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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA ANDRESSA KARLA DA SILVA OLIVEIRA POLE DANCE: CONTEXTOS E APROXIMAÇÕES COM OS ESTUDOS DE RUDOLF LABAN NATAL - RN 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO … · 2019. 2. 10. · pole dance, embora não trabalhasse especificamente no contexto do ensino básico. Pretendia que meus alunos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

ANDRESSA KARLA DA SILVA OLIVEIRA

POLE DANCE: CONTEXTOS E APROXIMAÇÕES COM OS ESTUDOS DE RUDOLF LABAN

NATAL - RN

2016

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ANDRESSA KARLA DA SILVA OLIVEIRA

POLE DANCE: CONTEXTOS E APROXIMAÇÕES COM OS ESTUDOS DE RUDOLF LABAN

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Licenciatura Plena

em Dança da Universidade federal do Rio

Grande do Norte como requisito parcial para

obtenção do grau de Licenciatura em Dança.

ORIENTADORA: Profª Dra, Karerine de Oliveira Porpino

NATAL - RN

2016

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ANDRESSA KARLA DA SILVA OLIVEIRA

POLE DANCE: CONTEXTOS E APROXIMAÇÕES COM OS ESTUDOS DE RUDOLF LABAN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura Plena em

Dança da Universidade federal do Rio Grande do Norte como requisito parcial para

obtenção do grau de Licenciatura em Dança.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profª Dra Karenine de Oliveira Porpino (Presidente - UFRN)

_____________________________________________________

Profª Dra. Larissa Kelly de Oliveira Marques (Membro interno - UFRN)

Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

_____________________________________________________

Profª Ms. Raphaelly Souza Bezerra (SME – Natal – RN)

NATAL, ________ de ________________ de _____________.

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AGRADECIMENTOS

Não cabe no espaço duas folhas todo o carinho e agradecimento que tenho por

aqueles que me acompanharam durante a aventura que foi a graduação em dança,

por isso deixarei apenas um singular obrigado, e me ocuparei do resto da vida para

demonstrar o quanto sou grata a estes.

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RESUMO

Este artigo propõe realizar aproximações entre o pole dance e os estudos de Laban

dento da coreologia, para isto utiliza abordagem qualitativa e leva em consideração

textos cujo foco são os estudos do movimento por Rudolf Laban, considerando uma

das obras do próprio autor e outras de pesquisadores que estudam essa referência

na contemporaneidade. Faz-se necessário esclarecer que a associação é feita com

base no vivenciado durante o tempo de pratica da modalidade, pole dance, que a

autora dispõe. O artigo tem como finalidade acrescentar na produção acadêmica de

acervos referentes ao pole dance, argumentar o pole dance como dança e informar

sobre a história do pole dance.

PALAVRAS-CHAVE: Pole dance, Laban, Eukinetica, Coreutica, Movimento,

coreologia.

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ABSTRACT

Este artigo propõe realizar aproximações entre o pole dance e os estudos de Laban

dento da coreologia, para isto utiliza abordagem qualitativa e leva em consideração

textos cujo foco são os estudos do movimento por Rudolf Laban, considerando uma

das obras do próprio autor e outras de pesquisadores que estudam essa referência

na contemporaneidade. Faz-se necessário esclarecer que a associação é feita com

base no vivenciado durante o tempo de pratica da modalidade, pole dance, que a

autora dispõe. O artigo tem como finalidade acrescentar na produção acadêmica de

acervos referentes ao pole dance, argumentar o pole dance como dança e informar

sobre a história do pole dance.

KEY WORDS: Pole dance, Laban, Eukinetica, Coreutica, Movimento, coreologia.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................. viii

1. FIO DA MEADA ......................................................................................... 9

2. ESSE TAL NOVELO: A HISTÓRIA DO POLE DANCE.............................. 17

3. LINHAS PARA O CARRETEL.................................................................... 23

3.1. FATOR PESO......................................................................................... 24

3.2. FATOR ESPAÇO ................................................................................... 25

3.3. FATOR FLUÊNCIA................................................................................. 27

3.4. FATOR TEMPO...................................................................................... 28

3.5. ESTADOS............................................................................................... 28

4. DESEMBARALHANDO: CONSIDERAÇÕES FINAIS................................ 32

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 34

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Apresentação QUANTUM .........................................................................10

Figura 02: Apresentação DESIR ................................................................................10

Figura 03: Apresentação de pole dance em Bares .....................................................11

Figura 04: Fotografias de pole dance em meio urbano ...............................................11

Figura 05 - PCNs de Artes. Quanto à dança como manifestação coletiva ..................12

Figura 06 - PCNs de Artes. Quanto a dança como produto cultural e apreciação

estética ...................................................................................................................... 13

Figura 07: PCNs de dança. Quanto a dança na expressão e comunicação humana .13

Figura 08: Mallakhamb praticado por homem ............................................................18

Figura 09: Moulin Rouge panfletos da época .............................................................18

Figura 10: Espetáculo "Michel Jackson - ONE" do Cirque du Soleil, recorte do

desempenho em Pole Dance .....................................................................................20

Figura 11: Atleta praticando pole street ......................................................................20

Figura 12: Movimento Hand Spring ............................................................................30

Figura 13: Movimento Full Braquete ...........................................................................30

Figura 14: Movimento Cisne .......................................................................................31

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1. FIO DA MEADA

Este artigo apresenta aproximações entre o pole dance e os estudos de Rudolf

Laban. Ele parte das vivencias de Andressa Oliveira, quem vos escreve; estudante do

Curso de Licenciatura Dança na Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN, praticante de pole dance desde 2013. Professora deste método desde 2014 e

bailarina contemporânea desde 2013. Neste período de experiências articuladas entre

a prática de pole dance e a dança na universidade foi possível pensar uma

aproximação entre esses dois contextos, e consequentemente, uma necessidade de

pensar a prática a partir das referências abordadas no curso de dança sobre o

pensamento de Rudolf Laban1.

Esta necessidade foi observada desde o principio da graduação, uma vez que,

desde as primeiras disciplinas, Rudolf Laban é um autor abordado e valorizado no

curso. A referência de seus estudos acompanha o graduando até o fim do curso por

se tratar de um autor importante ao campo da Dança. Em minha vivência como aluna

do Curso de Dança da UFRN, curiosamente, mantive um contato mais estreito com

os estudos desse autor, no primeiro semestre, através da disciplina Coreologia I e no

último semestre em Coreologia II. Estas oportunidades se constituíram como marcos

do princípio e do fim de uma etapa importante da minha vida e me fizeram ter uma

aproximação ímpar com a Coreologia2.

