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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE LAVRAS AVALIAÇÃO DA GENOTOXICIDADE DE Siparuna apiosyce (Mart.) A. DC (Monimiaceae) ATRAVÉS DO TESTE DO MICRONÚCLEO EM Allium cepa L. JULIANA CRISTINA LICAS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE LAVRAS

AVALIAÇÃO DA GENOTOXICIDADE DE Siparuna apiosyce (Mart.) A. DC (Monimiaceae) ATRAVÉS DO TESTE DO MICRONÚCLEO EM

Allium cepa L.

JULIANA CRISTINA LICAS

Lavras-MG2014

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JULIANA CRISTINA LICAS

AVALIAÇÃO DA GENOTOXICIDADE DE Siparuna apiosyce (Mart.) A. DC (Monimiaceae) ATRAVÉS DO TESTE DO MICRONÚCLEO EM

Allium cepa

Monografia apresentada ao Centro Universitário de Lavras como parte das exigências do curso de graduação em Ciências Biológicas Licenciatura.

ORIENTADORAProfª Drª Maria Cristina Mendes-Costa

LAVRAS-MG

2014

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Centro Universitário de Lavras – UNILAVRAS

Monografia intitulada “Avaliação da genotoxicidade de Siparuna apiosyce (Mart.) A. DC (Monimiaceae)através do teste do micronúcleo em Allium cepa” de autoria da graduanda Juliana Cristina Licas, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

_______________________________________Profª Drª Maria Cristina Mendes-Costa (Orientadora)

_______________________________________Prof Dr. Fernando Antônio Frieiro Costa (Convidado)

_______________________________________Profª Drª Ivana Aparecida da Silveira (Presidente da Banca)

Aprovada em 04 de dezembro de 2014.

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Aos meus irmãos e ao Maykon

OFEREÇO

Aos meus pais, Geraldo e Tereza

DEDICO

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por me fortalecer nos momentos mais difíceis pelos quais passei, me dando

perseverança para seguir a caminhada e chegar até o final deste curso.

Aos meus pais pelo apoio, incentivo, orações e pelo amor incondicional.

Aos meus irmãos, pelo incentivo e apoio, por estarem sempre ao meu lado.

Aos meus sobrinhos por todo carinho a mim depositado.

Ao Maykon pelo amor, paciência, incentivo e por sempre entender minhas ausências.

À Professora Drª Maria Cristina, pelo ensinamento, paciência, por todo o seu

conhecimento a mim repassado, e pela confiança na realização deste trabalho.

À Luana, agradeço imensamente por toda a ajuda prestada, por todo ensinamento a

mim repassado, por sua paciência, boa vontade e disponibilidade sempre, com certeza não

teria conseguido realizar este trabalho sem ela.

Às minhas amigas, Ana Paula, Rafaela e Larissa, que tornaram todos esses anos mais

agradáveis.

Aos meus colegas de trabalho, por sempre escutarem minhas lamentações e por suas

sábias palavras.

À Matilde pelo apoio, confiança, ensinamentos, por sábios conselhos, suas palavras

sempre contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional.

À Carol e a Fatinha, funcionárias do Laboratório Multidisciplinar de Biologia, pelo

auxilio prestado.

Aos professores Alex e Fernando, pela contribuição para a realização deste trabalho.

À Fundação Educacional de Lavras que possibilitou que esse sonho se realizasse.

A todos que de alguma maneira contribuíram para o meu crescimento pessoal e

profissional.

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“Tudo posso naquele

que me fortalece”

Filipenses 4:13

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................ 08

LISTA DE TABELAS........................................................................................................... 09

RESUMO............................................................................................................................... 10

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................. 11

2 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................................... 12

2.1 Plantas medicinais........................................................................................................... 12

2.2 Plantas medicinais do gênero Siparuna........................................................................... 13

2.3 Teste do micronúcleo e de aberrações cromossômicas................................................... 14

2.4 Teste em raiz de Allium cepa........................................................................................... 15

3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................ 17

3.1 Material vegetal............................................................................................................... 17

3.2 Bioensaios........................................................................................................................ 17

3.3 Preparação dos extratos................................................................................................... 17

3.4 Biotestes.......................................................................................................................... 17

3.5 Índice de germinação...................................................................................................... 18

3.6 Crescimento das raízes.................................................................................................... 18

3.7 Índice Mitótico................................................................................................................ 19

3.8 Teste do Micronúcleo e Aberrações Cromossômicas...................................................... 19

3.9 Delineamento estatístico.................................................................................................. 20

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................................... 21

4.1 Índice de germinação...................................................................................................... 21

4.2 Crescimento das raízes..................................................................................................... 24

4.3 Índice Mitótico................................................................................................................. 26

4.4 Teste do Micronúcleo e Aberrações Cromossômicas...................................................... 27

5 CONCLUSÃO................................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 33

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição das 50 sementes de A. cepa nas caixas gerbox................................ 18

Figura 2: Sementes de Allium cepa em água destilada, após o terceiro (A) e sexto (B) dia de

germinação........................................................................................................................... 21

Figura 3: Índice de Germinação avaliado ao terceiro e sexto dias sob efeito das concentrações

de Siparuna apiosyce........................................................................................................... 22

Figura 4: Crescimento das raízes X concentração do extrato aquoso de Siparuna apiosyce

avaliados ao terceiro e sexto dias......................................................................................... 24

Figura 5: Índice mitótico de raízes de cebola analisadas no total de 4000 células expostas às

infusões de Siparuna apiosyce em diferentes concentrações............................................... 26

Figura 6: Principais aberrações encontradas em células meristemáticas de raiz de A.cepa sob

diferentes concentrações do extrato aquoso de S. apiosyce. c-metáfase (A), aderência (B),

ponte cromossômica e perda (C),micronúcleo (D), brotos (E) e perdas cromossômicas (F).. 28

Figura 7: Diferentes tipos de aberrações cromossômicas presentes nas células meristemáticas

das raízes de A.cepa sob diferentes concentrações do extrato de S. apiosyce..................... 29

Figura 8: Média de aberrações encontradas em razão de diferentes concentrações de infusão

de Siparuna apiosyce............................................................................................................ 30

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição dos percentuais médios do índice de germinação de A. cepa observados

ao terceiro e sexto dias, sobre efeitos das concentrações dos extratos de Siparuna apiosyce. 22

Tabela 2: Distribuição média do crescimento (cm) das raízes observadas no terceiro e sexto

dia, sobre efeito das infusões de Siparuna apiosyce.............................................................. 24

