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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM AGR 2007 – Química Agronomia QUÍMICA ANALÍTICA Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski 2009

Zoologia C

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA ANALÍTICA

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

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1. UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA QUÍMICA ANALÍTICA

1.1. Conceitos e objetivos da química analítica.

Por que é importante conhecermos a composição química das substâncias?

As propriedades mecânicas, elétricas, óticas, térmicas e outras de um material

dependem de sua composição química. Em alguns casos não são apenas as proporções

relativas dos vários átomos e moléculas que são importantes, porém também a maneira como

os átomos estão ligados uns aos outros.

O que os químicos analíticos fazem como você já deverá ter adivinhado, é aferir a

composição química dos produtos.

A Química Analítica é um dos vários ramos da química e se preocupa em analisar

as substâncias ou materiais, isto é, separar em partes seus componentes e determinar a

natureza e quantidade dos mesmos como um todo.

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A Química Analítica tem tido muita importância no desenvolvimento da Química

como ciência, assim como no desenvolvimento de outras ciências. A formulação das leis

básicas da Química foi fundamentada quase que unicamente nos resultados de análises

quantitativas. O conhecimento da composição da litosfera, da hidrosfera, da atmosfera etc., é

o resultado do uso da análise qualitativa e quantitativa. É indispensável para o estudo da

biologia, bromatologia, mineralogia, petrologia, geoquímica, e de outras ciências.

A importância da Química Analítica hoje em dia pode ser observada nas grandes

Companhias, onde os laboratórios analíticos fazem parte crítica das mesmas. Os resultados

analíticos determinam as conseqüências das decisões no controle de qualidade dos produtos

produzidos, o controle de processos de produção, o desenvolvimento de novos produtos, e

também os fatores ambientais e de saúde. Grande variedade de indústrias e empresas requer

hoje em dia o trabalho do analista químico. Na maior parte dos casos, seu trabalho redundará

numa série de benefícios para o usuário ou para o consumidor dos produtos elaborados pela

indústria ou empresa. Por suas mãos é que passam os artigos que se destinam à venda os

quais são analisados quanto à qualidade para saber se preenchem os requisitos necessários e

indispensáveis para o bom funcionamento. Os analistas que ocupam cargos nos diversos

departamentos do governo dedicam-se a verificar se os diferentes produtos têm efetivamente

a composição que proclamam os fabricantes e estão descritos nos rótulos.

1.2. Objetivos da química analítica qualitativa e quantitativa

QUÍMICA ANALÍTICA: É a parte da química que estuda os princípios teóricos e

práticos das análises químicas. Tem como objetivo prático a determinação da composição

química de substâncias puras ou de suas misturas.

Existem vários tipos de análise. Algumas vezes é necessário conhecer apenas os

diversos componentes que formam determinado material ou mistura de substâncias, o que é

feito por meio da análise qualitativa, que determina em síntese os diversos componentes

daquele material sem se importar em que quantidade eles estão presentes no material.

A Química Analítica Qualitativa tem por objetivo determinar a natureza dos

constituintes de um dado material, isto é, ela está preocupada em responder à pergunta: “O

que está presente?”. Ela está relacionada com a identificação.

Assim:

QUÍMICA ANALÍTICA QUALITATIVA: Trata da determinação dos constituintes

(elementos, grupo de elementos ou íons) que formam uma dada substância ou mistura.

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Engloba a análise qualitativa da amostra, identificando nas práticas de laboratório os

constituintes de uma amostra e estudando nos conceitos teóricos, as características químicas

e o comportamento químico destes componentes.

O procedimento geral para identificação de uma substância consiste em provocar na

mesma, uma variação de suas propriedades, de modo a ser facilmente observada e que

corresponda com a constituição da dita substância. O agente de tal variação chama-se

REAGENTE, porque geralmente reage quimicamente com o produto que se deseja

reconhecer. Embora, em sentido geral, o reagente possa ser agente físico como o calor, a luz

ou a eletricidade; comumente entende-se por reagente um produto químico que no estado

sólido (ensaios por via seca) ou mais frequentemente em dissoluções adequadas (ensaio por

via úmida), é empregado para reagir quimicamente com a substância em análise.

Atualmente a análise qualitativa pode ser realizada através de equipamentos

modernos que utilizam métodos como a espectroscopia U.V., espectrofotometria de absorção

atômica, ressonância magnética nuclear, raio X, cromatografia (CCD, CL, HPLC, etc.).

A Química Analítica Quantitativa por sua vez procura determinar as quantidades ou

proporções de cada componente no material analisado, isto é, ela está tentando responder á

pergunta: “Quanto está presente?”. Está relacionada com a determinação.

Assim:

QUÍMICA ANALÍTICA QUANTITATIVA: Trata da determinação das

quantidades ou proporções dos constituintes, previamente identificados, numa dada

substância ou mistura. Em Química Analítica Quantitativa, o elemento ou íon a ser

determinado é tratado de maneira a se transformar num composto que possua certas

propriedades que lhe são características.

Utiliza métodos para determinar a quantidade dos componentes de uma amostra. É

aplicada amplamente nas indústrias, nas diversas fases da redução e controle da qualidade

final dos produtos. Uma análise quantitativa conta com uma variedade de métodos, de

acordo com a natureza da propriedade que é medida. O método mais tradicional é o

volumétrico, que se baseia nas medidas de volume, através de titulações.

A transformação que se processa é denominada: REAÇÃO ANALÍTICA

A substância que provoca a transformação é denominada: REAGENTE

A substância a ser analisada é denominada: SUBSTÂNCIA PROBLEMA (SP) OU

ANALITO

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ANALISE INSTRUMENTAL: Engloba as análises qualitativa e quantitativa,

utilizando aparelhagem sofisticada de acordo com a natureza das amostras e com o que se

desja determinar.

Exemplos de métodos instrumentais de análise:

- COLORIMETRIA: baseia-se na itensidade de cor das soluções;

- POTENCIOMETRIA: baseia-se na ddp (diferenca de potencial) em função do

potencial de íons H+.

- ESPECTROFOTOMETRIA: baseia-se na absorbância das espécies química.

Além do desafio do desenvolvimento de metodologias para conseguir-se cada vez mais

resultados melhores em um número maior de amostras, química analítica ainda nos leva a

um pensamento crítico e científico e à resolução de quaiquer problema químico.

2. ETAPAS DE UM MÉTODO ANALÍTICO

Antes de se decidir por um método analítico em particular, é necessário saber que

tipo de informação se deseja de um certo problema analítico. Como diretriz você deve se

questionar sobre o componente de interesse bem como sobre os demais componentes

presentes na amostra. Você deve saber qual o nível de concentração do componente de

interesse e outras (potencialmente interferentes) espécies químicas presentes. Você deve

saber o nível de incerteza a ser obtido e quanto é que pode ser tolerado. Você também vai

querer saber a respeito dos procedimentos de obtenção, armazenamento e transporte das

amostras antes que elas cheguem ao laboratório.

Um método analítico inclui todos os estágios desde o registro dos números de

identificação assim que as amostras chegam ao laboratório até a assinatura final nos

resultados obtidos.

Um método analítico pode conter diferentes etapas até chegar ao resultado final.

Porém, de um modo geral e simplificado podemos subdividir um método analítico em 4

etapas:

2.1. Amostragem

“Nenhuma análise é melhor do que a amostra na qual ela esta baseada”.

A amostragem é a seqüência de operações específicas, empregadas para se obter

que seja representativa do sistema. A amostra é, portanto, uma porção média tomada do

conjunto e que representa as características do mesmo.

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O principal fator sobre a confiabilidade de qualquer medida analítica está na

qualidade da amostra. Muita pouca atenção é dada a este assunto. Amostra é uma porção

limitada de material tomada do conjunto (o universo ou população, na terminologia

estatística) selecionada de maneira a possuir as características essenciais do conjunto.

Sendo assim, a amostra deve ser representativa do conjunto a ser amostrado, isto é,

deve possuir a mesma composição que o lote inteiro do material que a amostra vai

representar.

A representatividade é, portanto, uma característica muito importante da amostra.

Se a população a ser amostrada for homogênea, maiores serão as chances de se obter uma

amostra representativa, caso contrário, à situação fica mais complicada.

A quantidade de amostra a ser toada dependerá da heterogeneidade do material e do

tamanho da suas partículas. Para amostras compostas e matérias homogêneas, qualquer

quantidade representará o todo; entretanto, para tomada de amostras de materiais

heterogêneos, as operações se tornam mais complexas. A seleção das porções que compõem

a amostra é baseada em critérios estatísticos adequados, a posteriormente toda a amostra

tomada será reduzida a tamanhos apropriados.

Em geral as operações de amostragem são constituídas das seguintes etapas:

a) obtenção da amostra bruta representativa;

b) redução da amostra bruta em amostra de laboratório;

c) preparação da amostra de laboratório para análise.

a) obtenção da amostra bruta representativa;

A amostra bruta é uma porção selecionada do universo (termo estatístico que

significa o conjunto representado pela amostra) e com características de representatividade

do mesmo.

A quantidade de amostra bruta dependerá da heterogeneidade do sistema onde será

obtida e de tamanho das partículas. Existem considerações e normas estatísticas já estudadas

por organizações privadas e estatais nas quais é estabelecida a quantidade a ser tomada de

amostra bruta. Uma dessas estabelece que o número de partículas que compõem amostra

bruta depende do erro que desejamos tolerar na medida da mesma.

b) redução da amostra bruta em amostra de laboratório;

Para reduzir o tamanho da amostra bruta, sem que haja modificações nas suas

características, torna-se necessária a realização de algumas operações, com:

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1- diminuição dos tamanhos, mediante trituração ou moagem;

2- mistura dos materiais após a diminuição do tamanho dos fragmentos;

3- divisão da amostra, com rejeição de uma parte e aproveitamento de outra.

c) preparação da amostra de laboratório para análise.

A preparação de uma amostra de laboratório compreende as seguintes etapas:

a) pulverização: moagem da amostra.

b) secagem da amostra;

c) pesagem da amostra;

d) dissolução da amostra.

Obs.: durante o processo de moagem a amostra poderá sofrer variação na sua composição,

devido ao atrito que pode gerar aquecimento da amostra.

A amostra pode ser dividida em vários tipos segundo alguns critérios pré-

estabelecidos: a) amostra aleatória (ao acaso) – é obtida através da escolha totalmente ao

acaso de tal modo que assegura que qualquer parte do conjunto tem chance igual de estar

sendo escolhida. São aquelas amostras obtidas por um processo totalmente aleatório de

amostragem e formam uma base na qual podem ser feitas generalizações baseadas em

probabilidade estatística; b) amostra sistemática – implica em uma coleta de amostra

periódica. Amostras são coletadas freqüentemente e analisadas para refletir ou testar

hipóteses sistemáticas, tais como mudanças na sua composição com o tempo, temperatura ou

localização; c) amostras simples – quando se efetua uma única coleta da amostra do

conjunto e se promove a sua análise; d) amostras compostas – quando se coleta várias

amostras simples e se reúne todas elas para formar uma amostra maior e mais representativa.

Uma amostra composta pode ser considerada um modo especial de tentar produzir uma

amostra representativa.

Amostragem é uma série sucessiva de etapas operacionais que são efetuadas para

assegurar que a amostra seja obtida com a necessária condição de representatividade.

No delineamento do plano de amostragem algumas questões são levantadas para

melhor definir o plano:

a) Quantas amostras devem ser coletadas?

b) Qual o tamanho de cada amostra?

c) De que parte da população a amostra será coletada?

d) Devem ser coletadas amostras individuais ou amostras compostas?

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Para os fertilizantes comerciais a amostragem tem uma legislação específica

(Ministério da Agricultura, 1975; ABNT, 1996a) e, como exemplo, pode-se citar o caso dos

fertilizantes e corretivos sólidos ensacados e os fertilizantes á granel empilhados em vagões

ou caminhões.

2.1.1. Amostragem de fertilizantes e corretivos sólidos ensacados

Usando um tubo duplo, perfurado, com ponta cônica maciça e com dimensões

descritas na Figura 1, retirar as amostras simples da seguinte maneira:

a) Retirar o saco da pilha, colocá-lo no chão, realizar diversas revoluções no sentido

do comprimento e no sentido da largura e deitá-lo na horizontal.

b) Inserir totalmente a sonda fechada, segundo a diagonal, e de cima para baixo

(Figura 2).

c) Abrir a sonda e dar algumas batidas no saco para que o material penetre nos furos

da mesma, enchendo-a; fechar a sonda e retirá-la, colocando o seu conteúdo em um

recipiente limpo e que evite a absorção de umidade.

d) Repetir a operação de acordo com o número de sacos a serem amostrados,

conforme as Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Número de sacos de fertilizantes a serem amostrados, de acordo com o

tamanho do lote (Ministério da Agricultura, Brasil, 1975).

Tamanho do lote (em sacos) Número de sacos amostrados Até 10 Totalidade De 11 a 50 10 De 51 a 100 20 Superior a 100 20 + 25% da totalidade

Tabela 2 . Número de sacos de corretivos a serem amostrados, de acordo com o

tamanho do lote (Ministério da Agricultura, Brasil, 1975).

Tamanho do lote (toneladas) Número de sacos amostrados Até 20 10

Mais de 29 10 + 1 para cada 5 toneladas

adicionais

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Figura 1. Sonda para amostragem de fertilizante e corretivo sólido ensacado.

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Figura 2. Processo de retirada de amostra em um saco de fertilizante ou corretivo.

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O erro de amostragem é o mais importante fator que contribui para a variabilidade

do valor final a ser obtido. Há somente uma maneira de reduzir este erro de amostragem;

coletar e analisar o maior número possível de amostras da população, dentro de limites

econômicos e práticos.

2.2. Preparo da amostra

Normalmente, a amostra recebida pelo laboratório de análise (amostra bruta) é

maior que aquela exigida para uma análise e então é necessário fazer uma redução no

tamanho da amostra.

A redução da amostra bruta à amostra de laboratório é um processo de múltiplos

estágios e depende do tipo de amostra considerada.

No caso de amostras de solos, compreende os seguintes estágios:

1) Secagem ao ar ou em estufa (100-105);

2) Destorroamento e peneiragem em peneira com abertura de malha de 2 mm;

3) Mistura ou homogeneização do material;

4) Armazenamento.

Para amostras de plantas, são necessários:

1) Lavagem com água destilada;

2) Secagem em estufa com circulação de ar forçado na temperatura de 65 – 70oC,

com amostras acondicionadas em sacos de papel perfurados;

3) Moagem das amostras em moinho de aço inoxidável, tipo Wiley passando em

peneira de 1 mm de malha ou 20 mesh;

4) Armazenamento em frascos de vidro com tampa plástica e devidamente

identificada.

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Para fertilizante, a redução do tamanho da amostra bruta pode ser feita por

quarteação manual ou por quarteador tipo Jones. As amostras de fertilizantes não devem

ser secas e no caso de fertilizantes simples ou misturas unidas deve-se fazer a moagem

até passá-la por peneira com abertura de malha de 0,85 mm. Fertilizantes secos ou com

tendência a segregar devem ser moídos e passados por peneira com abertura de malha de

0,43 mm.

As amostras preparadas de corretivos e fertilizantes devem ser armazenadas em

recipientes hermeticamente fechados para evitar absorção ou perda de umidade. Tais

operações são um tratamento prévio da amostra antes que se processe a sua análise. Um

dos objetivos deste tratamento é o de obter um material tão homogêneo que qualquer

pequena porção que seja tomada para análise tenha a mesma condição de

representatividade de qualquer outra porção. Este tratamento prévio também fornece ao

material uma forma que facilita o posterior preparo do extrato, onde é obtida uma solução

da amostra para análise.

2.3. Preparo do extrato.

Os teores dos componentes inorgânicos presentes na amostra estão, na maioria

das vezes, em quantidades mínimas e em grande parte é necessário remover a matéria

orgânica, na totalidade ou em parte, antes da determinação final do elemento de interesse.

De um modo geral, os métodos analíticos envolvem a obtenção de uma solução

apropriada da amostra (extrato), onde os componentes inorgânicos estão presentes em

solução para serem quimicamente determinados.

O tipo de tratamento a ser usado depende principalmente da natureza da amostra

e do método de determinação final do componente de interesse. Algumas vezes, a

solução para análise é preparada por simples dissolução da amostra em água. Entretanto,

a preparação do extrato da amostra envolve quase sempre a completa desintegração da

amostra mediante ataque com ácidos fortes, misturas de ácidos com oxidantes ou mesmo

fusão com agentes adequados.

Na escolha do método a ser usado para o preparo do extrato, é preciso dar

atenção, particularmente, nos seguintes pontos:

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1) O método deve ser eficiente e, na medida do possível, razoavelmente

simples e rápido;

2) O método não deve atacar e comprometer o recipiente em que a amostra

está contida e será tratada;

3) O método não deve causar qualquer perda do componente de interesse;

4) O método não deve envolver a introdução da espécie química a ser

determinada, bem como de qualquer outra espécie química interferente, a

menos, neste último caso, que ela possa ser eliminada facilmente;

5) O método não deve introduzir uma quantidade excessiva de sais ainda que

relativamente inertes.

O método escolhido de obtenção de extrato deve assegurar a completa

dissolução da amostra, onde as espécies químicas de interesse fiquem livres para serem

determinadas posteriormente. A maior parte dos métodos de preparo de extratos é

realizada através da via úmida, também conhecida por oxidação ou digestão por via

úmida.

As principais vantagens dos métodos de oxidação por via úmida são que eles são

aplicáveis para uma grande variedade de amostras, são razoavelmente rápidos e menos

sujeitos a perdas por volatilização ou retenção. Eles possuem a desvantagem de não se

poder manusear amostras muito grandes, necessitam de supervisões constantes por serem

potencialmente perigosas, e usam volumes relativamente grandes de reagentes.

Os reagentes comumente empregados na oxidação por via úmida incluem o

ácido nítrico, sulfúrico, perclórico, clorídrico e fluorídrico. Como cada reagente possui

vantagens inerentes, os métodos recomendados usam freqüentemente um ou mais destes

reagentes em mistura e até mesmo em combinação com peróxido de hidrogênio.

A principal vantagem da oxidação por via seca (através da “queima” ou

incineração da amostra na mufla ou forno) é que grandes quantidades de amostra podem

ser mineralizadas. O processo é demorado, porém não requer constantes atenções por

parte do operador. A temperatura geralmente mais favorável varia de 500-550 oC.

Tempos excessivos de incineração aumenta a possibilidade de contaminação da mufla.

Além da volatilização, certos elementos também podem ser perdidos através da reação

com os recipientes, adsorção ao carbono não queimado ou pela formação de compostos,

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exemplo, óxidos, os quais não são solubilizados por subseqüentes procedimentos de

extração.

2.4. Determinação do componente de interesse.

A determinação ou avaliação do componente de interesse propriamente dita

pode ser feita por três maneiras diferentes:

a) Pela separação do componente de interesse dos outros componentes e

pesagem. É à base dos métodos gravimétricos;

b) Pela avaliação indireta do peso do componente de interesse, medindo-se o

volume de um reagente, necessária para reagir com o mesmo. É o fundamento dos

métodos volumétricos;

c) Pela avaliação de uma propriedade físico-química qualquer, cuja magnitude

seja dependente da massa do componente de interesse. É à base dos métodos

instrumentais ou físico-químicos.

O método analítico ideal é aquele que detecta apenas o componente de interesse

no extrato apresentado para análise e revela a quantidade exata daquele componente

presente na amostra original.

Vários são os critérios que podem ser usados para a classificação dos métodos

analíticos, usados em química analítica. A classificação a seguir é uma das mais simples:

a) Métodos Gravimétricos. A quantidade do componente de interesse é

determinada separando-a da solução como um composto insolúvel e pesando o

precipitado. Uma vez conhecida à quantidade de sólido obtida, é possível calcular-se a

proporção em que estava presente o componente de interesse na amostra original. Por

exemplo, pode-se determinar cloretos por precipitação sob forma de cloreto de prata,

pode-se determinar sulfatos, precipitando-o como sulfato de bário etc. A maioria dos íons

metálicos pode ser precipitada sob a forma de hidróxidos ou carbonatos, que podem ser

calcinados (queimados) para formar os óxidos, que são pesados. Os metais que formam

carbonatos e hidróxidos solúveis, como os metais alcalinos, são precipitados na forma de

compostos insolúveis.

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O sucesso do método gravimétrico depende principalmente da técnica usada –

ter certeza de que todo o componente de interesse é precipitado, de que todo o precipitado

é recolhido, de que ele esteja completamente seco antes da pesagem.

b) Métodos Volumétricos. Neste tipo de método a concentração desconhecida

de uma espécie química é determinada através de uma medida de volume.

Existe uma grande variedade de métodos de análise volumétrica que podem ser

classificadas segundo a natureza das reações envolvidas:

b1) Volumetria de neutralização (acidimetria ou alcalimetria): quando envolve

reações ácido-base;

b2) Volumetria de precipitação: quando envolve reações que formam

precipitados;

b3) Volumetria de complexação: quando envolve a formação de quelatos;

b4) Volumetria de oxi-redução: quando envolve reações de oxi-redução.

c) Método Instrumental. Também conhecido como físico-químico, o qual se

baseia na comparação de propriedades físico-químicas das amostras, que possui o

componente de interesse a analisar, com as mesmas propriedades físico-químicas da

amostra padrão.

Há uma grande variedade de métodos instrumentais disponíveis atualmente e a

sua escolha vai depender das necessidades do laboratório em termos de recursos

disponíveis, pessoal especializado e treinado com a metodologia a implantar, substâncias

a serem analisadas e outros. Como exemplos podemos citar: espectroscopia ou técnicas

espectroscópicas do Ultra Violeta – Visível (UV/Visível), onde ocorre a interação da

radiação eletromagnética com a matéria na faixa de comprimento de onda correspondente

ao UV/Visível; espectrometria de absorção atômica (EAA); espectrometria de absorção

no infravermelho; espectrometria de ressonância magnética nuclear; espectrometria de

raios-X; espectrometria de massas etc.

Ao se decidir por qual método instrumental a ser usado você deve saber a

respeito do desempenho dos mesmos. Alguns fatores que devem ser levados em

consideração: seletividade (isto é, livre de interferência), capacidade de determinação de

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vários componentes de interesse, sensibilidade, limite de detecção, velocidade,

amostrador automático, facilidade de calibração, quantidade de amostras e necessidade de

pré-tratamento.

Além destes fatores as propriedades correspondentes das amostras devem ser

consideradas: por exemplo, quanto está disponível, se ela necessita de algum pré-

tratamento químico, como o pré-tratamento irá contaminar a amostra se for necessária

uma etapa de pré-concentração.

Tendo feito tudo isto, você estará apto a exercitar, com certa probabilidade de

sucesso, uma análise química.

Qualquer método que estiver sendo avaliado terá que ser submetido ainda em

sua precisão e exatidão.

2.5. Interpretação dos resultados

Uma análise química é conduzida por um motivo importante, para se atingir um

objetivo, para atender uma determinada finalidade. Assim, para que ela tenha êxito, o

resultado analítico deve ser interpretado e servir de base para uma tomada de decisão:

O solo é ácido? Se for, será necessário aplicar calcário ao solo.

O teor de nitrogênio do fertilizante não está de acordo com o teor garantindo pelo

fabricante? Deve-se reclamar e exigir qualidade.

As laranjeiras de um pomar mostraram estar deficientes em zinco? Deve-se efetuar

aplicação foliar de fertilizante sulfato de zinco.

Nenhuma das etapas mencionada é mais importante que outra; quando ocorre falha em

uma delas todo o processo de análise fica comprometido. Mesmo que o engenheiro

agrônomo nunca entre em um laboratório para executar uma análise deve estar ciente de

como o processo ocorre, pois isso o guiará ao atuar na interpretação e utilização dos

resultados analíticos.

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3. EXATIDÃO E PRECISÃO.

A exatidão de uma medida está relacionada com o seu erro absoluto, isto é, com

a proximidade do valor medido em relação ao valor verdadeiro da grandeza. Diz-se que a

medida possui uma alta ou baixa exatidão conforme o valor observado se aproxime mais

ou menos do valor verdadeiro.

A precisão, por outro lado, está relacionada com a concordância das medidas

entre si, ou seja, quanto maior a dispersão dos valores menor a precisão. Esta variável

pode ser expressa de várias maneiras, mas diz-se que quanto maior a grandeza dos

desvios menor a sua precisão.

O gráfico abaixo explica de uma maneira bem clara os conceitos de exatidão e

precisão (O valor verdadeiro ou real é o ponto de confluência das duas retas no centro do

círculo):

I II III IV

Não tem precisão, Tem precisão e Não tem precisão, Tem precisão e nem exatidão não tem exatidão nem exatidão tem exatidão

Quando não há precisão nas medidas é muito improvável ter exatidão, mesmo

que a média das medidas seja igual ao valor verdadeiro. Portanto, sem precisão não há

exatidão.

* * * *

* * * *

* * * *

** **

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4. CONCENTRAÇÃO DE SOLUÇÕES.

4.1. Solução.

Antes de tratarmos de concentração é necessário conhecer um pouco sobre solução.

Afinal, o que é uma solução?

Define-se solução como sendo uma mistura homogênea composta de dois ou mais

componentes. Uma solução consiste de:

a) Solvente. Este é o componente da solução que se apresenta em maior

quantidade. Freqüentemente, mas não necessariamente, ele é a água, o que

caracteriza uma solução aquosa. Em nosso curso trataremos apenas de

solução aquosa.

b) Soluto. Este é o componente que, usualmente, se apresenta em menor

quantidade. É a substância que se dissolve no solvente.

Quando uma substância sólida se dissolve em um líquido, o sólido parece

desaparecer. As partículas do sólido de tamanhos visíveis se quebram em partículas

minúsculas que são distribuídas ao acaso através do líquido, e o líquido permanece

transparente, o que dá sentido de ser homogênea, isto é, de composição única. O soluto

forma uma espécie de ligação com o solvente. No caso de soluções aquosas, esta ligação

pode ser do tipo de ligações de hidrogênio, como no caso do açúcar em água (Figura 1),

ou de hidratação (solvatação, no caso do solvente não ser a água), como ocorre com o sal

de cozinha (cloreto de sódio) em água (Figura 2).

Figura 1. Dissolução do açúcar em água. Figura 2. Dissolução do NaCl em água.

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4.2. Água como solvente.

A distribuição de moléculas em um fluido é controlada pela energia de interação entre

as mesmas. A natureza da interação, por sua vez, depende sensivelmente da geometria

molecular e distribuição das cargas. No caso particular da água, ela é uma molécula polar

e a ligação de hidrogênio entre suas próprias moléculas ou com outras de mesma

afinidade é um componente predominante para as energias de interação.

Formalmente as propriedades das soluções podem ser levadas em consideração em

termos de três contribuições para com a energia potencial total: efeitos de solvente-

solvente, solvente-soluto e soluto-soluto.

A água dissolve muitas substâncias sólidas, líquidas ou gasosas, especialmente ácidos

e sólidos iônicos. Moléculas que são facilmente miscíveis com a água são provavelmente

também polares e contém um ou mais grupos capazes de fazerem ligações de hidrogênio.

Por ser polar, a água aproxima-se dos íons que formam um composto iônico (sólido)

pelo pólo de sinal contrário à carga de cada íon, conseguindo assim anular suas cargas e

desprendê-los do resto do sólido. Uma vez separado do sólido, os íons são rodeados por

moléculas de água, evitando que eles regressem ao sólido (ex. NaCl).

Devido à natureza polar da água, NaCl pode ser separado em seus íons, isto é, Na+ e

Cl-, o que significa que o lado da molécula da água que contém os átomos de hidrogênio

(+) atrairão os íons Cl-, e os íons Na+ serão atraídos pelo lado do átomo de oxigênio (-) da

água (Figura 3). Esta é a maneira como as substâncias sólidas iônicas se dissolvem na

água, e este processo é chamado de hidratação (Figuras 2 e 3). Quando o solvente é

outro que não a água, o processo é denominado de solvatação.

Figura 3. Hidratação dos íons Na+ e Cl-.

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Nem todas as substâncias são polares. Algumas são não polares ou apolares. Benzeno

é um solvente comum apolar. Devido à existência de substâncias polares e apolares, há

uma regra que os estudantes e químicos gostam de usar, para verificar se as substâncias

podem se dissolver. A regra é: “o semelhante se dissolve no semelhante”. Isto significa

que se um químico está tentando dissolver um soluto polar, um solvente polar deve ser

usado, e de modo semelhante, se ele está tentando dissolver um soluto apolar, um

solvente apolar deve ser usado. Esta regra funciona em cerca de 95% das vezes, porém

como em todas as regras há sempre exceções.

Algumas propriedades do soluto que são relevantes para a solvatação: verificar se o

soluto é iônico, polar ou não polar, e neste último caso, a extensão com que ele é

polarizável.

Propriedades do solvente que são relevantes para a solvatação: verificar se podem

transferir prótons ou se apresentam ou não dipolo em suas moléculas.

4.3 Concentração.

A palavra concentração se refere à quantidade de soluto que é dissolvido em um

solvente.

Page 22: Zoologia C

22

A concentração é um parâmetro intensivo, ou seja, independe da quantidade de

material considerada. O valor da concentração indica uma relação entre duas quantidades

(soluto e solvente ou solução).

Em situações domésticas usamos as palavras “forte” e “fraca” para descrever a

concentração, por exemplo, de uma xícara de café. Porém, em situações químicas, são

utilizados os termos: “concentrado” ou “diluído” para falar a respeito da quantidade de

soluto presente na solução. Diluído significa que apenas uma pequena quantidade de

soluto é dissolvida e concentrado significa que uma porção grande de soluto está presente

na solução.

De um modo geral a concentração é definida como:

Quantidade de Componente de Interesse CONCENTRAÇÃO = Quantidade do Material Total

Porém, quando estamos trabalhando com soluções, a definição de concentração se resume a:

Quantidade de Soluto

CONCENTRAÇÃO DE SOLUÇÃO = Quantidade de Solução (Soluto + Solvente)

Há no mínimo dois motivos para se familiarizar com unidades de

concentração. Um deles é que quando se estuda cinética química se aprende que a

concentração influencia a velocidade da reação. Concentração mais elevada indica que

as reações são mais rápidas. O outro motivo é que as reações químicas dependem do

número de mols dos reagentes. Os mols dos produtos químicos podem ser

determinados a partir de volumes de soluções ao invés de determinação das massas.

Medidas de volumes são muito simples.

Em se tratando de quantidade de soluto que é dissolvida em uma certa

quantidade de solução, a unidade pode ser representada por gramas por litro (g L-1).

Porém, outras unidades podem ser utilizadas dependendo do componente de interesse

a ser avaliado bem como da matriz onde o mesmo se encontra. Assim sendo, podemos

ter concentração expressa em termos de porcentagem (%) em peso ou em volume

(g/100 mL), partes por milhão (ppm), partes por bilhão (ppb) e assim por diante.

Page 23: Zoologia C

23

Unidades Comuns para expressar concentrações traços

unidade abreviatura massa/massa massa/volume volume/volume parte por milhão

1ppm=10-4% ppm

mg/Kg

g/g

mg/L

g/mL

La/L

nLb/mL parte por bilhão

1ppb=10-7 %

=10-3 ppm

ppb g/Kg

ng/g

g/L

ng/mL

nL/L

pLc/mL

% miligrama mg % mg/100 g mg/100 mL -

a = L - microlitro=10-6L; b = nL - nanolitro=10-9L; c = pL - picolitro=10-12L 1L = 1000 mL; 1mL= 1000 mL; 1mL = 1000 nL; 1nL = 1000 pL.

Uma maneira bastante utilizada para exprimir concentração e que tem sido

aceita internacionalmente é a conversão da quantidade em gramas do componente de

interesse (substância química), em número de mols. Assim sendo, a concentração de

uma solução é definida como o número de mols do soluto em um litro (L) ou um

decímetro cúbico (dm3) de solução. A unidade de concentração é em mol L-1 ou mol

dm-3 ou molaridade, abreviadamente M.

Não devemos nos esquecer que 1 mol de qualquer substância contém 6,022 x

1023 moléculas, que é o número de Avogadro.

Assim sendo, a concentração da solução pode ser definida como:

no de mols de soluto CONCENTRAÇÃO DE SOLUÇÃO = = M Volume da solução em L ou dm3 Porém, o número de mols do soluto é calculado por: massa em gramas no de mols = Massa molecular (MM) ou mol Então, resumidamente, a concentração da solução fica: massa em gramas

Page 24: Zoologia C

24

CONCENTRAÇÃO DE SOLUÇÃO = = M (MM ou mol) x Volume da solução em dm3 ou L

No laboratório é usado um frasco ou balão volumétrico de volume calibrado (Figura 4)

para o preparo das soluções, as quais, assim preparadas, passam a ser denominadas de

concentração analítica.

Figura 4. Balão volumétrico.

As soluções concentradas também podem ser misturadas com solventes para torná-las

diluídas. Isto é o que temos feito diariamente quando consumimos certos produtos como

sucos de frutas, por exemplo.

Uma regra básica que tem sido utilizada na diluição de soluções emprega os conceitos

adquiridos de molaridade. Em diluições a quantidade de solvente é que aumenta e a

quantidade de soluto permanece sempre constante. Assim sendo, o número original ou

inicial de mols do soluto é igual ao número de mols do soluto no final, ou seja:

no mols inicial = no mols final

A molaridade (M) é expressa como: no de mols/volume (em dm3 ou L).

Observa-se então que o no de mols = M x V

Portanto: M(inicial) x V(inicial) = M(final) x V(final)

Resumidamente:

Equação geral da diluição

A relação entre volume inicial e volume final tem sido, algumas vezes, denominado de

fator de diluição.

Mi x Vi = Mf x Vf

Page 25: Zoologia C

25

Exemplos:

1. Calcule a concentração em mol dm-3 (M) das seguintes soluções:

a) 106 g de Na2CO3 em 1 dm3 de solução aquosa (mol Na2CO3 = 106)

R.: 1 mol dm-3

b) 15 g de Na2CO3 em 250 cm3 de solução aquosa (MF = 106; 1 dm3 = 1000 cm3 =

1L)

R.: 0,566 mol dm-3

c) 5 g de NaCl em 75 cm3 (MF = 58,5; 1 dm3 = 1000 cm3 = 1L)

R.: 1,14 mol dm-3

d) 70g de etanol, C2H5OH, em uma garrafa de vinho de 700 cm3 (mol = 46; 1 dm3 =

1000 cm3)

R.: 2,17 mol dm-3

e) Uma lata de cerveja de 350 cm3 contendo 5% (m/v) de etanol, C2H5OH (mol = 46;

1 dm3 = 1000 cm3). Obs. A indicação (m/v) quer dizer massa sobre volume, isto é, na lata

de cerveja há 5 g de etanol em cada 100 cm3 de cerveja.

R.: 1,09 mol dm-3

2. Calcular a massa de soluto nas seguintes soluções:

a) O teor de sal (em g) presente em 1 dm3 de uma solução de NaCl a 2,5 mol dm-3

(mol = 58,5)

R.: 146,25 g de NaCl

b) O teor de sal (em g) presente em 100 cm3 de uma solução salina de 100 cm3 de

NaCl a 2,5 mol dm-3 (mol = 58,5; 1 dm3 = 1000 cm3)

Page 26: Zoologia C

26

R.: 14,625 g de NaCl

c) Quantos gramas de açúcar (sacarose, C12H22O11, mol = 342) são necessários para

fazer 250 cm3 de uma solução 0,01 mol dm-3.

R.: 0,855 g de sacarose

d) Quantos gramas de álcool etílico (mol = 46) um indivíduo estará ingerindo se ele

beber quatro cálices de 150 cm3 cada de vinho com concentração 2,17 mols dm-3.

R: 59,89 g álcool

e) Quantos gramas de álcool etílico (mol = 46) um indivíduo estará ingerindo se ele

beber quatro latas de 350 cm3 cada de cerveja de concentração 1,09 mols dm-3.

R.: 70,20 g álcool

ANEXO

UNIDADES DO SISTEMA INTERNACIONAL EM PUBLICAÇÕES DA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO SOLO (SBCS)(1)

Com a exigência mais estrita de uso das unidades do Sistema Internacional (SI)

nas publicações da SBCS, algumas dúvidas têm surgido quanto às opções de unidades e

prefixos para representar algumas grandezas. Esse não é assunto totalmente resolvido em

publicações da área de solos mesmo em revistas internacionais que fazem uso do SI há

mais tempo.

No Quadro a seguir são apresentadas as unidades preferidas e aceitas, para uso

na SBCS. Algumas opções foram definidas como parte de uma política editorial, visando

uniformizar unidades. Certos itens sobre os quais pairam dúvidas ou controvérsias

poderão ser revistos futuramente. Sugestões e comentários serão bem-vindos.

______________________ (1) Transcrito parcialmente de CANTARELLA, H. & MONIZ, A.C. Boletim Informativo

da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, 20(2):82-83, 1995.

Page 27: Zoologia C

27

Unidades SI preferidas e aceitas para uso nas publicações da Sociedade Brasileira

de Ciência do Solo Quantidade/ taxa

Exemplo de aplicação Unidade/símbolo

Preferida Aceita Área Área de terreno m2 ha Área de vaso m2 cm2 Área foliar m2 cm2 Área superficial específica de solo m2 kg-1 m2 g-1 Razão de área foliar m2 kg-1 de planta - Volume Vaso m3 dm3;L Tanques, campo m3 dm3 Frascos L; dm3 mL Soluções L; dm3 m3; mL Comprimento Profundidade do solo m cm Espaçamento m cm Espaço interatômico (estr. de cristais) nm - Temperatura Solo, ar etc. ºC; K Produtividade, produção

Grãos, matéria seca kg ha-1 t ha-1; Mg ha-1; g m2

Parte da planta kg por planta; kg por espiga

g por planta; g por espiga

Concentração Massa molar conhecida: - meio líquido mol L-1; mol kg-1 mol m-3; mol dm-3; g L-1; g kg-1 Elementos no solo: - macroelementos, mol kg-1; mol dm-3 (ou mmol...) mol m-3;g kg-1; g dm-3; cmol kg-1;

cmol dm-3 microelementos mmol kg-1;mmol dm-3 mol m-3; mmol m-3 µmol kg-1; µmol dm-3 g kg-1; g dm-3 carga ou íon molc kg-1; mol (íon) kg-1; molc

dm-3; mol (íon) dm-3; (ou mmol...)

cmolc kg-1; cmolc dm-3;; cmol(íon) kg-1; cmol (íon) dm-3

extrato de saturação mol L-1; mol dm-3; (ou mmol ...) nutriente em plantas: macroelementos mol kg-1 (ou mmol...) g kg-1; mg kg-1 microelementos mmol kg-1; µmol kg-1 mg kg-1; mg kg-1 Massa molar desconhecida meio líquido g L-1; g dm-3 kg m-3; g kg-1 elementos no solo e planta macroelementos g kg-1; mg kg-1; g dm-3 kg m-3 microelementos mg kg-1; mg dm-3;

µg kg-1

µg dm-3 g m-3 matéria orgânica, argila (textura) g kg-1; g dm-3 kg kg-1; Mg m-3 Nutrientes em fertilizantes e calcário g kg-1 kg kg-1 Planta:

umidade ou matéria seca g kg-1 kg kg-1

Gases mol m-3; kg m-3; mol mol-1

ml L-1; g L-1

Taxa de aplicação

Fertilizantes e calcário:

campo kg ha-1 t ha-1; g m-2 vasos, canteiros g kg-1; mg kg-1; g dm-3; mg dm-3;

g m-2

Capacidade de troca

Solo mol (íon) kg-1; g dm-3; mg dm-3; g m-2

Solo mol (ion)-1; mol (íon) dm-3; molc kg-1; molc dm-3; (ou mmol...)

cmol (íon) kg-1; cmolc dm-3

Page 28: Zoologia C

28

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 2 – TEORIA DA DISSOCIAÇÃO ELETROLÍTICA

UNIDADE 3 – EQUILÍBRIO REALTIVO À ÁGUA E SEUS ÍONS

UNIDADE 4 – HIDRÓLISE DOS SAIS

Prof. Arci Dirceu Wastowski

2009

Page 29: Zoologia C

29

1. EQUILÍBRIO QUÍMICO.

Uma substância, a nitroglicerina, promove uma explosão, como resultado de uma

reação química. Nela, o volume dos produtos formados é muitíssimo superior ao volume

dos reagentes; a explosão nada mais é essa súbita expansão de volume:

4 C3H5(NO3)3 12 CO2 + 6 N2 +O2+ 10 H2O

Essa reação química é uma reação irreversível, pois uma vez iniciada só tem um

sentido: o dos reagentes em direção aos produtos.

Na verdade reações químicas irreversíveis são raras e os químicos costumam dizem

que, a rigor, nenhuma reação é totalmente irreversível. Uma reação é reversível quando

ocorre em ambos os sentidos:

I2(g)+ H2(g) 2 HI(g).............(1)

2 HI(g) I2(g)+ H2(g)................(2)

Iodo e hidrogênio gasosos reagem para formar ácido iodídrico gasoso, HI, mas o

inverso também é verdadeiro.

Partindo de 1 mol de iodo e 1 mol de hidrogênio como reagentes, contidos em um

volume V, obtém-se HI, como indicado na reação 1, com velocidade máxima no início e

que vai diminuindo com o transcorrer do tempo. Simultaneamente, a velocidade da

reação inversa (2), nula no início, se intensifica. Chega um momento em que tanto a

velocidade de produção de HI como de sua decomposição se igualam:

I2(g)+ H2(g) 2 HI(g)

e nesse momento diz-se que a reação atingiu o equilíbrio. Trata-se de um sistema

dinâmico, pois ambas as reações ocorrem simultaneamente embora não haja alteração

observável na concentração dos produtos ou dos reagentes.

Quando o sistema atinge o equilíbrio verifica-se que existem 0,213 mols de I2,

0,213 mols de H2 e 1,573 mols de HI no volume V.

Page 30: Zoologia C

30

Se a reação fosse irreversível teríamos 2 mols de HI e nenhuma quantidade de

reagente sobrando, mas, apesar de se obter menor quantidade de HI, o sistema atingiu o

equilíbrio num ponto em que favorece a formação do produto HI. Isso poderia não ter

acontecido se o equilíbrio já fosse atingido quando apenas uma pequena quantidade de HI

tivesse sido formada.

1.1. Constante de equilíbrio.

Os químicos noruegueses Guldberg e Waage estabeleceram uma lei que diz: “a

velocidade de uma reação química é diretamente proporcional às concentrações dos

reagentes elevadas a expoentes que são os respectivos coeficientes da equação química”.

No nosso exemplo:

I2(g)+ H2(g) 2 HI(g) v1 = k1[I2][H2]

2 HI(g) I2(g)+ H2(g) v2 = k2[HI]2

onde k é um coeficiente de proporcionalidade chamado constante de velocidade. Quando

o equilíbrio é estabelecido v1 e v2 são iguais, portanto:

k1[I2][H2] = k2[HI]2

]H][I[]HI[

2k1kK

22

2

pois a razão entre duas constantes também é uma constante, no caso constante de

equilíbrio.

Page 31: Zoologia C

31

[H2] [I2] [H2] [I2] [HI]

Concentrações iniciais Mol L-1 x 103

Concentrações no equilíbrio mol L-1 x 103

K

0,01166 0,01196 0,001831 0,003129 0,017671 54,5

0,01115 0,00995 0,002907 0,001707 0,016482 54,6

0,01133 0,00751 0,004565 0,000738 0,013544 54,4

0,00224 0,00225 0,000479 0,000488 0,003531 54,4

0,00135 0,00135 0,001141 0,001141 0,008410 54,4

Diferentes quantidades de I2 e H2 podem ser postas para reagir e o equilíbrio

sempre será atingido. Dependendo dessas concentrações iniciais de reagentes, diferentes

quantidades de produtos e reagentes estarão presentes no meio quando se atingir o

equilíbrio. Assim, não importam quais forem às condições iniciais, as concentrações de

produtos e reagentes no equilíbrio serão tais que colocadas na expressão de K fornecerão

o valor de 54,4.

A constante de equilíbrio de uma reação é, portanto, a relação entre as concentrações

dos produtos e as concentrações dos reagentes, quando se atinge o ponto de equilíbrio.

Essas concentrações são elevadas à potência de grau igual aos coeficientes que as

espécies apresentam na reação química.

Em relação ao estado de equilíbrio, é importante ressaltar que ele pode corresponder a

infinitas combinações de concentrações de produtos e reagentes. Diferentemente do que

se poderia pensar, não ocorre obrigatoriamente algum tipo de igualdade de concentração.

A única regra é que no estado de equilíbrio as concentrações de reagentes e produtos

colocadas na expressão da constante de equilíbrio forneçam um valor fixo.

De maneira geral, a constante de equilíbrio reflete a relação que existe entre os valores

de concentração de produtos e de reagentes:

]reagentes[]produtos[4,54

]reagentes[]produtos[000018,0

Page 32: Zoologia C

32

K sendo igual 54,4 indica que no equilíbrio existe uma maior quantidade de produtos

que de reagentes, enquanto que um valor de 0,000018 indica que o equilíbrio foi atingido

para uma quantidade ínfima de produtos.

A constante de equilíbrio é expressa em termos de concentração para soluções, ou

também em termos de pressão quando se trata de reações envolvendo gases. Quando

existem substâncias sólidas envolvidas na reação, elas não aparecem na equação da

constante de equilíbrio: [Zn2+]

Zno(s) + Cu2+(aq) Zn2+(aq) + Cuo(s) K = [Cu2+]

BaSO4(s) Ba2+(aq) + SO42-(aq) K = [Ba2+][SO4

2-]

TIPOS DE EQUILÍBRIOS Constantes de Equilíbrio podem ser escritas para vários tipos de processos

químicos (ver Tabela 1). Os equilíbrios podem representar DISSOCIAÇÃO (ácido/base,

solubilidade), FORMAÇÃO DE PRODUTOS (complexos), REAÇÕES (redox),

DISTRIBUIÇÃO entre duas fases (água e um solvente não-aquoso – extração por

solvente; adsorção sobre uma superfície, como em cromatografia, etc.).

