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What is the Collaboration & Assessment model, and how to use it?
Luís Valente & Maria João Gomes, Instituto de Educação, Universidade do Minho
Introdução
Estruturamos a compreensão deste cenário de aprendizagem em cinco pilares
interligados: (1) aprendizagem colaborativa; (2) comunidades de aprendizagem; (3)
aprendizagem baseada em problemas e em projetos; (4) trabalhar em grupo ou em
equipa?; (5) avaliação de aprendizagens em grupo/equipa.
A aprendizagem colaborativa
Neste documento apresentam-se os princípios gerais da aprendizagem colaborativa.
Para uma abordagem mais completa sobre aprendizagem colaborativa e cooperativa, e
sobre a organização e dinâmica de grupos, consulte-se o documento “What is the
Collaboration model, and how to use it?” da primeira fase do projeto Creative
Classrooms Lab.
Segundo Smith e MacGregor (1992), “aprendizagem colaborativa” é um termo
abrangente que se aplica a uma variedade de situações educativas, envolvendo
esforço intelectual conjunto de alunos ou de alunos e professores. Em situações de
aprendizagem colaborativa os alunos trabalham, geralmente, em pequenos grupos
para compreender fenómenos ou factos, encontrar soluções ou enunciar problemas,
compreender ou criar produtos.
Kenneth Bruffee (1973), fundamentando-se em estudos do domínio social de Émile
Durkheim conclui que a atividade colaborativa acontece de forma espontânea, mesmo
nos casos em que as rotinas da educação tradicional a ela se opõem. No entanto,
acontecerá com maior frequência e intensidade se o professor promover um contexto
e ambiente de aprendizagem mais favorável a esse processo. Para criar essas
condições o professor tem que repensar o seu papel, tornar-se num organizador das
pessoas em comunidades com uma finalidade de aprendizagem específica. Não é
apenas uma questão de decidir "quanta" liberdade ou disciplina deve ser "dada" aos
seus alunos, é necessário reafectar a liberdade e a disciplina na sala de aula,
estabelecendo uma comunidade de aprendizagem colaborativa, policêntrica, na qual o
professor passa para o perímetro da ação. É importante notar que o professor não se
limita a ter uma atitude de intervenção minimalista, nem abdica da sua
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responsabilidade de educar mas reinterpreta essas responsabilidades, compreendendo
que a sua tarefa principal é organizar a comunidade de aprendizagem.
Nos membros do grupo, a partilha de objetivos e responsabilidades desenvolve a
consciência de benefício coletivo e individual decorrente do sucesso com que se
concretizou essa partilha. Johnson e Johnson (1995) falam de criação de
“interdependência positiva” (cf. Figura 1 ), considerando que esta constitui o aspeto
central da aprendizagem colaborativa, ocorrendo através de um processo psicológico
de expansão do interesse individual em direção ao interesse comum, relacionado com
o estabelecimento de novos objetivos e de novas motivações, não apenas em
situações de cooperação mas também de competição.
Figura 1 Positive Interdependence (Source: Outcomes of cooperation, Johnson & Johnson, 1995, p. 47)
Das comunidades de prática às comunidades de aprendizagem
No início da última década do século vinte, Lave e Wenger (1991) propuseram uma
definição operativa de comunidade de prática.
A community of practice is a set of relations among persons, activity, and
world, over time and in relation with other tangential and overlapping
communities of practice. A community of practice is an intrinsic condition for
the existence of knowledge, not least because it provides the interpretive
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support necessary for making sense of its heritage. (Lave & Wenger, 1991, p.
98)
Mais recentemente, Wenger (2013) republicou “Communities of Practice: A Brief
Introduction”, considerando que as comunidades de prática são grupos de pessoas que
partilham preocupações ou interesses por algo que fazem ou que querem aprender a
fazer melhor, interagindo regularmente. No trabalho citado, Wenger considera três
características fundamentais de uma comunidade para se poder considerar como
sendo comunidade de prática, distinguindo-a do conceito social de comunidade: (1) o
domínio - uma comunidade de prática tem uma identidade definida por um domínio
comum de interesses e a adesão à comunidade implica um compromisso com o
domínio e competências partilhadas que distinguem os membros das outras pessoas;
(2) a comunidade – na prossecução dos seus interesses os membros engajam-se em
atividades e discussões conjuntas, ajudam-se mutuamente e partilham informações,
constroem relações que lhes permitem aprender uns com os outros.; (3) a prática -
uma comunidade de prática não é apenas uma comunidade que comunga de
interesses, de pessoas que partilham determinados gostos, mas de membros
praticantes, ou seja, que desenvolvem um conjunto partilhado de recursos, de
experiências, de histórias, de ferramentas, de formas de resolver problemas
recorrentes, em suma, que têm uma prática partilhada.
O desenvolvimento de comunidades de prática, na significação atribuída por Wenger
(2013), pode transpor-se para o contexto educativo numa perspetiva de criação de
comunidades de aprendizagem que podem visar diferentes objetivos e englobar
diferentes elementos, por exemplo, alunos, professores, pais e decisores políticos.
As atividades passíveis de realizar dentro de uma comunidade de aprendizagem, são
variadíssimas, mas podem sugerir-se as atividades que impliquem a resolução de
problemas, a pesquisa de informação, a realização de experiências, a reutilização de
objetos, a organização de visitas de estudo, a construção coletiva de mapas de
representação de conhecimento, o desenvolvimento de projetos de documentação,
etc., promovendo a coordenação de sinergias, a discussão argumentativa que leva ao
desenvolvimento dos projetos e à realização de aprendizagens, e a análise crítica do
trabalho em curso e já realizado.