Tabela 3: Número de células em divisões e índice mitótico de raízes de cebola, expostas às

infusões de Siparuna apiosyce. O número total de células analisadas para cada concentração

foi de 4000............................................................................................................................... 26

Tabela 4: Número de células da raiz de cebola em diferentes fases do ciclo celular,

germinadas em seis dias em água e em diferentes concentrações da infusão de Siparuna

apiosyce................................................................................................................................... 28

Tabela 5: Aberrações cromossômicas encontradas nas raízes de Allium cepa tratadas com

diferentes concentrações da infusão de Siparuna apiosyce.................................................... 29

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RESUMO

Para o tratamento e cura de enfermidades utilizam-se plantas com extratos, emplastos e

infusões, sem que haja evidências científicas que comprovem a eficácia desses tratamentos. A

falta de conhecimento da população sobre a toxidade e alguns efeitos secundários do uso

contínuo de algumas espécies pode levar à consequências sérias. A espécie Siparuna apiosyce

(Mart.) A. DC é uma planta aromática da família Monimiaceae encontrada no sudeste

brasileiro, conhecida vulgarmente como “limão-bravo”. Devido à escassez de dados na

literatura este trabalho teve como objetivo contribuir para o conhecimento de atividades

biológicas de plantas medicinais brasileiras e avaliar a genotoxicidade e a citotoxicidade de

infusão de folhas de S. apiosyce utilizando o teste do micronúcleo em Allium cepa. Os

bioensaios para avaliação foram realizados através da infusão de cinco concentrações (5, 10,

25, 50 e 100%) e água esterilizada como controle. A avaliação da citotoxicidade ocorreu

através do crescimento da raiz, índice de germinação e índice mitótico e a avaliação da

genotoxicidade foi pela análise de aberrações cromossômicas. Os resultados demonstraram

que o crescimento da raiz e o índice de germinação foram significativos apresentando efeito

alelopático e o índice mitótico não foi significativo sugerindo que não há efeito citotóxico. Na

avaliação genotóxica o número de aberrações cromossômicas não foi significativo comparado

ao controle, não apresentando genotoxicidade. Foram observadas C-metáfases, aderências,

quebras cromossômicas, micronúcleos, brotos e núcleos condensados. O presente estudo

revelou que infusões de S. apiosyce não desencadeiaram efeitos citotóxicos e/ou genotóxicos

significativos em A.cepa, identificando a concentração de 10% como a mais promissora para

uso medicinal.

Palavras-chave: Siparuna apiosyce; citotoxicidade; genotoxicidade.

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1 I NTRODUÇÃO

Para o tratamento e cura de enfermidades, o uso de plantas é tão antigo quanto à

espécie humana (SARTORI, 2005). Em regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes

cidades brasileiras, plantas medicinais são comercializadas em mercados municipais e em

feiras livres, sendo cultivadas em quintais residenciais. Muitas comunidades e grupos étnicos

utilizam o conhecimento sobre plantas medicinais como único recurso terapêutico, onde

várias pesquisas proporcionam aos seres humanos usos diversificados (BERTINI et al. 2005).

No Brasil utilizam-se plantas com extratos, emplastos e infusões, sem que haja

evidências científicas que comprovem a eficácia desses tratamentos (HOLETZ et al; 2002). A

Organização Mundial de Saúde diz que planta medicinal é qualquer planta que possua em um

ou em vários de seus órgãos, substâncias usadas com finalidade terapêutica, ou que estas

substâncias sejam ponto de partida para a síntese de produtos químicos e farmacêuticos. A

falta de conhecimento da população sobre a toxicidade e alguns efeitos secundários do uso

contínuo de algumas espécies pode levar a consequências sérias (NAVARRO MOLL 2000).

As plantas medicinais contêm substâncias bioativas, muitas são tóxicas. Plantas que

antes eram usadas sem restrições, passaram a ter um estudo cada vez maior sobre a sua

toxicidade, como por exemplo, o confrei (Symphytum officinale L.) (Boraginaceae), seu uso

interno foi proibido devido ao fato dessa planta ser altamente tóxica, sendo indicada somente

para uso externo, pois apresenta excelentes propriedades cicatrizantes.

A espécie Siparuna apiosyce (Mart.) A. DC é uma planta aromática da família

Monimiaceae encontrada no sudeste brasileiro, conhecida vulgarmente como “limão-bravo”.

É planta medicinal muito utilizada pela população desavisada, suas folhas são empregadas em

problemas gástricos e respiratórios. Em vista da escassez de dados na literatura sobre a

toxicidade desta espécie, esta pesquisa pode colaborar com informações importantes para o

uso correto dos benefícios que ela pode proporcionar, contribuindo para o conhecimento de

atividades biológicas de plantas medicinais brasileiras e teve como objetivo avaliar a

genotoxicidade e a citotoxicidade do extrato aquoso de folhas de Siparuna apiosyce utilizando

o teste do micronúcleo em Allium cepa.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Plantas Medicinais

Devido ao grande interesse pelos produtos naturais, a interação entre homem e planta

e investigação de novos recursos vegetais, tem merecido destaque na atualidade. Pode-se

utilizar diversas maneiras na preparação de remédios, como infusão, decocção, suco fresco,

pó, xarope, cataplasma e compressa, entre outros. Uma única planta pode ser usada para

várias doenças, e várias espécies podem ser usadas em diversas combinações para tratar

diferentes patologias.

Porém, estudos identificam que toda planta apresenta algum grau de toxicidade, as

plantas medicinais assim como qualquer planta contém substâncias bioativas, que após análise

em laboratórios, podem ser percebidas e podem ser detectados seus princípios ativos ou não.

Assim, entende-se que muitas plantas podem conter ações tóxicas.

O aumento do uso terapêutico e o interesse em comprovar a eficácia das plantas

proporcionou o crescimento dos estudos sobre genotoxicidade, pois muitas plantas utilizadas

por um grande número de pessoas, apesar de possuírem propriedades farmacológicas, também

podem causar alterações no DNA (VARANDA, 2006).

Influenciadas pelo contexto sócio-cultural, econômico e físico, devido ao vasto

conhecimento e práticas médicas, a medicina popular oferece cada vez mais uma contribuição

maior às ciências do homem (CAMARGO, 1976). Para populações do meio rural e urbano na

questão socioeconômica as plantas medicinais apresentam um papel importante.

