174
Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 Mato Grosso, Brasil Lúcia Dias da Silva Guerra Cuiabá-MT 2011 Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva UFMT, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em Saúde Coletiva Área de concentração: Saúde Coletiva Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e Promoção da Saúde Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra

Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de ... óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes,

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Análise da insegurança alimentar e nutricional e

fatores associados em domicílios com adolescentes de

municípios da área de abrangência da BR 163 –

Mato Grosso, Brasil

Lúcia Dias da Silva Guerra

Cuiabá-MT

2011

Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Saúde Coletiva

Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de

Saúde Coletiva – UFMT, como parte dos

requisitos para obtenção do Título de Mestre em

Saúde Coletiva

Área de concentração: Saúde Coletiva

Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e

Promoção da Saúde

Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa

Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra

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Análise da insegurança alimentar e nutricional e

fatores associados em domicílios com adolescentes de

municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato

Grosso, Brasil

Lúcia Dias da Silva Guerra

Cuiabá-MT

2011

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de

Saúde Coletiva – UFMT, como parte dos

requisitos para obtenção do Título de Mestre em

Saúde Coletiva

Área de concentração: Saúde Coletiva

Linha de Pesquisa: Alimentação, Nutrição e

Promoção da Saúde

Orientador: Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa

Co-orientadora: Profª Drª Aída Couto D. Bezerra

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Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

G934a Guerra, Lúcia Dias da Silva.

Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados

em domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência

da BR 163 - Mato Grosso, Brasil / Lúcia Dias da Silva Guerra. -- 2011.

176 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Mariano Martínez Espinosa.

Co-orientadora: Aída Couto D. Bezerra.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso,

Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde

Coletiva, Cuiabá, 2011.

Inclui bibliografia.

1. Segurança alimentar. 2. Insegurança alimentar – Adolescentes. 3.

Insegurança alimentar – Mato Grosso. 4. Insegurança nutricional. 5.

Alimentação adequada – Direito humano. I. Título.

CDU 614.31:613.2-053.6(817.2)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099

Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte

É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma

impressa como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida

exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a

identificação do autor, título, instituição e ano da dissertação.

Page 4: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de ... óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes,

Dedico esta Dissertação,

Á Deus, Jesus e Maria, meu porto seguro, meu refúgio, fontes

de sabedoria, coragem e vitória! ao Espírito Santo pela

inspiração e dons recebidos...

Aos meus familiares, meus pais Sildiná e João, minha irmã

Bruna Íris.

Á todos que pelo caminho, decoraram o jardim da minha vida

até aqui...

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AGRADECIMENTOS

Á Deus pelo zelo e cuidado, comigo e minha família, permitindo que eu construísse

esse caminho.

Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de

oportunidades.

Ao Instituto de Saúde Coletiva, Professores e Secretários (Jurema e Hailton), pelo

acolhimento, pela dedicação, por me auxiliarem sempre.

Ao meu orientador Prof. Dr. Mariano Martínez Espinosa, pela dedicação, pelos

ensinamentos desde a iniciação científica, pela amizade e exemplo.

Á minha Co-orientadora Profª. Drª Aída Couto Dinucci Bezerra, pelos

ensinamentos desde a graduação, pela dedicação, amizade e exemplo.

Á minha turma de mestrado/2009 e a turma de mestrado/2010, pelo convívio, pelas

alegrias, partilhas e comemorações.

Ao Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional/NESAN,

professores, bolsistas, mestrandos, por terem me ensinado a ser também uma

pesquisadora.

Á Faculdade de Nutrição, pelos professores e técnicos, que nas visitas e convívios

esporádicos puderam partilhar comigo meus sonhos e o meu crescimento.

Á toda(o)s minha(o)s querida(o)s amiga(o)s que construí durante esses anos que

permaneci em Cuiabá-MT.

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Não sei

Não sei ... se a vida é curta

ou longa demais pra nós.

Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,

se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:

Colo que acolhe,

Braço que envolve,

Palavra que conforta,

Silêncio que respeita.

Alegria que contagia,

Lágrima que corre,

Olhar que acaricia,

Desejo que sacia,

Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,

é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela

não seja curta,

nem longa demais.

Mas que seja intensa

Verdadeira, pura ...

Enquanto durar.

(Cora Coralina)

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Guerra LDS. Análise da insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em

domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 –

Mato Grosso, Brasil [dissertação de mestrado]. Cuiabá/MT: Instituto de Saúde

Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2011.

Resumo

Introdução - A insegurança alimentar e nutricional é uma questão multidimensional

que se configura como um problema de saúde mundial e está diretamente relacionada

com a luta pelo Direito Humano a Alimentação Adequada. Objetivo - Analisar a

situação de insegurança alimentar e nutricional e fatores associados em domicílios

com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso.

Métodos - Estudo transversal, realizado por meio de inquérito domiciliar, com

amostra de 391 domicílios com 592 adolescentes na faixa etária de 10 a 19 anos,

pertencentes a famílias da área urbana dos municípios de Alta Floresta, Diamantino,

Sinop e Sorriso. A situação de insegurança alimentar dos domicílios foi investigada

através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. Na análise dos dados foram

utilizadas estatísticas descritivas e estatísticas inferenciais como razão de prevalência

com seus respectivos intervalos de confiança de 95% e por meio do teste de qui-

quadrado (χ2) de Pearson verificou-se a associação entre as variáveis, com nível de

significância de p<0,05. Para comparar em média a frequência de disponibilidade e

consumo de alimentos nos domicílios, uma análise da variância múltipla foi

utilizada, considerando um nível de significância de p<0,05. Posteriormente realizou-

se análise de regressão múltipla de Poisson. Resultados - Dos domicílios estudados

51,8% estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional (28,7% em

insegurança leve, 14,3% insegurança moderada, 8,8% insegurança grave). Dos

adolecentes, 52,6% eram do sexo feminino, 50,7% tinham idade entre 10 e 14 anos,

64,7% eram de cor não branca, 50,0% tinha escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo.

Quanto ao estado nutricional: 82,3% estavam eutróficos, 10,5% em sobrepeso, 4,0%

baixo peso e 3,2% apresentaram obesidade. Nos domicílios em que estava presente a

situação de insegurança alimentar, houve maior disponibilidade de alimentos

energéticos (pães, cereais, raízes e tubérculos, óleos e gorduras, açúcar e doces) e

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leguminosas. Sobre o consumo alimentar dos adolescentes, predominou alimentos

dos grupos: leguminosas, hortaliças, óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes,

sucos e infusões. Na análise da regressão múltipla de Poisson as variáveis que

mantiveram-se associadas a situação de insegurança alimentar foram: a renda

familiar per capita, a produção de alimentos no domicílio, o tempo de residência e

escolaridade do chefe da família. Conclusão – Os resultados sugerem a

implementação de políticas voltadas para a saúde pública, como políticas de

saneamento básico, ações educativas tanto no nível domiciliar, quanto individual

sobre alimentação e nutrição. É essencial a disceminação do conceito e o significado

da insegurança alimentar, bem como, informar o acesso a mecanismos sociais,

programas e serviços disponíveis à população, de forma que contribua para a

diminuição das desigualdades sociais e o combate a fome.

Descritores: insegurança alimentar, adolescentes, rodovia BR-163, consumo

alimentar, disponibilidade de alimentos.

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Guerra LDS. Analysis of food and nutrition insecurity and factors associated with

adolescents in households of municipalities in the area of BR 163 - Mato Grosso,

Brazil [dissertation]. Cuiabá/MT: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade

Federal de Mato Grosso; 2011.

Abstract

Introduction – The food and nutrition insecurity is a multidimensional issue that is

configured as a global health problem and is directly related to the struggle for

Human Right to Adequate Food. Objective - To analyze the situation of food

insecurity and nutritional and factors associated with adolescents in households of

municipalities in the area of BR 163 – Mato Grosso, Brazil. Methods - Cross-

sectional study, conducted through a household survey with a sample of 391

households with 592 adolescents aged 10 to 19 years belonging to families of the

urban municipalities of Alta Floresta, Diamantino, Sinop and Sorriso. The food

insecure households was investigated by the Brazilian Food Insecurity Scale. In the

data analysis were used descriptive statistics and inferential statistics as prevalence

ratio with their respective confidence intervals of 95% and by the chi-square (χ2)

Pearson verified the association between variables, with level of significance of p

<0.05. To compare the average frequency of availability and food consumption in

households, a multiple analysis of variance was used, considering a significance level

of p<0,05. Subsequent analysis was performed using Poisson multiple regression.

Results - Of the households surveyed 51,8% were situation food and nutrition

insecurity (28,7% in mild insecurity, 14,3% insecurity moderate, 8,8% severe

insecurity). Among the adolescents, 52,6% were female, 50,7% were aged between

10 and 14 years, 64,7% were nonwhite, 50,0% had high school between 5 and 8

years of study, regarding nutritional status, 82,3% were eutrophic, 10,5% were

overweight, 4,0% underweight and 3,3% obese. In households where it was present

situation of food insecurity, was greater availability of energy foods (breads, cereals,

roots and tubers, oils and fats, sugar and sweets) and legumes. Of dietary intakes of

adolescents, between the consumption of legumes, vegetables, oils and fats, sugar

and sweets, soft drinks, juices and teas. In the analysis of Poisson multiple regression

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10

the variables that were associated with food insecurity were: family income per

capita monthly, food production in households, duration of residence of head of

municipalities and schooling of household head. Conclusion - The results suggest

the implementation of policies for public health policies as sanitation, educational

activities both at household level, and individual food and nutrition. It is essential to

dissemination the concept and meaning of food insecurity, as well as informing the

access to social mechanisms, programs and services available to the population in

order to contribute to the reduction of social inequalities and fighting hunger.

Descriptors: hunger, public health, road BR-163, food consumption.

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ÍNDICE

Pág.

1 INTRODUÇÃO 23

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 28

2.1 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA

(DHAA) E SEGURANÇA ALIMENTAR (SA)

28

2.2 ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR 37

2.3 INDICADORES PARA AVALIAR A SITUAÇÃO DE

INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

40

2.3.1 Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome 40

2.3.2 Pesquisas Antropométricas 42

2.3.3 Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos 43

2.4 ADOLESCÊNCIA 44

2.4.1 Estado Nutricional 45

2.5 CENÁRIO DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS – ÁREA DE

ABRANGÊNCIA DA RODOVIA BR-163

47

3 OBJETIVOS 51

3.1 OBJETIVO GERAL 51

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 51

4 MÉTODOS 53

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO 53

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO 53

4.2.1 Municípios do estudo 55

4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO 59

4.3.1 Critérios de Exclusão 59

4.4 PLANEJAMENTO AMOSTRAL 59

4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO 62

4.5.1 Variável dependente 62

4.5.2 Variáveis independentes 64

4.5.2.1 Variáveis demográficas 64

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4.5.2.2 Variáveis de migração 64

4.5.2.3 Variáveis socioeconômicas 64

4.5.2.4 Variáveis relacionadas às condições de moradia e

saneamento

65

4.5.2.5 Medidas antropométricas 65

4.5.2.6 Variáveis relacionadas à situação de insegurança alimentar 67

4.6 MODELO DE ANÁLISE 69

4.7 SELEÇÃO E TREINAMENTO DE ENTREVISTADORES, ESTUDO

PILOTO E TRABALHO DE CAMPO

71

4.8 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA A QUALIDADE DOS

DADOS

71

4.9 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS 72

4.10 ASPECTOS ÉTICOS 73

4.11 FINANCIAMENTO 73

5 RESULTADOS 76

5.1 PERFIL DA POPULAÇÃO DO ESTUDO SEGUNDO VARIÁVEIS

DEMOGRÁFICAS, SOCIOECONÔMICAS E VARIÁVEIS

RELACIONADAS AO DOMICÍLIO

76

5.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

DOS DOMICÍLIOS ESTUDADOS

79

5.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS,

CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DOS

ADOLESCENTES

85

5.3.1 Disponibilidade de alimentos e consumo alimentar, comparando a

situação de segurança alimentar dos domicílios

89

5.4 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

98

5.4.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e

variáveis relativas ao domicílio

98

5.5 RESULTADOS DA REGRESSÃO MÚLTIPLA DE POISSON 101

Page 13: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de ... óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes,

6 DISCUSSÃO 104

6.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO 105

6.2 SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS 108

6.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS,

CONSUMO E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES

113

6.4 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS E CONSUMO ALIMENTAR,

COMPARADO À SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS

DOMICÍLIOS

118

6.5 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

126

6.5.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e

variáveis relativas ao domicílio

126

7 CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES 134

7.1 CONCLUSÕES 134

7.2 RECOMENDAÇÕES 135

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 138

ANEXOS

Anexo 1 – Planejamento Amostral do Projeto Matriz 163

Anexo 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 172

Anexo 3 - Termo de Aprovação Ética do Projeto de Pesquisa 173

Anexo 4 - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (2004) 174

Anexo 5 - Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (2010) e Pontuação para

classificação dos domicílios com e sem menores 18 anos de idade

175

Anexo 6 - Estágios da transição demográfica, epidemiológica e nutricional 176

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Lista de Tabelas

Tabela 1 - Número de domicílios com adolescentes segundo municípios

da área de abrangência da BR 163, considerando a perda de

domicílios por recusa ou ausência, Mato Grosso, 2006

60

Tabela 2 - Número de adolescentes, perdas por recusa ou ausência

segundo municípios da área de abrangência da BR 163, Mato

Grosso, 2006

60

Tabela 3 - Amostra de domicílios, indivíduos e amostra de adolescentes

entrevistados quanto ao consumo alimentar, segundo

municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso,

2006

61

Tabela 4 - Distribuição dos adolescentes e chefes das famílias, dos

municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso –

área de abrangência da BR-163 segundo variáveis

demográficas e socioeconômicas, Mato Grosso, 2007

76

Tabela 5 - Distribuição da renda, número de moradores, informações de

moradia e saneamento, produção de alimentos e participação

em programas sociais, dos domicílios com adolescentes de

municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso,

2007

77

Tabela 6 - Prevalência da situação de segurança alimentar em domicílios

dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso

- área de abrangência da BR 163 segundo a pontuação da

EBIA (2004) e da EBIA (2010)

79

Tabela 7 - Freqüência de respostas positivas às perguntas da EBIA, em

domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino,

Sinop e Sorriso, Mato Grosso, 2007

81

Tabela 8 - Distribuição da freqüência referida da disponibilidade de

alimentos nos domicílios segundo a situação de segurança

alimentar, em municípios da área de abrangência da BR 163,

Mato Grosso, 2007

89

Tabela 9 - Análise da variância do modelo linear da freqüência de

consumo por grupos de alimentos segundo a situação de

segurança alimenta dos domicílios

91

Tabela 10 - Distribuição da freqüência referida do consumo de alimentos

dos adolescentes, segundo a situação de segurança alimentar,

em municípios da área de abrangência da BR 163, Mato

Grosso, 2007.

93

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Tabela 11 - Tabela de análises da variância do modelo linear da

freqüência de consumo por grupo e por situação de segurança

alimentar

95

Tabela 12 - Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-

valor da situação de segurança alimentar e nutricional

segundo informações dos adolescentes e informações do chefe

da família, de municípios da área de abrangência da BR-163,

Mato Grosso, 2007

98

Tabela 13 - Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-

valor da situação de segurança alimentar e nutricional

segundo variáveis sócio-demográficas e variáveis relacionadas

aos domicílios de municípios da área de abrangência da BR-

163, Mato Grosso, 2007

99

Tabela 14 Modelo final da regressão múltipla de Poisson: variáveis

associadas à situação de insegurança alimentar em domicílios

dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso

- Mato Grosso, 2007

101

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Lista de Quadros e Figuras

Quadro 1 - Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos

um morador menor de 18 anos de idade

63

Quadro 2 - Pontuação para classificação dos domicílios com somente

moradores de 18 anos ou mais de idade

63

Quadro 3 - Descrição da situação de segurança alimentar 63

Quadro 4 - Pontos de corte de IMC por idade, estabelecidos para

adolescentes

67

Figura 1 - Modelo esquemático dos níveis de determinação da

segurança alimentar e nutricional

29

Figura 2 - O espaço social alimentar 38

Figura 3 - Área de abrangência da BR 163 54

Figura 4 - Localização geográfica do município de Alta Floresta - MT 55

Figura 5 - Localização geográfica do município de Diamantino - MT 56

Figura 6 - Localização geográfica do município de Sinop - MT 57

Figura 7 - Localização geográfica do município de Sorriso - MT 58

Figura 8 - Modelo de análise da situação de insegurança alimentar e

nutricional em domicílios com adolescentes

70

Figura 9 - Representação da situação de segurança alimentar e

nutricional dos domicílios com adolescentes de municípios

da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007

78

Figura 10 - Freqüência de respostas positivas para as 15 perguntas da

EBIA em domicílios dos municípios de Alta Floresta,

Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007

80

Figura 11 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 1, 3 e 4 da

EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência

da BR 163 - Mato Grosso, 2007

82

Figura 12 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 2, 5, 6, 7 e 8

da EBIA em domicílios de municípios da área de

abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007

83

Figura 13 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 9, 10, 11,12,

13, 14 e 15 da EBIA em domicílios de municípios da área de

abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007

84

Figura 14 - Frequência da disponibilidade de alimentos em domicílios de

municípios da área de abrangência da BR 163, considerando

os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007

85

Page 17: Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde ... · Á Universidade Federal de Mato Grosso, por ser para mim um celeiro de ... óleos e gorduras, açúcar e doces, refrigerantes,

Figura 15 - Frequência do consumo alimentar de adolescentes de

municípios da área de abrangência da BR 163, considerando

os principais grupos de alimentos, Mato Grosso, 2007

86

Figura 16 - Frequência da disponibilidade de alimentos do Grupo 7

(óleos e gorduras) em domicílios de municípios da área de

abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007

86

Figura 17 - Frequência do consumo alimentar para o Grupo 7 (óleos e

gorduras) de adolescentes de municípios da área de

abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007

87

Figura 18 - Estado nutricional dos adolescentes de domicílios

pertencentes a municípios da área de abrangência da BR-163,

Mato Grosso, 2007

87

Figura 19 - Frequência referida da disponibilidade de alimentos nos

domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar

segundo os grupos de alimentos nos municípios da área de

abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007

90

Figura 20 - Frequência referida do consumo alimentar dos adolescentes

de domicílios em situação de insegurança e segurança

alimentar segundo os grupos de alimentos, nos municípios da

área de abrangência da BR 163, 2007

94

Figura 21 Frequência da disponibilidade e consumo alimentar,

comparando os grupos de alimentos segundo a situação de

segurança alimentar dos domicílios de Alta Floresta,

Diamantino, Sinop e Sorriso, 2007

96

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Lista de Siglas e Abreviaturas

ABEP Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas

ABRANDH Associação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos

AS Plano Amazônia Sustentável

CCHIP Community Childhood Hunger Identification Project

CEP Comitê de Ética e Pesquisa

CEPROTEC/MT Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de

Mato Grosso

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico

CNS Conselho Nacional de Saúde

CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa

CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

DECIT Departamento de Ciência e Tecnologia

FANUT Faculdade de Nutrição

FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e

Alimentação

FMI Fundo Monetário Internacional

HUJM Hospital Universitário Júlio Miller

IA Insegurança Alimentar

IAG Insegurança Alimentar Grave

IAL Insegurança Alimentar Leve

IAM Insegurança Alimentar Moderada

IAN Insegurança Alimentar e Nutricional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IMC Índice de Massa Corporal

INAN Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição

ISA/SP Inquérito de Saúde no Estado de São Paulo

ISC Instituto de Saúde Coletiva

LOSAN Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional

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MINITAB Statistical and Process Management Software

MT Mato Grosso

NESAN Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional

OMS Organização Mundial de Saúde

ONU Organização das Nações Unidas

PA Pará

PB Paraíba

PE Pernambuco

PIDESC Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e

Culturais

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNDR Plano Nacional de Desenvolvimento Regional

PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

POF Pesquisa de Orçamento Familiar

QFA Questionário de Frequência Alimentar

SA Segurança Alimentar

SAN Segurança Alimentar e Nutricional

SES – MT Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso

SES/SP Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo

SINOP Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná

SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SPSS Statistical Package for the Social Sciencies

STATA Stata Statistical Software

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNB Universidade de Brasília

UNED União de Ensino de Diamantino

UNESP Universidade Estadual Paulista

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

USDA Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

USP Universidade de São Paulo

WHO World Health Organization

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INTRODUÇÃO

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1 INTRODUÇÃO

A insegurança alimentar e nutricional é uma questão multidimensional que se

configura também como um problema de saúde mundial e está diretamente

relacionada com a luta pelo Direito Humano a Alimentação Adequada (DHAA).

Atualmente é uma temática central de discussão dos órgãos internacionais

(PEREIRA e SANTOS, 2008), onde o primeiro objetivo de Desenvolvimento do

Milênio é erradicar a extrema pobreza e a fome no mundo até 2015, resultado do

acordo firmado entre os Estados-Membros da Organização das Nações Unidas –

ONU, na “Cúpula do Milênio”, em Nova Iorque, no ano 2000.

Segundo KINAZ (2010), as causas básicas dos problemas alimentares mundiais

são complexas. Pois, envolvem questões políticas, econômicas, sociais e aquelas

inerentes ao próprio indivíduo (cultura, hábito alimentar). Por tal motivo, têm

mobilizado a comunidade científica, organizações governamentais e não-governamentais

no combate à fome e à desnutrição, em geral ambas relacionadas à pobreza.

No entanto, a alimentação e a nutrição além de ser um direito humano,

constituem-se como requisitos básicos para a promoção e proteção da saúde. Porém,

de acordo com o Relatório sobre a situação da População Mundial em 2009,

publicado pelo Fundo de População das Nações Unidas, estima-se que

aproximadamente 1,02 bilhões de pessoas - 14,3% da população mundial, não

tenham alimentos suficientes para a satisfação das suas necessidades nutricionais

básicas ou vivem em situação de fome contínua, ou seja, em situação de insegurança

alimentar (FAO, 2009).

No Brasil, o tema insegurança alimentar tem ocupado de forma crescente a

agenda pública, no curso de um efervescente processo de construção, com impactos

diretos na estrutura político-institucional de distintos setores governamentais e

societários (BURLANDY, 2008; MDS, 2009).

Desta forma, um importante passo neste processo foi o reconhecimento da

alimentação como um direito humano na Constituição Brasileira no seu Art. 6º

(BRASIL, 1988), em fevereiro de 2010. Outro importante avanço, no que diz

respeito à política e monitoramento da situação de segurança alimentar da população

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brasileira, foi a aprovação do Decreto nº 7.272, em agosto de 2010, que regulamenta

a Lei nº 11.346 de 2006, que institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional – PNSAN e estabelece os parâmetros para a elaboração do Plano

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASILb, 2010).

O principal problema de insegurança alimentar no Brasil é o de insuficiência

de acesso aos alimentos, causado basicamente pelas desigualdades na estrutura de

renda existentes no país e não a falta de alimentos (PESSANHA, 2004).

Na literatura nacional e internacional, diversos estudos têm se empenhado em

contribuir com a temática da insegurança alimentar, apontando os indicadores mais

utilizados para a sua avaliação, como: o Método da FAO, as Pesquisas de

Orçamentos Domésticos, as Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos, as

Pesquisas Antropométricas e Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome.

Tendo como, fatores associados à situação de insegurança alimentar: as

características demográficas e “biológicas” (sexo, idade, raça/cor, peso e altura dos

adolescentes), fatores socioeconômicos (número de moradores no domicílio, renda

familiar, escolaridade do chefe da família), fatores relacionados a condições de

moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, esgotamento sanitário,

tratamento de água), a disponibilidade e consumo de alimentos, e também a

participação em programas sociais do governo (DELLOHAN e SANJUR, 2000;

VEIGA e BURLANDY, 2001; MELGAR-QUIÑONEZ et al., 2005; COATES et al.,

2006; HACKETT et al., 2007; HOFFMANN, 2008; PANELLI-MARTINS et al.,

2008; PESSANHA et al., 2008; SALLES-COSTA et al., 2008; SEGALL-CORRÊA

et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2009; SANTOS et al., 2010).

A Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios - PNAD 2004 revelou que

34,8% dos domicílios brasileiros viviam em situação de insegurança alimentar, sendo

que, em Mato Grosso esta prevalência foi de 33,1%. Neste mesmo estudo, verificou-

se maior prevalência de insegurança alimentar em domicílios que residiam menores

de 18 anos de idade (IBGE, 2006).

A PNAD 2009 mostrou uma diminuição da prevalência de insegurança

alimentar tanto nos municípios brasileiros (30,2%), quanto em Mato Grosso (22,1%).

No entanto, nos domicílios com pelo menos um morador menor de 18 anos de idade

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registrou-se prevalências acima da verificada em domicílios onde só viviam adultos

(IBGE, 2010b).

No Estado de Mato Grosso em municípios pertencentes à área de abrangência

da BR-163, como Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, verificou-se uma

estrutura etária marcadamente jovem, típica de áreas de migração, correspondendo

entre 20,5% a 22,5% de adolescentes (MS-DATASUS, 2005).

Sabe-se que a adolescência é um período da vida marcado por profundas

mudanças biopsicossociais, pelo início da definição de identidade, do

estabelecimento de um sistema de valores pessoais, mostrando-se especialmente

vulnerável a determinados agravos enfrentados pela maioria das sociedades atuais,

tais como: fome, falta de acesso aos alimentos, sobrepeso e obesidade, dieta

desequilibrada, entre outros, tornando-se potencialmente um grupo de risco e um

importante objeto de investigação científica.

Tendo em vista, que domicílios com adolescentes em pesquisas nacionais

apresentaram maior vulnerabilidade à situação de insegurança alimentar e diante da

escassez de literatura publicada que abordasse esse tema na população de Mato

Grosso, particularmente nesta faixa etária.

Este estudo pretende analisar a insegurança alimentar em domicílios com

adolescentes e identificar fatores associados a esta situação, em municípios da área

de abrangência da rodovia BR-163.

Partindo do pressuposto que a situação de insegurança alimentar e nutricional

nos domicílios com adolescentes, dos municípios de Alta Floresta, Diamantino,

Sinop e Sorriso é gerada pela falta de renda - importante fator para aquisição de

alimentos, precárias condições de moradia, bens, serviços educacionais e de saúde -

também considerados indicadores sociais que possivelmente influenciam no

consumo e estado nutricional dos adolescentes destes domicílios.

Portanto, torna-se desafiador investigar a situação de insegurança alimentar

na dimensão domiciliar e a sua relação com a dimensão individual do adolescente,

considerando que foram encontrados estudos que investigaram a situação de IAN em

adolescentes na Etiópia (HADLEY et al. 2008), em Trinidad e Tobago

(GULLIFORD et al., 2005) e no Brasil em Pernambuco (OLIVEIRA et al., 2009).

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Nesta perspectiva, este estudo reveste-se de importância científica e social

para saúde pública, não somente pela possibilidade de identificar fatores associados à

insegurança alimentar em alguns municípios de Mato Grosso e principalmente, uma

provável faixa etária em risco alimentar e nutricional. Mas também, porque pode

contribuir com políticas públicas, principalmente àquelas relacionadas aos programas

de alimentação e nutrição.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 DIREITO HUMANO À ALIMENTAÇÃO ADEQUADA (DHAA) E

SEGURANÇA ALIMENTAR (SA)

A segurança alimentar e nutricional (SAN) inscreve-se no campo do direito

humano à alimentação, em que toda pessoa deve estar segura em relação ao acesso,

disponibilidade e consumo de alimentos e à alimentação nos aspectos da suficiência

(proteção contra a fome e a desnutrição), qualidade (prevenção de males associados

com a alimentação) e adequação - apropriação às circunstâncias sociais, ambientais e

culturais (VALENTE, 2002; MALUF, 2009). Seja no plano individual ou em escala

coletiva, esses atributos estão consignados na Declaração Universal dos Direitos

Humanos (ONU, 1948; ALVES e JUNIOR, 2005; CONSEA, 2007), os quais foram

reafirmados no Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais -

PIDESC (1966) e incorporados à legislação nacional brasileira em 1992 (VALENTE,

2002).

O tema segurança alimentar e nutricional enfoca a produção e a distribuição

dos alimentos, a análise do estado nutricional que, por sua vez, considera a

alimentação e a saúde das pessoas, incluindo, ainda, o acesso a outras condições que

contribuem para uma vida saudável (acesso aos serviços de saúde, moradia,

abastecimento de água, condições sanitárias e educação). Pressupõe a disponibilidade

de alimentos, sua acessibilidade pelos mecanismos de distribuição e condições de

renda das pessoas, além do aproveitamento biológico determinado pela situação de

saúde ou doença dos indivíduos. Portanto, a SAN no nível domiciliar ou individual é

influenciada por fatores locais, regionais, nacionais e internacionais, conforme

representado na Figura 1 (SAWAYA, 2003; PESSANHA, 2004).

O termo segurança alimentar originou-se na Europa, a partir da 1ª Guerra

Mundial (1914-1918) e seu conceito tinha estreita ligação com o de soberania e a

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capacidade de cada país produzir sua própria alimentação, devido a razões políticas

ou militares (ABRANDH, 2010).

Esse conceito ganhou força com o advento da 2ª Guerra Mundial (1939-

1945), especialmente quando a Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada.

