A PERCEPÇÃO DO USUÁRIO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA SOBRE A SUA PRESCRIÇÃO MEDICAMENTOSA THE PATIENT’S PERCEPTION OF PRIMARY HEALTH CARE ABOUT
MEDICAL PRESCRIPTION
César Augusto Braum; Samanta Etges Fröhlich; Denise Bueno
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Faculdade de Farmácia
Departamento de Produção e Controle de Medicamentos. Avenida Ipiranga
2752, CEP 90.610-000, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Endereço para correspondência:
Denise Bueno, Profª. Drª.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Faculdade de Farmácia
Avenida Ipiranga, 2752
Porto Alegre, RS – Brasil
CEP: 90.610-000
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__________________________________
A Percepção do Usuário de sua Prescrição
1
RESUMO
A Percepção do Usuário da Atenção Primária Sobre a sua Prescrição Medicamentos Objetivo: Avaliar o conhecimento dos usuários da Farmácia da Unidade Básica
de Saúde HCPA Santa Cecília sobre o programa HIPERDIA e avaliar o nível de
entendimento que os usuários têm de suas prescrições (nome dos
medicamentos, suas indicações e rotinas).
Metodologia: O método empregado foi de corte qualitativo a partir de um
estudo descritivo. Para a coleta dos dados utilizou-se um questionário semi-
estruturado e o local da coleta dos dados foi a UBS HCPA-Santa Cecília, em
Porto Alegre. A amostra foi calculada no programa EpiInfo versão 3.3.2 o
tamanho da amostra para um intervalo de confiança de 90% (p ≤ 0,05),
obtendo-se um valor estimado de análise de 159 usuários.
Resultados: Os indivíduos que disseram ser cadastrados no programa
HIPERDIA foram 26,6% (42), 18,8% (30) usuários estavam realmente
cadastrados. No que se refere ao conhecimento do programa HIPERDIA
constatamos que apenas 20,8% (33) conheciam o programa. Os usuários que
sabiam o nome dos seus medicamentos foram 85% (135) e os que sabiam as
suas indicações foram 78,8% (125). Ao analisarmos a rotina de utilização de
medicamentos 88,8% (141) dos entrevistados disseram que não alteravam a
mesma. Os medicamentos mais receitados a estes usuários foram os
cardiovasculares (59%), hipoglicemiantes (11,4%) e analgésicos (9,5%).
Conclusão: A pesquisa qualitativa se mostra essencial para melhorar a
qualidade da relação profissional-paciente-família-instituição, a partir do
conhecimento sobre a população atendida. A presença do corpo docente nesta
UBS proporciona educação permanente aos usuários e profissionais de saúde
sobre seus medicamentos. A aquisição dos medicamentos para não
interromper o tratamento é uma preocupação importante destes indivíduos.
Entretanto, ainda existem dúvidas com relação ao manejo das doses
esquecidas.
2
INTRODUÇÃO
A falta de informações do paciente com relação à sua doença ou
tratamento, além da não compreensão das informações recebidas dos
profissionais da saúde podem ser determinantes para a não-adesão
involuntária ou voluntária do paciente ao tratamento.1,2
A não-adesão ao tratamento medicamentoso pode ser uma das razões
pelas quais medicamentos reconhecidamente eficazes sob condições
controladas resultam ineficazes quando utilizados na prática habitual. Estudos
realizados em diversos países indicam que 25% a 60% dos pacientes que
recebem uma prescrição não cumprem o tratamento estabelecido pelo
médico1,2,3 e muitos deles o interrompem quando se sentem melhores.1
Entretanto, esses estudos podem variar muito de um para outro, pois há
controvérsias quanto ao conceito de adesão e, principalmente, quanto a sua
forma de mensuração.3
Existe uma forte correlação entre a confiança do usuário no seu
tratamento, o conhecimento da prescrição e a aderência. A confiança está
relacionada com a satisfação dos indivíduos com os serviços de saúde, além
dos esclarecimentos de suas dúvidas. Pesquisas sugerem que fornecer
informação clara e responder as dúvidas dos indivíduos aumentam, não só a
confiança e o conhecimento, mas também a disposição em seguir o
tratamento.2 O trabalho de Roth et al. (2002)4 mostra que 52% dos indivíduos
disseram conhecer as indicações de seus medicamentos e 44% assumiram
necessitar de mais informações sobre sua medicação.
3
Hogerzeil (2005)5, em sua apresentação no I Congresso Brasileiro
Sobre o Uso Racional de Medicamentos em Porto Alegre (RS), concluiu que
mais da metade das prescrições são inapropriadas ou incorretas; mais da
metade dos medicamentos não são administrados corretamente pelos
pacientes e um terço da população mundial não tem acesso regular aos
medicamentos essenciais.
