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    PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIAPortal Educação

    CURSO DE

    FÁRMACOS QUE ATUAM NO

    SISTEMA NERVOSO CENTRAL

     Aluno:

    EaD - Educação a Distância Portal Educação

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    CURSO DE

    FÁRMACOS QUE ATUAM NOSISTEMA NERVOSO CENTRAL

    Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para estePrograma de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuiçãodo mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contidosão dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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    SUMÁRIO

    1. FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

    1.1 FÁRMACOS SEDATIVOS E HIPNÓTICOS

    1.1.1 Barbitúricos

    1.1.2 Benzodiazepínicos

    1.1.3 Hipnóticos Não Benzodiazepínicos

    1.1.4 Buspirona

    1.2 FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS

    1.2.1 Antidepressivos Tricíclicos

    1.2.2 Antidepressivos de Segunda e Terceira Geração (Heterocíclicos)

    1.2.3 Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina

    1.2.4 Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO)

    1.3 SAIS DE LÍTIO

    1.4 ANTICONVULSIVANTES

    1.4.1 Fármacos que aumentam a inibição mediada pelos canais de sódio

    1.4.2 Fármacos que inibem os canais de cálcio

    1.4.3 Fármacos que aumentam a inibição mediada pelo GABA

    1.4.4 Fármacos que inibem os receptores de glutamato

    1.5 ANTIPSICÓTICOS

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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    1. FARMACOLOGIA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

    Os fármacos que atuam no sistema nervoso central (SNC) possuem grande

    valor na terapêutica, pois podem exercer efeitos psicológicos e fisiológicos

    específicos, como alívio da dor, reduzir a temperatura corporal, suprimir o

    movimento desordenado, induz o sono ou o despertar, reduz o apetite ou a

    tendência ao vômito. Os fármacos de ação seletiva podem ser usados para tratar a

    ansiedade, mania, depressão ou esquizofrenia sem alterar o estado de consciência

    do indivíduo. Muitos desses fármacos assemelham-se no sentido de levarem ao uso

    compulsivo, a dependência física e a efeitos colaterais tóxicos. Esses riscos para a

    saúde dos indivíduos são impulsionados pelo uso indiscriminado, pela prescrição

    irracional e automedicação. As principais classes de fármacos atuantes no SNC

    utilizadas na terapêutica serão abordadas neste curso.

    1.1 FÁRMACOS SEDATIVOS E HIPNÓTICOS

    Os agentes sedativo-hipnóticos produzem sedação, sono, inconsciência,

    anestesia cirúrgica, coma e depressão respiratória e da função cardiovascular,

    dependendo da dose. Um fármaco sedativo é definido como um agente capaz de

    reduzir a excitação e exercer efeito calmante, sem induzir ao sono, embora produza

    sonolência. A sedação está relacionada à diminuição da estimulação estando

    associada a alguma redução da atividade motora e do processo de pensamento. Um

    agente hipnótico induz ao e/ou mantém o sono, semelhante ao estado de sono

    natural. Em altas doses, os hipnóticos podem levar à anestesia geral. Ambos os

    fármacos deprimem o SNC com leves diferenças nas relações de tempo e ação,

    assim como dose e ação.

    Esses agentes são classificados como:

      Barbitúricos;  Benzodiazepínicos;

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    quando acordado precocemente. Pode ocorrer tontura, distorções do humor,

    irritabilidade e letargia pela manhã, após uma dose noturna. A dose sedativa de um

    barbitúrico de ação mais longa produz sonolência, redução da ansiedade e daexcitabilidade. Todavia, essa ação ansiolítica não se mostra seletiva.

    O aprendizado, a memória em curto prazo e o raciocínio, são influenciados

    com tratamento com barbitúricos. Em doses hipnóticas os barbitúricos levam a

    ligeira redução da pressão arterial, da frequência cardíaca, redução do tônus e da

    motilidade do intestino. Em doses anestésicas, os barbitúricos reduzem a contração

    muscular, ao deprimir a excitabilidade da junção neuromuscular. Em doses tóxicas,

    a função respiratória é deprimida; queda acentuada da pressão arterial com

    depressão do centro vasomotor e bloqueio ganglionar; diminuição da contratilidade

    cardíaca; redução do fluxo urinário e oligúria.

    Os barbitúricos atuam no receptor de GABA subtipo GABAA potencializando

    a ação GABAérgica, aumentando o tempo de abertura do canal de cloreto induzida

    pelo GABA, exercendo ação alostérica. Dessa forma, inibem a liberação de

    neurotransmissores dependentes do cálcio, deprimem a despolarização neuronal

    induzida pelo glutamato por meio dos receptores AMPA. Em concentrações

    elevadas, são capazes de deprimir os canais de sódio e de potássio.

    Barbitúrico Ação

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    FENOBARBITAL PROLONGADA

    PENTOBARBITAL PROLONGADA

    SECOBARBITAL PROLONGADA

    O uso dos barbitúricos é bastante limitado já que apresenta estreito índice

    terapêutico. O fenobarbital é utilizado no tratamento da epilepsia na dose de 30-60

    mg/3x dia por via oral e o tiopental empregado na anestesia. Como agentes

    ansiolíticos e hipnóticos foram substituídos pelos benzodiazepínicos. O fenobarbital

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    pode ainda ser utilizado para acelerar a resolução da icterícia hemolítica por

    melhorar o transporte hepático da bilirrubina nestes pacientes.

    Em relação a sua farmacocinética, os barbitúricos são bem absorvidos pelotrato gastrintestinal e apresenta boa distribuição corporal. A penetração no SNC

    depende da lipossolubilidade da molécula, o tiopental é altamente lipossolúvel

    penetrando quase que imediatamente no SNC. A ligação às proteínas plasmáticas é

    bastante variável no grupo, o tiopental liga-se 75% enquanto o fenobarbital 20%. É

    importante destacar que a lipossolubilidade do tiopental, faz com que ocorra a

    redistribuição do fármaco, ou seja, após a administração o fármaco se acumula nos

    tecidos gordurosos prolongando seu efeito. Os barbitúricos induzem ao metabolismo

    de vários fármacos, como varfarina, anticoncepcionais, griseofulvina e teofilina,

    reduzindo a sua eficácia.

    Alguns indivíduos tratados com barbitúricos apresentam excitação, sendo a

    ocorrência mais comum em pacientes idosos. A ocorrência de precipitação de

    porfiria em alguns indivíduos constitui uma idiosincrasia. Um quadro de

    hipersensibilidade, exantema, edema nas pálpebras e nos lábios é apresentado por

    alguns pacientes. Verifica-se o desenvolvimento de tolerância com doses repetidas

    de barbitúricos. Ocorre dependência física e psicológica, risco para o uso abusivo.

    Os sintomas de abstinência consistem em alucinação, convulsão, delírio, excitação e

    morte.

    1.1.2 Benzodiazepínicos

    O clordiazepóxido e o diazepam foram introduzidos na década de 60 como

    agentes ansiolíticos. Desde então essa classe adquiriu popularidade, substituindo os

    barbitúricos tanto como agentes hipnóticos quanto como sedativos. Das diversas

    razões que levaram os benzodiazepínicos a serem amplamente utilizados na clínica,

    pode-se citar seu alto índice terapêutico, o risco de depressão respiratória e da

    função cardiovascular necessitar de doses mais elevadas que as doses hipnóticas,

    não alteram a eliminação de outros fármacos por indução das enzimas microssomais

    e o desenvolvimento de um antagonista para reversão do quadro de

    envenenamento.