No mesmo período, criou-se a Food and Agriculture Organization of the United

Nations (FAO) que entendia o acesso ao alimento de qualidade como um direito

humano.

Figura 1. Modelo esquemático dos níveis de determinação da segurança alimentar e

nutricional (Fonte: UNICEF – Frankenberg et al., 1997).

Com a Conferência de Bretton Woods, em 1944, surgiram o Fundo Monetário

Internacional – FMI e o Banco Mundial, que defendiam que a segurança alimentar

deveria ser garantida por mecanismos de mercado. Assim, a tensão existente tornou-

se um reflexo da disputa política entre os principais blocos inseridos na guerra em

busca de hegemonia (ABRANDH, 2010).

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Após a 2ª Guerra Mundial a segurança alimentar foi tratada como uma

questão de insuficiente disponibilidade de alimentos e abastecimento. Foram, então,

instituídas iniciativas de promoção à assistência alimentar, feitas a partir dos

excedentes de produção dos países ricos (ABRANDH, 2010).

Nos países pobres, a insegurança alimentar era entendida como decorrência

de produção insuficiente. Visando aumentar a produção de alguns alimentos,

associada ao uso de novas variedades genéticas e fortemente dependentes de insumos

químicos, ocorreu na década de 60 e 70, a Revolução Verde, que tinha como modelo

agrícola, a monocultura, que posteriormente trouxe graves conseqüências ambientais,

econômicas e sociais, tais como: redução da biodiversidade, menor resistência a

pragas, êxodo rural e contaminação do solo e dos alimentos por agrotóxicos

(MOREIRA, 2000).

No início da década de 70, a crise mundial de produção de alimentos levou a

realização da Conferência Mundial de Alimentação com a discussão de que a

garantia da segurança alimentar teria que passar por uma política de armazenamento

estratégico e de oferta de alimentos, associada à proposta de aumento da produção.

Pois, não era suficiente só produzir alimentos, mas também garantir a regularidade

do abastecimento. Neste momento, o foco estava predominantemente no produto, e

não no ser humano, ficando em segundo plano a dimensão do direito humano à

alimentação (VALENTE, 2002).

Foram com essas características que a Revolução Verde intensificou-se,

inclusive no Brasil, com um enorme impulso na produção de soja. Houve um

aumento da produção, no entanto, isso não implicou no aumento do acesso aos

alimentos (ABRANDH, 2010).

No final da década de 80 e início de 90, incorporou-se a noção de alimentos

seguros (não contaminados biológica ou quimicamente), de qualidade (nutricional,

biológica, sanitária e tecnológica), produzidos de forma sustentável e culturalmente

aceitável, bem como, o acesso à informação. Ao mesmo tempo, entram em cena as

questões de equidade, justiça e relações éticas entre a geração atual e as futuras

(VALENTE, 2002).

A partir deste período, o direito à alimentação foi se inserindo no contexto do

direito à vida, à dignidade, à autodeterminação e à satisfação de outras necessidades

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básicas. Essa visão foi consolidada nos compromissos assumidos pelos governos na

Conferência Internacional de Nutrição, realizada em Roma (1992) pela FAO e pela

Organização Mundial de Saúde (OMS). Portanto, agrega-se definitivamente o

aspecto nutricional e sanitário ao conceito, passando a ser denominado Segurança

Alimentar e Nutricional (VALENTE, 1997).

Assim, adotou-se o conceito de segurança alimentar domiciliar, que além do

componente de segurança alimentar, entendido como oferta e acesso à alimentação

de qualidade, incorpora-se a assistência básica à saúde (abastecimento de água,

saneamento, saúde pública) e o cuidado promovido no lar aos membros da família -

carinho, atenção, preparo do alimento, aleitamento materno, estimulação

psicossocial, informação e apoio educacional (MS, 2003).

Com isso, consolida-se um forte movimento para reafirmação do Direito

Humano à Alimentação Adequada. Um passo importante foi a realização da

Conferência Internacional de Direitos Humanos em Viena (1993) e a Cúpula

Mundial da Alimentação em Roma (MRE, 1996), organizada pela FAO, que

associou definitivamente o papel fundamental do Direito Humano à Alimentação

Adequada à garantia da Segurança Alimentar e Nutricional.

Verifica-se que o conceito de SAN evolui na medida em que avança a história

da humanidade e alteram-se a organização social e as relações de poder em uma

sociedade. Constituindo um campo em construção, seja no plano teórico-conceitual,

como no âmbito da formulação e implementação de políticas públicas, apresentando

diferentes possibilidades em termos de mensuração e análise (BURLANDY e

COSTA, 2007).

A diversidade de compreensões e os conflitos nesse campo envolvem

governos, organismos internacionais, representantes de setores produtivos,

organizações da sociedade civil, movimentos sociais, entre outros (MALUF, 2009).

No Brasil, os problemas alimentares da população remontam ao período

colonial, em decorrência do processo histórico, que priorizou o atendimento às

demandas do mercado externo, caracterizadas pelos ciclos de monocultura de

exportação. As poucas culturas de subsistência eram cultivadas, basicamente, para

prover as necessidades das propriedades rurais, gerando a necessidade da importação

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de insumos de primeira necessidade, principalmente nas áreas urbanas (BELIK et al.,

2001; VASCONCELOS, 2005).

Na década de 30, surgiu uma figura relevante, o médico Josué de Castro que

trouxe importantes contribuições para as discussões sobre o direito à alimentação e

às ações de políticas públicas no combate à fome, bem como, à construção brasileira

do conceito de segurança alimentar (CASTRO, 2001; NASCIMENTO, 2004;

MALUF, 2009).

Contudo, as primeiras referências ao conceito de segurança alimentar no

Brasil, em nível documental, surgem no Ministério da Agricultura, no final de 1985,

quando foi elaborada uma proposta de Política Nacional de Segurança Alimentar,

intitulada: “Segurança alimentar – proposta de uma política contra a fome”, com o

objetivo de atender às necessidades alimentares da população e atingir a auto-

suficiência nacional na produção de alimentos, incluindo a criação de um Conselho

Nacional de Segurança Alimentar dirigido pelo Presidente da República e composto

por ministros de Estado e representantes da sociedade civil (VALENTE, 2002).

Cabe ressaltar, que em meados da década de 80, o Brasil vivia o processo de

reconstrução do Estado democrático, após vinte anos de governo militar (1964-1984)

e havia intensa movimentação na área da saúde pública (LEÃO e CASTRO, 2007).

O que levou a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde e da I Conferência

Nacional de Alimentação e Nutrição, sob a coordenação do Instituto Nacional de

Alimentação e Nutrição (INAN), vinculado ao Ministério da Saúde, espaço que a

alimentação foi reconhecida como direito de todos e responsabilidade do Estado em

assegurar a disponibilidade interna de alimentos, bem como, as condições de acesso

ao consumo, através de uma política de salários justos e promoção de pleno emprego

(MS, 2003).

Desta forma, é peculiar à formulação brasileira o acréscimo do adjetivo

“nutricional” a expressão consagrada internacionalmente como “segurança

alimentar”, gerando o termo: segurança alimentar e nutricional. Assim, o propósito

foi interligar os dois principais enfoques da evolução deste conceito no Brasil: o

socioeconômico e o de saúde – nutrição (MALUF, 2009).

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Com a I Conferência Nacional de Alimentação e Nutrição, iniciou-se a

formulação do conceito, segurança alimentar, que posteriormente consolidou-se na I

Conferência Nacional de Segurança Alimentar, em 1994:

“A garantia de todos, a condições de acesso a alimentos básicos de qualidade, em

quantidade suficiente, de modo permanente e sem comprometer o acesso a outras

necessidades básicas, com base em práticas alimentares que possibilitem a saudável

reprodução do organismo humano, contribuindo, assim, para uma existência digna”

(CONSEA, 2007, p. 7)

A definição apresentada acima articula três dimensões: a alimentar, a

nutricional e a social. Sendo que a primeira se refere aos processos de

disponibilidade (oferta de alimento, em quantidade suficiente), a segunda diz respeito

diretamente à escolha, ao preparo e consumo alimentar, bem como, a sua relação

com a saúde e a utilização biológica do alimento. A terceira está associada às outras

duas dimensões e engloba a educação, conhecimentos básicos de higiene, boas

condições de moradia, incluindo saneamento básico e o acesso aos serviços de saúde.

Na situação de pobreza, o indivíduo experimenta objetiva e subjetivamente carências

sociais, econômicas, políticas e culturais, passando por um processo de exclusão e

ruptura de laços sociais, no qual as noções de cidadania, igualdade e direitos sociais

ficam fragilizadas (SAWAYA et al., 2003).

Na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar foram aprovados

princípios gerais que deveriam ser associados a SAN e, portanto, contemplados nas

ações e políticas públicas como: a promoção do direito humano à alimentação

saudável, a soberania alimentar, o acesso universal e permanente a alimentos de

qualidade por meio da geração de trabalho e renda, contemplando ações educativas,

o respeito e valorização das culturas alimentares, a promoção da agricultura familiar

sustentável e o reconhecimento da água como alimento essencial e patrimônio

público (CONSEA, 2004).

O artigo 3° da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - LOSAN,

que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN com

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vistas a assegurar o direito à alimentação adequada, define Segurança Alimentar e

Nutricional como:

“realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de

qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras

necessidades essenciais, tendo como base, práticas alimentares promotoras da saúde,

que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, econômica e socialmente

sustentáveis” (BRASIL, 2006a, p. 4).

Esta definição foi primeiramente elaborada no Fórum Brasileiro de SAN, em

2003, posteriormente aprovada na II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional realizada em Olinda (2004) e reafirmada na III Conferência Nacional de

Segurança Alimentar e Nutricional (2007). Nela estão envolvidos três aspectos:

disponibilidade, estabilidade e acesso (CONSEA, 2007).

Disponibilidade significa que, a oferta de alimentos deve ser suficiente para

atender às necessidades de consumo de toda a população. Estabilidade diante da

probabilidade mínima do consumo de alimentos estar abaixo do nível adequado de

abastecimento, como resultado de variações da oferta. O acesso está relacionado à

capacidade de produzir ou comprar os alimentos necessários considerando que,

mesmo em presença de abundância e estabilidade da oferta, muitos podem passar

fome por insuficiência de recursos (CARVALHO e SILVA, 2005).

Neste cenário, os grupos mais vulneráveis à falta de alimentos são os que não

dispõem de renda para adquiri-los ou que não têm acesso aos bens de produção

necessários. Esse grupo populacional é também privado de alimentos de boa

qualidade, dos equipamentos necessários para conservá-los e prepará-los, tendo

ainda menor acesso à informação sobre uma alimentação saudável (CONSEA,

2007).

A fome e a desnutrição são de ampla recorrência histórica, que constituem

problemas crônicos de insegurança alimentar e nutricional fortemente associados à

pobreza e à desigualdade distributiva estrutural da nossa sociedade (HOFFMANN,

1995; PESSANHA, 2004).

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Sabe-se, ainda, que a IAN possivelmente seja uma condição que nem sempre

leva somente à desnutrição e ao baixo peso, mas pode ter como conseqüência o

sobrepeso e a obesidade (RADIMER et al., 1992), sendo resultados de uma dieta

desequilibrada, com possível qualidade comprometida e que em geral, apresenta um

padrão de alimentação monótono e densamente energético.

Situações de insegurança alimentar e nutricional podem ser detectadas a partir

de diferentes tipos de problemas como a fome, doenças e agravos associadas à má

alimentação (obesidade, desnutrição, anemia, hipovitaminoses), consumo de

alimentos de má qualidade higiênico-sanitária, inadequada qualidade nutricional dos

alimentos, bens essenciais com preços abusivos e imposição de padrões alimentares

que desrespeitam a diversidade cultural (ALVES e JUNIOR, 2005; CONSEA, 2007).

Quanto a sua mensuração, a IAN pode ser avaliada por meio dos seguintes

indicadores: indicador de segurança alimentar e graus de insegurança alimentar e

nutricional no domicílio (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA);

indicador de disponibilidade de alimentos; indicador de renda e condições de

moradia; indicadores antropométricos; indicadores do consumo alimentar;

indicadores do acesso a alimentos e tendências de consumo (MAXWELL, 1996;

FAO, 2002; PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005; CONSEA, 2007).

Na literatura existem diversos trabalhos que utilizam estes indicadores para

mensurar a IAN, incluindo pesquisas que tem como população de estudo famílias

com: crianças, adolescentes e adultos (BURLANDY e COSTA, 2007; SALLES-

COSTA et al., 2008, SANTOS, 2008; OLIVEIRA et al., 2009), idosos (MARÍN-

LEÓN, 2005) e também realizadas com populações rurais (YUYAMA et al, 2007) e

indígenas (CORRÊA, 2005; OLIVEIRA e SILVA, 2008). Os principais resultados de

alguns destes estudos e de pesquisas realizadas em âmbito nacional, como por

exemplo, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) e a Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios (PNAD) são apresentados a seguir.

A POF 2002-2003 mostrou que os gastos com alimentação ocupavam o

segundo lugar na participação da despesa total familiar. O que representava na

média nacional, 21% dos gastos com despesas de consumo e 17% dos gastos totais

das famílias, sendo superados apenas pelas despesas com habitação que alcançavam

35% dos gastos (IBGE, 2004). Na POF 2008-2009 foram observados resultados

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semelhantes: 35,9% gastos familiares eram com habitação e 19,8% com alimentação

(IBGE, 2010a).

A PNAD 2004 foi a primeira pesquisa nacional a utilizar a Escala Brasileira

de Insegurança Alimentar – EBIA e observou-se maior prevalência de insegurança

alimentar nos domicílios em que residiam indivíduos menores de 18 anos de idade

(IBGE, 2006).

A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Mulher e da Criança, também

utilizou a EBIA e verificou que a prevalência de insegurança alimentar em

residências urbanas da região Centro-Oeste foi de 33,5%. Com destaque para os

domicílios em que a pessoa de referência apresentava baixa escolaridade, onde foi

encontrada maior prevalência de insegurança alimentar grave (IBGE, 2008a).

A maioria dos estudos encontrados é de base populacional e aborda a situação

de segurança alimentar, juntamente com os graus de insegurança alimentar e

nutricional. Os domicílios estudados geralmente são compostos por adolescentes,

como o realizado por SALLES-COSTA et al. (2008) em um distrito do município de

Duque de Caxias – RJ. Neste estudo foi aplicada a EBIA e verificou-se que 53,8%

dos domicílios viviam em insegurança alimentar (31,4% em insegurança alimentar

leve - IAL, 16,1% em insegurança alimentar moderada - IAM e 6,3% em

insegurança alimentar grave - IAG), 26,8% das famílias tinham renda per capita

acima de um salário mínimo e 83,4% foram classificadas nas classes C e D de acordo

com a classificação de nível socioeconômicos da Associação Brasileira de Empresas

e Pesquisas - ABEP.

Em 2009, um estudo avaliou a situação da insegurança alimentar e sua

relação com o estado nutricional de adolescentes e adultos, em duas localidades do

Nordeste brasileiro. Através desta pesquisa, verificou-se a prevalência de quase

90,0% de insegurança alimentar das famílias dos dois municípios, predominando a

situação de insegurança alimentar moderada (40,2%) em São João do Tigre (PB) e

grave (36,9%) em Gameleira (PE). Nas duas localidades, a IA prevaleceu nas

famílias com adolescentes, porém, não houve associação estatística significativa

entre a IA e o estado nutricional da população estudada (OLIVEIRA et al., 2009).

Em 2010, por meio de um estudo realizado em Pelotas – RS com crianças,

adolescentes e adultos, observou-se a prevalência de 11% de insegurança alimentar,

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apresentando associação da IA entre a renda, a escolaridade, bem como, o número de

moradores por domicílio. Quanto à relação do estado nutricional e a situação de IA,

verificou-se a prevalência de excesso de peso em 18% dos adolescentes que viviam

em insegurança alimentar (SANTOS et al., 2010).

Em Mato Grosso, no ano de 2005, foi realizada uma pesquisa sobre a situação

de alimentação e nutrição de índios bororos e verificou-se que a maior parte da

população era composta por crianças e adolescentes (22,2%). Observou-se que a

renda familiar per capita era insuficiente (R$ 28,19) para manutenção de uma

alimentação adequada. No entanto, cabe ressaltar que havia criação de animais para

uso na alimentação (galinha e gado), caso faltasse carne de caça ou pescado e

também culturas de frutas. Quanto à freqüência de consumo alimentar, a população

estudada referiu ter maior consumo dos seguintes grupos de alimentos: pães, cereais,

raízes e tubérculos; frutas; leguminosas; carnes e ovos; açúcares e doces e baixo

consumo de leite, produtos lácteos e hortaliças. Das oito famílias entrevistadas, cinco

apresentaram situação de insegurança alimentar - três em IAL, uma em IAM e uma

em IAG (CORRÊA, 2005).

2.2 ALIMENTAÇÃO, NUTRIÇÃO E ESPAÇO SOCIAL ALIMENTAR

A alimentação é imprescindível para a vida e a sobrevivência humana, como

necessidade básica ela é modelada pela cultura e sofre efeitos da organização da

sociedade (CANESQUI e GARCIA, 2005).

A nutrição é um processo característico dos seres vivos e necessário para

assegurar a reprodução, o crescimento e desenvolvimento, a manutenção da vida e o

pleno exercício das funções vitais do organismo. No caso do homem e dos demais

organismos animais, o processo da nutrição consiste na ingestão e digestão dos

alimentos e na absorção, metabolismo e utilização dos nutrientes contidos nos

alimentos (MS, 2004).

No entanto, não comemos apenas quantidades de nutrientes e calorias para

manter o funcionamento corporal em nível adequado. O ato de comer envolve

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38

seleção, escolhas, ocasiões e rituais, imbrica-se com a sociabilidade, com idéias e

significados, com as interpretações de experiências e situações (POULAIN e

PROENÇA, 2003; CANESQUI e GARCIA, 2005).

O comportamento relativo à comida liga-se diretamente tanto ao sentido

individual quanto ao coletivo. Nossos corpos podem ser considerados o produto do

que e como comemos (MINTZ, 2001).

POULAIN E PROENÇA (2003), considerando George Condominas (1980),

apresentam o conceito de espaço social alimentar para designar o espaço de

liberdade e a zona de interação entre o biológico e o cultural que envolve o ato de se

alimentar (Figura 2).

Figura 2. O espaço social alimentar (POULAIN e PROENÇA, 2003).

Conforme apresentado na Figura 2, verifica-se que na alimentação humana

existem diversas condicionantes, destacando-se: as condicionantes biológicas,

relativas aos mecanismos bioquímicos subjacentes à nutrição e às capacidades do

sistema digestivo e as condicionantes ecológicas que diz respeito ao meio no qual o

indivíduo está instalado, sendo que, este pode sofrer influência de condicionantes

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39

econômicas que tendem a se reduzir conforme se controla tecnologicamente a

natureza (POULAIN PROENÇA, 2003).

A interação destas duas principais condicionantes gera as dimensões sociais

da alimentação:

A ordem do comestível ou espaço do comestível: é a escolha operada pelo

grupo humano no interior do conjunto de produtos vegetais e animais, colocado à sua

disposição pelo meio natural, ou que poderá ser implantada pela decisão do grupo.

O sistema alimentar: corresponde ao conjunto de estruturas tecnológicas e

sociais empregadas desde a coleta até a preparação culinária, passando por todas as

etapas de produção e de transformação. Ela constitui o sistema de ação que permite a

um alimento chegar ao consumidor.

O espaço culinário: é ao mesmo tempo, um espaço no sentido geográfico do

termo, de distribuição no interior dos lugares, um espaço no senso social, o qual

representa a repartição sexual e social das atividades de cozinha, mas também um

espaço no sentido lógico do termo, englobando relações formais e estruturadas.

O espaço dos hábitos de consumo: envolve a definição de uma refeição, sua

organização estrutural, a forma da jornada alimentar (número de refeições, formas,

horários, contextos sociais), as modalidades de consumo (comer com garfo e faca,

com a mão, com o pão), a localização dos comensais e outros aspectos variam de

uma cultura à outra e no interior de uma mesma cultura, de acordo com os grupos

sociais.

O espaço de diferenciação social: assinala a conexão bioantropológica de

um grupo humano ao seu meio. No interior de uma mesma sociedade, a alimentação

desenha os contornos dos grupos sociais. Um alimento pode ser atribuído a um grupo

social e rejeitado por outro.

A temporalidade alimentar: a alimentação se inscreve dentro de uma série

de ciclos temporais socialmente determinados, como o ciclo de vida dos homens,

com uma alimentação de lactente, de criança, de adolescente, de adulto e de idoso.

Assim, além de comermos por necessidade vital e conforme o meio e a

sociedade em que vivemos, a forma como ela se organiza e se estrutura, produz e

distribui os alimentos; comemos também de acordo com a distribuição da riqueza na

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40

sociedade, os grupos e classes de pertencimento, marcados por diferenças,

hierarquias, estilos e modos de comer (CANESQUI e GARCIA, 2005).

2.3 INDICADORES PARA AVALIAR A SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRCIONAL

De acordo com a literatura, os métodos mais utilizados para a avaliar a

insegurança alimentar, são: (1) Método da FAO – mensura a disponibilidade

alimentar, (2) Pesquisas de Orçamentos Domésticos e (3) Pesquisas de Ingestão

Individual de Alimentos – investiga o acesso aos alimentos, (4) Pesquisas

Antropométricas – mensura a utilização dos alimentos e (5) Pesquisas de Insegurança

Alimentar e Fome – investiga a estabilidade de acesso ou vulnerabilidade (PÉREZ –

ESCAMILLA, 2005). Nesta pesquisa serão utilizados três métodos: Pesquisas de

Insegurança Alimentar e Fome (5); Pesquisas Antropométricas (4); Pesquisas

de Ingestão Individual de Alimentos (3).

PESSANHA et al. (2008) destaca que nenhum desses métodos

individualmente, é capaz de captar todas as dimensões da insegurança alimentar e

recomenda a adoção de um conjunto de indicadores para o monitoramento da

situação de IAN, pois, quanto maior o número de aspectos analisados, mais completa

e abrangente tenderá a ser a visão obtida da situação de insegurança alimentar.

2.3.1 Pesquisas de Insegurança Alimentar e Fome

Em diversas localidades do mundo, estudos têm se empenhado em realizar

pesquisas de insegurança alimentar e fome (KAISER et al., 2004; PÉREZ-

ESCAMILLA et al., 2004; ÁLVAREZ et al., 2006; COATES et al., 2006;

MELGAR-QUINONEZ et al., 2006; HACKETT et al., 2008; GONZÁLEZ et al.,

2008; HACKETT et al., 2009), no entanto é importante ressaltar que as escalas

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41

aplicadas nesses estudos, além de conter um diverso número de perguntas, diferem

entre si por serem adaptadas às realidade locais.

A maioria delas é baseada no estudo que surgiu na década de 80, após a

comprovação em muitos países, de que o rendimento domiciliar ou outros

indicadores indiretos eram insuficientes para identificar populações sob risco de IA.

Assim, desenvolveu-se uma escala de medida direta de Insegurança Alimentar e

Fome pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos – USDA, por

pesquisadores da Universidade de Cornell. Na elaboração da escala utilizaram-se

métodos qualitativos para abordar e compreender a insegurança alimentar e a fome.

Este estudo qualitativo, permitiu a proposição de uma escala de medida quantitativa,

composta por dez perguntas, que cobriam tanto a percepção da preocupação com a

insuficiência futura de alimentos quanto os problemas relativos à quantidade de

calorias disponíveis, bem como, a qualidade da dieta (IBGE, 2006; BURLANDY e

COSTA, 2007).

Nos anos de 1990, a partir dessa escala de Cornell e outras, como a do

Community Childhood Hunger Identification Project – CCHIP, pesquisadores

reunidos pelo USDA desenvolveram uma escala válida para aplicação em âmbito

nacional nos EUA. Isto resultou em uma escala de quinze itens e três subitens que

passou a ser aplicada, a partir de 1995 (IBGE, 2006).

O processo de adaptação do método no Brasil resultou na elaboração e

validação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA, pela Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp) e pelo Observatório de Políticas de Segurança

Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (Unb) , além de outras instituições

(Universidade Federal da Paraíba, Universidade Federal de Mato Grosso e Instituto

de Pesquisas da Amazônia) com apoio técnico e financeiro dos Ministérios da Saúde,

do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e da Organização Pan-Americana da

Saúde – OPAS (BURLANDY e COSTA, 2007).

A EBIA consiste em um questionário contendo quinze perguntas que medem

níveis diferentes de IA e utilizando o somatório do número de respostas afirmativas

às questões, resulta em um escore que categoriza as famílias (PÉREZ-ESCAMILLA,

2004).

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42

A principal vantagem deste método provém do fato de possibilitar o

diagnóstico rápido, medir diretamente o fenômeno de interesse, permitindo captar

não só as dimensões físicas, mas também as dimensões psicológicas da IA e ainda,

classificar os domicílios de acordo com sua vulnerabilidade ou nível de exposição

(PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005).

Pois, a insegurança alimentar é percebida em seus vários níveis, desde a

preocupação de que o alimento venha a acabar antes que haja dinheiro para comprar

mais, o que configura insegurança psicológica, passando, em seguida, pela

insegurança relativa ao comprometimento da qualidade da dieta, porém ainda sem

restrição quantitativa, até chegar ao ponto mais severo, que é a insegurança

quantitativa, situação em que a família passa por períodos concretos de restrição na

disponibilidade de alimentos para seus membros (PANIGASSI, 2005).

Quanto às desvantagens desse método, cabe destacar que, por ser uma medida

“subjetiva” da situação de IA, torna-se suscetível a vieses de “prestígio’ ou

“benefício” se os entrevistados imaginam que, dependendo das respostas que derem,

eles próprios, seus domicílios e /ou suas comunidades poderão receber ajuda em

alimentos ou benefícios sociais (PÉREZ-ESCAMILLA e CABALLERO, 2005).

2.3.2 Pesquisas Antropométricas

Os indicadores antropométricos mais comumente empregados nas pesquisas

nacionais apóiam-se nas medidas de peso e estatura. Desta forma, a subnutrição é

diagnosticada quando as medidas antropométricas dos indivíduos estão abaixo dos

padrões internacionais de referência. Isso pode ser conseqüência tanto de uma

ingestão alimentar insuficiente, como de uma absorção deficiente dos alimentos –

causada por fatores ambientais como infecções, o que requer informações

complementares de saúde e saneamento para confronto (PESSANHA et al., 2008).

Esse método permite o acompanhamento do estado nutricional desde o nível

nacional até o nível individual, a um custo relativamente baixo quando comparado ao

das avaliações dietéticas. O fato de a antropometria ser uma medida de resultado, a

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43

torna muito apropriada para o controle e a avaliação de intervenções (PÉREZ-

SCAMILLA e CABALLERO, 2005).

Como desvantagens, esse método tem o fato de que os dados antropométricos

não refletem, exclusivamente, a adequação do consumo alimentar ou a suficiência da

ingestão energética uma vez que outros fatores ambientais influem no estado

nutricional. Assim, ainda que os indicadores antropométricos sejam excelentes

sinalizadores do risco nutricional e do estado de saúde, eles não são,

necessariamente, indicadores diretos de IA (FAO, 2002).

2.3.3 Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos

As Pesquisas de Ingestão Individual de Alimentos conseguem medir de forma

muito próxima o fenômeno da IA, uma vez que pergunta diretamente aos indivíduos

sobre seu consumo de alimentos e/ou de outros membros da família (PÉREZ-

SCAMILLA e CABALLERO, 2005; PÉREZ - ESCAMILLA e SEGALL -

CORRÊA, 2008).

Todos os métodos que medem o consumo de alimentos no nível individual

precisam utilizar um tempo de referência (dia anterior, semana anterior, mês anterior

etc.). O consumo de alimentos pode ser medido por meio de questionários (ex.:

Questionário de Freqüência Alimentar) ou de formulários de registro onde os

indivíduos anotam o que consomem a cada dia - ex.: Histórico alimentar e

Recordatório 24h (PÉREZ-SCAMILLA e CABALLERO, 2005).

Uma vantagem deste método é que ele se fundamenta na avaliação direta da

ingestão de alimentos, apresenta menor subnotificação, pois a lista previamente

elaborada de itens auxilia o entrevistado a se lembrar de alimentos que,

espontaneamente, poderia se esquecer. Outra vantagem, é que o mesmo possibilita

detectar problemas na alimentação de âmbito individual e dessa forma ajudar a

identificar não apenas domicílios, mas indivíduos pertencentes a estes, que possam

estar em risco de insegurança alimentar e nutricional (PESSANHA et al., 2008).

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44

Uma limitação deste método é requerer que os indivíduos recordem e

informem, com precisão, todos os alimentos ingeridos durante o período de

referência, por isso, os procedimentos devem ser muito bem padronizados e os

entrevistadores devidamente capacitados (FAO, 2002), e este método também limita

a abordagem do consumo quantitativo de energia e nutrientes (DOMENE, 2011).

2.4 ADOLESCÊNCIA

Os riscos nutricionais de diferentes categorias e magnitudes permeiam todo o

ciclo da vida humana, desde a concepção até a senectude, assumindo diversas

configurações epidemiológicas em função do processo saúde/doença de cada

população (MS, 2003).