Esse uso irracional dos medicamentos tem aumentado a resistência aos
antimicrobianos de primeira linha para desinteria, pneumonia, gonorréia e
infecções hospitalares em 70% a 90%.5 Diante disso, o incentivo ao emprego
racional dos medicamentos, que inclui o fornecimento de orientações para que
seu consumo seja adequado, a educação dos pacientes para a adesão aos
tratamentos e dos profissionais para uma prescrição racional e correta são
algumas das atividades que estão sob a responsabilidade da profissão
farmacêutica, mesmo que tal responsabilidade não seja exclusiva.3
Em virtude da insuficiente atenção dada acerca dos medicamentos,
diversas organizações internacionais, tais como a World Health Organization,
Health Action International e a Food and Drug Administration, vêm alertando
para a necessidade crescente de melhorar os aspectos educacionais
relacionados com o paciente e os medicamentos prescritos.1 Estima-se que
25% dos medicamentos não são utilizados de forma correta por falta de
informações ao paciente, sendo uma das principais causas de intoxicação no
Brasil.6
Por isto, deve haver uma troca mutuamente benéfica, na qual o paciente
confere autoridade ao farmacêutico e este, por sua vez, oferece ao paciente
4
conhecimento e comprometimento com a melhora da sua qualidade de
vida. Esta é a filosofia da atenção farmacêutica e que exige mudanças no
comportamento profissional, incluindo aperfeiçoamento dos conhecimentos e
habilidades.7
Nos postos de saúde e Unidades Básicas de Saúde, todas essas
informações poderão ser fornecidas pelos farmacêuticos a partir de agora,
devido à Portaria 698 de março de 2006, do Ministério da Saúde, que permite
aos farmacêuticos trabalhar na atenção básica da saúde, inclusive no
Programa de Saúde da Família (PSF). Com essa Portaria a sociedade passa a
ter maior segurança quanto ao uso do medicamento. O conceito de atenção
básica, hoje ampliado, inclui, para os farmacêuticos, serviços em todos os
postos de saúde e o gerenciamento do ciclo completo da assistência.8
A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a estrutura que responde pelas
ações de atenção primária à população, sendo a principal porta de acesso da
população ao sistema de saúde. O município de Porto Alegre possui 125
postos de saúde, sendo 117 Unidades Básicas de Saúde, 8 Centros de Saúde
e 2 Hospitais. Também fazem parte da estrutura 85 equipes do Programa de
Saúde da Família.9
A Unidade Básica de Saúde HCPA-Santa Cecília, localizada na Rua São
Manoel número 543, em Porto Alegre (RS), conta com duas equipes do
Programa de Saúde da Família, uma farmácia e oferece serviços de
acolhimento, atendimento odontológico, pediatria, ginecologia e clínica geral.
Também dispõe dos serviços de vacinação e aplicação de medicamentos
injetáveis, além dos programas: Nascer, Prá-crescer, Esperança, Pré-Natal e
5
HIPERDIA (acompanhamento de pacientes hipertensos e diabéticos).10
Desde que foi inaugurada, em novembro de 2004, até maio de 2006, já foram
cadastrados 12.000 usuários, dentre eles, aproximadamente, 3.000 pertencem
ao programa HIPERDIA. A área de abrangência desta UBS, entretanto,
apresenta 35.000 usuários (ver essa referencia).
Tratando-se do programa HIPERDIA, o Ministério da Saúde é o
responsável pela aquisição e fornecimento aos municípios dos medicamentos
hidroclorotiazida 25 mg, captoptil 25 mg e propranolol 40 mg para hipertensão
arterial; os hipoglicemiantes orais glibenclamida 5mg e metformina 850 mg;
além da insulina NPH - 100 UI para diabetes mellitus. A determinação é da
portaria nº 371/GM, de março de 2002, que criou o Programa Nacional de
Assistência Farmacêutica para Hipertensão Arterial e o Diabetes Mellitus e o
HIPERDIA (sistema informatizado de base nacional que cria o cadastro
nacional de diabéticos e/ou hipertensos). Para receber os medicamentos, o
usuário deve ser cadastrado nas unidades básicas de saúde.12
Esses programas fazem parte do Plano de Reorganização da Atenção à
Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus e visam o estabelecimento de diretrizes
voltadas para o aumento da prevenção, detecção, tratamento e controle desses
agravos, no âmbito da atenção básica do Sistema Único de Saúde - SUS.
Desta forma, o programa amplia a assistência farmacêutica e oferece à
população mais uma opção de acesso aos medicamentos.12
Assim, os objetivos desse trabalho são avaliar o conhecimento dos
usuários da Farmácia da Unidade Básica de Saúde HCPA-Santa Cecília sobre
6
o programa HIPERDIA, bem como se estes se reconhecem como
cadastrados nesse programa.
A partir dos dados coletados, também pode-se avaliar o nível de
entendimento que os pacientes atendidos na farmácia têm de suas prescrições
(nome dos medicamentos, suas indicações e rotinas), além de determinar os
medicamentos mais dispensados na UBS.
7
METODOLOGIA
O método empregado foi de corte qualitativo a partir de um estudo
descritivo. O local escolhido para a coleta dos dados foi a UBS HCPA-Santa
Cecília e utilizou-se o questionário como instrumento de coleta.