O pole dance aconteceu simultaneamente ao ensino superior. Comecei a

praticá-lo durante o 3º período da graduação, no entanto fora da universidade com

uma professora de Natal-RN. Nesta época cursava, na licenciatura em dança, a

disciplina de Composição Coreográfica e explorei o pole dance através do processo

criativo buscando relacionar este a dança contemporânea. Durante o ensino superior

fiz uso do pole dance em basicamente todos os meus processos criativos, dando início

1Rudolf Laban foi um dos maiores estudiosos da arte do movimento. Entendia o matéria de estudo da dança como “a interação de esforço e espaço por intermédio do corpo” (Laban, P70 APUD Leal P 55) 2Coreologia - Para desenvolver seu estudo sobre o movimento, Laban criou uma espécie de gramática da linguagem do movimento chamada de Coreologia. Laban explicou a coreologia como a lógica ou a ciência dos círculos, que se entendia não só como um estudo geométrico, mas também como um tipo de gramática e sintaxe da linguagem do movimento, pela qual se compreende além da forma externa, o conteúdo mental e emocional. Todo esse processo desenvolvido por Laban divide-se em três grandes áreas: a Eucinética, a Corêutica e a Kinetographie (Santos (A) e Santos (B))

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a composições como: Désir (na disciplina Composição Coreográfica), Quantum (em

Laboratório de Composição Coreográfica I), Désir (em Sete Corpos para mostrar ao

mundo III) e A inexistência de Dasdores (em Atuação I). Simultaneamente a estes

processos, porém desconexos à universidade, eu fazia também performances de pole

dance em bares e eventos da cidade de Natal-RN.

Figura 01 – Apresentação QUANTUM, 2014.

. Fonte: Fotógrafo Jose Duarte Junior Barbosa

Figura 02: DÉSIR em composição coreográfica e EM SETE CORPOS.

Fonte: Fotógrafa Ana Paula Santos

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Figura 03 - Apresentações de pole dance em pubs.

Fonte: desconhecida

Figura 04 - Fotografias de pole dance em meio urbano.

Fonte: Fotógrafos Jose Durarte Junior Barbosa e Emmyle Maia

As vivências que desencadearam as reflexões que compõem este artigo

aconteceram durante minha experiência no Estágio Curricular Obrigatório, em 2014,

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momento que me reconheci como poledancer e professora desta prática. Isso

aconteceu durante o Estágio Supervisionado Obrigatório I, momento em que retomei

as vivências da disciplina Dança e Educação, cursada em 2012.2. Nesta disciplina

são estudados os Parâmetros Curriculares Nacionais de Artes – PCN, que são

diretrizes elaboradas pelo governo com o intuito de orientar os professores sobre o

ensino de artes na Educação Básica. Os PCNs são utilizados na rede pública e

privada de ensino no Brasil e sugerem os conteúdos para os níveis de ensino nos

componentes curriculares. Sobre o conteúdo Dança, os PCN de Artes sugerem:

Figura 05 - PCNs de Artes. Quanto à dança como manifestação coletiva.

Fonte: Portal do Ministério da Educação e Cultura, Brasil.

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Figura 06 - PCNs de Artes. Quanto a dança como produto cultural e apreciação estética.

Fonte: Portal do Ministério da Educação e Cultura.

Figura 07: PCNs de dança. Quanto a dança na expressão e comunicação humana.

Fonte: Portal do Ministério da Educação e Cultura, 2016.

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Percebi que os estudos de Rudolf Laban estavam muito presentes nos PCN, a

exemplo das convergências com relações referentes a volume, peso, direções,

planos, tempo, ritmo, espaço e qualidades de movimentos. Foi através desta conexão

entre PCN (estudados na disciplina Dança e Educação) e os estudos de Laban

(estudados até então na disciplina Coreologia) que passei a elaborar minhas aulas de

pole dance, embora não trabalhasse especificamente no contexto do ensino básico.

Pretendia que meus alunos não apreendessem apenas a executar os movimentos de

pole, mas entendessem a barra vertical como um objeto de exploração que possibilita

movimentos de dança e improvisação a partir de situações de transferência de peso,

variações de direções, exploração entre os planos, desde o baixo ao alto e utilizassem

movimentos no chão e no alto da barra, e que dessa forma e com essa abordagem

descobrisse os chamados movimentos e figuras de pole dance.

Durante o ano de 2014 decidi, então, começar a pensar no meu trabalho de

conclusão de curso, que deveria ser apresentado no final de 2015. Desde o ano de

2013, quando comecei a estudar o pole dance, havia decidido que meu tema para o

artigo seria esse, devido a existência de poucos artigos produzidos sobre o assunto e

nenhum livro. No Brasil existiam apenas duas revistas impressas sobre o pole dance

(revista Pole Brazil Art Fitness e revista World Pole Sport Championships). Justamente

por esses motivos a escolha do tema para TCC foi bastante conturbada e desafiadora.

Algumas questões surgiram: “O que eu irei falar sobre pole dance? Como não existem

textos produzidos sobre pole dance, a que autor eu irei me aproximar para trabalhar

o pole dance? E o que eu posso acrescentar de informação para um praticante de

pole dance para que ele melhore sua desenvoltura? ”. Seria ainda um desafio a mais

tratar o pole dance e apresenta-lo de uma maneira artística, que fizesse jus à atividade

que mais havia vivenciado durante a graduação.

Então recorri a Rudolf Laban, o autor mais discutido durante a graduação em

dança por sua forma de ver e pesquisar o movimento e por ter mudado o modo de

pensar a dança no mundo. Então, por que não discutir o pole dance a partir desse

autor? Selecionei então textos de autores como Cassia Navas, Debora Barreto, Linda

Hutcheon, Patricia Leal, Lenora Lobo, Isabel Marques e ainda outros autores que

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estudei ao longo do curso de graduação em dança e que pesquisavam sobre Laban,

para me embasar neles na aproximação do pole dance e da Eukinetica3.

Como dito, eu já utilizava um pouco dos assuntos abordados em Coreologia

para organizar minhas aulas de pole dance e isso funcionava bastante. Pensei em

socializar essa abordagem do pole dance, experimentada nas minhas aulas, para que

outros polers compreendessem estes saberes, e talvez assim eu pudesse contribuir

para que, no ensino de pole dance, passasse a se constituir menos a técnica de

reprodução mimética e mais a exploração do movimento na barra vertical. Esse motivo

justifica a escrita desse TCC: contribuir com a vivência e o ensino do pole dance a

partir do conhecimento da qualidade e das características de seus movimentos

básicos, que podem ser explorados, atualizados e reconfigurados em novas

construções coreográficas futuras pelo professor e pelo praticante.