    O termo benzodiazepina  refere-se à porção da estrutura composta de umanel benzênico ligado a um anel diazepínico de 7 membros (Figura 6). Contudo, já

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    que todos os BZDs contêm um substituinte 5-aril e um anel 1,4-diazepina, o termo

    significa 5-aril-1,4-benzodiazepinas.

    FIGURA 2 – ESTRUTURA DOS PRINCIPAIS BENZODIAZEPÍNICOS UTILIZADOS

    NA CLÍNICA.

    COMPOSTO R1  R2  R3  R4 

    Diazepam Cl CH3  H2  HNitrazepam NO2  H H2  HFlurazepam Cl (CH2)2N(C2H5)2  H2  FFlunitrazepam NO2  H H2  FOxazepam Cl H OH HTemazepam Cl CH3  H2  HClonazepam NO2  H H2  ClLorazepam Cl H OH ClClorazepato Cl H COOH HNordiazepam Cl H H2  H

    FONTE: Goodman e Gilman, 2006.

    Os benzodiazepínicos atuam preferencialmente sobre a formação reticular

    ascendente do mesencéfalo (que mantém o estado de vigília) e sobre o sistema

    límbico (funções de pensamento e mental). O relaxamento muscular é produzido

    pela ação dos benzodiazepínicos sobre o cerebelo. Esses efeitos resultam da

    ligação dos benzodiazepínicos no sítio alostérico no receptor GABAérgico GABAA –

    denominado receptor de benzodiazepínicos, aumentando a transmissão inibitória

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    pré/pós-sináptica (Figura 7). O mecanismo de ação assemelha-se ao dos

    barbitúricos, sendo que diferente destes os benzodiazepínicos aumenta a frequência

    de abertura e não o tempo que o canal de cloreto fica aberto como faz o primeiro.A ação dos benzodiazepínicos no SNC é semelhante, diferindo em algumas

    particularidades como seletividade e a sequência temporal de ação. Os

    benzodiazepínicos exercem efeitos hipnóticos, ansiolíticos, miorrelaxantes e

    anticonvulsivantes relativamente seletivos. Como agentes hipnóticos, os

    benzodiazepínicos reduzem o tempo de latência para o sono e aumenta a duração

    do sono no estado natural, efeito observado naqueles indivíduos com pelo menos 6

    horas de sono, tais efeitos hipnóticos declinam com a administração após 1-2

    semanas.

    O efeito ansiolítico dos benzodiazepínicos é indicado para alívio da

    ansiedade e estado de agressividade, esse efeito é obtido em doses menores que a

    dose utilizada como hipnótico.

    Os benzodiazepínicos produzem relaxamento do musculoesquelético

    mediado centralmente, sem comprometimento da atividade voluntária. O

    clonazepam e o diazepam possuem atividade miorrelaxante mais pronunciada, e

    doses muito altas deprimem a transmissão muscular.

    A atividade anticonvulsivante é exibida principalmente pelo clonazepam,

    diazepam, nitrazepam e flurazepam, sendo utilizada no tratamento da epilepsia,

    entretanto, sua utilização por pacientes epilépticos é limitada, pois há risco do

    desenvolvimento de tolerância. O alprazolam além da ação hipnótica e sedativa

    exibe atividade antidepressiva.

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    FIGURA 3 – RECEPTOR DE GABAA  E SÍTIO DE LIGAÇÃO DOS

    BENZODIAZEPÍNICOS (BDZ)

    FONTE: Katzung, 2003.

    Os efeitos cardiovasculares dos benzodiazepínicos em indivíduos normais

    são mínimos, exceto em casos de intoxicação. A administração intravenosa de

    doses pré-anestésicas reduz a pressão arterial e aumentam a frequência cardíaca.

    O midazolam reduz a resistência periférica, e o diazepam reduz o trabalho

    ventricular esquerdo e o débito cardíaco, assim como o aumento do fluxo coronário.

    Alguns gastroenterologistas relatam melhora de vários distúrbios gastrintestinais

    relacionados com a ansiedade com o uso do diazepam, estudos indicam que o

    diazepam reduz significativamente a secreção gástrica noturna em seres humanos.Os benzodiazepínicos são bem absorvidos por via oral enquanto que a

    absorção por via intramuscular é lenta e irregular, com exceção do lorazepam. A

    ligação às proteínas plasmáticas varia acentuadamente, de 10% para o flurazepam

    e 99% para o diazepam. São amplamente distribuídos por todo o corpo. Os

    benzodiazepínicos com alta lipossolubilidade penetram rapidamente no SNC e sua

    concentração plasmática declina em razão da fase de distribuição e posteriormente

    pela sua eliminação. São metabolizados no fígado por reações de desalquilação ehidroxilação, formando inúmeros metabólitos, sendo que a maioria desses preserva

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    as atividades farmacodinâmicas e apresentam o tempo de meia-vida maior que o da

    molécula original (Figura 8). Os fármacos com tempo de meia-vida longa ou que

    apresentam metabólitos ativos acumulam-se com o seu uso à noite, estendendo suaação até o dia seguinte.

    Os benzodiazepínicos podem ser divididos de acordo com o tempo de meia-

    vida de eliminação:

      Duração ultracurta (4-6 h) – TRIAZOLAM (0,125-025 mg),

    MIDAZOLAM (7,5 mg), TEMAZEPAM (10-20 mg);

      Curta duração (12 - 18h) – LORAZEPAM (2-4 mg) (metabolismo só por

    conjugação), OXAZEPAM (15-30 mg, 3-4x/dia);  Média duração (12 - 24 h) – ALPRAZOLAM (0,25-2 mg), NITRAZEPAM

    (5-10 mg);

      Longa duração (> 24 h) – FLURAZEPAM (15-30 mg), CLONAZEPAM

    (0,5-2 mg), FLUNITRAZEPAM (1-2 mg), DIAZEPAM (5-10 mg)

    FIGURA 4 – BIOTRANSFORMAÇÃO DOS BENZODIAZEPÍNICOS

    FONTE: Katzung, 2003.

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    Os benzodiazepínicos de curta duração são indicados para pacientes que

    reagem desfavoravelmente a ambientes não familiares ou horários incomuns de

    sono e com dificuldade no início do sono. Já os de longa duração são indicados parainsônia crônica, insônia em curto prazo com ansiedade, despertar noturno frequente

    e véspera de cirurgia.

    Apesar de fármacos relativamente seguros nas doses terapêuticas, os

    benzodiazepínicos podem apresentam como efeitos colaterais: sonolência,

    coordenação motora prejudicada (as habilidades manuais são afetadas), amnésia

    retrógrada (bloqueio da memória de eventos durante o tratamento), confusão

    mental. Em doses excessivas causa sono prolongado sem prejuízo da função

    respiratória e cardiovascular, e quando associados com outros agentes depressores

    do SNC (ex.: álcool, antidepressivos tricíclicos e barbitúricos) os benzodiazepínicos

    podem causar depressão respiratória severa, para reversão deste quadro utiliza-se o

    antagonista FLUMAZENIL por via intravenosa. O flumazenil atua como antagonista

    competitivo dos receptores gabaérgicos, com duração de ação de 2h, também é

    utilizado para reverter os efeitos do midazolam em cirurgia.

