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  • FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA

    REVISTA PERSPECTIVA EM LETRAS Revista Científica da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

    Endereço: REVISTA PERSPECTIVA EM LETRAS

    FACULDADE INTEGRADA DA GRANDE FORTALEZA CEUDESP - Centro de Educação Universitário e Desenvolvimento Profissional LTDA

    Av. Porto Velho, 401 - João XXIII- Fortaleza/CE - CEP: 60.525-571. Tel. +55 (85) 3299-9900 / Fax. +55 (85) 3496-4384 /

    Email: [email protected]

  • Expediente Mantenedora Centro de Educação Universitária e Desenvolvimento Profissional – CEUDESP Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Administrativo Financeiro Eng. Julio Pinto Neto – Diretor de Infraestrutura Eng. Adolfo Marinho – Diretor de Expansão Mantida Faculdade Integrada da Grande Fortaleza - FGF Eng. José Liberato Barrozo Filho - Diretor Geral Prof. Ms. Paulo Roberto de Castro Nogueira – Diretor Acadêmico Editores Damião Carlos Nobre (FGF / Secretaria do Estado do Ceará) Conselho Editorial Me. ADRIANA REGINA DANTAS MARTINS - FGF Prof. Dr. ANTENOR TEIXEIRA DE ALMEIDA JUNIOR – FGF Prof. Dr. CARLOS JORGE DANTAS DE OLIVEIRA - FGF Prof. Me. DAMIÃO CARLOS NOBRE JUCÁ – FGF/SEDUC Prof. Me. DIEGO ALVES HOLANDA - FGF Prof. Dr. FRANCISCO TARCISIO CAVALCANTE - FGF Profa. Me. LÍGIA BEZERRA - ARISONA STATE UNIVERSITY - ASU Profa. Me. MARIA COELI SARAIVA RODRIGUES - FGF Profa. Dra. EVELIN LEITE KANTORSKI - FGF Profa. Dra. MARIA DAS DORES NOGUEIRA MENDES - UFC Profa. Dra. DANNYTZA SERRA GOMES - UFC Profa. Dra. MÔNICA DE SOUZA SERAFIM - UFC Profa. Dra. ANDRÉIA TUROLO DA SILVA - UFC Editora Maria Coeli Saraiva Rodrigues Revisão Técnica Maria Coeli Saraiva Rodrigues

    Projeto Gráfico Capa e Diagramação Maria Coeli Saraiva Rodrigues *As ideias e opiniões emitidas nos artigos são de exclusiva responsabilidade dos autores, não refletindo, necessariamente, as opiniões do editor e, ou, da FGF – Faculdade Integrada da Grande Fortaleza

  • SUMÁRIO Editorial........................................................................................................................... 04 Artigos 1 – A tradução no contexto musical em língua inglesa – Márcio Bruno Bezerra dos Santos e Adriana Regina Dantas Martins......................................................................... 06 2 – O ambiente linguístico familiar no processo de acesso à complexidade gramatical pela criança – Wilson Gonçalves da Cunha e Antenor Teixeira de Almeida Junior..............................................................................................................................

    20 3 – A carnavalização nas obras A caganeira e paródia, de Leandro Gomes de Barros – Raimundo Aurélio de Lima e Carlos Jorge Dantas de Oliveira.......................................... 37 4 – Uma viagem metafórica nas canções de Mariah Carey – Fernando Barros da Silva Lima e Maria Coeli Saraiva Rodrigues.............................................................................. 52 5 – O uso da música nas aulas de inglês como estratégia de ensino aprendizagem no ensino médio – Ana Cristina Freitas Magalhães e Diego Alves Holanda.......................... 70 6 – O processo diacrônico da mesóclise nos livros Êxodo e Levítico – Rosângela Nobre da Silva e Maria Coeli Saraiva Rodrigues.......................................................................... 85 7 – Avaliação e identificação do nível de desenvolvimento linguístico em crianças utentes da Libras – Maria Patrícia Barros Lima e Maria Coeli Saraiva Rodrigues............. 115 8 – Ensino significativo do Present Perfect – Antônio Veronildo de Souza Ribeiro e Diego Alves de Holanda................................................................................................... 136

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    Editorial Ao longo dos seus 15 anos de funcionamento, o Curso de Letras – com habilitação

    em português e inglês - da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza sempre se preocupou em dar uma excelente formação acadêmica aos seus alunos. Para o êxito desta missão, é necessário aliar um ensino de alta qualidade a atividades de pesquisa e extensão. Quanto à extensão universitária, os alunos realizam inúmeras atividades entre as quais destacamos a oferta de cursos de extensão à comunidade carente do entorno da IES, o Seminário Interdisciplinar em Linguística, Literatura e Educação – Sille, e a Semana Acadêmica. Quanto à pesquisa, não só os eventos de extensão – em que os alunos podem apresentar os trabalhos científicos que desenvolvem ao longo de sua formação – como também a exigência da apresentação de um artigo científico a título de trabalho de conclusão de curso, buscam tornar a formação do aluno do curso o mais completa possível.

    Foi a quantidade de egressos apresentando TTCs e a qualidade cada vez melhor dos trabalhos apresentados nos eventos de extensão que motivaram a edição desta revista.

    A intenção é a de que nos próximos números, aliados aos artigos de nossos formandos, possamos incorporar artigos produzidos por alunos de outros cursos de letras, de projetos de iniciação científica e de grupos de pesquisa não só da FGF, mas também de outras instituições de reconhecida qualidade.

    Comissão Editorial

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    ARTIGOS

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    A TRADUÇÃO NO CONTEXTO MUSICAL EM LÍNGUA INGLESA Márcio Bruno Bezerra dos Santos

    Adriana Regina Dantas Martins

    RESUMO: Este artigo tem como objetivo apresentar a importância do contexto na tradução em língua inglesa. Utilizou-se como referencial teórico um estudo sobre o papel do tradutor e a questão do contexto cultural. A metodologia partiu de um estudo exploratório- descritivo com base de como a tradução literal não é suficiente para uma boa interpretação de um texto ou canção. Em vista disso, foi desenvolvida uma análise da canção ´´My heart will go on´´ e da versão ´´Em cada sonho´´ juntamente com a tradução literal do texto original. Focamos no léxico dos três textos para demonstrar a importância do uso do contexto dentro da tradução em língua inglesa. A partir dessa análise é possível concluir que a tradução literal de um texto ou canção, geralmente não faz sentido, sendo necessário considerar a questão do contexto para compreender determinada tradução. Palavras-Chave: Tradução, contexto cultural, música. ABSTRACT: This article aims to show the importance of the use of translation in the English language. The theoretical discussion was about how a translator should develop their work and the use of the context as well. The methodology begins with a descriptive and exploratory study based on how literal translation is not enough when the purpose is to have a good interpretation of a text or a song. In view of this we developed an analysis of the song ́ ´ My heart will go on´´ and its Portuguese version ́ ´ Em cada sonho´´ together with the original literal translation, presenting the study of the lexicon in the texts to show the importance of the use of the context regarding translation in the English language. From this analysis, we conclude that a literal translation of texts and songs generally does not make sense if it is not related to the context. Keywords: Translation, cultural context, music.

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    1. INTRODUÇÃO

    As traduções de músicas do Inglês para o português são requisitadas devido ao grande número de artistas estrangeiros que fazem sucesso no Brasil. O contexto globalizado motiva esse intercâmbio de culturas e mesmo quando não se entende completamente o que está sendo dito, as pessoas ouvem músicas estrangeiras pelo ritmo, ou pelo significado que é associado a essas canções, quando são temas de novelas, por exemplo. Aqui no Brasil, muitos cantores incluem em seu repertório músicas de origem estrangeira, para isso, geralmente, se faz uma versão para a língua portuguesa. A questão de optar em fazer a versão de uma determinada música, diferentemente de fazer a tradução é que a versão permite uma flexibilidade maior, isso significa fazer alterações e nem sempre se preocupar em manter o sentido original, já que estamos falando de idiomas diferentes com estruturas distintas. Esse é apenas um panorama, porque nesse trabalho o foco é a música que se preocupa em manter o sentido original, e para isso a metodologia de análise foca nos léxicos que buscam cumprir esse papel.

    Este trabalho tem o proposito de analisar a tradução em língua inglesa e comparar o texto musical da canção

    ´´My heart will go on`` interpretado pela cantora canadense Celine Dion com a versão feita em Português que se chama ´´Em cada sonho`` interpretada pela dupla brasileira Sandy e Junior.

    Considerando as particularidades da tradução, discutiremos no referencial teórico a questão do papel do tradutor; como esse profissional deve estar envolto de vários aspectos, entre eles; conhecimento do idioma na língua alvo, nesse caso o Inglês. Entendemos que para esse papel, é preciso mais que somente saber falar o idioma, é preciso estar inserido dentro do contexto cultural dessa língua, para entender os pormenores que fazem diferença quando o assunto é tradução. Na análise dos dados, apresentaremos o corpus de análise, composto de trechos da música em inglês comparando com a versão em português, posteriormente apresenta-remos os aspectos conclusivos e as referências.

    2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O papel do tradutor

    Professores e também alunos de língua inglesa já se depararam várias vezes com a dificuldade de explicar, transmitir ou até mesmo entender uma mensagem nesse idioma, porque não é

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    um processo mecânico de traduzir simplesmente. Quantas vezes já não foram dito por outras pessoas: adoro a melodia das músicas em Inglês, mas as letras não dizem nada ou não fazem sentido algum nas situações de tradução literal. Mas será que é isso mesmo? Será que essa função de traduzir é tão simples assim? Será que é suficiente somente ter conhecimento do idioma traduzido? Acreditamos que não.

    Ter um vasto conhecimento e estudo sobre o idioma é necessário e fundamental, mas, além disso, outros fatores importantes precisam ser acionados, como por exemplo, a interpretação dentro do contexto musical. Não existe somente uma única maneira de interpretar, e a mesma provém das experiências adquiridas de cada um. O conhecimento de mundo é um fator importante. Outro fator é o contexto cultural.

