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Vanessa 04 - 03 - MARIDO IDEAL - Home for Thanksgiving - Suzanne Carey Suzzane Carey MARIDO IDEAL Home For Thanksgiving 3ª. De Vanessa 03 histórias no. 04 Copyright © 1991 by Verna Carey Originalmente publicado em 1991 pela Silhouette Books, Divisão da Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e o colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: Home for Thanksgiving Tradução: Vitória Paranhos Mantovani Copyright para a língua portuguesa: 1992 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Al. Ministro Rocha Azevedo, 346 — CEP 01410 São Paulo — SP — Brasil Caixa Postal 9442 Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento: Gráfica Círculo Digitalizado e revisado por Marelizpe

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Vanessa 04 - 03 - MARIDO IDEAL - Home for Thanksgiving - Suzanne Carey

Suzzane CareyMARIDO IDEAL

Home For Thanksgiving3ª. De Vanessa 03 histórias no. 04

Copyright © 1991 by Verna CareyOriginalmente publicado em 1991 pela Silhouette Books,

Divisão da Harlequin Enterprises Limited.Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma.Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá.

Silhouette, Silhouette Desire e o colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V.Todos os personagens desta obra são fictícios.

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortasterá sido mera coincidência.

Título original: Home for ThanksgivingTradução: Vitória Paranhos Mantovani

Copyright para a língua portuguesa: 1992EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Al. Ministro Rocha Azevedo, 346 — CEP 01410São Paulo — SP — Brasil

Caixa Postal 9442Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda.

Impressão e acabamento: Gráfica Círculo

Digitalizado e revisado por Marelizpe

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Vanessa 04 - 03 - MARIDO IDEAL - Home for Thanksgiving - Suzanne Carey

PRÓLOGO

A pergunta do Dr. Aaron Dash foi curta e rápida: — Srta. Jenkins, o que significa esta anotação sobre o erro na intravenosa do pequeno Carradine?

Karen Jenkins piscou, confusa, enquanto aquelas palavras penetravam no nevoeiro de sua infelicidade. Sendo enfermeira chefe do Centro de Terapia Intensiva, tudo o que acontecia ali era de sua responsabilidade.

— Não sei, doutor — respondeu, examinando ansiosamente a ficha do paciente.

Estava bem ciente da expressão zangada do médico, isto sem mencionar a expectativa que via nos rostos do Dr. Hanley Tyler, chefe do pessoal do hospital, e de Bess Martin, a diretora da Enfermagem, A despeito do esforço que fazia para manter-se calma, lidar com um médico irritado era mais do que poderia suportar, naquele momento.

A presença periódica de Bess e do Dr. Tyler era quase uma rotina, no CTI, mas o que tornava a ocasião quase especial, e bastante enervante, era o fato do Dr. Aaron também estar presente. Era um homem alto, de cabelos escuros e olhos penetrantes e, desde que se tornara cardiologista chefe, adquirira a reputação de ser muito rigoroso e exigente, no que se referia aos cuidados com seus pacientes.

Fora recrutado para o Children's Memorial, tendo vindo do hospital John Hopkins, em Baltimore, exatamente por sua habilidade médica, e não por ser um gênio em relações públicas. E, desde que levava seu trabalho à sério, mesmo passando por uma crise terrível na vida pessoal, Karen dava grande valor à opinião do Dr. Dash sobre o que ela fazia.

Duas anotações na ficha do paciente lhe chamaram a aten-ção: a primeira, numa letra quase rabiscada, levava as iniciais que poderiam ser suas, mas não eram. Pertenciam à nova enfermeira, Kim Johanssen. Logo abaixo, a segunda anotação, na mesma letra, informava que um erro havia sido cometido: fora ministrado Dextrose, no soro para o paciente, ao invés de água destilada. Mas era um erro que, felizmente, em nada comprometia a saúde do paciente.

Karen voltou os olhos para o médico, que ainda a observava. — Desculpe, doutor — falou, com voz firme. — Não havia

percebido este erro. Mas o senhor pode notar que a solução de água destilada foi ministrada logo depois que o engano foi retificado.

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Aquela resposta produziu um ar indignado no rosto do médico:

— A senhorita não percebeu o erro? — ele disparou. — E estas iniciais na ficha, não são suas?

Karen estava prestes a se defender, mas hesitou. Kim estava ainda em seu período de experiência no hospital e poderia ser despedida por aquele engano. No entanto, era uma enfermeira excelente, dedicada e carinhosa com os pequenos pacientes e, além disso, precisava do emprego. Por isso, decidiu manter-se calada.

Aaron franziu a testa, unindo as sobrancelhas com um ar ainda mais ameaçador.

— Se eu estivesse em seu lugar, srta. Jenkins — avisou, — teria muito cuidado para que isto não tornasse a acontecer... especialmente com um de meus pacientes. Se o engano envolvesse qualquer outra substância, como um narcótico, por exemplo, seria forçado a recomendar sua demissão.

Apesar de ruborizar violentamente, Karen não abriu a boca. Tudo bem, pensou, pedi por isso ao proteger Kim. Mas ele que não espere que eu peça desculpas novamente.

Lançando-lhe mais um olhar, Aaron pegou outra ficha. No fundo, arrependia-se de ter sido tão duro com a garota. Apesar de adivinhar que Karen Jenkins tinha um temperamento que combinava com seus abundantes cabelos vermelhos, reconhecia que ela admitira o erro como uma verdadeira profissional. Não merecia a repreensão extra que lhe dera. Tentou imaginar o que poderia estar pertubando-a tanto, pois a dor evidente que percebera naqueles olhos verdes não fora causada apenas pela sua breve explosão.

Momentos depois, um dos pacientes da unidade precisou de atenção e Karen afastou-se, monitorando a pequena equipe de enfermeiras com calma e experiência. Mesmo tendo observado a cena, Aaron não fez qualquer comentário.

Depois que os médicos saíram, Bess ficou ali por algum tempo e aproximou-se de Karen.

— Vamos jantar juntas, qualquer dia da próxima semana — sugeriu. — Gostaria que você pensasse em tirar umas férias, pois com tudo o que está acontecendo em sua vida, certamente precisa de um pouco de descanso. Não quero perder uma das minhas melhores funcionárias por causa de um stress.

Karen deu de ombros, tentando não dar muita importância à situação.

— Se quiser que eu tire férias, concordo, Bess — respondeu. — Mas, honestamente, estou bem. Na verdade, o trabalho está

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sendo minha tábua de salvação.Vendo que a diretora da Enfermagem se afastava, Kim veio

até a mesa de Karen. — Obrigada por não ter me atirado aos lobos, há pouco — a

garota falou, com um sorriso agradecido. — Espero não ter lhe causado nenhum problema.

Afastando a possibilidade com um leve gesto de mão, Karen esforçou-se como pôde para evitar as lágrimas. Achava que não suportaria se alguém mais se zangasse com ela, ou se lhe falasse com gentileza. Tudo lhe parecia motivo para chorar.

— Não deixe que o Dr. Dash a assuste — disse, procurando manter a voz firme. — Apenas se certifique duas vezes, antes de ministrar medicamentos aos pacientes. E, no caso dos pacientes dele, três vezes.

Naquela noite, Karen ficou no hospital até bem depois da meia noite, ajudando a estabilizar as condições de uma jovem vítima de um acidente, que acabara de chegar. Quando finalmente pôde sair, encaminhou-se exausta para o estacionamento.

Era uma noite linda. O calor intenso que fizera durante todo o dia havia se dissipado com a chuva que caíra à tarde, e uma brisa fresca e perfumada parecia lhe soprar o quanto era triste estar sozinha.

Uma onda de emoção profunda a invadiu e ela inclinou-se sobre o carro, como se procurasse apoio. Julgando-se sozinha e sem ser observada, deu livre curso às lágrimas. Um mês atrás, o corpo de seu marido, um cirurgião da Força Aérea que estava em serviço nas Filipinas temporariamente, fora trazido para ser enterrado nos Estados Unidos. O major Gleen Jenkins morrera em um acidente de automóvel, juntamente com dois outros colegas oficiais.

Mesmo reconhecendo que seu casamento estava com pro-blemas havia algum tempo, aquela notícia a deixara transtornada de dor. Tentara dizer a si mesma que haviam sido felizes, no início de seu relacionamento e que, se tivessem tido tempo, conseguiriam superar a crise e as dificuldades. No entanto, poucos dias depois do enterro, mesmo aquele conforto duvidoso lhe fora retirado, por uma carta que Gleen lhe enviara algumas horas antes de morrer.

Incapaz, como sempre, de encarar as situações desagradá-veis, Gleen esperara até estar a centenas de quilômetros de dis-tância para informá-la de que estava tendo um caso. Ao ler a carta, Karen ficara quase zonza pelo choque de saber que a amante de Gleen, uma cambojana que trabalhava na Base Aérea de Tampa, na Flórida, estava grávida de dois meses.

Arrasada com a morte do marido, chocada com a notícia de sua infidelidade, ela achou que saber sobre o bebê era o pior de

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tudo, o mais insuportável. Apesar de Gleen não ter demonstrado um grande desejo de ter um filho, ela sempre o tivera, quase que desesperadamente. Porém, aquela alegria lhe seria negada para sempre, desde a adolescência. E o fato de saber que ele engravidara uma outra mulher era como se um punhal lhe fosse cravado no coração.

Na carta, Gleen ainda acrescentara o insulto de lhe pedir que não se preocupasse, pois iria insistir para que a amante fizesse um aborto. Como seria capaz disto? Será que ele não sabia que Karen jamais concordaria com tal coisa?

"Fui um tolo em me deixar envolver por Song", ele concluía a carta. "Posso apenas esperar que você me perdoe. Se nos di-vorciarmos, minha carreira poderá ficar prejudicada e, além disso, você perderia os benefícios militares".

Agora, chorando no estacionamento, Karen imaginava o que teria acontecido se Gleen tivesse voltado com vida das Filipinas. Era muito provável que o tivesse deixado, para que ele pudesse viver com a amante e o filho.

— Posso ajudá-la em alguma coisa?A voz profunda e grave a fez dar um pulo de susto. Ah, não...,

pensou, angustiada, enquanto procurava um lenço na bolsa. A última coisa que preciso é ser vista neste estado pelo Dr. Aa-ron Dash.

— Estou bem — respondeu, num fio de voz. — De verdade, não preciso de ajuda.

Por um instante Aaron a observou, incerto, sem saber como ela reagiria a um contato físico. Depois, resolveu arriscar e, com grande gentileza, passou um braço pelos seus ombros.

— Você não me convenceu — falou, num tom amigável. — Tem uma excelente reputação no hospital e, se cometeu aquele engano com a intravenosa, é porque algo vai errado com sua vida. Ou será que tantas lágrimas são resultado do que aconteceu hoje à tarde?

Sem conseguir emitir um som, Karen apenas fez um sinal negativo, com a cabeça.

— Ainda bem — ele tornou, parecendo aliviado. — Gostaria de ir para algum lugar e conversar?

Pronta para lhe dizer um sonoro "não", Karen reconsiderou. Nas últimas semanas, estivera guardando para si toda a sua mágoa e revolta, até sentir que poderia explodir de dor. Não havia ninguém com quem pudesse desabafar pois, não tendo nenhum parente próximo, sentia-se envergonhada em discutir a traição de Gleen com os amigos, fossem seus ou dele.

Porém, naquela noite, parecia ter chegado ao fundo do poço

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e, se não falasse com alguém, talvez pudesse enlouquecer. Mas será que podia confiar em Aaron Dash? O que ele diria se ela lhe contasse tudo, toda sua dor e tristeza?

Ele não desviara os olhos de seu rosto, parecendo adivinhar-lhe os pensamentos.

— Vamos lá — ele insistiu, deixando que sua preocupação natural com o outro ser humano sobrepujasse a hesitação que sentia por estar se intrometendo. — Você pode chorar em minha casa.

Toda vontade de resistir desapareceu. Tudo o que Karen de-sejava era um ombro amigo.

— Meu carro... — começou.— Posso trazê-la de volta para cá, quando estiver se sentindo

melhor — ele interrompeu. — De qualquer forma, não está em condições de dirigir... A não ser que tenha um limpador de pára-brisas escondido nestes grandes olhos verdes.

Apesar das lágrimas, Karen não pôde deixar de sorrir.Situado no segundo andar de um edifício antigo, o aparta-

mento de Aaron ficava de frente para a baía. Era simples, mas possuía um estilo inconfundível. Ao entrar, Karen reparou nas estantes cheias de livros, em algumas peças de arte moderna e num violão encostado contra uma enorme poltrona de couro. Eram detalhes de bom gosto e que evidenciavam uma personalidade muito forte e masculina.

Depois de lavar o rosto no minúsculo banheiro, ela voltou para a sala e encontrou Aaron colocando gelo em dois copos. Ele havia trocado de roupa, vestindo agora uma camiseta e um short muito usados. Ela não pôde deixar de reparar nas pernas musculosas e bronzeadas, sentindo-se desconfortável em seu uniforme de enfermeira.

— Uísque está bem para você? — ele perguntou.— Não costumo bebêr... Ele sorriu. — Ora, uma dose não lhe fará mal. Considere como um

remédio que o médico está lhe receitando.Pegando os copos, Aaron a levou até a varanda envidraçada,

de onde se via a água. Sentaram-se em lados opostos, num sofá de vime coberto por almofadas. Aceitando a bebida, Karen levou o copo aos lábios e, a despeito de estar misturado com água, sentiu que o uísque lhe ardia na garganta, muito mais forte do que esperava. Engasgou, fazendo uma careta.

— Vá com calma — ele recomendou, sorrindo. — Não é preciso engolir a bebida e sair correndo. Fico sempre muito agitado, quando volto do hospital, e será bom para mim sentar um pouco e ouvi-la. Isto é, se achar que falar pode ajudá-la.

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Karen não respondeu de imediato. Tocada pela gentileza dele e pela consideração que demonstrava, permitiu que sua angústia viesse à tona e que as lágrimas lhe corressem pelo rosto, como um rio silencioso.

Sem nada dizer, ele lhe cobriu a mão com a sua e, por alguma razão, aquele gesto pareceu romper todas as barreiras que ela ainda erguia. Hesitante de início, pois cada palavra era dolorosa, Karen acabou lhe contando toda a história sobre a morte de Gleen, a carta que recebera, a traição que havia sofrido. Aaron ouvia, solidarizando-se com sua tristeza, imaginando como uma pessoa tão frágil poderia estar suportando todo aquele sofrimento: além de ficar viúva de repente, descobria que o marido a enganava. E tudo ao mesmo tempo! Desejava poder dizer alguma coisa, mas nada lhe ocorria e limitou-se a balançar a cabeça, em silêncio.

— Sei que isto acontece com muitas mulheres — Karen pros-seguiu. — Mas eu me sinto tão... usada. Foi como se Gleen tivesse me feito de tola...

— Coisas desagradáveis podem acontecer a qualquer um... — ele falou, afinal. — Mas ninguém consegue fazer outra pessoa de tola, a não ser que esta pessoa consinta. Você não tem planos, coisas que deseja fazer em sua vida?

Tomando mais um gole da bebida, Karen encarou-o. — Na verdade, há uma coisa, sim — respondeu. — Algo que

sempre desejei, e que meu marido desencorajou desde o início. Gostaria de ser médica.

Ao contrário de Gleen, Aaron não riu e nem zombou dela. — E por quê? — ele indagou, casualmente.Karen deu de ombros. Não havia mencionado o fato de que

não podia ter filhos e nem o vazio que isso lhe causava. Assim, era natural que ele não entendesse porque seguir uma carreira na medicina pediátrica seria sua forma de contribuir para a formação de uma geração, especialmente para aquelas crianças que mais precisassem de um acompanhamento médico competente.

— Se eu fosse médica — respondeu, então, — poderia ajudar aos mais necessitados.

Um brilho de entusiasmo surgiu nos olhos dele. — Se pensa assim, não deve permitir que nada a detenha. É

muito raro encontrar alguém que se disponha a esse tipo de contribuição.

Karen nada disse, limitando-se a girar o copo entre as mãos. — E o que a faz pensar que não conseguiria levar este plano

adiante? — ele voltou a perguntar.Ela deu de ombros novamente. — Para começar — respondeu, — os custos da faculdade.

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Na verdade, tenho meu diploma de enfermeira, mas ainda te-ria de fazer várias matérias em ciências adiantadas... Ele ergueu os olhos, numa expressão exasperada:

— Então vá em frente! Todo mundo tem de começar de al-gum lugar. Quanto à sua capacidade, posso apostar que é mais do que adequada para esta profissão. O seu marido não lhe deixou nenhum dinheiro?

Naquele momento, Karen já se embalava numa leveza agra-dável, induzida pela bebida.

— É claro que tenho a pensão de viúva... Afinal, não tive tempo para me divorciar dele. Seria o suficiente para cobrir minhas despesas pessoais. E há também o dinheiro do seguro, mas, nestas circunstâncias, não sei se quero tocar num centavo...

— E quanto à namorada de seu marido? — Aaron indagou. — E o bebê? Eles estão protegidos de alguma maneira?

A pergunta a atingiu justamente no ponto em que mais es-tava sensível.

— Não sei — disparou, tensa. — Eles não são minha responsabilidade!

Porém, um segundo depois já se arrependia da explosão. Em-bora não se importasse com o que Aaron pudesse pensar, pois não lhe devia explicações, estava envergonhada por permitir que suas emoções mais baixas viessem à superfície. No fundo, estava culpando uma criança inocente por todo seu sofrimento e desilusão.

Pensou que, de alguma, forma, teria de encontrar a amante de Gleen e certificar-se de que ela e o bebê ficassem amparados. Talvez pudesse contratar um advogado para isso, pois duvidava que tivesse coragem de encarar a mulher por vontade própria.

Aaron não insistiu mais, achando normal que ela se sentisse daquela maneira. Ela havia sido profundamente ferida e, com o tempo, não tinha dúvidas de que acabaria se recuperando.

Meia hora depois, Karen sentiu que ele a segurava pelos ombros.

— Onde?... — perguntou, zonza, piscando ao olhar em volta e perceber que não sabia onde se encontrava.

— No meu apartamento — ele respondeu, com uma expressão divertida no rosto. — Venha, vou levá-la para a cama. Ela tentou despertar, focalizando os olhos nos dele, ante aquelas palavras.

— Quer dizer... — balbuciou, confusa, — aqui?— Você não está em condições de pegar seu carro, e não há

razão para que não possa ficar aqui.— Não estou embriagada! — ela protestou. — Nunca estive

embriagada, em toda minha vida! — Lutando para ficar em pé, Karen mal conseguia manter o equilíbrio. Suas pernas pareciam

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feitas de borracha.— Ouça — ele começou, levando-a para um quarto mobiliado

apenas com um guarda roupas e uma cama de casal, — não precisa ser tão severa consigo mesma. A maioria das pessoas reagiria de maneira bem mais drástica do que apenas tomar um pouco de uísque a mais, numa situação como a sua.

Mesmo no estado lamentável em que se encontrava, Karen percebeu que ele lhe cedia sua cama.

— Por favor — pediu, tentando voltar para a sala, — não quero ser um incómodo para você...

— Não se preocupe com isso. Já dormi no sofá, enquanto via tevê, muitas e muitas vezes.

Sem forças para continuar protestando, Karen deixou-se cair na cama e, desajeitadamente, tentou tirar os sapatos de amarrar. Aaron inclinou-se para ajudá-la e, depois, ordenou-lhe:

— Levante-se e vire. Vou tirar seu vestido.Afinal, ele era médico e já vira centenas de mulheres com

roupas de baixo. Mesmo assim, ela evitou os olhos castanhos, enquanto ele lhe puxava o uniforme, as meias e retirava os grampos que lhe prendiam os cabelos, deixando-os cair como uma cascata avermelhada sobre os ombros.

Aaron teve um súbito desejo de tocá-los, sentir-lhes a textura entre os dedos. Porém, aquele não era o momento, embora o lugar fosse bastante apropriado, numa outra ocasião. Antes que ela pudesse se envolver com outro homem, deveria conseguir superar a crise em que se encontrava. E, além disso, ele seria incapaz de se aproveitar de seu estado tão vulnerável.

— Está melhor? — ele perguntou, ajudando-a a se deitar da maneira mais impessoal que conseguiu. — Quer que lhe empreste uma camisa, para dormir?

Karen estava com uma leve combinação branca e balançou a cabeça, sonolenta:

— Não, obrigada. Estou bem assim. Mas acho que...— Então durma — ele disse, com firmeza. — Tenho uma

cirurgia amanhã cedo e não podemos passar a noite inteira dis-cutindo.

Achou que sua voz soara mais zangada do que pretendia. Então tocou-lhe o ombro com suavidade e puxou as cobertas.

— Boa noite — falou, levantando-se e apagando a luz. — Durma bem.

Percebendo que ele se afastava, Karen sentiu que seria inca-paz de suportar a solidão. Desejava ter alguém ao seu lado, alguém a quem pudesse sentir o calor.

— Aaron? — chamou, quase inconsciente de que era a pri-

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meira vez que lhe dizia o nome.— Sim?— Sinto-me uma tola em pedir — ela falou, levada a confessar

seus anseios pela leveza e desinibição que o álcool produzia. — Mas preciso de alguém ao meu lado, esta noite. Será que você poderia...

— Ficar com você? — ele completou.Ela apenas fez que sim com a cabeça, repentinamente en-

vergonhada demais para falar.Aaron demorou alguns segundos para considerar o pedido.

Concluindo que conseguiria lidar com a situação, tirou os short e apagou as luzes do apartamento. Momentos depois, levantou as cobertas e deitou-se ao lado dela. Karen sentiu-se mergulhar no calor confortável que o corpo dele, forte e musculoso, produziu no mesmo instante.

Para seu espanto, sentiu os lábios dele tocarem sua testa, num beijo suave e cheio de ternura.

— Feche os olhos, Karen — ele sussurrou, a voz tão con-fortadora quanto seu corpo. — Esqueça de tudo o que a entristece e apenas durma.

CAPITULO I

Seis anos depois, quando dirigia de volta a St. Petersburg para iniciar a fase final de sua educação médica, Karen recordou a noite que ela e Aaron Dash haviam passado juntos.

Fora há muito tempo, pensou, olhando a luminosidade opaca da baía de Tampa, sob o céu nublado. Era bem provável que ele já se esquecera daquilo. Quanto à ela, enquanto retornava ao hospital Children's Memorial para completar sua residência como médica, as lembranças daquele encontro eram tão vivas como se tivesse sido no dia anterior.

Era estranho não sentir nostalgia nem emoção ao rever os lugares que havia frequentado com Gleen. Suas emoções se concentravam no reencontro com o médico que a havia protegido e lhe dado abrigo em sua cama. Imaginou se ele se lembraria, ao ver o nome dela na lista dos residentes que fariam parte de seu grupo. Talvez, se lhe falasse sobre uma certa enfermeira chorosa, que perdera o controle depois de uma única dose de uísque, ele pudesse se lembrar.

Durante os anos que passara na Faculdade de Medicina da Universidade da Flórida, em Gainesville, Karen pensara em Gleen cada vez menos. No entanto, sempre que via uma mulher ou uma criança com traços asiáticos, pensava no filho dele, que certamente teria nascido depois de sua morte.

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A despeito de inúmeras tentativas, o advogado que contra-tara para cuidar dos bens que Gleen lhe deixara não havia con-seguido localizar a mulher chamada Arn Song. E, apesar de Karen não ter superado o ciúme pelo fato da amante ter tido o filho que ela julgava que deveria ter sido seu, ainda se culpava por não poder amparar aquela criança como deveria.

No entanto, agora que retornava, faria de tudo para encontrá-los e lhes dar a merecida parte dos bens de Gleen.

O tempo e as pressões nos estudos não haviam diminuído em Karen o desejo de ser mãe. Ela imaginava se algum dia iria se conformar com o fato de que isso seria impossível. O vazio em seu peito provavelmente só seria preenchido se, algum dia, resolvesse adotar uma criança, mesmo sem estar casada. Ao contrário de Gleen, a maioria dos homens desejava ser pai, e de seus próprios filhos. Algo que a natureza lhe negava dar a um marido. Enfim, seu trabalho junto às crianças se tornara uma compensação para a maternidade e lhe trazia uma enorme alegria, embora, ao mesmo tempo, mantivesse vivo o desejo de ter seus próprios filhos.

Por mais estranho que fosse, Aaron estivera presente em seus pensamentos durante todos aqueles anos. Era curioso como podia sentir tão próxima de si uma pessoa com quem passara momentos tão breves. Em suas fantasias, ele se tornara uma espécie de mentor, dando-lhe apoio nos momentos difíceis, elogiando-a quando merecia e até zangando-se com ela, nas poucas ocasiões em que ela pensara em desistir de tudo.

Porém, não fora somente desta forma que ela o idealizara. Às vezes, quando fechava os livros depois de horas de estudo, deitava-se exausta em sua cama no alojamento dos estudantes e deixava a mente divagar livremente. Era inevitável que, então, sua necessidade de carinho e amor surgisse, e era sempre o rosto de Aaron que lhe aparecia, e sempre o seu corpo que ela desejava ter próximo para protegê-la.

Apesar de seu estado emocional conturbado, na noite em que estivera com Aaron, e do fato de não existir o mínimo interesse da parte dela, então, as coisas haviam se modificado, com o passar do tempo. O interesse de Karen por ele crescera, e ela julgava que fosse por não ter havido nenhum homem em sua vida, desde que fora para a faculdade. Preocupava-se demais com os estudos para perder tempo com namoros.

Qualquer que fosse o caso, certamente não estava voltando para o Children's Memorial em busca de uma aventura amorosa. Mesmo que pudesse ser uma possibilidade longínqua, com a qual nem se atrevia a sonhar, sabia que os professores jamais se envolviam com as alunas, e este seria o procedimento entre Aaron e

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ela. Só esperava que o tempo o tivesse modificado, tornando-o menos atraente do que se lembrava.

Karen duvidava que pudesse ter deixado a mesma impressão em Aaron. Naquela manhã, há seis anos, quando acordara na cama dele, ele já havia saído. Quando abrira os olhos, ao invés de encontrá-lo sorrindo ao seu lado, vira apenas as chaves do carro dele sobre o travesseiro, além de um bilhete explicando que ele havia pego uma carona para o trabalho.

"Tome um suco de tomate, se apenas café e aspirina não adiantarem", o bilhete dizia. "Não precisa me agradecer por nada, e pode deixar as chaves do meu carro com a recepcionista do hospital".

Ela sentira um vazio estranho. Porém, por que o tom dele não devia ser impessoal? Nada significavam, um para o outro. Ela era apenas alguém que ele ajudara, sem qualquer compromisso.

Não tornara a vê-lo, depois daquela noite. Depois de pegar seu carro, fora para seu apartamento, tomara um banho e retornara ao hospital. Tivera uma conversa com Bess Martin, avisando-a que deixaria o emprego e, após uma semana, matriculava-se nos cursos que a habilitariam a iniciar a faculdade de medicina.

Agora, o destino parecia estar completando seu círculo, levando-a de volta ao seu ponto de partida. Sem que ela esperasse, o Dr. Ed Burford, seu conselheiro na faculdade, havia lhe recomendado a residência no hospital Children's Memorial, sob a supervisão do Dr. Aaron Dash, o melhor na especialidade que ela escolhera. E ela decidira se inscrever. O comitê do hospital aceitara seu pedido e, apesar da residência iniciar-se somente dali a três semanas, ela teria um encontro naquela mesma tarde com o Dr. Bertrand Ames, o chefe do programa de residência do Children's Memorial.