A aprendizagem baseada em problemas e aprendizagem baseada em projetos
Desde a antiguidade que a aprendizagem acontece segundo modelos de interação
entre o aprendiz e o meio, envolvendo situações problemáticas, aprendendo através
da experiência – learning by doing – com suporte em estratégias informais de
inquirição e de desenvolvimento do pensamento crítico. Nas nossas salas de aula, a
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aprendizagem baseada em problemas ou no desenvolvimento de projetos continua a
ser uma metodologia pertinente e adequada ao desenvolvimento das competências
para a sociedade do conhecimento.
Em muitas ocasiões, os conceitos de aprendizagem baseada em problemas e de
aprendizagem baseada em projetos, surgem praticamente indiferenciáveis (Larmer,
2014) e, em boa verdade, ambas as abordagens partilham um tronco comum de raiz
construtivista. O modelo pressupõe o desenvolvimento de atividades em grupo.
Inicialmente o grupo é confrontado com um problema ou uma breve apresentação do
caso problemático, que funciona como 'gatilho' iniciador da atividade de
aprendizagem. Através do raciocínio, os alunos revisitam sistematicamente as ideias
que vão desenvolvendo sobre diversos tópicos, propõem explicações e, durante esse
processo definem o que precisam de aprender (Hendry, Frommer, & Walker, 1999).
Na aprendizagem baseada em projetos, os alunos envolvem-se em problemas
significativos, reais, que são importantes por se assemelharem aos problemas que os
cientistas, os matemáticos, os escritores e os historiadores enfrentam. Numa sala de
aula em que a aprendizagem se desenvolve através da realização de projetos, os
alunos investigam, formulam e testam hipóteses, utilizando uma metodologia quase-
científica, discutindo as suas ideias e fundamentando as suas opiniões, quer em função
do próprio questionamento ou pela exposição às questões de outros, quer pelos
desafios colocados pela experimentação de novas ideias.
A aprendizagem baseada em projetos permite que os alunos aprendam fazendo e
aplicando ideias em atividades do mundo real que se aproximam das que os adultos
realizam. Segundo Krajcik e Blumenfeld (2006, pp. 317-318), é uma forma de
aprendizagem situada, baseada nos princípios construtivistas que defendem que os
alunos aprofundam a sua compreensão do mundo quando constroem ativamente o
conhecimento, trabalhando com ideias e usando-as.
Larmer e Mergendoller (2010), consideram que um bom projeto precisa de acolher
sete diferentes características: (1) a necessidade de conhecer ou motivação; (2) uma
questão condutora; (3) a voz e a vontade dos alunos; (4) as competências do século 21;
(5) investigação e inovação; (6) feedback e revisão ou reformulação; (7) a apresentação
pública de um produto.
Aceitando este conjunto de características num projeto de aprendizagem, o professor
deve ser capaz de motivar os seus alunos, apresentando-lhes um desafio inicial
suficientemente motivador e desafiante, promotor da curiosidade. Com isso, gera-se
nos alunos um défice de conhecimento, criará também a necessidade de colocação de
marcos de percurso, fornecendo uma questão guia para orientar a aprendizagem dos
alunos, desaguando na obrigatoriedade de incluir no projeto de trabalho as opiniões e
as pretensões dos alunos. A mobilização de competências essenciais para o século XXI,
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visa não só permitir que os alunos exercitem as capacidades que lhes são mais
familiares ou prediletas, mas também a oportunidade de as melhorar e aprofundar,
desafiando-os a investigar e encontrar novas formas de aprender. A monitorização do
processo de desenvolvimento do projeto implica dar feedback e reintegrá-lo no ciclo
do projeto, reformulando possivelmente os objetivos e as estratégias para os alcançar.
Por fim, a divulgação pública dos resultados do projeto confere-lhe significado,
contribuindo potencialmente para o aumento da autoestima dos alunos e ampliando
as possibilidades de reconhecimento externo do empenho e das competências que
desenvolveram.
Trabalhar em grupo ou em equipa? Cooperar ou colaborar?
A colaboração dentro de um qualquer ecossistema é uma característica que pode
apresentar diferentes formas e desenvolver-se em diferentes direções. Dependendo
dos participantes ou intervenientes nesse ecossistema, a colaboração pode aproximar-
se mais de um modelo cooperativo ou colaborativo, adotando-se, aqui, uma
aproximação à representação proposta por Dubberly e Pangaro (Dubberly & Pangaro,
2010), como mostra a Figura 2
Cooperação
(objetivos individuais)
Colaboração
(objetivos comuns)
Figura 2 Representação da articulação entre objetivos e ações (Dubberly & Pangaro, 2010, p. 157)
No esquema da esquerda, os intervenientes A e B procuram a ajuda do outro para
realizarem as tarefas. Os objetivos de A e os objetivos de B podem ser diferentes, mas
cada um aceita contribuir para os objetivos do outro.
No esquema da direita, os intervenientes concordam em colaborar na definição de
objetivos e na escolha da metodologia para os alcançarem. Neste sentido, convergem
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para um sistema de ações e objetivos únicos que, apesar da perda de alguma
individualidade reduz os custos pessoais.