    Para o tradutor esses são grandes desafios, mas é preciso se inserir nesse aspecto, já que a língua e a cultura de um povo andam juntas. Por isso, essa é uma das razões pela quais muitos textos e músicas, se traduzidos literalmente, não transmitem realmente o que deveriam, pois aquele que o faz ou fez, ficou só na questão literal, ou seja, somente dizer o significado das palavras, e isso na maioria das vezes não é o bastante.

    Como citamos anteriormente, todo texto e música sempre estão ligados a um contexto cultural. Seria muito simples somente olhar em um dicionário e traduzir as palavras que ali estão, porém não faria sentido.

    Quando falamos do tradutor estamos nos referindo ao profissional da área, e não apenas aos simpatizantes que fazem traduções por hobby. É importante ainda ressaltar que o tradutor de música é um profissional que precisa conhecer sobre música, rima, entonação. Isso significa que ao fazer a tradução ou versão de uma música ele precisa escolher os léxicos que se encaixam em um determinado contexto e se encaixe de forma harmoniosa dentro de uma métrica musical.

    Nesse aspecto, o papel de um bom tradutor é buscar o conhecimento para ir além da simples tradução, ter um olhar e enxergar além das palavras e tentar expressar isso da maneira mais fiel para sua língua, se essa for a intenção. Traduzir é uma tarefa que exige amplo conhecimento da cultura estudada, pois traduzir é ir além de decifrar as palavras e sim interpretá-las e trazê-las para dentro do contexto cultural local tentando ser coerente ao que foi dito.

    Entretanto, quando se usa o termo interpretar, é preciso também levar em consideração, o contexto do

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    consumidor de determinada música. Por exemplo, não basta conhecer o contexto americano é preciso considerar o contexto do povo brasileiro que vai consumir determinada música. Como afirma Witherspoon (1980, p.2): “Se observarmos a cultura do ponto de vista linguístico, obtemos uma perspectiva unilateral da cultura; se observarmos a língua do ponto de vista cultural, conseguimos uma visão unilateral da língua1”. [Minha tradução].

    Em outras palavras, não é um processo isolado, sempre é necessário analisarmos o que nos envolve, e no caso do tradutor não é diferente, que para desempenhar esse ofício com excelência precisa estar ciente desses fatores para não se distanciar dos objetivos propostos.

    Susan Bassnett (1991, p.14) faz uma comparação ilustrativa entre o tradutor e o cirurgião. Ela afirma que do mesmo jeito que o cirurgião, operando o coração, não pode negligenciar o corpo que o envolve, o tradutor que trata seu texto em isolamento da cultura, esta com seu texto em perigo. Concordamos que isso precisa ser evitado, pois esse tipo de recorte pode invalidar um bom trabalho.

    1 If we look at culture from a linguistic point of view, we get a one sided view of culture. If we look at language from a cultural point of view,

    2.2 A importância da cultura

    Um ponto que precisa ser pensado: como buscar esse conhecimento e compreensão de um determinado contexto cultural? Como lidar com esses desafios para obter êxito? Um dos modos mais diretos e eficazes é sem dúvida a leitura, o estudo e a vivência da cultura. E o que é essa cultura que tanto falamos. Apresentaremos uma de suas definições, que entendemos ir de encontro ao objetivo desse trabalho.

    De acordo com Agra (online, p.4), “cultura é a totalidade das formas espirituais/intelectuais (ciência, arte, ética religião, educação, língua)”. Para Eco (apud Agra, online), cultura é um processo humano de interação social que acontece no campo das significações. Dessa forma, cultura é algo particular de um determinado povo, mesmo que estejamos inseridos em um contexto globalizado, podemos dizer que mesmo influenciado e sendo influenciado cada povo constrói sua cultura de um determinado ponto. É algo complexo, mas indispensável para se fazer uma boa tradução.

    we get a one sided view of language. (In: Witherspoon, 1980, p.2)

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    A questão cultural é tão importante que na escola, no ensino de língua estrangeira, a tradução, para os estudiosos atuais da área, é positiva para o processo de aprendizagem. Em tempos passados,

    (...) os grandes precursores dos métodos naturais baniam a tradução de todas as maneiras, ou seja, nas instruções, exercícios, ou testes, pois acreditavam que os professores deveriam treinar os aprendizes a dissociarem as duas línguas (materna e alvo) para que não houvesse interferência na aprendizagem da língua estrangeira. (Ferreira, 2008).

    Esse pensamento já foi superado,

    e no ensino de língua estrangeira, em especial, no ensino de língua inglesa, a música é bastante utilizada em sala de aula. É uma forma de conhecer o idioma dentro do aspecto linguístico e cultural. Vivenciar esse idioma, trazer para a sua realidade, e para que isso aconteça é preciso as vezes traduzir.

    Ao associarmos a música cantada à aprendizagem de LEM2 estamos propiciando situações enriquecedoras e organizando experiências que garantem a expressividade e aprendizagem de nossos alunos [...] Ou seja, aprender inglês através de músicas proporciona a vivência da linguagem musical como um dos meios de representação do saber construído pela interação intelectual e afetiva do educando com o contexto de cada canção ministrada”. (VICENTINI e BASSO, 2008, pp 5, 6)

    2 LEM: Língua Estrangeira Moderna

    A interação do educando com o contexto musical é importante, entendemos que é complexo a tradução no contexto musical, já que são tantas as peculiaridades que encontramos em cada língua, e em cada situação. Mas, em sala de aula é uma experiência interessante de discussão e descoberta. Encontrar as palavras mais adequadas para tentar compreender o real sentido que o compositor ou interprete quis falar enriquece e motiva tanto aluno como professor. 2.3 A questão do contexto cultural

    Por outro lado, às vezes mesmo achando a palavra adequada para a tradução, o sentido pode ser diferente devido ao contexto cultural ou cultura de um povo. Por exemplo: a palavra “loser” que facilmente se traduz para o português como “perdedor”, muitas vezes tem um peso bem maior de fracasso no idioma anglo saxônico que no nosso idioma, e como já dito anteriormente só com bastante leitura ou vivência se faz possível essa percepção. Algo que parece simples, mas não é, pois é preciso também sensibilidade para sentir esses pequenos detalhes quando se traduz uma música ou texto. E tratando de sensibilidade, não é ser sensível ou

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    não, e sim ter essa percepção de mundo, de vida de culturas mais aflorada. Algumas palavras têm força maior em um idioma do que em outro, até mesmo a questão da pontuação faz diferença dependendo de qual público se quer atingir, e tudo isso faz parte da responsabilidade e dos desafios de um bom tradutor.

    Outro exemplo para que possamos entender melhor o quão importante é saber a questão do contexto cultural, na expressão “chutar a bola.” (Derrida, 1991), haja vista o “chutar a bola” na civilização maia (honra da morte) e na dos brasileiros (honra da vitória). Em outras palavras algo totalmente distinto para as duas civilizações, já que para nós brasileiros é algo que se relaciona a vitória, torcida, e para os maias é o oposto, algo direcionado a morrer em nome de seus deuses. Estar inserido e saber fazer uso desse contexto cultural é algo delicado e requer atenção e percepção. É assim que se dão as músicas e textos em outras línguas. Muitos possuem a impressão equivocada de que para cada palavra em Inglês existe exatamente uma correspondente em Português, e mesmo que exista, isso muda completamente quando essas palavras estão inseridas em outro contexto.

    Vamos aqui analisar algumas palavras isoladamente como a palavra “man” que se traduzirmos para nosso idioma significa homem. Ou a palavra “boy” que quer dizer garoto, menino, são palavras que logo se aprende quando se inicia o contato com a língua inglesa. Porém, em uma canção da dupla Roxette chamada “Better off on her own” a seguinte frase é dita: “Boy, she´s gone, adrift”. Se não encaixarmos essa frase em um contexto adequado, não teremos uma tradução correta, pois a simples palavra boy que ao traduzirmos significa garoto ou menino aqui não é bem isso, no contexto da canção “boy” funciona como uma interjeição que expressa surpresa, alegria, tristeza, indignação etc.

    Para Wittgenstein, a linguagem está submersa em uma “forma de vida”, e, como tal, sujeita às singularidades e particularidades das atividades humanas, ou melhor, a linguagem não diria respeito à realidade que nos cerca, mas à sua maior ou menor utilidade em seu poder explanatório. Fora do uso de linguagem, não haveria linguagem, e, portanto, a noção de contexto não caberia em um contexto total. (Austin, 1962).

    A citação de Austin se encaixa

    perfeitamente no que estamos discutindo. Na frase acima, referindo-se a canção, caberia bem mais um poxa, caramba, nossa, que a tradução literal que é simplesmente garoto. O mesmo se dá com o vocábulo “man”. Em filmes é

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    bem comum vermos um homem falando para outro ou outros a seguinte frase “this is my man” que se esquecermos do contexto teremos uma ideia errônea do que se quis transmitir em alguns casos, pois man nesse caso deixa de ser homem, masculino da palavra mulher, para ser “o cara.” E na frase citada significa, este é o cara! Esses são somente alguns dos exemplos que nos mostram claramente a importância da questão do contexto. É bastante comum encontrarmos casos como esses em canções e filmes, é preciso estar bem atento para esses pequenos detalhes que podem parecer insignificantes, mas na verdade não são.

    Quando se trata de traduzir uma canção para outro idioma se faz de total importância que se saiba trabalhar todos os fatores existentes para que se tenha um bom resultado de tradução, com total semelhança ou o mais próximo possível do texto original. Muitas vezes isso não acontece, é o caso das versões, que são nada mais que músicas que se mantem apenas com o mesmo ritmo das originais, porém com letras totalmente diferentes e textos adaptados pra uma cultura específica, nesses casos não há preocupação alguma com a questão do contexto, já que o maior propósito não é fazer com que se tenha na versão uma letra que transmita a mesma mensagem do texto original e sim uma música que

    traga o mesmo ritmo de outra música (a original) para que se aproveite a mesma melodia, porém com uma letra totalmente diferente voltada para aquela cultura e momento de um povo.

