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WALTER MARIO CRISTIAM ELIA
Contribuio ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo isquitico com a articulao coxofemoral de ces para as intervenes operatrias de artroplastia
total do quadril
So Paulo
2010
WALTER MARIO CRISTIAM ELIA
Contribuio ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo isquitico com a articulao coxofemoral de ces para as intervenes operatrias de artroplastia
total do quadril
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Clnica Cirrgica Veterinria da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Cincias
Departamento:
Cirurgia
rea de concentrao:
Clnica Cirrgica Veterinria
Orientador:
Prof. Dr. Angelo Joo Stopiglia
So Paulo
2010
Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO-NA-PUBLICAO
(Biblioteca Virginie Buff Dpice da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo)
T.2358 Elia, Walter Mario Cristiam FMVZ Contribuio ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo
isquitico com a articulao coxofemoral de ces para as intervenes operatrias de artroplastia total do quadril / Walter Mario Cristiam Elia. -- 2010.
73 p. : il.
Dissertao (Mestrado) - Universidade de So Paulo. Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia. Departamento de Cirurgia, So Paulo, 2010.
Programa de Ps-Graduao: Clnica Cirrgica Veterinria. rea de concentrao: Clnica Cirrgica Veterinria.
Orientador: Prof. Dr. Angelo Joo Stopiglia.
1. Ces. 2. Nervo isquitico. 3. Articulao coxofemoral de animal. 4. Neuropraxia. 5. Artroplastia. I. Ttulo.
FOLHA DE AVALIAO
Nome do autor: ELIA, Walter Mario Cristiam
Ttulo: Contribuio ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo isquitico com a articulao coxofemoral de ces para as intervenes operatrias de artroplastia total do quadril
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Clnica Cirrgica Veterinria da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo para a obteno do ttulo de Mestre em Cincias
Data: ____/____/____
Banca Examinadora
Prof. Dr. _____________________________ Instituio: ____________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: ____________________
Prof. Dr. _____________________________ Instituio: ____________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: ____________________
Prof. Dr. _____________________________ Instituio: ____________________
Julgamento: __________________________ Assinatura: ____________________
Os homens me atribuem uma genialidade, mas toda a genialidade que tenho reside no seguinte: quando h um assunto em minha mente, estudo-o em profundidade. Penso nele dia e noite. Exploro-o em todos os seus aspectos. Minha mente fica impregnada dele. O resultado o que muitas pessoas chamam de frutos da genialidade, enquanto, na verdade, so os frutos do estudo e do trabalho.
Alexander Hamilton
Somos o que repetidamente fazemos. A excelncia, portanto, no um feito, mas um hbito.
Aristteles
Se A o sucesso, ento A igual a X mais Y mais Z. O trabalho X; Y o lazer; e Z manter a boca fechada.
Albert Einstein
O nico lugar onde o sucesso vem antes do trabalho no dicionrio.
Albert Einstein
Ao meu amado pai, Walter Basilio Elias,
por seu amor incondicional e exemplo de disciplina e perseverana
Sede como os pssaros que, ao pousarem um instante sobre ramos muito leves, sentem-nos ceder, mas cantam ! Eles sabem que possuem asas.
Victor Hugo minha amada me, Lucy Artagoitia Elias,
pelo amor incondicional, dedicao, sabedoria e encorajamento
Se no fosse imperador, desejaria ser professor. No conheo misso maior e mais nobre que a de dirigir as inteligncias jovens e preparar os homens do futuro.
D. Pedro II
Ao meu orientador, professor Angelo Joo Stopiglia, pela oportunidade e confiana concedidas
Dedico este trabalho minha esposa e aos meus filhos
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, professor Angelo Joo Stopiglia
professora Maria Anglica Miglino, sem a qual no teria sido possvel a
transformao do que um dia foi meu sonho, o de ser mestre
Ao professor Francisco Javier H. Blazquez
Aos membros da banca examinadora, por seu ilustre comparecimento
Aos funcionrios ndio, Diego, Alessandra, Ney, Maicon e Jaqueline
todos os bibliotecrios por sua ajuda e pacincia
Aos meus pais Walter e Lucy
minha esposa Eliana e aos meus filhos Gabriella, Fernanda, Bianca e Luca
s minhas irms Wania e Eliane
Aos animais que foram submetidos s dissecaes, possibilitando a viabilidade do
trabalho cientfico
Treinamento em Prtese Total de Quadril - Ohio State University, College of Veterinary Medicine - Columbus, Ohio - Maio de 2009.
RESUMO ELIA, W. M. C. Contribuio ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo isquitico com a articulao coxofemoral de ces para as intervenes operatrias de artroplastia total de quadril. [An anatomic and surgical study contribution to the dogs ischiatic nerve and hip joint topographic relation for the total hip replacement procedures]. 2010. 73 f. Dissertao (Mestrado em Cincias) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010. A verificao do trajeto do nervo isquitico por meio da dissecao da articulao
coxofemoral de cadveres da espcie canina, e a sintopia destas estruturas, tem
relevncia em ser pesquisada na medida em que tal relao neuroarticular pode
estar envolvida nos casos de neuropraxia durante as intervenes cirrgicas de
artroplastia total do quadril de ces. O escopo do estudo foi o de apresentar uma
contribuio aos cirurgies em aprendizado na implantao das prteses acetabular
e femoral, para que possam compreender as relaes antomo-cirrgicas entre a
articulao coxofemoral e o nervo isquitico, e com a finalidade de potencializar
positivamente o resultado do ps-operatrio imediato dos ces. Foram utilizadas 20
articulaes coxofemorais provenientes de 10 cadveres de ces, com raas
definidas ou SRD, machos ou fmeas, com peso varivel, sempre acima de 20
quilogramas, sem alteraes macro-morfolgicas nas referidas articulaes, e
dissecadas por tcnica clssica. Realizou-se manobras de abduo articular para a
obteno de luxao articular, alm da retrao caudal do fmur proximal,
semelhana do que ocorre no transcorrer da aplicao da tcnica operatria de
colocao da prtese total de quadril. A dissecao cirrgica das estruturas
estudadas revelou um aumento considervel de contato entre o nervo isquitico e a
articulao coxofemoral durante as manobras de abduo articular em
aproximadamente 90, quando adicionada de retrao caudal do femur proximal.
Assim, conclui-se que a etapa ora referida, necessria pela tcnica cirrgica de
artroplastia total de quadril em ces, pode levar a leso do nervo isquitico, devendo
o cirurgio estar atento na realizao destas manobras.
Palavras-chave: Ces. Nervo isquitico. Articulao coxofemoral de animal.
Neuropraxia. Artroplastia.
ABSTRACT
ELIA, W. M. C. An anatomic and surgical study contribution to the dogs ischiatic nerve and hip joint topographic relation for the total hip replacement procedures. [Contribuio ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo isquitico com a articulao coxofemoral de ces para as intervenes operatrias de artroplastia total de quadril]. 2010. 73 f. Dissertao (Mestrado em Cincias) - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2010. The ischiatic nerve course verification using dissection of the hip joint from cadavers
of the canine species, as well as the sintopy of these structures, have a relevant
aspect to be investigated, because these neuro-articular relation can be involved in
cases of neurapraxia during some surgical interventions of total hip arthroplasty in
dogs. The main objective of the study was to present a contribution to the new
surgeons during their learning phase of implantation of the acetabular and femoral
prosthesis, so they can understand the anatomic and surgical relation between the
hip joint and the ischiatic nerve, aiming to potentially make positive the immediate
post surgical result of the treated dogs. 20 hip joints from 10 cadavers of dogs were
utilized, with pure breeds or not, males or females, with variable weight, always over
20 kilos, without macro-morphological alterations in the hip joints, and dissected
using the classical technique. Hip joint abduction manoeuvres were made to obtain
the desired joint luxation, besides a caudal retraction of the proximal femur, like
occurs during the application of the surgical technique utilized to perform the total hip
replacement surgery. The surgical dissection involving the studied structures showed
a significant increasing contact between the ischiatic nerve and the hip joint during
the articular abduction manoeuvres, using approximately a 90 degree angle, and
when added a caudal retraction of the proximal femur. Consequently, conclusion was
that the above-mentioned stage, needed to perform the total hip arthroplasty
procedure in dogs, can lead to a lesion of the ischiatic nerve. Thus, the surgeons
shall be alert during the realization of these manoeuvres.