TABELA 1

EQUILÍBRIO REAÇÃO Keq

Ácido-Base Dissociação HA + H2O H3O+ + A- Ka, Constante de Acidez

Solubilidade MX Mn+ + Xn- Kps, produto de solubilidade

Complexação Mn+ aL MLa(na – ab)+ Kf, Constante de Formação

Redox ARed + BOx AOx + BRed Keq, Cte. Equilibrio da Reação

Distribuição de Fases OH2A AORGÂNICO KD, Coeficiente Distribuição

Page 33: Zoologia C

33

1.2. Princípio de Le CHATELIER.

Quando se perturba o estado de equilíbrio químico por uma ação direta, como

aumento da concentração de um dos reagentes, o sistema reage no sentido de minimizar a

perturbação. Isso em suma é o princípio de Le Chatelier.

Na esterificação do ácido acético pelo álcool etílico:

CH3-COOH + CH3-CH2OH CH3-COO-C2H5 + H2O

ácido álcool éster água

produz-se acetato de etila e água. A constante desse equilíbrio é quatro. Se partirmos de

concentrações iguais de reagentes, 0,2 mol L-1, estabelecemos um equilíbrio, conforme

indicado pelos valores de concentração a seguir.

Se aumentarmos a concentração de álcool etílico em 0,1 mol L-1 o sistema reage no

sentido de minimizar essa ação, ou seja, consumir o acréscimo de álcool, deslocando o

equilíbrio para direita e aumentando a concentração dos produtos. A constante de

equilíbrio não se altera.

Ácido Álcool Éster Água Situação do

Sistema mol L-1

Constante. de

Equilíbrio.

Início 0,200 0,200 0,000 0,000

Equilíbrio 0,066 0,066 0,132 0,132 4

Interferência 0,066

+0,100

Novo equilíbrio 0,042 0,142 0,156 0,156 4

Não somente a alteração na concentração de reagentes constitui uma interferência no

equilíbrio químico, mas também alterações na pressão e na temperatura. O exemplo

clássico é a síntese da amônia onde ocorre o equilíbrio:

Page 34: Zoologia C

34

N2(g) + 3H2(g) 2NH3(g) + Q

Como a reação no sentido de produção de NH3 é exotérmica e se dá com contração de

volume, o máximo rendimento se dá sob resfriamento e pressões elevadas.

1.3. Efeito de diluição.

Como um equilíbrio químico é afetado pela diluição? Isso depende da reação

considerada; pode até não alterar em nada a posição de equilíbrio. Veja o caso da

esterificação do ácido acético e observe sua constante de equilíbrio:

Válcooldemassa.

Vácidodemassa

Vésterdemassa.

Váguademassa

]álcool][ácido[]éster][água[K

álcooldemassaácidodemassaésterdemassaáguademassaK

..

O aumento do volume V por diluição não muda a proporção das massas de reagentes e

produtos no equilíbrio.

Entretanto, na dissociação do ácido acético teríamos:

V1.

HAcmassaOHmassa.Acmassa

]HAc[]OH][Ac[

K 33

Neste caso o aumento de volume pela diluição leva a uma mudança para que o valor

de K permaneça constante, ou seja, as massas dos produtos devem aumentar. A diluição

dos ácidos fracos faz aumentar o seu grau de ionização.

Os catalisadores não afetam um equilíbrio químico, mas aceleram a velocidade das

reações químicas. Permitem que o equilíbrio químico seja atingido mais rapidamente,

sem, contudo modificar as concentrações dos reagentes no equilíbrio.

Page 35: Zoologia C

35

Quem prevê se uma reação ocorre espontaneamente ou não é a Termodinâmica. O fato

de uma reação ser possível não tem relação nenhuma com a velocidade com que ela

ocorre. Os gases hidrogênio e oxigênio podem permanecer em contato sem que

moléculas de água sejam produzidas e será necessário empregar um catalisador para que

tal reação ocorra.

2. ATIVIDADE IÔNICA.

Quando preparamos uma solução 0,1 mol L-1 de K2SO4 podemos deduzir de imediato

que a concentração do íon potássio, K+, é 0,2 mol L-1. Lembrando do número de

Avogadro, poderíamos também informar que existem 0,2 x 6,02 1023 ou 1,20 1023 íons

K+ em um litro daquela solução. Esse cálculo corresponde a uma situação ideal. Soluções

ideais são aquelas nas quais admitimos não existir nenhuma interação entre solutos ou

entre soluto e solvente.

Para postular que a concentração de potássio na solução em questão seja realmente

expressa por 0,2 mol L-1 ou 1,20 1023 íons K+ L-1, temos que aceitar que esses íons em

solução não são afetados nem pelas moléculas do solvente H2O nem pelos íons SO42-. Na

verdade isso é simplificar um pouco demais as coisas, pois íons positivos K+ e íons

negativos SO42- obviamente não são indiferentes uns aos outros. Forças de atração e

repulsão ocorrem entre partículas carregadas eletricamente como expresso pela Lei de

Coulomb. Também há que se considerar interação entre os íons e as moléculas de água,

que como vimos são polares.

Quando no século passado foram estudadas as propriedades coligativas das soluções,

procurava-se justificar efeitos que um soluto provocava num solvente como elevação de

temperatura de ebulição, abaixamento do ponto de congelamento, aumento da pressão de

vapor.

Propriedades coligativas são aquelas determinadas pelo número de partículas em

solução. Soluções apresentam ponto de ebulição maior que o do solvente puro e a lei de

Raoult evidência que quanto maior a concentração, maior será a elevação da temperatura

de ebulição.

Page 36: Zoologia C

36

Daí poderia pensar que tanto 0,5 mol de sacarose como 0,5 mol de K2SO4 ao serem

dissolvidos em 1 litro de água, deveriam proporcionar a mesma elevação de seu ponto de

ebulição. Contudo isso não ocorre e é fácil perceber o porquê:

solução de sacarose 0,5 mol L-1

contém 0,5.6,02 1023 moléculas de sacarose em um litro de solução

solução 0,5 mol L-1 de K2SO4:

contém:

0,5 . 6,02 1023 = 3,01 1023 íons SO42-

2 . 0,5 . 6,02 1023 = 6,02 1023 íons K+

Total = 9,03 1023 íons

Ou seja, a solução iônica tem um número três vezes maior de partículas que a solução

molecular de sacarose, embora ambas apresentam a mesma concentração molar. Note que

não importa se as partículas são íons ou moléculas.

Será então que, se isso for verdade, a dissolução de 0,5 mol de K2SO4 em um litro de

água promove um aumento do ponto de ebulição da água três vezes maior que a

dissolução de 0,5 mol de sacarose? Também não é bem assim...não é exatamente três

vezes maior...

A quantidade total de 9,03 1023 íons K+ e SO42- por litro de solução foi calculada a

partir da massa de soluto dissolvida, informando como a solução foi preparada, por isso

mesmo é denominada concentração analítica.

Não se pode ignorar que existem forças de atração e repulsão de natureza eletrostática

entre íons SO42-, K+ e outros presentes em solução que levam à formação de aglomerados

denominados pares iônicos, que no fundo se comportam como uma única partícula.

Na prática a solução se comporta como se existissem menos de 9,03 1023 íons

totalmente independentes em solução. Isso explica porque a elevação da temperatura de

ebulição pelo K2SO4 não é exatamente três vezes maior que aquela proporcionada pela

sacarose. Aliás, essa discrepância é uma forma de se avaliar o grau de associação entre os

íons.

Page 37: Zoologia C

37

2.1 Atividade e coeficiente de atividade

Devido à formação dos chamados pares iônicos, na maioria das vezes, a solução se

comporta como se tivesse uma concentração efetiva menor que a concentração

analítica. Assim, em diferentes processos nos quais a nossa solução 0,5 mol L-1 de

K2SO4 participasse, ela atuaria como se tivesse não 1,0 mol L-1 K+, mas uma

concentração efetiva de 0,89 mol L-1 K+, por exemplo. Diríamos, então que a atividade

do íon potássio na solução é 0,89 mol L-1.

A atividade de um íon ai em solução é dada pela expressão:

ai = fi [i]

onde fi é o coeficiente de atividade

[i] é a concentração analítica

Para o exemplo anterior, fK, o coeficiente de atividade do íon potássio na solução 0,5 mol

L-1 de K2SO4 seria:

fi = ai/[i] = 0,89/1,0 = 0,89

Na maioria dos casos o coeficiente de atividade pode ser encarado como um

coeficiente de correção da concentração analítica, para se levar em consideração a

formação dos pares iônicos e, consequentemente, a diminuição da concentração analítica.

É muito comum que soluções sejam consideradas diluídas o suficiente para que não

seja preciso considerar a atividade das espécies em solução. Contudo, isso pode ser em

muitos casos uma simplificação excessiva de uma questão que poderia ser mais bem

interpretada empregando o conceito de atividade.

Page 38: Zoologia C

38

2.2. Força iônica

A formação de pares iônicos é decorrente da ação de forças eletrostáticas de todas as

espécies eletricamente carregadas em solução, os íons, que devem afetar a atividade de

uma espécie em particular presente nessa mesma solução.

Para expressar essa característica da solução, em essência seu “conteúdo” em íons,

existe o parâmetro denominada força iônica, :

= ½ (zi)2.ci

= ½ [c1.z12 + c2.z2

2 + c3.z32 ....+ cn.zn

2]

onde ci é a concentração analítica de cada íon presente em solução e zi sua carga. A

força iônica é uma medida do potencial elétrico da solução e não tem unidade.

Em soluções de força iônica abaixo de 0,001, o meio pode ser considerado como

suficientemente diluído para que as interações eletrostáticas sejam mínimas, de modo

que:

fi 1

ai [i]

Para soluções de força iônica entre 0,001 e 0,1 em geral tem-se:

fi < 1

ai < [i]

Quando a força iônica da solução é superior a 0,1 a situação fica mais complicada,

podendo-se obter coeficientes de atividade superiores a 1. Por esse motivo é que foi dito

anteriormente que na maioria dos casos o coeficiente de atividade seria um fator de

diminuição da concentração analítica.

Page 39: Zoologia C

39

2.3. Cálculo do coeficiente de atividade de um íon

O coeficiente de atividade de um íon em uma solução é função de parâmetros que

refletem características do íon e do solvente. Esses parâmetros estão reunidos na equação

de Debye-Huckel:

.10329,0.1..509,0

log8

2

i

ii d

zf

Os parâmetros 0,509 e 0,329 108 são válidos para o solvente água a 25oC, o que

corresponde às soluções com as quais estaremos envolvidos. A força iônica é uma

característica da solução como vimos. Os parâmetros referentes ao íon i em que estamos

interessados são a carga elétrica zi e o raio iônico efetivo di.

Na tabela 1 aparecem os valores do raio iônico efetivo para alguns íons.

Tabela 1. Valores de raio iônico efetivo para diversos íons.

Raio iônico efetivo (cm)

Íons

2,5 10-8 Rb+, Cs+, NH4+, Ag+

3,0 10-8 K+, Cl-, Br-, I-, NO3-

3,5 10-8 OH-, F-, SCN-, HS-, ClO4-, BrO3

- 4,0 10-8 Na+, Hg2

2+, IO3-, H2PO4

-, SO42-, S2O3

2-, S2O82-, HPO4

2-, PO43-, CrO4

2- 4,5 10-8 Pb2+, CO3

2-, SO32-, MoO4

2- 5,0 10-8 Sr2+, Ba2+, Ra2+, Cd2+, Hg2+, S2- 6,0 10-8 Li+, Ca2+, Cu2+, Zn2+, Mn2+, Ni2+, Co2+ 8,0 10-8 Mg2+, Be2+ 9,0 10-8 H+, Al3+, Fe3+, Cr3+, Ce3+

Para soluções diluídas, cuja força iônica for menor que 0,001 o denominador da

equação de Debye-Huckel tende para o valor 1, podendo-se então empregar a equação

chamada lei limite de Debye-Huckel:

log fi = -0,509 . zi2 .

Exemplo: Dada uma solução 0,025 mol L-1 em Na2SO4, 0,012 mol L-1 em KCl e 0,02

mol L-1 em Ca(NO3)2 calcular a atividade do íon Ca2+:

Page 40: Zoologia C

40

1o passo - cálculo da força iônica: temos que calcular a concentração de cada um

dos íons em solução e conhecer suas cargas:

0,025 mol L-1 em Na2SO4 : [Na+] = 0,050 mol L-1

[SO42-] = 0,025 mol L-1

0,012 mol L-1 em KCl : [K+] = 0,012 mol L-1

[Cl-] = 0,012 mol L-1

0,020 mol L-1 em Ca(NO3)2: [Ca2+] = 0,020 mol L-1

[NO3-] = 0,040 mol L-1

= ½ [Na+].(+1)2 + [SO42-].(-2)2 + [K+].(+1)2 + [Cl-].(-1)2 + [Ca2+].(+2)2

+ [NO3-].(-1)2

= ½ 0,050.1 + 0,025.4 + 0,012.1 + 0,012.1 + 0,020.4 + 0,040.1

= ½ 0,050 + 0,100 + 0,012 + 0,012 + 0,080 + 0,040

= ½ 0,294 = 0,147

2o passo - cálculo do coeficiente de atividade do íon Ca2+: para isso basta

empregar a equação de Debye Huckel, sabendo que o raio iônico efetivo do íon Ca2+ é

6,0 10-8 cm (Tabela 1):

147,0.10329,0.1061147,0.)2.(509,0log 88

2

if

fCa

2+ = 0,359

3o passo - cálculo a atividade do íon Ca2+:

aCa2+ = fCa

2+ . [Ca2+]

aCa2+ = 0,359 . 0,020 = 0,00718 mol L-1

Embora a concentração analítica do íon Ca2+ na solução seja 0,02 mol L-1 ela atua

como se fosse 0,00718 mol L-1.

Page 41: Zoologia C

41

2.4. Constantes de equilíbrio em termos de atividade

As constantes de equilíbrio deveriam idealmente variar apenas com a temperatura.

Expressando-as em termos de concentração, contudo, observa-se que elas dependem da

concentração salina, ou da força iônica do meio. Na realidade, as constantes de equilíbrio

só são realmente constantes quando expressas em termos de atividade das espécies

participantes do equilíbrio:

HAc + H2O H3O+ + Ac-

(aH3O+).(aAc-) [H3O+].[Ac-] fH3O+.fAc- K = = = (aHAc) [HAc] fHAc Nesta equação o coeficiente de atividade da espécie molecular HAc é considerado

como igual à unidade.

Como exemplo vejamos como a constante de dissociação do ácido acético é

afetada pela concentração de KCl no meio, como mostram os dados da tabela a seguir:

KCl mol L-1 Ka HAc

0,00 1,754 10-5

0,02 2,302 10-5

0,11 2,891 10-5

0,51 3,340 10-5

1,01 3,071 10-5

A constante de equilíbrio em termos de atividade é denominada constante

termodinâmica, representada por Kt, e a constante de equilíbrio usual é denominada

constante de equilíbrio em termos de concentração, Kc. Assim, temos:

[H3O+].[Ac-] (aH3O

+).(aAc-)

Kc = Kt = [HAc] (aHAc)

Kt = Kc . f H3O+ . fAc-

Page 42: Zoologia C

42

Aumentando-se a força iônica, pela elevação da concentração de KCl até 0,51 mol

L-1, diminuem-se os coeficientes de atividade, de modo que para Kt permanecer

invariável, a “constante” Kc deve aumentar.

2.5. O que a atividade tem a ver com agronomia?

O conceito de atividade é estabelecido para refletir o comportamento real de uma

solução. Nos sistemas naturais quem precisa de comportamentos ideais? O que queremos

é justamente modelos que permitam previsões próximas das reais.

A toxicidade às plantas de um elemento presente na solução do solo pode ser

diminuída pela presença de outros íons, pelo simples fato de que promovem aumento da

força iônica. Quanto maior , menor será o coeficiente de atividade e, portanto, menor a

atividade do elemento tóxico na solução do solo e menor sua chance de ser prejudicial. É

por raciocínios como esse, por exemplo, que se justifica o efeito da adição de sulfato de

cálcio na redução da toxicidade às plantas do íon alumínio Al3+ presente na solução do

solo.

Na tabela a seguir é mostrado como raízes de plantas de trigo, cultivadas em solução

nutritiva que contém alumínio crescem mais, quando sua força iônica é aumentada pela

adição de sulfato de cálcio. Veja que a atividade do íon alumínio cai rapidamente e,

segundo os autores do trabalho de pesquisa, essa é a explicação para o aumento do

comprimento das raízes.

Observe também que a concentração do íon Al3+ na solução nutritiva decresce, pois se

forma o par iônico AlSO4+. O efeito tóxico do alumínio às plantas se manifesta,

sobretudo através da redução do crescimento das raízes das plantas.

Concentração mol L-1 Atividade mol L-1 Força iônica

Al3+ AlSO4+ Al3+ Ca2+ Crescimento

de raiz (mm/planta)

0,00043 0,000114 0,000060 0,000060 0,0027 28 0,00074 0,000104 0,000071 0,000046 0,0049 55 0,00164 0,000093 0,000085 0,000029 0,0098 89 0,00306 0,000087 0,000093 0,000020 0.0160 107

Adaptado de Camargo, C.E.O.; Oliveira, O.,F.; Lavorenti,A., Bragantia 40:93-191, 1981.

Page 43: Zoologia C

43

O aumento da força iônica no meio favorece a dissolução de sais pouco solúveis. Isso

pode auxiliar quando se interpreta o fornecimento de nutriente às plantas por uma fonte

pouco solúvel.

Finalmente devemos ressaltar que as medidas de pH, efetuadas através de métodos

potenciométricos, estão relacionadas diretamente a atividade do íon H+ nas soluções.

Deste modo, medir o pH através de potenciometria é medir a atividade do íon H+ nas

soluções aquosas.

Problemas

1. Calcular a força iônica das seguintes soluções:

f) 0,01 mol L-1 de Al2(SO4)3

g) 0,01 mol L-1 de Al2(SO4)3 + 0,05 mol L-1 de Mg(NO3)2

h) 0,02 mol L-1 de NaH2PO4 + 0,012 mol L-1 de KAl (SO4)2

i) 0,052 mol L-1 de Na2SO4 + 0,003 mol L-1 de CaCl2

j) 0,01 mol L-1 de CaCl2 + 0,01 mol L-1 de Al2(SO4)3 + 0,05 mol L-1 de KCl + 0,5 g L-1 de

KAl(SO4)2

2. Calcular o coeficiente de atividade do íon Li+ em uma solução aquosa na qual a força

iônica é 0,04 a 25oC.

3. Calcular a atividade do íon Mg2+ em uma solução aquosa que é 0,01mol L-1 MgCl2,

0,001 mol L-1 Na2SO4 e 0,001 mol L-1 HCl a 25oC.

Page 44: Zoologia C

44

3. A IMPORTÂNCIA DE ÁCIDOS, BASES E SAIS.

Quase todos os compostos inorgânicos e uma grande parte de compostos

orgânicos podem ser classificados como ácidos ou bases. Esses compostos estão

envolvidos em processos vitais, na agricultura, na indústria e meio ambiente. O produto

químico que ocupa o primeiro lugar dentre os compostos químicos produzidos

mundialmente é um ácido: o ácido sulfúrico. Ocupando o segundo lugar nesse ranking

está uma base: CaCO3. Outra base, a amônia, ocupa o quarto lugar dentre os produtos

químicos mais produzidos anualmente em escala mundial. Dentre os sais o KCl é fonte

de fertilizante potássico e Na2CO3 é usado em grande quantidade na produção de vidro e

tratamento de águas de abastecimento.

O conteúdo salino do sangue humano assim como o equilíbrio ácido-base no

sangue precisa estar dentro de limites muito estreitos para manter uma pessoa saudável.

Solo com acidez ou alcalinidade elevadas usualmente não suportam o crescimento da

maior parte das culturas comerciais. A salinidade de águas de irrigação pode impedir o

crescimento das plantas. O problema de salinidade de águas é sério em regiões do

nordeste do Brasil e em regiões da Califórnia no Estados Unidos. Nesse capítulo

discutiremos o equilíbrio ácido-base.

CHUVA ÁCIDA: (Acid rain) é um termo amplo usado para descrever várias formas

em que ácidos caem da atmosfera. Um termo mais preciso é deposição ácida, que está

constituída de duas partes: úmida e seca.

Deposição úmida se refere à chuva, geada, neve e neblina ácida. Conforme a

água ácida flui por cima e através do solo, afeta uma grande variedade de plantas e

animais. A intensidade dos efeitos dependem de vários fatores, incluindo quão ácida é a

água, a capacidade química e tamponante dos solos envolvidos, e os tipos de peixe,

árvores, e outros coisas vivas que dependem da água.

Deposição seca se refere a gases e partículas ácidos. Cerca da metade da acidez na

atmosfera cai de volta para a terra através de deposição seca. O vento sopra estes gases e

partículas ácidas acima de edifícios, carros, lares, e árvores. Os gases e partículas

depositados podem ser arrastados desde árvores e outras superfícies pelas chuvas.

Page 45: Zoologia C

45

Quando isto acontece, a água que corre acrescenta estes ácidos à chuva ácida, fazendo a

mistura mais ácida do que a chuva que cai isolada.

Os ventos prevalecentes sopram os compostos que causam deposição ácida seca e

úmida através de estados e fronteiras nacionais, às vezes a centenas de quilômetros.

Cientistas descobriram, e tem confirmado, que DIÓXIDO DE ENXOFRE (SO2) e óxidos

de nitrogênio (NOX) são as causas primárias da chuva ácida. Queima de combustíveis

fósseis, como carvão, para produção de energia elétrica por exemplo produzem SO2 e

NOX.

Chuva ácida ocorre quando estes gases reagem na atmosfera com H2O, O2, e

outros produtos químicos para formar diversos compostos ácidos. A luz solar aumenta a

velocidade da maioria destas reações. O resultado é uma solução de H2SO4 e HNO3.

Deposição ácida tem uma variedade de efeitos, que inclui danos a florestas e

solos, feixes e outros seres vivos, materiais, e saúde humana. A chuva ácida também

reduz a distância e a clareza com que podemos enxergar através do ar, um efeito

denominado redução de visibilidade.

A primeira consideração que se deve ter a respeito dos ácidos e bases é que as

chamadas "teorias" de ácido-base são, na realidade, definições de ácidos ou de bases; elas

não são teorias no sentido da teoria da ligação de valência ou da teoria de orbitais

Page 46: Zoologia C

46

moleculares. Na verdade podemos fazer um ácido ser qualquer coisa que queiramos - as

diferenças entre os vários conceitos não se referem ao "certo", mas ao uso mais

conveniente em uma situação particular.

Todas as definições do comportamento ácido-base são compatíveis umas com as

outras. De fato, um dos objetivos na apresentação que se segue, das várias definições

diferentes, é enfatizar seus paralelismos e assim dirigir o estudante na direção de uma

atitude cosmopolita diante dos ácidos e bases, o que dará a ele uma boa posição para lidar

com as várias situações químicas, seja solução aquosa de íons, reações orgânicas,

titulações não aquosas ou qualquer outra.

QUE SÃO OS ÁCIDOS E AS BASES?

Existem vários métodos para definir ácidos e bases. A pesar que estas definições

não se contradizem entre sim, elas sim variam em quanto à abrangência delas.

Antoine Lavoisier, Humphry Davy, and Justus Liebig também fizeram

observações a respeito de ácidos e bases, mas não formalizaram definições.

Em 1661 Robert Boyle resumiu as propriedades dos ácidos como segue;

1. Ácidos têm sabor azedo (acre); 2. Ácidos são corrosivos; 3. Ácidos mudam a cor de certos corantes vegetais, tal como tornassol, de azul

para vermelho; e 4. Ácidos perdem sua acidez quando combinados com álcalis O nome “ÁCIDO” vem do Latim acidus, que significa “azedo”, e se refere ao odor

penetrante e sabor azedo de muitos ácidos.

Exemplos:

* Vinagre sabor azedo porque ele é uma solução diluída de ácido acético em água.

* Suco de limão e cítricos sabor azedo porque contêm ácido cítrico.

* Leite torna-se azedo quando estraga porque se forma ácido láctico, e

* Carne ou manteiga: cujo cheiro desagradável e azedo quando podre pode ser atribuída

a compostos tais como ácido butírico que se forma quando a gordura estraga.

* Vitamina C contido em certas frutas, contém ácido ascórbico

* Acido Carbônico contido em refrigerantes carbonatados

Page 47: Zoologia C

47

4. EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE

Existem três modelos mais conhecidos para se conceituar ácidos e bases: Arrhenius,

Brönsnted-Lowry e Lewis. Para nossas finalidades escolhemos o conceito de Bronsted-

Lowry (1923).

4.1. Conceito de Arrhenius

A primeira definição de ácidos e bases foi dada pelo químico sueco Svante

Arrhenius ao redor de 1884:

“Substâncias ácidas são aquelas que em solução aquosa dissociam-se em íons

hidrogênios”

“Substâncias básicas são aquelas que em solução aquosa dissociam-se em íons

hidroxilas”

A teoria de Arrhenius de ácidos e bases foi formulada com base na sua teoria de

ionização das substâncias em soluções aquosas. As substâncias que se dissociavam

totalmente ou em parte como íons em solução aquosa eram considerados eletrólitos.

Aquelas que se dissociavam totalmente eram eletrólitos fortes, as que não se dissociavam

totalmente eram eletrólitos fracos.

No caso dos ácidos fortes tais como H2SO4, HNO3, HCl, HClO4, os quais se

ionizam completamente em solução aquosa e fornecem íons hidrogênio (H+), a teoria de

Arrhenius funcionava perfeitamente. De modo semelhante, as bases fortes como o NaOH

e KOH também se ionizam completamente em solução aquosa e produzem íons

hidroxilas (OH-) No entanto, em certos casos, a teoria de Arrhenius não se aplicava bem

onde a solução não era aquosa e até mesmo nestas condições onde certas substâncias com

caráter ácido ou básico não forneciam íons H+ ou OH-, respectivamente. Como por

exemplo, a amônia (NH3) não contém íons hidroxila, porém em solução aquosa ela pode

produzir íons hidroxilas reagindo com a água:

NH3(aq) + H2O NH3HOH NH4OH NH4+ (aq) + OH-

Page 48: Zoologia C

48

De qualquer modo, como não há evidências de que o NH4OH existe, o conceito

de Arrhenius para ácidos e bases não tem sido mais considerado, nem mesmo em

soluções aquosas.

Além disso, o conceito de Arrhenius promoveu a idéia errônea que dissociação

iônica era indispensável para manifestação da acidez e que, portanto, reações do tipo

ácido-base não poderiam ocorrer na maioria dos solventes não aquosos e na ausência de

solvente.

LIMITAÇÔES:

Água requerida, assim esta teoria, obviamente, é restrita a soluções aquosas;

Só ácidos com caráter protogênico (que produzem prótons) são permitidos

Só bases hidroxiladas (que produzem hidroxila) são permitidas

4.2. Definições básicas no conceito de Brönsted-Lowry

O conceito de ácidos e bases mais aceito, e um dos que tem elucidado o papel do

solvente em reações ácido-base, é aquele proposto independentemente por J.N. Brønsted

(Dinamarca) e T.M. Lowry (Inglaterra) em 1923.

“Ácido é definido como um doador de próton e base como um receptor de próton”

Esta definição tem uma importante implicação: Uma substância não pode atuar

como ácido sem a presença de uma base para aceitar o próton, e vice-versa.

Pelo conceito de Brönsted-Lowry ácidos e bases são espécies químicas

participantes de um equilíbrio em que ocorre transferência de prótons. É algo similar à

definição de substâncias oxidantes e redutoras, que participam de um equilíbrio

envolvendo transferência de elétrons. Por próton se entende aqui o átomo de hidrogênio

que perdeu seu elétron, ou seja, o íon H+.

Ácido é toda espécie química que participa de um equilíbrio químico doando

prótons:

HA + H2O H3O+ + A-

Page 49: Zoologia C

49

Exemplos:

HCl + H2O H3O+ + Cl- HNO3 + H2O H3O+ + NO3

- NH4

+ + H2O H3O+ + NH3 HCO3

- + H2O H3O+ + CO32-

HCl + NH3 NH4+ + Cl-

Base é toda espécie química que participa de um equilíbrio químico recebendo

prótons:

R + H2O RH + OH-

Exemplos:

NH3 + H2O NH4+ + OH-

CN- + H2O HCN + OH-

H2PO4- + H2O H3PO4 + OH-

CH3-NH2 + H2O CH3-NH3+ + OH-

Pelo conceito de Bronsted-Lowry toda espécie que se comporta como ácido deve

possuir prótons para doar, mas para se comportar como base não existe a condição de

possuir grupo OH-.

O íon Al3+ é considerado como responsável pela acidez dos solos das regiões

tropicais e atua como ácido o que pode parecer ilógico por não ter prótons para doar. Em

solução aquosa o íon Al3+ ocorre como um aquo-complexo:

[Al(H2O)6]3+ + H2O [Al(OH)(H2O5]2+ + H3O+

e as moléculas de água associadas ao íon atuam como fonte de prótons. Íons Fe3+ e Cr3+

têm comportamento idêntico ao Al3+.

A água não é um simples solvente, é um reagente que pode atuar como ácido ou

como base. Sempre estaremos trabalhando com soluções aquosas e assim deu-se ênfase a

ela nos exemplos anteriores.

TABELA de REAÇÕES ÁCIDO-BASE de BRØNSTED-LOWRY

Page 50: Zoologia C

50

Solvente Ácido1 + Base2 Ácido2 + Base1 NH3(liq) HOAc NH3 NH4

+ OAc- H2O HCl H2O H3O+ Cl- H2O NH4

+ H2O H3O+ NH3 H2O H2O OAc- HOAc OH- H2O HCO3

- C2H5OH H2O CO32-

C2H5OH NH4+ C2H5O- C2H5OH NH3

C6H6 H picrato (ác. pícrico) C6H5NH2 (anilina) C6H5NH3+ Picrato-

Uma espécie atua como ácido se outra atuar como base, pois, obviamente, uma

espécie só poderá doar prótons se outra estiver apta para recebê-los. Nesse sentido,

espécies químicas diversas podem atuar como ácido ou como base: moléculas, íons, íons

complexos.

O comportamento ácido-base tem que ser analisado em função do equilíbrio que

ocorre em solução, daí a necessidade de sempre considerar os íons presentes quando

trabalharmos com soluções de sais. Não terá sentido para nós analisar o comportamento

ácido-base do sal NH4Cl pela reação:

NH4Cl + H2O NH4OH + HCl

Se ela lhe for familiar é melhor esquecer. Esse sal só existe como NH4Cl no

estado sólido em um frasco de reagente, mas em solução o que existe são íons NH4+ e Cl-,

resultantes de sua dissolução em água.

Finalmente, mais importante do que definir se uma substância é um ácido ou uma

base é verificar se uma substância está se comportando como um ácido ou uma base.

Nesta teoria: Soluções aquosas são permitidas

Bases além dos hidróxido são permitidas; e

Só ácidos protogênicos são permitidos

Page 51: Zoologia C

51

4.3. Pares conjugados

Uma reação de um ácido com uma base é, portanto, uma reação de troca de

prótons; se um ácido é simbolizado por HA e a base por B, então podemos escrever uma

equação generalizada ácido-base:

HA + B A- + BH+

Porém, o produto BH+ também é capaz de doar seu novo próton recém adquirido

para outro receptor, e é, portanto potencialmente um outro ácido:

Ácido1 + Base2 Base1 + Ácido2

Nesta reação esquemática, a base1 é conjugada do ácido1, e ácido2 é conjugado da

base2. O termo conjugado significa “estar conectado com”, e implica que qualquer

espécie química e sua espécie conjugada estão relacionadas com o ganho ou perda de

prótons, formando um par ácido-base conjugado.

Deve ser enfatizado que o símbolo H+ representa aqui o próton não solvatado e

não o íon hidrogênio, o qual é uma espécie solvatada cuja natureza normalmente varia

com o meio.

Alguns exemplos de pares ácido-base conjugado são dados abaixo:

Substância Ácido Base Conjugada

Ácido Clorídrico HCl Cl-

Ácido acético CH3COOH CH3COO-

Ácido nítrico HNO3 NO3-

Ácido perclórico HClO4 ClO4-

Água H2O OH-

Íon hidroxônio ou hidrônio H3O+ H2O

Íon bicarbonato HCO3- CO3

2-

Cloreto de amônio NH4Cl NH3

Um ácido de Brønsted-Lowry pode ser uma molécula não carregada, um íon

positivo, ou um íon negativo.

Uma vez que a manifestação ácido-base de uma espécie química em uma reação

ocorre com a transferência de próton, e a capacidade de doar ou receber prótons de um

Page 52: Zoologia C

52

ácido ou uma base, respectivamente, está ligada as suas forças intrínsecas, então é

necessário saber que a força de um ácido ou de uma base se refere à extensão com que

elas se ionizam em solução, isto é, se desprotona (perde próton) no caso de um ácido e

protona (ganha próton) no caso de uma base.

A acidez intrínseca de um ácido HA, por exemplo, é expressa como a constante

de equilíbrio para a reação:

HA H+ + A-

[H+] [A-] Ka = --------------

[HA]

A basicidade intrínseca da base A-, correspondendo ao inverso da reação, e será

expressa pelo recíproco daquela constante:

1 [HA]

Kb = ------ = ----------------

Ka [H+] [A-]

Uma vez que prótons livres não existem em solução em concentrações

detectáveis, reação do tipo expressa pela equação não pode ser realizada

experimentalmente, então a acidez e basicidade intrínseca de uma substância não podem

ser medidas.

Este fato é de fundamental importância no entendimento de medidas ácido-base.

A única maneira na qual podemos determinar força de um ácido ou base é pela reação de

um ácido com uma base de referência e vice versa.

[H+] [A-] HA H+ + A- Ka = --------------

[HA] [BH+]

B + H+ BH+ Kb = ------------ [H+] [B]

[BH+] [A-] HA + B BH+ + A- K = ---------------- = KaKb

[HA] [B]

Page 53: Zoologia C

53

Assim, a medida da constante para uma reação ácido-base, K, é o produto da

constante de acidez intrínseca de um ácido HA e a constante de basicidade intrínseca da

base B.

Podemos determinar a força de um ácido apenas pela extensão da reação ácido-

base, ou reação de neutralização, na qual um próton é transferido de um ácido HA para

uma base B para formar o novo par mais fraco ácido-base BH+ e A-.

Para que a reação ocorra da esquerda para a direita, a base B deve ser mais forte

do que a base conjugada do ácido HA, isto é, ela deve ter maior afinidade para prótons do

que A-.

Cada reação ácido-base pode ser visualisada como uma soma de duas semi-

reações, uma expressando a acidez intrínseca do ácido HA e a outra, a basicidade

intrínseca da base B.

Nenhuma das semi-reações podem ser avaliadas separadamente, apenas sua soma.

Nenhuma constante Ka, nem Kb pode ser avaliada separadamente, apenas seu produto.

Assim, todas as reações ácido-base envolvem a transferência de prótons entre dois

pares conjugados ácido-base.

Quando uma espécie atua como ácido e doa um próton ela se transforma

imediatamente em uma espécie deficiente em prótons, que por sua vez é capaz de recebê-

los de volta:

base ácido

HCN + H2O H3O+ + CN- ácido base

Deste modo, sempre a um ácido de Brönsted-Lowry estará associada uma base,

formando o que se chama par conjugado como por exemplo:

H2S/HS-, HS-/S2-, NH3/NH4

+, HCl/Cl-, H2O/OH-, H2O/H3O+, H2CO3/HCO3-

Pela simples observação dos exemplos anteriores pode-se definir par conjugado

como espécies que se diferenciam entre si por um próton. Nota-se ainda, que em um

equilíbrio ácido-base estão envolvidos dois pares conjugados.

Page 54: Zoologia C

54

4.4. Conceito de Lewis.

Os fundamentos da teoria eletrônica de acidez foi originalmente estabelecida pelo

americano G. N. Lewis em 1916, porém somente a partir de 1923 que a sua teoria foi

aceita, o qual estendeu a definição de ácidos e bases além daqueles conceitos de

Brønsted-Lowry, tanto do ponto de vista teórico como experimental.

De acordo com a teoria de Lewis:

“Base é definida como um doador de par de elétrons e ácido como um receptor de par de

elétrons”

Considere a seguinte reação geral:

A + :B A:B

A = Ácido de Lewis

:B = Base de Lewis

A:B = Complexo ácido-base

O exemplo mais simples de um ácido de Lewis é um proton, H+, o qual aceita um

par de elétrons quando ele se liga à molécula de amônia para formar um íon amônio:

H+ + :N

H

H

H

N

H

H

H

H

A molécula de amônia forneceu um par de elétrons e, portanto de acordo com a

definição de Lewis é uma base, de modo semelhante à teoria de Brönsted.

A vantagem da definição de Lewis sobre a de Brönsted é que podemos identificar

substâncias como ácidos ou bases mesmo quando não há transferência de prótons (o

papel do próton é essencial na definição de Brönsted, porque a definição de um ácido ou

uma base depende do envolvimento de prótons).

Page 55: Zoologia C

55

O resultado da combinação de uma base de Lewis e um ácido de Lewis é

chamado um complexo (como no exemplo da formação do amônio). A ligação entre o

ácido de Lewis e a base de Lewis foi através de uma ligação covalente onde um par de

elétrons fornecido pela base ao ácido está agora sendo compartilhado por ambas as

espécies químicas que lhe deu origem (trata-se de uma ligação covalente dativa).

De acordo com as características em receber ou doar elétrons, certas espécies

químicas também tem outra classificação, segundo Pearson (1963):

Ácidos duros: o átomo receptor de elétrons possui número de oxidação elevada

(carga positiva), elevada eletronegatividade (capacidade da espécie química atrair

elétrons), tamanho pequeno, e não possuem elétrons externos facilmente excitados.

Ácidos duros não são polarizáveis (capacidade dos orbitais eletrônicos se deformarem na

presença de um campo elétrico e fazerem com que o centro de carga positivo e negativo

não coincidam, gerando certa polaridade temporária) e se associam com bases duras

através de ligações iônicas.

Ácidos moles: o átomo receptor de elétrons possui baixo estado de oxidação,

Page 56: Zoologia C

56

tamanho relativamente grande, baixa eletronegatividade, e possuem vários elétrons

externos facilmente excitados. Ácidos moles são polarizáveis e se associam com bases

moles através de ligações covalentes.

Bases duras: o átomo doador é de baixa polarizabilidade e de elevada

eletronegatividade, é difícil de se oxidar, e não possuem orbitais eletrônicos vazios de

baixa energia.

Bases moles: o átomo doador é de elevada polarizabilidade e de baixa

eletronegatividade, é facilmente oxidado, e está associado com orbitais eletrônicos vazios

e de baixo posicionamento. Bases duras preferem complexar ácidos duros e bases moles

preferem complexar ácidos moles, sob condições semelhantes de força ácido-base.

4.5. Espécies apróticas e anfólitos

Nem todas as espécies químicas atuam decididamente como ácido ou como base.

Existem aquelas que não apresentam tendência mensurável nem de doar nem de receber

prótons, sendo denominadas espécies apróticas, tais como: Na+, K+, Ca2+, Mg2+, NO3-,

ClO4-, entre outras. Soluções que contém apenas espécies apróticas não são ácidas nem

alcalinas, são neutras.

Íon Ka Ag+ 1,0 10-12

Mg2+ 4,0 10-12 Ca2+ 2,5 10-13 Zn2+ 2,0 10-10 Cu2+ 1,0 10-8 Pb2+ 1,6 10-8

É melhor não pensarmos em espécies apróticas como absolutamente incapazes de

doar ou receber prótons. Analisamos a questão em termos de constante de ionização e

quando examinamos as constantes dos íons Ca2+, Mg2+, Ag+ podemos concluir que são

realmente muito pequenas para serem levadas em consideração. Esse quadro, contudo, já

se altera para os demais metais da lista anterior.

Page 57: Zoologia C

57

Em contraste com as espécies apróticas existem aquelas que apresentam tendência

de doar e receber prótons ao mesmo tempo, são as espécies denominadas anfólitos.

Quando se dissolve bicarbonato de sódio (NaHCO3) em água, temos uma solução

contendo íons Na+ e HCO3-. O comportamento do íon sódio não será considerado pois,

como já citado, ele é aprótico, mas o íon bicarbonato participa simultaneamente dos

equilíbrios:

HCO3- + H2O H3O+ + CO3

2-

HCO3- + H2O OH- + H2CO3

Apenas observando essas equações químicas não podemos prever se a solução do

anfólito será ácida ou alcalina, pois não dispomos aqui das constantes desses equilíbrios

para dizer qual deles é mais eficiente: o que produz íons H3O+ ou íons OH-.

Não é difícil dar outros exemplos de anfólitos. Simplesmente observe que eles

derivam da reação de neutralização parcial entre um ácido e uma base.

4.6. Produto iônico da água

Independentemente dos equilíbrios existentes em solução aquosa, resultantes dos

solutos dissolvidos, sempre ocorre um equilíbrio químico evolvendo as moléculas do

próprio solvente água:

H2O + H2O H3O+ + OH-

ácido base ácido base

no qual uma molécula de água atua como ácido enquanto que outra atua como base. Esse

equilíbrio é denominado auto-ionização ou autoprotólise da água e sua constante,

representada por Kw, é denominada constante do produto iônico da água.

Kw = [H3O+][OH-] = 10-14 a 25oC

Essa expressão indica que as concentrações dos íons H3O+ e OH- em qualquer

solução aquosa estarão sempre interrelacionadas, ou seja, conhecendo-se uma calcula-se

a outra.

Page 58: Zoologia C

58

Como em água pura o equilíbrio ácido-base envolve apenas moléculas de próprio

solvente, temos que:

[H3O+] = [OH-]

Kw = 10-14 = [H3O+]2

[H3O+] = [OH-] = 10-7 mol L-1

Essa condição define uma solução neutra. Quando [H3O+]>[OH-] a solução será

ácida e quando [OH-]>[H3O+] a solução será básica ou alcalina.

Em geral, para soluções de ácido ou de base relativamente concentradas o

equilíbrio de dissociação do próprio solvente é ignorado. Contudo, se as concentrações

dos solutos forem menores que 10-6 mol L-1 a auto-ionização da água passa a ser

importante.

Aplicando a lei da ação das massas, para cada temperatura:

aH+ x aOH- [H+] x [OH-] fH+ x fOH- ---------------------- = -------------------- x ----------------- = constante aH2O [H2O] fH2O

Como a água se encontra muito pouco ionizada, [H+] e [OH-] são pequenas e os

fH+ e fOH- podem ser iguais a 1; fH2O também pode ser considerado igual a 1.

[H+] x [OH-] ------------------- = constante [H2O]

Em água pura ou em soluções aquosas diluídas, a concentração de água é

praticamente constante; daí:

[H+] x [OH-] = Kw = produto iônico da H2O

Em soluções mais concentradas, isto é, em solução de força iônica apreciável, o

campo elétrico circundante afeta os fatores de atividade dos íons e também a atividade de

H2O; Kw não será constante mas dependerá dos íons presentes. Todavia, como é difícil

determinar os fatores de atividade, exceto em condições especiais, na prática se emprega

Page 59: Zoologia C

59

o Kw como constante, mesmo que não seja rigorosamente exato. Kw varia com a

temperatura, mas nas condições experimentais podemos considerar igual a 1 x 10-14.

A importância do produto iônico da água vem do fato de que, sabendo-se a

concentração de H+, a concentração de OH- pode ser calculada e vice-versa.

Em 1909, Sörensen propôs a definição de pH:

pH = - log10 [H+]

as concentrações de H+ se expressam por pH, por números reais positivos de 0 a 14.

pH < 7 solução ácida pH > 7 solução alcalina

14,0

13,0

12,0

11,010,0

9,0

8,0

7,0

7,0

6,0

5,0

4,03,02,0

1,0

0ACIDEZ AUMENTA

ALCALINIDADE AUMENTA

pH

pH

Page 60: Zoologia C

60

EXEMPLOS:

1) Calcular o pH de uma solução que tem [H+] = 4,00 x 10-5

log 4,00.10-5 = 0,602 – 5 = -4,398

pH = - log [H+] = - (-4,398) = 4,40

2) Calcular a concentração do H+ que corresponde a pH = 5,643.

pH = -log [H+] = 5,643 log [H+] = -5.643 = 6,357

antilog 0,357 = 2,28 [H+] = 2,28.10-6

QUESTIONÁRIO SOBRE pH

1) O que é produto iônico da água? Qual o seu valor?

2) O que é uma solução neutra, alcalina e ácida?

3) Como Sörensen definiu pH?

4) O que é pKa e pKb?

EXERCÍCIOS SOBRE pH

1) Qual é o pH da água pura?

2) Se uma solução tem pH = 4,0, qual é a sua concentração hidrogeniônica?

3) Qual é o pH de uma solução KNO3 0,10 M?

4) Qual o pH de uma solução cuja concentração de H+ é igual a 4,8 x 10-13 M?

Page 61: Zoologia C

61

5) Qual o pH de uma solução cuja concentração de OH- é 2,50 x 10-3 M?

6) Qual é o seu pH de uma solução cuja concentração hidrogeniônica é 2,89 M?

7) Qual é o pH de uma solução NaHSO4 0,168 M? Kdiss = 1,26 x 10-2

8) Qual é o pH de uma solução de HNO2 0,15 M? Kdiss = 4,5.10-4

9) Uma típica amostra de sangue tem pH = 7,4. Qual é a concentração hidrogeniônica?

