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Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Centro de Artes, Humanidades e Letras Curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública HELENA CARLA CAZAES FAGUNDES Gestão Democrática: a experiência do Planejamento Participativo 2014-2017 no município de Santo Amaro- Bahia Cachoeira 2014

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - ufrb.edu.br · advento do orçamento participativo (OP) e os conselhos gestores nos anos 1990 e a ampliação da cidadania e da atuação

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Universidade Federal do Recncavo da Bahia

Centro de Artes, Humanidades e Letras

Curso Superior de Tecnologia em Gesto Pblica

HELENA CARLA CAZAES FAGUNDES

Gesto Democrtica: a experincia do Planejamento Participativo

2014-2017 no municpio de Santo Amaro- Bahia

Cachoeira

2014

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HELENA CARLA CAZAES FAGUNDES

Gesto Democrtica: a experincia do Planejamento Participativo

2014-2017 no municpio de Santo Amaro- Bahia

Monografia apresentada ao Curso Superior Tecnolgico

em Gesto Pblica, Centro de Artes, Humanidades e

Letras, Universidade Federal do Recncavo da Bahia,

como requisito para obteno do grau de Tecnlogo em

Gesto Pblica.

Orientadora: Prof. Dr. Maria Ins Caetano Ferreira

Cachoeira

2014

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HELENA CARLA CAZAES FAGUNDES

Gesto Democrtica: a experincia do Planejamento Participativo

2014-2017 no municpio de Santo Amaro

Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso Superior de Tecnologia em Gesto

Pblica, Centro de Artes, Humanidades e Letras, Universidade Federal do Recncavo da

Bahia, como requisito para obteno do grau de Tecnlogo em Gesto Pblica.

Aprovado em 28 de Maro de 2014.

Maria Ins Caetano Ferreira Orientadora

___________________________________

___________________________________

Herbert Toledo Martins

___________________________________

___________________________________

Andr Silva Pomponet

___________________________________

___________________________________

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Dedicatria

Dedico este trabalho aos meus pais, pois

eles so o motivo de toda a minha luta e

dedicao.

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Agradecimentos

Primeiramente agradeo ao meu Deus, por ter me dado foras e no ter permitido que o

desnimo e o medo fossem maiores do que a minha f.

A minha me Edlena e ao meu pai Claudio por confiarem em mim e pelas palavras de

apoio, pelo colo nos momentos em que mais precisei. Amo muito vocs, obrigada por

todo amor, carinho e dedicao.

Agradeo tambm a minha orientadora Maria Ins, por toda pacincia, ateno e

disponibilidade em ajudar sempre! Agradeo a Deus por alm de ter me dado uma

professora e orientadora maravilhosa, ter me dado tambm uma amiga.

A toda minha famlia, em especial as minhas primas Mel Mascarenhas, Yasmim

Mascarenhas e Tain Santana, por compreenderem minha ausncia, por escutarem

minhas lamentaes, vibrarem com minhas conquistas e por estarem sempre ao meu

lado, me dando apoio e foras e me ajudando sempre que precisei. Amo muito vocs.

A minha irm Claudia Fagundes por todo apoio e incentivo e a minha tia Analucia por

ter me ajudado sempre que os trabalhos pareceram confusos.

A minha tia Hildea e prima Alda, por terem me acolhido em seu lar e por terem sido

como duas mes para mim durante esses anos que convivemos.

Aos amigos que sempre me apoiaram e torceram pela minha vitria e aos colegas que

me ensinaram muito dentro e fora da sala de aula.

A todos o meu muito obrigada!

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FAGUNDES, Helena Carla Cazaes. Gesto Democrtica: a experincia do Planejamento

Participativo 2014-2017 no municpio de Santo Amaro- Bahia. 76 pginas. 2014. Trabalho de

Concluso do Curso de Tecnologia em Gesto Pblica Centro de Artes, Humanidades e

Letras, Universidade Federal do Recncavo da Bahia, Cachoeira, 2014.

RESUMO

Este trabalho busca ampliar o debate sobre a participao social na administrao pblica,

neste sentido o seu objetivo apresentar uma anlise do Plano Plurianual Participativo (PPA-

P) 2014-2017 ocorrido no municpio de Santo Amaro- Bahia, entre Julho e Agosto de 2013.

Pretende-se aqui fazer um levantamento sobre a metodologia utilizada pela administrao do

municpio no processo de implementao do PPA-P, bem como explicitar como e onde

aconteceram as plenrias, como esse processo foi estruturado, os grupos que atuaram

sinalizando as demandas da populao (as principais reinvindicaes apontadas pelos

muncipes), o ndice de participao e a sua importncia para a administrao pblica. Busca-

se ainda discutir a ascenso da gesto democrtica bem como seu processo de

desenvolvimento na Bahia e no Brasil, a importncia da participao para a gesto pblica e

uma breve discusso sobre a histria do planejamento no Brasil, facilitando desta forma o

entendimento sobre como a administrao pblica caminha para gestes cada vez mais

transparentes e democrticas.

Palavras-chave: gesto democrtica, planejamento participativo, participao social.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ACM Antnio Carlos Magalhes

ARENA- Aliana Renovadora Nacional

BA- Bahia

CAPPA- Conselho de Acompanhamento do PPA

CEDETER- Conselho Estadual de Desenvolvimento Territorial

CET- Coordenao Estadual dos Territrios

CF- Constituio Federal

CMS- Conselho Municipal de Sade

COCEPLAN- Coordenao Central de Planejamento

COODETER- Colegiados de Desenvolvimento Territoriais

CP- Congresso Popular

DIREC-Diretoria Regional de Educao

EBDA- Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrcola

EC- Emenda Constitucional

ECR- Emenda Constitucional de Reviso

FHC- Fernando Henrique Cardoso

FPM- Fundo de Participao dos Municpios

GTT- Grupos de Trabalhos Territoriais

IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica

LDO- Lei de Diretrizes Oramentrias

LOA- Lei Oramentria Anual

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LRF- Lei de Responsabilidade Fiscal

MEC- Ministrio da Educao

ONG- Organizao No-Governamental

OP- Oramento Participativo

OPI- Oramento Plurianual de Investimentos

PAEG - Programa de Ao Econmica do Governo

PDDU- Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

PFL- Partido da Frente Liberal

PND- Plano Nacional de Desenvolvimento

PND-NR- Plano Nacional de Desenvolvimento: Nova Repblica

PPA- Plano Plurianual

PPA-P- Plano Plurianual Participativo

PSF- Posto de Sade da Famlia

PT- Partido dos Trabalhadores

SAMU- Servio de Atendimento Mvel de Urgncia

SEPLAN- Secretaria de Planejamento

SEPLANTEC- Secretaria de Planejamento, Cincia e Tecnologia

UDN- Unio Democrtica Nacional

UPA- Unidade de Pronto Atendimento

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Localidades, datas e nmero de participantes nas plenrias 50

Quadro 2- rea temtica Educao e temas/propostas 52

Quadro 3- rea temtica Sade e temas/propostas 53

Quadro 4- rea temtica Administrao e temas/propostas 53

Quadro 5- rea temtica Cultura e Turismo e temas/propostas 54

Quadro 6- rea temtica Meio Ambiente e Agricultura temas/propostas 54

Quadro 7- rea temtica Assistncia Social e temas/propostas 54

Quadro 8- rea temtica Esporte e Lazer temas/propostas 54

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LISTA DE FIGURAS

Organograma 1- Exemplo de eixo, rea e grupo temtico 56

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SUMRIO

1. Introduo ........................................................................................................... 13

2. Planejamento Governamental no Brasil ........................................................... 17

2.1 O Planejamento Plurianual ............................................................................. 20

2.2 A Lei de Diretrizes Oramentrias ................................................................. 21

2.3 A Lei Oramentria Anual ............................................................................. 21

3. Participao Popular e a Gesto Democrtica no Brasil ......................................... 23

4. Participao popular na Bahia ................................................................................... 26

5. Gesto democrtica na Bahia: O Plano Plurianual Participativo ............................ 31

6. O Plano Plurianual nos municpios ............................................................................. 38

6.1 O Estatuto da Cidade ........................................................................................ 39

6.2 O Plano Diretor ................................................................................................ 40

7. Metodologia .................................................................................................................... 41

7.1 Atas das plenrias ............................................................................................ 44

7.2 Entrevistas ........................................................................................................ 45

7.2.1 Tcnicos da Secretaria de Administrao ..................................................... 45

7.2.2 Participantes das plenrias ............................................................................ 46

8. O Planejamento Participativo 2014-2017 em Santo Amaro ...................................... 48

8.1 Estrutura do PPA-P .......................................................................................... 48

8.1.1 As Plenrias .................................................................................................. 50

8.2 Metodologia ..................................................................................................... 55

8.2.1 Treinamento dos profissionais ...................................................................... 57

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8.2.2 Sistema de cadastramento ............................................................................. 57

8.2.3 Falhas no desenvolvimento da metodologia ................................................. 58

8.3 A experincia do PPA- P pelos tcnicos da Secretaria de Administrao:

vantagens e problemas ........................................................................................................... 60

8.4 A experincia do PPA-P pelos participantes das plenrias .............................. 63

9. Consideraes Finais ........................................................................................................ 65

10. Referncias Bibliogrficas ............................................................................................. 69

APNDICE I- Roteiro para entrevista com os tcnicos da Secretaria de Administrao

Municipal .............................................................................................................................. 75

APNDICE II- Roteiro para entrevista com participantes das plenrias ..................... 76

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1. Introduo

Nos ltimos 30 anos o processo de construo democrtica no Brasil ganhou maior

notoriedade na administrao pblica. A gesto democrtica alm de ser tema de diversos

estudos vem sendo incorporada administrao de vrios municpios brasileiros e a

participao social tornou-se um passo fundamental para o desenvolvimento de uma gesto

pblica contempornea mais eficaz e eficiente.