A adolescência é a fase da vida que compreende a faixa etária entre 10 e 19

anos. Trata-se de um período de transição da infância para a vida adulta,

caracterizado por transformações físicas (rápido e intenso crescimento físico),

psíquicas e sociais, que podem se manifestar de diversas formas e em períodos

diferentes para cada indivíduo (WHO, 1995).

Na fase inicial (10 a 14 anos) chamada de puberdade, ocorre o estirão de

crescimento, o aumento rápido das secreções de diversos hormônios e o

aparecimento dos caracteres sexuais secundários (maturação sexual). A fase final (15

a 19 anos) caracteriza-se pela desaceleração destes processos (WHO, 1995). Essas

transformações têm efeito sobre o comportamento alimentar do adolescente, pois há

uma maior demanda de energia e nutrientes nessa fase da vida, resultando na

necessidade de uma dieta balanceada (FARIA et al., 2006).

Além dos fatores biológicos, várias situações do âmbito domiciliar e

individuais, podem influenciar o estado nutricional nesse período da vida e se

entrelaçar, formando uma rede complexa de riscos tais como fatores

socioeconômicos e pobreza, ingestão inadequada de produtos alimentares

apresentados através da mídia, conflitos psicossociais, falta de horários e tempo para

o preparo e a escolha adequada dos alimentos, desagregações sociais ou mesmo o

abandono e a omissão dos pais e familiares “ocupados” com outros afazeres e a

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45

própria sobrevivência no dia-a-dia (DIETZ, 1998; EISENSTEIN et al., 2000;

GIULIANO e CARNEIRO, 2004; TORAL et al., 2006; VEIGA e SICHIERI, 2007).

2.4.1 Estado Nutricional

O estado nutricional dos indivíduos é caracterizado por grande dinamismo e

decorre essencialmente do equilíbrio entre três fatores: composição da alimentação

(tipo e quantidade dos alimentos ingeridos), necessidades do organismo em energia e

nutrientes e eficiência do aproveitamento biológico dos alimentos (VEIGA e

SICHIERI, 2007).

Combinações ótimas destes três fatores, considerando razoáveis margens de

variação para cada fator, propiciam ao indivíduo um estado nutricional compatível

com o pleno exercício de todas as suas funções vitais. Enquanto, o desequilíbrio

produz à má-nutrição, que pode ser oriunda de variações extremas em um único fator

ou alterações simultâneas e aditivas nos três fatores que determinam o estado

nutricional (VEIGA e SICHIERI, 2007).

A alimentação inadequada pode ser iniciada em qualquer fase da vida e ser

desencadeada por fatores como o desmame precoce, a inadequada introdução de

alimentos, distúrbios no comportamento alimentar e na relação familiar

(MONTEIRO et al., 2000; GIUGLIANO e CARNEIRO, 2004), repercutindo no

estado nutricional.

Uma das maneiras de diagnosticar a situação alimentar e nutricional de um

indivíduo é a avaliação do estado nutricional por meio da antropometria.

A antropometria tem por objetivo verificar o crescimento e as proporções

corporais em um indivíduo ou em uma comunidade através da mensuração das

dimensões físicas e da composição global do corpo humano (SIGULEM et al., 2000).

Foi a partir das publicações de Jellife, editadas pela Organização Mundial de

Saúde (OMS), na década de 60, baseadas em estudos que haviam se iniciado nos

anos 50, que a antropometria foi sistematizada como método de avaliação do estado

nutricional. A partir desses estudos a antropometria desenvolveu-se rapidamente nos

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países industrializados, o que nos países em desenvolvimento só ocorreu a partir da

metade da década de 70 (SIGULEM et al., 2000).

A antropometria tem se revelado como o método isolado mais utilizado para

o diagnóstico nutricional, sobretudo na infância e na adolescência, pela facilidade de

execução, baixo custo e inocuidade. Ainda que haja limitações, tem sido um método

utilizado universalmente proposto pela Organização Mundial de Saúde (1995).

A falta de curvas de referência de valores de P/E (peso/estatura) e a

reconhecida importância de avaliar a relação destas medidas na adolescência

motivaram estudos sobre a aplicabilidade dos diferentes índices de peso e estatura

nesta faixa etária (VEIGA e SICHIERI, 2007).

Sabe-se que cerca de 50% do peso e 20 a 25% da estatura de um indivíduo

são adquiridos na adolescência e o papel da nutrição em nível populacional serve

como determinante altamente significativo da variabilidade desse processo

(JOHNSTON, 1981).

Um dos índices mais populares para avaliação nutricional é o Índice de Massa

Corporal (IMC) que consiste na relação do peso em quilograma, dividido pelo

quadrado da estatura em metro (ANJOS, 1992).

Para a classificação do estado nutricional de adolescentes, segundo SICHIERI

e ALLAM (1996), deve-se considerar o sexo, a idade, o peso, a altura e o estágio de

maturação sexual.

Neste estudo serão analisados o sexo, a idade, o peso e a altura dos

adolescentes para o diagnóstico do estado nutricional, surgindo como uma limitação

da pesquisa o fato de não ter as informações sobre a maturação sexual dos

adolescentes, que segundo a OMS essa informação baseada na idade cronológica

deve ser coletada sempre que possível e considerada para interpretar o significado de

indicadores antropométricos do estado nutricional e de saúde (WHO, 1995).

No processo de crescimento nesta fase da vida, muitos fatores estão

associados, como por exemplo, os fatores genéticos que são responsáveis pela

variação individual dos fenômenos pubertários, necessários para que o adolescente

possa alcançar a expressão máxima de seu potencial genético. Assim, é importante

que os fatores ambientais sejam favoráveis, e a nutrição destaca-se nesse processo

(SIGULEM et al., 2000).

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47

Além disso, observa-se que os problemas nutricionais se modificam entre as

regiões geográficas, entre as áreas de ocupação, entre as famílias de uma mesma

localidade e entre os membros de uma mesma família. Essas alterações podem ser

explicadas pelo grau de desenvolvimento socioeconômico e pelo nível sociocultural

da população (MONTEIRO et al., 2000).

2.5 CENÁRIO DOS MUNICÍPIOS ESTUDADOS - ÁREA DE

ABRANGÊNCIA DA RODOVIA BR-163

O estado de Mato Grosso é cortado transversalmente pela rodovia BR-163,

perfazendo um total de 280.550km2, o que representa 31,06% da sua área total. Um

total de 73 municípios compõe a área de abrangência desta rodovia, dos quais 39

municípios fazem parte de Mato Grosso (BRASIL, 2006b).

Sua construção levou ao aumento no crescimento, principalmente econômico,

dos municípios ao seu entorno, sendo um atrativo para migração de pessoas das

várias regiões do país, totalizando cerca de dois milhões de habitantes. Há uma

projeção de crescimento demográfico na área de abrangência da BR-163 variando

entre 2,73 a 2,97 milhões de habitantes em 2015 e 3,49 a 4,12 milhões em 2025

(BRASIL, 2006).

Desde a década de 40, no governo Getúlio Vargas, há uma preocupação

nacional com a ocupação do Centro-Oeste e da Amazônia que teve início com o

processo de ocupação da fronteira, conhecido como a Marcha para o Oeste

(BRASIL, 2006b).

A rodovia BR-163, trecho que liga Cuiabá a Santarém, foi iniciada somente

na década de 70, inserida no contexto do Programa de Integração Nacional (PIN),

visando acelerar a conclusão dos circuitos de integração econômica e garantir o

controle do território em termos geopolíticos (BRASIL, 2006b).

No início da construção, o Estado de Mato Grosso era cortado por esta

estrada apenas nos municípios de Nobres, Diamantino e Chapada dos Guimarães,

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apresentando um vazio demográfico e econômico na maioria de sua extensão

territorial, ocupada basicamente pelo extrativismo e pela auto-suficiência das

populações locais (FERREIRA, 2001).

Desta forma, na área mato-grossense de abrangência da BR-163, à exceção

do Município de Diamantino, oriundo do garimpo no século XVIII, o processo de

ocupação é recente, vinculado a diferentes políticas governamentais e atendendo aos

objetivos de ocupação do território, concedidos à atuação de empresa privada em

parceria com o Estado (BRASIL, 2006b).

A atividade econômica na área de influência da BR-163 está fortemente

assentada no setor primário. Há um predomínio da agricultura (principalmente soja,

milho, arroz e algodão), da pecuária bovina e da exploração madeireira. A indústria é

menos expressiva, embora crescente, e concentra-se principalmente no

processamento da madeira, e em menor escala, de grãos e carne bovina. A pecuária

de médio e pequeno porte (suinocultura e avicultura) só recentemente passou a ter

alguma expressão na região, principalmente no Norte de Mato Grosso (FERREIRA,

2001; BRASIL, 2006b).

O comércio e os serviços estão concentrados em cidades como Sinop, Alta

Floresta e Sorriso e são diretamente associadas às atividades primárias

predominantes. O destaque maior fica com o comércio e os serviços voltados

principalmente para o suporte à atividade agrária, incluindo fornecimento de

maquinaria e implementos agrícolas, sementes, inseticidas e outros insumos, serviços

de transportes e armazenagem, serviços de crédito, etc (BRASIL, 2006b).

O norte de Mato Grosso esteve entre as principais regiões produtoras de ouro

do País. Começou a ser explorado em meados da década de 70 e a produção atingiu o

ponto máximo no início dos anos 80, principalmente em Alta Floresta. O garimpo se

constituiu tanto em importante fonte de emprego e renda para os migrantes, como em

foco de violência, degradação ambiental e disseminação de doenças. Nos anos 90,

cidades no norte de Mato Grosso, como Sinop e Alta Floresta, cresceram com a

expansão do agronegócio no cerrado, destacando a produção de soja, gerando uma

nova configuração territorial em processo de consolidação (BRASIL, 2006b).

No entanto, o estado precário das rodovias na região tem sido um grave

obstáculo para o desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de sua população.

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Por essa razão, a pavimentação deste trecho da BR-163 tem sido requerida pelos

segmentos sociais e empresariais, visando o escoamento dos seus produtos e o

atendimento às suas demandas básicas (BRASIL, 2006b).

A partir de 2004, referenciada no Plano Amazônia Sustentável (PAS),

inserido no Plano Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), a pavimentação

da BR-163 passou a fazer parte de um planejamento estratégico específico de

desenvolvimento da macrorregião amazônica (BRASIL, 2006b). Assim, o PNDR

teve como principais objetivos: a ocupação desta região que no momento era pouco

povoada e o escoamento da crescente produção agrícola e bovina que se destacava

neste período (BRASIL, 2006b).

Segundo este plano, os quatros setores da infra-estrutura (transportes, energia,

comunicações e armazenagem) têm entre si um nexo comum que é o fato de

promoverem bens de acesso universal, de uso generalizado, e são considerados

estratégicos ao desenvolvimento, seja por gerarem externalidades positivas que

favorecem a competitividade de produtores da região beneficiada, seja porque sua

disponibilidade se traduz em melhores condições de vida para a população, entre

outros, através do atendimento pelos programas do Ministério de Desenvolvimento

Social (BRASIL, 2006b).

Não obstante a seus potenciais benefícios sociais e econômicos, a

pavimentação da rodovia BR-163 poderia agravar os impactos sociais e ambientais

indesejáveis na sua área de influência. Esses impactos se relacionam ao aumento de

migrações desordenadas, grilagem e ocupação irregular de terras públicas,

concentração fundiária, desmatamento, queimadas, incêndios florestais e exploração

não-sustentável dos recursos naturais, aumento da criminalidade e agravamento das

condições de saúde pública (BRASIL, 2006b).

As condições sociais dos municípios de Mato Grosso quando comparadas às

dos municípios do Pará e do Amazonas são melhores. No entanto, as cidades mato-

grossenses apresentam problemas recorrentes, tais como, escassez de saneamento

básico, insuficiência (ou inexistência) dos serviços públicos, escassez de moradias

planejadas e criminalidade elevada, onde a disponibilidade e o acesso aos alimentos

podem estar comprometidos (BRASIL, 2006b). O que contribui para um cenário de

vulnerabilidade à insegurança alimentar das famílias residentes nesta região.

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OBJETIVOS

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3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a prevalência de insegurança alimentar e fatores associados em

domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163 – MT.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Caracterizar os domicílios com adolescentes segundo variáveis demográficas,

socioeconômicas, condições de moradia/saneamento, produção e disponibilidade de

alimento, participação em programas sociais do governo;

- Estimar a prevalência de insegurança alimentar nos domicílios estudados;

- Analisar a associação entre a situação de insegurança alimentar dos domicílios e

variáveis demográficas, socioeconômicas, condições de moradia/saneamento,

produção e disponibilidade de alimento, participação em programas sociais do

governo, o estado nutricional e o consumo alimentar dos adolescentes.

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MÉTODOS

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4 MÉTODOS

Este estudo faz parte da pesquisa “Segurança Alimentar e Nutricional da

população residente na área urbana de influência da BR 163”, realizada em 2007, por

pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) e da Faculdade de Nutrição

(FANUT), no Núcleo de Estudos sobre Segurança Alimentar e Nutricional –

NESAN, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em parceria com a

Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso (SES - MT) e Secretarias de Saúde

dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso.

4.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo secundário, observacional do tipo transversal, de base

populacional em domicílios com adolescentes da zona urbana de municípios da área

de abrangência da BR-163, realizado por meio de inquérito domiciliar.

4.2 CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO

Os municípios estudados (Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso)

localizam-se no Estado de Mato Grosso, área de abrangência da rodovia BR-163,

modal rodoviário que liga Cuiabá-MT a Santarém-PA (Figura 3).

Estes municípios foram selecionados por possuírem escritórios regionais de

saúde, exceto Sorriso que foi escolhido por proximidade geográfica do município de

Sinop, além de questões políticas e de apoio logístico.

Os municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, têm como

principais atividades econômicas: a agroindústria, a agricultura, a pecuária, o

comércio, a indústria, o eco-turismo, o extrativismo mineral e vegetal (FERREIRA,

2001).

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Na Figura 3 pode-se observar a delimitação da área de abrangência da BR-

163, que possui a extensão de 974 mil Km2. Esta delimitação foi realizada de acordo

com os conceitos de regionalização do PAS (Plano Amazônia Sustentável) e da

Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR). Este plano é baseado num

conjunto de políticas públicas com destaque para a pavimentação da BR-163, a

conservação dos recursos naturais e a inclusão social, observando a diversidade

socioeconômica e ambiental (BRASIL, 2006b). A rodovia BR-163 localiza-se em

uma das áreas mais importantes da Amazônia, tanto do ponto de vista econômico

quanto ecológico e associada a outras rodovias é um elemento de conectividade entre

o Norte-Sul do Brasil.

Figura 3. Área de abrangência da BR-163.

Fonte: Ministério dos Transportes, 2009.

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4.2.1. Municípios do estudo

Alta Floresta

Figura 4. Localização geográfica do município de Alta Floresta – MT.

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.

O município de Alta Floresta localiza-se no extremo norte de Mato Grosso,

está distante da capital 720,3 Km (FERREIRA, 2001). Possui uma área geográfica de

8.982 Km2, população estimada de 47.236 habitantes, sendo que 9.845 hab. (20,8%)

são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta densidade demográfica de 5,25

hab/Km2

e taxa de crescimento de 5,2% (MS-DATASUS, 2005). A renda per capita

média é de R$ 264,66, o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) igual a 0,779

(MS-DATASUS, 2005) e o índice de Gini 0,44 (IBGE, 2003). A taxa de

alfabetização é de 88,1% e a de mortalidade geral/1000 hab. alcança 4,9, com taxa de

mortalidade infantil/1000nv de 14 (MS-DATASUS, 2005).

Neste município 62,8% da população apresentava cobertura do Programa Saúde da

Família (MS-DATASUS, 2005). Em relação ao saneamento básico, 27,7% dos

domicílios contavam com água tratada canalizada, 0,3% com sistema de tratamento

de esgoto e 72,3% com coleta pública de lixo (IBGE, 2000).

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Diamantino

Figura 5. Localização geográfica do município de Diamantino – MT.

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.

O município de Diamantino localiza-se no médio norte de Mato Grosso

(FERREIRA, 2001), sendo distante de Cuiabá 199,6 Km (MS-DATASUS, 2005).

Tem uma área geográfica de 7.764,4 Km2, a população é estimada em 20.198 hab.,

sendo sua densidade demográfica igual a 2,4 hab/km2

(MS-DATASUS, 2005). Do

total de habitantes, 4.544 hab. (22,5%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005).

Apresenta taxa de crescimento anual estimada de 4,8%, renda per capita de

R$ 291,13, IDH igual a 0,788 (MS-DATASUS, 2005), índice de Gini de 0,46 (IBGE,

2003), taxa de alfabetização de 88,8%, taxa de mortalidade geral/1000 hab. de 4,4,

taxa de mortalidade infantil/1000nv de 5,9 (MS-DATASUS, 2005).

A cobertura do Programa Saúde da Família da população no município era de

93,4% (MS-DATASUS, 2005). Em relação ao saneamento básico: o atendimento de

água tratada canalizada era de 67,2%, o sistema de tratamento de esgoto atendia

1,2% dos domicílios e a coleta pública de lixo alcançava 69% (IBGE, 2000).

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Sinop

Figura 6. Localização geográfica do município de Sinop – MT.

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.

O município de Sinop está localizado no norte do Estado Mato Grosso, sendo

que a distância entre Cuiabá e Sinop é de 472,4 Km. O nome do município é

derivado do acrônimo de Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná, empresa

responsável pela colonização do norte de Mato Grosso, por agricultores do estado do

Paraná (FERREIRA, 2001). Este município possui uma área geográfica de 3.206,8

Km2, com população estimada de 99.121 habitantes, sendo que 20.451 (20,6%) são

adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Apresenta densidade demográfica de 23,4

hab/km2, IDH igual a 0,746 (MS-DATASUS, 2005) e índice de Gini de 0,43 (IBGE,

2003). A renda per capita média é em torno de R$ 340,38 (MS-DATASUS, 2005). A

taxa de crescimento é de 8,3%, a taxa de alfabetização de 91,5%, a taxa de

mortalidade geral/1000 hab. é de 3,3 e a taxa de mortalidade infantil/1000nv de 17

(MS-DATASUS, 2005).

A cobertura do Programa Saúde da Família da população em Sinop era de

69% (MS-DATASUS, 2005). Quanto ao acesso de saneamento básico, 19,5% dos

domicílios possuíam água tratada canalizada, 0,2% tinham tratamento de esgoto e

83,6% coleta pública de lixo (IBGE, 2000).

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Sorriso

Figura 7. Localização geográfica do município de Sorriso – MT.

Fonte: Ministério da Integração Nacional, 2009.

O município de Sorriso localiza-se no norte do Estado Mato Grosso, sendo

que a distância de Cuiabá é de 393,2 Km (FERREIRA, 2001). Possui uma área

geográfica de 9.328 Km2, com população estimada de 48.325 habitantes, destes

9.905 (20,5%) são adolescentes (MS-DATASUS, 2005). Sua densidade demográfica

é de 3,8 hab/km2. Apresenta IDH igual a 0,805, renda per capita média de R$ 442,37

(MS-DATASUS, 2005), índice de Gini de 0,43 (IBGE, 2003), 7,4% de taxa de

crescimento e taxa de alfabetização de 92,5% (MS-DATASUS, 2005). A taxa de

mortalidade geral/1000 hab. é de 3,8 e a de mortalidade infantil/1000nv de 14,4 (MS-

DATASUS, 2005).

De acordo com dados do Ministério Saúde, a cobertura do Programa Saúde da

Família da população em Sorriso era de 99,9% (MS-DATASUS, 2005). Quanto ao

acesso a saneamento básico: 76% dos domicílios tinham água tratada canalizada,

0,2% contavam com tratamento de esgoto e 86,8% com coleta pública de lixo

(IBGE, 2000).

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4.3 POPULAÇÃO DE ESTUDO

A população de estudo compreende em domicílios com adolescentes na faixa

etária de 10 a 19 anos, de ambos os sexos, pertencentes à área urbana dos municípios

de Alta Floresta, Diamantino, Sinop, Sorriso - Mato Grosso.

4.3.1 Critérios de Exclusão

Foram excluídos do estudo adolescentes gestantes, adolescentes

institucionalizados (hospitais, prisões, etc) e aqueles com incapacidade mental para

responder o questionário ou incapacidade física que impossibilitasse ou

comprometesse a realização da antropometria.

4.4 PLANEJAMENTO AMOSTRAL

O planejamento amostral deste estudo seguiu o do projeto matriz, apresentado

no Anexo 1. Adotou-se o tipo de amostragem probabilística, considerando os

métodos de amostragem aleatória simples e por conglomerado em dois estágios

(BOLFARINE e BUSSAB, 2005), característica de um delineamento amostral

complexo (PESSOA e SILVA, 1998; SZWARCWALD e DAMACENA, 2008),

onde os setores censitários foram considerados unidades primárias de amostragem e

os domicílios foram considerados as unidades secundárias.

Na amostragem por conglomerado, o sorteio em dois estágios com

probabilidade proporcional ao tamanho dos conglomerados é um processo que

controla o tamanho da amostra de elementos, além de mantê-la auto-ponderada. É

fundamentado nos princípios básicos de eficiência, sendo amplamente usado em

inquéritos populacionais (KISH, 1965; SILVA, 2001).

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Abaixo nas Tabelas 1 e 2, é apresentada a amostra de domicílios e de

adolescentes com as respectivas perdas, por motivo de recusa ou ausência.

Tabela 1 – Número de domicílios com adolescentes segundo municípios da área de

abrangência da BR 163, considerando a perda de domicílios por recusa ou ausência,

Mato Grosso, 2006.

Amostra Municípios

Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total

Nº de domicílios 88 109 95 99 391

Nº recusa 5 3 4 2 14

Nº ausência 3 4 1 6 14

De acordo com o número total de domicílios com adolescentes (n= 391), a

perda foi de 28 domicílios, o que equivale a 7,2% do total da amostra (Tabela 1).

A seguir é apresentada na Tabela 2, a amostra de adolescentes obtida (n=

592), sendo que, a perda de indivíduos por recusa ou ausência não ultrapassou os

10%, totalizando 9,8 % da amostra.

Tabela 2 – Número de adolescentes, perdas por recusa ou ausência segundo

municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.

Amostra Municípios

Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total

Nº de adolescentes 130 170 141 151 592

Nº recusa 7 6 10 4 27

Nº ausência 6 13 2 10 31

Considerando que a amostragem do projeto matriz, trata-se de uma

amostragem complexa, ou seja, foram utilizados vários métodos de amostragem

probabilística.

Assim, buscou-se a obtenção da validade externa do estudo e na medida do

possível, procurou-se generalizar os achados para populações similares à população-

base estudada.

Para isto, os dados deste estudo foram ponderados, para compensar as

probabilidades desiguais de seleção e para isto, foram atribuídas ponderações

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diferenciadas aos elementos da amostra, chamados de fatores naturais de expansão, o

que corresponde ao inverso do produto das probabilidades de inclusão, nos diversos

estágios da seleção (SZWARCWALD e DAMACENA, 2008).

Realizou-se a calibração dos fatores naturais de expansão, que consiste em

estimar pesos para cada elemento da amostra, através dos ajustes de pesos naturais

do desenho segundo informações das variáveis desta mesma amostra (PESSOA e

SILVA, 1998; SZWARCWALD e DAMACENA, 2008).

Com isso, a cada domicílio da amostra e a cada adolescente foi associado um

peso amostral ou fator de expansão, de tal maneira que ambos fossem equivalentes às

respectivas projeções populacionais (IBGE, 2010b) obtidas para o ano de 20051.

Cabe destacar, que a determinação destes pesos, exige a utilização de pacotes

estatísticos devido à complexidade dos cálculos. Neste estudo utilizou-se o pacote

estatístico STATA versão 10.0, pois este pacote apresenta um conjunto de funções ou

procedimentos para dados amostrais complexos (STATA, 2005).

Para definição da amostra de consumo alimentar foi utilizada amostragem

aleatória simples, considerando 20% do número total dos domicílios do projeto

matriz (Tabela 2 - Anexo 1), obtendo-se os dados apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Amostra de domicílios, indivíduos e amostra de adolescentes

entrevistados quanto ao consumo alimentar segundo municípios da área de

abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.

Município Nº domicílio

entrevistado

Nº indivíduo

entrevistado

Amostra

adolescente

Alta Floresta 38 99 23

Sinop 54 137 26

Sorriso 45 116 23

Diamantino 43 121 23

180 473 95

1 IBGE – Censos Demográficos e Contagem Populacional; para os anos intercensitários, estimas

preliminares dos totais populacionais, estratificado por idade pelo MS/SE/DATASUS, 2005.

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4.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO

A seguir, são apresentadas as variáveis utilizadas na análise deste estudo.

Investigou-se variáveis demográficas (sexo, idade, raça/cor, naturalidade do

chefe da família, tempo de residência no município e número de indivíduos no

domicílio), variáveis socioeconômicas (renda familiar mensal per capita,

escolaridade do chefe da família e escolaridade dos adolescentes), variáveis relativas

às condições de moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, coleta de lixo,

abastecimento e tratamento de água, esgoto sanitário), medidas antropométricas

(peso e estatura do adolescente para cálculo do IMC) e de segurança alimentar e

nutricional (disponibilidade de alimentos, consumo alimentar, produção de alimentos

no domicílio para consumo próprio e participação em programas sociais do governo

de transferência direta de renda).

4.5.1 Variável dependente

Considerou-se como variável dependente a situação de insegurança alimentar,

medida em escala categórica: segurança alimentar e a insegurança alimentar,

considerando seus níveis de intensidade - leve, moderada e grave (IBGE, 2006).

Para mensurar a IAN aplicou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar

– EBIA para identificação e classificação dos domicílios (Anexo 4). A EBIA é

composta por 15 perguntas centrais dicotômicas - Sim ou Não, nos últimos três

meses (IBGE, 2006; SEGALL-CORRÊA, 2007a), sendo que cada resposta

afirmativa representa um ponto e a somatória desses pontos avalia a insuficiência

alimentar em diferentes níveis de intensidade, com pontuações diferentes para

domicílios com pelo menos um morador de menos de 18 anos de idade e domicílios

com somente moradores de 18 anos ou mais de idade, conforme apresentado nos

Quadros 1 e 2 (IBGE, 2006).

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Quadro 1 - Pontuação para classificação dos domicílios com pelo menos um

morador menor de 18 anos de idade.

Pontuação Categorias

0 pontos Segurança Alimentar

1 a 5 pontos Insegurança Alimentar leve

6 a 10 pontos Insegurança Alimentar moderada

11 a 15 pontos Insegurança Alimentar grave

Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006).

Quadro 2 - Pontuação para classificação dos domicílios com somente moradores de

18 anos ou mais de idade.

Pontuação Categorias

0 pontos Segurança Alimentar

1 a 3 pontos Insegurança Alimentar leve

4 a 6 pontos Insegurança Alimentar moderada

7 a 9 pontos Insegurança Alimentar grave

Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006).

No Quadro 3 apresenta-se a descrição da situação de segurança alimentar, ou

seja, o significado da situação encontrada no domicílio, segundo os níveis de

severidade da IAN.

Quadro 3 – Descrição da situação de segurança alimentar.

Situação de segurança alimentar Descrição

Segurança alimentar

Os moradores dos domicílios têm acesso regular

e permanente a alimentos de qualidade, em

quantidade suficiente, sem comprometer o

acesso a outras necessidades essenciais

Insegurança alimentar leve

Preocupação ou incerteza quanto acesso aos

alimentos no futuro; qualidade inadequada dos

alimentos resultante de estratégias que visam

não comprometer a quantidade de alimentos

Insegurança alimentar moderada

Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura

nos padrões de alimentação resultante da falta

de alimentos

Insegurança alimentar grave

Redução quantitativa de alimentos entre as

crianças e/ou ruptura nos padrões de

alimentação resultante da falta de alimentos

entre as crianças; fome (quando alguém fica o

dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para

comprar alimentos)

Fonte: PNAD 2009 (IBGE, 2010).

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4.5.2 Variáveis independentes

4.5.2.1 Variáveis demográficas

- sexo: masculino; feminino (IBGE, 2006);

- idade: em anos completos; serão consideradas as duas fases da adolescência, a

primeira de 10 a 14 anos (fase inicial) e a segunda de 15 a 19 anos (fase final)

(IBGE, 2000);

- raça/cor: branca; não branca (cor da pele parda, negra, indígena e amarela). Auto-

referida pelo entrevistado (BURLANDY e COSTA, 2007).

4.5.2.2 Variáveis de migração

- tempo de residência do chefe da família no município, obtido em anos: 0-19; 20-39;

> 40;

- naturalidade do chefe da família: Mato Grosso; outros estados (IBGE, 2008b).

- naturalidade do chefe da família por grandes regiões: Centro-oeste; Norte;

Nordeste; Sudeste; Sul (IBGE, 2006).

4.5.2.3 Variáveis socioeconômicas

- renda familiar per capita mensal: a partir da razão entre a estimativa do rendimento

mensal e o total de pessoas que compõem a unidade de consumo, será obtida a renda

familiar per capita considerando o valor do salário mínimo de R$ 350,00 (vigência:

01 de abril de 2006 a 30 de março de 2007) e R$ 380,00 (vigência: 01 de abril de

2007 a 29 de fevereiro de 2008) vigente no período da pesquisa (MTE, 2010) e

analisada em salários mínimos cateorizados em: < 2; 2–3; >3;

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- escolaridade do adolescente: 0–4 anos; 5–8 anos; 9-11 anos; 12 ou mais (IBGE,

2008a; VINHOLES et al., 2009);

- escolaridade do chefe da família : 0-4 anos; 5-8 anos; 9-11 anos; 12 ou mais (IBGE,

2008a; VINHOLES et al., 2009);

- número de moradores no domicílio: até 4; de 5 – 6; 7 ou mais (IBGE, 2008a).