    No entanto também temos versões que chegam bem perto do texto original, não é uma tradução literal, mas as mesmas mantem o sentido geral dentro do contexto do texto da canção. 3. METODOLOGIA

    Esta pesquisa qualitativa caracteriza-se por ter um caráter exploratório-descritivo. Salienta-se que as pesquisas exploratórias são aquelas que têm por objetivo explicitar e proporcionar maior entendimento de um determinado problema. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador procura um maior conhecimento sobre o tema em estudo (Gil, 2008). Destaca-se que a pesquisa descritiva, quanto aos fins, expõe características de determinada população ou determinado fenômeno. Depois de lidos e analisados textos que falassem sobre tradução, o desenvolvimento deste trabalho baseia-se em uma canção da cantora Celine Dion que se chama ‘my heart will go on’ na qual a dupla Sandy e Junior interpretou uma versão em Português chamada ‘em cada sonho’. A escolha da

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    música não foi aleatória, foi escolhida porque a versão em língua portuguesa mantém a essência da música em língua inglesa.

    O que se procurou fazer aqui foi comparar a versão original em Inglês com a versão feita em Português. Além disso, o trabalho se propõe em identificar as semelhanças entre as versões nas duas línguas aqui citadas, as semelhanças entre as duas versões. A categoria de análise é o léxico3, ou seja, as palavras usadas em português para que permanecesse na versão em português o sentido mais próximo da versão original. No quadro adiante teremos na 1ª coluna a música em inglês, letra retirada da internet, na 2ª coluna a versão gravada por Sandy e Júnior também retirados da internet e a 3ª coluna a tradução literal feita por nós.

    Para melhor compreensão, faremos pequenos recortes dos trechos da música para fazer uma análise mais detalhada.

    3 O léxico é entendido como o conjunto das palavras de uma língua, também chamadas de lexias. As lexias são unidades de características complexas cuja organização enunciativa é interdependente, ou seja, a sua textualização no tempo e no espaço obedece a certas combinações. Embora possa parecer um conjunto finito, o léxico de cada uma das línguas é tão rico e dinâmico que mesmo o melhor dos

    4. ANÁLISE DA MÚSICA

    O título da música é “my heart will go on”. Canção composta por James Horner e Will Jennings, e interpretada por Celine Dion, lançada no álbum “Let´s talk about Love” de 1997 e que entrou para trilha sonora do filme hollywoodiano Titanic. O filme retrata a história real do naufrágio do grande navio Titanic4, que aconteceu em abril de 1912, e da história fictícia de amor impossível vivida pelos personagens principais Jack e Rose. Esse filme foi um grande sucesso de bilheteria em todo o mundo e recebeu 11 estatuetas, inclusive de melhor música original com “My heart will go on”.

    No Brasil não foi diferente a repercussão desse filme. A versão leva o nome “Em cada sonho”, interpretada por Sandy e Junior e composta por Sérgio Carrer (Feio). Lançada no álbum “Era uma vez” (ao vivo) de 1998. A princípio não existe nenhuma semelhança lexical entre os nomes das músicas, porém existe semelhança semântica.

    linguistas não seria capaz de enumerá-lo. Disponível em: http://www.filologia.org.br/xv_cnlf/tomo_2/105.pdf Acesso em 21/06/2015 4Para saber mais sobre o naufrágio acesse: http://veja.abril.com.br/historia/titanic/engenharia-projeto-construcao-compartimentos-seguranca.shtml Acesso em 21/06/2015.

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    Analisando todo o texto da canção encontramos vários trechos que são bem parecidos e que nos fazem perceber que houve um cuidado para que a versão mantivesse a essência da letra original, já que na maioria das vezes isso não se faz presente nas canções que são versões de músicas em inglês, mas o

    conhecimento compartilhado do filme é muito presente na música, por isso a versão precisa fazer menção a história de amor do filme. Vale ressaltar que de forma geral, a versão se preocupa em se apropriar do ritmo e criar uma nova letra. O que não é o caso aqui.

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    My Heart Will Go On Céline Dion Every night in my dreams I see you, I feel you That is how I know you go on Far across the distance And spaces between us You have come to show you, go on Near, far, wherever you are I believe that the heart does go on Once more, you open the door And you're here in my heart And my heart will go on and on Love can touch us one time and last for a lifetime And never let go till we're gone Love was when I loved you, one true time I hold to In my life we'll always go on Near, far, wherever you are I believe that the heart does go on Once more, you open the door And you're here in my heart And my heart will go on and on You're here, there's nothing I fear And I know that my heart will go on We'll stay forever this way You are safe in my heart And my heart will go on and on Fonte: http://www.vagalume.com.br/sandy-junior/em-cada-sonho.html

    Em Cada Sonho (O Amor Feito Flecha) Sandy e Junior Cada vez que eu penso Te sinto, te vejo Em cada sonho que eu sonhar A distância existe Persiste o desejo De trazer de volta do mar Por mais que eu tente aceitar Não consigo, a saudade é demais Quem vai não volta jamais Então finjo esquecer mas O meu coração...não! O amor é feito flecha Que acerta uma vez só E ninguém mais pode arrancar De repente atinge Em cheio no peito E pra sempre ali vai morar Por mais que eu tente aceitar Não consigo, a saudade é demais Quem vai não volta jamais Então finjo esquecer mas O meu coração ... não! You're here, there's nothing I fear And I know that my heart will go on We'll stay forever this way You are safe in my heart And my heart will go on and on Fonte: http://www.vagalume.com.br/sandy-junior/em-cada-sonho.html

    Meu Coração Seguirá Em Frente (Tradução Literal) Todas as noites nos meus sonhos eu vejo você, eu sinto você É assim que eu sei que você segue em frente Longe, atravessando a distância E espaços entre nós Você veio me mostrar que continuará Perto, longe, onde quer que você esteja Creio que o coração segue em frente Uma vez mais, você abre a porta E você está aqui, no meu coração E o meu coração continuará e continuará O amor pode nos tocar uma vez e durar uma vida E nunca nos abandonar até termos partido Amor foi quando eu amei você, um momento verdadeiro ao qual me seguro Em minha vida nós sempre seguiremos em frente Perto, longe, onde quer que você esteja Creio que o coração segue em frente Uma vez mais, você abre a porta E você está aqui, no meu coração E o meu coração continuará e continuará Você está aqui, não há nada que eu temo. E eu sei que meu coração seguirá em frente Ficaremos para sempre dessa forma Você está seguro em meu coração E meu coração continuará e continuará. (tradução nossa)

    Excerto 1:

    Cada vez que eu penso, te sinto, te vejo. Em cada sonho que eu sonhar.

    Nota-se que mesmo não sendo a

    tradução literal da música, muitas palavras utilizadas na versão trazem a mesma ideia da canção original.

    Every night in my dreams I see you, I feel you. That is how I know you go on.

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    Revista Perspectiva em Letras 2015.1

    Vejamos: para os verbos: To see e to feel, temos os mesmos verbos correspondente na língua portuguesa que são, ver e sentir, fazendo assim com que o sentido da versão original seja preservado. Excerto 2: Every night in my dreams.

    Cada vez que eu penso.

    Mesmo tendo palavras que são

    diferentes se traduzirmos, ainda assim temos a aproximação do sentido que a versão original quer passar quando Celine Dion usa o substantivo “dream” que na versão portuguesa se faz uso de um verbo, que é o verbo pensar, que aqui traz esse sentido de sonhar, de ter esperança. Excerto 3:

    Far across the distance and spaces between us, you have come to show you go on.

    A distância existe, persiste o desejo de trazer de volta do mar.

    Notamos que somente o léxico

    distância aparece trazendo a similaridade entre ambas as canções. Porém, mesmo assim, ainda temos aqui em ambas as versões a sensação de que devido ao sentimento do qual se refere a música, a esperança segue em frente, de que o impossível pode de alguma forma ser

    possível, ou seja, o casal unido. E além disso a palavra mar aparece na versão fazendo referencia ao filme e ao que aconteceu na história do filme, reforçando ainda mais a ideia de que no fim o amor prevalecerá. Excerto 4:

    Por mais que eu tente aceitar, não consigo a saudade é demais, quem vai não volta jamais. Então finjo esquecer, mas o meu coração não.

    O léxico desse excerto é coração.

    Aqui o sentido é construído em torno do conhecimento simbólico-social, que em ambas sociedades, brasileira e americana, se têm sobre coração que simboliza o amor. Notem que aqui entra de forma clara o contexto cultural, pois a palavra saudade, que é utilizada na versão em português, não existe em inglês. Nesse trecho o sentido é resgatado mesmo sem a correlação lexical mais ampla. Mesmo com palavras diferentes temos ainda a ideia de que não importa o quão longe se esteja, o quão difícil seja, ou até mesmo improvável e impossível que isso aconteça, o amor. Excerto 5:

    Near, far, wherever you are. I believe that the heart does go on. Once more you open the door and you´re here in my heart, and my heart will go on and on.

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    Love can touch us one time and last for a lifetime. And never let go till we´re gone. Love was when I loved you, one true time I hold to. In my life we´ll always go on.

    O amor é feito flecha que acerta uma vez só e pra sempre ali vai morar.

    Semelhantemente do excerto 4, a

    versão é construída sobre o léxico nuclear, aqui é o substantivo amor e o advérbio de tempo sempre. A versão é mais sucinta, o que não significa mais superficial. Para os verbos to touch e to last, e o advérbio always no contexto as palavras flecha e sempre mantêm o sentido dos mesmos, e a ideia segue sendo reforçada quando é dito que uma vez que essa flecha atinge o peito, ali para sempre fará moradia. O sentido original é resgatado quando fica entendido que o amor é eterno.