Os medicamentos sintetizados pelos vegetais ou pelos homens não são diferentes entre

si, devido às baixas concentrações encontradas nos vegetais ou pelas interações com outras

substâncias da planta eles podem ser menos tóxicos, mas, as substâncias são idênticas. As

plantas para serem benéficas, devem conter substâncias farmacologicamente ativas que atuem

no organismo (CORRÊA et al., 2005).

Algumas substâncias que compõem as plantas medicinais podem desencadear efeitos

deletérios que resultam em quadros clínicos severos e algumas vezes podendo ser fatal

(PINHO et al., 2010). Em 1999, foram registrados 66584 casos de intoxicação humana no

Brasil, onde somente a Região Sul foi responsável por 29,1% destes casos. Porto Alegre

destaca-se como a cidade com maior número de registros de

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intoxicação humana por plantas, sendo a sua quase totalidade na zona urbana (SINITOX,

1999).

2.2 Plantas medicinais do gênero Siparuna.

O conhecimento sobre plantas medicinais simboliza muitas vezes o único recurso

terapêutico de muitas comunidades e grupos étnicos, e dessa forma, usuários de plantas

medicinais de todo o mundo, mantêm a prática do consumo de fitoterápicos, tornando válidas

informações terapêuticas que foram sendo acumuladas durante séculos, apesar de nem sempre

terem seus constituintes químicos conhecidos (MACIEL et al., 2002)

Os compostos antimutagênicos e anticarcinogênicos que são encontrados nas plantas

são identificados através de estudos laboratoriais. O objetivo da genética toxicológica é

detectar e entender a ação de determinadas substâncias denominadas genotoxinas sobre o

organismo, com especificidade para ácidos nucleicos, especialmente o DNA. O termo

genotóxico, se refere às alterações letais e/ ou hereditárias que são transmitidas tanto pelas

células somáticas como pelas germinativas (MARINI, 1998). A realização de pesquisas para

avaliar a genotoxicidade das plantas pode ser utilizada para determinar o risco genético e

avaliar os potenciais de desenvolvimento de tumores malignos nos indivíduos ou populações

expostas a agentes genotóxicos químicos e físicos. Os agentes genotóxicos são aqueles que

interagem com o DNA produzindo alterações em sua estrutura ou função e quando essas

alterações se fixam capaz de serem transmitidas, denominam-se mutações. As mutações são a

fonte de variabilidade genética de uma população, sendo, portanto fundamentais para a

manutenção das espécies (PEREIRA et al., 2002).

A espécie Siparuna apiosyce pertence à família Monimiaceae, sendo uma das 19

famílias pertencentes à ordem das Magnoliales. Abrange cerca de 30 gêneros e 400 espécies,

sendo que seis gêneros e 95 espécies são encontradas no Brasil, principalmente nas regiões

Sul e Sudeste (SIMÕES; SOARES JUNIOR, 2011).

É uma planta medicinal aromática, encontrada no sudeste brasileiro muito utilizado

pela população, suas folhas são empregadas em problemas gástricos e respiratórios.

A espécie consta na primeira edição da Farmacopéia Brasileira, sob a denominação

“limoeiro-bravo", sendo a folha o órgão a ser utilizado.

Pesquisadores do Laboratório do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – NPPN / UFRJ vêm estudando algumas espécies

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14

como Siparuna arianeae, S.apiosyce e S. guianensis Aubl sob seus aspectos químicos e

farmacológicos (SIMÕES; SOARES JUNIOR, 2011).

As folhas da espécie Siparuna guianensis são utilizadas contra desordens estomacais,

compressas e cataplasmas, contra dor de cabeça e reumatismo. Os extratos são utilizados

como inseticidas, devido ao seu odor e são utilizados para preparar armadilhas de peixes.

Folhas combinadas com as folhas de Campomanesia spp são usadas como remédio

antimalária, dentre outras aplicações. Recebe também nomes populares como caapitiú, limão-

bravo, cicatrizante-das-guianas.

Siparuna cuspidata é utilizada no tratamento de disenteria e a madeira de algumas

espécies do gênero é utilizada na construção civil e na obtenção de essências.

2.3 Teste do Micronúcleo (MN) e de Aberrações Cromossômicas

O micronúcleo é um núcleo adicional e separado do núcleo principal de uma célula,

ele é formado por cromossomos ou fragmentos de cromossomos que não são incluídos no

núcleo principal durante a mitose. Apresenta entre 1/5 a 1/20 do tamanho do núcleo e

geralmente há um micronúcleo por célula (SCHIMID, 1975; CARRARD et al, 2007). O teste

do micronúcleo foi descrito pela primeira vez por SCHIMID W., em 1975. O teste MN

oferece um procedimento rápido e técnico mais fácil em relação aos ensaios de aberrações

cromossômicas (ACs), pois os micronúcleos são mais fáceis de observar e contar do que as

ACs, e assim esse método requer menos treinamento e perícia visto que a monitoração da

formação de MNs consiste simplesmente em contar as células apropriadas e monitorar as ACs

envolve distinguir entre dois tipos de dano (BAKER; CONNOR, 1996).

Aberrações cromossômicas são alterações que atingem os cromossomos. A análise de

alterações cromossômicas serve como teste de mutagenicidade e é um dos poucos métodos

diretos para mensurar danos em sistemas expostos a mutagênicos ou carcinogênicos

potenciais. Esta análise pode ser feita utilizando-se o teste do micronúcleo que consiste na

investigação de células previamente expostas a agentes químicos, com a finalidade de detectar

possíveis aberrações cromossômicas (FLORES; YAMAGUCHI, 2008). É necessário que a

mostra esteja em constante divisão mitótica para a avaliação dos efeitos ou danos que agentes

mutagênicos podem causar, identificando os efeitos tóxicos e alterações ocorridas ao longo de

um ciclo celular (SILVA et al., 2011). O Teste do Micronúcleo encontrou o seu lugar em

biomonitoramento por ser rápido e confiável.

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15

Os micronúcleos são formações globulares de DNA, originados a partir de fragmentos

cromossômicos ou de cromossomos inteiros, não incorporados ao núcleo da célula filha ao

final do processo de divisão celular (FENECH et al., 1999). O teste do micronúcleo pode ser

utilizado para identificar e avaliar diversos fatores que podem trazer algum dano ao DNA de

diferentes tecidos.