O artigo apresenta caráter qualitativo e utiliza como marco teórico os estudos

de Rudolf Laban expressos nos seguintes textos: "Dança educativa moderna”

(LABAN, 1990); “Dança, sentidos e possibilidades na escola” (BARRETO, 1998);

“Corpo-espaço, aspectos de uma geofilosofia do corpo em movimento” (MIRANDA,

2008); “Respiração e expressividade: práticas corporais fundamentadas em Graham

e Laban” (LEAL, 2006), textos cujo foco são os estudos da Coreologia por Rudolf

Laban, considerando uma das obras do próprio autor e outras de pesquisadores que

estudam essa referência na contemporaneidade.

O corpus do trabalho é composto por textos científico-acadêmicos, e de

revistas, sites e manuais técnicos destinados aos praticantes de pole dance. Os

artigos científico-acadêmicos foram identificados por meio de revisão bibliográfica

realizado no Portal de Periódico Capes e no Google Acadêmico, utilizando as

seguintes palavras-chaves: pole dance, barra vertical, dança vertical. Os critérios de

elegibilidade foram artigos em português e apresentados uma ou mais palavras

chaves no tÍtulo e resumo. Os primeiros resultados da pesquisa impactam na carência

de estudos científicos acadêmicos que abordem o pole dance como dança. De fato,

foram encontrados apenas quatro artigos científicos que abordam o pole dance,

conforme expresso abaixo.

Qualidade de vida em mulheres praticantes de Pole Sport (BRASIL, 2015)

3Eukinetica – A eukinetica é o estudo da dinâmica expressiva dos movimentos, permite um estudo qualitativo a partir de quatro fatores, os quais combinados caracterizam o repertorio individual do movimento. (Leal, P 57)

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Redescobrindo Ser-si-mesmo: A existencialidade de Mulheres Praticantes de

pole dance (FERREIRA, 2015)

Motivo na aderência de mulheres a pratica regular de aulas de pole dance na

cidade de criciuma-SC (FERNANDES, 2013)

Pole Dance: Os benefícios da Pratica para mulheres de Meia-Idade

(PINHEIRO, 2013)

Os artigos encontrados abordam assuntos do campo da Psicologia e da

Educação Física, tais como: o empoderamento da mulher ao iniciar o pole dance

enquanto atividade física regular e os benefícios do pole dance como atividade física

com impacto no corpo e saúde psicológica. É possível atribuir a existência dos poucos

artigos científicos ao fato de o pole dance ser uma atividade corpórea relativamente

nova, cuja origem no ocidente data dos anos 20, a partir dos Tour Fair shows4. Os

estudos científico-acadêmicos sobre esta prática também são recentes. No Brasil, a

institucionalização acadêmica do pole dance ocorreu em 2013, com figura principal na

educadora física Grazzy Brugner5. Ressalta-se, ainda, que os artigos encontrados não

satisfazem os objetivos deste trabalho, e por consequência não foram considerados

neste texto.

Para identificação das revistas, sites e manuais técnicos sobre pole dance foi

utilizado o Google, e a palavra chave: pole dance. Os materiais encontrados foram

selecionados através de sua importância técnica, dando relevância aqueles

publicados pela Federação Brasileira de Pole Dance, que regulamenta esta prática no

país. Desta forma, foram selecionados os seguintes materiais:

Revista Pole Brazil Art Fitness (desde 2012)

Guia práctico del pole dance (MORALES, 2013)

Site da Federação Brasileira de Pole Dance (FBPOLE)

Site do Campeonato Brasileiro de pole dance (CBPOLEDANCE)

Para a escrita deste artigo foi escolhido apresentar aproximações entre o Pole

Dance e os estudos de Rudolf Laban sobre a Coreologia. Considera-se nesse

4 TOUR FAIR SHOWS – (circo, feira) viajavam de cidade em cidade divertindo a multidão, e em uma das tendas havia o show de dançarinas, onde as mesmas utilizavam o poste que segurava a tenda e dançavam com ele sobre assobios e aplausos (www.poledancesp.com, acessado em 2016). 5 GRAZZY BRUGNER - Educadora física, bailarina de pole dance, professora de pole dance. Primeira poledancer a levar a pratica para dentro das universidades no Paraná. Responsável pelo curso de capacitação de professores do Studio Grazzy Brugner, referência dentro do pole dance por realizar no Brasil o primeiro campeonato brasileiro de pole dance e por ser a primeira a cadastrar o pole dance dentro da Biblioteca Nacional Brasileira (www.studiograzzybrugner.com.br, acessado em 2016).

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contexto o pole dance em sua versão artística, que faz jus as experiências aqui

destacadas no contexto do Curso de Dança da UFRN, como também remete à

predominância histórica de apresentações do pole dance em meio artístico como

teatros, casas de shows, circos e performances (melhor explicadas posteiormente).

Este artigo enfoca a relação do pole dance com os fatores de movimentos (peso,

espaço, tempo e fluência) suas combinações e consequência das possibilidades de

combinações dentro do movimento.

O texto dispõe de duas partes a seguir: ESSE TAL NOVELO: A HISTÓRIA DO

POLE DANCE, na qual apresenta-se uma contextualização da prática do pole dance,

de suas origens culturais a inserção acadêmica atual e LINHAS PARA CARRETEL,

na qual apresenta-se uma breve análise dos movimentos básicos do pole dance a

partir dos estudos de Laban dos Fatores de Movimento e suas combinações. Além

destas, apresentam-se para finalizar o texto as considerações finais.

2. ESSE TAL NOVELO: A HISTÓRIA DO POLE DANCE

Entende-se por pole dance uma atividade física que utiliza do atrito e oposição

entre o corpo e uma barra vertical para realizar movimentos, ações corporais com

elementos da ginástica e acrobacias circenses, compondo danças.

A estrutura da barra vertical do pole dance é feita com aço inoxidável ou ferro,

possuí espessura variante entre 42-52 milímetros, e o diâmetro varia em relação a

altura do chão e o teto, onde a barra está instalada. Ainda existem outros tipos de

barras: a locomóvel e as desmontáveis, estas podem ter altura variando entre 2,70-

3,10 metros e diâmetro de 20 centímetros (MUNDOPOLE, 2011).