De acordo com Bravo (2007) a participao social entendida como a gesto nas polticas por

meio do planejamento e fiscalizao desenvolvidos pela sociedade organizada em rgos e

servios do Estado responsveis pela elaborao e gesto das polticas pblicas. Neste

sentido, a participao surge como um instrumento de governo capaz de construir um regime

democrtico, cabendo ao mesmo instituir mecanismos eficientes que garantam a interao

entre populao e os programas governamentais.

A fase de construo da democracia no Brasil teve o seu incio na dcada de 1980 baseado

legalmente na Constituio Federal de 1988. Nesse aspecto, o papel que desempenharam os

movimentos e organizaes sociais se destacam como fundamentais no processo de

amadurecimento e evoluo das aes democrticas no pas.

Gomes (2003) destaca que a Constituio Federal de 1988 propiciou a ampliao dos espaos

de participao, permitindo a esse segmento um papel de destaque na gesto das polticas

pblicas. No incio, os conselhos municipais bem como as conferncias e os fruns

representavam um espao privilegiado para a participao popular na elaborao,

implementao e fiscalizao das aes governamentais, alm de permitirem o fortalecimento

da relao Estado e Sociedade.

A importncia do protagonismo sindical nas lutas por redemocratizao enfatizada por

Souza (2011), segundo ele ao nos determos a questo da democracia participativa relevante

salientar alguns aspectos que incidem nas proposies do campo movimentalista: i) a

organizao na base das fbricas e a defesa de um sindicato democrtico que contriburam na

difuso dos valores participativos e, ii) a opo das lideranas sindicais pela luta institucional,

por dentro do aparelho sindical, que ir influenciar ao longo do tempo o campo

movimentalista que at ento apresentava fortes resistncias com relao ao aparelho estatal.

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O protagonismo da constituio dos conselhos comunitrios e populares nos anos 1980, o

advento do oramento participativo (OP) e os conselhos gestores nos anos 1990 e a ampliao

da cidadania e da atuao da sociedade civil no Brasil a partir de 2002, no governo Lula,

contriburam para o desenvolvimento da prtica participativa no pas. A participao popular

nos anos 1980 apresenta como destaque o movimento Diretas J, que pode ser citado como

um dos movimentos de maior participao popular ocorridos na histria do pas. Nos anos

1990 manifestam-se as experincias mais objetivas de participao popular na administrao

pblica, com destaque para o oramento participativo. Segundo Wampler (2003) essa foi uma

das construes institucionais mais inovadoras, pois oferece aos cidados oportunidade de se

envolverem diretamente nas questes pblicas, tornando-se uma esperana de justia

redistributiva e a possibilidade de reforma do processo de tomada de deciso nos municpios e

estados brasileiros.

Foi na gesto do ex-presidente Lus Incio Lula da Silva, em 2002, que a participao ativa da

sociedade civil na administrao pblica se concretiza. Avritzer (2009, p. 7) aponta o papel

exercido pela Secretaria Geral da Presidncia da Repblica, responsvel pela intermediao

das relaes do governo com a sociedade civil, o fortalecimento dos conselhos nacionais

existentes, os quais passaram a contar com a presena frequente de Ministros de Estado, e a

organizao de conferncias nacionais em praticamente todas as reas de polticas pblicas,

espao privilegiado para a reflexo e formulao de polticas. Com o advento deste modelo

inovador de administrao, essa discusso deixou de ser pauta apenas em mbito federal e

passou a ser implementada nos estados brasileiros. Neste contexto, a Bahia surge como um

estado pioneiro ao buscar aproximar a sociedade da administrao pblica, especificamente

no Plano Plurianual.

Assim como os indivduos tiveram que se adaptar as mudanas ocorridas ao longo das

conquistas de maior liberdade e/ou maior espao para a participao, a administrao pblica

tambm teve que se adequar. Os governos que antes se mantinham fechados e

antiparticipativos tiveram que se ajustar a este novo contexto, onde a populao que at ento

se mantinha distante dos assuntos e aes tcnicas governamentais, passa a fazer parte do

processo de elaborao e implementao de polticas pblicas.

Muitas dificuldades foram encontradas durante o processo de amadurecimento e

implementao de aes que garantissem a efetiva participao popular na administrao

pblica, afinal o ineditismo de tais experincias se apresentavam como desafios para a gesto

pblica brasileira. Na Bahia, este processo se deu de modo mais lento e gradual, pois durante

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anos o estado foi marcado por gestes conservadoras e autoritrias contrrias as mudanas

que o novo contexto poltico e social exigia. Logo, experincias participativas foram surgindo

tardiamente no estado, se comparado realidade das regies Sudeste e Sul do Brasil.

Com ferramentas como o Plano Plurianual Participativo (PPA-P) e o Oramento Participativo

(OP), bem como fruns consultivos e audincias pblicas, a gesto pblica iniciou o processo

de readaptao, onde se buscou acabar com os aspectos centralizadores e impulsionar

desenvolvimento da descentralizao poltico-administrativa e municipalizao das polticas

pblicas.

A construo de um Estado democrtico envolve vrios aspectos, entre eles, a estruturao de

eixos voltados aos direitos de cidadania e soberania popular. Nesse contexto apesar dos

considerveis avanos que ocorreram na administrao pblica brasileira, ainda h grandes

dificuldades em tornar o processo de integrao entre sociedade e governo mais democrtico e

participativo. A resistncia, o conservadorismo, autoritarismo e o modo burocrtico de

governar de muitos gestores impede que o discurso de participao adotado na teoria seja

tambm desenvolvido na prtica, o que afeta no s a implementao de programas e projetos

participativos nos municpios brasileiros, como no permite que nas localidades onde so

realizados sejam executados com xito, como o caso da realizao do PPA-P 2014-2017 no

municpio de Santo Amaro Bahia, foco da anlise desta pesquisa.

Nota-se que nos municpios brasileiros as prefeituras buscam promover aes participativas

apenas por ser exigncia legal, sem quaisquer preocupao e interesse de fazer com que tais

atividades sejam elaboradas adotando mecanismos eficientes e metodologia adequada. Busca-

se apenas afirmar que nos municpios existem gestes democrticas, no entanto os

mecanismos utilizados para promov-las no so institudos de modo satisfatrio.

Sendo assim, esta pesquisa pretende analisar como a Secretaria de Administrao do

municpio de Santo Amaro- BA se preparou para realizar o Planejamento Participativo 2014-

2017, entender qual a metodologia e mecanismos utilizados, a estrutura das plenrias e como

estas foram organizadas, o processo de validao das propostas bem como todas as fases

desde as discusses internas sobre como este mecanismos seria implementado a etapa final de

anlise e incluso das propostas no Planejamento.

importante destacar que este trabalho no tem conotao partidria alguma, no se busca

aqui exaltar ou criticar a administrao do atual prefeito da cidade de Santo Amaro: Ricardo

Machado ou do governador do estado da Bahia: Jaques Wagner por questes partidrias ou

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polticas. O objetivo fazer um levantamento sobre o modo como o PPA-P foi realizado no

municpio apontando seus pontos positivos e suas falhas na busca de colaborar para o

desenvolvimento de uma gesto pblica democrtica de qualidade tanto para a administrao

quanto para a sociedade.

Na primeira parte da pesquisa encontra-se um histrico do planejamento governamental, uma

breve discusso sobre a participao social e a gesto democrtica no Brasil e no estado da

Bahia. Na segunda parte aprofundaremos nossos estudos na anlise do Planejamento

Participativo 2014-2017 que aconteceu no municpio de Santo Amaro, buscando entender

como este processo aconteceu, a dinmica pela qual esse plano foi guiado, os resultados

obtidos, as principais demandas da populao e a avaliao dos responsveis e dos

participantes das plenrias. Na terceira parte, apresenta-se a concluso da pesquisa destacando

os principais aspectos da implementao do Plano Plurianual Participativo no municpio de

Santo Amaro.

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2. Planejamento governamental no Brasil

O planejamento governamental uma ferramenta de governo que corresponde ao processo de

escolha de objetivos prioritrios e que busca resolver problemas sociais identificados nos mais

diversos contextos. Para tornar vivel o planejamento o Estado utiliza instrumentos expostos

em lei, sendo eles o PPA (Plano Plurianual), a LDO (Lei de Diretrizes Oramentrias) e a

LOA (Lei Oramentria Anual). O planejamento tambm pode ser entendido como o

instrumento capaz de orientar as decises bem como as melhores aes e programas que

devem ser realizadas pelo governo.

Segundo Pares e Valle (2006) o PPA foi concebido para ser elemento central do novo sistema

de planejamento, orientando os oramentos anuais, por meio da LDO. A trade PPA, LDO e

LOA forma a base de um sistema integrado de planejamento e oramento. Sendo o PPA o

instrumento que estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e metas da

administrao pblica; a LDO o instrumento legal que dispe sobre as diretrizes

oramentarias do Estado, contemplando prioridades e metas a serem alcanadas pelas aes

governamentais e a LOA a lei que estima a receita e fixa a despesa do Estado para o exerccio

corrente, apresentada sob a forma de oramento-programa, compreendendo: o oramento

fiscal, oramento da seguridade social e o oramento de investimento das empresas.

Ambos foram institudos pela Constituio Federal (artigo 165), a LDO deve ser compatvel

com o Plano Plurianual e orientar a elaborao da Lei Oramentria Anual. O vnculo da

LOA com o PPA se d por meio dos programas e das iniciativas do plano que esto

associadas aos mesmos, sendo importante salientar que deve haver uma integrao entre estes

trs elementos para que o planejamento ocorra de maneira satisfatria.

De acordo com Matias-Pereira (2010, p. 268) o planejamento no Brasil tem seu marco em

1948, no governo Eurico Gaspar Dutra, com a elaborao do denominado Plano Salte, cujas

reas priorizadas foram sade, alimentao, transporte e energia. Posteriormente, foi aprovado

em 1956, o Plano de Metas, que priorizava os setores de energia, o desenvolvimento de

rodovias e ferrovias, os servios porturios e aerovirios, o fortalecimento das indstrias de

base, e a mecanizao agrcola. Para Lafer (2003, p. 29-33) foi a partir de 1940 que vrias

tentativas de coordenar, controlar e planejar a economia brasileira foram surgindo, no entanto

at 1956 elas se assemelham a propostas; afirma ainda que esse perodo se insere em uma

poca marcada pela ampliao da participao poltica:

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De fato, se se tomar o voto como medida preliminar de participao poltica

verifica-se que, na Repblica Velha, a percentagem do voto dado em relao

populao total no ultrapassou 4%, enquanto que, no perodo que se inicia com

Dutra e se encerra com a queda de Goulart, esta porcentagem se elevou de 13,4%

(em 1945) para 17, 7% (em 1960).

