comunidade de aprendizagem, não existe ensino de uma só via, mas umintercâmbio cíclico de informações. O foco é no aprendizado, e cada um é, ao mesmotempo, aprendiz e educador, reforçando circuitos de regeneração que sustentam asetapas do processo e permitindo que o sistema evolua a partir de realimentação eautocrítica.

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3.   Alianças (parcerias) – A natu reza recompensa a cooperação.  

  As trocas de energia e recursos materiais num ecossistema são sustentadas por umacooperação generalizada. Há competição, mas esta ocorre em um contexto mais amplo decooperação. A aliança é uma característica essencial das comunidades sustentáveis. A

tendência para formar associações, para estabelecer ligações, para viver dentro de outroorganismo, para cooperar, é um dos “certificados de qualidade” da vida.

No ambiente escolar, as alianças formam a base das relações. Todos os membros de umacomunidade de aprendizagem cooperam e trabalham em associação, o que induz aofortalecimento de todo o sistema e de cada um dos integrantes. Cada parte tem papelfundamental na condução do processo e quanto mais parcerias se estabelecerem naescola, mais fluidos e eficientes se tornam as atividades e projetos da comunidade.

4.  Diversidade – A natureza confia na compl exidade e valoriza as diferenças. 

Os ecossistemas alcançam a estabilidade e a capacidade de recuperar-se dosdesequilíbrios por meio da riqueza e da complexidade de suas teias ecológicas. Quantomaior a biodiversidade de um ecossistema, maior a sua resistência e sua capacidade derecuperação. Diversidade significa muitas relações diferentes, muitas abordagensdiferentes do mesmo fenômeno. Uma comunidade diversificada é uma comunidade capazde se adaptar a situações mutáveis. Quando um dos elementos do sistema padece diantede um distúrbio sério, uma comunidade diversificada será capaz de sobreviver e sereorganizar, pois outros elos da rede podem substituir o elemento afetado.

Contudo, a diversidade só será vantagem e fator de enriquecimento se houver umacomunidade unida, ciente da interdependência das suas relações. No caso da sociedadehumana, que possui uma imensa diversidade racial e cultural, percebemos que ela seencontra fragmentada em grupos e indivíduos isolados. A diversidade, ao contrário danatureza, em que é vista como riqueza do sistema, nas comunidades humanas é vistacomo diferença, gerando preconceito e atrito.

Nas comunidades de aprendizagem, experiências que encorajem os aprendizes a utilizar

diversas maneiras e estratégias de aprendizado são essenciais. Estilos diferentes deaprendizado, valorização das diferenças culturais, étnicas e de gênero, e enaltecimentodas características e virtudes de cada integrante são bem vindos, pois trazem riqueza deabordagens e significados para a experiência de aprendizagem coletiva.

5.  Equilíbrio dinâmico e flexibilidade – A natureza inibe os excessos,transformando-se constantemente para conservar sua essência.

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 O equilíbrio da natureza não é estático, mas dinâmico. Existe um constante processo detransformação. Os elementos se formam e se desintegram, se organizam e se dissipam,em uma constante dança de nutrientes. A essência da natureza é criativa e adaptativa.Quanto mais flexível a teia da vida estiver, mais apta a superar os desafios da evolução e

restabelecer o equilíbrio ela se encontrará.

Existem limites de tolerância. Quando um sistema se aproxima desses limites, aflexibilidade diminui, o que se manifesta como estresse. A tensão temporária é um aspectoessencial da vida. Nesses momentos pode haver uma desorganização que muitas vezes ébenéfica, pois promove saltos evolutivos. Contudo, se o estresse torna-se crônico, ele setransforma em um fenômeno nocivo e destrutivo para todo o sistema.

O princípio da flexibilidade sugere uma estratégia para a resolução de conflitos humanos.

 A humanidade, hoje, é caracterizada pela defesa rígida de certezas particulares. Opiniõesdiferentes são vistas como fontes de conflitos. Em toda comunidade, contudo, haveráconflitos que não podem ser resolvidos em favor de um ou do outro lado. Esses conflitossão melhor resolvidos estabelecendo-se um equilíbrio dinâmico em vez de sê-lo por meiode decisões rígidas. Ambos os lados do conflito podem ser importantes, dependendo docontexto, e no âmbito de uma comunidade são sinais de sua diversidade e sua vitalidade.