O fato da presença de micronúcleos poderem ser considerado um indicativo da

existência de alterações cromossômicas, análise de sua frequência pode ser proposta como

uma alternativa para métodos citogenéticos clássicos em monitoramento de dados

cromossômicos, podendo ser usado para detectar efeitos citogenéticos em indivíduos

cronicamente expostos a agentes mutagênicos e/ou carcinogênicos (FENECH et al., 1999).

O teste do micronúcleo é o ensaio “in vivo” mais amplamente utilizado para

determinar agentes clastogênicos (que quebram cromossomos) e agentes aneugênicos (que

induzem aneuploidias ou segregação cromossômica anormal) (RIBEIRO et al., 2003).

2.4 Teste em raiz de Allium cepa

Espécies vegetais como Allium cepa, Arabidopsis thaliana e Hordeum vulgare, são

importantes em sistemas-teste para ensaios de atividades mutagênicas de agentes químicos,

ensaios de aberrações cromossômicas e testes citogenéticos podem ser realizados através

desses vegetais (RANK et al., 2002; ROBERTO, 2009). Por causa das suas raízes ficarem em

contato direto e permitir a avaliação de diferentes concentrações da substância testada o

sistema-teste de Allium cepa é bem aceito para o estudo de efeitos de citotoxicidade de plantas

medicinais (BAGATINI et al., 2007). Os testes também oferecem parâmetros microscópios

como aderências cromossômicas, pontes, fragmentação e perdas cromossômicas, C-mitoses e

micronúcleos, que podem se caracterizar em evidências ou até indicadores de eventuais

mutações no conteúdo genético celular (ROBERTO, 2009).

Para alertar a população sobre o consumo do fitoterápico utiliza-se a raiz da cebola

através das alterações cromossômicas e das divisões das células meristemáticas (BAGATINI

et al., 2007; MACÊDO et. al.,2008).

O sistema teste Allium cepa além de sua grande utilização nos teste de citotoxicidade/

mutagenicidade de plantas medicinais, pode ser utilizado para o monitoramento da poluição

ambiental e avaliação do potencial mutagênico de muitos compostos químicos. Utilizam-se

células meristemáticas de raízes de plantas por serem indicadores apropriados na detecção de

efeitos clastogênicos causados por poluentes do meio ambiente, especialmente para o

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16

monitoramento de contaminantes da água e do solo. Esse sistema teste é considerado o mais

adequado para detecção de toxicidade e genotoxicidade para avaliação de níveis de poluição

ambiental, os quais representam riscos diretos ou indiretos para a população humana

(BAGATINI et al., 2007).

A verificação da frequência de micronúcleos, aberrações cromossômicas e alterações

no índice mitótico nas células do meristema radicular são feitos através dos testes biológicos

de mutagenicidade com plantas (FISKEJO, 1985).

O método de avaliação de alterações cromossômicas em raízes de Allium é validado

pelo Programa Internacional de Segurança Química (IPCS, OMS) e o Programa Ambiental

das Nações Unidas (UNEP) como um eficiente teste para análise e monitoramento in situ da

genotoxicidade de substâncias ambientais (BAGATINI et al., 2007).

As plantas são excelentes modelos genéticos para detectar mutagênicos ambientais e

são usados em estudos de monitoramento. Para Fiskesjo (1985), o sistema teste com Allium

cepa é bastante recomendado como um teste padrão para a toxicidade pelo fato de o mesmo

ser de fácil execução e os resultados obtidos serem rapidamente reprodutíveis.

Em biomonitoramento o uso de raízes de A. cepa permite uma resposta rápida e

segura, revelando o efeito sobre o mecanismo reparador de DNA. São fáceis de armazenar e

manipular, é de baixo custo, existem na maioria das vezes cromossomos com boas condições

e boa correlação com outros testes (SAMPAIO, 2012).

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3 Material e Métodos

3.1 Material Vegetal

O experimento foi desenvolvido no Laboratório Multidisciplinar de Biologia do

UNILAVRAS. O material vegetal utilizado foi a planta Siparuna apiosyce coletada na

Reserva Biológica Unilavras-Boqueirão, Ingaí-MG. Após a coleta, as folhas foram

selecionadas, pesadas e lavadas para o preparo de infusões em cinco diferentes concentrações.

Foram obtidos no comércio de Campo Belo, sementes de cebola (Allium cepa), não

germinadas.

3.2 Bioensaios

Para cada concentração a ser testada e para o controle negativo (água destilada) foram

utilizados cinquenta sementes de A. cepa com quatro repetições para cada concentração. As

concentrações utilizadas para cada tratamento foram 5%, 10%, 25%, 50% e 100%.

3.3 Preparação dos extratos

Após a coleta, foi feita a infusão das folhas e deixada em um béquer tampado até o seu

resfriamento total, após o seu resfriamento a infusão foi filtrada e colocada em potes de vidro

para o armazenamento.

3.4 Biotestes:

Os biotestes foram realizados em ambiente ventilado e iluminado a temperatura

ambiente, seguindo as Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 1992). As sementes de

cebola foram acondicionadas em caixas gerbox (11 x 11 cm) forradas com papel germiteste

umedecidas com 10 mL de cada extrato e água destilada que foi usada como controle

negativo. Utilizaram-se quatro repetições de 50 sementes para cada concentração dos extratos

e do controle, com distribuição de 5x10, em delineamento estatístico inteiramente

casualizado, mantidas em temperatura ambiente por seis dias. Para a análise dos Biotestes

avaliaram-se quatro variáveis:

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18

a- Teste de germinação ao sexto dia, segundo as Regras para Análise de

Sementes (BRASIL,1992);

b- Crescimento da raiz;

c- Índice Mitótico (IM);

d- Teste de micronúcleo e aberrações cromossômicas.

3.5 Índice de Germinação

Foram consideradas germinadas as sementes que apresentaram raiz com no mínimo,

50% do tamanho da semente (FERREIRA; ÁQUILA, 2000).

Os valores da variável germinação (G) foram obtidos através da seguinte expressão: G =

(N/A) x 100 onde:

G = percentual de germinação;

N = número total de sementes germinadas;

A = número total de sementes colocadas para germinar;

Figura 1: Distribuição das 50 sementes de A. cepa nas caixas gerbox

3.6 Crescimento das raízes:

O procedimento usado para medição das raízes foi feito com o auxílio de uma única

régua, no terceiro e sexto dia de germinação obtendo-se o comprimento da raiz, quando

germinadas. A fitotoxicidade foi avaliada por parâmetros macroscópicos como: comprimento

das raízes, alteração na coloração, turgescência, endurecimento das pontas das raízes e

espessamentos (tumores).