No Plano de Metas os setores que mereceram maior ateno do governo foram:

I. O setor de energia- cujas metas envolviam investimentos em: energia eltrica

(elevao da capacidade instalada anteriormente); energia nuclear- cujas metas

envolviam formao tcnica de pessoal necessrio execuo do programa

nacional de energia nuclear, fabricao nacional de combustvel nuclear,

planejamento de instalaes de usinas termeltricas, produo e distribuio de

radioistopos; carvo mineral- elevao de produo; petrleo (refinao)-

elevao de produo.

II. O setor de transportes- investimentos em ferrovias, rodovias, servios porturios e

de dragagens, alm de investimentos na marinha mercante e com transportes

aerovirios.

III. O setor de alimentao- em que se contemplou diretamente a agricultura e

abrangeu investimentos visando o fortalecimento da infraestrutura agrcola.

IV. O setor de indstrias de base- um dos setores cruciais para se atingir a

industrializao almejada pelo governo do ento presidente Juscelino Kubitschek.

O setor apresentava investimentos em siderurgia, alumnio, metais no ferrosos,

cimento, lcalis, celulose e papel, borracha, exportao de minrios de ferro,

indstria automobilstica, indstria de construo naval e indstria mecnica e de

material eltrico pesado.

V. O setor de educao -que abrangia a seguinte meta: formao de pessoal tcnico.

A meta inicial era intensificar a formao do pessoal tcnico e orientar a educao

para o desenvolvimento. O governo aumentou progressivamente, as verbas

oramentrias consignadas ao MEC (Ministrio da Educao).

Em 1963 surge o Plano Trienal, que tinha como objetivo corrigir desnveis regionais

existentes, mediante criao de incentivos fiscais; melhorar as condies de sade pblica,

intensificar as aes no campo educativo e da pesquisa tecnolgica, reduzir a dvida externa,

combater a inflao, entre outros. De acordo com Macedo (2003, p. 51-68) o Plano Trienal foi

19

elaborado em seis meses por uma equipe liderada por Celso Furtado e passou a orientar a

poltica econmica do Governo Goulart. O que se almejava com o planejamento no Brasil

naquele perodo era a hierarquizao de problemas, para que houvesse ento condies para

que tcnicas mais eficazes de coordenao e das decises pudessem ser introduzidas.

De acordo com ele, o Plano acabou fracassando, falhando na execuo de uma poltica anti-

inflacionria, no entanto trouxe grandes contribuies para o planejamento brasileiro j que se

props a intensificar o esforo de planejamento do pas.

De 1964 a 1967 se destaca o Programa de Ao Econmica do Governo (PAEG), que

segundo Martone (2003, p. 69-89) representou um esforo no sentido de interpretar o

processo recente de desenvolvimento brasileiro e de formular uma poltica econmica capaz

de eliminar as fontes internas de estrangulamento que bloquearam o crescimento da

economia.

Posteriormente surgem: Plano Decenal, 1967/76; Reforma Administrativa e Sistema de

Planejamento; I Oramento Plurianual de Investimentos (OPI), 1968/70; Programa de Metas e

Bases para a Ao de Governo, 1970/73; II OPI e o I Plano Nacional de Desenvolvimento

(PND), 1972/74; Programa de Acompanhamento; Programa Geral de Aplicaes; II Plano

Nacional de Desenvolvimento (II PND), 1975/79; III Plano Nacional de Desenvolvimento (III

PND), 1980/85; I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova Repblica (I PND-NR),

1986/89.

Nota-se que at ento no havia mecanismos que promovessem a participao social nos

processos de formulao e implementao de polticas pblicas. Os planejamentos nas trs

esferas governamentais eram elaborados mediante discusses internas.

Aps a Constituio Federal de 1988 um novo sistema de planejamento pblico foi instalado

no Brasil ancorado no Plano Plurianual e na Lei de Diretrizes Oramentrias, que a partir da

Carta Magna ficaram estabelecidos juntos com a Lei Oramentria Anual como os principais

instrumentos do sistema de planejamento e oramento da administrao pblica. Nos

municpios com mais de vinte mil habitantes o processo de planejamento se iniciou pelo

Plano Diretor, considerado parte fundamental do sistema municipal de planejamento, devendo

tais instrumentos incorporar as suas diretrizes.

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2.1 O Plano Plurianual

O PPA uma das peas que compe o instrumento oramentrio adotado no Brasil,

considerado uma ferramenta de planejamento de mdio prazo j que tem vigncia quadrienal.

nele que o governo define as suas prioridades, ou seja, quais as aes e programas mais

relevantes para determinado perodo. Quando finalizado, o governo envia o PPA para a

Assembleia Legislativa para que seja apreciado pela Cmara dos deputados.

Este plano elaborado no primeiro ano de mandato do chefe do Executivo, tendo vigncia

durante os quatro anos seguintes. O prazo de entrega deste documento ao Legislativo 31 de

agosto e a sua aprovao deve ocorrer at 15 de dezembro. importante salientar que o PPA

no oramento, s depois da apreciao do plano pela Cmara dos deputados que o

oramento elaborado. De acordo com o Art. 165 1 da Constituio Federal:

A lei que instituir o plano plurianual estabelecer, de forma regionalizada, as

diretrizes, objetivos e metas da administrao pblica federal para as despesas de

capital e outras delas decorrentes e paras as relativas aos programas de durao

continuada.

Giacomoni (2010) enfatiza que:

O PPA compreende: as despesas de capital (aquelas que contribuem, diretamente,

para a formao ou aquisio de um bem de capital), as despesas decorrentes das

despesas de capital (aquelas que representam o incremento de gastos correntes

resultante da ampliao dos bens e servios ofertados pela administrao pblica,

restrito vigncia do PPA) e as despesas relativas aos programas de durao

continuada (que compreendem a manuteno dos bens e servios ofertados pela

administrao pblica no perodo de vigncia do PPA).

Compe-se basicamente de uma base estratgica de programas de governo. A base estratgica

compreende: a anlise da situao econmica e social; as diretrizes, objetivos e prioridades de

governo propostas pelo chefe do poder Executivo e aproveitadas pelo poder Legislativo; a

previso dos recursos oramentrios e sua distribuio entre os setores e/ou entre os

programas; e as diretrizes, objetivos e prioridades dos rgos setoriais compatveis com a

orientao estratgica de governo. J os programas compreendem: a definio dos problemas

a serem solucionados e os objetivos a serem alcanados na superao desses problemas; e o

conjunto de aes que devero ser empreendidas para alcanar os objetivos estabelecidos.

21

2.2 A Lei de Diretrizes Oramentrias

A Lei de Diretrizes Oramentaria liga o Plano Plurianual Lei Oramentria anual. Ainda

segundo o artigo 165 da Constituio Federal 2:

A lei de diretrizes oramentrias compreender as metas e prioridades da

administrao pblica federal, incluindo as despesas de capital para o exerccio

financeiro subsequente, orientar a elaborao da lei oramentria anual, dispor

sobre as alteraes na legislao tributria e estabelecer a poltica de aplicao das

agncias financeiras oficiais de fomento.

um instrumento obrigatrio nas trs esferas: federal, estadual e municipal, alm de ser

obrigatria tambm a aprovao pelo Legislativo. O encaminhamento da LDO deve ser

realizado at 15 de abril e aprovada at 30 de junho.

Os pargrafos 3 e 4 do referido artigo afirmam respectivamente que:

O Poder Executivo publicar, at trinta dias aps o encerramento de cada bimestre,

relatrio resumido da execuo oramentria.

Os planos e programas nacionais, regionais e setoriais previstos nesta Constituio

sero elaborados em consonncia com o plano plurianual e apreciados pelo

Congresso Nacional.

2.3 A Lei Oramentria Anual

Como citado anteriormente a LOA a lei que estima a receita e fixa a despesa do Estado para

o exerccio corrente, apresentada sob a forma de oramento-programa, compreendendo: o

oramento fiscal, oramento da seguridade social e o oramento de investimento das

empresas.

O artigo 165 5 da Constituio Federal (1988) aponta que a lei oramentria anual

compreender:

O oramento fiscal referente aos Poderes da Unio, seus fundos, rgos e entidades

da administrao direta e indireta, inclusive fundaes institudas e mantidas pelo

poder pblico;

O oramento de investimento das empresas em que a Unio, direta ou indiretamente,

detenha a maioria do capital social com direito a voto;

O oramento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e rgos a ela

vinculados, da administrao direta ou indireta, bem como os fundos e fundaes

institudos e mantidos pelo poder pblico.

22

relevante salientar ainda que o 6 e 8 do referido artigo apresentam:

O projeto de lei oramentria ser acompanhado de demonstrativo regionalizado do

efeito, sobre as receitas e despesas, decorrente de isenes, anistias, remisses,

subsdios e benefcios de natureza financeira, tributria e creditcia.

A lei oramentria anual no conter dispositivo estranho previso da receita e

fixao da despesa, no se incluindo na proibio a autorizao para abertura de

crditos suplementares e contratao de operaes de crdito, ainda que por

antecipao de receita, nos termos da lei.

Pares e Valle (2006, p. 242) afirmam que a forma conceitual de planejamento adotada no

Brasil a de planejamento flexvel e intensivo em gesto. O plano executado por meio dos

oramentos, que por fora da integrao so transformados em pea estratgica para as

mudanas propostas pelo governo. Este o primeiro movimento de mudanas para a

constituio de um oramento estratgico, o segundo movimento surge quando o PPA se

torna mvel e assegura a manuteno permanente de um horizonte de mdio prazo (quatro

anos), mesmo com o decorrer dos anos durante a sua vigncia formal.