Nas comunidades de aprendizagem, a flexibilidade é um fator primordial. Ao invés dacondução rígida e pré-programada dos currículos, a abertura a novas situações epossibilidades pedagógicas, aproveitando as oportunidades que surgem no cotidiano, faz

com que a escola enriqueça a experiência de aprendizagem de todos os integrantes. Porconseguinte, o espaço e o tempo da escola são sempre recriados de forma a satisfazeremas necessidades que surgem constantemente.

6.  Energia Solar – A natureza é movi da a energia solar.

É a energia solar que move os ciclos ecológicos. Benigna, limpa, abundante e eficiente, aenergia do Sol, nas formas diretas e indiretas, é utilizada generalizadamente pelossistemas ecológicos. Na contramão da natureza, a sociedade humana hoje se baseia nos

combustíveis fósseis e radioativos para impulsionar seu complexo produtivo por meio detecnologias que são altamente centralizadas, rigidamente programadas, antieconômicas enocivas à saúde.

Hoje já existem alternativas economicamente viáveis de matrizes renováveis, eficientes elimpas, direta ou indiretamente relacionadas ao Sol, faltando apenas vontade política para

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a implantação de um novo sistema energético que introduza a sociedade humana em umpatamar civilizatório chamado pelos economistas de Era Solar.

Nas escolas, a compreensão dos fluxos energéticos renováveis que sustentam a vida noplaneta incentiva as comunidades de aprendizagem a estarem sempre abertas às pessoas

que estão saindo e entrando, buscando lugares dentro do sistema e alimentando aestrutura com novas idéias e conceitos, o que pode ser percebido como sendo a própriaenergia criativa que se renova a cada dia. 

MUDANÇA DE P ERCEPÇÃO

Os princípios de organização da natureza apresentam-se intimamente ligados à dinâmicacotidiana da humanidade, visto que somos uma comunidade com os mesmos princípios deorganização de qualquer outra comunidade ecológica. Na medida em que adotamos esses

princípios, profundas mudanças de percepção da realidade deverão acontecer. Taismudanças ocorrerão na medida em que criarmos ambientes de aprendizagem sensíveis ereceptivos, como forma de aumentar nossa auto-estima, o esforço intelectual criativo e aresponsabilidade individual e coletiva. Ao assimilarmos os princípios em nosso vivercotidiano, estabelecemos bases para o efetivo salto evolutivo da consciência humana.

  A observância desses princípios no cotidiano nos levará, possivelmente, à tão almejadasustentabilidade, quando então poderemos satisfazer nossas necessidades sem diminuir asperspectivas das gerações futuras.

  Algumas dessas mudanças de percepção já estão em curso. É possível notar que aspessoas vêm percebendo as relações diretas entre o modo pelo qual interagimos com omundo e a constituição do quadro de crise que nos assola atualmente. A seguirapresentamos algumas dessas mudanças de percepção, mostrando a possibilidade de umatransformação social embasada em princípios coerentes e viáveis:

Das partes para o todo: Imaginemos uma pessoa vindo até nós com um quebra-cabeçade milhares de peças, pedindo para que o montemos. Começamos então a tentarorganizar as peças, sem, infelizmente, possuirmos a gravura que nos permita saber o queiremos montar.

Essa metáfora ilustra a situação da mente humana diante do conhecimento. Com todas aspeças em mãos, mas sem saber o que vamos construir, ficamos confusos, cada um à suamaneira, determinando a melhor forma de dispor as partes, sem, contudo, termos a visãodo todo. Assim, olhando somente para as peças, temos dificuldade de entender e,conseqüentemente, não chegamos a um consenso de como construir o quebra-cabeças.

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Quando, enfim, temos a possibilidade de enxergar a gravura, o todo, o processo seesclarece. Cada parte passa a fazer sentido, temos enfim uma perspectiva concreta paradirecionar nossas ações. Aumentamos nossa sinergia e, de posse de todas as peças,podemos nos organizar para elucidarmos o quebra-cabeça.

 Ao enxergarmos todas as partes unificadas em um todo-abrangente, a tendência é quedeixemos de pensar individual e isoladamente, como indivíduo, como cidade, como país.Podemos compreender a interconexão de todas as coisas e regenerar o senso deinterdependência e parceria que é inerente a essa nova forma de enxergar a vida.