4.5.2.4 Variáveis relacionadas às condições de moradia e saneamento

- tipo de construção da moradia: alvenaria acabada; outro tipo – alvenaria com

acabamento incompleto, madeira, material aproveitado (VIANNA e SEGALL-

CORRÊA, 2008; PANIGASSI et al., 2008);

- coleta de lixo: pública; outra – coletado indiretamente (colocado ou despejado pelo

morador em caçamba ou containers), queimado, enterrado, colocado a céu aberto

(VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008);

- abastecimento de água: rede pública; outro sistema – poço ou nascente, carro-pipa

(VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008);

- tratamento da água: com tratamento – água para beber e cozinhar é tratada (fervida,

clorada), água para beber é mineral; sem tratamento – não tem filtro e nem trata a

água (IBGE, 2002);

- esgoto sanitário: rede pública; outro – fossa séptica, fossa rudimentar, céu aberto

(VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008).

4.5.2.5 Medidas antropométricas

- peso: verificado pela entrevistadora em quilogramas (Kg);

- estatura: medida pela entrevistadora em centímetros (cm).

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Segundo o projeto matriz, as medidas antropométricas dos adolescentes

foram realizadas nos próprios domicílios, com instrumentos devidamente aferidos

por entrevistadores treinados e padronizados, segundo as recomendações de

JELLIFER (1968).

O peso foi obtido com a balança eletrônica marca Tanita, modelo UM 080

com capacidade de até 150 Kg e variação de 0,1 kg. Durante a pesagem, os

entrevistados mantiveram-se em posição ortostática, braços estendidos ao longo do

corpo, sem sapatos, usando roupas leves, sem adornos e acessórios e, ainda, olhando

para frente. Os participantes foram pesados uma vez e os valores registrados em

quilogramas, na Ficha de Antropometria.

A estatura foi obtida com os indivíduos descalços, sem qualquer penteado ou

adorno na cabeça, mantendo-se em posição ereta, com a coluna vertebral e

calcanhares encostados na parede ou portal, joelhos esticados, pés juntos e braços

estendidos ao longo do corpo. A cabeça foi posicionada de modo que os olhos

mirassem um plano horizontal, de acordo com o plano de Frankfurt. A estatura foi

medida no momento da inspiração. O instrumento utilizado foi o Estadiômetro

Portátil, marca Seca com escala milimétrica até 220 cm.

A medida de estatura foi realizada em duplicata por dois examinadores, sendo

os valores registrados atentamente na Ficha de Antropometria. Para a altura não foi

permitida diferença maior que 0,5 cm entre as duas medidas. Quando a diferença

entre as duas medidas era maior, realizava-se uma nova aferição em duplicata para

substituição da medida inadequada, ao final considerou-se a média das medidas.

Nesta pesquisa, o estado nutricional dos adolescentes foi avaliado pelo Índice

de Massa Corporal – IMC por idade, por meio da equação abaixo (3) e será

classificado (Quadro 4) conforme o critério proposto pela World Health Organization

(2007).

estaturakgpesoIMC /)(2(m) (3)

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Quadro 4 - Pontos de corte de IMC por idade, estabelecidos para adolescentes.

Valores críticos Diagnóstico nutricional

< Percentil 3 < Escore-z -2 Baixo IMC para idade

≥ Percentil 3 e <

Percentil 85

≥ Escore-z -2 e <

Escore-z +1 IMC adequado ou Eutrófico

≥ Percentil 85 e <

Percentil 97

≥ Escore-z +1 e <

Escore-z +2 Sobrepeso

≥ Percentil 97 ≥ Escore-z +2 Obesidade

Fonte: WHO - World Health Organization, 2007.

4.5.2.6 Variáveis relacionadas à situação de insegurança alimentar

- disponibilidade de alimentos (freqüência de disponibilidade por grupos de

alimentos): 1-pães, cereais, raízes e tubérculos (arroz, macarrão, milho e derivados,

pão, bolachas, biscoitos, mandioca, batata doce, cará, beterraba, inhame); 2-

leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, soja); 3-carnes e ovos (carne bovina, de

frango, porco, peixe, miúdos em geral, salsicha, mortadela, lingüiça, salame,

presunto e ovos); 4-leite e produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, coalhada,

requeijão,nata); 5-frutas (frutas, suco natural de fruta); 6-hortaliças (verduras:

folhosos, legumes); 7-óleos e gorduras (margarina, manteiga, banha, óleo, azeite);

8-açúcares e doces (mel, melado, açúcar, rapadura, doces); 9- refrigerantes; 10-

sucos artificiais e infusões (sucos industrializados, café, chimarrão, chá) (PHILIPPI,

1999; VOCI et al., 2008; UNICAMP, 2003).

- consumo alimentar: freqüência do consumo de acordo com os grupos de alimentos:

1-pães,cereais, raízes e tubérculos (arroz, macarrão, milho e derivados, pão,

bolachas, biscoitos, mandioca, batata doce, cará, beterraba, inhame); 2-leguminosas

(feijão, lentilha, ervilha, soja); 3-carnes e ovos (carne bovina, de frango, porco,

peixe, miúdos em geral, salsicha, mortadela, lingüiça, salame, presunto e ovos); 4-

leite e produtos lácteos (leite, queijo, iogurte, coalhada, requeijão,nata); 5-frutas

(frutas, suco natural de fruta); 6-hortaliças (verduras: folhosos, legumes); 7-óleos e

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gorduras (margarina, manteiga, banha, óleo, azeite); 8-açúcares e doces (mel,

melado, açúcar, rapadura, doces); 9- refrigerantes; 10- sucos artificiais e infusões

(sucos industrializados, café, chimarrão, chá) (PHILIPPI, 1999; VOCI et al., 2008).

- produção de alimentos no domicílio para consumo próprio: sim; não;

- participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda

(Bolsa Família): sim; não (IBGE, 2006);

As informações das variáveis independentes foram obtidas através do projeto

matriz que utilizou questionários estruturados, conforme descrito no item 1.3.2 do

Anexo 1.

Para verificar a disponibilidade de alimentos dos domicílios e o consumo de

alimentos dos adolescentes foi utilizado o Questionário de Freqüência Alimentar -

QFA (SICHIERI e EVERHART, 1998; CAVALCANTE, 2004; VOCI et al., 2008).

O QFA, comumente utilizado em estudos epidemiológicos para a obtenção de

informações qualitativa, semi-quantitativa ou quantitativa sobre o consumo

alimentar, é um questionário que permite registrar, descrever e classificar a ingestão

de populações e indivíduos segundo o seu consumo usual de alimentos (WILLETT,

1994; SALVO e GIMENO, 2002; SLATER et al., 2003; FISBERG et al., 2005).

Em geral, o objetivo do QFA não é de obter, de forma exata, a ingestão

quantitativa de algum nutriente, mas sim de identificar, sob a forma de triagem,

grupos de indivíduos que apresentam ingestão inadequada de um determinado

alimento (ANJOS, 2009). Possui basicamente dois componentes: uma lista de

alimentos e um espaço, no qual o indivíduo tem liberdade para responder com que

freqüência consome cada alimento. A lista é constituída pelo maior número possível

de alimentos que aportam nutrientes à dieta (FISBERG et al., 2005).

Segundo KEPPLE e SEGALL-CORRÊA (2011) é um instrumento de

mensuração de um dos indicadores da SAN, o consumo alimentar. O QFA tem como

vantagens: ser um instrumento de fácil aplicação, baixo custo operacional, boa

reprodutibilidade e validade aceitável, o que permite sua aplicação em estudos

epidemiológicos, com elevado número de participantes, sendo possível distinguir os

diferentes padrões de consumo entre os indivíduos (SALVO e GIMENO, 2002). Por

ser um instrumento que requer esforço e tempo, bem como, hábitos do passado, tem

como limitação a aplicação em analfabetos e idosos (FISBERG et al., 2008).

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Para investigar a disponibilidade de alimentos nos domicílios utilizou-se o

QFA, considerando que na pesquisa do processo de adaptação, elaboração e

validação da EBIA (UNICAMP, 2003) e semelhante a pesquisa realizada por

OSÓRIO et al. (2009) este instrumento foi utilizado para esta finalidade.

Lembrando que a literatura também apresenta como instrumento de

mensuração da disponibilidade de alimentos, as Pesquisas de Orçamento Familiar –

POFs (LEVY-COSTA et al., 2005; YOKOO et al., 2008).

4.6 MODELO DE ANÁLISE

Visto que, a situação de segurança alimentar se apresenta dentro uma

multicausalidade foi construído o modelo de análise para este estudo (Figura 8), que

tem como base os modelos propostos por VIEIRA (2007), BARROSO et al. (2008) e

SANTOS (2008), bem como, os indicadores de insegurança alimentar (PÉREZ -

ESCAMILLA e SEGALL - CORRÊA, 2008), os determinantes da SAN

apresentados na PNAD 2010 e os determinantes sociais da situação de segurança

alimentar, bem como, suas dimensões2.

Assim, VICTORIA et al. (1997) propõe que a escolha das variáveis para

inclusão no modelo não dependam puramente da associação estatística na análise

bivariada, mas também, do conhecimento acerca da determinação social e biológica

do evento de interesse. Pois, a epidemiologia, como todas as outras ciências, acha-se

profundamente inserida na vida social e está sujeita aos condicionantes e pressões

existentes na sociedade (COSTA et al, 1990).

2 Para informações complementares, consultar Equity, social determinants and public health

programmes. Food safety: equity and social determinants (WHO, 2010). Conceituando e medindo a

segurança alimentar e nutricional (KEPPLE e SEGALL-CORRÊA, 2011). Nutrição e Saúde Pública

(TADDEI et al., 2011), Rio de Janeiro: Editora Rubio.

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70

Figura 8. Modelo de análise da situação de insegurança alimentar e nutricional em

domicílios com adolescentes.

É importante a construção do modelo de análise, porque ele possibilita a

avaliação de fatores de risco (FRISS e SELLES, 2003; SZKLO e NIETO, 2007) que

na investigação da situação de insegurança alimentar em domicílios com

adolescentes, estão inseridos em duas dimensões: a Dimensão Domiciliar e a

Dimensão Individual, conforme apresentado na Figura 8.

Na Dimensão Domiciliar, encontram-se informações do chefe da família, do

domicílio e características familiares. Nesta dimensão tem-se como possíveis fatores

distais da insegurança alimentar e nutricional: as características das condições de

moradia e saneamento (tipo de construção da moradia, tratamento do esgoto

sanitário, coleta de lixo, abastecimento e tratamento da água), as características de

migração (naturalidade e tempo de residência do chefe da família no município),

participação em programas sociais do governo de transferência direta de renda (Bolsa

Família); e como fatores que atuam diretamente no evento tem-se os fatores

proximais: as características socioeconômicas (número de moradores no domicílio,

renda familiar per capita mensal, escolaridade do chefe da família), a disponibilidade

de alimentos e produção de alimentos no domicílio para consumo próprio.

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71

Na Dimensão Individual, encontram-se às informações individuais dos

adolescentes sobre o estado nutricional e o consumo alimentar. Nesta dimensão estão

os fatores que possivelmente podem sofrer influência da situação de insegurança

alimentar e nutricional, bem como, dos fatores da Dimensão Domiciliar.

Por meio do modelo de análise anteriormente apresentado, pode-se observar

tanto a prevalência de domicílios em situação de IA (útil na confecção de mapas de

risco nos níveis nacional, regional e local), quanto à relação de causalidade entre os

diversos aspectos (que permitem especificar medidas de redução da IA) podendo ser

utilizadas na formulação, avaliação e monitoramento de políticas, e programas de

alimentação e combate à pobreza (PESSANHA et al., 2008).

4.7 SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES, ESTUDO

PILOTO E TRABALHO DE CAMPO

A seleção e treinamento dos entrevistadores, o estudo piloto e o trabalho de

campo desta pesquisa estão apresentados no Anexo 1, conforme o projeto matriz.

4.8 PROCEDIMENTOS UTILIZADOS PARA A QUALIDADE DOS

DADOS

Os procedimentos utilizados para garantir a qualidade dos dados coletados,

incluíram supervisão contínua e sistemática do trabalho de campo do projeto matriz,

bem como, reuniões semanais com a equipe de entrevistadores para avaliação dos

trabalhos realizados e reuniões com os coordenadores da pesquisa. Os dados foram

digitados em duplicata no programa Epi Info 2000, por estudantes do Curso de

Nutrição da UFMT, utilizando-se o recurso Data Compare do programa para

correção das diferenças entre os bancos de dados.

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72

As informações contidas nos questionários e no banco de dados utilizadas

neste estudo foram conferidas para a verificação de possíveis falhas e inconsistências

e visando a confiabilidade psicométricada da Escala Brasileira de Insegurança

aplicada nesse estudo, foi calculado o Alpha de Crombach3.

4.9 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS

Para análise foram utilizados o programa Statistical Package for the Social

Sciencies – SPSS versão 15.0 (SPSSTM

, 2006), MINITAB versão 15.0 (MINITAB,

2007), WHO Anthro Plus versão 3 (WHO, 2010b) e STATA versão 10.0 (STATA,

2005).

Utilizou-se estatísticas descritivas: tabelas, gráficos, medidas de posição e

variação e estatísticas inferenciais: razão de prevalência com seus respectivos

intervalos de 95% de confiança e a associação entre as variáveis, verificada por meio

do teste de qui-quadrado (χ2) de Pearson, com nível de significância de p<0,05.

Efetuo-se uma análise da variância múltipla com duas entradas para comparar

em média a frequência de disponibilidade e consumo de alimentos nos domicílios,

considerando um nível de significância de p<0,05.

Realizou-se a análise de regressão múltipla de Poisson e para introdução das

variáveis independentes no modelo da regressão, foi considerado o processo passo a

passo para frente (stepwise forward). As variáveis que apresentaram p<0,20 na

análise bivariada, foram introduzidas na análise múltipla conforme o modelo

apresentado anteriormente na Figura 8 e permaneceu segundo o seu nível

significância.

Permaneceram no modelo final da regressão as variáveis que apresentarem

nível de significância menor que 0,05 (p<0,05).

3 Trata-se de um índice que verifica a consistência interna, que toma valores entre 0 e 1, serve para

comprovar se o instrumento é confiável, se ele faz medições estáveis e consistentes. O Alpha de

Crombach, entre 0,70 e 0,90 indica uma boa consistência interna (OVIEDO & CAMPO-ARIAS,

2005).

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73

A literatura apresenta como alternativas de análise de dados para estudos de

corte tranversal os modelos de regressão log-binomial, Poisson e entre outros. No

entanto, optou-se por utilizar neste estudo a regressão múltipla de Poisson,

considerando a alta prevalência do desfecho (52,8% IAN), critério este, importante

para o uso deste modelo (SPIEGELMAN e HERTZMARK, 2005; SZKLO e NIETO,

2007; COUTINHO et al, 2008; HIRAKATA, 2009).

Cabe destacar, que para todas as inferências utilizadas, os dados foram

ponderados, utilizando o pacote estatístico STATA 10.0.

4.10 ASPECTOS ÉTICOS

De acordo com o projeto matriz, os entrevistados dos quais foram utilizados

os dados para este estudo, não sofreram nenhum tipo de risco à saúde. Apenas foram

submetidos ao exame antropométrico e a entrevista. Foi solicitado aos pais/

responsáveis pelos adolescentes e aos maiores de 18 anos, a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que continha todos os procedimentos a

serem desenvolvidos (Anexo 2).

O projeto matriz do qual esta pesquisa faz parte foi submetido ao Comitê de

Ética e Pesquisa envolvendo seres humanos do Hospital Universitário Júlio Muller,

com aprovação sob o número de protocolo 230/CEP-HUJM/06 (Anexo 3), sendo

respeitadas as normas regulamentadoras expressas na Resolução CNS/CONEP

196/96 do Ministério da Saúde.

4.11 FINANCIAMENTO

O projeto matriz, do qual esta pesquisa faz parte foi financiado pelo

Ministério de Ciência e Tecnologia/Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico- CNPq/Ministério da Saúde/Secretaria de Ciência

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74

Tecnologia e Insumos Estratégicos- DECIT (Proc 402879/2005-8), e também teve

apoio da bolsa de mestrado do CNPq (Proc 060645/2009-1).

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RESULTADOS

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76

5 RESULTADOS

5.1 PERFIL DA POPULAÇÃO DO ESTUDO SEGUNDO VARIÁVEIS

DEMOGRÁFICAS, SOCIOECONÔMICAS E VARIÁVEIS

RELACIONADAS AO DOMICÍLIO

Da amostra de domicílios com adolescentes (n= 391), foram estudados 363

domicílios, havendo 7,2% (n= 28) de perda por recusa.

O número de adolescentes pesquisados foi de 592, com uma perda de 9,2%

(n= 58) por motivo de recusa ou ausência no momento da visita ao domicílio,

totalizando 534 adolescentes estudados.

Ocorreram exclusões por deficiência física (n=1), deficiência mental (n=1),

incapacidade física que impossibilitasse ou comprometesse a realização da

antropometria (n=1)4, gravidez (n=5) e dois indivíduos sem informação

antropométrica – por erro durante a coleta de dados. Totalizando 10 adolescentes que

não participaram da antropometria.

Na Tabela 4 observou-se um predomínio de adolescentes do sexo feminino

(52,6%), com idade entre 10 e 14 anos (50,7%), de cor não branca - preta, parda,

amarela ou indígena (64,7%), com escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%).

Ainda na Tabela 4, observou-se que 45,7% dos chefes de família, tinham até

quatro anos de estudo e apenas 4,7% tinha 12 anos ou mais de estudo.

Quanto às informações de migração 71,4% dos chefes da família eram

naturais de outros estados do Brasil e quando observado por grandes regiões houve

predomínio da região Sul (41,6%), seguido da região Centro-Oeste com 32,5%. Dos

363 chefes de família, 53,4% informaram residir a até 19 anos nos municípios

estudados, enquanto, 8,6% residiam a mais de 40 anos.

4 Adolescente encontrava-se engessado com lesão na perna.

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Tabela 4 – Distribuição dos adolescentes e chefes das famílias, dos municípios de

Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso – área de abrangência da BR-163 segundo

variáveis demográficas e socioeconômicas, Mato Grosso, 2007.

Variáveis Categorias N %

Informações do Adolescente (n= 534)

Sexo masculino 253 47,38

feminino 281 52,62

Idade 10 – 14 271 50,75

15 – 19 263 49,25

*1Cor/raça branca 188 35,27

não branca 345 64,73

Escolaridade (anos de estudo) 0-4 153 28,65

5-8 267 50,00

9-11 103 19,29

12 ou mais 11 2,06

Informações do chefe da família (n= 363)

*2Escolaridade (em anos de estudo) 0-4 166 45,73

5-8 118 32,51

9-11 59 16,25

12 ou mais 17 4,68

*

3Naturalidade Mato Grosso 98 27,00

outros estados 259 71,35

*

4Naturalidade por grandes regiões Centro-oeste 118 32,51

Norte 7 1,93

Nordeste 37 10,19

Sudeste 44 12,12

Sul 151 41,60

Tempo de residência no município 0-19 194 53,44

(em anos) 20-39 138 38,02

> 40 31 8,54

*1(n – perda = 533); *

2(n – NR = 360); *

3, 4(n – NR = 357). Sendo que, NR significa que o indivíduo

não respondeu.

Por meio da Tabela 5, observa-se que foi predominante em 93,1% dos

domicílios a renda familiar per capita mensal menor que dois salários mínimos e

58,1% das famílias eram constituídas por até quatro moradores.

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Tabela 5 – Distribuição da renda, número de moradores, informações de moradia e

saneamento, produção de alimentos e participação em programas sociais, dos

domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato

Grosso, 2007.

Variáveis Categorias N %

(n= 361)

Renda familiar per capita mensal < 2 338 93,11

(salário mínimo) 2-3 17 4,68

>3 8 2,20

Nº de moradores no domicílio até 4 211 58,13

5-6 122 33,61

7 ou mais 30 8,26

Tipo de construção da moradia alvenaria acabada 126 34,71

outro tipo 237 65,29

Abastecimento de água rede pública 303 83,47

outro sistema 60 16,53

Tratamento de água com tratamento 213 58,68

sem tratamento 150 41,32

Produção de alimentos para consumo sim 210 57,85

próprio não 153 42,15

Participação em programas sociais do sim 72 19,83

governo (Bolsa família) não 291 80,17

Em relação às características de moradia e saneamento, a maior parte dos

domicílios (65,3%) respondeu ter a moradia de alvenaria, mas, com acabamento

incompleto, de madeira ou de material aproveitado.

Dos 363 domicílios 99,4% eram atendidos pela coleta pública de lixo, 98,6%

não apresentavam rede pública de esgoto sanitário, sendo a destinação realizada

através de fossa séptica, fossa rudimentar ou a céu aberto.

O abastecimento de água era distribuído por meio da rede pública (83,5%) e

16,6% tinham outro tipo de abastecimento (poço ou nascente, carro-pipa).

Apesar de 58,7% utilizar água tratada (fervida, clorada ou mineral) para beber

ou cozinhar, um percentual considerável 41,3% consumiam água sem nenhum tipo

de tratamento.

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Das famílias pesquisadas, 57,9% produziam alimentos no domicílio para

consumo próprio e 80,2% não participavam de programas sociais de transferência de

renda do governo, como o Bolsa família.

5.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL DOS

DOMICÍLIOS ESTUDADOS

A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA) evidenciou uma

consistência interna muito boa, visto que o Alpha de Crombach foi de 0,87.

Conforme apresentado na Figura 9, observou-se que 51,8% dos domicílios

estavam em situação de insegurança alimentar e nutricional, e segundo os seus níveis

de severidade: 28,7% estavam em insegurança leve, 14,3% insegurança moderada e

8,8% em insegurança grave. Desta forma a situação de segurança alimentar foi

identificada em 48,2% dos domicílios estudados.

Figura 9 – Representação da situação de segurança alimentar e nutricional dos

domicílios com adolescentes de municípios da área de abrangência da BR-163, Mato

Grosso, 2007.

SAN: segurança alimentar e nutricional; IAL: insegurança alimentar leve; IAM:

insegurança alimentar moderada; IAG: insegurança alimentar grave.

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Cabe ressaltar, que em novembro de 2010 foi publicada pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística, a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios

– PNAD, após uma Oficina Técnica para Análise da EBIA realizada em agosto de

2010. Na recente publicação houve modificações na EBIA e na sua pontuação, que

passou a contar com 14 perguntas e novos pontos de corte5 (Anexo 5).

Considerando essa nova pontuação, realizou-se a reclassificação da situação

de segurança alimentar dos domicílios para verificar eventuais alterações na

prevalência de SAN e IAN.

Observou-se que a prevalência de segurança (48,2 %) e insegurança alimentar

(51,8%) foi mantida. No entanto, para os níveis da IAN houve alterações na

prevalência de IAM (11,3%) e IAG (11,8%), sendo que, a IAL manteve-se com

28,7% conforme apresentado na Tabela 6.

Tabela 6 - Prevalência da situação de segurança alimentar em domicílios dos

municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - área de abrangência da

BR 163 segundo a pontuação da EBIA (2004) e da EBIA (2010).

Quando observada a frequência de respostas positivas para as perguntas da

EBIA, obteve-se maior frequência para as perguntas 1 “teve preocupação que a

comida acabasse antes que pudesse comprar mais”, 4 “teve que se arranjar com

apenas alguns alimentos para adolescentes menores de 18 anos porque o

dinheiro acabou” e 3 “ficou sem dinheiro para ter uma alimentação saudável e

variada” e menores freqüências para as perguntas 14 “menores de 18 anos

(crianças ou adolescentes) tiveram fome” e 15 “menores de 18 anos (crianças ou

adolescentes) ficaram sem comer por um dia inteiro”, conforme a Figura 10.

5 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios: Segurança Alimentar – Aspectos sobre segurança:

alimentar instrumentos legal, conceitual e metodológico (PNAD, 2010).

Classificação EBIA 2004 EBIA 2010

Segurança Alimentar 48,2% 48,2%

Insegurança Alimentar leve 28,7% 28,7%

Insegurança Alimentar moderada 14,3% 11,3%

Insegurança Alimentar grave 8,8% 11,8%

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Figura 10 – Freqüência de respostas positivas para as 15 perguntas da EBIA em

domicílios dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato

Grosso, 2007.

Considerando os componentes que a EBIA é capaz de mensurar (componente

psicológico, redução na qualidade dos alimentos, diminuição quantitativa dos

alimentos e fome) e os graus de severidade da insegurança alimentar (IAL, IAM e

IAG), subdividiu-se a escala em três blocos: Bloco1 - perguntas 1, 3,4; Bloco 2 -

perguntas 2, 5, 6, 7, 8 e o Bloco 3 - perguntas 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, onde as

freqüências de respostas positivas são apresentadas na Tabela 7 e nas Figuras 11,12,

13).

Em relação a cada bloco de perguntas, destaca-se: no Bloco 1, a pergunta 1

com aproximadamente 50% de respostas positivas, ou seja, dos 363 domicílios

estudados, 173 responderam ter “preocupação que a comida acabasse antes que

pudesse comprar” expressando assim, a preocupação de que pudesse faltar alimento

no futuro próximo.

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Tabela 7 – Freqüência de respostas positivas às perguntas da EBIA em domicílios

dos municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, Mato Grosso, 2007.

Perguntas da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA N %

Bloco 1

1. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve a preocupação que a comida acabasse antes

que pudesse comprar mais comida? 173 47,7

3. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ficou sem dinheiro para ter uma alimentação

saudável e variada? 140 38,6

4. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve que se arranjar com apenas alguns

alimentos para sua(s)/ adolescente(s), menores de 18 anos, porque o dinheiro acabou? 149 41,0

Bloco 2

2. Nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que o a(o) Sra. (Sr.) tivesse dinheiro

para comprar mais? 88 24,2

5. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) não pôde oferecer à(s) criança(s)/adolescente(s),

menores de 18 anos, uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro? 95 26,2

6. Nos últimos 3 meses, a(s) criança(s)/o(s) adolescente(s), menores de 18 anos, não

comeu (comeram) quantidade suficiente porque não havia dinheiro suficiente para

comprar comida?

50 13,8

7. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou algum adulto em sua casa diminuiu, alguma

vez, a quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições, porque não havia

dinheiro suficiente para comprar a comida?

74 20,4*

8. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez comeu menos do que achou que

devia porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida? 75 20,7*

Bloco 3

9. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez sentiu fome mas não comeu porque

não podia comprar comida suficiente? 30 8,3*

10. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) perdeu peso porque não tinha dinheiro suficiente

para comprar comida? 29 8,0*

11. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou qualquer outro adulto em sua casa ficou,

alguma vez, um dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não

havia dinheiro para comprar comida?

36 9,9*

12. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez diminuiu a quantidade de

alimentos das refeições de sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos,

porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida?

56 15,4

13. Nos últimos 3 meses, alguma vez, a (o) Sra. (Sr.) teve que deixar de fazer uma

refeição da(s) sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não

havia dinheiro para comprar comida?

34 9,4

14. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, teve

(tiveram) fome, mas a(o) Sra. (Sr.) simplesmente não podia comprar mais comida? 23 6,4

15. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos,

ficou (ficaram) sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar

comida?

11 3,0

*O responsável pelo domicílio se recusou a responder essas perguntas (perda das informações de 1

domicílio).

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No Bloco 2, observou-se que 26,2% dos domicílios informaram que “não

pôde oferecer uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro”

(pergunta 5) e 24,2% dos domicílios responderam “acabar comida antes que tivesse

dinheiro para comprar mais” (pergunta 2) ressaltando a restrição qualitativa e

quantitativa na alimentação da família.

No Bloco 3 destacou-se a pergunta 12, pois, 56 domicílios (15,4%)

responderam que “diminuiu a quantidade de alimentos das refeições, porque não

havia dinheiro suficiente para comprar comida”, expressando a deficiência

quantitativa e mesmo fome entre os membros da família.

Figura 11 – Freqüência de respostas positivas às perguntas 1, 3 e 4 da EBIA em

domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007.

Na Figura 11 é apresentado Bloco1, no qual se observou uma maior

freqüência de respostas positivas para os domicílios em situação de IAL. Sugerindo

que as perguntas do Bloco 1 são capazes de expressar a insegurança alimentar leve

– “Preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro; qualidade

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inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam não comprometer a

quantidade de alimentos”.

Na Figura 12 está apresentado o Bloco 2, no qual verificou-se que os

domicílios que responderam positivamente para as perguntas deste bloco, estavam

em IAM. Assim, o Bloco 2 permitiu destacar a situação de insegurança alimentar

moderada – “Redução quantitativa de alimentos e/ou ruptura nos padrões de

alimentação resultante da falta de alimentos”, exceto para a pergunta 6, pois a

maioria dos domicílios que a responderam positivamente estavam em situação de

IAG.