A colaboração aparece como o culminar de uma dinâmica cooperativa que se inicia
numa comunidade e que se desenvolve à medida que os seus participantes adquirem
competências diversificadas, passíveis de serem identificadas, por exemplo, através da
análise da “pirâmide da colaboração” proposta por Oscar Berg em 2012 e reformulada
mais recentemente (Berg, 2014). Esta pirâmide, de entre a miríade de modelos
representativos do processo colaborativo, tem a vantagem de ser simples e
claramente compreensível, permitindo identificar um fluxo que se orienta da base para
o vértice superior segundo três níveis ou etapas (cf. Figura 3 )
Figura 3 Pirâmide da colaboração, segundo a representação de Oscar Berg (2014)
No primeiro nível encontramos a fase de construção de uma comunidade, que pode
ser uma comunidade de interesses, uma comunidade de aprendizagem ou uma
comunidade de práticas e integrar alunos, professores e familiares, por exemplo. A
este nível corresponde a exploração da comunidade, maioritariamente através de
mecanismos de observação e indagação ocasional a que se segue a identificação de
particularidades, características e competências ou interesses dos elementos que
constituem a comunidade. Neste nível começam a identificar-se os perfis de cada
elemento, perfis que serão necessários para a organização de grupos internos da
comunidade. Os processos de cooperação, envolvem contributos e interações mais
visíveis e intensos, surgindo a necessidade da intervenção de alguns elementos em
ações de moderação e intermediação reguladora. Finalmente, correspondendo ao
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topo da pirâmide, afirmam-se lideranças e ocorre a reorganização de grupos de
trabalho, formando equipas, ocorrendo a colaboração entre os membros no sentido
de se alcançarem objetivos da comunidade e já não objetivos individuais. Os líderes
afirmam-se como definidores da comunidade, evidenciando a sua capacidade de
coordenar esforços que se dirigem aos interesses gerais comuns, tomam a iniciativa de
organizar a dinamizar as atividades. Apesar de serem em número reduzido, são, na
realidade, quem mantém a comunidade funcional.
Avaliação
Avaliar é, cada vez mais, uma dimensão do processo de ensinar e aprender, e, nesse
sentido, os conceitos associados à avaliação cruzam-se com os conceitos associados à
aprendizagem. Maryellen Weimer (2002) identifica cinco áreas de mudança urgente no
sentido de melhorar a eficiência da atividade educativa: (1) o papel do professor, que
deve focalizar-se na aprendizagem dos alunos e assumir características de facilitador;
(2) o equilíbrio de poderes, ou seja, a partilha de poder decisório entre a escola os
alunos, numa perspetiva responsável e ética, acerca da aprendizagem dos alunos,
diminuindo o controlo dos professores e aumentando o envolvimento dos alunos; (3) a
função do conteúdo, orientado para a construção de uma base de conhecimento,
promotora do desenvolvimento da autoconsciência e das competências dos alunos
para aprender, sem separar o conteúdo das estratégias de aprendizagem; (4) a
responsabilidade pela aprendizagem, exigindo que a escola crie ambientes de
aprendizagem motivadores, no sentido de desenvolver a sua responsabilidade de
aprender num clima de sala de aula construtivo; (5) os processos e propósitos da
avaliação, considerando que as atividades devem ser planeadas para promover a
aprendizagem, mas também para desenvolver as competências de autoavaliação (self-
assessment) e de avaliação pelos pares (peer assessment) ou heteroavaliação.
Sob uma perspetiva simplista, podemos aceitar que avaliar é recolher informação, mas
avaliar para apoiar a aprendizagem é algo muito mais complexo. Avaliar, defende Rita
Berry (2008), envolve interações sociais entre professores e alunos e entre os próprios
alunos, partilhando uma visão comum da aprendizagem. Avaliar, é uma “atividade
consciente e sistemática utilizada por professores e por alunos para coligir, analisar e
interpretar informação, inferindo e decidindo com base no conhecimento e adotando
as ações necessárias e apropriadas para melhorar o ensino e a aprendizagem” (Berry,
2008).
Alguns autores consideram três abordagens da avaliação: (1) a avaliação da
aprendizagem (Assessment of Learning - AoL), principalmente associada aos testes e
aos exames; (2) a avaliação para aprender (Assessment for Learning - AfL), aquela que
fornece melhor feedback aos alunos e que lhes permite usar essa informação nas fases
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seguintes da aprendizagem, permitindo ligar a avaliação sumativa com a avaliação
formativa, e (3) a avaliação como aprendizagem (Assessment as Learning - AaL), uma
abordagem que imputa responsabilidade aos alunos ao mesmo tempo que os encoraja
na sua aprendizagem. Esta característica enfatiza a avaliação como um processo
metacognitivo, ou seja, um processo de aprender a aprender e de compreender como
se compreende. Segundo Rita Berry, quando a avaliação se assume como
aprendizagem, os alunos são os seus próprios avaliadores, monitorizam e analisam
criticamente aquilo que aprenderam, fazem os ajustamentos, as adaptações e as
modificações mais significativas sobre o seu conhecimento (Berry, 2008).
Credibilidade da avaliação: Validade e Confiabilidade
A avaliação é um processo que, para além da sua complexidade, requer o
reconhecimento da sua utilidade e autenticidade. Giselle Martin-Kniep afirma que a
avaliação é autêntica quando envolve o aluno em problemas da vida real, em tópicos
ou tarefas dirigidas aos que se interessam ou se preocupam com o que eles aprendem.
A avaliação autêntica proporciona aos alunos uma oportunidade para demonstrarem o
que aprenderam, sendo geralmente o culminar de um projeto (Martin-Kniep, 2000).
Martin-Kniep considera identifica oito atributos numa avaliação autêntica, tal como se
apresenta no Quadro 1.