Keywords: Dogs. Ischiatic nerve. Hip joint of animal. Neurapraxia. Arthroplasty.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Dados dos ces submetidos ao estudo antomo-cirrgico da relao
topogrfica do nervo isquitico com a articulao coxofemoral, para
as intervenes operatrias de artroplastia total do quadril
So Paulo........................................................................................52
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1. - graus
2. % - por cento
3. cm - centmetros
4. mm - milmetros
5. kg - quilogramas
6. m. - msculo
7. ATQ - artroplastia total do quadril
8. F - fmea
9. M - macho
10. OA - osteoartrite
11. SRD - sem raa definida
SUMRIO
1
1.1
INTRODUO
OBJETIVO
22
25
2 REVISO DE LITERATURA 27
2.1 NEUROANATOMIA 28
2.2 ANATOMIA ARTICULAR 29
2.3 DISPLASIA COXOFEMORAL 30
2.3.1 Etiologia e patognese 30
2.4 ARTROPLASTIA TOTAL DO QUADRIL 33
2.4.1 Histria 33
2.4.2 Indicaes 34
2.4.3 Contra-indicaes 35
2.5 ACESSOS CIRRGICOS PARA A ARTROPLASTIA
TOTAL DO QUADRIL
36
2.6 NEUROPRAXIA DO NERVO ISQUITICO 40
3 MATERIAIS E MTODOS 42
3.1 ANIMAIS 43
3.2 PREPARO 43
3.3 CRITRIOS DE SELEO 46
3.4 CRITRIOS DE EXCLUSO 46
4 RESULTADOS 47
5 DISCUSSO 53
6 CONCLUSES 60
REFERNCIAS
APNDICES
62
66
Introduo
23
1 INTRODUO
A articulao coxofemoral dos ces tem sido muito bem estudada do ponto de
vista anatmico, assim como cirrgico nas ltimas dcadas. H vrias possibilidades
com relao as tcnicas cirrgicas empregadas para o tratamento das afeces
dessa articulao, quer seja a displasia coxofemoral, a necrose assptica da cabea
femoral, as luxaes recidivantes, e as fraturas intra-articulares.
Do ponto de vista anatmico, a articulao dos animais displsicos, por
exemplo, sofre grandes alteraes que levam os mesmos claudicao
acompanhada de dor, alm de perda da massa muscular e diminuio da amplitude
dos movimentos. Para este tipo de doena de alta herdabilidade, o prognstico
reservado para pacientes com grau acentuado de leso, e que no sofreram
interveno cirrgica, uma vez que a cintica articular predispe dor.
Nos Estados Unidos da Amrica h uma tcnica cirrgica sendo realizada h
mais de 30 anos, e com resultados excelentes quando bem executada; trata-se da
artroplastia total do quadril ou prtese total de quadril (OLMSTEAD; HOHN;
TURNER, 1981).
A presena do nervo isquitico prximo da regio da interveno cirrgica,
para a colocao da prtese total do quadril, parece no ser de grande relevncia
durante o acesso cirrgico, porm, h relatos de casos de neuropraxia do nervo
como resultante do ato operatrio, ps-cirrgico imediato. Por neuropraxia da coxa,
entende-se a falha de conduo eltrica do nervo devido a um intumescimento da
bainha de mielina, ocasionando mudanas estruturais e perda parcial da
funcionalidade axonal, resultando em dficit de propriocepo e atrofia da
24
musculatura caudal da coxa, e do msculo tibial cranial, que so inervados pelo
nervo isquitico (ANDREWS; LISKA; ROBERTS, 2008).
De acordo com os estudos de Andrews, Liska e Roberts (2008), no ocorre
neurotmese do nervo isquitico nas intervenes operatrias de artroplastia total do
quadril, porm, o presente estudo dever auxiliar novos cirurgies que estejam
enveredando no caminho da colocao de prteses totais de quadril, ou outras
tcnicas cirrgicas para a articulao coxofemoral, contudo de menor complexidade,
estarem atentos para eventuais leses no nervo isquitico, de natureza
iatrognica.
25
Objetivo
26
1.1 OBJETIVO
O objetivo do presente estudo o de avaliar a topografia do nervo isquitico
de ces, em cadveres, e sua sintopia com as estruturas envolvidas na tcnica
operatria de artroplastia total do quadril, e as possveis complicaes advindas
dessa relao, como uma contribuio antomo-cirrgica sistematizada no emprego
da referida tcnica operatria.
27
Reviso de Literatura ___________________________________________________________________
28
2 REVISO DE LITERATURA
2.1 NEUROANATOMIA
O nervo isquitico o maior nervo do corpo do co. Sua emergncia ocorre
em L6, L7 e S1, com contribuio ocasional de S2. O nervo uma continuidade do
tronco lombossacral (KITCHELL; EVANS, 1993).
De acordo com Kitchell e Evans (1993), a diviso normal do nervo isquitico
varivel. Ocasionalmente ela est localizada proximalmente articulao
coxofemoral, enquanto em outras vezes ela pode localizar-se mais distalmente, na
regio do espao poplteo. O nervo isquitico est coberto inicialmente pelo msculo
glteo superficial e logo aps pelo msculo bceps femoral, situado intimamente com
o pequeno msculo abdutor crural caudal, cruzando-o de forma oblqa no tero
proximal da coxa. Sua poro proximal acompanhada pelos vasos glteos caudais
localizados caudalmente ao nervo, que por sua vez nutrido pela pequena artria
isquitica que encontra-se parcialmente embrenhada na sua regio caudolateral. Na
continuidade do tronco lombossacral o nervo isquitico ao deixar a pelve possui um
simples ramo muscular para a musculatura caudal da coxa e outro ramo muscular
para o msculo abdutor crural caudal.
Ainda de acordo com Kitchell e Evans (1993), o ramo muscular do nervo
isquitico tem cerca de 1cm de comprimento e 3 mm de dimetro. Este deixa a
poro do nervo isquitico em sua borda caudomedial que oposta ao espao entre
os msculos glteo mdio e a origem do msculo gmeos, se localizando paralelo e
cranial ao ligamento sacro tuberal e caudal a artria e veias glteas caudais.
29
Aps percorrer cerca de 1cm na fenda (fossa trocantrica) medial ao trocanter
maior, esta poro muscular do nervo envia um ramo para uma grande poro
superficial do msculo bceps femoral, aproximadamente a 3 cm de distncia de sua
principal origem na tuberosidade isquitica. A poro remanescente do nervo que
aproximadamente do mesmo tamanho do ramo que inerva a poro superficial do
msculo bceps femoral, se dirige distalmente, e para a borda distal do msculo
quadrado femoral, se ramificando usualmente em quatro pores; uma mais caudal
que via de regra se bifurca num ramo menor de sentido disto-lateral e inervando a
regio mais profunda e pequena do msculo bceps femoral, e um ramo mais curto e
largo que inerva a parte proximal do msculo semitendinoso. A poro principal do
ramo muscular continua distalmente e se divide em duas ou trs ramificaes. O
ramo mais caudal do nervo adentra a parte mdia do msculo semitendinoso, distal
interseco que parcialmente divide o msculo. O ramo mais cranial por sua vez,
se dirige distalmente e novamente se bifurca; um ramo vai para a parte caudal do
ventre, e o outro ramo para a parte cranial do ventre do msculo semimembranoso.