Essa compreensão também nos leva a superar a fictícia divisão da nossa espécie empovos e nações. A partir da visão holística, percebemos que todas as peças sãomanifestações de um mesmo fenômeno cósmico. Como um todo, atingimos a consciênciaplanetária, enxergamos a Terra como nosso corpo e superamos a incômoda fragmentação

geradora de guerras e desigualdade. Juntos, com a gravura em mãos, temos todas aspeças para montar o quebra-cabeça.

Dos objetos para as relações: A evolução da Física do Século 20 fez com que ouniverso deixasse de ser visto como uma máquina composta de uma infinidade de objetosisolados e apresentou uma nova imagem de um todo dinâmico, indivisível, cujas partesestão essencialmente relacionadas. Todas as “coisas” que enxergamos, na verdade, sãointerconexões entre “coisas”.

Essa mudança de conceitos sustenta o pensamento no qual as relações e,

conseqüentemente, o contexto das relações tornam-se a base para todas as definições.Qualquer coisa passa a ser definida por suas relações com outras coisas e não pelo que éem si mesma. Tal como uma peça de quebra-cabeças fica sem sentido enquanto fora doseu lugar na gravura, cada fato ou objeto isolado fica sem sentido enquanto fora de umcontexto mais amplo.

Cada fato ou objeto representa um ponto de vista, criado e moldado dentro de umcontexto cultural específico e só faz sentido dentro desse contexto. Nessa perspectiva,podemos perceber que cada experiência consciente é altamente integrada, cada estado de

consciência compreende uma única “cena” que não pode ser decomposta em elementosindependentes. Ao assimilarmos essa mudança de ênfase dos objetos para as relações,haverá, seguramente, uma flexibilização das nossas idéias, dos conceitos que estabelecema forma como enxergamos o mundo.

 Ao desenvolvermos essa nova forma de pensar, considerando os fatos somente quandoem relação a uma situação específica, a tendência é que todo o conhecimento humano se

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diversifique profundamente. O certo e o errado não mais deverão ser estruturas rígidas deapoio a uma mentalidade específica. Em suma: não existe um mundo independente daminha observação. Eu crio o meu mundo. Existe sim o mundo que minhas relaçõesestabelecem. Logo, não faz sentido pensar em mudar o mundo, mas é pertinente mudar aminha relação com o mundo.

Da hierarquia para a rede: Há dezenas de séculos o padrão social humano se baseiaem hierarquias. Para compreendermos isso, basta olhar para a estrutura das empresas,das universidades, do exército, da igreja, da família, dos governos, das classes sociais,etc. Todas essas instituições funcionam verticalmente, com níveis de poder e subordinaçãoem estruturas rígidas e programadas. Para representar simbolicamente esse padrãohierárquico humano, usualmente utilizamos uma pirâmide.

Quando voltamos nosso olhar para a organização dos ecossistemas, torna-se claramente

perceptível que a vida no planeta não é condicionada às hierarquias, possuindo o padrãode redes flexíveis, cuja interdependência dos seus componentes impede a ascensão dealgum agente específico a um papel de controle e manipulação do sistema.

Isso significa que não existem espécies governantes e espécies governadas. Todos oselementos da rede trabalham com senso de responsabilidade individual que dilui anecessidade de uma entidade central de controle. A sinergia do sistema baseado nacooperação faz com que sejam estabelecidos elos de confiança mútua que impedem osurgimento do espírito egoísta, nocivo e desestabilizador.

Como as redes são estruturas dinâmicas, com suas variáveis em constante flutuação, elascostumam estabelecer estratos, ou hierarquias funcionais, entre suas partes. Essaestratificação, muito comum nos ecossistemas, difere das hierarquias existenciais dasinstituições humanas. As hierarquias funcionais ajudam o sistema a se auto-organizar,destinando aos componentes um lugar na rede, sem que seja atrelada a eles umadiferenciação na importância da participação de um ou de outro. Todos são igualmentevaliosos e imprescindíveis para o processo autogerador do sistema e sua evolução.

Já as hierarquias existenciais humanas incorporam níveis de poder distintos para cada

componente a partir da determinação de diferentes escalões, estando cada escalãosubordinado a um outro nível superior, pressupondo, em seu âmago, as idéias de controlee superioridade.