    Um dos inconvenientes da terapia com os benzodiazepínicos são os riscos

    de: tolerância e dependência e o aparecimento de efeitos “rebote” (ansiedade,

    insônia, tremor, distúrbios de percepção, tonteira e convulsões). A síndrome de

    retirada é bem mais marcante com os benzodiazepínicos de ação curta, como o

    triazolam mesmo em dose única após a retirada observa-se insônia e ansiedade.

    Deve-se proceder retirada gradual dos agentes benzodiazepínicos quando utilizados

    por uma terapia em longo prazo.

    1.1.3 Hipnóticos Não Benzodiazepínicos

    Zolpidem e zaleplon são agentes hipnóticos que atuam seletivamente no

    receptor de benzodiazepínico subtipo ômega-1 (BZ1), acredita-se que esta

    seletividade esteja associada a um risco menor de dependência em comparação

    com os benzodiazepínicos. A ação ansiolítica, anticonvulsivante e miorrelaxante são

    pouco significativas clinicamente. Esses agentes não formam metabólitos ativos,

    sendo considerados hipnóticos de curta duração.

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    FIGURA 5 – ESTRUTURA QUÍMICA DOS NOVOS AGENTES HIPNÓTICOS

    FONTE: Katzung, 2003.

      ZOLPIDEM (5-10 mg) - derivado do imidazopiridínico com ação

    hipnótica e ação curta; eficácia comprovada na indução e na manutenção do sono.

    Possui tempo de meia-vida curto e relatos de sedação diurna mínima;

      ZALEPLON (5-20 mg) – derivado do pirazolopirimidima de ação curta;

    administrado no meio da noite. Possui efeitos sedativos residuais mínimos após 4

    horas da administração. Seu metabolismo é inibido por cimetidina.

    O tratamento de pacientes com disfunção hepática deve ser monitorado. Os

    efeitos adversos destes fármacos hipnóticos são semelhantes aos descritos com o

    tratamento por benzodiazepínicos de ação curta, efeito amnésico e incoordenação

    motora. Menor incidência no desenvolvimento de tolerância e dependência.

    1.1.4 BuspironaAgente ansiolítico não relacionado aos benzodiazepínicos da classe da

    azapirona indicado no tratamento dos distúrbios de ansiedade, como o transtorno de

    ansiedade generalizada e no alívio em curto prazo dos sintomas de ansiedade,

    acompanhados ou não de depressão. A BUSPIRONA (5-10 mg) atua como um

    agonista parcial dos receptores serotoninérgicos subtipo 5HT1A  localizados pós-

    sinapticamente no hipocampo, resultando na menor liberação de serotonina (5-HT) e

    como agonista total dos receptores serotoninérgicos localizados nos corposcelulares de neurônios do núcleo magna da rafe, inibe a atividade dos neurônios

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    Os efeitos adversos mais comuns são tontura, cefaleia, nervosismo, delírio,

    náusea, excitação e sudorese/pele viscosa; geralmente são observados no início da

    terapia e diminuem com a continuidade do tratamento ou com redução da dose. 

    Os agentes sedativos e hipnóticos usualmente prescritos são descritos no

    quadro abaixo:

    FONTE: Katzung, 2003.

    1.2 FÁRMACOS ANTIDEPRESSIVOS

    A depressão é um dos distúrbios psiquiátricos mais comuns. Em qualquer

    momento particular, 5-6% da população apresenta depressão, e estima-se que 10%

    das pessoas podem apresentar depressão durante toda vida. Os sintomas da

    depressão são sutis e muitas vezes despercebidos tanto para o paciente quanto

    para o médico. A depressão foi caracterizada e classificada de diversas maneiras. Adepressão maior e a distimia (menor) são síndromes depressivas puras enquanto

    que o distúrbio bipolar está associado a manias. Uma classificação baseada na

    origem está descrita no quadro baixo:

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    FONTE: Katzung, 2003.

    Os antidepressivos são fármacos que aumentam o tônus psíquico

    melhorando o humor e a psicomotricidade. Acredita-se que esse efeito seja

    resultado do aumento da disponibilidade de neurotransmissores no SNC,

    principalmente noradrenalina, dopamina e serotonina. Levando-se a crer que a

    depressão seria uma patologia resultante da deficiência de neurotransmissores em

    regiões do encéfalo. O aumento de neurotransmissores na fenda sináptica se dá por

    meio de diversos mecanismos nos quais dividem os antidepressivos nas seguintes

    classes:

      Antidepressivos Tricíclicos;

      Antidepressivos de Segunda e Terceira Geração (Heterocíclicos);

      Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina;

      Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO).

    1.2.1 Antidepressivos Tricíclicos

    São denominados tricíclicos pelo fato de apresentarem na estrutura um

    núcleo com três anéis, estreitamente semelhantes às fenotiazinas; podem ser do

    tipo aminas secundária ou terciária. São representantes desta classe:

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    FIGURA 7 – ESTRUTURA QUÍMICA DOS ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS

    FONTE: Katzung, 2003.

    Os antidepressivos tricíclicos atuam no sistema límbico aumentando a

    noradrenalina e/ou serotonina na fenda sináptica por meio do bloqueio da

    recaptação de aminas pelos terminais nervosos, por competir pelo sítio ligante da

    proteína transportadora (figura 12). Também ocorre o efeito indireto de bloquear os

    receptores alfa-2 pré-sinápticos, aumentando ainda mais a disponibilidade de

    noradrenalina na fenda sináptica. A maioria dos antidepressivos tricíclicos inibe a

    recaptação de noradrenalina e serotonina, com poucos efeitos sobre a recaptação

    de dopamina.

    O efeito sobre a transmissão serotoninérgica reflete uma melhora dossintomas emocionais, enquanto o alívio dos sintomas biológicos se dá pela

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    facilitação da transmissão noradrenérgica. Normalmente, esses resultados são

    obtidos após um período de 15 dias de tratamento, e não raro, podendo chegar até

    30 dias.Os antidepressivos tricíclicos também afetam outros receptores, como os

    receptores muscarínicos da acetilcolina, levando a efeitos adversos marcantes

    conhecidos como anticolinérgicos, em que o paciente apresenta boca seca, visão

    turva, constipação, retenção urinária e confusão mental, sendo muitas vezes motivo

    da não adesão ao tratamento. Dessa forma, a orientação ao paciente torna

    imprescindível para o sucesso da terapia. Além desses efeitos adversos, que não

    exigem período de latência para o aparecimento, estão relacionados sedação,

    tremor, insônia, efeitos cardiovasculares (hipotensão ortostática, defeitos de

    condução e arritmias), psiquiátricos (agravamento psicose e síndrome de

    abstinência), ganho de peso e distúrbios sexuais.

    FIGURA 8 – MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTIDEPRESSIVOS TRICÍCLICOS

    (ADT) (REMERON® (MIRTAZAPINA) ORGANON).

    FONTE: Disponível em: . Acesso em: 22.jan.2011

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    Em relação à farmacocinética, os antidepressivos tricíclicos possuem

    absorção incompleta por via oral, sofrem efeito de primeira passagem; são

    extensamente ligados às proteínas plasmáticas; alto volume de distribuição; ometabolismo se dá por meio da transformação do núcleo tricíclico por reações de

    hidroxilação do anel e conjugação com ácido glicurônico, e da alteração da cadeia

    lateral alifática com desmetilação do átomo de nitrogênio, são formados como

    resultado da biotransformação de vários metabólitos ativos.