Uma longa e estreita poro fibular comum deriva do nervo isquitico em sua regio
oposta ou distal a fossa trocantrica, e associa-se com a borda medial do msculo
abdutor crural caudal. Nesta regio, o nervo isquitico envia um ramo muscular para
este pequeno msculo abdutor, alm de ramificaes para os nervos cutneos
lateral e caudal, e nervos fibular comum e tibial.
2.2 ANATOMIA ARTICULAR
A articulao coxofemoral do tipo sinovial, formada pela cabea do fmur
articulando-se com o acetbulo, a cavidade cotilide do coxal. Os eixos do fmur e
30
do coxal se encontram cranialmente na articulao coxofemoral num ngulo aberto
de aproximadamente 95 graus. Alm da extenso e da flexo, a articulao permite
grande variedade de movimentos graas ao seu formato esferoidal. O acetbulo
profundo e se aprofunda ainda mais durante a vida do animal por uma faixa de
fibrocartilagem, o lbio acetabular, que ajusta-se na borda do acetbulo. Ela se
estende atravs da fenda acetabular como um ligamento independente, o ligamento
transverso do acetbulo. A cpsula articular bem ampla. Ela se adere medialmente
a poucos milmetros da borda do lbio acetabular, e lateralmente no colo femoral, a
1 ou 2 cm a partir da cabea do fmur (EVANS, 1993).
De acordo com os estudos de Evans (1993), o ligamento da cabea do fmur
bastante achatado e altor, estendendo-se a partir da fvea na cabea femoral at
a fossa acetabular. Uma vez que este ligamento intracapsular e no est
relacionado com o suporte do peso do membro plvico durante a pisada, encontra-
se ento coberto pela membrana sinovial. Em ces de raas grandes, o ligamento
da cabea do fmur tem cerca de 1,5 cm de comprimento, e 5 mm de espessura na
sua insero femoral. Em sua insero no acetbulo, ele mais espesso; se mistura
com o peristeo da fossa acetabular e com o ligamento transverso do acetbulo,
sendo que nesta insero plvica o ligamento tem mais do que 1 cm de espessura.
Na retangular fossa acetabular e em sua periferia, h geralmente pequena
quantidade de gordura.
2.3 DISPLASIA COXOFEMORAL CANINA
2.3.1 Etiologia e patognese
31
A displasia coxofemoral no co tem alta incidncia em determinadas raas.
Trata-se de uma disparidade progressiva entre a massa muscular e o crescimento
sseo, resultando em doena articular degenerativa (RISER, 1964, 1973, 1975).
Neste aspecto Cardinet, Guffy e Wallace (1974), realizaram a tenotomia
pectnea em 13 ces da raa Pastor Alemo, com quatro, oito e 12 semanas de
idade. Os resultados destes procedimentos indicaram a no preveno da displasia
coxofemoral e, na realidade, resultaram em outras mudanas patolgicas, embora
ocorresse o alvio da dor.
A displasia coxofemoral uma doena comum do desenvolvimento
esqueltico dos ces, produzida por uma predisposio gentica para a subluxao
da articulao do quadril nos animais imaturos. A frouxido articular tida como a
causa inicial da displasia e que leva subluxao e uma relao de incongruncia
entre a cabea femoral e o acetbulo. Foras anormais se desenvolvem na
articulao e interferem no desenvolvimento normal da mesma, alm de ocorrer
sobrecarga em determinadas reas da cartilagem articular. Com o passar do tempo,
ocorre a degenerao da articulao. Numerosos fatores tm influncia no
desenvolvimento e na progresso da displasia coxofemoral, incluindo-se a gentica,
o rpido ganho de peso nos animais em crescimento, um alto nvel de nutrientes, e a
massa da musculatura plvica (DEMKO; MCLAUGHLIN, 2005).
A displasia do quadril uma complexa anormalidade de desenvolvimento,
no-congenita, e que afeta a populao canina; os animais afetados pela displasia
nascem com quadris normais, porm, rapidamente desenvolvem subluxao da
cabea femoral e conseqente molstia articular degenerativa ou osteoartrite, de
uma, ou ambas as articulaes envolvidas na afeco. Trata-se de uma doena de
caractersticas biomecnicas, onde a instabilidade da articulao nos ces jovens
32
altera a concentrao de foras sobre a cabea femoral e o acetbulo que esto em
crescimento. Uma leve sinovite proliferativa e no supurativa, edema e fibroplasia do
ligamento da cabea do fmur, alm de efuso articular, esto presentes nas
primeiras 4 semanas de idade. Com o passar da idade, devido as foras anormais
atuantes sobre o apoio do peso durante a pisada, ocorrem microfraturas do osso
subcondral, principalmente na borda acetabular dorsal e na cabea do fmur.
Segue-se uma fase de cicatrizao, o osso torna-se mais duro e menos capacitado
para a absoro de choques, e continuamente h um remodelamento sseo num
ciclo de degenerao articular (FRIES; REMEDIOS, 1995).
De acordo com os estudos de Fries e Remedios (1995), outros fatores
contribuem na patognese da displasia coxofemoral. A frouxido articular por
exemplo, aceita como um fator significativo. Diferentes tipos corpreos entre as
raas de ces; crescimento rpido associado uma nutrio excessiva, por
exemplo, excesso de clcio e vitamina D na dieta de animais com predisposio
gentica para o desenvolvimento da displasia coxofemoral; volume de lqido
sinovial associado a efuso articular.
Ainda segundo Fries e Remedios (1995), a seleo de ces normais, com
pais e avs isentos da doena, a recomendao principal como mtodo para
reduzir-se a propagao da displasia coxofemoral na populao geral de ces.
Muito pouco se tem resolvido sobre a displasia coxofemoral canina em termos
da reduo de sua incidncia, de como melhor diagnostic-la, ou mesmo sobre uma
concordncia com relao a definio da doena. Na realidade, sabe-se que nos
ltimos 50 anos, foram gastos milhes de dlares em seu diagnstico, e no
tratamento dos ces afetados (HARASEN, 2009).
33
2.4 ARTROPLASTIA TOTAL DO QUADRIL
2.4.1 Histria
A tcnica artroplastia total do quadril em ces foi desenvolvida no final da
dcada de 1970 por Olmstead (OLMSTEAD; HOHN; TURNER, 1981).
O uso da prtese total cimentada para a articulao coxofemoral em humanos
foi relatada inicialmente no incio dos anos 60 (CHARNLEY, 1961). Desde este
relato inicial, a ATQ tem sido freqentemente executada em pacientes humanos e
no campo da medicina veterinria (CONZEMIUS; VANDERVOORT, 2005) .
Um relato de sucesso com o uso de uma prtese de cabea-fixa ou no-
modular (Richards Canine II Hip Prosthesis, Richards Medical, Memphis,
Tennessee) implantada em um co, estabeleceu a ATQ como uma opo potencial
para o tratamento dos pacientes caninos (HOEFLE, 1974).