Um símbolo apropriado para a natureza das relações ecológicas em rede é a árvore, queextrai seu alimento tanto através das raízes como das folhas e a energia flui em ambas asdireções, sem que uma extremidade domine a outra e todos os níveis interagem em

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harmonia para sustentar o funcionamento do todo pela interdependência e cooperação. Asfolhas estão em cima e as raízes estão embaixo, mas isso não nos leva a pensar que asfolhas são mais importantes, ou mais fundamentais, que as raízes. Da mesma forma, umministro da educação, se observado a partir de uma visão ecológica, não deve ser vistocomo mais importante ou mais fundamental que a diretora ou a cantineira de uma escola,

ambas comprometidas e responsáveis por sua contribuição à rede de educação.

Essa mudança de percepção é fundamental no processo de alfabetização ecológica.Nenhuma instituição social poderá julgar-se superior ou mais importante do que qualqueroutra. Todas elas estarão conscientes uma das outras e se comunicarão e cooperarãoentre si. Essa reorganização horizontal permitirá que uma das mais profundas sabedoriasda natureza, ou seja, a noção de interdependência e cooperação, possa fluir dentro docontexto social humano.

- Da quantidade para a qualidade: Desde o Século 17, com o surgimento da CiênciaClássica e o Mecanicismo, o pensamento humano se condicionou dentro do domíniomatemático, no qual as qualidades abstratas e subjetivas foram postas de lado,predominando as características quantitativas, ou seja, passíveis de medições, cálculos edeterminações matemáticas.

 Até hoje os números dominam o comportamento humano. Damos mais valor à quantidadede riqueza do que à qualidade de vida. O objetivo de vida preponderante na economia demercado é acumular quantidades de dinheiro e bens. O PIB dos países não leva em contaa natureza dos recursos, ou seja, gastos em guerra, segurança e medicamentos têm o

mesmo valor que os gastos em moradia, educação e lazer.

Matamos nossa sensibilidade, nossa alma e o espírito do belo, ao darmos lugar à obsessãopor crescimento e exploração desenfreada dos ecossistemas. Contraditoriamente, amesma consciência coletiva que coloca os números em lugar de destaque em seuentendimento da vida não consegue perceber que o planeta tem um limite físico denatureza fundamentalmente quantitativa. A não ser que consigamos colonizar outrosplanetas, estamos diante de um sistema global limitado.

Poderíamos alegar que o problema é, de fato, econômico e quantitativo, visto que não hárecursos para todos os indivíduos. Mas, ao reavaliarmos as bases do nosso sistemaeconômico – como realmente vem acontecendo – vamos perceber que as basesquantitativas para a satisfação das nossas necessidades de sobrevivência já existem deforma incontestável. As dimensões fundamentais de escassez no âmbito da humanidadeestão relacionadas com nossas necessidades de lazer e contemplação, paz de espírito,

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amor, vida gregária e auto-realização, as quais são todas satisfeitas em graus muitosuperiores a partir de um sistema que preze pela qualidade das relações.

- Da competição para a cooperação (da escassez para a abundância): Segundo aONU, a capacidade produtiva atual do ser humano é suficiente para suprir as necessidades

básicas de sobrevivência de toda a humanidade. A escassez ocorre na distribuição.Também podemos falar na escassez existencial, ou seja, o ser humano utilizando-se daaquisição e acumulação de bens materiais para elevar-se na pirâmide social com o intuitode suprir a confusão espiritual de um processo civilizatório incoerente.

 Ao tomarmos consciência dos cálculos da riqueza humana apontando para a superação daescassez material (ao eliminarmos o consumo supérfluo e o desperdício), em tese,deveremos construir naturalmente um novo modelo de relações mais eficiente eharmonioso que o atual, superando o pressuposto que nos incute a idéia de que a

competição é a força evolutiva mais importante.

 A abundância é o estado natural da natureza. Isto nos é dito por várias teorias científicascontemporâneas. Entretanto, por muito tempo, nossa cultura valorizou a escassez. Umadas mais claras razões para essa valorização da escassez é a existência hegemônica doespírito capitalista como força motriz da civilização, que tem em seu cerne a famosa “leida oferta e da procura”, que valoriza o que é escasso. Além disso, a escassez é uminstrumento de poder. A ameaça da escassez traz poder aos que têm recursos e fragilizaquem não os tem. Mais além, nossa cultura insiste em associar a abundância com odesperdício, e a escassez como oportunidade de economia e boa gerência.

Só mesmo tantos e tão arraigados condicionamentos culturais repetidos, reforçados eintrojetados na linha de valorização da escassez poderiam contrariar o que é  “naturalmente da natureza” e naturalmente desejado por todos nós. Há abundância. Aciência e as sabedorias ancestrais confirmam juntas essa afirmação.