10) Uma cerveja típica tem pH de 4,7. Isto corresponde a qual concentração

hidrogeniônica?

4.7. Força de ácidos e bases

O ácido acético, constituinte do vinagre, é usado na alimentação humana, enquanto

que ácidos clorídrico, nítrico e sulfúrico, utilizados industrialmente, são perigosos e

devem ser manipulado com muito cuidado.

Poderíamos explicar que essa diferença decorre do fato do ácido acético ser um ácido

fraco e o ácido clorídrico ser um ácido forte. Bem, ao classificar algo fazendo

comparações do tipo forte-fraco ou grande-pequeno, sempre se corre o risco de ser

subjetivo e para discutir a força dos ácidos temos de fazê-lo em base mais científica.

Tabela de Ácidos e Bases Fortes

ÁCIDOS BASES

HX H+ + X MOH M+ + OH M(OH)2 M2+ + 2OH

HCl LiOH HBr NaOH HI KOH HClO4 RbOH HNO3 CsOH H2SO4 Sr(OH)2 HSCN Ba(OH)2 HIO3 Ca(OH)2

Mg(OH)2 TlOH

Sabemos que as propriedades dos ácidos e das bases são decorrentes da presença do

íon H3O+ e OH-, respectivamente, em suas soluções. Quanto maior a eficiência com que

Page 62: Zoologia C

62

um ácido produz H3O+, e uma base produzem OH-, maior será sua força. Como sempre

estamos envolvidos com um sistema em equilíbrio, essa eficiência será numericamente

traduzida por uma constante de equilíbrio.

Vamos considerar o caso do ácido acético CH3-COOH, que atua como ácido porque

pode doar um próton (os hidrogênios do grupo CH3 não participam). Será que ele é um

bom produtor de íon H3O+?

CH3-COOH + H2O CH3-COO- + H3O+

A constante desse equilíbrio vale 1,78 10-5

5

3

33 10.78,1]COOHCH[

]OH][COOCH[

Fica fácil perceber que, se a relação entre produtos e reagentes é expressa por um

número tão pequeno quanto 0,0000178, o equilíbrio esta deslocado para a esquerda, no

sentido dos reagentes. O equilíbrio foi atingido num ponto em que o ácido acético

mantém a grande maioria de suas moléculas intactas, totalmente desfavorável para a

produção de íons H3O+. O ácido acético é um ácido fraco por que no equilíbrio de sua

solução aquosa existem poucos íons H3O+.

A força de um ácido, sua capacidade em doar prótons e produzir íons H3O+, é

quantificada pela constante de equilíbrio de dissociação, simbolizada por Ka.

Ao se diluir 6g de HAc1 em água para se preparar 1 litro de solução 0,1 mol L-1,

qual será a situação uma vez atingido o equilíbrio químico?

HAc + H2O Ac- + H3O+

Tempo 0 0,1 0 0 Equilíbrio 0,1 – x x x

)x1,0()x(10.78,1

25

1 Por facilidade, o ácido acético será expresso daqui para frente através da fórmula HAc, a qual evidentemente não é válida pelas regras oficiais de nomenclatura química.

Page 63: Zoologia C

63

Resolvendo essa equação quadrática encontramos que x, que é a concentração de

H3O+, será igual a 1,32 10-3 mol L-1 e a concentração do ácido acético, HAc, não

dissociado será 0,0987 mol L-1. Observe, portanto, que ao se atingir o equilíbrio apenas

1,3% das moléculas atuaram efetivamente como doadoras de prótons. Esse valor 1,3% é

conhecido como grau de ionização.

E os ácidos fortes como HCl, HNO3, HClO4?

Para essas substâncias, a tendência em doar prótons é tão elevada que o equilíbrio

se encontra quase que totalmente deslocado no sentido dos produtos, o de formação de

íon H3O+. A reação inversa é de magnitude desprezível e como em termos práticos a

reação ocorre num único sentido, pode-se dizer que não existe equilíbrio, ou então que

ocorre equilíbrio com constante Ka infinita.

HNO3 + H2O H3O+ + NO3-

Havíamos citado que o íon NO3- era uma espécie aprótica e veremos que isso está

de acordo com o comportamento do ácido forte HNO3. O íon nitrato sendo aprótico não

terá, uma vez formado, nenhuma tendência em atuar como base, para receber prótons e

provocar a reação inversa, estabelecendo um sistema em equilíbrio. Não é de se

estranhar, portanto, que espécies apróticas façam parte de ácidos e bases fortes.

A mesma abordagem é aplicada ao se tratar de bases fortes e fracas. A amônia

NH3 apresenta uma constante igual a 1,78 10-5 para o equilíbrio:

NH3 + H2O NH4

+ + OH-

]NH[]OH][NH[

Kb3

4

A constante desse equilíbrio é representada por Kb, para indicar que se trata da

constante de dissociação de uma base2. Do mesmo modo que o ácido acético, a amônia é

uma base fraca pois apenas 1,3% de suas moléculas atuam efetivamente como base

recebendo 1 próton da molécula de água.

Em resumo, somente poderemos comparar a força de ácidos e bases conhecendo

os valores de suas constantes de dissociação no solvente empregado. 2 apenas por acaso Kb do NH3 é numericamente igual a Ka do ácido acético

Page 64: Zoologia C

64

Força do ácido

Ka Força da base conjugada

Kb

Forte > 1 Muito fraca < 10-16 Fraca 1 para 10-16 Fraca 10-16 para 1 Muito Fraca < 10-16 Forte > 1

As constantes de equilíbrio em geral, e sobretudo as constantes de dissociação dos

ácidos e bases, são também rotineiramente representadas pela notação pKa e pKb, que

significam –log Ka e - log Kb, respectivamente. O pKa do ácido acético é -log 1,78 10-5

, ou seja, 4,76.

Na tabela 2 são apresentadas as constantes de ionização de alguns ácidos e bases.

Tabela 2. Constantes de dissociação de alguns ácidos e bases

Ácidos Ka Bases Kb HClO4 grande ClO4

- muito pequena H2SO4 grande HSO4

- muito pequena HCl grande Cl- muito pequena HNO3 grande NO3

- muito pequena H3O+ 1.01.10-14 HO- H2SO3 1,2.10-2 HSO3

- 8,3.10-13 HSO4

- 1,2.10-2 SO42- 8,3.10-13

H3PO4 7,5.10-3 H2PO4- 1,3.10-12

HNO2 4,5.10-4 NO2- 2,2.10-11

HCOOH 1,8.10-4 HCOO- 5,6.10-11 C6H5COOH 6,3.10-5 C6H5COO- 1,6.10-10 CH3COOH 1,78.10-5 CH3COO- 5,6.10-10 C2H5COOH 1,3.10-5 C2H5COO- 7,7.10-10 H2CO3 4,2.10-7 HCO3

- 2,4.10-8 H2S 1,0.10-7 HS- 1,0.10-7 H2PO4

- 6,2.10-8 HPO42- 1,6.10-7

HSO3- 6,2.10-8 SO3

2- 1,6.10-7 HOCl 3,5.10-8 ClO- 2,9.10-7 NH4

+ 5,7.10-10 NH3 1,78.10-5 HCN 4,0.10-10 CN- 2,5.10-5 C2H5NH3

+ 2,3.10-11 C2H5NH2 4,3.10-4 CH3NH3

+ 2,0.10-11 CH3NH2 5,0.10-4 HCO3

- 4,8.10-11 CO32- 2,1.10-4

HPO42- 3,6.10-13 PO4

3- 2,8.10-2 H2O 1,8.10-16 OH- 55,5 HS- 1,0.10-19 S2- 1,0.105 NH3 muito pequena NH2

- grande

Page 65: Zoologia C

65

4.8. Ácidos polipróticos

Nos exemplos precedentes os ácidos foram, em sua maior parte, participantes de

equilíbrio nos quais apenas um próton era doado a uma base:

HA +H2O H3O + A-

Por esse motivo, ácidos representados pela fórmula genérica HA são

denominados ácidos monopróticos. Ácidos que se dissociam em mais de uma etapa de

equilíbrio são denominados ácidos polipróticos.

Quando o ácido carbônico H2CO3 é dissolvido em água os seguintes equilíbrios

são estabelecidos:

H2CO3 + H2O H3O+ + HCO3- Ka1 = 4,5 10-7

HCO3- + H2O H3O+ + CO3

2- Ka2 = 4,7 10-11

Sem esquecer que nas soluções aquosas um terceiro equilíbrio está sempre presente:

H2O + H2O H3O+ + OH-

O íon bicarbonato HCO3-, produzido na primeira etapa de equilíbrio do ácido

carbônico H2CO3, é capaz de doar um segundo próton numa segunda etapa, o que torna o

ácido carbônico um ácido diprótico. Cada etapa de equilíbrio apresenta sua constante de

equilíbrio própria

É importante ressaltar que não se podem distinguir os íons H3O+ provenientes da

primeira e da segunda etapa de equilíbrio. Os íons H3O+ presentes no meio apresentam

um único valor de concentração, igual tanto para a primeira como para a segunda etapa

do equilíbrio. Como outros exemplos de ácidos dipróticos temos: ácido sulfídrico, H2S;

ácido sulfuroso H2SO3; ácido sulfúrico H2SO4. O ácido fosfórico H3PO4 é um exemplo de

ácido triprótico.

Na tabela 23são apresentadas as constantes de ionização de alguns ácidos e bases

polipróticos

Ka1 = 4,5 10-7 Ácido carbônico Ka2 = 4,7 10-11 Ka1 = 7,5 10-3 Ácido fosfórico Ka2 = 6,2 10-8

Page 66: Zoologia C

66

Ka3 = 1 10-12 Ka1 = 5,7 10-8 Ácido sulfídrico Ka2 = 1,2 10-13

4.9. Potencial de hidrogênio - pH

Muitas vezes, poderemos estar preocupados com o efeito de concentrações muito

baixas de íon H3O+. A concentração de íons hidrogênio é um fator que afeta os processos

químicos e biológicos que ocorrem nos sistemas naturais.

Uma planta que se desenvolve bem se a concentração de íons H+ no solo é 6,2 10-

6 mol L-1, poderá ser prejudicada se essa concentração aumentar para 4,5 10-5 mol L-1, o

que a primeira vista não pareceria uma alteração tão grande assim.

Como forma de facilitar a manipulação de baixas concentrações de íons H3O+,

evitando o incômodo de se trabalhar com muitos zeros a esquerda ou expoentes

negativos, foi definido o parâmetro potencial de hidrogênio ou abreviadamente pH.

]OHlog[pHou]OH[

1logpH 33

O cálculo do pH de uma solução aquosa sempre será efetuado por essa fórmula. O

problema para o calcular o pH é na verdade o cálculo da concentração de íons H3O+ num

determinado sistema. Define-se também:

]OHlog[pOHou]OH[

1logpOH

A partir da equação Kw = [H3O+][OH-] deduz-se facilmente que:

pH + pOH = 14

4.10. Neutralização – um termo que pode confundir

Page 67: Zoologia C

67

Definimos em 4.4 a neutralidade de uma solução pela igualdade:

[H3O+] = [OH-] = 10-7 mol L-1

o que corresponde a pH 7,0 a 25oC.

Freqüentemente empregamos frases como: para neutralizar um ácido.. para

neutralizar uma base.... Neste contexto neutralizar significa reagir totalmente com.

Assim 2 mols de H2SO4 são neutralizados por 4 mols de NaOH:

2 H2SO4 + 4 NaOH 2 Na2SO4 + 4 H2O

É preciso salientar que embora em 100 mL de uma solução 0,1 mol L-1 de HCl

tenha muito mais íons H3O+ que uma solução de HAc, ambas as soluções serão

neutralizadas por 100 mL de NaOH 0,1 mol L-1, pois essa base será capaz de reagir com

todos os íons H3O+ dessas soluções: os que estão presentes em solução e todos aqueles

que podem ser produzidos.

Mesmo que ambos os ácidos HCl e HAc tenham sido neutralizados, ou melhor,

tenham reagido totalmente com NaOH, a condição final será diferente em cada um deles.

Para o HCl a solução final conterá apenas íons apróticos Na+ e Cl- , de modo que ai sim:

[H3O+] = [OH-] = 10-7 mol L-1

No caso do HAc, contudo, temos na solução final, além dos íons Na+ também

íons acetato, que não são apróticos e atuam como base:

HAc + NaOH Na+ + Ac- + H2O

Ac- + H2O OH- + HAc

Note, portanto, que quando uma solução de ácido acético esta neutralizada por

NaOH, esse termo significando que o ácido reagiu totalmente com essa base, a solução

final será alcalina e seu pH maior que 7.

Quando neutralizamos NH3 com HCl o produto final são íons Cl-, apróticos e íons

NH4+, os quais, conforme já sabemos atuam como ácido. Portanto, quando a amônia for

neutralizada por HCl, ou seja, quando a amônia reagir totalmente com HCl, sem sobrar

nada, seu pH será menor que 7,0.

Page 68: Zoologia C

68

Assim, o pH ao final de neutralizações de ácidos e bases poderá ser maior, menor

ou igual a 7,0. Somente no caso de reação completa entre ácido e bases fortes, em cuja

solução final existam apenas íons apróticos, o pH final será 7,0.

4.11. Soluções tampão

Soluções de ácido acético e acetato de sódio de mesma concentração são na

verdade como as diferentes faces de uma mesma moeda:

NaAc 0,25 mol L-1 HAc 0,25 mol L-1 Espécies no equilíbrio mol L-1 no equilíbrio

[HAc] 1,18 10-5 0,2479

[Ac-] 0,2499 0,0021 [H3O+] 8,44 10-10 0,0210

[OH-] 1,18 10-5 4,76 10-12 [Na+] 0,25 0,00

pH 9,07 1,68

Examinando os dados da tabela anterior fica claro que as soluções de acetato de

sódio e de ácido acético representam posições extremas de equilíbrio do sistema HAc/Ac-

. A solução de acetato de sódio nada mais é que o sistema HAc/Ac- deslocado em relação

ao íon acetato Ac-, que corresponde a 99,99% das espécies presentes, enquanto que o

ácido acético representa o mesmo sistema deslocado para a produção de HAc, que

constitui 99,2% da concentração dissolvida.

Quando adicionamos ácido a uma solução de acetato de sódio, consumimos o íon

OH- e causamos uma alteração no equilíbrio. Em resposta a esta ação, ou seja à

diminuição da concentração de OH-, íons Ac- reagem com a água para repor os íons OH-.

Isso é possível pois o íon Ac- predomina no equilíbrio e constitui uma reserva de base. A

reposição de íons OH- faz com que o sistema resista ao abaixamento de pH devido à

adição de íons H3O+.

Page 69: Zoologia C

69

O mesmo tipo de raciocínio pode ser aplicado quando adicionamos íons OH- a

uma solução de ácido acético e consumimos íons H3O+, pois a elevada proporção de

moléculas de HAc não dissociadas atua como uma reserva de ácido. A reposição de íon

H3O+ faz com que o sistema resista a uma previsível elevação de pH.

Se considerarmos agora o sistema HAc/Ac-, não nos seus pontos extremos de

equilíbrio, mas com concentrações significativas de ácido HAc e base Ac- teremos um

equilíbrio com reserva ácida e reserva básica suficiente para que o pH do meio resista

tanto às adições de íons OH- como H3O+. Teremos o que se denomina solução tampão

ou um sistema tampão.

Uma solução tampão representa uma situação do equilíbrio ácido-base em que as

concentrações das espécies do par conjugado são de ordem de grandeza similar. Quanto

mais próxima de 1 a relação entre concentrações dos pares conjugados, melhor fica

caracterizada a ação tampão do sistema.

Na prática uma solução tampão pode ser preparada de várias formas. Podemos

preparar uma solução com ácido fraco e com um sal contendo o ânion desse ácido, ou

com uma base fraca e um sal contendo um cátion dessa base. Podemos também partir de

uma solução de ácido fraco e neutralizá-lo parcialmente, em torno de 50%, com uma base

forte, por exemplo ácido fórmico com NaOH. Uma terceira opção é uma solução na qual

se misturam dois sais como NaHCO3 e Na2CO3. O objetivo é conseguir uma solução

onde os componentes de um par conjugado estejam em concentrações similares.

Exemplo: Uma solução 0,18 mol L-1 NH3 e 0,20 mol L-1 NH4Cl é uma solução

tampão.

NH3 + H2O NH4+ + OH-

Nesse equilíbrio as concentrações exatas das espécies e o pH correspondente

serão:

[NH3] = 0,17998 mol L-1

[NH4+] = 0,2002 mol L-1

[H3O+] = 6,243 10-10 mol L-1

[OH-] = 1,601 10-5 mol L-1

Page 70: Zoologia C

70

pH = 9,20

Note que as concentrações no equilíbrio de NH4+ e NH3 diferem muito pouco das

concentrações analíticas desses íons calculadas a partir dos solutos. Como:

[NH4

+][OH-] Kb = [NH3]

rearranjando:

[NH3] [OH-] = Kb . [NH4

+]

Assim, incorrendo em geral em um erro muito pequeno, podemos calcular [OH-]

pela equação da constante de equilíbrio Kb, admitindo-se que as concentrações de NH3 e

NH4+ no equilíbrio sejam aquelas dedutíveis diretamente das concentrações analíticas dos

solutos. 0,18 [OH-] = 1,78 10-5 . = 1,60 10-5 mol L-1 0,20

pOH = 4,80

pH = 9,20

Supondo que a 1000 mL dessa solução tampão fossem adicionados volumes

crescentes de solução 1 mol L-1 de HCl 0,1 mol L-1, teríamos os valores de concentração

e pH exibidos na tabela que se segue. Observe que o pH da solução tampão varia

relativamente pouco pela adição de HCl, principalmente quando se compara à adição do

mesmo ácido a água pura com pH 7,00.

ml de HCl 0,1 mol L-1 adicionados

1 5 20 50 100 Espécies

Concentração no equilíbrio em mol L-1 [NH4

+] 0,2003 0,2015 0,2060 0,2150 0,2300

Page 71: Zoologia C

71

[NH3] 0,1797 0,1785 0,1740 0,1650 0,1500

[H3O+] 6,269 10-10 6,375 10-10 6,785 10-10 7,688 10-10 9,477 10-10

[OH-] 1,598 10-5 1,584 10-5 1,533 10-5 1,434 10-5 1,277 10-5

pH 9,20 9,20 9,17 9,11 9,02

pH* 4,00 3,30 2,70 2,32 2,04

(*)Valores de pH resultantes da adição de HCl à 1000 mL de água pura

A fórmula simplificada para cálculo de [H3O+] ou [OH-] em uma solução tampão

será derivada portanto do simples rearranjo algébrico da fórmula da constante de

equilíbrio característica do par conjugado envolvido.

Exemplo: Solução 0,025 mol L-1 KH2PO4 e 0,027 mol L-1 Na2HPO4

Sabemos se tratar de uma solução tampão porque, sendo os íons Na+ e K+

espécies apróticas, o equilíbrio ácido base que atua na solução se deve ao par conjugado

H2PO4-/HPO4

2-, cujas concentrações são similares. Esse par conjugado se refere à

segunda etapa de ionização do ácido fosfórico:

H2PO4- + H2O HPO4

2- + H3O+ Ka2= 6,2 10-8

[HPO42-][H3O+]

Ka2 = [H2PO4

-]

0,025 [H3O+] = 6,20 10-8 = 5,74 10-8 mol L-1 0,027

pH = 7,24

Observe que, quem define o pH da solução tampão é a constante de equilíbrio do

par conjugado envolvido, uma vez que a relação entre as concentrações deve estar

idealmente próxima de 1.

Page 72: Zoologia C

72

Admite que uma solução é tampão quando a relação entre concentrações variar

entre 0,1 a 10. Quanto mais próxima de 1 for essa relação, maior será a eficiência da

solução tampão, ou seja, menor a variação de pH por unidade de concentração de OH- ou

H3O+ adicionada. Quanto maiores forem as concentrações das espécies da solução

tampão ela resistira a maiores quantidades de ácido ou base adicionados, ou seja maior

será a capacidade da solução tampão.

Não daremos nenhuma fórmula para pH de soluções tampão; é só identificar o

equilíbrio químico envolvendo as espécies do par conjugado presente na solução e

rearranjar a fórmula da constante desse equilíbrio. Os sistemas tampão são fundamentais

nos sistemas biológicos. O pH do sangue venoso, transportador de CO2, é somente um

pouco menor que o do sangue arterial, pois um sistema tampão, formado por HPO42-,

proteínas e hemoglobina, mantém o pH ao redor de 7,4.

Problemas

1. Justificar o comportamento ácido-base das espécies químicas indicadas a

seguir: HCO3-; CN-; H2PO4

-; HS-, NH3; K+; SO42-; Cl-; PO4

3-; HBr; CO32-; HCN; HPO4

2-;

Ca2+; NH4+ ; NO3

-.

2. Escrever pares conjugados com as espécies citadas na questão 1.

3. Dê exemplos de sais que quando em solução só dão origem a espécies

apróticas.

4. Considerando os componentes de um par conjugado, quanto mais forte a

constante de dissociação do ácido mais fraca será a constante de dissociação da base.

Deduza a expressão que pode justificar isso.

5. Indicar e justificar a natureza das soluções dos seguintes sais: NH4Cl; KCl;

KH2PO4; Na2CO3; Mg2SO4; NaNO3.

Page 73: Zoologia C

73

6. Qual a diferença quanto ao comportamento ácido-base das soluções 0,1 mol L-1

de NH4Cl e NH4NO3?

7. O pH de uma solução de solo é 5,76. Calcule a concentração dos íons H+ e OH-

da solução.

8. Complete o quadro:

pH [H3O+] mol L-1 [OH-] mol L-1 pOH 2,5

1,2 10-5 4,3 10-3 4,7

9,3 6,0 10-3

5. EQUILÍBRIOS DE SOLUBILIDADE E PRECIPITAÇÃO

Trataremos aqui da dissolução e da precipitação de eletrólitos pouco solúveis no

solvente água. Neste caso, estabelece-se um equilíbrio químico, sujeito às mesmas leis

comentadas anteriormente, mas com uma característica especial: como coexistem as fases

líquida e sólida trata-se de um equilíbrio heterogêneo.

Existem sais e hidróxidos facilmente solúveis, um exemplo familiar é o sal cloreto

de sódio. Também existem compostos que colocados em contato com água praticamente

não se dissolvem e são denominamos insolúveis, tais como o carbonato e o sulfato de

cálcio. Na realidade, como veremos mais adiante, não existe um composto totalmente

insolúvel, sendo esse termo via de regra reservado para aqueles eletrólitos com

solubilidade inferior a 0,01 mol L-1.

5.1. A dissolução de eletrólitos

Neste item temos de fazer uso de alguns conceitos de Termodinâmica.

Compostos iônicos no estado sólido consistem de um arranjo espacial de íons,

formando o que se chama retículo cristalino ou cristal, um arranjo estável de cátions e

ânions. Para promover a dissolução de um cristal iônico, o solvente age por meio de dois

Page 74: Zoologia C

74

processos: primeiramente ele tem que sobrepujar a energia de estabilização do retículo

cristalino. A água é um solvente com constante dielétrica, , relativamente elevada e

quando ela se introduz entre os íons atua como um isolante e enfraquece a energia de

associação entre os íons. Uma vez separados, o solvente tem que impedir que os íons

voltem a se associar, o que é feito através do processo de solvatação. Lembrando que a

molécula de água é um dipolo, fica fácil de perceber como isso ocorre: moléculas de água

rodeiam um cátion, direcionando suas regiões negativas para ele. Os ânions, por sua vez,

são rodeados por moléculas de água, com suas regiões positivas direcionadas a eles.

5.2. Existem sais insolúveis mesmo?

Quando o sal CaCO3 é posto em contato com água, observa-se que uma fração sólida

se deposita no fundo do recipiente e permanece em contato com a fase liquida. Por mais

insolúvel que fosse esse sal, a fase líquida no recipiente não seria água pura, pois sempre

teríamos uma solução, ainda que muita diluída, de íons Ca2+ e CO32-. Uma porção muito

pequena de CaCO3 consegue se dissolver e dizemos que a solução se tornou saturada.

Nesse sistema ocorre o equilíbrio químico:

CaCO3(s) Ca2+(aq) + CO32-(aq)

Page 75: Zoologia C

75

onde a abreviação aq indica que os íons estão solvatados.

Nesse equilíbrio, um sentido () indica a reação de dissolução e o outro () o de

formação ou precipitação do composto pouco solúvel. Deste modo, neste nosso sistema

ocorre a contínua dissolução de CaCO3, formando íons Ca2+ e CO32- e, simultaneamente,

a associação dos mesmos para formação do sal sólido.

Como todo equilíbrio químico, este também é caracterizado por uma constante de

equilíbrio, denominada constante do produto de solubilidade, representada por Ks.

Ks = [Ca2+][CO32-]

Para o carbonato de cálcio essa constante vale 4,8 10-9. Vejamos outros exemplos:

Ag2SO4(s) 2Ag+(aq) + SO42-(aq)

Ks = [Ag+]2[SO42+] = 1,6 10-5

Ca3(PO4)2(s) 3Ca2+(aq) + 2 PO43-(aq)

Ks = [Ca2+]3[PO43-]2 = 2,1 10-33

Note que os coeficientes das espécies na equação química aparecem sempre como

expoentes dos valores de concentração na expressão da constante de equilíbrio.

O fato da fase sólida CaCO3(s), Ag2SO4(s) ou Ca3(PO4)2(s) não aparecer na equação

da constante de equilíbrio não deve causar estranheza. Quando uma quantia desses sais é

adicionada a um volume de água, não importa o quanto permaneça depositado no fundo

de um recipiente: a quantidade que pode ser dissolvida na solução sobrenadante, a uma

certa temperatura, será sempre a mesma.

É importante salientar desde já, que essa constante é empregada para caracterizar

numericamente tanto a dissolução como a precipitação de um eletrólito pouco solúvel. As

questões básicas quando estamos dissolvendo um eletrólito pouco solúvel são:

quanto dele se dissolve em água ?

qual a concentração de seus íons na solução saturada?

quais são os fatores que afetam esse processo?

5.3. Cálculo da solubilidade de um eletrólito pouco solúvel

Page 76: Zoologia C

76

A quantidade do eletrólito pouco solúvel que se dissolve no solvente água,

denominada, solubilidade e expressa pelo símbolo S, pode ser deduzida a partir da

expressão de Ks.

As concentrações dos íons provenientes de um composto iônico pouco solúvel na

solução saturada estarão obviamente relacionadas, pois se originam da mesma fonte, a

massa de eletrólito que se dissolveu. Vejamos o caso do AgCl: cada mol que se dissolve

produz 1 mol de Ag+ e 1 mol de Cl-. Quando S mols se dissolvem temos:

AgCl(s) Ag+ + Cl-

1 1 1

S S S

[Ag+] = S [Cl-] = S

Ks = [Ag+][Cl-] = 1,8 10-10

Ks = S2

S = Ks = 1,8 10-10 = 1,3 10-5 mol L-1

[Ag+] = 1,3 10-5 mol L-1

[Cl-] = 1,3 10-5 mol L-1

Quando 1 mol de Zn(OH)2 se dissolve resulta em 1 mol de Zn e 2 mols de OH-.

Quando S mols se dissolvem temos:

Zn(OH)2(s) Zn2+(aq) + 2 OH-(aq)

1 1 2

S S 2S

[Zn2+]=S [OH-]=2S Ks = (S)(2s)2 Ks = 4(S)3

3 Ks 3 4,5 10-17

S = = = 2,2 10-6 mol L-1 4 4

Page 77: Zoologia C

77

Conseguimos dissolver 2,2 10-6 mol Zn(OH)2 em 1 L de água a 25oC e obtemos uma

solução que é 2,2 10-6 mol Zn2+ e 4,4 mol L-1 em OH-.

Note que, calculando a solubilidade a partir de Ks obtemos também a concentração

dos íons na solução saturada. Não vale a pena decorar uma fórmula para cálculo da

solubilidade; melhor será deduzí-la a cada oportunidade. Na Tabela 3 aparecem os

valores da constante do produto de solubilidade para alguns compostos iônicos pouco

solúveis.

Infelizmente, esse cálculo simples de solubilidade a partir do Ks tem aplicação restrita

ao pressupor que nenhum outro equilíbrio atua no meio, a não ser o de dissolução-

precipitação. Na verdade devemos computar os efeitos da força iônica do meio e os

muitos outros equilíbrios que podem estar associados, alguns com efeitos desprezíveis,

pois suas constantes são de baixa magnitude, outros, porém, que não podem deixar de ser

considerados.

Produto de Solubilidade em termos de Concentração e de Solubilidade

5.4. Efeitos sobre o equilíbrio de dissolução-precipitação

Temperatura

O efeito da temperatura sobre a solubilidade é variável; algumas substâncias têm com

a elevação de temperatura um maior grau de dissolução, enquanto para outros ocorre o

oposto. Lembrando do princípio de Le Chatelier, se um sal se dissolve absorvendo

energia, e, conseqüentemente, resfriando o meio deveremos promover elevação de

temperatura para favorecer o processo de dissolução.

Page 78: Zoologia C

78

Como toda constante de equilíbrio Ks varia com a temperatura. Para saber a

solubilidade de um sal em diferentes temperaturas teremos de dispor dos valores de suas

constantes Ks nessas mesmas temperaturas.

Efeito do íon comum

O efeito do íon comum é uma simples aplicação do princípio de Le Chatelier. No

equilíbrio químico em uma solução saturada do sal BaSO4, cujo Ks vale 1,1 10-10, as

concentrações de Ba2+ e SO42- serão iguais a 1,05 10-5 mol L-1

BaSO4(s) Ba2+(aq) + SO42-(aq)

Se 10 mL de solução 2 mol L-1 do sal solúvel BaCl2 forem adicionados a 1 L da

solução saturada, isso corresponde a um aumento significativo da concentração de Ba2+,

uma perturbação ao estado de equilíbrio. O sistema irá reagir no sentido de minimizar o

impacto provocado, promovendo a reação entre íons SO42- e Ba2+ para formar BaSO4

sólido. O efeito da adição de um íon comum ao equilíbrio de dissolução-precipitação, no

caso Ba2+, é o de diminuir a solubilidade do sal pouco solúvel.

Qual é a intensidade dessa diminuição? Como poderemos calcular o valor da

solubilidade do BaSO4 nessa nova situação de equilíbrio? Note que agora a proporção

dos íons na solução saturada será alterada e apenas a concentração de SO42- nos dará a

indicação de qual a massa do sal está dissolvido, pois ele só pode ser proveniente da

dissolução do sal:

[SO42-] = S

Nesta nova situação de equilíbrio ainda é válida a relação:

1,1 10-10 = [Ba2+][ SO42-]

Desprezando a variação de volume, a concentração de Cl- no meio será 0,04 mol

L-1 e pelo balanço de cargas elétricas temos:

2[Ba2+] = 2[SO42-] + [Cl-]

Page 79: Zoologia C

79

[Ba2+] = [SO42-] + [Cl-]/2

[Ba2+] = S + 0,02

portanto:

1,1 10-10 = S.(S + 0,02)

1,1 10-10 = S2 + 0,02 S

em geral para simplificar o cálculo desprezamos a parcela S2 e então:

S = 5,5 10-9 mol L-1

Vemos então que a solubilidade do BaSO4 cai de 1,05 10-5 mol L-1 para 5,5 10-9

mol L-1, sob efeito da adição do íon comum Ba2+.

O problema considerado a seguir, fornece exemplo interessante de cálculo

envolvendo o conceito de solubilidade de sais pouco solúveis.

BaSO4 sólido está em equilíbrio com sua solução saturada. Quais as concentrações dos

íons no novo equilíbrio que se estabelece ao se adicionar BaCrO4 sólido à mesma? Ks

BaSO4 = 1,1 10-10; Ks BaCrO4 = 8,5 10-11

Trata-se aqui de competição entre dois equilíbrios BaCrO4 (s) Ba2+ + CrO4

2-

BaSO4 (s) Ba2+ + SO42-

Pelo balanço de cargas podemos escrever que:

[Ba2+] = [CrO42-] + [SO4

2-]

Podemos colocar essa equação apenas em termos de concentração de bário, a

partir das equações de produto de solubilidade, portanto temos que:

8,5 10-11 1,1 10-10 [Ba2+] = + [Ba2+] [Ba2+]

Resolvemos facilmente essa equação do segundo grau e encontramos que:

[Ba2+] = 1,39 10-5 mol L-1 [CrO4

2-] = 6,09 10-6 mol L-1 [SO4

2-] = 7,88 10-6 mol L-1

Page 80: Zoologia C

80

Efeito da força iônica - efeito dos íons não comuns

Quando íons diferentes daqueles que compõem um sal pouco solúvel são

adicionados à solução saturada desse sal não temos um efeito direto de deslocamento de

equilíbrio como no caso de íons comuns. Mas qual seria então esse efeito dos íons não

comuns ao retículo cristalino? Qual seria, por exemplo, a solubilidade do AgCl em uma

solução 0,01 mol L-1 de NaNO3?

Aumentando-se a concentração de íons na solução saturada estaremos

aumentando a força iônica do meio e isso significa diminuir o coeficiente de atividade

fi e a atividade dos íons em solução.

Necessitamos lembrar aqui que constantes de equilíbrio para serem realmente

constantes, variando apenas com a temperatura e não com a presença de outros íons no

meio, devem ser expressas em termos de atividade:

AgCl(s) Ag+(aq) + Cl-(aq)

S mols S mols S mols

Ks = aAg+ . aCl-

Ks = [Ag+] fAg+ [Cl-] fCl-

Como [Ag+] = S e [Cl-] = S

Ks = S2 fAg+ fCl-

Ks

S = fAg+ fCl-

A força iônica do meio será determinada pelos íons Na+ e NO3-, pois a

contribuição dos íons Ag+ e Cl- será desprezível devido a suas baixas concentrações na

solução saturada:

= ½[0,01(-1)2 + 0,01(+1)2] = 0,01

Page 81: Zoologia C

81

log fi = - 0,509 (zi)2

log fAg+ = - 0,509 (+1)2 0,01 = 0,89

log fCl- = - 0,509 (-1)2 0,01 = 0,89

1,8 10-10 S = = 1,5 10-5 mol L-1 0.89.0.89

Verifica-se que ocorre um aumento de 15% na solubilidade do AgCl.

Diminuir a atividade, ou seja, a concentração efetiva dos íons numa solução

saturada leva a fase sólida a se dissolver para se contrapor àquela ação. Assim, o efeito do

aumento da força iônica através de íons não comuns é o de aumentar a solubilidade.

Poderia aqui surgir uma dúvida: quando adicionamos íons comuns ao equilíbrio

de dissolução-precipitação vimos que ocorre diminuição de solubilidade do sal. Mas

neste caso, com íons comuns ao sal pouco solúvel, também aumentamos a força iônica do

meio, o que levaria a um aumento da solubilidade.

Mas afinal a solubilidade aumenta ou diminui? A diminuição da solubilidade pelo

efeito do íon comum é muito maior que o aumento da mesma pela variação da força

iônica, de modo que o efeito líquido do íon comum é mesmo o de diminuir a solubilidade

do sal pouco solúvel.

Efeito da concentração de íons hidrogênio – efeito do pH

Quando o íon OH- é um constituinte do eletrólito pouco solúvel como Fe(OH)3,

Ca(OH)2, entre outros, o aumento de pH e, consequentemente, da concentração de OH-

no meio pode ser considerado como um efeito do íon comum.

Estamos interessados aqui no efeito do pH num caso mais específico: quando um

dos íons do sal pouco solúvel, uma vez liberado do retículo para a solução participa de

um equilíbrio ácido-base:

Page 82: Zoologia C

82

CaCO3(s) Ca2+(aq) + CO32-(aq)

CO32- + H2O OH- + HCO3

-

HCO3- + H2O OH- + H2CO3

Temos aqui uma associação de equilíbrio de dissolução-precipitação com equilíbrio

ácido-base. Os cálculos das concentrações exatas das espécies desse sistema são feitos da

maneira usual, ou seja, estabelecendo um sistema de equações:

Ks = 4,8 10-9 = [Ca2+][CO32-]

[HCO3-][H3O+]

Ka1 = [CO3

2-]

[CO3-2][H3O+]

Ka2 = [HCO3

-] [Ca2+]=[HCO3

-]+[CO32-]+[H2CO3]

2[Ca2+]+[H3O+]=[HCO3

-]+2[CO32-]+[OH-]

10-14 =[H3O+][OH-]

A resolução desse sistema nos fornece:

[H2CO3] = 2,221 10-8 mol L-1 [HCO3-] = 9,150 10-5 mol L-1

[CO32-] = 3,771 10-5 mol L-1 [H3O+] = 1,116 10-10 mol L-1

[OH-] = 8,960 10-5 mol L-1 [Ca2+] = 1,273 10-4 mol L-1

O pH dessa solução saturada é 9,95 e a concentração de cálcio nos indica que a

solubilidade do CaCO3 é 1,27 10-4 mol L-1

Para efetuar o cálculo da solubilidade de modo simplificado teremos de ignorar o fato

do íon carbonato ser uma base:

Cada mol de CaCO3 que se dissolve resulta em l mol de Ca2+ e 1 mol de CaCO3.

Quando S mols se dissolvem (S = solubilidade):

Page 83: Zoologia C

83

CaCO3(s) Ca2+(aq) + CO32-(aq)

1 1 1

S S S

Portanto:

[Ca2+] = S

[CO32-] = S

Ks = S2

S = Ks

S = 4,8 10-9 = 6,9 10-5 mol L-1

Concluiríamos então, ser possível dissolver 6,9 10-5 mols de CaCO3 em l L de água,

obtendo-se uma solução 6,9 10-5 mol L-1 em Ca2+ e 6,9 10-5 mol L-1 em CO32-. Esse valor

representa praticamente a metade do valor exato.

Note que a falha básica desse procedimento é admitir que as concentrações do íon

cálcio e do íon carbonato são iguais, o que não é correto, visto que um é uma espécie

aprótica e outro uma base, respectivamente. Os íons Ca2+ e CO32- são separados do

retículo cristalino em quantidades iguais, mas, enquanto o íon Ca2+ permanece como tal,

o íon CO32- reage com água dando origem ao íon HCO3

- e até mesmo à molécula de

H2CO3.

Tínhamos calculado que o pH de uma solução saturada de CaCO3 é 9,95. Qual

seria a solubilidade desse sal se o pH do meio fosse elevado a 11,0 com NaOH?

O aumento de pH, ou seja, da concentração de íons OH-, irá afetar diretamente os

equilíbrios referentes ao íon CO32-, no sentido de aumentar a concentração desse íon pelo

deslocamento do equilíbrio para a esquerda. Por sua vez, o aumento de concentração de

CO32- favorece a formação do sólido CaCO3, o que indica que a elevação de pH causará

uma diminuição da solubilidade do CaCO3.

Page 84: Zoologia C

84

Efeito da formação de complexos

A solubilidade de um eletrólito pouco solúvel será afetada, se no meio existir um

agente capaz de formar complexos com os íons constituintes do sal. No fundo se trata de

uma competição entre equilíbrios:

AgCl(s) Ag+(aq) + Cl-(aq) Ks = 1,8 10-10

Ag+ + NH3 [Ag(NH3)]+ K1 = 2,34 103

Ag[NH3]+ + NH3 [Ag(NH3)2]+ K2 = 6,90 103

À medida que os íons Ag+ são liberados na solução, eles participam de um

equilíbrio de formação de complexos. Por uma simples aplicação do princípio de Le

Chatelier percebe-se que, se íons Ag+ são retirados da solução para formar complexos, a

concentração deles vai diminuir. Para minimizar esse efeito, a fase sólida AgCl vai se

dissolver, repor os íons Ag+, e assim neutralizar a perturbação sobre o equilíbrio de

dissolução-precipitação. Portanto, espécies complexantes aumentam a solubilidade de um

eletrólito pouco solúvel.

É interessante verificar o efeito do aumento da concentração de íons Cl- sobre a

dissolução do AgCl. Em primeiro lugar há que se considerar o efeito do íon comum, mas

não se pode esquecer que o íon Cl- também forma complexos com o íon Ag+, tais como:

AgCl2-, AgCl32-, entre outros. Na verdade, conforme se observa experimentalmente, à

medida que se aumenta a concentração de Cl- na solução saturada de AgCl provoca-se

uma diminuição da solubilidade pelo efeito do íon comum, mas, continuando-se a

-7

-6

-5

-6 -5 -4 -3 -2 -1 0log[Cl-]

log

S efeito do íon comum

Efeito da for-mação de complexos

Page 85: Zoologia C

85

aumentar a concentração do íon Cl-, aparece o efeito da formação de cloro-complexos de

prata e a solubilidade do AgCl aumenta.

5.5. Precipitação

Nos itens anteriores consideramos o equilíbrio de dissolução de eletrólitos pouco

solúveis, ou seja, o composto pouco solúvel existia e desejávamos saber a extensão com

que dissolvia, bem como outras questões relacionadas.

Vamos agora considerar o equilíbrio de dissolução-precipitação sob outro

aspecto: o de formação de substâncias pouco solúveis. Suponha que temos 1 litro de

solução de BaCl2 0,004 mol L-1, a qual para nossos objetivos será considerada apenas

como solução 0,004 mol L-1 de Ba2+. Adicionamos uma gota (0,05 mL) de solução 0,002

mol L-1 em SO42- e desejamos saber se ocorre precipitação de BaSO4.

Se o sal BaSO4 é insolúvel, porque não haveria de ocorrer obrigatoriamente a

precipitação? A resposta é: ocorrerá precipitação apenas se as concentrações de Ba2+ e

SO42- no meio atenderem a uma condição:

[Ba2+][SO4

2-] Ks

Podemos até imaginar que BaSO4 sólido se forme e imediatamente se dissolve,

até que a dissolução não seja mais possível porque o meio ficou saturado em íons Ba2+ e

SO42-. Neste ponto então o sal começaria a se precipitar.

A capacidade de um sal se dissolver já foi discutida quando tratamos de

dissolução de eletrólitos pouco solúveis. Nos estudos sobre precipitação empregamos o

mesmo equilíbrio e a mesma constante do produto de solubilidade Ks. O composto só ira

se precipitar se a solução estiver saturada em íons Ba2+ e SO42-

.

A resolução de problemas sobre a questão de um eletrólito se precipitar ou não se

enquadra basicamente dentro de uma das duas possibilidades discutidas a seguir:

- temos a concentração de um dos íons e calculamos a concentração mínima do

outro:

Page 86: Zoologia C

86

Exemplo: Se tivermos uma solução 0,004 mol L-1 Ba2+ qual deverá ser a

concentração de SO42- necessária para saturar o meio?

Ks = 1,0 10-10 = [Ba2+][SO42-]

1,0 10-10 = (0,004)[SO42-]

[SO42-] = 2,5 10-8 mol L-1

Essa é a concentração de íon sulfato exigida para se dar início à precipitação.

Vejamos como aquela gota de 0,05 mL determina a concentração final de sulfato:

0,05 mL x 0,002 mol L-1 [SO4

2-] = = 10-7 mol L-1 1000 mL

Apenas l gota de solução 0,002 mol L-1 de SO42- adicionada a l litro de solução

0,004 mol L-1 de Ba2+ é suficiente para que ocorra precipitação de BaSO4.

- temos as concentrações dos dois íons e pergunta-se se a precipitação ocorre ou

não.

Exemplo: Em uma solução a concentração de Ca2+ é 2,3 10-5 mol L-1 e a de F- é

1,8 10-6 mol L-1. Irá ou não ocorrer a precipitação de CaF2 cujo valor de Ks é 4,0 10-11 ?

CaF2(s) Ca2+(aq) + 2 F-(aq)

Ks = [Ca2+][F-]2

Com as concentrações fornecidas calcula-se o valor do produto:

[Ca2+][F-]2 = (2,3 10-4).(1,8 10-3)2 = 7,4 10-10

Como:

7,4 10-10 > 4,0 10-11 (concorda que é maior mesmo?)

o valor de Ks foi ultrapassado e o sal CaF2 se precipita.

Veja que na precipitação estamos envolvidos com o mesmo equilíbrio químico da

solubilização, mas aqui as questões básicas são outras: tendo-se uma solução contendo

íons A de um sal pouco solúvel AB, qual deverá ser a concentração mínima do íon B

nessa solução para que se inicie a precipitação do sal AB?

Page 87: Zoologia C

87

Aqui a princípio não temos um sal pouco solúvel em mãos mas queremos obtê-lo.

Nos problemas de precipitação nunca empregaremos obviamente a expressão de Ks em

função da solubilidade S.

5.6. O processo de formação de precipitados

Os cálculos anteriores, fazendo uso da constante do produto de solubilidade, Ks,

parecem nos dar um critério infalível para decidir se uma precipitação ocorre ou não. Na

prática, como sempre, as coisas são um pouco diferentes.

Quando temos concentrações insuficientes dos íons formadores de um sal pouco

solúvel a solução está insaturada e a precipitação não ocorre. As concentrações podem

ser tais, que é atingido o produto de solubilidade, mas ainda assim a precipitação não

ocorre e a solução se torna supersaturada. Assim, a condição de ser atingido o valor de

Ks é necessária, mas nem sempre suficiente. Um composto pouco solúvel se precipita

quando as partículas atingem um tamanho crítico e esse tamanho é determinado pela

velocidade de dois processos:

- formação de núcleos primários que são pequenas partículas formadas pela

união inicial dos íons

- crescimento dos núcleos primários

Quando efetuamos uma precipitação em laboratório o objetivo é separar a fase sólida

em um meio filtrante como papel de filtro. Para tanto, é necessário que os cristais sejam

de tamanho relativamente grande e que também sejam puros. Essa condição é conseguida

com a formação inicial de um pequeno número de núcleos primários, que tem condições

de crescer e formar cristais grandes. Na prática, em geral, isso significa trabalhar com

soluções diluídas de reagentes, misturados um ao outro lentamente e sob agitação.