O método qualitativo busca o significado das coisas (fenômenos,
manifestações, ocorrências, fatos, eventos, vivências, idéias, sentimentos,
assuntos), porque estas têm um papel organizador nos seres humanos e dão
molde à vida das pessoas. Além disso, o método tem maior rigor na validade
dos casos coletados, já que a observação dos sujeitos, por ser acurada, tende
a levar o pesquisador bem próximo da essência da questão em estudo.16
A amostra foi calculada com base nos dados de NAVES, SILVER
(2005),13 onde 18,7% dos pacientes entenderam completamente a prescrição
de medicamentos. Considerando um erro relativo previsto de 5% (com desvio
percentual entre 14 e 24%) e uma média mensal de 4.500 prescrições por mês
atendidas na UBS HCPA-Santa Cecília, calculou-se no programa EpiInfo
versão 3.3.2 o tamanho da amostra para um intervalo de confiança de 90% (p ≤
0,05), obtendo-se um valor estimado de análise de, no mínimo, 159 usuários.
Os pacientes incluídos no estudo eram maiores de 18 anos, portadores
de prescrição médica, que estavam retirando medicamentos para uso próprio e
que tinham condições de comunicar-se adequadamente.
As questões utilizadas no questionário foram autorizadas pelos
pacientes mediante assinatura do Termo de Consentimento Informado
8
previamente à aplicação do questionário. Este estudo foi aprovado pelo
Comitê de Ética e Pesquisa em Saúde do HCPA, através do parecer número
05-634.
Para a coleta dos dados utilizou-se a entrevista semi-estruturada. Essa
técnica combina perguntas fechadas (ou estruturadas) e abertas, nas quais o
entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem
respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador.14 A entrevista é um
método fundamental de coleta de dados em pesquisa qualitativa na área da
saúde, pois ajuda a entender as respostas das pessoas doentes ou de uma
situação particular.15
As entrevistas foram realizadas pessoalmente com os usuários,
conforme a sua disponibilidade, enquanto aguardam a retirada dos seus
medicamentos.
Inicialmente foram explicados os objetivos e a importância da pesquisa,
procurando estabelecer um ambiente de relacionamento agradável. As
entrevistas foram aplicadas pelo próprio pesquisador, no período de abril a
maio de 2006.
Aos entrevistados perguntou-se nome, idade, se eles eram cadastrados
no programa HIPERDIA, se eles tinham conhecimento deste programa, quais
eram os medicamentos que eles usavam, para que eles utilizavam estes
medicamentos e se eles mudavam a rotina com que utilizavam esses
medicamentos. Nesta última pergunta eram dados três exemplos de mudança
de rotina: se o usuário costuma esquecer o horário do medicamento e o que
9
faz caso esqueça, qual é conduta quando faltam os medicamentos no
posto, se o indivíduo cessa ou muda o tratamento caso se sinta bem.
Quando perguntado sobre quais eram os medicamentos que eles
utilizavam, foi levada em consideração a pronúncia dos usuários. Todos os
medicamentos da prescrição deveriam ser ditos de forma que fosse
compreensível ou que não causasse confusão com o nome de outros
medicamentos.
As indicações terapêuticas relatadas pelos usuários foram consideradas
corretas, desde que correspondessem ao principal órgão do aparelho ou
sistema do organismo em que o medicamento atua. Não foram levadas em
consideração as diferenças de terminologia empregadas pelos indivíduos.
Somente foram consideradas as prescrições as quais os usuários acertaram
todas as indicações. As indicações foram avaliadas conforme informações
presentes na receita.
Durante a entrevista era permitido que o paciente consultasse a
prescrição ou qualquer outro material para responder as questões.
Ao final da entrevista a receita foi analisada para ver quais eram os
medicamentos que estavam sendo utilizados por estes pacientes e foi checado
se estes eram cadastrados no programa HIPERDIA.
Para o tratamento dos dados empregou-se a técnica de análise do
discurso do sujeito coletivo, que consiste num conjunto de procedimentos de
tabulação e organização de dados discursivos, sobretudo (mas não
exclusivamente) daqueles provenientes de depoimentos orais “de reconstruir,
com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos
10
discursos-síntese quantos se julgue necessário para expressar uma dada
“figura", um dado pensar ou uma representação social sobre um fenômeno”. 17
11
RESULTADOS
Dentre os indivíduos pesquisados, 22% (35) eram do sexo masculino e
78% (124) eram do sexo feminino. A idade variou de 19 a 89 anos e a idade
média foi de 57 anos. O percentual de pessoas com mais de 65 anos foi de
36%. Em relação à participação no Programa HIPERDIA, apenas 18,8% (30)
eram cadastrados no programa.
Os medicamentos mais receitados foram os cardiovasculares (59%),
sendo os anti-hipertensivos hidroclorotiazida, propranolol, captopril e enalapril
os medicamentoss mais prescritos. Os hipoglicemiantes metformina,
glibenclamida, insulina NPH e insulina regular somaram 11,4% das
prescrições. O analgésico e antitérmico paracetamol foi prescrito em 9,5% das
receitas médicas.