— Karen! — O Dr. Ames saudou-a, com evidente satisfação. — É um grande prazer tê-la aqui novamente. E, exceto pelo "doutora" na frente de seu nome, estou vendo que nãomudou nada!

Karen retribuiu-lhe o sorriso:— Espero que isto seja um elogio, doutor.— Você sabe que sim — ele tornou, dando-lhe um tapinha

amigável nas costas. — Mas, sente-se. Temos muito o que conversar. Você escolheu um programa bastante rigoroso, para sua residência, e o professor mais exigente que temos aqui.

Mas suas credenciais são excelentes e Ed Burford me assegu-rou que você foi uma das melhores alunas de sua turma. E, se bem me lembro, você é uma trabalhadora incansável. Tenho certeza de que se sairá muito bem.

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— Obrigada — ela falou. — Agradeço o seu voto de con-fiança.

Lançando-lhe um olhar benevolente, o Dr. Ames passou a falar sobre o programa pediátrico do hospital.

— Atualmente, no que se refere à cardiologia pediátrica — ele concluiu, — o Dr. Aaron Dash está entre os melhores e mais respeitados. Mas acho desnecessário lhe dizer isto. Só posso lhe garantir uma coisa: sua dedicação e diligência não ficarão sem recompensa.

Por sua própria experiência, Karen teve de concordar com o médico. Manter-se ao nível exigido pelo Dr. Dash iria demandar muito trabalho e estudo. No entanto, tinha a impressão de que a parte mais difícil seria manter controle sua imaginação. Durante os seis anos que passara longe de St. Petersburg, jamais encontrara um homem que pudesse se comparar a ele.

— Estou ansiosa para encarar o desafio — respondeu, com um sorriso animado.

— Excelente! — Levantando-se, o médico consultou a agenda. — Aliás, Aaron está operando, neste exato momento. Gostaria de dar uma olhada?

No caminho para o centro cirúrgico, o Dr. Ames lhe explicou que a cirurgia era uma tentativa de reparar o coração mal formado de um bebê, um problema congênito. Tratava-se de uma operação delicada e de alto risco, e a equipe de Aaron empregava uma técnica relativamente nova.

A despeito de suas resoluções de manter-se fria e racional, o coração de Karen bateu um pouco mais forte, ao entrar na pequena galeria de observação, de onde podia-se observar a sala de cirurgia, através de uma grossa parede de vidro. Do outro lado, cercado por uma bateria de luzes e equipamentos, um grupo de homens e mulheres inclinava-se sobre o pequenino paciente.

Engolindo em seco, ela se aproximou mais da janela. Não podia ver muito da cirurgia em que vários médicos tomavam parte, fechando o campo de visão. Mas, apesar de estarem vestidos com os mesmos aventais verdes, usando touca e máscara, reconheceu Aaron instantaneamente. Alto e forte, ele estava no centro daquela batalha tensa e controlada para salvar a vida do bebê. Karen reparou como seus braços musculosos moviam-se levemente, enquanto ele trabalhava, e como cada linha de seu corpo exalava uma profunda concentração.

Infelizmente, para sua própria paz de espírito, percebeu que vê-lo em pessoa superava todas as suas fantasias. Separada dele pela espessa parede de vidro e por seis anos, ainda podia lembrar-se claramente do cheiro de seu corpo másculo e da voz quente e

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suave lhe dizendo que dormisse.Um arrepio percorreu seu corpo. Que homem maravilhoso ele

era, pensou. Se existisse uma mulher em sua vida, ela a invejava.Enquanto o observava, Aaron fez um gesto satisfeito para a

equipe e preparou-se para encerrar a cirurgia, que parecia ter sido um sucesso. Segundo depois, Karen foi tomada por um pânico irracional, ao ver que ele erguia a cabeça para falar com o anestesista. Por um breve instante, o olhar de Aaron passou pela janela e, sobre a máscara que lhe cobria o rosto, os olhos arregalaram-se surpresos, quase interrogativos. Mas, logo depois, toda sua atenção concentrou-se novamente na criança.

Sem acreditar que ele realmente a tivesse visto, Karen tentou controlar sua agitação. Aaron era um cirurgião que jamais se deixaria desconcentrar pela assistência. No entanto, ela o estivera encarando, e indagava-se se ele fora tocado pela insistência de seu olhar.

Um pouco assustada com a perspectiva de trabalhar tão próxima a um homem que lhe provocara emoções intensas e perturbadoras, ela seguiu o Dr. Ames para fora da galeria. Felizmente o médico, alheio a seu confuso estado de espírito, convidou-a a acompanhá-lo em sua ronda aos pacientes.

Eles são a razão de minha presença aqui, disse a si mesma, enquanto conversavam com as crianças que se recuperavam ou esperavam para serem operadas por um dos vários especialistas do hospital. Quando minha residência terminar, irei embora, levando tudo o que aprendi a fim de me dedicar às crianças mais necessitadas, em qualquer parte do mundo. E, então, Aaron será apenas uma lembrança, novamente.

Pensou imediatamente no filho, ou filha, de Gleen quando o Dr. Ames a apresentou a um garotinho, paciente de Aaron. Era um menino magro, bonito, com os cabelos muito pretos e olhos amendoados; um refugiado cambojano de dez anos de idade, chamado Sem Troon, que lhe deu um sorriso tímido.

Calculou que ele seria mais velho que o filho de Gleen. Sorriu de volta ao garoto e cumprimentou-o com um aperto de mão. Aquele bebê, que tanto desejara que fosse o seu, deveria estar agora com a idade para frequentar o jardim de infância.

Mesmo esforçando-se por parecer amigável, Sem Troon não falava a língua de Karen. Estava com a perna engessada e es-tendida numa tração.

— O que ele faz em St. Petersburg? — Karen quis saber, dirigindo-se ao Dr. Ames. — Pensei que a maioria dos refugiados asiáticos permanecessem em Tampa. E por que ele está na unidade de cardiologia?

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O Dr. Ames preparava-se para auscultar o coração do garoto com seu estetoscópio.

— Algumas famílias de vietnamitas e cambojanos vivem nesta região, agora — respondeu, depois de um instante. — E, muitos deles chegaram recentemente e são extremamente pobres. Mas Troon é órfão. Apareceu aqui no pronto-socorro por causa de uma fratura, e foi trazido por uma mulher que explicou que ele havia caído em sua casa. — O médico fez umapausa, enquanto tomava o pulso do menino. — Apesar de ser uma fratura séria — prosseguiu, passando a mão pela cabeça de Troon, — nós logo descobrimos que seu verdadeiro problema estava no coração: uma veia aorta de tamanho irregular. Aaron pretende operá-lo, a fim de aumentar o tamanho da válvula e colocar um marcapasso. Infelizmente, a dieta alimentar do garoto foi muito precária, durante anos de sua vida, o que torna a cirurgia ainda mais arriscada. Por isso, enquanto ele se recupera da fratura, aproveitamos para deixá-lo mais forte, com uma alimentação adequada.

Após mais algumas visitas, voltaram ao consultório. — Bem, minha cara — ele falou, tomando-lhe a mão entre as

suas, — acho que já teve uma idéia da nossa unidade de cardiologia. Estou muito contente por estar entre nós e, se houver alguma coisa que eu possa fazer para... — Antes que concluísse a frase, ouviram uma rápida batida na porta. — Entre — falou, desviando os olhos para ver qual seria a causa da interrupção.

Karen prendeu o fôlego quando Aaron entrou na sala. Ainda usava o avental de cirurgia e os cabelos estavam revoltos, devido ao capuz que acabara de retirar.

— Estava na cirurgia, ainda há pouco... — ele começou, interrompendo-se no mesmo instante.

Embora fosse sua prerrogativa manter-se sentada, Karen levantou-se para cumprimentá-lo.

— Como vai, Dr. Dash? — falou, a voz um pouco rouca.Por um momento ele apenas a fitou, de cima a baixo, pen-

sando que ela era ainda mais especial do que se lembrava. A pele muito clara, macia, com algumas pequenas e tentadoras sardas sobre o nariz delicado, como se fossem minúsculos pontinhos de ouro. Como se recordava bem daqueles grandes e luminosos olhos verdes, que podiam expressar revolta num instante e, no outro, uma total vulnerabilidade. Os cabelos vermelhos, como uma "madona" de Ticiani, e a boca... Como conseguira deixar de beijá-la, naquela noite, há tanto tempo?

O silêncio entre eles começava a parecer estranho, e ele fa-lou, finalmente:

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— Então, está de volta.Forçando-se a manter-se firme, ela concordou com a cabeça.— Sim — respondeu. — Suponho que saiba que sou "dou-

tora" Jenkins, agora. — É claro que sei. Meus parabéns.Enquanto se fitavam, uma outra conversa transcorria em

silencio, uma conversa que Karen não se atreveria a transformar em palavras. Por vários segundos, era como se o Dr. Ames nem sequer existisse.

— Fiquei contente em saber que você fez a faculdade de medicina — ele acrescentou. — E que será uma de minhas residentes. Recebi a listagem há algumas semanas.

Sendo normalmente desembaraçada, Karen não sabia o que dizer. Parecia que o fato de revê-lo lhe tirara toda a capacidade para uma conversa inteligente. Só esperava que o Dr. Ames não percebesse que agia como urna perfeita idiota.

Porém, não podia culpar-se por isso. Vendo-o de perto, percebia como Aaron não mudara nada, ou, ao contrário, parecia estar muito melhor. Os anos haviam lhe trazido um encanto mais maduro, deixando as linhas de seu rosto mais marcantes e os cabelos nas têmporas com um leve tom grisalho. Embora ainda exalasse a mesma força e energia, ele ganhara um ar mais distinto, seguro e confiante.

Sem conseguir evitar, imaginou como seria ser abraçada por aqueles braços fortes, encostar o corpo contra o dele, firme e musculoso, sem o menor traço de gordura. Como seriam aqueles olhos, cor de topázio, fitando-a cheios de desejo?

— Sim, bem... — Karen balbuciou, confusa, e pegou a bolsa. — Obrigada, Dr. Ames, pela visita ao hospital e pela acolhida que me deu. — Dirigiu-se ao médico da maneira mais casual que conseguiu. — Estou ansiosa por ingressar no programa de residentes e... também por trabalhar com o senhor, Dr. Dash.

Aaron fez um ligeiro sinal com a cabeça, mas nada disse. Ele parecia ter muitas perguntas na ponta da língua, perguntas que certamente faria se não fosse a presença do Dr. Ames.

— Precisa mesmo ir? — o médico mais velho indagou, alheio ao que ocorria entre ela e Aaron. — Ia convidá-la para um café no refeitório dos médicos.

Karen enviou-lhe um sorriso como desculpa. — Preciso, mesmo — repetiu. — Além disso, vocês dois

devem ter muito o que discutir. Voltamos a nos encontrar da qui a duas semanas e meia.

A caminho da casa de Kim Johanssen, onde ficaria hospedada até que encontrasse um apartamento, Karen não conseguia parar

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de pensar em Aaron. O fato de tê-lo encontrado tão de repente fora como ter despertado de um sono e perceber que a realidade era ainda mais maravilhosa e perturbadora do que poderia se lembrar.

No entanto, odiava-se por estar sendo tão suscetível. Use a cabeça, censurou-se enquanto estacionava em frente ao chalé que Kim dividia com o marido. Aaron seria seu professor, seu conselheiro durante a residência, e estaria fora de seu alcance. Além disso, não estaria interessado nela como mulher.

Porém, não percebera se ele estava usando ou não uma alian-ça de casamento. Como deixara passar um detalhe tão importante?

Depois de tirar as malas do carro, subiu os poucos degraus que levavam à casa. Se havia alguém capaz de fazê-la esquecer de Aaron e do passado, este alguém era Kim. Desde aquele incidente em que Karen a protegera da ira do Dr. Dash, as duas haviam se tornado amigas. Kim a visitara várias vezes em Gainesville e suas cartas efusivas e animadas, em que lhe contava todas as fofocas e acontecimentos do hospital, eram como um raio de luz penetrando os dias rotineiros e difíceis que passara na faculdade. E, além disso, a amiga mencionava Aaron com alguma frequência, quase sempre queixando-se dele de forma divertida e brincalhona.

Karen estava prestes a apertar a campainha, quando Kim escancarou a porta, dando-lhe um abraço apertado.

— Karen... que maravilha! — exclamou. — Nem posso acreditar que você está aqui, finalmente!

— E nem eu — Karen tornou, deixando as malas no chão e retribuindo o abraço.

— Não fique parada aí... vamos entrar! — a amiga apressou-a. — Você parece ótima! E como não poderia estar, não é? Pronta para domar o touro daquele hospital!

— É claro que está se referindo ao Dr. Aaron Dash — Karen retrucou, rindo.

— E quem mais poderia ser? Dizem que ele se julga indo-mável, mas eu não sei se acredito.

Karen riu, e deixando as malas no corredor de entrada, foi de braços dados com Kim até a sala.

— Então me diga uma coisa, doutora — Kim continuou brincando, muito sorridente e animada, — agora que faz parte da "turma", como é que devo me comportar na sua frente?

Karen riu com gosto. O marido de Kim, que também era médico, fazia parte da "turma" a que ela se referia, e davam-se muito bem.

— Comporte-se normalmente — respondeu. — Afinal, sabe muito bem que as enfermeiras nunca levam os residentes muito à sério — brincou.

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As duas olharam-se em silêncio, por um instante, felizes por estarem juntas.

— Ele é casado? — perguntou, de repente, e no mesmo ins-tante quis bater na boca por ter falado.

Kim encarou-a por um momento, incerta.— Quem? — perguntou, afinal. — Está falando de Aaron?— Hum... Sim — Karen respondeu, sentindo o rubor se es-

palhar em seu rosto.— Não é casado. Um solteirão convicto. — Kim fez uma

careta. — Não me diga que está interessada nele?!— Ora, não seja boba!Terrivelmente embaraçada, Karen desejava nunca ter per-

guntado. No entanto, mesmo sentindo o rosto arder, seu coração enchia-se de um delicioso e confortador alívio.

— Ainda bem — Kim afirmou, fazendo jus à sua fama de sincera. — Você merece coisa muito melhor.

CAPITULO II

Enquanto ela e Kim bebiam um refrigerante, trocando novidades e fazendo planos para os próximos dias, Karen deixou que o alívio se instalasse confortavelmente em seu íntimo. Aaron era solteiro. Não havia se comprometido pela vida inteira com nenhuma pessoa.

Você está maluca, disse a si mesma, no momento em que o telefone tocou e Kim foi para a sala atendê-lo. Quaisquer que fossem os planos de Aaron para o resto de seus dias, eles não a incluiriam. Estava ali para trabalhar e aprender, e ponto final. Depois de terminada a residência, nunca mais o veria.

Kim retornou à cozinha, balançando a cabeça, com ar de-solado.

— Pode acreditar nisso? — perguntou. — Tiro uns dias de folga para que possamos ficar juntas, e minha irmã resolve dar a luz antes da época. É o primeiro filho dela, nasceu há uma hora, e eu já havia prometido que ficaria com ela, por isso devo ir a Cleveland, no sábado. É provável que Dan queira ir comigo, pois seremos os padrinhos de batismo. Nem sei como me desculpar, mas acho que vamos deixá-la aqui sozinha, por uns dias.

Como sempre, a menção de alguém que tivera um bebê pro-vocara em Karen a sensação de amargura.

— Está bem — assegurou à amiga, com um sorriso. — Posso aproveitar um bom descanso, antes de pegar no pesado. E o que a sua irmã teve? Foi menino ou menina?

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No hospital, Aaron concluía sua visita ao quarto de Sem Troon. Falava a língua cambojana com alguma fluência, pois aprendera durante o serviço militar na Tailândia. Sentado à beira da cama do garoto, perguntava-lhe como passara o dia. Em sua resposta, Troon mencionou duas visitas especiais: o Dr. Ames e uma moça muito bonita, com cabelos longos e brilhantes.

Aaron logo entendeu a descrição. Então Karen estivera ali, visitando seu paciente favorito. O que teria achado de Troon?, pensou. Teria se emocionado, como ele, à bravura silenciosa do garoto, com a maneira corajosa com que ele encarava seu desconforto e sofrimento, mesmo depois de só ter conhecido a pobreza e privação, em seus poucos anos de vida?

— Sobre o que conversaram? — perguntou a Troon, em sua língua nativa.

— Não sei, Dr. Dash — o menino respondeu. — Não consegui entender o que eles falavam.

Distraído, ele passou a mão pela cabeça do garoto. Desejava não precisar ir a Miami, na manhã do dia seguinte. Gostaria de poder ligar para Karen e convidá-la para saírem, comerem alguma coisa...

Porém, para começar, nem sabia onde ela estava morando. E, com certeza, Bert Ames acharia estranho se lhe pedisse o seu número de telefone. Mas haveria outras formas de descobrir e, quando retornasse, no sábado, talvez pudesse...

Ele expressara a mais pura verdade, quando lhe dissera que ficara contente ao encontrar seu nome na lista dos novos resi-dentes que ficariam sob sua responsabilidade. Ela havia con-seguido!, pensara, então. Sentira uma pontinha de orgulho com a idéia de que, talvez, algo que fizera ou dissera na noite em que ela passara em seu apartamento, pudesse ter servido como o encorajamento que ela necessitava.

Desde aquela noite, havia esperado que ela fizesse algum contato com ele. Em vão.

Agora, sentado ao lado de Troon, concordava distraído, en-quanto o garoto lhe falava sobre uma outra visita que tivera. Morng Ny, a mulher cambojana que cuidava dele e de um outro órfão, Dith Lin, havia trazido o garoto mais novo para visitá-lo. Num ato de heroísmo que poderia ter arruinado suas chances de conseguir emigrar, Ny e o marido haviam retirado os dois meninos de um campo de prisioneiros na Tailândia e os trouxeram para os Estados Unidos, como se fossem seus próprios filhos.

Embora os garotos não fossem parentes, haviam se tornado grandes amigos, criando uma espécie de laço insolúvel entre eles. Por enquanto, a situação legal dos dois, no país, parecia estar

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regularizada, mas Aaron temia que isto pudesse mudar de uma hora para outra.

Ny engravidara e não estava passando muito bem. Para pio-rar, ela e o marido enfrentavam dificuldades financeiras, tentando levar adiante um pequeno restaurante de comida típica cambojana nos arredores da cidade. Até agora, mal conseguiam

o suficiente para sustentar a si mesmos e aos dois meninos e, mesmo se conseguissem continuar com Lin, Aaron suspeitava que seria impossível para eles encontrarem a quantidade de tempo, dinheiro e energia que a situação de Troon iria exigir. O garoto era doente e precisava de mais atenção e cuidados que qualquer criança normal.

Além de tudo, seria uma tragédia para os dois meninos se, algum dia, fossem separados. Enquanto ouvia o relato animado de Troon, sobre a visita do amigo, Aaron sentiu um aperto no coração. Os dois haviam passado os piores momentos de suas vidás no campo de refugiados, e haviam se unido no infortúnio. Seria um pecado quebrar estes laços tão fortes.

Aaron desejava adotá-los e, embora fosse solteiro, isto era algo que não tinha muita importância, atualmente. Ou melhor, era assim que ele pensava. Era um homem decente, um bom cidadão e, o mais importante, conhecia a língua nativa dos meninos. Tinha condições de contratar uma governanta 6 para pagar todo o tratamento médico que Troon requeria.

Porém, acima de tudo, ele gostava dos meninos, não esta-va sendo movido apenas pelo sentimento de gratidão pelo grupo de garotos que lhe salvara a vida, no Vietnã.

Determinado a demonstrar sua capacidade de oferecer uma vida estável aos meninos, ele havia vendido seu apartamento de solteiro e comprado uma casa de dois andares, num bairro residencial tranquilo.

A casa era um pouco antiga, mas espaçosa e confortável.Cada um dos meninos teria seu próprio quarto, além do de

Aaron e mais um para hóspedes. Havia até uma acomodação para uma eventual governanta, que ele pretendia contratar, no lado de fora, sobre a garagem.

Mas todos os seus planos e esperanças haviam sumido no ar, quando enviara a petição para a adoção das crianças. A associação que cuidava dos refugiados fora taxativa em lhe dizer que, nos casos como o de Troon e Lin, só poderia haver adoção por um casal. Era a regra, a política da associação, e nada havia que Aaron pudesse fazer para mudá-la.

— Reconheço que estas regras podem lhe parecer arcaicas e antiquadas — o diretor da associação lhe dissera. — E acredito que

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o senhor faria o possível para ser um bom pai. Mas temos de pensar primeiro nas crianças, que passaram por grandes dificuldades e têm direito ao carinho e segurança que somente um casal pode oferecer.

Numa tentativa de tranquilizá-lo, o homem também dissera que não havia muita dificuldade em se encontrar lares para os órfãos refugiados.

Talvez não, Aaron havia pensado, pelo menos quando as crianças eram saudáveis. Mas, e quanto a Troon? Seu problema cardíaco iria exigir cuidados constantes, mesmo se a operação fosse bem-sucedida. A família que adotasse Lin estaria disposta a arcar com uma responsabilidade tão grande, em relação a Troon?

Ele ainda tentara convencer o diretor, levantando o argu-mento de que, como pai solteiro, igualava-se em situação ao pai viúvo. Sempre existia a possibilidade de um dos integrantes do casal vir a faltar. Porém, de nada adiantara e, afirmando que ninguém poderia adivinhar o futuro, o diretor da associação o dispensara gentilmente.

Se Lin fosse adotado e Troon não, este último certamente morreria de tristeza e abandono, Aaron pensava agora, olhando o rostinho pálido e os olhos brilhantes do menino.

Ao voltar para a casa vazia, fazendo uma refeição rápida e solitária, Aaron continuou pensando em Karen no contexto de Lin e Troon. Se ela não fosse uma de suas residentes, haveria alguma possibilidade de cortejá-la? O que ela iria pensar de seu plano de adotar os meninos?

Estava certo de que, agora, ela já teria superado a traição do marido e aprendido a confiar novamente nos homens. No entanto, mesmo se as circunstâncias permitissem que eles tivessem algum tipo de relacionamento, tinha de pensar que ela estava apenas começando sua carreira. Talvez não estivesse muito ansiosa para uma vida em família. A maioria das mulheres desejava ter seus próprios filhos e, para uma médica em início de carreira, a possibilidade de criar dois órfãos talvez não fosse muito tentadora.

— Diabos — praguejou, baixinho, vendo que não havia uma saída prática. A associação não iria permitir que ele adotasse os garotos e, sendo professor de Karen, dificilmente teria um relacionamento pessoal com ela. Porém, quando ela terminasse a residência, quem sabe pudesse haver uma chance para ele...

A seriedade com que pensava em uma mulher que mal co-nhecia o surpreendeu um pouco. Mas apenas um pouco. Algo de extraordinário havia acontecido, quando seus caminhos se cruzaram, naquela longínqua noite de verão. Ele havia estado muito próximo, fisicamente, de uma mulher que julgava atraente e

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descobrira que a atração não fora meramente física. Quase por instinto, desejara poder protegê-la das dificuldades da vida, dos sofrimentos passados e futuros.

Quando ela desaparecera, deixando o trabalho no hospital, não duvidara que alguma das enfermeiras pudesse lhe dar seu endereço ou telefone. Mas, por uma razão que desconhecia, ele não havia pedido a ninguém. E, quando parecera ser tarde demais, arrependera-se por não tê-lo feito.

Agora, tinha trinta e oito anos e estava cansado de ser sol-teiro e sozinho. Queria uma esposa e uma família a quem pudesse se dedicar. E, a despeito da barreira da ética profissional que se interpunha entre ele e Karen, não podia deixar de dar ouvidos à voz interior que lhe dizia: "Não a deixe escapar de sua vida novamente".

O marido de Kim recebeu vários olhares invejosos, quando entrou no aeroporto, no sábado, levando uma loira por um braço e uma ruiva em outro.

— Estaremos de volta em uma semana, no máximo — Kim informou, dando um abraço em Karen. — Aja como se nossa casa fosse sua, e não esqueça de dar comida ao papagaio, está bem?

Não se preocupe — Karen respondeu, sorrindo. — E dê um beijo no nenê por mim.

Momentos depois, Kim e o marido desapareciam no terminal de embarque. Sentindo-se subitamente muito sozinha, Karen decidiu não esperar até que o avião decolasse. Era melhor voltar para casa, mudar de roupa e ir aproveitar um pouco a praia. Depois que a residência começasse, não lhe sobraria tempo para descanso.

Ao se virar para ir embora, deu de encontro com um largo peito masculino. No mesmo instante, seus nervos lhe enviaram uma mensagem, que lhe perpassou todo o corpo: a sensação de firmeza dos músculos, o contato com o tecido meio áspero da camiseta polo, a visão de alguns pêlos que apareciam sob a gola. Um par de mãos firmes a segurou pelos ombros, dando-lhe apoio.

— Desculpe — ela murmurou, afastando-se, enquanto sentia o perfume másculo que ele exalava.

— Receio que não estava olhando por onde ia... — De repente, as palavras morreram-lhe na garganta e o coração deu um salto. Não pode ser, pensou. Era mesmo um grande capricho do destino, dar de encontro justamente com Aaron Dash.

— Ora, veja — Aaron a saudou, com um brilho incrédulo nos olhos. — Não contava com a possibilidade de encontrá-la, hoje.

E quem poderia imaginar tal possibilidade? — Acabei de me despedir de Kim e Dan Johanssen — ela

explicou. — Eles partiram para Cleveland. Estou certa de que você

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os conhece. E o que está fazendo no aeroporto?Ele sorriu. — Estou voltando de Miami, onde passei dois dias num con-

gresso — respondeu.Por um momento, nenhum dos dois disse mais nada. A pres-

são dos dedos dele em seu braço enviava-lhe pequenas ondas de calor.

Quem poderia imaginar que haviam passado uma noite jun-tos, Karen refletiu. Na cama dele. Usando apenas as roupas de baixo. A despeito da multidão no aeroporto, das barreiras impostas pela sua residência médica e pelo fato de não terem quase nada em comum, ela mal conseguia evitar o desejo de atirar-se nos braços dele.

Ela é linda, Aaron pensava. Muito mais delicada e feminina do que se lembrava, como se os seis anos que se haviam passado tivessem transformado um botão numa flor perfeita.

Ao invés das severas roupas de trabalho, Karen usava agora um vestido leve e sandálias de salto baixo, que a deixavam com uma aparência jovem e saudável. Os cabelos soltos emolduravam-lhe o rosto corado, como uma auréola cor de cobre. Mesmo sabendo que logo seria seu professor, Aaron odiava a idéia de que qualquer outro homem a pudesse tocar. Subitamente consciente do silêncio que se instalara entre eles, Aaron soltou-lhe o braço, e ela suspirou baixinho.

— Imagino que tenha vindo de carro — ele falou, procurando uma maneira de passar mais tempo ao seu lado.

Ainda um tanto confusa, Karen apenas fez que sim. — Então, o que acha de me dar uma carona até em casa? —

ele perguntou. — Vai me poupar o trabalho de pegar um táxi. Além disso, temos muito o que conversar.

Não havia como recusar e, mesmo que pudesse, na verdade Karen não queria recusar. Queria estar com ele, pensou, mesmo se estar a sós com ele fosse um risco incalculável. Pelo menos ficariam alguns momentos juntos, antes que se iniciasse a relação de trabalho.

— É claro que sim — respondeu, no tom mais casual que conseguiu. — Posso ajudá-lo a levar alguma coisa?