Afirmam ainda (Idem, p. 243) que a fuso, no Brasil, de duas fortes tradies, a de

planejamento normativo e a do oramento-programa, previsto este na lei n 4.320, desde

1964, torna o modelo brasileiro singular se comparado com as outras experincias de

oramentos plurianuais, vigentes em muitos pases desenvolvidos, surgidos nos anos 1980,

todos voltados para o planejamento fiscal.

Conforme as informaes aqui apresentadas pode-se concluir que antes o processo de

planejamento no aproximava a populao do governo, isso dificultava o entendimento sobre

o que realmente era necessidade social e deveria entrar no PPA. No havia interesse em

desenvolver o processo de democracia participativa at ento.

Posteriormente, mais precisamente no fim dos anos de 1980 com a Constituio Federal de

1988 uma nova modalidade de planejamento passa a ser implantada no Brasil, o planejamento

participativo, que surge como uma tentativa de aproximar a sociedade das questes polticas e

das aes governamentais que de fato venham trazer benefcios. Saber do prprio cidado

quais as suas reais necessidades faz com que o governo tenha maior possibilidade de criar e

executar programas e aes que promovam o desenvolvimento social.

23

3. Participao popular e a Gesto democrtica no Brasil

O papel da sociedade civil no processo de democratizao no Brasil nas ltimas trs dcadas

trouxe mudanas significativas no cenrio poltico, econmico e social do pas. Raichelis

(2000) afirma que durante a dcada de 1980, a sociedade brasileira foi palco de um processo

de revitalizao da sociedade civil que emergiu com a luta pela democratizao do Estado e

da sociedade. Notadamente, esse perodo foi marcado por um movimento de conquistas

democrticas que ganharam a cena pblica como a organizao de movimentos sociais em

diferentes setores, o fortalecimento dos sindicatos, a visibilidade das demandas populares e a

luta por direitos sociais.

No perodo que antecedia a Constituio Federal (1988) a participao popular restringia-se

ao voto, seguramente, a concepo de que votar era uma ao que garantia o direito do

cidado a participao durou at a prxima dcada.

O capitulo IV da Constituio Federal, artigo 14 apresenta que atravs do sufrgio universal

e do voto direto e secreto a soberania popular seria exercida, com valor igual para todos, e,

nos termos da lei, mediante: (ECR n 4/94 e EC n 16/97): I- Plebiscito, II- Referendo e III-

iniciativa popular.

Com base nas informaes acima apresentadas, possvel afirmar que para o governo

brasileiro a participao da sociedade civil se restringia ao voto popular, a ideia de ter a

populao envolvida nos assuntos administrativos era, ou para alguns casos ainda , vista

como um obstculo para o desenvolvimento das aes governamentais. Para as vises mais

conservadoras da administrao pblica, os indivduos ainda no estariam aptos a participar

de modo efetivo de processos de elaborao e implementao de polticas pblicas, j que

para os gestores mais autoritrios e resistentes a mudanas, estes no possuiriam

conhecimento sobre como os processos administrativos funcionam na prtica.

Guimares (2009, p. 14) destaca a relevncia da atuao dos movimentos sociais no pas na

dcada de 1970, cujas repercusses se estendem at hoje, em relao aos de dcadas

anteriores, como entre os anos 1950 e 1964. Esse autor argumenta que os movimentos

defenderam a ideia de democracia e cidadania ativa, ultrapassando os ideais de nacionalismo

e soberania de seus antecessores de dcadas passadas. O destaque para a democracia e

24

cidadania, por sua vez, contribuiu para vitrias no mbito institucional, influenciando, assim,

a reconfigurao do desenho do Estado nacional, conclui o autor (Idem, p. 16).

Avritzer (2009, p. 28) explica o surgimento da sociedade civil autnoma no pas a partir da

dcada de 1970 em virtude da multiplicao de associaes civis, que protagonizaram ideias

de direito vinculadas participao, assim como a autonomia em relao ao Estado e a

liberdade de apresentar demandas e negociar com o mesmo. Como bem resume o autor,

houve uma redefinio na forma de fazer poltica, rompendo com a baixa participao e o

clientelismo poltico predominante antes da dcada de 1980 (Idem, p. 27).

Paula (2005, p. 39) aponta as vrias experincias inovadoras de gesto pblica municipal a

partir da dcada de 1990. Porm, em relao a esse mesmo perodo, a autora destaca a

implementao da reforma gerencialista no pas, a qual tambm defendeu a descentralizao e

a participao popular, principalmente na execuo e controle das polticas. Uma diferena da

proposta gerencialista em relao s dos movimentos sociais era a defesa, dessa primeira, da

concentrao da formulao das polticas no centro do poder estatal, alm do predomnio da

eficincia econmica sobre a relevncia da participao poltica da sociedade civil.

Nesta mesma dcada o nmero de conselhos municipais (nas trs esferas governamentais)

cresceu com significativa relevncia, inicia-se aqui a percepo governamental de que a

participao da sociedade civil nas questes polticas deveria ser ampliada e deixar de ser

restrita aos votos populares nos perodos eleitorais.

Paula (Idem, Ibidem) ainda explica que concomitante reforma gerencialista estava em curso

elaborao de outro paradigma de administrao, fundamentando as ideias defendidas pelos

movimentos sociais da dcada de 1980. Nessa outra concepo defendia-se a combinao da

democracia representativa com a participativa e a criao de uma esfera no estatal, como

espaos pblicos de negociao. Essa esfera exigiria a formao de institucionalidades onde

acontecesse a cogesto dos cidados nos negcios pblicos. Essa autora registra que a

emergncia desse novo formato s se tornou possvel a partir da gesto do Partido dos

Trabalhadores na Presidncia da Repblica, com a eleio de Lula, cujo apoio dos

movimentos sociais e das organizaes dele derivadas foram relevantes para a sua vitria,

assim como na sua sustentao poltica. Desde ento, a administrao pblica ampliou os

espaos para a participao da sociedade civil na formulao, implementao e controle das

polticas (PAULA, 2005, p. 41).

25

A Lei n 10.257, de 10 de junho de 2001, denominada Estatuto da Cidade, estabelece nos

artigos 182 e 183 da Constituio Federal as diretrizes gerais da poltica urbana. No artigo 2,

inciso II regulamenta: gesto democrtica por meio da participao da populao e de

associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade na formulao, execuo e

acompanhamento de plano, programas e projetos de desenvolvimento urbano.

Conforme os movimentos sociais foram se fortalecendo e ganhando maior notoriedade no

cenrio poltico brasileiro, mais a administrao pblica precisava criar mecanismos de

integrao entre a sociedade e o governo.

Contudo, observando a evoluo da participao social na administrao pblica brasileira,

observa-se que cada vez mais a teoria se distancia da prtica. Desde a Constituio Federal de

1988 foram adotados novos mecanismos de gesto com o objetivo de tornar a gesto pblica

mais participativa e estabelecer o dilogo mais prximo entre os cidados e a administrao

pblica. Esta nova realidade alcanou resultados significativos, mas que, no entanto ainda

esto distante de representar o ideal esperado.

26

4. Participao popular na Bahia

Foi a partir das dcadas de 1960 e 1970 que a Amrica Latina passou a amadurecer as

discusses e iniciativas referentes democracia participativa. De acordo com Pomponet

(2012) foi nesse momento que os movimentos sociais nos pases da regio comearam a se

articular visado a derrubada dos regimes ditatoriais institudos pelos golpes militares.

Somente na dcada seguinte comea a chegar ao Brasil mecanismos democrticos de

administrao.

A partir dos anos 1980 os ditadores comearam a ser depostos e os movimentos

sociais, em muitos casos, chegaram a fornecer quadros para os governos. Com esse

contexto, aos poucos surgiram experincias de democracia participativa, como o

Oramento Participativo em Porto Alegre, presente hoje em capitais como Buenos

Aires e Montevidu (GUGLIANO ET ALI, s/d). A disseminao dessas

experincias participativas gerou o registro de experincias em pases como a

Bolvia (ORTUSTE, 1999), Equador (OJEDA, 1988), e tambm na Amrica

Central, como so os casos conduzidos por Amaro (1990) e por Perez (1994) em El

Salvador. (POMPONET, 2012, p. 3).

No entanto foi com a Constituio Federal que os movimentos que objetivavam promover

maiores processos democrticos na gesto pblica brasileira ganharam mais engajamento

poltico e a partir da dcada de 1990 foram implementados mecanismos como o Oramento

Participativo, considerado uma das construes institucionais mais inovadoras do Brasil. Aqui

se pode destacar o pioneirismo da cidade de Porto Alegre (Rio Grande do Sul, 1989-2002).

Nota-se a partir da que as primeiras experincias participativas no Brasil concentravam-se

nas regies Sudeste e Sul, alm do Rio Grande do Sul, esto entre as primeiras cidades onde

houve tentativa de implementar experincias participativas: Lages (Santa Catarina) e

Piracicaba (So Paulo) entre meados dos anos 1970 e incio dos anos 1980.

De acordo com Avritzer (2007), no Brasil h uma concepo geral de que a regio Nordeste

a menos participativa, apesar da cidade do Recife (Pernambuco) ter sido uma das primeiras

onde experincias participativas foram realizadas. (Idem, p. 11) afirma que:

A Bahia parece ser o caso que mais se aproxima daquilo que a literatura ir

posteriormente denominar do padro de sociabilidade do Nordeste: rejeio

modernizao, reforo das estruturas oligrquicas e fortalecimento de um padro

hierrquico de relao entre os indivduos (Duarte, 1939; Leal, 1948; Lambert,

1960; Holanda, 1963; Pang, 1978). (AVRITZER, 2007, p. 11).

27

No entanto, muitos foram os fatores que desencadearam atraso no estado se comparado os

estados pertencentes s regies mais desenvolvidas do pas. Um governo autoritrio e a

resistncia dos gestores que assumiram o poder no mesmo perodo contriburam para que na

Bahia as discusses sobre a incorporao de uma gesto democrtica fosse mais complexa.