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19

3.7 Índice Mitótico:

A obtenção das células meristemáticas dos bioensaios, para a análise do IM, foi

realizada com coletas das raízes germinadas ao sexto dia, ás 10h, horário em que se tem maior

índice de divisões mitóticas.

Para a determinação do índice mitótico foi empregada a técnica de esmagamento

(GUERRA; SOUZA, 2002). Após a coleta das raízes de A. cepa, as sementes e o hipocótilo

foram descartados e as raízes fixadas em Carnoy (3:1, etanol: ácido acético) por um período

de 24h à temperatura ambiente e, após, acondicionadas em freezer em álcool 70%.

A preparação do material, para posterior análise do IM, foi realizada na seguinte

ordem: As raízes foram transferidas para uma solução com 10 gotas de orceína acética + 1

gota de HCL 1N por 5 minutos. Em seguida a raiz foi transferida para uma lâmina onde, com

o auxílio de uma lâmina de barbear, foi picada. Utilizando-se uma lamínula foi feito o

esmagamento do material. As lâminas foram observadas em microscópio óptico Leica, a uma

magnitude de 400x. As células foram contadas, através da técnica de varredura, sendo 1000

células por repetição totalizando 4000 células por concentração. O índice mitótico foi obtido

dividindo-se o número de células em mitose pelo número total de células e multiplicando-se

por 100. As células foram fotografadas utilizando-se uma câmera digital SAMSUNG 10.2

mega pixels.

3.8 Teste de Micronúcleo e Aberrações cromossômicas

As aberrações cromossômicas encontradas foram quantificadas e fotografadas. Os

critérios para aceitar a presença das alterações cromossômicas observadas, estão de acordo

com Picker e Fox (1986) e estão descritas a seguir:

· quebras cromatídicas equivalentes à perda de cromátides do cromossomo ou por

fragmentação que ocorrem nas cromátides durante a divisão celular;

· não disjunção dos cromossomos no final da metáfase, formando aderências e estruturas

denominadas de C- metáfases;

. pontes nucleoplamáticas são devido a cromossomos dicêntricos, nos quais dois centrômeros

são puxados para lados opostos na célula, alterações essas observadas no início da anáfase ou

final da telófase;

· fuso acromático desestabilizado podendo provocar perda de cromossomos inteiros durante o

processo de divisão celular;

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· presença de micronúcleo (MN) equivalente a uma estrutura de contorno regular, redondo ou

oval, e devendo estar dentro do citoplasma de uma célula; o MN deve estar no mesmo plano

de foco de observação e nitidamente separado do núcleo.

3.9 Delineamento Estatístico

Cada uma das quatro concentrações e o controle (0%, 5%, 10%, 25%%, 50% e 100%)

constituiu um tratamento todos realizados da mesma forma. O delineamento experimental foi

completamente casualizado, com quatro repetições para cada concentração.

As variáveis analisadas foram: índice de germinação, crescimento da raiz, índice

mitótico, micronúcleos e aberrações cromossômicas.

As análises estatísticas dos dados foram feitas através da análise de regressão e análise

de variância utilizando o programa SISVAR.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados referentes aos bioensaios com extratos da planta Siparuna apiosyce em

Allium cepa mostraram, de maneira geral, que esta espécie medicinal não induz efeitos

genotóxicos significativos nas concentrações testadas quando comparadas com o controle

negativo. Porém, pode ser observado que a planta demonstra possível efeito alelopático no

que diz respeito à germinação e crescimento de raízes. As variáveis macroscópicas analisadas

ao terceiro e sexto dia foram: índice de germinação (IG) e crescimento das raízes. O índice

mitótico (IM), teste do micronúcleo (MN) e aberrações cromossômicas (AC) foram analisadas

microscopicamente para as concentrações de 5, 10, 25,50 e 100% do extrato aquoso desta

espécie.

4.1 Índice de germinação

A figura 2 ilustra a germinação das sementes de A. cepa nas caixas gerbox ao 3º e ao

6º dias.

A B

Figura 2: Sementes de Allium cepa em água destilada, após o terceiro (A) e sexto (B) dia de germinação.

Os índices de germinação em todas as concentrações e controle negativo para o 3º e o

6º dias estão mostrados na tabela 1. Pôde ser observado que nas concentrações de 5%, 10% e

25% o IG foi maior em relação ao controle e às concentrações de 50% e 100% tanto no 3º

como no 6º dia de avaliação. O extrato de S. apiosyce reduziu significativamente a geminação

das sementes de A. cepa nas concentrações de 50% e 100% quando comparado ao tratamento

controle como pode ser visto na figura 3, que mostra a análise de regressão. Porém, nas

concentrações intermediárias (5%, 10% e 25%) os extratos promoveram a ativação do

crescimento. A redução em concentrações maiores é indicativo de possível efeito alelopático

do extrato que se mostra dependente da concentração.

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22

Tabela 1: Distribuição dos percentuais médios do índice de germinação de A. cepa observados ao terceiro e sexto dias, sob efeitos das concentrações dos extratos de Siparuna apiosyce.

Concentrações Índice de germinação de acordo com o extrato 3° dia 6° dia

0% 46,7% 79,6% 5% 51,5% 82,0% 10% 53,0% 85,0% 25% 51,5% 85,0% 50% 36,5% 63,5% 100% 27,0% 57,5%

0% 20% 40% 60% 80% 100%0%

10%20%30%40%50%60%

f(x) = − 0.256739631336406 x + 0.525884216589862R² = 0.885312498300891

Índice de Germinação (3 dias)

Concentração - Extrato de Siparuna apiosyce

Índi

ce d

e G

erm

inaç

ão

0% 20% 40% 60% 80% 100%50%55%60%65%70%75%80%85%90%

f(x) = − 0.285714285714285 x + 0.847142857142858R² = 0.819157720891825

Índice de Germinação (6 dias)

Concentração - Extrato de Siparuna apiosyce

Índi

ce d

e G

erm

inaç

ão

Figura 3: Índice de Germinação avaliado ao terceiro e sexto dias sob efeito das concentrações de Siparuna apiosyce.