Figura 12 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 2, 5, 6, 7 e 8 da EBIA em

domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato Grosso, 2007.

Na Figura 13, estão representadas as perguntas do Bloco 3 e para todas elas,

os domicílios em IAG responderam positivamente. Portanto, as perguntas que

compõe este bloco expressaram a situação de insegurança alimentar grave -

“Redução quantitativa de alimentos entre as crianças e/ou ruptura nos padrões de

alimentação resultante da falta de alimentos entre as crianças; fome (quando

alguém fica o dia inteiro sem comer por falta de dinheiro para comprar alimentos)”.

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Figura 13 - Freqüência de respostas positivas às perguntas 9, 10, 11,12, 13, 14 e 15

da EBIA em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163 - Mato

Grosso, 2007.

Ainda no Bloco 3, observou-se que nas perguntas 12 e 13 houve respostas

positivas dos domicílios em situação de insegurança alimentar leve, no entanto, isso

representa no máximo 5% dos domicílios estudados (Figura 13).

5.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS,

CONSUMO ALIMENTAR E ESTADO NUTRICIONAL DOS

ADOLESCENTES

A seguir, é apresentado o resultado da análise da disponibilidade dos

alimentos nos 363 domicílios e a freqüência do consumo alimentar dos 95

adolescentes estudados segundo os grupos de alimentos.

O grupo de alimentos G1, composto por pães, cereais, raízes e tubérculos,

esteve disponível todos os dias nos domicílios e os adolescentes confirmaram

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consumí-lo diariamente. Ocorrendo o mesmo com o grupo G2 (leguminosas), G8

(açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), conforme Figura 14 e 15.

Os grupos G3 (carnes e ovos), G5 (frutas), G6 (hortaliças) e G9

(refrigerantes) embora disponíveis nos domicílios, estes eram consumidos de 1 a 3

vezes na semana pelos adolescentes.

Gráfico 14 - Freqüência da disponibilidade de alimentos em domicílios de

municípios da área de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de

alimentos, Mato Grosso, 2007.

O grupo G4 (leites e produtos lácteos) esteve disponível todos os dias nos

domicílios, no entanto, os adolescentes disseram não ter consumido nenhum

alimento deste grupo na semana anterior a pesquisa (Figura 15).

Ainda nas Figuras 14 e 15, observou-se que no grupo G7 (óleos e gorduras)

predominou a não disponibilidade nos domicílios, e portanto, o não consumo pelos

adolescentes naquela semana.

G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos

lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;

G10- Sucos artificiais e infusões.

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87

Figura 15 - Frequência do consumo alimentar de adolescentes de municípios da área

de abrangência da BR 163, considerando os principais grupos de alimentos, Mato

Grosso, 2007.

Cabe destacar que, neste grupo G7 estão alimentos como: manteiga, banha e azeite

(Figuras 16 e 17).

Figura 16 - Freqüência da disponibilidade de alimentos do Grupo 7 (óleos e

gorduras) em domicílios de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato

Grosso, 2007.

G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos

lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;

G10- Sucos artificiais e infusões.

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88

Figura 17 - Freqüência do consumo alimentar para o Grupo 7 (óleos e gorduras) de

adolescentes de municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007.

Assim, não ter disponível e não consumir esse grupo, refere-se a estes

alimentos, conforme apresentado nas Figuras 16 e 17.

De acordo com a frequência de cada alimento pertencente a este grupo,

observou-se que o óleo e a margarina estiveram disponíveis nos domicílios e os

adolescentes informaram ter consumido.

Na Figura 18 a seguir, é representada a avaliação do estado nutricional dos

adolescentes, no qual observou-se a prevalência de 82,3% de eutrofia, 4,0% de baixo

peso, 10,5% de sobrepeso, e 3,2% de obesidade.

Figura 18 – Estado nutricional dos adolescentes de domicílios pertencentes a

municípios da área de abrangência da BR-163, Mato Grosso, 2007.

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89

5.3.1 Disponibilidade de alimentos e consumo alimentar, comparando a

situação de segurança alimentar dos domicílios

Outro enfoque importante deste estudo foi analisar a disponibilidade de

alimentos nos domicílios e o consumo alimentar dos adolescentes segundo a situação

de segurança alimentar encontrada nos domicílios, por meio das frequências

referidas.

Assim, na Tabela 8 encontram-se detalhadas as freqüências referidas da

disponibilidade de alimentos nos domicílios, distribuída por grupos e por tipos de

alimentos, segundo a situação de segurança alimentar.

Considerando a freqüência diária de disponibilidade por tipo de alimentos que

compõe cada grupo, observou-se que nos domicílios em IAN, houve maior

disponibilidade de arroz, macarrão, milho e derivados (G1), óleo e margarina (G7),

açúcar, mel, melado, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10).

Embora os domicílios em SAN tenham apresentado a mesma ordem da

freqüência de disponibilidade dos alimentos citados anteriormente, as freqüências

foram menores para os grupos G1 (175), G8 (174), G10 (171).

Para o grupo G7 quando observada a freqüência de disponibilidade diária de

alimentos como a margarina, verificou-se maior freqüência em domicílios em SAN

que em domicílios em IAN. Inversamente, o óleo, esteve disponível em maior

freqüência nos domicílios que estavam em situação de IAN, comparado aos que

estava em situação de SAN (Tabela 8).

O grupo de leguminosas (G2) apresentou uma freqüência de disponibilidade

nos domicílios em IAN muito próxima àqueles que estavam em situação de SAN,

179 e 175, respectivamente.

Ainda nos domicílios em insegurança alimentar, para os grupos G3 e G4, os

alimentos que apresentaram maior freqüência de disponibilidade foram: as carnes

(133) e leites (116), respectivamente. O mesmo observou-se nos domicílios em SAN,

porém, nesses domicílios a freqüência desses alimentos foi maior (173) e (152).

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90

Tabela 8 - Distribuição da freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos

domicílios segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de

abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007.

Grupos de Alimentos (n= 363 domicílios) IAN SAN

1 2 3 4 1 2 3 4 Grupo1 (Pães, cereais, raízes e tubérculos) Arroz, macarrão,, milho e derivados 184 1 1 2 175 0 0 0

Pão, bolachas, biscoitos 120 28 9 31 169 2 3 1 Mandioca, batata, batata doce, cará 58 38 17 75 113 38 13 11

beterraba, inhame

Total 362 67 27 108 457 40 16 12

Grupo2 (Leguminosas) Feijão, lentilha, ervilha, soja 179 3 2 4 175 0 0 0

Total 179 3 2 4 175 0 0 0

Grupo3 (Carnes e Ovos) Ovos 98 25 9 54 154 8 4 8

Carne (bovina, frango, porco, peixe, 133 31 16 8 173 1 1 0

miúdos) Salsicha, mortadela, lingüiça, salame 28 42 5 113 64 45 7 59

presunto

Total 259 98 30 175 391 54 12 67

Grupo4 (Leite e produtos lácteos) Leite 116 27 4 41 152 10 3 10

Queijo, iogurte, coalhada, requeijão, 38 24 0 126 87 23 9 56

nata

Total 154 51 4 167 239 33 12 66

Grupo5 (Frutas) Frutas, suco natural de fruta 65 30 13 80 119 17 16 23

Total 65 30 13 80 119 17 16 23

Grupo6 (Hortaliças) Verduras (folhosos) 57 51 18 62 132 18 15 10

Legumes 63 54 9 62 123 23 18 11

Total 120 105 27 124 155 41 33 21

Grupo7 (Óleos e Gorduras) Margarina 134 8 1 45 165 0 0 10

Manteiga 18 1 1 168 29 3 1 142

Banha 18 1 0 169 33 2 0 140 Óleo 182 0 0 6 173 0 0 2

Azeite 20 3 0 165 57 3 1 114

Total 372 13 2 553 457 8 2 408

Grupo8 (Açúcar e doces) Mel, melado, açúcar, rapadura 180 1 1 6 174 0 0 1 Doces 48 18 6 116 86 28 8 53

Total 228 19 7 122 260 28 8 54

Grupo9 (Refrigerantes) Refrigerante 19 82 3 84 33 94 12 36

Total 19 82 3 84 33 94 12 36

Grupo10 (Sucos artificiais e infusões) Sucos industrializados 63 33 10 82 90 20 12 53 Café, chimarrão, chá 175 2 3 8 171 1 0 3

Total 238 35 13 90 261 21 12 56

*1= todos os dias; 2= 1 a 3 vezes/semana; 3= 4 a 6 vezes/semana; 4= não teve disponível.

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As frutas e sucos naturais de frutas (G5) estavam disponíveis com maior

freqüência nos domicílios em SAN, bem como, doces (G8), os refrigerantes (G9) e

os sucos industrializados (G10).

Os folhosos e os legumes, alimentos pertencentes ao grupo das hortaliças

(G6) esteve mais disponível nos domicílios em situação de segurança alimentar.

Prevaleceu a pouca ou nenhuma disponibilidade de alguns alimentos nos

domicílios em IAN, destacando-se: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e

inhame (G1); embutidos - salsicha, mortadela, lingüiça, salame e presunto (G3);

queijo, iogurte, coalhada, requeijão e nata (G4).

Por meio da Figura 19, observou-se que os domicílios em IAN tiveram maior

disponibilidade de alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), óleos e

gorduras (G7), açúcares e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10) e

leguminosas (G2), comparado aos domicílios em SAN.

Os domicílios em segurança alimentar apresentaram maior disponibilidade

dos alimentos como: carnes e ovos (G3), leites e produtos lácteos (G4), frutas (G5) e

hortaliças (G6), bem como, refrigerantes (G9), comparado aos domicílios em IAN.

Figura 19 - Freqüência referida da disponibilidade de alimentos nos domicílios em

situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de alimentos, nos

municípios da área de abrangência da BR 163, 2007.

G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos

lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;

G10- Sucos artificiais e infusões.

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92

As diferenças acima também podem ser verificadas em média, por meio de

uma análise da variância múltipla com duas entradas. Esta análise é resumida na

Tabela 13, na qual apresenta a análise de variância do modelo linear geral da

frequência por grupo de alimentos e pela situação de segurança alimentar dos

domicílios, bem como, os valores do desvio padrão (S) e o coeficiente de

determinação do modelo (R2). Para verificar a adequação deste modelo foi realizada

uma análise residual.

Na Tabela 9 observou-se que a freqüência de disponibilidade depende do

grupo de alimento e da situação de segurança alimentar do domicílio, sendo que estes

efeitos são estatisticamente significantes (p<0,01).

Tabela 9 - Análise da variância do modelo linear da freqüência de consumo por

grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimenta dos domicílios.

Fonte de

variação. SQ gl QM F p

Grupo 284426 9 31602,90 26,55 0,000

Situação de

segurança

alimentar

21190 1 21190,00 17,80 0,002

Resíduos. 10712 9 1190,30

Total 316329 19

S = 34,50 R2 = 96,60%

SQ: soma de quadrados, gl: graus de liberdade, QM: quadrado médio, F: Razão F, p: p-valor.

Cabe destacar que, a diferença que existe entre os grupos de alimentos em

média é estatisticamente significante (p<0,01). Assim, para comparar a diferença

média entre os grupos foi utilizado o teste de comparações pareadas de TUKEY,

considerando um nível de significância de 0,05. Mostrando que em média os grupos

G2, G4, G5, G6, G8, G9 e G10 são estatisticamente diferentes do grupo G1; os

grupos G3, G7 e G9 são diferentes do grupo G2; os grupos G5 e G9 são diferentes do

grupo G3; os grupos G7 e G9 do grupo G4 e G6; os grupos G7, G8 e G10 do grupo

G5; os grupos G8, G9 e G10 do grupo G7; o grupo G9 do grupo G8 e o grupo G10

do grupo G9.

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93

Também se observou que, em média individualmente, a freqüência da

disponibilidade de alimentos nos domicílios em SAN é superior que a encontrada nos

domicílios em IAN, sendo esta diferença estatisticamente significante (p<0,01).

Na Tabela 10, é apresentada a freqüência referida do consumo alimentar dos

adolescentes, distribuída por grupos de alimentos segundo a situação de segurança

alimentar.

Assim, considerando a freqüência diária do consumo alimentar, de acordo

com os alimentos que compõe cada grupo, verificou-se que os adolescentes de

domicílios em situação de IAN informaram consumir com maior freqüência

diariamente, alimentos como: arroz, macarrão, milho e derivados (Grupo 1), feijão,

lentilha, ervilha e soja (Grupo 2), carne (Grupo 3), leite (Grupo 4), óleo (Grupo 7),

mel, melado, açúcar, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão, chá (Grupo 10).

Quando observado o consumo alimentar de 1 a 3 vezes na semana, os

adolescentes de domicílio em situação de IAN informaram consumir alimentos

como: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), doces (G8),

margarina (G7), refrigerantes (G9) e sucos industrializados (G10).

Nos grupos G5 (frutas) e G6 (hortaliças) tanto para os adolescentes de

domicílios em IAN, como, para os em SAN as freqüências do consumo diário foram

baixas, conforme os dados da Tabela 10.

Os alimentos como: ovos e embutidos – salsicha, mortadela, lingüiça, salame,

presunto (G3), leite e derivados (G4) foram aqueles que os adolescentes de

domicílios em IAN informaram não consumirem com uma maior frequência,

seguidos, dos alimentos - manteiga, banha e azeite (G7).

Igualmente aos adolescentes em IAN, os adolescentes dos domicílios em

SAN informaram consumir todos os dias com maior freqüência: arroz, macarrão,

milho e derivados, pão, bolachas, biscoitos (G1), leguminosas (G2), carnes (G3),

leite (G4), óleo e margarina (G7), mel melado, açúcar, rapadura (G8) e café,

chimarrão, chá (G10).

Os adolescentes dos domicílios em segurança alimentar, informaram não

terem consumido na semana anterior a pesquisa, alimentos como: manteiga, banha e

azeite (G7), ovos (G3) e queijo, iogurte, coalhada, requeijão, nata (G4), conforme

apresenta a Tabela 10.

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94

Tabela 10 - Distribuição da freqüência referida do consumo de alimentos dos

adolescentes, segundo a situação de segurança alimentar, em municípios da área de

abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2007.

Grupos de Alimentos (n= 95 adolescentes) IAN SAN

1 2 3 4 1 2 3 4 Grupo1 (Pães, cereais, raízes e tubérculos) Arroz, macarrão, milho e derivados 57 1 5 0 30 0 2 0

Pão, bolachas, biscoitos 28 19 12 4 25 5 2 0 Mandioca, batata, batata doce, cará 0 39 1 23 2 25 3 2

beterraba, inhame

Total 85 59 18 27 57 30 7 2

Grupo2 (Leguminosas) Feijão, lentilha, ervilha, soja 41 7 14 1 16 6 9 1

Total 41 7 14 1 16 6 9 1

Grupo3 (Carnes e Ovos) Ovos 2 23 8 30 0 13 2 17

Carne (bovina, frango, porco, peixe, 41 8 13 1 26 2 4 0

miúdos) Salsicha, mortadela, lingüiça, salame 3 26 2 32 2 21 5 4

Presunto

Total 46 57 23 63 28 36 11 21

Grupo4 (Leite e produtos lácteos) Leite 15 16 10 22 14 7 4 7

Queijo, iogurte, coalhada, requeijão, 0 16 4 43 4 10 4 14

Nata

Total 15 32 14 65 18 17 8 21

Grupo5 (Frutas) Frutas, suco natural de fruta 3 24 15 21 8 10 12 2

Total 3 24 15 21 8 10 12 2

Grupo6 (Hortaliças) Verduras (folhosos) 4 26 14 19 2 9 16 5

Legumes 2 26 8 27 0 18 8 6

Total 6 52 22 46 2 27 24 11

Grupo7 (Óleos e Gorduras) Margarina 10 21 15 17 12 7 7 6

Manteiga 3 6 1 53 0 4 0 28

Banha 6 0 0 57 3 1 0 28 Óleo 63 0 0 0 30 1 0 1

Azeite 1 1 1 60 0 1 2 29

Total 83 28 17 187 45 14 9 92

Grupo8 (Açúcar e doces) Mel, melado, açúcar, rapadura 55 2 6 0 26 3 3 0 Doces 6 30 9 18 7 17 7 1

Total 61 32 15 18 33 20 10 1

Grupo9 (Refrigerantes) Refrigerante 5 28 9 21 1 17 9 5

Total 5 28 9 21 1 17 9 5

Grupo10 (Sucos artificiais e infusões) Sucos industrializados 6 25 10 22 7 8 10 7 Café, chimarrão, chá 37 11 8 7 16 7 6 3

Total 43 36 18 29 23 15 16 10

*1= todos os dias; 2= 1 a 3 vezes/semana; 3= 4 a 6 vezes/semana; 4= não consumiu.

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95

Na Figura 20, verificou-se que os adolescentes de domicílios em IAN

informaram consumir com maior freqüência os alimentos do grupo de óleos e

gorduras (G7), açúcar e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10), leguminosas

(G2), hortaliças (G6) e refrigerantes (G9), comparados aos adolescentes de

domicílios em SAN.

Os adolescentes pertencentes aos domicílios em situação de SAN referiram

consumir todos os dias com maior freqüência, alimentos como: pães, raízes e

tubérculos (G1), leite e produtos lácteos (G4), frutas (G5), carnes e ovos (G3), sendo

que este último, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, quanto em SAN, a

freqüência de consumo esteve próxima, conforme apresentado na Figura 20.

Figura 20 - Freqüência referida do consumo alimentar dos adolescentes de

domicílios em situação de insegurança e segurança alimentar segundo os grupos de

alimentos, nos municípios da área de abrangência da BR 163, 2007.

Por meio de uma análise da variância múltipla com duas entradas,

verificaram-se diferenças entre o consumo de alimentos dos adolescentes de

domicílios em SAN e IAN, sendo que, estas diferenças foram verificadas em média.

G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos

lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;

G10- Sucos artificiais e infusões.

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96

As diferenças entre as freqüências anteriormente descritas, também podem

ser verificadas em média, por meio de uma análise da variância múltipla com duas

entradas.

A análise está resumida na Tabela 11, na qual se apresenta a análise de

variância do modelo linear geral segundo as freqüências dos grupos de alimentos e a

situação de segurança alimentar dos domicílios, assim como, os valores do desvio

padrão (S) e do coeficiente de determinação do modelo (R2). Cabe ressaltar que,

também foi verificada a adequação deste modelo, utilizando-se uma análise residual.

Na Tabela 15 observou-se que a freqüência do consumo depende do grupo de

alimentos e da situação de segurança alimentar domiciliar, sendo que estes efeitos

são estatisticamente significantes (p<0,01).

Tabela 11 - Tabela de análises da variância do modelo linear da freqüência de

consumo por grupo e por situação de segurança alimentar.

Fonte de

variação. SQ g.l. QM 0F p

Grupo 10729,50 9 1192,16 10,94 0,001

Situação de

segurança

alimentar

1232,40 1 1221,40 11,31 0,008

Resíduos. 981,10 9 109,01

Total 12943,00 19

S = 10,44 R2 = 92,42%

SQ: soma de quadrados, gl: graus de liberdade, QM: quadrado médio, F: Razão F, p: p-valor.

A diferença que existe entre os grupos de alimentos, em média é

estatisticamente significante (p<0,01). Assim para comparar a diferença média entre

os grupos foi utilizado o teste de comparações pareadas de TUKEY, considerando um

nível de significância de 0,05. Por meio do teste, verificou-se que em média as

freqüências observados dos grupos G5, G6 e G9 são estatisticamente diferentes do

grupo G1 e o grupo G6 é estatisticamente diferente do grupo G7.

Na Tabela 11, também verifica-se que, em média, intragrupos, a freqüência

de consumo dos adolescentes de domicílios em IAN é superior que a observada no

domicílios em SAN, sendo que, esta diferença é estatisticamente significante

(p<0,01).

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97

Na Figura 21 também pôde-se comparar a disponibilidade de alimentos no

domicílio e o consumo alimentar dos adolescentes segundo a situação de segurança

alimentar domiciliar.

Embora a maioria dos grupos de alimentos estivesse disponível em maior

freqüência nos domicílios em SAN, com destaque para G1 (pães, cereais, raízes e

tubérculos), G3 (carnes e ovos) e G7 (óleos e gorduras), foram os adolescentes de

domicílios em IAN que disseram consumir estes grupos de alimentos com maior

freqüência, predominando também o consumo de G2 (leguminosas), G8 (açúcar e

doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), comparado aos adolescentes de domicílios

em situação de SAN.

Figura 21 - Freqüência da disponibilidade e consumo alimentar, comparando os

grupos de alimentos segundo a situação de segurança alimentar dos domicílios de

Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, 2007.

G1- Pães, cereais, raízes e tubérculos; G2- Leguminosas; G3- Carnes e Ovos; G4- Leites e produtos

lácteos; G5- Frutas; G6- Hortaliças; G7- Óleos e gorduras; G8- Açúcar e doces; G9- Refrigerantes;

G10- Sucos artificiais e infusões.

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98

5.4 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

5.4.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e variáveis

relativas ao domicílio

Os resultados a seguir, tratam da relação entre a situação de segurança

alimentar nos domicílios e variáveis demográficas, socioeconômicas, o estado

nutricional dos adolescentes e variáveis relativas ao domicílio, considerando os

dados ponderados.

Conforme apresentado na Tabela 12, verificou-se relação entre a cor da pele e

a escolaridade do adolescente com a situação de insegurança alimentar.

A prevalência de IAN foi de 60% (p<0,0001) em adolescentes que

informaram ser de cor não branca (preta, parda, amarela ou indígena) e

aproximadamente 61% para aqueles que tinham até quatro anos de estudo (p=0,002).

Assim, adolescentes de cor não branca apresentaram ter 48% de chance a mais de

estar em situação de insegurança alimentar, quando comprado aos adolescentes de

cor branca.

Quanto ao estado nutricional, os adolescentes com baixo peso e obesidade,

apresentaram prevalência de insegurança alimentar de 76% (p=0,006) e de 58,8%,

respectivamente. Sendo que, adolescentes em baixo peso apresentaram 43% de

chance maior de estar em insegurança alimentar que aqueles com estado nutricional

normal/eutrófico.

A escolaridade do chefe da família e o tempo de residência no município

também mostrou estar associados à situação de insegurança alimentar, para os chefes

de família com escolaridade menor que oito anos. A prevalência foi de 64,5% para os

chefes com até 4 anos de estudos (p=0,038), sendo um possível fator de risco para

insegurança alimentar (IC95%=1,00-1,30.

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99

Quanto às variáveis relacionadas a migração, a prevalência de IAN foi de

aproximadamente 67,7% (p=0,039) para os chefes de família com mais de 40 anos de

residência no município.

Tabela 12 – Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-valor da

situação de segurança alimentar e nutricional segundo informações dos adolescentes

e informações do chefe da família, de municípios da área de abrangência da BR-163,

Mato Grosso, 2007.

Variáveis Categorias IAN SAN RP IC p-valor

N % N % (95%) (χ2)

Informações do

Adolescente (n= 534)

Sexo masculino 135 53,4 118 46,6 1,00 - -

feminino 153 54,4 128 45,6 0,96 0,80-1,15 0,694

Idade 15 – 19 130 49,4 133 50,6 1,00 - -

10 – 14 158 58,3 113 41,7 1,07 0,90-1,28 0,407

*1

Cor/raça branca 80 42,6 108 57,4 1,00 - -

não branca 207 60,0 138 40,0 1,48 1,20-1,83 0,000

Escolaridade 9 ou mais 42 36,8 72 63,2 1,00 - -

(anos de estudo) 5-8 153 57,3 114 42,7 1,50 1,11-2,02 0,007

0-4 93 60,8 60 39,2 1,61 1,18-2,20 0,002

Estado Nutricional (n= 524)

Eutrófico 230 53,4 201 46,6 1,00 - -

Baixo peso 16 76,2 5 23,8 1,43 1,11-1,85 0,006

Sobrepeso 23 41,8 32 58,2 0,70 0,47-1,05 0,086

Obesidade 10 58,8 7 41,2 1,26 0,89-1,79 0,181

Informações do

chefe da família (n= 363)

*2Escolaridade 9 ou mais 23 30,3 53 69,7 1,00 - -

(em anos de estudo) 5-8 57 48,3 61 51,7 0,86 0,75-0,98 0,028

0-4 107 64,5 59 35,5 1,14 1,00-1,30 0,038

*3Naturalidade Outros estados 129 49,8 130 50,2 1,00 - -

Mato Grosso 56 57,1 42 42,9 0,99 0,99-1,00 0,963

*4Naturalidade por Outros estados 122 51,0 117 49,0 1,00 - -

grandes regiões Centro-Oeste 63 53,4 55 46,6 0,99 0,99-1,00 0,954

Tempo de residência 0-19 91 46,9 103 53,1 1,00 - -

no município 20-39 76 55,1 62 44,9 1,10 0,88-1,38 0,379

(em anos) > 40 21 67,7 10 32,3 1,35 1,01-1,80 0,039

*

1(n – perda = 533); *

2(n – NR = 360); *

3, 4(n – NR = 357). Sendo que, NR significa que o indivíduo

não respondeu. IAN: insegurança alimentar e nutricional; SAN: segurança alimentar e nutricional; RP: razão de

prevalência; IC: intervalo de confiança; p-valor: Qui-quadrado de Pearson.

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100

Por meio da Tabela 13, observou-se uma relação entre a insegurança

alimentar e a renda familiar per capita mensal, o tipo de construção da moradia, o

tratamento da água e a participação em programas sociais do governo.

Tabela 13 – Prevalência, razão de prevalência, intervalo de confiança e p-valor da

situação de segurança alimentar e nutricional segundo variáveis sócio-demográficas e

variáveis relacionadas aos domicílios de municípios da área de abrangência da BR-

163, Mato Grosso, 2007.

Variáveis Categorias IAN SAN RP IC p-valor

N % N % (95%) (χ2)

(n= 363)

Renda familiar 1 ou mais 24 21,4 88 78,6 1,00 - -

per capita mensal 1/2 < salário ≤ 1 67 56,3 52 43,7 2,65 1,71-4,10 0,000

(salário mínimo) ≤ 1/2 97 73,5 35 26,5 3,59 2,37-5,41 0,000

Nº de moradores no até 4 105 49,8 106 50,2 1,00 - -

domicílio 5-6 66 54,1 56 45,9 1,14 0,90-1,44 0,262

7 ou mais 17 56,7 13 43,3 1,30 0,93-1,81 0,122

Tipo de construção alvenaria acabada 42 33,3 84 66,7 1,00 - -

da moradia outro tipo 146 61,6 91 38,4 1,88 1,39-2,56 0,000

Abastecimento de rede pública 155 51,2 148 48,8 1,00 - -

água outro sistema 33 55,0 27 45,0 1,01 0,76-1,33 0,942

Tratamento de água com tratamento 92 43,2 121 56,8 1,00 - -

sem tratamento 96 64,0 54 36,0 1,58 1,27-1,96 0,000

Produção de

alimentos para sim 102 48,6 108 51,4 1 - -

consumo próprio não 86 56,2 67 43,8 1,15 0,92-1,43 0,193

Participação em não 134 46,0 157 54,0 1,00 - -

programas sociais do

governo sim 54 75,0 18 25,0 1,60 1,31-1,95 0,000

IAN: insegurança alimentar e nutricional; SAN: segurança alimentar e nutricional; RP: razão de prevalência; IC:

intervalo de confiança; p-valor: Qui-quadrado de Pearson.

A prevalência de IAN foi de 73,5% em domicílios com renda menor ou igual

a 1/2 salário mínimo, sendo que, ter uma renda familiar per capita mensal menor ou

igual a 1 salário mínimo, caracteriza ser um possível fator de risco para a insegurança

alimentar no domicílio (p<0,0001).

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101

Em domicílios com a construção da moradia em alvenaria, no entanto, com

acabamento incompleto, madeira ou material aproveitado a prevalência de IAN foi

de 61,6% (IC95%=1,39-2,56).

Não ter tratamento da água para beber ou cozinhar apresentou uma

prevalência de 64% (IC95%=1,27-1,96) de IAN nos domicílios. Portanto, domicílios

com tais características apresentaram-se como maiores fatores de risco para situação

de insegurança alimentar.

Para os domicílios que informaram participar de programas sociais do

governo, a prevalência de IAN foi igual a 75% (IC95%=1,31-1,95).

As estimativa das razões de prevalência (RP), comparadas as variáveis que se

mostraram associadas à insegurança alimentar (Tabela 13), mostrou que a renda

familiar per capita mensal, a participação em programas sociais do governo, o tipo

de construção da moradia e o tratamento da água, foram os indicadores que melhor

discriminaram as famílias em risco de insegurança alimentar. Pois, todas essas

variáveis apresentaram p-valor menor que 0,0001.

5.5 RESULTADOS DA REGRESSÃO MÚLTIPLA DE POISSON

A regressão múltipla de Poisson foi composta por todas as variáveis que na

análise bivariada apresentaram p< 0,20 (renda familiar per capita mensal, tipo de

construção da moradia, tratamento de água, produção de alimento para consumo

próprio, participação em programas sociais do governo; informações dos

adolescentes: cor/raça, escolaridade, estado nutricional; informações do chefe da

família: escolaridade e tempo de residência no município) e a entrada das variáveis

seguiu o modelo apresentado na Figura 8.