Neste sentido importante destacar a emblemtica relao entre Antnio Carlos Magalhes

(ACM) e a situao poltica da Bahia durante o seu governo.

De acordo com informaes retiradas de Reis (2010) e reportagem no Site Terra foi a partir

de 1954 que ACM, atravs da Unio Democrtica Nacional (UDN) iniciou sua vida poltica.

Neste ano elegeu-se deputado estadual da Bahia, tornando-se lder da bancada da UDN,

quatro anos depois, em 1958, elegeu-se deputados federal, ganhando a reeleio em 1962 e

1966. Foi acumulando diversos cargos polticos, em 1966 filiou-se ARENA (Aliana

Renovadora Nacional), e, 1967 licenciou-se do cargo de deputado federal e foi nomeado

prefeito de Salvador. Em 1971 assumiu o cargo de governador do Estado da Bahia (realizou

grandes obras- muitas envolvidas em denncias de superfaturamento e ganhou a simpatia dos

baianos com seu estilo paternalista). Em 1978 foi mais uma vez eleito governador do estado,

por meio de um colgio eleitoral, governo a Bahia entre 1979 e 1983. Em 1984 tornou-se

ministro das Comunicaes de Jos Sarney, a gesto no ministrio lhe rendeu concesses de

TVs e rdios, assim construiu um imprio oriundo da TV Bahia, que se tornou filiada da TV

Globo no estado.

Apoiou Fernando Collor de Mello e em 1994 no primeiro mandato de Fernando Henrique

Cardoso (FHC) fez uma srie de denncias ao governo. Ainda na oposio, manteve-se ao

lado de Lula at 2004, no entanto, seu declnio se deu quando Jaques Wagner (PT) ganhou no

primeiro turno a eleio para governo da Bahia. Contudo, busca-se aqui explicitar que o

governo de ACM na Bahia representou uma administrao burocrtica e autoritria.

[...] Para muitos, o governo de ACM tirara a Bahia da concepo de estado

nordestino atrasado e baseado na agropecuria, para estado moderno e

industrializado. Porm, apesar da classe mdia urbana ter crescido e fortalecido, a

profissionalizao da burocracia estatal obstruiu os canais de participao poltica, o

que favorece a ao quase que monocrtica do grupo poltico carlista (REIS, 2010,

p. 73).

__________________

Partido que dava sustentao ao regime militar.

28

A dominao poltica exercida por ACM, conhecida como Carlismo, e por todo grupo ligado

a ele, fez com que a administrao no estado fosse caraterizada como anti-participativa,

clientelista, conservadora e autoritria. A presena de grupos de esquerda no permitiam que

os movimentos sociais ganhassem fora no territrio baiano e todas as decises

governamentais eram discutidas internamente.

Avritzer (2007, p. 15-16) afirma ainda que houve forte resistncia por parte da prefeitura de

Salvador e do governo do estado, em implantar polticas participativas, tal resistncia pode ser

percebida de acordo com a maneira como a prefeitura de Salvador organizou o Plano Diretor

Municipal praticamente sem audincias pblicas ou ao tipo de participao da sociedade civil

no Conselho de Sade do municpio. Salienta ainda que a participao no estado foi se dando

em cidades de oposio ao carlismo, merecendo destaque: Vitria da Conquista e Alagoinhas.

Milani (2006, p. 188) apresenta que enquanto nas regies Sudeste e Sul o OP concentrava

45,6% e 37,8% das experincias municipais, na Bahia, durante o mesmo perodo, existia

apenas um caso de OP, na cidade de Vitria da Conquista. Idem (p. 188-198) aponta que no

estado quatro experincia foram pioneiras no processo de fortalecimento da participao

social: o oramento participativo de Vitria da Conquista, a gesto municipal de sade em

Salvador que regulamentou o funcionamento do Conselho Municipal de Sade (CMS) em

1990, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e o Congresso Popular (CP) de

Pintadas.

Segundo Pomponet (2012, p, 119-120) na Bahia, antes do PPA-P 2008-2011 uma nica

experincia de consulta populao no mbito do planejamento havia sido realizada: o

Oramento Cidado, em 2005 e 2006, que tinha o objetivo de coletar propostas para a LOA

de 2006 e 2007. No entanto este processo apresentou falhas, j que os participantes no

podiam indicar temas prioritrios, pois no sistema j existiam solicitaes cadastradas

previamente pelo governo estadual e houve tambm ausncia de transparncia em relao

divulgao das solicitaes dos participantes.

__________________

Nome atribudo ao perodo em que ACM governou o estado da Bahia.

O objetivo principal foi avaliar, integrar e harmonizar estrategicamente as polticas e aes pblicas, estatais e

de autogesto. (MILANI, 2006, p. 198)

29

Em seu estudo Milani (Idem, p. 203-207) conclui que cinco ordem de fatores explicariam, ou

ajudariam a explicar, s dificuldades de uma gesto pblica genuinamente participativa na

Bahia; so elas:

a) O desenvolvimento contemporneo da Bahia est profundamente marcado por

estratgias econmicas capitaneadas pelo capital corporativo (nacional e internacional)

reprodutor de excluso social e de desigualdades. (recente industrializao baiana com

a chegada da Petrobrs nos anos 1950).

b) O projeto de modernizao local no tem sido evidentemente implementado revelia

das prioridades, valores, atitudes e interesses das elites baianas. (Carlismo como

sinnimo de conservadorismo).

c) A poltica na Bahia fortemente marcada por uma concepo individual do poder

institucional. (herana do patrimonialismo).

d) A separao entre a capital (e o seu Recncavo) e o interior do estado.

e) O mito da bahianidade. (uma retrica transformada em ideal de uma Bahia que seria

unssona, singular e cordial).

Com todas as informaes anteriormente citadas, pode-se concluir que a Bahia passou por

longos perodos de governo autoritrio e burocrtico, o que dificultou a existncia de

experincias participativas mais frequentes e exitosas. Os governos arcaicos e a resistncia

dos gestores pblicos emperrava o desenvolvimento do estado nos aspectos relacionados

participao dos cidados na administrao pblica, at mesmo porque os governantes

consideravam a participao dos indivduos desnecessria e um empecilho no

desenvolvimento de suas aes.

Implantar efetivamente polticas de participao no uma tarefa fcil em regies menores,

seria menos ainda em um estado com grandes dimenses como a Bahia. A prtica da gesto

democrtica na Bahia deveria ento levar em considerao a enorme dimenso que o estado

possui e os seus diferentes costumes, tradies e necessidades.

Assim, torna-se relevante explicar o mecanismo adotado pelo estado na realizao da primeira

e ampla ao participativa elaborada no estado, o PPA-P 2008-2011 realizado em toda a

30

Bahia. Compreendendo-se assim na prtica no que resultaram todas as discusses a cerca da

participao social e desenvolvimento da gesto democrtica em territrio baiano.

31

5. Gesto democrtica na Bahia: o Plano Plurianual Participativo 2008-2011

A participao dos indivduos na formulao e implementao de polticas sociais e mais

especificamente no planejamento governamental na Bahia passou a apresentar aes

concretas quando em 2007 Jaques Wagner vence a eleio tornando-se o governador do

estado e busca realizar o planejamento participativo 2008-2011. Desde que assumiu a

liderana no governo federal, o ex-presidente Lus Incio Lula da Silva afirmava que na sua

gesto um dos principais objetivos seria tomar iniciativas que buscassem promover o dilogo

entre sociedade civil e governo logo nos primeiros anos, este discurso foi adotado por todos

os gestores petista. No entanto, h uma significativa controvrsia entre os discursos

reproduzidos pela administrao e o que de fato ocorreu.

At que esse processo participativo se tornasse prtica no estado, o Planejamento Plurianual

era realizado apenas pelo governo. De acordo com dados extrados do Caderno SEPLAN

(2012, p. 28) o primeiro PPA da Bahia, vigente entre 1992 e 1995, foi elaborado por uma

equipe de tcnicos da ento Coordenao Central de Planejamento- COCEPLAN, da

Secretaria de Planejamento, Cincia e Tecnologia- SEPLANTEC, que atualmente a

SEPLAN. Neste perodo o planejamento era apontado como instrumento adequado para dar

maior eficincia s aes do Estado e ressalta a necessidade de retom-lo como fundamento

estratgico para a promoo do desenvolvimento da Bahia.

(Idem, p, 29) o plano plurianual 1996-1999 adotou com mais clareza a regionalizao,

aglutinando os investimentos em torno de ncleos de desenvolvimento identificados como

potenciais geradores de crescimento. A estratgia de desenvolvimento adotada foi a do

crescimento seletivo, priorizando os segmentos que apresentassem maior potencial de

insero competitiva nos mercados nacional e mundial. J no PPA 2000-2003, a novidade foi

a adoo de uma nova regionalizao. Segundo o documento, a nova realidade da economia

baiana exigia uma espacializao que contemplasse os corredores de circulao da produo,

em lugar do padro vinculado s atividades produtivas tradicionais (bem como os anos

anteriores no houve consulta sociedade). Para a realizao dos programas, a regionalizao

do estado ficou definida em oito grandes eixos de desenvolvimento: Chapada, Extremo Sul,

Grande Recncavo, Mata Atlntica, Metropolitano, Nordeste, Planalto e So Francisco.

Foi a partir do PPA 2004-2007 que a participao da sociedade se efetivou na construo do

planejamento governamental. Denominado Bahia: Desenvolvimento Humano e

32

Competitividade esse plano foi a primeira tentativa do estado em amadurecer os dilogos e

parceiras entre governo e a populao, foi o instrumento de mudana e renovao no cenrio

poltico baiano; representantes de Conselhos, associaes, lideranas empresariais, ONGs e

sindicatos participaram desse processo de inovao na gesto pblica baiana.