Os precipitados obtidos quase sempre são impuros devido a diferentes processos, tais

como, oclusão de íons estranhos no retículo cristalino ou por precipitação posterior de

uma outra substância contaminante.

Problemas

1. Calcule a solubilidade dos seguintes compostos iônicos pouco solúveis

Page 88: Zoologia C

88

a) Ag2CrO4 Ks= 1,9.10-12

b) MgNH4PO4 Ks= 2,6.10-13

c) Mg(OH)2 Ks= 8,9.10-12

2. O produto de solubilidade do hidróxido de cálcio é 5,5 10-6. Qual será a concentração de íons Ca2+ numa solução aquosa saturada de Ca(OH)2?

3. O produto de solubilidade do sulfato de chumbo é 1,6 10-8. Quais serão as concentrações de Pb2+ e SO4

2- quando 1 mol de PbSO4 for adicionado a 1L de água? E se forem 2 moles?

4. Qual o produto de solubilidade do sal Ag2S, sabendo-se que a concentração de prata, Ag+, na solução saturada desse sal é 6,8 10-7 mol L-1?

5. Para saturar 15 ml de água são necessários 0,02 g de BaF2, Qual o produto de solubilidade desse sal?

Page 89: Zoologia C

89

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 5 – ESTUDO DA OXIDAÇÃO-REDUÇÃO

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

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1. EQUILÍBRIOS DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO

1.1. Introdução

Reações de oxidação redução são comuns nos sistemas biológicos e também nos

alimentos. Embora algumas reações desse tipo possam ser benéficas, na maior parte das

vezes provoca efeitos nocivos tais como degradação de vitaminas, lipídios e pigmentos,

alteração no sabor, entre outros.

Para controlar a oxidação dos alimentos em geral se usam técnicas de

processamento e de embalagem que excluem o oxigênio ou então são adicionados

agentes químicos apropriados.

Eletroquímica é o estudo das reações químicas nas quais partículas carregadas

(íons ou elétrons) atravessam a interface entre duas fases da matéria, tipicamente uma

fase metálica (o eletrodo) e uma fase líquida de solução condutora, ou eletrólito.

Processos de oxidação e redução estão envolvidos no estudo da eletroquímica,

onde as reações químicas ocorrem com o envolvimento de transferência de elétrons de

um reagente para outro. Os dois processos ocorrem simultaneamente e não podem

coexistir independentemente.

Existe uma analogia conceitual entre reações ácido-base e reações de oxidação-

redução. Do mesmo modo com que ácidos e bases são interpretados em termos de

transferência de prótons, oxidantes e redutores são definidos em termos de transferência

de elétrons. Desde que não existem elétrons livres, uma oxidação tem que ser

acompanhada sempre por uma redução.

Uma lâmina de zinco mergulhada em uma solução de íons cobre se dissolve e

fica recoberta por cobre metálico

Zn0 + Cu2+ Cu0 + Zn2+

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Figura. Oxidação do metal zinco em contato com água

Nesta reação o zinco perde 2 elétrons quando passa da forma elementar, Zno,

para forma de cátion Zn2+. Estes 2 elétrons só puderam ser doados pelo zinco, porque

podiam ser recebidos pelo cobre na forma iônica, transformando-se em íon Cuo. Podemos

subdividir a reação anterior nesses dois processos para melhor entendimento:

semi-reação de oxidação do zinco Zno Zn2+ + 2e-

semi-reação de redução do cobre Cu2+ + 2e- Cuo

Diremos que o cobre REcebeu 2 elétrons e se REduziu , enquanto que o zinco

cedeu 2 elétrons e se oxidou. Como o zinco foi oxidado pelo cobre, o íon Cu2+ é o agente

oxidante e o zinco é um agente redutor.

Neste outro exemplo:

O2 + 4Fe2+ + 4H+ 4 Fe3+ + 2 H2O o íon Fe2+ passa para íon Fe3+, ou seja, tornou-se mais positivo porque cedeu elétrons e

portanto, se oxidou, ou melhor, foi oxidado pelo oxigênio.

Devido a esta maior ou menor predisposição dos metais em dependendo do caso,

cederem ou receberem elétrons, foi estabelecida uma série de atividade química dos

metais ou série das tensões eletrolíticas:

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Exemplo: Lio Li+ + e-

Lítio metálico é um agente redutor forte e se oxida facilmente. Pode-se dizer que

ele é um agente oxidante fraco e se reduz com muita dificuldade. O lítio tem sido muito

utilizado em baterias ou pilhas.

Exemplo: Ptn+ + n e- Pto

Platina metálica é um agente redutor fraco e se oxida muito dificilmente. Ela é um

agente oxidante forte e se reduz muito facilmente. A platina tem sido considerada como

um metal inerte.

1.2. Número de oxidação

Como conseqüência da transferência de elétrons, ocorre à alteração do estado de

oxidação das espécies participantes da reação de oxidação-redução e então dizemos que

ocorre alteração no número de oxidação das espécies. É fácil perceber essa mudança nos

íons, o número de oxidação corresponde a sua carga, mas observe que para o oxigênio a

alteração não é tão evidente. Na verdade existem algumas regras para estabelecer o

número de oxidação de espécies carregadas ou não:

O número se oxidação serve para identificar reações redox: a cada átomo se lhe

designa um NÚMERO DE OXIDAÇÃO de acordo com certa regras:

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i) para um elemento em um íon monoatômico, e.g., Sn4+, ou S2-, o número de

oxidação é igual à carga do íon. Isto é, o número de oxidação é +4 e 2,

respectivamente;

ii) O Nº. de oxidação de um elemento livre, e.g., O2 ou S, é zero;

iii) Hidrogênio tem Nº de oxidação +1, exceto nos hidretos metálicos onde é 1;

iv) Oxigênio apresenta Nº de oxidação 2, exceto no F2O: +2 e nos peróxidos: 1

v) Em toda molécula neutra a soma dos números de oxidação positivos deve ser

igual à soma dos números de oxidação negativos. Por exemplo, no H3AsO4:

3x(+1) = 3 para H+ e 4x(2) = 8 para O, então As = + 5

As reações são balanceadas com base na regra de que o número total de elétrons

cedidos tem que ser igual ao número total de elétrons recebidos.

Quando uma espécie atua como oxidante ou redutor? Isso depende da natureza

das espécies envolvidas, pois no confronto entre ambas, aquela que tiver maior tendência

a receber elétrons recebe, forçando a outra a doar. Para se ter um critério de comparação

teremos que estabelecer um referencial, como veremos mais adiante.

OXIDAÇÃO e REDUÇÃO: uma definição operacional

O conceito de número de oxidação leva diretamente a uma definição operacional

dos termos oxidação e redução:

Oxidação se define como um AUMENTO NO NÚMERO DE OXIDAÇÃO, e redução

como um DECRÉSCIMO NO NÚMERO DE OXIDAÇÃO

Ex: 2Al + 3Cl2 2 AlCl3(s) Al oxidado (Nº Ox. 0 + 3)

Cl reduzido (Nº Ox. 0 1)

Esta definição apresenta uma clara vantagem: ela simplifica muito a contabilidade

dos elétrons nas reações redox. Consideremos, por exemplo, a reação.

HCl(g) + HNO3(l) NO2(g) + 1/2Cl2(g) + H2O(l)

Page 94: Zoologia C

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Uma análise em termos do Nº de oxidação revela que cloro é oxidado (Nº Ox. =

1 no HCl, 0 no Cl2). Nitrogênio é reduzido (Nº Ox. = +5 no HNO3, +4 no NO2).

1.3. Tipos de células eletroquímicas

As células eletroquímicas são:

GALVÂNICAS OU VOLTAICAS: são células ou baterias que armazenam energia

elétrica. A reação nos eletrodos nessas células tende a proceder ESPONTANEAMENTE

e produzir um FLUXO DE ELÉTRONS desde o ânodo para o catodo.via um condutor

externo. A célula da Fig. 1 é galvânica e produz um E 0,46 V quando os elétrons se

movem através do circuito externo desde o ânodo de Cu para o catodo de Ag.

Figura. Representação esquemática de uma célula galvânica.

e- e-

K+

K+

Cl-

Cl-

e-

e-

e-

e-

e-

Cu2+

Cu2+

Cu2+

SO4 2-

SO4 2-

- Ag+

Ag+

NO3

NO3

NO3

e-

e-

e-

e-

e-

e-

Oxidação

Interface Eletrodo/solução Interface Eletrodo/solução

Redução

AgNO3 CuSO4

Page 95: Zoologia C

95

A ponte salina tem a finalidade de evitar que as soluções das duas cubas se

misturem, sendo também a sua função e talvez a principal, a de evitar que exista um

excesso de cargas nas cubas. No caso da pilha de Daniell, a cuba eletroquímica que

continha o eletrodo de zinco e a solução de sulfato de zinco ficou com um excesso de

carga positiva, sendo então, ativado a ponte salina, para diminuir esta concentração,

fazendo com que a pilha não pare de funcionar. O mesmo ocorre na cuba que continha o

eletrodo de cobre, mas com cargas opostas.

ELETROLÍTICAS: em contraste, estas células requerem de uma fonte EXTERNA

DE ENERGIA ELÉTRICA para operar. A célula galvânica pode se fazer funcionar como

célula eletrolítica introduzindo uma fonte de corrente contínua (CC) de 0,5 V no circuito.

O eletrodo de Ag se conecta ao terminal da fonte e é o ânodo da célula. O eletrodo de

Cu é conectado ao terminal – e é o catodo. A reação da célula eletrolítica é a inversa

daquela na célula galvânica. Isto é,

2Ag(s) + Cu2+ 2Ag+ + Cu(s)

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96

Figura . Representação esquemática de uma célula eletrolítica.

CÉLULA REVERSÍVEL, isto é, uma célula na qual a direção da reação

eletroquímica pode ser invertida quando a direção do fluxo de elétrons é mudada.

1.4. Correntes em células eletroquímicas

Existem 3 mecanismos de transporte da eletricidade numa célula eletroquímica:

1. Elétrons levam a corrente dentro dos eletrodos assim como através do

condutor externo

2. Cátions e ânions carregam a corrente dentro da célula: Ag+ e Cu2+ se

movem em direção ao CATODO de Ag, enquanto que ânions, tais como

sulfato e nitrato, são atraídos para o ânodo de Cu. Dentro da ponte salina,

Cl- migra para dentro do compartimento do Cu, enquanto K+ se move na

direção oposta.

3. A condução iônica na solução está acoplada à condução eletrônica nos

eletrodos pela reação de redução no catodo e de oxidação no ânodo.

Page 97: Zoologia C

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1.5. Célula eletroquímica galvânica

Uma reação de oxidação-redução pode ser conduzida de uma forma em que a

tendência de reação possa ser quantificada. Isso é feito em uma célula eletroquímica,

onde as semi-reações ocorrem em recipientes separados, as semi-células. Voltando à

reação:

Zn0 + Cu2+ Cu0 + Zn2+

Quando lâminas de cobre e zinco metálico ficam em contato com as soluções de

seus respectivos íons, e essas lâminas, chamadas eletrodos, são ligadas através de um fio

condutor temos uma célula eletroquímica. Os elétrons fluem do eletrodo de zinco para o

eletrodo de cobre poderemos ligar os eletrodos aos terminais de um motor elétrico e

produzir trabalho. No nosso esquema temos inserido no circuito elétrico um voltímetro

que nos dará a medida do potencial elétrico entre os eletrodos.

e- e-

K+

K+

Cl-

Cl-

e-

e-

e-

e-

e-

Cu2+

Cu2+

Cu2+

SO4 2-

SO4 2-

- Ag+

Ag+

NO

NO

NO3

e-

e-

e-

e-

e-

e-

Oxidação

Interface Eletrodo/solução Interface Eletrodo/solução

Redução

AgNO3 CuSO4

Page 98: Zoologia C

98

O fluxo de elétrons de uma semi-célula a outra provocaria uma região com falta e

outra com excesso de cargas negativas. A ponte salina, constituída por um sal como KCl

ou KNO3, permite a movimentação de íons entre as semi-células e garante a

eletroneutralidade do sistema.

Os eletrodos recebem nomes especiais: aquele onde ocorre a oxidação é

denominado de ânodo e onde ocorre a redução é o catodo. No nosso exemplo o eletrodo

de zinco é o ânodo e o de cobre o catodo. Esse sistema é denominado célula galvânica e

nela ocorre uma reação de oxidação redução espontânea que pode produzir trabalho útil,

como fornecer energia para uma calculadora eletrônica.

Se fornecermos energia elétrica por meio de uma fonte externa aos eletrodos,

forçaremos a reação inversa:

Cu0 + Zn2+ Zn0 + Cu2+

e daí teríamos o processo denominado de eletrólise e, neste caso teríamos uma célula

eletrolítica.

Na nossa célula se as concentrações de Zn2+ e de Cu2+ nos copos fossem 1,0 mol

L-1 leríamos no voltímetro 1,10 Volts e essa voltagem iria variar conforme a concentração

dos íons em solução.

Trabalhando em condições padrão, com soluções na concentração 1 mol L-1, a

voltagem lida será denominada de potencial padrão da célula, simbolizada por º.

O valor de º pode ser considerado como a soma algébrica dos potenciais padrão

de cada semi-reação, os potenciais de eletrodo:

Cu2+

Zn2+

Zn Cu

Movimento dos elétrons

Page 99: Zoologia C

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º = Cu - Zn

Não podemos medir potenciais de eletrodo individualmente, mas apenas

diferenças de potencial entre dois eletrodos. Entretanto, se tomarmos uma semi-reação

como referência, e a ela atribuirmos o valor zero, as diferenças de potencial medidas nos

darão os potenciais da outra semi-reação, que ocorre nesta célula eletroquímica. A semi-

reação tomada como padrão é por convenção a seguinte:

2H+ (aq, 1 mol L-1) + 2e- H2(g, 1 atm) o = 0,00 Volts

Os potenciais padrão de algumas semi-reações são mostrados na tabela a seguir.

Semi-reação Potencial padrão de eletrodo a 25oC Volts

Na+ + e- Na(s) -2,71 Zn2+ + 2e- Zn(s) -0,76 Fe2+ + 2e- Fe(s) -0,44 Cd2+ + 2e- Cd(s) -0,40 Co2+ + 2e- Co(s) -0,28 Pb2+ + 2e- Pb(s) -0,13 2H+ + 2e- H2 -0,00 Cu2+ + 2e- Cu(s) +0,34 Fe3+ + e- Fe2+ +0,77 Ag+ + e- Ag(s) +0,80 O2 + 4e- + 4H+ 2H2O +1,23 Cl2(g) + 2e- 2Cl- +1,36 Co3+ + e- Co2+ +1,82

Imagine uma célula eletroquímica similar à anteriormente descrita, mas

constituída por eletrodos de prata e de zinco mergulhados nas soluções de seus íons,

ambas na concentração de 1 mol L-1. Quem doaria e quem receberia elétrons? Para saber

isso, tomamos os potenciais padrões das semi-reações envolvidas, que como se pode

perceber, são sempre escritas por convenção como redução.

Ag+ + e- Ag(s) o = +0,80 Volts

Zn2+ + 2e- Zn(s) o = -0,76 Volts

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Evidentemente para a reação global acontecer uma dessas semi-reações tem que

ser invertida para atuar como reação de oxidação, pois alguém tem que doar elétrons.

Como escolher?

Quando calculamos o para a reação completa, através da soma algébrica dos

potenciais padrão individual, temos que obter um valor positivo e para isso temos que

inverter a semi-reação do zinco:

Ag+ + e- Ag(s) o = + 0,80 Volts

Zn(s) Zn2+ + 2e- o = + 0,76 Volts

Vemos então que quem atua como doador de elétrons é o zinco; o zinco é,

portanto oxidado, sendo também o agente redutor. Para escrever corretamente a reação

completa temos que ajustar o número de elétrons doados e recebidos:

2 Ag+ + 2e- 2 Ag(s) o = + 0,80 Volts

Zn(s) Zn2+ + 2 e- o = + 0,76 Volts

2Ag+ + Zn(s) 2 Ag(s) + Zn2+ o = 1,56 Volts

Perceba que essa é a única possibilidade de se obter o > 0 e que ao multiplicar

a semi-reação da prata por 2 não foi alterado seu valor de o; ele jamais seria multiplicado

por 2 também. Dispomos assim de um processo para descobrir o sentido espontâneo de

qualquer reação de oxidação-redução, dispondo dos potenciais padrão.

1.6. Equação de Nernst

Não poderemos obviamente ficar condenados a trabalhar sempre nas condições

padrão e obter sempre apenas o. Temos que trabalhar com soluções com outras

concentrações que não 1 mol L-1. Se na célula eletroquímica de zinco-prata as soluções

tivessem concentrações 0,12 mol L-1 Ag+ e 0,07 Zn2+ qual seria o valor da diferença de

potencial entre os eletrodos? Para isso é que existe a equação de Nernst: para calcular o

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valor de , que é o potencial da célula eletroquímica em condições variáveis de

concentração:

2Ag+ + Zn(s) 2Ag(s) + Zn2+

]Zn[]Ag[log

n0592,0

2

2o

na qual o valor 0,0592 é válido para a temperatura de 25oC e n é o número de elétrons

envolvidos. Então:

= 1,56 - 0,0592/2 . log (0,12)2/0,07

= 1,58 Volts

Note que na equação de Nernst está incluído o quociente das concentrações dos

produtos da reação e as concentrações dos reagentes, como se fosse a constante de

equilíbrio. Por isso mesmo, a concentração de prata foi elevada ao quadrado, pois seu

coeficiente na equação química é 2, e não entrou nenhum valor para Zn e Ag sólidos.

Exemplo: Verificar se a reação química a seguir ocorre espontaneamente,

balancear a mesma e calcular o potencial para concentrações de reagentes e produtos

iguais a 0,1 mol L-1.

Fe2+ + Cr2O7

2- + H+ Cr3+ + Fe3+ + H2O

Examinando as semi-reações envolvidas:

Fe3+ + e- Fe2+ o = 0,77V

Cr2O72- + 14H+ + 6e- 2Cr3+ + 7 H2O o = 1,33V

vemos que é necessário inverter a semi-reação do ferro para que o valor de E da reação

global seja positivo. Multiplicamos a semi-reação do ferro por 6 para ajustar o número de

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elétrons doados e recebidos, sem contudo alterar o valor do seu potencial padrão de

eletrodo.

Fe2+ 6Fe3+ + 6e- o = - 0,77V Cr2O7

2- + 14H+ + 6e- 2Cr3+ + 7 H2O o = 1,33V 6Fe2+ + Cr2O7

2- + 14H+ 2Cr3+ + 6Fe3+ + 14H2O o = 0,53 V

142-

722

632o

]].[HO].[Cr[Fe].[Fe][Crlog

n0592,0

14

62

].[0,1][0,1].[0,1.[0,1][0,1]log

60592,053,0

= 0,45 V

Uma célula eletroquímica pode iniciar sua operação com quaisquer valores de

concentração de reagentes e a medida em que a reação se processa a tendência é atingir o

ponto de equilíbrio. Quando o equilíbrio é atingido o quociente da equação de Nernst

corresponde a constante de equilíbrio da reação e o potencial da célula torna-se zero.

Deste modo temos:

0592,0nKlog

o

1.7. Reações de oxidação-redução importantes

Certas bactérias utilizam a reação de oxidação do íon NH4+ para obtenção de

energia no processo denominado de nitrificação. Neste processo, o nitrogênio amoniacal,

NH4+, é transformado em nitrogênio nítrico NO3

-, em duas etapas:

Oxidação enzimática por nitrossomonas:

NH4+ + 3 O2 NO2 + 2H2O + 4H+ + Energia

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103

Oxidação enzimática por nitrobacter:

2 NO2 + O2 2 NO3- + Energia

A nitrificação é um processo muito importante, que ocorre quando se aplica uma

fonte de nitrogênio amoniacal ao solo, que, como se observa pelas equações, é um

processo que provoca acidificação. O fertilizante sulfato de amônio, (NH4)2SO4, tem

portanto motivos de sobra para acidificar o solo, não é mesmo?

A concentração de oxigênio na atmosfera do solo pode ser baixa em solos mal

drenados e isso tem importantes conseqüências tais como a redução de NO3- a N2 no

processo denominado de denitrificação:

4 NO3

- + 5 CH2O + 4H+ 2N2 + 5 CO2 + 7 H2O

Observe que um composto orgânico atuou como redutor, pois o carbono de sua

molécula foi oxidado, passando de número de oxidação zero para +4.

Um dos processos de oxidação-redução mais prejudiciais é a corrosão. O processo

de corrosão consiste na formação de uma célula eletroquímica onde na superfície do

metal ocorre uma reação de oxidação, constituindo um ânodo:

Fe0 Fe3+ + 3e-

A reação catódica pode ser entre outras, aquela em que o oxigênio atua como

receptor de elétrons:

O2 + 4H+ + 4e- 2 H2O

Na cultura de arroz inundado o solo é mantido submerso em água e importantes

transformações podem ocorrer. Em condições anaeróbias:

Fe(OH)3 + e- + 3H+ Fe2+ + 3H2O

As plantas absorvem ferro como nutriente na forma Fe2+, mas o aumento de sua

concentração provoca toxicidade, e isso é tido como umas das limitações do rendimento

de arroz irrigado no Brasil. É interessante observar que na raiz de arroz existe uma região

de oxidação que transforma Fe2+ em Fe3+, o qual em seguida se precipita na epiderme.

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Trata-se de uma notável adaptação fisiológica que permite a planta se proteger da

toxicidade de Fe2+, Mn2+ e sulfetos, que ocorrem em condições anaeróbias.

1.9. Agentes oxidantes

1) Permanganato de potássio: em meio ácido a ação oxidante do permanganato se faz

através da mudança do número de oxidação +7 do manganês no íon MnO4- para +2 no íon

Mn++.

MnO4- + 8 H+ + 5 e- Mn++ + 4 H2O

em solução neutra ou alcalina, o permanganato se transforma em óxido de manganês.

MnO4- + 3e- + 2 H2O MnO2 + 4 OH-

Em solução fortemente alcalina, o íon permanganato pode reduzir-se a

manganato.

MnO4- + 1 e- MnO42-

2) Dicromato de potássio: em meio ácido a ação oxidante do dicromato se deve à

redução do crômio a íon crômico.

Cr2O7-- + 14 H+ + 6 e- 2Cr+++ + 7 H2O

3) Íon nitrato: a ação oxidante se deve à redução do nitrogênio. O produto da reação

depende da concentração do ácido e do composto a ser oxidado; o produto mais comum é

o óxido nítrico (NO2) mas, em diferentes condições, podem ser formados óxido nitroso

(NO) ou nitrogênio (N2). O íon NO3- reduz-se a amônia (NH3) em meio fortemente

alcalino.

NO3- + 2 H+ + 1 e- NO2 + H2O

2 NO3- + 12 H+ + 10 e- N2 + 6 H2O

NO3- + 6 H2O + 8 e- NH3 + 9 OH

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4) Halogênios: A ação oxidante se deve à redução do halogênio a haleto.

Cl2 + 2 e- 2 Cl-

5) Peróxido de hidrogênio: A ação oxidante se deve à redução do íon peróxido (O2-):

em meio ácido: H2O2 + 2H+ + 2e- 2H2O

em meio alcalino: H2O2 + 2e- 2OH-

1.10. Agentes redutores

1) Dióxido de enxofre ou ácido sulfuroso: a ação redutora se deve à transformação do

íon sulfito a íon sulfato.

SO3-- + H2O SO4

-- + 2 H+ + 2 e-

2) Sulfeto de hidrogênio: aqui o íon sulfeto se transforma em enxofre livre:

S-- S0 + 2e-

3) Ácido iodídrico: neste caso o íon iodeto passa a iodo:

2I- I2 + 2e-

4) Cloreto estanoso: a ação redutora geralmente ocorre em meio ácido e se deve à

transformação dos íons estanosos a estânicos:

Sn++ Sn++++ + 2e-

5) Metais e hidrogênio: aqui os metais ou o hidrogênio se oxidam em cátions:

Zno Zn++ + 2 e-

H2 2 H+ + 2 e-

em meio alcalino, ocorrem as reações:

Zn + 4 OH- ZnO2-- + 2 e- + 2 H2O

Al + 4 OH- AlO2- + 3 e- + 2 H2O

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106

Alguns exemplos de aplicação

Ácido ascórbico O ácido ascórbico, vitamina C é facilmente oxidado, especialmente se o pH for

superior a 5. Por isso, frutas e legumes tendem a perdem seu valor em vitamina C durante

o armazenamento. Se a perda em vegetais congelados for superior a 15-20% eles se

tornam inaceitáveis do ponto de vista sensorial.

O oxigênio do ar atua como oxidante, ou doador de elétrons, enquanto que o ácido

ascórbico atua como agente redutor, recebendo elétrons.

Por outro lado, essa facilidade do acido ascórbico em se oxidar é utilizada com

vantagem quando este composto é usado como antioxidante. Ele pode prevenir o

escurecimento enzimático de superfícies cortadas e expostas ao ar de frutas e vegetais.

Química do nitrogênio

Certas bactérias utilizam a reação de oxidação do íon NH4+ para obtenção de

energia no processo denominado de nitrificação. Neste processo, o nitrogênio amoniacal,

NH4+, é transformado em nitrogênio nítrico NO3

-, em duas etapas:

Oxidação enzimática por nitrossomonas: NH4

+ + 3 O2 NO2 + 2H2O + 4H+ + Energia Oxidação enzimática por nitrobacter: 2 NO2 + O2 2 NO3

- + Energia

A nitrificação é um processo muito importante que, como se observa pelas

equações, é um processo que provoca acidificação.

Na ausência de oxigênio ocorre a redução de NO3- a N2 no processo denominado

de denitrificação:

4 NO3- + 5 CH2O + 4H+ 2N2 + 5 CO2 + 7 H2O

Um composto orgânico no caso atuou como redutor, pois o carbono de sua

molécula foi oxidado, passando de número de oxidação zero para +4.

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Corrosão

Um dos processos de oxidação-redução mais prejudiciais é a corrosão. O processo

de corrosão consiste na formação de uma célula eletroquímica onde na superfície do

metal ocorre uma de oxidação, constituindo um ânodo:

Fe0 Fe3+ + 3e- A reação catódica pode ser, entre outras, aquela em que o oxigênio atua como

receptor de elétrons:

O2 (g) + 2 H2O + 4e- 4 OH-

A reação global é:

4 Fe2+ (aq) + O2(g) + (4+2x) H2O(l) 2Fe2O3.xH2O (s) + 8H+(aq)

Ferro na cultura do arroz

Na cultura de arroz inundado o solo é mantido submerso em água e importantes

transformações podem ocorrer. Em condições anaeróbias:

Fe(OH)3 + e- + 3H+ Fe2+ + 3H2O As plantas absorvem ferro para como nutriente na forma Fe2+, mas o aumento de

sua concentração provoca toxicidade, e isso é tido como umas das limitações do

rendimento de arroz irrigado no Brasil. É interessante observar que na raiz de arroz existe

uma região de oxidação que transforma Fe2+ em Fe3+, o qual em seguida se precipita na

epiderme. Trata-se de uma notável adaptação fisiológica que permite a planta se proteger

da toxicidade de Fe2+, Mn2+ e sulfetos, que ocorrem em condições anaeróbias.

Problemas

1. Calcule o número de oxidação dos elementos indicados nos seguintes compostos:

Na2CrO4; SO3; SO2; Cl2; Na4P2O7; C6H12O6; K2Cr2O7; CO32-; Na2S4O6, KMnO4; O3; O2;

CO2; CO.

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108

2. O nitrogênio se apresenta sob diferentes números de oxidação em espécies como:

N2O3, N2O5, NH3; NH4+, N2O, CH3-NH2, N2, NO2

-. Escreva-as em ordem crescente de

número de oxidação.

3. O que acontecerá com as lâminas metálicas mostradas a seguir, quando imersas nas

soluções contendo os íons indicados?

Cu

Ag+(aq)

Cu

Zn2+(aq) Cu2+(aq)

Zn

Cu2+(aq)

Fe Ag

Fe2+(aq)

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109

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 6 – ANÁLISE GRAVIMÉTRICA

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

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1. Princípio geral

Na análise gravimétrica típica, a espécie química cuja concentração se deseja

determinar é separada do restante da amostra, na forma de um composto de composição

perfeitamente conhecida. Esse composto, após tratamento adequado, é então pesado. A

partir dessa massa, calcula-se a concentração da espécie química desejada presente no

material analisado através de cálculos estequiométricos.

A técnica mais usual de separação da espécie química em estudo é a

precipitação, entretanto também pode ser empregada nessa etapa do método, a

volatilização por aquecimento da amostra.

VOLATILIZAÇÃO: Usado em análises de itens voláteis (CO2). O item em análise é

convertido pelo aquecimento direto da forma onde este se encontra, sendo absorvido por

uma substância adequada (para CO2, Cão + NaOH), a massa do item é calculada pela

variação da massa da substância absorvente.

Os métodos gravimétricos típicos em virtude da natureza das etapas envolvidas

são de execução demorada. È essencial que, o método escolhido, a forma do precipitado

do elemento ou íon a ser determinado seja muito pouco solúvel e que não ocorram perdas

apreciáveis durante a separação por filtração e pesagem do precipitado.

1- O precipitado deve ser insolúvel o bastante para que não ocorram perdas

apreciáveis na filtração. Isto significa que, na prática, a quantidade de analito que

Page 111: Zoologia C

111

permanece na solução não deve exceder 0,1mg, o limite de detecção das balanças

comuns.

2- O precipitado deve poder ser separado facilmente da solução por filtração e

pode ser lavado para eliminação completa das impurezas solúveis. Estas condições

exigem que as partículas não atravessem o meio filtrante e que o tamanho das partículas

não seja afetado (ou, pelo menos, não seja reduzido durante a lavagem).

3- O precipitado deve poder ser convertido em uma substância pura de

composição química definida. Isto pode ser conseguido por calcinação ou por uma

operação química simples, como a evaporação de uma solução apropriada.

Tabela 1 - Alguns elementos determinados por gravimetria. substância

analisada precipitado formado precipitado pesado interferencias

Fe(OH)3 Fe cupferrato

Fe2O3 Fe2O3

Al, Ti, Cr e muitas outras metais tetravalentes

Al(OH)3 Al(ox)3

a Al2O3 Al(ox)3

Fe,Ti,Cr e muitas outras idem. Mg não interfere em

soluções ácidas

CaC2O4 CaCO3 ou CaO todos os metais exceto alcalinos e Mg

Mg MgNH4PO4 Mg2P2O7 todos os metais exceto

alcalinos Zn ZnNH4PO4 Zn2P2O7 todos os metais exceto Mg Ba BaCrO4 BaCrO4 Pb

SO42- BaSO4 BaSO4 NO3

-, PO43-, ClO3

- Cl- AgCl AgCl Br-, I-, SCN-, CN-, S2-, S2O3

2- Ag AgCl AgCl Hg(I)

PO43- MgNH4PO4 Mg2P2O7 MoO4

2-, C2O42-, K+

Ni Ni(dmg)2b Ni(dmg)2 Pd

aox = oxina (8-hidroxiquinolina) com 1 H+ removido bdmg = dimetildioxima com 1 H+ removido

Page 112: Zoologia C

112

Tabela 2 - Alguns agentes precipitantes orgânicos. Reagente estrutura metais precipitados

dimetilglioxima

Ni(II) em NH3 ou tampão acetato Pd(II) em HCl

(M2++2HR=MR2+2H+)

alfa-benzoinoxima (cupron)

Cu(II) em NH3 e tartarato Mo(VI) e W(VI) em H+ (M2++H2R=MR+2H+;

M2+ = Cu2+, MoO2+, WO2

2+) óxido metálico pesado

hidroxilamina nitrosofenilamonium

(cupferron)

Fe(III), V(V), Ti(IV), Zr(IV), Sn(IV), U(IV)

(Mn++nNH4R=MRn+nNH4+)

óxido metálico pesado

8-hidroxiquinolina (oxina)

Vários metais. Útil para Al(III) e Mg(II)

(Mn++nHR=MRn+nH+)

dietilditiocarbamato de sodio

Vários metais em soluções ácidas

(Mn++nNaR=MRn+nNa+)

borotetrafenil de sodio

K+, Rb+, Cs+, Tl+, Ag+, Hg(I), Cu(I), NH4

+, RNH3+,

R2NH2+, R3NH+, R4N+ em solução Ac.

(M++NaR=MR+Na+)

cloreto tetrafenilarsonium

Cr2O72-, MnO4

-, ReO4-,

MoO4-, WO4

2-, ClO4-, I3

-. em solução ácida

(An-+nRCl=RnA+nCl-)

2. Balança Analítica.

Uma das operações mais freqüentes num laboratório é a pesagem,

operação pela qual se determina a massa de uma substância. O grau de

Page 113: Zoologia C

113

exatidão e precisão que é necessário satisfazer numa pesagem dependem da sua finalidade.

Uma balança analítica, muito rigorosa, ±0,0001 g, tem uma capacidade que pode

variar de 1 a 200 g.

Uma balança técnica é menos rigorosa, ±0,01 g, mas tem uma capacidade elevada

que pode ser de ~1000 g.

Uma pesagem é denominada de analítica quando realizada em uma balança de

precisão. Existem inúmeros modelos de balanças analíticas, porém, o que as caracteriza é

o fato de permitirem a determinação de massas com um erro absoluto de mais ou menos

0,1 mg. Há balanças, ainda, mais sensíveis que permitem determinar massas com erro

absoluto de mais ou menos 0,01 mg. Outras, menos sensíveis que as analíticas e com erro

absoluto de mais ou menos 1 mg, são denominadas de balanças semi-analíticas.

Na maioria das análises químicas, uma balança analítica é usada para se

obter massas com alta exatidão. Balanças semi-analíticas são também usadas

para medidas nas quais a necessidade de resultados confiáveis não é crítica.

2.1. Tipos de Balanças Analíticas.

As balanças analíticas podem ser classificadas conforme suas

capacidades e precisões de medida nas condições de capacidade máxima. A

Tabela 1 mostra esta classificação.

Tabela 1 - Classificação das balanças analíticas.

TIPOS CAPACIDADE DE PESAGEM

PRECISÃO NA CONDIÇÃO DE CAPACIDADE MÁXIMA

Balança Analítica 1g a vários Kg 1 parte em 105 g Macrobalança 160-200 g 0,1 mg Balança Semi-microanalítica 10-30 g 0.01 mg

Balança Microanalítica 1-3 g 0,001 mg ou 1 g

2.2. A Balança Analítica Eletrônica.

Page 114: Zoologia C

114

O prato fica sobre um cilindro metálico oco envolto por uma bobina que se

ajusta no polo interno de um imã cilíndrico. Uma corrente elétrica na bobina cria

um campo magnético que suporta ou levita o cilindro, o prato e um braço

indicador, como também tudo mais que estiver sobre o prato. A corrente é

ajustada de modo que o nível do braço indicador fique na posição nula quando o

prato está vazio. Colocando um objeto sobre o prato, o braço indicador e o

próprio prato movem-se para baixo, o que aumenta a quantidade de luz que

atinge a fotocélula do indicador de nulidade. A corrente da fotocélula é então

amplificada e passa a alimentar a bobina, criando assim um campo magnético

maior, o que por sua vez faz com que o prato volte à sua posição original. Um

dispositivo como este, no qual uma pequena corrente elétrica causa à

manutenção de um sistema mecânico em sua posição nula, é chamado de

sistema servo. A corrente necessária para manter o prato e o objeto na posição

nula é diretamente proporcional à massa do objeto, a qual é facilmente medida,

digitalizada e mostrada ao operador em um display. A calibração de uma

balança eletrônica envolve o uso de uma massa padrão que é usada para

ajustar a corrente de forma que a massa do padrão seja exibida no display.

Figura: Balança eletrônica

As balanças eletrônicas geralmente possuem um controle automático de

tara, o qual permite a taragem, ou seja, permite ao display mostrar zero já com

um peso adicionado (por exemplo, um frasco de pesagem). A maioria das

balanças permite a taragem com até 100% de sua capacidade.

Page 115: Zoologia C

115

Uma balança analítica eletrônica moderna fornece velocidade e facilidade de

usos surpreendentes. Por exemplo, controlam-se as funções por simples toques

numa barra de controle. Numa posição da barra liga-se e desliga-se o

instrumento, numa outra posição, calibra-se automaticamente a balança usando

um peso padrão e numa terceira posição, realiza-se a tara, com ou sem um

objeto no prato. Dados confiáveis de pesagem são obtidos com pouca ou

nenhuma prática de uso.

2.3. Precauções ao se usar uma balança analítica.

Por se tratar de instrumentos delicados e caros, seu manejo envolve a estrita

observância dos seguintes cuidados gerais:

1. As mãos do operador devem estar limpas e secas;

2. Durante as pesagens, as portas laterais devem ser mantidas fechadas;

3. Nunca pegar diretamente com os dedos o objeto que se vai pesar. Conforme o

caso, usar uma pinça ou uma tira de papel impermeável;

4. Para sucessivas pesagens, no decorrer de uma análise, usar sempre a mesma

balança;

5. O recipiente e/ou as substâncias que vão ser pesadas devem estar em equilíbrio

térmico com o ambiente.

2.4. Uso da balança analítica.

A balança analítica é um dos instrumentos de medida mais usados no

laboratório e dela dependem basicamente todos os resultados analíticos.

As balanças analíticas modernas, que podem cobrir faixas de precisão de

leitura da ordem de 0,1 µg a 0,1 mg, já estão bastante aperfeiçoadas a ponto de

dispensarem o uso de salas especiais para a pesagem. Mesmo assim, o simples

emprego de circuitos eletrônicos não elimina as interações do sistema com o

ambiente. Destes, os efeitos físicos são os mais importantes, pois não podem

ser suprimidos.

As informações contidas neste texto visam indicar os pontos mais

importantes a serem considerados nas operações de pesagem.

Page 116: Zoologia C

116

2.4.1. Localização da balança analítica.

A precisão e a confiabilidade das pesagens estão diretamente

relacionadas com a localização da balança analítica. Os principais itens a serem

considerados para o seu correto posicionamento são:

Características da sala de pesagem;

-Ter apenas uma entrada.

-Ter o mínimo de janelas possível, para evitar a luz direta do sol e

correntes de ar.

-Ser pouco susceptível a choques e vibrações.

As condições da bancada;

-Ficar firmemente apoiada no solo ou fixada na parede, de modo a

transmitir o mínimo de vibrações possível.

-Ser rígida, não podendo ceder ou vergar durante a operação de

pesagem. Pode-se usar uma bancada de laboratório bem estável ou uma

bancada de pedra.

-Ficar localizada nas posições mais rígidas da construção, geralmente

nos cantos da sala.

As condições ambientais;

-Manter a temperatura da sala constante.

-Manter a umidade entre 45% e 60% (deve ser monitorada sempre que

possível).

-Não permitir a incidência de luz solar direta.

-Não pesar próximo a irradiadores de calor.

-Colocar as luminárias distantes da bancada, para evitar distúrbios devido

à radiação térmica. O uso de lâmpadas fluorescentes é menos crítico.

-Evitar pesar perto de equipamentos que usam ventiladores (ex.: ar

condicionado, computadores, etc.) ou perto da porta.

2.4.2. O equipamento e manipulações associadas com pesagem.

Page 117: Zoologia C

117

A massa de muitos sólidos altera-se com a umidade, devido às suas

tendências a absorver quantidades pesáveis de umidade. Este efeito é

especialmente pronunciado quando uma grande área superficial está exposta,

como no caso de um reagente ou uma amostra finamente dividida. Portanto, o

primeiro passo numa análise típica envolve a secagem da amostra de modo que

os resultados não sejam afetados pela umidade da atmosfera ambiente.

Uma amostra, um precipitado ou um frasco de pesagem é trazido à

massa constante através de um ciclo que envolve o aquecimento (geralmente

por uma hora ou mais) a uma temperatura apropriada, resfriamento e pesagem.

Este ciclo é repetido quantas vezes for necessário para se obter massas

sucessivas que sejam concordantes até 0,2 ou 0,3 mg. Estabelecendo-se a

massa constante, tem-se segurança de que os processos químicos ou físicos

que ocorram durante o aquecimento (ou ignição) se completem.

Frascos de pesagem. Sólidos são convenientemente secos e estocados

em frascos de pesagem.

Estufa: A secagem em estufa é a maneira mais comum de remover

umidade de sólidos. Este procedimento não é apropriado para substâncias que

se decompõem ou para aquelas nas quais a água não é removida na

temperatura da estufa.

Dessecadores: Materiais secos são estocados em dessecadores

enquanto esfriam, para minimizar assim a aquisição de umidade ambiente. A

base do dessecador contém um agente químico secante, como por exemplo,

cloreto de cálcio anidro, sílica gel dopada com cloreto de cobalto, sulfato de

cálcio, perclorato de magnésio anidro, ou pentóxido de fósforo. As superfícies de

vidro esmerilhado são levemente cobertas com silicone.

Manipulação de frascos de pesagem. O aquecimento a 105-110 o C é

suficiente para remover a umidade da superfície da maioria dos sólidos.

Deve-se evitar segurar objetos secos com os dedos, já que quantidades

detectáveis de água ou óleo de sua pele podem ser transferidas ao objeto. Este

problema é evitado usando-se pinças, luvas limpas de algodão ou tiras de papel

para segurar os objetos secos para serem pesados.

Page 118: Zoologia C

118

Pesagem por diferença. A pesagem por diferença é um método simples

para se determinar uma série de pesos de amostras. Primeiro, o frasco e seu

conteúdo é pesado. Uma amostra é então transferida do frasco para um

recipiente. Com cuidado, tampe o frasco original com sua tampa e pese-o

novamente. A massa da amostra é a diferença entre as duas pesagens. É

essencial que todo o sólido removido seja transferido para o recipiente, sem

perdas.

Pesando sólidos higroscópicos. Substâncias higroscópicas absorvem

umidade da atmosfera muito rapidamente e portanto requerem manipulação

especial. Você vai necessitar de um frasco para cada amostra a ser pesada.

Coloque a quantidade aproximada de amostra necessária no frasco individual e

aqueça-o por um determinado tempo. Quando o aquecimento se completar,

rapidamente tampe o frasco e resfrie-o no dessecador. Pese um dos frascos

após abrir o dessecador momentaneamente para liberar o vácuo. Esvazie o

frasco rapidamente no recipiente final, tampe-o e pese o frasco novamente

(junto com qualquer resíduo sólido que não tenha sido transferido). Repita este

procedimento para cada amostra e determine as massas das amostras por

diferença.

Pesando líquidos. A massa de um líquido é sempre obtida por diferença.

Líquidos não-corrosivos e relativamente não-voláteis podem ser transferidos

para frascos previamente tarados com tampas bem vedadas; a massa do frasco

é subtraída da massa total. Um líquido volátil ou corrosivo deve ser selado numa

ampola de vidro.

2.5. Cuidados Especiais. Cuidados básicos

- Verificar sempre o nivelamento da balança.

- Deixar sempre a balança conectada à tomada e ligada para manter o equilíbrio

térmico dos circuitos eletrônicos.

Page 119: Zoologia C

119

- Deixar sempre a balança no modo stand by, evitando a necessidade de novo

tempo de aquecimento (warm up).

O frasco de pesagem

-Usar sempre o menor frasco de pesagem possível.

- A temperatura do frasco de pesagem e seu conteúdo devem estar à mesma

temperatura que a do ambiente da câmara de pesagem.

- Nunca tocar os frascos diretamente com os dedos ao colocá-los ou retirá-los da

câmara de pesagem.

O prato de pesagem

- Colocar o frasco de pesagem sempre no centro do prato de pesagem.

- Remover o frasco de pesagem do prato de pesagem tão logo termine a operação

de pesagem.

A leitura

- Verificar se o mostrador indica exatamente zero ao iniciar a operação. Tare a

balança, se for preciso.

- Ler o resultado da operação tão logo o detector automático de estabilidade

desapareça do mostrador.

Calibração

- Calibrar a balança regularmente, principalmente se ela estiver sendo operada

pela primeira vez, se tiver sido mudada de local, após qualquer nivelamento e

após grandes variações de temperatura ou de pressão atmosférica.

Manutenção

- Manter sempre a câmara de pesagem e o prato de pesagem limpos.

- Usar somente frascos de pesagem limpos e secos.

2.6. Influência Física sobre a Pesagem.

Quando o mostrador da balança ficar instável, seja por variação contínua

da leitura para mais ou para menos ou simplesmente se a leitura estiver errada.

ATENÇÃO: Você estará observando influências físicas indesejáveis

sobre a operação. As mais comuns são:

Page 120: Zoologia C

120

Temperatura

Efeito Observado: O mostrador varia constantemente em uma direção.

Motivo: A existência de uma diferença de temperatura entre a amostra e o

ambiente da câmara de pesagem provoca correntes de ar. Estas correntes de ar

geram forças sobre o prato de pesagem fazendo a amostra parecer mais leve

(chamada flutuação dinâmica). Este efeito só desaparece quando o equilíbrio

térmico for estabelecido. Além disso, o filme de umidade que cobre qualquer

amostra, e que varia com a temperatura, é encoberto pela flutuação dinâmica.

Isto faz com que um objeto frio pareça mais pesado ou um objeto mais quente

mais leve.

Medidas corretivas:

- Nunca pesar amostras retiradas diretamente de estufas, muflas, ou

refrigeradores.

- Deixar sempre a amostra atingir a temperatura do laboratório ou da câmara de

pesagem.

Variação de massa

Efeito Observado: O mostrador indica leituras que aumentam ou

diminuem, continua e lentamente. Motivo: Ganho de massa devido a uma amostra higroscópica (ganho de

umidade atmosférica) ou perda de massa por evaporação de água ou de

substâncias voláteis.