Na Tabela 14 é apresentado o modelo final da análise da regressão de

Poisson, com as variáveis que se mantiveram associadas de maneira estatisticamente

significante à situação de insegurança (renda, produção de alimentos no domicílio

para consumo próprio, tempo de residência no município e escolaridade do chefe da

família).

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102

Tabela 14 – Modelo final da regressão múltipla de Poisson: variáveis associadas à

situação de insegurança alimentar em domicílios dos municípios de Alta Floresta,

Diamantino, Sinop e Sorriso - Mato Grosso, 2007.

Variáveis Categorias RP IC p-valor

(95%) (χ2)

Modelo Final

Renda familiar 1 ou mais 1,00 - -

per capita mensal 1/2 < salário ≤ 1 2,68 1,53-4,70 0,004

(salário mínimo) ≤ 1/2 3,54 2,43-5,15 0,000

Produção de alimentos sim 1,00 - -

para consumo próprio não 1,17 1,01-1,36 0,034

Tempo de residência 0-19 1,00 - -

No município (em anos) 20-39 1,08 0,90-1,29 0,313

>40 1,33 1,08-1,63 0,012

Escolaridade do chefe 9 ou mais 1,00 - -

(anos de estudo) 5-8 1,25 1,00-1,55 0,046

0-4 1,25 0,94-1,65 0,096

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103

DISCUSSÃO

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104

6 DISCUSSÃO

Antes de discutir os resultados, é importante considerar algumas limitações

deste trabalho. Por se tratar de um estudo de delineamento transversal, não foi

possível identificar o tempo de exposição aos fatores de risco ou de proteção para a

insegurança alimentar encontrada. Outra limitação se refere à temporalidade das

observações da situação de insegurança alimentar nos domicílios (“nos últimos 3

meses”) e a disponibilidade e consumo dos alimentos (“na última semana”). Além

de não existir uma escala que avaliasse a insegurança alimentar do indivíduo

adolescente, somente do domicílio.

No entanto, dada a multidimensionalidade da insegurança alimentar, estudos

de corte transversal têm sido os mais utilizados na Epidemiologia Nutricional para

investigar a situação de insegurança alimentar nos domicílios (KEPPLE, GUBERT,

SEGALL-CORRÊA, 2011). Sendo que, no Brasil ainda são escassos os estudos de

acompanhamento (coorte) e intervenção (experimentais) sobre a situação de IAN,

especialmente nos grupos etários menores de 18 anos – crianças e adolescentes.

Na literatura não foram encontrados estudos que avaliassem conjuntamente a

situação de insegurança alimentar, a disponibilidade de alimentos nos domicílios, o

consumo alimentar e o estado nutricional de adolescentes. Embora, estejam

disponíveis resultados de pesquisas que abordam estes temas separadamente, e às

vezes, um ou outro em conjunto, como por exemplo, o estudo realizado por

OLIVEIRA et al. (2009) que investigou o estado nutricional e a insegurança

alimentar de adolescentes e adultos em duas localidades de baixo índice de

desenvolvimento humano em Pernambuco.

Assim, pesquisar a situação de insegurança alimentar em municípios com

características e condições diferentes, pode contribuir na identificação de

experiências comuns entre os domicílios estudados, como a baixa escolaridade do

chefe da família, a insuficiência de renda e as precárias condições de moradia e

saneamento, sendo estes, possíveis fatores de risco para criar uma situação de IAN

nos domicílios com adolescentes, o que gerou as discussões a seguir apresentadas.

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105

6.1 POPULAÇÃO DE ESTUDO

Dos adolescentes pesquisados, observou-se um predomínio do sexo feminino

(52,6%), com idade entre 10 e 14 anos - fase inicial da adolescência (50,7%), de cor

não branca - preta, parda, amarela ou indígena (64,7%), com escolaridade entre 5 e 8

anos de estudo (50%). Na literatura, VIEIRA et al. (2008) verificaram que 57,3% dos

adolescentes entrevistados eram do sexo feminino e os resultados mostraram que na

medida em que diminuía a idade, aumentava a proporção de insegurança alimentar

nos domicílios, corroborando com os resultados encontrados neste estudo.

A escolaridade é um fator importante na determinação da situação de

segurança alimentar em que se encontram os moradores dos domicílios. No Brasil,

tanto na área urbana ou rural, quanto maior o nível de escolaridade dos moradores

menor a prevalência de insegurança alimentar moderada e grave. Dos 363 chefes de

família, observou-se que 45,7% tinham baixa escolaridade e apenas 4,7% tinham 12

anos ou mais de estudo. Sinalizando uma semelhança com os resultados encontrados

em pesquisa realizada por SALLES-COSTA et al. (2008) na Região metropolitana

do Rio de Janeiro, na qual verificou-se que 52,3% dos chefes de família

apresentaram escolaridade inferior a 8 anos de estudo e 22,2% tinham mais de 11

anos de estudo.

Os resultados obtidos sobre a migração dos chefes da família (naturalidade e

tempo de residência no município) remetem a intensa migração gerada pela

construção da rodovia BR 163 na década de 70, com destaque para a presença

marcante de migrantes da região sul (BRASIL, 2006b). Seguido da região Centro-

Oeste, da qual 32,5% dos chefes de família informaram ser oriundos. De acordo com

RIGOTTI (2006) houve uma diminuição na migração da região Sudeste e Sul para a

região Centro-Oeste, permanecendo a migração de pessoas pertencentes aos estados

vizinhos dentro da mesma região.

Típico de áreas de migração, a maioria dos chefes informou residir a até 19

anos no município, mostrando uma rotatividade freqüente de pessoa que geralmente

vão à procura de trabalho e melhores condições de vida para estas regiões.

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106

Assim, a renda per capita mensal das famílias estudadas foi menor que dois

salários mínimos em 93,1% dos domicílios, sendo que, destes 69% tinham renda

menor que um salário mínimo (< R$ 380,00), semelhante ao observado por

SALLES-COSTA et al. (2008) que em 73,2% dos domicílios investigados, verificou

que a renda familiar per capita mensal era menor que um salário mínimo.

De acordo com a POF 2008-2009, o rendimento é um dos determinantes

principais na construção do orçamento familiar e segundo a PNAD-2010, quanto

menor a classe de rendimento mensal domiciliar per capita, maior a proporção de

domicílios em situação de IAN moderada ou grave.

Das famílias pesquisadas verificou-se que 58,1% eram constituídas por até

quatro membros, semelhante ao observado por SALLES-COSTA et al. (2008) em

que 55,9% dos domicílios apresentaram até quatro moradores. Enquanto, VEIGA e

BURLANDY (2001) verificaram que 53,8% dos domicílios tinham entre 4 e 6

moradores.

Em relação às características de moradia e saneamento, a maior parte dos

domicílios (65,3%) informou ter a moradia de alvenaria com acabamento

incompleto, de madeira ou de material aproveitado. Este resultado foi superior ao

observado no estudo sobre a insegurança alimentar de famílias da Paraíba realizado

por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008), onde o percentual de domicílios com

essa característica foi de 19,0%.

Dos domicílios pesquisados, 57,9% informaram produzir alimentos no

domicílio para consumo próprio e 19,83% participavam de programas sociais de

transferência de renda do governo, como o Bolsa família ou Bolsa escola. Resultados

inferiores foram obtidos na PNAD no ano de 2006 para o estado de Mato Grosso

com percentual de 13,8%, sendo que na região Centro-Oeste o percentual de

domicílios que receberam dinheiro de programa social do governo foi de 14,0% e

18,0%, respectivamente, nos anos de 2004 e 2006.

Ao compararmos os resultados deste estudo com os da Paraíba, encontrados

por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008) verificou-se que 35,3% das famílias

informaram participar de programas de complementação de renda, percentual

superior ao encontrado neste estudo.

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107

Cabe ressaltar, ainda, que, segundo o PNAD (2006) parte considerável da

população beneficiada pela transferência de renda no Brasil são crianças e

adolescentes (31,6%).

Dos 363 domicílios estudados, 99,4% eram atendidos pela coleta pública de

lixo, percentual superior ao encontrado por SALLES-COSTA et al. (2008) e por

VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008), que foi igual a 89,5% e 58,5%,

respectivamente.

Destes domicílios, 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto sanitário,

a destinação era realizada através de fossa séptica, fossa rudimentar ou a céu aberto.

Situações precárias de serviço de esgoto sanitário também foram encontradas por

SALLES-COSTA et al. (2008) em 80,4% dos domicílios na região metropolitana do

Rio de Janeiro, Nos domicílios estudados por VIANNA e SEGALL-CORRÊA

(2008) 71,4% eram atendido por este serviço público e VEIGA e BURLANDY

(2001) verificaram que 100% dos domicílios onde viviam crianças e adolescentes

não tinham cobertura de serviço de esgoto.

Assim, os resultados observados neste estudo confirmam os dados

encontrados na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico onde o esgotamento

sanitário foi o serviço que apresentava menor presença nos municípios brasileiros

(IBGE, 2002). Na região Centro-Oeste em 82,1% dos municípios não tinham esse

tipo serviço, que segundo dados da PNAD 2010, para a mesma região apenas 39,2%

dos domicílios eram assistidos pela rede de esgoto.

De acordo com PIGNATTI (2005), a distribuição do saneamento básico não é

homogênea por regiões do estado de Mato Grosso. Não há em todas as cidades um

sistema de tratamento de esgoto. Além disso, o destino de lixo para a maioria das

cidades é em lixões a céu aberto, com exceção de alguns municípios como Alta

Floresta.

Em relação ao abastecimento de água nos municípios estudados, 83,5% dos

domicílios eram atendidos por meio da rede pública e 16,6% tinham outro tipo de

abastecimento (poço ou nascente, carro-pipa). SALLES-COSTA et al. (2008)

observaram que nos domicílios investigados 64,3% eram assistidos pela rede pública

de abastecimento de água, enquanto, VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008)

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108

verificaram que um percentual de 45% e 53,7% dos domicílios, respectivamente,

tinham outro sistema.

Apesar de 58,7% dos domicílios estudados utilizarem água tratada (fervida,

clorada ou mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável 41,3%

consumiam água sem nenhum tipo de tratamento. Resultados semelhantes foram

encontrados por VEIGA e BURLANDY (2001), no qual 39,6% das famílias com

crianças e adolescentes de um assentamento do Rio de Janeiro ingeriam água sem

tratamento.

O abastecimento de água é uma questão essencial para as populações, a ser

resolvida, pelos riscos que sua ausência ou seu fornecimento inadequado pode causar

à saúde pública, como morbidades infecciosas - doenças diarréicas e verminoses

(HACKETT et al., 2009; WHO, 2009; WHO, 2010a; WHO, 2010c), podendo afetar

o estado nutricional principalmente de crianças e adolescentes.

Nesta perspectiva, a situação de saneamento básico inadequado está ligada a

uma das dimensões de mensuração da SAN - a utilização dos nutrientes, que é

entendida como o efetivo aproveitamento biológico dos alimentos, sendo

influenciado pelas condições de saúde das pessoas, com morbidades tanto crônicas

quanto agudas e infecciosas (KEPPLE, GUBET e SEGALL-CORRÊA, 2011).

6.2 SITUAÇÃO DA SEGURANÇA ALIMENTAR NOS DOMICÍLIOS

Estudos internacionais demonstram que a escala de insegurança alimentar é

um instrumento eficaz para a investigação da situação de insegurança alimentar e

fome (MELGAR-QUINONEZ e HACKETT, 2008), sendo que, nos EUA é

mensurada pela Escala Domiciliar de Segurança Alimentar Americana (HFSSM) e

nos países da América Latina e Caribe pela Escala de Segurança Alimentar da

América Latina e Caribe (ELCSA) com versões ligeiramente diferentes, pois se

considera as peculiaridades de cada região (IBGE, 2010b).

No Brasil, um estudo realizado inicialmente em Campinas (PÉREZ-

ESCAMILLA et al., 2004) contribuiu para a validação da Escala Brasileira de

Insegurança Alimentar (UNICAMP, 2003).

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109

Após este estudo, a EBIA também foi utilizada na PNAD, o que contribuiu

para a realização de pesquisas sobre a situação de insegurança alimentar nas diversas

regiões do Brasil: no Amazonas em comunidades indígenas (YUYAMA et al., 2008),

no Pará em comunidades quilombolas (OLIVEIRA e SILVA et al, 2008), em Mato

Grosso (GUIMARÃES e LIMA-LOPES, 2005), na Bahia (PANELLI-MARTINS et

al., 2008; SANTOS, 2008, 2010), na Paraíba e em Pernambuco (VIANNA e

SEGALL-CORRÊA, 2008; OLIVEIRA et al., 2009), no Rio de Janeiro e São Paulo

(SALLES-COSTA et al., 2008; CARDOSO, 2010), em Porto Alegre e Pelotas

(FRAGA et al., 2007; SANTOS et al., 2010).

Quanto à confiabilidade e consistência interna das escalas utilizadas em

pesquisas que avaliaram a situação de insegurança alimentar em diversos em países

como: Venezuela (DELLOHAIN e SANJUR, 2000), México (MELGAR-

QUIÑONEZ et al., 2005), Colômbia (ÁLVAREZ et al., 2006), Bolívia e Filipinas

(MELGAR-QUIÑONEZ et al., 2006), Equador (HACKETT et al., 2007), e Costa

Rica (GOZÁLEZ et al., 2008), elas foram consideradas instrumentos confiáveis para

esse tipo de investigação, apresentando um Alpha de Cronbach entre 0,87 e 0,95.

Nos estudos brasileiros foi obtido um Alpha de Cronbach maior que 0,85

para consistência interna da EBIA aplicada em uma população da Paraíba (VIANNA

e SEGALL-CORRÊA, 2008) e valores entre 0,91-0,93 segundo OLIVEIRA et al.

(2009).

Assim, neste estudo foi utilizada para a investigação da situação de

insegurança alimentar nos domicílios, a EBIA. A aplicação deste instrumento nos

quatro municípios da região da rodovia BR-163 – Alta Floresta, Diamantino, Sinop e

Sorriso, mostrou uma adequada consistência interna, com Alpha de Combrach igual

a 0,87, concordando este valor com a literatura citada no parágrafo anterior.

Dentre as metas a serem alcançadas até 2015, estão os Objetivos de

Desenvolvimento do Milênio, com destaque para o primeiro objetivo que é a

erradicação da extrema pobreza e da fome no mundo (BRASIL, 2010c). Uma

maneira de investigar esta situação é avaliar a IAN dos domicílios de diferentes

regiões e países.

SOBRINHO (1982) em seu livro sobre a Fome, agricultura e política no

Brasil escreveu: “não conhecemos dados sobre a situação alimentar em Mato

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110

Grosso”. Atualmente, já existem resultados importantes de pesquisas nacionais e

locais, dessa região. No entanto, efetuar pesquisas aprofundadas e que atualize as

informações sobre a situação alimentar das famílias de municípios de Mato Grosso,

reveste-se de grande importância. Uma vez que, fatores políticos, sociais,

econômicos e culturais precisam ser considerados na análise da segurança alimentar

(ADAS, 1988), pois são causas básicas da fome (VALENTE, 1986).

Neste estudo, a prevalência de insegurança alimentar nos domicílios foi de

51,8% e segundo os seus níveis de severidade: 8,8% estavam em insegurança grave,

14,3% em insegurança moderada e 28,7% em insegurança leve. Sendo que, 48,2%

dos domicílios foram classificados em situação de segurança alimentar e nutricional.

Estes resultados são superiores aos encontrados na PNAD- 2004 e 2010 onde

as prevalências de insegurança alimentar encontradas foram de 34,9% e 30,2%,

respectivamente. Sendo que, em 2010 para Mato grosso a prevalência foi de 22,1%

(IBGE, 2010b).

Considerando os níveis de severidade da IAN, o presente estudo também

apresentou valores superiores aos da PNAD-2010, na qual a prevalência nacional

estimada de domicílios em situação de IAG foi de 5,0%, 6,5% de IAM e 18,7% IAL;

e para o estado de Mato Grosso essas prevalências foram de 2,7%, 4,7% e 14,7%,

respectivamente.

Os domicílios pesquisados eram compostos por pelo menos um indivíduo na

faixa etária de 10 a 19 anos. Assim, as prevalências observadas para IAG e IAM,

foram inferiores as encontradas por OLIVEIRA et al. (2009), que verificaram a

prevalência de 48,8% de IAG em famílias com adolescentes nesta faixa etária no

município de Gameleira-PE, enquanto que, em São João do Tigre-PB a prevalência

de IAM foi de 41,4%.

No entanto, comparado aos valores observados na PNAD-2010, pode-se

verificar que os resultados do presente estudo foram superiores aos observados

nacionalmente, em que a prevalência de IAG foi igual a 2,8%, a IAM de 6,0% e

18,7% de IAL nos domicílios com pelo menos um morador de 18 anos ou menos

(IBGE, 2010b).

Dados semelhantes aos encontrados neste estudo para a situação de

insegurança alimentar, também foram observados por SALLES-COSTA et al.

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111

(2008), bem como, por VIANNA e SEGALL-CORRÊA (2008). No primeiro estudo

observou-se a prevalência de 53,8% de IAN em famílias de uma região do Rio de

Janeiro, que segundo os seus níveis: 6,3% estavam em IAG, 16,1% em IAM e 31,4%

em IAL. No segundo estudo verificou-se que 52,5% das famílias entrevistadas

estavam em situação de IAN e a prevalência de IAG foi igual a 11,3%, a IAM de

17,6% e 23,6% foram classificados em IAL.

Em estudo realizado em Pelotas, SANTOS et al. (2010) observou uma

prevalência de insegurança alimentar familiar de 11%, resultado inferior ao

encontrado em trabalhos anteriores e neste estudo.

A alta prevalência de insegurança alimentar e nutricional encontrada nos

domicílios de municípios da área de abrangência da rodovia BR-163, pode ser

resultado da influência de fatores como: o acesso desigual a alimentação, habitação,

educação, água e serviços de saúde (VALENTE, 1986), e também conseqüência do

contexto de desigualdade mais acentuada, gerado pela localização das famílias

(BURLANDY e COSTA, 2007).

As famílias do presente estudo, localizavam-se na zona urbana dos

municípios de Alta Floresta, Diamantino, Sinop e Sorriso, que segundo

BURLANDY e COSTA (2007) mesmo no âmbito municipal, não impede que haja

diferenças no acesso a bens e serviços públicos entre famílias de baixa renda. De

acordo com os autores, famílias residentes nas áreas urbanas, ou em determinados

bairros do município, tendem a ter mais acesso a bens e serviços, mesmo sendo tão

pobres quantas outras que residem em áreas onde há menor disponibilidade destes

bens.

Assim, outros fatores descritos por VALENTE (1986) também se explicam a

essa situação. De acordo com o autor a produção, a distribuição e consumo de todas

estas mercadorias e serviços são determinados pela estrutura sócio-econômica da

sociedade, incluindo sua superestrutura ideológica e política.

Portanto, cabe ressaltar que em 2006, ano anterior ao da pesquisa, esses

municípios sofreram as conseqüências de uma crise econômica - o desemprego, a

instabilidade e preocupação com acesso e consumo de alimentos, que gerou um

recuo na produção agrícola e pecuária, acarretando a diminuição de 4,6% no

crescimento econômico do estado (CORECON-MT, 2007).

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112

Para KEPPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) a EBIA capta a

dimensão do acesso a uma alimentação de qualidade e quantidade suficientes vivida

pela família, inclusive a preocupação relativa ao acesso a alimentos no futuro

próximo.

A freqüência observada de respostas positivas às quinze perguntas da EBIA

foi semelhante a encontrada por SEGALL-CORRÊA (2007b) quando comparou a

percepção de insegurança alimentar de pessoas em Brasília e Campinas. De acordo

com a autora, as pessoas entrevistadas mostraram ter consciência da questão da

segurança do alimento e também, de uma condição de insegurança alimentar, quando

responderam as perguntas da escala.

No inquérito realizado em Brasília e Campinas, com famílias que tinham

crianças e adolescentes em sua composição, verificou-se que as pessoas responderam

a escala da mesma forma e com a mesma consistência (PANIGASSI, 2005; LEÃO,

2005).

Nesta perspectiva, o presente estudo verificou por meio de cada bloco de

perguntas, os níveis de IAN, no Bloco1 – a insegurança alimentar leve (Figura 11):

no Bloco 2 – a insegurança alimentar moderada (Figura 12), no Bloco 3 – a

insegurança grave (Figura 13). De acordo com SEGALL-CORRÊA, (2007) na

insegurança leve, o aspecto mais afetado é a qualidade da alimentação, juntamente

com a preocupação de que possa faltar alimento no futuro próximo. Na insegurança

moderada, começa a haver restrição quantitativa na alimentação da família. Por

último, na insegurança grave, aparece deficiência quantitativa e até mesmo fome

entre os membros da família.

CASTRO (1995) em seu livro Vigilância Alimentar e nutricional, afirma que

quatro problemas alimentares embasam a segurança alimentar: - desequilíbrios

conjunturais de disponibilidade dos alimentos, relacionados com lacunas cíclicas

entre produção e demanda de alimentos; - desequilíbrios estruturais de

disponibilidade dos alimentos, ligados a lacunas persistentes entre produção e

demanda; - desequilíbrios cíclicos e sazonais de acesso aos alimentos, devido à

ocorrência de dificuldades ocasionais, que impedem determinadas famílias de

satisfazerem suas demandas nutricionais básicas; e por último - restrições estruturais

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113

de acesso, que se referem a uma lacuna sistemática, em determinados setores sociais,

entre as necessidades nutricionais e a renda disponível para o consumo alimentar.

Em estudo realizado por COATES et al. (2006), as análises confirmaram que

existiam experiências comuns entre as famílias, sendo que, a quantidade insuficiente

de alimentos, a qualidade alimentar inadequada, a incerteza e preocupação sobre a

alimentação foram parte importante da experiência de insegurança alimentar em

todas as culturas amostradas (15 países), com a peculiaridade de todos os relatos

etnográficos emergirem preocupações de inaceitabilidade social.

6.3 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS NOS DOMICÍLIOS,

CONSUMO E ESTADO NUTRICIONAL DOS ADOLESCENTES

Josué de Castro em Geografia da Fome (2003) escreve que promover o

desenvolvimento econômico-social autêntico será antes de tudo, procurar atenuar os

desníveis existentes nas diferentes regiões do país, através de uma melhor

distribuição de riquezas e de um critério mais justo de investimento nessas regiões e

diferentes setores das atividades econômicas do país. Segue, apontando que não é

possível saltar esse fosso com um povo faminto, um povo que não disponha do

mínimo essencial para suas necessidades básicas de vida: um mínimo de

alimentação.

A alimentação e a nutrição são imprescindíveis para a vida e a sobrevivência

humana. Como necessidade básica, a alimentação é modelada pela cultura e sofre

efeitos da organização da sociedade (CANESQUI e GARCIA, 2005). A nutrição

consiste na ingestão e digestão dos alimentos e na absorção, metabolismo e utilização

dos seus nutrientes, é um processo característico dos seres vivos e necessário para

assegurar a reprodução, o crescimento, desenvolvimento e o pleno exercício das

funções vitais do organismo (MS, 2004).

No entanto, o ato de comer envolve ocasiões, rituais, idéias e significados,

experiências que estão ligados fortemente com a seleção e escolhas dos alimentos

(POULAIN e PROENÇA, 2003; CANESQUI e GARCIA, 2005) que por sua vez,

dependem do acesso e da disponibilidade.

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114

No presente estudo esteve disponível todos os dias nos domicílios, alimentos

como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), e os adolescentes confirmaram

consumí-lo diariamente. Ocorre o mesmo com o grupo das leguminosas (G2), dos

açúcares e doces (G8) e dos sucos artificiais e infusões (G10). Dados semelhantes ao

encontrado neste estudo foi observado por OLIVEIRA et al. (2009) em famílias dos

municípios de Gameleira-PE e São João do Tigre-PB: os alimentos do grupo G1,

foram os que estavam mais disponíveis entre as famílias. Segundo SANTOS et al.

(2005), estes mesmos alimentos foram considerados de consumo habitual dos

adolescentes estudados em Teixeira de Freitas-BA.

Sabe-se que o grupo de alimentos G1 é uma importante fonte de energia para

o corpo – o carboidrato complexo, e que se não estiver presente em quantidades

adequadas, outros nutrientes desempenharão seu papel, prejudicando o crescimento e

desenvolvimento dos indivíduos. Cabe destacar, ainda, que nesta faixa etária a

atividade física pode estar presente, sendo o carboidrato, o principal nutriente para o

exercício (KAZAPI et al., 2001).

Os grupos G3 (carnes e ovos), G5 (frutas) e G6 (hortaliças) embora

disponíveis nos domicílios, não eram consumidos diariamente, mas, de 1 a 3 vezes

na semana pelos adolescentes. De acordo com o Guia Alimentar (MS, 2008) o

consumo desses alimentos no Brasil é tradicionalmente baixo. No entanto, o

consumo regular de uma variedade de frutas, legumes e verduras, juntamente com

alimentos ricos em carboidratos pouco processados, oferece garantia contra a

deficiência da maior parte de vitaminas e minerais, isoladamente ou em conjunto,

aumentando a resistência às infecções (KATONA e KATONA, 2008).

O presente estudo tem como limitação, os resultados do consumo alimentar

expressos em frequência absoluta ou em média e não em porção ou calorias (Kcal), o

que dificulta a comparação quantitativa com os estudos de disponibilidade e

consumo.

Ainda assim, é possível analisar que, semelhante aos dados encontrados neste

estudo, LEAL et al. (2010) avaliando consumo alimentar e padrão de refeições de

adolescentes de São Paulo, também verificaram um baixo consumo de frutas,

verduras e legumes.

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115

Em adição, LEVY-COSTA et al. (2005), em estudo sobre a disponibilidade

domiciliar de alimentos no Brasil, verificaram que os produtos de origem animal

(carnes, ovos, leite e derivados), frutas, verduras e legumes corresponderam a 18% e

2,3%, respectivamente, das calorias totais recomendadas para consumo, enquanto os

alimentos básicos de origem vegetal (cereais, raízes e tubérculos e leguminosas)

representaram cerca de 50%.

O grupo G4 (leites e produtos lácteos) esteve disponível todos os dias nos

domicílios. No entanto, os adolescentes disseram não ter consumido nenhum

alimento deste grupo na semana anterior a pesquisa, concordando com estudos que

apontam para a baixa ingestão de produtos lácteos (ALVES e BOOG, 2007; FRAGA

et al., 2007; SANTOS et al. 2005), frutas, hortaliças, alimentos fontes de proteína e

ferro, à exceção do feijão, concomitante ao elevado consumo de açúcar e gordura

(GAMBARDELLA et al., 1999).

Observou-se que no grupo G7 (óleos e gorduras) predominou a

disponibilidade nos domicílios, embora, tenha predominado o não consumo pelos

adolescentes naquela semana. Cabe destacar que, neste grupo estão alimentos como:

manteiga, banha e azeite, que nem sempre estão disponíveis ou são consumidos por

adolescentes nos domicílios.

Assim, não ter disponível e não consumir esse grupo, refere-se a esses

alimentos. De acordo com SLATER et al. (2003), quando se tem um ou mais

alimento de maior disponibilidade e consumo pela população em um mesmo grupo, a

presença de outros alimentos pode ser confundida, sendo necessária a análise de cada

alimento que compõe o grupo. Cabe ressaltar que, na interpretação do consumo

alimentar deve-se considerar as inter-relações que derivam dos padrões de

comportamento dos indivíduos ou de uma população.

A frequência observada de cada alimento pertencente a esse grupo, mostrou

que o óleo e a margarina estiveram disponíveis nos domicílios e os adolescentes

informaram ter consumido. Assim, OLIVEIRA et al. (2009) também observou que

nos domicílios da Zona da Mata e Semi-árido do Nordeste, o óleo foi o alimento que

apresentou maior disponibilidade entre esse grupo.

Os refrigerantes (G9) apresentaram uma frequencia predominante entre 1 a 3

vezes por semana. Estudos com adolescentes na Bahia e em São Paulo observaram

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116

um consumo elevado de refrigerantes e bebidas com adição de açúcar (COSTA et al.,

2004; CARMO et al., 2006). De acordo com o Guia alimentar para a população

brasileira: refrigerantes, bebidas industrializadas, doces e produtos de confeitaria

contêm muito açúcar e favorecem o aparecimento de cáries, além de sobrepeso e

obesidade, e possuem calorias vazias, ou seja, têm calorias, mas não são nutritivos

(MS, 2008).

De acordo com a POF-2010, 32% das famílias da Região Centro-Oeste

avaliaram insuficiência de quantidade de alimentos e 50,4% declararam não

consumirem sempre alimentos do tipo preferido (IBGE, 2010). É importante

salientar, que na disponibilidade e consumo de alimentos o efeito do rendimento

familiar é substancial (LEVY-COSTA et al., 2005).

As pesquisas de orçamento familiar revelam a tendência nas mudanças dos

padrões de alimentação, havendo uma crescente substituição de alimentos básicos e

tradicionais na dieta, como arroz, feijão e hortaliças, por refrigerantes, biscoitos,

carnes processadas e comida pronta, implicando aumento na densidade energética

das refeições e padrões de alimentação capazes de comprometer a auto-regularão do

balanço energético e aumentar o risco de obesidade, expressando o desequilíbrio

entre ingestão e utilização de calorias (IBGE, 2010a).