Não existem conhecimentos relativos a quanto tempo a barra vertical é utilizada

enquanto elemento material de valor estético, porém há registros de culturas onde

existe a prática de movimentos nesse tipo de barra. Na índia, por exemplo, o

movimento em barra vertical é vivenciado através do Mallakhamb, praticado há mais

de dois séculos e atualmente reconhecido como esporte em todo mundo (Figura 01);

o Mallakhamb é um combinado de arte e ginástica que explora movimentos de

equilíbrio, força e flexibilidade usando de exercícios de travas e ações que utilizam a

barra para realização de apoio corporal. Neste esporte é utilizado um poste de madeira

do tipo teca ou sheesam que fixa no chão e é untada com óleo de mamona para

minimizar o atrito. A espessura do poste desta prática difere do pole dance, pois no

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esporte indiano a barra varia de espessura ao longo de sua base ao topo e neste

existe uma esfera. O Mallakhamb tem predominância do sexo masculino, contudo

existe outra prática do mesmo esporte que utiliza uma corda para seu desempenho,

neste a hegemonia é de indivíduos do sexo feminino (MALLKHAMB INDIA, 2006).

Figura 08 - Mallakhamb praticado por homem.

Fonte: http://www.mallkhambindia.com

Na França, o cabaré parisiense Moulin Rouge fundado em 1889, é famoso por

exibir em suas noites espetáculos burlescos e circenses que referenciam a dança em

barra vertical (BARTHES, 2013). Durante o século XIX, o Moulin Rouge foi pioneiro

ao trazer aos seus palcos o pole dance dentro da modalidade burlesca, também

conhecida como pole glamour (FIGURA 02). Nesta modalidade, os movimentos

dançados são de características sinuosas e malevolentes, com ênfase na

movimentação do quadril, acredita-se que essas características fazem referencia e

apelo à exploração do erotismo e da sexualidade do corpo na pratica do pole dance.

Figura 09 - Folders de divulgação dos espetáculos de Pole Dance do Moulin Rouge.

. Fonte: http://www.moulinrouge.fr

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No Canadá, o Cirque du Soleil, empresa de entretenimento artístico criada em

1984, vincula aos seus espetáculos performances efetuadas na barra vertical dentro

da estética do Mastro Chinês, prática que utiliza o "mastro" – uma barra vertical feita

de madeira ou metal, fixa no chão e no teto, recoberta por material emborrachado, de

espessura linear mais espessa que aquela utilizada no pole dance. A prática do Mastro

Chinês requer do executor desenvolvimento de flexibilidade e força. A origem do

Mastro Chinês remonta a china antiga e acredita-se que seja uma atividade corporal

milenar. No Cirque du Soleil, esta barra é fixada geralmente no centro da tenda do

circo, sendo utilizada para entretenimento dos espectadores (Figura 10) (CIRQUE DU

SOLEIL, 2014).

A técnica do pole dance como conhecido atualmente teve início durante os

anos 20, nos Tour Fair shows, nos circos itinerantes e em tendas paralelas dentro das

cidades. A dança, realizada nos postes que estruturavam as tendas dos circos, era

marcada por movimentos de quadril junto a giros. Durante as décadas de 20 e 50, o

pole dance ganhou popularidade dentro do estilo burlesco, atualmente conhecidos

como pole gamour ou exotic pole dance. Na década de 60, houve a introdução de

acrobacias, através da dançarina e atleta Belle Jangles. Durante a década de 80, a

prática do pole dance começou a se popularizar na Europa, Inglaterra, Austrália,

Canadá e Estados Unidos. Nos anos 90, Fawnia Mondey-Dietrich, atleta e professora

de pole dance, praticante das modalidades fitness e burlesca, lança o primeiro DVD

instrutivo, tratando como atividade física na modalidade pole fitness. Essa atitude

popularizou a prática, exaltando os exercícios isométricos e isotônicos6 que podem

ser realizados na barra vertical, com intuito de hipertrofia, definição muscular, ganho

de força e a melhoria das condições físicas do praticante (POLE DANCE BRASIL,

2015).

6EXERCICIOS ISOMETRICOS E ISOTONICOS - são principalmente treinamentos para força estática na contracção isotônica, a força gerada pelo músculo é superior à proporcionada pela força de gravidade e à resistência dos segmentos esqueléticos nos músculos aos quais está unido, o que provoca a contracção do músculo e a sua consequente aproximação ao segmento esquelético que movimenta. na contração isométrica, a força gerada pelo músculo é inferior à proporcionada pela gravidade e resistência dos segmentos esqueléticos aos quais se encontra unido. Nestes casos, como o músculo aumenta a sua tensão interna em vez de a reduzir, não origina qualquer movimento. (http://www.medipedia.pt/ acessado em 2016)

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Figura 10 - Espetáculo "Michel Jackson - ONE" do Cirque du Soleil, recorte do desempenho em Pole Dance.

Fonte: http://www.cirquedusoleil.com

Ainda durante a década de 90, surgiram as primeiras escolas de pole dance

aberta ao público e à prática do pole street (CAMPEONATO BRASILEIRO DE POLE

DANCE, 2014). O pole street apresenta como principal característica a prática da

atividade física em ambientes abertos, com circulação de pessoas e utilizando de

postes, árvores e outras estruturas verticais cotidianas. Nessa prática se mistura

movimentos acrobáticos e danças urbanas, utilizando principalmente a força e a

flexibilidade, conforme podemos observar na Figura 11.

Figura 11 - Atleta praticando pole street

Fonte: facebook/brasilpoledance.

A partir dos anos 2000, a prática do pole fitness e da modalidade artística na

barra vertical tornam-se popular (http://www.cbpoledance.com.br/). Na modalidade

artística, destaca-se o pole art. Este apresenta características mais performáticas nas

estruturas coreográficas, as quais revelam traços estéticos-conceituais da dança

contemporânea, em seus aspectos e elementos criativos. As acrobacias rítmicas são

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executadas de forma fluente, além de apresentarem o virtuosismo evidenciado na

barra.

No Brasil a primeira referência popular ao pole dance se deu por meio da

emissora Rede Globo de comunicações, canal aberto da televisão brasileira, fundada

no ano de 1965 na cidade do Rio de Janeiro. Esta emissora exibiu o pole dance

durante a novela Duas Caras, em 2007, onde a atriz Flávia Alessandra interpretava

uma dançarina em uma casa noturna. A partir desta noção os brasileiros se

interessaram pelo pole dance.