  Assim, a competição ferrenha como a que enfrentamos hoje se torna incoerência. Acompetição em um ambiente de escassez estrutural é compreensível como alternativa aorisco de morte. Mas quando entendemos que o montante de riqueza disponível ao ser

humano aponta para uma vida digna e saudável para toda humanidade, chegamos àconclusão que a vida em civilização competitiva é uma manifestação de ignorância.

Pois, se hoje vivemos diante do conflito e da competição intensa e ainda conseguimossobreviver, imaginemos a vida em um ambiente cooperativo, em que o mutualismoprepondere e se torne a base da convivência humana em um nível político de altasinergia. É coerente continuar pensando em termos de escassez?

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 PONTO DE MUTAÇÃO

Como pudemos perceber neste texto, a alfabetização ecológica de nossas comunidadesdeverá promover uma transformação profunda na percepção humana. Certezas e

premissas muito arraigadas, reproduzidas e condicionadas ao longo de muitos séculos,precisarão ser revistas em um processo que exige disciplina, coragem e abertura deespírito.

  Vivemos um momento decisivo. Aproximamo-nos de um ponto de mutação planetário.Existem evidências de ordem científica e também no âmbito das tradições místicas de queo mundo, de fato, parece estar se aproximando de uma mudança de era. Uma série deatividades, lugares e instituições vêm se transformando significativamente, de modomarcante, nos últimos anos. A estruturação das redes planetárias de cura e

sustentabilidade é uma realidade. Podemos acreditar na força de coalizão humana, novigor dos nossos próprios caminhos, para darmos continuidade à tradição da vida desempre se desdobrar, evitando a sua própria extinção, desenvolvendo estratégias degrande complexidade e beleza.

Mas enquanto essa transformação está ocorrendo, a cultura que está em declínio pareceestar se recusando a mudar, agarrando-se insistentemente às suas idéias ultrapassadas.Durante esse processo de declínio e desintegração, as instituições sociais dominantesainda impõem seus pontos de vista anacrônicos, mas seguem se desintegrandogradualmente. Enquanto isso, pessoas e grupos sociais criativos surgem e enfrentam os

novos desafios com engenho e crescente confiança. E possivelmente continuarãoascendendo até assumirem finalmente seu papel de comando.

Nossa evolução, como em todo o processo da vida, continua a nos oferecer liberdade deescolha. Sim, podemos alterar nosso comportamento transformando nossas atitudes enossos valores, a fim de adquirirmos uma espiritualidade e uma consciência ecológicacapazes de promover nossa reconexão com a teia da vida e restabelecer o equilíbriodinâmico e a flexibilidade da biosfera.

O poder está mudando de mãos, passando de hierarquias agonizantes para redes cheiasde vida. Estar vivo, acordado, sentindo o renascimento da natureza nos nossos corações ementes, desperta a gratidão pelo Cosmos, a tolerância em relação aos equívocos e abeleza da vida no cotidiano.

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PROJETOS DE ALFABETIZAÇÃO ECOLÓGICA

 A Aplicação do Pensamento Ecológico no Cotidiano da Escola

Considerações Iniciais

Mais que um fenômeno temporário, a pedagogia de projetos é uma realidade e ao mesmotempo uma tendência para o desenvolvimento da transdisciplinaridade nas escolas. Aalfabetização ecológica, tendo em vista seu caráter transdisciplinar, isto é, um processoque perpassa todas as disciplinas e transcende os limites de cada uma, tem na pedagogiade projetos um poderoso instrumento de efetivação.

 A pedagogia de projetos transforma a perspectiva centrada apenas no ensino para umaperspectiva voltada para o processo de aprendizagem. Essa situação propicia não apenasuma inversão de papéis, mas, sobretudo, a criação de novas posturas, tanto por parte do

educador, como por parte do aprendiz e, certamente, da própria escola.

  A pedagogia de projetos é uma proposta de aprendizagem criada para promover ainteração de todos os elementos, propiciando maior autonomia do aprendiz e a integraçãode conhecimentos de distintas áreas do conhecimento, por meio da busca de informaçõessignificativas para compreensão, representação e evolução de um determinado contexto.

O quadro a seguir apresenta de forma sucinta as diferenças fundamentais entre o ensinocom perspectiva compartimentada e a aprendizagem por projetos, na qual o papel doeducador e dos aprendizes são melhor caracterizados:

Diferenças de Perspectiva na Fundamentação de Trabalho por Projetos

Ensino Aprendizagem

EnfoqueFragmentado, centrado na transmissãode conteúdos prontos.