— Não, obrigado. Estou só com esta valise. Começaram a caminhar, lado a lado, na direção da saída para o estacionamento. Os passos dele eram largos, as pernas nuas sob uma bermuda curta que usava, cor de caqui. Estava bronzeado, transpirando autoconfiança e, mais uma vez, Karen resistiu ao impulso de tocá-lo.

Andavam em silêncio, desviando-se da multidão que se com-

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primia no aeroporto, e ela se sentiu aliviada por contar com alguns minutos para pensar. Ele dissera que tinham muito a conversar, e tinha razão. Desde que era, em grande parte, responsável pela sua decisão de fazer a faculdade de medicina, ele tinha todo o direito de querer saber detalhes de seus anos na escola e de seus planos para o futuro. No entanto, a presença dele, em carne e osso, a perturbava infinitamente. Todo o tempo em que estivera longe, passara idealizando-o, fantasiando-o como o amante ideal, que jamais tivera. Porém, dava graças ao relacionamento que teriam, de aluna e profes-sor, que iria proporcionar o distanciamento seguro que preci-sava para voltar à realidade.

Chegaram no estacionamento que, apesar de estar cheio de carros, não tinha nem sequer uma pessoa à vista. Depois de guardar a valise no porta-malas, Aaron seguiu-a até o lado do motorista. Baixou os olhos para ela, achando seus lábios quase impossíveis de resistir.

Tinha de tentar se controlar, mas, ao mesmo tempo, convencia-se de que não existia nenhuma lei que impedisse um professor e uma aluna de conversarem um pouco.

— Que tal jantarmos juntos, hoje à noite? — ele perguntou. — Mas, por favor, fique à vontade para recusar, se tiver outros planos.

Karen fitou-o como se ele a tivesse convidado para uma via-gem à lua. Aquele convite repentino lhe tirara toda a capacidade de pensar com coerência.

— Não, não tenho outros planos... — murmurou. — Mas acho que...

Sem que percebessem, eles haviam se aproximado um pouco mais.

— Acha o quê? — Aaron perguntou, quase num sussurro.— Bem, nosso trabalho no hospital...— O trabalho só começa daqui a duas semanas — ele in-

terrompeu. — Enquanto isso, não vejo por que não podemos compartilhar uma refeição e algumas horas de reminiscências.

Porém, eles tinham apenas uma lembrança em comum. A idéia de falar sobre aquela noite lhe parecia tão íntima, que Karen sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha.

Seus pensamentos deviam estar estampados em seu rosto, pois Aaron chegou ainda mais perto, fitando-a com intensidade crescente. Embora achasse inaceitável envolver-se com uma mulher que dependeria dele para um treinamento médico, para avaliações, notas e comentários, não pôde se controlar. Antes que qualquer um dos dois soubesse o que acontecia, ele baixou a cabeça ao encontro de seus lábios.

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Karen imaginara aquele beijo há muito tempo, e a realidade era tão mais maravilhosa que ela queria apenas se abandonar nos braços dele.

Agindo apenas por instinto, sem se dar chance de pensar racionalmente, Aaron entreabriu-lhe a boca com a língua e, gemendo baixinho, Karen pressionou o corpo contra o dele. Naquela noite distante, os lábios dele lhe haviam oferecido compaixão, com um beijo puro na testa. Mas, agora, a despeito de tudo o que vivenciariam no futuro profissional, ela estava pronta e disposta a aceitar o que ele quisesse. Retribuiu o beijo com ardor, encontrando-lhe a língua ávida.

A resposta de Aaron veio do mais profundo de seu ser. Numa explosão súbita de desejo, apertou-a mais entre os braços, com uma onda de paixão envolvendo-o. Seria capaz de fazer amor com ela ali mesmo, no piso de cimento do estacionamento, abrigados apenas pelos carros.

Percebendo, por aquele abraço íntimo, o quanto ele a dese-java, Karen chegou a perder o fôlego. Tê-lo tão próximo, sentir-lhe o corpo moldando-se contra o seu, superava tudo o que podia imaginar. Seu coração batia descompassado, e seu corpo parecia derreter, entregando-se a ele com a mesma paixão.

Tocando-lhe os cabelos da nuca com a mão, Aaron surpreendia-se com as sensações que o invadiam. Sabia, de re-pente, que Karen era a mulher certa para ele, aquela que sempre esperara. E se, ou melhor, quando estivessem juntos numa cama, novamente, sabia que nenhum dos dois seria capaz de dormir.

Aquele pensamento pareceu tirá-lo do encantamento, e ele a soltou. O que diabos pensava estar fazendo?, recriminou-se, Aquilo ia completamente contra os seus princípios, mesmo se não fosse algo proibido pelas regras éticas profissionais.

Karen vacilou um pouco, quando se separaram. — Costuma agir assim com todas as suas residentes? — per-

guntou, num sussurro, sem saber o que dizer.Aaron franziu a testa, pensando que bem merecia tais pa-

lavras. — Não — respondeu. — Você é a primeira, e única. Nem sei o

que deu em mim... Talvez a lembrança do passado... Espero que me desculpe.

— Está... desculpado — ela falou, o rubor lhe cobrindo o rosto. Ele abriu a porta do carro para ela.

Tem todo o direito de recusar a carona — falou. — Mas, ainda gostaria muito de conversar com você. Será que nosso acordo está de pé? Mesmo abalada como estava, Karen jamais lhe diria não.

— Sim, é claro — respondeu. — Entre no carro. Afinal, o que

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acabou de acontecer foi minha culpa, também.Não voltaram a falar, enquanto ela dava partida no carro e

dirigia para fora do estacionamento. Era estranho como conseguia manter-se calma, depois do furacão que parecia tê-la arrasado, há apenas alguns instantes.

— Eu disse a verdade, sabe — ele falou, de repente, enquanto tomavam a via expressa. Ao ver o olhar interrogativo de Karen, acrescentou: — Quando falei que você foi a única residente que já beijei. Sinto-me como um completo idiota...

E não é apenas você, ela pensou, sentindo o rosto arder no-vamente.

— Por favor — pediu, tentando se concentrar no trânsito à sua frente. — Não precisamos ficar falando sobre isso.

No entanto, Aaron tinha necessidade de se explicar:— Só queria deixar bem claro que não costumo agir assim.

Acontece que você é... bem, especial.— Não estou entendendo.— Existe um ditado que diz que se você salva a vida de al-

guém, torna-se responsável por ela — ele retrucou.— E você acha que salvou minha vida? Ele fitou-a

intensamente, antes de dizer:— E não salvei?Por um instante, Karen foi capaz de se lembrar nitidamente

da raiva e solidão que sentira, na ocasião da morte de Gleen. — Sim, é verdade — admitiu, mantendo os olhos fixos na

estrada.Querendo mudar o rumo da conversa, começou a lhe falar

sobre os anos que passara na faculdade. Como esperava, suas histórias engraçadas, comentários divertidos sobre os professores e colegas, foram capazes de dissipar a atmosfera íntima que pairava entre eles e, antes mesmo de perceber, já haviam chegado ao endereço que ele lhe dera.

Ele não morava mais no apartamento de que se lembrava tão bem. A primeira impressão que teve, ao ver a casa, foi de que era perfeita para uma família.

— Karen, acho que mal começamos a falar tudo o que dese-jamos — Aaron afirmou, quando ela parou o carro. — Se realmente me perdoou, quero manter o convite para o jantar. Prometo me comportar bem e manter as mãos afastadas de você.

Mesmo sabendo que seria mais prudente recusar, ela não conseguiu. Também achava que tinham muito a dizer e que, uma vez que começassem a trabalhar juntos, não teriam mais oportunidades.

— O que acha, então, de comermos apenas um sanduíche,

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num lugar bem descontraído — ele prosseguiu, ao ver que ela nada dizia. — Só preciso dar uma passada rápida no hospital, primeiro.

O sorriso dela foi a resposta que ele esperava. — Está bem — Karen concordou. — Mas não vá se esquecer

da promessa.Karen acompanhou-o até a casa e, enquanto ele subia para

mudar a roupa, ficou esperando na varanda, sentada no mesmo sofazinho de vime que compartilhara com ele no antigo apartamento. Ambos sabiam, no entanto, que a cena que se desenrolara no estacionamento jamais poderia se repetir.

Ele voltou depois de alguns minutos, vestindo uma calça de linho cinza, camisa branca e gravata, sob uma jaqueta leve.

— Vamos? — perguntou, tentando dar um tom casual à voz. — Por que não deixa seu carro aqui, e vamos no meu? Está uma tarde agradável, e podemos deixar a capota abaixada.

Karen concordou e, a caminho do hospital, sentindo o vento perfumado batendo-íhe contra o rosto, tinha vontade de se beliscar, a fim de ver se não estava sonhando. Ao seu lado estava o homem com quem ela sonhara por tantos anos e, por alguma brincadeira do destino, ele parecia também interessado nela. No entanto, por causa de sua residência e do fato de ele vir a ser seu instrutor no período que se seguiria, estava completamente fora de seu alcance.

Mas, no fundo, não podia impedir-se de pensar que, depois que a residência terminasse, poderia haver um futuro para eles, se Aaron realmente quisesse. Pela primeira vez, imaginou se seus planos de trabalho como médica não poderiam ser realizados ali mesmo, na cidade de St. Petersburg.

Karen ficou surpresa e emocionada quando descobriu que o motivo da ida de Aaron ao hospital era o pequeno Troon. O rosto do garoto iluminou-se no instante em que os viu entrar no quarto.

— Oi, Dr. Dash! — ele falou, com evidente orgulho por sercapaz de pronunciar aquelas poucas palavras na língua quelhe era estranha.

Pousando a mão nos ombros do garoto, Aaron começou a conversar fazendo-o rir, divertido. Para Karen, ficou patente que o menino considerava Aaron como o seu herói.

Ele traduziu algumas das coisas que conversaram e, em pou-cos instantes, Karen também participava da alegre discussão.

Ao saírem do hospital, ela sentia o coração repleto de alegria, percebendo o quanto Aaron fazia por aquela criança, considerando-a como um de seus pacientes mais importantes. Ele era um homem bom, carinhoso e dedicado, pensou, sentindo crescer suas esperanças de um futuro a dois.

Mal podia imaginar que seu castelo de cartas se desfaria em

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apenas alguns minutos, enquanto dirigiam-se a uma lanchonete perto da praia.

Aaron tocou no assunto casualmente-: — Troon e um amiguinho seu, Dith Lin, são produto de um

dos muitos campos de refugiados que se espalharam pela Tailândia, como resultado da guerra do Camboja. Nasceram lá, e seus pais morreram lá. Agora, estão sendo criados por uma mulher chamada Morng Ny e seu marido, que os trouxeram para os Estados Unidos. Infelizmente o casal não tem condições de mantê-los por muito tempo, pois são muito pobrese, além disso, Ny está passando por uma gravidez muito difícil.

Sentindo uma estranha premonição, Karen imaginava que o chão abria-se sob seus pés.

— O que vai acontecer com os meninos? — indagou, num fio de voz.

Aaron fez uma pausa, antes de responder. Exatamente como ela, estivera fazendo planos para o futuro e no que poderia acontecer entre eles, depois que ela terminasse a residência. Porém, antes de se aprofundar nas possibilidades, queria deixar bem claro quais eram suas intenções, no que se referia a Lin e Troon, na esperança de que isto não atrapalhasse um provável filho de ambos.

— Como a maioria dos homens — disse, afinal, — gostaria de me casar e ter meus próprios filhos, algum dia. Mas, enquanto isto não acontece, pretendo adotar os meninos.

CAPÍTULO III

Choque e desapontamento mesclaram-se no rosto de Karen, ao ouvir aquelas palavras. O único homem que a interessara, desde a morte de Gleen, o homem com o qual sonhara nos anos difíceis da faculdade, e que a beijara com a paixão que imaginara em seus sonhos, aquele homem desejava uma mulher que pudesse lhe dar um filho!

Era muito simples, e a deixava sem qualquer esperança. Ela devia saber que jamais conseguiria tê-lo... Devido a um estúpido acidente que sofrera na adolescência, seria incapaz de se realizar completamente como mulher.

Tentou disfarçar a angústia, mas foi tarde demais. Perce-bendo sua expressão, Aaron desejou ter mantido a boca fechada, concluindo que fora um erro lhe falar sobre os meninos.

Porém, não podia culpá-la por sentir-se desapontada. Cuidar de crianças era um trabalho duro, e para um relacionamento que estivesse apenas começando, um desafio constante. Um casal de

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amantes precisava da atenção permanente, de um para o outro, e o fato de existirem duas crianças poderia ser um empecilho.

Foi Karen quem falou primeiro, quando ele parou o carro perto da praia.

— E será que pode adotá-los? — perguntou, afastando os cabelos do rosto. — Quero dizer, por ser solteiro... Sei que muitas pessoas têm adotado crianças, mesmo não sendo casadas, mas você trabalha tanto, como espera cuidar de dois garotos?

Será que ela pensava que ele estava apenas procurando alguém que o ajudasse a criar os meninos? A contragosto, admitiu que a associação havia lhe recusado a adoção, pelo fato de ser solteiro.

— Mas é claro que estou tentando fazê-los mudar de idéia — acrescentou. — E, quanto a cuidar de Troon e Lin, pretendo contratar uma governanta. Sei que não é a melhor solução, mas não vejo outra saída. Pelo fato de eles não serem irmãos, os encarregados da adoção podem muito bem separá-los, colocando-os em famílias diferentes... E isso seria terrível para eles, pois estão juntos desde que se entendem por gente. Karen franziu a testa:

— Acha mesmo que isso pode acontecer? — indagou.— É claro que sim. Lin é o que se considera uma criança

perfeita, saudável e adaptável. O casal que se dispuser a adotá-lo pode não desejar um garoto como Troon, que precisará de cuidados constantes e assistência médica permanente, mesmo depois da cirurgia. Pode haver necessidade de outras operações, mais tarde.

— E, ainda assim, eles não permitem que você fique com Troon... Isto é, se Lin for adotado por outra pessoa?

Aaron apenas balançou a cabeça, desolado.— Acho isso muito injusto — Karen falou, sincera.— Eu também — ele concordou. — Fiz de tudo para con-

quistar a confiança da associação, e para tentar fazê-los mudar de idéia. Comprei a casa, por exemplo, e me ofereci a estabelecer um fundo para os dois, como uma caderneta de poupança. Mas nada adiantou. Enquanto isso, Lin e Troon passam por dificuldades, com os Morng, e perdem a melhor parte da infância. Não pretendo desistir sem lutar.

Saindo do carro, ele deu a volta e abriu a porta para Karen. Quando suas mãos se tocaram, ela sentiu um ligeiro tremor, que lhe confirmou o quanto desejava estar sempre ao lado dele. Porém, sabia que deveria perder as esperanças.

Sentaram-se frente a frente numa das mesas da lanchonete e, sem conseguir desviar os olhos do rosto dele, Karen sentia-se invadir por uma dor profunda. Como o destino era cruel, fazendo-a encontrá-lo para, depois, afastá-la dele. Era como se uma porta

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para o paraíso houvesse sido aberta, permitindo que ela entrevisse o que poderia ter, fechando-se em seguida.

Pediram sanduíches e, quando a garçonete os trouxe, ela mal conseguiu engolir um pedaço. Aaron também perdeu o apetite e a conversa entre eles tornou-se difícil.

Em resposta às perguntas dele, Karen contou que viera de Milwaukee, no estado de Winsconsin, e que era a filha única de um fazendeiro e de uma decoradora de interiores. Rapidamente, contou que seus pais haviam morrido num acidente de barco, um pouco depois que ela se casara com Gleen, e mudou de assunto, concentrando-se numa conversa mais profissional, sobre os novos avanços da cardiologia.

Depois que a garçonete retirou os pratos, Aaron sugeriu que fossem para um pequeno bar contíguo à lanchonete. Enquanto estavam comendo, um pianista havia chegado e, agora, diversos casais dançavam na pequena pista com piso de madeira.

Ele pediu um uísque para si e um martíni para ela e, como num acordo mútuo, bebêricavam devagar, como se desejassem estender ao máximo o tempo em que estavam juntos. Para Karen, a companhia dele tinha um sabor doce e amargo, ao mesmo tempo. A música soava triste, parecendo aumentar sua angústia.

Aaron sabia que não devia convidá-la para dançar, pois po-deria transformar o inocente lanche juntos em algo muito mais íntimo. Porém, achou impossível resistir, pois adivinhava que, depois daquela noite, não haveria outra oportunidade de estarem a sós. Desejava poder abraçá-la novamente, mesmo que fosse num lugar público.

— Vamos lá — falou, afinal, levantando-se e tomando-a pela mão. — Vamos dançar um pouco e sair da rotina.

Ela quis recusar, mas alguma coisa em seu íntimo fez com que aproveitasse aquela última chance de estarem juntos. A música era doce, suave, e Aaron tomou-a nos braços gentilmente.

Porém, aos poucos, a atmosfera sensual do lugar, as luzes fracas e a proximidade um do outro fez com que eles se apro-ximassem mais e mais. Com um suspiro incontido, Aaron íuxou-a mais para si, encostando o rosto contra seus cabelos.

Aspirando o perfume de sua pele, Karen sentia a firmeza dos músculos dele, movendo-se contra seu corpo. Sem qualquer motivo aparente, seus olhos encheram-se de lágrimas. Só desejava ficar aninhada naqueles braços... para sempre.

Ele a sentia mover-se, maravilhado com a maneira perfeita que seus corpos se entendiam. Estava mais convencido do que nunca de que estava se apaixonando por ela e, talvez, sempre estivera apaixonado, desde a noite em que a encontrara chorando no

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estacionamento do hospital.No entanto, manteve-se calado a respeito de seus sentimen-

tos, pelo bem de Karen. Do contrário, teriam de pagar um alto preço, pois, enquanto ela fosse uma residente no hospital, sob sua responsabilidade, não poderia haver nada de pessoal entre eles.

Presa nos braços dele, Karen desejava que a música jamais terminasse. No entanto, sabia que o simples fato de estarem dançando era um risco para a reputação profissional de ambos. No fundo, aquela idéia de saírem para jantar havia sido um erro. Enquanto pensava numa maneira de separar-se dele sem o ofender, Aaron falou primeiro:

— Sinto muito interromper algo tão agradável, mas acho que estou cansado da viagem.

Durante o trajeto para a casa dele, nenhum dos dois falou muito.É o fim, Karen pensou. Da próxima vez que nos en-contrarmos, seremos simplesmente professor e aluna, tendo de cumprir as regras rígidas de nossa profissão.

— Gostaria de sentar um pouco na varanda? — ele indagou, depois de estacionar o carro ao lado do dela.

Karen estava prestes a lhe dizer boa-noite, e fitou-o, surpresa. — Pensei que você quisesse deitar-se cedo — retrucou.Enquanto estiveram dançando, o desejo que sentira por Ka-

ren havia sido tão intenso, que a única maneira de escapar fora sair depressa daquele lugar. Agora, no entanto, Aaron não queria que ela fosse embora.

— Acho que estou com vontade de conversar — respondeu, sem fazer menção de sair do carro.

O rosto de Karen era apenas parcialmente visível, na es-curidão.

— Pois creio que já conversamos o bastante — ela observou, também imóvel em seu lugar.

Imaginava como seria se, ao terminar sua residência, ficasse trabalhando ao lado dele. E se fosse capaz de lhe dar um filho? Ah, como seria maravilhoso poder lhe dar esse presente... Mas por que as coisas não podiam ser da maneira como se desejava?

No silêncio reinante, Aaron desejava que Karen tivesse es-colhido qualquer outro programa para sua residência, qualquer outra especialidade, que não fosse a sua. Não queria avaliá-la no trabalho, criticá-la, ou tratá-la do modo impessoal como costumava tratar seus residentes. Não... Só queria tomá-la nos braços, aspirar o perfume delicioso de seus cabelos, fazer amor com ela, todas as noites.

Dando asas à imaginação, viu-se pegando-a no colo, levando-a escadas acima até seu quarto, mergulhando com ela na cama... No

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entanto, sabia que se ela estivesse se sentindo como ele, nem sequer chegariam até as escadas.

No jardim tropical que rodeava a casa, havia recantos es-condidos, onde poderiam ficar nus, deitados juntos na grama, acariciando-se mutuamente. Enquanto o desejo tomava conta de seu corpo, ele a imaginava nua, a pele reluzente, movendo-se sob ele, até atingirem o perfeito clímax final.

De repente, deu-se conta de que a olhava fixamente, como se estivesse lhe fazendo amor com os olhos. E ela retribuía o olhar, entregando-se, como se realmente estivesse sentindo o peso de seu corpo de encontro ao dela.

Mas nenhum dos dois havia se movido, sequer haviam se tocado.

— Tenho de ir embora — ela falou, afinal, a voz enrouquecida, livrando-se daquele estranho encantamento.

— Quando vou tornar a vê-la? — Aaron perguntou, baixinho, num estremecimento.

— Daqui a duas semanas — ela respondeu, encarando-o.— No hospital.— Exatamente — ela afirmou.— É claro que você está certa — ele começou, hesitante. —

Não podemos nos colocar numa posição desagradável. Mas, ainda assim... — Calou-se por um instante, e Karen prendeu a respiração, no momento em que ele ergueu a mão e tocou-lhe os cabelos, de leve. — Gostaria de beijá-la. Mas não vou fazê-lo.

Ela suspirou profundamente, desejando lhe dizer o quanto sentia por isto. Porém, abrindo a porta do carro, falou apenas:

— Boa noite, Aaron. Obrigada pelo jantar.Ao dirigir de volta para a casa de Kin, Karen surpreendia-se

com a reação que tivera ao toque de Aaron. Mesmo enquanto estivera casada com Gleen, jamais se sentira tão fora de controle, tão sem forças para recusar nada. Gleen nunca a deixara tão excitada.

No entanto, não tivera outra escolha senão ir embora. Da próxima vez que se encontrassem, teria de tratá-lo por "Dr. Dash". Esforçava-se por se lembrar que, mesmo se não fosse por causa da residência, um envolvimento com ele não teria a menor chance de dar certo.

Quando chegou em casa, estendeu-se no sofá da sala e ligou a tevê. Passava um filme romântico, mas depois de alguns minutos, ela se desinteressou, desligando.

Não conseguia parar de pensar em Aaron. Durante todo o tempo em que fantasiara com ele, mesmo nos momentos mais loucos, jamais esperara que, algum dia, pudessem ter realmente

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alguma coisa juntos. Mas, naquela noite, ele a desejara, tanto quanto ela o queria. E o fato de saber que as circunstâncias não permitiriam que ficassem juntos servia apenas para aumentar seu desejo por ele.

O ano que passaria como residente no hospital não seria nada fácil. Porém, não imaginava que fosse se tornar tão difícil assim. Teria de se armar de muita coragem e força moral, para conseguir suportar o sofrimento.

Na segunda feira, Karen almoçou na cantina do hospital com sua antiga chefe, Bess Martin, a diretora da Enfermagem.

— Estou muito orgulhosa de você, querida — Bess comentou, fitando-a com carinho. — Quando você veio me dizer que iria deixar o emprego para estudar medicina, quis pular de alegria. Sempre soube que você tinha muita capacidade.

— Obrigada — Karen sorriu, um tanto encabulada. — Vai acabar me deixando convencida.

— Ora, que bobagem — Bess retrucou. — Sabe de uma coisa, Karen? Nem todo mundo possui a sua coragem de recomeçar do nada, procurando uma nova carreira. Eu própria muitas vezes desejei fazer o que você fez...

Tocada pela franqueza da senhora, Karen balançou a cabeça. — Recebi meu diploma e o título de "doutora" — lembrou

— mas ainda não estou liberada para trabalhar.Bess riu:— Tem razão. E ainda foi escolher a especialidade de Aaron

Dash. Se bem me lembro, vocês dois tiveram um pequeno desentendimento, na primeira visita dele ao Centro de Terapia Intensiva.

Alarmada pelo rumo que a conversa começava a tomar, Karen manteve-se em silêncio:

— Por falar nisso — Bess prosseguiu, — ouvi dizer que vocês têm tido alguns contatos, mesmo antes da residência começar.

Karen franziu a testa, começando a se preocupar.— Não sei sobre o que você está falando.— Ah, acho que sabe, sim. Uma amiga minha viu vocês dois

dançando num barzinho perto da praia, no sábado à noite. Se quer saber minha opinião, vocês agem bem rápido. Afinal, está na cidade há menos de uma semana!

Então os rumores já haviam começado, Karen pensou, de-solada. Precisava acabar com aquilo, e depressa. No entanto, por mais que tentasse, não conseguiu convencer Bess de que não havia nada entre ela e o atraente cardiologista que, em breve, seria seu professor e orientador.

Felizmente a conversa foi interrompida com a chegada de

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dois visitantes à mesa que ocupavam. Bess apresentou-a a um homem alto, bem vestido, com um par de olhos azuis maravilhosos: era Duane Calloway, o novo administrador do hospital.

Ele lançou à Karen um olhar aprovador. — Muito prazer em conhecê-la, dra. Jenkins — falou. — O

Dr. Ames a elogiou bastante.O segundo visitante era Aaron. Segurando a bandeja com o

almoço, aproximou-se da mesa muito à vontade e sentou-se, começando a conversar com Bess a respeito de alguns problemas com os pacientes.

Dividida entre a sensação de ser posta de lado, e o alívio por ele não ter se dirigido a ela com nada além de um cumprimento, Karen terminou de comer, em silêncio. Era óbvio que ele também tomara conhecimento dos rumores que circulavam no hospital e decidira evitar conversar com ela. Devia estar prata.

De repente, Bess levantou-se. Explicando que teria uma reu-nião dali a poucos minutos, retirou-se.

— Acho melhor ir também — Karen falou depressa, pegando a bandeja.

— Espere um pouco.Mesmo sem ter feito qualquer gesto para segurá-la, o tom de

Aaron bastou para deixá-la imóvel. — As pessoas já estão fazendo comentários sobre nós —

ele disse, o rosto inexpressivo.Karen engoliu em seco.— Sei disso.— Não podemos dar mais nenhum motivo para falatórios —

ele acrescentou.Ele estava ali para lhe dizer aquilo?— Então por que veio se sentar bem nesta mesa? — ela in-

dagou, um tanto irritada. — Pelo que vejo, há muitas outras, vazias.— Todos sabem que já trabalhamos juntos. Se fingirmos o

contrário, só servirá para provocar mais fofocas.— Está bem — ela concordou. — Mas acho que já chega,

então. É melhor que eu vá embora.Ele a olhou fixamente, impedindo-a de se mover. — No sábado à noite, durante nosso lanche, você comentou

que nunca conseguiu encontrar a mãe do filho de Gleen — falou, muito sério. — Pensei que talvez pudesse entrar em

contato com o casal Morng; é possível que eles saibam de alguma coisa.

Consciente de que as pessoas os observavam, Karen não con-seguiu evitar que uma palidez lhe cobrisse o rosto.

— São eles que trouxeram Lin e Troon da Tailândia — Aaron

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lembrou-a. — Não sei se mencionei que eles possuem um restaurante, na zona sul da cidade. Não é uma vizinhança muito boa, mas a comida que fazem lá é excelente.

Karen esperou, em silêncio, que ele continuasse. — Se quiser conversar com eles, posso acompanhá-la e servir

de intérprete.Seria uma oportunidade de tornar a vê-lo, ela pensou. Mas, ao

mesmo tempo, daria mais motivos para comentários. — Obrigada — respondeu, afinal, — mas não creio que seja

uma boa idéia, se considerarmos o aviso que você acabou de fazer. — Levantou-se e pegou a bandeja. — Com licença, preciso me apressar. Tenho um compromisso, esta tarde.