Os indivíduos que disseram ser cadastrados no programa HIPERDIA
foram 26,6% (42), entretanto, somente 18,8% (30) indivíduos estavam
realmente cadastrados no programa. Dessas 26,6% pessoas que achavam
possuir cadastro no HIPERDIA, somente 12,8% (20) realmente eram
cadastradas, enquanto que as outras 13,8% (22) que disseram achar ser
cadastradas, na realidade não eram.
No que se refere ao conhecimento do programa HIPERDIA pelos
usuários, constatamos que, de todos os entrevistados, apenas 20,8% (33)
conheciam o programa e destes, somente 8,2% (13) eram cadastrados.
12
Quando analisamos a pronúncia dos medicamentos pelos usuários,
constatamos que 85% (135) destes indivíduos falaram o nome de todos os
medicamentos da prescrição de forma compreensível.
Os indivíduos que acertaram a finalidade de todos os medicamentos que
estavam utilizando somaram 78,8% (125).
A Tabela 1 relata as indicações informadas pelos usuários dos
medicamentos mais dispensados na UBS. Os medicamentos foram agrupados
pelas suas classes terapêuticas.
Ao analisar a rotina com que os usuários tomavam seus medicamentos,
88,8% (141) deles disseram que não alteram a sua rotina. A Tabela 2 relata o
discurso do sujeito coletivo desses usuários.
A fim de verificar se havia contradições nos discursos dos indivíduos que
disseram não alterarem a sua rotina, foram dados três exemplos de mudança
de rotina. A Tabela 3 relata o discurso do sujeito coletivo dos usuários quando
perguntados se esqueciam o horário de seus medicamentos e o que faziam
caso esquecessem. Destes, 83% (132) disseram não esquecer de tomar.
Quando analisou-se a conduta dos usuários da UBS quando faltam
medicamentos na unidade podemos ver que 62,9% (100) destes, acabam
comprando-os; 20,1% (32) tentam conseguir em outros postos da região e no
caso de não conseguirem acabam comprando-os; 7,5% (12) tentam conseguir
seus medicamentos somente nos postos; 6,9% (11) nunca ficaram sem
medicamentos na UBS e 3,1% (5) esperam que os medicamentos cheguem na
unidade básica. A Tabela 4 descreve a atitude dos usuários com a falta de
medicamentos.
13
Grande parte dos usuários - 81,2% (129) -, disse não cessar ou
alterar o seu tratamento caso se sinta bem. A Tabela 5 descreve a atitude dos
indivíduos em relação à manutenção de seus tratamentos.
14
DISCUSSÃO
As principais limitações deste estudo se devem, principalmente, a UBS
HCPA-Santa Cecília estar localizada dentro do Campus da Saúde da UFRGS.
Esta região de Porto Alegre possui o maior número de profissionais da saúde,
e muitos destes profissionais (médicos, enfermeiros, farmacêuticos,
nutricionistas) fazem parte do corpo docente da universidade e os discentes
realizam estágios nesta UBS. Outro ponto a considerar é que a UBS fica em
uma região movimentada, com fácil acesso aos meios de transporte, rodeada
de inúmeras farmácias e próximas a postos de saúde. Assim, podemos
constatar que a população estudada tem acesso contínuo a informações, bem
como acesso facilitado para aquisição de medicamentos.
Todas essas considerações caracterizam a UBS HCPA Santa Cecília
como um lugar atípico de Porto Alegre e muitos dos resultados encontrados
aqui podem não refletir a realidade da maioria dos postos e unidades básicas
de saúde da cidade.
A maioria dos entrevistados eram mulheres, a média de idade ficou
acima dos 50 anos e uma considerável parcela era de idosos. Estes dados
coincidem com a faixa etária dos moradores do bairro onde se encontra a UBS
HCPA-Santa Cecília, conforme o cadastramento realizado em 2004.18 Esses
achados corroboram com o trabalho de SILVA et al. (2000)1, no qual o
percentual de mulheres entrevistadas foi superior (75%) ao de homens e a
média de idade foi semelhante ao encontrado nesse estudo. No estudo de
15
BURGE et. al. (2005)4, a média de idade também foi semelhante e o
percentual de pessoas com mais de 65 anos foi de 25%.
O maior número de mulheres buscando atendimento na Farmácia da
UBS em relação aos homens pode refletir maior longevidade das mulheres.19
Elas apresentam uma postura diferente em relação às doenças e ao conceito
de saúde, sendo mais inclinadas a prestar atenção aos sinais e sintomas e a
procurar assistência mais freqüentemente que os homens.19,20 Além disso,
vários programas de saúde (pré-natal, prevenção de câncer de colo uterino e
de mama) são voltados para as mulheres; em função disso, elas ficam mais
sujeitas a tomar medicamentos.20
Os medicamentos mais dispensados foram os cardiovasculares,
hipoglicemiantes e analgésicos. Esses resultados foram similares aos descritos
na literatura por FLORES et al. (2005)19 e NAVES, SILVER (2005),13 onde os
grupos de medicamentos mais prescritos foram os cardiovasculares (26,8%),
antiinfecciosos (13,1%), analgésicos (8,9%), anti-asmáticos (5,8) e anti-
diabéticos (5,8%). Como as doenças cardiovasculares vêm liderando as
causas de morbi-mortalidade em indivíduos com idade acima de 65 anos, os
medicamentos cardiovasculares têm sido amplamente prescritos pelos
médicos.19
Quando analisamos o número de pessoas que disseram ser cadastradas
no programa HIPERDIA (26,6%), observou-se que apenas 18,8% eram
realmente cadastradas, as outras 7,8% que não estavam cadastrados,
possivelmente confundiram o cadastro da UBS com o de retirada de
medicamentos.