H relatos documentados com resultados subjetivamente definidos entre bons
excelentes, com relao ao sistema de prtese no-modular para ces (PARKER;
BLOOMBERG; BITETTO, 1984 e OLMSTEAD, 1987, 1995).
Segundo Conzemius e Vandervoort (2005), no ano de 1990, foi introduzido o
sistema de prtese total cimentada modular (Canine Modular Hip System,
Biomedtrix, Boonton, New Jersey) e respectivos instrumentos cirrgicos para a
devida implantao.
O incio do sistema modular melhorou a tcnica cirrgica e gerou bons
resultados clnicos (SKURLA; JAMES, 2001).
Um grande volume de informao experimental e clnica tem se acumulado,
visando discorrer a respeito das caractersticas dos implantes, e sobre a preveno
34
de complicaes, num esforo para melhorar os resultados vindouros. Nos dias de
hoje, muita ateno tem sido dada aos sistemas de prteses no-cimentadas
(CONZEMIUS; VANDERVOORT, 2005).
2.4.2 Indicaes
De acordo com os estudos de Conzemius e Vandervoort (2005), a indicao
primria para a ATQ na severa osteoartrite (OA) da articulao coxofemoral, e que
cause claudicao, dor, diminuio da funo do membro e um decrscimo na
qualidade de vida do paciente. importante notar que apenas a imagem radiogrfica
com alteraes severas da articulao no se constitue em indicao para a ATQ.
Tem sido relatado que o relacionamento entre a imagem radiogrfica da
doena e a manifestao clnica da mesma, pobre e imprevisvel (HIELM-
BJRKMAN et al., 2003).
Para Conzemius e Vandervoort (2005), embora a ATQ possa ser realizada
em grande variedade de pacientes caninos, o paciente ideal deve ter idade mediana,
de raa mdia ou grande, e que se comporte o suficiente, no reduzindo desta
maneira as chances de sucesso aps a interveno cirrgica. A boa comunicao
prvia com os clientes de suma importncia; os mesmos devero entender as
probabilidades para o sucesso e para a falha, entender as restries de longo prazo
s atividades que sero impostas ao paciente depois do ato cirrgico, terem
habilidade para seguirem as instrues pertinentes aos cuidados no ps-cirrgico
imediato e tardio do paciente, e possuirem os recursos financeiros para pagar pelo
que se considera geralmente dispendioso, comparativamente a um procedimento
primrio, podendo ocorrer complicaes que requeiram onerosos procedimentos
35
subseqentes. Por fim, o cirurgio e os assistentes da operao cirrgica devem
estar adeqadamente treinados e atentos todos os princpios cirrgicos
(especialmente assepsia) necessrios para a otimizar as possibilidades de sucesso
do procedimento da ATQ.
As indicaes para a artroplastia total do quadril em ces, incluem a
osteoartrite secundria a displasia coxofemoral, a luxao traumtica de uma
articulao coxofemoral displsica, a luxao traumtica porm crnica de uma
articulao coxofemoral previamente normal, fraturas intra-articulares irreparveis,
falha na colocefalectomia e osteoartrite secundria ao trauma (SCHULZ, 2000).
Embora poucos estudos tenham documentado a eficcia deste procedimento
cirrgico, evidncias clnicas tm sugerido que a ATQ em caninos, tem uma alta taxa
de sucesso no alvio da dor e na restaurao da funo (MASSAT; VASSEUR, 1994;
OLMSTEAD; HOHN; TURNER, 1983).
2.4.3 Contra-indicaes
De acordo com Conzemius e Vandervoort (2005), provavelmente a contra-
indicao mais comumente encontrada para a ATQ a presena de uma doena
ortopdica coexistente no membro afetado. Um paciente candidato ATQ, dever
ser examinado fisicamente para confirmar a presena de dor na articulao
coxofemoral, e a ausncia da dor na articulao do joelho. Quando um paciente tem
dor devido a ruptura de ligamento cruzado cranial e dor por (OA) do quadril, somente
a execuo da ATQ, raramente melhora a funo do membro deste paciente. Como
via de regra, o autor realiza primeiramente a interveno cirrgica com vistas dor
do joelho.
36
Disfuno neurolgica do membro proposto para ATQ torna-se uma contra-
indicao se a doena neurolgica progressiva ou se vai afetar o resultado. Um
co com sinais clnicos associados a doena lombossacral, no deve receber ATQ
at que o problemas lombossacrais tenham sido resolvidos (CONZEMIUS;
VANDERVOORT, 2005).
O ato cirrgico prvio da articulao coxofemoral no se constitue
necessariamente numa contra-indicao, porm os proprietrios deveriam ser
informados de um provvel risco em dobro para a ocorrncia de infeco. Alm
disto, poderiam ocorrer complicaes durante o procedimento cirrgico devido a
mudanas anatomicas dos pontos de referncia, alm do aumento da fibrose
periarticular (CONZEMIUS; VANDERVOORT, 2005).
Ainda de acordo com os estudos de Conzemius e Vandervoort (2005), outras
variveis que podem aumentar a chance de falha no resultado de uma ATQ, so as
infeces locais, sistmicas, a neoplasia (apesar da evoluo dos mdicos
veterinrios oncologistas e donos dos pacientes), pacientes de esqueleto imaturo e
com aqueles proprietrios ou pacientes em que as restries solicitadas pelo
cirurgio, s atividades aps a interveno cirrgica, no sejam atendidas.
2.5 ACESSOS CIRRGICOS PARA A ARTROPLASTIA TOTAL DO QUADRIL
Dois acessos cirrgicos tm sido descritos mais comumente para a realizao
da ATQ em ces, com a maioria dos relatos descrevendo o acesso craniolateral
(SCHULZ, 2000).
Em um estudo designado para avaliar a eficcia da modificao no acesso
cirrgico sobre o posicionamento do implante femoral subseqente, demonstrou-se
37
no haver diferena significante entre o acesso craniolateral e a osteotomia
trocantrica, no obstante, ocorra, na exposio da articulao coxofemoral e no
posicionamento proximal da prtese do fmur (WYLIE et al., 1997).
Para Schulz (2000), a ausncia de uma melhora significante no
posicionamento do implante, e a fixao e estabilidade da osteotomia trocantrica
sugere que esta tcnica no apropriada para o uso rotineiro na ATQ de ces.
Resultados dos estudos de um grupo de registro das intervenes cirrgicas
da ATQ em ces, reportou o acesso craniolateral em 93% dos pacientes, a
osteotomia trocantrica em 1% dos pacientes e outras modificaes em 6% dos
pacientes (SCHULZ et al., 1998).
Ainda segundo os estudos de Schulz (2000), as modificaes ao acesso
craniolateral incluem a miotomia do msculo glteo superficial e tenotomias parciais
dos msculos glteos mdio ou profundo. A miotomia longitudinal do msculo glteo
superficial, pode em combinao com uma inciso bem alta, facilitar o acesso ao
canal femoral se comparado com a total retrao caudo-dorsal do msculo. O uso
de tenotomias dos msculos mdio ou profundo parece basear-se mais de acordo
com a anatomia individual de um paciente do que uma preferncia do cirurgio. Os
efeitos especficos destas variaes no tempo cirrgico, posicionamento do
implante, recuperao, e resultado a longo prazo ainda tm que ser determinados,
alm do que, a escolha e a colocao de afastadores ainda no foi avaliada no
procedimento de ATQ para ces, mas pode ser importante para evitar injria
nervosa (SCHULZ, 2000).