Globalizador, centrado nasuperação de desafiossignificativos.

Escolha detemáticas

Educadores e coordenação pedagógica,com base nos problemas e nasatividades apresentadas nos livrosdidáticos.

 Aprendizes e educadores emcooperação, fundamentalmentecom base em uma análise globalda realidade.

Percepção doConhecimento

Percebido como acúmulo de fatos einformações isoladas.

Percebido como instrumento para

a compreensão da realidade epossível intervenção.

Conteúdotrabalhado

Definido por critérios externos eformais, considerado de formafragmentada. Ocorre uma seqüênciarígida do conteúdo das disciplinas, compouca flexibilidade no processo deaprendizagem.

Estudado dentro do contexto quelhe dá sentido, com ênfase narealidade da vida cotidiana.Seqüência vista em termos denível de abordagem e deaprofundamento em relação àspossibilidades dos aprendizes.

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Critério deatendimento Seqüência dos conteúdos curriculares.

Curiosidade, desejo, vontade dosaprendizes

Processo dedecisão

 Vertical, de cima para baixo, focado nadireção superior.

Horizontal, com a participação dosenvolvidos, mas sob umacoordenação.

Tempo e Espaço Organizados de forma rígida e estática. Flexibilidade no uso do tempo e doespaço escolares.

Definição deregras Impostas pelo sistema, sem opção. Elaboradas pelo grupo; consenso

entre os aprendizes e educadores.

ModeloPedagógico

Transmissão de conhecimentos.Propõe receitas e modelos prontos,reforçando a repetição e o treino.

Construção do conhecimentoatravés de atividades abertas, compossibilidade de os aprendizesestabelecerem suas própriasestratégias.

Papel dosEducadores

 Agente e único informante, com o papel

de dar respostas certas e cobrar suamemorização.

Estimulador/orientador queintervém no processo deaprendizagem criando situações

desafiadoras, introduzindoinformações novas e condiçõespara que os aprendizes avancemem seus esquemas decompreensão da realidade.

Papel dos Aprendizes

Papel receptivo e dependente, querecebe passivamente o conteúdotransmitido pelo educador.

 Agente ativo, que usa suaexperiência e seu conhecimentopara superar desafios.

CONCEBENDO E FORMATANDO UM PROJETO

De forma a orientar a organização das idéias com vista à elaboração ou desenvolvimentode um projeto, apresentamos a seguir algumas orientações básicas.

I- Título do Projeto

O título é o nome do projeto, portanto deve exprimir com clareza e objetividade o que sepretende fazer, indicando inclusive, quando for o caso, o público e o local onde serádesenvolvido, de forma a facilitar o imediato entendimento de todos os envolvidos. Onome do projeto deve ser atrativo e estar relacionado com o tema.

II - Objetivo Geral

O objetivo geral deve exprimir a ação que vamos realizar e o que se esperamos queocorra em função da sua implementação, ou seja, deve retratar onde queremos chegarcom o projeto. Quais mudanças esperamos que ocorra na sala de aula, na escola ou na

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comunidade. Podemos dizer que o objetivo divide-se em duas partes: a primeira fala dasações que serão feitas; e a segunda fala do produto, resultado que queremos atingir.

II .1 - Objetivos Específicos

Os objetivos específicos, geralmente mais de um, devem caracterizar os efeitos educativosque queremos alcançar com o objetivo geral. Na elaboração dos objetivos específicosdetalhamos melhor o aspecto pedagógico do projeto, facilitando posteriormente aavaliação de resultados.

II I - Justificativa  

 A justificativa é o momento onde evidenciamos o conhecimento que temos em relação aocontexto que pretendemos intervir com o projeto. É aqui que vai valer o levantamento

feito para conhecemos melhor a realidade que escolhemos como objeto de nosso projeto.Na justificativa devemos descrever de forma mais detalhada possível o que pretendemos,explicando a razão do seu desenvolvimento, onde o projeto se enquadra na estratégiapedagógica ou educativa da escola ou da temática escolhida.

Como autores – educadores e aprendizes - devemos ainda indicar os resultados esperadosem relação a nós mesmos, à comunidade ou ao local onde vamos realizar o projeto. Éimportante que levemos em conta que a justificativa é a oportunidade de mostrar oconhecimento que temos do contexto, a viabilidade da intervenção proposta, eapresentemos alguns indicadores que determinam a execução do projeto.