A primeira escola de pole dance brasileira conhecida, foi fundada na cidade de

Curitiba pela professora e bailarina desta prática Grazieli Brugner, diretora do seu

próprio estúdio e linhas de barras portáteis. Brugner foi pioneira ao criar e registrar na

Biblioteca Nacional do Brasil, em dezembro do ano de 2008, sua metodologia de

ensino de pole dance para curso de capacitação de instrutores. Também foi a primeira

a introduzir o pole dance dentro das universidades como curso de extensão, no ano

de 2013, na cidade de Curitiba no Paraná. Atualmente esta educadora de pole dance

atua como professora do curso de extensão para instrutores de pole dance fitness, na

faculdade Inspirar, que também dispõe do curso em suas filiais existentes nas cidades

de São Paulo/SP, Curitiba/PR e Porto Alegre/RS. Grazzy Brugner também realizou o

primeiro campeonato brasileiro de pole dance no ano de 2008 na cidade de Curitiba/Pr

(JUNIOR, 2013).

Em Natal, a primeira instrutora de pole dance conhecida foi a paranaense Giane

Crystina Correia, que fundou, em 2009, o Atitude Studio Pole Dance e lecionou até

2013. Atualmente, três escolas podem ser encontradas e, ainda, existem professoras

que lecionam de forma independente aulas particulares.

No momento presente são conhecidas quatro modalidades de pole dance: a

fitness, a burlesca, a artística e o street. Entende-se por pole fitness aquela

modalidade que foca o exercício corporal, ou seja modificação e definição, ganho de

força e exercícios isométricos e isotônicos na barra vertical; o pole arte apresenta

enquanto característica principal a pesquisa cênica, exploração do espaço cênico,

construção dramatúrgica e relação com o público; o pole burlesco explora a

sexualidade e conotações sexuais durante a dança; e o pole street que é realizado

em meio urbano e espaços cotidianos, como exemplo de praças, parques, entre

outros (ULTRA MODERN DANCE, 2014). Constata-se que, a dança em barra vertical

a cada dia conquista espaço e reconhecimento artístico dentro dos palcos. Faz-se

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necessário destacar que o pole dance está presente tanto nas competições desta

modalidade quanto no meio urbano e acadêmico. Neste artigo o pole dance é

estudado em sua aproximação com os conhecimentos da dança, mais

especificamente com os estudos de Rudolf Laban).

Para este escrito há o enfoque nas modalidades pole arte e pole glamour, estas

que têm relação direta com o pole dance enquanto dança e que eu desenvolvi

trabalhos e performances.

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3. LINHAS PARA O CARRETEL

Referente ao pole dance, observa-se que os movimentos são formados por

transições do corpo nos seguintes apoios: corpo/chão/barra, corpo/chão e

corpo/barra. A presença de transferências de peso é nítida ao contemplar a prática,

assim como as situações de equilíbrio e desequilíbrio. Outras relações importantes

para o pole dance, como o tempo e o espaço, a suspensão e o balanço, e também as

intenções, serão melhor explicados utilizando do estudo da eukinética.

Quanto à composição da partitura coreográfica no pole dance, assim com na

dança, faz-se o uso das características básicas da movimentação como: fluidez,

precisão e harmonia. No presente artigo, utiliza-se as definições de Hannelore

Fahlbusch (1990) sobre cada um dos elementos citados anteriormente

Fluidez é a união ininterrupta de diversos elementos de um movimento ou de vários movimentos, até a composição de uma estrutura total; precisão é um complexo fenômeno senso-motor caracterizado por numerosos aspectos parciais ou componentes, destacando-se os seguintes: precisão na observação, capacidade de imitação do movimento observado, controle, velocidade de relação, capacidade de concentração, capacidade de orientação, inteligência, capacidade de repetir e com precisão, um gesto; e harmonia é a concentra relação ente as faces de um movimento e as partes do corpo que nele atuam. (FAHLBUSCH, 1990, p. 85)

A eukinetica é definida por Laban enquanto parte de uma relação estrutural em

movimentos, em que se incluí o quarteto: corpo, esforço, forma e espaço, estas são

categorias inter-relacionadas que se informam mutua e continuamente (MIRANDA,

2008) sobre o esforço Patrícia Leal traz em seu livro que:

Um dos maiores fundamentos de Laban para compreensão do movimento é o esforço ou a expressividade, base de sua Eukinetica. Esforço para Laban não tem uma conotação de força, mas de expressividade. Quando se refere a esforço, Laban evidencia a expressão externa do movimento decorrente de uma atitude interna. Isto significa dizer que o movimento se inicia a partir de uma condição interna do individuo e se concretiza externamente através do esforço. Os elementos que caracterizam o esforço são os fatores do movimento: fluência, espaço, tempo e peso. (LEAL 2009, p. 64)

Na estrutura do pole dance é possível reconhecer, desde o aprendizado da

técnica até o processo criativo da dança, a atenção denotada à noção de esforço,

visto que os movimentos devem ser apresentados ao público de maneira mais limpa,

segura e fluída possível. Para alcançar este status o praticante de pole dance utiliza

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de fatores de movimentos, expressos nas perspectivas labanianas de Eukinética,

“peso, espaço, tempo e fluência” e a intencionalidade expressiva que estes formam.

Ressalta-se que os fatores de movimentos se subdividem em: (a) peso – firme/forte,

(b) espaço – direto/indireto, (c) fluência – livre/controlada, (d) tempo – rápido/lento

(Barreto 1998).

a) FATOR PESO

O homem, como um ser terrestre está a todo instante lidando com a gravidade, numa troca incessante de apoios com a terra, em sua eterna necessidade de locomoção e movimento. Já que a força da gravidade puxa todas as coisas para a terra, quando vamos falar em corpo em movimento, sabemos que esta força deve ser equilibrada por uma força igual e contraria, que pode ser compreendida como uma resistência à gravidade. Estas duas forças estão fundamentadas no principio de tensão e relaxamento assim como de peso e força. (LOBO; NAVAS, 2007, p. 60)

O pole dance está diretamente relacionado à gravidade, pois a dança nele é

feita reagindo a influência desta. A relação de troca de apoios e o princípio de

relaxamento e tensão para o deslocamento, ocorrem no pole dance utilizando os

apoios do corpo com a barra. Porém falar em peso para Laban não esta ligado a ceder

ou resistir a gravidade, mas sim a sensação de “leve e pesado”.

Exercitar as qualidades do fator peso significa modificar os graus de intencionalidade do movimento: de firme a leve, com as diversas nuances possíveis entre uma qualidade e outra. As qualidades do fator peso afetam o movimento em termos de sensação, e informam sobre o "oque" do movimento. (LEAL, 2009, p. 55).