Quadro 1 – Atributos da autenticidade da avaliação, de acordo com a proposta de Martin-Kniep (2000, p. 28)
Atributos de autenticidade Formas de verificação
(1) Objetivo real e público - os alunos resolvem problemas reais de uma forma que lhes permite beneficiar do seu trabalho
(2) Integração de conteúdos e competências
- os alunos constroem novo conhecimento sobre o conhecimento anterior e aplicam conhecimentos e competências a partir de áreas afins
(3) Investigação metódica e rigor académico
- os alunos procuram aprofundar a compreensão através da pesquisa e da investigação sistemática, usando fontes diversificadas
(4) Normas e critérios de avaliação explícitas
- os alunos participam na identificação de padrões de desempenho para as tarefas e na sua articulação
(5) Comunicação elaborada - os alunos evidenciam o que pensam, o que sabem e o que são capazes de realizar, utilizando diversas formas de comunicação
(6) Níveis de pensamento - os alunos empregam níveis básicos e superiores de pensamento em tarefas que requerem a combinação de competências e formas de conhecimento
(7) Reflexão, auto e heteroavaliação e feedback
- os alunos refletem sobre os processos e os produtos, através de questionários, listas de verificação ou trabalhos (rubrics). Avaliam formalmente a sua própria aprendizagem e a dos outros, através do feedback contínuo tanto do professor como dos seus pares
(8) Flexibilidade do conteúdo, estratégias, produtos e tempo
- a tarefa de avaliação permite ao aluno escolher conteúdo e estratégias adequadas em função do seu perfil de estudante.
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A análise dos atributos de autenticidade da avaliação propostos por Martin-Kniep
(2000) tornam evidente o papel do próprio aluno na avaliação das suas aprendizagens,
quer numa perspetiva de autoavaliação, quer na perspetiva da heteroavaliação com
destaque para a avaliação interpares.
Porquê avaliar?
De acordo com Falchikov (2005), é necessário avaliar, não apenas pelo fim em si
mesmo de avaliar, mas também para responder a quem precisa ou usa os resultados
da avaliação, quer seja numa perspetiva sumativa, quer formativa. A avaliação que
recai no espectro formativo é mais centrada no aluno, compreendendo finalidades de
diagnóstico, motivação, feedback e de melhoria da aprendizagem, envolvendo o
próprio aluno nesse processo. A avaliação que recai no espectro sumativo tem um
carácter certificativo e de aferição em relação a padrões ou standards.
Como avaliar a aprendizagem?
A avaliação desenvolve-se segundo diferentes tipologias: uma quantitativa, que se
preocupa com a "medição", e outra qualitativa, que tende a reconhecer melhor a
complexidade do próprio processo de aprendizagem e do processo avaliativo da
mesma. A avaliação qualitativa refere-se a critérios e procura descrever a concordância
entre os objetivos e o desempenho dos alunos.
Podemos avaliar o processo de aprendizagem por oposição aos produtos, de forma
contínua ou no final de um determinado ciclo, interna ou externamente, de forma
convergente, i.e. procurando respostas únicas – as respostas certas -, ou divergente,
aceitando múltiplas respostas – as respostas que refletem diferentes pontos de vista -,
valorizando assim a criatividade do aluno. Podemos recorrer a uma dimensão
ideográfica da avaliação, interessando-nos mais pela representação das ideias, ou
optar por uma dimensão nomotética, mais dependente da formalidade, interessando-
nos mais pelo conhecimento construído.
Para Falchikov (2005), a avaliação pode adquirir uma faceta intrusiva, quando os
alunos sabem que estão a ser avaliados, ou ser discreta, se os alunos desconhecerem
que estão a ser avaliados. No entanto, esta última forma de avaliação pode levantar
questões éticas discutíveis, apesar de poder ser útil em determinados contextos. A
autora considera também que existe uma metodologia tradicional de avaliação, aquela
que é realizada apenas pelo professor, e uma metodologia alternativa que envolve o
professor e os alunos, tal como referenciamos anteriormente.
O quadro seguinte (Quadro 2), representa uma súmula do que se pode avaliar, e a
eficácia metodológica compilada por Nancy Falchikov.
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Quadro 2 Relação entre o que se avalia, as metodologias e a sua eficácia
O que avaliar? Que metodologia usar? Qual a eficácia? Estudos de caso Tradicional (pelo professor) ou
Alternativa (os alunos podem ser envolvidos) Formativa e/ou Sumativa
Algumas evidências de integração da teoria na prática.
Formativa e/ou Sumativa A experiência pessoal garante a sua utilidade.
‘Avaliação descentralizada’
Alternativa (autoavaliação; avaliação pelos pares)
Evidências de bom acordo com o professor e/ou com os pares.
Formativa e/ou Sumativa
Exposições Alternativa (envolvimento dos alunos)
Algumas evidências benéficas (os alunos fornecem evidências que apoiam a avaliação).
Autoavaliação Pouca ou nenhuma evidência.
Formativa e/ou Sumativa
Entrevistas Alternativa? Sem evidências significativas.
Jornais Registos Diários
Alternativa (os alunos envolvem-se na seleção dos conteúdos + alguma autoavaliação) e Tradicional
Os proponentes reclamam benefícios, mas apenas se encontram algumas pequenas evidências.
Formativa e/ou Sumativa A experiência pessoal garante a sua utilidade
Contratos de aprendizagem
Alternativa (acordo entre o aluno e o professor) e Tradicional (dependendo do que for avaliado)
Encontradas pequenas evidências concretas.
Autoavaliação A experiência pessoal garante a sua utilidade.
Formativa e/ou Sumativa
Relatórios negociados
Alternativa (avaliação negociada entre o aluno e o professor ou o supervisor)
Sem evidências significativas.
Autoavaliação
Formativa e/ou Sumativa
Observações Predominantemente Tradicional
Sem evidências significativas.
Sumativa e/ou Formativa
Apresentações orais Alternativa e Tradicional Geralmente considera-se eficaz e benéfica para os alunos. Estimula a participação ativa, utiliza competências analíticas e aplica critérios, tato e diplomacia.