IV – Etapas de Execução

  As etapas de execução são imprescindíveis para o planejamento, elaboração edesenvolvimento do projeto. Em função da estratégia a ser adotada devemos listar asetapas que serão desenvolvidas para atingirmos o objetivo. As etapas são as açõescolocadas na seqüência em que serão executadas, de forma a possibilitar a identificaçãode cada passo desde o início do projeto até que a intervenção proposta seja efetivada.

 A definição das etapas possibilita a divisão do trabalho entre os responsáveis pelo projeto,especialmente quando envolver uma equipe transdisciplinar de educadores, e também osaprendizes. As etapas possibilitam ainda a elaboração do cronograma ou o tempo deduração do projeto. As etapas de execução facilitam a identificação dos recursos –pessoas, materiais e monetários - necessários à execução de cada etapa e de todo oprojeto.

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 V – R esponsabilidades dos Educadores (orientadores) e Aprendizes (agentes)

Em decorrência das etapas, devemos estabelecer a quem cabe a responsabilidade pelaexecução de cada uma delas. O responsável pode ser uma pessoa, a equipe deeducadores e aprendizes envolvidos na execução do projeto. A definição da

responsabilidade é extremamente importante em projetos de alfabetização ecológica,tendo em vista que tais projetos quase sempre exigem a participação de diversosprofissionais para atender os preceitos da transdisciplinaridade.

 VI – Cronograma ou o Tempo do Projeto

O cronograma consiste na distribuição das etapas ao longo de um período ou prazoconsiderado necessário para a execução do projeto. Dependendo da duração do projeto,podemos detalhar o cronograma por semana ou mês. A elaboração do cronograma devepermitir o dimensionamento adequado do tempo e o envolvimento a ser despendido parao cumprimento de cada etapa. De um modo geral, os projetos não devem ter duraçãomuito curta, nem muito longa. Os curtos tendem a ser muito pontuais e os longos podemgerar desinteresse durante a sua execução. Uma sugestão é incluir metas ou objetivosespecíficos intermediários para manter os participantes motivados e ativos. Exemplo:

MÊS/SEMANA

1 2 3 4ETAPAS

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

1

234567

 VII – Orçam ento

O orçamento é outro item fundamental em um projeto de alfabetização ecológica. Nesteitem devemos detalhar os custos relativos à execução do projeto, considerando osdiversos tipos de despesas, tais como pagamento de pessoas, serviços, equipamentos,transporte, materiais, alimentação, entre outros. Para elaboramos o orçamento de umprojeto, devemos fazer um levantamento preliminar com as principais despesas que serãofeitas e os custos. Posteriormente, esses elementos devem ser quantificados possibilitandoestimar os gastos a serem executados, em cada etapa. Este item é importante quandotemos que solicitar apoio de outras entidades como empresas, prefeituras, etc..

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 VIII – Metas

Neste item devem ser relacionados as metas a serem alcançadas ao longo e ao final doprojeto, tanto sob o aspecto qualitativo quanto quantitativo. As metas estão relacionadascom os objetivos específicos e traduzem resultados a serem alcançadas em um prazo

determinado, já que constituem compromissos com o grupo e com quem está apoiando oprojeto. São características das metas: serem Mensuráveis, Específicas, Temporais, A lcançáveis e S ignificativas. Além disto, as metas não precisam ser determinadas apenasem função do cumprimento do cronograma do projeto. Outras ações podem ser incluídasou caracterizadas como metas tendo em vista a avaliação do andamento do projeto.

IX .- Avaliação e Acompanham ento

Na avaliação e acompanhamento estabelecemos as formas, os instrumentos ou os

processos que utilizaremos durante e após a execução do projeto para avaliar se osobjetivos principal e específicos estão sendo ou foram atingidos. Existem critérios deavaliação que são quantitativos, especificando, por exemplo, a quantidade de pessoasbeneficiadas. No entanto, em se tratando de processos de alfabetização ecológica, éimportante que os critérios de avaliação sejam também qualitativos, ou seja, queinformem os efeitos do processo pedagógico sobre os participantes e sobre o ambiente. Aavaliação deve revelar as ações ou produtos positivos alcançados. Quais foram asmudanças? Como podemos fazer para avançar mais? Como vamos fazer para ir além?