Educado como sempre, Aaron também se levantou. — Esteja à vontade — falou, em voz baixa, para que as

pessoas à sua volta não o ouvissem. — Mas, se mudar de idéia, me avise.

Na verdade, o único compromisso de Karen, naquela tarde, era com a espreguiçadeira da varanda da casa de Kim. Estendida sob o sol, usando apenas um minúsculo biquini, continuava pensando em Aaron.

Mesmo aquele breve e frio encontro com ele, na hora do almoço, fora o suficiente para enchê-la de alegria, e tinha a impressão de que não iria conseguir afastá-lo de sua vida tão facilmente.

Procurou, então, concentrar-se no casal de cambojanos a que ele se referira. Mesmo que não pudessem lhe dar qualquer pista sobre a antiga amante de Gleen, seria interessante conhecê-los, ver onde viviam e, quem sabe, conhecer o outro menino que Aaron desejava adotar.

Mas... e se eles tivessem informações sobre a mulher que procurava? Era muito comum os refugiados se agruparem em colônias, a fim de se ajudarem mutuamente. Se soubessem alguma coisa, ela poderia, finalmente, encerrar suas preocupações a respeito do filho de Gleen. E não precisaria de Aaron como intérprete, pois certamente eles deviam falar um pouco de sua língua. Do contrário, como conseguiriam ter um restaurante?

Por volta de cinco horas, Karen dirigia à procura do pequeno restaurante, chamado Mango Tearoom. Não foi muito difícil de encontrar. Situado entre uma churrascaria e uma loja de revistas, era um local bastante modesto, embora limpo e arrumado.

No caminho até lá, várias nuvens negras haviam se formado no céu e, no instante em que desceu do carro, uma chuva torrencial começou a cair. Ela correu para dentro, tentando proteger a cabeça com um jornal.

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Havia se esquecido que Ny estava grávida e, ao ver a mulher com um largo sarongue estampado, de sandálias baixas, concluiu que devia estar por volta do quinto mês. Sentindo retornar a dor antiga, quando imaginava a amante de Gleen carregando no ventre o filho que ela jamais poderia ter, arrependeu-se de ter seguido o impulso de ir até lá.

Porém, não sabia como sair do restaurante, pois Ny aproximara-se, muito sorridente, levando-a para uma das mesas cobertas com toalhas de plástico. Era a única freguesa.

Entregando-lhe o cardápio, a mulher tornou a sorrir e saiu, na direção da cozinha. Até aquele momento, não haviam trocado uma palavra e ela percebia que, de fato, iria precisar dos serviços de Aaron, do contrário não se faria compreender.

Examinou o cardápio, em que os pratos eram descritos em cambojano, e quase deu um pulo de susto ao ver Aaron surgir pela porta por onde Ny acabara de sair.

— Quer dizer que resolveu vir — ele comentou, com um sorriso zombeteiro, sentando-se à mesa.

— O que... o que está fazendo aqui? — ela indagou, atônita.— Bem, eu tenho de comer, às vezes.Era impossível argumentar diante de tal afirmação. — Além disso, investi alguma coisa neste negócio, e venho

até aqui sempre que tenho uma folga. Dar uma ajuda para meu sócio, entende?

Momentos depois, ele apresentava Karen formalmente ao casal de cambojanos, que pareceu considerá-la namorada de Aaron.

Enquanto conversavam, misturando as palavras das duas línguas, mas conseguindo se entender, o pequeno Dith Lin aproximou-se da cadeira de Aaron. Karen concluiu que o garoto, mais novo que Troon, parecia estar bem mais próximo da idade que o filho de Gleen teria e, mais uma vez, sentiu a tristeza lhe pesar no coração.

Ny e Houm lhes trouxeram o jantar, composto de pratos exóticos e deliciosos. Enquanto comiam a sobremesa, Karen aproveitou para perguntar sobre Arn Song, a mulher a quem procurava, mas Houm não tinha qualquer informação para lhe dar, embora prometesse investigar e procurar entre os amigos e conhecidos.

Durante a conversa, Karen também ficou sabendo que Aaron aplicava uma boa parte de seu dinheiro e de seu tempo livre numa clínica gratuita para a população de refugiados. — Graças ao Dr. Dash, muitas crianças têm ajuda, quando ficam doentes — Houm observou, com um ar muito compenetrado. — Mães também. E

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pais. Não saberíamos o que fazer, se não fosse por ele.Aquela revelação confirmou a impressão de Karen de que

Aaron devia ter uma ligação muito forte com os asiáticos, talvez motivada por algo que lhe acontecera no passado.

Depois de se despedirem do casal, saíram juntos do restaurante. Aaron acompanhou-a até o carro.

Havia parado de chover e as ruas brilhavam sob as luzes coloridas das lojas.

Segurando-a pelo braço, Aaron a reteve por um instante, antes que ela abrisse a porta do veículo.

— Sei que devemos ser cuidadosos, a fim de evitarmos co-mentários do pessoal do hospital — ele falou. — Mas, estritamente como amigo, queria lhe pedir um favor. Você mencionou que sua mãe era decoradora e, provavelmente, deve ter aprendido alguma coisa com ela. O que acha de dar uma olhada em minha casa e me dizer o que é preciso fazer, para uma reforma e uma boa decoração? Pretendo convidar alguns membros da associação de adoção para visitar a casa, e, antes disso, gostaria de deixá-la em ordem.

Era uma idéia tentadora e, além disso, permitiria que ela desse sua contribuição para o esforço dele em adotar os pequenos órfãos. Pesando os prós e os contra, Karen decidiu aceitar.

— Acho que posso ajudá-lo — falou. — Quando quer que eu vá?

As linhas imperceptíveis do rosto dele aprofundaram-se ligeiramente, quando ele sorriu:

— Que tal agora mesmo? — perguntou.

CAPITULO IV

Arrependendo-se no mesmo instante por sua decisão apressada, Karen respondeu, hesitante:

— Bem... Só por alguns minutos, então.Enquanto seguia atrás do carro de Aaron, até a casa dele, sua

mente lutava para discernir as diferentes emoções.Enquanto ele permanecesse solteiro, talvez nunca conseguisse

adotar Troon e Lin, como tanto desejava. Porém, se casasse, teria a custódia dos meninos no mesmo instante. Ela poderia casar-se com ele, a fim de ajudá-lo a conseguir o que queria... Mas, mesmo se não fosse por causa da residência, sabia que jamais poderia ser sua mulher, pois era incapaz de lhe dar o filho com o qual ele sonhava.

Não sei como irei suportar, pensou, angustiada. Parece não haver qualquer saída para nós dois.

Começava a escurecer, quando chegaram na casa.

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Aaron acendeu as luzes da sala e, esquecida de todos os pro-blemas, Karen olhou erri volta, admirada. O piso de madeira, antigo e bem conservado, precisava apenas de alguns cuidados básicos. Imaginou-o brilhando, com uma camada de verniz, tendo um belo tapete persa para enfeitá-lo. Não havia mobília suficiente para influenciar sua visão de como a sala poderia ficar, depois de arrumada. E, as poucas peças que via espalhadas, reconheceu como sendo do antigo apartamento de Aaron.

— Coloquei as estantes com livros, o aparelho de som e tevê no andar de cima, por enquanto — ele explicou.

Sem responder, Karen foi para a sala de jantar. Estava com-pletamente vazia, com exceção de dois armários embutidos, feitos em madeira trabalhada e com as portas de vidro. Havia espaço bastante para uma mesa grande e um bufê. Incapaz de se conter, imaginou uma família reunida naquela sala, os rostos iluminados pela luz de velas sobre a mesa, o aroma da comida num dia de festa e, acima de tudo, muito amor impregnando toda a cena. Estava ficando maluca, isso sim. Atormentando-se com visões de algo que jamais teria.

O piso da cozinha, completamente estragado, parecia não ter mais recuperação. No entanto, os armários, todos com porta de vidro, estavam em perfeito estado. Tanto a geladeira quanto o forno eram muito antigos, mais parecendo relíquias do pas-sado, e o único utensílio moderno, ali, era o forno de microondas. A lavanderia também se encontrava num estado lastimável, Com os encanamentos velhos e estragados, assim como os banheiros do andar de cima.

Os quartos eram espaçosos e arejados, com o piso de ma-deira semelhante ao da sala, e estavam todos vazios. Com exceção de um: o quarto de Aaron, que continha apenas a cama, as estantes e os aparelhos que ele mencionara. Era o único cômodo da casa que parecia ter um pouco de vida.

— Não passo muito tempo lá embaixo, exceto quando pre-paro um jantar rápido — ele explicou, percebendo a reação dela.

Na verdade, para Karen, toda a casa dava uma impressão de vazio e solidão. O apartamento em que ele vivia antes, parecia perfeito para ele, pequeno e confortável. Mas, ao se mudar para a casa, ele se colocara numa categoria diferente: era um homem de família, vivendo num lugar grande o bastante para abrigar mulher e filhos, só que não havia ninguém ali. O simples fato de morar nessa casa devia aumentar ainda mais o desejo dele de adotar os meninos, ela adivinhou.

— Bem, se quer minha opinião — ela falou, afinal, — eu poderia escrever um livro sobre tudo o que esta casa está pre-

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cisando.— Está tão mal assim, é?Encaminhando-se de volta à cozinha, Aaron abriu a geladeira

e tirou duas maçãs, entregando-lhe uma. — Não digo que seja um trabalho impossível — Karen res-

pondeu, mordendo a maçã suculenta. — Este lugar tem um charme muito especial, só que ninguém fez nada por ele, durante anos.

— E o que você sugere?— Bem, para começar... — Ela olhou em volta, pensativa,

como se estivesse armando um plano de ataque.Observando-a, Aaron pensou em como seria bom viver com

ela ali, sob o mesmo teto. Além dos momentos de paixão, sentia que seriam capazes de construir lindos momentos de intimidade, tranquilos e cheios de paz.

— Já sei o que fazer — ela prosseguiu, decidida a ajudá-lo. — Tenho ainda alguns dias de folga, antes de começar o trabalho no hospital. Posso pegar algumas amostras de tecido, tapetes, enfim, tudo o que vai precisar. Amanhã, volto aqui e faço uma lista completa, com todos os detalhes. Está de acordo?

— É evidente que sim — ele respondeu, com um sorriso sa-tisfeito.

Acostumada a trabalhar desde que se tornara adulta, Karen ficou contente por ter com o que se ocupar, durante os dias que deveriam servir de férias e descanso. Mas, além de poder ajudar Aaron, poderia distrair-se, afastando da mente tantos pensamentos melancólicos que a assaltavam.

Logo cedo, na manhã seguinte, pegou o carro e começou a ronda por encanadores, eletricistas, pintores de parede e res-tauradores, cujos endereços pegara na seção de classificados do jornal. Visitou também algumas lojas de móveis e de teci dos, começando uma coleção de amostras de todos os tipos: tapetes, cores de tintas, tecidos para cortinas e estofados.

Na quarta feira à tarde, estava pronta para comparar seus achados com o contexto da casa, e foi até lá. Conforme haviam combinado, Aaron deixou a chave sob o tapete da porta e, no instante em que entrou, Karen teve a estranha sensação de estar chegando ao lar, depois de muito tempo longe. Porém, mais que depressa, afastou essas idéias. Estava ali fazendo um favor a um amigo, ou melhor, ao seu futuro chefe e orientador.

Vestida com uma camiseta curtinha e short, ela estava na cozinha examinando algumas amostras de papel de parede, quando ouviu passos atrás de si. Assustada, virou-se de repente, sufocando um grito. Mas era Aaron.

— O que está fazendo aqui? — perguntou, acusadora. —

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Pensei que ficaria o dia todo no hospital.Ele sorriu, divertido.

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— Ora, eu moro aqui, lembra-se? E esta é minha tarde defolga.

Ela não respondeu. Molhou os lábios, parecendo confusa, 0 Aaron achou quase impossível resistir ao desejo de tocá-los. Mas conseguiu.

— Será que posso lhe dizer como é bom encontrá-la aqui? — acrescentou, aproximando-se mais dela. — Ou só posso pedir para ver as amostras que pegou?

A simples proximidade dele era suficiente para fazê-la es-quecer de tudo o que se propusera, mas esforçou-se para se concentrar no fato de que, dali a poucos dias, teriam de se encarar como professor e aluna.

—Talvez seja melhor ver as amostras — falou, dando um passo para trás e afastando-se dele.

— Está bem — ele concordou, sem discutir. Foi até a gela-deira e pegou duas latinhas de refrigerantes e uma pizza, que colocou no forno. — Vamos ver o que tem aí — finalizou.

Enquanto a pizza esquentava, examinaram juntos as amos-tras que Karen trouxera, planejando diversas combinações possíveis.

Karen mencionou os custos, dizendo que escolhera tudo de preço médio, isto é, nem muito caro, nem barato demais. Aquela observação fez com que Aaron a admirasse ainda mais: ela não era apenas uma mulher bonita e inteligente, mas também sensata e económica.

Quando a pizza ficou pronta, ele colocou-a na mesa e co-meram com as mãos, continuando a discutir e examinar os detalhes da reforma.

— Depois que os consertos básicos do encanamento e da parte elétrica estiverem prontos, acho que vai querer comprar alguns móveis — ela observou, mordendo um pedaço de pizza.

— E vou poder contar com sua ajuda?— Isto depende de você. Como meu professor, será dono de

todos os minutos do meu dia.Ela pretendia brincar, mas, de alguma forma, as palavras

soaram diferentes, sugestivas.— Só dos dias, ou das noites, também? — ele retrucou,

fitando-a intensamente.— Sabe muito bem o que eu quis dizer.Enquanto se olhavam, deixando de lado os restos da pizza, as

amostras de tecido e papel de parede, o tempo parecia estar suspenso. A onda de desejo que os envolvia era quase palpável e Karen não conseguiu evitar que as lágrimas lhe surgissem nos olhos, pensando em como tudo aquilo era impossível.

Aaron aproximou-se e enlaçou-a pelos ombros.

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— Ei, não precisa chorar — falou, com extrema delicadeza. — Desculpe se minha brincadeira a magoou. Mas, eu a quero tanto, Karen, e não sei o que fazer...

Ela recostou a cabeça em seu peito, sentindo uma fraqueza deliciosa.

— Eu também não sei — admitiu, num sussurro.Um turbilhão de idéias passava pela mente de Aaron, mas

acima de tudo, estava a certeza que possuía, agora, de que ela também o queria. Talvez, se falasse com Bert Ames, pudesse repensar a programação da residência...

No entanto, que motivos daria ao diretor? Se lhe dissesse a verdade, poderia causar graves problemas à Karen, além de ele próprio ser passível de uma severa repreensão.

Como iria explicar ao Dr. Ames que, durante os anos em que ela estivera fora, havia pensado nela quase todos os dias e, agora que voltara, queria fazer amor com ela?

E ele começava a desejar mais. Eles precisavam de tempo para se conhecerem melhor e para permitir que o relacionamento entre eles se aprofundasse.

— Preciso ir embora — Karen falou, baixinho, sem desviar os olhos dos dele.

— Vou acompanhá-la até a porta — ele disse, num tom enrouquecido. — Mas, antes... — De repente, deu-se conta que, assim que o trabalho dela no hospital se iniciasse, a distância entre eles aumentaria ainda mais.

Mal conseguindo suportar essa idéia, puxou-a para perto de si, abraçando-a com força e procurando-lhe os lábios.

O beijo, terno e gentil no início, tornava-se mais e mais apai-xonado. Com a velocidade de um raio, o desejo entre eles explodiu, e Karen prendeu o fôlego ao sentir a mão dele sob sua blusa, acariciando-lhe os seios. Desejava gritar de prazer, dizendo-lhe que sempre sonhara em viver esse instante, mas apenas gemeu baixinho, os bicos dos seios intumescidos, os olhos cerrados.

Nem soube como acontecera, mas viu-se sentada no colo dele, aceitando suas carícias, sentindo o corpo tomado por uma emoção desconhecida. No entanto, uma vozinha racional, dentro dela, a avisava que estavam prestes a cometer um grande erro. Nada daquilo podia estar acontecendo, pois mesmo que mandasse a ética profissional para o inferno, jamais poderia pertencer a ele.

Juntando toda sua força de vontade, empurrou-o de leve, afastando-se.

— Aaron, por favor... — implorou, puxando a blusa para baixo, a fim de cobrir os seios, e levantando-se. — Não podemos...

Ele passou as mãos pelo rosto, e depois encarou-a.

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— Tem razão — concordou. — Nem vou pedir desculpas, desta vez. Só posso lhe dizer que não tornará a acontecer.

— Não foi culpa sua.— Isto é uma questão de opinião — ele retrucou, a voz tão

fria e impessoal que chegou a feri-la.Karen desejava tornar a abraçá-lo, confortá-lo, mas disse

apenas:— Acho melhor ir embora, agora. Ele concordou.— Sim, também acho.Sem se mexer, ele ouviu os passos dela afastando-se, até que

a porta de entrada se fechou. Momentos depois, o ruído do motor do carro indicava que ela havia partido.

Sentindo o perfume dela, que permanecia no ar e em suas mãos, Aaron teve um ímpeto de atirar algum objeto no chão, a fim de aliviar sua frustração. Mas, sabendo que seria inútil, emitiu um suspiro profundo e foi para o andar de cima, mudar de roupa.

Karen parecia deprimida, quando foi buscar Kim e Dan no aeroporto, na sexta-feira. Em contraste, os amigos estavam esfuziantes, cheios de histórias sobre o afilhado e até fazendo planos para também encomendarem um bebê.

Mesmo ficando contente com a felicidade do casal, ela não conseguiu se animar. Não podia ter o homem que amava, não podia ter um filho...

Ignorando os protestos de Kim, que afirmava que ela seria bem-vinda pelo tempo que desejasse, Karen alugou um apar-tamento e mudou-se no dia seguinte.

Era um apartamento pequeno, já mobiliado, e ficava perto do hospital. Sem qualquer enfeite ou atrativo, o lugar refletia bem o seu estado de espírito. Porém, ela pensava em ficar ali só por um ano e, com tanto trabalho que teria pela frente, não passaria muito tempo dentro de casa.

Seu telefone foi instalado na quarta-feira e, de alguma forma, Aaron conseguiu o número.

— Oi — ele cumprimentou, embaraçado, quando ela aten-deu. — Achei que gostaria de saber... A pintura da casa está ficando uma beleza. O pessoal que vai envernizar a madeira do piso começa na segunda-feira e, com a sua ajuda, tenho a impressão que a casa tem boas chances de ficar com a aparência de um lar de verdade.

Karen esforçou-se para disfarçar a emoção, quando res-pondeu:

— Fico contente em ouvir isso. Você trabalha rápido. Houve uma breve pausa, antes que ele continuasse:

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— Bem, só queria lhe agradecer. Acho que não faz idéia do quanto me ajudou.

— Foi um prazer.Que inferno, Aaron se exasperou. Não devia ter ligado. Pa-

reciam dois estranhos trocando gentilezas inúteis. No entanto, havia ainda uma coisa que queria lhe dizer:

— Outro dia você comentou que gostaria de visitar a clínica para refugiados, antes de começar seu trabalho no hospital. Bem, falei sobre você com a minha assistente na clínica, Lucy Ong, e ela ficará muito feliz em recebê-la e lhe mostrar tudo. Achei que seria mais conveniente se fosse num horário em que eu não esteja lá.

Desejando conhecer tudo o que dissesse respeito a Aaron, Karen foi até a casa que abrigava a Clínica Filantrópica para Asiáticos, na tarde do dia seguinte. Tivera o cuidado de escolher uma hora em que sabia que Aaron estaria ocupado no hospital, numa cirurgia.

Não havia muitos pacientes na sala de espera, apenas algumas mães com seus bebês, ou crianças pequenas para serem vacinadas, Aaron recrutara Lucy, uma enfermeira de meia-idade muito experiente e eficiente, que além de tudo, conhecia diversas línguas asiáticas.

Muito prazer em conhecê-la, dra. Jenkins — a senhora cumprimentou-a, ao recebê-la. — O Dr. Dash me avisou que viria nos visitar. Por favor, venha por aqui.

Enquanto faziam uma rápida visita pelas dependências da clínica, Lucy não poupou elogios ao trabalho de Aaron, de-monstrando sua admiração e lealdade. E, se estava curiosa a respeito do relacionamento entre ele e Karen, não fez qualquer pergunta.

— Como amiga dele, sei que vai concordar — falou, enfática, — que um médico tão ocupado que se dispõe a ocupar seu tempo livre com pessoas menos favorecidas é algo raro e maravilhoso. Todos aqui o admiramos muito.

Enquanto dirigia de volta para casa, Karen pensava nas pa-lavras de Lucy. Pensou que poderia ajudá-lo naquela missão, mas tinha medo de se envolver ainda mais com um homem a quem não podia amar. Como seria maravilhoso se ela e Aaron se casassem e trabalhassem juntos... Mas, por sua incapacidade de gerar um filho, esse sonho tornava-se impossível.

Na primeira reunião dos residentes do hospital, Karen e Aaron agiram como se fossem estranhos. Ela não havia falado com ele, depois que visitara a clínica, e ele também não a procurara mais.

Apenas mais uma entre vários residentes, ela sentou-se na segunda fila do auditório, quase anônima em seu avental branco, os

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cabelos presos em um coque severo, os óculos de aro fino dando-lhe um ar profissional e grave.

O Dr. Ames fez um discurso introdutório, dando em seguida, a palavra a diversos outros médicos, que iriam se encarregar das áreas de atuação dos residentes. Aaron mantinha-se sério, e ela não detectou o menor sinal de reconhecimento, nos poucos instantes em que seus olhos se encontraram.

Seus modos impessoais não mudaram, quando ela e os ou-tros quatro residentes de cardiologia reuniram-se com ele, afim de detalhar o programa do ano corrente, assim como suas rotinas e responsabilidades.

— Cada um de vocês terá pelo menos três pacientes sob sua responsabilidade — ele explicou, sucinto. — Mas, algumas vezes, este número poderá aumentar. Espero que o cuidado que dispensem a eles seja o melhor possível, como se fossem os únicos responsáveis no caso de cada um.

Entregou-lhes, então, as pastas com as fichas dos pacientes e Karen ficou ligeiramente desapontada ao ver que Troon não estava entre os seus. Mas, antes que pudesse dizer qualquer coisa, já iniciavam a ronda rotineira, examinando os doentes e verificando o estado de cada um.

Mantendo um controle férreo sobre si mesma, ela conseguiu atravessar aquele primeiro dia. Só esperava que, com o tempo, as coisas ficassem mais fáceis de suportar. Se não, achava impossível prever o que aconteceria.

Na quinta semana de sua residência, seu relacionamento com Aaron havia se estabilizado, mantendo-se tão profissional como deveria ser. Na verdade, ele se mostrava ainda mais exigente e distante com ela do que com os outros residentes.

Mergulhada até o pescoço com o trabalho, os novos conhe-cimentos e a responsabilidade com os pacientes, Karen sentia falta da antiga camaradagem. O tratamento frio e formal que existia agora estava muito distante do que haviam compartilhado, mas, ao mesmo tempo, não dava o menor motivo para comentários quanto à ética profissional.

Certo dia ela e um colega, Tom Bennett, foram escalados para ajudarem Aaron numa cirurgia de coração num recém-nascido. Era uma operação difícil e delicada e, em determinado momento, Tom entrou em pânico deixando que Karen e Aaron lidassem com o pequeno paciente sem mais ajuda.

Felizmente, a operação correu bem e, depois das suturas, a criança foi levada para a sala de recuperação.

Depois que Aaron foi falar com os pais do bebê, a fim de tranquilizá-los, juntou-se à Karen no lavatório contíguo à sala de

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cirurgia. Sem rodeios, fez a ela o primeiro elogio, depois de mais de um mês de trabalho:

— Portou-se muito bem na cirurgia — falou, olhando-a de relance. — Foi um ótimo trabalho.

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— Obrigada.Fechando a torneira da pia, ela se virou e, sem perceber, deu de

encontro com ele. Imaginou se não haveria um tipo de ímã, que fazia com que estivessem sempre se trombando.

Qualquer que fosse o caso, como daquela primeira vez no aeroporto, Aaron fitou-a bem dentro dos olhos; sem conseguir esconder seus sentimentos.

— Está sendo difícil, não é? — murmurou.— Pode apostar que sim — ela respondeu, baixinho. De repente,

sem conseguir se conter mais, ele puxou-a de encontro a seu corpo e, segundos depois, estavam se beijando. Um beijo desesperado, faminto, como se fosse a última coisa que fariam na vida.

E, como era inevitável, alguém entrou no lavatório, pegando-os em flagrante. Com uma tossida discreta, o Dr. Marani, cirurgião plástico, entrou e saiu em seguida, sem nada dizer.

— Estamos encrencados — Aaron falou, soltando-a. — O Dr. Marani é um fofoqueiro compulsivo.

Ainda ardendo pelo beijo, Karen não conseguiu dizer nada. Apenas baixou os olhos e saiu, apressadamente. Aaron não a seguiu.

Como era sua tarde de folga, Karen passou pela enfermaria e, depois de dar algumas instruções sobre os pacientes aos seus cuidados, foi embora.

Aaron permaneceu no hospital e, quando ia para sua sala, foi chamado ao escritório do Dr. Ames.

Sem preâmbulos, o diretor foi direto ao ponto: — É verdade que você estava em atitude imprópria com uma de

suas residentes, hoje, no lavatório da cirurgia? — indagou, com firmeza.

Aaron concordou com a cabeça. — Antes de mais nada, quero dizer que a dra. Jenkins não teve

a menor culpa. A responsabilidade do que ocorreu é toda minha — afirmou.

O diretor indicou-lhe uma cadeira e prosseguiu: — Não gostaria de repreendê-lo por algo assim, Aaron. Você é

um dos melhores especialistas que temos neste hospital. Mas, que diabos, Aaron... Não podemos permitir que essas coisas aconteçam!

Ciente de que o médico mais velho tinha razão, Aaron não fez nada para se defender.

— Sei que agi errado, Bert. E peço desculpas. A expressão do Dr. Ames suavizou-se um pouco.

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— Estou certo de que sabe que não pode haver um relacio-namento pessoal entre o orientador e os residentes, pois é algo que poderia arruinar tudo o que tentamos atingir aqui. Porém, compreendo que o que aconteceu deve ter sido resultado de um stress. A operação daquele bebê foi difícil e exigiu muito de vocês dois. — O diretor fez uma pausa, antes de acrescentar: — Imagino que saiba que já haviam alguns comentários sobre você e Karen, antes mesmo do período de residência começar, e vocês terão de conviver com o falatório. Só espero que não volte a ocorrer um novo incidente.

O rosto de Aaron parecia esculpido em pedra. — Eu lhe prometo, Bert — falou. — Não haverá mais nenhuma

indiscrição.No fundo; rezava para que conseguisse manter sua palavra.

CAPÍTULO V

Naquela noite, Karen dormiu muito pouco. Virando-se de um lado para outro da cama, reviu mentalmente o incidente no lavatório da sala de cirurgia, inúmeras vezes.

O que teria acontecido, se o Dr. Marani não tivesse aparecido de repente? Será que as barreiras entre ela e Aaron teriam sido destruídas? A força e poder daquele beijo foram quase incontroláveis, mas sabia que Aaron, assim como ela, dava um grande valor à ética profissional, sendo pouco provável que o beijo se repetisse.