Auto e heteroavaliação
Sumativa e/ou Formativa
Portefólios Alternativa e Tradicional Os proponentes reclamam benefícios, mas apenas se encontram algumas pequenas evidências.
Os alunos estão envolvidos na seleção dos conteúdos
Autoavaliação
Avaliação Tradicional do produto (pelo professor)
Formativa e/ou Sumativa
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O que avaliar? Que metodologia usar? Qual a eficácia? Muitas orientações de
produção disponíveis
Registos/perfis de aprendizagem
Formativa Sem evidências significativas.
Jogos e Simulações Alternativa, Formativa? Os proponentes reclamam benefícios, mas há pequenas evidências concretas.
Aprendizagem baseada no trabalho
Alternativa e Tradicional Os proponentes reclamam benefícios, mas há pequenas evidências concretas.
Autoavaliação
Formativa e/ou Sumativa
Adaptado da proposta de Falchikov (2005, pp. 23-26)
O que avaliar na aprendizagem colaborativa?
Considerando que a aprendizagem colaborativa envolve uma multiplicidade de
competências necessárias à integração quotidiana dos alunos no seu mundo, não faz
sentido limitar a avaliação da aprendizagem aos conteúdos curriculares. Pelo
contrário, parece-nos pertinente considerar todas competências. Tomaremos aqui
como definição de competência (skill) a “capacidade de realizar tarefas e resolver
problemas”, salvaguardando que a competência não se restringe a elementos
cognitivos, mas engloba também aspetos funcionais interpessoais, como definido pelo
CEDEFOP (2008).
Em contextos de aprendizagem colaborativa, Koenig (2011) defende que a avaliação
deve considerar as competências cognitivas, as competências interpessoais e as
competências intrapessoais.
A. Competências cognitivas
As competências cognitivas fundamentais, incluem a compreensão verbal e de
raciocínio, o conhecimento e as competências matemáticas e as competências de
escrita. A par destas, consideram-se as competências de resolução de problemas,
envolvendo a capacidade de adquirir e de utilizar novos conhecimentos ou de usar
conhecimento antigo de uma forma nova, com a finalidade de resolver novos
problemas não rotineiros. A parceria P21 (Partnership for 21st Century Skills, 2009)
também reconhece que os alunos precisam de desenvolver competências essenciais
para o sucesso no mundo de hoje, como o pensamento crítico e a resolução de
problemas, acrescentando as competências de comunicação e de colaboração.
B. Competências interpessoais
As competências interpessoais, aquelas que são necessárias para os alunos se
relacionarem com outras pessoas, integram também um leque variado de
competências, tais como o conhecimento dos hábitos sociais e a capacidade de
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interagir e resolver problemas relacionados com as expectativas sociais. O
comportamento interpessoal bem-sucedido implica um conjunto de tarefas
cognitivamente complexas e envolve um ajustamento contínuo do desempenho social
com base nas reações dos outros (Koenig, 2011, p. 42). Como destacam Bedwell e
colaboradores, há historicamente duas perspetivas distintas sobre as competências
interpessoais. Uma considera as competências interpessoais como características
bastante estáveis, semelhantes às da personalidade, e outra que considera as
competências interpessoais como um modelo molecular, sujeito a influências de
fatores ambientais e situacionais.
A um nível mais geral, as competências interpessoais envolvem uma mistura complexa
de fatores psicológicos que combinam uma dimensão afetiva, comportamental e
cognitiva (Bedwell, Fiore, & Salas, 2011). Outros autores, incluem nas competências
interpessoais os “comportamentos orientados para metas, incluindo as competências
de comunicação e as competências de construção de relacionamentos [competências
de colaboração], utilizadas em episódios de interação interpessoais, caraterizadas por
processos percetivos e cognitivos complexos, dinâmicas de interação, trocas verbais e
não verbais, papéis diversos, motivações e expectativas” (Klein, DeRouin, & Salas,
2006, p. 81).
a. Competências de comunicação
Comunicar não significa utilizar apenas as competências da comunicação oral. Para
comunicar efetivamente e trocar informação com os outros, necessitamos de ser
capazes de usar combinadamente formas de comunicação assertiva, podendo ser
escrita, oral, incluindo a escuta ativa ou não-verbal (Klein et al., 2006, p. 99) .
b. Competências de colaboração
A cooperação e a coordenação, a confiança, a sensibilidade intercultural, a orientação
para a tarefa, a autoapresentação, a influência social e a capacidade de negociação na
resolução de conflitos, constituem um conjunto de capacidades que Klein e
colaboradores consideram essenciais para a competência de construção de
relacionamentos (Klein et al., 2006, p. 102).
C. Competências intrapessoais
Apelando ao conceito de inteligência intrapessoal de Gardner (2011), as competências
pessoais podem definir-se como as que permitem a um indivíduo constituir um perfil
amadurecido de si mesmo. “Na sua forma mais primitiva, a inteligência intrapessoal
equivale a pouco mais do que a capacidade de distinguir um sentimento de prazer de
um de dor e, com base em tal distinção, envolver-se mais ou retirar-se de uma
situação. No nível mais elevado, o conhecimento intrapessoal permite detetar e
simbolizar conjuntos complexos e altamente diferenciados de sentimentos” (Gardner,
13
2011, p. 253). Neste quadro concetual, as competências intrapessoais podem ter uma
perspetiva de adaptabilidade e outra de autogestão ou autodesenvolvimento, como
sugerem Klein e colaboradores. Para estes investigadores, a adaptabilidade é a
capacidade de aprender a executar novas tarefas, a usar novas tecnologias e
procedimentos e a disposição para lidar com condições variáveis, incertas, novas,
respondendo eficazmente a situações de emergência ou de crise. A capacidade de
autogestão permite trabalhar remotamente, em equipas virtuais, de forma autónoma
e ser capaz de se automotivar e de se automonitorizar (2006, p. 63). As competências
intrapessoais podem incluir o empenho para obter melhores resultados, para saber
mais, para aumentar o seu bem-estar e para melhorar a sua autoestima, Em muitos
aspetos, podem considerar-se semelhantes às competências interpessoais, mas
dirigidas a si mesmo e não aos outros (Sternberg, 2009).