    Os sinais de intoxicação começam a aparecer quando a ingestão dos

    antidepressivos tricíclicos ultrapassa 500 mg/dia, porém, a dose letal é maior que

    isso: varia entre 1.800 e 2.500 mg. No quadro de intoxicação por antidepressivos

    tricíclicos podemos encontrar agitação ou sedação, midríase, taquicardia,

    convulsões generalizadas, perda da consciência, depressão respiratória, arritmia

    cardíaca, parada cardíaca e morte. Para reversão do quadro de intoxicação está

    indicado o uso de anticolenesterásicos, como fisostigmina por via intramuscular ou

    intravenosa.

    1.2.2 Antidepressivos de Segunda e Terceira Geração (Heterocícl icos)

    Entre 1980 e 1996, surgiram antidepressivos com estrutura heterocíclica,

    designados por segunda e terceira geração. Do grupo da 2ª geração estão os

    fármacos: AMOXAPINA e MAPROTILINA, estruturas semelhantes aos dos

    tricíclicos; TRAZODONA e BUPROPIONA de estruturas distintas. Do grupo da 3ª

    geração estão: MIRTAZAPINA, VENLAFAXINA e NEFAZODONA (figura 13).

      AMOXAPINA – forma metabólito com a ação antipsicótico loxapina útil

    para tratamento de pacientes deprimidos psicóticos. Inibe a recaptação de

    noradrenalina e de dopamina. Exerce antagonismo nos receptores dopamínicos.

    Apresenta como efeitos adversos acatisia, parkinsonismo, amenorreia e galactorreia;

      MAPROTILINA – estrutura semelhante à desipramina. Inibe

    seletivamente a recaptação de noradrenalina. Menos ações sedativas e

    anticolinérgicas que os antidepressivos tricíclicos;

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    FIGURA 9 – ESTRUTURA QUÍMICA DE ALGUNS ANTIDEPRESSIVOS DESEGUNDA E TERCEIRA GERAÇÃO

    FONTE: Katzung, 2003.

      TRAZODONA – inibe moderadamente a recaptação de serotonina.

    Exerce efeito hipnótico. Não exibe efeitos anticolinérgicos. Efeitos adversos comuns:

    sedação, hipotensão e arritmias cardíacas;

      NEFAZODONA – ação semelhante à trazodona, com menor sedação.

    Ações anticolinérgicas. Potente inibidor das enzimas microssomais CYP3A4;

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      VENLAFAXINA – potente inibidor da recaptação da serotonina (em

    dose baixa) e fraca inibição da recaptação da noradrenalina (em alta dose).

    Observa-se aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial quando

    administrado em altas doses;

      MIRTAZAPINA – bloqueio dos receptores alfa-2 adrenérgicos e

    serotoninérgicos 5-HT2 e 5-HT3. Promove sedação intensa, boca seca e ganho de

    peso.

    1.2.3 Inibidores Seletivos da Recaptação de SerotoninaO primeiro agente desta classe foi a FLUOXETINA, um antidepressivo eficaz

    com toxicidade autônoma mínima, com ação seletiva em inibir a recaptação de

    serotonina. A partir daí, muitos esforços foram feitos para se descobrir moléculas

    semelhantes. Atualmente, dispõem-se dessa classe os seguintes antidepressivos:

    CITALOPRAM, PAROXETINA, SERTRALINA e FLUVOXAMINA (Figura 14). Estão

    indicados para o tratamento dos transtornos depressivos, transtorno obsessivo-

    compulsivo, transtorno do pânico, transtorno fobia-ansiedade, neuropatia periférica,dor de cabeça tensional crônica, transtornos alimentares e tensão pré-menstrual.

    FIGURA 10 – ESTRUTURA QUÍMICA DOS INIBIDORES SELETIVOS DA

    RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA

    FONTE: Katzung, 2003.

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    Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina apresentam boa

    absorção por via oral. A fluoxetina é biotransformada em metabólito ativo

    norfluoxetina com tempo de meia-vida de 7-9 dias. A fluoxetina é capaz de inibirdiversas enzimas microssomais estando este fármaco relacionado a diversas

    interações medicamentosas significativas. A fluoxetina e a paroxetina não deve ser

    administrada em associação com antidepressivos tricíclicos, por inibirem ao

    metabolismo desses últimos, aumentando o risco dos efeitos adversos e toxicidade

    dos tricíclicos.

    O tratamento com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina no

    geral são mais bem tolerados do que os antidepressivos tricíclicos. Os efeitos

    adversos que podem aparecer com o tratamento são: náusea, redução do apetite,

    insônia, perda de libido e redução do orgasmo. Quando associados com os

    inibidores da monoamina oxidase provoca tremor, colapso cardiovascular,

    hipertermia – síndrome serotoninérgica que pode levar ao óbito.

    1.2.4 Inib idores da Monoamina Oxidase (IMAO)

    Esses fármacos promovem o aumento da disponibilidade da noradrenalina e

    da serotonina por meio da inibição dessa enzima responsável pela degradação

    desses neurotransmissores no meio intracelular. Os IMAO são análogos da

    feniletilamina e são classificados de acordo com sua seletividade, inibidores

    seletivos da MAO-A (responsável pelo metabolismo de noradrenalina e serotonina),

    FENELZINA e TRANILCIPROMINA e inibidor seletivo da MAO-B (degradação

    seletiva da dopamina), SELEGILINA. A inibição da enzima persiste mesmo após não

    ser mais detectável no plasma. Na prática clínica, é importante lembrar que o efeito

    irá persistir de sete dias (tranilcipromina) a 2-3 semanas (fenelzina) após a

    suspensão.

    Os IMAO podem provocar como efeitos adversos, hipotensão postural (pelo

    bloqueio da transmissão simpática), estimulação do SNC (tremor, excitação, insônia

    e convulsão), ganho de peso (aumento do apetite), ação anticolinérgica e rara

    hepatotoxicidade (associada ao uso de fenelzina).

    O tratamento com os IMAO estão sujeitos a interações farmacológicas e

    alimentares significativas. A associação de IMAO com antidepressivos tricíclicoscausa episódios de hipertensão, excitação e hiperatividade. A interação entre IMAO

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    e aminas simpaticomiméticas de ação indireta, como a anfetamina resulta em

    hipertensão grave. A ingestão de alimentos ricos em tiramina (queijo, vinhos e

    laticínios) em indivíduo fazendo uso de IMAO provoca um quadro conhecido como“reação do queijo”; a tiramina é degradada pela monoamina oxidase no intestino e

    no fígado, quando a atividade dessa enzima encontra-se inibida, os níveis de

    tiramina aumentam, causando efeitos simpaticomiméticos, como elevação

    acentuada da pressão arterial, cefaleia pulsátil severa e hemorragia intracraniana.

    Dessa forma, esses alimentos devem ser evitados em pacientes hipertensos

    tratados com um IMAO.

    Os agentes antidepressivos são usualmente prescritos e utilizados nas

    doses descritas no quadro abaixo:

    FONTE: Katzung, 2003.

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    1.3 SAIS DE LÍTIO

    O tratamento com lítio é indicado para doença maníaco-depressiva,

    produzindo melhora em cerca de 70-80% dos pacientes. As taxas de resposta

    variam em diferentes tipos de transtorno bipolar. O mecanismo de ação

    antidepressivo do lítio ainda não está totalmente esclarecido, o bloqueio da via

    inositolfosfaditil parece ser o mecanismo provável (figura 10). O lítio causaria

    depleção do inositol fosfato da membrana e acúmulo intracelular, resultando na

    inibição da formação de inositol trifosfato, que impediria a transmissão de circuitos

    hiperativos.