Fischer, (1999) descreve como constituintes principais de S. apiosyce, alcaloides,

flavonoides, taninos, óleo essencial e provavelmente mucilagem. Entre os vários componentes

obtidos, dois foram identificados: o estigmasterol e o alcaloide noraporfínico asimilobina

relatados como constituintes da folha e caule. Não foram encontrados relatos na literatura

sobre a atuação de componentes isolados de S. apiosyce. Apenas uma citação faz referência

ao efeito citotóxico de asimilobina, isolada de plantas da família Annonaceae, em linhagens

de células cancerosas humanas (ZHANG et al.,1995). Portanto, este é o primeiro relato de

avaliação sobre a toxicidade da planta em estudo. A atuação dos extratos de S. apiosyce sobre

o IG em A. cepa segue os padrões encontrados para extratos de outras plantas.

Resultados semelhantes foram encontrados por Pires et al., (2001) analisando o

extrato de leucena sobre plântulas de milho. Foi verificado que nas concentrações 0,4; 0,8;

1,6; 3,2 e 6,4 % do extrato houve um ligeiro estímulo ao desenvolvimento das plântulas, e

apenas na dose de 6,4 % do extrato houve uma redução do crescimento.

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Capobiango et al., (2009) testaram extratos aquosos de Joanesia princeps (cutia) e

Casearia sylvestris (guaçatonga) na germinação de Brassica oleraceae var. capitata

(repolho), Lactuca sativa (alface) e Lycopersicum esculentum (tomate) em seis concentrações

(10%, 30%, 50%, 70%, 90% e 100%) além do controle água destilada. Os autores relatam que

a redução da germinação se deu diferentemente para cada espécie testada. O extrato aquoso de

sementes de cutia reduziu e, ou inibiu a germinação de repolho, alface e tomate, sendo que a

redução foi mais efetiva proporcionalmente às concentrações. A redução na germinação das

sementes de repolho foi a partir da concentração de 30%, na alface ocorreu inibição a partir da

concentração de 70%, já no tomate as sementes foram mais tolerantes, observando apenas

redução no percentual de germinação na concentração mais elevada, quando comparada ao

tratamento controle. Para o extrato das folhas de guaçatonga as sementes de repolho e alface

tiveram a germinação reduzida nas mais altas concentrações (90 e 100%). No caso do tomate

a redução do percentual de germinação foi a partir da concentração de 50%, quando

comparado ao tratamento controle. Independente da espécie testada o percentual de

germinação diminuiu com o aumento das concentrações. Alterações no percentual de

germinação indicam interferências nas reações metabólicas que participam do processo de

germinação positiva ou negativamente.

Tur et al., (2010) utilizaram extrato aquoso de folhas frescas, secas e frutos de pingo-

de-ouro nas concentrações de 1, 2 e 4% e água destilada como controle em aquênio de alface

(Lactuca sativa L.) e tomate (Lycopersicum esculentum L.). Os extratos proporcionaram

alterações na germinação de alface e tomate. As concentrações dos extratos comparadas ao

controle não alterou a porcentagem de germinação de aquênios de alface. No entanto, à

medida que a concentração dos extratos aquosos de folhas frescas e secas aumentou, ocorreu

redução na porcentagem de germinação nas sementes de tomate. Os extratos de frutos

ocasionaram redução na porcentagem de germinação apenas na concentração de 4% (maior

concentração testada) comparados ao controle.

Luz et al., (2012) utilizaram extratos de Plantago major, popularmente conhecida

como tansagem. Esta planta é usada como antibiótica, anti-inflamatória, antisséptica,

antitérmica, na prevenção de tumores e no tratamento de neoplasias. A análise dos resultados

indicou redução significativa no IG em todas as concentrações testadas, sendo o índice

afetado proporcionalmente ao aumento da concentração do extrato.

Iganci et al., (2006) utilizaram o extrato de três espécies de boldo: boldo-da-terra

(Plectrantus barbatus - Lamiaceae), boldo-miúdo (Plectrantus amboinicus – Lamiaceae) e o

boldo-baiano (Vernonia condensata - Asteraceae). O teste de primeira contagem não

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demonstrou ser afetado pelos compostos das plantas, mas o seu efeito foi detectado sobre a

germinação final não só retardando o processo, mas, também, o ativando. Estes resultados

estão de acordo com Ferreira e Áquila. (2000) que descrevem alelopatia como interações

químicas entre plantas tanto estimulatórias quanto inibitórias.

4.2 Crescimento da raiz

Em relação ao crescimento da raiz, observou-se que houve redução em todas as

concentrações, exceto na concentração de 10% cujos valores se mostram maiores tanto ao 3º

como ao 6º dia (Tabela 2; Figura 4).

Tabela 2: Distribuição média do crescimento (cm) das raízes observadas no terceiro e sexto dia, sobre efeito das infusões de Siparuna apiosyce.

Concentrações Médias de acordo com o extrato 3° dia 6° dia

0% 0,29 1,69 5% 0,23 1,41 10% 0,33 1,72 25% 0,20 1,15 50% 0,21 1,16 100% 0,15 0,85

0%10%

20%30%

40%50%

60%70%

80%90%

100%

0

0.1

0.2

0.3

f(x) = − 0.030875576036867 x + 0.258110599078342R² = 0.0611126615796186

Crescimento das Raízes - 3° dia

Concentração - Extrato de Siparuna apiosyce

Cres

cim

ento

das

Rai

zes

00.20.40.60.8

11.21.41.61.8

2

f(x) = − 1.29377880184332 x + 1.61802995391705R² = 0.896672053069138

Crescimento das Raízes - 6° dia

Figura 4: Crescimento das raízes X concentração do extrato aquoso de Siparuna apiosyce avaliados ao terceiro e sexto dias.

Observa-se que o crescimento das raízes foi mais afetado ao 6º dia do que ao 3º dia,

provavelmente pelo fato do tempo de exposição ter sido maior. Excetuando-se a concentração

de 10%, nota-se que os resultados de inibição do crescimento são diretamente proporcionais

ao aumento das concentrações. Estas observações estão de acordo com Gatti et al., (2004)

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onde descreveram que os efeitos dos compostos alelopáticos interagem com os processos

fisiológicos da planta-teste. De um modo geral agem como inibidores da germinação e do

crescimento. Porém, a maior parte dos compostos orgânicos, inibitórios em alguma

concentração, é estimulante quando presentes em menores concentrações. Isto está de acordo

com os resultados observados na concentração de 10% do extrato aquoso de S. apiosyce

avaliado no presente estudo.