Mas, qualquer que fosse o caso, o fato era que o Dr. Marani os vira juntos, e esse fato implicava em sérios problemas. Perguntava-se se não era ela a culpada de tudo. Não havia tomado a iniciativa do beijo, porém correspondera avidamente. Ah, sim..., pensou, retribuíra o beijo com tanta paixão, como se fosse um viajante perdido no deserto que, de repente, havia encontrado uma fonte de água.

Infelizmente, por mais que se autocensurasse, o estrago já estava feito, não havia como voltar atrás. Naquele exato momento, os rumores e comentários estariam se espalhando por todo o hospital. Já vira incidentes desta natureza acontecer, e sabia que poderiam tornar as condições de trabalho insuportáveis. Talvez até destruir-lhes as carreiras.

Teria sorte se o Dr. Ames não a afastasse do programa de residência. E, quanto a Aaron, também poderia ser prejudicado, podendo inclusive levar uma suspensão.

Além de tudo, ainda havia o problema de seus colegas resi-

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dentes: teria de encará-los e suportar seus julgamentos. Poderiam facilmente pensar que ela estava tentando conquistar o professor, a fim de obter vantagens e facilidades na residência. Se eles soubessem!, pensou desolada. Nada estava mais distante da verdade.

Mas, para ela, o mais difícil seria encarar o próprio Aaron. Sentia-se culpada e arrependida, embora um tremor lhe passasse pelo corpo, cada vez que pensava nele e se lembrava daquele beijo. Mesmo sabendo.que estavam agindo errado, aqueles breves instantes em que passara nos braços dele foram maravilhosos e lhe deram a certeza profunda de que, não importasse o que acontecesse, sempre pertenceria a ele.

No dia seguinte, no hospital, ouviu alguns poucos comentários zombeteiros, mas nada com que não pudesse lidar. Felizmente, nenhum daqueles que começava a considerar como amigos lhe disse qualquer coisa. E, quanto a Aaron, mantinha a mesma aparência séria e profissional de sempre, o que a deixou aliviada. Assim, conseguiu atravessar o dia sem grandes problemas e estava tão concentrada no trabalho que foi capaz de ignorar as próprias dificuldades.

No fim da tarde, quando estava saindo do hospital, encontrou Duane Calloway no estacionamento.

— Olá! — o novo administrador a cumprimentou, sorridente. — O que está achando do trabalho no hospital?

Pela sua atitude amigável, Karen logo imaginou que ele não ouvira a fofoca do dia. Ou, se tivesse ouvido, talvez fosse o tipo de pessoa que não permitia que comentários, de bastidores interferissem em seu julgamento.

— Não tenho queixas — respondeu, no mesmo tom agradável. — Até amanhã, Duane.

Para sua surpresa, o administrador passou a caminhar ao lado dela, dando a impressão de que iria lhe fazer perguntas sobre o incidente. Quase em pânico, começou a pensar numa resposta razoável.

No entanto, Duane tinha algo completamente diferente em mente:

— Gostaria muito que me acompanhasse no jantar do pessoal da díretoria, na próxima semana — ele falou. — Isto é, se não tiver outro compromisso. — Lançou-lhe um olhar sorridente. — Já chequei sua programação no hospital e sei que tem a noite livre, na data do jantar.

Karen tentou disfarçar sua enorme surpresa com o convite.

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— Bem... — murmurou, incerta. — Não sei, tenho tanto trabalho a fazer, coisas para estudar...

— Todo mundo precisa de uma distração, de vez em quando — ele retrucou, persuasivo.

De repente, Karen deu-se conta de que Duane lhe dava uma excelente oportunidade para pôr um fim nos comentários sobre ela e Aaron. Como administrador do hospital, ele não tinha qualquer relação com seu programa de residência. E, se fosse com ele ao jantar, talvez as pessoas começassem a falar sobre um provável relacionamento entre eles, esquecendo-se do incidente com Aaron. Porém, não sabia se seria justo usá-lo daquela maneira.

— Não sei... — repetiu, hesitante.— Escute, Karen — ele pediu, — pelo que sei, você está

interessada em outra pessoa. Se for isso que a deixa em dúvida, não se preocupe. Acontece que a minha namorada me abandonou, depois de alguns anos juntos, e você foi a primeira pessoa em quem pensei para me fazer companhia neste jantar. Ficaria muito contente, se aceitasse.

Depois de tal explicação, seria difícil para ela recusar. Mas talvez Aaron também fosse ao jantar, e não imaginava que reação ele poderia ter, ao vê-la com Duane.

— Obrigada, Duane — respondeu, afinal. — Terei um grande prazer em acompanhá-lo.

A semana que precedeu o jantar não foi das mais fáceis para Karen. Para começar, seu trabalho se acumulara, pois um de seus colegas ficara doente e ela estava encarregada dos pacientes dele. Por outro lado, não conseguia esquecer o incidente com Aaron.

Ele não havia lhe pedido desculpas, daquela vez, talvez por achar que já houvera pedidos de desculpas demais. Parecia determinado a provar que não havia nada entre eles sendo ainda mais exigente do que antes. Chegara até a criticar seu desempenho com um dos pacientes, fazendo com que seus colegas residentes o julgassem um tanto injusto. No fundo, Karen esperava que o fato de sair na companhia de Duane pudesse diminuir os mexericos reinantes no hospital, trazendo uma maior tranquilidade para o seu relacionamento profissional com Aaron.

Na manhã do dia marcado para o jantar, estava saindo de seu carro quando viu um gatinho que se aproximara, saindo de um dos arbustos do estacionamento.

— Pobrezinho — falou, abaíxando-se para acariciá-lo. — Deve

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estar perdido.O animalzinho estava muito magro e, ao sentir o afago, ronronou

baixinho, fazendo-a pensar em Lin e Troon, os dois garotinhos órfãos. — Acho que precisa de um lar.No final da tarde, quando fazia o caminho inverso, a fim de ir

para casa, tornou a encontrar o gatinho. Num impulso, pegou-o e levou-o para o carro.

— Vamos, Tofu — falou, chamando-o pelo primeiro nome que lhe passou pela mente. — Conheço um lugar que, mesmo não sendo muito bonito, tem bastante leite na geladeira. A única coisa que precisa fazer, em troca, é deixar-me livrá-lo de todas estas pulgas.

Depois de uma rápida parada no supermercado, foi para casa e deu um banho no gatinho.

Esperava que a dona do apartamento não se incomodasse pelo fato de ela manter o bichinho ali, pensou enquanto enchia uma tigelinha com leite. Depois de vê-lo bebêr avidamente, decidiu que ficaria mesmo com ele.

— Ao arrumar-se para o encontro com Duane, Karen sentiu crescer sua agitação. Era quase certo que Aaron iria comparecer ao evento e temia o instante em que entraria no Iate Clube de braços dados com o administrador. Colocando o vestido longo, de seda preta e alças muito finas, que comprara especialmente para a ocasião, imaginou que o relacionamento entre ela e Aaron iria sofrer um sério abalo.

Depois de colocar seu perfume favorito, olhou-se no espelho do banheiro e achou que, talvez, fosse um erro deixar os cabelos soltos. Bem poucos colegas do hospital a tinham visto assim, pois quando trabalhava costumava deixá-los presos, E, quando soltos e espalhados pelos ombros como uma cascata vermelha, os cabelos lhe emprestavam uma aparência muito atrevida.

A despeito de suas reservas, decidiu deixá-los como estavam. Mesmo sabendo que jamais poderia ter Aaron, uma pontinha de perversidade a incitava a provocá-lo. No fundo, esperava que algum milagre pudesse acontecer.

Quando abriu a porta para Duane, momentos depois, ele soltou um assobio de admiração:

— Puxa! O que aconteceu coma séria e recatada dra. Jenkins? — perguntou, entre brincalhão e admirado. — Com este vestido, você mais parece uma artista de cinema!

Quando ela e Duane entraram juntos no salão do clube, o Dr.

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Ames estava na porta, conversando com alguns médicos e suas esposas. Karen não o havia visto, desde o incidente com Aaron, e não pôde evitar um sorriso de satisfação, ao ver a surpresa no rosto do diretor.

Era óbvio que o Dr. Ames jamais esperaria vê-la na companhia de Duane, e cumprimentou-os com um sorriso aprovador:

— Boa noite, Karen. Olá, Duane. Você está muito bonita, mocinha. Deixe-me apresentar-lhe minha esposa.

Depois das apresentações e cumprimentos, entraram todos juntos. Karen olhou em volta do enorme salão, mas não havia sinal de Aaron. Rezou, em silêncio, para que ele decidisse não aparecer.

A certa altura, quando ela começava a relaxar um pouco e aproveitar a festa, ele chegou. Entrou sozinho, vestido im-pecavelmente num smoking escuro e, ao vê-la de longe, parou por um instante, atônito.

Aaron sentou-se numa mesa não muito distante da sua, na companhia de dois colegas médicos e suas esposas. Sem saber o que fazer, Karen engoliu um gole de martíni que Duane pedira para ela e foi para o bufe, servir-se de comida.

Quando percebeu, Aaron estava logo atrás dela.— Boa noite, Dr. Dash — cumprimentou-o com uma formalidade

forçada.— Boa noite, dra. Jenkins — ele respondeu, com uma sombra de

um sorriso irônico nos lábios. — Não sabia que você e Duane eram tão bons amigos.

— E não somos. — As palavras lhe saíram antes mesmo que pudesse pensar. Mas, felizmente falara baixo e não corria o risco das outras pessoas na fila a ouvirem. — Isto é... nos conhecemos há pouco tempo — acrescentou. — Deve saber que Duane está no hospital há apenas alguns meses.

— Não precisa me dar explicações — Aaron afirmou, inex-pressivo, enquanto se servia de uma salada.

Mesmo amando-o tanto, Karen sentiu uma onda de raiva invadi-la. Ele não tornava a situação mais fácil para ela. Com as mãos trêmulas, foi servir-se de um pouco de maionese, mas, para seu horror, a colher virou antes que conseguisse levá-la para o prato, espalhando-se toda pela toalha da mesa do bufê. Betty Ames, esposa do diretor, estava perto dela e, com um sorriso maternal, tentou brincar para aliviar seu embaraço:

— Para ser uma boa cirurgiã, precisa primeiro aprender a

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segurar uma colher...Sentindo o rosto arder, Karen acabou de se servir e voltou para

a mesa. Fazendo o possível para manter a conversa animada, mal tocou na comida. Logo depois que os pratos foram removidos pelos garçons, dando o jantar por encerrado, uma pequena orquestra começou a tocar.

Parecendo não ter notado seu desconforto, Duane convidou-a para dançar. Mesmo achando-o uma pessoa adorável, que fizera o possível para distraí-la, Karen concluiu que não conseguiria fingir que se divertia, enquanto se movia nos braços dele, ao som da música.

Com um grande esforço, evitava olhar na direção de Aaron, mas sabia que ele também não se divertia nem um pouco. Sentado sozinho na mesa, agora que seus colegas haviam se levantado para dançar, segurava um copo de uísque, parecendo desejar estar a quilômetros de distância dali.

Era o que ela desejava, também, mesmo correndo o risco de ferir os sentimentos de Duane.

Naquele momento, o bip de Duane soou, indicando que ele estava sendo chamado ao telefone.

— Estava bom demais para ser verdade — ele falou, com uma expressão desolada, deixando-a novamente na mesa, e indo à procura de um telefone.

Quando retornou, sua expressão estava visivelmente preo-cupada. Os casais que lhes haviam feito companhia estavam dançando e, assim como Aaron, ela ficara sozinha.

— Sinto tanto ter de encerrar a noite por aqui — Duane disse, inclinando-se para ela. — Mas aconteceu uma emergência no hospital, um caso de estupro de uma adolescente, e tenho de falar com a polícia, as autoridades... Enfim, duvido que consiga voltar para cá, antes do fim da festa.

— Ah, sinto muito, também, Duane — Karen falou, começando a se levantar para acompanhá-lo.

Mas Duane a segurou pelo ombro, fazendo-a se sentar no-vamente.

— Você não precisa ir embora. Além disso, não tenho tempo de levá-la para casa e, se for comigo para o hospital, poderá levar horas, até que eu consiga resolver tudo. Fique aqui, e divirta-se mais um pouco. Tenho certeza de que Betty e Bert Ames lhe darão uma carona com a maior boa vontade.

Karen relanceou os olhos para o diretor e sua esposa, que

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dançavam no outro lado do salão. — Claro, eles não vão se incomodar — concordou. — Mas,

Duane, posso ir com você ao hospital, quem sabe posso ajudar em alguma coisa...

Duane, porém, não percebia que ela desejava desesperada-mente sair dali e esquecer aquela noite para sempre.

— Não é preciso, Karen — ele insistiu, deixando transparecer alguma impaciência. E, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, começou a se afastar. — Falo com você amanhã cedo, está bem?

Minutos depois, Karen explicava ao casal Ames porque Duane precisara sair.

— E pensamos que, talvez, vocês pudessem me dar uma carona — concluiu, relutando em impor sua presença ao casal.

Marido e mulher se entreolharam com evidente embaraço. — Ah, querida! — Betty começou, com um ar de desculpas. —

Nem sabe como gostaríamos de levá-la, mas receio que não será possível, a não ser que esteja disposta a ir conosco até o aeroporto, primeiro. Nosso filho, que estuda em Michigan, vai chegar hoje, e ficamos de acompanhá-lo, assim que sairmos daqui. Aliás, íamos mesmo começar a nos despedir.Mas estou certa de que Sílvia e Ken ficarão felizes em ajudá-la.

A última coisa que Karen queria era se imiscuir numa situação familiar, e não iria pedir um favor ao outro casal, que mal conhecia.

Sim, tem razão — afirmou, com um sorriso. — Por favor, fiquem à vontade e não se preocupem comigo. Agora, com licença, preciso ir até o toalete.

Afastou-se rapidamente e, quando chegou no telefone perto do bar, Aaron surgiu às suas costas.

— Onde está seu acompanhante? — perguntou.Karen quase deu um pulo de susto, ao ouvir sua voz. Virou-se

para ele. — Teve de ir ao hospital, atender uma emergência — res-

pondeu, um tanto ofegante. — Eu pretendia ir embora com o Dr. Ames e a esposa, mas eles têm de passar no aeroporto primeiro, então...

— Então está chamando um táxi — Aaron concluiu. Ela fez que sim, sem nada dizer.

Ficaram apenas se fitando por um instante, antes que ele voltasse a falar:

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— Não tenho dúvidas de que isso irá provocar as fúrias do inferno, mas vou levá-la para casa. De qualquer maneira, já ia mesmo embora. Vamos.

Não lhe deu chance de protestar e, como se estivessem fugindo, saíram rapidamente do clube.

— Não gosto de deixar o carro com o manobrista — ele explicou, segurando-a pelo braço. — Deixei-o estacionado a alguns quarteirões daqui. Espero que não se incomode de andar um pouco.

Ele andava depressa, no calçadão que contornava a baía, onde uma grande quantidade de barcos e veleiros estava atracada. Karen fazia o possível para seguir-lhe o passo, olhando de relance para cada carro que passava, temendo que alguém do hospital pudesse vê-los juntos.

Aos poucos, começaram a caminhar mais devagar. Uma brisa suave soprava e o céu era como um veludo. Quando avistaram o carro, a apenas alguns metros de distância, Aaron parou, bem ao lado de um veleiro pintado de azul.

— O que acha de irmos para o barco? — perguntou, os olhos inescrutáveis. — Evitei me aproximar de você no hospital, mas acho que precisamos muito conversar.

Karen sentiu um nó de apreensão na garganta. O que ele poderia querer falar com ela? Nada mais havia a dizer.

— Bem, acho que sim — respondeu, hesitante. — Contanto que o dono do barco não se incomode.

— Não se preocupe. Sei que ele não vai se importar.Puxando a corda que segurava o barco, Aaron o fez aproximar-

se mais da amurada e, depois de pular para dentro, estendeu a mão para ajudá-la. Karen tirou os sapatos de salto alto e, erguendo um pouco o vestido, juntou-se a ele.

Imaginou, pelas palavras dele, que o barco lhe pertencia. — Qual é o nome do veleiro? — indagou, enquanto tentava se

acalmar.Aaron lançou-lhe um olhar enigmático, ao mesmo tempo em

que arrumava algumas almofadas no deque. — Você não viu? — perguntou. — O nome é Aquela que se foi.Sem saber o que dizer, Karen observou-lhe a expressão, sen-

tindo o coração bater mais depressa. Por alguns minutos, ficaram em silêncio, sentados no barco, observando o movimento da água. Aos poucos foi se acalmando e notou que algumas nuvens se formavam, prenunciando uma chuva iminente.

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Não deveriam estar ali, pensou, sentindo a brisa soprar em seu rosto. Mas, estando ao lado dele, não conseguia imaginar um lugar melhor.

— Karen... — ele falou, de repente.— Sim?— O barco não é meu. Pertence a um amigo, que me empresta

sempre que desejo usá-lo. E o nome do barco é Flor do Mar.— Então, por que...— Se o veleiro fosse meu, faria questão de colocar nele o seu

nome, ou algo que me fizesse lembrar de você — ele respondeu.Karen manteve-se em silêncio. Por uma fração de segundo,

reviu mentalmente tudo o que haviam passado juntos, desde aquela primeira noite, há seis anos. Os beijos que trocaram, a vontade incontrolável de tê-lo junto a si, a seu lado... Queria-o tanto que achava que poderia morrer, se não tivesse seu amor. — O que aconteceu no outro dia, no hospital, não poderá voltar a ocorrer — ele continuou. — Sei que sabe disto, tanto quanto eu. E espero que saiba que foi totalmente por minha culpa.

Karen balançou a cabeça: — Não concordo — afirmou. Ele fitou-a intensamente:— Se é verdade, então deve estar se sentindo tão frustrada

quanto eu. Sinto que a situação começa a interferir em meu trabalho...

— Quer que eu desista da residência? — ela aventou a hipótese, baixinho.

Ele se mostrou indignado com a idéia:— Está maluca? Você é uma das minhas melhores alunas! Se

desistir, eu também abandono o hospital.— Não está falando a verdade.— Pois então experimente...Ficaram se olhando por um longo momento, em silêncio, dando

vazão a seus sentimentos. — Para o inferno com a ética! — ele desabafou, de repente, a

voz rouca de desejo e paixão. — Será que não vê o quanto sofro, cada vez que dirijo uma palavra dura ou impessoal a você? Fico vagando por aquele hospital, sentindo o peito arder, louco de vontade de fazer amor com você!

CAPITULO VI

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Era o que ela desejava, também. E o fato de saber que ele a queria tanto, dava-lhe vontade de esquecer de todos os obstáculos que se interpunham em seu caminho: a ética profissional, sua incapacidade de gerar filhos, e até mesmo sua profunda e arraigada convicção de que o sexo fora do casamento era algo que diminuía sua importância.

Aaron jamais poderia ser seu, para sempre. Se quisesse ex-perimentar a delícia de estar nos braços dele, teria de se contentar com apenas uma noite, furtiva e repleta de loucura, a fim de poder prosseguir o resto da vida em solidão.

— Pode ser que eu me sinta da mesma forma — murmurou, as palavras revelando seu desejo. — Talvez eu o queira, também.

Naquele momento, algumas gotas de chuva começaram a cair. — Vai molhar seu vestido — ele falou, baixinho, tirando o paletó

e colocando-o sobre os ombros dela. A chuva aumentou de repente, tornando impossível continuar ali no deque, ou correr até o carro.

Tirando uma chave do bolso, Aaron abriu a porta da pequena cabine do barco.

— Pete me deu uma cópia da chave — explicou, enquanto entrava.

Não havia muito espaço, lá dentro, e subitamente encontravam-se nos braços um do outro. Karen mordeu o lábio, perturbada. Não poderia se arriscar a entregar-se a ele. Jamais conseguiriam trabalhar juntos, se algo acontecesse agora.

No entanto, antes que pudesse expor sua opinião, Aaron abraçou-a com força, enquanto a boca procurava a sua, ávida e apaixonada. As mãos acariciavam os contornos de seu corpo, numa busca quase frenética.

O desejo entre eles surgira há muitos anos e, para satisfazê-lo, mesmo alguns poucos e breves momentos de loucura seriam suficientes. Karen não fez objeção quando cie abaixou as finas alças de seu vestido, puxando-lhe o corpete a fim de deixar os seios nus, moldando o corpo contra o dele com mais intimidade.

Jamais poderia dizer por quanto tempo ficaram unidos pelo beijo. Parecia uma eternidade, ou apenas um breve segundo. Ela o recebia entre os braços, sentindo o perfume da pele e o sabor dos lábios.

Enquanto estivera casada com Gleen, nunca havia alcançado o clímax e, de alguma forma, sabia que agora, com Aaron, seria diferente. Imaginava-o possuindo-a e a simples idéia a deixava

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excitada.Porém, não poderia lhe dar o filho que ele tanto queria. Não,

pensou. Não posso fazer isto, seria injusto com ele. — Ah, minha querida... — Aaron sussurrou, em seu ouvido. —

Esperei por isso há tanto tempo...Mas era tarde demais. Karen bem que desejaria entregar-se a

ele, ou esperar até que sua residência estivesse terminada, a fim de que pudessem se casar e adotar os dois garotos órfãos. Mas havia uma barreira entre eles: sua incapacidade de gerar um filho, sobre a qual ele nada sabia.

Sufocando um soluço, ela se afastou.— O que foi isso? — ele indagou, surpreso com a reação dela.— O que estamos fazendo não está certo — respondeu, num

murmúrio.Ao invés de soltá-la, Aaron tornou a abraçá-la, pousando-lhe a

cabeça no ombro.— Quando a convidei para vir até o barco, estava planejando lhe

dizer a mesma coisa. Não tinha qualquer intenção de fazer amor com você.

— Mas...— Eu planejava lhe dizer que não suporto mais a situação em

que nos encontramos. Afinal, sua residência no hospital não ia durar para sempre e, no ano que vem, estaremos livres destes problemas éticos que estão nos atrapalhando. Imaginei se não podíamos chegar a algum acordo, quanto ao nosso relacionamento, e durante este tempo, pudéssemos nos encontrar às vezes, como amigos.... Karen não disse qualquer palavra, no silêncio que se seguiu.

— Karen, por favor — ele pediu. — Não está tornando as coisas mais fáceis para mim. Diga que é isso que deseja, também.

Era o que ela desejava, mais do que tudo no mundo. Mas não poderia permitir que acontecesse. Quando terminasse a residência, seria forçada a se afastar do homem que amava, indo para o mais longe que pudesse.

— Não posso concordar com isso, Aaron — respondeu, afinal.— E importa-se em me dizer por quê? — ele indagou, em-

palidecendo.— Porque... não vai dar certo.— Será que não confia mais nos homens, depois do que seu

marido fez com você? — Aaron insistiu, sem se contentar com resposta tão breve e vaga. — Não posso acreditar nisso... E também não

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acredito que não sinta nada por mim. — Sua voz estava repleta de frustração. — Dê-me um motivo, Karen! Preciso saber!

A verdade estava na ponta da língua, e quando ela estava prestes a confessá-la, uma vozinha interior a alertou de que ele lhe diria que o fato de não poderem ter um filho não iria importar. Mas importava, e muito.

Vendo que ela se mantinha calada, ele passou a mão pelos cabelos, num gesto exasperado.

— É por causa de Lin e Troon, não é? — perguntou, à beira do descontrole. — Tem medo de que, unindo-se a mim, ficará ligada a dois meninos que não são seus!

A dor que surgiu nos olhos de Karen lhe mostrou que fora longe demais com a acusação. Envergonhado, Aaron percebeu que não tinha qualquer direito de pressioná-la. Afinal, Karen não lhe devia explicações.

— A chuva está parando — voltou a falar, depois de uma longa pausa. — Se quiser esperar aqui, vou buscar o carro.

Momentos depois, enquanto seguiam para o apartamento dela, Karen pensou que, se nos anos em que passara na faculdade alguém lhe dissesse que, um dia, estaria recusando Aaron, ela acharia um absurdo total. No entanto, agora, parecia não haver outra escolha.

Não trocaram uma palavra sequer, durante todo o trajeto. Quando parou o carro, ele disse apenas:

— Isso é tudo, não é?— Sim, acho que sim.Parecia tão infeliz e desesperançada, que Aaron desejou abraçá-

la. Mas logo pensou que, se ela não queria confiar seu problema a ele, não havia nada que pudesse fazer.

Naquele breve momento de hesitação, Karen abriu a porta do automóvel.

— Boa noite, Aaron — falou. — Obrigada pela carona. Vejo você no hospital.

Mantiveram-se formais e distantes, durante a ronda aos pa-cientes, na manhã seguinte. A leve sombra em torno dos olhos de Karen indicava que havia dormido pouco, assim como a evidente irritabilidade de Aaron demonstrava a mesma coisa. A despeito de todos os seus esforços, Karen indagava-se se conseguiria chegar até o fim daquele dia.

Embora alguns rumores tivessem circulado pelo hospital, sobre o fato de Duane tê-la deixado no banquete e ela ter saído em

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companhia de Aaron, tudo foi esquecido diante do comportamento frio e distante que demonstravam agora, enquanto trabalhavam lado a lado.

Karen estabelecia sua rotina, mergulhando no trabalho a fim de não pensar. Passava longas horas no hospital, muito além do necessário para seu programa de residente. Aaron, por sua vez, já não a pressionava tanto, como antes, passando a tratá-la de maneira menos crítica e exigente, da mesma forma como agia com os demais residentes.

Mesmo recusando-se a permitir que seus sentimentos por ele atrapalhassem o trabalho, Karen parecia carregar constantemente um enorme peso no coração. Até que as pessoas mais amigas, como Kim e Bess Martin, começaram a demonstrar preocupação pela sua saúde.

— Você está magra demais — Bess advertiu-a, certo dia. — Se não estivesse tão absorvida em seu próprio sofrimento, seria capaz de ver o quanto ele também está mal.

— Acha mesmo? — ela indagou, estranhando que, ao invés de se sentir culpada, parecia ganhar alguma energia com essa informação.

— Claro que sim — Bess respondeu, sorrindo. — Só queria saber se você tem certeza de que esta separação vale mesmo a pena.

Embora desejasse contar a Bess seu segredo, Karen manteve-se em silêncio.

— Você não será aluna dele para sempre — a enfermeira-chefe prosseguiu, com um ar de sabedoria. — E o comportamento dele, em relação a você, não deverá ser distante e formal, pelo resto de suas vidas. Se não forem estas as suas razões para manter-se afastada dele, acho que seria melhor examiná-las com cuidado, minha querida.

Aquelas palavras ainda lhe ressoavam na mente, quando al-moçava na cantina do hospital. Numa mesa próxima, Aaron conversava com Pete Bradley, um dos médicos que cuidava de Troon, e Karen ouviu o que falavam, sobre o estado de saúde do garoto:

— A perna dele está ótima — Pete dizia. — Creio que posso lhe dar alta amanhã mesmo.

Aaron fez um gesto com a cabeça, concordando. — Então acho que podemos fazer a primeira cirurgia — falou.

— Se ele resistir bem, faremos a próxima depois de um mês.Naquele instante, Karen foi chamada para atender um de seus

pacientes. Apesar de estar interessada no estado do garoto, deixou a cantina apressadamente.

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Vendo-a afastar-se, Pete lançou um olhar para Aaron. Não vai gostar de ouvir o que vou dizer, amigo, mas você anda muito diferente, nos últimos dias.

Aaron olhou-o, intrigado: — Por que diz isso? Será que tenho me mostrado dócil e cooperativo demais?