    FIGURA 10 – MECANISMO DE AÇÃO PROVÁVEL DO LÍTIO

    FONTE: Golan e cols., 2009.

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    O lítio é administrado por via oral na forma de carbonato de lítio na dose

    usual de 300-600 mg/3-4x dia. Sofre absorção completa e é amplamente distribuídopelo organismo. Apresenta longo tempo de meia-vida e índice terapêutico estreito, o

    que constitui uma limitação na terapêutica, devido ao alto risco de toxicidade. A

    terapia com carbonato de lítio leva a efeitos indesejáveis como náusea, sede,

    poliúria, hipotireoidismo, tremor, fraqueza e confusão mental. Doses excessivas

    causam confusão, convulsões e disritmias cardíacas. O lítio é contraindicado na

    gestação por ser teratogênico e na disfunção renal. A associação de diuréticos que

    atuam na região do túbulo proximal aumenta a reabsorção do lítio aumentando a

    probabilidade de toxicidade.

    1.4 ANTICONVULSIVANTES

    A epilepsia é um distúrbio com ataque associado à descarga temporária e

    reversível de alta frequência dos impulsos de um grupo de neurônios cerebrais,

    deixando o cérebro sem funcionamento. A descarga anormal local pode ficar restrita,

    a crise será chamada parcial ou envolver os dois hemisférios cerebrais,

    generalizada. Pode ainda ser simples, onde o indivíduo mantém a consciência ou

    complexa com perda da consciência.

    Os ataques podem ser do tipo tônico-clônico, conhecido como grande mal

    em que o indivíduo apresenta forte contração de toda a musculatura com espasmos

    extensores sincrônicos e violentos, respiração interrompida, defecação e micção e

    salivação intensa ou do tipo ataques de ausência, conhecidos de pequeno mal, mais

    frequentes em crianças, ocorre parada abrupta da atividade com recuperação total.

    A causa da epilepsia ainda é desconhecida, mas pode originar de ferimentos

    sofridos na cabeça, traumas na hora do parto, abusos de álcool e drogas, tumores e

    outras doenças neurológicas.

    Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode

    ser considerada curada. As drogas antiepilépticas são eficazes no controle daepilepsia de 75% dos pacientes, permitindo que esses indivíduos tenham uma vida

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    normal, inclusive destacando-se na sua carreira profissional. Os fármacos

    antiepilépticos disponíveis podem ser divididos de acordo com seu mecanismo de

    ação: fármacos que aumentam a inibição mediada pelos canais de sódio; fármacosque inibem os canais de cálcio; fármacos que aumentam a inibição mediada pelo

    GABA e fármacos que inibem os receptores de glutamato. Embora os antiepilépticos

    sejam divididos em classes, a eficácia terapêutica decorre de muitos fármacos

    atuarem não apenas nos mecanismos descritos anteriormente, todavia, atuarem de

    modo pleiotrópico.

    1.4.1 Fármacos que aumentam a inibição mediada pelos canais de sódio

    Cada neurônio no cérebro possui mecanismos necessários para evitar uma

    descarga rápida e repetitiva. A despolarização da membrana neuronal resulta na

    inativação dos canais de sódio, fornecendo um ponto de controle essencial para

    prevenção de descargas elétricas repetitivas que poderiam originar uma potencial

    convulsão. Os antiepilépticos FENITOÍNA, CARBAMAZEPINA, LAMOTRIGINA e

    ÁCIDO VALPROICO aumentam a inibição em nível de uma única célula por meio de

    sua ação direta sobre o canal de sódio (Figura 16). Esses agentes exibem uma

    acentuada especificidade para o tratamento das convulsões parciais e generalizadas

    secundárias.

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    FIGURA 12 – ESQUEMA DO MECANISMO DE AÇÃO DOS PRINCIPAIS AGENTESANTIEPILÉPTICOS

    FONTE: KD Tripathi, 2006.

      FENITOÍNA (200-500 mg/dia; 2-3 vezes) – estrutura relacionada aos

    barbitúricos, além de reduzir a velocidade de recuperação dos canais de sódio, este

    fármaco interage com os lipídios de membrana, promovendo estabilização da

    membrana impedindo descargas repetitivas. O bloqueio dos canais de sódio se dá

    de forma dependente do uso, assim como a sua capacidade em prevenir descarga

    súbita rápida, constituindo um fármaco de escolha para o tratamento das convulsões

    parciais e das convulsões tônico-clônicas. Assim, como nas convulsões secundárias

    generalizadas. A farmacocinética complexa e as diversas interações

    medicamentosas fazem com que a decisão do tratamento com a fenitoína ou de

    fármacos com ação semelhante, como a carbamazepina seja revista. Cerca de 95%

    da fenitoína ligam-se às proteínas plasmáticas, é biotransformada no fígado em um

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    metabólito inativo; o tempo de meia-vida é de 24h; seu metabolismo exibe

    propriedade saturável, pequenos aumentos na dose pode proporcionar aumentos

    imprevisíveis na concentração plasmática elevando o risco de efeitos adversos. Taisefeitos incluem: ataxia, nistagmo, incoordenação, confusão, hiperplasia gengival,

    anemia megaloblástica, hirsutismo, traços faciais mais grosseiros e exantema

    cutâneo sistêmico. O uso crônico de fenitoína leva a redução dos reflexos

    tendinosos nos membros inferiores. O uso durante a gestação leva a malformação

    fetal com a ocorrência de fenda palatina. A fenitoína induz as enzimas

    microssomais, afetando diversos fármacos (ex.: carbamazepina e fenobarbital), os

    fármacos que inibem o metabolismo das enzimas do sistema P450, como isoniazida

    e cloranfenicol, aumentam as concentrações plasmáticas de fenitoína;

      CARBAMAZEPINA (400-1800mg/dia; 2-4 vezes) – constitui o fármaco

    de escolha para as convulsões parciais simples e complexas, devido à sua ação

    supressora dos focos convulsivos e preventiva da propagação da atividade. Além da

    epilepsia, pode ser uma alternativa para o tratamento do distúrbio bipolar por atuar

    como estabilizante de humor. O tempo de meia-vida é de 10-20h, porém ao longo do

    tratamento esse tempo é reduzido pelo fato da carbamazepina ser autoindutor do

    metabolismo, necessitando de várias doses ao longo do dia. A biotransformação da

    carbamazepina resulta em um metabólito com atividade anticonvulsivante, o 10,11-

    epoxicarbamazepina. Os efeitos adversos estão relacionados com a dose, e

    consistem em sonolência, tonteira, ataxia, retenção hídrica, hiponatremia, distúrbios

    severos mentais e motores, distúrbios gastrintestinais e cardiovasculares e

    hipersensibilidade. É observada severa depressão da medula óssea (neutropenia,

    agranulocitose e discrasias sanguíneas). A OXCARBAMAZEPINA (dose 300-1200

    mg/dia) é um pró-fármaco da carbamazepina com efeito semelhante, sendo que a

    dose é 50% maior para exercer o mesmo efeito, menor incidência de indução

    enzimática e de interações medicamentosas que a carbamazepina;

      LAMOTRIGINA (50-100 mg/dia; 1-2 vezes) – além da capacidade de

    inibir os canais de sódio, é observada inativação moderada dos canais de cálcio

    ativados por voltagem. Constitui o terceiro fármaco de escolha para o tratamento das

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    crises de ausência. Os efeitos adversos mais comuns com o tratamento consistem

    em náusea, tonteira, ataxia e erupções cutâneas;

      ÁCIDO VALPROICO (1000-3000 mg/dia; 2-4 vezes) – ação

    semelhante à fenitoína e a carbamazepina, capaz de diminuir a velocidade de

    recuperação dos canais de sódio do estado inativado. Em altas concentrações,

    observa-se inibição dos canais de cálcio do tipo T, inibindo a descarga repetitiva.