De acordo com Silva (2012, p. 100), este PPA foi elaborado no ano de 2003, ainda durante a

administrao do Governador Paulo Souto (2004-2007), na poca vinculado ao Partido da

Frente Liberal (PFL), tendo como foco o mbito social. Afirma ainda (idem, p. 107) que neste

PPA merece destaque o reordenamento do processo de planejamento de Estado, cujo avano

demonstrado atravs da consulta sociedade.

Aprovado sob a lei n 10.705 em 2007, o PPA 2008-2011 surge como mais um passo rumo ao

desenvolvimento do estado no que diz respeito evoluo da gesto democrtica. Este PPA

foi organizado inicialmente a partir dos territrios de identidade, vale lembrar que a princpio

existiam 13 territrios de identidade, at o PPA 2008-2011 eram 26, mas atualmente eles so

27 (a partir de 2012), sendo a ttulo de conhecimento: Irec, Velho Chico, Chapada

Diamantina, Sisal, Litoral Sul, Baixo Sul, Extremo Sul, Mdio Sudoeste da Bahia, Vale do

Jequiri, Serto do So Francisco, Bacia do Rio Grande, Bacia do Paramirim, Serto

Produtivo, Piemonte do Paraguau, Bacia do Jacupe, Piemonte da Diamantina, Semirido

Nordeste, Litoral Norte e Agreste Baiano, Portal do Serto, Vitria da Conquista, Recncavo,

Mdio Rio de Contas, Bacia do Rio Corrente, Itaparica, Piemonte Norte do Itapicuru, Regio

Metropolitana de Salvador e Costa do Descobrimento.

O programa Territrios de Identidade institudo pelo decreto n. 12.354 de 25 de agosto de

2010, com a finalidade de promover o desenvolvimento econmico e social dos territrios de

identidade na Bahia. O decreto define Territrio de Identidade como agrupamento identitrio

municipal, formado de acordo com critrios sociais, culturais, econmicos e geogrficos, e

reconhecidos pela sua populao como espao historicamente construdo ao qual pertence

com identidade que amplia as possibilidades de coeso social e territorial. Define ainda que

a Secretaria de Planejamento a responsvel pela coordenao do programa, a qual deve

desenvolver um planejamento territorial de polticas, ampliar a participao social na gesto

das polticas, valorizando a diversidade cultural, econmica, social e geogrfica.

A partir da so institudos: o Conselho Estadual de Desenvolvimento Territorial

(CEDETER), como um frum consultivo permanente para subsidiar a elaborao de polticas

pblicas territoriais, aliceradas na proposta de desenvolvimento sustentvel, em permanente

dilogo com instituies pblicas, entidades da sociedade civil e Colegiados Territoriais. O

33

CEDETER entre outras competncias responsvel pela homologao dos Colegiados de

Desenvolvimento Territoriais (CODETER), os quais so definidos como fruns consultivos

de discusso local de aes e projetos de desenvolvimento territorial, composto paritariamente

por representantes do poder pblico estadual e municipal, pela sociedade civil organizada, em

cada territrio.

O CEDETER composto por representantes das secretarias de Planejamento,

Desenvolvimento e Integrao Regional; Sade, Educao, Cultura, Desenvolvimento Urbano

e Relaes Institucionais, Agricultura, da Delegacia Estadual do Ministrio de

Desenvolvimento Agrrio, do Ministrio de Integrao Regional e de representantes do

CODETER.

Pode-se observar que a composio destes dois conselhos, responsveis pelo planejamento do

desenvolvimento dos territrios, ampla e abre espao para representao da sociedade civil

dos territrios.

A breve descrio do Programa Territrios de Identidade na Bahia possibilita uma melhor

compreenso do PPA Participativo, pois este ltimo se vincula ao Programa dos Territrios,

uma vez que os territrios so unidades a partir das quais o planejamento elaborado no

estado. Alm disso, as discusses do PPA-P ocorrem de quatro em quatro anos e elas no

esto desvinculadas das atividades frequentes do Programa Territrios de Identidade. Como

vamos observar, os mecanismos institucionais se entrecruzam com os do Programa dos

Territrios.

O decreto n. 11.123 de 30 de Junho de 2008 instituiu o Conselho de Acompanhamento do

Plano Plurianual (CAPPA)- PPA 2008-2011- para subsidiar e aconselhar o governo do estado

na execuo do referido PPA e propor ajustes necessrios. O CAPPA se compe de

representantes governamentais (Secretrio de Planejamento e Secretrio de Relaes

Institucionais) e de representantes da sociedade civil (dois representantes de cada um dos

territrios).

Os membros do CODETER participam do CAPPA, acompanhando a execuo do PPA, o

qual foi discutido e contou com a colaborao dos representantes das entidades em cada

territrio.

De acordo com a SEPLAN, aps o primeiro PPA-P, em 2007, outros processos de consulta

sociedade civil foram realizados no estado, como as conferncias de cultura, educao,

direitos humanos, comunicao, juventude e igualdade social. Alm disso, aconteceram os

34

dilogos territoriais, entre os meses de abril e junho de 2010, promovidos pelo CAPPA e pela

Coordenao Estadual dos Territrios (CET).

Para o plano de 2008-2011 foram realizadas reunies nos 26 territrios de identidade,

resultando em oito mil propostas. O prazo para enviar o PPA ao Legislativo era at 31 de

agosto. Foram realizadas plenrias em 17 territrios de identidade, as quais contaram com a

participao diria de 800 pessoas.

Aps a apresentao das propostas nas plenrias, o conjunto delas analisado na Secretaria de

Planejamento, onde podem ser ou no validadas. Entre os aspectos que so avaliados na

validao das propostas esto: elas devem ser claras; no so validadas propostas cujo

contedo envolva outros entes federativos, que no o Estado da Bahia; tambm no so

validadas redaes confusas e aquelas que j tenham sido contempladas em outras propostas.

Aps a validao os textos das propostas so revisados, formalizados e uniformizados, sendo

esto posteriormente sistematizadas em eixos, ncleos temticos e temas. Tais propostas so

encaminhadas para as respectivas secretarias, que definem a incluso ou no no seu

planejamento, sendo reenviadas para a SEPLAN, responsvel pela organizao e finalizao

do PPA, a ser enviado para apreciao no Legislativo.

Segundo informaes da SEPLAN vrios princpios foram considerados na formulao do

PPA Bahia, sendo eles: a adoo do mapa estratgico de governo como referncia para a

consulta pblica, enfoque territorial dos processos de planejamento, envolvimento das

secretarias na implementao do PPA-P, qualificao dos servidores pblicos estaduais para a

moderao das plenrias territoriais e a transparncia.

Sendo assim, de acordo com os dados apresentados, pode-se afirmar que o PPA-P 2008-2011,

foi primeira experincia consolidada de participao efetiva da sociedade no planejamento

governamental baiano, com ideias inovadoras e mecanismos de maior organizao, o

planejamento participativo mostrou que se realizado desta forma, torna-se um poderoso

instrumento estabelecedor de um dilogo entre populao e governo.

O plano mais recente o 2012-2015, dados extrados do Caderno SEPLAN (idem p. 43)

apontam que basicamente foi adotado o mesmo mecanismo de elaborao do PPA-P anterior,

buscando-se apenas corrigir as falhas. Aqui, procurou-se, por exemplo, realizar: i) proposio

de um seminrio de apresentao do Plano a representantes territoriais, foram convocados

nove representantes por territrio: integrantes do CAPPA, do CODETER, do CEDETER e

dos GTTs. Com esse seminrio buscou-se mostrar aos participantes um balano dos sucessos

35

e insucessos da experincia do PPA-P, visando melhoras e tornar mais eficiente o andamento

do presente planejamento, bem como: qualificar as propostas e indicar as limitaes

oramentrias com o intuito de fazer com que cientes das condies dos governos, as

propostas condissessem com o que poderia de fato ser realizado.

O PPA Participativo de 2012-2015 foi institudo pelo decreto n. 12.578 de 8 de fevereiro de

2011, com o objetivo de construir um relatrio de escuta social para contribuir na elaborao

do referido PPA. A novidade aqui foi a criao dos GTTs Grupos de Trabalho Territoriais-

responsveis por fomentar a escuta social. Os GTTs tinham como membros, em cada

territrio, integrantes do CAPPA, do CEDETER, bem como da Diretoria Regional de

Educao (DIREC) e da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrcola (EBDA).

No entanto, da maneira que citado pela SEPLAN, impresso que se tem de que o

processo ocorreu de modo satisfatrio, no entanto vrios foram os aspectos negativos e

problemas encontrados pela administrao baiana durante e depois a realizao das plenrias

do PPA-P.

Em seus estudos, Pomponet (2012) apresenta vrios aspectos referentes a falhas no processo

de desenvolvimento deste mecanismo de participao social. Entre elas esto:

a) Tumultuado processo consultivo nos Colegiados Territoriais: a ausncia de normas

claras para o processo de indicao das propostas tais como a definio de recursos

programados, a comunicao prvia s secretarias responsveis ou a efetiva

incorporao da proposta ao Plano Plurianual 2008-2011, para que, assim, pudesse ser

incorporada LOA 2010- somou-se desarticulao de diversos Colegiados

Territoriais para a conduo da consulta, acarretando dvidas ou falhas na indicao

das prioridades;

b) No engajamento das secretarias setoriais na discusso sobre as prioridades

territoriais;

c) [...] por falta de mecanismos, dvidas entre os conselheiros: no se sabia se as

propostas haviam sido incorporadas ao oramento; se seriam executadas ou, at

mesmo, se foram executadas; e se as secretarias estavam, de fato, analisando as

propostas;

d) A estratgia empregada pela Secretaria de Planejamento de tentar construir um elo

entre as demandas do PPA Participativo e as leis oramentrias de 2010 e de 2011,

quando a estratgia de consultar os colegiados territoriais foi novamente empregada,

36

acabou fracassando. A escassez de recursos foi alegada pelos rgos oramentrios e a

articulao frgil entre os representantes da sociedade e as secretarias estaduais, que

no estabeleceram dilogos com os fruns territoriais nos quatro anos de vigncia do

plano, foram determinantes para o insucesso;

e) Pouca disposio das secretarias estaduais de discutir prioridades territoriais com o

CAPPA;

f) Pouca disposio para o dilogo com os movimentos sociais por parte da equipe

tcnica das secretarias;

g) Propostas que no foram registradas;

h) Modificaes no teor das propostas e mudanas nos eixos temticos, contrariando o

que havia sido acordado nas reunies plenrias;

i) Falta de legitimidade para a indicao de novas prioridades pelos conselheiros, j que

no existem regras que permitam a formulao de novas reinvindicaes;

j) O processo de consulta nos territrios ocorreu sem qualquer espcie de superviso das

secretarias do Planejamento e de Relaes Institucionais;

k) Problemas como a elaborao de novas propostas e total ausncia de metodologia

referente ao processo de indicao;

l) Fragilidades dos representantes do CAPPA em alguns territrios e desarticulao dos

Colegiados Territoriais;

m) Ausncia de metodologia clara para a eleio das prioridades e a definio sem a

mediao de representantes do Estado, o que tornou o processo pouco transparente;

n) Ausncia do governador e de gestores governamentais nas reunies do CAPPA

o) Precria infraestrutura necessria para o conselho;

p) Na prtica, baixa territorializao das aes de governo;

q) O governo no disponibilizou recursos para mobilizao da populao para a

realizao das plenrias do PPA-P 2012-2015.