Em resumo, a literatura sugere que se avalie: (1) a dimensão cognitiva, considerando a
capacidade de resolução de problemas, de tomada de decisão, a inovação, a
criatividade a organização e o planeamento; (2) a dimensão interpessoal, considerando
as competências de comunicação, a capacidade de influenciar os outros, de aprender a
partir das interações, a capacidade de liderança e de trabalho em equipa, as
competências de promoção de relacionamentos e de gestão de conflitos; e (3) a
dimensão intrapessoal, considerando a capacidade de adaptação, a determinação, a
tolerância ao stress, a motivação e a consciencialização.
Quem avalia a aprendizagem?
A. Autoavaliação e avaliação pelos pares ou heteroavaliação
A autoavaliação diz respeito à aplicação de critérios de análise ao próprio trabalho ou
desempenho numa atividade, assumindo essencialmente uma dimensão formativa.
Dependendo do nível dos alunos, os critérios podem ser definidos pelo professor,
pelos pares ou de forma independente pelos próprios. Geralmente, a autoavaliação
funciona melhor quando se fornecem questões orientadoras sendo eficaz tanto para
atividades individuais como para tarefas globais (Palloff & Pratt, 2009, p. 104). A
autoavaliação pode também consistir numa atividade reflexiva, que incentive os
alunos a refletir sobre conceitos estudados e a aplicá-los de uma forma diferente,
sintetizando pensamentos e evidências do pensamento original (Palloff & Pratt, 2009,
p. 105). Culminando uma atividade colaborativa é adequado pedir aos alunos que,
para além de uma avaliação global do trabalho do grupo, façam a avaliação dos seus
contributos e da sua participação e, usando o mesmo modelo, avaliem o contributo e a
participação dos outros membros do grupo.
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Segundo Palloff e colaboradores, a avaliação por pares tanto pode ser usada para
questionar o processo como os resultados, podendo realizar-se sob a forma de um e
email pessoal ou de um questionário e incluir a autoavaliação e heteroavaliação dos
outros membros do grupo ou equipa, expressando-se numa escala predefinida ou
assumir a forma de uma narrativa (2009, p. 116). Rita Berry sugere que, em alguns
casos, a utilização de listas de verificação ou de registos de aprendizagem (learning
logs) se adequa melhor à avaliação das estratégias de aprendizagem dos alunos e que
os exercícios bem construídos de autoavaliação e de avaliação pelos pares potenciam
experiências de aprendizagem valiosas e incentivam a aprendizagem (Berry, 2008, p.
16).
Na ótica de alguns autores, a autoavaliação pode ajudar os alunos a definirem metas
de aprendizagem e, assim, a aprenderem por si próprios, ao passo que a avaliação
pelos pares contribui construtivamente para o esforço colaborativo. No entanto, é
preciso ter em conta aspetos benéficos e aspetos problemáticos na avaliação feita
pelos pares e na autoavaliação, como salientam os estudos de Hanrahan e Isaacs. Estes
autores concluíram que esta forma de avaliação é difícil, colocando questões de
objetividade, consumindo tempo e outros recursos, levantando problemas de
implementação, provocando algum desconforto nos alunos motivado pelos excessos
na crítica dos pares e por nem sempre ser encarada com suficiente seriedade. Para
além disso, é também desconfortável por expor o trabalho à apreciação dos colegas,
embora ajude a melhorar nos alunos a compreensão da aplicação de critérios de
correção. Esta forma de avaliação é produtiva, uma vez que o feedback é integrado na
aprendizagem, e desenvolve a empatia com os professores, melhorando a motivação
para obter melhor desempenho perante os colegas (Hanrahan & Isaacs, 2001).
B. Avaliação pelo professor
A avaliação realizada pelo professor visa essencialmente dar feedback e fazer o
julgamento sumativo ou certificativo do trabalho dos alunos, mas também pode
assumir a dimensão formativa.
Na perspetiva formativa defendida por Wynne Harlen (2007), o feedback que o
professor dá aos alunos deverá incidir nos conselhos sobre como melhorar ou
prosseguir o seu trabalho, devendo evitar comparações com outros. Dessa forma, os
alunos melhoram a compreensão dos objetivos do seu trabalho e formam uma ideia
objetiva sobre o que é um trabalho de boa qualidade. Outro aspeto destacado por
Harlen é a função do diálogo entre professor e aluno, considerado que estimula a
reflexão sobre a aprendizagem e, dessa forma, contribui para que as informações do
professor criem mais oportunidades para aprender.
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Para além de darem adequado feedback, os comentários do professor são sempre uma
boa forma de reconhecer a qualidade do trabalho dos alunos, informando também a
escola e a família acerca do processo educativo.
Implicações da avaliação
O sucesso da aprendizagem está muito relacionado com as estratégias e com a
motivação dos alunos, tal como concluíram Ames e Archer (1988). Num estudo que
incidiu na perceção dos alunos acerca dos objetivos de aprendizagem definidos na sala
de aula e na sua relação com a utilização de estratégias de aprendizagem eficazes, a
seleção de tarefas, as atitudes e a atribuição de causalidade, estas investigadoras
concluíram que, modificar ou alterar a natureza das experiências dos alunos na sala de
aula pode proporcionar uma forma viável de reorientar a aprendizagem para os seus
objetivos (Ames & Archer, 1988, p. 265).