    Outro mecanismo é o aumento da disponibilidade de GABA no cérebro, por inibir

    fracamente dois sistemas enzimáticos que inativam o GABA: GABA transaminase e

    semialdeído succínico desidrogenase; em altas concentrações o ácido valproico

    inibe o transportador do GABA (GAT-1), potencializando a ação inibitória do GABA.

    A absorção do ácido valproico por via oral é boa, sendo afetada pela presença de

    alimentos; altamente ligado às proteínas plasmáticas (90%) e tempo de meia-vida de

    9-18h. Ocorre inibição do metabolismo hepático de fármacos antiepiléticos

    (fenobarbital, fenitoína e carbamazepina). O tratamento pode acarretar como efeitos

    indesejáveis náusea, vômito e dor abdominal. Sedação é raramente observado; um

    pequeno número de pacientes relata ganho de peso (pelo aumento do apetite) e

    alopecia (encrespamento do cabelo). Podem ocorrer reações idiossincráticas, com

    hepatotoxicidade severa e trombocitopenia. Na gestação é uma contraindicação

    absoluta, já que o fármaco é extremamente teratogênico, levando a espinha bífida e

    defeitos no tubo neural.

    O topiramato (dose 200 mg/dia) é um antiepiléptico mais novo com ação

    complexa e em investigação. Sugere-se que o topiramato seja capaz de inibir os

    canais de sódio; potencializa a transmissão gabaérgica e/ou antagoniza os

    receptores AMPA de glutamato. É indicado para o tratamento de convulsões parciais

    e tônico-clônicas, como terapia adjuvante. Os efeitos adversos mais comuns

    consistem em sedação, retardo psicomotor, fadiga, problemas de fala ou de

    linguagem, cálculos renais e hipersensibilidade ao topiramato. Atualmente, tem-se

    investigado a ação do topiramato em outras situações clínicas, como dor

    neuropática e enxaqueca.

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    1.4.2 Fármacos que inibem os canais de cálcioOs fármacos utilizados na epilepsia que atuam por meio da inibição dos

    canais de cálcio pertencem a duas classes principais: os que inibem os canais do

    tipo T e aqueles que inibem o canal de cálcio ativado por alta voltagem (Figura 16).

    O canal de cálcio tipo T é despolarizado e inativo durante o estado de vigília. Nas

    crises de ausência, acredita-se que ocorra hiperpolarização que ativa esses canais

    durante o estado de vigília, iniciando descargas de ponta e onda que caracterizam

    esse tipo de convulsão. Consequentemente, os fármacos que atuam neste tipo de

    canal são específicos para tratamento das crises de ausência. O canal de cálcio

    ativado por alta voltagem desempenha papel importante no controle da entrada de

    cálcio na terminação pré-sináptica e, por conseguinte, auxiliam na regulação da

    liberação de neurotransmissores. Os fármacos que inibem os canais de cálcio

    ativados por alta voltagem são utilizados no tratamento das conclusões parciais com

    ou sem generalização secundária, podem ser também utilizados para as crises

    generalizadas diferentes das crises de ausência.

    Nesta classe estão os fármacos antiepilépticos:

      ETOSSUXIMIDA (250 mg/2 vezes dia; aumentar após 4-7 dias até 1,5

    g/dia) – fármaco desenvolvido a partir de modificações estruturais do anel do ácido

    barbitúrico. Seu efeito é seletivo nas crises de ausência, devido seu mecanismo

    inibitório sobre os canais de cálcio do tipo T. O tratamento com etossuximida pode

    ocasionar como efeitos adversos náusea, anorexia, letargia, sonolência, precipitação

    de ataques tônico-clônicos e raramente reações de hipersensibilidade;

      GABAPENTINA (iniciar 300 mg/3 vezes ao dia; aumentar

    gradativamente dose efetiva entre 900-1800 mg/dia) – análogo estrutural do

    neurotransmissor GABA; aumenta a inibição mediada pelo GABA, mais o efeito

    anticonvulsivante ocorre predominantemente pela inibição dos canais de cálcio

    ativados por voltagem, resultando na menor liberação de neurotransmissores.

    Devido sua similaridade com os aminoácidos endógenos, a gabapentina apresenta

    poucas interações medicamentosas. É utilizada nas crises parciais e tônico-clônicageneralizada. A administração isoladamente não se mostra eficaz para a maioria dos

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    31

    pacientes. Assim sendo, é utilizada em associação com outros agentes

    antiepilépticos.

    1.4.3 Fármacos que aumentam a inibição mediada pelo GABA

    Os fármacos potencializadores da inibição mediada pelo GABA são os

    benzodiazepínicos (DIAZEPAM, LORAZEPAM, MIDAZOLAM, CLONAZEPAM) e os

    barbitúricos (FENOBARBITAL). Apesar do mecanismo de ação destes fármacos ser

    semelhantes, eles diferem em relação à afinidade pelo receptor de GABAA. Os

    benzodiazepínicos atuam sobre um subtipo específico de receptor de GABAA, 

    enquanto que os barbitúricos atuam sobre todos os canais de GABAA.

    A ação intensificadora da inibição pelo GABA permite suprimir o foco da

    convulsão elevando o limiar do potencial de ação e fortalece a inibição circundante

    (Figura 12). O diazepam, o lorazepam e o midazolam são apropriados para o

    tratamento das convulsões parciais e tônico-clônicas. O clonazepam em particular

    pode também inibir as correntes do canal de cálcio do tipo T em circuitos tálamo-

    corticais; atua em receptores GABAA  no núcleo reticular, aumentando a inibição

    destes neurônios e desativando essencialmente o núcleo. De tal modo, o

    clonazepam é útil no tratamento das crises de ausência. Entretanto, osbenzodiazepínicos podem levar a efeitos adversos proeminentes como tontura,

    ataxia e sonolência. Sendo indicados apenas para interrupção aguda das

    convulsões.

    O fenobarbital (50-200 mg/dia; 1 vez) possui o mesmo efeito dos

    benzodiazepínicos, sendo útil no tratamento das convulsões parciais e tônico-

    clônicas. Ao contrário dos benzodiazepínicos, os barbitúricos potencializam a

    transmissão gabaérgica no núcleo reticular e nas células retransmissoras talâmicas,esse efeito intensifica as correntes de cálcio do tipo T que são responsáveis pela

    crise de ausência, onde na verdade deveria inibi-la. Assim, o fenobarbital não deve

    ser utilizado nas crises de ausência, pois leva a exacerbação esse tipo de

    convulsão.

    Em razão dos efeitos sedativos pronunciados, o fenobarbital deve ser usado

    terapeuticamente como alternativa nas convulsões parciais e tônico-clônicas. Além

    da sedação como efeito indesejável, o tratamento com fenobarbital prejudica acognição e o desempenho motor, a anemia megaloblástica, osteomalacia e

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    hipersensibilidade moderada. Não é recomendável em pacientes com porfiria. Doses

    excessivas de fenobarbital causam coma e falência respiratória.