Um acesso craniolateral geralmente o suficiente para se expor
adeqadamente a articulao coxofemoral. Alguns cirurgies no entanto, preferem
um acesso dorsal para a obteno de uma melhor exposio (envolvendo a
38
osteotomia trocantrica ou tenotomia gltea). O fmur proximal ento rotacionado
para o lado externo do corpo, expondo-se desta maneira a cabea e o colo femoral.
A cpsula articular incisada transversalmente e o ligamento da cabea do fmur
seccionado para permitir a luxao da cabea femoral. Um elevador de peristeo
utilizado para a remoo de todos os tecidos moles aderidos ao colo femoral em sua
poro cranial. A prtese femoral, seu modelo ou um guia de osteotomia alinhado
com o fmur, e o ngulo de corte do colo femoral planejado. Uma serra oscilatria
utilizada para criar esta osteotomia (DENNY; BUTTERWORTH, 2000).
De acordo com os estudos de Denny e Butterworth (2000), o fmur afastado
caudalmente para se expor o acetbulo durante a preparao do leito acetabular.
Aps um acesso craniolateral articulao coxofemoral com tenotomia
parcial do tendo do msculo glteo profundo, a cpsula articular incisada e a
cabea e o colo femorais so expostos. feita a luxao da articulao coxofemoral
e o fmur externamente rotacionado at que a superfcie cranial da cabea femoral
e o colo femoral estejam apontando lateralmente. A osteotomia femoral ento feita
no nvel desejado junto da superfcie do modelo de corte, com o uso de uma serra
oscilatria (MACIAS; COOK; INNES, 2006).
Entre os clssicos acessos cirrgicos articulao coxofemoral dos ces,
esto um acesso do aspecto craniodorsal da articulao por meio de uma inciso
craniolateral, e um acesso dos aspectos craniodorsal e caudodorsal da articulao
pela osteotomia do trocanter maior (PIERMATTEI, 1993).
Uma inciso levemente curvilnea feita cranialmente ao fmur, partindo de
um ponto que eqidistante entre a linha mdia dorsal e a extremidade do trocanter
maior, e terminando de maneira adjacente e distal ao terceiro trocanter. A pele e o
tecido subcutneo so afastados, expondo-se logo abaixo a musculatura. A insero
39
fascial do msculo tensor da fscia lata incisada, e o msculo afastado
cranialmente enquanto o msculo bceps femoral afastado caudalmente. O
msculo glteo mdio deslocado dorsalmente, expondo-se desta forma o msculo
glteo profundo. Um elevador de peristeo utilizado para separar o msculo glteo
profundo da cpsula articular coxofemoral. Uma inciso em forma de L feita
perpendicularmente em relao s fibras do msculo glteo profundo, em suas
inseres tendneas, e aps, paralelas com as fibras do ventre do msculo,
permitindo-se assim, que um tero do msculo glteo profundo seja refletido
cranialmente. A cpsula articular exposta, incisada paralelamente ao eixo de todo
o colo femoral. Esta inciso estende-se distalmente ao longo da margem cranial da
insero capsular no fmur. Uma poro da origem dos msculos vasto intermdio e
vasto lateral elevada, expondo-se a superfcie cranial do colo femoral e do
trocanter maior (OLMSTEAD; HOHN; TURNER, 1981).
Um acesso craniolateral articulao coxofemoral realizado. A inciso da
pele, que se inicia dorsal e caudal ao trocanter maior, se prolonga para frente e
distalmente ao longo do fmur at o tero proximal do osso. Ao se fazer a inciso da
pele caudalmente ao trocanter, a pele tem assim uma melhor proteo em relao
ao trauma que ocorre durante o processo da fresagem femoral. O msculo tensor da
fscia lata refletido cranialmente, e o msculo glteo mdio refletido
dorsalmente. feita uma inciso no tendo do msculo glteo profundo,
perpendicular s sua fibras. Quando metade ou dois teros do tendo forem
cortados, a inciso estendida paralelamente s fibras musculares, quase at a
insero das mesmas sobre o leo, sendo ento esta poro do msculo glteo
profundo refletida craniamente. Uma inciso feita na cpsula articular, paralela ao
longo do eixo do colo femoral, no nvel e estendendo-se atravs das origens dos
40
msculos vasto lateral e intermdio. A cpsula articular incisada at a sua insero
ventral, ao longo da cabea femoral (OLMSTEAD, 1987).
2.6 NEUROPRAXIA DO NERVO ISQUITICO
A neuropraxia isquitica, pode ser o resultado de uma reao exotrmica com
liberao de calor suficiente para a desnaturao de protenas, durante a extruso
de cimento sseo atravs dos orifcios realizados no squio, e que so feitos para a
ancoragem do cimento. A neuropraxia tambm pode ser causada por estiramento ou
contuso do nervo isquitico durante o procedimento cirrgico. O conhecimento das
causas potenciais desta complicao, ajudam a evit-la. Sabe-se que trata-se de
uma condio temporria, que requer apenas a proteo dos animais contra a auto-
mutilao, at que a funo do nervo retorne (OLMSTEAD, 1987).
De acordo com os estudos de Andrews, Liska e Roberts (2008), as causas de
compresso do nervo isquitico podem ser variveis, dependendo de fatores como a
experincia da aplicao da tcnica cirrgica por parte do cirurgio, equipe treinada
para a instrumentao, conhecimento anatmico da localizao do nervo isquitico e
sua proximidade com a musculatura envolvida na operao cirrgica, e outras
possveis causas como a movimentao caudal do fmur quando da luxao da
articulao coxofemoral na preparao do acetbulo para o recebimento da prtese
acetabular.
Durante a avaliao de 1000 procedimentos cirrgicos consecutivos para a
artroplastia total do quadril, Andrews, Liska e Roberts (2008), encontraram uma
freqncia de 19 casos de neuropraxia do nervo isquitico, sendo que duas
variveis como a idade do animal operado (ces mais velhos), e um aumento de
41
tempo no procedimento cirrgico, foram significamente associadas com uma maior
probabilidade da neuropraxia; concluiram que este problema no incomum aps a
artroplastia total do quadril em ces, e que a recuperao foi completa nos animais
afetados, embora ocorre-se dentro de um perodo altamente varivel.
Uma reviso de 1000 prteses de quadril em humanos, hipotetizou que a
prevalncia da neuropraxia do nervo isquitico decresceu ao passar do tempo em
aproximadamente 50%, devido ao fato dos cirurgies estarem mais atentos ao nervo
isquitico durante os procedimentos cirrgicos (SCHMALZRIED; NOORDIN;
AMSTUTZ, 1997).
Em medicina veterinria, no observou-se na literatura, estudo anatmico do
nervo isquitico e sua sintopia com as estruturas articulares durante as manobras
que simulassem a tcnica operatria de prtese total de quadril.
Parece-nos importante uma averigao do trajeto do nervo isquitico,
realizada por meio de dissecao romba, quando o nervo deixa o hemiquadril em
direo disto-lateral no sentido diafisrio mdio do fmur. Movimentaes de
abduo da articulao coxo-femoral visando a luxao articular, similares ao ato
cirrgico, mas especialmente e concomitantemente com a retrao caudal do fmur
proximal, poderiam determinar quando a compresso do nervo ocorre, causando
eventualmente neuropraxia. Tais movimentaes, principalmente a retrao caudal
do fmur proximal, poderiam possivelmente ser minimizadas durante o ato cirrgico
da colocao das prteses acetabular e femoral, e talvez, potencializando
positivamente o ps-cirrgico.