Pete riu, divertido: — Pode brincar, se quiser. Mas acho que estou em posição de

lhe oferecer meu diagnóstico para sua mudança: você está apaixonado. E não vai se curar enquanto insistir em deixar aquela garota fora de sua vida.

Não havia a menor dúvida de que Pete se referia a Karen. Aaron imaginou se o mundo inteiro já estava a par do que havia entre eles.

— Deixá-la fora da minha vida! — repetiu com ironia. — O que espera que eu faça, Pete? Sou o professor dela! Ela está fora dos meus limites.

— Mas esta situação não será eterna.Os sentimentos de Aaron por Karen eram tão íntimos que

relutava em confidenciá-los a um amigo. Porém, jamais se sentira tão confuso e ferido, precisando do conselho de Pete.

— Não acha que sei disso? — retrucou. — Já falei com ela a esse respeito, pedi-lhe que me desse uma chance, até que a residência terminasse. Mas ela se recusou.

Pete deu de ombros: — Quer dizer que vai desistir, logo na primeira tentativa?

Pensei que fosse mais persistente, Aaron. Fiquei atormentando Joan durante meses, até que ela finalmente concordou em se casar comigo.

Karen estava sozinha, na tarde seguinte, ditando um relatório ao gravador, na sala dos médicos, quando Aaron entrou e fechou a porta. Ela desligou o aparelho imediatamente.

— Aconteceu alguma coisa com o pequeno Joshua? — ela indagou, referindo-se ao garotinho de quatro anos que haviam operado durante a manhã. — Fui vê-lo há menos de uma hora.

— Não... Joshua está bem. — Aaron sentou-se ao lado dela, na mesa repleta de papéis. — Preciso falar com você.

Sentindo os nervos tensos, Karen esperou que ele começasse. Aaron fitou-a intensamente.

— Acho que fui um pouco impulsivo demais, naquela noite no barco de Pete — falou. — Mas quero que saiba que minhas intenções continuam as mesmas, a despeito de quaisquer reservas que você

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possa ter. Quando sua residência terminar, quero me encontrar com você seriamente, até chegarmos a um relacionamento mais profundo. Enquanto isso, não vejo razão para agirmos como estranhos, ou o que é pior, como inimigos. Podemos nos tratar como amigos.

Karen ficou muda, sem saber o que dizer. No fundo, esperava que ele a repreendesse por algo errado que tivesse feito no trabalho, sem querer.

— Bem, pelo menos pense no assunto — Aaron continuou, de maneira casual. — Se não estou enganado, nossa última discussão deixou marcas profundas em nós dois.

Os olhos verdes de Karen reluziram por trás das lentes dos óculos que usava.

— Tem razão quanto a isso — concordou, num fio de voz.— Quer dizer que concorda?O que ela poderia dizer? Que não queria ser amiga dele? Seria

uma enorme mentira e, ao mesmo tempo em que pensava nisso, imaginava que sendo amigos, poderiam ao menos sorrir um para o outro, de vez em quando, e conversar, trocar idéias...

— Está bem — falou, afinal. — Ficamos amigos. Um sorriso encantador iluminou o rosto dele.

— Ótimo — falou. — Já é um grande progresso. Talvez algum dia possa me contar o segredo que não quis dizer, lá no barco.

Segundos depois, ele saía da sala, deixando-a pensativa. Es-perava não ter cometido um erro, concordando com ele, Karen pensou. A última coisa que desejava era lhe causar mais sofrimento.

Dias depois, na cantina do hospital, Aaron lhe contava sobre a cirurgia de Troon, na qual fora colocado um marcapasso em seu coração.

Tudo correu às mil maravilhas — concluiu, satisfeito.— Fico muito contente — Karen falou, sincera. — Ele é um

menino especial e merece ter uma vida normal e saudável.Desde aquela conversa na sala dos médicos, o relacionamento

entre eles havia se tornado menos tenso, e eram capazes de conversar durante horas, trocando idéias sobre os mais variados assuntos.

Agora, enquanto tomavam café com rosquinhas, ela comentou que ouvira Jeff, um de seus colegas residentes, demons-trar interesse em trabalhar como voluntário na clínica para refugiados.

Aaron havia aceito o oferecimento, com todo prazer, e Karen ficara pensando naquilo durante toda a manhã. Resolvera tocar no

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assunto, agora: — O que diria se eu lhe dissesse que gostaria de seguir o

exemplo de Jeff e me oferecer como voluntária para a clínica? — perguntou. — Acha que haveria algum problema?

Aaron acabou de mastigar a rosquinha, antes de responder: — Problema nenhum. Afinal, você não seria a única residente a

se apresentar para o programa.À medida que os dias passavam, Aaron e Karen aproximavam-

se cada vez mais, como se estivessem testando, cautelosamente, os limites que haviam imposto a si mesmos.

Embora soubesse que seria um sonho impossível, ela visualizava muitas vezes a vida que Aaron desejava ter ao seu lado, depois que a residência terminasse.

Impulsionada pela vontade de experimentar essa vida, começou a fazer visitas frequentes a Troon, embora ele não fosse seu paciente. Em certa ocasião, levou-lhe alguns fantoches com figuras de bichinhos, que vira numa loja de brinquedos. O garoto arregalou os olhos, feliz com o presente.

— Obrigado, dra. Jenkins — exclamou, com um sotaque acentuado.

Aquela foi a primeira vez que ela e Troon conseguiram se comunicar, mesmo falando línguas diferentes. Karen passou um longo tempo ao lado dele, brincando com os fantoches, contando-lhe histórias em forma de mímica e pequenos sons de animais.

— Parece que vocês dois estão se divertindo — Aaron co-mentou, surgindo na porta do quarto.

Porém, não ficou ali por muito tempo. O acordo que haviam feito, de limitar seus encontros, continuava valendo e ele fazia o possível para respeitá-lo. No entanto, enquanto caminhava pelo corredor, sentiu o coração enchendo-se de alegria, por saber que as duas pessoas de quem ele tanto gostava começavam a se conhecer melhor e amar-se também.

Karen começou seu trabalho como voluntária na clínica de refugiados durante as tardes das quarta-feiras. Numa destas tardes, Lucy contou-lhe que, na semana seguinte, seria o aniversário de Aaron.

— Ele não é o tipo de homem a quem se possa oferecer uma festa com bolo e balões — Lucy comentou, desanimada.

— É verdade. Tem alguma idéia de algo que ele possa gostar?Lucy assumiu uma expressão conspiradora.

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— Tenho sim. Sei que o Dr. Dash adora a comida de um restaurante, onde servem peixe defumado. Talvez possamos levá-lo para almoçar, na próxima quarta-feira.

Quando fizeram o convite a Aaron, ele não escondeu a surpresa e aceitou prontamente. No dia marcado, acabavam de atender um paciente e estavam quase prontos para sair, quando Lucy recebeu um telefonema do marido. Ao desligar, a preocupação estampava-se em seu rosto.

— Robert disse que nossa filha, que mora em Cocoa Beach, acabou de chegar, trazendo o bebê e todas as suas coisas — explicou. — Parece que brigou com o marido e saiu de casa. Robert não tem muito jeito para lidar com estas coisas... Acho melhor eu ir para casa.

— Está tudo bem, Lucy — Aaron assegurou-lhe. — Pode ir sossegada.

Mas não quero estragar sua festa de aniversário, Dr. Dash! — Lançou um olhar para Karen, ansiosa. — A senhora pode acompanhá-lo, não é, dra. Jenkins?

Depois que Lucy pegou suas coisas e saiu apressada, Karen voltou-se para Aaron:

— Talvez seja melhor desistirmos desse almoço, agora que estamos só nós dois.

— Está querendo que eu comemore meu aniversário sozinho? — ele indagou, depois de um momento de silêncio. — O que Lucy vai pensar?

Karen sabia que a enfermeira ficaria bastante desapontada com ela.

— Bem, se acha que não há problema... — arriscou. — Então você vai? — Sim.

— Ótimo. Não sei que mal haveria em dois amigos compartilharem uma refeição num lugar público. Foram para o restaurante no carro dele, com a capota abaixada, aproveitando a tarde agradável. Enquanto comiam e faziam brindes à saúde do aniversariante, Karen podia sentir uma deliciosa alegria penetrar em seu corpo e espírito.

Pensava que, a cada dia que passava, tòrnavam-se mais íntimos e ligados. Seria possível que ele mudasse de idéia, quanto ao desejo de ter um filho? E ela, teria algum dia coragem de perguntar?

Quando terminaram a refeição, voltaram para o carro e Aaron indagou:

— O que acha de irmos até a praia para uma caminhada?

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Afinal, é meu aniversário e mereço a tarde de folga.Karen hesitou um pouco, mas concordou.Enquanto dirigiam-se para a praia, através do tráfego intenso,

Karen ligou o rádio. Uma música suave tocava, mas logo foi interrompida pelo noticiário:

— Acabamos de receber a notícia de que um caminhão car-regado de concreto perdeu a direção, há apenas alguns minutos, na rua Trinta e Quatro, atingido um ônibus escolar. A polícia informou que o ônibus levava quarenta e duas crianças, todas vietnamitas e filhos de refugiados asiáticos, que retornavam da escola. Temos a informação de que existe apossibilidade de haver vítimas fatais...

Karen e Aaron trocaram um olhar horrorizado. — O pequeno Lin! — ela falou, num soluço contido, mal

conseguindo esconder o medo. — O amiguinho de Troon! Seria possível que ele estivesse neste ônibus?

CAPITULO VII

Aaron não respondeu de imediato. Fazendo uma curva rápida, provocou um pequeno tumulto na rodovia, e as buzinas dos outros carros ressoaram à sua volta. Porém, com a expressão fechada, ele mal percebeu, aumentando a velocidade à medida em que retornava ao centro da cidade.

— Em resposta à sua pergunta — falou, afinal. — Lin está naquela escola especial para filhos de refugiados, e é bem possível que estivesse no ônibus, também.

— Ah, meu Deus, não!Com um tremor incontrolável, a despeito da temperatura

agradável, Karen visualizou o garotinho de olhos amendoados caído na rua, ferido e sangrando.

A mesma imagem povoava a mente de Aaron. Rezou em silencio, pedindo a Deus que nada daquilo fosse verdade, enquanto agarrava com força a direção do automóvel. A vida de Lin estava apenas começando, e até agora ele só havia conhecido tragédia e dor. E Aaron queria muito dar-lhe uma chance de felicidade, adotando-o.

Segundos depois, um tanto envergonhado de seu egoísmo, rezava também pelas outras crianças envolvidas no acidente.

Ao chegarem no local do acidente, Karen achou que não iria

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suportar a cena. Sendo médica e enfermeira, tratara de muitas vítimas de acidentes, mas nenhuma experiência se comparava ao horror com que se deparava agora. O enorme caminhão, carregado de concreto, chocara-se de frente com o ônibus amarelo da escola. As hrzes dos carros de polícia piscavam e brilhavam, dando ao local uma aparência sinistra.

Estacionando logo atrás de uma das viaturas policiais, Aaron agarrou a maleta de primeiros socorros que sempre levava no assento traseiro.

— Vamos! — falou, saindo depressa do carro. — Não temos um segundo a perder!

Karen seguiu-o, sentindo seu horror crescer cada vez mais, à medida que se aproximavam da cena do acidente. Um policial logo veio barrar-lhes a passagem.

— Somos médicos — Aaron explicou, impaciente.— Está bem — o policial cedeu. — Bem que precisamos de um

pouco de ajuda.De alguma maneira, Karen conseguiu se controlar. Enquanto

corriam até os feridos, tropeçavam em cacos de vidro, pedaços de ferragens, mochilas escolares... Quanto mais perto chegavam, mais o horror se fazia presente. Tantas crianças feridas! Algumas permaneciam imóveis, outras gritavam e choravam. Até aquele momento, apenas os piores casos estavam sendo atendidos pelos paramédicos, que haviam acorrido ao local logo depois do acidente.

Não havia sinal de Lin, entre as crianças feridas, mas também não tiveram tempo para procurar com calma, pois iam atendendo e ajudando os pequenos conforme avançavam.

Com as expressões tensas, os médicos iniciaram uma espécie de triagem entre os feridos, indicando aqueles que precisavam ir para o hospital com maior urgência.

Em silêncio, Karen revoltava-se com a injustiça de tudo aquilo. Aquelas pobres crianças não mereciam mais sofrimento, depois de tudo o que haviam suportado em suas vidas tão breves.

Com tantos feridos, era difícil determinar quais os que pre-cisavam de socorro imediato, e quais poderiam aguentar uma espera. Karen foi forçada a aceitar que essa decisão era inevitável e que nada poderiam fazer.

Felizmente, chegavam mais ambulâncias, enquanto ela e Aaron socorriam as crianças o melhor que podiam, estancando sangramentos, colocando torniquetes nas fraturas e examinando

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rapidamente a fim de verificar se havia ferimentos internos. Logo o helicóptero do hospital Children's Memorial aterrissou num local próximo, tornando mais rápida a remoção dos feridos graves. Mas, no meio de todo aquele caos, não viram Lin em qualquer parte.

De início, Aaron temera que Karen pudesse desmaiar, à visão da cena terrível. Porém, agora, enquanto trabalhavam lado a lado, percebeu que as mãos dela estavam firmes, e que agia com precisão e eficiência.

— Está se saindo muito bem — elogiou-a, baixinho, enquanto colocavam uma menina vietnamita numa maca.

— Obrigada — ela respondeu, tentando manter a voz firme. — Só agradeço por estar com você, esta tarde.

— E eu agradeço por você ter tido a idéia de ligar o rádio.Naquele instante, um dos paramédicos correu até eles.

— Doutor — falou, dirigindo-se a Aaron. — Tem uma criança no ônibus. Será que poderia vir comigo e examiná-la? Não sei se podemos removê-la.

Um tremor de medo e presságio percorreu a espinha de Karen. Sem esperar que ele a chamasse, ergueu-se de um salto do chão, onde estivera ajoelhada examinando um garotinho, e correu atrás dele.

Com passos largos, subiram juntos a escadinha do ônibus, a respiração suspensa.

Por um instante, não conseguiram vê-lo. Mas logo visualizaram um par de ténis surrados, emergindo de duas poltronas caídas: lá estava Lin, encolhido como um bonequinho de pano, coberto pelos pertences de seus colegas.

— Ah, Deus, permita que ele esteja bem... — Karen murmurou, num soluço sufocado.

Sem hesitar, Aaron aproximou-se do menino, que permanecia imóvel, muito pálido e com os olhos fechados. Tomou-lhe o pulso e auscultou-lhe o coração, enquanto Karen esperava, tensa, as mãos apertadas numa prece.

— Ele está vivo — Aaron informou, a voz contida. — Mas o pulso está fraco e irregular. Parece que há ferimentos críticos na cabeça, peito e espinha. Claro que não podemos operá-lo aqui.

Graças ao seu treinamento médico, Karen compreendia o que Aaron queria dizer: teriam de removê-lo, mas no estado em que se encontrava, o menor erro em retirá-lo dali poderia ser fatal, e Lin ficaria paralítico pelo resto da vida.

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No entanto, concordava que remover o garoto seria a única maneira de salvá-lo. Enquanto Aaron prosseguia no exa-me, ela saiu do ônibus e gritou para que os enfermeiros trouxessem uma maca.

— Terão de levá-lo com o maior cuidado possível — avisou, quando se aproximavam, correndo. — É melhor avisar o Dr. Josh Reidy, pelo rádio, para que se prepare para operar o menino. Ele vai precisar de atendimento imediato.

Aaron ergueu os olhos para ela. Havia tamanha dor e sofrimento em sua expressão, que ela desejou abraçá-lo e confortá-lo.

— Foi uma boa idéia mandar avisar Josh — falou, mal es-condendo a tensão e confirmando o diagnóstico dela de que Lin iria precisar do melhor neurocirurgião do hospital.

Enquanto os enfermeiros colocavam o garotinho na maca, com o maior cuidado possível, e o levavam para o helicóptero, Aaron tomou uma decisão rápida, ao ver que outros médicos do hospital já se encontravam no local.

— Vou acompanhar Lin no helicóptero — falou, entregando a Karen as chaves do carro. — Fique aqui e veja o que mais pode fazer.

— Está bem — Virando-se, ela foi ao encontro de outra criança ferida.

Por mais de uma hora, ela ficou na cena do acidente, tra-balhando exaustivamente ao lado dos outros médicos e dos enfermeiros que se revezavam. A tensão do momento quase a fez esquecer a profunda angústia que lhe pressionava o peito, mas não completamente. Não parava de pensar no que poderia estar acontecendo no hospital.

Quando a última ambulância se afastou, levando os feridos menos graves, ela respirou fundo e caminhou exausta para o carro de Aaron.

O mesmo policial que os barrara na chegada, estava ajudando agora a desviar o tráfego. Ao vê-la, aproximou-se e estendeu-lhe a mão.

— Fez um bom trabalho, doutora — cumprimentou-a.— Obrigada — ela respondeu, afastando os cabelos do rosto e

tentando enxugar o suor da testa. — Tem idéia de quantas crianças morreram?

O guarda balançou a cabeça, desolado. — Três ou quatro, aqui no local — respondeu. — É provável

que, no hospital, hajam mais baixas. Não acredito que aquele pobrezinho que ficou preso no ônibus tenha muita chance.

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Pois eu peço a Deus que esteja enganado — ela replicou, abruptamente, entrando no carro.

Agora que cumprira sua obrigação como médica, seu único desejo era chegar ao hospital o mais rápido possível.

Quebrando quase todas as leis de trânsito que conhecia, conseguiu entrar no estacionamento do Children's Memorial oito minutos depois, sem que nenhum policial a tivesse feito parar.

Sem se incomodar com sua aparência, que devia estar horrível, com os cabelos despenteados e a roupa toda suja de sangue, correu pela recepção e subiu as escadas o mais depressa que pôde, até alcançar a ala de cirurgia.

Entrou na cabine de observação e encontrou Bert Ames, que acompanhado de outros médicos, assistiam enquanto Josh Reidy, Aaron e Pete operavam a coluna do pequeno Lin.

— Karen! — o Dr. Ames exclamou, ao vê-la. — O que aconteceu com você?

A despeito de tudo o que acontecera, Karen sabia que o Dr. Ames não iria gostar de saber que ela estivera na companhia de Aaron, naquela tarde. Mas, no momento, pouco se importava com o que ele, ou qualquer outra pessoa, pudesse pensar ou dizer.

— Estava com Aaron, no local do acidente — respondeu, concentrando-se em seguida no trabalho que se desenrolavana sala de cirurgia.

A operação parecia estar transcorrendo bem, embora o estado do garoto fosse extremamente delicado.

Em dado momento, os aparelhos indicaram que o coração ameaçava parar, exigindo uma intervenção rápida de Aaron. Massageando o coração de Lin, ele conseguiu que o estado do menino se estabilizasse, embora os poucos segundos tivessem parecido durar uma eternidade.

Uma onda de júbilo perpassou entre todos os integrantes da equipe de cirurgia, e Karen sentiu lágrimas correndo por seu rosto. Apenas quatro minutos haviam se passado, desde a parada cardíaca, o que significava que não haveria qualquer dano cerebral ao menino.

O alívio de Aaron era visível. Por um instante, ele fechou os olhos, como se fizesse uma prece silenciosa de agradecimento. Lin estava a salvo, agora. Tinha uma chance de sobreviver. O restante da cirurgia iria durar muitas horas ainda, mas o pior havia passado. Karen virou-se para o Dr. Ames e indagou:

— Tem notícias das outras crianças que vieram para o hospital?

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Sabe como estão passando?O diretor dos residentes balançou a cabeça, com ar grave. — Sei que houveram muitos ferimentos leves, como contusões

e ossos quebrados. Mas, infelizmente, duas crianças morreram ao chegar e, outra, há meia hora, na mesa de operação.

Sentindo que as lágrimas voltavam, Karen procurou se controlar. Por mais que amasse sua profissão, desejava, às vezes, poder ficar longe de tanta dor.

— Será que há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? — perguntou, tentando afastar os pensamentos negativos. — Posso me lavar e estar pronta em dois minutos...

Os olhos do Dr. Ames examinaram-lhe o rosto exausto e tenso.— Creio que, no momento, temos tudo sob controle — res-

pondeu. — Mas, se faz mesmo questão, a equipe de cardiologia está assistindo a uma cirurgia na outra sala, numa das garotinhas que chegou. Se quiser ajudar...

— É claro que sim — ela respondeu, de imediato. — Vou avisar o cirurgião-chefe.

Horas depois, quando a cirurgia cardíaca já estava terminada, Karen voltou para a cabine de observação e viu que a operação em Lin prosseguia, embora o Dr. Ames e os outros médicos já tivessem se retirado do local. Pegando uma xícara de café, ela se acomodou numa cadeira perto da janela envidraçada e preparou-se para acompanhar o que seria uma longa vigília.

Perto das dez horas da noite, Lin finalmente foi transferido para a sala de recuperação e os médicos dirigiram-se, cansadamente, para o lavatório da cirurgia.

Karen adivinhava o que Aaron estava sentindo. Haviam feito tudo o que era possível, e agora, só restava esperar: as próximas oito horas seriam decisivas para se saber o resultado do esforço dos médicos.

Karen saiu da cabine, levando a xícara vazia entre as mãos, lentindo um enorme cansaço.

— Karen? — Aaron chamou-a, aproximando-se e segurando-lhe o queixo. — Você está bem?

Ela jamais o vira assim, tão exausto física e emocionalmente. Amava o tanto! Ele era o homem mais especial do mundo! — Estou bem — respondeu. — E quanto a Lin?

— Não podemos ter certeza, por enquanto. Quer ir comigo até a sala de recuperação? Preciso dar mais uma espiada nele, antes de

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avisar o casal Morng.Lin estava na cama, cercado de aparelhos e tubos. Aaron

examinou o atentamente, checando os aparelhos cardíacos e certificando-se de que tudo corria bem.

— Tenho de chamar os Morng — ele repetiu. — E também preciso verificar se Troon ainda está acordado. Depois, você poderia me contar o que aconteceu comi as outras crianças que estavam no ônibus.

Como Karen previa, Troon estava dormindo. Ela e Aaron seguiram, então, para a cantina do hospital. Enquanto tomavam café, Karen informou-o sobre o estado geral das crianças, inclusive as mortes que haviam ocorrido. Exceto pelos dois, o salão estava vazio e, conforme ela ia falando, Aaron tornava-se mais desolado, escondendo o rosto entre as mãos.

— Está sem comer há horas, Aaron — lembrou-o, desejando tomá-lo nos braços. — Se quiser, posso pedir que lhe preparem um sanduíche. — Não lhe ocorreu que também não se alimentara, durante o mesmo período de tempo que ele.

— Não, obrigado — ele respondeu, erguendo a cabeça. — Estou sem apetite.

Eram quase onze horas e sobrava pouco mais de uma hora daquele dia, que era o aniversário dele. E, se contasse o tempo em que o observara na sala de cirurgia, Karen poderia dizer que passara quase o dia todo ao lado dele.

Porém, sabia que a recuperação de Lin era o único presente que ele desejava.

Deixe-me levá-lo para casa — sugeriu. — Você precisa descansar um pouco.

O olhar que ele lhe enviou a fez ver que aquilo seria impossível. — Não posso suportar a idéia de deixar o menino aqui — Aaron

explicou. — E, mesmo sabendo que iremos provocar boatos e comentários, preciso de você ao meu lado. Por favor, Karen, fique aqui comigo.

CAPITULO VIII

Exatamente como há seis anos, passaram a noite juntos. Só que, naquela ocasião, era ela quem estava sofrendo e precisando de ajuda. E Aaron havia cuidado dela, como amigo e conselheiro, quase como um amante que deixa de lado, de boa vontade, qualquer intenção de

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fazer amor, apenas para apoiá-la.Dessa vez, embora tivesse feito tudo o que podia, ele

preocupava-sc com Lin e com a possibilidade de o garoto não sobreviver. Se Karen o deixasse sozinho, era bem provável que ele não pregasse os olhos, varando a noite em claro. Por isso, concordou em ficar, esperando que ele pudesse descansar um pouco.

Foram para a sala de descanso dos médicos, onde poderiam ficar mais à vontade. Atirando-se numa poltrona, Aaron tirou os sapatos, e Karen fez o mesmo. Ela ainda usava as mesmas roupas, sob um avental que emprestara de um colega. Aaron estava com um avental cirúrgico limpo, que vestira logo depois da operação de Lin. Sabendo que não seriam os primeiros e nem únicos médicos a passar a noite naquela sala, ele levantou-se e pegou dois cobertores de um armário, antes de encaminhar-se para o telefone.

— Vou avisar a telefonista que estamos aqui, para o caso de alguém nos procurar — falou.

Depois, procuraram acomodar-se da melhor maneira possível. Karen ençolheu-se numa poltrona de encosto alto e Aaron deitou-se no sofá de couro e, depois de um longo bocejo, fechou os olhos. Compreendendo que ele precisava mais de companhia do que de conversa, Karen imitou-o.

Ela acabou dormindo. Quando tornou a abrir os olhos, viu que faltavam quinze minutos para as duas horas.

Aaron estava deitado de lado, as pernas longas encolhidas estranhamente, procurando ajeitar o corpo naquele pequeno sofá. Mergulhado no sono, demonstrava uma vulnerabilidade que fez o coração de Karen contrair-se no peito. Achando que ele parecia exausto, ela imaginou se conseguiria sair da sala sem acordá-lo, a fim de dar uma espiada em Lm.

Mas, embora não tivesse feito o menor ruído, ao se sentar e calçar os sapatos, Aaron despertou. Olhou-a um tanto assustado por um instante, como se não conseguisse se lembrar do que estava acontecendo.

— Que horas são? — perguntou, e Karen respondeu-lhe. — Vamos dar uma olhada em Lin.

De acordo com a ficha ao lado da cama do garoto, seu estado continuava crítico. Permanecia inconsciente, a respiração fraca. Mesmo assim, Karen tentou animar Aaron.

— Acho que ele está um pouco melhor — falou, num sussurro. — Embora não haja qualquer sinal, por enquanto, tenho a sensação

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de que ele vai ficar bem. — Entendo o que quer dizer. Só espero que seja verdade.

Retornaram à sala dos médicos, mas agora nenhum dos dois parecia muito inclinado a dormir novamente. Pegando um pouco de café na garrafa térmica que permanecia quase sempre cheia, Karen pressentiu que Aaron gostaria de conversar. Procurou algum assunto neutro, que afastasse da mente dele as preocupações com o garoto.

— Sabe — começou, acomodando-se de volta na poltrona, — estive pensando sobre uma coisa.

Ele a fitou, confuso. — O seu envolvimento com a comunidade de asiáticos — ela

prosseguiu, — e a facilidade que tem em comunicar-se com eles, sabendo inclusive sua língua... Imaginei se você esteve na guerra do Vietnã.

Aaron não respondeu logo e, por razões que ele mesmo des-conhecia, jamais contara a história de seu passado a ninguém, com exceção do casal Morng. Quando abrira a clínica para refugiados, fora considerado, pelos seus colegas, como alguém um tanto excêntrico. Haviam até especulado sobre algum pecado anterior, com relação aos vietnamitas.

Mas agora não se importava se Karen soubesse da verdade. Chegava a achar que a história poderia ajudá-la a entender por que desejava tanto adotar Lin e Troon.