Medidas corretivas:

- Usar frascos de pesagem limpos e secos e manter o prato de pesagem sempre

livre de poeira, contaminantes ou gotas de líquidos.

- Usar frascos de pesagem com gargalo estreito.

- Usar tampas ou rolhas nos frascos de pesagem.

Eletrostática

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121

Efeito Observado: O mostrador da balança fica instável e indica massas

diferentes a cada pesagem da mesma amostra. A reprodutibilidade dos

resultados fica comprometida.

Motivo: O seu frasco de pesagem está carregado eletrostaticamente.

Estas cargas formam-se por fricção ou durante o transporte dos materiais,

especialmente os pós e grânulos. Se o ar estiver seco (umidade relativa menor

que 40%) estas cargas eletrostáticas ficam retidas ou são dispersadas

lentamente. Os erros de pesagem acontecem por forças de atração

eletrostáticas que atuam entre a amostra e o ambiente. Se a amostra e o

ambiente estiverem sob o efeito de cargas elétricas de mesmo sinal [+ ou -]

ocorrem repulsões, enquanto que sob o efeito de cargas opostas [+ e -],

observam-se atrações.

Medidas corretivas:

- Aumentar a umidade atmosférica com o uso de um umidificador ou por ajustes

apropriados no sistema de ar condicionado (umidade relativa ideal: 45-60%).

- Descarregar as forças eletrostáticas, colocando o frasco de pesagem em um

recipiente de metal, antes da pesagem.

- Conectar a balança a um "terra" eficiente.

Magnetismo

Efeito Observado: Baixa reprodutibilidade. O resultado da pesagem de

uma amostra metálica depende da sua posição sobre o prato da balança.

Motivo: Se o material for magnético (ex.: ferro, aço, níquel, etc.) pode

estar ocorrendo atração mútua com o prato da balança, criando forças que

levam a uma medida errônea.

Medidas corretivas:

- Se possível, desmagnetize as amostras ferromagnéticas.

- Como as forças magnéticas diminuem com a distância, separar a amostra do

prato usando um suporte não-magnético (ex.: um béquer invertido ou um suporte

de alumínio).

Page 122: Zoologia C

122

Gravitação

Efeito Observado: As pesagens variam de acordo com a latitude. Quanto

mais próximo do equador maior a força centrífuga devido à rotação da Terra,

que se contrapõe à força gravitacional. Desta forma, a força atuando sobre uma

massa é maior nos pólos que no equador. As pesagens dependem também da

altitude em relação ao nível do mar (mais exatamente, em relação ao centro da

Terra). Quanto mais alto, menor a atração gravitacional que decresce com o

quadrado da distância.

Medidas corretivas:

-Pesagens diferenciais ou comparativas ou de precisão, efetuadas em diferentes

latitudes ou altitudes (ex.: no térreo e em outros andares de mesmo prédio) devem

ser corrigidas.

ms = massa medida ao nível do solo

rt = raio da Terra (~ 6.370 km)

h = altura do local onde se fez a medida (m)

mk = massa medida a uma altura (h), em relação ao nível do solo

Empuxo

Efeito Observado: O resultado de uma pesagem feita em ar não é o

mesmo que no vácuo.

Motivo: Este fenômeno é explicado pelo princípio de Arquimedes,

segundo o qual "um corpo experimenta uma perda de peso igual ao peso da

massa do meio por este deslocado". Quando materiais muito densos (ex.: Hg)

ou pouco densos (ex.: água) são pesados, correções devem ser feitas, em favor

da precisão.

Medidas corretivas:

- Pesagens diferenciais ou comparativas ou de muita precisão, efetuadas em dias

diferentes, devem sempre ser corrigidas com relação ao empuxo, levando-se em

Page 123: Zoologia C

123

conta a temperatura, a pressão e a umidade atmosféricas. Os trabalhos comuns

de laboratório geralmente dispensam estas medidas.

3. Gravimetria

Em uma análise gravimétrica utiliza-se uma seqüência de operações com o

objetivo de determinar a quantidade de um constituinte em uma amostra, por

pesagem direta deste elemento puro ou de um seu derivado de composição

conhecida e bem definida. Assim, por exemplo, pode-se determinar o teor de

prata de uma amostra, provocando-se a redução dos íons Ag+ em solução ou

então através da precipitação do cloreto de prata. No primeiro procedimento

analítico pesa-se diretamente a prata e no segundo um seu derivado, o cloreto

de prata. Tanto por meio de um como pelo outro se pode calcular o teor de prata

na amostra.

As principais vantagens da análise gravimétrica são:

a) as operações unitárias utilizadas no procedimento gravimétrico são de

fácil execução e de boa reprodutibilidade e

b) usam-se equipamentos simples e de baixo custo, como béquer e funil de

vidro, cadinho de porcelana, bico de Bunsen, mufla, estufa, balança analítica,

etc. Este procedimento analítico constitui-se num método de extensa aplicação

na determinação de macroconstituintes de uma amostra (faixa de porcentagem).

Em muitos casos, é ainda através do procedimento gravimétrico que se obtém

major precisão na dosagem de certas substâncias, como por exemplo, a

determinação de sílica (SiO2) em amostras de material argilo-silicoso.

A maior desvantagem da análise gravimétrica é o tempo necessário para

sua execução o qual, geralmente, é muito longo. Além disso, devido ao grande

número de operações necessárias na sua execução, este tipo de análise está

sujeito a uma série de erros acumulativos, devidos a falhas de execução, ou

ainda erros devidos a elementos interferentes existentes na amostra original.

Uma outra desvantagem seria a impraticabilidade do procedimento gravimétrico

Page 124: Zoologia C

124

para determinação de microconstituintes na amostra (numa ordem de g mL-1 ou

ng mL-1) devido à falta de sensibilidade do método.

3.1. Principais Operações Gravimétricas.

O procedimento utilizado numa análise gravimétrica pode ser bem entendido

através do estudo das várias etapas sucessivas ou operações unitárias que

compõem este tipo de análise, ou seja:

• Preparo da solução;

• Precipitação;

• Digestão do precipitado;

• Recristalização do precipitado;

• Filtração;

• Lavagem;

• Secagem ou calcinação;

• Pesagem;

Preparo de soluções

Para se iniciar uma análise gravimétrica é necessário que o elemento

desejado esteja em solução. Prepara-se então uma solução conveniente de

amostra (geralmente um sólido), através de um tratamento químico escolhido de

acordo com a natureza da amostra a ser analisada. Este tratamento químico,

que pode ser suave ou enérgico, ácido ou básico, em solução ou por fusão, é

chamado usualmente de “preparo da amostra”. De um modo geral as seguintes

opções são usadas na preparação das soluções de amostra:

a) solubilização com água — utilizada no caso de sais solúveis e

executada em equipamento de vidro (geralmente em béquer). Exemplo:

solubilização de salgema (NaCl).

b) solubilização com ácido clorídrico — utilizada para solubilização de

materiais carbonatados, de alguns óxidos e de alguns metais. Este tipo de

ataque é executado em equipamentos de vidro. Alguns exemplos de substâncias

Page 125: Zoologia C

125

que são solubilizadas por ácido clorídrico são: calcário (CaCO3), óxido de ferro

(Fe2O3), óxido de manganês (MnO2), alumínio metálico e zinco metálico.

c) solubilização com ácido nítrico — utilizada para solubilização de alguns

óxidos e metais. Utiliza-se equipamento de vidro para este tratamento. Exemplo:

óxido de cobre (CuO), cobre metálico, chumbo metálico e prata metálica.

d) solubilização com água-régia utilizada para solubilização de metais.

(é uma mistura de ácido nítrico e ácido clorídrico concentrados -1:3). Ataque

executado em equipamento de vidro. Exemplo: solubilização de metais nobres

como ouro, prata, platina e paládio.

e) solubilização com ácido fluorídrico (HF) utilizada para análise de materiais silicosos. Este tratamento é executado em cápsula ou cadinho de

platina ou de Teflon®. Exemplo: solubilização silicatos, areia, etc. (obviamente

quando o elemento a ser determinado não é o silício, pois esta espécie química,

ao ser atacada com ácido fluorídrico, forma o composto SiF4, volátil).

Para obtenção de uma solução conveniente da amostra, através de qualquer

um destes procedimentos enumerados acima, é necessário que a amostra

sólida a ser analisada esteja finamente dividida e bem homogênea, de modo que

a quantidade pesada para ataque seja representativa. Normalmente, a amostra,

é secada, em seguida britada, através de um britador de mandíbulas e,

finalmente, pulverizada através de um moinho de discos, ou de bolas, ou então

em almofariz de porcelana ou ágata.

Por outro lado, na execução de qualquer tratamento, deve-se tornar muito

cuidado para evitar eventuais erros causados por perdas de material durante os

aquecimentos com ácido ou nas fusões, por ataque incompleto do material,

devido a deficiências no aquecimento ou quantidade de reagente, ou por

pulverização inadequada da amostra.

Precipitação

O elemento a ser dosado é separado da solução através da formação de

um precipitado convenientemente escolhido em cada caso. Devem-se levar em

Page 126: Zoologia C

126

conta vários fatores para a escolha do reagente precipitante, tais como a

solubilidade, as características físicas e a pureza do precipitado.

a) Solubilidade — deve-se escolher um reagente precipitante que conduza a

formação de um precipitado quantitativamente insolúvel, ou seja, a

quantidade do elemento a ser dosado que permanecer em solução deve ser

menor que o limite de erro da balança (±0,2 mg). Deve-se usar excesso de

reagente, pois o efeito do íon comum diminui a solubilidade do precipitado, a

não ser nos casos em que se forme um complexo solúvel pela adição de

excesso de reagente, onde um aumento da solubilidade será verificado.

b) Características físicas — é importante o conhecimento prévio do tipo de

precipitado que será obtido, pois disto depende o tipo de filtração a ser

empregado na separação do precipitado do meio de precipitação. O conhecimento prévio do tipo de precipitado também indicará a necessidade

ou não de um certo tempo de digestão, pois sabe-se, por exemplo, que para

precipitados gelatinosos é inconveniente uma digestão prolongada, devido a

sua grande superfície especifica, que poderia resultar em apreciável

adsorção de impurezas do meio.

c) Pureza — deve-se procurar obter um precipitado o mais puro possível, e

para isso tomam-se precauções quanto aos reagentes empregados, não só

em relação à pureza dos mesmos como também na velocidade de sua

adição. E

recomendável, de modo geral, adicionar-se o reagente gota a gota, sob

agitação, e sempre que possível, a quente. Em alguns casos, as impurezas

contaminantes já se encontram na própria amostra, sendo necessário

eliminá-las, ou através de uma precipitação prévia ou através de uma

complexação. Para se diminuir a contaminação causada por absorção ou

oclusão de substâncias interferentes, efetua-se a precipitação em soluções

tão diluídas quanto possível.

Page 127: Zoologia C

127

Quanto à técnica de precipitação utilizada em laboratório, de modo geral ela

é processada em béquer com adição lenta do reagente (por meio de uma pipeta)

e sob agitação, ou a partir de uma solução homogênea.

Digestão do precipitado

É o tempo em que o precipitado, após ter sido formado, permanece em contacto

com a água-mãe.

A digestão é o processo destinado à obtenção de um precipitado constituído de

partículas grandes, o mais puro possível, e de fácil filtração.

A digestão, efetuada em temperatura elevada, é um processo de recristalização, no

qual as impurezas ocluídas passam para a água-mãe. Em precipitados gelatinosos basta

uma fervura e o mínimo tempo possível para a filtração.

Esse fenômeno é denominado, também, de envelhecimento do precipitado e

constitui-se de um conjunto de transformações irreversíveis, depois que se formou.

As partículas pequenas tendem à dissolução e à reprecipitação sobre a superfície

dos cristais maiores, fenômeno denominado de amadurecimento de Ostwald.

Quando o precipitado é constituído de partículas imperfeitas e floculosas e, após o

envelhecimento, tornam-se compactas e perfeitas, por dissolução do material dos vértices

e arestas dos cristais e que se deposita sobre o mesmo cristal, esse fenômeno é

denominado de amadurecimento interno de Ostwald.

A necessidade ou não de um tempo de digestão é conhecida pelas características

físicas do precipitado e de sua solubilidade. Os processos analíticos clássicos já

especificam o tempo e a temperatura adequados para cada caso.

Recristalização do precipitado

Page 128: Zoologia C

128

Deve-se escolher um reagente precipitante que conduza à formação de um

precipitado quantitativamente insolúvel.

A exatidão final de um método de análise gravimétrica está limitada, em parte,

pela perda do precipitado devido à sua solubilidade no meio reagente e no líquido de

lavagem empregado na purificação.

Essas perdas alcançam, freqüentemente, sérias proporções, particularmente

quando é necessária uma lavagem extensiva para assegurar um precipitado puro quando

se deve usar um precipitado demasiadamente solúvel. Como é impossível eliminar

completamente as perdas de solubilidade, deve-se ter um grande controle sobre os fatores

que influem na solubilidade dos precipitados.

As variáveis mais comuns que influem na solubilidade do precipitado são:

temperatura, pH, concentração do reagente, concentração salina e concentração do

dissolvente.

Filtração

É o processo de separação do precipitado do meio em que se processou a

sua formação. A maneira como é feita a filtração dependerá do tratamento a que

o precipitado será submetido na fase seguinte (secagem ou calcinação). Se o

precipitado deve ser seco a 100°—120°C, em estufa, é necessário que a

filtração seja feita em Gooch de vidro ou de porcelana com fundo poroso ou

então em Gooch de porcelana com fundo perfurado, dotado de uma camada de

amianto como material filtrante.

Os cadinhos filtrantes mais utilizados são fabricados com vidro resistente,

como por exemplo, vidro Pyrex®, e possuem como fundo uma camada “porosa’,

obtida por sinterização de vidro moído. Essa placa porosa fica soldada ao

cadinho e tem porosidade variável, sendo classificada pelos números 1, 2, 3 e 4.

0 que apresenta poros de diâmetro major é o número 1 e o de diâmetro menor, o

número 4.

Page 129: Zoologia C

129

Na prática encontram-se cadinhos de forma alta e de forma baixa, de boca

larga on estreita; neste curso recomenda-se o uso de cadinhos de forma alta e

boca estreita.

a) Gooch de porcelana com fundo poroso

b) Gooch de vidro com fundo poroso

c) Gooch de porcelana com camada filtrante de amianto

Figura — Tipos de cadinhos de filtração.

A filtração através de cadinhos de Gooch é executada com o auxilio de

sucção, para forçar a passagem do líquido pelo filtro. O sistema utilizado aqui é

constituído de um suporte ou alonga para o Gooch, um frasco de sucção,

geralmente um kitassato e um aspirador, que pode ser urna trompa d’água ou

uma bomba de vácuo.

Figura —Suportes para cadinhos Gooch.

Quando o precipitado deve ser calcinado em temperaturas elevadas,

procede-se a filtração através de papel-filtro, desde que o precipitado não seja

facilmente suscetível a uma redução pelo carvão proveniente da calcinação do

Page 130: Zoologia C

130

papel (se isto acontecer, usa-se Gooch de porcelana para a filtração). O papel

de filtro utilizado em análise quantitativa apresenta um resíduo de cinzas

constante após a calcinação,

Figura — Filtração por sucção.

sendo que urna folha circular utilizada numa filtração, após sua calcinação,

apresenta um resíduo de cinzas de peso inferior ao erro da balança (0,2 mg).

A filtração com auxilio do papel-filtro é feita por gravidade, sem sucção. O

papel-filtro circular é dobrado e inserido num funil de vidro, corno está ilustrado

na Figura abaixo, tornando-se o cuidado de umedecê-lo após sua inserção no

funil, de modo a se obter urna boa aderência. O diâmetro do papel-filtro utilizado

deve ser tal que sua parte superior deve estar de 1 a 2 cm abaixo da borda do

funil de vidro.

Page 131: Zoologia C

131

Faz-se a filtração por decantação transferindo-se primeiro o Liquido

sobrenadante e em seguida o precipitado. A transferência é feita com o Auxilio

de um bastão de vidro, recolhendo-se o filtrado em um béquer. A extremidade

inferior da haste do funil deve ser encostada na parede interna do béquer usado

no recolhimento do filtrado, corno visto na Figura

abaixo.

Figura — Filtração por ação da gravidade.

Não se deve deixar o precipitado secar no filtro durante a filtração, pois se

isto acontecer à formação de placas de precipitado, o que, posteriormente,

provocará urna lavagem deficiente do mesmo. Deve-se manter, durante toda a

filtração, o nível de solução a 3/4 da altura do papel-filtro no funil.

Page 132: Zoologia C

132

Lavagem

Após a filtração do precipitado, deve-se submetê-lo a um processo de

lavagem, através do qual se remove parte da água-mãe que ficou nele retida e

eliminam-se as impurezas solúveis e não voláteis na temperatura de secagem

ou calcinação a que o precipitado será submetido. O líquido de lavagem deve

ser usado em pequenas porções, obtendo-se assim uma eficiência maior do que

seria obtida se fosse utilizado um pequeno número de grandes porções de

liquido (considerando-se o mesmo volume total de liquido de lavagem nos dois

casos).

Para uma lavagem mais eficiente recomenda-se que, de inicio, somente a

água-mãe seja transferida para o funil de filtração. O precipitado (ainda retido no

frasco de precipitação) é então lavado, sob agitação, com uma porção da

solução de lavagem, decantado e o liquido sobrenadante transferido para o funil.

Repete-se este procedimento algumas vezes e, por fim, transfere-se a totalidade

do precipitado para o funil e continua-se a lavagem diretamente no filtro. A

seqüência de operações utilizada na transferência de um precipitado é ilustrada

esquematicamente na Figura abaixo.

Figura — Seqüência de operações utilizadas na transferência de um

precipitado.

Page 133: Zoologia C

133

Sob o aspecto analítico, esta operação de lavagem é de significativa relevância, pois

é aqui que se removem as impurezas adsorvidas no precipitado de interesse; a mesma

importância é caracterizada quando se lava um recipiente de vidro para remover

eventuais contaminantes adsorvidos nas paredes. Nas determinações gravimétricas

recomenda-se a lavagem com algumas alíquotas da solução de lavagem do precipitado ou

de alíquotas de água para recipientes de vidro.

Secagem ou calcinação

Após a filtração e a lavagem do precipitado, este deve ser seco ou calcinado

antes de ser pesado. A secagem, feita a uma temperatura abaixo de 250°C, é

utilizada simplesmente para a remoção da água de lavagem residual, e o

precipitado é pesado sob a forma obtida na precipitação. Essa secagem é feita

em estufa elétrica, na maioria dos casos regulada a 110°C, como por exemplo,

para o cloreto de prata, dimetilglioximato de níquel, cromato de chumbo, sulfato

de bário, etc.

A calcinação, feita a temperatura acima de 250°C, é procedida quando for

necessária uma temperatura elevada para a eliminação da solução residual de

lavagem, ou ainda quando se requer alta temperatura para se proceder à uma

transformação do precipitado para uma forma bem definida, que será utilizada

na pesagem. Assim sendo, por exemplo, a uma temperatura ao redor de

1.000°C, o hidróxido de ferro hidratado perde moléculas de água de hidratação e

se converte no Oxido de ferro, e o fosfato de amônio e magnésio hexahidrato se

converte no pirofosfato de magnésio.

Pesagem

E a etapa final da análise gravimétrica. A pesagem é feita através de uma

balança analítica colocada em uma de uma mesa bastante sólida (se possível

de concreto) para evitar vibrações que provocariam erros de medida.

Preferivelmente o ambiente deverá ter a temperatura e umidade controladas

Page 134: Zoologia C

134

num local sem incidência de correntes de vento. Particularmente os cadinhos de

porcelanas ou cadinhos de Gooch usados nas determinações gravimétricas são

mantidos em dessecadores contendo material secante. Existe uma ordem de

secantes, em função da sua eficiência em retirar água: pentóxido de fósforo >

perclorato de magnésio > sílica gel > sulfato de cálcio anidro > óxido de

magnésio > hidróxido de sódio > óxido de cálcio > cloreto de cálcio granulado.

Na prática, é comum o uso de silica gel (azul quando seca. Quando cor-de-rosa,

está hidratada e necessita ser regenerada).

Dessecador

4. Aplicações da gravimetria

4.1. Determinação do magnésio como Mg2P2O7

O magnésio pode ser precipitado na forma de fosfato de amônio e magnésio,

quando a uma solução ácida, contendo o cátion em apreço, se adiciona um excesso de

ortofosfato monoácido de amônio, seguido da adição de um excesso de solução de

amônia. Nessas condições e à temperatura ambiente, precipita-se o fosfato de amônio e

magnésio. O precipitado é separado por filtração, lavado com solução diluída de amônia,

Page 135: Zoologia C

135

transferido para cadinho previamente tarado e calcinado à temperatura de,

aproximadamente, 1000ºC. O fosfato de amônio e magnésio transforma-se em

pirofosfato e sob tal forma é pesado.

As reações que se passam estão esquematizadas nas equações químicas abaixo:

Mg2+ + NH4+ + HPO4

2- + OH- MgNH4PO4.6H2O

2MgNH4PO4.6H2O Mg2P2O7 + 2NH3 + 13H2O

4.2. Água nos materiais sólidos

A água é um constituinte de ocorrência praticamente obrigatória em qualquer

material que permanece exposto à atmosfera.

A água pode nos interessar como um constituinte a ser determinado ou uma

substância a ser eliminada. Tanto num caso como no outro, a amostra em geral é

submetida a ação do calor para a eliminação da água. Se o objetivo for quantificar o teor

da mesma, basta comparar o peso da amostra antes e depois da secagem, obtendo-se a

massa de água originalmente presente por diferença.

Quando o objetivo é obter uma porção de material livre de água, uma quantidade

do mesmo é aquecida até que sua massa não seja mais diminuída pela perda de água.

Na operação de secagem desejamos a eliminação apenas da água e de nenhum

outro componente. Para tanto, são exigidos cuidados, com relação à temperatura e tempo

de aquecimento. Em geral a determinação de umidade é feita a 105-110C; entretanto,

materiais como fertilizantes orgânicos são aquecidos somente a 65C, enquanto que para

se obter um sal livre de água pode-se exigir temperaturas da ordem de 500C.

Para se evitar decomposição térmica do material e conseqüente perda de

componentes de interesse, pode se optar por aquecimento em estufas à vácuo. Nesse caso,

pode se efetuar a eliminação da água a temperaturas relativamente baixas, como 50C.

4.2.1. Formas de ocorrência de água nos sólidos

A água pode ocorrer associada aos materiais sólidos de diferentes modos, que

podem ser interpretados em termos da energia envolvida na associação água-material.

Page 136: Zoologia C

136

Consequentemente, a eliminação das diferentes formas de água por dessecação ocorre a

temperaturas variáveis, ou seja, tanto mais elevadas quanto maior for a energia envolvida.

Tradicionalmente, é feita uma classificação geral da água nos sólidos em “água

essencial” e “água não essencial”. A água não essencial se caracteriza basicamente, por

não envolver nenhuma relação definida entre massa de material e massa de água, e pode

ser dividida nos seguintes tipos:

Água higroscópica ou de adsorção: é a que ocorre na superfície dos

materiais, em equilíbrio com a água presente na atmosfera. Assim, quanto mais

subdividido for o material, maior será a quantidade de água adsorvida, pois maior será a

sua área superficial. Também, quanto maior for a umidade do ar atmosférico, maior será

a quantidade de água que poderá se adsorver a superfície dos materiais.

Água ocluída: é aquela que ocorre no interior dos cristais, aprisionada

durante o processo de formação dos mesmos. Devido a essa característica, sua eliminação

exige temperaturas suficientemente elevadas para provocar a ruptura dos cristais.

Água de embebição: é a água retida no interior dos canais capilares

existentes nas partículas dos materiais sólidos.

Basicamente, na dessecação para a determinação de umidade, ou para a

obtenção de material “livre de água”, procura-se eliminar a água não essencial,

principalmente a água higroscópica.

Sabe-se que o aquecimento a 105-110C não promove a eliminação de toda água

não essencial. Para se designar o tipo de água que é removida nessa faixa de temperatura,

caracterizada por uma baixa energia de associação com o material sólido, pode ser

empregado o termo “água livre”.

A água essencial se caracteriza por uma relação definida entre massa de água e

massa da substância que a contém. Quando se remove a água essencial, algumas

características fundamentais da substância como cor e sistema de cristalização podem se

alterar. A água essencial se classifica em dois tipos principais:

Água de cristalização: este tipo de água participa da estrutura dos cristais,

ou seja, é parte integrante do retículo cristalino em proporção fixa em relação aos íons

presentes. É representada na fórmula química e é computada no cálculo do peso

molecular. Exemplos: CuSO4.5H2O; ZnSO4.7H2O.

Page 137: Zoologia C

137

Água de constituição: é aquela que não ocorre na forma molecular, H2O,

mas é eliminada como tal durante a decomposição térmica da substância, a partir de

grupos OH- presentes, como no caso do Ca(OH)2:

Ca(OH)2 CaO + H2O

Um mesmo composto pode apresentar os dois tipos de água essencial:

Ba(OH)2.8H2O Ba(OH)2 + 8H2O (água de cristalização)

Ba(OH)2 BaO + H2O (água de constituição)

4.2.2. Determinação da água de cristalização

A determinação desse tipo de água essencial é feita por via indireta, isto é, a

determinação consiste em se pesar determinada quantidade do sal hidratado, transferi-lo

para cadinho de peso conhecido (tarado) e aquecido a uma temperatura de 250-300oC até

peso constante. Convém salientar esse tipo de determinação indireta só pode ser

empregada para sais em que a água é o único componente que pode ser perdido pelo

aquecimento.

A representação para a reação que ocorre pode ser esquematizada usando-se

como exemplo o MgSO4.xH2O:

MgSO4.xH2O MgSO4 + xH2O

5. EXERCÍCIOS

1. 0,7380 g de uma amostra de sulfato de magnésio hidratado foi aquecida a

300C até peso constante. O resíduo pesou 0,3600 g. Calcular a porcentagem de água no

sal e o número de moléculas de água de cristalização.

Resposta: 51,22% e 1,26 1022 moléculas.

2. 0,5000 g de uma amostra de CuSO4.xH2O foi aquecido a 300C até peso

constante. O peso do resíduo foi de 0,3196 g. Calcular a % de água no sal e o número de

moléculas de água de cristalização.

Page 138: Zoologia C

138

Resposta: 36,08% e 6,035 1021 moléculas.

3. Foram aquecidos 120 g de solo a 105C, durante 2 horas, para eliminação da

umidade. Sendo o peso seco igual a 108,9 g, calcular o teor de umidade do solo.

Resposta: 9,25%

Page 139: Zoologia C

139

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 7 – ANÁLISE VOLUMÉTRICA

UNIDADE 8 – VOLUMETRIA DE NEUTRALIZAÇÃO

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

Page 140: Zoologia C

140

1. VOLUMETRIA NEUTRALZAÇÃO

Classificação dos métodos volumétricos de análise

Os métodos volumétricos são classificados em função das reações em que se

baseiam:

a) Reações baseadas na combinação de íons, em que não ocorre mudança no

número de oxidação:

Volumetria de neutralização ou alcalimetria e acidimetria. São os métodos

de análises utilizados para a determinação do nitrogênio em solos, plantas, fertilizantes,

alimentos, etc., para a determinação do poder de neutralização de corretivos entre outros.

Volumetria de formação de complexos ou quelatometria. São métodos muito

utilizados no laboratório de análise de materiais de interesse agronômico. Dentre as

determinações feitas por quelatometria pode-se citar a determinação de Ca e Mg em

amostras de terra, fertilizantes e corretivos.

Volumetria de precipitação que ainda hoje é utilizada exclusivamente para a

determinação de cloretos em amostras de águas e resíduos.

b) Reações que envolvem a transferência de elétrons ou volumetria de oxi-

redução: A volumetria de oxi-redução de acordo com o reagente oxidante ou redutor que

é empregado pode ser dividida em:

permanganometria,

dicromatometria,

tiosulfatometria,

iodometria etc.

Análise volumétrica ou volumetria é a designação dada aos métodos da química

analítica quantitativa em que a quantidade de substância que se pretende determinar é

calculada a partir da medição do volume duma solução reagente de concentração

rigorosamente conhecida. Esta é adicionada a uma solução amostra para que toda a

substância a analisar seja consumida, isto é, para que se tenha atingido o ponto de

equivalência. O processo é conhecido como titulação e o ponto de equivalência

corresponde à situação em que reagiram quantidades equivalentes das duas substâncias.

Page 141: Zoologia C

141

Um método volumétrico de análise considera a estequiometria das reações

envolvidas e através desse tipo de cálculo é possível calcular a massa de um reagente

necessária para reagir completamente com massa conhecida de outro reagente, assim

como relacionar massa de reagentes e produtos formados nas reações químicas.

Grande parte das reações que nos interessam se processam através de mistura de

soluções e, neste caso, a quantidade do reagente pode ser também expressa através dos

parâmetros: volume e concentração.

Na análise volumétrica determinamos qual o volume de uma solução de

concentração conhecida (A) que é necessária e suficiente para reagir completamente com

um volume de solução cuja concentração se pretende determinar (B) dando origem a um

produto (C).

Supondo a reação: A + B C

Pode-se estabelecer através do cálculo estequiométrico que ao término da

reação:

Um determinado número de mols do reagente A reagiu com

Um determinado número de mols do reagente B produzindo

Um determinado número de mols do produto C.

Sabendo-se que:

Número de mols = V(L). M ou

Número de mmols = V(mL). M

Pode-se determinar a concentração de qualquer um dos participantes da reação e

também do produto formado sabendo-se a concentração exata de um dos reagentes, o

volume do outro reagente (ou do produto) e a estequiometria da reação.

As titulações podem ser baseadas em qualquer tipo de reação química. Contudo, a

reação tem de satisfazer determinados requisitos sendo os mais importantes o ser

completa (ter uma constante de equilíbrio elevada), rápida e estequiometricamente bem

definida.

A Volumetria de Neutralização compreende:

Acidimetria: consiste em descobrir a concentração do ácido através de uma

concentração de base conhecida;

Page 142: Zoologia C

142

Alcalimetria: consiste em descobrir a concentração de uma base através de uma

concentração de ácido conhecida.

Inúmeros processos químicos dependem diretamente do controle da concentração de

íons H+ (pH) no meio reativo, este controle pode ser feito por potenciômetros ou

pHgametros e a medida do pH pode ser feita utilizando-se eletrodos.

Para processos onde esta medida não seja adequada (uma reação com reagentes

tóxicos, por exemplo) substâncias químicas que forneçam indicação visual são de

extrema utilidade, substâncias estas chamadas indicadores.

2. Força de ácidos e bases

O ácido acético, constituinte do vinagre, é usado na alimentação humana, enquanto

que ácidos clorídrico, nítrico e sulfúrico, utilizados industrialmente, são perigosos e

devem ser manipulado com muito cuidado.

Poderíamos explicar que essa diferença decorre do fato do ácido acético ser um ácido

fraco e o ácido clorídrico ser um ácido forte. Bem, ao classificar algo fazendo

comparações do tipo forte-fraco ou grande-pequeno, sempre se corre o risco de ser

subjetivo e para discutir a força dos ácidos temos de fazê-lo em base mais científica.

Page 143: Zoologia C

143

Sabemos que as propriedades dos ácidos e das bases são decorrentes da presença do

íon H3O+ e OH-, respectivamente, em suas soluções. Quanto maior a eficiência com que

um ácido produz H3O+, e uma base produz OH-, maior será sua força. Como sempre

estamos envolvidos com um sistema em equilíbrio, essa eficiência será numericamente

traduzida por uma constante de equilíbrio.

HCl + H2O H3O+ + Cl-

Vamos considerar o caso do ácido acético CH3-COOH, que atua como ácido porque

pode doar um próton (os hidrogênios do grupo CH3 não participam). Será que ele é um

bom produtor de íon H3O+?

CH3-COOH + H2O CH3-COO- + H3O+

A constante desse equilíbrio vale 1,78 10-5

5

3

33 10.78,1]COOHCH[

]OH][COOCH[

Fica fácil perceber que, se a relação entre produtos e reagentes é expressa por um

número tão pequeno quanto 0,0000178, o equilíbrio esta deslocado para a esquerda, no

sentido dos reagentes. O equilíbrio foi atingido num ponto em que o ácido acético

mantém a grande maioria de suas moléculas intactas, totalmente desfavorável para a

produção de íons H3O+. O ácido acético é um ácido fraco por que no equilíbrio de sua

solução aquosa existem poucos íons H3O+.

A força de um ácido, sua capacidade em doar prótons e produzir íons H3O+, é

quantificada pela constante de equilíbrio de dissociação, simbolizada por Ka.

Ao se diluir 6g de HAc3 em água para se preparar 1 litro de solução 0,1 mol L-1,

qual será a situação uma vez atingido o equilíbrio químico?

HAc + H2O Ac- + H3O+

Tempo 0 0,1 0 0 Equilíbrio 0,1 – x x x

3 Por facilidade, o ácido acético será expresso daqui para frente através da fórmula HAc, a qual evidentemente não é válida pelas regras oficiais de nomenclatura química.

Page 144: Zoologia C

144

)x1,0()x(10.78,1

25

Resolvendo essa equação quadrática encontramos que x, que é a concentração de

H3O+, será igual a 1,32 10-3 mol L-1 e a concentração do ácido acético, HAc, não

dissociado será 0,0987 mol L-1. Observe, portanto, que ao se atingir o equilíbrio apenas

1,3% das moléculas atuaram efetivamente como doadoras de prótons. Esse valor 1,3% é

conhecido como grau de ionização.

E os ácidos fortes como HCl, HNO3, HClO4?

Para essas substâncias, a tendência em doar prótons é tão elevada que o equilíbrio

se encontra quase que totalmente deslocado no sentido dos produtos, o de formação de

íon H3O+. A reação inversa é de magnitude desprezível e como em termos práticos a

reação ocorre num único sentido, pode-se dizer que não existe equilíbrio, ou então que

ocorre equilíbrio com constante Ka infinita.

HNO3 + H2O H3O+ + NO3-

Havíamos citado que o íon NO3- era uma espécie aprótica e veremos que isso está

de acordo com o comportamento do ácido forte HNO3. O íon nitrato sendo aprótico não

terá, uma vez formado, nenhuma tendência em atuar como base, para receber prótons e

provocar a reação inversa, estabelecendo um sistema em equilíbrio. Não é de se

estranhar, portanto, que espécies apróticas façam parte de ácidos e bases fortes.

A mesma abordagem é aplicada ao se tratar de bases fortes e fracas. A amônia

NH3 apresenta uma constante igual a 1,78 10-5 para o equilíbrio:

NH3 + H2O NH4

+ + OH-

]NH[]OH][NH[

Kb3

4

A constante desse equilíbrio é representada por Kb, para indicar que se trata da

constante de dissociação de uma base4. Do mesmo modo que o ácido acético, a amônia é

4 apenas por acaso Kb do NH3 é numericamente igual a Ka do ácido acético

Page 145: Zoologia C

145

uma base fraca pois apenas 1,3% de suas moléculas atuam efetivamente como base

recebendo 1 próton da molécula de água.

Em resumo, somente poderemos comparar a força de ácidos e bases conhecendo

os valores de suas constantes de dissociação no solvente empregado.

Força do ácido

Ka Força da base conjugada

Kb

Forte > 1 Muito fraca < 10-16 Fraca 1 para 10-16 Fraca 10-16 para 1 Muito Fraca < 10-16 Forte > 1

As constantes de equilíbrio em geral, e sobretudo as constantes de dissociação dos

ácidos e bases, são também rotineiramente representadas pela notação pKa e pKb, que

significam –log Ka e - log Kb, respectivamente. O pKa do ácido acético é -log 1,78 10-5,

ou seja, 4,76.

Na tabela 2 são apresentadas as constantes de ionização de alguns ácidos e bases.

Tabela 2. Constantes de dissociação de alguns ácidos e bases

Ácidos Ka Bases Kb HClO4 grande ClO4

- muito pequena H2SO4 grande HSO4

- muito pequena HCl grande Cl- muito pequena HNO3 grande NO3

- muito pequena H3O+ 1.01.10-14 HO- H2SO3 1,2.10-2 HSO3

- 8,3.10-13 HSO4

- 1,2.10-2 SO42- 8,3.10-13

H3PO4 7,5.10-3 H2PO4- 1,3.10-12

HNO2 4,5.10-4 NO2- 2,2.10-11

HCOOH 1,8.10-4 HCOO- 5,6.10-11 C6H5COOH 6,3.10-5 C6H5COO- 1,6.10-10 CH3COOH 1,78.10-5 CH3COO- 5,6.10-10 C2H5COOH 1,3.10-5 C2H5COO- 7,7.10-10 H2CO3 4,2.10-7 HCO3

- 2,4.10-8 H2S 1,0.10-7 HS- 1,0.10-7 H2PO4

- 6,2.10-8 HPO42- 1,6.10-7

HSO3- 6,2.10-8 SO3

2- 1,6.10-7 HOCl 3,5.10-8 ClO- 2,9.10-7 NH4

+ 5,7.10-10 NH3 1,78.10-5 HCN 4,0.10-10 CN- 2,5.10-5 C2H5NH3

+ 2,3.10-11 C2H5NH2 4,3.10-4 CH3NH3

+ 2,0.10-11 CH3NH2 5,0.10-4 HCO3

- 4,8.10-11 CO32- 2,1.10-4

Page 146: Zoologia C

146

HPO42- 3,6.10-13 PO4

3- 2,8.10-2 H2O 1,8.10-16 OH- 55,5 HS- 1,0.10-19 S2- 1,0.105 NH3 muito pequena NH2

- grande

3. Pares conjugados

Uma reação de um ácido com uma base é, portanto, uma reação de troca de

prótons; se um ácido é simbolizado por HA e a base por B, então podemos escrever uma

equação generalizada ácido-base:

HA + B A- + BH+

Porém, o produto BH+ também é capaz de doar seu novo próton recém adquirido

para outro receptor, e é, portanto potencialmente um outro ácido:

Ácido1 + Base2 Base1 + Ácido2

Nesta reação esquemática, a base1 é conjugada do ácido1, e ácido2 é conjugado da

base2. O termo conjugado significa “estar conectado com”, e implica que qualquer

espécie química e sua espécie conjugada estão relacionadas com o ganho ou perda de

prótons, formando um par ácido-base conjugado.

4. Produto iônico da água

Independentemente dos equilíbrios existentes em solução aquosa, resultantes dos

solutos dissolvidos, sempre ocorre um equilíbrio químico evolvendo as moléculas do

próprio solvente água:

H2O + H2O H3O+ + OH-

ácido base ácido base

no qual uma molécula de água atua como ácido enquanto que outra atua como base. Esse equilíbrio é denominado auto-ionização ou autoprotólise da água e sua constante, representada por Kw, é denominada constante do produto iônico da água.

Page 147: Zoologia C

147

Kw = [H3O+][OH-] = 10-14 a 25oC

Essa expressão indica que as concentrações dos íons H3O+ e OH- em

qualquer solução aquosa estarão sempre interrelacionadas, ou seja, conhecendo-se uma calcula-se a outra.

5. Potencial de hidrogênio - pH

Muitas vezes, poderemos estar preocupados com o efeito de concentrações muito

baixas de íon H3O+. A concentração de íons hidrogênio é um fator que afeta os processos

químicos e biológicos que ocorrem nos sistemas naturais.

Uma planta que se desenvolve bem se a concentração de íons H+ no solo é 6,2 10-

6 mol L-1, poderá ser prejudicada se essa concentração aumentar para 4,5 10-5 mol L-1, o

que a primeira vista não pareceria uma alteração tão grande assim.

Como forma de facilitar a manipulação de baixas concentrações de íons H3O+,

evitando o incômodo de se trabalhar com muitos zeros à esquerda ou expoentes

negativos, foi definido o parâmetro potencial de hidrogênio ou abreviadamente pH.

]OHlog[pHou]OH[

1logpH 33

O cálculo do pH de uma solução aquosa sempre será efetuado por essa fórmula. O

problema para calcular o pH é na verdade o cálculo da concentração de íons H3O+ num

determinado sistema. Define-se também:

]OHlog[pOHou]OH[

1logpOH

A partir da equação Kw = [H3O+][OH-] deduz-se facilmente que:

pH + pOH = 14

6. Titulação de soluções.

Page 148: Zoologia C

148

O objetivo da titulação é a determinação da concentração ou da massa da fórmula

mínima do material químico titulado compondo um líquido puro ou uma solução. O

material químico titulante, compondo um outro líquido ou solução é utilizado para

atingir o objetivo acima, mediante uma reação química que apresente pelo menos uma

mudança observável. Geralmente o titulante preenche a bureta, enquanto o outro se

encontra no erlenmeyer. A seguir adiciona-se sob agitação o titulante abrindo-se

cuidadosamente a torneira da bureta. A reação química entre o titulante e o titulado

permitirá a titulação. A cada adição do titulante, a reação consome parte do titulado. Se

todo o titulado for consumido pela última adição do titulante, sem que sobre excesso de

titulante atinge-se o ponto de equivalência. É muito fácil atingir o ponto de equivalência

no simulador, porém não tão fácil no experimento com os reagentes químicos.

Experimentalmente são aceitáveis aproximações que dependem da precisão da

balança analítica utilizada no preparo das soluções, dos aparelhos volumétricos, e da

estabilidade da temperatura no ambiente. Atinge-se resultado de melhor qualidade

quando o valor das energias químicas de atração entre o componente do titulante e o do

titulado que formam o produto da reação forem elevadas e quando as energias químicas

de atração entre o titulante e o solvente e entre o titulado e o solvente não competirem

para a reversão do produto nos reagentes. Além destes fatores, as impurezas dos materiais

e do ambiente, partículas em suspensão no ar, evaporação dos líquidos, a estabilidade

química dos componentes, a velocidade da reação e o desempenho técnico do operador

também influem sobre a qualidade dos resultados.

7. Utilização da bureta

Numa titulação a solução titulante é, geralmente, medida com uma

bureta. As buretas mais utilizadas são as de capacidades de 25 mL e de 50 mL.

Antes de utilizar uma bureta, esta deve lavar-se com cuidado, de forma a

evitar qualquer vestígio de gordura no seu interior, com o objetivo de impedir que

algumas gotas de solução fiquem aderentes as paredes, provocando um erro na

leitura do volume.

Page 149: Zoologia C

149

Após a lavagem da bureta esta deve ser enxaguada duas vezes com

pequenos volumes da solução cujo volume se pretende medir. Evita-se assim ter

de se proceder a sua secagem.

A bureta enche-se com um funil, devendo haver cuidado de o retirar após

o enchimento, de forma a evitar que as gotas de solução que nele fiquem

aderentes, caiam durante a titulação, provocando erros na leitura do volume.

É indispensável verificar que não fiquem bolhas de ar na parte estreita

inferior da bureta. Para as eliminar roda-se, repetidas vezes, a respectiva

torneira.

8. Utilização da pipeta

A solução a titular é, geralmente, medida com uma pipeta. Antes de a

utilizar é necessário lavá-la, para eliminar gorduras e outras impurezas.

Enxagua-se duas vezes com a solução em estudo, eliminando desta forma a

água aderente às paredes.

Enche-se então a pipeta (utilizando pompete ou pera) e, mantendo-a na

posição vertical, deixa-se escoar o líquido para o recipiente apropriado, caso a

pipeta seja de escoamento total. Se a pipeta for diferencial, deixa-se escoar o

líquido até a ultimo traço.

9. Utilização do balão volumétrico

Numa titulação é, por vezes, necessário preparar soluções de

concentrações rigorosas. Tal como outros recipientes é indispensável uma

lavagem cuidadosa do balão volumétrico antes da sua utilização. Contudo, não

podem ser lavados com a solução que vão conter, tal como acontece com as

Page 150: Zoologia C

150

pipetas e as buretas, pois destinam-se a diluir uma quantidade fixa de uma

solução que se quer estudar.

10. Modo de realizar a titulação

A solução a titular é, geralmente, colocada num balão de Erlenmeyer, se

na titulação utiliza um aparelho medidor de pH, o titulado é colocado num copo

de precipitação (béquer). Em os casos a lavagem é indispensável, não sendo

permitida a lavagem com a solução a dosar pela razão já explicada para o balão

volumétrico.

Quando a titulação é feita em balão de erlenmeyer, o operador deve

agitar, com movimentos circulares, o titulado á medida que vai adicionando, gota

a gota, a solução titulante. A titulação termina quando há alteração do titulado,

frequentemente revelada pela mudança de cor do indicador.

Se a titulação é realizada com aparelho medidor de pH, o titulado é

introduzido num copo de precipitação de 100 ml ou de 150 ml, colocado sobre

um agitador magnético. Colocam-se também dentro do copo o elétrodo do

aparelho e uma mosca de agitação, permanecendo aí ambos até ao fim da

titulação. O titulante é adicionado em frações de 0.5 mL ou 1 mL, registrando-se

o valor de pH e o volume de titulante após cada adição. Á medida que o ponto

de equivalência se aproxima, a cada adição de titulante, o valor de pH sofre

alterações consecutivamente maiores. Após o ponto de equivalência a variação

do valor do pH é cada vez menor, atingindo finalmente um valor quase

constante.

11. Soluções- padrão

São soluções de concentração rigorosamente conhecida, que podem ser

preparadas por dois processos diferentes, conforme se dispõe ou não de uma

substância primária ou padrão.

Page 151: Zoologia C

151

Uma substância primária ou substância-padrão é aquela que apresenta

características como: um elevado grau de pureza, não ser higroscópica, ser

estável, reagir nas proporções indicadas pela equação química, ser bastante

solúvel, ter elevada massa molar. Bórax (tetra borato de sódio, Na2B4O7.10 H2O)

ou carbonato de sódio P.A. (Na2CO3).