    Analisando o texto original, a versão e também com a tradução literal presente no quadro percebemos que todos expressam de forma geral a mesma ideia - que o amor prevalece, permanece no coração daqueles que acreditam e que o amor é um sentimento além da vida. A diferença entre a versão e a tradução literal são as escolhas lexicais e gramaticais.

    Na tradução literal foi utilizada a locução “sinto falta” em oposição ao substantivo “saudade”. Concordamos

    que é possível encontrar palavras que expressem um sentido parecido em outros idiomas, entretanto a força e a profundidade do significado só são possíveis se conhecermos o contexto e utilizarmos palavras específicas, como é o caso de “saudade”.

    Na versão se faz uso do contexto para enfatizar um sentimento que só tem para o uso dessa palavra que é única e que ainda reforça a ideia do amor eterno ou impossível do texto original e da tradução literal. Isso evidencia que ao se trabalhar com textos musicais, a tradução literal por si só não basta, pois como vimos na análise da canção, trabalhar o contexto é essencial.

    CONCLUSÃO

    O objetivo desse trabalho foi mostrar, por meio do léxico, em como trabalhar textos musicais fazendo uso da tradução e demonstrar por meio dessa pesquisa que o conhecimento de um tradutor tem que ir além do saber de um idioma, no caso o Inglês.

    A tradução sempre será recorrente aos que não possuem entendimento de uma língua estrangeira, e querem entender do que se trata o que está escrito em uma canção ou texto. Nesse caso, o papel do tradutor como facilitador desse entendimento é

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    importante. Entretanto, quem trabalha com tradução precisa ter consciência que ao tratar deste tema é preciso ser cauteloso e considerar os fatos que envolvem uma situação comunicativa e também no caso da música respeitar a métrica e harmonia musical. O contexto e a cultura são fatores de grande importância, pois sem eles o conhecimento de uma língua é superficial.

    A partir desse estudo fica claro que esses três fatores- conhecimento da língua alvo, contexto e cultura- estão interligados e considerá-los é se aproximar ao máximo da essência original de um texto ou canção. Geralmente quando se trata de tradução de música em língua inglesa para o português é preciso ter atenção e entender que as duas línguas, como todas as outras, funcionam de forma diferente, possuem estruturas diferenciadas e por sua vez ambas se enquadram em contextos distintos.

    Nesse trabalho a tradução literal não foi distante da versão, mas a “profundidade” de sentido de algumas palavras não é contemplada ali. Por exemplo: saudade x sentir falta; distância x espaço. Um ponto que chamou nossa atenção é que devido o conhecimento partilhado socialmente sobre o filme Titanic, em que essa música foi tema, é

    perceptível o esforço do compositor da versão em resgatar esse conhecimento. Por exemplo, no trecho: “Persiste o desejo de trazer de volta do mar”, na música cantada por Celine Dion não aparecem as palavras “desejo” e “mar”, isso mostra que o sentido intencionado é o do filme, pois o protagonista morre no mar. Um outro fator que chamou a atenção foi que no final da música em Português Sandy finaliza cantando em inglês, da mesma forma que Celine Dion finaliza a música.

    Diante de tudo que foi discutido, entendemos que, às vezes, é preciso um pouco mais do que conhecer o contexto. É preciso situar o momento histórico e social que aquele contexto está enquadrado, que nesse caso o pano de fundo foi a repercussão do filme Titanic. Reconhecemos algumas limitações desse estudo e entendemos que esse foi apenas um olhar inicial para esse campo tão rico, que é a tradução. REFERÊNCIAS AGRA, Kondy Lúcia de Oliveira. A importância do sentido culturalmente construído na tecedura do texto jornalístico. (online) Disponível em . Acesso em 19 maio.2015.

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    AUSTIN, J. How to do things with words. Cambridge: Havard university press, 1962. BASSNETT, Susan and TRIVEDI, Harisheds (1991). Translation studies. London and New York: Routledge. FERREIRA. Following the paths of translation in language teaching. In: Cadernos de tradução. Florianópolis: Ufsc. N4 p. 355-371, 1999.

    GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2008. VICENTINI, C. T.; BASSO, R. A. A. O ensino de inglês através da música. 2008. Disponível em:. Acesso em: 19/maio/2015. WITHERSPOON, Gary. (1980). ´´ Language in culture and culture in language``. In international journal of America linguistics, vol. 46 n. 1.

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    O AMBIENTE LINGUÍSTICO FAMILIAR NO PROCESSO DE ACESSO À

    COMPLEXIDADE GRAMATICAL PELA CRIANÇA Wilson Gonçalves da Cunha

    Antenor Teixeira de Almeida Junior

    RESUMO: O presente estudo visa analisar a relação do ambiente linguístico familiar e aquisição da linguagem por crianças a partir dos três anos de idade. Utilizamos como pressuposto teórico para nossa pesquisa os trabalhos de Kail (2013) e Bortoni-Ricardo (2004). Segundo Chomsky, a criança já nasce com o conhecimento inato da gramática universal (GU), e o processo da interação adulto-criança vai ser muito importante para o acesso à complexidade gramatical. Por isso consideramos importante a compreensão das interações comunicativas da criança no seu desenvolvimento e a influência da fala materna no ambiente linguístico familiar. A pesquisa foi estruturada através do método qualitativo, com o registro de entrevistas não estruturadas, realizadas com 10 mães de alunos matriculados na Escola Sebastião Bezerra dos Santos, uma escola situada na cidade de Caucaia, município do Ceará. Para a avaliação dos dados foi adotado o método de análise de conteúdo (BARDIN, 1977), categorizando as informações de acordo com os objetivos da pesquisa. Verificamos que as mães, principalmente aquelas cujos filhos não têm sucesso na escola, se acham impotentes em ajudar os filhos, colocando a responsabilidade do êxito no professor. Algumas definem o sucesso dos seus filhos a família e a escola. O resultado desse trabalho apresentou que a família, principalmente os pais, são pessoas que por conviverem diretamente com a criança podem exercer um papel decisivo no desenvolvimento gramatical. “Partindo da linguagem dirigida à criança, ela vai extrair modelos e construir sua própria língua”, esse processo de exposição segundo (AIRMAD: 1998. P. 92) chama de “banho de linguagem”. Palavras chave: linguagem, interação, família, desenvolvimento. ABSTRACT: The following study aims to analyze the relationship between linguistic family environment and language acquisition by children as young as three years old. The theoretical assumption for our research works of Kail (2013) and Bortoni-Ricardo (2004). According to Chomsky, the child is born with innate knowledge of universal grammar (UG), and the adult-child interaction process will be very important for access to grammatical complexity. Therefore we consider it important to understand the communicative interactions of the child in its development and the influence of maternal speech and familiar linguistic environment. The research was structured through qualitative methods with the registration of unstructured interviews with 10 mothers of students enrolled in the School Sebastião Bezerra dos Santos, a school in the city of Caucaia, Ceará municipality. For the evaluation of the data was adopted content analysis method (Bardin, 1977), categorizing the information according to the research objectives. We found that mothers, especially those whose children do not succeed in school, find themselves powerless to help the children, placing the responsibility of success on teacher. Some define the success of their children family and school. The result of this study showed that the family, especially parents, are persons who live together directly with the child may play a decisive role in the grammar development. "From the language directed at children, they will extract models and build your own language," this process of exposure, second (AIRMAD, 1998, p. 92) calls "language bath". Keywords: language, interaction, family, development.

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    1 INTRODUÇÃO Uma das formas de comunicação das pessoas é pelo uso organizado das palavras. O acesso ocorre a partir da influência da fala materna e do meio no processo comunicacional da criança com o ambiente linguístico. Essa interação familiar e social pode delimitar o desenvolvimento dela em relação à linguagem e o acesso à complexidade gramatical. A interação adulto-criança envolvendo aspectos biológicos junto com os processos sociais são fatores que a criança adquiri na sua primeira linguagem, por isso a relação no seu ambiente linguístico familiar pode ser fundamental no desenvolvimento de suas habilidades linguísticas. Porém, segundo os inatistas, essa participação do adulto como interlocutor poderia prejudicar o desenvolvimento gramatical da criança, pois a fala dos adultos apresentada as crianças muito cedo é mal formada, limitada e contem hesitações (KAIL, 2013). Essa crítica partiu principalmente de Chomsky (1973), segundo ele, a linguagem teria origem do mecanismo inato. Para alguns psicolinguísticos, citando a afirmação inicial de Chomsky, a forma como os pais interagem com seus filhos levam em conta fatores sociais, comunicativos e culturais. Sendo a mãe

    o elemento familiar que mais convive com o filho, poderia existir grande influência na delimitação ao acesso à gramática, e isso futuramente seria evidenciado no desenvolvimento escolar. Então se existe o argumento essencial chamado “Argumento de pobreza do estímulo”, o input fornecido a criança pelo ambiente linguístico seria muito incompleto e inconsciente para determinar o acesso à complexidade gramatical. Além de que as raras correções dos adultos aos erros da criança não permitiriam explicar o desempenho alcançado (KAIL, 2013),

    O estudo das relações entre o ambiente familiar e o desempenho escolar tornou-se um tema de discussão entre vários pesquisadores da área educacional (POLONIA e DESSEN, 2005). Esses estudos levaram a algumas polêmicas no Brasil na década de 70, entre elas a ideia de que crianças provenientes de famílias de baixo nível socioeconômico e cultural seria a principal causa do péssimo desempenho escolar, foram estudadas pela Psicologia. No entanto, a partir da década de 80 esse estereótipo tem sofrido várias críticas pelos estudiosos da antropologia, linguística e psicologia escolar, Que teve nos trabalhos de Patto (1990; 1997) uma das principais representações. Outros