Este mesmo tipo de resposta foi obtido por Tur et al., (2010). O extrato aquoso de

folhas frescas, secas e frutos de Duranta repens (pingo-de-ouro) nas concentrações de 1, 2 e

4% e água destilada como controle em aquênio de alface (Lactuca sativa L.) e tomate

(Lycopersicum esculentum L.), foram avaliados também para crescimento das raízes. Foi

observado que os extratos aquosos de folhas frescas e secas em 1, 2 e 4% reduziram

significativamente o comprimento radicular das plântulas de alface, e os extratos do fruto em

2% estimulou o crescimento, sendo o comprimento radicular da alface superior ao controle. O

comprimento radicular do tomate em todas as concentrações testadas de folhas frescas, secas

e frutos obteve redução significativa no comprimento radicular das plântulas.

Não foram observadas anormalidades morfológicas como tumerização ou

engrossamento das radículas, assim como a coloração não foi alterada visualmente em

nenhuma das concentrações testadas do extrato de S. apiosyce. Estudos mostram que a

germinação é menos sensível aos aleloquímicos que o crescimento da plântula. Substâncias

alelopáticas podem inibir ou não a germinação, mas podem induzir o aparecimento de

plântulas anormais, sendo as alterações na radícula um dos sintomas mais comuns.

Anormalidades em raízes de milho foram observadas por Pires et al., (2001), na concentração

de 6,4% p/v com extrato aquoso de Leucaena leucocephala (leucena) e por Murakami et al.,

(2009) em raízes de alface com extratos clorofórmicos de Aloe arborescens (babosa). Cruz-

Ortega et al., (1998) relatam que o endurecimento e escurecimento dos ápices radiculares são

evidências de alterações morfológicas e ultra-estruturais causadas por fitotoxinas. Este

aspecto de escurecimento nas raízes NÃO foi observado nos tratamentos com extratos de S.

apiosyce em nenhuma das concentrações testadas. Portanto, a avaliação da normalidade das

plântulas é importante na identificação de substâncias alelopáticas e é dependente da

concentração (FERREIRA e ÁQUILA, 2000; MIRÓ et al., 1998; ÁQUILA, 2000).

4.3 Índice Mitótico (IM)

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A tabela 3 mostra os valores do IM de todas as concentrações testadas. Pôde-se

verificar que com o aumento da concentração do extrato de S. apiosyce o valor do índice

mitótico não foi continuamente reduzido (Tabela 3 e Figura 5), sendo o maior efeito

depressivo verificado na concentração de 10 %, valores não estatisticamente significativos

que sugerem ausência de efeito citotóxico.

Tabela 3: Número de células em divisões e índice mitótico de raízes de cebola, expostas às infusões de Siparuna apiosyce. O número total de células analisadas para cada concentração foi de 4000.

Concentrações Divisão Celular Índice Mitótico 0% 1970 49,25% 5% 1953 48,83% 10% 1576 39,40% 25% 1986 49,65% 50% 1700 42,50% 100% 1702 42,55%

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

f(x) = − 0.0491129032258069 x + 0.468952419354839R² = 0.181538712315579

Índice Mitótico

Concentrações

Índi

ce M

itótic

o

Figura 5: Índice mitótico de raízes de cebola analisadas no total de 4000 células expostas às infusões de Siparuna apiosyce em diferentes concentrações.

Resultados semelhantes aos do presente trabalho foram encontrados por Macedo et al.,

(2014) onde o índice mitótico das células de A. cepa expostas a quatro concentrações (0,5,

1,0, 1,5 e 2,0 mg/mL) de quiabo não foram estatisticamente diferentes do controle negativo

(água), tanto no tratamento contínuo quanto no descontínuo, sugerindo que os extratos não

afetaram a divisão celular.

Traesel et al., (2013) testando o óleo extraído da polpa de Acrocomia aculeata (Arecaceae ) observaram células em divisão em todos os grupos teste, exceto no grupo controle positivo,

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evidenciando que o óleo não interferiu no processo mitótico. Percebeu-se que na medida em que se

aumentava a dose do óleo ocorria a diminuição desses valores, sugerindo um potencial citotóxico em

altas concentrações, o que não se observou no presente trabalho.

Stange et al., (2008) estudando o extrato das folhas de Cecropia glaziovii verificaram

que o índice mitótico não apresentou diferenças significativas, comparado ao grupo controle,

sugerindo que o extrato não interfere na divisão celular.

A ausência de redução significativa no IM das células sob o extrato aquoso de S.

apiosyce é relevante em todas as concentrações testadas, sugerindo que o extrato não interfere

no ciclo celular normal por inibição da divisão das células, o que demonstra que este extrato

não possui atividade citotóxica, visto que a citotoxicidade de uma substância pode ser

determinada pelo aumento ou diminuição do IM das células submetidas a sua exposição

(GADANO et al., 2002). Os dados encontrados no presente trabalho corroboram com os

resultados encontrados para diversas espécies de plantas, que não exibiram inibição da divisão

celular, e contrariam os resultados em que o IM diminui em razão do aumento das

concentrações demonstrando efeito citotóxico da planta em estudo (PIRES et al., 2001;

ALVARENGA, 2011; LUZ et al., 2012).

4.4 Teste do Micronúcleo (MN) e Aberrações Cromossômicas (AC)

Todas as fases do ciclo celular foram encontradas nas concentrações testadas da

infusão de S. apiosyce. A Figura 6 ilustra os tipos de aberrações encontradas. As AC mais

frequentes foram c-metáfase (Figura 6-A), aderência (Figura 6-B) e ponte cromossômica

(Figura 6-C). Também foram encontrados, micronúcleos (Figura 6-D), brotos (Figura 6-E) e

perdas cromossômicas (Figura 6-F) além de núcleos condensados. O número de interfase,

prófase, metáfase, anáfase, telófase e aberrações cromossômicas estão apresentados na tabela

4. As frequências de aberrações cromossômicas observadas nas raízes submetidas ao

tratamento com água estéril (controle) e aos extratos de S. apiosyce em diferentes

concentrações (5%, 10%, 25%, 50% e 100%) estão representadas na Tabela 5. Esta

observação pode ser melhor visualizada na Figura 7.

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A B C

D E F

Figura 6: Principais aberrações encontradas em células meristemáticas de raiz de A.cepa sob diferentes concentrações do extrato aquoso de S. apiosyce. c-metáfase (A), aderência (B), ponte cromossômica e perda (C),micronúcleo (D), brotos (E) e perdas cromossômicas (F).

Tabela 4: Número de células da raiz de cebola em diferentes fases do ciclo celular, germinadas em seis dias em água e em diferentes concentrações da infusão de Siparuna apiosyce.