Conclui-se, portanto, que o cenário de aprendizagem que for selecionado pode definir
a forma como o aluno atribui significado às suas tarefas e orientar a sua motivação.
Neste pressuposto, apresentamos na secção seguinte alguns conselhos sobre o design
de um cenário de trabalho e avaliação colaborativa.
Sugestões (design do ambiente de aprendizagem)
Dream
Depois de selecionar o tópico curricular para ser estudado, forme equipas,
considerando as características dos alunos, organizando grupos heterogéneos ou
homogéneos. A literatura realça que os alunos com melhor desempenho tendem a ter
melhores resultados quando integram grupos homogéneos, mas os alunos com mais
dificuldades de obtenção de sucesso nas aprendizagens melhoram o seu desempenho
em grupos heterogéneos. Por outro lado, os alunos com competências mais reduzidas
terão ainda mais dificuldades se integrarem grupos de baixo nível de competências. É
claro que pode optar por uma estratégia mais flexível, permitindo que os alunos
formem os grupos por sua própria iniciativa, mas o mais habitual é que esses sejam
grupos homogéneos. Para obstar a esse resultado, pode incluir condições para a
formação de grupos e obter assim uma solução mista de auto agrupamento e controlo
do professor quanto à composição do grupo.
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Utilizando metodologias de trabalho que envolvam todos, tanto os alunos como o(s)
professor(es), estabeleça um plano de trabalho que preveja a atribuição de diferentes
papéis a cada um, contemplando objetivos individuais e de grupo. A utilização de
ferramentas colaborativas digitais como, por exemplo, Padlet (www.padlet.com),
MindMup (https://www.mindmup.com) ou mesmo analógicas, como um quadro
branco ou um conjunto de post-its e marcadores coloridos, constitui uma ajuda
preciosa para registo de uma sessão de brainstorming.
Comece por clarificar os objetivos que, para além do produto final enquadrado no
currículo, devem incluir a identificação de formas de avaliar o resultado final do
trabalho e o próprio processo de produção. Essa avaliação deve incidir nos contributos
individuais dos elementos do grupo e no desempenho coletivo, devendo ser possível
determinar o que poderia ser melhorado e como poderia ser feito. Deverá ter-se em
conta a utilidade do registo dessa informação e a sua utilização para melhorar o
processo de aprendizagem e de realização das tarefas, ou seja, os dados que forem
recolhidos, feedback, comentários, opiniões e sugestões, devem poder ser integradas
no próprio ciclo produtivo.
É conveniente manter o sonho de desenvolver um trabalho em equipa e,
simultaneamente, descobrir e identificar os contributos individuais, decidir como os
registar, como obter feedback dos próprios alunos, dos outros colegas e do(s)
professor(es). É necessário encontrar formas de incorporar esse feedback na
aprendizagem, para melhorar o processo e o produto, fazendo refletir a participação
de cada um nos objetivos pessoais e nos da equipa. Simplificando: o desenvolvimento
do projeto deverá descobrir formas de autoavaliação e de heteroavaliação cuja
aplicação seja transparente e aceitável pelo grupo.
Explore
Na etapa Explore, as equipas procuram técnicas e meios de registo e recolha da
informação que evidenciem o contributo de cada membro do grupo, em simultâneo
com a pesquisa que fazem para concretizar o projeto. Nesta fase deverão também
conceber um modelo individual de organização da informação e de controlo dos seus
contributos, construindo assim num plano de autoavaliação. De acordo com as
preferências e recursos disponíveis, cada aluno pode optar por utilizar instrumentos de
registo mais sintéticos, tais como listas de verificação, ou mais descritivos, como
diários, registos de aprendizagem, autorreflexões, bloco de notas ou road boks, etc.
O professor pode colaborar neste processo apoiando na estandardização de
instrumentos a serem usados nos grupos, garantindo a recolha de informações por
categorias similares, possibilitando, desse modo, a sistematização da autoavaliação de
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cada um e a sua utilização na avaliação da equipa. Por outro lado, ao incentivar a
estruturação de meios instrumentos de registo diversificados potenciará a sua
utilização na avaliação pelos pares, conferindo maior equidade na avaliação e
aumentando a sua credibilidade interna. O professor pode também seguir este modelo
de trabalho e construir para si mesmo um modelo idêntico de autoavaliação.
Dependendo das competências dos alunos e dos recursos disponíveis poderão usar-se
ferramentas online para criar listas de verificação, fazer registos diários escritos ou
falados, criar formulários e sistemas de votação, dando-se preferência aos sistemas
que permitem desenvolver trabalho colaborativo em tempo real, como, por exemplo,
Google Drive ou Zoho.
Map
Nesta etapa, procura-se esquematizar o produto final, revelando o que são os
contributos individuais para os objetivos da equipa. O produto é simultaneamente a
resposta ao desafio curricular eleito em Dream e os instrumentos de controlo interno
do grupo, procurando-se identificar as responsabilidades individuais no projeto e a
forma de as monitorizar criticamente num processo de auto e heteroavaliação. Os
instrumentos ou meios de autoavaliação utilizados podem servir aqui para aferir
melhor a sua utilidade e eficácia no processo seguinte. É importante que cada equipa
compreenda o funcionamento desses instrumentos de autorregulação e autoavaliação
para potenciar a sua utilização em benefício do coletivo, embora com a evidência da
responsabilidade individual. Esta consciência, que se revela através da competência
intrapessoal e interpessoal permite compreender que uma avaliação final de um
trabalho de grupo seja diferente da avaliação individual dos seus membros.