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    fatores podem influenciar a aprendizagem de uma criança, dentre eles podemos destacar variáveis da escola, da própria criança, o ambiente familiar linguístico no qual a mãe interage com a criança e o ambiente social. Outros fatores podem influenciar a aprendizagem de uma criança, dentre eles podemos destacar variáveis da escola, da própria criança, o ambiente familiar linguístico no qual a mãe interage com a criança e o ambiente social. Consideras-se nesse trabalho que é fundamental a ligação entre a escola e a família para o desenvolvimento linguístico da criança. Não basta apenas passar a responsabilidade do aprendizado ao professor, a criança mesmo com a construção da própria língua, precisa da interação no seu ambiente familiar e social. As práticas familiares podem incidir num bom rendimento escolar da criança, mas é preciso que os pais e a família que passa a maior parte do tempo com a criança, demonstrem interesse pelas atividades e conteúdos escolares. É no ambiente familiar que a criança pode se sentir protegida diante dos riscos que pode afetar o seu desenvolvimento. Muitas crianças

    convivem com a fragilidade do seu vínculo social e isso pode causar prejuízo ao seu desenvolvimento linguístico e social Estudos consideram os ambientes que incluem baixos níveis interacionais entre adultos e crianças e níveis mínimos de organização familiar um risco para o desenvolvimento educacional da criança. Segundo Ré, (2006, p.25), inspirando-se em Vygotsky, “o interacionalismo social propõe, então, que a criança não seja apenas um aprendiz, passivo, mas um sujeito que constrói seu conhecimento (mundo e linguagem) pela mediação do outro.” Entende-se que, a interação pode ser de um adulto ou de uma outra criança. Naturalistas em suas várias pesquisas da fala dirigida à criança, realizadas nas décadas de 1970 e 1980 com oposição às frases agramaticais de Chomsky, apontam modificações na fala adulta. Segundo eles essa é a fala que a mãe utiliza com a criança com entonação exagerada, cheia de reduplicações de sílabas, frases curtas acaba afetando a fala dirigida a ela. Nesse caso, se existe uma dependência da criança em relação ao enunciado anterior do adulto, é preciso que aquele que ela interage faça com que ela desenvolva sua linguagem independente.

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    O processo de diálogo entre mãe e criança onde a primeira caracteriza-se como mediadora entre a criança e os objetos que a cerca no ambiente, faz com que a criança exercite esse diálogo. No entanto a eficácia da ação do interlocutor é importante para criança construir a sua própria linguagem. Elas Constroem sua linguagem através do internacionalismo. É por esse meio que ela incorpora linguagem e conhecimento do mundo, Num ambiente familiar onde a mãe tem esse papel decisivo desde os primeiros anos de vida, a incorporação da linguagem da criança a fala da mãe poderá ajudar na independência e construção da sua própria linguagem. Assim considera-se que o desenvolvimento da linguagem depende não somente das condições biológica inata de cada indivíduo, como a influência sofrida através de fatores ambientais que estão presentes no meio em que as crianças estão inseridas, e esses ambientes são a escola e a família. Crianças que convivem com os pais num ambiente de interação usufruem de melhor qualidade de estimulação. Sendo a família independente de sua formação o elemento essencial para o desenvolvimento da criança, aonde o

    indivíduo tem seu primeiro contato com o mundo com a linguagem, para que a criança tenha sucesso no meio escolar, é fundamental esse convívio familiar. Diante da importância do ambiente familiar na construção da linguagem pela criança, o presente estudo teve como objetivo analisar como a criança constrói as relações da forma e funções da sua língua e o desempenho cognitivo da criança, verificando até que ponto o ambiente familiar pode intervir no seu desenvolvimento gramatical. Com base nesse estudo, iremos agora seguir com a fundamentação teórica e análise. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Família e a aquisição da complexidade gramatical Segundo Polonia e Dessen (2005, p.9), pesquisas mostram que sem a participação da família, não é possível uma educação adequada e completa. A relação adulto-criança tem sido estudada não só pela longa história da psicologia, bem como pelos estudiosos e pesquisadores da linguística. Segundo Gervilla (2001), no seu livro sobre Educação e Família, “a família é o pilar fundamental para o crescimento da criança”.

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    Assim, a família exerce seu papel educador proporcionando uma ação valiosa que pode proporcionar resultados significativos, tais como: continuo progresso na aprendizagen e desenvolvimento mental. E decorrente desses estudos tem surgido vários elementos que permitem avaliar o contexto familiar no desenvolvimento cognitivo da criança. Um desses fatores, a diferença de classes sociais, citado por Valmaseda (1995) afirma que as crianças provenientes de ambientes familiares que proporcionam significativas oportunidades para aprendizagem da linguagem, estão mais caopacitadas para a aprendizagem propriamente dita, não acontecendo o mesmo com crianças que trazem de sua infância experiência mais ou menos deficientes, com maior propensão de fracasso escolar. Logicamente, segundo o pesquisador, haveria exceções, mas um meio mais motivador permite resultados bem melhores. Ainda conforme Maturano (1998)

    A influencia do ambiente familiar no aprendizado escolar é amplamente reconhecida”. Porém, não se deve atribuir a ela toda a carga de responsabilidade pelo desempenho escolar do aluno, características da criança e o ambiente escolar também influenciam nesse aprendizado. Nesse sentido, uma criança que sai do seu ambiente familiar e é

    inserida no ambiente escolar pode sofrer esse impacto da mudança.

    O autor observou que o progresso no aprendizado escolar está associado á supervisão e à organização das rotinas no lar, às oportunidades de interação com os pais e a oferta de recursos no ambiente físico. Evidentemente um ambiente mais estruturado com condições de desenvolvimento cultural seria de grande ajuda a criança, entende-se que quanto mais condições oferecidas à criança, maior seria a possibilidade de desenvolvimento. Mas segundo pesquisas, somente isso não é o suficiente para garantir o desempenho escolar satisfatório, pois a criança precisa de estímulo para interagir.

    De acordo com Mussen (1970), os valores associados às classes e grupos étnicos refletem-se nas motivações, nas características das personalidades e nas atitudes das crianças. O autor relata a diferença das classes sociais na realização dos seus filhos. Pais de classe média em geral valorizam seus filhos na sua capacidade os recompensando de alguma forma, enquanto pais de classes inferiores, não o fazem, Assim existe um maior interesse das crianças de classe média estudar pelo estímulo e motivação. Patto (1997. P.285) postula

    que a psicologia afirma através da teoria da carência cultural que “[...]” o ambiente familiar na pobreza é

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    deficiente de estímulos sensoriais, de interações verbais, de contatos afetivos entre pais e filhos, de interesse dos adultos pelo destino das crianças, num visível desconhecimento da complexidade e das nuances da vida que se desenrola nas casas dos bairros mais pobres”. Uma visão totalmente preconceituosa, uma vez que a falta de atenção e interação pode acontecer em qualquer ambiente familiar independente de classe social, famílias com boa estrutura financeira em função do seu trabalho podem dispor de pouco tempo para e educar e acompanhar essa educação. Segundo Maturano (1998, p.73), “É preciso cautela para não adotar posições extremas, seja isentando a família de qualquer influência, seja atribuindo a ela toda responsabilidade pelo desempenho escolar do aluno” Faz-se agora uma relação direta entre as posições elencadas acimas e o acesso à complexidade gramatical. 2.2 A influência dos pais no acesso à complexidade gramatical

    Em seu trabalho de aquisição da complexidade gramatical, a criança precisa dar conta de duas tarefas

    essenciais, segundo Kail (2013, p. 49): segmentar os elementos gramaticais da língua e as regras que presidem sua ordem e determinar o sentido das diferentes estruturas sintáticas. Enquanto o conhecimento referente à aquisição da sequência das palavras está bem sistematizado, o conhecimento relativo aos morfemas está ainda pouco documentado. Esse aspecto de sistematização denomina-se de complexidade gramatical em que entram em ação dois movimentos já citados anteriormente: o inatismo moduralista de Chomsky e as teorias que concebem a importância do papel do ambiente no progressivo domínio da língua.

    Em nosso trabalho, dar-se ênfase ao papel do ambiente familiar para o acesso à complexidade gramatical. O próprio Chomsky afirma que “o principal argumento para mostrar que a criança aprende devido a existência de um módulo cognitivo especiualizado independente dos outros sistemas” é a “pobreza de estímulos” vinda do ambiente lingüístico, isso mostra que a participação da família neste aprendizado daria conta de estímulos muito mais significativos para a sistematização das estruturas gramaticais complexas como a sintaxe.

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    Ratner (1988) num estudo sobre a influência dos pais e das mães sobre um grupo de crianças teve a comprovação de que “os pais utilizavam um vocabulário comum as suas necessidades sociais, enquanto as mães adaptavam sua fala as produções infantis”. Assim, segundo o autor, a mãe participa mais efetivamente do desenvolvimento inicial da fala infantil. As mães ao interagirem com as crianças normalmente usam aspectos morfológicos e sintáticos que contribuem para a sistematização da gramática pelas crianças. Bortoni-Ricardo (2004), nos lembra de que, no segundo momento após a fase familiar do aprendizado, cabe à escola permitir aos a sistematização das regras linguísticas da gramática prestigiada socialmente e a enriquecer o seu repertório linguístico, de modo a permitir a eles o acesso pleno à maior gama de recurso para que possam adquirir uma competência comunicativa cada vez mais ampla e diversificada. Partindo do pensamento da autora podemos verificar que a criança ingressa na escola com a linguagem adquirida, o professor começa a trabalhar outras variações, no entanto alguns insistem em considerar a primeira linguagem da criança gramaticalmente errada, e colocam a culpa no ambiente familiar.