Durante o desempenho o dançarino varia as qualidades estéticas do

movimento entre leve e pesado, explorando os pontos de apoio e a musicalidade.

Assim a impressão do interprete é de flutuar. Existe ainda no pole dance os

movimentos de queda, que são a transição de um movimento ao outro cedendo a

gravidade, nestes movimentos a sensação é a de que o corpo é empurrado para baixo,

no sentido literal da palavra – uma queda da barra. Neste instante o espectador

vivencia a sensação do peso corporal do protagonista e o movimento como firme, e

observa o impacto causado pelo movimento de queda e superação na barra. Ao longo

da ação, os apoios na barra variam entre os estágios de apoio inicial, nenhum apoio,

recuperação do apoio e apoio final cuja consequência é a ilusão da queda.

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O fator peso determina as qualidades de firmeza à leveza. Considerado que estes são os dois extremos entre as qualidades determinadas pelo fator peso, e que existe uma variedade gradual de um a outro extremo, o que acontece também com os outros fatores. A qualidade de peso muito leve pode sugerir sensação de levesa, suavidade; enquanto o peso firme pode demonstrar assertividade, segurança, firmeza. (LEAL, 2006 P 57)

Dentro do pole dance os movimentos tendem a ter peso leve, porém existe

também a exploração do peso firme principalmente ao executar movimentações mais

rápidas, como no exemplo do movimento “queda”.

b) FATOR ESPAÇO

É visível no pole dance a ampliação espacial proporcionada pelo uso da barra

vertical, e acredita-se erroneamente que o espaço no pole dance é predominante

restrito, considerando a barra como única área permitida à movimentação. Entretanto

durante o desempenho do performer na composição coreográfica de pole dance, este

permeia por três momentos distintos abaixo discriminados:

O momento solo, necessário se faz esclarecer que, não se trata apenas

de uma composição executada por um singular performer, mas, trata-se

do momento em que o artista desenvolve partituras coreográficas no

chão, utilizando do espaço ampliado;

Momento na barra giratória entende este como a parte coreográfica,

técnica e exploração cênica executada na barra dinâmica, esta que se

diferencia da estática por gira em seu próprio eixo;

Momento na barra estática, onde o dançarino executa movimentos

técnicos e movimentos coreográficos na barra fixa, ou seja, que não

possui movimentação ou rotação própria.

Nas barras são realizados exercícios técnicos, trocas de apoios e transições

de movimentos de modo rítmicos (CAMPEONATO BRASILEIRO DE POLE DANCE,

2014).

Na composição de pole dance realizada no solo é visível à criação do

personagem assumido pelo dançarino, com o objetivo de criar uma estrutura narrativa

e dramatúrgica para seu desempenho. Observamos momentos de queda e

recuperação, saltos e suspenções corporais. A estrutura dançada no solo deve

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estabelecer relação fluida e uma comunicação compositiva e complementar com a

estrutura de barra, ou seja, o performer deve construir uma relação dramatúrgica entre

a cena realizada no solo e o seu corpo e a barra vertical.

Percebe se que comumente o poledancer, trabalha realizando movimentos

esféricos. Este fenômeno acontece principalmente durante os momentos em barra

(dinâmica e estática), onde o espaço disposto cria um "efeito compasso", em que a

barra é o eixo principal e o corpo do dançarino o raio da circunferência. Durante o

desempenho o poledancer explora o palco relacionado à proposta de espaço

Labaniana, explorando os níveis espaciais: alto, médio e baixo; o espaço interno e

externo; cinesfera: reduzida ou ampliada; os planos espaciais, o espaço como direto

ou multifocal e as direções espaciais.

O fator espaço determina qualidades de atitude em relação ao meio, graduadas entre focalizada (espaço direto) ate multifocada (espaço flexível). As qualidades do fator espaço demonstram a qualidade da atenção continua no movimento, afetando o pensamento no que se refere a organização de ideias. O espaço exageradamente multifocado, por exemplo, pode expressar confusão de ideais; enquanto o espaço exageradamente focalizado pode sugerir rigidez de pensamentos, boicotando as ações por estreiteza de visão (LEAL, 2006, p. 57).

O espaço predominante na vivência do pole dance é o focalizado, porém dada

a necessidade criativa e demanda da composição coreográfica há a exploração do

espaço multifocado e alternância entre os dois. Sobre o espaço, é possível atentar

ainda sobre o estudado na coreutica, este que se trata “dos princípios espaciais

envolvidos no movimento humano” (LABAN, 1990)

A coreutica atem-se as dimensões espaciais, comprimento, amplitude e profundidade. Estas dimensões delimitam, também planos e direções no espaço: O comprimento esta relacionado ao plano vertical, que enfatiza as direções alto e baixo. A amplitude esta relacionada ao plano horizontal, enfatizando as direções direita- esquerda (lado/lado). A profundidade relaciona-se ao plano sagital e as direções frente e trás, do mesmo modo que os planos anteriores (LEAL, 2006, p. 56).

É possível analisar o movimento da dança quanto ao espaço em duas

referências: na primeira delas, o ‘espaço no corpo’, torna-se como referência o próprio

corpo, e a partir deste definem-se direções e lugares; na segunda, o ‘corpo no espaço’,

torna-se determinado espaço externo (palco, sala) como referencia direcional para o

corpo (LOBO; NAVAS, 2007).

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c) FATOR FLUÊNCIA

Compreende-se a desenvoltura do movimento como fluência. Ela está

classificada como livre e controlada:

A fluência determina as qualidades de fruição do movimento, de um fluxo mais liberado até o mais controlado possível, que define a pausa do movimento (LEAL, 2009).

No pole dance, o jogo decretado pela dança em barra vertical dar-se-á pela

dificuldade de realizar os movimentos fluidos livremente. Desta forma durante a

exibição coreográfica a fluência varia em qualidade livre e a qualidade controlada. É

visível a variação de fluência entre os movimentos durante a performance, o uso desta

fica a critério do compositor.

O fator fluência determina qualidades de fruição do movimento, graduadas do fluxo livre ate o controlado. As qualidades do fator fluência demonstram a precisão do movimento, afetando o controle dos movimentos para a expressão de sentimentos. A fluência controlada em demasia pode evidenciar, por exemplo, uma pessoa introspectiva, fechada, isolada; enquanto a fluência livre pode expressar a liberdade, a espontaneidade (LEAL 2006, p. 57).