16
Dos usuários que pertenciam ao programa HIPERDIA (18,8%),
somente 8,2% sabiam ser cadastrados, os outros 10,6% que são cadastrados
e desconhecem o programa, provavelmente também confundiram ser
cadastrados na UBS para retirada de medicamentos. É possível que esse
baixo número de pessoas que se reconhecem cadastradas no Programa
HIPERDIA se dê em virtude do descrédito da população na continuidade dos
Programas já criados e extintos no país. Para os que se reconhecem, a sigla
pode estar relacionada a “um dia grande” ou um “dia cheio de atividades”, ou
seja um momento agradável.
Era de se esperar que o programa fosse mais difundido entre a
população que freqüenta essa UBS, visto que os medicamentos
cardiovasculares e hipoglicemiantes encontram-se entre os mais dispensados
nesta unidade básica.
Com relação ao nome do medicamento, a situação não é simples, visto
que existem nomes “fantasia” diferentes para o mesmo fármaco e, além disso,
esses podem ter a embalagem, a cor e a forma variados. Pelo fato de alguns
prescritores não utilizarem a denominação genérica, foi aceito qualquer nome
que levasse a identificação do medicamento prescrito. Podemos constatar que
85% dos usuários sabiam o nome de seus medicamentos.
Este alto percentual pode ser um reflexo da presença de uma grande
população de idosos na região da UBS e grande parte dessas pessoas
utilizarem medicamentos para doenças crônicas há muitos anos, o que resulta
na familiarização dos usuários com o nome de seus medicamentos. Os
prescritores que atendem na atenção primária à Saúde no SUS devem
17
prescrever medicamentos pela denominação comum brasileira ou
internacional (DCB ou DCI), observamos que há empenho para isto na UBS em
questão.
Quando analisamos a idéia “não mudo a rotina”, em relação à pergunta
“Você costuma mudar a rotina com que toma os seus medicamentos?”,
podemos notar um indivíduo que se preocupa em tomar seus medicamentos
diariamente. E muitos deles associam as refeições com a administração de
seus medicamentos. Outras pessoas não dão a devida atenção aos horários,
mas sim aos turnos. Desta forma, constatamos que as pessoas realmente não
mudam as suas rotinas, entretanto não sabemos até que ponto as suas rotinas
podem ser consideradas corretas.
A resposta “mudo a rotina” caracterizou dois tipos de comportamento: O
indivíduo que não carrega seus medicamentos quando sai de casa, e aquele
que toma o medicamento conforme esteja se sentindo naquele momento.Isso
demonstra pessoas que tomam seus medicamentos de forma circunstancial.
O discurso “Não gosto de tomar medicamento, principalmente
antiinflamatório e podendo deixo o organismo agir por si próprio e não tomo o
medicamento”, mostra uma pessoa que dificilmente adere às terapias
medicamentosas, e que, por pensar dessa forma, pode acabar agravando
doenças que poderiam ser facilmente tratadas.
As idéias “não esqueço o horário”, “até agora nunca esqueci”, “obedeço
os horários e não esqueço” são respostas à pergunta “O senhor(a) costuma
esquecer o horário do medicamento e o que faz caso esqueça?” Esse discurso
18
caracteriza um sujeito ativo, autônomo, e que não apresenta problemas em
suas propriedades cognitivas.
Respostas do tipo “tomo pela manhã com o café”, “tomo sempre pela
manhã e a noite”, “tomo no mesmo horário porque tomo com as refeições”
mostram um indivíduo que não se preocupa muito com os horários, mas sim
em tomar os seus medicamentos. Os idosos possuem certa fidelidade aos
horários das refeições sendo provável que não haja problemas com as doses
dos medicamentos para este grupo.
As idéias de não esquecer os horários e de tomar os medicamentos nas
refeições refletem um indivíduo que, apesar da polifamácia a qual muitos
destes estão sujeitos, possuem um rigor com a administração de seus
medicamentos. BURGE et al. (2005),2 em seu trabalho com indivíduos em
tratamentos crônicos, pôde constatar que aqueles indivíduos que tomavam
muitos medicamentos eram mais aderentes aos seus tratamentos. Essa
aderência poderia ser explicada pelo fato dos prescritores se ocuparem mais
com esses indivíduos visando diminuir o risco de interações medicamentosas.