Com todos os quesitos acima apontados, pode-se concluir que h uma grande fragilidade nos

mecanismos adotados pelo governo estadual na tentativa de consolidar a gesto democrtica

na Bahia. Inicialmente, o descompromisso por parte dos gestores acaba sendo um dos fatores

primordiais para os insucessos que se sucederam, por exemplo, na continuidade dos trabalhos

exercidos pelo CAPPA.

A experincia mostra que a Bahia sai frente de outros estados brasileiros na tentativa de

desenvolver gestes cada vez mais democrticas, no entanto preciso explicitar que enquanto

37

houver grandes disparidades entre a teoria e a prtica, ficar mais difcil alcanar um nvel

totalmente satisfatrio de participao social na administrao pblica.

No discurso adotado pela Secretaria de Planejamento do estado fica-se a sensao de que na

Bahia os mecanismos utilizados para promover a democracia participativa esto adequados,

no entanto, preciso que maior ateno seja dada aos problemas oriundos de tais experincias

na tentativa de dar ao processo maior qualidade e eficincia.

A Bahia passou por longos anos de administraes autoritrias e fechadas (entende-se aqui

fechadas como administraes cujas decises foram tomadas internamente sem interferncia

direta da populao), natural que as primeiras experincias apresentem falhas que precisem

ser corrigidas, mas a administrao no pode adotar o discurso egocntrico e no reformular

os mtodos para as prximas experincias.

Villanueva (2003) direciona suas anlises para a importncia da interao entre governo e

sociedade civil, para que assim sejam construdos consensos sobre a elaborao das polticas

pblicas. Segundo ele a elaborao corresponde ao processo mais complexo j que exige

muita informao e conhecimento sobre a realidade a ser enfrentada.

Muitos desafios ainda precisam ser vencidos, a resistncia de muitos prefeitos que consideram

o PPA-P um projeto esquerdista, os desafios para transform-lo em uma cultura e as

dificuldades de desburocratizar o governo e estimular a sociedade a participar.

O fato de a Bahia ter sido o primeiro estado brasileiro a criar mecanismos institucionais legais

que garantem a participao na elaborao do planejamento do estado no significa que

realmente estes mecanismos garantam de modo eficiente participao popular e gere aes

que busquem atender as demandas da populao. de responsabilidade da administrao

pblica zelar pelo bem-estar social e promover polticas que o garantam.

O levantamento dessas informaes permite afirmar que o PPA-P na Bahia ainda necessita de

investimentos em recursos financeiros, humanos e em tecnologia administrativa. As gestes

conservadoras que se antecederam no governo do estado fazem com que muitos servidores se

oponham a mudanas no planejamento estadual e se tornem obstculo para ampliar a gesto

democrtica no estado.

38

6. O Plano Plurianual nos municpios

O desenvolvimento local e a execuo de polticas pblicas voltadas para a melhoria dos

municpios brasileiros vm acompanhando o debate sobre o Planejamento Plurianual. A

articulao entre o governo federal, estadual e municipal vem gerando pontos positivos

quando o assunto planejar aes voltadas para o desenvolvimento das cidades brasileiras.

Pensando nisso, o Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto (junto a Secretaria de

Planejamento e Investimentos Estratgicos) props as Agendas de Desenvolvimento

Territorial, cujo objetivo construir uma viso compartilhada de planejamento a partir da

convergncia das estratgias federal e estadual constante nos respectivos planos plurianuais,

sobretudo nas intervenes j em execuo ou planejadas. Na medida em que as Agendas de

Desenvolvimento foram sendo pactuadas, os municpios tero informaes estratgicas para

elaborar os seus planos plurianuais, considerando as oportunidades de mobilizao de

investimentos federais e estaduais, evitando assim que investimentos planejados ou em

andamento deixem de ser considerados pelo municpio no seu planejamento.

Segundo dados retirados do Programa de Apoio Elaborao e Implementao dos PPAs

municipais- 2014-2017- Agendas de Desenvolvimento (2013, p. 9) o objetivo de tal material

contribuir como um roteiro para os tcnicos e gestores das Secretarias Municipais de

Planejamento com a finalidade de orientar e acompanhar a elaborao dos PPAs municipais.

De acordo com o captulo IV, art. 30 da Constituio Federal:

Compete aos municpios (EC n 53/2006):

I- Legislar sobre assuntos de interesse local;

II- Suplementar a legislao federal e a estadual no que couber;

III- Instituir e arrecadar os tributos de sua competncia, bem como aplicar suas rendas,

sem prejuzo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos

fixados em lei;

IV- Criar, organizar e suprimir Distritos, observada a legislao estadual;

V- Organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, os

servios pblicos de interesse local, includo o de transporte coletivo, que tem carter

essencial;

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VI- Manter, com a cooperao tcnica financeira da Unio e do Estado, programas de

educao infantil e de ensino fundamental;

VII- Prestar, com a cooperao tcnica e financeira da Unio e do Estado, servios de

atendimento sade da populao;

VIII- Promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e

controle do uso do parcelamento e da ocupao do solo urbano;

IX- Promover proteo do patrimnio histrico-cultural, observada a legislao e a ao

fiscalizadora federal e estadual.

O art. 44 da Lei de Responsabilidade Fiscal (2000) apresenta:

No mbito municipal, a gesto oramentria participativa de que trata a alnea f do

inciso III do art. 4 desta Lei incluir a realizao de debates, audincias e consultas

pblicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes oramentrias e

do oramento anual, como condio obrigatria para sua aprovao pela Cmara

Municipal.

Diante dessas competncias possvel entender como a realizao do Planejamento

Participativo contribui para que o municpio atenda as necessidades da populao e lhes

garanta o direito de participar das etapas decisrias de formulao implementao de

polticas pblicas.

6.1 O Estatuto da Cidade

O Estatuto da cidade se refere Lei Federal de n 10.257 e foi criado para regulamentar os

artigos 182 e 183 da Constituio Federal que ditam a poltica de desenvolvimento urbano e

normas de ordem pblica bem como de interesse social.

Em seu art. 2 a lei regulamenta que entre seus objetivos a poltica urbana tem como

diretrizes garantia do direito a cidades sustentveis, entendido como o direito terra urbana,

moradia, ao saneamento ambiental, infraestrutura urbana, ao transporte e aos servios

pblicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras geraes; e gesto democrtica

por meio da participao da populao e de associaes representativas dos vrios segmentos

da comunidade na formulao, execuo e acompanhamento de planos, programas e projetos

de desenvolvimento urbano.

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Logo, o Estatuto da Cidade surge como um instrumento importante na tentativa de tornar a

gesto pblica brasileira mais democrtica e acessvel, contando com outras ferramentas

como o Plano Diretor.

6.2 O Plano Diretor

De acordo com Andrade (2010, p. 12-13) o Plano Diretor constitui-se no principal

instrumento de planejamento sustentvel das cidades, contribuindo na definio de diretrizes

para expanso urbana e de desenvolvimento nas mais diversas reas, como turstica, industrial

etc., visando sempre o interesse da coletividade. por meio dele que as normas para

utilizao dos demais instrumentos da poltica urbana municipal so inseridas no

planejamento municipal, possibilitando que os mesmos sejam utilizados.

O Plano Diretor deve estar ligado a todos os instrumentos de planejamento (PPA, LDO e

LOA), sendo que este vnculo se estabelece mediante programas e aes inseridas no PPA

investimentos considerados prioritrios pela LDO e garantia da LOA de que os recursos

investidos sejam executados. Este Plano surge como um mecanismo constitucional de

garantia participao popular na administrao pblica.

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7. Metodologia

Essa pesquisa foi realizada utilizando-se o mtodo qualitativo, est pautada em resultados

obtidos mediante documentao indireta (fontes primrias e bibliogrficas) e documentao

direta (entrevistas).

Documentao indireta

Como bem afirma Amaral (2007, p.1) a pesquisa bibliogrfica uma etapa fundamental em

todo trabalho cientfico que influenciar todas as etapas de uma pesquisa, na medida em que

der o embasamento terico em que se basear o trabalho. Sendo assim, buscou-se inicialmente

fazer um levantamento da literatura sobre a histria do planejamento governamental em

mbito nacional e estadual, visando entender como se deu o desenvolvimento do sistema de

planejamento brasileiro at o que hoje se conhece por planejamento participativo.

O acesso bibliografia foi feito de modo manual e eletrnico. Com tais documentos foi

possvel analisar as diferentes percepes dos autores quanto ao planejamento, planejamento

participativo e sua evoluo no Brasil e na Bahia; bem como acompanhar o processo de

evoluo da gesto democrtica no estado.

Neste aspecto, incluram-se nas anlises documentais as atas das 12 plenrias que ocorreram

durante a elaborao do PPA-P no municpio de Santo Amaro, cujo contedo ser mais

explorado no ponto 7.1.