Ao comprometer o estado nutricional dos indivíduos, principalmente os da

faixa etária estudada, esse desequilíbrio na ingestão energética, como reflexo da

situação de IAN no domicílio, pode levar tanto a desnutrição, quanto ao sobrepeso e

a obesidade na adolescência e na fase adulta.

Na adolescência ocorre o chamado estirão do crescimento, consequentemente

um aumento das necessidades nutricionais, requerendo uma dieta equilibrada, em

decorrência do aumento da massa muscular, da expansão do volume sanguíneo e

aumento da massa óssea (VEIGA e SICHIERI, 2007; EISENSTEIN et al., 2000).

Somadas às exigências fisiológicas oriundas do período de estirão, o estágio

da maturação sexual característico nessa fase da vida, também pode influenciar no

estado nutricional dos adolescentes entre 10 e 14 anos (SICHIERI e ALLAM, 1996).

Apesar de CONDE e MONTEIRO (2006) afirmarem que a maturação sexual

dos adolescentes pode se tornar um fator complicador para a avaliação nutricional

baseada no IMC para idade, método utilizado neste estudo, estes autores têm

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117

considerado que, no caso brasileiro, a variação observada na fase de maturação

sexual do indivíduo é pequena.

Em relação ao estado nutricional, observou-se que 4,0% dos adolescentes

apresentaram baixo peso, 10,5% sobrepeso, e 3,3% obesidade. Resultados

semelhantes foram encontrados por OLIVEIRA et al. (2009) em estudo sobre estado

nutricional e insegurança alimentar de adolescente e adultos da Paraíba e

Pernambuco. Estes autores verificaram que 3,6% dos adolescentes apresentaram

baixo peso, 10,0% sobrepeso e 2,4% obesidade. A Pesquisa de Orçamentos

Familiares de 2002-2003 mostrou que na região Centro-Oeste a prevalência foi de

4,7% para baixo peso, 10,6% sobrepeso e 2,4% obesidade para adolescentes entre 10

e 19 anos.

A prevalência de sobrepeso obtida neste estudo (10,5%) foi superior a

observada por ABRANTES et al. (2002) em adolescentes da região Nordeste (1,7%)

e Sudeste (4,2%). A prevalência de obesidade encontrada (3,3%) foi inferior a

observada pelo mesmo autor, que variou entre 6,6% e 8,4%.

Dados obtidos por VEIGA e BURLANDY (2001) mostram que a prevalência

de sobrepeso em adolescentes do Rio de Janeiro foi de 13,3%. ALBANO e SOUZA

(2001) verificaram que, em uma escola pública de São Paulo, 5,5% dos adolescentes

apresentaram baixo peso e 10,9% sobrepeso, semelhante a prevalência encontrada

nos adolescentes de municípios de Mato Grosso. FERNANDES et al. (2007)

observaram uma prevalência de baixo peso em 2,7% dos adolescentes de escolas do

município de Presidente Prudente, prevalência menor a encontrada neste estudo.

Sabe-se que em crianças maiores de 5 anos e adolescentes a freqüência do

excesso de peso, que vinha aumentando modestamente até o final dos anos 80,

triplicou nos últimos 20 anos, alcançando entre um quinto e um terço dos jovens

(MONTEIRO, 2010; IBGE, 2010). Este fato evidencia o processo de transição

nutricional que tem ocorrido de modo concomitante ou posteriormente aos processos

de transição demográfica e epidemiológica (POPKIN, 2002)6.

Quanto à desnutrição, análises realizadas sobre a sua tendência secular,

principalmente a desnutrição infantil indicam que o excepcional declínio do

6 Anexo 6 – Estágios da transição demográfica, epidemiológica e nutricional (POPKIN, 2002).

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118

problema na década de 2000 ocorreu devido a melhorias no poder aquisitivo das

famílias de menor renda, na escolaridade das mães e na cobertura de serviços básicos

de saúde e saneamento. Tais melhorias decorreram de várias políticas públicas,

incluindo a valorização do salário mínimo e programas de transferência de renda,

bem como, a universalização do ensino fundamental e a expansão da Estratégia de

Saúde da Família (MONTEIRO, 2010).

6.4 DISPONIBILIDADE DE ALIMENTOS E CONSUMO ALIMENTAR

COMPARADO À SITUAÇÃO DE SEGURANÇA ALIMENTAR DOS

DOMICÍLIOS

A disponibilidade, o acesso e a utilização dos alimentos são alguns dos

elementos básicos da segurança alimentar e nutricional (ROSE, 1999) e segundo

KEPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) são seus determinantes. No nível

domiciliar, a disponibilidade está ligada a proximidade aos pontos de venda e

abastecimento de alimentos, bem como, a produção para auto-consumo. O acesso diz

respeito à renda/estabilidade financeira e a participação em programas assistenciais.

A utilização está relacionada à saúde dos moradores, às práticas de higiene, ao acesso

ao saneamento e água potável, e à educação alimentar e nutricional.

Tanto no nível domiciliar, quanto individual RADIMER (1992) constatou que

a insegurança alimentar se revela como um processo progressivo, gerenciado por

meio de táticas presentes nestes dois níveis. Inicialmente, a insegurança é sentida em

nível do domicílio e depois, quando a situação piora, em nível individual.

Assim, o autor apresenta quatro componentes que atuam associados a IAN,

nos níveis domiciliar e individual: 1) a quantidade revelada no “esvaziamento das

prateleiras” dos domicílios e refletindo o consumo insuficiente pelo indivíduo; 2) a

qualidade, que demonstra a presença de alimentos não apropriados (nível

domiciliar) e conteúdo nutricional inadequado dos alimentos para consumo

individual; 3) o componente psicológico, relacionado ao receio ou medo de sofrer

IA no futuro próximo no nível domiciliar, refletindo a falta de escolhas e a sensação

de privação no nível individual; e 4) o componente social, que corresponde a

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119

aquisição de alimentos de maneira socialmente inaceitável, resultando em padrões de

alimentação rompidos pelos indivíduos.

Observa-se que, no Brasil, não há problemas de indisponibilidade de

alimentos. A quantidade de alimentos é suficiente para atender às necessidades

energéticas de toda a população brasileira e essa evidência vem corroborar a tese de

que os problemas relacionados à insegurança alimentar e nutricional, que atinge

contingentes importantes de nossa população, são devidos à desigualdade de acesso à

alimentação adequada (PESSANHA, 2004; MS, 2008).

Assim, neste estudo foi investigada a disponibilidade de alimentos no nível

domiciliar e observou-se que os alimentos que estiveram disponíveis todos os dias,

com maior freqüência nos domicílios em IAN, foram os mesmo para os domicílios

em SAN: os óleos e gorduras (G7) e pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), seguido

dos grupos G3 (carnes e ovos), G10 (sucos artificiais) e G8 (açúcar e doces). Porém,

verificou-se que, as freqüências foram diferentes para cada situação.

Em estudo realizado por MELGAR-QUIÑONEZ et al. (2005) em Sierra de

Manantlán - Jalisco, região do México, a disponibilidade de alimentos e a variedade

da dieta sofreram influência da situação de insegurança alimentar encontrada nos

domicílios.

Embora a comparação intergrupos de alimentos tenha mostrado que as

hortaliças (G6), frutas (G5) e refrigerantes (G9) foram os menos disponíveis nos

domicílios em IAN e SAN; as freqüências observadas de G5 e G9 nos domicílios em

SAN foram maiores que as encontradas nos domicílios em IAN.

Portanto, o fato destes alimentos estarem menos disponíveis nos domicílios

em IAN, possivelmente reflita no baixo consumo dos mesmos pelos adolescentes.

Assim, estes resultados convergem com a pesquisa realizada por PÉREZ-

ESCAMILLA et al. (2005) na Cidade do México, na qual verificaram uma relação

significativa e inversa entre a IAN e o consumo diário de frutas, verduras, carnes e

produtos lácteos.

Quando se observou os alimentos que compõe cada grupo, considerando a

freqüência diária de disponibilidade, verificou-se que nos domicílios em IAN, houve

maior disponibilidade de alimentos como: arroz, macarrão, milho e derivados (G1),

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120

óleo e margarina (G7), açúcar, mel, melado, rapadura (Grupo 8) e café, chimarrão,

chá (Grupo 10), o mesmo para os domicílios em SAN.

Assim, verificou-se maior disponibilidade de alimentos densamente

energéticos, que de acordo com o Guia Alimentar para a população brasileira (MS,

2008) a maior disponibilidade e consumo de alimentos com alta densidade

energética, aumenta o risco de doenças, especialmente das doenças crônicas não-

transmissíveis (DCNT) – obesidade, diabetes, hipertensão (BORGES et al., 2009).

Quanto à maior disponibilidade de óleo e margarina (G7) nos domicílios em

IAN, o Guia Alimentar permite verificar uma tendência de aumento na

disponibilidade e consumo de ácidos graxos monoinsaturados e poliinsaturados,

possivelmente em decorrência da substituição das gorduras animais pelos óleos

vegetais (MS, 2008).

Ainda nos domicílios em insegurança alimentar, para os grupos G3 (carnes e

ovos) e G4 (leite e produtos lácteos), os alimentos que apresentaram maior

freqüência de disponibilidade foram: as carnes (133) e leites (116), respectivamente.

O mesmo observou-se nos domicílios em SAN, porém, nestes domicílios a

freqüência desses alimentos foi maior (173) e (152). Estes resultado, sinalizam para a

influência do hábito alimentar, da cultura e o fato da região estudada apresentar

maior disponibilidade deste alimento, pela sua produção local.

As frutas e sucos naturais de frutas (G5) estavam disponíveis com maior

freqüência nos domicílios em SAN, bem como, doces (G8), os refrigerantes (G9) e

os sucos industrializados (G10). Estes resultados são semelhantes ao encontrados por

MELGAR-QUIÑONEZ et al. (2005), em estudo realizado na região do México,

sobre a disponibilidade de alimentos nos domicílios. Os autores verificaram que a

IAN esteve inversamente correlacionada com alguns dos itens do questionário de

alimentos, tais como os alimentos processados, frutas e verduras.

Entre os alimentos que apresentaram pouca ou nenhuma disponibilidade, nos

domicílios em IAN, destacam-se: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e

inhame (G1), geralmente alimentos que podem ser produzidos em hortas caseiras;

embutidos - salsicha, mortadela, lingüiça, salame e presunto (G3); queijo, iogurte,

coalhada, requeijão e nata (G4). Estes resultados corroboram os encontrados por

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121

PANIGASSI et al. (2008), que verificaram o não consumo de embutidos nos

domicílios em IAN.

Assim, não ter estes alimentos disponíveis nos domicílios, pode refletir o não

consumo por estas famílias. Destaca-se que, nos grupo G3 e G4 estão alimentos de

custo mais elevado, o que pode explicar a não aquisição destes alimentos, e

consequentemente não estarem disponíveis para consumo nos domicílios, visto que a

maioria das famílias estudadas apresentou renda de até um salário mínimo.

Quando comparada a disponibilidade entre os domicílios em situação de IAN

e SAN: observou-se que os domicílios em IAN tiveram maior disponibilidade de

alimentos como: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1), óleos e gorduras (G7),

açúcares e doces (G8), sucos artificiais e infusões (G10) e leguminosas (G2); e os

domicílios em SAN apresentaram maior disponibilidade de alimentos como: carnes e

ovos (G3), leites e produtos lácteos (G4), frutas (G5) e hortaliças (G6), bem como,

refrigerantes (G9).

Resultados semelhantes aos observados neste estudo foi encontrado por

PANIGASSI et al. (2008). Os autores verificaram que em Campinas-SP, as famílias

em situação de SAN tinham maior tendência de consumo de alimentos como: carnes,

leite e derivados, frutas, verduras/legumes, ou seja, componentes de uma dieta

variada, comparada aos alimentos disponíveis nos domicílios em IAN - a presença de

componentes de uma dieta monótona e densamente energética, com exceção das

leguminosas.

O presente estudo encontrou limitação na comparação do consumo alimentar

dos adolescentes, pois na literatura são escassas as publicações sobre consumo

alimentar de adolescentes quando comparada à situação de insegurança alimentar

vivenciada nos domicílios. Optou-se, então, por comparar os resultados obtidos com

as publicações encontradas sobre o consumo alimentar de adolescentes, porém,

considerando que a situação de insegurança alimentar das famílias pode influenciar

no consumo alimentar dos mesmos.

Assim, no nível individual, observou-se que os itens alimentares de maior

contribuição para o consumo energético diário dos adolescentes de domicílios em

IAN e SAN, foram: pães, cereais, raízes e tubérculos (G1) e óleos e gorduras (G7),

açúcar e doces (G8), seguido dos grupos de carnes e ovos (G3), sucos artificiais e

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122

infusões (G10), nos domicílios em IAN acrescentam-se as leguminosas (G2) e nos

domicílios em SAN: leites e produtos lácteos (G4). Cabe destacar que, as freqüências

observadas nos domicílios em IAN e SAN, apresentaram diferenças para cada grupo.

Portanto, os resultados observados, tanto na disponibilidade, quanto no

consumo alimentar para os domicílios em IAN, corroboram com os dados

encontrado por PANIGASSI et al. (2008) sobre a insegurança alimentar intrafamiliar

e o perfil do consumo de alimentos. Os autores verificaram que a maioria das

famílias em IAN consumiam diariamente cereais, óleo, açúcar e feijão; e leites e

produtos lácteos (G4) foram mais consumidos por famílias em SAN.

Os alimentos menos consumidos pelos adolescentes de domicílios em IAN e

SAN foram aqueles pertencentes aos grupos: frutas (G5), hortaliças (G6) e

refrigerantes (G9), exceto o grupo de leite e produtos lácteos (G4), para os

adolescentes dos domicílios em SAN, com destaque para a diferença entre as

freqüências observadas nas situações de IAN e SAN.

Em relação ao consumo diário dos grupos G5 (frutas) e G6 (hortaliças), as

freqüências foram baixas, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN, como

para os de domicílios em SAN. Dados semelhantes foram observados no estudo

realizado por TORAL et al. (2006) sobre o comportamento alimentar de adolescentes

de São Paulo, cujo consumo de frutas e verduras, foi inferior ao recomendado pela

Pirâmide Alimentar. NEUTZLING et al. (2007) observaram que a maioria dos

adolescentes de Pelotas-RS consumia uma dieta pobre em fibras (83,9 e mais de um

terço deles (36,6%) consumiam dieta rica em gordura.

Sabe-se que as frutas, legumes e verduras, por suas propriedades decorrentes

do seu conteúdo em fibras, minerais e vitaminas, são agentes importantes na

prevenção das doenças crônicas não transmissíveis. Portanto, a diminuição desses

alimentos nas dietas, conforme descrito anteriormente representaria um risco

potencial de maior freqüência dessas morbidades (MS, 2008).

Além do grupo de óleos e gorduras (G7), os adolescentes de domicílios em

IAN informaram consumir, com maior freqüência, também açúcar e doces (G8),

sucos artificiais e infusões (G10), leguminosas (G2), hortaliças (G6) e refrigerantes

(G9), comparados aos adolescentes de domicílios em SAN. De acordo com o Guia

Alimentar para a população brasileira, há evidências de que o consumo de açúcares

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123

tenha se deslocado para o consumo de refrigerantes, sucos e bebidas adoçadas, cuja

oferta no mercado aumentou, consideravelmente, nos últimos anos.

Quanto à maior freqüência observada no consumo de leguminosas e

hortaliças pelos adolescentes de domicílios em IAN, as famílias podem ter sofrido a

influência das iniciativas realizadas pelo governo federal quanto ao acesso à

alimentação e desenvolvimento agrário, como por exemplo, o Programa de

Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar - PAA, o Programa Bolsa Família -

PBF, voltados às famílias em vulnerabilidade alimentar.

Os adolescentes pertencentes aos domicílios em situação de segurança

alimentar consumiram todos os dias com maior freqüência, alimentos como: pães,

raízes e tubérculos (G1), leite e produtos lácteos (G4), frutas (G5), carnes e ovos

(G3), sendo que neste último, tanto para os adolescentes de domicílios em IAN,

quanto em SAN, as freqüências de consumo estiveram próximas.

Estes dados convergem com os resultados observados por PANIGASSI et al.

(2008), em que a maioria das famílias em SAN informaram consumir, diariamente,

alimentos construtores (carnes, leite e derivados), energéticos (pães, raízes e

tubérculos) e reguladores (frutas, verduras e legumes), mas, mesmo assim, havia uma

parcela considerável que não possuía o hábito de consumir frutas e derivados do

leite.

Considerando os alimentos que compõe cada grupo e a freqüência diária do

consumo alimentar, verificou-se que os adolescentes de domicílios em situação de

IAN e SAN informaram consumir com maior freqüência: arroz, macarrão, milho e

derivados (G1), feijão, lentilha, ervilha e soja (G2), carne (G3), leite (G4), óleo (G7),

mel, melado, açúcar, rapadura (G8) e café, chimarrão, chá (G10), sendo que, os

domicílios em SAN responderam consumir margarina, componente do grupo G7.

Cabe destacar, no entanto, que as freqüências observadas foram diferentes para os

adolescentes de domicílios em IAN e SAN.

Dados semelhantes foram encontrados no consumo alimentar de adolescentes

em Teresina - PI, onde se observou maior freqüência no consumo de arroz, milho,

mel, açúcar, rapadura (CARVALHO et al., 2001).

Embora na literatura, o consumo de café comparado a situação de IAN, foi

observado por ANTUNES et al. (2010) somente em crianças menores de três anos, é

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124

importante destacar que esse consumo foi mais elevado entre crianças de famílias

com situação de IAN, corroborando com a freqüência de consumo observada entre os

adolescentes do presente estudo.

Dados do Guia Alimentar (MS, 2008) mostram que houve crescimento de

16% na participação das gorduras vegetais, na dieta da população brasileira. Tanto o

óleo de soja como a margarina apresentaram crescimento, o que converge com o

consumo encontrado deste alimento em domicílios em SAN.

No entanto, cabe ressaltar que, se por um lado a substituição de gorduras

animais por vegetais é mais saudável, é importante estabelecer estratégias que

mantenham o consumo de gorduras vegetais dentro das faixas de consumo

recomendadas; bem como, manter alerta para a diminuição do consumo de gorduras

hidrogenadas (trans), das quais alguns tipos de margarinas e de gorduras vegetais são

representantes.

Quando se observou o consumo de 1 a 3 vezes por semana (Tabela 14) os

adolescentes dos domicílios em IAN informaram, consumir com maior freqüência

alimentos como: mandioca, batata, batata doce, cará, beterraba e inhame (G1), doces

(G8), margarina (G7), refrigerantes (G9) e sucos industrializados (G10). Este dado

sinaliza para o estado nutricional observado entre os adolescentes desses domicílios

(baixo peso e obesidade). De acordo com VIEIRA et al. (2008), adolescentes em

baixo peso geralmente consomem menos alimentos energéticos (pães, cereais, raízes

e tubérculos), enquanto os de sobrepeso e obesidade apresentam baixo consumo de

alimentos reguladores (frutas, verduras e legumes). Observa-se um consumo de

alimentos densamente energéticos e em sua maioria de baixo valor nutricional

A maioria dos grupos dos alimentos esteve disponível em maior freqüência

nos domicílios em situação de SAN, destacando os grupos G1 (pães, cereais, raízes e

tubérculos), G3 (carnes e ovos) e G7 (óleos e gorduras). Os adolescentes de

domicílios em IAN consumiram em maior freqüência, os grupos de alimentos G1

(pães, cereais, raízes e tubérculos), G2 (leguminosas), G3 (carnes e ovos), G7 (óleos

e gorduras), G8 (açúcar e doces) e G10 (sucos artificiais e infusões), comparado aos

adolescentes de domicílios em situação de SAN.

Portanto, nos domicílios em situação de IAN observou-se disponibilidade e

consumo dos alimentos do grupo de leguminosas (G2), quando comparado aos

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125

domicílios em SAN. Este fato pode ser devido ao incentivo do governo em aumentar

o consumo desse tipo de alimento (rico em proteína e ferro), uma vez que, foi

observada na Pesquisa de Orçamento Familiar a diminuição da ingestão de feijão em

domicílios da área urbana, e aos programas de transferência de renda como o PBF.

De acordo com Chico Menezes, o PBF tem conseguido ajudar as famílias se

alimentarem “de maneira mais suficiente” e de forma mais variada, mas isso não

significa que elas estejam se alimentando melhor: “Elas se alimentam com maior

frequência, provavelmente em maiores quantidades, e aumentou a variedade de

alimentos no prato. Nesse sentido, a variedade nem sempre corresponde a uma

melhor alimentação - há famílias que passaram a consumir mais frutas, verduras,

legumes e carne e, ao mesmo tempo, famílias que aumentaram acentuadamente a

quantidade de alimentos, mas sem uma condição nutricional mais adequada. De

acordo com o autor, isso ocorre porque as famílias organizam seu cardápio com base

em produtos mais baratos, e não necessariamente mais saudáveis (TORRES, 2009).

A POF 2002-2003 observou que 73% das famílias brasileiras declaram algum

tipo de insatisfação com o tipo de alimento que consome. Quando considerada esta

avaliação para as áreas urbanas e rurais, verificou-se que 71,3% das famílias,

residentes em áreas urbanas, informaram nem sempre ou raramente consumir

alimentos do tipo preferido. A razão principal alegada, em todo o País, foi a

insuficiência de rendimento (93% das famílias).

A mesma pesquisa procurou medir se a disponibilidade de alimentos nos

pontos de venda (ex.: supermercados) poderia funcionar como um limitador do

consumo de produtos desejados. Os resultados mostraram que somente em alguns

estados da Região Norte – Acre, Roraima e Amapá, foram registrados percentuais de

famílias com esta alegação (todos abaixo de 10%). Tal resultado confirma que, tanto

na disponibilidade, quanto no consumo de alimentos, estão associados também

fatores culturais, hábitos e práticas alimentares. Além disso, o padrão de consumo de

alimentos é fortemente influenciado por condicionantes socioeconômicos – renda,

escolaridade e as condições de trabalho e habitação (DOMENE, 2011).

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126

6.5 FATORES ASSOCIADOS À SITUAÇÃO DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR E NUTRICIONAL

6.5.1 Variáveis demográficas, socioeconômicas, estado nutricional e variáveis

relativas ao domicílio

Os resultados da PNAD 2004 e da PNDS 2006 confirmaram que a

insegurança alimentar está diretamente relacionada a outros fatores socioeconômicos

e de composição da unidade domiciliar como, por exemplo, a presença de moradores

menores de 18 anos de idade, o número de moradores e a renda domiciliar (IBGE,

2010b).

Assim, neste estudo analisou-se a relação da situação de insegurança

alimentar com informações demográficas, socioeconômicas dos adolescentes e dos

chefes de família, informações relativas aos domicílios - características de moradia e

saneamento; renda familiar per capita mensal, produção de alimento no domicílio

para consumo próprio e a participação em programas sociais do governo.

Apesar do interesse generalizado em investigar os determinantes da

insegurança alimentar domiciliar, pouco se sabe sobre a situação dos jovens quanto a

IAN (HADLEY et al., 2008). Os autores apresentam a dificuldade de analisar a

insegurança alimentar de adolescentes, uma vez que, não existe uma escala que

mensure a situação de IAN dos indivíduos, particularmente dessa faixa etária.

Existe escalas que avaliam a insegurança alimentar do domicílio como a

Escala Domiciliar de Segurança Alimentar Americana (HFSSM) nos EUA, a Escala

de Segurança Alimentar da América Latina e Caribe (ELCSA) nos países da

América Latina e Caribe que, quando aplicadas juntamente com outros indicadores

(PÉREZ – ESCAMILLA, 2005; PÉREZ – ESCAMILLA e SEGALL – CORRÊA,

2008), permitem uma observação multidimensional da situação de insegurança

alimentar do domicílio e dos fatores de risco para os indivíduos que o compõem

(ROSE, 2008). Trata-se, então, de uma experiência vivenciada pelos indivíduos,

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127

pelas famílias e até mesmo por comunidades (KEPPLE, GUBERT, SEGALL-

CORRÊA, 2011).

No Brasil, KEPPLE e SEGALL-CORREA (2011) sugerem que a Escala

Brasileira de Insegurança Alimentar - EBIA seja aplicada juntamente com outros

indicadores da SAN, pois aplicada isoladamente não é adequada para medir a

complexidade de um fenômeno multidimensional e interdisciplinar como a segurança

alimentar.

No presente estudo verificou-se a associação entre a cor da pele (p<0,0001), a

escolaridade (p=0,002) e o estado nutricional (p=0,006) dos adolescentes com a

situação de insegurança alimentar dos domicílios (Tabela 12).

HADLEY et al. (2008) analisou a insegurança alimentar de adolescentes

etíopes e verificou associação da IAN com o gênero, a saúde e o bem estar dos

adolescentes. GULLIFORD et al. (2005) em estudo realizado com adolescentes de

Trinidad e Tobago observou que o estado nutricional foi um dos fatores associados a

IAN.

No Brasil, OLIVEIRA et al. (2009) não observou associação significativa

entre a situação de insegurança alimentar e o estado nutricional de adolescentes de

duas localidades do nordeste com baixo Índice de Desenvolvimento Humano.

Os adolescentes de domicílios que estavam em situação de insegurança

alimentar apresentaram um nível de escolaridade inferior aqueles que pertenciam a

domicílios em SAN, no primeiro caso 60,8% tinham até 4 anos de estudo, enquanto,

no segundo 63,2% tinham 9 anos de estudo ou mais. Isso pode ter ocorrido devido ao

maior número de adolescentes de domicílios em IAN terem apresentado idade entre

10 e 14 anos (58,3%), quando 50,6% dos adolescentes de domicílios em SAN tinham

idade entre 15 e 19 anos.

Quanto ao estado nutricional, apesar de 82,3% dos adolescentes de domicílios

em IAN estarem com peso normal para a idade, observou-se alta prevalência de

baixo peso (76,2%) e obesidade (58,8%). A prevalência de sobrepeso observada

entre os adolescentes domicílios em SAN foi elevada (58,2%), apesar de 69,7% dos

chefes de família destes domicílios apresentarem escolaridade de 9 anos de estudos

ou mais.

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128

Diversos estudos apresentam a associação entre o estado nutricional e o nível

de escolaridade dos pais (VEUGELERS e FITZGERALD, 2005; LIEN et al., 2007;

ARAUJO et al., 2010). No estudo de revisão sistemática realizado por CARDOSO et

al. (2009) observou-se que nos países em desenvolvimento, existia uma relação

direta entre o excesso de peso dos adolescentes e variáveis socioeconômicas como: a

renda e a escolaridade dos pais.

O número de moradores pode ser também, um indicador que possivelmente

influencie na disponibilidade e consumo de alimentos, refletindo no estado

nutricional do indivíduo. No presente estudo 56,7% dos domicílios em IAN tinham

sete moradores ou mais e a prevalência de baixo peso em adolescentes pertencentes a

esses domicílios foi de 76,2%. GOMES et al. (2009) observaram que 49,7% dos

adolescentes que pertenciam a domicílios com mais de sete moradores, apresentaram

baixo peso.

Quanto à obesidade, GOMES et al. (2009) apresenta que os seres humanos

desenvolveram mecanismos fisiológicos contra a perda de massa corporal em

períodos de escassez de alimentos, mas ainda não existe nenhum mecanismo capaz

de prevenir o ganho de peso na presença de alimentos abundantes e/ou inapropriados.

PEÑA e BACALLAO (2002) reconhecem que deve existir uma interação entre a

susceptibilidade biológica, fatores ambientais e sociais que influenciem no quadro de

obesidade que a população mundial tem enfrentado.

Estudos sugerem que pode haver associação entre obesidade de adolescentes

e a situação sócio-econômica desprivilegiada das famílias (MATIJASEVICH et al.,

2009; VIEWEG et al., 2007; GOODMAN et al., 2003), geralmente situação

encontrada nos membros das famílias em insegurança alimentar.

Em estudo de revisão realizado por SOUZA et al. (2007) os dados obtidos

demonstraram que os principais fatores responsáveis pelo aumento da incidência de

obesidade na população mais jovem foram: a pré-disposição genética, o estilo de

vida moderno que ocasiona o sedentarismo, hábitos alimentares inadequados e

influência da mídia no consumo de alimentos hipercalóricos. FONSECA et al. (1998)

alerta que a obesidade na adolescência é uma fator preditivo da obesidade no adulto,

o que retrata o processo de transição nutricional vivido no Brasil (BATISTA FILHO

e RISSIN, 2003).

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129

Em relação aos chefes das famílias estudadas, observou-se associação entre a

insegurança alimentar, a escolaridade e o tempo de residência nos municípios

(Tabela 16). No estudo realizado por SALLES-COSTA et al. (2008), em Campos

Elíseos no município de Duque de Caxias –RJ, os autores também verificaram

associação entre a IAN e a escolaridade do chefe da família (p=0,004).

Em estudo sobre a geografia dos fluxos populacionais e os níveis de

escolaridade dos migrantes, verificou-se que o fluxo migratório de mão-de-obra

qualificada principalmente do estado de São Paulo para a região Centro-Oeste

diminuiu e essa região tornou-se área de recepção de migrantes pertencentes a

localidades ao seu entorno e com escolaridade de até 4 anos (RIGOTTI, 2006).