    Quando na verdade, as pesquisas mostram que esse estímulo inicial facilita o acesso ao complexo mundo da organização da língua. Segundo Aimaird (1998, p. 92) “A criança não inventa a linguagem”. Mesmo reconhecendo que a criança já possui aptidões inatas para o desenvolvimento da linguagem, a criança não irá se desenvolver bem linguisticamente se ela não for exposta a situações com as quais ela interaja. Negrine (1994. p, 20), em seus estudos sobre aprendizagem e desenvolvimento infantil, afirma que “quando a criança chega à escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências, grande parte delas através da atividade lúdica”. Segundo esse autor, é fundamental que os professores tenham conhecimento do saber, pois esse conhecimento a criança construiu na interação com o ambiente familiar e sociocultural para formular sua prática pedagógica, é partindo dessa interação que a criança constrói sua própria linguagem.

    Quando uma criança se identifica com seus pais, primeiros seres significantes para ela adquire muitas das características, pensamentos e sentimentos deles”. Assim podemos dizer a maneira como os pais interagem com a criança no seu ambiente familiar, poderia

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    determinar o acesso a complexidade gramatical, ou ao tipo de linguagem dessa criança. (BERGGER E LUCKMANN, 1996)

    Sabe-se, no entanto, que muitas vezes nem sempre a criança chega à escola oriunda de um ambiente onde estes estímulos sejam os mais “ricos possíveis”. Segundo Bortoni-Ricardo (2004). As crianças quando chegam à escola já sabem falar bem a sua língua materna, isto é, sabem compor sentenças bem formadas e comunicar-se nas diversas situações. Mas não tem uma gama muito ampla de recursos comunicativos. Assim podemos dizer que a criança já chega à escola com conhecimentos linguísticos que adquiriu no seu convívio familiar, no entanto esses conhecimentos podem não serem suficientes para que ela possa ter a competência comunicativa. Segundo Marturano (1998), “a participação da criança rotineiras no lar e a formação de hábitos também são importantes na aquisição dos requisitos para a aprendizagem, pois estimulam a organização interna e a habilidade para o “fazer”, de maneira geral.” São as experiências familiares que proporcionam a formação inicial de repertórios comportamentais, de ações e resoluções de problemas (Dessen e

    Polônia, 2007). Essas experiências podem determinar a maneira como a criança vai se comportar diante de outros meios, principalmente no ambiente escolar. Lahire (apud, ZAGO, 2000, p.21) afirma que:

    (...) a criança constitui seus esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação através de forma que assumem as relações de interdependência com as pessoas que a cercam com mais frequência e com mais tempo, ou seja, os membros da família. (...) Suas ações são reações que ‘se apóiam’ relacionalmente nas ações dos adultos que, sem sabê-lo, desenham, traçam espaços de comportamento e de representações possíveis para ela.

    A boa relação entre a criança e o ambiente escolar como num todo, substitui a convivência com uma família mal estruturada, mas essa substituição jamais vai substituir a experiência da criança de relacionamentos afetivos familiar, pois esses são essenciais para uma boa construção da identidade da criança e sua própria língua. A relação entre estímulos sociais relacionados ao ambiente familiar e sistematização da complexidade gramatical será tratada no capítulo de análise após avaliado os questionários da mães da pesquisa.

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    3 METODOLOGIA Atualmente a escola pede a presença da família para acompanhar a criança e participar do seu desenvolvimento, mas acaba indo de encontro a resistência dos pais nessa participação. Através dessa resistência essa pesquisa foi realizada para podermos analisar se o ambiente familiar linguístico e seu meio no acesso gramatical pela criança. Buscando uma explicação para a dificuldade gramatical pela criança, selecionamos meios de investigar se o ambiente familiar seria essa causa. A presente pesquisa foi realizada em uma escola pública de educação infantil e fundamental, localizada numa cidade do interior do estado do Ceará. 3.1 Participantes Para colher dados foi utilizado o método observacional partindo da observação dos fatos a serem analisados e questionário fechado com 20 mães e duas professoras, sendo uma que ministra aulas para essas crianças, e a outra professora da língua portuguesa na própria escola no qual tem seu filho matriculado no 4º ano.

    3.2 Instrumentos

    Os instrumentos utilizados são observações, situações pedagógicas, situações projetivas, entrevistas com professores e com famílias dos alunos, através do questionário. Ao buscar os dados fornecidos pelo questionário, teve-se a preocupação de solicitar a autorização das mães para esse trabalho, e utilizou-se de leituras de diversos autores e pesquisas que abordavam o tema, principalmente autores para que nossa pesquisa fosse fundamentada. Nesse estudo, a escolha do questionário foi uma importante fonte, aplicou-se o questionário para as mães, e entrevistou-se os professores, com o cuidado de preservar os alunos nessa pesquisa. As questões contidas no questionário foram a respeito da constituição familiar, condições socioeconômicas, educacionais da família e relação família escola. Usando a entrevista por ser a estratégia mais usada no processo de trabalho de campo, tendo como objetivo construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, foi usada a técnica de entrevista fechada, mesmo algumas

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    mães se sentindo a vontade para se manifestar abertamente. Para chegar a uma analise, considera-se sucesso escolar e insucesso, diferenciando junto com a professora, aqueles alunos com bom aproveitamento e os com mal aproveitamento, sem participar as mães com a preocupação de não constringir os pais e muito menos as crianças começa-se o trabalho com o objetivo de analisar se o mal aproveitamento seria em função do ambiente linguístico. Esse foi o principal motivo da pesquisa, embora segundo a professora, pela sua experiência em sala de aula e contatos com as mães, os alunos que tinham melhor aproveitamento eram aqueles que as mães acompanhavam. 4 ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS DADOS Após a análise das respostas da mães e professoras, passa-se a exposição a seguir de acordo com a nossa pesquisa. 4.1 A relação família-escola

    O insucesso gramatical fica claro nas respostas de algumas mães que a responsabilidade das orientações adequadas é do professor. Dessa forma

    os filhos podem vencer a complexidade lexical e sintática. Conforme os relatos as mães desses alunos não estão alheios aos problemas dos filhos, apenas não sabem de que forma de ajudá-los. A maioria acredita que só uma orientação adequada por parte da escola e dos professores, poderia auxiliá-los na tarefa de orientar os filhos. Algumas se sentem excluídas dessa parceria tão teórica onde família precisa caminhar junto com a escola. Mas que para isso aconteça à mudança de mentalidade precisa partir de dentro da escola e dos próprios professores. Segundo o relato dessa mãe: “Sei que ele não gosta de estudar, só estuda se eu pegar no pé dele, não quer fazer as tarefas e a professora acha que a culpa é minha. Mas eu acho que a professora devia exigir mais dele, como eu posso ajudar se ela não me diz direitinho o que eu tenho que fazer, ele até agora não sabe ler e passa de ano assim mesmo, sempre foi assim, fala errado, não escreve direito, mas eu também não estudei e o pouco que ele sabe aprendeu comigo. Para que serve a escola? Observamos que as mães tentam de alguma forma ajudar, mas não conseguem atingir seus objetivos, e são vários os motivos, falta de orientações como disse a mãe, não está preparadas

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    pedagogicamente, nível escolar baixo, insegurança e receio de sofrer discriminação ou preconceito ao ensinar a tarefa errada ao filho. E assim o auxilio torna-se bem difícil. Os pais auxiliam seus filhos de acordo com as experiências da própria vida que trazem na memória de muitos anos, e muitas vezes um conhecimento que deixa muito a desejar para os dias atuais, pois sabemos que a língua está sempre em evolução e evidentemente tem grandes dificuldades quando a família tem um nível escolar baixo ou até mesmo ausente. De acordo com essa análise, muitas mães se sentem impotentes em ajudá-los, outras tentam de várias formas conduzi-los na tarefa de Língua Portuguesa e se sentem orgulhosas quando conseguem, mesmo confessando não ser muito fácil. Segundo Kail (2013, p. 3) ao falar do efeito do vocabulário sobre o processo cognitivo da categorização, afirma que “a criança pode ser encorajada, por meio da intervenção da linguagem, a constituir novas categorias conceituais.” Mães que se consideram com pouco conhecimento da língua não se sentem seguras diante da complexidade gramatical, e muitas vezes isso faz com que elas entreguem essa responsabilidade para a escola.

    Kail (2013, p. 53) postula que “as informações fonológicas, prosódicas, sintáticas e semânticas aprendidas antes da entrada da criança na escola, pode fornecer uma ponte de acesso a outros níveis da organização linguística”, logo todo contato da mãe com a criança se revela útil para o acesso dela a níveis gramaticais mais complexos, principalmente os sintáticos.

    Ainda segundo Kail, a sensibilidade às regularidades estatísticas da língua e entendimento precoce, seria o primeiro marco da aquisição sintática e a relação famíliar nesse formação é relevante, porque permite a criança perceber elementos de ligação entre as primeiras palavras que se iniciariam no nível mais silábico e passaria a um nível mais verbal.

    4.2 A importância dos pais no auxilio as tarefas escolares de Língua portuguesa

    Para algumas mães, os filhos que apresentam dificuldades escolares não têm cuidado com seu material escolar e não tem gosto pelo estudo. No entanto justificam da seguinte forma: “As tarefas eu não faço porque ele que tem que fazer. Mas olho a bolsa dele e fico triste em ver que aquilo não é bolsa de gente.