Quanto ao esquecimento de tomar o medicamento foram observadas
respostas do tipo “às vezes esqueço”, “esqueço de tomar quando saio”, “às
vezes esqueço de tomar a sinvastatina à noite, daí acabo tomando na manhã
do outro dia”, o que evidencia um indivíduo que quando se esquece de tomar
medicamento no horário determinado, toma mais tarde, quando se recorda, no
outro dia, ou em dose dobrada . Existe um grupo que esquece de tomar o
medicamento e que não sabe como proceder.
19
Os discursos à pergunta “Qual é a conduta do senhor(a) quando
faltam os medicamentos na Unidade Básica de Saúde?” mostram um indivíduo
preocupado em conseguir seus medicamentos. Idéias como: “eu tento em
outros postos e caso não tenha aí tenho que comprar”, “sempre tenho de
reserva o remédio”, mostram que as pessoas possuem mais de uma alternativa
para conseguirem seus medicamentos.
TEIXEIRA et al. (2001)15 relataram que para muitas pessoas, por mais
dificuldades que existam, o medicamento prescrito deve ser obtido de qualquer
forma. A importância para sua aquisição, no sentido da conquista da saúde, é
de alta relevância.
Entretanto, na idéia central “não adquire o medicamento”, podemos ver
que o principal empecilho para a aquisição dos medicamentos para essas
pessoas é o valor destes. Assim, a conduta realizada é parar ou reduzir os
seus tratamentos até que a UBS ou outros postos da região possuam o
medicamento. Contudo, existem medicamentos que por meses não são
reabastecidos nos postos e unidades básicas.
O Brasil apresenta elevada desigualdade social, havendo estimativas de
que existem mais de 50 milhões de brasileiros que são excluídos do consumo
de medicamentos, devido ao baixo poder aquisitivo. Dessa forma, podemos ter
um diagnóstico e uma prescrição corretamente realizados, sem que o paciente
alcance sucesso terapêutico por dificuldades no acesso ao produto.21
As idéias “só tomo quando me sinto mal”, “se eu sinto que já estou bem
eu paro a medicação”, “tomo conforme eu necessite” são respostas à pergunta
“O Senhor(a) costuma cessar ou mudar o seu tratamento caso se sinta bem?”
20
Esse tipo de discurso mostra um indivíduo que muitas vezes precisa
passar pela dor, sofrer um grande desconforto ou, nos piores casos, ser
hospitalizado para voltar a tomar os seus medicamentos. Muitas dessas
pessoas não conseguem ter a consciência de que é importante que seus
tratamentos sejam feitos pelos períodos determinados e nas doses corretas.
Outro fator que pode estar subentendido nessa não adesão
medicamentosa é a falta de ênfase por parte dos profissionais da saúde em
informar que o medicamento deve ser tomado “para sempre” ou pelo período
pré-estabelecido pelo médico. Deve-se ressaltar que, se o indivíduo está se
sentindo bem agora é justamente por causa do medicamento e se ele
interromper o tratamento pode vir a ter problemas de saúde.
Já, as idéias “não paro nunca de tomar meus remédios”, “vou tomar pelo
tempo que o médico decidir”, “eu tenho consciência de que não posso parar”,
“nunca paro o tratamento porque posso passar mal” mostram um indivíduo já
conformado com a sua situação de saúde. Provavelmente, alguns deste
chegaram a sofrer algum prejuízo de saúde que os levaram a ter esta
concepção de nunca parar a sua terapia; outros podem ter parentes que
tiveram suas vidas comprometidas em virtude desta falta de adesão ao
medicamento; e é claro, que muitos resolveram seguir seus tratamentos
corretamente após o esclarecimento de médicos, enfermeiros e farmacêuticos
sobre suas doenças e sobre os benefícios que a medicação poderia lhes
oferecer.
21
CONCLUSÕES
O fato do corpo docente da UFRGS atuar na formação de profissionais
na UBS HCPA-Santa Cecília pode justificar o nível elevado de conhecimento
dos usuários desta unidade com relação aos seus medicamentos. Desta forma,
o processo educacional em relação aos medicamentos é assíduo. Por conta
deste processo educacional, ressalta-se que a grande maioria das pessoas
toma seus medicamentos rotineiramente conforme a sua prescrição.
As pessoas se mostraram muito preocupadas em adquirir seus
medicamentos, sendo que a grande maioria acaba comprando ou então
recorrendo a outros postos da região quando ocorre a falta dos medicamentos
na UBS. Apenas uma pequena parcela, mas de qualquer forma importante,
acaba esperando que seus medicamentos cheguem na UBS para continuar
seus tratamentos. O cadastramento no Programa HIPERDIA que poderia ser
uma ferramenta na aquisição dos medicamentos, parece ser pouco conhecido
pelos usuários.
Com relação ao manejo com as doses esquecidas, observou-se que as
pessoas ainda possuem dúvidas na maneira de proceder. A idade avançada
de grande parte dos usuários da UBS diminui as propriedades cognitivas
dessas pessoas, tornando-as suscetíveis ao esquecimento de horários.
O conhecimento das significações dos fenômenos do processo saúde-
doença é essencial para melhorar a qualidade da relação profissional-paciente-
família-instituição. Entender mais profundamente certos sentimentos, idéias e
comportamentos dos usuários, assim como de seus familiares e mesmo da
22
equipe profissional de saúde pode promover maior adesão da população
aos tratamentos ministrados individualmente e de medidas implementadas
coletivamente16.