A grande expansão urbana no Brasil, como um componente fundamental das

mudanças estruturais na sociedade brasileira, ocorreu na segunda metade do século

XX, entre os anos 1950 e 1970. No início do século XX, entre as cidades mais

importantes estavam: Belém e Manaus, na Região Norte do país; Salvador, Recife e

Fortaleza, no Nordeste; Porto Alegre e Curitiba, no Sul; e apenas Cuiabá, no Centro-

Oeste, fugia à tendência litorânea (BRITO, 2006), destacando a construção da

rodovia BR 163 que teve início no de 1970.

Neste contexto, a rápida urbanização do território brasileiro não foi um

processo estritamente demográfico, ela teve dimensões muito mais amplas. As

cidades, além de concentrarem uma parcela crescente da população do país,

converteram-se no locus privilegiado das atividades econômicas mais relevantes e

transformam-se em difusoras dos novos padrões de relações sociais – incluindo as de

produção – e de estilos de vida (BRITO e SOUZA, 2005). Essa enorme

transformação da sociedade brasileira tinha como um dos seus principais vetores a

grande expansão das migrações internas (BRITO, 2006).

No presente estudo, observou-se também a associação entre a insegurança

alimentar e a renda familiar per capita mensal, o tipo de construção da moradia, o

tratamento da água e a participação em programas sociais do governo, com p-valor

menor que 0,0001 para todas essas variáveis.

Estudos realizados no Brasil observaram associação com a renda familiar

(SANTOS et al., 2010; VIANNA e SEGALL-CORRÊA, 2008; SALLES-COSTA et

al., 2008). Dos 132 domicílios com renda familiar per capita mensal de até 1/2

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130

salário mínimo, observou-se que 73,5% estavam em IAN. Sendo que, ter uma renda

familiar per capita mensal menor ou igual a 1 salário mínimo apresentou ser um

possível fator de risco para a insegurança alimentar no domicílio (IC=1,71-4,10).

Entre os domicílios que informaram participar de programas sociais do

governo verificou-se que a insegurança alimentar esteve presente em 75% dos

domicílios. Assim, pode-se confirmar por este resultado que essas famílias em

vulnerabilidade de IAN estão participando do programa que a elas foi destinado.

No estudo sobre transferência condicionada de renda e segurança alimentar

BURLANDY (2007) mostra que, comparado a outros tipos de programa, a

transferência condicionada de renda apresenta vários aspectos positivos, tais como o

fortalecimento da economia local, os baixos custos operacionais (que se situam em

torno de 5 a 10% dos custos totais dos programas), a autonomia dos usuários na

utilização dos recursos, dentre outros.

Por outro lado, BURLANDY (2007) apresenta que alguns desafios são

colocados, como por exemplo, os riscos de que os recursos transferidos em forma

monetária sofram a perda com inflação, as diferenças no custo de vida, no preço de

venda dos alimentos, o montante transferido pode ser baixo, além das características

das famílias, incluindo o número de pessoas que vivem no domicílio.

Atualmente, os maiores programas de transferência de renda brasileiros são o

Programa Bolsa-Família (PBF) e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O

PBF é um programa que faz uma transferência incondicional de renda para as

famílias extremamente pobres, e transferências condicionais para famílias pobres ou

extremamente pobres que tenham em sua composição crianças e jovens de até 18

anos de idade, gestantes e nutrizes (BRASIL, 2010c).

Implantado em 2004, o PBF unificou os programas já existentes na época:

Auxílio-Gás, Bolsa-Alimentação, Bolsa-Escola e Cartão-Alimentação. Por esta

razão, quando entrevistados sobre o tipo de transferência de renda recebida, os

informantes podem ter declarado ser beneficiários de programas não mais vigentes,

nos quais, anteriormente, haviam sido cadastrados (SEGALL-CORRÊA et al., 2008).

É relevante destacar, que a promoção do acesso à rede de serviços públicos, o

combate à fome, a promoção da segurança alimentar e nutricional e o estímulo à

emancipação das famílias pobres estavam entre os objetivos básicos do PBF, de

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131

acordo com o decreto 5.209, que regulamentou o programa em 2004 (TORRES,

2009).

Em estudo realizado por SEGALL-CORRÊA et al. (2008) sobre transferência

de renda e segurança alimentar no Brasil, os autores observaram que a situação de

IAN foi mais freqüente nos domicílios que algum morador era beneficiário de

programas de transferência de renda. Além disso, os resultados obtidos indicaram

associação positiva da transferência de renda, com a segurança alimentar,

independente do efeito de outras condições.

Os autores apontaram que residir em áreas urbanas aumenta a chance de

insegurança alimentar, pois o custo dos itens não alimentares, possivelmente,

compete com outras necessidades básicas das famílias, comparado as famílias de

áreas rurais.

Cabe ressaltar que, os municípios analisados neste estudo, apresentam

características culturais, econômicas, de produção e localização diferentes, sendo

necessário observar o que SEGALL-CORRÊA et al. (2008) ressaltam, que o impacto

relativo de um mesmo valor de transferência de renda será diferente conforme a

realidade local.

Sobre as condições de moradia e saneamento, a prevalência de IAN em

domicílios com outro tipo de construção da moradia - alvenaria com acabamento

incompleto, madeira ou material aproveitado foi de 61,6% (IC=1,39-2,56) e 64%

(IC=1,27-1,96) para aqueles que responderam não ter tratamento da água para beber

ou cozinhar.

Resultados semelhantes foram observados por VIANNA e SEGALL-

CORRÊA (2008) quanto à prevalência de outro tipo da construção de moradia em

70,7% dos domicílios investigados no estado da Paraíba; e SALLES-COSTA et al.

(2008) que verificou em 63,6% dos domicílios na região metropolitana do Rio de

Janeiro, a ausência de filtro para tratamento da água (p=0,003).

Segundo KEPPLE, GUBERT e SEGALL-CORRÊA (2011) a situação de

segurança é fortemente determinada pelas condições sociais e econômicas as quais as

pessoas, as comunidades e mesmo os países são submetidos.

Assim as estimativa das razões de prevalência (RP), comparadas as variáveis

que se mostraram associadas à insegurança alimentar, mostrou que a renda familiar

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per capita mensal, a participação em programas sociais do governo, o tipo de

construção da moradia e o tratamento da água foram os indicadores que melhor

discriminaram as famílias em risco de insegurança alimentar (p-valor < 0,0001) na

análise bivariada.

Após a análise de regressão múltipla de Poisson, verificou-se que a renda

familiar per capita mensal, a produção de alimentos no domicílio para consumo

próprio, o tempo de residência no município e a escolaridade do chefe da família

mantiveram-se associadas à situação de insegurança alimentar (Tabela 14).

O estudo piloto realizado por CIRINO et al. (2010), sobre a situação de

segurança alimentar domiciliar, na comunidade Campo da Tuca –RS, permitiu

verificar, após análise da regressão múltipla de Poisson, que a renda familiar esteve

associada a situação de IAN (p=0,046).

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CONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES

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7 CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES

7.1 CONCLUSÕES

Neste estudo conclui-se que:

Houve alta prevalência (51,8%) de insegurança alimentar nos domicílios com

adolescentes nos municípios estudados e segundo os seus níveis de severidade:

8,8% estavam em insegurança grave, 14,3% em insegurança moderada e 28,7%

em insegurança leve.

Mais da metade dos adolescentes dos municípios estudadas eram do sexo

feminino (52,6%), com idade entre 10 e 14 anos (50,7%), de cor não branca

(64,7%) e tinham escolaridade entre 5 e 8 anos de estudo (50%).

Os chefes de família apresentaram baixa escolaridade (78,2% tinham menos de

8 anos de estudo) e em sua maioria havia migrado de outros estados e residiam

há menos de 20anos nos municípios.

Em 93,1% das famílias foi verificada baixa renda (menor que dois salários

mínimos per capita mensal).

Apesar de 99,4% dos domicílios serem atendidos pela coleta pública de lixo,

83,5% ter abastecimento de água atendido por meio da rede pública, cabe

destacar que, as condições de moradia e saneamento eram insuficientes, pois:

65,3% dos domicílios era alvenaria com acabamento incompleto, de madeira

ou de material aproveitado; 98,6% não apresentavam rede pública de esgoto

sanitário; e ainda que, 58,7% utilizavam água tratada (fervida, clorada ou

mineral) para beber ou cozinhar, um percentual considerável (41,3%)

consumiam água sem nenhum tipo de tratamento.

Dos domicílios pesquisados, 57,9% famílias produziam alimentos para

consumo próprio e 19,83% participavam de programas sociais de transferência

de renda do governo, como o Bolsa família.

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Quando comparada a disponibilidade e o consumo de alimentos em relação a

situação de segurança alimentar das famílias, nos domicílios em IAN houve

maior disponibilidade de alimentos energéticos (pães, cereais, raízes e

tubérculos, óleos e gorduras, açúcar e doces) e leguminosas; e os adolescentes

destes domicílios informaram consumir diarimente em maior frequência

alimentos como: leguminosas, hortaliças, óleos e gorduras, açúcar e doces,

refrigerantes, sucos e infusões. Embora leite e produtos lácteos, frutas e

hortaliças estivessem disponíveis nos domicícilios, os resultados alertam para o

baixo consumo desses alimentos, identificado entre os adolescentes.

Destaca-se a elevada prevalência de sobrepeso entre os adolescentes, superior

as encontradas em outras regiões brasileiras, como Sudeste e Nordeste,

apontando para um possível risco nutricional.

A situação de insegurança alimentar pode ser verificada como resultado da

interação de uma multiplicidade de variáveis socioeconômicas, nutricionais,

variáveis relacionadas ao domicílio e a migração, sendo que, permaneceram

associadas: a renda familiar per capita mensal, a produção de alimentos no

domicílio, o tempo de residência no município e a escolaridade do chefe da

família.

7.2 RECOMENDAÇÕES

Diante destas conclusões, recomenda-se a expansão de políticas públicas de

saneamento básico e de qualificação de recursos humanos, visando à geração de

emprego e renda para população. Importante, também, a criação ou o fortalecimento

de programas de incentivo às feiras livres de abastecimento de alimentos, de criação

de hortas domésticas e comunitárias, que contribuam para a disponibilidade e acesso

a legumes, frutas e verduras. A realização de ações educativas que contribuam para o

acesso à informação sobre insegurança alimentar e alimentação saudável, tanto no

nível domiciliar, quanto no nível individual. Tais medidas, sinalizam e estimulam o

conhecimento da população sobre o conceito e significado da insegurança alimentar,

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136

bem como, o acesso aos mecanismos sociais, programas e serviços disponíveis à

população, para a diminuição e o combate a desigualdade social.

Este estudo aponta também, para a necessária intervenção nutricional na

população, com atividades de educação visando a escolha e consumo dos alimentos,

bem como, a avaliação continuada das ações, resultados e idéias dos programas de

alimentação e nutrição desenvolvidos nesses municípios. De modo que se tenha

bases para uma reinterpretação dos resultados e um ajustamento da orientação dos

programas realizados para a população.

Desta forma, são necessários investimentos no sentido de manter políticas de

alimentação e nutrição, que visem melhorar os padrões nutricionais tanto domiciliar,

quanto individual, não somente como bases humanitárias e de bem-estar social, mas

também como estimulantes para o crescimento econômico, para o aumento da

eficiência e melhoria da utilização de recursos em saúde e educação nessa região.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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162

ANEXOS

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163

ANEXO 1 - PLANEJAMENTO AMOSTRAL DO PROJETO MATRIZ

1.1 DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DA AMOSTRA

Por meio do tipo de amostragem aleatória simples, foi determinado o

tamanho da amostra, ou seja, o número de indivíduos em cada município, utilizando

as informações contidas no Quadro 1.

Quadro 1 – População total dos municípios, Mato Grosso, 2006.

Município Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total

Total 47236 20198 99121 48325 214880

Considerando-se que as estimativas da pesquisa são prevalências,

determinou-se o tamanho da amostra pela utilização da seguinte expressão

(BOLFARINE e BUSSAB, 2005; SCHEAFFER et al., 1987; LEVY e LEMESHOW,

2008):

ppz

dN

pNpn

11

1

22/

2

(1)

onde,

n = tamanho aproximado da amostra;

N = nº de unidades na população em cada município;

p = proporção populacional por município;

d = limite para o erro de estimação;

Fonte: IBGE – Censos Demográficos e Contagem Populacional; para os anos intercensitários,

estimas preliminares dos totais populacionais, estratificado por idade pelo MS/SE/DATASUS, 2005.

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164

2

2/z = obtido da tabela da distribuição normal padronizada, o qual representa o nível

confiança.

O tamanho da amostra em cada município, considerando o nível de confiança

de 95%, isto é, z α/2 = 1,96 e uma proporção de 50% (p=0,5), com um erro de

estimação de 3,5% (d=0,035), é apresentado no Quadro 2 , obtendo-se um número

total de 3075indivíduos.

Quadro 2 – Número de indivíduos (amostra) em cada município, Mato Grosso,

2006.

Município Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total

Total 771 755 778 771 3075

Considerando-se que os indivíduos são identificados no espaço geográfico

por meio de seus domicílios, para cada município foi determinado o número de

domicílios a serem sorteados no projeto matriz.

Assim, o número total de domicílios a serem entrevistados em cada

município foi obtido dividindo-se o número de indivíduos da amostra pelo número

médio de moradores por domicílio (IBGE, 2005), conforme apresentado na tabela a

seguir.

Tabela 1 – Número total de domicílios a serem considerados na pesquisa, segundo

municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.

Municípios Nº de

indivíduos

Média de moradores por

domicílio

Nº total de

domicílios

Alta Floresta 771 3,70 210

Diamantino 755 3,81 200

Sinop 778 3,81 205

Sorriso 771 3,73 210

Total 3075 825

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165

Considerando possíveis perdas na etapa de coleta de dados, estipulou-se um

acréscimo de 20% no número total de domicílios, acarretando assim, um aumento de

165 domicílios conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 – Número total de domicílios corrigidos com acréscimo de 20%, de

municípios da área de abrangência da BR 163, Mato Grosso, 2006.

Municípios Nº total de domicílios Acréscimo

(20%)

Nº total de domicílios

corrigidos

Alta Floresta 210 42 252

Diamantino 200 40 240

Sinop 205 41 246

Sorriso 210 42 252

Total 825 165 990

Para definição dos conglomerados (setores), foi utilizada a grade de setores

censitários do Censo Populacional Brasileiro do ano 2000, realizado pelo IBGE e

considerou-se a distribuição dos setores existentes em cada município, de acordo

com o número de domicílios por setor, conforme procedimento do IBGE (IBGE,

2005). Este procedimento de distribuição de setores do IBGE considera uma

classificação com três categorias: setores com 200 domicílios ou mais; setores com

100 ou menos de 200 domicílios; e setores com menos de 100 domicílios.

Assim, considerando esta classificação e o total de setores, foram selecionados

cerca de 50% dos setores censitários, com o propósito de minimizar o custo e tempo

da pesquisa, conforme apresentado na Tabela 3.

Cabe destacar que, para o sorteio aletório dos setores definidos na Tabela 3

em cada município foi utilizando o pacote estatístico MINITAB versão 15.0.

Visando a obtenção de um cadastro atualizado para proceder à seleção dos

domicílios ocupados, foram realizadas visitas in locu para certificar a existência e

ocupação dos setores sorteados e os seus respectivos domicílios.

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166

Tabela 3 – Distribuição do número de setores censitários selecionados, segundo o

número de domicílios por setor, de municípios da área de abrangência da BR 163,

Mato Grosso, 2006.

Nº de domicílios

por setor

Nº de setores censitários

Alta Floresta Diamantino Sinop Sorriso Total

≥200 domicílios 11 7 26 12 56

100≤ domicílios<200 8 3 5 4 20

<100 domicílios 1 2 0 4 7

Total 20 12 31 20 83

Com base na listagem de todos os setores e com os respectivos números de

domicílios atualizados, a determinação do número de domicílios estimado em cada

setor (ndecs) foi feita multiplicando o número de domicílios no setor (nds), pelo

número estimado de domicílios na amostra (nedena) e dividido pelo total de

domicílios ocupados em todos os setores do município (tdotsm).

Por exemplo, no setor 3 de Alta Floresta, o número de domicílios no setor é

de 187, o número estimado de domicílios na amostra é de 252 e o número total de

domicílios ocupados em todos os setores do município é 4901. Isto é,

106,94901

47124

4901

252187

tdotsm

nedenandsndecs domicílios (2)

O sorteio aleatório dos domicílios por setor para cada município, foi realizado

considerando a relação com todos os setores sorteados em cada município e o total

de domicílios a serem sorteados por setor, sendo que, respeitou-se a proporção do

número de domicílios em cada setor e foi utilizando o pacote estatístico MINITAB

versão 15.0 (MINITAB, 2007).

Para que o tamanho da amostra em cada município atingisse o número

mínimo determinado, estabeleceu-se que na coleta de dados após três visitas sem

sucesso de realização da entrevista ou no caso de não existir uma pessoa capacitada

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167

para responder o questionário no domicílio sorteado. O mesmo seria substituído pelo

domicílio particular seguinte à direita, ou seja, o domicílio localizado a direita do

domicílio de referência, não a direita do entrevistador (a). Não existindo domicílios à

direita, considerou-se o próximo domicílio da quadra, a direita do domicílio de

referência.

1.2 SELEÇÃO E TREINAMENTO DOS ENTREVISTADORES E ESTUDO

PILOTO

1.2.1 Seleção e Treinamento dos entrevistadores

No projeto matriz, os entrevistadores foram selecionadas e posteriormente

treinados para realização das entrevistas domiciliares.

O treinamento dos entrevistadores teve como finalidade padronizar os

procedimentos de obtenção das informações (preenchimento do questionário e ficha

antropométrica) e o modo de formulação das perguntas. O treinamento incluiu a

apresentação dos objetivos e importância do estudo, esclarecimentos sobre as

técnicas de abordagem domiciliar e de entrevistas, e também a relevância do sigilo

das informações obtidas.

Os entrevistadores foram compostos por duplas de profissionais nutricionistas

previamente treinados em Cuiabá no período de 7 a 12 de dezembro de 2006, no

Instituto de Saúde Coletiva/UFMT, com a carga horária teórico-prática de 35 horas,

submetidos posteriormente à uma supervisão de trabalho de campo.

Para melhor fixação dos conteúdos ministrados, ao final do treinamento os

entrevistadores aplicaram os questionários entre si, bem como, praticaram a aferição

de medidas antropométricas. Além disso, antes do início da coleta de dados, os

nutricionistas realizaram entrevistas em domicílios vizinhos à sua residência. Os

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168

entrevistadores tiveram disponível o Manual do Entrevistador com as orientações

sobre como proceder em cada item da entrevista.

Em cada município estudado também foram realizados seleção e treinamento

com auxiliares de pesquisa de ambos os sexos (feminino e masculino). Para seleção

dos auxiliares de pesquisa os aspectos avaliados foram:

- Comportamento e habilidades (raciocínio lógico/coerência; iniciativa/bom senso;

capacidade de decisão; criatividade; resposabilidade);

- Características pessoais (postura física; aparência; voz - dicção/entonação;

clareza/objetividade; tranquilidade; pontualidade).

Em Sinop foram selecionados 13 auxiliares, no período de 29 de janeiro a 9

de fevereiro de 2007, no Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica de

Mato Grosso – CEPROTEC/MT.

No município de Alta Floresta, foram selecionados 7 auxiliares. O

treinamento foi realizado no Centro Estadual de Educação Profissional e Tecnológica

de Mato Grosso - CEPROTEC/MT, no período de 16 a 18 de maio de 2007.

Em Sorriso foi selecionada apenas uma auxiliar. O treinamento foi realizado,

nos dias 11 e 12 de julho de 2007.

No município de Diamantino foi selecionado uma entrevistadora estudante de

Educação Física da União de Ensino de Diamantino (UNED). O treinamento foi

realizado nos dias 4 e 5 de setembro de 2007.

As duplas de entrevistadores foram formadas por uma nutricionista e por uma

técnica em enfermagem. A supervisora do trabalho de campo também era

nutricionista. A seleção dos auxiliares de pesquisa foi realizada por meio de

entrevista e análise de currículo realizada pela coordenação do projeto de pesquisa.

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169

1.2.2 Estudo Piloto

O estudo piloto foi realizado nos dias 18 e 19 de dezembro de 2006, com o

objetivo de verificar e aprimorar a habilidade dos auxiliares de pesquisa em aplicar

os questionários, testar e adequar os questionários, fichas, manual e outros

procedimentos propostos.

Cada entrevistador realizou entrevistas com cinco famílias residentes em três

bairros do município de Cuiabá: Jardim Amperco, Novo Tempo e Jardim Imperial.

Os dois primeiros eram campos de estágio dos alunos do Curso de Graduação em

Nutrição da UFMT e o último foi escolhido por apresentar nível socioeconômico

diferente dos outros.

Após a realização do estudo piloto houve a reformulação de algumas questões

e também reestruturação da sequência das questões que faziam parte dos

questionários.

1.3 TRABALHO DE CAMPO

1.3.1 Coleta de dados

Inicialmente, foi mantido contato com os Secretários de Saúde dos

Municípios, por intermédio da Secretaria de Estado de Saúde - SES/MT, para

apresentação, discussão do projeto de investigação e assinatura da Carta de Anuência

pelo gestor de saúde do município.

A coordenação da pesquisa esteve em cada município no início da

investigação, apresentando os supervisores de campo e definindo o apoio logístico

dos gestores municipais para o melhor andamento do trabalho de campo.

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170

A divulgação da pesquisa para a população de cada município foi feita por

meio de televisão, rádio, jornal impresso e cartazes fixados em escolas, creches e

unidades básicas de saúde.

O trabalho de campo foi realizado nos domicílios conforme consentimento

dos responsáveis, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

– TCLE (Anexo 2). A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro a outubro

de 2007.

As informações relativas às variáveis do estudo foram registradas em um

questionário previamente estruturado, codificado e testado, contendo módulos

específicos para cada faixa etária. Na aplicação dos módulos constituintes do

questionário foram investigadas informações demográficas, socioeconômicas,

condições de moradia e saneamento, de segurança alimentar e medidas

antropométricas.

Os entrevistadores e auxiliares de pesquisa foram identificados com

uniformes, crachás e carta de apresentação assinada pela coordenação do projeto.

1.3.2 Entrevista

As entrevistas foram realizadas utilizando formulários pré-codificados, por

uma dupla de entrevistadores composta por um profissional nutricionista e um

auxiliar de pesquisa de nível médio, técnico ou superior incompleto. As entrevistas

ocorreram no domicílio com todos os membros que deram consentimento para

participar da pesquisa.

Após o estudo piloto, os questionários utilizados na investigação resultaram

em um instrumento subdivido em nove módulos: 1) Informações sobre o domicílio,

família e segurança alimentar; 2) Informações sobre morbidade referida e uso de

serviço de saúde; 3) Informações sobre consumo alimentar; 4) Informações sobre

crianças menores de 12 meses; 5) Informações sobre crianças de 12 a 24 meses

incompletos; 6) Informações sobre crianças de 2 a 4 anos; 7) Informações sobre

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estilo de vida e antropometria de crianças de 5 a 9 anos; 8) Informações sobre estilo

de vida, antropometria e pressão arterial de adolescentes de 10 a 14 anos; 9)

Informações sobre estilo de vida, antropometria e pressão arterial de adolescentes

maiores de 14 anos.

Para a construção destes questionários, foram utilizados os modelos da

pesquisa: Avaliação da insegurança alimentar de famílias residentes no estado da

Paraíba, realizada em 2005, pelo Centro de Ciências da Saúde, da Universidade

Federal da Paraíba; o Inquérito de Saúde no Estado de São Paulo: Estudo

multicêntrico – ISA/SP, coordenado pela USP, UNICAMP, UNESP e SES/SP; e

também a Pesquisa sobre saúde e consumo alimentar em Duque de Caxias, realizada

em 2005: Avaliação do estado nutricional, hábitos alimentares e insegurança

alimentar no município de Duque de Caxias, RJ.

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ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

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ANEXO 3 - TERMO DE APROVAÇÃO ÉTICA DO PROJETO DE

PESQUISA

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ANEXO 4 - ESCALA BRASILEIRA DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR – EBIA (2004)

1. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve a preocupação que a comida acabasse antes que pudesse

comprar mais comida?

2. Nos últimos 3 meses, a comida acabou antes que o a(o) Sra. (Sr.) tivesse dinheiro a para compra

mais?

3. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ficou sem dinheiro para ter uma ter uma alimentação saudável

e variada?

4. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) teve que se arranjar com apenas alguns alimentos para sua(s)/

adolescente(s), menores de 18 anos, porque o dinheiro acabou?

5. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) não pôde oferecer à(s) criança(s)/adolescente(s), menores de

18 anos, uma alimentação saudável e variada porque não tinha dinheiro?

6. Nos últimos 3 meses, a(s) criança(s)/o(s) adolescente(s), menores de 18 anos, não comeu

(comeram) quantidade suficiente porque não havia dinheiro suficiente para comprar comida?

7. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou algum adulto em sua casa diminuiu, alguma vez, a

quantidade de alimentos nas refeições ou pularam refeições, porque não havia dinheiro suficiente para

comprar a comida?

8. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez comeu menos do que achou que devia porque não

havia dinheiro suficiente para comprar comida?

9. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez sentiu fome mas não comeu porque não podia

comprar comida suficiente?

10. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) perdeu peso porque não tinha dinheiro suficiente para

comprar comida?

11. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) ou qualquer outro adulto em sua casa ficou, alguma vez, um

dia inteiro sem comer ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não havia dinheiro para comprar

comida?

12. Nos últimos 3 meses, a (o) Sra. (Sr.) alguma vez diminuiu a quantidade de alimentos das refeições

de sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro suficiente

para comprar comida?

13. Nos últimos 3 meses, alguma vez, a (o) Sra. (Sr.) teve que deixar de fazer uma refeição da(s)

sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, porque não havia dinheiro para comprar

comida?

14. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, teve (tiveram)

fome, mas a(o) Sra. (Sr.) simplesmente não podia comprar mais comida?

15. Nos últimos 3 meses, sua(s) criança(s)/seu(s) adolescente(s), menores de 18 anos, ficou (ficaram)

sem comer por um dia inteiro porque não havia dinheiro para comprar comida?

Fonte: PNAD 2004 (IBGE, 2006).

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ANEXO 5 - ESCALA BRASILEIRA DE INSEGURANÇA

ALIMENTAR – EBIA (2010)

1. Nos últimos 3 meses, os moradores deste domicílio tiveram a preocupação de que a comida

acabasse antes que tivessem dinheiro para comprar mais comida?

2. Nos últimos 3 meses, os alimentos acabaram antes que os moradores desse domicílio tivessem

dinheiro para comprar mais comida?

3. Nos últimos 3 meses, os moradores desse domicílio ficaram sem dinheiro para ter uma uma

alimentação saudável e variada?

4. Nos últimos 3 meses, os moradores desse domicílio comeram apenas alguns poucos tipos de

alimentos que ainda tinham, porque o dinheiro acabou?

5. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade deixou de fazer alguma refeição

porque não havia dinheiro para comprar a comida?

6. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade comeu menos do que achou que

devia, porque não havia dinheiro para comprar comida?

7. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade sentiu fome, mas não comeu,

porque não tinha dinheiro para comprar comida?

8. Nos últimos 3 meses, algum morador de 18 anos ou mais de idade ficou um dia inteiro sem comer

ou, teve apenas uma refeição ao dia, porque não tinha dinheiro para comprar a comida?

9. Nos últimos 3 meses, os moradores com menos de 18 anos de idade não puderam ter uma

alimentação saudável e variada, porque não havia dinheiro para comprar comida?

10. Nos últimos 3 meses, os moradores menores de 18 anos de idade comeram apenas alguns poucos

tipos de alimentos que ainda havia neste domicílio, porque o dinheiro acabou?

11. Nos últimos 3 meses, algum morador com menos de 18 anos de idade comeu menos do que você

achou que devia, porque não havia dinheiro para comprar a comida?

12. Nos últimos 3 meses, foi diminuída a quantidade de alimentos das refeições de algum morador

com menos de 18 anos de idade, porque não havia dinheiro suficiente para comprar a comida?

13. Nos últimos 3 meses, alguma morador com menos de 18 anos de idade deixou de fazer alguma

refeição, porque não havia dinheiro para comprar a comida?

14. Nos últimos 3 meses, algum morador com menos de 18 anos de idade sentiu fome, mas não comeu

porque não havia dinheiro para comprar mais comida?

Fonte: PNAD 2010 (IBGE, 2010).

Pontuação para classificação dos domicílios com e sem menores 18 anos de idade

Fonte: PNAD 2010 (IBGE, 2010).

Classificação Pontos de corte para domicílios

Com menores de 18 anos Sem menores de 18 anos

Segurança Alimentar 0 0

Insegurança Alimentar leve 1 - 5 1 - 3

Insegurança Alimentar moderada 6 - 9 4 - 5

Insegurança Alimentar grave 10 - 14 6 - 8

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ANEXO 6 - ESTÁGIOS DA TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA,

EPIDEMIOLÓGICA E NUTRICIONAL.

Fonte: POPKIN, 2002.