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    Eu não sei por que esse tipo de pobrema. Fico em cima dele pra vê se toma gosto, mas não consigo, queria muito que ele fosse mais interessado, cuidasse do seu material e pelo menos aprendesse a falar direito como alguns colegas falam.” Considera-se que o auxilio nas tarefas da criança é uma forma de participação dos pais na construção das “pontes” citadas por Kail (2013, p.64) que levariam à criança a uma progressão no diversos níveis gramaticais, mesmo diante de relatos em que revelam que a mãe que não sabe ler nem escrever recorre a ajuda de irmãos, parentes, e outras pessoas do convívio familiar para contribuir, mostrando interesse. A maioria das mães entrevistadas considerou o trabalho da escola insatisfatório. Muitas falaram da precariedade de determinadas escolas públicas que tinham péssimas condições, citando professores despreparados, e afirmando que os professores colocavam a culpa do desempenho dos seus filhos em famílias mal estruturadas, pais analfabetos e problemas sociais, como o relato a seguir: “Ah! Sou mãe solteira, sei que um pai é importante, isso prejudica ele tanto na escola como na rua. Mas vejo tantos filhos sem pai e mesmo assim não são burros e nem bandidos. Pra mim ele não aprende por causa dos

    professores, nessa escola do governo ele vai ficar uma criança burra. Se eu tivesse dinheiro, pagava uma escola particular, lá tem menos alunos na classe e eles iam ensinar, ensinar é dever da escola, o menino não sabe ler nem escrever e está no 4º ano. Tudo que ele aprendeu foi ouvindo eu falar, sei que muitas coisas ele fala errado por minha culpa, pois eu não sei falar direito.”

    Diante desse relato é possível analisar que essa mãe coloca a culpa no sistema de ensino, pois mesmo vendo seu filho aprovado para a série seguinte tem a consciência de que ele não está preparado. Pergunta-se, se a mãe despreparada entende que o filho não deveria ir para uma série seguinte com deficiência está claro que ela entende a importância de um bom desenvolvimento da criança no ensino da língua.

    4. 3 Relação professor-aluno

    Para uma melhor participação da escola no acesso à complexidade gramatical, seria necessária uma melhor qualificação do professor no processo de aquisição da linguagem para o estágio I (reguralidades da língua/produção dos primeiros morfemas e estruturais sintáticas) e estágio dois das frases mais

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    complexas. Todavia a contribuição da família se reveste de uma ajuda fundamental na sistematização de cada uma dessas fases. Segundo Kail (2013, p.73), “o domínio do processamento de frases cada vez mais complexas em um tempo tão breve, demonstraria que esse continuum inicia-se na família e termina na escola”.

    4.4 A forma como a fala da mãe é dirigida a criança Percebe-se na nossa pesquisa que algumas crianças quando são inseridas no ambiente escolar, já trazem consigo uma linguagem que aprenderam com sua convivência no ambiente familiar e na minha entrevista com a professora do 1ºano sobre se ela teria como analisar as razões do porque a criança antes do conhecimento padrão da língua falava com essa linguagem não padrão, ela dessa forma me respondeu: “Geralmente todo ano eu recebo para alfabetizar crianças que chega com uma linguagem totalmente fora do padrão, ensinar a essa criança a forma padrão da língua é uma das tarefas mais complicadas. Acredito que é pelo fato delas passarem apenas algumas horas comigo e a maior parte do dia num ambiente aonde a linguagem padrão não é tão usada. Não

    estou colocando a culpa dessa dificuldade na família, mas o que você acha quando uma criança chega falando “eu fazi, Ingual, arvi, pranta, zoio.etc.” A criança quando chega à escola encontra uma comunidade que fala um dialeto diferente do que ela aprendeu com a convivência no seu ambiente familiar e dependendo da sua classe social poderá sofrer preconceitos no seu modo de falar, se comportar, se vestir. Vai acreditar que isso acontece por ser pobre, pois é assim que foi criada, tivemos a oportunidade de analisar nessa nossa pesquisa que mães se colocam nessa posição e passam isso para os filhos. 4. 5 O sucesso escolar em dois grupos de família 4.5.1 Alunos com sucesso no acesso à complexidade a) Relação família-escola Os pais se preocupam com a forma de organização dos filhos em relação às atividades e ao comportamento deles em sala de aula, se participam, fazem as atividades tirando suas dúvidas e tarefas de casa. Participam das atividades extra-sala quando são convidadas pela escola.

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    b) A importância dos pais no auxilio das tarefas escolares Verificamos que as mães por terem maior possibilidade de estarem mais tempo com os filhos são as que mais ajudam nas tarefas, orientam os filhos para que prestem atenção nas aulas e de alguma forma estão sempre estimulando. c) Rendimento escolar Rendimento escolar bom: Ao serem inserido no ambiente escolar já começam a apresentar um bom desenvolvimento. Para os pais a base familiar é sinônimo de continuidade na vida escolar com sucesso, Mas para isso a escola precisa ser a continuação do ambiente familiar e vice-versa. d) Relação professor-aluno Na visão dos pais, o professor é fundamental no processo de aprendizagem, mas não eximindo a escola dessa responsabilidade e a família. Verificamos que as mães por terem maior possibilidade de estarem mais tempo com os filhos são as que mais ajudam nas tarefas, orientam os filhos para que prestem atenção nas aulas

    e de algumas formas estão sempre estimulando. e) O forma como a fala dos pais é dirigida a criança Segundo algumas mães com melhor nível de escolaridade, corrigem os filhos quando ele fala errado, em relação a essa atitude elas responderam que faziam questão do filho falar de maneira correta, pois é assim que se aprende na escola e foi dessa forma que ela aprendeu. 4.6 O segundo grupo familiar 4.6.1 Alunos com insucesso na escola a) Relação família – escola Mesmo se preocupando com a forma de organização dos seus filhos e comportamento se sente inseguros e de certa forma constrangidos em participar das atividades dos filhos, Acredita-se por falta de interação com a escola. b) A importância dos pais no auxilio das tarefas escolares Algumas mães afirmam não terem tempo para ajudarem seus filhos em virtude de estarem muito ocupadas pelas

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    tarefas domésticas e com os outros filhos, mas não negam que orientam os filhos para que prestem atenção nas atividades em sala. c) Rendimento escolar Inserido no ambiente escolar, levam consigo toda a sua linguagem adquirida no ambiente familiar, tem dificuldade em se desenvolver no seu dialeto, mas isso não quer dizer que gramaticalmente aconteça o mesmo. d) Relação professor-aluno Que o professor é fundamental no processo de aprendizagem todos admite, mas nesse caso os pais se eximem dessa responsabilidade de ajudar o professor na tarefa. Pode ser que se não seja por não querer, mas por não se sentirem seguros. e) O forma como a fala dos pais é dirigida a criança A criança quando chega a escola leva contigo um dialeto não padrão que por muitas vezes aprendeu ouvindo dentro do seu ambiente, mesmo não sendo considerado erro, poderá prejudicar seu aprendizado pois partir

    dessa linguagem para a padrão é um processo bastante lento. CONCLUSÃO Para chegar a uma conclusão, tivemos que fazer uma revisão profunda da função social da escola, dificuldades de aprendizagem, estrutura familiar e outros fatores relatados na presente pesquisa. Partindo do ponto de que a fala da mãe poderia ou não delimitar o acesso a complexidade gramatical foi preciso analisar outros aspectos que estava totalmente ligado a esse tema. Não poderia separar dessa pesquisa a questão social, cultural, e o próprio ambiente familiar e sua estrutura. Os resultados obtidos são evidentes em relação à questão positiva e negativa da escola. Questões que podem determinar que tipo de relações a família e aluno podem ter com a escola e vice versa. O envolvimento dos pais nesse processo educacional se torna fundamental quando existe uma interação família escola. Muitas famílias tem uma visão da escola tradicional, aquela que tem a obrigação de educar seus filhos, mas por outro lado à visão inovadora a cerca da escola e essas mudanças que tanto são importantes para seus filhos ainda não foi conscientizada

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    nos pais. Poderíamos suspeitar que a forma como as crianças chegam a escola auxiliadas por pais que foram educados com dificuldades recorrente da escolaridade baixa, repassam para seus filhos essas mesmas dificuldade, mesmo tentando ajudar não conseguem por sentirem que são incapazes e sem orientação. No entanto, essa diferença de nível de escolaridade entre pais de alunos não delimitar o grau de sucesso ou insucesso. Poderíamos pensar que ajudar o aluno seria com boa interação, estímulo, e uma boa estrutura familiar. No entanto teríamos muitos outros motivos para pensar que existe outros fatores que pode ocorrer tanto numa família de baixa escolaridade quanto na de nível de escolaridade elevado. Analisamos que uma criança que constrói sua linguagem num ambiente e chega a escola com a fala não padrão, pode demorar a entender a forma padrão, mas isso não quer dizer que enquanto o seu dialeto precisa ser colocado na forma padrão, ela não poderá se desenvolver satisfatoriamente no sistema da escrita, ao começar a entender que existe outras formas de comunicação padrão da sua língua tanto quanto uma criança que é inserida na escola , conhecendo a norma padrão pelo seu convívio familiar e não

    entanto com dificuldades em estruturas gramaticais. Muitas crianças não tem oportunidade de frequentarem uma escola ou nela permanecerem por causa do preconceito social por serem pobres ou analfabetos. Ao fazermos uma análise real sobre esse assunto concluímos que a sociedade condena uma pessoa pelo uso da sua própria língua. Uma pessoa que vive numa região rural é condenada por sua fala, quando na verdade está usando o falar da sua origem. Como separar origem da língua? O que é falar correto? A sociedade cobra esse falar correto, pois ele lhe dá prestígio. Toda criança adquire sua forma de falar no seu ambiente familiar e esse que vai determinar a linguagem que ela vai chegar à escola. A criança chega a escola com a ilusão de que vai aprender coisas novas, pois lhe foi dito isso, no entanto, ao chegar no ambiente escolar ela descobre que tudo que aprendeu foi errado, ela fala errado, se veste errado, se comporta errado, e isso faz com que ela pense que vai ter que esquecer tudo que aprendeu na sua vida e aprender novamente de maneira “adequada”, nesse momento ela se desespera e começa a detestar a gramática. Por isso cabe a nós futuros professores, termos