— Quando eu tinha dezenove anos — começou, — saí do colégio por um semestre, a fim de viajar, mas fui convocado. O exército me deu um treinamento como médico e me enviou ao Vietnã. No início, foi até suportável, se é que posso usar essa palavra para descrever o que aconteceu naquela guerra. Bem, durante a ofensiva de Tet, fui atingido por uma bala na coxa. Estava em território inimigo e mal conseguia caminhar,sentindo muitas dores. Estive bem próximo de ser capturadoe ser enviado para um campo de prisioneiros, pelos vietcongues. No entanto, um grupo de crianças me encontrou. Eram pequenos ladrões, crianças abandonadas pelos pais, ou órfãos, que lutavam pela sobrevivência como podiam.

Fez uma pausa, bebendo um gole do café que Karen lhe en-tregara.

— Sabe o que dizem sobre a guerra — prosseguiu, — que qualquer um que não esteja do seu lado é seu inimigo... que não se deve confiar em ninguém, mesmo que pareça amigavel, mesmo que

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sejam crianças... Acontece que aqueles garotos salvaram minha vida, esconderam-me, me alimentaram, curaram meu ferimento. Quando ficaram sabendo que haviaum pelotão de americanos numa área próxima, fizeram contato para que viessem me buscar. Nunca pediram nada em troca, e nem sequer tive chance de agradecer, quando fui embora. Então, prometi a mim mesmo que faria alguma coisa para pagar minha dívida de gratidão.

Karen estava emocionada. Desejava levantar-se, correr para ele e abraçá-lo. Imaginá-lo ferido, em perigo, fora quase insuportável, mesmo que o fato tivesse acontecido há muito tempo atrás.

— E foi por isso que se tornou médico? — ela indagou, com a voz embargada.

Aaron assentiu.— E sempre fiz o possível para ajudar as crianças refugia das.

Tive algum sucesso, até agora. Mas, quanto a Lin...— Pois tenho um pressentimento de que você salvou a vida de

Lin — Karen assegurou-lhe.Por volta das quatro horas da madrugada, voltaram à ala de

recuperação a fim de verificar o estado do menino, que continuava na mesma. Porém, isto não foi o suficiente para apagar a certeza de Karen de que tudo acabaria bem.

A primeira ronda dos pacientes iria se iniciar às seis e meia, e tanto Aaron quanto Karen deveriam estar presentes. Antes de voltarem para a sala dos médicos, ele sugeriu que fossem até sua casa, para um banho e um café da manhã reforçado.

— Creio que não haverá problema em deixar Lin sozinho por algumas horas.

Karen hesitou. Não estariam passando dos limites? Afinal, estiveram juntos desde o acidente, haviam passado toda a noite lado a lado...

— Não acha um pouco arriscado? — perguntou, odiando-se por isso. — Sabe que seremos alvo de críticas, se alguém nos vir saindo juntos de sua casa, às seis horas da manhã...

A luta interior de Aaron tornou-se visível em seu rosto abatido. — Pois que falem — disparou, afinal. — Nós sabemos que não

vamos fazer nada que uma multidão não pudesse assistir.Karen começou a rir, a despeito da tensão que havia entre eles. — Não sei quanto a você, Aaron — falou, tentando brincar, —

mas eu não quero uma multidão me olhando enquanto tomo banho.Aaron não pôde deixar de sorrir, cedendo ao bom humor de

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Karen. — Tem razão — falou. — Fico satisfeito em saber que pelo

menos um de nós dois mantêm a cabeça no lugar. Agora vamos, vou levá-la até a clínica, para que pegue seu carro.

Quando voltaram ao hospital, Lin havia acabado de ser transferido para a Unidade de Terapia Intensiva.

Uma das enfermeiras aproxitnou-se de Karen e segredou-lhe que vira o garoto mover um pouco os olhos, embora não tivesse certeza.

Karen, olhando-o atentamente, teve a mesma impressão. Es-perava que a chegada do casal Morng, mais tarde naquele mesmo dia, pudesse ajudar na recuperação, pois era provado que pacientes faziam um esforço maior para recobrar a consciência quando havia um estímulo de alguém a quem amassem.

Mas, talvez não tivesse de esperar pelos Morng, ela pensou, de repente. Àquela hora, era bem provável que Troon já tivesse acordado.

— O que acha de trazermos Troon para a UTI, para uma visita a Lin? — perguntou a Aaron. — Sei que é contra o regulamento do hospital, mas Troon deve estar muito preocupado com o amigo e, talvez, esta seja uma forma de ajudar Lin a recobrar a consciência.

Aaron concordou e foi buscar o garoto. Depois de uma longa conversa em cambojano, ele e Karen o levaram em um cadeira de rodas até a UTI.

— Ele está logo ali — Aaron indicou ao menino, que olhava assustado o movimento de enfermeiras em volta dos pacientes, atendendo-os e regulando a aparelhagem eletrônica.

A cadeira de rodas não podia passar no vão estreito em que se encontrava a cama, e Troon levantou-se trêmulo, com a ajuda de Aaron e Karen. Aproximou-se do amigo, com lágrimas nos olhos.

— Lin... Lin... — falou, antes de prosseguir em sua própria língua, cujo tom era de tristeza e esperança ao mesmo tempo. Pedia a Lin que acordasse, que falasse com ele, que lutasse para voltar à vida.

Então, pela primeira vez, desde que fora encontrado no ônibus, as pálpebras do garotinho se moveram e, devagar, ele abriu os olhos. Antes que tornasse a fechá-los, houve um brilho de reconhecimento neles, quase um sorriso.

Nas vinte e quatro horas seguintes, foi como se um milagre tivesse acontecido. Lin parecia melhorar a cada instante e, sempre que Karen ia vê-lo, estava mais animado e forte. O neurologista, Josh

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Reidy, arriscava-se até a fazer predições dizendo que o menino não ficaria com qualquer dano motor.

Uma estação de televisão local escolheu fazer uma reportagem sobre o acidente, usando como base justamente o caso de Lin. De volta ao seu apartamento, Karen ligou a tevê e acompanhou os progressos do garoto através das notícias, dadas por uma jovem repórter, que parecia conhecer muito bem o seu trabalho.

Dois dias depois, Karen surpreendeu-se ao ver outras pessoas, além do casal Morng, visitando Lin. Ao reparar no homem de traços asiáticos, muito bem vestido e de óculos, imaginou que seria alguém da associação de refugiados. Mas quem seria a mulher que o acompanhava?

Vendo que conversavam na língua cambojana, não aproximou-se do grupo, que incluía Aaron, e foi para a sala dos médicos. Mais tarde, Aaron encontrou-se com ela ali, tendo no rosto uma evidente expressão de angústia.

— O que aconteceu? — ela perguntou, alarmada.— Apareceu um casal que quer adotar Lin — ele respondeu.Por um breve instante, Karen não soube o que dizer. Primeiro

ponderou que se tratava de uma boa notícia, mas logo as implicações do fato a atingiram totalmente: Aaron desejava adotar o menino, apesar de todas as dificuldades, e não havia desistido.

Além disso, havia Troon: era óbvio que o menino iria sentir muito a separação.

— E o pedido... está sendo seriamente considerado? — quis saber.

— Encontrei-me com o casal, esta manhã, e em seguida liguei para a associação. Informaram-me que o casal acompanhou a história de Lin pela televisão, e ficou interessado. Eles moram em Sarasota, do outro lado da baía, são cambojanos e têm todas as qualificações necessárias.

Fitaram-se em silêncio, por alguns instantes.— Que inferno! — Aaron desabafou, então. — Eu devia estar

contente, pois é provável que se tornem ótimos pais para Lin. Não tenho qualquer direito de impedir que ele tenha esta oportunidade!

— E há alguma chance de eles adotarem Troon também? — Karen indagou.

— Não — ele respondeu. — Mas, para ser justo, a associação chegou a lhes perguntar.

— Isto vai ser terrível para Troon — Karen considerou, com

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tristeza. — Depois de tudo o que ele passou...— Você está coberta de razão — Aaron concordou, parecendo

estar no limite de seu controle. — Separá-lo de Lin será como tirar um pedaço de seu coração. Ainda assim, eles não consideram a possibilidade de eu lhe dar um lar.

Porém, ao menos por enquanto, tiveram de deixar este pro-blema de lado. Aaron havia se comprometido a comparecer ao funeral de três crianças que haviam morrido no acidente. Embora raramente se envolvesse dessa forma, essa era uma situação especial. Havia convidado Karen para acompanhá-lo, e ela concordara em ir, sabendo que o Dr. Bert Ames não seria capaz de recriminá-los por estarem juntos numa cerimónia de funeral.

Saíram cedo do hospital, e Karen vestiu um conjunto azul marinho, prendendo os cabelos num coque severo na altura da nuca.

Aaron parecia muito sóbrio e severo em seu terno cinza, quando passou para apanhá-la no apartamento.

— Pelo menos esta é uma ocasião em que não terão coragem de dizer nada, pelo fato de estarmos juntos — ele lembrou com amargura, enquanto entravam no carro.

Depois do funeral, todos foram convidados a tomar um chá no restaurante de Ny Morng. A maior parte dos presentes falava a língua cambojana, e Karen manteve-se um tanto afastada, podendo demonstrar seus sentimentos apenas com gestos gentis.

Finalmente chegou a hora de partirem. Nenhum dos dois tinha compromissos marcados no hospital, e tinham uma longa tarde pela frente, cheia de tristeza e desolação. Karen queria estar ao lado dele, a fim de ajudá-lo naquele momento difícil. Mas ainda tinha dúvidas... Valeria a pena arriscar sua residência apenas para ficar ao lado dele?

Acabou concluindo que sim. — Tenho uma carne assada no freezer, que parece estar bem

gostosa — falou, ao se aproximarem do apartamento. — Se quiser subir um pouco, posso esquentá-la. Garanto que não vai demorar muito.

Sem nada dizer, Aaron apenas saiu do carro e ajudou-a a descer também. Estava um tanto surpreso com o convite, mas preferiu nada comentar.

O gatinho Tofu os recebeu assim que Karen abriu a porta. Encaminhando-se para a cozinha, ela pegou um avental e amarrou-o na cintura.

— Esta cozinha é pequena demais para nós dois — falou.

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— Por isso, sinta-se em casa e fique à vontade no sofá.Olhando em volta, curioso em saber como ela vivia, Aaron foi

para a sala e ligou a leve. Karen se confrangeu ao ver sua expressão angustiada.

Ele estava triste... A Iminente separação dos dois meninos a quem tanto gostava causava Ihfl uma dor insuportável.

Ela precisava fazei alguma coisa. Não sabia como, mas acharia uma forma de ajuda-lo a enfrentar essa provação.

CAPITULO IX

Embora a carne assada estivesse realmente muito gostosa, nenhum dos dois comeu com apetite. Há pouco tempo, Aaron seria capaz de dar qualquer coisa pela oportunidade de estar ao lado de Karen, compartilhando uma refeição, ou simplesmmente dando um passeio à pé ao entardecer. Mas a situação de Troon o angustiava agora. Como o menino reagiria ao saber que Lin estava prestes a ser adotado?

Deus, ele iria se sentir abandonado, rejeitado. Não podia negar que o casal Morng tratava-o bem, com carinho... mas em pouco tempo, teriam seu próprio filho, e a atenção dos dois se concentraria no bebêzinho.

Quando se recuperasse totalmente, Lin seria levado para a cidade onde passaria a morar, a cerca de quarenta ecinco minutos de St. Petersburg. Mas, para Troon, era o mesmo que o amigo estivesse se mudando para a lua, pois seria praticamente impossível que tornassem a se ver, pelo menos com a frequência de antes.

Se Aaron conseguisse convencei os Morng a aceitar dinheiro, como um auxílio para que adotassem Troon... Porém, fizera antes esta tentativa, sem sucesso. Mesmo pobres, os Morng possuíam um agudo senso de orgulho.

— Quer mais alguma coisa? — Karen perguntou, quando terminaram. — Posso fazer um café.

— Não, obrigado — Aaron respondeu, afastando a cadeira. — Preciso ir embora. — Fitou-a com tristeza, antes de acrescentar: — A carne estava realmente gostosa, pena que não a apreciei como devia. Só quero que saiba que... — Fez uma pausa, enquanto ela se levantava e aproximava-se dele. Num impulso, pousou um leve beijo no rosto de Karen. — Bem, estou muito grato pelo fez por mim, nestes últimos dias. Mas gratidão não é tudo o que sinto por você.

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Quando Karen chegou ao hospital, na manhã seguinte, viu a pasta de Aaron sobre a mesa da sala dos médicos, indicando que ele havia chegado bem cedo. De repente, adivinhou onde ele estava. Com certeza, viera contar a Troon sobre a adoção de Lin.

Foi até o quarto do menino, parando à porta, hesitante. Com as mãos fortes em torno dos ombros frágeis de Troon, Aaron conversava com o garoto.

Enquanto Karen observava, o rosto do garoto foi empali-decendo, os olhos se arregalando de pânico. Mas Aaron falava, num tom repleto de amor e compreensão.

Finalmente o menino pareceu entender o significado da revelação de Aaron e, ao contrário do que Karen esperava, não chorou, nem protestou. Simplesmente virou a cabeça, em silêncio, e escondeu-a no travesseiro.

Aaron tentou falar novamente, mas não houve resposta por parte do menino. Encolhido e tremulo, Troon parecia proteger-se da crueldade do mundo com uma parede de silêncio.

Erguendo a cabeça, Aaron viu Karen parada à porta. — Karen, faça-me um favor, sim? — pediu, a voz embargada. —

Ligue para Ny Morng e veja se ela pode vir até aqui. Ela é a pessoa mais próxima de uma mãe para Troon. Quem sabe poderá ajudá-lo.

A despeito das esperanças de Aaron, Ny Morng não teve maior sucesso do que ele. Troon continuava recusando-se a falar, mantendo um olhar fixo e vazio de emoções.

— Não sei como lidar com ele — Aaron desabafou para Karen, mais tarde. — Posso curar seu coração, implantar um marcapasso, mas quando se trata de sentimentos, fico completamente perdido.

A situação não melhorou, no decorrer do dia. Quando Aaron perguntou a Troon se gostaria de visitar Lin, à tarde, o menino apenas balançou a cabeça, em negativa. E as enfermeiras o informaram que ele não estava se alimentando.

Para tornar as circunstâncias ainda mais críticas, Aaron foi obrigado a se ausentar da cidade, para participar de um congresso em Maryland, que havia sido marcado com meses de antecedência. E, além disso, prometera à irmã, que morava ali perto, passar alguns dias com ela.

— Tome conta de Troon, sim, Karen? — pediu, na manhãde sua partida. — Sei que não é um de seus pacientes, mas...

Ela queria tanto abraçá-lo, nem que fosse apenas por um breve instante.

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— Você nem precisava pedir, Aaron — respondeu, mantendo-se a uma distância segura.

No dia seguinte, Ny teve um pequeno sangramento e, ao visitá-la, Karen aconselhou-a a manter repouso e evitar de sair de casa para ver Troon, pelo menos por alguns dias. E, embora não sabendo falar cambojano, e mal conhecendo o garoto, tornou-se a única pessoa capaz de lhe dar assistência emocional, naquele período terrível.

Certo dia, teve uma idéia. Deu um bom banho em Tofu, acomodou-o em uma cesta de piquenique e levou-o até o hospital. O regulamento não permitia a entrada de animais, mas acabou cedendo ao desejo de proporcionar um pouco de alegria a Troon.

Entrou pela porta dos fundos, tentando evitar que o pessoal da recepção a visse com a cesta nas mãos. Quando chegava perto do quarto do garoto, ouviu uma voz conhecida às suas costas:

— O que temos aí? Vai fazer um piquenique hoje? Ela deu um pulo de susto.

— O que você está fazendo aqui?! — perguntou, virando-se para Aaron.

— Consegui um lugar no primeiro vôo, e resolvi vir ver meu paciente favorito — ele respondeu. Estava vestido com roupa esporte, uma camiseta pólo e calça de brim. — E você, não vai responder a minha pergunta?

Antes que Karen pudesse lhe dar uma explicação, um miado escapou de dentro da cesta.

— Você... trouxe o seu gato?! — ele disse, erguendo a tampada cesta. — Que história é essa, Karen! Acha mesmo que issopoderá fazer Troon se sentir mais feliz?

Embaraçada por ter sido apanhada cometendo um erro, ela demonstrou irritação:

— É claro que não! Mas imaginei que, se desse o gatinhopara Troon, ele poderia ficar melhor, ter algo de que cuidar. Estou certa de que Ny não se incomodará, se ele levá-lo para casa.

Relutante, Aaron acabou cedendo. As intenções dela eram as melhores e admirava sua generosidade. Dando-lhe passagem, entrou logo atrás dela no quarto e, ao aproximarem-se da cama, Tofu foi finalmente libertado da cesta.

Pela primeira vez, desde que ouvira a notícia sobre a adoção de Lin, Troon ergueu os olhos e demonstrou algum interesse. Mas era óbvio que não compreendia o que se passava no quarto.

— Diga a ele que Tofu é órfão como ele, que precisa de um

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amigo — Karen pediu para Aaron, que eslava a seu lado. — E pergunte-lhe se ele quer adotar Tofu.

De repente, Aaron compreendeu a extensão do gesto de Karen.— Já que não podemos confortá-lo — falou, fitando-a com

carinho — lhe daremos uma chance de confortar alguém.— Pergunte-lhe — Karen insistiu, esperando ansiosa enquanto

Aaron traduzia as suas palavras para o garoto.Em resposta, Troon segurou o gatinho entre as mãos e apertou-

o contra o peito, acariciando-o.Por algum tempo, ficaram ali no quarto, observando as tra-

vessuras do animalzinho e o evidente carinho e prazer com que Troon o tratava. Finalmente, Karen e Aaron lhe explicaram sobre a proibição de se manter animais no hospital. Tofu seria levado para a casa de Ny, onde ficaria até que Troon estivesse curado.

O garoto pareceu compreender e, minutos mais tarde, ela e Aaron deixavam o animalzinho nas mãos de Ny.

Aaron foi para o próprio carro e Karen seguiu para o seu, estacionado ali perto. Pretendia acompanhá-lo até a clínica, mas, antes de sair, ele sugeriu:

— Conversei com Lucy, antes de virmos para cá, e ela disse que o movimento na clínica está tranquilo, hoje. Por isso, gostaria que você tirasse a tarde de folga, para fazer o que tiver vontade... Tem se esforçado muito, e merece um descanso.

Karen tentou protestar, mas acabou concordando. Viu-o afastar-se, sentindo o coração repleto de amor por esse homem maravilhoso. Quando ia entrar no carro, um rapaz aproximou-se dela, com uma expressão perplexa no rosto.

— Sra. Jenkins? — indagou, com evidente surpresa. — É mesmo a senhora?

Virando-se, confusa, Karen assentiu. — Meu nome é Steve Vondreck — ele explicou. — Trabalhei

com seu marido, na base militar, antes que... bem, antes do acidente. Senti muito o que aconteceu. Aliás, todos sentimos.

Karen piscou, tentando absorver as palavras do rapaz. Estivera tão concentrada nos problemas de Troon, e em seus sentimentos por Aaron, que há muito tempo não pensava em Gleen.

— Obrigada — respondeu. — Felizmente já superei tudo. Como está passando?

O homem sorriu.— Muito bem, obrigada. Dei baixa no serviço militar e estou

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trabalhando na cidade. E a senhora?— Cursei medicina, depois da morte de Gleen — ela respondeu.

— Sou médica, agora.O rapaz cumprimentou-a, afavelmente, e depois de mais alguns

minutos de conversa, durante os quais elogiou a memória de Gleen, despediu-se. Já estava a alguma distância, quando Karen virou-se de repente e correu atrás dele.

— Espere! — chamou. — Gostaria de saber se pode me ajudar. Depois que Gleen morreu, tentei localizar a mulher com quem ele estava... bem... saindo. Desejava lhe oferecer ajuda, se precisasse, para ela e o bebê. Mas não consegui encontrá-la e, como você trabalhava no mesmo local que ela, talvez pudesse saber alguma coisa.

Obviamente embaraçado pela referência de Karen a um assunto que, no passado, havia sido delicado e secreto, Steve Vondreck tentou pensar numa maneira suave de falar sobre Song.

— Talvez eu tenha alguma idéia — disse, afinal. — Da última vez em que ouvi falar nela, morava num conjunto de apartamentos perto da base. Mas não tinha telefone. Se quiser tentar, procure uma doceria chamada Estrela do Sião, em Dale Mabry. — Em seguida, deu-lhe instruções de como chegar ao local.

Arn Song. Talvez pudesse finalmente encontrá-la.Por algum motivo, a lembrança da amante de seu marido já não

lhe provocava tanta dor.Tinha o resto da tarde livre, e Aaron dissera que ela estava livre

para fazer o que quisesse... De repente, surgiu uma urgência de encontrar Arn Song e oferecer-lhe a assistência que há tanto tempo desejava dar.

Assim, sem entender muito bem a própria precipitação, entrou no carro e seguiu na direção que Steve lhe indicara.

Não teve dificuldade em localizar a pequena doceria. Enquanto estacionava, sua intuição lhe dizia para dar meia volta e sair dali. Mas não podia fazer isso, pois apesar do destino ter dado a Song o filho que negara a ela, o bem estar da criança sempre a preocupara.

Desceu do carro, respirou fundo e entrou na confeitaria. Havia uma mulher atrás do balcão.

— Procuro por uma pessoa chamada Arn Song — Karen falou, sem rodeios.

— Sou eu — a mulher respondeu.Karen prendeu o fôlego. Sempre soubera que a amante de

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Gleen tinha mais ou menos a sua idade, mas a mulher à sua frente parecia dez anos mais velha. Seria mesmo ela que lhe causara tanta dor e desgosto, por imiscuir-se em sua vida conjugal com Gleen?

— Sou a esposa de Gleen Jenkins... ou melhor, a viúva — falou, um tanto hesitante. — Vim conversar com você sobre o a criança.

A expressão da mulher transformou-se, entre atônita, confusa e envergonhada.

— Sra. Jenkins... — ela murmurou. — Sinto tanto pelo que aconteceu. Só fiquei sabendo que Gleen tinha uma esposa depois que ele morreu.

Karen também ficou atônita com aquela afirmação, e nada disse.

— Quando descobri... — Song prosseguiu, com sincera de-solação — me senti muito mal, mas era tarde demais. O bebê estava para nascer...

Karen concordou com um gesto, ainda sem saber o que dizer. — Seu filho deve estar com... — arriscou.— Cinco anos — Song respondeu e, a despeito do seu em-

baraço, havia uma nota de orgulho na voz.Ela é uma boa mãe, Karen pensou. E devia ter se sentido feliz

com a gravidez, mesmo tendo de enfrentar inúmeras dificuldades. — Como faz para viver? — Karen indagou, embora soubesse

que a pergunta poderia parecer impertinente. — Este emprego não deve ser muito rendoso.

Era uma pergunta direta demais, para alguém tão sensível como Song.

— Não é nada fácil — respondeu com a expressão sombria. — Mas é melhor do que em meu país de origem, no Camboja,

onde eu realmente passava dificuldades.Naquele momento, um garotinho entrou na loja. Karen prendeu o

fôlego e sentiu o coração disparar. Tinha a pele dourada, como a de Troon e Lin, os olhos amendoados e castanhos, os cabelos lisos e escuros. Era evidente que estivera brincando na terra, pois as mãozinhas estavam sujas.

Karen adivinhou imediatamente que era o filho de Gleen. Lançando-lhe um olhar assustado, o menino correu para o lado da mãe.

— Este é Pran — Song falou, entre assustada e orgulhosa. — É um bom menino. E compensa todo o sofrimento e ver-

gonha que passei, quando descobri a verdade sobre o pai dele.

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Dirigindo de volta para casa, Karen sentia como se um enorme peso tivesse sido removido de seus ombros. Não culpava mais Song por tudo o que lhe acontecera. Na verdade, sentia pena da mulher.

Então decidiu que parte das apólices de seguro de Gleen iriam ser transformadas num fundo, cujo beneficiário seria o filho dele.

Providenciaria para que Song recebesse, mensalmente, uma quantia suficiente para o sustento do menino. O restante ficaria guardado até que ele completasse dezoito anos, e decidisse se iria usá-lo para os estudos ou qualquer outro investimento.

Aproximava-se de St. Petersburg, vendo relâmpagos iluminarem a baía. Envolta pelo clima sombrio, deu-se conta de que sua inveja de Song, pelo fato de ela ser mãe, não havia desaparecido completamente. Se pudesse ter um filho, pensou, haveria a esperança de construir uma vida ao lado de Aaron, ao invés de planejar mudar-se para longe, depois de terminar a residência. Poderia, então, casar-se com ele e adotar Troon.

Mas, e se pudessem se casar, ser marido e mulher, sem con-sumar o casamento?

Parecia que esse era seu dia de ir em socorro de crianças desamparadas, quando não podia ter o seu próprio filho.

Desejava que Troon fosse seu filho, pois aprendera a gostar dele, nas últimas semanas. Achava que poderia ser uma boa mãe para ele, também.

Se seu plano desse certo, poderiam enganar o comitê de adoção da Associação de Refugiados, e seria por uma boa causa.

Quanto mais avaliava a idéia, mais gostava dela.Quando chegou na clínica, chovia à cântaros. Parou o carro no

estacionamento no instante exato em que Aaron e Lucy trancavam a porta principal.

— O que está fazendo aqui? — ele perguntou, depois de correr e entrar no carro dela, no lado do passageiro. — Achei que iria aproveitar a tarde para descansar.

Vendo-o ao seu lado, os cabelos molhados, a camisa úmida colada ao peito, os olhos profundos fitando-a, Karen chegou a vacilar em sua decisão. O plano que havia idealizado seria bem mais fácil de executar se não amasse tanto Aaron.

Mas fora o amor que inspirara a idéia, e o amor a ajudaria a seguir em frente.

— Tenho uma proposta para lhe fazer — disse, afinal. — Acho que devíamos nos casar... agora mesmo... se conseguirmos a

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aprovação do Dr. Ames e da diretoria da residência. Se estivermos casados, a Associação de Refugiados não terá mais motivos para recusar seu pedido de adoção de Troon.

Aaron encarou-a, atônito. Tinha certeza de que não a havia entendido bem.

— Você... está falando sério?!Ela concordou, com um gesto de cabeça. — Troon precisa de você — afirmou.Ele a abraçou, mal cabendo em si de felicidade. — Ah, minha querida... — murmurou, o rosto contra seus

cabelos. — Troon precisa de nós dois. E nós precisamos um do outro. Será que não sabe que a desejei desde o primeiro dia em que a vi?

Era maravilhoso estar nos braços de Aaron, imaginar que ele correspondia a seus sentimentos. Tentou se convencer de que o fato de ser estéril não importava, não era essencial entre eles.

Porém, lembrava-se claramente das palavras dele, naquela tarde em que o levara de carro do aeroporto para casa. "Como a maioria dos homens", ele dissera, "gostaria de casar e ter filhos, algum dia".

Um desejo bastante compreensível.Se lhe contasse a verdade, Aaron iria fingir que não se im-

portava. Mas era evidente, para Karen, que ele se importaria. Era preferível uma dor aguda, mas breve, do que um arrependimento que poderia durar a vida inteira.

— Por favor, Aaron — ela protestou, então, afastando-se dele. — Você não está entendendo!

Ele franziu a testa, confuso.— Você disse que quer se casar comigo — ele retrucou, — e eu

concordei, contanto que isto não prejudique sua residência. O que há mais para entender?

— Não estou sugerindo que nos casemos para viver juntos, como marido e mulher — ela murmurou, sabendo o quanto o estava magoando. — Disse que devemos ficar casados temporariamente, até que a situação de Troon esteja resolvida.