42
Materiais e Mtodos
43
3 MATERIAIS E MTODOS
3.1 ANIMAIS
Nesse estudo foram utilizadas 20 articulaes coxofemorais provenientes de
corpos de 10 ces, machos e ou fmeas, sem definio de raa ou com raas
definidas, com peso varivel, oriundos do Hospital Veterinrio da Universidade de
So Paulo e de clnica particular (ORTOPET - Clnica de Ortopedia e Traumatologia
Veterinria), que foram bito, ou eutanasiados por causas diversas, sem a
presena de alteraes macroscpicas nas articulaes coxofemorais, sob a licena
da Comisso de Biotica dessa instituio (1692/2009).
3.2 PREPARO
Os animais foram submetidos dissecao romba da regio lateral da coxa
(Apndice A), para o estudo macroscpico do trajeto do nervo isquitico e sua
relao com a articulao coxofemoral e adjacncias, seguindo-se as seguintes
dissecaes e manobras nos elementos anatmicos:
9 inciso craniolateral da pele de 8 a 16cm, de acordo com o tamanho do
animal, partindo da regio proximal ao trocanter maior, at a regio
mdio-diafisria do fmur. Para a realizao das incises da pele,
foram usados cabo de bisturi nmero 4, e lmina de bisturi nmero 22
9 divulso romba do tecido subcutneo. Para as divulses rombas do
tecido subcutneo, foram usadas pina dente de rato, e tesoura
Metzenbaum reta
44
9 inciso da fscia lata e fscia lombar, precedidas de divulso com
tesoura Metzenbaum reta; as incises foram efetuadas com a referida
tesoura
9 inciso longitudinal do msculo glteo superficial com cabo de bisturi
nmero 3, e lmina de bisturi nmero 10
9 afastamento do msculo glteo mdio no sentido dorsal, com
afastadores Rake, Farabeuf, ou Meyerding (Apndice B), de acordo
com o tamanho, ou da necessidade apresentada no animal estudado
9 tenotomia do msculo glteo profundo nas proximidades de sua
insero no trocanter maior (Apndice B); incises feitas de forma
transversal s fibras musculares, com cabo de bisturi nmero 4, e
lmina de bisturi nmero 22
9 inciso do msculo vasto lateral em regio de metfise cranial do
fmur; incises feitas com cabo de bisturi nmero 3, e lmina de bisturi
nmero 10
9 inciso oblqa da cpsula articular, partindo da cabea femoral e
alongando-se distalmente at o colo femoral; incises feitas com cabo
de bisturi nmero 3, e lmina de bisturi nmero 10
9 seco do ligamento da cabea do fmur, feita por meio de um
desarticulador de cabea femoral da marca Jorgensen, dotado de
extremidades cortantes para a seco do referido ligamento
9 manobra de abduo do membro plvico aproximadamente a 90, para
a luxao da articulao coxofemoral (Apndice E)
9 manobra de colocefalectomia, utilizando-se uma serra oscilatria
bateria, com lmina cortante do tipo reta, tendo sido feita a reseco do
45
colo femoral em um ngulo de 45 com relao ao eixo axial do fmur,
por meio de um modelo para reseco de colo femoral da marca
Biomedtrix
9 os afastadores Gelpi, Balfour, Farabeuf, e Hohmann (Apndice C),
foram utilizados respectivamente na pele e subcutneo, e na
musculatura adjacente s estruturas estudadas, para a manuteno de
uma melhor visualizao possvel, cada um deles de acordo com as
necessidades apresentadas
9 todos os animais do presente estudo foram dissecados em decbito
lateral sobre um posicionador da marca Biomedtrix, utilizado para os
procedimentos de ATQ
Aps a abertura das cpsulas articulares da articulaes coxofemorais, das
manobras de luxao das cabeas femorais, das seces do ligamento das cabeas
dos fmures, e das excises das cabeas femorais, os fmures proximais sofreram
uma retrao caudal, com o uso de afastador Meyerding (Apndice F) ou afastador
Farabeuf (Apndice G).
Procurou-se seguir de forma sistemtica, os procedimentos descritos acima,
semelhana do que ocorre na ATQ, quando da necessidade da exposio
acetabular para o procedimento de fresagem do leito do mesmo. Desta feita,
propiciou-se a avaliao das proximidades entre as regies trocantricas e dos
nervos isquiticos. Tambm foram removidas as cpsulas das articulaes
coxofemorais, e os msculos glteos, visando-se a apreciao da sintopia entre o
nervos isquiticos e o trocnteres maiores (Apndice D).
As imagens foram fotografadas com cmera digital Canon PowerShot
SD1000-Digital Elph, de 7.1 Mega Pixels.
46
3.3 CRITRIOS DE SELEO
Somente foram utilizados animais com mais de 20 quilogramas de peso e
idade superior a dois anos, com articulaes coxofemorais sem alteraes
macroscpicas perceptveis aps a dissecao.
3.4 CRITRIOS DE EXCLUSO
Critrios especficos de excluso deste estudo puderam ser separados em
dois grupos:
9 No estarem especificamente includos nos critrios de seleo acima
descritos;
9 Por serem oriundos do Hospital Veterinrio ou clnica particular, no
apresentarem em suas fichas clnicas, diagnstico presuntivo ou
definitivo de doena infecto-contagiosa (Tabela 1);
47
Resultados
48
4 RESULTADOS
Foram analisadas 20 articulaes coxofemorais, divididas igualmente em
antmeros direito e esquerdo, e provenientes de 10 carcaas de ces acima de 20
quilogramas de peso, machos e fmeas, de raas variadas e SRD, de faixa etria
superior aos dois anos de idade, sem osteoartrite, oriundos do Hospital Veterinrio
da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo e
de clnica veterinria particular.
Durante o acesso cirrgico para chegar-se nas articulaes coxofemorais dos
diversos hemiquadris pesquisados, obedeceu-se a seguinte tcnica operatria,
como frisado em materiais e mtodos:
9 inciso craniolateral da pele partindo da regio proximal ao trocanter
maior at a regio mdio-diafisria do fmur
9 divulso do tecido subcutneo
9 inciso da fscia lata e fscia lombar
9 inciso longitudinal do msculo glteo superficial
9 afastamento do msculo glteo mdio em sentido dorsal
9 tenotomia do msculo glteo profundo nas proximidades de sua
insero no trocanter maior
9 inciso do msculo vasto lateral em regio de metfise cranial do fmur
9 inciso oblqa da cpsula articular
9 seco do ligamento da cabea do fmur
49
Os seguintes resultados foram constatados no presente trabalho:
1. Co SRD, fmea, 13 anos de idade, 21 kg de peso, demonstrou haver
contato entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos
nervos isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 dos membros
plvicos estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal do fmures
proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato entre
aquelas estruturas.
2. Co Golden Retriever, macho, 7 anos de idade, 30 kg de peso, demonstrou
haver contato entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os
respectivos nervos isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90
dos membros plvicos estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao
caudal do fmures proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o
contato entre aquelas estruturas.
3. Co SRD, fmea, 8 anos de idade, 22 kg de peso, demonstrou haver contato
entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos nervos
isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros plvicos
estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos fmures
proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato entre
aquelas estruturas.
50
4. Co SRD, fmea, 7 anos de idade, 24 kg de peso, demonstrou haver contato
entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos nervos
isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros plvicos
estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos fmures
proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato entre
aquelas estruturas.
5. Co SRD, fmea, 4 anos de idade, 21 kg de peso, demonstrou haver contato
entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos nervos
isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros plvicos
estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos fmures
proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato entre
aquelas estruturas.