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    muito cuidado com essa linguagem adquirida no ambiente familiar. REFERÊNCIAS AIMARD, Paule. O Surgimento da Linguagem na Criança. Tradução de Claúdia Schilling. Porto Alegre Artemd, 1998. BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolingüística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004 (Col. Linguagem, nº. 4) p. 112 BARDIN. L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70. CHOMSKY, N. (1973). Linguagem e pensamento. Petrópoles, RJ: Vozes. BERGER, Peter L. e LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade – Tratado e Sociologia do conhecimento. 13. ed. Rio de Janeiro, Editora Petrópolis, 1996. DEL RÉ, Alessandra. Aquisição da Linguagem: uma abordagem psicolinguística. São Paulo: Contexto, 2006. DESSEN, M.A., & Polonia, A.C. (2007). A família e a escola como contextos de desenvolvimento humano. Paideia – Cadernos de Psicologia e Educação, 17, 36, 21-32. GERVILLA, A. (2001). Família y Educacion 2. Málaga: Gráficas San Pancrácio. MARTURANO, E.M. (1998). Ambiente familiar e aprendizagem escolar. In C.A.R. Funayama (Org.). Problemas de aprendizagem: enfoque multidiscipli-

    nar (pp. 73-90). Ribeirão Preto: Legis Summa. MARTURANO, E. M. Recursos no ambiente familiar e dificuldades de aprendizagem na escola. In:Psicologia: teoria e pesquisa, v. 15, n.2, p. 135-142, mai.ago./1999. MUSSEN, P.H. O desenvolvimento psicológico da criança, 5 ed. Rio de Janeiro, 1970, p. 54-131. NEGRINE, Airton. Aprendizagem e desenvolvimento infantil. Porto Alegre: Propil, 1994. PATTO, M.H.S. (1997). A família pobre e a escola pública: anota- ções sobre um desencontro. In Introdução à Psicologia Escolar (3ª ed.): (pp. 281-296). São Paulo: Casa do Psicólogo. RATNER, N. B. - Patterns of parental vocabulary selection in speech to very young children - Journal of Child Language, 15 (1988), 481-492. VALMASEDA, M. Os problemas de linguagem na escola In Desenvolvimento Psicológico e Educação, Vol. 3. Porto Alegre: Artes médicas, 1995, 83-99p KAIL, Michèle (2013). Aquisição da linguagem / Michèle kail; [tradução marcos Marcilio] - 1. Ed.- São Paulo: parábola, 2013. Il.;23cm. (Estratégia de ensino ;41) ZAGO, N. (2000). Processos de escolarização nos meios populares: as contradições da obrigatoriedade escolar. In M.A. Nogueira, & G. Romanelli (Orgs.). Família e escola: trajetórias de escolari-zação em camadas médias e populares (pp. 17-43). Petrópolis: Vozes.

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    A CARNAVALIZAÇÃO NAS OBRAS A CAGANEIRA E PARÓDIA, DE LEANDRO GOMES DE BARROS

    Raimundo Aurélio de Lima

    Carlos Jorge Dantas de Oliveira

    RESUMO: Em estreita ligação com o Carnaval proliferou ao longo da Idade Média uma infinidade de textos de cariz paródico, em latim ou vernáculo, muitos deles produzidos nos mosteiros e destinados a serem utilizados nos ritos carnavalescos. A chamada parodia sacra parodiava todos os aspectos do culto: liturgia, hinos, salmos, Evangelhos e orações, mas outros géneros eram igualmente alvo do riso paródico: decretos, epitáfios, testamentos, etc., cujo sentido residia no rebaixamento ou destronamento de tudo o que era elevado, dogmático ou sério. Este artigo tem como objetivo de mostrar as características da carnavalização dentro das obras A caganeira e Paródia do poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, focalizando o poeta como um interlocutor das manifestações da cultura popular ligada à história do riso e do Carnaval, utilizando um vocabulário típico da praça pública, do baixo corporal, (uma transformação do corpo envolvendo a estética e outros fatores que faz parte do corpo humano), do grotesco e da paródia. Para o propósito deste estudo, utilizamos a pesquisa qualitativa, em que coletamos e comparamos dadas as características da carnavalização dentro das obras “A caganeira e a Paródia do cordelista Leandro Gomes de Barros”. BATISTA. Sebastião Nunes, Antologia da Literatura de Cordel. Natal; Fundação José Augusto, 1977. Ao longo da análise, serão analisadas duas obras: A caganeira e Paródia, ambas publicadas em folhetos separados que se encontram nos arquivos da Fundação Casa de Rui Barbosa. A partir da análise das obras, percebemos o uso das características da carnavalização envolvendo também os fatores políticos e religiosos dentro das obras. Palavras-chave: Carnavalização, grotesco, paródia, baixo corporal. Abstract: Closely with Carnival proliferated throughout the Middle Ages a multitude of parodic nature of texts in Latin or vernacular, many of them produced in monasteries and for use in carnival rites. The call sacred parodies parodied all aspects of worship: liturgy, hymns, psalms, Gospel and prayers, but other genres were also target parodic laughter: decrees, epitaphs, wills, etc., whose meaning lay in the relegation or dethronement of everything it was high, dogmatic or serious. This article aims to show the carnivalization features in the works A caganeira and poet parody Paraiba Leandro Gomes de Barros, focusing on the poet as an interlocutor of the manifestations of popular culture linked to the history of laughter and Carnival, using a typical vocabulary the public square, the body down (a transformation of the body involving the aesthetic and other factors that is part of the human body), the grotesque and parody. For the purpose of this study, we used qualitative research, we collect and carnivalization characteristics compared given within the works "The caganeira and cordelista parody Leandro Gomes de Barros." BATISTA. Sebastião Nunes, Anthology of Cordel Literature. Christmas; Foundation José Augusto, 1977. Throughout the analysis, two works will be analyzed: The caganeira and parody both published in separate leaflets that are in the archives of the House of Rui Barbosa Foundation. From the analysis of the works, we realized the use of carnivalization features also involving political and religious factors in the works. Keywords: Carnivalization, grotesque, parody, body low.

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    1 INTRODUÇÃO

    A Literatura de Cordel, uma das mais genuínas manifestações da literatura popular nordestina, tem a origem em Portugal com o romanceiro ibérico. É uma espécie de poesia popular que é impressa e divulgada em folhetos ilustrados com o processo de xilogravura. A literatura de cordel chegou ao Brasil no século XVIII, por meio dos portugueses. O folheto de cordel nasceu como forma de imprimir os versos entoados pelos cantadores-poetas do povo que interpretam os desafios. O primeiro folheto de que se tem notícia apareceu em Recife, em 1865, impresso na Tipografia de F. C. Lemos e Silva, com o título imenso de Testamento que faz um macaco especificando suas gentilezas, gaiatices, sagacidade, etc. Mas foi a partir da abolição da escravidão do Brasil, em 1888, que houve o fortalecimento dessa nova forma de expressão.

    Aos poucos o cordel foi se tornando cada vez mais popular, principalmente na região Nordeste do Brasil. No nosso país o precursor do cordel foi Leandro Gomes de Barros, que viveu unicamente do produto de suas histórias, que ainda hoje são as melhores

    da literatura de cordel. Suas obras mesmo sendo consideradas populares, eram conhecidas por poetas eruditos, como Carlos Drumont de Andrade, que chegou a comentar em um artigo publicado no Jornal do Brasil, (9 de Setembro de 1976), de acordo com autor, Leandro foi “o rei da poesia do sertão e do Brasil ”; fazendo uma crítica ao título dado a Olavo Bilac, de príncipe dos poetas, divulgado pela revista FON FON. Já Ariano Suassuna, chamou-o de “príncipe dos poetas brasileiros”. Ariano Suassuna no programa de TV “Dossiê (GNT), em 14/06/2013, entrevistado por Geneton Moraes Neto”.

    Leandro Gomes de Barros deixou sua marca de cordelista para o tempo atual. De um modo geral, todos os poetas receberam, de alguma forma, influência deste. O projeto de pesquisa titulado “Folheto de Papel: memória do cordel” (Fundação Casa de Rui Barbosa), que é considerado patrono da literatura popular em verso, ele foi o primeiro a publicar, editar e vender seus poemas, acumulando múltiplas funções não apenas pelo seu pioneirismo, mas sobretudo, pela qualidade de suas obras. Segundo Ione Severo, (pag 8), em seu livro ensaios literários do popular ao Erodit, a literatura avança primeiramente de uma realidade para chegar à uma

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    ficção e enfatiza, mesmo que de modo sutil, que a função da literatura é justamente aproximar a fantasia da realidade das pessoas.

    Segundo Arievaldo Viana, um ardoroso militante da causa do cordel, em entrevista ao Diário de Pernambuco, em 30/04/2008, no caderno especial “Nobreza do Cordel”, no início do século XX, o cordel e a produção do próprio Barros eram vistos pela elite como leitura de boa qualidade. Suas obras frequentavam várias redações de jornais, cafés, hotéis, mercados e estações de trens, pois o trem era o principal meio de transporte da época. O que ocorre com grande parte dos intelectuais brasileiros é a falta de interesse por uma cultura genuinamente nossa. É por isso que surgiram escolas literárias imitando os franceses e os ingleses e devotando um verdadeiro desprezo às coisas de nosso país. Mesmo essas obras sendo vistas pela elite de boa qualidade, o preconceito contra a poesia popular existia pela sociedade brasileira. Essa informação é baseada em uma pesquisa feita pela jornalista “Lenilda Luna” do jornal Estado de Alagoas datada de 31/05/2012, atualizada em 14/08/2014, com tema “Nordeste brasileiro,” realizada pela aluna de especialização em História Social do Poder, Cinthia Roberta Santos.

    É importante lembrar que Leandro bebeu na fonte da cantoria, mas os cantadores beberam muito mais na obra de Leandro. Essa relação está ligada com as obras que o poeta deixava para os cantadores da época. Ou seja, as obras do autor eram mais úteis para os repentistas do que as dos repentistas eram para ele. Nos livros de Leonardo Mota encontramos vários poetas, declamando ou cantando