Quando se dispõem de uma substância primaria pode preparar-se

diretamente a solução- padrão, medindo com rigor a massa correspondente a

quantidade necessária e dissolvendo no volume de água necessário para obter

a concentração pretendida.

Quando não se dispõe de uma substância primária, prepara-se uma solução

de concentração aproximada, mais concentrada do que a que se pretende e, por

titulação com uma solução- padrão, determina-se a sua concentração exata.

Exemplos de substância-padrão:

Hidrogenoftalato de potássio: C6H4COOK.COOH, é um monoácido fraco, e

requer como indicador a fenolftaleína (faixa de viragem de pH 8-9). Possui todas as

propriedades necessárias a um padrão primário. Pode ser obtido suficientemente puro

para todas as determinações analíticas comuns de laboratório.

Ácido benzóico: C6H5.COOH, monoácido fraco, pode ser obtido em forma

altamente purificada, no entanto, é um pouco insolúvel em água pura, o que pode ser

contornado com soluções de álcool e água.

Ácido sulfoamínico: HSO3.NH2 , monoácido inorgânico forte o bastante para ser

utilizado com qualquer indicador cuja mudança de cor esteja restrita ao intervalo de pH

4,5-9,5. Deve ser mantido o mais seco possível.

Iodato ácido de potássio: KH(IO3)2 , é bastante satisfatório, desde que se tenha

certeza sobre sua pureza. É anidro e estável, tendo um alto Equivalente-grama (390

g/mol). Tem comportamento de um monoácido forte. Os indicadores mais indicados são

aqueles cuja zona de transição esteja na faixa de pH 4,5 - 9,5.

12. Teoria dos indicadores usados em volumetria de neutralização ou teoria dos

indicadores de pH

Page 152: Zoologia C

152

Os indicadores usados em volumetria de neutralização são substâncias orgânicas

que se comportam como ácidos ou bases fracos e que tem uma característica toda

especial, isto é, a forma dissociada e a forma não dissociada têm colorações diferentes.

Seja um indicador tipo ácido de fórmula geral HInd.

Em solução aquosa o referido indicador apresenta o equilíbrio apresenta o

equilíbrio:

HInd + H2O Ind- + H3O+

Forma não dissociada Forma dissociada do

do indicador ou forma indicador ou forma

ácida do indicador básica do indicador

cor A cor B

Indicadores Ácidos: possuem hidrogênio (s) ionizável (eis) na estrutura, quando

o meio está ácido (pH<7), a molécula de indicador é "forçada" a manter seus hidrogênios

devido ao efeito do íon comum, nesta situação a molécula está neutra. Quando o meio

está básico (pH>7), os hidrogênios do indicador são fortemente atraídos pelos grupos

OH- (hidroxila) para formarem água, e neste processo são liberados os ânions do

indicador (que possuem coloração diferente da coloração da molécula).

Indicadores Básicos: possuem o grupo ionizável OH- (hidroxila), portanto, em

meio alcalino (pH>7) as moléculas do indicador "são mantidas" não-ionizadas, e em

meio ácido (pH<7) os grupos hidroxila são retirados das moléculas do indicador para a

Page 153: Zoologia C

153

formação de água, neste processo são liberados os cátions (de coloração diferente da

coloração da molécula).

Os indicadores mais comuns da volumetria de neutralização estão apresentados

na Tabela abaixo.

Page 154: Zoologia C

154

A zona de transição característica de um indicador sofre influência da

concentração do indicador, da temperatura, da natureza do meio, entre outros.

indicador zona de transição a 18oC

zona de transição a 100oC

azul de timol 1,2 - 2,8 1,2 - 2,6 tropeolina 00 1,3 - 3,2 0,8 - 2,2

amarelo de metila 2,9 - 4,0 2,3 - 3,5 alaranjado de metila 3,1 - 4,4 2,5 - 3,7 azul de bromofenol 3,0 - 4,6 3,0 - 4,5

verde de bromocresol 4,0 - 5,6 4,0 - 5,6 vermelho de metila 4,4 - 6,2 4,0 - 6,0

p-nitrofenol 5,0 - 7,0 5,0 - 6,0 púrpura de bromocresol 5,2 - 6,8 5,4 - 6,8

azul de bromotimol 6,0 - 7,6 6,2 - 7,8 vermelho de fenol 6,4 - 8,0 6,6 - 8,2 vermelho de cresol 7,2 - 8,8 7,6 - 8,8

azul de timol 8,0 - 9,6 8,2 - 9,4 fenolftaleína 8,0 - 10,0 8,0 - 9,2 timolftaleína 9,4 - 10,6 8,6 - 9,6

nitramina 11,0 - 13,0 9,0 - 10,5 Dependendo do indicador, a mudança de coloração pode ser difícil de ser

detectada e requer treinamento do analista. O emprego de mistura de indicadores, em

certos casos, pode tornar a observação do ponto de viragem mais fácil.

121 Indicadores Mistos

A mudança de coloração de alguns indicadores de pH não é facilmente observável,

principalmente com luz artificial. Em certos casos é possível obter uma mudança de

coloração mais nítida por meio da adição de um corante orgânico ao indicador. Essas

misturas são chamadas de indicadores mistos. Os indicadores mistos tornam mais

pronunciada a mudança de coloração de certos indicadores comuns, tais como o

alaranjado de metila e o vermelho de metila, que mudam de amarelo para vermelho

Page 155: Zoologia C

155

passando pelo alaranjado. A dificuldade de acompanhar a mudança de coloração desses

indicadores, sem o uso de colorações de comparação, resulta o fato de serem o amarelo e

o vermelho contíguos no espectro. A adição de corantes ao alaranjado de metila ou ao

vermelho de metila, quando em proporção adequada, transforma o amarelo e o vermelho,

respectivamente, em verde e violeta, que são cores complementares.

A adição do corante não modifica a zona de transição do indicador, há apenas uma

alteração da coloração em virtude da coexistência de uma outra substância corada na

solução. A natureza complementar das colorações extremas dos indicadores mistos faz

com que apresentem, dentro da zona de transição, um ponto em que a solução se torna

incolor ou toma um matiz grisáceo que é tomado como ponto de referência. Os

indicadores mistos, além de apresentarem mais nítida à mudança de coloração,

possibilitam ainda a titulação de soluções bastante diluídas ou fracamente coradas e a

condução da operação sob luz artificial. A Tabela 4 fornece uma série de indicadores

mistos, e os valores tabelados sob o título pI são os valores de pH em que os indicadores

mistos mudam nitidamente sua coloração.

TABELA 4- INDICADORES MISTOS E SUAS COMPOSIÇÕES

Page 156: Zoologia C

156

* As soluções devem ser conservadas em frascos escuros

** Sal de Sódio

12.2 Indicador Universal

Alguns dos indicadores podem ser misturados para formar o denominado

“indicador universal”, capaz de indicar, num só teste, o pH aproximado de uma

Page 157: Zoologia C

157

solução. A Tabela 5 mostra a cor da solução no respectivo pH que se encontra. Para

prepará-lo, basta misturar:

- 15 mL de sol. 0,1% de Alaranjado de Metila

- 05 mL de sol. 0,1% de Vermelho Metila

- 20 mL de sol. 0,1% de Azul de Bromotimol

- 20 mL de sol. 0,1% de Fenolftaleína

- 20 mL de sol. 0,1% de Timolftaleina

TABELA 5 - Coloração por faixas de pH do indicador universal

COR pH Róseo 1,0 Vermelho-alaranjado 3,0 Alaranjado 4,0 Amarelo-alaranjado 5,0 amarelo-limão 6,0 Verde 7,0 verde-azulado 8,0 azul-esverdeado 90 Violeta 10,0

13. Erros e escolha do(s) indicador(es) mais adequado(s) em volumetria de

neutralização

A escolha do(s) indicador(es) é feita em função da variação do pH nas

imediações do ponto de equivalência da titulação e da zona de transição do indicador.

Como regra geral deve ser selecionado um indicador cujo intervalo de viragem esteja o

mais próximo possível do pH do ponto de equivalência.

A seguir será visto como é feito o cálculo teórico do ponto de equivalência nas

titulações mais comuns em volumetria de neutralização, assim como a construção de uma

curva de titulação, a fim de se conhecer como é a variação no pH no decorrer de uma

titulação.

O erro de titulação depende em alto grau da qualidade visual do analista, pois

este deve estar apto para detectar o primeiro indício de mudança de cor. O bromocresol

verde, por exemplo, em solução abaixo de pH 3,8 apresenta cor amarela e acima de pH

Page 158: Zoologia C

158

5,4 sua cor é azul. No intervalo entre pH 3,8 e 5,4, as duas formas do indicador coexistem

e a cor observada é verde. Exige-se, portanto, perícia para se distinguir a primeira

tonalidade de azul puro.

14. Curvas de titulação

Conforme citada anteriormente a extensão com que ocorre uma reação ácido-

base pode ser caracterizada em função do pH do meio. A variação do pH em função dos

incrementos de volume de titulante adicionados pode ser apresentada na forma de um

gráfico. Esse gráfico representa a curva de titulação.

A variação do pH é relativamente lenta nos estágios iniciais e finais da titulação.

Contudo, Nas imediações do ponto de equivalência se observa uma variação brusca no

pH, conferindo às curvas de titulação um aspecto sigmoide típico.

A forma da curva de titulação varia em função da natureza das soluções

reagentes e de suas concentrações, sobretudo com relação à inclinação e à extensão da

curva no intervalo de variação brusca de pH. O ponto de equivalência corresponde ao

ponto de inflexão na curva de titulação.

O cálculo do pH no decorrer da titulação leva em consideração as espécies

presentes em soluções em cada etapa: antes do ponto de equivalência, no ponto de

equivalência e depois dele.

zona de variação brusca de pH

pH inicial

Ponto de equivalência

Volume de titulante gasto até ao ponto de

Page 159: Zoologia C

159

As curvas de titulação podem ser obtidas experimentalmente. Uma alternativa é

medir o pH após a adição de cada incremento de volume de titulante e com esses valores

traçar a curva de titulação. Por outro lado, a curva de titulação pode ser obtida

diretamente em sistemas automatizados de titulação. Nessas curvas de titulação

experimentais o ponto de equivalência pode ser calculado graficamente ou então pode ser

calculado matematicamente: a primeira derivada da curva de titulação apresenta valor

máximo no ponto de equivalência, enquanto que a Segunda derivada apresenta valor

zero.

14.1. Titulação de ácidos fortes com bases fortes

Para o estudo da variação do pH nesse tipo de titulação será considerado como

ácido forte o HCl e como base forte o NaOH.

Seja então um Erlenmeyer com 100,0 mL de HCl 0,100 M. Uma solução 0,100

M de NaOH será colocada numa bureta. O pH inicial da solução de HCl contida no

Erlenmeyer é 1. Começa-se então a adição da solução de NaOH à solução de HCl. Após a

adição de 20,0 mL de solução de base qual será o pH da solução contida no Erlenmeyer?

no mmol ácido = VA . MA = 100,0 x 0,100 = 10 mmol HCl

no mmol base = VB . MB = 20,0 x 0,100 = 2 mmol NaOH

A reação que ocorre é:

1H+ + 1OH- H2O

ou HCl NaOH

Uma vez que essa reação ocorre em igualdade de número de mmol, tem-se que

no Erlenmeyer sobram 8 mmol HCl.

Então fica:

8 mmol HCl 120 mL solução x 1 mL

8 x = = 0,07 mmol/mL = 0,07 M

120

Page 160: Zoologia C

160

A solução final é 0,07 M em HCl, portanto, o seu pH é calculado da seguinte

forma:

HCl H+ + Cl-

1 1 pH = log = log = 1,18

[H+] 0,07

Assim, o pH após a adição de 20,0 mL de NaOH 0,100 N é 1,18.

Prosseguindo a titulação, chega-se ao ponto em que se adicionou 50,0 mL de

NaOH 0,100 M à solução de HCl existente no Erlenmeyer. O pH nesse ponto é 1,48.

Após a adição de 99,9 mL de NaOH 0,100 M ao Erlenmeyer, o pH será igual a:

no mmol do ácido = VA . MA = 100,0 x 0,100 M = 10 mmol HCl

no mmol de base = VB . MB = 99,9 x 0,100 M = 9,99 mmol NaOH

Portanto sobram 0,01 mmol HCl A concentração desse HCl que sobra é:

0,01 mmol 199,9 mL solução x 1 mL x = 5.10-5 mmol HCl/mL = 5.10-5 o pH correspondente é = 4,3.

Quando se atinge 100 mL de solução 0,1 M de NaOH adicionados, totaliza-se

exatamente os 10 mmol de NaOH, necessários e suficientes para reagir com os 10 mmol

de HCl contidos no Erlenmeyer. Deste modo, o pH será 7, pois neste ponto não existe

nem ácido nem base no meio, mas apenas íons OH- e H+ provenientes da própria água.

Diz-se então que se atingiu o ponto de equivalência.

A partir do ponto de equivalência, a progressiva adição de titulante promove

apenas um contínuo excesso de NaOH. Assim, quando são adicionados 100,1 mL de

NaOH 0,1 M, temos no Erlenmeyer uma quantidade de:

Page 161: Zoologia C

161

0,1 mL x 0,1 M = 0,01 mmol de OH- Assim:

0,01 [OH-] = = 4,99 .10-5 mmol OH-/L

200,1 1 1

pOH = log = log = 4,30 [OH-] 4,99 . 10-5 pH = 14 - 4,30 = 9,70

Portanto, em resumo:

Volume de NaOH 0,1 M pH 99,9 4,30

100,0 7,00 100,1 9,70

Houve, portanto, uma mudança brusca de pH de 4,3 para 9,7 com o excesso de

somente 0,1 mL de NaOH 0,1 M. Como o volume de titulante gasto para atingir o ponto

de equivalência é 100,0 mL, uma variação de 0,1 mL corresponde a um erro de 0,1%

que pode ser considerado aceitável. Assim, qualquer indicador que sofra alteração de cor

observável entre pH 4,3 e 9,7 serviria, com um erro máximo de 0,1%.

Em função da concentração do ácido e da base forte utilizados na titulação o

intervalo de variação brusca de pH em torno do ponto de equivalência é maior ou menor,

conforme pode ser visualizado pelo exame da Figura 4.

0123456789

1 01 11 21 31 4

0 2 0 4 0 6 0 8 0 1 0 0 1 2 0 1 4 0 1 6 0 1 8 0 2 0 0

v o l u m e N a O H , m L

p H

fenolftaleina

Azul de bromotimol Alaranjado de metila

Page 162: Zoologia C

162

Figura 4. Curvas de titulação de HCl com NaOH (as curvas A e B referem- se as

soluções 0,100 mol/L e 0,01 mol/L)

14.2. Titulação de ácido fraco por base forte.

Para o estudo da variação do pH nesse tipo de titulação será considerado um

Erlenmeyer contendo 100,0 mL de solução 0,100 M de ácido acético (Ka = 1,8 . 10-5) e a

base forte será representada por uma solução de NaOH 0,1 M colocada numa bureta. O

pH inicial da solução contida no Erlenmeyer é:

1 pH = (pKa + pCa) 2 1 pH = (4,74 + 1) = 2,87 2

Iniciada a titulação, tem-se a formação de uma solução tampão constituída do

ácido acético e da base acetato que se forma na reação:

CH3COOH + NaOH CH3COO- + Na+ + H2O

Antes do ponto de equivalência ser atingido, isto é, quando 99,9 mL de NaOH

tiverem sido adicionados, tem-se:

no mmol do ácido = VA . MA = 100,0 x 0,100 M = 10 mmol CH3-COOH

no mmol de base = VB . MB = 99,9 x 0,100 M = 9,99 mmol NaOH

sobram 0,01 mmol CH3COOH

A solução contém 9,99 mmol CH3COO- que se formou

e 0,01 mmol CH3COOH que sobrou solução que contém um par conjugado solução tampão Cb pH = pKa + log Ca Ka = 1,8 . 10-5 pKa = 4,74

Page 163: Zoologia C

163

Ob.: Soluções tampão são soluções que contêm misturas de ácido/base

conjugada “resistindo” a variações de pH.

Cálculo de Cb: A concentração de base presente no meio é devida à presença

do íon CH3-COO- que se formou na reação entre ácido acético e NaOH.

A concentração na solução CH3-COO-, que se formou é:

9,99 mmol CH3COO- 199,9 mL x 1 mL [CH3COO-] = 0,05 M

Cb = 0,05 M = 5 . 10-2 M

Cálculo de Ca: A concentração de ácido presente no meio é devida à presença

do CH3COOH que sobrou da reação entre ácido acético e NaOH.

A concentração na solução de CH3COOH, que sobrou é:

0,01 mmol CH3COOH 199,9 mL x 1 mL x = 5 . 10-5 mmol/mL = 5 . 10-5 M

[CH3-COOH] = 5 . 10-5 M

Ca = 5 . 10-5 M 5 . 10-2 pH = 4,74 + log 5 . 10-5 pH = 4,74 + 3 = 7,74

Para se atingir o ponto de equivalência tem que ser adicionado 100,0 mL de

NaOH 0,1 M.

Então se tem na solução:

CH3COOH + NaOH CH3COO- + Na+

10 mmol 10 mmol 10 mmol

Page 164: Zoologia C

164

A solução final contém 10 mmol de CH3-COO- que é uma base fraca. Portanto,

calcula-se o pOH pela expressão:

1 pOH = (pKb + pCb) 2

x = 5 . 10-5 mmol NaOH/mL = 5 . 10-5 M

[OH-] = 5 . 10-5 M

pOH = 4,3

pH = 9,7

Resumindo: pH no ponto de equivalência = 8,72

pH com um erro de – 0,1% = 7,74

pH com um erro de + 0,1% = 9,7

Deve-se escolher um indicador que mude de cor na faixa de pH de 7,7 a 9,7

onde a neutralização é de 99,9% ou mais.

Curva de titulação de um ácido fraco com uma base forte

Para uma titulação de base fraca com ácido forte, o ponto de equivalência é em pH menor

que 7.

Page 165: Zoologia C

165

Curva de titulação de uma base fraca com um ácido forte

Resumo: - início – a solução contem apenas ácido fraco, o pH é calculado através da concentração do ácido e do valor da constante de dissociação. - antes do ponto de equivalência – a solução contem uma mistura de ácido fraco e respectiva base conjugada. É uma solução tampão, cujo valor de pH depende da concentração relativa de ácido fraco e base conjugada e valor da constante de dissociação. - ponto de equivalência – a solução contem apenas base conjugada do respectivo ácido fraco. O valor de pH depende da concentração da base conjugada e do valor da constante de dissociação. - depois do ponto de equivalência – a solução tem excesso de base forte. O valor de pH depende apenas da concentração da base forte.

14.3. Titulação de ácidos polipróticos.

Ácidos representados pela fórmula genérica HA são denominados ácidos

monopróticos. Ácidos que se dissociam em mais de uma etapa de equilíbrio são

denominados ácidos polipróticos.

Quando o ácido carbônico H2CO3 é dissolvido em água os seguintes equilíbrios

são estabelecidos:

H2CO3 + H2O H3O+ + HCO3- Ka1 = 4,5 10-7

HCO3- + H2O H3O+ + CO3

2- Ka2 = 4,7 10-11

Sem esquecer que nas soluções aquosas um terceiro equilíbrio está sempre presente:

H2O + H2O H3O+ + OH-

Page 166: Zoologia C

166

O íon bicarbonato HCO3-, produzido na primeira etapa de equilíbrio do ácido

carbônico H2CO3, é capaz de doar um segundo próton numa segunda etapa, o que torna o

ácido carbônico um ácido diprótico. Cada etapa de equilíbrio apresenta sua constante de

equilíbrio própria

É importante ressaltar que não se podem distinguir os íons H3O+ provenientes da

primeira e da segunda etapa de equilíbrio. Os íons H3O+ presentes no meio apresentam

um único valor de concentração, igual tanto para a primeira como para a segunda etapa

do equilíbrio. Como outros exemplos de ácidos dipróticos temos: ácido sulfídrico, H2S;

ácido sulfuroso H2SO3; ácido sulfúrico H2SO4. O ácido fosfórico H3PO4 é um exemplo de

ácido triprótico.

Na tabela abaixo são apresentadas as constantes de ionização de alguns ácidos e

bases polipróticos

Ka1 = 4,5 10-7 Ácido carbônico Ka2 = 4,7 10-11 Ka1 = 7,5 10-3 Ka2 = 6,2 10-8

Ácido fosfórico

Ka3 = 1 10-12 Ka1 = 5,7 10-8 Ácido sulfídrico Ka2 = 1,2 10-13

Quando se titulam ácidos polipróticos aparentemente seria de se esperar um ponto de

inflexão para cada etapa de ionização que leva à formação de íon H3O+. No entanto, a

viabilidade em detectá-los depende das magnitudes absoluta e relativa das constantes de

ionização das diversas etapas.

Exemplo: Titulação do ácido fosfórico (H3PO4)

Constante de dissociação do ácido fosfórioco.

Page 167: Zoologia C

167

Curva de titulação do ácido Fosfórico.

15. Usos da Volumetria de Neutralização.

15.1. Determinação das várias formas de nitrogênio - Métodos de análise e

seus fundamentos

O nitrogênio pode aparecer na natureza sob várias formas e, entre elas, podem

ser citadas: nitrogênio amoniacal (NH3 ou NH4+), nitrogênio nítrico (NO3

-) e o nitrogênio

orgânico que compreende o nitrogênio protéico, o amínico, amídico e outros, incluindo-

se compostos heterocíclicos.

A determinação de qualquer das formas de nitrogênio envolve sempre como

primeira etapa a transformação da forma nitrogenada presente no material em nitrogênio

amoniacal. Essa transformação é feita em função da forma de N presente.

Numa segunda etapa se faz a transformação do NH4+ em NH3 gasoso e

destilação deste. Isso é possível porque o íon NH4+ em solução aquosa encontra-se no

equilíbrio indicado a seguir:

NH4+ + H2O NH3 + H3O+

KaNH4+ = 5,56 x 10-10; pKa = 9,24

[NH3][H3O]

Page 168: Zoologia C

168

Ka = [NH4

+]

Com base nesse equilíbrio, observa-se que em meio ácido a [NH4+] é muito

maior que a [NH3] e, em meio fortemente ácido, tem-se exclusivamente NH4+; por outro

lado, em meio alcalino, o equilíbrio é deslocado para a direita sendo a [NH3] > [NH4+].

Sendo o NH3 gasoso, ele se desprende da solução.

Portanto, a transformação do NH4+ em NH3 é feita por simples alcalinização do

meio: o NH3 é separado quantitativamente da solução por destilação.

A alcalinização necessária para essa transformação exige uma quantidade

relativamente grande de alcalinizante, visto que o meio em que se encontra o NH4+ é

fortemente ácido; portanto, a quantidade de alcalinizante deve ser bem calculada e

suficiente para neutralizar o ácido e alcalinizar o meio.

A determinação do NH3 destilado pode ser feita recebendo o NH3 destilado em

excesso de H3BO3 e titulando-se o H2BO3- formado com solução padrão de ácido forte

(H2SO4 ou HCl), conforme equações abaixo:

NH3 + H3BO3 NH4+ + H2BO3

- excesso

H2BO3- + H2SO4 H3BO3 + HSO4

-

KbH2BO3- = 1,67 x 10-5; pKb = 4,78

Obs: O H2SO4 pode ser substituído por HCl

Na operação de determinação do NH3 destilado, o ponto crítico está, realmente,

fora dela, isto é, está na exatidão dos volumes e das concentrações das soluções de ácido

e de base.

15.1.1 Determinação do nitrogênio nítrico

Page 169: Zoologia C

169

Para se determinar o N-NO3- presente numa amostra existe a necessidade de

reduzi-lo à forma amoniacal o que pode ser feito em meio ácido ou alcalino utilizando

substâncias capazes de efetuar essa redução.

A redução do N-NO3- a amoniacal em meio ácido: é extensa e teoricamente

apresenta as seguintes fases:

NO3- NO2

- NO N2 NH3 NH4+

Em quase todas as fases dessa redução há a possibilidade de perda de nitrogênio.

Devido ao meio ser fortemente ácido e quente pode haver volatização de HNO3 e HNO2

que são gasosos, assim como de NO e N2 que também são gasosos: apesar do NH3 ser

gasoso, sendo o meio ácido, imediatamente transforma-se em NH4+.

Portanto, o redutor para essa redução deve ter a capacidade de efetuá-la

completamente.

A redução do íon NO3- a NH4

+ em meio ácido, pode ser feita por diversos

processos diferentes: os oficialmente recomendados são:

a) Com ácido salicílico e tiossulfato ou zinco

O ácido salicílico é o ácido benzóico-2-hidroxi, o qual tem a propriedade de

formar nitro-compostos em meio ácido relativamente anidro e é decomposto pelo H2SO4

quando aquecido: o tiossulfato (S2O32-), em meio fortemente ácido, se decompõe

produzindo H2SO3 que é um forte redutor, assim como também é o zinco metálico em

meio ácido. As reações químicas correspondentes aparecem nas equações abaixo:

C

OH

O OH

S2O32- + 2H+ H2SO3 + So

ZnO + 2H+ Zn2+ + 1H2o

ácido salicílico

C7H6O3

Page 170: Zoologia C

170

b) Com liga de Raney (50% Ni, 50% Al) ou com o crômio metálico (Cr)

Esses redutores agem na redução do nitrato, em meio ácido e à quente, pela

liberação do hidrogênio, o qual é um poderoso redutor, de acordo com as equações a

seguir:

Nio + 2H+ Ni2+ + 2Ho

Alo + 3H+ Al3+ + 3Ho

Cro + 3H+ Cr3+ + 3Ho

+5 H2SO4 -3 HNO3 + 8Ho NH3

Esses dois métodos de redução apresentam a vantagem de serem efetuados em

meio menos concentrado em ácido do que o método do ácido salicílico e tiossulfato (ou

zinco), permitindo, assim, a determinação de nitrogênio em soluções aquosas.

Em meio alcalino (NaOH) o redutor é a conhecida liga de Devarda (50% Cu,

45% Al e 5% Zn). Sendo o meio alcalino, o nitrogênio amoniacal permanece na forma de

NH3 gasoso podendo ser imediatamente destilado, portanto neste caso a redução do

nitrato e a destilação ocorrem simultaneamente numa única operação.

As reações que ocorrem são apresentadas pelas equações abaixo:

4Cu + 70H- + NO3

- NH3 + 2H2O + 4CuO22-

8Al + 5OH- + 2H2O + 3NO3

- 3NH3 + 8AlO22-

4Zn + 7OH- + NO3

- NH3 + 2H2O + 4ZnO22-

15.1.2. Determinação do nitrogênio orgânico

Para se determinar o nitrogênio orgânico de um material deve-se primeiramente

reduzi-lo à forma amoniacal o que é feito por digestão com ácido sulfúrico concentrado

em presença de catalisadores.

A reação que ocorre pode ser esquematizada conforme a seguinte:

Page 171: Zoologia C

171

H2SO4 + catalizador + K2SO4 ou Na2SO4 (C.H.N.) CO2 + H2O + NH4

+ compostos orgânicos

Os catalizadores usados nessa digestão são: HgO ou Hg metálico, CuSO4.5H2O

e Na2SeO3.5H2O. A presença do K2SO4 tem a função de elevar o ponto de ebulição da

mistura.

Algumas formas orgânicas são simples sob vários aspectos (composição,

solubilidade, estrutura, etc.), como é o caso da uréia, cujo nitrogênio é amoniado pelo

simples aquecimento com ácido sulfúrico (até clarear a solução ou aparecer fumos

brancos de H2SO4) não necessitando da presença de catalizadores.

Outras formas orgânicas, porém, são mais complexas, como as tortas de

mamona, algodão, amendoim, que apresentam resíduo de óleo; nestes casos a digestão

sulfúrica deve ser catalisada. Dentre os catalisadores usados ainda não se estabeleceu a

eficiência relativa dos mesmos; a recomendação oficial recai sobre o óxido de mercúrio

metálico. Na prática há tendência em classificar em ordem decrescente de eficiência:

HgO, Na2SeO35H2O e CuSO4.5H2O.

Uma vez obtida a solução contendo N-NH4+ procede-se a destilação do NH3.

Essa determinação é comumente denominada N-Kjeldahl.

15.1.3. Determinação de nitrogênio em material vegetal

Para avaliação do estado nutricional das plantas é usual se fazer à determinação

do teor de nitrogênio que se constitui predominantemente de N orgânico.

Para essa determinação inicialmente há necessidade de se fazer a mineralização

desse N transformando-o para a forma NH4+. Posteriormente se faz a destilação do N

presente na amostra digerida.

15.2. Aplicações da volumetria de neutralização: determinação do poder de

neutralização (PN) de calcários

Page 172: Zoologia C

172

O íon CO32- é a base, através do qual, em geral, rochas carbonatadas neutralizam

a acidez do solo. A capacidade máxima de neutralização de um material pode ser

estimada em laboratório, fazendo-o reagir com uma quantidade conhecida e em excesso

de ácido clorídrico. O ácido deverá estar em excesso em relação à massa de carbonato

analisado, pois o que se determina, na verdade, é o ácido clorídrico que sobra após a

reação com a rocha.

Deste modo, conhecendo-se as quantidades inicial e final de HCl, calcula-se a

quantidade de HCl que o material foi capaz de neutralizar. O HCl é determinado por

titulação com solução padronizada de NaOH.

Conhecendo-se o número de moles de HCl neutralizado calcula-se através de

“cálculo estequiométrico” a massa de CaCO3 correspondente. Assim, o poder de

neutralização de calcários é expresso como se todos os seus compostos capazes de

neutralizar o HCl fosse apenas o CaCO3. Portanto o poder de neutralização (PN) é

expresso em termos de “porcentagem” de CaCO3 equivalente”.

15.3 Determinação de Acidez Total em Vinagre Comercial

A análise de vinagre inclui, dentre outras, as determinações de acidez total, acidez

fixa e acidez volátil em ácido acético.

O ácido acético (H3CCOOH) é um ácido fraco, cujo Ka = 1,82 . 10-5

, que pode ser

titulado com solução padrão de NaOH em presença de indicadores com zonas de

transição situada na região fracamente alcalina tais como a fenolftaleína e o azul de timol.

15.4 Determinação de H3PO4 em ácido fosfórico comercial

O H3PO4 possue 3 etapas de dissociação:

H3PO4 ↔ H+

+ H2PO4

- pKa = 2,12

H2PO4

-

↔ H+

+ HPO4

2- pKa = 7,20

HPO4

2- ↔ H+

+ PO4

3- pKa = 12,3

Page 173: Zoologia C

173

Assim e teoricamente, o ácido fornece 3 pontos estequiométricos para esse sistema

químico; o primeiro é verificado em pH 4,67, o segundo em pH 9,45 e o terceiro em pH

11,85.

A mudança do pH na região do primeiro ponto estequiométrico não é muito

pronunciada, por esse motivo deve ser feita uma determinação paralela com solução de

KH2PO4 para comparar a viragem do indicador verde de bromocresol.

O segundo ponto estequiométrico do sistema ocorre em pH ao redor de 9,6. Nessa

região de pH pode-se empregar fenolftaleína ou azul de timol como indicador, entretanto,

deve-se utilizar solução saturada de NaCl para diminuir a extensão da hidrólise dos íons

HPO4

2- que promoveria a transição de cor desses indicadores antes do ponto desejado.

A terceira constante de dissociação é tão pequena que nesse sistema não tem

interesse analítico.

1. EXERCÍCIOS

1. O que é ponto de equivalência e ponto final de titulação?

2. O que é erro de titulação?

3. Conceituar alcalimetria e acidimetria.

4. Equacionar a reação que caracteriza esses dois métodos.

5. Nas titulações ácido-base, o pH da solução no ponto de equivalência é sempre

7? Por que?

6. Qual a natureza química dos indicadores usados na acidi-alcalimetria?

7. Como se explica a presença de duas cores num mesmo indicador?

8. Qual a característica química que influi diretamente na cor do indicador?

9. Qual o critério que se usa para escolher o indicador adequado para uma

determinada titulação?

Page 174: Zoologia C

174

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 9 – VOLUMETRIA DE OXIDAÇÃO-REDUÇÃO

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

Page 175: Zoologia C

175

1. Volumetria de oxidação redução

Reações de oxidação redução constituem a base de vários métodos volumétricos

aplicados à determinação de muitas espécies de interesse, como ferro e cobre em

fertilizantes. Ela se aplica evidentemente a espécies que apresentam diferentes estados de

oxidação.

Mais comumente são empregadas como titulantes soluções padrão de agentes

oxidante. O ponto final da reação de titulação é evidenciado por uma mudança brusca no

potencial de oxidação do meio, do mesmo modo como variava o pH na volumetria de

neutralização. Portanto, neste caso se tem na curva de titulação a variação de potencial

em função do volume de titulante adicionado.

Quando um metal é imerso numa solução que contém os seus próprios

íons estabelece-se um potencial de eletrodo. E pode ser medido combinando-se

Page 176: Zoologia C

176

este eletrodo com um eletrodo de referência (comumente um eletrodo de

calomelano saturado) e medindo a força eletromotriz da pilha resultante.

Sabendo o potencial do eletrodo de referência, podemos deduzir o valor do

potencial de eletrodo, e desde que se conheça o valor do potencial de eletrodo

padrão do metal podemos calcular a atividade do íon metálico na solução. Para

uma solução diluída, a atividade iônica medida será virtualmente a mesma que a

concentração iônica, e, para soluções mais concentradas, dado o valor do

coeficiente de atividade podemos converter a atividade iônica medida na

concentração correspondente.

Na titulação manual, trabalha-se com um pH-metro e um grupo de

titulação, que compreende uma bureta de pistão, montada junto com um

agitador sobre uma base compacta. Esse tipo de titulação potenciométrica

requer o controle constante das diversas etapas, anotando o volume de

reagente dosado e o respectivo potencial, dados que posteriormente são

utilizados para construir a curva de titulação, de onde é calculado o volume de

reagente gasto até o ponto de equivalência e a concentração da espécie

analisada.

Ligando-se um registrador a um potenciômetro operado na rede, é

possível produzir-se diretamente uma curva de titulação relacionada com uma

titulação potenciométrica que esteja em curso. Se a liberação do titulante da

bureta for ligado ao movimento do papel do registrador, o processo se tornara

automático. Muitas firmas colocaram no mercado unidades de titulação que

realizam esta função. Um exemplo típico é o "Potenciógrafo" inclui a unidade de

controle rolo de papel de registro ligado a um pistão de bureta movido a motor, e

ao conjunto de eletrodos do vaso de titulação; a alimentação do papel do

registrador e emparelhada com a transmissão do motor do pistão da bureta e a

pena do registrador acompanha a mudança na f.e.m. do conjunto de eletrodos.

Page 177: Zoologia C

177

A automação também tem sido estendida à interrupção do titulante

quando o potencial do eletrodo indicador atinge o valor correspondente ao ponto

de equivalência da titulação que se esta considerando; esta particularidade e

nitidamente de grande valor quando se trata de fazer certo número de titulações

repetitivas. E necessário fazer um experimento preliminar para se determinar o

potencial do ponto de equivalência do eletrodo indicador (ou, mais precisamente,

a f.e.m. do) ponto de equivalência para a combinação de eletrodo indicador-

eletrodo de equivalência que esta em uso e prevenir que se ultrapasse o ponto

final provendo condições para reduzir a velocidade de adição do titulante à

medida que se aproxima o ponto final.

Eletrodos Redox

O potencial redox é uma medida da força de oxidação ou redução de um

sistema redox, (e não é uma medida da atividade dos íons), sendo um fator

importante para estimar o sentido do equilíbrio redox no transcurso de uma

reação.

O potencial redox é medido geralmente com condutores eletrônicos, em

forma de metais nobres (Pt, Au), ou eletrodos de carvão. Estes eletrodos não

são totalmente independentes das influências de outros íons, portanto o eletrodo

de Au dá uma resposta frente aos ciano e cloro (complexos formados com o Au +).

Page 178: Zoologia C

178

O potencial redox deste sistema está fortemente influenciado pelo valor

de pH. Inclusive para sistemas redox nos que não aparecem de forma direta a

influência dos prótons H+, o potencial redox também pode variar em função do

pH por mudanças de espécie, formação de hidróxidos, ação de complexantes ou

precipitantes.

Muitos dos indicadores usados na volumetria de oxidação redução, mas

não todos, indicam o ponto final de reação por sofrerem variação de cor em

função da variação de potencial.

Tabela - Alguns indicadores de oxidação-redução

Indicador ____mudança de cor__ _ forma forma oxidada reduzida

potencial formal (v) pH =0

sulfato de 5-nitro-1,10-fenantrolina ferro(II) (nitroferroína) azul-pálido vermelho 1,25

sulfato de 1,10-fenantrolina ferro(II) (ferroína) azul-pálido vermelho 1,06

sulfato de 2,2'- dipiridila ferro (II) azul-esmaecido vermelho 1,02 5,6-dimetilferroína azul-pálido vermelho 0,97 acido N-fenilantranílico vermelho-purpúreo incolor 0,89 sulfato de 4,7-dimetil-1,10-fenatrolina ferro(II) (4,7-dimetilferroína) azul-pálido vermelho 0,88

ácido difenilaminsulfônico violeta-avermelhado incolor 0,85 difenilbenzidina violeta incolor 0,76 difenilamina violeta incolor 0,76 3,3'-dimetilnaftidina vermelho-purpúreo incolor 0,71 amido - I3

-, KI azul incolor 0,53 azul de metileno azul incolor 0,52

Page 179: Zoologia C

179

Potenciais formais

Os potenciais padrões são medidas ideais, na prática as soluções podem ser

concentradas e com freqüência contém outros eletrólitos, nessas condições as atividades

são muito menores do que as concentrações levando a erros.

Os potenciais formais foram criados para suplementar os potenciais padrão e

é o potencial observado experimentalmente numa solução.

Um indicador pode ser utilizado para detectar o ponto final de uma titulação redox,

exatamente como um indicador pode ser utilizado numa titulação ácido-base. Um

indicador redox muda de cor quando passa de seu estado oxidado para seu estado

reduzido. Um indicador comum é a ferroína, cuja cor muda de azul-claro (quase incolor)

para vermelho.

Page 180: Zoologia C

180

Para prever a faixa de potencial no qual ocorrerá a mudança de cor do indicador é

usado a equação de Nernst.

Dependendo da reação empregada se nomeiam as diferentes modalidades e

assim se tem: dicromatometria, iodometria, permanganimetria, tiossulfatometria, entre

outros.

Agentes Oxidantes e redutores

Page 181: Zoologia C

181

1.1. Dicromatometria

A dicromatometria tem por base o emprego da solução padrão de dicromato de

potássio para a determinação de substâncias presentes na forma reduzida na amostra a ser

analisada.

A equação química a seguir representa a ação oxidante do dicromato em meio

ácido.

Cr2O7-2 + 6 é + 14H+ 2Cr+3 + 7H2O

A principal espécie determinada na dicromatometria é o cátion ferroso, Fe+2:

Cr2O7-2 + 6 Fe+2 + 14H+ 2Cr+3 + 6Fe+3 + 7H2O

O método também serve para a determinação de ferro total em minérios. Ao se

dissolver a amostra em ácido clorídrico se obtém uma solução que contem ferro na forma

Fe+3. Emprega-se então uma solução redutora que muda o estado de oxidação do ferro

para Fe+2, que será então titulado pela solução padrão de dicromato.

As titulações em dicromatometria requerem o uso de indicadores de oxi-

redução. Dentre os mais usados, pode-se citar a difenilamina em solução de ácido

sulfúrico e a difenilamina-sulfonato de sódio em solução aquosa. Essas duas substâncias

quando em presença de um oxidante qualquer, inclusive dicromato, transformam-se em

um composto de cor violeta.

1.1.1. Determinação do carbono oxidável do solo

O carbono pode ocorrer no solo sob diversas formas. Assim pode-se apresentar

desde a forma elementar como carvão e como constituinte de moléculas orgânicas

complexas como celulose, lignina, proteínas, em restos de tecidos vegetais e no húmus.

Ainda, em solos calcários, minerais como calcita e dolomita contribuem com carbono na

forma inorgânica, os íons carbonato, CO3-2 e bicarbonato, HCO3

-. A forma orgânica é que

apresenta maior interesse nos solos das regiões tropicais, pois está relacionada

diretamente à retenção de nutrientes e à vida microbiana.

O dicromato de potássio, em presença de H2SO4 e a quente, transforma em CO2

as formas oxidáveis de carbono do solo, conforme equações abaixo:

Page 182: Zoologia C

182

3Corgânico + 2Cr2O72- + 16H+ H3PO4 4Cr+3 + 3CO2 + 8H2O

Para se aumentar a eficiência de oxidação do carbono orgânico presente pelo

K2Cr2O7, normalmente se usa excesso do agente oxidante.

O dicromato de potássio que sobra após oxidação do carbono é

determinado por titulação com solução padronizada de sulfato ferroso amoniacal, usando difenilamina sulfonato de bário como indicador. Note-se que aqui ocorreu uma inversão na dicromatometria clássica, citada no exemplo inicial de determinação de ferro, pois a solução de Fe+2 vai ser a

solução titulante. Mas a reação química é a mesma:

Cr2O7-2 + 6 Fe+2 + 14H+ H3PO4 2Cr+3 + 6Fe+3 + 7H2O

difenilamina

A presença de H3PO4 na solução a ser titulada é necessária para evitar o efeito

do Fe3+ formado na titulação sobre o indicador.

Sabendo-se a quantidade de dicromato posta para reagir inicialmente com o

carbono e a quantidade de dicromato que sobrou, calcula-se a quantidade do oxidante que

foi consumida e assim a massa de carbono presente na amostra.

A quantidade de dicromato posta para reagir é estimada por meio de uma “prova

em branco”, ou seja, uma solução obtida pelo mesmo processo empregado no tratamento

da amostra, mas que omite a mesma.

1.1.2. Determinação do carbono orgânico em fertilizantes orgânicos

O método descrito a seguir leva em conta apenas a determinação do teor das

formas oxidáveis de carbono presente nos referidos materiais. O fundamento da

determinação é igual ao descrito para a determinação do carbono em solos e os reativos

idem.

1.2. Tiossulfatometria ou iodometria

Page 183: Zoologia C

183

A iodometria ou tiossulfatometria é um conjunto de métodos em volumetria de

oxi-redução que se fundamentam na titulação do iodo, libertado numa reação química de

oxi-redução, por solução padronizada de tiossulfato de sódio.

A reação entre uma substância qualquer, susceptível de ser reduzida pelo iodeto

(proveniente do iodeto de potássio) fornece uma determinada quantidade de iodo, que por

sua vez, pode ser determinada pelo tiossulfato. Conhecendo-se a normalidade da solução

Na2S2O3 e o volume consumido na reação com iodo, pode-se calcular a concentração da

substância que reagiu com o iodeto. As reações que ocorrem são:

substância oxidante + 2 KI + H+ I2o + 2K+

I2o + 2S2O3

-2 S4O6-2 + 2I-

O indicador empregado consiste de uma solução de amido a 0,5%. O amido

confere cor azul à solução, quando em presença de iodo e torna-se incolor quando todo o

iodo é reduzido a iodeto pelo tiossulfato.

Há dois modos analíticos na aplicação na química do iodo em titulações de oxi-

redução. O primeiro envolve o uso de solução padrão de iodo diretamente como titulante

em meio levemente ácidos ou levemente básicos. Esta técnica é classificada de método

iodimétrico, também denominada iodimetria. No segundo modo, o iodeto é utilizado

como redutor, e o iodo liberado na reação associada, é titulado em meio neutro ou

levemente ácido com um redutor, usualmente uma solução padronizada de tiossulfato de

sódio. Tal técnica é classificada como método iodométrico ou denominada iodometria.

Os dois grupos de métodos estão baseados (a) no fato de que o iodo na presença de iodeto

produz o íon triiodeto.

710]][

][

2

332

III

KIII eq

(b) no par redox triiodeto/iodeto,

VEIeI oII

545,032/3

3

Page 184: Zoologia C

184

Pelo fato do potencial de redução ser relativamente baixo, poucas substâncias são

oxidadas pelo iodo, daí a existência de poucos métodos iodimétricos. Por outro lado,

muitas espécies são capazes de oxidar o iodeto a iodo, resultando numa ampla variedade

de métodos indiretos ou iodométricos, onde a espécie de interesse é quantitativamente

reduzida em excesso de solução de iodeto liberando o eqüivalente em iodo, e esse é

dosado por titulação com uma solução padrão de um redutor. O método iodométrico é

mais vantajoso porque o iodo é gerado in situ evitando perdas por volatilização, pois o

iodo é facilmente sublimável.

O tiossulfato de sódio é o redutor mais empregado como titulante no iodo gerado

nas metodologias iodométricas. Normalmente as soluções são preparadas a partir do sal

pentahidratado, Na2S2O3.5H2O (PF = 248,18g/mol), e devem ser posteriormente

padronizadas, pois este sal não se enquadra como um padrão primário. Normalmente as

soluções devem ser preparadas com água destilada previamente fervida para eliminar o

CO2 dissolvido e também prevenir a decomposição do tiosulfato por bactérias.