Temos que considerar que a alfabetização ecológica, assim como todo processo educativo,

é contínua. Se o projeto atingiu seus objetivos sempre teremos desdobramentos. As açõesnão precisam necessariamente continuar de imediato, mas temos que entender e planejaras ações futuras e os acompanhamentos periódicos ou reforços ao nosso projeto.

X – Apresentação dos Resultados ou Produtos

Se alcançamos os objetivos do projeto, temos que dar satisfação para os nossos parceirose valorizar as ações do grupo de educadores e aprendizes envolvidos. É hora demostrarmos o que fizemos. Uma exposição ou uma festa são formas de trazermos mais

gente para conhecer o projeto e ao mesmo tempo chamar gente para participar de outrosprojetos. Este também é o momento de explicitarmos o compromisso com as mudanças econvencer um maior número de pessoas mostrando como a escola está preocupada eatenta com o que acontece na comunidade e no mundo.

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CONDIÇÕES DE SUCESSO DE UM PROJETO

Compreensão do Contexto: Uma condição fundamental para o projeto ser bemsucedido depende da compreensão do contexto e a clareza com que se define a atuaçãodo grupo na realidade específica onde será desenvolvido. Uma vez decidida a realização

do projeto, devemos conceber de forma firme, porém flexível, como a intervençãoproposta pelo projeto se adapta ao contexto.

Envolvimento dos Participantes: Quanto mais um projeto representa um desafio paraos envolvidos – aprendizes e educadores – maior é a probabilidade de que venha a tersucesso. Todos devem estar convencidos da importância do tema a ser trabalhado paracada um, para o grupo e para a comunidade.

Planejamento: Projetos bem sucedidos são bem planejados. A probabilidade de o

projeto ter sucesso aumenta se houver um cronograma bem elaborado das atividades,providências e resultados, para que os participantes possam controlar o bom andamentodos trabalhos em direção ao objetivo estabelecido. Daí a importância de existirem planosde ação e metas, e também custos ou recursos necessários por atividade.

Responsabilidade: A existência de um coordenador é também uma providêncianecessária para que o projeto seja bem implementado e atinja os objetivos definidos.

Compatibilidade com o Desenvolvimento do Aprendiz: O projeto, seu objetivo e asatividades a serem desenvolvidas devem ser compatíveis com o nível de compreensão e a

capacidade de assimilação e aprendizagem dos educandos. Assim, o ideal é semprebuscar associar o tema e o projeto com os conteúdos próprios de cada série ou ciclo deaprendizagem. Torna-se necessário ajustar a linguagem e o tipo de atividade com vista acontribuir para o melhor desempenho do aprendiz.

Escolher Objetivos e Produtos Possíveis: Na escolha do objetivo devemos ficaratentos para não imaginar ações que dependam de outras instituições ou de recursosmateriais de custo elevado. Em se tratando de implementação de projetos em escolas,vamos observar que muitos desafios podem ser superados ou muitos produtos podem ser

feitos apenas no campo da pedagogia, ou através da relação entre os educadores e osaprendizes, ou entre a escola e a comunidade escolar.

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 ๏ Este manual foi escrito utilizando-se trechos integrais de livros que foram referência para a sua concepção.Enfatizamos a importância destes livros e demonstramos nosso reconhecimento, gratidão e reverência. Entreas obras apresentadas na bibliografia, destacamos: A Teia da Vida, de Fritjof Capra (Editora Cultrix – AmanáKey); A Dança da Terra, de Elisabet Sahtouris (Editora Rosa dos Tempos); e Nossa Vida como Gaia, de JoannaMacy e Molly Young Brown (Editora Gaia), dos quais foram adaptadas algumas passagens com fins

essencialmente pedagógicos. Esperamos que a leitura deste manual estimule o leitor a buscar estes e outroslivros da bibliografia para um aprofundamento dos conceitos, idéias e visões de mundo aqui sugeridos.

FICHA TÉCNICA

Texto e coordenação pedagógicaFilipe FreitasJosé Henrique P. Silveira

© Caso do leitor aprecie o trabalho e queira difundi-lo, é livre a reprodução quando citada a fonte.Em caso de publicações, gentileza entrar em contato com:

 Alternativa Educação e Manejo Am biental

Rua Viçosa, 602 – Santo Antônio – Belo Horizonte – MG – 30330-16031 3293 [email protected]@educacaoambiental.com.br 

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