    O fenobarbital sofre boa absorção por via oral, liga-se em 50% às proteínasplasmáticas, seu tempo de meia-vida varia de 50-140h e a eliminação é

    extremamente lenta. É um potente indutor das enzimas microssomais hepáticas,

    levando a redução da concentração plasmática de vários fármacos, como

    contraceptivos orais, varfarina e antidepressivos tricíclicos.

    A VIGABATRINA (dose inicial de 1g/2 vezes ao dia e dose de manutenção

    de 2-3g/dia) e TIAGABINA (dose inicial de 7,5-15 mg/dia e dose de manutenção de

    15-30 mg/dia) são antiepilépticos mais novos na prática clínica análogos do GABA.

    A vigabatrina atua inibindo irreversivelmente a GABA transaminase, aumentando a

    disponibilidade de GABA no cérebro, logo potencializando a transmissão inibitória.

    Seu efeito é de longa duração proporcionando a administração de uma dose 1x/dia.

    Dentre os efeitos adversos incluem atrofia da retina, angioedema, ganho de peso;

    ocorrência de depressão, distúrbios psicóticos que acontecem numa pequena

    parcela de pacientes. A tigabina inibe a recaptação de GABA pelos neurônios pré-

    sinápticos e pela glia; aumentando a concentração cerebral de GABA. A sonolência

    e a confusão mental são efeitos adversos do tratamento com tiagabina.

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    1.4.

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    (Síndrome Lennox-Gastaut). Apesar de sua eficácia, foi observada alta incidência de

    anemia aplásica fatal e insuficiência hepática, restringindo seu uso apenas para

    aqueles pacientes com epilepsia extremamente refratária.O quadro abaixo indica as doses pediátricas de fármacos antiepilépticos,

    usualmente utilizados na clínica:

     Antiepi lépticoInicial

    (mg/kg/dl) Manutenção(mg/kg/dl) 

    Intervalo de doses(vezes/dia) 

    Carbamazepina  5 10 a 25 2 a 3

    Fenobarbital  4 3 a 8 1

    Fenitoína  5 5 a 9 1 a 2

    Valproato desódio 

    10 15 a 40 1 a 2

    1.5 ANTIPSICÓTICOS

    Os fármacos antipsicóticos ou neurolépticos são utilizados como sinônimos

    para referir-se a fármacos prescritos principalmente para o tratamento da

    esquizofrenia, mas eficazes também para outras psicoses e estados de agitação. Os

    antipsicóticos têm sido utilizados na clínica desde a década de 60, a reserpina e a

    cloropromazina foram os primeiros fármacos a se mostrarem eficazes nas psicoses.

    Posteriormente, foram substituídas por fármacos mais novos. Com a introdução deuma farmacoterapêutica para esses pacientes, reduziu os casos de internação e

    contenção em casas de saúde e hospícios, proporcionando aos pacientes e seus

    familiares uma melhor qualidade de vida.

    O termo “psicose” refere-se a distúrbios mentais variados. A esquizofrenia é

    um tipo particular de psicose, em que o paciente apresenta consciência lúcida e

    acentuado distúrbio de percepção. A patogênese da esquizofrenia é desconhecida.

    Primeiro episódio ocorre na adolescência ou em adultos jovens, onde 25%apresentam somente um episódio agudo, 25% estado permanente e 50% dos

    indivíduos apresentam episódios recorrentes ao longo da vida. A esquizofrenia tem

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    prevalência de 1% na população geral. Acredita-se que esse tipo de psicose pode

    decorrer de hereditariedade, prevalência de 10% entre irmãos de pais

    esquizofrênicos e 40% de concordância entre gêmeos monozigóticos. Os pacientesapresentam os seguintes sintomas divididos em:

      Sintomas positivos: delírios e alucinações, fala e comportamento

    desorganizados, afeto incongruente;

      Sintomas negativos: isolamento social, redução da produção e fluência

    de pensamento e da fala, embotamento afetivo.

    Acrescentados de redução da cognição (atenção e memória), ansiedade e

    depressão, podendo evoluir para tentativa de suicídio.Algumas teorias tentam explicar as psicoses, uma teoria neuroquímica que

    constitui a mais minuciosa hipótese e a base racional da farmacoterapia é a hipótese

    da dopamina. Diversas observações experimentais e clínicas evidenciaram que a

    hiperatividade dopaminérgica precipita os sintomas positivos, a síntese excessiva de

    dopamina, a liberação excessiva de dopamina DOPA leva a um aumento na

    expressão de receptores dopaminérgicos; o abuso da anfetamina produz sintomas

    positivos; a análise post morten  indicou aumento do número de receptores

    dopaminérgicos e que os fármacos antipsicóticos atuariam por antagonizar os

    receptores D2. Esta teoria não está completa tendo em vista que se a esquizofrenia

    envolvesse apenas desequilíbrio da atividade dopaminérgica, os antipsicóticos

    seriam eficazes em todos os pacientes, todavia, são apenas parcialmente eficazes.

    A transmissão dopaminérgica é reconhecida no cérebro em cinco vias ou

    sistemas dopaminérgicos importantes:

      As vias mesolímbica-mesocortical estão relacionadas ao

    comportamento que se projeta dos corpos celulares próximos da

    substância negra até o sistema límbico e o neocórtex.

      A via nigroestriatal consiste em neurônios que se projetam da

    substância negra até o núcleo caudal e o putâmen, essa via está

    relacionada na coordenação de movimentos voluntários.

      O sistema tuberoinfundibular liga os núcleos arqueados e neurônios

    periventriculares ao hipotálamo e à hipófise posterior. A dopamina

    liberada nesse sistema inibe fisiologicamente a secreção de

    prolactina.

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      A via medular-periventricular consiste em neurônios no núcleo motor

    do vago envolvido no comportamento da alimentação.

    Acredita-se que os antipsicóticos sejam capazes de bloquear a dopaminanos sistemas mesolímbico e mesofrontal. O antagonismo da dopamina no sistema

    nigroestriatal explica o efeito indesejável conhecido como parkinsonismo induzido. A

    hiperprolactinemia que acompanha o tratamento com antipsicóticos é causada pelo

    bloqueio do efeito inibitório da dopamina sobre a produção de prolactina.

    O alvo dos antipsicóticos são os receptores dopaminérgicos. Esses

    receptores consistem de duas famílias distintas, os grupos de receptores

    semelhantes a D1 e semelhantes a D2 como descrito abaixo:

    RECEPTOR EFETOR2º MENSAGEIROINTRACELULAR

    LOCALIZAÇÃO

    D1proteína Gs acoplada

    adenilciclase  AMPcPutâmen/ núcleo accumbens/

    tubérculo olfativo

    D2proteína Gi acoplada

    adenilciclase AMPc;condutância

    K+; Ca++ 

    Pré- e pós-sináptico em neurôniosno caudado-putâmen/ núcleoaccumbens/ tubérculo olfativo

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    adenilciclase   AMPc Córtex frontal/ bulbo/ mesencéfalo

    D4 proteína Gi acopladaadenilciclase  AMPc 

    Pré- e pós-sináptico em neurônios

    no caudado-putâmen/ núcleoaccumbens/ tubérculo olfativo

    D5proteína Gs acoplada

    adenilciclase  AMPcHipocampo/ hipotálamo

    Os antipsicóticos bloqueiam de modo estereosseletivo os receptores

    dopaminérgicos subtipo D2, em sua maior parte, e sua afinidade está correlacionada

    com sua potência clínica.