Normalmente as soluções de tiossulfato são padronizadas pelo método

iodométrico, utilizando como padrão primário bromato de potássio, KBrO3 ou iodato de

potássio KIO3. Estes sais, em meio moderadamente acidificado com ácido sulfúrico,

oxidam quantitativamente o iodeto a triiodeto, e este é titulado com a solução de

tiossulfato padronizada:

IO3- + 8I- +6H+ 3I3

- + 3H2O

2S2O32- + I3

- S4O62- + 3I-

O dicromato de potássio, K2Cr2O7 pode ser utilizado como padrão primário para a

padronização indireta do tiossulfato, da mesma forma que o bromato e o iodato. Porém,

em meios moderadamente ácidos a reação de geração de iodo (triiodeto) não é

instantânea, sendo necessário um meio de elevada acidez, concomitantemente

aumentando o risco da oxidação do iodo formado pelo oxigênio atmosférico. Resultados

precisos e reprodutíveis podem ser obtidos ajustando a acidez de um volume conhecido

Page 185: Zoologia C

185

de solução padrão K2Cr2O7 com HCl 0,2 – 0,5molL-1 e adicionando KI a 2,0%(m/v).

Deixa-se a mistura em repouso por 5 – 10 minutos no escuro para garantir a geração

quantitativa de triiodeto, antes da titulação com o tiossulfato.

Nas titulações iodimétricas e iodométricas, o amido é utilizado como indicador

sensível, pois forma um complexo com I2 de coloração azul intensa, e mesmo numa

concentração de 10-5mol L-1, o iodo pode ser detectado. O denominado amido solúvel é

encontrado comercialmente e se dispersa facilmente em água. Por outro lado, o complexo

amido–I2 é relativamente pouco solúvel, e portanto, nas titulações iodométricas o

indicador deve ser adicionado na solução do analito um pouco antes do ponto de

eqüivalência, onde a concentração do iodo é baixa. Uma vez que o amido é susceptível ao

ataque por microorganismos, é recomendável preparar a solução no dia da análise.

Normalmente prepara-se solução de amido solúvel a 0,5 – 1,0%(m/v) e adiciona-se ácido

bórico como preservativo, para prolongar o tempo de vida útil.

1.2.1-Preparo e padronização da solução de tiossulfato de sódio

(Na2S2O3.5H2O)

As soluções de tiossulfato de sódio precisam ser padronizadas devido a certas

características do sal e à instabilidade da própria solução. Dentre as diversas substâncias

utilizadas como padrão primário, uma das mais empregadas é o dicromato de potássio.

Uma quantidade conhecida de K2Cr2O7, em meio ácido, reage com excesso de

iodeto de potássio, libertando o iodo. O iodo liberado nessa reação é titulado com a

solução de Na2S2O3 que se deseja padronizar. O indicador empregado é a solução de

amido e as reações se processam de acordo com as equações abaixo:

Cr2O7-2 + 14H+ + 6I- 3I2 + 2Cr+3 + 7 H2O

I2 + 2S2O32- 2I- + S4O6

2-

1.2.2. Determinação do cloro ativo em água sanitária

Page 186: Zoologia C

186

Dosagem de cloro-ativo numa amostra de alvejante a base de hipoclorito de sódio

ou cálcio, a famosa água sanitária, de uso doméstico e em lavanderias. No tratamento de

água de piscina, utiliza-se o hipoclorito de cálcio, Ca(OCl)2 misturado com cloreto de

cálcio básico, CaCl2.Ca(OH)2.2H2O.

O constituinte ativo responsável pelo efeito alvejante e algicida, é o íon

hipoclorito, o qual é instável em meio ácido. Por exemplo, sob ação de ácido clorídrico,

ocorre a liberação de cloro: OCl- + 2H+ + Cl- Cl2 + H2O. O cloro-ativo de uma

solução alvejante é a quantidade de cloro que pode ser liberado sob ação de ácido diluído,

sendo expresso em %(m/v). No caso de amostras sólidas, em %(m/m). Portanto, por

análise química do conteúdo de hipoclorito, calcula-se por estequiometria a concentração

em termos da porcentagem de cloro-ativo da amostra, e vice-versa. Esta forma de

expressar o teor de hipoclorito já se tornou corriqueira e está normatizada como padrão

de qualidade de alvejantes a base de hipoclorito.

A substância ativa das soluções e dos pós, usados como germicidas ou

alvejantes, é o hipoclorito de cálcio (ou de sódio) e a avaliação da qualidade da

substância é feita em função da sua capacidade em fornecer cloro ativo o que ocorre

sempre que o hipoclorito é colocado em meio ácido.

A determinação de cloro ativa é feita mediante a reação deste com excesso de

iodeto e posterior titulação de iodo libertado com solução padronizada de tiossulfato de

sódio. A reação deve ser realizada usando-se ácido sulfúrico para acidificar o meio.

As reações que se passam são as descritas nas equações abaixo:

2(OCl)- + 4H+ + 2 é Cl2 + 2H2O

Cl2 + 2I- + 2H+ I2 + 2HCl

Io2 + S2O3

2- 2I- + S4O6

2-

determinação de vitamina C em comprimido ou pó

A titulometria de óxido redução envolve reações em que ocorrem transferência de

elétrons.

Page 187: Zoologia C

187

A análise de ácido ascórbico normalmente é realizada através de reação com um

agente oxidante, a qual deve ser realizada o mais rapidamente possível, visto que o ácido

é facilmente oxidado pelo próprio oxigênio do ar, formando ácido dihidroascórbico.

A semi-reação de oxidação do ácido ascórbico é a seguinte:

Existem vários agentes oxidantes que podem ser empregados na determinação de

vitamina C, sendo que um dos mais simples é o iodo. O iodo é um agente oxidante

moderado capaz de oxidar quantitativamente apenas substância fortemente redutora.

A análise volumétrica na qual o iodo é empregado como titulante chama-se

iodimetria ou titulação iodométrica direta.

A semi-reação de redução do iodo é a seguinte:

I2(s) + 2e- 2I- E0 = 0,5345 V

No entanto, a titulação empregando solução de iodo como titulante apresenta

algumas dificuldades: perda de iodo por volatilização, necessidade de padronização da

solução e realização da análise o mais rapidamente possível. Uma alternativa é adicionar

excesso de íons iodeto à solução de iodo. Forma-se o triideto,

I2 + I- I3- K = 7,68.102

que também é um agente oxidante semelhante ao iodo:

I3- + 2e- 3I- E0 = 0,5355 V

O

HO OH

OHOOH

O

OH

O

OH

O

HO

OH

+ 2H+ + 2e-

Ácido ascórbico Ácido deidroascórbico

Page 188: Zoologia C

188

Portanto, usando-se como titulante uma solução padrão de iodo contendo excesso

de iodeto, a perda de iodo por volatilização decresce apreciavelmente, principalmente se

a análise for realizada sob refrigeração, sendo que, o erro devido a alteração do título da

solução padrão é tolerável.

Uma alternativa é gerar o iodo durante a titulação. Isto é possível empregando-se

como titulante uma solução padrão de iodato de potássio (padrão primário) em presença

de excesso de iodeto (iodometria). Esta solução é estável e libera iodo em presença de

ácido forte:

IO3- + 5I- + 6H+ 3I2 + 3H2O

O iodo formado reage com a espécie redutora da amostra formando iodeto. No

processo global, o número de oxidação do iodo varia de +5 (IO3-) para -1 (I-), ou seja, são

envolvidos 6 elétrons.

Como a titulação ocorre em meio ácido, o equilíbrio da reação de oxidação do

ácido ácórbico a dehidroascórbico é deslocado no sentido da formação da vitamina C, o

que diminui a oxidação da mesma pelo oxigênio do ar durante a titulação.

O ponto final na iodimetria é detectado utilizando-se amido como indicador. A

amilose do amido reage com o iodo, em presença de iodeto, formando um complexo azul

escuro, observável em concentrações mínimas de iodo.

amilose + I3- complexo azul escuro

1.3. Permanganimetria

Baseada no uso do permanganato de potássio como titulante, devido ao seu alto poder

de oxidação. As soluções aquosas de KMnO4 não são completamente estáveis, porque o

íon MnO4- tende a oxidar a água.

MnO4- + 4H+ + 3 e- MnO2 + 2 H2O Eº = 1,692 V

O2 + 4 H+ + 4 e- 2 H2O Eº = 1,23 V

Page 189: Zoologia C

189

Reação favorecida: 4MnO4- + 4H+ 4MnO2 + 2 H2O + 3O2 (reação lenta)

O permanganato de potássio (KMnO4) é um oxidante forte de cor violeta intensa. Em

soluções fortemente ácidas (pH 1), ele é reduzido a Mn+2, incolor.

MnO4- + 8H+ + 5e- Mn+2 + 4H2O E0 = 1,507 V

Em solução alacalina ou neutra, o produto de redução do íon MnO4- é um sólido

marrom, o MnO2.

MnO4- + 4H+ + 3 e- MnO2 (s) + 2 H2O Eº = 1,692 V

Em solução fortemente alaclina (NaOH 2 M), forma-se o íon manganato, de cor verde.

MnO4- + e- MnO4

-2 (manganato) Eº = 0,56 V

Só é possível estabilizar o manganato com adição de íons bário.

Ba+2 + MnO4-2 BaMnO4

Devido a estas características tornam necessários cuidados com as soluções aquosas de

KMnO4 :

- Preparo especial - Estocagem em frasco escuro - Filtração para remoção do dióxido de manganês - Repadronização periódica.

Dependendo das condições do meio o íon permanganato é reduzido a manganês nos

estados +2,+3,+4 ou +6.

1.3.1 - Aferição de uma solução de Permanganato de potássio 0,020 mol/L com

oxalato de sódio 0,050 mol/L (padrão primário).

Transferir uma alíquota de 2,00 mL, de uma solução de oxalato de sódio, com

auxílio de uma pipeta volumétrica, para um erlenmeyer de 125 mL, acrescentar 50,00 mL

de água destilada e 2,00ml de ácido sulfúrico 20% v/v, aquecer a no máximo 80ºC. Inicie

a titulação com uma solução de permanganato de sódio 0,020 mol/L, gota a gota e agite

até descorar ( 5 gotas). A partir daí, continue titulando lentamente até a mudança da

Page 190: Zoologia C

190

coloração, de incolor para rósea que persista por mais de 30 segundos. Anote o volume

gasto.

2KMnO4(aq) + 8H2SO4(aq) + 5Na2C2O4(aq) 5Na2SO4(aq) + K2SO4(aq) + 2MnSO4(aq) + 10CO2(g) + 8H2O(l)

O H2SO4 é o reagente apropriado para acidificar a solução porque o íon sulfato não

sofre a ação de permanganato. Também pode ser utilizado o ácido perclórico. O ácido

clorídrico pode sofrer oxidação do íon cloreto.

O ponto final dado pelo excesso de permanganato em solução ácida não é permanente,

a coloração enfraquece gradualmente.

2 MnO4-(aq) + 3 Mn+2

(aq) + 2 H2O(l) 5 MnO2(aq) + 2H+(aq)

O controle da temperatura deve ser feito com termômetro para não atingir 100ºC,

temperatura na qual o oxalato é decomposto. O aquecimento acelera a reação.

Page 191: Zoologia C

191

Page 192: Zoologia C

192

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

AGR 2007 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 10 – ANÁLISE COMPLEXOMÉTRICA

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

Page 193: Zoologia C

193

1. EQUILÍBRIO DE COMPLEXAÇÃO

1.2. Introdução

Compostos estáveis, com existência independente e com ligações químicas que

obedecem às regras de valência, podem reagir entre si para formarem produtos com

propriedades completamente diferentes dos compostos iniciais. A existência desses

compostos intrigou os químicos a ponto deles serem denominados complexos. Por

exemplo, na reação:

CrCl3 + 6NH3 CrCl3.6NH3

o sal CrCl3 é constituído pelo cátion Cr3+ que, sendo trivalente, combina com 3 ânions Cl-

. Por outro lado, na molécula de amônia, NH3, átomos de hidrogênio formam 3 ligações

covalentes com o átomo de nitrogênio. Assim é de certo modo surpreendente que eles

reajam entre si para formar um composto novo.

Na reação:

Co(NO3)3 + 6KNO2 K3[Co(NO2)6] + 3KNO3

forma-se um produto no qual o cobalto deixa de apresentar o comportamento típico íon

Co3+, como ser precipitado pelos íons S2- ou OH-, e passa a constituir um ânion de um sal

de potássio.

Pode-se demonstrar que um complexo foi formado através de diferentes meios. A

separação e análise de compostos cristalinos, como resultado da preparação de complexos

é uma evidência de sua formação, assim como a mudança nas propriedades químicas de

íons metálicos em solução. Medidas de condutividade elétrica também indicam a

formação de complexos: a adição de dois mols de glicina a um mol de acetato de cobre

faz decrescer a condutividade elétrica da solução pela formação de um complexo não

iônico. Espectros de absorção de radiação visível e UV de íons complexados são, em

geral, diferentes dos espectros de aquo-complexos, tanto em relação a comprimentos de

Page 194: Zoologia C

194

onda de máxima absorção como intensidade de absorção. Resinas de troca aniônica não

adsorvem o íon Zn2+ e a retenção desse metal em meio de HCl evidencia a formação do

complexo [ZnCl4]2-. Alem dos processos citados a formação de complexos pode ser

também detectada através de variação de pH, atividade ótica, solubilidade, entre outros.

O conhecimento do equilíbrio de complexação sempre foi importante no âmbito

agronômico. A matéria orgânica do solo é uma fonte de ligantes orgânicos que, atuando

como agentes complexantes de elementos nutrientes e têm papel importante na

disponibilidade deles às plantas. Por outro lado, equilíbrios e complexação governam o

comportamento de elementos potencialmente tóxicos no solo. É imprescindível estar

ciente, por exemplo, que na presença de íon Cl-, o íon Cd2+ ocorre preferencialmente nas

formas de cloro-complexos como CdCl+, CdCl2 ou CdCl3-, ou seja, pode atuar como

espécie neutra ânion ou mesmo cátion. Ainda, fertilizantes são aplicados sob a forma de

quelatos, o que favorece a manutenção dos nutrientes sob formas disponíveis as plantas.

1.2.1. Histórico

Um dos complexos mais antigos que se conhece é o pigmento empregado em

pintura denominado Azul da Prússia, KFe[Fe(CN)6]3. Outros complexos também são

conhecidos desde há muito tempo: K4[Fe(CN)6], 1753; K2PtCl6 ,1760-65; [Co(NH3)6]Cl3,

1798.

Desde essa época, muitas teorias foram propostas para se explicar e estrutura dos

complexos e muito da atração por esses compostos derivava das cores exibidas pelos

complexos dos metais de transição. Ao final do século XIX identificava-se, por exemplo,

complexos como:

CoCl3.6NH3 amarelo CoCl3.5NH3 púrpura

CoCl3.4NH3 verde CoCl3.4NH3 violeta

Coube a Alfred Werner, prêmio Nobel de química em 1913, elucidar

que a estrutura desses complexos coloridos era respectivamente:

[Co(NH3)6]Cl3 [Co(NH3)5Cl]Cl2

Page 195: Zoologia C

195

[Co(NH3)4Cl2]Cl [Co(NH3)4Cl2]Cl

Por meio das fórmulas, observa-se que no complexo amarelo a molécula de

amônia ocupa seis posições em uma estrutura octaédrica em torno do íon Co3+ e que nos

demais elas podem ser substituídas por átomos de cloro. O cloro aparece no complexo

tanto ligado covalentemente, quando substitui a amônia, como aparece também como íon

cloreto, Cl-. Essa duplicidade de comportamento do cloro pôde ser provada por Werner,

ao reagir esses complexos com íon Ag+ e observar que quantidades diferentes de AgCl

eram precipitadas, uma vez que apenas o íon Cl- pode reagir com Ag+. A ocorrência das

cores verde e violeta para o mesmo complexo [Co(NH3)4Cl2]Cl ficou explicada pela

ocorrência de isômeros cis e trans.

Exemplos de complexos Naturais.

O anel de porfirina aparece na clorofila e atua como um ligante polidentado para

complexar o íon magnésio, Mg+2.

Na mioglobina e hemoglobina, respectivamente o armazenamento e transporte de

oxigênio nos seres vivos estão relacionados com o processo de complexação.

Page 196: Zoologia C

196

1.3. Teorias sobre a formação de complexos

Diferentes teorias foram elaboradas para explicar a formação dos complexos,

demandando considerável esforço na área de Química Inorgânica. Os estudos de Werner

e seus contemporâneos, seguidos pelas idéias de Lewis e Sidgwich sobre ligações

envolvendo pares de elétrons, levaram à idéia de que ligantes são grupos que de algum

modo podem doar pares de elétrons para íons metálicos ou outros receptores, formando

o que se denominou ligação coordenada. Alguns dos exemplos mais comuns de ligantes

são: NH3, H2O, CO, Cl-, CN-.

Muitos ligantes, mas não todos, são espécies providas de pares de elétrons não

compartilhados que podem ser doados, enquanto que em outros ligantes estão envolvidos

elétrons , como ocorre nos cristais de tetrafenilborato de potássio. Se o ligante apresenta

apenas um par de elétrons para ser doado ele é chamado de monodentado; se tiver dois

pares bidentado, e assim por diante. Exemplos: amônia: :NH3, monodentado;

etilenodiamina, N:H2-CH2-CH2-N:H2; bidentado; EDTA, hexadentado. Embora a

molécula de água tenha dois pares de elétrons não compartilhados, ela funciona como

ligante monodentado, pois quando um deles é usado o outro não se ajustará a uma

geometria favorável para ser também utilizado. Na molécula de etilenodiamina, dois

átomos de nitrogênio estão suficientemente separados, para que ambos possam ser

doadores de elétrons.

Linus Pauling desenvolveu a teoria de ligação de valência (valence bond theory)

definindo a formação de um complexo como uma reação entre uma base de Lewis, o

ligante, e um ácido de Lewis, um metal ou íon metálico. Essa teoria teve muito sucesso

nos anos de 1930 a 1940 em razão de sua simplicidade e habilidade em explicar a

formação de muitos complexos. Contudo, apresentava falhas ao não explicar a ocorrência

dos estados excitados e essa deficiência foi fatal para a teoria, pois não permite

interpretar o fenômeno da absorção de luz visível, um dos aspectos mais notáveis da

formação de tantos complexos que exibem uma ampla gama de cores.

A chamada teoria do campo cristalino (crystal field theory) vinha sendo

desenvolvida a partir de 1929, fundamentando-se na interação puramente eletrostática

entre íons metálicos positivos e as cargas negativas de ânions de moléculas polares. Neste

Page 197: Zoologia C

197

caso, não haveria associação alguma entre elétrons e orbitais, quer de ligantes ou de

metal. A interpretação das propriedades dos complexos pela teoria do campo cristalino

levou à necessidade de introdução do conceito de covalência na mesma dando origem por

volta de 1940 à teoria do campo ligante (ligant field theory) que acabou por suplantar a

partir de 1950 a teoria de ligação de valência de Pauling. Usar o conceito de covalência

significou admitir um certo grau de sobreposição (overlapping) de orbitais de ligante e

metal, o qual se levado às ultimas conseqüências, ou seja, sobreposição total, acaba por

definir a formação de orbitais moleculares nos complexos e à teoria do orbital molecular.

1.3.1. Número de coordenação.

Nos compostos de coordenação de metais, um íon metálico atua em geral como

receptor de vários pares de elétrons. O número de pares de elétrons que podem ser

compartilhados pelo íon metálico é denominado número de coordenação (NC), que pode

variar de 1 a 12. O número 1 não sendo na verdade representativo de um complexo, pois

se refere a pares iônicos. Em termos práticos, o número de coordenação varia de 2 a 9,

sendo o valor 6 o mais importante. O número de coordenação não se estabelece para

satisfazer nenhum requisito de carga elétrica, seja dos ligantes ou do íon central.

Na formação do cloro complexo de alumínio, pela teoria de ligação de valência,

quatro ligantes Cl- doam 1 par de elétrons cada um, ocupando orbitais vazios do íon Al+3:

3 s 3p

Al+3 1s2 2s2 2p6 íon Al+3 com orbitais 3s e 3p vazios

[AlCl4]- 1s2 2s2 2p6 pares de elétrons doados por íons Cl-

No complexo AlCl4- as 4 ligações são equivalentes, o que está em desacordo com

o exposto. Deve ser introduzido aqui o conceito de hibridização. Assim 1 orbital s e 3

orbitais p se combinam para formar 4 orbitais híbridos sp3 equivalentes entre si e

distribuídos no espaço nas direções dos vértices de um tetraedro.

4 sp3

[AlCl4]- 1s2 2s2 2p6 pares de elétrons de íons Cl-

Várias outras combinações de orbitais s, p e d são possíveis e a geometria do

complexo e o número de coordenação pode variar dependendo do ligante como nos

Page 198: Zoologia C

198

exemplos a seguir para o íon Ni+2, que tem configuração eletrônica d8.

Ni+2 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d8 4s0 4p0 4d0

Ni+2 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 3d8 4s0 4p0 4d0

O íon Ni+2 formou complexos com diferentes estruturas e números de

coordenação. Para tanto, diferentes hibridizações dos orbitais do íon foram propostas. 1.3. Constantes de equilíbrio

A água é um excelente ligante e, portanto, em solução aquosa um

íon metálico nunca esta livre, mas sempre complexado pela água, ou seja, forma-se um aquo-complexo. Usando água na qual moléculas contem o isótopo 18O, é possível observar a reação abaixo, inclusive podendo-se

medir a velocidade.

[Cr(H2O)]+3 + H2O* [Cr(H2O*)]+3 + H2O

A formação de aquo-complexos pode ter conseqüências interessantes. Na cromação de metais, íons Cr+6 são reduzidos inicialmente a Cr+3, os quais em seguida são reduzidos a Cr metálico. Pode-se

perguntar então, porque não se começa o processo com íons Cr+3? A resposta é: porque não funciona. Os cientistas observaram que começar com Cr+3 não dá certo, devido a formação de [Cr(H2O)6]+3, a partir do qual o cromo metálico não

pode ser obtido. Ao se reduzir, o Cr+6 forma um filme de Cr+3 sobre a superfície do metal, impedindo que ocorra a formação do complexo [Cr(H2O)6]+3.

[NiCl4]-2, hibridização sp3, estrutura tetraédrica, 4 ligantes

[Ni(CN)4]-2, hibridização dsp2, estrutura quadrado planar, 4

[Ni(NH3)6]+3, hibridização d2sp3, estrutura octaédrica, 6 ligantes NH3

Page 199: Zoologia C

199

A complexação de um metal em solução aquosa por um ligante L sempre corresponde à reação:

[M(H2O)6]n+ + mL [MLm] + 6 H2O

na qual, moléculas do ligante água podem ser substituídas total ou

parcialmente por um ligante L. Em geral, por facilidade, essa reação é apresentada sem indicar o metal como aquo-complexo, mas simplesmente Mn+. Se um complexo troca seu ligante por outro instantaneamente ele é denominado lábil, se essa troca é demorada ele é chamado inerte.

A constante de equilíbrio da reação anterior, representada abreviadamente por Kest, recebe o nome de constante de estabilidade do complexo formado entre o metal M e o ligante L. Para ligantes monodentados existem diferentes e sucessivas constantes de

estabilidade, correspondentes a progressiva substituição de moléculas de água por ligante.

[Cu(H2O)4]2+ + NH3 [Cu(NH3)]2+ K1 = 1,41 104

[Cu(NH3)]2+ + NH3 [Cu(NH3)2]2+ K2 = 3,16 103

[Cu(NH3)2]2+ + NH3 [Cu(NH3)3]2+ K3 = 7,76 102

[Cu(NH3)3]2+ + NH3 [Cu(NH3)4]2+ K4 = 1,35 102

Todas essas etapas podem ser resumidas numa etapa global:

Cu2+ + 4 NH3 [Cu(NH3)4]2+

Kest = K1. K2 . K3 . K4 = 4,68 1012 A magnitude das constantes de estabilidade decresceu de K1 até K4 e

essa tendência pode ser explicada admitindo que, no início, o íon Cu2+ se

coordena muito mais eficientemente com o ligante NH3 que com o ligante água. À medida que a afinidade eletrônica do metal é satisfeita, contudo, diminui sua tendência de se coordenar a novas moléculas de NH3.

Uma solução de sulfato de cobre num tubo de ensaio apresenta cor

azul clara característica do íon [Cu(H2O)4]2+. Ao adicionar algumas gotas de amônia observa-se o aparecimento de cor azul escura intensa: formou-se o complexo [Cu(NH3)4]2+, mais estável que o aquo-complexo [Cu(H2O)4]2+.

Page 200: Zoologia C

200

Também se pode dizer que o ligante NH3 apresenta maior afinidade com o metal que o ligante H2O. Em seqüência adiciona-se solução de EDTA e a cor azul intensa no tubo de ensaio desaparece, pois se formou o quelato

[Cu-EDTA]2-, mais estável que o amino-complexo [Cu(NH3)4]2+. O íon Cu2+ apresenta, portanto, maior afinidade com o ligante EDTA

do que com o ligante NH3. Fica evidente assim, que reações de complexação podem ser consideradas como uma competição entre

ligantes por um íon metálico. Será formado o complexo para o qual é maior a afinidade entre metal e ligante; este complexo será o mais estável e apresentará a constante de estabilidade mais elevada.

1.4. Quelação.

Quando um ligante contém dois ou mais átomos doadores de elétrons ele é um

ligante polidentado e sua molécula se une ao metal por mais de um ponto, formando um

complexo de estrutura cíclica que recebe o nome particular de quelato. Quelatos são mais

estáveis que os formados por ligantes monodentados. A seguir são apresentados alguns

agentes quelantes de interesse, inclusive aqueles usados como fonte de micronutrientes.

EDTA

Ácido etilenodiaminotetracético.

Comercializado na forma de ácido e sal di, tri ou tetrassódico tem

uso amplo, da indústria farmacêutica à limpeza industrial. Produtos contendo EDTA não são adequados para quelação de ferro a pH maior que 6,5 e como alternativa são usados tanto HEEDTA ou DHEG

Os grupos coordenadores no EDTA são dois nitrogênios amino e quatro oxigênios carboxílicos que são capazes de “abraçar” completamente um íon metálico como Fe(III) e satisfazer os requisitos para

Page 201: Zoologia C

201

uma coordenação octaédrica desse íon. O EDTA foi o primeiro agente quelante sintético usado para manter ferro solúvel em soluções hidropônicas, embora sua efetividade seja limitada a pH inferior a 6,5. Do

mesmo modo, aplicações ao solo são restritas a solos ácidos e ligeiramente ácidos, o que limita seu uso para controlar deficiência de micronutrientes em solos calcários onde elas são mais severas. Quelatos Fe-EDTA são usados em aplicações foliares de micronutrientes. Usado em

fontes de micronutrientes como quelatos contendo: 13% Cu; 9-14% Zn; 10% Fe; 12% Mn.

O EDTA é um agente complexante muito estudado devido à sua extrema importância analítica. Inúmeros metais podem ser determinados

por volumetria de complexação, sobretudo cálcio e magnésio em amostras de interesse agronômico como tecido vegetal, calcário e fertilizantes. O EDTA também é classificado como um ácido fraco poliprótico cujas constantes de ionização são: Ka1 = 1,02 10-2; Ka2 = 2,14 10-3; Ka3 = 6,92 10-7

e Ka4 = 5,5 10-11.

DTPA

Ácido dietilenotriamino pentacético.

Comercializado como sal pentassódico, forma quelatos mais

estáveis que o EDTA com ferro e zinco. O DTPA se coordena a íon Fe(III) através de 4 grupos carboxilatos e 3 nitrogênio de grupos amino, situados

nos ápices de uma bipirâmide pentagonal. Complexos de DTPA são altamente estáveis e resistentes à oxidação e, portanto, são usados no branqueamento por peróxidos. Em fertilizantes quelatizados aparece em produtos com 10% Fe.

NTA

Ácido nitriloacético.

Page 202: Zoologia C

202

Uma única molécula de NTA apresenta número insuficiente de

grupos de coordenação para quelatar metais de transição como Fe e Zn. Conseqüentemente, mais de uma molécula de NTA é necessária para formar um complexo, ou então o metal forma ligações adicionais com água

ou íons OH-, mas nesse caso aumenta-se a tendência do metal se precipitar, em vez de formar complexo. O NTA, comercializado como ácido ou sal trissódico, forma complexos metálicos ligeiramente menos estáveis que os de EDTA e é usado em detergentes líquidos.

HEEDTA

Ácido N-hidroxi etilenodiamino triacético.

Encontrado como sal tri ou tetrassódico, é usado principalmente em

preservação de emulsão de látex devido a sua habilidade em seqüestrar

ferro até pH 10 e cálcio acima de pH 6. Aparece em fertilizantes quelatizados com 6% Fe e 9% Cu.

EDDHA

Ácido etilenodiamino di(o-hidroxifenil acético)

Page 203: Zoologia C

203

Devido às fortes ligações entre os grupos fenólicos e cátions metálicos, como Fe(III), os quelatos desse tipo são muito mais fortes que aqueles puramente carboxílicos como EDTA.

DHEG

N,N-Di-(Hidroxietil) Glicina.

Comercializado como sal de sódio, é um agente sequestrante para

ferro entre pH 6 e 12. DHEG não complexa cálcio e é usado no tingimento de tecidos.

GLUDA

Ácido Glutamico –ácido N, N-Diacético.

.

Reagente de uso geral, formando complexos com estabilidade similar ao NTA. Encontrado como sal tetrassódico

Gluco heptonato

Acido Glucoheptonico.

Comercializado como sal de sódio, complexa com eficiência cálcio e

ferro em meio fortemente básico. Útil para desenferrujamento em meio alcalino. Usado em fertilizantes quelatizados de Fe.

Page 204: Zoologia C

204

1.5. A quelação de metais pelo EDTA.

O EDTA é um ligante hexadentado de uso freqüente na indústria de alimentos. Esta é sigla do ácido etilenodiaminotetracético, H4Y. O grupo carboxílico –COOH não é eficiente como ligante, mas o ânion carboxilato (–COO-) sim.

Vale a pena considerar detalhes do equilíbrio envolvendo o EDTA, pois assim pode entender o comportamento de agentes quelantes similares. O EDTA atua como ligante na forma de ânion do ácido etilenodiaminotetracético, representados simplificadamente por Y4- e H4Y,

respectivamente. O ácido EDTA, ou H4Y, é um composto pouco solúvel. Em laboratório, soluções de EDTA são em geral preparadas a partir do sal dissódico desse ácido, Na2H2Y.

Deste modo, o EDTA atua como eficientemente como ligante na

forma de ânion, representado por Y4- cuja estrutura desse ânion já foi apresentada anteriormente.

O EDTA é um ácido poliprótico e quando atua na complexação de um metal M coexistem os equilíbrios:

H4Y + H2O Y4- + 4 H3O+ Ka

M + Y4- MY Kest

Sob concentração de H3O+ for muita alta, isto é pH muito baixo, o

EDTA vai predominar na forma de H4Y e a complexação do metal pode ficar prejudicada. O processo tem que ser analisado da seguinte forma: tudo

depende da afinidade do metal M pelo ligante Y4-, isto é da magnitude da constante de estabilidade Kest. O íon Fe3+ por exemplo, tem para essa constante o valor 1,26 1025, que é um valor bem grande. Assim, mesmo a pH igual a 2, no qual a

elevada concentração de H3O+ faz com que a disponibilidade de Y4- seja

Page 205: Zoologia C

205

pequena, a formação do complexo Fe3+-EDTA ocorre. Já no caso do íon Ca2+, para o qual K é igual a 5,01 1010, as coisas não são tão fáceis; apenas se o pH for superior a 6 ocorre a formação de Ca2+-EDTA.

Ao complexar um metal, a forma desprotonada da molécula de EDTA, o ânion Y4- atua como um ligante hexadentado, coordenando-se ao íon metálico e resultando em uma estrutura octaédrica. Deste modo, o EDTA forma complexos 1:1 com muitos metais.

Sendo H4Y um ácido tetraprótico apresenta 4 etapas de ionização cujas constantes são:

Ka1 = 8,51 10-3 Ka2 = 1,78 10-3

Ka3 = 5,75 10-7 Ka4 = 4,57 10-11

O gráfico que indica a fração das formas de EDTA em função do pH do meio é mostrado a seguir. Uma solução do sal solúvel Na2H2Y apresenta

pH 4,5 e nota-se através da figura que 96,6% do íon H2Y2- permanece nessa forma em solução pois ele se dissocia relativamente pouco.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 2 4 6 8 10 12 14

pH

fraçã

o da

esp

écie

H4Y

H3Y-

H2Y2- HY3- Y4-

A forma Y4- predomina apenas a valores de pH relativamente

elevados. Os valores numéricos da fração dessa espécie são mostrados a seguir:

Page 206: Zoologia C

206

pH Fração de Y4- pH Fração de Y4- 1 3,6637E-18 8 0,00447 2 1,9880E-14 9 0,04363 3 1,6147E-11 10 0,31366 4 2,4752E-09 11 0,82049 5 2,4740E-07 12 0,97859 6 1,6689E-05 13 0,99781 7 0,00039 14 0,99978

O EDTA forma complexos incolores com cátions incolores. Com

cátions cuja solução é colorida a cor é em geral acentuada. A maioria dos

complexos é formada instantaneamente com exceção de cromo III que reage muito lentamente com EDTA à temperatura ambiente, mas sob ebulição forma um complexo estável [CrY]-. Também Fe(III) e Al(III) reagem lentamente com EDTA à temperatura ambiente. Na figura a seguir pode-se

observar como os grupos coordenadores do EDTA se posicionam ao redor da espécie complexada.

Constantes de estabilidade para quelatos de alguns metais são

mostrados a seguir.

Íon metálico log Kest Íon metálico log Kest

Fe3+ 25,1 Al3+ 16,13

Th2+ 23,2 La3+ 15,50 Hg2+ 21,8 Fe2+ 14,33

Cu2+ 18,8 Mn2+ 13,79 Ni2+ 18,62 Ca2+ 10,70

Page 207: Zoologia C

207

Pb2+ 18,04 Mg2+ 8,69 Zn2+ 16,50 Sr2+ 8,63 Cd2+ 16,46 Ba2+ 7,76

Co2+ 16,31 Ag2+ 7,3

Mesmo em condições de laboratório é difícil ter apenas um equilíbrio

em solução e nos sistemas naturais, solução do solo, por exemplo, a questão é muito mais complexa. Quando EDTA atua na complexação de um metal M a situação mais simples é coexistirem os equilíbrios:

H4Y + H2O Y4- + 4 H3O+ Ka

Mn+ + Y4- [MY]n-4 Kest

Além do equilíbrio de complexação, a forma aniônica do EDTA, Y4-, participa de um equilíbrio ácido-base. Uma elevação de pH, ou seja,

consumo do íon H3O+, provocará deslocamento do equilíbrio ácido-base para a direita, favorecendo o aumento da concentração de Y4- e, consequentemente, do complexo [MY]n-4.

Para um determinado valor de pH, a concentração de metal na forma complexada dependerá da constante de estabilidade do complexo a ser

formado. Considere-se, por exemplo, a formação do quelato [Ca-EDTA]2- a pH

2, para concentrações iniciais 0,2 mol L-1 do sal dissódico Na2-EDTA e 0,1 mol L-1 Ca2+.

Ca2+ + Y4- [CaY]2-

Kest = 5,01 1010 = ]Y][[Ca[

]CaY[42

2

Atingido o equilíbrio, as equações de balanço de massa são:

[CaY]2- + [Ca2+] = 0,2 mol L-1 [CaY]2- = x [Ca2+] = 0,1-x [CaY]2- + [Y-4] = 0,1 mol L-1 [Y-4] = (0,2-x).

Page 208: Zoologia C

208

A pH 2, a fração da concentração de EDTA que ocorre no equilíbrio

sob a forma Y4- será de apenas 2 10-14 , portanto:

[Y4-] = (0,2-x) . 2 10-14 donde:

5,01 1010 = 4102).x2,0)(x1,0(x

Resolvendo-se essa equação:

[CaY]2- = 2 10-5 mol L-1

A pH 2 cerca de 0,02% do íon Ca2+ se encontra complexado. Se esse

cálculo fosse efetuado para o íon Fe+3, nas mesmas condições de concentração e pH, a complexação seria praticamente 100%, podendo-se

dizer que, no fundo, tudo se resume a um confronto entre constantes de equilíbrio. Sempre que o ligante participar de um equilíbrio ácido-base, dependendo da magnitude da constante de estabilidade do metal, existirá um pH mínimo onde a complexação é considerada efetiva para finalidades

analíticas, ou seja, onde a competição com íon H3O+ não impede que mais de 99,9% do metal esteja na forma complexada.

Para finalidades práticas, pode-se dizer que acima de pH 6-7 a maioria dos metais se encontra complexada pelo EDTA em sua totalidade.

Supondo-se, como exemplo, uma solução que é 0,06 mol L-1 em EDTA; 0,03 mol L-1 Mn+2; 0,04 mol L-1 em Ca+2 e 0,04 mol L-1 Mg+2, pede-se qual será a situação da mesma quando for atingido o equilíbrio. Admitindo-se que o pH não restringe a formação de complexos desses metais:

0,03 mols Mn+2 reagem com 0,03 mols de EDTA, sobrando 0,03 mols de EDTA livre

0,03 mols de EDTA vão reagir com 0,03 mols Ca+2 sobrando 0,01 mol Ca+2 livre

0,04 mols Mg+2 vão permanecer como íons livres

Page 209: Zoologia C

209

Esse resultado se deve os fato das constantes de estabilidade dos complexos entre EDTA e os metais envolvidos decrescerem na seqüência Mn > Ca > Mg .

2. Indicadores Metalocrômicos

Os indicadores de metais são substâncias que formam sais complexos com o

metal que é titulado, adquirindo coloração diferente daquela própria do indicador e

de estabilidade menor que a dos complexos do metal com EDTA.

Assim, a adição do indicador à solução problema, tem como primeiro efeito

o de complexar uma fração equivalente dos íons metálicos presentes, adquirindo

coloração característica do complexo metálico do indicador.

Em seguida, titula-se com a solução padrão de EDTA, operando numa faixa

de pH definida. O EDTA após complexar inicialmente os íons metálicos livres,

reage com os íons metálicos complexados pelo indicador, pois esse complexo é

menos estável. Assim, a segunda complexação libera o indicador e,

conseqüentemente, volta a sua coloração original; resulta, portanto, a possibilidade

de reconhecer, com precisão, o ponto final da titulação.

Se esse fenômeno não ocorrer, é que o íon metálico bloqueou o indicador

não liberando-o para o meio e com isso a coloração da solução não se altera no

ponto estequiométrico, ocasionando erro de titulação.

O ericromo T é um indicador metalocrômico. Sua aparência é de pó marrom

escuro, quase preto, com um leve brilho metálico.

É utilizado em titulações de íons metálicos, como com EDTA na titulação

de íons cálcio e magnésio, em soluções básicas, em pH acima de 10.

Page 210: Zoologia C

210

3. Aplicação da volumetria Complexométrica.

3.1. Volumetria de complexação ou quelatometria

A aplicação analítica de maior destaque do equilíbrio de formação de complexos

é na determinação volumétrica de metais, denominada volumetria de complexação. Nesta

modalidade de método volumétrico o reagente mais empregado na titulação de metais é o

EDTA, empregado na forma de sal de sódio, solúvel em água. A forma protonada, o

ácido EDTA, é insolúvel em água.

A titulometria com formação de complexos ou complexometria baseia-se em

reações que envolvem um íon metálico e um agente ligante com formação de um

complexo suficientemente estável.

Apesar de existir um grande número de compostos usados na complexometria, os

complexos formados com o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA), são um dos mais

comuns, onde vários íons metálicos reagem estequiometricamente com o EDTA. Este é

um ácido tetracarboxílico, possuindo quatro hidrogênios ionizáveis, sendo

simplificadamente representado por H4Y, a reação com íon metálico pode ser

genericamente representa por:

Mn+ +Y4- MY-(4-n)

O EDTA é um ligante hexadentado no qual 4 átomos de oxigênio e 2 de

nitrogênio atuam como doadores de pares de elétrons. Em meio fortemente alcalino,

todos os grupos carboxílicos são desprotonados e o EDTA forma complexos estáveis na

proporção 1:1 com praticamente todos os cátions metálicos.

Page 211: Zoologia C

211

O EDTA na forma de ácido ou sal dissódico pode ser obtido em alto grau de pureza, podendo ser usado como padrão primário, porém, se necessário pode ser padronizado contra solução padrão de zinco.

A solução aquosa de EDTA apresenta as espécies H4Y, H3Y-, H2Y2-, HY3- e Y4-,

sendo que a forma predominante depende do pH. O EDTA é um ácido fraco para o qual

pK1 = 2,0; pK2 = 2,7; pK3 = 6,2; pK4= 10,3. Estes valores demonstram claramente que os

dois primeiros prótons são mais facilmente ionizáveis do que os outros dois restantes.

Este reagente possui uma grande versatilidade que provém da sua potência como agente

complexante e da disponibilidade de numerosos indicadores íon-metal, cada um efetivo

em um intervalo limitado de pH.

A espécie complexante é Y4-, portanto é necessário um ajuste de pH, a fim de

obter uma constante de formação condicional (K’) favorável para o íon metálico em

questão.

K’= Kabs.4

onde 4 é a fração da espécie Y4- em dado pH, e Kabs á a constante de formação absoluta

do complexo formado por EDTA e o íon metálico.

A constante desse equilíbrio é denominada constante de estabilidade ou de

formação:

[Myn-4] Kest [M+n][Y-4]

e é constante tabulada para os diferentes complexos metálicos de EDTA.

Uma das aplicações mais comuns em agronomia é a determinação de cálcio e de magnésio pelo EDTA em análise de solo, material vegetal,

calcários e fertilizantes.

A detecção por viragem de indicadores é a opção mais comum. Os indicadores

da volumetria de complexação atuam em geral como ligantes que formam complexos

com o metal que esta sendo determinado, complexo este de estabilidade menor que o

Page 212: Zoologia C

212

complexo entre o metal e o EDTA. Os indicadores apresentam ainda para a forma livre

uma coloração diferente da forma complexada.

Assim por exemplo, pela adição de solução de um indicador de cor azul o meio

se torna vermelho, pois:

M + Ind M-Ind

(azul) (vermelho)

A adição do titulante faz com que o metal desloque o ligante do complexo

inicialmente formado, pois forma um complexo MY mais estável que M-Ind:

M-Ind + Y MY + Ind

(vermelho) (azul)

A cor vermelha desaparece à medida que o titulante é adicionado e o ponto de

equivalência será indicado pela cor azul pura da forma Ind do indicador não complexado.

Como o EDTA, a maioria dos indicadores de complexação apresenta diferentes

formas protonadas dependendo do pH, as quais apresentam cores variadas, de modo que

a viragem do indicador ocorre em uma determinada faixa de pH.

O indicador negro de eriocromo T é um ácido triprótico H3In:

H2In- + H2O HIn2- + H3O+ Ka2= 5 .10-7

vermelho azul

HIn2- + H2O In3- + H3O+ Ka3 = 3 10-12 azul laranja

Na faixa de pH de 7 a 11 a forma HIn2- azul predomina, podendo-se então se

detectar a passagem da cor vermelha do complexo metal indicador para a cor azul do

indicador livre.

Ao contrário do que ocorre com o EDTA, titulação de metais por meio de

complexação com ligantes monodentados é de aplicação relativamente restrita, devido ao

equilíbrio ser constituído por reações em múltiplas etapas. Ao contrário dos ligantes

monodentados, os ligantes polidentados são de grande utilidade na titulação de metais,

pois reagem em uma única etapa e são mais seletivos.

Page 213: Zoologia C

213

O problema com o EDTA é que ele complexa muitos metais e, portanto não é

especifico para a espécie química de interesse. Esse inconveniente é contornado

lançando-se mão de certos “truques”. Os cátions interferentes podem ser separados

previamente, por precipitação. Também se pode usar resinas de troca iônica para separar

a espécies de interesse dos demais cátions presentes. Muitas vezes se convive com o

interferente. Controlando-se o pH, um cátion interferente pode deixar de ser complexado

ou ele pode ser complexado por um agente mascarante adicionado.

3.1.1. Determinação do cálcio e magnésio em rochas carbonatadas

Calcários são analisados para se determinar o teor de CaO e de MgO totais como

forma de controle de qualidade desses insumos. São rochas que apresentam teores

elevados de CaCO3 ou CaCO3 e MgCO3, mas não são compostos puros e contem

impurezas como sílica, óxidos de Fe e Al, matéria orgânica e umidade.

Através do controle do pH do meio se pode determinar cálcio isoladamente

numa determinação e o cálcio e magnésio conjuntamente em outra.

O cálcio é determinado pelo EDTA ajustando-se o pH do meio a 12 por meio de

solução de NaOH, empregando calcon, murexida, entre outros, como indicador. Nesse

pH o magnésio é precipitado e pequenas quantidades de Fe3+ e Mn2+ são complexadas

por trietanolamina e metais como níquel, cobre e cádmio, são complexados por cianeto.

O íon fosfato atrapalha a determinação do ponto final e deve ser removido previamente.

O cálcio e o magnésio são em geral determinados conjuntamente a pH 10,

proporcionado por uma solução tampão NH3/NH4+. O indicador empregado é o negro de

eriocromo T. As interferências são removidas de modo similar ao descrito para o cálcio.

O teor de magnésio será obtido por subtração

O cálcio e o magnésio em rochas carbonatadas apresentam-se sob a forma de

carbonato pouco solúvel. A rocha calcária moída, submetida a um tratamento com HCl a

quente é solubilizada resultando em uma solução contendo os íons cálcio e magnésio, que

podem ser titulados em alíquotas separadas.

3.1.2. Determinação da Dureza Total em Águas

Page 214: Zoologia C

214

O índice de dureza da água é um dado muito importante para se avaliar a sua

qualidade.

Dureza (ou dureza total) é a denominação genérica dada à soma das concentrações

dos íons de metais polivalentes presentes na água, tais como: cálcio (Ca++

), magnésio

(Mg++

), ferro (Fe++

/ Fe+++

), alumínio (Al+++

), manganês (Mn++

) e outros.