23
REFERÊNCIAS
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Tabela 1: Discurso do sujeito coletivo de 125 indivíduos para as classes de
medicamentos mais dispensadas, em resposta à pergunta:
“Para que finalidade o(a) senhor (a) toma esses medicamentos?”
Classe de Medicamentos Discurso do sujeito coletivo Medicamentos cardiovasculares Tomo para a pressão. Tomo para controlar a
pressão. Tomo para hipertensão. Estou usando para arritmia. Esse eu tomo para urinar. Esse é um diurético para controlar a pressão. Tomo para afinar o sangue. Esse é para a circulação. Esse o médico disse que é um anticoagulante. Tomo este para o coração. Esse é para a disritmia cardíaca. Para prevenir doenças do coração. Esse eu estou tomando para o colesterol alto. Esse é para eliminar gorduras do sangue. Tomo para evitar o infarto.
Medicamentos hipoglicemiantes Tomo porque sou diabético. Tomo para manter o açúcar do sangue bom. Esse eu tomo pra diabete.
Analgésico e antitérmico Tomo para dor no dedo. Esse é para dor de dente. Esse é para dor. Uso quando tenho febre. Estou usando atualmente para dor pós-cirúrgica. O médico receitou para artrite. Uso por causa da dor do câncer de pele. Estou tomando para dor articular. É para dor do reumatismo.
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Tabela 2: Discurso do sujeito coletivo de todos os indivíduos pesquisados,
em resposta à pergunta:
“Você costuma mudar a rotina com que toma os seus medicamentos?”
Idéia Central Discurso do sujeito coletivo Não muda a rotina Não mudo a rotina porque tomo sempre no mesmo
horário. Tomo sempre no mesmo horário. Costumo ter a mesma rotina sempre. Tomo os dois comprimidos pela manhã. Sou altamente controlado para tomar meus medicamentos. Tomo certo porque o médico disse que não posso parar de tomar. Sempre tomo de manhã com o café. Essa é a primeira vez que tomo esses medicamentos e pretendo tomar sempre certo. Não mudo porque tomo com os alimentos. Sempre tomo meus remédios de forma certa. Até agora nunca esqueci o horário do remédio. Tomo sempre pela manhã e pela noite. Tomo conforme a receita manda. Tomava sempre da mesma forma e só mudei porque o médico pediu. Tomo sempre certo porque tenho enfermeira em casa. Em geral sigo a orientação médica. Sou pontual com os meus horários. Tomo meus medicamentos conforme as refeições ou conforme o turno, não dou bola para horas. Só mudo a rotina se o médico mandar. Tomo continuamente. Tomo os remédios da pressão pela manhã e pela noite. Tomo sempre certo, pois sou controlado pelo Centro de Pesquisa de Diabetes. Tomo sempre na primeira hora da manhã. É difícil eu mudar a minha rotina. Tomo exatamente como o doutor manda. Os meus remédios já viraram rotina, nunca esqueço, pois tomo com os alimentos.
Muda a rotina Tomo de vez em quando. Tomo só quando me sinto mal. Às vezes mudo a rotina por causa do horário, principalmente quando vou sair. Quando saio eu tomo quando lembro. Eu sei que tenho que tomar 3 vezes ao dia, então eu tomo conforme dá. Não gosto de tomar medicamento, principalmente antiinflamatório e podendo deixo o organismo agir por si próprio e não tomo o medicamento. Parei de tomar meus remédios, mas tive que voltar a tomar porque o médico mandou. Mudo a rotina às vezes.
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Tabela 3: Discurso do sujeito coletivo de todos os indivíduos pesquisados,
em resposta à pergunta:
“O senhor (a) costuma esquecer o horário do medicamento e o que faz caso
esqueça?”
Idéia Central Discurso do sujeito coletivo Não esqueço o horário Tomo no mesmo horário. Tomo sempre pela manhã.
Não costumo esquecer. Nunca esqueci, pois tomo pela manhã com o café. Sempre tomo meus remédios no horário. Tomo sempre no mesmo horário, mas nunca esqueço. Posso tomar um pouco atrasado, mas nunca esqueço. Acho que não aconteceu de esquecer os horários. Não esqueço porque separo meus remédios pela cor. Geralmente costumo respeitar os horários. Dificilmente esqueço. Até agora nunca esqueci os horários. Tomo sempre pela manhã e a noite. Geralmente tomo no mesmo horário porque tomo com as refeições. O remédio da pressão eu nunca esqueço porque eu tomo com as refeições. Sou pontual nos meus horários. Costumo tomar os medicamentos no mesmo horário para que façam efeito mais rápido. Nunca esqueço, pois passo mal se esquecer. Nunca esqueço porque tomo após as refeições. Tomo sempre igual como os médicos mandam. Tomo os remédios da pressão pela manhã e à noite. Tomo sempre certo, pois sou controlado pelo Centro de Pesquisa de Diabetes. Raramente esqueço. Obedeço os horários e não esqueço. Os meus remédios já viraram rotina e eu não esqueço de tomar.