Para Godoy (1995, p. 21) a pesquisa documental constituda pelo exame de materiais que

ainda no receberam um tratamento analtico ou que podem ser reexaminados com vistas a

uma interpretao nova ou complementar; como no caso das atas, onde a anlise minuciosa de

seus contedos permitir compreender para quais reas ento voltadas as demanda da

populao e quais as principais propostas.

Documentao direta

Goldenberg (2009) afirma que a pesquisa qualitativa til para identificar conceitos e

variveis relevantes de situaes que no podem ser estudadas quantitativamente. inegvel a

riqueza que pode ser explorar os casos desviantes da mdia que ficam obscurecidos nos

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relatrios estatsticos bem como o valor da pesquisa qualitativa para estudar questes difceis

de quantificar, como sentimentos, motivaes, crenas e atitudes individuais. Nesse sentido, a

tcnica das entrevistas torna-se fundamental para identificar nos entrevistados as reaes e

aferir se seus comportamentos apresentam controvrsia em relao as suas palavras.

Segundo Martins (2004), a pesquisa qualitativa definida como aquela que privilegia a

anlise de micro processos, atravs do estudo das aes sociais individuais e grupais,

realizando um exame intensivo dos dados, e caracterizada pela heterodoxia no momento da

anlise. O que se adequa aos objetivos deste estudo que esto voltados tambm a compreender

a participao, ou no participao, dos indivduos no Planejamento Participativo no

municpio de Santo Amaro.

Afirma ainda que a metodologia qualitativa, mais do que qualquer outra, levanta questes

ticas, principalmente, devido proximidade entre pesquisador e pesquisados. Ainda que a

maioria dos pesquisadores (especialmente os socilogos) dedique pouca ateno a essa

questo, existe uma elaborada discusso- principalmente entre os antroplogos- que procura

dar conta dos problemas decorrentes da relao de alteridade entre os dois plos na situao

de pesquisa.

A pesquisa de dados foi realizada mediante levantamento e anlise documental sobre o

planejamento no Brasil e na Bahia e discusses iniciais sobre a gesto democrtica, mas as

respostas para os questionamentos que iniciaram essa discusso foram encontradas

principalmente atravs das entrevistas. De acordo com Roesch a entrevista (1996, p. 150):

uma tcnica demorada e requer muita habilidade do entrevistador. Seu objetivo

primrio entender o significado que os entrevistados atribuem a questes e

situaes em contextos que foram estruturados anteriormente a partir de suposies

do pesquisador.

As entrevistas e as relaes estabelecidas entre o pesquisador e os envolvidos neste processo

tornam-se fundamentais para o andamento da pesquisa e os resultados que sero obtidos, j

que elas permitiro reconhecer nos gestores e na populao as concepes do processo de

realizao do PPA-P. Neste contexto, Zanten (2004) apresenta que como a seleo do campo

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de estudo, a conduo das entrevistas supem a observao de um conjunto de regras que tem

que observar primeiramente com a pertinncia cientfica e social a guia da entrevista; o que se

adqua a metodologia em que esta pesquisa est embasada, j que foram entrevistados

tcnicos da secretaria de Administrao do municpio e 10 participantes de uma das plenrias.

De modo geral, as informaes diretas referentes metodologia aplicada no processo de

implementao do PPA-P no municpio foram oriundas das entrevistas, j que as atas das

reunies no possuam dados suficientes para obteno de resultados e no existia outra fonte

onde tais informaes pudessem ser consultadas, por exemplo, no site da prefeitura ou em

documentos legais de domnio da mesma.

Foram ento elaborados dois roteiros semiestruturados das entrevistas, um direcionado aos

tcnicos da secretaria de Administrao e outro aos participantes de uma das plenrias que

ocorreu na zona urbana da cidade.

De modo geral, inicialmente foi realizado um levantamento bibliogrfico para obter

embasamento terico necessrio para iniciar as discusses referentes ao planejamento no

Brasil, a participao popular, a gesto democrtica no Brasil e na Bahia e os aspectos

voltados ao Planejamento Participativo (definies, mecanismos de institucionalizao etc.).

Realizou-se ainda anlise de dados secundrios oriundos de pesquisas feitas na internet e

documentos digitalizados, buscando-se ampliar as informaes disponibilizadas no trabalho.

Posteriormente foram realizadas entrevistas com tcnicos da Secretaria de Administrao,

responsveis pela execuo e andamento das plenrias do planejamento participativo

municipal, com o intuito de colher informaes a respeito de como este processo aconteceu,

desde a sua organizao at a implementao e a realizao das plenrias. Busca-se neste

momento identificar a viso que a administrao tem da importncia da participao popular

nos processos de formulao e implementao de polticas pblicas, bem como o

conhecimento que possuem sobre como o PPA-P deve ser estruturado.

Num terceiro momento foram realizadas entrevistas com um grupo de indivduos que

participaram das plenrias do PPA-P nos bairros. O objetivo aqui foi obter informaes

referentes s necessidades dos muncipes bem como a opinio destes a respeito da

importncia do planejamento participativo realizado no municpio.

Na quarta etapa foram analisadas as atas das plenrias bem como registros referentes s

mesmas, com o objetivo de fazer um levantamento das propostas apresentadas, o nvel de

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participao, os bairros com maior ndice de participao e os bairros onde a participao

ocorreu de modo menos efetivo, sendo apontadas as localidades que foram escolhidas para

que ocorressem as plenrias do PPA-P.

Com as entrevistas concludas e os dados necessrios colhidos, as informaes foram

avaliadas e organizadas em categorias similares.

Ex. Principais preocupaes dos muncipes, bairros com maior ndice de

participao, rea que recebeu maior nmero de propostas e quais propostas etc.

importante salientar que:

Para a realizao das entrevistas contou-se com dados e informaes previamente

obtidas referentes a planejamento participativo bem como sobre metodologia de PPAs

municipais.

Todo depoimento oral, visto como fundamental para o desenvolvimento da pesquisa

foi gravado e transcrito.

7.1 Atas das Plenrias

Todas as reunies do PPA-P municipal possuem registros do que teoricamente foi dito pelos

participantes. Para a anlise das atas os contedos foram divididos de acordo com as plenrias

e os temas, visando levantar, de modo geral, quais foram s propostas direcionadas a cada

rea (secretaria). Foram construdas tabelas, onde separadas por reas as propostas foram

identificadas. No entanto, h dificuldade em afirmar a veracidade de tais informaes j que

as atas foram produzidas manualmente e em papis avulsos, ou seja, no houve cuidado por

parte da equipe de tcnicos em estruturar este processo com maior formalidade.

A anlise das atas teve como principal objetivo identificar de modo geral quais as demandas

apontadas pelos muncipes. No entanto o modo atravs do qual este processo foi elaborado

possui falhas. No existe nas atas dimenses que facilitem a compreenso das questes

apontadas pelos participantes das plenrias, j que as anotaes foram feitas em folhas de

papel ofcio sem formalidade- sem possuir sequer o timbre da prefeitura ou marca que

comprove a sua legalidade- o que se apresentou como dificuldade no desenvolvimento do

trabalho.

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Contudo, observa-se que no houve estrutura adequada de formulao das fichas nas quais as

informaes seriam transcritas. Nos relatrios constam apenas as supostas propostas,

finalidades/justificativas apresentadas de modo subjetivo- onde no fica explcito se estas so

de acordo com a viso da administrao ou dos participantes-, as aes que seriam realizadas

de acordo com as propostas citadas -tambm apresentadas de modo subjetivo- e um quadro

destinado divulgao dos prazos de incio e realizao das atividades, mas que, no entanto

no foram informados.

7.2 Entrevistas

A coleta de dados referente s informaes sobre o ndice de participao e toda a estrutura do

PPA-P realizado no municpio foi feita mediante entrevistas realizadas com os tcnicos da

Secretaria de Planejamento, envolvidos diretamente no processo e representados em sua

maioria pelo controlador do municpio, e com 10 participantes de uma das plenrias, cujos

nomes sero preservados.

7.2.1 Tcnicos da Secretaria de Administrao

Os tcnicos da Secretaria de Administrao tiveram como porta-voz principal o controlador

do municpio, Senhor Wanderley Rocha, que cedeu entrevista respondendo a indagaes

referentes viso da administrao pblica de todo o processo realizado, desde como foi

estruturado o modelo do PPA-P implementado no municpio desde como viam a participao

da populao nas plenrias.

Entre as perguntas feitas ao entrevistado estavam:

a) Quando a administrao percebeu que era importante acelerar o processo de

participao no municpio?

b) Como foi estruturado e implementado o modelo de PPA-P no municpio?

c) Quais os meios de divulgao utilizados?

d) Houve comprometimento por parte dos participantes?

e) Nas plenrias haviam debates?

f) Quais as principais demandas da populao?

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g) De que modo administrao v a importncia da participao?

h) O municpio seguiu o modelo de outra localidade?

i) Considera a experincia exitosa?

j) Qual o mecanismo adotado para a validao das propostas?

k) Os temas foram priorizados de acordo com as necessidades dos bairros?

l) Quais as dificuldades encontradas durante este processo?

Com as respostas obtidas mediante as entrevistas realizadas com tcnicos da secretaria de

Administrao nitidamente percebe-se que os gestores possuem uma viso preconceituosa no

que se refere participao dos indivduos na formulao de polticas pblicas. Para eles, a

maior parte da populao no possui conhecimento e esclarecimento que os permitam fazer

parte de tal processo.

Esta viso reflete a gesto burocrtica e autoritria que durante anos se perpetuou no Brasil. O

que traz inclusive uma resistncia por parte dos gestores em entender que a participao social

alm de otimizar os resultados- j que se entendendo o que prioridade para os indivduos

torna-se mais fcil desenvolver aes que desencadeiem desenvolvimento efetivo da

comunidade- importante para promoo e amadurecimento da gesto democrtica brasileira.

Com as entrevistas, como bem cita Goldenberg (2009) quando afirma que