As ferramentas de mapeamento passíveis de serem utilizadas são diversificadas
podendo optar-se pelas que estão disponíveis online, tais como mapas de conceitos,
sotryboards, sketch maps, flow charts, diagramas e infográficos, entre outras.
Make
Em Make, as equipas realizam os projetos estruturados anteriormente, criando um
protótipo inicial. É aconselhável utilizar mecanismos de controlo de qualidade e de
evolução do projeto, definindo os instrumentos e as escalas a utilizar. Aqui, às
ferramentas de autoavaliação podem associar-se outros instrumentos de registo do
progresso, contemplando os contributos individuais previstos e o seu impacto na
realização. A representação gráfica dos dados colhidos permite confrontar o plano
traçado com a sua execução e, desta forma, aumentar as possibilidades de êxito
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coletivo e individual. Ainda que os principais beneficiários desta auto monotorização
sejam os próprios elementos do grupo, ao partilhar com outros grupos as soluções
encontradas pode ampliar-se o seu efeito positivo e melhorar a qualidade da avaliação
pelos pares.
Há uma grande variedade de ferramentas digitais que facilitam o trabalho de
monitorização, como sistemas de gestão de projetos para os alunos mais avançados
(ex.: www.asana.com, https://freedcamp.com). Os sistemas de gestão de
aprendizagens e os portefólios eletrónicos, por exemplo, também podem ser usados,
de forma criativa para monitorizar o progresso do projeto e o envolvimento individual
dos membros de cada equipa.
Ask
Nesta etapa é crucial a utilização de ferramentas de recolha de informação originada
no próprio grupo, através da autorreflexão e das discussões de grupo, e no exterior do
grupo, incluindo o(s) professor(es), os familiares e os especialistas da área de
conhecimento do projeto ou protótipo. A estruturação dos instrumentos, a sua
facilidade de uso, a adequação às finalidades, a rapidez de análise dos dados
recolhidos e a sua representação ou visualização é o núcleo das preocupações da
equipa e do(s) professores. Em primeiro lugar, uma estrutura adequada às finalidades,
isto é a utilização de itens ou questões objetivas em questionários ou listas de
verificação, reduz o tempo consumido. A facilidade de utilização aumenta a
possibilidade de ser aplicada a um maior número de potenciais informadores e em
diferentes contextos. A rapidez com que se possam extrair dados e fazer inferências,
comparações, simulações, aumenta a eficácia do feedback e potencia a sua utilização
no processo seguinte. A possibilidade de representação gráfica ou de visualização,
permite que o grupo tome mais rapidamente consciência do estado da arte e permite
determinar ações futuras.
Os sistemas que reduzem a intervenção humana na análise de dados, como sejam os
formulários online, constituem uma boa ajuda. Contudo, o calcanhar de Aquiles está
na construção do instrumento e no tipo de dados que se recolhem. Dados
quantitativos podem ser mais fáceis de usar do que dados qualitativos mas nem
sempre possuem a riqueza informativa e formativa destes últimos. Será interessante
procurar um sistema de compromisso neste processo de recolha e tratamento de
dados quantitativos e qualitativos. Pode eventualmente recorrer-se a um mecanismo
de transformação da informação recolhida qualitativamente para uma representação
quantitativa.
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Remake
A fase de produção final do protótipo incluirá as melhorias identificadas na etapa
anterior, servindo também para afinar os instrumentos de avaliação interna nos
grupos, os sistemas de auto e heteroavaliação e tirar ilações para projetos seguintes. É
uma oportunidade para experimentar novas soluções em aspetos que as opções
anteriores possam não ter tido o sucesso que a equipa esperava.
Show
O objetivo é mostrar ao mundo que, em equipa, somos capazes de fazer coisas muito
mais interessantes do que se as fizéssemos sozinhos, individualmente. Por isso, o
produto final é mostrado à comunidade, tão alargada quanto possível, considerando
os destinatários.
A equipa deve ser capaz de promover o seu trabalho, de realçar as suas características
positivas e de o defender em conjunto. Apesar de resultar dos contributos individuais,
o produto é mais do que o somatório das parcelas e, nesse sentido, a valorização do
trabalho de equipa deverá ser evidente. Se forem considerados instrumentos de
recolha de feedback do público, baseados em sistemas de avaliação simples e diretos,
os alunos podem utilizar essa informação para calibrar os seus próprios instrumentos
de avaliação interna.
As equipas não deverão deixar descuidado nenhum pormenor organizativo necessário
à apresentação do produto final, mantendo um sistema de registo individual de
contributos e de responsabilidades. Dessa forma, poderão operacionalizar mais
facilmente o feedback que for dado pela “audiência”, e incorporá-lo em projetos
futuros.
O(s) professor(es) e os especialistas que tenham participado no processo têm também
uma grande importância nesta etapa principalmente porque o seu feedback pode
encaminhar-se para o reconhecimento social e valorização do trabalho dos alunos e da
configuração das equipas.
A partilha de conclusões e resultados, através da publicação online, quer seja aberta
quer seja restrita aos grupos e às pessoas da sua afinidade, aumentará a autoestima e
a responsabilização individual pelo trabalho da equipa. A criação de um espaço de
presença na web ou a utilização de canais de publicação para revelar o trabalho da
equipa pode constituir-se numa forma de envolvimento mais consistente dos
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membros menos ativos, podendo contribuir para aumentar a autoestima e a criação
da identidade do grupo.
Referências
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