A fluência predominantemente livre é visível no pole dance principalmente no

momento solo e em transições entre o solo e a barra. Nestes instantes o movimento

tem a tendência a ser circular e conexos, ou seja, as partituras criadas tendem a ser

ligadas por movimentos circulares que dão inicio a outros movimentos, interligando-

os e tornando-os de fluência livre.

As transições executadas nos momentos de barra, tendem a ser controladas,

pois para haver a continuidade da partitura é necessário mudar de um movimento

técnico a outro, e na maioria das vezes esta mudança vem juntamente com a variação

do sentido do movimento, fazendo assim com que a linearidade do movimento seja

angular, e possua momentos de suspenção e quebras na partitura.

A predominância da fluência livre durante o momento solo e transições entre

o solo e a barra, e a predominância da fluência contida durante os momentos em

barra, não inviabilizam a experimentação da alternância da fluência em ambos os

momentos, apenas atenta para a variação da fluência dos movimentos que sobressai

em tais momentos um modo de fluir que difere em seus aspectos qualitativos.

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d) FATOR TEMPO

Ao pensar em tempo, logo relacionamos a musicalidade, ritmo e

permanência de uma ação. Para Laban o tempo é associado ao acontecer da ação,

ou seja, se esta movimentação realizar-se-á de forma rápida ou lenta. O movimento

que acontece rapidamente pode ou não prolongar sua execução. De outro modo um

ato rápido não necessariamente considerado breve. Logo, um ato lento, não

necessariamente pode ser considerado como extenso. Temos por tempo o súbito e

sustentado onde:

O elemento de esforço 'súbito' consiste de uma velocidade rápida e de uma sensação de movimento, de um espaço curto de tempo, ou sensação de instantaneidade. O elemento esforço 'sustentado' consiste de uma velocidade lenta e de uma sensação de movimento longa duração, ou sensação sem fim (Laban apud Leal, 2009, p. 25).

No pole dance, observam-se duas intervenções temporais: a rítmica, aparente

pela musica na cena; e a sensitiva, manifestada pelo jogo de movimentos que variam

entre o tempo lento e acelerado durante a partitura coreográfica. A oposição

observada durante o instante em barra giratória é um bom exemplo da variação de

tempo no movimento. Enquanto a barra gira continuamente em seu eixo, o poledancer

executa movimentos que podem ser rápidos ou lentos. O dançarino pode ou não

seguir o sentido do giro da barra, resistir ou ceder a gravidade.

Após esclarecer o elo entre o pole dance e os fatores de movimento da

eukinetica labaniana, dissertaremos agora sobre a relação que acontece quando

observamos dois ou mais fatores juntos as combinações que enfatizam dois fatores,

laban chamou de Estados (States) – e combinações que enfatizam três fatores,

denominada de impulsos (drives) (MIRANDA, 2008).

e) ESTADOS

Estado rítmico: refere-se as possíveis combinações entre peso e tempo:

forte – lento; leve – rápido; forte – rápido; leve – lento.

Estado onirico: refere-se às possíveis combinações entre peso e

fluência: forte – livre; forte – contido; leve – livre; leve – contido.

Estado estável: se refere às possíveis combinações entre peso e

espaço: forte – indireto; forte – direto; leve – indireto; leve – direto.

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Estado remoto: se refere às possíveis combinações entre fluência e

espaço: livre – indireto; livre – direto; contido – indireto; contido – direto.

Estado móvel: se refere às possíveis combinações entre fluência e

tempo: contido – rápido; contido – lento; livre – rápido; livre – lento.

Estado alerta: se refere às possíveis combinações entre espaço e

tempo: indireto – lento; direto – lento; lento – rápido; direto – rápido.

(MIRANDA, 2008).

Cada estado faz relação com o efeito de sentido que suas variações de

movimento podem provocar, ou seja, caso o poledancer, ao criar uma partitura ou

explorar o movimento, deseje trazer ao seu corpo o sentido de alerta, deve então

enfatizar em seus movimentos os fatores espaço e tempo. Este caso pode ser

exemplificado como no movimento de queda no qual a alteração do espaço da barra

(do alto da barra a baixo da barra) com a variação do tempo do lento para o súbito,

cria no público a ilusão de uma queda e traz ao corpo o estado de alerta utilizando

espaço direto e tempo súbito/rapido.

Também está relacionada à produção de sentido a relação dos impulsos do movimento, descritos como “Impulso apaixonado (passion Drive), que entrelaça elementos de peso, tempo e fluxo; Impulso Magico (Spell Drive), que entrelaça elementos de peso, espaço e fluxo; e Impulso visual (visual drive) que entrelaça elementos de fluxo, tempo e espaço”. (Miranda, 2008, p. 22).

Relacionando o impulso mágico ao movimento “queda” onde existe a variação

entre o peso do leve ao firme, uso do espaço direto e variação do fluxo livre ao

controlado, causando ao expectador o efeito virtuoso durante a recuperação na barra.

Efeito de sentido no qual o estado é de alerta e a sensação é de que algo

extraordinário ocorreu no palco.

Uma outra série de combinações de três elementos, mas que não inclui os elementos construtivos do fator fluxo de movimento, foi denominada por Laban de “impulso de ação” (action drive). Estas combinações, que tenham intensidade em torno das diagonais do cubo, recebem nome que se relacionam a entrelaçamentos específicos dentro do sistema. São elas: socar- uma combinação dos elementos direto, forte e rápido; Pressionar – uma combinação de direto, forte e lento; Flutuar – uma combinação de indireto, leve e lento; Espanar – uma combinação de indireto, leve e rápido; Açoitar – uma combinação de indireto, forte e rápido; Pontuar – uma combinação de direto, forte e rápido; torcer – uma combinação de indireto, forte e lento; e desliar – uma combinação de direto, leve e lento. (Miranda, 2008, p. 22)

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Relacionando-os ao pole dance temos como exemplo: para a ação socar o

movimento chamado hand spring no qual as combinações de espaço direto, peso

forte, e tempo súbito são vivenciados no movimento que se subdividi em três instantes

que acontecem simultâneos: o primeiro o lançamento das pernas do chão ao alto da

barra (sustentadas pelos braços); o segundo é a retirada das pernas do chão levando-

as até o alto, mudando o sentido do corpo; e o terceiro é a sustentação do peso que

deixa de ser pelos pés e passa a ser pelo braço.

Figura 12 - Movimento Hand Spring.

Fonte: http://www.poledancebrasil.com.br. Acesso em 31 agosto 2014.