Concentrações Número de células em diferentes fases do ciclo celular

Interfase Prófase Metáfase Anáfase Telófase Aberrações Total

0% 2030 1689 74 62 79 66 4000

5% 2047 1608 108 74 80 83 4000

10% 2424 1361 46 40 77 52 4000

25% 2014 1835 09 29 41 72 4000

50% 2300 1452 38 42 63 105 4000

100% 2298 1459 45 56 51 91 4000

Total 13113 9404 320 303 391 469 24000

Tabela 5: Aberrações cromossômicas encontradas nas raízes de Allium cepa tratadas com diferentes concentrações da infusão de Siparuna apiosyce. Aberrações Concentrações 0% 5% 10% 25% 50% 100%

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29

C-metáfase 24 28 14 07 17 12

Aderência 21 38 19 29 28 35

Quebra cromossômica 01 02 00 08 00 00

Ponte cromossômica 19 14 18 13 18 30

Micronúcleo 02 01 00 00 20 00Broto 00 00 01 00 04 00Núcleo condensado 00 00 00 15 18 14

Total 67 83 52 72 105 91N° total de células analisadas 4000 4000 4000 4000 4000 4000

0% 5% 10% 25% 50% 100%0

5

10

15

20

25

30

35

40Aberrações cromossômicas

C-metáfase

Aderência

Quebra cro-mossômicaPonte cro-mossômicaMicronúcleo

Broto

Núcleo Conden-sado

Concentrações

Núm

ero

de a

berr

açõe

s

Figura 7: Diferentes tipos de aberrações cromossômicas presentes nas células meristemáticas das raízes de A.cepa sob diferentes concentrações do extrato de S. apiosyce.

Apesar do aparecimento de diferentes tipos de AC, estas não foram estatisticamente

significativas. Comparando-se o número de aberrações das concentrações em relação ao

controle, pode-se notar que na concentração de 10% houve proporcionalmente, menor

quantidade de AC. Como já foi citado, a concentração de 10% também favoreceu a

germinação da semente. Juntos, esses dois parâmetros de avaliação sugerem que a

concentração de 10% é a concentração mais indicada para o uso popular, entre as que foram

testadas neste trabalho.

A Figura 8 mostra uma comparação global da quantidade de AC encontradas nas

diferentes concentrações do extrato quando comparadas ao controle. Nota-se que a

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30

concentração de 10% se posiciona abaixo do controle negativo e em relação às demais

concentrações.

0% 5% 10% 25% 50% 100%0

20

40

60

80

100

120

Média de aberrações encontradas em razão de diferentes concentrações de infusão de Siparuna apiosyce.

Figura 8: Média de aberrações encontradas em razão de diferentes concentrações de infusão de Siparuna apiosyce.

Assim como em relação ao IM, Macedo et al., (2014) também, observaram nas células de

A. cepa expostas a quatro concentrações (0,5, 1,0, 1,5 e 2,0 mg/mL) de extrato de quiabo que não

houve aumento significativo da frequência global de aberrações e micronúcleos, sugerindo ausência de

efeitos mutagênicos nos extratos.

Alvarenga (2011) e Xavier (2014) utilizaram extratos de três diferentes espécies de

plantas do gênero Banisteriopsis em diferentes concentrações e observaram diversas

aberrações cromossômicas constatando que os índices de alterações das células aumentaram

significativamente paralelos ao aumento das concentrações das infusões, determinando a

genotoxicidade das plantas. Estes resultados contradizem os encontrados no presente trabalho,

já que o número de AC não aumentou significativamente com o aumento das concentrações.

Este fato nos leva a sugerir que S.apiosyce não apresenta efeito genotóxico nas concentrações

testadas.

Luz et al., (2012) mostraram que extratos de Plantago major provocam alterações no

ciclo celular pela inibição da divisão das células, indicado pelo índice mitótico. Os índices de

efeitos clastogênico e aneugênico demonstraram que, além de não determinar aumento de

aberrações cromossômicas, o que indica ausência de ação genotóxica, P. major possui

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atividade anti-genotóxica. Os resultados do teste do micronúcleo reforçam a sugestão de que o

extrato de P.major não possui atividade mutagênica, entretanto provoca alterações na divisão

celular. Os extratos de S. apiosyce, não determinaram aumento de AC e também, não

alteraram a divisão celular, como indicado pelos IM.

Stange et al., (2009) mostraram, nas concentrações por eles testadas, a impossibilidade

de observar algum efeito tóxico e atividade clastogênica ou aneugênica nas células de A. cepa.

Sugerem que os extratos de Cecropia graziovii (embaúba) não interferem na divisão celular e

que, portanto a planta não apresenta efeitos genotóxicos.

Aberrações cromossômicas (AC) são reconhecidas como importantes consequências de

ações genotóxicas de agentes químicos (NATARAJAN, 2002), aos quais muitos organismos,

inclusive os homens estão expostos. Estudos epidemiológicos têm mostrado pessoas com

elevadas frequência de AC apresentando risco significativo de desenvolvimento de câncer

(OBE, et al.,2002). Analisando-se sob esse aspecto, a população deve tomar o devido cuidado

ao fazer uso de chás vegetais cujos efeitos não são estudados e conhecidos.

Desta forma, os resultados aqui apresentados, deixam claro a necessidade de estudos

mais aprofundados sobre os efeitos mutagênicos dos extratos vegetais, para que a população

possa fazer uso dessa importante fonte de fármacos, que são provenientes de metabólitos

vegetais.

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5 CONCLUSÃO

Os resultados dos testes com infusões das folhas de Siparuna apiosyce em Allium cepa

permitiu chegar às seguintes conclusões:

A infusão de S. apiosyce exerce efeito alelopático na germinação e crescimento das

raízes de Allium cepa evidenciado pelo decréscimo do índice de germinabilidade (IG)

e crescimento das raízes.

A infusão deste vegetal não apresenta ação citotóxica, demonstrado pela ausência de

modificações morfológicas nas raízes em crescimento e pela constância do índice

mitótico em diferentes concentrações.

Não foram constatados efeitos genotóxicos, visto que o aumento do número das

aberrações cromossômicas e dos micronúcleos não foi significativo em comparação

com o controle.

Sugere-se a concentração de 10% como a que melhor representa a atuação benéfica

dos constituintes desta planta.

A espécie Siparuna apiosyce é uma fonte de metabólitos que pode ser aproveitada

para o uso pela população em geral, sem os inconvenientes da toxicidade.

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