6. Co Rottweiler, macho, 11 anos de idade, 51 kg de peso, demonstrou haver
contato entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos
nervos isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros
plvicos estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos
fmures proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato
entre aquelas estruturas.
7. Co SRD, fmea, 7 anos de idade, 28 kg de peso, demonstrou haver contato
entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos nervos
isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros plvicos
estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos fmures
51
proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato entre
aquelas estruturas.
8. Co Akita, macho, 13 anos de idade, 31 kg de peso, demonstrou haver
contato entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos
nervos isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros
plvicos estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos
fmures proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato
entre aquelas estruturas.
9. Co SRD, macho, 2 anos de idade, 21 kg de peso, demonstrou haver contato
entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os respectivos nervos
isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do membros plvicos
estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal dos fmures
proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o contato entre
aquelas estruturas.
10. Co Pastor Alemo, fmea, 13 anos de idade, 27 kg de peso, demonstrou
haver contato entre os trocanteres maior esquerdo e direito com os
respectivos nervos isquiticos, durante a abduo a aproximadamente 90 do
membros plvicos estudados. Aps as colocefalectomias, a retrao caudal
dos fmures proximais visando as fresagens acetabulares, aumentou o
contato entre aquelas estruturas.
52
Ocorreram por conta das dissecaes e das manobras realizadas, diferenas
anatmicas e posicionais entre os antmeros direito e esquerdo.
Tabela 1 - Dados dos ces submetidos ao estudo antomo-cirrgico da relao topogrfica do nervo
isquitico com a articulao coxofemoral, para as intervenes operatrias de artroplastia
total do quadril
Sexo Raa Idade Kg Causa Mortis
F SRD 13 anos 21 Tumoral
M Golden Retriever 7 anos 30 Atropelamento
F SRD 8 anos 22 Tumoral
F SRD 7 anos 24 Cardiopatia
F SRD 4 anos 21 Atropelamento
M Rottweiler 11 anos 51 Falncia Renal
F SRD 7 anos 28 Trauma Medular
M Akita 13 anos 31 Tumoral
M SRD 2 anos 21 Envenenamento
F Pastor Alemo 13 anos 27 Tumoral
53
Discusso ___________________________________________________________________
54
5 DISCUSSO
A pesquisa bibliogrfica sobre o assunto por ns estudado no presente
trabalho, revelou poucas informaes atinentes ao tema. Ora os autores clssicos
de anatomia veterinria discorrem o trajeto do nervo isquitico, desde a sua origem
no segmento lombossacral e seus ramos com seus territrios de inervao
(KITCHELL; EVANS, 1993), ora discorrem sobre os aspectos da articulao
coxofemoral dos ces em seus aspectos de classificao e movimento (EVANS,
1993). Assim, no foi possvel observar estudo sistematizado visando a anatomia
cirrgica da regio e a sintopia entre as duas aludidas estruturas anatmicas.
Mesmo as informaes sobre leso do nervo isquitico durante o
procedimento cirrgico de prtese total de quadril, tocam superficialmente na
questo de casos de neuropraxia no ps-operatrio imediato (OLMSTEAD, 1987;
SCHMALZRIED; NOORDIN; AMSTUTZ, 1997; ANDREWS; LISKA; ROBERTS,
2008).
Desta forma, trabalho que discutisse o passo a passo da dissecao da
regio, para proceder o referido ato cirrgico, e alertando os novos cirurgies sobre
os cuidados com as principais manobras passveis de leso do nervo isquitico, no
foi encontrado, para confrontarmos com os dados por ns colimados.
Assim, relatou-se no presente estudo se houve um possvel contato entre as
estruturas nervosa e ssea envolvidas na dissecao e manobras aplicadas, aps a
abertura da cpsula articular, seco do ligamento da cabea femoral, abduo a
aproximadamente 90 do membro plvico, luxao articular, resseco do colo e da
cabea femorais, e a retrao caudal do fmur proximal, e se essas dissecaes e
manobras supostamente potencializariam a perda da integridade do nervo isquitico
55
em alguns ces durante um transoperatrio, nas fases de execuo da tcnica
operatria preconizada (OLMSTEAD; HOHN; TURNER, 1981; OLMSTEAD, 1987;
DENNY; BUTTERWORTH, 2000; MACIAS; COOK; INNES, 2006; ANDREWS;
LISKA; ROBERTS, 2008).
Por oportuno, convm salientar-se que o material e o mtodo propostos, vale
dizer, valer-se de dissecao romba pelos mtodos clssicos em cadveres de
ces, associada manobras de tcnica operatria, permitiram realizar-se o presente
estudo, sem intercorrncias, e obter-se as concluses expostas ao final do trabalho.
Desta maneira, o deslocamento dorsal do msculo glteo mdio com
afastadores Rake, Farabeuf, ou Meyerding, no se constituiu em possibilidade de
compresso do nervo isquitico, uma vez que esta manobra foi efetuada evitando-se
a colocao profunda do afastador escolhido no ventre do msculo glteo mdio
(OLMSTEAD; HOHN; TURNER, 1981).
Uma serra oscilatria com lmina cortante reta, foi utilizada para a feitura da
colocefalectomia, manobra necessria para procedermos a preparao do leito
acetabular. A colocefalectomia somente pde ser realizada por meio da luxao da
articulao coxofemoral aps a abertura da cpsula articular e da seco do
ligamento da cabea do fmur (DENNY; BUTTERWORTH, 2000), e viabilizada
sempre pelo posicionamento do membro plvico em ngulo de aproximadamente
90 em relao ao eixo axial dos corpos dos animais, e como relatado por Denny e
Butterworth (2000), por meio de uma rotao externa do fmur proximal.
A preparao do leito do acetbulo para um posterior recebimento da prtese
acetabular, constituiu-se numa segunda fase de observaes, crtica para a
manuteno da integridade do componente nervoso de nosso estudo; isto devido ao
fato de que nesta segunda etapa da pesquisa foram necessrios a colocao de trs
56
afastadores nas proximidades do acetbulo visando-se a fresagem do mesmo
(OLMSTEAD; HOHN; TURNER, 1981). Foram usados um afastador Meyerding em
posio cranial ao acetbulo, um afastador Rake dorsalmente ao acetbulo, e um
ltimo afastador de Hohmann modificado na regio caudo-ventral ao acetbulo. Os
dois primeiros afastadores aqui citados foram posicionados e colocados diretamente
em contato com a musculatura da regio abordada. Todavia, o afastador da regio
caudo-ventral ao acetbulo foi colocado em contato com componentes sseos, ou
seja, entre o acetbulo na sua poro caudo-ventral e sobre o colo femoral
remanescente colocefalectomia. O objetivo desta manobra foi ento fazer a
retrao caudal do fmur, para desta feita podermos proceder a tcnica de fresagem
acetabular, com o devido espao necessrio e sem a interferncia fsica do fmur
proximal (OLMSTEAD, 1987).
Contudo, esta manobra potencializou o contato entre os trocanteres maiores
e os nervos isquiticos. Justificou-se tal fato em decorrncia do trocanteres maiores
j no estarem em sua posio anatmica durante a manobra, isto , encontravam-
se em direcionamento caudo-lateral por conta da abduo a aproximadamente 90
do membro plvico, e ainda recebendo a retrao caudal em direo aos nervos
isquiticos estudados, por necessidade de uma tima visualizao necessria para a
fresagem acetabular.