Para a ação pressionar, o movimento full braquete no qual as combinações

são: espaço direto, tempo lento e peso forte. O movimento é tido em dois momentos

que acontecem simultâneos: o primeiro é a colocação dos braços onde um gera

tenção na barra aproximando-a do corpo e o outro gera tensão na barra afastando-o

do corpo; e o segundo momento, em que as pernas são retiradas do chão pela força

do abdômen e sustentadas por isometria.

Figura 13 - Movimento Full Braquete

Fonte: http://www.poledancebrasil.com.br. Acesso em 31 agosto 2014.

Para a ação torcer, o movimento cisne no qual o espaço é indireto, o peso

forte, e o tempo lento, o movimento é feito com o poledancer transpassando o corpo

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em diagonal pela barra, ficando uma das pernas na barra e retirando a outra em

oposição com um dos braços.

Figura 14 - Movimento Cisne

Fonte: http://www.poledancebrasil.com.br. Acesso em 31 agosto 2014.

Para a ação açoitar o movimento reversa split no qual o espaço é indireto, o

tempo é rápido e o peso é forte. Este movimento é dividido em dois momentos: no

primeiro as pernas são arremessadas em diagonal e barra gerando uma torção

corporal onde os braços seguram ao alto da barra com o corpo de costas para a barra;

o segundo momento com a recuperação que parte pelo abdômen onde o braço de

baixo empurra o corpo que retorce virando de frente para a barra e segurando as mãos

uma no alto e outra a baixo da barra a frente do corpo.

Para a ação deslizar o movimento ‘caminhada preguiçosa’, onde o espaço é

direto, o tempo lento, e o peso leve. O movimento consiste em mover os pés

segurando com uma das mãos no alto da barra, mantendo o contato entre o chão e o

pé a todo instante e utilizando dos dedos dos pés durante este contato.

Para a ação espanar o movimento ‘pirueta com uma mão’, onde o espaço é

indireto o tempo rápido e o peso leve. Neste movimento o corpo começa de frente

para a barra com uma das mãos no alto da barra. O corpo irá realizar uma volta de

360º mantendo uma das mãos ainda na barra.

Para a ação pontuar o movimento step a round onde o espaço e direto, o

tempo rápido e o peso forte. O movimento consiste em demarcar com os pés o

caminho para a barra acentuando o corpo em lateral a barra, o corpo de frente para a

barra e o corpo de costas para a barra.

Para a ação flutuar o movimento Phoenix, onde o peso é leve o espaço é

indireto e o tempo é lento. O movimento consiste em girar em torno do eixo da barra,

sustentado pelos braços e variar o corpo da posição com os pés no chão e barriga

lateral a barra, até os pés ao alto da barra com a barriga de frente para a barra.

Ao relacionar cada ação ao pole dance percebemos que:

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De maneira como entendemos em corpo-espaço, essa aparente seriedade de signos e clareza de articulações atuam como uma espécie de índice e, como diz peir (1995, P 70) “ícones e índices nada afirmam”, funcionam mais como uma partitura que indica percursos de acesso à experiência e não a descrição desta. Assim em Laban, parece-me importante tratar signos, palavras e articulações não em termos de definição, mas como uma indicação de um complexo de relação e um mapa para o entendimento e geração de novos conceitos em/sobre movimento (MIRANDA, 2008, p.24)

Como dito por Miranda é preferencial termos os impulsos de ações como

artifício para pesquisa e exploração dos movimentos. Visto isso, considera-se a

exemplificação acima ilustrativa no intuito de certificar o uso destes impulsos de ações

dentro de movimentos do pole dance.

4. DESEMBARALHANDO: CONSIDERAÇÕES FINAIS

São reconhecidos no pole dance seus espaços definidos e a exploração destes

pela relação entre a coreutica e a eukinetica, trazendo ao movimento em barra vertical,

a vivência do espaço a partir dos planos (mesa, porta e bola), dos níveis (alto, médio

e baixo), da amplitude (espaço reduzido e espaço ampliado) e do foco de direção

(direto e indireto). Destaca-se ainda a exploração da expressão a partir dos conteúdos

de dança como: “improvisação, composição coreográfica, exercícios técnicos de

dança, consciência corporal e danças de repertório (BARRETO, 1998). Nesse caso a

dança de repertorio é a que se utiliza da barra vertical com exercícios técnicos de

dança e os movimentos-base para o estudo do pole dance, à exemplo do “movimento

de queda” citado ao longo do artigo. Destaca-se ainda a relação com a consciência

de esforço partindo da exploração dos estados impulsos de ação como “socar,

pressionar, flutuar, espanar, açoitar, pontuar, torcer, deslizar” e a exploração do efeito

de sentido e criação de relações de significado e significância do performer de pole

dance e do público de acordo com as relações entre os fatores de esforços.

A partir do discurso proporcionado por este artigo, é possível reconhecer as

relações entre o pole dance e os conhecimentos produzidos na área da dança ou

mesmo de reconhecer a pole dance como um gênero de dança, porém isto não

invalida a possibilidade de trabalhar o pole dance também como exercício físico

esportivo, isolando seus movimentos direcionados a modificação corporal. Pode se

ter como exemplo desta nuance o ballet fitness, modalidade esportiva, no qual a dança

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clássica é desnudada de todos os artifícios dos conteúdos da arte e trabalhada apenas

como exercício mecânico, isométrico e isotônico, com intuito da modificação corporal.

A análise do movimento do pole dance, enquanto processo criativo, exploração

cênica e relacionada à performance, pode se beneficiar de forma significativa das

variações da dança como área de conhecimento, e mais especificamente dos estudos

da coreologia de Rudolf Laban, cujo teor pode apresentar aberturas de possibilidade

para ampliar os sentidos já dados a prática do Pole Dance.

A consciência sobre os fatores de movimento e suas combinações, assim como

o conhecimento sobre a coreutica proporciona ao professor de pole dance

possibilidades de inovação de caminhos para explicar o movimento de pole dance,

além de proporcionar ao bailarino compositor propostas de explorações cênicas que

ampliam a criação com a barra vertical enquanto elemento cênico.

A discussão aqui apresentada traz possibilidades de ampliação futura no

âmbito da dança, ou seja, trabalhar o pole dance como processo criativo pode ser um

tema a ser investigado em nível de pós-graduação. Investigar como acontece o ensino

do pole dance em estúdios também é uma possibilidade. Este artigo não apresenta

uma reflexão finalizada a ser arquivada, mas sim uma porta de possibilidades para

estudos futuros, e espera-se que de muitos profissionais das áreas de Dança,

Educação Física, e principalmente, do pole dance.

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