Entretanto, o termo “dureza” tem significado restrito, referindo-se apenas à

presença dos íons Ca++

e Mg++

. Deste modo, a “dureza total” corresponderá à soma das

durezas cálcica e magnesiana.

D.T. = D(Ca) + D(Mg)

As durezas são normalmente expressas em mg L-1

CaCO3.

As águas podem ser classificadas, quanto à dureza, em brandas (com pequenas

quantidades de íons de dureza) e duras (com quantidades elevadas de íons de dureza).

Embora o critério classificatório seja bastante variável de região para região, a

seguinte classificação genérica pode ser tomada como base:

Quando a dureza na água encontra-se presente em escala elevada, a remoção dos íons

de dureza se faz necessária. Os métodos de remoção (total ou parcial) dos íons de dureza

são conhecidos pelo nome genérico de “métodos de abrandamento”.

4. EXERCÍCIOS

1. O que é um quelato?

Page 215: Zoologia C

215

2. O que é um complexo?

3. Por que as reações quelatométricas são mais adequadas para a análise

volumétrica, do que as reações complexométricas?

4. O quer dizer EDTA?

5. Que tipo de substância é o EDTA?

6. Por que o EDTA é muito utilizado nas análises quelatométricas?

7. O que é a constante de estabilidade de um complexo?

8. O que quer dizer: quelato de relação 1:1?

9. Um íon metálico, na forma de quelato com EDTA, continua a apresentar

suas reações químicas características?

10. Por que quanto mais baixo o pH, mais difícil a formação do quelato do

EDTA?

11. Por que as titulações quelatométricas são efetuadas a pH elevado?

12. Há possibilidade de se efetuar titulação quelatométrica em pH inferior a 7,0?

Esclarecer a resposta.

13. Qual o inconveniente de se trabalhar com pH elevado nas titulações

quelatométricas?

14. Existem outros agentes quelantes, além do EDTA, adequados à análise

volumétrica?

15. Como é possível evidenciar o ponto final de uma titulação quelatométrica?

16. O que é um indicador metalocrômico?

17. Um indicador metalocrômico é também um indicador de pH?

18. Por que é necessário controlar o pH durante uma titulação quelatométrica?

19. Um indicador metalocrômico é apenas um agente complexante ou é um

agente quelante?

Page 216: Zoologia C

216

20. O indicador metalocrômico forma um complexo com o cátion metálico que

está sendo titulado?

Page 217: Zoologia C

217

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA – UFSM

QMC 1032 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 11 – POTENCIOMETRIA

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

Page 218: Zoologia C

218

TITULAÇÃO POTENCIOMÉTRICA: uma titulação na qual o ponto de equivalência

é determinado por medição do potencial num eletrodo imerso na mistura da reação.

Introdução a Potenciometria

Quando um metal é imerso numa solução que contém os seus próprios

íons estabelece-se um potencial de eletrodo. E pode ser medido combinando-se

este eletrodo com um eletrodo de referência (comumente um eletrodo de

calomelano saturado) e medindo a força eletromotriz da pilha resultante.

Sabendo o potencial do eletrodo de referência, podemos deduzir o valor do

potencial de eletrodo e desde que se conheça o valor do potencial de eletrodo

padrão do metal podemos calcular a atividade do íon metálico na solução. Para

uma solução diluída, a atividade iônica medida será virtualmente a mesma que a

concentração iônica, e, para soluções mais concentradas, dado o valor do

coeficiente de atividade pode converter a atividade iônica medida na

concentração correspondente.

Este processo de se utilizar uma única medida do potencial de eletrodo

para determinar a concentração de uma espécie iônica em solução designa-se

como potenciometria direta. O eletrodo cujo potencial é dependente da

concentração do íon a ser determinado é chamado de eletrodo indicador, e

quando, o íon a ser determinado é diretamente envolvido na reação de eletrodo,

diz-se que estamos tratando de um eletrodo de primeira espécie.

Também é possível em determinados casos medir-se por potenciometria

direta a concentração de um íon que não esteja diretamente envolvido na reação

de eletrodo. Isto envolve o uso de um eletrodo de segunda espécie.

Para evitar os problemas a respeito da potenciometria direta, a atenção

tem sido voltada para a titulação potenciométrica como método analítico.

Conforme o nome indica, trata-se de um processo de titulação no qual as

medidas potenciométricas são conduzidas, a fim de se determinar o ponto final.

Neste processo são envolvidas mudanças de potencial do eletrodo, em vez de

valores exatos do potencial de eletrodo com uma dada solução.

Page 219: Zoologia C

219

O objetivo de uma medição potenciométrica é obter informações sobre a

composição de uma solução mediante ao potencial que aparece entre dois

eletrodos. A medição do potencial se determina mediante condições reversíveis,

de forma termodinâmica, e isto implica que deve deixar o tempo suficiente para

alcançar o equilíbrio, extraindo a mínima quantidade de intensidade, para não

influenciar sobre o equilíbrio que se estabelece entre a membrana e a solução

da amostra.

Para obter medições analíticas válidas em potenciometria, um dos

eletrodos deverá ser de potencial constante e não pode haver mudanças entre

um e outro experimento. O eletrodo que satisfaz esta condição é o eletrodo de

referência. Em razão da estabilidade do eletrodo de referência, qualquer

mudança no potencial do sistema será ocasionada pela contribuição do outro

eletrodo, chamado eletrodo indicador ou de trabalho.

O potencial registrado é na realidade a soma de todos os potenciais

individuais, com seu sinal correspondente, produzido pelos eletrodos indicador e

referência.

TIPOS DE ELETRODOS

a) Eletrodo de Referência

Eletrodo com potencial constante, isto é, o seu potencial é função de uma

espécie cuja concentração permanece inalterada durante toda a determinação.

Para que um eletrodo seja empregado como eletrodo de referência deve

apresentar as seguintes características:

invariabilidade do potencial durante o processo;

deve ser de fácil preparação;

rápido ajustamento a um determinado e exato potencial;

interesse térmico desprezível, isto é, o potencial do eletrodo deve

responder prontamente a uma variação de temperatura, mas assim que a

temperatura inicial é restabelecida, o seu potencial deve voltar ao valor inicial;

baixa polarizabilidade, isto é, mesmo havendo passagem de pequenas

correntes pelo eletrodo, não deve haver mudança considerável no seu potencial.

Page 220: Zoologia C

220

O Eletrodo de referência em medidas potenciométricas é sempre tratado

como um ânodo.

O Eletrodo de Referência Ideal apresenta reação reversível, obedece à

equação de Nernst, tem potencial constante com o tempo, exibe pouca histerese

à variação de temperatura e retorna o potencial após ser sujeito a pequenos

valores de corrente.

Eletrodo padrão de hidrogênio

O eletrodo de hidrogênio. Todos os potenciais de eletrodo são referidos

ao eletrodo de hidrogênio padrão e este deve, portanto, ser considerado como o

eletrodo de referência primário. O eletrodo de platina é envolvido por um tubo

externo, no qual o hidrogênio penetra por uma entrada lateral, escapando no

fundo através da solução-teste. Existem diversos pequenos furos próximos ao

fundo do sino; quando a velocidade de passagem do gás está adequadamente

ajustada, o hidrogênio escapa apenas por estas pequenas aberturas. Em virtude

da periódica formação de bolhas, o nível no interior do tubo flutua, sendo a parte

da folha metálica alternativamente exposta à solução e ao hidrogênio. A parte de

baixo da folha metálica fica permanentemente imersa na solução, para evitar a

interrupção da corrente elétrica.

Embora o eletrodo de hidrogênio seja o eletrodo de referência primário,

na prática são preferidos, para a maioria das finalidades, eletrodos de referência

subsidiários que podem ficar montados permanentemente, ficando, assim,

Page 221: Zoologia C

221

disponíveis para o uso imediato; estes evitam, desta forma, cuidados na

montagem (incluindo a purificação do gás) que é requerida para se estabelecer

um eletrodo de hidrogênio satisfatório. Quando usado como eletrodo padrão o

eletrodo de hidrogênio opera numa solução que contém íons hidrogênio numa

atividade constante (unitária) baseada, usualmente, no ácido clorídrico, e o gás

deve estar a uma atmosfera de pressão.

Este não é prático em trabalhos de rotina, pois requer uma corrente de

hidrogênio puro a uma pressão determinada e, torna-se inativo por efeito de

envenenamento da camada catalítica com traços de certas substâncias. Além

disso, o eletrodo não pode ser usado na presença de agentes oxidantes ou

redutores.

Eletrodo de Calomelano (Mercúrio/Cloreto Mercuroso)

É o eletrodo de referência mais usado em virtude da facilidade de

preparação e da constância do seu potencial. É constituído por um fio de platina

em contato com calomelano (cloreto de mercúrio I) e uma solução de cloreto de

potássio de concentração definida; esta concentração pode ser 0,1 mol/L, 1

mol/L ou a da solução saturada. Os eletrodos são conhecidos como o eletrodo

de calomelano decimolar, o eletrodo de calomelano molar e o eletrodo de

calomelano saturado.

O eletrodo de calomelano saturado é o mais usado, em grande parte pelo

efeito supressor dos potenciais de junção líquida proporcionado pela solução de

cloreto de potássio saturada. No entanto, este eletrodo tem a desvantagem de o

seu potencial variar rapidamente com a alteração da temperatura, em virtude

das modificações da solubilidade do cloreto de potássio e de ser lenta a

restauração de um potencial estável diante das perturbações do equilíbrio entre

o calomelano e o cloreto de potássio. Os potenciais dos eletrodos decimolar e

molar são menos afetados pela modificação de temperatura, e estes dois

eletrodos são os preferidos nos casos em que se precisa de valores exatos dos

potenciais eletródicos. A reação no eletrodo é:

Page 222: Zoologia C

222

Hg2Cl2(s) + 2e- 2 Hg(líq) + 2 Cl-

e o potencial do eletrodo é governado pela concentração do íon cloreto na

solução.

Figura: Eletrodo saturado de calomelano

Existem eletrodos de calomelano compactos, prontos para o uso, que têm

ampla aplicação, especialmente se acoplados a medidores de pH e a medidores

seletivos de íons.

Eletrodo de Prata/Cloreto de Prata

O eletrodo de prata-cloreto de prata. Este é, talvez, o eletrodo de

referência mais importante em seguida ao eletrodo de calomelano.

É constituído por um fio de prata, ou por um fio de platina prateada, com

um revestimento eletrolítico de uma delgada camada de cloreto de prata; o fio é

mergulhado em uma solução de cloreto de potássio, com concentração

conhecida, saturada por cloreto de prata.

b) Eletrodo indicador

Page 223: Zoologia C

223

O eletrodo indicador de uma célula é aquele que depende da atividade (e,

portanto, da concentração) de uma dada espécie iônica cuja concentração é

bem determinada. Na potenciometria direta ou na titulação potenciométrica de

um íon metálico, um eletrodo indicador simples consiste usualmente num fio ou

bastão de um metal apropriado, cuidadosamente limpo; é de importância vital

que a superfície do metal esteja imersa numa solução livre de películas de óxido

ou de quaisquer produtos da corrosão. Em alguns casos, pode-se obter um

eletrodo mais satisfatório usando um fio de platina recoberto por uma película

fina do metal apropriado, por deposição eletrolítica.

Quando os íons hidrogênio são envolvidos, pode-se, obviamente, utilizar

como eletrodo indicador um eletrodo de hidrogênio, mas a sua função pode

igualmente ser desempenhada por outros eletrodos, o melhor dos quais é o

eletrodo de vidro. Este é um exemplo de um eletrodo de membrana no qual o

potencial desenvolvido entre a superfície de uma membrana de vidro e uma

solução é uma função linear do pH da solução, de modo que pode ser utilizado

para a medida da concentração de íon hidrogênio da solução. Como a

membrana de vidro contém íons de metais alcalinos, é também possível

desenvolverem-se eletrodos de vidro que podem ser utilizados para a

determinação da concentração destes íons na solução, e, deste

desenvolvimento (que é baseado num mecanismo de troca iônica), apareceu

uma série de eletrodos de membranas baseados em materiais de troca iônica

tanto de estado sólido como de membrana líquida; estes eletrodos constituem a

série importante de eletrodos íon seletivos, que, presentemente, se conhecem

para diversos íons.

O eletrodo indicador empregado numa titulação potenciométrica depende,

é claro, do tipo de reação que está sendo investigada. Assim, numa titulação

ácido-base, o eletrodo indicador poderá ser um eletrodo de hidrogênio ou algum

outro íon que responda a íons hidrogênio; para uma titulação de precipitação

(haleto com nitrato de prata, ou prata com cloreto) usar-se-á um eletrodo de

prata, e para uma titulação redox um simples fio de platina como eletrodo redox.

Page 224: Zoologia C

224

O eletrodo de hidrogênio. Adicionalmente à sua função como um eletrodo

padrão, o eletrodo de hidrogênio pode ser utilizado para a medida da

concentração de íon hidrogênio ou de pH de soluções e igualmente em

titulações potenciométricas ácido-base.

Deve ser notado que o eletrodo de hidrogênio não pôde ser usado em

soluções que contenham agentes oxidantes, e.g., íons permanganato, nitrato,

cério (IV) e ferro (III), ou outras substâncias capazes de redução, como

compostos orgânicos não-saturados, bem como na presença de sulfetos,

compostos de arsênio etc. (venenos catalíticos) que destroem a propriedade

catalítica do negro-de-platina. Também não é satisfatório na presença de sais de

metais nobres, como o cobre, a prata e o ouro, bem como em soluções que

contenham sais de chumbo, cádmio e tálio (1). Existem muitos outros eletrodos

que são mais convenientes para o uso no intervalo em que são aplicáveis.

O eletrodo de antimônio. O chamado eletrodo de antimônio é na

realidade, um eletrodo de antimônio-trióxido de antimônio.

O eletrodo de antimônio não pode ser utilizado: (a) na presença de

agentes oxidantes fortes ou de reagentes complexantes (como tartaratos e

ácidos hidroxilicos orgânicos); (b) em soluções de pH inferior a 3, nas quais o

óxido se torna demasiadamente solúvel; (c) na presença de metais mais nobres

do que o antimônio. O eletrodo não é facilmente envenenado, é de uso simples

(nenhum reagente é, usualmente, requerido), e é forte; tem sido então, aplicado

para o registro continuo e controle de pH nas condições em que é utilizável.

O eletrodo de vidro. O eletrodo de vidro é o mais amplamente utilizado

dos eletrodos que respondem ao íon hidrogênio; o seu uso o depende da

seguinte condição: quando uma membrana de vidro é imersa numa solução

desenvolve-se um potencial que é uma função linear da concentração de

hidrogênio da solução.

A natureza do vidro usado para a construção do eletrodo de vidro é muito

importante. Vidros duros do tipo Pyrex não são adequados, e durante muitos

anos foi universalmente usado para a manufatura dos eletrodos de vidro um

vidro de cal sodada. Estes eletrodos são muito satisfatórios num intervalo de pH

Page 225: Zoologia C

225

de 1-9, mas cm soluções de alcalinidade mais elevada estão sujeito ao chamado

"erro alcalino" e tendem a dar valores mais baixos do que os reais de pH.

O de vidro pode ser utilizado na presença de oxidantes e redutores fortes,

em meios viscosos e na presença de proteínas e substâncias similares, que

interferem fortemente com outros eletrodos. Também pode ser adaptado para

medidas com pequenos volumes de soluções. Pode dar resultados errôneos

quando usado com soluções mal tamponadas que estejam quase neutras.

O eletrodo de vidro deve ser muito bem lavado com água destilada após

cada medida e, antes de se fazer uma outra medida, lavado com varias porções

da próxima solução a ser analisada. Não se deve deixar o eletrodo de vidro ficar

seco, exceto durante longos períodos de armazenagem ele retornara a sua

condição de responder à atividade iônica quando for imerso, novamente, em

água destilada durante pelo menos 12 horas, antes da utilização.

Eletrodo Indicador

Eletrodo sensível à espécie a ser determinada, isto é, o seu potencial será

função da concentração dessa espécie.

Para que um eletrodo seja empregado como eletrodo indicador deve

apresentar as seguintes características:

grande sensibilidade à espécie a ser determinada;

alto grau de reprodutibilidade;

resposta rápida à variação de concentração da espécie em

determinação.

Tipos de Eletrodos Indicadores

a) Metálico

Primeira Classe - consiste de um metal imerso em uma solução

contendo íons da mesma espécie do metal. Utilizado para a medida da atividade

do íon metálico em solução. Praticamente, apenas prata e mercúrio formam

eletrodos de primeira classe.

Page 226: Zoologia C

226

Segunda Classe - consiste de um metal recoberto por um sal pouco

solúvel ou um complexo deste metal imerso em uma solução contendo íon que

forma o sal ou o complexo. Utilizado para a medida da atividade do ânion ou do

ligante.

Terceira Classe - Um eletrodo metálico pode, em algumas circunstâncias, responder a cátions diferentes Ex. Eletrodo de mercúrio para determinar a [Ca2+] em solução.

Redox - metais tais como platina, ouro e paládio podem ser utilizados

como eletrodos para sistemas óxido/redução. Utilizado para a medida do

potencial redox.

b) Eletrodo de Membrana ou eletrodos íon-seletivos - Eletrodos de

membranas apresentam alta seletividade sendo muitas vezes denominados

Eletrodos Íon-Seletivo. Este tipo de eletrodo gera um potencial do tipo potencial

de junção na interface eletrodo-solução.

Propriedades da Membrana: 1- baixa solubilidade-solubilidade da membrana na solução da espécie a ser

analisada deve ser praticamente zero;

2- condutividade elétrica - membrana deve apresentar um mínimo de

condutividade elétrica e

3- reações seletivas com o Analito - a membrana deve ser capaz de ligar-se

seletivamente ao íon que pretende-se determinar (troca-iônica, complexação,

cristalização).

Cristalina

- Monocristalina LaF3 (F-)

- Policristalina Ag2S (Ag+ e S2+)

Não Cristalina

- Vidro SiO44+ (H+)

- Líquida Líquido Trocador de íon (Ca2+ )

- Líquido imobilizado Cloreto de polivinila (NO3-)

Métodos

Page 227: Zoologia C

227

A análise potenciométrica compreende dois métodos distintos: a

potenciometria direta e a titulação potenciométrica.

Potenciometria Direta

A potenciometria direta determina a concentração do íon ativo

simplesmente medindo a f.e.m. da célula em condições que permitam conhecer

o seu valor exato. Dessa exatidão dependerá a precisão dos resultados

analíticos.

O potencial do eletrodo indicador (comparado com um eletrodo de

referência) é medido inicialmente em soluções padrão da espécie química a ser

determinada; comparando-se a medição do potencial em amostras com os

dados das soluções padrões, é possível avaliar-se a concentração da amostra.

O método deixa a desejar quanto à exatidão, mas a grande sensibilidade

da resposta dos eletrodos indicadores permite a aplicação da potenciometria

direta a soluções muito diluídas (abaixo de 10-4 mol/L) e, além disso, muitos

eletrodos indicadores são altamente seletivos. A mais importante aplicação do

método é a determinação potenciométrica de pH. Uma das vantagens da

potenciometria direta é que as medidas são feitas sem que as soluções sejam

afetadas.

A diferença de tensão entre a interface interna e externa da membrana de

vidro em casos ideais é nula, quando em contato com solução de pH idêntico.

Por várias razões, esta diferença de tensão, geralmente não é igual a

zero. Este valor é conhecido como tensão assimétrica e varia com o tempo.

Devido a esta tensão (que quantitativamente é desconhecida), a tensão

nas bordas dos eletrodos de vidro que formam a célula potenciométrica, não é

absolutamente definida. Por isso é necessário calibrar a célula de medição com

soluções de valor pH conhecido, preferencialmente as soluções-tampão (buffer).

Titulações Potenciométricas

Page 228: Zoologia C

228

Na titulação potenciométrica, também chamada de potenciometria

relativa, mede-se a f.e.m. da célula no curso da titulação. As titulações, como

sabemos, são acompanhadas de variações bruscas de concentração nas

imediações do ponto de equivalência, o que provoca uma variação brusca no

potencial do eletrodo indicador e, portanto, também na f.e.m. da célula. A

titulação potenciométrica é uma técnica de localização do ponto final na análise

volumétrica, aplicável sempre que se dispuser de um eletrodo indicador para a

espécie desejada.

São feitas sucessivas medições da f.e.m. da célula, sendo cada uma

delas após a adição de um certo volume de solução titulante adequada. A seguir

relacionam-se esses potenciais com o volume de solução titulante consumida.

As medições feitas no decorrer da titulação potenciométrica são relativas

e informaram sobre as variações ocorridas no potencial da célula. Através delas,

pode-se estabelecer com precisão o ponto de equivalência que determinará a

concentração da espécie sob análise.

A titulação potenciométrica é mais trabalhosa do que a técnica

volumétrica com indicadores visuais e requer equipamento especial, mas ela

apresenta uma série de vantagens sobre a técnica convencional:

Maior sensibilidade, pode ser aplicada a soluções bem diluídas;

Pode ser empregada para soluções coloridas ou turvas, pois dispensa o

uso de indicadores visuais;

Pode ser aplicada para certas reações que não disponham de indicadores

visuais adequados;

Pode-se determinar sucessivamente vários componentes;

Pode ser aplicada em meio não aquoso;

Pode ser adaptada a instrumentos automáticos.

Em 1955, surgiram as primeiras buretas de pistão motorizadas,

permitindo a automatização das titulações, acima de tudo com maior precisão na

dosagem. As titulações potenciométricas, hoje em dia, podem ser executadas

manual ou automaticamente, com ou sem registro da curva.

Page 229: Zoologia C

229

Titulação potenciométrica diferencial. À medida que o ponto final de uma

titulação é aproximado a f.e.m. do sistema, muda mais rapidamente.

É possível medir-se diretamente processo este que é chamado de

titulação potenciométrica diferencial. O resultado desejado é conseguido

colocando-se dois eletrodos indicadores idênticos (e.g., fios de platina) na

solução a ser titulada. mas um destes (o eletrodo isolado) está numa pequena

porção do liquido que esta separada do corpo principal da solução, portanto.

isolado da reação imediata com o titulante.

A principal vantagem do método diferencial é que não requer um eletrodo

de referência; e mais lento e menos pratico do que a técnica da titulação até o

potencial do ponto de equivalência. Os métodos diferenciais não são adequados

para titulações em que os eletrodos atingem o equilíbrio muito rapidamente na

solução.

Na titulação manual, trabalha-se com um pH-metro e um grupo de

titulação, que compreende uma bureta de pistão, montada junto com um

agitador sobre uma base compacta. Esse tipo de titulação potenciométrica

requer o controle constante das diversas etapas, anotando o volume de

reagente dosado e o respectivo potencial, dados que posteriormente são

utilizados para construir a curva de titulação, de onde é calculado o volume de

reagente gasto até o ponto de equivalência e a concentração da espécie

analisada.

Page 230: Zoologia C

230

Tipos de titulação

Dentro do método de indicação potenciométrica, podemos executar

normalmente as titulações que envolvem as reações de neutralização, de

precipitação (ou complexação) e de óxido-redução.

Determinação do Ponto Final das Titulações Potenciométricas

A determinação do ponto final pode ser:

Nas medidas potenciométricas diretas, o processo envolveu a medida da

f.e.m. entre dois eletrodos: um eletrodo indicador, cujo potencial é uma função

da concentração do íon a ser determinado, e um eletrodo de referência de

potencial constante; a determinação exata da f.e.m. é crucial.

Já nas titulações potenciométricas não são requeridos valores absolutos

de potenciais ou de potenciais em relação a uma pilha padrão, e as medidas são

feitas ao mesmo tempo em que a titulação progride. O ponto de equivalência da

reação será revelado por uma súbita mudança do potencial no gráfico das

leituras de f.e.m. versus volume da solução titulante qualquer método que

detecte esta abrupta mudança de potencial pode ser utilizado. Um eletrodo deve

Page 231: Zoologia C

231

manter um potencial constante, mas não necessariamente conhecido; o outro

serve como indicador das mudanças da concentração iônica e deve responder

rapidamente. A solução deve, naturalmente, ser agitada durante a titulação.

É a determinação mais fácil, mais imediata e corresponderá ao salto de

potencial que se pode apreciar no aparelho com a adição de uma última gota,

com volume aproximado de 0,05 mL. Nas titulações ácido-base, conhecendo-se

o pH no ponto de equivalência, efetua-se a adição do reagente até o aparelho

indicar o pH desejado.

De modo geral, os métodos diretos são viáveis em controles industriais e

são pouco exatos.

Determinação gráfica

As curvas das titulações potenciométrica, isto é, o gráfico das leituras da

f.e.m., contra o volume adicionado de titulante, pode ser levantada ou pela

plotagem manual dos dados experimentais, ou pela plotagem automática,

mediante instrumentação apropriada, durante o decorrer de qualquer titulação.

Em geral a curva tem a mesma forma que a curva de neutralização de um ácido,

ou seja, é uma curva sigmóide conforme a figura abaixo. O segmento central da

curva aparece na figura (a), e é evidente que o ponto final está localizado no

segmento fortemente ascendente da curva, ou seja, se acha localizado a meia

altura do salto sobre a curva de titulação.

Page 232: Zoologia C

232

Resultados mais satisfatórios são obtidos, entretanto, quando se

empregam métodos analíticos para localizar o ponto final. Nestes métodos se

plota a curva da primeira derivada (^E/^V contra V), isto é, a curva do coeficiente

angular da curva de titulação contra o volume V (o ponto de equivalência está

localizado pelo máximo, que corresponde à inflexão da curva de titulação), ou a

curva da segunda derivada (^2E/^V2contra V), isto é, a curva do coeficiente

angular da curva de (b) em função de V (a segunda derivada é nula no ponto de

inflexão e proporciona uma localização mais exata do ponto de equivalência).

Aparelhos potenciométricos

736 GP Titrino Metrohm

Possui cartão de memória e uma memória interna grande para métodos bem

organizados e dados de amostras. Futura-tecnologia de prova em um espaço mínimo.

Transferência de método rápido e sem defeito de um instrumento até

outros, através de bordas e continentes. Potenciometria com Eletrodos Seletivos

Page 233: Zoologia C

233

Mediante esta técnica se mede o potencial desenvolvido entre um

eletrodo e a dissolução de medição ou amostra, dependendo do potencial da

concentração de um íon em particular. Esta técnica se utiliza principalmente

para a análises de ânions, tais como:

F-, Cl-, Br-, CN-, NO3- , etc

Linha de pHmetros

Medidores de bolso, portáteis e de laboratórios. A forma

rápida e precisa para medição de pH. Faixa de leitura 0,00

a 14,00pH com a resolução de 0,001pH

Page 234: Zoologia C

234

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA – UFSM

CENTRO DE EDUCACAO SUPERIOR NORTE-RS – CESNORS

DEPARTAMENTO DE AGRONOMIA - DAGRO

QMC 1032 – Química Agronomia

QUÍMICA ANALÍTICA

UNIDADE 12 – COLORIMETRIA

Prof. Dr. Arci Dirceu Wastowski

2009

Page 235: Zoologia C

235

COLORIMETRIA E ESPECTROFOTOMETRIA

A Colorimetria e a Espectrofotometria podem ser conceituadas como um

procedimento analítico através do qual se determina a concentração de espécies químicas

mediante a absorção de energia radiante (luz).

A luz pode ser entendida como uma forma de energia, de natureza ondulatória,

caracterizada pelos diversos comprimentos de onda ( -(lâmbda), expressos em m ou

nm) e que apresenta a propriedade de interagir com a matéria, sendo que parte de sua

energia é absorvida por elétrons da eletrosfera dos átomos constituintes das moléculas.

Uma solução quando iluminada por luz branca, apresenta uma cor que é resultante da absorção relativa dos vários comprimentos de onda

que a compõem. Esta absorção, em cada comprimento de onda, depende da natureza da substância, de usa concentração e da espessura da mesma que é atravessada pela luz.

A energia radiante, ou radiação eletromagnética se origina da

desaceleração de partículas eletricamente carregadas constituintes de uma

determinada fonte e, uma vez emitida, se propaga através de um meio, em

todas as direções. Para compreender a natureza da energia radiante, temos de

analisar suas propriedades e admitir uma dualidade: as radiações

eletromagnéticas ora se manifestam como uma onda, ora como um conjunto de

pacotes discretos de energia, os fótons.

A forma de energia radiante a que estamos habituados é a “luz visível”,

produzida pelo sol, ou pelo aquecimento do filamento de tungstênio de uma lâmpada

incandescente comum. Ela é designada luz visível, porque impressiona a retina do olho

humano. Sabe-se, contudo, que outros animais como as abelhas, por exemplo, percebem

outras radiações além daquela.

Outras modalidades de energia radiante, contudo, fazem parte do nosso

cotidiano: os raios X empregados na medicina, as microondas dos fornos domésticos, as

ondas de rádio, os raios infravermelhos, entre outros. Se existem diferentes modalidades

de energia radiante, como podem ser distinguidas?

Page 236: Zoologia C

236

Para isso, temos que lembrar primeiramente dos parâmetros que caracterizam

uma onda:

Comprimento de onda (): distância entre dois picos máximos adjacentes.

Freqüência (µ): é o número de ondas que passam por um determinado ponto do

espaço por unidade de tempo. A unidade de freqüência é o hertz, o número de oscilações

ou ciclos, por segundo.

A velocidade de propagação de toda radiação eletromagnética é a mesma, c, uma

constante fundamental da física, que vale 2,988 x 108 m.s.-1 no vácuo. A fórmula:

c = .

relaciona os parâmetros citados, evidenciando que quanto maior o comprimento de onda

de uma radiação, menor será sua freqüência.

A energia das radiações também serve para caracterizá-las, e pode ser calculada

facilmente pela fórmula:

h . c E =

onde h, a constante de Planck vale 6,6262 x 10-34 J.s

Na Tabela são apresentados os intervalos de comprimento de onda que

caracterizam os diferentes tipos de radiações eletromagnéticas. Observa-se ainda que,

mesmo o que se denomina “luz visível”, pode ser decomposta em uma série de radiações,

correspondentes a intervalos de comprimento de onda, diferenciadas pela coloração que

exibem. Essas cores podem ser percebidas ao se decompor a luz solar por meio de um

prisma.

Tabela. Intervalo de comprimento de onda correspondente às várias radiações.

Radiação

Intervalo de comprimento de onda

Transições atômicas ou moleculares envolvidas

Raios X

10-3 - 10 nm Elétrons das camadas K e L

Ultravioleta

10-400 nm Elétrons de camadas intermediárias e de valência

violeta 400-465 nm azul 465-493 nm

Luz verde 493-559 nm Elétrons de Visível amarelo 559-580 nm valência

laranja 580-617 nm

Page 237: Zoologia C

237

vermelho 617-750 nm Infravermelho 750 nm-1mm vibrações moleculares Microondas 1 mm - 1 m rotações moleculares

Ondas de rádio 1m-1000 m ---------

Espectro eletromagnético.

Cores.

A interação da matéria com radiações de comprimento de onda entre 450 e 750

nm, denominada luz visível, se manifesta através das cores das substâncias. Por que

motivo então, uma solução de sulfato de cobre tem cor azul esverdeada, enquanto que

uma solução de permanganato de potássio é vermelho púrpura?

Quando a luz solar, ou a de uma lâmpada, incide sobre a solução de sulfato de

cobre, radiações de todas as cores penetram no seu interior, mas, praticamente, apenas as

radiações de comprimento de onda acima de 600 nm são absorvidas. As radiações que

não são absorvidas, correspondentes basicamente às cores: violeta, azul, verde e amarelo,

constitui somada, a coloração azul esverdeada da solução que é percebida pelos nossos

olhos. A cor que uma substância exibe corresponde, portanto, à fração da luz visível que

ela não absorve. A absorção de radiações ultravioletas abaixo de 400 nm não é detectada

pelo olho humano, e percebemos as radiações infravermelhas como calor.

Uso analítico da absorção ou emissão de energia radiante

Os itens discutidos anteriormente servem de base para compreender os

fundamentos de métodos analíticos muito importantes: a espectrofotometria,

fotometria de chama de emissão e espectrometria de absorção atômica. Para

isso, temos que relacionar a absorção de energia radiante com concentração da

espécie responsável por esse processo.

Page 238: Zoologia C

238

Figura. Espectros de absorção de soluções cuja cor corresponde à cor da

linha.

Espectrofotometria e quantificação

Lei de Lambert-Beer

Lambert estudou a transmissão de luz por sólidos homogêneos. Beer estendeu o

trabalho de Lambert ao estudo de soluções. Pode-se apresentar as conclusões dos dois

pesquisadores na forma de uma lei conhecida como a Lei de Lambert-Beer.

Através dessa lei, intensidades da radiação incidente e emergente podem ser

relacionadas com as concentrações do material presente na solução. Vamos discorrer

brevemente sobre essa lei, com os seguintes esclarecimentos:

1. São considerados desprezíveis os efeitos de reflexão, refração e espalhamento.

2. A radiação incidente deve ser monocromática, isto é, conter somente um comprimento

de onda. I0 e I são, respectivamente, as intensidades da radiação incidente e transmitida

pela amostra. Muitas vezes, a intensidade transmitida decai exponencialmente com o

0.00

0.10

0.20

0.30

0.40

0.50

0.60

0.70

400 450 500 550 600 650 700 750 800

Comprimento de onda (nm)

Abs

orbâ

ncia

Page 239: Zoologia C

239

aumento do caminho percorrido na solução (comprimento l), e também com o aumento

da concentração c.

Suponha-se que uma radiação monocromática de potência I0 incide sobre as

faces planas e paralelas de uma cubeta de espessura b, a qual contém uma solução de uma

espécie química que absorve energia radiante. Designando por I, a potência da radiação

que emerge da cubeta, sabe-se que I < I0, devido à absorção da radiação pela espécie

química contida na solução que preenche a cubeta.

É fácil perceber que a diminuição da potência da radiação incidente é dependente

do número de partículas absorventes encontradas pelo feixe ao atravessar a cubeta. Isso é

o mesmo que dizer que a atenuação da potência da radiação depende da concentração da

solução (c) e do percurso da radiação (b) no interior da cubeta.

1. A absorção da luz é tanto maior quanto mais concentrada for à solução por ela atravessada:

Figura. Relação entre a concentração de uma solução e a luz absorvida. A solução 20g/l absorve o dobro da solução 10g/l.

2. A absorção da luz é tanto maior quanto maior for à distância percorrida pelo feixe luminoso através das amostras:

solução 10 g/l

Io IT1

solução 20 g/l

IT2

Io

feixe de luz de intensidade Io

1 cm

Io IT1

Io IT3

3 cm

feixe de luz de intensidade Io

Page 240: Zoologia C

240

Figura. Relação entre a distância percorrida pelo feixe luminoso e a luz absorvida por uma solução. A solução contida na cubeta com 3 cm absorve 3 vezes mais luz que a contida na cubeta de 1 cm. Juntando (1) e (2), temos a lei de Beer-Lambert:

sendo c a concentração do material em estudo, l o comprimento interno do recipiente que

contem a solução, e (epsilon)é absortividade ou coeficiente de absorção, um fator

característico da substancia absorvedor (e o solvente), que depende do comprimento de

onda da radiação.

A absortividade molar () é preferível quando se deseja comparar

quantitativamente a absorção de várias substâncias. Para uma mesma espessura do

absorvedor (caminho óptico), quanto maior o valor de maior a sensibilidade do método.

é uma medida da quantidade de luz absorvida por unidade de concentração".

A absorbividade molar é uma constante para uma substância específica, de modo

que se a concentração da solução é reduzida para a metade, também a absorbância cairá

pela metade, que é o que nós esperaríamos.

absorvância(fixo)

=

Absortividade (fixo)

A c.l

concentração da solução absorvente

distância percorrida pelo feixe luminoso através da amostra

A=log10 Io

IT

Io – luz incidente IT – luz transmitida –absortividade molar ou coeficiente de absorção. c – concentração da substância (em moles/l) l – distância percorrida pela luz através da substância

Nesta equação,

Page 241: Zoologia C

241

Normalmente usam-se cubetas com 1 cm de comprimento, de modo que a equação fica:

Ac

Ou seja, a absorbância da luz a cada comprimento de onda é diretamente

proporcional à concentração da solução contida na cubeta. Esta linearidade deixa de

ocorrer a concentrações muito elevadas da substância, podendo nesses casos diluir

previamente a amostra a medir.

De uma maneira geral, para uma solução de dada substância, em um certo

solvente, analisada a um certo comprimento de onda da radiação, pode-se traçar uma

curva da absorbância A em função da concentração c; a partir dessa curva será possível

determinar a concentração de qualquer amostra dessa solução.

Figura. Esquema simplificado de um sistema medidor de absorção de energia radiante

por uma solução.

Page 242: Zoologia C

242

Um experimento do conhecimento de todos é que quando a luz branca incide em um prisma, há a decomposição desta nas cores do arco-íris.

A equação anterior é a expressão matemática da Lei de Beer. A transmitância é

em geral expressa como % transmitância (%T), isto é 100P/P0. Neste caso,

1 A = log

T

Transmitância é a percentagem de luz emitida, enquanto que absorbância é a quantidade de luz absorvida

O conjunto de soluções de números 1 a 5 constitui o que se denomina curva de

calibração ou curva padrão, e é o nosso referencial indispensável para determinar a

concentração de qualquer solução, desde que se conheça sua absorbância.

Page 243: Zoologia C

243

Ela pode ser representada em um gráfico de coordenadas cartesianas como uma

reta, o que já era indicado pela Lei de Beer, que permite calcular concentrações

graficamente, conforme indicado na Figura.

Figura. Gráfico que relaciona concentração molar de cobre e absorbância medida a 750

nm.

0 0.1M 0.2M 0.3M 0.4M 0.5M

y = 10.723x - 0.0005

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0 0.01 0.02 0.03 0.04

[Cu+2] mol L-1

Abs

orbâ

ncia

Page 244: Zoologia C

244

Mais freqüentemente deduz-se a equação matemática, através de cálculo de

regressão linear, que traduz a relação entre absorbância e concentração e permite estimar

a concentração mais facilmente. Neste exemplo a equação de regressão seria:

[Cu2+] = 0,0931 A

e assim, para A = 0,266, tem-se:

[Cu2+] = 0,0931 x 0,266 = 0,0247 mol/l

Em geral, nos métodos espectrofotométricos, não se mede a absorbância de uma

solução pura da espécie de interesse. Faz-se reagir uma solução de íons fosfato, por

exemplo, com íons molibdato para se produzir um composto de cor amarela, do qual é

medida a absorbância. Na determinação de Fe3+ pela ortofenantrolina, é necessário

reduzir aquele cátion a Fe2+, para que este reaja com a ortofenatrolina para produzir um

composto de cor vermelha.

COLORIMETRIA

Em prática analítica, é necessário freqüentemente determinar quantidades muito

pequenas (traços) de substâncias presentes como impurezas em diversos materiais.

Quantidades pequenas são quase impossíveis de serem determinadas pelos métodos

gravimétricos e/ou titulométricos convencionais, assim, são empregados outros

especiais como é o caso da colorimetria.

Na colorimetria, a quantidade do elemento presente é determinada pela

intensidade da cor da solução comparada com a cor de uma solução padrão. Quanto

maior a intensidade da cor da solução, maior é a concentração do elemento. Se duas

soluções, sob as mesmas condições, contendo a mesma cor e na mesma intensidade,

forem comparadas conclui-se que as concentrações do elemento químico são iguais.

Por diluição, a cor de uma solução de concentração desconhecida pode ser

igualada à cor da solução padrão e, assim, determinar a respectiva concentração.

Page 245: Zoologia C

245

O método colorimétrico, entretanto, não pode ser usado quando a alteração da

intensidade da cor depende de outros fatores que não sejam o da diluição.

A coloração da solução deve ser formada tão logo a substância seja dissolvida

como é o caso da presença dos íons MnO4

- e CrO4

2-. Em determinados casos, a cor

precisa ser produzida pela adição de alguma substância que reaja quimicamente com o

íon que se deseja determinar.

Na análise de água, a determinação de ferro será feita pela adição de tiocianato à solução problema.

O íon Fe3+

reage com o tiocianato e produz um cor vermelho-sangue intensa. O íon Fe

2+ não reage.

Fe3+

+ 3 CNS- [Fe(CNS)3]

Nas determinações colorimétricas, as cores das soluções padrão e problema são

comparadas tanto visualmente como por instrumentos, portanto, dependendo do tipo de

observação, tem-se a colorimetria visual e a fotocolorimetria.

Na colorimetria visual, método que será adotado a seguir, a observação depende

muito do analista, de sua capacidade de distinguir cores sensivelmente, de sua fadiga

visual etc.; por esses motivos, esse tipo de análise pode ter elevada margem de erro.

Para a comparação das duas soluções, deve-se levar em consideração a igualdade

de condições, assim:

a) adição da mesma quantidade de reagente ao padrão e à solução problema.

b) as adições devem ser simultâneas, pois, muitas vezes a cor da solução altera-se

com o tempo.

c) caso a solução problema contenha íons estranhos que influenciam na cor, e

esses íons não podem ser eliminados, introduz-se, então, esses mesmos íons no

padrão. Se a cor for muito intensa, a determinação colorimétrica torna-se

impossível.

d) as cores das duas soluções são comparadas em recipientes iguais, do mesmo

tipo de vidro e sob a mesma iluminação.

No método da série de padrões, ao invés de uma única solução padrão, preparam-

se várias de concentrações gradualmente decrescentes.

Page 246: Zoologia C

246

Essa bateria de soluções, cujas concentrações são conhecidas, recebe o nome de

Escala Colorimétrica.

Na preparação da escala colorimétrica deve-se levar em conta a concentração

mais baixa e utilizar reagentes sensíveis a essa concentração. A concentração mais alta

não deve ser mais do que vinte vezes a da mais baixa.

Figura. Calibração de um método colorimétrico. A absorbância ao comprimento de onda

escolhido é diretamente proporcional à concentração do composto na solução.

No exemplo da Figura, há uma relação linear perfeita entre a concentração da

substância (expressa em molaridade - M) e a absorbância ao comprimento de onda de

medida. Podemos assim obter uma reta do tipo

Ac (ou Ac + b, caso a reta não passe na origem)

em que Aé a absorvância ao comprimento de onda de medida, c a concentração em

M e a constante de proporcionalidade. Sabendo esta relação, podemos fazer

0 0.1M 0.2M 0.3M 0.4M 0.5M

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corresponder uma absorbância medida, a uma concentração de substância na solução a

analisar.

Muitas vezes o método só é linear até certa concentração da substância. Nesse

caso, utiliza-se a zona em que a relação é linear, diluindo a solução a medir, sempre que

necessário, de modo a que a absorbância resultante esteja contida no intervalo da reta de

calibração.

Ao se estabelecer um método colorimétrico, são estudadas as condições

experimentais que proporcionam a máxima sensibilidade, ou seja, maior valor de

absorbância para uma determinada concentração da espécie de interesse. Para tanto, é

registrado o espectro de absorção para escolha do comprimento de onda, e são

estabelecidos os valores mais adequados de pH, temperatura, entre outros.

Aplicações da espectrofotometria

Determinação em solos do fósforo solúvel pelo método do “azul de molibdênio” em

solução de H2SO4 0,025 M ou determinação de fósforo em materiais que

possuem baixa concentração no elemento.

Uma vez que o fósforo pode ocorrer no solo sob várias formas a obtenção do

extrato será feita mediante o uso de uma solução 0,025 mol L-1 de H2SO4. Dessa forma se

obterá uma solução da amostra que contém apenas as formas de fósforo solúveis naquele

extrator.

A seguir uma alíquota do extrato será tratada com um reativo ácido que contém

os íons molibdato e bismuto. O complexo formado entre o fosfato presente no extrato

com os íons presentes no reativo, sendo reduzido pelo ácido ascórbico dará origem a um

complexo colorido azul. A intensidade dessa coloração azul é proporcional à quantidade

de fósforo presente no extrato de solo e, por conseguinte na amostra analisada.

Determinação em fertilizantes do fósforo solúvel em água, pelo método

colorimétrico simplificado do ácido molibdovanadofosfórico ou determinação de

fósforo em materiais que possuem alta concentração no elemento.

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Dentre os nutrientes vegetais contidos nos fertilizantes o fósforo é o que se

apresenta em maior número de formas químicas diferentes. Enquanto para outros

nutrientes tal fato não seja motivo para maiores problemas, pelo menos até o momento, o

mesmo não acontece em relação ao fósforo: isso porque as diferentes formas químicas

desse nutriente apresentam diferentes comportamentos agronômicos.

Essa característica faz com que o conteúdo total de fósforo dos fertilizantes

tenha um valor agronômico apenas relativo: indica a capacidade potencial do adubo em

fornecer esse nutriente. Importante é o conteúdo de fósforo que proporcione o máximo

aproveitamento pelos vegetais: é precisamente a determinação desse valor que tem

tornado problemático avaliar, em condições de laboratório, o conteúdo de fósforo dos

fertilizantes, uma vez que uma mesma fonte de fósforo tem comportamento agronômico

variável em função do solo, clima, cultura, forma de aplicação e outros fatores.

Essa situação justifica o fato de já terem sido sugeridos e usados vários

extratores químicos para avaliar e interpretar o conteúdo de fósforo dos fertilizantes; os

principais são: água, solução neutra de citrato de amônio (pH = 7,0) e solução de ácido

cítrico a 2%.

A presente determinação do fósforo em fertilizantes usa a água como extrator e a

determinação colorimétrica do fósforo no extrato é feita pelo método colorimétrico ou

espectrofotométrico do ácido molibdovanadofosfórico (amarelo de molibdênio).

Esse método colorimétrico fundamenta-se na reação entre os íons ortofosfato

(H2PO4-), molibdato e vanadato, em meio ácido com formação do ácido

molibodvanadofosfórico, presumivelmente, H3PO4.NH4.VO3.16MoO3.