Os casos de neuropraxia ocorridos no estudo realizado por Andrews, Liska e
Roberts (2008), no so conclusivos com relao a etiologia das leses no nervo
isquitico durante os procedimentos de ATQ em ces (razo do estudo realizado por
ns), todavia, relatou-se em tal estudo, que ces mais velhos teriam uma
probabilidade maior para a compresso do nervo isquitico. Isso faz com que
possamos pressupor, aps o presente trabalho, que aqueles animais com grandes
57
alteraes morfolgicas nas regies de colo femoral, e principalmente em trocanter
maior, devido a processo de osteoartrite secundria, como nos casos de displasia
coxofemoral (RISER, 1964, 1973, 1975; FRIES; REMEDIOS, 1995; DEMKO;
MCLAUGHLIN, 2005), comporiam um grupo de ces com maior chance de sofrer a
neuropraxia do nervo isquitico durante a realizao dos procedimentos de ATQ.
Observou-se durante as dissecaes dos animais estudados no presente
trabalho, que o trajeto do nervo isquitico (KITCHELL; EVANS, 1993), assim como a
sua sintopia com a articulao coxofemoral, no se constituiu em um fator de
importncia no acesso cirrgico que necessrio para a adeqada exposio da
estrutura articular envolvida na tcnica de artroplastia total do quadril. A relevncia
da sintopia entre o nervo isquitico e o trocanter maior, pareceu-nos de suma
importncia sim, mas somente quando foram realizadas as manobras de abduo
do membro plvico, e quando o fmur proximal foi tracionado caudalmente, quando
da necessidade de uma melhor exposio acetabular, necessria para a preparao
do leito do mesmo para a recepo da prtese de acetbulo. Portanto, no justificou-
se a exposio da articulao coxofemoral por intermdio de acesso cirrgico, ser
uma causa de injria ao nervo isquitico, se utilizada a via de acesso clssica, ou
seja, a craniolateral (OLMSTEAD, 1987; PIERMATTEI, 1993; SCHULZ et al., 1998;
DENNY; BUTTERWORTH, 2000; SCHULZ, 2000; MACIAS; COOK; INNES, 2006).
Contudo, uma excesso seria feita para os casos de iatrogenia, uma vez que a vasta
cobertura muscular da regio estudada constitui-se em um fator de proteo ao
nervo isquitico, situado mais profundamente na estratigrafia dos componentes
anatmicos pesquisados.
Aps os nossos estudos, concordamos que o conhecimento antomo-
cirrgico da regio coxofemoral, incluindo-se a inervao e a musculatura local, seria
58
de valia para evitar-se a neuropraxia do nervo isquitico, conforme mostraram os
estudos de Schmalzried, Noordin e Amstutz (1997), feitos em humanos.
Podemos supor por meio de nossas pesquisas, principalmente, que se a
retrao caudal do fmur proximal fosse menos vigorosa, haveria um menor contato,
uma compresso mais suave sobre o nervo isquitico, o que recomendamos quando
da aplicao da tcnica operatria.
A experincia do cirurgio, como um fator de diminuio da incidncia dos
casos de neuropraxia do nervo isquitico, citada nos estudos de Andrews, Liska e
Roberts (2008), englobaria provavelmente conhecimentos anatmicos da regio
coxofemoral, quer seja da musculatura, da parte ssea acetabular e femoral
proximal, e ou da localizao exata do nervo isquitico. Alm disso, segundo os
mesmos autores, o tempo de ato cirrgico tambm seria uma varivel contribuindo
para a neuropraxia do nervo isquitico. Tal associao, poderia ser justificada pelo
fato de que pareceu-nos durante os nossos estudos, que o nervo isquitico sempre
sofreria alguma carga proveniente das estruturas steomusculares durante as
manobras de abduo e retrao, necessrias para a ATQ. A hiptese de um menor
tempo cirrgico levaria menos tempo de compresso do trocanter maior sobre o
nervo isquitico, ao passo que um ato operatrio, digamos mais extenso, causaria a
compresso por tempo maior, propiciando-se desta maneira, as condies
necessrias para que ocorresse a neuropraxia.
A neuropraxia do nervo isquitico uma afeco de baixa prevalncia durante
os procedimentos de ATQ em ces (ANDREWS; LISKA; ROBERTS, 2008). Parece-
nos porm, que outros estudos futuros de levantamentos sobre a referida
complicao ps-operatria em anlises multiinstitucionais, poderiam ajudar na
elucidao de sua origem, minimizando desta maneira a sua casustica, e auxiliando
59
principalmente os novos cirurgies na maximizao dos resultados positivos para os
pacientes caninos operados de ATQ.
60
Concluses ___________________________________________________________________
61
6 CONCLUSES
Os resultados obtidos por meio do estudo antomo-cirrgico da regio
coxofemoral, demonstraram:
1 Ocorrer durante a abduo dos membros plvicos colocefalectomizados
em um ngulo de aproximadamente 90 em relao a coluna vertebral, um
contato entre o trocanteres maiores e os nervos isquiticos dos animais
em estudo, semelhana da manobra realizada durante os procedimentos
de artroplastia total do quadril.
2 A movimentao feita no membro plvico, ou seja, a abertura lateral da
articulao coxofemoral em um ngulo de aproximadamente 90,
objetivando-se a colocefalectomia, quando somada manobra de retrao
caudal do fmur proximal, necessria para a fresagem acetabular,
potencializou o contato entre o trocanter maior e o nervo isquitico dos
cadveres em estudo, o que poderia levar neuropraxia do nervo
isquitico durante alguns procedimentos cirrgicos de artroplastia total do
quadril.
3 No existir possibilidades de se atingir o nervo isquitico durante o acesso
cirrgico inicial, pressupondo-se contudo, conhecimentos slidos de
anatomia das adjacncias da articulao coxofemoral dos ces.
62
Referncias ___________________________________________________________________
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REFERNCIAS
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66
Apndices ___________________________________________________________________
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APNDICE A - Dissecao lateral da coxa
direita de co - So Paulo - 2010
Legenda 1 - m. bceps femoral 2 - m. vasto lateral 3 - m. glteo mdio 4 - m. tensor da fscia-lata 5 - m. adutor da coxa 6 - m. glteo superficial 7 - m. glteo profundo 8 - m. quadrado femoral 9 - m. piriforme 10 - fscia-lata 11 - derme < - corpo do lio < - cpsula articular da articulao coxofemoral ^ - cabea femoral -------- - tendes da musculatura gltea no trocanter maior * - nervo isquitico
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APNDICE B - Aspecto macroscpico de imagem da tenotomia do
msculo glteo profundo para expor a cpsula articular coxofemoral - So Paulo - 2010
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APNDICE C - Aspecto macroscpico de imagem da insero do
msculo glteo mdio no trocanter maior. Observa-se a sintopia do trocanter maior com o nervo isquitico situado caudalmente - So Paulo - 2010
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APNDICE D - Aspecto macroscpico de imagem da sintopia entre o trocanter maior e o nervo isquitico; membro plvico posicionado anatomicamente (cpsula articular e musculatura gltea removidas) - So Paulo - 2010
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APNDICE E - Aspecto macroscpico de imagem do contato do
nervo isquitico com o trocanter maior, evidenciado durante manobra de luxao da cabea femoral por meio de abduo do membro plvico em 90aproximadamente (cpsula articular e musculatura gltea removidas) - So Paulo - 2010
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APNDICE F - Aspecto macroscpico de imagem da abduo da articulao
coxofemoral em 90 aproximadamente e retrao caudal do fmur proximal - So Paulo - 2010
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APNDICE G - Aspecto macroscpico de imagem da abduo da articulao
coxofemoral em 90 aproximadamente e retrao caudal do fmur proximal (cpsula articular e musculatura gltea removidas) - So Paulo - 2010