CAPITULO X

Exatamente como Karen previa, Aaron ficou furioso. Magoado, também.

— Está tentando dizer que não me ama? — ele inquiriu,

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ferozmente, enquanto a chuva continuava a cair no pára-brisas. — Quer me convencer que vai se casar comigo apenas para ajudar Troon?

— Estou me oferecendo para ajudar vocês dois — ela res-pondeu, num fio de voz. — Eu... me importo muito com ambos.

— Mas que tolice é essa?! — Ele segurou-a pelos ombros, quase em desespero. — Se a diretoria do hospital aprovar, por que não termos um casamento de verdade? O que nos impede de fazer amor, como todos os outros casais?

A pergunta crucial não podia ser respondida. — Tenho meus motivos — falou, sentindo-se miserável. — Não

posso explicar mais nada.Aaron praguejou baixinho, desabafando a fúria que o corroía. — Sabe o que eu acho? — perguntou, entre dentes, enquanto

saía do carro sem se incomodar com a chuva. — Acho que você está maluca. E não me casaria com você, nestas condições, nem se fosse a última mulher na face da terra!

Naquela noite, virando de um lado para o outro na cama, Aaron forçou-se a examinar aquela situação. Karen aproximara-se dele, fizera com que ele se apaixonasse e, agora, o rejeitava. No entanto, sabia que ela também estava sofrendo.

Imaginara que existia uma compreensão especial entre eles, que seriam capazes de construir uma vida maravilhosa, juntos. Não pensara que ela ainda mantinha as mesmas reservas que demonstrara na noite em que ficaram a sós no barco.

Por mais que pensasse, não lhe ocorria um motivo plausível para ela não querê-lo. Uma vez a acusara de não querer ligar-se a Troon e Lin, mas logo percebera o quanto estava errado. Karen adorava crianças, dedicava sua vida a elas e era óbvio que se preocupava com o futuro de Troon.

Então, se a rejeição não se relacionava com os garotos, o que seria? Ela compartilhava seus sentimentos, isto era evidente pela maneira como retribuíra todos seus beijos, como entregava-se totalmente cada vez que ele a abraçara.

Esses pensamentos lhe consumiram a noite inteira e, pela manhã, já decidira o que fazer. Quando chegou ao hospital, Karen e seus colegas residentes estavam em sua sala, tomando café e esperando por ele. Com apenas um olhar para ela, Aaron descobriu que também havia passado a noite em claro.

— Antes de começarmos, dra. Jenkins — falou, enquanto se sentava e retirava a agenda da pasta, — gostaria de lhe dizer que

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mudei de idéia, quanto à oferta que me fez, ontem à tarde. Por isso, marquei uma entrevista com o Dr. Ames, a fim de discutirmos o assunto, às quatro horas. Por favor,não se atrase.

Karen estava à sua espera no corredor, em frente à porta da sala do Dr. Ames, na hora marcada. Quando Aaron chegou, notou o nervosismo dela, embora estivesse mesclado com um certo alívio, também.

— O que... por que mudou de idéia? — ela indagou, hesitante.Ele deu de ombros. — Como você, não creio que Troon consiga sobreviver por

muito tempo sem uma família que cuide dele. Estou certo que nem preciso lhe dizer o quanto o estado emocional de um paciente é importante para sua recuperação. Ou mencionar que adiei a segunda cirurgia cardíaca esperando que ele estivesse mais estável emocionalmente.

Fazendo um gesto de concordância, Karen cruzou os braços.— Quer dizer que aceita minhas condições? — perguntou.— Sim — ele respondeu. — Aceito... pelo tempo que você

decidir. Não acha que devemos entrar?O Dr. Ames fitou-os por sobre os óculos, ao vê-los entrar.Convidou-os a sentar e Karen decidiu deixar Aaron das todas as

explicações, pois, afinal, ele era a autoridade maior, entre eles.No entanto, o médico mais velho não facilitou a situação. — As regras do hospital são muito claras — disse o diretor,

depois de ouvi-lo. — Nada de nepotismo, e nenhum relacionamento pessoal entre professor e aluno é permitido. Espero que vocês as obedeçam. O casamento de vocês dois é absolutamente impossível, se Karen deseja permanecer como residente aqui.

Devido às tensões por que estava passando, Aaron não con-seguia ser muito diplomático, no momento.

— Se Karen sair, eu saio também — afirmou. — Mas creio que não precisaremos chegar a tanto, pois assim que eu me demitir, ela poderá ficar e prosseguir com o programa de residência.

Mas a ameaça também não pareceu surtir efeito. — Não esteja tão seguro disto, Aaron — o Dr. Ames retrucou. —

Parece bastante óbvio, para mim, que vocês dois andaram violando algumas regras, até agora.

Um silêncio tenso encheu a sala. Eles haviam tentado, e muito, manter um relacionamento frio e distante, como professor e aluna.

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Mas, apesar de todos os cuidados, haviam realmente transgredido algumas regras e o Dr. Ames tinha toda a razão em recriminá-los.

— Você é um de nossos melhores professores — o Dr. Ames prosseguiu, — e não desejo perdê-lo. E nem a Karen. Mas não estamos discutindo o que eu desejo. Daqui a um ano, poderão fazer o que bem quiserem. Será que não podem esperar?

Na opinião de Karen, Troon não poderia esperar. — Há algo que o senhor deve saber, Dr. Ames — ela interferiu,

disposta a explicar os detalhes que Aaron deixara de lado. — Nós queremos adotar o garoto Sem Troon, mas a Associação dos Refugiados não nos dará permissão, a não ser que estejamos casados. O melhor amigo de Troon foi adotado por um casal de Sarasota e deverá partir em breve. O casalque tomava conta dele está esperando o nascimento de seu primeiro filho e não se sente em condições de continuar criando-o. Desta forma, o estado emocional do menino é bastante precário, e achamos que ele precisa de nós. Talvez um ano seja tempo demais para ele esperar.

Mesmo estando frustrado com ela, Aaron desejava abraçá-la, naquele instante. Sabia que ela iria conseguir convencer o Dr. Ames.

Com um longo suspiro, o diretor tirou os óculos e limpou-os num lenço, antes de se voltar para eles.

— Não sei... — começou, pensativo. — Admiro o que estão tentando fazer, e posso até concordar com isso. Mas o que estão sugerindo é bastante irregular... Mesmo se a diretoria concordar, não sei como vocês serão capazes de lidar com os detalhes. — Fez uma pausa, recolocando os óculos. — Veja bem, Aaron, Karen depende de sua avaliação. Que garantiaspodemos ter de que você será imparcial, depois que estiveremcasados?

O diretor estava prestes a lhes dar uma chance!— Já pensei sobre isso — Aaron respondeu. — Se o senhor e a

diretoria concordarem, continuarei agindo como professor de Karen, como sempre, exceto quando se tratar da avaliação. Para isso, poderemos pedir a ajuda de outro médico qualificado, ou o senhor mesmo poderá fazer o julgamento.

— Hum... — fez o Dr. Ames, sem dizer sim ou não.— No entanto — Aaron continuou, — sei que posso ser

imparcial. E, naturalmente, serei ainda mais exigente com ela, do que com qualquer outro aluno.

— Você já é! — Karen protestou.

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— Pelo que tenho ouvido falar, Karen tem razão — o Dr. Ames concordou, com um risinho. — Vamos fazer o seguinte: escrevam um requerimento e vou apresentá-lo na reunião da diretoria, amanhã à tarde. Se os outros membros não fizerem objeções, eu mesmo me encarregarei das avaliações de Karen.

Três dias depois, tendo recebido a aprovação relutante da diretoria, Aaron e Karen casaram-se no cartório da cidade, tendo Kim Johanssen e Pete Bradley como testemunhas. Karen usava um vestido azul-claro e Aaron o mesmo terno cinza que vestira no dia do funeral das crianças cambojanas. Por insistência de Kim, Karen levava um pequeno buquê de gardênias e Aaron um cravo branco na lapela.

Pareciam tão sérios e tensos que quem os visse podia imaginar que iriam desistir a qualquer momento. No entanto, nem teriam tempo para isso, pois desde a conversa com o Dr. Ames, as coisas se precipitaram no hospital e nem sequer poderiam ter alguns dias de licença para a lua-de-mel.

— Pode beijar a noiva — o juiz declarou, depois de confirmá-los como marido e mulher.

Como uma cena gravada em câmara lenta, Aaron a abraçou e cobriu-lhe os lábios num beijo. A cerimônia que, até então, parecera fria e impessoal, encheu-se de uma felicidade espontânea. Estonteada, Karen abandonou-se nos braços do homem amado, desejando que esse momento durasse eternamente.

Vou conseguir dobrá-la, Aaron pensava. Vou fazê-la implorar para fazermos amor...

Passaram-se vários segundos e o beijo se prolongava, cha-mando a atenção dos convidados.

— Ei! — Pete protestou, brincalhão. — Vocês têm o dia inteiro para isso, mas nós precisamos voltar para o hospital!

A atmosfera tornou-se mais leve e os quatro foram para um restaurante, a fim de celebrar. Quando ficaram sozinhos, a tensão parecia ter desaparecido totalmente.

Aaron e Karen haviam tirado o dia de folga no hospital e estavam fazendo a mudança dos poucos pertences de Karen para a casa dele.

— Tem certeza de que é isto mesmo o que quer? — ele per-guntou, quando Karen insistiu em colocar suas coisas no quarto que teria sido de Lin, se Aaron o tivesse adotado.

— Tenho certeza — ela afirmou, embora suas palavras lhe soassem como uma grande mentira. Imaginava se ele conseguiria

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perceber o quanto ela lutava para fingir.Aaron estava parado entre ela e a porta do banheiro ao lado do

quarto que ela iria ocupar.— Ouça — ele falou, — estamos casados agora. Isto significa

que você pode me dizer tudo. Não acha que é hora de me explicar?— Sinto muito, mas não posso — ela respondeu, num fio de voz,

embora seu maior desejo fosse contar seu segredo. Mas, como poderia? Seria o mesmo que confessar que havia preparado uma armadilha para ele! — Agora, se me der licença, preciso...

Dando um passo a frente, Aaron tomou-a nos braços e beijou-a, sem lhe dar chance de escapar. Explorou-lhe a boca com a língua, segurando-a pelas nádegas e pressionando-a contra o próprio corpo, a fim de que ela sentisse como estava excitado.

Embora desejasse consumar a paixão que a devorava im-placavelmente, Karen juntou todas as suas forças e afastou-o. Não podia ceder, nada havia mudado, apesar da certidão de casamento.

— Eu lhe disse, Aaron... Não podemos! — balbuciou, quaseem prantos.

Ele a soltou, encarando-a profundamente, sem se preocupar em esconder sua vontade de lhe fazer amor.

— É isso mesmo o que quer, não é, Karen? — perguntou, a voz subitamente fria.

— Sim...— Está bem. Então será do seu jeito. Mas acho que está

cometendo um grande erro.Com o passar dos dias, Karen deixou que as coisas aconte-

cessem, com um fatalismo que era estranho até para ela mesma. Enquanto a Associação de Refugiados examinava a petição para adoção de Troon, procurava preencher o tempo livre cuidando da casa, procurando os móveis que faltavam e contratando uma empregada para ajudá-la. Pretendia deixar tudo em ordem, para que Aaron e Troon pudessem viver bem, depois que ela partisse.

Sabia que o dia em que teria de contar a verdade a Aaron acabaria chegando, mas esperava que, antes disso, pudesse arrumar a vida de Troon.

No dia em que Aaron fez a segunda cirurgia cardíaca no menino, Karen contratou mais uma ajudante. Era uma des cendente de africanos, de meia idade e com um filho de oito anos. Embora o garoto fosse dois anos mais novo que Troou, Karen imaginou que seria uma boa companhia para o garoto.

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Explicou à Rosa Johnson que ela teria de cuidar, ao menos pelo período em que Karen não estivesse em casa, do garotinho doente, e lhe mostrou a casa, detalhando todas as suas funções.

— Temos acomodações para você e seu filho, e espero que possa cozinhar, também. Quem sabe possa aprender alguns pratos da cozinha cambojana, a fim de agradar Troon.

— Está tudo bem — Rosa concordou, com um sorriso sincero. — Gosto muito de crianças e sou uma ótima cozinheira. O salário que a senhora ofereceu está além do que eu esperava. E, além disso, preciso de um bom lugar para criar meu filho... E não vejo lugar melhor do que este aqui.

A operação de Troon foi um sucesso e, juntamente com ele, a cada dia que passava Lin rccuperava-se mais e mais. Aproximava-se o Dia de Ação de Graças e, mais do que nunca, Karen achava que tinha muito o que agradecer. Enquanto isso, seu trabalho no hospital tornava-se estafante e ela redobrava seus esforços para não ser acusada pelos colegas de favoritismo. Continuava a ajudar na clínica e, nos poucos momentos livres, dedicava-se à casa.

Como resultado, todas as noites caía na cama num estado de exaustão, embora sonhos eróticos lhe surgissem no instante em que fechava os olhos.

Aaron não tornou a fazer qualquer movimento em sua direção e agiam sempre de maneira muito formal e tensa, quando estavam juntos. Em sua imaginação, Karen via-se mil vezes pedindo para que ele a levasse para a cama.

Certa tarde, ao sair do hospital, Karen passou por uma loja de móveis e comprou uma mesa para a sala de jantar com as cadeiras. Enquanto fazia o cheque e combinava o dia da entrega, ouviu os trovões, prenunciando uma tempestade, tão comum naquela época do ano.

Estava exausta e decidiu ir direto para casa, ao invés de fazer mais algumas compras, como havia planejado.

Quando entrou na garagem, viu que o carro de Aaron já estava lá. Ela hesitou em sair, sentindo-se cansada demais para encarar mais uma vez toda a tensão de fingir que não o queria, que não o amava.

Esperou alguns minutos, dando-se tempo para relaxar. A chuva começou a cair torrencialmente e, num impulso, ela abriu a porta do carro e tirou os sapatos, correndo pela grama do jardim, deixando que a chuva lhe cobrisse o corpo, os cabelos, lavando-lhe a alma.

Eu amo Aaron, pensou, querendo gritar em voz bem alta. Amo-o

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e quero que ele e Troon façam parte da minha vida!Abriu os braços, sentindo a chuva escorrendo pelo corpo, e

ergueu os olhos para a casa. Era uma casa linda, tão antiga, perfeita para ser um lar...

— Karen! O que está fazendo aí? — Aaron aproximava-se, já todo molhado também.

Ela não precisava olhar no espelho para saber que seus sentimentos mais profundos estavam estampados em seu rosto.

— Estou olhando para sua casa respondeu. — E desejando que fosse nossa.

— E não sabe que ela é nossa, desde o momento em que entrou em minha vida? ele indagou, segurando-a pela cintura. — Será que não vê o quanto eu te amo, Karen?

Os olhos dela encheram se de lágrimas: era a primeira vez que ele lhe confessava seu amor; era a primeira vez que ela permitia que ele o fizesse.

— Só sei o quanto eu te amo, Aaron — murmurou.Enquanto a chuva caía, seus lábios se encontraram e,

estremecendo de prazer, Karen abraçou-o, querendo se entregar totalmente. Já era mais do que tempo, pensou, permitindo que a paixão a dominasse. O que acontecesse depois não mais importava.

CAPITULO XI

Subitamente, foi como se as barreiras que existiam entre eles desaparecessem como fumaça. Tocando-se, beijando-se, deparavam-se com a sensação maravilhosa de compartilhar da mesma paixão. Aaron mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo, e temia que ela mudasse de idéia, de repente.

— Vai me deixar fazer amor com você? — perguntou, num sussurro.

— Ah, sim, Aaron... sim...— Minha querida, minha mulher...Sem soltá-la, Aaron levou-a até o pequeno quiosque que ficava

entre as folhagens. Ali, protegidos da chuva e dos olhares, a fez deitar a seu lado, tocando gentilmente os mamilos dos seios, através da blusa molhada.

— Aqui? — ela indagou, num murmúrio. Erguendo a cabeça, ele fitou-a, cheio de desejo. — Imaginei fazer amor com você neste lugar, desde o dia em

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que você me trouxe do aeroporto — confessou, abrindo-lhe a blusa.Karen deitou-se contra a maciez da grama, os seios nus, a saia

puxada até a cintura. Ele a beijava, ávido por sentir o calor daquele corpo delicado e macio.

Momentos depois, ele abria o zíper da calça e, sempre acariciando-a, excitando-a, deixou-a prestes a alcançar o clímax.

Karen gemeu, numa deliciosa loucura, quando ele a penetrou. Seus corpos molhados pela chuva uniram-se, seguindo num mesmo ritmo o ritual que logo os brindaria com a mais completa satisfação.

Excedendo os limites de prazer que ela achava possível sentir, Karen foi levada ao auge do gozo. Segundos depois, Aaron acompanhou-a, antes de relaxarem, exaustos.

— Eu te amo, Karen. Amo tanto...— Também te amo, Aaron.Jamais seria capaz de expressar em palavras a intensidade de

seu amor. Presa nos braços dele, sentindo o corpo forte pulsando contra o seu, imaginou se ele entenderia, quando lhe confessasse seu problema.

Pousando um leve beijo em sua orelha, ele retirou uma folha que se colara aos cabelos dela.

— Vamos entrar e tomar um banho — sugeriu. — Quero fazer amor com você outra vez, mas numa cama seca e macia...

Tomar banho com ele foi uma nova descoberta erótica. Nua e ensaboada, dcliciou-se explorando e deixando-o explorar os segredos mais íntimos do corpo.

Desejavam-se tanto que caíram na cama, ainda molhados do banho. Mas, desta vez, Aaron teve tempo para providenciar uma proteção. Enquanto o fazia, explicava que o preservativo, guardado na mesa de cabeceira, havia sido comprado para a noite em que se casaram.

Uma sensação de culpa, mesclada com desejo a envolveu, enquanto observava-o colocar a camisinha. Não precisavam de anticoncepcionais. Precisava lhe dizer... mas não tinha coragem.

Mas logo não teve chance de pensar em mais nada, a não ser no prazer que ele lhe proporcionava. Com as mãos e com a boca, Aaron lhe provocava prazeres jamais conhecidos. Quando se uniram novamente, a sensação maravilhosa foi ainda mais prolongada e profunda que da primeira vez.

Mais tarde, deitados nos braços um do outro, viam o dia terminar pelas janelas do quarto, sem se incomodar em acender as

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luzes. — Quero me desculpar pela pressa, da primeira vez — ele

cochichou em seu ouvido.Karen sentiu uma onda de alarme. Por que ele se desculpava?

Seria por, finalmente, terem o casamento consumado?Percebendo que ela não entendera suas palavras, ele a

abraçou.— Se está pensando que me arrependo de ter feito amor com

você — falou, — a resposta é não.— Então, sobre o que está falando?— Bem, fui muito apressado, da primeira vez, e não tínha

mos qualquer proteção. Você poderia engravidar, e não quero que isso aconteça agora. Ainda faltam oito meses para você terminar sua residência...

Sem saber, ele lhe dava uma nova chance de contar a verdade. — Você não precisa se preocupar com isso — ela falou,

baixinho.Aaron beijou-lhe os cabelos. — Deve saber das consequências melhor do que eu. Se não

está preocupada com esta possibilidade, então fico tranquilo. De qualquer forma, logo seremos pai e mãe, não é? E, mesmo se uma gravidez acontecer, vou adorar a idéia de ter um filho seu.

Aquelas palavras foram como um punhal cravando-se no coração de Karen. Agora a verdade iria magoá-lo ainda mais.

— O que foi? — ele perguntou, quando ela virou o rosto, escondendo-o no travesseiro.

Por um instante, Karen não confiou em sua capacidade de responder. Mas, com um esforço supremo, controlou-se.

— Nada... Acho que estou cansada.— Então durma um pouco, amor — ele falou, cheio de carinho.

— Podemos comer alguma coisa, mais tarde.Karen não podia suportar a idéia de lhe contar a verdade, pelo

menos enquanto não fosse realmente necessário. Por isso, mergulhou no trabalho, tentando esquecer a culpa e a apreensão que a atormentavam.

Rosa, a empregada que contratara, começou a trabalhar na-quela semana, deixando-a com mais tempo livre. Karen comprou um livro e esforçou-se a ensinar Troon a falar e compreender algumas palavras básicas de sua língua. Embora o garotinho se interessasse em aprender, parecia sempre um tanto envergonhado em pronunciar

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as palavras. Mas Karen tinha certeza de que ele acabaria superando a timidez.

O Dia de Ação de Graças aproximava-se e, assim como Aaron, Karen estava ansiosa pela chegada de Troon. Havia planejado uma festa de boas-vindas para o menino, e convidara todos os seus amigos.

Mesmo apresentando uma excelente recuperação, Lin não poderia sair do hospital para participar da festa. Karen pensou que, talvez no ano seguinte, eles comemorariam todos juntos. No entanto, logo lembrou que, no ano seguinte, ela não estaria mais naquela casa, e sua vida seria bem diferente.

Na manhã do Dia de Ação de Graças, Karen ainda não sabia como resolver sua situação.

Quando o despertador tocou, Aaron acordou imediatamente, e ficou observando Karen, que ainda dormia.

Jamais saberia dizer o quanto a amava, o quanto precisava tê-la ao seu lado. Se algo acontecesse que pudesse separá-los, seria como se perdesse uma parte de si mesmo.

Mas aquele era um grande dia: Troon estaria vindo para casa e eles se tornariam uma família. Estava grato a Karen, pela maneira como ela aprendera a amar o garoto e pelo carinho que lhe demonstrava. Então, por que persistia, bem no fundo de sua mente, a sensação de que alguma coisa estava errada?

A resposta era uma só: havia algo preocupando Karen, embora ela tentasse esconder. Pelo que sabia, a resistência dela em se entregar a ele havia desaparecido, embora ela nunca lhe tivesse confessado por que demorara tanto tempo em aceitá-lo como amante.

De repente, perguntou-se se ela não estaria grávida. Desde a primeira vez que haviam feito amor, ela não ficara menstruada, e disso ele tinha certeza.

Decidiu lhe perguntar o que estava acontecendo, mas num momento oportuno. A festa que dariam naquele dia era muito importante para ela, e uma discussão poderia deixá-la nervosa. Seria melhor esperar até que todos os convidados fossem embora.

Karen afundou-se mais entre as cobertas, quando ele tentou acordá-la.

— Vamos lá, preguiçosa — ele insistiu. — Está na hora de acordar. Rosa já fez o café e, pelo cheirinho que estou sentindo, já começou a preparar o assado.

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— Que horas são? — ela perguntou, abrindo os olhos com relutância.

Ele sorriu:— Sete horas. Como hoje é feriado, deixei que dormisse mais

um pouco.— Você é muito bonzinho — ela queixou-se.Depois de tomarem o café da manhã, Aaron foi para o jardim e

Karen ficou na cozinha, ajudando Rosa nos preparativos para a festa. Ambos tinham de ir ao hospital, mas apenas depois do almoço. Por isso aproveitaram a manhã de folga para descansar.

Por volta de uma hora da tarde, Aaron desceu as escadas, pronto para sair. Encontrou Karen na sala, ainda de jeans e camiseta.

— É melhor se apressar, se quiser ir comigo para o hospital — ele falou, dando uma palmadinha leve em seu traseiro.

Porém, Karen tinha outras idéias em mente. — Será que poderia visitar meus pacientes, hoje? — pediu. —

Tenho tanta coisa para fazer, agora à tarde.Aaron havia feito a mesma concessão a outros residentes, que

tinham viajado para passar o feriado com seus parentes. Não podia recusar o favor a Karen, apenas pelo fato de ela ser sua esposa.

— É claro que sim — respondeu. — Mas você não vai querer estar comigo, quando trouxer Troon?

— Gostaria muito — ela respondeu, depois de uma longa pausa. — Mas há algo que preciso fazer.

Minutos depois que ele saiu, Karen arrumou-se para sair também.

— Precisa de alguma coisa, Rosa? — perguntou, pegando a bolsa. — Preciso resolver alguns problemas, mas não devo demorar.

— Não, obrigada. Mas não demore muito, porque daqui a pouco este peru vai começar a assar e exalar um aroma delicioso. Sabe que metade do prazer da festa é esperar por ele, não é?

Karen saiu apressada, dirigindo-se ao endereço que Arn Song lhe dera. Pretendia convidar a mulher e seu filho para a festa que daria logo depois.

No fundo, tentava reparar um erro que cometera, quando julgara Song culpada pelo fato de ela própria não poder ter filhos.

A festa foi um sucesso. Quando Aaron chegou em casa, trazendo Troon, encontrou todos os convidados à espera, a sala repleta de balões coloridos e faixas de boas-vindas.

Todos se divertiram muito e se regalaram com a comida de-

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liciosa. Quando os últimos convidados foram embora, colocaram o garotinho na cama. Sempre acompanhado de seu gatinho, ele parecia a criança mais feliz da face da terra.

— Foi um dia e tanto, não é? — Aaron perguntou, quando entraram em seu quarto. — Mesmo assim, tenho a impressão de que algo está acontecendo com você.

Karen sabia que o momento da verdade havia chegado. Não podia mais adiar sua decisão, e fosse qual fosse a reação dele, sua missão eslava cumprida: ele tinha Troon em casa, tudo estava perfeitamente arranjado.

Sentindo a garganta apertada, fez o possível para que sua voz não tremesse, quando começou a falar:

— O motivo porque eu não queria me casar com você, Aaron, é que não posso ter filhos. Nem agora, nem nunca. Sofri um acidente, quando tinha quinze anos. Eu estava subindo no telhado do celeiro, na fazenda de meu pai, a fim de buscar meu gato. Mas escorreguei e, ao cair, tive uma grave hemorragia interna. Houve ruptura de meu útero e...

Ela não precisava dizer mais nada, Aaron sabia o final da história: ela tivera de fazer uma histerectomia.

— Não houve como evitar a cirurgia — ela prosseguiu, num fio de voz.

— E você achou que eu poderia rejeitá-la, apenas por isso?— O que eu poderia pensar? — ela indagou, com lágrimas nos

olhos. — Você mesmo disse o quanto queria ter um filho seu! Não imagina como tenho me sentido, desde então. Sei que devia ter contado antes, e vou entender perfeitamente se não quiser mais ficar casado comigo.

— Karen, sua bobinha...Com um soluço, eia aninhou-se nos braços dele. Trêmula, ouviu-

o prosseguir: — Admito que, se você pudesse conceber, eu gostaria muito de

ter um filho nosso. Mas comparada a uma vida inteira sem você, esta perda é insignificante. Além disso, temos Troon. Quem sabe, daqui a algum, tempo poderemos adotar uma garotinha, também. Há tantas crianças que precisam de uma mãe e de um pai.

— Aaron, meu querido... eu te amo tanto! Será que poderá me perdoar por não ter lhe contado tudo antes?

— Não há nada para perdoar, meu amor... Só lhe peço que, no futuro...

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— Prometo — ela interrompeu, com um beijo. — Nunca mais haverá segredos entre nós.

Seus lábios se encontraram, selando a promessa que os uniria para sempre. Naquele momento, enquanto seus corpos se uniam novamente, Karen sabia que sua vida estava apenas começando.

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VanessaNA PRÓXIMA EDIÇÃO Três histórias deslumbrantes

A PRIMEIRA-DAMAMarion Smith Collins

Um casamento de sonho... mas Selena jamais poderia esperar amor do marido!

REBELDE PARCERIAStella Bagwell

Disposta a provar a Madison que eraamor o que os unia, Claire lançou

mão de uma tática infalível...

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