Esqueço o horário Às vezes esqueço de tomar os comprimidos do meio dia. Às vezes esqueço. Esqueci de tomar e fui parar no pronto socorro. Esqueço de tomar quando saio. Às vezes esqueço de tomar a sinvastatina à noite, daí acabo tomando na manhã do outro dia. È comum eu esquecer o horário. Costumo esquecer os remédios do horário da manhã, quando eu saio de casa.
Manejo caso esqueça Quando esqueço tomo quando lembro e o próximo toma mais tarde. Quando esqueço tomo no próximo horário. Quando esqueço, tomo quando lembro e faço o acerto de hora da próxima dose. Caso eu esqueça eu tomo quando lembro e procuro um médico para ver se fiz certo. Quando esqueço o horário, tomo o próximo em dose dupla. Quando esqueço, tomo quando lembro e o próximo tomo na hora certa. É a primeira vez que tomo esse remédio e caso eu
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esqueça, vou tomar quando lembrar e alterar o horário do próximo comprimido. Se não tomo no horário, tomo só no próximo horário. Quando vou sair tomo os remédios todos na mesma hora ao invés de tomar cada um na sua hora. Quando saio, tomo quando lembro. O remédio da diabete eu tomo 2 ao invés de 3 devido o horário em que vai dormir. Caso eu esqueça de tomar o T4 eu tomo após 2h conforme a prescrição do médico. Quando esqueço fico em dúvida se tomo ou não. Quando esqueço a pressão sobe e aí vou no posto tomar medicação. Tomo só quando sinto dor. É a primeira vez que vou tomar esses medicamentos e não sei o que fazer caso esqueça o horário.
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Tabela 4: Discurso do sujeito coletivo de todos os indivíduos pesquisados,
em resposta à pergunta:
“Qual é a conduta do senhor(a) quando faltam os medicamentos na Unidade
Básica de Saúde?”
Idéia Central Discurso do sujeito coletivo Adquire o medicamento Eu tento em outros postos e caso não tenha aí
tenho que comprar. Nunca tive problema com a falta de medicamentos. Caso falte na UBS eu compro. Sempre venho pegar antes que falte. Nunca faltou medicamentos para mim, mas caso falte eu vou comprar. Quando falta, eu mando manipular. Se não tem aqui, vou no posto Modelo. Sempre tenho de reserva o remédio e nunca fico sem. Se não consigo nos outros postos tento conseguir com alguma vizinha um pouco até que o medicamento chegue na UBS. Se tenho dor não dá para esperar os remédios e daí tenho que comprar. Se falta eu compro, caso tenha dinheiro ou tento nos outros postos. Se falta remédios vou no postão. Se não tem eu compro porque são baratos.
Não adquire o medicamento Às vezes espero chegar o medicamento no posto, porque não posso comprar. Se não tem no posto fico sem e espero chegar. Dependendo do preço do remédio eu não compro. Caso falte no posto, se eu tiver dinheiro eu compro, se não espero. Caso eu tenha que comprar, eu compro menos comprimidos e diminuo o número de vezes ao dia que tenho que tomar.
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Tabela 5: Discurso do sujeito coletivo de todos os indivíduos pesquisados,
em resposta à pergunta:
“O Senhor (a) costuma cessar ou mudar o seu tratamento caso se sinta bem?”
Idéia Central Discurso do sujeito coletivo Altera o tratamento Só tomo quando me sinto mal. Tenho que
tomar finasterida para hiperplasia da próstata, mas não gosto de tomar por causa da impotência. Se eu sinto que já estou bem eu paro a medicação por minha conta. Não cesso o tratamento, mas já dei uma moderada e daí minha pressão se alterou. Eu paro de tomar os medicamentos se me sinto bem, sem que o médico diga para eu parar. Tomo conforme eu necessite. Já parei o tratamento pra diabete por me sentir melhor. Admito que já parei com meu tratamento uma vez e me senti muito mal. Parei de tomar meus remédios e agora voltei a tomar de novo. Não to sentindo nada então to pensando em parar de tomar. Tomo sempre, mas às vezes eu diminuo a dose se me sentir bem.
Não altera o tratamento Não paro nunca de tomar meus remédios. Vou tomar pelo tempo que o médico decidir. Eu tomo sempre mesmo estando bem. Mesmo estando bem eu vou até o final do tratamento. Não paro o tratamento. Eu ainda não melhorei, mas continuo o meu tratamento. Só paro se o médico mandar. Eu tenho consciência de que não posso parar de tomar meus remédios. Só mudo meu tratamento se o médico mandar. Perguntei para o médico se eu podia parar de tomar os meus remédios e ele disse que eu vou ter que tomar pra sempre. Vou tomar o meu remédio até que eu não sinta mais dor. Acho que meus remédios são de uso contínuo e então não vou poder parar. Só cesso com ordem médica. Meu tratamento é contínuo, então não posso parar de tomar. Nunca paro o tratamento porque posso passar mal.