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    37

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    001/REV 4.0

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    hipótese de que os sintomas negativos relacionam-se com uma hipoatividade dos

    neurônios mesocorticais, dessa forma, o antagonismo dos receptores D2 não seja

    capaz de corrigir esses sintomas. Muitos dos efeitos adversos dos antipsicóticostípicos refletem a ligação destes fármacos aos receptores D2 nos núcleos da base

    (via nigroestriatal) e na hipófise.

    FIGURA 14 – ESTRUTURA QUÍMICA DOS FÁRMACOS ANTIPSICÓTICOS

    FONTE: Adaptado Katzung, 2003.

    Os efeitos adversos dos antipsicóticos típicos podem ser divididos em duas

    categorias: aqueles relacionados com o antagonismo dos receptores D2 fora das

    regiões mesolímbica e mesocortical e aqueles causados pela ação antagonista

    inespecífica em outros tipos de receptores. O efeito mais proeminente são os

    chamados efeitos extrapiramidais, 15% dos pacientes começam a apresentar sinais

    de parkinsonismo (acinesia, rigidez muscular e marcha arrastada) do 5º ao 30º dia

    após a primeira administração. Esses sintomas podem ser algumas vezes tratados

    com fármacos não dopaminérgicos para a doença de Parkinson (ex.: amantadina) e

    agentes anticolinérgicos, o ajuste da dose também se faz necessário. Aadministração de altas doses de antipsicóticos típicos de alta potência pode suprimir

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    temporariamente os distúrbios. Em geral, a interrupção do tratamento com

    antipsicóticos leva a reversão lenta dos distúrbios de movimento. Os pacientes que

    fazem uso de antipsicóticos típicos por longo tempo tendem a melhorar dos efeitosparkinsonianos, acredita-se que os receptores D2 tornem-se supersensibilizados.

    Entretanto, depois de meses ou anos de uso crônico verifica-se o desenvolvimento

    de discinesia tardia em 20% dos pacientes. A discinesia caracteriza-se por

    movimentos estereotipados involuntários e repetitivos da musculatura facial, braços

    e tronco.

    O efeito mais grave dos antipsicóticos típicos é a síndrome maligna

    neuroléptica, uma síndrome rara, mas potencialmente fatal caracterizada por

    catatonia, estupor, febre e instabilidade autônoma, ocorre mioglobinemia e óbito em

    10% dos casos. Esta síndrome está estreitamente relacionada com os antipsicóticos

    típicos, como o haloperidol. A suspensão do fármaco deve ser realizada, assim

    como a administração de bromocriptina e de dantrolene.

    Alguns efeitos adversos são causados pela ação antagonista dos

    antipsicóticos nos receptores dopaminérgicos na hipófise, onde a dopamina inibe a

    secreção de prolactina. O antagonismo pelos antipsicóticos atípicos aumenta a

    secreção de prolactina, resultando em amenorreia, galactorreia e teste falso-positivo

    para gravidez em mulheres, resultando em ginecomastia e diminuição da libido em

    homens. Outros efeitos estão relacionados ao antagonismo dos receptores

    muscarínicos, levando perda da acomodação visual, boca seca, retenção urinária e

    constipação e ao antagonismo dos receptores adrenérgicos, em decorrência da

    hipotensão ortostática, impotência e dificuldade de ejaculação. A sedação pode

    ocorrer devido à inibição das vias alfa adrenérgicas centrais no sistema de ativação

    reticular no SNC. Quando a sedação interfere na função normal do paciente constitui

    um efeito adverso, entretanto, em alguns casos a sedação pode ser um objetivo

    terapêutico.

    É observado que os antipsicóticos típicos de potência mais elevada e alta

    afinidade pelos receptores D2 apresentam maior tendência a causar efeitos

    adversos mediados pelos receptores dopaminérgicos (efeitos extrapiramidais), e

    mediados por receptores muscarínicos e alfa-adrenérgicos (efeitos anticolinérgicos,

    hipotensão postural e sedação).

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    Os antipsicóticos mais novos não possuem estruturas relacionadas, são

    denominados atípicos. Possuem eficácia e perfis de efeitos adversos que diferem

    dos típicos. A CLONAZINA, OLANZAPINA, QUETIAPINA, ZIPRASIDONA eRISPERIDONA são os antipsicóticos atípicos mais eficazes para o tratamento dos

    sintomas negativos da esquizofrenia. A risperidona mostra-se mais eficaz no

    combate dos sintomas positivos da esquizofrenia e na prevenção da recidiva da fase

    aguda da doença do que o haloperidol.

    FIGURA 15 – FÓRMULAS ESTRUTURAIS DE FÁRMACOS ANTIPSICÓTICOS

    ATÍPICOS

    FONTE: Katzung, 2008.

    Os antipsicóticos atípicos produzem sintomas de efeitos extrapiramidais

    mais leves que os típicos, e só aparecem quando administrados em altas doses. Em

    relação à afinidade pelos receptores dopaminérgicos D2, os atípicos apresentam

    menor afinidade. Ainda não está claro o mecanismo de ação antipsicótico dos

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    fármacos atípicos, acredita-se que tal efeito decorra da ação antagonista dos

    receptores serotoninérgicos 5-HT2 e dopaminérgicos D2. Outra hipótese é que os

    atípicos, além de serem antagonistas dos receptores dopaminérgicos D2 tambémantagonizam os receptores D4, localizados no córtex frontal e no mesencéfalo, que

    parece não estar envolvido na regulação do movimento. Portanto, justificaria a

    menor ocorrência de efeitos extrapiramidais por atípicos.

    Em relação à farmacocinética, os antipsicóticos são altamente lipossolúveis

    o que facilita a sua absorção e penetração no SNC. A absorção da maioria dos

    antipsicóticos é rápida, porém incompleta. Muitos destes fármacos sofrem efeito de

    primeira passagem. A ligação às proteínas plasmáticas é extremamente elevada

    (92-99%), apresenta elevado volume de distribuição. Em geral, a duração de ação

    clínica é maior do que se poderia esperar pelo tempo de meia-vida. Em sua maioria

    os antipsicóticos são biotransformados por reações de oxidação e conjugação, os

    metabólitos na maioria não são ativos, com exceção da 7-hidroxiclorpromazina e o

    haloperidol reduzido que preservam a atividade antipsicótica.

    Muitas formas farmacêuticas estão disponíveis de antipsicóticos. Existem

    formulações orais de liberação prolongada, a formulação intramuscular na forma de

    decanoato (ex.: decanoato de haloperidol). Os antipsicóticos podem ser

    administrados inicialmente em doses fracionadas diárias até encontrar um nível de

    dose eficaz. Uma vez definida a dose diária eficaz, a dose deve ser administrada em

    menor frequência, de preferência à noite. A simplificação do esquema posológico

    possibilita uma maior adesão ao tratamento. A associação de fármacos

    antipsicóticos deve ser criteriosa, pois complica a avaliação da eficácia dos fármacos

    utilizados. Geralmente, os antidepressivos tricíclicos, os inibidores seletivos da

    recaptação de serotonina podem ser associados com antipsicóticos para o alívio dos

    sintomas de depressão de pacientes com esquizofrenia. A associação com lítio

    proporciona algum resultado para aqueles pacientes refratários a agentes

    antipsicóticos administrados isoladamente.

    As relações das doses terapêuticas dos antipsicóticos mais comuns

    utilizados na prática clínica estão descritos na tabela abaixo:

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    FONTE: Katzung, 2003.

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